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AMAZÔNIA AMAZÔNIA AMAZÔNIA AMAZÔNIA AMAZÔNIA CIÊNCIA & DESENVOLVIMENTO ISSN 1809-4058 Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011

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AMAZÔNIAAMAZÔNIAAMAZÔNIAAMAZÔNIAAMAZÔNIACIÊNCIA & DESENVOLVIMENTO

ISSN 1809-4058

Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011

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Amazônia: Ciência & Desenvolvimento / Banco da Amazônia. –v. 6, n. 12 (jan./jun. 2011) – . – Belém: Banco da Amazônia,2005 – .

Semestral.ISSN 1809-4058.

1. DESENVOLVIMENTO REGIONAL – Amazônia – Periódico.I. Banco da Amazônia. II. Título.

CDD: 338CDU: 33(811) (05)

REPRODUÇÃO E RESPONSABILIDADEA Revista Amazônia Ciência & Desenvolvimento é um periódico científico semestral e multidisciplinar que tem porfinalidade divulgar artigos sobre temas que tratem da economia, sociedade e meio ambiente amazônico. Qualquer parte dapublicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte. As opiniões contidas nos artigos são de exclusiva responsabilidadedos autores e não expressam, necessariamente, a visão do Banco da Amazônia ou da Comissão de Publicação da Revista.

COMISSÃO DE PUBLICAÇÃOCoordenadores: Luiz Lourenço de Souza Neto e Fernanda Gene Nunes BarrosEditores Técnicos: Fabrício Khoury Rebello, Maria Lúcia Bahia Lopes e Oderle Milhomem AraújoSupervisora: Maria de Fátima da Costa Leão

CONSELHO EDITORIALAhmad Saeed Khan (UFC), Alfredo Kingo Oyama Homma (Embrapa Amazônia Oriental), Ana Laura dos Santos Sena (EmbrapaAmazônia Oriental), Antônio Carvalho Campos (UFV), Antônio Cordeiro de Santana (UFRA), David Ferreira Carvalho (UFPA),Dulce Helena Martins Costa (Banco da Amazônia), Erly Cardoso Teixeira (UFV), Fernando Antônio Teixeira Mendes (CEPLAC),Francisco de Assis Costa (UFPA), Iran Pereira Veiga Júnior (UFPA), João Eustáquio de Lima (UFV), Joaquim José MartinsGuilhoto (USP), José Jorge Valdez Pizarro (IESAM), Lauro Satoru Itó (UFRA), Marcos Antônio Souza dos Santos (UFRA), MutsuoAsano Filho (UFRA), Raimundo Aderson Lobão de Souza (UFRA), Roberto Ribeiro Corrêa (UFPA).

EQUIPE TÉCNICANormalização: Oderle Milhomem Araújo – CRB2 / 745Diagramação/Layout: Gerência de Imagem e Comunicação - GICOM

Coordenadoria de Comunicação Corporativa - CCOMCEditoração Eletrônica: Manoel de Deus Pereira do NascimentoArte da 1ª Capa: Paulo do Carmo Pereira e Manoel de Deus Pereira do NascimentoFotos da 1ª capa: Antonio José Menezes (Sistema de produção e tacacá) e Erika Miyazaki (Culinária do jambu)Apoio: Cristiane Marina Teixeira Girard (Estagiária)

[email protected]

Correspondências:Biblioteca do Banco da AmazôniaAv. Presidente Vargas, 800 – 16º andar – Belém-PA. CEP 66.017-901

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SUMÁRIO

Editorial

Artigos

Ciências Agrárias

Disponibilidade de fósforo em solos manejados com e sem queima no NordesteParaenseAvailability of phosphorus in managed soils with or without slash and burn in theNortheast of ParáElineuza Faria da Silva Trindade; Osvaldo Riohey Kato; Eduardo Jorge Maklouf Carvalho; ErnildoCésar da Silva Serafim...................................................................................................................... 7

Fontes de contaminação microbiana da castanha-do-paráSource of microbial contamination in the brazilian nut (castanha-do-pará)Paulo de Oliveira Martins Junior; Vespasiano Yoji Kanzaki de Sousa; Amabel Fernandes Correia;Élida Cleyse Gomes da Mata; Luís Isamu Barros Kanzaki................................................................... 21

Germinação e emergência de milho híbrido sob doses de esterco bovinoGermination and emergence of hybrid corn under dose cattle manureJhansley Ferreira da Mata; Joseanny Cardoso da Silva Pereira; Jaíza Francisca Ribeiro Chagas;Leciany Márcia Vieira..................................................................................................................... 31

Produtividade de forragem e características morfogênicas e estruturais de Axonopusaureus nos cerrados de RoraimaForage yield and morphogenetics and structural characteristics of Axonopus aureusin Roraimas´s savannasNewton de Lucena Costa, Vicente Gianluppi, Anibal de Moraes, Amaury Burlamaqui Bendahan.............. 41

Produtividade de mandioca cultivada por agricultores familiares na região dos lagos,município de Tracuateua, estado do ParáCassava´s productivity by smallholder farmers from lake region at city of Tracuateua,state of ParáMoisés de Souza Modesto Júnior; Raimundo Nonato Brabo Alves; Enilson Solano Albuquerque Silva......... 57

Ciências Humanas

A construção de territórios culturais pelas antigas sociedades amazônicasBuilding cultural territories by old Amazonian societiesMarcos Pereira Magalhães.............................................................................................................. 69

Economia

Biodiesel e desenvolvimento regional na Amazônia Legal: casos do estado do TocantinsBiodiesel and regional development in the Brazilian Amazônia: cases from TocantinsstateMarcus Vinícius Alves Finco; Werner Doppler..................................................................................... 89

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Estimação dos preços da madeira em pé para as áreas de florestas públicas daregião do Marajó, no estado do ParáEstimation of standing timber prices for the public forest areas of Marajó region, state of ParáAntônio Cordeiro de Santana; Marcos Antônio Souza dos Santos; Rafael de Paiva Salomão; Cyntiade Oliveira Meireles..................................................................................................................... 111

Etnocultivo do jambu para abastecimento da cidade de Belém, estado do ParáJambu etnocultive in the metropolitan area of Belém, Pará stateAlfredo Kingo Oyama Homma; Ronaldo da Silva Sanches; Antônio José Elias Amorim de Menezes;Sérgio Antônio Lopes de Gusmão.................................................................................................. 125

Otimização logística para o transporte multimodal de safras agrícolas pelo corredorCentro-Norte: o que pensam as empresas e instituições envolvidas?Logistic optimization for multimodal agricultural products transport by Center-North corridor: what do companies and institutions involved think about it?José Eduardo Holler Branco; José Vicente Caixeta Filho; Augusto Hauber Gameiro; Carlos EduardoOsório Xavier; Walter Henrique Malachias Paes; Betty Clara Barraza de La Cruz.................................. 143

Planejamento Urbano e Regional

As chuvas e as vazões na bacia hidrográfica do rio Acre, Amazônia ocidental:caracterização e implicações socioeconômicas e ambientaisRainfalls and flowrates in Acre river basin, western Amazônia: environmental and socio-economic characterization andimplicationsAlejandro Fonseca Duarte............................................................................................................. 161

Zootecnia/Recursos Pesqueiros

Crescimento de juvenis de tambaqui, Colossoma Macropomum (Cuvier, 1818), emtanques-rede com diferentes densidades populacionais em Ji-Paraná, ROGrowth of juvenile tambaqui, Colossoma Macropomum (Cuvier, 1818), in cages withdifferent densities population in Ji-Paraná, ROValdeir Vieira da Cunha; Antônio dos Santos Júnior........................................................................... 185

Normas editoriais.................................................................................................................... 195

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5Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

EDITORIAL

A sofisticada e rica gastronomia elaborada nos estados da Amazônia têm ajudado a divulgaruma imagem positiva da Região no Brasil e no mundo. Isso tem favorecido a criação de muitasoportunidades nos mais diversos setores da economia, como no turismo, agropecuária eagroindústria, visando atender demandas crescentes dos residentes, turistas e para a exportação.

Neste particular, as experiências dos festivais de culinária, com participação de renomadoschefes nacionais e internacionais e da contribuição de muitos anônimos tem sido relevante paracriar e promover essa apreciável gastronomia. Os peixes, frutas, ervas, raízes, jambu, tucupi e tantosoutros sabores, aromas e iguarias dão o tom para as muitas invenções.

Esta 12ª edição da Revista Amazônia: Ciência & Desenvolvimento traz, por sua vez, uminteressante estudo apontando aspectos do etnocultivo do jambu, que ilustra nossa capa. Nele,destaca-se o processo de conhecimento gerado pelos produtores dessa hortaliça, análise sobre abiopirataria na Amazônia e as estratégias para combater esse mal, assim como, são apontadaspossibilidades para expansão desse mercado. Desta feita, tem-se o esforço da pesquisa para consolidaro conhecimento e indicar caminhos para o desenvolvimento regional.

Ao lado do artigo já mencionado, essa edição chega com outras onze pesquisas de igualidentidade regional abrangendo questões dos estados do Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso,Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. São textos que abarcam um amplo leque de saberes sobre aAmazônia, envolvendo discussões quanto a valoração florestal, produtividade de mandioca eforragens, logística de transporte, manejo de solo, experimento com adubação orgânica, cultura desociedades amazônicas, contaminação microbiana da castanha-do-pará, piscicultura, biodiesel evulnerabilidade social a partir das chuvas e enchentes.

Boa leitura a todos!

Abidias José de Sousa JuniorPresidente do Banco da Amazônia

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7Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

DISPONIBILIDADE DE FÓSFORO EM SOLOS MANEJADOS COM E SEM QUEIMA NONORDESTE PARAENSE1

Elineuza Faria da Silva Trindade*

Osvaldo Riohey Kato**

Eduardo Jorge Maklouf Carvalho***

Ernildo César da Silva Serafim ****

RESUMO

Os solos amazônicos são conhecidos por sua baixa fertilidade natural, que além da elevadaacidez, apresenta baixos teores de fósforo na forma disponível pelas plantas. O sistema de manejotradicionalmente utilizado na agricultura familiar da região é o de corte e queima, cujas consequênciasaceleram a perda de fósforo no solo. Como alternativa a esse tipo de sistema, a tecnologia de corte etrituração da capoeira sem queima vem consolidando espaço nas unidades de produção camponesasobjetivando, entre outros possíveis efeitos, o aumento da eficiência do uso do fósforo na agricultura.Com a finalidade de verificar a disponibilidade do fósforo em solo manejado com queima e semqueima entre os anos de 1995 a 2010, conduziu-se um experimento no município de Igarapé-Açu,Pará, sob um Latossolo Amarelo Distrófico textura arenosa. O delineamento experimental foi o deblocos ao acaso, com três repetições. As coletas de solo realizadas nas profundidades de 0-10 cm e10-20 cm, em cada parcela, e analisadas segundo a metodologia da Embrapa (1997). As médias dosresultados analíticos foram comparadas pelo teste de Tukey a 5%. O sistema sem queima apontoupara a elevação dos teores de fósforo disponível no solo e forte tendência de estabilização com opassar dos anos, notadamente no tratamento com incorporação da cobertura morta e adição deadubo. Ao contrário, o sistema com queima tendeu a diminuir os teores de fósforo ocasionado peladegradação química do solo e, consequentemente, contribuindo com a insustentabilidade do sistemade produção.

Palavras-chave: Manejo do Solo-Amazônia. Agricultura Familiar. Sistema de Corte e Trituração daCapoeira.

1 Resultados da tese da primeira autora em elaboração junto ao Programa de Doutorado em Ciências Agrárias daUniversidade Federal Rural da Amazônia (UFRA)/Embrapa Amazônia Oriental.

* Engenheira Agrônoma; Doutoranda em Ciências Agrárias pela UFRA/Embrapa Amazônia Oriental.E-mail: [email protected].

** Engenheiro Agrônomo; Dr.; Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. E-mail: [email protected].*** Engenheiro Agrônomo;Dr.; Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. E-mail: [email protected].**** Engenheiro Agrônomo; Técnico de Gestão Ambiental da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMA/PA).

E-mail: [email protected].

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AVAILABILITY OF PHOSPHORUS IN MANAGED SOILS WITH OR WITHOUT SLASH AND BURNIN THE NORTHEAST OF PARA

ABSTRACT

Amazon soils are known for their low natural fertility, high acidity and low availability ofphosphorus contents to plants. The management system which has been traditionally used in smallscale family agriculture is slash-and-burn, as a results it accelerates the loss of phosphorus in the soil.More recently, as an alternative to that system, the slash- and-chopped technique used for fallowvegetation, without burning, has been more frequently used by small farmers aiming, among otherpossible effects, an increase in the use of phosphorus efficiency in agriculture. In order to check theavailability of phosphorus in managed soil with and without burning, between 1995 and 2010, anexperiment was conducted in the Municipality of Igarapé-Açu, Pará, under Dystrophic Yellow Latosolof sandy texture. The experimental design was random blocks, with three repetitions. The collectionwas made in the upper 0-10 cm and 10-20 cm of the soil, in each parcel, and was analyzed accordingto Embrapa’s methodology (1997). The analytical result averages were compared to Tukey test at 5%.The non-burning system indicated an increase in phosphorus contents available in the soil and astrong tendency of stabilization throughout the years, especially in treatment with of incorporation ofdead cover and nutrient addition in the long term. The slash-and-burn system, on the other hand,tended to decrease phosphorus contents causing a soil degradation, consequently adding to theunsustainability of the production system.

Keywords: Soil Management-Amazon. Family Agriculture. Fallow Vegetation Slash-and-ChoppedSystem.

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9Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

1 INTRODUÇÃO

Os solos brasileiros são conhecidos pelacarência em fósforo, devido principalmente aomaterial de origem e a forte interação desteelemento com o solo (RAIJ, 1991). A poucamobilidade desse nutriente é resultado da suaadsorção aos colóides de forma não trocável, ouseja, não disponível às plantas, e mesmo na formatrocável a sua liberação ocorre lentamente (TOMÉJÚNIOR, 1997). Devido a essa característica, ofósforo é considerado como o nutriente maislimitante para produção de biomassa nos solostropicais (NOVAIS; SMYTH, 1999).

Raven (2007) assinala que a fonte da maiorparte do fósforo no solo é proveniente dointemperismo das rochas e dos minerais, eprovavelmente, é o que mais limita o crescimentovegetal. O fósforo, portanto, é o elemento químicoconsiderado de grande essencialidade para asplantas, sendo componente das moléculastransportadoras de energia, como a ATP, etambém dos nucleotídeos do DNA e RNA.

Não diferentemente, os solos amazônicossão conhecidos pela sua baixa fertilidade natural,que além da elevada acidez, apresenta baixosteores de fósforo na forma disponível pelasplantas. A necessidade de alimentar a populaçãoque cresce de modo exponencial pode com otempo conduzir à escassez de nutrientesespecíficos, devido à remoção da coberturavegetal e o aumento da erosão, acelerando aperda de fósforo no solo.

Neste contexto, a agricultura de corte-e-queima pode ser caracterizada como um sistemade uso da terra o qual utiliza o fogo na vegetaçãonatural para o cultivo agrícola, mas que provocaefeitos negativos no solo e no meio ambiente.Essa prática ocorre durante um ou dois anos,seguindo-se um período de pousio. Nessa fase, avegetação secundária (capoeira) se refaz por

meio de rebrotas de tocos, raízes e sementes,principalmente aquelas que sobrevivem àqueimada. As taxas de rotação do uso da capoeiraexigem períodos de pousio longos, de modo quea nova vegetação recomposta possa contar comdiversidade florística, ciclagem de água enutrientes, acúmulo de carbono e nutrientes nabiomassa (TIPPMANN; DENICH; VIELHAUER,2000; SOMMER, 2004).

Dessa forma, Kato, Sá e Figueiredo (2006)sugerem que o período de pousio cada vez maiscurto, devido a pressão populacional poralimentos, diminui os efeitos benéficos dessesistema, pois as repetidas queimadasrepresentam uma contínua perda de nutrientesminerais, maior exposição do solo, retirada daserrapilheira e o aumento da mineralizaçãoorgânica. Em estudos no Nordeste Paraense,Sommer (2004) estimou uma perda de 21,5 mgde carbono e 372 kg de nitrogênio por hectare,além da perda de 45 a 70% de cátions menosvoláteis como o K, Ca e Mg em uma capoeira desete anos de idade, sendo que a maioria dessasperdas ocorreu com a fumaça durante o processode queima. O mais preocupante, neste caso, foi aexportação de 63% do estoque de fósforo, o qualcorresponde a 11,0 kg ha-1, por ser limitante parao rendimento das culturas, completa o autor. Éoportuno destacar que antes da utilização do soloessa prática constitui-se numa das principaiscausas do desmatamento na Amazônia, além deser, também, o foco de queimadas nessa região,contribuindo com a emissão de gases do efeitoestufa, fatores que colocam em alerta acontinuidade desse modelo.

Para conter essas pressões sobre osrecursos naturais, a comunidade científica temse empenhado em buscar alternativas com osistema de plantio direto na capoeira outecnologia de corte-e-trituração da capoeira sem

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queima, desenvolvido pela Embrapa AmazôniaOriental em parceria com o governo alemão, ondenesse sistema a capoeira é cortada, triturada eespalhada homogeneamente sobre o solo comocobertura morta (KATO et al., 2007). Pesquisasnesse sentido, como os trabalhos de Kato (1998),Gama (2002) e Coelho et al. (2004) no Nordestedo Pará e Serra et al. (2007) no Oeste do Pará,baseados no corte-e-trituração da capoeira comoalternativa ao uso do fogo, apontam tendênciasde aumento da matéria orgânica favorecendo orestabelecimento de níveis desejáveis defertilidade do solo, notadamente quanto àdisponibilidade de fósforo e nitrogênio às plantas,ainda que sejam utilizadas pequenas doses defertilizantes químicos nos primeiros anos deimplantação do sistema. Os resultados depesquisa de Sommer (2004) demonstram balançopositivo de nutrientes pelo corte e trituração da

vegetação por não ocorrer perdas pela queimada,com ganhos de 267 kg ha-1 de N, 8 kg ha-1 de P,61 kg ha-1 de K, 176 kg ha-1 de Ca, 34 kg ha-1 deMg e 27 kg ha-1 de S.

Esse sistema proporciona, além darecuperação gradual do solo pela oferta denutrientes e carbono através da reciclagem denutrientes das camadas profundas para asuperfície e fornecimento de matéria orgânicapela deposição da folhagem, melhorias naspropriedades químicas e físicas do solo, ofertade serviços ambientais e flexibilização docalendário agrícola. Diante disso, essa pesquisatem por objetivo verificar a disponibilidade dofósforo no solo a partir de dois diferentes sistemasde manejo da capoeira, com e sem queima, estebaseado na trituração da capoeira, no períodode 1995 a 2010, em Igarapé-Açu, Pará.

2 MATERIAL E MÉTODOS

A Pesquisa foi realizada na comunidadeCumaru, em área de pequeno produtor, nomunicípio de Igarapé-Açu, mesorregião doNordeste Paraense, entre as coordenadasgeográficas de 1° 11’ S e 47° 34’ W, sob umLatossolo Amarelo Distrófico textura arenosa(EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISAAGROPECUÁRIA, 1997).

O município de Igarapé-Açu, segundodados do Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (2011), possui 7.562 ha ocupados comlavouras temporárias (22,28%) e permanentes(77,72%), respondendo por 2,35% das áreas delavouras do Nordeste Paraense. Entre as lavourastemporárias destaca-se o cultivo da mandiocacom 68,25% da área plantada (1.150 ha). Quantoàs permanentes, o cultivo do dendezeiro ocupa4.200 ha (71,46%) e a pimenta-do-reino 1.060ha (18,04%).

O clima da região é intermediado entre Aw/Am, pela classificação de Köppen, chuvoso,apresentando estação seca de cinco meses, deagosto a dezembro, com temperatura anualvariando entre 21 e 32ºC, precipitação deaproximadamente 2.500 mm, umidade relativado ar de 84% e brilho solar de 192,8 h/mês(BASTOS; PACHECO, 1999).

Os estudos foram conduzidos em áreas depousio da vegetação secundária com idade dequatro anos, onde as parcelas experimentaisconstaram de 120 m2 (10,0 x 12,0 m) e área totalde 5.000 m2 (50,0 X 100,0 m). O delineamentoexperimental utilizado foi o de blocos ao acaso,em esquema fatorial (7x4x2), com trêsrepetições. As parcelas constituídas pelas formasde preparo da terra: Queima da vegetação +adubação química (Q+); Queima da vegetaçãosem adubação química (Q-); Cobertura com

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vegetação triturada + adubação química (C+);Cobertura com vegetação triturada semadubação química (C-); Trituração e incorporaçãoda vegetação + adubação química (I+);Trituração e incorporação da vegetação semadubação química (I-) e Capoeira natural (CAP);quatro épocas de coleta de solo (1995, 1996,1998 e 2010) e duas profundidades de coletade solo (0-10 e 10-20 cm).

As parcelas foram cultivadas em regime desequeiro com o arroz (Oryza sativa cv. Xingu) emrotação com o feijão-caupi (Vigna unguiculata cv.BR3-Tracuateua) e a mandioca (Manihot esculentacv. Pretinha) de acordo com o calendário agrícolada região nos anos de 1995, 1997, 2002, 2004 e2010. Nas parcelas com fertilizantes foramutilizadas como fonte de NPK a uréia, osuperfosfato triplo e o cloreto de potássio,respectivamente, nas doses 50, 25 e 25 kg ha-1 parao arroz e 10, 22, 42 kg ha-1 para o feijão-caupi.Para a mandioca não houve adubação específica,

sendo considerado o efeito residual do fertilizanteaplicado nas culturas do arroz e feijão-caupi.

A determinação analítica do parâmetrofósforo disponível foi realizada por meio doespctofotômetro de chama, em conformidadecom os procedimentos propostos pela Embrapa(1997). Para isso, foram coletadas três amostrasde solo compostas, oriundas de nove amostrassimples, na área útil da subparcela em forma de“zig-zag,” utilizando-se trados.

Para efeito de análise estatística foiempregado o modelo de análise de variância(ANOVA) com medidas repetidas (LITTELL et al.,2006). Tais análises foram conduzidas com auxílioda planilha Excel, do SAS System e do pacoteSTATISTICA 5.5. Dada a significância dos efeitos,a ordenação univariada dos valores médios, comrepresentação do respectivo desvio padrão, foiobtida por meio do teste de Tukey a 5% deprobabilidade.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados médios da variável fósforodisponível (P2O5) para os diferentes tratamentosdentro de cada ano e os diferentes anos dentrode cada tratamento, por profundidade, estãoapresentados na Tabela 1. Observa-se que, demodo geral, houve diferença estatísticasignificativa pelo teste de Tukey a 5% deprobabilidade nos sistemas de manejo, inclusiveem relação à testemunha, com melhoresresultados naqueles que receberam aplicação defertilizantes químicos, principalmente na camadade 0-10 cm e com tendência de diminuição dofósforo disponível no decorrer dos anos nas duasprofundidades.

Uma ressalva se faz para a camada de 10-20 cm que apresenta valores e diferençasmenores para todos os tratamentos e

testemunha, tendendo a estabilização. Estasituação pode ser considerada normal, poisnaturalmente os teores de nutrientes diminuemcom a profundidade do solo.

Como esperado, os resultados maioresforam observados nos tratamentos onde houvequeima da vegetação independente da adubação,mas a partir de 1998 e, sobretudo em 2010 essesvalores diminuem, ficando mais próximos dosdemais tratamentos, devido possivelmente à açãodinâmica do solo, com sucessivas alternâncias depreparo de área, cultivo e pousio da vegetaçãoao longo dos anos e a reduzida capacidaderegenerativa da capoeira devida provavelmenteà baixa quantidade de nutrientes no solo, comotambém foi constatado em pesquisa realizadapor Zarin et al. (2001).

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As duas primeiras coletas de solo (1995 e1996) tiveram o efeito de, apenas, um plantio,no ano de 1995, bem como na coleta de 1998que teve efeitos do plantio de 1997. Os desgastesmaiores no solo vieram a ser refletidos na últimacoleta em 2010, tanto pelo efeito cumulativodesde 1995 como pelos plantios (2002, 2004 e2010) e queimas mais intensas em relação àscoletas anteriores. Apesar de todos ostratamentos apresentarem tendência de aumentoda quantidade de fósforo disponível para asplantas em relação à testemunha, nostratamentos onde não foi realizada aplicação deadubo o teor de fósforo variou de 2,33 a 9,33 mgdm-3, enquanto que nas áreas adubadas avariação foi de 9,0 a 19 mg dm-3, considerados

por Cravo, Viégas e Brasil (2007), para este tipode solo arenoso, de baixo a médio, em geral.

Esta situação é devida às característicasquímicas e mineralógicas do solo, pois de acordocom Brady (1979) e Raij (1991) em regiões declima tropical, semelhantes ao deste estudo, depH ácido na faixa de 4 a 5, há predominância deóxidos de ferro, óxidos de alumínio e mineraisde argila 1:1, como a caulinita, condicionando aformação de fosfatos de ferro e alumínio quealém de não assimiláveis pelas plantas, fazemcom que a disponibilização do fósforo, em nívelde laboratório, ocorra a baixos teores, o quesegundo Malavolta (1979) ocorre devido aofenômeno da “fixação”.

Tabela 1 - Valores médios de fósforo disponível (mg dm-3), em diferentes profundidades, comparando osSistemas com Queima e com Corte e Trituração da Capoeira com uma área de Capoeira Natural,referentes aos anos de 1995, 1996, 1998 e 2010, no município de Igarapé-Açu (PA).

Fonte: dados da pesquisa.Nota: médias seguidas de letras iguais, maiúsculas nas linhas e minúsculas nas colunas, não diferem estatisticamente

pelo teste de Tukey a 5%.

Comparando, apenas, os tratamentos semadubação, na camada de 0-10 cm, na áreasubmetida à queima (Q-), observou-se umatendência de aumento no teor de fósforo para

todos os anos, confirmando o efeito imediatodas cinzas na disponibilidade deste nutrienteno solo, apesar de uma diminuição a partir de1998.

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Para a cobertura do solo onde o materialfoi apenas triturado (C-), observa-se tendênciade teores de fósforo maiores do que notratamento com a incorporação (I-),provavelmente devido a mineralização maislenta dos resíduos orgânicos deixados nasuperfície do solo pela ação quase que exclusivado clima, concordando com Kato et al. (1998).Lopes (1989) acrescenta que há um aumentodo teor de fósforo disponível no solo devido aoefeito da cobertura morta por esta melhorar ascondições de umidade e temperatura. Noentanto, quando há uma incorporação emgrande quantidade de material orgânico,Rossetto e Tsai (1992) explicam a ocorrência deum aumento no estímulo ao crescimento dapopulação microbiana, havendo uma maiordemanda por fósforo que são assimiladas poresses organismos para a formação edesenvolvimento de suas células.

Kato (1998) estudando a dinâmica dofósforo no solo no mesmo local desta pesquisa,também observou que nas parcelas onde houveincorporação da biomassa triturada semadubação ocorreu um decréscimo acentuadonos teores de fósforo disponível em níveis quaseindetectáveis na solução do solo. O autoratribuiu esse resultado ao baixo teor donutriente no solo no início do experimento, abaixa quantidade do mesmo na biomassa dacapoeira, a sua baixa mobilidade no solo e aremoção pelas culturas exigentes em fósforo(arroz e caupi) nos primeiros anos deimplantação desse sistema.

Já na comparação entre os tratamentosonde foi feita a aplicação de adubo, otratamento Q(+) apresentou os maioresresultados, inclusive em relação a todo o

experimento. Todos os tratamentos, também,repetiram a tendência de diminuição no teordo fósforo com o passar dos anos, exceto oI(+), que teve comportamento diferenciado,apesar de estatisticamente ter sido semelhanteao tratamento Q(+) para os anos de 1998 e2010.

É importante lembrar que o preparo deárea feito em 2009 influencia diretamentenesse resultado. A queima ocorrida na áreamais a adição de fertilizante provocaram adiminuição imediata da acidez e da toxidez doAl (Tabelas 2 e 3) favorecendo uma maiordisponibilidade de fósforo no solo. No entanto,mesmo com trituração recente do materialvegetal, a adição de adubo provavelmentecompensou a imobilização dos nutrientes pelosmicroorganismos na fase inicial dedecomposição da matéria orgânica, comoproposto por Oliveira (2002), que somado aoefeito positivo dos manejos ocorridos nos anosanteriores na área deste tratamento refletiu noresultado alcançado pelo mesmo no último anodesta pesquisa (2010).

Desta forma, é possível observar que otratamento (I+) voltou a apresentar o resultadodo início das observações (14 mg dm-3),apontando para a estabilidade da açãomicrobiana, mesmo com pouca chuva no período,enquanto no tratamento (Q+) houve quedagradativa do fósforo disponível ao longo dosanos. Este resultado assinala que com acontinuidade dessa prática alternativa ao uso dofogo (incorporando a cobertura e adicionandoadubo) é possível que haja uma tendência aoaumento do teor desse nutriente no solo, o qualcontribuirá com a sustentabilidade do sistemade produção.

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Em relação a essa queda acentuada no teorde fósforo em quase todos os tratamentos noano de 2010, outra possível causa pode estarrelacionada ao período de coleta das amostrasde solo realizado no mês de outubro, pois o soloencontrava-se muito seco devido à baixaprecipitação pluviométrica do período. Neste tipode situação, esclarece Lopes (1989), a menorumidade e as altas temperaturas tornam ofósforo, praticamente, todo fixado.

Nos anos anteriores, as coletas foramrealizadas em períodos de maior índice de chuvasna região (janeiro, julho e agosto), favorecendouma maior umidade do solo e tornando o nutrientemais disponível, refletindo em maioresprodutividades, como constatado no trabalho deCoelho et al. (2004), no município de Igarapé-Açu,PA, em solo do tipo Latossolo Amarelo fasearenosa, comparando uma área manejada comqueima e outra com corte-e-trituração da capoeira.

No caso da testemunha, capoeira natural(CAP), os teores de fósforo podem serconsiderados relativamente altos para os trêsprimeiros anos de observação da camada de 0-10 cm, para as condições dos solos desta região.Isso pode estar relacionado à grande adição deresíduos vegetais na superfície do solo ou mesmodevido a queimadas ocorridas nessa área nosanos que antecederam a implantação doexperimento, pois naquele momento a vegetaçãoestava em repouso há quatro anos, e com certezaainda sofrendo a influência dos manejosanteriores do solo.

Porém, após 12 anos, quando a capoeirajá se encontrava com um porte bem maior epossivelmente sem resíduos de cultivos anterioresou de efeito de queimadas, o teor de nutrientes– e portanto de fósforo – no solo foi reduzindo,ainda mais, devido a maior absorção pelasplantas as quais passaram a exigir maioresdemandas para a formação de frutos, ou atémesmo por fixação do fósforo, além do que osolo voltou a apresentar as característicasnaturais da região, ou seja, pobres nessenutriente.

Esses resultados coincidem com osverificados por Szott e Palm (1986), trabalhandocom vegetação secundária na Amazônia Peruana,onde foi observado um decréscimo acentuado nonível de fertilidade do solo com o passar do tempode desenvolvimento da vegetação. Resultadossemelhantes também foram encontrados porKleinman et al. (1996) que observaram umatendência de maior acidez e maiores teores deAl3+ em solos cuja vegetação ficou em pousiopor onze anos, em comparação a outra de trêsanos, afetando negativamente a disponibilidadede fósforo no solo.

Nas Tabelas 2 e 3, encontram-se os valoresde pH e alumínio trocável, que apesar de nãoapresentarem diferenças estatísticassignificativas para a maioria dos tratamentos aolongo dos anos, caracterizam esse solo comobastante ácido e de elevado teor de toxidez poralumínio, podendo explicar os baixos níveis nosteores de fósforo disponível na área estudada.

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Tabela 2 - Valores médios de pH em H2O, em diferentes épocas e profundidades, comparando os Sistemas comQueima e Sem Queima com uma área de Capoeira Natural, no município de Igarapé-Açu-PA.

Fonte: dados da pesquisa.Nota: médias seguidas de letras iguais, maiúsculas nas linhas e minúsculas nas colunas, não diferem estatisticamente

pelo teste de Tukey a 5%.

Tabela 3 - Valores médios de alumínio trocável (cmolc dm-3), em diferentes épocas e profundidades, comparandoos Sistemas com Queima e Sem Queima, com uma área de capoeira natural, no município deIgarapé-Açu-PA.

Fonte: dados da pesquisa.Nota: médias seguidas de letras iguais, maiúsculas nas linhas e minúsculas nas colunas, não diferem estatisticamente

pelo teste de Tukey a 5%.

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Fonte: dados da pesquisa.

Em termos de produção e produtividade dasculturas, os trabalhos de Kato et al. (2007) afirmamque é possível mostrar o benefício da prática decorte-e-trituração da capoeira para as culturas,considerando o uso de fertilizantes como um pré-requisito para se obter uma boa produção emsolos de baixa fertilidade, pois o efeito residualdo insumo aumenta consideravelmente aprodução das culturas. Os pesquisadoresverificaram que a produtividade do arroz passoude 2,3 para 3,6 t ha-1, a do feijão-caupi de 1,5para 1,8 t ha-1 e a da mandioca de 26,8 para 34,3t ha-1, do ano agrícola de 1995/1996 para o anoagrícola de 2002/2003 nas áreas manejadas com

trituração da capoeira, enquanto que para osmesmos períodos a produção reduziu ou manteve-se estável nas áreas preparadas com queima.

Costa (2008) avaliou o efeito da adubaçãoe da calagem no primeiro ano de cultivo emsistema de corte-e-trituração da capoeira eobservou que a adubação contribuiu para oaumento da produtividade, independentementeda calagem, e que a produção cresceu em funçãoda maior dosagem de NPK. No entanto, deve-seobservar a resposta biológica da planta de acordocom as quantidades utilizadas de adubo, uma vezque doses superiores à necessidade destas podem

O Gráfico 1 ilustra de forma didática asituação de campo durante o período de estudo,ficando bastante nítido o efeito da adubaçãoquímica, da prática da queima e redução do teorde fósforo ao longo dos anos, entre os diferentes

tratamentos e a capoeira natural. Ficou evidentetambém, nos tratamentos com a cobertura,principalmente com adubação e a capoeiranatural, os teores de fósforo em níveis maisequilibrados quando comparados com a queima.

Gráfico 1 - Fósforo disponível na profundidade de 0-10 cm comparando os sistemas com queima e semqueima da vegetação secundária, com a área de capoeira natural, em diferentes épocas, nomunicípio de Igarapé-Açu- PA.

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tornar-se tóxicas, prejudicando o crescimento e,consequentemente, a produtividade da cultura.

Neste trabalho, verifica-se um potencialbenefício para a produtividade das culturas apartir da liberação de nutrientes da biomassaapós o processo de decomposição, mesmo nocaso dos tratamentos com trituração da capoeirasem adição de fertilizantes C(-) e I (-), pois épossível perceber o aumento significativo dofósforo em relação à testemunha (Tabela1). Kato(1998) confirmou o efeito da não adubação nosistema sem queima considerando, apenas, acobertura sem incorporação do material vegetal,relatando que a produção da cultura do arroz

nesse sistema aumentou 70,6% do ano agrícolade 1995/1996 para 1997/1998, enquanto sistemacom queima e sem adubação o aumento foi de,apenas, 14,3% para o mesmo período.

Os dados de produtividade para estapesquisa tiveram de ser desconsiderados, mesmosabendo da sua influência no estoque de nutrientespelo efeito residual da adubação, devido às perdasocasionadas por fatores climáticos adversosocorridos durante o período analisado, escassez ouexcesso de chuvas, especialmente para o ano de2010, período em que houve perda total dasculturas do feijão-caupi e do arroz e produtividadeinsignificante da cultura da mandioca.

4 CONCLUSÕES

A partir dos resultados apresentados pode-se concluir que a elevação dos teores de fósforodisponível no solo nas condições de campo daregião estudada pode ser conseguidasatisfatoriamente a partir do manejo da capoeiranatural, através da técnica de corte-e-trituraçãoda biomassa da vegetação.

Os melhores resultados obtidos pelaqueima, principalmente associada com a aplicaçãode fertilizantes, não implica necessariamente queeste tipo de manejo seja a melhor alternativa emrelação a não queima, pois o corte-e-trituraçãoda capoeira apontou para uma forte tendênciaem ser superior e se estabilizar com o passar dosanos, enquanto aquele tende a diminuir os teoresde fósforo ocasionado pela degradação químicae física do solo.

O estoque do nutriente fósforodisponível no solo, considerado de baixo a

médio, não atingiu níveis melhores,possivelmente, pela capoeira não ter tidotempo suficiente para a sua recomposição efornecimento de um maior aporte de massavegetal para reposição de nutrientes em níveissatisfatórios. Podendo-se, neste caso, lançarmão do enriquecimento da capoeira comespécies leguminosas de ciclo mais curtodurante o período de pousio.

Além do efeito positivo em longo prazo daincorporação da cobertura morta com adubaçãona disponibilidade de fósforo no solo, pode-seesperar que haja uma maior vantagem do sistemasem queima a partir da melhoria da qualidadefísica, umidade e temperatura do solo (dadosainda em análise de laboratório). E comoconsequência disso, a diminuição das perdas denutrientes, melhor desenvolvimento eprodutividade das plantas e sustentabilidadeambiental.

AGRADECIMENTO

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (FAPESPA).

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FONTES DE CONTAMINAÇÃO MICROBIANA DA CASTANHA-DO-PARÁ

Paulo de Oliveira Martins Junior*

Vespasiano Yoji Kanzaki de Sousa**

Amabel Fernandes Correia***

Élida Cleyse Gomes da Mata****

Luís Isamu Barros Kanzaki*****

RESUMO

A amêndoa da castanha-do-pará ou castanha-do-brasil (Bertholletia excelsa) é excelente fontede nutrientes, em especial proteínas e selênio, destacando-se como produto nobre de exportação. Asexigências sanitárias do comércio internacional tem imposto prejuízos econômicos aos extrativistas,produtores e atravessadores do produto. Com especial ênfase, por seus efeitos cancerígenos, aaflatoxina, toxina produzida principalmente por Aspergiillus flavus, tem sido nestes últimos anos,investigada com intensidade nas amêndoas da castanha-do-pará e, a detecção desta toxina, temrestringido a exportação deste produto. No entanto, vários procedimentos vêm sendo aplicados nocontrole da contaminação fúngica dos seus produtos. No bojo dos trabalhos conduzidos para avaliara contaminação microbiana, detectou-se, também, bactérias de diferentes famílias, permitindoidentificar as fontes de contaminação por estes microorganismos e interações que possam ter algumsignificado biológico até então desconhecidos, tal como o papel dos metabólitos bacterianos no controlesobre os fungos aflatoxigênicos.

Palavras-chave: Castanha-do-pará. Bertholletia excelsa. Bactérias. Fungos. Aflatoxina.

* Farmacêutico-Bioquímico; Hospital da Universidade de Brasília. E-mail: [email protected].** Mestrando; Laboratório de Bioprospecção, Universidade de Brasília. E-mail: [email protected].*** Mestre; LACEN-Distrito Federal, Brasília. E-mail: [email protected].**** Mestre; Laboratório de Bioprospecção, Universidade de Brasília. E-mail: [email protected].**** Doutor em Ciências; Professor Titular de Microbiologia; Laboratório de Bioprospecção, Universidade de Brasília.

E-mail: [email protected].

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SOURCE OF MICROBIAL CONTAMINATION IN THE BRAZILIAN NUT (CASTANHA-DO-PARÁ)

ABSTRACT

The brazilian nut (Bertholletia excelsa) is an excellent source of nutrients, specially proteins andselenium, remarcably recognized as a noble export product. The sanitary requirements of theinternational trade community have imposed economic losses to extractivists, producers and jobbersof the brazilian nut. With special emphasis, for their tumorigenic effects, the aflatoxins, toxins producedmainly by Aspergillus flavus, have been these last years, intensely investigated in brazilian nuts, andthe detection of this toxin, has restricted the exportation of this product. Anyway, many procedureshave been applied to the control of fungic contamination of brazilian nuts products. Besides theresearch works carried out to evaluate brazilian nut products contamination, we also detected bacteriaof different families, allowing us to identify the sources of contamination by these microorganismsand microbial interactions of unknown significance at this moment, likewise the role played by bacterialmetabolites on the control of aflatoxigenic fungi.

Keywords: Brazilian Nut. Bertholletia Excelsa. Bacteria. Fungi. Aflatoxin.

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1 INTRODUÇÃO

As amêndoas da castanha-do-pará oucastanha-do-brasil (Bertholletia excelsa Humb. &Bonpl.: Lecythidaceae) além de seu valoreconômico, principalmente ao ser exportada, é ricafonte de nutrientes, em especial de proteínas, ácidosgraxos mono e poliinsaturados e selênio (LEMIREet al., 2010; PINTO RAMOS; BORA, 2005; STRUNZet al., 2008). A atividade extrativista envolvida naexploração econômica destas amêndoas temgerado inúmeros estudos científicos, sobremaneirarelacionados a socioeconomia e ecologia(FILOCREÃO, 2008; RIBEIRO et al., 2009). A variaçãodo preço deste produto, com e sem casca, nomercado internacional afeta principalmente osatravessadores, que compram das famíliasextrativistas na floresta a castanha e as exportampara auferirem lucros maiores.

A organização dos extrativistas emcooperativas para a exploração racional dacastanha tem, de certo modo, suavizado aexploração do homem da floresta que maiorsacrifício despende para coletar os ouriços, quebrá-los e obter grandes quantidades da amêndoa paracomercialização, sem antes, ter que atravessarigarapés, rios, cachoeiras e caminhar enormesdistâncias na floresta sob as mais adversascondições (KANZAKI, 2009; RIBEIRO et al., 2009).

Por outro lado, muito se discute em fórunsnacionais e internacionais a possível extinção doscastanhais (PERES et al., 2003), que na Amazônia,ultrapassando os limites da fronteira brasileira,

formam manchas em terras altas, e ao certo, ainda,não há estudos os quais possam realmente elucidaro passado da origem dos castanhais, embora muitose discuta o papel dos nativos ameríndios nadisseminação deste frondoso vegetal (ALMEIDA etal., 2009). No entanto, a realidade atual éinquietante, pois o homem em seu afã de enriquecere acumular bens vem desmatando a florestaamazônica em ritmo acelerado, comprovadamenteos castanhais não têm sido poupados. Portanto, deuma forma ou de outra, a Bertholletia excelsa, estáameaçada de extinção, pois todo o ecossistema emque se encontra vem sendo ameaçado: os roedoresque enterram os ouriços favorecendo a germinaçãoda semente, os insetos que polinizam as flores dacastanheira para geração do fruto, e os nutrientesque permitem seu extraordinário e monumentalporte, estão se tornando escassos (KANZAKI, 2009).

Por fim, normas de segurança alimentardeterminam as concentrações mínimas deaflatoxinas na amêndoa e outros produtos, paraque possam ser consumidas no mercado externoe por consequência no próprio País (DINIZ et al.,2009; MARKLINDER et al., 2005; MELLO; CUSSEL,2007; THUVANDER et al., 2001). Neste momentoentão, a demanda econômica impulsionoudiversos segmentos acadêmicos a esmiuçar todasas possíveis características que permeiam oextrativismo da castanha-do-pará. Em nossoenfoque, estudamos a microbiota bacteriana doouriço e da amêndoa com casca e sem casca,oriundos de castanheiras do estado do Amapá.

2 MICROBIOTA BACTERIANA DO OURIÇO E AMÊNDOAS DA CASTANHA-DO-PARÁ

A presença de microorganismos no ouriçoe amêndoas da castanha não necessariamenteindica que o produto seja impróprio para oconsumo. Micróbios são onipresentes e dentreestes, apenas pequena população está envolvida

em processos patogênicos, além do que, a relaçãodo parasita versus hospedeiro não é relaçãomatemática, e sim, depende do estado dohospedeiro, do ambiente e da carga microbianadentre múltiplos fatores.

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A castanha que chega ao mercadointernacional passa por verdadeira maratona,desde o momento da coleta dos ouriços, daamontoa na floresta, da lavagem nos igarapés,ao transporte por hidrovias e estradas de chão,até finalmente ser beneficiada, e de novo ganharas estradas e porões de navio e portosinternacionais. Portanto, o tempo passado desdea coleta ao consumo, sugere, verdadeira

competição entre os vários microorganismospresentes na castanha, como os que a seguirdescrevemos sem, no entanto, nos determos nosfungos os quais podem, também, estar presentes.

Conforme o Quadro 1, discriminamos asbactérias isoladas do ouriço, da amêndoa comcasca e sem casca (MARTINS JUNIOR et al.,2009).

Quadro 1 - Microorganismos isolados de ouriço e amêndoa com e sem casca da castanha-do-pará oriundas doestado do Amapá.

Fonte: MARTINS JUNIOR et al. (2009).

Apesar de que as bactérias encontradasno ouriço, Klebsiella pneumoniaie, Enterobactercloacae, Serratia marcescens são ubíquas nanatureza, também têm sido reportadas comoagentes patogênicos em doenças no homem eanimais, principalmente ao adquiriremresistência a antibióticos comumenteempregados na rotina terapêutica. Relativo aoEnterococcus durans e Kocuria varians, mesmaforma encontrados no ouriço, não sãoreportados na literatura como agentes

envolvidos em processos patológicos, quer sejado homem ou de animais, ao contrário, postula-se aqui neste trabalho que estesmicroorganismos estejam envolvidos noprocesso de maturação do ouriço e da própriacastanha (MARTINS JUNIOR et al., 2009).

