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0 ANTIGO TESTAMENTO INTERPRETADO versículo por versículo Autor R. N. Champlin, Ph. D. HAGNOS

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0 ANTIGO TESTAMENTO

INTERPRETADOv e rs íc u lo por v e rs íc u lo

Autor R. N. Champlin, Ph. D.

HAGNOS

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TTAÃ

No hebraico, «graciosidade». Há duas pessoas com esse nome, nas páginas do Antigo Testamento.

1. Um filho de Efraim, fundador da família dos taanitas (Núm. 26:35). Viveu em torno de 1600 A.C.

2. Um efraimita, filho de Telá e pai de Ladã (I Crô. 7;25). Era descendente do primeiro, quatro gerações mais tarde. Viveu por volta de 1500 A.C.

TAANAQUENo hebraico, graciosidade.Referências no Antigo Testamento: Jos. 12.21; 17.11; 21.25; Juí.

1.27; 5.19; I Reis 4.12 e l Crô. 7.29.Uma cidade real de Canaã. Esta cidade foi regida por um rei de

pouca relevância dos cananeus, um dos trinta “reis" assim conquista­dos por Josué (Jos. 12.21; I Reis 4.12; I Crô. 7.29).

Designada à tribo de Manassés, essa foi a meia tribo com esse nome que se estabeleceu no lado oeste do rio Jordão (Jos. 17.11; 21.25; I Crô. 7.29). Posteriormente tornou-se uma cidade dos levitas coatitas (Jos. 21.25), que não tinham herança como tribo, mas pos­suíam algumas cidades (e suas áreas imediatas), o que lhes permitiu ser auto-suficientes.

Local. Esta cidade é geralmente mencionada juntamente com Megido, sendo ambas importantes cidades das planícies ricas de Escrelom. O antigo sítio é marcado por um monte identificado com um antigo forte da planície de Armagedom.

Cântico de Débora. Esse cântico menciona o local junto com outras cidades cananéias (Juí. 5.19). Ela tinha 900 carros de ferro para fazer guerra (Juí. 4.3). Baraque obteve grande vitória militar sobre os cananeus naquela área, vitória que livrou Israel, por um tempo, do assédio que deles sofria. Em um momento posterior, o faraó Sisaque do Egito dominou a área, e suas crônicas mencionam a cidade por nome. A medida que a história progrediu, os babilónicos assumiram o controle da área.

Arqueologia. Os alemães e os austríacos (1901-1904) realizaram es­cavações na área e descobriram uma dezena de tabletes cuneiformes que datavam de por volta do século 15 A. C. O final da Era do Bronze era ilustrada de uma foima geral e vaga. Foi na Idade do Ferro que ela se tomou uma espécie de quartel para os carros de combate dos cananeus.

TAANATE-SILÓNo hebraico, aproximação a Silo, local mencionado como situado

na fronteira norte de Efraim (Jos. 16.6), especificamente em sua extremidade leste entre o Jordão e Janoa. Khirbet Tana marca o antigo local. Há um monte de ruínas ao sudeste de Nablo. Várias grandes cisternas foram desenterradas no local.

TAÃSUm filho de Naor, irmão de Abraão, e de sua concubina, Reuma

(Gên. 22:24). Não se sabe o sentido de seu nome, no hebraico.

TA ATENo hebraico, «depressão», «humildade». Nome de três persona­

gens e de uma localidade, que aparecem nas páginas do Antigo Testamento:

1. Um levita coatita (I Crô. 6:24,37). Era filho de Assir e pai de Uriel. Viveu por volta de 1480 A.C.

2. Um efraimita, filho de Berede (I Crô. 7:20). Era neto de Sutela, filho de Efraim. Viveu em cerca de 1600 A.C.

3. Um efraimita, filho de Eleadá (I Crô. 7:20). Era neto do Taate de número anterior.

4. Um local não identificado, onde os israelitas fizeram uma de suas paradas no deserto. Ficava entre Maquelote e Tara. É localida­de mencionada somente em Núm. 33:26,27. Foi a vigésima sétima dessas paradas, desde que o povo de Israel saiu do Egito.

TABAOTENo hebraico, «manchas». Uma família de servos do templo que

retornou do exílio babilónico em companhia de Zorobabel (Esd. 2:43 e Nee. 7:46). Também são mencionados em I Esdras 5:29. Corria a época de 536 A.C.

TABATENo hebraico, «extensão». Na Septuaginta, Tabáth. Uma cidade

que ficava no território de Issacar ou no de Efraim. Aparece somente em Juí. 7:22. Tem-se tentado localizá-la a leste a leste do rio Jordão. Foi até ali que Gideão perseguiu os midianitas, na planície de Jezreel. O trecho de Juí. 8:10-13 parece indicar que essa cidade ficava nas proximidades de Carcor. Isso nos ajudaria muito se a própria Carcor tivesse sido identificada com precisão, o que não tem sucedido. A região montanhosa de Gileade pode ter sido o lugar onde as forças derrotadas tomaram a unificar-se. Portanto, pode-se pensar em Ras Abu Tabat, nas vertentes do monte ’Ajlun, como o local da antiga Tabate.

TABEELNo hebraico, «Deus é bom». Nas páginas do Antigo Testamento,

esse é o nome de duas personagens:1. O pai do homem a quem Rezim, de Damasco, e Peca, de

Israel, planejavam colocar no trono de Judá como um rei títere, em lugar do rei Acaz (Isa. 7:6). O profeta Isaías, porém, deu o recado co Senhor: «Isto não subsistirá, nem tão pouco acontecerá» (Isa. 7:7).

2. Um oficial persa que estava em Samaria e que se uniu a outras pessoas no envio de uma carta ao rei Artaxerxes I, solicitanao-lhe que ordenasse a paralisação da reconstrução das muralhas de Jerusalém (Esd. 4:7; ver também I Esdras 2:16). O resultado foi que os judeus foram forçados, sob ameaça de armas, a interromperem o trabalho de reconstrução (Esd. 4:23,24).

TABERÁNo hebraico, «lugar de refeição» ou «lugar de fogo». Aparece em

Núm. 11:1-3, que conta o incidente da murmuração dos israelitas, diante do Senhor, que, em castigo, fez o fogo do Senhor arder entre eles, consumindo as extremidades do acampamento. A palavra hebraica é de sentido obscuro. E o próprio incidente não deixa claro se houve fogo literal ou se o mesmo representava algum outro tipo de julgamento divino consumidor. Taberá é mencionada novamente em Deu. 9:22, embora não seja alistada entre as caminhadas de Israel no deserto, no capítulo trinta e três do livro de Números.

TABERNÁCULOI. TermosII. Caracterização GeralIII. Fontes de InformaçãoIV. HistóriaV. Estrutura dos MóveisVI. Tipos e Usos FiguradosVII. Visão CríticaI. TermosNo latim. A palavra tabernáculo deriva da palavra latina

tabernaculum, que é diminutivo de taberna, um barraco, e refere-se a uma moradia transitória, como uma barraca.

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5332 TABERNÁCULO

No hebraico:1. Ohel (dez), cerca de 200 vezes no Antigo Testamento, desde

Êxo. 26 a Mal. 2.12.2. Mishkan (uma residência, local de moradia), usado cerca de

140 vezes no Antigo Testamento. Exemplos: Êxo. 25.9; 27.19; 40.38; Lev. 8.10; Jos 22.19, 29.

3. Sok (cobertura, tenda): Sal. 10.9; 27.5; 76.2; Lam. 2.6; Jer. 25.33.

4. Sukkah (enrolar, cobertura, tenda, cabana): usado cerca de 30 vezes. Exemplos: Lev. 23.34, 43.43; Deu. 16.13, 16; 31.10; II Crô. 8.13; I Reis 20.12, 16; Sal. 18.11; 31.20.

5. Baynti (uma casa), aplicado ao tabernáculo em Êxo. 23.19; 34.26; Jos. 6 24; 9.23; Juí. 18.31; 20.18.

6. Miqdash (um local sagrado). O tabernáculo era um local con­sagrado para o culto a Yahweh (“yahwismo"), isto é, um santuário-, Lev. 12.4; Núm. 3.38; 4.12. Às vezes a palavra é usada para a parte mais interna do santuário chamado de Lugar Mais Santo (Santo dos Santos): Lev. 16.2.

7. Hekal (templo), palavra que às vezes se refere ao tabernáculo antes de ser usada para o Templo de Salomão: I Crô. 29.1, 19: II Reis 24.13, respec‘ ivamente. A palavra também se aplica ao tabernáculo em Silo: I Sam. 1.9; 3.3.

8. Ohel moed (a forma composta significa tenda de reunião): Êxo. 29.42, 44.

9. Ohelhaeduth (a tenda de testemunho): Núm. 9."!5; 17.7; 18.2.No grego:1. Skene (tenda), usado 27 vezes no Novo Testamento. Exem­

plos: Mat. 17.4; Mar. 9.5; Luc. 9.33; Heb. 8.2, 5; 9.2, 3, 6, 8, 11, 21;11.9; 13.10; Apo. 13.6; 15.5; 21.3.

2. Kenos (tenda): II Cor. 5.1, 4.3. Skeenoma (tenaa, local de habitação): Atos 7.46; II Ped. 1.13,14.4. Skenopegia (festa dos tabernáculos): João 7.2.li. Caracterização GeralO tabernáculo (no hebraico, Mishkan), “local de moradia”, é local

onde Yahweh torna conhecida Sua presença, por assim dizer, seu “lar longe de seujar” , onde ele trata com Seu povo e faz conhecido Seu desejo. Ver Êxo. 25.8. O tabernáculo era uma tenda polátil que os israelitas carregaram nos 40 anos de vagueações no deserto e durante seus anos na Terra Prometida até aue Salomão construiu o Primeiro Templo. A época era por volta de 145C a 950 A. C., o que significa que o tabernáculo teve uma “carreira” de cerca de 500 anos! O livro de Êxoac representa Yahweh como dando a Moisés todas as ordens necessárias para a construção e os_ cultos do Tabernáculo, incluindo suas medições e especificações (Êxo. Caps. 25-27) e um diminuto relato de sua execução (Êxo. 36.8-38.1). Os críticos atribu­em todo esse material à fonte P (de sacerdote) do Pentateuco e pensam que sua composição ocorreu muito depois da época em que Moisés esteve vivo. Ver sobre J.E.D.P.(S.) neste Dicionário e na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Ver os comentários so­bre as visãc dos críticos na seção VIII deste artigo. O relato no Êxodo informa-nos que, após a entrega da Lei no Sinai, Yahweh ordenou que artesãos especiais construíssem a tenda e seus móveis de materiais doados pelo povo (Êxo. 31.11; 35.36.7). O local onde Yahweh manifestou Sua presença também era chamado de “Tenda da Reunião” (Êxo. 29.42-45).

Propósitos do Tabernáculo. O principal propósito desta estrutura é explicado em Êxo. 25.8, 21, 22: para que eu (Yahweh) possahabitar no meio deles”; dentro dela porás o Testemunhe “... ali virei a ti... falarei contigo acerca de tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel”. O tabernáculo, como o templo posterior, tinha o objetivo de centralizar o louvor de Israel, evitando que muitos “orácu­los” lá fora, que poderiam corromper os cultos a Yahweh ou permitir alguma espécie de sincretismo, se misturassem com influências pa­gãs. Altares isolados (ver Gên. 12.7, 8) onde render sua autoridade àquela investida no tabernáculo. Isto não aconteceu de uma forma absoluta. Os oráculos persistiram.

III. Fontes de InformaçãoQuatro passagens principais no livro de Êxodo nos dão informa­

ções especiais sobre o tabernáculo; a. caps. 25-29; b. caps. 30-31; c. caps. 35-40 junto com Núm. 3.25 ss.; d. 4.4 ss. e 7.1 ss. As narrati­vas afirmam a inspiração divina, de modo que dizem que Yahweh é a verdadeira fonte da informação e Moisés é o mediador. JUm modelo do tabernáculo foi mostrado a Moisés de acordo com Êxo. 25.9 e 26.30.

IV. HistóriaEstritamente falando, houve três tabernáculos históricos, cada

qual tomando o lugar de seu predecessor, na maioria dos aspectos.1. Um tabernáculo provisional foi erigido após o incidente do

louvor ao bezerro de ouro. Essa “barraca de reunião" não tinha ne­nhum ritual e nenhum sacerdócio, mas era tratada como um oráculo (Êxo. 33.7). Moisés, é claro, estava encarregado de todos os procedi­mentos.

2. O tabernáculo sinaitico, cuja construção e equipamento foram instruídos por Yahweh.

3. O tabernáculo provisional de Davi, erigido em Jerusalém como o predecessor do Templo de Salomão (II Sam. 6.12). O antigo tabernáculo (sinaitico) permaneceu em Gibeão com o altar insolente, e sacrifícios continuaram sendo feitos ali (I Crô. 16.39; II Crô. 1.3).

O tabernáculo de Moisés passou os seguintes processos históri­cos:

1. Depois do incidente ao bezerro de ouro, devido à intercessão de Moisés, outra cópia da lei foi fornecida, o pacto fc, renovado e foram coletados materiais para a construção do tabernáculo (Êxo. 36. 5,6). O povo colaborou com grande generosidade, até o oonto de excesso.

2 .0 tabernáculo foi terminado em um curto período de tempe. no primeiro dia de nisã, do segundo ano após o Êxodo. O ritual comple­xo foi iniciado (Êxo. 40.2).

3. O tabernáculo provisional estava fora do campo, mas se tor­nou o centro com as várias tribos estacionadas em uma ordem espe­cífica estendendo-se para fora (Núm. cap. 2). Uma observação histó­rica curiosa, em tempos modernos, é o fato de que Salt Lake City, em Utah, EUA, o Sião norte-americano, quartel-general da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, tem todas suas ruas chamadas por nomes e numeradas em relação à posição da p raça do Templo, onde estão localizados o tabernáculo e o templo. Assim, a cidade toca está centralizada ao redor dessa praça, a partir da qual qualquer endereço pode ser determinaco, e qualquer distância pode ser calculada usando essa referência. Um exemplo: 668 Oeste Se­gundo Norte significa cerca de sete quadras ao oeste e duas quadras ao norte da Praça do Templo.

4. O tabernáculo continuou em Silo durante o período dos juizes. Na época de Eli, o sumo sacerdote (I Sam. 4.4), a arca foi removida desse local e o próprio tabernáculo foi oestruído pelos filisteus. A época era cerca de 1050 A. C.

5. Quando Samuel era um juiz, os cultos de louvor central foram movidos a Mispa (I Sam. 7.6) e então a outros lugares (I Sam. 9.12; 10.3; 20.6).

6. Nos primeiros anos de Davi, o pão da proposição era mant'ao em Nobe, o que implica que pelo menos parte dos móveis do tabernáculo de Moisés era mantida ali (I Sam. 21.1-6). O lugar alto em Gibeão reteve o altar de ofertas queimadas e talvez alguns outros remanescentes do tabernáculo de Moisés (I Crô. 16.39; 21.39).

7. Depois de capturar Jerusalém e tomar essa cidade sua capital, Davi levou a arca da aliança àquele lugar e montou um tabernáculo provisional, no aguardo da construção do templo por seu filho Salomão. Isto foi feito no monte Sião (I Crô. 15.1; 61.1; II Sam. 6.17). Ver o verbete Sião. Esse local também era chamado de “Cidade de Davi”, pois esse rei tomou ela sua capital. A época era em tomo de 1000 A. C.

8. Quando o templo foi construído, os móveis do antigo tabernáculo que restavam foram ali colocados, e o local sagrado e o local mais sagrado foram incorporados na estrutura do prédio

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TABERNÁCULO — TABERNÁCULOS, FESTA DOS 5333

novo. Assim, o tabernáculo tornou-se o centro do templo. Ver o ver­bete Templo de Jerusalém.

V. Estrutura dos Móveis1. O tabernáculo foi dividido em três seções distintas que repre­

sentavam três estágios de santidade crescente: a. o pátio que cerca­va a tenda. Esse pátio estava dividido em dois quadrados de 50 cúbitos (o cúbito medindo cerca de 45 cm). O quadrado ao leste continha o altar das ofertas queimadas ( 5 x 5 x 3 cúbitos). O Altar ficava no centro do quadrado. A oeste do altar estava a bacia para as lavagens rituais das mãos e dos pés. O quadrado ao oeste do próprio do tabernáculo era dividido no local sagrado (ou santuário), que me­dia 20 x 10 x 10 cúbitos, e no local mais sagrado, que media 10 x1 0 x 10 cúbitos. Assim, toda a estrutura era de 30 x 10 x 10 cúbitos.

2. A leste do pátio ficava o portão; no lado oeste estava o Santo dos Santos. A estrutura, portanto, como um todo, ficava de frente para o sol nascente, a leste, o que não era por acaso

3. No local sagrado ficava a mesa na qual o pão oa proposição era colocado. Isso ficava no lado norte e media 2 x 1 x 1,5 cúbitos. O pão era renovado todo sábado. No lado sul ficava o candeeiro de ouro (ver a respeito). Ainda no local sagrado, mas próximo a cortina que o dividia do Santo dos Santos, no centro da estrutura, havia o altar de incenso (ver a respeito). Quando digo ver a respeito, quero dizer o Dicionário do Antigo Testamento Interpretado ou a Enciclopé­dia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Ver sobre Mesa. II. Mesas Rituais, 1. Mesa dos Pães da Proposição.

4. O Santo dos Santos, que era separado do local sagrado por uma cortina bordada (Êxo. 26.31-33). Nele estava a arca da aliança (ver a respeito) que era uma caixa que media 2,5 x 2,5 x 1,6 cúbitos. Dentro da caixa ficava o testemunho, isto é, as tábuas da lei (Êxo. 25.21; 40.20). A tampa da caixa era chamada de assento de miseri­córdia ou propiciatório (ver a respeito). E'a era ornamentada pelas imagens de dois querubins (ver a respeito) com asas esticadas que se estendiam por toda a tampa e se tocavam umas às outras (Êxo.25.17-20; 26.34; 37.6-9). Ali Yahweh se manifestava e se comunica­va com o povo (Êxo. 25.22). Apenas o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos e ainda assim apenas uma vez por ano (Êxo. 30.10; Lev. 16.29-34). Ver a respeito de Lugar Mais Santo no Dicio­nário. Ver também o Lugar Santo (Santuário).

Materiais e Posições. Gradações de materiais e de posição falam de santidade maior. No local menos sagrado, o pátio externo onde os leigos podiam circular, era usado o bronze. Passando a ficar mais sagrado, os sacerdotes e os levitas podiam circular no lugar sagrado; o ouro era usado como um material ali junto com madeiras nobres. Então, nesse local onde Yahweh podia manifestar-se, talvez, ocasio­nalmente, na teofania (ver o verbete).

Forneço detalhes sobre os móveis em outros artigos, o que me permite apresentar uma descrição um tanto breve neste artigo. O leitor diligente não ficará contente em ler apenas o esboço. O Ifvo de Hebreus simplifica a complexidade do tabernáculo e do templc ao fazer com que os próprios prédios, seus conteúdos e suas funções tipificassem a Cristo, Sua pessoa e Suas funções. Ver a seção VII, a seguir.

VI. Tipos e Usos FiguradosAs coisas que os intérpretes dizem aqui são experimentais e não

dogmáticas e, sem dúvida, imaginam-se muitos tipos que não eram pretendidos por nenhum escritor sagrado. Mas, seguindo a liderança do livro de Hebreus, muitas coisas válidas podem ser ditas.

1. De modo geral, o tabernáculo falava da Presença de Yahweh com seu povo e fornecia um local físico onde as manifestações divi­nas podiam ocorrer. Ver Propósitos do Tabernáculo, o último pará­grafo da seção II, Caracterização Geral. A pessoa humana, nos tem­pos do Novo Testamento, tomou-se o tabernáculo ou o templo do Espírito, substituindo a edificação (ou prédio) material (I Cor. 3.16; Efé. 2.21). A igreja, o corpo dos crentes, é uma habitação de Deus e o meio através do qual ele se manifesta a outros.

2. O tabernáculo, com suas muitas partes e funções, fala de uma realidade celeste (Heb. 9.23,24). Essa idéia era exagerada pelos rabi­

nos e pela doutrina deles de que de fato havia céu e uma contraparte do tabernáculo terreno o “copiava” em suas partes essenciais, na ver­são terrena por Moisés, segundo as instruções de Yahweh.

3. Tipos e Figuras ae Cristo. Sem dúvida, os intérpretes exagera­ram aqui, mas ofereço o que é dito: o altar de bronze (Êxo. 27.1-8) tipifica a cruz de Cristo. O próprio Senhor tornou-se uma oferta quei­mada, sem marcas, por parte de seu povo. O lavatório ou bacia para lavagem ritual fala sobre como Cristo santifica seu povo (Efé. 5.25- 27). O candeeiro de ouro tipifica Cristo como a Luz do mundo (João 1.9). Como o tabernáculo não tinha fonte externa de luz, o crente também não tem luz exceto por Cristo. O pão da proposição tipifica Cristo como o Pão da Vida, sustento espiritual (João 6.33-58). O altar de incenso tipifica Cristo como o Intercessor por todos os pecadores, em todos os lugares (João 17.1-26; Heb. 7.25). A cortina ou véu que dividia o local sagrado do lugar mais sagrado foi aberta a todos os crentes, não meramente à elite, como o sumo sacerdote (Mat. 27 51). A arca da aliança, feita de madeira e ouro, tipifica o corpo material de Cristo unido com sua divindade. O testemunho (tábuas da lei) na arca tipificavam Cristo como tendo a lei em seu coração de modo especial para que pudesse ser o Mestre de outros. A vara de Arão, que floresceu, tipifica os poderes de dar vida que Cristo tem em relação ao Seu povo. A tampa da arca, feita de ouro puro. o propiciatório, que recebeu o sangue da oferta do Dia do Arrebata­mento, tipifica Cristo como o sacrifício para toda a humanidade, idéia que a lei condena. Ao mesmo tempo, esse item era o trono de Deus, o local de sua manifestação. Portanto, a manifestação de Deus é tanto de julgamento como de misericórdia, tanto de perseguição como de provisão de vida. O trono do julgamento foi transformado no trono da misericórdia pela missão de Cristo. Os querubins que estendiam suas asas sobre a área simbolizam como Deus usa seus agentes para guardar, proteger e glorificar o ministério de Cristo por parte da humanidade. A orientação e a proteção divina estão disponíveis àque­les que as buscam.

VII. Visão CríticaOs críticos acreditam que Israel, ao fugir do Egito, e não sendo

povo sofisticado em nenhum empreendimento científico, não ter;a tido o conhecimento nem os materiais necessários para construir uma estrutura religiosa como o tabernáculo mencionado em Êxodo. Até mesmo Salomão, na era dourada de Israel, dependeu de habi­lidades e materiais estrangeiros para construir seu templo (I Reis 5.1-6). As estatísticas enfatizam os argumentos. Ao avaliar aquilo que é dito no relato, estima-se que Israel precisaria ter disposto de1.000 quilos de ouro; 3.000 quilos de prata e 2.500 quilos de bron­ze. O problema de transporte teria sido enorme. Ao responder a tais argumentos, os conservadores supõem que o desagrupamento dos egípcios poderia ter fornecido tal riqueza de materiais (ver Gên. 15.13-14; Êxo. 11.2; 12.35-36). Oráculos móveis impressio­nantes também foram relatados no tangente a certas tribos arábi­cas que vagueavam pelo deserto. Acredita-se que o tabernáculo “ idealista” dos críticos é o “histórico” dos conservadores. Quanto à mão de obra, é lógico supor que poucos israelitas que haviam pas­sado toda a vida no Egito tivessem sido treinados naquele local como artesãos, portanto haveria conhecimento suficiente para fa­zer o trabalho do tabernáculo.

TABERNÁCULOS, FESTAS DOSVer o artigo geral Festas (Festividades) Judaicas, 11,4.c. Àquelas

notas, pois, acrescento as presentes informações:A palavra hebraica traduzida dessa maneira é sukkot, e a

festa em vista era uma festividade da colheita, no outono. Observava-se essa festa entre 15 e 22 do mês de Tisri. Essa festa passou por uma evolução, tendo começado como uma festa agrícola, mas depois recebeu sentidos especiais em relação ao êxodo e às precárias condições durante as quais o povo de Israel viveu em tendas. A legislação sacerdotal conferiu-lhe uma especi­al significação e autoridade.

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5334 TABLETES 3E ARGILA — TAÇA

No primeiro dia havia uma «santa convocaçã», e nenhum trabalho manual podia ser feito no mesmo. Eram feitas tendas com ramos de palmeiras, ramos de salgueiros, etc., como memorial da maneira que Israel fora forçado a viver, após c Êxodo. Ver Lev. 23:33-43; Núm. 29:12-38; Nee. 8:15 ss. Em tempos pós-veterotestamentários, o séti­mo dia adquiriu um caráter especial, passando a ser designado Hoshana fíabbah. Assim, o oitavo dia também era tratado como dia especial, de descanso selene. Na Babilônia nos tenpcs pós-talmúdicos, ainda um outro dia de observância foi acrescentado, o Simhat Torah («regozijo na lei»), Era nesse dia que terminava o ciclo anual da leitura do Pentateuco, e um novo ciclo tinha começo.

TABLETES DE ARGILAVer c artigo separado sobre a Argila. Os tabletes de argila consti­

tuíram o mais antigo material de escrita que os homens conheceram. Quando a argila estava úmida, servia do excelente material para receber a escrita, sob a forma de impressões: e, uma vez seca, essas impressões tornavam-se razoavelmente permanentes. Esses tabletes usualmerte tinham a forma ae biscoitos chatos. Entretanto, navia outros com c formato de prismas ou de cilindros. Os caracteres impressos sobre os tabletes de argila eram chamados cuneiformes, o que se fazia com s. ajuda de um instrumento preparado para o sen/i­ço. Cs tabletes mais importantes eram levados ao fomo, para se tornarem mais duráveis.

Quando c alfabeto foi desenvolvido, em cerca de 1500 A.C., a técnica da escrita tornou-se melhor, e começaram a ser usados ou­tros materiais, como o papiro e o pergaminho, para receber a escrita em sua superfície. Entretanto, o uso dos tabletes de argila foi muito extenso durante todos os impérios assírios e babilónicos. Uma das maiores aescooenas arqueológicas que envolvem tabletes de argila foram aquelas em Tell el-Amarna (vide), nome moderno da antiga cidade de Aquetatom, capital de Anenhotepe IV, o qual reinou no Egito entre 1387 e ’ 466 A.C. Ali foram descobertas as famosas cartas de Tell el-Amarna, em mais ae trezentos tabletes de argila. Um numero bem maior aesses tabletes foi desenterrado na Babilônia (vide), o que contribuiu apreciavelmente para o conhecimento dos eruditos sobre aquela artiga sociedade.

TÂBOR, CARVALHO DENo hebraico, «carvalho do penhasco». Um lugar que havia na

área geral de Betei, mencionado somente em I Samuel 10:3. O con­texto da passagem nos informa que Saul, filho de Quis, teve dúvidas se Deus queria ou não que ele fosse o rei de Israel. O profeta Samuel, em vista disso, deu-lhe certos sinais confirmatórios da natu­reza divina da sua unção. O segundo desses sinais cumpriu-se quan­do ele estava voltando para sua casa. Quando se aproximava do carvalho de Tasor encontrou-se com três homens que subiam para Betei O local exato desse carvalho é desconhecido.

TABOR, MONTEVer sobre o Monte Tabor.

TABRIMOMNo hebraico, «Rimom é bom». Esse homem era filho de Heziom

e pai de Ben-Hadade I, rei da Síria (I Reis 15:18). Viveu por volta de 950 A.C.

TÁBUA DE PEDRAO trecho de Êxo. 24:12 contém essa expressão, referindo-se às

tábuas onde os dez mandamentos haviam sido inscritos. Temos arti­gos detalhados sobre a lei mosaica. Ver, especialmente, Lei, Carac­terísticas da; Lei-Códigos da Bíblia (especialmente o ponto 1. A Lei Mosaica do Antigo Testamento); Lei Cerimonial Lei Moral; Lei e o Evangelho, A; Lei e Graça; Lei, Função da.

A tradição informa-nos que Moisés recebeu a lei da parte de Deus, cujos mandamentos foram escritos na pedra com o próprio dedo

de Deus (ver Êxo. 31:18; 32:15,16). Descendo do monte, quando Moisés contemplou o povo a dançar, ocupado em atividades idólatras que envolviam o bezerro de ouro, ele deixou cair as pedras da lei, espatifando-as (ver Êxo. 32:19). Então foi-lhe ordenado preparar cópias exatas das tábuas de pedra, e ele passou quarenta dias e noites, no monte, preparando esse material (ver Êxo. 34:1-4,27,28). Foi então, quando desceu do monte, que o seu rosto refletia a glória do Senhor. Os tabletes foram postos dentro da arca da aliança. Algumas tradições rabínicas afirmam que cinco dos mandamentos foram gravados em uma das tábuas, e cinco em outra (Cânticos Rabba 5:4); mas há aqueles que pensam que todos os mandamen­tos foram registrados em cada tábua. A primeira das opiniões tornou-se mais aceitável, sendo seguida nas sinagogas, na apresenta­ção das tábuas da lei.

TÁBUAS DE CIPRESTENo hebraico, gopher. Essa madeira é mencionada somente uma

vez em toda a Bíblia, isto é, em Gên. 6:14. Ali é dito que Noé fez a arca com essa madeira.

Os estudiosos têm tentado identificar a espécie de madeira em vista, mas em vão. O cipreste, contudo, parece encabeçar a lista das possibilidades. Isso explica a expressão, «tábuas do cipreste», em nossa versão portuguesa.

O cipreste era uma madeira própria para as ccnstruções navais, mostrando-se abundante na Babilônia e em Adiabene, a região onde Noé deve ter estado engajado na construção de sua gigantasca arca. A história também informa-nos que Alexandre, o Grande, j s c u essa madeira para a construção de sua flotilha de guerra.

O cipreste tem sido favorecido como a madeira refenda naquele trecho de Gênesis, devido à similaridade da palavra hebraica com o termo grego correspondente (no hebraico, gopher, no grego, kyparissos; e, no português, cipreste). Todavia, a palavra hebraica que significa «betume», koper, tem feito alguns intérpretes suporem que gopher significa apenas «madeira betuminosa», não indicando qualquer espécie de madeira em particular. Ou então a palavra pode indicar alguma madeira resinosa. Ver os artigos separados sobre o Dilúvio, a Arca 3 Noé.

TAÇADiversas palavras hebraicas e uma palavra grega estão envolvi­

das. Os objetos em foco eram feitos de madeira, conchas, cuias, pedra calcária, alabastro, ferro, bronze, prata, ouro, etc. Eram empre­gadas em grande variedade de usos. Abaixo apresentamos suges­tões dos tipos de taças:

1. Gabia, «cálice». Palavra usada por duas vezes. Por exemplo: Êxo. 25:31,34; Gên. 44:2,12,16,17.

2. Sephel, «taça». Palavra usada por duas vezes: Juí. 6:38 e 5:25.

3. Menaqqiyyoth, «taças sacrificais». Palavra usada por cinco vezes. Por exemplo: Êxo. 25:29; Núm. 4:7.

4. F/á/e, «taças». Palavra grega que ocorre por doze vezes, todas elas no livro de Apocalipse (5:8; 15:7; 16:1-4,8,10,12,17; 17:1 e 21:9).

A variedade de palavras podia ser usada de modo intercambiável. O que sabemos é que havia muitos tipos de taças, com muitos propósitos, feitas dos mais diferentes materiais.

Uso Metafórico. Em Apo. 16:1 ss, encontramos as sete taças da ira de Deus, uma série de julgamentos divinos com que se encerra a sétima trombeta. O simbolismo é de taças repletas de poder destrutivo, cujo conteúdo é derramado sobre a superfície da terra, deixando-a totalmente destruída quanto a todas as obras humanas nela existentes: «... e ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra; tal foi o terremoto, forte e grande. E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações... Toda ilha fugiu, e os montes não foram achados; também desabou do céu, sobre os homens, grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um

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TADMOR — TALHAS 5335

talento; e por causa do flagelo da chuva de pedras, os homens blasfemaram contra Deus, porquanto seu flagelo era sobremodo grande» (Apo. 16:18-21). (KEL PRI)

TADMORI. NomeII. Referências BíblicasIII. Observações HistóricasI. NomeNo hebraico, um “local das palmas”, derivando de tamar, uma

palmeira. O local foi chamado de Palmira pelos gregos e romanos. O nome significa a mesma coisa no hebraico, com suas referências às palmas do local.

II. Referências BíblicasNa Bíblia o local é mencionado apenas duas vezes: I Reis 9.18 e

II Crô. 8.4III. Observações Históricas1. Salomão construiu uma cidade com esse nome na fronteira sul

da Palestina (Eze. 47.19; 48.28.1 Reis 9.18, indicando sua localidade diz “naquela terra”). Ficava a aproximadamente 270 km de Damasco, cerca de metade do caminho entre essa cidade e o Eufrates superior, ao norte. Era um lugar de terra fértil, fontes minerais, jardins, peque­nas florestas de palmeiras e uma grande estação de suprimentos para comerciantes que viajavam do e para o Eufrates.

2. Há algumas antigas informações extrabíblicas sobre o local em inscrições cuneiformes que datam até o século 19 A. C. O local também é mencionado nos anais do Tiglate-Pileser I, da Assíria. Salomão provavelmente reconstruiu, em vez de construir a cidade, que passou a ser um "armazém’’ ou uma das “cidades da armazém" da área geral. Ele também fortificou tais lugares para controlar e proteger as rotas comerciais naquela parte do país. Na época áurea, as fronteiras de Israel estendiam-se até o Eufrates, mas temos de pensar em termos de postos avançados militares e em centros de controle, em vez de em verdadeiras fronteiras do império de Salomão.

3. Por volta de 64 A. C., Marco Antônio assumiu a responsabili­dade de atacar comerciantes e postos avançados na área, incluindo Tadmor, numa tentativa de conquistar a supremacia na área.

4 .0 local era próspero no início dos tempos romanos. Além de rotas comerciais, prédios eram construídos em e por volta de Tadmor, especi­ficamente por Adriano, que governou entre 117 D. C. e 138 D. C.

5. Seu ponto máximo de esplendor veio com Odenato, em por volta de 267 D. C. O local passou a ser conhecido como Palmira. Odenato tentou unificar as culturas da área ao desposar Zenóbia, filha de um poderoso xeque árabe. Em cooperação com os chefes beduínos, ele conseguiu superar os inimigos de Roma na área. Odenato foi o governador de Palmira até ser assassinado por um sobrinho.

6. Sua mulher, Zenóbia, assumiu o controle e lutou pela indepen­dência e, por um período, teve sucesso com seu “autogoverno”, mas o imperador Aurélio (273 D. C.) deu cabo ao sonho. Zenóbia tentou escapar, mas foi dominada e levada a Roma, onde recebeu uma vila e tornou-se a típica matriarca romana. Aurélio praticamente destruiu Palmira, e o local nunca mais voltou a ter importância.

7. No século 7, o local foi dominado pelos islãos.8. Hoje há uma cidade chamada Tudmur, a cerca de 1 km do

local antigo. Um número considerável de ruínas foi descoberto na localidade original. De fato, essa é uma das ruínas mais impressio­nantes do mundo moderno.

TAFATENo hebraico, «ornamento». Esse era o nome de uma das filhas

de Salomão, que veio a tornar-se esposa de Ben-Abinadabe, um dos oficiais de Salomão, encarregado do distrito da «cordilheira de Dor», criado pelo monarca hebreu (I Reis 4:11). Tafate viveu por volta do ano 1000 A.C. Nada mais se sabe a respeito dela, além do que nos informa esse versículo.

TAFNESEsse é o nome pelo qual, na Bíblia, é chamada uma rainha egípcia

e uma localidade. Em português, a forma do nome é a mesma, mas tanto no hebraico quanto no grego da Septuaginta, há diferenças, a saber:

1. A rainha egípcia. No grego da Septuaginta seu nome aparece como Thekemimas ou Thecheminas. Na Bíblia, ela é mencionada no décimo primeiro capítulo do primeiro livro dos Reis. Se seguirmos a indicação dos fonemas gregos, como representação dos fonemas egípcios, de acordo com os especialistas o seu nome egípcio signifi­caria «a esposa do rei». Ela era esposa de algum Faraó da XXI Dinastia, talvez Siamon (976-958 A.C.). O rei egípcio também deu em casamento a irmã dela, a Hadade, o príncipe edomita que fugiu de Davi para o Egito (I Reis 11:17), e que veio a se tornar um dos grandes inimigos de Salomão, filho de Davi. Tafnes cuidou do filho de sua irmã Genubath, no palácio do Faraó. Tafnes viveu por volta de 1000 A.C.

2. A cidade egípcia. No grego da Septuaginta Taphnás. Essa cidade é mencionada somente no livro de Jeremias (Jer. 2:16, onde nossa versão portuguesa diz «Taínes», certamente um erro tipográfi­co; 43:7-9; 44:1 e 46:14). Essa cidade ficava no Baixo Egito perto do rio Nilo, nas proximidades de Pelusium, já perto da extremidade sul da Palestina. Os escritores clássicos chamaram-na Dafne. Atualmen­te é o Tell Defenneh. Foi para ali que muitos judeus fugiram dos caldeus, levando consigo, à força, o profeta Jeremias e seu amanuense, Baruque. Ver Jer. 431-7.

Tafnes é nomeada juntamente com Mênfis (Jes. 2:16), como cida­de adversária de Israel e, juntamente com Migdol, com ; lugar para onde exilados judeus fugiram, depois de haverem assassinado Gedalias, governador dos judeus, designado pelos babilônios (Jer. 44:1).

É possível que o nome dessa cidade seja a transliteração hebraica do nome Thphns, que figura em fontes fenícias, em uma carta mencionada em um papiro do século VI A.C., encontrada no Egito. Esse texto alude a «Baal-Zefom dos deuses de Tafnes». Com base nisso, alguns estudiosos têm imaginado que, mais anti­gamente, a cidade chamava-se Baal-Zefom, o que corresponde a uma das paradas dos israelitas, no deserto, após o êxodo (Êxo. 14:2). Outros eruditos pensam que esse nome pode representar o egípcio que significa «palácio do núbio», o que talvez seja uma indicação de que foi fundada durante o reinado de Tiraca (II Reis 19:9). Mas a forma grega do nome apóia a identificação com a Dafnes dos escritores clássicos, no braço pelúsico do rio Nilo. Heródoto informa-nos que Dafnes contava com uma guarnição de mercenários gregos, ali postada por Psamético, Faraó da XXVI Dinastia (664-610 A.C.), a fim de repelir as incurções dos árabes e de outros asiáticos.

A arqueologia tem encontrado ali, entre outras coisas, uma plata­forma de tijolos, fora de uma fortaleza da época de Psamético I, que talvez seja o mesmo «pavimento» que havia na «entrada da casa do Faraó, em Tafnes», de que nos fala Jeremias. Foi ali que Jeremias ocultou as pedras, assinalando o lugar onde, segundo ele predisse, o rei babilônio, Nabucodonosor II, haveria de erigir o seu trono, após haver conquistado o Egito (Jer. 43:9).

TALHASNo grego, udria (ver João 2:6,7, onde nossa versão portuguesa

traduz essa palavra por «talhas», e João 4:28, onde nossa versão portuguesa a traduz por «cântaro»).

Estão em foco jarras de barro ou de pedra, para conter água. Esses receptáculos variavam muito em suas dimensões; alguns de­les eram pequenos o bastante para que uma mulher pudesse carregá-lo sobre a cabeça ou no ombro (ver João 4:28), ao passo que outros continham uma média de 70 litros (ver João 2:6,7). A palavra hebraica correspondente é kad, que nossa versão portuguesa traduz por «cân­taro» (ver Gên. 24:14-18, etc.; Juí. 7:16,19; Ecl. 12:6). Ver os artigos intitulados Cerâmica e Jarra.

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5336 TALMAI — TALMUDE

TALMAINo hebraico, «ousado», «vivaz». Há duas personagens com esse

nome, nas páginas do Antigo Testamento:1. Um dos três filhos do gigante Anaque. Seu grupo tribal residia

em Hebrom quando os espias enviados por Josué penetraram na Terra Prometida (Núm. 13:22; Jcs. 15:14 e Juí. 1:10). Ele viveu por volta de 1450 A.C.

2. O rei de Gesur, pai de Maaca, uma das esposas de Davi. Ele é mencionado em II Sam. 3:3; 13:37 e I Crô. 3:2. Viveu por volta de 1040 A.C. Gesur era um principado arameu na região a nordeste da Galiléia. Desobedecendo à lei mosaica, Davi casou-se com a prince­sa Maaca. Mas isto se resultou na sua grande tristeza. A princesa tornou-se a mãe do apaixonado e violento Absalão (II Sam. 3:3). Depois de haver assassinado seu irmão, Amom, Absalão fugiu para Gesur, onde ficou por três anos (II Sam. 13:37,38).

TALMOMNo hebraico, «opressor», «violento». Seu nome é mencionado

por cinco vezes: I Crô. 9:17; Esd. 2:42; Nee. 7:45; 11:19 e 12:25. Ele era um levita que residia em Jerusalém, nos dias de Esdras (536-445 AC.). Pertencia a uma família de porteiros do templo, que existiu depois do exílio babilónico.

TALMUDEI. NomeII. Caracterização GeralIII. O Desenvolvimento em Duas Camadas1. O Misna2. O GemaraIV. A Tora OralV. A Importância do Talmude

I. NomeNo hebraico, lomed, ou “estudar” , "aprender" O substantivo tem o

sentidc de “discípulo”. Os mestres estudam e transmitem o que sabem, e os estudantes tomam-se seus discípulos. O Grande Mestre foi Moisés, sendo que o Talmude é baseado principalmente no Pentateuco.

II. Caracterização GeralO Talmude é um tipo de enciclopédia da tradição judaica, que

age como um suplemento à Bíblia. A obra resume mais de sete séculos de crescimento cultural e idéias. Suas origens orais remon­tam à época do cânon bíblico, e a obra não chegou à sua fase final até o final do século 5. Embora lide principalmente com a lei, parti­cularmente interpretando e suplementando o Criador da Lei (Moisés), também trata de religião geral, ética, instituições sociais, história, folclore e ciência. Foram desenvolvidos dois Talmudes, um em Isra­el, por volta de 400 D. C., e o outro na Babilônia, entre 500 D. C. e 600 D. C. O Talmude compilado na Palestina comenta as divisões do Misna (ver a seção 111.1.), que se relaciona a uma variedade de assuntos como agricultura, épocas de apontamento, mulheres e família, lei e assuntos pessoais. O Talmude da Babilônia cobre as épocas de apontamento, mulheres e família, coisas sagradas e lei, mas omite a agricultura. Cerca de 90% do Talmude da Palestina enfatizam a exegese do Misna (Mishnah). O Talmude da Babilônia compartilha muito desse material, mas auxilia de uma forma consi­derável comentários da Bíblia. Ambos incluem comentários especi­ais sobre palavras e frases, os históricos bíblicos do Misna e con­tradições nos casos das questões bíbiicas que exigem explicação e harmonia. O palestino trata quase por inteiro de questões do Misna, enquanto o babilónico adiciona muitas passagens da Escritura com comentários.

Ambos os Talmudes aceitam, sem questionamento, a autoridade da Tora como a palavra revelada de Deus através de Moisés mas, à medida que as idéias e a cultura avançam, novas interpretações são necessárias para tornar vivo a Tora para cada geração. Por exemplo: Deu. 24.1 fala da possibilidade de dissolver os laços do casamento,

mas não entra em detalhes. Os Talmudes entram em detalhes com suas interpretações e comentários. A medida que a sociedade judai­ca se desenvolvia, havia necessidade de fornecer regulamentações para o comércio, trabalho e indústria, coisas com as quais a Tora não lidara o suficiente para estabelecer regras adequadas. Os Ta lm udes tentam com pensar ta is d e fic iê n c ia s , sem pre, presumivelmente, aplicando a sabedoria de Moisés ao máximo pos­sível.

Historicamente, a literatura do Talmude foi desenvolvida em duas camadas, a mais antiga do Misna, e a segunda do Gemara, das quais se trata na seção III. Havia visitas freqüentes dos rabinos que representavam ambos os Talmudes, de forma que há grande nível de harmonia entre as duas tradições.

O Talmude, juntamente com outras criações literárias da época, freqüentemente tem sido chamado de Tora Oral, pois houve um período de tempo considerável em que os materiais que existiam eram contidos apenas em tradição oral. Até o final do século quintoD. C., as sociedades judaicas estavam em declínio tanto na Palestina como na Babilônia, e como resultado que a atividade de redação criativa do Talmude cessou.

III. O Desenvolvimento em Duas Camadas1. O Misna (Mishnah)2. O Gemara1. O Misna (Mishnah)O Talmude teve um desenvolvimento histórico que envolveu duas

camadas ou estágios distintos. O estágio mais antigo foi o Misna (Mishnah), que significa “repetir" ou “estudar” . Forneço um artigo separado detalha­do sobre o Mishnah, o que me permite fazer apenas uma apresentação breve neste artigo. Primariamente, o Misna foi produto da edição acadê­mica do Rabino de Judá e de seus discípulos que estavam ativos no terceiro século D. C. na Palestina. O hebraico do texto era claro e lúcido, e o próprio texto era organizado em seis seções principais que depois foram subdivididas em 63 tratados. Os tratados (ensaios) eram então divididos em capítulos e parágrafos.

As Seis Seções. As seções são chamadas de Sedarim, isto é, “ordens” , pelo fato de que cada um representa uma organização ordenada de opiniões, leis e comentários sobre um assunto es­pecífico:

1. Zeraim. isto é, “sementes”, que trata de agricultura. Anexado a ela está um importante tratado (ensaio) sobre a oração, chamado de Beracote.

2. Moed, isto é, estivais, que trata de muitos festivais e dias sagrados judaicos, dos sábados e das celebrações e banquetes do calendário judeu.

3. Nashim, isto é, “mulheres", que trata do casamento, do divór­cio e da vida familiar.

4. Neziquim, isto é, “ferimentos", que trata da lei civil e criminal.5. Kodashim, ou “coisas sagradas", que discute os sacrifícios e

os cultos do templo.6. Taharote, isto é “limpeza” , que trata de questões de pureza

ritual.Os tratamentos são um tanto breves, o que exigiu, por fim, revi­

sões e adições. Assim, foi criado um suplemento, ou segunda cama­da, chamado de Gemara.

2 O GemaraEsta palavra deriva do termo aramaico gemar, que significa “es­

tudar", “ensinando” . O Gemara existe em duas versões, ambas escri­tas nos vernáculos correntes, respectivamente, entre os judeus da Palestina e da Babilônia, resultando, assim, nas designações de Talmude Palestino e Talmude Babilónico. A comunidade de estudio­sos judeus da Palestina, a longo prazo, foi desafiada, mas não ultra­passada pela sua contraparte da Babilônia, e ambas se tornaram importantes centros do aprendizado e produção literária dos judeus. A babilónica, finalmente, ultrapassou a sua “mãe” (Palestina). De qualquer modo, houve contato contínuo entre os dois lados para harmonizar o trabalho que estava sendo realizado.

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TALMUDE— TÂMARA 5337

Nem todos os 63 tratados (ensaios) têm tratamento com suplemen­tos no Gemara. O Gemara palestino, também chamado de Yerushalmi (Jerusalém) suplementa 39 dos tratados. O Gemara da Babilônia, embo­ra lidando apenas com 36,5 dos tratados, é o trabalho mais volumoso, sendo cerca de três vezes maior do que o palestino.

Unindo-se o Misna e o Gemara originais, obtém-se o Talmude.IV. A Tora OriginaiForneço um artigo detalhado sobre a Tora, que significa “ lançar

a sorte sagrada”, que fala da prática de adivinhação oracular. Esse trabalho passou a designar o Pentateuco, os livros atribuídos a Moisés que os judeus piedosos supunham conter, em forma de semente, todas as leis divinas. Às vezes a palavra refere-se a todos os livros revelatórios dos judeus, ou à coleção do próprio Antigo Testamento, ou à Tora Divina, isto é, ao depósito de todo o conhe­cimento da Mente Divina.

O Talmude, juntamente com diversas outras literaturas relaciona­das dos rabinos mais famosos do mesmo período de produção, pas­sou a ser chamado de Tora Oral. Por séculos muito do material circulou oralmente antes de ter sido reduzido a documentos escritos. Havia formas escritas de parte dele, derivadas de épocas muito anti­gas. Além disso, sua redação também levou muito tempo antes de poder ser considerada “produto final”. O Talmude palestino foi con­cluído em alguma época no século 5. O babilónico foi concluído em um período mais próximo ao final daquele mesmo século. Ambas as comunidades entraram em declínio naquele século, em parte por causa das perseguições promovidas pelas autoridades civis. Com o declínio das comunidades houve uma cessação de produtos literários significativos, de modo que os Talmudes congelaram em formas fi­nais que não foram, em períodos posteriores, desenvolvidas.

V. A Im portância do TalmudeNão é errado falar de uma canonização envolvida no Talmude,

o mesmo que ocorreu com as Escrituras do Antigo Testamento. Os judeus de períodos posteriores (depois do século 5 D. C.) reconhe­ceram que o aprendizado e o domínio do Talmude era o chamado mais alto e maior privilégio que uma pessoa poderia experimentar. Para muitos, o conhecimento do Talmude era mantido com maior estima do que o conhecimento das Escrituras do Antigo Testamen­to, e o conhecimento e domínio de ambos produzia judeus fanáti­cos e piedosos que eram, e ainda são, os líderes do zelo religioso. O liberalismo e a constante crítica do Antigo Testamento abalaram a fé na historicidade daquela coleção de documentos, e não é erra­do dizer que o judeu piedoso se refugiava no Talmude como sendo, de alguma forma, mais preciso e mais puro do que o próprio Antigo Testamento. Com o passar do tempo, a maioria dos judeus deu pouco interesse à complexidade do Talmude e muitos converteram- se a uma forma “kantiana’’ de filosofia, como a desenvolvida pelos filósofos judeus. Mas, com o surgimento do estado judeu moderno, o interesse fanático foi reavivado tanto pelo Antigo Testamento como pelo Talmude.

O estudioso cristão busca introspecção de primeira mão no pen­samento judeu produzido pelos próprios judeus, que muitas vezes é mais iluminador do que os tratamentos comuns e de segunda mão dados pelos estudiosos cristãos, destituídos de conhecimento cultu­ral para compreender muito do judaísmo. Muito daquilo que lemos nas Escrituras sobre os judeus pode ser encontrado e muitas vezes explicado em maior profundidade do que a apresentação das mes­mas questões nos evangelhos. A canonização final do Talmude trouxe cabo a uma das épocas mais criativas da história da tradição e atividade literária judaicas. Mas o Talmude agora vive de forma real no estado judeu moderno e na mente dos estudiosos cristãos que buscam conhecimento mais perfeito.

TAMANo hebraico, «combate». Seu nome ocorre apenas em Esd. 2:53

e Nee. 7:55. Ele foi o fundador de uma família de servos do templo, que retomaram do cativeiro babilónico em companhia de Zorobabel.

No trecho paralelo de I Esdras 5:32, esse nome aparece sob a forma de Tamá. Viveu por volta de 536 A.C.

TAMARNo hebraico, “palmeira” ou “tâmara (palmeira)” .1. Esse era o nome da mulher de Er (filho de Judá), que depois

passou a ser a mulher de seu irmão Onã. Era costume que um segundo irmão assumisse a viúva do primeiro que havia morrido, para criar uma descendência ou família que daria continuidade à linhagem daquele irmão. Isso sempre era possível por causa da poligamia. A mulher de um irmão simplesmente seria adicionada ao círculo familiar do segundo irmão que já fosse casado. Onã nada queria com este outro casamento e evitou a concepção através de coitus interruptus, derrubando, assim, o sêmen no chão.Com base nessa circunstância, surgiu o termo onanismo, que significa coitus interruptus ou masturbação. Ver a história em Gên. 28.1-11, Ver também o verbete Matrimônio Levirato. Por causa de seu “pecado” em não cumprir seu papel, diz-se que Yahweh o executou, presumivelmente através de um acidente ou por doença.

Assim, Tamar ficou sem marido pela segunda vez e exigiu que Judá lhe desse ainda um terceiro filho, mas ele relutou arriscar ter ainda outro filho com aquela mulher, por motivos óbvios. Ela então aplicou um truque radical para conseguir o terceiro filho. Disfarçou-se de prostituta e seduziu o próprio Judá! Ficou grávida e, quanao foi acusada de falta de castidade, o que poderia ter ocasionado sua execução, revelou a terrível verdade de que Judá era o oai da crian­ça. Nesse momento, tornou-se abundantemente claro ae que poderia ter sido melhor para Judá e para seus filhos nunca ter chegado perto da mulher. Mas o que poderia fazer Judá? Primeiro, ele teve de confessar seu pecado e não promover acusações (Gên. 25, 26). A mulher ficou livre e presumivelmente conseguiu um terceiro filho de Judá, vencendo, assim, o conflito. A propósito, a mulher deu à luz a gêmeos, o pai sendo Judá, claro. Seus nomes foram Perez e Zerá, ambos ancestrais distantes de Jesus, o Cristo (ver Mat. 1.3). Ver Gên. 39.29, 30. Quando surgiu o ditado “A verdade é mais forte ao que a ficção”, o criador do ditado deve ter tido em mente essa histó­ria bíblica. A época foi em torno de 1900 A. C.

2. Uma filha de Davi com Maaca, irmã de Absalão e meia-irmã do depravado Amnom, o filho mais velho de Davi. Sua mãe era Ainoa, uma jezreelita (II Sam. 3.2). Depois de elaborado planejamento, ele conseguiu estuprar Tamar, cometendo fornicação, incesto e estupro ao mesmo tempo! Depois foi a vez de Absalão fazer o planejamento de assassinato. Ele acabou matando Amnom, para constrangimento de Davi que, contudo, não tomou nenhuma atitude, o que combinou com sua inação no caso do estupro de Tamar. Ver a história toda contada em II Sam. cap. 13. A época foi em tomo de 980 A. C.

3. Absolom tinha uma filha naquela época que, presumivelmente, foi chamada pelo mesmo nome da irmã, Tamar, e possivelmente recebeu esse nome para honrar sua linda irmã, que havia sido trata­da tão mal por Amnom, um meio-irmão. A única informação que temos sobre essa Tamar é que ela era uma “mulher formosa à vista” (II Sam. 14.27). O vs. 25 do mesmo capítulo conta-nos que o próprio Absalão era extremamente atraente, de forma que Tamar obteve sua beleza diretamente de seus genes.

4. Uma cidade próxima à fronteira de Judá e Edom, no extremo sul do mar Morto também recebe esse nome. Talvez o sítio moderno seja Thamara, que fica na estrada que leva de Hebrom a Elate. O profeta Ezequiel menciona Tamar como um local na fronteira da Israel restaurada (Eze. 47.9; 48.28). Talvez uma alusão seja feita a esse local em I Reis 9.18, ou talvez ele seja identificado com Hazom- Tamar, de II Crô. 20.2 (ver a respeito). Outro nome para é En-Gedi (ver o artigo com esse nome).

TÂMARANão há referências diretas às tâmaras nas páginas da Bíblia,

mas a alusão à «bebida forte», em Provérbios 20:1, pode apontar para

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5338 TAMBOR---- TARÉIA

o vinho feito de tâmaras. Além disso, em II Crônicas 31:5, há referência ao «mel», que muitos pensam tratar-se de mel feito de tâmaras. Com base em outras fontes informativas, ficamos sabendo como as tâmaras eram usadas na antigüidade. Tâmaras secas eram muito duradouras, utilíssimas para o consumo durante as viagens em lombo de camelo, pelos desertos. A tâmara, cujo nome científico é Phoenix dactylifera, cresce em enormes cachos, que ficam pendurados entre as folhas da planta. Durante longos séculos têm sido um dos principais itens da ali­mentação de várias tribos árabes. Ver também sobre a Palmeira.

TAMBORVer sobre Música e Instrumentos Musicais.

TAMBORILVer sobre Música, e também sobre Instrumentos Musicais.

TAMBORIMVer sobre Música e Instrumentos Musicais.

TAMUNETENo hebraico, «consolação». Ele é mencionado somente em II Reis

25:23 e em Jer. 49:8. Ele é chamado de netofatita. Era o pai de Seraias, um capitão judeu que permaneceu em Judá juntamente com Gedalias (vide), após o exílio babilónico. Viveu por volta de 620 A.C.

TAMUZUma divindade e ídolo sírio e fenício, correspondente ao Adónis dos

gregos. Na Bíblia, esse deus pagão é mencionado somente em Eze. 8:14. A origem de seu nome perde-se na obscuridade da antigüidade. Mas muitos pensam que se derivou da história lendária suméria sobre Dumuzi («verdadeiro filho»), um pastor pré-diluviano e suposto marido de Istar (vide). Embora nunca tenha obtido mui grande popularidade na Babilônia e na Assíria, tomou-se famosíssimo na Síria e na Fenícia, bem como, mais tarde, entre os gregos, onde o casal aparecia com os nomes de Adónis e Afrodite. No Egito, Adónis chegou a ser identificado com Osiris (vide), que teria sua própria história lendária. Na Síria, o principal centro desse culto ficava em Gebal, onde havia o templo dedicado a Afrodite, a deusa do amor camal.

Provavelmente, foi devido à contiguidade entre a Síria e Israel que o culto a Tamuz penetrou entre o antigo povo de Deus. Ezequiel, em uma visão, viu mulheres sentadas na porta norte do templo de Jerusalém, a chorarem por Tamuz, o que consistia em um tremendo desvio religioso, condenado pelo Senhor, como uma das «abomina­ções» que faziam Deus tapar seus ouvidos aos apelos dos judeus incrédulos.

Na Suméria, essa divindade apareceu como deus da vegetação da primavera. Ali ele era considerado irmão e marido de Istar, a deusa da fertilidade. Primeiramente ela o teria seduzido, cometen­do incesto com ele, para depois traí-lo. Uma bela história, sem dúvida! Ali, Tamuz era representado em selos como protetor dos rebanhos, aos quais defendia das feras. Esse culto foi mais elabo­rado na Babilônia, onde já se falava em sua morte, visita ao mundo dos m ortos e re ssu rre içã o . Essa m orte e ressurre ição co rresponde riam , anua lm en te , ao in íc io do verão e ao reflorescimento primaveril da vegetação. Os ritos em que se chora­va pela imaginária morte de Tamuz ocorriam no 4° mês (corres­pondente aos nossos meses de junho e julho). Isso deu azo a que os judeus de tempos pós-bíblicos chamassem o seu quarto mês de Tamuz. Ver sobre o Calendário.

Havia muitas afinidades entre o culto a Tamuz e o culto a Osiris, este último no Egito. Até hoje, em regiões remotas do Curdistão, há variações desse antigo culto. Segundo a opinião de alguns estudio­sos, Tamuz representaria o monarca reinante. E este, por sua vez, representaria todos os homens, dentro do potencial de que eles teriam de participar da natureza divina de Istar, o princípio da vida e da fertilidade.

Muitos cultos pagãos antigos giravam em torno de questões sexuais e do mistério da reprodução. Como essa é uma questão muito atrativa para os seres humanos, não admira que muitos ju ­deus se tenham deixado envolver por cultos dessa natureza, ao longo de sua história. Mas, como é claro, todos os cultos dessa ordem indicam e levam a uma grande degradação. As sugestões deixadas pelos imaginários deuses pagãos nunca eram puras, mas sempre envolviam as piores perversões morais. Não admira que os profetas do Senhor sempre tivessem sentido que tais cul­tos eram infames, representando um grave perigo para o povo de Deus!

TAPUANo hebraico, «maçã». Esse foi o nome de um homem e de duas

cidades, nas páginas do Antigo Testamento:1. Um descendente de Hebrom (I Cor. 2:43), que provavelmente

deu seu nome a uma cidade próxima de Hebrom. Havia uma Bete-Tapua naquela área em geral, conforme se vê em Jos. 15:53. Ele viveu por volta de 1500 A.C.

2. Uma cidade na fronteira norte do território de Efraim, a oeste de Siquém (Jos. 15:32; 16:8; 17:8). Provavelmente é a mesma que, modernamente, se chama Sheikh Abu Zarad.

3. Uma das cidades a oeste do rio Jordão, cujos reis foram derrotados pelos israelitas, sob as ordens de Josué (Jos. 12:17). Talvez seja a mesma cidade acima sob o número «dois». Aparece, na lista de Jos. 12:7-24, entre Betei e Hefer.

TAQUEMONIO sentido desse nome é desconhecido no hebraico. Era o nome

do primeiro dos heróis de guerra de Davi. Ele é mencionado com esse nome somente em II Sam. 23:8. No entanto, nossa versão portuguesa diz que Taquemoni foi o pai de Josebe-Bassebete, que teria sido o primeiro dos heróis de Davi, e não seu pai. Estranho é que há versões que dizem «Taquemoni... o mesmo era Adino...», emII Sam. 23:8. Em I Crô. 11:11, o trecho paralelo diz: «Jasobeão, hacmonita, o principal dos trinta...». Portanto, há considerável indeci­são no texto, conforme o encontramos em nossa Bíblia portuguesa e em outras versões. Por isso mesmo, alguns estudiosos pensam que está envolvido um erro de copista, onde uma letra hebraica teria sido confundida com outra, especialmente no caso de I Crô. 11:11. Viveu em cerca de 1048 A.C.

TARALANo hebraico, «poder de Deus». Uma cidade que ficava no território

de Benjamim (Jos. 18:27). Ela aparece, em uma lista, entre Ispreel e Zela. Provavelmente ficava localizada na região montanhosa, a noro­este de Jerusalém. Atualmente, seu local exato é desconhecido.

TARDEVem do hebraico com o sentido de fim do dia (Juí. 19:8).

Incluía a quinta e a sexta divisões do dia. Os hebreus computa­vam o dia das 18:00 horas às 18:00 horas, dividindo-o em seis períodos de igual duração: romper do dia; manhã; calor do dia, começando cerca das 9:00 horas; meio-dia; frescor do dia, tarde. O frescor do dia correspondia ao final de nossa atual tarde. Tinha esse nome porque, no oriente, o vento começava a soprar pou­cas horas antes do pôr-do-sol, continuando até descer a noite. Grande parte dos negócios do dia eram realizados durante esse período. (Ver Gên. 3:8 e Juí. 19:8—no primeiro trecho temos «viração do dia»; no segundo, «declinar do dia», em nossa Bíblia portuguesa).

TARÉIANo hebraico «vôo». Bisneto de Jônatas, filho do rei Saul. O pai

de Taréia foi Meribe-Baal. É mencionado em I Crô. 8:35 e 9:41. Viveu por volta de 1000 A.C.

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TARGUM — TARTAQUE 5339

TARGUMI. NomeII. Caracterização GeralIII. Targuns de Várias Porções das EscriturasIV. Usos dos TargunsI. NomeTargum é a palavra hebraica que significa “tradução”, mas na práti­

ca traduções, paráfrases e comentários do Antigo Testamento têm sido assim chamados. Aplicando o sentido amplo do termo, o mais impor­tante dos Targuns foi a Septuaginta ou a versão grega da Bíblia hebraica.

II. Caracterização GeralOs Targuns tinham o objetivo de beneficiar no exílio os judeus que

haviam esquecido o hebraico ou que tinham pouca habilidade com ele. Este foi certamente o caso da Septuaginta que serviu aos judeus da Diáspora. Mas essas traduções também eram muitas vezes paráfrases e comentários daquele texto iluminado, não meramente traduções. Os primeiros Targuns estavam em aramaico. Então veio a poderosa Septuaginta, o Targum (tradução dos Setenta que era assim chamada, pois, presumivelmente, era o trabalho de setenta estudiosos judeus da Alexandria). Outro Targum grego foi o de Áquila do segundo século A.C. Ele foi um prosélito da fé hebraica que nutria grande interesse na Bíblia hebraica e queria compartilhar dela com o oovo que falava greto. Em um momento posterior, sua tradução foi vertida para o aramaico e tomou-se, por um período, o texto oficial na BaNônia. Mais tarde o trabalho dele também foi empregado na Palestina para ajudar aqueles que conheciam pouco hebraico clássico para compreender sua própria Bíblia. Essa tradução foi o Targum Onkelos.

O uso mais restrito deste termo se refere a um grupo de tradu­ções aramaicas do Antigo Testamento. Na prática, essa definição mais restrita passou a dominar os estudos da Bíblia e é aquela que é empregada no restante deste artigo O fenômeno do Targum ilustra uma verdade óbvia a qualquer um que lida com literatura: trabalhos importantes apenas podem cumprir com seu potencial quando são traduzidos e disponibilizados a outros povos.

III. Targuns e Várias Porções das EscriturasAntes da época de Cristo, o aramaico passou a ser a língua co­

mum da comunidade judaica e assim tonou-se necessário primeiro lero hebraico (pois teria sido impossível para o povo abandonar sua Bíblia histórica) e então fazer com que uma segunda pessoa lesse o aramaico da mesma passagem que havia sido lida. Tambem eram fornecidas explicações, que incluíam paráfrases e comentários, e parte disso co­meçou a integrar o Targum e a tradição. Até o final do segundo séculoD. C., ou no início do terceiro, em muitas sinagogas, foi abandonado o serviço duplo, que consumia muito tempo, usava-se apenas a versão em aramaico, sendo esse o idioma que o povo compreendia. Esse foi o equivalente ao abandono, por parte da Igreja Católica Romana, da missa em latim. Em locais fora da Palestina, onae outros idiomas eram falados, os Targuns deixaram de ser usados nos cultos, e outros idio­mas eram usados para explicar as Escrituras por homens que, em particular, continuavam a usar os Targuns. Esse “modernismo” horrori­zou muitos rabinos que continuavam a estudar o Antigo Testamento em seu idioma original e as traduções e paráfrases em aramaico.

1. Do Pentateuco. O Targum de Onkelos era o mais conhecido dos Targuns daquela parte das Escrituras. Originário da Palestina, cópias dele foram levadas à Babilônia. É mais literal (mais próximo ao hebraico) do que os Targuns que o seguiram. O trabalho contém, contudo, algumas idéias distintas e comentários que promovem a interpretação messiânica de Gên. 49.10 e Núm. 24.17 e existe em número relativamente grande de cópias.

2. Dos Profetas. O melhor desses é aquele atribuído a Jônatas Ben Uziel, estudante do famoso rabino Hilel. Depois houve aquele chamado de Pseudo-Jônatas, que também continha o Pentateuco. Esse trabalho posterior fornece uma interpretação messiânica das passagens do Servo do Senhor de Isa. 52.13 - 53.12, mas declarações que se referem a seu sofrimento são excluídas, ou se faz com que elas se relacionem a Israel, não a seu Messias (o próprio Servo).

3. Da Hagiografia. O termo Hagiografia (do grego, para escritos sagrados) aplica-se â terceira seção do Antigo Testamento, sendo a primeira a lei, e a segunda os profetas. A terceira seção inclui o seguinte: Salmos, Provérbios, Jó, Cantares, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Es­ter, Daniel, Esdras, Neemias e I e II Crônicas, totalizando 13 livros. Os Targuns que tratam desses livros são um tanto recentes, mas alguns deles, ou partes deles, podem remeter a outros mais antigos que agora estão perdidos. O Talmude refere-se a um Targum sobre Jó que não existe hoje. Parece ter surgido durante o primeiro século A. C. Um fragmento de tal Targum (não necessariamente aquele mencionado pelo Talmude) estava entre os manuscritos descobertos em Qumran. Ver os artigos Mar Morto, Manuscritos (Rolos) de na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia e neste Dicionário.

IV. Usos dos Targuns1. Os textos dos Targuns muitas vezes são livres demais para

ser de uso para crítica textual. Isto é, eles não podem ser usados com muita freqüência para ajudar a determinar as leituras originais da Bíblia hebraica.

2. São úteis, contudo, para compreender a interpretação da Bí­blia hebraica pelos rabinos que, através do século, ensinavam isso.

3. Embora contenham alguns erros históricos e anacronismos, às vezes os Targuns dão informações valiosas sobre os significados de antigas palavras hebraicas que d e outra forma D oderiam ter continua­do desconhecidas a nós.

4. O maior serviço dos Targuns foi o de trazer o significado da Bíblia hebraica a povos que não mais falavam ou consegu.am ler c hebraico clássico (bíblico).

5. Os Targuns abriram ainda outra janela ao estudo do Antigo Testamento.

TARPELITASEsse grupo de gente é mencionado exclusivamente em Esd. 4:9.

Há pelo menos duas opiniões acerca da identificação deles. Uma delas é que esse pode ter sido o título de certos oficiais persas. Essa opinião é difícil de ser sustentada, pois todos os outros nomes que aparecem nesse versículo — dinaítas, afarsaquitas, afarsitas, arquevitas, babilônios, susanquitas, deavitas e elamitas — represen­tam grupos étnicos. A outra opinião é que seria esse o nome de algum povo ou população que os babilônios haviam transportado para ocupar a cidade de Samaria. Mas, quando esse ponto é admiti­do, novamente surgem dificuldades de identificação. Há quem se confesse ignorante quanto à procedência deles, embora haja outros estudiosos que arriscam dizer que seria alguma tribo assíria, de Tapur, a leste do Elão, ou de Tarpete, nos alagadiços maeóticos. Seja como for, essa gente toda foi transportada para Samaria em 678 A.C.

TARTÃVem do acádico, um idioma semita, tartanu, de significação

desconhecida. Nas listas assírias, um «tartã» aparece como um ele­vado oficial, inferior somente ao próprio monarca. Esses oficiais figu­ram desde os tempos de Adade-Nirari II, Salmaneser III, Tiglate-PileserIII, Sargão II e Senaqueribe. Eram generais de exército.

Nas páginas do Antigo Testamento dois desses «tartãs» são mencionados. O primeiro deles foi enviado pelo rei assírio Sargão II, a fim de capturar a cidade de Asdode (Isa. 20:1); o segundo deles foi enviado por Senaqueribe, juntamente com outros oficiais, Rabe-Saris e Rabsaqué (vide), exigindo a rendição de Jerusalém (II Reis 18:17). Nas traduções em geral (incluindo a nossa versão portuguesa) há considerável confusão quanto a esses títulos, onde aparecem como se fossem nomes próprios de indivíduos, e não títulos nobiliárquicos. Ver também os artigos sobre Rabe-Saris e Rabsaqué.

TARTAQUENo hebraico, «herói das trevas». Uma divindade e um ídolo ado­

rado pelos aveus, aos quais Salmaneser removeu para Samaria. Esse deus pagão só é mencionado em II Reis 17:31. Interessante é

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5340 TATENAI — TAXAÇÃO

observar que, nos anais assírios, nenhuma divindade com esse nome é jamais mencionada. Porém, é possível que o nome «Tartaque» seja uma ccrruptela de Atargatis, uma divindade adorada na Mesopotâmia. Os aveus também trouxeram consigo um outro ídolo, chamado Nibaz, que os estudiosos dizem que tinha a forma de um asno. Esses e outros ídolos, que os paqãcs transportados para Samaria trouxeram consigo do Oriente, faziam parte do culto misto dos samaritanos, que temiam ao Senhor Deus mas também tinham suas divindades pagãs particula­res. Por causa aisso mesmo é que os samaritanos sempre foram vistos com maus olhos pelos judeus, cois o culto samaritano era um misto de noções religiosas certas e erradas, constituindo um perigoso rival do culto judeu monoteísta.

TATENAISeu nome, em grego, era Sisinnes, que aparece em I Esdras 6:3

e 7:1. Com esse nome Tatenai, aparece na Bíblia somente no livro dp Esdras (5:3,6; 6:6,13). Ele era um governador persa, sucessor de Reum, durante o reinado de Dario Histaspes, da Pérsia, no tempo de ZoroDabel. Tatenai governava o distrito de Samaria, ao passo que Zorobabel era o governador da Judéia. Tatenai investigou e apresen­tou relatório encorajador à questão da reconstrução da casa de Deus, em Jerusalém, ao rei Dario. Em uma inscrição cuneiforme, proveni­ente da Babilônia, datada de 5 de junho de 502 A.C., Tatenai é chamado de «Tatenai do distrito daquém do rio», o que pode ser confrontado com o que se lê em Esd. 5:6: (Tatenai, o governador daquém do Eufrates).

TATIM-HODSIParece ter sido nome de um distrito localizado entre Gileade e

Dã-Jaã. Esse distrito foi visitado por aqueles que faziam o recensea­mento em nome de Davi, rei de Israel (II Sam. 24:6). O texto é incerto, e o local não é mencionado em qualquer outra passagem bíblica. Algumas traduções especulam sobre o que esse nome signi­ficaria. Assim a RSV e a nossa versão portuguesa dizem: «até Cades, na terra dos heteus», isto é, Cades sobre o Orontes, até onde se estendia o reino de Davi, no máximo de seu poder.

TATUAGEMEssa palavra portuguesa vem do taitiano tatau, a reduplicação da

palavra ta, que significa «marca», «sinal». Está em foco uma marca indelével, feita mediante técnicas próprias, picando a pele e inserindo algum pigmento sob a mesma. Embora, provavelmente, não haja nenhuma alusão direta à técnica da tatuagem, nas páginas da Bíblia, essa tem sido considerada uma interpretação possível em cinco situ­ações aludidas na Bíblia, a saber:

1. Oth, «sinal». Palavra usada por setenta e nove vezes no Antigo Testamento, conforme se vê, por exemplo, em Gên. 1:14; 4:15; Êxo. 4:8,9.17,28,30; Núm. 14:11; Deu. 4:34; 6:8,22; Jos. 4:6; Juí. 6:17; I Sam. 2:34; II Reis 19:29; Nee. 9:10; Sal. 74:4,9; Isa. 7:11,14; 8:18; Jer. 10:2; Eze. 4:3; 20:12,20 O termo grego correspondente é semelon «sinal», usado por quarenta e oito vezes, conforme se vê, por exemplo, em Mat. 12:38; Luc. 2:12; João 2:18; Atos 2:19,22,43; Rom. 4:11; I Cor. 1:22; II Cor. 12:12; II Tes. 2:9; Heb. 2:4; Apo. 15:1.

2. Chaqaq, «gravação». Com esse sentido, é usada por duas vezes: Isa. 22:16 e 49:16. Na última dessas referências, a idéia é que, gravando Deus os nomes de Seu povo em Sua mão, jamais se esqueceria deles.

3. Seret, «incisão», «corte». Essa palavra só aparece em Lev. 19:28, onde se lê: «Pelos mortos não ferireis a vossa carne; nem fareis marca nenhuma sobre vós: Eu sou o Senhor». O termo seret é traduzido ali como «ferireis». Isso parece ser uma clara proibição do uso de tatuagens, entre os judeus. Uma das mais horrendas tatua­gens eram aqueles números que os nazistas tatuavam no braço de judeus que estavam condenados a morrer nos campos de concentra­ção, onde foram mortos seis milhões de israelitas, a mando de Hitler e sua infame camarilha.

