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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Faculdade de Formao de Professores Licenciatura Plena em Letras Portugus/Ingls

AS VARIANTES DA LNGUA PORTUGUESA NO LIVRO DIDTICO NO ENSINO MDIO

por

Leandro Rodrigo Galindo do Carmo

So Gonalo

Dezembro/2010 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Faculdade de Formao de Professores

As Variantes da Lngua Portuguesa no Livro Didtico no Ensino Mdio

por

Leandro Rodrigo Galindo Do Carmo

Orientador (a): Professora Doutora Victria Wilson

Monografia submetida Universidade do Estado do Rio de Janeiro como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de Licenciado em Letras Portugus/Ingls.

So Gonalo

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Dezembro/2010 UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Faculdade de Formao de Professores

As Variantes da Lngua Portuguesa no Livro Didtico no Ensino Mdio por Leandro Rodrigo Galindo Do Carmo

Esta Monografia foi julgada adequada para a obteno do ttulo de Licenciado em Letras Portugus/Ingls e considerada aprovada por:.

________________________________ Coordenador do Curso Banca Examinadora ________________________________ Prof. Dr. Victria Wilson ________________________________ Prof. Dr. Isabel Cristina Rangel Moraes Bezerra

So Gonalo

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Dezembro/2010

Parece haver cada vez mais, nos dias de hoje, uma forte tendncia a lutar contras as mais variadas formas de preconceito, a mostrar que eles no tm nenhum fundamento racional, nenhuma justificativa, e que apenas o resultado da ignorncia, da intolerncia ou da manipulao ideolgica. Marcos Bagno

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Agradeo a minha me e minha irm pelo apoio e confiana e a voc,

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Professora Victria, pelo carinho e pela hospitalidade prestados a mim.

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Para os meus amigos, e em especial Franciene, que me deram foras para tal conquista. SUMRIO 1. INTRODUO ................................................................................... 08 2. LNGUA & LINGUAGEM: CONCEITOS ...................................... 10 2.1. Concepes de Lngua e Linguagem ................................ 10 2.2. Relaes entre Lngua e Sociedade ...................................14 3. O LIVRO DIDTICO E A VARIAO LINGUSTICA ...............16 3.1. Descrio do Corpus .......................................................... 16 3.1.1. Portugus: Linguagens Volume 1 ...................... 16 3.1.2. Portugus Novo Ensino. Mdio Vol. nico .... 23 4. ANLISE DO MATERIAL DIDTICO 4.1. Portugus: Linguagens Volume 1 4.2. Portugus Novo Ensino. Mdio Vol. nico 5. CONCLUSO .......................................................................................29 6. REFERNCIAS ....................................................................................31 ANEXOS ....................................................................................................33

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1. INTRODUO Considerando as diversas teorias que trabalham com a lngua, esta pesquisa abordar as questes relacionadas ao fenmeno de variao lingustica no livro didtico do Ensino Mdio (EM), alm de refletir o papel a ser desenvolvido pela escola no que tange s variaes lingusticas e o papel do professor como mediador entre norma e variao. A corrente terica que fundamentar tal trabalho apoia-se na perspectiva sociolingustica, principalmente nas propostas de especialistas na rea, tais como: Maria Helena de Moura Neves (2009), Michael Stubbs (1987), Luiz Percival Leme Britto (2003), Ins Signorini (2006) dentre outros. O objetivo da monografia observar se e como a variao lingustica trabalhada no livro didtico (LD), comparando a proposta metodolgica apresentada pelos autores. Essa proposta favorece a fundamentao terica do professor do EM e sua formao continuada no que diz respeito ao conceito de lngua e suas variaes. O tema de variao lingustica vai alm da ideia de normatizao ou opresso; a variao lingustica (VL) ultrapassa os limites lingusticos, integrando-se ao conjunto das linguagens sociais, a VL quando conceituada a partir do conceito de lngua legtima (SIGNORINI, 2006) passa a ser vista sob outra perspectiva, diferentemente da proposta tradicional dos estudos sociolingusticos. necessrio ressaltar que toda lngua varia no tempo e no espao e que tal variao est inserida em um contexto no somente cultural, mas tambm na sociedade. Cada um possui suas idiossincrasias e o trabalho com a linguagem visa favorecer a identificao das mltiplas possibilidades de comunicao. Convm esclarecer que este trabalho no est contra a normatividade da lngua, sim a favor da considerao das variaes da lngua. A metodologia empregada ser de anlise de dois livros didticos de Lngua Portuguesa para o Ensino Mdio. A anlise focar a abordagem das variaes pelo

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material didtico de Lngua Portuguesa no Ensino Mdio. O primeiro passo do trabalho verificar se os livros lidam com a questo de variao lingustica atravs do contedo do material. Aps a identificao da abordagem das variaes, verificarei como essa questo trabalhada levando em considerao os exerccios propostos. Para buscar a compreenso acerca do trabalho com as variantes estigmatizadas, trabalharemos com os seguintes livros: *Portugus: Linguagens William Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhes, 2005 Unidade 1 (cap. 1) *Portugus Srie Novo Ensino Mdio Maia,, 2003 Unidade 1 (A lngua e suas variedades) Esses livros foram selecionados por serem os mais trabalhados em instituies pblicas e privadas, portanto verificar at que ponto as diferentes formas de uso da lngua so trabalhadas imprescindvel.