As amêndoas com casca apresentarammicrobiota bacteriana distinta da encontrada noouriço, ainda que haja microorganismos comuns.Os organismos encontrados na amêndoa com

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casca, mas não no ouriço foram as bactériasLactococcus garviae, Moraxella spp.,Pseudomonas aeruginosa, Escherichia coli eCitrobacter koseri, dos quais apenas o Lactococcusgarviae não tem sido reportado como patógeno,contrariamente supõe-se que poderia estar,também, envolvido em processo de maturação daamêndoa, como aquele reportado em outrosprodutos (NAJJARI et al., 2008).

Outros microorganismos têm sido isoladosde processos patogênicos do homem enfermo eanimais, principalmente aqueles apresentandodebilidade do sistema imunológico e, quandomultirresistentes a antibióticos (MARTINS JUNIORet al., 2009).

Das amêndoas descascadas foram isoladosEnterococcus durans, Enterobacter cloacae,Serratia marcescens, Pseudomonas aeruginosa,Citrobacter koseri e Achromobacter spp., dasquais, apenas, o Enterococcus durans não estáreportado como patógeno no entanto,multirresistência a antibióticos foi detectada

nesta espécie em outro estudo, o que poderiafuturamente levar a ocorrência de surtosepidêmicos com cepas emergentes desta espécie,visto já ter sido isolada de carcaça de animaispara consumo (VIGNAROLI et al., 2011). Osoutros agentes têm sido relatados comopatogênicos tanto ao homem como aos animaisem condições já previamente descritas(ALMUZARA et al., 2010; MARTINS JUNIOR etal., 2009).

Apesar de que, nosso trabalho deu maisênfase sobre a microbiota bacteriana, éinteressante ressaltar que, também, isolamosAspergillus flavus, Aspergillus niger, Aspergillusspp. e Candida spp. dos quais o gêneroAspergillus tem representantes produtores deaflatoxinas, que dependendo de suaconcentração nas amêndoas, podem levar atranstornos digestivos e, por efeito cumulativo,a longo tempo desencadear processoscarcinogênicos tanto no homem como animais(DINIZ et al., 2009; MARTINS JUNIOR et al.,2009).

3 FONTES DE CONTAMINAÇÃO

Para que se possa compreender a riquezada microbiota da castanha faz-se necessárioconhecer a realidade da floresta amazônica, dasáreas dos castanhais. O clima, nestas áreas, ébastante úmido podendo atingir 80% de umidadee temperaturas de até 40oC e estação chuvosaabundante (SEGOVIA et al., 2011), condições estasas quais propiciam o cultivo natural de fungos ebactérias dentre outros organismos. Soma-se queos ouriços, ainda, nas árvores, são alvos de ataquede aves, roedores, prossímios e macacos, os quaispodem deixar inóculos microbianos de fezes,regurgitações, saliva e mesmo do solo com suaspatas, e também insetos, que contribuem para ariqueza da microbiota (ALMEIDA et al., 2009).

Os ouriços amadurecidos caem sob a açãodo vento e da chuva, aninhando-se entre afolhagem em decomposição no solo. A coletadestes não é imediata, pois durante esta épocamuitos se despencam, colocando em perigoqualquer vertebrado que esteja embaixo dascastanheiras. Desta forma, pelo menos entre 1 a2 meses os ouriços interagem com a rica biotada liteira, onde há pouca luminosidade (KANZAKIet al., 2009).

Após a coleta dos ouriços, estes são deinício amontoados para depois, então, seremquebrados e as castanhas removidas, juntadase posteriormente acondicionadas em sacos ou

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cestas de vegetais secos. Em geral os castanhaisestão distantes dos centros de beneficiamento,muitas das vezes, o caboclo atravessa enormesdistâncias a pé, seguindo o caminho em cursosd’água, em canoas a remo ou motorizada e,finalmente, chegam às estradas empoeiradas.Durante todo o trajeto as amêndoas sãoexpostas aos mais variados inóculos, agravando-se, ainda mais, ao serem lavadas as castanhas e

ensacadas molhadas (KANZAKI et al., 2009;RIBEIRO et al., 2009).

As instalações físicas onde sãobeneficiadas as castanhas estão nos recônditosda floresta, portanto, ainda, não se pode esperartratamento de primeiro mundo ao produto quedeverão alcançar os mercados da Europa, Ásia eAmérica do Norte.

Embora o ouriço pareça serhermeticamente encerrado protegendo asamêndoas, na realidade possui comunicaçõescom seu interior, podendo-se dizer que a ricapolpa branca comestível da castanha respira. Oque na verdade postula-se é quemicroorganismos já anteriormente citados,possam metabolizar o rico substrato da amêndoa,liberando metabólitos secundários envolvidos noamadurecimento, não só da amêndoa, como dofruto como um todo, envolvendo desde o ouriço,contribuindo, também, ao seu amadurecimento.

3.1 ANATOMIA DA CASTANHA E A CONTAMINAÇÃO

Este fato pode ser corroborado ao seencontrar, ainda, os ouriços verdes na árvore,distinto daqueles amadurecidos, no solo dafloresta, apresentando seu tecido já bastanteenrijecido. Ao vermos as castanhas, que parecemhermeticamente isoladas, no entanto, nossotrabalho demonstra que há passagem do inóculomicrobiano para o interior delas. Tomando emconta o descrito sobre a coleta e transporte dacastanha até os locais de beneficiamento, é muitofácil compreender a presença de microorganimospatogênicos na amêndoa (KANZAKI et al., 2009).

3.2 FORMAS DE CONTROLE DA CONTAMINAÇÃO MICROBIANA

Obviamente é possível reduzir a cargamicrobiana da castanha, mas não eliminá-latotalmente visto que o processo de coleta etransporte compõe a cultura do cabocloamazônida. A lavagem nos igarapés tem porobjetivo selecionar aquelas de boa qualidade,visto que as castanhas estragadas ou como sediz no linguajar amazônida, as “chochas”, sãomais leves e flutuam na água, facilitando suaseparação das boas, que são mais densas epesadas. Práticas podem ser exercitadas como:a secagem das amêndoas, a não lavagem emnatureza, diminuir o tempo em que elas sãoamontoadas na floresta e, melhoria nostransportes tanto nas hidrovias como rodovias.

Os locais de beneficiamento, também, podem sermelhorados quanto às condições de higiene emodernização dos aparelhos de processamentoda castanha.

Apesar das cooperativas de extrativismona Amazônia terem dado forte impulso aodesenvolvimento socioeconômico local,protegendo o amazônida coletor, orientando-o,instruindo-o e fazendo-o conhecer seus direitose, também, deveres. Isto ainda é insuficiente, parasuperar todos os problemas que cercam aatividade extrativista, em particular da castanha.Possivelmente, a maior participação dasentidades governamentais, incluindo o Instituto

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Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosNaturais (IBAMA), Instituições Federais de Ensino,Secretarias de Ciência e Tecnologia, Embrapa eOrganizações Não Governamentais (ONGs) compropósitos sérios, poderiam colaborardecisivamente na melhoria das condições tantodas atividades inerentes do extrativismo dacastanha, como também no manejo econservação dos castanhais como proposto(ALMEIDA et al., 2009).

Por outro lado, o tempo, que os ouriços eposteriormente as castanhas já amontoadosaguardam para serem quebrados, poderia serbastante reduzido, mas para que essas açõessejam modificadas, torna-se necessária ainteração de órgãos governamentaisespecializados na orientação do extrativista.Prévio ao transporte da castanha, a secagempoderia ocorrer na própria floresta, apesar de quea umidade é alta e o alcance dos raios solares édificultado pela densidade da mata. Desta forma,poderiam ser utilizados secadores movidos a

fontes alternativas de energia, gerado pelospróprios resíduos do beneficiamento da castanhacomo cascas e ouriços, como vem sendo discutidoem atual projeto coordenado pela Embrapa/Acre(comunicação pessoal).

O transporte da castanha nas hidroviaspoderia ser melhorado, utilizando-se sacosimpermeáveis para impedir que os carregamentosfiquem molhados. Quanto às rodovias por ondese transportam as castanhas temos comoexemplo, a que comunica Macapá a Laranjal doJari, a qual no mapa está asfaltada há muitosanos, mas na realidade se sabe que jamais estasestradas de chão, bastante acidentadas eenlameadas na época das chuvas, tiveram o gostode conhecer o sabor do piche e asfalto, portantoa seriedade na execução de obras públicas emmuito contribuiria para minimizar os problemasenfrentados, particularmente, pelos castanheiros,embora se saiba que a corrupção no Brasil éendêmica e de tempos em tempos atingeproporções epidêmicas.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O semeio de lavados de ouriço e dasamêndoas, com e sem casca, da castanha-do-pará, em nutrientes que favoreceram ocrescimento e colonização de microroganismospresentes nas estruturas supracitadas, associadaàs informações e observações in loco, nafloresta, nas vias de transporte da castanha, emigarapés e estradas de chão, permitiu elencaras distintas fontes de contaminação do produtosob enfoque, como antes amplamente discutido,assim como recomendações de melhorgerenciamento na coleta dos ouriços na floresta,obtenção das amêndoas após a quebra doouriço e transporte, de forma a minimizar osfatores bióticos e abióticos envolvidos nacontaminação da castanha.

Nossas investigações atuais, embasadasnos microorganismos isolados e extensão dapesquisa a outras áreas de castanhais da regiãoamazônica, breve nos esclarecerá acerca dasinterações biológicas entre os diferentesmicroorganismos que colonizam o ouriço e aamêndoa em atividades sinérgicas ou inibitóriascom reflexos na produção de aflatoxina porfungos contaminantes.

Em vista do exposto, concluímos que aexportação da castanha-do-pará ou castanha-do-brasil in natura é enorme desperdício para oextrativista, além do que a comunidadecientífica internacional tem relatado episódiosalérgicos na Europa pelo consumo da castanha

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(GUO et al., 2007; MORENO; CLEMENTE, 2008),e recentemente reportaram a associação dodesenvolvimento de diabete tipo 2 à altaingestão de selênio (STRANGES et al., 2010),embora na Amazônia, estes efeitos não tenhamsido documentados, ao contrário, postula-se oefeito protetor do selênio frente a intoxicaçãopelo mercúrio utilizado na mineração do ouro(MELNICK et al., 2010). Os trabalhos deinvestigação científica, atualmente, emexecução mostram que agregar valor aosderivados da castanha é muitíssimo maisrentáveis que comercializá-la in natura. Daamêndoa se extrai o óleo, riquíssima fonte denutrientes, além de aplicações medicinais ecosméticas, podendo ser comercializado comonutracêutico. Do bagaço obtido após a extraçãodo óleo há muitos produtos que podem sergerados, como farinhas de alto teor protéico,biscoitos, recheios de doce, e para muitos outrosfins culinários. Todos estes derivados são mais

facilmente manipulados quanto a mantê-losisentos de microorganismos, pelo próprioprocesso de elaboração.

Estudos recentes em que participamosconjuntamente com a Embrapa e InstituiçõesFederais de Ensino, têm-se buscado aproveitaros resíduos do processamento da castanha,como ouriços e cascas, na produção de carvãovegetal.

É proposta nossa, também, produzirsubstratos das cascas para preparo de meio decultivo para microorganismos comumenteisolados da castanha.

Há muitas propostas de caráterbiotecnológico que se exitosas, poderiam abrirum leque de opções econômicas ao amazônida,permitindo a sustentabilidade em pleno exercíciono coração da floresta.

AGRADECIMENTOS

Ao Banco da Amazônia por financiar arealização de nossos estudos e pesquisas sobreo tema da castanha. Dedicamos ao grandecientista paraense Samuel Almeida, que nos

deixou, e ao Prof. Carlos Ernani Alexandre da Silvao qual juntamente com sua companheira Profa.Safira Paixão deram os primeiros passos para arealização deste projeto.

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GERMINAÇÃO E EMERGÊNCIA DE MILHO HÍBRIDO SOB DOSES DE ESTERCO BOVINO

Jhansley Ferreira da Mata*

Joseanny Cardoso da Silva Pereira**

Jaíza Francisca Ribeiro Chagas***

Leciany Márcia Vieira****

RESUMO

Objetiva verificar a influência de níveis de adubação de esterco bovino sobre a germinação eemergência de plantas de milho. Utilizou-se o milho híbrido simples DAS655. O delineamentoexperimental empregado foi em blocos casualizados, com seis repetições e oito tratamentos (0, 10,20, 30, 40, 50, 60 t.ha-1 de adubo orgânico e uma adubação química). As doses acima de 20 t ha-1

favoreceram um melhor desenvolvimento inicial da plântula. Há correlação positiva entre germinaçãoe velocidade de emergência conforme as doses aplicadas. As doses menores resultaram em umamenor germinação e consequentemente uma baixa velocidade de emergência. A adubação orgânicaacima de 30 t ha-1 e química foi a que obteve melhor resposta para o crescimento da planta. As dosesde adubação orgânica maiores que 30 t ha-1 podem ser viáveis para a substituição da adubaçãoquímica.

Palavras-chave: Adubo Orgânico. Crescimento de plantas. Velocidade de Emergência. Zea mays L.

* Engenheiro Agrônomo; MSc; Professor da UEMG - Frutal. E-mail: [email protected].** Engenheira Agrônoma; Doutoranda em Agronomia - UFG. E-mail: [email protected].*** Engenheira Agrônoma; MSc. em Produção Vegetal - UFT. E-mail: [email protected].**** Engenheira Agrônoma; Mestranda em Produção Vegetal - UFT. E-mail: [email protected].

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GERMINATION AND EMERGENCE OF HYBRID CORN UNDER DOSE CATTLE MANURE

ABSTRACT

It was aimed at to verify the influence of levels of manuring of bovine manure on the germinationand emergency of corn plants. The simple hybrid corn was used DAS655. The employed experimentaldelineamento was in blocks casualizados, with six repetitions and eight treatments (0, 10, 20, 30, 40,50, 60 t ha-1 of organic fertilizer and a chemical manuring). The doses above 20 t ha-1 favored a betterinitial development of the plantule. There is positive correlation between germination and speed of inaccordance emergency the applied doses. The smaller doses resulted in a smaller germination andconsequently a low emergency speed. The organic manuring above 30 t ha-1 and chemistry is advisablefor the growth of the plant. The larger doses of organic manuring than 30 t ha-1 they can be viable forthe substitution of the chemical manuring.

Keywords: Organic Fertilizer. Plants Growth. Emergency Speed. Zea mays L.

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1 INTRODUÇÃO

O milho (Zea mays) é uma cultura anualque tem sido muito utilizada como subsistênciano Brasil. Atualmente o País é um dos maioresprodutores deste grão no mundo, o qual éproduzido em grande escala, embora a produçãonão seja suficiente para atender a demanda domercado interno.

Na Região Norte o cultivo do milho temaumentado com o passar dos anos (IBGE, 2010).No entanto, a baixa produtividade está ligadaprincipalmente às variações climáticas, situaçãotípica do estado do Tocantins, onde muitos fatoresafetam o desenvolvimento do milho, como aadubação nitrogenada, espaçamento, variedadee temperatura. A associação adequada destesfatores pode proporcionar rendimentosfavoráveis à cultura.

O desenvolvimento vegetativo inicial domilho compreende na semeadura, germinação eemergência. O uso de sementes de alto vigor epercentual de emergência, plantada comdensidade e profundidade adequada, resultaráem um alto estande de plântulas.

A germinação das sementes é compostapor uma série de eventos morfológicos queresulta na transformação do embrião em umaplântula. A qualidade delas implica em umamelhor produção e qualidade das plantas.

O efeito do nível de nitrogênio no solo,também, é um fator relevante para a cultura domilho, pois para obter altas produtividadesprecisa-se otimizar as condições dedesenvolvimento das plantas, controlando osfatores limitantes, como o conteúdo de água(MASCARENHAS, 2008).

As recomendações de adubaçãoenfatizam o efeito sobre a produtividade, nãocorrelacionando com a qualidade das sementes(TOLEDO; MARCOS FILHO, 1977). Entretanto, aprodução e qualidade das sementes sãoinfluenciadas pela disponibilidade de nutrientesdo solo, por afetar a formação do embrião edos órgãos de reserva, assim como acomposição química e, consequentemente, ometabolismo e o vigor. (CARVALHO;NAKAGAWA, 2000).

O esterco bovino é um dos resíduosorgânicos com maior potencial de uso comofertilizante, principalmente por pequenosagricultores. Porém, pouco se conhece arespeito das quantidades a se empregar, quepermitam a obtenção de rendimentossatisfatórios na produção e melhoria naqualidade das sementes (ALVES et al., 2005),já que vários fatores afetam a qualidadefisiológica das sementes, dentre eles, o manejoda adubação.

O manejo eficiente de estercos e deresíduos orgânicos para a adubação de cultivosagrícolas requer o conhecimento de dinâmica demineralização de nutrientes, visando otimizar asincronização da disponibilidade de nutrientes nosolo com a demanda pelas culturas, evitando aimobilização ou a rápida mineralização denutrientes durante os períodos de alta ou baixademanda (HANDAYANTO et al., 1997; MYERS etal., 1994).

Diante disso, objetivou-se com estetrabalho verificar a influência de diferentes níveisda adubação de esterco bovino sobre agerminação e emergência na cultura do milho.

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Fonte: INMET/UFT.

O experimento foi instalado em 6 de marçode 2009, com o plantio de milho híbrido simplesDAS655, sobre um Latossolo Vermelho distrófico,com as seguintes características: pH CaCl2: 5,0;Ca: 2,5 cmolc dm-3; Mg: 0,7 cmolc dm-3; Al: 0,0cmolc dm-3; Al+H: 3,3 cmolc dm-3; P (mmolc /L):32,5 mg dm-3; P (resina): 41,0 mg dm-3; K: 85,0mg dm-3; Cu: 0,7 mg dm-3; Zn: 5,8 mg dm-3; Fe:490,0 mg dm-3; Mn: 44,6 mg dm-3; CTC: 6,72 cmolcdm-3; V: 50,96 %; M.O: 0,9 %.

O delineamento experimental utilizado foiem blocos casualizados (DBC), com seisrepetições. Cada um deles composto por oitotratamentos, sendo os seguintes níveis deadubação: 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60 t/ha-1 de aduboorgânico (esterco bovino curtido) com asseguintes características: pH (CaCl2) - 6,9; Matéria

Orgânica – 7,3% ; Cálcio – 4,0 cmolc dm-3;Magnésio – 2,3 cmolc dm-3; Alumínio – 0,0 cmolcdm-3; Hidrogênio + Alumínio – 0,4 cmolc dm-3;Potássio – 103,1 mg L-1; Fósforo – 683,0 mg L-1,Sódio – 33,8 mg L-1 e adubação química com 500kg ha-1 de 4-14-8 + Zn. O tratamento foicomposto por uma linha de dois metros com dezsementes por metro linear e espaçamento entretratamentos de um metro.

Para análise de germinação e velocidade decrescimento, foi avaliado diariamente, do quartoao décimo Dia Após o Plantio (DAP), o número deplantas emergidas e altura de delas por parcela.

Os dados foram submetidos à análise devariância pelo teste T e as médias das característicasavaliadas submetidas à análise de regressão. Os

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido no campoexperimental da Universidade Federal doTocantins (UFT) – Campus Universitário deGurupi, região sudeste do Tocantins, em um clima

úmido com moderada deficiência hídrica,segundo Köppen, com temperatura média anualde 29,5º C e precipitação média anual de 1.804mm como mostrado Gráfico 1.

Gráfico 1 - Precipitação média dos meses de março a maio de 2009 no Campus Universitário deGurupi, região sudoeste do Tocantins.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Conforme descrito nas Tabelas 1 e 2 deajustes de equações, os níveis de significância dosvalores de F, relativos aos parâmetros associadosàs variáveis para a cultura do milho aos dias apóso plantio, foram significativos (0,05 > p < 0,001)nas diferentes doses de adubação orgânica e paraa adubação química, mostrando o efeito nassementes e plântulas de milho. Os valores doscoeficientes de determinação (R2) indicam, nageneralidade das adubações, uma boa capacidadede estimação da variação dos parâmetros dasequações estimadas, relativamente em cada umadas doses da adubação orgânica e química.Atendendo à probabilidade do teste F, todas asequações podem ser usadas para estimar osparâmetros analisados.

O número de plantas emergidas de milhoem função dos dias após o plantio evidenciouuma resposta polinomial de segundo grau, paraas diferentes doses de adubação aplicada,sendo, significativo (0,05 > p 0,001) e comcoeficientes de determinação (R2 > 0,97)(Gráfico 2).

Comparando as doses aplicadasinicialmente observa-se que, os maiores númerosde plantas emergidas foram obtidos com autilização das doses de 30, 40, 50 e 60 t ha-1. Jáaos 8 DAE os maiores números de plantasemergidas observados nas doses a partir de 20 tha-1 e química (Gráfico 2).

ajustes dos modelos foram realizados com base nasua significância e o coeficiente de determinação(R2), com base nas recomendações de Venegas e

Alvarez (2003). A análise dos resultados foisubmetida à análise regressão utilizando oprograma estatístico Microcal Origin 6.1.

Gráfico 2 - Germinação diária de milho híbrido sob níveis de adubação orgânica e química.

Fonte: dados da pesquisa.

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Observando o Gráfico 2, as doses 0, 10, 20t ha-1 e adubação química apresentaram,inicialmente, menor número de plantasemergidas. No entanto, ao se estabelecer àemergência, os tratamentos de 20 t ha-1 e químicoobtiveram número de plantas adequado, não sediferenciando dos demais tratamentos. Já comrelação às doses 0 e 10 t ha-1, verifica-se menoresemergência entre os tratamentos aos 8 DAE.Segundo Larson (1964), a baixa compressão dosolo ao redor das sementes que não recebemadubação orgânica, interfere na germinação e no

desenvolvimento inicial do milho, em virtude dareduzida taxa de transmissão de água enutrientes pela interface solo/semente/raiz.

Os coeficientes lineares (b1) das equaçõesajustadas na Tabela 1 indicam que a variação deum dia no ciclo de desenvolvimento da culturapromove um aumento no número de plântulasde milho emergidas de 9,53; 8,56; 6,79; 4,24;3,69; 3,92; 2,84; 14,89 para as doses de 0, 10,20, 30, 40, 50, 60 t ha-1 e química,respectivamente.

Tabela 1 - Equações de regressão e respectivos coeficientes de determinação, ajustadas a Número de Plantade milho emergidas em função do tempo de crescimento, quando adubadas em diferentes níveis deadubação orgânica (0, 10, 20, 30, 40, 50 e 60 t ha-1) e adubação química 500 t ha-1 de 4-14-8 + Zn(Testemunha). Gurupi-TO, safra 2009/2010.

*(0,05 > p 0,01) significativo; **(0,01 > p 0,001) muito significativo.Fonte: dados da pesquisa.

No número de plântulas emergidasverifica-se que as menores doses de adubaçãoorgânica e a mineral apresentaram maioresincrementos, isto se deve ao atraso inicial naemergência das plântulas observando-se nointercepto (b0) menores valores (Tabela 1),provavelmente está relacionado ao período debaixa precipitação após a semeadura, poismaiores doses de adubação orgânica teriam

condições de reter maior quantidade de água,favorecendo, assim, um maior número de plantasemergidas, o que, todavia, não ocorreu.

A água é o fator que mais influencia oprocesso de germinação, sendo que, quando assementes são embebidas, ocorre a reidrataçãodos tecidos e, consequentemente, a intensificaçãoda respiração e de todas as outras atividades

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metabólicas, que resultam com o fornecimentode energia e nutrientes necessários para aretomada de crescimento por parte do eixoembrionário (INSTITUTO DE PESQUISAS EESTUDOS FLORESTAIS, 1998), tendo assim,condições adequadas para a germinação dasemente e emergência da plântula.

A altura de plantas de milho em função daadubação evidenciou uma resposta linearcrescente com correlação positiva, sendo, muitoaltamente significativo (p < 0,001), constatadopela semelhança do coeficiente de regressão deambas as equações, com elevados coeficientesde determinação (R2) (Gráfico 3 e Tabela 2).

Inicialmente a resposta das plantas àadubação mineral mostrou os menores valores,porém aos 11 DAP observou-se um maiorincremento (2,4 cm dia-1), apresentando maioraltura quando comparado aos demaistratamentos. Isso pode ser explicado pelo estressehídrico dias após o plantio (Gráfico 1), o quedesfavoreceu a solubilidade do adubo, deixando-o indisponível para a planta, resultando assimem um menor crescimento inicial, corroborandocom Gonçalves Júnior et al. (2010), que ao avaliardiferentes doses de adubação química em plantade soja verificaram que os nutrientes,possivelmente, estavam indisponibilizados paraestas pela falta de umidade no solo.

Gráfico 3 - Altura diária de plantas de milho híbrido sob níveis de adubação orgânica e química.

Fonte: dados da pesquisa.

Após a precipitação, o adubo foidisponibilizado às plantas, que por sua vezaumentaram o incremento de crescimento,constatando-se, assim, maiores alturas quandocomparadas com as aquelas crescidas comesterco. Segundo Lira et al. (1989) a adubaçãoorgânica no sulco de plantio favorece um

crescimento inicial de plantas mais acelerado,reduzindo a suscetibilidade ao estresse hídrico,dada à capacidade que o adubo tem dearmazenar e manter água no solo.

No Gráfico 3, a partir dos 8 DAEobservaram-se menores alturas de plantas de

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milho nas menores dosagens de adubaçãoorgânica (0, 10 e 20 t ha-1). Já para os demaistratamentos notaram-se maiores valores esemelhança com a adubação química.Resultados semelhantes aos encontrados porFreitas e Sousa (2009), que observarammenores alturas de plantas de sorgo nasmenores doses de adubação orgânica.

Os coeficientes lineares (b1) das equaçõesajustadas indicam que na variação de um dia nociclo de desenvolvimento da cultura tem-se umacréscimo na altura de planta de milho de 1,74;1,85; 1,89; 2,08; 2,09; 2,09; 2,21 e 2,40 cm paraas doses de 0, 10, 20, 30, 40, 50, 60 t ha-1 e química,respectivamente (Tabela 2). As maiores doses deadubação orgânica e a mineral apresentarammaiores incrementos no crescimento da planta.

Tabela 2 - Equações de regressão e respectivos coeficientes de determinação, ajustadas a Altura da planta demilho em função do tempo de crescimento, quando adubadas em diferentes níveis de adubaçãoorgânica (0, 10, 20, 30, 40, 50 e 60 t ha-1) e adubação química 500 t ha-1 de 4-14-8 + Zn (Testemunha).Gurupi-TO, safra 2009/2010.

Fonte: dados da pesquisa.Nota: ***(p < 0,001) muito altamente significativo.

Analisando a emergência com a velocidadede crescimento inicial de plântula, nota-se queocorreu uma correlação positiva entre os

tratamentos, de forma que as doses 0, 10 e 20 t ha-

1 apresentaram menores alturas de plantas emdecorrência do atraso da emergência das plântulas.

4 CONCLUSÃO

As doses acima de 20 t ha-1 e químicacontribuíram para um maior número de plantasde milho emergidas.

Há correlação positiva entre emergência evelocidade de crescimento inicial das plântulasde acordo com as doses aplicadas; as doses

menores resultaram em uma menor germinaçãoe consequentemente uma baixa velocidade deemergência.

A adubação orgânica acima de 30 t ha-1

foi a que obteve melhor resposta para ocrescimento da planta.

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PRODUTIVIDADE DE FORRAGEM E CARACTERÍSTICAS MORFOGÊNICAS E ESTRUTURAISDE Axonopus aureus NOS CERRADOS DE RORAIMA

Newton de Lucena Costa*

Vicente Gianluppi**

Anibal de Moraes***

Amaury Burlamaqui Bendahan****

RESUMO

O efeito da idade de rebrota (21, 28, 35, 42, 49, 56, 63 e 70 dias) sobre a produção de forrageme características morfogênicas e estruturais de Axonopus aureus, durante o período chuvoso, foi avaliadoem condições de campo. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado com três repetições.As avaliações foram realizadas no período de junho a setembro de 2009. O aumento da idade derebrota resultou em maiores rendimentos de forragem, taxa absoluta de crescimento, número deperfilhos/planta, número de folhas/perfilho, tamanho médio de folhas, área foliar e taxas de expansãoe senescência foliar. As relações entre idades de rebrota e o rendimento de matéria seca (MS) e a taxaabsoluta de crescimento da gramínea foram ajustadas ao modelo quadrático de regressão, sendo osmáximos valores registrados aos 63,9 e 48,7 dias de rebrota, respectivamente. As taxas de crescimentoda cultura, taxa de crescimento relativo, taxas de aparecimento de perfilhos e de folhas foraminversamente proporcionais às idades das plantas. Visando conciliar produtividade de forragem coma maximização das características morfogênicas e estruturais da gramínea, o período de utilizaçãomais adequado de suas pastagens situa-se entre 49 e 56 dias de rebrota.

Palavras-chave: Planta-Idade. Planta-Folha. Matéria Seca. Perfilhamento. Taxa de Crescimento.

* Engenheiro Agrônomo; M.Sc., Embrapa Roraima; Doutorando em Agronomia/Produção Vegetal (UFPR).E:mail: [email protected].

** Engenheiro Agrônomo; M.Sc., Embrapa Roraima. E-mail: [email protected].*** Engenheiro Agrônomo; D.Sc., Professor Associado II, UFPR. E-mail: [email protected].**** Engenheiro Agrônomo; M.Sc., Embrapa Roraima. E-mail: [email protected].

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FORAGE YIELD AND MORPHOGENETICS AND STRUCTURAL CHARACTERISTICS OFAxonopus aureus IN RORAIMAS´S SAVANNAS

ABSTRACT

The effects of cutting plant age (21, 28, 35, 42, 49, 56, 63 and 70 days) on dry matter (DM) yield,and morphogenetic and structural characteristics of Axonopus aureus, during rainy season, wereevaluated under natural field conditions. The experimental design was a completely randomized, withthree replications. Evaluations were carried out during the period of June to September of 2009. A DMyield, absolute growth rate (AGR), number of tillers/plant, number of leafs/plant, leaf area, leafsenescence and elongation rates and blade length increased consistently with growth stage. Therelations between DM yield and AGR with cutting plants age were described by the quadratic regressionmodel. The maximum DM yield and forage production rate performance were estimated at 63.9 and48.7 days of regrowth. The crop growth and relative growth rates, tiller and leaf appearance rateswere inversely proportional to cutting plant age. These data suggest that cutting at 49 to 56 days wereoptimal for obtain maximum dry matter yields and improved the grass morphogenetic and structuralcharacteristics.

Keywords: Dry Matter. Leaves. Plant Age. Plant Growth Rates. Tillering.

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1 INTRODUÇÃO

Nos cerrados de Roraima, as pastagensnativas representam a fonte mais econômica paraalimentação dos rebanhos. No entanto, face àsoscilações climáticas, a produção de forragemdurante o ano apresenta flutuações estacionais,ou seja, abundância no período chuvoso (maio asetembro) e déficit no período seco (outubro aabril), o que afeta negativamente os índices deprodutividade animal (GIANLUPPI et al., 2001;COSTA, 2004). Dentre as diversas gramíneasforrageiras que compõem as pastagens nativasdos cerrados de Roraima, Axonopus aureus é umadas mais importantes, constituindo 30 a 40% dasua composição botânica. A gramínea apresentaciclo perene, hábito de crescimento cespitoso,plantas com 40 a 60 cm de altura e folhaslevemente pilosas. No entanto, são inexistentesas pesquisas sobre as suas característicasmorfogênicas e estruturais, visando à proposiçãode práticas de manejo mais sustentáveis.

O estádio de crescimento em que a plantaé colhida afeta de forma direta o rendimento, acomposição química, a capacidade de rebrota ea sua persistência. Em geral, pastejos menosfrequentes fornecem maiores produções deforragem, porém, concomitantemente, ocorremdecréscimos acentuados em sua composiçãoquímica, reduções na relação folha/colmo e, emconsequência, menor consumo pelos animais(CARDOSO et al., 2003; COSTA et al., 2009).

A morfogênese de uma gramínea duranteseu crescimento vegetativo pode ser descrita portrês variáveis: a taxa de aparecimento, a taxa dealongamento e a duração de vida das folhas, as

quais, apesar de sua natureza genética, sãofortemente influenciadas pelas condiçõesambientais (temperatura, luz, água e fertilidadedo solo) e práticas de manejo. As interações entreestas variáveis determinam as característicasestruturais: número de folhas vivas/perfilho (NFV),tamanho final de folhas (TFF) e densidade deperfilhos, as quais irão determinar o índice deárea foliar (IAF), ou seja, o aparato utilizado paraa interceptação da radiação solar pelo dossel dapastagem. O NFV é decorrente da taxa deaparecimento e a duração de vida das folhas,sendo determinado geneticamente, enquanto quea taxa de alongamento foliar condiciona o TFF(CHAPMAN; LEMAIRE, 1993).

Em condições de baixa disponibilidade deágua no solo, o TFF, a DVF e o perfilhamento sãoas variáveis mais afetadas, enquanto que a TAFseria a última a ser penalizada, considerando-se a sua importância para a fotossíntese, pontoinicial para a formação de novos tecidos(LEMAIRE, 2001). O conhecimento dascaracterísticas morfogênicas e estruturaisproporciona uma visualização da curvaestacional de produção de forragem e umaestimativa de sua qualidade (GOMIDE, 1994),além de permitir a proposição de práticas demanejo específicas para cada gramíneaforrageira (LEMAIRE, 2001).

Neste trabalho foram avaliados os efeitosda idade de rebrota sobre a produção de forrageme características morfogênicas e estruturais deAxonopus aureus, durante o período chuvoso, noscerrados de Roraima.

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2 MATERIAL E MÉTODOS

O ensaio foi conduzido no CampoExperimental da Embrapa Roraima, localizadoem Boa Vista (95 m de altitude, 60o43’ delongitude oeste e 2o45’ de latitude norte),durante o período de junho a setembro de2009. O clima da região, segundo aclassificação de Köppen, é Awi, caracterizado

O solo da área experimental é um LatossoloAmarelo, textura média, com as seguintescaracterísticas químicas, na profundidade de 0-20 cm: pHH2O= 4,8; P = 1,8 mg/kg; Ca + Mg =0,90 cmolc.dm-3; K = 0,01 cmolc.dm-3 ; Al = 0,61cmolcdm-3; H+Al = 2,64 cmolc.dm-3; SB = 0,91cmolc.dm-3; CTCt = 3,55 cmolc.dm-3 e V(%) = 25,6.A área experimental consistiu de uma pastagemnativa de A. aureus, a qual não foi submetida aprática de manejo. O delineamento experimentalfoi inteiramente casualizado com três repetições,sendo os tratamentos constituídos por oito idadesde corte (21, 28, 35, 42, 49, 56, 63 e 70 dias apóso rebaixamento da pastagem a 10 cm de alturado solo). O tamanho das parcelas de 2,0 x 2,0 m,sendo a área útil de 1,0 m2.

Os parâmetros avaliados foram rendimentode matéria seca (MS), taxa absoluta decrescimento (TAC), taxa de aparecimento de

por períodos seco e chuvoso bem definido. Aprecipitação anual é de 1.600 mm, no entanto,80% ocorrem no período chuvoso. Os dadosde precipitação e temperatura, durante operíodo experimental, foram coletados atravésde pluviômetro e termômetro instalados naárea experimental (Tabela 1).

perfilhos (TAP), taxa de crescimento da cultura(TCC), taxa de crescimento relativo (TCR), númerode perfilhos/planta (NPP), número de folhas/perfilho (NFP), taxa de aparecimento de folhas(TAF), taxa de expansão foliar (TEF), taxa desenescência foliar (TSF), tamanho médio de folhas(TMF) e área foliar/perfilho (AF). Com exceçãodos rendimentos de MS que foram determinadosem toda a área útil da parcela, para as demaisvariáveis as avaliações foram realizadas emquatro touceiras/parcela, selecionadas em funçãode suas alturas (30 ± 5,5 cm) e diâmetros (14 ±3,5 cm), de modo a representar a variabilidadeda população de plantas em cada parcela. Paradeterminação das características morfogênicase estruturais foram marcados quatro perfilhos/touceira, utilizando-se fios coloridos. Asavaliações realizadas a intervalos de três dias,

Tabela 1 - Precipitação e temperaturas mínimas, máximas e médias registradas durante o período experimental.Boa Vista, Roraima. (jun./set. 2009).

Fonte: Estação Meteorológica da Embrapa Roraima, Boa Vista, Roraima.

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quando se computava o aparecimento, oalongamento e a senescência de folhas.

A TAC e a TAP foram obtidas dividindo-seo rendimento de MS e o número de perfilhos pelorespectivo período de rebrota. A TCC foi estimadapela fórmula: TCC = P2 – P1/T2 - T1; onde P1 eP2 representam a produtividade de MS de duasamostragens sucessivas (kg de MS/ha) e, T1 e T2o intervalo de tempo, em dias, transcorrido entrea obtenção das amostragens. A TCR obtida pelouso da expressão: TCR = LnP2 - LnP1/T2 - T1;onde LnP1 e LnP2 são os valores de logaritmosda MS de duas amostragens sucessivas e, T1 eT2 o intervalo de tempo em dias, transcorridoentre as amostragens.

A TEF e a TAF foram calculadas dividindo-se o comprimento acumulado de folhas e onúmero total de folhas no perfilho,respectivamente, pelo período de rebrota. O TMFdeterminado pela divisão do alongamento foliartotal do perfilho pelo seu número de folhas. Parao cálculo da AF utilizou-se a fórmula da área dotriângulo (altura x base/2) e, para tanto foramanotados o comprimento e a largura de todasas folhas dos perfilhos das touceiras amostrados.

A TSF foi obtida dividindo-se o comprimentodestas que se apresentavam de coloraçãoamarelada ou necrosada pela idade de rebrotaao corte.

O filocrono, intervalo de tempo térmicopara o aparecimento de duas folhas sucessivas,foi determinado como o inverso do coeficienteangular da regressão entre o número de folhase a soma térmica (graus.dia – GD) observadadurante o período experimental (70 dias). Parao cálculo do acúmulo de GD foi considerada atemperatura mínima basal da planta de 10ºC,utilizando-se a fórmula: GD = (TM – Tm / 2) +(Tm – Tb), onde, TM = temperatura máxima doar (ºC); Tm = temperatura mínima do ar (ºC) e,Tb = temperatura mínima basal da planta(10ºC).

Os dados foram submetidos à análise devariância e regressão considerando o nível designificância de 5% de probabilidade. Para seestimar a resposta dos parâmetros avaliados àsidades de rebrota, a escolha dos modelos deregressão baseou-se na significância doscoeficientes linear e quadrático, por meio do teste“t”, de Student, ao nível de 5% de probabilidade.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os rendimentos de MS e as TAC foramsignificativos (P=0,0382) incrementados coma idade de rebrota, sendo as relaçõesquadráticas e os valores máximos estimadosaos 63,9 e 48,7 dias, respectivamente (Gráficos1 e 2). Os valores registrados, neste trabalho,foram superiores aos relatados por Mochiuttiet al. (1997, 1999), avaliando a disponibilidadede forragem de A. aureus, durante o período

seco, em pastagens nativas dos cerrados doAmapá (113 e 135 kg/ha de MS,respectivamente, para pastagens roçadas ouqueimadas anualmente), contudo inferiores aosreportados por Costa et al. (2009), para A.aureus, durante o período chuvoso, submetidoa diferentes níveis de desfolhação (689; 889 e933 kg de MS/ha, respectivamente para cortesa 10, 15 e 20 cm acima do solo).

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Fonte: dados da pesquisa.

Gráfico 2 - Taxa absoluta de crescimento e taxa de crescimento da cultura de Axonopus aureus, em função daidade de rebrota.

Gráfico 1 - Rendimento de matéria seca de Axonopus aureus, em função da idade de rebrota.

Fonte: dados da pesquisa.

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Os efeitos da idade de rebrota sobre a TCC ea TCR foram ajustados ao modelo exponencial(Gráficos 2 e 3). Os maiores valores foramregistrados no período entre 28 e 35 dias de rebrota,os quais foram superiores aos reportados por Tejos(2002) para pastagens de A. aureus submetidas auma queima anualmente (12,25 kg/ha/dia e 0,0451g.g/dia). As altas taxas de crescimento, durante osperíodos iniciais de rebrota, representam um

mecanismo de adaptação da gramínea, pois aoreduzir o tempo para que ocorra a máximainterceptação da radiação solar incidente, promoveuma melhor utilização da água devido aosombreamento mais rápido do solo, o que favorecesua competitividade intraespecífica, notadamentequando a baixa umidade do solo é um dos fatoresmais limitantes (ALVAREZ; LASCANO, 1987;GONÇALVES et al., 2002; COSTA et al., 2008a,b).

Gráfico 3 - Taxa de crescimento relativo de Axonopus aureus, em função da idade de rebrota.

Fonte: dados da pesquisa.

A TAP foi inversamente proporcional àsidades de rebrota (Gráfico 4). O NPP e o NFPajustados ao modelo quadrático de regressão eos máximos valores registrados aos 61,9 e 64,9dias, respectivamente (Gráficos 5 e 6). Os valoresregistrados neste trabalho para o NPP e NFPforam inferiores aos reportados por Costa et al.(2008a), durante o período chuvoso, para A.aureus (10,75 perfilhos/planta; 6,95 folhas/perfilho), contudo superiores ao constatado paraa TAP (0,108 perfilhos/dia). As correlações entreo rendimento de MS e o NPP (r = 0,9430;P=0,0023) e o NFP (r = 0,9406; P=0,0046) forampositivas e significativas, as quais explicaram em

88,9 e 88,5%, respectivamente, os incrementosverificados nos rendimentos de forragem dagramínea, em função das idades de corte.

Silva e Klink (2001), avaliando a dinâmicade foliação e o perfilhamento de gramíneasnativas dos cerrados do Distrito Federal,constataram variações significativas para o NPPe NFP, sendo os maiores valores registrados porTrachypogon spicatus (10,1 perfilhos/planta e 6,1folhas/perfilho), comparativamente a Axonopusmarginatus (7,9 perfilhos/planta e 3,4 folhas/perfilho) e Echinolaena inflexa (4,0 perfilhos/planta e 6,2 folhas/perfilho).

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Fonte: dados da pesquisa.

Gráfico 5 - Número de perfilhos/planta de Axonopus aureus, em função da idade de rebrota.

Gráfico 4 - Taxa de aparecimento de perfilhos de Axonopus aureus, em função da idade de rebrota.

Fonte: dados da pesquisa.

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Fonte: dados da pesquisa.

O perfilhamento de uma gramínea dependeda velocidade de emissão de suas folhas, as quaisproduzirão gemas potencialmente aptas de originarnovos perfilhos, dependendo das condiçõesambientais e das práticas de manejo adotadas(LEMAIRE; CHAPMAN, 1996). Em relvados densos,o ambiente luminoso afeta a competição entreplantas por meio da quantidade e qualidade de luzincidente e da relação vermelho: vermelho extremo(CARRÈRE et al., 1997). Quando a luz penetra nodossel, atenua-se a luz vermelha e a que alcança abase da planta é predominantemente vermelhaextrema, caracterizada como fotossinteticamenteineficiente, promovendo redução na produção deperfilhos, notadamente os de ordem elevada(BALLARÉ et al., 1987). A TAP foi negativamentecorrelacionada com o NPP (r = -0,8731; p=0,0032)e o NFP (r = -0,9065; p=0,0019), evidenciando oefeito restritivo da luminosidade na porção inferiordas plantas, o qual foi acentuado com o aumentodo período de rebrota.

O efeito da idade de rebrota sobre o TMFfoi ajustado ao modelo quadrático e o máximo

valor registrado aos 68,7 dias (Gráfico 7). Osvalores registrados corresponderam a apenas64% do estimado por Costa et al. (2008a) paraA. aureus durante o período chuvoso (21,7 cm).A redução do TMF é uma estratégia utilizadapelas gramíneas nativas dos cerrados paraaquisição e conservação de água, compensandoo estresse hídrico através da diminuição dasperdas de água por transpiração. (HOYOS;LASCANO, 1988; SOUZA FILHO et al., 1992;SILVA; KLINK, 2001).

O tamanho e o ângulo de inserção dasfolhas têm implicação na distribuição e qualidadeda luz dentro do dossel, afetando a modulaçãodo crescimento das plantas através da produçãode fotoassimilados nas fontes e sua alocação aosdrenos. Folhas pequenas podem ser fundamentaisno início do crescimento, pois facilitam a maiorpenetração da radiação vermelha em detrimentoda vermelha extrema, implicando em melhorqualidade de luz para a realização da fotossíntesepelas folhas situadas na porção inferior da planta(LEMAIRE, 2001).

Gráfico 6 - Número de folhas/perfilho de Axonopus aureus, em função da idade de rebrota.

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Gráfico 7 - Tamanho médio de folhas de Axonopus aureus, em função da idade de rebrota.