4. Charagma, «impressão», «marca impressa». Esse termo greqo aparece por oito vezes: Atos 17:29; Apo. 13:16,17; 14:9,11; 16:2; 19:20; 20:4. Na primeira dessas referências temos a palavra «trabalhados», o que é uma tradução lícita. Em todas as referências do livro de Apocalipse está em foco algum tipo de marca que o futuro anticristo exigirá da parte de seus seguidores. Diz Apocalipse 13:17: «...para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta, ou o número do seu nome». Uma incrível sanção financeira, uma ditadura como nunca terá havido igual no mundo. Ninguém sabe, entretanto, no que consistirá a tal «marca», a menos que pensemos em uma sigla formada pelas letras gregas que correspondem ao nú­mero «666»

5. Stígma, «ponto», «marca». Palavra grega usada somente em Gál. 6:17, onde o apóstolo Paulo diz: «Quanto ao mais, ninguém me moleste; porque eu trago no corpo as marcas de Jesus». Alguns têm pensado que estariam em foco o que, na Igreja Católica Romana, é chamado de «estigma», marcas semelhantes a marcas deixadas pe­los cravos, nas mãos de Jesus, e que teriam aparecido em alguns «santos» católicos romanos. Mas Paulo não estava falando sobre coisas assim. Antes, ele havia ficado marcado pelos sofrimentos, sofridos pela causa de Cristo, que tinham deixado sinais indeléveis em seu corpo quebrantaco pelas asperezas da caminhada de um apóstolo de Cristo.

Alguns têm pensado que o trecho de Lev. 19:28 (ver o ponto terceiro), sem dúvida, alude à prática da tatuagem. Mas, embora algumas versões estrangeiras tenham traduzido o vocábulo hebraico seret, ali usado, por «tatuar», os estudos feitos quanto aos costumes de lamentação e luto pelos mortos indicam freqüentes associações de cortes feitos no corpo ou pinturas com o raspar dos cabelos, mas nunca com tatuagens, que se revestem de outro sentido. Por seme­lhante modo, qualquer situação retratada nas Escrituras que possa ser interpretada como indício da prática das tatuagens tem base meramente conjectural, e não se escuda sobre qualquer inferência etimológica ou etnológica.

TAUA vigésima segunda letra do alfabeto hebraico. Na Bíblia em

hebraico, a vigésima segunda seção do Salmo 119 começa com essa letra. Visto que os hebreus não tinham algarismos para repre­sentar os números, representando-os por meio de letras, como tam­bém faziam os gregos e os romanos, embora usassem sistemas diferentes, essa letra representava o número quatrocentos.

TAV (TAU, ASSINATURA)No hebraico, tav, usualmente consiae'ada como uma forma sin­

tética de «tau», nome da última letra do alfabeto hebraico, mais um sufixo possessivo pessoal... Tem o sentido de «minha marca» ou «minhas iniciais». Aparece sem esse sufixo, no trecho de Ezequiel 9:4,6, onde nossa versão portuguesa, seguindo muitas outras, a tra­duz por «marca». Alguns estudiosos pensam que seria apenas uma espécie de «X», a forma de tau semita, de acordo com a primitiva escrita redonda. Em Jó 31:35, a única ocorrência do vocábulo sem o sufixo refere-se a um documento legal, provavelmente um tablete de artigo, sobre o qual a pessoa que se defendia ou contratava deixava impressa a sua marca. Nossa versão portuguesa diz ali «defesa assinada».

TAXAÇÃOHá uma palavra hebraica e uma palavra grega envolvidas:1. Arak. No hifil, essa palavra tem o sentido de «taxar», por uma

única vez: II Reis 23:35. O substantivo correspondente, erek, «avalia­ção», «taxação», também só ocorre por uma vez com esse sentido, nesse mesmo versículo.

2. Apographé, «registro». Essa palavra grega ocorre somente per duas vezes: Luc. 2:2; Atos 5:37. Em ambas as passagens, observa-se claramente que esse registro ou recenseamento era feito com o obje­

Page 13: 0 ANTIGO TESTAMENTO INTERPRETADO · nas páginas do Antigo Testamento. 1. Um filho de Efraim, fundador da família dos taanitas (Núm. 26:35). Viveu em torno de 1600 A.C. 2. Um efraimita,

TEAR — TECER 5341

tivo precipuo de cobrar certa taxa por cabeça. Não há que duvidar que os antigos governantes sabiam cobrar taxas e impostos. Chegavam a abusar quanto a isso, sobretudo no caso de nações militarmente conquistadas, a um ponto que chegou a ser vergonhoso. Neste Dicio­nário, reservamos os comentários mais completos a respeito no artigo intitulado Tributo.

TEARVer o artigo sobre Fiação. A palavra tear acha-se somente por

duas vezes no Antigo Testamento: Juí. 15:14 e Isa. 38:12. A arqueo­logia e as referências literárias têm demonstrado a existência de três tipos básicos desse instrumento. Um dos tipos jazia no chão, e a pessoa tecia laboriosamente, agachada. Os outros dois tipos eram armados verticalmente. O operador podia ficar de pé ou sentado, quando trabalhava com esses dois últimos tipos. Um dos tipos em­pregava um sistema de pesos para manter esticado o trabalho que estava tecendo, mediante a força da gravidade. O outro tipo dispu­nha de uma barra onde ficavam presos os fios, os quais podiam ser mantidos esticados através de um giro periódico dessa barra.

TEBÃNo hebraico «grande», «forte». Esse foi o nome de um filho de

Naor, irmão de Abraão; sua mãe era Reuma, concubina de Naor (Gên. 22:14). Uma tribo do mesmo nome descendia dele. Em I Crôni­cas 18:8, seu nome aparece com a forma de Tibate; no trecho para­lelo de II Sam. 8:8, ele é chamado Betá, que também seria o nome de um lugar, mas de localização desconhecida. Tebá viveu por volta de 1860 A.C.

TEBALIASNo hebraico, «Yahweh mergulhou». Esse foi o nome do terceiro

filho de Hosa, que era um dos porteiros do templo de Jerusalém (I Crô. 26:11). Viveu em cerca de 1015 A.C.

TEBAS1. Nome. A palavra hebraica é uma transliteração do vocábulo

egípcio Niwt-lmn, que significa “cidade de Amom”. A Septuaginta traduz o egípcio fornecendo a palavra Dios polis. As versões dão No- Amon, Moamom ou simplesmente No (Jer. 46.25). A Versão Padrão Revisada em inglês dá “Amom de No” (Eze. 30.14-16). Os autores clássicos dizem-nos que a cidade era muito antiga, espalhando-se por duas encostas do Nilo.

2. Local. O local era (é) localizado no Egito Superior, onde hoje existe o Luxor moderno, ficando cerca de 600 km rio acima, isto é, ao sul do Cairo.

3. Detalhes. Na encosta direita (leste) do rio, localizavam-se os templos de Camaque e Luxor. Na encosta esquerda (oeste) do rio, localizavam-se os templos do Goorna, Deir-el-Bari, o Rameseum, os Colossos e o templo de Deir-el-Medina, mais o de Medinet-Abou. Esses templos constituíam uma fileira de prédios funerários. Os tem­plos em ambos os lados do rio continham (contêm) uma riqueza de afrescos e pinturas de valor incalculável para arqueólogos e historia­dores. As obras ilustram o histórico de certos períodos do Antigo Testamento. O mais magnífico dos templos era o do deus Amum em Carnaque, cujas ruínas figuram entre as mais significativas do Egito. Em outubro de 1899, nove colunas daquele grande templo ruíram, queda essa causada pela infiltração das águas do Nilo nas rochas.

A cidade atingiu a proeminência durante a 11a e 12a dinastias, uma época de unidade e prosperidade no Egito. Mas os grandes monumentos datam das 18a a 20a dinastias, que existiram em por volta de 1550-1085 A. C. Após isso, a importância da cidade e da área diminuiu, tendo havido uma transferência de poder para o norte. Ainda assim, o local reteve sua importância religiosa até ser saquea­do pelos assírios em 663 A. C. O profeta Naum (3.8) usou a imagem desse acontecimento para falar da própria queda da Assíria. Tanto Jeremias quanto Ezequiel ameaçaram o local com julgamento divino

(ver Jer. 46.25 e Eze. 30.14-16). A cidade foi atacada pela Assíria no século 7 A. C. e finalmente esmagada por Roma em 30-29 A. C.

TEBESNo hebraico, “avistada de longe", nome de uma cidade situada

nas encostas e no cume de um morro, cercada por muitas cisternas, algumas das quais que ainda estão em uso. Na área, ainda em tempos modernos, pessoas vivem em cavernas subterrâneas nas rochas. As duas referências bíblicas ao lugar são Juí. 9.50 e II Sam.11.21. Era um local fortificado no território de Manassés, cerca de 15 km ao nordeste de Nablo. A cidade é lembrada pela história de Abimeleque, filho de Gideão, que, avançando contra o local (após muitas vitórias sangrentas em outros lugares), foi ferido mortalmente por uma mulher que jogou nele uma pedra de moenda do alto de uma torre. Ele próprio ordenou que seu portador de armas o matasse com a espada para que o povo não dissesse que ele havia sido morto por uma mulher. O incidente tornou-se proverbial, e Joabe referiu-se a ele em seu relatório a Davi quando Urias, marido de Bate-Seba, morreu em batalha devido a um pré-acordo de Davi, que queria livrar-se dele (II Sam. 11.21).

TEBETENome do décimo mês do calendário judaico. Ver sobre Calendário.

TECER1. Uma Arte Antiga. A arte de tecer é uma das ocupaçoes e

profissões mais antigas e conhecidas. Famílias (exceto dos ricos) teciam suas próprias roupas, coberturas e tendas. 0.° cananeus já eram habilidosos com este trabalho muito antes de os hebreus inva­direm sua terra. A arte do tingir acompanhava a do tecer. Há evidên­cias arqueológicas de ambos os tipos de trabalho manual em Tel Beit Mirsim, Ugarite e Biblos em épocas muito remotas. Considere os trinta roupões de linho e as trinta mudas de roupas que Sansão foi obrigado a dar aos filisteus por ter perdido uma aposta (Juí. 13.14). Também era conhecido e praticado o tecer de carpetes.

2. O modus operandi do tecer antigo. O processo exigia o entre­laçamento de fios, um fio chamado de urdidura, e o outro, o urdume. Os fios do urdidura são esticados em um tear e então os fios do urdume são passados por cima e por baixo deles, resultando no entrelaçamento que produz um tecido.

3. O antigo ancestral do tecer era a elaboração de cestas no período Paleolítico, há cerca de 20 mil a 40 mil anos. Esse processo sugeriu a fabricação de tecidos para roupas, numa época em que as roupas eram feitas de peles de animais. Os arqueólogos descobriram pinturas de antigos teares que datam a cerca de 32 mil anos no Egito. A tumba em Beni-Hassan é um dos primeiros lugares onde pinturas de parede foram descobertas representando a arte. As roupas eram tingi­das com cores brilhantes, e os tecelões eram homens, provavelmente profissionais que trabalhavam para pessoas importantes.

4. Materiais Empregados. Linho, lã, seda, algodão e pêlo de cabra eram materiais comumente empregados. Tecidos de tendas eram feitos de pêlo de cabra para as tendas, mas peles de animais continuavam sendo usadas para roupas e tendas. Por volta de 2320, havia uma fábrica de tecidos na Babilônia. Esse tipo de trabalho já era profissional naquela época.

5. Processos de Aprendizado. Os hebraicos, sem dúvida, apren­deram essa profissão no Egito, e entre aqueles que dali fugiram no Êxodo, havia homens habilidosos na arte de tecer, como demonstra a habilidade de tecer cortinas para o tabernáculo (Êxo. 26.1 ss.) A má Dalila tinha um tear, como vemos ao ler Juí. 16.13, 14. Exceto pelos modelos profissionais de hoje, a estrutura básica do tear não foi muito alterada em 5 mil anos. Os idumeus participavam da arte, como demonstra Eze. 27.16.

6. Tipos de Teares nos Tempos Bíblicos.a. O tear vertical de duas vigas que empregava um par de vigas

eretas presas no chão e unidas no topo com uma viga cruzada. Fios

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5342 TECOA — TEÍSMO

longos eram guiados frouxamente da parte de cima até o chão sobre a viga cruzada. Pequenos punhados de lã eram amarrados em pedras para manter-se esticados.

b. Então havia um tipo vertical de tear que exigia que dois tecelões operassem o equipamento. Um passador era passado de um lado para outro pelos fios, unindo-os.

c. Um tear horizontal fixado no chão ainda é empregado por nômades hoje em dia. O dispositivo tinha (tem) duas vigas mantidas em seus lugares por quatro pinos inseridos no chão. O tecelão senta à frente do aparelho e, de modo geral, trabalha sozinho. _

7. Referências Bíblicas. Há 13 referências ao tecer: Êxo. 28.32; 35.35; 39.22, 27; Juí. 16.13; I Sam. 17.7; II Sam. 21.19; II Reis 23.7;I Crô. 11.23; 20.5; Isa. 19.9; 38.12; 59.5. Há também duas menções da máquina usada para fazer o trabalho: Jó 7.6 e Juí. 16.14.

TECOANo hebraico, “firmeza, estabelecimento”, mas alguns pensam que

a palavra significa “barulho de trombeta”. Um deserto de Tecoa é mencionado, além de uma cidade. É provável que a área de deserto tenha sido adjacente à cidade com esse nome. A cidade ficava no território de Judá, cerca de 9 km ao sul de Belém. O nome moderno é Takua e escavações arqueológicas feitas na área revelaram várias evidências da existência de habitações hebraicas ali. A primeira refe­rência bíblica ao local está em II Sam. 14.2 ss., onde encontramos Joabe empregando os serviços de uma “mulher sábia” dali para tentar gerar uma reconciliação entre Davi e seu filho, Absalão. Davi fugiu ante a ira de Saul (I Sam. 23.26). Um de seus poderosos 30 guerreiros era daquela região, que ele usava como um lar longe de seu lar.

Em um período muito posterior, as pessoas dali participaram da construção dos muros de Jerusalém depois do Cativeiro Babilónico (por volta de 450 A. C.). Ver Nee. 3, 5, 27. Esse foi o local do nascimento de Amós (Amós 1.1). A cidade daquela área é menciona­da em II Sam. 14.2, 4, 9; I Crô. 2.24; 4.5; II Crô. 11.6; Jer. 6.1; Amós1.1. Alguns acreditam que um homem com esse nome é apresentado em I Crô. 2.24 e 4.5. Presumivelmente, o nome de seu pai era Asur.

TEÍNANo hebraico, «súplica». Um judeu descendente de Quelube. Teína

foi o pai de Ir-Naás. Alguns estudiosos pensam que ele não era exatamente genitor de Ir-Naás, mas fundador de uma cidade com esse nome. (I Crô. 4:12). Viveu em cerca de 1400 A.C.

TEÍSMOTem sido provida uma descrição geral das muitas idéias sobre a

pessoa de Deus e sobre como os homens chegam a saber algo acerca dEle. Ver o artigo intitulado Deus, em sua terceira seção, Conceitos de Deus, onde apresento as dezesseis idéias principais. Entre elas, aparece o teísmo.

Esboço:I. A Palavra e Suas DefiniçõesII. Contrastes com Outras IdéiasIII. Idéias dos FilósofosIV. Argumentos Teístas e a Existência de DeusV. O Teísmo CristãoI. A Palavra e suas DefiniçõesEsse vocábulo vem da palavra grega theós, «deus». Assim sen­

do, teísmo é a «crença em Deus, em algum deus, ou em deuses», fazendo contraste com o ateísmo. Visto que essa não é uma palavra técnica, pode ser usada de várias maneiras. Porém, quase sempre entende a existência de algum poaer supremo, ou poderes supre­mos, usualmente concebidos(s) como uma(s) pessoa(s) que se revela(m) a Si mesma (s). O teísmo pode defender o monoteísmo (um só Deus), o politeísmo (muitos deuses), ou pode ser bastante vago, indicando «um deus ou deuses em algum lugar».

Quase sempre a idéia envolve a crença de que os poderes divi­nos interessam-se pelas vidas humanas, com o intuito de recompen­

sar ou punir, exercendo certas influências sobre o mundo dos homens. A idéia de uma divindade criadora, com freqüência, faz parte do teísmo, mas não necessariamente. Quase todos os conceitos teístas arrastam após si a idéia de obrigação moral diante do Poder Divino ou de poderes divinos.

Esse termo (juntamente com o adjetivo «teísta») surgiu na Ingla­terra, no século XVII, quando foi usado em contraste com «ateísmo» e «ateu». Sem o termo, o conceito é tão antigo quanto as religiões humanas, as quais, por sua vez, são tão antigas quanto o próprio homem.

II. Contrastes com Outras IdéiasPodemos aquilatar melhor a força do teísmo contrastando-o com

outros conceitos:1. O teísmo indica a crença em poderes divinos; o ateísmo, por

sua vez, nega a realidade desses poderes.2. O teísmo ensina que os poderes divinos nutrem interesse

pelos homens, intervindo na história humana, responsabilizando os homens por seus atos, recompensando-os ou castigando-os; mas o deísmo ensina que Deus divorciou-se de sua criação, deixando-a ao encargo das forças naturais, pelo que não se interessaria pelos ho­mens e nem entraria em contato com eles, não os recompensando e nem os punindo, exceto indiretamente, através de leis naturais que continuam atuantes.

3. O teísmo pode incorporar o henoteísmo, pelo que poderia haver muitos deuses, embora somente um deles entre em contato conosco, ao passo que os demais manter-se-iam indiferentes. O henoteísmo, pois, é uma forma de teísmo.

4. O politeísmo, que assevera a existência de muitos deuses, tambem é uma forma de teísmo.

5. O teísmo usualmente ensina que existem evidências adequa­das, de natureza prática, mística e racional, para provar a existência de Deus ou de deuses. Fazendo contraste com isso, o agnosticísmo crê que apesar da existência dessas evidências, elas são inconclusivas, havendo contra-evidências (principalmente o Problema do Mal; vide), que deixam em dúvida qualquer pessoa que pensa.

6. O teísmo assevera que podemos e devemos falar sobre Deus e investigar a sua pessoa, pois tal investigação pode ser frutífera e é legítima. O positivismo, por sua vez, afirma que toda investigação metafísica é fútil e sem sentido, porquanto não disporíamos de meios ou de evidências para fazer tal investigação, já que dispomos somen­te de sentidos físicos que podem sondar coisas materiais, mesmo com a ajuda de máquinas e aparelhos.

7. O teísmo promove o dualismo, de acordo com o qual Deus e sua criação são diferentes: Deus pertenceria a uma classe toda sua, e a criação não pertenceria a essa classe. Em contraste, o panteísmo promove um monismo, de acordo com o qual Deus e o mundo seri­am de uma mesma substância: Deus seria o cabeça de toda existên­cia, e a existência seria o corpo de Deus.

III. Idéias dos Filósofos1. Os termos «teísmo» e «teísta» apareceram no século XVII, o

que também se deu com os vocábulos «deísmo» e «deísta». Por algum tempo, o teísmo e o deísmo foram usados como sinônimos, o que continua sendo verdade no vocabulário de algumas pessoas. Porém, nesse mesmo século ou no século XVIII, foi estabelecida a distinção mencionada entre teísmo e deísmo. Ver também o artigo separado sobre o Deísmo.

2. O teísmo promove a idéia de um Deus ou de deuses, e essa divindade aparece, ao mesmo tempo, como imanente no mundo e transcendental ao mundo. Deus atua entre os homens. Usualmente, embora não necessariamente, o teísmo aparece associado a um Deus ou a deuses dotados de poderes criativos; a criação aparece como distinta de Deus, quanto à sua natureza.

3. No teísmo clássico, Deus aparece como Ser absoluto, possui­dor de diversos ominis, como onipotência, onipresença, etc. No teísmo dipolar, Deus aparece como Ser absoluto, ao mesmo tempo imanente e transcendental. No teísmo relativo, Deus não figura como um Ser

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TEÍSMO — TELÃ 5343

absoluto, apesar de ser possuidor de grande poder. Segundo esse ponto de vista, Deus é finito, e não infinito. Poucos teólogos cristãos têm aceitado esse ponto de vista.

4. No teísmo evolucionário (John Fiske), o poder divino aparece por detrás do processo de evolução no mundo, por ser a sua causa.

5. No teísmo especulativo (Christian Weisse), faz-se a tentativa de ver Deus como um Ser absoluto, identificado como o Absoluto dos filósofos. Deus, de acordo com essa concepção, é uma Pessoa infini­ta; o homem aparece como uma pessoa finita e livre, que encontra o centro e a razão de sua existência na Pessoa infinita.

6. No teísmo ético (Sorley), um Deus finito é a origem de todos os valores humanos.

7. No teísmo moral (A.E. Taylor), acha-se uma prova da existên­cia de Deus nas experiências morais. Ali, esse tipo de experiência faz parte essencial da existência humana.

IV. Argumentos Teístas e a Existência de DeusQuase todos os teístas — embora não todos — escudam-se

nos argumentos tradicionais em prol da existência de Deus. A idéia de que Deus está interessado no homem e manifesta-se na nature­za e nas experiências místicas (algo comum ao teísmo) promove o meio ambiente intelectual, de acordo com o que os homens pen­sam ser capazes de dizer coisas significativas a respeito de Deus e asseverar a sua existência. No artigo intitulado Deus, apresentei grande número de argumentos em favor da existência de Deus. Ver sua quinta seção, onde apresentei vinte desses argumentos. A bem da verdade, o teísmo só pode aceitar a idéia da existência de Deus mediante a fé, usualmente com base nos Livros Sagrados e suas afirmações. Nem por isso o teísmo condena os argumentos teológi­cos, místicos, racionais, naturais e sobrenaturais em favor da exis­tência de Deus.

V. O Teísmo CristãoA fé cristã, em seu aspecto tradicional e conservador, oferece

uma versão especial do teísmo, segundo se vê nos pontos abaixo:1. Rejeita o politeísmo e o henoteísmo como variedades legíti­

mas do verdadeiro teísmo.2. Rejeita o politeísmo, o agnosticismo, o ateísmo e o positivismo.3. Aceita a mensagem essencial dos Livros Sagrados cristãos, o

Antigo e o Novo Testamentos.4. Aceita a natureza (teologia natural) como uma abordagem

válida, embora parcial, da teologia.5. Ensina estar devidamente fundamentado sobre a ciência, a

filosofia, a revelação (os Livros Sagrados), a natureza e, por que não, sobre a consciência e a intuição humanas, sempre sob a orientação da revelação divina.

6. Assevera que a existência de Deus pode ser aceita com base na revelação, ainda que também respeite os argumentos filosóficos tradicionais, bem como as evidências colhidas na natureza criada.

7. Sua ética alicerça-se sobre a idéia de que Deus revelou a sua vontade aos homens, e que eles são responsáveis diante dele por sua conduta. A aprovação ou desaprovação divina aquilatarão todas as prestações de contas morais. Deus é o autor da ética, e não o homem.

8. O cristianismo ortodoxo aceita a visão trinitariana da deidade. Porém, é mister reconhecer que as explicações trinitarianas popula­res equivalem ao triteísmo, o que é apenas uma forma de politeísmo. Ver os artigos Trindade; Tríades e Triteísmo.

9. Ao rejeitar o deísmo (vide), o teísmo cristão promove o concei­to de um Deus imanente, interessado nos homens, que intervém na história humana, que garante a imortalidade das almas e que julga ou recompensa as almas, após a morte biológica.

10. O teísmo cristão assevera a validade da missão salvaticia de Cristo, como realização especial de Deus entre os homens.

1 1 .0 conceito de um Deus pessoal é importante para essa forma de teísmo, onde figuram os atributos tradicionais de Deus como um Ser onipotente, onipresente, onisciente, que tudo sabe, que é completamente santo, etc. 0 amor de Deus é enfatizado; o termo «amor» é o único dos atributos divinos que pode servir como

um dos nomes de Deus. Foi o amor de Deus que inspirou e orientou a missão terrena do Filho.

TEKHELETEsse é o nome de uma cor, no hebraico (Eze. 23:6; Ecl. 40:4 e

Jer. 10:9). Essa cor tem sido variegadamente identificada com a purpura, com o verde, com o índigo e com o amarelo. Atualmente, porém, sabe-se que alude ao azul-purpurina. Na antigüidade, a gran­de fonte desse corante era o molusco chamado Murex. Irving Zinderman, do Instituto de Fibras de Israel, na revista Science News, assevera que os especialistas israelenses confiam que o quebra-cabe­ça envolvido nesse corante foi resolvido. O Talmude diz-nos que esse corante era feito do extrato puro desse molusco, embora não existam identificações mais precisas na literatura antiga. Esse corante era usado nas vestimentas dos príncipes e dos nobres, que tinham dinheiro para comprar roupas tingidas com essa cor. Tal corante requeria o emprego de milhares desses moluscos para a produção de qualquer quantidade mais apreciável do corante. As vestimentas dos ídolos da Babilónia também eram tingidas com essa cor (Jer. 10:9). Ver o artigo geral sobre as Cores.

TEL-HARSANo hebraico, «colina do mago». Essa cidade é mencionada por

duas vezes no Antigo Testamento, em Esdras 2:59 e em Nee. 7:61. Era uma localidade babilónica de onde voltaram exilados judeus, nas migrações de volta à Palestina, terminado o exílio babilónico. A pecu­liaridade dos contigentes judeus que dali chegaram é que eles, du­rante o tempo em que estiveram no estrangeiro, D erderam cs docu­mentos que evidenciavam sua linhagem judaica. Em um grupo prole­tário, que não contasse com a ajuda de sacerdotes ou levitas, não seria muito difícil perder os registros ou a memória de sua genealogia.

Esse retorno de judeus ocorreu em torno de 536 A.C.

TEL-MELÁNo hebraico, -colina de sal» O nome dessa cidade aparece so­

mente em duas passagens do Antigo Testamento, Esd. 2:59 e Nee. 7:61. É possível que a primeira porção desse nome, «Tel», que indica uma colina ou cômoro, indique uma antiga habitação humana, que tenha sido semeada «com sal», conforme também se vê no relato de Juizes 9:45, acerca de um outro incidente, ocorrido muito tempo depois.

Tel-Melá era uma outra localidade, juntamente com Tel-Harsa, para onde tinham voltado exilados judeus que foram incapazes de provar sua linhagem judaica, mediante provas genealógicas. O lo­cal de Tel-Melá é desconhecido. Talvez seja a mesma Telma men­cionada por Ptolomeu, situada perto do terreno salgado às mar­gens do golfo Pérsico. Contudo, esse parecer não passa de uma conjectura.

TELANo hebraico, «vigor». Foi pai de Taã, cujo nome aparece em uma

genealogia pós-exílica de Josué (I Crô. 7:25). Descendia de Efraim, através de Berias. Viveu em cerca de 1640 A.C.

TELÃNo hebraico, me-olam, «desde a antigüidade remota». Essa ex­

pressão hebraica ocorre por cinco vezes: Gên. 6:4; I Sam. 27:8; Sal. 119:52; Isa. 46:9; Jer. 2:20. Mas, no trecho de I Sam. 27:8, tem-se suscitado algum debate entre os estudiosos. A passagem deveria ser traduzida por «desde a antigüidade», conforme fazem algumas ver­sões, ou como um nome próprio, como se fosse uma localidade, Telã (conforme se vê em nossa versão portuguesa). É difícil resolver a questão, que parece haver chegado a um impasse. A variante que diz «desde Telaim» (ou «desde Telã», conforme diz nossa versão portuguesa) apareceu pela primeira vez na Septuaginta. Aqueles que são favoráveis à tradução tradicional, «desde a antigüidade», pare-

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cem ter argumentos mais definitivos. Em primeiro lugar, nas outras ocorrências da expressão hebraica, «me-olam», ela não figura como um locativo, e, sim, como expressão adverbial de tempo. Em segundo lugar, sobretudo no que diz respeito à forma que aparece em nossa versão portuguesa, Telã, não existe qualquer localidade com esse nome, nas Escrituras. Quanto à possibilidade de ser «Telaim», ver o artigo sobre esse nome. Das seis traduções diversas que este tradutor exa­minou, três em português e três em inglês, somente uma (a Tradução do Novo Mundo, da Watchtower Bible and Tract Society, das Testemu­nhas de Jeová) concorda com a nossa versão portuguesa, dizendo: «desde Telão até Sur» isto é, dando a impressão de que se trata de uma localidade. Todas as outras versões dizem algo como «desde a antigüidade». Em terceiro lugar, essa variante, que parece indicar uma posição geográfica, aparece somente em alguns manuscritos da Septuaginta, e nunca em qualquer manuscrito hebraico. Por conse­guinte, parece que os tradutores da Septuaginta interpretam o trecho, no tocante a essa expressão hebraica, em vez de simplesmente traduzi-la.E, desde então, alguns estudiosos têm procurado aproveitar a inter­pretação de alguma maneira, em vez de ficarem somente com o origi­nal hebraico.

TELAIMNo hebraico, «cordeiros». Na Septuaginta, en galgálios. Era uma

cidade do território de Judá, perto de Edom e da pouco definida fronteira com a terra dos amalequitas. Foi ali que Saul concentrou suas tropas, em seu contra-ataque sobre os amalequitas que esta­vam assediando vez por outra as terras de Judá. Esse nome ocorre somente em I Sam. 15:4, em toda a Bíblia. A Septuaginta, seguindo as mesmas fontes informativas que Josefo (Anti. v.7,2), diz Gigal (galgálois) nessa passagem.

Alguns estudiosos têm sugerido que Telaim pode ter sido uma forma corrompida de Telém (ver Jos. 15:24), que ficava na região do Neguebe, e que. estrategicamente, era um ponto mais provável para uma concentração de forças militares, com vistas a atuar no deserto. Ver sobre Telém.

Outros eruditos, seguindo a Septuaginta, pensam que essa pala­vra ocorre novamente em I Sam. 27:8, onde a nossa versão portu­guesa diz Telã (vide). Se eles estão com a razão, então isso restau­raria alguma precisão geográfica a uma passagem com nomes cor­rompidos, e onde algumas versões estrangeiras dizem «desde a anti­güidade».

TELASSAREsse nome ocorre na Biblia somente por duas vezes: II Reis

19:12 e Isaías 37:12, dentro da frase: «...e os filhos de Éden, que estavam em Telassar». Na Septuaginta, Thálassar. No original hebraico há leve diferença na forma escrita, entre II Reis e Isaías. Essa cidade é citada, pelos mensageiros de Senaqueribe a Ezequias, como uma das comunidades destruídas por suas tropas assírias.

Parece que Telassar representa Tell Assur, ou seja «cômoro de Assur». Os «filhos de Éden», em assírio, Bit-Adini (Bete-Éden), «casa de Éden», provavelmente, habitavam na área entre os rios Eufrates e Abli; mas nenhuma cidade assíria, chamada em assírio Til-Assur, ja­mais foi encontrada ou mencionada naquela região. Todavia, há uma Til-Assur mencionada nos anais de Tiglate-Pileser III e de Esar-Hadom, embora apareça próxima da fronteira entre a Assíria e o Elão.

A primeira porção do nome, «Til», parece indicar um lugar onde havia uma comunidade residente, antiqüíssima até mesmo para os assírios. Todavia, parece impossível uma identificação precisa do lugar, tanto devido à sua extrema antigüidade como devido ao fato de que, em áreas tão devastadas pelo homem ou pelas causas naturais, qualquer precisão geográfica torna-se praticamente impos­sível. Por isso mesmo, as sugestões de identificação têm sido as mais variadas, incluindo Theleda ou Thelesa, a sudeste de Raca, oerto de Palmira; Artemita, no sul da Assíria ou norte da Babilônia; Resém, atualmente chamada Kalah Shergat.

TELÉMNo hebraico, «cordeiro». Há uma personagem e uma localidade

com esse nome, nas páginas do AntigoTestamento:1. Um porteiro do templo de Jerusalém, que retomou do exílio

babilónico, e que se casara no estrangeiro com uma mulher da qual teve de separar-se quando do pacto estabelecido por Esdras. Ver Esd. 10:24. Telém viveu por volta de 445 A.C.

2. Uma cidade de Judá, próxima de Zife e de Bealote. É mencio­nada somente em Jos. 15:24. Ver sobre Telaim, segundo parágrafo. Telém ficava na região do Neguebe, trecho semidesértico, na porção sul do território de Judá.

TELHANo hebraico, lebenah, «branco», «tijolo». Essas peças de cerâ­

mica chamavam-se de «branco» porque eram feitas de pedra calcária muito branca. A telha era um tipo de lajota. Antes de 3000 A.C., esses tabletes eram usados para sobre eles, quando a argila que os formava ainda estava mole, se fazerem os sinais cuneiformes, por meio de um estilete. Em seguida, o tablete era deixado ao sol, a fim de secar e endurecer, ou então, era posto para cozer no forno, perpetuando a escrita que ali tivesse sido gravada. As telhas, fabricadas com o mesmo material, foram usadas, em grande parte do mundo antigo, como uma maneira comum de cobrir casas e outros edifícios. Não obstante, na Palestina, usualmente, as casas eram cobertas com um tipo de teto feito de um forro inferior de madeira, por cima do qual se prensava uma camada de argila, bem compactada, misturada com palha. Ver sobre Teto. Telhas de cerâmica são menci­onadas em Lucas 5:19 e Marcos 2:4. No caso de alguma casa pales­tina, provavelmente, a referência é à argila usada no teto chato e compactado de que acabamos de falar. Os estrangeiros gregos e romanos que possuíam casas na Palestina, geralmente, preferiam cobri-las com telhas, e não com esse teto chato e compactado.

TELL EL-AMARNAI. O Nome e o LocalII. Caracterização GeralIII. Observações CulturaisIV. AtonismoV. As Cartas de Tell El-AmarnaI. O Nome e o LocalA palavra tell, encontrada em combinação com nomes próprios,

deriva da palavra árabe que significa um monte artificial construído através de camadas sucessivas de antigas civilizações. De modo geral, os montes representam períodos progressivos na história, mas, às vezes, apenas um é contido dentro do monte. Os tells são nume­rosos na Palestina. Alguns dos mais comuns são Tell en Nasbeh; Tell el Fui (Gibea); Tell Jezer (Gezer); Tell ed-Duwir (Laquis). O famoso Tell El-Amarna é localizado no Egito, cerca de 250 km acima do Delta, no Cairo. Primeiro, o estudante deve entender que o Tell dessa cidade não está relacionado ao tell dos arqueólogos, pois não reflete um “monte” que foi escavado. O nome Tell El-Amarna surgiu pela combinação de um nome de vila “El-Till” com “El-Amarna” , o nome de uma tribo árabe que habitou a área em determinada época. O nome da cidade antiga era Akeht Aton, que significa Ho­rizonte de Aton.

II. Caracterização GeralA palavra tell, designação dos arqueólogos para um monte onde

civilizações passadas foram enterradas, nada tem que ver com o Tell de Tell El-Amama, como vimos acima. Rigorosamente falando, o nome do local é uma designação errônea que confundiu tanto estudi­osos como estudantes. As cartas encontradas ali (ver a seção V) tiveram imensa importância para a compreensão da cultura egípcia daquela época e suas associações com os países vizinhos. Se confi­armos na cronologia da Bíblia hebraica massorética, podemos datar essas cartas à época da conquista da Palestina sob Josué, o que seria em tomo de 1450 A. C. Mas alguns estudiosos pensam que

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elas são anteriores à conquista da Terra por Israel em cerca de um século e meio. Alguns também colocam a conquista em um período posterior e, nesse caso, a data de 1450 A. C. poderia ser preservada para as cartas, mas não para o êxodo e para a conquista. Em todo caso, as Cartas de Amarna são indispensáveis para a compreensão da Canaã imediatamente anterior à conquista da terra pelo povo hebraico. O faraó Aquenaton provocou revoluções religiosas e cultu­rais no Egito, e extraímos informações sobre isso de cartas e escava­ções arqueológicas, mais de algum material derivado de antigas ins­crições no Egito. Aquele faraó (não o do Êxodo) desenvolveu uma forma de monoteísmo, que de fato era um henoteísmo, ao suprimir os sacerdócios politeístas usuais. Além de ter absoluta autoridade religiosa, ele governava com mãos de ferro a política do estado a ponto de ter sido um ditador real.

III. Observações Culturais1. A cidade era chamada de Akhet Aton, e o regente, de Ack-en-

Atom, na versão portuguesa apresentado como Aquenatom. Ver a seção I para maiores detalhes sobre o local. A cidade era uma das três consagradas ao deus Aton, supremo naquele lugar, não tendo muita concorrência de outras divindades. Esse era um local, desde tempos muito antigos, de templos que honravam a um deus ou outro. O templo dedicado a Aton era uma estrutura complexa e notável e tinha um sistema sacrificial como principal característica de seus cul­tos. Havia outras estruturas notáveis, como um local rico, gigante em tamanho, medindo cerca de 450 m por 140 m. Suas decorações exageradas incluíam ornamentação em ouro das partes superiores das colunas, e pisos altamente decorados. Era um local de riqueza extravagante. O Maru-Aton, possivelmente uma residência para a realeza, tinha uma piscina artificial, jardins fechados e ricas decora­ções. A cidade teve um período de glória um tanto curto e foi final­mente desfigurada por Horemabe, que desejava apagar a memória do rei herege Aquenaton.

2. Aquenaton. Para uma compreensão completa do presente arti­go, o leitor deve ver o artigo separado sobre o faraó Aquenaton. Ver a Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia e este Dicionário. Esse homem tentou promover uma revolução religiosa e cultural, estimu­lando um tipo de monoteísmo que, de fato, era um henoteísmo. Ver a seção IV deste artigo. Sua reforma falhou, por fim, pois os sacerdo­tes que honravam aos diversos deuses importantes à história e à cultura egípcias recusaram converter-se à nova fé de Aquenaton. O homem foi considerado um herege, e a história diz que seu corpo foi mutilado após sua morte, tamanho o ódio dos “conservadores” contra ele. Alguns místicos modernos acreditam que esse homem foi um antigo ancestral do futuro anticristo, ou, por reencarnação, o anticristo será o antigo faraó retornado. Não há como testar tais especulações.

3. Arte Amama. A inovação e a revolução eram palavras-chaves de Aquenaton. Embora as formas de arte antiga tenham continuado, havia um tipo de radicalismo com a arte da época desse faraó. Talvez a principal característica dessa arte fosse o exagero grotesco do físico humano. Representações do rei eram o principal assunto dos desenhos, pinturas e esculturas. Trabalhos representando o rei dão a ele um pesco­ço bastante comprido, um queixo protuberante em forma de V, grandes quadris e pernas em forma de bulbo, mas canelas bastante finas. Outras características humanas eram distorcidas dessa mesma forma. Os traba­lhos parecem uma versão antiga de Picasso. Com o passar do tempo, contudo, tais características radicais foram reduzidas a ponto de os ar­queólogos chegarem até mesmo a considerar representações um tanto afeminadas produzidas naquele mesmo período geral.

4. Linguagem. Até mesmo a linguagem não escapou ao machado de modernização do faraó. Elementos obsoletos foram removidos do idioma e a linguagem escrita foi alterada de para que correspondesse àquilo que o povo falava. Estudiosos referem ao produto dessa refor­ma como “Egípcio Posterior” .

IV. AtonismoO sol sempre foi uma grande atração teológica no Egito. Até

mesmo Amon, o “escondido" de Teba, a longo prazo passou a ser

identificado com o louvor ao sol. Ver o artigo separado sobre Sol, Adoração ao na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Aquenaton era um devoto radical de Aton, o deus sol, e forçou aos outros a seguir seu exemplo. O atonismo, contudo, não era um sincretismo real. Isto é, Aton não foi transformado na divindade principal de um panteão. Nem era esse um monoteísmo real, pois outros deuses continuavam existin­do, mas eram chamados de usurpadores. Vários hinos e peças literá­rias cantavam seus louvores. O famoso longo hino a Aton das cartas de Tell El-Amama é um notável exemplo. Ela eloqüentemente louvava o poder universal, quase onipotente, criativo e providencial que susten­ta o universo.

Apenas o devoto faraó, Aquenaton, podia de fato conhecer seu alto deus, sendo assim, ele era o sumo sacerdote, tomando em suas mãos todo o poder religioso. O faraó também torna-se um mediador entre o alto deus e a humanidade. Além disso, o faraó é o filho do deus sol, participando, dessa forma, em sua divindade. O deus que brilha tão forte sobre toda a humanidade, brilha com especial intensi­dade no rei. O deus é, dá e sustenta toda a vida. A mágica perdeu terreno nessa fé, provavelmente devido ao fato de o rei deter todo o poder como um mediador e não precisar de passes de mágica para ter eficácia.

Esta fé eliminou a idolatria do Egito (tanto quanto possível no período de vida de um homem), pois não fazia sentido ter imagens quando o rei vivo operava cómo sumo sacerdote e mediador de seu deus a outras pessoas. Esta série de exclusividades indicava o monoteísmo, mas não era uma declaração final a respeito.

O fanatismo do faraó não contaminou as massas, e entre a casta de sacerdotes havia muitos inimigos que continuavam a favorecer outras divindades. Os cultos populares a Osíres, ísis e Horus reti­nham o imaginário das massas. Com a morte do rei, seus cultos foram simplesmente reabsorvidos nas crenças principais, permane­cendo Aton como um deus entre muitos, legítimo de ser louvado, mas não um poder exclusivo totalmente abrangente.

V. As Cartas de Tell El-AmarnaNo início, cerca de 350 tabletes de barro úteis foram encontrados,

depois outros 50, totalizando cerca de 400 deles. Os tabletes eram assados ao sol e escritos no virtualmente internacional acadiano, com alguns “lustres” em amorítico. A maioria deles é um tipo de carta diplomática escrito em acadiano e enviado aos reis egípcios AmonefisIII (1411-1375) e Amenofis IV, também chamado de Iknaton (1375- 1358 A. C.) por seus governadores vassalos e príncipes na Síria - Palestina. Os tabletes fornecem muitas informações sobre a civilização do Oriente Próximo no segundo milênio A. C. Claro, os materiais dão uma introspecção especial à era de Amama no Egito, e referem-se a Hapiru, que é importante para a compreensão das origens hebraicas. Ver o artigo sobre Habiru, Hapiru, neste Dicionário e na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Muitas informações são dadas sobre a situação sociopolítica interna de Canaã pouco antes da invasão e con­quista daquela terra. Os detalhes fornecidos demonstram que essas condições eram muito semelhantes àquelas descritas em Josué. A terra era dividida em muitos pequenos estados ou reinados, cada qual com seu próprio pequeno rei. A história desses tabletes, como relacio­nada à Canaã, é de agitação social, assassinatos e morte, e a tomada e perda de cidades como o subir e descer da maré da história.

TEMANo hebraico, país do sul, ou deserto.1. O nono filho de Ismael (Gên. 25.15; I Crô. 1.30), que era um

líder de seu clã. Viveu em por volta de 1840 A. C. O nome também pode indicar “queimado pelo sol", provavelmente uma referência à sua compleição escura.

2. A tribo que descendeu dele também era chamada assim (Jó. 6.19; Jer. 25.23). Esse era um povo nômade que participava do comércio por caravanas.

3. Assim era chamada uma cidade localizada entre Damasco e Meca. A Teima moderna marca o antigo local. Este é um oásis bem

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5346 TEMÀ — TEMOR

conhecido da Arábia. Nabonido, o último rei do império neobabilônico (em torno de 556-539 A. C.) marchou contra Tema (Teima) e contra a área, deixando o Belsazar bíblico encarregado em casa, de acordo com certa inscrição acádica. Ele conquistou o povo, arruinou a cida­de e então transformou uma forma reconstruída dela na capital de seu império ocidental. O louvor ao deus sol foi estabelecido ali, de acordo com um Esteia Teima aramaico. Por algum tempo o local teve grande prestígio, mas por volta de 450 A. C. o persa Ciro conquistou todas as áreas ao redor de Tema, e, ao contrário do costume, não matou Nabonido, mas de fato deu a ele poder, como subordinado, sobre Carmania, um local ao sul da Pérsia.

TEMÃNo hebraico “sul” ou “quarto sul” , ou “direita”.1. O none de um neto de Esaú, por sua esposa hetéia, Ada

(Gên. 36.11; I Crô. 1.36). Era um príncipe dos edomitas (Gên. 36.15, 42; I Crô. 1.36, 53) que deu seu nome à localidade que habitava. Ele viveu em torno de 1900 A. C.

2 Esse era o nome do território (cidade e tribo) de Edom (Jer. 49.20; Eze. 24.13), que pode ser identificado com a Tawilan moder­na, uma cidade cerca de 5 km ao leste da antiga Petra. Os temanitas ocupavam, de modo geral, a parte sul da Iduméia. Eram conhecidos por sua coragem e sabedoria (Jer. 49.7). Vários profetas do Antigo Testamento incluem o local e seu povo quando denunciam os edomitas (Jer. 49.50; Eze. 25.13; Amós 1.12; Oba. 9). Em Hab. 3.3, Tamã é usado como um nome para toda a Iduméia.

TEMENINo hebraico, «afortunado». Era um homem pertencente à tribo

de Judá. Era filho de Asur, filho de Calebe. Ele é mencionado exclusi­vamente em I Crô. 4:6.

TEMORO medo é uma das principais emoções humanas. Ver o artigo

geral sobre as Emoções. O trecho de Hebreus 2:15 reconhece quão importante é essa emoção, dentro da experiência humana, decifran­do que, por causa do temor da morte, os homens passam a vida inteira na escravidão ao diabo. Existem temores benéficos e temores prejudiciais. O melhor temor de todos é o temor a Deus e às coisas que devemos evitar. Os temores prejudiciais são desnecessários, além de demonstrarem imaturidade e falta de fé.

I. Temores Benéficos1. O Temor a Deus. Deus é o mais apropriado objeto do nosso

temor (Isa. 8:13). Deus é o autor do nosso temor (Jer. 32:39), o temor a Deus consiste no ódio ao mal (Pro. 8:13), na sabedoria (Jó 28:28; Sal. 111:10). O temor a Deus é um tesouro para os santos (Pro. 15:16); serve-lhes de força santificadora (Sal. 19:7-9). O temor a Deus nos é ordenado (Deu. 13:4 Sal. 22:23). É inspirado pela santidade de Deus (Apo. 15:4). A grandeza de Deus nos inspira a temê-lo (Deu. 10:12). A bondade de Deus leva-nos também a temê- lo (I Sam. 12:24). O temor a Deus conquista o perdão divino (Sal. 130:4). As admiráveis obras de Deus inspiram-nos ao temor a Deus (Jos. 4:23,24). Os juízos de Deus levam os homens a temê-lo (Apo. 14:17). O temor a Deus é algo necessáno como parte da adoração ao Senhor (Sal. 5:7). Faz parte do serviço que prestamos a Deus (Sal. 2:11; Heb. 12:28). O temor a Deus inspira os homens a um governo justo (II Sam. 23:3). O temor a Deus é uma influência aperfeiçoadora (II Cor. 7:11). As Escrituras ajudam-nos a compreen­der o tennor a Deus (Pro. 2:3-5).

2. O Temor a Deus Residente no Homem. Aqueles em quem há o temor a Deus agradam o Senhor Deus (Sal. 147:11). Deus compadece-se dos tais (Sal. 103:13). Eles são aceitos por Deus (Atos 10:35). Eles recebem de sua misericórdia (Sal. 103:11,17; Luc. 1:50), eles confiam em Deus (Sal. 115:11; Pro. 14:26). Eles afastam-se do mal (Pro. 16:6); eles têm comunhão com pessoas dotadas das mesmas atitudes santificadas (Mal. 3:16). Deus cumpre os desejos

daqueles que o temem (Sal. 145:19), e a vida deles é prolongada na terra (Pro. 10:27).

3. O Temor a Deus como uma Virtude. Os homens deveriam orar a fim de receberem o temor a Deus (Sal. 86:11). O temor a Deus é exibido na vida cristã autêntica (Col. 3:22). Também demonstramos nosso temor a Deus quando damos aos nossos semelhantes uma razão para a nossa expectação espiritual (I Ped. 3:15). O temor a Deus é uma atitude que deveríamos manter com constância (Deu. 14:23; Pro. 23:17). Deveríamos ensinar aos outros o temor a Deus (Sal. 34:11). Quem teme a Deus tem vários pontos de vantagem (Pro. 15:16; 19:23; Ecl. 8:12,13). Os ímpios, por sua vez, não sabem o que é temer a Deus (Sal. 36:1; Pro. 1:29; Rom. 3:18).

II. Temores Prejudiciais1. O principal temor prejudicial é o medo da morte, que escraviza

os homens que não têm confiança no Senhor (Heb. 2:15).2. Há quem tema aos homens, que passam a governar-lhes a

vida desnecessariamente (Rom. 13:6). O remédio para isso é a fé em Deus, a qual não permite que homens irracionais e malignos nos prejudiquem. O temor ao homem assemelha-se a uma armadilha (Pro. 29:25).

3. Qualquer temor prejudicial serve somente para encher a mente de ansiedade (Mat. 6:25 ss). A cura para esse tipo de temor é o reconhecimento de que Deus é o nosso Pai, e de que ele cuida de nós. As pessoas temem não obter as provisões básicas para as necessidades físicas, e esse temor chega a atormentá-las diariamen­te. Porém, se buscarmos em primeiro lugar ao Reino de Deus, e à sua justiça, então obteremos a vitória sobre o medo, porque veremos que tal receio não tem qualquer fundamento na realidade.

4. Há temores que resultam de nossa participação no pecado (Gên. 3:10; Pro. 28:1). Os ímpios fogem mesmo quando ninguém os está perseguindo. O senso de culpa de Caim fê-lo ficar fugindo (Gên. 4:14). O senso de culpa de Herodes fê-lo sentir-se um miserável e temeroso, depois que mandara decapitar João Batista (Mat. 14:1 ssj. Os ímpios são assaltados por todas as formas de temores e de pressentimentos, de coisas que lhes podem acontecer (Jó 5:21; Isa. 7:25; 8:6; Apo. 18:10,15).

III. O Temor a Deus no Tocante à SalvaçãoÉ-nos ordenado que ponhamos em prática (em nossa versão por­

tuguesa, «desenvolver») a nossa salvação, com temor e tremor, reco­nhecendo que poderemos fracassar, a menos que apliquemos os mei­os da graça, cuidando também para que o poder do Espirito opere em nós (Fil. 2:12). Ver o comentário sobre esse importante versículo, para a vida cristã, no NTI. Nesse e em outros sentidos, igualmente, o temor ao Senhor é o princípio da sabedoria (Pro. 9:10; Sal. 111:1).

IV. O Banimento do TemorAs Escrituras ensinam-nos como podemos banir o temor negati­

vo ou prejudicial de nossas vidas, conforme se vê nos pontos abaixo discriminados:

1. Experimentando a presença de Deus em nossas vidas. «Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal ne­nhum, porque tu estás comigo...» (Sal. 23:4).

2. Mediante o poder protetor de Deus, através da fé. Deus sen/ia de escudo para Abraão (Gên. 15:1).

3. Através da confiança no poder remidor de Deus. «Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu» (Isa. 43:1,5).

4. A manifestação de Deus dissipa todo o temor Êxo. 3:6; Luc. 1:30; 2:1; Mat. 14:26; 17:6 ss).

5. Há ajudantes espirituais que nos auxiliam para banirmos o temor (Mat. 26:53).

6. O amor cristão, uma vez aperfeiçoado, o que inclui a confiança no amor que Deus tem por nós, expulsa o temor de nossos corações. Isso envolve a liberdade do temor da morte, que é, precisamente, o castigo que sobrevêm aos iníquos. Ver I João 4,18.

7. A confiança na benevolência de Deus nos alivia de nossos temores no tocante à fome, aos sofrimentos e a qualquer forma de carência. Luc. 12:32; Mat. 6:25 ss.

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TEMPESTADE — TEMPLO DE JERUSALÉM 5347

V. Exemplos de Temor Piedoso1. Abraão (Gên. 22:12); 2. José (Gên. 39:9); 3. Obadias (I Reis

18:12); 4. Neemias (Nee. 5:15); 5. Jó (Jó 1:1,8); 6. Os crentes primiti­vos (Atos 9:31); 7. Cornélio (Atos 10:2); 8. Noé (Heb. 11:7).

TEMPESTADEPrecisamos considerar cinco palavras hebraicas e quatro pala­

vras gregas, a saber:1. Suphah, «tufão», «furacão». Esse vocábulo hebraico é empre­

gado por quinze vezes, nas páginas do Antigo Testamento: Jó 21:28; 27:20; Sal. 83:15; 37:9; Pro. 1:27; 10:25; Isa. 5:28; 17:13; 21:1; 29:6; 66:15; Jer. 4:13; Osé. 8:7; Amós 1:14 e Num. 1:3.

2. Searah, «vendaval». Palavra hebraica que aparece por cator­ze vezes, como em II Reis 2:1,11; Jó 38;1; 40:6; Isa. 40:24; 41:16; Jer. 23:19; 30:23; Zac. 9:14; Sal. 107:25,29; 148:8; Eze. 13:11,13; Naum. 1:3.

3. Saar, «tempestade». Palavra hebraica que é usada por ape­nas uma vez, em Isa. 28:2.

4. Zerem, «tempestade», «inundação». Palavra hebraica que é utilizada por nove vezes: Isa. 4:6; 25:4; 28:2; 30:30; 32:2; Hab. 3:10; Jó 24:8.

5. Saah, «agitação», «arremetida». Termo hebraico usado so­mente por uma vez, no particípio, em Sal. 55:8.

6. Lailaps, «tufão«, «furacão», «vendaval». Termo grego usado por três vezes: Mar. 4:37, Luc. 8:23 e II Ped. 2:17.

7. Thuelia, «vendaval». Palavra grega que é utilizada apenas por uma vez, em Heb. 12:18.

8. Cheimón, «tempestade de inverno». Vocábulo grego que ocor­re por seis vezes: Mat. 16:3; 24:20; Mar. 13:18; João 10:22; Atos 27:20; II Tim. 4:21. Em Atos 27:18 temos o verbo correspondente a esse substantivo, cheimázemai, que a nossa versão portuguesa tra­duz por «açoitados... pela tormenta».

9. Seismós, «abalo», «terremoto». Embora essa palavra grega ocorra por catorze vezes, com o sentido comum de «terremoto», logo em sua primeira ocorrência, em Mat. 8:24, o autor sagrado a usa em relação à tempestade que ocorreu no lago de Tiberiades, e que ele acalmou com uma palavra de ordem. Trata-se, portanto, de um uso sui generis do termo grego.

Na região da Palestina, as tempestades eram um fenómeno bas­tante comum, figurando de forma proeminente na consciência de alguns dos escritores bíblicos, como o salmista e o profeta Isaías. Esses viam as tempestades como uma ameaça à segurança dos homens ou como um castigo divino infligido contra os malfeitores. Ver Sal. 55:8; 83:15; Isa. 4:6; 25:4; 28:2. Por causa de sua freqüên­cia, e dos vários tipos de tempestades, havia tão grande número de palavras hebraicas envolvidas. Os tipos de tempestade mais comuns que se verificavam na Palestina eram os seguintes:

1. Os temporais, que ocorriam, principalmente, no começo da estação chuvosa, no outono, quando a terra ainda estava quente devido aos dias de verão. Eram particularmente comuns em torno do mar da Galiléia, quando o vento que soprava em direção à terra passava sobre a bacia quente do lago.

2. Os remoinhos de ventos, ou vértices locais, como aquele que arrebatou Elias para o céu (II Reis 2).

3. As tempestades no deserto. Esses eram os mais importantes e temidos, por causa dos seus efeitos. Ocorriam quando o vento sopra­va do deserto trazendo um ar quente e ressecante, que crestava as plantações as margens do deserto. Na Palestina, esse vento se cha­ma siroco, soprando das direções sul ou leste, isto é, do deserto da Arábia. Geralmente acontece no começo e no fim do verão, e quase sempre é acompanhado por uma poeira sufocante e por elevadas temperaturas. Atravessando a Palestina do Oriente para Ocidente, esses vendavais chegavam até às margens do mar Mediterrâneo (cf. Sal. 48:7). Jesus referiu-se as características do vento que sopra do deserto, em Lucas 12:55. «...e quando vedes soprar o vento sul, dizeis que haverá calor, e assim acontece».

TEMPLO (ÁTRIOS)Quatro átrios faziam parte do templo de Jerusalém:1. O átrio dos gentios. Era assim chamado porque os gentios

podiam entrar no mesmo, mas não mais adiante, sob pena de morte. Simbólica e espiritualmente, esse átrio mostrava que os gentios ti­nham um acesso apenas limitado à adoração e ao serviço a Deus. Eles não podiam adentrar o santuário, e, muito menos ainda, o Santo dos Santos. Porém, em Cristo todas essas barreiras foram derruba­das. Agora há acesso a todos os crentes, até o trono de Deus (Heb. 10:19,20), por intermédio do Caminho, que é Cristo. Temos acesso mediante o sangue de Cristo, o novo e vivo caminho que nos foi aberto. Agora Cristo é o nosso Sumo Sacerdote, e nós somos um reino de sacerdotes (Apo. 1:6; 5:10). Mais do que isso, o crente tornou-se um templo do Espírito de Deus (I Cor. 3:16), e a Igreja, coletivamente falando, é o templo para habitação de Deus, em Espí­rito (Efé. 2:19,20).

2. O átrio de Israel. Os homens de Israel tinham o direito de admissão a esse átrio. Esse átrio representava um outro nível de acesso. Embora participassem da adoração no templo, os israelitas comuns não tinham acesso ao Santo dos Santos. Somente o sumo sacerdote, e isso mesmo apenas uma vez por ano, podia entrar ali, a fim de cumprir a expiação simbólica sobre o propiciatório. Ver Êxo. 30:10.

3. O átrio dos sacerdotes. Era nesse átrio que ficava o altar dos holocaustos, e onde os sacerdotes e levitas exerciam o seu ministé­rio. Esse átrio representava ainda um outro nível de acesso a Deus, embora ainda não o mais elevado. Até mesmo o Santo dos Santos era mero símbolo e acesso preliminar. Portanto, o templo de Jerusa­lém, com suas muitas divisões e níveis de acesso, servia de tipo de um acesso gradual a Deus. O evangelho de Cristo elimina todas as divisões. Ver Efé. 2:17 ss. O Espírito Santo confere aos crentes o mais pleno acesso.

4. O átrio das mulheres. Esse átrio ficava um pouco mais próximo do santuário do que o átrio dos gentios. O átrio das mulheres era posto à disposição das mulheres israelitas. No entanto, em Cristo não há qualquer distinção entre homem e mulher, no que concerne a privilégios espirituais (Gál. 3:28). Essa é uma doutrina revolucionária, exposta pelo cristianismo.

TEMPLO DE JERUSALÉMI. Nome e TerminologiaII. Histórico do Templo de SalomãoIII. Local e DescriçãoIV. O Segundo TemploV. O Templo Ideal de EzequielVI. O Templo de HerodesVII. Significados e Propósitos dos TemplosPara informações adicionais, ver o artigo separado sobre Tem­

plos. Este artigo é limitado aos templos que foram construídos no mesmo local em Jerusalém.

I. Nome e TerminologiaA palavra hebraica é hekal, termo derivado de um vocábulo

sumério que significa “casa grande”, que em uso de modo geral significa “a casa de uma deidade”. Havia também o termo bayith, que significa “casa”; godesh, que significa, estritamente, “santuário", tal­vez em referência a templo que se tornou local sagrado de louvor e culto a Deus ou a um deus. Em conexão com o yahwismo, temos beth YHWH, “a casa de Yahweh”. A palavra grega naos é usada comumente no Novo Testamento para “templo”. O termo oikos (casa) é empregado uma vez (Luc. 11.51). leron, “o local sagrado”, é ainda outro termo empregado para um templo como local sagrado. Essa palavra é usada com muita freqüência no Novo Testamento. Ver Mat. 4.5 e I Cor. 9.13, a primeira e última das ocorrências. O monte do templo era chamado de “a montanha da casa do Senhor” (Isa. 2.2) ou “a montanha da casa” (Jer. 26.18; Miq. 3.12). Ver o artigo geral sobre Sião.

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5348 TEMPLO DE JERUSALÉM

II. Histórico do Templo de SalomãoVer o artigo geral sobre o Tabernáculo, que por séculos serviu

aos israelitas como um local sagrado portátil. A idéia de que ele deveria ser substituído por uma estrutura permanente, mais magnífi­ca, foi de Davi, sem dúvida seguindo a sugestão do Espírito, que moveu seu coração e sua mente para ser generoso com os cultos de Yahweh, não meramente consigo mesmo. Ele havia construído para si mesmo um local rico e tinha vergonha de sua negligência para com o prédio da casa de Yahweh. Davi havia destruído ou confinado todos os inimigos de Israel, algo que Josué e as gerações a seguir não haviam sido capazes de fazer. Ele havia inaugurado um período de paz e prosperidade, que era uma época ideal de desenvolver os cultos religiosos sem interferência e invasão estrangeiras. Ver I Crô.28.12. 19; I Crô. 17.1-14; 28.1 ss. Mas Davi era um rei guerreiro sangrento que havia participado de vários assassinatos, muitos dos quais totalmente desnecessários. Portanto não era a pessoa certa oara construir o temDlo. A tarefa foi deixada para o filho de Davi, o homem de paz”, significado do nome Salomão. Davi contribuiu muito

para o proieto con materiais de construção e objetos valiosos (I Crô. 21.9 ss.). Salomão iniciou a época áurea de Israel e parte disso foi a construção de um magnífico templo.

Os israelitas eram um povo de grandes produções literárias, como o Antigo Testamento dos hebreus-israelitas-judeus da Palestina e os livros pseudepígrafos e apócrifos dos judeus da Diáspora. Mas eles nunca foram um povo de ciência e não tinham conhecimento nem mão-de-obra especializada para construir um templo. Salomão teve de contratar os fenícios para essa tarefa. Eles forneceram o conheci­mento e muitos materiais, além de, provavelmente, quase toda a mão-de-obra especializada. Ver I Reis 5.1-6. O que Salomão tinha era o dinheiro e a mão-de-obra escrava para fazer o “trabalho sujo”. Além disso, dispunha da visão emprestada de seu pai e da determi­nação de ver o trabalho terminado, o que ocorreu no 11° ano de seu reino. O trabalho levou sete anos e meio para ser concluído (c. 949 A. C.).

III. Local e DescriçãoO templo foi construído no Monte Moriá (ver a respeito). Aquele

já era um local sagrado por causa dos acontecimentos importantes que ali ocorreram na história passada de Israel. O monte era (é) localizado a leste de Sião (ver a respeito), um morro que o próprio Davi havia selecionado para o propósito quando construiu um a'tar ali depois de determinada praga destrutora ter acabado (I Crô. 21.18 ss.; 22.1). O templo exigia uma área de pelo menos 400 cúbitos por 200 cúbitos (sendo que um cúbito mede cerca de 45 cm). O cume do morro precisava ser nivelado para fornecer uma fundação plana. A antiga eira de Aruna, também chamada de Orna, era a área em questão (II Crô. 3.1). Presumivelmente, aquele foi o local onde ocor­reu o sacrifício (pretendido) de Abraão de Isaque (Gên. 22.2). Ver II Sam. 24.24, 25; I Crô. 22.1; 21.18, 26 para outras Escrituras que tratam da área onde o templo foi construído.

“O templo se situava no morro leste, ao norte da c:dade de Davi, onde é localizado hoje a Abóbada da Rocha. Naquela época, o mon­te do templo era consideravelmente menor. Salomão precisou aumentá-lo um tanto (Josefo, Guerras, 5.5. 185). Herodes precisou ampliá-lo ainda mais para seu templo. Essa era a eira de Arauna (II Sam. 24.18), o Monte Moriá (II Crô. 3.1) e provavelmente o Sião dos salmos e profetas (Sal. 110.2; 128.5; 134.3; Isa. 2.3; Joel 3.16; Amós1.2; Zac. 8.3), embora o termo tenha pertencido especificamente à cidade de Davi (I Reis 8.1)”. (William Sanford LaSor).

Descrição. O templo foi construido com pedras cortadas; media cerca de 60 cúbitos de comprimento, 20 cúbitos de largura e 30 cúbitos de altura. Tinha um telhado plano e coberto, composto de toras e tábuas de cedro, sobrepostas com mármore. Josefo insiste em que houve outro andar construído em cima dessa estrutura de tundação que dava à estrutura dimensões duplas em altura, pois esse áegundo andar, em dimensões, era uma duplicata do andar de baixo (Ant. viii. 3,2). Se ele estiver certo, então a altura da estrutura do

templo era de 60 cúbitos de altura, 60 de comprimento e 20 de profundidade. É difícil harmonizar essas dimensões fantásticas com o relato do Antigo Testamento. O plano geral era semelhante ao do tabernáculo substituído pelo templo, mas as dimensões fo ran duplicadas. As partes que constituíam o prédio eram: uma estrutu­ra retangular que tinha uma varanda ou vestíbulo (Heb. Ulam, I Reis 6.3); depois havia a nave (no hebraico Hekal), que ficava virada para o leste (o local sagrado); além disso ficava o aebir, ou o local mais sagrado {I Reis 8.6). A varanda media 10 cúbitos de profundidade e 120 cúbitos de altura (II Crô. 3.4), mas esse núme­ro, de tão gigantesco, pode ter sofrido alguma corrupção textual no início. Duas colunas, chamadas Jaquim e Boaz, feitas de bronze oco e 35 ou 40 cúbitos de altura, ficavam em cada lado da entrada (II Crô. 3.15-17). As paredes internas eram revestidas com cedro trazido do Líbano (I Reis 5.6-10; 6.15-16), e sobre esse revesti­mento havia outro de ouro (vs. 22). O local mais sagrado era re­vestido com ouro puro (vs. 20). Os hebreus tinham de depender de trabalhadores habilidosos que o rei, Hirão da Fenícia, forneceu. O supervisor do prédio era chamado de Hirão (7.13) ou, alternativa­mente, Hurão-Abi (II Crô. 2.13).

O lugar mais santo continha a arca da aliança (ver a respeito), I Reis 6.19, e o querubim, cujas asas cobriam a arca (vs. 23). Esses anjos eram muito grandes, e suas asas iam de uma parede à outra. Uma porta de madeira de oliveira, revestida de ouro, separava o lugar mais sagrado da nave (o santuário externo também chamado de local sagrado), vs. 31. Uma porta semelhante separava a nave da varanda (vs. 33). A nave continha um altar dourado (7.48) que era distinto do de bronze que ficava no pátio. Esse era feito de cedro (revestido de bronze), 6.20. O altar de incenso (ver a respeito) ficava na frente do lugar mais sagrado, centralizado entre as paredes. E havia a mesa de ouro do pão da proposição no muro do sul, além de lamparinas no muro norte.

O próprio templo era cercado por dois pátios, um interno para os sacerdotes (II Crô. 4.9), e um externo, chamado de o Grande Pátio, onde os israelitas podiam circular e que provavelmente continha di­versos prédios reais. As dimensões do pátio interno não são fornecidas, mas, se dobrarmos as do tabernáculo, a área deve ter medido 200 cúbitos por 100 cúbitos. O pátio interno continha o altar de bronze (II Crô. 4.1), onde eram oferecidos sacrifícios; as dez bacias de bronze em dez suportes especiais, cinco de cada lado da casa; e o grande derretido, ou mar de bronze, um local de lavagens rituais localizado no canto sudeste da casa. Esse “mar” tinha um diâmetro de 10 cúbitos e 5 cúbitos de altura, podendo conter cerca de 40 mil litros de água. Essa era a fonte de água para as lavagens rituais dos sacer­dotes para limpar partes dos animais sacrificiais (II Crô. 4.6).

Minhas descrições excluíram as ornamentações elaboradas que o templo todo recebeu, nos quais metais preciosos, tapeçarias comple­xas e trabalhos de escultura foram empregados. Para uma descrição completa, algo verdadeiramente impressionante, ver I Reis 5.6-7.51.

Arqueologia. O templo de Salomão foi estilizado de acordo com os templos fenícios, como demonstram claramente as descobertas arqueológicas. Isso poderíamos ter suposto sem o trabalho dos ar­queólogos, já que foram os fenícios que forneceram as habilidades para sua construção (I Reis 7.13-15). Templos semelhantes do mes­mo período geral foram escavados no norte da Síria, como o templo de Tell Tainat. Esse é menor, mas de projeto semelhante. Tanto esse quanto o templo de Salomão eram de construção pré-grega, um item que autentica sua antigüidade. Outras descobertas autenticaram vári­os itens de construção como a capital proto-aeólia nos pilares, que era um projeto usado extensivamente no templo de Salomão. Exem­plos desse tipo foram desenterrados em Megido, Samaria e Siquém. As decorações de lírios gravados e palmas, além dos querubins, também foram encontradas em outras estruturas. As duas colunas na extremidade da varanda foram ilustradas por escavações feitas em Tell Tainat. Pilares, para guardar a entrada dos templos, eram um item comum nas antigas construções de templos.

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TEMPLO DE JERUSALÉM 5349

0 tabernáculo e o templo claramente ilustram acesso limitado, cada divisão admitindo apenas certas pessoas: Israel na corte externa; a corte externa para os sacerdotes; o local sagrado; o lugar mais sagra­do, onde finalmente, podemos encontrar a Presença, a teofania de Yahweh. Em Cristo, temos acesso direto ao trono de Deus, como demonstra o livro de Hebreus (Heb. 4.6, por exemplo). Ver o artigo sobre o Acesso para mais ilustrações.

O Primeiro Templo (o de Salomão) foi atacado diversas vezes e então destruído por Nabucodonosor, rei da Babilônia, em 587-586 A.C. Ver II Reis 25.8-17; Jer. 52.12-23.

O estudante que deseja detalhes sobre o templo de Salomão deve ver o Antigo Testamento Interpretado, que fornece uma exposi­ção versículo a versículo sobre todos os capítulos e versículos que nos falam dessa estrutura.

IV. O Segundo TemploEsse templo é chamado de segundo por ter sido o que substituiu

o de Salomão, que havia sido destruído. É também chamado de Templo de Zorobabel. Quando os judeus retornaram do Cativeiro Babilónico, encontraram uma cidade arruinada e não muito mais do que a fundação do templo de Salomão ainda existia. Foi feito um esforço para reconstruir o templo, em termos muito humildes, é claro, pois aquelas poucas pobres pessoas não tinham o dinheiro de Salomão nem os trabalhadores especializados que ele havia importa­do da Fenícia. O trabalho foi iniciado, como registrado em Esdras 3, mas não foi levado adiante. Como resultado do encorajamento dos profetas Ageu e Zacarias, o trabalho foi reiniciado em 520 A. C. O templo foi finalmente terminado no sexto ano de Dario, o rei persa, isto é, no dia 12 de março de 515 A. C. Ver Esd. 6.15.0 resultado foi uma pobre substituição do primeiro templo, mas respeitava o mesmo plano geral (Esd. 6.3), mesmo não tendo as ricas decorações do primeiro. Josefo, fornecendo informações dadas por Hecato, declara que a corte externa tinha aproximadamente 150 m por 45 m e contin­ha um altar de rochas não polidas que media 20 cúbitos por 10 cúbitos de altura (Ag. Ap. 1.198). O Talmude ( Yoma, 21b) fala-nos de cinco omissões tristes, isto é, coisas que o segundo templo não tinha: a arca da aliança, o fogo sagrado, o Skekinah (a Presença de Yahweh, manifestando-se em formas especiais como na teofania); o Espírito Santo, e o Urim e Tumim (ver a respeito).

V. O Templo Ideal de EzequielEzequiel, nos capítulos 40 a 48, descreve em grande detalhe

esse templo “ideal”. Alguns supõe que esse templo deva tornar-se uma realidade no Milênio, portanto chamam-no de Templo do Milê­nio. Os dispensacionalistas favorecem essa idéia, mas a maioria dos intérpretes supõe que Ezequiel apresenta um templo ideal, do qual podemos extrair lições morais e espirituais sem tentar construir uma estrutura física de fato. Aqueles que retomaram do Cativeiro Babilónico e construíram o Segundo Templo, não utilizaram o plano de Ezequiel. Em primeiro lugar, eles não tinham dinheiro, materiais nem conheci­mento para uma realização tão gigantesca. O templo ideal foi dado a Ezequiel em uma visão, e talvez seja melhor considerá-lo um auxílio visionário à fé e não um plano arquitetônico que deveria ser seguido “algum dia”. De modo geral, o plano segue o de Salomão, mas há diferenças significativas. Alguns de seus arranjos foram incorporados no plano do templo de Herodes.

VI. O Templo de HerodesInformações sobre esse templo derivam principalmente dos escri­

tos de Josefo. Há algumas informações no Talmude. A arqueologia adiciona um pouco mais, porém não temos descrições detalhadas, como acontece no caso do templo de Salomão. Rigorosamente fa­lando, o templo de Herodes foi o Terceiro Templo, tendo essencial­mente substituído o segundo sem derrubá-lo (obviamente). Um tem­plo de Deus não poderia ser derrubado, mas poderia ser substituído, se tal substituição fosse feita por meio de adição ou alteração. Herodes, o Grande, tinha um ego enorme e não havia como deixar o Segundo Templo humilde como era. De fato, ele ultrapassou a glória até mes­mo do Templo de Salomão. O trabalho começou no 18° ano do reino

de Herodes (em torno de 20 ou 21 A. C.). Levou apenas cerca de um ano e meio para terminar o próprio templo, mas para terminar as cortes foram necessários outros oito anos. Prédios subsidiários foram então adicionados e o trabalho estendeu-se pelos reinos dos sucesso­res de Herodes. A tarefa toda foi completada na época de Agripa II, quando Albino era o procurador (64 D. C.), totalizando 46 anos de trabalho. Josefo conta-nos que as cortes do templo de Herodes ocu­pava 500 cúbitos. A área do templo era construída em terraços, uma corte sobre a outra, com o templo localizado no nível superior. Isso deixava o templo facilmente visível de Jerusalém e suas redondezas. A aparência era, assim, bastante impressionante, como podemos inferir também em Mar. 13.2, 3. Esse templo ocupava mais espaço do que os outros, assim era necessário fazer mais plataformas para a fundação. Para realizar isso, o Vale de Cedrom teve de ser parcial­mente aterrado, o que também ocorreu em parte com o vale central (chamado de Tiropaeon). O monte do templo foi estendido, assim, a uma largura de 280 m. Enormes rochas foram empregadas para fazer os muros do leste e do oeste, muitas delas com 1,5 m de altura e de 1 a 3 m de comprimento. Uma delas media 12 m por 4 m! No canto sudeste foi construído um muro gigante que subiu 48 m acima do Vale de Cedrom. Um pórtico ou varanda foi construído ao redor de todos os quatro lados. Ele tinha colunas de mármore de 25 cúbitos de altura. O pórtico real, na extremidade sul, possuía quatro fileiras de colunas. Josefo (Ant. 20.9.221) conta-nos que o pórtico ao longo do lado leste foi construído por Salomão. Cf. João 10.23 e Atos 3.11 e 5.12. O próprio templo era cercado por um muro de 3 cúbitos de altura que separava o local sagrado da corte dos gentios. Era nesse muro que havia advertências que proibiam a entraaa dos gentios em qualquer área além de sua corte, tendo como penalidade a morte. A corte dos gentios ficava, por assim dizer, na extremidade dc templo: depois havia a corte das mulheres e então a corte de Israel iaberta a homens judeus apenas), a corte dos sacerdotes e finalmente o naos, o próprio templo com o lugar sagrado e com o santo dos santos. Esse naos ficava em uma plataforma ainda mais alta. Apenas os sacerdotes podiam entrar no local sagrado e no santo dos santos e, ainda assim apenas no Dia da Expiação. Oito portões levavam ao monte do templo (Josefo, Ant. 15,11.38). O Misna estabelece o nú­mero de portões em cinco (Mid. 1.3) O magnífico templo de Herodes foi destruído em 70 D. C. como resultado da contínua agressão aos judeus por Roma, tendo por principal objetivo a independência. Tito comissionou Josefo para convencer os judeus a render-se para que o templo fosse preservado, mas ninguém deu ouvidos. Ampla agres­são e massacre daí resultaram e tudo dentro do templo e ao redor dele que pudesse ser queimado, o foi. Curiosamente, isso ocorreu no décimo dia do 15° mês (AB), o mesmo dia no qual o rei da Babilônia destruiu o templo de Salomão.

