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PATRICIA FERREIRA COIMBRA PIMENTEL AÇÃO COLETIVA EM ORGANIZAÇÕES COOPERATIVAS: UM ESTUDO DE CASO NA COOPERATIVA DE LATICÍNIOS VALE DO MUCURI LTDA. EM CARLOS CHAGAS-MG. Dissertação apresentada à Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural, para obtenção do título de Magister Scientiae. VIÇOSA MINAS GERAIS - BRASIL 2008

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Page 1: AÇÃO COLETIVA EM ORGANIZAÇÕES COOPERATIVAS: UM …livros01.livrosgratis.com.br/cp087171.pdf · Classificação da Biblioteca Central da UFV T Pimentel, Patrícia Ferreira Coimbra,

PATRICIA FERREIRA COIMBRA PIMENTEL

ACcedilAtildeO COLETIVA EM ORGANIZACcedilOtildeES COOPERATIVAS UM ESTUDO DE CASO

NA COOPERATIVA DE LATICIacuteNIOS VALE DO MUCURI LTDA EM CARLOS

CHAGAS-MG

Dissertaccedilatildeo apresentada agrave Universidade Federal de Viccedilosacomo parte das exigecircncias doPrograma de Poacutes-Graduaccedilatildeo emExtensatildeo Rural para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Magister Scientiae

VICcedilOSA MINAS GERAIS - BRASIL

2008

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Ficha catalograacutefica preparada pela Seccedilatildeo de Catalogaccedilatildeo e Classificaccedilatildeo da Biblioteca Central da UFV

T Pimentel Patriacutecia Ferreira Coimbra 1973- P644a Accedilatildeo coletiva em organizaccedilotildees cooperativas um estudo 2008 de caso da cooperativa de laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda em Carlos Chagas-MG Patriacutecia Ferreira Coimbra Pimentel ndash Viccedilosa MG 2008 xi 128f il (algumas col) 29cm Inclui apecircndices Orientador Joseacute Ambroacutesio Ferreira Neto Dissertaccedilatildeo (mestrado) - Universidade Federal de Viccedilosa Referecircncias bibliograacuteficas f 115-122 1 Cooperativas agriacutecolas 2 Cooperativismo - Carlos Chagas (MG) 3 Produtos agriacutecolas - Comercializaccedilatildeo cooperativa 4 Economia agriacutecola I Universidade Federal de Viccedilosa IITiacutetulo CDD 22ed 334683

i

ii

Ao meu querido esposo Joacutebson pelo amor e por ser tatildeo presente e amigo Te amo

Agraves minhas filhas Flaacutevia Laura e Marina pelo amor incondicional Que me inspiram e por terem convivido com minhas ausecircncias nesta fase e ainda assim serem tatildeo maravilhosas Amo vocecircs

iii

AGRADECIMENTOS

Obrigada Senhor por este trabalho pela forccedila da superaccedilatildeo e por me conduzir sempre para o melhor caminho Aos meus pais Zeca 84 anos cheio de vida sempre dedicado agrave simplicidade do viver rural Exemplo de paciecircncia e coragem Agrave minha matildee Vilma obrigada pela semente que plantou na minha formaccedilatildeo como pessoa Meu exemplo de caraacuteter forccedila e dedicaccedilatildeo Aos meus irmatildeos que cada um ao seu modo me acompanham e apoacuteiam mesmo sem entender muito ldquoo porquecirc de estudar tantordquo Aos meus sobrinhos Carol Rodrigo e Ricardo por quem esforccedilo para acreditarem nos estudos e aspirar crescimento Ao Prof Newton Paulo Bueno pela oportunidade Ao Prof Joseacute Ambroacutesio Ferreira Neto por aceitar o desafio e acreditar em mim pelo apoio e amizade no momento mais difiacutecil Pela orientaccedilatildeo e dedicaccedilatildeo Agrave UFV e aos professores do DER que contribuiacuteram para uma percepccedilatildeo diferente do rural Aos funcionaacuterios em especial agrave Carminha e Cida pelo carinho e atenccedilatildeo de sempre Aos membros da banca examinadora Aos produtores rurais dirigentes e funcionaacuterios da COOLVAM pela acessibilidade e apoio Aos amigos da Incubadora de Base Tecnoloacutegica CENTEVUFV pela oportunidade de aprendizado no desafio do empreendedorismo grande contribuiccedilatildeo na minha carreira profissional Aos amigos do Centro Vocacional Tecnoloacutegico de Viccedilosa (CVT) pela convivecircncia A Flaacutevia Moreira pela consideraccedilatildeo e pelo apoio de sempre A Cris Xavier por ter cuidado tatildeo bem das minhas filhas e da minha casa enquanto natildeo estava presente A Kmila Neacutedma e Wiliam por terem acompanhado toda essa caminhada Aos colegas pela famiacutelia que formamos em ERU 623 pela amizade companheirismo consolo superaccedilatildeo e por todas as vezes que pudemos compartilhar momentos de descontraccedilatildeo e alegria A toda famiacutelia IPV pela amizade cristatilde

iv

Fizeste-me avanccedilar a largos passos (Sl 1836)

v

SUMAacuteRIO

LISTA DE TABELAS ix

RESUMO x

ABSTRACT xi

1 INTRODUCcedilAtildeO 1

11 Definiccedilatildeo do Problema4 12 Objetivos7

121 Objetivo Geral 7 122 Objetivos Especiacuteficos 7

13 Metodologia 7 2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 12

21 O cooperativismo12 211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas 15 212 O cooperativismo agropecuaacuterio 16 213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de produtores rurais 18

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa22 23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas 25

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO29

31 Accedilatildeo Coletiva29 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos29 312 Dilemas de accedilatildeo coletiva 34 313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo36 314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos 38 315 Dilemas do Cooperativismo 43

32 A Participaccedilatildeo53 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo53 322 A Participaccedilatildeo em cooperativas 58 333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo 62

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema 65 4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO

COOPERATIVISMO72

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas72 42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM 74

421 Estrutura Organizacional76 422 Quadro Social 77 423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo 77 423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam 78 425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos 79 426 Serviccedilos prestados aos associados 80 427 Perfil dos produtores associados da Coolvam 81

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM85 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 113

vi

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA118

APENDICE A126

APENDICE B127

APENDICE C 129

APENDICE D 131

vii

LISTA DE FIGURAS

1 Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada COOLVAM 2008 8

2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em

cooperativas 25

3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de

Mangalocirc71

4 Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas 71

5 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo79

6 Organizaccedilatildeo de Produtores por Estrato Social 80

7 Amostra de produtores por comunidades rurais 81

8 Residecircncia principal de produtores 82

9 Motivo da associaccedilatildeo agrave cooperativa 84

10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios 85

11 Frequumlecircncia de produtores em assembleacuteias86

12 Motivaccedilatildeo para participaccedilatildeo em assembleacuteias 86

13 Liberdade para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade88

14 Liberdade para manifestar em assembleacuteias 88

15 Consideraccedilatildeo sobre a presenccedila em reuniotildees 89

16 Frequumlecircncia que vai agrave sede da cooperativa 89

17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa 91

18 Participaccedilatildeo da famiacutelia em atividades educativas 91

19 Preacute-assembleacuteia com comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de

Minas 92

20 Atendimento a reivindicaccedilotildees pessoais93

21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade 93

22 Informaccedilotildees sobre a cooperativa 94

23 Opiniatildeo sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees 97

24 Participaccedilatildeo em Assembleacuteias 97

25 Interesse de produtores em participar dos oacutergatildeos de gestatildeo 98

26 Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo 99

27 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo

1019

viii

28 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal 101

29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo 102

30 Participaccedilatildeo em outra organizaccedilatildeo coletiva 103

31 Participaccedilatildeo em atividade festiva na comunidade 104

32 Participaccedilatildeo em atividade festiva na cooperativa 104

33 Haacutebito de visitar outros produtores 105

34 Motivaccedilatildeo do produtor em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural 108

ix

LISTA DE TABELAS

1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil22

2 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo 79

3 Organizaccedilatildeo de produtores por estrato social 80

4 Perfil do Produtor82

x

RESUMO

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra MS Universidade Federal de Viccedilosa julho de 2008 Accedilatildeo coletiva em organizaccedilotildees cooperativas um estudo de caso na Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda em Carlos Chagas -MG Orientador Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-Orientadores Nora Beatriz Presno Amodeo e Marcelo Minaacute Dias

Esta dissertaccedilatildeo apresenta uma anaacutelise sobre o processo de participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas agropecuaacuterias tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees que

supostamente levam ao surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido

pela Teoria da Escolha Racional Portanto buscou-se identificar e compreender

estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas e analisar o comportamento de

diferentes grupos existentes nessas organizaccedilotildees e como lidar com a complexa

forma de gestatildeo e controle dadas as dificuldades impostas pelo mercado cada vez

mais exigente e competitivo Por meio de uma discussatildeo fundamentada na literatura

sobre participaccedilatildeo e cooperativismo pode-se associaacute-la agraves discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como aos estudos sobre confianccedila

cooperaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de capital social mostradas como instrumentos potenciais

para soluccedilatildeo dos dilemas de accedilatildeo coletiva

xi

ABSTRACT

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra M Sc Federal University of Viccedilosa July of 2008 Class action in cooperative organizations a study of case in the Cooperative of Laticiacutenios Valley of the Mucuri Ltda in Carlos Chagas - MG Adviser Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-advisers Nora Beatriz Presno Amodeo and Marcelo Minaacute Dias

This dissertation presents an analysis on the process of participation of rural

producers in agricultural cooperatives taking as reference the existent heterogeneity

in the social picture of those organizations that supposedly take to the appearance of

problems of collective action as suggested by the Theory of the Rational Choice

Therefore it was looked for to identify and to understand strategies of collective

action in cooperatives and to analyze the behavior of different existent groups in

those organizations and how to work with the complex administration form and

control given the difficulties imposed more and more by the market demanding and

competitive Through a discussion based in the literature on participation and

cooperativism it can associate it to the concerning discussions to the collective

action and institutions as well as to the studies about trust cooperation and

valorization of social capital shown as potential instruments for solution of the

dilemmas of collective action

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas a abertura econocircmica proporcionou novas

oportunidades e restriccedilotildees de muacuteltiplas naturezas para grande parte da populaccedilatildeo

A sociedade civil tem assumido responsabilidades que antes eram obrigaccedilotildees

majoritariamente do Estado Em vaacuterios setores tem havido diferentes manifestaccedilotildees

de pessoas oriundas de motivaccedilotildees variadas seja na conquista pela terra pelo

teto por menos impostos por melhores estradas alimentos saudaacuteveis enfim as

pessoas tecircm buscado defender de vaacuterias formas melhores condiccedilotildees em seus

meios de vida As organizaccedilotildees se viram em ambientes mais competitivos com

clientes e consumidores mais exigentes por qualidade Eacute nesse cenaacuterio que pessoas

encontram no cooperativismo uma forma para defender seus interesses coletivo e

solidariamente Deste modo no meio rural muitos produtores se fortalecem nas

cooperativas para comercializar sua produccedilatildeo e melhorar tambeacutem suas condiccedilotildees

de vida Neste panorama o presente trabalho apresenta uma anaacutelise sobre o

processo de participaccedilatildeo em cooperativas rurais tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees o que leva ao

surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva

Para fundamentaccedilatildeo conceitual dessa pesquisa optou-se pela Teoria da

Escolha Racional enfatizada por Mancur Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica da

accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas que motivam a

participaccedilatildeo bem como problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a

coerecircncia a eficaacutecia e a atratividade dos grupos nesse processo Dada a

importacircncia da participaccedilatildeo Amman (1980) a apontada como uma estrateacutegia para a

superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Neste contexto sugere que para atingir o

desenvolvimento as pessoas do meio rural devem se unir em grupos de forma a

juntar forccedilas para busca de soluccedilotildees de seus problemas Assim como argumenta

Bordenave (1983) a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o homem

exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si mesmo

tratando-se de uma necessidade humana e por conseguinte um direito das

pessoas Eacute uma praacutetica transformadora e libertadora que leva o indiviacuteduo a discutir

2

analisar e assumir atitudes conforme corrobora Freire (1982) O processo

participativo se materializa em vaacuterias aacutereas portanto para entender como se daacute a

participaccedilatildeo de associados em cooperativas face ao complexo funcionamento

dessas organizaccedilotildees optou-se por estudar o cooperativismo de produtores rurais a

fim de identificar e compreender como se constroem as estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

nessas cooperativas

De forma geral a necessidade de ser economicamente eficiente sem perder a

finalidade social potildee o cooperativismo num dilema onde os desafios estatildeo divididos

entre de um lado sustentar a originalidade proposta por essa forma de organizaccedilatildeo

social cujos princiacutepios se reforccedilam ao resistir a vaacuterias transformaccedilotildees econocircmicas e

sociais ocorridas desde a sua fundaccedilatildeo em meados do seacuteculo XIX e por outro lado

competir no mercado cumprindo as exigecircncias impostas pelo capitalismo no que se

refere agrave eficiecircncia da organizaccedilatildeo e agrave gestatildeo de seus processos

As questotildees sociais estatildeo entre os desafios competitivos de qualquer

empreendimento independente do ramo de atividade ou puacuteblico alvo por isso eacute

crescente o nuacutemero de projetos sociais patrocinados por empresas de diversos

segmentos assim como accedilotildees voltadas para o bem estar da equipe de trabalho As

cooperativas estatildeo inseridas nesse contexto poreacutem sua funccedilatildeo social natildeo deve se

realizar como diferencial competitivo mas como compromisso estatutaacuterio com seus

soacutecios que eacute a razatildeo de ser do cooperativismo Deste modo uma cooperativa eacute

simultaneamente uma associaccedilatildeo de pessoas e uma organizaccedilatildeo econocircmica

Para tanto com o objetivo de atingir sua finalidade social o cooperativismo

tem como base os Princiacutepios Cooperativos (Anexo 1) que satildeo as regras de conduta

(CARNEIRO 1981) linhas orientadoras da praacutetica cooperativista (OCB 2007)

Dentre outros propotildee igualdade no Princiacutepio da Adesatildeo Voluntaacuteria para funcionar

sem discriminaccedilatildeo social e no Princiacutepio da Gestatildeo Democraacutetica a participaccedilatildeo ativa

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas internas e tomada de decisotildees No entanto natildeo haacute uma

efetividade desses princiacutepios se natildeo houver participaccedilatildeo dos associados em suas

respectivas cooperativas

Conforme Braga e Reis (2002) o cooperativismo estaacute presente em quase

todos os paiacuteses do mundo e cerca de 40 da populaccedilatildeo mundial estaacute de alguma

forma ligada a esse movimento Embora no Brasil esse nuacutemero natildeo passe de 10

grande parte dos resultados apresentados pela produccedilatildeo agropecuaacuteria eacute meacuterito das

3

cooperativas Este setor eacute o terceiro em nuacutemero de cooperados Braga e Reis (2002)

estimam um puacuteblico aproximado de seis milhotildees de pessoas envolvidas nesse

segmento considerando cooperados empregados familiares e agregados

Este trabalho teve como objeto de anaacutelise a Cooperativa de Laticiacutenios Vale do

Mucuri Ltda ndash COOLVAM sediada em Carlos Chagas cidade de 24000 habitantes

localizada regiatildeo nordeste do estado de Minas Gerais conhecida entre os

municiacutepios da regiatildeo como ldquocidade do cooperativismordquo assim tambeacutem reconhecida

por outras instituiccedilotildees do mesmo segmento

Atualmente o municiacutepio de Carlos Chagas conta com outras trecircs

cooperativas sendo a Cooperativa de Creacutedito Rural (CREDICAR) a Cooperativa

Educacional (COOEDUCAR) e Cooperativa de Produtos Artesanais de Carlos

Chagas (COOPAC) A Coolvam exerce importante atuaccedilatildeo na organizaccedilatildeo soacutecio-

econocircmica do municiacutepio pois eacute a segunda maior empregadora de matildeo-de-obra o

que demonstra a sua forte participaccedilatildeo na economia local O setor produtivo no

municiacutepio eacute focado essencialmente na agropecuaacuteria principalmente na pecuaacuteria

leiteira que tem na cooperativa uma forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo

principalmente no caso de pequenos produtores rurais Essa conjuntura corrobora a

afirmaccedilatildeo de Graziano da Silva (2000) sobre o cooperativismo como sendo ldquoa uacutenica

forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo dos pequenos produtores rurais em

certos municiacutepiosrdquo

Como forma de organizaccedilatildeo do quadro social funciona haacute dezoito anos o

comitecirc educativo que atua como um oacutergatildeo de assessoria da administraccedilatildeo e dos

cooperados constituiacutedo por um grupo de lideranccedilas que se reuacutenem para identificar e

discutir problemas analisaacute-los e sugerir propostas que atendam aos interesses da

comunidade cooperativista Haacute uma divisatildeo do quadro social em seis comunidades

distribuiacutedas geograficamente na aacuterea de accedilatildeo da COOLVAM onde acontecem

reuniotildees bimestrais com os associados e uma reuniatildeo mensal com as lideranccedilas

das comunidades na sede da Cooperativa Outras formas de contato entre a

administraccedilatildeo e os associados satildeo torneio leiteiro de comunidades realizados

anualmente os dias-de-campo geralmente duas vezes ao ano a veiculaccedilatildeo mensal

do jornal Informativo COOLVAM campanhas de vacinaccedilatildeo e nas assembleacuteias

gerais realizadas nos fins de cada exerciacutecio

4

Considerando a forma estrutural como a COOLVAM lida com os associados

essa cooperativa se qualificaria como exemplo de organizaccedilatildeo cooperativa

conforme aspectos referentes agrave prioridade e importacircncia dadas aos associados e

suas diferenccedilas em relaccedilatildeo a uma sociedade comercial tiacutepica sugerido em

literaturas sobre o relacionamento cooperativa e cooperados Por isso o interesse

desse trabalho se configura em pesquisar como se daacute a participaccedilatildeo em

cooperativas rurais com base na proposta da Teoria da Escolha Racional sobre os

dilemas da accedilatildeo coletiva

A composiccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em quatro capiacutetulos a partir

desta introduccedilatildeo que faz a apresentaccedilatildeo geral da finalidade da pesquisa os

objetivos o problema levantado e a metodologia utilizada para realizaccedilatildeo do

trabalho O primeiro capiacutetulo faz uma apresentaccedilatildeo histoacuterica e do contexto

econocircmico-social que perpassam a construccedilatildeo do cooperativismo e o enfrentamento

de seus dilemas O segundo capiacutetulo eacute composto pelo referencial conceitual e

argumentativo que orienta o trabalho e tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias

e argumentos Inicia-se com uma discussatildeo sobre accedilatildeo coletiva e como se

fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme proposta de Mancur Olson

(1999) que direciona as outras discussotildees do trabalho Na seccedilatildeo seguinte haacute uma

abordagem conceitual e praacutetica sobre participaccedilatildeo Em seguida uma discussatildeo

sobre cooperaccedilatildeo e capital social apresentados como correccedilotildees para os dilemas

de accedilatildeo coletiva

No terceiro capiacutetulo apresenta-se o estudo de caso da COOVAM e a anaacutelise

dos resultados dos questionaacuterios e entrevistas realizadas durante a pesquisa No

quarto e uacuteltimo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo apresentam-se as consideraccedilotildees finais

11 Definiccedilatildeo do Problema

Dados da OCB (2001) citados em Braga e Reis (2002) mostram que cerca de

83 dos associados agraves cooperativas agropecuaacuterias possuem propriedades com

dimensatildeo de ateacute 50 hectares ao passo que pouco mais de 5 satildeo grandes

produtores cujas propriedades satildeo superiores a 500 hectares1 Apesar da

1 Para fins desta pesquisa a referecircncia de grande e pequeno produtor rural teraacute como paracircmetro o volume de produccedilatildeo

5

significativa diferenccedila em nuacutemero de pequenos produtores a dinacircmica das relaccedilotildees

sociais no interior das cooperativas eacute marcada por acentuada diferenciaccedilatildeo social

que beneficia sobretudo grandes produtores em detrimento dos pequenos pois os

grandes produtores conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees dessas

organizaccedilotildees (PEREIRA 2002) Isso eacute retratado em estudos sobre o quadro social

das cooperativas agropecuaacuterias brasileiras onde se verifica grande diferenciaccedilatildeo

soacutecio-econocircmica entre os associados jaacute que as cooperativas abrigam grandes e

pequenos produtores rurais Este fato causa o que Pereira (2002) classifica ldquodilemas

do cooperativismordquo que geram implicaccedilotildees de diversas naturezas tais como

Grupos ou indiviacuteduos que possuem maior informaccedilatildeo maior disponibilidade de tempo e que estatildeo articulados com o poder local geralmente conduzem as cooperativas os associados esperam que as lideranccedilas exerccedilam o papel de tutor ou de bom patratildeo resolvendo seus problemas e trazendo benefiacutecios (PEREIRA 2002 P136)

De acordo com Campanhola e Graziano da Silva (2000) as associaccedilotildees e

cooperativas satildeo formas tradicionais de organizaccedilatildeo dos produtores rurais que

facilitam o seu acesso ao mercado aos programas de fomento oficiais agrave assistecircncia

teacutecnica agraves informaccedilotildees entre outros Teoricamente constituem uma forma

participativa de tomada de decisatildeo partindo-se do princiacutepio de que a uniatildeo dos

produtores nessas organizaccedilotildees os fortalece tanto quanto a sua representatividade

para a participaccedilatildeo em conselhos comitecircs comissotildees bem como no seu poder de

barganha com os setores puacuteblico e privado Do mesmo modo haacute uma importacircncia

social atribuiacuteda a essas organizaccedilotildees que satildeo em certos municiacutepios e regiotildees a

uacutenica forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo obtida por produtores rurais

No entanto essa proposta de accedilatildeo participativa eacute restrita a uma minoria que

geralmente exerce diferentes papeacuteis na comunidade e deste modo consegue ter

maior acesso a diversos benefiacutecios Instala-se tambeacutem uma condiccedilatildeo hieraacuterquica

verificada na sociedade que causa distanciamento entre as organizaccedilotildees

cooperativas e os associados prejudicial ao desenvolvimento econocircmico e social

dos produtores rurais Isto sucinta questionamentos sobre a universalidade dos

princiacutepios do cooperativismo que enfatizam somente os fatores beneacuteficos dessas

organizaccedilotildees sem levar em conta contradiccedilotildees internas das diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas

Tomando como referecircncia as argumentaccedilotildees de Olson (1999) para a anaacutelise

de cooperativas vecirc-se que uma minoria se organiza e conquista posiccedilotildees nas quais

6

conseguem defender interesses proacuteprios Por outro lado grande parte dos

associados principalmente pequenos produtores em maior nuacutemero tecircm dificuldade

em se mobilizar para defesa de seus interesses Baseado nos princiacutepios do

cooperativismo seria de se esperar que as decisotildees tomadas em cooperativas

fossem no sentido de atender aos interesses da maioria dos associados o que nem

sempre ocorre devido agrave concentraccedilatildeo do poder de decisatildeo nas matildeos do pequeno

grupo dominante

A esse respeito Duarte citado em Pereira (2002) destaca que a praacutetica do

cooperativismo tem conferido aos pequenos produtores associados somente a

condiccedilatildeo de usuaacuterios eliminando o seu papel de dono o que enfraquece tanto o

propoacutesito de seus princiacutepios quanto a funccedilatildeo de organizaccedilatildeo para a accedilatildeo coletiva

Dessa maneira conforme sugerido por Ramirez e Berdegueacute (2003) a

compreensatildeo das causas dos ecircxitos e fracassos de estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

deve ser uma fonte de aprendizagem para melhorar as intervenccedilotildees orientadas a

modificar os sistemas de exclusatildeo e promover o desenvolvimento rural sustentaacutevel

Nessa perspectiva a participaccedilatildeo eacute apontada por Amman (1980) como uma

estrateacutegia para a superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Dentro do cooperativismo

conforme Pereira (2000) natildeo satildeo oferecidos mecanismos para diminuir ou amenizar

as diferenccedilas entre os grupos e a heterogeneidade dos associados o que impede

uma efetiva participaccedilatildeo

Portanto conforme mostram os dados oficiais e a literatura haacute falhas das

associaccedilotildees e cooperativas em atender aos interesses da maioria de seus membros

jaacute que muitas dessas passaram a atuar sem a participaccedilatildeo dos seus associados nas

tomadas de decisotildees as quais se apoacuteiam apenas nas opiniotildees de sua

administraccedilatildeo superior (CAMPANHOLA E GRAZIANO DA SILVA 2000)

A partir deste panorama que mostra a dificuldade de participaccedilatildeo de

pequenos produtores nas cooperativas torna-se oportuno questionar sobre a

controveacutersia do cooperativismo ser instrumento criado para esse fim e ao mesmo

tempo permitir um distanciamento entre estes e os que o gerenciam Assim sendo

indaga-se como se constroacutei a participaccedilatildeo no ambiente de cooperativas rurais

tendo em vista a heterogeneidade do quadro social dessas organizaccedilotildees

Deste modo se na proposta do cooperativismo haacute um diferencial que eacute a

ecircnfase dada agrave igualdade de participaccedilatildeo dos associados cabe questionar sobre as

7

dificuldades das pessoas que natildeo participam assim como os motivos que levam

outros a participar

12 Objetivos

121 Objetivo Geral

Verificar as dificuldades de participaccedilatildeo em cooperativas e a heterogeneidade

relacionada agraves diferenccedilas sociais existentes no quadro social que levam a

problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido pela Teoria da Escolha Racional

utilizando o estudo de caso da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM no municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG

122 Objetivos Especiacuteficos

a Identificar e compreender estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas

b Identificar mecanismos que dificultam a participaccedilatildeo de pequenos produtores rurais associados a cooperativas rurais para o desenvolvimento local

c Analisar o processo de participaccedilatildeo dos diferentes grupos existentes em cooperativas

13 Metodologia

Para conduccedilatildeo desta pesquisa utilizou-se o meacutetodo qualitativo por meio de

estudo de caso Neste meacutetodo segundo Tivinotildes citado em Alencar (2000) as

posiccedilotildees qualitativas baseiam-se especialmente em dois enfoques especiacuteficos o de

compreender e analisar a realidade

Um enfoque eacute o compreensivista o outro eacute o critico participativo com visatildeo histoacuterico-estrurtural e se fundamenta na dialeacutetica da realidade social que parte da necessidade de conhecer a realidade atraveacutes de percepccedilatildeo reflexatildeo e intuiccedilatildeo para transformaacute-la em processos contextuais e dinacircmicos (ALENCAR 2000 p69)

Jaacute o estudo de caso em particular

8

Propotildee-se a investigar um fenocircmeno contemporacircneo em seu contexto real onde os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo satildeo claramente percebidos por meio do uso de muacuteltiplas fontes de evidecircncias como entrevistas arquivos documentos observaccedilatildeo etc (Yin 1989 citado em Lazzarini 1999 P6)

Portanto a realizaccedilatildeo deste estudo teve como referecircncia empiacuterica produtores

rurais associados agrave Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda ndash Coolvam no

municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG onde se buscou coleta de dados e informaccedilotildees

realizadas por meio de aplicaccedilatildeo de questionaacuterios e entrevistas semi-estruturadas

Os questionaacuterios foram elaborados com questotildees estruturadas de perguntas

e respostas padronizadas e questotildees semi-estruturadas exatamente como sugere

Alencar (2000) nas questotildees semi-estruturadas as perguntas satildeo padronizadas

mas as respostas ficam a criteacuterio do entrevistado ou seja eacute o seu discurso

A populaccedilatildeo para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios foi escolhida por amostragem

probabiliacutestica estratificada neste caso

O universo eacute subdividido (estratificado) em grupos mutuamente exclusivos escolhendo-se uma amostra probabiliacutestica simples de cada estrato A amostragem estratificada conduz a estimativas mais ldquoverdadeirasrdquo do que as obtidas por outros meacutetodos jaacute que eacute interessante conhecer caracteriacutesticas do universo o que ela revela mais claramente (ALENCAR 2000 p64)

A pesquisa foi desenvolvida no periacuteodo entre os anos de 2006 e 2008 sendo

que o trabalho de campo foi realizado durante o mecircs de Janeiro de 2008 Foram

aplicados 62 questionaacuterios Foi possiacutevel conforme planejado envolver a populaccedilatildeo

de 20 dos produtores associados agrave Cooperativa estudada Dos diferentes estratos

de associados ou seja do total de 176 pequenos produtores foram entrevistados

35 do total de 58 meacutedios produtores foram aplicados 17 e aos 35 grandes

produtores foram aplicados sete questionaacuterios

173

35

58

12

35

7

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Pequenos (0 a 200 lts) Meacutedios (201 a 499 lts) Grandes (Mais de 500 lts)

Associados Entrevistados

Figura 01 ndash Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada Coolvam 2008

A aplicaccedilatildeo de questionaacuterios foi feita durante o periacuteodo da pesquisa em dois

pontos escolhidos pelo pesquisador na Farmaacutecia Veterinaacuteria da Coolvam e na

Cooperativa de Creacutedito Rural O primeiro foi considerado um local apropriado pois

diariamente agraves sete horas da manhatilde os produtores passam para comprar insumos

para levar agraves fazendas Aproveitou-se da constante presenccedila de associados para

serem abordados e aplicar os questionaacuterios Neste local foi solicitado autorizaccedilatildeo

da gerente da loja para permanecircncia da pesquisadora

O outro local a Credicar considerado ldquoponto de encontro dos produtoresrdquo

Neste lugar foi solicitado ao gerente da agecircncia um espaccedilo para aplicaccedilatildeo dos

questionaacuterios Este autorizou utilizaccedilatildeo de uma mesa com cadeiras ficando um

lugar restrito e apropriado para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios Desta forma agrave medida

que chegavam os produtores eram abordados O maior nuacutemero de questionaacuterios foi

aplicado no dia do pagamento do leite 20 de janeiro de 2008 pois esta foi a data de

maior concentraccedilatildeo de produtores na cidade

Em nuacutemero menor alguns questionaacuterios foram aplicados nas propriedades

rurais nestes casos o pesquisador foi ateacute as propriedades de produtores indicados

durante a aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os demais na cidade Foi possiacutevel visitar

propriedades de estratos diferentes (pequenos meacutedios e grandes) o que permitiu

ao pesquisador vivenciar estilos de vida proacuteprios de cada um

9

10

A maioria dos questionaacuterios foi aplicada pessoalmente pela pesquisadora aos

produtores possibilitando observar e registrar comentaacuterios adicionais Alguns foram

preenchidos pelos proacuteprios produtores Nestes casos eles eram orientados a fazer

os comentaacuterios nas questotildees

Para obter informaccedilotildees e percepccedilotildees de associados participantes da gestatildeo

da cooperativa foram feitas sete entrevistas semi-estruturadas com o presidente

trecircs conselheiros administrativos dois conselheiros fiscais e dois membros do

comitecirc educativo

As entrevistas semi-estruturadas foram adotadas por serem consideradas

mais apropriadas nas pesquisas em que a compreensatildeo de atitudes ideacuteias e accedilotildees

satildeo relevantes conforme as vantagens classificadas por Alencar (2000)

Estaacute centrada em torno de toacutepicos a serem cobertos durante a entrevista os quais natildeo chegam a assumir a forma de questotildees estruturadas natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo ao aprofundamento dos toacutepicos por meio de questotildees que emergem durante a realizaccedilatildeo da entrevista (ALENCAR 2000 P63)

Algumas entrevistas foram gravadas quando autorizadas pelos entrevistados

e outras foram apenas registradas no caderno de campo respeitando a vontade do

respondente Percebeu-se que o gravador eacute um aparelho que intimidou o falar

portanto por sugestatildeo de entrevistados eram feitas anotaccedilotildees das respostas e em

seguida fazia-se a leitura para confirmaccedilatildeo das falas do entrevistado Aproveitou-se

desse recurso tambeacutem para anotaccedilotildees durante a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio para

registrar as percepccedilotildees a partir das observaccedilotildees da pesquisadora

Durante a sistematizaccedilatildeo dos dados das entrevistas optou-se por natildeo

identificar o entrevistado por isso todas as falas seratildeo identificadas pela funccedilatildeo do

entrevistado Nos questionaacuterios aplicados para resguardar individualidade e obter

informaccedilotildees com maior niacutevel de veracidade natildeo foi identificado o respondente Mas

para identificar as respostas dos diferentes estratos todos os questionaacuterios foram

codificados com nuacutemero e a letra que indica o grupo do associado No entanto na

apresentaccedilatildeo dos resultados utiliza-se como identificaccedilatildeo do respondente o seu

estrato social idade e o ano da pesquisa

Utilizou-se tambeacutem a pesquisa bibliograacutefica e documental No primeiro caso

recorreu-se a trabalhos teoacutericos sobre o assunto em questatildeo e levantamento de

dados secundaacuterios Quanto agrave pesquisa documental foram analisadas atas de

assembleacuteias dos uacuteltimos 5 anos sendo que as atas das Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias compreendeu o periacuteodo de 2002 a 2007 e as atas de Assembleacuteias

11

Gerais Extraordinaacuterias no periacuteodo de 1996 a 2007 jaacute que estas acontecem em

menos frequumlecircncia Outras atas analisadas foram de reuniotildees das comunidades

rurais no mesmo periacuteodo Seguiu-se leitura de Informativos e outros jornais da

cidade com o objetivo de verificar informaccedilotildees sobre a cooperativa e participaccedilatildeo

de associados em suas atividades assim como a participaccedilatildeo da cooperativa em

accedilotildees na comunidade

Portanto a busca do entendimento sobre como ocorre a participaccedilatildeo do

quadro social nas atividades desenvolvidas por essas organizaccedilotildees fundamentou-

se na literatura sobre participaccedilatildeo e cooperativismo para associaacute-las a discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como estudos sobre a construccedilatildeo e

valorizaccedilatildeo de capital social interesse e individualismo cooperaccedilatildeo e confianccedila

Todos esses conceitos foram portanto utilizados na compreensatildeo sobre as

relaccedilotildees sociais e interesses individuais que influenciam a decisatildeo de participar ou

natildeo de accedilotildees coletivas

12

2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 21 O cooperativismo Este capiacutetulo retrata a origem do cooperativismo o desenvolvimento e

classificaccedilatildeo dos ramos de atividade enfatizando o cooperativismo agropecuaacuterio de

leite com apresentaccedilatildeo da conjuntura e evoluccedilatildeo das organizaccedilotildees cooperativas

desse segmento seu posicionamento mediante o esforccedilo de sobrevivecircncia e

atuaccedilatildeo no mercado cada vez mais competitivo aleacutem dos desafios pertinentes agrave sua

firmeza no compromisso com a funccedilatildeo social

As cooperativas satildeo formas de accedilotildees coletivas organizadas por pessoas que

reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviccedilos para o exerciacutecio de

uma atividade econocircmica de proveito comum sem objetivo de lucro (MONEZI 2004

e SEBRAE 2003) Satildeo caracterizadas por Pinho (1977) como ldquoempresas de

autogestatildeordquo cujo nuacutemero estaacute diretamente relacionado com a satisfaccedilatildeo das

ilimitadas necessidades dos homens e consequentemente com a complexidade do

meio econocircmico no conceito de Bialoskorski Neto (2007) cooperativas satildeo

estruturas intermediaacuterias formadas a partir da accedilatildeo coletiva situadas entre as

economias particulares dos cooperados por um lado e o mercado por outro

O Cooperativismo portanto eacute um movimento filosofia de vida e modelo

socioeconocircmico capaz de unir desenvolvimento econocircmico e bem-estar social

(OCB 2007) A origem do cooperativismo estaacute na cooperaccedilatildeo presente nas

relaccedilotildees humanas e reconhecida como uma praacutetica milenar Mas o corolaacuterio do

princiacutepio cooperativo (Co-operation) como doutrina nasceu de Robert Owen um

visionaacuterio social que criou a concepccedilatildeo de uma nova forma de vida social assim

como descreve Carneiro (1981)

Owen postulava que a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos como ele adiantou de sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO 1981 p72)

Contudo a concretizaccedilatildeo do cooperativismo emergiu de uma reaccedilatildeo popular

agraves condiccedilotildees degradantes de produccedilatildeo e vida em meados do seacuteculo XIX em meio agrave

Revoluccedilatildeo Industrial Tem seu marco em 21 de dezembro de 1844 no bairro de

Rochdale em Manchester Inglaterra como resultado da uniatildeo de 27 tecelotildees e

uma tecelatilde que se reuniram e fundaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de

13

Rochdale depois de uma economia mensal de uma libra de cada participante

durante um ano Naquele momento a constituiccedilatildeo de uma pequena cooperativa de

consumo no entatildeo chamado Beco do Sapo (Toad Lane) estaria mudando os

padrotildees econocircmicos da eacutepoca e dando origem ao movimento cooperativista (OCB

2007)

Tendo o homem como principal finalidade - e natildeo o lucro os tecelotildees de

Rochdale buscavam naquele momento uma alternativa econocircmica para atuarem no

mercado frente ao modelo capitalista que os submetiam a preccedilos abusivos

exploraccedilatildeo da jornada de trabalho de mulheres e crianccedilas (que trabalhavam ateacute

dezesseis horas por dia) e do desemprego crescente advindo da Revoluccedilatildeo

Industrial (SESCOOP 2007)

Daiacute em diante vaacuterios movimentos surgiram em todos os pontos do mundo As

cooperativas como organizaccedilotildees similares agraves que conhecemos rapidamente

comeccedilaram a se multiplicar natildeo soacute em extensatildeo geograacutefica mas tambeacutem

setorialmente (Amodeo 2001) No Brasil conforme Schneider (1999) haacute

constataccedilatildeo de que antes e durante o periacuteodo colonial e especialmente durante o

periacuteodo do Impeacuterio houveram vaacuterias experiecircncias associativas entre africanos

foragidos e nas ldquoconfrarias de negrosrdquo A primeira cooperativa de produccedilatildeo

agropecuaacuteria foi criada em 1847 numa colocircnia no Paranaacute (COOPERFORTE 2008)

Em Minas Gerais foi formalizada a Sociedade Cooperativa Econocircmica dos

Funcionaacuterios Puacuteblicos de Ouro Preto no ano de 1889 (OCB 2007) Entretanto a

experiecircncia de cooperaccedilatildeo econocircmica e social no modelo rochdaleano se originou

com a implantaccedilatildeo das primeiras cooperativas de consumo em 1891 em Limeira

Satildeo Paulo

De modo geral as cooperativas satildeo orientadas pelos Princiacutepios do

Cooperativismo (Anexo I) que satildeo as normas regulamentadoras e tecircm impliacutecito os

valores que regem todas as organizaccedilotildees cooperativistas Esses valores que

norteiam as cooperativas satildeo a ajuda e responsabilidade proacuteprias democracia

igualdade equidade e solidariedade Pela tradiccedilatildeo dos seus fundadores os

membros das cooperativas devem acreditar nos valores eacuteticos da honestidade

transparecircncia responsabilidade social e preocupaccedilatildeo pelos outros (ACI 2003)

14

Os princiacutepios cooperativistas vistos isoladamente pouco expressam mas

tomados em bloco segundo Schneider (1999) apresentam uma grande loacutegica

coerecircncia interna e uma grande eficaacutecia dessas organizaccedilotildees

Neste trabalho dois dentre os sete princiacutepios satildeo o alvo das discussotildees o

princiacutepio da adesatildeo voluntaacuteria e livre e o princiacutepio da gestatildeo democraacutetica a saber

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica (OCB 2007335)

Essa escolha se justifica porque satildeo estes os princiacutepios que mais diretamente

sustentam a forma de participaccedilatildeo dos membros associados em organizaccedilotildees

cooperativas

O movimento cooperativista mundial eacute coordenado pela Alianccedila Cooperativa

Internacional (ACI) que segundo Schneider (1999) tem a responsabilidade de

adequar os Princiacutepios Cooperativistas a uma realidade econocircmica e social em

evoluccedilatildeo com o compromisso de fidelidade aos valores fundamentais da

cooperaccedilatildeo Portantoeacute um oacutergatildeo representativo dos diversos paiacuteses que mantem e

regulamenta esses princiacutepios Contudo as normas fundamentais baseadas no

Estatuto de Rochdale satildeo utilizadas ateacute os dias de hoje no sistema cooperativista

buscando enfrentar a dinacircmica da desigualdade socioeconocircmica persistente em

vaacuterios setores da sociedade

O oacutergatildeo maacuteximo de representaccedilatildeo das cooperativas no paiacutes eacute a Organizaccedilatildeo

das Cooperativas Brasileiras (OCB) responsaacutevel pela promoccedilatildeo fomento e defesa

do sistema cooperativista em todas as instacircncias poliacuteticas e institucionais (OCB

2007) Eacute de sua responsabilidade tambeacutem a preservaccedilatildeo e o aprimoramento desse

sistema Jaacute em acircmbito estadual existem as OCEs que satildeo as Organizaccedilotildees

Cooperativas Estatuais num total de 27 unidades que passaram a ser os agentes

poliacuteticos e representativos que zelam e divulgam a doutrina cooperativista em seus

respectivos estados

15

A legislaccedilatildeo cooperativista regulamenta um nuacutemero miacutenimo de vinte pessoas

para constituiccedilatildeo de uma cooperativa Embora os princiacutepios primitivos de Rocdale

reafirmavam a livre adesatildeo estes fixavam provisoriamente um limite de 250

associados (Schneider 1999) Nesse aspecto houve evoluccedilatildeo para o caraacuteter

indiscriminativo de participaccedilatildeo pois o princiacutepio da livre adesatildeo natildeo impotildee nenhum

limite em nuacutemero de associados No entanto analogamente conforme exposto na

teoria dos grupos agrave medida que organizaccedilotildees cooperativas crescem em nuacutemero de

associados aumentaraacute tambeacutem as dificuldades de se organizar e defender os

interesses individuais dos seus membros

Em face dessa evoluccedilatildeo conforme Tauk Santos e Lima (2004) na dinacircmica

da cooperativa em relaccedilatildeo ao ambiente externo haacute desafios tanto para a

participaccedilatildeo do indiviacuteduo quanto a sua capacidade de delegar poder ao coletivo

Estes desafios satildeo assim classificados por esses autores

a)o desafio dos valores cooperativos que eacute reagrupar pessoas que tenham uma necessidade comum em um projeto segundo os valores do cooperativismo b) o desafio da relaccedilatildeo de uso refere-se agraves vantagens cooperativas de seus membros c) o desafio do desenvolvimento da coletividade oferecer melhores produtos e serviccedilos aos membros promovendo o desenvolvimento harmonioso da comunidade d) o desafio daldquoeducaccedilatildeo cooperativa que daacute ecircnfase agraves diferenccedilas cooperativas seus papeacuteis e suas responsabilidades no sentido de manter uma coesatildeo no seu desenvolvimento e) e finalmente o desafio do serviccediloproduto materializado no esforccedilo de ofertar um produto ou serviccedilo no quadro de desenvolvimento cooperativo ressaltando as vantagens em relaccedilatildeo ao desenvolvimento tradicional (TAUK SANTOS E LIMA 2004 p3)

Mas o desafio ainda maior eacute assegurar a identidade cooperativa com a

vitalidade dos princiacutepios colocados como condicionantes agraves organizaccedilotildees

cooperativas Dessa forma as cooperativas seguem superando as modificaccedilotildees e

constante evoluccedilatildeo nos diversos segmentos da sociedade com vistas ao

crescimento em seu ramo de atividade

211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas

Uma caracterizaccedilatildeo para identificaccedilatildeo das cooperativas eacute a classificaccedilatildeo por

ramos de atividades conforme os segmentos de atuaccedilatildeo No Brasil a OCB os dividiu

em treze onde estatildeo agrupados um nuacutemero de 7518 cooperativas com 6791054

associados e a respectiva geraccedilatildeo de aproximadamente 200000 empregos Em

todos os ramos natildeo eacute difiacutecil encontrar modelos e exemplos de sucesso de

16

empreendimentos cooperativos que se tornaram gigantes na economia nacional e

mundial a exemplo o reconhecimento da Mondragoacuten Corporacioacuten Cooperativa ndash

MCC frequentemente citada como modelo de sucesso de cooperativismo

a MCC reuacutene 104 cooperativas e estaacute estruturada em trecircs grandes grupos financeiroindustrial e distribuiccedilatildeo aleacutem de contar com onze centros de pesquisa e desenvolvimento uma universidade e um centro de formaccedilatildeo cooperativa e empresarial ndash Otalora O grupo industrial eacute sub dividido em (automotivo componentes construccedilatildeo equipamentos industriais eletrodomeacutesticos moacuteveis e bens de capital)Com sede no paiacutes Basco Espanha a MCC eacute 7ordm maior grupo econocircmico espanhol (AZEVEDO 2007 p2)

Essa conjuntura ilustra o que faz cada vez mais cooperativas planejarem

crescimento para atender competitivamente os desafios e demandas de mercado

Nesse sentido mesmo quando globalizadas devem teoricamente ser fieacuteis agrave missatildeo

do cooperativismo com seus soacutecios ainda que atuem de forma corporativa como as

empresas tradicionais em locais distantes de seus cooperados Contudo da certeza

da importacircncia e resultados do cooperativismo visto a dimensatildeo que essas

organizaccedilotildees tecircm tomado natildeo haacute duvida de que seja difiacutecil manter racionalmente a

fidelidade aos princiacutepios e atuar com a participaccedilatildeo ativa dos cooperados diante da

complexidade de accedilotildees exigida por esse direcionamento

Tomadas essas proporccedilotildees eacute crescente tambeacutem a necessidade de

profissionais competentes em diferentes aacutereas para participarem da elaboraccedilatildeo de

metas e defesa dos interesses da organizaccedilatildeo cooperativa conforme descreve

Amodeo (2001)

Os apelos para profissionalizar a gestatildeo e buscar melhorar a competitividade podem ser considerados o eixo que orienta as transformaccedilotildees recentes das cooperativas (AMODEO 2001 p11)

Surge em resposta ao atendimento dessa necessidade uma complexa

estrutura de gestatildeo se visualizar que dentre as diferentes aacutereas em que o

movimento cooperativista atua elas cumprem papeacuteis distintos em todas as fases de

um processo de produccedilatildeo quais sejam nas funccedilotildees de fornecedoras ou

consumidoras e transformadoras de bens ou serviccedilos Nesse aspecto o ramo

agropecuaacuterio eacute um dos mais complexos do segmento cooperaivista

212 O cooperativismo agropecuaacuterio

Os trabalhadores pioneiros de Rochdale visualizaram nas cooperativas uma

forma de propiciar ajuda muacutetua entre eles Do mesmo modo os produtores rurais

17

esperam no cooperativismo agropecuaacuterio um meio de apoacuteia-los no enfrentamento

dos inuacutemeros desafios desse segmento

No Brasil o Ramo Agropecuaacuterio tem o maior nuacutemero de cooperativas em

torno de 1514 com 879918 associados e maior gerador de emprego com

aproximadamente 124000 empregados o que define sua importacircncia em

participaccedilatildeo no desenvolvimento econocircmico do paiacutes Este ramo eacute caracterizado pela

OCB da seguinte forma

O Ramo Agropecuaacuterio eacute definido por cooperativas formadas por produtores rurais e tecircm como finalidade organizar a produccedilatildeo dos seus associados em maior escala garantindo um melhor preccedilo na comercializaccedilatildeo de seus produtos Visa tambeacutem integrar e orientar suas atividades bem como facilitar a utilizaccedilatildeo reciacuteproca dos serviccedilos como adquirir insumos dividir custos de assistecircncia teacutecnica difundir o uso de novas tecnologias produtivas comercializar a produccedilatildeo e em muitos casos beneficiar e industrializar as mateacuterias-primas eliminando o atravessador e vendendo a produccedilatildeo dos cooperados diretamente ao consumidor (OCB 2007 p334)

Das accedilotildees desenvolvidas pelas cooperativas no segmento agropecuaacuterio as

mais comuns conforme Amodeo (2001) satildeo venda de insumos (fertilizantes

sementes agrotoacutexicos etc) ferramentas e maquinaria agriacutecola pesquisa e

assistecircncia teacutecnica aos produtores processamento industrializaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da

produccedilatildeo exportaccedilatildeo classificaccedilatildeo padronizaccedilatildeo e embalagem de produtos in

natura serviccedilos de creacuteditos seguros e administraccedilatildeo

Segundo Amodeo (2001) eacute na interface entre a agricultura e a induacutestria que

as cooperativas agropecuaacuterias crescem a montante e a jusante a fim de obter

melhores resultados para os seus cooperados na medida em que paralelamente

satildeo intensificados os processos de modernizaccedilatildeo da agricultura tanto na induacutestria

de insumos ou bens para a agricultura quanto na induacutestria que compra a oferta

agriacutecola para o seu processamento e distribuiccedilatildeo

Os produtores rurais tambeacutem satildeo pressionados nessa mesma direccedilatildeo e eacute por

meio da mediaccedilatildeo dessas cooperativas que as demandas por especializaccedilatildeo de

produtores vecircm sendo atendidas principalmente no grupo dos pequenos Os

processos produtivos no campo estatildeo cada vez mais pautados nas particularidades

dos processos industriais Daiacute a amplitude do cooperativismo agropecuaacuterio pois

participa do desenvolvimento e especializaccedilatildeo da produccedilatildeo de seus associados

transferindo tecnologia melhorando a renda e possibilitando o desenvolvimento

rural

18

Deste modo eacute grande o nuacutemero de atividades econocircmicas abrangidas pois

conforme a OCB (2007) essas cooperativas geralmente cuidam de toda a cadeia

produtiva desde o preparo da terra ateacute a industrializaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos

produtos De modo geral conforme Braga e Reis (2002) as cooperativas de

produtores tem desempenhado importante papel na fixaccedilatildeo do homem no campo e

na distribuiccedilatildeo de renda O resultado econocircmico portanto eacute a significativa

participaccedilatildeo na economia Conforme a OCB (2008) cooperativas agropecuaacuterias

movimentam cerca de 6 do PIB nacional e tecircm uma participaccedilatildeo entre 35 a 40

no PIB agriacutecola

Desde o iniacutecio dos anos 90 as cooperativas sofreram fortes impactos

macroeconocircmicos conforme registros de Lopes et alli (2002) estabilizaccedilatildeo

econocircmica com o Plano Real abertura comercial acelerada desregulamentaccedilatildeo dos

mercados agriacutecolas e imposiccedilotildees de maior disciplina fiscal Nesse cenaacuterio a

consolidaccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio na economia brasileira conforme

OCB (2007) foi resultado do esforccedilo de produtores pela modernizaccedilatildeo do sistema

incorporaccedilatildeo de tecnologia agraves suas atividades e profissionalizaccedilatildeo da gestatildeo Essa

postura vem permitindo que cooperativas permaneccedilam atuando no mercado

competitivamente

Deste modo a dinacircmica de operacionalizaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees vai aleacutem

das intenccedilotildees que estavam impliacutecitas no desejo de associaccedilatildeo que impulsionou o

surgimento das cooperativas Eacute nessa perspectiva que as cooperativas de laticiacutenios

atuam Portanto a seccedilatildeo seguinte tem a finalidade de demonstrar o que vem

ocorrendo na evoluccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a atuaccedilatildeo dos

produtores rurais no setor

213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de

produtores rurais

Para se ter a dimensatildeo e extensatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite

dentro da economia global apresenta-se as perspectivas atuais e futuras dessas

cooperativas no mercado face ao cenaacuterio dos resultados desse segmento Para isso

recorreu-se a estudos sobre o setor leiteiro pois esta atividade eacute a maior geradora

de emprego no mercado nacional de trabalho e responsaacutevel por grande parte da

fixaccedilatildeo e sobrevivecircncia de famiacutelias no meio rural

19

Em muitos paiacuteses a participaccedilatildeo das cooperativas na captaccedilatildeo de leite eacute

relativamente alta chegando a 80 na Austraacutelia 83 na Holanda e EUA mais de

95 na Nova Zelacircndia (Chaddad 2004) e na Iacutendia sede do maior movimento

cooperativo do mundo 94 dos laticiacutenios provecircm de cooperativas (Amodeo 2001)

Nesse cenaacuterio o crescimento dessas organizaccedilotildees natildeo tem ficado restrito a

uma atuaccedilatildeo no mercado local na funccedilatildeo de intermediar o produtor rural As

cooperativas tecircm apresentado um crescimento cada vez mais acelerado e

conseguido atuar na economia mundial haja vista alguns exemplos de grandes

cooperativas de leite reconhecidas neste setor

Fonterra liacuteder absoluta no mercado da Nova Zelacircndia com mais de 95 do leite do paiacutes (14 bilhotildees de litrosano) a cooperativa mais globalizada do mundo() seu lema eacute nossa casa eacute o mundordquo controla hoje cerca de 30 do mercado internacional de laacutecteos possui alianccedilas em diversos continentes inclusive com potenciais concorrentes

Arla Foods eacute a maior cooperativa de laticiacutenios da Europa com cerca de 84 bilhotildees de litros anuais Foi a primeira grande fusatildeo entre cooperativas transnacionais a sueca Arla e a dinamarquesa MD Foods Apesar do porte gigantesco sabe que precisa crescer mais precisa olhar para aleacutem de suas fronteiras europeacuteias (CARVALHO 2008 P1)

A Cooperativa Daiy Farmers of Ameacuterica (DFA) participa de treze joint-ventures com empresas americanas e multinacionais visa ganhar competitividade num mercado global por meio de raacutepido reposicionamento (MARTINS ET ALLI 2004 P 58)

Nesse segmento o Brasil eacute o sexto maior produtor mundial de leite

entretanto ainda haacute uma baixa participaccedilatildeo de cooperativas na captaccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo deste produto Conforme Chaddad (2004) no paiacutes essa

participaccedilatildeo estaacute em torno de 22 da captaccedilatildeo do volume total do leite produzido e

40 do leite comercializado no mercado formal ou seja captado por laticiacutenios

legalmente inspecionados

Grandes mudanccedilas tecircm ocorrido em torno das cooperativas de laticiacutenios

brasileiras Recentemente importantes decisotildees foram registradas para assumir

formatos que sejam competitivos entre cooperativas e entre outras empresas A

Itambeacute - Cooperativa Central de Produtores Rurais de Minas Gerais eacute um exemplo

da importacircncia crescente das cooperativas na economia nacional

A Itambeacute eacute a maior cooperativa brasileira de laticiacutenios quer ampliar sua linha de produtos expandir a atuaccedilatildeo no mercado interno e aos poucos aumentar as exportaccedilotildees Com 58 anos de atividade a cooperativa alcanccedilou faturamento bruto de 13 bilhotildees de reais em 2005 Satildeo 8 000 produtores rurais cadastrados na cooperativa responsaacuteveis pelo fornecimento diaacuterio de 27 milhotildees de litros de leite (OCEMG 2008 P1)

20

Por outro lado a Cooperativa do Vale do Rio Doce (Cooperriodoce) a maior

cooperativa regional no leste de Minas Gerais recentemente teve seu parque

industrial vendido para Parmalat um grupo privado

Este cenaacuterio ilustra o desafio das cooperativas em permanecer no mercado

frente agrave missatildeo que desempenham como promotoras de desenvolvimento social

Em artigo com o tiacutetulo ldquoo capital encontrou o leiterdquo Carvalho (2008) mostra como

empresas de outros ramos tecircm investido no setor de laticiacutenios o que ameaccedila

diretamente as cooperativas

A compra dos Laticiacutenios Morrinhos dona da marca LeitBom pela GP investimentos natildeo deixa mais duacutevidas o capital finalmente descobriu o leite Em meio a uma onda de aquisiccedilotildees protagonizadas pela Laep (Parmalat) Perdigatildeo Bom Gosto e Liacuteder nada mais emblemaacutetico para representar a corrida ao leite do que a investida de um grupo conhecido pela sua habilidade de multiplicar o capital dos negoacutecios em que investe

O ponto eacute que se trata de uma inovaccedilatildeo consideraacutevel feita por quem chega de fora olha para o setor sem os vieses criados por quem jaacute estaacute nele haacute tempos e faz perguntas que os participantes tradicionais com suas posiccedilotildees de lideranccedila natildeo precisam fazer essa descoberta traz ameaccedilas ainda maiores para as cooperativas(CARVALHO 2008 p1)

O extrato da entrevista transcrito a seguir ilustra uma preocupaccedilatildeo da

lideranccedila da cooperativa objeto deste estudo no que se refere a perspectivas de

longo prazo quanto agrave sua sobrevivecircncia

Temos a necessidade para os proacuteximos 10 anos muito grande de crescer de unir Vem crescendo mas ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao mundo globalizado precisa unir jaacute fez incorporaccedilatildeo de Satildeo Domingos do Prata precisa juntar mais cooperativas ser forte para disputar mercado Se natildeo crescer com outras cooperativas se natildeo acontecer uma uniatildeo de cooperativas vai sair de circulaccedilatildeo (Diretor Presidente COOLVAM 2008)

Desse mesmo modo a preocupaccedilatildeo quanto agrave continuidade e sobrevivecircncia eacute

comum nas pequenas cooperativas devido principalmente agrave pressatildeo que sofrem do

mercado na comercializaccedilatildeo de produtos pois concorrem com cooperativas maiores

e com grandes empresas privadas

Esse quadro vem progredindo desde a deacutecada de 90 com a abertura de

mercado onde a entrada de produtos como o leite tiveram condiccedilotildees de

financiamento mais favoraacuteveis do que nas induacutestrias nacionais que foram obrigadas

a reduzir preccedilos (FAVERET FILHO 2002) Nesse periacuteodo milhares de produtores

abandonaram a atividade e empresas regionais e cooperativas fecharam ou foram

vendidas

21

Conforme Faveret Filho (2002 p240) tais mudanccedilas levaram empresas a

buscar mecanismos de aumento da eficiecircncia produtiva Portanto haacute grandes

desafios para as cooperativas de laticiacutenios brasileiras principalmente as pequenas

cooperativas em atuar nesse mercado Eacute por esse motivo que a forma de conduzi-

las eacute discutida em diferentes perspectivas Sob o ponto de vista de Chaddad (2004)

o desempenho dessas organizaccedilotildees se daacute em funccedilatildeo de

poliacutetica agriacutecola regulamentaccedilatildeo do setor leiteiro barreiras agrave importaccedilatildeo de leite e derivados estrutura do setor produtivo poliacuteticas de apoio a organizaccedilotildees cooperativas niacutevel tecnoloacutegico e educacional dos produtores e ambiente institucional entre outros (CHADDAD 2004 p36)

Outro trabalho realizado com cooperativas de leite de outros paises identificou

pontos comuns indicados como responsaacuteveis pelo sucesso dessas organizaccedilotildees

Consolidaccedilatildeo por meio de fusotildees e incorporaccedilotildees

Alianccedilas estrateacutegicas

Sistema profissional e representativo de governanccedila corporativa

Estrutura centralizada

Esforccedilos de fidelizaccedilatildeo do cooperado

Novos mecanismos de capitalizaccedilatildeo

Estrateacutegia competitiva alinhada com estrutura corporativa

(CHADDAD 2004 p37) Esses pontos corroboram Faveret Filho (2002) ao mostrar que mudanccedilas no

ambiente competitivo devido agrave globalizaccedilatildeo e avanccedilos tecnoloacutegicos forccedilam as

cooperativas a buscar ganhos de eficiecircncia a fim de natildeo perder relevacircncia no

mercado Segundo Chaddad (2004) essa busca resultou em alianccedilas estrateacutegicas

com outras cooperativas ou mesmo com empresas privadas O termo alianccedila

estrateacutegica expressa a decisatildeo de uma ou mais empresas cooperarem para atingir

objetivos comuns Para Lewis citado em Rola e e Sobral (2002) numa alianccedila

estrateacutegica as empresas cooperam em nome de suas necessidades muacutetuas e

compartilham os riscos para alcanccedilar um objetivo comum

Todos os pontos indicados para o sucesso das cooperativas de lacticiacutenios

devem ser cuidadosamente discutidos e avaliados para adequada aplicaccedilatildeo

conforme a realidade de cada cooperativa Para isso os gestores devem ter uma

visatildeo ampla da organizaccedilatildeo e conhecer o ambiente onde a empresa estaacute inserida

(SANTOS 2000) Deste modo o planejamento e execuccedilatildeo de diferentes formas de

22

atuaccedilatildeo do cooperativismo frente agrave conjuntura apresentada passam a ser a busca

pelo aperfeiccediloamento das ferramentas de gestatildeo Isso exige dos dirigentes assim

como dos soacutecios conhecimento e constante aperfeiccediloamento

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa

Na operacionalizaccedilatildeo das atividades gerenciais da cooperativa assim como

em outro tipo de empresa o corpo diretivo deve estar atento aos objetivos

especiacuteficos agrave missatildeo da organizaccedilatildeo Isso facilita a busca do consenso e

potencializa os esforccedilos das partes em benefiacutecio do todo (Santos 2000)

Deste modo para que as tomadas de decisotildees sejam compartilhadas de

forma oportuna e adequada na cooperativa os dirigentes e associados devem ter

claro seu papel no processo administrativo

A tabela 01 que segue mostra as diferenccedilas tiacutepicas entre uma empresa

mercantil e uma organizaccedilatildeo cooperativa

Empreendimento cooperativo Empresa mercantil

bull sociedade simples regida por

legislaccedilatildeo especiacutefica bull nuacutemero de associados limitado agrave

capacidade de prestaccedilatildeo de serviccedilos bull controle democraacutetico cada pessoa

corresponde a um voto bull objetiva a prestaccedilatildeo de serviccedilos bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no nuacutemero de associados bull natildeo eacute permitida a transferecircncia de

quotas-parte a terceiros bull retorno dos resultados eacute proporcional

ao valor das operaccedilotildees

bull sociedade de capital - accedilotildees bull nuacutemero limitado de soacutecios bull cada accedilatildeo ndash um voto bull objetiva o lucro bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no capital bull eacute permitida a transferecircncia e a venda

de accedilotildees a terceiros bull dividendo eacute proporcional ao valor de

total das accedilotildees

Tabela 1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil Fonte OCB ( 2007)

Portanto os dirigentes devem dar maior atenccedilatildeo a pontos que merecem mais

cuidado na gestatildeo cooperativa Conforme Chiavenato (1993) no funcionamento das

organizaccedilotildees as vaacuterias funccedilotildees do administrador consideradas como um todo

formam o processo administrativo composto pelo planejamento organizaccedilatildeo

direccedilatildeo e controle Consideradas separadamente constituem as funccedilotildees

administrativas mas quando visualizadas na sua abordagem total para o alcance de

objetivos elas formam esse processo De acordo com Chiavenato (1993) o processo

23

administrativo implica que os acontecimentos e as relaccedilotildees sejam dinacircmicos com

mudanccedilas contiacutenuas uma vez que este natildeo eacute algo parado estaacutetico eacute moacutevel natildeo

tem um comeccedilo nem um fim nem uma sequumlecircncia fixa de eventos

Neste caso o papel da direccedilatildeo eacute dinamizar a empresa com atuaccedilatildeo sobre

todos os recursos e orientaccedilatildeo a ser dada agraves pessoas por meio de uma adequada

comunicaccedilatildeo habilidade de lideranccedila e motivaccedilatildeo Na gestatildeo da organizaccedilatildeo

cooperativa conforme Schneider (1999) cabe aos gestores encontrar mecanismos

de decisatildeo que sejam conformes ao mesmo tempo agraves exigecircncias essenciais da

democracia cooperativa e aos da eficaacutecia-eficiecircncia da empresa orgacircnica

Deste modo em niacutevel de coordenaccedilatildeo da empresa as decisotildees se ordenam

segundo uma hierarquia em decisotildees estrateacutegicas decisotildees taacuteticas e decisotildees

teacutecnicas ou operacionais De acordo com Chiavenato (1993) o niacutevel estrateacutegico

corresponde ao niacutevel mais elevado da empresa cuida das atividades da

organizaccedilatildeo e seu ambiente Situam-se as decisotildees fundamentais de ordem geral

ou econocircmica e que envolvem os objetivos de meacutedio e longo prazo Conforme

Schneider (1999) em cooperativas deve ser realizada de forma soberana pelos

associados tendo em vista os seus interesses seguindo determinados planos

As decisotildees taacuteticas satildeo do niacutevel gerencial coordenam e unificam o

desempenho das tarefas pelo sistema operacional Cabem aos gestores ou teacutecnicos

decidir pela melhor conduta ou teacutecnica de produccedilatildeo Neste niacutevel conforme

Schneider (1999) em cooperativas cabe um papel maior aos membros do Conselho

de Administraccedilatildeo que concretizam as diretrizes gerais do niacutevel estrateacutegico

O niacutevel teacutecnico operacional diz respeito ao desempenho das tarefas na

organizaccedilatildeo relacionadas agrave produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de produtos Conforme

Chiavenato (1993) estaacute relacionado agrave execuccedilatildeo cotidiana e eficiente das tarefas e

operaccedilotildees da organizaccedilatildeo Segundo Schneider em cooperativas essa fase estaacute

acessiacutevel a um nuacutemero limitado de soacutecios eacute atribuiccedilatildeo predominante do quadro

executivo e teacutecnico da cooperativa

Eacute importante considerar tambeacutem que um fator que influencia particularmente

a forma de accedilatildeo na tomada de decisotildees eacute o tamanho da empresa Em cooperativas

Schneider (1999) faz a seguinte observaccedilatildeo

Quando se trata de uma cooperativa pequena geralmente os associados compreendem mais facilmente a natureza dos problemas e de suas soluccedilotildees Por isso tecircm melhores condiccedilotildees de eles mesmos tomarem as decisotildees em todos os niacuteveis ateacute mesmo as de caraacuteter teacutecnico Poreacutem numa cooperativa maior

24

e mais complexa a estrutura de poder se apresenta com clara distinccedilatildeo entre a estrutura de fins e a estrutura de meios os fins se asseguram pela assembleacuteia de soacutecios que expressa de forma soberana seus objetivos e interesses pelos fiscais eleitos e pelo presidente Os meios satildeo realizados atraveacutes da direccedilatildeo os executivos contratados os teacutecnicos e os funcionaacuterios (SCHNEIDER 1999 p188)

Na evoluccedilatildeo do processo administrativo em cooperativas portanto as

tomadas de decisotildees tecircm a participaccedilatildeo dos soacutecios efetivadas nas instacircncias de

poder conforme descrito por Schneider (1999)

a) Assembleacuteia Geral ordinaacuteria ou extraordinaacuteria eacute o oacutergatildeo soberano que expressa a vontade soberana dos soacutecios sobre todos os assuntos essenciais da organizaccedilatildeo Tem analogia com a assembleacuteia de acionistas de uma sociedade anocircnima

b) O Conselho de Administraccedilatildeo a democracia natildeo significa o governo de todos de forma direta e imediata em todos os niacuteveis de atividade da organizaccedilatildeo Reivindicar a democracia direta onde os soacutecios participariam de todos os niacuteveis de decisotildees levaria agrave perda da agilidade e eficiecircncia imprescindiacuteveis em cada empresa Ela soacute eacute possiacutevel em unidades muito pequenas

c) Outras instacircncias de poder satildeo o Conselho Diretor escolhido dentre os membros do Conselho de Administraccedilatildeo quando este eacute muito grande e dificulta a coesatildeo e o razoaacutevel grau de informaccedilatildeo Sua funccedilatildeo eacute exercer por delegaccedilatildeo as atribuiccedilotildees outorgadas pelo Conselho de Administraccedilatildeo Eacute um oacutergatildeo de tutela permanente do presidente ao qual devem submeter-se as principais decisotildees ou um organismo colegiado de decisotildees (SCHNEIDER 1999 P189 - 190)

Vinculado ao Conselho de Administraccedilatildeo eacute criado em cooperativas o Comitecirc

Educativo segundo Valadares (1995) este assume as atividades vinculadas ao

desenvolvimento social e poliacutetico dos associados preparando e capacitando-os para

agirem decisivamente na organizaccedilatildeo cooperativa Este mecanismo possibilita aos

associados atuarem em grupo e constitui-se de um canal por meio do qual podem

expressar suas necessidades desejos e inquietudes aleacutem de constituir um meio de

comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo importante entre os dirigentes e as bases sociais

Portanto o seu funcionamento estaacute orientado pelos objetivos de estruturar um

espaccedilo de poder na cooperativa viabilizando a participaccedilatildeo democraacutetica do maior

nuacutemero de associados na gestatildeo cooperativa (VALADARES 2005)

Ao tratar do processo administrativo no acircmbito interno das cooperativas

devem ser estimuladas interaccedilotildees entre os cooperados aleacutem da participaccedilatildeo

nessas instacircncias de poder Nesse sentido uma das condiccedilotildees colocadas por

Schneider (1999) eacute a necessidade de superar a impessoalidade nas interaccedilotildees entre

a cooperativa e os associados mais comum em cooperativas grandes e conseguir

articulaccedilatildeo de todos por meio de um variado circuito de informaccedilotildees livres de

quaisquer manipulaccedilotildees que seraacute ao mesmo tempo um estiacutemulo ao conhecimento e

agrave discussatildeo

25

O risco da falta de informaccedilatildeo do produtor nesse processo pode acarretar um

consequumlente sentimento de desconfianccedila que de acordo com a observaccedilatildeo de

Perius (1983) a esse respeito ldquonasce assim um conflito entre soacutecios e

administradoresrdquo Para este autor A informaccedilatildeo completa e apropriada aos soacutecios eacute essencial tarefa da educaccedilatildeo cooperativista Sendo a atividade cooperativa uma atividade essencialmente econocircmica esses conhecimentos devem incluir definitivamente informaccedilotildees completas e exatas sobre os programas as poliacuteticas as operaccedilotildees e as estruturas da cooperativa como empresa comercial (JOACHIM CIT IN PERIUS 1983 p 73)

Com essas observaccedilotildees confirma-se que a comunicaccedilatildeo deve ter

importacircncia vital no processo de gestatildeo cooperativa pois esta quando utilizada em

diferentes canais acessiacuteveis ao produtor vai materializar a participaccedilatildeo de

cooperados nos diferentes niacuteveis de tomadas de decisotildees

23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas Grande parte da produccedilatildeo de leite no paiacutes eacute realizada por pequenos

produtores que em sua maioria tecircm na atividade a uacutenica fonte de renda Conforme

Gomes (2005) a produccedilatildeo de leite em Minas Gerais configura-se como uma das

atividades mais importantes para a economia do Estado Eacute tambeacutem significativa face

ao seu percentual de participaccedilatildeo no volume total da produccedilatildeo nacional

Nesse segmento a referecircncia tiacutepica a produtores rurais se daacute em funccedilatildeo do

volume produzido identificando-os como pequeno meacutedio e grande produtor

Conforme Gomes (1987 e 2005) o perfil do produtor de leite em Minas Gerais segue

as seguintes caracteriacutesticas

o pequeno produtor trabalha com produtividade meacutedia de 25 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 12 litros de leite Cerca de 90 da matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente familiar

O meacutedio produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 40 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo meacutedia diaacuteria 100 L de leite A matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente contratada e a matildeo-de-obra familiar corresponde a 30

Jaacute o grande produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 6 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 360 litros de leite A matildeo-de-obra familiar corresponde a apenas 8 do total (Gomes 1987)

A Idade meacutedia de 52 anos para os pequenos produtores sendo constatado um envelhecimento neste grupo fenocircmeno tiacutepico da pequena produccedilatildeo familiar isto eacute o chefe da famiacutelia suporta conviver com pequena lucratividade

A escolaridade meacutedia de 517 anos o que aumenta agrave medida que aumentam os estratos de produccedilatildeo

Os produtores de mais de 1000 litros tecircm 658 anos de escolaridade

Em meacutedia os produtores tecircm 20 anos de experiecircncia na atividade leiteira

Predominantemente a origem do produtor eacute do proacuteprio municiacutepio num percentual de 73

Em meacutedia tecircm 264 filhos havendo maior nuacutemero de filhos e filhas que trabalham na cidade do que na atividade leiteira

Quanto agrave residecircncia do produtor prevalece a propriedade rural com 77 dos entrevistados

As esposas pouco participam de algum trabalho na produccedilatildeo de leite ateacute mesmo entre os produtores ateacute 50 litros de leitedia (GOMES 2005 P 40-41)

Essa estatiacutestica natildeo varia muito para a atividade nos outros estados

Nogueira Netto et all (2004) mostram que no Brasil cerca de dois a cada trecircs

produtores de leite satildeo associados a cooperativas que captam leite acima de 555

mil litros por dia A meacutedia diaacuteria de leite obtida por esses produtores estaacute

representada na Figura 2 Conforme este autor os produtores com entrega diaacuteria

ateacute 100 litrosdia formam 605 de todos os cooperados enquanto 168 entregam

entre 100 e 200 litrosdia Na faixa de 200 a 500 litros encontram-se 109 dos

cooperados e entre 500 a 1000 litros somente 50 Acima de 1000 litros estatildeo

68 dos cooperados

605

168109 50 68

00

100

200

300

400

500

600

700

Produtores

ateacute 100

100 a 200 lts

200 a 500 lts

500 a 1000 lts

acima de 1000 lts

Figura 2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em cooperativas

Fonte de dados Nogueira Netto et all (2004 p74)

Comparativamente o perfil da produccedilatildeo em outros paiacuteses apresenta um

quadro diferente Conforme Nogueira Netto et all (2004) na Uniatildeo Europeacuteia por

exemplo os produtores considerados de pequena produccedilatildeo satildeo os que produzem

26

27

um volume inferior agrave meacutedia de 545 litrosdia ou seja muito distante da realidade

apresentada no Brasil

De modo semelhante ao que ocorre com as cooperativas que tecircm sido

pressionadas para especializaccedilatildeo e crescimento acontece com o produtor rural

Este eacute pressionado da porteira para dentro por produtividade e ainda vivencia

criacuteticas sobre a forma de produccedilatildeo

Dentro da porteira um dos maiores problemas ainda eacute o de gestatildeo Muitos produtores satildeo eficientes mas natildeo estatildeo preparados para gerir os negoacutecios () as receitas anuais na propriedade (incluindo descartes) satildeo de R$ 056 por litro 27 a mais do que os custos totais de R$ 044 (inclui terra e proacute-labore) () vatildeo ficar no mercado apenas os profissionais (EMATER E AGROINFORME 2008 P2)

Esse quadro corrobora outra caracteriacutestica do perfil dos produtores que eacute o

sistema de produccedilatildeo Estes trabalham distintamente pois conforme Fellet e Galan

(2000) existem na atividade produtores com os sistemas de produccedilatildeo

completamente especializados com elevados pacotes tecnoloacutegicos modernos para

a produccedilatildeo de leite Enquanto outros encontram-se com sistemas nitidamente

extrativistas com baixos investimentos e iacutendices de produccedilatildeo Isso retrata e

distancia os produtores dos diferentes estratos apresentados No primeiro caso

estatildeo os produtores de maiores volumes e no segundo modo de produccedilatildeo encontra-

se os produtores de pequena produccedilatildeo

Essa realidade de pequenos produtores vai de encontro agraves cooperativas de

laticiacutenios que conforme visto anteriormente tecircm como opccedilatildeo de sobrevivecircncia agraves

pressotildees de mercado o crescimento De modo geral o aumento da captaccedilatildeo meacutedia

por produtor tem sido estimulado por todas as empresas de laticiacutenios mas conforme

Favoret Filho (2000) os grandes produtores satildeo os mais incentivados tendo em

vista o pagamento diferenciado de preccedilos aos produtores de maior volume O que

aumenta sua rentabilidade e viabiliza novas expansotildees cada vez mais difiacuteceis para

os pequenos

Nos dados apresentados em Gomes (1987 e 2005) que retrata o perfil do

produtor de leite e em Nogueira Netto et alli (2004) que mostra a participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas por estrato de produccedilatildeo reafirma portanto a

relevacircncia social do cooperativismo de leite

Portanto na funccedilatildeo de mediadoras dos produtores a montante e a jusante na

cadeia produtiva as cooperativas devem ainda apoiar a criaccedilatildeo de mecanismos para

mudar a realidade instalada na produccedilatildeo de pequenos produtores afim de superar

28

as diferenccedilas tratadas em Favoret Filho (2000) Certamente natildeo se conseguiraacute

mudar essa realidade com a accedilatildeo isolada desses produtores

Esse quadro confirma a heterogeneidade qualitativa em volume de produccedilatildeo

de produtores rurais que reflete na oportunidade de participaccedilatildeo nas diferentes

instacircncias da gestatildeo cooperativa

Portanto se na autogestatildeo cooperativa a representatividade entre os

produtores eacute equilibrada jaacute que cada associado tem direito a um voto independente

do seu volume de produccedilatildeo espera-se que esteja aiacute a oportunidade do pequeno

produtor defender os seus interesses por meio de uma maior participaccedilatildeo nas

tomadas de decisotildees Uma maior participaccedilatildeo deste grupo seria tambeacutem uma forma

de mudar o ldquostatus quordquo de grande parte de pequenos produtores de leite Portanto

espera-se que a cooperativa incentive a participaccedilatildeo de produtores na sua estrutura

de gestatildeo para que essas diferenccedilas sejam melhor niveladas

29

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO

A construccedilatildeo do conhecimento requer um domiacutenio conceitual baacutesico para que

a decodificaccedilatildeo dos dados identificados possa se sustentar Deste modo Kopnin

(1978) argumenta que

A teoria descreve e explica um conjunto de fenocircmenos fornece o conhecimento dos fundamentos reais de todas as teses lanccediladas e reduz os descobrimentos em determinado campo e as leis a um princiacutepio unificador uacutenico sendo que a unificaccedilatildeo do conhecimento em teoria eacute realizada antes de tudo pelo proacuteprio objeto e suas leis determinando a relaccedilatildeo entre juiacutezos isolados conceitos e deduccedilotildees na teoria (KOPNIN 1978 p237)

Portanto esta etapa tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias e

argumentos para interpretar as praacuteticas presentes no caso e nos discursos

vivenciados durante a pesquisa de campo Primeiramente faz-se uma revisatildeo sobre

accedilatildeo coletiva e como se fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme

proposta de Mancur Olson (1999) de forma a dar base e direcionamento agraves outras

discussotildees do trabalho Em seguida haacute uma abordagem conceitual e praacutetica sobre

participaccedilatildeo e ao final completa-se com argumentos sobre cooperaccedilatildeo e capital

social apresentados como correccedilotildees para os dilemas de accedilatildeo coletiva

31 Accedilatildeo Coletiva 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos

Dificilmente conseguiriacuteamos que as pessoas participassem com igual

dedicaccedilatildeo empenho e motivaccedilatildeo em algo que venha a ter o mesmo benefiacutecio e

resultados para todos Pois o indiviacuteduo age segundo seu proacuteprio interesse com o

fim de maximizar seus benefiacutecios Essa suposiccedilatildeo estaacute fundamentada na Teoria da

Escolha Racional proposta por Olson (1999) e corroborada por Elster (1994) ao

afirmar que os problemas de accedilatildeo coletiva surgem porque eacute difiacutecil conseguir que as

pessoas cooperem para benefiacutecio muacutetuo Segundo Olson (1999) o comportamento

centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral considerado a regra pelo menos quando

haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas Neste raciociacutenio justifica-se que

numa cooperativa natildeo haacute de se esperar que todos os soacutecios tenham o mesmo

empenho para o seu desenvolvimento assim como eacute difiacutecil que todos consigam

30

usufruir dos resultados alcanccedilados Isso eacute um dilema vivenciado no cooperativismo

que se origina por diversas situaccedilotildees as quais seratildeo discutidas neste capiacutetulo

Esta seccedilatildeo inicia-se por apresentar a definiccedilatildeo do termo accedilatildeo coletiva e bem

puacuteblico cujos sentidos seratildeo trabalhados no decorrer desta dissertaccedilatildeo

O termo accedilatildeo coletiva foi difundido por Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica

da accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas bem como

problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a coerecircncia a eficaacutecia e a

atratividade dos grupos nesse processo

Uma accedilatildeo coletiva surge basicamente para solucionar necessidades geradas

por dois fatores oportunidades e desejos ou seja pelo que as pessoas podem fazer

e pelo que querem fazer (ELSTER 1994) Deste modo mesmo que as pessoas

difiram em seus desejos assim como em suas oportunidades os desejos humanos

podem ter pontos comuns aos apresentados individualmente

Quando estes pontos comuns satildeo reconhecidos pelos indiviacuteduos ocorre o

que Marx chamaria de adquirir consciecircncia (OLSON 1999) A partir desses pontos

comuns os homens planejam uma accedilatildeo coordenada conforme seus proacuteprios

interesses Essa atuaccedilatildeo portanto recebe o nome de accedilatildeo coletiva A accedilatildeo coletiva

desta forma seria a maneira pela qual o individuo se faz presente nos sistemas

abstratos reforccedilando a sua capacidade transformadora desde que consiga agir em

coletividade (ASENSI 2006)

Para Olson (1999) haacute trecircs tipos de situaccedilotildees teoacutericas (ou ideais) em que os

indiviacuteduos podem estar frente agrave accedilatildeo coletiva No primeiro caso em que grupos de

indiviacuteduos jaacute adquiriram ou natildeo a consciecircncia do interesse que eacute partilhado por

todos mas os custos de empreenderem na accedilatildeo satildeo maiores em relaccedilatildeo aos

benefiacutecios que teratildeo Neste caso a accedilatildeo coletiva eacute inviaacutevel De outra forma os

indiviacuteduos jaacute compartilham objetivos mas os custos para consecuccedilatildeo do benefiacutecio

satildeo da mesma proporccedilatildeo que teratildeo de retorno se empreenderem a accedilatildeo Neste

caso a possibilidade de accedilatildeo coletiva eacute baixa Emoutra situaccedilatildeo os benefiacutecios da

accedilatildeo coletiva satildeo muito maiores do que os custos individuais Neste caso haacute

existecircncia de grupos sociais com potencialidade de accedilatildeo coletiva que satildeo os grupos

organizados

31

A accedilatildeo coletiva eacute necessaacuteria para a conquista de espaccedilos da cidadania e da

democracia que requerem mobilizaccedilatildeo social Com esse objetivo haacute accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidas por diferentes atores e sujeitos sociais movimentos

de mulheres de jovens de direitos humanos ecoloacutegicos e as mobilizaccedilotildees

pacifistas satildeo exemplos de accedilotildees coletivas cujas formas de articulaccedilatildeo mobilizaccedilatildeo

e luta expressam as caracteriacutesticas proacuteprias dos movimentos e accedilotildees coletivas da

contemporaneidade (QUEIROZ 2003)

Ramirez e Berdeguegrave (2002) entendem a accedilatildeo coletiva como uma estrateacutegia

instrumental orientada a alcanccedilar resultados Neste enfoque estes autores

destacam trecircs objetivos da accedilatildeo

(a) melhorar os ingressos ou outra dimensatildeo do bem-estar material imediato aos grupos envolvidos (b) modificar as relaccedilotildees sociais no interior de uma populaccedilatildeo especiacutefica e particularmente as relaccedilotildees de poder e (c) influenciar sobre as poliacuteticas puacuteblicas para ampliar as oportunidades de desenvolvimento e enfraquecer ou superar os sistemas de exclusatildeo e de discriminaccedilatildeo (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

Outros elementos que os autores supracitados entendem ser de uma visatildeo

realista sobre accedilatildeo coletiva satildeo

(1) a accedilatildeo coletiva natildeo se justifica por si soacute o que faz pertinente e necessaacuterio nos perguntarmos pela sua eficaacutecia (2) a accedilatildeo coletiva natildeo substitui a accedilatildeo e a responsabilidade individual mas precisa dela e ao mesmo tempo a pertencia e (3) a accedilatildeo coletiva natildeo eacute ubiacutequa e permanente mas sim acidental (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

A accedilatildeo coletiva portanto eacute capaz de promover

(a) desenvolvimento das capacidades dos indiviacuteduos (capital humano) (b) fortalecimento organizacional (c) construccedilatildeo de redes e alianccedilas sociais e (d) profundizaccedilatildeo de normas e valores (tais como a solidariedade a reciprocidade a confianccedila) que contribuem ao alcance do bem comum (capital social) (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p3)

Mas de modo geral o envolvimento dos indiviacuteduos eacute que vai dar maior ou

menor potencialidade agrave consecuccedilatildeo dos objetivos pretendidos numa accedilatildeo coletiva

Portanto eacute importante o entendimento sobre o comportamento dos indiviacuteduos E eacute

nessa direccedilatildeo que Olson (1999) iniciou sua investigaccedilatildeo sobre a participaccedilatildeo

individual na accedilatildeo coletiva conforme exposto neste trecho da sua obra

A ideacuteia de que grupos sempre agem para promover seus interesses eacute supostamente baseada na premissa de que na verdade os membros de um grupo agem por interesse pessoal individual Se os indiviacuteduos integrantes de um grupo altruisticamente desprezassem seu bem-estar pessoal natildeo seria muito provaacutevel que em coletividade eles se dedicassem a lutar por algum egoiacutestico objetivo comum ou grupal Tal altruiacutesmo eacute de qualquer maneira considerado uma exceccedilatildeo e o comportamento centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral

32

considerado a regra pelo menos quando haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas(OLSON 1999 p13)

Essa visatildeo caracteriza o individualismo metodoloacutegico ou comportamento

utilitarista Em seu trabalho Olson (1999) faz uma comparaccedilatildeo do comportamento

individual na accedilatildeo coletiva com o comportamento do mercado em concorrecircncia

Nesta analogia embora todas as empresas tenham o interesse comum em

maximizar seus lucros eacute do interesse individual de cada uma delas que as outras

paguem os custos necessaacuterios para obter preccedilos mais altos que se daria com uma

reduccedilatildeo na produccedilatildeo de outrem

Na conduccedilatildeo do seu pensamento central Olson (1999) faz uma observaccedilatildeo

para justificar o comportamento utilitarista

Ningueacutem se surpreende quando um homem de negoacutecios persegue individualmente mais lucros quando trabalhadores perseguem individualmente salaacuterios mais altos ou quando consumidores perseguem individualmente preccedilos mais baixos A ideacuteia de que os grupos tendem a agir em favor de seus interesses grupais eacute concebida como uma extensatildeo loacutegica dessa premissa amplamente aceita do comportamento racional centrado nos proacuteprios interesses (OLSON 1999 p13)

