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  • 7/21/2019 A Msica Sacra

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    C RT ENCCLIC DO P P PIO XIIMUSIC E S CR E DISCIPLIN

    SOBRE MSIC S CR

    Aos venerveis irmos Patriarcas, Primazes,Arcebispos, Bispos e outros Ordinrios de lugar,em paz e comunho com a S Apostlica

    INTRODUO

    1. Sempre tivemos sumamente em considerao a disciplina da msica sacra; donde haver-nosparecido oportuno tratar ordenadamente dela, e, ao mesmo tempo, elucidar com certa amplitudemuitas questes surgidas e discutidas nestes ltimos decnios, a fim de que esta nobre erespeitvel arte contribua cada vez mais para o esplendor do culto divino e para uma mais intensavida espiritual dos fiis. Quisemos, a um tempo, vir ao encontro dos votos que muitos de vs,venerveis irmos, na vossa sabedoria, exprimistes, e que tambm insignes mestres desta arteliberal e exmios cultores de msica sacra formularam por ocasio de Congressos sobre talmatria, e ao encontro tambm de tudo quanto a esse respeito tm aconselhado a experincia davida pastoral e os progressos da cincia e dos estudos sobre esta arte. Assim, nutrimos esperanade que as normas sabiamente fixadas por So Pio X no documento por ele com toda razochamado "cdigo jurdico da msica sacra"(1) sero novamente confirmadas e inculcadas,recebero nova luz, e sero corroboradas por novos argumentos; de tal sorte que a nobre arte damsica sacra, adaptada s condies presentes e, de certo modo, enriquecida, corresponda sempremais sua alta finalidade.

    I. HISTRIA2. Entre os muitos e grandes dons de natureza com que Deus, em quem h harmonia de perfeitaconcrdia e suma coerncia, enriqueceu o homem, criado sua "imagem e semelhana",(2) deve-se incluir a msica, que, juntamente com as outras artes liberais, contribui para o gozo espirituale para o deleite da alma. Com razo assim escreve dela Agostinho: "A msica, isto , a doutrina e aarte de bem modular, como anncio de grandes coisas foi concedida pela divina liberalidade aosmortais dotados de alma racional".(3)

    No Antigo Testamento e na Igreja primitiva

    3. Nada de admirar, pois, que o canto sacro e a arte musical tambm tenham sido usados,conforme consta de muitos documentos antigos e recentes, para ornamento e decoro dascerimnias religiosas sempre e em toda parte, mesmo entre os povos pagos; e que sobretudo oculto do verdadeiro e sumo Deus desde a antiguidade se tenha valido dessa arte. O povo de Deus,escapando inclume do mar Vermelho por milagre do poder divino, cantou a Deus um cntico devitria; e Maria, irm do guia Moiss, dotada de esprito proftico, cantou ao som dos tmpanos,acompanhada pelo canto do povo.(4) E, posteriormente, enquanto se conduzia a arca de Deus dacasa de Abinadab para a cidade de Davi, o prprio rei e "todo Israel danavam diante de Deuscom instrumentos de madeira trabalhada, ctaras, liras, tmpanos, sistros e cmbalos".(5) Oprprio rei Davi fixou as regras da msica a usar-se no culto sagrado, e do canto;(6) regras queforam restabelecidas aps o regresso do povo do exlio, e fielmente conservadas at a vinda dodivino Redentor. Depois, que na Igreja fundada pelo divino Salvador o canto sacro desde oprincpio estivesse em uso e honra, claramente indicado por so Paulo apstolo, quando aosefsios assim escreve: "Sede cheios do Esprito Santo, recitando entre vs salmos e hinos e cnticosespirituais"(7) e que esse uso de cantar salmos estivesse em vigor tambm nas assemblias doscristos, indica-o ele com estas palavras: "Quando vos reunis, alguns entre vs cantam osalmo".(8) E que o mesmo acontecesse aps a idade apostlica atestado por Plnio, que escreve

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    haverem os que tinham renegado a f afirmado que "esta era a substncia da falta de que eraminculpados, a saber: o costumarem a reunir-se num dado dia antes do aparecer da luz e cantaremum hino a Cristo como a Deus".(9) Essas palavras do procnsul romano da Bitnia mostramclaramente que nem mesmo no tempo da perseguio emudecia de todo a voz do canto da Igreja;isto confirma-o Tertuliano quando narra que nas assemblias dos cristos "se lem as Escrituras,cantam-se salmos, promove-se a catequese".(10)

    O canto gregoriano4. Restituda Igreja a liberdade e a paz, muitos testemunhos se tem, dos padres e dos escritoreseclesisticos, que confirmam serem de usa quase dirio os salmos e os hinos do culto litrgico.Antes, pouco a pouco se criaram mesmo novas formas e se excogitaram novos gneros de cantos,cada vez mais aperfeioados pelas escolas de msica, especialmente em Roma. O nossopredecessor, de feliz memria, so Gregrio Magno, consoante a tradio reuniu cuidadosamentetudo o que havia sido transmitido, e deu-lhe sbia ordenao, provendo, com oportunas leis enormas, a assegurar a pureza e a integridade do canto sacro. Da santa cidade a modulaoromana do canto aos poucos se introduziu em outras regies do ocidente, e no somente ali seenriqueceu de novas formas e melodias, como tambm comeou mesmo a ser usada uma novaespcie de canto sacro, o hino religioso, s vezes em lngua vulgar. O prprio canto coral, que,pelo nome do seu restaurador, so Gregrio, comeou a chamar-se "Gregoriano", a comear dossculos VIII e IX, em quase todas as regies da Europa crist, adquiriu novo esplendor, com oacompanhamento do instrumento musical chamado "rgo".