Jesus, o Cristo, havia sido crucificado, e a glória do Senhor havia partido de Jerusalém e de seu templo. A justiça foi feita em 70 D. C. O sistema sacrificial nunca foi reativado, sendo que o Grande Sacrifí­cio, o Cordeiro do Senhor, havia cumprido Sua missão de sofrimento e trazido o perdão para os pecados do povo.

VII. Significados e Propósitos dos Templos1. Uma das principais lições dos templos judeus foi essas estru­

turas tinham o propósito de ser os locais dos cultos de Yahweh e onde sua Presença poderia ser revelada. De fato, os tempos incluí­am em sua própria estrutura o acesso ilimitado. Em Jesus, o Cristo, os limites foram removidos, e um homem tornou-se o templo de Deus (I Cor. 3.16). O mesmo é dito sobre a igreja (Efé. 2.20). Ver Acesso e Templo (Átrios), artigos que ilustram esse primeiro ponto.

2. Louvor era a palavra-chave para todos os templos, judeus ou pagãos, embora algumas formas de louvor fossem idólatras e até imorais.

3. Sacrifício era outro fator comum dos antigos templos, que demonstraram a consciência dos homens de que precisavam fazer algo com relação aos seus pecados para satisfazer ou apaziguar seus deuses ou Deus. Ver o artigo Expiação.

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5350 TEMPLO DE JERUSALÉM — TEMPLOS

4. Liderança espiritual. Certas pessoas levam sua fé religiosa mais seriamente e tornam-se os líderes do povo, sacerdotes dos templos.

5. Santuários. Alguns locais são mais significativos do que outros como locais de louvor e busca espiritual.

6. A necessidade de louvor corporativo é claramente retratada pelo templo. Algumas pessoas ainda chamam suas igrejas de tem­plos. A fé religiosa progride melhor quando há um esforço grupai na espiritualidade.

7. Os templos hebraicos demonstraram que o louvor deveria ficar livre de idolatria por causa de um conceito mais alto de Deus que estava sendo desenvolvido. Algo do mistério e da transcendência de Deus transformaram seus templos em locais distintos em contraste com os templos pagãos.

8. Os templos hebraicos (o naos, santuários internos, local sagra­do e santo dos santos) não tinham fonte de luz externa. A luz vinha de lamparinas por dentro. 0 conceito de iluminação e da luz que vem de Deus em si era enfatizado. Ver o artigo Luz, a Metáfora da.

9. Misticismo. É possível para os homens terem contato direto com o divinc. Esse contato ilumina e espiritualiza o povo que o alcan­ça. Há mais na vida do que o mundo físico, mundano, que nos aflige. Ver sobre Misticismo neste Dicionário e na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia.

10 Teísmo. O Criador não abandonou Sua criação, mas continua presente nela. Deus emana, não apenas transcende. O Poder Divino interfere na vida humana, seja individual seja corporativa, recompen­sando os bons, punindo os maus, orientando e liderando, fazendo uma diferença. Contraste essa idéia com o deísmo, que ensina que o Poder Criativo (pessoal ou impessoal) abandonou Sua criação, dei­xando à lei natural o governo das coisas. O teismc bíblico vê Deus como uma Pessoa, não meramente como um grande poder. A obser­vação ilustra o poder e a inteligência dessa Pessoa. Ver os artigos Teísmo e Deísmo neste Dicionário e na Enciclopédia de Bíblia, Teo­logia e Filosofia.

11. A confirmação dos pactos era um conceito impcrtante que os templos enfatizaram e ilustraram. Yahweh era o Deus dos Pactos (ver o artigo com esse nome).

12. Os templos são forças unificadoras que ligam as pessoas que os utilizam, o que é bom para a comunidade espiritual. As pessoas compartilham de uma identidade espiritual comum.

13. Os templos são um auxílio para limitar facções e heresias. Um dos principais propósitos do templo em Jerusalém foi o de unifi­car o yahwismo, possivelmente ao anular cs muitos oráculos que existiam na região. Esse propósito nunca foi realizado por completo. Os antigos oráculos persistiram apesar dos esforços unificadores.

14. A glória Shekinah recebeu a oportunidade de transformar a vida des homens, pois era possível para tal glória manifestar-se no local mais san:o e ser um fator iluminador. Ver o artigo Shekinah.

15. A necessiuaae de salvação e um meio para conseguir isso eram motivos importantes para a existência dos templos. A expiação era a doutrina central do templo-salvação.

16. Embora a Deidade tivesse um lugar especial para fazer con­tato com os homens, e embora houvesse um valor prático no louvor corporativo, não devemos pensar que os templos antigos limitavam o contato com o divino a apenas um lugar. Um templo era um local conveniente e abençoado de contato do divino com o homem, mas não um local exclusivo. A iminência não anulava a transcendência, nem a possibilidade de que a Presença pudesse ter muitos encontros com o homem ?ora de um local especifico. O Novo Testamento, claro, traz tal contato com a alma humana, pois um homem torna-se o templo do espírito (I Cor. 3.16).

Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos ceus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei! (I Reis 8.27)

17. Milagres e fortalecimento da fé. As pessoas entram em situa­ções nas quais apenas milagres podem solucionar seus problemas ou

ocasionar as coisas necessárias para a continuação de sua vida e trabalho. Elas vão a santuários e locais sagrados para buscar tais eventos transformadores, e alguns desses locais tornam-se centros de intervenções incomuns e miraculosas. Eles fortalecem a fé das pessoas e confirmam o valor da atividade espiritual. Ver o artigo sobre Milagres.

TEMPLO, SÍMBOLO DE GRAUS DE ACESSO ESPIRITUAL1. O antigo templo de Jerusalém era, por si mesmo, uma ilustra­

ção dos vários graus de acesso a Deus. Havia o átrio dos gentios, o átrio das mulheres, o átrio dos homens, o santuário dos sacerdotes e o Santo dos Santos, onde somente o sumo sacerdote podia entrar e mesmo assim, somente uma vez a cada ano.

2. O autor da Epistola aos Hebreus acreditava que aquele antigo templo refletia certa realidade celestial, ou seja, o acesso ao Pai, nos próprios céus. As divisões do templo são paralelas às «muitas mora­das» (João 14:2), referidas pelo Senhor Jesus. A casa do Pai tem «muitas salas» (tradução inglesa RSV, aqui vertida para o português). Esse conceito é similar aos «lugares celestiais», do vocabulário paulino. Na verdade, no «céu», há «muitos céus» e estes represen­tam variegados degraus de glória. Jesus foi capaz de penetrar no mais elevado céu, assentando-se à direita de Deus. Dessa maneira é que ele preparou o caminho para todos os crentes conquistarem a mais elevada glória.

3. Entretanto, estar salvo significa penetrar nos céus, embora não atingir a mais elevada glória de imediato. Isso terá de esperar por uma conquista eterna, embora seja um alvo adredemente garantido, por­quanto, nosso Sumo Sacerdote espera por nós, dentro do Santo dos Santos. O que aqui expressamos é equivalente a «graus de glória». Sem embargo o estado dos remidos jamais sofrerá estagnação. Have­remos de passar de um estágio de glória para outro, para todo o sempre (ver II Cor. 3:18). E posto que haverá uma infinitude com que seremos cheios, também deve haver um enchimento infinito.

TEMPLOSI. Caracterização GeralII. TerminologiaIII. Tipos de SantuáriosIV. Templos de Várias CulturasV. Significados e Propósitos dos TemplosI. Caracterização GeralVer o artigo separado sobre o Templo de Jerusalém, que traz

consideráveis informações paralelas ao assunto deste artigo. A idéia de criar templos não foi inventada pelo povo hebreu e, de fato, havia outros tabernáculos portáteis criados por povos que não da cultura hebraica. Ver o artigo detalhado sobre o Tabernáculo, uma constru­ção anterior à do templo de Salomão. Os hebreus sem dúvida injeta­ram na idéia do templo alguns aspectos diferentes e importantes. Em primeiro lugar, pode existir um templo que não promova a idolatria; ele pode existir sem promover o politeísmo; pode ser um local moral­mente decente que não promova ritual sensual, que rejeite por com­pleto coisas como a prostituição sagrada, parte integrante de culturas que louvavam a deuses e deusas de fertilidade. Em outras palavras, os templos hebreus estavam envolvidos na promoção de um concei­to mais elevado de espiritualidade do que encontramos em outras culturas, embora haja muitos paralelos entre seus templos e os tem­plos dos pagãos.

Templo é um termo empregado para falar de qualquer lugar ou edifício dedicado ao louvor a uma deidade. A arqueologia demons­trou que mesmo cavernas, em épocas muito antigas, eram usadas como sítios sagrados, essas cavernas foram encontradas em locais separados uns dos outros por grandes distâncias, como Malta, Egito e índia. Começando como estruturas simples com rituais simples, foram desenvolvidos e transformados em estruturas elaboradas e decoradas contando com cultos complexos. Templos elaborados re­queriam o trabalho de homens habilidosos em vários ofícios,- como os

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TEMPLOS 5351

que trabalhavam com metais, tecelões e tinturas, escultura, pintura e construção. Alguns templos eram representações materiais peritas da melhor arte que os trabalhadores conseguiam produzir e muitos eram grandes realizações arquitetônicas. Os templos diferiam de cul­tura para cultura, cada qual expressando algo do gênio de seu povo. Considere as diferenças entre os grandes templos de Carnaque, do Egito, o Panteão da Grécia, o templo de Jerusalém e as catedrais da Europa medieval, os santuários complexos dos hindus e os imponen­tes templos budistas. Comum a todos é (era) o desejo de aproxima­ção com o Divino, o louvor, a busca de um caminho superior, o enriquecimento da vida material e a afirmação de que há algo além deste tipo de vida. Enquanto os templos eram (são) tipos de declara­ções teológicas, isto é, promoviam (promovem) linhas específicas de crença e prática, também exemplificavam (exemplificam) a crença do homem no mistério e no misticismo, qualidades inefáveis da espiritualidade.

II. TerminologiaPara isso, ver o artigo sobre Templo de Jerusalém, seção I,

Nome e Terminologia.III. Tipos de SantuáriosNem todos os santuários podem ser chamados de templos, mas

o santuário muitas vezes antecedeu a um templo formalizado.1. Santuários Naturais. Lugares sagrados onde algum tipo de

acontecimento incomum ocorreu; grutas, cavernas, picos de monta­nhas etc. onde os profetas encontravam comunhão com o divino e onde pessoas comuns esperavam obter um pouco dos segredos dos profetas. Os cananitas consideravam os montes, tipos específicos de rochas, árvores e cavernas como locais onde os deuses ou espíritos se manifestavam e onde tais coisas poderiam ser repetidas. Os hebreus tinham santuários ao ar livre como os de Betei, Dã, Gilgal e Berseba.

2. Santuários Domésticos. A imagem de deus era colocada em um manto ou em uma sala especial dedicada ao divino e o lar transformava-se em um santuário. O terafim de Labão era uma imagem desse tipo (Gên. 31.19). Essa prática era comum em tem­pos antigos e continua hoje, mesmo em segmentos do cristianismo atual.

3. Santuários Comemorativos. Em certos locais, ocorriam even­tos especiais que lembravam aos homens que eles não estavam sós, que havia poderes que não eram vistos e podiam intervir nas ativida­des humanas e de fato o faziam. Uma gruta, um monte, uma rocha, uma tumba etc. tornavam-se santuários e alguns deles acabavam sendo transformados em templos. Considere o santuário de Betei, onde Jacó viu a escada e os anjos subindo e descendo, e originan- do-se da glória de Yahweh no local.

4. Forças de Santuários da Natureza. A mãe terra pode ser procurada em uma caverna ou em um monte. Havia em Creta cavernas dedicadas a Zeus; os minoanos louvavam em grutas sub­terrâneas escuras. Câmaras subterrâneas eram sagradas para al­guns. Supunha-se que o totem da cobra curava. Os kivas, câmaras cerimoniais, alguns dos quais construídos embaixo da terra, eram parte importante do louvor dos índios americanos no sudoeste da­quilo que hoje faz parte dos EUA. Fontes de água eram locais naturais para os homens buscarem o divino, como eram os picos das montanhas.

5. Santuários Portáteis. O mais conspícuo desses foi o tabernáculo hebreu que foi transportado durante 40 anos de vagueações no de­serto, mas a arqueologia mostrou que havia santuários portáteis des­se tipo entre nômades árabes e no Egito, objetos sagrados relaciona­dos a rituais fúnebres. Uma antiga tradição semita era a de levar à batalha a tenda, santuários e objetos sagrados que supostamente ofereceriam proteção e sucesso em batalha. A arca da aliança dos hebreus era empregada dessa forma (Núm. 10.33; Deu. 1.33).

Quando os santuários eram honrados pela construção de prédios especiais para a realização de cultos de uma deidade, o santuário transformava-se em um templo.

IV. Templos de Várias Culturas1. Hebraicos e Judeus. Ver o artigo detalhado sobre Templo de

Jerusalém, onde são descritos os três templos daquela cultura: o tem­plo de Salomão, o templo de Zorobabel (o Segundo Templo) e o templo de Herodes, o Grande.

2. No Egito haviam templos monumentais e estatais, grandes es­truturas que promoviam a religião do estado, como o de Carnaque, que honrava o deus sol, Amon-Re. Havia outros nos montes em Mênfis, Tabas, Heliópolis, Hermópolis e Filae. Presumivelmente, os deuses davam atenção especial àqueles montes e ali podiam ser contatados. Era natural que os templos fossem erigidos para facilitar o contato. Um conceito comum era o “Deus no céu” que colocava o descanso de seus pés na terra. Os templos muitas vezes eram posicionais em locais próximos aos lugares dos reis, que eram consi­derados filhos dos deuses ou mediadores apropriados com eles, ou ambos.

3. Templos de Fronteiras. Pensava-se, em diversas culturas do Oriente Próximo, que a construção de templos nas fronteiras fornece­ria proteção à terra contra os inimigos, que estavam sempre à esprei­ta “lá fora”. Talvez os santuários de Jeroboão em Betei e Dã tives­sem esse propósito (entre outros). O mesmo é verdade, presumivelmente, dos santuários em Laquis e Afeque, locais de re­sistência dos cananeus.

4. Templos Funerários. A morte, esse giande inimigo, é invocada por um santuário ou templo sagrado construído em áreas de enterro. Vários templos funerários foram descobertos no Egito. O povo tinha interesse em vencer o medo da morte ao tazer dela o centro de cultos religiosos e injetar “a vida além do túmulo1' na qjestão através de rituais especiais. As pirâmides da terceira, quarta, quinta e sexta dinastias egípcias exigiram dois templos funerários caaa. No início pequenos santuários e capelas eram construídas p e lo aos locais de enterro e pirâmides. Seria natural que a capela, a longo prazo, se transformasse em um templo.

5. Templos Mesopotâmicos. Eram as “casas dos deuses", cada qual de modo geral especializada em alguma divindade particular. O deus vivia e trabalhava no templo e era o supervisor de todas as atividades. De modo geral, os prédios eram retângulos longos, pa­dronizados de acordo com os mais primitivos da época de Uruque e Al Ubaide. Uma porta levava ao retângulo, mas, em épocas posterio­res, a porta ficava ao lado. Uma lareira era colocada no centro do retângulo para aquecimento em épocas frias. Havia então um altar posicionado em um local de comando. Em geral, podemos dizer que tais templos pareciam as áreas de convívio de um lar primitivo, mas sua dedicação ao deus transformavam tais “habitações” em templos. Salas subsidiárias eram construídas junto às paredes, provavelmente para armazenamento. O material principal de construção eram ro­chas não polidas nativas da região. O Zigurate (ver a respeito) era um tipo de torre de templo erigido em estágios ou camadas. No topo era construído um santuário ou templo em honra ao mesmo deus. Em outras palavras, Zigurates eram montanhas artificiais. A arqueo­logia descobriu diversos desses em Ur, Asur e Choga. Talvez a torre de Babel tenha sido uma construção desse tipo.

Templos mesopotâmicos posteriores adicionavam um pátio e um prédio secundário ou salas junto às paredes e muros.

6. Templos Gregos (do grego Temno, “cortar"). Esses locais origi­nalmente nada mais eram do que uma área demarcada onde um sacerdote fazia sacrifícios ao seu deus, praticava sua divinação e, de modo geral, realizava os negócios do deus. Santuários eram construídos em tais locais sagrados, ao ar livre, então, finalmente, vieram prédios que poderiam de fato ser chamados de “templos”. Quando prédios eram construídos para propósitos sagrados, a estru­tura era um naos, um local para o deus morar ou manifestar-se. Uma única sala era o projeto mais antigo, que depois se dividia em corre­dores por fileiras de colunas de cada lado. Depois eram adicionadas colunas na frente ou atrás, ou em ambos os lados, e ainda mais para frente, em épocas sofisticadas, ao redor do naos. O próprio templo

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5352 TEMPLOS — TEMPO, DIVISÕES BÍBLICAS DO

era construído em uma plataforma (pódio), que tinha escadarias pelas quais se atingia o templo. A maioria dos templos gregos ficava direcionada para o leste, onde nasce o sol para dar vida à terra. Dois tipos principais foram desenvolvidos simultaneamente: o dórico, com colunas maciças, simples, sem adornos. O estilo jónico era mais leve, caracterizado pela restrição artística e de com gosto. A Acrópolis de Atenas combinava os dois estilos. O estilo coríntio era um terceiro tipo, de fato um embelezamento adicional do jónico. O exemplo melhor conhecido desse tipo foi o templo colossal do Zeus de Olímpia em Atenas, completado em 135 D. C.

7. Templos Romanos. Os mais antigos templos romanos imitavam os dos eíruscos tendo um naos dividido em três seções, honrando a tríade sagrada, Júpiter, Minerva e Runo. Eles tinham um pódio ou uma plata­forma onde o prédio descansava. Os templos romanos possuíam entra­das (de modo geral) apenas por um lado, enquanto os templos gregos poderiam ser acessados por todos os quatro lados. Templos romanos posteriores copiaram as idéias das colunas gregas, isto é, o prédio de uma fileira de colunas. Um modelo posterior apresentava uma forma circdlar como o temp'o de Vesta em Tivoli. Alguns dos templos eram um tanto pequenos mas uma exceção foi o panteão maciço que Adriano construiu em Roma em 80 D. C.

Templos gregos n romanos não eram lugares de assembléia públi­ca para louvor. As pessoas vinham e iam, servindo ao deus, mas multidões não se juntavam. As primeiras igrejas cristãs não copiaram a disposição geral dos templos, mas imitaram a das basílicas de Roma ou da sinagoga dos judeus. A basílica era um corredor público alonga­do, a princípio utilizado para o comércio ou para assembléias. A Igreja Católica Romana chama de basílicas certas igrejas que são honradas por motivos especialmente piedosos.

8. O templo também era uma instituição constante das culturas do Oriente Distante, como na China, na índia e no Japão. “O Oriente Distante era adornado profusamente com templos" (Fern). Os tem­plos dessa parte do mundo estão entre as maiores das realizações arquitetônicas. A "maravilha” da arquitetura Oriental é o Templo do Céu, da China. Ele tem nove grandes altares, como o altar da terra, da lua, do céu etc. O “do céu” é um local fechado de 737 acres cercado por uma grande parede vermelha com mais de 5 km de extensão. Dentro do local fechado há muitas áreas de florestas de árvores coníferas, largas avenidas, portões majestosos, um enorme altar, altares menores, o próprio templo, uma casa de tesouro, um corredor de festividades, salas de armazenagem, torres de sinos, poços etc. Grandioso é a palavra correta para este complexo de construção. O altar é uma série erguida de plataformas em três terra­ços de mármore. Não há imagens dentro do próprio templo, mas há um altar no cent-o com uma representação de dragão. O local foi construído em 1420 D. C. e depois ampliado e embelezado em 1752. A República Chinesa (quando chegou o comunismo) empregou a estrutura para escolas, hospitais e como estação agrícola e de expe­rimentação.

9. Os templos de Confúcio foram liderados por oficiais do go­verno considerados intermediários de deuses. A estrutura princi­pal desse tipo de templo é a encontrada na província de Chufu, em Shantung, construída em 442 D. C. O templo foi construído para honrar Sage, isto é, Confúcio, o mestre espiritual. Fora do complexo principal, há casas e templos familiares que dão honra aos descendentes diretos do Mestre. Há um poço ali, ainda pre­servado, de onde essas pessoas tiravam sua água. Cerca de 3 km ao norte dali fica uma pequena área florestada na qual se situa o túmulo de Confúcio. O Japão e a Coréia também têm templos de Confúcio.

1 0 . Templos budistas são numerosos na China, no Japão e na Coréia. Eles têm o que é chamado de “estilo palaciano” . Templos buaistas de modo geral consistem em um complexo de prédios, templos, corredores ancestrais etc., todos virados para o sul. Os prédios agrupam-se ao redor de pátios sagrados, muitas vezes pavimentados e decorados com representações de lótus e outros

desenhos artísticos. De modo geral há Corredores de Meditação, de Sabedoria, do Patriarca, além de monastérios que também formam a cena. A maioria dos templos têm jardins artísticos que decoram as áreas circundantes. Todos possuem uma torre de sino e um pago­de, montes para guardar o stupa, isto é, os restos do humano morto. Além dos ossos e cinzas, esses locais abrigam escrituras e relíquias sagradas.

V. Significados e Propósitos dos TemplosForneço informações detalhadas sobre isso, listando 17 itens, na

seção VII do artigo sobre Templo de Jerusalém, acima.

TEMPOVer o artigo intitulado Tempo, Divisões Bíblicas do.

TEMPO, DIVISÕES BÍBLICAS DOA palavra portuguesa tempo vem do latim, tempus, derivado do

termo grego temno, «decepar», «cortar fora». A idéia é que o tempo é algo dividido em partes, como porção de alguma duração maior de tempo.

Esboço:I. TerminologiaII. Divisões Específicas do TempoIII. Gráfico das Divisões e dos NomesIV. Conceitos Bíblicos do TempoI. TerminologiaNo hebraico:1. Yom, «dia». Ou um dia natural, de 24 horas, ou algum tempo

específico, com acontecimentos especiais, como «o dia dc Senhor», o qual já indica um uso metafórico. Corresponde a eméra, no grego (ver abaixo). É muito comum.

2. Zeman, «tempo determinado». Ver Ecl. 3:1; ver também Dan. 2:16, quanto à idéia de «período determinado».

3. Mahar, «tempo vindouro» ou «amanhã». Ver Êxo. 13:14; Jos. 4:6,21.

4. Eth, «tempo geral», «tempo da tarde» (Jos. 8:29), «tempo cumprido» (Jó 39:1,2), «à hora do sacrifício», em Dan. 9:21. Pode estar em foco qualquer «período» específico (Eze. 16:8).

5. Paam, «um tempo», ou, mais literalmente, «um golpe». Ver Sal. 119:126; Gên. 18:32; Êxo. 9:27; Pro. 7:12. Algumas vezes é traduzido como «agora».

6. Oiam, «tempo oculto», tempo obscuro quanto à duração, cujo começo e fim estão na dúvida, ocultos do conhecimento humano. Ver Jos. 24:2; Deu. 32:7; Pro. 8:23.

7. No aramaico, iddan, «tempo estabelecido». Ver Dan. 4:16,23,25,32. No plural, iddanim, essa palavra pode significar «anos», segundo parece ser o seu sentido nos versículos mencionados. Ver também Dan. 7:25,12:7. Mas em Dan. 4:29 parece estar em pauta a idéia de «duração de tempo», e não exatamente de um ano. Keil comenta sobre aquele versículo, onde o vocábulo em pauta é usado de maneira flexível.

8. Moed, «tempo fixado». Ver Êxo. 34:18; I Sam. 9:24; Dan. 12:7.9. Monim. «tempos», «números». Ver Gên. 31:7,41.10. Regei, «tempos», «pés». Ver Êxo. 23:14; Núm. 22:27,32,33.11. Mispar-hay-yamim, «número de dias». Ver I Sam. 27:7; II

Sam. 2:11.No grego:1. Eméra, «dia». Palavra extremamente comum no Novo Testa­

mento, começando por Mat. 2:1 e terminando em Apo. 21:25.2. Geneá, «geração». Ver Atos 14:16; 15:21.3. Kairós, «período fixo». Outra palavra grega muito usada, co­

meçando em Mat. 8:29 e terminando em Apo. 22:10.4. Chrónos, «tempo». Palavra usada por trinta e três vezes no

Novo Testamento, desde Mat. 2:7 até Apo. 10:6.5. Nun, «agora». Ver Mat. 24:21; Mar. 13:19; Cor. 16:12.6. Ora, «hora». Ver Mat. 14:15; 18:1; Mar. 6:35; Luc. 1:10; 14:17;

João 16:2,4,25; I João 2:18; Apo. 14:15.

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TEMPO, DIVISÕES BÍBLICAS DO 5353

7. Poté, «outra vez». I Cor. 9:7; I Tes. 2:5; Heb. 1:5,13; 2:1.8. Prothesmía, «tempo designado de antemão», Gál. 4:2.9. Pópote, «qualquer tempo». Ver João 1:18; 5:37; I João 4:12.10. Ékpalai, «tempo antigo». Ver II Ped. 2:3.11. Eúkairos, «tempo oportuno», Heb. 4:16.II. Divisões Específicas do Tempo1. Shanah, «ano». A idéia básica da palavra é «revolução», ou

seja, algo que se repete, uma unidade onde há uma mudança das estações. Para os hebreus, nos tempos pré-exílicos, o ano era lunar, e consistia em 354 dias, oito horas e 38 segundos, havendo doze meses lunares. Naturalmente, os antigos hebreus não sabiam da duração exata do ano lunar, conforme acabamos de mostrar. Como esse ano lunar tem cerca de seis dias a menos que o ano solar, os hebreus precisavam acrescentar, ocasionalmente, um mês, a fim de preservar a regularidade das festas da colheita e da vindima. Esse acréscimo mantinha o mês lunar mais ou menos igual ao mês solar. Todavia, não se sabe qual método era usado pelos hebreus para fazerem esse acréscimo, nos dias antigos. Entre os judeus posterio­res, depois do mês de Adar, havia o Ve-Adar, ou segundo Adar, como adição. O Sinédrio decretava essa adição, quando isso era sentido como necessário. Mas nunca se fazia qualquer acréscimo a um ano sabático.

O mês de Abibe, ou Nisã (março-abril), dava início ao ano, entre os hebreus (Est. 3:7). O ano civil, porém, começava com o mês de Tisri (outubro). Forneci detalhes sobre os meses e anos, no artigo Calendário Judaico (Bíblico), juntamente com as festividades e os dias de celebração nacional, constantes nesse calendário.

2. Hodesh, «mês». Literalmente, «lua nova». Os hebreus tinham um mês lunar de cerca de 29-1/2 dias. A regra geral aplicada era que em um ano não podia ocorrer menos do que quatro meses completos e nem mais do que oito meses completos. Para fazer os meses lunares corresponderem ao ano solar, ocasionalmente era adiciona­do um mês extra, conforme dissemos acima. Antes do exílio, ocasio­nalmente os meses são numerados, e não chamados por nomes (verII Reis 25:27; Jer. 52:31; Eze. 29:1), embora também pudessem ser chamados por nomes diversos, como: mês de abibe (Êxo. 13:4; 23:15).

mês de z ive ( I Reis 6:1,37), mês de b u l( I Reis 6:38) — nomes esses que dizem respeito a atividades agrícolas. Após o exílio foram dados nomes específicos aos meses, conforme mostro no artigo sobre o Calen­dário Judaico, mormente em seu terceiro ponto.

3. Shabua, «semana», no grego, sabbaton, «descanso». O inter­valo entre os sábados, ou dias de descanso. O texto de Gên. 2;2,3 já menciona a semana. Ver também 7:4; 8:10,12. Instituições de semanas tornaram-se importantes para a sociedade dos hebreus. Ver Núm. 19:11; 28:17; Êxo. 13:6,7; 34:18; Lev. 14:38; Deu. 16:8,13. Após o exílio, semanas específicas receberam designações específi­cas. Ver Miq. 16:2,9; Luc. 24:1; Atos 20:7. A derivação astronômica da semana repousa sobre o fato de que a lua muda, aproximada­mente, a cada sete dias (na verdade são 7-1/8 dias), de tal modo que o mês lunar consiste em quatro semanas, ou quatro quartos. Os nomes dos dias da semana derivaram-se, em vários idiomas, de diversas origens. Os planetas deram aos dias os seus nomes, dentro da cultura egípcia; daí, o costume passou para a cultura romana, e, daí, para muitas outras.

4. Yom, «dia». Literalmente, «quente»; no grego, eméra, «período de tempo». Em ambos esses idiomas, está em pauta o dia natural, assinalado por luz e trevas; ou, metaforicamente, um período de tem­po que tem propósitos ou características específicas. A palavra hebraica ocorre pela primeira vez em Gên. 1:5. «Dia» é a mais antiga designa­ção de tempo, e também a mais comum. Os ant;gos marcavam o dia, ou do pôr-do-sol ao pôr-do-sol, ou da alvorada à alvorada. Ver Lev. 23:32; Êxo. 12:18 quanto à primeira maneira. Os fenícios, os núrrvdas e várias outras nações antigas também usavam esse método, mas as nações modernas preferem seguir o método romano. Guante a usos figurados da palavra «dia», ver Gên. 2:4, Isa. 22:5, Joel 1 2 Este Dicionário apresenta vários artigos sob o título Dia. Ver também Cs'en- dário Judaico, em seu primeiro ponto. Vários artigos foram escritos sobre diferentes calendários.

5. Shaah, «hora». Literalmente, «um olhar». No grego, ora, «pe­ríodo específico». A palavra é usada de várias maneiras, mas, principalmente, indicando uma vigésima quarta parte de cada dia completo (noite e dia). Lemos acerca das «horas», pela primeira

III. Gráfico das Divisões e dos Nomes

Os hebreus antigos marcavam o tempo com a ajuda da lua, dos fenômenos naturais e das observâncias religiosas:

Hora Moderna18:00 horas 18:20 horas 22:00 horas 24:00 horas

2:00 horas 3:00 horas 4:30 horas 5:40 horas 6:00 horas

9:00 horas 12:00 horas 13:00 horas

15:30 horas

17:40 horas

18:00 horas

JudaicoPôr-do-sol Gên. 28:1; Êxo. 17:12; Jos. 8:29 Estrelas aparecem Fim da primeira vigília Lam. 2:19 Meia-noite Êxo. 11:4; Rute 3:8; Sal. 119:62;Mat. 25:6; Luc. 11:5Fim da segunda vigília Juí. 7:19Canto do galo Mar. 13:35; Mat. 26:75Segundo canto do galo Mar. 26:75; Mar. 14:30Início do alvorecerNascer do sol (Fim da terceira vigília) Êxo. 14:24; Núm. 21:11; Deu. 4:41; Jos. 1:15; I Samuel. 11:11

Primeira hora da oração Atos 2:15 Meio-dia Gên. 43:16; I Reis 18:26; Jó 5:14 Grande Vesperal

Pequena Vesperal

Pôr-do-sol Gên. 15:12; Êxo. 17:12; Luc. 4:40

TalmudeCrepúsculo (no árabe, ahra) Noitinha, shema ou oração O jumento orneja

O cão ladra

Alvorada (no árabe, subah)Três toques de trombeta(no árabe, doher) Sacrifício matinal

Primeira mincha (oração);(no árabe, asei)Segunda mincha (oração);(no árabe, asei)Sacrifício da tarde no altar noroeste. Nove toques de trombeta.Seis toques de trombeta na véspera do sábado.

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5354 TEMPO, DIVISÕES BÍBLICAS DO — TENDA

vez na Bíblia, já ao tempo do cativeiro babilónico (ver Dan. 3:6; 5:5); parece que os babilônios foram um dos primeiros povos a dividir o dia em horas. Deles, os gregos derivaram a idéia (ver Herodoto 2.109). No Novo Testamento, encontramos as «vigílias», cada uma das quais consistia em várias horas fixas: três ou quatro. Ver o artigo detalhado sob-e Hora. Esse termo era e continua sendo usado em sentido me­tafórico. conforme é ilustrado pelo artigo acima referido. Ver também sobre Vigília.

IV. Conceitos Bíblicos do TempoApesar da Bíblia não conter qualquer filosofia formal do tempo e do

espaço, há :once'tos relativos aos mesmos que se revestem de impor­tância filosófica. Ver o artigo Tempo e Espaço. Filosofia do, que inclui as principais idéias sobre a questão. Ofereço aqui algumas idéias:

1. Sorrente Deus sempre existiu, sendo ele a força por detrás de qualquer outra existência.

2. Deus revelou-se ao homem, bem como o seu plano de reden­ção, por meio da história humana, de forma linear. A criação do homem foi seguida pela queda; o juízo divino sobreveio ao homem caído. Foi formaca uma nação com propósitos remidores; essa na­ção está destinaaa a uma elevada glória e posição entre as nações. Dessa nação veio o Messias ou Cristo, o qual tem implicações uni­versais, que envolvem cada indivíduo. Os remidos chegarão a partici­par de sua natureza. Os não-remidos finalmente serão restaurados, em uma obra secundária do Logos. A eternidade provê um progresso interminável, quanto aos remidos, no tocante às qualidades divinas, visto que os remidos participarão de sua natureza. A restauração pode encerrar muitas surpresas para os não-remidos. Ver os artigos intitulados Redenção; Salvação e Restauração, que detalham esses conceitos.

3. A Bíblia ccntém uma filosofia da história, na qual Aquele que vive fora do tempo (Deus em seus atos) entra no tempo. O tempo será absorvido pela eternidade, onde não haverá mais tempo. O tempo é real, e não uma ilusão, conforme erroneamente supõem algumas fés orientais.

4. O Ser que vive fora do tempo representa a vida dos mundos não-materiais. A vida temporal representa a vida física. O homem, como ser dual (material e imaterial), é capaz de experimentar tanto o tempo quanto a eternidade. O homem tem um propósito e um destino a cumprir dentro do tempo; mas, a longo prazo, também :em um destino, já na eterniaade.

5. A expressão «séculos dos séculos» refere-se à eternidade. Uma era (no grego, aeon ou aion) dá a entender ciclos futuros, que formarão a eternidade, cada um desses ciclos com seu próprio pro­pósito. Esse assunto permanece essencialmente misterioso para nós. Alguns acreditam que o tempo, conforme o conhecemos, na verdade é circular, constituído por uma série de círculos, e que o tempo linear sobre o qual agora falamos, consiste meramente nas séries de even­tos que constituem o ciclo presente. Talvez isso esteja certo. É razo­ável supormos que os tratos de Deus com o mundo têm ocorrido em muitos grandes ciclos do tempo, relacionados a seres e criações acerca dos quais nada sabemos, e que o presente ciclo dentro do qual vivemos, parecendo ser o único tempo existente, é apenas uma ilusão. Orígenes especulava que os ciclos nunca cessarão, e que um novo ciclo, uma vez iniciado, repetirá a necessidade de redenção, por ter havido outra queda. E talvez isso tenha ocorrido por muitas vezes. Talvez essas especulações envolvam alguma verdade, mas não temos meios de investigá-las.

6. Evidências geológicas e arqueológicas definidamente indicam a existência de uma raça humana pré-adâm ica. Ver sobre Antediluvianos; Criação e Adão.

7. A Igreja Ocidental (católicos romanos, protestantes e evangéli­cos) tem uma versão linear de como Deus opera na história e na redenção humanas O homem foi criado e caiu; Cristo proveu a re­denção; o homem precisa encontrar a salvação em um único período de vida terrena, quando é salvo ou condenado, pois a morte física determina uma estagnação sem remédio. Já a Igreja Oriental tem

uma visão circular da questão. Para ela, a alma humana foi criada em algum passado distante (pois é preexistente), cujo ponto não podemos demarcar em um círculo. Ademais, a morte física também não assinala um ponto absoluto nesse círculo. A vida pós-túmulo caracteriza-se por uma contínua oportunidade; não podemos assinalar um ponto no cír­culo em que Deus interromperá essa oportunidade. Todavia, no cristi­anismo oriental alguns assinalam como marca do fim dessa oportuni­dade a segunda vinda de Cristo, e não por ocasião da morte biológica. Mas há outros que não tentam assinalar marca alguma, deixando a questão inteiramente nas mãos de Deus, acreditando que ali penetra­mos em mistérios divinos insondáveis. De acordo com esse ponto de vista circular, não há estagnação, visto que os remidos haverão de progredir para sempre na natureza divina e seus atributos, enquanto que os não-remidos participarão de uma obra secundária do Logos, cuja atuação não pode ser estagnada. Além disso, as almas humanas diversificar-se-ão em muitas espécies espirituais, nessa evolução espi­ritual. Os remidos participarão da natureza divina, o que representa o mais elevado potencial oferecido aos seres humanos.

8. O Logos, conhecido como Cristo em sua encarnação, está relacionado a todos os períodos de tempo, estando envolvido na criação, como também em uma missão tridimensional, que inclui to­dos os lugares: a terra, o céu e o inferno. Nenhum desses três aspectos chegará jamais ao término; todos eles continuarão atuantes em favor dos homens. De acordo com esse ponto de vista, fica garantido aos homens, dentro do tempo, que a dimensão fora do tempo de seus seres será transformada por alguma eficaz operação de Deus. Esse conceito mostra-nos que Deus não se apressa na consecução de seus propósitos. Apesar de os homens limitarem o tempo de que dispõem, essa limitação é falsa e ilusória. A redenção da alma humana eterna requer muito tempo.

9. A visão humana daquilo que Deus está realizando, no tocante ao tempo e à eternidade, sempre será algo fragmentar, geralmente confinada aos ensinos de alguma denominação religiosa específica. Mas a verdade sempre é mais extensa do cue a avaliação humana acerca dela.

TENAZ, ESPEVITADEIRANo hebraico, temos duas palavras, uma das quais é apenas uma

variante da outra, a sabej: malqachayim e melqachayim. A primeira ocorre por duas vezes (Êxo. 25:38 e Núm. 4:9), e a segunda, por quatro vezes (Êxo. 37:23; I Reis 7:29; II Crô. 4:21 e Isa. 6:6). Um detalhe interessante, referente a essa palavra, em nossa versão por­tuguesa, é que em II Crônicas 4:21 e Isaías 6:6, encontramos a tradução «tenaz», ao passo que em tocas as outras quatro ocorrênci­as, aparece a tradução «espevitadeiras».

As espevitadeiras eram pequenos instrumentos feitos de ouro, usados para tirar o carvão que se forma no pavio das lâmpadas alimentadas a azeite, como no caso do candeeiro de ouro, usado no tabernáculo armado no deserto, e no templo de Jerusalém. Essas pontas queimadas eram depositadas em receptáculos que, para aumentar a confusão, em nossa versão portuguesa, também são chamados «espevitadeiras» (embora aí tenhamos uma outra palavra hebraica, mezammeroth, por exemplo, em II Reis 12:13; 25:14; Jer. 52:18). Na verdade, os nomes desses pequenos instru­mentos e utensílios são de difícil tradução, o que talvez explique a falta de homogeneidade na tradução de vários desses termos hebraicos.

Por outra parte, toma-se mais evidente que, em Isaías 6:6, na visão desse profeta, ali relatada, um serafim tirou do altar uma brasa acesa, com uma «tenaz». É bem possível, pois, que as espevitadeiras tivessem o formato de uma pequena tenaz.

TENDA1. Termos. A palavra hebraica que significa tenda é obel, que

ocorre cerca de 150 vezes no Antigo Testamento. Exemplos: Gên. 4.20; 9.21, 27: 12.8; 35.1; Êxo. 16.16; 18.7; 26.11-14, 36; Deu. 1.27;

Page 27: 0 ANTIGO TESTAMENTO INTERPRETADO · nas páginas do Antigo Testamento. 1. Um filho de Efraim, fundador da família dos taanitas (Núm. 26:35). Viveu em torno de 1600 A.C. 2. Um efraimita,

TENDA — TEOCRACIA 5355

I Crô. 4.41. A palavra grega é skene, usada cerca de 20 vezes no Novo Testamento. Exemplos: Mat. 17.4; Mar. 9.5; Luc. 9.33; 16.9; Atos 7.43; Heb. 8.2, 5; Apo. 13,6; 15.5; 21.3.

2. Natureza. A tenda é uma habitação portátil, feita de materiais duráveis como o pêlo de cabra (Cantares 1.5), embora algumas fos­sem tecidas de outros materiais mais finos. O tecido de pêlo de cabra é (era) ideal, pois pode resistir até mesmo às chuvas mais fortes. A tenda oriental era mantida em pé por postes de tendas chamados amud, de modo geral em número de nove, embora algumas tivessem apenas um. As cordas que mantinham a tenda em pé não passavam pelo material da tenda, mas sim por laços costurados nele. A extre­midade das cortas era amarrada em pinos de tenda chamados wed ou aoutad, que eram inseridos no chão. A maioria das tendas era dividida em duas partes, separadas por uma cortina pesada. Os móveis que compunham a tenda eram um carpete, almofadas e uma mesa baixa. Havia também utensílios para preparar e consumir ali­mentos e uma lamparina.

3. Vida na Tenda. Os povos das tendas eram aqueles que iam de lugar a lugar para buscar alimentos ou para fazer comércio de cara­vana. Levavam com eles animais domesticados que tinham de pastorear, mas o povo das tendas não criava sua própria alimenta­ção. Eles caçavam quando em áreas que forneciam alimentos para isso.

4. A Tenda e os Patriarcas. Abraão e seu povo, que vieram de Ur, tinham casas permanentes, não sendo nômades. Assumiram esse tipo de vida de romeiros na futura Terra Prometida. Canaã foi uma terra onde vaguearam até serem cumpridas as promessas de Deus de uma nação fixa. Os israelitas tinham casas em Gósen, Egito, mas retomaram uma vida nômade nos 40 anos de vagueação. Uma vez que a terra havia sido conquistada, voltaram a viver em casas perma­nentes.

5. As pessoas mais pobres tinham apenas uma tenda que podia facilmente ser dobrada e carregada por um animal de carga, como um burro. Mas um xeque, um chefe ou um homem mais afluente teria várias tendas, especialmente se fosse polígamo, isso é, se ti­vesse mais de uma família. Patriarcas como Abraão, Isaque e Jacó, e seu irmão gêmeo Esaú, eram ricos habitantes de tendas (Gên. 13.2 ss.). Isaque assumiu a agricultura, mas sua principal ocupação era a criação de gado (Gên. 24.67, 26.12 ss.). Jacó era um nômade rico (Gên. 31.33; 33.19; 35.21).

6. Usos Figurativos, a. Os céus, que estão sempre em movimen­to, são como uma tenda (Isa. 40.22). b. A prosperidade, quando aumenta, é como ampliar uma tenda (Isa. 54.2). c. A vida do nôma­de, de constantemente ter de montar e desmontar sua tenda, exigia a ajuda de outros. Um homem que não tem amigos é como o nômade que não tem quem o ajude a montar sua tenda (Jer. 10.20). d. Uma tenda que pode ser desmontada tão rápida e facilmente é como a vida física humana, que termina num piscar de olhos e é tão frágil (Isa. 38.12; II Cor. 5.1). Mas esse não e um fator crítico, sendo que temos um iar permanente no céu. e. A futura desolação de Judá seria tão grande, disse Isaías, o profeta, que nem mesmo um árabe se incomodaria em montar sua tenda em tal lugar (Isa. 13.20). f. Idealmente, Jerusalém seria como uma tenda impossível de mover (Jer. 33.20). g. Mas a queda da Judéia foi como uma tenda que teve suas cordas cortadas (Jer. 10.20). h. Jesus, o Cristo, é o sumo sacerdote da “verdadeira tenda” que o poder divino montou e não podemos derrubar, em contraste com o tabernáculo móvel das vagueações de Israel (Heb. 8.2).

TENDÕESNo hebraico, gid, «tendão», «nervo». E vocábulo usado por

sete vezes: Gên. 32:32; Jó 10:11; 40:17; Isa. 48:4; Eze. 37:6,8. Um tendão é uma forte ligadura fibrosa, ligando um músculo a um osso qualquer. No corpo humano, talvez o tendão mais bem conhecido seja o «tendão de Aquiles», que liga o calcâneo à batata da perna. No caso de Ezequiel 37:6,8, os tendões foram as primeiras partes

dos corpos a recobrirem os ossos nus, na grandiosa visão daquele profeta.

A experiência de Jacó, em Penuel (Gên. 32), pode ter envolvido a contratura do músculo e do tendão: «...deslocou-se a junta da coxa de Jacó...» (vs. 25). Parece que se rasgaram fibras musculares, deixando Jacó manquejando de uma das pernas. O deslocamento da junta pare­ce referir-se a alguma injúria na junção entre a coxa e o osso ilíaco. Se tomássemos literalmente a expressão, ela indicaria uma injúria grave nas cadeiras, impossibilitando o ato de andar.

TENDÕES FRESCOSNo hebraico, yetherim lachim, «cordões frescos» ou «cordões

úmidos». Uma expressão hebraica que aparece somente por duas vezes, em Juí. 16:7,8. E, no nono versículo desse mesmo capitulo, reaparece a palavra que nossa versão portuguesa traduz por ten­dões.

Dalila queria descobrir o segredo da extraordinária força de Sansão, a qual, naturalmente, residia no Espírito de Deus, enquanto ele fosse fiel à sua condição de homem consagrado a Deus, ou voto de nazireado. Sansão, de certa feita, enganou Dalila dizendo que perderia as forças se fosse amarrado com sete tendões de boi, ainda frescos. E Dalila, que fazia o jogo de seus compatriotas filisteus, acreditou e o amarrou desse modo — sem proveito nenhum. Sabe­mos que Sansão acabou revelando-lhe o seu segredo, e assim ele acabou sendo preso pelos filisteus, foi cego e perdeu a vida quando derrubou, com a renovada ajuda de Deus, os pilares onde se apoiava o templo do deus Dagom. Morreram tantos filisteus, que o domínio deles sobre Israel se debilitou.

TEOCRACIAPalavra que vem de dois termos gregos, theós, «Deus», e kratéo,

«governar». Isso chega ao sentido de «governo de Deus».Devemos fazer distinção com outro vocábulo, democracia, cuja

primeira porção, demos, significa «povo», e que indica o governo entregue às mãos do povo. E também devemos distinguir teocracia de hierocracia, o governo dos sacerdotes. E, finalmente, de monar­quia, o governo de um único homem ou rei.

Embora a idéia de teocracia apareça nas Escrituras, com bastan­te freqüência, o próprio vocábulo, «teocracia», nunca figura ali. Essa palavra parece ter sido cunhada por Josefo (vide), que se utilizou do termo a fim de referir-se ao caráter impar do governo dos hebreus, revelado a Moises, em contraste com o tipo de governo de outras nações ao derredor. Escreveu Josefo: «Nosso legislador... ordenou aquilo que, forçando a linguagem, poderia ser chamado de teocracia, ao atribuir a autoridade e o poder a Deus» (Contra Ápion, II, 165).

Não obstante, a idéia de teocracia é muito mais antiga do que a palavra que corresponde a ela, conforme o próprio Josefo sugeriu em sua declaração, citada acima. Essa idéia retrocede ao Antigo Testa­mento desde a época de Moisés e, portanto, à iniciação mesma das Sagradas Escrituras (ver Êxo. 19:4-9; Deu. 33:4,5). No âmago dessa idéia fica a relação ímpar entre Deus e Israel, como seu povo peculi­ar. Essa relação é constituída pela aliança que vinculou o povo de Israel a Deus (ver Êxo. 19 e 20), e que constituiu aquele povo em «...reino de sacerdotes e nação santa...» (Êxo. 19:6).

Deus reclamou o povo de Israel como sua propriedade, por havê-los remido da servidão aos egípcios. Os grandes atos libertado­res, da epoca da saída de Israel do Egito, e durante os quarenta anos de vagueação pelo deserto, declararam o Senhor como o eter­no Governante de Israel (ver Êxo. 15:18). Moisés foi, tão-somente, o homem por intermédio de quem Deus transmitiu a sua vontade ao seu povo terreno.

Gideão, várias gerações depois de Moisés, aceitou a coroa, por­quanto acreditava que somente Deus poderia governar sobre Israel (Juí. 8:22,23). No período que antecedeu ao surgimento da monar­quia em Israel, profetas, sacerdotes e juizes foram os intermediários na expressão da teocracia. Vale dizer, Deus governava o seu povo

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5356 TEOCRACIA — TEOFANIA

através daqueles representantes. Assim na guerra de Israel contra Sísera, a profetisa Débora e o juiz Baraoue aparecem como os agen­tes do livramento de Deus (Ju 4:4-7). Os sEceríotes levitas tanbém aparecem, com freqüência como os mensageiros da vontade divina (Juí. 20:28; I Sam. 14:41). Mas per ocasião da teccrac.a institucionalizada, quando surgiu a mcnarqi:;a em Israel, a teocracia passou a se manifestar de forma muito menes direta, e o governo ae Israel passou a assemelhar-se mais ao governo das nações gentílicas. «Disse o Senhor a Samuel: Atende à voz do povo em tudo quanto te dizem, pois não te rejeitaram a ti, mas a mim. para eu não reinar sobre eles... Porém, o povo não atendeu à voz de Samuel, e disseram: Não, mas teremos um rei sobre nos. Para que sejamos também comc toaas as nações; o nosso rei poderá governar-nos, sair adiante de nós. e fazer as nossas guerras» (I Sam. 8:7.19.20). Apesar disso, depois que a monarquia se estabeleceu em Israel, principalmente de Davi em diante, o rei passou a ser considerado símbolo do reinado teocrático. Os reis de Israei não eram apenas reis, no sentido comum do termo, mas também eram ungidos do Senhor, em sentiao puramente teológi­co (Sal. 2:2; 29:6), um príncpe dc Senhor (I Sam. 10:1: II Sam. 5:2). Mesmo durante o ceriodo monárquico, concebia-se que o Se­nhor Deus seguia adiante do rei (li Sam. 5:24). O rei estaria sentado no trono de Deus (I Crc. 25.23; cf. 28:5). O Gcvernante real era Deus, e a autoridade do trono de Davi derivava-se do Senhor. A natureza teocrática da monarquia de Israel é conformada, por exempio. pela prerrogativa dos orofetas de destronarem os reis além do <ato de que foi o profeta Samuel quem estabeleceu o reinade em Israel, a manda­do do Senho' (I Sam. 15:26; 16:1,2; c!. I Reis 11:29-31: 14:10; 16:1,2,21:21). Nesse contexto, nota-se que nãc hatfa critérios estere­otipados para reconhecimento ou confirmação de um profeta, em Isra­el. Somente a presença do indefinível Espírito de Deus revelava a diferença entre um profeta verdaoeiro e um profeta faiso.

A monarquia, em Israel, foi a organização do re:no teccrático sob um governante humano. A teocracia talvez encontre sua nais exce­lente expressão nas predições dos profetas (ver Jer 1:1,2; cf. Isa. 7:7). As visões messiânicas dadas aos profetas foram organicamente entretecidas na curva da história dos reis de Juüá, bem como na restauração final da dinastia davídica. Em sua essência e em seu intuito, o reino é um instrumento ce redenção, insecaraveimente vin­culado às expectacões messiâncas. De fato, em seu sentiao messiânico, o trono de Davi aparece no centro da teologia bíblica, com seu reconhecimento de Deus como o Gcvernante final sobre a terra inteira. Dentre da revelação p-ogressiva da escatclogia bíblica o conceito teocrático do reino davídico suprimiu o padrãc das déias concernentes à vinda palpável do reino de Deus. quando da era milenar. Através da restauração do trono ae Davi, Deus haverá de realizar a redenção final de Israel. Mas, esse futuro acontecimento, que fará parte da história, haverá de introduzir a era da just:ça e da paz eternas sob o reinado universal ao F>lho maior de Davi. Jesus Cristo.

Não há espaço para o secuiarismo, dentro ria teocracia de Israel. Descendo até os mais minúsculos detalnes, todos os regulamentos políticos, legais e sociais são essencialmente teclcgicos. Esses regula­mentos eram a expressão suprema e direta da vontade de Deus. Até mesmo a detenção ae criminosos e a punição dos mesmos fazem parte do interesse imediato de Deus (ver Le1. 20:3.5,6,20: 24:12: Núm. 5:12.13: jos. 6:16).

Várias religiões — desde os tempos mais remotes — (hebreus, babilônios e egípcios), têm tomado a posição de que seus estades eram teocracias, visto que Deus ou os deuses meciante revelações e profetas, lhes teriam dado suas leis e instituições. A teocracia ê um estado no qual os orincípios religiosos (usualmente com apoio ae um monarca e ue um sacerdócio alegadamente nomeados por Deus) são as principais leis e o poder controlador.

Já nos tempos modernos, as cidades de Flcrença. na Itália, sob Savonarola (vide), e Genebra, na Suíça, sob C alm o (vide), durante algum tempo tornaram-se, alegadamente, teooíacias. Além disso, as colônias da Nova Inglaterra, na América do Norte, sob o puritanismo.

tornaram-se teocracias. O aparecimento de governos aemocráticos tem tendido a separar Igreja e Estado de tal modo que as teocracias são evitadas. Naturalmente, o Irã atuai é um exemplo de teoracia; mas, como tantas outras teocracias distorcidas, entristecemo-nos diante das perseguições e matanças craticadas em nome de Deus. Ver Governo Eclesiástico.

Este co-autor e tradutor quer dar aqui sua contribuição. No Novo Testamento nãc parece haver definição quanto ao tipo de «governo eclesiástico». Porém, com base nas condições vigentes em Israel até Samuel (ver I Sam. 8 :7 ), bem como aurante o governo milenar de Cristo, o que anda jaz no futuro, o governo eclesiásticc ideal seria o teocrático. Segundo penso, esse tipo de governo existiu na igreja, durante todo o período apostólico. Deus (na pessoa de Cristo), dirigia sua Igreja mediante ministros por ele escolhidos (ver Efé. 4 t1 ssj. Pode-se dizer que a Igreja entrou em decadência espiritual quando o ministério passou a ser titíc como ofícios burocráticos, a partir do século II D.C., não mais ocupado por indivíduos misticamente desig­nados e preparados. Parece-me evidente que o Espírito dc Senhor restaurara esse tipo de governe eclesiástico antas do segundo ad vento de Cristo. Doutra sorte, no dizer do quarto capitulo de Efésios os crentes não atingirão a maturidade que deverá caracterizar a Igreja nos aias finais dc cristianismo. Seja como for, o milênio (vide) será a mais pura teocracia, sem os abusos do passado, e que têm feno muitos proscreverem-na, até mesmo de suas cogirações. E o estado eterno, cassado o milênio, dará continuidade à teocraca para semore. A teocracia é a essência do remo de Deus.

TEOFANIA1. O Termc A palavra grega é theophania, que deriva de theos

(Deus) + phanein laparecer). Pelo símDles entendimento das pala­vras envolvidas, qualquer aparição ou manifestação ae Deus, presumivelmen'e, mesmo de sua verdadera essência, poderia ser uma "teo‘ania". Mas a teologia aue cerca a palavra a limitou para a maioria dos pensadores cristãos, como explico sob o ponto 2.

2. Como João 1.18 parece eliminar qualauer aparição ou mani­festação de Deus em essêraa jeraadeira, e comc a experiência humana oarece ensinar que manifestações divinas são "aparições”, não a “essência1, a oalavra teofania é comumente usada oara signifi­car algum tipo de manifestação divina aue não comunica ao homem a real essência de Deus. Logicamente, é impossível para um homem ter contato direto com a verdadeira essência divina, pois ele não conseguiria lidar com tal situação e provavelmente não haveria cami­nho metafísico para que isso ocorresse

Ninguém jamais viu a Deus. O Deus (Filho) unigénito, que esta no seio do pai, é quem o revelou.

(João 1 . 18)3. Antropomorfismo e a Teofania. As teologias que reduzem Deus

a algum tipe de super-homem e não distinguem radicalmente a es­sência do Divino e a essência humana transformam a teofania em essência rea;. não meramente um tipo de manifestação visível da glória de Deus. A teologia mórmon por exemplo, que ensina que a base de toda a vida espiritual” é de fato um material Jrefinado”, acredita que João 1.18 pertence a uma revelação antiga e ultrapas­sada. Joseph Smith, presumivelmente de fato viu tanto c Pai quanto o Filho, vânas vezes, não meramente algum tipo de manifestação deles. Mas c Pai e o Filho são compreendidos em termos daquilo que o homem ê não em termos de transcendência. O Deus mórmon é limitado, embora muito mais alto do que o homem. O Deus mórmon é muito poderoso, mas não onipotente, muito versátil em seus movi­mentos e manifestações, mas não onipresente. Esse tipo de Deus pode de fato manifestar sua essênca ao homem. Ver o artigo Antropomorfismo.

4. A Teofania Suprema. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus. e o Verbc era Deus. e o Verbo se tez carne e habitou entre nós. cheio de graça e de verdade; e vimos sua glória glória como do unigénito do Pai... Quem me vê a mim vê o Pai...”

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(João 1.1; 14; 14.9). Aqui temos o mistério da encarnação, e mistério ele continua sendo, pois quem pode logicamente explicar como uma pessoa pode ser divina e humana ao mesmo tempo? Não há motivo para pensar que Jesus, o Cristo, não pode ser visto em tempos mo­dernos, embora, sem dúvida, a maioria de tais afirmações seja patoló­gica, exagerada ou mesmo fraudulenta. A ordem normal é que o Espí­rito revela o Filho, da mesma forma que o Filho revela o Pai: “o Espírito da verdade, que dele (do Pai) procede, esse dará testemu­nho de mim” (João 15.26). Ver a experiência de Paulo (Atos 9.3 ss.) e a de Estevão (Atos 7.55, 56).

5. O anjo do Senhor é a teofania mais comum. Ver Êxo. 23.20- 23; 32.34; 33.14 ss.; Isa. 63.9. O anjo de Gên. 48.15 ss. é paralelo a ver a Deus, embora não a sua essência. Abraão recebeu visitantes angélicos, como descrito em Gên. 18. Ver o anjo do Senhor, na mentalidade judaica, era o mesmo que ver o Senhor aue o enviou (“... vi o Anjo do Senhor face a face"), Juí. 6.22; “... Vi a Deus face a face e a minha vida foi salva” (Gên. 32.30), disse Jacó depois de ter lutado com “um homem” (vs. 24), onde obviamente um anjo está em vista. Ver também a visita do anjo do Senhor com Manoá, o pai de Sansão, Juí. 13.

6. A Shekmah (a habitação divina), ou Presença, especialmente no lugar mais sagrado. Ver o artigo separado sobre o assunto.

7. A Teofania, Prova de Teísmo. Essa doutrina ensina aue o Criador não abandonou a criação, mas está presente para mten/ir nas atividades humanas, recompensando e punindo, orientardo e cuidando. Ver o artigo sobre Teísmo neste Dicionário e na Encidcpé- dia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Contraste esse ensinamento con o deísmo (também no Dicionário) que ensina que o Criador, ou Forca Criativa (pessoal ou impessoal) abandonou a criação aos cjicados da lei natural.

‘Teofania, manifestação íntima de Deus a um ser humano em um momento e local definido; muitas vezes físico como na Ilíada e nc livro de Gênesis, mas mais espiritual na forma clássica posterior como para Moisés no arbusto em chamas, Moisés no Sinai, Elias em Horebe, e Jesus, em sua transfiguração. A teofania é mais espetacular e Dessoal do que a mera revelação" (Fern, Enciclopédia de Religião|

TEOLOGIA BÍBLICAEsboço:I. Sentidos da ExpressãoII. Observações e Críticas Sobre Essas IdéiasIII. Principais Temas da Teologia BíblicaIV. Noções da História da Teologia BíblicaI. Sentidos da ExpressãoA expressão teologia bíblica é usada de várias maneiras, a

saber:1. Uma atividade cuja finalidade é esclarecer os temas e as

idéias da Bíblia, sem os pressupostos que inevitavelmente dão um certo colorido às interpretações particulares. Em outras palavras, trata-se da tentativa de determinar o que a Bíblia realmente ensina, mesmo que os resultados sejam embaraçosos para o estudioso e sua denominação. Essa atividade, na verdade, embaraça todas as denominações, cuja própria existência depende da distorção de cer­tos ensinos da Bíblia.

2. A tentativa para articular a significação teológica da Bíblia como um todo. Isso é uma tarefa quase impossível, porque a Bíblia não é um livro homogêneo, conforme as pessoas gostam de acredi­tar. Não obstante, a tentativa resulta em pontos positivos, a despeito de seu inevitável fracasso.

3. A tentativa de construir um completo sistema teológico, medi­ante o uso da Bíblia como única fonte informativa. Isso tem sido tentado por muitos evangélicos fundamentalistas e conservadores. Também foi tentado por Karl Barth e sua neo-ortodoxia, ou pelos grupos protestantes que aprovam a rejeição das tradições eclesiásti­cas, dos pais da Igreja e dos concílios, como autoridade, conforme fez Lutero.

4. O pressuposto é que todos os autores da Bíblia concordam em seus pontos de vista fundamentais, e juntamente com exposições de idéias pretendem descobrir exatamente quais eram os pontos de vista daqueles autores sagrados.

II. Observações e Críticas Sobre Essas Idéias1. A primeira dessas atividades é tão nobre como qualquer outra

que poderia ser efetuada. Todas as denominações cristãs, sem im­portar quão bíblicas elas se suponham, descobrem ser necessário distorcer e dogmatizar certas porções das Escrituras, a fim de fazerem seus sistemas alicerçarem-se exclusivamente sobre a Bíblia. Mas fa­zem isso ajustando as Escrituras às suas crenças, e não ajustando suas crenças às Escrituras.

2. ADesar de ser impossível fazer a Bíblia tornar-se uma obra totalmente homogênea, dotada de uma única mensagem central, a tentativa é útil, pois procura determinar a mensagem ou as mensa­gens comumcadas pelas Sagradas Escrituras. Isso confere-nos uma melhor compreensão sobre a tradição geral hebraico-cristã, bem como sobre o 'ipo de fé ali ensinada.

3 As Escrituras como única regra de fé. O amigo leitor terá de desculpar-me quanto a esse ponto, pois vejo problemas sérios nessa regra artificial, apesar do fato de haver sido criado como crente batista e de tei sido ensinado a respeitar a noção. Porém, essa regra pode ser crhcada quanto a diversos particulares, enumerados abaixo:

a. írata-se de um dogma, e não de um ensino co\tido na própria Bíblia Em parte alguma as Escrituras declaram que elas devem ser a única reara de fé e prática. De fato, não há na Bíblia cuaiquer declara­ção baseada no conhecimento do cânon terminado. Nenhum dos auto­res sagrados sabia quando o cânon sagrado estaria terminado. Não foi senão já no século IV D.C., que o cânon do Novo Testamento ficou fixado, no parecer da maioria dos cristãos; mesmo depois, o'to livros continuaram sendo disputados em vários segmentos da Igreja. Portan­to, tomar o que agora se considera ser a coletânea das Escrituras, e afirmar que somente esses livros nos podem servir de regra, necessa­riamente é um dogma posterior. Esse dogma reveste-se de certa utili­dade, porquanto nos infunde um profundo respeito pelas Escrituras. E, de fato, devemos respeitar ao máximo os oráculos de Deus. Porém, o ar de finalidade que está envolvido nesse dogma é uma idéia humana, e não uma verdade divina revelada.

b. Na prática, a aplicação dessa regra transmuta-se nisto: Como eu e a minha denominação interpretamos as Escrituras. Lutero tem sido altamente elogiado por defender fortemente a idéia das «Escritu­ras, somente». No entanto, ele ensinava a regeneração batismal, a consubstanciação (ver o artigo), e traçou o plano geral do luteranismo (ver o artigo), que as demais denominações evangélicas insistem não se harmonizar com a regra das Escrituras, somente. Poderíamos multiplicar exemplos de como essa regra reduz-se a alguma interpre­tação particular das Escrituras. Os grupos de restauração e os gru­pos pentecostais afirmam estar fazendo a Igreja retornar ao seu primitivo estado, mediante a observância cuidadosa de todos os pre­ceitos ou mediante a restauração dos dons espirituais. E, no entanto, conseguem ignorar completamente a unidade espiritual da Igreja, que congraça todos os verdadeiros regenerados, mostrando-se ex­tremamente sectaristas, ou mantendo certos ensinamentos práticos, como aquele que ordena que as mulheres se mantenham caladas na igreja. Também têm igrejas dirigidas por um único ministro, que os grupos dos Irmãos estão certos em não corresponder ao ministério diversificado das igrejas primitivas. Os batistas sentem-se conforta­dos ante a idéia de que eles são os melhores representantes atuais da Igreja primitiva, mas rejeitam os dons espirituais alicerçados sobre o dogma erroneamente derivado de I Coríntios 13:1-13, que ensina como a «parousia» ou segunda vinda do Senhor obviará os dons espirituais. Mas os batistas interpretam que o término do cânon das Escrituras pôs fim ao exercício dos dons espirituais, embora tal inter­pretação seja inteiramente estranha ao texto sagrado, não podendo suster-se de pé diante do exame mais superficial. Além disso, certos grupos batistas mostram-se radicais quanto à doutrina da predestinação

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(que é uma doutrina bíblica), mas fazem-nc de rrodo a ignorar certos textos como I Timóteo 2:4, os quais aludem a uma oportuni­dade universal e ac amor veraadeiramente universal de Deus. Em contraposição, há grupos evangélicos que enfatizam de tal modo a doutrina do livre-arbitrio que precisam torcer textos bíblicos como o nono capítulc de Romanos, que ensina o controle do livre-arbítrio humano pela vontade soberana de Deus. Muitas pessoas nãc con­seguem perceber que certas doutrinas terminam em paradoxos, e que a harmonização entre todas elas é simplesmente impossível, tanto por causa de nossa limitada compreensão como pelo fato de que Deus reservou oara si mesmo certos informes que nos foram negados.

A doutnna da salvação de criancas que ainda não a tingiram a idade da responsabilidade moral nãc se baseia nas Escrituras, mas na razão Na veraade, essa é uma doutrina importante, com implica- çocs extensas. Porém, não é uma doutrina ens nada na Bíblia, e nem corresponae a verdade, até onde eu pcsso ver as coisas. Penso que as noções da pré-existência das almas e a ccntinuação da oportuni­dade de salvação além do sepulcro (I Ped. 4:6), nos dão respostas melnores. aotadas de base bíblica, ao passo que aquela é puramen­te racional e emotiva.

Ainda temos que considerar que a igreja Catóiica Romana, a Igreja Ortodoxa e os argbcancs estão certos da veracidade da doutri­na da sucessão apostolica (ver o artigo), a qual está razoavelmente alicerçada sobre textos como João 20:23, e a mensagem geral das epístolas pastorais, cue ensinam a transmissão de autoridade atra­vés da ordenação de anciãos ou bispos. No entantc há outros gru­pos cristãos igualmente certos de que existem cutras maneiras de transmissão da autoridade espiritual.

Após examinarmos cada denominação cnstá. chegamos à con­clusão oe que há em cada caso uma mescla particular de conceitos bíblicos e humanos cnde a Bíblia nem semore é o fator decisivo, e nem mosmo o Novo Testamento. Na prática, d o is . a regra d e «as Escrituras, somente» reduz-se a uma seleção de trecnos bíblicos e à interpretação oos mesmos.

c. C prob:ema oa howcgeneuade. A regra aas «Escrituras, so­mente« pressupõe, erroneamente, que as próprias Escrituras são homogêneas. Mas, é evidente que o Antigo e o Novo Testamentos nãc pedem ser considerados como uma unidade, para então iornarem-se a base da fé e da prática . Não mais oíerecemcs ani­mais em sacrifício; não temos mais sacerdotes levitas, etc. O Novo Testamento nos leva além do Antigo. Além disso, é obvio que o próprio Nove Testamento não é tão homogêrec como as denomina­ções evangelicas nos querem fazer acreditar. Assim, podemos en­contrar versículos que quase certamente ensinam a regeneração batismal—como Atos 2:38—embora também possamos descobrir, na Epistola acs Romanos, que Paulo não acreditava nisso, pois em suas iongas passagens que abordam a justificação oela fé, ele ignora totalmente o papel do batismo em água. Pcdersamos especular que algum dos apóstolos cria na necessidade do oatismo para a salvação (vinculando o batismo a circuncisão judaica, segunde se vê em Atos 15 e Col. 2:12,13). Além disso, transparece no Novo Testamento c paradoxal ensino oo livre-arbítrio humano e do determinismo divino, e não aoenas em interpretações dos séculos posteriores. Uma pes­soa pode defender um lado ou outro dessa questão bilateral, ofere­cendo diferentes textos de prova. Nos evangelhos, a salvação apare­ce como simples questão do perdão dos pecados e da transferência para o céu. Porém, nos escritos de Paulo, transparece a idéia da transform ação dos rem idos segundo a imagem de Cristo, conferindo-lhes a própria natureza divina, conforme a mesna se ma­nifesta no Filho, como a essência mesma da salvação (Rom. 8:29; II Ccr. 3 :18-II Peo 1:4).

O Julgamento também não é apresentado como doutrina sem diversas facetas — p o Novo Testamento. Há realmente aquela posi­ção, assumida pelos pa's latinos da Igreja, pela Igreja de Roma e pelos grupos protestantes que se derivam do cristianismo ocidental, de

que a morte física é o fim da oportunidade da salvação, conforme o texto de Hebreus 9:27 é usado como texto de prova. No entanto, Pedro alude à descida de Cristo ao hades (I Ped. 3:18—4:6), o que garante a oportunidade renovada além do sepulcro (II Ped. 4.6). Esse sempre foi o ponto de vista dos pais gregos da lgre,a, seguidos por muitas igrejas cristãs orientais, e peles anglicanos, como uma denominação evangélica ocidental. Ambas as posições aparecem no Novo Testamento, e ambas as posições são representadas por mo­dernas denominações cristãs. Precisamos selecionar aquilo que é melhor, do ponto de vista racional e intuitivo. Meus amigos, precisa­mos escolher, e não somente em relação a essa doutrina, mas acer­ca de muitas outras, pois o Novo Testamento não é um documento tão homogêneo como temos sido ensinados a aceitar. Seguir a ver­dade é muito mais uma aventura do que seguir o roteiro traçado em um mapa. Os mistérios referidos por Paulo levam-nos a regiões não exploradas por outros apóstolos; do contrário, nem seriam mistérios. Portanto, existem níveis diversos de verdade, expressos nas páginas do Novo Testamento, e não apenas quando o Antigo Testamento é comparado com o Novo.

O ensino paulino sobre o destino final do homem, a restauração refenda em Éfés.os 1:10, não é doutrina antecipada pelos outros autores sagrados, e nem é ensino muito popular em muitos segmen­tes da :greja. No entanto, é uma preciosa e profunda verdade, que dá ma:or otimismo à fé cristã. Além disso, alicerça-se sobre uma inter­pretação verdadeiramente universal do amor de Deus, um amor es­corado na onipotência divina. Há quem conceba um amor de Deus que não se escuoa em Seu poder mas isso não ê o verdadeiro amor de Deus. Como é que Deus poderia amar o mundo (João 3:16), sem que isso fizesse uma diferença universal, em favor do mundo, atra­vés da missão de seu Filho, que foi o poder que trouxe o amor de Deus a todos os homens? Não me sinto satisfeito diante de amor meramente tecrico, que não consegue cumprir o intento de Deus e faz do evangelho um fracasso. É impossível que a missão de Cristo tivesse lalhado. embora seu sucesso seja alcançadc em diferentes gradações, no casc de diferentes pessoas. Suspeito do evangelho que resulta em fiasco, que não beneficia, de alguma maneira, a todos os homens. Sem dúvida há mais verdade do que isso, mais poder, mais ação e mais resultados. Suspeito de um evangelho que afirma querer atingir todos os homens, mas que, em face de razões huma­nas, não consegue fazê-lo. Suspeito de um evangelho que tenciona atingir apenas alguns poucos quando as próprias Escrituras decla­ram que o amor divino é universal, e que a intenção do Senhor é salvar a todos. Suspeito de um evangelho que se mostra apressado, que precisa salvar todos os homens oentro do estreito limite de suas vidas terrenas, algo claramente impossível, no caso da vasta maioria dos homens. Suspeito de um evangelho que, desde o começo, está baseado em uma impossibilidade. Suspeito de um Deus (segundo a concepção de alguns) que, embora se declare grande, na verdade é tão limitado que seu Filho não consegue realizar a missão que lhe foi dada a cumprir. Antes, concebo um Deus cujo propósito é universal e cujo poder é suficiente para cumprir todo o seu propósito, através de seu Filho. E, se eu tiver de escolher entre textos de prova, a fim oe chegar a esse tipo de Deus, de Filho de amor divino e de evangelho, isso será exatamente o que farei.

d. Seleção de textos de prova. Meus amigos, ninguém pode acla­rar toda a verdade examinando alguns textos de prova. Em primeiro lugar, alguma outra pessoa religiosa interpretará os mesmos textos de prova de maneira diferente. Em segundo lugar, os textos de prova escolhidos podem não ser a única informação disponível, sobre o assunto que se procura explicar. Em terceiro lugar, ouso dize-lo, os textos de prova podem não ter mais aplicação. Por exemplo, os mandamentos acerca da guarda do sábado, que tinham aplicação a Israel, mas não tem mais aplicação em nossos dias da graça. Ou então Hebreus 9:27, que fala até o juízo, e que é ultrapassado em alcance por I Pedro 4:6, que fala até a restauração de todas as coisas. Idéias de um inferno eterno, sem mitigação, foram ultrapassa-

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das por Efésios 1:10. E assim, na medida em que vamos entendendo a verdade, vamos crescendo no nosso entendimento, pois a verdade jamais é uma entidade fixa. Na verdade, a verdade é uma aventura contínua. No presente, somos possuidores de bem pouca verdade, embora alguns itens da mesma, que o Senhor já nos revelou, sejam extremamente importantes para nossa vida e bem-estar espirituais.

e. Muitas autoridades. Finalmente, preciso declarar a verdade sobre essa questão, ressaltando a necessidade da existência de muitas fontes de verdade. É impossível que toda a verdade de Deus esteja contida em um único livro ou coletânea de livros. Na verdade, não honramos Deus quando declaramos que isso tem de ser assim, pois nem mesmo as Escrituras fazem tal afirmação. Com declarações assim, limitamos drasticamente a Palavra de Deus, pois essa Palavra é multifacetada. A Palavra é a totalidade da comuni­cação divina, sem importar como ele a tenha comunicado. A comunicação através da Bíblia é apenas uma dessas facetas. A Bíblia nos foi dada como padrão de aferição de nossas idéias reli­giosas. Mas a Palavra de Deus é maior que a Palavra escrita. O Mensageiro enviado a Daniel revelou a ele: «...eu te declararei o que está expresso na escritura da verdade...» (Dan. 10:21). E diz o Salmista: «Para sempre, ó Senhor, está firmada a tua palavra no céu» (Sal. 119:89). Mas, o que chegou até nosso conhecimento, foi aquilo que Deus nos quis revelar. A Palavra de Deus e mais vasta e profunda do que a Palavra escrita, e a Palavra escrita envolve muito mais do que qualquer interpretação pessoal da mesma, sen­do essa a base das denominações cristãs.

f. Coisa alguma do que dissemos acima deve s e r interpretada como tentativa de diminuir a importância das Escrituras como autori­dade espiritual. Realmente, quando mostramos que a B'b!ia é maior que qualquer interpretação denominacional, quardo mostramos que ele nos convida a um desenvolvimento espiritual aue nos ievará a ir redescobrindo a verdade em níveis cada vez mais elevados, quando mostramos que ela infunde em nossos espíritos uma atitude de oti­mismo, em face do amor de Deus e de seu plano benfazejo para com toda a humanidade, estamos apenas exaltando as Escrituras. Isso honra mais a Bíblia do que se lhe atribuirmos ofícios que ela não tem, ou do que se limitarmos o seu escopo. Portantc nodemos en­cerrar este ponto dizendo que se as Escrituras nãc são a autoridade exclusiva (ver o artigo sobre a questão da autcidade) elas ocupam posição central e precisam ser ouvidas, porquanto diz o Senhor: «À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva» (Isa. 8:20).