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2. LNGUA & LINGUAGEM: CONCEITOS 2.1 Concepes de Lngua e Linguagem A comunicao uma das necessidades essenciais do ser humano, assim como alimentar-se e reproduzir-se. A interrelao entre os seres compe a base da comunicao, ou seja, a transmisso e assimilao de mensagens. Portanto, necessitamos de canais para isso. A lngua e a linguagem so os caminhos para a comunicao entre os seres humanos. Segundo Tarallo (1994), entende-se por lngua um veculo de comunicao, de informao e de expresso entre os indivduos da espcie humana. J Castilho (1998), atribuindo relevncia ao tema, ao discutir a crise cientfica instaurada no ensino de Lngua Portuguesa, postula haver trs grandes modelos tericos de interpretao da lngua humana: a lngua como atividade mental (linguagem como expresso de pensamento); a lngua como estrutura (linguagem como instrumento de comunicao); a lngua como atividade social (linguagem como meio/forma de interao). (CASTILHO, 1998, p. 24) A lngua deve ser concebida como atividade, como prtica social interativa. Ao postular tais ideias, podemos observar diversos conceitos abstratos que correspondem a uma concepo idealizante e homogeneizante da lngua. Devemos olhar para a lngua em uma realidade histrica, cultural, social em que ela se encontra, isto , onde se encontram os seres humanos. Segundo Bagno (2002), preciso considerar a lngua como uma atividade social, como um trabalho empreendido por todos os falantes sempre que interagem por meio da fala, seja ele escrita ou verbal. Nesse texto, Bagno cita alguns conceitos propostos por Marchuschi (2000). Segundo tal autor, podemos considerar a lngua segundo alguns aspectos: A lngua apresenta uma organizao interna sistemtica que pode ser estudada cientificamente, porm no deve ser confundida com um conjunto de regras abstratas que foram determinadas segundo um padro de prestgio;

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A lngua tem aspectos estveis e instveis, ou seja, ela um sistema varivel, indeterminado e no fixo. Por isso, podemos propor que a lngua seja divida em dois eixos: um formal e sistemtico e um varivel e assistemtico; A lngua se determina por valores transcendentes e imanentes, portanto no se deve analis-la de forma autnoma, mas situada em um contexto; A lngua pode ser construda atravs de smbolos convencionais, desde que sejam parcialmente motivados e no aleatrios nem arbitrrios, a lngua no deve ser reduzida a uma realidade de smbolos; A lngua uma atividade de natureza scio cognitiva, histrica e desenvolvida para promover a interao humana; Linguagem, cultura, sociedade e experincia interagem de maneira intensa e variada, no devendo postular uma viso universal para as lnguas particulares. (MARCUSCHI, apud BAGNO, 2002, p 23h)

Considerando que a lngua foi conceituada de forma dinmica e interativa por Marchuschi, Bagno (2002) traz reflexes sobre a pedagogia tradicional, ainda embasada em um emaranhado de regras e conceitos abstratos e normativos. Tal considerao de lngua abordada pelos gramticos tradicionais de norma culta. (BAGNO, 2002) Dentre os principais equvocos que ocorrem no tratamento da variao lingustica, trs se destacam. O primeiro deles o emprego indiscriminado das expresses norma padro e norma culta como sinnimas. Norma padro define um modelo de lngua idealizada prescrito pelas gramticas normativas uma receita que nenhum usurio da lngua emprega na fala e raramente utiliza na escrita. J norma culta designa uma variedade urbana de prestgio, concretamente falada por pessoas que vivem em ambiente urbano, membros das classes sociais privilegiadas e com alto grau de letramento. A norma padro uma referncia para os falantes da norma-culta, mas no passa de um ideal a ser alcanado, pois um padro extremamente enrijecido de lngua. Assim, as gramticas tradicionais descrevem a norma padro, no refletindo o uso que se faz realmente do Portugus no Brasil. Isso cria um problema pedaggico certssimo, pois o aluno vai ver a descrio de uma lngua que no corresponde dele, e vai achar que ou ele no fala Portugus, ou fala errado, alerta Marcos Bagno. Em segundo lugar, h uma construo errnea de expresses como variedadepadro, lngua-padro e dialeto-padro, pois variedade, lngua ou dialeto resultam da interlocuo de falantes reais, o que no ocorre com algo padro. Por fim, faz-se uma diviso da realidade sociolingustica brasileira em dois plos: de um lado a norma

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padro e a norma culta, de outro, a norma-popular ou lngua no-padro, como se, de novo, a norma padro fizesse parte da lngua. Tal polarizao muito comum em livros didticos. Marcos Bagno prope como alternativa, uma triangulao: a norma-popular (menos prestgio) se ope norma culta (mais prestgio), e a norma padro se eleva sobre as duas anteriores, servindo como um ideal imaginrio, inatingvel. Outros problemas, decorrentes dos primeiros, so a atribuio de usos nonormativos apenas lngua popular, como se variao lingustica no comparecesse fartamente na fala e escrita das pessoas cultas e a associao de lngua falada informalidade e lngua escrita a formalidade, como se a heterogeneidade intrnseca da lngua no existisse, tambm, na escrita, completa Marcos Bagno (2003, p.32). Alm disso, h, no portugus brasileiro, um amplo espectro de variao lingustica com a qual se tem que conviver e respeitar sem tax-la de erro , principalmente no momento da alfabetizao. Qual o papel da escola em relao ao ensino de Portugus? Possenti prope que o objetivo da escola seja ensinar o portugus padro, ou, talvez mais exatamente, o de criar condies para que ele seja apreendido. (POSSENTI, 2009, p.17) J Magda Soares postula que a funo da escola, segundo a ideologia do dom1, seria, pois, a de adaptar, ajustar os alunos sociedade, segundo suas aptides e caractersticas individuais (SOARES, 2000:11), no entanto a autora vem desconstruindo no decorrer do livro, com ideologias e esteretipos que vm marcando a lngua e o ensino. A escola deve focar na lngua formal, entretanto no se deve categorizar o ensino, e sim considerar diferentes formas de expresso. As pessoas esto, h todo momento, utilizando a linguagem para se comunicar, para escrever, para realizar das tarefas mais simples as mais complexas. A linguagem um fato social nas escolas e nas aulas e h, portanto, vrias razes simples, mas importantes pelas quais ela merece um estudo cuidadoso por parte de quem quer que seja ligado educao. (STUBBS, 1987:27). H em nossa cultura a tendncia de valorizar a regra e desconsiderar a origem de nossos alunos. Cada aluno traz sua prpria1