    O canto polifnico

    5. A partir do seculo IX, pouco a pouco a esse canto coral se juntou o canto polifnico, cuja teoriae prtica se precisaram cada vez mais nos sculos subseqentes, e que, sobretudo no sculo XV eno XVI, por obra de sumos artistas alcanou admirvel perfeio. A Igreja tambm teve sempreem grande honra este canto polifnico, e de bom grado admitiu-o para maior decoro dos ritossagrados nas prprias baslicas romanas e nas cerimnias pontifcias. Com isso se lheaumentaram a eficcia e o esplendor, porque voz dos cantores se aditou, alm do rgo, o somde outros instrumentos musicais.

    A vigilncia da Igreja

    6. Desse modo, por impulso e sob os auspcios da Igreja, a disciplina da msica sacra no decursodos sculos percorreu longo caminho, no qual, embora talvez com lentido e a custo,paulatinamente realizou contnuos progressos: das simples e ingnuas melodias gregorianas at s grandes e magnficas obras de arte, a que no s a voz humana, mas tambm o rgo e os outrosinstrumentos aduzem dignidade, ornamento e prodigiosa riqueza. O progresso dessa arte musical,ao passo que mostra claramente o quanto a Igreja se tem preocupado com tornar cada vez maisesplndido e agradvel ao povo cristo o culto divino, por outra parte explica como a mesmaIgreja tenha tido, as vezes, de impedir que se ultrapassem nesse terreno os justos limites, e que, juntamente com o verdadeiro progresso, se infiltrasse na msica sacra, deturpando-a, certo qude profano e de alheio ao culto sagrado.

    7. A esse dever de solcita vigilncia sempre foram fiis os sumos pontfices; e tambm o concliode Trento sabiamente proscreveu: "as msicas em que, ou no rgo ou no canto, se mistura algode sensual e de impuro",(11) Deixando de parte no poucos outros papas, o nosso predecessor defeliz memria Bento XIV, em carta encclica de 19 de Fevereiro de 1749, em preparao ao ano jubilar, com abundante doutrina e cpia de argumentos exortou de modo particular os bispos aproibirem por todos os meios, os reprovveis abusos que indebitamente se haviam introduzido namsica.(12) O mesmo caminho seguiram os nossos predecessores Leo XII, Pio VIII,(13) GregrioXVI, Pio IX, Leo XIII.(14) Todavia, em bom direito pode-se afirmar haver sido o nosso

    predecessor, de feliz memria, so Pio X, quem realizou uma restaurao e reforma orgnica damsica sacra, tornando a inculcar os princpios e as normas transmitidos pela antiguidade, eoportunamente reordenando-os segundo as exigncias dos tempos modernos.(15) Finalmente, talcomo o nosso imediato predecessor Pio XI, de feliz memria, com a constituio apostlica "Divinicultus sanctitatem", de 20 de dezembro de 1929,(16) tambm ns mesmos, com a encclica

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    "Mediator Dei", de 20 de novembro de 1947, ampliamos e corroboramos as prescries dospontfices precedentes.(17)

    II. A ARTE E SEUS PRINCPIOS NA LITURGIA

    8. A ningum, certamente, causar admirao o fato de interessar-se tanto a Igreja pela msicasacra. Com efeito, no se trata de ditar leis de carter esttico ou tcnico a respeito da nobre

    disciplina da msica; ao contrrio, inteno da Igreja que esta seja defendida de tudo que possadiminuir-lhe a dignidade, sendo, como , chamada a prestar servio num campo de tamanhaimportncia como o do culto divino.

    A liberdade do artista deve estar sujeita lei divina

    9. Nisto a msica sacra no obedece a leis e normas diversas das que regulam todas as formas dearte religiosa, antes prpria arte em geral. Na verdade, no ignoramos que nestes ltimos anosalguns artistas, com grave ofensa da piedade crist, ousaram introduzir nas Igrejas obrasdestitudas de qualquer inspirao religiosa, e em pleno contraste at mesmo com as justas regrasda arte. Procuram eles justificar esse deplorvel modo de agir com argumentos especiosos, queeles pretendem fazer derivar da natureza e da prpria ndole da arte. Afinal, dizem eles que ainspirao artstica livre, que no lcito subordin-la a leis e normas estranhas arte, sejamelas morais ou religiosas, porque desse modo se viria a lesar gravemente a dignidade da arte e acriar, com vnculos e ligames, bices ao livre curso da ao do artista sob a sagrada influncia doestro.

    10. Com argumentos tais suscitada uma questo sem dvida grave e difcil, atinente a qualquermanifestao de arte e a qualquer artista; questo que no pode ser resolvida com argumentostirados da arte e da esttica, mas que, em vez disso, deve ser examinada luz do supremopostulado do fim ltimo, regra sagrada e inviolvel de todo homem e de toda ao humana. Defato, o homem diz ordem ao seu fim ltimo - que Deus - por fora de uma lei absoluta enecessria, fundada na infinita perfeio da natureza divina, de maneira to plena e perfeita, quenem mesmo Deus poderia eximir algum de observ-la. Com essa lei eterna e imutvel ficaestabelecido que o homem e todas as suas aes devem manifestar, em louvor e glria do Criador,a infinita perfeio de Deus, e imit-la tanto quanto possvel. Por isso o homem, destinado por suanatureza a alcanar esse fim supremo, deve, no seu agir, conformar-se ao divino arqutipo, enessa direo orientar todas as faculdades da alma e do corpo, ordenando-as retamente entre si, edevidamente domando-as para alcanar o do fim. Portanto, tambm a arte e as obras artsticasdevem ser julgadas com base na sua conformidade, com o fim ltimo do homem; e, por certo,deve a arte contar-se entre as mais nobres manifestaes do engenho humano, porque atinente aomodo de exprimir por obras humanas a infinita beleza de Deus, de que ela o revrbero. Razopela qual, a conhecida expresso "a arte pela arte" - com a qual, posto de parte aquele fim que ingnito em toda criatura, erroneamente se afirma que a arte no tem outras leis seno aquelasque promanam da sua natureza, - essa expresso ou no tem valor algum, ou importa graveofensa ao prprio Deus, Criador e fim ltimo. Depois, a liberdade do artista - liberdade que no um instinto, cego para a ao, regulado somente pelo arbtrio ou por certa sede de novidade -,pelo fato de estar sujeita lei divina em nada coarctada ou sufocada, mas, antes, enobrecida eaperfeioada.