4. Está equivocado o pressuposto de que toaos os autores bíbli­cos promoveram uma só linha teológica. Tal como no caso dos profe­tas, cada apóstolo explorou a verdade segundo lhe foi dada pelo Senhor, «...o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada» (II Ped. 3:15). Não obstante, o exame dessas diversas linhas é uma nobre atividade, porquanto devemos perscrutar a Bíblia como um todo, a fim de tomarmos consciência das noções fundamentais que ela nos transmite E, se encontrarmos alguma discrepância entre os autores sagrados, isso não nos deveria assustar. A discrepância talvez se deva somente à nossa limitada compreensão. Os autores sagrados não deixaram escrito tudo quan­to sabiam. Seus escritos são apenas representativos. Paulo testifica isso ao escrever: «...sei que o tal homem, se no corpo ou fora do corpo, não sei, Deus o sabe, foi arrebatado ao paraíso e ouviu pala­vras inefáveis as quais não é licito ao homem referir» (II Cor. 12:3,4). Conforme foi surgindo a necessidade, os escritores sagrados aborda­ram várias questões. Por assim dizer, eles nos forneceram as peças incompletas de um quebra-cabeça; e agora, a tarefa da teologia bíblica é procurar ordená-las em seus devidos lugares. Contudo, cumpre-nos fazer isto cônscios da existência de hiatos, de espaços em branco, não esclarecidos na Bíblia. O sistema de doutrinas ali revelado não é completo, mas é suficiente para guiar a alma no Caminho de volta a Deus! A fé não depende da homogeneidade, e nem de uma revelação que tampe todas as brechas. O anúncio

divino, embora incompleto, pode resolver todos os problemas desta vida e da vindoura. Um anúncio completo, que só será recebido do outro lado da existência, haverá de outorgar-nos uma visão ainda mais satisfatória. «Porque agora vemos como em espelho, obscuramente, então veremos face a face; agora conheço em parte, então conhecerei como também sou conhecido» (I Cor. 13:12).

III. Principais Temas da Teologia BíblicaA despeito de hiatos e ponto obscuros, há um corpo de ensinos

que podemos extrair da Bíblia, e que, necessariamente, toma-se a base de qualquer teologia cristã. Isso não quer dizer que a teologia não possa investigar outros frutíferos campos de pensamento, pois a verdade divina, não estando limitada a qualquer livro ou coletânea de livros, dificilmente pode ser inteiramente determinada através do ape­lo exclusivo às Escrituras. Estas servem de padrão aquilatador, mas não encerram toda a verdade de Deus. Nem por isso pretendemos diminuir a importância do grande tesouro de verdade que nos foi proporcionado através das Sagradas Escrituras. Não degrado a ver­dade que posso encontrar em um lugar, somente porque também posso encontrá-la em um outro lugar.

a. O conceito teísta. Temos de começar por esse ponto. As Escri­turas descrevem um Deus que não somente criou, mas que também se conserva imanente em sua criação, que interessa-se por questões morais, que recompensa o direito e castiga o errado, que guia, e que pode ser buscado e achado. Essa é a posição do teísmo (ver o artigo), ao invés do deísmo. Este último (ver o artigo) ensina que Deus, ou alguma espécie de força cósmica, criou as coisas, mas em seguida abandonou a sua criação, permitindo que a mesma ficasse ao sabor das leis naturais. O deísmo divorcia Deus de sua criação. As Escrituras, tanto no Antigo quanto no Novo Testamentos, são decisivamente teístas. Deus cuida até dos pardais, quanto mais do homem que criou! Deus é um fator que precisa ser levado em conta todos os dias. A cada vez em que lemos nas Escrituras: «Assim diz o Senhor», podemos ver nisso um Deus teístico. A cada vez em que um profeta procura comunicar uma mensagem divina, temos de con­ceber Deus segundo moldes teístas. Quando o Filho veio para repre­sentar o Pai, encontramos nele as atividades do Deus do teísmo.

b. Deus como fonte e alvo de toda a vida física e espiritual. Deus criou os mundos (Gên. 1 e 2). E também confere a vida espiritual (João 1:12, 5:25, 26). Ele é a origem de toda a vida e de todo ser vivo, e também é o alvo de tudo quanto vive e existe (I Cor. 8:6). Nessa conexão, o que é dito acerca do Pai é dito também acerca do Filho (Col. 1:16 ss.). Os títulos de Jesus, «O Alfa e o Ômega», visam ensinar a mesma verdade.

c. Deus tem muitos e exaltados atributos de poder, de conheci­mento e de bondade. Ver o artigo separado sobre os Atributos de Deus. Ver também o artigo sobre Deus. Entre esses atributos desta­camos a personalidade de Deus. Deus não é alguma força cósmica, um absoluto abstrato. Todos os antropomorfismos ensinam-nos essa verdade (ver Gên. 1; Isa. 55:9; Êxo. 20:7), ainda que de maneira imperfeita. Por igual modo, não nos devemos olvidar da natureza espiritual e moral de Deus (ver Gên. 3:26; João 4:24). Deus dá atenção ao pecado e a seus resultados (Rom. 3).

d. O homem é um ser decaído, necessitado de redenção. Esse é um constante tema bíblico, a começar no terceiro capítulo de Gênesis. A redenção do homem está no Filho de Deus (Rom. 8:29), através do poder atuante do Espírito Santo (II Cor. 3:18). O resultado final da redenção será a participação dos remidos na natureza divina, de forma real e metafísica, e não apenas como um conceito moral (II Ped. 1:4).

e. Em seu relacionamento com os homens, Deus age através de pactos. Ver o artigo sobre os pactos.

f. Nas Escrituras há uma filosofia da história. Ver o artigo sobre Historiografia Bíblica. Deus vem ao encontro do homem, na história, como um ser caído. Mas haverá de tirar os remidos de dentro da história, quando estes atingirem a plena potencialidade de sua vida espiritual, e então terá início o aspecto transcendental da história

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5360 TEOLOGIA BÍBLICA

humana. Deus guia essa história de tal modo que ela não fica entre­gue aos caonchos do acaso, pois a história é linear, isto é a suces­são de eventos tem um ccmeço e dirige-se a um fim pré-de‘erminado. Contrariamente às idéias de Toynbee, um grande filósofo da história de nossa época, a história não consiste em ciclos repetitivos pois, embora certas tendências se reiterem na história da humanidade, esta caminha em uma direção, e seu alvo transcende a mera expres­são terrena física.

g. As circunstâncias históricas são dirigidas pelas operações de Deus. Há importantes eventos e palcos históricos na Bíblia e em sua teologia A nossa fé religiosa não está ah:erçada sobre meros símhoios e metáforas, desacompanhada de condições históricas. A vida e os milagres de Jesus foram acontecimentos históricos. Hou­ve um túmulc vazio, e também uma ressurreição literal. »Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apaipai-me e verificai, pnrque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho» (Luc. 24:39). A crucificação reveste-se de grande importância teológica.

h. Há uma tradição profética Isso tanto no sentido dos ensinos ministrados pelos profetas, como no sentido de que eles predisseram o futuro. 0 labor e a mensagem dos profetas ocupam !uga- central na teologia bíblica. 0 elemento preditivo acerca dos últimos dias nos fornece a base da escatologia (ver c artigo). Esse asoecto da revela­ção é uma realidade.

i. Portanto, na teologia bíblica, o principa1 me'o ae conhecimento é a revelação, que é uma forma de misticismo. Ver sobre revelação e sobre misticismo.

j. A unidade das Escrituras. Apesar das disrrepâncias que talvez existam e a despeite do fato óbvio de que a expesição bíblica da verdade seja gradual, em que certas fases vão-se tornando obsole­tas e outras vão entrando em vigor, toda e aualauer teologia bíblica repousa schre o conce'to da unidade básica e do propósito central das Escrituras. Ver o artigo sobre a Bíblia, em seu quarto ponto, intitulado A Unidade da Coletânea. Os itens doutrinários ac'ma ex­postos ilustram a unidade essencial das Escrituras, em meio à diver­sidade. Assim, o Antigo e o Novo Testamentos refletem diferentes (ou mesmo mui‘os) estágios do desenvolvimento da fé e da cultura dos hebreus. É verdade que no período helenista essa cultura, e por conseguinte, essas idéias, mesclaram-se com a cultura grega. Mas isso serviu somente para enriquecer a teologia dos hebreus, pelo menos em certos aspectos. Com base em nosso pressuposto teísta (primeiro ponto), cremos que o desenvolvimento do Antigo e do Novo Testamentos, bem como us livros que compõem os mesmos, foram divinamente determinados e controlados. Esses livros não resultaram apenas das ideias digeridas por hebreus ou cristãos, nem são meras seleções com base no raciocínio e na preferência des homens.

I. A inspiração da fíibiia é um ponto fundamental dentro da teologia bíblica. 0 cieníe tem fe nessa verdade. «Toda Escritura é inspirada Dor Deus. .» (II Tím. 3 6). Ver o artigo sobre esse as­sunto. Se a Bíblia não *csse produzida pelo sopro de Deus, não haveríamos de sentir o impulso de edificar um sistema teológico com base nas Escrituras

m. Cristo é o centro da revelação bíblica. Antes de tudo. dentro da esperança messiânica do Antigo Testamento, a qual recebeu concretização quando do primeiro advento no Novo Testamento, e terá plena fruição quande da segunda vinda Ge Cristo, para inaugurar o remo milenar do Messias. À essa esperança é então conferido um elevadíssimo aspecto, na glorificação dos remidos, quando estes vie­rem a participar da natureza mesma de Crista |Rom. 8:29). Portanto, a salvação é assim definida como uma filiação.

IV. Noções da História da Teologia Bíblica1. Os hebreus sempre levaram muito a seno as suas Escrituras,

como a Palavra revelada de Deus. Portanto, a teologia deles era uma teologia bíblica. Naturalmente, entre eles havia divergências. Alguém já disse, em tom de brincadeira, que se cinco judeus estiverem em uma sala, eles emitirão cinco opiniões diversas sobre qualquer as­

sunto. Na verdade, os judeus gostam de discutir e debater. Os saduceus aceitavam somente o Pentateuco como autoritário. Em outro extremo, os judeus da dispersão aceitavam até os livros apócrifos. Por isso, havia vários cânones, e o termo Escrituras podia significar diferentes coisas, para diferentes grupos e indivíduos. Porém, as Escrituras, em uma forma ou outra, sempre eram autoritárias, servindo de base da teologia |udaica. Naturalmente, os intérpretes cabalistas (ver sobre a Cabala) sentiam-se em liberdade para interpretar os textos bíblicos de modo simbólico e místico, e nem todas as suas doutrinas eram DÍhUca- mente alicerçadas. De modo geral, entretanto, os judeus sempre tive­ram uma teologia bíblica.

2. Os cristãos primitivos deram prosseguimento à atitude judaica. Continuavam considerando o Antigo Testamento como autoritário, pa­ralelamente aos livros do Novo Testamento, que eles também reputa­vam como "Escritura», como porções integrantes da Bíblia auioritána.E, embora certas idéias gregas viessem contribuir para o pensamento neotestamentário. houve a continuação da tendência essencial veterotestamentária. As revelações dadas a Paulo enriqueceram extra­ordinariamente a teologia, a qual tornou-se a base sobre a qual outras Escrituras foram escritas. Os grupos heréticos, como os gnósucos que chegaram a penetrar nas fileiras cristãs, estavam muito menos alicerçados sobre as Escrituras Sagradas. Antes de tudo, porque rejeita­vam a totaiidade dc Antigo Testamento e certas oerções do Novo; e, em segundo lugar, porque o seu sistema teológico era jm a mescla de noções das religiões orientais e ce conceitos filosóficos e mitológicos dos gregos

3. A Igreja cristã foi-se afastando gradualmente da Bíblia, à medida em que o dogmatismo foi-se desenvolvendo. Noções extrabíblicas, como a regeneração batismal, a veneração a Maria e aos "santos» e as decisões de concílios, consideradas autoritárias, foram diluindo a firmeza enstã em torno das Escrituras. Esses desenvolvimentos permi­tiram a emergência da Igreja Católica (que posteriormente aividiu-se em Igreja Católica Romana e Igreja Ortodoxa Grega), já tão diferente da primitiva Igreja cristã. 0 bispo de Roma, que antes era apenas um bispo entre outros. foi adquirindo autoridade cada vez maior, porquanto ocupava posição na capital do império, e passou a ser reputado superi­or aos demais bispos. E disso desenvolveu-se o papado. Paralela­mente a isso, os ministros do evangelho transformaram-se gradual­mente em sacerdotes, um clero profissional, que supostamente herda­ra a autoridade dos apóstolos, ao mesmo tempo em que o papa tornava-se o vicário ou substituto de Cristo. A história do dogma de­monstra que a medida em que o dogma adquiria mais e mais importân­cia. as Escrituras iam sendo abandonadas como autoritárias

4. As Igrejas Ortodoxas do Oriente (ver o artigo), uma espécie de confederação frouxa das divisões nãc-ocidentais da cristandade, tornou-se uma entidade distinta do Ocidente, quando da divisão do império romano, em 395 D.C. Na segunda metade do século IX D.C., missionários das igre|as ocidental e onental competiam em diversas regiões do mundo. No século XV houve um rompimento formal eníre os segmentos ocidental e oriental do catolicismo, devido a razões doutrinárias e liturgicas, e a Igreja Católica Romana adquiriu uma feição mais parecida com a que conhecemos atualmente. As igrejas Ortcdoxas também aceitam como sua autoridade um misto da Bíblia, dos escritos dos chamados pais da Igreja e das decisões conciliares. Por causa disso, são menos biblicamente baseadas, do que a Igreja cristã do primeiro seculo de nossa era.

5. A Reforma teve lugar em uma época de revolta contra tradi­ções humanas, concílios eclesiásticos, dogmas e intole-ância papal. Melancthor Calvino e Lutero estavam fortemente baseados nas Es­crituras. embora não de maneira perfeita. Lutero atacou a autoridade das tradições, dos pais da Igreja, do método escolástico de manuse­ar a fé religiosa, do predomínio dos modos aristotélicos de pensa­mento que essa atividade incorporava, tendo ficado escandalizado diante da exploração da crendice popular com as indulgências e com o apoio dado ao nefando negócio pela autoridade máxima do catoli­cismo romano Isso posto, ele declarou o princípio das «Escrituras,

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TEOLOGIA BÍBLICA — TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO 5361

somente», como única fonte autorizada de instruções religiosas para os cristãos. E a maioria dos grupos protestantes e evangélicos preser­va essa regra em suas declarações de fé.

6. A crítica da Bíblia surgiu nos séculos XVIII e XIX. Incluía esfor­ços para afastar os grupos protestantes e evangélicos da idéia de que a Bíblia é a única e perfeita autoridade. Ver o artigo sobre a Crítica da Bíblia, que ilustra esse desenvolvimento histórico.

7. Um escolasticismo protestante terminou surgindo em cena. Isso produziu credos e confissões que usam a Bíblia como mina de infor­mes que apóiam idéias, embora nem todas essas idéias e confissões estejam realmente fundamentadas nas Escrituras. As denominações desenvolvem suas próprias interpretações, nem sempre baseadas na Bíblia, algumas delas com base nos elementos heterogêneos do Novo Testamento, e outras baseadas em interpretações evidentemente distorcidas.

8. O movimento pietista do século XVIII foi uma tentativa para fazer a teologia retornar à simplicidade bíblica. C. Haymann, em 1708, pro­duziu uma teologia bíblica, que foi a primeira a usar como título a expressão, até onde temos conhecimento. Em 1758, A.F. Busching, seguindo o exemplo dado por Haymann, publicou sua obra, intitulada Advantage of Biblical Theology Over Scholasticism. Nas escolas e se­minários, houve esforços para a produção de uma teologia bíblica, em contraste com a teologia sistemática, porquanto esta última, na época aparecia misturada com idéias e modos de interpretações contrários à Bíblia. Na teologia, elementos literários e históricos foram-se tomando gradativamente mais importantes. O século XIX viu a produção de certo número de obras que ressaltava a teologia bíblica. G. L. Bauer publicou quatro volumes de teologia bíblica, em 1800-1802. W.M.L. de Wette publicou uma obra similar e bem maior, entre 1813 e 1816. Ali ele identificou vários períodos históricos que influenciaram a natureza e o conteúdo da teologia, como a religião de Moisés e a religião dos judeus, no Antigo Testamento, e, no Novo Testamento, os ensinos de Jesus, seguidos pela interpretação e ampliação daqueles ensinos por parte dos apóstolos e discípulos posteriores.

9. A alta crítica, entrementes, nos séculos XIX-XX, afetava o con­teúdo da teologia bíblica. Os especialistas na alta critica não apenas estudavam questões como autoria, proveniência, uniaaae, integridade, etc., dos livros da Bíblia, mas também impuseram aos estudos bíblicoso que ali queriam ver. Além disso, um certo espírito dc ceticismo, que caracterizava alguns deles, levou-os a pensar que Jesus não pode ter feito aquilo que lhe é atribuído nos evangelhos, nem pode ter sido a pessoa que Paulo diz que ele era. Em conse-qüência, esses críticos atiraram-se ao esforço erudito de descobrir o que, realmente, teria sucedido, e quem, na realidade, era Jesus. Tais atividades afastaram-nos muito da teologia bíblica. Quanto a descrições mais detalhadas dessa forma de atividade, ver o artigo sobre a Crítica da Bíblia.

10. O liberalismo dos séculos XIX e XX rejeita a teologia bíblica como uma disciplina legítima e exclusiva, preferindo substituí-la pela «história religiosa de Israel e da Igreja», ou então pela religião dos hebreus e dos primitivos cristãos, ou mesmo pelas idéias religiosas da Bíblia. Trata-se de uma avaliação humana daquilo que a Bíblia diz, sem qualquer tentativa para fazer a teologia ser influenciada pelas Escrituras, como a única e grande autoridade que governa todo o pensamento cristão. Uma idéia básica é que a religião da Bíblia não é única e ímpar, mas representa apenas um movimento entre muitos. Esse movimento merece o nosso respeito. A Bíblia conteria a verdade, mas não seria o próprio padrão da verdade. O estudo bíblico autêntico requer sua comparação e avaliação com outros sistemas religiosos. A religião da Bíblia existe porque muitos fatores a produziram, não sendo uma revelação que caiu do céu em um vácuo. Portanto, entre os liberais, a Biblia passou a ser vista como um livro que contém algo da Palavra de Deus, não devendo ser confundida com a própria Palavra de Deus. Os pontos de vista liberais variam desde a posição radicalmente cética, que nega total­mente a revelação e qualquer elemento miraculoso, até uma posição quase conservadora.

11. A reação da neo-ortodoxia. Karl Barth (1886) preserva al­guns aspectos e resultados das atividades da alta crítica e do libera­lismo, embora tivesse encabeçado uma espécie de movimento de volta à Bíblia, procurando alicerçar quadradamente a sua teologia sobre a Bíblia. Sua teologia é uma reação ao liberalismo. De fato, seu comentário sobre a Epístola aos Romanos é uma espécie de manifesto contra a teologia liberal. Ele percebia que a teologia liberal faz emudecer Paulo, incluindo seus grandes temas da prioridade da graça de Deus, de sua soberania e da natureza escatológica do Novo Testamento. Os liberais falavam de um Jesus meramente hu­mano (com exclusão de sua natureza divina). Apesar dessa exposi­ção fomentar a causa do liberalismo, não se enquadra, em muitas coisas, com o Jesus dos evangelhos, cujo intuito declarado foi o de estabelecer o reino de Deus na terra em sua própria época, e que fez reivindicações pessoais fantásticas de autoridade e poder. Mas, se Barth representa um retorno à teologia bíblica, ele não chegou ao nível da teologia fundamentalista (vide). Quanto a detalhes, ver o artigo sobre Karl Barth.

12. Movimento conservador sofisticado do século XX. A reação dos evangélicos conservadores contra certos resultados da alta crítica e contra o liberalismo também é um esforço para retornar à Bíblia como base da teologia. Essa atividade foi fortalecida por uma qualidade apri­morada da erudição dos mestres conservadores. Antes disso, os eru­ditos liberais eram, por assim dizer, os únicos que faziam estudos eruditos e respeitáveis. As igrejas de tendências liberais começaram a perder membros, e um número cada vez menor de jovens interessava-se por freqüentar os seminários liberais. Entrementes, au­mentou extraordinariamente o número de alunos matriculados nas es­colas e seminários conservadores, e movimentos missionários multiplicaram-se. Todo esse movimento alicerçava-se sobre a teolo­gia bíblica. As pessoas estavam cansadas diante de uma série de probabilidades e de intermináveis alternativas na teologia, anelando pelo reavivamento da alma da fé religiosa.

Alguns acusaram o liberalismo de ter morto a alma da fé, embora retendo o cadáver. A consternação de Karl Barth, devido ao fracasso do cristianismo no campo social, e o papel ridiculamente pequeno das igrejas evangélicas durante a Primeira Grande Guerra (1914-1918) era compartilhada por muitos, mesmo quando não o acompanhavam em todos os seus pontos de vista teológicos. A declaração de Stephen Neill: «A Bíblia não é uma coleção de piedosas meditações do ho­mem a respeito de Deus, mas é o tom da trombeta de Deus falando ao homem e exigindo sua reação» (The Interpretations of the NT, 1964), foi considerada perceptiva e exata pelos estudiosos conserva­dores.

Um movimento missionário intenso, como se tem visto no século XX, e o ministério de evangelistas como Billy Graham e outros, têm feito a teologia bíblica tornar-se popular. Infelizmente, a tendência dos eruditos conservadores tem sido de arrogância e auto-suficiência, pois rejeitam os avanços positivos no campo dos estudos bíblicos, que a alta crítica, e até mesmo o liberalismo, têm obtido. A verdade quase sempre é achada bem no meio de dois pontos extremos. No presente caso, em um dos extremos há um ceticismo insuportável, e, no outro extremo, vemos a bibliolatria (ver o artigo). Sumariaríamos a questão, afirmando que parece ser fato que o vício do liberalismo é o ceticismo, e que o vício do conservatismo é o espírito contencioso. (AM B C BUL BULT Fl ID RI RYR Z)

TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTOVer o artigo geral sobre o Antigo Testamento, o qual, naturalmen­

te, aborda suas idéias essenciais. O presente artigo apenas reenfatiza alguns importantes aspectos da questão.

Esboço:I. A Teologia dos ComeçosII. Conceitos Primitivos da Natureza Metafísica do HomemIII. Independência da Teologia Bíblica da Teologia DogmáticaIV. Distinção entre a Religião e a Teologia do Antigo Testamento

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5362 TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO

V. Diferenças quanto à Metodologia e ao Ponto de VistaVI. 0 Poder Profético do Antigo Testamento - As Promessas de

Deus.VII. A Ética do Antigo TestamentoObservações PreliminaresA teologia do Antigo Testamento levanta muitas questões, a começar

por definições dessa disciplina. Os teólogos sistemáticos não mostram pa­ciência com qualquer coisa que não se adapta à ordem esperada adredemente. Porém, no caso do Antigo Testamento, é claro que não estamos tratando com um documento unificado. Antes, temos ali uma evolução, um desenvolvimento tal que há muita variedade que não se presta a uma perfeita harmonia entre suas partes constituintes. Assim também, todas as grandes fés da humanidade foram se desenvolvendo, incluindo-se aí o judaísmo e o cristianismo. A vontade de Deus opera em conjunto com o processo histórico, e não à parte do mesmo, ainda que, ocasionalmente, haja intervenções divinas que alteram esse curso. Os teólogos sistemáticos não estão mentalmente treinados para quando têm de enfrentar pontos que não se harmonizam facilmente entre si, tão grande é a necessidade que sentem de não deixar fios soltos sem nó. Assim, a teologia sistemática (apesar de suas óbvias utilidades) obscure­ce o estudo simples da teologia do Antigo Testamento. Mas, uma vez que os eruditos chegam a reconhecer que a teologia sistemática nem sempre descortina a história inteira, e que ela chega mesmo a obscure­cer o quadro, libertam-se de rígidos métodos aprendidos, permitindo-lhes isso encararem o Antigo Testamento naquilo que ele é, e não em termos daquilo que eles gostariam que o mesmo fosse

I. A Teologia dos ComeçosNosso primeiro problema consiste em entendermos que os hebreus

na verdade tinham uma cosmologia que difere radicalmente daquilo que a ciência tem descoberto quanto à natureza do universo físico. Os teólogos têm «cristianizado» os primeiros capítulos do Gênesis, e assim têm obscurecido o seu verdadeiro sentido tencionado. Eles também têm «modernizado» esses textos, «atualizando-os», segun­do poderíamos dizer, a fim de que os leitores modernos da Bíblia vejam neles a exatidão científica. Entretanto, os eruditos ainda não conseguiram tal «exatidão científica», embora agora saibamos muito mais que os antigos hebreus. Todavia, não expando aqui essa ques­tão, porque o que tenho a dizer a respeito aparece nos artigos intitulados Criaçàa, Cosmologia e Cosmogonia.

II. Conceitos Primitivos da Natureza Metafísica do HomemQuando um cristão lê o trecho de Gên. 2:7 «...Deus... soprou-lhe

nas narinas o fôlego da vida, e o homem tornou-se alma vivente...», naturalmente pensa que, nesse ponto, Deus criou a alma humana, unindo-a ao corpo físico do homem. Porém, os eruditos do hebraico informam-nos que não havia qualquer noção de uma alma humana imaterial, nessa altura da teologia dos hebreus, e nem havia então qualquer conceito de uma existência após-túmulo, com os galardões ou castigos prometidos, o que, naturalmente, acompanha essa idéia. A lei de Moisés, apesar de bastante intrincada, nunca promete uma bem-aventurada vida após-túmulo aos obedientes; nem ameaçou aos desobedientes com algum tipo de julgamento na vida após-túmulo. A ausência total de tais ensinos certamente mostra-nos que os estudio­sos estão com a razão quando afirmam que, no Antigo Testamento, a noção da alma só aparece mais claramente ja nos Salmos e nos livros proféticos. Em conseqüência disso, fica ilustrado que até mes­mo doutrinas importantes podem resultar de um desenvolvimento teológico. Mas a teologia sistemática gostaria de forçar sobre nós um conceito da alma «desde o começo» da revelação bíblica, ao passo que a teologia bíblica segreda-nos: «Isso só surgiu mais tarde».

III. Independência da Teologia Bíblica da Teologia DogmáticaEm 1787, J.P. Gabler iniciou, historicamente, a distinção entre a

Teologia Bíblica e a Teologia Dogmática. A Teologia Bíblica (e, por­tanto, a teologia do Antigo Testamento) limita-se àquilo que «encon­tramos na própria Bíblia», em vez de sentir a necessidade de nos ajustarmos a algum sistema. Na Teologia Bíblica não há qualquer senso da necessidade de harmonização, e todas as idéias e verda­

des podem emergir, porquanto a harmonia não é a base de tudo. Naturalmente, muitos daqueles que escrevem teologias bíblicas ain­da assim são sistematizadores no coração, e continuamente procu­ram forçar uma harmonia, nem que seja ao preço da honestidade. Porém, isso e uma corrupção da verdadeira teologia bíblica, e não uma autêntica expressão da mesma. Um outro víc io dos sistematizadores é a tentativa de sempre verem o Novo Testamento oculto no Antigo Testamento, ou, então, forçarem o Antigo Testa­mento a concordar com o Novo.

Após Gabler, surgiu, com base em seus escritos, um renovado interesse pela história, pela linguagem e pela cultura dos hebreus, as quais desvencilharam-se de conceitos bitolados, próprios da teologia dogmática. Além disso, a ênfase passou a ser posta sobre a experi­ência religiosa, a antropologia e a psicologia religiosa, como aspectos importantes da antiga experiência dos hebreus. Os profetas de Israel também passaram a ser apreciados como homens dotados de expe­riência e gênio religioso, e não somente como homens que constitu­íram sistemas. E isso suavizou o choque que muitas pessoas até então sentiam ao perceberem contradições reais e aparentes no Antigo Testamento.

IV. Distinção entre a Religião e a Teologia do Antigo Testa­mento

O. Eissfeldt (1926) preocupou-se com essa distinção. Ele salien­tava que a teologia do Antigo Testamento trouxe à tona verdades imorredouras que prosseguem válidas através de todas as vicissitu­des da vida. Por outro lado, grande parte da religião do Antigo Testa­mento foi ultrapassada e tornou-se obsoleta. Apesar de que os rabi­nos não se sentiriam felizes ante tal distinção, Paulo a reconhecia, embora sem dar-lhe os títulos dados por Eissfeldt. Se ele tivesse expressado tal distinção, provavelmente teria dito algo como: «A teo­logia veterotestamentária foi incorporada no Novo Testamento, ao mesmo tempo em que grande parte da religião do Antigo Testamento foi abandonada». Um exagero desse modo de pensar foi a tentativa de mostrar que o Antigo Testamento, do começo ao fim, sen/e de testemunho direto de Jesus Cristo e sua obra expiatória. Apesar de esse testemunho ser forte (ver o artigo Profecias Messiânicas Cum­pridas em Jesus), aqueles que se interessam por questões teológi­cas têm claramente exagerado em suas definições. Assim, L. Kohler, na tentativa de defender a fé hebreu-cristâ de um crescente paganis­mo, publicou sua obra, com título em alemão, Das Christuszeugnis des Alten Testaments (1942), que encerra esse exagero, mas que serviu ao propósito de desfraldar o pendão cristão em um momento crítico. Tais esforços achavam-se também à base de sua Teologia Dialética. Ver o artigo Dialética, Teologia da. Obras importantes, no tocante à teologia do Antigo Testamento, foram escritas por Eichrodt, Vriezen, von Rad e E. Jacob. O último desses contemplava essa teologia do ponto de vista dos atos de Deus, mais ou menos aos moldes de Kohler. Desnecessário é dizer que aqueles que contribuí­ram literariamente para esse campo, assumiram vários pontos de vista sobre o quanto o Novo Testamento foi realmente antecipado no Antigo. F. Baumgartel criticou a exagerada cristianização de Jacob em seu livro Verheissung («Promessa»), publicado em 1952.

V. Diferenças quanto à Metodologia e ao Ponto de VistaW. Eichrodt, em seu livro, com título em alemão Theologie des

Alten Testaments, asseverou que o tema dominante e a motivação do Antigo Testamento, que lhe emprestavam unidade, era a aliança entre Yahweh e o povo de Israel, o que se foi desenvolvendo até que Yahweh desejou ter comunhão com todos os homens. Von Rad, por outra parte, acreditava que a chave para a compreensão do Antigo Testamento é a reportagem, ou seja, o relato da história-da-salvação de Israel (Heilsgeschichte). James Barr adicionou uma importante discussão sobre a relação entre a história e a revelação. Von Rad encarava a revelação do Antigo Testamento como um certo número de atos distintos e heterogêneos, em contraste com a grande e única revelação de Deus, no Antigo Testamento, através de Jesus Cristo. Sem dúvida, temos nisso um certo exagero de sua parte, mas algo que

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TEOLOGIA DO ANTIGO TESTAMENTO — TERAFINS 5363

deve ser considerado em relação ao propósito mais amplo do Novo Testamento. Pelo seu lado negativo, ele parece ter subestimado a unidade do Antigo Testamento. Ao que parece, Rad também não apreciou o papel da história na revelação. A revelação e a história, porém, podem cooperar uma com a outra sem qualquer contradição. A ênfase demasiada sobre a reportagem poderia levar-nos a um mito, e não ao registro divino de como Deus interveio na história humana, desvendando o seu propósito remidor. Eichrodt exortava-nos a reconhecer o testemunho da fé da comunidade do Antigo Testa­mento. A invasão pessoal de Deus no espirito humano teria produzi­do uma fé viva, onde também podemos encontrar a compreensão da história de Israel do ponto de vista do Antigo Testamento, e, por extensão, a compreensão da história da própria humanidade. Tam­bém não deveríamos considerar mitológicos os fatos externos da história, onde esse drama se desenrolou.

VI. O Poder Profético do Antigo Testamento — As Promes­sas de Deus

Quanto a esse ponto, encontramos extremos. Alguns intérpretes têm pensado que o alegado poder profético do Antigo Testamento existe somente nas mentes dos intérpretes que vêem ali algo que, realmente, não está lá. Por outro lado, há quem tenha exagerado o elemento profético do Antigo Testamento, encontrando Cristo e o cristianismo em todas as suas páginas, em todo tipo de pronuncia­mento, em todos os salmos) etc. Von Rad defendeu o autêntico poder profético do Antigo Testamento, como antecipação do Novo Testamento. Mas há intérpretes que negam a idéia de que o judaís­mo precisava ter cumprimento no cristianismo, como se fosse um torso que precisasse de uma cabeça. Mas há outros que estão certos de que o judaísmo, sem o cristianismo, é como um torso sem cabeça. Baumgartel e Bultmann mantinham que o Antigo Testamento não é diretamente relevante para o cristão, embora, por analogia, haja re­levância para ele. As promessas do Senhor a Israel teriam um papel nas promessas de Deus à Igreja. Judeus e cristãos contam com o mesmo Deus prometedor, pelo que estão unidos de certa forma. De acordo com Baumgartel, as promessas feitas a Israel foram feitas somente a Israel, não podendo ser aplicadas a nós. Contudo, temos a ver com o mesmo Deus que fizera aquelas promessas a Israel. O problema do homem jaz na devida apropriação das promessas e isso depende de sua espiritualidade interior. Entretanto, isso é muito pou­co, ainda que seja útil. Não é preciso grande fé para alguém crer que a principal promessa de Deus a Israel era, afinal de contas, o próprio Cristo, o Filho de Abraão e Filho de Davi. E, naturalmente, Cristo também foi o Segundo Adão, ou seja, o Salvador de toda a humani­dade. Teologia é teologia, e não vida. Não obstante, os teólogos têm a tarefa de cuidar para que seus estudos iluminem as questões da vida e da morte; em Cristo é que achamos a vida. As teologias que se reduzem a meras histórias religiosas e sociologias talvez tenham contribuições a fazer ao pensamento e à maneira de viver dos ho­mens; mas é como se tivessem perdido o principal tema da vida, ou seja, a alma imortal do homem. De outra sorte, tais estudos não merecem o título de teologia. É melhor darmos a esses estudos os nomes que realmente os definem: histórias, mitologias, psicologias, sociologias, teorias políticas.

VII. A Ética do Antigo TestamentoVer o artigo separado sobre esse assunto.Bibliografia. Além das obras mencionadas no corpo deste artigo,

ver também AND C ID VR WC.

TEOLOGIA MÍSTICAVer o artigo geral sobre o M isticismo, que é bastante detalhado.

A expressão teologia mística é usada para indicar a atividade de descrever, analisar e sistematizar as experiências místicas. Os infor­mes obtidos pelas experiências místicas formam a substância sujei­tada à sua análise.

Essa expressão foi usada, pela primeira vez. por Dionísio, o Areopagita, (vide), no século VI D.C., em sua obra, Teologia Mística.

Para ele, o ponto da questão era conhecer Deus através de experiên­cias místicas. Teresa de Ávila usava a expressão por semelhante modo, conforme se vê no décimo capítulo de seu livro, Vida. Ali afirma ela: «Esse senso da presença de Deus possibilitou-me não duvidar que ele estava em meu interior. Acredito que a isso se denomina teologia mística». A expressão, pois, é usada em contraste com a teologia ética e com a teologia dogmática.

TEQUELVer sobre Mene, Tequel, Ufarsim.

TERÁNo hebraico, «giro», «duração» ou «vagueação»; na Septuaginta,

Thárra.Terá era o pai de Abraão (Gên. 11:24-32). Em adição à alusão a

Terá, no livro de Josué (24:2), ele aparece nas listas genealógicas deI Crónicas 1:26 e de Lucas 3:34. Além disso, Estêvão refere-se ao pai de Abraão, em Atos 7:2.

Terá teve três filhos, que, no livro de Gênesis, são chamados de Abraão, Naor e Harã. Isso corresponde à época em que Terá vivia em Ur, uma cidade que a maioria dos eruditos modernos identifica como Al-Muqayyar, no curso inferior do rio Eufrates, já próximo do golfo Pérsico. De Ur, pois, Terá migrou para o norte, cerca de oito­centos quilômetros, ao longo do rio Eufrates, até à cidade de Harã, localizada cerca de quatrocentos e quarenta quilômetros a nordeste de Damasco.

Embora o nome de Abraão ocorra em primeiro lugar, não se deve concluir daí que, necessariamente, ele fosse o filho mais velho de Terá. É possível que Harã, que morreu antes de a família ter-se mudado mais para o norte, tivesse sido o filho mais velho. Foi o filho de Harã, Ló, quem finalmente acompanhou Abraão até à Palestina.

De acordo com o trecho de Josué 24:2,15, Terá era idólatra. A principal divindade adorada em Ur era Nannar (em Semítico, Sin). E isso também acontecia na cidade de Harã, durante os dias de Terá.

Talvez por esse motivo, igualmente, foi que o Senhor, quando quis conceder a Abraão experiências espirituais, recomendou-lhe: «Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que te mostrarei, de ti farei uma grande nação...» (Gên. 12:1,2). Isso precipitou a formação do povo de Israel, cuja finalidade principal foi servir de berço para o Messias, «...deles são os patriarcas e também deles descende o Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre. Amém» (Rom. 9:5). A graça de Deus operou toda essa transformação, desde o idólatra Terá, atéo próprio Filho de Deus humanizado, o Salvador do mundo.

TERAFINSVer também Serafins (Terafins).Há várias opiniões quanto ao significado dessa palavra, desde

«nutridores» até «coisas vis». Por esse motivo, alguns estudiosos preferem pensar que o termo é de sentido incerto. O que é certo é que os «terafins» eram ídolos domésticos, que iam desde aqueles de pequenas dimensões (Gên. 31:34,35) até aqueles do tamanho quase natural (I Sam. 19:13,16).

Recentes descobertas arqueológicas, feitas em Nuzi, no Iraque, têm iluminado a função e a significação desses ídolos. A posse de um terafim indicava quem era o líder da família, com todos os direitos daí provenientes. Quando Raquel furtou os terafins de seu pai (ver Gên. 31:19), isso foi uma tentativa que ela fez de conseguir tal liderança, para seu marido, Jacó, embora tal direito pertencesse aos irmãos dela. A irritação de Labão, pois, fica esclarecida por meio desse detalhe.

Ao que parece, durante grande parte de sua história os israelitas não pensavam que a possessão de tais ídolos era incoerente com a adoração a Yahweh (cf. Juí. 17,18, mas, especialmente, o trecho de I Sam. 19:13,16, onde se aprende que havia terafins até mesmo na casa de Davi). Foi a partir da época de Samuel (ver I Sam. 15:23), e

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5334 TEREBINTO — TERRA

dai até os dias de Zacarias (ver Zac. 10:2), que os terafins começaram a ser desaprovados.

A função dos terafins que os profetas mais combatiam era a função da adivinhação. Nessa qualidade de objetos de adivinhação, os terafins são freqüentemente mencionados juntamente com estolas sacerdotais também usadas nas adivinhações (Juí. 17 e 18, onde parecem ser objetos separados dos ídolos e também Osé. 3:4). Entre as coisas e as atividades que foram expurgadas durante a reforma instituída por Josias, parece que os terafins foram reunidos juntamente com os médiuns e os bruxos. Lemes que o re: da Baoílônia costumava consuitá-los (Eze. 21:21), mas o profeta Zacarias decla­rou que eles eram faladores de «cousas vãs». Nessa passagem ao livre dc Ezequiel, novamente vemos a designação «ídolos do lar». Oséias referiu-se, esperançoso, ao tempo futuro quando Israel oe- penaendo totalmente de Deus, será capaz de viver sem apelar para os terafins 'Osé. 3:4).

Alguns estudiosos têm sugerido que a função de adivinhação dos ídolos do lar talvez explique o uso obscuro da palavra hebraica eionirn gue Doae ser compreendida como «Deus» ou como «deuses, em Exodo 21:6 e 22:7-10.

Ver também sobre a Idolatria.

TEREBINTOEssa palavra aparece em Isaías 6:13 e em Oséias 4:13, como

tradução do vocábute hebraico allon, o qual. err todas as suas outras ocorrências, é traduzido por «carvalho» (ver Gên. 35:8; Isa. 2:13, 44:14; Eze. 27 6; Amós 2:9 e Zac. 11:2).

O nome científico da espécie é Pistacia tereúmthus palaestina. É espécie bastante comum na Palestina, cheganar ate urna altura de dez metios. Alguns estudiosos têm pensado que o -vale de Elá» (I Sam. 21:9), onde Davi matou o gigante Golias. seria recoberto de carvalhos, razão pela qual o gigante não conseguiu evitar a pedrada projetada pela funda brandida por Davi. Naturalmente, apesar ae isso ser possível, é apenns uma especulação. Talvez Golias não tena conseguido evitar a pedrada nem mesmo em ^ampo aberto, em pleno r.ieio dia

Nossa versão portuguesa diz «terebinto». em Isaías 6 13 e em Ose. 4:13. onde outras versões dizem -carvalho». O mesmo se de­veria fazer em Josué 24 26, onde a palavra e um cognato, mas onde lemos «carvalho», o que é uma discrepância. Uma outra palavra hebraica mu:to parecida e correiamente traduzida por «carvalho», nes trechos de Gên. 35:8; Isa. 2 :i3 ; Amós 2:9 e Zac 11.2.

A palavra Hebraica traduzida corretamente como «terebmto» in- d:ca uma an/ore de madeira dura. Presume-se que os israelitas ofe­reciam sacrifícios aos íaolos, sob áp.-cres ae terebinto porque elas projetavam uma sombra compacte., como se fosse um esconderijo.

TERESHa quem pense que o nome significa reverência. Outros opinam

per «severidade». Seja como for, Teres era um dos dots eunucos que sen/iam ao rei Assuero da Pérsia, e que atentaram contra a vida do monarca. O outro eunuco chamava-se B>gtã (vide). Seus nomes aparecem juntos em Ester 2:21 e 6:2.

Níordecai, (vide), primo e pai adotivo de Ester, a rainha de Assuero, descobriu o olano dos eunucos, a vida do monarca fei salva, e os dois eunucos foram então enforcados (Est. 2:21-23).

TERRAOs povos antigos não tinham idéia segura sobre o formato e

sobre as dimensões do globo terrestre. Em nosso artigo intitulado Cosmogonia, ilustramos a questão, incluindo antigas idéias dos hebreus, que não são reiteradas neste verbete.

1. Palavras Hebraicas. Dois vocábulos estão envolvidos: a. Eretz, que geralmente denota a superfície da terra ou a terra como uma entidade, fazendo contraste com os céus. Para exemplificar, ver Gên. 1:1,2 10-12; 2:1: 4:12: Êxo. 8:17; 10:5; Lev. 11 2,21; Núm. 11:31; Deu. 4:18,26; Jos. 2:11; Juí. 3:25' I Reis 1:31; Esd. 1:2; Jó 1:7; 2:2;

Sal. 2:2. A leitura desses exemplos demonstra que a palavra tinha grande variedade de aplicações. D. Adamah, que apontava mais dire­tamente para o solo, para o barro, etc. Para exemplificar: Gên. 1:25; 4:11: Èxo. 10:5; Deu. 4:10; I Sam. 4:12; Nee. 9:1; Sal. 104:30.

Esta última palavra hebraica é de ocorrência bem menos constante do que eretz, mas também tem grande variedade de aplicações, de tal modo que as duas palavras são intercambiáveis.

2. Outras idéias são indicadas pela tradução «terra», a fim de m e a r os habitantes da terra (Gên. 6:11; 11:1). As nações gentílicas são distinguidas da terra de Israel (II Reis 18:25, II Crô. 13:9). As terras emersas são contrastadas com o mar (Gên. 1:10). A palavra «terra» também indica algum terreno (Gên. 23:15).

3. No Novo Testamento. O termo grego ge é usado de várias maneiras, podendo indicar desde o próprio globo terrestre como tam­bém o solo, alguma região, algum país, cs habitantes da terra ou de uma reg ão qualquer e também a idéia de terra ou território. Esse vocábulo grego é empregado por duzentas e cinqüenta e duas vezes no Novo Testamento. Ver os seguintes exemplos, com certa varieda­de de sentidos: Mat. 5.5 13,18.10:34; 11:25; 17:25; Luc. 2:14; 12:49; 23:44; 24:5; João 17:4; Ates 1:8; Rom. 9:17,28; 10:18; I Cor. 8:5: Efé. 1:10; Col. 1:16,20; Apo. 1:5,7,10; 5:3; 9:1,3,4; 10:2,5; 14:3: 21:1,24.

A forma grega composta, epígeios, significa «terreno» (João 3:12; II Cor. 5:1), bem como «terrestre» (I Cor. 15:40). Vasos de cerâmica são chamados ostrakinoi, conforme se vê em II Cor. 4:7 eII Tim. 2:20. Em certo sentido espiritual, a palavra ge é usada oara denctar coisas que são terrenas e carnais, em contraste com as realidades espirituais. Ver João 3:31 e Col. 3:2,5. Nosso dever morai e espiritual é fixar nossos pensamentos nas coisas celestes e não nas terrenas.

4. A Existência da Terra. Essa realidade, com o resto ca criação é a base ae dois argumentos, o cosmológico e o teleológico (ver sobre ambos) em favor aa existência de Deus, o qual é o Criador e o Planejador de todas as coisas.

Usos Literais.A Bíblia usa a paiavra «terra» em vários sentidos: 1. os continen­

tes, em contraste com os mares (Mat. 23:14). 2. Um país em particu­lar, ou alguma região ae um pais ou mesmo os seus habitantes (Isa. 37:11). As terras aráveis (Mat 9:26; Gên. 26:12).

Usos Figurados.1. Canaã era a terra de Emanuel isto é, a terra de Yahweh. Era

uma terra prometida (Heb. 11:9). Era a terra, a Terra Santa. Confor­me muitos dizem até hoje, ela é santa demais em face dos contínu­os conflitos armados que a oerturbam. Ver Isa. 26:10.

2. A terra da promissão protegida por Deus, pelo que não preci­sava ser protegida pelos homens. No tocante ao milênio, sera cha­mada de «a terra de aldeias sem muros» (Eze. 38:11).

3. O Egito aparece como a terra da tribulação e da angústia, porquanto ali o povo de Israel sofreu a servidão (Isa. 30:6).

4. A Babilônia era uma terra de «imagens de escultura», em face de sua generalizada idolatria (Jer. 50:38).

5. A terra dos vivos é este mundo físico, onde vivem os homens morais (Sal. 27:13 e 117:6).

6. O sepulcro é a terra da escuridão e da sombra da morte (Jó. 10:21,22).

7. O sepulcro também é a terra do esquecimento. Quão Drcnta- mente os homens são esquecidos, assim que são sepultados! Quantas pessoas sabem qualquer coisa sobre os seus bisavós? Ver Sal. 88:12. Mas Deus nunca se esquece, e preserva intactos todos os valores humanes.

8. A terra simboliza a matéria.9. A Mãe Terra é a origem de toda a vida btológica.10. Há o arquétipo da Grande Mãe, que inclui o conceito da Mãe

Terra. Esse é o equivalente feminino do Sábio Idoso ou Profeta no caso do homem. Representa a inteireza potencial, a comcleta sabedo­ria, a espiritualidade consumada.

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TERRA BAIXA DE HODSI — TERREMOTO 5365

11 A terra representa firmeza e provisão, em contraste com o mar, que representa a instabilidade e os poderes misteriosos e destrutivos.

12. O subsolo aponta para as profundezas misteriosas da alma ou do oculto, as regiões infernais. No desenvolvimento espiritual, uma pessoa pode atravessar essas camadas inferiores de existência, antes de atingir niveis mais elevados. O subsolo, naturalmente' também alu­de à morte e à sepultura.

TERRA BAIXA DE HODSIEssas palavras aparecem no texto de II Sam. 24.6, segundo a

Edição Re^sta e Corrigida da Sociedade Bíbnca do Brasil. Todavia, na Edição Revista e Atualizada no Brasn. da mesma Sociedade Bíblica, que usamos como base deste Dicionário, o texto é intu ramente dife­rente: «na terra dos heteus».

O próprio texto bíblico nos informa de que era um distrito entre Gileade e Dã-Jaã (vide), que foi visitado no decurso de um dos recen­seamentos efetuados em Israel, no tempo de Davi. Há muitas dúvidas se realmente existiu a «terra baixa de Hodsi», porquanto a mesma não é mencionada em qualquer outra fonte informativa, bíblica ou extrabíblica. Nossa versão portuguesa segue de perle a tentativa de solução aada na Bíblia inglesa da Revised Standard Version, que, por sua vez, segue a sugestão de Wellhausen. Este crítico :dnsava que o texto pode ser explicado sobre bases paleográfica^ como se fosse uma menção a «Cades, na terra dos heteus», precisamente o que encontramos em nossa versão portuguesa. Se Wellhausen estava com a razãu então a alusão é a Cades sobre o Orontes, ate jnde chegava a fronteira do reino de Davi, no auge de seu poder, na sua porção norte. As modernas traduções e versões em inglês ambém estão divididas, quanto à questão, entre essas duas opçõe

TERRA DOS FILHOS DO SEU POVOUma terra perto do rio Eufrates, onde Balaque. rei de Moabe,

mandou buscar Balaão, a fim de amaldiçoar Israel. O ; -cho de Núm. 22:5 é a única referência tib lica a respeito As tra jções variam aqui. Algumas lêem Amó, mas a Septuaginta serviu de- base para a nossa versão portuguesa. Alguns manuscritos da Vulgata dizem «Terra dos filhos de Amom». Amó incluía Petor, a cidade de Balaão, e Emar, que era sua principal cidade. O nome Amó tem sido encontra­do em algumas inscrições que datam dos séculos XVI e XV A.C.

TERRA ORIENTALNo hebraico, «terra da fronteira oriental». O trech: de Gên. 25:6

registra que Abraão enviou suas concubinas para aquela terra. Presumivelmente ficava a sudeste da Palestina, e faria parte da Arábia. Ver o artigo sobre Oriente, Filhos do.

TERREMOTOEsboçaI. DefiniçãoII. MagnitudesIII. Distribuição dos TerremotosIV. Os Lugares Bíblicos e os TerremotosV. Sons e Ondas SísmicosVI. Referências Bíblicas a TerremotosVII. Estamos na Geração do Terremoto?VIII. Ansiedade e Preparação para os TerremotosI. DefiniçãoUm terremoto é o abalo, a mudança, o irrompimento e a vibra­

ção da terra, em áreas rochosas subterrâneas com reflexos corres­pondentes à superfície do planeta. Isso pode ocorrer sem que os homens nada sintam. Outras vezes, os abalos sísmicos são sentidos, mas sem que haja qualquer dano material. Às vezes, porém, são destruídas tanto propriedades quanto vidas humanas. A maioria dos terremotos nunca é sentida senão exclusivamente ceios cientistas que se ocupam em registrar a intensidade e efeitos aesses abalos.

II. MagnitudesUm sismóbgo norte-americano, Charles F. Richter criou, em 1935,

uma escala para medi' a intensidade dos terremotos. Ele atribuía a essa intensidade um número que pode ser usado para efeito de comparação. De acordo com essa escala, um terremoto da magnitude 2,5 tem a energia de menos de 10 (17) ergs, mais ou menos a quan­tidade de energia liberada pela queima de 3.800 litros de gasolina. Esses abalos são considerados miniterremotos e são de ocorrência bastante freqüente. Um terremoto da escala de 4,5 tem 10 (20) ergs e pode causar danos de pouca monta à superfície da terra. Um terremo­to da escala Richter é potencialmente perigoso. Cerca de em abalos sisncos anuais têm essa potência. Os terremotos que atingem a esca­la 7 de magnitude (10 (25) ergs) representam abalos de grande poder destrutivo, ocorrendo uma média de vinte e cinco abalos desses, a cada ano. O mais poderoso terremoto já registrado, desde a criação dessa escala, atingiu a magnitude 8,6. Ocorreu na China, a 15 de agosto de 1950. O grande terremoto do Alasca, de 27 de março de 1964, atingiu a magnitude 8,5.

III. D istribuição dos TerremotosNa média, a cada ano há um terremoto verdadeiramente grande,

dez principais, bem destruidores, mil que produzem algum dano, dez mil abalos de pouca intensidade, que produzem danos desprezíveis, e cem mil choques que só os aparelhos científicos são capazes de registrar. Na verdade, a terra estremece o tempo todo. Por essa razão, se qualquer abalo sismico, por menor que fosse, pudesse ser considerado um terremoto, então teríamos um total de mais de um milhão de terremotos todos os anos. Existe um cinturão de terremo­tos no oceano Pacífico, bem como outro que começa na área do mar Meoíierrâneo e segue para o Oriente, atravessando o continente asiático, O cinturão do ocear.o Pacífico concorre com oitenta por cento de todos os terremotos; o cinturão do mar Mediterrâneo con­corre com outros quinze por cento. Portanto, somente cerca de cinco por cento de todos os terremotos ocorrem fora desses dois cinturões. Entretanto, os terremotos sempre deixam os homens perplexos, por­quanto áreas que todos pensavam estar isentas dessa atividade sís­mica subitamente, sem a menor explicação, produzem algum grande terremoto. Em qualquer região, onde já houve algum terremoto, po­derá haver outros. Na verdade, não existe região do planeta que possa ser considerada imune a esse fenômeno.

IV. Os Lugares Bíblicos e os TerremotosO vale profundo do rio Jordão conta com diversas falhas geológicas

importantes, como a falha do vale do Jordão, a falha de Zarqa Ma’in, a falha Hasa, a falha Risha e a falha Quweira. Essas falhas estão vincula­das ao cinturão do mar Mediterrâneo e prolongam-se por diversas cente­nas de quilômetros. Há evidências geológicas que sugerem que o atual mar Mediterrâneo é apenas o remanescente de um grande oceano que existia antigamente entre a Eurásia e a África. Grandes terremotos do passado, provavelmente ligados a alguma mudança dos pólos, rearrumaram as áreas de terras emersas e de mares, provavelmente por centenas de vezes. Ver o artigo sobre o Dilúvio, seções segunda e sexta, quanto a uma aiscussão completa sobre esse fenômeno.

Os místicos modernos adiantam que estamos às vésperas de uma outra mudança dos pólos. E, se sso vier a suceder, sem dúvida fará parte da grande Tribulação (vide). O profundo vale do rio Jordão é apenas parte de uma grande zona de falhas geológicas que se prolongam na direção norte, desde a entrada do golfo de Ácaba, por mais de mil e cem quilômetros, até o sopé das montanhas do Taurus. Há evidências geológicas que indicam que, nos últinos poucos mi­lhões de anos, tem havido um movimento de afastamento que já chegou a cento e oito quilômetros, na região do mar Morto, associa­do à separação entre a península árabe e o continente africano. Os místicos modernos predizem um terremoto realmente forte, na área de Jerusalém, para um futuro não muito ii stante. Isso ajudaria os árabes em seu conflito contra Israel precipitando os eventos da grande Tribulação e da batalha do Armagedom, quando a própria existência de Israel estará em jogo. Os trechos de Zac. 14:4,5 e Apo. 16:18,19

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5366 TERREMOTC

predizem un vastíssimo terremoto que acompanhara o segundo ad­vento de Cisto. E isso poderia estar associado à mudança dos pólos predita pelos místicos modernos. Tanto estes quanto os estudiosos da Bíblia concordam que tudc isso rãc pode estar muito distante de nós. Quem for sábio que se prepare!

V. Sons e Ondas SísmicosReferimo-nos a um assunto realmente espantoso quando fala­

mos sobre os ruídos e as oncas de choque produzidos pelos terre­motos. Essas coisas são realmente assustadoras Grandes v:brações saccdem a terra quando algum terremoto tem lugar. No caso dos grandes terremotos, esses abalos liberam forças maicres que a ex­plosão de mu^as bombas atómicas, ao mesmo tempo. Tai atividade subterrânea pode ser ouvida como ruídos cavos e profundos. Além disso podem-se ouvir estalidos poderosos, quando grandes massas de rochas racham e se partem, mediante pressões inacreditáveis A distância um terremoto oode ser ouvido como se pesadíssimos veí­culos estivessem passando, ou como se estivessem sendo arrastadas imensas caixas pela superfície da terra. t ) i i então, podem ser ouvi­dos sons como de grandes trovões ou como se grandes canhões estivessem disparando.

Vários tipos de ondas de choque se precip'tam do epicentro de um terremoto. Essas ondas são transmitidas pelo deslocamento de partículas, e podem levar consigo um tremendo poder ae destruição. Algumas dessas ondas assemelham-se às ondas de choque sobre a superfície da água, quando algum objeto é lançado na mesma. Ou­tras ondas :omo que se agitam de lado para lado, ou então para frente e para trás. Vários tipos de ondas de choque podem ter lugar simultaneamente. Essas onaas de choque propagam-se em diferen­tes velocidades, dependendo oa resistência encontrada a sua passa­gem. Uma onda dessas pode oercorrer 160 km em vinte segundos. Um un'CO terremoto pode enviar diferentes tipos de ondas ao mesmo tempo, que se propagam em 4 diferentes velocidades. Essas ondas podem viajar por milhares de quilômetros, dependenao da magnitude de cada terremoto.

VI. Referências Bíblicas a TerremotosHá uma palavra hebraica e uma oalavra grega aue precisam ser

consideracas neste verbete, a saber:1. Raosh. «tremor» «abalo». Termo hebraico usado por cerca de

trinta vezes, conforme se vê em I Reis 19:11,12; Isa. 29:6; Amós 1:1; Zac. 14:5.

2. Seismós. «abalo». Essa paiavra grega figura por catorze vezes no Novo Testamento: Mat. 3:24; 24:7: 27:54; 28:2: Mar 13 8; Luc. 21:11: Atos <6:26; Apo. 6:12’ 9:5; 11:13,19; 16:18

Durante o reinaco de Uz;as (Amós 1:1) houve um grande terre­moto, que üosefo vinculou à iniqüidade, incluindo sacrilégios, que caracterizarem aquele reinado e aquele período da história ce Israel. Ver II Crô, 26 16 ss. É mencionado um terremoto em conexão com a crucificação de Jesus (Mat. 27:51 -541 e outro em conexão com a ressurreição (Ma*. 23:2). Tanbém houve um terremoto que abr>u as porias da prisão onde se encontravam Paulo e Si:as (Atos 16:26). Um terremoto acompanhou a morle de Ccré (Núm. 16:32) e um outro seguiu-se a visita de Elias ao monte Horebe (I Reis 19:11). Josefo refere-se ao terremoto devastador aue atingiu a Judéia em 31 A.C. (Anti. 15:52). As crediçces b'Dl>cas dizem-nos que um terremoto de gigantescas proporções acompanhará a parous^a ou segunda vinda ae Cristo (Apo. 16.18,19 e Zac. 14:4,5). Os Éístioos mocemos estão predizendo uma nova mudança dos pólos para estes nossos tempos, e essas referências bíblicas bem podem estar fazendo alusão a essa mudança dos pólos

Sentidcs figurados e espirituais. Os terremotos são uma das ar­mas que Deus usa para a aestruição da imqüidaae Muitos psíquicos de nossos dias acreditam que a maldade humana, que produz vibra­ções adversas, poae ser uma causa contribuinte dos terremotos. Isso significaria aue uma atividade dessa espéce Dodería ser produzida, pelo menos em parte, quando os homens perdem de vista os valores espirituais. Seja como for, os terremotos simbolizam o juízo divino

(Isa. 24:20; 29:6; Jer. 4:24: Apo. 8:5). A derrubada violenta de nações é comparada a um terremoto (Ageu 2.5,22, Apo. 3:12,13; 16:18,19). Porém, essas referências bíblicas parecem incluir aquele terremoto literal que fara parle desses eventos.

VII. Estamos na Geracao do Terremoto?As predições relativas à nossa época indicam que, à medida que o

fim de nossa era for se aproximando, os terremotos ir-se-ão tornandoo horror dos homens. Os místicos estão falando sobre terremotos mortíferos, alguns dos quais poderiam atingir até mesmo o grau 12 da escala de Richter. Dizemos que esses imensos terremotos ocorre­rão como pré-choques da mudança dos pólos que já se avizinha. Jeffrey Goodman escreveu um livro que foi publicado com o título em inglês, We are the Earthquake Generatm (Somos a Geração do Terremoto). Goodman é um arqueólogo profiss'onal. Ele tem recolhido evidências que falam sobre um período ex:remamen;e ai'ibulado, que se iniciaria dentro de pouco tempo, e que incluirá muitos terremotos. Ele prediz um período de vinte anos de catástrofes dessa natureza. Os cristãos há séculos falam sobre a vinda da grande Tribulação Dara breve. Ver o artigo sobre a Tribulação, a Grande. Não há que duvidar que os terremotos serão uma parte importante dessas tri­bulações.

VIII. Ansiedade e Preparação para os TerremotosTememos essas coisas. Temes absoluta certeza de que elas já

se aproximam. Queremos a paz, mas sabemos que todas as eras anteriores da humanidade encaminharam-se para a sua destruição, sendo substituídas por outras eras. Não há razão para oensaTros cue o milênio (vide) ocorrerá através de uma transcão pacífica. So há uma preparação que está ao nosso alcance e que é e‘ icaz. a preparação espiritual. Há pessoas que se têm mudado de áreas que, segundo dizem os místicos, serão mais pesadamente atingidas. Po­rém, os ímpios dificilmente serão protegidos somente por terem mu­dado de cidade. Além disso, se justos perecerem em a;gum grande cataclismo íe muitos homens justos padecerão tais cc sas, natural­mente), bastar-nos-á pensar novamente sobre o valor da alma e da vida eterna Sócrates estava certo de que nenhum dano final pode sobrevir a um nomem bom, o que representa uma verdade espiritual permanente.

Muitos evangélicos ciêem que o arrebatamento (vide) haverá de livrar a Igreja enstã de grande parte dos desastres 'inais. Tam­bém sou um dos que já acreditaram nessa idéia; mas agora pense que a Igreja passará pela tribulação. Todavia, não acredito que nossos teólogos já tenham resolvido todos os problemas envolvi­dos Penso que ninguém sabe, com certeza, quanto da tribulação a Igreja terá ae passar, antes de seu arrebatamento. Também acre­dito que a grande Tribulação pro!ongar-se-á por um total ae qua­renta anos, dos quais os famosos sete anos bíblicos seriam a parte principal. Ver o artigo sobre Quarenta. Escrevi um livro que reflete essa crença, intitulado Profecias para o Nosso Tempo: Quarenta Anos Finais da Terra? Esse livro foi publicado pela editora Nova Época, de São Paulo. Nesse livro, procuro demonstrar que o perí­odo que nos aguarda com as suas tribulações representa um outro quarenta (o número simbólico para tribulações), porquanto, há muitos períodos atribulados na Bíblia, representados pelo número quaren­ta. Como já dissemos, os sete anos das predições bíblicas farão parte especial de um período maior de quarenta anos. Esses sete anos diriam respeito à nação de Israel. Seja como for, é fácil os crentes mostrarem-se apreensivos diante de todas essas possibili­dades para o mundo futuro.

Nós, como crentes individuais, poderemos desfrutar ou não de pro­teção, em meio às tribulações finais. A conservação da vida física nem sempre é a questão que mais importa. O que importa é que vivamos corretamente dentro do período de tempo que nos foi dado, cumprindo a nossa missão na terra. É digno de consideração que, se tomos postos no mundo, nesta época particular, então é que há alguma razào especial para estarmos aqui, relacionados especificamente às tributações que haverão de sobrevir ao mundo. Nas experiências perto da morte,

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TESBITA — TESOURO 5367

quando um homem passa pelos primeiros estágios da morte física, quando a sua vida é posta em revista, uma das perguntas feitas peto Ser de Luz é como ele amou durante a vida, bem como o que aprendeu. As duas grandes colunas da espiritualidade são o amor e o conhecimento. Deveríamos cultivar ambas as coisas, em nossa vida, com todo o afã. Ver o artigo sobre as Experiências Perto da Morte. Se assim fizermos, nada teremos a temer do futuro.

Deus é nosso refúgio e fortalezaSocorro bem presente na angústia.Pelo que não temeremos, ainda que a terra se mude,E ainda que os montes se projetem para o meio dos mares:Ainda que as águas rujam e espumem.Ainda que os montes se abalem pela sua braveza. Selá.Há um no cujas correntes alegram a cidade de Deus,O Lugar Santo das moradas do Altíssimo.Deus esteve no meio dela;Não será abalada.

(Salmo 46:1-5)Bibliografia. AM GOOD WHI Z

TESBITA1. Nome. Este é o nome de uma pessoa que nasceu ou habitou a

cidade chamada Tisbe, como Elias (I Reis 17.1). Ver também 21.17, 28 e II Reis 1.3, 8; 9.36. Parece que o nome significa “recurso".

2. Identificação e Localidade. Estritamente falando, o local é des­conhecido e sua localização continua um mistério, mas adivinhações colocam-no no território de Naftali, ou Gileade. Não ha confirmação arqueológica da cidade nem sugestão de sua antiga localidaae

3. Alguns estudiosos pensam que a palavra Tisbe ou Tesbita é de fato relacionada à Jabes-Gileade de I Sam. 11.1, 3,5, e 31.12, de forma que Elias poderia ter sido chamado de jabesita em vez de tesbita. Ver o artigo sobre esse local para maiores detalhes.

4. Outras Identificações. Talvez esteja em vista Listibe, do leste de Gileade, conjectura baseada na similaridade da palavra Tisbete com o árabe el-lstibe. O livro apócrifo Tobite (12) refere-se a Tisbe, que estava localizada ao sul de Cades, no território de Naftaii Talvez Elias tenha nascido naquela área, mas então se mudou para Gileade. Elias não tem uma associação com Gileade do Norte, no lado leste do rio Jordão, como sabemos com base em I Reis 17.2-7. Talvez o ribeiro de Querite tenha sido um pequeno afluente de Jabes, que desemboca no Jordão. Tais especulações podem levar-nos à verda­de, mas não temos como fazer uma afirmação com confiança.

TESOURARIA DO TEMPLO1. Antigos santuários e templos muitas vezes eram usados como

locais de depósito de objetos valiosos, como se fossem “bancos sagra­dos”. Sabemos que o Panteão, por exemplo, tinha seu opisthodomos, ou tesouraria sagrada, que provavelmente servia como fonte para o paga­mento de despesas da atividade do local. Os templos hebraicos tinham seus locais para armazenar presentes de ouro e prata, além de outros objetos valiosos que eram doados ao ministério (I Reis 7.51). Uma fonte de tal riqueza eram as ofertas do povo, mas não temos dúvida de que saques feitos durante as guerras compunham a maior fonte. E o dinheiro não era usado só para os cultos dos templos. Era uma grande fonte de riqueza que os reis usavam para seus projetos de construção e para enriquecimento pessoal, é claro.

2. Localização. Alguns estudiosos acreditam que o templo não era o local para o tesouro, mas isso parece improvável. Logicamente, havia outras tesourarias e depósitos de riqueza além do templo. Estudiosos continuam a disputar exatamente onde estava localizada a tesouraria nos templos.

3. Administração. Pelo menos antes do templo de Herodes, os administradores eram os levitas, depois os sacerdotes, isto é, levitas que descendiam diretamente de Arão, filho mais velho do levita Anrão e de

Joquebede (Êxo. 6.20; Núm. 26.29). Ele era irmão de Moisés. Arão estava na terceira geração depois de Levi, pelo que teríamos Levi, Coate, Anrão e Arão. Outros descendentes de Levi tomaram-se levitas, mas não eram levitas sacerdotes. Na época de Jesus, o sumo sacerdote assumiu essa função. Sob ele trabalhavam os principais tesoureiros (katholikoi) e sete curadores (amarkalim), mais três gerentes (gizbarim) que compartilhavam o trabalho e a responsabilidade.

4. Um Objeto de Ganância e Assaltos. O tesouro do templo pas­sou a possuir considerável riqueza, abrigando, como fazia, o maior banco ao país. Naturalmente tornou-se objeto de ganância e assal­tos. Exércitos invasores não o ignoravam. Ver I Reis 14.26; II Reis 24.12 ss.; I Mac. 1.20-24; II Mac. 3.1-13. Como sempre ocorre na política, os próprios reis de Israel às vezes metiam as mãos no depó­sito de riqueza do templo para obter vantagens pessoais ou para com­prar favores políticos. Ver I Reis 15.16 ss.; II Reis 12.17 ss. As vezes o tributo pago a poderes estrangeiros vinha do tesouro do templo (II Reis 18.13 ss.).

5. Referências no Novo Testamento. João 8.20 parece indicar que o tesouro era um lugar popular para reuniões públicas. Ver ainda Mar. 12.14 ss. em conexão com isso. Haviam urnas na forma de trombetas para o recebimento das ofertas do povo. Mas Herodes, o Grande, tinna muito dinheiro e muito poder, e podemos ter certeza de que ele mantinha o tesouro e seus bolsos cheios.

TESOUROEsboçoI. Os TermosII. Tipos de TesourosIII. Aspecto Monárquico dos TesourosIV. Tesouros de Davi e SalomãoV. Tesouros dos Reis de IsraelVI. Tesouros como Tropeços EspirituaisVII. Sentido Figuraao de Tesouro no Antigo TestamentoVIII. Tesouros no Novo TestamentoI. Os TermosNo hebraico, temos nove vocábulos, e, no grego cinco, neste

verbete, a saber:1. Otsar, «tesouro», «coisa depositada». Palavra hebraica usada

por setenta e uma vezes com esse sentido, conforme se vê, por exemplo, em Deu. 28:12; 32:34; I Reis 7:51; 15:18; II Reis 12:18; 14:14; 24.13; I Crô. 26:20,22,24,26; II Crô. 5:1; 8:15; 36:18; Esd. 2:69; Nee. 7:70,71; Jó 38:22; Pro. 8:21; 10:2; Isa. 2:7; 30:6; 33:6; 45:3; Jer. 10:13; 15:13; 17:3; Eze. 28:4; Dan. 1:2; Osé. 13:15; Miq. 6:10. Também há a forma atsar, como em Nee. 13:13 e Isa. 23:18.

2. Ginzin, «tesouros». Palavra hebraica empregada per três ve­zes: Esd. 5:17; 6:1; 7:20.

3. Chosen, «riquezas», «força». Palavra hebraica utilizada por três vezes: Pro. 15:6; 27:24; Eze. 22:25.

4. Matmon, «coisa oculta». Palavra hebraica usada por quatro vezes: Gên. 43:23; Jó 3:21; Pro. 2:4; Jer. 41:8.

5. Mikmannim, «tesouros». Termo aramaico usado por uma vez apenas, em Dan. 11:43.

6. Miskenoth, «tesouros», «armazéns». Vocábulo hebraico usado por uma vez com o sentido de «tesouros»: Êxo. 1:11.

7. Athud, «tesouro», «preparado». Palavra hebraica usada por uma vez com o sentido de «tesouro», em Isa. 10:13.

8. Saphan, «coisa coberta», «tesouro». Palavra hebraica que ocor­re por uma vez com esse sentido Deu. 33:19.

9. Gedaberin, «tesouros». Palavra aramaica usada por uma vez, em Dan. 3:2,3.

10. Thesaurós, «tesouro». Palavra grega usada por dezessete vezes: Mat. 2:11; 6:19-21; 12:35; 13:44,52; 19:21; Mar. 10:21; Luc. 6:45; 12:33,34; 18:22; II Cor. 4:7; Col. 2:3; Heb. 11:26.

11. Thesaurízo, «entesourar». Verbo grego usado por oito vezes: Mat. 6:19,20; Luc. 12:21; Rom. 2:5; I Cor. 16:2; II Cor. 12:14; Tia. 5:3;II Ped. 3:7.

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536EÍ TESOURO

12. Gáza, «tesouro» (uma palavra derivada do persa), que apare­ce somente por uma única vez, em Atos 8:27.

13. Gazophulâkion, «tesouro». Palavra grega usada por quatro vezes: Mar. 12:41.43: Luc. 21:1; João 8:20.

14. Korbanãs, «lugar das ofertas». Palavra grega transliterada do hebra'co, usada somente por uma vez: Mat. 27:6.

II. Tipos de TesouroNa Biblia. um tesouro consiste no dinheiro, nas jóias, no ouro, na

prata, nos vasos, nos ungüentos, nas especiarias, nos armamentos, ncs cereais, nas moedas ou em quaisquer outras possessões materi­ais que um governante, um monarca ou um indivíduo rico conserva­ram em lugar seguro, fora do alcance de ladrões e assaltantes. Os vasos sagrados e os móveis do templo de Jerusalém, ou mesmo dos templos de divindades pagãs, eram considerados tesouros (ver I Crô. 32:27-29 Esd 1:9-11; Nee. 7:70). Visto que, nos tempos antigos, as riquezas estavam concentradas nas mãos dos monarcas ou dos tem­plos, 0 termo tesouro veio também a significar «armazém» ou «tesou­raria» 0 que se reflete nas traduções em geral.

Na antigüidade, quando as forças inimigas nvadiam um pais, geralmente, dirigiam-se ao palácio real ou ao templo central, em busca dos tesouros ali guardados; esses tesouros, juntamente com os cativos de guerra, eram os despojos que 0 adversário vitorioso levava. Visto que os tesouros garantiam 0 supnmento das necessida­des básicas das pessoas que os possuíam, com freqüência, 0 vocá­bulo «tesouro» foi empregado, pelos profetas do Antigo Testamento e até pelo Senhor Jesus, para indicar as possessões e riquezas espirituais, apontando para coisas como a sabedoria, 0 amor, 0 céu e 0 evangelho (ver Pro. 10:2; Isa. 33:6; Mar. 10:21).

