republicando · 2018-10-01 · horas de discussão em 320 sessões plenárias, e foi esse esforço...

1
republicando o boletim do museu da república ano 8 | 10 MUSEU DA REPÚBLICA Rua do Catete, 153 Rio de Janeiro |RJ tel: 2127 0324 [email protected] museudarepublica.museus.gov.br A nossa Constituição está fazendo trinta anos. Destacou- se, não por ter sido fruto de uma Assembleia Nacional Constituinte, porque tivemos outras Constituintes, mas por ter sido elaborada por meio de uma das maiores mobilizações populares vividas no país, se não a maior de todas. E esse processo de participação popular mudou tudo, pois, como afirmou um dos grandes participantes do mesmo, Roberto Michiles, o “resultado de uma Constituinte é uma Constituição escrita e codificada. Entre nós, foi muito além, porque o “processo” – isto é, a mobilização, o aprendizado, a participação, a pressão – foi maior e mais didático do que o próprio texto” 1 . Era a oportunidade de mobilizar o maior número possível de brasileiros. Queriam ser ouvidos – e atendidos – já que antecipavam o cumprimento das promessas de novos tempos, e pretendiam conseguir viver sob outra ordem social e econômica, distintas das que caracterizaram mais de duas décadas de ditadura 2 .Segundo o Jornal do Senado para a promulgação da Carta, no dia 5 de outubro de 1988, foram empenhados 20 meses e 9 mil horas de discussão em 320 sessões plenárias, e foi esse esforço conjunto o instrumento maior que colocou ponto final na transição democrática 3 . O Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República guarda um acervo original e significativo do processo constituinte, com obras de arte originais sobre o tema: pinturas, desenhos e fotografias de artistas, cartas para parlamentares enviadas por cidadãos de várias partes, gravações em áudio e vídeo, recortes de jornais da época, livros e vários outros registros que podem ser consultados por interessados na história do Brasil. O material é fruto da intensa participação de pessoas e suas organizações e funcionavam como chamado, comemoração ou outras formas de comunicação entre grupos da sociedade. Foi coletado durante o processo de elaboração da Constituição pelo Programa Pró-Memória da Constituinte, da Fundação Nacional Pró-Memória do Ministério da Cultura. A seguir, no pequeno espaço deste Boletim Republicando , apresentamos alguns exemplos do conteúdo da nossa Coleção Memória da Constituinte, que está disponível aos interessados. Instalação da Assembleia Nacional Constuinte, em 1º de fevereiro de 1987. Foto: Cooperava Agil. Acervo Museu da República. outubro de 1988: Não esqueçamos a constituição que escrevemos juntos EXPOSIÇÕES GABINETE REPUBLICANO DE HISTÓRIAS CONTROVERSAS, NÃO DITAS E MAL DITAS A história da república brasileira pode ser lida como um grande e sempre aberto gabinete de histórias controversas, não ditas, mal ditas, silenciadas, apagadas, esquecidas... Novas fontes, novos documentários, metodologias, análises, formas de ler e escrever produzem novas narravas, outras versões, capazes, em alguns casos, de revolucionar o passado e de reencenar no presente a sua dramaturgia. Local: Palácio do Catete Horário: de terça a sexta-feir,a das 10h às 16h Sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h30min Realização: Museu da República RAUL MOURÃO: FORA/DENTRO Fora/Dentro, a exposição que o arsta Raul Mourão traz para o Museu da República, dá indícios já pelo tulo a que se propõe. Não só através das obras apresentadas, mas também pelo deslocamento dos visitantes para conhecê-las: a Galeria do Lago abriga seus trabalhos menores, enquanto os jardins do #museudarepublica são ocupados por seis grandes esculturas de aço corten que chegam a medir mais de 4 metros. Sob a curadoria de Isabel Sanson Portella, que também é diretora da Galeria, maquetes, esculturas, objetos, fotografias e vídeo expõem o caráter ambíguo e lúdico de Fora/Dentro. Local: Galeria do Lago Visitação: 27 de setembro a 2 de dezembro Horário: De terça a sexta, das 10h às 17h Sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h30 Realização: Galeria do Lago/Museu da República UM PALÁCIO E SUAS MEMÓRIAS Em 2017, o Palácio do Catete comemora 150 anos do término de sua construção e 120 anos da instalação da Presidência da República no local. A mostra procura contar a história da