Neste sentido vecirc-se que os desejos individuais que motivam as pessoas a

buscarem melhores condiccedilotildees de vida estatildeo em diferentes contextos Entretanto a

busca por esses avanccedilos eacute perseguida racionalmente

Considerando que o termo racionalidade eacute utilizado em diferentes sentidos

Elster (1994) traz uma explicaccedilatildeo que eacute complementar para o entendimento sobre o

comportamento racional dos indiviacuteduos

Racionalidade eacute uma relaccedilatildeo entre uma crenccedila e a premissa sobre a qual esta eacute mantida mas que eacute ldquonecessaacuterio ir aleacutemrdquo assim como ldquoeacute necessaacuterio que a quantidade de indiacutecios reunidos seja de certa forma oacutetimardquo e que em muitas situaccedilotildees de escolha as probabilidades devem ser consideradas muito seriamente e agir racionalmente eacute fazer tatildeo bem por si quanto se eacute capaz Quando dois ou mais indiviacuteduos interagem eles podem fazer muito pior por si mesmos do que agindo isolados Essa eacute a premissa da teoria dos jogos Considera que toda accedilatildeo racional deve ser auto-interessada porque eacute motivada pelo prazer que proporciona ao agente (ELSTER 1994 p47-59)

A propoacutesito o que eacute considerado racional por um indiviacuteduo que faz parte de

um grupo social ao tomar uma decisatildeo em relaccedilatildeo a uma accedilatildeo coletiva pode ser

considerado irracional pelo seu par De certa forma a razatildeo eacute uma maneira de

organizar a realidade pela qual esta se torna compreensiacutevel (CHAUI 1994) Nesse

aspecto Weber (1979) deu sua contribuiccedilatildeo ao explicar que um modo de ver os

processos sociais estaacute relacionado ao modelo de racionalizaccedilatildeo do mundo moderno

33

Nesse sentido Weber (1979) entende a racionalizaccedilatildeo como o caminho que orienta

a sociedade para o mais alto grau de instrumentalizaccedilatildeo e burocratizaccedilatildeo onde a

eacutetica e os valores satildeo determinados pelos fins uacuteltimos (ALMEIDA 2007)

Portanto dadas diferentes formas de racionalidade para satisfaccedilatildeo individual

numa accedilatildeo coletiva Olson (1999) natildeo desconsiderou o valor e importacircncia de outros

fatores que tambeacutem estatildeo presentes na conduccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas relaccedilotildees

com o grupo e nas suas decisotildees de participaccedilatildeo Para este autor

ldquoos incentivos econocircmicos natildeo satildeo para os indiviacuteduos os uacutenicos incentivos possiacuteveis As pessoas algumas vezes sentem-se motivadas tambeacutem por um desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e psicoloacutegicordquo (OLSON 1999 p72)

Neste ponto de vista pode-se empregar que a racionalidade na participaccedilatildeo

natildeo estaacute fundada somente em aspectos econocircmicos mas tambeacutem em outros

incentivos sociais e psicoloacutegicos Conforme definiu Olson (1999) esta eacute uma visatildeo

mais comumente compartilhada por outros autores da ciecircncias sociais que discutem

a temaacutetica da accedilatildeo coletiva poreacutem natildeo corroborada com o sentido utilitarista

tratado por ele Mas o diferencial deste autor eacute justamente analisar conceitos das

instituiccedilotildees econocircmicas de forma distinta em diferentes situaccedilotildees na sociedade para

compreender o problema da cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos Nessa discussatildeo eacute

indispensaacutevel definir alguns conceitos instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

Entende-se por instituiccedilotildees segundo North citado em Santos (2000)

um conjunto de regras poliacuteticas sociais e legais que estabelecem as bases para a produccedilatildeo troca distribuiccedilatildeo ou produccedilatildeo correspondem ao sistem de normas ndash regras formais (constituiccedilotildees leis) restriccedilotildees informais (normas de comportamento costumes convenccedilotildees tradiccedilotildees tabus e coacutedigos de autoconduta) e sistemas de controle ndash que regulam a interaccedilatildeo humana na sociedade (SANTOS 2000 p70)

Jaacute as organizaccedilotildees conforme Santos (2000) satildeo entendidas como sendo

um grupo de indiviacuteduos dedicados a alguma atividade executada para um

determinado fim e que podem constituir-se em firmas associaccedilotildees partidos

poliacuteticos etc Segundo Olson (1999) existem organizaccedilotildees de todos os tipos

formas e tamanhos poreacutem uma caracteriacutestica comum a todas elas eacute a promoccedilatildeo

dos interesses de seus membros Para Festinger e Laski citados em Olson (1999) a

ldquoatraccedilatildeo que exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer

mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo

consecutivamente as ldquoassociaccedilotildees existem para realizar propoacutesitos que um grupo

34

de pessoas tem em comumrdquo Embora na visatildeo olsoniana frequentemente elas

sirvam a interesses puramente pessoais e individuais

Assim como o Estado eacute um tipo de organizaccedilatildeo que provecirc benefiacutecios puacuteblicos

para seus cidadatildeos similarmente outros tipos de organizaccedilotildees provecircem benefiacutecios

puacuteblicos para seus membros Deste modo conforme Olson (1999) os benefiacutecios

comuns ou coletivos proporcionados pelo governo satildeo usualmente chamados de

ldquobem puacuteblicordquo ou ldquobenefiacutecios puacuteblicosrdquo Neste caso os serviccedilos tecircm de estar

disponiacuteveis para todos se estiverem disponiacuteveis para algueacutem Portanto o bem

puacuteblico se caracteriza pela natildeo excludecircncia e indivisibilidade dos resultados

produzidos individual ou coletivamente numa organizaccedilatildeo Com outros argumentos Olson (1999) utiliza o conceito de bens puacuteblicos de

forma generalizada

o provimento de benefiacutecios puacuteblicos ou coletivos eacute a funccedilatildeo fundamental das organizaccedilotildees em geral portanto nas organizaccedilotildees a consecuccedilatildeo de qualquer objetivo comum ou a satisfaccedilatildeo de qualquer interesse comum significa que um benefiacutecio puacuteblico ou coletivo foi proporcionado ao grupo (OLSON 1999 P27-28)

Num entendimento anaacutelogo eacute que se insere o sentido do conceito de bens

puacuteblicos no cooperativismo pois uma vez constituiacuteda os benefiacutecios gerados pela

cooperativa passam a ser um bem puacuteblico para os seus associados e estes natildeo

podem ser excluiacutedos da utilizaccedilatildeo dos benefiacutecios conseguidos Mesmo que os

associados tenham participado ou natildeo da sua formaccedilatildeo ou de participarem

ativamente ou natildeo das suas accedilotildees Na praacutetica eacute de se esperar que a organizaccedilatildeo

cooperativa produza benefiacutecios a todos os associados

312 Dilemas de accedilatildeo coletiva

Para Olson (1999) numa accedilatildeo coletiva o fato de uma situaccedilatildeo ser desejaacutevel

para as pessoas envolvidas natildeo garante que essa situaccedilatildeo ideal iraacute prevalecer Ao

agir racionalmente os indiviacuteduos muitas vezes podem natildeo atingir a melhor soluccedilatildeo

mediante as circunstacircncias que se encontram Outro determinante eacute que o fato de

agirem coletivamente na implementaccedilatildeo de uma accedilatildeo natildeo garante tambeacutem a

continuidade da cooperaccedilatildeo pelos mesmos agentes jaacute que os indiviacuteduos tendem a

agir individualmente em algumas casos e em outros natildeo Portanto o interesse de

cada um eacute que vai determinar o seu grau de participaccedilatildeo

35

Surge daiacute o dilema da accedilatildeo coletiva Deste modo indiviacuteduos se empreendem

numa accedilatildeo para atender seus interesses mas natildeo conhecem integralmente as

circunstacircncias em que iratildeo fazer isso Conforme Bueno (2004) uma das razotildees

porque as pessoas natildeo podem prever as consequencias completas de suas

decisotildees eacute porque tais consequecircncias dependem do que as demais pessoas iratildeo

fazer Eacute como em um jogo

Bueno (2006) contribui ao sugerir diferentes situaccedilotildees que ilustram quando

dilemas de accedilatildeo coletiva podem ser definidos Primeiro no caso em que se observa

que a cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos se desenvolve espontaneamente agrave medida

que estes percebem os benefiacutecios muacutetuos a serem alcanccedilados em virtude do

esforccedilo coletivo Deste modo os participantes coordenam suas accedilotildees para superar

os obstaacuteculos existentes agrave accedilatildeo cooperativa Neste caso a confianccedila muacutetua eacute o preacute-

requisito para validaccedilatildeo do processo pois caso um dos participantes natildeo continue a

cooperar acarretaraacute desvantagem para aquele que cooperou A segunda

possibilidade sugerida por Bueno (2004) eacute representada pelo claacutessico Dilema do

Prisioneiro Esse eacute o mais conhecido de todos os jogos conforme relatado

sucintamente por Elster (1994)

Dois prisioneiros suspeitos de terem colaborado num crime satildeo colocados em celas separadas A poliacutecia diz a cada um que seraacute liberado (4) se denunciar o outro e este natildeo o denunciar Se denunciarem um ao outro ambos receberatildeo trecircs anos de reclusatildeo (2) Se ele natildeo denunciar o outro mas o outro o denunciar seraacute condenado a cinco anos (1) Se nenhum denunciar o outro a poliacutecia tem provas suficientes para mandar cada um agrave prisatildeo por um ano (3) (ELSTER 1994 p 45)

Nesse caso o fato dos prisioneiros natildeo se comunicarem para cada um deles

a melhor estrateacutegia eacute a natildeo cooperaccedilatildeo pois natildeo haacute possibilidade de interaccedilatildeo

entre eles por esse motivo as decisotildees satildeo tomadas isoladamente Sob o ponto de

vista do interesse individual dificilmente se chegaraacute agrave soluccedilatildeo para o dilema do

prisioneiro Pois racionalmente cada prisioneiro deveria confessar o crime mas caso

isso ocorra os dois ficariam em pior situaccedilatildeo do que se escolhessem diferente

Conclui-se com o dilema que ldquoquando cada um de noacutes individualmente escolhe

aquilo que eacute do seu interesse proacuteprio pode ficar pior do que ficaria se tivesse sido

feita uma escolha que fosse do interesse coletivordquo (Bueno 2004) Neste ponto

Elster (1994) reforccedila que a noccedilatildeo de escolha racional eacute definida para um indiviacuteduo

natildeo para a coletividade uma vez que a opccedilatildeo para um indiviacuteduo eacute superior a suas

36

outras opccedilotildees independentemente do que as outras pessoas fazem ele seria

irracional se natildeo a praticasse

Outra situaccedilatildeo comum na accedilatildeo coletiva eacute o indiviacuteduo que age como ldquofree

riderrdquo (carona) Esta deriva do fato de que indiviacuteduos preferem agindo racionalmente

beneficiar-se de soluccedilotildees coletivas sem incorrer nos custos necessaacuterios para

produzir essas soluccedilotildees e sem colaborar em nada para sua obtenccedilatildeo (BUENO

2004 e FERREIRA NETO 1996) ou seja se aproveita dos benefiacutecios sem nenhum

esforccedilo pessoal ou com qualquer tipo de contribuiccedilatildeo mas natildeo pode ser excluiacutedo

desses benefiacutecios

O problema do carona eacute observado em organizaccedilotildees cooperativas quando

associados tentam usufruir de seus serviccedilos sem empreender esforccedilos para sua

operacionalizaccedilatildeo que natildeo se efetiva somente com o fornecimento de sua produccedilatildeo

De outra forma quando o grupo de associados dominantes na gestatildeo cooperativa

conseguem defender seus interesses em detrimento dos demais cooperados estes

agem tambeacutem como ldquofree riderrdquo

Conforme Bueno (2004) ocorre um dilema de ordem social quando o grupo

consegue identificar os benefiacutecios da cooperaccedilatildeo e solucionar o problema do dilema

do prisioneiro No entanto eacute necessaacuterio desenvolver mecanismos visando garantir

aplicaccedilatildeo de normas coercitivas aos indiviacuteduos que continuarem atuando como free

riders Isso eacute assegurado por Olson (1999) ao afirmar que soacute determinados acertos

institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir

quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo

como um todo Mesmo assim conforme Bueno (1996) esse dilema torna-se de difiacutecil

soluccedilatildeo quando os indiviacuteduos natildeo participam da elaboraccedilatildeo das normas

institucionais

313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo

Mais uma visualizaccedilatildeo de problemas de accedilatildeo coletiva eacute representada na

ldquoTrageacutedia dos Comunsrdquo Esse legado de Garret Hardin permite uma ilustraccedilatildeo sobre

utilizaccedilatildeo dos recursos de um bem coletivo Embora seu trabalho tenha focado a

superpopulaccedilatildeo com a ideacuteia essencial de que a sobre exploraccedilatildeo de recursos

manejados de forma comunal tais como oceanos rios atmosfera e aacutereas de

37

parques satildeo sujeitos agrave maciccedila degradaccedilatildeo (DIEGUES E MOREIRA 2001) eacute

importante consideraacute-lo em outros estudos pois apontou em seu coloraacuterio a

necessidade de mudanccedilas sociais em grande escala para uso de bens coletivos

apoacutes sua hipoteacutetica experiecircncia de raciociacutenio

() o que ocorreria com os recursos comuns de uma determinada comunidade caso cada um de seus membros adicionasse alguns animais aos seus respectivos rebanhos Se cada pecuarista considerasse mais lucrativo criar mais animais do que uma pastagem poderia suportar uma vez que cada criador obteria todo o lucro proveniente dos animais extras e somente uma fraccedilatildeo do custo decorrente da sobre-exploraccedilatildeo das pastagens o resultado seria uma traacutegica perda de recursos para a totalidade da comunidade de pecuaristas (HARDIN CITADO EM FEENY ET ALII 2001 p18)

Com essa ilustraccedilatildeo Hardin concluiu que se houver liberdade para utilizaccedilatildeo

de recursos comuns os homens na busca de seus interesses individuais levariam

todos agrave ruiacutena Para evitar a trageacutedia dos comuns existem duas opccedilotildees ou o Estado

cria mecanismos legais para coibir determinadas praacuteticas ou a proacutepria comunidade

cria arranjos sociais e mecanismos de autodefesa (HARDIN CITADO EM FEENY ET

ALII 2001) Desta forma criam algum tipo de coerccedilatildeo que impeccedila a accedilatildeo do

indiviacuteduo no uso exagerado do benefiacutecio

Visando elucidar a extensatildeo desses argumentos no cooperativismo poderia

imaginar que se todos os soacutecios de uma cooperativa fossem utilizaacute-la como

desejassem eacute possiacutevel que seus membros procurassem utilizar a maior quantidade

de recursos possiacuteveis conseguidos coletivamente e desta maneira obter melhores

descontos nas compras ou entregar a produccedilatildeo quando melhor lhe conviesse

Nesta perspectiva haacute o pressuposto comportamental do oportunismo no

cooperativismo e neste caso o aspecto doutrinaacuterio natildeo eacute suficiente para garantir

fidelidade entre o soacutecio e a cooperativa

Conforme Zylbersztajn (2002) o compartilhamento doutrinaacuterio criou as bases

para uma linguagem comum permitindo que se faccedila referecircncia a um movimento

cooperativista internacional devidamente estruturado e regido pela ACI Por outro

lado os valores impliacutecitos nos princiacutepios deveriam inibir o comportamento egoiacutesta e

o membro que apresentasse tal comportamento deveria sofrer coaccedilatildeo pelos proacuteprios

cooperados

Entretanto as instituiccedilotildees satildeo estabelecidas com definiccedilatildeo de direitos e

obrigaccedilotildees dos soacutecios em organizaccedilotildees cooperativas que satildeo os estatutos sociais

elaborados com base nas diretrizes dos princiacutepios cooperativistasSe essas

38

instituiccedilotildees natildeo satildeo suficientes conforme Zylbersztajn (2002) o oportunismo dos

cooperados induz custos de controles aos incentivos que afetam as relaccedilotildees entre

cooperado e cooperativa

Entatildeo para este autor as instituiccedilotildees com base na doutrina cooperativista por

si natildeo eacute suficiente para coibir e superar os dilemas sugeridos por Olson (1999)

Bueno (2006) e Hardin citado em Feeny et alii (2001) encontrados em

organizaccedilotildees cooperativas conforme constatado na literatura apresentados em

Pereira (2002) Perius (1983) e Schneider (1999)

314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos Em outra abordagem Olson (1999) enfatiza o relacionamento entre membros

de diferentes grupos Sua crenccedila eacute de que conjuntos de indiviacuteduos com interesses

comuns constituem grupos com o fim de articular accedilotildees coletivas visando a

realizaccedilatildeo de tais interesses Neste caso o autor centraliza a discussatildeo sobre as

implicaccedilotildees do tamanho do grupo no processo de cooperaccedilatildeo e estabelece

situaccedilotildees que influenciam a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos na accedilatildeo coletiva

Sobre o tamanho dos grupos para Olson (1999) haacute uma efetividade distinta

entre os pequenos e grandes grupos Essa efetividade portanto vai depender de

que em qual grau a participaccedilatildeo (contribuiccedilatildeo) ou ausecircncia de participaccedilatildeo (falta de

contribuiccedilatildeo) de um ou mais membros vai influenciar sobre o custo ou benefiacutecio de

qualquer outro membro dentro do grupo Quando o nuacutemero de participantes de

uma accedilatildeo eacute grande conforme Olson (1999) o indiviacuteduo tiacutepico tem consciecircncia de

que seus esforccedilos individuais provavelmente natildeo faratildeo muita diferenccedila Ao contraacuterio

em grupos menores todos os membros teratildeo um incentivo para se esforccedilar afim de

que tudo corra bem

Nesse aspecto Olson (1999) classifica trecircs tipos de grupos privilegiados

intermediaacuterios e latentes O grupo privilegiado eacute aquele em que poucos membros

tecircm incentivos para produzir o benefiacutecio coletivo mesmo que ele tenha de arcar com

os custos da produccedilatildeo desses benefiacutecios Nesse caso a proacutepria natureza do grupo

eacute a condiccedilatildeo para que ele consiga prover os benefiacutecios coletivos

Os grupos intermediaacuterios satildeo grupos em que natildeo haacute incentivos suficientes

para que uma pessoa empreenda esforccedilos individualmente para a produccedilatildeo de

39

benefiacutecio coletivo Neste grupo natildeo haacute tantos integrantes a ponto de um membro

natildeo perceber se o outro estaacute ou natildeo ajudando a prover o benefiacutecio coletivo Por

outro lado neste grupo natildeo haveraacute nenhum benefiacutecio se natildeo houver alguma

coordenaccedilatildeo ou organizaccedilatildeo grupal

No grupo latente os membros natildeo tecircm incentivos para produzir bens

isoladamente pois sua accedilatildeo natildeo seraacute percebida pelos demais dado o grande

nuacutemero de membros Conforme Olson (1999) neste grupo somente um incentivo

independente e seletivo em relaccedilatildeo aos outros membros estimularaacute um indiviacuteduo

racional a agir de maneira grupal Assim como sugere o autor

No grupo grande e latente cada membro eacute por definiccedilatildeo tatildeo pequeno em relaccedilatildeo ao total que seus atos natildeo contaratildeo muito de um modo ou de outro em qualquer grupo grande ningueacutem tem como conhecer todos os outros membros e o grupo natildeo seraacute ipso facto um grupo de amigos Assim via de regra um iniviacuteduo natildeo se veraacute afetado socialmente se natildeo fizer os sacrifiacutecios que lhe couberem em favor da realizaccedilatildeo das metas do seu grupo (OLSON 1999 P72)

Outra caracteriacutestica que se acrescenta ao conceito de pequenos e grandes

grupos definidos por Olson foi devidamente explorada por Nassar e Zylbersztajn

(2004) Se refere agrave homogeneidade ou heterogeneidade desses grupos que

influenciam a estrutura organizacional Num grupo pequeno com interesses

homogecircneos onde todos atribuem o mesmo valor ao bem coletivo haveraacute maior

coesatildeo Caso contraacuterio o valor atribuiacutedo tende a se alterar e a probabilidade de

coesatildeo cai

Com relaccedilatildeo ao grande grupo conforme Nassar e Zylbersztajn (2004)

quando satildeo homogecircneos as accedilotildees implementadas tendem a alinhar-se com os

objetivos preacute-estipulados enquanto que nos grupos grandes heterogecircneos em

virtude dos custos de monitoramento nem sempre as accedilotildees vatildeo ser equivalentes

aos objetivos estabelecidos Nessa observaccedilatildeo o autor constatou que quando o

grande grupo eacute heterogecircneo na sua base seus objetivos tenderatildeo a ser difusos e

generalistas

Nassar e Zylbersztajn (2004) portanto corroboram o argumento de que a

heterogeneidade do grupo leva a conflitos entre seus membros comuns aos

expostos por Pereira (2002) e Perius (1983) jaacute apresentado neste trabalho Portanto

esses primeiros autores sinalizam necessidades de maior atenccedilatildeo pela gestatildeo ao

lidar com as caracteriacutesitcas do grupo heterogecircneo devido agrave dificuldade de

comunicaccedilatildeo para coordenaccedilatildeo dos membros associados

40

A conclusatildeo geral de Olson eacute de que grupos pequenos atuam com maior

eficiecircncia e isso se evidencia pela experiecircncia praacutetica quando se observa a forccedila e o

poder residente na existecircncia de comitecircs subcomitecircs e pequenos grupos de

lideranccedila Conforme Olson (1999) ldquoos comitecircs devem ser pequenos quando se

espera accedilatildeo e relativamente grandes quando se buscam pontos de vista reaccedilotildeesrdquo

Outros autores (JAMES 1951 HARE 1952) citados em OLSON (1999) corroboram

que grupos e subgrupos ativos tendem a ser muito menores do que os grupos e

subgrupos que natildeo agem

Essa discussatildeo suscita a necessidade de saber se haacute uma definiccedilatildeo sobre o

nuacutemero apropriado de membros para se efetivar melhor participaccedilatildeo dos indiviacuteduos

em uma accedilatildeo coletiva Sobre isto Olson (1999) considera que haacute uma dificuldade de

se analisar o tamanho do grupo e o comportamento do individuo poreacutem faz uma

alusatildeo aos pequenos e grandes grupos com as mudanccedilas das sociedades primitivas

para as sociedades modernas

nas sociedades primitivas os pequenos grupos primaacuterios prevaleceram porque eram mais adequados ( ou pelo menos suficientes) para desempenhar certas funccedilotildees para o povo dessas sociedades Nas sociedades modernas em contraste presume-se que predominem as grandes associaccedilotildees porque na conjuntura moderna soacute elas satildeo capazes de desempenhar ( ou satildeo mais aptas a desempenhar) certas funccedilotildees uacuteteis ao povo dessas sociedades (OLSON 1999 p32)

Deste modo Olson (1999) constata que haacute um ldquoinstintordquo ou ldquotendecircnciardquo para

formar associaccedilotildees que se manifestam tanto nos pequenos grupos familiares e de

parentesco das sociedades primitivas quanto nas grandes associaccedilotildees voluntaacuterias

das sociedades modernas

O autor verifica tambeacutem que os pequenos grupos quando organizados

costumam reunir e empregar todas as suas energias ao passo que nos grupos

grandes essas energias permanecem com muito mais frequumlecircncia em estado

potencial jaacute que os membros natildeo dedicam ao grupo toda sua capacidade produtiva

Outra observaccedilatildeo empregada por Olson (1999) para justificar sua tese eacute que ldquono

niacutevel do pequeno grupo a sociedade conseguiu coesatildeordquo portanto eacute proposto que

em grupos maiores deva-se manter alguns traccedilos do pequeno grupo

Um importante aspecto observado por Olson (1999) eacute sobre o consenso

grupal Conforme o autor natildeo eacute de se esperar que haja consenso numa accedilatildeo

grupal pois isso raramente pode ocorrer Mas conforme este autor eacute importante

41

distinguir entre os obstaacuteculos agrave accedilatildeo coletiva que se devem de um lado agrave falta de

consenso no grupo e de outro os que se devem agrave falta de incentivos individuais Se

houver muitos desacordos conforme o autor natildeo haveraacute esforccedilo coordenado e

voluntaacuterio mas se houver um alto grau de concordacircncia a respeito do que se quer e

da forma de obtecirc-lo eacute quase certo que haveraacute accedilatildeo grupal eficiente

Mais uma constataccedilatildeo que deve ser considerada conforme Olson (1999) eacute

que em casos que natildeo haja nenhum incentivo econocircmico para que um indiviacuteduo

contribua para a realizaccedilatildeo de um interesse grupal pode haver contudo um

incentivo social para que ele decirc sua contribuiccedilatildeo Nestes casos o autor considera

status desejo de prestiacutegio respeito aceitaccedilatildeo pelo grupo motivaccedilotildees de fundo

social e psicoloacutegico Essas consideraccedilotildees justificam a existecircncia de diferentes

motivaccedilotildees para se unir a um grupo podem tambeacutem estar associadas agraves

necessidades gerada por ldquodesejos e oportunidadesrdquo ou preferecircncias dos indiviacuteduos

ao objetivo que se espera alcanccedilar conforme descrito anteriormente No entanto

para Olson (1999) os incentivos sociais e pressatildeo social funcionam somente em

grupos de tamanho menor em grupos pequenos o bastante para que cada membro

possa ter um contato face a face com todos os demais jaacute em grupos grandes Soacute determinados acertos institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo como um todo Mesmo em grupos menores o benefiacutecio geralmente natildeo seraacute provido em um niacutevel oacutetimo mas quanto maior for o grupo mais longe ficaraacute de atingir o ponto oacutetimo de provimento do benefiacutecio coletivo Tal subotimalidade poderaacute ser superada em grupos marcados pela disparidade de recursos individuais ou intensidade de interesse no bem puacuteblico entre seus membros Tal configuraccedilatildeo implicaraacute entretanto em uma tendecircncia agrave exploraccedilatildeo do grande pelo pequeno participantes do interesse grupal (OLSON 1999 p47)

Tomando-se como base esta afirmativa e conforme mostram os dados

apresentados anteriormente nas cooperativas agropecuaacuterias de leite haacute grupos

distintos de produtores conforme os estratos sociais de produccedilatildeo Nesses grupos

haacute um nuacutemero muito maior de pequenos produtores em relaccedilatildeo a grandes

produtores em seus quadros sociais Estes pequenos produtores somam um

montante menor em volume de leite em relaccedilatildeo ao volume dos grandes produtores

Sendo assim os grandes produtores formam um nuacutemero menor de membros

associados agrave cooperativa Entatildeo estes tecircm mais possibilidades de se organizarem e

fazer prevalecer seus interesses em relaccedilatildeo aos pequenos produtores Situaccedilatildeo

caracteriacutestica das anaacutelises realizadas pela Teoria da Escolha Racional

42

O comportamento de indiviacuteduos em accedilatildeo coletiva eacute tambeacutem estudado em

outras vertentes Dentre outros autores Mary Douglas (1998) critica as proposiccedilotildees

de Olson que aqui foram expostas Um ponto inicial que distancia os dois autores

eacute sobre a racionalidade Os neo-institucionalistas corrente teoacuterica de Douglas

definem a racionalidade dos agentes como sendo limitada e portanto dependente

do apoio institucional quando da tomada de decisotildees enquanto para Olson (1999)

o indiviacuteduo como um ser racional toma suas decisotildees baseado no conhecimento

(ALCAcircNTARA 2003) Para a antropoacuteloga natildeo existe a possibilidade de descartar os

problemas enfrentados por uma comunidade pequena na explicaccedilatildeo da accedilatildeo

coletiva neste ponto ela concorda com Olson (1999) mas aponta como falha na

argumentaccedilatildeo deste autor a alegaccedilatildeo de que em escala pequena o grupo promove

confianccedila muacutetua no sentido de que a confianccedila muacutetua eacute a base da comunidade

Olson (1999) natildeo expotildee isso diretamente mas ao valorizar as caracteriacutesticas de

pequenos grupos das comunidades primitivas fica impliacutecita essa consideraccedilatildeo pois

eacute certo que confianccedila eacute uma instituiccedilatildeo presente nesse tipo de grupo Caso ela seja

quebrada por um membro este sofre as coerccedilotildees pelo proacuteprio grupo em relaccedilatildeo ao

seu comportamento O que Olson (1999) defende eacute que por si soacute a confianccedila na

cooperaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para garantir que indiviacuteduos cooperem numa accedilatildeo

coletiva

Douglas (1998) se mostra ambiacutegua pois para ela a solidariedade soacute eacute

possiacutevel quando os indiviacuteduos compartilham categorias de pensamento Mas

fundamentada em Durkheim considera que para compreender a solidariedade eacute

necessaacuterio examinar formas elementares de sociedade ou seja aquelas que natildeo

dependem das trocas de serviccedilos e produtos diferenciados Sob esse aspecto

portanto Olson natildeo se contradiz por deixar claro que suas colocaccedilotildees satildeo

consideradas para grupos que tenham uma atividade econocircmica envolvida Douglas

(1998) ressalta ainda que a maior parte das organizaccedilotildees tem seu iniacutecio sob forma

de comunidades pequenas Nesse ponto Olson (1999) natildeo se descuidou dessa

prerrogativa pois natildeo desconsidera essa perspectiva ao afirmar que todo ldquogrande

grupo deveria manter algumas caracteriacutesticas de pequeno grupordquo dadas as suas

vantagens

Outro ponto para Douglas eacute que a instituiccedilatildeo interfere fornecendo a visatildeo

que o indiviacuteduo teraacute sobre determinado problema Neste caso o indiviacuteduo transfere

43

a ela a responsabilidade de decidir em seu nome Mesmo que essa transferecircncia

natildeo seja nominal uma vez que este natildeo deixa de responder ao que se questiona

Poreacutem ele atribui a sua resposta aos preceitos (valores) fornecidos pela instituiccedilatildeo agrave

qual ele encontra-se afiliado ou agrave qual ele recorreu (ALCAcircNTARA 2003)

Haacute ambiguumlidade em Douglas (1989) tambeacutem neste ponto A autora natildeo nega

o fato de que as instituiccedilotildees satildeo formadas de indiviacuteduos que iratildeo imprimir nestas

caracteriacutesticas suas influenciando na sua estrutura interna Ainda segundo a autora

satildeo os indiviacuteduos um a um que escolhem agir de dada forma Deste modo a autora

daacute abertura para inferirmos que se a instituiccedilatildeo influencia na accedilatildeo do indiviacuteduo

pode-se dizer sim que ela tem autonomia Se os indiviacuteduos agem agrave sua proacutepria

maneira entatildeo natildeo haacute garantia de que os indiviacuteduos que estatildeo no centro das

instituiccedilotildees compartilharatildeo a melhor escolha que seria vista pelo indiviacuteduo externo

Conforme Alcacircntara (2003) para Douglas um grupo agiraacute portanto de

determinada forma natildeo somente devido agraves necessidades e caracteriacutesticas de seus

integrantes mas de acordo com os preceitos institucionais que orientam as suas

accedilotildees ldquoas instituiccedilotildees antecipam a accedilatildeo coletivardquo Neste ponto na oacutetica de Olson

(1999) poder-se-ia interpretar isso diferentemente

A conclusatildeo eacute de que o aprofundamento dos estudos de Olson (1999) na

discussatildeo sobre o comportamento dos indiviacuteduos nos diferentes tamanhos de

grupos na accedilatildeo coletiva eacute um ponto relevante para valorizaccedilatildeo da sua teoria pois

um desafio dos proacuteprios membros de organizaccedilotildees coletivas eacute justamente ter

habilidade para lidar com as diferentes situaccedilotildees que surgem agrave medida que a

organizaccedilatildeo cresce

Portanto natildeo se esgotam aqui as consideraccedilotildees sobre as interpretaccedilotildees de

Olson (1999) no entanto face agrave afinidade e consenso com a teoria da escolha

racional eacute que seraacute feito a interpretaccedilatildeo dos resultados obtidos com a pesquisa de

campo a partir da realidade vivida pelo produtor rural enquanto membro de

cooperativa agropecuaacuteria onde se formaliza sua participaccedilatildeo na coletividade para

defesa de seus interesses Segue-se antes a apresentaccedilatildeo dos ldquodilemas do

cooperativismordquo no desenvolvimento social e econocircmico da organizaccedilatildeo

cooperativa

315 Dilemas do Cooperativismo

44

No cooperativismo accedilotildees coletivas acontecem numa primeira ordem entre os

associados e numa segunda ordem entre as cooperativas e outras empresas A

analogia feita por Olson (1999) sobre o comportamento do mercado competitivo com

a accedilatildeo coletiva natildeo estaacute distante do que se observa nos dois casos Entatildeo

conforme as accedilotildees que norteiam a adaptaccedilatildeo de cooperativas ao ambiente

competitivo origina-se o grande desafio em escolher estrateacutegias capazes de manter

seu papel de sistema produtivo centrado no homem e ao mesmo tempo tornar-se

uma organizaccedilatildeo apta a competir com empresas que satildeo orientadas exclusivamente

para o mercado (FERREIRA e BRAGA 2002) Ao centro encontra-se o cooperado

que fica entre cooperar ou natildeo e participar ou natildeo das accedilotildees de tomada de decisotildees

que influenciam no seu proacuteprio desenvolvimento e posicionamento das cooperativas

nesse ambiente

Quanto agrave anaacutelise da influecircncia do tamanho das cooperativas e a participaccedilatildeo

social pode-se inferir que agrave medida que as cooperativas crescem aumentam

tambeacutem as dificuldades de participaccedilatildeo ativa dos membros uma vez que estes

estaratildeo cada vez mais distantes das instacircncias de poder Aleacutem disso haacute registros de

que em alguns casos a questatildeo gerencial permite que esta se distancie tambeacutem dos

objetivos iniciais dos soacutecios como constatado por Duarte (2006) Pereira (2002) e

Perius (1983)

Um dilema que se instala jaacute na sua base eacute que na praacutetica dos princiacutepios

cooperativistas o fato de ser ldquoaberta a todas as pessoasrdquo uma mesma cooperativa

tem interfaces positivas que eacute a natildeo discriminaccedilatildeo das pessoas com neutralidade

social e racial poliacutetica e religiosa (Pereira 2002) e negativas causadas pela

heterogeneidade que se forma no quadro social dadas as consequumlecircncias jaacute

apresentadas neste trabalho Reforccedilado neste caso tanto por Olson (1999) quanto

por Douglas (1989) ao concordarem que a homogeneidade do grupo facilita sua

unidade e a promoccedilatildeo da accedilatildeo Deste modo os ldquodilemas do cooperativismordquo

conceituados por Pereira (2002) levam agrave dificuldade de cumprir a previsatildeo de

ldquoigualdade e participaccedilatildeo ativa dos soacuteciosrdquo

Essa eacute uma discussatildeo de difiacutecil consenso pois Schneider (1999) afirma que

Em muitos paiacuteses a adequaccedilatildeo dos seus valores princiacutepios ou normas agrave realidade cultural social e poliacutetica local se realizou de forma difiacutecil contraditoacuteria e lenta nos uacuteltimos anos assim como a necessidade de adequar-se a um mercado

45

cada vez mais competitivo obrigou muitas cooperativas a criar organizaccedilotildees grandes e administrativamente complexas por esse motivo tende a distanciar da sua funccedilatildeo social assim como dificultar a participaccedilatildeo do conjunto de associados (SCHNEIDER1999 p20-21)

Essa dificuldade eacute apontada por Boesche e Mafioletti (2007) como um desafio

a ser resolvido

O grande desafio da cooperativa eacute encontrar o ponto de equiliacutebrio entre os interesses de cada membro que compotildee a sociedade e os objetivos coletivos simbolizados na necessidade de permanecer ativa e dinacircmica Na praacutetica existe uma grande tensatildeo entre as dimensotildees econocircmica e social Poreacutem quando uma das duas eacute subestimada a cooperativa perde a sua identidade Manter o equiliacutebrio entre ambas as dimensotildees natildeo eacute uma tarefa simples pois se trata do relacionamento com pessoas o que nem sempre eacute faacutecil de administrar (BOESCHE e MAFIOLETTI 2007 p9)

A pressatildeo sobre o cooperativismo que o deixa voluacutevel em seus princiacutepios

tem origem tambeacutem na gestatildeo da poliacuteticas puacuteblicas A exemplo do cooperativismo

agropecuaacuterio dentre motivaccedilotildees e incentivos a organizaccedilatildeo de produtores rurais

tecircm sido estimuladas pelo Estado que exige a constituiccedilatildeo juriacutedica de cooperativas

associaccedilotildees conselhos comissotildees ou comitecircs para que possam ter acesso a

recursos oferecidos por programas de governo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas que

objetivam o seu desenvolvimento e sustentabilidade assim como indicados por

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Deste modo por meio de organizaccedilotildees

cooperativas o Estado tem facilitado acesso ao creacutedito fomento agrave agricultura

familiar e outros recursos que favorecem os produtores que a elas estatildeo associados

Entretanto organizaccedilotildees tecircm sido formadas sem a atenccedilatildeo que deveria ser

dada agraves condiccedilotildees proacuteprias dos membros e dos lugares que elas se desenvolvem

Por outro lado pensar na formaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo sem que os membros

tenham tido interaccedilotildees anteriores para que se desenvolva confianccedila no grupo

dificilmente haveraacute cooperaccedilatildeo e consequentemente desejo de participaccedilatildeo

premissa que eacute corroborada por Bueno (2004)

O que mostra Schneider (1981) e Campanhola e Graziano da Silva (2000) eacute

que nas comunidades tem havido formas de manipulaccedilatildeo na composiccedilatildeo de

conselhos comissotildees cooperativas e associaccedilotildees rompendo-se com a ideacuteia

original de representatividade democraacutetica para a defesa do exerciacutecio da cidadania

Eacute possiacutevel que ocorrecircncias dessa natureza sigam em ambiente de cooperativas

pois essa condiccedilatildeo se perpetua com tendecircncias de crescimento de cooperativas que

tendem a reproduzir e mesmo reforccedilar as condiccedilotildees estruturais vigentes na

46

sociedade (Schneider1981) Com a mesma opiniatildeo Pereira (2002) diz que o modo

de produccedilatildeo capitalista se reproduz no interior das cooperativas

Diferente de como observam estes autores grande parte da literatura que

trata do tema natildeo considera tais conflitos e outros problemas que decorrem das

diferenccedilas sociais do tamanho das cooperativas e a baixa participaccedilatildeo dos

associados nestas organizaccedilotildees

Para Schneider (2001) cooperativas que querem ser fieacuteis aos ideais dos

pioneiros devem abraccedilar o conjunto de princiacutepios por eles formulados e depois

redefinidos pelas instituiccedilotildees herdeiras ldquosegundo as necessidades de cada eacutepocardquo

Nesse aspecto o autor define fatores internos tradicionais e fatores decorrentes da

mudanccedila na estrutura e na organizaccedilatildeo de cooperativas como desafios agrave

ldquodemocracia-participaccedilatildeo cooperativardquo

bull pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias

bull os integrantes da direccedilatildeo geralmente provecircm dos estratos soacutecio-econocircmicos meacutedios ou altos

bull os proacuteprios associados em geral estatildeo mais interessados em obter benefiacutecios e vantagens econocircmicas imediatas sem uma correspondente assunccedilatildeo consciente da cooperativa como organizaccedilatildeo especiacutefica com a contrapartida de obrigaccedilotildees e compromissos para com sua organizaccedilatildeo

bull a transformaccedilatildeo na estrutura das organizaccedilotildees cooperativas muito influenciou na vigecircncia da democracia-participaccedilatildeo e autonomia cooperativa

bull cooperativas pequenas administrativamente simples e vizinhas ao homem apresentavam um estilo de democracia diferente do estilo de democracia e autonomia que se daria com a evoluccedilatildeo mais recente das cooperativas e ao assumirem dimensotildees empresariais tornando-se cooperativas grandes e espacialmente extensas poderosas e administrativamente complexas (SCHNEIDER 1999 p20-21)

Esses fatores sinalizam situaccedilotildees que dificultam tanto a oportunidade quanto

o interesse dos soacutecios em melhorar a participaccedilatildeo o que justifica a existecircncia de

problemas de accedilatildeo coletiva Surge por isso a necessidade de maior coerecircncia social

nas cooperativas a fim de permitir melhor funcionamento assim como maior

interaccedilatildeo entre as pessoas

A questatildeo espacial pode ser relevante pois o que constroacutei o fortalecimento

dos grupos satildeo as relaccedilotildees e interaccedilotildees entre as pessoas e os benefiacutecios que

surgem destas O processo de desenvolvimento das cooperativas como mostrado

por Schneider (1999) favorece esse dilema Nesse aspecto como cooperativas que

47

tecircm sido desenvolvidas nesse modelo poderiam funcionar em diferentes tamanhos

possibilitando a participaccedilatildeo dos soacutecios como preconizado originalmente no

princiacutepio cooperativista para conseguir atingir seus objetivos

Conforme a perspectiva interpretativa de Ferreira Neto (1996) ao abordar

sobre ponto comum do corporativismo e pluralismo indiviacuteduos agem racionalmente

no sentido de organizar e articular seus interesses como forma de maximizar suas

possibilidades de realizaccedilatildeo exitosa deste modo a escolha do indiviacuteduo se daacute num

caacutelculo de custo benefiacutecio elaborado Essa afirmaccedilatildeo estaacute em sintonia com os

argumentos de Olson (1999) sobre o grau de participaccedilatildeo individual numa causa

conforme seus interesses Sob este ponto de vista as cooperativas satildeo em muitos

casos a uacutenica forma de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo de produtores rurais Dentre os

incentivos esta seria uma motivaccedilatildeo para participar

Deste modo pode-se inferir que a participaccedilatildeo no cooperativismo natildeo estaacute

relacionada somente a uma preferecircncia individual mas uma necessidade gerada por

oportunidades pois ao considerar suas alternativas a associaccedilatildeo agrave cooperativa

supre sua capacidade cada vez menor de negociar sozinho sua produccedilatildeo Nesta

linha de pensamento o interesse em associar eacute motivado pela possibilidade de

utilizar a cooperativa como canal de comercializaccedilatildeo entre outros benefiacutecios Entre

os membros desse quadro encontram-se em maior nuacutemero os pequenos produtores

rurais entatildeo poder-se-ia dizer que estes deveriam ser os mais interessados em

participar na articulaccedilatildeo de estrateacutegias da cooperativa Mas o que se observa eacute que

o pequeno produtor participa menos das tomadas de decisotildees

Valadares (2005) mostra que a institucionalizaccedilatildeo da participaccedilatildeo cooperativa

por meio do Comitecirc Educativo cria na cooperativa um espaccedilo para a reproduccedilatildeo das

contradiccedilotildees da sociedade ou para operacionalizaccedilatildeo de mudanccedilas O estudo deste

autor revela que a racionalidade no Comitecirc Educativo eacute proacutepria dos modelos teoacutericos

de desenvolvimento humano e de produtividade e eficiecircnica e o quadro de referecircncia

dos participantes nas atividades deste Comitecirc eacute determinado por uma visatildeo

particular individual e de interesse pessoal dos dirigentes em relaccedilatildeo ao resultado

pretendido com o envolvimento das comunidades no processo decisoacuterio Este

contribui eficazmente para o aprimoramento das condiccedilotildees tecnoloacutegicas da

produccedilatildeo de leite mas natildeo prepara o cooperado para participar politicamente da

gestatildeo da empresa

48

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Pereira (2002) assim como

Schneider (1981) mostram que formas de subordinaccedilatildeo se perpetuam em

organizaccedilotildees cooperativas Isso mostra que associados cooperam individualmente

com as lideranccedilas que permanecem em atividade sem maior envolvimento em suas

accedilotildees Neste caso as motivaccedilotildees para deixaacute-los nesse quadro poderiam ser

ilustradas de duas formas pelo dilema do prisioneiro e pelo caso free rider

Os conceitos de saiacuteda e voz desenvolvidos por Hirschman (1996) citado em

Machado (2007) ajudam a definir essa relaccedilatildeo Para esse autor a forma que

agentes insatisfeitos manifestam sua indignaccedilatildeo com o natildeo atendimento de suas

expectativas acontecem pela

saiacuteda como pura e simplesmente o ato de partir em geral porque se julga que um bem serviccedilo ou benefiacutecio melhor eacute fornecido por outra firma ou organizaccedilatildeordquo enquanto a ldquovozldquoeacute o ato de reclamar de organizar-se para reclamar ou protestar com a intenccedilatildeo de obter diretamente uma recuperaccedilatildeo da qualidade que foi prejudicada (HIRSCHMAN 1996 p 20 )

Segundo MACHADO (2007) de modo geral ainda para Hirschman a relaccedilatildeo

principal entre saiacuteda e voz eacute a de que ldquoa voz pode ser vista como sobra Quem natildeo

usa a saiacuteda eacute candidato agrave vozrdquo O uso da voz eacute bastante influenciado pelo tipo de

organizaccedilatildeo

Mesmo que hajam interaccedilotildees entre os soacutecios a oportunidade de

manifestar e concretizar opiniotildees que resultam na tomada de decisotildees se daacute em

assembleacuteias Nesse caso se o produtor manifestar sua opiniatildeo contraacuteria a dos

gestores mesmo que outros produtores sejam da mesma opiniatildeo ele natildeo tem

certeza de que seraacute apoiado pelos demais Entatildeo ele prefere cooperar que eacute manter

o status quo do quadro exposto Se os outros pensarem da mesma forma ocorre

como no dilema do prisioneiro natildeo haveraacute cooperaccedilatildeo A situaccedilatildeo iraacute perpetuarPor

outro lado pode ser racional no sentido de que o produtor pode optar por natildeo

participar jaacute que o envolvimento demanda o custo do seu tempo de trabalho que

poderia ser empregado em outra atividade na sua propriedade Mesmo sem

participar ele tem garantida sua parcela nos benefiacutecios puacuteblicos do cooperativismo e

nos resultados uma vez que as sobras satildeo distribuiacutedas proporcionais ao volume de

produccedilatildeo entregue agrave organizaccedilatildeo De outra forma sua falta de participaccedilatildeo tambeacutem

natildeo o impede de usar serviccedilos que satildeo disponibilizados a todos Isso pode ser

tambeacutem outro exemplo do comportamento free rider (carona) no cooperativismo

49

Deste modo o custo de agirem como ldquocaronardquo nessa situaccedilatildeo eacute refletido

como incentivo agrave pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias como exposto por

Schneider (1999) Eacute incentivo tambeacutem para que o pequeno grupo que lidera a

cooperativa tenha outros benefiacutecios por permanecerem nos cargos ainda que

sejam incentivos natildeo econocircmicos como status e prestiacutegio demonstrados em

(OLSON 1999) que geram outros benefiacutecios para si

Outro dilema comum no cooperativismo que envolve o problema do carona

surge conforme Zylbersztajn (2002) quando existem problemas de observabilidade

e monitoramento tornando possiacutevel um agente comportar-se oportunisticamente

Neste caso a utilizaccedilatildeo dos serviccedilos da cooperativa pelos cooperados pode incorrer

no problema do carona

quando a assistecircncia teacutecnica for demandada em demasia por um produtor ou quando o membro da cooperativa adquirir os insumos da cooperativa ou ainda quando um natildeo cooperado entregar o produto para a cooperativa por meio de um membro auferindo eventuais vantagens para as quais natildeo contribuiu (ZYLBERSZTAJN 2002 p 60)

Outro dilema que se identifica eacute o da gestatildeo participativa Tendo em vista que

em funccedilatildeo da diversidade de atuaccedilatildeo na cadeia produtiva a montante e a jusante a

cooperativa torna-se uma organizaccedilatildeo complexa Deste modo conforme

Zylbersztajn (2002) Quando ocorre a gestatildeo pelo cooperado de organizaccedilotildees com elevado grau de complexidade a cooperativa incorre em um problema de separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle da corporaccedilatildeo A natildeo separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle introduz ineficiecircncias que se tornam relevantes e o cooperado que gerencia com sucesso um empreendimento cooperativo no seu iniacutecio tenderaacute a perder eficiecircncia (ZYLBERSZTAJN 2002 p59)

Portanto exige-se que o gestor da organizaccedilatildeo cooperativa tenha habilidades

que podem natildeo ser encontradas dentro seu quadro social Por esse motivo o grupo

de produtores responsaacuteveis pela gestatildeo se vecirc por decidir contratar um especialista

em gestatildeo ou eles mesmo reconhecendo suas limitaccedilotildees executam a tarefa de

dirigentes

Estudos de Perius (1983) e Schneider (1999) mostram que quando se tem um

gestor natildeo soacutecio responsaacutevel pelo desenvolvimento da empresa cooperativa em

muitos casos este tende a priorizar decisotildees que melhor atenderatildeo agrave empresa do

que as necessidades dos associados Daiacute surge um dilema Os soacutecios tecircm que

decidir por deixar que a empresa cooperativa seja gerida profissionalmente face agrave

necessidade criada pelo proacuteprio ambiente econocircmico que estaacute instalada ou arrisca-

50

se em ser auto-gerida conforme prevecirc o princiacutepio da autogestatildeo mas neste caso

corre-se o risco de natildeo ter eficiecircncia como prevecirc o economista Zylbersztajn (2002)

No estudo sobre problemas estruturais do cooperativismo Perius (1983)

exprime uma melhor explicaccedilatildeo para identificaccedilatildeo deste dilema

() o poder interventaacuterio como medida saneadora de maacutes administraccedilotildees vem a ferir a natureza privada das sociedades cooperativas que como sociedades de pessoas devem ser geridas e ldquoautocontroladasrdquo pelos proacuteprios associados Infelizmente a participaccedilatildeo associativa e operacional dos associados na vida das cooperativas eacute muito fraca O princiacutepio do controle democraacutetico pelo qual as decisotildees satildeo tomadas pela maioria eacute constantemente esquecido pois minorias acabam homologando via de regra as decisotildees anteriormente arquitetadas estudadas e projetadas (PERIUS 1982 p101)

Amodeo (2001) concorda com Perius (1982) e Pereira (2002) ao se referir a

um possiacutevel comprometimento da supremacia dos princiacutepios em alguns casos de

organizaccedilotildees cooperativas frente a estrateacutegias utilizadas na gestatildeo Segundo esta

autora muitas vezes esses valores e princiacutepios natildeo satildeo considerados em toda sua

magnitude na gestatildeo de organizaccedilotildees cooperativas

Todas essas questotildees tecircm ao centro o comportamento dos indiviacuteduos que se

associam e formam as cooperativas Pinho (1982) descreve que o ldquohomus

cooperativusrdquo da forma concebida por alguns estudiosos do cooperativismo eacute

apenas uma abstraccedilatildeo que permanece no campo do comportamento ideal ou seja

o que seria o comportamento esperado do individuo no cooperativismo

o ldquohomem cooperativordquo eacute honesto justo respeitoso solidaacuterio e responsaacutevel Age animado de ldquoespiacuterito cooperativistardquo ou seja de uma atitude interior de compreensatildeo de aprovaccedilatildeo e de adesatildeo agrave moral cooperativa assim como agraves finalidades e objetivos dos quais as cooperativas satildeo o meio E ao mesmo tempo agraves razotildees de ser qualitativas e profundas dessas finalidades Natildeo se trata somente de uma crenccedila intelectual mas tambeacutem de um sentimento e de uma vontade que se situam ao niacutevel da consciecircncia moral (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

De outra forma mostra tambeacutem o comportamento individual na praacutetica

cooperativista

a pluralidade de papeacuteis atribuiacutedos ao homem cooperativo dificulta o ajustamento na pessoa do cooperado de comportamentos tatildeo diferentes de associado cooperado ou cooperador proprietaacuterio empresaacuterio administrador gerente fiscal usuaacuterio etc (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

Portanto o dilema do ldquohomem cooperativordquo reflete na realidade o caraacuteter

racional dos indiviacuteduos Outra percepccedilatildeo de Pinho (1982) neste contexto eacute natildeo

ignorar que a associaccedilatildeo se daacute com objetivos pessoais afim de realizar suas

atividades econocircmicas com mais eficaacutecia o que corrobora pressupostos da Teoria

da Escolha Racional em que o indiviacuteduo age segundo seus caacutelculos racionais de

51

forma exitosa A autora mostra entretanto essa relaccedilatildeo de racionalidade na accedilatildeo

do associado Para Pinho (1982) o soacutecio age tambeacutem conforme a necessidade de

ajustamento da sua participaccedilatildeo na realizaccedilatildeo de suas obrigaccedilotildees com a

cooperativa Ou seja mostra o ponto de vista do associado que renuncia sua

autonomia racionalmente Como associado-empresaacuterio-usuaacuterio racional o cooperado renuncia a uma parte de sua autonomia e de seu poder para se unir cooperativamente a outros empresaacuterios submetendo-se aos princiacutepios de igualdade e da gestatildeo democraacutetica bem como agrave formaccedilatildeo de um patrimocircnio ou acervo de utilizaccedilatildeo coletiva mas impartilhaacutevel entre os associados Aceita limitaccedilotildees agrave sua decisatildeo pessoal imposta pelas assembleacuteias gerais de cooperados em troca de determinadas vantagens (PINHO 1982 p 66)

Deste modo o comportamento do cooperativo representa um tipo de ajustamento ao meio tal como este eacute percebido ndash natildeo pelo idealista romacircntico ndash mas pelo cooperado-produtor ou pelo cooperado empresaacuterio-usuaacuterio Como o meio ambiente percebido eacute dinacircmico haacute um permanente esforccedilo de ajustamento agraves mudanccedilas e de elaboraccedilatildeo de ldquoplanos cooperativos adequados agrave realidade (PINHO 1982 p 66)

Esta autora manifesta assim sua opiniatildeo sobre o instrumentalismo

cooperativista embora natildeo aprofunde nessa discussatildeo Pinho (1982) considera que

esse comportamento eacute amplamente utilizado seguindo as regras praacuteticas de

funcionamento concebidas pelos idealizadores do cooperativismo mas sem o

objetivo de reformar a sociedade isto eacute para a solidariedade Deste modo a autora

corrobora com a opiniatildeo de que a doutrina cooperativista por si soacute natildeo tem sido

eficaz para impedir que o comportamento tipicamente utilitarista comum do modelo

capitalista assim como problemas do dilema do prisioneiro e oportunismo sejam

encontrados em cooperativas

O desenvolvimento social e consequumlente melhoria na qualidade de vida dos

soacutecios satildeo entendidos como objetivo finaliacutesitico de uma cooperativa por meio da

promoccedilatildeo econocircmica natildeo obstante a isso autores fazem discussatildeo em torno dos

meios para conseguir esse fim De modo geral a forma de destinar os recursos

obtidos com o resultado das operaccedilotildees econocircmicas da cooperativa eacute em si um

dilema Pois os associados eacute que tomam tais decisotildees Mais frequentemente o

investimento tem sido feito na proacutepria cooperativa dadas as necessidades de

modernizaccedilatildeo o recurso deixa de ser utilizado pelo associado em seu benefiacutecio

proacuteprio

52

Quando ele aprova a integralizaccedilatildeo do capital que eacute o investimento na

proacutepria cooperativa ao inveacutes de decidir pela distribuiccedilatildeo este abre matildeo de suas

vontades e necessidades pessoais em benefiacutecio do coletivo Se nesta decisatildeo se o

associado natildeo estiver sob nenhuma pressatildeo coercitiva como no exemplo do dilema

do prisioneiro este estaraacute cumprindo seu papel do ldquohomus cooperativusrdquo como

definido por Pinho (1982) A necessidade desse tipo de accedilatildeo deve estar clara para o

indiviacuteduo que queira fazer parte de uma cooperativa pois esse eacute o comportamento

que se espera do cooperado

De outra forma conforme Pinho (1982) haacute um dilema entre a praacutetica

cooperativista de inspiraccedilatildeo rochdaleana e a praacutetica cooperativista sem Rochdale

isto eacute marcado tatildeo somente quando haacute uma racionalidade econocircmica e

administrativa da empresa cooperativa sem adesatildeo agrave moral cooperativista

Deste modo haacute uma diferenccedila qualitativa na eficaacutecia da cooperativa mesmo

que ambos os casos tenham resultados econocircmicos eficientes Haacute portanto uma

definiccedilatildeo distinta entre eficiecircncia e eficaacutecia que pode ser tomada para chamar a

atenccedilatildeo e observar a gestatildeo cooperativa Conforme Drucker (1994) eficiecircncia eacute

fazer as coisas de maneira correta eficaacutecia satildeo as coisas certas o resultado

depende de ldquofazer certo as coisas certasrdquo Uma metaacutefora simples usada por Augusto

(2006) clarifica isso ldquoeficiecircncia eacute cavar com perfeiccedilatildeo teacutecnica um poccedilo artesiano

eficaacutecia eacute encontrar a aacuteguardquo Para o contabilista Padoveze (2004) o lucro eacute a melhor

medida da eficaacutecia empresarial mas eficiecircncia permeia todas as accedilotildees e atividades

da empresa Portanto tomadas essas definiccedilotildees haacute uma visualizaccedilatildeo na diferenccedila

entre as praacuteticas cooperativistas expostas por Pinho (1982) Neste caso para

reconhecer os resultados em eficiecircncia e eficaacutecia no cooperativismo os indicadores

estariam em recorrer natildeo soacute a criteacuterios de eficaacutecia econocircmica mas tambeacutem a

criteacuterios de eficaacutecia social que se daria nos niacuteveis de desenvolvimento

envolvimento e participaccedilatildeo dos associados

Embora dilemas da ordem que foi apresentada ocorram no cooperativismo

organizaccedilotildees cooperativas funcionam com bons resultados e benefiacutecios extensivos

aos soacutecios Sobre isso Ostron citado em Olson (1995) ao comparar as iniciativas de

gestatildeo cooperativa de recursos comuns fez o seguinte questionamento ldquoPor que

certas instituiccedilotildees conseguiram superar a loacutegica da accedilatildeo coletiva e outras natildeo Da

sua comparaccedilatildeo emerge alguns requisitos para essa superaccedilatildeo Dos sugeridos por

53

Putnam (1996) haacute indicaccedilatildeo de que se deva ter clara definiccedilatildeo dos limites da

instituiccedilatildeo e participaccedilatildeo das partes interessadas assim como a definiccedilatildeo de regras

entre os agentes envolvidos Deste modo eacute percebido nesses dois pontos que haacute

pistas para direcionar o entendimento das dificuldades apontadas que satildeo comuns

em cooperativas Eacute nessa busca que posteriormente se faraacute uma apresentaccedilatildeo de

como se constroacutei a participaccedilatildeo e procurar mostrar como confianccedila cooperaccedilatildeo e

capital social satildeo importantes para superaccedilatildeo dos dilemas no cooperativismo

32 A Participaccedilatildeo 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo A participaccedilatildeo tem sido considerada em diferentes pesquisas e estudos sobre

desenvolvimento uma importante ferramenta para potencializar o desenvolvimento

humano Abordagens de Bordenave (1983) e Freire (1982) indicam a participaccedilatildeo

como direito das pessoas e caminho para auto-realizaccedilotildees ao inserir o indiviacuteduo em

discussotildees que o fazem assumir atitudes realizadoras para si Nesta pesquisa a

participaccedilatildeo eacute abordada como uma possibilidade para reduccedilatildeo do distanciamento

entre produtores rurais e as atividades de cooperativas rurais agraves quais satildeo

associados

Conforme Alencar (2001) as poliacuteticas de modernizaccedilatildeo da agricultura por

volta da deacutecada de 70 foram bastante seletivas em termos de distribuiccedilatildeo de

recursos Do mesmo modo se deram as poliacuteticas de pesquisa e assistecircncia teacutecnica

Neste sentido entre outros resultados houve maior emergecircncia de diferenciaccedilatildeo

social com a formaccedilatildeo de categorias distintas de produtores e trabalhadores rurais

Na populaccedilatildeo rural ldquopara alguns significou proletarizaccedilatildeo ou eminecircncia de

desintegraccedilatildeo de suas unidades de produccedilatildeo para outros abertura de novas

oportunidades e crescimentordquo A partir daiacute diferentes estrateacutegias foram sendo

estabelecidas para orientar programas que tivessem como objetivo incluir

segmentos sociais colocados agrave margem desse ldquonovo modelo de desenvolvimentordquo

Nessa eacutepoca algumas organizaccedilotildees natildeo governamentais fundamentadas

nas obras de Paulo Freire jaacute desenvolviam metodologias de intervenccedilatildeo centradas

na ldquoparticipaccedilatildeordquo de pequenos produtores na formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de

projetos de desenvolvimento (ALENCAR 2001) A partir daiacute ldquoparticipaccedilatildeordquo foi

54

incorporada em outras experiecircncias O foco comum passou a ser ldquoparticipaccedilatildeo das

pessoasrdquo Entretanto conforme Alencar (2001) as estrateacutegias adotadas de

participaccedilatildeo variam de acordo com a visatildeo que os agentes possuem do papel ou

natureza da intervenccedilatildeo Eacute dessa visatildeo que resultam diferentes dimensotildees e

significados atribuiacutedos agrave participaccedilatildeo

Portanto o conceito de participaccedilatildeo admite diferentes conotaccedilotildees e pode ser

visto como um termo ambiacuteguo nas ciecircncias sociais Dentre os significados atribuiacutedos

por Oakley e Marsden citados em Alencar (2001) estatildeo associados agrave participaccedilatildeo o

sentido de colaboraccedilatildeo desenvolvimento de comunidade organizaccedilatildeo e

empowering (aquisiccedilatildeo de poder) Ao analisar diferentes projetos de

desenvolvimento esses autores supracitados atribuiacuteram novos sentidos ao temo

participaccedilatildeo

1 Envolvimento voluntaacuterio dos indiviacuteduos nos programas sem contudo participarem da sua elaboraccedilatildeo

2 Sensibilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos aumentando-lhes a responsabilidade para responderem as propostas de programas de desenvolvimento e encorajando iniciativas locais

3 Envolvimento dos indiviacuteduos no processo de tomada de decisatildeo na implementaccedilatildeo dos programas na divisatildeo dos benefiacutecios e na avaliaccedilatildeo das decisotildees tomadas

4 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com o direito e dever dos indiviacuteduos participarem na soluccedilatildeo dos seus problemas terem responsabilidade de assegurar a satisfaccedilatildeo de suas necessidades baacutesicas mobilizarem recursos locais e sugerirem novas soluccedilotildees bem como de criarem e manterem as organizaccedilotildees locais

5 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com a iniciativa de pessoas e grupos visando a soluccedilatildeo de seus problemas e a busca de autonomia

6 Organizaccedilatildeo de esforccedilos de pessoas excluiacutedas para que elas aumentem o controle sobre recursos necessaacuterios ao desenvolvimento e sobre as instituiccedilotildees que regulam a distribuiccedilatildeo desses recursos (ALENCAR 2001 P21)

Segundo Bordenave (1983) participar eacute uma necessidade humana e

universal cuja praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades natildeo menos baacutesicas

tais como a interaccedilatildeo com os demais homens a auto-expressatildeo o desenvolvimento

do pensamento reflexivo o prazer de criar e recriar coisas e ainda a valorizaccedilatildeo de

si mesmo pelos outros

Portanto Bordenave (1983) vecirc na participaccedilatildeo duas bases complementares

uma base afetiva ndash participamos porque sentimos prazer em fazer coisas com

outros e uma base instrumental ndash participamos porque fazer coisas com outros eacute

55

mais eficaz e eficiente que fazecirc-las sozinhos Esta uacuteltima afirmativa conota os

aspectos da participaccedilatildeo individual em accedilotildees coletivas discutidos neste trabalho e

que fundamentam o entendimento dos dilemas da participaccedilatildeo no cooperativismo

Conforme Pereira citado em Bento (1993) A participaccedilatildeo advem de uma situaccedilatildeo ou problema existente a partir do qual as pessoas unem-se para a) apresentar ideacuteias discutir e contribuir conforme a possibilidade de cada um para a soluccedilatildeo desses problemas ou dessa situaccedilatildeo e b) contrapor ou responder a essa situaccedilatildeo ou problema existente Portanto participar eacute um ato coletivo (BENTO 1993 p32)

Das diferentes aneiras de participar Bordenave (1983) apresenta conceitos

sobre tipos de participaccedilatildeo dentre os quais define participaccedilatildeo voluntaacuteria cujo

grupo eacute criado pelos proacuteprios participantes que definem sua proacutepria organizaccedilatildeo e

estabelecem seus objetivos e meacutetodos de trabalho Neste caso satildeo exemplos os

sindicatos livres as associaccedilotildees profissionais as cooperativas e os partidos

poliacuteticos Entretanto segundo este autor nem sempre a participaccedilatildeo voluntaacuteria surge

como iniciativa dos membros do grupo agraves vezes trata-se de uma participaccedilatildeo

provocada por agentes externos que ajudam outros a realizarem seus objetivos ou

os manipulam a fim de atingir seus proacuteprios objetivos previamente estabelecidos

Para Bordenave (1983) no processo de participaccedilatildeo eacute possiacutevel fazer parte sem

tomar parte Se refere a niacuteveis de participaccedilatildeo cujas diferenccedilas se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte

Deste modo Bordenave (1983) mostra graus de participaccedilatildeo em que os

membros de uma organizaccedilatildeo podem atuar sob o ponto de vista de maior ou menor

acesso aos controles das decisotildees dos membros Conforme o autor a participaccedilatildeo

varia de niacutevel da informaccedilatildeo agrave autogestatildeo sendo que o menor grau de participaccedilatildeo

eacute o da informaccedilatildeo Neste caso os dirigentes informam os membros da organizaccedilatildeo

sobre as decisotildees tomadas Contudo haacute casos de lideranccedilas que natildeo fazem o

mesmo Neste niacutevel a reaccedilatildeo dos membros agraves informaccedilotildees recebidas eacute observada

pelos agentes responsaacuteveis Estes por sua vez acatam as observaccedilotildees e

reconsideram uma decisatildeo inicial ou de modo contraacuterio natildeo aceitam o direito de

reaccedilatildeo

Em segundo niacutevel acontece a consulta facultativa em que a administraccedilatildeo

pode se quiser e quando quiser consultar outros membros solicitando criacuteticas

56

sugestotildees ou dados para resolver algum problema Quando a consulta eacute obrigatoacuteria

os integrantes devem ser consultados em certas ocasiotildees embora a decisatildeo final

pertenccedila ainda aos diretores

No niacutevel da elaboraccedilatildeorecomendaccedilatildeo os membros do grupo elaboram

propostas e recomendam medidas que a administraccedilatildeo aceita ou rejeita mas

sempre se obrigando a justificar sua posiccedilatildeo (Bordenave 1983)

Outro niacutevel considerado eacute o da co-gestatildeo sobre o qual

a administraccedilatildeo da organizaccedilatildeo eacute compartilhada mediante mecanismos de co-decisatildeo e colegialidade Aqui os administrados exercem uma influecircncia direta na eleiccedilatildeo de um plano de accedilatildeo e na tomada de decisotildees Comitecircs conselhos ou outras formas colegiadas satildeo usadas para tomar decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

O sexto niacutevel eacute o da delegaccedilatildeo

Eacute um grau de participaccedilatildeo onde os gestores tecircm autonomia em certos campos ou jurisdiccedilotildees antes reservados eles A administraccedilatildeo define certos limites dentro dos quais os administradores tecircm poder de decisatildeo Ora para que haja delegaccedilatildeo real os delegados devem possuir completa autoridade sem precisar consultar seus superiores para tomarem as decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

Ainda segundo Bordenave o niacutevel mais avanccedilado de participaccedilatildeo eacute o da

autogestatildeo neste

O grupo determina seus objetivos escolhe seus meios e estabelece os controles pertinentes sem referecircncia a uma autoridade externa Na autogestatildeo desaparece a diferenccedila entre administradores e administrados visto que nela ocorre a auto administraccedilatildeo (BORDENAVE 1983 p32)

Portanto parte da efetividade da participaccedilatildeo depende do comportamento

dos indiviacuteduos frente agraves diferentes situaccedilotildees em que satildeo envolvidos Deste modo

quando as pessoas satildeo envolvidas a participaccedilatildeo eacute percebida como uma estrateacutegia

para criaccedilatildeo de novas oportunidades e as pessoas por elas mesmas se

comprometem a apoiar as accedilotildees identificadas como melhor opccedilatildeo Para isso

conforme Alencar (2001) a forma de intervenccedilatildeo tem de ser um conjunto de accedilotildees

praticadas por agentes externos mas deve ser feita num caraacuteter educativo em que

a populaccedilatildeo alvo seja estimulada a desenvolver a habilidade de diagnosticar e

analisar seus problemas decidir coletivamente sobre as accedilotildees para solucionaacute-los

executar tais accedilotildees e avaliaacute-las

Oakley citado em ASBRAER (2007) faz uma distinccedilatildeo importante sobre

participaccedilatildeo como meio ou como fim na literatura e na praacutetica

Quando participaccedilatildeo eacute interpretada como meio descreve uma condiccedilatildeo e quando eacute interpretada como fim refere-se a um processo que tem como resultado participaccedilatildeo significativa Ateacute recentemente a noccedilatildeo que dominava a

57

praacutetica da participaccedilatildeo tinha sido efetivada por meio da criaccedilatildeo de organizaccedilotildees formais como as cooperativas e associaccedilotildees de agricultores Nos programas que foram realizados usando conceito de participaccedilatildeo nesses moldes certas melhorias econocircmicas foram realizadas mas poucos conseguiram participaccedilatildeo significativa Participaccedilatildeo como fim eacute a consequumlecircncia do processo de empoderamento e libertaccedilatildeo (ASBRAER 2007 p 36)

A ideacuteia contida no sentido da participaccedilatildeo como fim estaacute articulada ao

conceito de conscientizaccedilatildeo que se refere ao processo onde os indiviacuteduos passam a

compreender a realidade social que molda suas vidas bem como a capacidade que

possuem de transformar tal realidade (ALENCAR 2001) vencendo o que Freire

(1976) chama de ldquocultura do silecircnciordquo

Na cultura do silecircncio os indiviacuteduos dependentes ou dominados acham-se

semimudos ou mudos ou seja satildeo proibidos de participar criativamente na

transformaccedilatildeo da sociedade e por conseguinte proibidos de ser (Freire 1976) Esta

cultura do silecircncio eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia do

dominado com o dominador

A liberdade e oportunidade de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos nos niacuteveis

propostos em Bordenave (1983) portanto vatildeo depender de que seja superado a

ldquocultura do silecircnciordquo e que a estrutura da organizaccedilatildeo em que os indiviacuteduos se

associam utilize pelos seus teacutecnicos a intervenccedilatildeo de caraacuteter educativo a fim de

identificar juntos as limitaccedilotildees necessidades e expectativas de todosEntretanto os

dirigentes que estatildeo conduzindo a organizaccedilatildeo devem aceitar e desejar que essa

mudanccedila ocorra

Alencar (2001) mostra que a superaccedilatildeo da cultura do silecircncio estaacute

relacionada ao processo de constituiccedilatildeo da autoconfianccedila que eacute um conceito

definido por Galtung (1980) Segundo este autor autoconfianccedila eacute um processo em

que para construccedilatildeo de novas formas de interaccedilatildeo social deve-se destruir as

velhas formas de interaccedilatildeo iniciando novos padrotildees de cooperaccedilatildeo com a

destruiccedilatildeo do centro de monopoacutelio da interaccedilatildeo e das organizaccedilotildees

A autoconfianccedila eacute assim uma caracteriacutestica que as pessoas apresentam em

seu comportamento individual que transfere ao grupo e lhes daacute a capacidade de

negociaccedilatildeo e de reivindicaccedilatildeo Eacute a auto-expressatildeo sugerida em Bordenave (2003)

Portanto conforme estes autores a liberdade individual fundamenta a participaccedilatildeo eacute

um meio em que se consegue resolver problemas que ao indiviacuteduo parecem

insoluacuteveis se contar soacute com suas proacuteprias forccedilas

58

Neste ponto de vista o cooperativismo eacute uma forma de expressatildeo da

participaccedilatildeo Uma cooperativa eacute formalmente definida como uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees e

necessidades econocircmicas sociais e culturais comuns Se baseiam em valores de

ajuda muacutetua responsabilidade democracia igualdade e solidariedade Deste modo

com esta ideologia formaram-se diferentes estruturas de organizaccedilotildees

cooperativas em certos casos grandes e complexas Entretanto as prioridades e

objetivos nessas organizaccedilotildees nem sempre satildeo direcionados agraves necessidades da

maioria de seus membros Todavia esses associados podem por si mesmos

munidos de autoconfianccedila criar oportunidades para assegurar sua participaccedilatildeo em

diferentes niacuteveis na organizaccedilatildeo Natildeo menos do que fazer valer o princiacutepio da auto

gestatildeo

322 A Participaccedilatildeo em cooperativas

O cooperativismo tem como princiacutepio a proposta do mais elevado niacutevel de

participaccedilatildeo conforme descriccedilotildees de Bordenave (2003) ateacute atingir a auto gestatildeo

Deste modo os valores do cooperativismo se materializariam agrave medida que a

organizaccedilatildeo conseguisse incluir participativamente os soacutecios dotando-os de

informaccedilotildees e permitindo interaccedilotildees no planejamento das accedilotildees e na tomada de

decisotildees

Geralmente a discussatildeo em torno da participaccedilatildeo de associados em

organizaccedilotildees cooperativas natildeo mostra operacionalmente como se efetiva a praacutetica

participativa Schneider (1999) Alencar (2001) e Perius (1983) aprofundaram um

pouco mais nesse assunto levantando importantes consideraccedilotildees sobre a conduccedilatildeo

da participaccedilatildeo no processo de desenvolvimento acompanhamento e fiscalizaccedilatildeo

da organizaccedilatildeo cooperativa pelos seus associados

Embora os princiacutepios norteiem a conduccedilatildeo do cooperativismo cada

organizaccedilatildeo cooperativa manteacutem caracteriacutesticas proacuteprias no seu processo de

gestatildeo que satildeo regulamentadas pelos seus estatutos sociais Formalmente a

participaccedilatildeo nas decisotildees em cooperativas brasileiras eacute absolutamente igualitaacuteria

ou seja todo associado tem direito a um voto independente do volume de produccedilatildeo

ou serviccedilos prestados agrave cooperativa Neste caso a participaccedilatildeo oficial dos soacutecios

estaacute apoiada na Lei 5764 do cooperativismo que estabelece as diretrizes gerais e

59

por sua vez tem suas bases convergentes com as normas da ACI Deste modo

todos os associados participam da gestatildeo representados pelos membros que

compotildeem os oacutergatildeos de administraccedilatildeo fiscalizaccedilatildeo ou do comitecirc educativo

(SESCOOP 2008) Esses representantes satildeo eleitos pelos demais soacutecios que

participam anualmente das Assembleacuteias Gerais onde se concretizam as decisotildees

mais importantes em cooperativas Pela lei do cooperativismo brasileiro os oacutergatildeos

de gestatildeo se organizam da seguinte maneira

Art 47 - A sociedade seraacute administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administraccedilatildeo composto exclusivamente de associados eleitos pela Assembleacuteia Geral com mandato nunca superior a 4 (quatro) anos sendo obrigatoacuteria a renovaccedilatildeo de no miacutenimo 13 (um terccedilo) do Conselho de Administraccedilatildeo

Art 56 - A administraccedilatildeo da sociedade seraacute fiscalizada assiacutedua e minuciosamente por um Conselho Fiscal constituiacutedo de 3 (trecircs) membros efetivos e 3 (trecircs) suplentes todos associados eleitos anualmente pela Assembleacuteia Geral sendo permitida apenas a reeleiccedilatildeo de 13 (um terccedilo) dos seus componentes (OCB 2007 p1)

No trabalho sobre o cooperativismo de leite em diferentes paiacuteses Martins et

alli (2004) retratam experiecircncias de sucesso e descrevem a dinacircmica do processo

de participaccedilatildeo de produtores na gestatildeo dessas cooperativas No exemplo da

Fonterra na Nova Zelacircndia para eleiccedilatildeo do Corpo de Diretores os produtores

recebem uma ceacutedula pelos correios juntamente com um viacutedeo que conteacutem o

curriculum vitae e as propostas dos candidatos O sistema adotado requer que os

cooperados ordenem suas preferecircncias entre os onze candidatos inscritos de um a

onze Neste caso entendem que eacute melhor ordenar do que votar em apenas um A

regra eleitoral nesta cooperativa eacute de que cada produtor recebe uma ceacutedula para

cada uma tonelada de leite soacutelido produzido ao longo de um ano O espaccedilo de

representaccedilatildeo dos produtores eacute o Conselho de Acionistas que consiste de 45

representantes Neste caso cada membro representa um setor previamente definido

conforme a localizaccedilatildeo em todo o paiacutes Deste modo nesta cooperativa o nuacutemero de

votos por associado para participaccedilatildeo nas decisotildees da cooperativa eacute proporcional

ao volume de produccedilatildeo Esse meacutetodo jaacute eacute comum em cooperativas de produccedilatildeo

A DFA ndash Cooperativa Dairy Farmers of Ameacuterica fruto da fusatildeo de quatro

cooperativas americanas conta com 24124 cooperados Segundo Martins et alli

(2004) os interesses dos cooperados satildeo representados por meio de trecircs canais na

seleccedilatildeo do representante no Conselho Regional na reuniatildeo anual e indiretamente

na escolha do Conselho de Diretores O Conselho de Diretores eacute formado por 51

60

produtores eleitos entre seus pares por um mandato de dois anos Este conselho

tem a finalidade de estabelecer as grandes linhas diretivas da companhia definem

as poliacuteticas de governanccedila os rumos a serem seguidos a estrutura financeira o

orccedilamento e as prioridades de novos investimentos A este conselho estatildeo

vinculados seis Comitecircs de orccedilamento de mercado fluido de valor agregado de

auditoria e o de relaccedilotildees governamentais Desta forma estatildeo representados os

interesses dos cooperados localizados em sete regiotildees geograacuteficas diferentes dos

Estados Unidos Os encontros anuais ocorrem no Foacuterum para tomada das grandes

decisotildees da Cooperativa Conforme Martins et alii (2004) no uacuteltimo Foacuterum realizado

foi registrada a participaccedilatildeo de 1150 produtores entre delegados eleitos diretores

liacutederes de conselhos regionais e convidados Como se verifica o cooperado

participa de um processo do tipo democracia representativa

Em outra cooperativa a Campina Melkunie localizada nos Paiacuteses Baixos

tem como associados 6823 produtores e espacialmente distribuiacutedos num percentual

de 75 residentes na Holanda 24 na Alemanha e o restante (1) na Beacutelgica

Conforme Martins et alii (2004) satildeo eleitos soacutecio-representantes que integram o

Comitecirc de Departamentos e representantes no Conselho dos Membros Todos os

soacutecios pertencem a um departamento regional e se reuacutenem duas vezes por ano

quando satildeo discutidas questotildees relevantes da cooperativa A cada trecircs anos haacute

eleiccedilatildeo e o nuacutemero de membros de um departamento depende do volume de leite

produzido em cada departamento O direito de voto para cada cooperado estaacute

baseado no volume de leite que este entrega nesta cooperativa Desta forma a

participaccedilatildeo do associado estaacute condicionada tambeacutem ao volume de produccedilatildeo tanto

individual quanto da regiatildeo (departamento) em que o produtor estaacute localizado Essas diferentes cooperativas tecircm em comum um grande nuacutemero de

associados e uma estrutura complexa de gestatildeo em que os produtores estatildeo

distantes espacialmente dos dirigentes Portanto essa estrutura requer alto niacutevel de

organizaccedilatildeo e aacutegeis canais de comunicaccedilatildeo pois caso seja diferente natildeo seria

possiacutevel que os associados acompanhassem as accedilotildees dessas cooperativas

Em se tratando de organizaccedilatildeo cooperativa Schneider (1999) apresenta a

concepccedilatildeo de que participaccedilatildeo natildeo se mede somente por criteacuterios quantitativos

como taxas de presenccedila em assembleacuteias eleiccedilatildeo dos dirigentes e em registros de

utilizaccedilatildeo de serviccedilos Para este autor deve-se complementar com outros

61

indicadores pois a participaccedilatildeo do soacutecio natildeo se limita ao voto Esta deve se dar

tambeacutem na esfera estrateacutegica das accedilotildees e na formulaccedilatildeo de proposiccedilotildees

Schneider (1999) sugere como novas formas de participaccedilatildeo nas etapas

anterior e posterior agrave tomada de decisotildees a organizaccedilatildeo de pequenos grupos

locais setoriais profissionais ou por tipo de produccedilatildeo O autor acredita que os

pequenos grupos apresentam vantagens para uma participaccedilatildeo mais efetiva nas

reuniotildees o que estaacute em sintonia com os argumentos de Olson (1999) Deste modo

Schneider (1999) mostra as vantagens dos pequenos grupos no fomento agrave

participaccedilatildeo

Permite atividades conduzidas mais informalmente predominam as relaccedilotildees pessoais que envolvem a totalidade da pessoa na interaccedilatildeo haacute maior controle social reciacuteproco entre eles constrangendo os indecisos ou pouco motivados a comparecer haacute a possibilidade de dimensionar as atividades e os planos da cooperativa em acircmbito local e o encaminhamento agrave direccedilatildeo de propostas mais realistas e efetivamente adequadas agraves peculiaridades e agraves carecircncias de cada localidade surgem oportunidades de cooperaccedilatildeo desconhecidas na cuacutepula da grande organizaccedilatildeo cooperativa melhorando e inovando a capacidade produtiva (SCHNEIDER 1999 p 241-242)

Deste modo Schneider (1999) conseguiu mostrar de forma concisa as

caracteriacutesticas positivas do comportamento de associados quando organizados em

comitecircs ou pequenos nuacutecleos De certa forma isso ilustra tambeacutem indiviacuteduos com

autonomia de participaccedilatildeo e autoconfianccedila desenvolvida Ao mesmo tempo mostra

a relaccedilatildeo de auto-coerccedilatildeo que se desenvolve no grupo Quando isso acontece

mesmo em grandes cooperativas eacute de se esperar que por meio dos nuacutecleos as

pessoas consigam influenciar no planejamento de accedilotildees para a organizaccedilatildeo com

suas opiniotildees Essa forma de conduzir portanto teraacute como resultado maiores

possibilidades de que o consenso entre os participantes da organizaccedilatildeo tanto

dirigentes quanto os outros membros esteja mais proacuteximo do que o dissenso em

relaccedilatildeo agraves propostas que surgem quando satildeo elaboradas somente pela direccedilatildeo

Outra forma de participaccedilatildeo de associados deve se dar tambeacutem no controle e

acompanhamento da execuccedilatildeo das decisotildees tomadas Isso requer uma atuaccedilatildeo

constante No entanto a dinacircmica operacional da estrutura empresarial de uma

cooperativa natildeo permite que os mecanismos de controle e acompanhamento sigam

no mesmo ritmo A especializaccedilatildeo proacutepria das necessidades da cooperativa exige

da fiscalizaccedilatildeo igual niacutevel de especializaccedilatildeo de associados que se interesse em

atuar nesse aspecto da participaccedilatildeo Essa especializaccedilatildeo entretanto eacute pouco

encontrada na maior parte do quadro de associados Essa loacutegica eacute confirmada

62

tambeacutem por Lickert citado em Schneider (1999) ao dizer que a participaccedilatildeo exige

uma estrutura apropriada e habilidades das quais a maioria da populaccedilatildeo carece

Uma variaacutevel ainda observada em Schneider (1999) que influi na participaccedilatildeo

cooperativa e convergente com a opiniatildeo de Olson (1999) foi identificar fatores

psicoloacutegicos que influenciam na decisatildeo de participar Para Schneider (1983) o

prestiacutegio percebido na cooperativa expressa o significado emocional de participar

coletivamente ao se comparar com outras organizaccedilotildees Por outro lado participar

dessas organizaccedilotildees por si cria tensotildees especialmente porque exige

comparativamente um alto niacutevel de racionalidade de disciplina e neutralidade

afetiva o que depende de fatores comportamentais agraves vezes conflitantes para os

indiviacuteduos

As possibilidades acerca de participaccedilatildeo e potencialidades do indiviacuteduo em

ldquotransformaccedilatildeordquo quando este se torna um ser livre e autoconfiante satildeo indicadores

de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos seja em cooperativa ou em outra forma de accedilatildeo

coletiva

Conforme mostrado na literatura acerca dessa temaacutetica bem como na

demonstraccedilatildeo das praacuteticas de participaccedilatildeo em cooperativas conforme as

complexas formas de gestatildeo adotadas por essas organizaccedilotildees a participaccedilatildeo de

produtores nestess modelos deve ser cuidadosamente pensada e acompanhada

para que a proposta hochdaleana da auto gestatildeo e participaccedilatildeo natildeo fique somente

na origem ideoloacutegica desse movimento Portanto como pode ser observado eacute

importante considerar que a participaccedilatildeo se efetiva num processo com diversas

etapas que exigem estrateacutegias e modo de participar diferentes

333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo

Os benefiacutecios da participaccedilatildeo satildeo inquestionaacuteveis mas natildeo se pode esperar

que em absolutamente todas as organizaccedilotildees consiga-se ter essa praacutetica com a

mesma efetividade Assim como visto estas tecircm formas distintas e agraves vezes

contraditoacuterias de serem conduzidas Por essa razatildeo continuando a reflexatildeo sobre

participaccedilatildeo eacute oportuno mostrar os riscos de tratar esse tema sem entender os

possiacuteveis desvios que podem ocorrer na praacutetica da utilizaccedilatildeo desse princiacutepio

democraacutetico na autogestatildeo cooperativa

63

Bordenave (1983) expressou a potencialidade da participaccedilatildeo mas

demonstra tambeacutem que haacute risco de ter seu sentido esvaziado antes de sua

contribuiccedilatildeo para a democracia verdadeira Amodeo (2007) baseada numa

conferecircncia realizada na universidade de Manchester Inglaterra com o tema ldquoa

tirania da participaccedilatildeordquo apresenta questotildees relevantes discutidas no evento para

chamar a atenccedilatildeo sobre as formas de utilizaccedilatildeo do discurso da participaccedilatildeo em

praacuteticas diversas e distantes do seu real significado

O discurso da participaccedilatildeo estaria sendo utilizado para agendas poliacuteticas distintas estaria impondo relaccedilotildees de poder em vez de as eliminar ao transformar a participaccedilatildeo numa simples aplicaccedilatildeo de tecnologias sociais estaria sendo negligenciado quando restringido agraves escalas locais esquecendo seus viacutenculos com processo e institucionalidades mais amplas estaria encobrindo o fato da participaccedilatildeo natildeo ser uma panaceacuteia e apresentar as suas proacuteprias tensotildees praacuteticas e teoacutericas (KESBY 2005 CITADO EM AMODEO 2007 P56)