    A arte religiosa exige artistas inspirados pela f e pelo amor

    11. Isso, se vale para toda obra de arte, claro que deve aplicar-se tambm a respeito da artesacra e religiosa. Antes, a arte religiosa ainda mais vinculada a Deus e dirigida a promover o seulouvor e a sua glria, visto no ter outro escopo a no ser o de ajudar poderosamente os fiis aelevar piedosamente a sua mente Deus, agindo ela, por meio das suas manifestaes, sobre ossentidos da vista e do ouvido. Da que, o artista sem f, ou arredio de Deus com a sua alma e com

    a sua conduta, de maneira alguma deve ocupar-se de arte religiosa; realmente, no possui eleaquele olho interior que lhe permite perceber o que requerido pela majestade de Deus e pelo seuculto. Nem se pode esperar que as suas obras, destitudas de inspirao religiosa - mesmo serevelam a percia e uma certa habilidade exterior do autor -, possam inspirar aquela f e aquela

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    piedade que convm majestade da casa de Deus; e, portanto, nunca sero dignas de seradmitidas no templo da igreja, que a guardi e o rbitro da vida religiosa.

    12. Ao invs, o artista que tem f profunda e leva conduta digna de um cristo, agindo sob oimpulso do amor de Deus e pondo os seus dotes a servio da religio por meio das cores, daslinhas e da harmonia dos sons, far todo o esforo para exprimir a sua f e a sua piedade comtanta percia, beleza e suavidade, que esse sagrado exerccio da arte constituir para ele um ato de

    culto e de religio, e estimular grandemente o povo a professar a f e a cultivar a piedade. Taisartistas so e sempre sero tidos em honra pela Igreja; esta lhes abrir as portas dos templos, vistocomprazer-se no contributo no pequeno que, com a sua arte e com a sua operosidade, eles dopara um mais eficaz desenvolvimento do seu ministrio apostlico.

    A finalidade da msica sacra

    13. Essas leis da arte religiosa vinculam com ligame ainda mais estreito e mais santo a msicasacra, visto estar esta mais prxima do culto divino do que as outras belas-artes, como aarquitetura, a pintura e a escritura; estas procuram preparar uma digna sede para os ritosdivinos, ao passo que aquela ocupa lugar de primeira importncia no prprio desenvolvimentodas cerimnias e dos ritos sagrados. Por isso, deve a Igreja, com toda diligncia; providenciar pararemover da msica sacra, justamente por ser esta a serva da sagrada liturgia, tudo o que destoa doculto divino ou impede os fis de elevarem sua mente a Deus.

    14. E, de fato, nisto consiste a dignidade e a excelsa finalidade da msica sacra, a saber, em - pormeio das suas belssimas harmonias e da sua magnificncia - trazer decoro e ornamento s vozesquer do sacerdote ofertante, quer do povo cristo que louva o sumo Deus; em elevar os coraesdos fiis a Deus por uma intrnseca virtude sua, em tornar mais vivas e fervorosas as oraeslitrgicas da comunidade crist, para que Deus uno e trino possa ser por todos louvado einvocado com mais intensidade e eficcia. Portanto, por obra da msica sacra aumentada ahonra que a Igreja d a Deus em unio com Cristo seu chefe; e, outrossim, aumentado o frutoque, estimulados pelos sagrados acordes, os fiis tiram da sagrada liturgia e costumam manifestarpor uma conduta de vida dignamente crist, como mostra a experincia cotidiana e comoconfirmam muitos testemunhos de escritores antigos e recentes. Falando dos cnticos "executadoscom voz lmpida e com modulaes apropriadas", assim se exprime santo Agostinho: "Sinto que asnossas almas se elevam na chama da piedade com um ardor e uma devoo maior por efeitodaquelas santas palavras quando elas so acompanhadas pelo canto, e todos os diversossentimentos do nosso esprito acham no canto uma sua modulao prpria, que os desperta porfora de no sei que relao oculta e ntima".(18)

    Seu papel litrgico

    15. Por aqui, facilmente se pode compreender como a dignidade e a importncia da msica sacra,seja tanto maior quanto mais de perto a sua ao se relaciona com o ato supremo do culto cristo,isto , com o sacrifcio eucarstico do altar. No pode ela, pois, realizar nada de mais alto e demais sublime do que o oficio de acompanhar com a suavidade dos sons a voz do sacerdote queoferece a vtima divina, do que responder alegremente s suas perguntas juntamente com o povoque assiste ao sacrifcio, e do que tornar mais esplndido com a sua arte todo o desenvolvimentodo rito sagrado. Da dignidade desse excelso servio aproximam-se, pois, os ofcios que a mesmamsica sacra exerce quando acompanha e embeleza as outras cerimnias litrgicas, e emprimeiro lugar a recitao do brevirio no coro. Por isso, essa musica "litrgica" merece sumahonra e louvor.