edificação do palácio, a ocupação pela Presidência e a transformação da anga sede do governo federal no Museu da República. Local: Páo interno Horário: De segunda-feira a domingo, das 8h às 20h Realização: Museu da República PRÊMIO FOTOGRÁFICO DO CENSO AGRO 2017 Exposição de fotos do Prêmio Fotográfico do Censo Agro 2017 realizadas pelos pesquisadores do IBGE durante o trabalho de Coleta do Censo Agro 2017. Local: Jardim Visitação: até 5 de outubro Horário: das 8h às 17h30 Realização: IBGE *No caso de exposições no Palácio do Catete, a entrada de visitantes é encerrada 30 minutos antes do fechamento do Palácio. O U T U B R O SERESTA NO MUSEU DA REPÚBLICA Evento interavo, parcipavo e aberto ao público, organizado pelos frequentadores do Museu. Local: Páo interno próximo à Silveira Marns Horário: das 17h às 20h (de terça a sexta-feira) Das 15h às 18h (sábados e domingos) MAIS SERESTA NO JARDIM DO MUSEU DA REPÚBLICA Evento aberto ao público, realizado há 22 anos e organizado pelo seresteiro Gilmar Santoro. Local: Jardim, próximo ao chafariz e aleia do Coreto Todos os domingos Horário: das 15h às 17h30 DIA 1 A 6 PRÊMIO FOTOGRÁFICO DO CENSO AGRO 2017 Sinopse: Exposição de fotos do Prêmio Fotográfico do Censo Agro 2017 realizadas pelos pesquisadores do IBGE durante o trabalho de coleta do censo Agro 2017, com imagens de todo o país. Local: Aleia da Silveira Marns Horário: das 10h às 17h Realização: Instuto Brasileiro de Geografia e Estasca DIA 2 MÚSICA NO MUSEU Programa: Apresentação de clássicos brasileiros. Local: Auditório Horário: das 12h30 às 14h Realização: Sergio Costa e Silva (CARPEX) DIAS 4, 11, 18 E 25 METODOLOGIA DA PESQUISA EM ARTE Programa: Aula ministrada pela Escola de Belas Artes -UFRJ Local: Espaço Mulmídia Horário: das 9h às 13h Realização: Escola de Belas Artes - UFRJ DIA 6 LANÇAMENTO DO LIVRO MEU AMIGO ESPECIAL Sinopse: O livro inspirado na amizade dos alunos ditos normais com os alunos que apresentam necessidades especiais. Local: Páo Interno Horário: das 14h às 18h Realização: Paula Rodrigues Guimarães (autora) DIA 6 CURSO: INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA PRETA – MÓDULO I Sinopse: A pauta central do curso é um diálogo com intelectuais negros do campo da saúde mental, como Frantz Fanon e Wade Nobles para apontar os caminhos para o tratamento dos impactos do racismo na subjevidade das pessoas negras. Local: Auditório Horário: das 16h às 20h Realização: Lucas Veiga DIAS 6, 13 E 27 OFICINA AFROGRAFITEIRAS Oficinas de formação em arte urbana, focadas na expressão e promoção do protagonismo de mulheres afro-brasileiras. Envolve temácas em arte urbana como veículo da comunicação, empreendedorismo social, produção cultural, economia criava, novas tecnologias da comunicação, informação e markeng viral. Local: Espaço Educação e Jardim Horário: das 10h às 17h30min Realização: NAMI/Rede Feminina de Arte Urbana DIA 12 MÚSICA NO MUSEU Programa: Apresentação de clássicos brasileiros. Local: Auditório Horário: das 12h30 às 14h Realização: Sergio Costa e Silva (CARPEX) DIA 14 MÚSICA NO MUSEU Programa: Comemoração do Dia das Crianças e dos Professores com Camerata do Uerê - Comunidade da Maré e Seleção dos Imortais da Música Brasileira e dos Gênios Internacionais. Local: Auditório Horário: das 12h30 às 14h Realização: Sergio Costa e Silva (CARPEX) DIA 14 PEÇA TEATRAL PQP, BRASIL! Sinopse: Uma família bastante estressada passa por dificuldades financeiras e medo da violência urbana. A situação chega ao clímax quando é interrompida, a cena se congela e os atores pedem ajuda à plateia para dar connuidade à história. Local: Auditório Horário: das 17h às 19h Realização: Cia Militantes em Cena DIA 17 CINECLUBE MUSEU DA REPÚBLICA - COMEMORAÇÃO DOS 110 ANOS DE CARTOLA Exibição do filme Música para os olhos Sinopse: Lançado em 2006, com direção de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, o documentário “Cartola: música para os olhos” uliza entrevistas e imagens de arquivo para contar a história de Cartola, um dos maiores compositores da música popular brasileira e figura fundamental na história do carnaval carioca, por ser um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira. Esta edição do Cineclube é uma homenagem aos 110 anos de Angenor de Oliveira, o Cartola, nascido no dia 11 de outubro de 1908 na