Fonte: dados da pesquisa

A TAF foi inversamente proporcional àsidades de rebrota, enquanto que para a AF e TEFas relações foram quadráticas e os máximosvalores registrados aos 68,7 e 43,1 dias,respectivamente (Gráficos 8, 9 e 10). A AF, TAF ea TEF obtidas neste trabalho, para a maioria dasidades das plantas, foram inferiores às reportadospor Costa et al. (2008b) para A. aureus, duranteo período chuvoso, que estimaram valores médiosde 51,71 cm2/perfilho; 0,154 folhas/perfilho.diae 2,15 cm/perfilho.dia, para plantas aos 45 diasde rebrota. Em Brachiaria decumbens, Alves etal. (2008) constataram que o TMF e a TAF foram

diretamente proporcionais à disponibilidade deágua no solo, ocorrendo o inverso quanto à TEF.Gramíneas com maior habilidade competitiva sãoaquelas que desenvolvem uma arquitetura maiseficiente na interceptação de luz, através darápida expansão de área foliar e colonização dacamada superior do dossel, em decorrência doalongamento da bainha e entrenós do colmo(LEMAIRE, 2001; MACEDO et al., 2010). Nestetrabalho a correlação entre TMF e TAF foi negativae significativa (r = -0,9259; p=0,0015),evidenciando o efeito antagônico entre estasduas variáveis.

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Fonte: dados da pesquisa.

Gráfico 9 - Taxa de aparecimento de folhas de Axonopus aureus, em função da idade de rebrota.

Gráfico 8 - Área foliar/perfilho de Axonopus aureus, em função da idade de rebrota.

Fonte: dados da pesquisa.

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Fonte: dados da pesquisa.

A TAF é a Característica morfogênica quemerece maior destaque, pois afeta diretamenteo tamanho da folha, a densidade populacionalde perfilhos e o número de folhas/perfilho (HORSTet al., 1978). As TAF e TEF apresentam umacorrelação negativa, indicando que quanto maiora TAF, menor será o tempo disponível para oalongamento das folhas (COSTA et al., 2008a,b).Neste trabalho não houve correlação entre estasduas variáveis (r = 0,2047; p=0,6267). Grant etal. (1981), em azevém (Lolium perenne L.),observaram que a TEF foi positivamentecorrelacionada com a quantidade de folhasverdes remanescentes no perfilho após adesfolhação, sendo o tamanho do perfilho oprincipal responsável pela longa duração da TEF.

A relação entre TSF e as idades de rebrotafoi positiva e linear, sendo o processo desenescência constatado a partir dos 21 dias(Gráfico 11). Os valores registrados neste trabalhoforam inferiores aos reportados por Costa et al.

(2008b) para A. aureus, durante o período chuvoso,que estimaram uma TSF de 0,224 cm/perfilho.dia,para plantas avaliadas aos 45 dias de rebrota. Asenescência é um processo natural que caracterizaa última fase de desenvolvimento de uma folha,iniciada após sua completa expansão, cujaintensidade se acentua progressivamente com oaumento da área foliar, em decorrência dosombreamento das folhas superiores sobre asinseridas na porção inferior do colmo, as quaistêm sua capacidade fotossintética reduzida.(NABINGER, 1997; MACEDO et al., 2010).

Apesar do efeito negativo sobre aqualidade da forragem, a senescência representaum importante processo fisiológico no fluxo detecidos da gramínea, pois cerca de 50% docarbono e 80% do nitrogênio podem serreciclados das folhas senescentes e utilizados pelaplanta para a produção de novos tecidos foliares(CARRÈRE et al., 1997; LEMAIRE; AGNUSDEI,2000; SANTOS et al., 2009).

Gráfico 10 - Taxa de expansão foliar de Axonopus aureus, em função da idade de rebrota.

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Fonte: dados da pesquisa.

A relação entre o número de folhas/perfilhoe a soma térmica foi linear e descrita pela equação:Y = 2,1216 + 0,00495 GD (r2 = 0,9368). Ofilocrono estimado em 202 GD, o qual foi inferiorao reportado por Trindade e Rocha (2001) paraAndropogon lateralis (205 GD), gramínea nativada Depressão Central do Rio Grande do Sul, e aoconstatado por Townsend (2008), na mesmaregião, para Paspalum guenoarum biótipo Azulão(275 GD), durante o outono e submetido a

diferentes doses de nitrogênio (0, 60, 180 e 360kg de N/ha). Em termos práticos, quanto menor ofilocrono, mais eficiente é a gramínea nainterceptação e conversão de energia luminosaem tecido foliar (LEMAIRE, 2001). O aumento dofilocrono com a idade de rebrota decorre danecessidade de mais tempo para que a folhapercorra a distância dentro da bainha desde aemergência até a completa expansão da folha(SKINNER; NELSON, 1994; MACEDO et al., 2010).

Gráfico 11 - Taxa de senescência foliar de Axonopus aureus, em função da idade de rebrota.

4 CONCLUSÕES

A idade de rebrota afeta o rendimento deforragem, as taxas de crescimento e ascaracterísticas morfogênicas e estruturais dagramínea. Visando conciliar produtividade deforragem com a otimização das características

morfogênicas e estruturais de Axonopus aureus,o período de pastejo mais adequado de suaspastagens, durante o período chuvoso, situa-seentre 49 e 56 dias de rebrota.

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57Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

PRODUTIVIDADE DE MANDIOCA CULTIVADA POR AGRICULTORES FAMILIARES NA REGIÃODOS LAGOS, MUNICÍPIO DE TRACUATEUA, ESTADO DO PARÁ

Moisés de Souza Modesto Júnior*

Raimundo Nonato Brabo Alves**

Enilson Solano Albuquerque Silva***

RESUMO

O trabalho teve por objetivo avaliar a produtividade de mandioca obtida por agricultoresfamiliares que adotam a parcagem como fertilização do solo e a cultivam em sistemas de preparo deárea com tração animal e preparo de leiras. A pesquisa constou de aplicação de questionários paracoleta de informações sobre número de animais que pernoitam na área para fertilização do solo,idade da capoeira, sistemas de preparo de área e tratos culturais utilizados pelos agricultores, tendocomo parâmetros: a seleção de manivas-sementes, cultivo em espaçamento de 1m x 1m, realizaçãode capinas para controle de plantas daninhas. A produtividade média em t/ha e o número de plantas/ha, foram medidas por meio de colheita da mandioca em quatro parcelas do tamanho de 2 m x 10 m,selecionadas ao acaso no roçado de cada agricultor. Realizou-se, ainda, amostragem de solo naprofundidade de 0 a 20 cm, para análise química de fertilidade pelo método Mehlich–1 e análisefísica para determinação da textura. A produtividade média de mandioca no sistema de preparo deárea com tração animal foi de 23,9 t/ha com média de 9.291 plantas/ha, enquanto que no cultivosobre leiras a produtividade obtida foi de 25,56 t/ha com média de 9.152 plantas/ha. Nos dois sistemasutilizados nenhum agricultor fez seleção de manivas-sementes e todos eles empregaram a prática decorte em bisel das manivas que resulta em muitas perdas na armazenagem e no plantio.

Palavras-chave: Trio da Produtividade. Farinha. Plantas Daninhas. Parcagem. Tração Animal.

* Engenheiro Agrônomo; Especialista em Marketing e Agronegócio; Analista da Embrapa Amazônia Oriental. Belém/PA.E-mail: [email protected].

** Engenheiro Agrônomo; Mestre em Agronomia; Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. Belém/PA.E-mail: [email protected].

*** Engenheiro Agrônomo; Mestre em Agronomia; Analista da Embrapa Amazônia Oriental. Belém/PA.E-mail: [email protected].

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CASSAVA´S PRODUCTIVITY BY SMALLHOLDER FARMERS FROM LAKE REGION AT CITY OFTRACUATEUA , STATE OF PARÁ

ABSTRACT

This study aimed to evaluate the productivity of cassava produced by smallholder farmers whoadopt the parcage as natural soil fertilization and cultivate cassava by animal traction tillage andpreparation of piles systems. The research consisted of questionnaires for collecting information onthe number of animals who stay overnight in the area for soil fertility, age of poultry systems, landpreparation and cultural practices used by farmers. Parameters used in the research were the selectionof cassava-seeds, cropping spacing of 1m x 1m, and performing weeding to control weeds. The averageyield in t/ha and number of plants / ha, were measured by harvesting cassava in four plots of size 2 mx 10 m randomly selected in each farmer’s cassava field. After that, a sampling was performed in thedepth of 0-20 cm for chemical analysis of fertility by the Mehlich-1 Method and physical analysis todetermine the soil texture. The average yield of cassava in the area of tillage with animal traction was23.9 t/ha with an average of 9.291 plants/ha, whereas in seed-bed culture the yield obtained was25.56 t/ha with an average of 9152 plants/ha. In both used systems no farmer made selection ofcassava seed-cuttings and they all used the cassava bezel cutting system which provides a lot oflosses in storage and planting.

Keywords: Trio of Productivity. Flour. Starch Weed. Parcage. Animal Traction.

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1 INTRODUÇÃO

O município de Tracuateua possui umaárea de 936,12 km² e uma população de 27.455habitantes, segundo dados do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,2010). Localiza-se na mesorregião do NordesteParaense, distante cerca de 200 km da capitalBelém. Foi criado em 1994 e instalado em 1997,estando dividido em várias localidades,atualmente organizadas em comunidades deagricultores familiares, sendo as principais:Santa Maria, Vila Fátima, Arraial do São João,Vila Socorro, Santa Teresa, Chapada, Cajueirodo Tatu, Anirá, Flexal, Colônia das Neves,Cajueiro de Boa Esperança, Cocal, Açaiteua,Manoel dos Santos, Caranã, Tracuateuazinho,Icaraú e Flexeira (FERREIRA, 2003).

Com relação ao uso da terra a suaeconomia está concentrada em atividadesenvolvendo lavoura permanente e temporária,pecuária de pequena escala e extração demadeira para lenha e produção de carvão (IBGE,2009). Em 2009 a produção de coco-da-baia naordem de 5,01 milhões de frutos, de 192 t depimenta-do-reino e 1.360 t de laranja resultouno valor da produção de R$ 2.193.000,00, comuma representatividade de 49,13%, 31,65% e17,0 %, respectivamente, em relação à produçãototal de culturas permanentes no município deTracuateua. Em relação às lavouras temporáriasa cultura do feijão-caupi foi, em 2008, aatividade mais importante da economia domunicípio (BARBOSA; SANTOS; SANTANA,2010), com uma área cultivada de 3.800 ha eprodução de 3.056 t (IBGE, 2008). Porém em2009, com a redução da área cultivada de feijão-caupi para 2.500 ha e redução da produção para1.000 t de grãos, a mandioca passou a ter maiorrepresentatividade na economia de Tracuateuacom 63,53% em relação ao valor total daprodução dos cultivos temporáriosrepresentados pelas culturas de abacaxi, feijão-caupi, fumo, malva, mandioca e milho que foide R$ 4.017.000,00 (IBGE, 2009).

Desmembrado do antigo município deBragança, Tracuateua tem sua economia combase predominantemente na agricultura familiar,remanescente da mais antiga área de colonizaçãodo estado do Pará, em que o setor agropecuáriofoi responsável por 21,87 % do Produto InternoBruto (PIB) do município em 2008 (IBGE, 2008).As pequenas propriedades, especificamente daregião dos lagos, caracterizam-se pela conduçãode um sistema de integração lavoura/pecuária,que integram dois métodos de agricultura familiarsustentável: a parcagem e a tração animal, paraprodução de mandioca solteira ou em consórciocom feijão-caupi e fumo.

O sistema de parcagem consiste,basicamente, na aplicação localizada de estercode gado para fertilização do solo, feito pordeterminado número de animais que ficamconfinados durante a noite numa área reduzida,selecionada previamente para cultivo demandioca (ALVES; HOMMA, 2005). SegundoCosta (1986), a produção de esterco fresco degado por cabeça pode ser calculada naquantidade de 32 kg/dia. O mesmo autor indicaos teores médios de 0,23% de P2O5, encontradosna composição do esterco fresco. Com adeposição das fezes e urina na superfície do solo,ricos em nitrogênio e potássio, contribuem paraneutralizar a acidez do solo (STILWELL;WOODMANSEE, 1981; SOMDA et al., 1997), masuma parte importante do nitrogênio da urina éperdida por lixiviação ou volatilização (STILWELL;WOODMANSEE, 1981; RUSSELLE, 1992).

O presente trabalho teve por objetivoavaliar a produtividade média de raiz demandioca e as técnicas de cultivo adotadas pelosagricultores familiares da região dos lagos deTracuateua que utilizam a criação de gado pararealização da parcagem como fertilização do soloe cultivam a mandioca em sistemas de preparode área com tração animal e sobre leiraspreparadas com enxadas.

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2 MATERIAIS E MÉTODOS

O trabalho foi efetuado nas comunidadesda Chapada, Jaquitara, Tatu e Ananã na regiãodos lagos. Nessas predominam as savanasnaturais mal drenadas, ficando no primeiroquadrimestre por ocasião das chuvas, submersasna maior parte de sua extensão a umaprofundidade abaixo de um metro. Com a secano período de estiagem, segundo semestre, umaciperácea chamada popularmente de juncoaflora, formando os campos naturais. Essas áreasforam classificadas como Campos EquatoriaisHigrófilos de Várzea, segundo Oliveira Junior etal. (1999). Nas áreas mais altas, indicando melhordrenagem, são cultivados o fumo e o feijão-caupi,em sistemas solteiro ou em consórcio com amandioca. Deve-se ressaltar que o cultivo defumo em consórcio com mandioca tende arestringir o acesso ao crédito rural, pois nãocondiz com um sistema de cultivo socialmente epoliticamente correto.

O clima da região, segundo a classificaçãode Köppen é do tipo Awi, dividido em duasestações: chuvosa de dezembro a maio, e menoschuvosa de junho a novembro, apresentandoprecipitação pluviométrica média de 2.500 mmanuais, temperatura média de 27,7°C e umidaderelativa média do ar de 84% (OLIVEIRA JUNIORet al., 1999).

Nas comunidades pesquisadas predominao solo do tipo Gleissolo Háplico, mal drenado,desenvolvido de sedimentos recentes, sob ainfluência do lençol freático (OLIVEIRA JUNIORet al., 1999).

O levantamento da produtividade demandioca foi efetuado no período de 26/08 a 09/09/2010. O líder das comunidades Sr. FranciscoNazaré de Oliveira, mais conhecido como “ChicoEspada”, indicou seis agricultores os quais

estavam colhendo mandioca para que o trabalhode avaliação fosse feito nos respectivos roçados,três cultivaram a mandioca em sistema depreparo de área com a tração animal e três emfileiras simples sobre leiras preparadasmanualmente com enxadas (semelhante aocultivo de hortaliças).

A pesquisa constou de aplicação dequestionários para coleta de informações sobrenúmero de animais que pernoitam na área parafertilização do solo, idade da capoeira, sistemasde preparo de área e tratos culturais utilizadospelos agricultores, tendo como parâmetros: aseleção de manivas-sementes; cultivo emespaçamento adequado e realização de capinaspara controle de plantas daninhas.

Nas áreas preparadas com tração animala produtividade média em t/ha de raiz demandioca e número de plantas/ha, forammedidas por meio de amostras colhidas emquatro parcelas do tamanho de 2 m x 10 m (Figura1), coletadas ao acaso no roçado de cadaagricultor. Nas áreas com leiras foi efetuada acontagem e colheita de plantas em quatroamostras ao acaso, em 10 m de leiras (Figura 2).Após a colheita da mandioca foi realizadaamostragem de solo na profundidade de 0 a 20cm, para análise química de fertilidade pelométodo Mehlich–1 e análise física paradeterminação da textura. A produtividade damandioca foi analisada em função do númerode animais que pernoitaram na área parafertilização do solo por meio de parcagem (ALVES;HOMMA, 2005), idade da planta e adoção detecnologia com base no Trio da Produtividade naCultura da Mandioca, que consiste na seleção etipo de corte da manivas-sementes, uso deespaçamento e número de capinas e roçagensefetuadas (ALVES et al., 2008).

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Figura 1 - Detalhe da parcela de 10 m x 2 m no roçado de mandioca com 13 meses deidade do agricultor Francisco Nazaré Oliveira, do lado esquerdo.

Fonte: Modesto Júnior, 2010.

Figura 2 - Detalhe da leira com a mandioca aos 13 meses de idade, colhida no roçado doagricultor Manoel da Silva Gomes, no lado direito do agricultor Francisco NazaréOliveira.

Fonte: Modesto Júnior, 2010.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observou-se nas comunidadespesquisadas a existência de poucas áreas decapoeira e mata e escassez de lenha, tanto parafabricação de farinha, como para construção decercas, indicando a necessidade de condução depesquisas sobre introdução de espécies arbóreasde rápido crescimento. Os agricultores criam ogado em pastagens extensivas em que o rebanhotransita livremente durante o dia pelos camposnaturais, alimentando-se de forragem constituídabasicamente de junco (Eleocharis interstincta R.Br.). Ao final da tarde o gado é recolhido parapernoite nas áreas de parcagem. A maioria dosanimais (bovinos e bubalinos) é utilizadabasicamente para trabalho, tração animal eparcagem. Foram poucos os relatos deagricultores que criam gado para produção deleite ou carne devido à falta de boas pastagens.Como a principal atividade econômica dosagricultores da região dos lagos de Tracuateua éa produção de mandioca, existem grandespossibilidades de seus subprodutos seremutilizados na alimentação animal, podendo serfornecida sob as formas de raízes frescas, raspas,ramas (hastes e folhas) e subprodutos sólidos desua industrialização (cascas, entrecascas, descartee farelos).

O fornecimento da rama da mandiocafresca é o modo mais simples e econômico deministrar aos animais. Precisa-se apenas picarantes de colocar no cocho, mas só pode ocorrerem casos em que o produtor tenha certeza deque a espécie cultivada é uma variedade mansa,ou seja, não apresenta níveis altos de ácidocianídrico (<50mg), por não ser tóxica pararuminantes. Almeida e Ferreira Filho (2005)recomendam que o fornecimento in natura dafolhagem somente pode ser feito de 12 a 24 horasdepois de colhida, para reduzir o princípio tóxicoem níveis seguros, no caso de espécies com níveisum pouco mais altos de ácido cianídrico. E, para

espécies tidas como muito bravas, a rama deveser misturada com outro tipo de volumoso, até aproporção máxima de 50% de rama.

Tanto os agricultores que utilizam traçãoanimal no preparo de área quanto aqueles quepreparam leiras para o cultivo da mandioca,adotam a técnica da parcagem para a fertilizaçãodo solo com esterco, a qual consiste em confinaro gado na área a ser cultivada pela mandiocapor um período pré-determinado em função donúmero de animais disponíveis na propriedade(ALVES; HOMMA 2005).

O método da parcagem como processo defertilização do solo feito pelos agricultoresfamiliares de Tracuateua, consiste em recolher ogado para pernoite no período de setembro adezembro, em pequenas cercas móveis dentro daárea de cultivo, geralmente em número de oitodenominadas de “caixinhas”, a fim de evitar queo rebanho se concentre em um só local, ficandoem pousio no período chuvoso (janeiro a abril).A partir do mês de maio essas áreas sãosubmetidas à “viração” com a tração animal ouao preparo de leiras com uso de enxadas, seguidado plantio da mandioca. Os agricultores nãoefetuam o plantio, no período de janeiro a abril,devido à ocorrência de fortes chuvas, que poderãoresultar na podridão das raízes de mandioca tantopor anoxia como por podridão biótica (fungo oubactéria). Deve-se registrar que o pousio da áreaneste período chuvoso implica em perdas denutrientes do esterco, principalmente denitrogênio por volatilização e lixiviação.

O sistema de parcagem, as práticas decultivo adotadas e a produtividade de mandiocaobtida pelos agricultores que utilizaram a traçãoanimal e leiras no preparo de área são mostradosnas Tabelas 1 e 2, respectivamente. Aprodutividade média de mandioca no sistema de

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63Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

Fonte: dados da pesquisa.OBS: média de quatro repetições.

Como se pode observar, nas Tabelas 1 e2, não existe uma definição exata entre onúmero de animais confinados, o período deduração da parcagem e a área fertilizada pelosagricultores, o que pode concorrer para umaadubação restritiva ou excessiva de esterco,implicando em diferentes produtividades demandioca. Na Bahia, Gomes et al. (1983)obtiveram altos rendimentos com essa cultura(38,6 t de raízes/ha) utilizando o sistema deparcagem. Eles calcularam que 30 animaisconfinados em uma área de 1 ha por 60 noites,produzem cerca de 8 t de esterco seco contendo40 kg de nitrogênio/ha. Doses excessivas deesterco podem elevar o nível de nitrogênio no

solo possibilitando reduzir o índice de colheitada mandioca, estimulando o desenvolvimentoda parte aérea em detrimento da produção deraízes.

A produtividade dos agricultores, também,varia em função do uso de diferentes cultivares,umas de época de colheita tardias e outrasprecoces, bem como da não uniformidade donúmero de plantas por área e da falta de seleçãodo material de plantio, Tabelas 1 e 2. Ressalta-sea ausência de podridão radicular em todos osroçados prospectados, permitindo-nos inferir queo seu controle depende de um bom preparo desolo quanto à drenagem e fertilização.

preparo de área com tração animal foi de 23,9 t/ha com média de 9.291 plantas/ha, enquanto queno cultivo sobre leiras a produtividade obtida foide 25,56 t/ha com média de 9.152 plantas/ha.Nos dois sistemas usados nenhum agricultor fezseleção de manivas-sementes. Todos elesutilizaram a prática de corte em bisel nas manivas

que segundo Takahashi (2002) proporcionamuitas perdas na armazenagem e no plantio. Ocorte reto seria o mais recomendado porpossibilitar a produção mais uniforme e maiornúmero de raízes que o formato em bisel(MATTOS; CARDOSO, 2003), e por issoinfluenciaria, diretamente, na produção de raízes.

Tabela 1 - Sistema de parcagem, práticas de cultivos e produtividade de mandioca de agricultores familiaresde Tracuateua, Pará, que utilizam tração animal no preparo de área.

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Fonte: dados da pesquisa.OBS: média de quatro repetições.

O solo do tipo Gleissolo Háplico tem comocaracterística ser mal drenado e apresentartextura muito argilosa e siltosa. Por isso evidencialimitações de uso agrícola, uma vez que apresentadeficiência de oxigênio, risco de inundação edificuldade de mecanização. De acordo com osresultados médios das análises degranulonometria das áreas cultivadas pelosagricultores (Tabela 3), observa-se um teor deareia fina e grossa na ordem de 70 %, 20 % desilte e 10 % de argila total, classificando comosolo do tipo Franco Arenoso, apresentando boaspropriedades físicas para o cultivo da mandioca.O principal motivo da maioria dos agricultorescultivarem a mandioca sobre leiras é evitar oencharcamento do solo e podridão da cultura poranoxia, devido suas áreas estarem situadas nascotas mais baixas do terreno.

Com relação as análises químicas de solocolhidos das áreas pesquisadas, o pH em águavariou de 4,6 a 5,0, embora a faixa ideal esteja

entre 5,5 a 7,0 (MATTOS; CARDOSO, 2003). Oscritérios de interpretação das análises químicasde solos, atualmente, utilizados no estado do Parátêm sido baseados nas recomendações doLaboratório de Solos da Embrapa AmazôniaOriental (BRASIL; CRAVO, 2007) e de modo geralos teores de fósforo, potássio, Ca, Ca+Mg (Tabela3) se enquadram na classe de baixa fertilidade.Os únicos agricultores cujas análises de solosobtiveram teores médios de fósforo (14 mg/dm³)e de potássio (48 mg/dm³) foram os senhoresFrancisco Nazaré de Oliveira e Manoel da SilvaSouza, respectivamente, apesar da produtividadede mandioca obtida por esses agricultores ter sidomenor em comparação com as demais áreaspesquisadas. Com relação aos teores de alumínio,embora sejam apresentadas faixas variando demédio a alto, a partir de 0,5 cmol/dm³, pode-seficar alerta para a necessidade de correção dosolo, especialmente em condições de baixosteores de cálcio e de magnésio (BRASIL; CRAVO,2007).

Tabela 2 - Sistema de parcagem, práticas de cultivos e produtividade de mandioca de agricultores familiaresde Tracuateua, Pará, que cultivam a mandioca em fileiras simples sobre as leiras.

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4 CONCLUSÕES

Existem amplas possibilidades deaumentar a produtividade de mandioca e explorara capacidade atual que os agricultores dispõempara produção de farinha, sem a necessidade deaumento da área cultivada. Destacam-se comopráticas importantes para melhorar o sistema aseleção de manivas-sementes, ajustes noprocesso de parcagem com definição do númerode animais por área em função do tempo, seleçãoe introdução de variedades de mandioca maisprodutivas e determinação de melhor populaçãode plantas por unidade de área, que poderãocontribuir para reduzir custos de produção e atéduplicar a produtividade da cultura.

A redução ou até eliminação do períodode pousio da área, entre o término da parcagem

e o plantio das culturas (janeiro a abril), com aintrodução de cultura como o arroz, maisadaptado ao tempo chuvoso, pode elevar aeficiência do sistema de cultivo adotado pelosagricultores com melhor aproveitamento daspropriedades do esterco de gado.

Sugere-se que os agricultores busquemmaior eficiência produtiva no aproveitamento dossubprodutos provenientes da cultura damandioca, principalmente como forragem paraalimentação animal. Também, recomenda-se queos agricultores façam ajustes na correção do solo,uma vez que os valores da análise de soloencontram-se abaixo do nível crítico.

Tabela 3 - Resultados de análise química e física de solos colhidos das áreas dos agricultores pesquisados nomomento da avaliação da produtividade da mandioca.

Fonte: Laboratório de Solos da Embrapa Amazônia Oriental.

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A CONSTRUÇÃO DE TERRITÓRIOS CULTURAIS PELAS ANTIGAS SOCIEDADES AMAZÔNICAS

Marcos Pereira Magalhães*

RESUMO

Paisagem é um espaço construído onde o ambiente é transformado em um artefato social que,tal como os objetos materiais, reproduzem as representações culturais de uma sociedade. A maneiracomo as antigas sociedades nativas alteraram os ambientes na Amazônia ao interferirem na topografia,no solo e ao semearem ou cultivarem espécies selecionadas, indica como atividades técnicas adequadase diversas tornaram-nos mais produtivos e, simultaneamente, familiares e culturalmente identificáveis.Sendo assim, o espaço que apresenta locais com ocorrências materiais arqueológicas e recursos naturaisdiversos pode representar um território cultural, com diferentes ambientes antropogênicos relacionados,onde uma dada população se organiza e se identifica socialmente.

Palavras-chave: Paisagem. Cultura. Arqueologia-Amazônia.

* Arqueólogo; Pesquisador do Museu Paraense Emílio Goeldi. E-mail: [email protected]

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BUILDING CULTURAL TERRITORIES BY OLD AMAZONIAN SOCIETIES

ABSTRACT

Landscape is a constructed space where the environment is transformed into a social artifactthat, like material objects, reproducing the cultural representations of a society. The way ancient societieshave altered the native environment in the Amazon by interfering in the topography, soil and sow orcultivate selected species, indicating how appropriate techniques and various activities have made usmore productive and simultaneously familiar and culturally identifiable. Thus, the space that holdsarchaeological sites with material events and natural resources can represent a different culturalterritory, associated with different anthropogenic environments, where a given population is organizedand identifies socially.

Keywords: Landscape. Culture. Archeology-Amazon.

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1 INTRODUÇÃO

Este texto tratará das antigas populaçõeshumanas amazônicas sob a perspectiva daarqueologia da paisagem. Existem diversasdefinições para paisagem, inclusive na arqueologia.Mas a nossa intenção é mostrar que os espaçoshistoricamente ocupados apresentam símbolosculturais que se refletem não apenas nos objetosou estruturas materiais, bem como na própriaorganização da paisagem. Sendo assim, a definiçãoque mais se aproxima daquilo que entendemoscomo paisagem é aquela que diz que ela é todoespaço onde o ambiente é transformado em umartefato social que, tal como os objetos materiais,reproduz os valores culturais de uma sociedade. Amaneira como as sociedades alteram os ambientes,seja interferindo na topografia, no solo, criando,semeando ou cultivando espécies selecionadas,indica como atividades técnicas adequadas ediversas torna-os mais produtivos e,simultaneamente, familiares e culturalmenteidentificáveis através de símbolos e representações.

As atividades sociais que acarretam istoocorrem independentes do nível decomplexidade econômica ou política dascomunidades humanas. Também existeminúmeras evidências de que essas atividadesvêm interferindo sobre diferentes e extensosambientes desde a mais recuada idade, tecendocom o tempo uma ampla rede regional de locaiscom recursos diversificados, mas culturalmenteinter-relacionados. Sendo assim, na Amazônia,espaços que apresentam locais com ocorrênciasmateriais e recursos naturais diversos podemrepresentar um território cultural, comdiferentes ambientes antropogênicosrelacionados, onde uma dada população seorganiza e se identifica socialmente. Nessesespaços, a paisagem é tão importante quantoos objetos materiais culturalmentereproduzidos que, por sua vez, identificam umasociedade ou até mesmo uma civilização.

2 CULTURA/NATUREZA

Para compreendermos mais profundamentea relação do ser humano com os recursos naturaisé preciso entender a relação cultura/natureza. Emgeral, cultura e natureza são consideradas doiscampos de conhecimento complementares, masvistos separadamente. Neste artigo seráabordada a questão da paisagem em umaperspectiva na qual a cultura nada mais é do queuma expressão da natureza. Isto é, segundo estaconsideração e a perspectiva evolucionária danatureza, a cultura pode ser tida como umsistema de padrões de comportamento,preferências e produtos da atividade humana osquais são socialmente transmitidos e quecaracterizam uma população em determinadolugar. A cultura evolui e sua evolução pode ser

definida como a mudança, ao longo do tempo edo espaço, na natureza e na frequência depreferências, padrões e produtos docomportamento social transmitidos numapopulação. A evolução cultural é em parteindependente da variação genética daspopulações. Tal independência, entretanto, nãodura para sempre, pois em algumascircunstâncias existe uma interação entre ossistemas genético e cultural. Por outro lado, asculturas transmitem informação através deaprendizagem social. Assim, o aprendizadosocialmente mediado é um meio de mudança nocomportamento que resulta de interações sociaiscom outros indivíduos, geralmente da mesmasociedade (JABLONKA; LAMB, 2009).

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Quando o Homem coloniza uma região elemanipula o ambiente de tal modo, que apersistência dessa ação afeta o desenvolvimentosociocultural de seus descendentes, a própriaidentidade cultural deles e a vida das espéciesque seleciona. O Homem age independente dacomplexidade cultural ostentada comoengenheiro ecológico, já que o produto das suaspráticas se difunde precocemente no ambiente eo transforma (BARRETT, 2001). Desde o início dacolonização de uma área o Homem altera oregime seletivo de seus vizinhos e descendentes,bem como a sua própria identidade frente a eles.

Os seres humanos, na verdade, são o maioragente seletivo do planeta Terra, e executam asmais drásticas construções ambientais. Pode-sedizer que na história humana a evoluçãoadaptativa tem sido guiada pelo sistema cultural,o qual cria as condições necessárias nas quais osgenes e o comportamento são expressos eselecionados. Portanto, o Homem não dependedo sistema genético, cego e casual, paratransmitir informações adaptativas adiante. Pelocontrário, sua capacidade adaptativa é induzidaou adquirida em resposta às condições de vida.E são as diferentes respostas culturais às diversascondições de vida que garantem aos grupos

humanos a construção de paisagens ecartografias com cenários e símbolos socialmenteorganizados e cotidianamente reproduzidos.

Ao modificar o ambiente segundo hábitosculturais reforçados, o efeito dessa modificaçãopode estabilizar outros hábitos os quais, por suavez, podem constituir uma rede que,eventualmente, constrói um novo estilo de vida.A persistência das práticas e comportamentosrelacionados a um determinado estilo de vida,não só reproduz os mesmos através de hábitosdo cotidiano, como remodela o nicho segundoas ações pedagógicas a eles relacionadas. Essasmudanças ocorrem ao longo do desenvolvimentohistórico da sociedade. Nas sociedades nãoindustriais a remodelação de nichosanteriormente construídos é lenta e exigeconhecimento prévio da natureza local. Esseconhecimento prévio pode ser o resultado datentativa e repetição milenar de ações queacabam influenciando a distribuição ecomportamento de certas espécies culturalmenteselecionadas e regularmente relacionadas apaisagens socialmente construídas.

Na Amazônia isto resultou nadomesticação ou semi-domesticação de plantas

A ideia da cultura enquanto naturalfacilita o reconhecimento de que toda sociedadeé capaz de construir nichos culturalmenteidentificáveis através de símbolos, práticas ecomportamentos. Esses nichos são construídosno espaço de ocupação socioambiental, demodo que não só a sociedade possuiinformações as quais ajudam a determinarpreferências e identidades, bem como oambiente é modelado e tornado familiarsegundo essas mesmas informações. Por

conseguinte, todo ambiente ocupado por umapopulação humana é um nicho culturalmenteprojetado, cuja herança reforçada e transmitidaàs gerações futuras pela aprendizagem(JABLONKA; LAMB, 2009). Ou seja, os hábitos,práticas e costumes de uma sociedade afetam ovalor adaptativo das variações comportamentaisdas pessoas. Por conta disto, os ambientesconstruídos por elas deixam de ser um mero efeitoda seleção natural e expressam valoressimbólicos que são culturalmente transmitidos.

3 DOMESTICAÇÃO, EVOLUÇÃO E MUDANÇA NA AMAZÔNIA

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utilizadas até hoje, seja para a alimentação sejapara a fabricação de armas, utensílios domésticosetc., como a mandioca (Manhihot esculenta), oaçaí (Euterpe oleracea-Arecaceae), a bacaba(Oenocarpus bacaba), o caripé (Licania octandra),o inajá (Maximiliana maripa) e muitas outras.

Segundo Charles Clement (2006a, 2006b),pouco antes da conquista européia, os povosamazônicos cultivavam, no mínimo, 138 espéciesvegetais. Muitos desses recursos genéticos eramartefatos humanos que requeriam a intervenção

humana para a sua manutenção, ou seja,estavam em avançado estado de domesticação.Além disto, se houve uma população humanaculturalmente organizada, vivendo e interferindona natureza amazônica desde um tempo muitorecuado, claro está que, pelo menos em algunspontos, a floresta desde então não é primária, adistribuição de espécies não é meramentenatural e as paisagens daí derivadas possuemtanta identidade cultural quanto às pinturascorporais ou os layouts decorativos dascerâmicas.

4 AMAZÔNIA CULTURAL

Estudos recentes vêm mostrando que ainfluência humana sobre a natureza não só é umacondição da sua existência, bem como condiçãoda própria evolução coletiva das espécies(BROWN; BROWN,1991; HOWELLS, 1997;MAYER, 2005; THOMAS, 2003). Acredita-se hojeem dia, que alguns dos padrões mais importantesde migração e colonização humanas durante osúltimos 15 mil anos resultaram da domesticaçãode plantas e animais, que tornaram algumasespécies parte inseparável do nicho ecológicohumano (ABRAÃO et al., 2008). Assim,considerando que algumas comunidadesamazônicas alcançaram altos níveis deorganização social, compreende-se que essesníveis resultaram da evolução cultural de antigaspopulações nativas, as quais se desenvolveramatravés de agentes que dominavam práticas etécnicas de manejo e cultivo de plantasselecionadas.

Essas sociedades evoluíram porque elaspercorreram uma longa duração ondeacontecimentos históricos precedentesdesenvolveram e conquistaram práticas etécnicas adequadas à exploração dos recursosnaturais amazônicos (MAGALHÃES, 2005, 2009).Mas não é só isto. O domínio técnico do manejo

seletivo de espécies permitiu que diferentessociedades pudessem relacionar algumas delascom a sua própria formação cultural.

Porém, durante a maior parte do século XX,a ideia que prevaleceu relativa à capacidade deinterferência humana sobre o ambiente foi de queela teria se configurado apenas com o adventodas sociedades agricultoras e pastoras. Além deter sido uma interferência de mão única, no qualos humanos, finalmente teriam conquistado astécnicas necessárias para o domínio e reproduçãocontrolada de espécies úteis, as sociedadesanteriores ou sem o domínio dessas técnicasseriam compostas de sujeitos passivossubmetidos aos ditames ambientais e climáticos.Como consequência, toda natureza anterior aoadvento da agricultura e, principalmente, daurbanização, não apresentaria qualquer traçocivilizador. Assim, do paleolítico pleistocênico aoscaçador-coletores holocênicos, o Homem teriacumprido, apenas, o papel de vítima de umanatureza cruel e indomável.

E, na Amazônia, isto seria ainda maiscomplicado, pois era corrente a ideia de que afloresta amazônica teria ficado intocada, semsofrer qualquer influência humana até a ascensão

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das sociedades agricultoras. E que as antigasintervenções humanas, quando finalmenteocorreram, só teriam alcançado pontos isolados,em áreas reduzidas, localizadas às margens dosprincipais rios da região (SIMÕES, 1981). AAmazônia seria uma região exclusivamente“natural”, onde o Homem além de não fazerparte dela, teria sido repelido pela dificuldadede adaptar-se aos seus supostos parcos recursosnão domesticáveis (MEGGERS, 1987).

Este quadro começou a mudar,principalmente, a partir da última década doséculo XX e, mais recente, quando pesquisasarqueológicas e antropológicas apresentaramevidências cada vez mais convincentes de que afloresta tropical, mesmo há milhares de anos,nunca foi um fator restritivo para o progressodos Homens que nela viveram (ESPITIA;BOCANEGRA, 2006; MORA CAMARGO, 2006;OLIVEIRA, 2007; SÁNCHEZ et al., 2007). Isto é:uma restrição ao florescimento de novas emelhores possibilidades; uma barreira aopreenchimento de todo nicho disponível; umobstáculo ao desenvolvimento de organizaçõessociais cada vez mais elaboradas. Muito pelocontrário, estudos recentes têm confirmado quenão havia uma diferença marcante na adaptaçãodos povos que habitavam a terra firme daquelesque habitavam as várzeas e, inclusive, que aformação dos nichos explorados passou por forteinfluência antrópica (GUAPINDAIA, 2008;MAGALHÃES, 2009).

Na Amazônia, a exploração dos recursosnaturais, por parte das populações antigas, incluium território com ecossistemas diferenciados,explorados e manejados complementarmente. Naverdade, a ocupação territorial era o modo comodiferentes áreas de várzea, de interflúvios e terrasfirmes eram economicamente conectadas,culturalmente integradas e socialmenteconstruídas.

Os primeiros colonizadores da Amazôniaformavam sociedades nômades que viviam dacaça, da coleta e da pesca antes de desenvolverema agricultura. Mas a pesca foi um fator importantepara a fixação de populações por um períodomaior de tempo em torno de meios aquáticos,onde a piscosidade era particularmentefavorecida. Daí, segundo a observação aindaválida de Lathrap (1977), a propagação da coletae seleção de venenos para peixes, de plantasfitoterápicas e outras de utilidade prática (comoa cabaça) impuseram disciplinas específicas parao Homem. E, no contexto desses padrõescomportamentais, as atividades humanasresponsáveis pela manutenção e dispersão deplantas úteis na Amazônia foram governadas porpadrões culturais específicos adequados a essatarefa; a ação inconsciente foi logo suplantadapor ações conscientes, de modo que as pessoassabiam o que estavam fazendo e mantinhaminterações comuns com as plantas. Isto, tal comoproposto por Rindos (apud PIPERNO; PEARSALL,1998), resultou em mudanças nas plantas e nasculturas com importantes consequências co-evolutivas para ambas.

Mesmo que as práticas de seleção esemeadura de plantas úteis tenham levado àdomesticação delas, isto não resultou naprodução imediata de recursos altamenteprodutivos. Existiu um longo período de baixaprodutividade e durante milênios o modo deprodução dominante não dependeu das plantasdomesticadas (PIPERNO; PEARSALL, 1998). Nesteperíodo, iniciado com o Holoceno, em que aspopulações amazônicas começam a interaçãodelas com os recursos florísticos disponíveis:conhecendo-os, selecionando-os e manejando-os;ainda que tenham introduzido plantas exóticas(como a cabaça e o milho) por conta,respectivamente, de experiências ainda maisantigas e inter-regionais, as plantas com as quaispassam a interagir são locais e de origem

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neotropical. Com isto as relações culturais esociais que se desenvolvem na Amazônia alémde terem por base as experiências com osrecursos naturais predominantes da florestaneotropical, não só são originais como constituemum processo histórico (e civilizador) quechamamos de Cultura Tropical.

Por conseguinte, a domesticação é vistacomo uma consequência das estratégias, dasrelações culturais e dos processos históricosseguidos pelos grupos pré-agrícolas. Nestarelação co-evolutiva, em que a domesticação é oresultado de interações comuns, usuais dosHomens com as plantas, as pessoas selecionamentre os espécimes existentes a melhor opçãodisponível para suprir: a alimentação, oartesanato, a saúde e os ritos, tornando isto ummarco cultural socialmente reproduzido. Portanto,foi o modo como os nativos trataram osambientes amazônicos explorados que fez adiferença e garantiu o sucesso e a evolução desuas práticas e modos de produção.

Porém, quando as relações com as plantasse intensificam, os Homens vão se tornando osseus agentes dispersores obrigatórios.Simultaneamente, comportamentos humanosespecíficos intensificam o sucesso dadomesticação. Quando esses comportamentosaumentam a importância dos cultivos naeconomia das sociedades, aumentando amanipulação ambiental e fazendo crescer adiversidade das plantas nos lugares manejados,estão criadas as condições que favorecem osurgimento do novo modo de produção o qualcaracterizará as sociedades agricultoras. E édurante a evolução histórica desse estágio quesurge outro processo civilizador (o da CulturaNeotropical) derivado do anterior (o da CulturaTropical), cuja culminância é representada peloaumento de complexidade social e econômica epelo surgimento de densas populaçõessedentárias governadas por relações que ditam

a natureza e a trajetória da evolução agrícola. Efoi o sucesso da Cultura Neotropical o qualgarantiu para as sociedades amazônicas: 1) aevolução ritualística e a popularização habitualdo emprego da tecnológica da cerâmica; 2) ocultivo intenso e diversificado de plantasneotropicais; 3) o desenvolvimento das técnicasde processamento; 4) a ampliação das redes derelações sociais, de comunicação e de troca; e 5)o manejo em larga escala, para fins diversificados,de nichos ecológicos com diferentescaracterísticas ambientais.

Não obstante o sucesso da CulturaNeotropical amazônica, nos dias de hoje, ainda,existem alguns poucos povos nômades quepreservaram antigas tradições relacionadas àCultura Tropical, vivendo na floresta e nuncadestruindo as malocas da aldeia depois deabandoná-las. Esses povos agem como sepreservassem os arquétipos comportamentais dopassado. Segundo John Hemming (2008), assimsão os Maku (Nukak e Hupdu), que viajam aolongo de rotas familiares na floresta entre o Brasile a Colômbia; e os Awá-Guajá na antiga florestapré-amazônica no Maranhão. Quando os Makuabandonam uma área, eles sabem que seus restosvegetais irão fazer germinar as suas plantasfavoritas. Ao retornarem, meses depois, elesencontram seu acampamento ao lado da florestaadjacente pronto para ser novamente usado. Deum modo geral, as palmeiras, por exemplo,tinham muito a oferecer ao Homem primitivo.

Algumas escavações arqueológicas, taiscomo a de Peña Roja em Caquetá, mostraramsementes de várias espécies de palmeiras ao ladode ferramentas líticas (MORA CAMARGO, 2006).Por isto os arqueólogos reconhecem queconcentrações de palmeiras em algumas florestaspodem ter sido “plantadas” por antigos povosindígenas. Isto torna essas concentraçõesimportantes marcadores que indicam a presençade sítios arqueológicos na floresta.

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Em o Cru e o Cozido, Lévi-Strauss (2004)demonstrou a importância que a floresta vivatinha para diferentes populações indígenas, tantoem termos filosóficos quanto de processocivilizador. Para o autor, antes do machado deferro a lenha provinha de árvores mortas, aindaem pé ou caídas e só a madeira morta erapermitida como combustível. Contudo, “muitasvezes o Homem era obrigado a queimar madeiraviva, a fim de obter plantas cultivadas que ele sepermitirá cozinhar apenas num fogo de madeiramorta” (LÉVI-STRAUSS, p.182). Mas a queima damadeira viva não era aleatória, pois havia aprática deliberada de proteger aquelas cujautilidade era reconhecida, pois a vida civilizadarequeria não só o fogo, mas também as plantascultivadas que o fogo permitia cozinhar. O quefacilitava a queima seletiva era a reocupaçãoconstante - persistent places (SCHALANGER,1992) - de diversos ambientes antropizados porprocessos práticos de recuperação de antigasáreas de ocupação.

Isto é o que se percebe em diferentes sítiosarqueológicos, onde observamos reocupaçõescontínuas ou não na disposição estratigráfica dasevidências. Fato que indica intencionalidade naescolha de locais previamente antropizados(MACHADO, 2010) e cujas paisagens construídassão culturalmente emblemáticas. Locais esses, porsua vez, que faziam parte de uma ampla redeterritorial de trocas e dispersão de plantassemeadas seletivamente. Enfim, em termosfilosóficos e históricos, tal como observado porLévi-Strauss (2004), a engenharia dessaconstrução resultava de um pensamento que viana relação natureza/cultura uma operaçãoconjunta de compenetração isomórfica, ondesuas diferentes partes seriam indiscerníveis emutuamente permeáveis.