    Seu papel extralitrgico

    16. No obstante isso, em grande estima se deve ter tambm a msica que, embora no sendo

    destinada principalmente ao servio da sagrada liturgia, todavia, pelo seu contedo e pelas suasfinalidades, importa muitas vantagens religio, e por isso com toda razo chamada msica"religiosa". Na verdade, tambm este gnero de msica sacra - que teve origem no seio da Igreja, eque sob os auspcios desta pde felizmente desenvolver-se est, como o demonstra a experincia,no caso de exercer nas almas dos fiis uma grande e salutar influncia, quer seja usada nas igrejas

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    durante as funes e as sagradas cerimnias no-litrgicas, quer fora de igreja, nas vriassolenidades e celebraes. De fato, as melodias desses cantos, compostos as mais das vezes emlngua vulgar, fixam-se na memria quase sem esforo e sem trabalho, e, ao mesmo tempotambm, as palavras e os conceitos se imprimem na mente, so freqentemente repetidos e maisprofundamente compreendidos. Da segue que at mesmo os meninos e as meninas, aprendendona tenra idade esses cnticos sacros, so muito ajudados a conhecer, a apreciar e a recordar asverdades da nossa f, e assim o apostolado catequtico tira deles no leve vantagem. Depois, esses

    cnticos religiosos, enquanto recreiam a alma dos adolescentes e dos adultos, oferecem a estes umcasto e puro deleite, emprestam certo tom de majestade religiosa s assemblias e reunies maissolenes, e at s prprias famlias crists trazem santa alegria, doce conforto e espiritual proveito.Razo pela qual, tambm este gnero de msica religiosa popular constitui uma eficaz ajuda parao apostolado catlico, e, assim, com todo cuidado deve ser cultivado e desenvolvido.

    A msica sacra um meio eficaz de apostolado

    17. Portanto, quando exaltamos as prendas mltiplas da msica sacra e a sua eficcia em relaoao apostolado, fazemos coisa que pode tornar-se de sumo prazer e conforto para aqueles que, dequalquer maneira, se ho dedicado a cultiv-la e a promov-la. Afinal, todos quantos oucompem msica segundo o seu prprio talento artstico, ou a dirigem ou a executam vocalmenteou por meio de instrumentos musicais, todos esses, sem dvida, exercitam um verdadeiro e realapostolado, mesmo de modo vrio e diverso, e por isso recebero em abundncia, de Cristo nossoSenhor, as recompensas e as honras reservadas aos apstolos, medida que cada um houverdesempenhado fielmente o seu cargo. Por isso estimem eles grandemente essa sua incumbncia,em virtude da qual no so apenas artistas e mestres de arte, mas tambm ministros de Cristonosso Senhor e colaboradores no apostolado, e esforcem-se por manifestar tambm pela condutada vida a dignidade desse seu mister.

    III. QUALIDADE DA MSICA SACRA E REGRAS QUE PRESIDEM SUA EXECUO NA LITURG

    18. Tal sendo, como j dissemos, a dignidade e a eficcia da msica sacra e do canto religioso, grandemente necessrio cuidar-lhes diligentemente da estrutura em toda parte, para tirar delesutilmente os frutos salutares.

    Santidade, carter artstico e universalidade da msica litrgica

    19. Necessrio , antes de tudo, que o canto e a msica sacra, mais intimamente unidos com oculto litrgico da Igreja, atinjam o alto fim a eles consignado. Por isso - como j sabiamenteadvertia o nosso predecessor so Pio X - essa msica "deve possuir as qualidades prprias daliturgia, e em primeiro lugar a santidade e a beleza da forma; por onde de per si se chega a outracaracterstica sua, a universalidade".(19)

    20. Deve ser "santa"; no admita ela em si o que soa de profano, nem permita se insinue nasmelodias com que apresentada. A essa santidade se presta sobretudo o canto gregoriano, quedesde tantos sculos se usa na Igreja, a ponto de se poder diz-lo patrimnio seu. Pela ntimaaderncia das melodias s palavras do texto sagrado, esse canto no s quadra a este plenamente,mas parece quase interpretar-lhe a fora e a eficcia, instilando doura na alma de quem oescuta; e isso por meios musicais simples e fceis, mas permeados de to sublime e santa arte, queem todos suscitam sentimentos de sincera admirao, e se tornam para os prprios entendedores emestres de msica sacra uma fonte inexaurvel de novas melodias. Conservar cuidadosamenteesse precioso tesouro do canto gregoriano e fazer o povo amplamente participante dele, compete atodos aqueles a quem Jesus Cristo confiou a guarda e a dispensao das riquezas da Igreja. Porisso, aquilo que os nossos predecessores so Pio X, com toda a razo chamado restaurador docanto gregoriano,(20) e Pio XI ,(21) sabiamente ordenaram e inculcaram, tambm ns queremose prescrevemos que se faa, prestando-se ateno s caractersticas que so prprias do genuno

    canto gregoriano; isto , que na celebrao dos ritos litrgicos se faa largo uso desse canto, e seprovidencie com todo cuidado para que ele seja executado com exatido, dignidade e piedade. E,se para as festas recm-introduzidas se deverem compor novas melodias, seja isso feito pormestres verdadeiramente competentes, de modo que se observem fielmente as leis prprias doverdadeiro canto gregoriano, e as novas composies porfiem, em valor e pureza, com as antigas.