Sabendo-se de formas contraditoacuterias que se pode usar a participaccedilatildeo tem-se

aqui o cuidado de natildeo sombrear toda potencialidade que existe nessa forma de

interagir Conforme Amodeo (2007) qualificar a participaccedilatildeo como tirania eacute um ato

chocante aos atores vinculados ao mundo da participaccedilatildeo tanto quando existe uma

visatildeo romacircntica dos processos participativos quanto quando existe a necessidade

de validaccedilatildeo poliacutetica da participaccedilatildeo

Portanto ao se questionar as formas de participaccedilatildeo e suas reais

consequumlecircncias conforme mostra Amodeo (2007) existe o perigo de ser mal

interpretado como se propusesse o retorno a modelos de dominaccedilatildeo conquanto

essa discussatildeo eacute uacutetil para fazer uma anaacutelise criacutetica e consciente para separar o

discurso da praacutetica

Para Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) as ldquotiraniasrdquo

identificadas no estudo tinham trecircs origens principais as derivadas da tomada de

decisotildees e do controle a tirania do grupo e a tirania como meacutetodo Assim estes

autores as definiram

a) As tiranias derivadas da tomada de decisotildees e do controle tentavam ser resumidas nesta pergunta ldquoos facilitadores da participaccedilatildeo deixam de lado os processos existentes e os processos legiacutetimos de tomada de decisotildeesrdquo () haacute uma tendecircncia verificada de promoccedilatildeo da legitimidade de determinados processos de intervenccedilatildeo com o consequumlente cumprimento de determinadas agendas e objetivos especiacuteficos desconhecendo as instacircncias e interesses genuinamente locais b) No argumento da tirania do grupo questionava se a dinacircmica dos grupos faria com que as decisotildees participativas reforccedilassem os interesses dos que jaacute eram poderosos O principal argumento criacutetico satildeo as falhas dos processos participativos em lidar com as desigualdades internas agraves comunidades tendendo muitas vezes a reforccedilar as relaccedilotildees de poder preexistentes

64

c) por fim a conclusiva da tirania do meacutetodo eacute que agrave medida que as relaccedilotildees de poder internas a comunidade natildeo sofrem transformaccedilotildees draacutesticas aqueles tradicionalmente excluiacutedos dos possessos de decisatildeo e controle ficam deslegitimados de participar dos benefiacutecios dos processos participativos jaacute que eles seratildeo dominados pelos grupos que tradicionalmente deteacutem mais poder (AMODEO 2007 p57-58)

Essas evidecircncias portanto satildeo orientadoras para se ter o cuidado de

ldquoenfrentar as encruzilhadas e armadilhasrdquo que o processo participativo pode

apresentar a fim de evitar que as propostas da participaccedilatildeo fiquem restritas ao

discurso As observaccedilotildees registradas pelos autores procedem com loacutegica aos

argumentos tratados na teoria da escolha racional pois concatenam com o

comportamento de indiviacuteduos em grupos latentes ou heterogecircneos Nesse caso o

fato de que em grupos grandes a contribuiccedilatildeo de um indiviacuteduo natildeo seja percebida

pelos demais membros da accedilatildeo coletiva a possibilidade de ocorrer tambeacutem uma

sobre-exploraccedilatildeo se eleva De outro modo os argumentos satildeo coerentes com os

riscos de que a proposta de auto-gestatildeo quando natildeo se tem o grupo homogecircneo

pode ficar no discurso

Outras distorccedilotildees sobre o processo participativo apresentadas no mesmo

estudo registrado por Amodeo (2007) mostraram tambeacutem que os ideais da

participaccedilatildeo podem ser constrangidos por metas burocraacuteticas formais ou informais

propostas por contextos institucionais De modo diferente os sentimentos

pensamentos e comportamentos das pessoas satildeo influenciados pela presenccedila real

imaginaacuteria ou impliacutecita dos outros membros do grupo Ainda observaram que os

processos participativos podem levar as pessoas a tomar decisotildees coletivas que

apresentam mais riscos do que as que teriam tomado individualmente

Todos esses argumentos se aproximam das evidecircncias encontradas na tese

de Olson (1999) sobre o comportamento dos indiviacuteduos Portanto do ponto de vista

do cooperativismo essas reflexotildees satildeo importantes orientaccedilotildees para se resguardar

e impedir que os ldquofenocircmenos tiranosrdquo identificados em processos de participaccedilatildeo

sejam reconhecidos e cuidadosamente tratados para natildeo contrariar os princiacutepios da

doutrina cooperativista Pois estes princiacutepios unificam as organizaccedilotildees cooperativas

sem considerar possiacuteveis desvios como os apresentados nesta etapa da pesquisa

Outro ponto eacute que se as caracteriacutesticas do perfil do ldquohomus cooperativusrdquo (Pinho

1983) fossem comum na grande maioria dos membros associados o

comportamento destes se apresentaria favoravelmente coercitivo para inibir os

65

ldquofenocircmenos tiranos da participaccedilatildeordquo Ou concomitante a isso os princiacutepios do

cooperativismo seriam suficientes para garantir que esses fenocircmenos natildeo

ocorressem em cooperativas

Diante do exposto os dilemas de accedilatildeo coletiva apresentados por Olson

(1999) ocorrem porque natildeo se tem certeza de como o indiviacuteduo iraacute se comportar

uma vez que a natureza da cooperaccedilatildeo humana ainda natildeo foi devidamente

compreendida Entatildeo como saber como as pessoas vatildeo agir Quando se tem um

ambiente de elevado capital social as relaccedilotildees de confianccedila muacutetua favorecem as

interaccedilotildees e haacute uma menor incidecircncia de conflitos Essa perspectiva seraacute tratada na

seccedilatildeo seguinte

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema

A formaccedilatildeo de capital social tem na cooperaccedilatildeo um dos elementos primaacuterios

que influenciam o fortalecimento de accedilotildees coletivas Correa (2003) mostra que

regiotildees dotadas de elevados iacutendices de capital social estariam assim propensas agrave

cooperaccedilatildeo e participaccedilatildeo o que facilitaria a articulaccedilatildeo entre os diferentes atores

sociais Este fortaleceria a coesatildeo da comunidade melhoraria a qualidade das

decisotildees e facilitaria o alcance dos objetivos de interesse comum Do mesmo modo

conforme Colleman citado em Correa (2003) o capital social seria tambeacutem uma

resposta aos desafios da sociedade moderna sobreposto ao comportamento

individualista em que cada um age para alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

Todos os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais que se formam numa comunidade

contribuem para fortalecer o capital social Deste modo para Bueno (2004) as

soluccedilotildees cooperativas que uma sociedade alcanccedila formam um ldquoestoquerdquo de capital

social no sentido de que essas soluccedilotildees ao gerar confianccedila inter-pessoal agem

como um insumo na produccedilatildeo sem o qual muitos empreendimentos coletivos natildeo

podem ser realizados Deste modo capital social conforme Bialoskorski Neto

(2001) poderia ser mensurado como uma eficaacutecia do coletivo

Para tanto a consecuccedilatildeo desse capital requer a participaccedilatildeo da comunidade

Nesse sentido Putnan (1996) por sua vez mostra que o capital social eacute um

elemento decisivo do desenvolvimento Este seria o grande responsaacutevel por incutir

nos seus membros haacutebitos de cooperaccedilatildeo solidariedade e espiacuterito puacuteblico

66

Entatildeo dentre outras definiccedilotildees sobre capital social Putnan (2002) inclui as

redes e normas que orientam accedilotildees coletivas a partir do grau de confianccedila que

pessoas de uma determinada regiatildeo tecircm nos resultados coletivos que se obtecircm a

partir da cooperaccedilatildeo Assim o autor o define capital social

Caracteriacutesticas da organizaccedilatildeo social como confianccedila normas e sistemas que contribuam para aumentar a eficiecircncia da sociedade facilitando as accedilotildees coordenadas na referecircncia de Ostron ldquoassim como outras formas de capital o capital social eacute produtivo possibilitando a realizaccedilatildeo de certos objetivos que seriam inalcanccedilaacuteveis se ele natildeo existisserdquo (PUTNAN 1996 P177)

Hirshman citado em Arauacutejo (2003) se refere a capital social no sentido de que

este aumenta dependendo da intensidade do seu uso Para este autor praticar

cooperaccedilatildeo e confianccedila produz mais cooperaccedilatildeo e confianccedila e logo mais

prosperidade corroborando a formaccedilatildeo de um ldquoestoquerdquo como se referiu Bueno

(2004) Deste modo as sociedades fortes em capital social natildeo geram apenas

riqueza geram tambeacutem sentimentos de igualdade de justiccedila de bem comum O

crescimento econocircmico viria acompanhado de bens sociais direcionados para o

bem das pessoas e natildeo para o aumento da riqueza como um fim em si mesmo

Fukuyama citado em Arauacutejo (2003 ) acrescenta que satildeo os viacutenculos sociais

baseados no enraizamento no local em que as relaccedilotildees comerciais satildeo

fundamentadas na confianccedila e nas interaccedilotildees do dia a dia

Maciel (2003) distingue duas tendecircncias na literatura sobre capital social a

primeira de ordem socioloacutegica usando o argumento de que a confianccedila eacute produto de

padrotildees histoacutericos de longo prazo de associativismo engajamento ciacutevico e

interaccedilotildees extra familiares De outro modo a autora apresenta a natureza

econocircmica do capital social ao enfatizar que haacute o interesse proacuteprio de longo prazo

no caacutelculo de custos e benefiacutecios por atores maximizadores de ganhos por meio da

promoccedilatildeo de comportamento de confianccedila

No primeiro caso para a autora a confianccedila eacute sinocircnimo de amizade e na

tendecircncia econocircmica as relaccedilotildees de confianccedila reciprocidade e cooperaccedilatildeo satildeo

vistas para estreitar relaccedilotildees entre agentes e melhorar eficiecircncia econocircmica Neste

caso reforccedila-se o argumento de que mesmo em paiacuteses de economia mais

avanccedilada o mercado precisa ser complementado por relaccedilotildees natildeo mercantis

Entretanto Maciel (2003) observa que o conceito de capital social ou confianccedila soacute

teraacute maior capacidade explicativa para o ecircxito das iniciativas produtivas se sua

definiccedilatildeo for independente do resultado Deste modo a autora critica a visatildeo

67

instrumentalista de capital social como meio de se obter resultados econocircmicos

Mas se haacute uma visatildeo geral de que nas relaccedilotildees de fins econocircmicos existem outras

motivaccedilotildees natildeo econocircmicas que satildeo incentivos para os indiviacuteduos estas

motivaccedilotildees natildeo deveriam ser restritivas no conjunto das variaacuteveis que formam o

capital social nem mesmo censurar o sucesso econocircmico como resultado desse

capital O inverso tambeacutem poderia ocorrer Nas relaccedilotildees comerciais onde as

interaccedilotildees tendem a se repetir cria-se uma relaccedilatildeo de confianccedila e aiacute pode emergir

capital social Entatildeo este pode ser tanto meio quanto fim entre as instituiccedilotildees das

relaccedilotildees econocircmicas

Outra discussatildeo em torno de capital social estaacute vinculada agrave ambiguumlidade de

que ele pode ser criado ou natildeo Para Bueno (2002) e Araujo (2003) embora a

criaccedilatildeo de capital social pareccedila ser de fato um processo lento a adaptaccedilatildeo de

capital social jaacute existente para outros fins pode ser feita em periacuteodos de tempo bem

mais curtos e a principal forma de fazer essa adaptaccedilatildeo eacute mediante a participaccedilatildeo

dos indiviacuteduos pertencentes agrave comunidade Entretanto para esses autores

corroborando Putnam (2002) as tradiccedilotildees ciacutevicas capital social e praacuteticas

colaborativas por si soacute natildeo desencadeiam o progresso econocircmico Elas entretanto

se constituiriam em elementos importantes para as regiotildees enfrentarem e se

adaptarem aos desafios e oportunidades da realidade presente e futura O capital

social portanto favorece o desenvolvimento poreacutem natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para

que ele ocorra

Outra observaccedilatildeo pertinente eacute que mudanccedilas favoraacuteveis ao capital social

podem ser apresentadas em menor tempo Nesse tocante Putnam (2002) deu iniacutecio

a uma reflexatildeo sobre a influecircncia de haacutebitos culturais e valores na poacutes-modernidade

seus impactos sobre a democracia e possiacuteveis reflexos sobre a comunidade ciacutevica

de seu paiacutes Isso sustenta a observaccedilatildeo de que mudanccedilas desta natureza podem

influenciar ou natildeo na confianccedila muacutetua e participaccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas

respectivas accedilotildees coletivas

Putnam (2002) e Fukuyama (1996) citado em Arauacutejo (2003) enfatizam o

papel da confianccedila para a prosperidade de uma naccedilatildeo Para ambos confianccedila e a

expectativa de reciprocidade que pessoas de uma comunidade tecircm acerca do

comportamento dos outros baseada em normas partilhadas eacute a base para o capital

social De modo contraacuterio Putnan (1996) observa que o clima de desconfianccedila

68

muacutetua generalizada e ausecircncia de compromisso para com o bem puacuteblico inviabiliza

natildeo soacute a democracia como tambeacutem o desenvolvimento econocircmico Ambos os

modos portanto pautam na confianccedila a criaccedilatildeo do outro elemento que influencia o

desenvolvimento econocircmico e social das comunidades que eacute a cooperaccedilatildeo

Conforme Lynn Smith citado em Pinho (1966) haacute diversos tipos de cooperaccedilatildeo

Gradaccedilotildees que vatildeo das reaccedilotildees espontacircneas de ajuda - muacutetua tiacutepica sobretudo dos grupos primaacuterios considerada natildeo-contratual que ocorre entre vizinhos em busca de determinado fim sem que haja qualquer acordo sobre a maneira de prestaccedilatildeo desse auxiacutelio e entre ajuda contratual ou formal representada pelas cooperativas sindicatos sociedades por accedilotildees e outras que atuam de acordo com normas regulamentares previamente elaboradas pelos associados (PINHO 1966 P44)

Portanto a dinacircmica da construccedilatildeo e aumento do capital social ou o

contraacuterio estatildeo diretamente relacionados agrave capacidade ou incapacidade de

cooperar e de confiar

No cooperativismo a observaccedilatildeo desses dois aspectos satildeo premissas que

datildeo sustentaccedilatildeo agrave efetividade dessas organizaccedilotildees Para Taylor citado em Aguiar

(1991) a cooperaccedilatildeo individual sempre se daacute nas seguintes condiccedilotildees

a) que as opccedilotildees individuais sejam limitadas b) que os incentivos seletivos restringidos estejam bem definidos evidentes e sejam sustentados c) que se obtenha maior benefiacutecio e menor custo mediante o curso de accedilatildeo eleito do que com outras possibilidades d) que o marco de eleiccedilatildeo natildeo seja completamente novo senatildeo que se haja ocorrido anteriormente muitas situaccedilotildees similares (TAYLOR citado em AGUIAR 1991 P31)

Diante dessas exposiccedilotildees se identifica no relato da OCB (2007) que a origem

do desenvolvimento cooperativista no paiacutes se deve agrave presenccedila de fortes indiacutecios de

capital social nas comunidades de imigrantes e em relaccedilotildees horizontais

Os imigrantes trouxeram de seus paiacuteses de origem a bagagem cultural o trabalho associativo e a experiecircncia de atividades familiares comunitaacuterias que os motivaram a organizar-se em cooperativas A histoacuteria relata que os problemas de comunicaccedilatildeo adaptaccedilatildeo agrave nova cultura carecircncia de estradas e de escolas e discriminaccedilatildeo racial criaram entre eles laccedilos de coesatildeo resultando no nascimento de sociedades culturais e agriacutecolas Assim fundaram suas proacuteprias escolas e igrejas e iniciaram atividades de caraacuteter cooperativo como mutiratildeo para o preparo de solo construccedilatildeo de galpotildees casas colheitas (OCB 2007)

Essas evidecircncias estatildeo tambeacutem em Riedl e Vogt (2003) ao mostrarem no

histoacuterico do cooperativismo que os imigrantes e seus descendentes motivados pela

necessidade tiveram que cooperar para resolver os problemas comuns Neste

aspecto eacute constatada uma relaccedilatildeo onde se formaram redes horizontais de

cooperaccedilatildeo que satildeo a base do capital social Entretanto o desenvolvimento do

cooperativismo em outras regiotildees natildeo se deu da mesma forma no nordeste por

69

exemplo surgiu para as elites poderem controlar as cooperativas que foram

escolhidas pelos governos como mediadoras na aplicaccedilatildeo das poliacuteticas agriacutecolas

dessa forma elas reproduzem internamente as relaccedilotildees de poder daquela

sociedade

Em meio a essas contradiccedilotildees a filosofia do cooperativismo eacute convergente agrave

formaccedilatildeo de capital social tendo em vista que as cooperativas satildeo agentes de

desenvolvimento da regiatildeo em que satildeo formadas e por atuarem em um espaccedilo

delimitado pela rede estabelecida entre os cooperados Essa caracteriacutestica do

cooperativismo conforme Salanek Filho e Silva (2003) eacute determinada porque o

acesso de uma pessoa a um sistema cooperativo torna-a tambeacutem um agente

participante desse desenvolvimento tanto por sua capacidade de articulaccedilatildeo e de

influecircncia quanto pela forma como interage com os demais cooperados Nesse

caso conforme esses autores a interaccedilatildeo confianccedila definiccedilatildeo de objetivos comuns

e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees fundamentais para compreender o

processo cooperativista e a importacircncia relativa do capital social para o

desenvolvimento do local onde essas organizaccedilotildees se formam Reciprocamente

onde haacute capital social desenvolvido haacute facilidade de se formar associaccedilotildees

Os benefiacutecios da confianccedila capital social e cooperaccedilatildeo podem ser

considerados instrumentos de sustentaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Embora o conceito

de capital social tenha sido tratado muito depois de Owen essas premissas jaacute

estavam na impliacutecitas na sua proposta quando articulou sobre o cooperativismo

Portanto dentre importantes contribuiccedilotildees de diferentes correntes teoacutericas

conforme Carneiro (1981) talvez a maior delas tenha sido de Robert Owen

talvez a mais importante liccedilatildeo comunitaacuteria na sociedade moderna advenha da experiecircncia owenista onde se tentou conciliar o incentivo individual com uma eficiente decisatildeo no processo democraacutetico deste modo a sociedade para Owen deveria ser implantada para os fins da cooperaccedilatildeo (CARNEIRO 1981 P69)

Com esse pensamento instituiu-se o princiacutepio da co-operation na sua

idealizaccedilatildeo que se transformou no principal elemento da doutrina cooperativista

Para Owen a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo

importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos de

sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO1981) Esses

condicionamentos referidos por Owen seriam as sensaccedilotildees percepccedilotildees e os

conhecimentos que na sua visatildeo criam o motivo de accedilatildeo chamado vontade a qual

estimula o homem a agir e decidir suas accedilotildees

70

Carneiro (1981) evidencia ainda que Owen aguardava ardentemente a

reforma da sociedade e sua grande proposta de co-operaccedilatildeo estava subordinada a

novos conceitos de educaccedilatildeo psicologia e eacutetica social Na sua concepccedilatildeo o

comportamento do homem seria definido por um composto cujo caraacuteter eacute formado

por sua constituiccedilatildeo ou formaccedilatildeo durante o nascimento e pelo efeito das

circunstacircncias externas desde o nascimento ateacute a morte Essas determinantes

continuam sendo discutidas pelos pesquisadores das ciecircncias sociais e muitos

deles corroboram que o comportamento dos indiviacuteduos eacute influenciado pelo meio e

este resulta das relaccedilotildees entre os pares Essa afirmativa exposta por Owen citada

em Carneiro (1981) eacute tambeacutem presente em Arauacutejo (2003) Putnan (2002) e Douglas

(1998) embora de forma diferente foi descartado por Olson (1999) e Elster (1994)

entre outros autores que discutem o comportamento social

Talvez essas prerrogativas justifiquem e ao mesmo tempo mostrem todo o

creacutedito que deve ser depositado agrave importacircncia e necessidade de fortalecimento do

cooperativismo com os dilemas aqui apresentados inibidos pela interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos nas premissas que se formam o capital social Pois nenhuma outra forma

de organizaccedilatildeo da economia foi proposta para substituir o modelo do cooperativismo

que ao longo de mais de um seacuteculo vem resistindo a diferentes mudanccedilas

ocorridas na sociedade

Dumont (2005) indica que a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das

outras civilizaccedilotildees e culturas Portanto eacute importante observar as necessidades de

correccedilotildees ponderando as particularidades de cada lugar

Natildeo haacute uma configuraccedilatildeo comum de ideacuteias e valores existe uma continuidade histoacuterica e intercomunicaccedilatildeo - e de outra ndash a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das outras civilizaccedilotildees e culturas As ideacuteias ou categorias de pensamento especificamente modernas aplicavam-se mal agraves outras sociedades Portanto eacute interessante estudar o nascimento o lugar ou funccedilatildeo dessas categorias que o autor se refere ao indiviacuteduo agrave poliacutetica e agrave moralidade para apurar como ela se diferencia e finalmente que papel desempenha na configuraccedilatildeo global (DUMONT 1985 P22-23)

Portanto na nova ordem econocircmica os novos modelos de accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidos jaacute satildeo respostas agraves necessidades de observar o

modelo de cooperativismo para o qual evoluiacutemos Que seja de fato retomado para

uma gestatildeo da economia de forma mais solidaacuteria e justa para atender uma

populaccedilatildeo mais homogecircnea em suas reais necessidades Nesta concepccedilatildeo haacute uma

congruecircncia com Olson (1999) porque o autor considera sobretudo que os

71

indiviacuteduos faratildeo escolhas neste caso dotados de informaccedilotildees e com estiacutemulos para

que a escolha seja a melhor opccedilatildeo Deste modo ele tem que escolher

racionalmente em que modelo de organizaccedilatildeo cooperativa ele quer participar

72

4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO COOPERATIVISMO

Este capiacutetulo apresenta os resultados observaccedilotildees e percepccedilotildees obtidos

durante a pesquisa de campo sobre a participaccedilatildeo do produtor rural em

organizaccedilatildeo cooperativa Primeiramente acha-se importante expor a caracterizaccedilatildeo

do municiacutepio de Carlos Chagas onde a pesquisa foi feita pois o municiacutepio eacute

conhecido regionalmente como cidade cooperativista Entatildeo buscou-se

informaccedilotildees para entender o porquecirc desta caracteriacutestica

Em seguida uma descriccedilatildeo da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM objeto do estudo de caso Em sequumlecircncia seraacute apresentada sua

estrutura organizacional atuaccedilatildeo com os associados atuaccedilatildeo no mercado e outros

trabalhos realizados na comunidade Posteriormente seratildeo mostrados os resultados

dos questionaacuterios aplicados assim como informaccedilotildees obtidas com as entrevistas

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas

A cidade de Carlos Chagas estaacute localizada na regiatildeo nordeste do Estado de

Minas Gerais no Vale do Rio Mucuri agraves margens da BR 418 entre as rodovias BR

116 e BR 101 principais malhas viacutearias que ligam a regiatildeo norte ao sul do paiacutes

Com a chegada de imigrantes para trabalhar na construccedilatildeo da Ferrovia Bahia

Minas em meados do seacuteculo XIX originou-se a colocircnia que cem anos depois se

transformaria em municiacutepio

A colocircnia Militar do Urucu criada em 1854 para dar proteccedilatildeo aos trabalhadores da Companhia do Mucuri foi o foco inicial da colonizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas Uma leva de colonos estrangeiros se dirigiu para a Colocircnia Eram de origem belga e holandesa A colocircnia tornou-se o celeiro para o fornecimento de mantimentos para o pessoal que trabalhava na construccedilatildeo da estrada de Ferro Bahia e Minas (NOGUEIRA FILHO 1989 P6)

Figura 3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de Mangalocirc

Assim os desbravadores se encantaram pelo solo feacutertil e foram ficando Da

exploraccedilatildeo de madeiras foram-se abrindo pastagens que permitiram ao municiacutepio

desenvolver-se na pecuaacuteria e ser conhecido tambeacutem como a Capital do Boi pois

pelas caracteriacutesticas propiacutecias permitiu-se ter um dos melhores rebanhos bovinos

do Estado

Em 1938 o municiacutepio conseguiu emancipaccedilatildeo e atualmente tem a populaccedilatildeo

de 21722 habitantes com 7723 moradores na aacuterea rural (IBGE 2002) Eacute um dos

maiores municiacutepios mineiros em extensatildeo e faz parte do Territoacuterio Vale do Mucuri

mesorregiatildeo definida pelo Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel

para poliacutetica de apoio agrave agricultura familiar estabelecida pela Secretaria de

Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio (MDA)

Para melhor visualizaccedilatildeo dessa localizaccedilatildeo segue Figura 4

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas no Estado de MG

Fonte httpterritoriomucuriorg

73

74

Atualmente o municiacutepio destaca-se por ser reconhecida como Cidade

Cooperativista pois haacute grande interaccedilatildeo entre as cooperativas locais e instituiccedilotildees

puacuteblicas e privadas onde tecircm-se buscado desenvolver a cultura da cooperaccedilatildeo em

toda comunidade desde as escolas de ensino baacutesico e ensino meacutedio local Eacute

modelo na regiatildeo por essa forma de conduzir suas atividades tanto quando se

destinam ao urbano quanto ao rural

Todo trabalho realizado com essa finalidade tem tido apoio das cooperativas

locais que satildeo a Coolvam a Cooperativa de Creacutedito Rural de Carlos Chagas

(Credicar) atualmente integrada agrave rede Sistema de Creacutedito Coopeativo do Brasil

(Sicoob) e a Cooperativa Educacional de Carlos Chagas (Cooeducar) dentre outras

pequenas cooperativas juntamente com a Agecircncia de Desenvolvimento de Carlos

Chagas (Adecar) Prefeitura Municipal e o Conselho de Desenvolvimento Rural

Sustentaacutevel (CMDRS) e as associaccedilotildees comunitaacuterias rurais que tecircm sido

importantes na construccedilatildeo dessa cultura pois eacute por meio da participaccedilatildeo de seus

membros que as cooperativas estatildeo desenvolvendo trabalhos sobre a educaccedilatildeo

cooperativista Conforme o Diretor Presidente da Coolvam

Carlos Chagas eacute considerada cidade do cooperativismo quatro cooperativas da cidade que satildeo muito fortes e satildeo sem duacutevida que datildeo sustentaccedilatildeo para o municiacutepio ()Estatildeo muito ligadas ao meio rural precisa fazer uma trabalho que estaacute comeccedilando agora no meio urbano Temos trabalho jaacute comeccedilado A cooperativa de produccedilatildeo e de creacutedito participam de todo e qualquer evento ou movimento que eacute realizado na cidade participa de todas as entidades carentes (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Na cidade permite-se identificar que por essa forma de interaccedilatildeo entre esses

agentes no desenvolvimento de atividades diversas haacute uma formaccedilatildeo de capital

social que propicia o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio

42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM

A COOLVAM estaacute classificada no ramo agropecuaacuterio com sessenta anos de

atuaccedilatildeo fundada em 27 de julho do ano de 1947 por um grupo de trinta produtores

que buscavam uma maneira mais rentaacutevel para o aproveitamento do leite produzido

em suas fazendas Apoacutes vaacuterios diaacutelogos entre esses produtores realizou-se a

primeira reuniatildeo para oficializar a constituiccedilatildeo desta cooperativa

75

() Aberta a sessatildeo foi declarado pelo Sr Presidente que o fim da reuniatildeo era o de constituir uma cooperativa de responsabilidade limitada com sede em Carlos Chagas sob a denominaccedilatildeo ldquoSociedade Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucurirdquo e com o objetivo econocircmico de beneficiamento e industrializaccedilatildeo do leite (LIVRO DE ATA 1947 P1)

A histoacuteria de idealizaccedilatildeo da cooperativa foi contada pelo filho de um dos

fundadores

Meu pai era um visionaacuterio ele foi um grande empreendedor ele passou muito tempo falando de fundar uma cooperativa com os amigos por conta proacutepria ele foi a Satildeo Paulo conhecer uma cooperativa em funcionamento naquela eacutepoca

Eles reuniam sempre debaixo de uma aacutervore ldquonaquela casardquo (no momento da entrevista coincidentemente estaacutevamos proacuteximo ao local) no centro da cidade nas tardes e conversavam sobre a ideacuteia da cooperativa ( PRODUTOR 53 2008)

Percebe-se assim que havia uma motivaccedilatildeo para organizaccedilatildeo da cooperativa

pela necessidade de um meio para comercializar a produccedilatildeo jaacute naquela eacutepoca

Numa ata de eleiccedilatildeo e empossamento de presidente da cooperativa em 1963 estaacute

transcrito a fala que exprime um sentimento de responsabilidade frente agrave funccedilatildeo de

representaccedilatildeo do grupo de associados que caracteriza o objetivo da participaccedilatildeo na

lideranccedila ideal na organizaccedilatildeo cooperativa

ldquoEstando certo de que o homem natildeo pertence somente a si proacuteprio e a sua famiacutelia senatildeo que tem deveres para com a sociedade em que labuta natildeo me fiz de rogado e aceitei o pronunciamento da urna com pleno conhecimento das graves responsabilidades que iratildeo pesar sobre os meus fraacutegeis ombros em ocasiatildeo ensombrada de tantas dificuldades Entretanto supervisionarei os negoacutecios da nossa Cooperativa com a prudecircncia e criteacuterio que ateacute aqui tenho posto na gerecircncia de meus interesses privados (LIVRO DE ATA 1963)

Desde a constituiccedilatildeo e conforme conjuntura de cada eacutepoca agrave sua maneira

cada presidente eleito deixou contribuiccedilotildees para a evoluccedilatildeo da cooperativa Nos

uacuteltimos anos na busca de excelecircncia e competitividade vem se desenvolvendo e

conquistando espaccedilo junto ao mercado nacional Em 2002 recebeu o precircmio

Qualidade Ameacuterica Do Sul ndash 2002 em decorrecircncia do padratildeo de qualidade dos

produtos e serviccedilos apresentados e apoio e suporte agraves instituiccedilotildees sociais locais

Juntamente com a outorga do precircmio foi recebido o trofeacuteu Incentivo que representa

o reconhecimento puacuteblico da eficiecircncia no setor empresarial constituindo a

homenagem ao trabalho desenvolvido pela COOLVAM

No ano de 2003 por meio de pesquisa realizada entre clientes oacutergatildeos de

classe formadores de opiniatildeo e indicadores sociais a Coolvam foi aprovada para

receber o precircmio ldquoTop Of Qualityrdquo composto de trofeacuteu e diploma especial como

destaque no segmento Cooperativa de Laticiacutenios simbolizando o reconhecimento da

76

qualidade e excelecircncia em sua aacuterea de atividade e respectiva influecircncia social

Ainda no mesmo ano recebeu o precircmio Master Qualidade Ameacuterica do Sul 2003

No ano seguinte em 2004 a Coolvam foi condecorada com mais um precircmio

como destaque pelos relevantes serviccedilos prestados agrave sociedade tratando-se da

Medalha e Diploma Dr Ulisses Guimaratildees outorgados pela Ordem dos

Parlamentares do Brasil sendo que apenas 20 empresas brasileiras participam da

premiaccedilatildeo

A Coolvam ocupou em 2005 o trigeacutesimo lugar na classificaccedilatildeo por nuacutemero de

empregados diretos e 49ordm lugar por faturamento entre as 50 maiores cooperativas

no ranking da OCEMG (INFORMATIVO COOLVAM 2007) Essa classificaccedilatildeo

efetiva a dimensatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo desta cooperativa na economia do

municiacutepio e todas as outras conquistas retratam o reconhecimento do

desenvolvimento da Coolvam que tem focado as mudanccedilas de mercado buscando

parcerias de forma ativa e competitiva e conforme o Diretor Presidente ldquoprioriza as

necessidades dos associadosrdquo

421 Estrutura Organizacional

As diretrizes para funcionamento da cooperativa estatildeo no seu Estatuto social

assim definidas

Objeto social A sociedade tem por objetivo a melhoria econocircmica e social dos seus cooperados com base na participaccedilatildeo consciente e na colaboraccedilatildeo reciacuteproca a que se obrigam desenvolvendo as seguintes atividades econocircmicas

1)- Industrializaccedilatildeo de vaacuterios produtos atraveacutes do beneficiamento do leite entregue por seus cooperados e a produccedilatildeo de sal mineralizado para pecuaacuteria de corte e leiteira

2)- Comercializaccedilatildeo venda em comum de produtos in natura eou industrializados de produccedilatildeo agropecuaacuteria de seus cooperados

3)- Serviccedilo de abastecimento adquirindo ou produzindo para fornecimento ao quadro social na medida em que os interesses soacutecio-econocircmicos aconselharem todos os artigos necessaacuterios agrave sua atividade econocircmica e ao seu uso pessoal ou domeacutestico

4)- Serviccedilos Teacutecnicos mediante assistecircncia teacutecnica agro-pecuaacuteria e assistecircncia teacutecnica contaacutebil objetivando a racionalidade e produtividade das exploraccedilotildees agropecuaacuterias

5)- Serviccedilos sociais mediante a celebraccedilatildeo de convecircnios com entidades puacuteblicas e privadas de atividade de promoccedilatildeo humana educativa de assistecircncia meacutedico hospitalar de serviccedilos culturais desportivos de integraccedilatildeo social dos cooperados e dos funcionaacuterios da empresa

77

6)- Incentivo agrave produccedilatildeo atraveacutes de recursos proacuteprios quando possiacutevel ou pela intermediaccedilatildeo junto a estabelecimentos de creacutedito particulares ou puacuteblicos para incorporaccedilatildeo de tecnologia apropriada de produccedilatildeo de melhoria da produtividade (ESTATUDO SOCIAL 1988 P8-9)

De acordo com o Estatuto Social da Coolvam a Assembleacuteia Geral eacute o Oacutergatildeo

Supremo da cooperativa com poderes dentro dos limites da Lei e do Estatuto

vigente Eacute responsaacutevel por toda decisatildeo de interesse social e suas deliberaccedilotildees

vinculam a todos ainda que ausentes ou discordantes O Conselho de

Administraccedilatildeo eacute formado por nove cooperados eleitos em Assembleacuteia Geral

Ordinaacuteria

O Conselho Fiscal eacute composto por 3 membros efetivos e 3 suplentes eacute

responsaacutevel pela fiscalizaccedilatildeo das atividades da cooperativa e a diretoria executiva eacute

composta por um diretor presidente (cooperado) eleito em Assembleacuteia Geral um

Gerente Geral contratado e um consultor que acompanha a administraccedilatildeo da

cooperativa haacute mais de 15 anos completando com a equipe de 148 funcionaacuterios que

desempenham as atividades administrativas de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

422 Quadro Social

Atualmente o quadro social da Cooperativa eacute composto por 352 associados

sendo 273 em Carlos Chagas e municiacutepios circunvizinhos e os 79 restantes satildeo

associados agrave Cooperativa Regional Agropecuaacuteria de Satildeo Domingos do Prata

(Duprata) na cidade de Satildeo Domingos do Prata Minas Gerais incorporada agrave

Coolvam desde marccedilo de 2006

423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo

Os associados se organizam por meio do Comitecirc Educativo oacutergatildeo criado

desde 1990 com o objetivo de manter um canal de comunicaccedilatildeo com os cooperados

e desenvolver atividades ligadas agrave educaccedilatildeo cooperativista Eacute um oacutergatildeo de

assessoria ajuda na resoluccedilatildeo de problemas podendo apresentar sugestotildees

reivindicaccedilotildees poreacutem natildeo tem poder de decisatildeo

Os trabalhos desenvolvidos pelo comitecirc educativo envolvem a realizaccedilatildeo de

reuniotildees bimestrais em cada uma das comunidades dias de campo visitas teacutecnicas

palestras cursos campanhas de vacinaccedilatildeo e treinamentos

78

423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam

Devido agrave necessidade de se promover a autogestatildeo na Cooperativa e

melhorar o contato entre cooperativa e cooperados no ano de 1990 a Coolvam

contratou uma empresa de consultoria com a finalidade de iniciar o processo de

OQS com a implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo

Apoacutes meses de trabalho o Comitecirc Educativo se definiu abrangendo cinco

comunidades da aacuterea de accedilatildeo da Coolvam passando a ser entatildeo um oacutergatildeo de

assessoria da administraccedilatildeo e dos cooperados constituiacutedo por um grupo de

lideranccedilas que se reuacutenem para levantar e discutir problemas analisaacute-los e sugerirem

ideacuteias que atendam aos interesses da comunidade cooperativista

Com a constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo os cooperados passaram a levar agrave

administraccedilatildeo seus problemas desejos e necessidades bem como sua ajuda para

soluccedilotildees de problemas Eacute por meio dele que a administraccedilatildeo se comunica com os

associados quando apresentam planos de trabalho metas e informaccedilotildees sobre a

cooperativa

Atualmente esse conselho eacute formado por 12 membros sendo um

coordenador e um secretaacuterio de cada uma das 06 comunidades rurais pertencentes

agrave Coolvam Vila Pereira BrejauacutebaLajeado Coacuterrego do Oito Burro

PrateadoCapoeiras JequiririPampa Coacuterrego SecoCoraccedilatildeo de Minas que estatildeo

organizadas espacialmente no municiacutepio

conforme a logiacutestica de captaccedilatildeo de leite

Uma descriccedilatildeo mais detalhada sobre a formaccedilatildeo do Comitecirc Educativo estaacute

no extrato da entrevista com a assessora de cooperativismo da Coolvam

Depois das cinco comunidades que foram formadas que comeccedilou esse trabalho outras surgiram depois em meacutedia quatro a cinco soacute que tambeacutem tivemos exemplos de comunidades que foram formadas mas duraram muito pouco teve o exemplo da criaccedilatildeo da comunidade urbana pelas segunda ata durou apenas dois meses e outras comunidades que duraram seis meses e um ano aproximadamente Pelo que pesquisei quando cheguei aqui em 99 o motivo maior da extinccedilatildeo da comunidade foi da falta de lideranccedila naquela regiatildeo e tambeacutem problemas de ordem poliacutetica em oposiccedilatildeo muito forte em relaccedilatildeo agrave cooperativa Natildeo da cooperativa de se impor mas da parte deles de natildeo estarem mais de acordo com a poliacutetica da cooperativa Entatildeo eles deixaram de dar continuidade aos trabalhos naquela regiatildeo Em 99 tinham oito comunidades

79

formadas ativas um ano depois foi criada mais uma e chegamos a nove Por um periacuteodo de influecircncias de outras empresas de laticiacutenios aqui na regiatildeo vaacuterios produtores deixaram de atuar junto a Coolvam entatildeo a gente perdeu bastante associados e noacutes viemos a perder algumas comunidades tambeacutem Hoje temos ativas seis comunidades podemos dizer hoje que satildeo bastante atuantes Pegamos diversos setores varias aacutereas de atuaccedilatildeo da Coolvam

Teve caso que a gente juntou duas comunidades Isso funciona muito bem a cada dois meses a gente realiza reuniotildees em uma regiatildeo outro mecircs realiza em outra Egrave uma comunidade muito integrada bastante homogecircnea entatildeo facilita bastante o trabalho No mecircs em que faz a reuniatildeo os associados da outra regiatildeo vatildeo ate la e vice versaEntatildeo isso eacute muito interessante A gente tentou tambeacutem a junccedilatildeo de outras comunidades mas natildeo teve muito sucesso Fizemos umas duas junccedilotildees que deu muito certo

Hoje temos seis comunidades e agente acredita que o trabalho estaacute no caminho certo O que precisamos agora e estar mensurando esse trabalho quantificando mais esse trabalho que eacute feito pela cooperativa Acho que eacute o caminho Tem que haver esse tipo de integraccedilatildeo entre a cooperativa e o associado Soacute atraveacutes dessa integraccedilatildeo a gente consegue levar ateacute eles informaccedilotildees consegue extrair deles aquilo que eacute realmente necessaacuterio para o crescimento deles na cooperativa e o que a gente pode estar melhorando em relaccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico e social Enfim algo que e necessaacuterio que exista em toda cooperativa (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Em mensagem enviada pelos membros da empresa de assessoria de

cooperativismo (ASCOOP) com saudaccedilotildees agrave constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo teve

o teor que desenha o ideal da participaccedilatildeo dos soacutecios nas accedilotildees da Cooperativa

() Noacutes da ASCOOP que colaboramos no plantio da semente da participaccedilatildeo aqui na Coolvam deixamos com vocecircs esta mensagem ldquouma vez plantada a semente da participaccedilatildeo cabe a cada um de vocecircs regaacute-la com a responsabilidade consciecircncia e coragem Responsabilidade para cumprir com os compromissos assumidos consciecircncia para compreender o futuro seguro que existe no cooperativismo e coragem para decidir e administrar um patrimocircnio que eacute de todos cujo bem maior eacute a solidariedaderdquo

Desejamos sucesso a todos Cada vez mais acreditamos no cooperativismo porque cada vez mais acreditamos no trabalho e no ser humano () Saudaccedilotildees cooperativistas (CARTA ASCOOP 1999)

Desta maneira percebe-se a importacircncia dada agrave necessidade de fomentar a

participaccedilatildeo de associados nos oacutergatildeos que os representam na defesa de seus

interesses junto agrave organizaccedilatildeo cooperativaseja no comitecirc nos conselhos nas

reuniotildees ou em assembleacuteias

425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos

No iniacutecio das suas atividades a cooperativa funcionava somente com venda

de leite in natura para outras empresas pois natildeo tinha estrutura industrial montada

80

para a produccedilatildeo de derivados laacutecteos Somente em 1986 iniciou-se a

industrializaccedilatildeo do leite com a produccedilatildeo de queijo e manteiga

Dez anos depois por meio de contrato fez parceria com a Cooperativa

Agropecuaacuteria do Vale do Rio Doce (COOPERIODOCE) em Governador Valadares ndash

MG para envasamento de leite Longa Vida com a marca Mucuri Posteriormente

foi cancelado tal contrato e o envase passou a ser feito pela empresa Barbosa amp

Marques no mesmo municiacutepio

No ano de 2001 a COOLVAM firmou contrato com a empresa Nutriacutecia e deu

iniacutecio agrave produccedilatildeo de leite em poacute Mais recentemente em 2003 foi iniciada a

produccedilatildeo de bebida Laacutectea mais um produto com sua marca

Atualmente com captaccedilatildeo meacutedia de leite estaacute em torno de 60000 litros de

leite por dia produz queijo mussarela queijo prato queijo prato light queijo

parmesatildeo queijo minas leite em poacute leite longa vida integral e desnatado e bebida

laacutectea UAT O mercado atendido com seus produtos estaacute em diferentes regiotildees do

Paiacutes sendo que para a Bahia e Sergipe se destinam aproximadamente 58 da sua

produccedilatildeo total Nessas localidades os clientes satildeo na maioria grandes atacadistas

enquanto que o restante da produccedilatildeo 42 vai para outras regiotildees onde as vendas

satildeo mais pulverizadas com atendimento a supermercados restaurantes padarias e

pizzarias ainda na Bahia e nos estados do Espiacuterito Santo e Rio de Janeiro

426 Serviccedilos prestados aos associados A cooperativa possui um Departamento de Assistecircncia Teacutecnica (DAT)

composto por um agrocircnomo um teacutecnico agriacutecola e apoio de estagiaacuterios que vecircm de

convecircnios com instituiccedilotildees de ensino que deste modo formam uma equipe para

prestar serviccedilos aos associados A forma de facilitar o acesso dos associados a

produtos veterinaacuterios e agropecuaacuterios eacute por meio da Farmaacutecia Veterinaacuteria que tem o

objetivo de atender agraves necessidades dos cooperados com insumos e suporte de

outros produtos principalmente raccedilotildees e sementes

Em parceria com o SEBRAE ndash MG participa do Projeto Educampo desde

1997 com o objetivo e finalidade de especializar e tecnificar a atividade leiteira junto

aos associados A participaccedilatildeo no programa eacute custeada pelos associados e

atualmente atende um grupo de 58 produtores Estes recebem orientaccedilotildees e

81

informaccedilotildees zooteacutecnicas agriacutecolas de educaccedilatildeo administrativa gerenciamento

agropecuaacuterio e difusatildeo tecnoloacutegica realizada por teacutecnicos

O Educampo projeto desenvolvido pelo SebraeMG se propotildee a orientar grupos de produtores rurais por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e gerencial com o objetivo de desenvolver aspectos econocircmicos e sociais tornando-os mais eficientes e competitivos As accedilotildees do projeto visam ao aumento da produtividade agropecuaacuteria e consequumlentemente da lucratividade e da qualidade de vida do produtor rural Para participar do Educampo eacute fundamental que o produtor apresente perfil empreendedor e esteja disposto a adotar as orientaccedilotildees do teacutecnico que o acompanha tanto no tocante agraves teacutecnicas produtivas quanto aos controles gerenciais que se constituem no grande diferencial da assistecircncia oferecida pelo projeto (DUARTE 2006 p23)

427 Perfil dos produtores associados da Coolvam

O perfil dos produtores rurais desta pesquisa apresentou-se com dados

semelhantes aos observados por Gomes (2005) sobre o perfil dos produtores

rurais em Minas com algumas caracteriacutesticas tiacutepicas do municiacutepio jaacute que a

populaccedilatildeo entrevistada restringiu-se a Carlos Chagas

Nos trabalhos com produtores de leite usa-se a terminologia pequeno

meacutedio e grande produtor No entanto tecnicamente na Coolvam os

produtores natildeo satildeo identificados por estrato social mas por faixa de

produccedilatildeo Estes satildeo distribuiacutedos em quatro faixas conforme mostra o quadro

abaixo Deste modo nos registros em controles internos as informaccedilotildees satildeo

registradas conforme essa classificaccedilatildeo

Faixa Associados Produtores Litrosdia Volume Ateacute 200 173 65 1484287 25 De 201 a 350 lts 39 15 987157 17 De 351 a 500 lts 19 7 762167 13 Acima de 501 lts 35 13 2666160 45 Total 266 5899770 100

Tabela 2 Organizaccedilatildeo de produtores assiciados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008

Numa melhor visualizaccedilatildeo graacutefica assim satildeo agrupados os produtores

associados (Figura 5)

65

157 13

100

0

20

40

60

80

100

Produtores

Ateacute 200

De 201 a 350 lts

De 351 a 500 lts

Acima de 501 lts

Total

Figura 5 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008 Portanto para utilizar a terminologia proposta nesta pesquisa e

possibilitar anaacutelises comparativas com outros trabalhos foi feito um

reagrupamento dos produtores em conformidade com informaccedilotildees do diretor

e o gerente do Departamento de Assistecircncia Teacutecnica ficando os produtores

reagrupados desta forma

Estratos Sociais Associados Produtores Pequenos (0 a 200 lts) 173 65 Meacutedios (201a 499 lts) 58 22

Grandes (acima de 500 lts) 35 13 Total 266 100

Tabela 3 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por estrato social 2008

Deste modo a Coolvam apresenta em seu quadro social um nuacutemero

consideravelmente maior de pequenos produtores rurais o que confirma a

caracterizaccedilatildeo da maioria das cooperativas de leite brasileiras conforme mostra a

Figura 6 Este grupo tem uma representaccedilatildeo de 65 da populaccedilatildeo de soacutecios

seguido de 22 considerados meacutedios produtores e 13 de grandes produtores

Estes dois uacuteltimos grupos perfazem uma diferenccedila menor em nuacutemero de

associados entretanto no grupo dos grandes produtores estatildeo incluiacutedas as

associaccedilotildees rurais associadas agrave cooperativa Essas associaccedilotildees satildeo compostas por

nuacutemeros variados de produtores mas eacute cadastrado como soacutecio no quadro social da

cooperativa a pessoa juriacutedica que eacute representada pelo presidente da associaccedilatildeo

Este tem direito a um voto nas assembleacuteias

82

65

2213

100

0102030405060708090

100

Produtores

Pequenos (0 a 200 lts)

Meacutedios (201 a 499 lts)

Grandes (Mais de 500 lts)

Total

Figura 6 Organizaccedilatildeo de Produtores associados agrave Coolvam por Estrato Social 2008

A figura 7 mostra a distribuiccedilatildeo de produtores entrevistados por comunidade

rural o que demonstra uma quantidade maior de comunidades do que as seis

citadas pela cooperativa Isso deve-se ao fato de que os associados se identificam

numa comunidade mas para melhor gestatildeo dessas comunidades pela cooperativa

foi feito agrupamento de algumas como Jequiriri e Coraccedilatildeo de Minas Outras estatildeo

desativadas (Mangalocirc) ou seja natildeo estatildeo se reunindo Ainda haacute produtores que

residem em regiotildees cujas comunidades natildeo satildeo formalmente reconhecidas pela

cooperativa como a do Baixo Mucuri

66

0

27

38

20

9

00

1213

0

6

00

15

0

40

6

13

0

9

1920

30

20

0

6

0

66

00

5

10

15

20

25

30

35

40

Pampa

m

BPratea

do

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Jequ

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Baixo M

ucuri

Corrego

do O

ito

Capoe

iras

Vila P

ereira

Mangalocirc

Outras PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 7 Amostra de produtores por comunidades rurais na aacuterea da Coolvam 2008

A meacutedia de idade dos associados eacute de 52 anos corrobora com a constataccedilatildeo

de Gomes (2005) embora na Coolvam haja no quadro social jovens cooperativistas 83

84

participando do comitecirc e de conselhos essa eacute uma minoria Quanto ao grau de

escolaridade dos associados o estrato de grandes produtores apresentou maior

nuacutemero de membros com curso superior entretanto em todos os estratos a maioria

dos produtores tem o primeiro grau conforme tabela 4

Idade PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Meacutediaanos 56 47 58 Escolaridade

PEQUENO MEacuteDIO GRANDEEnsino meacutedio 47 50 402 grau 36 42 20Superior 18 8 40

Estado civil PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Solteiro 5 27 17Casado 95 73 67Viuacutevo 0 0 17

Tabela 4 Perfil do Produtor associados agrave Coolvam (idadeescolaridadeestado civil) 2008

A maioria dos produtores entrevistados manteacutem residecircncia tanto na cidade

quanto na propriedade rural Entretanto a pesquisa mostrou um equiliacutebrio entre o

nuacutemero de associados que consideraram sua residecircncia principal na cidade

Conforme Figura 8 45 dos produtores disseram residir na propriedade enquanto

que 55 consideraram sua principal residecircncia na cidade O grupo dos meacutedios

produtores apresentou uma diferenccedila maior 63 moram na cidade contra 38 que

moram no meio rural o que mostra tambeacutem nuacutemeros mais equilibrados nesse grupo

47

38

50 53

63

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Rural Urbana

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 8 Residecircncia principal de produtores associados agrave Coolvam 2008

Quanto agrave naturalidade a pesquisa mostrou que haacute um equiliacutebrio entre os

produtores quanto ao percentual dos que nasceram no municiacutepio e os que vieram de

outras regiotildees mostrando que na maioria dos casos os produtores satildeo de origem

de lugares proacuteximos como Vale do Jequitinhonha Norte de Minas e Bahia sendo

que os mais distantes vieram do nordeste do paiacutes

Os associados tecircm no leite a principal atividade econocircmica mas todos

possuem complemento de renda com venda de bezerros cria e engorda de gado

de corte ou aposentadoria Haacute algumas exceccedilotildees de produtores que satildeo

profissionais na comercializaccedilatildeo de gado de corte para outras regiotildees Somente

alguns respondentes citaram diversificar a atividade produtiva somente um produtor

respondeu trabalhar com apicultura atuando na comercializaccedilatildeo e beneficiamento

de mel e outros com a produccedilatildeo de farinha Portanto o municiacutepio se caracteriza

praticamente pela pecuaacuteria e precisamente dependecircncia da comercializaccedilatildeo do

leite

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM

Agrave luz da teoria da escolha racional sobre os custos e benefiacutecios provenientes

da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas coube neste trabalho identificar a

motivaccedilatildeo dos soacutecios sobre a associaccedilatildeo e participaccedilatildeo nas atividades da

cooperativa local

85

86

A cooperativa em estudo demonstra evoluccedilatildeo no direcionamento de

trabalhos de organizaccedilatildeo do quadro social valoriza a educaccedilatildeo cooperativista

canaliza esforccedilos para crescimento da empresa cooperativa entretanto o estudo

teve a oportunidade de identificar algumas lacunas conforme ponto de vista dos

associados que merecem atenccedilatildeo para accedilotildees mais participativas destes

Para saber sobre quais motivos o produtor se associa agrave cooperativa foi

perguntado aos entrevistados por que se associaram agrave Coolvam Obteve-se

respostas homogecircneas nos grupos de pequenos e meacutedios produtores associadas agrave

importacircncia do cooperativismo (43 e 44) agrave fidelidade na captaccedilatildeo de leite (37

e 39) e agrave tradiccedilatildeo familiar (17 e 11) como mostra a Figura 9 Eacute certo que haacute

uma dependecircncia maior do grupo de pequenos produtores agrave cooperativa

corroborando o que mostra os trabalhos de Pereira (2002) e Graziano da Silva

(2000) mas essa questatildeo mostrou uma maior associaccedilatildeo de grandes produtores

pela valorizaccedilatildeo da filosofia do cooperativismo (57) do que nos outros estratos em

relaccedilatildeo aos outros indicadores entretanto os pequenos produtores mostraram em

maior nuacutemero ser motivo da associaccedilatildeo o viacutenculo familiar quando responderam

que satildeo associados tambeacutem por tradiccedilatildeo familiar enquanto que essa posiccedilatildeo natildeo

foi registrada no estrato de grandes produtores Essa constataccedilatildeo pode ser

relacionada a capital social formado entre esses soacutecios que se fortalece quando

satildeo mantidas as tradiccedilotildees familiares (Putnam (1996) Bueno (2004) A presenccedila de

capital social se evidenciou em outros dois aspectos

Primeiro a indicaccedilatildeo do cooperativismo em si ter sido considerada o maior

motivo da associaccedilatildeo em todos os estratos e segundo a indicaccedilatildeo da fidelidade da

cooperativa na captaccedilatildeo de leite Esse uacuteltimo eacute um diferencial da organizaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a outras empresas do segmento com reconhecimento dos soacutecios ao

esforccedilo da cooperativa em captar leite nos meses de chuva periacuteodo em que haacute

maior volume produzido o mercado paga menor preccedilo pelo leite in natura e

produtos derivados e por outro lado haacute maior custo de captaccedilatildeo em funccedilatildeo das

dificuldades com as estradas Com a cooperativa o produtor eacute mais confiante de

que seu leite seraacute recolhido do que por outras empresas privadas Ambas as

indicaccedilotildees caracterizam uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a cooperativa e os

produtores essencial para formaccedilatildeo de capital social

O quesito preccedilo natildeo foi evidenciado em nenhum estrato portanto essa

questatildeo natildeo foi considerada relevante pelos respondentes como motivo de sua

associaccedilatildeo Entretanto o indicativo da associaccedilatildeo pela fidelidade da captaccedilatildeo

como foi registrado pode indicar mecanismos de escolha racional dos associados

em avaliar a relaccedilatildeo preccedilo pago pela produccedilatildeo e a fidelidade de captaccedilatildeo

4344

57

36

14

3739

29

1711

0 0000

10

20

30

40

50

60C

oope

rativ

ism

o

Com

pra

dein

sum

os

Fide

lidad

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atildeo

Trad

iccedilatildeo

fam

iliar

Preccedil

o do

leite

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 9 Motivaccedilatildeo dos produtores para associaccedilatildeo agrave cooperativa Coolvam 2008

Em seguida quando foi solicitado ao associado para indicar o que diferencia

a cooperativa em relaccedilatildeo a outras empresas (Figura 10) as respostas mostraram

novamente certa homogeneidade (23 38 e 33) na valorizaccedilatildeo e

reconhecimento dos associados ao papel social da cooperativa Esse ponto

corrobora Putnan (1996) com a constataccedilatildeo de que as associaccedilotildees civis contribuem

para a eficaacutecia e a estabilidade do governo democraacutetico natildeo soacute por causa de seus

efeitos internos sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem por causa de seus efeitos externos

sobre a sociedade

Nesta etapa foi reforccedilado o indicativo de confianccedila entre a organizaccedilatildeo e os

associados com a importacircncia dada agrave captaccedilatildeo de leite (23 31 e 17) mesmo

que tenha sido evidenciada uma diminuiccedilatildeo dessa preocupaccedilatildeo com a mudanccedila de

estrato social para o grande produtor

Nessa questatildeo o fator que mais chama a atenccedilatildeo eacute que os grandes

produtores indicaram ter mais facilidade de acesso agrave cooperativa do que os outros

grupos que mostraram maior utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de assistecircncia teacutecnica Esse

87

acesso no significado da palavra se refere agrave comunicaccedilatildeo capacidade de trocar ou

discutir ideacuteias de dialogar de conversar com vista ao bom entendimento entre

pessoas (FERREIRA 1993) De modo geral essa interaccedilatildeo entre soacutecios e

organizaccedilatildeo permite que o agente participe do desenvolvimento pela sua

capacidade de articulaccedilatildeo e interaccedilatildeo conforme foi exposto por Salanek Filho e Silva

(2003)

23

3833

813

0

8

00

1513

0

8

00

15

6

50

23

31

17

05

101520253035404550

Pape

l soc

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leite

Aces

so

Cap

taccedilatilde

ode

Lei

te PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios Coolvam 2008

Foi demonstrado no referencial teoacuterico a constataccedilatildeo de que a participaccedilatildeo

de associados em cooperativas tem se limitado agrave presenccedila em assembleacuteias

Portanto permitiu-se verificar a participaccedilatildeo de associados tanto em assembleacuteias

como nas reuniotildees em comunidades e como se daacute a manifestaccedilatildeo dos produtores

em diferentes ocasiotildees

Sobre a participaccedilatildeo em assembleacuteias a maioria dos associados dos dois

primeiros estratos responderam que vatildeo sempre (40 e 49) de vez em quando

(43 e 35) e o restante respondeu que nunca vai Quanto aos grandes

produtores o percentual maior respondeu que vai soacute de vez em quando (83)

conforme Figura 11

88

40

59

17

4335

83

17

60

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

sempre de vez em quando nunca

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 11 Frequecircncia de associados em assembleacuteias Coolvam 2008

Outro indicador do perfil e valorizaccedilatildeo do cooperativismo pelos associados

estaacute representado na Figura 12 ao demonstrar que a maioria destes nos trecircs

estratos vatildeo agraves assembleacuteias mais para cumprir o papel de associado (69 59 e

50) do que pelo fato de ter algo em pauta que seja do seu interesse

69

59

50

3135

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Cumprir papel de associado Interesse na pauta

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 12 ndash Motivaccedilatildeo dos associados para participaccedilatildeo em assembleacuteias Coolvam 2008

Deste modo ao registrar as observaccedilotildees durante a pesquisa a fidelidade

com a cooperativa fica expliacutecita na fala de um produtor de 76 anos associado haacute 30

anos se referindo agrave valorizaccedilatildeo da sua presenccedila e assiduidade em reuniotildees da

cooperativa

Eu vinha a cavalo quando natildeo tinha carro (PRODUTOR 76 2008)

Por outro lado dos respondentes que disseram natildeo participar das

assembleacuteias foram registrados motivos convergentes 89

90

Nunca participo porque existem umas coisas que acho que natildeo estaacute certo (PRODUTOR 77 2008)

Natildeo natildeo gosto de participar porque jaacute levam pronto (PRODUTOR 68 2008)

Esse posicionamento reflete as discussotildees de estudos de Perius (1983) sobre

problemas estruturais do cooperativismo em que ele observa que nasce um conflito

entre soacutecios e administradores quando os interesses passam a natildeo ser mais

ldquoidecircnticosrdquo e observa que a existecircncia desse conflito comeccedila a colocar em duacutevida a

teoria da fidelidade entre soacutecios e administradores Outro trabalho de Munkner

citado em Schneider (1999) aponta para um conflito latente que tende a verificar-se

entre os interesses dos associados e os interesses dos executivos

Segundo Eschenburg citado em Perius (1983) surge uma nova ciecircncia

cooperativa que sustenta que com o crescimento do nuacutemero de soacutecios e o

simultacircneo crescimento da empresa orgacircnica o management se emancipou e a

original identidade da promoccedilatildeo dos soacutecios e da poliacutetica empresarial se transformou

num problema (Eschenburg citado em Perius 1983) Deste modo natildeo haacute de se

esperar unanimidade em satisfaccedilatildeo de associados com a gestatildeo da cooperativa e

do mesmo modo em participaccedilatildeo Resulta daiacute o sentimento que reflete as

observaccedilotildees expostas pelos produtores que natildeo costumam ir agraves assembleacuteias

Numa questatildeo seguinte para ajudar a perceber se haacute o sentimento de

liberdade para participar foi perguntado aos produtores se eles se sentem agrave vontade

para manifestarem em reuniotildees de comunidade e em assembleacuteias da cooperativa

Identificou-se que os associados de maneira geral ficam menos agrave vontade para

manifestar nas assembleacuteias do que nas reuniotildees de comunidade conforme mostram

as Figuras 13 e 14 Mas haacute de se considerar que eacute bastante expressivo o percentual

de participaccedilatildeo dos associados pois nos trecircs grupos a maioria respondeu se sentir

totalmente agrave vontade

63

76

60

141820

14

6

20

9

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Totalmente Parcialmente Natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 13 Liberdade dos associados para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade Coolvam 2008

5558

50

9

26

3330

1617

6

0

10

20

30

40

50

60

Totalmente Parcialmente Natildeo Natildeo Vai

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 14 Liberdade dos associados para manifestar em assembleacuteias Coolvam 2008

Conforme relatado pela assessora de cooperativismo da Coolvam haacute uma

maior participaccedilatildeo de pequenos produtores nas reuniotildees de comunidade Em seu

trabalho de organizaccedilatildeo do quadro social vem sobre a incentivando que estes

manifestem suas opiniotildees quando lhes convier conforme mostra extrato de

entrevista

Eu que estou aqui haacute oito anos e meio e percebo que jaacute houve uma evoluccedilatildeo muito grande Esse trabalho iniciado em 1990 jaacute vai fazer 18 anos e a gente percebe claramente que haacute uma mudanccedila de percepccedilatildeo de visatildeo haacute uma evoluccedilatildeo das pessoas em termos de participaccedilatildeo de chegar e expor seu ponto de vista entatildeo a gente percebe que haacute uma evoluccedilatildeo a gente natildeo tem como mensurar isso aiacute Grau de escolaridade influencia sim mas vai depender tambeacutem de cada pessoa (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

A pesquisa mostra que o grande produtor vai menos agraves reuniotildees somente

17 responderam que vatildeo sempre e consideraram em sua maioria pouco

91

importante (33) ou indiferente (33) sua presenccedila nas assembleacuteias como

mostram as Figuras 15 e 16 Mas outros dados mostraram que estes vatildeo com mais

frequumlecircncia agrave sede da cooperativa para conversar com os dirigentes

28

1817

4241

1714

29

33

17

12

33

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Muito importante Importante Pouco Importante Indiferente

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 15 Consideraccedilotildees sobre a presenccedila de associados em reuniotildees Coolvam 2008

51

82 83

29

1217 20

60

010

20

30

40

5060

70

80

90

Sempre De vez em quando Somente quandoconvocado

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 16 Frequumlecircncia de associados que vatildeo agrave sede da cooperativa Coolvam 2008

Isso indica conforme mostrado em Pereira (2002) sobre a dinacircmica das

relaccedilotildees sociais que os grandes produtores tecircm melhor acesso aos dirigentes e

defendem seus interesses diretamente assim como demonstra a Figura 15

Portanto natildeo sentem necessidade de discussotildees com os demais membros do grupo

cooperativista Entretanto a entrevista com o Presidente mostra que os associados

tecircm igual tratamento e liberdade para conversar com a diretoria Quando foi

perguntado sobre as dificuldades de gerir os diferentes grupos de interesses devido

agrave heterogeneidade do quadro social este confirmou ter dificuldades mas atua sem

restriccedilotildees ou privileacutegios

92

93

Tem Noacutes procuramos praticar os direitos iguais todos tem o voto tem os direitos mas a gente sabe que a populaccedilatildeo de associados natildeo vecirc dessa forma Mas a Coolvam pratica o cooperativismo de verdade (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As proposiccedilotildees da teoria olsoniana sobre incentivos que natildeo os econocircmicos

como desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e

psicoloacutegico se confirmam na entrevista com um pequeno produtor que participa do

conselho administrativo ao responder sobre motivaccedilotildees que o fazem participar

Por ser pequeno produtor e ter vez e voz do grande e poder participar (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Outra indicaccedilatildeo reproduzida na fala do conselheiro que corrobora a

afirmaccedilatildeo da teoria de Olson (1999) eacute quando natildeo respondeu sobre as vantagens

em participar desta funccedilatildeo

A convivecircncia com pessoas de niacutevel intelectual que passa coisas boas e a oportunidade de conviver com essas pessoas (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Apesar de haver remuneraccedilatildeo para os membros que participam dos

Conselhos a relevacircncia dessa remuneraccedilatildeo foi mencionada somente por um

conselheiro como incentivo para sua participaccedilatildeo

Eacute um complemento de renda (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Os grandes produtores mostraram utilizar mais os serviccedilos da cooperativa

nas respostas ldquode vez em quandordquo (67) e ldquosemprerdquo (33)Dentre os serviccedilos que

mais utilizam foram citados os serviccedilos teacutecnicos o Educampo e a compra de

insumos na Farmaacutecia Veterinaacuteria Jaacute os pequenos e meacutedios responderam

respectivamente natildeo utilizar (17 e 18) de vez em quando (51 e 47) e

sempre (31 e 35) e responderam utilizar aleacutem da Farmaacutecia Veterinaacuteria e

assistecircncia teacutecnica vacinas e orientaccedilotildees sobre a produccedilatildeo (Figura 17) Nesse

ponto a cooperativa se firma como importante mediadora da transferecircncia de novas

tecnologias e informaccedilatildeo para os associados

17 18

0

5147

67

3135 33

0

10

20

30

40

50

60

70

Natildeo Utiliza De vez em quando Sempre

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa Coolvam 2008

No indicador que teve o objetivo de verificar a participaccedilatildeo dos associados e

em atividades educativas promovidas pela cooperativa identificou-se que os

pequenos e meacutedios produtores responderam participar mais (56 e 65) enquanto

33 dos grandes confirmaram essa participaccedilatildeo Aos que responderam

afirmativamente foi perguntado quem mais participa entre o produtor a esposa e

filhos As respostas dos grupos dos pequenos e meacutedios produtores indicaram que

eles mesmos participam (41 e 38) enquanto a participaccedilatildeo de esposas (29 e

38) e filhos (29 e 25) respectivamente indicando que todos da famiacutelia

participam No grupo dos grandes produtores dos que responderam participar das

atividades 100 disseram que eles mesmos participam natildeo registrando presenccedila

de esposas e filhos desse grupo nessas atividades conforme demonstra a Figura

18

5665

3344

35

67

4138

100

2938

2925

0102030405060708090

100

Sim Natildeo Produtores Esposa Filhos

PEQUENOMEDIOGRANDE

Figura 18 Participaccedilatildeo de Produtores e da famiacutelia em atividades educativas

94

A participaccedilatildeo de mulheres e filhos vem sendo incentivada pela cooperativa

Eles satildeo convidados a participar de todos os eventos e reuniotildees com os produtores

A pesquisa mostra que esse incentivo vem obtendo resultado pois dentre os

produtores que responderam participar conforme a Figura 16 um percentual de

29 e 38 respectivamente disseram que a famiacutelia tambeacutem jaacute participou de

eventos na Coolvam

A Figura 19 a seguir foi registrada em uma reuniatildeo de comunidade onde

foram agrupadas duas comunidades rurais Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas

ambas satildeo mais homogecircneas e tem um maior nuacutemero de pequenos produtores

Pode-se observar a presenccedila de mulheres e crianccedilas juntamente com os

produtores Essa interaccedilatildeo das famiacutelias com a organizaccedilatildeo reforccedila tambeacutem o

aumento de capital social

Figura 19 Preacute-Assembleacuteia da Coolvam com as comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas 2008

As respostas dos associados vecircm demonstrando que satildeo participativos nas

atividades promovidas pela cooperativa e foi registrado em todos os estratos que

suas reivindicaccedilotildees satildeo totalmente ou parcialmente atendidas conforme mostra a

Figura 20 No entanto mesmo entre produtores que responderam afirmativamente

foram registradas reclamaccedilotildees sobre a forma de gestatildeo referente a tomada de

decisotildees Natildeo tem muitas coisas que satildeo feitas por eles mesmos compraram outra cooperativa sem comunicar parcialmente (PRODUTOR 73 2008) Parcialmente devido agrave poliacutetica administrativa atual da empresa (PRODUTOR 39 2008) Natildeo vaidade da direccedilatildeo descreacutedito em relaccedilatildeo ao associado (PRODUTOR 62 2008) Nem sempre conseguimos ser atendidos (PRODUTOR 36 2008)

95

4235

17

4853

67

9 1217

0

10

20

30

40

50

60

70

Totalmente Parcialmente Natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 20 Atendimento a reivindicaccedilotildees dos associados da Coolvam 2008

De forma geral em todos os estratos os produtores consideram a

participaccedilatildeo da Coolvam no desenvolvimento da propriedade com poucas exceccedilotildees

registradas principalmente entre os pequenos produtores que responderam que a

cooperativa natildeo eacute atuante neste quesito conforme demonstra a Figura 21 Tal

situaccedilatildeo confirma a utilizaccedilatildeo por esse grupo em menor proporccedilatildeo de serviccedilos

teacutecnicos conforme apresentado anteriormente na Figura 17 Nesse sentido

observou-se que os produtores que satildeo assistidas com os serviccedilos do Educampo

consideraram em maior proporccedilatildeo a atuaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento de

sua propriedade

6

19

0

30

44

67

39

25

17

24

1317

0

10

20

30

40

50

60

70

Muito atuante Atuante Pouco atuante Natildeo atua NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade Carlos Chagas 2008

Outro fator relevante eacute que os produtores responderam se sentir bem

informados sobre a cooperativa (Figura 22) No entanto nesta mesma questatildeo

96

pediu-se que apontasse que tipo de informaccedilatildeo sente mais necessidade de obter

As respostas foram semelhantes conforme representaccedilatildeo das falas subscritas que

demonstram a necessidade de informaccedilotildees sobre as tomadas de decisotildees da

gerecircncia e formaccedilatildeo de preccedilo de leite

bull Compraram outra cooperativa e natildeo informam o que se passa laacute

bull Mais detalhe sobre preccedilo de leite Se enviassem carta explicando sobre o preccedilo seria bom

bull Sobre como satildeo tomadas as decisotildees das reuniotildees do conselho administrativo

bull Excesso de funcionaacuterios com alta remuneraccedilatildeo

bull Natildeo natildeo tem comunidade e a informaccedilatildeo eacute repassada principalmente para as comunidades

bull Informaccedilotildees mais profundas

bull Informa depois das accedilotildees realizadas

bull Controla demais o produto (leite)

bull Preccedilo do leite

bull Como estaacute a atuaccedilatildeo da cooperativa

bull o que a diretoria pensa para melhorar as condiccedilotildees para o associado

bull por que a cooperativa paga o leite tatildeo barato

bull em relaccedilatildeo a mudanccedilas como por exemplo queda no preccedilo

do leite (QUESTIONAacuteRIOS DE PESQUISA COOLVAM 2008)

79 75

60

2125

40

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 22 Informaccedilotildees dos associados sobre a cooperativa Coolvam 2008

A cooperativa utiliza-se da realizaccedilatildeo de Preacute-assembleacuteias como estrateacutegia

para informar aos associados dos resultados e outras atividades que aconteceram

durante o ano assim como outras accedilotildees a serem aprovadas pelos soacutecios Estas satildeo 97

98

reuniotildees para apresentar a pauta a ser tratada posteriormente na Assembleacuteia Geral

O presidente entende que dessa forma eacute possiacutevel que todos tirem suas duacutevidas e

esclareccedilam os assuntos que mais interessam como mostra extrato de entrevista

Jaacute eacute exemplo de participaccedilatildeo nas comunidades satildeo as preacute-assembleacuteias Fazemos 10 a 15 preacute-assembleacuteias e apresentamos o balanccedilo Acredito que laacute na comunidade o produtor fica mais a vontade para tirar suas duvidas para fazer qualquer pergunta e levantar questionamento Entatildeo quando o produtor vem agrave Assembleacuteia Geral jaacute estaacute com tudo esclarecido jaacute tirou as duvidas laacute fica mais agrave vontade para tirar duvidas e fazer perguntas (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As decisotildees satildeo tomadas em caraacuteter definitivo nas assembleacuteias gerais sejam

elas ordinaacuterias ou extraordinaacuterias conforme previsto em estatuto e eacute justamente isso

que garante o caraacuteter democraacutetico do cooperativismo Dessa forma a administraccedilatildeo

participativa significa a auto-administraccedilatildeo como definiu Schneider (1999) os

associados satildeo a autoridade suprema com poder para decidir sobre todos os

aspectos importantes de sua cooperativa Todos os associados tecircm o direito ao voto

(um homem um voto) Geralmente essas decisotildees satildeo de maior importacircncia pois

trazem influecircncias ou consequumlecircncias diretas no desempenho da empresa

cooperativa e dos associados ao responder aos seus interesses econocircmicos caso

os resultados sejam positivos ou negativos Nessas reuniotildees haacute trecircs formas de

participaccedilatildeo dos associados quanto agrave aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo do que se tem a

decidir na forma de voto

O voto eacute o modo de expressar a vontade (FERREIRA1993) num ato de

escolha pode-se dizer num sentido amplo eacute sinocircnimo de participaccedilatildeo e

democracia Conforme levantamento nos processos de escolhas nas assembleacuteias

da cooperativa o voto acontece de diferentes formas Embora natildeo seja descrito

como procede no Estatuto Social (2008) citam-se trecircs meios a) Simboacutelica ou

Aclamaccedilatildeo b) Nominal e c) Secreta Deste modo buscou-se o significado e como

acontece a votaccedilatildeo nas modalidades supra-citadas

a) Simboacutelica ou aclamaccedilatildeo Aclamaccedilatildeo tem o sentido de aplaudir com

entusiasmo eleger por aclamaccedilatildeo Neste caso pede-se que os associados que

concordam com o assunto a ser decidido aclamem e ao maior som toma-se a

decisatildeo

b) Nominal (manifestaccedilatildeo individual) conforme Ferreira (1993) manifestaccedilatildeo

eacute o ato ou efeito de manifestar-se significa exprimir-se mostrar-se Esta modalidade

de voto eacute utilizada em vaacuterios tipos de assembleacuteias Na cooperativa o produtor ao

99

comparecer na assembleacuteia recebe um cartatildeo Este eacute usado para votaccedilatildeo de forma

que o produtor exprima publicamente sua vontade na decisatildeo a ser tomada Essa eacute

a forma mais utilizada por ser mais praacutetica e mais raacutepida a votaccedilatildeo e de resultado

imediato No entanto devido ao receio de se expor o associado pode natildeo exercer

muitas vezes a sua vontade o que leva a uma tendecircncia de prevalecer a vontade

dos dirigentes uma vez que estes ao colocar o assunto em votaccedilatildeo fazem a

seguinte abordagem

Quem for contra a proposta apresentada que se manifeste e quem for a favor permaneccedila como estaacute (PRODUTOR 69 COOLVAM 2008)

c) Secreto eacute o voto confidencial particular em segredo Neste caso os

produtores recebem as ceacutedulas com as opccedilotildees de escolha marcam a melhor

alternativa no seu entendimento e depositam a ceacutedula na urna secretamente

Dentre os trecircs modos apresentados o mais comum eacute o voto nominal ou seja

por manifestaccedilatildeo individual Entretanto esta natildeo foi a melhor opccedilatildeo no

entendimento dos associados haja vista o resultado apresentado na Figura 23 e os

comentaacuterios feitos pelos produtores justificando a preferecircncia pelo voto secreto

conforme transcriccedilotildees abaixo

bull O voto secreto eacute um meio de expressar a opiniatildeo mais verdadeira

bull Porque o produtor se sente mais agrave vontade

bull Depende do momento e do assunto tratado

bull A pessoa natildeo fala um natildeo ou sim para natildeo criar problema com o voto secreto fica mais agrave vontade (QUESTIONAacuteRIOS COOLVAM 2008)

Dada a importacircncia de seu sentido o ato de votar eacute o grande indicador de

democracia e maior marco de sua efetivaccedilatildeo utilizado nas escolhas dos indiviacuteduos

para sua representaccedilatildeo em uma causa A forma secreta eacute o melhor meio para que

as pessoas possam de fato manifestar a sua vontade Nas discussotildees sobre a

participaccedilatildeo e democracia cooperativista Schneider (1999) expotildee sua opiniatildeo de

que natildeo estaacute no voto a dimensatildeo participativa do associado Para o autor

o exerciacutecio do voto natildeo permite ao associado assumir a dimensatildeo participativa que deveria ter cabe aos trabalhos dos representantes comitecircs disseminar a informaccedilatildeo de forma que conscientize os votantes para ter percepccedilatildeo de que a participaccedilatildeo estaacute aleacutem do ato de votar (SCHNEIDER 1999 p224)

Deste modo o mesmo autor complementa que a viabilidade da democracia

cooperativa depende tambeacutem da vontade e do interesse de participaccedilatildeo aleacutem dos

mecanismos montados para promovecirc-la (SCHNEIDER 1999 p152)

613

0

29

13

0

6675

100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Aclamaccedilatildeo Manifestaccedilatildeo Individual Secreto

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 23 Opiniatildeo dos associados sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees Coolvam 2008

Esse modo de participar na escolha de decisotildees a serem tomadas e as

razotildees que os levam a preferir o voto secreto podem ser indicadores que justificam

o decrescente nuacutemero de participantes nas assembleacuteias nos uacuteltimos anos conforme

levantamento nos livros de atas Mesmo que esse resultado seja diferente do outro

apresentado anteriormente na Figura 12 onde mostra boa participaccedilatildeo dos soacutecios

esta vem diminuindo quando se verifica registros de presenccedilas conforme mostra a

Figura 24 a seguir Foi feito levantamento das seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias (AGO) que compreende o periacuteodo da atual gestatildeo entre 2002 e 2007

As seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais Extraordinaacuterias (AGE) aconteceram no periacuteodo

de 1996 a 2005

010

20

3040

50

60

70

1 2 3 4 5 6

Seis uacuteltimas AGOacutes e AGEacutesPeriacuteodo de 1996 a 2007 AGO

AGE

Figura 24 Participaccedilatildeo dos associados em Assembleacuteias Coolvam 2008

Fonte Livros de Atas da Coolvam de 1996 a 2007

100

No debate sobre participaccedilatildeo a pesquisa demonstrou dois quadros distintos

um conforme a teoria da escolha racional sobre o interesse individual na

participaccedilatildeo para consecuccedilatildeo de um bem coletivo que nem sempre as pessoas tem

interesse em participar efetivamente da lideranccedila e accedilotildees internas pois os

resultados mostram que parte dos associados natildeo tecircm interesse em participar da

gestatildeo da cooperativa principalmente nos grupos de meacutedios e grandes produtores

O outro quadro de modo contraacuterio mostra o consideraacutevel interesse entre os

pequenos produtores jaacute que 35 disseram que gostariam de participar Poreacutem

nesse grupo as respostas mostraram que alguns destes entendem que soacute podem

participar se forem convidados pela diretoria conforme demonstra extrato das

respostas obtidas nesta questatildeo

Gostaria de participar do conselho mas natildeo foi convocado (PRODUTOR 73 2008)

De maneira semelhante outro associado respondeu Falta ser convidado (PRODUTOR 40 2008)

Desta forma o caraacuteter de liberdade e democracia em participaccedilatildeo cooperativa

ainda natildeo estaacute claro para o associado assim como diz Schneider (1999) ldquoo

processo participativo do ldquomilitante cooperativistardquo enfrenta em geral uma seacuterie de

resistecircncias da parte da estrutura hieraacuterquica Assim como reforccedila Bordenave

(2003) parte da efetividade da participaccedilatildeo depende da oportunidade de participar

35

917

65

9183

010

20304050

60708090

100

sim natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 25 ndash Interesse de produtores em participar dos Oacutergatildeos de Gestatildeo Coolvam 2008 A participaccedilatildeo dos soacutecios na administraccedilatildeo e controle da cooperativa se

materializa formalmente por meio dos membros nas funccedilotildees dos Conselhos de

Administraccedilatildeo e Fiscal eleitos em assembleacuteia geral e pela participaccedilatildeo no Comitecirc

101

Educativo Portanto para efetivar a auto-gestatildeo deve-se por em praacutetica as

recomendaccedilotildees comuns em Perius (1983) e Schneider (1999) Para esses autores

os soacutecios por si mesmos devem ter as condiccedilotildees de controlar a administraccedilatildeo da

cooperativa na perspectiva de que os dirigentes e administradores sempre devem

ter bem presente que satildeo mandataacuterios dos soacutecios atuando em nome deles gozaratildeo

de sua confianccedila Conforme Drucker (2006) eacute preciso pensar numa parceria entre o

conselho e os membros aleacutem do mais um conselho precisa saber que possui a

organizaccedilatildeo para o benefiacutecio da missatildeo que essa organizaccedilatildeo deve desempenhar

A pesquisa mostra que os produtores que compotildeem os conselhos estatildeo

presentes nos trecircs estratos sociais poreacutem observou-se que o Conselho

Administrativo tem em seu quadro o maior nuacutemero de meacutedios e grandes produtores

Jaacute o Conselho Fiscal eacute composto por um nuacutemero maior de meacutedios e pequenos

produtores corroborando Pereira (2002) ao apontar que os maiores produtores

conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees das organizaccedilotildees

cooperativas Jaacute o Comitecirc Educativo que eacute organizado e regulamentado pelo

Conselho de Administraccedilatildeo constatou-se na pesquisa que na cooperativa este

comitecirc eacute composto em sua maioria por pequenos produtores rurais (83) conforme

demonstrado na Figura 26 a seguir

20

50

30 33

50

17

83

17

0

0102030405060708090

ConselhoAdministrativo

Conselho Fiscal Comitecirc Educativo

Pequeno

Meacutedio

Grande

Figura 26 ndash Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo Coolvam

2008

Na praacutexis a gestatildeo cooperativa conforme demonstrado neste estudo de

caso evidencia a gestatildeo com a predominacircncia de um pequeno grupo representado

pelo estrato de grandes produtores sobre o grande grupo (pequenos produtores) o

102

103

que corrobora questotildees abordadas pela teoria da escolha racional Nesse aspecto

pode-se indagar Por que natildeo haacute presenccedila de grandes produtores na composiccedilatildeo do

comitecirc educativo jaacute que estes participam dos outros oacutergatildeos de gestatildeo a que

compete diretamente os interesses dos demais associados Os coordenadores e

secretaacuterios dos Nuacutecleos de Associados (comitecircs) conforme Estatuto (1988) tecircm a

funccedilatildeo de trazer ao conselho de Administraccedilatildeo as reivindicaccedilotildees bem como

sugestotildees para solucionar os problemas observados desde que sejam

fundamentados para assim solicitar providecircncias Entatildeo seria de se esperar que

houvesse uma participaccedilatildeo representativa de todos os estratos sociais numa

distribuiccedilatildeo mais homogecircnea em todos os oacutergatildeos da gestatildeo

Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) alertaram que entre as

falhas dos processos participativos ao lidar com as desigualdades internas agraves

comunidades haacute tendecircncia muitas vezes em reforccedilar as relaccedilotildees de poder

preexistentes Essa situaccedilatildeo identificada na Cooperativa pode ser indicativa do que

expotildee esses autores De modo diferente na perspectiva de Schneider (1999) na

participaccedilatildeo em nuacutecleos as pessoas conseguem influenciar no planejamento de

accedilotildees para a organizaccedilatildeo Deste modo a participaccedilatildeo deve ser percebida como

uma estrateacutegia para criaccedilatildeo de novas oportunidades ou seja capaz de modificar as

relaccedilotildees de poder preexistentes

Conforme Salanek Filho e Silva (2003) juntamente com a confianccedila a

interaccedilatildeo definiccedilatildeo de objetivos comuns e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees

fundamentais para compreender o capital social no processo cooperativista Entatildeo

com a finalidade de verificar a satisfaccedilatildeo e grau de confianccedila no trabalho dos

referidos conselhos buscou-se na pesquisa dados que pudessem dar pistas para

compreender esse processo Neste ponto foi questionado se os conselhos estariam

atuando conforme proposto para a funccedilatildeo O resultado demonstrou que de forma

geral os associados apresentaram significativo grau de confianccedila no trabalho dos

membros dos Conselhos conforme resultados apresentados nas Figuras 27 e 28

Houve maior nuacutemero de aprovaccedilotildees do que o modo contraacuterio constatando

portanto que haacute uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a maioria dos associados quando

se trata do trabalho dos conselhos Ao observar a confianccedila na perspectiva

econocircmica conforme Maciel (2003) esse comportamento estreita as relaccedilotildees entre

os agentes e melhora a eficiecircncia econocircmica

Nessa perspectiva as duas uacuteltimas questotildees tratadas mostram que a

participaccedilatildeo de associados de modo geral exerce pouca influecircncia no desempenho

econocircmico Jaacute que foi identificado que haacute dificuldade de participaccedilatildeo e ao mesmo

tempo haacute confianccedila no trabalho dos oacutergatildeos de gestatildeo

5850

80

23

50

20 19

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 27 Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo Coolvam 2008