Entende-se como ideologia do dom como as causas do sucesso ou do fracasso na escola devem ser buscadas nas caractersticas dos indivduos: a escola oferece igualdade de oportunidades; o bom aproveitamento dessas oportunidades depender do dom aptido, inteligncia, talento de cada um. (SOARES, 2000:10)

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experincia, suas idiossincrasias, suas formas de expresso, portanto devemos saber trabalhar com essa realidade, pois como diz Michael Stubbs: Nenhum dialeto inerentemente superior ou inferior a outro (1987:31) Neves (2009) prope um ensino de lngua que valorize o seu uso e seu usurio, propiciando-se a implementao e um trabalho com a lngua portuguesa especialmente com a gramtica que vise diretamente quele usurio submetido a uma relao particular com sua prpria lngua (NEVES, 2009:18). A autora considera que:A escola , reconhecidamente, o espao institucionalmente mantido para a orientao do bom uso lingustico, e que, portanto, a ela cabe ativar uma constante reflexo sobre a lngua materna, contemplando as relaes entre uso da linguagem e atividades de anlise lingustica e de explicitao da gramtica (NEVES, 2009, p.18)

Neves prope que o tratamento escolar da linguagem tem de fugir da simples proposio de moldes de desempenho (...) bem como da simples proposio de moldes de organizao de entidades metalingusticas (NEVES, 2009, p.19). Segundo a autora, uma escola deve preservar o bom uso lingustico, ou seja, sua reflexo baseia-se no somente no sistema, mas principalmente no seu uso. Ela elege trs temas bsicos para reflexo: lngua, norma e padro. Entende-se que lngua no um sistema nico, fixo, mas abriga um grupo de variantes. Tais variantes no devem ser vistas como defeito, erro ou desvio, elas devem ser consideradas legtimas e objeto de estudo. J norma um conceito no s de estatuto, mas tambm sociocultural (conf. NEVES, 2009, p.20). A ideia de norma vai alm de um conjunto de normas lingusticas; norma traz uma bagagem sociocultural relacionada a esse conjunto. Padro um conceito arbitrrio de normatividade. Cr-se que a referncia de tais normas surge a partir das obras literrias de prestgio. Fica estabelecido, portanto, para Maria Helena de Moura Neves, que pela presso social por preservao de identidade, h um lugar para o estudo da lnguapadro na escola (NEVES, 2009, p.22), porm necessrio que se d da lngua para o padro (uso para norma) e no do padro para a lngua (norma para o uso)

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2.2 Relaes entre Lngua e Sociedade Todas as pessoas esto sempre em interao. A ponte que possibilita todas estas integraes, chama-se lngua. A lngua, na concepo da sociolingustica, intrinsecamente heterognea, mltipla, varivel, mutante, instvel e est sempre em desconstruo e reconstruo. Ao contrrio de um produto pronto e acabado, a lngua um processo, um fazer-se permanente e nunca concludo. uma atividade social, um trabalho coletivo, produzido por todos os seus falantes, cada vez que eles se interagem por meio da fala ou da escrita.Com efeito, existe todo um conjunto de atitudes, de sentimentos dos falantes para com suas lnguas, para com as variedades de lnguas e para com aqueles que as utilizam, que torna superficial a anlise da lngua como simples instrumento. (...) As atitudes lingusticas exercem, portanto, influncias sobre o comportamento lingustico (CALVET, 2002, p. 65)

A linguagem uma atividade de interao social, ou seja, uma manifestao de competncia comunicativa, definida como capacidade de manter a interao social mediante a produo e o entendimento de textos que funcionam comunicativamente. A criana inicia seu desenvolvimento do processo de socializao segundo o conceito de domnios sociais proposto por Bortoni-Ricardo (2006, p. 23). Segundo a autora, no domnio social onde ocorre a interao humana. Logo, os principais domnios sociais so: a casa (famlia) e a escola. Quando usamos a linguagem para nos comunicar, tambm estamos construindo a reforando os papeis sociais prprios de cada domnio (BORTONI, 2006:23) Para Signorini (2006), o grande desafio de natureza terico-metodolgica, ao focar, por exemplo, processos de regulamentao e desregulamentao da lngua implicam fatores no somente lingusticos, mas sociais, polticos e culturais que corroboram para a legitimao do uso da linguagem numa sociedade dividida e hierarquizada como a nossa. Hoje, a teoria de lngua legtima perde seu valor. Os estudos lingusticos colaboram para um novo conceito de lngua, a lngua social. Marcos Bagno (2003) rompe com vrias crenas que as pessoas possuem acerca do conceito de lngua no Brasil. Em seu livro Preconceito Lingustico, ele prope que