III. Aspacto Monárquico dos TesourosO conceito de tesouro ou de «armazém» nas páginas biblicas,

indica 0 aspecto monárquico da cultura e da economia dos povos do mundo antigo, no sentido de que todas as grandes riquezas ficavam concentradas nas mãos do rei, do templo sagradc de sumos sacer­dotes ou de pessoas eminentemente ricas. No entanto, 0 povo co­mum dispunha pouquíssimo aessas nquezas, e nem ao menos ambi­cionava possui-las; mas, essas p assoas reverenciavam 0 rei ou 0 templo, por estarem guardando em segurança as riquezas do país. Isso posto, havia uma abastança incalculável, concentrada nas mãos de pcucos, e uma pcorez3 extrema entre os cidadãos comuns, que formavam as multidões. E por esse motivo que, com freqüência, os profetas do Antigo Testamento identificavam as riquezas com a ini­qüidade, e a pobreza, com a piedade. Também lemos nas Escrituras que « Aceitai 0 meu ensino e não a prata, e 0 corhecimento antes do que 0 ouro esco'hido» (Pro. 6:10).

Entretanto, nos palác cs reais e nos templos não havia caixas fortes ou cofres, onde os tesouros fossem trancados em segurança. Ver sobre Bancos. Mas cs tesouros guardados nos templos, onde as multidões po- muitas vezes se congregavam, eram defendidos por muitcs homens armados. E os indivíduos ricos escondiam suas pos­ses materiais em suas casas, em cavernas, ou nos campos. Muitas guerras estouraram por causa desses tesouros (ver I Reis 14:26). E um dos métodos das nações se apossarem das riquezas consistia em pilhar as cidades e os templos de outras nações. Assim, quando Jerusalém caiu diante dos exércitos invasores, provenientes do Ori­ente, todos os tesouros aji existentes foram transportados para aque­les países estrangeiros. É fato bem conhecido que muitos imperado­res reis e rainhas, como no Egito, eram sepultados juntamente com suas posses materiais, em túmulos de difícil acesso, como era 0 caso das pirâmides. De fato, essas pirâmides são 0 exemplo mais notável desse antigo costume. No templo de Jerusalém, 0 aposento, onde eram guardadas as caixas para recolher as oferendas, era chamado de «gazofilácio». ou «tesouraria», conforme se vê em Mar­cos 12:41 e Lucas 21:1. Essas caixas para recoinimento das ofertas tinham 0 formato de trombetas.

Uma das primeiras alusões a um tesouro, nas páginas do Antigo Testamento, aparece no episódio em que os irmãos de José foram

comprar alimentos no Egito, durante 0 período de escassez, quando José pôs novamente nas sacas deles 0 dinheiro com que haviam pago0 cereal. Foi então que José disse aos seus assustados irmãos: «Paz seja convosco, não temais; 0 vosso Deus e 0 Deus de vosso pai vos deu tesouro nos vossos sacos; 0 vosso dinheiro me chegou a mim» (Gên. 43:23).

IV. Tesouros de Davi e SalomãoOs reis Davi e Salomão tornaram-se conhecidos pelas imensas

riquezas que conseguiram amealhar em seus palácios, ou então, no templo do Senhor, em Jerusalém. Os tesouros do templo, em Jerusa­lém, consistiam nos vasos, no altar de ouro, na mesa de ouro para os pães da proposição, no candeeiro de ouro, nas lâmpadas e seus uten­sílios, nas bacias e pratos para incenso, e até mesmo nas portas do edifício. O próprio templo era recoberto com placas de ouro. Lê-se em1 Reis 7:48-51: «...fez Salomão todos os utensílios do Santo Lugar do Senhor: 0 altar de ouro, e a mesa de ouro... os castiçais de ouro finíssimo... as flores, as lâmpadas e as espevitadeiras, também de ouro; também as taças, as espevitadeiras, as bacias, os recipientes para incenso, e os braseiros, de ouro finíssimo; as dobradiças para as portas da casa interior... e as das portas do Santo Lugar do templo, também de ouro. Assim se acabou toda a obra que fez 0 rei Salomão para a casa do Senhor; então trouxe Salomão as cousas que Davi, seu pai, havia dedicado, a prata, 0 ouro e os utensílios, ele os pôs entre os tesouros da casa do Senhor».

V. Tesouros dos Reis de IsraelAlgumas vezes, os tesouros dos palácios dos reis de Judá e de

Israel correram perigo, quando das guerras locais que atingiram a Palestina. Para exemplificar quanao Baasa, rei de Israel, e Asa, rei de Judá, combateram um contra 0 outro, este último enviou todos os tesouros da nação a Ben-hadade rei aa Síria, a fim de estabelecer um acordo com ele.

Segundo essa aliança os sírios atacariam Baasa, de tal modo que Judá seria deixada em oaz. «...Asa tomou toda a prata e ouro restantes nos tesouros da casa 00 Senhor, e os tesouros da casa do rei, e os entregou nas mãos de seus servos; e 0 rei Asa os enviou a Ben-Hadade... dizendo: Haja aliança entre mim e ti, como houve entre meu pai e teu pai Eis que te mando um presente, prata e ouro; vai, e anula a tua aliança com Baasa, rei de Israel, para que se retire de mim» (I Reis 14-18.19). E, por ocasião da reconstrução da nacão de Israel, nos dias oe Esdras e Neemias, continuava a ser usado 0 mesmo método de juntar grandes riquezas na casa do governante e no templo, conforme se vê em Esd. 2:69; Nee. 7:70,71; 10:38 e 12:44.

Quando os sírios invadiram a nação do norte, Israel, 0 rei Acaz solicitou de Tiglate-Pileser, rei da Assíria, para vir livrá-lo do poder da Síria. Para animar 0 rei da Assiria a fazer essa intervenção Acaz tomou a prata, 0 ouro e todos os tesouros da casa do Senhor e os enviou como presentes ao rei. E, então, os assírios chegaram, mas em vez de livrarem Judá, puseram 0 rei Acaz em aperto. Ver II Crô. 28:16-21. Um incidente similar teve lugar nos dias de Ezequias, quando Senaqueribe, rei da Assíria, invadiu Judá. A compensação requerida pelo rei da Assíria foi a 3rata e 0 ouro que estavam guardados na casa do Senhor. E 0 fato de que 0 rei da Babilônia, tempos mais tarde, levou Jeoaquim, de Judá, como prisioneiro, tendo transportado para a Babilônia todos os tesouros da casa do Senhor, mostra-nos mais uma vez, que 0 templo de Jerusalém era uma espécie de tesouro das riquezas da nação que vinham sendo amealhadas desde os dias de Salomão. Ver II Crô. 36:6,7.

Os tesouros existentes no templo de Jerusalém vinham sendo recolhidos desde os dias de Davi, com as ofertas que ele e muitos outros israelitas haviam dedicado. Quanto a isso, examinar I Crôni­cas 23:1-9. Além disso, grupos especiais e famílias ficaram encarre­gados de guardar os tesouros da casa do Senhor, segundo se apren­de em I Crô. 26:22-23. No decorrer dos séculos, houve muitos outros donativos polpudos, recolhidos em certas oportunidades históricas, que aumentaram ou restauraram as riquezas do templo. Devido às

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guerras e invasões, esses tesouros (oram pilhados por mais de uma vez. Mas o povo de Israel não demorava muito a reconstituí-los com suas generosas ofertas. Um caso desses é historiado em Esd. 2:68:69, onde está escrito: «Alguns dos cabeças de famílias, vindo à casa do Senhor... deram voluntárias ofertas para a casa de Deus, para a restaurarem no seu lugar. Segundo os seus recursos, deram para o tesouro da obra, em ouro, sessenta e uma mil dracmas, e em prata, cinco mil arráteis, e cem vestes sacerdotais». A isso poderíamos acrescentar os dízimos dados pelo povo, que engordavam ainda mais os tesouros ali armazenados.

Vi. Tesouros como Tropeços EspirituaisPor outro lado, os homens espirituais de Israel nunca deixaram

de perceber que as riquezas materiais, devido à debilidade huma­na, podem servir de tropeço e ameaça ao bem-estar espiritual dos homens. Um exemplo dessa cautela e sabedoria, que é um reflexo do temor ao Senhor, ou piedade, aparece, por exemplo, em Pro­vérbios 15:16: «Melhor é o pouco, havendo o temor do Senhor, do que grande tesouro, onde há inquietação». O profeta Isaías refere-se a riquezas que eram transportadas em corcovas de camelos, para indicar o rico comércio que se fazia por meio das caravanas. Ver Isaías 30:6. Jeremias, por sua vez, dá testemunho do fato de que as riquezas das nações antigas eram guardadas em suas capitais, onde ficavam as sedes dos respectivos governos. Diz ele: «Tam­bém entregarei toda a riqueza desta cidade, todo o fruto do seu trabalho, e todas as suas cousas preciosas; sim, todos os tesouros dos reis de Judá entregarei na mão de seus inimigos, os quais hão de saqueá-los, tomá-los e levá-los à Babilônia» (Jer. 20:5). O rei Ezequias, de Judá, dispunha de grandes tesouros acumulados, no tempo em que reinava em Jerusalém: «Ezequias se agradou dos mensageiros (do rei da Babilônia) e lhes mostrou toda a casa do seu tesouro, a prata, o ouro, as especiarias, os óleos finos, o seu arsenal e tudo quanto se achava nos seus tesouros...» (II Reis 20:13).

O fato de que os reis invasores levavam as riquezas dos países invadidos para suas capitais, depositando-as em seus templos e pa­lácios, indica que esse costume não prevalecia somente em Israel. Daniel 1:1,2 é trecho que nos mostra isso: «No ano terceiro do reina­do de Jeoaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei da Babilônia, a Jerusalém, e a sitiou. O Senhor lhe entregou nas mãos Joaquim, rei de Judá, e alguns dos utensílios da casa de Deus; a estes levou-os para a terra de Sinear, para a casa do seu deus, e os pôs na casa do tesouro do seu deus».

VII. Sentido Figurado de Tesouro no Antigo TestamentoCom freqüência, o termo «tesouro» ou «casa do tesouro» é usa­

do em sentido figurado no Antigo Testamento. Como exemplo disso, em uma terra com poucas chuvas, como era o caso da Palestina, as chuvas eram consideradas um autêntico tesouro. «O Senhor te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo, e para abençoar toda obra das tuas mãos, emprestarás a muitas gen­tes, porém tu não tomarás emprestado» (Deu. 28:12). As últimas palavras desse citado versículo mostram como essas chuvas, caídas no tempo certo, podiam transformar-se até em tesouros literais. A sabedoria, sobretudo aquela de cunho espiritual, também era consi­derada um grande tesouro, entre os antigos, quando eram dotados de entendimento espiritual: «Tesouro desejável e azeite há na casa do sábio, mas o homem insensato os desperdiça» (Pro. 21:20). Um outro quadro simbólico comum, encontrado nas Escrituras, é que o temor ao Senhor constitui-se em autêntico tesouro para aquele que o possui, conforme Isaías predisse acerca do povo de Israel: «Haverá, ó Sião, estabilidade nos teus tempos, abundância de salvação, sabe­doria e conhecimento, o temor ao Senhor será o teu tesouro» (Isa. 33:6). E o profeta Ezequiel reverbera o mesmo sentimento, quando escreve: «...pela tua sabedoria e pelo teu entendimento alcançaste o teu poder, e adquiriste ouro e prata nos teus tesouros» (Eze. 28:4), embora ali falasse em relação ao rei de Tiro e, por conseguinte, em um sentido negativo.

Vlii. Tesouros no Novo Testamento1. Quadro DiferenteQuando chegamos ao Novo Testamento, o quadro mental é bas­

tante modificado. Pois, se no Antigo Testamento um tesouro dava a idéia de vastas riquezas concentradas nos palácios reais ou nos tem­plos, nas páginas do novo pacto um tesouro (no grego, thesaurós) é concebido muito mais em termos individuais, como propriedade de algum ricaço. O Novo Testamento, logo no começo, refere-se a tesou­ros que os magos, vindos do Oriente, trouxeram para presentear ao menino Jesus. «Entrando na casa viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; abrindo os seus tesouros, entregaram- lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra» (Mat. 2:11). Por que motivo a sagrada família precisava desses tesouros, é o que alguns têm indaga­do. Lembremo-nos, porém, que dentro de poucos dias eles haveriam de descer ao Egito, onde ficariam até que Herodes falecesse (ver Mat. 2:19-21). Sem dúvida, aqueles recursos os sustentariam naquele pais estrangeiro, impedindo que fossem reduzidos à mendicância, por te­rem fugido praticamente sem levar bens volumosos.

2. Tesouros EspirituaisEm Hebreus 11:26 também há menção aos tesouros do Egito,

que Moisés desprezara, por amor ao seu próprio povo. Se meditar­mos que Moisés era «filho da filha do Faraó», então poderemos compreender que ele não desistiu de pouca coisa, nem de pequena posição na escala social, e nem de remotas possibilidades de tornar-se um importante vulto no Egito, talvez até mesmo um futuro Faraó. Mas é que Moisés também tinha visão espiritual, pelo que «...consi­derou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito...» No Novo Testamento, porém, a idéia de «tesouro», na maioria das vezes, aparece dentro de um contexto espiritual, pelo que é empregada em sentido metafórico. Para exemplificar, mencio­namos uma parábola do reino, que o compara com «...um tesouro oculto no campo...» (Mat. 13:44). Por igual modo, o Senhor Jesus admoestou aos seus discípulos e a todos nós: «...mas ajuntai para vós outros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam, porque onde está o teu tesouro aí estará também o teu coração» (Mat. 6:20,21). Portanto, o nosso tesouro, no dizer de Jesus, é aquilo a que damos maior valor. Nós, os servos do Senhor, não somos instruídos a empobrecer e a mendi­gar; mas antes, a trabalhar com as próprias mãos, até para poder­mos contribuir para as necessidades dos que padecem por carência. Ver I Tes. 4:11,12 e Efé. 4:28. Paralelamente a essa industriosidade e generosidade, porém, o crente é ensinado a valorizar, acima de todas as riquezas terrenas, as riquezas celestiais, «...buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas cousas (as posses terrenas) vos serão acrescentadas» (Mat. 6:33).

3. Tesouros do CoraçãoAcresça-se a isso que o Senhor Jesus também empregou o vo­

cábulo «tesouro» a fim de designar o bem ou o mal que se ocultam no coração de cada indivíduo: «O homem bom tira do tesouro bom cousas boas, mas o homem mau, do mau tesouro tira cousas más» (Mat. 12:35). Isso equivale a dizer que as virtudes cristãs devem ser reputadas como um de nossos tesouros, da mesma maneira que os ímpios entesouram as suas perversidades morais.

4. Tesouros nos CéusO amor cristão e as obras impulsionadas pelo amor são tesouros

que acumulamos no céu, conforme Jesus disse ao jovem rico: «Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres, e terás um tesouro no céu; depois vem, e segue-me». No entanto, o jovem rico não estava disposto a trocar as riquezas terrenas imediatas, pelas riquezas celestiais, as quais, para ele, pareciam muito remotas. «Tendo, porém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste, por ser dono de muitas propriedades» (Mat. 19:21,22). Essa é a atitude de muitas pessoas, que se julgam práticas e pragmáticas. Mas, no fim, o seu prejuízo é incalculável. Diferente é a sorte daqueles cujos olhos são abertos para perceberem o valor das riquezas espirituais. Foi acerca desses que Jesus falou, depois que o jovem rico e tresloucado

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5370 TESTA — TESTAMENTO

se afastou: «E todo aquele que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais, e herüará a vida eterna» (Mat. 1-9:29).

5. A Palavra do SenhorO Senhor Jesus também se referiu à sabedoria espiritual como

um «tesouro», quando declarou: «Por isso todo escriba versado no reino dos céus é semelhante a um pai de lamília que tira do seu decósito cousas novas e cousas velhas» (Mat. 13:52). O apóstolo Paulo secundou essa noção, dizendo que o evangelho de Jesus Cris­to é um tesouro que transportamos conosco: «Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. (II Cor. 4:7). Para o crente, o valor maior, o tesouro mais prezado é o Senhor Jesus Cristo: «Por isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preci­osa; e quem nela crer não será de modo algum envergonhado. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade...» (I Ped. 2:6,7). E isso é assim, para nós, porque é em Cristo que encontra­mos o que mais nos é caro, isto é, a salvação final, a natureza divina. Ver II Ped. 1:4. Sim, podemos encerrar esta exposição sobre os tesouros celestia l, citando novamente o apóstolo Paulo: «...para que os seus corações sejam confortados, vinculados juntamente em amor, e tenham toda riqueza da forte convicção do entendimento, para compreenderem plenamente o mistério de Deus, Cristo, em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos» (Col 2:2,3).

TESTAHá uma palavra hebraica e uma palavra grega envolvidas neste

verbete:1. Metsach, «testa», termo hebraico usado por onze vezes: Isa.

48:4: Èxo. 28:38; I Sam. 17:49; II Crô. 26:19,20; Jer. 3:3; Eze. 3:8,9; 9:4.2. MétoDon. «testa», «lugar entre os olhos». Palavra grega usada

por oito vezes, sempre no livro de Apocalipse (7:3; 9:4; 13:16; 14:1,9; 17:5; 20:4; 22:4).

Literalmente a palavra grega envolvida significa « acima do olho . No Antigo Testamento encontramos os seguintes sentidos da pa­lavra: 1. No sentido literal (Êxo. 28: 28), Aarão foi instruído a usar uma placa de ouro puro, sobre a testa, quando estivesse oficiando como sumo sacerdote. Em I Sam. 17:49 e II Crô. 26:19,20, a pala­vra «testa» é mencionada em conexão com os sinais da lepra, ali deixadcs. 2. No sentidc figurado, em Eze. 3:8,9, que menciona a direção em que a pessoa volta a cabeça, indica determinação ou desafio. Em Eze. 9:4-6 aprendemos que a letra hebraica «T» (que tinha a forma de uma cruz., nos tempos amigos), era marcada sobre a testa daqueles que lamentavam por causa das abomina­ções de Israel.

Tocas as referências neotestamentárias à testa de alguém di­zem respeito às marcas, selos ou nomes que serão postos ali, para identifica: quem é servo do Senhor, nos últimos dias. Mediante esses sinais, haverá a distinção espiritual entre os que são e os que não são servos de Deus, Ver Apo. 7:3; 9:4; 13:16; 14:1 e 20:4. Também sabemos que as antigas prostitutas faziam-se conhecer através de alguma espécie de marca posta na testa. Ver Jer. 3:3 e Apo. 17:5. No livro de Ezequiel, as marcas sobre a testa eram feitas com tinta, mas, no livro de Apocalipse, essas marcas são selos. No Êxoao, as marcas na testa eram devidas a pragas. Além disso, os israelitas religiosos, a mando do Senhor, usavam filactérias (vide) sobre a testa.

Usos Figurados:Entre os itens já mencionados, há sentidos figurados. Podería­

mos alistar, especificamente, os seguintes:1. A atitude de desafio ou de determinação pode ser indicada

pela direção em que o rosto ou testa se volta (Eze. 3:8,9).2. Ter a testa selada ou assinalada pode indicar identificação,

proteção (Eze. 9:3; Apo. 7:3).

3. Ter o nome de Deus inscrito na testa identifica a pessoa com o ser divino e subentende a obediência às leis de Deus, bem como notável sen/iço prestado ao Senhor (Apo. 14:1; 22:4).

4. Uma testa ou fronte de prostituta (Jer. 3:3, cf. Eze. 3:8) indica obstinação contra Deus e idolatria com todos os tipos de pecados pagãos combinados.

5. Aqueles que receberão a marca da besta (ver sobre o Anticristo) estarão irremediavelmente assinalados como seus servos, e serão os instrumentos especiais da rebelião e da corrupção mundiais, encabeçadas por ele (Apo. 13:16; 20:4).

TESTAMENTONo grego, diathéke, um vocábulo que figura por trinta e três

vezes no Novo Testamento: Mat. 26:28; Mar. 14:24; Luc. 1:72; 22:20; Atos 3:25; 7:8; Rom. 9:4; 11:27 (citando Isa. 59:21); I Cor. 11:25; II Cor. 3:6,14; Gál. 3:15,17; 4:24; Efé. 2:12; Heb. 7:22; 8:6,8 (citando Jer. 31:31); 8:9 (citando Jer. 31:32); 8:10 (citando Jer. 31:33); 9:4,15-17,20 (citando Êxo. 24:8); 10:16,29; 12:24; 13:20 e Apo. 11:19.

Na tradução da Septuaginta, do hebraico para o grego, termi­nada em cerca de 200 A.C., o termo hebraico berith, «acordo», «pacto», foi comumente traduzido pelo termo grego diathéke, «tes­tamento», o que mostra que aqueles tradutores judeus compreen­deram que o Antigo Testamento era mais do que um simples acor­do ou aliança entre duas partes: entre Deus e o povo de Israel; antes, seria a publicação da soberana vontade de Deus, visando à salvação do homem.

Nos dias do Novo Testamento, o sentido primário da palavra grega diathéke havia chegado a uma evidência tal que a idéia secun­dária de «acordo» quase havia desaparecido. De fato, na literatura grega não-bíblica, esse vocábulo grego dava a entender única e tão-somente como «última vontade», «testamento». Paulo usou essa palavra com esse sentido, em Gál. 3:15-17: «Irmãos, falo como ho­mem. Ainda que uma aliança seja meramente humana, uma vez ratificada, ninguém a revoga, ou lhe acrescenta alguma cousa. Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém, como de um só: E ao teu descendente, que é Cristo. E digo isto: Uma aliança já anteriormente confirmada por Deus, a lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode alterar, de forma que venha a desfa­zer a promessa». Destarte, Paulo estava demonstrando que o pacto da promessa, estabelecido por Deus, à semelhança de qualquer tes­tamento de origem humana, só poderia ser modificado por seu originador, demonstrando assim, em segundo lugar, a natureza pro­visória da lei mosaica, apenas para tampar um período de carência, enquanto o Filho de Deus não viesse dar o seu sangue como expia­ção pelos nossos pecados.

Por semelhante modo, o autor da Epístola aos Hebreus exprime os termos do pacto (no grego diathéke), em analogia com um testa­mento ou última vontade (no grego, diathéke), segundo se vê em Hebreus 9:15-18: «Por isso mesmo, ele é o Mediador da nova alian­ça, a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da etema herança aqueles que têm sido chamados. Porque onde há testamen­to, é necessário que intervenha a morte do testador, pois um testa­mento só é confirmado no caso de mortos, visto que de maneira nenhuma tem força de lei enquanto vive o testador. Pelo que nem a primeira aliança foi sancionada sem sangue...» Esse autor sagrado, pois, mostrou-nos que um testamento só se torna operante quando ocorre a morte do testador, reiterando assim a idéia paulina, expres­sa em Gálatas 3:15-17.

Entretanto, a grosso modo, o Novo Testamento emprega o termo «testamento» em um sentido mais amplo, acompanhando bem de perto a noção que o mesmo tinha no Antigo Testamento. Quando o Senhor Jesus falou no «...sangue da nova aliança...» (Mat. 26:28), referiu-se a uma nova disposição no relacionamento entre Deus e os homens, com vistas à redenção dos homens. Com isso concorda

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TESTAMENTO----TESTAMENTO DOS DOZE PATRIARCAS 5371

plenamente o apóstolo dos gentios, ao explicar-nos, em II Coríntios 3:9: «Porque se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça». O pacto da lei levava à condenação, porquanto a lei não pode mesmo fazer outra coisa senão condenar os errados, e todos nós somos pecadores; mas o Novo Testamento, que gira em tomo do sangue de Jesus Cristo, confere-nos a justificação e nos conduz à glória.

No grego, diathéke. A palavra portuguesa «testamento» procede do termo latino testamentum, que significa «testamento», ou expres­são da vontade final de uma pessoa. O vocábulo grego correspon­dente, diathéke, indicava um testamento, embora não fosse o /ocá- bulo usado para indicar um pacto, uma aliança. A palavra grega para indicar aliança era sunthéke, que descrevia algum tipo de acordo entre duas partes interessadas. Mas diathéke sugeria, antes, a doação dada por alguém a outro indivíduo. Todavia, em algumas ocasiões, parece que o vocábulo diathéke tinha o sentido duplo de «testamento» ou de «pacto». Assim, Aristófanes empregou a palavra para dar a entender «pacto»; o autor da Epistola aos Hebreus, por semelhante modo, parece usar de um jogo de palavras com o duplo sentídc do vocábulo diathéke, em Hebreus 9:15-17. Por isso, alguns estudiosos pensam que a base bíblica para «testamento», como designação das duas principais divisões da Bíblia, Antigo e Novo Testamentos, originou-se do uso da palavra diathéke, na Epístola aos Hebreus.

A palavra era relativamente destituída de importância, em outros livros do Novo Testamento (ver Mat. 26:28; Mar. 14:24; I Cor. 11:25;II Cor. 3:6,14), embora de ocorrência freqüente na Epístola aos Hebreus (7:22; 8:6; 9:15,17; 10:29). Tem sido posto em dúvida se o idioma hebraico teria um termo equivalente ao de «testamento». Esse termo, sem dúvida, veio a ser associado ao Antigo Testamento, so­mente porque a Septuaginta traduziu o termo hebraico para «alian­ça», berith, pelo vocábulo grego diathéke É provável que esse termo grego tenha sido escolhido porque salientava o fato de que, na rela­ção entre Deus e os seres humanos, a iniciativa fica com Deus, e não com os homens. De fato, os homens não podem argumentar com Deus, e nem barganhar com ele; resta-lhes apenas aceitar ou rejeitar as ofertas dele. Além disso, a significação da morte de Jesus Cristo, como a inauguração do novo pacto, pode retroceder até o conceito de diathéke como «última vontade» ou «testamento». Um testamento só entrava em vigor em sobrevindo a morte do testador. A morte de Cristo, seguindo o modelo dos animais sacrificados, que inauguraram o antigo pacto, estabeleceu o novo pacto ou Novo Tes­tamento. Ver Gál. 3:15-18.

TESTAMENTO DOS DOZE PATRIARCASI. Caracterização GeralII. Idioma OriginalIII. DataIV. ConteúdoI. Caracterização GeralEste é um dos melhores trabalhos dos pseudepígrafos judeus. O

termo significa que os autores aos quais o trabalho é creditado não foram de fato as pessoas que produziram o material. Ver o artigo sobre Pseudepígrafos neste Dicionário e na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Era prática comum um autor atribuir seu traba­lho a alguém famoso para honrá-lo e para aumentar a distribuição de seu próprio trabalho.

O trabalho (provavelmente escrito no segundo século A. C.) re­presenta cada um dos filhos de Jacó dando instruções a seus des­cendentes. Os materiais fornecidos têm alta qualidade ética que su­pera a maioria do Antigo Testamento, mas não chega ao nível, em alguns aspectos, do Novo. Há ainda passagens escatológicas, demoniológicas e homiléticas.

A inspiração do trabalho sem dúvida repousa em Gên. 49 (com luzes de Deu. 33), onde Jacó profetizou sobre cada um de seus filhos e favoreceu-os com a bênção patriarcal. Em sua apresentação literária, o livro lembra as ordens de Josué a Israel (Jos. 23, 24) e as

ordens de Davi a seu filho, Salomão (I Reis 2).Estudiosos ainda debatem o idioma no qual o livro foi originalmente

escrito (ver a seção II), embora tenhamos conhecido o livro através das cópias gregas que sobreviveram.

O livro demonstra uma unidade essencial que pode sugerir a exis­tência de um único autor, sem autores secundários. Por outro lado, materiais dos Manuscritos do Mar Morto indicam que o Testamento de Levi e o Naftali podem ter circulado primeiro. Se esse fosse o caso, então o livro pode ter sido compilado a partir de trabalhos de mais de um autor. Acima de tudo, há no livro algumas referências cristãs que sugerem que o autor ou compilador final fosse cristão. Como o Testa­mento de Levi, 15.1, tinha uma referência à destruição do templo, a compilação finai pode ter vindo no final do primeiro século D. C., ou mesmo no segundo século.

II. Idioma OriginalConhecemos o trabalho através dos manuscritos gregos que fo­

ram traduzidos ao latim, esloveno, georgiano e sérvio. Alguns argu­mentam que teria havido um original grego, mas outros apontam para o hebreu ou o aramaico. Os manuscritos gregos têm muitos semitismos que poderiam implicar a existência de uma versão hebraica original. Por outro lado, mesmo um bom bilíngüe (que conhecesse o hebreu (aramaico) e o grego, teria tido seu trabalho marcado por reflexões dos hebreus, particularmente quando se tratava de idéias do Antigo Testamento. Além disso, muitos dos semitismos poderiam derivar da imitação da Septuaginta, que também fazia muitos usos desse tipo, sendo traduzida do Antigo Testamento hebreu. Assim, nenhuma con­clusão certa pode ser tirada, embora a maioria dos estudiosos prefira a idéia de um original em hebreu.

III. DataNo Testamento de Rúben, 6.10-12, há referência a um sumo

sacerdote que também era rei e guerreiro. Isso certamente sugere que o autor escreveu na época dos reis sacerdotes macabeus. En­tão, no Testamento de Levi, 8.14, há menção ao “nome novo” que designava os sumos sacerdotes. Esta pode ser uma alusão a eles, chamados de “sacerdotes do Deus Mais Alto”, título usado também em Jubileus, em Ascensão de Moisés, em Josefo e no Talmude. Novamente, está ;mplícita a época dos macabeus. Se essa lógica está correta, então a data original dos escritos é o segundo século A. C., mas as referências cristãs mostram que o livro foi concluído no período D. C., provavelmente no primeiro ou segundo século.

IV. ConteúdoA substância deste livro é constituída por “testamentos” de vários

patriarcas hebreus que davam instruções aos seus descendentes,1. O Testamento de Rúben. Ele lamenta seu pecado de incesto

com a concubina de seu pai, Bila (Gên. 35.22). Pecados sexuais, tanto do homem como da mulher, são severamente denunciados, e a cuipa por eles é atribuída aos métodos peritos dos demônios, que issediam tanto homens como mulheres.

2. O Testamento de Simeão. Esse patriarca lamenta o ódio e o mal tratamento dado a José, seu irmão, quando este foi vendido ao Egito como escravo. Considerando o mal que ele mesmc fez, ele adverte seus oescendentes contra a inveja, o ódio, o engano e a crueldade, além de aconselhar a pureza na vida, algo na ordem de Rúben.

3. O Testamento de Levi. Em sono profundo, o homem entra em um estado de transe e prevê julgamentos impostos sobre os inimigos de Israel. Há então uma promessa de que, no futuro, seus filhos serão ativos nos três ofícios - profecia, sacerdócio e reinado -, em um ministério que sinaliza a vinda do Messias. Ele fala sobre a corrupção da era final. A destruição do templo está incluída, prova­velmente uma referência histórica disfarçada de profecia. A mensa­gem de Levi é, assim, essencialmente escatológica.

4. O Testamento de Judá. Judá gaba-se de sua proeza ao matar um leão, um urso, um leopardo e um touro selvagem e de suas habi­lidades militares ao derrotar os cananeus. Mas não esquece o in­cesto com sua nora, Tamar, que, embora praticado sem saber

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5372 TESTEMUNHO — TESTEMUNHO DO ESPIRITO

quem era a mulher, foi precedido por luxúria. Ele aconselha se-js des­cendentes a ter uma vida de retidão e denuncia a bebedeira e a fornicação.

5. O Testamento ce Issacar. Esse patriarca gaba-se da boa vida que vivia e convoca seus descendentes a seguir seu bom exemplo.

6. O Testamento de Zebulom. Esse patriarca declara que pouco participou da venda de José ao Egito e não ficou com nenhuma parte do dinheiro. Ele convoca os outros a ter compaixão, como ele.

7. O Testamento de Dã. Ele confessa sua parte na venda de José e declara que se sentiu feliz ao praticar esse mal. Apela que seus descendentes evitem a ira e o ódio. Há uma expectativa mesfiânica expressa em 5.10.

8 .0 Testamento de Naftali. Esta parte do livro contém uma genealogia de Bila, sua mãe e são emprestadas várias exortações encontradas no Livro de Enoque. Ele tem uma visão na qual Levi domina o sol, e Judá faz mesmo com a lua, enquanto José agarra um touro e dá uma volta nele. Está em vista uma profecia de que a salvação futura surgirá das tribos, Judá e Levi tribos real e de sacerdotes).

9. O Testamento de Gade. Gaae confessa que odiava José e teve participaçao ativa em sua venda ao Egito. Com base nesse lamentável lapso à degradação, ele apela para que seus descendentes pratiquem o amor e Dusquem caráter nobre.

10. C Tes*amento de Aser. Ele pronuncia grandes dizeres de sa­bedoria e obediência que nos fazem lembrar a literatura de sabedoria e o livro de Tiago, no Novo Testamento. Ele tem uma ilustração de “duas vias”, c bem e o mal, entre as quais o homem pode optar.

1 1 .0 Testamento de José. Ele nos conta sobre as tentações que sofreu às mãos da mulher de Potifar e sobre como foi capaz de resistir na hora da provação. Seus ensinamentos morais são então pronunci­ados com som emprestado do Novo Testamento. Ele também fala sobre como uma virgem deu à luz um cordeiro, quase com certeza alusões ao Novo Testamento (Maria e o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, João 1.29).

12. O Testamento de Benjarrm. José fala a Benjamim sobre sua experiência de ser vendido ao Egito. Assim, Benjamim pede que seus descendentes evitem pecados sexuais e o engano. Há interpolações cristãs. Dois versos no capítulo 11 referem-se até ao apóstolo Paulo.

TESTEMUNHOHá três palavras hebraicas envolvidas e três gregas, a saber:1. Edah, «testemunho». Termo hebraico que é usado por vinte e

seis vezes, conforme vemos, para exemplificar, em Deu. 4:45,6:17,20; Sal. 25:10; 78:56; 93:5; 99:7; 119:2 22,24,46,59,79,95,119,125, 138,146,152,167 168; 132:12; Jos. 2^:2?; Gên. 21:30; 31:52.

2. Ed. «testemunho». Vocábulo hebraico usado por sessenta e nove vezes Exemp:os: Gên. 31:4^ 48,50,52; Êxo. 20:16; Lev. 5:1; Núm. 5:13; Deu. 5:20; 17:6,7; 31:19,21.26: Jos. 22:27,28,34; Rute 12:5; I Sam. 12:5, Jó 10:17; Sal. 27:12’ Pro. 6:19; 12:17; 25:18; Isa. 8:2; 19:20; Jer. 29.23; Miq. 1:2; Mal. 3:5.

3. Teudah, «testemunho». Palavra hebraica que ocorre por três vezes: Rute 4:7; Isa. 8:16,20.

4. Martúrion, «testemunho». Substantivo grego usado por vinte vezes; por exemplo: Mat. 8:4; 10:18; 24:14 Mar. 1:44; 6:11; 13:9; Luc. 5:14; 9:5; 21:13; Atos 1:33; 7:44; I Cor. 1:6; 2:1; II Cor. 1:12; II Tes. 1:10; I Tim. 2:6; II Tim. 1:8; Heb. 3:5; Tia. 5:3; Apo. 15:5. A forma martúria, «testemunho», aparece por trinta e sete vezes: Mar. 14:55,56,59; Luc. 22:71; João 1:7.19; 3:11,32,33; 5:31,32,34,36; 8:13,14,17 (citandc Deu. 19:15); 19:35; 21:24; Atos 22:18; I Tim. 3:7; Tito 1:13; I João 5:9,10,11; III João 12; Apo. 1:2,9; 6:9; 11:7; 12:11,17; 19:10 e 20:4. O verbo, marturéo, «testificar», aparece por setenta e três vezes, exemplos são: Mat. 23:31; Luc. 4:22; João 1:7,8,15,32,34; 4:39,44; 5.37,39; 7:7; 10:25; 12:17; 13:21; 18:23,37; Atos 6:3; 10.22, 43; 13:22:14:3; 15 8:5; Rom. 3:21; 10:2; I Cor. 15:15; II Cor. 8:3; Gál. 4:15; Col. 4:13; I Tim. 5:10; 6:13; Heb. 7:8,17; 10:15; I João 1:2; 4:14; 5:6,7,9,10; II João 3:6,12; Apo. 1:2; 22:16,18,20.

5. Diamartúromai, «testificar amplamente». Verbo grego usado por quinze vezes: Luc. 16:28; Atos 2:40; 8:25; 10:42; 18:5; 20:21,23,24; 23:11; 28:23; I Tes. 4:6; I Tim. 5:21; II Tim. 2:14; 4:1; Heb. 2:6.

6. Epimarturéo, «testificar além», verbo grego usado somente por uma vez, em I Ped. 5:12.

Com certa variedade de significados na Bíblia, a palavra «testemu­nho» e os seus cognatos verbais, dependendo do contexto, significam:a. testemunho; b. evidências em prol de alguma coisa; c. as tábuas de pedra sobre as quais foram gravados os dez mandamentos; d. a área da aliança; e. o livro inteiro da lei; f. a Palavra de Deus dada a algum profeta; g. o evangelho cristão; h. as Escrituras, em sua inteireza. Vejamos alguns exemplos desses significados:

a. O primeiro desses sentidos é visto em II Tim. 1:8, onde Paulo exorta Timóteo a não se envergonhar do testemunho dele (martúrion), em favor de Cristo, b. Um exemplo do segundo sentido encontra-se em Atos 14:3, onde nossa versão portuguesa diz: «...o qual confirmava a palavra da sua graça...» c. Em certo número de casos, no Antigo Testa­mento, a palavra «testemunho» (na Septuaginta, marturía) refere-se ao decálogo, como clara afirmação da vontade de Deus (por exemplo: Êxo. 25:16,21), de onde nos chega a expressão «tábuas do testemunno» (Êxo. 31:18; 32:15; 34:29). a. Nesse mesmo contexto, lê-se acerca da «área do testemunho» (Êxo. 25.22; 26.33 34; 30:6; 31:7, etc.) ou, sim­plesmente, «testemunho», onde a área da aliança está em pauta (Êxo. 16:31; 27:21; Lev. 16:13). e. Aexpressão «testemunho» passou entãoa indicar o livro inteiro da lei de Deus (Sal. 19:8; 78:5; 81:5; 119:88; 122:4).f. Em algumas instâncias, «testemunho» quer dizer a Palavra de Deus dada a algum profeta (Isa. 8:16,20). g. Nos trechos de Apo. 1:2,9; 1217 etc., a palava martula e usada para indicar o evangelho de Cristo. Em Apo. 12:17, essa palavra aponta para o evangelho, no sentido de um testemunho em favor de Cristo, h. A revelação inteira de Deus ao ho­mem algumas vezes esta em foco, quando a palavra «testemunhos» é empregada 've- Sai. 119:22). Nesse salmo esse uso reitera-se por vári­as vezes. Ver também o artigo intitulado Testemunha.

TESTEMUNHO DO ESPÍRITOTodo testemunho pressupõe alguma pessoa, objeto, conteúdo

ou acontecimento acerca do qual é conferido o testemunho. O Novo Testamento deixa claro que o Espírito de Deus dá testemunho primariamente, sobre Jesus Cristo, e não sobre si mesmo ou sobre qualquer conjunto de doutrinas (ver João 14:26; 15:26; 16:7-15; cf. Mat. 16:16 e I João 2:20-22). Diz João 15:26: «Quando, porém, vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim».

Embora o Espírito Santo concentre o seu testemunho sobre a pessoa e as realizações de Cristo, ele parte desse ponto cêntrico para outros pontos também muito importantes para nós, como: a totalidade dos atos salvatícios de Deus, em favor dos homens; a autoridade intrínseca e instrumental das Sagradas Escrituras; a natureza do homem caído no pecado e suas rea­ções diante de Deus; finalmente, um ministério de instrução e de sustento, no caso daqueles que pertencem ao Senhor Jesus.

Mas, como já dissemos, o âmago da revelação neotestamentária, com o testemunho convencedor dc Espírito de Deus, envolve a pes­soa de Jesus. E isso como Senhor e Cristo. Lemos em Atos 2:36: «Esteja absolutamente certa, pois, toda a casa de Israel, de que a este Jesus, que vós crucificastes, Deus o fez Senhor e Cristo».

Esses dois fatos sobre a pessoa de Cristo precisam ser melhor esclarecidos, se quisermos perceber todo o impacto do testemunho do Espírito. «...Deus o fez Senhor e Cristo». O primeiro desses títulos, «Senhor» (no grego, kúrios), fala sobre a deidade plena de Jesus de Nazaré. Kúrios é a tradução, para o grego, de dois nomes hebraicos de Deus, que lhe são dados no Antigo Testamento: Yahweh e Adonai. O primeiro desses nomes indica Deus como Salvador, e o se-

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TESTEMUNHO DO ESPIRITO — TIA 5373

gundo, como Senhor e Rei. Por conseguinte, o Espírito de Deus testifica: Jesus é o próprio Deus, é o verdadeiro e único Deus! Essa primeira parte do testemunho do Espírito já havia sido dada, profetica­mente, desde o Antigo Testamento. Lemos, pois, em Isaías 9:6: «Por­que um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte...» Vale dizer: aqueles que ainda não puderam aceitar a plena deidade de Jesus de Nazaré, é que ainda não acolheram, em seus corações, o testemunho do Espírito.

O outro fato do testemunho do Espírito sobre Jesus de Nazaré é que «... Deus o fez...Cristo». Isso aponta para o fato de Jesus ser o Ungido de Deus — o Grande Sacordote, Profeta e Rei, o Herdeiro de todas as coisas, o Representante de Deus entre os homens, a Manifes­tação visível do Deus invisível. Ver o artigo intitulado Jesus Cristo. Cristo é transliteração do termo grego Christós, que, por sua vez, é tradução do termo hebraico Messiah, «ungido». Em sua conversa com a mulher samaritana, lemos que Jesus foi interpelado por ela: «Eu sei, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier nos anunciará todas as cousas». E Jesus lhe respondeu: «Eu o sou, eu que falo contigo» (João 4:25,26). E sabemos que o Espírito de Deus testificou sobre isso no coração daquela mulher, pois, saindo ela à cidade, disse a certos homens: «Vinde comigo, e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Será este, porventura, o Cristo?» (vs. 29). E o resul­tado de tudo isso foi: «Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude do testemunho da mulher, que anunciara: Ele me disse tudo quanto tenho feito» (vs. 39). Assim, o testemunho do Esp'rito resultou em salvação eterna de muitos: Quem recebe o testemunho do Espírito Santo, sobte Jesus Cristo, é salvo. Quem não o recebe, continua perdi­do. Você já aceitou o testemunho do Espírito, prezado leitor?

Entretanto, essa é a verdade central que o anticristo negará, juntamente com todos aqueles que, em espírito, lhe são os segui­dores. Mas os crentes afirmam, juntamente com o apóstolo João: «E vós possuís unção que vem do Santo, e todos tendes conheci­mento. Não vos escrevi porque não saibais a verdade, antes, por­que a sabeis, e porque mentira alguma jamais procede da verdade. Quem é mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho. Todo aquele que nega o Filho, esse não tem o Pai; aquele que confessa o Filho tem, igualmente, o Pai» (I João 2:20-23). Cf. Mat. 16:16,17 e Rom. 10:9,10. Nessa confissão, houve a atuação poderosa do testemu­nho do Espírito, no tocante à significação do programa redentivo de Deus, diante do qual, então, são abertos os olhos do entendimento daqueles que crêem. Ver I Cor. 2:10-16; II Cor. 3:12-18.

Tendo im pulsionado homens escolhidos para deixarem em registro escrito a verdade revelada de Deus (ver II Tim. 2:16 eII Ped. 1:21), o Espírito acompanha isso, agora, pela ilum ina­ção interna, que capacita os seres humanos a apreciarem de­vidamente a revelação objetiva como a verdade de Deus, e apreenderem, assim, o sentido profundo da mesma (ver I Cor. 2:10-16, II Cor. 3:12-18). Paralelam ente a isso, o Espírito con­vence os homens do pecado que têm com etido, e da retidão, advertindo-os sobre o ju lgam ento vindouro (ver João 16:8-11).

O Espírito de Deus dá prosseguimento ao seu testemunho, no caso daqueles que se deixam salvar por Cristo, assegurando-lhes que agora estão em um eterno relacionamento com Deus, que jamais po­derá ser ab-rogado (ver Rom. 8:15,16 e Gál. 4:6), o que se manifesta nos corações deles sob a forma de segurança na salvação; finalmente, confere-lhes discernimento espiritual (ver I Cor. 2: 15,16; cf. Rom. 12:2; Fil. 1:10; Col. 1:9). Vero artigo Segurança na Salvação.

Quão rico e proveitoso, por conseguinte, é o testemunho do Espírito, a respeito de Jesus de Nazaré. Começa encon­trando o homem, em seu estado de justa condenação, diante da lei de Deus, e o conduz seguram ente à g lória — com base exclusiva nos méritos e realizações de Jesus, Senhor e Cristo!

TESTUDO INIMIGOEssa expressão encontra-se em Naum 2:5.0 hebraico diz sakak. Essa

palavra é de significado incerto. Os estudiosos têm aventado os mais variegados sentidos. Algumas traduções dizem «defesa». Tradução pare­cida é a da NIV, «escudo protetor». A Berkeley Version, em inglês, diz «mantlet», que indica um abrigo usado pelos soldados em tempo de guer­ra. É por aí que devemos interpretar essa palavra hebraica. A raiz da palavra hebraica significa «entretecido». Os baixos-relevos assírios mos­tram escudos de cipó entretecido. Os arqueiros ficavam por detrás de tais defesas, aguardando sua oportunidade de atacar. Talvez seja isso que os revisores de nossa versão portuguesa queriam dizer com «testudo inimi­go». O que não devemos imaginar é que fossem soldados de testa gran­de! A Edição Revista e Corrigida, em português, diz «amparo».

TETENona letra do alfabeto hebraico. Aparece, no original grego, no

início de cada verso, no nono bloco do Salmo 119.

TETRAGRAMAEsse é o nome que se dá às quatro letras que representam o inefável

nome de Deus, Yahweh, ou seja, yhwh. Esse nome nunca foi e nunca é pronunciado pelos judeus, embora suas vogais tenham sido emprestadas dos nomes Adonai ou Elohim. Uma corruptela de criação gentílica é Jeová, que nada significa para o povo hebreu. Quando estudei o hebraico, na Universidade de Chicago, os estudantes judeus sempre distorciam o som do nome Yahweh, quando liam o texto bíblico em voz alta, a fim de não se tomarem culpados de pronunciá-lo. Ver o artigo geral sobre Deus, Nomes Bíblicos de, que inclui maiores informações sobre esse nome divino.

TEXTOS E MANUSCRITOS BÍBLICOSVer Manuscritos Antigos do Antigo e Novo Testamento

TEXUGO;DUGONGONo hebraico, tachash. Nossa versão portuguesa diz «animais mari­

nhos» (ver Êxo. 25:5; 26:14; 35:7,23; 36:19; 39:34; Núm. 4:6,8,10-12,14,25; Eze. 16:10). Outras versões portuguesas dizem, por exemplo, «golfinhos». Porém, «animais marinhos» é muito vago, e o golfinho, de acordo com muitos estudiosos, não é natural do Oriente Próximo e Médio. Mui prova­velmente, está em pauta o texugo, de cujas peles foi preparada uma cobertura para o tabernáculo (ver Êxo. 25:5 ss.), para protegê-lo quando Israel estivesse em marcha. O trecho de Núm. 4:5,6 indica que uma cober­tura desse tipo era posta sobre a arca da aliança, nessas xasiões. E, desse mesmo material, eram feitos vários itens de uso pessoal, como sandálias (ver Eze. 16:10). Essas peles eram bastante grandes (sem dúvi­da costuradas umas às outras), servindo para o propósito em questão. Em conexão com a arca, parece que bastava uma dessas peles; mas, no tocante ao tabernáculo, sem dúvida era mister a costura, pois o tamanho necessário teria de ser de cerca de 4 m x 13,5 m.

Há intérpretes que pensam estar em foco peles de cabras; mas outros opinam peles de foca ou de algum tipo pequeno de baleia. Apesar de haver um tipo de golfinho nas águas do mar Vermelho, sua pele não era apropriada para ser curtida e tomar-se um couro.

É possível que o animal em questão fosse o dugongo, a única verda­deira espécie marinha da ordem Serenia, que existe até hoje nos mares da região e que antes era muito abundante no golfo de Ácaba. Um dugongo adulto chega a ter 3 m de comprimento, e suas dimensões tomá-lo-iam apropriado para o propósito descrito. Mas ninguém pode ter certeza quanto à identificação do animal em questão.

TIATradução de um vocábulo hebraico que significa carinhoso, dan­

do a entender a irmã do pai ou a esposa do tio. Aparece em três lugares: Êxo. 6:20; Lev. 18:14 e 20:20, todos abordando problemas

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5374 TIARA — TIGRE

incestuosos. O termo carinhoso provavelmente veio a ser usado como palavra de afeto, usada pelas crianças, o que, nesse caso, veio a ser aplicada a um grau especifico de parentesco. (S Z)

TIARANo hebraico migbaoth, «turbantes», palavra que ocorre por qua­

tro vezes no Antigo Testamento: Êxo 28:40; 29:9; 39:28 e Lev. 8:13. Fazia parte da vestimenta do sumo sacerdote de Israel. Era feita de linho, e, aparentemente, tinha um formato cônico. Porém, não existe qualquer representação artística autêntica dessa peça. pelo que a sua natureza exata permanece duvidosa para nós.

TIBATENo hebraico, «extensão». Essa cidade, capital de Hadadezer, rei de

Zobá, só é mencionada na Bíblia por uma vez, em I Crônicas 18:8. A cidade foi despojada por Davi, juntamente com a cidade de Cum. Havia, na antigüidade, duas outras cidades, com nomes semelhantes, como Tebata, na porção noroeste da Mesopotâmia, e Tebeta, ao sul de Nisilbis. Grande parte do bronze usado nos móveis e utensílios usados no templo de Jeru­salém veio de Tibate. O trecho paralelo de II Samuel 8:8 diz «Betá», mas alguns estudiosos pensam que houve inversão de sílabas, e que devería­mos ler ali «Tebá». O local dessa antiga cidade é desconhecido.

TIBNINo hebraico, inteligente. O nome desse homem ccorre somente por

duas vezes em todo o Antigo Testamento: I Reis 16:21,22. Nesse trecho aprendemos que ele era filho de Ginate. Alguns dentre o povo queriam que ele fosse o sucessor de Onri, no trono de Israel. Os dois lutaram entre si durante quatro anos. O conflito só terminou com a morte de Tibni.

TIÇÃONo hebraico, ud, «tição». Palavra usada por três vezes: Isa. 7:4,

Amós 4:11, Zac. 3:2. Essa palavra refere-se a uma extremidade queima­da de um pedaço de madeira, que não permaneceu queimando, mas ficou parecendo um pedaço de carvão, embora continue fumegando por algum tempo. Um tição podia ser meramente uma vara para remexer no meio das brasas. Israel foi tirado do fogo como um tição (o que equivale a dizer que estava próximo à destruição). O ato de ter sido tirado do fogo representa a misericordiosa proteção de Deus.

TICVÃNo hebraico, «esperança». Esse é o nome de duas personagens

do Antigo Testamento, a saber:1. O sogro da profetisa Hulda (II Reis 22:14). Em II Crônicas

34:22, entretanto, ele é chamado de Tocate. Era pai de Salum (vide). Viveu em torno de 640 A.C.

2. Pai de Jaseías (Esd. 10:15). Seu nome também ocorre no livro apócrifo de I Esdras 9:14. Jaseías (vide) foi um daqueles que se ocuparam na alistagem dos judeus que se tinham casado com mu­lheres estrangeiras. Viveu por volta de 445 A.C.

TIDALNo hebraico, «esplendor», «renome». Seu nome aparece somente

em Gênesis 14:1,9. Ele era rei de Goim. Confederou-se com Anrafel, Arioque e Quedorlaomer, em sua Guerra contra o rei de Sodoma e seus aliados, nos dias de Abraão. Viveu por volta de 1910 A.C.

Parece que «rei de Goim» era mais um título honorífico, comum nos anais acadianos. Mas outros identificam Goim com Gutium, na Mesopotâmia. Os chamados textos de Mari usam a palavra ga'um para indicar um grupo ou bando. Isso talvez sugira que Tidal era o chefe de uma tribo nômade, sem fronteiras fixas.

O nome Tidal parece corresponder a Dudalias I, um governante hitita que, segundo pensam alguns, foi o sucessor de Anitas. Todavia, a identificação é incerta, pois o nome pode ter sido improvisado por algum escritor hebreu. Uma figura de um passado tão remoto quanto

ele e os outros nomes ligados a ele, no trecho de Gênesis 14, não pode ser identificada com facilidade.

TIFSANo hebraico, «passagem», «vau». Os estudiosos opinam que a iden­

tificação provável é a cidade de Tapsaco (Anfípolis, nos tempos dos monarcas selêucidas) e nos tempos modernos, Bibsé, um importante ponto de travessia do rio Eufrates. É asseverado, em I Reis 4:24, que o reino de Salomão, a «era áurea» da nação unida de Israel, incluía territórios que chegavam até a essa estratégica cidade de caravanas. Porém, não dispomos de meios para saber por quanto tempo os israelitas conseguiram conservar essa fronteira remota. Uma grande rota comer­cial entre o leste e o oeste, que seguia o chamado Crescente Fértil (vide), tinha em Tifsa um de seus postos. Xenofonte mencionou a loca­lidade (ver Anabasis 1:4,11). A Tifsa mencionada em II Reis 15:16, e que foi atacada por Menaém, rei de Israel, pode ter sido a mesma localidade. Mas alguns eruditos, sem qualquer justificação nos princípios da crítica textual, têr emendado o nome, nesse trecho, para Tipuá (por exemplo, a Revised Standard Version, à margem).

TIGLATE-PILESER1. Nome. No assírio, "minha confiança é o filho de Esarra”, uma das

divindades daquele povo. A forma assíria é Tukulti-apil-esharra. O nome do deus era Ninib. O nome bíblico desse homem é Pul (ver o ponto 2).

2. Pul é o nome no Antigo Testamento para Tiglate-Pileser III, que governou a Assíria entre 745-727 A. C. É provável que Pul (que signi­fica ícrte) tenha sido seu nome pessoal, enquanto Tiglate-Pileser fosse um título real. Ver as seguintes referências de Pul. II Reis 15.19; I Crô. 5.26; Isa. 66.19. Essa referência posterior menciona um povo e um país africano, mas é provável que Pute tenha sido o nome deles, sendo essa a versão que algumas traduções fornecem. A terra desse povo era a Líbia.

3. Importância para o Estudo do Antigo Testamento. Esse foi o rei que assediou Israel antes da queda da Samaria em 722 A. C. Ele não viveu para ver a queda de fato, mas fez muito para prepará-la.

4. Seu Reino. Ele sucedeu Asur-nirari III, um rei um tanto fraco, mas o mesmo não pode ser dito sobre Tiglate-Pileser. Pul reinou apenas entre 745-727 A. C. A arqueologia ilustrou seu reino, princi­palmente por meio das inscrições que foram desenterradas. Esse homem foi um dos maiores conquistadores da Assíria, cujas cam­panhas militares fizeram grandes varreduras e cujo terror atormen­tou muitos povos, inclusive os israelitas. Na campanha de 733-732, seus exércitos marcharam ao oeste e em uma série de ataques ele conquistou a Filístia, na costa do Mediterrâneo, destruiu Damasco e transformou Gileade e a Galiléia em províncias assírias. Tudo isso aconteceu na época de Peca, rei de Israel, finalmente morto por Oséias. Esse último foi forçado a pagar tributos à Assíria para evitar o pior.

5. A Morte de Pul. Ele morreu em 727 A. C. e o trono passou a Ululai, governador da Babilônia que se tornou Salmaneser V (II Reis 15.19, 29; 16.7,10; I Crô. 5.6; II Crô. 28.20.21). Ele assediou a cidade de Samaria (a capital) por três anos, mas, quando a cidade caiu em 722 A. C., foi Sargão II que terminou o trabalho, matando milhares de israelitas e levando a maioria dos sobreviventes à Assíria. Assim ocor­reu o cativeiro assírio. Ver o artigo sobre Salmaneser (I, II, III, IV e V).

Pul é lembrado como um administrador hábil, mas brutal. Ele con­quistava e exilava povos incansavelmente, e aqueles que ele não des­truiu em sua prática de genocídio, sujeitou à tributação. Cativos tor­nam-se escravos, cujo trabalho barato foi responsável por muito de seus programas de construção. Os melhores cativos foram emprega­dos em seu exército, para ajudá-lo a continuar seu programa de de­vastação.

TIGREEste rio, juntamente com o Eufrates (ver a respeito) formava a

planície aluvial da Mesopotâmia. O rio localiza-se no leste daquele

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TIJOLO — TIMNA (CIDADE) 5375

que hoje é conhecido como o Iraque. Sua extensão total é cerca de 1.900 km. Junto aos seus barrancos situavam-se muitas cida­des antigas de destaque. Ele surge nas montanhas de Zagros e nas montanhas do oeste da Armênia e do Curdistão e, finalmen­te, desemboca no Golfo Pérsico. O rio formou o limite leste de Sumer, Hidequel (ver sobre ambos os termos). Esse foi um dos rios que banhavam o jardim do Éden (Gên. 2.14). É provável que esse fosse o nome hebreu (original) do rio. Críticos, contudo, consideram o trecho de Gên. 2.14 poesia e não acreditam que nada significativo seja dito sobre o Tigre ali. O Tigre ficava ao nordeste do Eufrates. Seu fluxo estende-se na direção sudeste até que finalmente ele se junta com o Eufrates antes de chegar ao Golfo Pérsico. O rio não é gigantesco pelos padrões brasilei­ros. Sua largura nunca excede os 200 m, exceto em épocas incomuns de pesadas chuvas e neve. Nos últimos 320 Km antes de unir-se ao Eufrates, o rio foi intersectado por passagens de água artificiais e ocupou leitos de rio, como o Shat-el-hie, ou o rio Hie. Nesse distrito há ruinas de várias cidades antigas sobre as quais sabemos praticamente nada hoje. Mas uma delas, Ur, foi bem ilustrada por escavações arqueológicas e por descrições lite­rárias. O rio corria pela Armênia e por Assir e então separava a Babilônia de Susana. Em um período posterior, formou um limite entre os impérios romano e Partiano.

TIJOLONo hebraico, lebenah, «brancura», provavelmente devido à cor

da argila escolhida para o fabrico de tijolos. O termo hebraico, no sentido de tijolos, aparece por catorze vezes: Gên. 11:3; Êxo. 1:14; 5:7,8,16,18,19; Isa. 9:10; 65:3; Êxo. 5:14.

1. Origens. A primeira menção a tijolos, na Bíblia, diz respeito à construção da torre de Babel (Gên. 11:3). O trecho de Êxodo 5 fornece-nos uma vívida descrição dos labores de Israel, quando fa­bricava tijolos no Egito. Ao que parece, tijolos de barro apareceram, pela primeira vez, nas regiões da Mesopotâmia, em cerca de 3500-3000 A.C., nas áreas montanhosas do que, mais tarde, veio a ser a Pérsia. Com o tempo, passou a ser um material comum de construção, em todas as civilizações. A principio, os tijolos eram feitos de argila endurecida, depois passaram a ser fortalecidos com palha. Assim eram feitos os tijolos para a torre de Babel, ou aqueles feitos por israelitas, no trabalho escravo a que foram sujeitados no Egito. O uso de tijolos crus, queimados ao sol, tornou-se universal no Baixo e no Alto Egito. Cativos estrangeiros ficavam encarregados desse duro labor, e os tijolos assim produzidos eram usados em todo o tipo de construção, feitas pelos ricos e pelos pobres. Tijolos quei­mados vinham sendo usados desde tempos remotos, segundo nos indica o trecho de Gênesis 11:3.

2. Vitrificação. A técnica do fabrico de tijolos vitrificados já era conhecida no século XL A.C., tendo sido criada pelos egípcios. Dali, o método propagou-se para outras culturas. Há evidências desse tipo de tijolo em lugares tão distantes do Egito quanto Creta, Síria e Assíria. No templo de Nabu, em Corsabade, construído por Sargão, temos a técnica de tijolos assentados sobre betume. A Babilônia, con­forme foi reconstruída por Nabucodonosor, exibe o uso de tijolos quei­mados e de tijolos vitrificados.

3. Traves de madeira eram empregadas nas construções de tijo­los, tanto para efeito de alinhamento, como para fortalecer a constru­ção. As áreas ocupadas pelos hititas mostram essa técnica. Esse tipo de construção também foi utilizada na construção do templo de Salomão ( I Reis 6:36 e 7:12), bem como em Megido, nessa mesma época. Outro tanto se dava em regiões da Síria, onde também se praticava o acabamento por meio de reboco.

4. Fornos para cozimento de tijolos (no hebraico, maiben) eram usados em Israel, nos dias de Davi (II Sam. 12:31). Naum, com grande sarcasmo, disse aos habitantes de Nínive que pisassem bem a massa (para o fabrico dos tijolos), mas que, a despeito disso, não conseauiriam evitar a aueda da cidade (Naum 3:14). Isaías (9:10)

repreendeu o orgulho dos samaritanos, que se jactaram em substituir suas muralhas de tijolos por novas muralhas, de pedra.

5. Sentido Metafórico. Construir com tijolos simbolizava ir adicio­nando, pouco a pouco, às realizações pessoais, até que se fizesse algo digno de ser mencionado. Também indicava um labor paciente e diligente. Nos escritos de Aristóteles, a construção de uma parede é usada pare ilustrar a sua noção de substância. Portanto, quanto às causas envolvidas, temos os seguintes pontos a serem considerados:a. material: a argila, que compõe a substância básica do tijolo; b. o que é formal, isto é, o plano que existe acerca da construção a ser feita; c. o que é efetivo, ou seja, o poder que lança mão dos tijolos, o construtor ou pedreiro; d. o final, que aponta para o produto, uma vez terminada a obra, o alvo mesmo de todo o labor efetuado. Todas as coisas podem ser concebidas como que produzidas por essas quatro causas, e essas causas são os modos de ação das substânci­as. (AM EP FRA UN)

TILOMNo hebraico, «escárnio», «zombaria». Esse homem pertencia à

tribo de Judá e era filho de Simão. Descendia de Calebe, filho de Jefuné. Viveu em cerca de 1400 A.C. O seu nome é mencionado somente em I Crô. 4:20.

TIMATEA referência é o mito semítico e babilónico no qual as Águas

Primitivas fornecem o material do qual os deuses, homens, os céus e a terra apareceram. Neste mito da criação, a mãe primitiva (Timate) está associada a um pai primitivo (Apsu). Eles são os pais dos deuses. Em um desenvolvimento posterior do mito, Marduque é o deus da vida e a luz, enquanto Timate é a personificação dos poderes da escuridão e do caos. Ela é representada como águas caóticas e como uma serpente enfurecida, um temeroso monstro dragão. Um estágio mais avançado dos mitos que cercam Timate são seus esforços com Marduque e depois Asur. Timate é morta e seu corpo é dividido no cosmo inferior e superior. A história é con­tada no épico nacional, Enuma elis. Alguns vinculam essa história com as descrições de Gên. 1.2, a versão hebraica do relato da criação, mas alguns estudiosos bíblicos a rejeitam com base lin­güística.

TIMINATE-HERES, TIMINATE-SERESNo hebraico, «porção do sol». Esse local é mencionado somente

em Juí. 2:9. O lugar foi herdado por Josué, e ali ele foi sepultado, De conformidade com esse texto bíblico, ficava «na região montanhosa de Efraim, ao norte do monte Gaás».

O texto da Septuaginta diz Thamnathares, e uma antiga tradição dos samaritanos identificava esse local com a moderna Kafr-Haris, cerca de dezenove quilômetros a sudoeste de Nabus, e apenas a onze quilômetros de Siquém. Porém, há bem poucas evidências ar­queológicas em confirmação dessa opinião. Dentro das tradições rabínicas, usualmente era vinculada ao lugar onde Josué ordenou que o sol parasse em seu trajeto (ver Jos. 10:13). A diferença entre esse nome e a forma que aparece em Josué 19:50 e 24:30, «Timnate-Seres» (vide), pode ter por base uma simples metátese. Porém, o fato de que a palavra tem sentido em ambas as passagens, bem como o testemunho da Septuaginta, indica que o mais provável é que o nome mais antigo dessa cidade era Timinate-Heres, e que o outro nome, Timnate-Seres, só apareceu mais tarde. Timnate-Seres significa «porção restante».

TIMNA (CIDADE)No hebraico, «partilha». A forma dessa palavra, no hebraico, é

levemente diferente do nome pessoal que, em português, também é escrito como Timna (vide).

Nas páginas do Antigo Testamento há duas cidades com esse nome. a saber:

Page 48: 0 ANTIGO TESTAMENTO INTERPRETADO · nas páginas do Antigo Testamento. 1. Um filho de Efraim, fundador da família dos taanitas (Núm. 26:35). Viveu em torno de 1600 A.C. 2. Um efraimita,

5376 TIMNA (PESSOAS) — TINTERIO (TINTUREIROS)

1. Uma cidade de Judá, atualmente conhecida por Tibné, cerca de três quilômetros a oeste de Bete-Semes, e entre esta e Ecrom. E mencionada por seis vezes no Antigo Testamento: Gên. 38:12-14; Jos. 15:10,57 e II Crô. 28:18. Visto que o nome dessa cidade é grafado, no original hebraico, de duas maneiras diferentes, alguns estudiosos têm pensado que seriam duas cidades, e não uma só. Todavia, é muito difícil que houvesse duas cidades diversas dentro de uma área tão pequena como a que havia entre Bete-Semes e Ecrom.

2. Uma cidade do território de Dã, já perto da Filístia. Essa cidade é mencionada por três vezes, no décimo quarto capitulo do livro de Juizes (vss. 1, 2 e 5) e por mais uma vez em Jos. 19:43.

Ver Minas do Rei Salomão.

TIMNA (PESSOAS)No hebraico, «restrição». Há dois homens e duas mulheres com

esse nome próprio, no Antigo Testamento:1. Um chefe de Edom, descendente de Esaú, filho de Isaque e

irmão de Jacó. O seu nome aparece por duas vezes no Antigo Testa­mento: Gên. 36:40 e I Crô. 1:51. Viveu em tomo de 1500 A.C.

2. Um filho de Elifaz, filho de Esaú. O seu nome ocorre somente em I Crô. 1:36. Viveu em cerca de 1700 A.C.

3. Uma concubina de Elifaz, filho de Esaú. O nome dela só aparece em Gên. 36:12. Viveu em tomo de 1700 A.C.

4. Uma filha de Seir, o horeu, e irmã de Lotã (vide). O nome dela é mencionado por duas vezes no Antigo Testamento: Gên. 36:22 e I Crô. 1:39. Ela viveu por volta de 1700 A.C.

TIMNITAEsse adjetivo pátrio indica algum nativo ou habitante da cidade

de Timna (vide). O sogro de Sansão é descrito como tal, em Juizes 15:6. Interessante é observar que por todo o relato bíblico do casa­mento frustrado de Sansão com essa mulher filistéia, o nome dela não é mencionado nem uma vez sequer. Ela é caracterizada, quando muito, como «a mulher de Sansão» (ver Juí. 14:15).

TINTAMuitas tintas de escrever, fabricadas na antigüidade, eram de

excelente qualidade. Não fora isso, e não teria havido a preservação de textos antigos, tanto da Bíblia quanto de outros documentos im­portantes para a humanidade.

A palavra hebraica correspondente é deyo, que ocorre por ape­nas uma vez, em Jer. 36:18. E o termo grego é mélas, «negro», que aparece por três vezes com o sentido de tinta: II Cor. 3:3; II João 12 e III João 13.

As tintas antigas eram feitas de substâncias como carvão vege­tal pulverizado, ou negro de carvão misturado com goma e água. Esse tipo de tinta perdurava indefinidamente, se o material escrito com o mesmo fosse mantido seco, mas, caso se umedecesse, logo a tinta se dissipava. O trecho de Núm. 5:23 alude ao fato de que tintas dessa espécie podiam ser apagadas, o que se fazia com o uso de uma esponja e água. As tintas antigas não eram tão fluidas como as nossas. Demóstenes repreendeu Esquines por trabalhar tanto para pulverizar os ingredientes que entravam no fabrico de suas tintas, mais ou menos como os pintores esforçam-se por produ­zir as suas tintas. Uma tinta encontrada em um antigo tinteiro, em Herculano (cidade sepultada sob as cinzas do Vesúvio, juntamente com Pompéia, na Itália), aparenta ser como um óleo ou tinta grossa.

Certas tintas antigas, que continham ácidos, chegavam a corroer o papiro ou mesmo as peles de animais usados como material de escrita. Exemplos disso podem ser vistos nos manuscritos da biblioteca do Vaticano, das obras de Terêncio e Vergílio. As letras comeram o papel ao ponto de terem penetrado até o outro lado das folhas.

Tintas metálicas eram preparadas para uso em papiro; sabemos que em Israel, desde o século VI A.C., tais tintas já eram usadas. As cartas de Laquis (de cerca de 586 A.C.) foram escritas com esse tipo de tinta. Alguns manuscritos entre os do mar Morto, foram escritos com

tintas de carbono. A carta de Aristeas afirma que uma cópia da lei, envi­ada a Ptolomeu II, fora escrita com tinta feita de ouro dissolvido.

Os egípcios usavam tintas de escrever de muitas cores, conforme os papiros egípcios descobertos bem o demonstram. Corantes vegetais e mi­nerais eram empregados na produção dessas tintas. As cores incluíam o dourado, o prateado, o vermelho, o azul e o púrpura, Os materiais de escrita eram guardados em vários tipos de sacolas e caixas.

Origem da Tinta de Escrever. Até onde o nosso conhecimento nos permite recuar (o que geralmente não retrocede tanto quanto deveria ser), as tintas de escrever foram usadas inicialmente no Egito e na China, onde já são encontradas desde cerca de 2500 A.C. Tintas de carbono eram bastante resistentes, visto que essa substância resiste aos efeitos degenerativos da luz, do ar e da umidade.

As tintas modernas usam soluções de água e corantes, ou então água e químicos orgânicos como glicol propileno, álcool propil, tolueno e glicoésteres, que os antigos desconheciam. Quase todas as tintas de escrever modernas contêm também outros elementos como resi­nas, preservativos e agentes secantes. Algumas tintas são feitas para serem absorvidas pela superfície do papel. Outras formam uma espé­cie de filme que se forma sobre a superfície do papel, mas não é absorvido pela mesma.

TINTEIRO (TINTUREIROS)No hebraico, qeseth. Essa palavra ocorre por três vezes: Eze.

9:2,3,11.Os tinteiros antigos consistiam em um longo tubo onde eram

guardadas as penas de escrever. Esse tubo ficava preso ao cinto. Eram feitos de bronze, cobre, prata ou madeira dura. Podia ter cerca de 25 cm de comprimento por 5 cm de espessura. O que chamaría­mos hoje de tinteiros (não confundir com o qeseth dos hebreus) eram receptáculos feitos de vários materiais, como argila, metais e pedra. Esses receptáculos para tinta, feitos de terracota ou de bronze, têm sido encontrados nas ruínas dos escritórios da comunidade de Qumran (vide).

A arte de tingir era generalizada, e de grande importância no mundo antigo. O povo de Israel aprendeu a arte no Egito, tendo-a usada até mesmo durante as suas vagueações pelo deserto, confor­me vemos em Êxo. 26:1 e 28:5-8. Até mesmo as tribos nômades costumavam tecer e tingir seus próprios têxteis. Entretanto, com o tempo houve a comercialização dos panos tingidos, e assim surgiu a profissão dos tintureiros. A arqueologia tem descoberto tecidos elaboradamente tingidos, teares de madeira e cubas de tingir. Essas descobertas incluem aquelas realizadas em Laquis (vide), no sul da antiga Judá, além de muitos outros lugares. Os cananeus, antes mesmo da época de Abraão, sabiam tingir panos com maestria. Ma­teriais e utensílios usados nesse mister foram encontrados em Tell Beit Mirsim (Quiriate-Sefer). Também houve descobertas similares em Ugarite. Os cananeus extraíam um corante de cor púrpura, das conchas do Murex. A cidade de Bíblos (vide), às margens do mar Mediterrâneo, notabilizou-se em face de suas duas principais indús­trias: a manufatura de folhas de papiro e de panos.

Na Suméria eram predominantes as profissões dos tecelões e dos tintureiros. O Egito notabilizava-se pela produção de linhos finos, e exportava tecidos finíssimos, quase transparentes, nas cores azul, amarelo e verde pálido. Eixos usados pelos tecelões (ver I Sam. 17:7) têm sido encontrados em vários locais mencionados na Bíblia.

Os corantes eram feitos de animais marinhos e também de inse­tos, substâncias vegetais, a casca da romãzeira, as folhas da amen­doeira, a potassa e as uvas. A lã era o tecido mais comum nos tempos bíblicos, porquanto absorvia os corantes com grande facilida­de. A lã natural na verdade já vinha em várias cores, como branco, amarelo, cinza claro e marrom. Cores tipicamente masculinas eram, portanto, obtidas com pouco trabalho para os tintureiros (Sal. 45:14). Já o linho era mais difícil de tingir. Contudo, havia métodos adequa­dos, e o tabernáculo, produzido no deserto, contava com seus linhos tingidos (Èxo. 35:6), o que também ocorreu, naturalmente, no caso do

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TINTERIO — TIPOS, TIPOLOGIA 5377

templo de Jerusalém, edificado muitos séculos mais tarde (II Crô. 2:7). O algodão, por sua vez, era facilmente tingido, havendo vários cen­tros de produção de tecidos de algodão. O algodão é originário da índia. Na época da rainha Ester, o algodão era tingido na Pérsia (Est. 1:6). A seda era tingida no Extremo Oriente e exportada para o mundo inteiro conhecido. E também havia couros de quandade, devi­damente tingidos.

Os melhores exemplares dessa arte pertencentes às terras bíblicas e aos tempos do Antigo Testamento são aqueles descober­tos em Quiriate-Sefer, identificado com o moderno Tell Beit Mirsim. Seis plantas diferentes, usadas na tinturaria antiga, e cerca de trin­ta instalações diferentes, ocupadas nessas atividades, foram ali encontradas. O tamanho das cubas ali encontradas indica que os fios é que eram tingidos, e não o tecido já manufaturado. Quanto a outros detalhes sobre a questão, ver o artigo geral sobre Artes e Ofícios, 4.b.

TINTUREIROS Ver Tinteiro (Tintureiros).

TIOVer o artigo sobre Família.

TIPOVer sobre Tipos, Tipologia.

TIPOLOGIA Ver sobre Tipos, Tipologia.

TIPOS, TIPOLOGIA.Esboço:I. Definição e Caracterização GeralII. Termos EmpregadosIII. Inspiração Dessa Forma de InterpretaçãoIV. Legitimidade da Tipologia e Oposição a ElaV. Características dos TiposVI. Como Evitar ExagerosI. Definição e Caracterização GeralA tipologia é uma técnica, associada bem de perto à alegoria,

mediante a qual pessoas, eventos, instituições ou objetos de qual­quer espécie passam a simbolizar ou ilustrar a pessoa de Jesus Cristo, ou então aspectos da fé, da doutrina, das práticas, das insti­tuições cristãs, etc. Paulo e o autor da Epístola aos Hebreus muito tiraram proveito do Antigo Testamento, visto que eles acreditavam que o Antigo Testamento prefigurava (por ato de Deus) o Novo Tes­tamento, como também que Cristo foi o cumprimento de inúmeros tipos ou símbolos do Antigo Testamento.