62 64 60

15

3640

23

0

10

20

30

40

50

60

70

Sim Natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 28 ndash Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal Coolvam 2008

Embora tenha sido constatada forte relaccedilatildeo de confianccedila entre os associados

e os oacutergatildeos de gestatildeo identificou-se que os associados sentem necessidade de

informaccedilotildees do processo de gestatildeo Estes indicaram carecircncia de informaccedilatildeo sobre

a formaccedilatildeo de preccedilo de leite pago pela cooperativa como mostra a Figura 29 em

que a maioria disse natildeo participar da formaccedilatildeo do preccedilo da produccedilatildeo entregue ao

laticiacutenio Essa questatildeo foi contraditoacuteria ao assunto tratado representado na Figura

22 em que os produtores disseram se sentir bem informados sobre a cooperativa

Contradiccedilatildeo desse tipo evidencia o que Freire (1976) chama de cultura do silecircncio

que eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia Mas eacute possiacutevel que

104

numa organizaccedilatildeo de fortes laccedilos de confianccedila conforme constatado possa

permear a cultura do silecircncio

14 12

0

8088

100

60

0

20

40

60

80

100

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo

Ateacute mesmo produtores que participam do Comitecirc demonstraram que em

alguns casos tecircm dificuldades em atuar e se informar Entrevista com um membro

de Comitecirc Educativo mostrou que ele tem dificuldade em ter informaccedilotildees sobre o

futuro da organizaccedilatildeo e disse achar a cooperativa ldquomuito fechadardquo

a gente natildeo tem acesso a informaccedilatildeo sobre planejamento da cooperativa para longo prazo (MEMBRO DO COMITEcirc EDUCATIVO COOLVAM 2008)

Entretanto a assessoria de cooperativismo mostra que o desempenho dos

membros do Comitecirc eacute diferenciado e as caracteriacutesticas da proacutepria comunidade

exercem influecircncia sobre atuaccedilatildeo do Comitecirc conforme mostra extrato de entrevista

Uma outra coisa interessante eacute a questatildeo da lideranccedila nessas regiotildees que eu estou mencionando Coacuterrego de Areia Coraccedilatildeo de Minas Lageado Brejauba essas regiotildees satildeo as mais participativas e satildeo bastante atuantes Talvez seja hoje o ponto mais importante do nosso trabalho Satildeo regiotildees onde a gente tem lideranccedila mais forte mais atuante consegue mobilizaccedilatildeo mais forte com os associados e com os familiares dependendo da atividade que a gente for desenvolver (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Jaacute em comunidades mais heterogecircneas onde participam tambeacutem grandes

produtores eacute reconhecido haver mais dificuldades em conseguir desenvolver

trabalho de mobilizaccedilatildeo para participaccedilatildeo de cooperados

a gente percebe no dia a dia que tem uma diferenccedila com as demais comunidades As regiotildees de capoeiras Coacuterrego da Prata Vila Pereira Jequiriri onde temos um nuacutemero de associados produtores considerados de meacutedio e grande porte a gente percebe que haacute dificuldade natildeo todos mas uma grande parte de mobilizaacute-los para alguma atividade para reuniatildeo de comunidade Temos que mostrar algo mais atrativo eles satildeo mais exigentes em relaccedilatildeo ao geral a participaccedilatildeo deles com certeza eacute menor alegam que tem muitas

105

atividades agraves vezes natildeo estatildeo disponiacuteveis para estar participando entatildeo a gente tem muita dificuldade de mobilizar essas pessoas Uma parte que estaacute sempre de fora e natildeo participa de forma alguma esse eacute um problema a gente soacute consegue mobilizaacute-los quando tem um evento maior por exemplo dia de campo algum evento na loja veterinaacuteria promoccedilotildees (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Outro levantamento complementar na pesquisa foi avaliar a participaccedilatildeo dos

produtores rurais em outras atividades coletivas desde realizaccedilotildees festivas nas

comunidades rurais na cooperativa e atuaccedilatildeo em outros segmentos da comunidade

urbana (Figuras 30 31 e 32) Identificou-se que a maioria eacute tambeacutem associado agrave

cooperativa de creacutedito rural e ao sindicato rural (83) Poucos produtores disseram

participar de outras organizaccedilotildees coletivas (meacutedia de 34 nos trecircs estratos) dentre

eles um disse fazer parte da Comissatildeo de Estradas na gestatildeo puacuteblica dois

produtores disseram ser registrados em partido poliacutetico Dentre os associados com

filhos em idade escolar a maioria estaacute associado agrave Cooperativa de ensino Foi

registrado somente um caso de pequeno produtor que trabalha como empregado

para outra propriedade mas registrou-se casos de prestaccedilatildeo de serviccedilos por

produtores que tecircm formaccedilatildeo teacutecnica (engenheiro veterinaacuterio zootecnista dentre

outros)

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17

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Figura 30 Participaccedilatildeo dos associados em outras organizaccedilotildees coletivas Coolvam 2008

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nunca NRPEQUENO

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Figura 31 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na comunidade Coolvam

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Sempre De vez emquando

nunca NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 32 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na cooperativa Coolvam 2008

Com estas informaccedilotildees confirma-se a interaccedilatildeo entre a organizaccedilatildeo

cooperativa com a comunidade jaacute que as mesmas pessoas participam do quadro

social das diferentes cooperativas Dessa forma os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais

que se formam na comunidade contribuem para fortalecer o capital social Por outro

lado outra caracteriacutestica observada por meio das notiacutecias no Informativo Coolvam

(2004 2005 2006 2007) ficou constatado que as lideranccedilas que participam de uma

cooperativa atuam tambeacutem em algum oacutergatildeo de gestatildeo em outra portanto interagem

entre si e com outras atividades da comunidade Essa relaccedilatildeo reforccedila a presenccedila de

capital social na comunidade promovido em parte pela presenccedila das cooperativas e

pela forma de se organizarem Entretanto a pesquisa mostra que mesmo nesse

ambiente prevalece a dominaccedilatildeo de um mesmo grupo na conduccedilatildeo destas

107

organizaccedilotildees e no caso estudado dados mostram dificuldades para participaccedilatildeo do

restante da populaccedilatildeo associada

A literatura mostra que a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o

homem exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si

mesmo e sua praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades como a auto-expressatildeo

(BORDENAVE1983) Essas caracteriacutesticas satildeo pessoais sendo assim podem natildeo

se manifestar na mesma intensidade em indiviacuteduos diferentes Deste modo

Bordenave (1983) se refere ainda agraves diferenccedilas que se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte Assim como se justifica ter indiviacuteduos que empreendem mais ou menos em

causas sociais

Por outro lado foi percebiacutevel em todos os estratos que haacute interaccedilatildeo entre os

associados eles mantecircm o haacutebito de visitar outras propriedades (somatoacuterio de 84

para as respostas ldquosempre e de vez em quandordquo) conforme figura 33 A maioria

citou que nessas visitas trocam informaccedilotildees vecircm a forma de produccedilatildeo ou o gado do

outro Esses haacutebitos fortalecem os laccedilos pessoais assim como a participaccedilatildeo em

atividades festivas nas comunidades reforccedilam tradiccedilotildees ciacutevicas e satildeo accedilotildees que

fortalecem o capital social

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Sempre De vez emquando

dificilmente nuncaPEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 33 ndash Haacutebito de visitar outros produtores rurais associados da Coolvam 2008

Dentre os que responderam que natildeo costumam ir a outra propriedade

mostra-se uma preocupaccedilatildeo que foi comentada tambeacutem por outros produtores

As pessoas natildeo ficam mais nas propriedades entatildeo perdemos aquele costume de ir na casa do outro hoje vatildeo para a cidade e outros vizinhos venderam as fazendas para o eucalipto estou ficando sozinho na minha regiatildeo (PRODUTOR 59 COOLVAM 2008)

108

109

Foi importante registrar esse comentaacuterio porque embora se tenha

constatado a interaccedilatildeo entre produtores nas propriedades essa preocupaccedilatildeo foi

demonstrada em todos os estratos haacute produtores que jaacute venderam suas terras para

cultura de eucalipto Alguns tecircm a preocupaccedilatildeo de que se os grandes produtores

venderem suas terras em alguns pontos pode inviabilizar a coleta de leite de um

pequeno produtor que ficar ldquoilhadordquo (palavra usada por diferentes produtores vaacuterias

vezes durante as entrevistas) Essa nova cultura agriacutecola vem se expandido na

regiatildeo destinada agraves induacutestrias de papel e celulose satildeo cultivadas em grandes

extensotildees de terra e tem influenciado no modo de vida local

Por outro lado ao longo do trabalho percebeu-se ao conversar com os

produtores que participaram das entrevistas que entre eles haviam

comportamentos diferentes uns mais entusiasmados outros menos alguns se

mostraram indiferentes poreacutem todos contribuiacuteram agrave sua maneira conforme

planejamento da pesquisa de campo Entretanto em meio a esses diferentes

comportamentos foi percebido uma motivaccedilatildeo diferente durante a pesquisa de

campo especialmente na entrevista com pequeno produtor que participa como

membro do Conselho Administrativo quando este contou suas experiecircncias e

histoacuteria de vida

Sou filho de pequeno produtor rural fui para Satildeo Paulo trabalhar fiquei seis anos por laacute quando voltei fui motorista da Cooperativa quando meu pai faleceu herdei pequena parte da propriedade e comecei a trabalhar Logo iniciei na comunidade como secretaacuterio depois fui coordenador do comitecirc educativo por trecircs mandatos fui convidado para ser conselheiro e jaacute estou atuando haacute seis anos (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

O que chamou a atenccedilatildeo foi que nenhum outro entrevistado ateacute o momento

tinha demonstrado tanto entusiasmo com a cooperativa como este produtor ele

dissedisse

Eu sou apaixonado pelo cooperativismo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse associado foi indicado a receber uma das premiaccedilotildees para a

cooperativa realizada no Caribe e contou entusiasmado

Imagina dentro do conselho eu fui indicado para ir receber o precircmio foi a melhor viagem que jaacute fiz Quando cheguei contei isso na minha comunidade (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Dentre outros soacutecios este produtor se destaca pela dedicaccedilatildeo e forma de

trabalhar na sua propriedade assim como empenho e mobilizaccedilatildeo para articular

accedilotildees na sua comunidade e na cooperativa A entrevista com a assessora de

110

cooperativismo mostrou tambeacutem que em seu entendimento a participaccedilatildeo de

associados tanto nas comunidades quanto nas atividades da cooperativa eacute

determinada pelo perfil individual de cada associado que se manifesta na vontade de

participar

a gente tem uma situaccedilatildeo em que um associado anda acho que doze quilocircmetros a cavalo para chegar agrave reuniatildeo e ele vai em todas as reuniotildees e tem comunidades que a distacircncia eacute muito menor e a pessoa deixa de ir Agraves vezes tem automoacutevel um amigo que mora proacuteximo que pode dar uma carona e natildeo vai Entatildeo Isso depende muito da pessoa do perfil da pessoa essa pessoa que estou falando ela eacute muito empreendedora muito participativa procura participar sempre das atividades que a gente realiza junto a cooperativa

Temos tambeacutem situaccedilatildeo de grandes produtores empreendedores estatildeo sempre participando das reuniotildees de torneio leiteiro de dia de campo um exemplo eacute Zeacute Firmino e Eurico satildeo pessoas que participam muito com a gente e que satildeo considerados grandes e meacutedios produtores (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

O pequeno produtor no exemplo dado eacute participativo busca crescimento

acredita que pode ajudar outros produtores a entender e melhorar o interesse em

participar apresenta visatildeo de futuro como demonstra em suas palavras

O pequeno produtor deve buscar espaccedilo participando de eventos palestras se sentir importante ouvir e dar opiniotildees Acho que todo produtor deveria participar do Educampo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Natildeo obstante a todas as caracteriacutesticas positivas que os relatos demonstram

o exemplo de associado aqui exposto mostra que existem limitaccedilotildees conforme este

mesmo produtor indicou como dificuldade em participar do Conselho ao defender

suas ideacuteias junto aos outros conselheiros

eacute difiacutecil defender uma ideacuteia que seja viaacutevel para a empresa e aos associados para os outros conselheiros (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse dilema eacute presente na auto-gestatildeo frente a interesses dos membros que

compotildeem o grupo mesmo que o objetivo seja comum Natildeo se pode esperar a

mesma motivaccedilatildeo no comportamento de todos muito menos que o altruiacutesmo seja a

inclinaccedilatildeo dos membros que ali se dispotildee atuar

A necessidade de realizaccedilatildeo e reconhecimento satildeo sentimentos inerentes a

qualquer indiviacuteduo (HELLER CIT IN BRITO E BRITO 2000) e pode-se dizer que na

accedilatildeo coletiva eacute possiacutevel que essas caracteriacutesticas estejam em niacuteveis diferentes por

isso as vontades de participaccedilatildeo nas atividades da cooperativa pelos associados

satildeo encontradas em graus diferentes Bordenave (1983) confirma essa prerrogativa

e isso foi constatado no resultado da pesquisa

Ao considerar que cada pessoa tem um grau de interesse desejo e

habilidade de realizaccedilatildeo diferentes assim como reconhecidos por Maslow citado em

Brito e Brito (2000) psicoacutelogo e pesquisador de comportamento confirma-se a teoria

de Olson (1999) aqui apresentada e ilustrada pela limitaccedilatildeo exposta pelo associado

entrevistado no que se refere agrave sua participaccedilatildeo no Conselho assim como a

motivaccedilatildeo dos demais em aceitar sugestotildees e buscar soluccedilotildees

Por uacuteltimo como informaccedilatildeo complementar buscou-se verificar a motivaccedilatildeo

dos produtores com sua atividade produtiva jaacute que a maioria principalmente os

pequenos tem na propriedade rural a principal fonte de renda Dos questionamentos

feitos o maior percentual de respostas mostrou que os produtores satildeo ldquoMuito

entusiasmadosrdquo com a atividade conforme mostra a Figura 34 Satildeo dinacircmicos pois

estatildeo sempre ldquomodificando para melhorarrdquo

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natildeo

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odifi

car

NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 34 Motivaccedilatildeo dos associados em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural Coolvam 2008

Outra percepccedilatildeo durante a aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios eacute que os produtores

parecem ser ldquoapaixonados pelo que fazemrdquo Essa expressatildeo eacute comumente utilizada

em Recursos Humanos pois conforme Candeloro (2007) a paixatildeo eacute forccedila

motivadora que daacute agraves pessoas a energia necessaacuteria para suportar contratempos ter

persistecircncia e dedicaccedilatildeo necessaacuterias para alcanccedilar um objetivo

Por outro lado e de modo diferente essa paixatildeo e interesse na atividade

individual pode natildeo ser transferida na mesma intensidade para sua atuaccedilatildeo na

organizaccedilatildeo cooperativa que teoricamente eacute tambeacutem de sua propriedade De certo

111

112

modo ele age dessa forma por que eacute naturalmente difiacutecil conseguir que as pessoas

cooperem para benefiacutecio muacutetuo conforme defende Olson (1999)

113

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo permitiu verificar e contextualizar a participaccedilatildeo de associados

em organizaccedilotildees cooperativas e confirmar tanto o vigor no cooperativismo quanto

sua fragilidade no enfrentamento de problemas conjunturais no ambiente

econocircmico Desde a Revoluccedilatildeo industrial no seacuteculo XIX na idealizaccedilatildeo como

proposta para vencer as desigualdades sociais daquela eacutepoca e atualmente quase

duzentos anos depois em meio agrave ldquoRevoluccedilatildeo da Informaccedilatildeordquo o cooperativismo

continua com seus princiacutepios teoricamente conservados e se adaptando agraves mais

diferentes exigecircncias deste novo seacuteculo com o objetivo de defender os interesses

de seus cooperados

Numa conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Comeacutercio e Desenvolvimento

Ricupero (2007) disse que a resposta para os problemas de desigualdade e pobreza

extremas natildeo viraacute apenas da tecnologia e da economia A soluccedilatildeo desses

problemas dependeraacute de valores como a equidade a solidariedade e a compaixatildeo

que pertencem a um domiacutenio bastante distinto A necessidade de cooperaccedilatildeo

cresce em todos os segmentos e estaacute apontado como instrumento mais apropriado

para desafiar e vencer os vieses que permeiam a busca para reduccedilatildeo dessas

desigualdades sociais A emergecircncia econocircmica de paiacuteses em desenvolvimento por

ora cheios de oportunidades sem divisas com a economia mundial carece de

instrumentos para incluir populaccedilotildees que contraditoriamente nunca foram tatildeo

proacuteximas e ao mesmo tempo tatildeo distantes

Nesse contexto o estudo sobre o cooperativismo mostra que essa forma de

accedilatildeo coletiva eacute reconhecidamente um importante meio para diminuir esse

distanciamento pois eacute uma forma de organizaccedilatildeo que consegue estar presente em

todos os segmentos e niacuteveis sociais Entretanto natildeo se pode ignorar que sob as

influecircncias do ambiente externo no que diz respeito agrave competitividade

modernizaccedilatildeo e diversificaccedilatildeo de atividades que vatildeo de encontro agrave crescente

complexidade que tem se tornado as organizaccedilotildees cooperativas a efetiva

participaccedilatildeo de associados tem sido cada vez mais difiacutecil poreacutem necessaacuteria e deve

ser valorizada para validar e fortalecer a doutrina cooperativista

Essa constataccedilatildeo tem fundamento no potencial da participaccedilatildeo como

mecanismo e caminho para o desenvolvimento de organizaccedilotildees cooperativas o que

114

foi confirmado durante a discussatildeo nesta dissertaccedilatildeo No entanto ainda haacute

necessidade de mudanccedila de atitude das pessoas e nos modos tradicionais de

conduzir suas accedilotildees bem como dar liberdade e adotar meios apropriados para

atrair novos membros para participar das atividades e oacutergatildeos que compotildee a gestatildeo

cooperativa a fim de renovar o quadro ponderadas eacute claro as vontades

necessidades e limitaccedilotildees de cada um O investimento em educaccedilatildeo cooperativista

objetivando qualificaccedilatildeo dos soacutecios para que estes tenham condiccedilotildees de

acompanhar a complexidade de informaccedilotildees e controles da gestatildeo cooperativa

somados ao investimento no aprendizado teacutecnico para o desenvolvimento de

habilidades de gestatildeo satildeo vistos como elementos relevantes para tornar possiacutevel e

efetiva a participaccedilatildeo

Embora haja accedilatildeo da Coolvam neste sentido o estudo mostrou que tanto

membros dos Conselhos quanto do Comitecirc Educativo que satildeo a forma organizada

para promover educaccedilatildeo cooperativista e instituiccedilotildees de ldquovozrdquo dos associados

atuam com mais eficiecircncia como canal de informaccedilotildees do que como instrumentos de

accedilatildeo poliacutetica e estrateacutegica dos produtores que vecircm interferir na gestatildeo da

organizaccedilatildeo com objetivo defender os interesses dos associados As entrevistas

mostraram a necessidade de treinamentos praacuteticos com linguagem que permita

melhor entendimento dos membros em substituiccedilatildeo agrave metodologia utilizada nos

treinamentos oferecidos Percebe-se que haacute muito mais disposiccedilatildeo em qualificar as

cooperativas nas aacutereas de sua operacionalizaccedilatildeo administrativo-financeira e

mercadoloacutegica tratando-as em muitos casos como empresas comuns

Diferentemente talvez natildeo se tenha dispensado o mesmo empenho no resgate e

reforccedilo da doutrina cooperativista para aleacutem do discurso interno ou seja tecirc-la como

ldquoordem do diardquo principalmente para as novas geraccedilotildees na esperanccedila de que estes

sejam fonte de mudanccedila de comportamento mentalidade e que de fato ocorra

transformaccedilatildeo no desejo de fazer o coletivo funcionar para todos

Deste modo a participaccedilatildeo para cooperaccedilatildeo foi identificada tambeacutem como a

mais apropriada para o estabelecimento e criaccedilatildeo de novos meios motivados a

despertar o interesse de pessoas em sair da ldquoineacuterciardquo que faz manter o status quo

das diferenccedilas sociais e perda de oportunidades que se encontram em sociedades

cooperativas

115

Outra caracteriacutestica do quadro social corrobora a afirmativa de que

deveriacuteamos avaliar o desenvolvimento em termos da expansatildeo das capacidades das

pessoas para levarem o tipo de vida que valorizam ndash e tem razatildeo para valorizar

(SEN 2000) deste modo respeitar as diferenccedilas das pessoas tambeacutem na forma de

participar pois o estudo mostrou que o grupo de associados que compotildee uma

organizaccedilatildeo coletiva natildeo participa de forma homogecircnea elas apresentam perfis

proacuteprios e haacute diferentes motivaccedilotildees individuais e particulares em cada associado

que os faz envolver mais ou menos intensamente na accedilatildeo Isso deve ser respeitado

mas natildeo utilizado como pretexto de que natildeo se tem pessoas preparadas para

substituiccedilatildeo e justificar a permanecircncia das mesmas pessoas na frente dessas

organizaccedilotildees por tanto tempoA teoria da escolha racional mostra a sobreposiccedilatildeo

dos interesses do pequeno grupo melhor organizado sobre o maior grupo Neste

trabalho essa premissa estaacute presente no cooperativismo quando dados mostram

que em cooperativas agropecuaacuterias o maior nuacutemero de membros satildeo pequenos

produtores em relaccedilatildeo a um nuacutemero muito menor de grandes produtores do mesmo

modo que se confirma a presenccedila de maior nuacutemero de grandes produtores na

conduccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Com base nessa constataccedilatildeo pode-se inferir que

seja possiacutevel que grandes produtores possam naturalmente defender estrateacutegias

conforme seus proacuteprios interesses em detrimento dos interesses dos membros do

outro grupo

Esta mesma teoria confirma tambeacutem o dilema da proacutepria organizaccedilatildeo em

contratar profissionais externos para sua gestatildeo pois ao fazecirc-lo estaacute defendendo o

interesse da empresa cooperativa que sobrepotildee em diferentes momentos aos

interesses dos associados mesmo que racionalmente esta seja a melhor opccedilatildeo

Embora o posicionamento construiacutedo durante o trabalho seja de acreditar na

potencialidade da participaccedilatildeo natildeo se espera que estas organizaccedilotildees sejam

puramente auto-gestionadas pois se concorda que natildeo seja possiacutevel um isolamento

dessas organizaccedilotildees agrave pressatildeo crescente do mercado agrave qual estas tecircm que

responder com rapidez e eficiecircncia Assim como visto satildeo poucos os casos de

soacutecios preparados tecnicamente para estar agrave frente dos negoacutecios cooperativos

Portanto seria ideoloacutegico e irracional natildeo aceitar esta realidade A necessidade estaacute

no reforccedilo e incentivo a associados para participarem nos diferentes niacuteveis de

116

gestatildeo e conseguir desempenhar eficientemente suas funccedilotildees de controles e

conscientemente defender os interesses sociais da organizaccedilatildeo

A heterogeneidade relacionada agraves diferenccedilas sociais existente no quadro

social das cooperativas foi pouco abordada nas literaturas consultadas e de fato

natildeo eacute considerada nos princiacutepios cooperativistas Pode-se perceber no estudo de

caso que esta problemaacutetica tambeacutem natildeo eacute tratada individualmente e com a atenccedilatildeo

que merece para natildeo ir contra o princiacutepio da igualdade Mas contraditoriamente

mostrou tambeacutem que natildeo se trata de modo igual aos desiguais haacute utilizaccedilatildeo de

poliacuteticas e estrateacutegias diferenciadas e direcionadas agrave participaccedilatildeo de produtores nas

comunidades rurais Nessa perspectiva leva-se em consideraccedilatildeo o perfil e o estrato

social dos membros que as compotildeem Portanto haacute necessidade de utilizar

mecanismos diferentes natildeo no sentido de beneficiar uns em detrimento de outros

mas identificar as dificuldades e potencialidades encontradas em niacuteveis diferentes

nos comportamentos individuais e destes aproveitar as aptidotildees de uns para

desenvolver nos demais

Um outro ponto positivo natildeo aprofundado neste estudo mas sugerido em

outros trabalhose considerado prioridade no desenvolvimento do cooperativismo se

refere agrave importacircncia da educaccedilatildeo cooperativista para melhorar a participaccedilatildeo de

associados e o estiacutemulo agrave presenccedila de mulheres e jovens nas atividades da

cooperativa como estrateacutegia e instrumento de desenvolvimento de cooperativas A

cooperativa em estudo mostrou resultados positivos nesse sentido Pode-se

observar presenccedila de mulheres e crianccedilas em reuniotildees nas diferentes comunidades

rurais como mostrado na Figura 19 Isso se deve agrave accedilatildeo conjunta e o arranjo de

parceria entre as cooperativas instituiccedilotildees e escolas do municiacutepio O trabalho de

construccedilatildeo da cultura do cooperativismo investida em jovens como visto vem

conseguindo resultados positivos na comunidade e dessa forma faratildeo ldquoestoquerdquo de

capital social local Esse capital eacute importante para fortalecer as bases locais Caso

as grandes aquisiccedilotildees incorporaccedilotildees e fusotildees observadas como tendecircncias no

segmento do cooperativismo de leite se concretizem com o capital social

fortalecido haveraacute melhor participaccedilatildeo local para fortalecimento e defesa dos

interesses dos produtores associados

Deste modo fortalecimento do capital social pela cooperaccedilatildeo e confianccedila

apresentados no referencial como soluccedilatildeo para os dilemas eacute um conjunto a que

117

deve creditar a superaccedilatildeo das dificuldades de participaccedilatildeo de associados em gestatildeo

cooperativa Os soacutecios devem ser estimulados a acreditar que o investimento em

esforccedilo pessoal pode ser o diferencial para mudar a realidade de muitos Esses

instrumentos satildeo capazes de fortalecer as relaccedilotildees das pessoas criar e manter

viacutenculos propiciando um ambiente de relaccedilotildees familiares no sentido superar os

benefiacutecios individuais no alcance dos objetivos comuns conseguidos pelo espiacuterito

associativo

O fator limitante da pesquisa eacute que esta mostrou a participaccedilatildeo numa

cooperativa pequena onde os produtores estatildeo numa distribuiccedilatildeo geograacutefica

consideravelmente proacutexima ainda assim identificaram-se dificuldades de

participaccedilatildeo A conjuntura apresentada indica que cada vez mais o produtor vai

ficando distante espacialmente da gestatildeo e mais difiacutecil de acompanhar e participar

diretamente Portanto faz-se a indagaccedilatildeo o que vai acontecer com o produtor em

niacutevel macro nesse modelo a que tendem as cooperativas agropecuaacuterias de leite ao

pensar a participaccedilatildeo nessas organizaccedilotildees Como fica a essecircncia do

cooperativismo Cabem novos estudos em grandes organizaccedilotildees cooperativas para

avaliar os benefiacutecios e as dificuldades diante do que vem acontecendo e identificar a

percepccedilatildeo de produtores rurais nessas situaccedilotildees Como a filosofia da participaccedilatildeo

se aplica a esses casos Ainda de fato a opiniatildeo dos produtores que estatildeo nos

nuacutecleos menores consegue ser ouvida pelos que estatildeo tomando as decisotildees

Enfim o ambiente estaraacute satisfatoriamente equilibrado em termos de ldquocapacidades

sociaisrdquo para apoiar um modelo de participaccedilatildeo que possa trazer benefiacutecios

significativos para os pequenos produtores

Uma resposta aos desafios da participaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo exige novas

atitudes e mentalidades Existe forccedila poder e seguranccedila em pessoas que

compartilham natildeo soacute objetivos comuns mas necessidades comuns No

cooperativismo para o bem dos cooperados eacute fundamental que haja oportunidade

para novos participantes com apoio e cooperaccedilatildeo para o bem coletivo e mesmo

tentado ao individualismo cooperar e atuar coletivamente deve ser visto como a

melhor opccedilatildeo

118

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

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APENDICE A

Princiacutepios Cooperativistas

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica

3 - Participaccedilatildeo econocircmica dos membros - Os membros contribuem equumlitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente Parte desse capital eacute normalmente propriedade comum da cooperativa Os membros recebem habitualmente se houver uma remuneraccedilatildeo limitada ao capital integralizado como condiccedilatildeo de sua adesatildeo Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades

bull Desenvolvimento das suas cooperativas eventualmente atraveacutes da criaccedilatildeo de reservas parte das quais pelo menos seraacute indivisiacutevel

bull Beneficios aos membros na proporccedilatildeo das suas transaccedilotildees com a cooperativa

bull Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros

4 - Autonomia e independecircncia - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees autocircnomas de ajuda muacutetua controladas pelos seus membros Se firmarem acordos com outras organizaccedilotildees incluindo instituiccedilotildees puacuteblicas ou recorrerem a capital externo devem fazecirc-lo em condiccedilotildees que assegurem o controle democraacutetico pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa

5 - Educaccedilatildeo formaccedilatildeo e informaccedilatildeo - As cooperativas promovem a educaccedilatildeo e a formaccedilatildeo dos seus membros dos representantes eleitos e dos trabalhadores de forma que estes possam contribuir eficazmente para o desenvolvimento das suas cooperativas Informam o puacuteblico em geral particularmente os jovens e os liacutederes de opiniatildeo sobre a natureza e as vantagens da cooperaccedilatildeo

6 - Intercooperaccedilatildeo - As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e datildeo mais -forccedila ao movimento cooperativo trabalhando em conjunto atraveacutes das estruturas locais regionais nacionais e internacionais

7 - Interesse pela comunidade - As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades atraveacutes de poliacuteticas aprovadas pelos membros (OCB 2007)

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APENDICE B

QUESTIONAacuteRIO DE PESQUISA

1 O Sr eacute associado agrave Cooperativa de Produccedilatildeo ndash Coolvam

( ) sim ( ) natildeo 2 Idade ( ) Grau de Escolaridade ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) 3 Residecircncia principal ( ) rural ( ) urbana 4 Qual comunidade rural pertence 5 Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) 6 Quantos moram na sua propriedade aleacutem da famiacutelia ( ) 7 Aacuterea da Propriedade ( ) Hectares 8 Qual a origem da propriedade

( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar 9 Eacute natural de C Chagas

( ) sim ( ) Natildeo Regiatildeo de origem 10 Haacute quanto tempo mora em CChagas 11 Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz 12 O leite eacute entregue todo na cooperativa ( ) sim ( ) natildeo 13 Se natildeo o que eacute feito do restante da produccedilatildeo 14 Possui outra fonte de renda aleacutem do leite

( ) Sim ( ) Natildeo Se sim citar qual 15 Porque o Sr eacute associado agrave Cooperativa

( ) pelo cooperativismo ( ) por tradiccedilatildeo familiar ( ) pela compra de insumos ( ) preccedilo de leite ( ) pela fidelidade na captaccedilatildeo do leite

16 Enumere em grau de importacircncia que diferencia a cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios

( ) seu papel social ( ) auxilio a compras ( ) captaccedilatildeo de leite ( ) assistecircncia teacutecnica ( ) preccedilo do leite ( ) atendimento de funcionaacuterios ( ) facilidade de acesso

17 Haacute quanto tempo o Sr eacute associado `a cooperativa ( ) anos 18 O Sr Costuma ir agraves assembleacuteias da sua cooperativa

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 19 Quando vai agraves assembleacuteias da cooperativa

( ) eacute para cumprir o meu papel de associado ( ) eacute porque estaacute em pauta algo que seja do meu interesse

20 O Sr eacute informado com antecedecircncia dos assuntos a serem tratados nas reuniotildees ( ) sim ( ) natildeo

21 Como fica sabendo das reuniotildees da sua cooperativa ( )Informativo ( ) Carta ( ) Raacutedio ( ) Telefone

22 Na sua opiniatildeo qual melhor meio de comunicaccedilatildeo para informaccedilatildeo sobre reuniotildees em sua cooperativa

( ) InformativoJornal ( ) Carta ( ) Telefone ( ) Reuniotildees ( ) outros citar 23 O Sr considera sua presenccedila nas reuniotildees da cooperativa

( ) muito importante ( )importante ( ) pouco importante ( ) indiferente 24 O Sr costuma utilizar serviccedilos da sua cooperativa

( ) Natildeo utilizo ( ) De vez em quando ( )sempre Se utiliza qual (is)

25 Algueacutem da famiacutelia jaacute participou de alguma atividade educativa (cursos palestras etc) promovida pela cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Se sim Quem ( ) Produtor (respondente) ( ) Esposa ( ) Filhos

26 Suas reivindicaccedilotildees satildeo atendidas pela cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo Porque

27 O Sr se sente bem informado sobre sua cooperativa ( ) sim ( ) natildeo

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Porque Que tipo de informaccedilotildees o Sr Sente mais necessidade de obter

28 Com que frequumlecircncia o Sr Vai agrave sede da sua Cooperativa ( ) sempre ( ) dificilmente ( ) somente quando convocado

29 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees da sua comunidade ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

30 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees de sua cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

31 Como o Sr Considera a participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da sua propriedade

( ) muito atuante ( ) atuante ( ) pouco atuante ( ) natildeo atua Se natildeo em que gostaria que atuasse melhor

32 Na sua opiniatildeo qual melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees nas reuniotildees ( ) por aclamaccedilatildeo ( ) por manifestaccedilatildeo individual ( ) por voto secreto ( ) outro citar

33 O Sr Costuma visitar outros produtores ( ) sempre ( ) de vez em quando ( ) dificilmente ( ) nunca

34 Quando eacute realizado alguma atividade festiva na sua comunidade rural o Sr Comparece

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 35 Quando eacute realizado alguma atividade de lazer ou festiva na cooperativa o Sr

comparece ( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca

36 O Sr Tem alguma forma de participaccedilatildeo e controle na fixaccedilatildeo do preccedilo do leite entregue na cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Como 37 O Sr Participa de alguma atividade na gestatildeo da Cooperativa

( ) Sim Qual ( )Natildeo Porque Gostaria de participar em qual funccedilatildeo

38 O Sr Considera que os representantes (conselheiros) atuam como proposto para sua funccedilatildeo

Conselho Administrativo ( ) sim ( ) natildeo Conselho Fiscal ( ) sim ( )natildeo PorquecircO que pode ser melhorado

39 O Sr eacute associado ao Sindicato de Produtores Rurais ( ) sim ( ) natildeo Porquecirc

40 O Sr costuma participar de reuniotildees do seu sindicato ( ) sim ( )natildeo

41 Sr eacute associado a outras cooperativas ( ) sim ( ) natildeo Qual (is)

42 O Sr Participa de alguma outra organizaccedilatildeo coletiva na sua cidade (partido poliacutetico grupo de reuniotildees comissotildees etc)

( ) sim ( )natildeo Se sim qual 43 Decirc sua opiniatildeo sobre como melhorar participaccedilatildeo de associados em cooperativas

44 Como o Sr se vecirc em relaccedilatildeo agrave sua propriedade (pode marcar mais de uma

alternativa) ( ) muito entusiasmado ( ) pouco entusiasmado ( ) cauteloso demais nas accedilotildees ( ) natildeo gosto de arriscar ( ) faccedilo poucas modificaccedilotildees durante o ano ( ) estou sempre modificando ( ) natildeo tem muito o que modificar

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APENDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM DIRIGENTES

IDENTIFICACcedilAtildeO bull Nome bull Idade ( ) bull Grau de Escolaridade bull Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) bull Quantos moram na sua residecircncia bull Qual comunidade rural a sua propriedade pertence bull Qual aacuterea da propriedade ( ) Alqueires bull Qual a origem da propriedade ( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar bull Qual eacute a sua regiatildeo de origem bull Haacute quanto tempo mora em CChagas bull Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz

PERFIL PROFISSIONAL bull Como foi sua tragetoacuteria profissional ateacute a direccedilatildeo da cooperativa bull Quais atividades de gestatildeo desenvolveu antes de atuar na diretoria da

cooperativa bull Quais experiecircncias vocecirc teve com gestatildeo de grupos antes de atuar na

cooperativa

PARTICIPACAO DE ASSOCIADOS bull Sob seu ponto de vista quais satildeo as principais dificuldades para conseguir

que um maior nuacutemero de associados participem das atividades e decisotildees da cooperativa

bull Na sua opiniatildeo qual eacute o problema mais criacutetico da cooperativa em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo de associados bull Quais os pontos fracos da cooperativa que dificultam a participaccedilatildeo de

associados bull Quais os pontos fortes da cooperativa que propicia melhor participaccedilatildeo de

associados bull Em cooperativas haacute heterogeneidade no quadro de associados relacionada

agraves diferenccedilas sociais (pequenos meacutedios e grandes produtores) O sr Considera que haja essa heterogeneidade e deste modo diferentes grupos de interesses Como trabalha com esses diferentes grupos de associados

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na Cooperativa bull Quais estrateacutegias usadas pela cooperativa para lidar com as diferentes

necessidades ou solicitaccedilotildees de associados bull Na sua opiniatildeo o que eacute preciso fazer para facilitar a participaccedilatildeo dos

associados nas decisotildees tomadas pela diretoria bull Na sua opiniatildeo o associado vai agraves reuniotildees cumprindo seu papel de

associado ou quando estaacute em pauta algo que seja do seu interesse individual

bull Quais as accedilotildees que vocecirc considera necessaacuterias que possa melhorar o

interesse de participaccedilatildeo dos associados bull No seu entendimento os associados participam da cooperativa mais como

ldquodonordquo (participaccedilatildeo ativa) ou usuaacuterio (participaccedilatildeo passiva) bull Haacute trabalho visando a participaccedilatildeo e integraccedilatildeo das mulheres e dos jovens

na cooperativa bull Como o Sr prioriza tomadas de decisotildees bull Quais accedilotildees tem sido feitas pela cooperativa para profissionalizaccedilatildeo dos

associados e familiares bull Qual eacute a forma de participaccedilatildeo de associados no planejamento das accedilotildees

presentes e futuras da cooperativa bull Como o Sr acompanha as atividades dos departamentos da cooperativa

prestadas aos associados bull Qual melhor meio de comunicaccedilatildeo com os associados considerado pelo Sr bull Em sua opiniatildeo quais contribuiccedilotildees atuais e futuras que a Diretoria pode

deixar para os futuros sucessores com o objetivo de melhorar a participaccedilatildeo para associados na cooperativa

bull Na sua opiniatildeo quais estrateacutegias de accedilatildeo devem ser empreendidas para

que possa ter uma cooperativa melhor nos proacuteximos 10 (dez) anos no sentido de maior participaccedilatildeo e responsabilidade social

bull O autor que norteia minha pesquisa (Mancur Olson) diz a ldquoatraccedilatildeo que

exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo O que o Sr diria pela experiecircncia com o cooperativismo sobre essa afirmaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave forma de participaccedilatildeo de associados

bull No geral o Sr considera que os princiacutepios do cooperativismo conseguem ser aplicados por essa cooperativa ou sugeriria alguma modificaccedilatildeo para

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adaptaccedilatildeo agrave realidade operacional da cooperativa Que tipo de modificaccedilatildeo

bull O segundo princiacutepio do cooperativismo diz que os associados ldquoparticipam ativamente na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e tomadas de decisotildeesrdquo Na sua experiecircncia isso eacute aplicaacutevel dificilmente parcialmente ou totalmente Porque Como eacute feito

APENDICE D

COLETA DE DADOS SECUNDAacuteRIOS

45 Percentual de participaccedilatildeo de associados nas uacuteltimas 5 assembleacuteias gerais 46 Qual o percentual de participaccedilatildeo nas 5 uacuteltimas assembleacuteias extraordinaacuterias 47 As assembleacuteias extraordinaacuterias costumam ser por quem (Diretoria

Conselho administrativo Fiscal ou Comitecirc educativo) 48 Nos uacuteltimos 5 anos houve alguma assembleacuteia solicitada pelos associados

49 A cooperativa utiliza de algum indicador para fazer acompanhamento do iacutedice

de participaccedilatildeo de associados em suas atividades Se sim que tipo de indicador

50 Taxa de utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa pelos associados (como medir

isso Por compras ex tanques coletivos)

51 Quando foi a uacuteltima aquisiccedilatildeo coletiva financiada ou intermediada pela cooperativa para benefiacutecio dos associados

52 Que tipo de aquisiccedilatildeo

53 Quais tipos de atividades de campo satildeo promovidas pela cooperativa (citar)

54 O associado participa de que tipo de accedilotildees da cooperativa em relaccedilatildeo agraves

suas atividades operacionais histoacuterico e descriccedilatildeo da Cooperativa

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Page 2: AÇÃO COLETIVA EM ORGANIZAÇÕES COOPERATIVAS: UM …livros01.livrosgratis.com.br/cp087171.pdf · Classificação da Biblioteca Central da UFV T Pimentel, Patrícia Ferreira Coimbra,

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Ficha catalograacutefica preparada pela Seccedilatildeo de Catalogaccedilatildeo e Classificaccedilatildeo da Biblioteca Central da UFV

T Pimentel Patriacutecia Ferreira Coimbra 1973- P644a Accedilatildeo coletiva em organizaccedilotildees cooperativas um estudo 2008 de caso da cooperativa de laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda em Carlos Chagas-MG Patriacutecia Ferreira Coimbra Pimentel ndash Viccedilosa MG 2008 xi 128f il (algumas col) 29cm Inclui apecircndices Orientador Joseacute Ambroacutesio Ferreira Neto Dissertaccedilatildeo (mestrado) - Universidade Federal de Viccedilosa Referecircncias bibliograacuteficas f 115-122 1 Cooperativas agriacutecolas 2 Cooperativismo - Carlos Chagas (MG) 3 Produtos agriacutecolas - Comercializaccedilatildeo cooperativa 4 Economia agriacutecola I Universidade Federal de Viccedilosa IITiacutetulo CDD 22ed 334683

i

ii

Ao meu querido esposo Joacutebson pelo amor e por ser tatildeo presente e amigo Te amo

Agraves minhas filhas Flaacutevia Laura e Marina pelo amor incondicional Que me inspiram e por terem convivido com minhas ausecircncias nesta fase e ainda assim serem tatildeo maravilhosas Amo vocecircs

iii

AGRADECIMENTOS

Obrigada Senhor por este trabalho pela forccedila da superaccedilatildeo e por me conduzir sempre para o melhor caminho Aos meus pais Zeca 84 anos cheio de vida sempre dedicado agrave simplicidade do viver rural Exemplo de paciecircncia e coragem Agrave minha matildee Vilma obrigada pela semente que plantou na minha formaccedilatildeo como pessoa Meu exemplo de caraacuteter forccedila e dedicaccedilatildeo Aos meus irmatildeos que cada um ao seu modo me acompanham e apoacuteiam mesmo sem entender muito ldquoo porquecirc de estudar tantordquo Aos meus sobrinhos Carol Rodrigo e Ricardo por quem esforccedilo para acreditarem nos estudos e aspirar crescimento Ao Prof Newton Paulo Bueno pela oportunidade Ao Prof Joseacute Ambroacutesio Ferreira Neto por aceitar o desafio e acreditar em mim pelo apoio e amizade no momento mais difiacutecil Pela orientaccedilatildeo e dedicaccedilatildeo Agrave UFV e aos professores do DER que contribuiacuteram para uma percepccedilatildeo diferente do rural Aos funcionaacuterios em especial agrave Carminha e Cida pelo carinho e atenccedilatildeo de sempre Aos membros da banca examinadora Aos produtores rurais dirigentes e funcionaacuterios da COOLVAM pela acessibilidade e apoio Aos amigos da Incubadora de Base Tecnoloacutegica CENTEVUFV pela oportunidade de aprendizado no desafio do empreendedorismo grande contribuiccedilatildeo na minha carreira profissional Aos amigos do Centro Vocacional Tecnoloacutegico de Viccedilosa (CVT) pela convivecircncia A Flaacutevia Moreira pela consideraccedilatildeo e pelo apoio de sempre A Cris Xavier por ter cuidado tatildeo bem das minhas filhas e da minha casa enquanto natildeo estava presente A Kmila Neacutedma e Wiliam por terem acompanhado toda essa caminhada Aos colegas pela famiacutelia que formamos em ERU 623 pela amizade companheirismo consolo superaccedilatildeo e por todas as vezes que pudemos compartilhar momentos de descontraccedilatildeo e alegria A toda famiacutelia IPV pela amizade cristatilde

iv

Fizeste-me avanccedilar a largos passos (Sl 1836)

v

SUMAacuteRIO

LISTA DE TABELAS ix

RESUMO x

ABSTRACT xi

1 INTRODUCcedilAtildeO 1

11 Definiccedilatildeo do Problema4 12 Objetivos7

121 Objetivo Geral 7 122 Objetivos Especiacuteficos 7

13 Metodologia 7 2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 12

21 O cooperativismo12 211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas 15 212 O cooperativismo agropecuaacuterio 16 213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de produtores rurais 18

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa22 23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas 25

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO29

31 Accedilatildeo Coletiva29 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos29 312 Dilemas de accedilatildeo coletiva 34 313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo36 314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos 38 315 Dilemas do Cooperativismo 43

32 A Participaccedilatildeo53 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo53 322 A Participaccedilatildeo em cooperativas 58 333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo 62

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema 65 4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO

COOPERATIVISMO72

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas72 42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM 74

421 Estrutura Organizacional76 422 Quadro Social 77 423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo 77 423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam 78 425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos 79 426 Serviccedilos prestados aos associados 80 427 Perfil dos produtores associados da Coolvam 81

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM85 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 113

vi

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA118

APENDICE A126

APENDICE B127

APENDICE C 129

APENDICE D 131

vii

LISTA DE FIGURAS

1 Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada COOLVAM 2008 8

2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em

cooperativas 25

3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de

Mangalocirc71

4 Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas 71

5 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo79

6 Organizaccedilatildeo de Produtores por Estrato Social 80

7 Amostra de produtores por comunidades rurais 81

8 Residecircncia principal de produtores 82

9 Motivo da associaccedilatildeo agrave cooperativa 84

10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios 85

11 Frequumlecircncia de produtores em assembleacuteias86

12 Motivaccedilatildeo para participaccedilatildeo em assembleacuteias 86

13 Liberdade para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade88

14 Liberdade para manifestar em assembleacuteias 88

15 Consideraccedilatildeo sobre a presenccedila em reuniotildees 89

16 Frequumlecircncia que vai agrave sede da cooperativa 89

17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa 91

18 Participaccedilatildeo da famiacutelia em atividades educativas 91

19 Preacute-assembleacuteia com comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de

Minas 92

20 Atendimento a reivindicaccedilotildees pessoais93

21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade 93

22 Informaccedilotildees sobre a cooperativa 94

23 Opiniatildeo sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees 97

24 Participaccedilatildeo em Assembleacuteias 97

25 Interesse de produtores em participar dos oacutergatildeos de gestatildeo 98

26 Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo 99

27 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo

1019

viii

28 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal 101

29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo 102

30 Participaccedilatildeo em outra organizaccedilatildeo coletiva 103

31 Participaccedilatildeo em atividade festiva na comunidade 104

32 Participaccedilatildeo em atividade festiva na cooperativa 104

33 Haacutebito de visitar outros produtores 105

34 Motivaccedilatildeo do produtor em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural 108

ix

LISTA DE TABELAS

1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil22

2 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo 79

3 Organizaccedilatildeo de produtores por estrato social 80

4 Perfil do Produtor82

x

RESUMO

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra MS Universidade Federal de Viccedilosa julho de 2008 Accedilatildeo coletiva em organizaccedilotildees cooperativas um estudo de caso na Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda em Carlos Chagas -MG Orientador Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-Orientadores Nora Beatriz Presno Amodeo e Marcelo Minaacute Dias

Esta dissertaccedilatildeo apresenta uma anaacutelise sobre o processo de participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas agropecuaacuterias tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees que

supostamente levam ao surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido

pela Teoria da Escolha Racional Portanto buscou-se identificar e compreender

estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas e analisar o comportamento de

diferentes grupos existentes nessas organizaccedilotildees e como lidar com a complexa

forma de gestatildeo e controle dadas as dificuldades impostas pelo mercado cada vez

mais exigente e competitivo Por meio de uma discussatildeo fundamentada na literatura

sobre participaccedilatildeo e cooperativismo pode-se associaacute-la agraves discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como aos estudos sobre confianccedila

cooperaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de capital social mostradas como instrumentos potenciais

para soluccedilatildeo dos dilemas de accedilatildeo coletiva

xi

ABSTRACT

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra M Sc Federal University of Viccedilosa July of 2008 Class action in cooperative organizations a study of case in the Cooperative of Laticiacutenios Valley of the Mucuri Ltda in Carlos Chagas - MG Adviser Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-advisers Nora Beatriz Presno Amodeo and Marcelo Minaacute Dias

This dissertation presents an analysis on the process of participation of rural

producers in agricultural cooperatives taking as reference the existent heterogeneity

in the social picture of those organizations that supposedly take to the appearance of

problems of collective action as suggested by the Theory of the Rational Choice

Therefore it was looked for to identify and to understand strategies of collective

action in cooperatives and to analyze the behavior of different existent groups in

those organizations and how to work with the complex administration form and

control given the difficulties imposed more and more by the market demanding and

competitive Through a discussion based in the literature on participation and

cooperativism it can associate it to the concerning discussions to the collective

action and institutions as well as to the studies about trust cooperation and

valorization of social capital shown as potential instruments for solution of the

dilemmas of collective action

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas a abertura econocircmica proporcionou novas

oportunidades e restriccedilotildees de muacuteltiplas naturezas para grande parte da populaccedilatildeo

A sociedade civil tem assumido responsabilidades que antes eram obrigaccedilotildees

majoritariamente do Estado Em vaacuterios setores tem havido diferentes manifestaccedilotildees

de pessoas oriundas de motivaccedilotildees variadas seja na conquista pela terra pelo

teto por menos impostos por melhores estradas alimentos saudaacuteveis enfim as

pessoas tecircm buscado defender de vaacuterias formas melhores condiccedilotildees em seus

meios de vida As organizaccedilotildees se viram em ambientes mais competitivos com

clientes e consumidores mais exigentes por qualidade Eacute nesse cenaacuterio que pessoas

encontram no cooperativismo uma forma para defender seus interesses coletivo e

solidariamente Deste modo no meio rural muitos produtores se fortalecem nas

cooperativas para comercializar sua produccedilatildeo e melhorar tambeacutem suas condiccedilotildees

de vida Neste panorama o presente trabalho apresenta uma anaacutelise sobre o

processo de participaccedilatildeo em cooperativas rurais tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees o que leva ao

surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva

Para fundamentaccedilatildeo conceitual dessa pesquisa optou-se pela Teoria da

Escolha Racional enfatizada por Mancur Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica da

accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas que motivam a

participaccedilatildeo bem como problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a

coerecircncia a eficaacutecia e a atratividade dos grupos nesse processo Dada a

importacircncia da participaccedilatildeo Amman (1980) a apontada como uma estrateacutegia para a

superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Neste contexto sugere que para atingir o

desenvolvimento as pessoas do meio rural devem se unir em grupos de forma a

juntar forccedilas para busca de soluccedilotildees de seus problemas Assim como argumenta

Bordenave (1983) a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o homem

exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si mesmo

tratando-se de uma necessidade humana e por conseguinte um direito das

pessoas Eacute uma praacutetica transformadora e libertadora que leva o indiviacuteduo a discutir

2

analisar e assumir atitudes conforme corrobora Freire (1982) O processo

participativo se materializa em vaacuterias aacutereas portanto para entender como se daacute a

participaccedilatildeo de associados em cooperativas face ao complexo funcionamento

dessas organizaccedilotildees optou-se por estudar o cooperativismo de produtores rurais a

fim de identificar e compreender como se constroem as estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

nessas cooperativas

De forma geral a necessidade de ser economicamente eficiente sem perder a

finalidade social potildee o cooperativismo num dilema onde os desafios estatildeo divididos

entre de um lado sustentar a originalidade proposta por essa forma de organizaccedilatildeo

social cujos princiacutepios se reforccedilam ao resistir a vaacuterias transformaccedilotildees econocircmicas e

sociais ocorridas desde a sua fundaccedilatildeo em meados do seacuteculo XIX e por outro lado

competir no mercado cumprindo as exigecircncias impostas pelo capitalismo no que se

refere agrave eficiecircncia da organizaccedilatildeo e agrave gestatildeo de seus processos

As questotildees sociais estatildeo entre os desafios competitivos de qualquer

empreendimento independente do ramo de atividade ou puacuteblico alvo por isso eacute

crescente o nuacutemero de projetos sociais patrocinados por empresas de diversos

segmentos assim como accedilotildees voltadas para o bem estar da equipe de trabalho As

cooperativas estatildeo inseridas nesse contexto poreacutem sua funccedilatildeo social natildeo deve se

realizar como diferencial competitivo mas como compromisso estatutaacuterio com seus

soacutecios que eacute a razatildeo de ser do cooperativismo Deste modo uma cooperativa eacute

simultaneamente uma associaccedilatildeo de pessoas e uma organizaccedilatildeo econocircmica

Para tanto com o objetivo de atingir sua finalidade social o cooperativismo

tem como base os Princiacutepios Cooperativos (Anexo 1) que satildeo as regras de conduta

(CARNEIRO 1981) linhas orientadoras da praacutetica cooperativista (OCB 2007)

Dentre outros propotildee igualdade no Princiacutepio da Adesatildeo Voluntaacuteria para funcionar

sem discriminaccedilatildeo social e no Princiacutepio da Gestatildeo Democraacutetica a participaccedilatildeo ativa

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas internas e tomada de decisotildees No entanto natildeo haacute uma

efetividade desses princiacutepios se natildeo houver participaccedilatildeo dos associados em suas

respectivas cooperativas

Conforme Braga e Reis (2002) o cooperativismo estaacute presente em quase

todos os paiacuteses do mundo e cerca de 40 da populaccedilatildeo mundial estaacute de alguma

forma ligada a esse movimento Embora no Brasil esse nuacutemero natildeo passe de 10

grande parte dos resultados apresentados pela produccedilatildeo agropecuaacuteria eacute meacuterito das

3

cooperativas Este setor eacute o terceiro em nuacutemero de cooperados Braga e Reis (2002)

estimam um puacuteblico aproximado de seis milhotildees de pessoas envolvidas nesse

segmento considerando cooperados empregados familiares e agregados

Este trabalho teve como objeto de anaacutelise a Cooperativa de Laticiacutenios Vale do

Mucuri Ltda ndash COOLVAM sediada em Carlos Chagas cidade de 24000 habitantes

localizada regiatildeo nordeste do estado de Minas Gerais conhecida entre os

municiacutepios da regiatildeo como ldquocidade do cooperativismordquo assim tambeacutem reconhecida

por outras instituiccedilotildees do mesmo segmento

Atualmente o municiacutepio de Carlos Chagas conta com outras trecircs

cooperativas sendo a Cooperativa de Creacutedito Rural (CREDICAR) a Cooperativa

Educacional (COOEDUCAR) e Cooperativa de Produtos Artesanais de Carlos

Chagas (COOPAC) A Coolvam exerce importante atuaccedilatildeo na organizaccedilatildeo soacutecio-

econocircmica do municiacutepio pois eacute a segunda maior empregadora de matildeo-de-obra o

que demonstra a sua forte participaccedilatildeo na economia local O setor produtivo no

municiacutepio eacute focado essencialmente na agropecuaacuteria principalmente na pecuaacuteria

leiteira que tem na cooperativa uma forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo

principalmente no caso de pequenos produtores rurais Essa conjuntura corrobora a

afirmaccedilatildeo de Graziano da Silva (2000) sobre o cooperativismo como sendo ldquoa uacutenica

forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo dos pequenos produtores rurais em

certos municiacutepiosrdquo

Como forma de organizaccedilatildeo do quadro social funciona haacute dezoito anos o

comitecirc educativo que atua como um oacutergatildeo de assessoria da administraccedilatildeo e dos

cooperados constituiacutedo por um grupo de lideranccedilas que se reuacutenem para identificar e

discutir problemas analisaacute-los e sugerir propostas que atendam aos interesses da

comunidade cooperativista Haacute uma divisatildeo do quadro social em seis comunidades

distribuiacutedas geograficamente na aacuterea de accedilatildeo da COOLVAM onde acontecem

reuniotildees bimestrais com os associados e uma reuniatildeo mensal com as lideranccedilas

das comunidades na sede da Cooperativa Outras formas de contato entre a

administraccedilatildeo e os associados satildeo torneio leiteiro de comunidades realizados

anualmente os dias-de-campo geralmente duas vezes ao ano a veiculaccedilatildeo mensal

do jornal Informativo COOLVAM campanhas de vacinaccedilatildeo e nas assembleacuteias

gerais realizadas nos fins de cada exerciacutecio

4

Considerando a forma estrutural como a COOLVAM lida com os associados

essa cooperativa se qualificaria como exemplo de organizaccedilatildeo cooperativa

conforme aspectos referentes agrave prioridade e importacircncia dadas aos associados e

suas diferenccedilas em relaccedilatildeo a uma sociedade comercial tiacutepica sugerido em

literaturas sobre o relacionamento cooperativa e cooperados Por isso o interesse

desse trabalho se configura em pesquisar como se daacute a participaccedilatildeo em

cooperativas rurais com base na proposta da Teoria da Escolha Racional sobre os

dilemas da accedilatildeo coletiva

A composiccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em quatro capiacutetulos a partir

desta introduccedilatildeo que faz a apresentaccedilatildeo geral da finalidade da pesquisa os

objetivos o problema levantado e a metodologia utilizada para realizaccedilatildeo do

trabalho O primeiro capiacutetulo faz uma apresentaccedilatildeo histoacuterica e do contexto

econocircmico-social que perpassam a construccedilatildeo do cooperativismo e o enfrentamento

de seus dilemas O segundo capiacutetulo eacute composto pelo referencial conceitual e

argumentativo que orienta o trabalho e tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias

e argumentos Inicia-se com uma discussatildeo sobre accedilatildeo coletiva e como se

fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme proposta de Mancur Olson

(1999) que direciona as outras discussotildees do trabalho Na seccedilatildeo seguinte haacute uma

abordagem conceitual e praacutetica sobre participaccedilatildeo Em seguida uma discussatildeo

sobre cooperaccedilatildeo e capital social apresentados como correccedilotildees para os dilemas

de accedilatildeo coletiva

No terceiro capiacutetulo apresenta-se o estudo de caso da COOVAM e a anaacutelise

dos resultados dos questionaacuterios e entrevistas realizadas durante a pesquisa No

quarto e uacuteltimo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo apresentam-se as consideraccedilotildees finais

11 Definiccedilatildeo do Problema

Dados da OCB (2001) citados em Braga e Reis (2002) mostram que cerca de

83 dos associados agraves cooperativas agropecuaacuterias possuem propriedades com

dimensatildeo de ateacute 50 hectares ao passo que pouco mais de 5 satildeo grandes

produtores cujas propriedades satildeo superiores a 500 hectares1 Apesar da

1 Para fins desta pesquisa a referecircncia de grande e pequeno produtor rural teraacute como paracircmetro o volume de produccedilatildeo

5

significativa diferenccedila em nuacutemero de pequenos produtores a dinacircmica das relaccedilotildees

sociais no interior das cooperativas eacute marcada por acentuada diferenciaccedilatildeo social

que beneficia sobretudo grandes produtores em detrimento dos pequenos pois os

grandes produtores conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees dessas

organizaccedilotildees (PEREIRA 2002) Isso eacute retratado em estudos sobre o quadro social

das cooperativas agropecuaacuterias brasileiras onde se verifica grande diferenciaccedilatildeo

soacutecio-econocircmica entre os associados jaacute que as cooperativas abrigam grandes e

pequenos produtores rurais Este fato causa o que Pereira (2002) classifica ldquodilemas

do cooperativismordquo que geram implicaccedilotildees de diversas naturezas tais como

Grupos ou indiviacuteduos que possuem maior informaccedilatildeo maior disponibilidade de tempo e que estatildeo articulados com o poder local geralmente conduzem as cooperativas os associados esperam que as lideranccedilas exerccedilam o papel de tutor ou de bom patratildeo resolvendo seus problemas e trazendo benefiacutecios (PEREIRA 2002 P136)

De acordo com Campanhola e Graziano da Silva (2000) as associaccedilotildees e

cooperativas satildeo formas tradicionais de organizaccedilatildeo dos produtores rurais que

facilitam o seu acesso ao mercado aos programas de fomento oficiais agrave assistecircncia

teacutecnica agraves informaccedilotildees entre outros Teoricamente constituem uma forma

participativa de tomada de decisatildeo partindo-se do princiacutepio de que a uniatildeo dos

produtores nessas organizaccedilotildees os fortalece tanto quanto a sua representatividade

para a participaccedilatildeo em conselhos comitecircs comissotildees bem como no seu poder de

barganha com os setores puacuteblico e privado Do mesmo modo haacute uma importacircncia

social atribuiacuteda a essas organizaccedilotildees que satildeo em certos municiacutepios e regiotildees a

uacutenica forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo obtida por produtores rurais

No entanto essa proposta de accedilatildeo participativa eacute restrita a uma minoria que

geralmente exerce diferentes papeacuteis na comunidade e deste modo consegue ter

maior acesso a diversos benefiacutecios Instala-se tambeacutem uma condiccedilatildeo hieraacuterquica

verificada na sociedade que causa distanciamento entre as organizaccedilotildees

cooperativas e os associados prejudicial ao desenvolvimento econocircmico e social

dos produtores rurais Isto sucinta questionamentos sobre a universalidade dos

princiacutepios do cooperativismo que enfatizam somente os fatores beneacuteficos dessas

organizaccedilotildees sem levar em conta contradiccedilotildees internas das diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas

Tomando como referecircncia as argumentaccedilotildees de Olson (1999) para a anaacutelise

de cooperativas vecirc-se que uma minoria se organiza e conquista posiccedilotildees nas quais

6

conseguem defender interesses proacuteprios Por outro lado grande parte dos

associados principalmente pequenos produtores em maior nuacutemero tecircm dificuldade

em se mobilizar para defesa de seus interesses Baseado nos princiacutepios do

cooperativismo seria de se esperar que as decisotildees tomadas em cooperativas

fossem no sentido de atender aos interesses da maioria dos associados o que nem

sempre ocorre devido agrave concentraccedilatildeo do poder de decisatildeo nas matildeos do pequeno

grupo dominante

A esse respeito Duarte citado em Pereira (2002) destaca que a praacutetica do

cooperativismo tem conferido aos pequenos produtores associados somente a

condiccedilatildeo de usuaacuterios eliminando o seu papel de dono o que enfraquece tanto o

propoacutesito de seus princiacutepios quanto a funccedilatildeo de organizaccedilatildeo para a accedilatildeo coletiva

Dessa maneira conforme sugerido por Ramirez e Berdegueacute (2003) a

compreensatildeo das causas dos ecircxitos e fracassos de estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

deve ser uma fonte de aprendizagem para melhorar as intervenccedilotildees orientadas a

modificar os sistemas de exclusatildeo e promover o desenvolvimento rural sustentaacutevel

Nessa perspectiva a participaccedilatildeo eacute apontada por Amman (1980) como uma

estrateacutegia para a superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Dentro do cooperativismo

conforme Pereira (2000) natildeo satildeo oferecidos mecanismos para diminuir ou amenizar

as diferenccedilas entre os grupos e a heterogeneidade dos associados o que impede

uma efetiva participaccedilatildeo

Portanto conforme mostram os dados oficiais e a literatura haacute falhas das

associaccedilotildees e cooperativas em atender aos interesses da maioria de seus membros

jaacute que muitas dessas passaram a atuar sem a participaccedilatildeo dos seus associados nas

tomadas de decisotildees as quais se apoacuteiam apenas nas opiniotildees de sua

administraccedilatildeo superior (CAMPANHOLA E GRAZIANO DA SILVA 2000)

A partir deste panorama que mostra a dificuldade de participaccedilatildeo de

pequenos produtores nas cooperativas torna-se oportuno questionar sobre a

controveacutersia do cooperativismo ser instrumento criado para esse fim e ao mesmo

tempo permitir um distanciamento entre estes e os que o gerenciam Assim sendo

indaga-se como se constroacutei a participaccedilatildeo no ambiente de cooperativas rurais

tendo em vista a heterogeneidade do quadro social dessas organizaccedilotildees

Deste modo se na proposta do cooperativismo haacute um diferencial que eacute a

ecircnfase dada agrave igualdade de participaccedilatildeo dos associados cabe questionar sobre as

7

dificuldades das pessoas que natildeo participam assim como os motivos que levam

outros a participar

12 Objetivos

121 Objetivo Geral

Verificar as dificuldades de participaccedilatildeo em cooperativas e a heterogeneidade

relacionada agraves diferenccedilas sociais existentes no quadro social que levam a

problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido pela Teoria da Escolha Racional

utilizando o estudo de caso da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM no municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG

122 Objetivos Especiacuteficos

a Identificar e compreender estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas

b Identificar mecanismos que dificultam a participaccedilatildeo de pequenos produtores rurais associados a cooperativas rurais para o desenvolvimento local

c Analisar o processo de participaccedilatildeo dos diferentes grupos existentes em cooperativas

13 Metodologia

Para conduccedilatildeo desta pesquisa utilizou-se o meacutetodo qualitativo por meio de

estudo de caso Neste meacutetodo segundo Tivinotildes citado em Alencar (2000) as

posiccedilotildees qualitativas baseiam-se especialmente em dois enfoques especiacuteficos o de

compreender e analisar a realidade

Um enfoque eacute o compreensivista o outro eacute o critico participativo com visatildeo histoacuterico-estrurtural e se fundamenta na dialeacutetica da realidade social que parte da necessidade de conhecer a realidade atraveacutes de percepccedilatildeo reflexatildeo e intuiccedilatildeo para transformaacute-la em processos contextuais e dinacircmicos (ALENCAR 2000 p69)

Jaacute o estudo de caso em particular

8

Propotildee-se a investigar um fenocircmeno contemporacircneo em seu contexto real onde os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo satildeo claramente percebidos por meio do uso de muacuteltiplas fontes de evidecircncias como entrevistas arquivos documentos observaccedilatildeo etc (Yin 1989 citado em Lazzarini 1999 P6)

Portanto a realizaccedilatildeo deste estudo teve como referecircncia empiacuterica produtores

rurais associados agrave Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda ndash Coolvam no

municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG onde se buscou coleta de dados e informaccedilotildees

realizadas por meio de aplicaccedilatildeo de questionaacuterios e entrevistas semi-estruturadas

Os questionaacuterios foram elaborados com questotildees estruturadas de perguntas

e respostas padronizadas e questotildees semi-estruturadas exatamente como sugere

Alencar (2000) nas questotildees semi-estruturadas as perguntas satildeo padronizadas

mas as respostas ficam a criteacuterio do entrevistado ou seja eacute o seu discurso

A populaccedilatildeo para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios foi escolhida por amostragem

probabiliacutestica estratificada neste caso

O universo eacute subdividido (estratificado) em grupos mutuamente exclusivos escolhendo-se uma amostra probabiliacutestica simples de cada estrato A amostragem estratificada conduz a estimativas mais ldquoverdadeirasrdquo do que as obtidas por outros meacutetodos jaacute que eacute interessante conhecer caracteriacutesticas do universo o que ela revela mais claramente (ALENCAR 2000 p64)

A pesquisa foi desenvolvida no periacuteodo entre os anos de 2006 e 2008 sendo

que o trabalho de campo foi realizado durante o mecircs de Janeiro de 2008 Foram

aplicados 62 questionaacuterios Foi possiacutevel conforme planejado envolver a populaccedilatildeo

de 20 dos produtores associados agrave Cooperativa estudada Dos diferentes estratos

de associados ou seja do total de 176 pequenos produtores foram entrevistados

35 do total de 58 meacutedios produtores foram aplicados 17 e aos 35 grandes

produtores foram aplicados sete questionaacuterios

173

35

58

12

35

7

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Pequenos (0 a 200 lts) Meacutedios (201 a 499 lts) Grandes (Mais de 500 lts)

Associados Entrevistados

Figura 01 ndash Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada Coolvam 2008

A aplicaccedilatildeo de questionaacuterios foi feita durante o periacuteodo da pesquisa em dois

pontos escolhidos pelo pesquisador na Farmaacutecia Veterinaacuteria da Coolvam e na

Cooperativa de Creacutedito Rural O primeiro foi considerado um local apropriado pois

diariamente agraves sete horas da manhatilde os produtores passam para comprar insumos

para levar agraves fazendas Aproveitou-se da constante presenccedila de associados para

serem abordados e aplicar os questionaacuterios Neste local foi solicitado autorizaccedilatildeo

da gerente da loja para permanecircncia da pesquisadora

O outro local a Credicar considerado ldquoponto de encontro dos produtoresrdquo

Neste lugar foi solicitado ao gerente da agecircncia um espaccedilo para aplicaccedilatildeo dos

questionaacuterios Este autorizou utilizaccedilatildeo de uma mesa com cadeiras ficando um

lugar restrito e apropriado para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios Desta forma agrave medida

que chegavam os produtores eram abordados O maior nuacutemero de questionaacuterios foi

aplicado no dia do pagamento do leite 20 de janeiro de 2008 pois esta foi a data de

maior concentraccedilatildeo de produtores na cidade

Em nuacutemero menor alguns questionaacuterios foram aplicados nas propriedades

rurais nestes casos o pesquisador foi ateacute as propriedades de produtores indicados

durante a aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os demais na cidade Foi possiacutevel visitar

propriedades de estratos diferentes (pequenos meacutedios e grandes) o que permitiu

ao pesquisador vivenciar estilos de vida proacuteprios de cada um

9

10

A maioria dos questionaacuterios foi aplicada pessoalmente pela pesquisadora aos

produtores possibilitando observar e registrar comentaacuterios adicionais Alguns foram

preenchidos pelos proacuteprios produtores Nestes casos eles eram orientados a fazer

os comentaacuterios nas questotildees

Para obter informaccedilotildees e percepccedilotildees de associados participantes da gestatildeo

da cooperativa foram feitas sete entrevistas semi-estruturadas com o presidente

trecircs conselheiros administrativos dois conselheiros fiscais e dois membros do

comitecirc educativo

As entrevistas semi-estruturadas foram adotadas por serem consideradas

mais apropriadas nas pesquisas em que a compreensatildeo de atitudes ideacuteias e accedilotildees

satildeo relevantes conforme as vantagens classificadas por Alencar (2000)

Estaacute centrada em torno de toacutepicos a serem cobertos durante a entrevista os quais natildeo chegam a assumir a forma de questotildees estruturadas natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo ao aprofundamento dos toacutepicos por meio de questotildees que emergem durante a realizaccedilatildeo da entrevista (ALENCAR 2000 P63)

Algumas entrevistas foram gravadas quando autorizadas pelos entrevistados

e outras foram apenas registradas no caderno de campo respeitando a vontade do

respondente Percebeu-se que o gravador eacute um aparelho que intimidou o falar

portanto por sugestatildeo de entrevistados eram feitas anotaccedilotildees das respostas e em

seguida fazia-se a leitura para confirmaccedilatildeo das falas do entrevistado Aproveitou-se

desse recurso tambeacutem para anotaccedilotildees durante a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio para

registrar as percepccedilotildees a partir das observaccedilotildees da pesquisadora

Durante a sistematizaccedilatildeo dos dados das entrevistas optou-se por natildeo

identificar o entrevistado por isso todas as falas seratildeo identificadas pela funccedilatildeo do

entrevistado Nos questionaacuterios aplicados para resguardar individualidade e obter

informaccedilotildees com maior niacutevel de veracidade natildeo foi identificado o respondente Mas

para identificar as respostas dos diferentes estratos todos os questionaacuterios foram

codificados com nuacutemero e a letra que indica o grupo do associado No entanto na

apresentaccedilatildeo dos resultados utiliza-se como identificaccedilatildeo do respondente o seu

estrato social idade e o ano da pesquisa

Utilizou-se tambeacutem a pesquisa bibliograacutefica e documental No primeiro caso

recorreu-se a trabalhos teoacutericos sobre o assunto em questatildeo e levantamento de

dados secundaacuterios Quanto agrave pesquisa documental foram analisadas atas de

assembleacuteias dos uacuteltimos 5 anos sendo que as atas das Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias compreendeu o periacuteodo de 2002 a 2007 e as atas de Assembleacuteias

11

Gerais Extraordinaacuterias no periacuteodo de 1996 a 2007 jaacute que estas acontecem em

menos frequumlecircncia Outras atas analisadas foram de reuniotildees das comunidades

rurais no mesmo periacuteodo Seguiu-se leitura de Informativos e outros jornais da

cidade com o objetivo de verificar informaccedilotildees sobre a cooperativa e participaccedilatildeo

de associados em suas atividades assim como a participaccedilatildeo da cooperativa em

accedilotildees na comunidade

Portanto a busca do entendimento sobre como ocorre a participaccedilatildeo do

quadro social nas atividades desenvolvidas por essas organizaccedilotildees fundamentou-

se na literatura sobre participaccedilatildeo e cooperativismo para associaacute-las a discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como estudos sobre a construccedilatildeo e

valorizaccedilatildeo de capital social interesse e individualismo cooperaccedilatildeo e confianccedila

Todos esses conceitos foram portanto utilizados na compreensatildeo sobre as

relaccedilotildees sociais e interesses individuais que influenciam a decisatildeo de participar ou

natildeo de accedilotildees coletivas

12

2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 21 O cooperativismo Este capiacutetulo retrata a origem do cooperativismo o desenvolvimento e

classificaccedilatildeo dos ramos de atividade enfatizando o cooperativismo agropecuaacuterio de

leite com apresentaccedilatildeo da conjuntura e evoluccedilatildeo das organizaccedilotildees cooperativas

desse segmento seu posicionamento mediante o esforccedilo de sobrevivecircncia e

atuaccedilatildeo no mercado cada vez mais competitivo aleacutem dos desafios pertinentes agrave sua

firmeza no compromisso com a funccedilatildeo social

As cooperativas satildeo formas de accedilotildees coletivas organizadas por pessoas que

reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviccedilos para o exerciacutecio de

uma atividade econocircmica de proveito comum sem objetivo de lucro (MONEZI 2004

e SEBRAE 2003) Satildeo caracterizadas por Pinho (1977) como ldquoempresas de

autogestatildeordquo cujo nuacutemero estaacute diretamente relacionado com a satisfaccedilatildeo das

ilimitadas necessidades dos homens e consequentemente com a complexidade do

meio econocircmico no conceito de Bialoskorski Neto (2007) cooperativas satildeo

estruturas intermediaacuterias formadas a partir da accedilatildeo coletiva situadas entre as

economias particulares dos cooperados por um lado e o mercado por outro

O Cooperativismo portanto eacute um movimento filosofia de vida e modelo

socioeconocircmico capaz de unir desenvolvimento econocircmico e bem-estar social

(OCB 2007) A origem do cooperativismo estaacute na cooperaccedilatildeo presente nas

relaccedilotildees humanas e reconhecida como uma praacutetica milenar Mas o corolaacuterio do

princiacutepio cooperativo (Co-operation) como doutrina nasceu de Robert Owen um

visionaacuterio social que criou a concepccedilatildeo de uma nova forma de vida social assim

como descreve Carneiro (1981)

Owen postulava que a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos como ele adiantou de sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO 1981 p72)

Contudo a concretizaccedilatildeo do cooperativismo emergiu de uma reaccedilatildeo popular

agraves condiccedilotildees degradantes de produccedilatildeo e vida em meados do seacuteculo XIX em meio agrave

Revoluccedilatildeo Industrial Tem seu marco em 21 de dezembro de 1844 no bairro de

Rochdale em Manchester Inglaterra como resultado da uniatildeo de 27 tecelotildees e

uma tecelatilde que se reuniram e fundaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de

13

Rochdale depois de uma economia mensal de uma libra de cada participante

durante um ano Naquele momento a constituiccedilatildeo de uma pequena cooperativa de

consumo no entatildeo chamado Beco do Sapo (Toad Lane) estaria mudando os

padrotildees econocircmicos da eacutepoca e dando origem ao movimento cooperativista (OCB

2007)

Tendo o homem como principal finalidade - e natildeo o lucro os tecelotildees de

Rochdale buscavam naquele momento uma alternativa econocircmica para atuarem no

mercado frente ao modelo capitalista que os submetiam a preccedilos abusivos

exploraccedilatildeo da jornada de trabalho de mulheres e crianccedilas (que trabalhavam ateacute

dezesseis horas por dia) e do desemprego crescente advindo da Revoluccedilatildeo

Industrial (SESCOOP 2007)

Daiacute em diante vaacuterios movimentos surgiram em todos os pontos do mundo As

cooperativas como organizaccedilotildees similares agraves que conhecemos rapidamente

comeccedilaram a se multiplicar natildeo soacute em extensatildeo geograacutefica mas tambeacutem

setorialmente (Amodeo 2001) No Brasil conforme Schneider (1999) haacute

constataccedilatildeo de que antes e durante o periacuteodo colonial e especialmente durante o

periacuteodo do Impeacuterio houveram vaacuterias experiecircncias associativas entre africanos

foragidos e nas ldquoconfrarias de negrosrdquo A primeira cooperativa de produccedilatildeo

agropecuaacuteria foi criada em 1847 numa colocircnia no Paranaacute (COOPERFORTE 2008)

Em Minas Gerais foi formalizada a Sociedade Cooperativa Econocircmica dos

Funcionaacuterios Puacuteblicos de Ouro Preto no ano de 1889 (OCB 2007) Entretanto a

experiecircncia de cooperaccedilatildeo econocircmica e social no modelo rochdaleano se originou

com a implantaccedilatildeo das primeiras cooperativas de consumo em 1891 em Limeira

Satildeo Paulo

De modo geral as cooperativas satildeo orientadas pelos Princiacutepios do

Cooperativismo (Anexo I) que satildeo as normas regulamentadoras e tecircm impliacutecito os

valores que regem todas as organizaccedilotildees cooperativistas Esses valores que

norteiam as cooperativas satildeo a ajuda e responsabilidade proacuteprias democracia

igualdade equidade e solidariedade Pela tradiccedilatildeo dos seus fundadores os

membros das cooperativas devem acreditar nos valores eacuteticos da honestidade

transparecircncia responsabilidade social e preocupaccedilatildeo pelos outros (ACI 2003)

14

Os princiacutepios cooperativistas vistos isoladamente pouco expressam mas

tomados em bloco segundo Schneider (1999) apresentam uma grande loacutegica

coerecircncia interna e uma grande eficaacutecia dessas organizaccedilotildees

Neste trabalho dois dentre os sete princiacutepios satildeo o alvo das discussotildees o

princiacutepio da adesatildeo voluntaacuteria e livre e o princiacutepio da gestatildeo democraacutetica a saber

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica (OCB 2007335)

Essa escolha se justifica porque satildeo estes os princiacutepios que mais diretamente

sustentam a forma de participaccedilatildeo dos membros associados em organizaccedilotildees

cooperativas

O movimento cooperativista mundial eacute coordenado pela Alianccedila Cooperativa

Internacional (ACI) que segundo Schneider (1999) tem a responsabilidade de

adequar os Princiacutepios Cooperativistas a uma realidade econocircmica e social em

evoluccedilatildeo com o compromisso de fidelidade aos valores fundamentais da

cooperaccedilatildeo Portantoeacute um oacutergatildeo representativo dos diversos paiacuteses que mantem e

regulamenta esses princiacutepios Contudo as normas fundamentais baseadas no

Estatuto de Rochdale satildeo utilizadas ateacute os dias de hoje no sistema cooperativista

buscando enfrentar a dinacircmica da desigualdade socioeconocircmica persistente em

vaacuterios setores da sociedade

O oacutergatildeo maacuteximo de representaccedilatildeo das cooperativas no paiacutes eacute a Organizaccedilatildeo

das Cooperativas Brasileiras (OCB) responsaacutevel pela promoccedilatildeo fomento e defesa

do sistema cooperativista em todas as instacircncias poliacuteticas e institucionais (OCB

2007) Eacute de sua responsabilidade tambeacutem a preservaccedilatildeo e o aprimoramento desse

sistema Jaacute em acircmbito estadual existem as OCEs que satildeo as Organizaccedilotildees

Cooperativas Estatuais num total de 27 unidades que passaram a ser os agentes

poliacuteticos e representativos que zelam e divulgam a doutrina cooperativista em seus

respectivos estados

15

A legislaccedilatildeo cooperativista regulamenta um nuacutemero miacutenimo de vinte pessoas

para constituiccedilatildeo de uma cooperativa Embora os princiacutepios primitivos de Rocdale

reafirmavam a livre adesatildeo estes fixavam provisoriamente um limite de 250

associados (Schneider 1999) Nesse aspecto houve evoluccedilatildeo para o caraacuteter

indiscriminativo de participaccedilatildeo pois o princiacutepio da livre adesatildeo natildeo impotildee nenhum

limite em nuacutemero de associados No entanto analogamente conforme exposto na

teoria dos grupos agrave medida que organizaccedilotildees cooperativas crescem em nuacutemero de

associados aumentaraacute tambeacutem as dificuldades de se organizar e defender os

interesses individuais dos seus membros

Em face dessa evoluccedilatildeo conforme Tauk Santos e Lima (2004) na dinacircmica

da cooperativa em relaccedilatildeo ao ambiente externo haacute desafios tanto para a

participaccedilatildeo do indiviacuteduo quanto a sua capacidade de delegar poder ao coletivo

Estes desafios satildeo assim classificados por esses autores

a)o desafio dos valores cooperativos que eacute reagrupar pessoas que tenham uma necessidade comum em um projeto segundo os valores do cooperativismo b) o desafio da relaccedilatildeo de uso refere-se agraves vantagens cooperativas de seus membros c) o desafio do desenvolvimento da coletividade oferecer melhores produtos e serviccedilos aos membros promovendo o desenvolvimento harmonioso da comunidade d) o desafio daldquoeducaccedilatildeo cooperativa que daacute ecircnfase agraves diferenccedilas cooperativas seus papeacuteis e suas responsabilidades no sentido de manter uma coesatildeo no seu desenvolvimento e) e finalmente o desafio do serviccediloproduto materializado no esforccedilo de ofertar um produto ou serviccedilo no quadro de desenvolvimento cooperativo ressaltando as vantagens em relaccedilatildeo ao desenvolvimento tradicional (TAUK SANTOS E LIMA 2004 p3)

Mas o desafio ainda maior eacute assegurar a identidade cooperativa com a

vitalidade dos princiacutepios colocados como condicionantes agraves organizaccedilotildees

cooperativas Dessa forma as cooperativas seguem superando as modificaccedilotildees e

constante evoluccedilatildeo nos diversos segmentos da sociedade com vistas ao

crescimento em seu ramo de atividade

211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas

Uma caracterizaccedilatildeo para identificaccedilatildeo das cooperativas eacute a classificaccedilatildeo por

ramos de atividades conforme os segmentos de atuaccedilatildeo No Brasil a OCB os dividiu

em treze onde estatildeo agrupados um nuacutemero de 7518 cooperativas com 6791054

associados e a respectiva geraccedilatildeo de aproximadamente 200000 empregos Em

todos os ramos natildeo eacute difiacutecil encontrar modelos e exemplos de sucesso de

16

empreendimentos cooperativos que se tornaram gigantes na economia nacional e

mundial a exemplo o reconhecimento da Mondragoacuten Corporacioacuten Cooperativa ndash

MCC frequentemente citada como modelo de sucesso de cooperativismo

a MCC reuacutene 104 cooperativas e estaacute estruturada em trecircs grandes grupos financeiroindustrial e distribuiccedilatildeo aleacutem de contar com onze centros de pesquisa e desenvolvimento uma universidade e um centro de formaccedilatildeo cooperativa e empresarial ndash Otalora O grupo industrial eacute sub dividido em (automotivo componentes construccedilatildeo equipamentos industriais eletrodomeacutesticos moacuteveis e bens de capital)Com sede no paiacutes Basco Espanha a MCC eacute 7ordm maior grupo econocircmico espanhol (AZEVEDO 2007 p2)

Essa conjuntura ilustra o que faz cada vez mais cooperativas planejarem

crescimento para atender competitivamente os desafios e demandas de mercado

Nesse sentido mesmo quando globalizadas devem teoricamente ser fieacuteis agrave missatildeo

do cooperativismo com seus soacutecios ainda que atuem de forma corporativa como as

empresas tradicionais em locais distantes de seus cooperados Contudo da certeza

da importacircncia e resultados do cooperativismo visto a dimensatildeo que essas

organizaccedilotildees tecircm tomado natildeo haacute duvida de que seja difiacutecil manter racionalmente a

fidelidade aos princiacutepios e atuar com a participaccedilatildeo ativa dos cooperados diante da

complexidade de accedilotildees exigida por esse direcionamento

Tomadas essas proporccedilotildees eacute crescente tambeacutem a necessidade de

profissionais competentes em diferentes aacutereas para participarem da elaboraccedilatildeo de

metas e defesa dos interesses da organizaccedilatildeo cooperativa conforme descreve

Amodeo (2001)

Os apelos para profissionalizar a gestatildeo e buscar melhorar a competitividade podem ser considerados o eixo que orienta as transformaccedilotildees recentes das cooperativas (AMODEO 2001 p11)

Surge em resposta ao atendimento dessa necessidade uma complexa

estrutura de gestatildeo se visualizar que dentre as diferentes aacutereas em que o

movimento cooperativista atua elas cumprem papeacuteis distintos em todas as fases de

um processo de produccedilatildeo quais sejam nas funccedilotildees de fornecedoras ou

consumidoras e transformadoras de bens ou serviccedilos Nesse aspecto o ramo

agropecuaacuterio eacute um dos mais complexos do segmento cooperaivista

212 O cooperativismo agropecuaacuterio

Os trabalhadores pioneiros de Rochdale visualizaram nas cooperativas uma

forma de propiciar ajuda muacutetua entre eles Do mesmo modo os produtores rurais