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    21. Se em tudo essas normas forem realmente observadas, vir-se- outrossim a satisfazer pelomodo devido uma outra propriedade da msica sacra, isto , que ela seja "verdadeira arte"; e, seem todas as Igrejas catlicas do mundo ressoar incorrupto e ntegro o canto gregoriano, tambmele, como a liturgia romana, ter a nota de "universalidade", de modo que os fis em qualquerparte do mundo ouam essas harmonias como familiares e como coisa de casa, experimentandoassim, com espiritual conforto, a admirvel unidade da Igreja. esse um dos motivos principais

    por que a Igreja mostra to vivo desejo de que o canto gregoriano esteja intimamente ligado spalavras latinas da sagrada liturgia.

    Somente a Santa S pode dispensar o uso do latim e do canto gregoriano nas missas solenes

    22. Bem sabemos que, por graves motivos, a prpria S Apostlica tem concedido, a esse respeito,algumas excees bem determinadas, as quais, entretanto, no queremos sejam estendidas eaplicadas a outros casos sem a devida licena da mesma Santa S. Antes, l mesmo onde se possamutilizar tais concesses, cuidem atentamente os ordinrios e os outros sagrados pastores, quedesde a infncia os fiis aprendam ao menos as melodias gregorianas mais fceis e mais em uso, esaibam valer-se delas nos sagrados ritos litrgicos, de modo que tambm nisso brilhe sempre maisa unidade e a universalidade da Igreja.

    23. Todavia, onde quer que um costume secular ou imemorial permita que no solene sacrifcioeucarstico, depois das palavras litrgicas cantadas em latim, se insiram alguns cnticos popularesem lngua vulgar, permiti-lo-o os ordinrios "quando julgarem que pelas circunstncias de lugare de pessoas tal (costume) no possa ser prudentemente removido",,(22) firme permanecendo anorma de que no se cantem em lngua vulgar as prprias palavras da liturgia, como acima j foidito.

    Para que os fis compreendam melhor os textos latinos, sejam eles explicados

    24. Depois, a fim de que os cantores e o povo cristo entendam bem o significado das palavraslitrgicas ligadas melodia musical, fazemos nossa a exortao dirigida pelos padres do concliode Trento, especialmente "aos pastores e aos que tm simples cura de almas, no sentido de, comfreqncia, durante a celebrao da missa, explicarem, diretamente ou por intermdio de outros,alguma parte daquilo que se l na missa, e, entre outras coisas, esclarecerem algum mistrio destesanto sacrifcio, especialmente nos domingos e nos dias de festa",,(23) fazendo isso sobretudo notempo em que se explica o catecismo ao povo cristo. Isso mais fcil e mais factvel se torna hojeem dia do que nos sculos passados, visto se terem as palavras da liturgia traduzidas em vulgar, ea sua explicao em manuais e livrinhos que, preparados por pessoas competentes em quase todasas naes, podem eficazmente ajudar e iluminar os fiis, a fim de que tambm eles compreendame como que compartilhem a dico dos ministros sagrados em lngua latina.

    A Santa S vigia para conservar e promover os cantos litrgicos de outros ritos no-romanos

    25. bvio que o quanto aqui expusemos acerca do canto gregoriano diz respeito sobretudo aorito latino romano da Igreja; mas pode respectivamente aplicar-se aos cantos litrgicos de outrosritos, quer do ocidente, como o Ambrosiano, o Galicano, o Moarbico, quer aos vrios ritosorientais. De fato, todos esses ritos, ao mesmo passo que mostram a admirvel riqueza da Igrejana ao litrgica e nas frmulas de orao, por outra parte, pelos diversos cantos litrgicos,conservam tesouros preciosos, que cumpre guardar e impedir no s de desaparecerem, comotambm de sofrerem qualquer atenuao ou deturpao. Entre os mais antigos e importantesdocumentos da msica sacra, tm, sem dvida, lugar considervel os cantos litrgicos dos vriosritos orientais, cujas melodias tiveram muita influncia na formao das da Igreja ocidental, comas devidas adaptaes ndole prpria da liturgia latina. nosso desejo que uma seleo de cantosdos ritos sagrados orientais - na qual est prazeirosamente trabalhando o Pontifcio Instituto para

    os estudos orientais, com o auxlio do Pontifcio Instituto para a msica sacra - seja felizmentelevada a termo tanto na parte doutrinal como na parte prtica; de modo que os seminaristas dorito oriental, bem preparados tambm no canto sacro, feitos um dia sacerdotes possam, tambmnisso, eficazmente contribuir para aumentar o decoro da casa de Deus.

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    A msica polifnica

    26. Com o que havemos dito para louvar e recomendar o canto gregoriano, no inteno nossaremover dos ritos da Igreja polifonia sacra, a qual, desde que exornada das devidas qualidades,pode contribuir bastante para a magnificncia do culto divino e para suscitar piedosos afetos naalma dos fiis. Afinal, bem sabido que muitos cantos polifnicos, compostos sobretudo no sculoXVI, brilham por tal pureza de arte e tal riqueza de melodias, que so inteiramente dignos de

    acompanhar e como que de tornar mais perspcuos os ritos da Igreja. E, se, no curso dos sculos, a genuna arte da polifonia pouco a pouco decaiu, e no raramente lhe so entremeadas melodiasprofanas, nos ltimos decnios, merc da obra indefesa de insignes mestres, felizmente ela comoque se renovou, mediante um mais acurado estudo das obras dos antigos mestres, propostas imitao e emulao dos compositores hodiernos.