Um tipo assemelha-se a uma alegoria, mas visto que tem melho­res bases bíblicas, tem ocupado um sucesso maior, retendo um im­portante papel dentro da interpretação cristã. Ver sobre Alegoria e Interpretação Alegórica. Há algumas alegorias nas páginas da Bíblia, mas o Novo Testamento exibe um número muito maior de tipos do que de alegorias.

II. Termos EmpregadosSão todos vocábulos gregos: Túpos, «tipo» (ver Rom. 5:14, I

Cor. 10:6,11). Skiá, «sombra» (ver Col. 2:17, Heb. 8:5,10:1). Hupódeigma, «cópia» (ver Heb. 8:5; 9:23). Semêion, «sinal» (ver Mat. 12:28). Parabolé, «figura» (ver Heb. 9:9; 11:19). Antítupos, «antitipo» (ver Heb. 9:24; I Ped. 3:21). Todos esses vocábulos envolvem o uso de tipos para efeitos didáticos, e as passagens ilustrativas acima oferecidas provêem exemplos dessa atividade no Novo Testamento.

Esses tipos provêem sombras ou vislumbres de verdades que são melhor desenvolvidas e expostas no Novo Testamento, em con­traste com o Antigo Testamento. Na verdade, o Antigo Testamento é usado como uma espécie de tesouro de onde são extraídas todas as formas de antecipações de Cristo, de sua Igreja ou de sua doutrina,

mediante o uso de pessoas ou coisas que são usadas simbolicamente. Os tipos muito enriquecem o estudo das Escrituras, ainda que possamos questionar a validade de alguns deles, porquanto pode haver exageros de interpretação. Na primeira instituição teológica na qual estudei, houve um curso de um semestre que só tratou do assunto da tipologia, o que mostra como esse assunto é considerado importante em alguns círculos.

III. Inspiração Dessa Forma de InterpretaçãoOs rabinos amavam símbolos, tipos, alegorias e parábolas. A

tipologia tem um pano de fundo judaico, e era extremamente popular entre os rabinos. O material escrito dos Manuscritos do Mar Morto (vide) provê ilustrações tanto da interpretação alegórica quanto da interpretação tipológica. Foi natural que os autores do Novo Testa­mento (quase todos eles judeus, acostumados com o estudo do Anti­go Testamento) tivessem visto tipos claros no Antigo Testamento. Assim, Cristo tornou-se o Segundo (ou Último) Adão (Rom. 12); a primeira páscoa ilustrava Cristo como nossa Páscoa e a eucaristia (I Cor. 5:6-8); o cordeiro pascal antecipava o Cordeiro de Deus (João 1:29); Israel no deserto antecipava certos aspectos da vida cristã (I Cor. 10:1-11). Acresça-se a isso que a Epístola aos Hebreus é, virtu­almente, um estudo de tipos bíblicos, do principio ao fim. Não se pode duvidar que tipos enriqueceram a teologia cristã. Porém, algumas ve­zes, um tipo é obtido ignorando-se o contexto, ou então através de uma fértil e exagerada imaginação. Por isso mesmo, tipos podem ser abusados, tornando-se fantasias subjetivas.

IV. Legitimidade da Tipologia e Oposição a ElaA legitimidade do uso de tipos alicerça-se essencialmente so­

bre o fato de que os autores do Novo Testamento usaram livre­mente esse método. A inspiração das Escrituras insiste que este uso é inspirado pelo Espírito de Deus. Do ponto de vista histórico, salienta-se que o cristianismo nasceu dentro do judaísmo, e que o Novo Testamento foi o desdobramento natural e necessário do Antigo Testamento. As íntimas correlações entre os dois Testamen­tos exigiam que o Antigo se tornasse típico do Novo Testamento. Além disso, a tradição profética tem um papel a desempenhar aí, pois há predições sobre Cristo em muitas passagens, pelo que era inevitável que o documento de predições também contivesse tipos da Figura sobre a qual predizia. Ver sobre Profecias Messiânicas Cumpridas em Jesus.

Oposição. Esta procede, essencialmente, de três setores: 1. Os rabi­nos objetavam ao uso tipológico de seus Livros Sagrados, visto que rejeitavam a Pessoa e a fé religiosa que, alegadamente, estavam sendo tipificadas. Também objetavam à cristianização do Antigo Testamento, o que eles consideravam uma perversão, e não um uso legítimo. 2. Os teólogos liberais objetam aos excessos e abusos a que os tipos são sujeitados; os mais radicais entre eles objetam à própria prática, como uma cristianização do Antigo Testamento que vai além do que a razão permite. Assim, a crítica (que teve início no século XIX, na Alemanha), nunca deu muito valor aos tipos, e acabou desaparecendo ali. 3. Os céticos concordam com os rabinos e com os estudiosos liberais mais radicais, supondo que a prática da cristianização do Antigo Testamento envolve uma falsidade, repleta de fantasias e exageros piedosos.

V. Características dos Tipos1. Eles estão alicerçados na história e na revelação sagradas

(Mat. 12:40).2. São proféticos (João 3:14; Gên. 14, comparado com Heb. 7).3. Fazem parte integral da história sagrada e da doutrina cristã, e

não pensamentos posteriores, inventados por rabinos e cabalistas (ver I Cor. 10:1-11).

4. São cristocêntricos (Luc. 24:24,44; Atos 3:24 ss).5. São excelentes para instrução e edificação. Cada tipo provê

uma espécie de janela que permite a entrada de luz sobre o assunto ventilado. O livro aos Hebreus é o supremo exemplo noteostamentário de como funcionam os tipos bíblicos.

VI. Como Evitar ExagerosAlguns intérpretes cristãos têm pensado ver tantos tipos no Antigo

Testamento que perdem de vista o valor histórico e religioso do Livro

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5378 TIRACA — TIRO

Sagrado. De maneira geral, encontrar,o-nos em terreno firme quan­do aceitamos aqueles tipos que nos são apresentados no próprio Novo Testamento, ou quando suspeitamos daqueles que não contam com tal confirmação. Entretanto, alguns intérpretes exageram, ao verem demais nesses tipos. Alguns intérpretes vêem algum simbolis­mo em cada peça do mobiliário do tabernáculo, e até mesmo nos materiais empregaoos na confecção dos mesmos, como ilustrações de algo sobre a pessca e a obra de Cristo. Mas se o relate acerca de Jor.ss certamente ilustra a ressurreição ae Cristo, o retomo de Jonas à sua terra natal não ilustra, necessariamente, a restauração de ‘srael aos seus territórios, conforme alguns têm dito, Detalhamentos demasiados devem ser evitados, portanto. Alguns tipologistas têm-se atrapalhado com pormencres sem base, encontrando tipos dentro ae tipos. Devemos procurar pela verdade essencial, nãc tentando es­crever um livro com oase apenas sobre um tipo, que é apenas uma ilustração. (B C E IDi

TIRACANos registros egipeios, o nome desse homem aparece como

Taraca Está em questão um faraó da época em que a dinastia etíope governava o Egito. Alguns identificam a dinastia como a 20a, mas outros dizam que era a 25a. Em II Reis 19.9 esse homem é mencionado como aiguénn que se revoltou contra Senacuerite quan­do esse rei da Assíria invadiu Judá (701 A C.) Mas quando a dinastia etiepe governava o Egito, o líder do governo era Snabaka, não Tiraca que não tomou o poder até 691 A. C., cerca de 12 anos depois. Talvez Tiraca agisse por parte de Snabaka, seu tio, e como general do exército, tenha recebido, erroneamente, o nome de “re r em II Reis 19.9 e em Isa. 37.9. Essa explicação parece uma visão melhor e mais simples do que a de que Senaqueribe executou duas campanhas, uma envolvendo a oposição de Shabaka. e outra envoivendo oposição de Tiraca. Em :oao caso, não há muito valor prático em tentar harmonizar os anais do Egito, aa Assíria e das poucas referências bíblicas que existem, e apelar para o “silêncio” , pois inventar uma campanna de Senaqueribe não parece uma forma lógica de harmonizar os relatos. Tiraca obteve algumas vitórias iniciais, como aquela feita contra Esar-Hadom, fi­lho de Senaqueribe, mas apenas três anos depois (670 A. C.) ele fci expulso de Menfis e nunca retornou ao Egito tendo voltado ao seu Sudão nativo, isto é, à cidade de Napata, onde morreu. Suas aventuras deram maus resultados.

TIRADORES DE ÁGUAAs pessoas empregadas na tarefa de tirar água dos poços per­

tenciam às classes humildes, excetuando as donas de casa, que prestavam esse serviço para suas famílias, como parte de suas tarefas diárias. Era uma tarefa manual, geralmente entregue a mu­lheres (Gên. 24 :1 3 :1 Sam. 9:11). Porem, rapazes também realiza­vam a tarefa (Rute 2:9). Algumas vezes, inimigos subjugados eram reduzidos a «tiradores de água», conforme se vê em Josué 9:21 ss. Essa tarefa era necessária devido à ausência de qualquer sistema de transporte de água, na maioria das cidades, sem falar no fato de que cs poços e os mananciais ficavam situados distantes das resi­dências, o que obrigava as pessoas a andarem um pouco para tira­rem água. A água era transportada em boa variedade de vasos, incluindo aqueles feitos de metal, de madeira ou de peles de ani­mais. Quem puxava a água também a transportava aos ombros, ou então a punha sobre o lombo de animais de carga. Os tiradores de água aparecem entre os mais humildes daqueles que entraram em aliança com Deus (Deu. 29:11). Muitas pesseas estão ocupadas em tarefas desinteressantes e até mesmo humilhantes, completa­mente destituídas de qualquer desafio. São cs modernos «tiradores de água». Mas até mesmo esses podem entrar em aliança com Deus, no que encontram grande valor espiritual. Isso aumenta imen­samente o interesse da vida. O apelo dos sistemas políticos ateus, em favor somente do corpo físico, nunca beneficia em coisa alguma

a alma. Ao mesmo tempo, porém, os teólogos não deveriam mostrar-se indiferentes para ccm a situação de pessoas humildes, cujas vidas, do ponto de vista físico, têm pouco ou nenhum ponto de interesse. Essa preocupação deveria encontrar avenidas de expres­são que não se olvidem de Deus ou da alma, pois, do contrário, a miséria final será pior do que a miséria que se tinha procurado resol­ver. Isso fez parte do ABC da espiritualidade.

TIRANÁNo hebraico, «gentileza». Esse homem era filho de Calebe e de

sua concubina, Maaca (I Crô. 2:48). Viveu por volta de 1440 A.C. Tinha um irmão de nome Seber (vide).

TIRASO filho mais novo ae Jafé, que também d e j nome aos seus

descendentes (Gên. 10:2 e I Crô. 1:5). Vários pontos de vista sobre a identidade desses descendentes têm sido conjecturados, mas ne­nhum deles tem merecido aceitação universal. Alguns esenrores têm-nos identificado com os trácios (Josefo, Anti 1:6,1); outros, com os piratas Tumsa, que invadiram a Síria e o Egito no século XIII A.C. Outros têm-nos vinculado a Tarso, na Cilicia, a Társis, na península ibérica, e, finalmente, aos progenitores dos etruscos, da península itálica. Talvez a razão mais forte para esta última hipótese seja o fato de que bem ao lado da península itálica há o mar Tirreno. Além disso, os estudiosos têm averiguado forte ligação entre os etruscos e os mais amigos tursenoi, referidos peios gregçs, embora os gregos também dessem esse nome a certos povos da Ásia Menor, além dos etruscos. Mas isso não é obstáculo intransponível, pois todos os povos europeus vieram da Ásia, quando os descendentes de Noé, através de seus três filhos, Sem, Cão e Jafé, começaram a se espalhar pela face da terra, partin­do das regiões dc monte Ararate, que hoje fica entre a União Soviéti­ca, a Turquia e o Irã.

TIRATITASUma das 'amilias de escribas, pertencentes à tribo dos aueneus,

que viviam em Jabez. As outras famílias são os simeatitas e os sucatitas (vide). Eles são mencionados exclusivamente em I Crô. 2:55.

TIRiANo nebraico, «alicerce», «fundação». Era filho de Jealelel, da

tribo de Judá (I Crô. 4:16). Viveu por volta de 1400 A.C.

TIRO1. A PalavraNo hebraico, tsur, «rocha». No grego, Túros. Esse foi um famoso

porto marítimo da Fenícia, situado cerca ae quarenta quilômetros ao sul do porto irmão de Sidom, e a vinte e auatro quilômetros ao norte da fronteira entre o Líbano e Israel. Portanto, ficava perto ae uma fronteira geográfica natural.

2. GeografiaPor detrás da cidade de Tiro, o espinhaço contínuo aa caaeia

montanhosa do Líbano já começa a baixar para tornar-se uma região de colinas confusas, e que continua para o sul até formar as terras altas da Galiléia. Só há uma interrupção nessas colinas, a planície de Esdrelom, antes de se chegar à região montanhosa de Efraim e de Judá. Aproximadamente dezenove quilômetros ao sul de Tiro. certas colinas e promontórios, que avançam na direção do mar, formam uma espécie de muralha natural. Isso assinala a fronteira moderna, no sul do Líbano, e cerca de trinta quilômetros ou pouco mais, para o sul, fica o grande porto israelense de Haifa. Tanto Tiro quanto Sidom continuam funcionando como portos marítimos; mas as ruínas de Tiro são muito mais extensas, tendo sido alvo de grandes investiga­ções e escavações arqueológicas.

3. FundaçãoO historiador grego Heródoto (cerca de 490—430 A.C.) aatou a

fundação de Tiro em uma data tão remota como cerca de 2740 A.C.

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TIRO 5379

Mas Josefo falava em uma data como 1217 A.C. Devido à grande discrepância nos dados históricos, quanto à data da fundação dessa cidade, há suspeita em ambos esses historiadores. Provavelmente, Heródoto está mais certo do que Josefo quanto a essa data; porém, o informe perdido, em todas essas datas, é o tempo exato da chegada dos fenícios na faixa litorânea entre os montes do Líbano e o mar. Escavações feitas em mais de um ponto de ocupação, nessa faixa litorânea, revelam uma camada do período neolítico, debaixo da mas­sa de ruínas fenícias. E estas, por sua vez, são pesadamente recobertas por ruínas gregas, romanas, e, algumas vezes, da época dos cruza­dos da era medieval, um fenômeno que pode ser verificado desde Biblos até Tiro.

4. Política FeníciaOs fenícios, tal como os gregos, nunca formaram uma unidade

nacional, e jamais conseguiram fundar qualquer coisa parecida com uma unidade política. À semelhança dos gregos, eles também esta­vam organizados em cidades-estados. E diferentes historiadores po­dem fixar de modo diverso o começo significante de alguma cidade, o que explica aquela discrepância acerca de datas de fundação, como é o caso de Tiro.

5. Colônia de SidomO trecho de Isaías 23:2,13 parece dar a entender que Tiro co­

meçou como uma colônia de Sidom. De acordo com esse profeta, Tiro era uma «oprimida filha virgem de Sidom»; as palavras «bens sidônios», usadas por Homero, talvez dêem a entender que Sidom era a mais antiga das duas cidades. Interessante é observar que Homero mencionou Sidom por diversas vezes, sem nunca haver mencionado Tiro. Porém, nos autores latinos, o adjetivo «sidônio» com freqüência é vinculado a Tiro. Para exemplificar, Dido, filha de Belo, de Tiro: é chamada por Virgílio de «a Dido sidônia». E as cartas de Tell el-Amarna, que precedem a época de Josefo, contêm um apelo, feito pelo governador local de Tiro, que deve ser datado em cerca de 1430 A.C., onde ele solicita ajuda, pressionado como estava sendo pelos «habiri» (hebreus) invasores. Mas, sem importar quem tenham sido esses invasores, o apelo, dirigido ao Faraó Amenhotepe IV, demonstra que o poder do Egito, havendo peneira­do até tão para o norte, fraquejava nas costas da Fenícia, por esta­rem distantes demais do Egito. Josué entregou Tiro aos homens da tribo de Aser; porém, não parece provável que a invasão dos hebreus tenha chegado a uma localidade tão nortista quanto era Tiro (ver Jos. 19:29; II Sam. 24:7).

6. No Tempo de HirãoDurante os próximos três ou quatro séculos não encontramos

claros registros históricos a respeito de Tiro. A história só nos fornece informações claras e precisas no tempo de Hirão, rei de Tiro, e amigo de Davi. Hirão parece ter desfrutado de um reinado extrema­mente longo, pois ele foi mencionado pela primeira vez quando en­viou madeira de cedro e artífices especializados a Davi (II Sam. 5:11). E, de acordo com I Reis 5:1, ele fez a mesma coisa nos dias de Salomão. Tiro parece ter sido o centro do poder fenício, na época, porquanto os sidônios são descritos naquele mesmo contexto onde também são alistados os servos de Hirão e pedreiros de Gebal, a antiga Biblos Essa cidade fica cerca de quarenta quilômetros ao norte de Beirute.

7. Relação a SalomãoTambém é interessante notar que Etbaal, reputado neto de Hirão,

um século mais tarde, foi chamado de «rei dos sidônios» (I Reis 16:31). Portanto, parece que o poder dos fenícios oscilava entre Sidom e Tiro. O fato é que o astuto Hirão tirou grande proveito de sua sociedade com Israel. Conforme mostra o famoso papiro de Wenamom, os príncipes fenícios eram notáveis negociantes, sendo claro que Salomão muito embaraçou a nação de Israel por ter de fazer pesados pagamentos a Hirão, sob a forma de trigo e azeite (I Reis 5:11), sob a forma de tantos israelitas que tinham de trabalhar nas florestas tírias, na extração de madeira, e também por haver entregue, tolamente, vinte centros populacionais da Galiléia para os fenícios (ver I Reis 9:10-13). Não

obstante, posteriormente Hirão queixou-se diante de suas aquisições na Galiléia, servindo isso de possível indicação de que Salomão também tivesse usado de sua astúcia nativa.

Juntos, Salomão e Hirão estabeleceram uma sociedade mercantil, alicerçada no golfo de Ácaba, ao norte do qual Salomão tinha as suas fundições de cobre. Hirão dispôs-se a negociar, empregando as habi­lidades fenícias na construção de embarcações e com grandes mari­nheiros, para obter acesso às rotas comerciais com Ofir, provavelmen­te a índia e o Ceilão, através do território de Israel.

Em adição à madeira de cedro, que motivou os primeiros contactos comerciais entre Israel e Tiro, esta última também negociava com o seu incomparável corante carmesim, feito de um molusco abundante em suas praias do mar. Isso posto, a madeira, os corantes, os teci­dos tingidos, uma poderosa marinha mercante, o estanho extraído na distante Comuália (ilhas Britânicas, o ponto mais distante da navega­ção regular dos fenícios, cerca de 3400 milhas marítimas, ou seja, cerca de 6300 quilômetros), além de prata extraída na Espanha e cobre em Chipre, faziam de Tiro, do rei Hirão, uma das maiores cida­des comerciais do mundo antigo, e acerca do que as Escrituras Sagra­das mesmas prestam testemunho: «...e te enriqueceste e ficaste mui famosa no coração dos mares» (Eze. 27:25).

Até onde os registros históricos fragmentares podem ser alinhava­dos, parece que depois da época de Hirão, que teve um reinado muito longo, estouraram muitos conflitos entre poderosos, que queriam assenhorar-se do trono tírio. Já notamos sobre a transferência de poder, de Tiro para Sidom, acima. Foi a filha de Etbaal, rei de Sidom, de nome Jezabel, que se casou com Acabe, rei de Israel, na época do profeta Elias. Aquele foi um casamento dinástico, de conveniência apenas. Comercialmente falando, as vantagens comerciais obtidas por Salomão, nos dias do reino unido de Israel, foram assim transferidas para o reino do norte. Tiro e a Fenícia em geral, geral­mente, ressentiam-se de sua baixa produtividade agrícola, ao passo que Israel produzia muito nesse campo. Esses produtos agrícolas de Israel, portanto, eram trocados pelos produtos de luxo produzidos pelos fenícios, muitas vezes trazidos de longas distâncias pelos ne­gociantes tírios.

8. Dominação AssíriaPor dois séculos de dominação assíria no Oriente Próximo, Tiro

teve de sofrer, juntamente com outras comunidades da região, um longo período de agressão e opressão. No entanto, seu poder maríti­mo e sua posição quase inexpugnável, em uma ilha, a certa distância do continente, conferiam a essa cidade uma certa proteção. É signifi­cativo que Tiro conseguiu libertar-se da dominação exercida por Nínive, uma geração antes dessa grande capital, o último fortim do poder imperialista da Assíria, haver caído, o que já ocorreu nos fins do século VII A.C. A data mais precisa foi 612 ou 606 A.C. Isso assina­lou uma outra era áurea da influência e do poder de Tiro. Os capítu­los vinte e sete e vinte e oito do livro de Ezequiel, que denunciam fortemente os tírios, fornecem-nos uma descrição muito boa sobre o poder, as riquezas, o comércio variegado e o luxo que pairava em torno desse porto fenício.

9. Dominação BabilónicaQuando a Babilônia substituiu Nínive, como o maior agressor e

dominador das terras do Oriente Médio e Próximo, Tiro ainda ofere­ceu alguma resistência aos babilônios. Porém, as tensões de um prolongado cerco, a drenagem de suas riquezas e de seu potencial humano, a ruptura de seu comércio durante esse novo período de hostilidades acabaram por prejudicar, definitivamente, aquele grande porto de mar fenício. Deus entregara o mundo às mãos dos babilônios, e Tiro não escapou a esse domínio. Com Nabucodonosor teve início o «tempo dos gentios» (um período em que Israel perdeu o seu direito de autogovernar-se, tornando-se a cauda das nações, e não a cabeça), tempo esse que haverá de prolongar-se até o fim da carreira do anticristo. Pois bem, o declínio de Tiro começou com Nabucodonosor, embora sua queda ainda tivesse de esperar por mais alguns séculos.

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5380 TIRO — TIRZA

Poderíamos sumariar os percalços de Tiro, ourante seus últimos três séculos de história, antes de sua destruição final por Alexandre, o Grande, como segue: antes do aparecimento de Nabucodcnosor. Tiro conseguira desfrutar de boa medida de independência do pcder egípcio até que os egípcios vieram a dominar essa cidade. Então, os assírios fustigaram essa cidade. Em seguida, vieram os babilônios, dos dias de Nabucodonosor. Mas, depois destes, vieram os persas. 0 trecho de Escras 3:7 cita uma ordem do rei ca Pérsia, Ciro II, para que os tírios suprissem a madeira de cedro necessária para a res­tauração do templo de Jerusalém, que aquele monarca persa havia aorovado. Nessa época, o cedro do Líbano, sem dúvida alguma, andava crescentemente mais escasso. As florestas existentes na re­gião montanhosa do Líbano já vinham sendo exploradas por nada menos de sete séculos, sem que os fenícios se importassem com o reflorestamento. Contudo, os fenícios continuavam excelentes mari­nheiros, havendo indícios de que o enlouquecido rei da Pérsia, Cambises II, tenha recrutado uma flotilha tina em seu ataque contra o Egito. Além disso, galeras tírias velejaram em companhia da malsucedida empreitada persa contra a Grécia. Os gregos esmaga­ram a marinha persa em Salamina, em 480 A.C.

10. Relação com AlexandreEm 332 A C., no decurso de sua marcha através do :mpêrio

persa, que se esboroava, Alexandre e seu exército vitorioso aparece­ram diante de Tiro. E a cidade, confiando em sua quase inexpugná­vel posição, fechou os seus portões contra o que lhe parecia um pequeno exército macedônio. O cerco que se seguiu tornou-se um dos grandss épicos da história militar do mundo. Alexandre construiu um molhe para cruzar o pequeno estreito que separava a cidade do continente. Até hojer esse molhe é o âmago do promontório em forma de cunha que liga o antigo local da cidade de Tiro ao continen­te. A moderna cidade de Tarabulus ocupa as praias e parte desse istmo artificial. Foi somente através desse gigantesco feito de enge­nharia, que e considerado uma tremenda obra até mesmo em nos­sos dias, que Alexandre conseguiu lançar o ataaue final, mediante o qual conquistou a cidade de Tiro. E isso mesmo ac custo de muitas vidas, que se perderam. Seja como for, foi desse modo que a profe­cia de Ezequiel teve cumprimento, quando a grande e famosa cidade de Tiro tornou-se um lugar onde cs pescadores vinham enxugar e remendar suas redes (ver Eze 26:5,14; 47:10).

11. Relação à Rorr,aNão obstante, o local manteve algo de seu antigo prestigio. Tiro

chegou mesmo a recuperar-se parcialmente, desse tremendo golpe. Durante algum tempo, funcionou ali um governo republicano. Esse governo contemplou o aparecimento da estrela romana, no horizon­te. Tiro estabeleceu uma aliança com Roma, tendo assim conseguido manter a sua independência até os dias de César Augusto. Mas, quando esse imperador absorveu Tiro no sistema provincial de Roma, em 20 A.C a cidade de Tiro desapareceu de vez das páginas da história.

12. ArqueologiaAs ruínas da cidade de Tiro, descobertas com muito cuidado pela

arqueologia, mostraram-se muito estratificadas, desvendando uma longa história nas costas marítimas aa Fenícia. As ruínas das docas e dos armazéns dos fenícios jazem por debaixo das construções feitas pelos g'egos e pelos romanos. Uma estranha edificação dos tempos gregos é um teatro em forma oblonga, sem-par em todas as costas do Mediterrâneo, Há um magnifico pavimento, uma rua recoberta de mosaicos, com muitas lojas e colunatas, que se reves­tem de interesse especial para nós porquanto pertencem à época da vida de Jesus Cristo. É possível que ele, tendo partido da Galiléia, e tendo estado até em Sidom, tenha passado também por ali. Ver Mateus 15:21 ss, onde se lê: «Partindo Jesus dali, retirou-se para os lados de Tiro e Sidom». O que o Senhor foi fazer naquelas regiões? Ele tinha uma de suas escolhidas na pessoa da mulher cananéia. Embora uma muiner gentia, o Senhor lhe disse: «Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres» (vs. 28).

13. Referência de JesusEm outra cportunidade, o Senhor Jesus referiu-se a Tiro, juntamen­

te com sua cidade irmã, Sidom, quando, repreendendo os habitantes de cidases da Galiléia, expressou: «Ai de ti, Coraziml Ai de ti Betsaida, porque se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se fizeram, há muito que elas se teriam arrependido, assentadas em pano de saco e cinza. Contudo, no juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom, do que para vós outros» (Luc. 10:13,14).

14. Referência de PauloA ultima menção à cidade de Tiro, nas páginas sagradas, fica no

capítulo vinte e um do livro de Atos, onde se narra a viagem do apóstolo Paulo e seus companheiros cristãos de viagem, até Jerusa­lém. A menção é fortuita, nada havendo acontecido de especial ali. «Quando Chipre já estava à vista, deixando-a à esquerda, navega­mos para a Síria e cnegamos a Tiro... Quanto a nós, concluindo a viagem de Tiro, chegamos a Ptolemaida...» (Atos 21:3,7).

TIRO, A ESCADA DEVer sobre Escada de Tiro.

TIROPEANO, VALEVer o artigo sobre Jerusalém.

TIRSATANo hebraico, «o temor», «a reverência». Esse título foi dado tanto

a Zorobabel quanto a Neemias, como governadores de Judá scs o governo persa, entre 536 e 445 A.C. Entretanto, o titulo não é transliterado em nossa versão portuguesa, mas interpretaao como «governador», nas cinco vezes em que ocorre nas páginas do Antigo Testamento Ver Esd 2:63; Nee. 7:65,70; 8:9; 10:1. Essa interpreta­ção é correta, mas fez a palavra hebraica desaparecer de nosso texto da Bíbiia portuguesa. Tirsata vem do persa antigo avestã, tarsta, que significava «respeitado», «reverenciado», mais ou menos equi­valente ao nosso moderno «Vossa Excelência». Interessante é que os tradutores da Septuaginta preferiram traduzir o titulo Tirsata como se fosse um nome próprio, com diversas formas diferentes.

Um sátrapa ou governante de província era, na realidade, um oficial subalterno, sem maior autoridade, cuja principal função incluía o cálculo e o recolhimento de impostos (ver Nee. 7:70; cf. Esd. 1:8).

TIRZANo hebraico, «deleite», «satisfação». Esse é o nome tanto de

uma personagem feminina quanto de uma cidade, nas páginas do Antigo Testamento:

1. A filha caçula de Zelofeade, que tinha cinco filhas (Núm. 26:33: 26:1; 36:11 e Jos. 17:3). Ela viveu por volta ds 1450 A.C.

2. Uma ex-cidade real dos cananeus, oue ficava na parte norte do monte Efraim, no alto da descida dc wadi Farah, que se precipita para leste, para o vale do rio Jordão, até o vau de Adão. Esse era o melhor trajeto que ligava a Transjordânia com o monte Efraim, e dai para o leste, atravessando Dotã e Bete-Lagã, até a planície de Jezreel. Essa estrada longitudinal a,uda a explicar o surgimento de cidades importantes, como Tirza, Siquém e Samaria, nas junções das princi­pais estradas.

Famoso por suas belezas naturais, o vale de Tirza é cantado em Cantares 6:4: «Formosa és, querida minha, como Tirza...» A antiga cidade cananéia de Tirza passou a fazer parte do território de Manassés (Jos. 17:2,3), capturada por Josué (Jos. 12:24). É possível que no relato do cerco de Tebes, com sua poderosa forta­leza, onde Abimeleque encontrou a morte, envolva uma corrupção do nome de Tirza (Juí. 9:51). Jeroboão I mantinha uma residência em Tirza (I Reis 14:17), que se tornou a capital do reino do norte, Israel, desde os dias de Baasa (I Reis 16:8,9), Elá e Zinri (I Reis 16:8,9,15).

Tendo ficado ali em uma armadilha, preparada por Onri, Zinri aes- truiu a sua residência, durante os conflitos dinásticos com Onri (I Reis

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TISRI — TOBIAS, LIVRO DE 5381

16:17,18). Seis anos mais tarde, Onri transferiu a capital do reino do norte para Samaria (vide), uma localização mais central e con­veniente, que dominava os caminhos para a região montanhosa de Samaria. Isso assemelhou-se à escolha de Jerusalém, por parte de Davi, como capital do seu reino, porquanto Samaria não tinha as­sociações tribais mais antigas, conforme era o caso de Tirza. De­pois que Samaria tornou-se a capital do reino do norte, Tirza afun­dou para a insignificância de uma cidade provincial, embora ainda importante como tal. Quase no fim da existência da nação de Israel, um cidadão de Tirza, Menaem, usurpou o trono pertencente a Salum (II Reis 15:14,16).

O grande cômoro de Tell el-Far’ah, cerca de onze quilômetros a nordeste de Nablus, tem sido escavado pelos padres dominicanos. Essas explorações arqueológicas têm revelado uma contínua ocupa­ção humana desde os tempos calcolíticos, antes de 3000 A.C., até o fim do reino do norte, Israel. Já florescia como cidade no século IX A.C., porém, um nível incendiado foi encontrado, após a primeira camada da ocupação da Idade do Ferro. Isso talvez indique as de­sordens civis da época em que Onri subiu ao trono. Também há evi­dências de que a antiga fortaleza de Tirza foi reduzida a uma cidade aberta, mais ou menos na época em que Samaria foi fundada, em um novo local. Tudo isso parece confirmar fortemente o cômoro de Tell el-Far’ah como o local de Tirza.

TISRISétimo mês do calendário eclesiástico dos hebreus. Também é

chamado de Etanim (ver I Reis 8:2). Era também o primeiro mês do calendário civil dos israelitas. O Ano Novo Judaico (Rosh Hashanah) cai no primeiro dia do mês de Tisri.

TIZITAAdjetivo patronímico de Joa, irmão de Jediael, que foi um dos

«heróis» de Davi (I Crô. 11:45). A origem desse termo é desconheci­da, mas, provavelmente, refere-se à localidade de onde ele seria nativo. Joa viveu em torno de 1050 A.C.

TOÁNo hebraico, «depressão», «humildade». Foi um levita des­

cendente de Coate (I Crô. 6:34). Em I Crônicas, ele é chamado de Naate. Ele era o trisavô do profeta Samuel. Viveu por volta de 1230 A.C.

TOBENo hebraico, «frutífera», «boa». Esse era o nome de um distrito e

de uma cidade da Síria, a nordeste de Gileade. O nome figura em Jui. 11:3,5 e II Sam. 10:6.

Esse distrito e essa cidade do sul de Haurã (vide) são menciona­dos como o lugar onde Jefté refugiou-se, e também em conexão com a guerra entre os israelitas, por um lado, e os amonitas e sírios, por outro lado (II Sam. 10:6).

Provavelmente é a mesma Dubu dos documentos achados em Tell El-Amarna, um estado arameu da região a leste do rio Jordão, mas ao norte da região montanhosa de Gileade. Isso torna razoável a sua identificação com a cidade de Hopos, da região de Decapólis. Os estudiosos também têm sugerido a moderna al-Tabiya, a dezesseis quilômetros ao sul de Gadara, um nome que parece preservar a idéia de «boa», que faz parte do nome hebraico tob, «boa».

Após o exílio babilónico, judeus instalaram-se ali, o que ocasio­nou uma incursão das tropas de Judas Macabeu ao lugar (ver I Macabeus 5:13 e II Macabeus 12:17), se é que Toubias e os toubiani devam ser identificados com Tobe e os seus habitantes.

TOBE-ADONIASNo hebraico, «bom é o Senhor Yahweh». Um levita enviado por

Josafá para ensinar a lei ao povo, nas cidades de Judá. Seu nome figura, exclusivamente, em II Crô. 17:8. Viveu por volta de 910 A.C.

TOBIASNo hebraico, «bom é Yahweh». Há quatro homens com esse nome,

nas páginas do Antigo Testamento, e dois, nos livros apócrifos.1. O fundador de uma família que retornou a Israel, depois do

exílio babilónico, embora não pudessem provar sua ascendência israelita (Esd. 2:60; Nee. 7:62 e I Esdras 5.37). Esses descendentes deles viveram em torno de 445 A.C.

2. Um «servo» amonita, provavelmente um oficial do governo persa, que se aliou a Sambalate e outros, em sua persistente oposição ao trabalho de reconstrução encabeçado por Neemias (Nee. 2:10,19; 4:3,7; 6:12,14,17,19; 13:7,8). Tanto ele quanto seu filho, Joanã, casaram-se com mulheres judias. Era altamente favorecido pelo sumo sacerdote Eliasibe, que lhe concedeu uma sala para ocupar, nas dependências do templo de Jerusalém.

Tobias procurou assustar Neemias (Nee. 6:17-19). Mas este consi­derava Tobias seu principal adversário, tendo retirado, a ele e aos seus bens materiais, da sala que ocupava no templo (Nee. 13:4-9).

Alguns estudiosos opinam que a casa de Tobias, que, no século III. A.C., competiu com a casa de Onias, pelo sumo sacerdócio, descendia desse Tobias (cf. II Macabeus 3:11 e Josefo, Anti. 12:4). Viveu em cerca de 445 A.C.

3. Um dos levitas, enviado pelo rei Josafá, para ensinar a lei do Senhor nas cidades da tribo de Judá (II Crô. 17:8). Viveu por volta de 445 A.C.

4. Um dentre vários outros israelitas que vieram da Babilônia para Jerusalém, trazendo ouro e prata, a fim de fabricar com esses metais uma coroa para o sumo sacerdote Josué. Seu nome aparece somente em Zac. 6:10,14. Viveu em cerca de 520 A.C.

5. O pai de Hircano (II Macabeus 3.11). Na Septuaginta. seu nome aparece com a forma de Tobias.

6. O filho de Tobias. Portanto, pai e filho tinham o mesmo nome. Ver sobre o Livro de Tobias.

TOBIAS, LIVRO DEI. Status CanônicoII. Pseudo-históriaIII. Idioma; Data; ConteúdoIV. Fontes de InformaçãoV. Ensinamentos e TeologiaI. Status CanônicoProtestantes e evangélicos consideram esse livro apócrifo, seguin­

do o cânon palestino. Os judeus da Diáspora (ver a respeito), seguindo o cânon alexandrino (exemplificado na Septuaginta que contém o li­vro), os católicos romanos e alguns segmentos ortodoxos chamam-no de canônico no sentido completo da palavra. Muitos dos patriarcas iniciais o utilizaram, alguns afirmando sua canonicidade, outros a ne­gando. Em todo caso, a maioria dos patriarcas concorda com a avalia­ção de Jerônimo de que o livro era de valor e devia ser lido, mas não com a estatura de outros livros do Antigo Testamento. Ver os artigos separados sobre Cânon do Antigo Testamento e Livros Apócrifos.

II. Pseudo-históriaO livro é colocado no período histórico do cativeiro assírio de

Israel e menciona diversas personagens históricas: Salmaneser V (1.13); Senaqueribe (1.15); e locais específicos como palcos para a história: Nínive (1.3); Ecbatana (3.7); Rages (4.1). Mas o livro é um óbvio romance da Diáspora, um tipo de novela.

III. Idioma; Data; Conteúdo1. Idioma. Durante um século os estudiosos discutiram o problema

do idioma deste livro, imaginando se ele teria sido composto originalmen­te em grego ou em algum idioma semita (hebreu ou aramaico). A des­coberta dos Rolos do Mar Morto joga luz no problema. Entre os muitos manuscritos encontrados com aquela descoberta havia um manuscrito em hebraico e quatro em aramaico. Estudiosos hoje supõem que o aramaico tenha sido o idioma original, que foi então traduzido para o hebraico clássico, o grego e o latim. Talvez a versão grega (Septuaginta) tenha sido baseada em uma cópia hebraica.

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5382 TOBIAS, LIVRO DE

2. Data. Evidências indicam uma data entre 225 e 175 A. C. A última expressa “o livro da lei de Moisés” ocorrendo em 6.13; 7.11,12,13. Os livres proféticos são chamados de “palavra do Senhor” , expres­são um tanto posterior (14.4). Mas não há indicação de que os perío­dos turbulentos das Epifanias IV de Antioco já tivessem ocorrido. Seu período no poder foi entre 175 e 164 A. C. O fato de os manuscritos desse livro estarem entre os Manuscritos do Mar Morto mostra que ele não pode ter sido escrito em um período tão tardio quanto o primeiro século A. C.

3. Conteúdo. Generalização. O período era o do cativeiro assírio, depois de 722 A. C. Tobias era um tipo de Jó de dias posteriores, que tinha todos os tipos de problemas que atrapalhavam sua pie­dade. Embora estivesse entre os cativos que se paganizavam, ele e sua família aderiram às antigas rígidas leis judaicas. Ele se tornou evidente (como Daniel antes dele também o havia) e um dos assis­tentes de Salmaneser. Continuou tendo uma vida de retidão, do tipo judaico, err.bora assistente de um governo civil, incluindo prover enterros apropriados para os judeus mortos pelos assírios. Por causa de suas “atividades judaicas”, ele teve de fugir de Senaqueribe para salvar sua vida. Muitas dificuldades se seguiram e com elas as reclamações de sua mulher (como havia feito a mulher de Jó). O pobre Tobias começou a preferir a morte em vez da vida por causa dos muitos sofrimentos pelos quais teve de passar (3.6), outra re­flexão de Jó.

Então entrou no quadro a graciosa Sara. Ela era uma parente próxima, a filha de Raquel. Foi assediada por um demônio ciumento chamado Asmodeus, que tinha o mau hábito de matar seus maridos, de fato, sete deles, e, naturalmente, antes de o casamento ser con­sumado Tobias também teve um problema especial que contraiu de um pedaço de estrume de pardal que caiu nos seus olhos, quando, em um período de sujeira cerimonial (ele havia tocado em um corpo morto), teve de dormir ao ar livre e ficou exposto às aves. Esse improvável bombardeamento das aves havia deixado Tobias cego. Portanto, aí temos potenciais amantes, Sara, assediada por um ciu­mento demônio matador de maridos, e Tobias, um homem cego. A tensão desaparece da história pela observação de que os dois seri­am curados milagrosamente pelo anjo do Senhor (3.16-17). O resul­tado é tal que lemos o livro no conforto de saber que a piedade de Tobias a longo prazo resultará em recompensa. O anjo Rafael trans­forma-se no companheiro de jornada de Tobias durante uma viagem a Ecbatana, na Pérsia.

Ao longo do caminho, Azarias (o anjo disfarçado) instrui Tobias a pegar um peixe que praticamente o engoliu. O anjo orienta Tobias a cortar o coração, o fígado e a bílis do peixe, pois queimar essas vísceras produziria uma fumaça poderosa para realizar um exorcis­mo. Assim, aprendemos como Sara foi livrada. O anjo também infor­ma Tobias de que ele a longo prazo acabará por casar com Sara, mas não revela que ela está associada a um demônio ciumento e matador de maridos.

O casamento ocorre, e Tobias põe fogo nas vísceras do peixe. O pai de Sara prepara um túmulo para seu novo genro, que considera­va “perdido”. Tobias e Sara não estão ansiosos por consumar o casamento. Dormem pacificamente enquanto o demônio engasga na fumaça do peixe e, assim, é espantado do lado de sua amante. Ao descobrir que o demônio hão havia sido capaz de cumprir com a tarefa, Rogel (surpreso) oferece uma grande oração de ação de gra­ças. Assim, inicia-se um a celebração de casamento que duraria 14 dias.

Tobias, agora um homem de boa sorte, envia Azarias a Media para buscar uma grande soma de dinheiro que ele havia deixado lá. Assim, o casal está livre para apreciar a boa vida. Em Nínive, a mãe de Tobias, Ana, e seu pai, Tobite, estavam preocupados com a segu­rança de seu filho. Não havia motivo para preocupação pois, como já vimos, Tobias e sua nova mulher estão divertindo-se muito na cele­bração de seu casamento. O anjo (disfarçado de Azarias), Tobias, Sara e o cão favorito de Tobias retornam a Nínive e aliviam as

ansiedades naquele local ao fazer uma repentina aparição. Resulta disso uma grande e chorosa reunião de família, descrita de forma exuberante no livro. Sentindo-se generoso, no meio da celebração, Tobias e Tobite decidem doar metade de sua fortuna ao bom Azarias. Mas os anjos não têm interesse por dinheiro, portanto o “homem” revela sua verdadeira identidade: Rafael, um dos sete poderosos anjos sagrados do conhecimento judaico (12.15). Tobite então oferece uma oração magnifica de alegria, e por que não? Ele foi capaz de manter suas mãos em todo aquele dinheiro.

Após as mortes de Tobite e Ana, Tobias e sua família retornam a Ecbatana, onde vivem uma vida de homens ricos (como Jó antes dele) até sua morte aos 127 anos de idade.

Esta é uma história muito imaginativa e divertida, uma linda lenda que estica as coisas com muita freqüência, mas tem muitas lições a ensinar à medida que é narrada.

IV. Fontes de InformaçãoO autor é um tipo de pessoa transuniversal que mistura antigas

histórias folclóricas, mitos, um pouco de história com fundo bíblico e outros empréstimos. Um livro como esse nunca poderia ser cano­nizado na conservadora Palestina, mas os judeus alexandrinos, cultu­ralmente miscigenados, não viam nada de errado nessa salada teo­lógica e cultural. Começamos com uma história um tanto autêntica; misturamos a história universal dos Grandes Mortos, a antiga história dos homens perseguidos que acabam ficando ricos e famosos por causa de sua piedade singular. Daí vem o temeroso tema do Mons­tro do Quarto, a criatura má apaixonada por uma mulher piedosa, uma matadora de maridos. Então até o fiel cão de Tobias entra no ato. Um judeu da Palestina jamais teria tido um cão como compa­nheiro, já que os cães são animais sujos (6.2; 11.4). Mas a Bíblia nào pode ser deixada de fora, portanto temos alusões à história de Jo s é (Gên. caps. 37 e 39-50); a história do casamento relativa a Isaque e Jacó (Gên. caps. 24 e 29); o antigo tema judeu de que a piedade atrai riqueza material; mas o mal sempre resulta em punição e de­sastre material (Tobias 1.21; 3.3-6; 13.12; 14.4,10). A principal base bíblica, no entanto, é a história de Jó, o homem que sofreu por motivos desconhecidos, embora tenha sido uma pessoa reta. Os pro­fetas Amós (2.6) e Naum (14.4) são mencionados por nome, mas Jeremias e Ezequias, de quem Tobias faz empréstimos, não são mencionados especificamente. Os capítulos 13 e 14 de Tobias se baseiam nas previsões de Isaías de que Israel retornaria do longo exílio, por fim.

V. Ensinamentos e TeologiaA maioria dessas questões já foi coberta ao longo do caminho. O

livro tem as visões mais liberais dos judeus da Diáspora, que não hesitam em incorporar demônios parecidos com os dos pagãos, paz muito do sujo cão e também menciona que o filho de Tobias derrama vinho no túmulo dos retos (4.17), um ato contrário ao Pentateuco (Deu. 26.14). Tal costume era pagão, não judaico. Por outro lado, ha muitas lições morais e muito material baseado na Bíblia. Tobias era um judeu exemplar que arriscou sua vida ao ser fiel à legislação mosaica, embora em alguns pontos sua prática tenha sido a mesma dos judeus da Diáspora, não a de radicais palestinos. O livro ensina a doutrina de confrontação de intervenção angélica na vida dos ho­mens. O livro, contudo, tem antigos conflitos judeus: não há ensinamento sobre a imortalidade, enquanto a punição e a recom­pensa são limitadas apenas ao que ocorre ao homem durante sua vida terrena. Ele acreditava na validade e no poder da profecia e considerava os livros dos profetas “a palavra de Deus", ao contrário do cânon dos saduceus, que aceitava apenas o Pentateuco como inspira­do. A passagem de 4.15 dá a nós uma forma de “regra sagrada": l i ! aquilo que você odeia, não faça a ninguém”. O livro enfatiza os três pilares da fé judaica: oração, caridade e jejum (12.8) e assegura-nos de que onde há retidão, Deus agirá (a longo prazo) por parte daaueles que o praticam. Um bom resumo de ensinamentos morais é 14.11: “... meus filhos, considerem o que a caridade realiza e o q je a retidão entrega”.

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TOCHA — TOLA 5383

TOCHANo hebraico, lappid, uma palavra que aparece por quinze vezes,

e que as tradições têm variegadamente traduzido por «tocha», «lâm­pada», «tição» etc. Na antigüidade, uma tocha provia uma iluminação mais forte do que uma lâmpada (lamparina de azeite), em atividades externas à noite. Esse termo hebraico aparece em Gên. 15:17; Jui. 7:16,20; 15:45; Jó 12:5; 41:19; Isa. 62:1; Eze. 1:12; Dan. 10:6; Naum 2:3; Zac. 12:6; Jó 42:19; Êxo. 20:18.

No grego temos o vocábulo lampás, empregado por nove vezes no Novo Testamento: Mat. 25:1,3,4,7,8; Atos 20:8; Apo. 4:5 e 8:10. Ver também o artigo a respeito de Lâmpada. Interessante é que, em Êxodo 20:18, a palavra hebraica lappid é traduzida, e com razão, por «relâmpagos», pois, em face dos «trovões», sem dúvida houve re­lâmpagos.

TÓFELNa Septuaginta, Tophol. No hebraico, essa palavra significa

«almofariz», «pilão». Esse nome é mencionado somente nas pala­vras de abertura do livro de Deuteronômio (1:1), citado entre outros quatro nomes de cidades, como o local onde Moisés dirigiu um grande discurso aos ouvidos do povo de Israel.

Essa localidade tem sido identificada como a moderna Tafile, uma aldeia cerca de vinte e quatro quilômetros a sudeste do mar Morte, em um fértil vale por onde passa a estrada de Queraque a Petra. Porém, nada mais se sabe sobre essa localidade.

TOFETENo hebraico, altar. Essa era uma área do vale ae Hinom (vide),

localizada no wadi er-Rababeh, um vale com lados profundos, que tradicionalmente separava a cidade de Jerusalém do território perten­cente a Judá, na vertente oriental do monte Sião (ver Nee. 11:30). Esse nome aparece por dez vezes nas páginas do Antigo Testamen­to: II Reis 23:10; Isa. 30.33; Jer. 7:31,32; 19:6,11 24. Outros estudio­sos encontram uma derivação inteiramente diferente para essa pala­vra. Esses dizem que, provavelmente, o nome deriva-se de uma palavra que significa «fogão», «forno», devendo ser pronunciado como fepaf mas que, propositalmente, teve a pronuncia alterada para tofete, seguindo um termo ugarítico cognato, e aue significa «opróbrio», «abominação». A etimologia rabínica, que fazia a palavra significar «tambor», não tem qualquer razão de ser.

Tofete era um bosque sagrado ou jardim pertencente aos cananeus, que, posteriormente, veio a tornar-se um dos grandes centros da ado­ração a Baal, por parte de judeus apóstatas (ver Jer. 32:35). Entre as atividades desse culto, parece que estava envolvido o sacrifício ritual de recém-nascidos. Apesar de os estudiosos terem exposto duvidas se um rito tão sangüinário e cruel realmente existiu, o fato é que umas funerárias, encontradas na Palestina, pertencentes a diversos períodos históricos, têm demonstrado quão plausível é a narração que aparece em alguns escritos proféticos do Antigo Testamento. Além disso, em muitos lugares do mundo, a morte por exposição às intempéries, princi­palmente de meninas recém-nascidas e de crianças gêmeas, tem sido praticada por diversas tribos. O nome dessa localidade aparece por oito vezes, dentre suas dez menções, no livro de Jeremias, em seus capítulos sétimo e décimo nono. Esse horrendo culto se popularizou, sobretudo, durante os reinados de Acaz e de Manassés, os quais teriam sacrificado seus próprios filhinhos, no vale de Hinom, sem dúvida alguma, mais precisamente, em Tofete (ver II Crô. 28:3 e 33:6).

Há uma variante textual em Isaías 30:33, onde se encontra uma alusão à destruição definitiva do monarca assírio. Nessa variante há uma possível combinação de um vocábulo aramaico, talvez de algum termo acádico por detrás daquele, com o sentido de «lareira» ou «escarpa abrasada», e o nome de Tofete. Essa predição deixa clara a destruição da poderosa nação assíria, de maneira violenta, que viria a transformá-la em abominação.

Quando da restauração instituída nos dias de Josias, o santuário de Tofete foi profanado e destruído (ver II Reis 23:10). Mas a memó­

ria em torno daqueie norrendo lugar prosseguiu, tendo-se transforma­do em um símbolo da desolação e do julgamento divino contra o peca­do. Aquele vale começou a servir de monturo da cidade de Jerusalém. O lixo era lançado por cima das muralhas. Mas, devido aos muitos e muitos séculos que já se escoaram desde então, e das transformações topográficas a que Jerusalém tem estado sujeita, a localização exata de Tofete se peraeu.

TOGARMAUm dos filhos de Gomer e neto de Jafé, filho de Ncé. Fo. o

progenitor da nação jafetita que tem esse nome (ver Gên. 10:3,1 Crô. 1:6, Eze. 27:14 e 38:6). A casa de Togarma, ou seja, a nação que dele descendia, é mencionada por duas vezes no livro de Ezequiel, onde é descrita como um povo que tinha forte comércio com Tiro, no campo de cavalos mulas e cavaleiros (Eze. 27:14). E, em Eze. 38:6. também é mencionada como uma das nações aliadas de Magogue, juntamente com Gomer, Pérsia, Cuxe e Pute. Ali parece estar em foco um ataque de nações gentílicas contra Israel, quando o antigo povo de Deus já estiver bem estabelecido em seu território, nos últimos dias de nossa dispensação.

Bastante problemática é a identificação desse povo de Togarma. Onde se encontrariam eles, em nosso mundo moderno? Josefo opina­va que eles seriam os frígios, famosos por seus cavalos Todavia, há inscrições assírias que mencionam certa cidade, Til-Garimmu. Em lín­gua hitita, esse nome tem a forma de Tegarama, já bem parecida com a nossa forma portuguesa. Essa cidade ficava localizada na porção oriental da Capadócia. Visto que Ezequiel localiza Togarma como uma das nações do norte (ver Eze. 38:6). em associação com Gomer é perfeitamente provável que Togarma deva ser localizada na região a sudeste dc mar Negro, e daí para o norte. Tíi-Carimmu foi cidade destruída pelos assírios, em 695 A.C. Mas esta pode tei sido apenas uma de suas cidades principais.

Muitos estudiosos pensam que há vestígios de línguas indoeuropéias dessa nação. O tocário foi um idioma falado em gran­de parle das estepes russas, chegando mesmo à parte oriental-norte do que hoje é a China. Por conseguinte, levando em ccnta todos os informes, ainda que escassos, de que dispomos, parece uma conjectura aceitável que esse antigo povo deve ter sido um dos formadores dos eslavos orientais que, atualmente, povoam grande parte das estepes da Rússia Européia. Tudo indica, pois, que os descendentes de Togarma foram-se deslocando cada vez mais na direção da Sibéria, mesclando-se, nesse processo, com populações de origem mongol e turcomana.

TOINo hebraico, «erro», «vagueação». Era rei de Hamate na épo­

ca de Davi. Portanto, viveu em torno de 1040 A.C. Seu nome aparece por cinco vezes nas páginas sagradas: II Sam. 8:9,10; I Crô. 18:9,10. A cidade de Hamate ficava às margens do rio Orontes. Toi enviou a Davi uma mensagem de congratulação por haver vencido o inimigo comum deles, Hadadezer de Zobá. Nas referências paralelas de I Crônicas, o nome dele aparece com a forma de Toú.

TOLAOs estudos sobre o significado desse nome são complicados.

Há duas etimologias possíveis para o mesmo. Uma delas é deriva­da do uso de um termo idêntico, como nome de um «verme», no acádico tultu. A outra vem do termo hebraico q je ocorre em Isa. 1:18, com o sentido de «carmesim». Esta úitima alternativa terr mais peso, pois esse nome se parece com Puva, que tem sido interpretado como um nome que se deriva de «declaração» ou de «verde», ou alguma outra cor. Todavia, ambas as explicações es­tão baseadas sobre etimologias populares, havende falta de uma evidência filológica mais séria. Há dois homens com esse nome, nas páginas do Antigo Testamerto:

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538 4 TOLADE — TORRE

1. Um dos filhos de Issacar (na Septuaginta, Thola) (Gên. 46:13; Núm. 26:23; I Crô. 7:1,2). Ele viveu por volta de 1690 A.C. Como filho de Issacar, esse homem era do partido daqueles que migraram para o Egito na época de José. Foi o fundador de uma das subtribos de Israel, chamado de «tolaítas, em Núm. 26:23. Essa genealogia repete-se em I Crô. 7:1,2.

2. Um juiz da tribo de Issacar, mencionado somente em Jul. 10:1. Aqui aparece também o nome Puva. As Escrituras não nos prestam qualquer informação sobre os dois Tolas, além disso; a tradição rabínica também faz completo silêncio acerca deles. Esse juiz deve ter vivido em cerca de 1200 A.C.

TOLADENo hebraico, «geradora». Esse é o nome de uma cidade da tribo

de Simeão, que ficava nas proximidades de Ezem. Com esse nome, ocorre somente em I Crô. 4:29. Em Jos. 15:30, entretanto, seu nome já aparece com a forma de Eltolade.

TOLDONo hebraico, significa cobertura (ver Eze. 27:7). Provavelmente

era usadr em navios para oroteger os passageiros dos raios solares. Geralmente era tecido por mulheres. (Z)

TOPÁZIONo hebraico, pitedah, um vocábulo que ocorre por quatro vezes:

Êxo. 28:17; 39:10; Jó 28:19 e Eze. 28:13. No grego é topazion, termo que ocorre exclusivamente em Apo. 21:20.

O topázio era um mineral verde amarelado, usado como pedra preciosa. Segundo disse Plínio, o nome deriva-se de uma das ilhas do mar Vermelho. Porém, visto que esse mineral podia ser riscado com uma lima, era por demais mole para ser a moderna pedra cha­mada topázio, que é um mineral duro. O topázio moderno é um flúor silicato de alumínio, que com freqüência ocorre sob a forma de cris­tais prismáticos. Usualmente é destituído de cor, ou, então, é amare­lo bem pálido, com menos freqüência, azul ou rosa pálido, aparecen­do, principalmente, em granitos e rochas similares. Muitos escritores antigos chamavam o topázio moderno de crisólito (vide). Assim o termc hebraico pitedah é traduzido em Êxo. 28:17, em algumas ver­sões Assemelhava-se a certas variedades amareladas de quartzo, que são consideradas um falso topázio. O topázio oriental é uma variedade amarelada do corindon (óxido de alumínio).

Visto que os antigos não classificavam cientificamente os mine­rais, como nós o fazemos, dando-lhes nomes de acordo com sua aparência externa, e não conforme o grau de dureza, segundo se faz hodiernamente, é difícil equiparar as gemas modernas com os no­mes que aparecem nas páginas da Bíblia. No livro de Apocalipse (21:20), o topázio aparece como a pedra preciosa que adornava o nono fundamento da Nova Jerusalém, na última visão de João.

TOQUÉMNo hebraico, «estabelecimento». Essa cidade é mencionada por

nome somente em I Crô. 4:32. Era uma cidade pertencente ao territó­rio de Simeão, mencionada juntamente com Rimom e Asã. Na lista paralela de cidades (Jos. 19:7), o nome de Toquém é substituído pelo de Eter (vide).

TORACaracterização GeralA palavra hebraica assim transliterada parece ter o sentido básico

de «lançar», ou seja, «lançar a sorte sagrada», prática da adivinhação oracular. Evoluindo a fé dos hebreus, a palavra adquiriu uma conotação mais ampla: oráculo, conteúdo da revelação divina, a lei divinamente outorgada, e, finalmente, o conteúdo inteiro da interminada revelação a Israel e através de Israel. Essa última definição é sua significação específica em seu sentido mais amplo, a maneira como o termo pas­sou a ser empregado na literatura judaica. Porém, em seu sentido mais

restrito, a Tora designa os primeiros cinco livros do Antigo Testamento, o Pentateuco, a porção da Bíblia atribuída a Moisés.

Os judeus ortodoxos acreditam que essa Tora contém, literalmen­te, ou em forma seminal, todas as leis divinas. A palavra Tora também é usada para designar o rolo sobre o qual esses cinco livros costumam ser escritos; pelo menos uma cópia disso é depositada na arca de cada sinagoga judaica. Então são feitas leituras regulares e selecionadas, com base na Tora, nos cultos religiosos, acompanhando o calendário religioso judaico.

Essa palavra hebraica, aqui transliterada, usualmente é traduzida por «lei», referindo-se ao Pentateuco, isto é, os cinco livros de Moisés. Mas, no Antigo Testamento e nos escritos rabínicos, a Tora é mais do que um código legal.

Esse substantivo deriva-se do verbo hebraico yarah, «lançar», «atirar (uma flecha)», «alvejar». Mediante associação de idéias, veio a significar «orientação», «instrução» (cf. II Reis 12:2), «lei», «mandamento» (cf. Êxo. 12:49 etc.; Lev. 6:9,14,25 etc.; Núm. 5:29,30; 6:13,21, etc.; Deu. 1:5 etc.). A palavra Tora não deve ser interpretada somente em sentido legal. Antes indicava uma maneira de viver, derivada da relação de pacto entre Deus e o povo de Israel. A conotação puramente legal entrou através da tradução da Septuaginta, onde esse termo hebraico é traduzido pela palavra grega nómos, «lei». Mas, que a Tora não aponta somente para a lei, pode ser visto através do fato de que também indica uma declaração profética (cf. Isa. 1:10 e 8:16) e até os conselhos dos sábios (cf. Pro. 13:4). Até mesmo no Pentateuco, a Tora algumas vezes aponta para decisões que dizem respeito à eqüidade (ver Êxo. 18:20), às instruções atinentes à conduta (Gên. 26:5; Êxo. 13:9), às regras atinentes ao culto religioso (Lev. 6:9,14,25 etc.). O vocábulo Tora também envolve o princípio da justiça; haverá uma única Tora para os nativos e para os estran­geiros residentes na terra (Êxo. 12:49). Com base no trecho de Exodo 24:12, parece que os mandamentos suplementam a Tora, embora não sejam idênticos a ela.

Nas páginas do Novo Testamento, a palavra grega nómos indica o código mosaico (ver Luc. 2:22; 16:17; João 7:23; 18:31; Atos 13:39; etc.). Mas pelo menos em uma instância, aponta para as Escrituras Sagradas como um todo, conforme se vê em João 10:34.

De conformidade com a tradição rabínica, a Tora indica tanto o código escrito quanto a interpretação do mesmo, codificado sob a forma de seiscentos e treze preceitos. Dentro dessa tradição, a pala­vra Tora jamais aparece como a lei em sentido puramente legal, antes, indica a maneira judaica de viver, que exigia total dedicação em razão do pacto de Deus com o povo de Israel. Cf. o tratado da Mishnah intitulado Pirke Avot.

TORREI. As PalavrasEssa é a tradução de várias palavras hebraicas e de uma palavra

grega, a saber:1. Migdal, «torre grande». Vocábulo hebraico que é utilizado por

quarenta e sete vezes: Gên. 11:4,5; 35:21; Juí. 8:9,17; 9:46,47,49,51,52; II Reis 9:17; 17:9; 18:8; II Crô. 14:7; 26:9,10,15; 27:4; 32:5; Nee. 3:1,11,25-27; 12:38,39; Sal. 48:12; 61:3; Pro. 18:10; Can. 4:4; 7:4; 8:10; Isa. 2:15; 5:2; 30:25; 33:18; Eze. 26:4,9; 27:11; Miq 4:8; Zac. 14:10. A forma migdol ocorre por três vezes: II Sam. 22:51; Eze. 29:10; 30:6.

2. Mlsgab, «torre», «defesa», «refúgio», «fortim». Essa palavra ocorre por dezesseis vezes: II Sam. 22:3; Sal. 18:2; 144:2; Sal. 59:9,16; 17; 62:2,6; 94:22; Isa. 33:16; 25:12; Sal. 9:9; 46:7,11; 48:3.

3. Ophel, «lugar alto», «torre». Com esse sentido ocorre por três vezes: II Reis 5:24; Miq. 4:8; Isa. 32:14.

4. Matsor, «baluarte», «defesa». Com o sentido de torre, aparece apenas por uma vez, em Hab. 2:1.

5. Púrgos, «torre». Palavra grega usada por quatro vezes: Mat. 21:33; Mar. 12:1; Luc. 13:4 e 14:28.

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TORRE — TOSQUIA 5385

II. DescriçãoA palavra hebraica usual para «torre» é migdal, enquanto os

outros vocábulos hebraicos indicam algum tipo de função particular ou raridade. Na antigüidade, as torres eram divididas em classes, de acordo com a função de cada uma: a torre na vinha (Isa. 5:2), para guardar seus conteúdos, ou a torre de defesa. As torres dessa última função eram as mais importantes, pertencendo a três tipos principais: a torre solitária (Juí. 9:51), que servia tanto de defesa quanto de refúgio, e que, neste último caso, podia se transformar em uma autêntica armadilha. Também havia torres desse tipo ao longo das estradas, para proteção dos viajantes (II Reis 17:9). Um segundo tipo de torre de defesa era erigido como parte integrante das mura­lhas de uma cidade. E um terceiro tipo era uma grande estrutura oca, que flanqueava os portões das cidades ou posto em alguma esquina das muralhas.

As torres também variavam em suas dimensões, dependendo se eram apenas torres de vigias ou se serviam como baluartes de defe­sa. O cômoro de el-Farah (Tirza?) exibe um portão com torres de paredes compactas, em cada lado do mesmo. Essas torres têm salas internas, e uma escada até o topo, a fim de repelir possíveis atacan­tes. Em Gibeá (Tell el-Ful), a cidadela de Saul tinha torres retangulares com espaços internos em cada esquina, construída de pedras lavradas mais o menos quadradas, no estilo de casamata. Posteriormente, essa torre foi substituída por outra, em dimensões mais modestas, mas não demorou a ser abandonada, quando Jerusalém tornou-se a capital do reino. A torre mais espetacular de todas é a torre neolítica de Jericó, que deve ter sido erigida por volta de 7800 A.C., e que até hoje sobrevive com aproximadamente 8,30 m de altura, e com uma escada­ria apertada até o nível do chão.

Uma torre construída como fortaleza era uma estrutura de cons­trução especial, provavelmente, com avantajadas dimensões, e o mais inacessível possível (I Sam. 23:14,29). Entretanto, não deve­mos pensar que, naqueles dias veterotestamentários, as torres já fossem castelos. Os castelos só surgiram bem mais tarde, entre os romanos, alcançando dimensões grandiosas somente na Idade Mé­dia. Ver sobre Castelo.

A torre de marfim, referida em Cantares de Salomão 7:4, é a torre do Líbano, que refletia a grandiosidade e a beleza do monte Líbano, ao passo que a figura da torre faz-nos lembrar das linhas da beleza facial da sulamita.

A torre de Siquém, destruída por Abimeleque (Juí. 9:46,47), não ficava fora das muralhas da cidade, e, sim, era a cidadela interna, que ficava na porção mais elevada da cidade. Ver sobre Cidadela. Ver também sobre a Torre de Babel.

III. Sentidos FiguradosA estrutura e as funções de uma torre prestam-se admiravelmen­

te para servir na linguagem altamente simbólica de muitas passa­gens da Bíblia. Vejamos:

1. Deus como protetor de seu povo, é uma torre: II Sam. 22:3,51; Sal. 18:2; 61:3.

2. O nome do Senhor é uma torre: Pro. 18:10.3. Os ministros do Senhor são comparados com torres: Jer. 6:27.4. O monte Sião é uma elevada torre: Miq. 4:8.5. A graça e a dignidade da Igreja de Cristo: Can. 4:4; 7:4; 8:10.6. Indivíduos orgulhosos e altivos, também são assemelhados a

torres: Isa. 2:15; 30:25.7. Jerusalém era notável pelo número de suas torres e pela

beleza das mesmas: Sal. 48:12.IV. As Torres na GuerraNaturalmente, visto que elas representavam tão persistente defesa

para uma cidade, as torres, com freqüência, eram destruídas durante as guerras, quando uma cidade sucumbia diante do exército inimigo, conforme se vê, por exemplo, em Juí. 8:17; 9:49 e Eze. 26:4. Além disso, quando elas não mais serviam para os fins a que tinham sido destinadas, eram abandonadas e acabavam em ruínas, conforme se vê, por exemplo, em Isa. 32:14 e Sof. 3:6.

TORRE DE BABELVer sobre Babel, Torre e Cidade.

TORRE DOS CEM (MEAH)A palavra hebraica traduzida por «Cem», em Nee. 3:1 e 12:39, é

meah, que quer dizer exatamente isso, «cem». Essa torre ficava na muralha oriental de Jerusalém, provavelmente construída no ângulo da parte cercada do templo de Jerusalém. Ficava entre a Porta das Ovelhas e a Torre de Hananeel.

O sumo sacerdote Eliasibe, e seus auxiliares, restauraram essa torre quando as muralhas de Jerusalém foram reconstruídas, termi­nado o cativeiro babilónico. Ela é mencionada por ocasião da dedica­ção das muralhas reedificadas (ver Nee. 12: 39). Essa torre e a de Hananeel tinham por finalidade proteger a aproximação noroeste da área do templo. Não se sabe por que razão era chamada de «dos Cem», embora haja quem sugira que isso se devia às suas dimen­sões, ou à sua localização. Talvez ficasse a cem côvados da Porta das Ovelhas, e à mesma distância da torre de Hananeel. Ou então, tinha cem côvados de altura.

TORRENTES DOS SALGUEIROSNo hebraico, nachal arabim. Temos aí um dos wadis de Mcabe.

atualmente conhecido por Seil el-Qurahi (Isa. 15:7). Alguns estuaio- sos pensam que se trata do mesmo lugar chamado vale de Zerede (vide). Ficava nas fronteiras entre Moabe e Edom. No hebraico, isso se parece muito com o nachal arabáh, de Arnós 6:14, a única diferença sendo que Isaías usa o plural, arabim, ao passo que Amós usa o singular, arabáh. Ver o artigo intitulado Saigueiro.

TOSQUIANo hebraico, a palavra gez serve para indicar tanto a «tosquia»

quanto o «corte da grama». Essa paiavra ocorre por quatro vezes, das quais duas com o sentido de «tosquia» das ovelhas- Deu. 18:4 e Jó 31:20. Um outro termo hebraico, cognato, é gizzah, com o mesmo sentido. Esse aparece por sete vezes, no trecho de Juí. 6:37-40. No ertanto, nossa versão portuguesa só traz a oalavra «tosquia» em Deu. 18:4 Em Jó 31:20 e em toaas as menções, no livro de Juizes, ela fala apenas em «lã». Mas, sabendo-se que palavra hebraica há nessas passagens, devemos pensar não em lã tecida e, sim, em um oouco de lã acabada de ser tosquiada, no seu estado bruto.

No seu sentido primário, a tosquia é o envoltório de lã natural do carneiro. Em um sentido secundário, trata-se de toda a lã tosquiada de um desses animais.

Nas Escrituras, há um notável incidente que envolve um punhado de lã tosquiada e ainda bruta. No livro de Juizes, no seu sexto capítulo, lemos sobre Gideão, que apanhou um punhado de lã tos­quiada e com o mesmo pediu ao Senhor que lhe desse um sinal miraculoso de sua presença com ele, ao ser encarregado de libertar Israel da opressão dos midianitas. Tendo recebido resposta afirmati­va, mas ainda não satisfeito, Gideão pediu outro sinal, com o mesmo punhado de lã tosquiada, na noite seguinte. Na primeira noite, Gideão queria que o orvalho molhasse somente o punhado de lã, sem ume- decer o terreno ao redor. No segundo, ele queria que o orvalho molhasse o terreno em redor, deixando enxuto o punhado de lã. E Deus o atendeu por duas vezes, consoante o seu pedido.

Desde então, muitos crentes têm submetido Deus à prova de «tosquia de lã», de várias maneiras. Mas, alguém já observou: «Algumas vezes, funciona, outras, não». Talvez seja um tanto hu­milhante ser reduzido a buscar a orientação divina dessa maneira mas, se ela funciona, então o indivíduo não terá motivos para queixar-se.

A lã tosquiada figurava entre os primeiros artigos que eram entre­gues como primícias aos sacerdotes levitas (Deu. 18:4). Jó enume­rou, entre suas obras de misericórdia, a dádiva de lã bruta aos po­bres, para se aquecerem no frio (Jó 31:20).

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538G TOSQUIADORES — TOURO

TCSQUIADORESNo hebraico, gazaz. Essa palavra aparece por quatro vezes no

Antigo Testamento. No grego, keíro, «tosquiar», verbo que figura por quatro vezes no Novo Testamento, a saber:

1. No Antigo Testamento: Gên. 38:12; I Sam. 25:7,11; Isa. 53:7.2. No Novo Testamento: Atos 7:32 (citando Isa. 53:7); 18:18; I

Cor. 11:6.A tosquia das ovelhas era uma importante coeraçãc em Israel, como

em outros países do Oriente Médio, nos dias antigos. A ocasião, evidente­mente, tomara-se quase uma festa religiosa. Há menção à tosquia das ovelhas em Gên. 31:19 e 38:12, por parte de Labão e Judá, respectiva­mente. Na primeira dessas oportunidades, Labão fugiu com suas espo­sas, filhos e rebanhos. O caráter da ocasião transparece claramente no episódio em que Davi indignou-se com Nabal, quando este último se recusou a prover suprimentos para os jovens guerreiros que estavam com Davi, estando ele, Nabal, no processo da tosquia das ovelhas. No entanto, os homens de Davi haviam protegido os homens de Nabal, que agora estavam tosquiando as ovelhas (I Sam. 25:2,13).

Quanto ao verbo grego, é evidente que ele não indicava somente o ato de tosquiar ovelhas, pois, se esse é o sentido claro da primeira ocorrência do mesmo, em Atos 8:32, já precisamos traduzi-lo por «ra­par», em Atos 18:18 e I Cor. 11:6. Portanto, cumpre-nos comentar aqui sobre Atos 8:32, onde a única tradução condizente é «tosquiar». Lemos ali: «Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Foi levado como ovelha ao matadouro, e como um cordeiro, mudo perante o seu tosquiador, assim eíe não abre a sua boca... » A linguagem desse versiculo é metafórica, dando a entender a passivida­de de Jesus Cristo diante de seus juizes e algozes, quando de sua crucificação. Essa passividade é refletida na atitude de resignação de um cordeiro que está sendo tosquiado. É fato sabido que as ovelhas nessa ocasião, não reclamam. Muitos dizem que a operação é indolor, mas não é esse aspecto que é focalizado nesse versículo, mas an­tes, como Jesus não lutou contra a vontade do Pai, que o entregara às mãos d3 hcmens ímpios e cruéis, a fim de ser sacrificado em nosso lugar. Não havia verdadeira acusação contra Jesus, mas ape- ras alegaoas faltas apresentadas pelos principais sacerdotes, diante do governador romano, Pilatos. Após diversas indagações, o gover­nador lhe pergunta: «A tua própria gente e os principais sacerdotes é que te entregaram a mim. Que fizeste?» A resposta de Jesus foi: «O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus, mas agora o meu reino não é daqui» (João 18:35 36V Jesus se entregava pacientemente às mãos de homens injustos, que, sem nenhuma causa, queriam vê-lo morto. Porém, para isso mesmo ele viera e sabia disso. Essa consciência transparece nas palavras ce sua oração solitária, no horto: Meu Pai: Se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero e sim, comc tu queres» (Mat. 26:39). Essa é a atitude que devemos perce- Der por detrás da citação de Isaías 53:7, em Atos 8:32.

A tosquia era efetuada durante a primavera, a cada ano, ou pelos próprios donos das ovelhas (Gên. 31:19; 38:13), ou por «tosquiadores» profissionais, Havia edifícios especiais, construídos para o propósito de tosquiar as ovelhas, segundo se vê em II Reis 10:12-14. A tosquia era uma cperação cuidadosamente feita, a fim de que não se estra­gasse a lã (Juí. 6:37). Na antigüidade, as ovelhas não eram marcadas a ferro, mas pintadas. Era usado algum tipo de corante, que se passava em um cu mais lugares no pêlo da ovelha, nas costas, como marcas distintivas. Em II Reis 3:4, Mesa, o principal chefe da tribo de Moabo é chamado «pintador de ovelhas» (em nossa versão portugue­sa, «criador de gado», o que não corresponde ao verdadeiro sentido do original hebraico).

TOUNo hebraicc «humildade», «depressão». Ele era levita coatita,

antepassado do profeta Samuel. Com esse nome, ele é mencionado exclusivamente em I Sam. 1:1. interessante é que em I Crô. 6:26,

seu nome é dado como Naate e, em I Crô. 6:34, como Toá. Ele viveu em cerca de 1230 A.C.