17

esperam no cooperativismo agropecuaacuterio um meio de apoacuteia-los no enfrentamento

dos inuacutemeros desafios desse segmento

No Brasil o Ramo Agropecuaacuterio tem o maior nuacutemero de cooperativas em

torno de 1514 com 879918 associados e maior gerador de emprego com

aproximadamente 124000 empregados o que define sua importacircncia em

participaccedilatildeo no desenvolvimento econocircmico do paiacutes Este ramo eacute caracterizado pela

OCB da seguinte forma

O Ramo Agropecuaacuterio eacute definido por cooperativas formadas por produtores rurais e tecircm como finalidade organizar a produccedilatildeo dos seus associados em maior escala garantindo um melhor preccedilo na comercializaccedilatildeo de seus produtos Visa tambeacutem integrar e orientar suas atividades bem como facilitar a utilizaccedilatildeo reciacuteproca dos serviccedilos como adquirir insumos dividir custos de assistecircncia teacutecnica difundir o uso de novas tecnologias produtivas comercializar a produccedilatildeo e em muitos casos beneficiar e industrializar as mateacuterias-primas eliminando o atravessador e vendendo a produccedilatildeo dos cooperados diretamente ao consumidor (OCB 2007 p334)

Das accedilotildees desenvolvidas pelas cooperativas no segmento agropecuaacuterio as

mais comuns conforme Amodeo (2001) satildeo venda de insumos (fertilizantes

sementes agrotoacutexicos etc) ferramentas e maquinaria agriacutecola pesquisa e

assistecircncia teacutecnica aos produtores processamento industrializaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da

produccedilatildeo exportaccedilatildeo classificaccedilatildeo padronizaccedilatildeo e embalagem de produtos in

natura serviccedilos de creacuteditos seguros e administraccedilatildeo

Segundo Amodeo (2001) eacute na interface entre a agricultura e a induacutestria que

as cooperativas agropecuaacuterias crescem a montante e a jusante a fim de obter

melhores resultados para os seus cooperados na medida em que paralelamente

satildeo intensificados os processos de modernizaccedilatildeo da agricultura tanto na induacutestria

de insumos ou bens para a agricultura quanto na induacutestria que compra a oferta

agriacutecola para o seu processamento e distribuiccedilatildeo

Os produtores rurais tambeacutem satildeo pressionados nessa mesma direccedilatildeo e eacute por

meio da mediaccedilatildeo dessas cooperativas que as demandas por especializaccedilatildeo de

produtores vecircm sendo atendidas principalmente no grupo dos pequenos Os

processos produtivos no campo estatildeo cada vez mais pautados nas particularidades

dos processos industriais Daiacute a amplitude do cooperativismo agropecuaacuterio pois

participa do desenvolvimento e especializaccedilatildeo da produccedilatildeo de seus associados

transferindo tecnologia melhorando a renda e possibilitando o desenvolvimento

rural

18

Deste modo eacute grande o nuacutemero de atividades econocircmicas abrangidas pois

conforme a OCB (2007) essas cooperativas geralmente cuidam de toda a cadeia

produtiva desde o preparo da terra ateacute a industrializaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos

produtos De modo geral conforme Braga e Reis (2002) as cooperativas de

produtores tem desempenhado importante papel na fixaccedilatildeo do homem no campo e

na distribuiccedilatildeo de renda O resultado econocircmico portanto eacute a significativa

participaccedilatildeo na economia Conforme a OCB (2008) cooperativas agropecuaacuterias

movimentam cerca de 6 do PIB nacional e tecircm uma participaccedilatildeo entre 35 a 40

no PIB agriacutecola

Desde o iniacutecio dos anos 90 as cooperativas sofreram fortes impactos

macroeconocircmicos conforme registros de Lopes et alli (2002) estabilizaccedilatildeo

econocircmica com o Plano Real abertura comercial acelerada desregulamentaccedilatildeo dos

mercados agriacutecolas e imposiccedilotildees de maior disciplina fiscal Nesse cenaacuterio a

consolidaccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio na economia brasileira conforme

OCB (2007) foi resultado do esforccedilo de produtores pela modernizaccedilatildeo do sistema

incorporaccedilatildeo de tecnologia agraves suas atividades e profissionalizaccedilatildeo da gestatildeo Essa

postura vem permitindo que cooperativas permaneccedilam atuando no mercado

competitivamente

Deste modo a dinacircmica de operacionalizaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees vai aleacutem

das intenccedilotildees que estavam impliacutecitas no desejo de associaccedilatildeo que impulsionou o

surgimento das cooperativas Eacute nessa perspectiva que as cooperativas de laticiacutenios

atuam Portanto a seccedilatildeo seguinte tem a finalidade de demonstrar o que vem

ocorrendo na evoluccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a atuaccedilatildeo dos

produtores rurais no setor

213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de

produtores rurais

Para se ter a dimensatildeo e extensatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite

dentro da economia global apresenta-se as perspectivas atuais e futuras dessas

cooperativas no mercado face ao cenaacuterio dos resultados desse segmento Para isso

recorreu-se a estudos sobre o setor leiteiro pois esta atividade eacute a maior geradora

de emprego no mercado nacional de trabalho e responsaacutevel por grande parte da

fixaccedilatildeo e sobrevivecircncia de famiacutelias no meio rural

19

Em muitos paiacuteses a participaccedilatildeo das cooperativas na captaccedilatildeo de leite eacute

relativamente alta chegando a 80 na Austraacutelia 83 na Holanda e EUA mais de

95 na Nova Zelacircndia (Chaddad 2004) e na Iacutendia sede do maior movimento

cooperativo do mundo 94 dos laticiacutenios provecircm de cooperativas (Amodeo 2001)

Nesse cenaacuterio o crescimento dessas organizaccedilotildees natildeo tem ficado restrito a

uma atuaccedilatildeo no mercado local na funccedilatildeo de intermediar o produtor rural As

cooperativas tecircm apresentado um crescimento cada vez mais acelerado e

conseguido atuar na economia mundial haja vista alguns exemplos de grandes

cooperativas de leite reconhecidas neste setor

Fonterra liacuteder absoluta no mercado da Nova Zelacircndia com mais de 95 do leite do paiacutes (14 bilhotildees de litrosano) a cooperativa mais globalizada do mundo() seu lema eacute nossa casa eacute o mundordquo controla hoje cerca de 30 do mercado internacional de laacutecteos possui alianccedilas em diversos continentes inclusive com potenciais concorrentes

Arla Foods eacute a maior cooperativa de laticiacutenios da Europa com cerca de 84 bilhotildees de litros anuais Foi a primeira grande fusatildeo entre cooperativas transnacionais a sueca Arla e a dinamarquesa MD Foods Apesar do porte gigantesco sabe que precisa crescer mais precisa olhar para aleacutem de suas fronteiras europeacuteias (CARVALHO 2008 P1)

A Cooperativa Daiy Farmers of Ameacuterica (DFA) participa de treze joint-ventures com empresas americanas e multinacionais visa ganhar competitividade num mercado global por meio de raacutepido reposicionamento (MARTINS ET ALLI 2004 P 58)

Nesse segmento o Brasil eacute o sexto maior produtor mundial de leite

entretanto ainda haacute uma baixa participaccedilatildeo de cooperativas na captaccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo deste produto Conforme Chaddad (2004) no paiacutes essa

participaccedilatildeo estaacute em torno de 22 da captaccedilatildeo do volume total do leite produzido e

40 do leite comercializado no mercado formal ou seja captado por laticiacutenios

legalmente inspecionados

Grandes mudanccedilas tecircm ocorrido em torno das cooperativas de laticiacutenios

brasileiras Recentemente importantes decisotildees foram registradas para assumir

formatos que sejam competitivos entre cooperativas e entre outras empresas A

Itambeacute - Cooperativa Central de Produtores Rurais de Minas Gerais eacute um exemplo

da importacircncia crescente das cooperativas na economia nacional

A Itambeacute eacute a maior cooperativa brasileira de laticiacutenios quer ampliar sua linha de produtos expandir a atuaccedilatildeo no mercado interno e aos poucos aumentar as exportaccedilotildees Com 58 anos de atividade a cooperativa alcanccedilou faturamento bruto de 13 bilhotildees de reais em 2005 Satildeo 8 000 produtores rurais cadastrados na cooperativa responsaacuteveis pelo fornecimento diaacuterio de 27 milhotildees de litros de leite (OCEMG 2008 P1)

20

Por outro lado a Cooperativa do Vale do Rio Doce (Cooperriodoce) a maior

cooperativa regional no leste de Minas Gerais recentemente teve seu parque

industrial vendido para Parmalat um grupo privado

Este cenaacuterio ilustra o desafio das cooperativas em permanecer no mercado

frente agrave missatildeo que desempenham como promotoras de desenvolvimento social

Em artigo com o tiacutetulo ldquoo capital encontrou o leiterdquo Carvalho (2008) mostra como

empresas de outros ramos tecircm investido no setor de laticiacutenios o que ameaccedila

diretamente as cooperativas

A compra dos Laticiacutenios Morrinhos dona da marca LeitBom pela GP investimentos natildeo deixa mais duacutevidas o capital finalmente descobriu o leite Em meio a uma onda de aquisiccedilotildees protagonizadas pela Laep (Parmalat) Perdigatildeo Bom Gosto e Liacuteder nada mais emblemaacutetico para representar a corrida ao leite do que a investida de um grupo conhecido pela sua habilidade de multiplicar o capital dos negoacutecios em que investe

O ponto eacute que se trata de uma inovaccedilatildeo consideraacutevel feita por quem chega de fora olha para o setor sem os vieses criados por quem jaacute estaacute nele haacute tempos e faz perguntas que os participantes tradicionais com suas posiccedilotildees de lideranccedila natildeo precisam fazer essa descoberta traz ameaccedilas ainda maiores para as cooperativas(CARVALHO 2008 p1)

O extrato da entrevista transcrito a seguir ilustra uma preocupaccedilatildeo da

lideranccedila da cooperativa objeto deste estudo no que se refere a perspectivas de

longo prazo quanto agrave sua sobrevivecircncia

Temos a necessidade para os proacuteximos 10 anos muito grande de crescer de unir Vem crescendo mas ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao mundo globalizado precisa unir jaacute fez incorporaccedilatildeo de Satildeo Domingos do Prata precisa juntar mais cooperativas ser forte para disputar mercado Se natildeo crescer com outras cooperativas se natildeo acontecer uma uniatildeo de cooperativas vai sair de circulaccedilatildeo (Diretor Presidente COOLVAM 2008)

Desse mesmo modo a preocupaccedilatildeo quanto agrave continuidade e sobrevivecircncia eacute

comum nas pequenas cooperativas devido principalmente agrave pressatildeo que sofrem do

mercado na comercializaccedilatildeo de produtos pois concorrem com cooperativas maiores

e com grandes empresas privadas

Esse quadro vem progredindo desde a deacutecada de 90 com a abertura de

mercado onde a entrada de produtos como o leite tiveram condiccedilotildees de

financiamento mais favoraacuteveis do que nas induacutestrias nacionais que foram obrigadas

a reduzir preccedilos (FAVERET FILHO 2002) Nesse periacuteodo milhares de produtores

abandonaram a atividade e empresas regionais e cooperativas fecharam ou foram

vendidas

21

Conforme Faveret Filho (2002 p240) tais mudanccedilas levaram empresas a

buscar mecanismos de aumento da eficiecircncia produtiva Portanto haacute grandes

desafios para as cooperativas de laticiacutenios brasileiras principalmente as pequenas

cooperativas em atuar nesse mercado Eacute por esse motivo que a forma de conduzi-

las eacute discutida em diferentes perspectivas Sob o ponto de vista de Chaddad (2004)

o desempenho dessas organizaccedilotildees se daacute em funccedilatildeo de

poliacutetica agriacutecola regulamentaccedilatildeo do setor leiteiro barreiras agrave importaccedilatildeo de leite e derivados estrutura do setor produtivo poliacuteticas de apoio a organizaccedilotildees cooperativas niacutevel tecnoloacutegico e educacional dos produtores e ambiente institucional entre outros (CHADDAD 2004 p36)

Outro trabalho realizado com cooperativas de leite de outros paises identificou

pontos comuns indicados como responsaacuteveis pelo sucesso dessas organizaccedilotildees

Consolidaccedilatildeo por meio de fusotildees e incorporaccedilotildees

Alianccedilas estrateacutegicas

Sistema profissional e representativo de governanccedila corporativa

Estrutura centralizada

Esforccedilos de fidelizaccedilatildeo do cooperado

Novos mecanismos de capitalizaccedilatildeo

Estrateacutegia competitiva alinhada com estrutura corporativa

(CHADDAD 2004 p37) Esses pontos corroboram Faveret Filho (2002) ao mostrar que mudanccedilas no

ambiente competitivo devido agrave globalizaccedilatildeo e avanccedilos tecnoloacutegicos forccedilam as

cooperativas a buscar ganhos de eficiecircncia a fim de natildeo perder relevacircncia no

mercado Segundo Chaddad (2004) essa busca resultou em alianccedilas estrateacutegicas

com outras cooperativas ou mesmo com empresas privadas O termo alianccedila

estrateacutegica expressa a decisatildeo de uma ou mais empresas cooperarem para atingir

objetivos comuns Para Lewis citado em Rola e e Sobral (2002) numa alianccedila

estrateacutegica as empresas cooperam em nome de suas necessidades muacutetuas e

compartilham os riscos para alcanccedilar um objetivo comum

Todos os pontos indicados para o sucesso das cooperativas de lacticiacutenios

devem ser cuidadosamente discutidos e avaliados para adequada aplicaccedilatildeo

conforme a realidade de cada cooperativa Para isso os gestores devem ter uma

visatildeo ampla da organizaccedilatildeo e conhecer o ambiente onde a empresa estaacute inserida

(SANTOS 2000) Deste modo o planejamento e execuccedilatildeo de diferentes formas de

22

atuaccedilatildeo do cooperativismo frente agrave conjuntura apresentada passam a ser a busca

pelo aperfeiccediloamento das ferramentas de gestatildeo Isso exige dos dirigentes assim

como dos soacutecios conhecimento e constante aperfeiccediloamento

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa

Na operacionalizaccedilatildeo das atividades gerenciais da cooperativa assim como

em outro tipo de empresa o corpo diretivo deve estar atento aos objetivos

especiacuteficos agrave missatildeo da organizaccedilatildeo Isso facilita a busca do consenso e

potencializa os esforccedilos das partes em benefiacutecio do todo (Santos 2000)

Deste modo para que as tomadas de decisotildees sejam compartilhadas de

forma oportuna e adequada na cooperativa os dirigentes e associados devem ter

claro seu papel no processo administrativo

A tabela 01 que segue mostra as diferenccedilas tiacutepicas entre uma empresa

mercantil e uma organizaccedilatildeo cooperativa

Empreendimento cooperativo Empresa mercantil

bull sociedade simples regida por

legislaccedilatildeo especiacutefica bull nuacutemero de associados limitado agrave

capacidade de prestaccedilatildeo de serviccedilos bull controle democraacutetico cada pessoa

corresponde a um voto bull objetiva a prestaccedilatildeo de serviccedilos bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no nuacutemero de associados bull natildeo eacute permitida a transferecircncia de

quotas-parte a terceiros bull retorno dos resultados eacute proporcional

ao valor das operaccedilotildees

bull sociedade de capital - accedilotildees bull nuacutemero limitado de soacutecios bull cada accedilatildeo ndash um voto bull objetiva o lucro bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no capital bull eacute permitida a transferecircncia e a venda

de accedilotildees a terceiros bull dividendo eacute proporcional ao valor de

total das accedilotildees

Tabela 1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil Fonte OCB ( 2007)

Portanto os dirigentes devem dar maior atenccedilatildeo a pontos que merecem mais

cuidado na gestatildeo cooperativa Conforme Chiavenato (1993) no funcionamento das

organizaccedilotildees as vaacuterias funccedilotildees do administrador consideradas como um todo

formam o processo administrativo composto pelo planejamento organizaccedilatildeo

direccedilatildeo e controle Consideradas separadamente constituem as funccedilotildees

administrativas mas quando visualizadas na sua abordagem total para o alcance de

objetivos elas formam esse processo De acordo com Chiavenato (1993) o processo

23

administrativo implica que os acontecimentos e as relaccedilotildees sejam dinacircmicos com

mudanccedilas contiacutenuas uma vez que este natildeo eacute algo parado estaacutetico eacute moacutevel natildeo

tem um comeccedilo nem um fim nem uma sequumlecircncia fixa de eventos

Neste caso o papel da direccedilatildeo eacute dinamizar a empresa com atuaccedilatildeo sobre

todos os recursos e orientaccedilatildeo a ser dada agraves pessoas por meio de uma adequada

comunicaccedilatildeo habilidade de lideranccedila e motivaccedilatildeo Na gestatildeo da organizaccedilatildeo

cooperativa conforme Schneider (1999) cabe aos gestores encontrar mecanismos

de decisatildeo que sejam conformes ao mesmo tempo agraves exigecircncias essenciais da

democracia cooperativa e aos da eficaacutecia-eficiecircncia da empresa orgacircnica

Deste modo em niacutevel de coordenaccedilatildeo da empresa as decisotildees se ordenam

segundo uma hierarquia em decisotildees estrateacutegicas decisotildees taacuteticas e decisotildees

teacutecnicas ou operacionais De acordo com Chiavenato (1993) o niacutevel estrateacutegico

corresponde ao niacutevel mais elevado da empresa cuida das atividades da

organizaccedilatildeo e seu ambiente Situam-se as decisotildees fundamentais de ordem geral

ou econocircmica e que envolvem os objetivos de meacutedio e longo prazo Conforme

Schneider (1999) em cooperativas deve ser realizada de forma soberana pelos

associados tendo em vista os seus interesses seguindo determinados planos

As decisotildees taacuteticas satildeo do niacutevel gerencial coordenam e unificam o

desempenho das tarefas pelo sistema operacional Cabem aos gestores ou teacutecnicos

decidir pela melhor conduta ou teacutecnica de produccedilatildeo Neste niacutevel conforme

Schneider (1999) em cooperativas cabe um papel maior aos membros do Conselho

de Administraccedilatildeo que concretizam as diretrizes gerais do niacutevel estrateacutegico

O niacutevel teacutecnico operacional diz respeito ao desempenho das tarefas na

organizaccedilatildeo relacionadas agrave produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de produtos Conforme

Chiavenato (1993) estaacute relacionado agrave execuccedilatildeo cotidiana e eficiente das tarefas e

operaccedilotildees da organizaccedilatildeo Segundo Schneider em cooperativas essa fase estaacute

acessiacutevel a um nuacutemero limitado de soacutecios eacute atribuiccedilatildeo predominante do quadro

executivo e teacutecnico da cooperativa

Eacute importante considerar tambeacutem que um fator que influencia particularmente

a forma de accedilatildeo na tomada de decisotildees eacute o tamanho da empresa Em cooperativas

Schneider (1999) faz a seguinte observaccedilatildeo

Quando se trata de uma cooperativa pequena geralmente os associados compreendem mais facilmente a natureza dos problemas e de suas soluccedilotildees Por isso tecircm melhores condiccedilotildees de eles mesmos tomarem as decisotildees em todos os niacuteveis ateacute mesmo as de caraacuteter teacutecnico Poreacutem numa cooperativa maior

24

e mais complexa a estrutura de poder se apresenta com clara distinccedilatildeo entre a estrutura de fins e a estrutura de meios os fins se asseguram pela assembleacuteia de soacutecios que expressa de forma soberana seus objetivos e interesses pelos fiscais eleitos e pelo presidente Os meios satildeo realizados atraveacutes da direccedilatildeo os executivos contratados os teacutecnicos e os funcionaacuterios (SCHNEIDER 1999 p188)

Na evoluccedilatildeo do processo administrativo em cooperativas portanto as

tomadas de decisotildees tecircm a participaccedilatildeo dos soacutecios efetivadas nas instacircncias de

poder conforme descrito por Schneider (1999)

a) Assembleacuteia Geral ordinaacuteria ou extraordinaacuteria eacute o oacutergatildeo soberano que expressa a vontade soberana dos soacutecios sobre todos os assuntos essenciais da organizaccedilatildeo Tem analogia com a assembleacuteia de acionistas de uma sociedade anocircnima

b) O Conselho de Administraccedilatildeo a democracia natildeo significa o governo de todos de forma direta e imediata em todos os niacuteveis de atividade da organizaccedilatildeo Reivindicar a democracia direta onde os soacutecios participariam de todos os niacuteveis de decisotildees levaria agrave perda da agilidade e eficiecircncia imprescindiacuteveis em cada empresa Ela soacute eacute possiacutevel em unidades muito pequenas

c) Outras instacircncias de poder satildeo o Conselho Diretor escolhido dentre os membros do Conselho de Administraccedilatildeo quando este eacute muito grande e dificulta a coesatildeo e o razoaacutevel grau de informaccedilatildeo Sua funccedilatildeo eacute exercer por delegaccedilatildeo as atribuiccedilotildees outorgadas pelo Conselho de Administraccedilatildeo Eacute um oacutergatildeo de tutela permanente do presidente ao qual devem submeter-se as principais decisotildees ou um organismo colegiado de decisotildees (SCHNEIDER 1999 P189 - 190)

Vinculado ao Conselho de Administraccedilatildeo eacute criado em cooperativas o Comitecirc

Educativo segundo Valadares (1995) este assume as atividades vinculadas ao

desenvolvimento social e poliacutetico dos associados preparando e capacitando-os para

agirem decisivamente na organizaccedilatildeo cooperativa Este mecanismo possibilita aos

associados atuarem em grupo e constitui-se de um canal por meio do qual podem

expressar suas necessidades desejos e inquietudes aleacutem de constituir um meio de

comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo importante entre os dirigentes e as bases sociais

Portanto o seu funcionamento estaacute orientado pelos objetivos de estruturar um

espaccedilo de poder na cooperativa viabilizando a participaccedilatildeo democraacutetica do maior

nuacutemero de associados na gestatildeo cooperativa (VALADARES 2005)

Ao tratar do processo administrativo no acircmbito interno das cooperativas

devem ser estimuladas interaccedilotildees entre os cooperados aleacutem da participaccedilatildeo

nessas instacircncias de poder Nesse sentido uma das condiccedilotildees colocadas por

Schneider (1999) eacute a necessidade de superar a impessoalidade nas interaccedilotildees entre

a cooperativa e os associados mais comum em cooperativas grandes e conseguir

articulaccedilatildeo de todos por meio de um variado circuito de informaccedilotildees livres de

quaisquer manipulaccedilotildees que seraacute ao mesmo tempo um estiacutemulo ao conhecimento e

agrave discussatildeo

25

O risco da falta de informaccedilatildeo do produtor nesse processo pode acarretar um

consequumlente sentimento de desconfianccedila que de acordo com a observaccedilatildeo de

Perius (1983) a esse respeito ldquonasce assim um conflito entre soacutecios e

administradoresrdquo Para este autor A informaccedilatildeo completa e apropriada aos soacutecios eacute essencial tarefa da educaccedilatildeo cooperativista Sendo a atividade cooperativa uma atividade essencialmente econocircmica esses conhecimentos devem incluir definitivamente informaccedilotildees completas e exatas sobre os programas as poliacuteticas as operaccedilotildees e as estruturas da cooperativa como empresa comercial (JOACHIM CIT IN PERIUS 1983 p 73)

Com essas observaccedilotildees confirma-se que a comunicaccedilatildeo deve ter

importacircncia vital no processo de gestatildeo cooperativa pois esta quando utilizada em

diferentes canais acessiacuteveis ao produtor vai materializar a participaccedilatildeo de

cooperados nos diferentes niacuteveis de tomadas de decisotildees

23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas Grande parte da produccedilatildeo de leite no paiacutes eacute realizada por pequenos

produtores que em sua maioria tecircm na atividade a uacutenica fonte de renda Conforme

Gomes (2005) a produccedilatildeo de leite em Minas Gerais configura-se como uma das

atividades mais importantes para a economia do Estado Eacute tambeacutem significativa face

ao seu percentual de participaccedilatildeo no volume total da produccedilatildeo nacional

Nesse segmento a referecircncia tiacutepica a produtores rurais se daacute em funccedilatildeo do

volume produzido identificando-os como pequeno meacutedio e grande produtor

Conforme Gomes (1987 e 2005) o perfil do produtor de leite em Minas Gerais segue

as seguintes caracteriacutesticas

o pequeno produtor trabalha com produtividade meacutedia de 25 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 12 litros de leite Cerca de 90 da matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente familiar

O meacutedio produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 40 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo meacutedia diaacuteria 100 L de leite A matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente contratada e a matildeo-de-obra familiar corresponde a 30

Jaacute o grande produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 6 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 360 litros de leite A matildeo-de-obra familiar corresponde a apenas 8 do total (Gomes 1987)

A Idade meacutedia de 52 anos para os pequenos produtores sendo constatado um envelhecimento neste grupo fenocircmeno tiacutepico da pequena produccedilatildeo familiar isto eacute o chefe da famiacutelia suporta conviver com pequena lucratividade

A escolaridade meacutedia de 517 anos o que aumenta agrave medida que aumentam os estratos de produccedilatildeo

Os produtores de mais de 1000 litros tecircm 658 anos de escolaridade

Em meacutedia os produtores tecircm 20 anos de experiecircncia na atividade leiteira

Predominantemente a origem do produtor eacute do proacuteprio municiacutepio num percentual de 73

Em meacutedia tecircm 264 filhos havendo maior nuacutemero de filhos e filhas que trabalham na cidade do que na atividade leiteira

Quanto agrave residecircncia do produtor prevalece a propriedade rural com 77 dos entrevistados

As esposas pouco participam de algum trabalho na produccedilatildeo de leite ateacute mesmo entre os produtores ateacute 50 litros de leitedia (GOMES 2005 P 40-41)

Essa estatiacutestica natildeo varia muito para a atividade nos outros estados

Nogueira Netto et all (2004) mostram que no Brasil cerca de dois a cada trecircs

produtores de leite satildeo associados a cooperativas que captam leite acima de 555

mil litros por dia A meacutedia diaacuteria de leite obtida por esses produtores estaacute

representada na Figura 2 Conforme este autor os produtores com entrega diaacuteria

ateacute 100 litrosdia formam 605 de todos os cooperados enquanto 168 entregam

entre 100 e 200 litrosdia Na faixa de 200 a 500 litros encontram-se 109 dos

cooperados e entre 500 a 1000 litros somente 50 Acima de 1000 litros estatildeo

68 dos cooperados

605

168109 50 68

00

100

200

300

400

500

600

700

Produtores

ateacute 100

100 a 200 lts

200 a 500 lts

500 a 1000 lts

acima de 1000 lts

Figura 2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em cooperativas

Fonte de dados Nogueira Netto et all (2004 p74)

Comparativamente o perfil da produccedilatildeo em outros paiacuteses apresenta um

quadro diferente Conforme Nogueira Netto et all (2004) na Uniatildeo Europeacuteia por

exemplo os produtores considerados de pequena produccedilatildeo satildeo os que produzem

26

27

um volume inferior agrave meacutedia de 545 litrosdia ou seja muito distante da realidade

apresentada no Brasil

De modo semelhante ao que ocorre com as cooperativas que tecircm sido

pressionadas para especializaccedilatildeo e crescimento acontece com o produtor rural

Este eacute pressionado da porteira para dentro por produtividade e ainda vivencia

criacuteticas sobre a forma de produccedilatildeo

Dentro da porteira um dos maiores problemas ainda eacute o de gestatildeo Muitos produtores satildeo eficientes mas natildeo estatildeo preparados para gerir os negoacutecios () as receitas anuais na propriedade (incluindo descartes) satildeo de R$ 056 por litro 27 a mais do que os custos totais de R$ 044 (inclui terra e proacute-labore) () vatildeo ficar no mercado apenas os profissionais (EMATER E AGROINFORME 2008 P2)

Esse quadro corrobora outra caracteriacutestica do perfil dos produtores que eacute o

sistema de produccedilatildeo Estes trabalham distintamente pois conforme Fellet e Galan

(2000) existem na atividade produtores com os sistemas de produccedilatildeo

completamente especializados com elevados pacotes tecnoloacutegicos modernos para

a produccedilatildeo de leite Enquanto outros encontram-se com sistemas nitidamente

extrativistas com baixos investimentos e iacutendices de produccedilatildeo Isso retrata e

distancia os produtores dos diferentes estratos apresentados No primeiro caso

estatildeo os produtores de maiores volumes e no segundo modo de produccedilatildeo encontra-

se os produtores de pequena produccedilatildeo

Essa realidade de pequenos produtores vai de encontro agraves cooperativas de

laticiacutenios que conforme visto anteriormente tecircm como opccedilatildeo de sobrevivecircncia agraves

pressotildees de mercado o crescimento De modo geral o aumento da captaccedilatildeo meacutedia

por produtor tem sido estimulado por todas as empresas de laticiacutenios mas conforme

Favoret Filho (2000) os grandes produtores satildeo os mais incentivados tendo em

vista o pagamento diferenciado de preccedilos aos produtores de maior volume O que

aumenta sua rentabilidade e viabiliza novas expansotildees cada vez mais difiacuteceis para

os pequenos

Nos dados apresentados em Gomes (1987 e 2005) que retrata o perfil do

produtor de leite e em Nogueira Netto et alli (2004) que mostra a participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas por estrato de produccedilatildeo reafirma portanto a

relevacircncia social do cooperativismo de leite

Portanto na funccedilatildeo de mediadoras dos produtores a montante e a jusante na

cadeia produtiva as cooperativas devem ainda apoiar a criaccedilatildeo de mecanismos para

mudar a realidade instalada na produccedilatildeo de pequenos produtores afim de superar

28

as diferenccedilas tratadas em Favoret Filho (2000) Certamente natildeo se conseguiraacute

mudar essa realidade com a accedilatildeo isolada desses produtores

Esse quadro confirma a heterogeneidade qualitativa em volume de produccedilatildeo

de produtores rurais que reflete na oportunidade de participaccedilatildeo nas diferentes

instacircncias da gestatildeo cooperativa

Portanto se na autogestatildeo cooperativa a representatividade entre os

produtores eacute equilibrada jaacute que cada associado tem direito a um voto independente

do seu volume de produccedilatildeo espera-se que esteja aiacute a oportunidade do pequeno

produtor defender os seus interesses por meio de uma maior participaccedilatildeo nas

tomadas de decisotildees Uma maior participaccedilatildeo deste grupo seria tambeacutem uma forma

de mudar o ldquostatus quordquo de grande parte de pequenos produtores de leite Portanto

espera-se que a cooperativa incentive a participaccedilatildeo de produtores na sua estrutura

de gestatildeo para que essas diferenccedilas sejam melhor niveladas

29

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO

A construccedilatildeo do conhecimento requer um domiacutenio conceitual baacutesico para que

a decodificaccedilatildeo dos dados identificados possa se sustentar Deste modo Kopnin

(1978) argumenta que

A teoria descreve e explica um conjunto de fenocircmenos fornece o conhecimento dos fundamentos reais de todas as teses lanccediladas e reduz os descobrimentos em determinado campo e as leis a um princiacutepio unificador uacutenico sendo que a unificaccedilatildeo do conhecimento em teoria eacute realizada antes de tudo pelo proacuteprio objeto e suas leis determinando a relaccedilatildeo entre juiacutezos isolados conceitos e deduccedilotildees na teoria (KOPNIN 1978 p237)

Portanto esta etapa tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias e

argumentos para interpretar as praacuteticas presentes no caso e nos discursos

vivenciados durante a pesquisa de campo Primeiramente faz-se uma revisatildeo sobre

accedilatildeo coletiva e como se fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme

proposta de Mancur Olson (1999) de forma a dar base e direcionamento agraves outras

discussotildees do trabalho Em seguida haacute uma abordagem conceitual e praacutetica sobre

participaccedilatildeo e ao final completa-se com argumentos sobre cooperaccedilatildeo e capital

social apresentados como correccedilotildees para os dilemas de accedilatildeo coletiva

31 Accedilatildeo Coletiva 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos

Dificilmente conseguiriacuteamos que as pessoas participassem com igual

dedicaccedilatildeo empenho e motivaccedilatildeo em algo que venha a ter o mesmo benefiacutecio e

resultados para todos Pois o indiviacuteduo age segundo seu proacuteprio interesse com o

fim de maximizar seus benefiacutecios Essa suposiccedilatildeo estaacute fundamentada na Teoria da

Escolha Racional proposta por Olson (1999) e corroborada por Elster (1994) ao

afirmar que os problemas de accedilatildeo coletiva surgem porque eacute difiacutecil conseguir que as

pessoas cooperem para benefiacutecio muacutetuo Segundo Olson (1999) o comportamento

centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral considerado a regra pelo menos quando

haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas Neste raciociacutenio justifica-se que

numa cooperativa natildeo haacute de se esperar que todos os soacutecios tenham o mesmo

empenho para o seu desenvolvimento assim como eacute difiacutecil que todos consigam

30

usufruir dos resultados alcanccedilados Isso eacute um dilema vivenciado no cooperativismo

que se origina por diversas situaccedilotildees as quais seratildeo discutidas neste capiacutetulo

Esta seccedilatildeo inicia-se por apresentar a definiccedilatildeo do termo accedilatildeo coletiva e bem

puacuteblico cujos sentidos seratildeo trabalhados no decorrer desta dissertaccedilatildeo

O termo accedilatildeo coletiva foi difundido por Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica

da accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas bem como

problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a coerecircncia a eficaacutecia e a

atratividade dos grupos nesse processo

Uma accedilatildeo coletiva surge basicamente para solucionar necessidades geradas

por dois fatores oportunidades e desejos ou seja pelo que as pessoas podem fazer

e pelo que querem fazer (ELSTER 1994) Deste modo mesmo que as pessoas

difiram em seus desejos assim como em suas oportunidades os desejos humanos

podem ter pontos comuns aos apresentados individualmente

Quando estes pontos comuns satildeo reconhecidos pelos indiviacuteduos ocorre o

que Marx chamaria de adquirir consciecircncia (OLSON 1999) A partir desses pontos

comuns os homens planejam uma accedilatildeo coordenada conforme seus proacuteprios

interesses Essa atuaccedilatildeo portanto recebe o nome de accedilatildeo coletiva A accedilatildeo coletiva

desta forma seria a maneira pela qual o individuo se faz presente nos sistemas

abstratos reforccedilando a sua capacidade transformadora desde que consiga agir em

coletividade (ASENSI 2006)

Para Olson (1999) haacute trecircs tipos de situaccedilotildees teoacutericas (ou ideais) em que os

indiviacuteduos podem estar frente agrave accedilatildeo coletiva No primeiro caso em que grupos de

indiviacuteduos jaacute adquiriram ou natildeo a consciecircncia do interesse que eacute partilhado por

todos mas os custos de empreenderem na accedilatildeo satildeo maiores em relaccedilatildeo aos

benefiacutecios que teratildeo Neste caso a accedilatildeo coletiva eacute inviaacutevel De outra forma os

indiviacuteduos jaacute compartilham objetivos mas os custos para consecuccedilatildeo do benefiacutecio

satildeo da mesma proporccedilatildeo que teratildeo de retorno se empreenderem a accedilatildeo Neste

caso a possibilidade de accedilatildeo coletiva eacute baixa Emoutra situaccedilatildeo os benefiacutecios da

accedilatildeo coletiva satildeo muito maiores do que os custos individuais Neste caso haacute

existecircncia de grupos sociais com potencialidade de accedilatildeo coletiva que satildeo os grupos

organizados

31

A accedilatildeo coletiva eacute necessaacuteria para a conquista de espaccedilos da cidadania e da

democracia que requerem mobilizaccedilatildeo social Com esse objetivo haacute accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidas por diferentes atores e sujeitos sociais movimentos

de mulheres de jovens de direitos humanos ecoloacutegicos e as mobilizaccedilotildees

pacifistas satildeo exemplos de accedilotildees coletivas cujas formas de articulaccedilatildeo mobilizaccedilatildeo

e luta expressam as caracteriacutesticas proacuteprias dos movimentos e accedilotildees coletivas da

contemporaneidade (QUEIROZ 2003)

Ramirez e Berdeguegrave (2002) entendem a accedilatildeo coletiva como uma estrateacutegia

instrumental orientada a alcanccedilar resultados Neste enfoque estes autores

destacam trecircs objetivos da accedilatildeo

(a) melhorar os ingressos ou outra dimensatildeo do bem-estar material imediato aos grupos envolvidos (b) modificar as relaccedilotildees sociais no interior de uma populaccedilatildeo especiacutefica e particularmente as relaccedilotildees de poder e (c) influenciar sobre as poliacuteticas puacuteblicas para ampliar as oportunidades de desenvolvimento e enfraquecer ou superar os sistemas de exclusatildeo e de discriminaccedilatildeo (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

Outros elementos que os autores supracitados entendem ser de uma visatildeo

realista sobre accedilatildeo coletiva satildeo

(1) a accedilatildeo coletiva natildeo se justifica por si soacute o que faz pertinente e necessaacuterio nos perguntarmos pela sua eficaacutecia (2) a accedilatildeo coletiva natildeo substitui a accedilatildeo e a responsabilidade individual mas precisa dela e ao mesmo tempo a pertencia e (3) a accedilatildeo coletiva natildeo eacute ubiacutequa e permanente mas sim acidental (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

A accedilatildeo coletiva portanto eacute capaz de promover

(a) desenvolvimento das capacidades dos indiviacuteduos (capital humano) (b) fortalecimento organizacional (c) construccedilatildeo de redes e alianccedilas sociais e (d) profundizaccedilatildeo de normas e valores (tais como a solidariedade a reciprocidade a confianccedila) que contribuem ao alcance do bem comum (capital social) (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p3)

Mas de modo geral o envolvimento dos indiviacuteduos eacute que vai dar maior ou

menor potencialidade agrave consecuccedilatildeo dos objetivos pretendidos numa accedilatildeo coletiva

Portanto eacute importante o entendimento sobre o comportamento dos indiviacuteduos E eacute

nessa direccedilatildeo que Olson (1999) iniciou sua investigaccedilatildeo sobre a participaccedilatildeo

individual na accedilatildeo coletiva conforme exposto neste trecho da sua obra

A ideacuteia de que grupos sempre agem para promover seus interesses eacute supostamente baseada na premissa de que na verdade os membros de um grupo agem por interesse pessoal individual Se os indiviacuteduos integrantes de um grupo altruisticamente desprezassem seu bem-estar pessoal natildeo seria muito provaacutevel que em coletividade eles se dedicassem a lutar por algum egoiacutestico objetivo comum ou grupal Tal altruiacutesmo eacute de qualquer maneira considerado uma exceccedilatildeo e o comportamento centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral

32

considerado a regra pelo menos quando haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas(OLSON 1999 p13)

Essa visatildeo caracteriza o individualismo metodoloacutegico ou comportamento

utilitarista Em seu trabalho Olson (1999) faz uma comparaccedilatildeo do comportamento

individual na accedilatildeo coletiva com o comportamento do mercado em concorrecircncia

Nesta analogia embora todas as empresas tenham o interesse comum em

maximizar seus lucros eacute do interesse individual de cada uma delas que as outras

paguem os custos necessaacuterios para obter preccedilos mais altos que se daria com uma

reduccedilatildeo na produccedilatildeo de outrem

Na conduccedilatildeo do seu pensamento central Olson (1999) faz uma observaccedilatildeo

para justificar o comportamento utilitarista

Ningueacutem se surpreende quando um homem de negoacutecios persegue individualmente mais lucros quando trabalhadores perseguem individualmente salaacuterios mais altos ou quando consumidores perseguem individualmente preccedilos mais baixos A ideacuteia de que os grupos tendem a agir em favor de seus interesses grupais eacute concebida como uma extensatildeo loacutegica dessa premissa amplamente aceita do comportamento racional centrado nos proacuteprios interesses (OLSON 1999 p13)

Neste sentido vecirc-se que os desejos individuais que motivam as pessoas a

buscarem melhores condiccedilotildees de vida estatildeo em diferentes contextos Entretanto a

busca por esses avanccedilos eacute perseguida racionalmente

Considerando que o termo racionalidade eacute utilizado em diferentes sentidos

Elster (1994) traz uma explicaccedilatildeo que eacute complementar para o entendimento sobre o

comportamento racional dos indiviacuteduos

Racionalidade eacute uma relaccedilatildeo entre uma crenccedila e a premissa sobre a qual esta eacute mantida mas que eacute ldquonecessaacuterio ir aleacutemrdquo assim como ldquoeacute necessaacuterio que a quantidade de indiacutecios reunidos seja de certa forma oacutetimardquo e que em muitas situaccedilotildees de escolha as probabilidades devem ser consideradas muito seriamente e agir racionalmente eacute fazer tatildeo bem por si quanto se eacute capaz Quando dois ou mais indiviacuteduos interagem eles podem fazer muito pior por si mesmos do que agindo isolados Essa eacute a premissa da teoria dos jogos Considera que toda accedilatildeo racional deve ser auto-interessada porque eacute motivada pelo prazer que proporciona ao agente (ELSTER 1994 p47-59)

A propoacutesito o que eacute considerado racional por um indiviacuteduo que faz parte de

um grupo social ao tomar uma decisatildeo em relaccedilatildeo a uma accedilatildeo coletiva pode ser

considerado irracional pelo seu par De certa forma a razatildeo eacute uma maneira de

organizar a realidade pela qual esta se torna compreensiacutevel (CHAUI 1994) Nesse

aspecto Weber (1979) deu sua contribuiccedilatildeo ao explicar que um modo de ver os

processos sociais estaacute relacionado ao modelo de racionalizaccedilatildeo do mundo moderno

33

Nesse sentido Weber (1979) entende a racionalizaccedilatildeo como o caminho que orienta

a sociedade para o mais alto grau de instrumentalizaccedilatildeo e burocratizaccedilatildeo onde a

eacutetica e os valores satildeo determinados pelos fins uacuteltimos (ALMEIDA 2007)

Portanto dadas diferentes formas de racionalidade para satisfaccedilatildeo individual

numa accedilatildeo coletiva Olson (1999) natildeo desconsiderou o valor e importacircncia de outros

fatores que tambeacutem estatildeo presentes na conduccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas relaccedilotildees

com o grupo e nas suas decisotildees de participaccedilatildeo Para este autor

ldquoos incentivos econocircmicos natildeo satildeo para os indiviacuteduos os uacutenicos incentivos possiacuteveis As pessoas algumas vezes sentem-se motivadas tambeacutem por um desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e psicoloacutegicordquo (OLSON 1999 p72)

Neste ponto de vista pode-se empregar que a racionalidade na participaccedilatildeo

natildeo estaacute fundada somente em aspectos econocircmicos mas tambeacutem em outros

incentivos sociais e psicoloacutegicos Conforme definiu Olson (1999) esta eacute uma visatildeo

mais comumente compartilhada por outros autores da ciecircncias sociais que discutem

a temaacutetica da accedilatildeo coletiva poreacutem natildeo corroborada com o sentido utilitarista

tratado por ele Mas o diferencial deste autor eacute justamente analisar conceitos das

instituiccedilotildees econocircmicas de forma distinta em diferentes situaccedilotildees na sociedade para

compreender o problema da cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos Nessa discussatildeo eacute

indispensaacutevel definir alguns conceitos instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

Entende-se por instituiccedilotildees segundo North citado em Santos (2000)

um conjunto de regras poliacuteticas sociais e legais que estabelecem as bases para a produccedilatildeo troca distribuiccedilatildeo ou produccedilatildeo correspondem ao sistem de normas ndash regras formais (constituiccedilotildees leis) restriccedilotildees informais (normas de comportamento costumes convenccedilotildees tradiccedilotildees tabus e coacutedigos de autoconduta) e sistemas de controle ndash que regulam a interaccedilatildeo humana na sociedade (SANTOS 2000 p70)

Jaacute as organizaccedilotildees conforme Santos (2000) satildeo entendidas como sendo

um grupo de indiviacuteduos dedicados a alguma atividade executada para um

determinado fim e que podem constituir-se em firmas associaccedilotildees partidos

poliacuteticos etc Segundo Olson (1999) existem organizaccedilotildees de todos os tipos

formas e tamanhos poreacutem uma caracteriacutestica comum a todas elas eacute a promoccedilatildeo

dos interesses de seus membros Para Festinger e Laski citados em Olson (1999) a

ldquoatraccedilatildeo que exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer

mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo

consecutivamente as ldquoassociaccedilotildees existem para realizar propoacutesitos que um grupo

34

de pessoas tem em comumrdquo Embora na visatildeo olsoniana frequentemente elas

sirvam a interesses puramente pessoais e individuais

Assim como o Estado eacute um tipo de organizaccedilatildeo que provecirc benefiacutecios puacuteblicos

para seus cidadatildeos similarmente outros tipos de organizaccedilotildees provecircem benefiacutecios

puacuteblicos para seus membros Deste modo conforme Olson (1999) os benefiacutecios

comuns ou coletivos proporcionados pelo governo satildeo usualmente chamados de

ldquobem puacuteblicordquo ou ldquobenefiacutecios puacuteblicosrdquo Neste caso os serviccedilos tecircm de estar

disponiacuteveis para todos se estiverem disponiacuteveis para algueacutem Portanto o bem

puacuteblico se caracteriza pela natildeo excludecircncia e indivisibilidade dos resultados

produzidos individual ou coletivamente numa organizaccedilatildeo Com outros argumentos Olson (1999) utiliza o conceito de bens puacuteblicos de

forma generalizada

o provimento de benefiacutecios puacuteblicos ou coletivos eacute a funccedilatildeo fundamental das organizaccedilotildees em geral portanto nas organizaccedilotildees a consecuccedilatildeo de qualquer objetivo comum ou a satisfaccedilatildeo de qualquer interesse comum significa que um benefiacutecio puacuteblico ou coletivo foi proporcionado ao grupo (OLSON 1999 P27-28)

Num entendimento anaacutelogo eacute que se insere o sentido do conceito de bens

puacuteblicos no cooperativismo pois uma vez constituiacuteda os benefiacutecios gerados pela

cooperativa passam a ser um bem puacuteblico para os seus associados e estes natildeo

podem ser excluiacutedos da utilizaccedilatildeo dos benefiacutecios conseguidos Mesmo que os

associados tenham participado ou natildeo da sua formaccedilatildeo ou de participarem

ativamente ou natildeo das suas accedilotildees Na praacutetica eacute de se esperar que a organizaccedilatildeo

cooperativa produza benefiacutecios a todos os associados

312 Dilemas de accedilatildeo coletiva

Para Olson (1999) numa accedilatildeo coletiva o fato de uma situaccedilatildeo ser desejaacutevel

para as pessoas envolvidas natildeo garante que essa situaccedilatildeo ideal iraacute prevalecer Ao

agir racionalmente os indiviacuteduos muitas vezes podem natildeo atingir a melhor soluccedilatildeo

mediante as circunstacircncias que se encontram Outro determinante eacute que o fato de

agirem coletivamente na implementaccedilatildeo de uma accedilatildeo natildeo garante tambeacutem a

continuidade da cooperaccedilatildeo pelos mesmos agentes jaacute que os indiviacuteduos tendem a

agir individualmente em algumas casos e em outros natildeo Portanto o interesse de

cada um eacute que vai determinar o seu grau de participaccedilatildeo

35

Surge daiacute o dilema da accedilatildeo coletiva Deste modo indiviacuteduos se empreendem

numa accedilatildeo para atender seus interesses mas natildeo conhecem integralmente as

circunstacircncias em que iratildeo fazer isso Conforme Bueno (2004) uma das razotildees

porque as pessoas natildeo podem prever as consequencias completas de suas

decisotildees eacute porque tais consequecircncias dependem do que as demais pessoas iratildeo

fazer Eacute como em um jogo

Bueno (2006) contribui ao sugerir diferentes situaccedilotildees que ilustram quando

dilemas de accedilatildeo coletiva podem ser definidos Primeiro no caso em que se observa

que a cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos se desenvolve espontaneamente agrave medida

que estes percebem os benefiacutecios muacutetuos a serem alcanccedilados em virtude do

esforccedilo coletivo Deste modo os participantes coordenam suas accedilotildees para superar

os obstaacuteculos existentes agrave accedilatildeo cooperativa Neste caso a confianccedila muacutetua eacute o preacute-

requisito para validaccedilatildeo do processo pois caso um dos participantes natildeo continue a

cooperar acarretaraacute desvantagem para aquele que cooperou A segunda

possibilidade sugerida por Bueno (2004) eacute representada pelo claacutessico Dilema do

Prisioneiro Esse eacute o mais conhecido de todos os jogos conforme relatado

sucintamente por Elster (1994)

Dois prisioneiros suspeitos de terem colaborado num crime satildeo colocados em celas separadas A poliacutecia diz a cada um que seraacute liberado (4) se denunciar o outro e este natildeo o denunciar Se denunciarem um ao outro ambos receberatildeo trecircs anos de reclusatildeo (2) Se ele natildeo denunciar o outro mas o outro o denunciar seraacute condenado a cinco anos (1) Se nenhum denunciar o outro a poliacutecia tem provas suficientes para mandar cada um agrave prisatildeo por um ano (3) (ELSTER 1994 p 45)

Nesse caso o fato dos prisioneiros natildeo se comunicarem para cada um deles

a melhor estrateacutegia eacute a natildeo cooperaccedilatildeo pois natildeo haacute possibilidade de interaccedilatildeo

entre eles por esse motivo as decisotildees satildeo tomadas isoladamente Sob o ponto de

vista do interesse individual dificilmente se chegaraacute agrave soluccedilatildeo para o dilema do

prisioneiro Pois racionalmente cada prisioneiro deveria confessar o crime mas caso

isso ocorra os dois ficariam em pior situaccedilatildeo do que se escolhessem diferente

Conclui-se com o dilema que ldquoquando cada um de noacutes individualmente escolhe

aquilo que eacute do seu interesse proacuteprio pode ficar pior do que ficaria se tivesse sido

feita uma escolha que fosse do interesse coletivordquo (Bueno 2004) Neste ponto

Elster (1994) reforccedila que a noccedilatildeo de escolha racional eacute definida para um indiviacuteduo

natildeo para a coletividade uma vez que a opccedilatildeo para um indiviacuteduo eacute superior a suas

36

outras opccedilotildees independentemente do que as outras pessoas fazem ele seria

irracional se natildeo a praticasse

Outra situaccedilatildeo comum na accedilatildeo coletiva eacute o indiviacuteduo que age como ldquofree

riderrdquo (carona) Esta deriva do fato de que indiviacuteduos preferem agindo racionalmente

beneficiar-se de soluccedilotildees coletivas sem incorrer nos custos necessaacuterios para

produzir essas soluccedilotildees e sem colaborar em nada para sua obtenccedilatildeo (BUENO

2004 e FERREIRA NETO 1996) ou seja se aproveita dos benefiacutecios sem nenhum

esforccedilo pessoal ou com qualquer tipo de contribuiccedilatildeo mas natildeo pode ser excluiacutedo

desses benefiacutecios

O problema do carona eacute observado em organizaccedilotildees cooperativas quando

associados tentam usufruir de seus serviccedilos sem empreender esforccedilos para sua

operacionalizaccedilatildeo que natildeo se efetiva somente com o fornecimento de sua produccedilatildeo

De outra forma quando o grupo de associados dominantes na gestatildeo cooperativa

conseguem defender seus interesses em detrimento dos demais cooperados estes

agem tambeacutem como ldquofree riderrdquo

Conforme Bueno (2004) ocorre um dilema de ordem social quando o grupo

consegue identificar os benefiacutecios da cooperaccedilatildeo e solucionar o problema do dilema

do prisioneiro No entanto eacute necessaacuterio desenvolver mecanismos visando garantir

aplicaccedilatildeo de normas coercitivas aos indiviacuteduos que continuarem atuando como free

riders Isso eacute assegurado por Olson (1999) ao afirmar que soacute determinados acertos

institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir

quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo

como um todo Mesmo assim conforme Bueno (1996) esse dilema torna-se de difiacutecil

soluccedilatildeo quando os indiviacuteduos natildeo participam da elaboraccedilatildeo das normas

institucionais

313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo

Mais uma visualizaccedilatildeo de problemas de accedilatildeo coletiva eacute representada na

ldquoTrageacutedia dos Comunsrdquo Esse legado de Garret Hardin permite uma ilustraccedilatildeo sobre

utilizaccedilatildeo dos recursos de um bem coletivo Embora seu trabalho tenha focado a

superpopulaccedilatildeo com a ideacuteia essencial de que a sobre exploraccedilatildeo de recursos

manejados de forma comunal tais como oceanos rios atmosfera e aacutereas de

37

parques satildeo sujeitos agrave maciccedila degradaccedilatildeo (DIEGUES E MOREIRA 2001) eacute

importante consideraacute-lo em outros estudos pois apontou em seu coloraacuterio a

necessidade de mudanccedilas sociais em grande escala para uso de bens coletivos

apoacutes sua hipoteacutetica experiecircncia de raciociacutenio

() o que ocorreria com os recursos comuns de uma determinada comunidade caso cada um de seus membros adicionasse alguns animais aos seus respectivos rebanhos Se cada pecuarista considerasse mais lucrativo criar mais animais do que uma pastagem poderia suportar uma vez que cada criador obteria todo o lucro proveniente dos animais extras e somente uma fraccedilatildeo do custo decorrente da sobre-exploraccedilatildeo das pastagens o resultado seria uma traacutegica perda de recursos para a totalidade da comunidade de pecuaristas (HARDIN CITADO EM FEENY ET ALII 2001 p18)

Com essa ilustraccedilatildeo Hardin concluiu que se houver liberdade para utilizaccedilatildeo

de recursos comuns os homens na busca de seus interesses individuais levariam

todos agrave ruiacutena Para evitar a trageacutedia dos comuns existem duas opccedilotildees ou o Estado

cria mecanismos legais para coibir determinadas praacuteticas ou a proacutepria comunidade

cria arranjos sociais e mecanismos de autodefesa (HARDIN CITADO EM FEENY ET

ALII 2001) Desta forma criam algum tipo de coerccedilatildeo que impeccedila a accedilatildeo do

indiviacuteduo no uso exagerado do benefiacutecio

Visando elucidar a extensatildeo desses argumentos no cooperativismo poderia

imaginar que se todos os soacutecios de uma cooperativa fossem utilizaacute-la como

desejassem eacute possiacutevel que seus membros procurassem utilizar a maior quantidade

de recursos possiacuteveis conseguidos coletivamente e desta maneira obter melhores

descontos nas compras ou entregar a produccedilatildeo quando melhor lhe conviesse

Nesta perspectiva haacute o pressuposto comportamental do oportunismo no

cooperativismo e neste caso o aspecto doutrinaacuterio natildeo eacute suficiente para garantir

fidelidade entre o soacutecio e a cooperativa

Conforme Zylbersztajn (2002) o compartilhamento doutrinaacuterio criou as bases

para uma linguagem comum permitindo que se faccedila referecircncia a um movimento

cooperativista internacional devidamente estruturado e regido pela ACI Por outro

lado os valores impliacutecitos nos princiacutepios deveriam inibir o comportamento egoiacutesta e

o membro que apresentasse tal comportamento deveria sofrer coaccedilatildeo pelos proacuteprios

cooperados

Entretanto as instituiccedilotildees satildeo estabelecidas com definiccedilatildeo de direitos e

obrigaccedilotildees dos soacutecios em organizaccedilotildees cooperativas que satildeo os estatutos sociais

elaborados com base nas diretrizes dos princiacutepios cooperativistasSe essas

38

instituiccedilotildees natildeo satildeo suficientes conforme Zylbersztajn (2002) o oportunismo dos

cooperados induz custos de controles aos incentivos que afetam as relaccedilotildees entre

cooperado e cooperativa

Entatildeo para este autor as instituiccedilotildees com base na doutrina cooperativista por

si natildeo eacute suficiente para coibir e superar os dilemas sugeridos por Olson (1999)

Bueno (2006) e Hardin citado em Feeny et alii (2001) encontrados em

organizaccedilotildees cooperativas conforme constatado na literatura apresentados em

Pereira (2002) Perius (1983) e Schneider (1999)

314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos Em outra abordagem Olson (1999) enfatiza o relacionamento entre membros

de diferentes grupos Sua crenccedila eacute de que conjuntos de indiviacuteduos com interesses

comuns constituem grupos com o fim de articular accedilotildees coletivas visando a

realizaccedilatildeo de tais interesses Neste caso o autor centraliza a discussatildeo sobre as

implicaccedilotildees do tamanho do grupo no processo de cooperaccedilatildeo e estabelece

situaccedilotildees que influenciam a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos na accedilatildeo coletiva

Sobre o tamanho dos grupos para Olson (1999) haacute uma efetividade distinta

entre os pequenos e grandes grupos Essa efetividade portanto vai depender de

que em qual grau a participaccedilatildeo (contribuiccedilatildeo) ou ausecircncia de participaccedilatildeo (falta de

contribuiccedilatildeo) de um ou mais membros vai influenciar sobre o custo ou benefiacutecio de

qualquer outro membro dentro do grupo Quando o nuacutemero de participantes de

uma accedilatildeo eacute grande conforme Olson (1999) o indiviacuteduo tiacutepico tem consciecircncia de

que seus esforccedilos individuais provavelmente natildeo faratildeo muita diferenccedila Ao contraacuterio

em grupos menores todos os membros teratildeo um incentivo para se esforccedilar afim de

que tudo corra bem

Nesse aspecto Olson (1999) classifica trecircs tipos de grupos privilegiados

intermediaacuterios e latentes O grupo privilegiado eacute aquele em que poucos membros

tecircm incentivos para produzir o benefiacutecio coletivo mesmo que ele tenha de arcar com

os custos da produccedilatildeo desses benefiacutecios Nesse caso a proacutepria natureza do grupo

eacute a condiccedilatildeo para que ele consiga prover os benefiacutecios coletivos

Os grupos intermediaacuterios satildeo grupos em que natildeo haacute incentivos suficientes

para que uma pessoa empreenda esforccedilos individualmente para a produccedilatildeo de

39

benefiacutecio coletivo Neste grupo natildeo haacute tantos integrantes a ponto de um membro

natildeo perceber se o outro estaacute ou natildeo ajudando a prover o benefiacutecio coletivo Por

outro lado neste grupo natildeo haveraacute nenhum benefiacutecio se natildeo houver alguma

coordenaccedilatildeo ou organizaccedilatildeo grupal

No grupo latente os membros natildeo tecircm incentivos para produzir bens

isoladamente pois sua accedilatildeo natildeo seraacute percebida pelos demais dado o grande

nuacutemero de membros Conforme Olson (1999) neste grupo somente um incentivo

independente e seletivo em relaccedilatildeo aos outros membros estimularaacute um indiviacuteduo

racional a agir de maneira grupal Assim como sugere o autor

No grupo grande e latente cada membro eacute por definiccedilatildeo tatildeo pequeno em relaccedilatildeo ao total que seus atos natildeo contaratildeo muito de um modo ou de outro em qualquer grupo grande ningueacutem tem como conhecer todos os outros membros e o grupo natildeo seraacute ipso facto um grupo de amigos Assim via de regra um iniviacuteduo natildeo se veraacute afetado socialmente se natildeo fizer os sacrifiacutecios que lhe couberem em favor da realizaccedilatildeo das metas do seu grupo (OLSON 1999 P72)

Outra caracteriacutestica que se acrescenta ao conceito de pequenos e grandes

grupos definidos por Olson foi devidamente explorada por Nassar e Zylbersztajn

(2004) Se refere agrave homogeneidade ou heterogeneidade desses grupos que

influenciam a estrutura organizacional Num grupo pequeno com interesses

homogecircneos onde todos atribuem o mesmo valor ao bem coletivo haveraacute maior

coesatildeo Caso contraacuterio o valor atribuiacutedo tende a se alterar e a probabilidade de

coesatildeo cai

Com relaccedilatildeo ao grande grupo conforme Nassar e Zylbersztajn (2004)

quando satildeo homogecircneos as accedilotildees implementadas tendem a alinhar-se com os

objetivos preacute-estipulados enquanto que nos grupos grandes heterogecircneos em

virtude dos custos de monitoramento nem sempre as accedilotildees vatildeo ser equivalentes

aos objetivos estabelecidos Nessa observaccedilatildeo o autor constatou que quando o

grande grupo eacute heterogecircneo na sua base seus objetivos tenderatildeo a ser difusos e

generalistas

Nassar e Zylbersztajn (2004) portanto corroboram o argumento de que a

heterogeneidade do grupo leva a conflitos entre seus membros comuns aos

expostos por Pereira (2002) e Perius (1983) jaacute apresentado neste trabalho Portanto

esses primeiros autores sinalizam necessidades de maior atenccedilatildeo pela gestatildeo ao

lidar com as caracteriacutesitcas do grupo heterogecircneo devido agrave dificuldade de

comunicaccedilatildeo para coordenaccedilatildeo dos membros associados

40

A conclusatildeo geral de Olson eacute de que grupos pequenos atuam com maior

eficiecircncia e isso se evidencia pela experiecircncia praacutetica quando se observa a forccedila e o

poder residente na existecircncia de comitecircs subcomitecircs e pequenos grupos de

lideranccedila Conforme Olson (1999) ldquoos comitecircs devem ser pequenos quando se

espera accedilatildeo e relativamente grandes quando se buscam pontos de vista reaccedilotildeesrdquo

Outros autores (JAMES 1951 HARE 1952) citados em OLSON (1999) corroboram

que grupos e subgrupos ativos tendem a ser muito menores do que os grupos e

subgrupos que natildeo agem

Essa discussatildeo suscita a necessidade de saber se haacute uma definiccedilatildeo sobre o

nuacutemero apropriado de membros para se efetivar melhor participaccedilatildeo dos indiviacuteduos

em uma accedilatildeo coletiva Sobre isto Olson (1999) considera que haacute uma dificuldade de

se analisar o tamanho do grupo e o comportamento do individuo poreacutem faz uma

alusatildeo aos pequenos e grandes grupos com as mudanccedilas das sociedades primitivas

para as sociedades modernas

nas sociedades primitivas os pequenos grupos primaacuterios prevaleceram porque eram mais adequados ( ou pelo menos suficientes) para desempenhar certas funccedilotildees para o povo dessas sociedades Nas sociedades modernas em contraste presume-se que predominem as grandes associaccedilotildees porque na conjuntura moderna soacute elas satildeo capazes de desempenhar ( ou satildeo mais aptas a desempenhar) certas funccedilotildees uacuteteis ao povo dessas sociedades (OLSON 1999 p32)

Deste modo Olson (1999) constata que haacute um ldquoinstintordquo ou ldquotendecircnciardquo para

formar associaccedilotildees que se manifestam tanto nos pequenos grupos familiares e de

parentesco das sociedades primitivas quanto nas grandes associaccedilotildees voluntaacuterias

das sociedades modernas

O autor verifica tambeacutem que os pequenos grupos quando organizados

costumam reunir e empregar todas as suas energias ao passo que nos grupos

grandes essas energias permanecem com muito mais frequumlecircncia em estado

potencial jaacute que os membros natildeo dedicam ao grupo toda sua capacidade produtiva

Outra observaccedilatildeo empregada por Olson (1999) para justificar sua tese eacute que ldquono

niacutevel do pequeno grupo a sociedade conseguiu coesatildeordquo portanto eacute proposto que

em grupos maiores deva-se manter alguns traccedilos do pequeno grupo

Um importante aspecto observado por Olson (1999) eacute sobre o consenso

grupal Conforme o autor natildeo eacute de se esperar que haja consenso numa accedilatildeo

grupal pois isso raramente pode ocorrer Mas conforme este autor eacute importante

41

distinguir entre os obstaacuteculos agrave accedilatildeo coletiva que se devem de um lado agrave falta de

consenso no grupo e de outro os que se devem agrave falta de incentivos individuais Se

houver muitos desacordos conforme o autor natildeo haveraacute esforccedilo coordenado e

voluntaacuterio mas se houver um alto grau de concordacircncia a respeito do que se quer e

da forma de obtecirc-lo eacute quase certo que haveraacute accedilatildeo grupal eficiente

Mais uma constataccedilatildeo que deve ser considerada conforme Olson (1999) eacute

que em casos que natildeo haja nenhum incentivo econocircmico para que um indiviacuteduo

contribua para a realizaccedilatildeo de um interesse grupal pode haver contudo um

incentivo social para que ele decirc sua contribuiccedilatildeo Nestes casos o autor considera

status desejo de prestiacutegio respeito aceitaccedilatildeo pelo grupo motivaccedilotildees de fundo

social e psicoloacutegico Essas consideraccedilotildees justificam a existecircncia de diferentes

motivaccedilotildees para se unir a um grupo podem tambeacutem estar associadas agraves

necessidades gerada por ldquodesejos e oportunidadesrdquo ou preferecircncias dos indiviacuteduos

ao objetivo que se espera alcanccedilar conforme descrito anteriormente No entanto

para Olson (1999) os incentivos sociais e pressatildeo social funcionam somente em

grupos de tamanho menor em grupos pequenos o bastante para que cada membro

possa ter um contato face a face com todos os demais jaacute em grupos grandes Soacute determinados acertos institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo como um todo Mesmo em grupos menores o benefiacutecio geralmente natildeo seraacute provido em um niacutevel oacutetimo mas quanto maior for o grupo mais longe ficaraacute de atingir o ponto oacutetimo de provimento do benefiacutecio coletivo Tal subotimalidade poderaacute ser superada em grupos marcados pela disparidade de recursos individuais ou intensidade de interesse no bem puacuteblico entre seus membros Tal configuraccedilatildeo implicaraacute entretanto em uma tendecircncia agrave exploraccedilatildeo do grande pelo pequeno participantes do interesse grupal (OLSON 1999 p47)

Tomando-se como base esta afirmativa e conforme mostram os dados

apresentados anteriormente nas cooperativas agropecuaacuterias de leite haacute grupos

distintos de produtores conforme os estratos sociais de produccedilatildeo Nesses grupos

haacute um nuacutemero muito maior de pequenos produtores em relaccedilatildeo a grandes

produtores em seus quadros sociais Estes pequenos produtores somam um

montante menor em volume de leite em relaccedilatildeo ao volume dos grandes produtores

Sendo assim os grandes produtores formam um nuacutemero menor de membros

associados agrave cooperativa Entatildeo estes tecircm mais possibilidades de se organizarem e

fazer prevalecer seus interesses em relaccedilatildeo aos pequenos produtores Situaccedilatildeo

caracteriacutestica das anaacutelises realizadas pela Teoria da Escolha Racional

42

O comportamento de indiviacuteduos em accedilatildeo coletiva eacute tambeacutem estudado em

outras vertentes Dentre outros autores Mary Douglas (1998) critica as proposiccedilotildees

de Olson que aqui foram expostas Um ponto inicial que distancia os dois autores

eacute sobre a racionalidade Os neo-institucionalistas corrente teoacuterica de Douglas

definem a racionalidade dos agentes como sendo limitada e portanto dependente

do apoio institucional quando da tomada de decisotildees enquanto para Olson (1999)

o indiviacuteduo como um ser racional toma suas decisotildees baseado no conhecimento

(ALCAcircNTARA 2003) Para a antropoacuteloga natildeo existe a possibilidade de descartar os

problemas enfrentados por uma comunidade pequena na explicaccedilatildeo da accedilatildeo

coletiva neste ponto ela concorda com Olson (1999) mas aponta como falha na

argumentaccedilatildeo deste autor a alegaccedilatildeo de que em escala pequena o grupo promove

confianccedila muacutetua no sentido de que a confianccedila muacutetua eacute a base da comunidade

Olson (1999) natildeo expotildee isso diretamente mas ao valorizar as caracteriacutesticas de

pequenos grupos das comunidades primitivas fica impliacutecita essa consideraccedilatildeo pois

eacute certo que confianccedila eacute uma instituiccedilatildeo presente nesse tipo de grupo Caso ela seja

quebrada por um membro este sofre as coerccedilotildees pelo proacuteprio grupo em relaccedilatildeo ao

seu comportamento O que Olson (1999) defende eacute que por si soacute a confianccedila na

cooperaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para garantir que indiviacuteduos cooperem numa accedilatildeo

coletiva

Douglas (1998) se mostra ambiacutegua pois para ela a solidariedade soacute eacute

possiacutevel quando os indiviacuteduos compartilham categorias de pensamento Mas

fundamentada em Durkheim considera que para compreender a solidariedade eacute

necessaacuterio examinar formas elementares de sociedade ou seja aquelas que natildeo

dependem das trocas de serviccedilos e produtos diferenciados Sob esse aspecto

portanto Olson natildeo se contradiz por deixar claro que suas colocaccedilotildees satildeo

consideradas para grupos que tenham uma atividade econocircmica envolvida Douglas

(1998) ressalta ainda que a maior parte das organizaccedilotildees tem seu iniacutecio sob forma

de comunidades pequenas Nesse ponto Olson (1999) natildeo se descuidou dessa

prerrogativa pois natildeo desconsidera essa perspectiva ao afirmar que todo ldquogrande

grupo deveria manter algumas caracteriacutesticas de pequeno grupordquo dadas as suas

vantagens

Outro ponto para Douglas eacute que a instituiccedilatildeo interfere fornecendo a visatildeo

que o indiviacuteduo teraacute sobre determinado problema Neste caso o indiviacuteduo transfere

43

a ela a responsabilidade de decidir em seu nome Mesmo que essa transferecircncia

natildeo seja nominal uma vez que este natildeo deixa de responder ao que se questiona

Poreacutem ele atribui a sua resposta aos preceitos (valores) fornecidos pela instituiccedilatildeo agrave

qual ele encontra-se afiliado ou agrave qual ele recorreu (ALCAcircNTARA 2003)

Haacute ambiguumlidade em Douglas (1989) tambeacutem neste ponto A autora natildeo nega

o fato de que as instituiccedilotildees satildeo formadas de indiviacuteduos que iratildeo imprimir nestas

caracteriacutesticas suas influenciando na sua estrutura interna Ainda segundo a autora

satildeo os indiviacuteduos um a um que escolhem agir de dada forma Deste modo a autora

daacute abertura para inferirmos que se a instituiccedilatildeo influencia na accedilatildeo do indiviacuteduo

pode-se dizer sim que ela tem autonomia Se os indiviacuteduos agem agrave sua proacutepria

maneira entatildeo natildeo haacute garantia de que os indiviacuteduos que estatildeo no centro das

instituiccedilotildees compartilharatildeo a melhor escolha que seria vista pelo indiviacuteduo externo

Conforme Alcacircntara (2003) para Douglas um grupo agiraacute portanto de

determinada forma natildeo somente devido agraves necessidades e caracteriacutesticas de seus

integrantes mas de acordo com os preceitos institucionais que orientam as suas

accedilotildees ldquoas instituiccedilotildees antecipam a accedilatildeo coletivardquo Neste ponto na oacutetica de Olson

(1999) poder-se-ia interpretar isso diferentemente

A conclusatildeo eacute de que o aprofundamento dos estudos de Olson (1999) na

discussatildeo sobre o comportamento dos indiviacuteduos nos diferentes tamanhos de

grupos na accedilatildeo coletiva eacute um ponto relevante para valorizaccedilatildeo da sua teoria pois

um desafio dos proacuteprios membros de organizaccedilotildees coletivas eacute justamente ter

habilidade para lidar com as diferentes situaccedilotildees que surgem agrave medida que a

organizaccedilatildeo cresce

Portanto natildeo se esgotam aqui as consideraccedilotildees sobre as interpretaccedilotildees de

Olson (1999) no entanto face agrave afinidade e consenso com a teoria da escolha

racional eacute que seraacute feito a interpretaccedilatildeo dos resultados obtidos com a pesquisa de

campo a partir da realidade vivida pelo produtor rural enquanto membro de

cooperativa agropecuaacuteria onde se formaliza sua participaccedilatildeo na coletividade para

defesa de seus interesses Segue-se antes a apresentaccedilatildeo dos ldquodilemas do

cooperativismordquo no desenvolvimento social e econocircmico da organizaccedilatildeo

cooperativa

315 Dilemas do Cooperativismo

44

No cooperativismo accedilotildees coletivas acontecem numa primeira ordem entre os

associados e numa segunda ordem entre as cooperativas e outras empresas A

analogia feita por Olson (1999) sobre o comportamento do mercado competitivo com

a accedilatildeo coletiva natildeo estaacute distante do que se observa nos dois casos Entatildeo

conforme as accedilotildees que norteiam a adaptaccedilatildeo de cooperativas ao ambiente

competitivo origina-se o grande desafio em escolher estrateacutegias capazes de manter

seu papel de sistema produtivo centrado no homem e ao mesmo tempo tornar-se

uma organizaccedilatildeo apta a competir com empresas que satildeo orientadas exclusivamente

para o mercado (FERREIRA e BRAGA 2002) Ao centro encontra-se o cooperado

que fica entre cooperar ou natildeo e participar ou natildeo das accedilotildees de tomada de decisotildees

que influenciam no seu proacuteprio desenvolvimento e posicionamento das cooperativas

nesse ambiente

Quanto agrave anaacutelise da influecircncia do tamanho das cooperativas e a participaccedilatildeo

social pode-se inferir que agrave medida que as cooperativas crescem aumentam

tambeacutem as dificuldades de participaccedilatildeo ativa dos membros uma vez que estes

estaratildeo cada vez mais distantes das instacircncias de poder Aleacutem disso haacute registros de

que em alguns casos a questatildeo gerencial permite que esta se distancie tambeacutem dos

objetivos iniciais dos soacutecios como constatado por Duarte (2006) Pereira (2002) e

Perius (1983)

Um dilema que se instala jaacute na sua base eacute que na praacutetica dos princiacutepios

cooperativistas o fato de ser ldquoaberta a todas as pessoasrdquo uma mesma cooperativa

tem interfaces positivas que eacute a natildeo discriminaccedilatildeo das pessoas com neutralidade

social e racial poliacutetica e religiosa (Pereira 2002) e negativas causadas pela

heterogeneidade que se forma no quadro social dadas as consequumlecircncias jaacute

apresentadas neste trabalho Reforccedilado neste caso tanto por Olson (1999) quanto

por Douglas (1989) ao concordarem que a homogeneidade do grupo facilita sua

unidade e a promoccedilatildeo da accedilatildeo Deste modo os ldquodilemas do cooperativismordquo

conceituados por Pereira (2002) levam agrave dificuldade de cumprir a previsatildeo de

ldquoigualdade e participaccedilatildeo ativa dos soacuteciosrdquo

Essa eacute uma discussatildeo de difiacutecil consenso pois Schneider (1999) afirma que

Em muitos paiacuteses a adequaccedilatildeo dos seus valores princiacutepios ou normas agrave realidade cultural social e poliacutetica local se realizou de forma difiacutecil contraditoacuteria e lenta nos uacuteltimos anos assim como a necessidade de adequar-se a um mercado

45

cada vez mais competitivo obrigou muitas cooperativas a criar organizaccedilotildees grandes e administrativamente complexas por esse motivo tende a distanciar da sua funccedilatildeo social assim como dificultar a participaccedilatildeo do conjunto de associados (SCHNEIDER1999 p20-21)

Essa dificuldade eacute apontada por Boesche e Mafioletti (2007) como um desafio

a ser resolvido

O grande desafio da cooperativa eacute encontrar o ponto de equiliacutebrio entre os interesses de cada membro que compotildee a sociedade e os objetivos coletivos simbolizados na necessidade de permanecer ativa e dinacircmica Na praacutetica existe uma grande tensatildeo entre as dimensotildees econocircmica e social Poreacutem quando uma das duas eacute subestimada a cooperativa perde a sua identidade Manter o equiliacutebrio entre ambas as dimensotildees natildeo eacute uma tarefa simples pois se trata do relacionamento com pessoas o que nem sempre eacute faacutecil de administrar (BOESCHE e MAFIOLETTI 2007 p9)

A pressatildeo sobre o cooperativismo que o deixa voluacutevel em seus princiacutepios

tem origem tambeacutem na gestatildeo da poliacuteticas puacuteblicas A exemplo do cooperativismo

agropecuaacuterio dentre motivaccedilotildees e incentivos a organizaccedilatildeo de produtores rurais

tecircm sido estimuladas pelo Estado que exige a constituiccedilatildeo juriacutedica de cooperativas

associaccedilotildees conselhos comissotildees ou comitecircs para que possam ter acesso a

recursos oferecidos por programas de governo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas que

objetivam o seu desenvolvimento e sustentabilidade assim como indicados por

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Deste modo por meio de organizaccedilotildees

cooperativas o Estado tem facilitado acesso ao creacutedito fomento agrave agricultura

familiar e outros recursos que favorecem os produtores que a elas estatildeo associados

Entretanto organizaccedilotildees tecircm sido formadas sem a atenccedilatildeo que deveria ser

dada agraves condiccedilotildees proacuteprias dos membros e dos lugares que elas se desenvolvem

Por outro lado pensar na formaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo sem que os membros

tenham tido interaccedilotildees anteriores para que se desenvolva confianccedila no grupo

dificilmente haveraacute cooperaccedilatildeo e consequentemente desejo de participaccedilatildeo

premissa que eacute corroborada por Bueno (2004)

O que mostra Schneider (1981) e Campanhola e Graziano da Silva (2000) eacute

que nas comunidades tem havido formas de manipulaccedilatildeo na composiccedilatildeo de

conselhos comissotildees cooperativas e associaccedilotildees rompendo-se com a ideacuteia

original de representatividade democraacutetica para a defesa do exerciacutecio da cidadania

Eacute possiacutevel que ocorrecircncias dessa natureza sigam em ambiente de cooperativas

pois essa condiccedilatildeo se perpetua com tendecircncias de crescimento de cooperativas que

tendem a reproduzir e mesmo reforccedilar as condiccedilotildees estruturais vigentes na

46

sociedade (Schneider1981) Com a mesma opiniatildeo Pereira (2002) diz que o modo

de produccedilatildeo capitalista se reproduz no interior das cooperativas

Diferente de como observam estes autores grande parte da literatura que

trata do tema natildeo considera tais conflitos e outros problemas que decorrem das

diferenccedilas sociais do tamanho das cooperativas e a baixa participaccedilatildeo dos

associados nestas organizaccedilotildees

Para Schneider (2001) cooperativas que querem ser fieacuteis aos ideais dos

pioneiros devem abraccedilar o conjunto de princiacutepios por eles formulados e depois

redefinidos pelas instituiccedilotildees herdeiras ldquosegundo as necessidades de cada eacutepocardquo

Nesse aspecto o autor define fatores internos tradicionais e fatores decorrentes da

mudanccedila na estrutura e na organizaccedilatildeo de cooperativas como desafios agrave

ldquodemocracia-participaccedilatildeo cooperativardquo

bull pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias

bull os integrantes da direccedilatildeo geralmente provecircm dos estratos soacutecio-econocircmicos meacutedios ou altos

bull os proacuteprios associados em geral estatildeo mais interessados em obter benefiacutecios e vantagens econocircmicas imediatas sem uma correspondente assunccedilatildeo consciente da cooperativa como organizaccedilatildeo especiacutefica com a contrapartida de obrigaccedilotildees e compromissos para com sua organizaccedilatildeo

bull a transformaccedilatildeo na estrutura das organizaccedilotildees cooperativas muito influenciou na vigecircncia da democracia-participaccedilatildeo e autonomia cooperativa

bull cooperativas pequenas administrativamente simples e vizinhas ao homem apresentavam um estilo de democracia diferente do estilo de democracia e autonomia que se daria com a evoluccedilatildeo mais recente das cooperativas e ao assumirem dimensotildees empresariais tornando-se cooperativas grandes e espacialmente extensas poderosas e administrativamente complexas (SCHNEIDER 1999 p20-21)

Esses fatores sinalizam situaccedilotildees que dificultam tanto a oportunidade quanto

o interesse dos soacutecios em melhorar a participaccedilatildeo o que justifica a existecircncia de

problemas de accedilatildeo coletiva Surge por isso a necessidade de maior coerecircncia social

nas cooperativas a fim de permitir melhor funcionamento assim como maior

interaccedilatildeo entre as pessoas

A questatildeo espacial pode ser relevante pois o que constroacutei o fortalecimento

dos grupos satildeo as relaccedilotildees e interaccedilotildees entre as pessoas e os benefiacutecios que

surgem destas O processo de desenvolvimento das cooperativas como mostrado

por Schneider (1999) favorece esse dilema Nesse aspecto como cooperativas que

47

tecircm sido desenvolvidas nesse modelo poderiam funcionar em diferentes tamanhos

possibilitando a participaccedilatildeo dos soacutecios como preconizado originalmente no

princiacutepio cooperativista para conseguir atingir seus objetivos

Conforme a perspectiva interpretativa de Ferreira Neto (1996) ao abordar

sobre ponto comum do corporativismo e pluralismo indiviacuteduos agem racionalmente

no sentido de organizar e articular seus interesses como forma de maximizar suas

possibilidades de realizaccedilatildeo exitosa deste modo a escolha do indiviacuteduo se daacute num

caacutelculo de custo benefiacutecio elaborado Essa afirmaccedilatildeo estaacute em sintonia com os

argumentos de Olson (1999) sobre o grau de participaccedilatildeo individual numa causa

conforme seus interesses Sob este ponto de vista as cooperativas satildeo em muitos

casos a uacutenica forma de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo de produtores rurais Dentre os

incentivos esta seria uma motivaccedilatildeo para participar

Deste modo pode-se inferir que a participaccedilatildeo no cooperativismo natildeo estaacute

relacionada somente a uma preferecircncia individual mas uma necessidade gerada por

oportunidades pois ao considerar suas alternativas a associaccedilatildeo agrave cooperativa

supre sua capacidade cada vez menor de negociar sozinho sua produccedilatildeo Nesta

linha de pensamento o interesse em associar eacute motivado pela possibilidade de

utilizar a cooperativa como canal de comercializaccedilatildeo entre outros benefiacutecios Entre

os membros desse quadro encontram-se em maior nuacutemero os pequenos produtores

rurais entatildeo poder-se-ia dizer que estes deveriam ser os mais interessados em

participar na articulaccedilatildeo de estrateacutegias da cooperativa Mas o que se observa eacute que

o pequeno produtor participa menos das tomadas de decisotildees

Valadares (2005) mostra que a institucionalizaccedilatildeo da participaccedilatildeo cooperativa

por meio do Comitecirc Educativo cria na cooperativa um espaccedilo para a reproduccedilatildeo das

contradiccedilotildees da sociedade ou para operacionalizaccedilatildeo de mudanccedilas O estudo deste

autor revela que a racionalidade no Comitecirc Educativo eacute proacutepria dos modelos teoacutericos

de desenvolvimento humano e de produtividade e eficiecircnica e o quadro de referecircncia

dos participantes nas atividades deste Comitecirc eacute determinado por uma visatildeo

particular individual e de interesse pessoal dos dirigentes em relaccedilatildeo ao resultado

pretendido com o envolvimento das comunidades no processo decisoacuterio Este

contribui eficazmente para o aprimoramento das condiccedilotildees tecnoloacutegicas da

produccedilatildeo de leite mas natildeo prepara o cooperado para participar politicamente da

gestatildeo da empresa

48

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Pereira (2002) assim como

Schneider (1981) mostram que formas de subordinaccedilatildeo se perpetuam em

organizaccedilotildees cooperativas Isso mostra que associados cooperam individualmente

com as lideranccedilas que permanecem em atividade sem maior envolvimento em suas

accedilotildees Neste caso as motivaccedilotildees para deixaacute-los nesse quadro poderiam ser

ilustradas de duas formas pelo dilema do prisioneiro e pelo caso free rider

Os conceitos de saiacuteda e voz desenvolvidos por Hirschman (1996) citado em

Machado (2007) ajudam a definir essa relaccedilatildeo Para esse autor a forma que

agentes insatisfeitos manifestam sua indignaccedilatildeo com o natildeo atendimento de suas

expectativas acontecem pela

saiacuteda como pura e simplesmente o ato de partir em geral porque se julga que um bem serviccedilo ou benefiacutecio melhor eacute fornecido por outra firma ou organizaccedilatildeordquo enquanto a ldquovozldquoeacute o ato de reclamar de organizar-se para reclamar ou protestar com a intenccedilatildeo de obter diretamente uma recuperaccedilatildeo da qualidade que foi prejudicada (HIRSCHMAN 1996 p 20 )

Segundo MACHADO (2007) de modo geral ainda para Hirschman a relaccedilatildeo

principal entre saiacuteda e voz eacute a de que ldquoa voz pode ser vista como sobra Quem natildeo

usa a saiacuteda eacute candidato agrave vozrdquo O uso da voz eacute bastante influenciado pelo tipo de

organizaccedilatildeo

Mesmo que hajam interaccedilotildees entre os soacutecios a oportunidade de

manifestar e concretizar opiniotildees que resultam na tomada de decisotildees se daacute em

assembleacuteias Nesse caso se o produtor manifestar sua opiniatildeo contraacuteria a dos

gestores mesmo que outros produtores sejam da mesma opiniatildeo ele natildeo tem

certeza de que seraacute apoiado pelos demais Entatildeo ele prefere cooperar que eacute manter

o status quo do quadro exposto Se os outros pensarem da mesma forma ocorre

como no dilema do prisioneiro natildeo haveraacute cooperaccedilatildeo A situaccedilatildeo iraacute perpetuarPor

outro lado pode ser racional no sentido de que o produtor pode optar por natildeo

participar jaacute que o envolvimento demanda o custo do seu tempo de trabalho que

poderia ser empregado em outra atividade na sua propriedade Mesmo sem

participar ele tem garantida sua parcela nos benefiacutecios puacuteblicos do cooperativismo e

nos resultados uma vez que as sobras satildeo distribuiacutedas proporcionais ao volume de

produccedilatildeo entregue agrave organizaccedilatildeo De outra forma sua falta de participaccedilatildeo tambeacutem

natildeo o impede de usar serviccedilos que satildeo disponibilizados a todos Isso pode ser

tambeacutem outro exemplo do comportamento free rider (carona) no cooperativismo

49

Deste modo o custo de agirem como ldquocaronardquo nessa situaccedilatildeo eacute refletido

como incentivo agrave pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias como exposto por