rua Ferreira Viana, no Catete. Local: Espaço Mulmídia Horário: das 18h às 21h Realização: Museu da República. DIA 18, 19, 20 E 21 PRIMAVERA LITERÁRIA - 18 ANOS Sinopse: Livros, cultura e resistência. A Primavera Literária é uma feira de editoras independentes que está comemorando 18 anos e volta ao Museu da República para mais uma ação em prol da bibliodiversidade! Local: Espaço Educação e Mulmídia, Auditório e Jardim Horário: das 10h às 17h Realização: Libre - Liga Brasileira de Editoras Independentes Mais informações: hps://www.facebook.com/ ligabrasileiradeeditoras/ DIA 22 CICLO FAYGA OSTROWER: ANNA BELLA GEIGER: 60 ANOS DO PRÊMIO DA BIENAL DE VENEZA Sinopse: O Ciclo Fayga Ostrower tem como objevo comemorar efemérides da arsta, educadora e escritora Fayga Ostrower. Nesta data, Maria Luisa Tavora apresenta os 50 anos do Polípco do Itamaraty. Local: Espaço Mulmídia Horário: das 18h às 20h Realização: Noni Ostrower DIA 23, 24, 25 E 26 5º ENCONTRO DE PESQUISADORES DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Sinopse: Palestras e conferências sobre “Corpo e território: arte em disputa. Local: Auditório Horário: das 13h às 20h30 Realização: Escola de Belas Artes - UFRJ DIA 25 CINECLUBE MUSEU DA REPÚBLICA Soldados do Araguaia Sinopse: Durante o período de ditadura militar no Brasil, um grupo de soldados de baixa patente foi enviado para a Amazônia a fim de exterminar a chamada Guerrilha do Araguaia, um movimento de luta armada que era contra a ditadura. Depois de quarenta anos, os sobreviventes desta missão relatam pela primeira vez suas experiências em combate. Local: Espaço Mulmídia Horário: das 18h às 21h Realização: Museu da República. DIA 27 LEITURA DRAMATIZADA Que pena ser só ladrão de João do Rio Sinopse: Um ladrão muito esperto tenta assaltar a casa de uma senhora, também muito esperta, e o resultado desse encontro tem um final surpreendente. Local: Coreto do Jardim Horário: das 15h às 17h Realização: Cia Teatral Escolhidos da Ribalta. DIA 28 OFICINA DE PRÁTICAS MANUAIS Sinopse: Mãos em Movimento no Parque é uma roda aberta ao público interessado em exercer prácas manuais de crochê e tricô ao ar livre. Local: Jardim Horário: das 10h às 14h Realização: Bordado Mágico DIA 28 FEIRA DE FOTOS Sinopse: Exposição de fotos de diversos profissionais do Rio de Janeiro. Local: Aleia da Silveira Marns Horário: das 9h às 18h Realização: Associação de Fotógrafos do Rio de Janeiro. DIA 30 55ª JORNADA REPUBLICANA A fome do mundo, reflexões e ações para a erradicação da pobreza Sinopse: Por uma proposição da Assembleia Geral das Nações Unidas, comemoramos, em 17 de outubro, o Dia Internacional para a erradicação da pobreza. Diante dos avanços e retrocessos experimentados nos úlmos tempos, estes úlmos exemplificados pelo aumento das desigualdades social e de gênero e pelo incêndio que destruiu o Museu Nacional, o Museu da República considera urgente abrir um espaço para debater e refler sobre o presente e o futuro da sociedade brasileira. Local: Espaço Mulmídia Horário: das 18h às 21h Realização: Museu da República. Assessoria de Comunicação: Isabela Borsani, Daniela Matera, Jorge Granja, Lula Dias. Estagiária: Ana Reis. MUSEU DA REPÚBLICA REFERÊNCIAS 1 MICHILES, Carlos [et al.]. Cidadão Constuinte: a saga das emendas populares. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989, p. 390. 2 SÜSSEKIND, Elizabeth, A Constuinte de 1987-1988 contada pela história do Centro Pró-Memória da Constuinte. Rio de Janeiro, Museu da República, 2017, disponível em http://museudarepublica.museus.gov.br/wp-content/ uploads/2017/06/a-constituinte-de-1987-1988-contada- pela-historia-do-programa-pro-memoria-da-constuinte. pdf 3 Idem, ibidem. Ao centro, o deputado Ulysses Guimarães com um cocar sobre a cabeça e rodeado por índios com suas propostas e exigências, na Sala da Presidência da Assembleia Nacional Constuinte, em 22 de abril de 1987. Foto: Cooperava Agil. Acervo Museu da República Cartaz ilustrado pelo cartunista Henfil para o Plenário Pró-Parcipação Popular na Constuinte, organização da sociedade que teve papel importanssimo durante o processo Constuinte. Acervo Museu da República. Mulheres de todo o Brasil se uniram em várias endades formando o avíssimo Lobby do Baton. Acervo Museu da República. NOTA DE REPÚDIO Nós, trabalhadores e trabalhadoras