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preciso, portanto, que a escola e todas as demais instituies voltadas para a educao e a cultura abandonem esse mito de unidade do portugus no Brasil, e passem a reconhecer a verdadeira diversidade lingustica de nosso pas para melhor planejarem suas polticas de ao junto populao amplamente marginalizada dos falantes das variedades no-padro. (BAGNO, 2003:19)

J Signorini (2001) cita que lngua varia no tempo e no espao (...); e se adapta ao contexto sociointeracional; o que relativiza o conceito de erro na acepo prescritivista tradicional. A nfase na relao entre variedade lingustica e hierarquizao social invalida o conceito abstrato de uma lngua nacional nica, e a questo da relao fala/escrita acaba se traduzindo pela relao variedade/padro (Bortoni-Ricardo apud Signorini, 2001) O trabalho com o processo de ensino/aprendizagem da lngua necessita de mediadores socioculturais que agem na formao e constituio de nossa conscincia. Segundo Zuin & Reyes (2010 p. 81), os principais meios de mediao so: a famlia, a escola e o professor. A famlia a primeira instncia mediadora entre a criana e o mundo. Por meio da linguagem gestual e da oralidade daqueles que esto ao seu redor, a criana vai se apropriando do conhecimento humano que (...) se manifesta sob a forma de linguagem (ZUIN & REVES, 2010, p. 81), portanto o papel de trazer a linguagem para o mundo da criana fundamental, pois na famlia que ela tem o primeiro contato com a lngua e suas variantes. A escola age como mediadora entre os saberes cientficos e sistmicos e o aprendiz. Pessoa caracteriza a escola enquanto centro de poder. Para ele a escola atua em conformidade com os interesses das classes dominantes, buscando manter as relaes sociais vigentes e, mais que isso, fortalecer a posio desse bloco na correlao das foras de classe. (PESSOA, 1999, p.24). , na escola, portanto que a criana estar em contato com a forma prestigiada da lngua materna, ou seja, a norma-padro (normaculta). J o professor tem o papel fundamental na apropriao da lngua escrita pela criana. Ele quem agir na mediao entre o conhecimento cotidiano e o conhecimento cientfico, favorecendo assim criao de oportunidades de

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aprendizagem. Assim sendo, o ensino da lngua materna deve ser contextualizado, reflexivo, em conjunto, e, principalmente, o professor deve explicar sempre o porqu de tal ensino e aprendizagem. (ZUIN & REYES, 2010, p. 84). 3. O LIVRO DIDTICO E A VARIAO LINGUSTICA 3.1. Descrio do Corpus O professor como visto anteriormente responsvel pelo papel de intermediao entre o aluno e o conhecimento escolar, cultural e social. no ambiente escolar onde o aluno tem a oportunidade de aprofundar e enriquecer seus conhecimentos. Uma das ferramentas utilizadas pelo professor em sala de aula o livro didtico (LD). O LD um material que abrange de forma sistematizada todo o contedo a ser trabalhado no ano letivo. H o Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD) que avalia os diversos materiais existentes no mercado a fim de garantir a qualidade dos conhecimentos do mesmo. No entanto, uma indagao instaurou-se na hora de selecionar tal material. Ser que os livros didticos de lngua portuguesa abordam a questo da variao lingustica? Como isso trabalhado? De acordo com Bagno (2007, p.119), muitos autores tentam arduamente combater o preconceito lingustico e possibilitar o acesso s multiplicidades de variantes lingusticas do portugus, entretanto uma confuso de nomeclaturas persiste nos livros. Muitos autores trabalham com o conceito de normatividade da lngua como normaculta, porm tal nomenclatura acaba estigmatizando as formas menos prestigiadas da lngua. O livro didtico de lngua portuguesa dever garantir o trabalho com as variantes lingusticas de forma que os alunos no considerem que as variedades lingusticas sejam erros ou desvios, mas sim que todas as variedades de uma lngua tem recursos lingusticos suficientes para desempenhar sua funo de veculo de comunicao, de expresso e de interao entre seres humanos (BAGNO: 2005 p. 25)

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3.1.1 Portugus: Linguagens O livro Portugus Linguagens organizado em trinta e seis captulos que perfazem um total de quatro unidades. Analisaremos a seo Comunicao e Linguagem do captulo um da unidade um para verificar se/como as variaes lingusticas so trabalhadas. Os autores, em sua apresentao, mostram a importncia da linguagem atravs do uso em diversas situaes, sejam elas atividades individuais ou coletivas. As diversas linguagens, sejam elas verbais ou no-verbais, se cruzam, se completam e se modificam a todo o momento. Hoje, em mundo globalizado, temos um mundo mais prximo devido aos diversos meios de comunicao e interao, como a mdia e a internet. A obra organizada de acordo com as escolas literrias. No entanto, na unidade um que os autores trabalham com a comunicao, o discurso e seus gneros. O captulo um o mais importante para este trabalho, pois nele que os autores levaro em conta o aspecto e o uso e faro uma reflexo acerca dos componentes da comunicao humana. Os autores iniciam o captulo um com uma tirinha em que os personagens Hagar e Helga dialogam sobre o dia a dia. Eles no mostram nenhuma esperana. Tudo comum, rotineiro at que Helga anuncia sua gravidez e Hagar reage emocionalmente saindo do cho e atravessando o teto. Helga por fim confessa que era uma mentira.