    27. Destarte sucede que, nas baslicas, nas catedrais, nas igrejas dos religiosos, podem executar-sequer as obras-primas dos antigos mestres, quer composies polifnicas de autores recentes, comdecoro do rito sagrado; antes sabemos que, mesmo nas igrejas menores, no raramente seexecutam cantos polifnicos mais simples, porm compostos com dignidade e verdadeiro senso dearte: A Igreja favorece todos estes esforos; realmente, consoante s palavras do nosso predecessorde feliz memria so Pio X, ela "sempre favoreceu o progresso das artes e ajudou-o, acolhendo nouso religioso tudo o que o engenho humano tem criado de bom e de belo no curso dos sculos,desde que ficassem salvas as leis litrgicas", ,(24) Estas leis exigem que, nesta importante matria,se use de toda prudncia e se tenha todo cuidado a fim de que se no introduzam na Igreja cantospolifnicos que, pelo modo trgido e empolado, ou venham a obscurecer, com a sua prolixidade,as palavras sagradas da liturgia, ou interrompam a ao do rito sagrado, ou, ainda, aviltem ahabilidade dos cantores com desdouro do culto divino.

    O rgo

    28. Devem essas normas aplicar-se, outrossim, ao uso do rgo e dos outros instrumentosmusicais. Entre os instrumentos a que aberta a porta do templo vem, de bom direito, emprimeiro lugar o rgo, por ser particularmente adequado aos cnticos sacros e aos sagrados ritos,por conferir s cerimnias da Igreja notvel esplendor e singular magnificncia, por comover aalma dos fiis com a gravidade e doura do seu som, por encher a mente de gozo quase celeste, epor elevar fortemente Deus e s coisas celestes.

    Outros instrumentos de msica que podem ser utilizados

    29. Alm do rgo, h outros instrumentos que podem eficazmente vir em auxlio para se atingiro alto fim da msica sacra, desde que nada tenham de profano, de barulhento, de rumoroso,coisas essas destoantes do rito sagrado e da gravidade do lugar. Entre eles vm, em primeiro lugar,o violino e outros instrumentos de arco, os quais, ou sozinhos ou juntamente com outrosinstrumentos e com o rgo, exprimem com indizvel eficcia os sentimentos, de tristeza ou dealegria, da alma. Alis, acerca das melodias musicais inadmissveis no culto catlico j falamosclaramente na encclica "Mediator Dei". "Quando eles no tiverem nada de profano ou dedestoante da santidade do lugar e da ao litrgica, e no forem em busca do extravagante e doextraordinrio, tenham tambm acesso nas nossas igrejas, podendo contribuir no pouco para oesplendor dos ritos sagrados, para elevar a alma para o alto, e para afervorar a verdadeira piedadeda alma".,(25) o caso apenas de advertir que, quando faltarem a capacidade e os meios paratanto, melhor ser abster-se de semelhantes tentativas, do que fazer coisa menos digna do cultodivino e das reunies sacras.

    Os cnticos populares e seu uso

    30. A esses aspectos que tm mais estreita ligao com a liturgia da Igreja juntam-se, como

    dissemos, os cantos religiosos populares, escritos as mais das vezes em lngua vulgar, os quais seoriginam do prprio canto litrgico, mas, sendo mais adaptados ndole e aos sentimentos decada povo em particular, diferem no pouco entre si, conforme o carter dos povos e a ndoleparticular das naes. A fim de que semelhantes cnticos religiosos proporcionem fruto espirituale vantagem ao povo cristo, devem ser plenamente conformes ao ensinamento da f crist, exp-

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    la e explic-la retamente, usar linguagem fcil e melodia simples, fugir da profuso de palavrasempoladas e vazias, e, finalmente, mesmo sendo breves e fceis, ter uma certa dignidade e gravidade religiosa. Quando esses cnticos sacros possuem tais dotes, brotando como que do maisprofundo da alma do povo, comovem fortemente os sentimentos e a alma, e excitam piedososafetos; quando se cantam como uma s voz nas funes religiosas da multido reunida, elevamcom grande eficcia a alma dos fiis s coisas celestes. Por isso, embora, como dissemos, nasmissas cantadas solenes no possam eles ser usados sem especial permisso da Santa S, todavia

    nas missas celebradas em forma no-solene podem eles admiravelmente contribuir para que osfiis assistam ao santo sacrifcio no tanto como espectadores mudos e quase inertes, mas deforma que, acompanhando com a mente e com a voz a ao sacra, unam a prpria devoo spreces do sacerdote, e isso desde que tais cantos sejam bem adaptados s vrias partes dosacrifcio, como sabemos que j se faz em muitas partes do mundo catlico, com grande jbiloespiritual.

    31. Quanto s cerimnias no estritamente litrgicas, tais cnticos religiosos, uma vez quecorrespondam s condies supraditas, podem contribuir de modo notvel para atrairsalutarmente o povo cristo, para amestr-lo, para form-lo numa sincera piedade, e para ench-lo de santo regozijo; e isso tanto nas Igrejas como externamente, especialmente nas procisses enas peregrinaes aos santurios, e do mesmo modo nos congressos religiosos nacionais einternacionais. De modo especial sero eles teis quando se tratar de instruir na verdade catlicaos meninos e as meninas, como tambm nas associaes juvenis e nas reunies dos pios sodalcios,tal como muitas vezes o demonstra claramente a experincia.