do Instituto Brasileiro de Museus, autarquia do Ministério da Cultura, criada pela lei 11906 de 20 de janeiro de 2009, que tem a missão de promover a valorização dos museus e do campo museal a fim de garantir o direito às memórias, o respeito a diversidade e a universalidade de acesso aos bens musealizados, REPUDIAMOS a criação da Agência Brasileira de Museus, a extinção deste Instituto e a privatização das políticas públicas de museus. O processo de mudança institucional imposto, sem diálogo com os trabalhadores e trabalhadoras, a sociedade civil organizada, o Sistema Brasileiro de Museus, o Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico, o comitê consultivo do programa pontos de memória, bem como todo o setor museológico, impossibilita a implementação da Política Nacional de Museus, a função social da memória e precariza a gestão, além de desrespeitar os profissionais que atuam nesse campo ao longo desses 200 anos de história museológica brasileira. A mudança imposta por esse governo a 25 dias das eleições é ilegítima e contraria o dever constitucional do estado brasileiro de garantir o pleno exercício dos direitos culturais e acessos às fontes da cultura nacional. Nossa pauta inegociável é a SUSPENSÃO IMEDIATA das medidas provisórias n°850 e 851 e o urgente debate sobre os encaminhamentos da Política Nacional de Museus que vem sendo implementada desde 2003. TRABALHADORES E TRABALHADORAS DO INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS OS MUSEUS VIVEM NA MEMÓRIA N o mês passado, o Boletim Republicando havia falado sobre o sentido e usos históricos da festa cívica de dia da Independência. Não se imaginava, até então, que o mês de setembro começaria com o incêndio do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, acontecimento simbólico do quão longe estamos, apesar de toda retórica patriótica, da autonomia em termos da memória, da produção de conhecimento científico e histórico e da preservação do nosso patrimônio cultural. Se compreendermos a política como meio de atuar ou influir nas relações de poder de uma sociedade, então podemos ver que há política dentro e ao redor dos museus. Afinal, quanto ao patrimônio histórico, científico e cultural, a escolha do que deve ser lembrado ou esquecido, preservado ou destruído depende das relações de poder existentes na sociedade. Criado em 1808, numa época em que o conhecimento científico e histórico era visto como indício do progresso e da civilização de um Estado-Nação, o Museu Nacional surgiu como instrumento de afirmação da identidade de uma recém-criada comunidade política, o Reino do Brasil. Duzentos anos depois, sua destruição foi a trágica apoteose de uma política de esquecimento mantida por décadas, através de decisões e omissões dos setores público e privado, das mistificações de órgãos da imprensa dependentes desses poderes e da passividade instrumentalizada dos cidadãos. Agora, os destroços incendiados do maior museu de história natural da América Latina são lugar de memória do processo estrutural de desmantelamento de tudo aquilo que é público, no sentido republicano do termo: do que deveria ser mantido por todos para o benefício de todos. Como resultado disso, o patrimônio histórico e científico do Museu Nacional, que deveria ser de todos, agora é de ninguém. Fachada do Museu Nacional. Foto: Rafael Moura/Divulgação: Museu Nacional. Museu Nacional Vive nas escolas! Está no ar a campanha de financiamento coletivo que irá retomar as atividades do Museu Nacional junto às escolas do ensino fundamental e médio! Para participar, acesse https://benfeitoria.com/museunacional . É possível doar a partir de vinte reais! Precisamos alcançar duas metas: - A primeira, de 50 mil reais, vai possibilitar a criação de um catálogo digital da Coleção Didática da Seção de Assistência ao Ensino, acondicionar esse acervo e promover a ida de nossos educadores às escolas. - A segunda, de 300 mil reais, vai permitir a realização de visitas mediadas com estudantes em um circuito nos localizados no Horto Botânico do Museu. Além disso, será criado um espaço interativo para visitação de escolas, com exposições da coleção didática e do acervo de botânica e de zoologia. Participe, divulgue e compartilhe esta ideia! Pesquisa e texto: Carla Costa, Elizabeth Sussekind e Paulo Celso Corrêa.