Estudos realizados pelo antropólogoamericano Darrell Posey (1990) revelaram comoos Kayapó alteram a floresta, fazendo com que

suas aldeias fiquem localizadas no centro damáxima diversidade de espécies, pois cada localoferecia produtos naturais e diferentes tipos decaça durante diferentes estações. Posey observouque os Kayapó praticavam “agricultura nômade”de longo prazo que incluía o manejo das clareirasem florestas, margens de trilhas e afloramentosde rochas.

Nos campos cerrados, além das queimadasanuais, os Gorotire Kayapó promovem manchasde vegetação lenhosa ao fertilizarem as áreascom serapilheira, restos vegetais e a adição deninhos de cupins e formigas. Com isto, elescultivavam um número notável de 120 espéciesde plantas da savana em seus “pomares”, todasde um modo ou de outro útil à comunidade. Acaracterística fundamental da paisagemconstruída pelos Kayapó está na sua flexibilidade,abastecendo as necessidades da tribo em temposde paz e guerra, seca e chuva.

Segundo Posey (1990), quando os GorotireKayapó saem para caçar carregam pouca comida,mas quando param para acampar ou descansar,eles sempre têm o que precisam. Posey percebeuque isto não era coincidência. Eles carregavamsementes de plantas úteis, e tinham apreocupação de fertilizá-las, tornando osambientes os quais percorriam, ainda, maisprodutivos. Outros povos da Amazôniamanejavam a floresta de maneira semelhante.William Balée (1994) descobriu que quando osKa´apor procuravam alimento em uma florestaaparentemente virgem, na verdade estavamexplorando um ecossistema que eles mesmostinham alterado ao longo de muitos séculos. Oautor chamou estes nichos de “florestasantropogênicas” e supôs que 12% da Amazôniafoi modificada dessa maneira.

Lévi-Strauss (2004) havia observado queos mitos sobre a origem da agricultura entrealguns povos Jê proclamavam que “o solo do

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cerrado não é cultivável, apenas a florestas”. Porconseguinte, a introdução da agriculturaimplicava na transformação de um modo de serem seu converso. Isto é: para ser inserido nouniverso civilizado, o cerrado teria que sertransformado em floresta. Por outro lado, eraatravés da agricultura que se apossava de umadeterminada planta ou de uma determinadavariedade da mesma espécie como forma deidentificá-la a um clã. E essas mesmas plantasou variedades eram semeadas nos territóriosocupados como forma de legitimar a posse deles.

Segundo Lathrap (1977) isto ocorriaatravés do plantio e cultivo de espécimes vegetaisnos quintais das residências, que era o espaçocomunitário e/ou privado protegido da florestaartificial, porém repleta de seres sobre os quaisos Homens não tinham controle. O quintal era aárea comunitária totalmente organizada e livrede influências maléficas. Ele também, funcionavacomo um lote experimental. Novas espécies deplantas trazidas da floresta ou recebidas atravésde contatos com outros grupos étnicos poderiamser introduzidas no esforço consciente paraavaliar o seu potencial como cultígeno útil. Parao autor, não existia pedaço de vegetação nessazona que não fosse deixada intencionalmente ouintroduzida por um propósito definidoculturalmente.

Como o padrão dos quintais foi movido deuma área de floresta tropical das grandes baciasfluviais para outras de terra firme interfluviais evice-versa, ele ficou exposto a diferentes zonasde vegetação e, então, novos cultígenospotenciais integraram-se ao sistema. Com istoas populações nativas tornaram os territóriospercorridos e regularmente ocupados cada vezmais produtivos e familiares. Foram práticasantrópicas deste tipo, enfim, que alteraramgrandes extensões de florestas na Amazônia. Eessas alterações ocorreram para muito além dasáreas de influência direta das moradias e roças.

Áreas reservadas para ritos, para caça e coletade materiais diversos, também eram manejadase tinham a vegetação alterada através doaumento proposital e significativo da incidênciade plantas úteis. Assim, cada casa ou comunidadeficava envolvida e protegida por florestascomposta de uma rede de ambientes totalmenteartesanais.

Balée (1989, 1992) enfatizou que asmodificações antrópicas dos ambientes naturaisiniciadas com a formação de concentrações deárvores frutíferas a partir do manejo da floresta,podem ter passado por diferentes fases deregressão agrícola, quando essas concentraçõeseram associadas com terras pretas, queresultavam do abandono de antigos roçados eassentamentos. Posteriormente, Politis (1996,1999) apresentou observações etno-arqueológicas que mostraram como o descartede sementes comestíveis por parte de gruposnômades aumenta, de forma significativa, opotencial de formação destas concentrações. Masagora alguns pesquisadores estão concluindo queexistem grupos os quais suas próprias práticascotidianas, ainda nômades, conseguem modificarsignificativamente a biodiversidade presente(BALÉE, 2006). Segundo esta perspectiva, CharlesClement (2006a, 2006b) tem levantadodiscussões sobre o papel das práticas de coletade frutas comestíveis para os processos dedomesticação de diversas espécies arbóreas naAmazônia. Posição, por sua vez, que contradizPiperno e Pearsall (1998) para quem aimportância das árvores frutíferas como sustentodo sedentarismo nas terras baixas tropicais erabastante secundário.

Por conta das ações e práticas antrópicas- fossem cotidianas, regulares ou intermitentes -sobre os ecossistemas florestais amazônicosterem se iniciado desde o passado mais remoto,supõem-se que grandes extensões das florestasda região sejam de origem cultural. Mas qual é o

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percentual da floresta cultural na Amazôniabrasileira, considerando a chegada do Homemna região, desde 11.000 AP? Cálculos realizadospelo autor (MAGALHÃES, 2010), considerando aestimativa da população arqueológica naAmazônia desde, no mínimo 11000 AP, segundouma perspectiva relativamente conservadora,sugerem que 45,36% do que se vê hoje comofloresta “primária” pode ser resultado dainterferência humana ao longo de milhares deanos.

Entretanto, torna-se importante salientarque as florestas antropogênicas constituemespaços construídos, cujas paisagens, também,são o produto de uma série de mecanismos derepresentação, os quais possuem tecnologias dedomesticação e dispositivos conceituaiscompatíveis com os sistemas sociais de poder.Sendo assim, pode-se afirmar que tanto osartefatos como os comportamentos sociais estãoinseridos numa rede de relaçõesinterdependentes conectadas cultural eambientalmente. Ou seja: os Homens seidentificam plenamente no seu próprio espaçode existência; são seres sociais integrados ao seumeio circundante; e só podem se socializar emum espaço com o qual interajam e se identificam(FAGUNDES, 2008).

Sendo a paisagem fruto de uma açãohumana é, pois, um produto sociocultural criadopela objetividade - sobre o meio e em termosespaciais - da ação social tanto de carátermaterial quanto imaginário (CRIADO BOADO,1999). Em síntese, podemos afirmar que apaisagem é um meio natural de origem culturalcircunscrito no espaço onde os agentes humanosevoluem coletivamente e, em conjunto, têminfluência direta sobre a distribuição de espéciesdiversas. Por outro lado, fora das redes de relaçãosocioambiental as culturas não só perdem aidentidade quanto o próprio significado (BENDER,2006). Isto é, não apenas a sobrevivência de uma

inovação depende da cultura existente emdeterminado lugar socialmente construído, mastambém sua geração e reconstrução. Relaçõessociais, culturais e ambientais são fatoresinterdependentes.

A seleção, manejo, organização edomesticação do espaço, dos recursos eorganismos naturais são aspectos gerais dacognição e da cultura (JABLONKA; LAMB, 2009;MATURANA, 2001;). Não podem ser isolados unsdos outros; não podem ser isolados dos sistemaseconômicos, legais e políticos em que estãoembutidos e são construídos e nem das práticasdas pessoas que os constroem (HEADRICK et al.,2001; MITCHELL, 2002; SHEPARD JUNIOR, 2005)

Na inter-relação cultura/natureza, ointercâmbio entre os comportamentos e oambiente é ecológica e simbolicamentereproduzido e representado. Quando as pessoasguardavam em tempos de escassez e/outransportavam de um lugar para outro assementes das plantas preferidas e os seus animaisde estimação, as espécies transportadasrepresentavam aspectos importantes dasrepresentações culturais tradicionais. Issoacontecia porque, no caso das sementes, elasacabavam se espalhando e germinando noslugares por onde essas pessoas passavam o quegarantia um estoque de alimentos para asgerações futuras e a identidade de pertencimentoa esses lugares. Por isso a probabilidade de queesse comportamento se repetisse nas geraçõesseguintes aumentava, pois eram criados símbolose informações pedagógicas que preservavam oshábitos e as práticas relacionadas a esse costume.

Ao colonizar a região amazônica, apersistência das ações humanas de manejoafetou o desenvolvimento sociocultural de seusdescendentes, a sua identidade cultural e a vidadas espécies que selecionou. Tendo isto ocorridodesde o início do Holoceno, os atributos culturais

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desenvolvidos foram frutos da inteiração regionale da longa duração da relação cultura/natureza.Nessa relação, além dos produtos culturais seidentificarem com a floresta tropical onde sedesenvolveram a própria floresta tropicalreproduziu, de um modo ou de outro, o produtodessa relação. Por sua vez, as práticas dessarelação ficaram atreladas à evolução história dassociedades ao longo do tempo e se caracterizou,tal como observado por Lévi-Strauss, como umprocesso civilizador. Deste modo, desde a suachegada, os seres humanos, como agentesseletivos da Amazônia executaram, intermitenteou continuamente, em diferentes territóriosculturais da região, a construção de ambientes ea formatação de uma civilização, segundo suastradições e o nível de complexidade social queostentaram.

O nível de interferência depende dasnecessidades geradas pela complexidade social.Portanto, entre sociedades de caçadores-coletores as necessidades, geralmente, nãoimplicam em alterações radicais do ambiente, taiscomo aquelas exigidas para a construção decanais, de tesos e outras obras urbanas. Não éeste tipo de interferência que caracterizadomesticação da paisagem em si, já que nãoenvolve o manejo coletivo de animais, plantasou da geografia. A interferência antrópica doscaçadores-coletores, consciente ouinconscientemente, só se caracteriza comodomesticação quando eles interferem, em umprimeiro momento, na distribuição das espéciesculturalmente selecionadas e, no momentoseguinte, na incidência e comportamento delas,tornando-as, então, antropogênicas. Há, portanto,uma diferença no tipo de interferência que acultura faz sobre a natureza.

De todo modo a cultura só domestica anatureza quando age sobre os seres vivos,incluindo aí os próprios seres humanos. Paisagemdomesticada, portanto, é o espaço cuja

distribuição, comportamento e concentração deespécies foram induzidos intensamente porpráticas culturais orientadas. No início aconstrução antrópica dessa paisagem pode seraleatória e conscientemente involuntária, mas elaresulta em um produto antropogênico dereconhecido valor para as gerações beneficiárias.Em consequência, esse produto tempossibilidades de se tornar não só fundamentalpara o desenvolvimento histórico da sociedadeou sociedades que o produziu como, também,consciente e tecnologicamente mais elaboradopelas sociedades herdeiras.

Por outro lado, quanto mais complexa fora organização cultural de uma sociedade menosaleatória é a sua evolução histórica, poiscomportamentos aprendidos interagem comtodos os eventos recorrentes no desenvolvimentodas mudanças. Se essas mudanças se refletemna construção ou reconstrução dos nichos queos abrigam, elas não só são reforçadas pelasações pedagógicas bem como interferem maisintensamente na evolução das espécies a elasrelacionadas.

A capacidade do Homem de manipular aevolução é derivada da sua capacidade de pensare de se comunicar por símbolos. Com o sistemasimbólico o Homem pode planejar, prever eproduzir efeitos sobre a evolução biológica.Entretanto, como na natureza todos osorganismos, humanos ou não, formam umacomplexa teia de inteirações, tudo interage, demodo que a evolução opera simultaneamentepara todas as espécies inter-relacionadas de umambiente (MATURANA, 2002). Ou seja, tal comoproposto por Rindos (1989), tudo nos leva a crerque a ação do Homem sobre o ambiente é umaação co-evolutiva e, portanto, ele é coletivamenteafetado por ela.

A partir do momento em que a açãocoletiva promovida pela seleção cultural

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implica na produção simultânea de símboloscom os quais a sociedade se identifica e secomunica, a própria paisagem construídareproduz a simbologia e a comunicaçãoembutidas nelas. Assim, a floresta tropical dosambientes manejados pelo Homem, são bensculturais de valor simbólico e objetivo tal como

a própria cultura material. Deste modo, seexistem áreas onde padrões culturais ehistóricos são identificados na cultura materialdeixada por antigas populações amazônicas,é de se esperar que as paisagens onde essesmateriais se encontrem, também, reflitam essepadrão.

5 AS EVIDÊNCIAS PARCIAIS PARA UMA CONCLUSÃO PROVISÓRIA

Na Amazônia foram encontrados vestígioscom datações bastante recuadas, como asobtidas por Anna Roosevelt e colaboradores(1996), na Caverna da Pedra Pintada, com idademáxima de 11200 anos AP. Mais recentemente,em 2005, Caldarelli e colaboradores obtiveramdatação de 9570 AP para um sítio de área aberta(Breu Branco 1) no sudeste do Pará. Essasdatações, que foram alcançadas depois dasestabelecidas para os vestígios encontrados emquatro grutas localizadas na Serra Norte deCarajás - 8140 AP para a Gruta do Gavião (LOPESet al., 1993), 8470 AP para a Gruta do Rato, 8260AP para a Gruta da Guarita e 9000 AP para aGruta do Pequiá (MAGALHÃES, 1998, 2005) -além de reforçar os argumentos de uma ocupaçãopré-Clóvis, encerraram, definitivamente, o debatesobre se as terras baixas amazônicas seriam ounão propícias para a ocupação humana.

Ao confirmar a antiguidade holocênica dapresença humana na Amazônia, as Grutas doGavião e do Pequiá apresentaram restosorgânicos diversos associados aos hábitosalimentares das populações que as ocuparam.Esses restos mostraram que diferentesecossistemas florestais amazônicos já eramexplorados pelo Homem desde o Holoceno inicial,e revelaram que os vestígios de origem vegetalencontrados nas grutas da Serra Norte de Carajásestavam relacionados a importantes práticas demanejo e seleção de plantas neotropicais

endêmicas da Amazônia, milhares de anos antesda ascensão das sociedades agricultoras.

O que as pesquisas realizadas nas grutasdo Gavião e Pequiá indicam, seja lá quem tenhamsido, é que os Homens que as ocuparam já estavamperfeitamente adaptados aos recursos tropicaisamazônicos e interferindo neles segundo suasnecessidades e costumes. Assim, além daAmazônia apresentar uma colonização humanabastante antiga, realizada por sociedades pioneirasde caçadores-coletores que intercambiavam comdiversos ecossistemas, essas sociedades, ao longode milhares de anos de integração com osambientes amazônicos, tiveram tempo suficientepara conhecer, manejar e cultivar os recursosvegetais da floresta úmida que exploravam. Pois,tal como foi constatado, esses recursos desde oinício eram parte fundamental de sua organizaçãosocioeconômica e ainda que não dominante, delesdependiam substancialmente.

A entropia na organização social dasculturas de caçadores-coletores pioneiras induziuas mesmas respostas por várias gerações, atélevar à variações culturais cada vez maiscomplexas. Essa complexidade culminou com aintensificação do manejo e consumo de plantassistematicamente cultivadas e tecnologicamentemanipuladas por populações agricultorasneotropicais, agora incorporadas ao sistemaregional e multicultural da Cultura Neotropical.

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De fato, a maior parte dos vestígios demanejo encontrados associados às populaçõesagricultoras amazônicas eram as mesmas plantasutilizadas (especialmente algumas das principais)e consumidas por populações pioneiras decaçadores-coletores. Isto teria ocorrido atravésde um processo civilizador contínuo,principalmente no que se referem às práticas queadaptaram o modo de produção, as relaçõesculturais e os hábitos sociais aos recursos naturaisexplorados, todos provenientes e consumados nafloresta neotropical amazônica. Foram aspersistentes ações voltadas para o manejo diretoe indireto do ambiente, que criaram nichosculturais cada vez mais abrangentes e deixaramum legado o qual foi transmitido de geração parageração, até ser definitivamente incorporado aospadrões culturais regionais mais complexos.

Inventário botânico e pesquisasarqueológicas ainda inéditas comandadas porVera Guapindaia e realizadas nos platôs daFloresta Nacional Saracá-Taquera (FLONA Saracá-Taquera), localizados no interflúvio Trombetas/Nhamundá revelaram traços bastanteconvincentes de ações antrópicas sobre aformação das coberturas florestais locais. Essasflorestas parecem constituir verdadeiraspaisagens construídas ao longo de centenas deanos. Hipótese que se justifica por conta destaregião ser uma importante área arqueológica, aPA-OR (Oriximiná) conforme estabelecido porSimões & Costa (1978), onde até agora foramregistrados 120 sítios de antigas sociedadesagricultoras, de elevado nível de complexidadesocial.

Esses sítios estão distribuídos nos maisdiversos ambientes, incluindo as margens dos rios,igarapés e lagos; nas áreas de terras baixaslocalizadas entre as margens dos rios principaise dos lagos e nas suas áreas mais elevadas; notopo dos platôs e, principalmente, na base de suasencostas (GUAPINDAIA; LOPES, 2004; MACHADO,

2001). Assim, os vestígios arqueológicos daocupação humana pretérita da área não estãorestritos, apenas, às margens dos grandes cursosd’água (GUAPINDAIA, 2008). Além disto, foramidentificados dois estilos cerâmicos (Pocó eKonduri), que mesmos que sejam frutos desociedades diferentes, ocorrem nos mesmosnichos e parecem ter pertencido a povos que, emtermos gerais, tiveram os mesmos costumes epráticas ambientais. Para completar, dataçõesradiocarbônicas diversas indicam que a ocupaçãolocal e o manejo ambiental intensivo teriamcomeçado, no mínimo, há 6000 AP, com os Pocóe se acentuado desde 4000 anos AP com osKonduri (GUAPINDAIA, 2008).

Os platôs, onde foram observadas grandese diversas concentrações de frutíferas associadasou não, comporiam áreas de captação de recursospara as populações lacustres e/ou ribeirinhas. Porexemplo, pode-se inferir como propõe Morán(1990) que a coleta de frutos típicos dedeterminada época do ano levasse a populaçãoa rearranjos organizacionais para permitir aexploração adequada de tal fonte de alimentos.E/ou, conforme Shanley & Rosa (2005), paraconstruir esperas em áreas com árvores atrativaspara caça, especialmente aquelas ricas em floresde Caryocar villosum (comum no platô Greig, porexemplo), apreciadas por sua capacidade deatrair caça, tanto quantitativa, quantoqualitativamente.

Isto pode implicar em dispersãopopulacional de grupos organizados com baseem mitos, rituais, parentesco etc. e na ocupaçãosazonal, por grupos pequenos, dos platôs einterflúvios, para a exploração dos recursosnaturais locais. Tais ocupações interfeririamregularmente na composição natural dasflorestas. Portanto, áreas circunscritas aos sítiospodem ter passado por manejos diversos, querna coleta e cultivo seletivo de espécies, bem comona construção de cenários sociais (residências,

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acampamentos, roças, áreas de descarte,caminhos etc.), que resultaram em uma paisagemimportante para a definição dos processosculturais territorial.

O sítio Greig II localizado no topo noroestedo platô Greig apresenta um número significativode fragmentos cerâmicos decorados pertencentesao estilo Konduri. Esses fragmentos aparecem empequenas concentrações próximas à borda doplatô. Eles indicam que as atividades alidesenvolvidas eram especiais e realizadas por umnúmero pequeno de pessoas. Significativamente,o inventário botânico (ainda inédito) realizadono platô, na área do sítio, revelou uma coberturavegetal de floresta densa madura, mas com altoíndice de plantas medicinais e alucinógenas, alémde inúmeras plantas artesanalmente úteis. Essasocorrências se diferenciam significativamente, emtermos de incidência e diversidade, dasregistradas no entorno do sítio.

Por conta disto, Guapindaia (2008) sugeriuque além dos sítios temporários encontrados naregião terem sido utilizados para captação derecursos, alguns como o Greig II, tambémpoderiam ter servido para outras atividades,provavelmente de cunho ritualístico. Parece queo aumento das necessidades das populações maisdensas associadas ao estilo Kondurí, exigiu daordenação socioeconômica um melhor controledo manejo e da exploração dos recursos naturaisencontrados nas áreas altas. Portanto, no GreigII a ordem ritualística e a captação de recursosestariam mutuamente relacionadas e nãopoderiam ser percebidas separadamente. Assim,este sítio cumpriria dentro do território culturalkondurí, um relevante aspecto cultural nasrepresentações sociais dominantes, que teriamerguido diferentes cenários sociais parafinalidades específicas.

Os ambientes transformados em paisagensculturalmente reconhecidas não podem ser vistos

como um mero substrato natural (no sentido deselvagem), mas sim como espaços simbolicamenteconstruídos. Neles, há toda uma dinâmica entre omundo natural e a imagem social da paisagem,que permanece em obra em favor de interessesculturais, sociais e políticos. Com isto, os nichosocupados e explorados pelas populações queproduziram as cerâmicas Pocó e Konduri, não sótinham um padrão estilístico bem definido em suasculturas materiais, mas também um padrão demanejo ambiental que cabe aos arqueólogosidentificar e diferenciar dos outros criados poroutras culturas. Estando certa, esta afirmaçãopode implicar que parte significativa dosecossistemas amazônicos seria, efetivamente,paisagem eco-fatual resultante da interpretaçãoe idealização do mundo por meio da cultura e que,portanto, possui tantos padrões quantos forem ospadrões dos diferentes conjuntos materiaisidentificados no universo cultural da Amazônia.

Diversas evidências encontradas emdiferentes áreas de floresta tropical Neotropicalmostram, cada vez mais claramente, que associedades agricultoras que ali se desenvolveramforam o fruto lógico e natural da evolução social,cultural, política e econômica de populaçõeslocais precedentes. Por outro lado, as sociedadesagricultoras, nada mais fizeram do que acentuar,tanto na densidade quanto na intensidade, osusos e costumes relacionados ao conhecimentoe domínio dos recursos florísticos tropicais e àelaboração estética e ritualística da cerâmica.

O desenvolvimento e evoluçãosociocultural, baseado em recursos e costumesadquiridos a partir de populações perfeitamenteadaptadas à floresta tropical amazônica,constituem, portanto, as bases das sociedadesagricultoras locais. E, bem ou mal, foi sobre essasbases que a arqueologia amazônica definiu osdiferentes horizontes, fases e tradições culturais,cuja distribuição foi estabelecida através datipologia da tecnologia de produção, dos

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elementos e estilos decorativos e dos usos e finsda produção ceramista, organizada geográfica ecronologicamente.

Por outro lado, a produção ceramista nocontexto da cultura material tem sidocorrelacionada à expansão de línguas e famíliaslinguísticas, de complexos agrícolas e àdispersão genética (NEVES, 2010). Por isto, aocompreendermos que a diversidade cultural podeser explicada por fatores históricos e essesimplicam em longos períodos de formação,consolidação e mudanças, consequentemente,poderemos entender a correlação entre o ambienteterritorial, a evolução da cultura material e ospadrões do registro arqueológico. Isto é, ospadrões arqueológicos que definem determinadaárea cultural implicam não só nas ocorrênciasmateriais e expansão linguística, bem comotambém nos elementos ambientais que constituema paisagem historicamente construída.

Em consequência, se determinada área édefinida culturalmente, ela deve apresentar a

variabilidade cronológica da sua cultura materiale a variabilidade de cenários sociais (caminhos;canais; aterros; áreas de roça, acampamento,caça; de captação de recursos etc.) e de espéciesdistribuídas em suas paisagens. Essasvariabilidades (materiais, cenográficas e deespécies) é que podem caracterizar sedeterminado território foi o espaço histórico dedada cultura ou não.

Finalmente, podemos dizer de modosintético, que a Cultura Neotropical Amazônicanão só é fruto da reorganização histórica de açõeshumanas anteriores (de Cultura Tropical),efetivadas na floresta úmida amazônica, bemcomo é um processo civilizador que fez dosecossistemas neotropicais, um objetomanufaturável! Nela, a ação humana não erauma mera atividade sobre o destino das espéciesvegetais. Porém, o destino do homem eraplanejado traçando o traço da própria paisagem.Isto é, o homem amazônico não só domesticavaplantas, como também a floresta enquantoeducava a si mesmo.

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BIODIESEL E DESENVOLVIMENTO REGIONAL NA AMAZÔNIA LEGAL: CASOS DO ESTADO DOTOCANTINS

Marcus Vinícius Alves Finco*

Werner Doppler**

RESUMO

A produção de biocombustíveis tem sido amplamente debatida no Brasil, levando a desenvolvere a implantar, no ano de 2004, o Programa Nacional de Uso e Produção de Biodiesel (PNPB), com aintenção de aumentar a participação de energias renováveis na matriz energética brasileira e, aomesmo tempo, promover o desenvolvimento regional. Neste contexto, o estudo visa avaliar os impactosdo PNPB na produção nacional e regional de biodiesel, bem como na geração de empregos. Para isto,uma gama de indicadores socioeconômicos foram coletados entre os órgãos responsáveis, em nívelnacional e regional, bem como na literatura específica. Os resultados preliminares apontam que alogística de distribuição parece ser um obstáculo considerável para o sucesso do programa. Aconcentração de indústrias de biodiesel na região Centro-Oeste do País, e as grandes distâncias paraentregá-lo no Norte do Brasil, torna o preço não competitivo, quando comparado com o diesel fóssil.Os resultados, também, sugerem que o PNPB não está conseguindo promover a integração daagricultura familiar no estado do Tocantins, especialmente por causa da dificuldade estrutural dosector agrícola e as deficiências técnicas e políticas apresentadas pelo mecanismo de incentivos.

Palavras-chave: Biodiesel. Desenvolvimento Regional.- Amazônia - Estado do Tocantins.

* Economista; PhD em Economia Agrícola pela Universitaet Hohenheim (Alemanha). Professor da Universidade Federaldo Tocantins (UFT). E-mail: [email protected].

** Professor at Institute of Agricultural Economics (Universitaet Hohenheim, Germany). Email: [email protected].

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BIODIESEL AND REGIONAL DEVELOPMENT IN THE BRAZILIAN AMAZON: CASES FROMTOCANTINS STATE

ABSTRACT

Biofuel production has been a greatly discussed topic in Brazil. In 2004, these debates lead thecountry to develop new policies and implement a national Programa Nacional de Uso e Produção deBiodiesel (PNPB) with the intent to increase the share of renewable energy and foster regionaldevelopment. In this context, the present study aims to assess the impacts of PNPB on national andregional biodiesel production, as well as on job generation. For this purpose, ranges of socio-economicindicators were collected among national and regional stakeholders and specific literature. Thepreliminary results point out that distribution logistics appears to be a considerable constraint to thesuccess of the PNPB. The concentration of biodiesel industries in the Central-West region of the country,and the large distances to deliver biodiesel in the Northern Brazil make biodiesel prices non-competitivewhen compared to fossil diesel. The results also suggest that the PNPB is not succeeding in promotingthe integration of family agriculture in the Tocantins state, especially because of the structural difficultyof the agricultural sector and the technical and political shortcomings presented by the incentivesmechanism.

Keywords: Biodiesel. Regional Development - Amazônia - Estado do Tocantins.

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1 INTRODUÇÃO

A preocupação global com a degradação ea exaustão dos recursos naturais tem levadogovernos e cientistas de todo o mundo a identificaralternativas e soluções para o problema. Nessesentido, desde o início do século 21, um debateinternacional vem tomando forma, e está presenteem todos os encontros sobre desenvolvimentosustentável, a saber: os prós e contras dosbiocombustíveis (DUBOIS, 2008; FAO, 2008a,2008c). Do ponto de vista socioeconômico, osbiocombustíveis podem impactar positivamenteo desenvolvimento regional e diversificar autilização do ambiente local, diversificando epromovendo a multi-funcionalidade do espaçorural, onde as explorações agrícolas são utilizadasnão, apenas, para a produção agrícola, mastambém para o turismo rural e ecológico, porexemplo (UN ENERGY, 2007; FAO, 2008b).

Com base nisso, em 2004 o governobrasileiro lançou um programa sobrebiocombustíveis, o Programa Nacional de Produçãoe Uso de Biodiesel (PNPB), construído com baseem um cenário de preços elevados do petróleo, emuma demanda crescente por combustíveis de fontesrenováveis, e da vantagem comparativa do País emrecursos naturais (NASS et al., 2007). O PNPB temcomo objetivo a produção, implantação e uso dobiodiesel com foco no desenvolvimento regional.

Além disso, tem vários objetivos específicos como:(i) implantar um programa sustentável,promovendo inclusão social; (ii) garantir preçoscompetitivos, qualidade e oferta do biocombustível;e, (iii) produção de biodiesel a partir de óleosvegetais de diferentes espécies.

Com base no exposto, o presente estudoavalia o PNPB, sua racionalidade e suasimplicações para a economia, infraestrutura egeração de trabalho. A análise das partesenvolvidas na cadeia produtiva, bem como aespacialidade geográfica das empresasprodutoras de biodiesel e a produção de óleopermite uma melhor compreensão da realidadedesta atividade no Brasil. O Selo CombustívelSocial, que é um instrumento do Programa, assimcomo os leilões nacionais, também, sãoanalisados com o objetivo de melhorcompreender o papel da produção de biodieselna inclusão social, em nível macro. Em adição, oestudo avalia a produção regional, contemplandoas empresas de biodiesel, a sua estrutura,logística, produção e expectativas relacionadasao futuro. A análise regional foi realizada noestado do Tocantins, e é importante e essencialpara entender os vetores por trás desta novaatividade, bem como seus impactos nodesenvolvimento regional na Amazônia Legal.

2 BIODIESEL NO BRASIL

2.1 O PROGRAMA NACIONAL DE PRODUÇÃO E USO DE BIODIESEL (PNPB)

No ano de 2003, um grupo interministerialse reuniu para discutir sobre a viabilidade do usodo biodiesel como fonte alternativa de energia.Um relatório final foi apresentado e os resultadosapontaram algumas recomendações, como aincorporação de biodiesel à agenda nacional e aadoção da inclusão social e desenvolvimento

regional como princípios de orientação paraações governamentais. Além disso, o relatório,também, recomenda que a política deagroenergia brasileira não deva privilegiar rotastecnológicas (processos industriais), matéria-prima de base (produção agrícola), e nem escalasde produção industrial. Todas estas

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recomendações foram indicadas com base naampla gama de alternativas de óleos vegetaisno país (REUNIÃO ..., 2003).

Nesse sentido, desde que o arcabouçoinstitucional e a estrutura organizacional foramimplantados, bem como a utilização de biodiesele estabelecida a produção no Brasil. Houve anecessidade da formulação de um marcoregulatório, executado de acordo com a ordemde execução provisória nº 214, em setembro de2004, que incluiu oficialmente o biodiesel namatriz energética nacional. Esta delegoucompetência e direitos para a Agência Nacionalde Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)para promover, regulamentar, autorizar, contratare fiscalizar a produção, bem como acomercialização (BRASIL, 2004). Uma vez que ainclusão do biodiesel no balanço energéticonacional foi realizada, o governo lançou o PNPBem dezembro de 2004.

Assim, pode-se observar que o PNPB foipensado e construído por diferentes setores dogoverno. Ao mesmo tempo, segue, em nível macro,o cenário internacional de crescente demanda porfontes de energia renováveis, bem como sobre opotencial brasileiro para suprir essa demanda. Emnível micro, o Programa procura gerar emprego e

renda nas áreas rurais, principalmente através daintegração de agricultores familiares na cadeia dobiodiesel, bem como a diminuição dasdisparidades regionais no País. Em outras palavras,propõe a implantação sustentável da produção,com destaque para a inclusão social e odesenvolvimento regional, mas considerando apreservação dos aspectos ambientais e culturais.O PNPB reforça a importância de diferentes óleosvegetais como fontes de matéria-prima paraprodução de biodiesel com o objetivo de evitaruma sobre-exploração, trazendo também aoportunidade para a inclusão social deagricultores familiares em diversas regiões doBrasil.

Em resumo, o PNPB tem uma diferençacrucial para os outros programas de biodieselcriados durante a década de 1970 e 1980 no País.Além da produção e uso do biodisel, o Programase concentra, principalmente na inclusão sociale, também, leva em conta os aspectos ambientaisda produção. Devido à importância do objetivoda inclusão social, o governo federal estabeleceuum conjunto de instrumentos diferentes com oobjetivo de atingir esta meta, como isençõesfiscais, subsídio financeiro, linhas de créditoespecíficas e, em especial, o Selo CombustívelSocial (SCS).

2.2 O SELO COMBUSTÍVEL SOCIAL (SCS)

Junto com a introdução oficial e doreconhecimento do biodiesel como uma entidadecorporativa na matriz energética nacional, ogoverno brasileiro, também criou o SCS atravésdo Decreto nº 5.297, de 06/12/2004 (BRASIL,2004). O SCS é um certificado dado às empresasde biodiesel que adquirem parte da matéria-prima de agricultores familiares para produzi-lo.

De acordo com a Instrução Normativanº 1, de 19/02/2009 (BRASIL, 2009) empresas

produtoras de biodiesel devem adquirir ummínimo de 10% da matéria-prima da agriculturafamiliar no Norte e Centro-Oeste, e um mínimode 30% no Sudeste, Sul e Nordeste do Brasil.Além disso, a empresa de biodisel que comprarparte da matéria-prima da agricultura familiartêm direito a isenção de impostos para aprodução de biodiesel (PIS/PASEP e COFINS),instituída pela Lei nº 11.116, de 18/05/2005(BRASIL, 2005). As empresas de biodiesel quepossuem o SCS também têm facilidades para

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obter o apoio financeiro do Banco Nacional deDesenvolvimento Econômico e Social (BNDES),por exemplo.

O SCS é monitorado pelo Ministério doDesenvolvimento Agrário (MDA) e para obter,assim como mantê-lo, a empresa de biodieseldeve estabelecer contratos com agricultores

familiares e a garantia, ex ante, do preço demercado ou preço mínimo (média dos últimos36 meses), venda e condições de distribuição efornecimento de sementes, bem como assistênciatécnica. Nas Tabelas 1 e 2, pode-se observar atributação da produção no Brasil, bem como asdiferenças entre as tributações do biodiesel, dagasolina, do diesel fóssil e do etanol.

Tabela 1 - Taxação do biodiesel no Brasil.

Fonte: Garcez; Vianna (2009).Nota: * referente às empresas detentoras do SCS.N = Norte; NE = Nordeste; S = Sul; SE = Sudeste; CO = Centro-Oeste; Sar = semi-árido.

Como se pode observar, o biodieselproduzido a partir de matérias-primas cultivadaspor agricultores familiares no Norte, Nordeste enas regiões semi-áridas do País não têm incidênciade tributação, entretanto nas mesmas condiçõesem outras regiões do Brasil, têm uma tributaçãode cerca de R$ 70,00 por m3 de biodiesel. A menortributação ou mesmo a falta de tributação dobiodiesel que foi produzido a partir de matérias-primas cultivadas por agricultores familiares estábaseada pela meta da inclusão social do PNPB.Além disso, reduzir a tributação do biodieselproduzido no Norte, Nordeste e semi-árido estárelacionada ao fato de que são as regiões maispobres do País. Desde 2004, o Produto InternoBruto (PIB) per capita da região Nordeste foi,aproximadamente, a metade da média nacional,enquanto na região Norte ficou cerca de 35%menor que a média nacional (HOLANDA, 2003).

Como se pode notar na Tabela 1, sempreque o biodiesel é produzido sem a participaçãoda agricultura familiar, há aumento detributação. Com isso, o objetivo do governobrasileiro é estimular a produção na RegiãoNorte (caracterizada, principalmente, pelafloresta amazônica e cerrado), e no Nordestedo País (que compreende o bioma cerrado emata atlântica), em especial através daprodução de Ricinus communis (mamoneira) eElaeis guineensis (dendezeiro) (GARCEZ;VIANNA, 2009). Esses incentivos não se aplicama soja cultivada nessas regiões. Mesmo assim,a tributação é menor do que a da gasolina e dodiesel fóssil, e algo semelhante ao etanol (quetambém tem isenções fiscais, por serconsiderada uma fonte renovável de energia,como biodiesel).

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Fonte: Garcez; Vianna (2009).Nota: * intervenção de domínio econômico

Como se observa na Tabela 2, a tributação(CIDE + PIS / PASEP + COFINS) é maior para agasolina e o diesel, mesmo quando comparadaa do biodiesel não produzido a partir de matérias-primas cultivadas por agricultores familiares.Pode-se notar, também, que a tributação doetanol é semelhante ao biodiesel. É interessanteobservar que as regras e normas para a produção

de ambos os combustíveis renováveis sãoincorporados em diversos programas nacionais(produção de etanol se baseia no ProgramaNacional do Álcool, o chamado Pró-Álcool), astributações têm tendências semelhantes ou, emoutras palavras, ambos os combustíveisrenováveis obtêm isenções fiscais, quandocomparados às suas contrapartes fósseis.

Tabela 2 - Taxação da gasolina, diesel e etanol no Brasil.

2.3 LEILÕES DE BIODIESEL NACIONAL

A Lei nº 11.097 (BRASIL, 2005) tornou omercado de biodiesel obrigatório visandoregulamentar sua comercialização no País. OMinistério de Minas e Energia (MME)estabeleceu as diretrizes para os leilõesnacionais de aquisição de biodiesel (ordempresidencial nº 483 de 10/03/2005). Nestecontexto, o leilão nacional foi concebido comoum mecanismo para incluir o novo combustívelrenovável na matriz energética nacional, bemcomo resolver os inúmeros problemas defornecimento, logística e distribuição.

Com base nisso, o leilão nacional estáenquadrado sob a égide de um concurso públicoorganizado pela ANP, dividido em duas fases,onde: (a) a primeira composta por 80% do total

de biodiesel comercializado e é dedicada àsempresas que possuem o SCS; e (b) a segundacompreende os restantes 20% e todas asempresas de biodiesel podem participar, ou seja,aquelas que possuem ou não o SCS.

Para cada leilão está previsto: (i) umanúncio que informa o volume de aquisição debiodiesel e entrega, bem como as condições departicipação e o credenciamento do produtor; (ii)o envio eletrônico da proposta de preços, ou seja,a ANP apresenta um preço máximo por unidadede biodiesel, ex ante, que é a referência para oslances de produtores durante o leilão. Assim, asempresas têm a oportunidade de oferecer umaproposta, especificando, também, a quantidadee o local onde o produto deve ser entregue

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2.4 A COMERCIALIZAÇÃO DE BIODIESEL

Após o pedido de execução provisória nº214 (13/09/2004), a ANP iniciou uma consultoriapública com o objetivo de estabelecer asespecificações técnicas relativas aos percentuaisde mistura de biodiesel ao diesel fóssil. Naépoca, a Agência chegou ao consenso de queuma mistura de biodiesel voluntária de 2% aodiesel fóssil, o chamado B2, seria apropriadapara iniciar o programa. No entanto, quando aordem executiva provisória tornou-se a Lei nº11.097 (BRASIL, 2005), o governo federalescolheu a mistura obrigatória ao invés devoluntária. É importante dizer que aspercentagens bem como os prazos envolvidosno processo podem ser alteradas a qualquermomento, de acordo com a disponibilidade dematéria-prima, capacidade industrial, e aparticipação da agricultura familiar na cadeiado biodiesel. Neste contexto, o governo federalestabeleceu que, antes do ano de 2008, todo o

biodiesel poderia, voluntariamente, conter 2%de biodiesel, que se tornou obrigatório emjaneiro de 2008. Já no ano de 2008, o percentualpassou para 3% (B3) e para 4% (B4) em 2009e, finalmente, chegou a 5% (B5) em 2010.

Com o B2 no ano de 2007, houve umademanda de cerca de 800 milhões de litros debiodiesel, volume que pode ultrapassar 2,3bilhões de litros, em 2010, com o B5. Os impactoseconômicos em todo o País podem ser vistos emnúmeros divulgados pelo Governo Federal,especialmente sobre a balança de pagamentosnacional, uma vez que o Brasil está a diminuir aimportação de diesel fóssil. No entanto, osimpactos em setores sociais e ambientais não sãoclaros, porque a maior parte da produção debiodiesel é realizada a partir da soja e da gorduraanimal, ambas produzidas pela agricultura delarga escala.

(GARCEZ; VIANNA, 2009). Aquela que oferecer omenor preço para o respectivo volume debiodiesel é a vencedora e, portanto, é aresponsável por produzir o combustível renovávelno prazo estabelecido pela ANP.

É importante dizer que, até o presentemomento, a Petrobras é o único comprador debiodiesel durante os leilões nacionais,caracterizando assim uma situação demonopsônio. Depois de adquirido, a Petrobraspermite aos distribuidores buscá-lo nas indústrias.Vendido em leilões nacionais é considerado freeon board (FOB) significando que os distribuidoresdevem assumir a responsabilidade pelos custosdo frete. Em seguida, a mistura de biodiesel ao

diesel é feita pelas distribuidoras de combustível,mas as refinarias também estão autorizadas afazê-lo e entregar a respectiva mistura “B” (nomomento o B5) para as distribuidoras.

Outra questão importante é que ocombustível renovável precisa seguir normas deespecificação técnicas estabelecidas pela ANP. Osprodutores de biodiesel na comercialização deseu produto devem apresentar, a posteriori, ocertificado de qualidade em conformidade comas normas nacionais. No entanto, como se podever na próxima seção, o PNPB também enfrentaproblemas, principalmente quanto àdiversificação e oferta de matéria-prima ouprimária.

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No ano de 2009, haviam 64 indústriasautorizadas pela ANP para produzir biodiesel noPaís e, destas, 49 com permissão paracomercializar o produto no Brasil. Com basenisso, a capacidade total instalada no ano de

2009 foi estimada em 4.628 milhões de m3 porano, o que equivale a cerca de 50% da demandanecessária para a mistura de 5% de biodieselao diesel fóssil, o chamado B5 (cerca de 2,6milhões de m3).

3 BIODIESEL NO BRASIL: SITUAÇÃO ATUAL

Esta seção tem como objetivo apresentaro panorama da indústria brasileira, bem comoo cenário atual do biodiesel nacional Após 6anos de implementação do PNPB, algunsresultados são perceptíveis, especialmenteaqueles relacionados aos setores de produçãoe comercialização. Com base nisso, acapacidade real, bem como o potencial de

produção de biodiesel é analisada. Também, alocalização espacial e a capacidade instaladadas indústrias são avaliadas, permitindo quese tenha um quadro mais amplo da produçãoe comercialização de biodiesel nacional e,portanto, possibilitando estimar os impactosna inclusão social e geração de empregos, emnível macro.

3.1 COMERCIALIZAÇÃO E INDÚSTRIAS DE BIODIESEL

Tabela 3 - Capacidade de produção de biodiesel no Brasil (2009).

Fonte: ANP (2010).Nota: * baseado em 300 dias/ano.N = Norte; NE = Nordeste; S = Sul; SE = Sudeste; CO = Centro-Oeste.

Como se pode ver na Tabela 3, há umaconcentração de indústrias de biodiesel no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil (29 e 14 respectivamente).Esse cenário reflete a situação atual de localizaçãoespacial de unidades de produção, que estão maispróximas de unidades de exploração agrícola deoleaginosas no caso da região Centro-Oeste, e maisperto de unidades de distribuição, no caso da região

Sudeste. No entanto, quando se considera acapacidade anual de produção de biodiesel, oSudeste é de longe a região que apresenta o maiorvolume: cerca de 1.780 bilhões l/ano. A região Sul,embora compreenda apenas sete indústrias debiodiesel, é responsável por 20,1% da capacidadede produção anual total, o mesmo montante que aregião Centro-Oeste. Este número mostra que as

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unidades de produção na região Sul são maioresdaquelas instaladas na região Centro-Oeste, emmédia.

Quando se considera os dadoslongitudinais, existe uma clareza de que há umaconcentração da capacidade de produção debiodiesel na região Centro Oeste. Não apenas acapacidade anual, mas também o númeroabsoluto de unidades de produção aumentou,consideravelmente, na região durante o períodoentre 2007 e 2009, em comparação com outrasregiões. Uma das explicações mais razoáveis paraessa tendência é o fato desta região serresponsável pela maior parte do agronegócio noPaís, especialmente da soja, que pode ter um forteimpacto nas decisões sobre a localização espacialdas indústrias, pois a soja é o óleo mais usado

para produzir biodiesel no Brasil (ANP, 2010).Assim, as informações contidas na Tabela 3 sãocorroboradas pelo Gráfico 1, onde a região Norteé responsável pelo menor número de indústrias,bem como a menor capacidade de produção debiodiesel, embora essa seja a maior (emterritório) e uma das regiões mais pobres do País,em relação ao Produto Interno Bruto (PIB)(FINCO,RODRIGUES; RODRIGUES, 2006).