Schneider (1999) Eacute incentivo tambeacutem para que o pequeno grupo que lidera a

cooperativa tenha outros benefiacutecios por permanecerem nos cargos ainda que

sejam incentivos natildeo econocircmicos como status e prestiacutegio demonstrados em

(OLSON 1999) que geram outros benefiacutecios para si

Outro dilema comum no cooperativismo que envolve o problema do carona

surge conforme Zylbersztajn (2002) quando existem problemas de observabilidade

e monitoramento tornando possiacutevel um agente comportar-se oportunisticamente

Neste caso a utilizaccedilatildeo dos serviccedilos da cooperativa pelos cooperados pode incorrer

no problema do carona

quando a assistecircncia teacutecnica for demandada em demasia por um produtor ou quando o membro da cooperativa adquirir os insumos da cooperativa ou ainda quando um natildeo cooperado entregar o produto para a cooperativa por meio de um membro auferindo eventuais vantagens para as quais natildeo contribuiu (ZYLBERSZTAJN 2002 p 60)

Outro dilema que se identifica eacute o da gestatildeo participativa Tendo em vista que

em funccedilatildeo da diversidade de atuaccedilatildeo na cadeia produtiva a montante e a jusante a

cooperativa torna-se uma organizaccedilatildeo complexa Deste modo conforme

Zylbersztajn (2002) Quando ocorre a gestatildeo pelo cooperado de organizaccedilotildees com elevado grau de complexidade a cooperativa incorre em um problema de separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle da corporaccedilatildeo A natildeo separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle introduz ineficiecircncias que se tornam relevantes e o cooperado que gerencia com sucesso um empreendimento cooperativo no seu iniacutecio tenderaacute a perder eficiecircncia (ZYLBERSZTAJN 2002 p59)

Portanto exige-se que o gestor da organizaccedilatildeo cooperativa tenha habilidades

que podem natildeo ser encontradas dentro seu quadro social Por esse motivo o grupo

de produtores responsaacuteveis pela gestatildeo se vecirc por decidir contratar um especialista

em gestatildeo ou eles mesmo reconhecendo suas limitaccedilotildees executam a tarefa de

dirigentes

Estudos de Perius (1983) e Schneider (1999) mostram que quando se tem um

gestor natildeo soacutecio responsaacutevel pelo desenvolvimento da empresa cooperativa em

muitos casos este tende a priorizar decisotildees que melhor atenderatildeo agrave empresa do

que as necessidades dos associados Daiacute surge um dilema Os soacutecios tecircm que

decidir por deixar que a empresa cooperativa seja gerida profissionalmente face agrave

necessidade criada pelo proacuteprio ambiente econocircmico que estaacute instalada ou arrisca-

50

se em ser auto-gerida conforme prevecirc o princiacutepio da autogestatildeo mas neste caso

corre-se o risco de natildeo ter eficiecircncia como prevecirc o economista Zylbersztajn (2002)

No estudo sobre problemas estruturais do cooperativismo Perius (1983)

exprime uma melhor explicaccedilatildeo para identificaccedilatildeo deste dilema

() o poder interventaacuterio como medida saneadora de maacutes administraccedilotildees vem a ferir a natureza privada das sociedades cooperativas que como sociedades de pessoas devem ser geridas e ldquoautocontroladasrdquo pelos proacuteprios associados Infelizmente a participaccedilatildeo associativa e operacional dos associados na vida das cooperativas eacute muito fraca O princiacutepio do controle democraacutetico pelo qual as decisotildees satildeo tomadas pela maioria eacute constantemente esquecido pois minorias acabam homologando via de regra as decisotildees anteriormente arquitetadas estudadas e projetadas (PERIUS 1982 p101)

Amodeo (2001) concorda com Perius (1982) e Pereira (2002) ao se referir a

um possiacutevel comprometimento da supremacia dos princiacutepios em alguns casos de

organizaccedilotildees cooperativas frente a estrateacutegias utilizadas na gestatildeo Segundo esta

autora muitas vezes esses valores e princiacutepios natildeo satildeo considerados em toda sua

magnitude na gestatildeo de organizaccedilotildees cooperativas

Todas essas questotildees tecircm ao centro o comportamento dos indiviacuteduos que se

associam e formam as cooperativas Pinho (1982) descreve que o ldquohomus

cooperativusrdquo da forma concebida por alguns estudiosos do cooperativismo eacute

apenas uma abstraccedilatildeo que permanece no campo do comportamento ideal ou seja

o que seria o comportamento esperado do individuo no cooperativismo

o ldquohomem cooperativordquo eacute honesto justo respeitoso solidaacuterio e responsaacutevel Age animado de ldquoespiacuterito cooperativistardquo ou seja de uma atitude interior de compreensatildeo de aprovaccedilatildeo e de adesatildeo agrave moral cooperativa assim como agraves finalidades e objetivos dos quais as cooperativas satildeo o meio E ao mesmo tempo agraves razotildees de ser qualitativas e profundas dessas finalidades Natildeo se trata somente de uma crenccedila intelectual mas tambeacutem de um sentimento e de uma vontade que se situam ao niacutevel da consciecircncia moral (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

De outra forma mostra tambeacutem o comportamento individual na praacutetica

cooperativista

a pluralidade de papeacuteis atribuiacutedos ao homem cooperativo dificulta o ajustamento na pessoa do cooperado de comportamentos tatildeo diferentes de associado cooperado ou cooperador proprietaacuterio empresaacuterio administrador gerente fiscal usuaacuterio etc (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

Portanto o dilema do ldquohomem cooperativordquo reflete na realidade o caraacuteter

racional dos indiviacuteduos Outra percepccedilatildeo de Pinho (1982) neste contexto eacute natildeo

ignorar que a associaccedilatildeo se daacute com objetivos pessoais afim de realizar suas

atividades econocircmicas com mais eficaacutecia o que corrobora pressupostos da Teoria

da Escolha Racional em que o indiviacuteduo age segundo seus caacutelculos racionais de

51

forma exitosa A autora mostra entretanto essa relaccedilatildeo de racionalidade na accedilatildeo

do associado Para Pinho (1982) o soacutecio age tambeacutem conforme a necessidade de

ajustamento da sua participaccedilatildeo na realizaccedilatildeo de suas obrigaccedilotildees com a

cooperativa Ou seja mostra o ponto de vista do associado que renuncia sua

autonomia racionalmente Como associado-empresaacuterio-usuaacuterio racional o cooperado renuncia a uma parte de sua autonomia e de seu poder para se unir cooperativamente a outros empresaacuterios submetendo-se aos princiacutepios de igualdade e da gestatildeo democraacutetica bem como agrave formaccedilatildeo de um patrimocircnio ou acervo de utilizaccedilatildeo coletiva mas impartilhaacutevel entre os associados Aceita limitaccedilotildees agrave sua decisatildeo pessoal imposta pelas assembleacuteias gerais de cooperados em troca de determinadas vantagens (PINHO 1982 p 66)

Deste modo o comportamento do cooperativo representa um tipo de ajustamento ao meio tal como este eacute percebido ndash natildeo pelo idealista romacircntico ndash mas pelo cooperado-produtor ou pelo cooperado empresaacuterio-usuaacuterio Como o meio ambiente percebido eacute dinacircmico haacute um permanente esforccedilo de ajustamento agraves mudanccedilas e de elaboraccedilatildeo de ldquoplanos cooperativos adequados agrave realidade (PINHO 1982 p 66)

Esta autora manifesta assim sua opiniatildeo sobre o instrumentalismo

cooperativista embora natildeo aprofunde nessa discussatildeo Pinho (1982) considera que

esse comportamento eacute amplamente utilizado seguindo as regras praacuteticas de

funcionamento concebidas pelos idealizadores do cooperativismo mas sem o

objetivo de reformar a sociedade isto eacute para a solidariedade Deste modo a autora

corrobora com a opiniatildeo de que a doutrina cooperativista por si soacute natildeo tem sido

eficaz para impedir que o comportamento tipicamente utilitarista comum do modelo

capitalista assim como problemas do dilema do prisioneiro e oportunismo sejam

encontrados em cooperativas

O desenvolvimento social e consequumlente melhoria na qualidade de vida dos

soacutecios satildeo entendidos como objetivo finaliacutesitico de uma cooperativa por meio da

promoccedilatildeo econocircmica natildeo obstante a isso autores fazem discussatildeo em torno dos

meios para conseguir esse fim De modo geral a forma de destinar os recursos

obtidos com o resultado das operaccedilotildees econocircmicas da cooperativa eacute em si um

dilema Pois os associados eacute que tomam tais decisotildees Mais frequentemente o

investimento tem sido feito na proacutepria cooperativa dadas as necessidades de

modernizaccedilatildeo o recurso deixa de ser utilizado pelo associado em seu benefiacutecio

proacuteprio

52

Quando ele aprova a integralizaccedilatildeo do capital que eacute o investimento na

proacutepria cooperativa ao inveacutes de decidir pela distribuiccedilatildeo este abre matildeo de suas

vontades e necessidades pessoais em benefiacutecio do coletivo Se nesta decisatildeo se o

associado natildeo estiver sob nenhuma pressatildeo coercitiva como no exemplo do dilema

do prisioneiro este estaraacute cumprindo seu papel do ldquohomus cooperativusrdquo como

definido por Pinho (1982) A necessidade desse tipo de accedilatildeo deve estar clara para o

indiviacuteduo que queira fazer parte de uma cooperativa pois esse eacute o comportamento

que se espera do cooperado

De outra forma conforme Pinho (1982) haacute um dilema entre a praacutetica

cooperativista de inspiraccedilatildeo rochdaleana e a praacutetica cooperativista sem Rochdale

isto eacute marcado tatildeo somente quando haacute uma racionalidade econocircmica e

administrativa da empresa cooperativa sem adesatildeo agrave moral cooperativista

Deste modo haacute uma diferenccedila qualitativa na eficaacutecia da cooperativa mesmo

que ambos os casos tenham resultados econocircmicos eficientes Haacute portanto uma

definiccedilatildeo distinta entre eficiecircncia e eficaacutecia que pode ser tomada para chamar a

atenccedilatildeo e observar a gestatildeo cooperativa Conforme Drucker (1994) eficiecircncia eacute

fazer as coisas de maneira correta eficaacutecia satildeo as coisas certas o resultado

depende de ldquofazer certo as coisas certasrdquo Uma metaacutefora simples usada por Augusto

(2006) clarifica isso ldquoeficiecircncia eacute cavar com perfeiccedilatildeo teacutecnica um poccedilo artesiano

eficaacutecia eacute encontrar a aacuteguardquo Para o contabilista Padoveze (2004) o lucro eacute a melhor

medida da eficaacutecia empresarial mas eficiecircncia permeia todas as accedilotildees e atividades

da empresa Portanto tomadas essas definiccedilotildees haacute uma visualizaccedilatildeo na diferenccedila

entre as praacuteticas cooperativistas expostas por Pinho (1982) Neste caso para

reconhecer os resultados em eficiecircncia e eficaacutecia no cooperativismo os indicadores

estariam em recorrer natildeo soacute a criteacuterios de eficaacutecia econocircmica mas tambeacutem a

criteacuterios de eficaacutecia social que se daria nos niacuteveis de desenvolvimento

envolvimento e participaccedilatildeo dos associados

Embora dilemas da ordem que foi apresentada ocorram no cooperativismo

organizaccedilotildees cooperativas funcionam com bons resultados e benefiacutecios extensivos

aos soacutecios Sobre isso Ostron citado em Olson (1995) ao comparar as iniciativas de

gestatildeo cooperativa de recursos comuns fez o seguinte questionamento ldquoPor que

certas instituiccedilotildees conseguiram superar a loacutegica da accedilatildeo coletiva e outras natildeo Da

sua comparaccedilatildeo emerge alguns requisitos para essa superaccedilatildeo Dos sugeridos por

53

Putnam (1996) haacute indicaccedilatildeo de que se deva ter clara definiccedilatildeo dos limites da

instituiccedilatildeo e participaccedilatildeo das partes interessadas assim como a definiccedilatildeo de regras

entre os agentes envolvidos Deste modo eacute percebido nesses dois pontos que haacute

pistas para direcionar o entendimento das dificuldades apontadas que satildeo comuns

em cooperativas Eacute nessa busca que posteriormente se faraacute uma apresentaccedilatildeo de

como se constroacutei a participaccedilatildeo e procurar mostrar como confianccedila cooperaccedilatildeo e

capital social satildeo importantes para superaccedilatildeo dos dilemas no cooperativismo

32 A Participaccedilatildeo 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo A participaccedilatildeo tem sido considerada em diferentes pesquisas e estudos sobre

desenvolvimento uma importante ferramenta para potencializar o desenvolvimento

humano Abordagens de Bordenave (1983) e Freire (1982) indicam a participaccedilatildeo

como direito das pessoas e caminho para auto-realizaccedilotildees ao inserir o indiviacuteduo em

discussotildees que o fazem assumir atitudes realizadoras para si Nesta pesquisa a

participaccedilatildeo eacute abordada como uma possibilidade para reduccedilatildeo do distanciamento

entre produtores rurais e as atividades de cooperativas rurais agraves quais satildeo

associados

Conforme Alencar (2001) as poliacuteticas de modernizaccedilatildeo da agricultura por

volta da deacutecada de 70 foram bastante seletivas em termos de distribuiccedilatildeo de

recursos Do mesmo modo se deram as poliacuteticas de pesquisa e assistecircncia teacutecnica

Neste sentido entre outros resultados houve maior emergecircncia de diferenciaccedilatildeo

social com a formaccedilatildeo de categorias distintas de produtores e trabalhadores rurais

Na populaccedilatildeo rural ldquopara alguns significou proletarizaccedilatildeo ou eminecircncia de

desintegraccedilatildeo de suas unidades de produccedilatildeo para outros abertura de novas

oportunidades e crescimentordquo A partir daiacute diferentes estrateacutegias foram sendo

estabelecidas para orientar programas que tivessem como objetivo incluir

segmentos sociais colocados agrave margem desse ldquonovo modelo de desenvolvimentordquo

Nessa eacutepoca algumas organizaccedilotildees natildeo governamentais fundamentadas

nas obras de Paulo Freire jaacute desenvolviam metodologias de intervenccedilatildeo centradas

na ldquoparticipaccedilatildeordquo de pequenos produtores na formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de

projetos de desenvolvimento (ALENCAR 2001) A partir daiacute ldquoparticipaccedilatildeordquo foi

54

incorporada em outras experiecircncias O foco comum passou a ser ldquoparticipaccedilatildeo das

pessoasrdquo Entretanto conforme Alencar (2001) as estrateacutegias adotadas de

participaccedilatildeo variam de acordo com a visatildeo que os agentes possuem do papel ou

natureza da intervenccedilatildeo Eacute dessa visatildeo que resultam diferentes dimensotildees e

significados atribuiacutedos agrave participaccedilatildeo

Portanto o conceito de participaccedilatildeo admite diferentes conotaccedilotildees e pode ser

visto como um termo ambiacuteguo nas ciecircncias sociais Dentre os significados atribuiacutedos

por Oakley e Marsden citados em Alencar (2001) estatildeo associados agrave participaccedilatildeo o

sentido de colaboraccedilatildeo desenvolvimento de comunidade organizaccedilatildeo e

empowering (aquisiccedilatildeo de poder) Ao analisar diferentes projetos de

desenvolvimento esses autores supracitados atribuiacuteram novos sentidos ao temo

participaccedilatildeo

1 Envolvimento voluntaacuterio dos indiviacuteduos nos programas sem contudo participarem da sua elaboraccedilatildeo

2 Sensibilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos aumentando-lhes a responsabilidade para responderem as propostas de programas de desenvolvimento e encorajando iniciativas locais

3 Envolvimento dos indiviacuteduos no processo de tomada de decisatildeo na implementaccedilatildeo dos programas na divisatildeo dos benefiacutecios e na avaliaccedilatildeo das decisotildees tomadas

4 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com o direito e dever dos indiviacuteduos participarem na soluccedilatildeo dos seus problemas terem responsabilidade de assegurar a satisfaccedilatildeo de suas necessidades baacutesicas mobilizarem recursos locais e sugerirem novas soluccedilotildees bem como de criarem e manterem as organizaccedilotildees locais

5 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com a iniciativa de pessoas e grupos visando a soluccedilatildeo de seus problemas e a busca de autonomia

6 Organizaccedilatildeo de esforccedilos de pessoas excluiacutedas para que elas aumentem o controle sobre recursos necessaacuterios ao desenvolvimento e sobre as instituiccedilotildees que regulam a distribuiccedilatildeo desses recursos (ALENCAR 2001 P21)

Segundo Bordenave (1983) participar eacute uma necessidade humana e

universal cuja praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades natildeo menos baacutesicas

tais como a interaccedilatildeo com os demais homens a auto-expressatildeo o desenvolvimento

do pensamento reflexivo o prazer de criar e recriar coisas e ainda a valorizaccedilatildeo de

si mesmo pelos outros

Portanto Bordenave (1983) vecirc na participaccedilatildeo duas bases complementares

uma base afetiva ndash participamos porque sentimos prazer em fazer coisas com

outros e uma base instrumental ndash participamos porque fazer coisas com outros eacute

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mais eficaz e eficiente que fazecirc-las sozinhos Esta uacuteltima afirmativa conota os

aspectos da participaccedilatildeo individual em accedilotildees coletivas discutidos neste trabalho e

que fundamentam o entendimento dos dilemas da participaccedilatildeo no cooperativismo

Conforme Pereira citado em Bento (1993) A participaccedilatildeo advem de uma situaccedilatildeo ou problema existente a partir do qual as pessoas unem-se para a) apresentar ideacuteias discutir e contribuir conforme a possibilidade de cada um para a soluccedilatildeo desses problemas ou dessa situaccedilatildeo e b) contrapor ou responder a essa situaccedilatildeo ou problema existente Portanto participar eacute um ato coletivo (BENTO 1993 p32)

Das diferentes aneiras de participar Bordenave (1983) apresenta conceitos

sobre tipos de participaccedilatildeo dentre os quais define participaccedilatildeo voluntaacuteria cujo

grupo eacute criado pelos proacuteprios participantes que definem sua proacutepria organizaccedilatildeo e

estabelecem seus objetivos e meacutetodos de trabalho Neste caso satildeo exemplos os

sindicatos livres as associaccedilotildees profissionais as cooperativas e os partidos

poliacuteticos Entretanto segundo este autor nem sempre a participaccedilatildeo voluntaacuteria surge

como iniciativa dos membros do grupo agraves vezes trata-se de uma participaccedilatildeo

provocada por agentes externos que ajudam outros a realizarem seus objetivos ou

os manipulam a fim de atingir seus proacuteprios objetivos previamente estabelecidos

Para Bordenave (1983) no processo de participaccedilatildeo eacute possiacutevel fazer parte sem

tomar parte Se refere a niacuteveis de participaccedilatildeo cujas diferenccedilas se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte

Deste modo Bordenave (1983) mostra graus de participaccedilatildeo em que os

membros de uma organizaccedilatildeo podem atuar sob o ponto de vista de maior ou menor

acesso aos controles das decisotildees dos membros Conforme o autor a participaccedilatildeo

varia de niacutevel da informaccedilatildeo agrave autogestatildeo sendo que o menor grau de participaccedilatildeo

eacute o da informaccedilatildeo Neste caso os dirigentes informam os membros da organizaccedilatildeo

sobre as decisotildees tomadas Contudo haacute casos de lideranccedilas que natildeo fazem o

mesmo Neste niacutevel a reaccedilatildeo dos membros agraves informaccedilotildees recebidas eacute observada

pelos agentes responsaacuteveis Estes por sua vez acatam as observaccedilotildees e

reconsideram uma decisatildeo inicial ou de modo contraacuterio natildeo aceitam o direito de

reaccedilatildeo

Em segundo niacutevel acontece a consulta facultativa em que a administraccedilatildeo

pode se quiser e quando quiser consultar outros membros solicitando criacuteticas

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sugestotildees ou dados para resolver algum problema Quando a consulta eacute obrigatoacuteria

os integrantes devem ser consultados em certas ocasiotildees embora a decisatildeo final

pertenccedila ainda aos diretores

No niacutevel da elaboraccedilatildeorecomendaccedilatildeo os membros do grupo elaboram

propostas e recomendam medidas que a administraccedilatildeo aceita ou rejeita mas

sempre se obrigando a justificar sua posiccedilatildeo (Bordenave 1983)

Outro niacutevel considerado eacute o da co-gestatildeo sobre o qual

a administraccedilatildeo da organizaccedilatildeo eacute compartilhada mediante mecanismos de co-decisatildeo e colegialidade Aqui os administrados exercem uma influecircncia direta na eleiccedilatildeo de um plano de accedilatildeo e na tomada de decisotildees Comitecircs conselhos ou outras formas colegiadas satildeo usadas para tomar decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

O sexto niacutevel eacute o da delegaccedilatildeo

Eacute um grau de participaccedilatildeo onde os gestores tecircm autonomia em certos campos ou jurisdiccedilotildees antes reservados eles A administraccedilatildeo define certos limites dentro dos quais os administradores tecircm poder de decisatildeo Ora para que haja delegaccedilatildeo real os delegados devem possuir completa autoridade sem precisar consultar seus superiores para tomarem as decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

Ainda segundo Bordenave o niacutevel mais avanccedilado de participaccedilatildeo eacute o da

autogestatildeo neste

O grupo determina seus objetivos escolhe seus meios e estabelece os controles pertinentes sem referecircncia a uma autoridade externa Na autogestatildeo desaparece a diferenccedila entre administradores e administrados visto que nela ocorre a auto administraccedilatildeo (BORDENAVE 1983 p32)

Portanto parte da efetividade da participaccedilatildeo depende do comportamento

dos indiviacuteduos frente agraves diferentes situaccedilotildees em que satildeo envolvidos Deste modo

quando as pessoas satildeo envolvidas a participaccedilatildeo eacute percebida como uma estrateacutegia

para criaccedilatildeo de novas oportunidades e as pessoas por elas mesmas se

comprometem a apoiar as accedilotildees identificadas como melhor opccedilatildeo Para isso

conforme Alencar (2001) a forma de intervenccedilatildeo tem de ser um conjunto de accedilotildees

praticadas por agentes externos mas deve ser feita num caraacuteter educativo em que

a populaccedilatildeo alvo seja estimulada a desenvolver a habilidade de diagnosticar e

analisar seus problemas decidir coletivamente sobre as accedilotildees para solucionaacute-los

executar tais accedilotildees e avaliaacute-las

Oakley citado em ASBRAER (2007) faz uma distinccedilatildeo importante sobre

participaccedilatildeo como meio ou como fim na literatura e na praacutetica

Quando participaccedilatildeo eacute interpretada como meio descreve uma condiccedilatildeo e quando eacute interpretada como fim refere-se a um processo que tem como resultado participaccedilatildeo significativa Ateacute recentemente a noccedilatildeo que dominava a

57

praacutetica da participaccedilatildeo tinha sido efetivada por meio da criaccedilatildeo de organizaccedilotildees formais como as cooperativas e associaccedilotildees de agricultores Nos programas que foram realizados usando conceito de participaccedilatildeo nesses moldes certas melhorias econocircmicas foram realizadas mas poucos conseguiram participaccedilatildeo significativa Participaccedilatildeo como fim eacute a consequumlecircncia do processo de empoderamento e libertaccedilatildeo (ASBRAER 2007 p 36)

A ideacuteia contida no sentido da participaccedilatildeo como fim estaacute articulada ao

conceito de conscientizaccedilatildeo que se refere ao processo onde os indiviacuteduos passam a

compreender a realidade social que molda suas vidas bem como a capacidade que

possuem de transformar tal realidade (ALENCAR 2001) vencendo o que Freire

(1976) chama de ldquocultura do silecircnciordquo

Na cultura do silecircncio os indiviacuteduos dependentes ou dominados acham-se

semimudos ou mudos ou seja satildeo proibidos de participar criativamente na

transformaccedilatildeo da sociedade e por conseguinte proibidos de ser (Freire 1976) Esta

cultura do silecircncio eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia do

dominado com o dominador

A liberdade e oportunidade de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos nos niacuteveis

propostos em Bordenave (1983) portanto vatildeo depender de que seja superado a

ldquocultura do silecircnciordquo e que a estrutura da organizaccedilatildeo em que os indiviacuteduos se

associam utilize pelos seus teacutecnicos a intervenccedilatildeo de caraacuteter educativo a fim de

identificar juntos as limitaccedilotildees necessidades e expectativas de todosEntretanto os

dirigentes que estatildeo conduzindo a organizaccedilatildeo devem aceitar e desejar que essa

mudanccedila ocorra

Alencar (2001) mostra que a superaccedilatildeo da cultura do silecircncio estaacute

relacionada ao processo de constituiccedilatildeo da autoconfianccedila que eacute um conceito

definido por Galtung (1980) Segundo este autor autoconfianccedila eacute um processo em

que para construccedilatildeo de novas formas de interaccedilatildeo social deve-se destruir as

velhas formas de interaccedilatildeo iniciando novos padrotildees de cooperaccedilatildeo com a

destruiccedilatildeo do centro de monopoacutelio da interaccedilatildeo e das organizaccedilotildees

A autoconfianccedila eacute assim uma caracteriacutestica que as pessoas apresentam em

seu comportamento individual que transfere ao grupo e lhes daacute a capacidade de

negociaccedilatildeo e de reivindicaccedilatildeo Eacute a auto-expressatildeo sugerida em Bordenave (2003)

Portanto conforme estes autores a liberdade individual fundamenta a participaccedilatildeo eacute

um meio em que se consegue resolver problemas que ao indiviacuteduo parecem

insoluacuteveis se contar soacute com suas proacuteprias forccedilas

58

Neste ponto de vista o cooperativismo eacute uma forma de expressatildeo da

participaccedilatildeo Uma cooperativa eacute formalmente definida como uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees e

necessidades econocircmicas sociais e culturais comuns Se baseiam em valores de

ajuda muacutetua responsabilidade democracia igualdade e solidariedade Deste modo

com esta ideologia formaram-se diferentes estruturas de organizaccedilotildees

cooperativas em certos casos grandes e complexas Entretanto as prioridades e

objetivos nessas organizaccedilotildees nem sempre satildeo direcionados agraves necessidades da

maioria de seus membros Todavia esses associados podem por si mesmos

munidos de autoconfianccedila criar oportunidades para assegurar sua participaccedilatildeo em

diferentes niacuteveis na organizaccedilatildeo Natildeo menos do que fazer valer o princiacutepio da auto

gestatildeo

322 A Participaccedilatildeo em cooperativas

O cooperativismo tem como princiacutepio a proposta do mais elevado niacutevel de

participaccedilatildeo conforme descriccedilotildees de Bordenave (2003) ateacute atingir a auto gestatildeo

Deste modo os valores do cooperativismo se materializariam agrave medida que a

organizaccedilatildeo conseguisse incluir participativamente os soacutecios dotando-os de

informaccedilotildees e permitindo interaccedilotildees no planejamento das accedilotildees e na tomada de

decisotildees

Geralmente a discussatildeo em torno da participaccedilatildeo de associados em

organizaccedilotildees cooperativas natildeo mostra operacionalmente como se efetiva a praacutetica

participativa Schneider (1999) Alencar (2001) e Perius (1983) aprofundaram um

pouco mais nesse assunto levantando importantes consideraccedilotildees sobre a conduccedilatildeo

da participaccedilatildeo no processo de desenvolvimento acompanhamento e fiscalizaccedilatildeo

da organizaccedilatildeo cooperativa pelos seus associados

Embora os princiacutepios norteiem a conduccedilatildeo do cooperativismo cada

organizaccedilatildeo cooperativa manteacutem caracteriacutesticas proacuteprias no seu processo de

gestatildeo que satildeo regulamentadas pelos seus estatutos sociais Formalmente a

participaccedilatildeo nas decisotildees em cooperativas brasileiras eacute absolutamente igualitaacuteria

ou seja todo associado tem direito a um voto independente do volume de produccedilatildeo

ou serviccedilos prestados agrave cooperativa Neste caso a participaccedilatildeo oficial dos soacutecios

estaacute apoiada na Lei 5764 do cooperativismo que estabelece as diretrizes gerais e

59

por sua vez tem suas bases convergentes com as normas da ACI Deste modo

todos os associados participam da gestatildeo representados pelos membros que

compotildeem os oacutergatildeos de administraccedilatildeo fiscalizaccedilatildeo ou do comitecirc educativo

(SESCOOP 2008) Esses representantes satildeo eleitos pelos demais soacutecios que

participam anualmente das Assembleacuteias Gerais onde se concretizam as decisotildees

mais importantes em cooperativas Pela lei do cooperativismo brasileiro os oacutergatildeos

de gestatildeo se organizam da seguinte maneira

Art 47 - A sociedade seraacute administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administraccedilatildeo composto exclusivamente de associados eleitos pela Assembleacuteia Geral com mandato nunca superior a 4 (quatro) anos sendo obrigatoacuteria a renovaccedilatildeo de no miacutenimo 13 (um terccedilo) do Conselho de Administraccedilatildeo

Art 56 - A administraccedilatildeo da sociedade seraacute fiscalizada assiacutedua e minuciosamente por um Conselho Fiscal constituiacutedo de 3 (trecircs) membros efetivos e 3 (trecircs) suplentes todos associados eleitos anualmente pela Assembleacuteia Geral sendo permitida apenas a reeleiccedilatildeo de 13 (um terccedilo) dos seus componentes (OCB 2007 p1)

No trabalho sobre o cooperativismo de leite em diferentes paiacuteses Martins et

alli (2004) retratam experiecircncias de sucesso e descrevem a dinacircmica do processo

de participaccedilatildeo de produtores na gestatildeo dessas cooperativas No exemplo da

Fonterra na Nova Zelacircndia para eleiccedilatildeo do Corpo de Diretores os produtores

recebem uma ceacutedula pelos correios juntamente com um viacutedeo que conteacutem o

curriculum vitae e as propostas dos candidatos O sistema adotado requer que os

cooperados ordenem suas preferecircncias entre os onze candidatos inscritos de um a

onze Neste caso entendem que eacute melhor ordenar do que votar em apenas um A

regra eleitoral nesta cooperativa eacute de que cada produtor recebe uma ceacutedula para

cada uma tonelada de leite soacutelido produzido ao longo de um ano O espaccedilo de

representaccedilatildeo dos produtores eacute o Conselho de Acionistas que consiste de 45

representantes Neste caso cada membro representa um setor previamente definido

conforme a localizaccedilatildeo em todo o paiacutes Deste modo nesta cooperativa o nuacutemero de

votos por associado para participaccedilatildeo nas decisotildees da cooperativa eacute proporcional

ao volume de produccedilatildeo Esse meacutetodo jaacute eacute comum em cooperativas de produccedilatildeo

A DFA ndash Cooperativa Dairy Farmers of Ameacuterica fruto da fusatildeo de quatro

cooperativas americanas conta com 24124 cooperados Segundo Martins et alli

(2004) os interesses dos cooperados satildeo representados por meio de trecircs canais na

seleccedilatildeo do representante no Conselho Regional na reuniatildeo anual e indiretamente

na escolha do Conselho de Diretores O Conselho de Diretores eacute formado por 51

60

produtores eleitos entre seus pares por um mandato de dois anos Este conselho

tem a finalidade de estabelecer as grandes linhas diretivas da companhia definem

as poliacuteticas de governanccedila os rumos a serem seguidos a estrutura financeira o

orccedilamento e as prioridades de novos investimentos A este conselho estatildeo

vinculados seis Comitecircs de orccedilamento de mercado fluido de valor agregado de

auditoria e o de relaccedilotildees governamentais Desta forma estatildeo representados os

interesses dos cooperados localizados em sete regiotildees geograacuteficas diferentes dos

Estados Unidos Os encontros anuais ocorrem no Foacuterum para tomada das grandes

decisotildees da Cooperativa Conforme Martins et alii (2004) no uacuteltimo Foacuterum realizado

foi registrada a participaccedilatildeo de 1150 produtores entre delegados eleitos diretores

liacutederes de conselhos regionais e convidados Como se verifica o cooperado

participa de um processo do tipo democracia representativa

Em outra cooperativa a Campina Melkunie localizada nos Paiacuteses Baixos

tem como associados 6823 produtores e espacialmente distribuiacutedos num percentual

de 75 residentes na Holanda 24 na Alemanha e o restante (1) na Beacutelgica

Conforme Martins et alii (2004) satildeo eleitos soacutecio-representantes que integram o

Comitecirc de Departamentos e representantes no Conselho dos Membros Todos os

soacutecios pertencem a um departamento regional e se reuacutenem duas vezes por ano

quando satildeo discutidas questotildees relevantes da cooperativa A cada trecircs anos haacute

eleiccedilatildeo e o nuacutemero de membros de um departamento depende do volume de leite

produzido em cada departamento O direito de voto para cada cooperado estaacute

baseado no volume de leite que este entrega nesta cooperativa Desta forma a

participaccedilatildeo do associado estaacute condicionada tambeacutem ao volume de produccedilatildeo tanto

individual quanto da regiatildeo (departamento) em que o produtor estaacute localizado Essas diferentes cooperativas tecircm em comum um grande nuacutemero de

associados e uma estrutura complexa de gestatildeo em que os produtores estatildeo

distantes espacialmente dos dirigentes Portanto essa estrutura requer alto niacutevel de

organizaccedilatildeo e aacutegeis canais de comunicaccedilatildeo pois caso seja diferente natildeo seria

possiacutevel que os associados acompanhassem as accedilotildees dessas cooperativas

Em se tratando de organizaccedilatildeo cooperativa Schneider (1999) apresenta a

concepccedilatildeo de que participaccedilatildeo natildeo se mede somente por criteacuterios quantitativos

como taxas de presenccedila em assembleacuteias eleiccedilatildeo dos dirigentes e em registros de

utilizaccedilatildeo de serviccedilos Para este autor deve-se complementar com outros

61

indicadores pois a participaccedilatildeo do soacutecio natildeo se limita ao voto Esta deve se dar

tambeacutem na esfera estrateacutegica das accedilotildees e na formulaccedilatildeo de proposiccedilotildees

Schneider (1999) sugere como novas formas de participaccedilatildeo nas etapas

anterior e posterior agrave tomada de decisotildees a organizaccedilatildeo de pequenos grupos

locais setoriais profissionais ou por tipo de produccedilatildeo O autor acredita que os

pequenos grupos apresentam vantagens para uma participaccedilatildeo mais efetiva nas

reuniotildees o que estaacute em sintonia com os argumentos de Olson (1999) Deste modo

Schneider (1999) mostra as vantagens dos pequenos grupos no fomento agrave

participaccedilatildeo

Permite atividades conduzidas mais informalmente predominam as relaccedilotildees pessoais que envolvem a totalidade da pessoa na interaccedilatildeo haacute maior controle social reciacuteproco entre eles constrangendo os indecisos ou pouco motivados a comparecer haacute a possibilidade de dimensionar as atividades e os planos da cooperativa em acircmbito local e o encaminhamento agrave direccedilatildeo de propostas mais realistas e efetivamente adequadas agraves peculiaridades e agraves carecircncias de cada localidade surgem oportunidades de cooperaccedilatildeo desconhecidas na cuacutepula da grande organizaccedilatildeo cooperativa melhorando e inovando a capacidade produtiva (SCHNEIDER 1999 p 241-242)

Deste modo Schneider (1999) conseguiu mostrar de forma concisa as

caracteriacutesticas positivas do comportamento de associados quando organizados em

comitecircs ou pequenos nuacutecleos De certa forma isso ilustra tambeacutem indiviacuteduos com

autonomia de participaccedilatildeo e autoconfianccedila desenvolvida Ao mesmo tempo mostra

a relaccedilatildeo de auto-coerccedilatildeo que se desenvolve no grupo Quando isso acontece

mesmo em grandes cooperativas eacute de se esperar que por meio dos nuacutecleos as

pessoas consigam influenciar no planejamento de accedilotildees para a organizaccedilatildeo com

suas opiniotildees Essa forma de conduzir portanto teraacute como resultado maiores

possibilidades de que o consenso entre os participantes da organizaccedilatildeo tanto

dirigentes quanto os outros membros esteja mais proacuteximo do que o dissenso em

relaccedilatildeo agraves propostas que surgem quando satildeo elaboradas somente pela direccedilatildeo

Outra forma de participaccedilatildeo de associados deve se dar tambeacutem no controle e

acompanhamento da execuccedilatildeo das decisotildees tomadas Isso requer uma atuaccedilatildeo

constante No entanto a dinacircmica operacional da estrutura empresarial de uma

cooperativa natildeo permite que os mecanismos de controle e acompanhamento sigam

no mesmo ritmo A especializaccedilatildeo proacutepria das necessidades da cooperativa exige

da fiscalizaccedilatildeo igual niacutevel de especializaccedilatildeo de associados que se interesse em

atuar nesse aspecto da participaccedilatildeo Essa especializaccedilatildeo entretanto eacute pouco

encontrada na maior parte do quadro de associados Essa loacutegica eacute confirmada

62

tambeacutem por Lickert citado em Schneider (1999) ao dizer que a participaccedilatildeo exige

uma estrutura apropriada e habilidades das quais a maioria da populaccedilatildeo carece

Uma variaacutevel ainda observada em Schneider (1999) que influi na participaccedilatildeo

cooperativa e convergente com a opiniatildeo de Olson (1999) foi identificar fatores

psicoloacutegicos que influenciam na decisatildeo de participar Para Schneider (1983) o

prestiacutegio percebido na cooperativa expressa o significado emocional de participar

coletivamente ao se comparar com outras organizaccedilotildees Por outro lado participar

dessas organizaccedilotildees por si cria tensotildees especialmente porque exige

comparativamente um alto niacutevel de racionalidade de disciplina e neutralidade

afetiva o que depende de fatores comportamentais agraves vezes conflitantes para os

indiviacuteduos

As possibilidades acerca de participaccedilatildeo e potencialidades do indiviacuteduo em

ldquotransformaccedilatildeordquo quando este se torna um ser livre e autoconfiante satildeo indicadores

de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos seja em cooperativa ou em outra forma de accedilatildeo

coletiva

Conforme mostrado na literatura acerca dessa temaacutetica bem como na

demonstraccedilatildeo das praacuteticas de participaccedilatildeo em cooperativas conforme as

complexas formas de gestatildeo adotadas por essas organizaccedilotildees a participaccedilatildeo de

produtores nestess modelos deve ser cuidadosamente pensada e acompanhada

para que a proposta hochdaleana da auto gestatildeo e participaccedilatildeo natildeo fique somente

na origem ideoloacutegica desse movimento Portanto como pode ser observado eacute

importante considerar que a participaccedilatildeo se efetiva num processo com diversas

etapas que exigem estrateacutegias e modo de participar diferentes

333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo

Os benefiacutecios da participaccedilatildeo satildeo inquestionaacuteveis mas natildeo se pode esperar

que em absolutamente todas as organizaccedilotildees consiga-se ter essa praacutetica com a

mesma efetividade Assim como visto estas tecircm formas distintas e agraves vezes

contraditoacuterias de serem conduzidas Por essa razatildeo continuando a reflexatildeo sobre

participaccedilatildeo eacute oportuno mostrar os riscos de tratar esse tema sem entender os

possiacuteveis desvios que podem ocorrer na praacutetica da utilizaccedilatildeo desse princiacutepio

democraacutetico na autogestatildeo cooperativa

63

Bordenave (1983) expressou a potencialidade da participaccedilatildeo mas

demonstra tambeacutem que haacute risco de ter seu sentido esvaziado antes de sua

contribuiccedilatildeo para a democracia verdadeira Amodeo (2007) baseada numa

conferecircncia realizada na universidade de Manchester Inglaterra com o tema ldquoa

tirania da participaccedilatildeordquo apresenta questotildees relevantes discutidas no evento para

chamar a atenccedilatildeo sobre as formas de utilizaccedilatildeo do discurso da participaccedilatildeo em

praacuteticas diversas e distantes do seu real significado

O discurso da participaccedilatildeo estaria sendo utilizado para agendas poliacuteticas distintas estaria impondo relaccedilotildees de poder em vez de as eliminar ao transformar a participaccedilatildeo numa simples aplicaccedilatildeo de tecnologias sociais estaria sendo negligenciado quando restringido agraves escalas locais esquecendo seus viacutenculos com processo e institucionalidades mais amplas estaria encobrindo o fato da participaccedilatildeo natildeo ser uma panaceacuteia e apresentar as suas proacuteprias tensotildees praacuteticas e teoacutericas (KESBY 2005 CITADO EM AMODEO 2007 P56)

Sabendo-se de formas contraditoacuterias que se pode usar a participaccedilatildeo tem-se

aqui o cuidado de natildeo sombrear toda potencialidade que existe nessa forma de

interagir Conforme Amodeo (2007) qualificar a participaccedilatildeo como tirania eacute um ato

chocante aos atores vinculados ao mundo da participaccedilatildeo tanto quando existe uma

visatildeo romacircntica dos processos participativos quanto quando existe a necessidade

de validaccedilatildeo poliacutetica da participaccedilatildeo

Portanto ao se questionar as formas de participaccedilatildeo e suas reais

consequumlecircncias conforme mostra Amodeo (2007) existe o perigo de ser mal

interpretado como se propusesse o retorno a modelos de dominaccedilatildeo conquanto

essa discussatildeo eacute uacutetil para fazer uma anaacutelise criacutetica e consciente para separar o

discurso da praacutetica

Para Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) as ldquotiraniasrdquo

identificadas no estudo tinham trecircs origens principais as derivadas da tomada de

decisotildees e do controle a tirania do grupo e a tirania como meacutetodo Assim estes

autores as definiram

a) As tiranias derivadas da tomada de decisotildees e do controle tentavam ser resumidas nesta pergunta ldquoos facilitadores da participaccedilatildeo deixam de lado os processos existentes e os processos legiacutetimos de tomada de decisotildeesrdquo () haacute uma tendecircncia verificada de promoccedilatildeo da legitimidade de determinados processos de intervenccedilatildeo com o consequumlente cumprimento de determinadas agendas e objetivos especiacuteficos desconhecendo as instacircncias e interesses genuinamente locais b) No argumento da tirania do grupo questionava se a dinacircmica dos grupos faria com que as decisotildees participativas reforccedilassem os interesses dos que jaacute eram poderosos O principal argumento criacutetico satildeo as falhas dos processos participativos em lidar com as desigualdades internas agraves comunidades tendendo muitas vezes a reforccedilar as relaccedilotildees de poder preexistentes

64

c) por fim a conclusiva da tirania do meacutetodo eacute que agrave medida que as relaccedilotildees de poder internas a comunidade natildeo sofrem transformaccedilotildees draacutesticas aqueles tradicionalmente excluiacutedos dos possessos de decisatildeo e controle ficam deslegitimados de participar dos benefiacutecios dos processos participativos jaacute que eles seratildeo dominados pelos grupos que tradicionalmente deteacutem mais poder (AMODEO 2007 p57-58)

Essas evidecircncias portanto satildeo orientadoras para se ter o cuidado de

ldquoenfrentar as encruzilhadas e armadilhasrdquo que o processo participativo pode

apresentar a fim de evitar que as propostas da participaccedilatildeo fiquem restritas ao

discurso As observaccedilotildees registradas pelos autores procedem com loacutegica aos

argumentos tratados na teoria da escolha racional pois concatenam com o

comportamento de indiviacuteduos em grupos latentes ou heterogecircneos Nesse caso o

fato de que em grupos grandes a contribuiccedilatildeo de um indiviacuteduo natildeo seja percebida

pelos demais membros da accedilatildeo coletiva a possibilidade de ocorrer tambeacutem uma

sobre-exploraccedilatildeo se eleva De outro modo os argumentos satildeo coerentes com os

riscos de que a proposta de auto-gestatildeo quando natildeo se tem o grupo homogecircneo

pode ficar no discurso

Outras distorccedilotildees sobre o processo participativo apresentadas no mesmo

estudo registrado por Amodeo (2007) mostraram tambeacutem que os ideais da

participaccedilatildeo podem ser constrangidos por metas burocraacuteticas formais ou informais

propostas por contextos institucionais De modo diferente os sentimentos

pensamentos e comportamentos das pessoas satildeo influenciados pela presenccedila real

imaginaacuteria ou impliacutecita dos outros membros do grupo Ainda observaram que os

processos participativos podem levar as pessoas a tomar decisotildees coletivas que

apresentam mais riscos do que as que teriam tomado individualmente

Todos esses argumentos se aproximam das evidecircncias encontradas na tese

de Olson (1999) sobre o comportamento dos indiviacuteduos Portanto do ponto de vista

do cooperativismo essas reflexotildees satildeo importantes orientaccedilotildees para se resguardar

e impedir que os ldquofenocircmenos tiranosrdquo identificados em processos de participaccedilatildeo

sejam reconhecidos e cuidadosamente tratados para natildeo contrariar os princiacutepios da

doutrina cooperativista Pois estes princiacutepios unificam as organizaccedilotildees cooperativas

sem considerar possiacuteveis desvios como os apresentados nesta etapa da pesquisa

Outro ponto eacute que se as caracteriacutesticas do perfil do ldquohomus cooperativusrdquo (Pinho

1983) fossem comum na grande maioria dos membros associados o

comportamento destes se apresentaria favoravelmente coercitivo para inibir os

65

ldquofenocircmenos tiranos da participaccedilatildeordquo Ou concomitante a isso os princiacutepios do

cooperativismo seriam suficientes para garantir que esses fenocircmenos natildeo

ocorressem em cooperativas

Diante do exposto os dilemas de accedilatildeo coletiva apresentados por Olson

(1999) ocorrem porque natildeo se tem certeza de como o indiviacuteduo iraacute se comportar

uma vez que a natureza da cooperaccedilatildeo humana ainda natildeo foi devidamente

compreendida Entatildeo como saber como as pessoas vatildeo agir Quando se tem um

ambiente de elevado capital social as relaccedilotildees de confianccedila muacutetua favorecem as

interaccedilotildees e haacute uma menor incidecircncia de conflitos Essa perspectiva seraacute tratada na

seccedilatildeo seguinte

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema

A formaccedilatildeo de capital social tem na cooperaccedilatildeo um dos elementos primaacuterios

que influenciam o fortalecimento de accedilotildees coletivas Correa (2003) mostra que

regiotildees dotadas de elevados iacutendices de capital social estariam assim propensas agrave

cooperaccedilatildeo e participaccedilatildeo o que facilitaria a articulaccedilatildeo entre os diferentes atores

sociais Este fortaleceria a coesatildeo da comunidade melhoraria a qualidade das

decisotildees e facilitaria o alcance dos objetivos de interesse comum Do mesmo modo

conforme Colleman citado em Correa (2003) o capital social seria tambeacutem uma

resposta aos desafios da sociedade moderna sobreposto ao comportamento

individualista em que cada um age para alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

Todos os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais que se formam numa comunidade

contribuem para fortalecer o capital social Deste modo para Bueno (2004) as

soluccedilotildees cooperativas que uma sociedade alcanccedila formam um ldquoestoquerdquo de capital

social no sentido de que essas soluccedilotildees ao gerar confianccedila inter-pessoal agem

como um insumo na produccedilatildeo sem o qual muitos empreendimentos coletivos natildeo

podem ser realizados Deste modo capital social conforme Bialoskorski Neto

(2001) poderia ser mensurado como uma eficaacutecia do coletivo

Para tanto a consecuccedilatildeo desse capital requer a participaccedilatildeo da comunidade

Nesse sentido Putnan (1996) por sua vez mostra que o capital social eacute um

elemento decisivo do desenvolvimento Este seria o grande responsaacutevel por incutir

nos seus membros haacutebitos de cooperaccedilatildeo solidariedade e espiacuterito puacuteblico

66

Entatildeo dentre outras definiccedilotildees sobre capital social Putnan (2002) inclui as

redes e normas que orientam accedilotildees coletivas a partir do grau de confianccedila que

pessoas de uma determinada regiatildeo tecircm nos resultados coletivos que se obtecircm a

partir da cooperaccedilatildeo Assim o autor o define capital social

Caracteriacutesticas da organizaccedilatildeo social como confianccedila normas e sistemas que contribuam para aumentar a eficiecircncia da sociedade facilitando as accedilotildees coordenadas na referecircncia de Ostron ldquoassim como outras formas de capital o capital social eacute produtivo possibilitando a realizaccedilatildeo de certos objetivos que seriam inalcanccedilaacuteveis se ele natildeo existisserdquo (PUTNAN 1996 P177)

Hirshman citado em Arauacutejo (2003) se refere a capital social no sentido de que

este aumenta dependendo da intensidade do seu uso Para este autor praticar

cooperaccedilatildeo e confianccedila produz mais cooperaccedilatildeo e confianccedila e logo mais

prosperidade corroborando a formaccedilatildeo de um ldquoestoquerdquo como se referiu Bueno

(2004) Deste modo as sociedades fortes em capital social natildeo geram apenas

riqueza geram tambeacutem sentimentos de igualdade de justiccedila de bem comum O

crescimento econocircmico viria acompanhado de bens sociais direcionados para o

bem das pessoas e natildeo para o aumento da riqueza como um fim em si mesmo

Fukuyama citado em Arauacutejo (2003 ) acrescenta que satildeo os viacutenculos sociais

baseados no enraizamento no local em que as relaccedilotildees comerciais satildeo

fundamentadas na confianccedila e nas interaccedilotildees do dia a dia

Maciel (2003) distingue duas tendecircncias na literatura sobre capital social a

primeira de ordem socioloacutegica usando o argumento de que a confianccedila eacute produto de

padrotildees histoacutericos de longo prazo de associativismo engajamento ciacutevico e

interaccedilotildees extra familiares De outro modo a autora apresenta a natureza

econocircmica do capital social ao enfatizar que haacute o interesse proacuteprio de longo prazo

no caacutelculo de custos e benefiacutecios por atores maximizadores de ganhos por meio da

promoccedilatildeo de comportamento de confianccedila

No primeiro caso para a autora a confianccedila eacute sinocircnimo de amizade e na

tendecircncia econocircmica as relaccedilotildees de confianccedila reciprocidade e cooperaccedilatildeo satildeo

vistas para estreitar relaccedilotildees entre agentes e melhorar eficiecircncia econocircmica Neste

caso reforccedila-se o argumento de que mesmo em paiacuteses de economia mais

avanccedilada o mercado precisa ser complementado por relaccedilotildees natildeo mercantis

Entretanto Maciel (2003) observa que o conceito de capital social ou confianccedila soacute

teraacute maior capacidade explicativa para o ecircxito das iniciativas produtivas se sua

definiccedilatildeo for independente do resultado Deste modo a autora critica a visatildeo

67

instrumentalista de capital social como meio de se obter resultados econocircmicos

Mas se haacute uma visatildeo geral de que nas relaccedilotildees de fins econocircmicos existem outras

motivaccedilotildees natildeo econocircmicas que satildeo incentivos para os indiviacuteduos estas

motivaccedilotildees natildeo deveriam ser restritivas no conjunto das variaacuteveis que formam o

capital social nem mesmo censurar o sucesso econocircmico como resultado desse

capital O inverso tambeacutem poderia ocorrer Nas relaccedilotildees comerciais onde as

interaccedilotildees tendem a se repetir cria-se uma relaccedilatildeo de confianccedila e aiacute pode emergir

capital social Entatildeo este pode ser tanto meio quanto fim entre as instituiccedilotildees das

relaccedilotildees econocircmicas

Outra discussatildeo em torno de capital social estaacute vinculada agrave ambiguumlidade de

que ele pode ser criado ou natildeo Para Bueno (2002) e Araujo (2003) embora a

criaccedilatildeo de capital social pareccedila ser de fato um processo lento a adaptaccedilatildeo de

capital social jaacute existente para outros fins pode ser feita em periacuteodos de tempo bem

mais curtos e a principal forma de fazer essa adaptaccedilatildeo eacute mediante a participaccedilatildeo

dos indiviacuteduos pertencentes agrave comunidade Entretanto para esses autores

corroborando Putnam (2002) as tradiccedilotildees ciacutevicas capital social e praacuteticas

colaborativas por si soacute natildeo desencadeiam o progresso econocircmico Elas entretanto

se constituiriam em elementos importantes para as regiotildees enfrentarem e se

adaptarem aos desafios e oportunidades da realidade presente e futura O capital

social portanto favorece o desenvolvimento poreacutem natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para

que ele ocorra

Outra observaccedilatildeo pertinente eacute que mudanccedilas favoraacuteveis ao capital social

podem ser apresentadas em menor tempo Nesse tocante Putnam (2002) deu iniacutecio

a uma reflexatildeo sobre a influecircncia de haacutebitos culturais e valores na poacutes-modernidade

seus impactos sobre a democracia e possiacuteveis reflexos sobre a comunidade ciacutevica

de seu paiacutes Isso sustenta a observaccedilatildeo de que mudanccedilas desta natureza podem

influenciar ou natildeo na confianccedila muacutetua e participaccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas

respectivas accedilotildees coletivas

Putnam (2002) e Fukuyama (1996) citado em Arauacutejo (2003) enfatizam o

papel da confianccedila para a prosperidade de uma naccedilatildeo Para ambos confianccedila e a

expectativa de reciprocidade que pessoas de uma comunidade tecircm acerca do

comportamento dos outros baseada em normas partilhadas eacute a base para o capital

social De modo contraacuterio Putnan (1996) observa que o clima de desconfianccedila

68

muacutetua generalizada e ausecircncia de compromisso para com o bem puacuteblico inviabiliza

natildeo soacute a democracia como tambeacutem o desenvolvimento econocircmico Ambos os

modos portanto pautam na confianccedila a criaccedilatildeo do outro elemento que influencia o

desenvolvimento econocircmico e social das comunidades que eacute a cooperaccedilatildeo

Conforme Lynn Smith citado em Pinho (1966) haacute diversos tipos de cooperaccedilatildeo

Gradaccedilotildees que vatildeo das reaccedilotildees espontacircneas de ajuda - muacutetua tiacutepica sobretudo dos grupos primaacuterios considerada natildeo-contratual que ocorre entre vizinhos em busca de determinado fim sem que haja qualquer acordo sobre a maneira de prestaccedilatildeo desse auxiacutelio e entre ajuda contratual ou formal representada pelas cooperativas sindicatos sociedades por accedilotildees e outras que atuam de acordo com normas regulamentares previamente elaboradas pelos associados (PINHO 1966 P44)

Portanto a dinacircmica da construccedilatildeo e aumento do capital social ou o

contraacuterio estatildeo diretamente relacionados agrave capacidade ou incapacidade de

cooperar e de confiar

No cooperativismo a observaccedilatildeo desses dois aspectos satildeo premissas que

datildeo sustentaccedilatildeo agrave efetividade dessas organizaccedilotildees Para Taylor citado em Aguiar

(1991) a cooperaccedilatildeo individual sempre se daacute nas seguintes condiccedilotildees

a) que as opccedilotildees individuais sejam limitadas b) que os incentivos seletivos restringidos estejam bem definidos evidentes e sejam sustentados c) que se obtenha maior benefiacutecio e menor custo mediante o curso de accedilatildeo eleito do que com outras possibilidades d) que o marco de eleiccedilatildeo natildeo seja completamente novo senatildeo que se haja ocorrido anteriormente muitas situaccedilotildees similares (TAYLOR citado em AGUIAR 1991 P31)

Diante dessas exposiccedilotildees se identifica no relato da OCB (2007) que a origem

do desenvolvimento cooperativista no paiacutes se deve agrave presenccedila de fortes indiacutecios de

capital social nas comunidades de imigrantes e em relaccedilotildees horizontais

Os imigrantes trouxeram de seus paiacuteses de origem a bagagem cultural o trabalho associativo e a experiecircncia de atividades familiares comunitaacuterias que os motivaram a organizar-se em cooperativas A histoacuteria relata que os problemas de comunicaccedilatildeo adaptaccedilatildeo agrave nova cultura carecircncia de estradas e de escolas e discriminaccedilatildeo racial criaram entre eles laccedilos de coesatildeo resultando no nascimento de sociedades culturais e agriacutecolas Assim fundaram suas proacuteprias escolas e igrejas e iniciaram atividades de caraacuteter cooperativo como mutiratildeo para o preparo de solo construccedilatildeo de galpotildees casas colheitas (OCB 2007)

Essas evidecircncias estatildeo tambeacutem em Riedl e Vogt (2003) ao mostrarem no

histoacuterico do cooperativismo que os imigrantes e seus descendentes motivados pela

necessidade tiveram que cooperar para resolver os problemas comuns Neste

aspecto eacute constatada uma relaccedilatildeo onde se formaram redes horizontais de

cooperaccedilatildeo que satildeo a base do capital social Entretanto o desenvolvimento do

cooperativismo em outras regiotildees natildeo se deu da mesma forma no nordeste por

69

exemplo surgiu para as elites poderem controlar as cooperativas que foram

escolhidas pelos governos como mediadoras na aplicaccedilatildeo das poliacuteticas agriacutecolas

dessa forma elas reproduzem internamente as relaccedilotildees de poder daquela

sociedade

Em meio a essas contradiccedilotildees a filosofia do cooperativismo eacute convergente agrave

formaccedilatildeo de capital social tendo em vista que as cooperativas satildeo agentes de

desenvolvimento da regiatildeo em que satildeo formadas e por atuarem em um espaccedilo

delimitado pela rede estabelecida entre os cooperados Essa caracteriacutestica do

cooperativismo conforme Salanek Filho e Silva (2003) eacute determinada porque o

acesso de uma pessoa a um sistema cooperativo torna-a tambeacutem um agente

participante desse desenvolvimento tanto por sua capacidade de articulaccedilatildeo e de

influecircncia quanto pela forma como interage com os demais cooperados Nesse

caso conforme esses autores a interaccedilatildeo confianccedila definiccedilatildeo de objetivos comuns

e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees fundamentais para compreender o

processo cooperativista e a importacircncia relativa do capital social para o

desenvolvimento do local onde essas organizaccedilotildees se formam Reciprocamente

onde haacute capital social desenvolvido haacute facilidade de se formar associaccedilotildees

Os benefiacutecios da confianccedila capital social e cooperaccedilatildeo podem ser

considerados instrumentos de sustentaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Embora o conceito

de capital social tenha sido tratado muito depois de Owen essas premissas jaacute

estavam na impliacutecitas na sua proposta quando articulou sobre o cooperativismo

Portanto dentre importantes contribuiccedilotildees de diferentes correntes teoacutericas

conforme Carneiro (1981) talvez a maior delas tenha sido de Robert Owen

talvez a mais importante liccedilatildeo comunitaacuteria na sociedade moderna advenha da experiecircncia owenista onde se tentou conciliar o incentivo individual com uma eficiente decisatildeo no processo democraacutetico deste modo a sociedade para Owen deveria ser implantada para os fins da cooperaccedilatildeo (CARNEIRO 1981 P69)

Com esse pensamento instituiu-se o princiacutepio da co-operation na sua

idealizaccedilatildeo que se transformou no principal elemento da doutrina cooperativista

Para Owen a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo

importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos de

sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO1981) Esses

condicionamentos referidos por Owen seriam as sensaccedilotildees percepccedilotildees e os

conhecimentos que na sua visatildeo criam o motivo de accedilatildeo chamado vontade a qual

estimula o homem a agir e decidir suas accedilotildees

70

Carneiro (1981) evidencia ainda que Owen aguardava ardentemente a

reforma da sociedade e sua grande proposta de co-operaccedilatildeo estava subordinada a

novos conceitos de educaccedilatildeo psicologia e eacutetica social Na sua concepccedilatildeo o

comportamento do homem seria definido por um composto cujo caraacuteter eacute formado

por sua constituiccedilatildeo ou formaccedilatildeo durante o nascimento e pelo efeito das

circunstacircncias externas desde o nascimento ateacute a morte Essas determinantes

continuam sendo discutidas pelos pesquisadores das ciecircncias sociais e muitos

deles corroboram que o comportamento dos indiviacuteduos eacute influenciado pelo meio e

este resulta das relaccedilotildees entre os pares Essa afirmativa exposta por Owen citada

em Carneiro (1981) eacute tambeacutem presente em Arauacutejo (2003) Putnan (2002) e Douglas

(1998) embora de forma diferente foi descartado por Olson (1999) e Elster (1994)

entre outros autores que discutem o comportamento social

Talvez essas prerrogativas justifiquem e ao mesmo tempo mostrem todo o

creacutedito que deve ser depositado agrave importacircncia e necessidade de fortalecimento do

cooperativismo com os dilemas aqui apresentados inibidos pela interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos nas premissas que se formam o capital social Pois nenhuma outra forma

de organizaccedilatildeo da economia foi proposta para substituir o modelo do cooperativismo

que ao longo de mais de um seacuteculo vem resistindo a diferentes mudanccedilas

ocorridas na sociedade

Dumont (2005) indica que a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das

outras civilizaccedilotildees e culturas Portanto eacute importante observar as necessidades de

correccedilotildees ponderando as particularidades de cada lugar

Natildeo haacute uma configuraccedilatildeo comum de ideacuteias e valores existe uma continuidade histoacuterica e intercomunicaccedilatildeo - e de outra ndash a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das outras civilizaccedilotildees e culturas As ideacuteias ou categorias de pensamento especificamente modernas aplicavam-se mal agraves outras sociedades Portanto eacute interessante estudar o nascimento o lugar ou funccedilatildeo dessas categorias que o autor se refere ao indiviacuteduo agrave poliacutetica e agrave moralidade para apurar como ela se diferencia e finalmente que papel desempenha na configuraccedilatildeo global (DUMONT 1985 P22-23)

Portanto na nova ordem econocircmica os novos modelos de accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidos jaacute satildeo respostas agraves necessidades de observar o

modelo de cooperativismo para o qual evoluiacutemos Que seja de fato retomado para

uma gestatildeo da economia de forma mais solidaacuteria e justa para atender uma

populaccedilatildeo mais homogecircnea em suas reais necessidades Nesta concepccedilatildeo haacute uma

congruecircncia com Olson (1999) porque o autor considera sobretudo que os

71

indiviacuteduos faratildeo escolhas neste caso dotados de informaccedilotildees e com estiacutemulos para

que a escolha seja a melhor opccedilatildeo Deste modo ele tem que escolher

racionalmente em que modelo de organizaccedilatildeo cooperativa ele quer participar

72

4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO COOPERATIVISMO

Este capiacutetulo apresenta os resultados observaccedilotildees e percepccedilotildees obtidos

durante a pesquisa de campo sobre a participaccedilatildeo do produtor rural em

organizaccedilatildeo cooperativa Primeiramente acha-se importante expor a caracterizaccedilatildeo

do municiacutepio de Carlos Chagas onde a pesquisa foi feita pois o municiacutepio eacute

conhecido regionalmente como cidade cooperativista Entatildeo buscou-se

informaccedilotildees para entender o porquecirc desta caracteriacutestica

Em seguida uma descriccedilatildeo da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM objeto do estudo de caso Em sequumlecircncia seraacute apresentada sua

estrutura organizacional atuaccedilatildeo com os associados atuaccedilatildeo no mercado e outros

trabalhos realizados na comunidade Posteriormente seratildeo mostrados os resultados

dos questionaacuterios aplicados assim como informaccedilotildees obtidas com as entrevistas

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas

A cidade de Carlos Chagas estaacute localizada na regiatildeo nordeste do Estado de

Minas Gerais no Vale do Rio Mucuri agraves margens da BR 418 entre as rodovias BR

116 e BR 101 principais malhas viacutearias que ligam a regiatildeo norte ao sul do paiacutes

Com a chegada de imigrantes para trabalhar na construccedilatildeo da Ferrovia Bahia

Minas em meados do seacuteculo XIX originou-se a colocircnia que cem anos depois se

transformaria em municiacutepio

A colocircnia Militar do Urucu criada em 1854 para dar proteccedilatildeo aos trabalhadores da Companhia do Mucuri foi o foco inicial da colonizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas Uma leva de colonos estrangeiros se dirigiu para a Colocircnia Eram de origem belga e holandesa A colocircnia tornou-se o celeiro para o fornecimento de mantimentos para o pessoal que trabalhava na construccedilatildeo da estrada de Ferro Bahia e Minas (NOGUEIRA FILHO 1989 P6)

Figura 3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de Mangalocirc

Assim os desbravadores se encantaram pelo solo feacutertil e foram ficando Da

exploraccedilatildeo de madeiras foram-se abrindo pastagens que permitiram ao municiacutepio

desenvolver-se na pecuaacuteria e ser conhecido tambeacutem como a Capital do Boi pois

pelas caracteriacutesticas propiacutecias permitiu-se ter um dos melhores rebanhos bovinos

do Estado

Em 1938 o municiacutepio conseguiu emancipaccedilatildeo e atualmente tem a populaccedilatildeo

de 21722 habitantes com 7723 moradores na aacuterea rural (IBGE 2002) Eacute um dos

maiores municiacutepios mineiros em extensatildeo e faz parte do Territoacuterio Vale do Mucuri

mesorregiatildeo definida pelo Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel

para poliacutetica de apoio agrave agricultura familiar estabelecida pela Secretaria de

Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio (MDA)

Para melhor visualizaccedilatildeo dessa localizaccedilatildeo segue Figura 4

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas no Estado de MG

Fonte httpterritoriomucuriorg

73

74

Atualmente o municiacutepio destaca-se por ser reconhecida como Cidade

Cooperativista pois haacute grande interaccedilatildeo entre as cooperativas locais e instituiccedilotildees

puacuteblicas e privadas onde tecircm-se buscado desenvolver a cultura da cooperaccedilatildeo em

toda comunidade desde as escolas de ensino baacutesico e ensino meacutedio local Eacute

modelo na regiatildeo por essa forma de conduzir suas atividades tanto quando se

destinam ao urbano quanto ao rural

Todo trabalho realizado com essa finalidade tem tido apoio das cooperativas

locais que satildeo a Coolvam a Cooperativa de Creacutedito Rural de Carlos Chagas

(Credicar) atualmente integrada agrave rede Sistema de Creacutedito Coopeativo do Brasil

(Sicoob) e a Cooperativa Educacional de Carlos Chagas (Cooeducar) dentre outras

pequenas cooperativas juntamente com a Agecircncia de Desenvolvimento de Carlos

Chagas (Adecar) Prefeitura Municipal e o Conselho de Desenvolvimento Rural

Sustentaacutevel (CMDRS) e as associaccedilotildees comunitaacuterias rurais que tecircm sido

importantes na construccedilatildeo dessa cultura pois eacute por meio da participaccedilatildeo de seus

membros que as cooperativas estatildeo desenvolvendo trabalhos sobre a educaccedilatildeo

cooperativista Conforme o Diretor Presidente da Coolvam

Carlos Chagas eacute considerada cidade do cooperativismo quatro cooperativas da cidade que satildeo muito fortes e satildeo sem duacutevida que datildeo sustentaccedilatildeo para o municiacutepio ()Estatildeo muito ligadas ao meio rural precisa fazer uma trabalho que estaacute comeccedilando agora no meio urbano Temos trabalho jaacute comeccedilado A cooperativa de produccedilatildeo e de creacutedito participam de todo e qualquer evento ou movimento que eacute realizado na cidade participa de todas as entidades carentes (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Na cidade permite-se identificar que por essa forma de interaccedilatildeo entre esses

agentes no desenvolvimento de atividades diversas haacute uma formaccedilatildeo de capital

social que propicia o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio

42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM

A COOLVAM estaacute classificada no ramo agropecuaacuterio com sessenta anos de

atuaccedilatildeo fundada em 27 de julho do ano de 1947 por um grupo de trinta produtores

que buscavam uma maneira mais rentaacutevel para o aproveitamento do leite produzido

em suas fazendas Apoacutes vaacuterios diaacutelogos entre esses produtores realizou-se a

primeira reuniatildeo para oficializar a constituiccedilatildeo desta cooperativa

75

() Aberta a sessatildeo foi declarado pelo Sr Presidente que o fim da reuniatildeo era o de constituir uma cooperativa de responsabilidade limitada com sede em Carlos Chagas sob a denominaccedilatildeo ldquoSociedade Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucurirdquo e com o objetivo econocircmico de beneficiamento e industrializaccedilatildeo do leite (LIVRO DE ATA 1947 P1)

A histoacuteria de idealizaccedilatildeo da cooperativa foi contada pelo filho de um dos

fundadores

Meu pai era um visionaacuterio ele foi um grande empreendedor ele passou muito tempo falando de fundar uma cooperativa com os amigos por conta proacutepria ele foi a Satildeo Paulo conhecer uma cooperativa em funcionamento naquela eacutepoca

Eles reuniam sempre debaixo de uma aacutervore ldquonaquela casardquo (no momento da entrevista coincidentemente estaacutevamos proacuteximo ao local) no centro da cidade nas tardes e conversavam sobre a ideacuteia da cooperativa ( PRODUTOR 53 2008)

Percebe-se assim que havia uma motivaccedilatildeo para organizaccedilatildeo da cooperativa

pela necessidade de um meio para comercializar a produccedilatildeo jaacute naquela eacutepoca

Numa ata de eleiccedilatildeo e empossamento de presidente da cooperativa em 1963 estaacute

transcrito a fala que exprime um sentimento de responsabilidade frente agrave funccedilatildeo de

representaccedilatildeo do grupo de associados que caracteriza o objetivo da participaccedilatildeo na

lideranccedila ideal na organizaccedilatildeo cooperativa

ldquoEstando certo de que o homem natildeo pertence somente a si proacuteprio e a sua famiacutelia senatildeo que tem deveres para com a sociedade em que labuta natildeo me fiz de rogado e aceitei o pronunciamento da urna com pleno conhecimento das graves responsabilidades que iratildeo pesar sobre os meus fraacutegeis ombros em ocasiatildeo ensombrada de tantas dificuldades Entretanto supervisionarei os negoacutecios da nossa Cooperativa com a prudecircncia e criteacuterio que ateacute aqui tenho posto na gerecircncia de meus interesses privados (LIVRO DE ATA 1963)

Desde a constituiccedilatildeo e conforme conjuntura de cada eacutepoca agrave sua maneira

cada presidente eleito deixou contribuiccedilotildees para a evoluccedilatildeo da cooperativa Nos

uacuteltimos anos na busca de excelecircncia e competitividade vem se desenvolvendo e

conquistando espaccedilo junto ao mercado nacional Em 2002 recebeu o precircmio

Qualidade Ameacuterica Do Sul ndash 2002 em decorrecircncia do padratildeo de qualidade dos

produtos e serviccedilos apresentados e apoio e suporte agraves instituiccedilotildees sociais locais

Juntamente com a outorga do precircmio foi recebido o trofeacuteu Incentivo que representa

o reconhecimento puacuteblico da eficiecircncia no setor empresarial constituindo a

homenagem ao trabalho desenvolvido pela COOLVAM

No ano de 2003 por meio de pesquisa realizada entre clientes oacutergatildeos de

classe formadores de opiniatildeo e indicadores sociais a Coolvam foi aprovada para

receber o precircmio ldquoTop Of Qualityrdquo composto de trofeacuteu e diploma especial como

destaque no segmento Cooperativa de Laticiacutenios simbolizando o reconhecimento da

76

qualidade e excelecircncia em sua aacuterea de atividade e respectiva influecircncia social

Ainda no mesmo ano recebeu o precircmio Master Qualidade Ameacuterica do Sul 2003

No ano seguinte em 2004 a Coolvam foi condecorada com mais um precircmio

como destaque pelos relevantes serviccedilos prestados agrave sociedade tratando-se da

Medalha e Diploma Dr Ulisses Guimaratildees outorgados pela Ordem dos

Parlamentares do Brasil sendo que apenas 20 empresas brasileiras participam da

premiaccedilatildeo

A Coolvam ocupou em 2005 o trigeacutesimo lugar na classificaccedilatildeo por nuacutemero de

empregados diretos e 49ordm lugar por faturamento entre as 50 maiores cooperativas

no ranking da OCEMG (INFORMATIVO COOLVAM 2007) Essa classificaccedilatildeo

efetiva a dimensatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo desta cooperativa na economia do

municiacutepio e todas as outras conquistas retratam o reconhecimento do

desenvolvimento da Coolvam que tem focado as mudanccedilas de mercado buscando

parcerias de forma ativa e competitiva e conforme o Diretor Presidente ldquoprioriza as

necessidades dos associadosrdquo

421 Estrutura Organizacional

As diretrizes para funcionamento da cooperativa estatildeo no seu Estatuto social

assim definidas

Objeto social A sociedade tem por objetivo a melhoria econocircmica e social dos seus cooperados com base na participaccedilatildeo consciente e na colaboraccedilatildeo reciacuteproca a que se obrigam desenvolvendo as seguintes atividades econocircmicas

1)- Industrializaccedilatildeo de vaacuterios produtos atraveacutes do beneficiamento do leite entregue por seus cooperados e a produccedilatildeo de sal mineralizado para pecuaacuteria de corte e leiteira

2)- Comercializaccedilatildeo venda em comum de produtos in natura eou industrializados de produccedilatildeo agropecuaacuteria de seus cooperados

3)- Serviccedilo de abastecimento adquirindo ou produzindo para fornecimento ao quadro social na medida em que os interesses soacutecio-econocircmicos aconselharem todos os artigos necessaacuterios agrave sua atividade econocircmica e ao seu uso pessoal ou domeacutestico

4)- Serviccedilos Teacutecnicos mediante assistecircncia teacutecnica agro-pecuaacuteria e assistecircncia teacutecnica contaacutebil objetivando a racionalidade e produtividade das exploraccedilotildees agropecuaacuterias

5)- Serviccedilos sociais mediante a celebraccedilatildeo de convecircnios com entidades puacuteblicas e privadas de atividade de promoccedilatildeo humana educativa de assistecircncia meacutedico hospitalar de serviccedilos culturais desportivos de integraccedilatildeo social dos cooperados e dos funcionaacuterios da empresa

77

6)- Incentivo agrave produccedilatildeo atraveacutes de recursos proacuteprios quando possiacutevel ou pela intermediaccedilatildeo junto a estabelecimentos de creacutedito particulares ou puacuteblicos para incorporaccedilatildeo de tecnologia apropriada de produccedilatildeo de melhoria da produtividade (ESTATUDO SOCIAL 1988 P8-9)

De acordo com o Estatuto Social da Coolvam a Assembleacuteia Geral eacute o Oacutergatildeo

Supremo da cooperativa com poderes dentro dos limites da Lei e do Estatuto

vigente Eacute responsaacutevel por toda decisatildeo de interesse social e suas deliberaccedilotildees

vinculam a todos ainda que ausentes ou discordantes O Conselho de

Administraccedilatildeo eacute formado por nove cooperados eleitos em Assembleacuteia Geral

Ordinaacuteria

O Conselho Fiscal eacute composto por 3 membros efetivos e 3 suplentes eacute

responsaacutevel pela fiscalizaccedilatildeo das atividades da cooperativa e a diretoria executiva eacute

composta por um diretor presidente (cooperado) eleito em Assembleacuteia Geral um

Gerente Geral contratado e um consultor que acompanha a administraccedilatildeo da

cooperativa haacute mais de 15 anos completando com a equipe de 148 funcionaacuterios que

desempenham as atividades administrativas de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

422 Quadro Social

Atualmente o quadro social da Cooperativa eacute composto por 352 associados

sendo 273 em Carlos Chagas e municiacutepios circunvizinhos e os 79 restantes satildeo

associados agrave Cooperativa Regional Agropecuaacuteria de Satildeo Domingos do Prata

(Duprata) na cidade de Satildeo Domingos do Prata Minas Gerais incorporada agrave

Coolvam desde marccedilo de 2006

423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo

Os associados se organizam por meio do Comitecirc Educativo oacutergatildeo criado

desde 1990 com o objetivo de manter um canal de comunicaccedilatildeo com os cooperados

e desenvolver atividades ligadas agrave educaccedilatildeo cooperativista Eacute um oacutergatildeo de

assessoria ajuda na resoluccedilatildeo de problemas podendo apresentar sugestotildees

reivindicaccedilotildees poreacutem natildeo tem poder de decisatildeo

Os trabalhos desenvolvidos pelo comitecirc educativo envolvem a realizaccedilatildeo de

reuniotildees bimestrais em cada uma das comunidades dias de campo visitas teacutecnicas

palestras cursos campanhas de vacinaccedilatildeo e treinamentos

78

423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam

Devido agrave necessidade de se promover a autogestatildeo na Cooperativa e

melhorar o contato entre cooperativa e cooperados no ano de 1990 a Coolvam

contratou uma empresa de consultoria com a finalidade de iniciar o processo de

OQS com a implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo

Apoacutes meses de trabalho o Comitecirc Educativo se definiu abrangendo cinco

comunidades da aacuterea de accedilatildeo da Coolvam passando a ser entatildeo um oacutergatildeo de

assessoria da administraccedilatildeo e dos cooperados constituiacutedo por um grupo de

lideranccedilas que se reuacutenem para levantar e discutir problemas analisaacute-los e sugerirem

ideacuteias que atendam aos interesses da comunidade cooperativista

Com a constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo os cooperados passaram a levar agrave

administraccedilatildeo seus problemas desejos e necessidades bem como sua ajuda para

soluccedilotildees de problemas Eacute por meio dele que a administraccedilatildeo se comunica com os

associados quando apresentam planos de trabalho metas e informaccedilotildees sobre a

cooperativa

Atualmente esse conselho eacute formado por 12 membros sendo um

coordenador e um secretaacuterio de cada uma das 06 comunidades rurais pertencentes

agrave Coolvam Vila Pereira BrejauacutebaLajeado Coacuterrego do Oito Burro

PrateadoCapoeiras JequiririPampa Coacuterrego SecoCoraccedilatildeo de Minas que estatildeo

organizadas espacialmente no municiacutepio

conforme a logiacutestica de captaccedilatildeo de leite

Uma descriccedilatildeo mais detalhada sobre a formaccedilatildeo do Comitecirc Educativo estaacute

no extrato da entrevista com a assessora de cooperativismo da Coolvam

Depois das cinco comunidades que foram formadas que comeccedilou esse trabalho outras surgiram depois em meacutedia quatro a cinco soacute que tambeacutem tivemos exemplos de comunidades que foram formadas mas duraram muito pouco teve o exemplo da criaccedilatildeo da comunidade urbana pelas segunda ata durou apenas dois meses e outras comunidades que duraram seis meses e um ano aproximadamente Pelo que pesquisei quando cheguei aqui em 99 o motivo maior da extinccedilatildeo da comunidade foi da falta de lideranccedila naquela regiatildeo e tambeacutem problemas de ordem poliacutetica em oposiccedilatildeo muito forte em relaccedilatildeo agrave cooperativa Natildeo da cooperativa de se impor mas da parte deles de natildeo estarem mais de acordo com a poliacutetica da cooperativa Entatildeo eles deixaram de dar continuidade aos trabalhos naquela regiatildeo Em 99 tinham oito comunidades

79

formadas ativas um ano depois foi criada mais uma e chegamos a nove Por um periacuteodo de influecircncias de outras empresas de laticiacutenios aqui na regiatildeo vaacuterios produtores deixaram de atuar junto a Coolvam entatildeo a gente perdeu bastante associados e noacutes viemos a perder algumas comunidades tambeacutem Hoje temos ativas seis comunidades podemos dizer hoje que satildeo bastante atuantes Pegamos diversos setores varias aacutereas de atuaccedilatildeo da Coolvam

Teve caso que a gente juntou duas comunidades Isso funciona muito bem a cada dois meses a gente realiza reuniotildees em uma regiatildeo outro mecircs realiza em outra Egrave uma comunidade muito integrada bastante homogecircnea entatildeo facilita bastante o trabalho No mecircs em que faz a reuniatildeo os associados da outra regiatildeo vatildeo ate la e vice versaEntatildeo isso eacute muito interessante A gente tentou tambeacutem a junccedilatildeo de outras comunidades mas natildeo teve muito sucesso Fizemos umas duas junccedilotildees que deu muito certo

Hoje temos seis comunidades e agente acredita que o trabalho estaacute no caminho certo O que precisamos agora e estar mensurando esse trabalho quantificando mais esse trabalho que eacute feito pela cooperativa Acho que eacute o caminho Tem que haver esse tipo de integraccedilatildeo entre a cooperativa e o associado Soacute atraveacutes dessa integraccedilatildeo a gente consegue levar ateacute eles informaccedilotildees consegue extrair deles aquilo que eacute realmente necessaacuterio para o crescimento deles na cooperativa e o que a gente pode estar melhorando em relaccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico e social Enfim algo que e necessaacuterio que exista em toda cooperativa (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Em mensagem enviada pelos membros da empresa de assessoria de

cooperativismo (ASCOOP) com saudaccedilotildees agrave constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo teve

o teor que desenha o ideal da participaccedilatildeo dos soacutecios nas accedilotildees da Cooperativa

() Noacutes da ASCOOP que colaboramos no plantio da semente da participaccedilatildeo aqui na Coolvam deixamos com vocecircs esta mensagem ldquouma vez plantada a semente da participaccedilatildeo cabe a cada um de vocecircs regaacute-la com a responsabilidade consciecircncia e coragem Responsabilidade para cumprir com os compromissos assumidos consciecircncia para compreender o futuro seguro que existe no cooperativismo e coragem para decidir e administrar um patrimocircnio que eacute de todos cujo bem maior eacute a solidariedaderdquo

Desejamos sucesso a todos Cada vez mais acreditamos no cooperativismo porque cada vez mais acreditamos no trabalho e no ser humano () Saudaccedilotildees cooperativistas (CARTA ASCOOP 1999)

Desta maneira percebe-se a importacircncia dada agrave necessidade de fomentar a

participaccedilatildeo de associados nos oacutergatildeos que os representam na defesa de seus

interesses junto agrave organizaccedilatildeo cooperativaseja no comitecirc nos conselhos nas

reuniotildees ou em assembleacuteias

425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos

No iniacutecio das suas atividades a cooperativa funcionava somente com venda

de leite in natura para outras empresas pois natildeo tinha estrutura industrial montada

80

para a produccedilatildeo de derivados laacutecteos Somente em 1986 iniciou-se a

industrializaccedilatildeo do leite com a produccedilatildeo de queijo e manteiga

Dez anos depois por meio de contrato fez parceria com a Cooperativa

Agropecuaacuteria do Vale do Rio Doce (COOPERIODOCE) em Governador Valadares ndash

MG para envasamento de leite Longa Vida com a marca Mucuri Posteriormente

foi cancelado tal contrato e o envase passou a ser feito pela empresa Barbosa amp

Marques no mesmo municiacutepio

No ano de 2001 a COOLVAM firmou contrato com a empresa Nutriacutecia e deu

iniacutecio agrave produccedilatildeo de leite em poacute Mais recentemente em 2003 foi iniciada a

produccedilatildeo de bebida Laacutectea mais um produto com sua marca

Atualmente com captaccedilatildeo meacutedia de leite estaacute em torno de 60000 litros de

leite por dia produz queijo mussarela queijo prato queijo prato light queijo

parmesatildeo queijo minas leite em poacute leite longa vida integral e desnatado e bebida

laacutectea UAT O mercado atendido com seus produtos estaacute em diferentes regiotildees do

Paiacutes sendo que para a Bahia e Sergipe se destinam aproximadamente 58 da sua

produccedilatildeo total Nessas localidades os clientes satildeo na maioria grandes atacadistas

enquanto que o restante da produccedilatildeo 42 vai para outras regiotildees onde as vendas

satildeo mais pulverizadas com atendimento a supermercados restaurantes padarias e

pizzarias ainda na Bahia e nos estados do Espiacuterito Santo e Rio de Janeiro

426 Serviccedilos prestados aos associados A cooperativa possui um Departamento de Assistecircncia Teacutecnica (DAT)

composto por um agrocircnomo um teacutecnico agriacutecola e apoio de estagiaacuterios que vecircm de

convecircnios com instituiccedilotildees de ensino que deste modo formam uma equipe para

prestar serviccedilos aos associados A forma de facilitar o acesso dos associados a

produtos veterinaacuterios e agropecuaacuterios eacute por meio da Farmaacutecia Veterinaacuteria que tem o

objetivo de atender agraves necessidades dos cooperados com insumos e suporte de

outros produtos principalmente raccedilotildees e sementes

Em parceria com o SEBRAE ndash MG participa do Projeto Educampo desde

1997 com o objetivo e finalidade de especializar e tecnificar a atividade leiteira junto

aos associados A participaccedilatildeo no programa eacute custeada pelos associados e

atualmente atende um grupo de 58 produtores Estes recebem orientaccedilotildees e

81

informaccedilotildees zooteacutecnicas agriacutecolas de educaccedilatildeo administrativa gerenciamento

agropecuaacuterio e difusatildeo tecnoloacutegica realizada por teacutecnicos

O Educampo projeto desenvolvido pelo SebraeMG se propotildee a orientar grupos de produtores rurais por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e gerencial com o objetivo de desenvolver aspectos econocircmicos e sociais tornando-os mais eficientes e competitivos As accedilotildees do projeto visam ao aumento da produtividade agropecuaacuteria e consequumlentemente da lucratividade e da qualidade de vida do produtor rural Para participar do Educampo eacute fundamental que o produtor apresente perfil empreendedor e esteja disposto a adotar as orientaccedilotildees do teacutecnico que o acompanha tanto no tocante agraves teacutecnicas produtivas quanto aos controles gerenciais que se constituem no grande diferencial da assistecircncia oferecida pelo projeto (DUARTE 2006 p23)

427 Perfil dos produtores associados da Coolvam

O perfil dos produtores rurais desta pesquisa apresentou-se com dados

semelhantes aos observados por Gomes (2005) sobre o perfil dos produtores

rurais em Minas com algumas caracteriacutesticas tiacutepicas do municiacutepio jaacute que a

populaccedilatildeo entrevistada restringiu-se a Carlos Chagas

Nos trabalhos com produtores de leite usa-se a terminologia pequeno

meacutedio e grande produtor No entanto tecnicamente na Coolvam os

produtores natildeo satildeo identificados por estrato social mas por faixa de

produccedilatildeo Estes satildeo distribuiacutedos em quatro faixas conforme mostra o quadro

abaixo Deste modo nos registros em controles internos as informaccedilotildees satildeo

registradas conforme essa classificaccedilatildeo

Faixa Associados Produtores Litrosdia Volume Ateacute 200 173 65 1484287 25 De 201 a 350 lts 39 15 987157 17 De 351 a 500 lts 19 7 762167 13 Acima de 501 lts 35 13 2666160 45 Total 266 5899770 100