    32. Por isso, no podemos deixar de exortar-vos vivamente, venerveis irmos, a vos dignardes,com todo cuidado e por todos os meios, de favorecer e promover nas vossas dioceses esse cantopopular religioso. No vos faltaro homens experientes para recolher e reunir juntos essescnticos onde no se haja feito, a fim de que por todos os fiis possam eles ser mais facilmenteaprendidos, cantados com desembarao e bem gravados na memria. Aqueles a quem estconfiada a formao religiosa dos meninos e das meninas no deixem de valer-se, pelo mododevido, desses eficazes auxlios, e os assistentes da juventude catlica usem deles retamente na grave tarefa que lhes foi confiada. Desse modo pode-se esperar obter mais outra vantagem, queest no desejo de todos, a saber: a de que sejam eliminadas essas canes profanas que, ou pelamoleza do ritmo, ou pelas palavras no raro voluptuosas e lascivas que o acompanham,costumam ser perigosas para os cristos, especialmente para os jovens, e sejam substitudas poressas outras que proporcionam um prazer casto e puro, e que, ao mesmo tempo, alimentam a f ea piedade; de modo que j aqui na terra o povo cristo comece a cantar aquele cntico de louvorque cantar eternamente no cu: "Aquele que se senta no trono e ao Cordeiro seja bno, honra, glria e poder pelos sculos dos sculos" (Ap 5,13).

    Condies especiais em pases de misso

    33. O que at aqui escrevemos vigora sobretudo para as naes pertencentes Igreja nas quais areligio catlica j est solidamente estabelecida. Nos pases de misso, certamente no serpossvel pr tudo isso em prtica antes de haver crescido suficientemente o nmero dos cristos,antes de se haverem construdo igrejas espaosas, antes de serem convenientemente freqentadaspelos filhos dos cristos as escolas fundadas pela Igreja, e, finalmente, antes de haver l umnmero de sacerdotes igual necessidade. Todavia, vivamente exortamos os obreiros apostlicosque lidam nessas vastas extenses da vinha do Senhor, entre os graves cuidados do seu ofcio, sedignarem de ocupar-se seriamente tambm dessa incumbncia. maravilhoso ver o quanto sedeleitam com as melodias musicais os povos confiados aos cuidados dos missionrios, e quo grande parte tem o canto nas cerimnias dedicadas ao culto dos dolos. Improvidente seria,portanto, que esse eficaz subsdio para o apostolado fosse tido em pouca conta, ou completamentedescurado, pelos arautos de Cristo verdadeiro Deus. Por isso, no desempenho do seu ministrio, osmensageiros do evangelho nas regies pags, devero fomentar largamente este amor do canto

    religioso que cultivado pelos homens confiados aos seus cuidados, de modo que, aos cnticosreligiosos nacionais, no raro admirados at mesmo pelas naes civilizadas, esses povoscontraponham anlogos cnticos sacros cristos, nos quais se exaltam as verdades da f, a vida denosso Senhor Jesus Cristo, da Beata Virgem e dos santos na lngua e nas melodias peculiares dosmesmos povos.

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    34. Lembrem-se, outrossim, os missionrios de que, desde os antigos tempos a Igreja catlica,enviando os arautos do evangelho regies ainda no iluminadas pela luz da f, juntamente comos ritos sagrados, quis que eles levassem tambm os cantos litrgicos, entre os quais as melodias gregorianas, e isto no intuito de que, atrados pela doura do canto, os povos a chamar a f fossemmais facilmente movidos a abraar as verdades da religio crist.

    IV. RECOMENDAES AOS ORDINRIOS35. Para que obtenha o desejado efeito tudo quanto, seguindo as pegadas dos nossospredecessores, ns nesta carta encclica recomendamos ou prescrevemos, vs, venerveisirmos, com solcito empenho adotareis todas as disposies que vos impe o alto encargo a vsconfiado por Cristo e pela Igreja, e que, como resulta da experincia, com grande fruto so, emmuitas igrejas do mundo cristo, postas em prtica.

    Os coros dos fiis

    36. Antes de tudo tende o cuidado de que na igreja catedral e, na medida em que ascircunstncias o permitirem, nas maiores igrejas da vossa jurisdio, haja uma distinta "Scholaecantorum", que sirva aos outros de exemplo e de estmulo para cultivar e executar com dilignciao cntico sacro. Onde, contudo, no se puderem ter as "Scholae cantorum" nem se puder reunirnmero conveniente de "Pueri cantores", concede-se que "um grupo de homens e de mulheres oumeninas, em lugar a isso destinado e localizado fora do balastre, possa cantar os textos litrgicosna missa solene, contanto que os homens fiquem inteiramente separados das mulheres e meninas,e todo inconveniente seja evitado, onerada nisso a conscincia dos Ordinrios".,(26)

    Nos seminrios e colgios religiosos

    37. Com grande solicitude de providenciar-se, para que todos os que nos seminrios e nosinstitutos missionrios religiosos se preparam para as sagradas ordens sejam retamente instrudos,segundo as diretrizes da Igreja, na msica sacra e no conhecimento terico e prtico do canto gregoriano, por mestres experimentados em tais disciplinas, que estimem tradies, usos eobedeam em tudo s normas preceptivas da Santa S.

    38. E, se entre os alunos dos seminrios e dos colgios religiosos houver algum dotado departicular tendncia e paixo por essa arte, disso no deixem de vos informar os reitores dosseminrios ou dos colgios, a fim de que possais oferecer a esse tal ensejo de cultivar melhor taisdotes, e possais envi-lo ao Pontifcio Instituto de msica sacra nesta cidade, ou a algum outroateneu do gnero, contanto que ele se distinga por bons costumes e virtudes, e com isso d motivoa se esperar venha a ser um timo sacerdote.

    Um perito em msica sacra no seio do conselho diocesano de arte sacra

    39. Alm disso, convir providenciar, para que os ordinrios e os superiores maiores dos institutosreligiosos escolham algum, de cujo auxlio se sirvam em coisa de tanta importncia a que, entreoutras tantas e to graves ocupaes, por fora de circunstncias eles no possam facilmenteatender. Coisa tima para esse fim que no conselho diocesano de arte sacra haja algum peritoem msica sacra e em canto, o qual possa habilmente vigiar na diocese em tal terreno e informaro ordinrio de tudo o que se tem feito e se deva fazer, acolhendo-se e fazendo-se executar asprescries e disposies dele. E, se em qualquer diocese existir alguma dessas associaes quesabiamente tm sido fundadas para cultivar a msica sacra, e que tm sido louvadas erecomendadas pelos sumos pontfices, na sua prudncia poder o ordinrio ajudar-se dela parasatisfazer as responsabilidades desse seu encargo.