Transcript of republicando · 2018-10-01 · horas de discussão em 320 sessões plenárias, e foi esse esforço...

Page 1: republicando · 2018-10-01 · horas de discussão em 320 sessões plenárias, e foi esse esforço conjunto o instrumento ... recortes de jornais da época, livros e vários outros

republicandoo boletim do museu da república

ano 8 | 10

MUSEU DA REPÚBLICARua do Catete, 153 Rio de Janeiro |RJtel: 2127 0324 [email protected]

A nossa Constituição está fazendo trinta anos. Destacou-se, não por ter sido fruto de uma

Assembleia Nacional Constituinte, porque tivemos outras Constituintes, mas por ter sido elaborada por meio de uma das maiores mobilizações populares vividas no país, se não a maior de todas. E esse processo de participação popular mudou tudo, pois, como afirmou um dos grandes participantes do mesmo, Roberto Michiles, o “resultado de uma Constituinte é uma Constituição escrita e codificada. Entre nós, foi muito além, porque o “processo” – isto é, a mobilização, o aprendizado, a participação, a pressão – foi maior e mais didático do que o próprio texto”1.

Era a oportunidade de mobilizar o maior número possível de brasileiros. Queriam ser ouvidos – e atendidos – já que antecipavam o cumprimento das promessas de novos tempos, e pretendiam conseguir viver sob outra ordem social e econômica, distintas das que caracterizaram mais de duas décadas de ditadura2 .Segundo o Jornal do Senado para a promulgação da Carta, no dia 5 de outubro de 1988, foram empenhados 20 meses e 9 mil horas de discussão em 320 sessões plenárias, e foi esse esforço conjunto o instrumento maior que colocou ponto final na transição democrática3.

O Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República guarda um acervo original e significativo do processo constituinte, com obras de arte originais sobre o tema: pinturas, desenhos e fotografias de artistas, cartas para parlamentares enviadas por cidadãos de várias partes, gravações em áudio e vídeo, recortes de jornais da época, livros e vários outros registros que podem ser consultados por interessados na história do Brasil. O material é fruto da intensa participação de pessoas e suas organizações e funcionavam como chamado, comemoração ou outras formas de comunicação entre grupos da sociedade. Foi coletado durante o processo de elaboração da Constituição pelo Programa Pró-Memória da Constituinte, da Fundação Nacional Pró-Memória do Ministério da Cultura. A seguir, no pequeno espaço deste Boletim Republicando, apresentamos alguns exemplos do conteúdo da nossa Coleção Memória da Constituinte, que está disponível aos interessados.

Instalação da Assembleia Nacional Constituinte, em 1º de fevereiro de 1987. Foto: Cooperativa Agil. Acervo Museu da República.

outubro de 1988: Não esqueçamos a constituição que escrevemos juntos

E X P O S I Ç Õ E SGABINETE REPUBLICANO DE HISTÓRIAS CONTROVERSAS, NÃO DITAS E MAL DITASA história da república brasileira pode ser lida como um grande e sempre aberto gabinete de histórias controversas, não ditas, mal ditas, silenciadas, apagadas, esquecidas... Novas fontes, novos documentários, metodologias, análises, formas de ler e escrever produzem novas narrativas, outras versões, capazes, em alguns casos, de revolucionar o passado e de reencenar no presente a sua dramaturgia.Local: Palácio do CateteHorário: de terça a sexta-feir,a das 10h às 16hSábados, domingos e feriados, das 11h às 17h30minRealização: Museu da República

RAUL MOURÃO: FORA/DENTRO Fora/Dentro, a exposição que o artista Raul Mourão traz para o Museu da República, dá indícios já pelo título a que se propõe. Não só através das obras apresentadas, mas também pelo deslocamento dos visitantes para conhecê-las: a Galeria do Lago abriga seus trabalhos menores, enquanto os jardins do #museudarepublica são ocupados por seis grandes esculturas de aço corten que chegam a medir mais de 4 metros. Sob a curadoria de Isabel Sanson Portella, que também é diretora da Galeria, maquetes, esculturas, objetos, fotografias e vídeo expõem o caráter ambíguo e lúdico de Fora/Dentro.Local: Galeria do LagoVisitação: 27 de setembro a 2 de dezembroHorário: De terça a sexta, das 10h às 17h Sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h30Realização: Galeria do Lago/Museu da República

UM PALÁCIO E SUAS MEMÓRIASEm 2017, o Palácio do Catete comemora 150 anos do término de sua construção e 120 anos da instalação da Presidência da República no local. A mostra procura contar a história da edificação do palácio, a ocupação pela Presidência e a transformação da antiga sede do governo federal no Museu da República.Local: Pátio interno Horário: De segunda-feira a domingo, das 8h às 20hRealização: Museu da República

PRÊMIO FOTOGRÁFICO DO CENSO AGRO 2017Exposição de fotos do Prêmio Fotográfico do Censo Agro 2017 realizadas pelos pesquisadores do IBGE durante o trabalho de Coleta do Censo Agro 2017.Local: JardimVisitação: até 5 de outubroHorário: das 8h às 17h30Realização: IBGE

*No caso de exposições no Palácio do Catete, a entrada de visitantes é encerrada 30 minutos antes do fechamento do Palácio.