Aps essa ilustrao, Cereja e Magalhes iniciam o captulo com o conceito de mensagem, comunicao e linguagem. Para eles

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mensagem tudo o que uma pessoa transmite a outra em forma de linguagem; j a comunicao ocorre quando, ao emitirmos uma mensagem, nos fazemos entender por uma pessoa e modificamos seu comportamento e finalmente, linguagem a representao do pensamento por meio de sinais que permitem a comunicao e interao entre as pessoas (CEREJA & MAGALHES, 2003, p. 5).

Conclumos que o conceito de linguagem proposto pelos autores segue um pensamento segundo o qual a interao ocorre atravs do envio e recebimento de mensagens e assim a comunicao estabelecida. Logo aps o conceito de linguagem, o livro trata a questo da lngua e suas variaes. Para eles, a lngua se trata de um cdigo formado por um emaranhado de leis e regras que comum a um grupo de pessoas. Apesar de ela ser um cdigo comum e convencionalmente estabelecido, cada um faz uso de forma diferente atravs da fala. A fala individual e seu uso depende de cada falante. Os autores felizmente postulam que a lngua e a fala variam de acordo com cada indivduo. O conceito de variedades lingustica no livro bem satisfatrio tendo em vista que estamos levando em considerao alunos do ensino mdio. Os autores contextualizam o tema questionando o processo de apropriao da lngua e como seu uso em ambientes diferentes contribuem para a questo da variao lingstica. Dizem eles: Variaes lingusticas so as variaes que uma lngua apresenta, de acordo com as condies sociais, culturais, regionais e histricas em que utilizada (CEREJA & MAGALHES, 2003, p. 9). Ainda em relao conceituao de variao lingustica, os autores vo alm quando propem que todas as variedades lingusticas esto corretas, desde que cumpram com eficincia o papel fundamental da lngua o de permitir a interao verbal entre as pessoas (CEREJA & MAGALHES, 2003, p. 9). Nesse primeiro momento, os autores prezam, portanto, pela ampliao do conceito de lngua, muitas vezes limitada pelo aluno que inicia o Ensino Mdio. Um ponto crucial nessa apresentao de Norma Culta e variedades lingusticas no captulo um quando os autores estabelecem que h uma variedade que se destaca pelo prestgio social, que se chama norma-culta. NEVES (2009) conclui que tal

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proposio seja uma orientao para uma adequao sociocultural. E, por fim, ela postula que, na verdade, em geral se erigiram em modelo porque socioculturalmente representam o uso de uma elite intelectual do momento (NEVES, 2009, p. 46). Os autores diferenciam norma-culta de norma popular. Enquanto a primeira a lngua tida como padro, a variedade lingustica de maior prestgio social, a outra so todas as variedades lingusticas diferentes da lngua padro. Outro aspecto importante dessa primeira parte de conceituao a quebra do paradigma de que o lugar onde se fala o melhor portugus do Brasil o Maranho. Os autores justificam que no existe um modelo lingustico que deva ser seguindo. Todas as variedades lingusticas so vlidas no contexto em que esto inseridas. Eles ressaltam que o importante que haja comunicao e interao entre as pessoas. Os autores da obra tambm conceituam a lngua como ao social, cuja compreenso se d como a identificao da personalidade de cada indivduo atravs do uso da lngua. A tira abaixo extrada da pgina nove representa a dificuldade enfrentada por alguns jovens em realizar enunciados mais complexos.

O livro tambm antes do exerccio aborda em um texto resumido a questo das variantes diatpicas (regionais), diafsicas (funes e estilos) e diastrticas (camadas sociais). O material prope dois tipos bsicos: dialetos e registros. LANGACKER (1975) conceitua dialeto como conjunto de sistemas lingusticos que compartilham pelo menos um trao lingustico comum. J variaes de registro

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ocorrem de acordo com o grau de formalismo existente na situao de uso. O grau de formalismo subdivide-se em: formal, coloquial e informal. Uma percepo interessante no livro quando o autor utiliza o poema Cuitelinho de Paulo Vanzolini para caracterizar a variedade caipira porque de forma sutil ele mostra que o falar caipira to significativo quanto qualquer outra. No entanto o poema foi retirado do livro A Lngua de Eullia de Marcos Bagno (2005) onde o autor trabalha com a quebra de paradigmas sobre o preconceito lingustico. Em tal livro, Bagno atravs da personagem Irene postula que os estigmas fala de caipira, fala de matuto, lngua de jeca, lngua de caboclo, portugus errado so repletos de preconceito social. possvel notar que, portanto, os autores caracterizam essas variedades como subdivises de uma norma superior.

Na tirinha abaixo, o LD trabalha com as diferentes formas de registro e estilo. Cada falante tem no apenas seu sistema lingustico nico, mas tem tambm diferentes estilos de fala que emprega em circunstncias diversas (LANGACKER, 1975. p. 59). O personagem, alm de utilizar a norma-culta, emprega um registro formal que seria comum na lngua escrita, e no na oralidade. Duas interpretaes, segundo os autores, podem estar presentes: A primeira seria por causa da idade elevada do personagem e a segunda seria para impressionar os interlocutores da situao.

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Ainda em relao s variantes de estilo, os autores trabalham com o conceito de gria. Fica claro no livro que o uso de grias ocorre a fim de delimitar determinados grupos sociais como o dos internautas, clubbers entre outros. Tal fenmeno ocasiona, portanto, fronteiras lingusticas que formam os diversos dialetos e idioletos2.

possvel concluir que o livro aborda muitas questes em relao s variantes lingusticas para alunos do Ensino Mdio, no entanto notamos que os exerccios so simples e superficiais. Os alunos tm que somente identificar as variaes. Eles poderiam ser motivados a trabalhar de forma mais aprofundada com anlise das diversas variaes e justificar o porqu. Considerando que o livro atende maioria das expectativas, ele precisa somente de alguns ajustes que podero ser feitos em uma nova edio.