    Os pios sodalcios consagrados msica sacra40. Os pios sodalcios, constitudos para a instruo do povo na msica sacra ou para aprofundara cultura desta ltima, os quais, com a difuso das idias e com o exemplo, muito podemcontribuir para dar incremento ao canto sacro, amparai-os, venerveis irmos, e promovei-os

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    com o vosso favor, para que eles floresam de vigorosa vida e obtenham timos mestresidneos, e em toda a diocese diligentemente dem desenvolvimento msica sacra e ao amor e aocostume dos cnticos religiosos, com a devida obedincia s leis da Igreja e s nossas prescries.

    CONCLUSO

    41. Tudo isso, movido por uma solicitude todo paternal, quisemos tratar com certa amplitude; enutrimos plena confiana de que vs, venerveis irmos, dedicareis todo o vosso cuidado pastorala tal questo de interesse religioso muito importante para a celebrao mais digna e maisesplndida do culto divino. Aqueles, pois, que na Igreja, sob a vossa direo, tm em suas mos adireo do que concerne a msica, esperamos achem nesta nossa carta encclica incitamento parapromover com novo e apaixonado ardor e com generosidade operosamente hbil esse importanteapostolado. Assim, conforme auguramos, suceder que essa arte to nobre, muito apreciada emtodas as pocas pela Igreja, tambm nos nossos dias ser cultivada de modo a ver-se reconduzidaaos ldimos esplendores de santidade e de beleza, e conseguir perfeio sempre mais alta, e como seu contributo produzir este feliz efeito: que, com f mais firme, com esperana mais viva, comcaridade mais ardente, os filhos da Igreja prestem nos templos a devida homenagem de louvores aDeus uno e trino, e que, mesmo fora dos edifcios sagrados, no seio das famlias e nas reuniescrists, verifique-se aquilo que so Cipriano fazia objeto de uma famosa exortao a Donato:"Ressoe de salmos o sbrio banquete: e, como tens memria tenaz e voz canora, assume esse ofciosegundo o costume em moda: a pessoas a ti carssimas ofereces maior nutrimento se da nossaparte houver uma audio espiritual, e se a doura religiosa deleitar o nosso ouvido".,(27)

    42. Enquanto isso, na expectativa dos resultados sempre mais ricos e felizes que esperamostenham origem desta nossa exortao, em atestado do nosso paternal afeto e em penhor de donscelestes, com efuso de alma concedemos a bno apostlica a vs, venerveis irmos, a quantos,tomados singular e coletivamente, pertenam ao rebanho a vs confiado, e em modo particularqueles que, secundando os nossos votos, se preocupam de dar incremento msica sacra.

    Dado em Roma, junto a So Pedro, no dia 25 de dezembro, festa do Natal de nosso Senhor JesusCristo, do ano de 1955, XVII do nosso ponti ficado.

    PIO PP. XII.

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    Notas

    (1) Motu Proprio Entre as solicitudes do mnus pastoral: Acta Pii X, vol. I, p. 77.(2) Cf. Gn 1,26.(3) Epist.161, De origine animae hominis, l, 2; PL 33, 725.(4) Cf. Ex 15,1-20.(5) 2Sm 6,5.(6) Cf. 1Cr 23,5; 25,2-31.(7) Ef 5,18s; cf. Col 3,16.(8) 1Cor 14,26.(9) Plnio, Epist. X, 96, 7.(10) Cf. Tertuliano, De anima, c. 9; PL 2, 701; e Apol. 39; PL 1, 540.(11) Conc. Trid., Sess. XXII: Decretum de obseruandis et vitandis in celebratione Missae.(12) Cf. Bento XIV, Carta enc. Annus qui; Opera omnia, (ed. Prati, Vol.17,1, p.16).

    (13) Cf. Carta apost., Bonum est confiteri Domino, (2 de agosto de 1828). Cf. BullariumRomanum, ed. Prati, ed. Typ. Aldina, t. IX, p.139ss.(14) Cf. Acta Leonis XIII,14(1895), pp. 237-247; cf. AAS 27(1894), pp. 42-49.(15) Cf. Acta Pii X, vol. I, pp. 75-87; AAS 36(1903-04), pp. 329-339; 387-395.(16) Cf. AAS 21(1929), pp. 33ss.

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    (17) Cf. AAS 39(1947), pp. 521-595.(18) S. Agostinho, Confess., 1. X, c. 33, PL 32, 799ss.(19) Acta Pii X, 1, p.78.(20) Carta ao Card. Respighi, Acta Pii X,1, pp. 68-74; v pp. 73ss; AAS 36(1903-04), pp. 325-329;395-398; v. 398.(21) Pio XI, Const. apost. Divini cultus; AAS 21(1929}, pp. 33ss.(22) CIC, cn. 5.

    (23) Conc. Trid., Sess. XXII, De sacrificio Missae, c. VIII.(24) Acta Pii X,1, p. 80.(25) AAS 39(1947), p. 590.(26) Decr. S.C. Rituum, nn. 3964; 4201; 4231.(27) S. Cipriano, Epist. ad Donatum (Epistola 1, n. XVI); PL 4, 227.

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    Fonte: Vaticano Santa SPage: http://www.vatican.va