O U T U B R O

SERESTA NO MUSEU DA REPÚBLICAEvento interativo, participativo e aberto ao público, organizado pelos frequentadores do Museu.Local: Pátio interno próximo à Silveira MartinsHorário: das 17h às 20h (de terça a sexta-feira)Das 15h às 18h (sábados e domingos)

MAIS SERESTA NO JARDIM DO MUSEU DA REPÚBLICAEvento aberto ao público, realizado há 22 anos e organizado pelo seresteiro Gilmar Santoro.Local: Jardim, próximo ao chafariz e aleia do CoretoTodos os domingosHorário: das 15h às 17h30

DIA 1 A 6

PRÊMIO FOTOGRÁFICO DO CENSO AGRO 2017Sinopse: Exposição de fotos do Prêmio Fotográfico do Censo Agro 2017 realizadas pelos pesquisadores do IBGE durante o trabalho de coleta do censo Agro 2017, com imagens de todo o país.Local: Aleia da Silveira MartinsHorário: das 10h às 17h Realização: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

DIA 2

MÚSICA NO MUSEUPrograma: Apresentação de clássicos brasileiros.Local: AuditórioHorário: das 12h30 às 14hRealização: Sergio Costa e Silva (CARPEX)

DIAS 4, 11, 18 E 25

METODOLOGIA DA PESQUISA EM ARTEPrograma: Aula ministrada pela Escola de Belas Artes -UFRJLocal: Espaço MultimídiaHorário: das 9h às 13hRealização: Escola de Belas Artes - UFRJ

DIA 6

LANÇAMENTO DO LIVRO MEU AMIGO ESPECIALSinopse: O livro inspirado na amizade dos alunos ditos normais com os alunos que apresentam necessidades especiais.Local: Pátio InternoHorário: das 14h às 18hRealização: Paula Rodrigues Guimarães (autora)

DIA 6

CURSO: INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA PRETA – MÓDULO ISinopse: A pauta central do curso é um diálogo com intelectuais negros do campo da saúde mental, como Frantz Fanon e Wade Nobles para apontar os caminhos para o tratamento dos impactos do racismo na subjetividade das pessoas negras.Local: AuditórioHorário: das 16h às 20hRealização: Lucas Veiga

DIAS 6, 13 E 27

OFICINA AFROGRAFITEIRASOficinas de formação em arte urbana, focadas na expressão e promoção do protagonismo de mulheres afro-brasileiras. Envolve temáticas em arte urbana como veículo da comunicação, empreendedorismo social, produção cultural, economia criativa, novas tecnologias da comunicação, informação e marketing viral.Local: Espaço Educação e JardimHorário: das 10h às 17h30minRealização: NAMI/Rede Feminina de Arte Urbana

DIA 12

MÚSICA NO MUSEUPrograma: Apresentação de clássicos brasileiros.Local: AuditórioHorário: das 12h30 às 14hRealização: Sergio Costa e Silva (CARPEX)

DIA 14

MÚSICA NO MUSEUPrograma: Comemoração do Dia das Crianças e dos Professores com Camerata do Uerê - Comunidade da Maré e Seleção dos Imortais da Música Brasileira e dos Gênios Internacionais.Local: AuditórioHorário: das 12h30 às 14hRealização: Sergio Costa e Silva (CARPEX)

DIA 14

PEÇA TEATRAL PQP, BRASIL!Sinopse: Uma família bastante estressada passa por dificuldades financeiras e medo da violência urbana. A situação chega ao clímax quando é interrompida, a cena se congela e os atores pedem ajuda à plateia para dar continuidade à história.Local: AuditórioHorário: das 17h às 19hRealização: Cia Militantes em Cena

DIA 17

CINECLUBE MUSEU DA REPÚBLICA - COMEMORAÇÃO DOS 110 ANOS DE CARTOLAExibição do filme Música para os olhosSinopse: Lançado em 2006, com direção de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda, o documentário “Cartola: música para os olhos” utiliza entrevistas e imagens de arquivo para contar a história de Cartola, um dos maiores compositores da música popular brasileira e figura fundamental na história do carnaval carioca, por ser um dos fundadores da Estação Primeira de Mangueira. Esta edição do Cineclube é uma homenagem aos 110 anos de Angenor de Oliveira, o Cartola, nascido no dia 11 de outubro de 1908 na rua Ferreira Viana, no Catete.Local: Espaço MultimídiaHorário: das 18h às 21hRealização: Museu da República.