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O termo idioleto , portanto, frequentemente usado para designar o dialeto de uma pessoa (LANGACKER, 1975, p. 58)

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3.2 Portugus Srie Novo Ensino Mdio Vol. nico O livro Portugus Srie Novo Ensino Mdio um manual de ensino de Lngua Portuguesa, Literatura e Produo Textual para alunos do primeiro ao terceiro ano no EM. A obra organizada em quarenta e nove unidades que regem a linha das escolas literrias. Levaremos em considerao a unidade um que trabalha com a lngua e suas variaes. O autor, Joo Domingues Maia, em sua introduo nos leva a refletir acerca das novas tendncias do ensino de Lngua Portuguesa. Para ele a repetio e a padronizao j no tm mais espao na sala de aula. necessrio investir na criatividade e no conhecimento de mundo do aluno. Por tudo isso, a Lngua Portuguesa deve ser vista de acordo com a necessidade do aluno, no entanto neste primeiro momento, o autor no cita nada a respeito da diversidade lingstica no Brasil. A primeira unidade se intitula A lngua e suas variedades. Neste primeiro momento, temos ideia que a unidade levar em conta as diferentes formas de expresso atravs da lngua. O texto que abre a unidade prope a reflexo de cada brasileiro necessita conhecer mais sua prpria lngua. Nomeado como Ser poliglota na prpria lngua, o texto do gramtico Evanildo Bechara aborda as diferentes formas de expresso no pas e a necessidade de conhecer a maioria dessas realidades que h na sociedade. Um destaque interessante quando o autor aponta para uma forma que mais prestigiada e que no utilizada todos os dias, que se chama lngua padro e o conceito est relacionado a uma etiqueta social e cultural que foi imposta a esta variedade. Ele conclui dizendo que a lngua padro adquiriu uma propriedade de etiqueta e que o limite entre as variedades chama-se adequao. Aps a leitura do texto, o livro prope exerccios que so mais do que formas de fixao, eles induzem a uma viso crtica pelos alunos. O primeiro grupo de exerccios leva o aluno a questes fundamentais para compreenso da leitura. uma forma de iniciar um debate/discusso acerca do tema. Essa seo nomeada como Margens do Texto

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Nesse momento, as questes levam o aluno a refletir sobre a compreenso das variaes lingusticas. Cada pergunta traz uma afirmao do texto seguida da questo. A primeira reflete a questo do uso da lngua segundo diversos fatores e induz o aluno a refletir sobre a recomendao do professor Bechara. J a segunda leva em considerao a maneira que cada um fala e como a adequao lingstica importante no discurso. As outras tm o objetivo de fazer o aluno encontrar no texto as referncias aplicadas nas questes. No segundo momento, as questes no mais aprofundadas e mais reflexivas. Agora na seo Horizontes do Texto, o leitor depara-se com uma questo mais elabora e que existe um senso crtico e analtico. Nessa questo, investiga-se se escola estaria prejudicando o aprendizado da norma culta quando ela rejeita a lngua que a criana ou o jovem traz de seu meio. possvel concluir que os alunos so levados crtica do uso das variantes da lngua e do aprendizado na norma culta. Na seo chamada Intertextualidade, o leitor levado a distinguir a adequao da forma coloquial com o uso da norma-padro. As questes propostas visam ao aluno em notar as diferentes situaes em que ele faz uso das modalidades informais e formais. notria a vontade do autor em apresentar a norma culta e aceitar que h outras formas lingsticas possveis na sociedade.

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Aps esse primeiro grupo de exerccios, a unidade trabalhar com a questo da comunicao e expresso. Essa seo do material didtico foca no uso e subdivide-se em: Variedades Lingsticas, Gria, jargo e calo, As variedades cultas, Linguagem oral e linguagem escrita, O preconceito lingustico e o porqu estudar a lngua padro. O autor inicia o tema com a seguinte frase: Uma lngua no falada de maneira idntica pelos seus usurios. (MAIA, 2003, p.12) Percebemos que nesse incio o autor acredita que h outras formas de falar. Ele exemplifica comparando a fala dos gachos com a fala de outros estados. A justificativa dele , portanto, que essas variaes so principalmente de natureza fontica, lexical e sinttica. A lngua tambm varia de acordo com a regio, faixa etria, classe social, poca entre outros. Para ele as variaes decorrem do falante, no que tange a regio onde nasce, o meio social, enfim aspectos inerentes a cada um, e da situao que est relacionado s escolhas do registro de acordo com a situao. O autor explica que um advogado faz diferentes usos da lngua quando, por exemplo, fala com os colegas e quando est perante a um juiz. Ele conceitua o registro de acordo com o nvel de formalidade do ato de fala. O livro faz a distino entre registros e grias. O autor ilustra o conceito de gria atravs da tirinha onde os personagens se comunicam atravs delas. A ilustrao mostra como jovens de uma determinada classe social se comunicam, muitas pessoas consideram tal uso como forma sem prestgio e com isso aumentam a tendncia de estigmatizao das variantes do portugus.