Portanto, com base na concentração deindústrias de biodiesel no País, deve-se destacar:uma vez que as regiões Norte e Nordeste sãoconsideradas as mais pobres, a concentração dosetor de biodiesel no Sul, Sudeste e especialmenteno Centro-Oeste pode comprometer um dosobjetivos do PNPB, ou seja, a diminuição dasdisparidades regionais.

Gráfico - 1 (a) capacidade instalada de produção de biodiesel; e (b) número de indústrias de biodiesel no Brasil

Fonte: ANP (2010).Nota: N = Norte; NE = Nordeste; S = Sul; SE = Sudeste; CW = Centro-Oeste.

Outra questão interessante a respeito daprodução e comercialização de biodiesel é que acapacidade atual no País é muito maior do que obiodiesel comercializado nos leilões nacionais.Como pode ser observado no Gráfico 2 acapacidade, em 2009, é consideravelmente, maiordo que o produto vendido nos leilões nacionais.

De acordo com os resultados dos leilões nacionaisde número 13, 14, 15 e 16, ocorridos nesse ano,cerca de 1.810 bilhões de litros de biodiesel foramvendidos. Contudo, durante o mesmo período, acapacidade de produção de biodiesel instalada noBrasil era de 4.628 bilhões de litros, ou seja, maisque o dobro do biodiesel comercializado no País.

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No Gráfico 2b, por exemplo, observa-se quehá uma diminuição na participação das regiõesSul e Nordeste nos leilões nacionais, bem comoum aumento absoluto na participação da RegiãoCentro-Oeste. Este cenário vai ao encontro comos números mostrados anteriormente, e, portanto,

de aumento da concentração de indústrias noCentro-Oeste do Brasil. A regiões Sul e Nordeste,também, apresentam diminuição da participaçãonos leilões nacionais. Enquanto, a Norte estáaumentando, mesmo que de forma tímida, nacomercialização de biodiesel nos leilões nacionais.

Gráfico 2 - (a) capacidade instalada vis-à-vis o biodiesel vendido nos leilões nacionais (2009); e (b) participaçãodas regiões de acordo com o biodiesel vendido nos leilões

Fonte: ANP (2010).Nota: N = Norte; NE = Nordeste; S = Sul; SE = Sudeste; CW = Centro-Oeste.

3.2 RESULTADOS DOS LEILÕES DE BIODIESEL NACIONAL

Os leilões de biodiesel nacional têmocorrido desde 2005, o principal objetivo deles égerar um mercado e, assim, estimular à produçãoem quantidade suficiente que permita àsrefinarias e distribuidoras a necessária misturade biodiesel ao diesel fóssil. Com base nisso, elespersistem no objetivo de assegurar que todo odiesel fóssil comercializado no País tenha apercentagem de biodiesel estabelecida pelalegislação nacional.

Neste contexto, até o final de 2009, 16leilões de biodiesel haviam sido realizados pelaANP. Cerca de 5 indústrias participaram doprimeiro, em 2005, e mais de 30 durante o denúmero 16, no mês de novembro de 2009. O

volume do produto vendido em leilões nacionaistambém aumentou. Antes do quinto, a misturade biodiesel ao diesel fóssil não era obrigatóriae, assim, os leilões foram realizados para manteros estoques nacionais. No entanto, a partir de2008 a mistura do biodiesel passou a serobrigatória, e todo o diesel fóssil comercializadono País teve de conter certa percentagem debiodiesel. A quantia monetária atingiu R$ 1,3bilhão durante o último leilão de 2009 (décimosexto), refletindo, portanto, a importânciaeconômica do setor de biodiesel.

A participação das empresas nos cincoprimeiros leilões foi condicionada, apenas,aquelas que detinham o SCS. Os picos entre o

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99Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

Fonte: ANP (2010).

Além disso, há uma tendência clara doaumento do número de indústrias que vendembiodiesel em leilões nacionais (Gráfico 3a).Alguma volatilidade pode ser vista no volumecomercializado no leilão, e que pode ser explicadopelo menos em parte, pelo preço de referência(benchmark) estabelecido pela ANP vis-à-vis opreço do óleo vegetal. Quanto ao preço dobiodiesel nos leilões nacionais, deve-se ter emmente que ANP define ex ante, um preço máximoque é o de referência para os lances de produtoresdurante o leilão. Portanto, antes de cada leilão, aANP em conjunto com o MME e o MDA, definemo preço de referência que é estabelecido com basenos custos das sementes (é normalmenteutilizado o da soja), da extração, bem como doscustos de distribuição. Segundo a ANP, o preçode referência é geralmente maior do que o preço

de mercado, uma vez que a entrega do biodieselé levada em consideração.

Com base nisso, o Gráfico 4 demonstra avolatilidade do preço final do biodiesel vendidonos leilões. Como se observa, o preço aumentou,especialmente entre o quinto e o décimo(principalmente no ano de 2008), o que é pelomenos em parte, explicado pelo aumento dopreço do óleo de soja. Dado que os custos commatérias-primas contabilizam cerca de 80% doscustos totais de produção, em média, o preço dobiodiesel segue a trajetória do óleo nas sementes.Como a soja é o óleo vegetal mais utilizado paraprodução de biodiesel no Brasil, o preço destaleva o do biodiesel à grande oscilação, que varioude R$ 2,00 até R$ 3,00 por litro de durante osanos de 2005 e 2009.

primeiro e décimo leilão são explicados pelo fatode que em um único deles, somente empresasdetentoras do SCS puderam participar, e no leilãoseguinte todas as empresas (mesmo aquelas quenão detinham o SCS). No entanto, a partir doleilão de número 12 em diante, o mesmo leilão

foi dividido em duas fases: a primeira com,apenas, empresas detentoras do SCS e umasegunda fase, onde todas as empresas pudessemparticipar. Portanto, como se pode observar noGráfico 3b, não houve mais picos extremosocorridos nos leilões nacionais.

Gráfico 3 - (a) número de empresas que venderam biodiesel nos leilões; e (b) volume de biodiesel comercializadonos leilões

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Fonte: ANP (2010).

O ágio, que se refere à diferença entre ospreços de referência estabelecidos pela ANP e opreço final do biodiesel vendido nos leilões, éextremamente volátil e atingiu a cifra de 22%durante o sexto e sétimo em 2007. No entanto, arelação entre preço de referência, estratégias epreço de mercado do óleo de soja, tem um impactosobre a produção de biodiesel, uma vez que, ainda,há uma pequena taxa de inadimplência do ladoda indústria, ou seja, alguns setores após a vendade um volume específico do biodiesel durante oleilão não entregaram o combustível dentro doprazo previamente estabelecido. Algumasexplicações podem estar ligadas à baixaprodutividade agrícola e ao não cumprimento docontrato por parte dos produtores, os quaispreferem vender a produção para as indústriasquímica e farmacêutica, por exemplo.

No entanto, uma questão importante a serobservada nos leilões nacionais é que o setoragrícola é constantemente ignorado, em especialno tocante à produção da agricultura familiar. Ovolume de biodiesel em todos os leilões nacionaisé exclusivamente relacionado com a capacidadeindustrial de biodiesel das empresas e, portanto,não leva em conta a capacidade de produção dosetor agrícola. Em outras palavras, a capacidade

da agricultura familiar no fornecimento dematéria-prima necessária para o cumprimento dovolume negociado (de acordo com as metasestabelecidas pelo PNPB) não é considerado pelosoutros agentes envolvidos no processo.

Neste contexto, pode-se ver claramente queentre as espécies de óleos vegetais, a soja éresponsável em média por 80% da produçãonacional de biodiesel, enquanto a mamona, pinhãomanso, bem como outras espécies de óleo vegetalque podem ser cultivada por agricultores familiaressão responsáveis, no total, por menos de 10% daprodução nacional de biodiesel. Se considerarmosos últimos quatro anos, por exemplo, a soja aparececomo a principal fonte de óleo vegetal (80% emmédia), seguido de gordura animal (cerca de 10%em média) e de outras espécies (10% em média).

Considerando-se o estabelecido no PNPBque pelo menos 30% da matéria-prima utilizadapara produzir biodiesel devem vir da agriculturafamiliar no Sul, Sudeste e Nordeste do País, e ummínimo de 10% do Norte e Centro-Oeste,percebe-se em nível macro, ou seja, nacional, oPrograma não está cumprindo um dos seusobjetivos principais, nomeadamente a promoçãoda inclusão social. Desde que a soja é a

Gráfico 4 - (a) preço de venda de biodiesel nos leilões; e (b) ágio praticado nos leilões

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oleaginosa mais usada para produzir biodiesel,e normalmente é cultivada por grandesagricultores, o PNPB está longe de ser bem-sucedido quanto a diversificação de matéria-prima utilizada para produzir biodiesel.

Culturas alternativas como a mamona,ainda apresentam uma quota simbólica naprodução nacional de biodiesel, com participaçãoinferior a 2%. O pinhão manso e dendê tambémpodem ser usados como óleo vegetal e,consequentemente, como outras alternativas. Noentanto, até agora, o pinhão não apresentou escalade produção, no caso do dendê a densidade deenergia é alta o suficiente para dar rentabilidadesem a necessidade de políticas fiscais ou subsídiospúblicos, mas há um risco imperioso dedesmatamento da floresta na Amazônia Legal.

Portanto, considerando que o volume debiodiesel vendidos em leilões nacionais em2009 atingiu 1,810 bilhão de litros, pode-seestimar que cerca de 1,448 bilhão de litrosforam produzidos a partir de óleo de soja, 181milhões de litros a partir de gordura animal, ecerca de 181 milhões de litros de outrasmatérias-prima como a mamona, por exemplo.No presente estudo, os 10% da produção globalde biodiesel são representadas pela mamona,uma vez que de acordo com o governo nacionalela é o principal óleo vegetal produzido poragricultores familiares preconizada pelo PNPB

(PROGRAMA ..., 2005). Assim, 181 milhões delitros de biodiesel produzidos a partir de destaoleaginosa requerem cerca de 450 mil t demamona, que ocupam uma área entre 300 e900 mil ha, dependendo da produtividade damatéria-prima. Como a mamona ocupava umaárea de 156 mil ha em 2008 (BIODIESELBR,2009), e tem uma produção estimada em 120milhões de t, em média (FAOSTAT, 2009), amamona atingiu uma produtividade média de769 kg/ha, no ano de 2008. Nesse contexto ecom base nessa produtividade, cerca de 580mil ha são necessários para cultivar mamonavisando o cumprimento das metas do PNPB,promovendo assim a inclusão social (o que évirtualmente improvável de ocorrer).

A situação envolvendo o óleo de mamonana região Norte, a qual provavelmente vai afetaras empresas regionais de biodiesel no médio elongo prazo, reflete as escolhas feitas pelogoverno nacional na seleção de uma únicaespécie de oleaginosa de pequena escala para aprodução de biodiesel. Além disso, de acordo como MDA, o Brasil tem no momento cerca de 80.000agricultores familiares envolvidos na produçãode biodiesel. Este valor é consideravelmenteinferior á inclusão de 200 mil agricultoresfamiliares previstos pelo governo brasileiro noinício de 2005. Diante disto, pode-se observar queem nível macro, o PNPB não está sendo eficaz napromoção da inclusão social.

4 ANÁLISE REGIONAL: A PRODUÇÃO DE BIODIESEL NO ESTADO DO TOCANTINS

Durante o ano de 2009, o estado doTocantins foi considerado o oitavo maior produtorde biodiesel no Brasil. Além disso, quanto àcapacidade de produção autorizada pela ANP, foiclassificado na 7ª posição, com mais de 385 m3/dia. Para se ter uma ideia de comparação, oprimeiro lugar foi Mato Grosso, responsável pormais de 2.500 m3/dia de capacidade produtiva.

Na época em que a pesquisa foi realizada, no anode 2008, apenas duas empresas de biodieselestavam instaladas no estado, ou seja, a BrasilEcodiesel e Biotins Energia (até 2010, eram asmesmas duas empresas). Ambas comercializambiodiesel em leilões nacionais regularmente, emantêm contratos com agricultores familiaresvisando à manutenção do Selo Combustível Social.

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4.1 A PRODUÇÃO DE BIODIESEL E O PNPB

O Estado do Tocantins foi responsável pormais de 38.580 milhões de litros de biodieselvendido em leilões nacionais durante o ano de2009. Desses, a Brasil Ecodiesel por 34 milhõesde litros, e a Biotins Energia por 4,5 milhões delitros de biodiesel.

Como está situado na região Norte asempresas localizadas no estado que visamproduzir e vender biodiesel nos leilões nacionaisdevem seguir as normas estabelecidas pelo SCSe, portanto, usar pelo menos 10% da matéria-prima oriunda da agricultura familiar. Com basenisso, a Brasil Ecodiesel precisa produzir pelomenos 3,4 milhões de litros de biodiesel a partirde matéria-prima primária cultivadas poragricultores familiares. Este cenário exige,aproximadamente, 6,6 mil t de bagas demamona. Considerando que a sua produtividadevaria entre 0,5 e 1,5 t /ha, são necessários entre13,3 mil e 4,4 mil ha, respectivamente, paraatender a demanda da empresa de 10% dematéria-prima oriunda da agricultura familiar.Além disso, tendo em conta que a produtividadeda produção de mamona na região foi de 127kg/ha (dados do inquérito realizado em 2008),em média, mais de 52 mil ha são necessários paracultivar mamona visando atender a demanda daempresa para matéria-prima com base naprodução da agricultura familiar.

Portanto, considerando que hoje, apenas,cerca de 600 ha são cultivados com mamona poragricultores familiares no estado de Tocantins,pode-se concluir ser altamente improvável acapacidade da Brasil Ecodiesel satisfazer ascondições preconizadas pelo SCS. Este cenário

real sugere que, em nível regional, a empresa nãocumpra os objetivos do PNPB no que tange ameta de inclusão social.

Tendência semelhante pode ser observadano caso da Biotins Energia porque a proporçãoda sua produção durante os leilões nacionais noano de 2009, a empresa deve produzir pelomenos 450 mil litros de biodiesel a partir dematéria-prima cultivada por agricultoresfamiliares. Este cenário exige mais de 12,6 mil tde sementes de pinhão manso. Considerando quea sua produtividade varia de 2 a 12 ton/ha, sãonecessários entre 6.000 e 1.000 de ha,respectivamente, no estado do Tocantins paraatender a demanda da empresa de 10% damatéria-prima produzida pela agricultura familiar.

No entanto, levando em conta que a maiorparte dos agricultores familiares que mantêmcontratos com a Biotins iniciou a atividade noano de 2007, uma estimativa da produtividadedo pinhão manso no segundo ano (2009) foi feitae, portanto, três cenários diferentes estabelecidos:(i) o primeiro (ou cenário atual), reflete aprodutividade do segundo ano após a baixaprodutividade observada no primeiro ano (2008),que foi extremamente baixa, em especial devidoàs condições naturais da região em questão; (ii)o segundo (ou situação regular) reflete que aprodutividade pode ser considerada aprodutividade mínima esperada pela empresa naregião e; (iii) o terceiro (ou cenário otimista) ébaseado na relação entre a melhor produtividadealcançada no primeiro ano do ciclo do pinhãomanso na região, sobre a produção mínimaesperada pela empresa.

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Fonte: resultados da pesquisa (2010).

Assim, considerando a produtividade nosegundo ano (2009) o cenário atual fica em tornode 542 kg,/ha; contra 1.280 kg/ha, no cenárioregular e 1.822 kg/ha no cenário otimista. Combase nisso, visando atender a demanda de 10%de matéria-prima oriunda da agricultura familiar,mais de 23 mil ha são necessários para cultivarpinhão manso: no primeiro cenário; mais de 9mil ha no segundo cenário; mais de 6.000 ha noterceiro cenário. Considerando que, atualmente,apenas cerca de 500 ha estão sendo cultivadoscom pinhão manso por pequenos agricultores noestado de Tocantins, pode-se prever que a BiotinsEnergia não conseguirá as metas preconizadaspelo SCS. Mesmo com o aumento daprodutividade, como se pode observar na Tabela4, a quantidade de hectares necessários tem deaumentar, já que a capacidade de produção daempresa, também, será incrementada. Nessesentido, as duas empresas, em nível regional, nãodevem corroborar o PNPB no que tange para ocumprimento da meta de inclusão social.

Como mencionado anteriormente, cercade 80% da produção nacional de biodiesel érealizada através do óleo de soja. Assim sendo,seguindo a tendência, o estado do Tocantins éresponsável pela produção de 27,2 milhões delitros de biodiesel através do óleo de soja nocaso da Brasil Ecodiesel e, em média, de 3,6milhões de litros no caso da Biotins Energia.Ou seja, o volume total de biodiesel produzidoa partir de óleo de soja soma mais de 30,8milhões de litros. Esta situação exige mais de159 mil t do grão, o que requer entre 79 mil hae 53 mil ha, considerando a produtividade de 2a 3 t/ha, respectivamente. Estima-se que a sojano estado ocupa uma área de 344 mil hectares,e foi responsável por mais de 665 mil t de grãosem 2008 (TOCANTINS, 2009), comprodutividade em torno de 2 t/ha, pode-se tercerteza de que o volume de grão de sojaproduzido no estado é mais que suficiente paraabastecer as empresas de biodiesel para aprodução de biodiesel.

Tabela 4 - Produtividade do pinhão manso do Estado do Tocantins.

4.2 LOGÍSTICA

Outro obstáculo à produção de biodieselestá relacionado com a logística, principalmenteem relação ao fornecimento de insumos, bemcomo à distribuição de produtos e subprodutosem todo o estado do Tocantins. O armazenamento

e o transporte podem ser considerados osprincipais entraves na região Norte do País,sobretudo devido à falta de assistênciagovernamental, assim como questões geográficasrelacionadas à dispersão espacial dos agricultores

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familiares. Essas características podem, emalguns casos, comprometer a produção debiodiesel nesta região do País.

Neste contexto, visando à superaçãodesses problemas, o setor de biodiesel no nortedo Brasil deve procurar recolher a matéria-primaoriunda da agricultura familiar o mais rápidopossível a fim de reduzir os custos demovimentação e, ao mesmo tempo evitarqualquer tipo de alteração química da matéria-prima. Portanto, o desafio para toda a indústriaresponsável pela movimentação de matérias-primas nesta região está relacionado à dispersãoespacial da produção da agricultura familiar. Nocaso da Biotins, por exemplo, situada na cidadede Paraíso do Tocantins a cerca de 70 km dePalmas (oeste), capital do estado do Tocantins. Aunidade de produção fica às margens da rodoviaBR 153 (Belém-Brasília), principal estrada federalno estado e, portanto, facilita o fluxo de insumos,produtos e subprodutos. A Biotins Energia,também, está situada nas margens da Ferrovia

Norte-Sul, que liga o sul ao norte do País (deveráestar concluída em 2012).

Situação similar é observada no caso daBrasil Ecodiesel. A unidade de produção estásituada na cidade de Porto Nacional, cerca de 60km da cidade de Palmas (norte), e, também, temuma localização privilegiada, pois fica nasproximidades da hidrovia, bem como da FerroviaNorte-Sul.

Ambas as empresas (Brasil Ecodiesel eBiotins Energia), embora com os obstáculosrelacionados ao transporte da produçãooriunda da agricultura familiar, têm umaestrutura e um aporte logístico privilegiado,especialmente quanto ao transporte debiodiesel para outros estados do País, oumesmo para outros países via Porto de Itaqui,no estado do Maranhão. As várias formas detransporte dentro do estado, tais como rios eferrovias, fazem do Tocantins um “hot spot”para produção de biodiesel no Brasil.

4.3 GERAÇÃO DE EMPREGOS

Além da inclusão social, outro objetivo doPNPB é a geração de emprego. Neste contexto, opresente estudo apresenta também uma análisesobre a geração de empregos promovida pelaprodução de biodiesel regional. As espécies degrande escala da agricultura, como soja e girassolgeram, em média, 0,05 empregos/ha, contra 0,5no caso de mamona e pinhão manso, porexemplo, ambas consideradas espécies agrícolasoleaginosas de pequena escala. Em média, aprodução de soja e girassol necessita de 20 hapara empregar uma família, contra apenas 2 hano caso da mamona e do pinhão manso.

Com base nisso, foi estimado o número deempregos atuais, bem como os possíveis postosde trabalho que podem ser gerados pelas

atividades de semente oleaginosas no estado deTocantins, considerando tanto a familiar como aagricultura empresarial. Como mencionado, aárea atual ocupada pelo pinhão manso no estadofica ao redor de 500 ha, considerando aagricultura familiar, e 4 mil ha, considerando aagricultura comercial. Assim, a pequenaprodução de pinhão manso está gerando 250empregos, em média, contra 2.000 empregosgerados pela produção de grande escala noTocantins, em média.

A mamona, por outro lado, apresenta cercade 600 ha ocupados por pequenos agricultores,o que levou, em média, a 300 postos de trabalhogerados. Ela não é produzida por agricultores emgrande escala no estado, não há geração de

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105Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

Fonte: resultados da pesquisa (2010).

Uma distância de 125 km foi estabelecidacomo limite para que um assentamento ruralfosse considerado próximo a uma dada empresade biodiesel. Entre 126 e 250 km comointermediária e o localizado acima de 250 km,também, foi levado em consideração, comorelativamente distante. Portanto, todos osassentamentos rurais no estado do Tocantinsforam analisados quanto à distância de uma dadaempresa de biodiesel. Com base nisso, como sepode observar na Tabela 6, cerca de 1.900 famíliasestão situadas próximo da empresa BrasilEcodiesel, e cerca de 1.600 ficam próximas daempresa Biotins Energia.

Assim, estima-se que mais de 7.000 hapossa ser utilizado para o cultivo de matéria-prima oriunda da agricultura familiar a fim deser usado para a produção de biodiesel no estado,a um menor custo de transporte e logística. Alémdisso, considerando uma produtividade regulardo pinhão manso e da mamona e incluindo asdemais famílias que estão localizados em umadistância intermediária das empresas, pode-seconcluir que a área necessária para atender ademanda de 10% de matéria-prima oriunda daagricultura familiar defendida pelo PNPB e,consequentemente, pelo SCS é efetivada comsucesso no Tocantins.

empregos a partir deste óleo vegetal, quando seconsidera a agricultura empresarial. Existe cercade 100 mil ha de soja, responsável pela geraçãoem média de 4.750 empregos, ou seja, se a sojaproduzida no Tocantins fosse usada para produzirbiodiesel, iria gerar cerca de 5 mil empregos.

No entanto, existe um enorme potencialpara geração de empregos no estado,especialmente quanto ao setor da agriculturafamiliar. Baseados nisso, todos os assentamentosrurais no Tocantins foram avaliados e o potencialde geração de emprego foi estimado (Tabela 5).

Tabela 5 - Geração de emprego devido à produção de biodiesel no Tocantins.

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Fonte: estimativa baseda em INCRA (2010).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na discussão, observa-se queuma das desvantagens da produção de biodiesel,no momento, é a baixa diversificação de espéciesvegetais oleaginosas na produção global doproduto no País. A logística de distribuição pareceser um obstáculo considerável para o sucesso doPNPB. A concentração de indústrias de biodieselna Região Centro-Oeste, e as grandes distânciaspara sua entrega no Norte, tornam o preço nãocompetitivo, quando comparado com o dieselfóssil. Além disso, como o principal meio detransporte no País é a rodovia, o diesel fóssil éutilizado para o transporte de biodiesel, e,portanto, não apenas os custos, mas também oequilíbrio energético do combustível renovávelse torna mais baixo ou mesmo negativo.

Uma solução poderia ser o investimentoem novas indústrias de biodiesel nesta região como objetivo de reduzir os custos de logística. Outrasolução poderia ser a regionalização das metasde mistura de biodiesel, ou seja, cada região éresponsável pela aplicação do percentualobrigatório de biodiesel ao diesel fóssil com o

objetivo de minimizar os elevados custos dedistribuição em um País com dimensõescontinentais como o Brasil.

Além disso, a falta de um marco deregulação atualizado a respeito da produção debiodiesel no Brasil é um dos principais entravespara o crescimento do setor. As diferentesalíquotas do ICMS afeta os produtores, já que édifícil competir com as indústrias localizadas emuma região com melhores alíquotas. Outraquestão importante é a comercialização debiodiesel. Os leilões nacionais foram uminstrumento essencial para inicializar estemercado no Brasil, mas após 6 anos daimplantação do PNPB, o livre mercadopossibilitaria a melhor maneira de equilibrar ademanda e a oferta do biocombustível no País.Neste contexto, os distribuidores poderiamcomprar, diretamente, da indústria e não mais daPetrobras, o único comprador nos leilões nacionais.

Embora o Brasil tenha vocação paraproduzir energia renovável, o país ainda não

Tabela 6 - Potencial de geração de emprego na agricultura familiar no Tocantins.

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107Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

apresenta uma escala que garanta asustentabilidade do PNPB. Ao mesmo tempo,confiando apenas em culturas alternativas, comomamona ou pinhão manso, para aumento damistura obrigatória de biodiesel ao diesel fóssil,poderia comprometer todo o programa. Por outrolado, a disponibilidade de óleo de soja dependede mercados internacionais e, portanto, umaumento no preço, nestes mercados, faz dobiodiesel menos competitivo. Com base nisso,uma solução poderia ser a indústria verticalintegrada, a qual inclui o setor agrícola eindustrial, considerada essencial para acompetitividade do setor de biodiesel. Como, emmédia, 80% dos custos totais de biodiesel estãorelacionados com a matéria-prima ou primária,o cluster vertical é um processo novo para estesetor. No entanto, deve-se ter em mente que umaunidade de extração corresponde a grandesinvestimentos, além da adequação inteira paraum novo modelo de negócios.

O efeito adverso da dependência da sojanão está relacionado, apenas, ao fornecimentode matérias-primas. A soja está dominando osetor como a principal matéria-prima para obiodiesel, o que indica a fragilidade na

sustentabilidade ambiental do PNPB, uma vez quea soja é uma oleaginosa cultivada em larga escala(e, muitas vezes, em sistemas de monocultura), oque requer o desmatamento de extensas áreasda terra e a eventual perda de biodiversidade. Opredomínio da soja, também, pode comprometeros objetivos sociais e de energia do PNPB, umavez que criação de empregos através da produçãode soja é inferior à mamona no Brasil, porexemplo.

Quanto à análise regional de produção debiodiesel, um dos resultados apresentados atéagora sugerem que o PNPB não está conseguindopromover a integração da agricultura familiar noestado do Tocantins, em especial por causa dadificuldade estrutural do setor agrícola e asdeficiências técnicas e políticas apresentadas pelomecanismo de incentivos. Assim, se o PNPB nãosofrer as alterações e ajustes que realmentefavoreçam os agricultores familiares, a produçãode biodiesel no estado do Tocantins e no Brasilcomo um todo vai seguir o mesmo caminho daprodução de etanol, ou seja, a produção seráfocada em, apenas, uma matéria-prima, a qualexige grandes unidades de processamento, elocalizadas em uma única região do Brasil.

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ESTIMAÇÃO DOS PREÇOS DA MADEIRA EM PÉ PARA AS ÁREAS DE FLORESTAS PÚBLICASDA REGIÃO DO MARAJÓ, NO ESTADO DO PARÁ

Antônio Cordeiro de Santana*

Marcos Antônio Souza dos Santos**

Rafael de Paiva Salomão***

Cyntia de Oliveira Meireles****

RESUMO

Apresenta uma metodologia fundamentada, teoricamente, para estimar os preços da madeiraem pé (PMP), de modo a refletir o custo de oportunidade dos planos de manejo florestal em áreas deflorestas públicas do Marajó, estado do Pará. Diferentemente das iniciativas anteriores para estimar oPMP, definiu-se o preço a partir do mercado local de madeira em tora, que além de ser o único nívelde mercado para o produto funciona sob concorrência perfeita. Em função disso, os preços refletem ovalor econômico das espécies florestais comercializadas. Qualquer outra forma de estimação destepreço que não leve em conta essa condição teórica, enviesa a mensuração do valor econômico dafloresta. A média do preço da madeira em pé foi de R$ 27,2/m3. Os preços médios por categoriasforam: R$ 16,29/m3 para a categoria C4 (madeira branca), R$ 32,34/m3 para a categoria C3 (madeiravermelha), R$ 48,49/m3 para a C2 (madeira nobre) e R$ 86,22/m3 para a categoria C1 (madeiraespecial). A partir desses preços, foi determinado o valor dos contratos para a concessão florestal naregião do Marajó.

Palavras-chave: Valoração Florestal. Madeira Tropical. Concessão Florestal - Amazônia.

* Engenheiro Agrônomo; Doutor em Economia Rural; Professor Associado da Universidade Federal Rural da Amazônia(UFRA). Belém/PA. Email: [email protected].

** Engenheiro Agrônomo; Mestre em Economia; Professor Assistente da UFRA. Belém/PA. Email. [email protected].*** Engenheiro Florestal; Mestre em Biologia Ambiental; Doutorando em Ciências Agrárias pela UFRA. Belém/PA.

Email: salomã[email protected].**** Engenheira Agrônoma; Mestre em Extensão Rural; Doutoranda em Ciências Agrárias pela UFRA; Professora Assistente

da UFRA. Belém/PA. Email: [email protected].

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ESTIMATION OF STANDING TIMBER PRICES FOR THE PUBLIC FOREST AREAS OF MARAJÓREGION, STATE OF PARA

ABSTRACT

Presents a theoretically based methodology to determine the prices of standing timber, reflectingthe opportunity cost of forest management plans, in the public forest areas of the Marajo region, Stateof Para. Differently that earlier initiatives to estimate the price of standing timber, the price wasspecified from the local market for logs, that besides being the only market available for the product,it works under the assumptions of perfect competition. As a result, prices reflect the economic value ofthe forest species marketed. Any other way of estimating this price that does not take into accountthis theoretical condition, influences the measurement of the economic value of forest. The averageprice of standing timber was R$ 27.20/m3. The average prices per category were: R$ 16.29/m3 forcategory C4 (white wood), R$ 32.34/m3 for category C3 (red wood), R$ 48.49/m3 for C2 (hardwood)and R$ 86.22/m3 for category C1 (special wood). Using these prices, it was determined the value ofcontracts for forest concession in the region of Marajo.

Keywords: Forest Valuation. Tropical Wood. Forest Concession - Amazon.

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1 INTRODUÇÃO

O setor florestal contribui para a economiaparaense com empregos, renda e as divisas quegera. Em 2008, apresentou um valor adicionadode US$ 4,46 bilhões e criou 30.481 empregos,equivalente a 9,6% do Produto Interno Bruto(PIB) e 3,6% do emprego total do Pará. Ocomércio nacional e internacional mostrousuperávit de US$ 1,08 bilhão (SANTANA, 2009).

Não obstante esta importância, aefetividade do marco regulatório da exploraçãoflorestal na Amazônia, que a partir de 2004 coibiufortemente o desmatamento e a extração ilegalde madeira em tora, juntamente com os efeitosda crise econômica internacional a partir de 2007,o mercado paraense de produtos madeireirosdiminuiu 64,6% entre 2007 e 2009 (SANTANAet al., 2010), causando forte impacto na indústriamadeireira no que tange ao abastecimento domercado e à geração de emprego e renda.

Para atenuar este problema deabastecimento e contribuir para a recuperação ereestruturação da indústria madeireira paraense,o Instituto de Desenvolvimento Florestal doEstado do Pará (IDEFLOR) implementou a políticade gestão de florestas públicas, por meio decontratos de transição florestal1, destinados aviabilizar a extração manejada de madeira emtora pela iniciativa privada (IDEFLOR, 2009).

Neste contexto, os contratos de transiçãoflorestal passaram a funcionar como o principalmecanismo de regulação da exploração florestale de promoção do desenvolvimento da cadeiaprodutiva de madeira em tora no estado do Pará,por viabilizar o fornecimento de matéria-primade origem legal para a indústria madeireira comvantagens comparativa e competitivasustentáveis. A condição de suficiência para aimplantação desses contratos é a determinaçãodo seu valor econômico. Como determinar o valor

de tais contratos, de modo a que representem ocusto de oportunidade da extração manejada emáreas de floresta pública?

O valor econômico dos contratos foideterminado a partir do preço da madeira em pé(PMP) e do volume máximo a ser extraída pelasempresas dos planos de manejo sustentáveldestas áreas. O volume de madeira é fixado ematé 30 m3/ha, contemplando as espécies de valorcomercial identificadas no inventário florestal.Todavia, o PMP é desconhecido e precisa serestimado. Para que esse preço reflita valor, deveser estimado a partir do equilíbrio de mercadoem concorrência perfeita. De acordo com o estudode Santana et al. (2010), o mercado de madeiraem tora do polo madeireiro do Marajó opera emconcorrência perfeita. Portanto, o valor doscontratos de transição definidos a partir dessepreço, além de refletir o custo de oportunidadeda extração manejada de madeira nas áreas deflorestas públicas estaduais, tende a estimular aparticipação ampla de empresas locais e demaisagentes interessados no mercado de madeiratropical paraense.

Neste mercado, há um fluxo de informaçãosobre preços e custos de extração de madeiraem tora com ampla disseminação, que funcionaà beira dos rios e apresenta as características deconcorrência perfeita. Assim, a definição do PMPa partir do preço de equilíbrio da madeira emtora (PMT) formado neste local, garante avaloração eficiente da madeira oriunda doscontratos de transição e dos planos de manejoprivados e comunitários do Marajó. Com efeito,este preço deve satisfazer, simultaneamente, amaioria dos agentes detentores de planos demanejo (comunidades e produtores) e dasempresas da indústria madeireira paraense,interessados em participar do mercado demadeira em tora.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

As iniciativas anteriores de determinaçãodo PMP além de não levarem em conta ospressupostos da teoria econômica no que serefere ao funcionamento do mercado do produto,adicionam pressuposições irreais. O trabalho deArima e Barreto (2002) além de partir do preçoda madeira serrada, assumiu ex-ante o valor damargem de lucro, portanto atribuindo,equivocadamente, o poder de oligopólio paraagentes que operam no mercado em concorrênciaperfeita.

Estudos recentes, realizados por Tourinhoet al. (2009) e o Serviço Florestal Brasileiro (SFB,2010) também revelaram desconhecimentosobre o funcionamento do mercado de madeiraem tora. Para chegar ao PMP, estes estudospartiram do PMT no pátio das empresas. Destevalor foram subtraídos os custos e impostos echegaram a um valor a que chamaram de PMP.Ocorre que não há mercado de madeira em toraem nível da indústria madeireira. A madeira emtora no pátio das serrarias é consideradamatéria-prima, portanto ao invés de preço, écusto de insumo. A única possibilidade de estecusto ser igual ao preço seria no caso de asempresas estarem operando em equilíbrio delongo prazo e sob concorrência perfeita. Nestecaso, o lucro é igual a zero, uma vez que o customarginal deve ser igual ao preço no ponto demínimo do custo médio de produção. Ocorre

que a indústria madeireira opera emconcorrência oligopolista, portanto opressuposto adotado não se aplica. Aconsequência é que o PMP estimado por estemétodo tende a superestimar o valor da florestae deixar de fora do processo grande parte dogrupo de interesse, sobretudo as micros epequenas empresas que operam na franjamarginal da estrutura produtiva.

Neste trabalho, ao invés das iniciativaspretéritas, adotou-se como primeiro passo aidentificação do mercado de madeira em tora, oqual funciona próximo ao local da extraçãomadeireira, para que os preços de equilíbrio destemercado reflitam os custos de oportunidade daatividade florestal madeireira dos contratos detransição.

Para que o PMP reflita valor, ou seja,represente o custo de oportunidade daexploração florestal por meio dos contratos detransição, necessita-se eleger um mercado paraa madeira em tora no raio de influência dessasunidades de produção. Este deve funcionar emregime de concorrência perfeita, em queprevalecem as seguintes características: osprodutores atuando como tomadores de preços,pois cada um agindo individualmente, não têmcomo influenciar o preço de mercado local; cadaum dos produtores de madeira em tora oferta

O objetivo deste artigo é propor umametodologia para estimar o PMP de espéciesflorestais comercializadas no polo madeireiro doMarajó, o qual abrange a madeira extraída dosmunicípios de Afuá, Bagre, Breves, Chaves e Portel.A finalidade foi contribuir com o IDEFLOR nadeterminação do valor dos contratos de transiçãopara a extração manejada das florestas públicasdo estado do Pará, iniciados por este polo.

O trabalho contempla mais quatro seçõesalém desta introdução. A segunda apresenta afundamentação teórica sobre o mercado e custosda exploração madeireira. A terceira discorresobre a área de estudo onde foi realizada apesquisa e descreve a metodologia utilizada naobtenção de dados para estimar o PMP. Na quartaseção, faz-se a análise dos resultados obtidos ena quinta apresentam-se as conclusões.

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uma pequena proporção do volume total demadeira transacionado no mercado.

Igualmente, os compradores, pelo volumeindividual das compras, não são capazes deinfluenciar os preços do mercado; o produto éhomogêneo na percepção dos compradores demadeira, uma vez que um ipê comercializado porum produtor é idêntico aos ipês ofertados pelosdemais produtores (são substitutos perfeitos,portanto, não há preferências específicas por umproduto de um dado fornecedor); fluxo deinformações sobre preço, custo de extração, fretee transporte sendo do conhecimento dosprincipais agentes do mercado (empresas,proprietários dos planos de manejo, produtoreslocais, toreiros), assim como mobilidade defatores (mão de obra) entre os locais produtoresde madeira, em resposta a novas oportunidadesde extração do produto; inexistência de barreirasà entrada e à saída dos agentes do mercado aqualquer tempo (THOMPSON JUNIOR; FORMBY,1998; TIROLE, 2001; SANTANA, 2002, 2005;SANTANA et al., 2009).

A beira dos rios Pacajá e Parauaú definebem o território de abrangência desse mercado

no polo madeireiro Marajó, pois funciona comoo local para armazenar a madeira exposta àvenda ou à espera do carregamento para omercado consumidor. É, pois, o lócus que todosreconhecem e aceitam como ponto à entrega damadeira adquirida dos planos de manejo de áreasprivadas, públicas ou dos produtores locais. Assim,todos os custos e preços são ajustados com baseneste ponto de referência.

Este é o único elo da cadeia produtiva emque o mercado de madeira em tora érepresentativo e reconhecido pelos agentes.Neste são transacionadas madeiras com e semdocumentação, de modo que o preço deequilíbrio entre oferta e demanda da madeiraem tora reflete essa realidade. Sendo assim, oPMP estimado a partir deste mercado além derefletir o valor dos recursos florestaismadeireiros, agrega simultaneamente asvantagens comparativas e competitivas para aindústria madeireira paraense.

A esse nível de preços, pode-se ter amplaadesão do segmento madeireiro e possibilitar ainclusão de micro e pequenas serrarias no mercadolegal de madeira em tora do estado do Pará.

2.1 CUSTO DE PRODUÇÃO E PREÇOS DA MADEIRA

A unidade produtiva em análise érepresentada pelo plano de manejo das áreasflorestais privadas ou públicas do Marajó e temcomo produto principal as espécies florestais deinteresse econômico, que é o foco dos contratosde transição.

Espécies florestais madeireiras comerciaissão identificadas a partir do inventário (árvorescom diâmetros à altura do peito acima de 45 cm),a partir das quais se determina o volume máximode madeira a ser extraída por hectare e por ano(até 30 m3/ha).

O custo de extração se refere à colheitadas árvores, que envolve a derruba, arraste eromaneio das toras de madeira e o transporteaté a “beira dos rios”. A soma destes custoscom os de manejo compõe os custosoperacionais totais de produção da madeira emtora. A diferença entre este custo de manejo eo PMP gera a margem de lucro unitária para oproprietário da floresta. Geralmente, os custosde extração, sobretudo quando se trata daprestação de serviços por uma empresaextratora já inclui a margem de lucro doextrator.

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Assim, o PMP pode ser obtido peladiferença entre o PMT no mercado local e o custode extração incluindo a margem de lucro doextrator. Esta foi a maneira operacionalencontrada para se determinar o PMP, uma vezque a informação tanto do PMT no mercado localquanto do custo de extração foi obtida dosagentes os quais transacionam madeira nomercado.

Os agentes têm um bom conhecimentosobre os custos operacionais de produção e

sobre os preços de equilíbrio da madeira emtora neste nível de mercado, inclusive sobre opreço das árvores e sua produtividade (emmédia, estima-se 4,0 m3 de madeira em torapor árvore e o preço gira em torno de R$ 40,00/árvore) nas transações informais comprodutores locais. Conforme Nicholson (2004);Besanko e Braeutigan (2004), estascaracterísticas, juntamente com a atomizaçãodos agentes e homogeneidade do produto,configuram o mercado como de concorrênciaperfeita.

3 METODOLOGIA

3.1 ÁREA DE ESTUDO E FONTE DOS DADOS

A área de estudo abrange os municípiosdo polo madeireiro do Marajó que abrigam asconcessões florestais denominadas, atualmente,de contratos de transição. Os planos de manejodesses contratos estão localizados nos municípiosde Afuá, Bagre e Chaves, porém as sedes dasempresas ficam em Breves e Portel (Marajó) e,também, em Belém e Marituba (RegiãoMetropolitana de Belém). Assim, oslevantamentos de campo foram direcionadospara Breves e Portel, por serem os municípios comamplo mercado de madeira em tora e abrigamas empresas com os referidos contratos (uns emoperação e outros em tramitação). Nestesmunicípios foram entrevistadas todas asempresas formais com e sem contratos detransição. Também foram entrevistadas empresaslocalizadas em Belém e Marituba.

O universo amostrado foi composto por 20entrevistas (três em Belém, uma em Marituba,dez em Breves e seis em Portel): 17 empresasmadeireiras (nove com contratos de transição emvigor ou em tramitação e oito sem contratos) etrês empresas extratoras. As 14 empresas emoperação nos municípios de Portel e Breves foram

entrevistadas, assim como as duas empresasespecializadas na prestação de serviços para aextração de madeira. Independentemente doscontratos de transição, as empresas comprammadeira em tora com e sem documentação nomercado local.

Os dados primários foram obtidos,inicialmente, de três entrevistas piloto sobre aestrutura de custos e margens em contratos reais(uma empresa que contrata um prestador deserviços para fazer a extração da madeira, outraque utiliza suas máquinas para efetivar a extraçãoe um prestador de serviços de extração). A partirdessa informação, foi possível balizar a aplicaçãodos formulários e aferir a consistência dos dadossobre custo de manejo, de extração e detransporte, preço da madeira em tora e margemde lucro. Alguns entrevistados forneceram amargem de lucro a partir da qual o negócio seviabiliza e o preço da árvore em negociações forados contratos de transição. Isto contribuiu paradefinir o PMP.

O formulário foi estruturado para obterinformações sobre custo operacional de produção

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3.2 ESTIMATIVA DO PREÇO DA MADEIRA EM PÉ

Diante da fundamentação apresentada, opreço unitário da madeira em pé foi determinadopor meio da seguinte equação:

PMPi = PMTi – (CPMi + MLMi) (1)

Em que:

PMPi = é o preço médio da madeira em pé da

espécie i, em R$/m3, no polo madeireiro doMarajó em junho de 2010;

PMTi = é o preço médio da madeira em tora da

espécie i, em R$/m3, no polo madeireiro doMarajó em junho de 2010;

CPMi = é o custo médio de produção da madeira

em tora da espécie i, em R$/m3, no polomadeireiro do Marajó em junho de 2010;

MLMi = é a margem de lucro do empresário da

madeira em tora da espécie i, em R$/m3, no polomadeireiro do Marajó em junho de 2010.

envolvendo as atividades de manejo e deextração (colheita e transporte até o pátio localsituado à beira dos rios Pacajá e Parauaú), PMT,frete e margem de lucro. A pesquisa foi realizada

no mês de junho de 2010, período em que ospreços históricos da madeira em tora e damadeira serrada estão no ponto mais baixo, emfunção da sazonalidade.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

No Marajó, os agentes conhecem e têmacesso ao fluxo de informações sobre o custo deextração da madeira, transporte no local e paraBelém, valor do frete e do imposto, e o preço dasárvores. Tais informações são de domínio dosintermediários que compram as árvores em pé evendem madeira em tora, proprietários doscontratos de transição, prestadores de serviçosde extração de madeira e empresários com planosde manejo. A margem de lucro tem certalimitação, por isso foi estimada como excedente,embora a maioria dos entrevistados tenhafornecido a faixa de variação da margem de lucro,outros o limite mínimo da margem de lucro eoutros o valor da margem realmente obtida.

Das 20 empresas entrevistadas, 10 estãotrabalhando com mais de 30 espécies florestais(entre elas, duas estão operando com 72 e umacom 64), cinco entre 20 e 30 e cinco com menosde 20.

Com relação à frequência das espéciesflorestais nas empresas, tem-se que 15 espéciesaparecem em pelo menos 13 empresas e 29espécies em até cinco empresas. A maçaranduba(Manilkara huberi (Ducke) Chevalier) foi a queapareceu em todas as empresas entrevistadas, emseguida quaruba cedro (Vochysia vismeaefoliaSpruce ex Warm.), angelim vermelho (Diniziaexcelsa Ducke) e cumaru (Dipteryx odorata (Aubl.)Willd.) em 17 empresas, depois sucupira (Bowdichianitida Spruce), cupiúba (Goupia glabra Aubl.) emandioqueira (Qualea lancifolia Ducke) em 16empresas e o jatobá (Hymenaea courbaril), angelimpedra (Hymenolobium nitidum), piquiá (Caryocarmicrocarpum Ducke), louro vermelho (Ocotea rubraMez), quarubarana (Erisma uncinatum Warm.) equarubatinga (Vochysia guianensis Aubl.) em 15das empresas entrevistadas.