Tabela 2 Organizaccedilatildeo de produtores assiciados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008

Numa melhor visualizaccedilatildeo graacutefica assim satildeo agrupados os produtores

associados (Figura 5)

65

157 13

100

0

20

40

60

80

100

Produtores

Ateacute 200

De 201 a 350 lts

De 351 a 500 lts

Acima de 501 lts

Total

Figura 5 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008 Portanto para utilizar a terminologia proposta nesta pesquisa e

possibilitar anaacutelises comparativas com outros trabalhos foi feito um

reagrupamento dos produtores em conformidade com informaccedilotildees do diretor

e o gerente do Departamento de Assistecircncia Teacutecnica ficando os produtores

reagrupados desta forma

Estratos Sociais Associados Produtores Pequenos (0 a 200 lts) 173 65 Meacutedios (201a 499 lts) 58 22

Grandes (acima de 500 lts) 35 13 Total 266 100

Tabela 3 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por estrato social 2008

Deste modo a Coolvam apresenta em seu quadro social um nuacutemero

consideravelmente maior de pequenos produtores rurais o que confirma a

caracterizaccedilatildeo da maioria das cooperativas de leite brasileiras conforme mostra a

Figura 6 Este grupo tem uma representaccedilatildeo de 65 da populaccedilatildeo de soacutecios

seguido de 22 considerados meacutedios produtores e 13 de grandes produtores

Estes dois uacuteltimos grupos perfazem uma diferenccedila menor em nuacutemero de

associados entretanto no grupo dos grandes produtores estatildeo incluiacutedas as

associaccedilotildees rurais associadas agrave cooperativa Essas associaccedilotildees satildeo compostas por

nuacutemeros variados de produtores mas eacute cadastrado como soacutecio no quadro social da

cooperativa a pessoa juriacutedica que eacute representada pelo presidente da associaccedilatildeo

Este tem direito a um voto nas assembleacuteias

82

65

2213

100

0102030405060708090

100

Produtores

Pequenos (0 a 200 lts)

Meacutedios (201 a 499 lts)

Grandes (Mais de 500 lts)

Total

Figura 6 Organizaccedilatildeo de Produtores associados agrave Coolvam por Estrato Social 2008

A figura 7 mostra a distribuiccedilatildeo de produtores entrevistados por comunidade

rural o que demonstra uma quantidade maior de comunidades do que as seis

citadas pela cooperativa Isso deve-se ao fato de que os associados se identificam

numa comunidade mas para melhor gestatildeo dessas comunidades pela cooperativa

foi feito agrupamento de algumas como Jequiriri e Coraccedilatildeo de Minas Outras estatildeo

desativadas (Mangalocirc) ou seja natildeo estatildeo se reunindo Ainda haacute produtores que

residem em regiotildees cujas comunidades natildeo satildeo formalmente reconhecidas pela

cooperativa como a do Baixo Mucuri

66

0

27

38

20

9

00

1213

0

6

00

15

0

40

6

13

0

9

1920

30

20

0

6

0

66

00

5

10

15

20

25

30

35

40

Pampa

m

BPratea

do

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Jequ

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Baixo M

ucuri

Corrego

do O

ito

Capoe

iras

Vila P

ereira

Mangalocirc

Outras PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 7 Amostra de produtores por comunidades rurais na aacuterea da Coolvam 2008

A meacutedia de idade dos associados eacute de 52 anos corrobora com a constataccedilatildeo

de Gomes (2005) embora na Coolvam haja no quadro social jovens cooperativistas 83

84

participando do comitecirc e de conselhos essa eacute uma minoria Quanto ao grau de

escolaridade dos associados o estrato de grandes produtores apresentou maior

nuacutemero de membros com curso superior entretanto em todos os estratos a maioria

dos produtores tem o primeiro grau conforme tabela 4

Idade PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Meacutediaanos 56 47 58 Escolaridade

PEQUENO MEacuteDIO GRANDEEnsino meacutedio 47 50 402 grau 36 42 20Superior 18 8 40

Estado civil PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Solteiro 5 27 17Casado 95 73 67Viuacutevo 0 0 17

Tabela 4 Perfil do Produtor associados agrave Coolvam (idadeescolaridadeestado civil) 2008

A maioria dos produtores entrevistados manteacutem residecircncia tanto na cidade

quanto na propriedade rural Entretanto a pesquisa mostrou um equiliacutebrio entre o

nuacutemero de associados que consideraram sua residecircncia principal na cidade

Conforme Figura 8 45 dos produtores disseram residir na propriedade enquanto

que 55 consideraram sua principal residecircncia na cidade O grupo dos meacutedios

produtores apresentou uma diferenccedila maior 63 moram na cidade contra 38 que

moram no meio rural o que mostra tambeacutem nuacutemeros mais equilibrados nesse grupo

47

38

50 53

63

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Rural Urbana

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 8 Residecircncia principal de produtores associados agrave Coolvam 2008

Quanto agrave naturalidade a pesquisa mostrou que haacute um equiliacutebrio entre os

produtores quanto ao percentual dos que nasceram no municiacutepio e os que vieram de

outras regiotildees mostrando que na maioria dos casos os produtores satildeo de origem

de lugares proacuteximos como Vale do Jequitinhonha Norte de Minas e Bahia sendo

que os mais distantes vieram do nordeste do paiacutes

Os associados tecircm no leite a principal atividade econocircmica mas todos

possuem complemento de renda com venda de bezerros cria e engorda de gado

de corte ou aposentadoria Haacute algumas exceccedilotildees de produtores que satildeo

profissionais na comercializaccedilatildeo de gado de corte para outras regiotildees Somente

alguns respondentes citaram diversificar a atividade produtiva somente um produtor

respondeu trabalhar com apicultura atuando na comercializaccedilatildeo e beneficiamento

de mel e outros com a produccedilatildeo de farinha Portanto o municiacutepio se caracteriza

praticamente pela pecuaacuteria e precisamente dependecircncia da comercializaccedilatildeo do

leite

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM

Agrave luz da teoria da escolha racional sobre os custos e benefiacutecios provenientes

da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas coube neste trabalho identificar a

motivaccedilatildeo dos soacutecios sobre a associaccedilatildeo e participaccedilatildeo nas atividades da

cooperativa local

85

86

A cooperativa em estudo demonstra evoluccedilatildeo no direcionamento de

trabalhos de organizaccedilatildeo do quadro social valoriza a educaccedilatildeo cooperativista

canaliza esforccedilos para crescimento da empresa cooperativa entretanto o estudo

teve a oportunidade de identificar algumas lacunas conforme ponto de vista dos

associados que merecem atenccedilatildeo para accedilotildees mais participativas destes

Para saber sobre quais motivos o produtor se associa agrave cooperativa foi

perguntado aos entrevistados por que se associaram agrave Coolvam Obteve-se

respostas homogecircneas nos grupos de pequenos e meacutedios produtores associadas agrave

importacircncia do cooperativismo (43 e 44) agrave fidelidade na captaccedilatildeo de leite (37

e 39) e agrave tradiccedilatildeo familiar (17 e 11) como mostra a Figura 9 Eacute certo que haacute

uma dependecircncia maior do grupo de pequenos produtores agrave cooperativa

corroborando o que mostra os trabalhos de Pereira (2002) e Graziano da Silva

(2000) mas essa questatildeo mostrou uma maior associaccedilatildeo de grandes produtores

pela valorizaccedilatildeo da filosofia do cooperativismo (57) do que nos outros estratos em

relaccedilatildeo aos outros indicadores entretanto os pequenos produtores mostraram em

maior nuacutemero ser motivo da associaccedilatildeo o viacutenculo familiar quando responderam

que satildeo associados tambeacutem por tradiccedilatildeo familiar enquanto que essa posiccedilatildeo natildeo

foi registrada no estrato de grandes produtores Essa constataccedilatildeo pode ser

relacionada a capital social formado entre esses soacutecios que se fortalece quando

satildeo mantidas as tradiccedilotildees familiares (Putnam (1996) Bueno (2004) A presenccedila de

capital social se evidenciou em outros dois aspectos

Primeiro a indicaccedilatildeo do cooperativismo em si ter sido considerada o maior

motivo da associaccedilatildeo em todos os estratos e segundo a indicaccedilatildeo da fidelidade da

cooperativa na captaccedilatildeo de leite Esse uacuteltimo eacute um diferencial da organizaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a outras empresas do segmento com reconhecimento dos soacutecios ao

esforccedilo da cooperativa em captar leite nos meses de chuva periacuteodo em que haacute

maior volume produzido o mercado paga menor preccedilo pelo leite in natura e

produtos derivados e por outro lado haacute maior custo de captaccedilatildeo em funccedilatildeo das

dificuldades com as estradas Com a cooperativa o produtor eacute mais confiante de

que seu leite seraacute recolhido do que por outras empresas privadas Ambas as

indicaccedilotildees caracterizam uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a cooperativa e os

produtores essencial para formaccedilatildeo de capital social

O quesito preccedilo natildeo foi evidenciado em nenhum estrato portanto essa

questatildeo natildeo foi considerada relevante pelos respondentes como motivo de sua

associaccedilatildeo Entretanto o indicativo da associaccedilatildeo pela fidelidade da captaccedilatildeo

como foi registrado pode indicar mecanismos de escolha racional dos associados

em avaliar a relaccedilatildeo preccedilo pago pela produccedilatildeo e a fidelidade de captaccedilatildeo

4344

57

36

14

3739

29

1711

0 0000

10

20

30

40

50

60C

oope

rativ

ism

o

Com

pra

dein

sum

os

Fide

lidad

eca

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atildeo

Trad

iccedilatildeo

fam

iliar

Preccedil

o do

leite

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 9 Motivaccedilatildeo dos produtores para associaccedilatildeo agrave cooperativa Coolvam 2008

Em seguida quando foi solicitado ao associado para indicar o que diferencia

a cooperativa em relaccedilatildeo a outras empresas (Figura 10) as respostas mostraram

novamente certa homogeneidade (23 38 e 33) na valorizaccedilatildeo e

reconhecimento dos associados ao papel social da cooperativa Esse ponto

corrobora Putnan (1996) com a constataccedilatildeo de que as associaccedilotildees civis contribuem

para a eficaacutecia e a estabilidade do governo democraacutetico natildeo soacute por causa de seus

efeitos internos sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem por causa de seus efeitos externos

sobre a sociedade

Nesta etapa foi reforccedilado o indicativo de confianccedila entre a organizaccedilatildeo e os

associados com a importacircncia dada agrave captaccedilatildeo de leite (23 31 e 17) mesmo

que tenha sido evidenciada uma diminuiccedilatildeo dessa preocupaccedilatildeo com a mudanccedila de

estrato social para o grande produtor

Nessa questatildeo o fator que mais chama a atenccedilatildeo eacute que os grandes

produtores indicaram ter mais facilidade de acesso agrave cooperativa do que os outros

grupos que mostraram maior utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de assistecircncia teacutecnica Esse

87

acesso no significado da palavra se refere agrave comunicaccedilatildeo capacidade de trocar ou

discutir ideacuteias de dialogar de conversar com vista ao bom entendimento entre

pessoas (FERREIRA 1993) De modo geral essa interaccedilatildeo entre soacutecios e

organizaccedilatildeo permite que o agente participe do desenvolvimento pela sua

capacidade de articulaccedilatildeo e interaccedilatildeo conforme foi exposto por Salanek Filho e Silva

(2003)

23

3833

813

0

8

00

1513

0

8

00

15

6

50

23

31

17

05

101520253035404550

Pape

l soc

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leite

Aces

so

Cap

taccedilatilde

ode

Lei

te PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios Coolvam 2008

Foi demonstrado no referencial teoacuterico a constataccedilatildeo de que a participaccedilatildeo

de associados em cooperativas tem se limitado agrave presenccedila em assembleacuteias

Portanto permitiu-se verificar a participaccedilatildeo de associados tanto em assembleacuteias

como nas reuniotildees em comunidades e como se daacute a manifestaccedilatildeo dos produtores

em diferentes ocasiotildees

Sobre a participaccedilatildeo em assembleacuteias a maioria dos associados dos dois

primeiros estratos responderam que vatildeo sempre (40 e 49) de vez em quando

(43 e 35) e o restante respondeu que nunca vai Quanto aos grandes

produtores o percentual maior respondeu que vai soacute de vez em quando (83)

conforme Figura 11

88

40

59

17

4335

83

17

60

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

sempre de vez em quando nunca

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 11 Frequecircncia de associados em assembleacuteias Coolvam 2008

Outro indicador do perfil e valorizaccedilatildeo do cooperativismo pelos associados

estaacute representado na Figura 12 ao demonstrar que a maioria destes nos trecircs

estratos vatildeo agraves assembleacuteias mais para cumprir o papel de associado (69 59 e

50) do que pelo fato de ter algo em pauta que seja do seu interesse

69

59

50

3135

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Cumprir papel de associado Interesse na pauta

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 12 ndash Motivaccedilatildeo dos associados para participaccedilatildeo em assembleacuteias Coolvam 2008

Deste modo ao registrar as observaccedilotildees durante a pesquisa a fidelidade

com a cooperativa fica expliacutecita na fala de um produtor de 76 anos associado haacute 30

anos se referindo agrave valorizaccedilatildeo da sua presenccedila e assiduidade em reuniotildees da

cooperativa

Eu vinha a cavalo quando natildeo tinha carro (PRODUTOR 76 2008)

Por outro lado dos respondentes que disseram natildeo participar das

assembleacuteias foram registrados motivos convergentes 89

90

Nunca participo porque existem umas coisas que acho que natildeo estaacute certo (PRODUTOR 77 2008)

Natildeo natildeo gosto de participar porque jaacute levam pronto (PRODUTOR 68 2008)

Esse posicionamento reflete as discussotildees de estudos de Perius (1983) sobre

problemas estruturais do cooperativismo em que ele observa que nasce um conflito

entre soacutecios e administradores quando os interesses passam a natildeo ser mais

ldquoidecircnticosrdquo e observa que a existecircncia desse conflito comeccedila a colocar em duacutevida a

teoria da fidelidade entre soacutecios e administradores Outro trabalho de Munkner

citado em Schneider (1999) aponta para um conflito latente que tende a verificar-se

entre os interesses dos associados e os interesses dos executivos

Segundo Eschenburg citado em Perius (1983) surge uma nova ciecircncia

cooperativa que sustenta que com o crescimento do nuacutemero de soacutecios e o

simultacircneo crescimento da empresa orgacircnica o management se emancipou e a

original identidade da promoccedilatildeo dos soacutecios e da poliacutetica empresarial se transformou

num problema (Eschenburg citado em Perius 1983) Deste modo natildeo haacute de se

esperar unanimidade em satisfaccedilatildeo de associados com a gestatildeo da cooperativa e

do mesmo modo em participaccedilatildeo Resulta daiacute o sentimento que reflete as

observaccedilotildees expostas pelos produtores que natildeo costumam ir agraves assembleacuteias

Numa questatildeo seguinte para ajudar a perceber se haacute o sentimento de

liberdade para participar foi perguntado aos produtores se eles se sentem agrave vontade

para manifestarem em reuniotildees de comunidade e em assembleacuteias da cooperativa

Identificou-se que os associados de maneira geral ficam menos agrave vontade para

manifestar nas assembleacuteias do que nas reuniotildees de comunidade conforme mostram

as Figuras 13 e 14 Mas haacute de se considerar que eacute bastante expressivo o percentual

de participaccedilatildeo dos associados pois nos trecircs grupos a maioria respondeu se sentir

totalmente agrave vontade

63

76

60

141820

14

6

20

9

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Totalmente Parcialmente Natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 13 Liberdade dos associados para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade Coolvam 2008

5558

50

9

26

3330

1617

6

0

10

20

30

40

50

60

Totalmente Parcialmente Natildeo Natildeo Vai

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 14 Liberdade dos associados para manifestar em assembleacuteias Coolvam 2008

Conforme relatado pela assessora de cooperativismo da Coolvam haacute uma

maior participaccedilatildeo de pequenos produtores nas reuniotildees de comunidade Em seu

trabalho de organizaccedilatildeo do quadro social vem sobre a incentivando que estes

manifestem suas opiniotildees quando lhes convier conforme mostra extrato de

entrevista

Eu que estou aqui haacute oito anos e meio e percebo que jaacute houve uma evoluccedilatildeo muito grande Esse trabalho iniciado em 1990 jaacute vai fazer 18 anos e a gente percebe claramente que haacute uma mudanccedila de percepccedilatildeo de visatildeo haacute uma evoluccedilatildeo das pessoas em termos de participaccedilatildeo de chegar e expor seu ponto de vista entatildeo a gente percebe que haacute uma evoluccedilatildeo a gente natildeo tem como mensurar isso aiacute Grau de escolaridade influencia sim mas vai depender tambeacutem de cada pessoa (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

A pesquisa mostra que o grande produtor vai menos agraves reuniotildees somente

17 responderam que vatildeo sempre e consideraram em sua maioria pouco

91

importante (33) ou indiferente (33) sua presenccedila nas assembleacuteias como

mostram as Figuras 15 e 16 Mas outros dados mostraram que estes vatildeo com mais

frequumlecircncia agrave sede da cooperativa para conversar com os dirigentes

28

1817

4241

1714

29

33

17

12

33

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Muito importante Importante Pouco Importante Indiferente

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 15 Consideraccedilotildees sobre a presenccedila de associados em reuniotildees Coolvam 2008

51

82 83

29

1217 20

60

010

20

30

40

5060

70

80

90

Sempre De vez em quando Somente quandoconvocado

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 16 Frequumlecircncia de associados que vatildeo agrave sede da cooperativa Coolvam 2008

Isso indica conforme mostrado em Pereira (2002) sobre a dinacircmica das

relaccedilotildees sociais que os grandes produtores tecircm melhor acesso aos dirigentes e

defendem seus interesses diretamente assim como demonstra a Figura 15

Portanto natildeo sentem necessidade de discussotildees com os demais membros do grupo

cooperativista Entretanto a entrevista com o Presidente mostra que os associados

tecircm igual tratamento e liberdade para conversar com a diretoria Quando foi

perguntado sobre as dificuldades de gerir os diferentes grupos de interesses devido

agrave heterogeneidade do quadro social este confirmou ter dificuldades mas atua sem

restriccedilotildees ou privileacutegios

92

93

Tem Noacutes procuramos praticar os direitos iguais todos tem o voto tem os direitos mas a gente sabe que a populaccedilatildeo de associados natildeo vecirc dessa forma Mas a Coolvam pratica o cooperativismo de verdade (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As proposiccedilotildees da teoria olsoniana sobre incentivos que natildeo os econocircmicos

como desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e

psicoloacutegico se confirmam na entrevista com um pequeno produtor que participa do

conselho administrativo ao responder sobre motivaccedilotildees que o fazem participar

Por ser pequeno produtor e ter vez e voz do grande e poder participar (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Outra indicaccedilatildeo reproduzida na fala do conselheiro que corrobora a

afirmaccedilatildeo da teoria de Olson (1999) eacute quando natildeo respondeu sobre as vantagens

em participar desta funccedilatildeo

A convivecircncia com pessoas de niacutevel intelectual que passa coisas boas e a oportunidade de conviver com essas pessoas (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Apesar de haver remuneraccedilatildeo para os membros que participam dos

Conselhos a relevacircncia dessa remuneraccedilatildeo foi mencionada somente por um

conselheiro como incentivo para sua participaccedilatildeo

Eacute um complemento de renda (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Os grandes produtores mostraram utilizar mais os serviccedilos da cooperativa

nas respostas ldquode vez em quandordquo (67) e ldquosemprerdquo (33)Dentre os serviccedilos que

mais utilizam foram citados os serviccedilos teacutecnicos o Educampo e a compra de

insumos na Farmaacutecia Veterinaacuteria Jaacute os pequenos e meacutedios responderam

respectivamente natildeo utilizar (17 e 18) de vez em quando (51 e 47) e

sempre (31 e 35) e responderam utilizar aleacutem da Farmaacutecia Veterinaacuteria e

assistecircncia teacutecnica vacinas e orientaccedilotildees sobre a produccedilatildeo (Figura 17) Nesse

ponto a cooperativa se firma como importante mediadora da transferecircncia de novas

tecnologias e informaccedilatildeo para os associados

17 18

0

5147

67

3135 33

0

10

20

30

40

50

60

70

Natildeo Utiliza De vez em quando Sempre

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa Coolvam 2008

No indicador que teve o objetivo de verificar a participaccedilatildeo dos associados e

em atividades educativas promovidas pela cooperativa identificou-se que os

pequenos e meacutedios produtores responderam participar mais (56 e 65) enquanto

33 dos grandes confirmaram essa participaccedilatildeo Aos que responderam

afirmativamente foi perguntado quem mais participa entre o produtor a esposa e

filhos As respostas dos grupos dos pequenos e meacutedios produtores indicaram que

eles mesmos participam (41 e 38) enquanto a participaccedilatildeo de esposas (29 e

38) e filhos (29 e 25) respectivamente indicando que todos da famiacutelia

participam No grupo dos grandes produtores dos que responderam participar das

atividades 100 disseram que eles mesmos participam natildeo registrando presenccedila

de esposas e filhos desse grupo nessas atividades conforme demonstra a Figura

18

5665

3344

35

67

4138

100

2938

2925

0102030405060708090

100

Sim Natildeo Produtores Esposa Filhos

PEQUENOMEDIOGRANDE

Figura 18 Participaccedilatildeo de Produtores e da famiacutelia em atividades educativas

94

A participaccedilatildeo de mulheres e filhos vem sendo incentivada pela cooperativa

Eles satildeo convidados a participar de todos os eventos e reuniotildees com os produtores

A pesquisa mostra que esse incentivo vem obtendo resultado pois dentre os

produtores que responderam participar conforme a Figura 16 um percentual de

29 e 38 respectivamente disseram que a famiacutelia tambeacutem jaacute participou de

eventos na Coolvam

A Figura 19 a seguir foi registrada em uma reuniatildeo de comunidade onde

foram agrupadas duas comunidades rurais Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas

ambas satildeo mais homogecircneas e tem um maior nuacutemero de pequenos produtores

Pode-se observar a presenccedila de mulheres e crianccedilas juntamente com os

produtores Essa interaccedilatildeo das famiacutelias com a organizaccedilatildeo reforccedila tambeacutem o

aumento de capital social

Figura 19 Preacute-Assembleacuteia da Coolvam com as comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas 2008

As respostas dos associados vecircm demonstrando que satildeo participativos nas

atividades promovidas pela cooperativa e foi registrado em todos os estratos que

suas reivindicaccedilotildees satildeo totalmente ou parcialmente atendidas conforme mostra a

Figura 20 No entanto mesmo entre produtores que responderam afirmativamente

foram registradas reclamaccedilotildees sobre a forma de gestatildeo referente a tomada de

decisotildees Natildeo tem muitas coisas que satildeo feitas por eles mesmos compraram outra cooperativa sem comunicar parcialmente (PRODUTOR 73 2008) Parcialmente devido agrave poliacutetica administrativa atual da empresa (PRODUTOR 39 2008) Natildeo vaidade da direccedilatildeo descreacutedito em relaccedilatildeo ao associado (PRODUTOR 62 2008) Nem sempre conseguimos ser atendidos (PRODUTOR 36 2008)

95

4235

17

4853

67

9 1217

0

10

20

30

40

50

60

70

Totalmente Parcialmente Natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 20 Atendimento a reivindicaccedilotildees dos associados da Coolvam 2008

De forma geral em todos os estratos os produtores consideram a

participaccedilatildeo da Coolvam no desenvolvimento da propriedade com poucas exceccedilotildees

registradas principalmente entre os pequenos produtores que responderam que a

cooperativa natildeo eacute atuante neste quesito conforme demonstra a Figura 21 Tal

situaccedilatildeo confirma a utilizaccedilatildeo por esse grupo em menor proporccedilatildeo de serviccedilos

teacutecnicos conforme apresentado anteriormente na Figura 17 Nesse sentido

observou-se que os produtores que satildeo assistidas com os serviccedilos do Educampo

consideraram em maior proporccedilatildeo a atuaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento de

sua propriedade

6

19

0

30

44

67

39

25

17

24

1317

0

10

20

30

40

50

60

70

Muito atuante Atuante Pouco atuante Natildeo atua NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade Carlos Chagas 2008

Outro fator relevante eacute que os produtores responderam se sentir bem

informados sobre a cooperativa (Figura 22) No entanto nesta mesma questatildeo

96

pediu-se que apontasse que tipo de informaccedilatildeo sente mais necessidade de obter

As respostas foram semelhantes conforme representaccedilatildeo das falas subscritas que

demonstram a necessidade de informaccedilotildees sobre as tomadas de decisotildees da

gerecircncia e formaccedilatildeo de preccedilo de leite

bull Compraram outra cooperativa e natildeo informam o que se passa laacute

bull Mais detalhe sobre preccedilo de leite Se enviassem carta explicando sobre o preccedilo seria bom

bull Sobre como satildeo tomadas as decisotildees das reuniotildees do conselho administrativo

bull Excesso de funcionaacuterios com alta remuneraccedilatildeo

bull Natildeo natildeo tem comunidade e a informaccedilatildeo eacute repassada principalmente para as comunidades

bull Informaccedilotildees mais profundas

bull Informa depois das accedilotildees realizadas

bull Controla demais o produto (leite)

bull Preccedilo do leite

bull Como estaacute a atuaccedilatildeo da cooperativa

bull o que a diretoria pensa para melhorar as condiccedilotildees para o associado

bull por que a cooperativa paga o leite tatildeo barato

bull em relaccedilatildeo a mudanccedilas como por exemplo queda no preccedilo

do leite (QUESTIONAacuteRIOS DE PESQUISA COOLVAM 2008)

79 75

60

2125

40

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 22 Informaccedilotildees dos associados sobre a cooperativa Coolvam 2008

A cooperativa utiliza-se da realizaccedilatildeo de Preacute-assembleacuteias como estrateacutegia

para informar aos associados dos resultados e outras atividades que aconteceram

durante o ano assim como outras accedilotildees a serem aprovadas pelos soacutecios Estas satildeo 97

98

reuniotildees para apresentar a pauta a ser tratada posteriormente na Assembleacuteia Geral

O presidente entende que dessa forma eacute possiacutevel que todos tirem suas duacutevidas e

esclareccedilam os assuntos que mais interessam como mostra extrato de entrevista

Jaacute eacute exemplo de participaccedilatildeo nas comunidades satildeo as preacute-assembleacuteias Fazemos 10 a 15 preacute-assembleacuteias e apresentamos o balanccedilo Acredito que laacute na comunidade o produtor fica mais a vontade para tirar suas duvidas para fazer qualquer pergunta e levantar questionamento Entatildeo quando o produtor vem agrave Assembleacuteia Geral jaacute estaacute com tudo esclarecido jaacute tirou as duvidas laacute fica mais agrave vontade para tirar duvidas e fazer perguntas (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As decisotildees satildeo tomadas em caraacuteter definitivo nas assembleacuteias gerais sejam

elas ordinaacuterias ou extraordinaacuterias conforme previsto em estatuto e eacute justamente isso

que garante o caraacuteter democraacutetico do cooperativismo Dessa forma a administraccedilatildeo

participativa significa a auto-administraccedilatildeo como definiu Schneider (1999) os

associados satildeo a autoridade suprema com poder para decidir sobre todos os

aspectos importantes de sua cooperativa Todos os associados tecircm o direito ao voto

(um homem um voto) Geralmente essas decisotildees satildeo de maior importacircncia pois

trazem influecircncias ou consequumlecircncias diretas no desempenho da empresa

cooperativa e dos associados ao responder aos seus interesses econocircmicos caso

os resultados sejam positivos ou negativos Nessas reuniotildees haacute trecircs formas de

participaccedilatildeo dos associados quanto agrave aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo do que se tem a

decidir na forma de voto

O voto eacute o modo de expressar a vontade (FERREIRA1993) num ato de

escolha pode-se dizer num sentido amplo eacute sinocircnimo de participaccedilatildeo e

democracia Conforme levantamento nos processos de escolhas nas assembleacuteias

da cooperativa o voto acontece de diferentes formas Embora natildeo seja descrito

como procede no Estatuto Social (2008) citam-se trecircs meios a) Simboacutelica ou

Aclamaccedilatildeo b) Nominal e c) Secreta Deste modo buscou-se o significado e como

acontece a votaccedilatildeo nas modalidades supra-citadas

a) Simboacutelica ou aclamaccedilatildeo Aclamaccedilatildeo tem o sentido de aplaudir com

entusiasmo eleger por aclamaccedilatildeo Neste caso pede-se que os associados que

concordam com o assunto a ser decidido aclamem e ao maior som toma-se a

decisatildeo

b) Nominal (manifestaccedilatildeo individual) conforme Ferreira (1993) manifestaccedilatildeo

eacute o ato ou efeito de manifestar-se significa exprimir-se mostrar-se Esta modalidade

de voto eacute utilizada em vaacuterios tipos de assembleacuteias Na cooperativa o produtor ao

99

comparecer na assembleacuteia recebe um cartatildeo Este eacute usado para votaccedilatildeo de forma

que o produtor exprima publicamente sua vontade na decisatildeo a ser tomada Essa eacute

a forma mais utilizada por ser mais praacutetica e mais raacutepida a votaccedilatildeo e de resultado

imediato No entanto devido ao receio de se expor o associado pode natildeo exercer

muitas vezes a sua vontade o que leva a uma tendecircncia de prevalecer a vontade

dos dirigentes uma vez que estes ao colocar o assunto em votaccedilatildeo fazem a

seguinte abordagem

Quem for contra a proposta apresentada que se manifeste e quem for a favor permaneccedila como estaacute (PRODUTOR 69 COOLVAM 2008)

c) Secreto eacute o voto confidencial particular em segredo Neste caso os

produtores recebem as ceacutedulas com as opccedilotildees de escolha marcam a melhor

alternativa no seu entendimento e depositam a ceacutedula na urna secretamente

Dentre os trecircs modos apresentados o mais comum eacute o voto nominal ou seja

por manifestaccedilatildeo individual Entretanto esta natildeo foi a melhor opccedilatildeo no

entendimento dos associados haja vista o resultado apresentado na Figura 23 e os

comentaacuterios feitos pelos produtores justificando a preferecircncia pelo voto secreto

conforme transcriccedilotildees abaixo

bull O voto secreto eacute um meio de expressar a opiniatildeo mais verdadeira

bull Porque o produtor se sente mais agrave vontade

bull Depende do momento e do assunto tratado

bull A pessoa natildeo fala um natildeo ou sim para natildeo criar problema com o voto secreto fica mais agrave vontade (QUESTIONAacuteRIOS COOLVAM 2008)

Dada a importacircncia de seu sentido o ato de votar eacute o grande indicador de

democracia e maior marco de sua efetivaccedilatildeo utilizado nas escolhas dos indiviacuteduos

para sua representaccedilatildeo em uma causa A forma secreta eacute o melhor meio para que

as pessoas possam de fato manifestar a sua vontade Nas discussotildees sobre a

participaccedilatildeo e democracia cooperativista Schneider (1999) expotildee sua opiniatildeo de

que natildeo estaacute no voto a dimensatildeo participativa do associado Para o autor

o exerciacutecio do voto natildeo permite ao associado assumir a dimensatildeo participativa que deveria ter cabe aos trabalhos dos representantes comitecircs disseminar a informaccedilatildeo de forma que conscientize os votantes para ter percepccedilatildeo de que a participaccedilatildeo estaacute aleacutem do ato de votar (SCHNEIDER 1999 p224)

Deste modo o mesmo autor complementa que a viabilidade da democracia

cooperativa depende tambeacutem da vontade e do interesse de participaccedilatildeo aleacutem dos

mecanismos montados para promovecirc-la (SCHNEIDER 1999 p152)

613

0

29

13

0

6675

100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Aclamaccedilatildeo Manifestaccedilatildeo Individual Secreto

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 23 Opiniatildeo dos associados sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees Coolvam 2008

Esse modo de participar na escolha de decisotildees a serem tomadas e as

razotildees que os levam a preferir o voto secreto podem ser indicadores que justificam

o decrescente nuacutemero de participantes nas assembleacuteias nos uacuteltimos anos conforme

levantamento nos livros de atas Mesmo que esse resultado seja diferente do outro

apresentado anteriormente na Figura 12 onde mostra boa participaccedilatildeo dos soacutecios

esta vem diminuindo quando se verifica registros de presenccedilas conforme mostra a

Figura 24 a seguir Foi feito levantamento das seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias (AGO) que compreende o periacuteodo da atual gestatildeo entre 2002 e 2007

As seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais Extraordinaacuterias (AGE) aconteceram no periacuteodo

de 1996 a 2005

010

20

3040

50

60

70

1 2 3 4 5 6

Seis uacuteltimas AGOacutes e AGEacutesPeriacuteodo de 1996 a 2007 AGO

AGE

Figura 24 Participaccedilatildeo dos associados em Assembleacuteias Coolvam 2008

Fonte Livros de Atas da Coolvam de 1996 a 2007

100

No debate sobre participaccedilatildeo a pesquisa demonstrou dois quadros distintos

um conforme a teoria da escolha racional sobre o interesse individual na

participaccedilatildeo para consecuccedilatildeo de um bem coletivo que nem sempre as pessoas tem

interesse em participar efetivamente da lideranccedila e accedilotildees internas pois os

resultados mostram que parte dos associados natildeo tecircm interesse em participar da

gestatildeo da cooperativa principalmente nos grupos de meacutedios e grandes produtores

O outro quadro de modo contraacuterio mostra o consideraacutevel interesse entre os

pequenos produtores jaacute que 35 disseram que gostariam de participar Poreacutem

nesse grupo as respostas mostraram que alguns destes entendem que soacute podem

participar se forem convidados pela diretoria conforme demonstra extrato das

respostas obtidas nesta questatildeo

Gostaria de participar do conselho mas natildeo foi convocado (PRODUTOR 73 2008)

De maneira semelhante outro associado respondeu Falta ser convidado (PRODUTOR 40 2008)

Desta forma o caraacuteter de liberdade e democracia em participaccedilatildeo cooperativa

ainda natildeo estaacute claro para o associado assim como diz Schneider (1999) ldquoo

processo participativo do ldquomilitante cooperativistardquo enfrenta em geral uma seacuterie de

resistecircncias da parte da estrutura hieraacuterquica Assim como reforccedila Bordenave

(2003) parte da efetividade da participaccedilatildeo depende da oportunidade de participar

35

917

65

9183

010

20304050

60708090

100

sim natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 25 ndash Interesse de produtores em participar dos Oacutergatildeos de Gestatildeo Coolvam 2008 A participaccedilatildeo dos soacutecios na administraccedilatildeo e controle da cooperativa se

materializa formalmente por meio dos membros nas funccedilotildees dos Conselhos de

Administraccedilatildeo e Fiscal eleitos em assembleacuteia geral e pela participaccedilatildeo no Comitecirc

101

Educativo Portanto para efetivar a auto-gestatildeo deve-se por em praacutetica as

recomendaccedilotildees comuns em Perius (1983) e Schneider (1999) Para esses autores

os soacutecios por si mesmos devem ter as condiccedilotildees de controlar a administraccedilatildeo da

cooperativa na perspectiva de que os dirigentes e administradores sempre devem

ter bem presente que satildeo mandataacuterios dos soacutecios atuando em nome deles gozaratildeo

de sua confianccedila Conforme Drucker (2006) eacute preciso pensar numa parceria entre o

conselho e os membros aleacutem do mais um conselho precisa saber que possui a

organizaccedilatildeo para o benefiacutecio da missatildeo que essa organizaccedilatildeo deve desempenhar

A pesquisa mostra que os produtores que compotildeem os conselhos estatildeo

presentes nos trecircs estratos sociais poreacutem observou-se que o Conselho

Administrativo tem em seu quadro o maior nuacutemero de meacutedios e grandes produtores

Jaacute o Conselho Fiscal eacute composto por um nuacutemero maior de meacutedios e pequenos

produtores corroborando Pereira (2002) ao apontar que os maiores produtores

conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees das organizaccedilotildees

cooperativas Jaacute o Comitecirc Educativo que eacute organizado e regulamentado pelo

Conselho de Administraccedilatildeo constatou-se na pesquisa que na cooperativa este

comitecirc eacute composto em sua maioria por pequenos produtores rurais (83) conforme

demonstrado na Figura 26 a seguir

20

50

30 33

50

17

83

17

0

0102030405060708090

ConselhoAdministrativo

Conselho Fiscal Comitecirc Educativo

Pequeno

Meacutedio

Grande

Figura 26 ndash Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo Coolvam

2008

Na praacutexis a gestatildeo cooperativa conforme demonstrado neste estudo de

caso evidencia a gestatildeo com a predominacircncia de um pequeno grupo representado

pelo estrato de grandes produtores sobre o grande grupo (pequenos produtores) o

102

103

que corrobora questotildees abordadas pela teoria da escolha racional Nesse aspecto

pode-se indagar Por que natildeo haacute presenccedila de grandes produtores na composiccedilatildeo do

comitecirc educativo jaacute que estes participam dos outros oacutergatildeos de gestatildeo a que

compete diretamente os interesses dos demais associados Os coordenadores e

secretaacuterios dos Nuacutecleos de Associados (comitecircs) conforme Estatuto (1988) tecircm a

funccedilatildeo de trazer ao conselho de Administraccedilatildeo as reivindicaccedilotildees bem como

sugestotildees para solucionar os problemas observados desde que sejam

fundamentados para assim solicitar providecircncias Entatildeo seria de se esperar que

houvesse uma participaccedilatildeo representativa de todos os estratos sociais numa

distribuiccedilatildeo mais homogecircnea em todos os oacutergatildeos da gestatildeo

Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) alertaram que entre as

falhas dos processos participativos ao lidar com as desigualdades internas agraves

comunidades haacute tendecircncia muitas vezes em reforccedilar as relaccedilotildees de poder

preexistentes Essa situaccedilatildeo identificada na Cooperativa pode ser indicativa do que

expotildee esses autores De modo diferente na perspectiva de Schneider (1999) na

participaccedilatildeo em nuacutecleos as pessoas conseguem influenciar no planejamento de

accedilotildees para a organizaccedilatildeo Deste modo a participaccedilatildeo deve ser percebida como

uma estrateacutegia para criaccedilatildeo de novas oportunidades ou seja capaz de modificar as

relaccedilotildees de poder preexistentes

Conforme Salanek Filho e Silva (2003) juntamente com a confianccedila a

interaccedilatildeo definiccedilatildeo de objetivos comuns e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees

fundamentais para compreender o capital social no processo cooperativista Entatildeo

com a finalidade de verificar a satisfaccedilatildeo e grau de confianccedila no trabalho dos

referidos conselhos buscou-se na pesquisa dados que pudessem dar pistas para

compreender esse processo Neste ponto foi questionado se os conselhos estariam

atuando conforme proposto para a funccedilatildeo O resultado demonstrou que de forma

geral os associados apresentaram significativo grau de confianccedila no trabalho dos

membros dos Conselhos conforme resultados apresentados nas Figuras 27 e 28

Houve maior nuacutemero de aprovaccedilotildees do que o modo contraacuterio constatando

portanto que haacute uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a maioria dos associados quando

se trata do trabalho dos conselhos Ao observar a confianccedila na perspectiva

econocircmica conforme Maciel (2003) esse comportamento estreita as relaccedilotildees entre

os agentes e melhora a eficiecircncia econocircmica

Nessa perspectiva as duas uacuteltimas questotildees tratadas mostram que a

participaccedilatildeo de associados de modo geral exerce pouca influecircncia no desempenho

econocircmico Jaacute que foi identificado que haacute dificuldade de participaccedilatildeo e ao mesmo

tempo haacute confianccedila no trabalho dos oacutergatildeos de gestatildeo

5850

80

23

50

20 19

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 27 Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo Coolvam 2008

62 64 60

15

3640

23

0

10

20

30

40

50

60

70

Sim Natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 28 ndash Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal Coolvam 2008

Embora tenha sido constatada forte relaccedilatildeo de confianccedila entre os associados

e os oacutergatildeos de gestatildeo identificou-se que os associados sentem necessidade de

informaccedilotildees do processo de gestatildeo Estes indicaram carecircncia de informaccedilatildeo sobre

a formaccedilatildeo de preccedilo de leite pago pela cooperativa como mostra a Figura 29 em

que a maioria disse natildeo participar da formaccedilatildeo do preccedilo da produccedilatildeo entregue ao

laticiacutenio Essa questatildeo foi contraditoacuteria ao assunto tratado representado na Figura

22 em que os produtores disseram se sentir bem informados sobre a cooperativa

Contradiccedilatildeo desse tipo evidencia o que Freire (1976) chama de cultura do silecircncio

que eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia Mas eacute possiacutevel que

104

numa organizaccedilatildeo de fortes laccedilos de confianccedila conforme constatado possa

permear a cultura do silecircncio

14 12

0

8088

100

60

0

20

40

60

80

100

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo

Ateacute mesmo produtores que participam do Comitecirc demonstraram que em

alguns casos tecircm dificuldades em atuar e se informar Entrevista com um membro

de Comitecirc Educativo mostrou que ele tem dificuldade em ter informaccedilotildees sobre o

futuro da organizaccedilatildeo e disse achar a cooperativa ldquomuito fechadardquo

a gente natildeo tem acesso a informaccedilatildeo sobre planejamento da cooperativa para longo prazo (MEMBRO DO COMITEcirc EDUCATIVO COOLVAM 2008)

Entretanto a assessoria de cooperativismo mostra que o desempenho dos

membros do Comitecirc eacute diferenciado e as caracteriacutesticas da proacutepria comunidade

exercem influecircncia sobre atuaccedilatildeo do Comitecirc conforme mostra extrato de entrevista

Uma outra coisa interessante eacute a questatildeo da lideranccedila nessas regiotildees que eu estou mencionando Coacuterrego de Areia Coraccedilatildeo de Minas Lageado Brejauba essas regiotildees satildeo as mais participativas e satildeo bastante atuantes Talvez seja hoje o ponto mais importante do nosso trabalho Satildeo regiotildees onde a gente tem lideranccedila mais forte mais atuante consegue mobilizaccedilatildeo mais forte com os associados e com os familiares dependendo da atividade que a gente for desenvolver (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Jaacute em comunidades mais heterogecircneas onde participam tambeacutem grandes

produtores eacute reconhecido haver mais dificuldades em conseguir desenvolver

trabalho de mobilizaccedilatildeo para participaccedilatildeo de cooperados

a gente percebe no dia a dia que tem uma diferenccedila com as demais comunidades As regiotildees de capoeiras Coacuterrego da Prata Vila Pereira Jequiriri onde temos um nuacutemero de associados produtores considerados de meacutedio e grande porte a gente percebe que haacute dificuldade natildeo todos mas uma grande parte de mobilizaacute-los para alguma atividade para reuniatildeo de comunidade Temos que mostrar algo mais atrativo eles satildeo mais exigentes em relaccedilatildeo ao geral a participaccedilatildeo deles com certeza eacute menor alegam que tem muitas

105

atividades agraves vezes natildeo estatildeo disponiacuteveis para estar participando entatildeo a gente tem muita dificuldade de mobilizar essas pessoas Uma parte que estaacute sempre de fora e natildeo participa de forma alguma esse eacute um problema a gente soacute consegue mobilizaacute-los quando tem um evento maior por exemplo dia de campo algum evento na loja veterinaacuteria promoccedilotildees (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Outro levantamento complementar na pesquisa foi avaliar a participaccedilatildeo dos

produtores rurais em outras atividades coletivas desde realizaccedilotildees festivas nas

comunidades rurais na cooperativa e atuaccedilatildeo em outros segmentos da comunidade

urbana (Figuras 30 31 e 32) Identificou-se que a maioria eacute tambeacutem associado agrave

cooperativa de creacutedito rural e ao sindicato rural (83) Poucos produtores disseram

participar de outras organizaccedilotildees coletivas (meacutedia de 34 nos trecircs estratos) dentre

eles um disse fazer parte da Comissatildeo de Estradas na gestatildeo puacuteblica dois

produtores disseram ser registrados em partido poliacutetico Dentre os associados com

filhos em idade escolar a maioria estaacute associado agrave Cooperativa de ensino Foi

registrado somente um caso de pequeno produtor que trabalha como empregado

para outra propriedade mas registrou-se casos de prestaccedilatildeo de serviccedilos por

produtores que tecircm formaccedilatildeo teacutecnica (engenheiro veterinaacuterio zootecnista dentre

outros)

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17

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Sim Natildeo

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Figura 30 Participaccedilatildeo dos associados em outras organizaccedilotildees coletivas Coolvam 2008

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Sempre De vez emquando

nunca NRPEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 31 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na comunidade Coolvam

2008

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Sempre De vez emquando

nunca NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 32 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na cooperativa Coolvam 2008

Com estas informaccedilotildees confirma-se a interaccedilatildeo entre a organizaccedilatildeo

cooperativa com a comunidade jaacute que as mesmas pessoas participam do quadro

social das diferentes cooperativas Dessa forma os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais

que se formam na comunidade contribuem para fortalecer o capital social Por outro

lado outra caracteriacutestica observada por meio das notiacutecias no Informativo Coolvam

(2004 2005 2006 2007) ficou constatado que as lideranccedilas que participam de uma

cooperativa atuam tambeacutem em algum oacutergatildeo de gestatildeo em outra portanto interagem

entre si e com outras atividades da comunidade Essa relaccedilatildeo reforccedila a presenccedila de

capital social na comunidade promovido em parte pela presenccedila das cooperativas e

pela forma de se organizarem Entretanto a pesquisa mostra que mesmo nesse

ambiente prevalece a dominaccedilatildeo de um mesmo grupo na conduccedilatildeo destas

107

organizaccedilotildees e no caso estudado dados mostram dificuldades para participaccedilatildeo do

restante da populaccedilatildeo associada

A literatura mostra que a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o

homem exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si

mesmo e sua praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades como a auto-expressatildeo

(BORDENAVE1983) Essas caracteriacutesticas satildeo pessoais sendo assim podem natildeo

se manifestar na mesma intensidade em indiviacuteduos diferentes Deste modo

Bordenave (1983) se refere ainda agraves diferenccedilas que se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte Assim como se justifica ter indiviacuteduos que empreendem mais ou menos em

causas sociais

Por outro lado foi percebiacutevel em todos os estratos que haacute interaccedilatildeo entre os

associados eles mantecircm o haacutebito de visitar outras propriedades (somatoacuterio de 84

para as respostas ldquosempre e de vez em quandordquo) conforme figura 33 A maioria

citou que nessas visitas trocam informaccedilotildees vecircm a forma de produccedilatildeo ou o gado do

outro Esses haacutebitos fortalecem os laccedilos pessoais assim como a participaccedilatildeo em

atividades festivas nas comunidades reforccedilam tradiccedilotildees ciacutevicas e satildeo accedilotildees que

fortalecem o capital social

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Sempre De vez emquando

dificilmente nuncaPEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 33 ndash Haacutebito de visitar outros produtores rurais associados da Coolvam 2008

Dentre os que responderam que natildeo costumam ir a outra propriedade

mostra-se uma preocupaccedilatildeo que foi comentada tambeacutem por outros produtores

As pessoas natildeo ficam mais nas propriedades entatildeo perdemos aquele costume de ir na casa do outro hoje vatildeo para a cidade e outros vizinhos venderam as fazendas para o eucalipto estou ficando sozinho na minha regiatildeo (PRODUTOR 59 COOLVAM 2008)

108

109

Foi importante registrar esse comentaacuterio porque embora se tenha

constatado a interaccedilatildeo entre produtores nas propriedades essa preocupaccedilatildeo foi

demonstrada em todos os estratos haacute produtores que jaacute venderam suas terras para

cultura de eucalipto Alguns tecircm a preocupaccedilatildeo de que se os grandes produtores

venderem suas terras em alguns pontos pode inviabilizar a coleta de leite de um

pequeno produtor que ficar ldquoilhadordquo (palavra usada por diferentes produtores vaacuterias

vezes durante as entrevistas) Essa nova cultura agriacutecola vem se expandido na

regiatildeo destinada agraves induacutestrias de papel e celulose satildeo cultivadas em grandes

extensotildees de terra e tem influenciado no modo de vida local

Por outro lado ao longo do trabalho percebeu-se ao conversar com os

produtores que participaram das entrevistas que entre eles haviam

comportamentos diferentes uns mais entusiasmados outros menos alguns se

mostraram indiferentes poreacutem todos contribuiacuteram agrave sua maneira conforme

planejamento da pesquisa de campo Entretanto em meio a esses diferentes

comportamentos foi percebido uma motivaccedilatildeo diferente durante a pesquisa de

campo especialmente na entrevista com pequeno produtor que participa como

membro do Conselho Administrativo quando este contou suas experiecircncias e

histoacuteria de vida

Sou filho de pequeno produtor rural fui para Satildeo Paulo trabalhar fiquei seis anos por laacute quando voltei fui motorista da Cooperativa quando meu pai faleceu herdei pequena parte da propriedade e comecei a trabalhar Logo iniciei na comunidade como secretaacuterio depois fui coordenador do comitecirc educativo por trecircs mandatos fui convidado para ser conselheiro e jaacute estou atuando haacute seis anos (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

O que chamou a atenccedilatildeo foi que nenhum outro entrevistado ateacute o momento

tinha demonstrado tanto entusiasmo com a cooperativa como este produtor ele

dissedisse

Eu sou apaixonado pelo cooperativismo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse associado foi indicado a receber uma das premiaccedilotildees para a

cooperativa realizada no Caribe e contou entusiasmado

Imagina dentro do conselho eu fui indicado para ir receber o precircmio foi a melhor viagem que jaacute fiz Quando cheguei contei isso na minha comunidade (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Dentre outros soacutecios este produtor se destaca pela dedicaccedilatildeo e forma de

trabalhar na sua propriedade assim como empenho e mobilizaccedilatildeo para articular

accedilotildees na sua comunidade e na cooperativa A entrevista com a assessora de

110

cooperativismo mostrou tambeacutem que em seu entendimento a participaccedilatildeo de

associados tanto nas comunidades quanto nas atividades da cooperativa eacute

determinada pelo perfil individual de cada associado que se manifesta na vontade de

participar

a gente tem uma situaccedilatildeo em que um associado anda acho que doze quilocircmetros a cavalo para chegar agrave reuniatildeo e ele vai em todas as reuniotildees e tem comunidades que a distacircncia eacute muito menor e a pessoa deixa de ir Agraves vezes tem automoacutevel um amigo que mora proacuteximo que pode dar uma carona e natildeo vai Entatildeo Isso depende muito da pessoa do perfil da pessoa essa pessoa que estou falando ela eacute muito empreendedora muito participativa procura participar sempre das atividades que a gente realiza junto a cooperativa

Temos tambeacutem situaccedilatildeo de grandes produtores empreendedores estatildeo sempre participando das reuniotildees de torneio leiteiro de dia de campo um exemplo eacute Zeacute Firmino e Eurico satildeo pessoas que participam muito com a gente e que satildeo considerados grandes e meacutedios produtores (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

O pequeno produtor no exemplo dado eacute participativo busca crescimento

acredita que pode ajudar outros produtores a entender e melhorar o interesse em

participar apresenta visatildeo de futuro como demonstra em suas palavras

O pequeno produtor deve buscar espaccedilo participando de eventos palestras se sentir importante ouvir e dar opiniotildees Acho que todo produtor deveria participar do Educampo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Natildeo obstante a todas as caracteriacutesticas positivas que os relatos demonstram

o exemplo de associado aqui exposto mostra que existem limitaccedilotildees conforme este

mesmo produtor indicou como dificuldade em participar do Conselho ao defender

suas ideacuteias junto aos outros conselheiros

eacute difiacutecil defender uma ideacuteia que seja viaacutevel para a empresa e aos associados para os outros conselheiros (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse dilema eacute presente na auto-gestatildeo frente a interesses dos membros que

compotildeem o grupo mesmo que o objetivo seja comum Natildeo se pode esperar a

mesma motivaccedilatildeo no comportamento de todos muito menos que o altruiacutesmo seja a

inclinaccedilatildeo dos membros que ali se dispotildee atuar

A necessidade de realizaccedilatildeo e reconhecimento satildeo sentimentos inerentes a

qualquer indiviacuteduo (HELLER CIT IN BRITO E BRITO 2000) e pode-se dizer que na

accedilatildeo coletiva eacute possiacutevel que essas caracteriacutesticas estejam em niacuteveis diferentes por

isso as vontades de participaccedilatildeo nas atividades da cooperativa pelos associados

satildeo encontradas em graus diferentes Bordenave (1983) confirma essa prerrogativa

e isso foi constatado no resultado da pesquisa

Ao considerar que cada pessoa tem um grau de interesse desejo e

habilidade de realizaccedilatildeo diferentes assim como reconhecidos por Maslow citado em

Brito e Brito (2000) psicoacutelogo e pesquisador de comportamento confirma-se a teoria

de Olson (1999) aqui apresentada e ilustrada pela limitaccedilatildeo exposta pelo associado

entrevistado no que se refere agrave sua participaccedilatildeo no Conselho assim como a

motivaccedilatildeo dos demais em aceitar sugestotildees e buscar soluccedilotildees

Por uacuteltimo como informaccedilatildeo complementar buscou-se verificar a motivaccedilatildeo

dos produtores com sua atividade produtiva jaacute que a maioria principalmente os

pequenos tem na propriedade rural a principal fonte de renda Dos questionamentos

feitos o maior percentual de respostas mostrou que os produtores satildeo ldquoMuito

entusiasmadosrdquo com a atividade conforme mostra a Figura 34 Satildeo dinacircmicos pois

estatildeo sempre ldquomodificando para melhorarrdquo

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3

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Mui

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saccedil

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natildeo

tem

mui

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odifi

car

NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 34 Motivaccedilatildeo dos associados em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural Coolvam 2008

Outra percepccedilatildeo durante a aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios eacute que os produtores

parecem ser ldquoapaixonados pelo que fazemrdquo Essa expressatildeo eacute comumente utilizada

em Recursos Humanos pois conforme Candeloro (2007) a paixatildeo eacute forccedila

motivadora que daacute agraves pessoas a energia necessaacuteria para suportar contratempos ter

persistecircncia e dedicaccedilatildeo necessaacuterias para alcanccedilar um objetivo

Por outro lado e de modo diferente essa paixatildeo e interesse na atividade

individual pode natildeo ser transferida na mesma intensidade para sua atuaccedilatildeo na

organizaccedilatildeo cooperativa que teoricamente eacute tambeacutem de sua propriedade De certo

111

112

modo ele age dessa forma por que eacute naturalmente difiacutecil conseguir que as pessoas

cooperem para benefiacutecio muacutetuo conforme defende Olson (1999)

113

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo permitiu verificar e contextualizar a participaccedilatildeo de associados

em organizaccedilotildees cooperativas e confirmar tanto o vigor no cooperativismo quanto

sua fragilidade no enfrentamento de problemas conjunturais no ambiente

econocircmico Desde a Revoluccedilatildeo industrial no seacuteculo XIX na idealizaccedilatildeo como

proposta para vencer as desigualdades sociais daquela eacutepoca e atualmente quase

duzentos anos depois em meio agrave ldquoRevoluccedilatildeo da Informaccedilatildeordquo o cooperativismo

continua com seus princiacutepios teoricamente conservados e se adaptando agraves mais

diferentes exigecircncias deste novo seacuteculo com o objetivo de defender os interesses

de seus cooperados

Numa conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Comeacutercio e Desenvolvimento

Ricupero (2007) disse que a resposta para os problemas de desigualdade e pobreza

extremas natildeo viraacute apenas da tecnologia e da economia A soluccedilatildeo desses

problemas dependeraacute de valores como a equidade a solidariedade e a compaixatildeo

que pertencem a um domiacutenio bastante distinto A necessidade de cooperaccedilatildeo

cresce em todos os segmentos e estaacute apontado como instrumento mais apropriado

para desafiar e vencer os vieses que permeiam a busca para reduccedilatildeo dessas

desigualdades sociais A emergecircncia econocircmica de paiacuteses em desenvolvimento por

ora cheios de oportunidades sem divisas com a economia mundial carece de

instrumentos para incluir populaccedilotildees que contraditoriamente nunca foram tatildeo

proacuteximas e ao mesmo tempo tatildeo distantes

Nesse contexto o estudo sobre o cooperativismo mostra que essa forma de

accedilatildeo coletiva eacute reconhecidamente um importante meio para diminuir esse

distanciamento pois eacute uma forma de organizaccedilatildeo que consegue estar presente em

todos os segmentos e niacuteveis sociais Entretanto natildeo se pode ignorar que sob as

influecircncias do ambiente externo no que diz respeito agrave competitividade

modernizaccedilatildeo e diversificaccedilatildeo de atividades que vatildeo de encontro agrave crescente

complexidade que tem se tornado as organizaccedilotildees cooperativas a efetiva

participaccedilatildeo de associados tem sido cada vez mais difiacutecil poreacutem necessaacuteria e deve

ser valorizada para validar e fortalecer a doutrina cooperativista

Essa constataccedilatildeo tem fundamento no potencial da participaccedilatildeo como

mecanismo e caminho para o desenvolvimento de organizaccedilotildees cooperativas o que

114

foi confirmado durante a discussatildeo nesta dissertaccedilatildeo No entanto ainda haacute

necessidade de mudanccedila de atitude das pessoas e nos modos tradicionais de

conduzir suas accedilotildees bem como dar liberdade e adotar meios apropriados para

atrair novos membros para participar das atividades e oacutergatildeos que compotildee a gestatildeo

cooperativa a fim de renovar o quadro ponderadas eacute claro as vontades

necessidades e limitaccedilotildees de cada um O investimento em educaccedilatildeo cooperativista

objetivando qualificaccedilatildeo dos soacutecios para que estes tenham condiccedilotildees de

acompanhar a complexidade de informaccedilotildees e controles da gestatildeo cooperativa

somados ao investimento no aprendizado teacutecnico para o desenvolvimento de

habilidades de gestatildeo satildeo vistos como elementos relevantes para tornar possiacutevel e

efetiva a participaccedilatildeo

Embora haja accedilatildeo da Coolvam neste sentido o estudo mostrou que tanto

membros dos Conselhos quanto do Comitecirc Educativo que satildeo a forma organizada

para promover educaccedilatildeo cooperativista e instituiccedilotildees de ldquovozrdquo dos associados

atuam com mais eficiecircncia como canal de informaccedilotildees do que como instrumentos de

accedilatildeo poliacutetica e estrateacutegica dos produtores que vecircm interferir na gestatildeo da

organizaccedilatildeo com objetivo defender os interesses dos associados As entrevistas

mostraram a necessidade de treinamentos praacuteticos com linguagem que permita

melhor entendimento dos membros em substituiccedilatildeo agrave metodologia utilizada nos

treinamentos oferecidos Percebe-se que haacute muito mais disposiccedilatildeo em qualificar as

cooperativas nas aacutereas de sua operacionalizaccedilatildeo administrativo-financeira e

mercadoloacutegica tratando-as em muitos casos como empresas comuns

Diferentemente talvez natildeo se tenha dispensado o mesmo empenho no resgate e

reforccedilo da doutrina cooperativista para aleacutem do discurso interno ou seja tecirc-la como

ldquoordem do diardquo principalmente para as novas geraccedilotildees na esperanccedila de que estes

sejam fonte de mudanccedila de comportamento mentalidade e que de fato ocorra

transformaccedilatildeo no desejo de fazer o coletivo funcionar para todos

Deste modo a participaccedilatildeo para cooperaccedilatildeo foi identificada tambeacutem como a

mais apropriada para o estabelecimento e criaccedilatildeo de novos meios motivados a

despertar o interesse de pessoas em sair da ldquoineacuterciardquo que faz manter o status quo

das diferenccedilas sociais e perda de oportunidades que se encontram em sociedades

cooperativas

115

Outra caracteriacutestica do quadro social corrobora a afirmativa de que

deveriacuteamos avaliar o desenvolvimento em termos da expansatildeo das capacidades das

pessoas para levarem o tipo de vida que valorizam ndash e tem razatildeo para valorizar

(SEN 2000) deste modo respeitar as diferenccedilas das pessoas tambeacutem na forma de

participar pois o estudo mostrou que o grupo de associados que compotildee uma

organizaccedilatildeo coletiva natildeo participa de forma homogecircnea elas apresentam perfis

proacuteprios e haacute diferentes motivaccedilotildees individuais e particulares em cada associado

que os faz envolver mais ou menos intensamente na accedilatildeo Isso deve ser respeitado

mas natildeo utilizado como pretexto de que natildeo se tem pessoas preparadas para

substituiccedilatildeo e justificar a permanecircncia das mesmas pessoas na frente dessas

organizaccedilotildees por tanto tempoA teoria da escolha racional mostra a sobreposiccedilatildeo

dos interesses do pequeno grupo melhor organizado sobre o maior grupo Neste

trabalho essa premissa estaacute presente no cooperativismo quando dados mostram

que em cooperativas agropecuaacuterias o maior nuacutemero de membros satildeo pequenos

produtores em relaccedilatildeo a um nuacutemero muito menor de grandes produtores do mesmo

modo que se confirma a presenccedila de maior nuacutemero de grandes produtores na

conduccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Com base nessa constataccedilatildeo pode-se inferir que

seja possiacutevel que grandes produtores possam naturalmente defender estrateacutegias

conforme seus proacuteprios interesses em detrimento dos interesses dos membros do

outro grupo

Esta mesma teoria confirma tambeacutem o dilema da proacutepria organizaccedilatildeo em

contratar profissionais externos para sua gestatildeo pois ao fazecirc-lo estaacute defendendo o

interesse da empresa cooperativa que sobrepotildee em diferentes momentos aos

interesses dos associados mesmo que racionalmente esta seja a melhor opccedilatildeo

Embora o posicionamento construiacutedo durante o trabalho seja de acreditar na

potencialidade da participaccedilatildeo natildeo se espera que estas organizaccedilotildees sejam

puramente auto-gestionadas pois se concorda que natildeo seja possiacutevel um isolamento

dessas organizaccedilotildees agrave pressatildeo crescente do mercado agrave qual estas tecircm que

responder com rapidez e eficiecircncia Assim como visto satildeo poucos os casos de

soacutecios preparados tecnicamente para estar agrave frente dos negoacutecios cooperativos

Portanto seria ideoloacutegico e irracional natildeo aceitar esta realidade A necessidade estaacute

no reforccedilo e incentivo a associados para participarem nos diferentes niacuteveis de

116

gestatildeo e conseguir desempenhar eficientemente suas funccedilotildees de controles e

conscientemente defender os interesses sociais da organizaccedilatildeo

A heterogeneidade relacionada agraves diferenccedilas sociais existente no quadro

social das cooperativas foi pouco abordada nas literaturas consultadas e de fato

natildeo eacute considerada nos princiacutepios cooperativistas Pode-se perceber no estudo de

caso que esta problemaacutetica tambeacutem natildeo eacute tratada individualmente e com a atenccedilatildeo

que merece para natildeo ir contra o princiacutepio da igualdade Mas contraditoriamente

mostrou tambeacutem que natildeo se trata de modo igual aos desiguais haacute utilizaccedilatildeo de

poliacuteticas e estrateacutegias diferenciadas e direcionadas agrave participaccedilatildeo de produtores nas

comunidades rurais Nessa perspectiva leva-se em consideraccedilatildeo o perfil e o estrato

social dos membros que as compotildeem Portanto haacute necessidade de utilizar

mecanismos diferentes natildeo no sentido de beneficiar uns em detrimento de outros

mas identificar as dificuldades e potencialidades encontradas em niacuteveis diferentes

nos comportamentos individuais e destes aproveitar as aptidotildees de uns para

desenvolver nos demais

Um outro ponto positivo natildeo aprofundado neste estudo mas sugerido em

outros trabalhose considerado prioridade no desenvolvimento do cooperativismo se

refere agrave importacircncia da educaccedilatildeo cooperativista para melhorar a participaccedilatildeo de

associados e o estiacutemulo agrave presenccedila de mulheres e jovens nas atividades da

cooperativa como estrateacutegia e instrumento de desenvolvimento de cooperativas A

cooperativa em estudo mostrou resultados positivos nesse sentido Pode-se

observar presenccedila de mulheres e crianccedilas em reuniotildees nas diferentes comunidades

rurais como mostrado na Figura 19 Isso se deve agrave accedilatildeo conjunta e o arranjo de

parceria entre as cooperativas instituiccedilotildees e escolas do municiacutepio O trabalho de

construccedilatildeo da cultura do cooperativismo investida em jovens como visto vem

conseguindo resultados positivos na comunidade e dessa forma faratildeo ldquoestoquerdquo de

capital social local Esse capital eacute importante para fortalecer as bases locais Caso

as grandes aquisiccedilotildees incorporaccedilotildees e fusotildees observadas como tendecircncias no

segmento do cooperativismo de leite se concretizem com o capital social

fortalecido haveraacute melhor participaccedilatildeo local para fortalecimento e defesa dos

interesses dos produtores associados

Deste modo fortalecimento do capital social pela cooperaccedilatildeo e confianccedila

apresentados no referencial como soluccedilatildeo para os dilemas eacute um conjunto a que

117

deve creditar a superaccedilatildeo das dificuldades de participaccedilatildeo de associados em gestatildeo

cooperativa Os soacutecios devem ser estimulados a acreditar que o investimento em

esforccedilo pessoal pode ser o diferencial para mudar a realidade de muitos Esses

instrumentos satildeo capazes de fortalecer as relaccedilotildees das pessoas criar e manter

viacutenculos propiciando um ambiente de relaccedilotildees familiares no sentido superar os

benefiacutecios individuais no alcance dos objetivos comuns conseguidos pelo espiacuterito

associativo

O fator limitante da pesquisa eacute que esta mostrou a participaccedilatildeo numa

cooperativa pequena onde os produtores estatildeo numa distribuiccedilatildeo geograacutefica

consideravelmente proacutexima ainda assim identificaram-se dificuldades de

participaccedilatildeo A conjuntura apresentada indica que cada vez mais o produtor vai

ficando distante espacialmente da gestatildeo e mais difiacutecil de acompanhar e participar

diretamente Portanto faz-se a indagaccedilatildeo o que vai acontecer com o produtor em

niacutevel macro nesse modelo a que tendem as cooperativas agropecuaacuterias de leite ao

pensar a participaccedilatildeo nessas organizaccedilotildees Como fica a essecircncia do

cooperativismo Cabem novos estudos em grandes organizaccedilotildees cooperativas para

avaliar os benefiacutecios e as dificuldades diante do que vem acontecendo e identificar a

percepccedilatildeo de produtores rurais nessas situaccedilotildees Como a filosofia da participaccedilatildeo

se aplica a esses casos Ainda de fato a opiniatildeo dos produtores que estatildeo nos

nuacutecleos menores consegue ser ouvida pelos que estatildeo tomando as decisotildees

Enfim o ambiente estaraacute satisfatoriamente equilibrado em termos de ldquocapacidades

sociaisrdquo para apoiar um modelo de participaccedilatildeo que possa trazer benefiacutecios

significativos para os pequenos produtores

Uma resposta aos desafios da participaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo exige novas

atitudes e mentalidades Existe forccedila poder e seguranccedila em pessoas que

compartilham natildeo soacute objetivos comuns mas necessidades comuns No

cooperativismo para o bem dos cooperados eacute fundamental que haja oportunidade

para novos participantes com apoio e cooperaccedilatildeo para o bem coletivo e mesmo

tentado ao individualismo cooperar e atuar coletivamente deve ser visto como a

melhor opccedilatildeo

118

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

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APENDICE A

Princiacutepios Cooperativistas

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica

3 - Participaccedilatildeo econocircmica dos membros - Os membros contribuem equumlitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente Parte desse capital eacute normalmente propriedade comum da cooperativa Os membros recebem habitualmente se houver uma remuneraccedilatildeo limitada ao capital integralizado como condiccedilatildeo de sua adesatildeo Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades

bull Desenvolvimento das suas cooperativas eventualmente atraveacutes da criaccedilatildeo de reservas parte das quais pelo menos seraacute indivisiacutevel

bull Beneficios aos membros na proporccedilatildeo das suas transaccedilotildees com a cooperativa

bull Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros

4 - Autonomia e independecircncia - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees autocircnomas de ajuda muacutetua controladas pelos seus membros Se firmarem acordos com outras organizaccedilotildees incluindo instituiccedilotildees puacuteblicas ou recorrerem a capital externo devem fazecirc-lo em condiccedilotildees que assegurem o controle democraacutetico pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa

5 - Educaccedilatildeo formaccedilatildeo e informaccedilatildeo - As cooperativas promovem a educaccedilatildeo e a formaccedilatildeo dos seus membros dos representantes eleitos e dos trabalhadores de forma que estes possam contribuir eficazmente para o desenvolvimento das suas cooperativas Informam o puacuteblico em geral particularmente os jovens e os liacutederes de opiniatildeo sobre a natureza e as vantagens da cooperaccedilatildeo

6 - Intercooperaccedilatildeo - As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e datildeo mais -forccedila ao movimento cooperativo trabalhando em conjunto atraveacutes das estruturas locais regionais nacionais e internacionais

7 - Interesse pela comunidade - As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades atraveacutes de poliacuteticas aprovadas pelos membros (OCB 2007)

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APENDICE B

QUESTIONAacuteRIO DE PESQUISA

1 O Sr eacute associado agrave Cooperativa de Produccedilatildeo ndash Coolvam

( ) sim ( ) natildeo 2 Idade ( ) Grau de Escolaridade ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) 3 Residecircncia principal ( ) rural ( ) urbana 4 Qual comunidade rural pertence 5 Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) 6 Quantos moram na sua propriedade aleacutem da famiacutelia ( ) 7 Aacuterea da Propriedade ( ) Hectares 8 Qual a origem da propriedade

( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar 9 Eacute natural de C Chagas

( ) sim ( ) Natildeo Regiatildeo de origem 10 Haacute quanto tempo mora em CChagas 11 Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz 12 O leite eacute entregue todo na cooperativa ( ) sim ( ) natildeo 13 Se natildeo o que eacute feito do restante da produccedilatildeo 14 Possui outra fonte de renda aleacutem do leite

( ) Sim ( ) Natildeo Se sim citar qual 15 Porque o Sr eacute associado agrave Cooperativa

( ) pelo cooperativismo ( ) por tradiccedilatildeo familiar ( ) pela compra de insumos ( ) preccedilo de leite ( ) pela fidelidade na captaccedilatildeo do leite

16 Enumere em grau de importacircncia que diferencia a cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios

( ) seu papel social ( ) auxilio a compras ( ) captaccedilatildeo de leite ( ) assistecircncia teacutecnica ( ) preccedilo do leite ( ) atendimento de funcionaacuterios ( ) facilidade de acesso

17 Haacute quanto tempo o Sr eacute associado `a cooperativa ( ) anos 18 O Sr Costuma ir agraves assembleacuteias da sua cooperativa

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 19 Quando vai agraves assembleacuteias da cooperativa

( ) eacute para cumprir o meu papel de associado ( ) eacute porque estaacute em pauta algo que seja do meu interesse

20 O Sr eacute informado com antecedecircncia dos assuntos a serem tratados nas reuniotildees ( ) sim ( ) natildeo

21 Como fica sabendo das reuniotildees da sua cooperativa ( )Informativo ( ) Carta ( ) Raacutedio ( ) Telefone

22 Na sua opiniatildeo qual melhor meio de comunicaccedilatildeo para informaccedilatildeo sobre reuniotildees em sua cooperativa

( ) InformativoJornal ( ) Carta ( ) Telefone ( ) Reuniotildees ( ) outros citar 23 O Sr considera sua presenccedila nas reuniotildees da cooperativa

( ) muito importante ( )importante ( ) pouco importante ( ) indiferente 24 O Sr costuma utilizar serviccedilos da sua cooperativa

( ) Natildeo utilizo ( ) De vez em quando ( )sempre Se utiliza qual (is)

25 Algueacutem da famiacutelia jaacute participou de alguma atividade educativa (cursos palestras etc) promovida pela cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Se sim Quem ( ) Produtor (respondente) ( ) Esposa ( ) Filhos

26 Suas reivindicaccedilotildees satildeo atendidas pela cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo Porque

27 O Sr se sente bem informado sobre sua cooperativa ( ) sim ( ) natildeo

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Porque Que tipo de informaccedilotildees o Sr Sente mais necessidade de obter

28 Com que frequumlecircncia o Sr Vai agrave sede da sua Cooperativa ( ) sempre ( ) dificilmente ( ) somente quando convocado

29 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees da sua comunidade ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

30 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees de sua cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

31 Como o Sr Considera a participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da sua propriedade

( ) muito atuante ( ) atuante ( ) pouco atuante ( ) natildeo atua Se natildeo em que gostaria que atuasse melhor

32 Na sua opiniatildeo qual melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees nas reuniotildees ( ) por aclamaccedilatildeo ( ) por manifestaccedilatildeo individual ( ) por voto secreto ( ) outro citar

33 O Sr Costuma visitar outros produtores ( ) sempre ( ) de vez em quando ( ) dificilmente ( ) nunca

34 Quando eacute realizado alguma atividade festiva na sua comunidade rural o Sr Comparece

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 35 Quando eacute realizado alguma atividade de lazer ou festiva na cooperativa o Sr

comparece ( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca

36 O Sr Tem alguma forma de participaccedilatildeo e controle na fixaccedilatildeo do preccedilo do leite entregue na cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Como 37 O Sr Participa de alguma atividade na gestatildeo da Cooperativa

( ) Sim Qual ( )Natildeo Porque Gostaria de participar em qual funccedilatildeo

38 O Sr Considera que os representantes (conselheiros) atuam como proposto para sua funccedilatildeo

Conselho Administrativo ( ) sim ( ) natildeo Conselho Fiscal ( ) sim ( )natildeo PorquecircO que pode ser melhorado

39 O Sr eacute associado ao Sindicato de Produtores Rurais ( ) sim ( ) natildeo Porquecirc

40 O Sr costuma participar de reuniotildees do seu sindicato ( ) sim ( )natildeo

41 Sr eacute associado a outras cooperativas ( ) sim ( ) natildeo Qual (is)

42 O Sr Participa de alguma outra organizaccedilatildeo coletiva na sua cidade (partido poliacutetico grupo de reuniotildees comissotildees etc)

( ) sim ( )natildeo Se sim qual 43 Decirc sua opiniatildeo sobre como melhorar participaccedilatildeo de associados em cooperativas

44 Como o Sr se vecirc em relaccedilatildeo agrave sua propriedade (pode marcar mais de uma

alternativa) ( ) muito entusiasmado ( ) pouco entusiasmado ( ) cauteloso demais nas accedilotildees ( ) natildeo gosto de arriscar ( ) faccedilo poucas modificaccedilotildees durante o ano ( ) estou sempre modificando ( ) natildeo tem muito o que modificar

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APENDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM DIRIGENTES

IDENTIFICACcedilAtildeO bull Nome bull Idade ( ) bull Grau de Escolaridade bull Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) bull Quantos moram na sua residecircncia bull Qual comunidade rural a sua propriedade pertence bull Qual aacuterea da propriedade ( ) Alqueires bull Qual a origem da propriedade ( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar bull Qual eacute a sua regiatildeo de origem bull Haacute quanto tempo mora em CChagas bull Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz

PERFIL PROFISSIONAL bull Como foi sua tragetoacuteria profissional ateacute a direccedilatildeo da cooperativa bull Quais atividades de gestatildeo desenvolveu antes de atuar na diretoria da

cooperativa bull Quais experiecircncias vocecirc teve com gestatildeo de grupos antes de atuar na

cooperativa

PARTICIPACAO DE ASSOCIADOS bull Sob seu ponto de vista quais satildeo as principais dificuldades para conseguir

que um maior nuacutemero de associados participem das atividades e decisotildees da cooperativa

bull Na sua opiniatildeo qual eacute o problema mais criacutetico da cooperativa em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo de associados bull Quais os pontos fracos da cooperativa que dificultam a participaccedilatildeo de

associados bull Quais os pontos fortes da cooperativa que propicia melhor participaccedilatildeo de

associados bull Em cooperativas haacute heterogeneidade no quadro de associados relacionada

agraves diferenccedilas sociais (pequenos meacutedios e grandes produtores) O sr Considera que haja essa heterogeneidade e deste modo diferentes grupos de interesses Como trabalha com esses diferentes grupos de associados

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na Cooperativa bull Quais estrateacutegias usadas pela cooperativa para lidar com as diferentes

necessidades ou solicitaccedilotildees de associados bull Na sua opiniatildeo o que eacute preciso fazer para facilitar a participaccedilatildeo dos

associados nas decisotildees tomadas pela diretoria bull Na sua opiniatildeo o associado vai agraves reuniotildees cumprindo seu papel de

associado ou quando estaacute em pauta algo que seja do seu interesse individual

bull Quais as accedilotildees que vocecirc considera necessaacuterias que possa melhorar o

interesse de participaccedilatildeo dos associados bull No seu entendimento os associados participam da cooperativa mais como

ldquodonordquo (participaccedilatildeo ativa) ou usuaacuterio (participaccedilatildeo passiva) bull Haacute trabalho visando a participaccedilatildeo e integraccedilatildeo das mulheres e dos jovens

na cooperativa bull Como o Sr prioriza tomadas de decisotildees bull Quais accedilotildees tem sido feitas pela cooperativa para profissionalizaccedilatildeo dos

associados e familiares bull Qual eacute a forma de participaccedilatildeo de associados no planejamento das accedilotildees

presentes e futuras da cooperativa bull Como o Sr acompanha as atividades dos departamentos da cooperativa

prestadas aos associados bull Qual melhor meio de comunicaccedilatildeo com os associados considerado pelo Sr bull Em sua opiniatildeo quais contribuiccedilotildees atuais e futuras que a Diretoria pode

deixar para os futuros sucessores com o objetivo de melhorar a participaccedilatildeo para associados na cooperativa

bull Na sua opiniatildeo quais estrateacutegias de accedilatildeo devem ser empreendidas para

que possa ter uma cooperativa melhor nos proacuteximos 10 (dez) anos no sentido de maior participaccedilatildeo e responsabilidade social

bull O autor que norteia minha pesquisa (Mancur Olson) diz a ldquoatraccedilatildeo que

exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo O que o Sr diria pela experiecircncia com o cooperativismo sobre essa afirmaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave forma de participaccedilatildeo de associados

bull No geral o Sr considera que os princiacutepios do cooperativismo conseguem ser aplicados por essa cooperativa ou sugeriria alguma modificaccedilatildeo para

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adaptaccedilatildeo agrave realidade operacional da cooperativa Que tipo de modificaccedilatildeo

bull O segundo princiacutepio do cooperativismo diz que os associados ldquoparticipam ativamente na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e tomadas de decisotildeesrdquo Na sua experiecircncia isso eacute aplicaacutevel dificilmente parcialmente ou totalmente Porque Como eacute feito

APENDICE D

COLETA DE DADOS SECUNDAacuteRIOS

45 Percentual de participaccedilatildeo de associados nas uacuteltimas 5 assembleacuteias gerais 46 Qual o percentual de participaccedilatildeo nas 5 uacuteltimas assembleacuteias extraordinaacuterias 47 As assembleacuteias extraordinaacuterias costumam ser por quem (Diretoria

Conselho administrativo Fiscal ou Comitecirc educativo) 48 Nos uacuteltimos 5 anos houve alguma assembleacuteia solicitada pelos associados

49 A cooperativa utiliza de algum indicador para fazer acompanhamento do iacutedice

de participaccedilatildeo de associados em suas atividades Se sim que tipo de indicador

50 Taxa de utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa pelos associados (como medir

isso Por compras ex tanques coletivos)

51 Quando foi a uacuteltima aquisiccedilatildeo coletiva financiada ou intermediada pela cooperativa para benefiacutecio dos associados

52 Que tipo de aquisiccedilatildeo

53 Quais tipos de atividades de campo satildeo promovidas pela cooperativa (citar)

54 O associado participa de que tipo de accedilotildees da cooperativa em relaccedilatildeo agraves

suas atividades operacionais histoacuterico e descriccedilatildeo da Cooperativa

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Page 3: AÇÃO COLETIVA EM ORGANIZAÇÕES COOPERATIVAS: UM …livros01.livrosgratis.com.br/cp087171.pdf · Classificação da Biblioteca Central da UFV T Pimentel, Patrícia Ferreira Coimbra,

Ficha catalograacutefica preparada pela Seccedilatildeo de Catalogaccedilatildeo e Classificaccedilatildeo da Biblioteca Central da UFV

T Pimentel Patriacutecia Ferreira Coimbra 1973- P644a Accedilatildeo coletiva em organizaccedilotildees cooperativas um estudo 2008 de caso da cooperativa de laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda em Carlos Chagas-MG Patriacutecia Ferreira Coimbra Pimentel ndash Viccedilosa MG 2008 xi 128f il (algumas col) 29cm Inclui apecircndices Orientador Joseacute Ambroacutesio Ferreira Neto Dissertaccedilatildeo (mestrado) - Universidade Federal de Viccedilosa Referecircncias bibliograacuteficas f 115-122 1 Cooperativas agriacutecolas 2 Cooperativismo - Carlos Chagas (MG) 3 Produtos agriacutecolas - Comercializaccedilatildeo cooperativa 4 Economia agriacutecola I Universidade Federal de Viccedilosa IITiacutetulo CDD 22ed 334683

i

ii

Ao meu querido esposo Joacutebson pelo amor e por ser tatildeo presente e amigo Te amo

Agraves minhas filhas Flaacutevia Laura e Marina pelo amor incondicional Que me inspiram e por terem convivido com minhas ausecircncias nesta fase e ainda assim serem tatildeo maravilhosas Amo vocecircs

iii

AGRADECIMENTOS

Obrigada Senhor por este trabalho pela forccedila da superaccedilatildeo e por me conduzir sempre para o melhor caminho Aos meus pais Zeca 84 anos cheio de vida sempre dedicado agrave simplicidade do viver rural Exemplo de paciecircncia e coragem Agrave minha matildee Vilma obrigada pela semente que plantou na minha formaccedilatildeo como pessoa Meu exemplo de caraacuteter forccedila e dedicaccedilatildeo Aos meus irmatildeos que cada um ao seu modo me acompanham e apoacuteiam mesmo sem entender muito ldquoo porquecirc de estudar tantordquo Aos meus sobrinhos Carol Rodrigo e Ricardo por quem esforccedilo para acreditarem nos estudos e aspirar crescimento Ao Prof Newton Paulo Bueno pela oportunidade Ao Prof Joseacute Ambroacutesio Ferreira Neto por aceitar o desafio e acreditar em mim pelo apoio e amizade no momento mais difiacutecil Pela orientaccedilatildeo e dedicaccedilatildeo Agrave UFV e aos professores do DER que contribuiacuteram para uma percepccedilatildeo diferente do rural Aos funcionaacuterios em especial agrave Carminha e Cida pelo carinho e atenccedilatildeo de sempre Aos membros da banca examinadora Aos produtores rurais dirigentes e funcionaacuterios da COOLVAM pela acessibilidade e apoio Aos amigos da Incubadora de Base Tecnoloacutegica CENTEVUFV pela oportunidade de aprendizado no desafio do empreendedorismo grande contribuiccedilatildeo na minha carreira profissional Aos amigos do Centro Vocacional Tecnoloacutegico de Viccedilosa (CVT) pela convivecircncia A Flaacutevia Moreira pela consideraccedilatildeo e pelo apoio de sempre A Cris Xavier por ter cuidado tatildeo bem das minhas filhas e da minha casa enquanto natildeo estava presente A Kmila Neacutedma e Wiliam por terem acompanhado toda essa caminhada Aos colegas pela famiacutelia que formamos em ERU 623 pela amizade companheirismo consolo superaccedilatildeo e por todas as vezes que pudemos compartilhar momentos de descontraccedilatildeo e alegria A toda famiacutelia IPV pela amizade cristatilde

iv

Fizeste-me avanccedilar a largos passos (Sl 1836)

v

SUMAacuteRIO

LISTA DE TABELAS ix

RESUMO x

ABSTRACT xi

1 INTRODUCcedilAtildeO 1

11 Definiccedilatildeo do Problema4 12 Objetivos7

121 Objetivo Geral 7 122 Objetivos Especiacuteficos 7

13 Metodologia 7 2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 12

21 O cooperativismo12 211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas 15 212 O cooperativismo agropecuaacuterio 16 213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de produtores rurais 18

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa22 23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas 25

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO29

31 Accedilatildeo Coletiva29 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos29 312 Dilemas de accedilatildeo coletiva 34 313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo36 314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos 38 315 Dilemas do Cooperativismo 43

32 A Participaccedilatildeo53 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo53 322 A Participaccedilatildeo em cooperativas 58 333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo 62

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema 65 4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO

COOPERATIVISMO72

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas72 42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM 74

421 Estrutura Organizacional76 422 Quadro Social 77 423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo 77 423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam 78 425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos 79 426 Serviccedilos prestados aos associados 80 427 Perfil dos produtores associados da Coolvam 81