DIA 18, 19, 20 E 21

PRIMAVERA LITERÁRIA - 18 ANOSSinopse: Livros, cultura e resistência. A Primavera Literária é uma feira de editoras independentes que está comemorando 18 anos e volta ao Museu da República para mais uma ação em prol da bibliodiversidade!Local: Espaço Educação e Multimídia, Auditório e JardimHorário: das 10h às 17hRealização: Libre - Liga Brasileira de Editoras IndependentesMais informações: https://www.facebook.com/ligabrasileiradeeditoras/

DIA 22

CICLO FAYGA OSTROWER: ANNA BELLA GEIGER: 60 ANOS DO PRÊMIO DA BIENAL DE VENEZASinopse: O Ciclo Fayga Ostrower tem como objetivo comemorar efemérides da artista, educadora e escritora Fayga Ostrower. Nesta data, Maria Luisa Tavora apresenta os 50 anos do Políptico do Itamaraty.Local: Espaço MultimídiaHorário: das 18h às 20hRealização: Noni Ostrower

DIA 23, 24, 25 E 26

5º ENCONTRO DE PESQUISADORES DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIROSinopse: Palestras e conferências sobre “Corpo e território: arte em disputa.Local: AuditórioHorário: das 13h às 20h30Realização: Escola de Belas Artes - UFRJ

DIA 25

CINECLUBE MUSEU DA REPÚBLICASoldados do AraguaiaSinopse: Durante o período de ditadura militar no Brasil, um grupo de soldados de baixa patente foi enviado para a Amazônia a fim de exterminar a chamada Guerrilha do Araguaia, um movimento de luta armada que era contra a ditadura. Depois de quarenta anos, os sobreviventes desta missão relatam pela primeira vez suas experiências em combate.Local: Espaço MultimídiaHorário: das 18h às 21hRealização: Museu da República.

DIA 27

LEITURA DRAMATIZADA Que pena ser só ladrão de João do RioSinopse: Um ladrão muito esperto tenta assaltar a casa de uma senhora, também muito esperta, e o resultado desse encontro tem um final surpreendente. Local: Coreto do JardimHorário: das 15h às 17hRealização: Cia Teatral Escolhidos da Ribalta.

DIA 28

OFICINA DE PRÁTICAS MANUAISSinopse: Mãos em Movimento no Parque é uma roda aberta ao público interessado em exercer práticas manuais de crochê e tricô ao ar livre.Local: JardimHorário: das 10h às 14hRealização: Bordado Mágico

DIA 28

FEIRA DE FOTOSSinopse: Exposição de fotos de diversos profissionais do Rio de Janeiro.Local: Aleia da Silveira MartinsHorário: das 9h às 18hRealização: Associação de Fotógrafos do Rio de Janeiro.

DIA 30

55ª JORNADA REPUBLICANAA fome do mundo, reflexões e ações para a erradicação da pobrezaSinopse: Por uma proposição da Assembleia Geral das Nações Unidas, comemoramos, em 17 de outubro, o Dia Internacional para a erradicação da pobreza. Diante dos avanços e retrocessos experimentados nos últimos tempos, estes últimos exemplificados pelo aumento das desigualdades social e de gênero e pelo incêndio que destruiu o Museu Nacional, o Museu da República considera urgente abrir um espaço para debater e refletir sobre o presente e o futuro da sociedade brasileira.Local: Espaço MultimídiaHorário: das 18h às 21hRealização: Museu da República.

Assessoria de Comunicação: Isabela Borsani, Daniela Matera, Jorge Granja, Lula Dias. Estagiária: Ana Reis.

MUSEU DA REPÚBLICA

REFERÊNCIAS1MICHILES, Carlos [et al.]. Cidadão Constituinte: a saga das emendas populares. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989, p. 390.2SÜSSEKIND, Elizabeth, A Constituinte de 1987-1988 contada pela história do Centro Pró-Memória da Constituinte. Rio de Janeiro, Museu da República, 2017, disponível em http://museudarepublica.museus.gov.br/wp-content/uploads/2017/06/a-constituinte-de-1987-1988-contada-pela-historia-do-programa-pro-memoria-da-constituinte.pdf3Idem, ibidem.

Ao centro, o deputado Ulysses Guimarães com um cocar sobre a cabeça e rodeado por índios com suas propostas e exigências, na Sala da Presidência da Assembleia Nacional Constituinte, em 22 de abril de 1987. Foto: Cooperativa Agil. Acervo Museu da República

Cartaz ilustrado pelo cartunista Henfil para o Plenário Pró-Participação Popular na Constituinte, organização da sociedade que teve papel importantíssimo durante o processo Constituinte. Acervo Museu da República.