Grias e jarges so cdigos lingusticos prprios de um grupo sociocultural ou profissional, no entanto h uma desvalorizao e uma viso negativa das grias. O autor exemplifica que as grias so utilizadas por marginais, surfistas entre outros inclusive

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policiais, j que jarges so formas prprias de cada profisso, tais como os jarges utilizados por mdicos, advogados e economistas. E os policiais? Por que eles utilizam grias e no jarges? Essa questo surge quando a conceituao apresentada.

Aps traar um panorama lingstico considerando as variantes no padres, o autor conceitua a normativizao da lngua atravs do conceito de variedades cultas. O cita que todos temos uma capacidade inata para a comunicao e que o uso oral da lngua independe da escolarizao do indivduo. No entanto na escola que o aluno deve conhecer os padres lingusticos a serem utilizados em situaes formais, que o autor nomeia norma-culta ou norma-padro. Vale relembrar que Possenti prope que o objetivo da escola seja ensinar o portugus padro, ou, talvez mais exatamente, o de criar condies para que ele seja apreendido. (POSSENTI, 2009, p.17). O conceito de culto ou padro relaciona-se com o uso da lngua em situaes formais e cientficas. Ele tambm prope que h mais de uma norma culta, ele considera que pessoas de regies diferentes possuem normas cultas diferentes. Portanto a nomenclatura mais apropriada seria de variedades cultas. A seo Linguagem oral e linguagem escrita vem diferenciar fala e lngua. Segundo o livro didtico, a fala inata e inerente ao indivduo. Ela natural, espontnea e no planejado. H momentos em que a fala controlada e planejada, o caso dos discursos e falas formais. J a linguagem escrita manipulado e adequado situao pelo falante. No entanto h textos escritos no planejados e falas orais planejadas. As duas principais sees abordam o preconceito lingustico e o porqu estudar a lngua padro. O autor prope que afirmar que algum no sabe falar corretamente porque no utiliza a variedade de maior prestgio desconhecer a diversidade lingustica

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brasileira. A tirinha abaixo, utilizada pelo autor, representa uma forma estigmatizada da lngua. O falar do interior ainda visto como errado e inadequado. Infelizmente no h uma discusso mais aprofundada acerca do tema.

O autor encerra a unidade levantando a questo de o porqu estudar a lngua padro. A escola deve promover o acesso s normas prestigiadas pela literatura, cincias, pelo meio acadmico em geral. Entretanto a escola tambm tem o dever de reduzir as diferenas sociais, promovendo a apresentao, aceitao e anlise das variantes que no so de prestgio. A escola promove a formao de profissionais e tambm a formao de cidados. Infelizmente muitas escolas e professores preservam uma ideia tradicionalista de restringir o ensino da lngua ao ensino da gramtica. Temos um rumo tortuoso onde devemos quebrar diversos paradigmas a fim de promover uma sociedade mais justa e igualitria considerando a lngua promove a interao entre os povos. 4. ANLISE DO MATERIAL DIDTICO 4.1. Portugus: Linguagens Volume 1 Finalmente depois de trs pginas de boas consideraes sobre a linguagem e suas variaes, os exerccios so propostos. As tarefas so bem significativas para alunos do Ensino Mdio. Dentre os exerccios presentes, analisaremos dois deles.

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O primeiro exerccio visa fomentar a identificao das variaes regionais. O anncio publicado amplia a viso dos servios prestados pelos correios. Os alunos esto supostos a identificarem a variao lingustica presente e a inteno do anunciante em utilizar uma forma diferente da norma-padro. Vemos que tal atividade motiva a viso crtica dos alunos, pois eles so expostos situaes reais da lngua. J o segundo exerccio abaixo trabalhar com a questo das variantes de estilos. Notamos que o autor trabalha novamente com o gnero anncio e que desta vez o foco est no uso e no grau de formalidade. A tarefa bem simples em relao a anlise lingustica, os autores poderiam solicitar a anlise mais profunda da variante em

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questo.

4.2. Portugus Novo Ensino. Mdio Vol. nico Os exerccios propostos ao final da unidade so bem simples. A primeira tarefa os alunos devem analisar a tirinha e identificar os conceitos propostos, marcando as opes incorretas. A segunda questo aborda a variante geogrfica da LP. O aluno deve encontrar marcas no texto que comprovem que o mesmo foi escrito em Portugal. J a pergunta nmero quatro trabalha com o registro. A questo pede que o leitor identifique o discurso mais apropriado com a situao. A questo cinco aborda a ideia de preconceito lingstico e o uso de formas estigmatizadas por falantes cultos da lngua. E finalmente a ltima questo funciona como um grande resumo acerca de todo contedo apresentado na unidade. O aluno deve marcar as afirmaes falsas em relao lngua portuguesa e ao seu ensino. Aps esses exerccios, h a produo textual. Os alunos

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recebem duas opes de temas a dissertar e eles devem desenvolver o tema de acordo com o que foi debatido. possvel notar que a primeira parte dos exerccios so bem simples e no requer uma viso crtica dos alunos. Os autores deveriam fomentar mais o debate e as questes relativas ao uso de lngua de forma mais aprofundada. Conclui-se que essa apresentao neste material abrange muitos conceitos acerca das variantes da Lngua Portuguesa, no entanto essa abordagem superficial. Devemos investir mais nos temas que so significativos na sociedade.