A relação entre o PMP e o PMT dasespécies florestais variou entre: 12% para a

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Fonte: dados da pesquisa.

A categoria C1 contempla as espécies demadeira especiais de elevado valor comercial eampla demanda de mercado como o ipê, cedro ecedro rosa. A categoria C2 contempla madeiranobre de alto valor comercial no mercadointernacional como o jatobá, maçaranduba,sucupira e angelim. A categoria C3 inclui asmadeiras vermelhas de ampla utilização nomercado nacional e com aceitação no mercadointernacional, porém com menor cotação nessesmercados como o louro, quaruba (Vochysiaparaensis Ducke), andiroba (Carapa guianensisAubl.) e angelim pedra. A categoria C4 abriga asmadeiras vermelhas e brancas de menor valorcomercial e menor valor no mercado na formade madeira serrada como cedrorana, cupiúba,curupixá (Micropholis melinoniana), copaíba(Copaifera guianensis Desf.), tauari (Couratariguianensis Aubl.), marupá (Simarouba amaraAubl.), virola (Virola surinamensis (Rol.) Warb.)

etc. Estas madeiras, geralmente, são utilizadasna fabricação de laminados e compensados.

Os resultados da Tabela 1 mostram asmédias e os limites superiores (preço médio maiso desvio padrão) e inferiores (preço médio menoso desvio padrão) por categoria das espécies demadeira identificadas na pesquisa de campo. Ocoeficiente de variação do preço entre as espéciesflorestais por categoria está abaixo dos 10%,exceto para as madeiras da categoria C3 queapresentou um coeficiente de variação destoante,porém inferior a 20%. Isto se deve à variabilidadeentre as espécies com relação à sua utilização evalorização no mercado. Por outro lado, o preçomédio da madeira em pé foi de R$ 27,20/m3 e odesvio padrão de R$ 16,14/m3, que resulta emum coeficiente de variação de 59,32%. Esteresultado mostra que a categorização dasespécies florestais é necessária em função do

sucuúba (Himatanthus sucuuba Spruce exMüll.Arg.); 22% para jutaí mirim (Hymenaeaparvifolia) e cedrorana (Cedrelingacatenaeformis Ducke); 28% para louro (Ocoteaspixiana (Nees) Mez.), maçarambuba,muiracatiara (Astronium ulei Mattick) e sucupira;30% para angelim vermelho e ipê (Tabebuia sp.);31% para cedro rosa (Cedrela angustifoliaMociño & Sessé ex DC.) e cumaru (Dipteryx

odorata (Aubl.) Willd.); 32% para jatobá(Hymenaea courbaril); e 33% para o cedro(Cedrela odorata L.).

Os resultados da estimação dos PMPpermitiram o enquadramento natural das 84espécies florestais identificadas nas empresas nasquatro categorias (C1, C2, C3 e C4) definidas peloIDEFLOR (Tabela 1).

Tabela 1 - Preços médios da madeira em pé (PMP), limite superior e limite inferior do PMP, de acordo com acategoria, Polo madeireiro do Marajó, estado do Pará, 2010.

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grande diferencial dos preços e do volume demadeira entre as categorias de espéciesmadeireiras. Ou seja, a utilização da médiaaritmética para os preços médios das categorias(R$ 45,84/m3 e desvio padrão de R$ 2,87/m3) emvez da média ponderada, pode superestimar ovalor total da madeira a ser extraída, uma vezque é grande a diferença volumétrica de madeiraproduzida entre as categorias.

Na categoria C1 foram incluídas trêsespécies florestais (3,6% do total) com umamédia do PMP igual a R$ 86,22/m3 e coeficientede variação de 0,44%. Essa baixa frequência sedeve à extração predatória dessas espécies demadeira, pois durante décadas a taxa de extraçãosuperou a capacidade de regeneração natural dosestoques. A categoria C2 abrigou nove espécies(10,7% do total) ao PMP médio de R$ 48,49/m3

e CV de 9,88%. A redução dos estoques dessasespécies está ocorrendo de forma mais rápidado que a natureza é capaz de regenerar, com riscode exaustão a continuar o desmatamento e aextração clandestina. A terceira categoria C3contemplou 26 espécies florestais (31,0% dototal) ao PMP médio de R$ 32,34/m3 e CV de16,12%. Finalmente, a categoria C4 incluiu 46espécies florestais (54,8% do total) ao PMPmédio de R$ 16,29/m3 e CV de 6,88% (Tabela 1).Os preços discriminados por espécie estão naTabela 1A (Apêndice A).

Nas categorias C3 e C4 ainda se dispõe degrandes estoques, em função da composição dafloresta regional, porém o fator fundamental paraessa elevada frequência deve-se ao fato de quegrande parte dessas madeiras, ainda, édesconhecida do mercado de madeira serrada.Somente com a crise no mercado internacionalde compensado e laminado, o aumento dautilização de madeira de reflorestamento nafabricação desses produtos e a substituição naindústria da construção civil e de móveis eartefatos por plástico, gesso, couro, ferro, alumínioe cerâmica, foi que tais espécies de madeirapassaram a entrar no mercado consumidor demadeira serrada.

Na Tabela 2, apresentam-se os PMPestimados nesta pesquisa e os preçosanteriormente fixados pelo IDEFLOR e pelo SFB,ambos sem levar em conta a realidade domercado. Observou-se que o PMP estimado napesquisa ficou abaixo dos demais preços emtodas as categorias.

Estes resultados apresentaram diferençasestatísticas a 5% em relação ao preço praticadopelo IDEFLOR e PSFB. Ou seja, os preços estimadosna pesquisa foram estatisticamente inferiores aosdeterminados pelo IDEFLOR e pelo SFB, mostrandoque a não utilização dos preços de equilíbrio demercado de madeira em tora tende a superestimaro valor dos contratos de transição.

Tabela 2 - O preço médio da madeira em pé (PMP) obtido na pesquisa e os preços da madeira determinadospelo IDEFLOR (IPI) e o SFB (PSFB), estado do Pará, 2010.

Fonte: dados da pesquisa.

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5 CONCLUSÕES

O mercado de madeira em tora do polomadeireiro do Marajó, que tem como local dereferência para as transações e formação dospreços em nível de firma a beira dos rios,funciona em regime de concorrência perfeita.Portanto, os PMP determinados a partir destemercado refletem o custo de oportunidade daatividade florestal madeireira. O preço médiofoi de R$ 27,20/m3, variando entre R$ 16,29/m3

para a categoria C4, passando por R$ 32,34 eR$ 48,49, respectivamente, para as categoriasC3 e C2, e um valor máximo de R$ 86,22/m3

para a categoria C1.

Preços da madeira em pé, estimados apartir do PMT transacionada neste mercado,possibilitam a criação de vantagem comparativae competitiva para a indústria madeireira e, aomesmo tempo, viabiliza a valoração eficiente damadeira extraída dos planos de manejo doMarajó pelos produtores. Este ponto éfundamental tanto como um mecanismo deregulação quanto de estímulo aodesenvolvimento da cadeia de valor dos produtosflorestais madeireiros regionais.

O trabalho se limitou a estimar os preçospara as 84 espécies florestais extraídas ecomercializadas pelas empresas entrevistadas.Sabe-se, entretanto, que o número de espéciestransacionadas no mercado de madeira em toraé maior. Para superar esta limitação, o IDEFLORadotou, para as espécies florestais nãoidentificadas na pesquisa, o preço médio dacategoria a que tal espécie seja enquadrada.

Apesar deste marco inicial da estimação doPMP, os contratos de transição não contemplamo aproveitamento dos resíduos de madeiragerados na exploração florestal, mesmo diante doamplo mercado paraense para carvão e produçãode energia a partir de biomassa. Na perspectivado desenvolvimento local, o aproveitamento dessesubproduto poderia contribuir para a inclusão daspopulações locais que dependem, direta ouindiretamente, dessa economia florestalmadeireira. Além disso, os contratos de transiçãonão contemplam os produtos não madeireiros, emque boa parte deles, ainda, não tem preço nomercado, portanto necessitam de metodologiaadequada para se definir os preços de referência.

Estas estimativas dos PMP refletem arealidade do mercado de forma mais apropriadado que os demais, por trabalhar com asinformações oriundas do mercado da madeira emtora do polo madeireiro do Marajó que opera emconcorrência perfeita, portanto adequado paraa estimação do “preço justo” da madeira em pé.A partir desses preços o valor dos contratos detransição do Marajó foram determinados.

Cabe ressaltar que o trabalho identificou,apenas, 84 espécies florestais comercializadasno mercado do Marajó, porém existemestoques naturais de muitas outras madeirascom valor comercial. Para atenuar esseproblema, o IDEFLOR adotou como critério opreço médio de cada categoria como válidospara as espécies não contempladas napesquisa.

NOTA

1 Contratos adotados no estado do Pará em similaridade com

os contratos de concessão florestal usados pelo Serviço

Florestal Brasileiro. São autorizações do Estado às empresas

para exploração manejada de madeira em áreas de florestas

públicas do estado do Pará por um período inicial de cinco

anos após anuência de órgãos ambientais e fundiários.

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APÊNDICE A

Tabela 1A - Dados sobre o preço médio da madeira em pé (PMP) no estado do Pará, 2010.

Continua...

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123Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

Continuação

Fonte: dados da pesquisa. LSPMP = limite superior do preço; LIPMP = limite inferior.

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ETNOCULTIVO DO JAMBU PARA ABASTECIMENTO DA CIDADE DE BELÉM, ESTADO DOPARÁ

Alfredo Kingo Oyama Homma*

Ronaldo da Silva Sanches**

Antônio José Elias Amorim de Menezes***

Sérgio Antônio Lopes de Gusmão****

RESUMO

O jambu que faz parte da gastronomia cultural dos paraenses como componente do pato-no-tucupi e tacacá vem sofrendo grandes transformações com relação a sua utilização. É cultivado porprodutores periurbanos em pequenas áreas, em conjunto com outras hortaliças, sobretudo para atendero consumo da cidade de Belém e dos principais núcleos urbanos da mesorregião do Nordeste Paraense.Foi efetuado um levantamento histórico da utilização do jambu, das mudanças com relação e seuemprego na culinária, para indústria de cosméticos e fármacos e nas práticas usadas pelos agricultoresperiurbanos dos municípios de Ananindeua, Benevides, Santa Izabel do Pará e Santo Antônio de Tauá.A urbanização e a especulação de terras nas áreas próximas de Belém, o surgimento de polos deprodução em outros estados e países, o processo de patenteamento para novos produtos no exteriore uso na gastronomia nacional e internacional estão transformando o jambu em uma nova hortaliçados trópicos.

Palavras-chave: Jambu. Spilanthes oleracea. Hortaliça-Amazônia.

* Agrônomo; Doutor em Economia Rural; Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental. E-mail: [email protected] [email protected].

** Agrônomo; Extensionista Rural da Emater - Santa Izabel do Pará. E-mail: [email protected] [email protected].

*** Agrônomo; Doutor em Sistemas de Produção Agrícola Familiar; Analista da Embrapa Amazônia Oriental.E-mail: [email protected].

**** Agrônomo; Doutor em Agronomia; Professor Associado Universidade Federal Rural da Amazônia.E-mail: [email protected].

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JAMBU ETNOCULTIVE IN THE METROPOLITAN AREA OF BELEM, PARA STATE

ABSTRACT

The jambu is part of the cultural cuisine of Para State as a component of the “duck-and-tucupi”and “tacacá” has undergone major changes with respect to its use. Grown by farmers in periurbansmall areas, together with other vegetables, especially to supply the city of Belem and the major urbancenters of the Northeast Para State. It was made a historical survey on the use of jambu, changes withrespect to its use in cooking, to cosmetics and medicines and practices used by farmers in periurbandistricts of Ananindeua, Benevides, Santa Izabel do Para and Santo Antonio de Taua. Urbanization andland speculation in areas near Belem, the emergence of centers of production in other states andcountries, the patenting process for new products abroad and the use in national and internationalcooking can make jambu a new vegetable of the tropics.

Keywords: Jambu. Spilanthes oleracea. Vegetable-Amazon.

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1 INTRODUÇÃO

Denomina-se “etnocultivo” aquelesconhecimentos gerados pelos própriosprodutores, através de tentativas, e transmitidosao longo do tempo, ordinariamente de maneiraoral e desenvolvidos à margem do sistema depesquisa formal. São conhecimentos dinâmicosque se encontram em constante processo deadaptação, com intervenções da extensão rural,da rede bancária, dos compradores, dastecnologias utilizadas para outros produtos e emoutros locais, do aparecimento de pragas edoenças e do mercado de insumos.

A metodologia da pesquisa procurou,portanto, entrevistar os agricultores que sededicavam ao plantio de hortaliças identificandoas práticas agrícolas adotadas como pertencentesao senso comum aos conhecimentosdenominados científicos, de modo a reconhecê-los como fundamentais à melhoria das práticasadotadas.

Os dados deste artigo foram obtidos doacompanhamento de pequenos produtoresperiurbanos dos municípios de Ananindeua,Benevides, Santa Izabel do Pará e Santo Antôniode Tauá feito de forma esporádica, desde fevereirode 2000, e que foi intensificado a partir de 2009,procurando acompanhar as transformaçõesdecorrentes da urbanização, uso de agroquímicos,comercialização, novos produtos e dastecnologias utilizadas.

Enquanto no passado o consumo de jambuficava restrito a confecção do pato-no -tucupi nasdatas festivas e nas comemorações familiares oucomo quitute (tacacá), atualmente o seu uso sepopularizou em dezenas de restaurantes, com a

utilização em novos pratos como arroz comjambu (arroz paraense), pizza de jambu, pastelde jambu e na forma “in natura” em saladascruas. A pizza de jambu começou a ser divulgadana imprensa a partir de 2006 e a sua invenção éatribuída ao Café Imaginário, na primitivalocalização nas proximidades do Conjunto SantaMaria de Belém, do artista plástico José AugustoToscano Simões (1958), que era reduto de artistase intelectuais no início de 2000 (JAMBU ..., 2006).

Também é conhecido popularmente comoerva medicinal, em face da presença em suasinflorescências, folhas e ramificações maistenras, de uma resina sialagoga (provocasalivação), tida como possuidora depropriedades odontológicas e de ação contradoenças da boca, garganta e cálculos da bexiga(POLTRONIERI et al., 1999). No meio rural éconhecido o preparo do “lambedor” queconsiste no cozimento de infusão de folhas dejambu e chicória com açúcar utilizado paratratamento de dores de garganta.

O artigo procura trazer uma perspectivahistórica da utilização do jambu, sua evoluçãorecente para outros usos, a descrição daetnotecnologia desenvolvida pelos produtores eo custo de produção. Sem dúvida, trata-se de umahortaliça amazônica, com chances de popularizarem nível nacional e mundial. Fica perdida nasbrumas da história, quem primeiro descobriu queesta planta poderia ser utilizada como alimento.A partir das invenções do tacacá (tucupi, gomade tapioca, jambu e camarão) e do pato-no-tucupi(tucupi, jambu e pato), dois ícones dagastronomia cultural paraense, passou adespertar maior interesse.

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2 HISTÓRICO

O padre jesuíta João Daniel (1722-1776)viveu na Amazônia entre 1741 a 1757, quandofoi preso, no período da caça aos jesuítaspromovida por Sebastião José de Carvalho e Melo,o Marquês do Pombal (1699-1782) e recambiadopara Portugal. Na prisão, até sua morte, escreveuum enorme tratado sobre a região amazônica,Tesouro descoberto no máximo rio Amazonas,onde fez detalhadas observações sobre as plantas,animais e os habitantes que viviam na região.Neste livro menciona sobre o caruru, cujadescrição identifica-se como sendo a do jambu[Spilanthes oleracea var. fusca (Lam.) DC.]:

A verdura de que mais usam no estadodo Pará são umas ervas a que chamamcaruru, nome genérico para todas aservas mais usadas, e comestíveisnaquele estado, mas mais propriamentehá duas espécies na verdade estimáveis:a uma podemos chamar caruru docepela distinção que tem do outro. É estecaruru na verdade doce, porque ou sejapor si só em espernegados, oumisturado com os legumes lhes dá umexcelente gosto; é tão tenra esta erva,e tão mimosa, que vence o tenro daalface, e o mimoso dos espinafres, emais verduras; de sorte que metida napanela em poucos minutos estácozinhada. A segunda espécie não émenos galante, porque, em lugar dodoce da primeira espécie, tem umpicante, que não só lhe dá sua graçapor si só, mas também a comunica aoslegumes, e carne, com que se cozinha:a sua flor é semelhante aosmalmequeres. Tanto deste caruru comodo primeiro se fazem muito frescas egostosas saladas; e muito mais o sãose se misturam. E sendo tão estimáveis,ninguém os cultiva hortenses, nem é

necessário, porque pelas roças damaniba, e mais searas, é a erva maisordinária, que nasce em tantaabundância, que preciso arrancá-los,para não afrontarem, nem afogarem assearas. Com a mesma abundânciacrescem sem cultura outras ervas comosão os espinafres, bredos, beldoegas emuitas outras de que naquele estadose não faz caso (DANIEL, 2004, v.1,p.432).

O botânico João Barbosa Rodrigues (1842-1909), em 1894, quando abordou as plantasexistentes no Jardim Botânico do Rio de Janeirodiscorreu sobre o jambu da seguinte forma:

Spilanthes oleracea Linn. Nome vulgar:jambu-açu, agrião-do-pará. Floraçãoem outubro e novembro. Planta anual,de hastes tenras, ramosas diffusas, comfolhas oppostas, espessas, pecioladas,dentadas, cordiformes, dando capítulosterminaes, conicos, pedunculados, como involucro em duas series. Floresamarello de ouro. Os capítulos sãomuito acres, de um sabor que queima,produzindo muita salivação e tremor nalíngua. A alcoolatura dos capítulos é umbom odontalgico. As folhas comem-seensopadas (RODRIGUES, 1894).

O escritor alemão Patrick Süskind (1949),autor do best seller “Perfume”, lançado em 1985,que inventou o personagem Jean-BaptisteGrenouille, com a capacidade de criar aromas quetransmitiam atração, menosprezo, nojo, prazer,amor e ódio, não teria um cenário mais apropriadopara a sua transfiguração do que Belém, na épocado Círio, com o inconfundível aroma do pato-no-tucupi, maniçoba e tacacá a se espalhar pelosquatro quadrantes da cidade (HOMMA, 1999).

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A divulgação do uso do jambu em nívelnacional e mundial muito se deve a iniciativa dochef-de-cuisine Paulo Martins (1946-2010), doconhecido restaurante Lá em Casa, criado em1972, no qual já serviu dezenas de personalidadesnacionais e internacionais como o Papa JoãoPaulo II (1980), o Imperador Akihito (1933) e aImperatriz Michiko (1934) nas duas visitas quefizeram a Belém (1978, 1997).

Em 2011 foi realizada a nona versão doFestival Ver-o-Peso da Cozinha Paraense, iniciadoem 2000, interrompido, em alguns anos, devidoao estado de saúde do chef Paulo Martins. Oevento serviu como uma das alavancas dadivulgação do jambu e de outras frutasamazônicas na culinária nacional e internacionalao convidar chefs de diversas partes do Brasil edo mundo para conhecer os produtos utilizadosna gastronomia paraense. Em 2007, o famosochef catalão Ferran Adriá ficou encantado como poder “eletrizante” da folha de jambu, capazde fazer a língua e os lábios formigarem(BOTELHO, 2007).

Paulo Martins em seu magnífico vídeo“Cozinha Paraense”, menciona a relação de 1

pato para 3 litros de tucupi e 3 maços de jambue, considerando que um pato médio pesa 3quilos, poderia estimar a quantidade de patos(frangos, peru etc.), de tucupi e jambuconsumidos por ocasião das festividades doCírio de Nazaré (HOMMA, 1999). O professorFrancisco de Assis Costa e colaboradores emmagistral trabalho intitulado “O Círio deNazaré de Belém do Pará: Economia e Fé”efetuaram uma estimativa dos participantes doCírio, no período 2000 a 2005, e os impactosprovocados na economia (COSTA et al., 2008).Utilizando a estimativa de 1.952.163 romeiros,em 2005 e, considerando 5 pessoas por família,ter-se-á, um universo de 390.432 famílias.Supondo que a metade, aproximadamente 200mil famílias, tenha condições de preparar umpato (frango, peru etc.) no tucupi, utilizar 3litros de tucupi e 3 maços de jambu, obter-se-á um total de 600 mil maços de jambu e 600mil litros de tucupi ou 30 caminhões tanquecom capacidade de 20 mil litros. Como umcanteiro padrão nas dimensões de 1,20 m x 25m, produz 250 maços de jambu, serãonecessários 2.400 canteiros ou equivalente a12,5 hectares para ser consumido somente nodomingo do Círio.

3 JAMBU: UMA HORTALIÇA AMAZÔNICA

O jambu é uma planta herbácea com 20 a30 cm de altura, com caule cilíndrico, carnoso,decumbente e ramificado. A inflorescência é emcapítulo globoso terminal de coloração amarela,com flores hermafroditas. A flor é consideradacomo sendo de autopolinização ocorrendoquando o estilete cresce e ultrapassa as anterase ao despontar no exterior os estigmas já seencontram cheios de pólen. Esse modo deautopolinização é chamado de cleistogamia. Ofruto é um aquênio de tamanho reduzido, compericarpo de cor cinza escuro, parcialmenteenvolvido por páleas membranosas (CARDOSO,

1997). Na Figura 1 (Anexo 1) tem-se algumasfotos dessa hortaliça e do seu sistema deprodução.

Também é conhecido como agrião-do-pará,agrião-do-norte, agrião-do-brasil, abecedária ejambuassu. É uma planta autóctone da Américado Sul (Brasil, Colômbia, Guianas e Venezuela)onde pode ser encontrada cultivada ousubespontânea.

O jambu possui bom valor nutritivo. Porcada 100 g de folhas, contém 89,0 g de água,

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valor energético de aproximadamente 32,0calorias, 1,9 g proteína, 0,3 g de lipídio, 7,2 g decarboidratos, 1,3 g de fibra, 1,6 g de cinza, 162,0mg de cálcio, 41,0 mg de fósforo, 4,0 mg de ferro,0,03 mg de vitamina B1, 0,21 mg de vitaminaB2, 1,0 mg de niacina e 20,0 mg de vitamina C(BORGES, 2009).

As inflorescências apresentam maiorconcentração do alcalóide sendo a suaexploração como fonte de matéria-prima parauso medicinal e cosmético, potencialmente, maisimportante que ramos e folhas. O jambu éutilizado pela Natura na composição de cremeanti-rugas Chronos. Inicialmente as plantas eramadquiridas na Região Metropolitana de Belém.A partir de 2004, passou a ser fornecido peloGrupo Centroflora, fundado em 1957, deprodutores selecionados que cultivam de formaorgânica nos municípios de Pratânia, Botucatu(onde efetua a secagem), Ribeirão Preto eJaboticabal. Várias teses de pós-graduação sobreo jambu já foram defendidas nas universidades

do Sul e Sudeste, facilitando, também, nadisseminação desta planta (BORGES, 2009).

Os agricultores que se dedicam ao plantiode hortaliças cultivam em canteiros, que noconjunto não atinge um quarto de hectare. Doelenco das folhosas, frutos ou tubérculos, osprodutores se especializam em cinco ou seisespécies, permitindo o rodízio dos canteiros equanto a perspectiva do mercado. O elenco deverduras cultivadas é bastante grande: jambu,coentro, salsa, chicória regional, cebolinha,caruru, vinagreira, hortelã, couve, alface, alfavaca,quiabo, pepino, maxixe, pimenta-de-cheiro,tomate cereja, pimentão, berinjela, espinafre,rúcula, mostarda, vagem, hortelã, manjericão,mastruz etc.

O jambu mais cultivado apresenta folhaverde-claro com flores amarelas. Existe, o tiporoxinho, cuja folha é um verde mais intenso,possui ramos de cor roxa e as inflorescências comum halo, também, de cor arroxeada.

4 REDUZIR OS RISCOS DA BIOPIRATARIA

O alcalóide spilanthol presente nasfolhas, ramos e flores do jambu é descrito empatentes como apropriado para uso anestésico,antisséptico, antirrugas, anti-inflamatório,creme dental, ginecológico, com diversosprodutos no mercado, vendidos como remédioe cosmético. Esta é a razão da existência decinco patentes que utilizam o jamburegistradas no United States Patent andTrademark Office (USPTO) no período de 2000a 2006 (uma americana, uma francesa e trêsjaponesas), sete na World Intellectual PropertyOrganization (WIPO) (japonesa, americana,inglesa, dinamarquesa, suíça, brasileira eaustraliana) no período de 2006 a 2010, sendouma no Instituto Nacional de PropriedadeIntelectual em 2005.

Há relatos do cultivo de jambu na Índia,na América Central, em alguns países da Europae, sobretudo, na Ásia, onde ele já é plantado parao consumo como alimento (CARDOSO, 1997). NaChina, os ramos, as folhas e as inflorescênciassão comercializadas secas e existem diversospratos considerados iguarias que incluem a erva,eventualmente usada, também, para suavizarpimentas muito ardidas (JOHN, 2011). No Japão,o jambu, foi introduzido pela University ofMiyazaki, situada na ilha de Kyushu, em 2011.

A melhor forma de combater a biopiratariana Amazônia é conseguir transformar os recursosda biodiversidade em atividades econômicaspara gerar renda e emprego para a suapopulação. Para isso é necessário identificar

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esses recursos genéticos, analisar seuscomponentes, proceder a sua domesticação, aprodução em bases racionais e a verticalizaçãona região. A fragilidade da economia extrativaem que se apóia a maioria dos produtos dabiodiversidade amazônica constitui em umconvite a biopirataria. Se a exploração dosrecursos da biodiversidade amazônica ficarrestrita, ao mercado da angústia ou àcomercialização folclórica das vendedoras daFeira do Ver-o-Peso, dificilmente a Amazônia terácondições de transformar a sua biodiversidadeem riqueza econômica (PRADAL, 1979). Aformação de um parque produtivo localcompetitivo e a sua verticalização inibiria a suatransferência para outras partes do mundo(HOMMA, 2005).

Há necessidade de desmistificar abiodiversidade potencial, dar maior atenção paraa biodiversidade do passado e do presente(fontes da biopirataria) e, entender as limitaçõesda economia extrativa. A conservação e apreservação da biodiversidade amazônica vãodepender da utilização das áreas já desmatadas,da recuperação daquelas que não deveriam tersido destruídas, de maiores investimentos emC&T e de infraestrutura social. As instituiçõesde pesquisa devem estabelecer metas concretasde identificação, por exemplo, cinco novasplantas da biodiversidade por quinquênio,aproveitando o conhecimento tradicional,indígena e de screenings sobre os recursosgenéticos potenciais. Há necessidade derespeitar os direitos de propriedade intelectuale a repartição dos benefícios, conectados com osetor empresarial, de programas de crédito,assistência técnica e associações com paísesdesenvolvidos com salvaguardas mútuas,obedecendo ao ciclo de vida dos produtos.

Outro ponto para discussão, refere-se ànecessidade de qualificar os recursos dabiodiversidade amazônica, sempre colocado emsentido amplo. Os recursos vegetais com maiorinteresse econômico seriam as plantasmedicinais, aromáticos, inseticidas e corantesnaturais. No caso de plantas medicinais, àquelesrelacionados às doenças de pessoas ricas, taiscomo câncer, colesterol, hipertensão, geriátricos,etc. teriam maiores chances de retornoseconômicos, ao contrário das doenças dapobreza, tais como malária, leishmaniose, doençade Chagas, etc., apesar do alto sentido social(PILLING, 1999). O patenteamento não significaa sua imediata transformação em produtocomercial, mas demonstra o esforço de pesquisa,a demarcação de direitos e a probabilidade defuturas descobertas promissoras.

Dessa forma, a histeria com relação àbiopirataria na Amazônia esconde dois gravesproblemas. O primeiro, o de ocultar a gravidadereal do problema e o outro, a busca de umaefetiva solução. No momento existe umapreocupação muito grande com a biopiratariaexterna, mas consideráveis recursos genéticos daAmazônia estão sendo drenados para outraspartes do País e constituindo em atividadeseconômicas. Basta afirmar que a Bahia produz55% da produção brasileira de guaraná, sem falardos plantios de cacaueiro, cupuaçuzeiros,açaizeiros, pupunheiras, seringueiras, plantasmedicinais, que estão sendo desenvolvidos naBahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo,Paraná, entre outros. Para efetuar a biopiratarianão é necessário embrenhar-se na florestaamazônica, uma vez que muitos produtos dabiodiversidade do presente e do passado estãodisponíveis nas feiras e, nas ruas, como acontececom os caroços de açaí.

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5.3 PROPAGAÇÃO E PLANTIO

O jambu pode ser propagado por sementes,método mais empregado, ou por estacas deramos. As sementes devem ser obtidas de plantasque foram deixadas no canteiro com maiordesenvolvimento vegetativo, livre de pragas edoenças, até o amadurecimento dos aquênios,uma vez que as sementes certificadas não sãocomercializadas no mercado. Na feira do Ver-o-Peso e em algumas casas comerciais do municípiode Castanhal, é possível adquirir sementes paravenda, sem haver garantias quanto à qualidadefísica e sanitária. As inflorescências são colhidase postas para secar em ambiente ventilado. Apóstrês a cinco dias é feita a debulha.

O agricultor deve tomar as seguintesmedidas para garantir sementes de boaqualidade: colhe-las de plantas sadias e evitarproduzi-las na época chuvosa, pois estas retém

muita umidade, tornando-as vulneráveis à açãode microorganismos, levando a perdasconsideráveis, apresentando baixa germinação.

Um grama de sementes de jambu comimpureza (restos culturais) tem-se 2.000sementes bem formadas. Em nível de produtor,não é necessário obtê-las limpas (livre deimpurezas) devido o trabalho para limpá-las, emesmo porque estas impurezas são constituídas,em geral, de palea que revestem as sementes, edas flores não-fecundadas, que são facilmentedecompostas, não prejudicando a germinação,além de facilitarem a distribuição mais uniformedas sementes no canteiro de semeadura.

O modo mais tradicional do plantio dejambu é fazer a semeadura a lanço sobre umcanteiro, cobrindo as sementes com uma leve

5 SISTEMA DE PRODUÇÃO

5.1 CLIMA E SOLO

O cultivo do jambu é, preferencialmente,realizado em clima quente e úmido, comtemperatura média anual superior a 25,9oC eumidade relativa do ar em torno de 80%. Em SãoPaulo, onde os novos plantios estão localizados,ocorre em períodos do ano, cuja temperatura

média seja acima de 15ºC. Já os solos indicadospara o cultivo dessa hortaliça devem ser argilo-arenosos e ricos em matéria orgânica. Porém valeressaltar que solos de várzea, quando bemdrenados podem, também, ser utilizados para ocultivo do jambu.

5.2 PREPARO DOS CANTEIROS

Um trabalhador consegue preparar 8canteiros de 1,20m x 25 m por dia para efetuarnovo cultivo, considerando o terreno já preparadoe sem tocos.

O ciclo do jambu depois de plantado nocanteiro dura de 25 a 30 dias até ser arrancado e

os produtores efetuam a rotação com alface,coentro, cebolinha ou salsa. Sempre antes doplantio os canteiros recebem radiação solar diretopor pelo menos 4 dias, tendo-se o cuidado derevirar o solo com o intuito de diminuir ainfestação de nematóides no solo.

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5.3.1 Jambu em hidroponia

O plantio do jambu em hidroponia comTécnica do Fluxo Laminar de Nutrientes (NFT)apresenta concorrência com o cultivo da alface,demanda constante durante o ano, e comoproduto diferenciado para os consumidores. A

vantagem do cultivo em hidroponia seria oaproveitamento da ressoca e a venda do jambusem as raízes. A técnica é semelhante àquelarecomendada ao cultivo da alface, inclusive comrelação à solução nutritiva.

camada de serragem. A densidade de semeaduraé elevada, sendo distribuídos de um a três gramasde impurezas por metro quadrado de canteiro. Érealizada uma cobertura alta sobre o canteirosementeira, com palha ou com sombrite de formaa reduzir a radiação em até 75%. Após a fase degerminação a cobertura é retirada e com 25 a 30dias é feito o transplantio das mudas para ocanteiro definitivo. As mudas são arrancadas dasementeira, sendo transplantadas em

espaçamento de 5 cm x 5 cm x 10 cm. Umtrabalhador treinado planta cinco a seis canteiros1,20 m x 25 m.

Outro processo é fazer a semeadura diretanos sulcos com espaçamento entre 10 cm a 15cm. O excesso de plantas germinadas étransplantado para outros canteiros, ficando asmudas distanciadas em 5 cm nos sulcos. Estaforma antecipa a colheita em 10 a 15 dias.

5.4 TRATOS CULTURAIS E ADUBAÇÃO

Um dos tratos culturais utilizados duranteo período da cultura é a monda que consiste emretirar as ervas daninhas com as mãos após oplantio nos canteiros definitivos, efetuado antesda completa cobertura destes pelos ramos dasplantas de jambu.

Poucos produtores utilizam aduboquímico na adubação do jambu, a grandemaioria usa cama de frango para o cultivo. Naadubação básica os canteiros são adubados,três dias antes do transplantio, com aincorporação de, aproximadamente, 30 litros decama de frango (um carrinho de mão), paracada canteiro de 1,20 m x 25 m. O custo de3 m³ é de R$ 108,00, entregue na propriedadee corresponde a 40 carrinhos de mão ou 45sacos de ráfia com 2/3 de sua capacidade totalde enchimento.

É efetuada uma adubação complementarapós o transplantio, sendo usada a proporção de

três litros de adubo orgânico por 1 m² de canteiro,distribuídas a lanço entre as plantas.

A adubação química mais comum, quandoutilizada pelos produtores, é a formulação NPK10-28-20, a mais comercializada no mercadoregional de insumos. Adubações foliares tambémsão feitas, usando-se 30 g de uréia e 20 g deadubo foliar completo, recomendado parafolhosas diluídas em 20 litros de água, comaplicações a cada 10 dias. São usados dois litrospara cada 10 metros de canteiro.

Se o solo estiver “fraco” decorrente desucessivos plantios, aplicam 4 kg de calcáriodolomítico para um canteiro de 1,20 m x 25 m edeixam em descanso por 30 dias.

O ciclo da cultura vai entre 45 a 50 diasapós sua semeadura. A limpeza de ervas daninhasapós o plantio nos canteiros é efetuada de modomanual, arrancando-as individualmente.

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5.5 PRINCIPAIS PRAGAS E DOENÇAS

As principais pragas que atacam oscanteiros com jambu são a paquinha (Neocurtillahexadactyla), lagartas, ácaros etc. O controledesta é feita com iscas, efetuando-se a misturade 20 ml inseticida (geralmente Parathionmetilico) para um quilo de farelo de trigo,colocando uma colher de sobremesa por metroquadrado de canteiro à noite.

O combate as lagartas é efetuado comaplicação dos inseticidas Decis (30 ml/20 litrosde água) ou Folisuper ou Mentox (20 ml/20litrosde água). Quanto ao ataque de ácaros é utilizadoo Tamaron um inseticida organofosforadosistêmico (30 ml/ 20 litros de água) e o Agritoato400 CE (40 ml/20 litros de água).

O controle do nematóide é efetuadomediante rotação de cultura e exposição de solodo canteiro a luz solar revirado com a enxada.

Verifica-se que muitos produtores nãoapresentam cuidados na aplicação de

agroquímicos tanto para a sua saúde e dosconsumidores pela não-observância com relaçãoaos prazos mínimos exigidos para consumo. Osagrotóxicos utilizados não são permitidos pelalegislação e não há utilização de Equipamentosde Proteção Individual (EPI).

Entre as doenças destacam-se a ferrugem(Puccinia sp.), carvão (Tecaphora sp.),nematóides do gênero Meloidogyne, etc. Ocontrole da ferrugem é efetuado com o fungicidaDithane (50 ml/20 litros de água) e pode efetuaraté 3 pulverizações e o fungicida Amistar (20ml/ 20litros de água); estes fungicidas sãoaplicados separadamente. Alguns produtoresutilizam produtos misturados como Tamaron (30ml) mais Dithane (30 ml) em 20 litros de água.Quanto ao ataque do carvão que produz galhasdistribuídas nos caules, pecíolos, folhas epedúnculos florais os produtores eliminam asplantas doentes e fazem outro plantio comsementes sadias.

5.4.1 Irrigação

No período sem chuvas são feitas duasirrigações diárias. Com a fonte de água mais comumos poços semi artesianos. Usam-se motobombaselétricas e mangueiras plásticas com um chuveiro

adaptado na extremidade, ligadas diretamente natubulação de recalque. Alguns empregammicroaspersão comercializada no mercado local emsistema de fitas plásticas para irrigação.

5.6 PRODUÇÃO

A produção média de um canteiro de25 m x 1,20 m é de 250 maços de jambu, quesão vendidas para os intermediários a razão deR$ 0,25 a R$ 0,30/maço. Dependendo dafertilidade do solo, dos tratos culturais e daredução dos ataques de pragas e doenças épossível obter até 400 maços por canteiro no

verão. O tamanho deles, segundo os produtores,é uma exigência dos intermediários. Estes sãoreduzidos nos supermercados e nas feiras paramaços menores e, nas proximidades dasfestividades, chegando a R$ 1,00 a R$ 1,50/maço, devido a sua utilização em comidastípicas.

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5.6.1 Pós-colheita

De maneira geral, as plantas de jambu sãoarrancadas e amarradas em maços, ainda, na áreade cultivo, transportados e depois lavados em umtanque próximo a residência do produtor. Amesma água é reutilizada várias vezes, para alavagem diária e renovada, apenas, no diaseguinte. Os produtores já estão sendo orientadosa utilizar água limpa nesta tarefa e efetuar arenovação com maior frequência. Esta lavagemconstitui foco de contaminação das hortaliças.

O amarrio é, em geral, efetuado peloshomens para dimensionar a quantidade de pésde jambu por maço, eventualmente, mulheres ecrianças realizam esta atividade. Um rolo de fitadá para amarrar 1.000 maços e custa R$ 15,00.Existe outro tipo de barbante de R$ 16,00/rolo edá para amarrar mais de 10.000 maços. Paraamarrar jambu, 4 pessoas amarram 1.000 maçosem 3 horas.

Sua produção é intensificada de acordocom um calendário de eventos, que começa como Carnaval, Semana Santa, Dia das Mães, SãoJoão, Dia dos Pais, Círio de Nazaré, Natal e Ano

Novo. Um produtor de jambu tradicional destinametade dos canteiros para a época dasfestividades do Círio de Nazaré e 1/4 para operíodo normal.

5.7 COMERCIALIZAÇÃO E TRANSPORTE

Isshiki (2011) estudou a variaçãoestacional do preço do maço de jambu nomercado atacadista de Belém, no período 2000a 2009. Ele identificou que no primeiro semestreapresenta os maiores valores, onde o preço maiselevado ocorre no mês de janeiro, com índiceestacional médio de 123,06% e o menor no mêsde agosto, com índice estacional médio igual a73,92%, indicando uma variação média no preçodo produto de 49,14% referente ao período desafra e entressafra do jambu. A maior produçãoocorre no período do Círio e para as festividadesde final do ano, mas os produtores recebempreços mais baixos.

Existem diferentes fluxos decomercialização do jambu. Uns entregamdiretamente para os intermediários, que vendemnas feiras, repassam para outros feirantes,supermercados e restaurantes. Alguns produtoreslevam direto para as feiras, supermercados,restaurantes, pizzarias, entre outros,

transportando em ônibus de linha ou em carrospróprios. Os intermediários, também, utilizam osmesmos meios de transportes para apanhar ojambu na propriedade e efetuar a entrega.

O transporte dos “volumes” de jambu éfeito, diariamente, no final da tarde ou no inícioda noite. Os produtores não efetuam o corte dasraízes para evitar o murchamento mais rápido. Parao transporte da produção são cobrados R$ 3,00/volume. Cada um corresponde a 100 maços. Nosmeses de maior movimento o custo do transportepode dobrar, passando a R$ 6,00/volume. O“volume” consiste em um saco de ráfia todoaberto onde são colocados os maços e depoisamarrando as pontas em forma de trouxa.

Alguns produtores e intermediários estãocomercializando jambu pré-cozido, queconsiste em retirar as raízes e os talos maisgrossos, folhas com defeito e outras impurezas.A seguir são efetuadas cinco lavagens e

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5.8 CONSUMO

O uso tradicional do jambu nagastronomia cultural paraense destina-se parao pato-no-tucupi e tacacá. Nas duas últimasdécadas, além do uso de outros animais assadosem substituição ao pato, popularizou o uso dojambu com arroz (arroz paraense), pizza dejambu, uso na indústria cosmética, salada defolha in natura de jambu, como picles pelosdescendentes de japoneses, etc.

Para preparar o jambu devem-se separaras folhas com os talos mais tenros, lavar emágua corrente várias vezes, escaldar em águafervente, deixar escorrer e reservar. Após este

pré-cozimento, retira o “gosto do mato”,ocorrendo o amolecimento das folhas e docaule e está pronto para ser usado comoinsumo básico de diversos pratos. As folhas dejambu pré-cozidas além de atender a demandade restaurantes, são destinadas a acatarpedidos de parentes e amigos residentes emoutros estados do País, facilitando o seutransporte.

Há necessidade do desenvolvimento detecnologia visando o pré-cozimento ou a suadesidratação com a conservação, para atendermercados distantes.

colocado em água fervente para promover omurchamento dos talos e folhas, deixamescorrer e embalam em sacos plásticos. Orendimento é de 6 a 7 maços (R$ 0,25/maço)para obter 1 kg de jambu pré-cozido que évendido a R$ 6,00 a R$ 7,00/kg. A despeito daalta margem de comercialização, implica na

utilização de três pessoas para preparar 50 kge a despesa com gás, uma vez que o uso delenha tende a contaminá-lo com detritos decarvão e cinza. O mercado do jambu pré-cozidodestina-se a grandes restaurantes, reduzindo-se com isso a utilização de mão de obra paraao preparo dos maços de jambu.

6 CUSTO DE PRODUÇÃO

Para o cálculo do custo operacional doplantio de jambu foi considerado para um hectaredispostos em canteiro padrão de 1,20 m x 25 m(30 m2), perfazendo 192 canteiros, com 5.760 m2de área útil. Estes seriam separados entre si de 0,80m e as ruas principais seriam de 2 metros a cadaintervalo de 25 metros tanto no sentido verticalcomo horizontal. Adotou-se a produtividade médiade 250 maços de jambu por canteiro, totalizando48.000, considerando um ciclo produtivo de 2meses a 2,5 meses, efetuando rotação de plantio.

Ressalta-se que não existe um produtorexclusivo de jambu, mas em associação comoutras olerícolas, onde ocorre a diluição dasdespesas com depreciação de pequenosequipamentos (enxadas, pás, carrinho de mão,etc.), utilização de adubação residual, mão deobra, moto-bomba e energia elétrica. Ocorremalgumas variações neste orçamentodependendo da escala do plantio e dos insumosutilizados.

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Tabela 1 – Coeficientes técnicos na produção de jambu considerando um hectare, junho 2011.

Fonte: Pesquisa de campo.Nota: para o cálculo foi considerado 192 canteiros de 1,20m x 25m (30m2), com 5.760m2 de área útil.

7 CONCLUSÕES

O sucesso do jambu constitui exemplo deuma produção e consumo invisível, pois apesarda sua importância, não constam nasestatísticas oficiais. A expansão do seu cultivomostra a importância que se deve dar para osrecursos da biodiversidade, na medida em quesão domesticados e aqueles que já sãocultivados em consonância com o crescimentodo mercado.

As patentes já registradas configuram umaplanta com possibilidades para atrair osinteresses da indústria farmacêutica/cosméticamundial ou como uma hortaliça exótica. A suaexportação exige inovações tecnológicas, comoa desidratação ou pré-cozimento, redução no usode agroquímicos, produção em escala, etc. Atransferência do jambu para outras partes doBrasil e do mundo torna questionável alguns

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tópicos sobre a legislação de biopirataria. Reforça-se a ideia de que a criação de um parque produtivolocal seja a melhor opção para se evitar adrenagem para outras partes do País e do mundo.

O jambu, ainda, apresenta ascaracterísticas de um produto sazonal, limitadopelas festividades populares e das datashistóricas familiares. Apesar disso, mostragrandes possibilidades de ampliar sua demandaao longo do ano. O crescimento do turismo, a

disseminação desta erva amazônica no centro-sul do País e, no exterior, poderia trazer novosmercados para esse produto.

Hoje os produtores de jambu não sededicam exclusivamente ao cultivo desta planta,mas em um conjunto de outras hortaliças, visandopromover a rotação dos canteiros, assegurarmaior renda, da demanda específica para cadaproduto hortícola e da diferença de rentabilidadepara cada produto.