Mulheres de todo o Brasil se uniram em várias entidades formando o ativíssimo Lobby do Baton. Acervo Museu da República.

NOTA DE REPÚDIONós, trabalhadores e trabalhadoras do Instituto Brasileiro de Museus, autarquia do Ministério da Cultura, criada pela lei 11906 de 20 de janeiro de 2009, que tem a missão de promover a valorização dos museus e do campo museal a fim de garantir o direito às memórias, o respeito a diversidade e a universalidade de acesso aos bens musealizados, REPUDIAMOS a criação da Agência Brasileira de Museus, a extinção deste Instituto e a privatização das políticas públicas de museus.

O processo de mudança institucional imposto, sem diálogo com os trabalhadores e trabalhadoras, a sociedade civil organizada, o Sistema Brasileiro de Museus, o Conselho Consultivo do Patrimônio Museológico, o comitê consultivo do programa pontos de memória, bem como todo o setor museológico, impossibilita a implementação da Política Nacional de Museus, a função social da memória e precariza a gestão, além de desrespeitar os profissionais que atuam nesse campo ao longo desses 200 anos de história museológica brasileira.

A mudança imposta por esse governo a 25 dias das eleições é ilegítima e contraria o dever constitucional do estado brasileiro de garantir o pleno exercício dos direitos culturais e acessos às fontes da cultura nacional.

Nossa pauta inegociável é a SUSPENSÃO IMEDIATA das medidas provisórias n°850 e 851 e o urgente debate sobre os encaminhamentos da Política Nacional de Museus que vem sendo implementada desde 2003.

TRABALHADORES E TRABALHADORAS DO INSTITUTO BRASILEIRO DE MUSEUS

OS MUSEUS VIVEM NA MEMÓRIA

No mês passado, o Boletim Republicando havia falado sobre o sentido e usos históricos da festa cívica de dia da Independência. Não se imaginava, até então, que o mês

de setembro começaria com o incêndio do Museu Nacional da Quinta da Boa Vista, acontecimento simbólico do quão longe estamos, apesar de toda retórica patriótica, da autonomia em termos da memória, da produção de conhecimento científico e histórico e da preservação do nosso patrimônio cultural. Se compreendermos a política como meio de atuar ou influir nas relações de poder de uma sociedade, então podemos ver que há política dentro e ao redor dos museus. Afinal, quanto ao patrimônio histórico, científico e cultural, a escolha do que deve ser lembrado ou esquecido, preservado ou destruído depende das relações de poder existentes na sociedade.

Criado em 1808, numa época em que o conhecimento científico e histórico era visto como indício do progresso e da civilização de um Estado-Nação, o Museu Nacional

surgiu como instrumento de afirmação da identidade de uma recém-criada comunidade política, o Reino do Brasil. Duzentos anos depois, sua destruição foi a trágica apoteose de uma política de esquecimento mantida por décadas, através de decisões e omissões dos setores público e privado, das mistificações de órgãos da imprensa dependentes desses poderes e da passividade instrumentalizada dos cidadãos. Agora, os destroços incendiados do maior museu de história natural da América Latina são lugar de memória do processo estrutural de desmantelamento de tudo aquilo que é público, no sentido republicano do termo: do que deveria ser mantido por todos para o benefício de todos. Como resultado disso, o patrimônio histórico e científico do Museu Nacional, que deveria ser de todos, agora é de ninguém.

Fachada do Museu Nacional. Foto: Rafael Moura/Divulgação: Museu Nacional.

Museu Nacional Vive nas escolas! Está no ar a campanha de financiamento coletivo que irá retomar as atividades do Museu Nacional junto às escolas do ensino fundamental e médio!

Para participar, acesse https://benfeitoria.com/museunacional. É possível doar a partir de vinte reais!

Precisamos alcançar duas metas:

- A primeira, de 50 mil reais, vai possibilitar a criação de um catálogo digital da Coleção Didática da Seção de Assistência ao Ensino, acondicionar esse acervo e promover a ida de nossos educadores às escolas.

- A segunda, de 300 mil reais, vai permitir a realização de visitas mediadas com estudantes em um circuito nos localizados no Horto Botânico do Museu. Além disso, será criado um espaço interativo para visitação de escolas, com exposições da coleção didática e do acervo de botânica e de zoologia.

Participe, divulgue e compartilhe esta ideia!

Pesquisa e texto: Carla Costa, Elizabeth Sussekind e Paulo Celso Corrêa.