TOUPEIRASVer Isa. 2:20: «Naquele dia os homens lançarão às toupeiras e aos

morcegos os seus ídolos...» Os estudiosos da Bíblia não estão certos quanto à identificação desse animal, que nc hebraico chama-se chapharperah (conforme alguns têm procurado reconstituir a palavra). Tem sido sugerido até mesmo o «cisne». A verdadeira toupeira, um animal insetívoro, da família Talpidae, não pode ser encontrada na Palestina, embora Isaías também não diga que os homens lançarão seus ídolos às toupeiras e aos morcegos, na Palestina. Contudo, na Palestina são comuns as mucuras, que acumulam detritos extraídos do solo, quando fazem seus ninhos subterrâneos.

As toupeiras são roedoras de uma família especializada. Passam a maior parte de suas vidas enfurnadas no subsolo, pelo que seus olhos praticamente desapareceram. Mas têm dentes gigantescos, que usam para escavar o chão. As mucuras da Palestina são bem menores que as da América do Sul, atingindo um máximo de 20 cm de comprimento; também são vegetarianas, alimentando-se de raízes, bulbos, etc.

Isaías estava ensinando, dessa forma, a futilidade da idolatria. Os ídolos pertencem aos esconderijos das toupeiras e dos morcegos, tão inúteis que são.

TOURONo hebraico, temos quatro palavras a ser consideradas, e no

grego, uma:1. Abbir, «poderoso», palavra que ocorre por seis vezes (por

exemplo: Sal. 50:13; Jer. 50:11).2. Ben baqar, «filho do rebanho», expressão que aparece por

trinta e três vezes com o sentido de novilho (por exemplo, Jer. 52:20).3. Par, «touro», palavra que ocorre por noventa e sete vezes (para

exemplificar: Êxo. 29:3,10-14; Lev. 4:4-21; Núm. 7:87,88; Eze. 46:11).4. Shor, «boi», palavra que aparece setenta e seis vezes (por

exemplo: Jó 21:10; Lev. 4:10; 9:4; Núm. 15:11; Deu. 15:19; 33:17; Osé. 12:11).

5. Tauros, «touro», palavra grega que aparece por quatro vezes: Mat. 22:4: Atos 14:13; Heb. 9:13 e 10:4.

De acordo com a lei mosaica, esses animais eram limpos, poden­do ser usados na alimentação humana. Eles tinham cascos 'enaidos e ruminavam, que eram os requisitos básicos, sendo largamente usados em sacrifícios e na alimentação humana. Ver Lev. 11:3 ss. Várias das palavras hebraicas, usadas para designar esse animal, dão a idéia de força. Figuras de touros guardavam a entrada de casas, jardins e templos, e supostamente teriam o poder de assustar espíritos malignos, uma atitude um tanto supersticiosa, semelhante àquela que diz respeito às ferraduras postas pouco acima da ombrei­ra das portas. No templo de Salomão, o «mar de fundição» (bacia grande) era apoiado às costas de doze touros de bronze, três deles de frente para os quatro pontos cardeais. Ver o artigo sobre o «mar de fundição» e as referências em II Reis 25:13 e I Reis 7:23. Os querubins, que guardavam o jardim do Éden, correspondiam a esses touros. O touro era um dos principais animais oferecidos em sacrifí­cio cruento, conforme o registro de Lev. 4:9,16; Núm. 28 e 29. Os animais oferecidos precisavam ser sem defeito e sem mácula, sem testículos esmigalhados (Lev. 22:24). O sangue das vítimas era pos­to sobre as pontas do altar, aspergido diante do véu e derramado à base do altar, ao passo que o resto do animal era queimado. Milhares de touros eram sacrificados anualmente (I Crô. 29:21). Ocasionalmen­te, touros eram adorados em Israel, como reflexo de um antigo costu­me egípcio (Êxo. 32; ver o artigo sobre o boi Ápis). Alguns intérpretes pensam que o ato de Aarão, quando do episódio do bezerro de ouro que foi adorado por Israel, teve a finalidade de relembrar ao povo como o poder de Deus os tirara do Egito; mas essa interpretação parece por demais caridosa para com Arão. O touro também era adorado como símbolo de Baal e Moloque. A importância desse animal

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TOURO — TRADIÇÃO, TRADIÇÃO DOS ANCIÃOS 5387

como um símbolo, segundo (oi visto na visão de Ezequiel, é assim destacada. Ver Eze. 1 e 10. Nos manuscritos do Novo Testamento, de acordo com um antigo simbolismo cristão, embora não bíblico, o touro representa o evangelho de Lucas.

As riquezas e os touros. Na nação agrícola de Israel, as riquezas de um homem eram parcialmente medidas pelo número de cabeças de gado que ele possuía. Abraão era homem muito rico, e lemos que ele tinha grandes rebanhos ae gado vacum e ovino (Gên. 24:35). Jó tinha auinhentas juntas de bois.

Terminada a sua aflitiva prova, ele ficou ainda mais rico, e pas­sou a possuir mil juntas desses animais. Em sua cobiça, Saul deixou de abater os Dois dos amalequitas e foi considerado culpado do pecado de desobediência (I Sam. 15:21 ss).

Os touros e o trabalho pesado. Esses animais também eram empregados nas tarefas com arado e na eira, onde a palha era separada do cereal (I Reis 19:19 e I Cor. 9:9).

Usos Figurados: 1. Pessoas impacientes agem como se fossem touros (Isa. 51:20). 2. Indivíduos maldosos, principalmente governantes e guerreiros, assemelham-se a touros, exibindo sua força e brutalida­de (Jer. 31:18; Sal. 22:12). 3. Os sacrifícios de touros, no Antigo Tes­tamento, era um quadro do sacrifício expiatório de Cristo (Heb. 10:5 ss). Ver o artigo sobre Ofertas e Sacrifícios.

TRABALHADOR (EMPREGADO, MERCENÁRIO)Em Israel havia dois tipos de trabalhadores contratados: 1. aque­

les que eram contratados em países estrangeiros, para ajudar na agricultura ou para servir no exército, conforme se vê em Isa. 16:14. Alguns deles, sendo preguiçosos e negligentes, obtiveram a reputa- çãc de serem inadequados para seu serviço (Jer. 46:21), reaiizando um sen/iço que ficava aquém do dinheiro que recebiam (Jó 7:1 ss). Em tais casos, eles eram mercenários, pois essa palavra indica al­guém que trabalha somente em função do dinheiro som qualquer outra motivação. Todavia, pessoas pertencentes a essa ciasse tam­bém eram exploradas, segundo se vê em Mal. 3:5. Davi valeu-se de mercenários de várias categorias, para fortalecer o seu reino ill Sam. 8:18).

2. Também havia os que trabalhavam na agricultura que tinham, geralmente, um nível de vida muito baixo (Isa. 5:8). Muitos deles terminavam escravos, a fim de saldarem suas dívidas (II Reis 4:1). Um israelita que precisasse vender-se a um seu compatriota assumia o papel de empregado, e tinha de ser libertado no ano de Jubileu (ver Lev. 25:39-55). Várias leis leviticas protegiam-nos, até certo ponto. Ver Lev. 18:13 e comparar com Deu. 24:14,15. Em certo penodo de sua vida, Jacó foi um empregado sujeito aus caprichos de seu futuro e então real scqro. Os dois contratos feitos por ele tipificavam bem os códigos de ética que cercavam esse tipo de serviço (ver Gên. 19).

Um mercenário era um trabalhador contratado por tempo limitado (Jó 7:1; Mar. 1:20), contrastando ccm um trabaihador permanente. Um trabalhador temporário, geralmente, era tentado a sen/ir mal, visto que sabia que não contava com um trabainc permanente. Isso parece refletir-se em João 10,12,13, na ilustraçãc de Jesus entre um mercenário, que somente queria dinheiro, e um pastor, que se preo­cupava com o bem-estar das ovelhas. Issu provê uma lição espiritual sobre os tipos de líderes espirituais que existem. Provavelmente, Jesus quis ilustrar o auto-interesse dos líderes religiosos que se opu­nham ao Messias. Só eram religiosos por causa do que assim podi­am ganhar.

A parábola sobre o reino dos céus (ver Mat. 20:1-16), deixa claro que os trabalhadores eram contratados em base diária, sendo pagos no fim de cada dia, conforme a lei requeria (Deu. 24:14,15). Até hoje, no Oriente Médio, essa prática continua.

TRAÇANo hebraico, ’asb. No Antigo Testamento, essa palavra ocorre

por sete vezes: Jó 4:19; 13:28; 27:18; Sal. 39:11; Isa. 50:9; 51:8;

Osé. 5:12. No grego, sés. Ver Mat. 6:19,20; Luc. 12:33. Em todas essas ocorrências, menos uma, a alusão a esse inseto indica a traça que ataca os tecidos e as vestes das pessoas.

Devemo-nos lembrar que, nas antigas culturas, o vestuário fazia parte importante dos bens materiais de uma pessoa, razão pela qual um ataque às vestes, por parte das traças, era uma questão muito séria. A traça ataca as roupas quando ainda se encontra no estado lar/ar. Há muitas esDécies ae borboletas e traças, na Paiestina, que não são men­cionadas nas Escrituras. Mas a espécie de traça cujc ncme científico é Tineidae, é a respcnsável por essa destruição de tecidos, penas, couros etc., o que vem acontecendo desde tempos imemoriais. Pouco depois de emergir de dentro da pupa, as traças fêmeas depositam seus ovos entre os tecidos e outros materiais. As larvas constroem uma «casa» em for­mato típico, feito de ciscos, forrada de material sedoso. E, então, só com a parte anterior do corpo para o lado de fora puxam a «casa» atrás. As roupas tornam-se a sua alimentação, até estarem prontas e passarem para o estágio adulto.

Uso FiguradoA traça é um minúsculo inseto, mas pode causar muito dano,

visto que atua sem ser notada, durante longo tempo. Jesus referiu-se a esse inseto como uma daquelas forças destruidoras que podem aniquilar a riqueza material de um indivíduo; ele deixou mesmo subendendido que tal destruição é inevitável, afinal de contas. Isso posto, é demonstração de sabedoria, da parte dos homens, buscarem para si riquezas que estão fora do alcance dessas fcrças físicas destrutivas, ou seja, as riquezas espirituais, «...ajuntai para vós ou­tros tesouros no céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam nem roubam...» (Mat. 6:20).

Aqueles que condenam os justos estão sujeitos aos poderes dilapidadores ae Deus. Esses acusadores sofrerão a vingança divina. Esse ato divino é assemelhado a uma traça que rói uma peça de roupa. Ver Isa. 50:9' 51:8. O estado precário co ser humano, neste mundo, é ilustrado pelo trabalho roedor das traças (ver Jó. 4:19). Os hipócritas edificam suas casas como se fossem traças, e aparente­mente, isso indica algo extremamente frágii (ver Jó 27:18), embora esse texto seja controvertido quanto ao seu significado. Assim, há traduções que dão a impressão de que está em pauta a teia de uma aranha, e não a «casa» de uma traça.

TRADIÇÃO, TRADIÇÃO DOS ANCIÃOSI. DefiniçõesII. Sobre o Vizinhos de IsraelIII. Tradição e o Antigo TestamentoIV. Tradição e o Novo TestamentoV. Luz dos Rolos do Mar MortoVI. Tradição no Judaísmo Posterior e no CristianismoI. DefiniçõesO significado das palavras assim traduzidas, como a palavra

grega pardosis, é “transmissão", que pode ser de um corpo de ensinamentos ou idéias “apresentadas” a um povo, por escrito ou ora lm ente. T rad ição é um acúm ulo de idé ias, h is tó rias , ensinamentos, leis etc., que assumem a lg jm tipo de autoridade ou,em alguns casos, contradizem autoridades posteriores consolida­das por escrito. “O que é disseminado” é uma tradição, como os ensinamentos de Paulo (II Tes. 3.6). Os judeus posteriores acredi­tavam que a Tora tenha começado com tradições orais que foram escritas por Moisés. As tradições podiam consolidar ou expandir corpo de ensinamentos já existente, adicionando detalhes e avançan­do em novos campos de pensamento. A expressão, por si mesma, não é necessariamente oositiva nem negativa. As tradições são uma coisa ou outra, interpretadas de um jeito ou de outro por causa das crenças de uma pessoa.

1. No latim, traditio, que significa “transmissão”, tanto o repasse oral daqueles que vieram antes quanto a disseminação escrita. Uma transmissão oral é de um corpo de crenças, costumes, leis, preserva­do pelos ancestrais de um povo, sem documentos escritos.

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5388 TRADIÇÃO, TRADIÇÃO DOS ANCIÃOS

2. Às vezes transferida do passado, uma cultura herdada, com toiias as suas ramificações.

3. Entre judeus, um código não escrito de lei dado por Deus a Moisés para o bem de Israel, o qual passou a ser escrito, por fim, mas nunca foi registrado por completo e tem uma autoridade bastante se­parada do registro escrito.

4. Entre cristãos, o corpo de doutrinas e disciplina promovido por Cristo e seus apóstolos, parte do qual, em um momento posterior, foi preservado de forma escrita. De acordo com alguns cristãos, adições podem ter sido feitas através dos escritos e das idéias dos pais da igreja, e esse material tornou-se uma autoridade adicional para a crença cristã.

II. Sobre os Vizinhos de IsraelHá evidências em descobertas arqueológicas, já no período

neolítico, do acúmulo de crenças, leis e costumes, que começaram na forma oral e foram solidificadas na forma escrita. Culturas antigas do Oriente Próximo atribuíram suas tradições aos deuses que eram seus líderes e patriarcas. Assim, foi criada uma obrigação de seguir regras e idéias do passado que presumivelmente eram divinas, exa- tamerte como aconteceu aos hebreus. As tradições acumuladas e registradas D o r escrito foram encontradas entre os sumérios, os elamitas, os babilônios e os cananeus.

III. Tradição e o Antigo TestamentoA reduçãc da Tora (ver o artigo) apenas aos escritos de Moisés

foi uma doutrina estranha aos próprios judeus, embora comum aos intérpretes cristãos. Primeiro, presumia-se que a verdadeira fonte é divina e que, no sentido amplo, tudo o que significa o judaísmo é uma tradição que vai além de qualquer corpo de escritos. Na tradição dos rabinos, a Tora conota o código escrito, mais interpretação, registra­do em 613 preceitos. Esses conceitos, contudo, tocam apenas na vastidão da Mente Divina, e o modo judeu de viver é um toque mais amplo nessa vastidão. O modo judeu é estabelecido na idéia dos Pactos, de forma que eles também eram trazidos à definição ampla da Tora, derivando daí o significado de tradição para os hebreus juaeus.

Os críticos claramente presumem que as tradições hebraicas e judaicas tomavam empréstimos de forma um tanto liberal de outras culturas situadas por perto, e é verdade que as antigas histórias de criação, dilúvio etc. têm paralelos significativos. É provável que tanto os hebreus quanto os vizinhos de Israel repousassem suas crenças parcialmente em tradições antigas adaptadas para ajustar-se às idéi­as teológicas que passaram a ter autoridade em cada cultura. Todas essas culturas presumiam que havia revelação divina por trás de suas tradições e documentos escritos autoritários, como indicado na seção II. Os conservadores naturalmente negam todo sincretismo com outras culturas, mas essa é uma tese muito difícil de sustentar diante das descobertas arqueológicas.

As tradições hebraicas e judaicas foram primeiro retidas oralmen­te no Mishna, então no Talmude, que uniu esses escritos com o Gemara, naquilo que hoje é conhecido como Talmude. Ver os artigos sobre o Mishna, Gemara e Talmude para maiores detalhes.

IV. Tradição e o Novo TestamentoCristãos conservadores que estudam apenas a Bíblia não têm

ciência da grande influência dos trabalhos apócrifos e pseudepígrafos (do período entre o Antigo e Novo Testamento) no Novo Testamento. Ver os artigos sobre Livros Apócrifos e Pseudepígrafos. Ver particu­larmente sobre Enoque Etíope (I Enoque). Há nesses livros material suficiente para ilustrar a tese de que o judaísmo do período teve influência no Novo Testamento, não meramente o judaísmo do Antigo Testamento. Então, não devemos esquecer a tradição rabínica escrita, que naturalmente teria influenciado as idéias dos autores do Novo Testamento. Embora houvesse aquilo que é chamado de “peso morto da ortodoxia” que Jesus e seus apóstolos combatiam, havia muito ain­da que era aceito no cristianismo geral.

Ver Mat. 15.2 para detalhes sobre a “tradição dos anciãos” que trata da lei que exigia a lavagem das mãos de uma pessoa antes que

ela pudesse comer. Essa não era uma lei particularmente dedicada à higiene. Relacionava-se a idéias de poluição e pureza ritual. Ver uma explicação completa no Novo Testamento Interpretado na referência dada. A expressão Tradição dos Anciãos refere-se à interpretação oral e escrita da lei de Moisés, mais tarde codificada na Mishna (Misna), então no Talmude, que combina esse trabalho como Gemara. Todas essas tradições foram trazidas à forma escrita até o final do quinto século D. C. As tradições se aplicavam a quase todas as situações que um homem enfrentaria em sua vida diária, portanto havia enorme peso das leis a seguir que agradavam a mente do judeu, mas não eram tão agradáveis à mente cristã posterior, que era universalizada. A lei da lavagem era muito complexa, e os judeus davam grande atenção a coisas tão triviais, enquanto negligenciavam os materiais mais "pesa­dos” da lei. Honrar pai e mãe era uma verdadeira lei que eles haviam transgredido (Mat. 15.4). Era possível “transgredir” a lei de Deus ao insistir em questões secundárias ou supérfluas, e os ensinamentos de Jesus demonstram isso. Para maiores detalhes, ver a exposição da passagem geral no trabalho referido acima. Observe como Jesus cha­ma tais tradições: “tradições dos homens” (Mar. 7.8). Esse versículo refere-se às “lavagens” sem fim dos judeus, de potes, copos etc., que tinham os mesmos propósitos que a cerimônia da lavagem. Observe a forte crítica em I Ped. 1.18, onae tais coisas são chamadas de “costu­mes fúteis” herdados dos pais. Claro, o judaísmo ritual atrofiou-se depois da destruição de Jerusalém, em 70 D. C., e o judaísmo da Diáspora era tanto liberalizado como também muitas vezes paganizado. Não obstante, a elaboração do Talmude naquele períooo (aue natural­mente incorporou as antigas tradições do período A. C.) tinha como objetivo colocar uma cerca ao redor do judaísmo para protegê-lo con­tra uma paganização exagerada.

V. Luz dos Rolos do Mar MortoVários manuscritos desse achado ilustram os mesmos tipos de

refinamentos da lei mosaica encontrados no Antigo Testamento: ins­truções detalhadas sobre ofertas, lavagens rituais e outros costumes que tocavam a experiência humana de modo geral. O propósito de tais instruções era 1. proteger o judaísmo do paganismo; 2. Preser­var, se possível, uma linhagem pura do judaísmo em face do cres­cente sincretismo.

VI. Tradição no Judaísmo Posterior e no CristianismoMuito do judaísmo foi simplesmente "engolido” por filosofias e

teologias posteriores, mas o Talmude era uma força permanente. À medida que o criticismo bíblico ganhava terreno e balançava a fé judaica nos “documentos originais” , o Talmude e muitas de suas tradições eram considerados um guia para a fé e a prática mais puro e melhor até mesmo do que o próprio Antigo Testamento. Enquanto isso, no cristianismo, uma nova autoridade cresceu, os dizeres e os escritos dos pais da igreja dos primeiros quatro sécu­los D. C. Portanto, podemos dizer, de forma inexata, que o corpo de interpretação era um tipo de Talmude Cristão. Isso pode ser inexato, mas certamente não sem paralelos ou sem significado. A igreja ocidental (latina) também adotou certos rituais judeus, en­quanto a oriental se inclinou mais ao sincretismo do evangelho com o platonismo. Tal generalização fala a verdade, mas não toda a verdade. A Igreja Ortodoxa Russa, por exemplo, ficou bastante judaica em sua metodologia ritual. Na reforma protestante, Lutero assumiu uma posição um tanto moderada, não rejeitando as tradi­ções como um corpo do qual há muito o que ser aprendido, mas colocando a Bíblia acima delas a tal ponto que ela fosse sua única verdadeira autoridade. Logicamente, essa posição ignorava o fato de que a própria Bíblia incorporou tradições, pois não nasceu de um vácuo. Calvino foi mais radical em sua rejeição às tradições judaicas, mas através de interpretações rígidas e da predestinação radical, criou sua própria tradição “de denominação” . Muito de sua teologia era unipolar, representando uma linha de ensinamentos bíblicos e torcendo outras.

Tradições de Denominações. Embora proclamassem muito alto sua doutrina de “Escrituras apenas”, as denominações, através de suas

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TRADIÇÃO, TRADIÇÃO DOS ANCIÃOS — TRADIÇÃO E AS ESCRITURAS 5389

interpretações específicas de passagens da Bíblia, criaram sua própria tradição. O leitor deve ver dois artigos na Enciclopédia de Bíbiia, Teologia e Filosofia se desejar aumentar seu conhecimento sobre a questão das tradições cristãs e das tradições de denominações: Tradição Cristã e Tradição e as Escrituras. Ver também sobre Autoridade, que tem mate­riais relacionados. Cada denominação, confessando ou não, tem o pró­prio Talmude através de seu corpo de interpretações das Escrituras que contradiz os Talmudes de outras denominações. O artigo sobre Tradi­ções dos Homens examina a situação de gnósticos iniciais e suas tradi­ções que se propagaram na igreja primitiva.

TRADIÇÃO E AS ESCRITURASVer sobre os artigos separados Escrituras e Autoridade. O alto

respeite que algumas pessoas têm pelas Escrituras as tem feito su­por que a norma que diz «as Escrituras, somente» é suficiente para a fé e a prática cristãs. Mas há outros cristãos que têm a convicção de que por maiores e mais importantes que sejam os escritos bíblicos, somente os dogmas humanos (e não as declarações 3as próprias Escrituras) podem conferir-nos a «única» autoridade em matéria reli­giosa. Meu artigo sobre a Autoridade aborda os raciocínios que cir­cundam a questão.

1. O Problema da AutoridadeAs pessoas que crêem na norma das «Escrituras, somente» aca­

bam por ignorar o fato de que as próprias Escrituras podem ser sujeitadas a variegadas interpretações, de tal maneira aue a realidade dos fatos seria expressa por algo como. «as Escrituras, e como eu e minha denominação as interpretamos» Dessa maneira, aquela regra torna-se suojetiva, e sua objetividade reside somente na arrogância e no exclusivismo de cada grupo denominacional.

Aqueles que defendem essa posição também ignoram o fato de que as próprias Fscrituras não são tão homogêneas como alguns esperariam, ^osiçòes doutrinárias diversas até scbre questões im­portantes podem derivar-se do apoio de diferentes textos de prova. Naturalmente, isso requer seleção e manuseio. Assim, podemos en­sinar o determinismo ou o livre-arbítrio pelas, Escrituras (pois ambas as doutrinas são bíblicas). Também podemos ensinar uma doutrina do julgamento que concebe um inferno eterno, sem qualquer espe­rança para além do sepulcro, ou podemos ensinar uma visão de esperança e de restauração, com oportunidade de melhoria no pró­prio hades, ou seja, após a morte física. No primeiro caso, podemos apelar para Heb. 9:27. No segundo caso, podemos apelar para o relato da descida de Cristo ao hades. especialmente I Ped. 4:6, o versículo final do relato, como aplicação desse relato. Após escolher­mos um lado ou outro, podemos distorcer ou ignorar os textos que parecem ensinar a posição oposta.

Continuando a ilustrar, quando faiamos soore a salvação, pode­mos usar textos de prova como os dos evangelhos, que mostram estar envolvido o perdão dos pecados, com base na expiação pelo sangue de Cristo, e então, por ocasião da morte biológica, a transfe­rência para uma existência melhor no céu. Ou então podemos exami­nar passagens paulinas, onde é ensinado que a salvação é uma evolução espiritual, mediante a qual vamos passando de um estágio de glória para outro, compartilhando cada vez mais da própria natu­reza de Cristo, em sua imagem e atributos (II Cor. 3:18; Rom. 8:29), o que nos toma partícipes da natureza e da plenitude divinas (Efé. 3:19; Col. 2:9,10). E, apesar de podermos chamar os ensinos paulinos de superiores, é inegável que aquela concepção mais limitada da salvação, expressa nos evangelhos, é que predomina na prédica das igrejas protestantes e evangélicas, uma visão estreita em relação à soteriologia de Paulo.

Quanto mais nos pomos a examinar essa questão, melhor perce­bemos que quando falamos das Sagradas Escrituras como alicerce, também teremos de depender de outros meios de determinação da verdade. Se temos tão elevada consideração pelas nossas interpre­tações particulares das Escrituras, por que motivo não respeitamos as interpretações alheias, especialmente aquilo que os chamados

«pais da Igreja» disseram, e o que os vários concílios definiram. Ape­sar de ser ridículo esperar infalibilidade ali, é perfeitamente possível que os pais ou os concílios tenham podido interpretar melhor do aue nós, nem que seja numa coisa ou em outra.

As pessoas geralmente não tomam consciência ao fato de que sua teologia é um sumário de noções teológicas, que segue alguma formulação histórica doutrinária, e não uma representação complete < genuína aos ensinos bíblicos. As pessoas também geralmente ignoram que a teologia, tal como qualquer outro ramo do saber humano, é um empreendimento em desenvolvimento, e não uma realização já termi­nada.

Desde a Reforma Protestante aos nossos dias, tem havido um nítido desenvolvimento doutrinário. Deus levantou Lutero para relembrar a basilar doutrina da «justificação pela fé». Calvino enfatizou «a soberania absoluta do Senhor Deus», como também a «predestinação». Wesley encareceu a necessidade de «santidade. Outros grupos, como os batistas, estavam frisando a necessidade da «regeneração como condição ao batismo». Os grupos pentecostais, mais recentemente, têm frisado «o aspecto místico da experiência cristã». E certamente Deus continuará iluminando mentes e corações para que seu povo esteja devidamente preparaac para o segundo advento de Cristo. Este co-autor e tradutor sugere a «tomada de consciência da unidade espiritual do povo de Deus», com a conse­qüente desvalorização dos vínculos denominacionais. Opino que o Espírito de Deus efetuará esse «milagre» por meio da Grande Tribula­ção, quando somente os que são de Cristo rejeitarão lealdade ao anticristo - e então os crentes reconhecerão, forçosamente, a sua unidade em Cristo. Ainda temos muito que aprender e avançar1

2. Manipulação DenominadoraA questão da tradição vem à tona, na presente discussão, porque

todas as denominações são, na verdade, resultantes das tradições teológicas. Para exemplificar, as igrejas protestantes e evangéicas excetuando alguns abusos, juntamente com a Igreja Católica Rome­na, representam a tradição teológica ocidental, fundamentada sobre as interpretações dos pais da igreja Ocidental. No entanto, hâ a tradição da Igreja Oriental, e, em minha estima, auante a alguns pontos, essa tradição teológica e superior ã tradicao teológica oci­dental. Também podemos pensar na traaicão anglicana, que procura combinar elementos ao Ocidente e do Oriente, com alguns sucesso em seus esforços por obter uma teoiogia mais completa e satisfatória. A grande verdaue é que todos os sistemas teológicos envolvem idéi­as tradicionais, o que se evidencia mediante estuao apesar das negações moviaas pela arrogância denominacional.

3. Tradições Usadas nos EvangelhosO prefácio do evangelho de Lucas alerta-nos para o fato de que

estamos tratanao com uma tradição oral e escrita que Lucas utili­zou para compor o terceiro evangelho. Os eruditos liberais não crêem que essa tradição fosse isenta de erros, ou fosse absoluta­mente correta, historicamente falando. Seja como for, desde o co­meço temos que levar em conta uma tradição cristã, que se mani­festa nos próprios evangelhos. Outrossim, por detrás dos evange­lhos havia as tradições judaicas, não somente aquelas registradas no Antigo Testamento, mas também aquelas dos livros apócrifos e pseudepígrafes. A verdade é que o Novo Testamento inspirou vári­as idéias desses citados livros, apesar de não citá-los diretamente. Além disso, no próprio Novo Testamento encontramos tradições que continuam sendo transmitidas. Os estudiosos conservadores afirmam que o Espírito Santo preserva essas tradições (até mesmo aquelas que foram incorporadas) de qualquer erro. Mas os liberais julgam poder encontrar provas em contrário. Seja como for, é paten­te que não podemos estabelecer clara distinção entre Escrituras e tradições, conforme fazem os ingênuos; isso porque as mesmas Es­crituras nos transmitiram tradições. Se essas tradições não en­volvem erros, já constitui outro problema. E discuti sobre isso no artigo intitulado Escrituras, na parte que trata sobre a questão da inspiração divina.

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5390 TRADIÇÃO E AS ESCRITURAS — TRAIÇÃO

4. Tradições Pós-NeotestamentáriasAs vidas de Jesus e seus apóstolos inspiraram a escrita de muitos

livros que apareceram, os quais seguiam o tipo de literatura que figura no Novo Testamento, tendo sido publicados evangelhos, atos, episto- as e apocalipses. A maior parte desse material foi produzida por gru­pos herét:cos (especialmente os gnósticos), incorporando muito mate­rial imaginário e fantástico. Não obstante, ali há algumas coisas de vaior. Uma pequena porcentagem das narrativas acerca de Jesus e seus apóstolos pode exprimir a verdade. Algumas das declarações extracanônicas, atribuídas a Jesus, podem ser genuinas. Isso posto, encontramos ali tradições pós-neotestamentárias que se revestem de algum valor, nem que seja para efeito de comparação. Ver os artigos intitulados Livros Apócrifos e Livros Pseudepigrafes, onde essas ques­tões são ventiladas com maiores pormenores, e que envolvem o Novo Testamento. Naturalmente, aquelas tradições presas ao Antigo Testamento também precisam ser investigadas.

5. As Tradições dos Pais da IgrejaOs antigos pais da Igreja interpretaram as Escrituras e criaram

um considerável corpo de literatura. Suas interpretações tornaram-se tradições. E assim a Igreja ocidental veio a seguir os primeiros pais

itinos da Igreja, sempre que surgiram diferenças de opinião. Roma tornou-se um centro de autoridade, e as posições dos pais associa­dos àquela capital vieram a ser uma fonte de tradições que se torna­ram a herança das igrejas ocidentais. Porém, também houve as tra­dições criadas pelos pais da Igreja Oriental, sediados ncs patriarca- dos de Constantinopla, Antioquia, Alexandria e Jenjsalém. Essa tra­dição oriental influenciou a Igreja Ortodoxa Oriental e a comunidade anglicana (esta última longe dali, nas ilhas britânicas). Contudo, é mais exato dizer-se que os anglicanos foram e continuam sendo uma ponte de ligação entre o Oriente e o Ocidente. As duas grandes tradições diferem no que concerne a pontos importantes como o ensino geral sobre a alma (o Ocidente aceitou o criacionismo; o Ori­ente, a preexistência da alma). Também diferem quanto à oportuni­dade das almas (o Ocidente limita essa oportunidade a antes da morte biológica mas o Oriente assegura que a oportunidade de sal­vação prossegue no após-túmulo, dizendo que o hades é um campo missionário, tal como sucede no plano terrestre). E assim, as deno­minações, tendo conhecimento ou não desses fatos, seguem tradi­ções interpretativas, visto que o próprio Novo Testamento não se mostra homogêneo sobre alguns pontos importantes. As tradições dos pais da Igreja, pois, recresentam esforços de interpretação, e merecem pelo menos tanto respeito como as interpretações das atu­ais denominações cristãs, embora seja ridículo falar sobre inerrância interpretativa.

6. Recolhimento das Tradições nos ConcíliosOs concílios ecumênicos (vide) atuaram quais árbitros de doutri­

nas e tradições cristãs e procuraram limitar os pontos de vista a algjm a posição. 0 catolicismo romano caiu no erro de «canonizar» as deliberações desses concílios; os grupos protestantes caíram no erro de não respeitá-las de modo suficiente, no afã de livrarem-se dos abusos ali contidos. Mas, na verdade, os credos de denomina­ções ou igrejas particulares são minúsculas decisões conciliares, que se mostram arrogantes o bastante para exigir conformidade com certas posições doutrinárias, sob a hipótese de que elas não encer­ram erros. 0 que geralmente não se reconhece é que há abusos e erros doutrinários tanto das decisões dos concilios quanto nesses «minúsculos concílios» denominacionais.

Da mesma forma que é impossível separar a pessoa que perce­be, mediante os seus sentidos, algum objeto fisico, de sua interpreta­ção dessa percepção (pois vemos as coisas conforme somos, e não conforme as coisas realmente são), assim também é impossível sepa­rarmos as Escrituras do ato de interpretação das mesmas. Coletiva­mente falando, as interpretações tomam-se tradicionais, não havendo interpretação bíblica sem as tradições interpretativas. Uma tradição pode ser verdadeira ou falsa, e algumas vezes não podemos aquila­tar isso com precisão. No entanto, a busca pela verdade é uma

aventura, pelo que não nos deveríamos sentir perturbados diante da necessidade de continuarmos inquirindo.

7. As Denominações Giram em Torno de Tradições Organiza­das

Surpreende ver quão arrogantes são as denominações. Cada qual tem a certeza de que possui a melhor interpretação do Novo Testamento. Mas a verdade é que cada denominação é depositária de tradições interpretativas que contêm tanto a verdade quanto o erro.

8. Definição Católica das Tradições da IgrejaDeus dirige tudo quanto sucede na Igreja, que é o seu instrumen­

to de salvação e transmissora da mensagem espiritual. «A palavra de Deus e os seus dons graciosos alcançam o homem através da prédica entregue à Igreja. 0 mistério de Cristo permanece presente na histó­ria, porque há uma comunhão dos fiéis que, no processo vital da vida, transmite a doutrina, a adoração e a palavra de Deus» (R). Para os teólogos católicos romanos, isso é feito mediante a assistência do Espírito Santo, que vai acompanhando as mutações da história, as­sim transmitindo e desenvolvendo em segurança as tradições, a cada geração, por sua vez. Deus determinou que a Igreja fosse uma insti­tuição de revelação contínua, e não meramente que servisse de guardiã da revelação inicial, dada nas paginas do Novo Testamento. As tradições subseqüentes não são consideradas infalíveis, embora merecedoras de respeito. Porém, as tradições interpretativas, dos concílios ecumênicos e dos pronunciamentos dos papas, são reputa­das infalíveis, devido à agência orientadora do Espírito.

Apesar de as doutrinas básicas da tradição neotestamentária per­manecerem as mesmas, o avanço da história requer maior iluminação e novas diretrizes. E essa é a necessidade suprida pelas decisões dos concílios e pelos pronunciamentos papais. Outras tradições podem ser de ajuda, mas não envolvem idêntica autoridade. As contradições porventura existentes nas tradições não deveriam dividir a Igreja. A verdade precisa ir sendo continuamente definida em muitas áreas, e as definições são sempre limitadas. 0 pluralismo, na Igreja, não somente precisa ser tolerado, mas até mesmo precisa ser encorajado.

TRADUÇAOVer Versões.

TRAIÇÃONo hebraico, ramah, «entregar». palavra usada por onze vezes

(por exemplo, I Crô. 12:17; com o sentido de «enganar», ver I Sam. 10:17; 28:12, etc.).

No grego, paradidomi, «entregar». É palavra usada por muitas vezes no Novo Testamento, cerca de cento e vinte vezes, desde Mat. 4:2 até Judas 3. Neste artigo interessa-nos examinar a traição de Judas Iscariotes, mediante a qual o Senhor Jesus foi entregue a seus algozes.

O vocábulo grego, de modo geral, envolve as idéias de mostrar-se desleal, de desapontar as expectações de alguém, de desvendar informações secretas, de seduzir, de apresentar evidências falsas contra alguém, de agir traiçoeiramente. Jesus predisse (Mat. 17:22) que seria traido por um de seus discípulos. O caráter do traidor era conhecido por Jesus, antes que aquele entrasse em ação (João 6:46). Os evangelhos salientam a postura digna e a força de espírito do Senhor Jesus, durante todo o episódio (Mat. 26:47-56). O Senhor só reagiu para repreender a seu ex-discípulo, quando foi por ele traiçoeiramente osculado: «Judas, com um beijo trais o Filho do ho­mem?» ( Luc. 22:48).

O que foi que Judas traiu? a. De acordo com os incrédulos e céticos, Judas teria traído o segredo messiânico, embora esse segre­do não correspondesse à realidade. O segredo messiânico era a consciência de que Jesus tinha de ser o longamente esperado e profetizado Messias de Israel, uma informação que ele manteve em segredo por longo tempo. Alguns incrédulos não crêem que Jesus

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TRAIÇÃO — TRANSE 5391

tenha sido o Messias de Israel, porquanto isso seria uma invencionice dos judeus, sem qualquer fundamentação. De acordo com essa tentativa de explicação, Jesus foi envolvido na ilusão, deixou-se enganar, e identificou-se com a imaginária figura do Messias. Judas Iscariotes, pois, teria revelado essa auto-ilusão às autoridades judaicas. Um dos mais curiosos aspectos dessa teoria é que Judas teria feito isso como um ato de misericórdia, a fim de salvar Jesus de sua ilusão e, talvez, da morte, visto que, declarando ser o Messias, ele entrara em choque com as autoridades judaicas e com Roma, que jamais toleraria a rivalidade de um rei judeu! Isso fez de Judas o real herói da história! Infelizmente para ele, o traidor não compreendeu seu gesto por esse prisma, pois lemos: «Então Judas, que o traiu, vendo aue Jesus fora condenado, tocado pelo remorso, devolveu as trinta ^oedas de D ra ta aos principais sacerdotes e aos anciãos, dizendo: Pequti !raindo sanaue inocente» (Mat. 27:3,4). E foi enforcar-se!

b. Ou então o segredo messiânico foi revelado por Judas ãs auto­ridades judaicas. E o tal segredo era genuíno—Jesus era o Messias prometido. Contudo, de acordo com essa exp^caçãc apenas gradual­mente Jesus foi tomando consciência de sua missão, tendo-a guarda­do em segredo enquanto não teve a certeza de quem era.

c. No entanto, a leitura dos evangelhos indica que tuao quanto Judas Iscariotes revelou às autoridades judaicas foi o lugar para onde Jesus costumava retirar-se à noite, o que facilitou a sua detenção (ver João 18:1-3).

A Traição e a Teologia, a. Se o segredo messiânico estava envolvido, então, teologicamente falando, a traição *eve significa­ção. Assinalou o ponto em que o caráter messiânico de Jesus não podia continuar sendo ocultado, e tinha de ser toinado de conheci­mento público, b. O ato da traição mostrou até onde pode chegar a infidelidade humana. A igreja primitiva recuou, horrorizada: um dos doze havia traído ao Senhor, c. O ato de traição que revelou onde o Senhor se abrigara, foi apenas símbolo do caráter aviltado do traidor. A natureza humana, quando profundamente aviltada, é ca­paz de aualquer ato traiçoeiro, d. O ato de traição m ostra res como algumas pessoas tratam a graça do Senhor e a sua generosidade com escárnio. Os homens abusam da graça divina, mas apenas para seu próprio detrimento (Ver João 15:16; c:7( Atos 1:17). Judas lançou fora um tremendo privilégio aue lhe tinha sido dade. e. Em todo o episódio havia a questão do destin embora algurs tenham dificuldade em compreendê-la (Mat. 26:24) A coisa tinha de acon­tecer, mas ai do instrumento usado! Sabomos que o desígnio de Deus coopera com a vontade humana, sem aestrui-la, embora não saibamos explicar de que maneira. Ver os artigos socre o livre-arbitrio e o determinismo, f. Alguns supõem que aquele ato traiçoeiro de Judas tenha sido apenas um dentre toda uma easteira de sua alma, e cue esse homem haverá de reencarnar-se e será o anticristo. (Ver as notas no NTI, em Atos 1:25, bem como o artigo sobre o anticristo). Naturalmente, o anticristo também tera uma missão divi­namente determinada, pois aquilo que tiver de suceder-se, sucede­rá. Uma vez mais, vê-se que Deus usa o homem sem destruir-lhe a livre vontade, apesar de não sabermos explicar a questão, g. Judas teve remorso (Mat. 27:2,3); mas, porventura, isso significará algu­ma coisa, em última análise? O trecho de Efésios 1:10 mostra-nos que haverá uma restauração geral (ver o artigo), e isso, natural­mente, incluirá Judas. Todavia, isso terá de esperar até o fim da fila, após toda a série de eras produzir aquela era em que o Logos será o centro de todas as coisas, a razão pela qual tudo existe. Não obstante, coisa alguma deveria servir para detratar a missão do Logos, o Cristo, em sua encarnação como o Messias prometido. Além disso, por qual motivo haveríamos de limitar e subestimar a graça e o amor de Deus, somente para continuarmos crendo que Judas nunca mais será recuperado pelo favor divino? (B NTI)

TRANCAR (Cadeado, Fechadura, Pino)Uma fechadura é um artifício mecânico para impedir que portas e

outras entradas sejam abertas. Os antigos hebreus tinham trancas

feitas de madeira ou de ferro, para trancar as portas de casas, prisões e fortalezas (ver Isa. 45:2). Os portões das muralhas erguidas por Neemias, em tomo de Jerusalém, contavam com «ferrolhos e trancas» (Nee. 3:3). Os ferrolhos e as trancas (sob a forma de barras) eram as formas mais comJns de fechaduras. As chaves consistiam em pinos de ferro ou de bronze embora, ocasionalmente, !ambém !:ssem usados pinos de madeira. Esses pinos serviam para manter aquelas barras ou 'rancas em seus rescectivos lugares. Em alguns lugares, uma tradjção mais exata para fechadura seria «ferrolho. A chave (vide) era um instrumento de metal ou de madeira, usado para fazer mover-se o ferrolho.

TRANQÜILIDADEF-sse era o estado mais elevado procurado pelos filósofos epicureus

mais intelectuais. Eles pensavam que a tranqüilidade é fruto da rejeição do ciclo do desejo-cumprimento-descontentamento-desejo- cumprimento-descontentamento etc., ad infmitum. O homem tranqüilo, para eles, seria aquele que não excita esse ciclo vicioso, mas contenta-se com os prazeres intelectuais, repelindo os prazeres carnais. Mostramo-nos tranqüilos quando desejamos desaparecer, em vez de nos oeclararmos alegadamente satisfeitos. O prazer é o alvo da existência, dentro daquele sistema filosófico; mas estão em foco somente os prazeres que deixam um homem com uma mente satisfeita, distante dos conflitos que excitam os desejos humanos. A ataraxia é o alvo que todos deveriam prxurar, ou seja, «o prazer desfrutado em meio à tranqüilidade».

Diz o trecho de Provérbios 17:1: «Melhor e um bocado seco, e tranqüilidade, do que a casa farta de cames e contendas». A tranqüi­lidade no lar deveria ser um de nossos grandes alvos. O trecho de Isaías 32:17 fala sobre retidão, paz e repouso, todos juntos, e isso subentende a redenção da alma, sem a qual é simplesmente impos­sível qualquer tranqüilidade permanente. E os trechos de I Tes. 4:11 e II Tes. 3:12 exortam os homens à tranqüilidade, para que, nesse estado, seja desenvolvida a piedade cristã.

TRANSEEsboço:I. As PalavrasII. DefiniçõesIII. Usos BíblicosI. As PalavrasHá três palavras hebraicas envolvidas, e uma palavra grega, a

saber:1. Naphal, «cair (em transe)», que aparece com esse sentido

somente em Núm. 24:4,16. Nas demais vezes significa apenas «cair».2. Tardemah, «sono profundo», uma palavra hebraica que ocorre

por sete vezes: Gên. 2:21; 15:12; I Sam. 26:12; Jó 4:13; 33:15: Pro 19:15 e Isa. 29:10.

3. Radam, «transe», um termo hebraico que ocorre por três ve­zes com esse significado: Sal. 76:6, Dan. 8:18 e 10:9.

4. Ékstasis, «fora do normal», «deslocamento», «confusão men­tal». Essa palavra grega é usada por sete vezes: Mar. 5:42; 16:8; Luc. 5:26; Atos 3:10; <0:10; 11:5 e 22:17.

II. DefiniçõesUm transe é um estado alterado da consciência, mediante o

qual o indivíduo, por assim dizer, é transportado para fora de si mesmo. Nessa condição de arrebatamento dos sentidos, embora pareça desperto, o indivíduo está desligado de todos os objetos que o circundam, de todos os estímulos. Os estímulos externos evidentes passam inteiramente despercebidos, visto que a pessoa fica total e obcessivamente fixada sobre coisas invisíveis, sejam elas de nature­za divina, alucinatórias ou inconscientes. Em tal condição a pessoa pode pensar que está percebendo, com os seus sentidos naturais (principalmente com a visão e com a audição), realidades que lhe estejam sendo mostradas por Deus ou por outras forças sobrenatu­rais. Os transes religiosos ou assinalados como fortemente emocio­nais são chamados «êxtases». Os êxtases são algum arrebatamento

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5392 TRANSE — TRANSJORDÃNIA

de avassaladora alegria. Em suas formas externas, o transe assemelha-se ao estado de coma.

III. Usos BíblicosA forma extrema de transe, que poderíamos entender como

«coma», aparece naquelas passagens onde é empregada a palavra hebraica tardemah (ver acima). É interessante observar que, em to­dos esses casos, há alguma manifesta intervenção de Deus. Por exemplo: «Então o Senhor Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu: tomou uma das suas costelas, e fechou o lugar com carne» (Gên. 2:21). Ou, então: «Ao pôr-do-sol, caiu profundo sono sobre Abrão, e grande pavor e cerradas trevas o acometeram; então lhe foi dito...» (Gên. 15:12,13).

Uma forma mais suave de transe é expressa mediante a palavra hebraica ra a m (ver acima, número «3»), Isso pode ser visto, por exemplo, em Dan, 8:18, que diz: «Falava ele comigo quando cal sem sentido, rosto em terra; ele, porém, me tocou e me pôs em pé no lugar onde eu me achava e disse...» A mesma coisa se vê em Dan. 10:9: «Contudo, ouvi a V07 das suas palavras e, ouvindo-a, caí sem sentido, rostc em terra». A mesma palavra ocorre em Sal. 76:6, onde. porém, aiz a nossa versão portuguesa: «Ante a tua repreen­são, ó Deus ae Jaco, paralisaram carros e cavalos».

No caso do profeta Balaão, por duas vezes é usada a palavra hebraica naphal. Citamos aqui os versículos envolvidos: «...palavra daquele que cuve os ditos de Deus, o que tem a visão do Todo- Poderoso e prostra-se, porém de olhos abertos...» (Núm. 24:4,16). A idéia transparece nas palavras reiteradas «prostra-se, porém de olhos abertos».

No Novo Testamento, o uso da idéia de transe (que nossa versão portuguesa exprime através da palavra êxtase, correspondente exa­tamente ao termo grego original), está sempre vinculado às diretivas conferidas pelo Espírito de Deus. Assim, no caso que envolveu o apóstolo Pedro (Atos 10:10 e 11:5), o contexto, as circunstâncias e as corseqüências sugerem-nos que tudo foi permitido e usado pelo Espírito de Deus (ver ainda Atos 11:12,15,18). E o mesmo sucedeu no caso que envolveu o apóstolo Paulo (Atos 22:17). Ver também os artigos intitulados, Espanto; Sonho; Visão.

É evidente que está em foco um conceito psicológico, um fenôme­no que não envolve apenas a porção física do homem. Naturalmente, os céticos não acreditam que coisas assim possam ocorrer, que possa haver qualquer intervenção divina ou demoníaca que influencie o ser humano. Porém, se até os hipnotizadores conseguem fazer as pesso­as entrarem em transe (ver sobre o Hipnotismo), por que razão não poderiam fazê-lo forças espirituais superiores ao homem?

As práticas do espiritismo (vide) envolvem transes com vários fenômenos acompanhantes, como a «escrita automática», ou psicografia, o desenho ou a pintura que reproduz os traços de algum grande mestre do passado, ou a música de algum grande pianista ou virtuoso de algum outro instrumento musical. Indagamos: se espíri­tos, humanos ou não, podem produzir tais fenômenos, usando-se de seres humanos em estado de transe, por que motivo, com muito maior razão, o Espírito de Deus não poderia utilizar-se dessa mesma potencialidade, para as suas próprias finalidades benfazejas?

TRANSGRESSÃOHá três termos hebraicos e uma palavra grega envolvidos neste

verbete, isto é:1. Maal, «ultrapassar». Palavra hebraica usada por vinte e sete

vezes, conforme se vê, por exemplo, em Jos. 22:22; I Crô. 9:1;10:13;II Crô. 29:19; Esd. 9:4; 10:6.

2. Abar, «ir além»-, «transgredir». Vocábulo hebraico que aparece por muitas vezes, embora apenas por duas vezes com o sentido claro de «transgredir», ou seja, Deu. 17:2 e Pro. 26:10.

3. Pesha, «rebelar-se», «transgredir», «pisar além». Termo hebraico que aparece por noventa e três vezes, conforme se vê, por exemplo, em Êxo. 23:21, Lev. 16:16,21; Núm. 14:18; Jos. 24:19; I Sam. 24:11; I Reis 8:50; Jó 7:21; 8:4; 35:6; 36:9; Sal. 5:10; 19:13; 103:12; 107:17;

Pro. 12:13; 17:9,19; Isa. 24:20; 43:25; 44:22; Jer. 5:6; Lam. 1:5,14,22; Eze. 14:11; 18:22,28,30,31; 39:24; Dan. 8:12, 13; 9:24; Amós 1:3,6,9,11,13; Miq. 1:5,13; 6:7; 7:18. Também há uma forma variante, pasha, que aparece por quarenta vezes conforme se vê, para exemplificar, em Sal. 37:38; 51:13; Isa. 1:28; 46:8; 48:8; 53:12; 59:13; Dan. 8:23; Osé. 14:9; Amós 4:4.

4. Parábasis, «transgressão», «contravenção». Vocábulo grego que é usado no Novo Testamento por sete vezes: Rom. 2:23; 4:15; 5:14; Gál. 3:19; I Tim. 2:14; Heb. 2:2 e 9:15. O adjetivo parabátes, «transgressor», ocorre por três vezes: Gál. 2:18, Tia. 2:9,11. Também há uma palavra grega, ánomos, «sem lei», «desregrado», que ocorre por duas vezes e que nossa versão portuguesa também traduz por «transgressor», mas cujo sentido mais profundo e correto é o de al­guém que vive desregrado, sem atender a qualquer lei; ver Mar. 15:28 e Luc. 22:37.

A transgressão é a quebra da lei, no sentido de ultrapassar um limite fixado. É preciso que haja algo proibido para que possa haver uma transgressão. Por isso mesmo, há uma sutil mas profunda dis­tinção entre o pecado e a transgressão, porquanto aquele que não está sujeito a qualquer lei pode pecar (ver Rom. 5:13); mas, com a introdução de uma lei, o contraventor comete transgressão, se che­gar a violar essa lei (Rom. 4:15: 5:14; Gal. 3:19). Por conseguinte, o «pecado» leva-nos a transgredir (Rom. 7:7.13). O pecado pode con­sistir em uma desobediência implícita, mas a transgressão é sempre uma desobediência explicita. Daí, a transgressão é uma forma agra­vada de pecado.

5. Transgressão (delito). No gregor paráptoma, «desvio». Esse vocábulo grego ocorre por dezenove vezes: Mat. 6:14,15; Mar. 11:25,26; Rom. 4:25; 5:15-18,20; 11:11,12; II Cor. 5:19; Gál. 6:1; Efé. 1:7; 2:1,5; Col. 2:13.

Nossa versão portuguesa não se mostra nada homogênea na tradução desse vocábulo. São usadas as palavras portuguesas «ofen­sa», «delito», «transgressão» etc.. para traduzir o termo grego em foco. O ato indicado pelo termo grego é o de desviar-se de uma rota,o de cair para um lado, o de desertar de apostatar. Isso posto, está envolvida a idéia de infidelidade, de ato traiçoeiro. Duas pessoas entraram em um acordo; mas uma delas rompe com o acordo. Incor­reu nesse tipo de transgressão. Nas paginas da Bíblia, mais comumente está em pauta a infideliaade do homem diante de Deus, embora também haja menção ali a casos de infidelidade somente entre seres humanos.

Várias palavras hebraicas e gregas foram empregadas para indi­car a complexa noção de pecado. Ver o artigo sobre Pecado. O ato expiatório de Cristo, entretanto, anula e permite o perdão do pecador, sem importar o aspecto que essas diversas palavras estejam salien­tando. Citamos aqui, na íntegra, o trecno de Efésios 2:4,5, onde aparece esse vocábulo grego, e onde a nossa versão portuguesa o traduz por «delitos»: «Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo — pela graça sois salvos...».

TRANSJORDÃNIA1. Definições. O termo hebreu envolvido é eber iordan, “além

Jordão". Transjordânia é a versão latina do mesmo termo. Cisjordânia significa “nesse lado” do Jordão, apontando para o lado oeste, en­quanto trans significa “leste". Gileade era usado para falar da área inteira do leste da Palestina (Deu. 34.1; Jos. 22.9), e o termo grego relativo ao mesmo território era Coele-Síria (Josefo Ant. I.xi.5; Xlll.xiii2 ss.).

2. Local. O leste da Palestina inteiro pode ser representado por este termo, de modo geral reconhecido como aplicado a Israel e à sua terra, na forma de Dã, o norte do Egito, e a Arábia Saudita, no sul e sudoeste. O limite leste de Israel era sempre indefinido, estando limitado apenas por certas cidades ou marcos “lá fora". Mas essa fronteira indefinida estende-se do Iraque a Arábia Saudita, sem muita

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TRATADO — TREVAS (METÁFORAS) 5393

precisão. Os nomes da Biblia associados a essa área eram Edom (sul do Mar Morto), Moabe, Amom, Gileade e Basã.

3. Observações Bíblicas. A Rodovia do Rei passava por esse território (Gen. 10.10 ss.; 14.12 ss.; 32.10). Era a via dos reis do leste. A Israel, quando caminhava em direção à Terra Prometida, foi negado o direito de passar por ali (Núm. 20.17), o que criou muita confusão. Deu. 8.9 menciona o local como um ponto de operações mineiras, a incluir as minas de cobre do rei Salomão localizadas em Eziom-Geber. Moisés viu a Terra Prometida, a incluir a parte leste, do monte Nebo, e, em uma época posterior, Davi, fugindo de Saul para preservar sua vida, correu de um lado para outro naquele território (I Sam. 22.3 ss.).

As tribos que ocupavam essa parte do território de Israel eram a meia tribo (leste) de Manassés, Rúben e Gade. Para maiores detalhes sobre isso, ver o artigo separado chamado de Tribos, Localização das, cuja seção II trata especificamente das tribos da Transjordânia. Ver Juí. cap. 13 para detalhes sobre a divisão tribal.

A divisáo tribal idealista de Ezequiel deixa a Transjordânia de fora por completo, por motivos desconhecidos. Os intérpretes que supõem que essa profecia deverá ser cumprida no futuro distante (como no Milênio) avaliam que o Desejo Divino simplesmente deixará fora essa parte de Israel quando a Nova Israel surgir. Ver Eze. 47.13- 48.29. Mesmo se essa interpretação for real, ela não nos informa o porquê disso.

No Novo Testamento, o termo usado para referir-se à maior parte daquilo que foi chamado "além do Jordão” (eber iordan) é Peréia, que no grego significa “do outro lado”. A Septuaginta tem peran tou lordanou (“do outro lado do Jordão”). Esse nome apenas começou a ser empregado após o cativeiro babilónico. O artigo sobre Peréia é bastante detalhado, o que permite a brevidade aqui.

TRATADO1. Termos e Definições. No hebraico, a palavra é bereeth, “trata­

do” ou “pacto”, derivando de um vocábulo que significa “cortar”. Está em vista o antigo costume de um sacrifício que atendia a alianças. O sacrifício era cortado em duas partes exatamente iguais, o que era conseguido ao realizar o corte ao longo da coluna vertebral. Daí os que estavam selando o acordo passavam pelas duas partes iguais. Por fim, havia uma refeição comunal para celebrar o pacto. A palavra portuguesa “tratado” deriva do latim tractatus, “manuseio” ou “trata­mento”, com a idéia básica de “negociar” algo.

A palavra grega é diathoke, “contrato”, “acordo”, “pacto” ou um “testamento” .

2. Tratados Humanos. No Antigo Testamento, os tratados huma­nos eram de três tipos principais: aqueles que tinham como objetivo evitar hostilidades militares; os selados entre um poder que havia conquistado outro, e o perdedor que “dava sua terra” através de acordo; e aqueles feitos no tangente ao pagamento de tributos por um poder (que havia perdido uma guerra ou desejava evitar uma) a um poder superior. Quando os poderes ainda eram iguais e simples­mente desejavam evitar guerras, o tratado era chamado “tratado de iguais”. Quando poderes superiores sujeitavam outros, os tratados eram entre conquistadores e vassalos e eram chamados sueranos.

3. Tratados Humanos com o Divino. Aqui podemos simplesmente chamar os tratados de “pactos”. Yahweh, em relação a todos os reinos e poderes terrenos, exige um tratado suerano, no qual todos os reinos terrenos são vassalos (Sal. 2). O Grande Rei é o Senhor Universal. O Rei é soberano, mas é também benevolente. No caso de Israel, Eie lhes deu a terra, favorecendo essa nação em vez de outras (Jos. 24.2- 13). Antigos tratados sueranos exigiam um documento escrito, que deveria ser consultado periodicamente para lembrar os dois lados par­ticipantes das condições sob as quais estavam. A lei era o documento do pacto de Israel com Deus e devia ser revisado continuamente. Uma cópia dessa lei era colocada na arca da aliança (Êxo. 25.16,21; I Reis 8.9) para mostrar que esse documento era o poder regente por trás do acordo do divino com o humano. A arca foi colocada no tabernáculo,

onde a Presença (Shekinah) se manifestava, portanto o Poder Divino estava sempre em controle e evidência. Periodicamente, a lei era lida ao povo (as pessoas não tinham cópias independentes e a maioria não sabia ler). Um sacerdote, um intermediário entre Deus e o homem, tinha a tarefa de ler e ensinar a lei ao povo (Deu. 31.9-13). Deus era a Testemunha Divina de Israel, da mesma forma que no Oriente se considerava que os tratados eram testemunhados pelos deuses, que poderiam tomar as ações apropriadas contra os ofensores e violadores do acordo. Então, o próprio povo era testemunha para ou contra si mesmo no caso dos pactos de Israel (Jos. 24.22). O tratado trará bên­ção ou praga ao povo, dependendo de suas respostas às condições (Deu. caps. 27 e 28).

TRAVESSEIROHá três palavras hebraicas e uma palavra grega a considerar:1. Kebir(I Sam. 19:13,16). Essa palavra parece referir-se mais a

um colchão fino do que mesmo a um travesseiro. Nossa versão portuguesa diz: «um tecido de pêlos de cabra».

2. Meraashoth, «apoio (para a cabeça)» (Gên. 28:11,18). Na fuga para Arã, Jacó pôs uma pedra sob a cabeça, como «travesseiro». Literalmente, a palavra usada significa «à cabeça» ou «no tocante à cabeça».

3. Kesathoth, «faixas» de algum tipo. Mas a moderna palavra hebraica para «travesseiro» ou «colchão» é essa, pelo que há uma boa possibilidade de que a antiga palavra também incluía essa idéia. Ver Eze. 13:18,20. Nossa versão portuguesa, entretanto, sugere algo inteiramente diferente: «...invólucros feiticeiros para todas as articula­ções das mãos...».

4. Proskephálaion, «travesseiro», «colchão». Ver Mar 4'38 (sua única menção). Talvez, nesse caso, esteja em foco o coxim sobre o qual se assentava algum remador, e que o Senhor Jesus cansado, usou como seu travesseiro.

Usos Figurados. Nos sonhos e nas visões, o travesseiro simboli­za conforto, apoio, restauração das forças e proteção.

TREINAR, TREINAMENTOTemos duas palavras hebraicas envolvidas nesse verbete, e uma

palavra grega, a saber:1. Chanak, «treinar», «dar instrução», que aparece nesse senti­

do, em todo o Antigo Testamento, apenas por uma vez, em Pro. 22:6: «Ensina a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele».

2. Chanik, «treinado», «instruído», palavra hebraica que também só figura por uma vez, no Antigo Testamento: Gên. 14:14, onde se lê: «Ouvindo Abrão que seu sobrinho estava preso, fez sair trezentos e dezoito homens dos mais capazes, nascidos em sua casa, e os perseguiu até Dã». A palavra capazes é a palavra em pauta. Eviden­temente, eles haviam sido treinados para a guerra.

3. Sophronízo, «dar mente sóbria». Paulo admoestou no sentido de que as mulheres mais jovens fossem treinadas a amar seus mari­dos e seus filhos, em Tito 2:4: «...a fim de instruírem as jovens recém-casadas a amarem seus maridos e seus filhos». Pode-se in­terpretar que Paulo aconselhava que as mulheres jovens deveriam ter o bom juízo de se dedicarem a seu lar.

TREVAS(METÁFORAS)As palavras hebraicas e gregas envolvidas dão a entender tre­

vas, obscuridade, nuvens, e incluem indicações metafóricas. Este verbete ocupa-se dessas metáforas. Ver também sobre Trevas.

1. Na narrativa do livro de Gênesis, lemos sobre as trevas primevas do mundo, uma parte da caótica condição em que estava o mundo, antes da criação da luz (Gên. 1:2,3). Dentro da cosmogonia dos hebreus, a luz pertencia aos céus acima da abóbada do firmamento, enquanto que os luzeiros secundários, o sol, a lua e as estrelas, teriam sido criados para iluminar a terra, visto que a luz não incidia diretamen­te sobre a terra física. Ver o artigo sobre Cosmogonia, que contém

Page 66: 0 ANTIGO TESTAMENTO INTERPRETADO · nas páginas do Antigo Testamento. 1. Um filho de Efraim, fundador da família dos taanitas (Núm. 26:35). Viveu em torno de 1600 A.C. 2. Um efraimita,

5394 TREVAS (METÁFORAS)---- TRIBO (TRIBO DE ISRAEL)

uma seção especificamente dedicada à versão hebréia sobre os primórdios.

2. O dia e a noite trazem a luz e as trevas em alternância, por todo o globo terrestre, porquanto apenas uma metade do globo terrestre pode ser iluminada a cada instante, e a outra metade permanece em trevas. Isso envolve certo sentido metafórico, visto que a vida de um homem é vivida em períodos altemantes de luz e trevas, do ponto de vista espiritual. Tal como Deus interveio e prolongou certo dia, para que o povo de Israel obtivesse vitória militar (Jos. 10:12), assim também ele pode fazer nas vidas espirituais daqueles que o buscam.

3 .0 Seolè um lugar tenebroso (Jó 10:21,22; Sal. 88:11-13), embora isso possa ser revertido, em face dos benefícios advindos da missão de Cristo (I Ped. 3:18; 4:6). Não obstante, o julgamento divino é uma temível realidade, a despeito de seus efeitos remediadores. Ver os artigos separa­dos scbre o Hanes e sobre a Descida de Cristo ao Hades.

4. As trevas podem ocultar coisas aos olhos cos homens; mas Deus que vive em luz eterna, tem consciência de todas as coisas que acontecem, que já aconteceram e que ainda jazem no futuro (6al. 139:11,12).

5. Vários estados emocionais são simbolizados pelas trevas, como a tristeza (Isa. 5:30; 9:1), a lamentação (Isa. 47:5), a perplexidade (Jó 5:14), a ignorância (Jó 12:24,25; Mat. 4:16) e o cativeiro (Eze. 34:12).

6. Declarações secretas seriam ditas «às escuras» (Mat. 10:27).7. O julgamento e o terror são comparados às trevas (Amós

5:18).8. Os campos da ignorância espiritual, do pecado, da impiedade

e das forças oemoníacas são coletivamente referidos como as trevas ou como o reino das trevas (Isa. 9:1; 42:7; João 1:4,5). Os homens maus amam essa esfera tenebrosa (João 3:19,20).

9. Os homens não-regenerados são chamados «trevas» (Efé. 5:8)., o que tamoém é aplicado aos espíritos malignos (Efé. 6:11,12).

10. O lugar do julgamento final também recebe essa caracteriza­ção (Mat. 8:12 e 22:13).

1 1 .0 crente pode estar andando em trevas, mas isso macula e prejudica enormemente o seu caráter, pondo sua alma em perigo (I João 1:6).

12. Deus habita no lugar das espessas nuvens, o que indica que ele vive oculto do escrutínio humano (Êxo. 20:18; I Reis 612).

13. Há a «sombra da morte» (Sal. 23:4). Porquanto a morte leva os homens a lugares misteriosos, e também pcrque há um certo terror que cerca a questão, e que obscurece as mentes dos homens. Nas experiências de quase-morte, um dos primeiros es­tágios ocorre quando a pessoa penetra em uma condição de tre­vas, por algum tempo, passando por uma espécie de corredor ou vale, totalmente tenebroso. Então aparece uma luz no extremo oposto, na direção da qual a pessoa se precipita. As pessoas que têm estudado a questão pensam que o trecho de Salmos 23:4 alude a esse aspecto da experiência da morte. É possível que assim seja, embora esse particular talvez não seja a coisa primá­ria em foco. O romper do fio de prata (Ecl. 12:6), por igual modo, mui provavelmente é um outro aspecto dessa mesma experiência. Ver os artigos separados sobre Experiência Perto da Morte e sobre o Fio de Prata.

14. O pecado, a depravação humana (João 3:19,20).15. O reinado do anticristo (Apo. 6:10).16. O lugar do julgamento eterno (Juí. 6:13).Quanto a um contraste com essas idéias, ver o artigo Luz, Metá­

fora da.

TREZE, TRINTAVer sobre Número.

TRIBO (TRIBOS DE ISRAEL)I. Termos Empregados11. Caracterização GeralIII. Origem

IV. Desenvolvimento PosteriorV. No Novo TestamentoI. Termos EmpregadosNo hebraico, matteh (tribo, cajado, vara). Um grupo de pessoas

sob uma vara comum, ou sob um fator regente: Êxo. 31.27, Hab. 3.9 (cerca de 60 usos); Shebet, que também tem o significado de vara ou cetro: Gên. 49.16; Zac. 9.1 (cerca de 35 usos).

No grego, fule, uma tribo. O termo geral para qualquer tipo de tribo, que tem o significado básico de “rebento”, aplicado a plantas, animais e pessoas. Rebentos têm uma natureza de parentesco com aqueles dos quais derivam, assim o termo pode significar um clã, uma tribo ou pessoas. A forma verbal é fuo, ou “gerar”; Mat. 19.28; Atos 13.21 (cerca de 30 usos).

No latim, tribus, relacionado a tributum, divisão ou porção, assim um povo que tem uma divisão, território ou origem comum. A forma verbal é tribuere, dar, ceder, dividir. A palavra portuguesa, obviamen­te, deriva dessa raiz latina.

II. Caracterização GeralAs tradições primitivas indicam uma descendência tribal de 12

filhos de Jacó, embora as listas da Bíblia das tribos nem sempre estejam em concordância com números e nomes específicos. Ver Gên. caps. 29-35 para os nascimentos dos 12 filhos de Jacó. As listas são organizadas sob suas respectivas mães, portanto temos:

Lia (Léiaf. Rúben, Simeão; Levi; Judá; Issacar e Zebulom.fíaquet. José e Benjamim.Bila (concubina de Jacó, serva de Raquel): Dã e Naftali.Ziipa: (concubina de Jacó, serva de Lia): Gade e Aser.O número tradicional 12 torna-se 13 quando José é eliminado

como tribo e seus dois filhos, Manassés e Efraim, tornam-se líderes de duas tribos. Então Levi deixa de ser uma tribo e torna-se casta sacerdotal, levando o número de tribos de volta a 12.

As tribos foram desenvolvidas, de forma preliminar, enquanto Israel estava no Egito, antes do êxodo (ver Êxo. 1.1-7). A família original de Jacó fugiu para aquele local a fim de escapar da fome e lá permaneceu por desejo próprio a princípio, e então forçosamente pelos egípcios. Moisés foi criado para livrar uma nação já desenvolvi­da de cerca de 6 milhões de pessoas. O êxodo montou o palco para a posse da Terra Prometida.

O povo unido, após 40 anos de vagueação, tomou posse da Terra e, assim, cumpriu com uma grande provisão do Pacto Abraâmico. Ver Gên. 15.18 no Antigo Testamento Interpretado para uma descrição detalhada desse pacto. Ver o artigo Pactos neste Dicionário e na Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia.

Várias listas diferem no tangente aos nomes e números das tribos. Nas bênçãos paternas e patriarcais de Jacó para seus filhos, o número já sobe a 13 (potencialmente), quandc Manassés e Efraim são “adotados” como filhos de Jacó, multiplicando a única tribo de José em duas (Gên. 48.8-20). Na Canção de Débora, Judá e Gade estão au­sentes, enquanto Maquir, filho de Manassés, toma seu lugar (Jos. 17.1; Juí. 5). Em Apo. 7, os nomes das tribos são: Judá; Rúben; Gade; Aser; Naftali; Manassés; Simeão; Levi; Issacar; Zebulom; José; Benjamim. Dã e Efraim são deixados de fora da lista, e José entra como se fosseo líder de uma tribo, enquanto seu filho, Manassés, é o líder de outra. Há várias manipulações das interpretações para tentar explicar esse “novo arranjo”, nenhuma delas satisfatória. Ver a exposição sobre a questão no Novo Testamento Interpretado no texto mencionado.

Josué e Juizes preservam as tradições relativas ao desenvolvi­mento inicial das tribos, incluindo suas divisões territoriais e esforços para obter a supremacia na Terra Prometida. Sabemos que a con­quista não foi verdadeiramente plena até Davi, que com sua habilida­de como rei guerreiro foi capaz de aniquilar ou confinar os inimigos tradicionais de Israel, as sete pequenas nações da Palestina (ver II Sam. 5.17-25; 8.10; 12.26, 21; 21.15-22; I Crô. 18.1).

Salomão assumiu o império unido de seu pai, Davi, e levou Israel a época áurea. Mas, para manter isso, teve de empregar trabalho escra­vo e cobrou impostos muito pesados.

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TRIBO (TRIBO DE ISRAEL) — TRIBOS, LOCALIZAÇÃO DAS 5395

Reoboão, seu filho, não tendo a sabedoria do pai, mas continuando com o trabalho escravo e altos impostos (que ele conseguiu aumentar ainda mais, como os políticos sempre fazem), enfureceu as tribos do norte, que se dividiram sob a liderança de Jeroboão.

Em 722 A. C., os assírios conquistaram as tribos do norte e levaram a maioria dos sobreviventes à Assíria naquilo que é chama­do de cativeiro assírio (ver o artigo). Os poucos israelitas que perma­neceram na terra misturaram-se com povos que os assírios enviaram para dominar o território, e seus descendentes foram cs samaritanos (ver a respeito).

Embora os babilônios tenham destruído a tribo do sul (Judá, que absorveu Benjamim) e levado a maioria dos cidadãos para a Babilônia (o cativeiro babilónico, c. 596 A. C.), houve então o retorno de alguns a Jerusalém para começar tudo de novo. Foi nesse tempo que se Judá tornou Israel.

III. OrigemSob a seção II, Caracterização Geral, vimos alguns aos conceitos

de origem. Junto com isso, foi fornecida uma descrição do desenvolvi­mento. Os liberais e críticos logicamente acreditam que as origens das tribos de Israel são obscurecidas pelas nuvens da antigüidade quandc havia mais lendas inventadas para explicar as coisas do que historia real. Eles acreditavam que os patriarcas eram personificações do início das tribos. O leitor pode ver detalhes sobre o desenvolvimento tribal ao consultar os artigos sobre cada tribo individualmente.

Esboço das origens e desenvolvimento:1. Abraão, chamado de Ur (do territorio do Iraque modernci.

assumiu a vida nômade, mas entrou na Terra Prometida e fez conhe­cida a presença de sua família ali. Naquela época, o pacto ae Yahweh com Abraão e seus descendentes montou o palco para o desenvolvi­mento posterior das tribos e da naçáo. Ve- o artigo Dactos neste Dicionário. No Antigo Testamento Interpretado, ver a deserção deta­lhada sobre o Pacto Abraãmico em Gên. 15rW

2. Jacó, neto de Abraão, teve com quatro mulheres diferentes doze filhos, os quais receberam a bênção paternal e patriarcal que os tornou os potenciais lideres das tribos.

3. A fome forçou a família de Jacó ao Egito e foi ali, durante cerca de 400 anos, que Israel se desenvolveu e se transformou em nação, habitando Gósen, uma província do Egito. A Bíblia hebraica estabelece essa época em 430 anos mas a Septuaginta em apenas 215. Ver Êxo. 12,40; Atos 7.6 e Gál. 3,17. Muitos críticos optam pelo período menor, e a questão continua controversa

4. A libertação de Israel do Egito (o êxodo, ver o artigoi definiu o palco para a eventual divisão tribal na Terra P'ometida. A época foi por volta de "450 A. C. Devemos entender que as triDos já estavam essen­cialmente desenvolvidas, mesmo em suas vagueações oelo deserto, e que essa organização foi consolidada na distribuição da terra sob Josué.

5. Josué caps. 13-19 descreve as divisões tribais. Foi Josué quem deu ao sistema tribal dos israelitas sua forma *ixa, impondo o elemento do acordo para a fixação de terras específicas entre as diversas tribos (Jos. 24.1-28). A época foi em torno de 1365 A. C.

6. Localizações das tribos. Para isso, ver o artigo chamado Tri­bos, Localização dos.

IV. Desenvolvimento PosteriorAs tribos precisavam de liderança, e essa liderança coube aos

anciãos. Eles eram os regentes das clãs individuais, das cidades e das tribos .ndividuais. Algumas tribos dominavam sobre outras, e a maré do poder mudava com o passar dos anos. Efraim e Judá emer­giram com particular poder e, quando as tribos se dividiram em duas nações, tornaram-se os líderes de cada parte.

Anfictionia. Esta é a palavra grega que passou a ser usada pos­teriormente para indicar a liga das cidades-estados, algo preliminar a verdadeiras nações. Isso, sem dúvida, caracterizou a organização pri­mitiva das tribos israelitas, pois sabemos que na época dos juizes não havia um governo central firme. De fato, na época dos juizes, as coisas entraram em grande confusão. “Naqueles dias, não havia rei em Isra­el; cada um fazia o que achava mais reto” (Juí. 21.25).

Silo, chefe do santuário nacional onde a arca da aliança ficou estacionada por muito tempo, teve algum efeito unificador, mas havia muitos santuários locais, o que tendia a dividir em vez de unificar o povo. Juizes caps. 19-21, contando-nos sobre o conflito de Benjamim com o resto de Israel e a rigidez da “lealdade tribal” , demonstra a marcante desunião das tribos e a falta de uma verda­deira identificação nacional. Ver também Juí. 5.23, onde Naftali se recusa a ajudar uma causa nacional. A falta de união era um tipo de traição da suposta unidade nacional sob Yahweh, o Rei Celes­te.

Silo foi destruído: o principal santuário nacional acabara: o povo estava sendc forçado a unir-se sob um rei, imitando as outras na­ções. C ultimo juiz, Samuel, ungiu Saul como rei, mas Israel ainda não estava unida. Foi necessário o poder militar de Davi para ocasi­onar uma verdadeira união nacional. Assim, o antigo arranjo da Anfictionia havia acabado. A idéia era unir as tribos ao redor de cultos divinos centrais e Davi fez isso ao trazer a arca da aliança a Jerusalém e ao estabelecer seu tabernáculo ali. Mas Israel foi além do arranjo frouxo tribal da Anfictionia e uniu-se ao redor de uma capital, Jerusalém, e de um rei. Salomão, seu filho, levou o reino unido à sua época áurea, em termos econômicos, culturais e milita­res. Uma grande expansão territorial também estava envolvida na revolução de Davi e de Salomão.