AGRADECIMENTOS

Ao Dr. José Edmar Urano de Carvalho(Embrapa Amazônia Oriental) pelas suascontribuições históricas. Ao Dr. EdowardoMuneaki Shimpo (Emater Benevides) pelo apoioentre os produtores. Ao Dr. Fabrício KhouryRebello e ao Dr. Osvaldo Ryohei Kato pelas

informações sobre a pizza de jambu. Ao Dr.Moacyr Bernardino Dias-Filho (EmbrapaAmazônia Oriental) e aos produtoresentrevistados de Ananindeua, Benevides, SantaIzabel do Pará e Santo Antônio de Tauá.

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REFERÊNCIAS

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GUSMÃO, S.A.L.; GUSMÃO, M.T.A.; VELASCO, W.; SILVESTRE, D.; LOPES, P.R.A. Caracterização do cultivo dejambu nas áreas produtoras que abastecem a grande Belém. Horticultura brasileira, Fortaleza, v. 23, n. 2,2005. Suplemento CD-Rom.

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HOMMA, A.K.O. Biopirataria na Amazônia: como reduzir os riscos? Amazônia: Ciência & Desenvolvimento,Belém, v.1, n.1, p.47-60, jul./dez. 2005.

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SUSKIND, P. O perfume: história de um assassino. São Paulo: Record, 2000. 276 p.

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ANEXO 1

Figura 1 - Na parte superior: horta periurbana de pequeno produtor em Santa Izabel do Pará e inflorescênciade jambu. Na parte do meio canteiro plantado e arranquio de jambu para comercialização. Na parteinferior maços de jambu comercializado e cuia de tacacá (agosto 2011).

Fotos: Antônio José Elias Amorim de Menezes.

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OTIMIZAÇÃO LOGÍSTICA PARA O TRANSPORTE MULTIMODAL DE SAFRAS AGRÍCOLASPELO CORREDOR CENTRO-NORTE: O QUE PENSAM AS EMPRESAS E INSTITUIÇÕES ENVOLVIDAS?1

José Eduardo Holler Branco*

José Vicente Caixeta Filho**

Augusto Hauber Gameiro***

Carlos Eduardo Osório Xavier****

Walter Henrique Malachias Paes*****

Betty Clara Barraza de La Cruz******

RESUMO

Este artigo apresenta os resultados de pesquisa realizada junto a transportadores, embarcadorese agentes públicos envolvidos no transporte de produtos agrícolas no Corredor Centro-Norte brasileiro.Outras pesquisas procuraram conhecer as impedâncias para o desenvolvimento da multimodalidade,em especial de cargas agrícolas, que dependem de alternativas mais econômicas de transporte, emfunção do seu relativo valor agregado e das longas distâncias as quais precisam percorrer. Todavia,são raras as que consideram, efetivamente, o ponto de vista dos agentes envolvidos, em especial ostransportadores (prestadores de serviço de transporte) e os embarcadores (contratantes do serviço detransporte). Esta pesquisa é parte de três projetos mais amplos relacionados ao tema. A amostra foicomposta por 242 agentes, sendo 44 no Corredor em questão. As entrevistas foram realizadaspessoalmente por 25 pesquisadores, entre os meses de abril e julho de 2008. Os resultados sãoimportantes no sentido de contribuírem para ratificar ou retificar a opinião pública sobre os desafiosà multimodalidade na região; também contribuem para a calibração de modelos matemáticos usadospara avaliação e planejamento de políticas de investimentos em infraestrutura logística.

Palavras-chave: Transporte. Logística. Produtos Agrícolas. Instituições.

* Pesquisador. Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial, Universidade de São Paulo (USP).E-mail: [email protected].

** Professor Titular. Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP. E-mail: [email protected].*** Professor Doutor. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, USP. E-mail: [email protected].**** Pesquisador. Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial, USP. E-mail: [email protected].***** Pesquisador. Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial, USP. E-mail: [email protected].****** Professora Adjunta. Fundação Universidade Federal do Tocantins. E-mail: [email protected].

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LOGISTIC OPTIMIZATION FOR MULTIMODAL AGRICULTURAL PRODUCTS TRANSPORT BYCENTER-NORTH CORRIDOR: WHAT DO COMPANIES AND INSTITUTIONS INVOLVED THINK ABOUT IT?

ABSTRACT

This paper present the main results of a survey with transport companies, shippers and publicagents evolved in the transport of agricultural products in the Brazilian Center-North Corridor. Otherresearches aimed to show the impedance to the development of multimodality in Brazilian transportespecially of agricultural commodities that depend on more economical alternatives due their loweraggregated value and the long distances they need to cover. Although are scarce the ones that consider,effectively, the agents’ point of view, mainly the transport companies and the cargo owner (shippers).This survey is part of three research projects more ample related to the subject. The sample wascomposed by 242 agents, being 44 in the Center-North Corridor. The interviews were conductedpersonally by 25 researchers between April and July 2008. The results are important to ratify andrectify the public opinion about the challenges to multimodality in the region; also contribute to thecalibration of mathematical models used to assess and to plan investment policies in logisticinfrastructure.

Keywords: Transport. Logistics. Agricultural Product. Institutions.

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1 INTRODUÇÃO

O Corredor Centro-Norte possui comoáreas de influência os estados do Mato Grosso,Goiás, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia e Pará.As regiões englobadas pelo corredor possuemcaracterísticas semelhantes de escoamento dassuas commodities que, para tanto, compartilhamdos mesmos modais de transporte. Além disso,estão direta ou indiretamente ligadas à bacia dosrios Tocantins e Araguaia e têm como principalterminal marítimo de movimentação dosprodutos o Porto do Itaqui, em São Luís (MA).

Além da hidrovia Tocantins-Araguaia,também são importantes para o escoamento daprodução, através do Corredor Centro-Norte, asseguintes infraestruturas de transporte: Estradade Ferro Norte-Sul (ainda com trechos em fasede construção), Estrada de Ferro Carajás, Portode Itaqui em São Luís (MA), além de algumasestradas federais e estaduais.

A fim de levantar mais informações sobreos corredores de escoamento, o Grupo dePesquisa e Extensão em Logística Agroindustrialda Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz(ESALQ LOG), associado com a Universidade deSão Paulo (ESALQUSP) e a Universidade Federaldo Tocantins (UFT), realizou entre os meses deabril e julho de 2008 visitas a campo no corredorem questão. Elas foram subsidiadas pelaFinanciadora de Estudos e Projetos (FINEP)através dos recursos alocados para a realizaçãoda meta física “Pesquisa de Campo”, vinculadaao projeto em questão.

A pesquisa de campo teve como objetivolevantar junto aos principais agentesembarcadores e transportadores do corredor,informações sobre as condições da infraestruturaatual, sobre os fluxos das principais commoditiesagrícolas pelo corredor, sobre as localidades que

realizam operação de transbordo e a respeito dasimpedâncias logísticas apontadas pelos agentesenvolvidos com o sistema de transporte nasregiões visitadas. Além disso, procurou-se buscarinformações sobre investimentos previstos pelainiciativa pública e privada, e informaçõesrelevantes para desenvolver um panoramalogístico a respeito da movimentação dosprodutos agrícolas de interesse. Os dadoscoletados, além de promoverem oenriquecimento do estudo com informaçõesqualitativas, também permitem o ajuste domodelo matemático utilizado na otimizaçãologística para o transporte multimodal das safrasagrícolas. Ademais, possibilita um bomcomparativo entre as informações pesquisadasna revisão bibliográfica e as levantadas emcampo, permitindo a montagem de cenárioseconômicos mais próximos da realidade, alémde facilitar a compreensão das especificidadesdas movimentações agrícolas de cada regiãovisitada.

Apesar do artigo ter como foco documentaros resultados decorrentes do desenvolvimento doprojeto intitulado “Modelo Matemático deOtimização Logística para o TransporteMultimodal de Safras Agrícolas pelo CorredorCentro-Norte”, a Fundação de Estudos AgráriosLuiz de Queiroz, em conjunto com o ESALQ-LOG,desenvolveu dois trabalhos semelhantes queforam submetidos à mesma Chamada Pública.Estes denominados: “Modelo Matemático deOtimização Logística para o TransporteMultimodal de Safras Agrícolas pelo CorredorNordeste” e “Modelo Matemático de OtimizaçãoLogística para o Transporte Multimodal de SafrasAgrícolas pelo Corredor Centro Oeste”, quetambém envolveram atividades de pesquisa decampo, desenvolvidas com base no mesmométodo e objetivos.

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2 PESQUISA DE CAMPO

As visitas de campo foram realizadasentre os meses de abril e julho de 2008, eenvolveram 25 pesquisadores, provenientes dasseguintes instituições: USP/ESALQ, UFT,Universidade Federal do Recôncavo da Bahia(UFRB), Universidade Federal de Mato Grosso(UFMT) e Universidade Estadual de Maringá(UEM).

Foram entrevistados 242 agentes, entreembarcadores (contratantes de serviços logísticos),transportadores e instituições (associações,prefeituras, órgãos de regulamentação etc.). Operfil dos entrevistados e o número de entrevistasrealizadas, organizadas para cada um dos trêscorredores considerados na pesquisa, sãoapresentados nas Tabelas 1 e 2, respectivamente.

Tabela 1 - Composição da amostra da pesquisa de campo.

Fonte: ESALQ-LOG (2009).

Houve um predomínio esperado deembarcadores na amostra (78%), uma vez que esteperfil de agente é, de fato, o mais numeroso eaquele, diretamente, mais impactado pelos gargalosrelacionados à falta de alternativas multimodais.

No que se refere à participação doscorredores na composição da amostra, também

houve a preocupação de se representaradequadamente o universo da pesquisa,havendo um predomínio de entrevistados noCorredor Centro-Oeste, como ilustrado na Tabela2, por configurar a região geográficaresponsável pela maior parcela da produçãonacional dos produtos agrícolas eagroindustriais de interesse do estudo.

Tabela 2 - Número de entrevistas realizadas por corredor logístico.

Fonte: ESALQ-LOG (2009).

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Foram visitadas instituições públicasassociadas ao setor de transportes,transportadoras, embarcadores envolvidos coma movimentação de álcool, açúcar, farelo de soja,óleo de soja, soja em grão, milho e trigo. Sãoexemplos de agentes visitados: armazéns degrãos (além das unidades armazenadoras,também engloba cooperativas, traders, entreoutras empresas que de alguma forma estãorelacionadas com a armazenagem e/oucomercialização de grãos), esmagadoras de soja,misturadoras de fertilizantes, usinas de açúcar

e álcool, moinhos de trigo, indústrias debiodiesel, entre outras.

A Tabela 3 apresenta a representatividadedos resultados da pesquisa de campo por tipo deproduto. A aplicação dos questionários, também,possibilitou a identificação de 1.403 fluxos aolongo das rotas utilizadas atualmente, indicandoas principais regiões de origem e de destino decargas ao longo dos corredores de transporte,bem como a identificação das principaisalternativas multimodais utilizadas para oescoamento dos produtos de interesse.

Tabela 3 - Rotas pesquisadas (Corredores Centro-Oeste, Centro-Norte e Nordeste).

Fonte: ESALQ-LOG (2009).Nota: *produtos que não estão contidos neste estudo como: farelo e farinha de trigo, arroz, ração animal, entre

outros.

Nas visitas de campo foram aplicados trêstipos de questionários: aos embarcadores, aostransportadores e às instituições. Consideram-secomo embarcadores os agentes que detêm a cargaagrícola (indústrias processadoras, traders etc.).Os transportadores, por sua vez, são todos aquelesque prestam algum tipo de serviço logístico,principalmente os relacionados ao transporte dascargas. Por último, as instituições são todos osórgãos ou instituições públicas que de alguma

forma estejam relacionadas à cadeia logística dosprodutos de interesse deste estudo: agências,órgãos fiscalizadores, regulamentadores,armazéns reguladores, entre outros.

Em relação à estrutura dos questionários,os primeiros tópicos tinham como objetivolevantar as informações sobre as principais rotas,com os seus respectivos volumes, de forma aidentificar as melhores alternativas multimodais

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atualmente utilizadas, além dos principaisgargalos nas rotas descritas, observados pelosagentes de cada corredor de transporte. Emsegundo lugar fazia-se referência aosinvestimentos, buscando informações sobre asperspectivas a respeito das fontes públicas eprivadas, a curto e médio prazo, empenhados paraalavancar a multimodalidade. Por fim, os últimos

tópicos dos questionários tiveram como objetivoavaliar os principais fatores que interferem natomada de decisão dos agentes pelo uso de ummodal de transporte em detrimento a outro.Dessa forma, foi possível avaliar os critérios maisdeterminantes quando da escolha de umamodalidade para a movimentação demercadorias.

3 RESULTADOS

Dentre os objetivos delineados, asentrevistas visaram estimar o volume das cargasde interesse que era movimentado pelos agentesamostrados. A Tabela 4 traz a quantidade de

carga declarada pelos entrevistados, organizadasem granéis agrícolas sólidos e granéis agrícolaslíquidos, e, ainda, em função dos modais por meiodos quais tais cargas eram movimentadas.

Tabela 4 - Quantidade de cargas movimentadas declaradas pelos entrevistados em função do modal utilizado(corredores Centro-Oeste, Centro-Norte e Nordeste).

Fonte: ESALQ-LOG (2009).

A partir das quantidades movimentadasdeclaradas, construiu-se uma matriz de

transporte em função dos modais, conformeconsta na Tabela 5.

Tabela 5 - Matriz de transporte estimada a partir das quantidades movimentadas declaradas pelos entrevistados(corredores Centro-Oeste, Centro-Norte e Nordeste).

Fonte: ESALQ-LOG (2009).

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Observa-se, nas Tabelas 4 e 5, a maiorparticipação dos granéis sólidos agrícolas e domodal rodoviário para sua movimentação. Amatriz estimada apresenta uma aderênciabastante razoável em relação às matrizes detransporte disponíveis para o Brasil. Evidencia-se, ainda, que a multimodalidade é, ainda, maisincipiente quando se trata dos granéis líquidos,para os quais o modal rodoviário apresentatotal domínio (87%) em sua movimentação.

Também, ratifica-se a quase insignificanteparticipação do modal hidroviário (2% a 3%)que, para faixas mais extensas de viagens, seriareconhecidamente o modal mais econômico eambientalmente menos poluidor.

Desagregando as quantidades para ascargas e modais específicos de interesse do estudo,têm-se os painéis expostos nas Tabelas 6 e 7, paragranéis sólidos e líquidos, respectivamente.

Tabela 6 - Quantidade de carga (granéis agrícolas sólidos) movimentada declarada para os respectivos modaisde transporte (Corredores Centro-Oeste, Centro-Norte e Nordeste).

Fonte: ESALQ-LOG (2009).Nota: *algodão, arroz, resíduos de soja, farinha de trigo, girassol e ração.

Tabela 7 - Quantidade de carga (granéis agrícolas líquidos) movimentada declarada para os respectivos modaisde transporte (corredores Centro-Oeste, Centro-Norte e Nordeste).

Fonte: ESALQ-LOG (2009).Nota: * biodiesel, derivados de petróleo, gordura animal, metanol e óleos vegetais diversos.

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Tabela 8 - Quantidade de carga (granéis agrícolas sólidos) movimentada declarada para os respectivos modaisde transporte (Corredor Centro-Norte).

As quantidades de carga movimentadadeclarada pelos entrevistados do Corredor

Centro-Norte, especificamente, são apresentadasnas Tabelas 8 e 9.

Fonte: ESALQ-LOG (2009).

Tabela 9 - Quantidade de carga (granéis agrícolas líquidos) movimentada declarada para os respectivos modaisde transporte (Corredor Centro-Norte).

Fonte: ESALQ-LOG (2009).Nota: *biodiesel, gordura animal e metanol.

As cargas que se destacaram nacomposição da amostra do Corredor Centro-Norteforam o álcool, açúcar, soja e o milho. Houve umdomínio do modal rodoviário para todas as cargas,em especial os granéis líquidos. Praticamente nãose identificou movimentação por hidrovias entreos entrevistados amostrados neste corredor.

Uma vez que um dos principais objetivosdeste projeto era identificar os impedimentos à

multimodalidade, procurou-se compreender adisponibilidade declarada de modais alternativospara a movimentação das cargas. Para tanto,também, se utilizou do índice que recebeu adenominação de “índice de disponibilidadedeclarada de modais de transporte”. Este índicefoi elaborado em relação à quantidade de cargamovimentada declarada pelos entrevistados, quetambém foram questionados sobre adisponibilidade de outros modais para

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151Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

Fonte: ESALQ-LOG (2009).Nota: R = Rodoviário, F = Ferroviário, H = Hidroviário.

Para os granéis sólidos, observa-se quepraticamente 81% do volume de carga declaradatem disponibilidade para uso exclusivo do modalrodoviário. Na segunda posição aparece adisponibilidade conjunta entre as alternativasrodoviária e ferroviária (18,8%). Apenas 0,4% dacarga teriam as três alternativas modais para decidirqual utilizar. Para os granéis líquidos, 97% da cargasó teria o modal rodoviário a utilizar. Os três modaisde interesse seriam alternativos para, apenas, 3,3%da carga a ser movimentada. De uma forma geral,observa-se uma disponibilidade nula entre asalternativas rodoviária/hidroviária e ferroviária/hidroviária, motivada pela indisponibilidade domodal hidroviário neste corredor.

Dentre os principais objetivos da pesquisade campo estava a obtenção de informaçõespara ajudar na aferição de modelo matemáticode otimização logística, que era um dosobjetivos centrais dos projetos relacionados.Nesse sentido, houve a preocupação em melhorcompreender o comportamento dosembarcadores enquanto usuários dos serviçoslogísticos. Os atributos determinantes dasoperações foram apresentados aosentrevistados para que os ordenassem segundosua importância. O resultado agregado éapresentado na Tabela 11.

movimentá-las. Deve-se atentar, portanto, queesta disponibilidade apresenta um conceitoamplo, podendo dizer respeito tanto a umadisponibilidade física (existe a estrutura do modalalternativo que permitiria o embarque, bem comoequipamentos e tecnologia para tal) quanto àdisponibilidade comercial (existe escala,

conhecimento, condições negociais, interesse dotransportador).

O índice de disponibilidade declarada demodais de transporte para o Corredor Centro-Norte é apresentado na Tabela 10, organizadopor carga.

Tabela 10 - Índice de disponibilidade de modais de transporte para o Corredor Centro-Norte.

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Fonte: ESALQ-LOG (2009).

Como pode ser observado, calculou-se amédia e a moda das posições declaradas portodos os embarcadores entrevistados, para cadaum dos atributos considerados. Para ter-se umaideia de variabilidade, apresenta-se também odesvio-padrão das posições.

O custo logístico total foi considerado oatributo mais importante, como pode serobservado tanto pela média das posições (1,6)quanto pela moda (1). O desvio-padrão foi o maisreduzido dentre todos os atributos, ratificando que,apesar da diversidade de situações (regiões,cargas, modais etc.), o atributo custo é quase umaunanimidade. A agilidade da operação portuáriaficou na segunda posição dentre eles. Isso podeser observado tanto pela média (2,9) quanto pelamoda (2). Muito embora o tempo total do percurso(transit time) tenha ficado na terceira posição, amédia de sua posição (3,1) foi bastante próxima

à da agilidade portuária. Os demais atributosconsiderados - possibilidade de contrato de longoprazo, perdas físicas e garantias sobre sinistros -mostraram posições bastante semelhantes, o quenão permite afirmar com segurança qualapresenta maior importância para osentrevistados considerados de forma agregada.

Outro importante parâmetro investigadona pesquisa de campo diz respeito ao descontoexigido pelos embarcadores para que eles - tudoo resto mantido constante - decidam porembarcar sua carga em um modal alternativo aorodoviário. Para analisar as respostas calculou-se, como na análise dos atributos, a média e amoda dos descontos declarados pelosentrevistados. Neste caso, a média foi ponderadapelo volume de carga embarcada, anualmente,declarada pelos informantes. Os resultados sãoapresentados na Tabela 12.

Tabela 11 - Ordenação dos atributos determinantes das operações logísticas declarados pelos entrevistados(corredores Centro-Oeste, Centro-Norte e Nordeste).

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Fonte: ESALQ-LOG (2009).

Para as cargas em geral, com exceção dasmatérias-primas para fertilizantes e do álcool, odesconto exigido para o frete hidroviário ésuperior ao exigido para o frete ferroviário ou, nomínimo, em patamar bastante semelhante ao doferroviário. Para o álcool, essa tendência pareceinverter-se, sendo que os descontos exigidos sobreo frete ferroviário são superiores, provavelmenterefletindo um maior risco que percebem notransporte de uma carga perigosa por esse modal.

A compreensão das dificuldadesenfrentadas pelos agentes envolvidos na

logística agroindustrial nos corredores deanálise, também, foi um objetivo importante dapesquisa de campo.

Aos entrevistados era solicitado quedeclarassem quais são os problemas logísticosenfrentados em seus negócios, em especialaqueles gargalos mais diretamenterelacionados aos impedimentos àmultimodalidade. As respostas foramestudadas e sistematizadas em tópicos(“gargalo”). Tais resultados agregadosconstam na Tabela 13.

Tabela 12 - Desconto no frete exigido pelos embarcadores das respectivas cargas para que decidam porembarcá-las em um dos modais de transportes alternativos (Corredores Centro-Oeste, Centro-Norte e Nordeste).

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Fonte: ESALQ-LOG (2009).

Os resultados agregados indicam quepraticamente, três quartos dos entrevistados(74%) entendem que a infraestrutura viáriabrasileira é deficiente. Este foi, por conseguinte,o gargalo mais importante identificado napesquisa. A oferta insuficiente de serviços detransporte o segundo gargalo mais frequente,tendo sido declarado por 41% dos entrevistados.Relacionado a este gargalo, mas com ênfasedireta na questão da multimodalidade, ficou oitem “falta de modal alternativo”, mencionadopor 29% dos entrevistados. Este pode serentendido, também, como parte da ofertainsuficiente de serviço de transporte, porém estámais diretamente relacionado à escassez dealternativas e capacidade de movimentaçãomultimodal, em especial relacionada aos modaisferroviário e hidroviário. Na quarta posição, surge

Tabela 13 - Frequência dos gargalos logísticos declarados pelos entrevistados: para a amostra como um todoe para os corredores Centro-Oeste, Centro-Norte e Nordeste.

a questão do elevado custo do frete, mencionadopor 27% dos entrevistados. Importante ressaltarque este gargalo pode estar de alguma forma,relacionado aos três itens anteriores. Ainda assim,é sentido e manifestado, diretamente, por umnúmero expressivo de agentes.

Na sequência, com frequências dedeclarações entre 15% e 18%, apareceram osseguintes gargalos: dificuldades de negociação,falta de infraestrutura portuária, problemas notransbordo e o elevado custo dos pedágios. Comuma frequência entre 5% e 9% surgiram osgargalos relacionados ao elevado transit time,elevado risco na operação logística, trânsitointenso e a alta carga tributária. Menos de 5%dos entrevistados ainda declararam se depararcom os seguintes gargalos: necessidade de operar

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em grande escala, restrições de horário detráfego, questões ambientais, problemas nasfiscalizações, inadequação de veículos detransporte específico e as perdas físicas(“quebras”) durante a operação. Ressaltam-se,mais uma vez, que alguns desses compõem, decerta forma, alguns dos gargalos maisabrangentes que ficaram nas primeiras posições.

Quando analisados, separadamente, osgargalos declarados pelos entrevistados doCorredor Centro-Norte, observa-se certasemelhança com os resultados da amostracompleta, que considera os três corredores. Todavia,as declarações dos entrevistados do Centro-Norteindicam que a falta da multimodalidade pode ser,ainda, mais evidente nesse corredor, uma vez que

68% dos entrevistados manifestaram-se nessesentido, sendo esse gargalo o mais recorrente. Osgargalos relacionados à falta de estrutura portuária,às dificuldades de negociação e aos transbordosapareceram com pouca importância, quandocomparados com os resultados agregados para ostrês corredores. Isso porque, devido à pequenaoperação multimodal e ao restrito acesso ao mar,esses itens acabam não sendo, efetivamente, tãorelevantes.

Aos entrevistados, também, era solicitadoque, após a declaração dos gargalos identificados,fossem apontados os responsáveis por sua soluçãoou melhoria. As alternativas eram: governo,iniciativa privada ou as parcerias público-privadas.Os resultados são ilustrados na Tabela 14.

Tabela 14 - Frequência dos gargalos logísticos declarados pelos entrevistados: para a amostra como um todoe organizados em função do responsável por sua solução ou melhoria.

Fonte: ESALQ-LOG (2009).

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Tabela 15 - Perfil dos novos investimentos em logística declarados pelos entrevistados para a mostra comoum todo e por corredor.

O governo foi predominantementeresponsabilizado pela necessidade de solução dosgargalos relacionados à infraestrutura viáriadeficiente e à falta de modais alternativos. Osentrevistados entendem que cabe, em primeirolugar às Parcerias Público-Privadas (PPPs), asolução dos problemas relacionados àinadequação de veículos de transportesespecíficos. Deve-se destacar, porém, que muitosentrevistados não souberam afirmar quem seriao responsável pela solução. Isso aconteceu paraum grande número de gargalos, como se observana última coluna da Tabela 14. Esse suposto

desconhecimento dos agentes pode ser umindício de que, ainda, há indefinições deregulamentações, entendidas como falta dedefinições exatas de papéis e regras defuncionamento relacionadas a investimento eoperação da logística no país.

Aos entrevistados questionou-se, também,sobre os investimentos em logística previstos porsuas empresas ou instituições. Consideraram-seseis tipos de investimentos, que sãoapresentados na Tabela 15, já com suasrespectivas frequências.

Fonte: ESALQ-LOG (2009).

A aquisição de veículos e equipamentosfoi o tipo de investimento mais frequente naamostra, sendo que 35% dos entrevistadosapontaram nessa direção. Ampliar a capacidadede armazenagem mostrou-se um investimentoiminente para 25% das empresas e instituições.Investimentos em transbordo e novas unidadesapareceram com frequências bastante próximas,entre 12% e 15%. A realização de estudos deviabilidade foi um investimento menos frequentena pesquisa (9% dos entrevistados).

Solicitou-se, também, aos entrevistadosque indicassem localidades para implantação determinais logísticos multimodais, casoentendessem haver necessidade dos mesmos. Emrelação Corredor Centro-Norte foram indicadasseis localidades para instalação de terminaislogísticos multimodais. Essas localidades sãoapresentadas na Tabela 16.

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157Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

Tabela 16 - Locais indicados pelos entrevistados para a instalação de terminais logísticosmultimodais no Corredor Centro-Norte, com suas respectivas frequências de declarações

4 CONCLUSÕES

A pesquisa junto às empresas e instituiçõesenvolvidas com a logística de produtos agrícolasno Corredor Centro-Norte pode constatar arelevância dos gargalos existentes que dificultamou impedem o uso da multimodalidade detransporte. Este foi o problema com maiorfrequência nas declarações dos entrevistados.Muitos agentes, também, demonstramsignificativo desconhecimento sobre os papéisrelacionados a investimentos e operação logísticano Corredor. O melhor entendimento dosatributos determinantes das operações logísticas,

Fonte: ESALQ-LOG (2009).

Todas as localidades tiveram a mesmafrequência de indicações. Cidades dos estados

do Pará e Piauí receberam destaque, além de SãoLuís do Maranhão, por sua importância portuária.

também, pôde ser levantado, sendo que o custototal logístico aparece, indiscutivelmente, comoo mais relevante.

Os resultados são importantes no sentidode contribuírem para ratificar ou retificar aopinião pública sobre os desafios àmultimodalidade na região; também contribuempara a calibração de modelos matemáticosusados para avaliação e planejamento depolíticas de investimentos em infraestruturalogística.

NOTA:

1 Este artigo resume parte dos resultados obtidos pelo

projeto intitulado “Modelo Matemático de Otimização

Logística para o Transporte Multimodal de Safras

Agrícolas pelo Corredor Centro-Norte”, desenvolvido por

meio do Convênio 01.07.0773.00, estabelecido entre a

Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e a Fundação

de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ), executado

pela Universidade de São Paulo (USP), por intermédio

da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

(ESALQ), através do Grupo de Pesquisa e Extensão em

Logística Agroindustrial (ESALQ-LOG), tendo ainda como

co-executora a Fundação Universidade Federal do

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Tocantins (FUFT). Os autores agradecem a colaboração

dos seguintes pesquisadores, envolvidos no

desenvolvimento do projeto citado: Ana Paula Fatoretto,

André Luís Arthuso Cuevas, Bruno Fernando de Oliveira,

Carolina de Freitas Oliveira, Ciro Villela Oliva, Claudia

Maciel de Lemos, Claudirene Romero de Oliveira, Daniel

Gerard Eijsink, Daniel Godoy Penteado Bragado, Daniela

Cristina Passoni, Diogo Galvão Levez, Edson Roberto da

Silva Michelon, Erica Gomes da Silva, Fernando Vinícius

da Rocha, Flávia Zaparoli Beretta, Gabriela Fernandes

Begiato, Heiko Rossmann, Isabela Vescove Primiano,

Joseane Thereza Bigaran, Leandro Bernardino de

Carvalho, Leandro Henrique Guglielmin Tizato, Leticia

Corassa Neves, Luis Claudio Oliveira do Nascimento,

Maria Andrade Pinheiro, Maria Clara Silva Serafim,

Mariana Soto Silva, Michael Camacho Roulet, Nermano

Franco Ferreira, Priscila Biancarelli Nunes, Rafael Vassolér

Torres, Renan Buselli Menezes, Rhuana Reijers, Ricardo

de Campos Bull, Rodrigo Amâncio Briozo, Rodrigo Scapin

Rosa, Rodrigo Viviani, Tatiana Beatriz de Oliveira

Goudromilhos, Thiago Marques Baptista, Vanessa Duarte

Rubia, Ricardo Luís Lopes, Vitor Pires Vencovsky,

Maristela Minatel, José Manuel Carvalho Marta, Warli

Anjos de Souza, Adriano Tenorio Pereira, Bruno Cesar

Fleuri Siqueira, Bartira Maria Cechinel e Sarah Afonso

Rodovalho.

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REFERÊNCIAS

GRUPO DE PESQUISA E EXTENSÃO EM LOGÍSTICA AGROINDUSTRIAL DA ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURALUIZ DE QUEIROZ (ESALQ-LOG). Otimização logística para o transporte multimodal de safrasagrícolas pelo Corredor Centro-Norte: Relatório de Pesquisa. São Paulo, 2009. 156 p.

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AS CHUVAS E AS VAZÕES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO ACRE, AMAZÔNIA OCIDENTAL:CARACTERIZAÇÃO E IMPLICAÇÕES SOCIOECONÔMICAS E AMBIENTAIS

Alejandro Fonseca Duarte*

RESUMO

A riqueza da Amazônia contrasta com a vulnerabilidade das populações. O trabalho mostra ocontexto das condições, em que os impactos negativos à sociedade e à economia, prejudicam oprogresso de cidades amazônicas, em particular no âmbito da bacia do rio Acre. Em termos docomportamento hidrometeorológico observou-se a alternância sazonal de vazões extremas, acima de900 m3/s e abaixo de 50 m3/s, que implicam em famílias desalojadas durante as cheias e falta dosuprimento público de água durante as secas. Os impactos socioeconômicos são praticamenteincalculáveis.

Palavras-chave: Amazônia. Alagações e Secas. Bacia do Rio Acre. Vulnerabilidade Social.

* Dr.; Prof. do Departamento de Ciências da Natureza, Universidade Federal do Acre (UFAC). E-mail: [email protected].

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RAINFALLS AND FLOWRATES IN ACRE RIVER BASIN, WESTERN AMAZONIA: ENVIRONMENTALAND SOCIO-ECONOMIC CHARACTERIZATION AND IMPLICATIONS

ABSTRACTS

The wealth of the Amazonia contrasts with the vulnerability of populations. This work showsthe context of conditions in which negative impacts on society and economy hinder the progress ofAmazonian cities, particularly in the Acre Riverbasin. In terms of the hydrometeorological behaviorthe seasonal alternation of extreme flows, above 900 m3/s and below 50 m3/s, was observed. It involvesfamilies displaced during the floods and lack of public water supply during the droughts. The accumulatedsocio-economic impacts are almost incalculable.

Keywords: Amazonia. Floods and Droughts. Acre River Basin. Social Vulnerability.

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1 INTRODUÇÃO

A bacia amazônica é um ambiente quentee úmido de rica biodiversidade, onde aspopulações humanas que a habitam estãodistribuídas em estados, municípios, terrasindígenas, projetos de assentamento, unidadesde conservação e áreas de preservaçãopermanente. Identificam-se cidades de grande emediano porte, vilas, campos e fazendas, nocontexto florestal de planícies inundáveis.

Nestas circunstâncias o equilíbrio entresociedade e ambiente pode ser fragilizadoprejudicando grandemente as duas partes destaunicidade: o homem que abandona as formassustentáveis de existência na região, por umlado; e a floresta que começa a darmanifestações de modificação das suasinterações e comportamentos naturais.

As águas (rios, igarapés, açudes) naAmazônia estão associadas a populações eatividades humanas, além dos serviçosambientais que oferecem. A falta deplanejamento físico e visão de futuro têm

motivado a invasão “urbana” de áreas baixas,de escoamento superficial, onde proliferarambairros carentes de infraestrutura, em geral,pobres e socialmente vulneráveis.

Este trabalho visa mostrar um exemplo detais circunstâncias na bacia hidrográfica do rio Acree na capital do Acre, Rio Branco, onde o ciclosazonal das águas estabelecido pelo clima motivaalagações no ambiente construído em áreas derisco em épocas de cheias e, deixa sem opções desuprimento de água as extensas áreaspopulacionais durante a seca, por falta de meiosde abastecimento público. Estas situações estão emdescompasso com o equilíbrio que deveria existirnuma região, precisamente, caracterizada pelaabundância das águas, que não poderiam provocarcalamidades, faltar ou ser desperdiçadas. Nopresente trabalho, descreve-se o contexto social,econômico e hidrometeorológico da bacia do rioAcre; caracteriza-se a alternância sazonal de secase enchentes e mostram-se seus impactosrecorrentes sobre as populações expostas, aspectoscomuns às cidades amazônicas, como Rio Branco.

2 A BACIA DO RIO ACRE: UMA BREVE CONTEXTUALIZAÇÃO

A bacia hidrográfica como unidadefundamental para o planejamento territorial vemfuncionando cada vez melhor como uma unidadesocial e administrativa de apoio ao gerenciamentogovernamental. Os comitês de bacias e os planosde manejo de recursos hídricos são indicativos daimportância prática conferida ao tema.

Na bacia hidrográfica do rio Acre não seevidencia a existência de conflitos marcados deinteresse no uso do solo das florestas, dos campose das cidades, que compartilham as águas dechuva e de escoamento superficial.

Com o passar das décadas se acumularam,nesta parte do Acre, quase a totalidade dapopulação, do desmatamento, da produção

agropecuária, do comércio e demais atividadessocioeconômicas, devido principalmente à faltade acesso para as regiões intrincadas nas partescentrais e oeste do Estado. A bacia do rio Acre esuas microbacias não são, apenas, cursos de água,solos e florestas, mas também rodovias, fazendase cidades, além de água, vida e movimento.

A rodovia BR-317 faz um percursosemelhante ao do rio Acre, liga os municípios deBoca do Acre (AM) à Rio Branco (AC) e segue atéAssis Brasil (AC) localizado na tripla fronteiraBrasil – Peru – Bolívia (IBGE, 2010). De Boca doAcre (AM) à fronteira com o Acre constitui-se umtrecho de chão esburacado, praticamenteimpossível de transitar. São 112 km que mesmodurante a seca constituem um obstáculo. Esta

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situação está mudando com o asfaltamento davia. Ao longo desse percurso se observam áreasde matas, de pecuária, espaços descampados ousimplesmente desolados.

Boca do Acre (AM), cidade com 30.632habitantes (IBGE, 2010), é extensa, conta com umcampus universitário, em Piquiá, e uma “praia”no rio Purus, de águas baixas em setembro, é umlugar de lazer e alegria que congrega multidões.O panorama climático fica ruim com as queimadase a altíssima concentração de fumaça naatmosfera. É que aqueles espaços de mata,desolados e de fazendas descampadas viram focosde queimadas na estação seca; é a sinfonia dofogo, que no norte do Acre e no sul do Amazonas,de Acrelândia até Mâncio Lima, segue o destinoda rodovia BR-364.

Ao cruzar a fronteira, que deixa atrás Bocado Acre (AM) e entra em Rio Branco, a BR-317 éum plano asfaltado, que à distância de 90 kmatravessa a BR-364, nas Quatro Bocas, a 35 kmde Rio Branco. Daí, em mais 22 km ela chega aQuinari; depois de 45 km a Capixaba; e na rotapara Epitaciolândia e Brasileia, aproxima-se a12 km de Xapuri, no início da Estrada da Borracha.

Toda esta região afetada pelodesmatamento é rica em gado. Capixaba (AC)também incursiona na cana de açúcar. Quinari,com pouco mais de 20.000 habitantes, eCapixaba, com menos de 10.000, sentem anecessidade de adequação ao ritmo da BR-317,que também recebe o nome de Estrada doPacífico. Nestas cidades a rodovia é também suaavenida principal, confundida com a rodoviaestadual AC-040, rota tradicional entre RioBranco, Quinari e Plácido de Castro. A duplicaçãoe a retificação da via entre Rio Branco e Quinarícolocaram estas cidades vizinhas, ainda, maispróximas em todos os sentidos.

De Rio Branco até Epitaciolândia e Brasileiasão 250 km, em mais 110 km está Assis Brasil,início da ligação com o mar, no Peru, através deIñapari, rota em que se trabalha intensamentepara concluir a Estrada do Pacífico, numa

paisagem de florestas, rios e montanhas rochosas.Brasileia tem 21.398 habitantes, Epitaciolândia15.100 e Assis Brasil 6.072. (IBGE, 2010).

Rio Branco tem um pouco mais de 300.000habitantes, conta com uma universidade federalhá mais de 40 anos, e várias outras faculdadesprivadas, duas bibliotecas, dois teatros, um estádiode grande porte e outros menores, portantoconcentra as principais atividades econômicas,culturais, esportivas e sociais da bacia do rio Acre.Bairros carentes e população desassistida nas áreasde educação, saúde, moradia, saneamento básico,emprego e renda convivem, em situação depobreza, no dia a dia, inclusive com o problema dedroga nas escolas e, sazonalmente, com as doençasrecorrentes ou que se alastram até o nível deepidemias como no caso da dengue. Algumasdestas condições nutrem a existência de umagrande população carcerária. O trânsito veicularcaótico e os acidentes com motos ficam nacontramão do esforço de construir e modernizarvias de circulação internas e de acesso a outrascidades, bem como pontes, para uma quantidadede caminhões, carros e motos que cresceassustadoramente.

De Rio Branco chega-se a Porto Acre pelarodovia AC-010, num percurso de 65 km depaisagem ondulada de fazendas, extensões decapim e açudes. Cenário que se repete na rodoviaAC-090 (Transacreana), importante viapavimentada em quase 100 km a partir de RioBranco rumo ao oeste do Estado, parte inicial deum planejamento antigo de, aproximadamente,800 km de estrada.

Construir e manter a malha de rodovias eramais no Acre representa um esforço caríssimo ecomplexo. A maior dificuldade está em lidar como solo argiloso quase impermeável, que não dásuporte, que desliza e desagrega. Os rios, as ruas,as avenidas, as rodovias, os ramais e as trilhas sãoas vias de comunicação aquática e terrestre asquais movem a economia e a sociedade na baciahidrográfica do rio Acre. Por eles transitam homens,mulheres e crianças do campo e da cidade, colonosde assentamentos da reforma agrária, ribeirinhos,

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enfim trabalhadores cuja beleza intrínseca egrandeza histórica são evidentemente umacontinuação da exuberância da floresta e do climada região, em meio da contradição entre progresso,cidadania e conservação.

Xapuri, Epitaciolândia, Brasileia e AssisBrasil contam com campi universitários. Aprimeira cidade, terra de Chico Mendes, é umaregião de ribeirinhos, extrativistas e seringueiros,também, de trabalhadores industriais da madeiracertificada e do látex nas fábricas de móveis, depisos e de preservativos. Com uma população de

16.091 habitantes (IBGE, 2010) cultiva suatradição de luta, resistência e religiosidade. Paraadentrar-se na Reserva Extrativista Chico Mendescarros e pessoas atravessam de balsa o rio Acrepara sua margem esquerda, na Reserva já foramapreendidos cultivos de maconha.

Diariamente a população local usa ascatraias para cruzar o rio de uma margem a outra.O preço atual da viagem de ida ou de volta é demenos de um real, como nas catraias de RioBranco que fazem igual função. O Mapa 1 resumea geografia descrita.

Mapa 1 - A bacia hidrográfica do rio Acre no seu contexto amazônico; a oeste as áreas de floresta, a leste ascidades sedes dos municípios de igual nome: 1) Assis Brasil e Iñapari (Peru), 2) Brasileira, Epitaciolândiae Cobija (Bolívia), 3) Xapuri, 4) Capixaba, 5) Quinari, 6) Rio Branco, 7) Bujari, 8) Porto Acre e 9) Bocado Acre/AM. O rio Acre corre pela parte sul e leste da bacia, passando por Assis Brasil (Iñapari),Brasileia (Epitaciolândia e Cobija), Xapuri, Rio Branco, Porto Acre até chegar a Boca do Acre.

Fonte: dados da pesquisa.

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A bacia do rio Acre pode ser dividida emcinco microbacias: o próprio rio Acre é o rioprincipal da microbacia Trinacioanal (Figura 1),ocupada por territórios do Brasil (Acre), Peru eBolívia, sendo a sua área de drenagem S1 =7.600km2; na sequência a microbacia Xapuri (Figura 2),sua área de drenagem é S2 = 5.200 km2, nela, oXapuri é rio principal; em seguida a microbaciaRôla (Figura 3), com uma área de drenagemS3 = 10.200 km2; seu rio principal é o chamado

Riozinho do Rôla; segue a microbacia Porto Acre(Figura 4), que tem uma área de drenagemS4 = 2.700 km2; o próprio rio Acre, entre as cidadesde Rio Branco e Porto Acre, é o rio principal damicrobacia; finalmente, a microbacia Biestadual,com uma área de drenagem S5 = 9.300 km2

(Figura 5) é compartilhada pelos estados do Acree do Amazonas. Nela, os rios Andirá e Antimarídesembocam no rio Acre, em curso para sua fozno rio Purus, na cidade de Boca do Acre (AM).

Figura 1 – Microbacia Trinacional.

Nota: o ponto a oeste representa Assis Brasil e Iñapari; aleste Brasileia, Epitaciolândia e Cobija.

Figura 2 - Microbacia Xapuri.

Nota: o ponto representa a cidade de Xapuri.

Nota: o ponto representa a cidade de Rio Branco, capitaldo Acre.

Figura 3 – Microbacia Rôla.

Figura 4 - Microbacia Porto Acre.

Nota: o ponto representa a cidade de Porto Acre.

Figura 5 – Microbacia Biestadual.

Nota: o ponto representa Boca do Acre (AM), onde o rioAcre deságua no rio Purus.

Fonte: dados da pesquisa.

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Segundo a Secretaria de Planejamento doEstado do Acre (SEPLAN) (ACRE, 2009), nosmunicípios localizados na bacia do rio Acre viveuma população aproximada de 412.000habitantes. A esta quantidade deve-se somar onúmero de moradores de Iñapari, Cobija e Bocado Acre (AM), que também habitam na bacia.Desta forma mais de 60% da população doestado do Acre, estimada, no momento, em690.000 habitantes, usufrui das águas da bacia.A população compreende indígenas, extrativistas,camponeses e citadinos. A área onde convivemenvolve estradas, fazendas, assentamentos dareforma agrária, agricultura, pecuária, extraçãomadeireira, indústrias, comércios e serviços;florestas intactas, desmatamentos e queimadas;uma abundante biodiversidade e uma condiçãonatural compartilhada com os ecossistemasamazônicos, os sistemas meteorológicosregionais e o clima global.

A bacia do rio Acre ocupa uma área deapenas 1/5 da área total do estado do Acre, e asformas de uso da água são diversas. Segundo aSEPLAN (ACRE, 2009) a pecuária possui umrebanho de 2.426.000 cabeças de gado no Acre,das quais 1.400.000 estão nos municípios dabacia do rio Acre, quase 60% da populaçãobovina do Estado. Coincidentemente umapercentagem igual que a correspondente àpopulação humana desta área em relação aototal do Estado, mas a relação de cabeças de gadopor habitante é igual a 3,4.

Quanto à folha de pagamento do programasocial Bolsa Família em março de 2010, favoreciaa 30.967 núcleos familiares dos municípios dabacia com 154.835 pessoas, equivalente a 38%da população da área. Entretanto em todo oEstado as famílias que recebem o benefício são57.995, aproximadamente 289.975 pessoas. Istosignifica que 53% da população do Acre,

beneficiada com o Programa, são pessoas pobresque moram em municípios da bacia do rio Acre.

