47-311-urbanismo

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40 urbanismo 41 lá fora Texto Juliana Alves Fotos Elisa Mendes/divulgação GNT Alegria, alegria! As fotos mostram projetos desenvolvidos por Bel Lobo para o programa Lá Fora, da GNT, em bairros do Rio de Janeiro. Da esquerda para a direita (por coluna): praça na ilha de Paquetá; área comum de condomínio em Marechal Hermes; horta comunitária no Cosme Velho; e praça entre os pilotis do Minhocão da Gávea. sol urbano no lá fora, da gnt, bel lobo e sua equipe usam todo seu entusiasmo para transformar áreas ociosas em espaços de convívio prazerosos Bel Lobo bem que tentou, mas não con- seguiu ficar longe da TV por muito tempo. Pouco depois de deixar o Decora, programa que apresentou de 2011 a meados de 2014 no canal GNT, a arquiteta carioca, muito conhecida por seus projetos comerciais, voltou à grade da programação, de janeiro a fevereiro deste ano, com o ensolarado Lá Fora, pensado especialmente para ir ao ar nos dias mais quentes do ano. “Fazer programas com temporadas extensas se tornou algo complicado para mim, por questões de agenda, mas quando a Suely (Weller, coordenadora de conteúdo do canal) sugeriu um programa temático, com apenas seis episódios, tudo se encaixou perfeitamen- te”, conta Bel. A produtora Zola e a diretora Tatiana de Lamare se juntaram ao time, e a conexão foi imediata. A ideia era que o Lá Fora fosse um programa de verão, mas com um olhar mais urbano que de costume. Nada de casas de praia e almofadas coloridas. A intenção era levar o sol e o clima da estação a espaços de uso coletivo dentro da cidade, transformando áreas subutilizadas em pontos de encontro que promovessem a interação entre as pessoas de um grupo ou de uma vizinhança. “A luz do dia foi a minha inspiração, e a minha missão era levar essa luz a lugares de uso comum que estivessem meio escuros e sem vida”, lembra a arquiteta. A primeira ideia foi trabalhar com espaços urbanos públicos do Rio de Janeiro, cidade onde os episódios foram gravados, mas não havia tempo para conseguir as aprovações necessárias. A alternativa foi optar por locais ao ar livre já utilizados por comunidades, mas que imploravam para se tornar mais atraen- tes. A partir daí, a equipe de pesquisadores da GNT escolheu as locações, que foram de uma horta comunitária no bairro do Cosme Velho até a área comum de um condomínio em Marechal Hermes, na zona norte da cida- de, passando por dois marcos arquitetônicos da paisagem carioca: o parque do Penhasco, assinado pelo paisagista Fernando Chacel, e os pilotis do Minhocão da Gávea, projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy. O pátio de uma colônia de pescadores na ilha de Paquetá deu início aos trabalhos e foi lá que a atração foi tomando forma. “Eu queria um programa com uma cara diferente do Decora, queria que fosse mais solto, queria interagir com as pessoas que iriam usar aqueles lugares”, diz ela. “No primeiro episódio é que descobrimos o formato, o tom, pensamos em roteiros e textos.” Bel conta ainda que, para mostrar a força e a importância da coletividade, levou a própria equipe do seu escritório be.bo. para juntos criarem e executarem as intervenções: arquitetos, marceneiros, eletricistas, pintores e serralheiros. “Ninguém faz nada sozinho e eu tenho uma equipe muito colaborativa: todos dão ideias e eu apenas organizo essas ideias, como faz um maestro.” O entusiasmo da arquiteta fica ainda maior ao ver os espaços se tornando úteis e desejáveis. Talvez por isso os episódios favoritos de Bel sejam aqueles que deixaram legados – como a intervenção em Paquetá e a praça montada no Minhocão da Gávea. “Nem todos os momentos aparecem na televisão. A melhor parte é fazer, conversar com as pessoas, brincar com as crianças, ver o impacto que aquela transformação vai ter sobre a vida delas.” E a parte mais difícil? “Prazos curtos e orçamento apertado”, diz. “A sorte é poder contar com os parceiros da vida toda, como o cenógrafo Clécio Regis, e com a dedicação das pessoas que trabalham comigo.” Também houve imprevistos, mas não desanimaram a equipe. “Nessas horas você não pode fazer drama. Se alguma coisa dá errado, então vamos pensar o que pode ser feito para contornar e vamos em frente, no final dá tudo certo”, completa ela. Apesar de finalizada a exibição do programa, no site do Lá Fora é possível assistir a trechos dos episódios, conferir dicas e baixar projetos de alguns dos móveis desenvolvidos. A arquiteta não desistiu da ideia de trabalhar na rua, em praças, avenidas e espaços marginalizados. Curiosa, quer investigar e descobrir até que ponto é possível promover mudanças individuais a partir de intervenções em lugares de uso coletivo e como mais espaços comuns influenciariam a dinâmica da cidade. A julgar pela alegria e empolgação de Bel quando fala sobre o Lá Fora, podemos esperar muito mais nesse sentido. Veja mais gnt.globo.com/programas/la-fora bebo.net.br