CONCLUSO

Este trabalho abordou de forma significativa se e como alguns livros didticos de Lngua Portuguesa abordam a questo das variantes da lngua em seu contedo. Aps apresentao dos conceitos de preconceito lingustico, norma padro e variantes da lngua, percebemos que a lngua varia e heterognea, tornando-se necessrio que seja apresentada de forma a ir alm da normatividade e abranger todas as formas de expresso lingustica. Conforme j apresentado, o conceito de norma rompe o paradigma de preconceito, ele age como lngua legtima. Verificamos que no h uma nica norma padro. H diversos registros formais de acordo com a situao empregada. Identificando que nos LD analisados encontramos bem a conceituao de preconceito lingustico e como trabalh-lo no cotidiano.

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Infelizmente a nossa conjuntura escolar ainda no possibilita plenamente o trabalho com as diferenas. A escola ainda no se tornou um espao democrtico de modo a contemplar todos. necessrio que o foco seja os alunos e suas particularidades. A estrutura escolar ainda est engajada nos padres tradicionais e opressores; no garante e equidade lingstica nem social. Alguns professores, no entanto, decidiram ir alm e propor novas formas de viso. O livro didtico tem acompanhando essas mudanas formais, como o PNLD e o Novo Ensino Mdio. Acreditamos em um ensino da gramtica normativa de modo a possibilitar ao aluno o encontro ao conhecimento formal, no como uma forma opressora de ensino. necessrio apresentar e compreender a heterogeneidade da sala de aula seja ela tnica, cultural, social ou lingustica. A lngua envolve atitudes. Ela mais que uma ferramenta, ela constitui a interao. Compete comunidade acadmica (professores, livro didtico, pais...) a responsabilidade de permitir acesso ao conhecimento formal e garantir que sejam discutidos questes que possam causar o preconceito e a intolerncia a todas as pessoas que no tiveram acesso escola. Escola relaciona-se com troca de experincias. Necessitamos negociar significados se queremos conviver em uma sociedade mais justa. A lngua possibilita essa relao. Ampliar a viso de mundo do aluno isso que possibilita a aceitao da diversidade lingusticas. Devemos lutar para sermos respeitados, mas devemos principalmente respeitar primeiramente. Dois livros didticos muito utilizados por diversas escolas foram analisados, e em ambos constatamos que h uma proposta inovadora no que tange o trabalho com as variantes da lngua, entretanto tal ideia superficial. O primeiro livro apresenta de forma sucinta a questo, porm eles propem aos professores que devam ir alm e trazer para o ambiente escolar uma discusso contnua sobre a lngua; j o segundo livro aborda mais questes que trabalham com a estigmatizao da lngua. Os professores tambm devem manter-se sempre atualizados acerca das questes lingsticas que permeiam nossa sociedade. Conclui-se, portanto que a escolha do livro didtico a chave crucial para que o professor tenha subsdios fortes ao ponto de garantir o debate aos alunos acerca da

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lngua. Os livros analisados possibilitam uma reflexo, mesmo superficial ao aluno de forma a compreender que todos somos diferentes e, portanto no necessariamente nos expressamos da mesma forma.

REFERNCIA BIBLIOGRFICA BAGNO, Marcos. A lngua de Eullia Uma novela sociolingustica. So Paulo: Contexto, 2005. _______________. Preconceito Lingstico: O que ? Como se faz? So Paulo: Loyola, 2004 BORTONI-RICARDO, Stella Maria. Educao em lngua materna: a sociolingustica na sala de aula. So Paulo: Parbola, 2004 BRITO, Luiz Percival de Leme. A Sombra do Caos: ensino de lngua x tradio gramatical. So Paulo: Mercado de Letras, 1997. CALVET, Louis-Jean. Sociolingstica: uma introduo crtica. Traduo de Marcos Marcionilo. So Paulo: Parbola, 2002.

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CASTILHO, Ataliba T. A lngua falada no ensino de portugus. So Paulo: Contexto, 2000. CEREJA, William Roberto & MAGALHES, Thereza Cochar. Portugus: Linguagens vol. 1. So Paulo: Atual, 2003 LANGACKER, Ronald W. A linguagem e sua estrutura. Petrpolis: Vozes, 1975. NEVES, Maria Helena de Moura. Que gramtica estudar na escola? So Paulo: Contexto, 2009. NICOLA, Jos de, CAVALLETE, Floriana Toscana & TERRA, Ernani. Portugus para o Ensino Mdio Srie Parmetros. So Paulo: Scipione, 2003. ORLANDI, Eni. A linguagem e seu funcionamento: As formas do discurso. So Paulo: Pontes, 1987 PESSOA, Enildo. A escola e a libertao humana. Petrpolis: Vozes, 1999. POSSENTI, Srio. Por que (no) ensinar gramtica na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2009. SIGNORI, Ins. A questo da lngua legtima na sociedade democrtica: Um desafio para a lingstica aplicada contempornea. In: LOPES, Luiz Paulo de Moita [org.]. Por uma Lingustica Aplicada Indisciplinar. So Paulo: Parbola, 2006 SOARES, Magda. Linguagem e Escola. So Paulo: tica, 1999. STUBBS, Michael. Linguagem, escolas e aulas. Lisboa: Livros Horizontes, 1987. TARALLO, Fernando. A pesquisa sociolingstica. So Paulo: tica, 2001. ZUIN, Poliana Bruno & REYES, Claudia Raimundo. O Ensino da Lngua Materna Dialogando com Vygotsky, Bakhtin e Freire. Aparecida: Idias e Letras: 2010.

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ANEXO 1 Portugus: Linguagens Willian Roberto Cereja & Tereza Cochar Magalhes Unidade 1 Captulo 1 (p.4 19)

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ANEXO 1 Portugus Srie Novo Ensino Mdio Maia Unidade 1 - (p. 10-17)

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