Reboão, através de seu louco egoísmo e ganancia, fez com que a maré de grandeza fluísse para longe de Israel, acabando como rei apenas das duas tribos do sul, que passaram a ser chamadas de Juda, em contraste com Israel (as dez tribos do norte). Os invasores assírios e o cativeiro deram fim às dez tribos (722 A. C.).

A invasão e o cativeiro babilónico reduziram Judá a praticamente nada, mas o retorno de um remanescente do cativeiro e a construção do Segundo Templo fizeram com que Judá se transformasse em toda a Israel. É por isso que os judeus modernos são assim cnama- dos: eles são todos descendentes do povo de Juda, que voltou a Jerusalém por volta de 430 A C

A Israel idealizada de Ezequiel, presumivelmente profético dos últimos dias após a Grande Restauração, coloca todas as tribcs ao oeste do Jordão, eliminando a Transjordánia (ver o artigo) por moti­vos desconheciaos. Ver Eze. 47.13-48.29

V. No Novo TestamentoOs judeus da época de Jesus descendiam, quase completamen­

te, da tribo de Judá. É provável aue alguns representantes das dez tribos pudessem ser encontrados. Essas pessoas tinnam forte mistu­ra com povos vizinhos, mas haviam conseguido "eter sua identidade nacional.

Constantemente sob domínio estrangeiro, exceto por períodos relativamente curtos de liDeraçãc que os macabeus (ver o artigo) trouxeram, as identidades tribais antigas foram perdidas e Israel tor- nou-se província dos poderes estrangeiros. Ver Israel, História de para maiores detalhes.

No Novo Testamento, com Israel sob refrigeração celestial, no aguardo de outra restauração nos últimos dias (Rom. 11.25, 26), surge a Nova Israel (a igreja). O termo doze tribos fala da igreja como o povo de Deus (Tia. 1.1); ou de toda a Israel, coletivamente, embora as distinções tribais tenham deixado de existir (Atos 26.7); ou da escatologia de Israel (Mat. 19.28; Luc. 22.30; Apo. 7.4; 21.12). A lista das tribos no cap. 7 de Apocalipse (deixando fora Dã e Efraim, mas tornando José um líder tribal) é interpretada por alguns como referente à Israel restaurada nos dias de tribulação, mas por outros como símbolo da igreja cristã.

TRIBOS, LOCALIZAÇÃO DASI. História e Fontes de InformaçãoII. Tribos da TransjordániaIII. Tribos sem Fronteiras Definidas DeclaradasIV. Judá

Page 68: 0 ANTIGO TESTAMENTO INTERPRETADO · nas páginas do Antigo Testamento. 1. Um filho de Efraim, fundador da família dos taanitas (Núm. 26:35). Viveu em torno de 1600 A.C. 2. Um efraimita,

5396 TRIBOS, LOCALIZAÇÃO DAS — TRIBULAÇÃO

V. As Tribos CentraisVI. As Tribos do NorteVII. As Cidades LeviticasI. História e Fontes de InformaçãoA existência de outros artigos relacionados a este assunto permi­

te a apresentação de um tratamento breve aqui. Ver os seguintes: Isra­el, História c/e; Israel, Constituição de; Transjordânia] Tribo (Tribos de Israel).

As fontes de nossas informações sobre a questão das divisões e localizações tribais são Josué caps. 13-21; I Crô. 4.24-5.26; 6.54-81 e caps. 7 e 8. As localizações originais foram modificadas pelos aconteci­mentos históricos, como a tribo de Dã mudando para o norte e Benjamim sendo absorvido por Judá. Os cativeiros assirio e babilónico também trouxeram mudanças territoriais, como o dominio de poderes estran­geiros posteriores da Terra.

II. Tribos aa TransjordâniaPara maiores informações sobre as tribos “do outro lado” do

Joraáo (Ruben, Gaae e a meia tribo de Manassés), ver o artigo separado sobre a Transjordânia. Com base em Jui. 12.4, compreen­demos que aiguns membros da tribo de Efraim infiltraram-se nos territorios do oura lado do Jordão, tirando vantagem das áreas flo­restais e férteis ao norte do rio Jaboque, não longe de Zafom (ver Jui. 1 2 .1).

III. Tribos sem Fronteiras Definidas Declaradas1. Simeão (Jos. 19.1-9; I Crô. 4.28-33). Essa tribo estendia-se a

uma distância desconhecida ao sul, em direção ao Egito, sendo a tribo mais sulista de Israel. Foi bloqueada ao mar Mediterrâneo por Judá, que formava sua fronteira norte. O mar Morto formava sua fronteira oeste. Após a época de Davi, essa tribo aparentemente se dispersou, de forma que às vezes as cidades de seu território são citadas como pertencentes a Judá (ver Jos. 15.21-62). Ver também I Crô. 4.34-43.

2. Issacar (Jos. 19.17-23). Esta tribo, do norte de Israel, ficava a sudeste de Zebulom e ao sul de Naftali e tinha sua fronteira sul localizada em Manassés, da Cisjordânia. Várias de suas cidades são mencionadas e podem ser localizadas mas não com fronteiras defi­nidas. Isso é sem dúvida verdade pelo fato de as antigas fronteiras serem demarcadas por algum tipo de marco natural e pelas localiza­ções das cidades, não de acordo com marcos latitudinais e longitudi­nais existentes hoje. Assim, no sentido limitado, nenhuma das tribos de Israel tinha fronteiras definidas.

3. Dã (Jos. 19.40-48; Juí. 18.27-29). Esta tribo originalmente fica­va a noroeste de Efraim, a oeste de Benjamim, a norte de Judá, confinada pelo mar Mediterrâneo. Em um período posterior, a maioria (mas provavelmente não todos) dos membros dessa tribo foi ao norte para dominar a terra de um povo indefeso (Jos. 19.47). Grande parte de seu antigo território voltou ao domínio de outras tribos de Israel, especialmente Judá. A Dã “do norte” localizava-se no topo da tribo de Naftali, que formava sua fronteira oeste. A meia tribo de Manassés formava suas fronteiras leste e sul, mas não há como desenhar fronteiras exatas.

IV. JudáEsta tribo (Josué cap. 15) tinha fronteiras mais estabelecidas do

que outras, tendo o Mar Mediterrâneo como limite oeste, o mar Morto a leste, e as tribos de Dã e Benjamim ao norte. Simeão ficava na fronteira sul, mas não existiam linhas exatas. A longo prazo, Judá absorveu as terras do sul que haviam pertencido a Simeão. Judá era uma tribo de expansão. Também dominou Benjamim e finalmente, como uma tribo ampliada, tornou-se a Nova Israel após a destruição e o cativeiro do reino do norte. Depois do cativeiro babilónico, de forma muito reduzida, também foi a Nova Israel de outro período.

V. As Tribos Centrais1. Efraim (Jos. cap. 16). Esta tribo tinha como fronteira leste o rio

Jordão, norte a tribo de Manassés, oeste Dã, e sul Benjamim. Muitas de suas cidades foram localizadas com precisão, mas, exceto por sua fronteira leste (o Jordão), suas fronteiras não podem ser defini­

das com certeza absoluta. Era uma terra montanhosa, o que a tornava uma área de mais difícil sobrevivência, mas essa era uma defesa natural para a região em épocas de invasões estrangeiras. Havia florestas densas, o que significava que era pouco habitada (Jos. 17.15). A longo prazo, tomou-se o mais poderoso dos reinos do norte, e seu nome poderia significar norte, como uma nação.

2. Manassés (Jos. 17.1-13) da Cisjordânia (o lado leste do Jordão), tinha o rio Jordão como fronteira oeste, o mar Mediterrâneo como fronteira leste, Efraim ao sul, e Aser, Zebulom e Issacar ao norte. Muitas das cidades bíblicas mencionadas como associadas a essa tribo foram localizadas.

3. Benjamim (Jos. 18.11-28) também ocupava uma posição cen­tral em Israel, tendo o rio Jordão como fronteira leste, o mar Morto como parte de sua extremidade sul, e Judá ocupando o restante da fronteira. Dã estava ao oeste, e Efraim ao norte. Foi uma das ouas tribos originais de Judá (o reino do sul), mas a longo prazo acabou sendo absorvida por Judá.

VI. As Tribos do Norte1. lebulom (Jos. 19.10-16) era uma tribo presa à terra, não che­

gando a encostar no rio Jordão nem no mar Mediterrâneo. Tinha em sua fronteira leste Naftali e Issacar. Este último também formava sua fronteira norte. Aser ficava a oeste dali, enquanto Issacar ficava a nordeste. Parte de Manassés ocupava sua fronteira sul. A maioria de suas cidades foi identificada, mas é impossível localizar fronteiras absolutas, já que não havia características geográficas que a confi­nassem, exceto pelo monte Tabor, ao sul, que era, contudo, apenas um ponto “no meio do nada” naquela direção.

2. Aser (Jos. 19.24-29) tinha sua fronteira oeste definida pelo mar Mediterrâneo. Em sua fronteira sudoeste inferior, ficava Manassés; Zebulom era Darte de sua fronteira leste, como também Naftali. A Fenícia ficava em sua fronteira norte. Sua delineação exata não pode ser determinada, sendo que muitas de suas cidades não foram identificadas pela arqueologia moderna nem por referências literárias.

3. Naftali [Jos. 19.32-34) tinha sua fronteira norte limitada pela Fenícia, a do leste, no topo, com Dã transferida; o rio Jordão formava sua fronteira leste, com um toque da meia tribo de Manassés, na Transjordânia. Muitas ae suas ciaades foram identificadas pela ar­queologia (assim são conhecidas suas fronteiras essenciais).

4. A tribo de transferência, Dã, formava uma parte do norte, em períodos posteriores, e essa tribo é discutida sob o ponto 111.3.

5. Issacar era uma tribo do norte. Ela é discutida sob 111.2.VII. Cidades LevíticasLevi deixou de ser uma tribo logo no início e tornou-se casta de

sacerdotes. Ver Jos. 21.1-42 e I Crô. 6.54-81 com diferenças consi­deráveis que provavelmente refletem as situações de épocas diferen­tes. Além disso, nomes alternativos podem confundir o assunto. Ha­via 48 cidades divididas entre as 12 tribos. Ver o artigo separado sobre Levitas, Cidades dos, onde são dadas informações completas.

TRIBULAÇÃOHá duas palavras hebraicas e duas palavras gregas que deve­

mos considerar quanto a esse assunto, a saber:1. Tsar, «aflição», «estreiteza». Essa palavra hebraica aparece

por vinte e cinco vezes com o sentido de «tribulação», conforme se vê, por exemplo, em Deu. 4:30; II Crô. 15:4; Jó. 15:24; 38:23; Sal. 32:7; 59:16; 60:11; 66:14; 102:2; 107:6,13,19,28; 119.143; Isa. 26:16.

2. Tsarah, «aflição», «estreiteza». Vocábulo hebraico que é usa­do por setenta e uma vezes, conforme se vê, por exemplo, em Juí. 10:14; I Sam. 10:19; 26:24; Deu. 31:17,21; II Reis 19:3; Nee. 9:27; Jó 5:19; 27:9; Sal. 9:9; 10:1; 25:17,22; 34:6,17; 37:39; 46:1; 50:15; 77:2; 78:49; 86:7; 138:7; Pro. 11:8; 12:13; 21:23; 25:19; Isa. 8:22; 30:6; 33:2; 37:3; 46:7; 65:15; Jer. 14:8; 30:7; Dan. 12:1; Naum 1:7; Hab. 3:16; Sof. 1:15.

3. Thlíbo, «pressionar», «oprimir», «atribular». Verbo grego que é utilizado por dez vezes: Mat. 7:14; Mar. 3:9; II Cor. 1:6; 4:8; 7:5; I Tes. 4:5; II Tes. 1:6,7; I Tim. 5:10 e Heb. 11:37.

Page 69: 0 ANTIGO TESTAMENTO INTERPRETADO · nas páginas do Antigo Testamento. 1. Um filho de Efraim, fundador da família dos taanitas (Núm. 26:35). Viveu em torno de 1600 A.C. 2. Um efraimita,

TRIBULAÇÃO — TRIBUTO 5397

4. Thlípsis, «pressão», «opressão», «tribulação». Palavra grega que aparece por quarenta e cinco vezes; Mat. 13:21; 24:9,21,29; Mar. 4:17; 13:19,24; João 16:21,33; Atos 6:10,11; 11:19; 14:22; 20:23; Rom. 2:9; 5:3; 8:35; 12:12; I Cor. 7:28; II Cor. 1:4,8; 2:4; 4:17; 6:4; 7:4; 8:2,13; Efé. 3:13; Fil. 1:17; 4:14; Col. 1:24; I Tes. 1:6; 3:3,7; II Tes. 1:4,6; Heb. 10:33; Tia. 1:27; Apo. 1:9; 2:9,10,22; 7:14.

Geralmente falando, nas páginas da Bíblia, a tribulação consiste em aflição causada por alguém, que pressiona a outrem. É mister distinguir claramente qual o causador e qual a vítima, nos casos de tribulação.

1. Tribulação como Juízo Divino. Além da tribulação causada por um ser humano contra outro, há também o fato de que Deus pode afligir o seu povo, por motivo da infidelidade dele. Caso o povo de Israel viesse a pecar, conforme tinham feito as nações que Deus expulsara dali, ele também seria expulso e disperso entre as nações. No entanto, Deus prometeu aue mudaria essa condição dizendo: «Quando estiveres em angústia, e todas estas cousas te sobrevierem nos últimos dias, e te voltares para o Senhor teu Deus, e lhe atenderes a voz, então o Senhor teu Deus não te desamparará, porquanto é Deus misericordioso, nem te destruirá, nem se esquecerá da aliança que jurou a teus pais» (Deu. 4:30,31) Por semelhante modo, quando ocorreu o exílio babilónico, o autor do livro de Lamentações observou: «Edificou contra mim, e me cercou de veneno e de dor» (Lam. 3:5).

2. Tribulação como Testemunho. O mundo incrédulo, por outro lado, pode oprimir o povo de Deus, por causa do testemunho infiel destes últimos. No dizer do Senhor Jesus, todo aquele que não tem raiz em si mesmo, não demora a tombar no caminho. Ver Mat. 13:21. E o Senhor Jesus também disse: «No mundo passais por aflições, mas tende bom animo, eu venci o mundo» (João 16:33). Por causa dele, «...somos entregues à morte continuamente, somos considerados como ovelhas para o matadouro» (Sal. 44:22). Apesar de tudo, coisa algu­ma—incluindo tribulação, aflição ou perseguição—pode separar o ver­dadeiro crente do amor de Deus (ver Rom. 8:35-39). Por essa exata razão, os crentes são «...pacientes na tribulação...» (Rom. 12:12). O apóstolo João, na ilha de Patmos, compartilhou «...na tribulação, no reino e na perseverança, em Jesus...» (Apo. 1:9). Depois que Paulo foi apredrejado e dado como morto em Listra, ele voltou a exortar aos discípulos como segue: «...através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus» (Atos 14:22).

3. A «Grande Tribulação». Relembrando o trecho de Daniel 12:2,o Senhor Jesus predisse que haverá uma «...grande tribulação, como desde o princípio do mundo até agora não tem havido, e nem haverá jamais» (Mat. 24:21). Isso incluirá os sofrimentos mais intensos parao povo de Deus, causados pelas forças do anticristo. Aos discípulos, no monte das Oliveiras, declarou Jesus: «Então sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados, e todas as nações, por causa do meu nome» (Mat. 24:9). Contudo, durante esse período também haverá atos interventores de Deus, que derramará de sua justa indignação contra os ímpios. «Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento e os poderes dos céus serão abalados» (Mat. 24 29). Essas manifestações da ira divina são detalhadamente descritas nos capítulos sexto a décimo nono do livro de Apocalipse. Dentre essa «grande tribulação» sairá uma imensa multidão de mártires, que será vista de pé, diante do trono do Cordeiro (ver Apo. 7:14).

No tocante à identidade do povo de Deus, os dias da «grande tribulação» e do arrebatamento, os teólogos emitem diferentes opini­ões. Os pré-tribulacionistas opinam que a Igreja de Deus será arreba­tada antes da Grande Tribulação. Nesse caso, o «povo de Deus» compor-se-á dos membros da nação judaica restaurada. Os meios tribulacionistas, por sua vez, pensam que a Igreja haverá de ficar neste mundo até a metade da tribulação, quando então os crentes serão arrebatados, escapando assim da Grande Tribulação. Nesse segundo caso, o «povo de Deus» também compor-se-á dos membros da nação judaica restaurada, E os pós-tribulacionistas preferem pensar que a Igre­ja ficará na terra até o fim da Grande Tribulação, após o que os crentes serào arrebatados. Nesse último caso, o «povo de Deus» consistirá,

como sempre, de todos os convertidos, quer de Israel, quer das nações gentílicas. Ver Gálatas 3:28, que diz: «Destarte não pode haver judeu nem grego...oorque todos vós sois um em Cristo Jesus».

TRIBUNAIS DE JUSTIÇANos dias do Antigo Testamento, os casos de disputa eram julga­

dos usualmente em espaço aberto, geralmente em alguma praça perto de um dos portões da cidade. Porém, Salomão construiu o átrio de julgamento, uma área do templo de Jerusalém. A partir de então casos importantes de julgamento começaram a ser associados a esse templo. Ali funcionava uma espécie de tribunal superior, onde eram ouvidos os casos mais graves.

Sabemos que no Egito e na Mesopotâmia havia tribunais especi­ais ou salas de audiência. Mas, com freqüência, o mercado do fórum era o lugar onde funcionava o tribunal. Um lugar favorito era o merca­do que ficava fronteiro ao portão principal da cidade. Há referência a tal arranjo em Gênesis 19:1, onde se lê: «Ao anoitecer, vieram os dois anjos a Sodoma, a cuja entrada estava Ló assentado». Foi ali que lhe vieram ao encontro os dois mensageiros celestes, aos quais ele convidou para irem à sua casa. Essa referência, provavelmente, indica que Ló ocupava funções judiciais em Sodoma. Alusões poste­riores aos portões de alguma cidade, como lugares de julgamento, são Deuteronômio 16:18; 21:19 e 25:7. Juizes e oficiais eram nomeados, a fim de exercerem funções judiciais.

Após o êxodo, Moisés recebeu o poder de julgar. Mas também nomeou ajudantes (Êxo. 18:17-26). Esses chefiavam esquadrões de dez soldados; ou então eram capitães ou dirigentes de unidades ainda maio­res. Moisés reservou para si mesmo os casos mais difíceis e importantes. Nos períodos dos juizes, encontramos juizes que também eram líderes militares e governantes. Ver Juí. 4:5. Os reis acabaram ocupando-se des­sas funções. Davi encabeçava um tribunal em sua corte, a fim de julgar a nação inteira de Israel (II Sam. 15:2), no que foi imitado por Saiomão (I Reis 3:9). À medida que foi crescendo a nação de Israel, mais js^istentes se foram tomando necessários. Assim lemos que Davi ncmeou seis mil homens, dentre os levitas, para servirem como cficiais e juizes nos tribunais secundários. Ver I Crô. 23:4 e 26:29.

Nos tempos do Novo Testamento tornou-se clara a influência greco-romana sobre a cultura judaica, pelo menos nas cidades mai­ores. Tribunais tornaram-se comuns. Mas, nas idades gregas, como em Filipos, os casos que envolviam crimes continuaram sendo jul­gados ao ar livre, no agorá ou mercado, ae acordo com um antiqüíssimo costume dos gregos, onde havia um luga- reservado para os julgamentos. Em Corinto. Paulo foi levado à presença de Gálio, ao bema ou tribunal (Atos 18:12-17) Qs lugares ae julga­mento vieram a ser conhecidos como agoraíoi Ver Atos 19:38. Nos tempos do Novo Testamento, os aavogadcs representavam uma profissão que se vinha cesenvolvendo desde o período grego ante­rior. Havia tanto acueles que eram especialistas na lei judaica (Luc. 2:46, no grego, nomikoi), como aqueles que se ocupavam com as leis civis (Tito 3:13). Na eooca da dominação romana, os israelitas receoeram permissão para cuidar de suas próprias questões judici­ais, incluindo casos criminosos que não envolvessem a punição capital (João 18:31,32), com restrições ocasionalmente relaxadas. Os cidadãos romanos tinham o direito de serem ouvidos diante do próprio César (Atos 25:11,12). Ver os artigos sobre Apelo e Apelo de Paulo a César. (VA Z)

TRIBUTOI. Palavras EmpregadasII. DefiniçõesIII. Observações BíblicasI. Palavras EmpregadasHebraico:1. mas, tributo, carga de impostos, com cerca de vinte ocorrênci­

as no Antigo Testamento. Exemplos: Gên. 49.15; Deu. 20.11; Jos. 16.10; Est. 10.1; Pro. 12.24.

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2. massa, carga, tributo, com duas ocorrências no Antigo Testa­mento: II Crô. 17.11; Nee. 10.31.

3. missah, carga, tributo, com uma ocorrência no Antigo Testa­mento: Deu. 16.10.

4. belo, imposto alfandegário, tributo, com três ocorrências: Esd. 4.13,10; 7.24.

5. mekes, tributo, com seis ocorrências: Núm. 31.28, 37-40.6. middah, tributo, imposto, coisa medida, com três ocorrências:

Esd. 4.20; 6.8; Nee. 5.4.7. onesh, multa, confisco, punição, com uma ocorrência: II Reis

23.33.Grego:1. phoros, tributo, taxa, carga, com quatro ocorrências no Novo

Testamento: Luc. 20.22; 23.2; Rom. 13.6, 7.2. kensos, taxa de recenseamento, com quatro ocorrências no

Novo Testamento: Mat. 17.25; 22.17, 19; Mar. 12.14.3. didrachmon, dracma dupla, um imposto, com duas ocorrênci­

as no Novo Testamento: Mat. 17.24.Latim:Tribuere, dar; tributum, um pagamento, imposto cobrado, respon­

sabilidade.II. DefiniçõesAs palavras acima demonstram a variedade de formas pelas quais

o conceito de imposto, tributo, doação etc. pode ser aplicado ou cobrado. A maioria das palavras contém a idéia de algum tipo de contribuição compulsória que um poder mais alto impõe a um mais baixo, ou que um conquistador exige do conquistado, ou uma ameaça para fazer algo pior se uma pessoa ou uma nação não pagar, a inciuir os impostos simples mas desagradáveis que os governos exigem que você pague, presumivelmente para seu bem. Ver o artigo separado sobre Taxa, Taxação.

III. Observações Bíblicas1. Antigo Testamentoa. Um dos filhos de Jacó teve de pagar uma taxa para conse­

guir favores no Egito (Gên. 43.11, 12).b. Yahweh cobrou sua parte, forçosamente, para o financia­

mento do ministério (Núm. 31.28).c. Certos juizes eram forçados a contribuir com as autoridades

(Juí. 3.15-18).d. Israel tinha de pagar pesados impostos aos seus próprios

governantes (I Sam. 8.10-18).e. Além de impostos, as pessoas tinham de oferecer presentes

aos regentes para comprar favores (I Sam. 10.27).f. Quando tinha poder de fazê-lo, Israel cobrava pesados tribu­

tos dos poderes estrangeiros conquistados (II Sam. 8.6); muitas na­ções foram submetidas por Salomão ao pagamento de tributos (I Reis 4.21); Acaz exigiu um tributo de Moabe (II Reis 3.4, 5); Josafá taxou os filisteus e os árabes (II Crô. 17.11); Uzias cobrou impostos dos amonitas (II Crô. 26.8).

g. Poderes estrangeiros colocaram Israel e Judá sob tributo: (II Reis 12.17, 18; 16.5-9; 17.3; 18.13-16; 20.12-15; 23.33-35). A Babilônia, por fim, assumiu o que sobrava da riqueza de Judá (II Reis cap. 25).

2. Novo Testamentoa. Um imposto- individual, tributum capitis (o imposto por cabe­

ça), era exigido de todos os cidadãos judeus pelos romanos (Mat. 22.17, 19; Mar. 12.13-17). Esse imposto incluía impostos sobre pro­priedade.

b. Os cristãos estão sob obrigação de pagar impostos ao gover­no (Rom. 13.6, 7).

c. Um imposto de templo era exigido de todos os homens ju­deus (Mat. 17.24, 25). Após o templo de Jerusalém ter sido nivelado pelos romanos, eles continuaram a coletar esse imposto para custear o templo de Júpiter Capitolinus, em Roma.

O governo romano cobrava um tributum soli sobre as províncias e o tributum capitis, um imposto sobre indivíduos.

TRIGO1. As Palavras UsadasNo hebraico, chittah, palavra que é empregada po r trinta vezes

nas páginas do Antigo Testamento: Gên. 30:14; Êxo. 9:32; 29:2; 34:22; Deu. 8:8; 32:14; Juí. 6:11; 15:1; Rute 2:23; I Sam. 6:13; 12:17;II Sam. 4:6; 17:28; I Reis 5:11; I Crô. 21:20,23; II Crô. 2:10,15; 26:5; Jó 31:40, Sal. 81:16; 147:14; Can. 7:2; Isa. 28:25; Jer. 12:13; 41:8; Eze. 4:9; 27:17; 45:13 Joel 1:11. E também chitin, que aparece somen­te por duas vezes, em Esd. 6:9 e 7:22. No grego, sitos, um vocábulo que encontramos por doze vezes no Novo Testamento: Mat. 3:12; 13:25,29,30; Luc. 3:17; 16:7; 22:31; João 12:24; Atos 27:38; I Cor. 15:37; Apo. 6:6 e 18:13.

2. Colheita importanteUma importantíssima colheita nos tempos bíblicos, conforme já seria

fácil de imaginar, o trigo aparece em várias passagens bíblicas notá­veis. Para exemplificar, salientamos aquela instância em que Gideão estava malhando o trigo quando o Senhor o chamou para ser um dos mais notáveis e bem sucedidos juizes de Israel (ver Juí. 6:11). Rute, a viúva moabita de um israelita, chegou em Belém no tempo exato (ver Rute 2:23) para respigar trigo suficiente para as suas necessidades, por bondade de Boás. Ornã estava malhando o trigo (ver I Crô. 21:20) quando viu um anjo. O Senhor Jesus também nos dá um quadro sobre o arrebatamento dos salvos, quando o «trigo» tiver de ser recolhido (Luc. 3:17). E o Senhor também usa o trigo para nos ensinar a neces­sidade de morrermos para o nosso próprio «eu», em João 12:24: «Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, produz muito fruto».

3. Nomes CientíficosO nome científico do trigo é Triticum aestivum. Também existe o

Triticum compostium, ou trigo barbado, com várias espigas de trigo no mesmo pedúnculo. Também existe o trigo egípcio, cujo nome científico é Triticum tungidum; o Triticum monoccum, que é o trigo de um grão; e o Triticum dicoccoides, ou trigo selvagem.

Certo pesquisador encontrou apenas duas variedades de trigo m edrando na Pa lestina. C ien tificam ente essas variedades chamam-se Triticum durum zenati x Bonterli e o Triticum vulgare Florence x aurore.

Quando os israelitas se estabeleceram na Palestina, tornaram-se grandes agricultores, e passaram a produzir vastas quantidades de trigo, grande parte do qual exportavam para outros países. Uma boa parte dessas exportações seguia por via marítima para Tiro (ver Amós 8:5), como também para outros portos às margens do mar Mediterrâneo. Entretanto, alguns estudiosos têm opinado que, ao tempo do rei Jotão (ver II Crô. 27:5), os agricultores israelitas tinham-se tornado preguiçosos ou desmazelados quanto à triticultura, porquan­to aquele monarca cobrou dos amonitas, como taxa, cem mil coros de trigo. Estaria faltando trigo em Israel?

4. Estação do AnoNa Palestina, a colheita do trigo começa na terceira semana do

mês de abril, e prossegue até à segunda semana de junho, embora muito dependa do solo, da situação geográfica e do tempo em que fora feita a semeadura. Esse era um período tão importante do ano, para os israelitas, que o povo se referia ao tempo «da ceifa do trigo» (Gên. 30:14) ou aos dias da «sega de cevada e de trigo» (Rute 2:23).

5. DescriçõesA malhação do trigo, via de regra, era feita com uma vara longa e

flexível, conhecida como mangual (ver Isa. 41:16, onde se lê: «Tu os padejarás e o vento os levará, e redemoinho os espalhará...»). Tam­bém podia ser trilhado sob os pés de juntas de bois, que ficavam andando em círculos sobre o trigo já cortado (ver Deu. 25:4). E também havia a prática de trilhar o grão de trigo por meio de uma roda ou de um carro que passava por muitas vezes sobre as espigas de trigo postas sobre uma área limpa de terreno. Esse último método é sugerido em Isaías 28:28, onde lemos: «Acaso é esmiuçado o cere­al? Não, o lavrador nem sempre o está debulhando, nem sempre está fazendo passar por cima dele a roda do seu carro e os seus cavalos».

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TRIGO — TRISÁGIO 5399

6. Usos de JesusA referência feita por nosso Senhor à produção de trigo a cem por

um, no décimo terceiro capítulo de Mateus, tem sido posta em dúvida por alguns céticos. No entanto, variedades do Triticum aestivam po­dem ter espigas de trigo que contêm cem grãos!

Usualmente, o trigo era semeado durante os meses de inverno, na Palestina. Era espalhado levemente e com pouca aragem. Ocasi­onalmente, a semeadura era feita em fileiras, segundo se depreende de Isaías 28:25: «...não lança nela o trigo em leiras...?» Presume-se que essa frase indique que o trigo era semeado de forma que as plantas ficassem arrumadas no solo em fileiras retas, paralelas umas às outras.

7. Usos FiguradosLinguagem Figurada da Bíblia sobre o Trigo. Além da aparente

morte do grão de trigo representar a morte vicária do Senhor Jesus, em expiação pelos nossos pecados (ver João 12:24), que ocorre a todos os estudiosos das Santas Escrituras, há dois outros simbolis­mos um tanto mais desconhecidos: 1. da misericórdia divina (ver Sal. 81:16 e 147:14). Diz a primeira dessas passagens, referindo-se ao povo de Israel, se este se voltasse para o Senhor de todo o coração: «Eu o sustentaria com o trigo mais fino, e o saciaria com o mel que escorre da rocha». 2. Da justiça aos próprios olhos, isto é, aquilo que o homem pensa haver adquirido com suas próprias obras e com sua própria bondade (Jer. 12:13). Lemos ali: «Semearam trigo, e sega­ram espinhos; cansaram-se, mas sem proveito algum. Envergonna- dos sereis dos vossos frutos, por causa do brasume da ira ao Se­nhor». isso faz parte de um simbolismo mais amplo e mais antigo. Lemos em Gênesis que Caim era agricultor, e Abel criava ovelhas. Caim ofereceu ao Senhor um sacrifício composto de frutos do seu trabalho, e foi rejeitado pelo Senhor. Abel, por sua vez, ofereceu ao Senhor um sacrifício dentre os animais que criava, e foi aceito por Deus. Ver Gênesis 4:2 ss. Pode-se mesmo dizer que, quanto a seu importantíssimo aspecto salvatício, a Bíblia foi dada e escrita para ensinar essa lição aos homens.

TRISÁGIOProclamando, Santo, Santo, Santo é o Senhor, Apo. 4:8. Ver

Isa. 6:3, que é a fonte informativa desse «triságio», ou seja, o «três santo», em que Deus é exaltado como Senhor e Tcdo-Pcderoso. A literatura judaica, com freqüência, repete essa fórmula. (Ver II Enoque 21:1.) Em nosso presente texto, o louvor não incorpora toda a cria­ção, conforme se vê na passagem original. Isaías declara: «...toda a terra está cheia da sua glória». O presente texto concentra-se exclu­sivamente sobre a cena celeste. O cristianismo adotou o triságio nas Constituições Apostólicas.

O triságio também foi musicado na igreja antiga, na forma «Santo Deus, santo Todo-Poderoso, santo Imortal, tem misericórdia de nós. Na liturgia alexandrina (chamada de São Marcos) o triságio foi incor­porado em um cântico responsivo. (Sacerdote: «A Ti atribuímos gló­ria e damos graças, e o hino do triságio, Pai, Filho e Espírito Santo, agora e para sempre e pelos séculos dos séculos». Povo: «Amém! Santo Deus, Santo, Todo-Poderoso, Santo Imortal, tem misericórdia de nós»). Na liturgia usada por Crisóstomo, o coro entoava o triságio por cinco vezes e, nesse ínterim, o sacerdote dizia secretamente a oração do triságio: «Deus, que és santo e descansas nos santos, que és saudado em hinos com a voz do triságio pelos serafins, e glorifica­do pelos querubins, e adorado por todos os poderes celestes! Tu, que do nada chamaste à existência todas as coisas, que fizeste o homem segundo Tua imagem e semelhança, que o adornaste com todas as Tuas graças, que lhe conferiste buscar sabedoria e entendi­mento, e não passas pelo pecador, mas lhe dás arrependimento para a salvação; que propiciaste que nós, teus humildes e indignos ser­vos, ficássemos de pé, neste tempo, perante a glória de teu santo altar, e que te deveríamos atribuir a adoração e o louvor que te é devido; recebe, Senhor, da boca de pecadores, o hino do triságio, e visita-nos com a tua bondade. Perdoa-nos cada ofensa, voluntária e

involuntária. Santifica nossas almas e nossos corpos e concede-nos que te sirvamos em santidade todos os dias da nossa vida; pela inter­cessão da Santa Mãe de Deus, e de todos os santos que têm agrada­do desde o começo do mundo». E então, em voz a lta :« Pois Santo és tu, um único Deus és tu». O testemunho da história mostra que essa liturgia pertence, pelo menos, ao começo do século V D.C., e as tradi­ções apócrifas lhe conferem uma origem celestial. Em tempos posterio­res, entretanto, sofreu várias modificações. E hinos modernos também se têm alicerçado sobre o triságio:

Santo! Santo! SantoDeus onipotente!Cedo de manhãContaremos teu louvor.Santo! Santo! Santo!Deus Jeová trinitárioÉs um só DeusExcelso Criador.

A santidade de Deus. Não se trata de algo destituído de inteligên­cia e preferência, mas antes, é garantido pela escolha divina, de tal modo que nele não há maldade, nem tendência para o mal, e nem cegueira ou ignorância do mal. Na santificação, os crentes deverão duplicar a santidade divina, vindo a participar, finalmente, da própria natureza moral de Deus (ver Mat. 5:48 e Gál. 5:22). Essa santidade de Deus não é apenas passiva (ausência de pecado ou qualquer defeito), mas também é ativa, caracterizando-se por bondade positiva, por ações de santidade inerente. (Ver as notas expositivas no NTI em Rom. 1:7 e Col. 1:2 quanto ao fato de que os crentes sãc «santos», devendo compartilhar da santidade de Deus.) É mediante a san‘ dace que tem lugar a transformação moral do ser humano, para que vanha a partilhar da própria natureza moral de Deus manifestada em Crsto; e daí é que se deriva a transformação metafísica, que leva o remido a participar da própria essência ou natureza divina, conforme ela se acha em Cristo (ver II Ped. 1:4). Essa é a importância da santificação (vide). Quanto à santificação como algo «absolutamente necessário à salva­ção», ver II Tes. 2:13.

A santidade, em seu sentido mais sublime, é aplicada a Deus Ela denota os pontos seguintes:

1. O fato de que Deus está separado da criação, até mesmo daquela porção da mesma que não está maculada com a maldade inerente, como os seres angelicais que não caíram no pecado. Isso é assim porque a santidade consiste também na bondade positiva, e não meramente na ausência do mal.

2. Yahweh, pois, é transcendental, fazendo contraste com os falsos deuses (ver Êxo. 15:11) e com a criação inteira (ver Isa. 40:25).

3. Deus é a essência absoluta da santidade, da bondade e da retidão, sendo ele o alvo de toda a inquirição por santidade, pureza e bem estar, baseados na retidão.

4. A santidade de Deus é perfeita e inspiradora (ver Sal. 99:3).5. A santidade de Deus fala acerca de sua «excelência moral»,

bem como do fato de que ele está livre de todas as limitações acerca da excelência moral (ver Hab. 1:13).

6. A santidade incorpora em si mesmo todas as excelências mo­rais de Deus, como a sua bondade, o seu amor, a sua longanimidade, sendo a luz solar que abarca todas as cores do espectro, mesclando-se com uma força de poderosa luz.

7. A santidade de Deus é incomparável {ver Êxo. 15:11 e I Sam. 2:2).8. A santidade de Deus é exibida em seu caráter ( ver Sal. 22:3 e

João 17:11), em seu nome (ver Isa. 57:15), em suas palavras (ver Sal. 60:6), em suas obras (ver Sal. 145:17), e em seu reino (ver Sal. 47:8 e Mat. 13:41). Há pureza, justiça e bondade perfeitas em todas essas coisas, tendendo à retidão e ao bem-estar de todos, pois Deus é a fonte de tudo isso.

9. A santidade de Deus deve ser magnificada (ver Isa. 6:3 e Apo. 4:8).

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5400 TRISTEZA — TRONO

10. A santidade de Deus deve ser imitada (ver Lev. 11:44; I Ped. 1:15,16).

11. A santidade de Deus será duplicada nos remidos (ver I Tes. 4:3; Mat. 5:48 e Gál. 5:22,23).

12. A santidade de Deus requer um serviço santo (ver Jos. 24:19 e Sal. 93:5).

TRISTEZANo hebraico, etseb. Essa palavra ocorre por seis vezes no Antigo

Testamento. Por duas vezes tem o sentido de «labor». Ver Gên. 3:16; Sal. 127:2; Pro. 5:10; 10:22; 15:1; Eze. 29:20.

No grego podemos considerar duas palavras:1. Lupéo, «entristecer-se». Esse vocábulo é usado por vinte e

cinco vezes: Mat. 14:9; 17:23; 18:31; 19:22; 26:22,37; Mar. 10:22; 14:19; João 16:20; 21:17; Rom. 14:15; II Cor. 2:2,4,5; 6:10; 7:8,9,11; Efé. 4:30; I Tes. 4:13; I Ped. 1:6. O substantivo, lúpe, «tristeza», apa­rece por quinze vezes: Luc. 22:45; João 16:6,20,21,22; Rom. 9:2; I Cor. 2:1,3,7; 7:10; II Cor. 9:7; Fil. 2:27; Heb. 12:11 e l Ped. 2:19.

2. Penthéo, «lamentar-se». Termo que aparece por dez vezes: Mat. 5:4; 9.15; Mar. 16:10; Luc. 6:25; I Cor. 5:2; II Cor. 12:21; Tia. 4:5- Apo. 18:11,15,19. O substantivo, pénthos, «lamento», aparece por cinco vezes: Tia 4:9; Apo. 18:7,8; 21:4.

1. Por Causa do Pecado. Se a salvação em Cristo ncs enche de alegria, o pecado deveria encher-nos de tristeza e lamentação. Aque­les que agora riem, deveriam lamentar-se (Luc. 6:25). Os pecadores deveriam sentir-se miseráveis e lamentar-se (Tia. 4:9). Não somente nos deveríamos entristecer diante de nossos próprios pecados, mas também por causa dos pecados de outros membros da Igreja (I Cor. 5:2—o contrário dessa tristeza é a arrogância; cf. II Cor. 12:21).

A tristeza de Paulo, diante da teimosa incredulidade de Israel, chegou a fazê-lo desejar estar separado de Cristo e ser maldito (Rom. 9:2;cf. Rom. 11:26). Se o povo judeu se convertesse, isso haveria de anular a sua tristeza. Em contraste com isso, a tristeza dcs aproveitadores do comércio da pecaminosa Babilônia (futura), não se devia aos pecados da cidade, mas porque a mesma foi destruída (Apo. 18:8,11,15,19). Os que se entristecem, dentro das bem-aventuranças, fazem isso somente por si mesmos, ou por causa dos pecados do mundo também? Seja como for, os tais serão conso­lados (Mat. 5:4).

2. Como Repreensão. A segunda Epístola aos Coríntios é, prati­camente, um tratado sobre a tristeza necessária que os cristãos precisam infligir uns aos outros, quando admoestam e corrigem o pecado que observam uns nos outros. Paulo não desejava fazer outra visita dolorosa (II Cor. 2:1), e nem o seu propósito fora jamais motivo de tristeza para os crentes (II Cor. 2:4). Pelo contrário, ele queria despertar, nos crentes que errassem, aquela tristeza piedosa que produz o arrependimento, a salvação, o zelo, e que terminaria por redundar em satisfação e alegria para o próprio Paulo (II Cor. 7:8-13).

A Epístola aos Hebreus nos instrui que a disciplina dada pelo nosso Pai celeste a seus próprios filhos produz o fruto do arrependi­mento, que nos é vantajoso, embora nos pareça doloroso por algum tempo (Heb. 12:11). Pedro deixou uma declaração similar (I Ped.1:6), ao escrever que nos regozijamos por causa de nossa imperecí­vel herança, embora a genuinidade de nossa fé seja agora testada por váras provações, por breve tempo—o tempo em que dura esta vida terrena. Se sofrermos injustiças por amor a Cristo, sairemos aprovados (II Ped. 2:19,20). Portanto, a herança do consolo capacita-nos a ter esperança, mesmo em meio à tristeza.

3. Tristeza Ante a Partida de Cristo. Conforme o próprio Senhor Jesus previu (João 16:6; cf. Mat. 9:15, onde ele disse que é apro­priado lamentar pela partida do Noivo), os corações de seus discí­pulos muito se entristeceriam diante de seus sofrimentos e de sua partida deste mundo. No entanto, conforme o mesmo Senhor Jesus ajuntou logo mais adiante, convinha aos discípulos que ele se fosse, de volta para o Pai celeste, porquanto assim ele lhes enviaria o

Consolador, o Espírito Santo. O Consolador haveria de consolá-los de suas tristezas! Assim como uma mulher grávida, chegado o mo­mento do parto, aflige-se e se entristece, mas, diante do nascimen­to da criança, alegra-se com profunda alegria, assim também os discípulos veriam sua tristeza transformar-se em alegria, por oca­sião da volta do Senhor Jesus (João 16:21,22). Portanto, o Senhor não estava falando apenas a respeito de seus discípulos originais, mas de todos quantos se têm tomado seus discípulos, ao longo dos séculos.

TROMBETAS DE CHIFRESNo hebraico, uma palavra que só aparece no sexto capítulo de

Josué, yobel. Ver Música e Instrumentos Musicais.

TROMBETAS, FESTA DASVer sobre Festas (Festividades) dos Judeus.

TRONOI. TerminologiaII. Caracterização GeralIII. SimbologiaIV. Observações BíblicasV. Descrições

I. TerminologiaHebraico:kisse (kisseh), as duas formas alternativas nas traduções portu­

guesas, com cerca de 135 ocorrências no Antigo Testamento. Exem­plos: Gên. 41.40; Êxo. 11.5; Deu. 17.18; I Sam. 2.8; II Sam. 3.10; Nee. 3.7; Est. 1.2; Sal. 9.4, 7; Pro. 16.12; Zac. 6.13.

Aramaico:Korse: Dan. 5.20; 7.9.Grego:1. thronos, com 59 ocorrências no Novo Testamento. Exem­

plos: Mat. 5.24; 19.28; Luc. 1.32, 52; 22.30; Atos 2.30; Heb. 1.8; 4.16; Apo. 1.4; 2.13; 21; 4.2 2-6, 9, 10; 5.1, 6, 7, 11, 13; 6.16; 20.4,11, 12; 21.3, 5; 2 2 1 ,3 .

2. bema, ccm os significados de trono e tribunal, com 12 ocor­rências no Novo Testamento. Exemplos: Mat. 27.19; João 19.13; Atos 7.5; 12.21; Rom. 14.10; II Cor. 5.10.

Latim:thronus, a cadeira do estado, a cadeira real, o local de exaltação

de um rei, uma autoridade do estado ou um juiz ou magistrado locale, metaforicamente, o poder de tal autoridade.

II. Caracterização GeralOs termos usados podem significar qualquer assento elevado, ou

cadeira especial para uma pessoa de autoridade, incluindo reis, ma­gistrados civis ou o sumo sacerdote (I Sam. 1.8); um juiz (Sal. '*22 5); um chefe militar (Jer. 1.15); um rei (I Reis 10.19); ou o trono de Deus (Isa. 6.1), que na visão de Isaías era “alto e elevado”. A maioria dos tronos dos reis era elevada em algum tipo de plataforma e muitas vezes chegava-se a elas usando escadas. No caso de Salomão, seis degraus levavam ao trono. Os degraus eram “guardados” por um par de leões. A autoridade que sentava no trono de modo geral vestia roupas especiais para as ocasiões de julgamento, para promulgar decretos ou para reunir-se com outras autoridades para delibera­ções.

III. Simbologia1. Em termos gerais, o trono pode simbolizar a pessoa que senta

nele, sua autoridade, a autoridade de seu reino ou de seu ofício, ou um grupo de poderes, terrestres ou celestiais.

2. Símbolo de poder supremo e dignidade (Gên. 41.40).3. Sentar no trono é o exercício de autoridade (Deu. 17.18; I Reis

16.11).4. Tronos podem significar a sucessãc de poderes terrestres ou,

falando coletivamente, de poderes celestiais, como arcanjos (Col. 1.16).

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TRONO — TUMIM 5401

5. 0 trono de Deus é o poder absoluto sobre os céus e a terra (Isa. 6.1).

IV. Observações Bíblicas1. Tronos dos faraós (Gên. 41.40; Êxo. 11.5)2. Trono do rei de Ninive (Jon. 3.6)3. Trono dos poderes babilónicos (Dan. 5.20; Est. 5.1, 2)4. Trono dos governos (Nee. 3.7)5. Trono das dinastias (II Sam. 3.10; I Reis 1.13)6. Trono do trono eterno de Davi (sua linhagem real), I Reis 2.45;

Jer. 33.17).7. Trono de Deus, o poder supremo (I Reis 22.19; Sal. 11.4; Apo.

5.11)8. Trono do Messias (Zac. 6.13)9. Trono do Ancião de Dias (Dan. 7.9)10. Trono dos usurpadores quo serão derrubados ae seus luga­

res altos ao sheol (Isa. 14.13-15).V. DescriçõesAlguns tronos eram pouco mais do que cadeiras elevadas, mas a

arqueologia demonstrou a natureza opulenta desses reinados. Um trono de rocha de cristal foi descoberto nas ruinas do palácio de Senaqueribe. O trono de Salomão era feito de n a rfin revestido de ouro, com uma complexa escadaria levando ate eie. guardada em cada lado pelas estátuas de leões. A parte de trás do trono tinha a figura esculpida de um touro, símbolo de força (I Reis 10.16-20). Pre­sumimos que esse trono tenha sido típico daqueies etaborados no Oriente.

Ver o artigo separado sobre Trono Branco, o Granae na Enciclo­pédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. Ver também Trono aa Graça e Trono de Satanás.

j - j * ’. , -

TROVÃO1. Terminologia. No hebraico, qol, “a voz'' (Êxo 9.23 28. 29, 33,

34; I Sam. 7.10,12, Jó 28.26. Raam, trovão, rugido; Jó 26.14; 39.35; Sal. 77.18. No grego, bronte, “trovão”, Mar. 3.17 João 12,29; Apo. 4.5; 6.1. Os usos incluem referências literais a esse fenómeno meteorológico, as figuras da voz e do poder de D e js um símbolo de julgamento através de meios naturais e sobrenaturais

2. Observações Bíblicas. Uma manifestação do clima em conjun­ção com outros como relâmpagos e chuva, ou granizo (Jó 28.26; Exo. 9.23; I Sam. 12.17). A manifestação divma a ampliar a glória e o poder de Deus (Êxo. 19.16). O poder divino controla o fenômeno natural (I Sam. 12.18). A sétima praga contra c Egito misturava tro­vões, chuvas e granizo com manifestações sem precedertes (Êxo. 9.17-35).

3. Trovões e Conceitos do Divino. Os nativos da região superior do rio Negro chamam seu deus-chefe de Trovão e é curioso que ele tem um Filho, o qual, quando esse deus fica com dor de estômago, produz um arco-íris no céu. Os antigos gregos pensavam que o alto e poderoso deus Zeus manifestava sua ira ao iar.çar relâmpagos, e isso era amplificado por fortes estalos de trovões. Zeus é visto como o controlador dos céus e da terra, usando relâmpagos aos quais nem deuses nem homens resistiriam. Alguns intérpretes tentaram mostrar que o tetragrama sagrado de Yahweh, isto é, YHWH, tinha conexão original com o conceito de Trovão, mas essa teoria não teve grande aceitação. A raiz da palavra Yahweh é Eterno. Ver Deus, Nomes de neste Dicionário e na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia.

4. Atividade Divina. O Novo Testamento, como o Antigo, associa o trovão à atividade divina, especialmente em relação a seus julga­mentos (Apo. 4.5; 6.1; 8.5; 10.3, 4; 11.19; 16.18; 19.6). Dois dos discípulos originais de Jesus eram chamados de Boanerges, “filhos do trovão”, por causa de sua natureza explosiva (Mar. 3.17). Eles eram Tiago e João, os filhos de Zebedeu.

TUBALEsse nome, de significado desconhecido, indica tanto um indiví­

duo, um dos filhos de Jafé (ver Gên. 10:2; I Crô. 1:5), quanto os seus

descendentes, quando já formavam uma nação (ver Isa. 66:19: Eze. 27:13; 32:26; 38:2,3 e 39:1).

Os descendentes de Tubal formavam uma confederação localizada no centro das montanhas do Taurus, no sul da Anatólia (moderna Turquia), de onde se espalharam para vários lugares, tanto para o norte quanto para o ocidente. Nos tempos de Heródoto, historiador grego das coisas antigas, eles eram conhecidos pelos gregos como Tibarenoi (ver Heróaoto 3.94). Visto que eles são mencionados em Gênesis 10:2 como um acs filhos de Jafé, juntamente com Java, que já são os gregos orientais então devem ter ocupado regiões contíguas às de seus irmãos, isto é, as «ilhas do mar», ou as costas do Mediter­râneo, posto que isso não exclui a ocupação deles em território conti­nental asiático. De fato, há indícios de que eles se espalharam pela Sicília e até mesmo pelas costas da Espanha, no extremo ocidental do mar Mediterrâneo como também pelo centro das estepes russas, sem falarmos em outros lugares.

Tubal (no acádico, Tabal) tornou-se um povo proeminente durante o primeiro milênio A.C., após o declínio do reino hitita de Hatusas. Na Bíblia, eles aparecem como fornecedores de escravos e de metais (Eze. 27:13, por exemplo). Na maioria das passagens do livro de Ezequiel, eles aparecem em companhia de Meseque (no acádico Mushki), nome que sobrevive na capital da União Soviética, Moscou. Ora, muitos estudiosos pensam que Meseque é progenitor do povo que, séculos mais tarde, ficou conhecido como frígios, que vivia lado a lado com os gregos e macedônios, embora um pouco mais para o leste.

Quando o poder militar da Assíria expandiu-se para o norte e para o oeste, entrou em um longo e amargo conflito com as confede­rações de tribos da Anatólia, desde que Assurbanipal tornou-se rei assírio (cerca de 870 A.C.), até o assalto feito pelos citas, que já seriam germânicos, em 679 A.C. Tubal é mencionado em numero­sos registros de campanhas militares punitivas, enviadas contra a região do Taurus, durante aqueles dois séculos. Heródcto também mencionou (3.94) que os homens de Tubal eram supridores de tropas dos exércitos persas de Dario e de Xerxes. A ferocidaae dos exércitos de Tubal fica comprovada pelo fato de que eles só foram derrotados, e sua máquina militar só foi destruída, após centenas de anos de constantes conflitos armados. Sargão II (ver Isa. 20:1) morreu durante a campanha militar que desencadeou contra eles, em 705 A.C.

De acordo com as profecias bíblicas para o fim, Tubal, Meseque e muitos outros povos, asiáticos, europeus e africanos, naverão de desfechar um tremendo ataque contra Israel, antes da segunda vinda do Senhor Jesus, quando então sofrerão esmagadora derrota (ver Eze. 38 e 39). Muitos intérpretes modernos pensam que isso se refere a algum ataque futuro encabeçado pela Rússia (ver o artigo sobre Gogue), com temíveis conseqüências para muitos outros po­vos, que serão indiretamente atingidos pela conflagração.

TUBALCAIMO nome Tubal significa “tumulto” e Tubalcaim significa “tumulto, o

ferreiro”. O Tubal posterior foi um dos sete filhos de Jafé, o neto de Noé. Mas Tubalcaim foi um antediluviano, filho de Lameque e Zila. Ver Gên. 4.22. Ele era um ferreiro habilidoso, que moldava toda a sorte de objetos cortantes, empregando cobre e ferro. Foi, segundo o relato da Bíblia, o inventor dos instrumentos de corte. A RSV fornece o versículo “... forjador de todos os instrumentos de bronze e de ferro”, mas a tradução rabínica o torna um afiador de tais instrumen­tos. O cobre é um metal macio facilmente trabalhado até mesmo pelos antigos, enquanto o ferro é especialmente útil para instrumen­tos de corte. A entrada da palavra ferro nesse período muito primitivo é considerada um anacronismo por muitos intérpretes, mas não sa­bemos até onde se estendeu a idade do ferro.

TUMIMVer sobre Urim e Tumim.

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5402 TUMOR — TÚMULO

TUMORVer também sobre Tumores.No nebraico, ophel, termo que ocorre por seis vezes no Antigo

Testamento: Deu. 28:27; I Sam. 5:6,9,12; 6:4,5. Uma enfermidade cutânea dolorosa, enviada contra os filisteus, como um juízo divino. Os estud^osos pensam que esses tumores eram parecidos com as hemorróidas. A arqueologia tem demonstrado que os ofertantes pagãos ofereceriam a seus deuses representações em cera ou metal das porções de seus corpos que tinham sido curadas ou que eles esperavam que fossem curadas por intervenção dessas divin- di les. É inieressante observar que em Aparecida, São Paulo, mui­tos procuram curas comprando representações de cera das por­ções de seus corpos que eles querem ver curadas. Desse modo, as pessoas visualizam suas esperanças de cura, de forma concreta. E aqueíes que tiverem algum severo caso de hemorróidas talvez ten­tem tal coisa, mesmo que o esquema tanto se pareça com o paga­nismo! 0 trecho de I Samuel 6:5 evidentemente alude a essa prá­tica entre os filisteus. Eles estavam sendo julgados, pelo menos em pa^e mediante essa aflição. A referência que ali se faz aos «ra­tos», provavelmente significa que eles foram punidos com algo re­lativo a eles, como a peste bubônica, pois esta última propaga-se por meio de moscas que enxameiam scbre os ratos. Aparentemen­te, imagens feitas dos defeitos e aflições físicas, bem como figuras de ratos deveriam ser mandadas para Israel, juntamente com a arca da aliança. Sabe-se que uma das manifestações da peste bubônica é certa forma agravada de hemorróidas. Essa enfermida­de atinge elevadas taxas de m olalidade, ou seja, cerca de setenta sor csrto dos casos, depois da primeira semana do aparecimento dos sintomas. Ver c artigo geral sobre as Doenças da Bíblia.

TUMORESNo hebraico precisamos levar em ccmta duas palavras, ligadas a

esse verbete a saber1. Techoriw «tumores». Essa palav-a ocorre por duas vezes

somente, em I Sam. 611,16.2. Ophe1 «tumor» «fenda». Esse vocábulo ocorre por seis ve­

zes: Deu. 28.27; I San. 5:6,9,12; 5:4,5.Um tumor é um crescimento anomnal de alguma parte do corpo;

cu, entãe. pode ser um neoplasma, isto é, o desenvolvimento de tecidos anormais distintos dos tecidos saudáveis que os cercam. Um neoplasma pode ser tão benigno como uma borbulha ou tão maligno como um carcinoma.

No relate sobre a devolução da arca da aliança, por parte dos filisteus (I Sam. 5), os tumores feitos de oure, provavelmente, ser­viam de emblemas dos bulbos que caracterizam aquela praga. Es­ses bulbos entumescem e afetam as glândulas linfáticas das imedi­ações.

Quando os organismos infecconadores, ou seus produtos tóxicos, chegam às glândulas linfáticas, estas últimas desenvolvem um grande esforço para impedir que esses organismos ou seus produtos tóxicos entrem na circulação sistêmica. E assim essas glândulas podem entumescer até cem vezes mais que o seu tamanho normal, na tenta­tiva de impedir o avanço dos elementos indesejáveis, e então destruí- los. Algumas vezes, entretanto, o fluxo de material infeccionado é tão grande, como uma praga, que mesmo muitas glândulas linfáticas em sucessãc são avassaladas, e o organismo sucumbe diante da enfermi­dade. Ver também o artigo sobre as Pragas.

No hebraico, «queimaduras». Eram tumores endurecidos, doloro­sos uma ulceração inflamada com fluxo de pus misturado com san­gue, em alguns casos. Nas Escrituras, a palavra envolvida (no hebraico, bashal) parece referir-se a diversas enfermidades como a úlcera (Êxo, 9:10,11; Lev. 13:18), um tipo de pústula maligna ou o sinal de uma praga (II Reis 20:7, mas que nossa versão portuguesa também traduz por úlcera), ou então a lepra negra (Jó 2:7), embora essa última refe­rência também possa aludir à úlcera comum. Alguns estudiosos su­põem que a enfermidade de Ezequias (II Reis 20:7) foi um caso agra­

vado de ulceração, de origem bacteriológica, e que foge a todo tipo de controle. Ver o artigo geral sobre as Enfermidades.

TÚMULOI. Terminologia e DefiniçõesII. Tipos de Enterro de Corpos HumanosIII. Locais de EnterroIV. Conteúdo das TumbasV. A Esperança no AlémForneço um detalhado artigo sobre Sepultamento, Costumes de,

que faz um paralelo com este artigo e me permite ser breve aqui. Ver também Túmulo de Gordon na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, que foi, possivelmente, o local autêntico do enterro de Jesus, o Cristo. Esse artigo adiciona informações sobre tumbas que não estão incluídas aqui. Ver ainda o Sepulcro Santo, na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia.

I. Terminologia e DefiniçõesHebraico:1. qeber, “sepulcro", aparecendo 65 vezes no Antigo Testamento

Exemplos: Gên. 50.5; Êxo. 14.11; Núm. 19.16, 18; II Sam. 3.32; I Reis 13.30; II Reis 22.20; Jó 3.22; 5.26; Sal. 88.5, 11; Isa. 14.19. Os enterros mais antigos eram simplesmente debaixo da terra, como nosso costume moderno. No sentido amplo, a tumba pode referir a esse tipo de enterro, não necessariamente se referindo a uma tumba esculpida na pedra.

2. seol, o significado mais primitivo do qual se diz simplesmente túmulo. Ver Gên. 37.35; 42.38; 44.29, 31; I Sam. 2.6; I Reis 2.6, 9; Isa. 14.11; 38.10,18. O termo foi usado para o local dos fantasmas dos mortos, depois dos espíritos que uma vez estiveram encarnados, como desenvolvimento posterior. Ver detalhes completos no artigo so­bre Sheol.

3. qeburah, “sepulcro”: Gên. 35.20; Eze. 32.23, 24; Deu. 34.6; Ecl. 6.3.

4. bei, “montão”, isto é, um monte de enterro, Jó 30.24. A versão em português fornece “montão de ruínas”, mas o monte de enterro (túmulo) está sob consideração.

5. schacheth, “corrupção”, isto é, o local onde o corpo físico entra em decomposição. A versão portuguesa dá cova (Jó 33.22).

6. bor, "poço' , o local des mortos, uma alusão à prática antiga de jogar ccrcos em tal lugar: Sal. 28.1; 88.6; Isa. 14.15.

Gregc'1. mnema, “sepulcro”, “memorial”: Mar. 53.5; 15.46; Luc. 8.27;

Apo. 11.92. mnemeion, “sepulcro”, “memorial” , Mat. 8.28; 23.29; 27.52, 53,

60; João 5.28; 12.17; 19.41, 42; 20.1-4, 6, 8, 11.Latim:tumba, um “monte de enterro”. Tumbas construídas em rochas,

ao lado dos morros ou em buracos naturais ou cavernas na rocha, eram uma prática das famílias mais afluentes.

II. Tipos de Enterro de Corpos Humanos1. Evidências arqueológicas demonstram que em Jericó, no perí­

odo neolítico, era usada a exposição em vez do enterro (cerca de 5000 A. C.), mas o costume hebraico-judeu não aceitava tal modo de dispor de corpos humanos. Isso era contrário ao seu sentimento de decência e respeito.

2. A cremação ou a queima de corpos era um antigo costume grego, embora eles também recorressem ao enterro. A cremação era empregada pelos hebreus apenas quando havia massas terríveis deixadas para trás pela guerra, o que tomava impraticável enterrar os corpos dos soldados, particularmente quando estava envolvida grande mutilação. I Sam. 31.12 registra uma cremação desse tioo quando os corpos de Saul e de seus filhos foram descartados dessa maneira.

3. Enterros simples eram o principal modo de livrar-se de corpos no Oriente, inclusive entre os hebreus. Às vezes, os enterros eram feitos em cavernas, o que a arqueologia demonstrou ser o costume

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já nos períodos paleolítico e mesolítico. Enterros em cavernas às vezes eram comunais, com uma caverna particular servindo para uma família ou para um clã. Sessenta pessoas foram enterradas no wadi el- Mugharah, em Carmelo, c. 8000 A. C.

4. Pedreiras revestidas de pedras serviam como locais de enterro, o ancestral ao costume de ter caixas de cimento tão comuns nos Estados Unidos hoje. Essas caixas, é claro, ficam embaixo da terra e uma pessoa nem imaginaria que embaixo de seus pés existe um tipo de caixa de cimento contendo um caixão. Esse tipo de cova também foi ancestral do caixão, que veio posteriormente.

5. Aberturas naturais em montes na Palestina muitas vezes ofere­ciam um tipo primitivo de enterro em tumba. Quando havia cavernas formadas pelas aberturas, os locais poderiam tornar-se “cemitérios’’ para o enterro de famílias. Era desse tipo a caverna de Macpela (vero artigo), onde Abraão e a maioria dos membros de sua família foram enterrados. Ver Gên. 23.4-6. Tais túmulos foram os ancestrais das tumbas posteriores, esculpidas em pedra.

6. Antes da época de Abraão, havia monumentos de enterro no Egito, as pirâmides (ver o artigo), mas aqui estamos lidando com os locais de enterro dos faraós e de sua aristocracia superior. A mumificação fazia parte desse tipo de enterro.

7. Urnas de enterro. Os corpos eram colocados em posição pré- natal em receptáculos desse tipo, que funcionavam como uma espécie de caixão. Em Bilos, arqueólogos encontraram esqueletos de adultos em urnas assim, não apenas corpos de crianças.

8. Cisternas. Cisternas antigas, provavelmente não mais utiliza­das, foram usadas como locais convenientes de enterro. Em Gezer foi encontrada uma que continha 15 corpos. A época era em torno de 1580-1100 A. C.

9. Tumbas de Colméia de Abelha. Eram construídas pequenas casas, geralmente escavadas nos lados de morros, que serviam para enterros. Algumas eram retangulares, redondas, ovais ou quadradas. A maioria era túmulo de famílias. Esse tipo de tumba era comum na Grécia em por volta de 1200 A. C.

10. Sarcófagos, caixões com tampas, eram usados pelos vizi­nhos de Israel, mas não muito pelos judeus hebraicos. A palavra grega significa “comedor de corpo”. A maioria era feita de pedra. Uma vez que os corpos fossem “comidos”, o que acontecia em algu­mas semanas, os ossos eram coletados e postos em ossuários, “caixas de ossos’’. Às vezes apenas o crânio era mantido, sendo supostamente considerado a única parte do esqueleto que merecia o esforço.

11. Tumbas esculpidas em rocha. Tais tumbas foram encontra­das em épocas tão remotas quanto a idade do ferro, quando havia instrumentos adequados para fazer o trabalho de escavação. Mui­tas dessas tumbas eram para enterros de famílias. Elas eram feitas em vários estilos, mas o Talmude informa-nos que de modo geral eram “lares” dos mortos, geralmente com cerca de 2 m de compri­mento, 3 m de largura e 3 m de altura. Nichos eram esculpidos e poderiam receber até oito corpos, três de cada lado e dois na parte de trás da escavação. Mas existiam outros maiores que poderiam conter até 13 corpos. A entrada de tais tumbas era, de modo geral, selada por uma grande pedra (Mat. 27.65; Mar. 15.46; João 11.38, 39). Obviamente, apenas as pessoas mais afluentes podiam ter tais tumbas.

12. Sepulcros caiados. Quando Jesus mencionou esse tipo de túmulos (Mat. 23.27, 28), não estava falando sobre as caprichadas tumbas esculpidas em pedra das classes mais altas, mas sim dos túmulos mais comuns nos quais alguém poderia andar e ficar “sujo” do ponto de vista cerimonial. Tais túmulos às vezes eram decorados e pintados de branco para conferir uma aparência melhor e marcá- los de modo que as pessoas pudessem evitá-los.

13. Criptas. Esses eram nichos esculpidos de pedra nos lados dos morros, a maioria preparada para apenas um corpo. Várias crip­tas poderiam ser feitas e formar uma fileira, ou uma série de fileiras, produzindo um tipo de “apartamento” para os mortos.

14. Foram encontrados túmulos em torre, monumentos construídos sobre túmulos subterrâneos para marcar seus locais, remontando aos tempos de Herodes. A Torre de Absalom e a Torre de Zacarias são representantes desse tipo de túmulo.

III. Locais de Enterro1. Alguns antigos enterravam seus mortos sob assoalhos de

suas casas, e esse costume persistiu entre alguns índios brasilei­ros. Essa prática era popular na Assíria, Síria e em outros lugares do Oriente, mas nunca foi mantida em Israel, pelo menos do que podemos inferir. I Sam. 25.1 é uma exceção. Na Palestina, Jericó foi o sítio desse tipo de enterro, como era também o wadi el- Mugharah e Teileilate.

2. Dentro da cidade. Algumas pessoas importantes eram enterradas dentro dos muros da cidade, como foi o caso do rei Davi (I Reis 2.10). Arqueólogos descobriram o túmulo de uma mulher dentro dos limites da cidade de Gazer. Esqueletos foram encontrados dentro dos muros das cidades e em urnas mantidas dentro dos muros das cidades.

3. Enterros ao longo de estradas eram comuns, como também aqueles feitos próximos a árvores sagradas (ver Gên. 35.8,19; I Crô.10 . 12).

4. O local comum para enterros era fora da cidade para a maioria das pessoas. Os pobres, de modo geral, eram enterrados fora da cidade em pedreiras, cisternas, cavernas ou túmulos simples na terra (II Reis 23.6; Jer. 26.23; Mat. 27.7).

5. Por motivos familiares, sentimentais, às vezes as tumbas eram colocadas em jardins de certas famílias (II Reis 21.18, 26). Mas o local mais comum ficava em um tipo de necrópole, uma cidade dos mortos localizada fora da vila ou da cidade.

6. As tumbas dos reis situavam-se na cidade de Davi, dentro dos muros. Os reis de descendência real, davídica, eram tratados dessa forma quando morriam. Ver II Crô. 28.27; 32.33; I Reis 2.10; Nee. 3.16, etal. De Davi a Acaz, 13 reis foram enterrados naquele local.

IV. Conteúdo das TumbasArqueólogos e ladrões têm sido os principais beneficiados das

coisas deixadas para trás nas tumba. Há muito tempo as pessoas deixam objetos valiosos em tumbas, e a prática continua, o que encoraja os ladrões de hoje. Coisas de conveniência como itens de roupas, ferramentas, mesas, cadeiras, perfumes, barcos, ani­mais de estimação empalhados, armas, lampiões, jóias, dinheiro e outros objetos de valor figuram entre as descobertas arqueoló­gicas. Algumas dessas coisas pessoais eram, sem dúvida, ape­nas simbólicas ou sentimentais, como a corrente que foi colocada no pescoço de minha avó pois havia sido um presente especial de sua nora. Algumas coisas, contudo, eram consideradas poten­cialmente úteis para a alma em sua viagem ao outro lado, embora ninguém explique como a alma da pessoa morta seria capaz de carregar os objetos. Isso me lembra de uma história sobre o ho­mem que transformou toda sua fortuna em cheques de viagem antes de morrer para que pudesse levar consigo toda sua riqueza na viagem ao além:, Um homem fez uma observação “Espero que ele tenha colocado seus cheques na denominação certa!” . Produ­tos alimentícios eram deixados em tumbas como ofertas para os deuses, que receberiam a alma da pessoa morta, ou como ali­mento para a alma. Os egípcios exageravam nessa prática, como demonstram as tombas extraordinariamente ricas de Tutancamom e da rainha Shubade.

V. A Esperança no AlémQuando um homem deita seu corpo e voa ao mundo da luz, ele

fica feliz, sendo que o peso foi deixado para trás, o espírito está livre, e a verdadeira riqueza está à frente. Recentemente, assisti na TV ao final de um funeral que estava sendo realizado por um grupo religio­so. A cena repulsiva do caixão sendo baixado ao túmulo para ser colocado na cova foi mostrada. Exatamente quando isso acontecia, a voz do homem que conduzia o ritual, soou forte, dizendo: “Ele não está morto. Nós o veremos novamente”. Essa afirmação de fé, vinda como veio, no momento mais escuro da vida de várias das pessoas

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540 4 TÚMULO DE ABSALÃO — TUTMÉS

presentes, tirou o ardor da morte (I Cor. 15.55), pois sabemos que isso é verdade.

Ver os artigos a seguir na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia: Imortalidade (vários artigos); Alma; Experiências Perto da Morte.

TÚMULO DE ABSALÃOHá um notável monumento que tem esse nome, no vale de Josafá,

fora de Jerusalém. Fica perto da ponte mais baixa sobre o Cédron, um bloco quadrado isolado, escavado na rocha. A base do monumento tem cerca de oito metros de lado, em quadrado, sendo ornamentado em cada lado por duas colunas e por duas meias-colunas em estilo jónico. Tem cerca de seis metros de altura. Os estudiosos modernos não crêem que o monumento tenha algo a ver com Absalão. (S)

TÚMULO DE RAQUEL Ver Raquel, Túmulo de.

TÚNICADevemos pensar em uma palavra hebraica, outra aramaica, e ou­

tra grega, neste verbete, a saber:1. Kethoneth, «túnica». Palavra hebraica que ocorre por vinte e

nove vezes, conforme se vê, para exemplificar, em Gên. 3:21; 37:3,23,31-33; Êxo. 28:4,39,40; 29:5,8; 39:27; 40:14; Lev. 8:7,13; 10:5; 16:4; II Sam. 15:32; Jó 30:18; Can. 5:3.

2. Petesh, palavra aramaica usada somente por uma vez, em Dan. 3:21. Essa palavra aramaica significa «veste fina superior», mas a nossa versão portuguesa também a traduz por «túnica».

3. Chitón, «túnica». Esse vocábulo grego é utilizado por dez vezes: Mat. 5:40; 10:10; Mar. 6:9; 14:63; Luc. 3:11; 6:29; 9:3; João 19:23; Atos 9:39 e Jud. 23. Ver também sobre Vestes.

TURBANTETrês palavras estão envolvidas nesse verbete, a saber:1. Peer, uma palavra de provável origem egípcia, que apontava

para mais do que um simples turbante feito de pano enrolado. Aparece em Isa. 3:20, (onde nossa versão portuguesa diz «coroa»), Isa. 61:1 C. Eze. 24:17,23,44:18. É óbvia a falta de coerência nas versões e tradu­ções em geral, quanto à tradução desse termo. No entanto, fica claro que essa peça de vestuário, usada na cabeça, era um sinal de regozijo ou de solenidade, como adomo de sacerdotes e de noivos. Alguns estudiosos pensam que as palavras de Eze. 16:10 «...te cobri de seda» se referem a um desses turbantes, feito de seda.

2. Mitsnepheth, uma palavra hebraica que ocorre por doze vezes: Eze. 21:26; Êxo. 28:4,37,39; 29:6; 39:28,31; Lev. 8:9; 16:4. Essa palavra, geral­

mente, é traduzida por «mitra», em nossa versão portuguesa. Tal palavra, no hebraico, deriva-se do verbo «enrolar», o que é característico.

3. Tsaniph, uma palavra hebraica empregada por cinco vezes: Isa. 3:23; 62:3; Jó 29:14; Zac. 3:5 (duas vezes). Essa palavra também é derivada do verbo hebraico que significa «enrolar».

TURNOS DOS SACERDOTES E LEVITASPor causa da grande multiplicação do número de sacerdotes, Davi

pensou ser conveniente dividi-los em vinte e quatro turnos, com um presi­dente para cada tumo. Então os sacerdotes sen/iam ao altar em tumos. Cada tumo recebeu o nome do membro mais distinto da família de onde foi tomado. Ver I Crô 24:1-19. Esses sacerdotes deveriam servir a partir dos vinte anos de idade (I Crô. 23:6,27). Dezesseis ordens foram dadas aos descendentes de Eleazar, e oito. aos descendentes de Itamar, seu irmão. Nos períodos festivos, todos os tumos ativavam-se no sacerdócio. Em outras ocasiões, cada tumo ministrava pelo espaço de uma semana, e havia mudança de tumo no sábado, antes do sacrifício vespertino (II Reis 11:5,9). Qual tumo deveria servir, em ocasiões específicas, era determina­do pelo lançamento de sortes. O oitavo desses tumos coube à família de Abias, à cuja família pertencia Zacarias, pai de João Batista (Luc. 1:5).

TUTMÉSO nome egípcio é dhwty-ms, que significa “o (deus) Tote nas­

ceu”. Quatro faraós egípcios eram chamados assim:1. Tutmés I (18a dinastia), filhe de Tmenohotepe I, conhecido por

suas campanhas militares de êxito e por algumas construções.2. Tutmés II, que teve um casamento distinto (sua mulher era uma

meia-irmã sua!), mas uma carreira como faraó totalmente indistinta, não deixando nenhum grande legado. Não era incomum para um homem casar-se com uma irmã sua no Egito, e alguns reis e altas autoridades o faziam pensando que, sendo divinos, para preservar a pureza deveriam casar com familiares. Famílias reais, alegadamente, tinham origens divinas.

3. Tutmés III. O poder real até sua morte foi a mulher meia-irmã de Tutmés II, que era chamada de Hatsepsute. Uma vez que ela morreu, Tutmés III mostrou-se um hábil líder e comandante militar que se envolveu na Palestina e na Síria com grande sucesso. Ele já foi chamado de o “pai do império egípcio” e, quando não estava matando, para não ser morto, era hábil construtor.

4. Tutmés IV foi o último aos faraós com esse nome e assim acabou a 18a dinastia. Nada especial se sabe sobre esse homem, de forma que a dinastia terminou um tanto sem glória.

A Bíblia não menciona nenhum desses reis por nome, mas al­guns estudiosos acham que Tutmés III foi o faraó da opressão de Israel no Egito, antes de Moisés retirar seu povo de lá.