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40 urbanismo 41lá fora Texto Juliana Alves Fotos Elisa Mendes/divulgação GNT

Alegria, alegria! As fotos mostram projetos desenvolvidos por Bel Lobo para o programa Lá Fora, da GNT, em bairros do Rio de Janeiro. Da esquerda para a direita (por coluna): praça na ilha de Paquetá; área comum de condomínio em Marechal Hermes; horta comunitária no Cosme Velho; e praça entre os pilotis do Minhocão da Gávea.

sol urbano

no lá fora, da gnt, bel lobo e sua equipe usam todo seu entusiasmo para transformar áreas ociosas em espaços de convívio prazerosos

Bel Lobo bem que tentou, mas não con-seguiu ficar longe da TV por muito tempo. Pouco depois de deixar o Decora, programa que apresentou de 2011 a meados de 2014 no canal GNT, a arquiteta carioca, muito conhecida por seus projetos comerciais, voltou à grade da programação, de janeiro a fevereiro deste ano, com o ensolarado Lá Fora, pensado especialmente para ir ao ar nos dias mais quentes do ano.

“Fazer programas com temporadas extensas se tornou algo complicado para mim, por questões de agenda, mas quando a Suely (Weller, coordenadora de conteúdo do canal) sugeriu um programa temático, com apenas seis episódios, tudo se encaixou perfeitamen-te”, conta Bel. A produtora Zola e a diretora Tatiana de Lamare se juntaram ao time, e a conexão foi imediata.

A ideia era que o Lá Fora fosse um programa de verão, mas com um olhar mais urbano que de costume. Nada de casas de praia e almofadas coloridas. A intenção era levar o sol e o clima da estação a espaços de uso coletivo dentro da cidade, transformando áreas subutilizadas em pontos de encontro que promovessem a interação entre as pessoas de um grupo ou de uma vizinhança. “A luz do dia foi a minha inspiração, e a minha missão era levar essa luz a lugares de uso comum que estivessem meio escuros e sem vida”, lembra a arquiteta.

A primeira ideia foi trabalhar com espaços urbanos públicos do Rio de Janeiro, cidade onde os episódios foram gravados, mas não havia tempo para conseguir as aprovações necessárias. A alternativa foi optar por locais ao ar livre já utilizados por comunidades, mas que imploravam para se tornar mais atraen-tes. A partir daí, a equipe de pesquisadores da GNT escolheu as locações, que foram de uma horta comunitária no bairro do Cosme Velho até a área comum de um condomínio em Marechal Hermes, na zona norte da cida-de, passando por dois marcos arquitetônicos da paisagem carioca: o parque do Penhasco, assinado pelo paisagista Fernando Chacel, e os pilotis do Minhocão da Gávea, projetado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy.

O pátio de uma colônia de pescadores na ilha de Paquetá deu início aos trabalhos e foi lá que a atração foi tomando forma. “Eu queria um programa com uma cara diferente do Decora, queria que fosse mais solto, queria interagir com as pessoas que iriam

usar aqueles lugares”, diz ela. “No primeiro episódio é que descobrimos o formato, o tom, pensamos em roteiros e textos.”

Bel conta ainda que, para mostrar a força e a importância da coletividade, levou a própria equipe do seu escritório be.bo. para juntos criarem e executarem as intervenções: arquitetos, marceneiros, eletricistas, pintores e serralheiros. “Ninguém faz nada sozinho e eu tenho uma equipe muito colaborativa: todos dão ideias e eu apenas organizo essas ideias, como faz um maestro.”

O entusiasmo da arquiteta fica ainda maior ao ver os espaços se tornando úteis e desejáveis. Talvez por isso os episódios favoritos de Bel sejam aqueles que deixaram legados – como a intervenção em Paquetá e a praça montada no Minhocão da Gávea. “Nem todos os momentos aparecem na televisão. A melhor parte é fazer, conversar com as pessoas, brincar com as crianças, ver o impacto que aquela transformação vai ter sobre a vida delas.”

E a parte mais difícil? “Prazos curtos e orçamento apertado”, diz. “A sorte é poder contar com os parceiros da vida toda, como o cenógrafo Clécio Regis, e com a dedicação das pessoas que trabalham comigo.” Também houve imprevistos, mas não desanimaram a equipe. “Nessas horas você não pode fazer drama. Se alguma coisa dá errado, então vamos pensar o que pode ser feito para contornar e vamos em frente, no final dá tudo certo”, completa ela.

Apesar de finalizada a exibição do programa, no site do Lá Fora é possível assistir a trechos dos episódios, conferir dicas e baixar projetos de alguns dos móveis desenvolvidos. A arquiteta não desistiu da ideia de trabalhar na rua, em praças, avenidas e espaços marginalizados. Curiosa, quer investigar e descobrir até que ponto é possível promover mudanças individuais a partir de intervenções em lugares de uso coletivo e como mais espaços comuns influenciariam a dinâmica da cidade. A julgar pela alegria e empolgação de Bel quando fala sobre o Lá Fora, podemos esperar muito mais nesse sentido.

Veja mais gnt.globo.com/programas/la-fora bebo.net.br