Estes números indicam que os serviçosambientais os quais a floresta e o ambiente deáguas prestam à região não estão distribuídos demaneira regular entre seus habitantes. Enquantouns poucos utilizam a água para o ganho decapitais em fazendas agrícolas e pecuária deexploração extensiva, outros desprovidos decapital utilizam a água para as necessidadesessenciais. Os primeiros contribuíram e mantêm odesflorestamento, os segundos não. Há sete anosa Organização das Nações Unidas para aAgricultura e a Alimentação (FAO, 2003) delineoualguns pontos relacionados com o pagamento dosserviços ambientais de bacias hidrográficas. Osserviços se relacionaram à conservação de recursoshídricos, biodiversidade e sequestro de carbono.

Com o intuito de sensibilizar a populaçãosobre o valor do que a natureza oferece, excluiros conflitos de interesses e transferir recursos asetores vulneráveis da sociedade, a Organizaçãodo Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), oPrograma de Nações Unidas para o MeioAmbiente (PNUMA) e a Organização de EstadosAmericanos (OEA) (OTCA; PNUMA; OEA; 2007)produziram o projeto “Gerenciamento integradoe sustentável dos recursos hídricostransfronteiriços na bacia do rio Amazonasconsiderando a variabilidade e as mudançasclimáticas”. Uma das ações em curso é aelaboração de mapas sobre a rede hidrográficae agregados populacionais, contemplandoaspectos de vulnerabilidade social e dos recursoshídricos. Embora aguarde por aprovação umalegislação federal sobre pagamento pelosserviços ambientais, no Acre existe uma legislaçãoque estabelece o pagamento pelos serviçosambientais como um instrumento de gestão(WUNDER et al., 2008).

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Neste artigo se observa a baciahidrográfica do rio Acre na sua integraçãosustentável dos pontos de vista físico, ambientale socioeconômico. O objetivo do trabalho édescrever a ocorrência de vazões de enchentes esecas determinadas pela sazonalidade das chuvase as variabilidades climáticas, no contextosocioeconômico da região.

Sabe-se que o sofrimento das populaçõescom os eventos extremos de chuvas, as quaismotivam escoamentos de águas pluviais porruas e bairros, estão condicionados pelaocupação urbana desordenada, odesflorestamento, o fechamento de canaisnaturais com a impermeabilização peloemprego de asfalto e concreto, e a insuficiente

observância de canalização nas cidades. Namaioria das vezes não é um sistema de alertade enchente o que seria necessário, mas umareconsideração da infraestrutura urbana paraeliminar a ocupação de áreas de risco iminentee outras de risco eventual como as planícies deinundação, lugares naturais de alagação duranteas cheias. A reestruturação urbana, além deevitar os sofrimentos associados aodesalojamento, doenças e perdas de vidashumanas por desbarrancamentos, afogamentos,etc. poderia oferecer um serviço ambientalligado à beleza planejada da paisagem,incentivo da contemplação da natureza emparques que outrora foram bairros alagadiços,expansão do lazer, em geral, e dos esportesaquáticos em particular.

3 METODOLOGIA E DADOS

O clima da Amazônia vem sendo descritopor diversos autores a partir de variadas fontesde informações e dados, diferentes épocas easpectos. As variáveis mais estudadas na suadistribuição espacial e temporal têm sido aschuvas, as temperaturas, a cobertura de nuvense a radiação solar. Mas nota-se que os estudosenvolvem com maior frequência a AmazôniaOriental e Central.

Marengo (2007), no relatório “MudançasClimáticas Globais e Efeitos sobre aBiodiversidade”, um compêndio de seus estudossobre clima, chama a atenção para o fato de quea grande maioria dos dados das sériespluviométricas na Amazônia apresentadescontinuidades temporais com intervalosdiversos e em diferentes momentos.

Deve-se adicionar que antes do ano 1990,praticamente, todo o monitoramento era feitocom base em estações pluviométricas emeteorológicas convencionais, cuja quantidade

de medições por dia, em geral três, não possibilitauma sequência de dados suficientes para estudosdetalhados sobre variabilidades climáticas ehidrologia. Normalmente para pesquisas de climana Amazônia se utilizam dados coletados porvárias instituições os quais se submetem a umcontrole de qualidade; devido à irregularidade dadistribuição espacial do monitoramento seempregam métodos de interpolação de dadospara as áreas não cobertas por medições, nestecaso, com resultados de baixa resolução.

Importante é destacar que no trabalho dereferência, na descrição do clima do Brasil noséculo XX, ficou de fora dos mapas deprecipitação e temperaturas a parte da AmazôniaOcidental e Central definida pelo “retângulo” decoordenadas 70ºW, 5ºS e 50ºW, 15ºS, as quaisabrangem os estados do Acre, Rondônia, partede Mato Grosso, parte do Pará e o sul doAmazonas; além disso, o estado do Amapá, nonorte. Por este motivo e devido ao caráterfortemente aleatório da variável chuva, nas suas

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conclusões Marengo (2007) destaca aespecificidade dos dados, mais convenientes aestudos a serem realizados numa região menor.

Quanto ao fluxo dos rios, a AgênciaNacional de Águas (ANA, 2007) demonstra terem operação 488 estações pluviométricas, 60estações fluviométricas, 219 estaçõesfluviométricas dotadas de medição de descarga(vazão) e 87 estações de monitoramento daqualidade da água; e que outras instituiçõesdetêm 127 estações pluviométricas, 80 estaçõesfluviométricas, 78 estações fluviométricasdotadas de medição de descarga (vazão) e 57estações de monitoramento da qualidade daágua. Muitas dessas estações estão desativadasou em manutenção e suas informações em temporeal ou históricas não podem ser utilizadas paraanálises detalhadas sobre as vazões de enchentedo rio principal ou córregos afluentes.

Na bacia do rio Acre, eventos extremos dechuvas, chuvas intensas ou prolongadas porvários dias, durante os meses da estação chuvosa,levam ao estado de alerta e de calamidadepública à população atingida.

Tucci (2004) aponta, convincentemente,que a estrutura urbana nos países emdesenvolvimento tem sido construída de formainsustentável com deterioração da qualidade devida e do meio ambiente; a urbanização éespontânea sem planejamento para as classespobres, de baixa renda e moradores dasperiferias. Entre os fatores que conduzem a issoestá a incapacidade governamental de investirem espaços seguros e adequados para aurbanização sendo que sempre a infraestruturapara água fica fora da atenção: faltamesgotamento sanitário e pluvial, acontece aocupação das encostas de morros onde ocorre oescoamento superficial e desbarrancamento nopico da época chuvosa e durante eventos dechuva continuada, acontece a ocupação das

encostas de rios e córregos, misturam-se osresíduos sólidos e as águas nos espaçosimpermeabilizados, bueiros e outros espaços.

Tucci e Meller (2007) apontam anecessidade de controlar os impactos daurbanização sobre a bacia, questão distante deuma solução pela falta de gestão institucionalentre a bacia e as cidades e de regulamentaçãodentro das cidades, o qual não permite atingir ospadrões de desenvolvimento sustentável nadrenagem, que envolvem os controles dequantidade e de qualidade das águas.

Um desastre natural de naturezahidrológica, meteorológica ou climática podeocasionar tremendamente danos àspopulações vulneráveis, por serem pobres nãoter outra opção alternativa e se assentam emlugares expostos a contingências tais comoinundações e deslizamentos de terra (MCBEAN,AJIBADE; 2009).

Na bacia hidrográfica do rio Acre o tipode desastre natural que acontece comfrequência refere-se às inundações urbanas, asquais afetam à população carente ocupante deáreas de risco, particularmente na capital doAcre, Rio Branco. Os deslizamentos de terra sãomais comuns em regiões do Brasil como SantaCatarina e Rio de Janeiro. Até o presente não seobserva nenhuma iniciativa governamentaldefinitiva para a redução de riscos evulnerabilidades sociais no Brasil.

As estações fluviométricas existentes nabacia do rio Acre são seis, todas convencionais(ANA, 2009); os pluviômetros e as estaçõesmeteorológicas no leste do Acre são quinze, aoscuidados do Instituto Nacional de Meteorologia(INMET), Instituto Nacional de PesquisasEspaciais (INPE) e a Universidade Federal do Acre(UFAC), situadas como aparecem na Figura 6. Naregião, a única estação meteorológica, em

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funcionamento bastante contínuo, com dados demais de 30 anos é a INMET – UFAC, de número82.915, localizada no campus da UFAC. As demaissão instalações recentes, posteriores a 2002, queexibem descontinuidades no seu funcionamento.

Fonte: dados da pesquisa.

Os dados pluviométricos para a parteleste do Acre, em Acrelândia, Quinari, Araxá,Capixaba, Xapuri, Brasileia, Assis Brasil,Seringal Espalha, Seringal Oriente e Plácido deCastro, para meses dos anos 2003, 2006 a2009, como se demonstra no Gráfico 1 e na

Tabela 1, estão em torno das médiasclimatológicas das chuvas em Rio Branco(Tabela 2), para o intervalo entre 1961 e 1990e entre 1971 e 2000 (DUARTE, 2006). Estasclimatologias caracterizam o leste do Estado,que inclui a bacia do rio Acre.

Existem outras dedicadas às atividadesespecíficas, como as da aeronáutica e dosbombeiros, com um padrão de medições edivulgação dos dados diferentes ao praticadopela ciência.

Figura 6 - Bacia hidrográfica do rio Acre. Estações fluviométricas: 1)Assis Brasil, 2) Brasileia, 3) Xapuri,4) Fazenda Santo Afonso, 5) Rio Branco, 6) Porto Acre. Estações pluviométricas e meteorológicas:1) Assis Brasil, 2)Cobija, Brasileia e Epitaciolândia, 3) Xapuri, 5) Rio Branco, 6) Porto Acre, 7) Bocado Acre, 8) Capixaba, 9) Plácido de Castro, 10)Quinari, 11) Acrelândia, 12) Seringal Espalha,13) Seringal Oriente, 14) Limoeiro, 15) Catuaba, 16)Transacreana.

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Gráfico 1 - A climatologia das chuvas para Rio Branco coincide com a pluviometria em diferentes locais doleste do Acre.

Fonte: dados da pesquisa.

Tabela 1 - Valores médios de chuvas por mês, Ch (mm), distribuídos em vários locais no leste do Acre.

Fonte: dados da pesquisa.

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Tabela 2 - Valores climatológicos das chuvas mensais, Ch (mm), entre 1971 e 2000

Os pontos correspondentes no Gráfico 1são coincidentes, e o seriam ainda mais no casoem que o monitoramento das chuvas abrangesseuma distribuição maior de locais. O conjunto detodos os locais em um tempo curto, por exemplo,um ano (tempo muito menor que trinta anos, queé o longo intervalo assumido para umaclimatologia) tem o mesmo comportamento dequalquer local do conjunto para um tempo longo.Esta suposição ergódica está fundamentada nascondições de uma região, relativamente, pequenade semelhantes características como a baciahidrográfica do rio Acre e nas características dosistema clima (PEIXOTO; OORT, 1992).

Desta forma para a caracterizaçãoclimatológica dos volumes de água precipitadaPi, j para cada mês i em cada microbacia Sj seusará a climatologia das chuvas entre 1971 e2000, referida anteriormente. A expressão decálculo (1), em unidades do SI, será:

Fonte: DUARTE (2006) e entre 1961 e 1990 INMET (http://www.inmet.gov.br).

Pi, j = Chi Sj; onde j = 1, 2,.., 5 e i = 1, 2,.., 12 (1)

Para a determinação das vazões foinecessário estimar a velocidade média do fluxodas águas através da área A da seção de controleda estação fluviométrica. Para tanto foideterminado o perfil das seções mediante umsensor de profundidade Levelogger Gold e umatrena; e medida a velocidade das águas medianteum correntômetro Global Water. Os detalhes dosprocedimentos estão descritos em Duarte (2009).Nas unidades fundamentais do SI a área A se dáem m2, a velocidade em m/s e a vazão Q emm3/s, que se calcula mediante a expressão (2):

(2)

Para o acompanhamento do nível das águasdo rio Acre, em Rio Branco, foi utilizado o registroda ANA, corrigido a partir das medições feitasdurante a experimentação para o presente trabalho.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 NÍVEIS E VAZÕES

As medições feitas nas estaçõesfluviométricas da bacia do rio Acre, entre 2007 e2009, têm apresentado valores de velocidadesentre 0,4 e 1,2 m/s, no meio do canal, abaixo dasuperfície da corrente. A quantidade de mediçõese sua distribuição pelos momentos de cheias e

vazantes não foram suficientes para a realizaçãode estimativas do perfil de velocidades do rio aolongo de suas seções de controle, nem como esteperfil se modifica sazonalmente. Mas asobservações mostraram que a vazão do riodepende mais da área da seção de controle do

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que da velocidade das águas. Isto quer dizer, avelocidade média se modifica pouco porque ocaudal do rio, mais veloz à medida que aumentaseu nível, permanece praticamente estático pertodas margens; além do fluxo ser limitado, também,pelos: curso meandrante; baixa declividade a partirda saída da microbacia Xapuri; espalhamento daságuas nas planícies de inundação; aglomerado de“balseiros” e represamento na desembocadura.

Nestas condições o aumento da áreatransversal da correnteza contribuisubstancialmente para o maior volume de águatransportada. Na Tabela 3, estão apresentadosa largura medida, a área da seção de controleao nível das águas e a vazão do rio Acre em RioBranco. As vazões foram estimadasconsiderando o valor médio de velocidade daságuas sendo de 0,7 m/s.

Tabela 3 - Relação entre largura, área da seção da corrente, nível e vazão do rio Acre em Rio Branco.

Fonte: dados da pesquisa.

A relação dada na Tabela 3 se mantémaproximadamente a mesma enquanto não se

modifique a seção de controle do rio Acre, em RioBranco, cujo perfil aproximado está na Figura 7.

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Figura 7 - Perfil aproximado da seção de controle do rio Acre, em Rio Branco, anos 2007 – 2009, nas coordenadasLat (oS) 9,975, Lon (oW) 67,800.

Fonte: dados da pesquisa.

Mesmo em épocas de vazante em que onível do rio, na parte mais profunda da seçãode controle, chega a ser muito raso, entre meiometro e setenta e cinco centímetros, a sualargura não é inferior a 60 m. Em épocas decheia a maior largura atinge em torno de 200m quando o nível alcança perto de 13 m; antes

disso começa a penetração das águas nasplanícies de inundação, bairros pobres dacidade.

De maneira mais compacta o fluxo do riopode ser descrito pela curva-chavecorrespondente, mostrada no Gráfico 2.

Gráfico 2 - Curva-chave do rio Acre, em Rio Branco, anos 2007 – 2009.

Fonte: dados da pesquisa.

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A equação (3) corresponde à relaçãoexpressada pela curva-chave, na figura anterior,isto é:

Q = 3,4047 h2 + 20,632 h - 2 . 10-12 (3)

Onde h representa o nível em metros e Qa vazão em metros cúbicos por segundo.

4.2 VOLUMES DE CHUVAS

A partir da expressão (1) foram obtidosos volumes de chuvas por mês para cada umadas cinco microbacias em que se dividiu a bacia

hidrográfica do rio Acre. Tais volumesaparecem na Tabela 4, em bilhões de metroscúbicos.

Tabela 4 - Volumes mensais de chuvas (Gm3) por microbacia, na bacia hidrográfica do rio Acre.

Fonte: dados da pesquisa.

Na área de drenagem da bacia caianualmente um volume P = 68,5 Gm3 de chuvas,como valor médio climatológico, integrado pormicrobacia e por mês, assim:

(4)

Parte desse volume de água escoasuperficialmente.

A montante de Rio Branco a área dedrenagem compreende 23.000 km2, quer dizer,

. Nessa área caem 45 Gm3 de chuvas por ano.

4.3 ESCOAMENTO SUPERFICIAL

Um hidrograma é uma representaçãointeressante do escoamento superficial, umademonstração gráfica da variação da vazão como tempo, através da seção de controle. A escolhadeste lugar diz respeito à padronização dasmedições num lugar conhecido, como deve ser o

da estação fluviométrica. O hidrograma e oregistro de nível estão vinculados pela curva-chave. Ele facilita achar a informação de quantaágua passou pela seção do rio entre doismomentos, seja um intervalo de tempo curto, deapenas horas, ou mais prolongado, de dias ou

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semanas, etc. Desta maneira é possível relacionara ocorrência ou a falta de chuvas numa certa áreacom o aumento ou diminuição do nível ou davazão do rio, a jusante.

As curvas do Gráfico 3 são hidrogramasde cheias e vazantes, registrados para algunsmeses entre 2004 e 2009, que refletem em RioBranco as chuvas a montante da cidade.

No Gráfico 3 os quadros (a), (b) e (c) sãohidrogramas de cheias que envolvem os meseschuvosos do início do ano 2004; o quadro (d)corresponde a um hidrograma de vazante quereflete a situação de poucas chuvas durantejaneiro de 2005, embora seja janeiro um dosmeses mais chuvosos do ano; os quadros (e) e (f)são hidrogramas de cheias durante os restantesmeses chuvosos do início de 2005, até abril; oquadro (g) também é um hidrograma de cheiaque termina no fim do mês de abril, quandocomeçou a extraordinária seca do ano 2005 naAmazônia; o quadro (h) é um hidrograma devazante que mostra toda a extensão da perda decaudal do rio Acre durante a seca de 2005, entreos meses de maio e outubro, seis meses deprolongada estiagem; os quadros (i), (j) e (k) sãohidrogramas de cheias, em particular (i) mostraa passagem do ano 2005 para 2006 com perdacontinuada da vazão após um pico de cheia emdezembro, (j) mostra as vazões da enchente defevereiro de 2006, a segunda maior nos registros

desses eventos em Rio Branco, e (k) mostra um“repique” ou “repiquete” em março; o quadro(l) é um hidrograma de cheia para os meses dejaneiro e fevereiro de 2007; os quadros (m) e (n)são hidrogramas de cheias de janeiro, março eabril de 2008, que demonstram maiores vazõesem abril que em meses chuvosos anteriores desseano; o quadro (o) é um hidrograma queexemplifica acentuadas oscilações das vazantesem janeiro e fevereiro de 2009; o quadro (p) éum hidrograma de cheia que se estende atravésdos meses de março, abril, maio até o dia 20 dejunho de 2009; no Acre, abril é o mês de declíniodas chuvas para a entrada da estação seca, sendoincomum uma enchente nesse mês.

Em abril de 2009 aconteceu uma enchenteem Rio Branco, não tão importante quanto àsenchentes que ocorreram entre abril e junho noMaranhão, Ceará, Pará, Amazonas e outrosestados do Norte e Nordeste do Brasil, onde asinformações indicam que foram as maiores nosúltimos cinquenta anos.

O volume R(m3) de água escoada atravésda seção de controle durante o tempo (s) écalculado mediante a integral (5), onde apareceexplicitamente a dependência temporal da vazãoQ(t)(m3/s).

(5)

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Gráfico 3 - Hidrogramas para o rio Acre em Rio Branco.

Continua...

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Continuação

Fonte: dados da pesquisa.Nota: os valores de vazão estão em escalas diferentes para cobrir o intervalo entre 250 e 950 m3/s, o tempo está dado em

dias, para vários meses e anos.

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Tabela 5 - Volumes, em Gm3, do escoamento superficial das águas pelo rio Acre, em Rio Branco, durantemomentos de cheias e vazantes entre 2004 e 2009.

Na Tabela 5 aparece o resultado daintegração para os hidrogramas do Gráfico 3. NaTabela 6 os intervalos são de vários meses e juntocom os valores de R aparece o volume de chuvasP, nas microbacias a montante de Rio Branco, e

a relação R/P que define o Coeficiente deescoamento superficial C, expressão (6).

(6)

Fonte: dados da pesquisa.

Tabela 6 – Volumes do escoamento superficial das águas pelo rio Acre, em Rio Branco, chuvas a montante dacidade e Coeficiente de escoamento superficial.

Fonte: dados da pesquisa.

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O impacto das enchentes, secas edoenças relacionadas com a alternância sazonaldesses eventos, tem várias dimensões,associadas com a vulnerabilidade social dasfamílias que moram em bairros pobres de RioBranco. Alguns dos problemas podem serdeduzidos dos seguintes dados: em março de2010 foram mais de 4.000 edificações atingidaspela enchente, com mais de 300 famíliasdesalojadas e desabrigadas (Decreto Municipal,nº 1.184 de 6 de março de 2010); declarado oestado de emergência por decreto da PrefeituraMunicipal de Rio Branco (13/04/2009), estimou-se em mais de 350 as famílias desabrigadas edesalojadas.

Em 2006 foram cerca de 29.000 pessoas e7.000 imóveis os afetados pela segunda maiorenchente do rio Acre em Rio Branco.

A seca de 2005 trouxe consideráveisprejuízos à população de Rio Branco. Em particular,os acometimentos de doenças respiratórias eoutros padecimentos relacionados com aconcentração de fumaça no ar aumentaram emmais de 100%, o qual é possível estimarconsiderando que a maioria dos postos de saúdeprolongaram suas atividades de atendimentodiário até as 22h. No Hospital de Urgências eEmergências (HUERB) foram atendidos 19.581casos durante setembro, dos quais 15%corresponderam a doenças respiratórias comoinfecção das vias aéreas superiores, bronquite,asma e pneumonia. Estimou-se que 90% doscasos atendidos nos postos de saúde dos bairrosmais carentes foram por acometimentos

respiratórios e oculares (DUARTE et al., 2007;MASCARENHAS et al., 2008).

Segundo resultado parcial doLevantamento de Índice Rápido de Infestaçãopor Aedes aegypti (BRASIL, 2010) para o ano2010, são 15 os municípios que estão emsituação de risco de surto da doença, entre elesRio Branco e Epitaciolândia. Deste total 11 estãono Nordeste, 3 no Norte (dois deles no Acre) eum no Sudeste. Os casos de dengue no Estadovêm aumentando; em 2010 até o início de março(semana 9), já eram mais de 10.400 casosnotificados e até julho (semana 26) mais de22.000. (BRASIL, 2010).

Em 2010, até 16 de outubro, foramnotificados 936.260 casos de dengue clássica nopaís, dos quais 14.342 classificados como gravescom o número de mortes de 592. No mesmoperíodo de 2009, 480.919 notificações, com 8.714casos graves e 312 óbitos. (BRASIL, 2010).

Segundo Saab (2010), Rio Branco tem umdos mais caóticos sistemas de abastecimento deágua do Brasil. Alguns dos pontos levantados peloautor são: em 2010 estão sendo tratados 19%do esgoto produzido; o abastecimento de águachega a 51% das casas. Em 2008, o Instituto TrataBrasil (2008) mostrava que, apenas, 3% do esgotoda cidade tinha algum tratamento e Rio Brancoocupava a 7ª posição entre as dez piores emesgotamento sanitário do país; quanto àqualidade do tratamento do esgoto, entre as 81cidades avaliadas por este Instituto, Rio Brancoficou na 75ª posição.

Com exceção do intervalo correspondenteà seca de 2005, em todos os casos o coeficienteC tem valor aproximado de 0,2, significando que

20% da água que cai nas microbacias amontante de Rio Branco fluem pelo rio atravésdessa cidade.

4.4 ENCHENTES, SECAS, DOENÇAS, ABASTECIMENTO DE ÁGUA E SERVIÇO DE ESGOTO

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181Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 6, n. 12, jan./jun. 2011.

5 CONCLUSÃO

O ciclo hidrológico se comporta de maneiraque, em média, 45 bilhões de metros cúbicos deágua precipitam nas microbacias Trinacional,Xapuri e Rôla, que levam 20 % desse volume aescoar pelo rio Acre através de Rio Branco, acapital do Estado.

A variabilidade climática interanual e oseventos extremos de chuvas e secas determinamaumentos e diminuições das vazões que colocamfrequentemente em risco de desalojamento e desaúde à população pobre em situação devulnerabilidade social que mora em bairrossituados nas planícies de inundação. Oshidrogramas que retratam esta situação mostramvazões de cheias e de vazantes, contrastantes,entre 800 e 1200 m3/s, em 2006 e 2009, e inferioresa 50 m3/s em 2005.Quando há excesso de águaresulta em desabrigados, quando há falta de águase interrompe o abastecimento urbano. Nestasituação a quantidade e a qualidade das águascomprometem ainda mais, a saúde da população.

O manejo planejado das importantesreservas de água que caracterizam o ciclohidrológico na bacia do rio Acre poderia garantir,aos habitantes da região, maior equilíbrio esustentabilidade, por um lado, e menores riscosde vulnerabilidade, por outro lado. Asvulnerabilidades atingem a toda a populaçãoquando se considera a baixa qualidade do ardurante a estação seca, em que acontecem asqueimadas florestais, rurais e urbanas naAmazônia (somadas as queimadas em áreas doestado do Acre).

A poluição das águas e dos solos peloesgoto e do ar pela fumaça geram doenças eindicadores de baixa qualidade de vida, comagravos sazonais, endemias e epidemias. Abacia hidrográfica do rio Acre poderia associarcom as suas riquezas de águas, cidades,florestas, campos e fazendas, maioresbenefícios sociais e econômicos para apopulação do Estado.

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CRESCIMENTO DE JUVENIS DE TAMBAQUI, Colossoma macropomum (CUVIER, 1818), EMTANQUES-REDE COM DIFERENTES DENSIDADES POPULACIONAIS EM JI-PARANÁ, RO

Valdeir Vieira da Cunha*

Antônio dos Santos Júnior**

RESUMO

Investiga a correlação entre densidade populacional e desenvolvimento individual médio dejuvenis de Tambaqui em tanques-rede. Em uma represa foram distribuídos 12 tanques-rede com 1 m3

de área útil cada, povoados com densidades de 25, 50, 100 e 150 peixes/m3, em três repetiçõesinteiramente casualizadas. Os peixes foram alimentados com ração comercial com 40% de proteínabruta, duas vezes por dia, durante 120 dias, na proporção de 5% em relação ao peso vivo deles. Asmedidas de peso e comprimento foram mensuradas em 10 peixes retirados ao acaso de cada tanque-rede no início do estudo e a cada 20 dias. A mortalidade, conversão alimentar aparente e a produçãode biomassa foram estimadas após 120 dias. A densidade populacional foi negativamentecorrelacionada com o crescimento de juvenis de Tambaqui. Os peixes nas densidades de 25 e 50peixes /m³ apresentaram maior crescimento e ganho de peso que as demais densidades testadas.Contudo, recomenda-se que Tambaqui na fase de recria seja estocado em densidade populacional de50 peixes /m³ em razão de apresentar um equilíbrio mais interessante para o produtor entre a conversãoalimentar aparente e a produção de biomassa.

Palavras-chave: Piscicultura. Densidade de Estocagem. Conversão Alimentar. Manejo de EspéciesNativas.

* Bacharel em Ciências Biológicas do Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná/ULBRA. Email: [email protected].** Professor do Departamento de Ciências Biológicas do Centro Universitário Luterano de Ji-Paraná/ULBRA.

Email: [email protected].

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GROWTH OF JUVENILE TAMBAQUI, Colossoma macropomum (CUVIER, 1818), IN CAGESWITH DIFFERENT DENSITIES POPULATION IN JI-PARANÁ, RO

ABSTRACT

The correlation between population density and a individual development for Tambaqui in cageswas investigated. Twelve cages to 1 m3 each were installed in a dam. The cages were colonized with25, 50, 100 and 150 fish/m3 with three replications randomized. The fish were fed commercial dietswith 40% crude protein twice a day for 120 days at the rate of 5% on the weight of the fish.Measurements of weight and length were measured in 10 fish taken at random from each cages atbaseline and every 20 days. Mortality, feed conversion and biomass production were estimated after120 days. The population density was negatively correlated with growth of juvenile Tambaqui. Fishdensities of 25 and 50 fish / m³ had more growth and weight gain than the other densities. However,it is recommended that Tambaqui in the growing phase are stored in population density of 50 fish/ m3

due to present a more interesting tradeoff between feed conversion and biomass production to producer.

Keywords: Fish Farming. Stocking Density. Feed. Management of Native Species

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1 INTRODUÇÃO

A piscicultura no estado de Rondônia éuma atividade econômica em expansão,apresentando uma produção próxima de 5 miltoneladas no ano de 2006 (BIOFISH, 2011). Háum forte apoio institucional do Ministério daPesca e Aquicultura para a criação de umaestrutura estadual a qual trate da liberação delicenças ambientais, que é um requisito básicoao aumento da produção (MINISTÉRIO..., 2011).

Esta atividade, atualmente, adota algunsprocedimentos e técnicas para ganhar eficiênciae aumentar a produtividade, isto é, produzir omáximo ao menor custo. A criação de peixes emtanques-rede é uma alternativa que atinge esteobjetivo e pode ser entendida como um sistemaintensivo de produção, com renovação contínuade água em uma infraestrutura barata,mostrando-se útil ao aproveitamento de corposd’água que apresentam limitações para a práticada piscicultura convencional (CONTE, 2002). Acriação de peixes em tanques-rede tem semostrado uma técnica vantajosa, com menorimpacto ambiental sobre o ambiente, quandocomparada com outras atividadesempreendedoras, além de exibir elevadaprodutividade com altas taxas de estocagem(ANDRADE et al., 1993; BRANDÃO et al., 2004).

Assim, a densidade de estocagem assumeuma relevância considerável nesse sistema decriação. Por densidade de estocagem, oudensidade populacional, entende-se como sendoa relação entre o número de indivíduos de umadeterminada espécie e o espaço ocupado por eles,que pode ser expresso em área, para espéciesterrestres ou volume, para espécies aquáticas(BRANDÃO et al., 2004). A densidadepopulacional nos sistemas de criação de peixesé um dos fatores mais críticos para o bem-estardos animais. Densidades populacionais muitoelevadas podem promover a redução das taxas

de crescimento e de conversão alimentar, ocanibalismo das nadadeiras dorsais, a reduçãoda condição física, o incremento da competiçãoe a piora da qualidade da água (IGUCHI et al.,2003; PEDRAZZANI et al., 2007).

Neste sentido, a determinação da densidadeótima para a criação de peixes em tanques-redeestá diretamente ligada ao conceito de BoasPráticas de Manejo (BPM) em sistemas de criação,que têm usado estudos de indicadores de estresseem peixes (PORTO, 2005; PEDRAZZANI et al.,2007). Desta feita, situações de estresse podemser evitadas por meio de contínuo monitoramento,melhorando as atividades na piscicultura.

Na Região Norte, a espécie mais exploradacomercialmente é o Tambaqui (Colossomamacropomum) (VAL et al., 2000), caracídeo nativoda bacia amazônica habitante dos rios do Brasil,Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia (TAPHORN,1992). Na natureza há registros de que ele atingepeso aproximado de 30 kg, sendo consideradoum dos maiores peixes de escamas da baciaamazônica, superado em tamanho somente peloPirarucu (Arapaima gigas) (KUBITZA, 2004). OTambaqui apresenta grande facilidade deobtenção de juvenis, bom potencial decrescimento e alta produtividade, bem como aaceitação pela população humana, destacando-se como uma das espécies de peixes maisimportantes para a economia regional (ARAÚJO-LIMA; GOULDING, 1998).

O cultivo de espécies nativas de peixes emtanques-rede, como o Tambaqui, é de extremaimportância, por permitir o manejo seletivo eevitar a introdução de espécies exóticas, quepodem ameaçar o equilíbrio ambiental (BARBOSAet al., 2000). Neste contexto, o uso de tanques-rede é uma ferramenta importante para arealização de estudos para a obtenção de

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2 MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado no período de 16 demaio a 03 de setembro de 2010, em umapropriedade particular, no Km 14, da rodovia RO135, no município de Ji-Paraná, Rondônia.Segundo a classificação de Köppen, a regiãopossui clima do tipo Awi (tropical/quente eúmido). Com temperatura média anual de 25º C,e precipitação pluviométrica anual superior a2.250 mm e umidade relativa do ar média de 85%(GAMA, 2005).

Para o estudo foram utilizados 12 tanques-rede, com 1 m3 de área útil, malha de 20 mmentrenós, revestidos, externamente, por umamalha multifilamentada de 5 mm entrenós,envolto em estrutura de PVC ½ polegada. Ostanques-rede, flutuantes, colocados em umarepresa com renovação natural de água, comprofundidade máxima de 3 m e área de 1 ha. Cadatanque-rede recebeu uma quantidade de alevinosde Tambaqui (C. macropomum), referente aostratamentos testados. Eles foram de 25, 50, 100 e150 peixes/m3, cada um com três replicas. Odelineamento, inteiramente, casualizado. Osalevinos utilizados no experimento foramadquiridos em piscicultura local com peso médiode 9 gramas e comprimento de 4,5 cm.

Para obtenção das medidas capturou-se,aleatoriamente, 10 alevinos em cada tanque-rede.Foram tomadas as medidas de comprimentopadrão, que se mede desde a ponta do focinhoaté ao extremo do pedúnculo caudal, com réguagraduada em milímetros. As medidas de massacorporal mensuradas com balança digital e

precisão de 1 g, no início do estudo e a cada 20dias, para definir a dosagem de arraçoamento.Depois de medidos os peixes foram devolvidosaos tanques originais. O arraçoamento foi à basede ração comercial com teor de proteína brutade aproximadamente 40%, sendo fornecidos naproporção de 5% em relação ao peso vivo dospeixes; duas vezes ao dia (09:00 h e 17:00 h),durante 120 dias. Os parâmetros físico-químicosda água transparência, pH, oxigênio dissolvido(OD) e temperatura foram anotados a cada 20dias utilizando o Kit Técnico para Aquicultura –Alfakit®.

Os valores de comprimento e massacorporal foram usados para calcular os seguintesparâmetros de desempenho: ganho de peso (pesomédio final – peso médio inicial), crescimento(comprimento médio final – comprimento médioinicial), mortalidade ((tamanho populacionalfinal/tamanho populacional inicial)*100) econversão alimentar aparente que é obtidadividindo-se a quantidade de ração fornecida aospeixes de cada tanque-rede pela média final debiomassa existente no tanque-rede.

A análise de dados, ainda, envolveu umteste de correlação linear de Pearson (R) entreos valores médios de comprimento padrão emassa corporal com a densidade populacional,bem como um teste ANOVA de um fator e quatroníveis, seguido do teste de Tukey a 5% deprobabilidade, para massa corporal ecomprimento padrão dos peixes após 120 diasentre densidades populacionais.

informações sobre o desenvolvimento dos peixese da ecologia populacional das espécies,principalmente para o avanço de técnicas decriação em cativeiro, diminuindo assim a pressãoda pesca predatória sobre as populações nativas.

O objetivo deste estudo foi avaliar o crescimento,ganho de peso, conversão alimentar aparente ea mortalidade na fase inicial de vida do Tambaqui(C. macropomum) em diferentes densidadespopulacionais em tanques-rede.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os parâmetros físico-químicos da águaoxigênio dissolvido, pH, temperatura etransparência foram avaliados durante o períodoexperimental e apresentaram uma estreitavariação. O oxigênio dissolvido (OD) sempreapresentou valores acima de 5 mg.L-1 (Tabela 1),o qual está acima do valor de 4 mg.L-1, o mínimoindicado para a aquicultura ou cultivo de peixese, assim, pode ser considerado ótimo (BOYD,1990). O pH manteve-se próximo de 7 ao longodo estudo, podendo ser aceito como adequadoao cultivo de peixes (Tabela 1). Asrecomendações para a variação deste parâmetrode qualidade da água para o cultivo de peixesnão chegam a um consenso. Alguns autoresindicam que o pH ótimo da água para as espéciestropicais está entre o intervalo de pH de 7 a 8(CECCARELLI et al., 2000), outros autores aceitamum intervalo mais amplo de 6 a 9,5 (KUBITZA,2003). Porém, Merola & Souza (1988), Graef et

al. (1987) e Resende et al. (1985) obtiveram bonsresultados cultivando peixes com o pH variandode 4,9 a 8,3, sugerindo que estes são capazes desuportar certa variação no pH da água do cultivo.

A temperatura da água de cultivo nasdensidades testadas apresentou uma variaçãono intervalo de 21 ºC a 26 ºC, valores abaixodo recomendado (Tabela 1). Perez et al. (2003)indicam que o recomendável é escolher locaisem que a temperatura da água do cultivomantenha-se entre 26 ºC a 29 ºC, de forma quea água não exceda 30 ºC ou tenha mudançabrusca de temperatura. Kubitza (1999) mostraque o intervalo de temperatura ideal para ocultivo de peixes tropicais está entre 28 ºC e32 ºC. Graef et al. (1987) e Resende et al. (1985)cultivaram peixes em represas na regiãoamazônica com a temperatura da água decultivo entre 27 ºC a 31 ºC.

Tabela 1 - Valores dos parâmetros de qualidade da água mensurados nas margens da represa a cada 20 diasno estudo de crescimento de juvenis de Tambaqui (Colossoma macropomum) em diferentesdensidades populacionais, Ji-Paraná, RO.

Fonte: dados da pesquisa

De um modo geral, os parâmetros físico-químicos da água estiveram dentro dosintervalos recomendados, exceto a temperaturaque se manteve um pouco abaixo do sugerido.O efeito da temperatura da água ser inferiorao sugerido influencia igualmente as

densidades testadas, resultando em peixesmenores que o esperado caso os animaiscrescessem no intervalo de temperatura ótima.Acreditamos que os valores mostraram umaestreita variação devido à renovação constanteda água.

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Os peixes apresentaram crescimentoconsistente ao longo do tempo nas densidadestestadas, portanto, a diferença no desempenho decrescimento e engorda dos peixes nas densidadespopulacionais avaliadas não resultam de algumefeito originado na qualidade da água. Após os120 dias de monitoramento os juvenis deTambaqui (C. macropomum) apresentaramaumento nas medidas de peso e comprimento emtodas as densidades testadas. O aumento de peso(N=10, R(Pearson)= -0,935, Gl= 8, P<0,001) e decomprimento padrão (N=10, r(Pearson)= -0,935,Gl= 8, P<0,001) foram negativamentecorrelacionados com as densidades testadas.

Àqueles criados nas densidades de 100e 150 peixes/m³ não apresentaram diferença

significativa entre si para os valores decrescimento final, dado em cm no comprimentopadrão (ANOVA, N=10, gl=9, F=468,571P=0,001) e de peso final, dado em gramas(ANOVA, N=10, gl=9, F=10.547,852 P=0,001),sendo que nessas densidades foram registradosos menores valores para estas medidas dedesempenho de crescimento médio. Nasdensidades de 25 e 50 peixes/m³ os peixescresceram continuamente ao longo do tempode estudo e diferiram estatisticamente entre sie das demais densidades populacionais. Nadensidade de 25 peixes/m³ foi observado omelhor desempenho em crescimento padrão eem ganho de peso, com os peixes atingindoum peso final médio de 82,5±0,35 g(Tabela 2).

Tabela 2 - Resultado dos parâmetros de desempenho de juvenis de Tambaqui (Colossoma macropomum),após 120 dias confinados na fase de recria em tanques-rede com quatro densidades populacionais,Ji-Paraná, RO. Médias±desvio padrão seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste deTukey a 5% de probabilidade.

Fonte: dados da pesquisa

Os valores estimados para a ConversãoAlimentar Aparente (CAA) diferiram entre asquatro densidades testadas. A melhor CAA,também, foi obtida para a densidade de 25 peixes/m3, consumindo 2,78 kg de ração para a produçãode 1 kg de biomassa de peixe (Tabela 2).

Em todas as densidades avaliadas amortalidade estimada apresentou valores que

podem ser considerados pequenos, exceto adensidade de 50 peixes/m3, na qual nenhumanimal morreu. As causas das mortes não foramanotadas, entretanto não decorreu de ataque poraves nem por outras espécies de peixespredadores, pois os tanques-rede utilizados eramtotalmente vedados contra tais predadores. Amanipulação dos animais pode ser uma causa,porém eles foram tratados com todo o cuidado e

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durante o menor tempo possível, visando evitaro estresse ou mesmo lesões.

Nos resultados obtidos por Souza (1993),em estudos com juvenis de C. macropomum nafase de engorda em viveiros escavados, comdensidades de 15, 21, 27 e 34 peixes/m3, osmaiores valores das taxas de crescimento se deunas menores, diminuindo com o aumento dadensidade, segundo o autor, a mais adequadapara esse tipo de viveiro é de 21 peixe/m³. Nomesmo sentido, Hélio (2009) estudandodensidades de 100, 150, 200 e 250 peixes/m3

concluiu que os maiores ganhos de peso foramobtidos nos tanques-rede com menor densidadepopulacional.

Altas densidades populacionaisocasionam problemas de espaço e afetam ataxa de crescimento. Segundo Brandão et al.(2004), os baixos valores nas taxas decrescimento nos cultivos de tambaqui em altasdensidades se devem ao comportamentogregário da espécie. Altas densidades inibem obom desenvolvimento dos peixes comcomportamento gregário, apesar de poder atingir

uma elevada biomassa, não é equivalente aodesenvolvimento do indivíduo isolado.

O crescimento não é a única variável quedeve ser considerada na determinação damelhor densidade populacional. A eficiência naconversão do alimento, também, um bomindicador, sendo que a CAA atua nos custos deprodução, pois o investimento em ração poderepresentar até 60% dos custos operacionaisda criação de peixes em tanque-rede. A CAAbaseia-se na relação entre a ração consumidano período analisado e o ganho de peso. Elaindica a quantidade em kg que é convertidaem kg de biomassa nos peixes. Quanto maior ovalor de CAA, pior será a conversão alimentar.No tanque-rede de menor densidade 25 peixes/m³ os juvenis de Tambaqui apresentarammelhor conversão alimentar aparente. Oaumento na densidade populacional,geralmente, piora a conversão alimentar, umavez que a disputa por alimento é maior,causando um gasto energético nos peixeslevando a um aumento no consumo de raçãopara manter as funções vitais e continuarcrescendo (BRANDÃO et al., 2004).

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A densidade populacional é negativamentecorrelacionada ao ganho individual médio decomprimento padrão e massa corporal. Nasmenores densidades (25 e 50 peixe/m³) os peixesatingiram os maiores valores de crescimento eganho de peso final médio, que diferem entre si.

O maior valor de biomassa total (kg/m³) foi obtidona densidade de 150 peixe/m³. No entanto, adensidade populacional de 50 peixe/m³ é a maisrecomendada por obter maior equilíbrio entre osparâmetros avaliados para os juvenis deTambaqui.

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NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE ORIGINAIS

AMAZÔNIA: Ciência & Desenvolvimento é uma publicação semestral destinada à divulgaçãode trabalhos de cunho técnico-científico, resultantes de estudos e pesquisas que contribuam para aconstituição de uma base de informação sobre a Região. Objetiva divulgar trabalhos originais comdestaque para o tema desenvolvimento sustentável tendo como editor o Banco da Amazônia.

I - DIRETRIZES

1. A seleção dos trabalhos para publicação caberá à Comissão de Publicação e ao Conselho Editorial.

2. Os trabalhos deverão ser inéditos e não estar sendo avaliado em outro periódico.

3. Os originais deverão ser encaminhados em língua portuguesa.

4. O autor faculta ao Banco da Amazônia, através de correspondência enviada junto com o artigo, apublicação de seu trabalho na Revista em mídia impressa e eletrônica para efeito de divulgaçãocientífica (Lei n. 9.610, 1998).

5. As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade, nãoexpressando, necessariamente, as diretrizes da Instituição.

6. A Revista apresentará as seguintes seções:

6.1 Editorial - texto onde o editor ou redator apresenta o conteúdo do fascículo e outras informações;

6.2 Artigos - trabalhos inéditos de pesquisadores de instituições com relevante conhecimento sobre aRegião. Serão, aproximadamente, em número de doze e apresentados de acordo com esta norma.Devem conter, no máximo, vinte páginas cada um, cabendo à Comissão julgar as exceções.

II ESTRUTURA DO ARTIGO

Elementos pré-textuais: título e subtítulo; autor(es); resumo; palavras-chave (no máximo cinco);credenciais e endereço eletrônico dos autores; título e subtítulo em inglês; abstract; keywords.

Elementos textuais: introdução; metodologia/material e método, desenvolvimento; conclusão/considerações finais.

Elementos pós-textuais: notas explicativas; referências; apêndice (s); anexo (s).

III - APRESENTAÇÃO DOS ARTIGOS

De acordo com a norma da ABNT - NBR 6022/2003 - Artigo em Publicação Periódica Científica.

1. Formato: todas as colaborações devem ser enviadas no processador de textos Word, corpo 12,fonte Times New Roman, espaçamento 1,5, papel carta com margem superior e esquerda de 3,0cm e inferior e direita de 2,0 cm.

1.1 A primeira lauda conterá: título do artigo (breve, específico e descritivo); autoria; resumo comaproximadamente 200 palavras; palavras-chave (máximo de cinco); credenciais e endereçoeletrônico dos autores.

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2. Notas: referentes ao corpo do artigo, indicadas com um número depois da palavra ou frase, a quedizem respeito, com a descrição ao final do texto, antes das referências.

3. Tabelas/Ilustrações: conforme as normas do IBGE (tabelas), utilizando-se, somente nas corespreta e cinza com tonalidades entre 30% e 70% da cor preta. Acompanhadas de cabeçalho naparte superior e com a indicação da fonte e notas na parte inferior.

4. Referências: de acordo com a NBR 6023/2002.

5. Citações no texto: usar no sistema de chamada autor-data (NBR 10.520/2002).

6. Endereçamento: os artigos devem ser enviados para [email protected],constando o endereço eletrônico e postal dos autores.