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM85 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 113

vi

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA118

APENDICE A126

APENDICE B127

APENDICE C 129

APENDICE D 131

vii

LISTA DE FIGURAS

1 Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada COOLVAM 2008 8

2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em

cooperativas 25

3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de

Mangalocirc71

4 Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas 71

5 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo79

6 Organizaccedilatildeo de Produtores por Estrato Social 80

7 Amostra de produtores por comunidades rurais 81

8 Residecircncia principal de produtores 82

9 Motivo da associaccedilatildeo agrave cooperativa 84

10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios 85

11 Frequumlecircncia de produtores em assembleacuteias86

12 Motivaccedilatildeo para participaccedilatildeo em assembleacuteias 86

13 Liberdade para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade88

14 Liberdade para manifestar em assembleacuteias 88

15 Consideraccedilatildeo sobre a presenccedila em reuniotildees 89

16 Frequumlecircncia que vai agrave sede da cooperativa 89

17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa 91

18 Participaccedilatildeo da famiacutelia em atividades educativas 91

19 Preacute-assembleacuteia com comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de

Minas 92

20 Atendimento a reivindicaccedilotildees pessoais93

21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade 93

22 Informaccedilotildees sobre a cooperativa 94

23 Opiniatildeo sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees 97

24 Participaccedilatildeo em Assembleacuteias 97

25 Interesse de produtores em participar dos oacutergatildeos de gestatildeo 98

26 Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo 99

27 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo

1019

viii

28 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal 101

29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo 102

30 Participaccedilatildeo em outra organizaccedilatildeo coletiva 103

31 Participaccedilatildeo em atividade festiva na comunidade 104

32 Participaccedilatildeo em atividade festiva na cooperativa 104

33 Haacutebito de visitar outros produtores 105

34 Motivaccedilatildeo do produtor em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural 108

ix

LISTA DE TABELAS

1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil22

2 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo 79

3 Organizaccedilatildeo de produtores por estrato social 80

4 Perfil do Produtor82

x

RESUMO

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra MS Universidade Federal de Viccedilosa julho de 2008 Accedilatildeo coletiva em organizaccedilotildees cooperativas um estudo de caso na Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda em Carlos Chagas -MG Orientador Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-Orientadores Nora Beatriz Presno Amodeo e Marcelo Minaacute Dias

Esta dissertaccedilatildeo apresenta uma anaacutelise sobre o processo de participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas agropecuaacuterias tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees que

supostamente levam ao surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido

pela Teoria da Escolha Racional Portanto buscou-se identificar e compreender

estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas e analisar o comportamento de

diferentes grupos existentes nessas organizaccedilotildees e como lidar com a complexa

forma de gestatildeo e controle dadas as dificuldades impostas pelo mercado cada vez

mais exigente e competitivo Por meio de uma discussatildeo fundamentada na literatura

sobre participaccedilatildeo e cooperativismo pode-se associaacute-la agraves discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como aos estudos sobre confianccedila

cooperaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de capital social mostradas como instrumentos potenciais

para soluccedilatildeo dos dilemas de accedilatildeo coletiva

xi

ABSTRACT

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra M Sc Federal University of Viccedilosa July of 2008 Class action in cooperative organizations a study of case in the Cooperative of Laticiacutenios Valley of the Mucuri Ltda in Carlos Chagas - MG Adviser Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-advisers Nora Beatriz Presno Amodeo and Marcelo Minaacute Dias

This dissertation presents an analysis on the process of participation of rural

producers in agricultural cooperatives taking as reference the existent heterogeneity

in the social picture of those organizations that supposedly take to the appearance of

problems of collective action as suggested by the Theory of the Rational Choice

Therefore it was looked for to identify and to understand strategies of collective

action in cooperatives and to analyze the behavior of different existent groups in

those organizations and how to work with the complex administration form and

control given the difficulties imposed more and more by the market demanding and

competitive Through a discussion based in the literature on participation and

cooperativism it can associate it to the concerning discussions to the collective

action and institutions as well as to the studies about trust cooperation and

valorization of social capital shown as potential instruments for solution of the

dilemmas of collective action

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas a abertura econocircmica proporcionou novas

oportunidades e restriccedilotildees de muacuteltiplas naturezas para grande parte da populaccedilatildeo

A sociedade civil tem assumido responsabilidades que antes eram obrigaccedilotildees

majoritariamente do Estado Em vaacuterios setores tem havido diferentes manifestaccedilotildees

de pessoas oriundas de motivaccedilotildees variadas seja na conquista pela terra pelo

teto por menos impostos por melhores estradas alimentos saudaacuteveis enfim as

pessoas tecircm buscado defender de vaacuterias formas melhores condiccedilotildees em seus

meios de vida As organizaccedilotildees se viram em ambientes mais competitivos com

clientes e consumidores mais exigentes por qualidade Eacute nesse cenaacuterio que pessoas

encontram no cooperativismo uma forma para defender seus interesses coletivo e

solidariamente Deste modo no meio rural muitos produtores se fortalecem nas

cooperativas para comercializar sua produccedilatildeo e melhorar tambeacutem suas condiccedilotildees

de vida Neste panorama o presente trabalho apresenta uma anaacutelise sobre o

processo de participaccedilatildeo em cooperativas rurais tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees o que leva ao

surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva

Para fundamentaccedilatildeo conceitual dessa pesquisa optou-se pela Teoria da

Escolha Racional enfatizada por Mancur Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica da

accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas que motivam a

participaccedilatildeo bem como problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a

coerecircncia a eficaacutecia e a atratividade dos grupos nesse processo Dada a

importacircncia da participaccedilatildeo Amman (1980) a apontada como uma estrateacutegia para a

superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Neste contexto sugere que para atingir o

desenvolvimento as pessoas do meio rural devem se unir em grupos de forma a

juntar forccedilas para busca de soluccedilotildees de seus problemas Assim como argumenta

Bordenave (1983) a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o homem

exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si mesmo

tratando-se de uma necessidade humana e por conseguinte um direito das

pessoas Eacute uma praacutetica transformadora e libertadora que leva o indiviacuteduo a discutir

2

analisar e assumir atitudes conforme corrobora Freire (1982) O processo

participativo se materializa em vaacuterias aacutereas portanto para entender como se daacute a

participaccedilatildeo de associados em cooperativas face ao complexo funcionamento

dessas organizaccedilotildees optou-se por estudar o cooperativismo de produtores rurais a

fim de identificar e compreender como se constroem as estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

nessas cooperativas

De forma geral a necessidade de ser economicamente eficiente sem perder a

finalidade social potildee o cooperativismo num dilema onde os desafios estatildeo divididos

entre de um lado sustentar a originalidade proposta por essa forma de organizaccedilatildeo

social cujos princiacutepios se reforccedilam ao resistir a vaacuterias transformaccedilotildees econocircmicas e

sociais ocorridas desde a sua fundaccedilatildeo em meados do seacuteculo XIX e por outro lado

competir no mercado cumprindo as exigecircncias impostas pelo capitalismo no que se

refere agrave eficiecircncia da organizaccedilatildeo e agrave gestatildeo de seus processos

As questotildees sociais estatildeo entre os desafios competitivos de qualquer

empreendimento independente do ramo de atividade ou puacuteblico alvo por isso eacute

crescente o nuacutemero de projetos sociais patrocinados por empresas de diversos

segmentos assim como accedilotildees voltadas para o bem estar da equipe de trabalho As

cooperativas estatildeo inseridas nesse contexto poreacutem sua funccedilatildeo social natildeo deve se

realizar como diferencial competitivo mas como compromisso estatutaacuterio com seus

soacutecios que eacute a razatildeo de ser do cooperativismo Deste modo uma cooperativa eacute

simultaneamente uma associaccedilatildeo de pessoas e uma organizaccedilatildeo econocircmica

Para tanto com o objetivo de atingir sua finalidade social o cooperativismo

tem como base os Princiacutepios Cooperativos (Anexo 1) que satildeo as regras de conduta

(CARNEIRO 1981) linhas orientadoras da praacutetica cooperativista (OCB 2007)

Dentre outros propotildee igualdade no Princiacutepio da Adesatildeo Voluntaacuteria para funcionar

sem discriminaccedilatildeo social e no Princiacutepio da Gestatildeo Democraacutetica a participaccedilatildeo ativa

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas internas e tomada de decisotildees No entanto natildeo haacute uma

efetividade desses princiacutepios se natildeo houver participaccedilatildeo dos associados em suas

respectivas cooperativas

Conforme Braga e Reis (2002) o cooperativismo estaacute presente em quase

todos os paiacuteses do mundo e cerca de 40 da populaccedilatildeo mundial estaacute de alguma

forma ligada a esse movimento Embora no Brasil esse nuacutemero natildeo passe de 10

grande parte dos resultados apresentados pela produccedilatildeo agropecuaacuteria eacute meacuterito das

3

cooperativas Este setor eacute o terceiro em nuacutemero de cooperados Braga e Reis (2002)

estimam um puacuteblico aproximado de seis milhotildees de pessoas envolvidas nesse

segmento considerando cooperados empregados familiares e agregados

Este trabalho teve como objeto de anaacutelise a Cooperativa de Laticiacutenios Vale do

Mucuri Ltda ndash COOLVAM sediada em Carlos Chagas cidade de 24000 habitantes

localizada regiatildeo nordeste do estado de Minas Gerais conhecida entre os

municiacutepios da regiatildeo como ldquocidade do cooperativismordquo assim tambeacutem reconhecida

por outras instituiccedilotildees do mesmo segmento

Atualmente o municiacutepio de Carlos Chagas conta com outras trecircs

cooperativas sendo a Cooperativa de Creacutedito Rural (CREDICAR) a Cooperativa

Educacional (COOEDUCAR) e Cooperativa de Produtos Artesanais de Carlos

Chagas (COOPAC) A Coolvam exerce importante atuaccedilatildeo na organizaccedilatildeo soacutecio-

econocircmica do municiacutepio pois eacute a segunda maior empregadora de matildeo-de-obra o

que demonstra a sua forte participaccedilatildeo na economia local O setor produtivo no

municiacutepio eacute focado essencialmente na agropecuaacuteria principalmente na pecuaacuteria

leiteira que tem na cooperativa uma forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo

principalmente no caso de pequenos produtores rurais Essa conjuntura corrobora a

afirmaccedilatildeo de Graziano da Silva (2000) sobre o cooperativismo como sendo ldquoa uacutenica

forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo dos pequenos produtores rurais em

certos municiacutepiosrdquo

Como forma de organizaccedilatildeo do quadro social funciona haacute dezoito anos o

comitecirc educativo que atua como um oacutergatildeo de assessoria da administraccedilatildeo e dos

cooperados constituiacutedo por um grupo de lideranccedilas que se reuacutenem para identificar e

discutir problemas analisaacute-los e sugerir propostas que atendam aos interesses da

comunidade cooperativista Haacute uma divisatildeo do quadro social em seis comunidades

distribuiacutedas geograficamente na aacuterea de accedilatildeo da COOLVAM onde acontecem

reuniotildees bimestrais com os associados e uma reuniatildeo mensal com as lideranccedilas

das comunidades na sede da Cooperativa Outras formas de contato entre a

administraccedilatildeo e os associados satildeo torneio leiteiro de comunidades realizados

anualmente os dias-de-campo geralmente duas vezes ao ano a veiculaccedilatildeo mensal

do jornal Informativo COOLVAM campanhas de vacinaccedilatildeo e nas assembleacuteias

gerais realizadas nos fins de cada exerciacutecio

4

Considerando a forma estrutural como a COOLVAM lida com os associados

essa cooperativa se qualificaria como exemplo de organizaccedilatildeo cooperativa

conforme aspectos referentes agrave prioridade e importacircncia dadas aos associados e

suas diferenccedilas em relaccedilatildeo a uma sociedade comercial tiacutepica sugerido em

literaturas sobre o relacionamento cooperativa e cooperados Por isso o interesse

desse trabalho se configura em pesquisar como se daacute a participaccedilatildeo em

cooperativas rurais com base na proposta da Teoria da Escolha Racional sobre os

dilemas da accedilatildeo coletiva

A composiccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em quatro capiacutetulos a partir

desta introduccedilatildeo que faz a apresentaccedilatildeo geral da finalidade da pesquisa os

objetivos o problema levantado e a metodologia utilizada para realizaccedilatildeo do

trabalho O primeiro capiacutetulo faz uma apresentaccedilatildeo histoacuterica e do contexto

econocircmico-social que perpassam a construccedilatildeo do cooperativismo e o enfrentamento

de seus dilemas O segundo capiacutetulo eacute composto pelo referencial conceitual e

argumentativo que orienta o trabalho e tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias

e argumentos Inicia-se com uma discussatildeo sobre accedilatildeo coletiva e como se

fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme proposta de Mancur Olson

(1999) que direciona as outras discussotildees do trabalho Na seccedilatildeo seguinte haacute uma

abordagem conceitual e praacutetica sobre participaccedilatildeo Em seguida uma discussatildeo

sobre cooperaccedilatildeo e capital social apresentados como correccedilotildees para os dilemas

de accedilatildeo coletiva

No terceiro capiacutetulo apresenta-se o estudo de caso da COOVAM e a anaacutelise

dos resultados dos questionaacuterios e entrevistas realizadas durante a pesquisa No

quarto e uacuteltimo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo apresentam-se as consideraccedilotildees finais

11 Definiccedilatildeo do Problema

Dados da OCB (2001) citados em Braga e Reis (2002) mostram que cerca de

83 dos associados agraves cooperativas agropecuaacuterias possuem propriedades com

dimensatildeo de ateacute 50 hectares ao passo que pouco mais de 5 satildeo grandes

produtores cujas propriedades satildeo superiores a 500 hectares1 Apesar da

1 Para fins desta pesquisa a referecircncia de grande e pequeno produtor rural teraacute como paracircmetro o volume de produccedilatildeo

5

significativa diferenccedila em nuacutemero de pequenos produtores a dinacircmica das relaccedilotildees

sociais no interior das cooperativas eacute marcada por acentuada diferenciaccedilatildeo social

que beneficia sobretudo grandes produtores em detrimento dos pequenos pois os

grandes produtores conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees dessas

organizaccedilotildees (PEREIRA 2002) Isso eacute retratado em estudos sobre o quadro social

das cooperativas agropecuaacuterias brasileiras onde se verifica grande diferenciaccedilatildeo

soacutecio-econocircmica entre os associados jaacute que as cooperativas abrigam grandes e

pequenos produtores rurais Este fato causa o que Pereira (2002) classifica ldquodilemas

do cooperativismordquo que geram implicaccedilotildees de diversas naturezas tais como

Grupos ou indiviacuteduos que possuem maior informaccedilatildeo maior disponibilidade de tempo e que estatildeo articulados com o poder local geralmente conduzem as cooperativas os associados esperam que as lideranccedilas exerccedilam o papel de tutor ou de bom patratildeo resolvendo seus problemas e trazendo benefiacutecios (PEREIRA 2002 P136)

De acordo com Campanhola e Graziano da Silva (2000) as associaccedilotildees e

cooperativas satildeo formas tradicionais de organizaccedilatildeo dos produtores rurais que

facilitam o seu acesso ao mercado aos programas de fomento oficiais agrave assistecircncia

teacutecnica agraves informaccedilotildees entre outros Teoricamente constituem uma forma

participativa de tomada de decisatildeo partindo-se do princiacutepio de que a uniatildeo dos

produtores nessas organizaccedilotildees os fortalece tanto quanto a sua representatividade

para a participaccedilatildeo em conselhos comitecircs comissotildees bem como no seu poder de

barganha com os setores puacuteblico e privado Do mesmo modo haacute uma importacircncia

social atribuiacuteda a essas organizaccedilotildees que satildeo em certos municiacutepios e regiotildees a

uacutenica forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo obtida por produtores rurais

No entanto essa proposta de accedilatildeo participativa eacute restrita a uma minoria que

geralmente exerce diferentes papeacuteis na comunidade e deste modo consegue ter

maior acesso a diversos benefiacutecios Instala-se tambeacutem uma condiccedilatildeo hieraacuterquica

verificada na sociedade que causa distanciamento entre as organizaccedilotildees

cooperativas e os associados prejudicial ao desenvolvimento econocircmico e social

dos produtores rurais Isto sucinta questionamentos sobre a universalidade dos

princiacutepios do cooperativismo que enfatizam somente os fatores beneacuteficos dessas

organizaccedilotildees sem levar em conta contradiccedilotildees internas das diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas

Tomando como referecircncia as argumentaccedilotildees de Olson (1999) para a anaacutelise

de cooperativas vecirc-se que uma minoria se organiza e conquista posiccedilotildees nas quais

6

conseguem defender interesses proacuteprios Por outro lado grande parte dos

associados principalmente pequenos produtores em maior nuacutemero tecircm dificuldade

em se mobilizar para defesa de seus interesses Baseado nos princiacutepios do

cooperativismo seria de se esperar que as decisotildees tomadas em cooperativas

fossem no sentido de atender aos interesses da maioria dos associados o que nem

sempre ocorre devido agrave concentraccedilatildeo do poder de decisatildeo nas matildeos do pequeno

grupo dominante

A esse respeito Duarte citado em Pereira (2002) destaca que a praacutetica do

cooperativismo tem conferido aos pequenos produtores associados somente a

condiccedilatildeo de usuaacuterios eliminando o seu papel de dono o que enfraquece tanto o

propoacutesito de seus princiacutepios quanto a funccedilatildeo de organizaccedilatildeo para a accedilatildeo coletiva

Dessa maneira conforme sugerido por Ramirez e Berdegueacute (2003) a

compreensatildeo das causas dos ecircxitos e fracassos de estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

deve ser uma fonte de aprendizagem para melhorar as intervenccedilotildees orientadas a

modificar os sistemas de exclusatildeo e promover o desenvolvimento rural sustentaacutevel

Nessa perspectiva a participaccedilatildeo eacute apontada por Amman (1980) como uma

estrateacutegia para a superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Dentro do cooperativismo

conforme Pereira (2000) natildeo satildeo oferecidos mecanismos para diminuir ou amenizar

as diferenccedilas entre os grupos e a heterogeneidade dos associados o que impede

uma efetiva participaccedilatildeo

Portanto conforme mostram os dados oficiais e a literatura haacute falhas das

associaccedilotildees e cooperativas em atender aos interesses da maioria de seus membros

jaacute que muitas dessas passaram a atuar sem a participaccedilatildeo dos seus associados nas

tomadas de decisotildees as quais se apoacuteiam apenas nas opiniotildees de sua

administraccedilatildeo superior (CAMPANHOLA E GRAZIANO DA SILVA 2000)

A partir deste panorama que mostra a dificuldade de participaccedilatildeo de

pequenos produtores nas cooperativas torna-se oportuno questionar sobre a

controveacutersia do cooperativismo ser instrumento criado para esse fim e ao mesmo

tempo permitir um distanciamento entre estes e os que o gerenciam Assim sendo

indaga-se como se constroacutei a participaccedilatildeo no ambiente de cooperativas rurais

tendo em vista a heterogeneidade do quadro social dessas organizaccedilotildees

Deste modo se na proposta do cooperativismo haacute um diferencial que eacute a

ecircnfase dada agrave igualdade de participaccedilatildeo dos associados cabe questionar sobre as

7

dificuldades das pessoas que natildeo participam assim como os motivos que levam

outros a participar

12 Objetivos

121 Objetivo Geral

Verificar as dificuldades de participaccedilatildeo em cooperativas e a heterogeneidade

relacionada agraves diferenccedilas sociais existentes no quadro social que levam a

problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido pela Teoria da Escolha Racional

utilizando o estudo de caso da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM no municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG

122 Objetivos Especiacuteficos

a Identificar e compreender estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas

b Identificar mecanismos que dificultam a participaccedilatildeo de pequenos produtores rurais associados a cooperativas rurais para o desenvolvimento local

c Analisar o processo de participaccedilatildeo dos diferentes grupos existentes em cooperativas

13 Metodologia

Para conduccedilatildeo desta pesquisa utilizou-se o meacutetodo qualitativo por meio de

estudo de caso Neste meacutetodo segundo Tivinotildes citado em Alencar (2000) as

posiccedilotildees qualitativas baseiam-se especialmente em dois enfoques especiacuteficos o de

compreender e analisar a realidade

Um enfoque eacute o compreensivista o outro eacute o critico participativo com visatildeo histoacuterico-estrurtural e se fundamenta na dialeacutetica da realidade social que parte da necessidade de conhecer a realidade atraveacutes de percepccedilatildeo reflexatildeo e intuiccedilatildeo para transformaacute-la em processos contextuais e dinacircmicos (ALENCAR 2000 p69)

Jaacute o estudo de caso em particular

8

Propotildee-se a investigar um fenocircmeno contemporacircneo em seu contexto real onde os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo satildeo claramente percebidos por meio do uso de muacuteltiplas fontes de evidecircncias como entrevistas arquivos documentos observaccedilatildeo etc (Yin 1989 citado em Lazzarini 1999 P6)

Portanto a realizaccedilatildeo deste estudo teve como referecircncia empiacuterica produtores

rurais associados agrave Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda ndash Coolvam no

municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG onde se buscou coleta de dados e informaccedilotildees

realizadas por meio de aplicaccedilatildeo de questionaacuterios e entrevistas semi-estruturadas

Os questionaacuterios foram elaborados com questotildees estruturadas de perguntas

e respostas padronizadas e questotildees semi-estruturadas exatamente como sugere

Alencar (2000) nas questotildees semi-estruturadas as perguntas satildeo padronizadas

mas as respostas ficam a criteacuterio do entrevistado ou seja eacute o seu discurso

A populaccedilatildeo para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios foi escolhida por amostragem

probabiliacutestica estratificada neste caso

O universo eacute subdividido (estratificado) em grupos mutuamente exclusivos escolhendo-se uma amostra probabiliacutestica simples de cada estrato A amostragem estratificada conduz a estimativas mais ldquoverdadeirasrdquo do que as obtidas por outros meacutetodos jaacute que eacute interessante conhecer caracteriacutesticas do universo o que ela revela mais claramente (ALENCAR 2000 p64)

A pesquisa foi desenvolvida no periacuteodo entre os anos de 2006 e 2008 sendo

que o trabalho de campo foi realizado durante o mecircs de Janeiro de 2008 Foram

aplicados 62 questionaacuterios Foi possiacutevel conforme planejado envolver a populaccedilatildeo

de 20 dos produtores associados agrave Cooperativa estudada Dos diferentes estratos

de associados ou seja do total de 176 pequenos produtores foram entrevistados

35 do total de 58 meacutedios produtores foram aplicados 17 e aos 35 grandes

produtores foram aplicados sete questionaacuterios

173

35

58

12

35

7

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Pequenos (0 a 200 lts) Meacutedios (201 a 499 lts) Grandes (Mais de 500 lts)

Associados Entrevistados

Figura 01 ndash Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada Coolvam 2008

A aplicaccedilatildeo de questionaacuterios foi feita durante o periacuteodo da pesquisa em dois

pontos escolhidos pelo pesquisador na Farmaacutecia Veterinaacuteria da Coolvam e na

Cooperativa de Creacutedito Rural O primeiro foi considerado um local apropriado pois

diariamente agraves sete horas da manhatilde os produtores passam para comprar insumos

para levar agraves fazendas Aproveitou-se da constante presenccedila de associados para

serem abordados e aplicar os questionaacuterios Neste local foi solicitado autorizaccedilatildeo

da gerente da loja para permanecircncia da pesquisadora

O outro local a Credicar considerado ldquoponto de encontro dos produtoresrdquo

Neste lugar foi solicitado ao gerente da agecircncia um espaccedilo para aplicaccedilatildeo dos

questionaacuterios Este autorizou utilizaccedilatildeo de uma mesa com cadeiras ficando um

lugar restrito e apropriado para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios Desta forma agrave medida

que chegavam os produtores eram abordados O maior nuacutemero de questionaacuterios foi

aplicado no dia do pagamento do leite 20 de janeiro de 2008 pois esta foi a data de

maior concentraccedilatildeo de produtores na cidade

Em nuacutemero menor alguns questionaacuterios foram aplicados nas propriedades

rurais nestes casos o pesquisador foi ateacute as propriedades de produtores indicados

durante a aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os demais na cidade Foi possiacutevel visitar

propriedades de estratos diferentes (pequenos meacutedios e grandes) o que permitiu

ao pesquisador vivenciar estilos de vida proacuteprios de cada um

9

10

A maioria dos questionaacuterios foi aplicada pessoalmente pela pesquisadora aos

produtores possibilitando observar e registrar comentaacuterios adicionais Alguns foram

preenchidos pelos proacuteprios produtores Nestes casos eles eram orientados a fazer

os comentaacuterios nas questotildees

Para obter informaccedilotildees e percepccedilotildees de associados participantes da gestatildeo

da cooperativa foram feitas sete entrevistas semi-estruturadas com o presidente

trecircs conselheiros administrativos dois conselheiros fiscais e dois membros do

comitecirc educativo

As entrevistas semi-estruturadas foram adotadas por serem consideradas

mais apropriadas nas pesquisas em que a compreensatildeo de atitudes ideacuteias e accedilotildees

satildeo relevantes conforme as vantagens classificadas por Alencar (2000)

Estaacute centrada em torno de toacutepicos a serem cobertos durante a entrevista os quais natildeo chegam a assumir a forma de questotildees estruturadas natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo ao aprofundamento dos toacutepicos por meio de questotildees que emergem durante a realizaccedilatildeo da entrevista (ALENCAR 2000 P63)

Algumas entrevistas foram gravadas quando autorizadas pelos entrevistados

e outras foram apenas registradas no caderno de campo respeitando a vontade do

respondente Percebeu-se que o gravador eacute um aparelho que intimidou o falar

portanto por sugestatildeo de entrevistados eram feitas anotaccedilotildees das respostas e em

seguida fazia-se a leitura para confirmaccedilatildeo das falas do entrevistado Aproveitou-se

desse recurso tambeacutem para anotaccedilotildees durante a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio para

registrar as percepccedilotildees a partir das observaccedilotildees da pesquisadora

Durante a sistematizaccedilatildeo dos dados das entrevistas optou-se por natildeo

identificar o entrevistado por isso todas as falas seratildeo identificadas pela funccedilatildeo do

entrevistado Nos questionaacuterios aplicados para resguardar individualidade e obter

informaccedilotildees com maior niacutevel de veracidade natildeo foi identificado o respondente Mas

para identificar as respostas dos diferentes estratos todos os questionaacuterios foram

codificados com nuacutemero e a letra que indica o grupo do associado No entanto na

apresentaccedilatildeo dos resultados utiliza-se como identificaccedilatildeo do respondente o seu

estrato social idade e o ano da pesquisa

Utilizou-se tambeacutem a pesquisa bibliograacutefica e documental No primeiro caso

recorreu-se a trabalhos teoacutericos sobre o assunto em questatildeo e levantamento de

dados secundaacuterios Quanto agrave pesquisa documental foram analisadas atas de

assembleacuteias dos uacuteltimos 5 anos sendo que as atas das Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias compreendeu o periacuteodo de 2002 a 2007 e as atas de Assembleacuteias

11

Gerais Extraordinaacuterias no periacuteodo de 1996 a 2007 jaacute que estas acontecem em

menos frequumlecircncia Outras atas analisadas foram de reuniotildees das comunidades

rurais no mesmo periacuteodo Seguiu-se leitura de Informativos e outros jornais da

cidade com o objetivo de verificar informaccedilotildees sobre a cooperativa e participaccedilatildeo

de associados em suas atividades assim como a participaccedilatildeo da cooperativa em

accedilotildees na comunidade

Portanto a busca do entendimento sobre como ocorre a participaccedilatildeo do

quadro social nas atividades desenvolvidas por essas organizaccedilotildees fundamentou-

se na literatura sobre participaccedilatildeo e cooperativismo para associaacute-las a discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como estudos sobre a construccedilatildeo e

valorizaccedilatildeo de capital social interesse e individualismo cooperaccedilatildeo e confianccedila

Todos esses conceitos foram portanto utilizados na compreensatildeo sobre as

relaccedilotildees sociais e interesses individuais que influenciam a decisatildeo de participar ou

natildeo de accedilotildees coletivas

12

2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 21 O cooperativismo Este capiacutetulo retrata a origem do cooperativismo o desenvolvimento e

classificaccedilatildeo dos ramos de atividade enfatizando o cooperativismo agropecuaacuterio de

leite com apresentaccedilatildeo da conjuntura e evoluccedilatildeo das organizaccedilotildees cooperativas

desse segmento seu posicionamento mediante o esforccedilo de sobrevivecircncia e

atuaccedilatildeo no mercado cada vez mais competitivo aleacutem dos desafios pertinentes agrave sua

firmeza no compromisso com a funccedilatildeo social

As cooperativas satildeo formas de accedilotildees coletivas organizadas por pessoas que

reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviccedilos para o exerciacutecio de

uma atividade econocircmica de proveito comum sem objetivo de lucro (MONEZI 2004

e SEBRAE 2003) Satildeo caracterizadas por Pinho (1977) como ldquoempresas de

autogestatildeordquo cujo nuacutemero estaacute diretamente relacionado com a satisfaccedilatildeo das

ilimitadas necessidades dos homens e consequentemente com a complexidade do

meio econocircmico no conceito de Bialoskorski Neto (2007) cooperativas satildeo

estruturas intermediaacuterias formadas a partir da accedilatildeo coletiva situadas entre as

economias particulares dos cooperados por um lado e o mercado por outro

O Cooperativismo portanto eacute um movimento filosofia de vida e modelo

socioeconocircmico capaz de unir desenvolvimento econocircmico e bem-estar social

(OCB 2007) A origem do cooperativismo estaacute na cooperaccedilatildeo presente nas

relaccedilotildees humanas e reconhecida como uma praacutetica milenar Mas o corolaacuterio do

princiacutepio cooperativo (Co-operation) como doutrina nasceu de Robert Owen um

visionaacuterio social que criou a concepccedilatildeo de uma nova forma de vida social assim

como descreve Carneiro (1981)

Owen postulava que a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos como ele adiantou de sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO 1981 p72)

Contudo a concretizaccedilatildeo do cooperativismo emergiu de uma reaccedilatildeo popular

agraves condiccedilotildees degradantes de produccedilatildeo e vida em meados do seacuteculo XIX em meio agrave

Revoluccedilatildeo Industrial Tem seu marco em 21 de dezembro de 1844 no bairro de

Rochdale em Manchester Inglaterra como resultado da uniatildeo de 27 tecelotildees e

uma tecelatilde que se reuniram e fundaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de

13

Rochdale depois de uma economia mensal de uma libra de cada participante

durante um ano Naquele momento a constituiccedilatildeo de uma pequena cooperativa de

consumo no entatildeo chamado Beco do Sapo (Toad Lane) estaria mudando os

padrotildees econocircmicos da eacutepoca e dando origem ao movimento cooperativista (OCB

2007)

Tendo o homem como principal finalidade - e natildeo o lucro os tecelotildees de

Rochdale buscavam naquele momento uma alternativa econocircmica para atuarem no

mercado frente ao modelo capitalista que os submetiam a preccedilos abusivos

exploraccedilatildeo da jornada de trabalho de mulheres e crianccedilas (que trabalhavam ateacute

dezesseis horas por dia) e do desemprego crescente advindo da Revoluccedilatildeo

Industrial (SESCOOP 2007)

Daiacute em diante vaacuterios movimentos surgiram em todos os pontos do mundo As

cooperativas como organizaccedilotildees similares agraves que conhecemos rapidamente

comeccedilaram a se multiplicar natildeo soacute em extensatildeo geograacutefica mas tambeacutem

setorialmente (Amodeo 2001) No Brasil conforme Schneider (1999) haacute

constataccedilatildeo de que antes e durante o periacuteodo colonial e especialmente durante o

periacuteodo do Impeacuterio houveram vaacuterias experiecircncias associativas entre africanos

foragidos e nas ldquoconfrarias de negrosrdquo A primeira cooperativa de produccedilatildeo

agropecuaacuteria foi criada em 1847 numa colocircnia no Paranaacute (COOPERFORTE 2008)

Em Minas Gerais foi formalizada a Sociedade Cooperativa Econocircmica dos

Funcionaacuterios Puacuteblicos de Ouro Preto no ano de 1889 (OCB 2007) Entretanto a

experiecircncia de cooperaccedilatildeo econocircmica e social no modelo rochdaleano se originou

com a implantaccedilatildeo das primeiras cooperativas de consumo em 1891 em Limeira

Satildeo Paulo

De modo geral as cooperativas satildeo orientadas pelos Princiacutepios do

Cooperativismo (Anexo I) que satildeo as normas regulamentadoras e tecircm impliacutecito os

valores que regem todas as organizaccedilotildees cooperativistas Esses valores que

norteiam as cooperativas satildeo a ajuda e responsabilidade proacuteprias democracia

igualdade equidade e solidariedade Pela tradiccedilatildeo dos seus fundadores os

membros das cooperativas devem acreditar nos valores eacuteticos da honestidade

transparecircncia responsabilidade social e preocupaccedilatildeo pelos outros (ACI 2003)

14

Os princiacutepios cooperativistas vistos isoladamente pouco expressam mas

tomados em bloco segundo Schneider (1999) apresentam uma grande loacutegica

coerecircncia interna e uma grande eficaacutecia dessas organizaccedilotildees

Neste trabalho dois dentre os sete princiacutepios satildeo o alvo das discussotildees o

princiacutepio da adesatildeo voluntaacuteria e livre e o princiacutepio da gestatildeo democraacutetica a saber

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica (OCB 2007335)

Essa escolha se justifica porque satildeo estes os princiacutepios que mais diretamente

sustentam a forma de participaccedilatildeo dos membros associados em organizaccedilotildees

cooperativas

O movimento cooperativista mundial eacute coordenado pela Alianccedila Cooperativa

Internacional (ACI) que segundo Schneider (1999) tem a responsabilidade de

adequar os Princiacutepios Cooperativistas a uma realidade econocircmica e social em

evoluccedilatildeo com o compromisso de fidelidade aos valores fundamentais da

cooperaccedilatildeo Portantoeacute um oacutergatildeo representativo dos diversos paiacuteses que mantem e

regulamenta esses princiacutepios Contudo as normas fundamentais baseadas no

Estatuto de Rochdale satildeo utilizadas ateacute os dias de hoje no sistema cooperativista

buscando enfrentar a dinacircmica da desigualdade socioeconocircmica persistente em

vaacuterios setores da sociedade

O oacutergatildeo maacuteximo de representaccedilatildeo das cooperativas no paiacutes eacute a Organizaccedilatildeo

das Cooperativas Brasileiras (OCB) responsaacutevel pela promoccedilatildeo fomento e defesa

do sistema cooperativista em todas as instacircncias poliacuteticas e institucionais (OCB

2007) Eacute de sua responsabilidade tambeacutem a preservaccedilatildeo e o aprimoramento desse

sistema Jaacute em acircmbito estadual existem as OCEs que satildeo as Organizaccedilotildees

Cooperativas Estatuais num total de 27 unidades que passaram a ser os agentes

poliacuteticos e representativos que zelam e divulgam a doutrina cooperativista em seus

respectivos estados

15

A legislaccedilatildeo cooperativista regulamenta um nuacutemero miacutenimo de vinte pessoas

para constituiccedilatildeo de uma cooperativa Embora os princiacutepios primitivos de Rocdale

reafirmavam a livre adesatildeo estes fixavam provisoriamente um limite de 250

associados (Schneider 1999) Nesse aspecto houve evoluccedilatildeo para o caraacuteter

indiscriminativo de participaccedilatildeo pois o princiacutepio da livre adesatildeo natildeo impotildee nenhum

limite em nuacutemero de associados No entanto analogamente conforme exposto na

teoria dos grupos agrave medida que organizaccedilotildees cooperativas crescem em nuacutemero de

associados aumentaraacute tambeacutem as dificuldades de se organizar e defender os

interesses individuais dos seus membros

Em face dessa evoluccedilatildeo conforme Tauk Santos e Lima (2004) na dinacircmica

da cooperativa em relaccedilatildeo ao ambiente externo haacute desafios tanto para a

participaccedilatildeo do indiviacuteduo quanto a sua capacidade de delegar poder ao coletivo

Estes desafios satildeo assim classificados por esses autores

a)o desafio dos valores cooperativos que eacute reagrupar pessoas que tenham uma necessidade comum em um projeto segundo os valores do cooperativismo b) o desafio da relaccedilatildeo de uso refere-se agraves vantagens cooperativas de seus membros c) o desafio do desenvolvimento da coletividade oferecer melhores produtos e serviccedilos aos membros promovendo o desenvolvimento harmonioso da comunidade d) o desafio daldquoeducaccedilatildeo cooperativa que daacute ecircnfase agraves diferenccedilas cooperativas seus papeacuteis e suas responsabilidades no sentido de manter uma coesatildeo no seu desenvolvimento e) e finalmente o desafio do serviccediloproduto materializado no esforccedilo de ofertar um produto ou serviccedilo no quadro de desenvolvimento cooperativo ressaltando as vantagens em relaccedilatildeo ao desenvolvimento tradicional (TAUK SANTOS E LIMA 2004 p3)

Mas o desafio ainda maior eacute assegurar a identidade cooperativa com a

vitalidade dos princiacutepios colocados como condicionantes agraves organizaccedilotildees

cooperativas Dessa forma as cooperativas seguem superando as modificaccedilotildees e

constante evoluccedilatildeo nos diversos segmentos da sociedade com vistas ao

crescimento em seu ramo de atividade

211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas

Uma caracterizaccedilatildeo para identificaccedilatildeo das cooperativas eacute a classificaccedilatildeo por

ramos de atividades conforme os segmentos de atuaccedilatildeo No Brasil a OCB os dividiu

em treze onde estatildeo agrupados um nuacutemero de 7518 cooperativas com 6791054

associados e a respectiva geraccedilatildeo de aproximadamente 200000 empregos Em

todos os ramos natildeo eacute difiacutecil encontrar modelos e exemplos de sucesso de

16

empreendimentos cooperativos que se tornaram gigantes na economia nacional e

mundial a exemplo o reconhecimento da Mondragoacuten Corporacioacuten Cooperativa ndash

MCC frequentemente citada como modelo de sucesso de cooperativismo

a MCC reuacutene 104 cooperativas e estaacute estruturada em trecircs grandes grupos financeiroindustrial e distribuiccedilatildeo aleacutem de contar com onze centros de pesquisa e desenvolvimento uma universidade e um centro de formaccedilatildeo cooperativa e empresarial ndash Otalora O grupo industrial eacute sub dividido em (automotivo componentes construccedilatildeo equipamentos industriais eletrodomeacutesticos moacuteveis e bens de capital)Com sede no paiacutes Basco Espanha a MCC eacute 7ordm maior grupo econocircmico espanhol (AZEVEDO 2007 p2)

Essa conjuntura ilustra o que faz cada vez mais cooperativas planejarem

crescimento para atender competitivamente os desafios e demandas de mercado

Nesse sentido mesmo quando globalizadas devem teoricamente ser fieacuteis agrave missatildeo

do cooperativismo com seus soacutecios ainda que atuem de forma corporativa como as

empresas tradicionais em locais distantes de seus cooperados Contudo da certeza

da importacircncia e resultados do cooperativismo visto a dimensatildeo que essas

organizaccedilotildees tecircm tomado natildeo haacute duvida de que seja difiacutecil manter racionalmente a

fidelidade aos princiacutepios e atuar com a participaccedilatildeo ativa dos cooperados diante da

complexidade de accedilotildees exigida por esse direcionamento

Tomadas essas proporccedilotildees eacute crescente tambeacutem a necessidade de

profissionais competentes em diferentes aacutereas para participarem da elaboraccedilatildeo de

metas e defesa dos interesses da organizaccedilatildeo cooperativa conforme descreve

Amodeo (2001)

Os apelos para profissionalizar a gestatildeo e buscar melhorar a competitividade podem ser considerados o eixo que orienta as transformaccedilotildees recentes das cooperativas (AMODEO 2001 p11)

Surge em resposta ao atendimento dessa necessidade uma complexa

estrutura de gestatildeo se visualizar que dentre as diferentes aacutereas em que o

movimento cooperativista atua elas cumprem papeacuteis distintos em todas as fases de

um processo de produccedilatildeo quais sejam nas funccedilotildees de fornecedoras ou

consumidoras e transformadoras de bens ou serviccedilos Nesse aspecto o ramo

agropecuaacuterio eacute um dos mais complexos do segmento cooperaivista

212 O cooperativismo agropecuaacuterio

Os trabalhadores pioneiros de Rochdale visualizaram nas cooperativas uma

forma de propiciar ajuda muacutetua entre eles Do mesmo modo os produtores rurais

17

esperam no cooperativismo agropecuaacuterio um meio de apoacuteia-los no enfrentamento

dos inuacutemeros desafios desse segmento

No Brasil o Ramo Agropecuaacuterio tem o maior nuacutemero de cooperativas em

torno de 1514 com 879918 associados e maior gerador de emprego com

aproximadamente 124000 empregados o que define sua importacircncia em

participaccedilatildeo no desenvolvimento econocircmico do paiacutes Este ramo eacute caracterizado pela

OCB da seguinte forma

O Ramo Agropecuaacuterio eacute definido por cooperativas formadas por produtores rurais e tecircm como finalidade organizar a produccedilatildeo dos seus associados em maior escala garantindo um melhor preccedilo na comercializaccedilatildeo de seus produtos Visa tambeacutem integrar e orientar suas atividades bem como facilitar a utilizaccedilatildeo reciacuteproca dos serviccedilos como adquirir insumos dividir custos de assistecircncia teacutecnica difundir o uso de novas tecnologias produtivas comercializar a produccedilatildeo e em muitos casos beneficiar e industrializar as mateacuterias-primas eliminando o atravessador e vendendo a produccedilatildeo dos cooperados diretamente ao consumidor (OCB 2007 p334)

Das accedilotildees desenvolvidas pelas cooperativas no segmento agropecuaacuterio as

mais comuns conforme Amodeo (2001) satildeo venda de insumos (fertilizantes

sementes agrotoacutexicos etc) ferramentas e maquinaria agriacutecola pesquisa e

assistecircncia teacutecnica aos produtores processamento industrializaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da

produccedilatildeo exportaccedilatildeo classificaccedilatildeo padronizaccedilatildeo e embalagem de produtos in

natura serviccedilos de creacuteditos seguros e administraccedilatildeo

Segundo Amodeo (2001) eacute na interface entre a agricultura e a induacutestria que

as cooperativas agropecuaacuterias crescem a montante e a jusante a fim de obter

melhores resultados para os seus cooperados na medida em que paralelamente

satildeo intensificados os processos de modernizaccedilatildeo da agricultura tanto na induacutestria

de insumos ou bens para a agricultura quanto na induacutestria que compra a oferta

agriacutecola para o seu processamento e distribuiccedilatildeo

Os produtores rurais tambeacutem satildeo pressionados nessa mesma direccedilatildeo e eacute por

meio da mediaccedilatildeo dessas cooperativas que as demandas por especializaccedilatildeo de

produtores vecircm sendo atendidas principalmente no grupo dos pequenos Os

processos produtivos no campo estatildeo cada vez mais pautados nas particularidades

dos processos industriais Daiacute a amplitude do cooperativismo agropecuaacuterio pois

participa do desenvolvimento e especializaccedilatildeo da produccedilatildeo de seus associados

transferindo tecnologia melhorando a renda e possibilitando o desenvolvimento

rural

18

Deste modo eacute grande o nuacutemero de atividades econocircmicas abrangidas pois

conforme a OCB (2007) essas cooperativas geralmente cuidam de toda a cadeia

produtiva desde o preparo da terra ateacute a industrializaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos

produtos De modo geral conforme Braga e Reis (2002) as cooperativas de

produtores tem desempenhado importante papel na fixaccedilatildeo do homem no campo e

na distribuiccedilatildeo de renda O resultado econocircmico portanto eacute a significativa

participaccedilatildeo na economia Conforme a OCB (2008) cooperativas agropecuaacuterias

movimentam cerca de 6 do PIB nacional e tecircm uma participaccedilatildeo entre 35 a 40

no PIB agriacutecola

Desde o iniacutecio dos anos 90 as cooperativas sofreram fortes impactos

macroeconocircmicos conforme registros de Lopes et alli (2002) estabilizaccedilatildeo

econocircmica com o Plano Real abertura comercial acelerada desregulamentaccedilatildeo dos

mercados agriacutecolas e imposiccedilotildees de maior disciplina fiscal Nesse cenaacuterio a

consolidaccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio na economia brasileira conforme

OCB (2007) foi resultado do esforccedilo de produtores pela modernizaccedilatildeo do sistema

incorporaccedilatildeo de tecnologia agraves suas atividades e profissionalizaccedilatildeo da gestatildeo Essa

postura vem permitindo que cooperativas permaneccedilam atuando no mercado

competitivamente

Deste modo a dinacircmica de operacionalizaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees vai aleacutem

das intenccedilotildees que estavam impliacutecitas no desejo de associaccedilatildeo que impulsionou o

surgimento das cooperativas Eacute nessa perspectiva que as cooperativas de laticiacutenios

atuam Portanto a seccedilatildeo seguinte tem a finalidade de demonstrar o que vem

ocorrendo na evoluccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a atuaccedilatildeo dos

produtores rurais no setor

213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de

produtores rurais

Para se ter a dimensatildeo e extensatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite

dentro da economia global apresenta-se as perspectivas atuais e futuras dessas

cooperativas no mercado face ao cenaacuterio dos resultados desse segmento Para isso

recorreu-se a estudos sobre o setor leiteiro pois esta atividade eacute a maior geradora

de emprego no mercado nacional de trabalho e responsaacutevel por grande parte da

fixaccedilatildeo e sobrevivecircncia de famiacutelias no meio rural

19

Em muitos paiacuteses a participaccedilatildeo das cooperativas na captaccedilatildeo de leite eacute

relativamente alta chegando a 80 na Austraacutelia 83 na Holanda e EUA mais de

95 na Nova Zelacircndia (Chaddad 2004) e na Iacutendia sede do maior movimento

cooperativo do mundo 94 dos laticiacutenios provecircm de cooperativas (Amodeo 2001)

Nesse cenaacuterio o crescimento dessas organizaccedilotildees natildeo tem ficado restrito a

uma atuaccedilatildeo no mercado local na funccedilatildeo de intermediar o produtor rural As

cooperativas tecircm apresentado um crescimento cada vez mais acelerado e

conseguido atuar na economia mundial haja vista alguns exemplos de grandes

cooperativas de leite reconhecidas neste setor

Fonterra liacuteder absoluta no mercado da Nova Zelacircndia com mais de 95 do leite do paiacutes (14 bilhotildees de litrosano) a cooperativa mais globalizada do mundo() seu lema eacute nossa casa eacute o mundordquo controla hoje cerca de 30 do mercado internacional de laacutecteos possui alianccedilas em diversos continentes inclusive com potenciais concorrentes

Arla Foods eacute a maior cooperativa de laticiacutenios da Europa com cerca de 84 bilhotildees de litros anuais Foi a primeira grande fusatildeo entre cooperativas transnacionais a sueca Arla e a dinamarquesa MD Foods Apesar do porte gigantesco sabe que precisa crescer mais precisa olhar para aleacutem de suas fronteiras europeacuteias (CARVALHO 2008 P1)

A Cooperativa Daiy Farmers of Ameacuterica (DFA) participa de treze joint-ventures com empresas americanas e multinacionais visa ganhar competitividade num mercado global por meio de raacutepido reposicionamento (MARTINS ET ALLI 2004 P 58)

Nesse segmento o Brasil eacute o sexto maior produtor mundial de leite

entretanto ainda haacute uma baixa participaccedilatildeo de cooperativas na captaccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo deste produto Conforme Chaddad (2004) no paiacutes essa

participaccedilatildeo estaacute em torno de 22 da captaccedilatildeo do volume total do leite produzido e

40 do leite comercializado no mercado formal ou seja captado por laticiacutenios

legalmente inspecionados

Grandes mudanccedilas tecircm ocorrido em torno das cooperativas de laticiacutenios

brasileiras Recentemente importantes decisotildees foram registradas para assumir

formatos que sejam competitivos entre cooperativas e entre outras empresas A

Itambeacute - Cooperativa Central de Produtores Rurais de Minas Gerais eacute um exemplo

da importacircncia crescente das cooperativas na economia nacional

A Itambeacute eacute a maior cooperativa brasileira de laticiacutenios quer ampliar sua linha de produtos expandir a atuaccedilatildeo no mercado interno e aos poucos aumentar as exportaccedilotildees Com 58 anos de atividade a cooperativa alcanccedilou faturamento bruto de 13 bilhotildees de reais em 2005 Satildeo 8 000 produtores rurais cadastrados na cooperativa responsaacuteveis pelo fornecimento diaacuterio de 27 milhotildees de litros de leite (OCEMG 2008 P1)

20

Por outro lado a Cooperativa do Vale do Rio Doce (Cooperriodoce) a maior

cooperativa regional no leste de Minas Gerais recentemente teve seu parque

industrial vendido para Parmalat um grupo privado

Este cenaacuterio ilustra o desafio das cooperativas em permanecer no mercado

frente agrave missatildeo que desempenham como promotoras de desenvolvimento social

Em artigo com o tiacutetulo ldquoo capital encontrou o leiterdquo Carvalho (2008) mostra como

empresas de outros ramos tecircm investido no setor de laticiacutenios o que ameaccedila

diretamente as cooperativas

A compra dos Laticiacutenios Morrinhos dona da marca LeitBom pela GP investimentos natildeo deixa mais duacutevidas o capital finalmente descobriu o leite Em meio a uma onda de aquisiccedilotildees protagonizadas pela Laep (Parmalat) Perdigatildeo Bom Gosto e Liacuteder nada mais emblemaacutetico para representar a corrida ao leite do que a investida de um grupo conhecido pela sua habilidade de multiplicar o capital dos negoacutecios em que investe

O ponto eacute que se trata de uma inovaccedilatildeo consideraacutevel feita por quem chega de fora olha para o setor sem os vieses criados por quem jaacute estaacute nele haacute tempos e faz perguntas que os participantes tradicionais com suas posiccedilotildees de lideranccedila natildeo precisam fazer essa descoberta traz ameaccedilas ainda maiores para as cooperativas(CARVALHO 2008 p1)

O extrato da entrevista transcrito a seguir ilustra uma preocupaccedilatildeo da

lideranccedila da cooperativa objeto deste estudo no que se refere a perspectivas de

longo prazo quanto agrave sua sobrevivecircncia

Temos a necessidade para os proacuteximos 10 anos muito grande de crescer de unir Vem crescendo mas ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao mundo globalizado precisa unir jaacute fez incorporaccedilatildeo de Satildeo Domingos do Prata precisa juntar mais cooperativas ser forte para disputar mercado Se natildeo crescer com outras cooperativas se natildeo acontecer uma uniatildeo de cooperativas vai sair de circulaccedilatildeo (Diretor Presidente COOLVAM 2008)

Desse mesmo modo a preocupaccedilatildeo quanto agrave continuidade e sobrevivecircncia eacute

comum nas pequenas cooperativas devido principalmente agrave pressatildeo que sofrem do

mercado na comercializaccedilatildeo de produtos pois concorrem com cooperativas maiores

e com grandes empresas privadas

Esse quadro vem progredindo desde a deacutecada de 90 com a abertura de

mercado onde a entrada de produtos como o leite tiveram condiccedilotildees de

financiamento mais favoraacuteveis do que nas induacutestrias nacionais que foram obrigadas

a reduzir preccedilos (FAVERET FILHO 2002) Nesse periacuteodo milhares de produtores

abandonaram a atividade e empresas regionais e cooperativas fecharam ou foram

vendidas

21

Conforme Faveret Filho (2002 p240) tais mudanccedilas levaram empresas a

buscar mecanismos de aumento da eficiecircncia produtiva Portanto haacute grandes

desafios para as cooperativas de laticiacutenios brasileiras principalmente as pequenas

cooperativas em atuar nesse mercado Eacute por esse motivo que a forma de conduzi-

las eacute discutida em diferentes perspectivas Sob o ponto de vista de Chaddad (2004)

o desempenho dessas organizaccedilotildees se daacute em funccedilatildeo de

poliacutetica agriacutecola regulamentaccedilatildeo do setor leiteiro barreiras agrave importaccedilatildeo de leite e derivados estrutura do setor produtivo poliacuteticas de apoio a organizaccedilotildees cooperativas niacutevel tecnoloacutegico e educacional dos produtores e ambiente institucional entre outros (CHADDAD 2004 p36)

Outro trabalho realizado com cooperativas de leite de outros paises identificou

pontos comuns indicados como responsaacuteveis pelo sucesso dessas organizaccedilotildees

Consolidaccedilatildeo por meio de fusotildees e incorporaccedilotildees

Alianccedilas estrateacutegicas

Sistema profissional e representativo de governanccedila corporativa

Estrutura centralizada

Esforccedilos de fidelizaccedilatildeo do cooperado

Novos mecanismos de capitalizaccedilatildeo

Estrateacutegia competitiva alinhada com estrutura corporativa

(CHADDAD 2004 p37) Esses pontos corroboram Faveret Filho (2002) ao mostrar que mudanccedilas no

ambiente competitivo devido agrave globalizaccedilatildeo e avanccedilos tecnoloacutegicos forccedilam as

cooperativas a buscar ganhos de eficiecircncia a fim de natildeo perder relevacircncia no

mercado Segundo Chaddad (2004) essa busca resultou em alianccedilas estrateacutegicas

com outras cooperativas ou mesmo com empresas privadas O termo alianccedila

estrateacutegica expressa a decisatildeo de uma ou mais empresas cooperarem para atingir

objetivos comuns Para Lewis citado em Rola e e Sobral (2002) numa alianccedila

estrateacutegica as empresas cooperam em nome de suas necessidades muacutetuas e

compartilham os riscos para alcanccedilar um objetivo comum

Todos os pontos indicados para o sucesso das cooperativas de lacticiacutenios

devem ser cuidadosamente discutidos e avaliados para adequada aplicaccedilatildeo

conforme a realidade de cada cooperativa Para isso os gestores devem ter uma

visatildeo ampla da organizaccedilatildeo e conhecer o ambiente onde a empresa estaacute inserida

(SANTOS 2000) Deste modo o planejamento e execuccedilatildeo de diferentes formas de

22

atuaccedilatildeo do cooperativismo frente agrave conjuntura apresentada passam a ser a busca

pelo aperfeiccediloamento das ferramentas de gestatildeo Isso exige dos dirigentes assim

como dos soacutecios conhecimento e constante aperfeiccediloamento

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa

Na operacionalizaccedilatildeo das atividades gerenciais da cooperativa assim como

em outro tipo de empresa o corpo diretivo deve estar atento aos objetivos

especiacuteficos agrave missatildeo da organizaccedilatildeo Isso facilita a busca do consenso e

potencializa os esforccedilos das partes em benefiacutecio do todo (Santos 2000)

Deste modo para que as tomadas de decisotildees sejam compartilhadas de

forma oportuna e adequada na cooperativa os dirigentes e associados devem ter

claro seu papel no processo administrativo

A tabela 01 que segue mostra as diferenccedilas tiacutepicas entre uma empresa

mercantil e uma organizaccedilatildeo cooperativa

Empreendimento cooperativo Empresa mercantil

bull sociedade simples regida por

legislaccedilatildeo especiacutefica bull nuacutemero de associados limitado agrave

capacidade de prestaccedilatildeo de serviccedilos bull controle democraacutetico cada pessoa

corresponde a um voto bull objetiva a prestaccedilatildeo de serviccedilos bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no nuacutemero de associados bull natildeo eacute permitida a transferecircncia de

quotas-parte a terceiros bull retorno dos resultados eacute proporcional

ao valor das operaccedilotildees

bull sociedade de capital - accedilotildees bull nuacutemero limitado de soacutecios bull cada accedilatildeo ndash um voto bull objetiva o lucro bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no capital bull eacute permitida a transferecircncia e a venda

de accedilotildees a terceiros bull dividendo eacute proporcional ao valor de

total das accedilotildees

Tabela 1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil Fonte OCB ( 2007)

Portanto os dirigentes devem dar maior atenccedilatildeo a pontos que merecem mais

cuidado na gestatildeo cooperativa Conforme Chiavenato (1993) no funcionamento das

organizaccedilotildees as vaacuterias funccedilotildees do administrador consideradas como um todo

formam o processo administrativo composto pelo planejamento organizaccedilatildeo

direccedilatildeo e controle Consideradas separadamente constituem as funccedilotildees

administrativas mas quando visualizadas na sua abordagem total para o alcance de

objetivos elas formam esse processo De acordo com Chiavenato (1993) o processo

23

administrativo implica que os acontecimentos e as relaccedilotildees sejam dinacircmicos com

mudanccedilas contiacutenuas uma vez que este natildeo eacute algo parado estaacutetico eacute moacutevel natildeo

tem um comeccedilo nem um fim nem uma sequumlecircncia fixa de eventos

Neste caso o papel da direccedilatildeo eacute dinamizar a empresa com atuaccedilatildeo sobre

todos os recursos e orientaccedilatildeo a ser dada agraves pessoas por meio de uma adequada

comunicaccedilatildeo habilidade de lideranccedila e motivaccedilatildeo Na gestatildeo da organizaccedilatildeo

cooperativa conforme Schneider (1999) cabe aos gestores encontrar mecanismos

de decisatildeo que sejam conformes ao mesmo tempo agraves exigecircncias essenciais da

democracia cooperativa e aos da eficaacutecia-eficiecircncia da empresa orgacircnica

Deste modo em niacutevel de coordenaccedilatildeo da empresa as decisotildees se ordenam

segundo uma hierarquia em decisotildees estrateacutegicas decisotildees taacuteticas e decisotildees

teacutecnicas ou operacionais De acordo com Chiavenato (1993) o niacutevel estrateacutegico

corresponde ao niacutevel mais elevado da empresa cuida das atividades da

organizaccedilatildeo e seu ambiente Situam-se as decisotildees fundamentais de ordem geral

ou econocircmica e que envolvem os objetivos de meacutedio e longo prazo Conforme

Schneider (1999) em cooperativas deve ser realizada de forma soberana pelos

associados tendo em vista os seus interesses seguindo determinados planos

As decisotildees taacuteticas satildeo do niacutevel gerencial coordenam e unificam o

desempenho das tarefas pelo sistema operacional Cabem aos gestores ou teacutecnicos

decidir pela melhor conduta ou teacutecnica de produccedilatildeo Neste niacutevel conforme

Schneider (1999) em cooperativas cabe um papel maior aos membros do Conselho

de Administraccedilatildeo que concretizam as diretrizes gerais do niacutevel estrateacutegico

O niacutevel teacutecnico operacional diz respeito ao desempenho das tarefas na

organizaccedilatildeo relacionadas agrave produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de produtos Conforme

Chiavenato (1993) estaacute relacionado agrave execuccedilatildeo cotidiana e eficiente das tarefas e

operaccedilotildees da organizaccedilatildeo Segundo Schneider em cooperativas essa fase estaacute

acessiacutevel a um nuacutemero limitado de soacutecios eacute atribuiccedilatildeo predominante do quadro

executivo e teacutecnico da cooperativa

Eacute importante considerar tambeacutem que um fator que influencia particularmente

a forma de accedilatildeo na tomada de decisotildees eacute o tamanho da empresa Em cooperativas

Schneider (1999) faz a seguinte observaccedilatildeo

Quando se trata de uma cooperativa pequena geralmente os associados compreendem mais facilmente a natureza dos problemas e de suas soluccedilotildees Por isso tecircm melhores condiccedilotildees de eles mesmos tomarem as decisotildees em todos os niacuteveis ateacute mesmo as de caraacuteter teacutecnico Poreacutem numa cooperativa maior

24

e mais complexa a estrutura de poder se apresenta com clara distinccedilatildeo entre a estrutura de fins e a estrutura de meios os fins se asseguram pela assembleacuteia de soacutecios que expressa de forma soberana seus objetivos e interesses pelos fiscais eleitos e pelo presidente Os meios satildeo realizados atraveacutes da direccedilatildeo os executivos contratados os teacutecnicos e os funcionaacuterios (SCHNEIDER 1999 p188)

Na evoluccedilatildeo do processo administrativo em cooperativas portanto as

tomadas de decisotildees tecircm a participaccedilatildeo dos soacutecios efetivadas nas instacircncias de

poder conforme descrito por Schneider (1999)

a) Assembleacuteia Geral ordinaacuteria ou extraordinaacuteria eacute o oacutergatildeo soberano que expressa a vontade soberana dos soacutecios sobre todos os assuntos essenciais da organizaccedilatildeo Tem analogia com a assembleacuteia de acionistas de uma sociedade anocircnima

b) O Conselho de Administraccedilatildeo a democracia natildeo significa o governo de todos de forma direta e imediata em todos os niacuteveis de atividade da organizaccedilatildeo Reivindicar a democracia direta onde os soacutecios participariam de todos os niacuteveis de decisotildees levaria agrave perda da agilidade e eficiecircncia imprescindiacuteveis em cada empresa Ela soacute eacute possiacutevel em unidades muito pequenas

c) Outras instacircncias de poder satildeo o Conselho Diretor escolhido dentre os membros do Conselho de Administraccedilatildeo quando este eacute muito grande e dificulta a coesatildeo e o razoaacutevel grau de informaccedilatildeo Sua funccedilatildeo eacute exercer por delegaccedilatildeo as atribuiccedilotildees outorgadas pelo Conselho de Administraccedilatildeo Eacute um oacutergatildeo de tutela permanente do presidente ao qual devem submeter-se as principais decisotildees ou um organismo colegiado de decisotildees (SCHNEIDER 1999 P189 - 190)

Vinculado ao Conselho de Administraccedilatildeo eacute criado em cooperativas o Comitecirc

Educativo segundo Valadares (1995) este assume as atividades vinculadas ao

desenvolvimento social e poliacutetico dos associados preparando e capacitando-os para

agirem decisivamente na organizaccedilatildeo cooperativa Este mecanismo possibilita aos

associados atuarem em grupo e constitui-se de um canal por meio do qual podem

expressar suas necessidades desejos e inquietudes aleacutem de constituir um meio de

comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo importante entre os dirigentes e as bases sociais

Portanto o seu funcionamento estaacute orientado pelos objetivos de estruturar um

espaccedilo de poder na cooperativa viabilizando a participaccedilatildeo democraacutetica do maior

nuacutemero de associados na gestatildeo cooperativa (VALADARES 2005)

Ao tratar do processo administrativo no acircmbito interno das cooperativas

devem ser estimuladas interaccedilotildees entre os cooperados aleacutem da participaccedilatildeo

nessas instacircncias de poder Nesse sentido uma das condiccedilotildees colocadas por

Schneider (1999) eacute a necessidade de superar a impessoalidade nas interaccedilotildees entre

a cooperativa e os associados mais comum em cooperativas grandes e conseguir

articulaccedilatildeo de todos por meio de um variado circuito de informaccedilotildees livres de

quaisquer manipulaccedilotildees que seraacute ao mesmo tempo um estiacutemulo ao conhecimento e

agrave discussatildeo

25

O risco da falta de informaccedilatildeo do produtor nesse processo pode acarretar um

consequumlente sentimento de desconfianccedila que de acordo com a observaccedilatildeo de

Perius (1983) a esse respeito ldquonasce assim um conflito entre soacutecios e

administradoresrdquo Para este autor A informaccedilatildeo completa e apropriada aos soacutecios eacute essencial tarefa da educaccedilatildeo cooperativista Sendo a atividade cooperativa uma atividade essencialmente econocircmica esses conhecimentos devem incluir definitivamente informaccedilotildees completas e exatas sobre os programas as poliacuteticas as operaccedilotildees e as estruturas da cooperativa como empresa comercial (JOACHIM CIT IN PERIUS 1983 p 73)

Com essas observaccedilotildees confirma-se que a comunicaccedilatildeo deve ter

importacircncia vital no processo de gestatildeo cooperativa pois esta quando utilizada em

diferentes canais acessiacuteveis ao produtor vai materializar a participaccedilatildeo de

cooperados nos diferentes niacuteveis de tomadas de decisotildees

23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas Grande parte da produccedilatildeo de leite no paiacutes eacute realizada por pequenos

produtores que em sua maioria tecircm na atividade a uacutenica fonte de renda Conforme

Gomes (2005) a produccedilatildeo de leite em Minas Gerais configura-se como uma das

atividades mais importantes para a economia do Estado Eacute tambeacutem significativa face

ao seu percentual de participaccedilatildeo no volume total da produccedilatildeo nacional

Nesse segmento a referecircncia tiacutepica a produtores rurais se daacute em funccedilatildeo do

volume produzido identificando-os como pequeno meacutedio e grande produtor

Conforme Gomes (1987 e 2005) o perfil do produtor de leite em Minas Gerais segue

as seguintes caracteriacutesticas

o pequeno produtor trabalha com produtividade meacutedia de 25 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 12 litros de leite Cerca de 90 da matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente familiar

O meacutedio produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 40 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo meacutedia diaacuteria 100 L de leite A matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente contratada e a matildeo-de-obra familiar corresponde a 30

Jaacute o grande produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 6 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 360 litros de leite A matildeo-de-obra familiar corresponde a apenas 8 do total (Gomes 1987)

A Idade meacutedia de 52 anos para os pequenos produtores sendo constatado um envelhecimento neste grupo fenocircmeno tiacutepico da pequena produccedilatildeo familiar isto eacute o chefe da famiacutelia suporta conviver com pequena lucratividade

A escolaridade meacutedia de 517 anos o que aumenta agrave medida que aumentam os estratos de produccedilatildeo

Os produtores de mais de 1000 litros tecircm 658 anos de escolaridade

Em meacutedia os produtores tecircm 20 anos de experiecircncia na atividade leiteira

Predominantemente a origem do produtor eacute do proacuteprio municiacutepio num percentual de 73

Em meacutedia tecircm 264 filhos havendo maior nuacutemero de filhos e filhas que trabalham na cidade do que na atividade leiteira

Quanto agrave residecircncia do produtor prevalece a propriedade rural com 77 dos entrevistados

As esposas pouco participam de algum trabalho na produccedilatildeo de leite ateacute mesmo entre os produtores ateacute 50 litros de leitedia (GOMES 2005 P 40-41)

Essa estatiacutestica natildeo varia muito para a atividade nos outros estados

Nogueira Netto et all (2004) mostram que no Brasil cerca de dois a cada trecircs

produtores de leite satildeo associados a cooperativas que captam leite acima de 555

mil litros por dia A meacutedia diaacuteria de leite obtida por esses produtores estaacute

representada na Figura 2 Conforme este autor os produtores com entrega diaacuteria

ateacute 100 litrosdia formam 605 de todos os cooperados enquanto 168 entregam

entre 100 e 200 litrosdia Na faixa de 200 a 500 litros encontram-se 109 dos

cooperados e entre 500 a 1000 litros somente 50 Acima de 1000 litros estatildeo

68 dos cooperados

605

168109 50 68

00

100

200

300

400

500

600

700

Produtores

ateacute 100

100 a 200 lts

200 a 500 lts

500 a 1000 lts

acima de 1000 lts

Figura 2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em cooperativas

Fonte de dados Nogueira Netto et all (2004 p74)

Comparativamente o perfil da produccedilatildeo em outros paiacuteses apresenta um

quadro diferente Conforme Nogueira Netto et all (2004) na Uniatildeo Europeacuteia por

exemplo os produtores considerados de pequena produccedilatildeo satildeo os que produzem

26

27

um volume inferior agrave meacutedia de 545 litrosdia ou seja muito distante da realidade

apresentada no Brasil

De modo semelhante ao que ocorre com as cooperativas que tecircm sido

pressionadas para especializaccedilatildeo e crescimento acontece com o produtor rural

Este eacute pressionado da porteira para dentro por produtividade e ainda vivencia

criacuteticas sobre a forma de produccedilatildeo

Dentro da porteira um dos maiores problemas ainda eacute o de gestatildeo Muitos produtores satildeo eficientes mas natildeo estatildeo preparados para gerir os negoacutecios () as receitas anuais na propriedade (incluindo descartes) satildeo de R$ 056 por litro 27 a mais do que os custos totais de R$ 044 (inclui terra e proacute-labore) () vatildeo ficar no mercado apenas os profissionais (EMATER E AGROINFORME 2008 P2)

Esse quadro corrobora outra caracteriacutestica do perfil dos produtores que eacute o

sistema de produccedilatildeo Estes trabalham distintamente pois conforme Fellet e Galan

(2000) existem na atividade produtores com os sistemas de produccedilatildeo

completamente especializados com elevados pacotes tecnoloacutegicos modernos para

a produccedilatildeo de leite Enquanto outros encontram-se com sistemas nitidamente

extrativistas com baixos investimentos e iacutendices de produccedilatildeo Isso retrata e

distancia os produtores dos diferentes estratos apresentados No primeiro caso

estatildeo os produtores de maiores volumes e no segundo modo de produccedilatildeo encontra-

se os produtores de pequena produccedilatildeo

Essa realidade de pequenos produtores vai de encontro agraves cooperativas de

laticiacutenios que conforme visto anteriormente tecircm como opccedilatildeo de sobrevivecircncia agraves

pressotildees de mercado o crescimento De modo geral o aumento da captaccedilatildeo meacutedia

por produtor tem sido estimulado por todas as empresas de laticiacutenios mas conforme

Favoret Filho (2000) os grandes produtores satildeo os mais incentivados tendo em

vista o pagamento diferenciado de preccedilos aos produtores de maior volume O que

aumenta sua rentabilidade e viabiliza novas expansotildees cada vez mais difiacuteceis para

os pequenos

Nos dados apresentados em Gomes (1987 e 2005) que retrata o perfil do

produtor de leite e em Nogueira Netto et alli (2004) que mostra a participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas por estrato de produccedilatildeo reafirma portanto a

relevacircncia social do cooperativismo de leite

Portanto na funccedilatildeo de mediadoras dos produtores a montante e a jusante na

cadeia produtiva as cooperativas devem ainda apoiar a criaccedilatildeo de mecanismos para

mudar a realidade instalada na produccedilatildeo de pequenos produtores afim de superar

28

as diferenccedilas tratadas em Favoret Filho (2000) Certamente natildeo se conseguiraacute

mudar essa realidade com a accedilatildeo isolada desses produtores

Esse quadro confirma a heterogeneidade qualitativa em volume de produccedilatildeo

de produtores rurais que reflete na oportunidade de participaccedilatildeo nas diferentes

instacircncias da gestatildeo cooperativa

Portanto se na autogestatildeo cooperativa a representatividade entre os

produtores eacute equilibrada jaacute que cada associado tem direito a um voto independente

do seu volume de produccedilatildeo espera-se que esteja aiacute a oportunidade do pequeno

produtor defender os seus interesses por meio de uma maior participaccedilatildeo nas

tomadas de decisotildees Uma maior participaccedilatildeo deste grupo seria tambeacutem uma forma

de mudar o ldquostatus quordquo de grande parte de pequenos produtores de leite Portanto

espera-se que a cooperativa incentive a participaccedilatildeo de produtores na sua estrutura

de gestatildeo para que essas diferenccedilas sejam melhor niveladas

29

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO

A construccedilatildeo do conhecimento requer um domiacutenio conceitual baacutesico para que

a decodificaccedilatildeo dos dados identificados possa se sustentar Deste modo Kopnin

(1978) argumenta que

A teoria descreve e explica um conjunto de fenocircmenos fornece o conhecimento dos fundamentos reais de todas as teses lanccediladas e reduz os descobrimentos em determinado campo e as leis a um princiacutepio unificador uacutenico sendo que a unificaccedilatildeo do conhecimento em teoria eacute realizada antes de tudo pelo proacuteprio objeto e suas leis determinando a relaccedilatildeo entre juiacutezos isolados conceitos e deduccedilotildees na teoria (KOPNIN 1978 p237)

Portanto esta etapa tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias e

argumentos para interpretar as praacuteticas presentes no caso e nos discursos

vivenciados durante a pesquisa de campo Primeiramente faz-se uma revisatildeo sobre

accedilatildeo coletiva e como se fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme

proposta de Mancur Olson (1999) de forma a dar base e direcionamento agraves outras

discussotildees do trabalho Em seguida haacute uma abordagem conceitual e praacutetica sobre

participaccedilatildeo e ao final completa-se com argumentos sobre cooperaccedilatildeo e capital

social apresentados como correccedilotildees para os dilemas de accedilatildeo coletiva

31 Accedilatildeo Coletiva 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos

Dificilmente conseguiriacuteamos que as pessoas participassem com igual

dedicaccedilatildeo empenho e motivaccedilatildeo em algo que venha a ter o mesmo benefiacutecio e

resultados para todos Pois o indiviacuteduo age segundo seu proacuteprio interesse com o

fim de maximizar seus benefiacutecios Essa suposiccedilatildeo estaacute fundamentada na Teoria da

Escolha Racional proposta por Olson (1999) e corroborada por Elster (1994) ao

afirmar que os problemas de accedilatildeo coletiva surgem porque eacute difiacutecil conseguir que as

pessoas cooperem para benefiacutecio muacutetuo Segundo Olson (1999) o comportamento

centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral considerado a regra pelo menos quando

haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas Neste raciociacutenio justifica-se que

numa cooperativa natildeo haacute de se esperar que todos os soacutecios tenham o mesmo

empenho para o seu desenvolvimento assim como eacute difiacutecil que todos consigam

30

usufruir dos resultados alcanccedilados Isso eacute um dilema vivenciado no cooperativismo

que se origina por diversas situaccedilotildees as quais seratildeo discutidas neste capiacutetulo

Esta seccedilatildeo inicia-se por apresentar a definiccedilatildeo do termo accedilatildeo coletiva e bem

puacuteblico cujos sentidos seratildeo trabalhados no decorrer desta dissertaccedilatildeo

O termo accedilatildeo coletiva foi difundido por Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica

da accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas bem como

problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a coerecircncia a eficaacutecia e a

atratividade dos grupos nesse processo

Uma accedilatildeo coletiva surge basicamente para solucionar necessidades geradas

por dois fatores oportunidades e desejos ou seja pelo que as pessoas podem fazer

e pelo que querem fazer (ELSTER 1994) Deste modo mesmo que as pessoas

difiram em seus desejos assim como em suas oportunidades os desejos humanos

podem ter pontos comuns aos apresentados individualmente

Quando estes pontos comuns satildeo reconhecidos pelos indiviacuteduos ocorre o

que Marx chamaria de adquirir consciecircncia (OLSON 1999) A partir desses pontos

comuns os homens planejam uma accedilatildeo coordenada conforme seus proacuteprios

interesses Essa atuaccedilatildeo portanto recebe o nome de accedilatildeo coletiva A accedilatildeo coletiva

desta forma seria a maneira pela qual o individuo se faz presente nos sistemas

abstratos reforccedilando a sua capacidade transformadora desde que consiga agir em

coletividade (ASENSI 2006)

Para Olson (1999) haacute trecircs tipos de situaccedilotildees teoacutericas (ou ideais) em que os

indiviacuteduos podem estar frente agrave accedilatildeo coletiva No primeiro caso em que grupos de

indiviacuteduos jaacute adquiriram ou natildeo a consciecircncia do interesse que eacute partilhado por

todos mas os custos de empreenderem na accedilatildeo satildeo maiores em relaccedilatildeo aos

benefiacutecios que teratildeo Neste caso a accedilatildeo coletiva eacute inviaacutevel De outra forma os

indiviacuteduos jaacute compartilham objetivos mas os custos para consecuccedilatildeo do benefiacutecio

satildeo da mesma proporccedilatildeo que teratildeo de retorno se empreenderem a accedilatildeo Neste

caso a possibilidade de accedilatildeo coletiva eacute baixa Emoutra situaccedilatildeo os benefiacutecios da

accedilatildeo coletiva satildeo muito maiores do que os custos individuais Neste caso haacute

existecircncia de grupos sociais com potencialidade de accedilatildeo coletiva que satildeo os grupos

organizados

31

A accedilatildeo coletiva eacute necessaacuteria para a conquista de espaccedilos da cidadania e da

democracia que requerem mobilizaccedilatildeo social Com esse objetivo haacute accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidas por diferentes atores e sujeitos sociais movimentos

de mulheres de jovens de direitos humanos ecoloacutegicos e as mobilizaccedilotildees

pacifistas satildeo exemplos de accedilotildees coletivas cujas formas de articulaccedilatildeo mobilizaccedilatildeo

e luta expressam as caracteriacutesticas proacuteprias dos movimentos e accedilotildees coletivas da

contemporaneidade (QUEIROZ 2003)

Ramirez e Berdeguegrave (2002) entendem a accedilatildeo coletiva como uma estrateacutegia

instrumental orientada a alcanccedilar resultados Neste enfoque estes autores

destacam trecircs objetivos da accedilatildeo

(a) melhorar os ingressos ou outra dimensatildeo do bem-estar material imediato aos grupos envolvidos (b) modificar as relaccedilotildees sociais no interior de uma populaccedilatildeo especiacutefica e particularmente as relaccedilotildees de poder e (c) influenciar sobre as poliacuteticas puacuteblicas para ampliar as oportunidades de desenvolvimento e enfraquecer ou superar os sistemas de exclusatildeo e de discriminaccedilatildeo (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

Outros elementos que os autores supracitados entendem ser de uma visatildeo

realista sobre accedilatildeo coletiva satildeo

(1) a accedilatildeo coletiva natildeo se justifica por si soacute o que faz pertinente e necessaacuterio nos perguntarmos pela sua eficaacutecia (2) a accedilatildeo coletiva natildeo substitui a accedilatildeo e a responsabilidade individual mas precisa dela e ao mesmo tempo a pertencia e (3) a accedilatildeo coletiva natildeo eacute ubiacutequa e permanente mas sim acidental (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

A accedilatildeo coletiva portanto eacute capaz de promover

(a) desenvolvimento das capacidades dos indiviacuteduos (capital humano) (b) fortalecimento organizacional (c) construccedilatildeo de redes e alianccedilas sociais e (d) profundizaccedilatildeo de normas e valores (tais como a solidariedade a reciprocidade a confianccedila) que contribuem ao alcance do bem comum (capital social) (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p3)

Mas de modo geral o envolvimento dos indiviacuteduos eacute que vai dar maior ou

menor potencialidade agrave consecuccedilatildeo dos objetivos pretendidos numa accedilatildeo coletiva

Portanto eacute importante o entendimento sobre o comportamento dos indiviacuteduos E eacute

nessa direccedilatildeo que Olson (1999) iniciou sua investigaccedilatildeo sobre a participaccedilatildeo

individual na accedilatildeo coletiva conforme exposto neste trecho da sua obra

A ideacuteia de que grupos sempre agem para promover seus interesses eacute supostamente baseada na premissa de que na verdade os membros de um grupo agem por interesse pessoal individual Se os indiviacuteduos integrantes de um grupo altruisticamente desprezassem seu bem-estar pessoal natildeo seria muito provaacutevel que em coletividade eles se dedicassem a lutar por algum egoiacutestico objetivo comum ou grupal Tal altruiacutesmo eacute de qualquer maneira considerado uma exceccedilatildeo e o comportamento centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral

32

considerado a regra pelo menos quando haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas(OLSON 1999 p13)

Essa visatildeo caracteriza o individualismo metodoloacutegico ou comportamento

utilitarista Em seu trabalho Olson (1999) faz uma comparaccedilatildeo do comportamento

individual na accedilatildeo coletiva com o comportamento do mercado em concorrecircncia

Nesta analogia embora todas as empresas tenham o interesse comum em

maximizar seus lucros eacute do interesse individual de cada uma delas que as outras

paguem os custos necessaacuterios para obter preccedilos mais altos que se daria com uma

reduccedilatildeo na produccedilatildeo de outrem

Na conduccedilatildeo do seu pensamento central Olson (1999) faz uma observaccedilatildeo

para justificar o comportamento utilitarista

Ningueacutem se surpreende quando um homem de negoacutecios persegue individualmente mais lucros quando trabalhadores perseguem individualmente salaacuterios mais altos ou quando consumidores perseguem individualmente preccedilos mais baixos A ideacuteia de que os grupos tendem a agir em favor de seus interesses grupais eacute concebida como uma extensatildeo loacutegica dessa premissa amplamente aceita do comportamento racional centrado nos proacuteprios interesses (OLSON 1999 p13)

Neste sentido vecirc-se que os desejos individuais que motivam as pessoas a

buscarem melhores condiccedilotildees de vida estatildeo em diferentes contextos Entretanto a

busca por esses avanccedilos eacute perseguida racionalmente

Considerando que o termo racionalidade eacute utilizado em diferentes sentidos

Elster (1994) traz uma explicaccedilatildeo que eacute complementar para o entendimento sobre o

comportamento racional dos indiviacuteduos

Racionalidade eacute uma relaccedilatildeo entre uma crenccedila e a premissa sobre a qual esta eacute mantida mas que eacute ldquonecessaacuterio ir aleacutemrdquo assim como ldquoeacute necessaacuterio que a quantidade de indiacutecios reunidos seja de certa forma oacutetimardquo e que em muitas situaccedilotildees de escolha as probabilidades devem ser consideradas muito seriamente e agir racionalmente eacute fazer tatildeo bem por si quanto se eacute capaz Quando dois ou mais indiviacuteduos interagem eles podem fazer muito pior por si mesmos do que agindo isolados Essa eacute a premissa da teoria dos jogos Considera que toda accedilatildeo racional deve ser auto-interessada porque eacute motivada pelo prazer que proporciona ao agente (ELSTER 1994 p47-59)

A propoacutesito o que eacute considerado racional por um indiviacuteduo que faz parte de

um grupo social ao tomar uma decisatildeo em relaccedilatildeo a uma accedilatildeo coletiva pode ser

considerado irracional pelo seu par De certa forma a razatildeo eacute uma maneira de

organizar a realidade pela qual esta se torna compreensiacutevel (CHAUI 1994) Nesse

aspecto Weber (1979) deu sua contribuiccedilatildeo ao explicar que um modo de ver os

processos sociais estaacute relacionado ao modelo de racionalizaccedilatildeo do mundo moderno

33

Nesse sentido Weber (1979) entende a racionalizaccedilatildeo como o caminho que orienta

a sociedade para o mais alto grau de instrumentalizaccedilatildeo e burocratizaccedilatildeo onde a

eacutetica e os valores satildeo determinados pelos fins uacuteltimos (ALMEIDA 2007)

Portanto dadas diferentes formas de racionalidade para satisfaccedilatildeo individual

numa accedilatildeo coletiva Olson (1999) natildeo desconsiderou o valor e importacircncia de outros

fatores que tambeacutem estatildeo presentes na conduccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas relaccedilotildees

com o grupo e nas suas decisotildees de participaccedilatildeo Para este autor

ldquoos incentivos econocircmicos natildeo satildeo para os indiviacuteduos os uacutenicos incentivos possiacuteveis As pessoas algumas vezes sentem-se motivadas tambeacutem por um desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e psicoloacutegicordquo (OLSON 1999 p72)

Neste ponto de vista pode-se empregar que a racionalidade na participaccedilatildeo

natildeo estaacute fundada somente em aspectos econocircmicos mas tambeacutem em outros

incentivos sociais e psicoloacutegicos Conforme definiu Olson (1999) esta eacute uma visatildeo

mais comumente compartilhada por outros autores da ciecircncias sociais que discutem

a temaacutetica da accedilatildeo coletiva poreacutem natildeo corroborada com o sentido utilitarista

tratado por ele Mas o diferencial deste autor eacute justamente analisar conceitos das

instituiccedilotildees econocircmicas de forma distinta em diferentes situaccedilotildees na sociedade para

compreender o problema da cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos Nessa discussatildeo eacute

indispensaacutevel definir alguns conceitos instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

Entende-se por instituiccedilotildees segundo North citado em Santos (2000)

um conjunto de regras poliacuteticas sociais e legais que estabelecem as bases para a produccedilatildeo troca distribuiccedilatildeo ou produccedilatildeo correspondem ao sistem de normas ndash regras formais (constituiccedilotildees leis) restriccedilotildees informais (normas de comportamento costumes convenccedilotildees tradiccedilotildees tabus e coacutedigos de autoconduta) e sistemas de controle ndash que regulam a interaccedilatildeo humana na sociedade (SANTOS 2000 p70)

Jaacute as organizaccedilotildees conforme Santos (2000) satildeo entendidas como sendo

um grupo de indiviacuteduos dedicados a alguma atividade executada para um

determinado fim e que podem constituir-se em firmas associaccedilotildees partidos

poliacuteticos etc Segundo Olson (1999) existem organizaccedilotildees de todos os tipos

formas e tamanhos poreacutem uma caracteriacutestica comum a todas elas eacute a promoccedilatildeo

dos interesses de seus membros Para Festinger e Laski citados em Olson (1999) a

ldquoatraccedilatildeo que exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer

mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo

consecutivamente as ldquoassociaccedilotildees existem para realizar propoacutesitos que um grupo

34

de pessoas tem em comumrdquo Embora na visatildeo olsoniana frequentemente elas

sirvam a interesses puramente pessoais e individuais

Assim como o Estado eacute um tipo de organizaccedilatildeo que provecirc benefiacutecios puacuteblicos

para seus cidadatildeos similarmente outros tipos de organizaccedilotildees provecircem benefiacutecios

puacuteblicos para seus membros Deste modo conforme Olson (1999) os benefiacutecios

comuns ou coletivos proporcionados pelo governo satildeo usualmente chamados de

ldquobem puacuteblicordquo ou ldquobenefiacutecios puacuteblicosrdquo Neste caso os serviccedilos tecircm de estar

disponiacuteveis para todos se estiverem disponiacuteveis para algueacutem Portanto o bem

puacuteblico se caracteriza pela natildeo excludecircncia e indivisibilidade dos resultados

produzidos individual ou coletivamente numa organizaccedilatildeo Com outros argumentos Olson (1999) utiliza o conceito de bens puacuteblicos de

forma generalizada

o provimento de benefiacutecios puacuteblicos ou coletivos eacute a funccedilatildeo fundamental das organizaccedilotildees em geral portanto nas organizaccedilotildees a consecuccedilatildeo de qualquer objetivo comum ou a satisfaccedilatildeo de qualquer interesse comum significa que um benefiacutecio puacuteblico ou coletivo foi proporcionado ao grupo (OLSON 1999 P27-28)

Num entendimento anaacutelogo eacute que se insere o sentido do conceito de bens

puacuteblicos no cooperativismo pois uma vez constituiacuteda os benefiacutecios gerados pela

cooperativa passam a ser um bem puacuteblico para os seus associados e estes natildeo

podem ser excluiacutedos da utilizaccedilatildeo dos benefiacutecios conseguidos Mesmo que os

associados tenham participado ou natildeo da sua formaccedilatildeo ou de participarem

ativamente ou natildeo das suas accedilotildees Na praacutetica eacute de se esperar que a organizaccedilatildeo

cooperativa produza benefiacutecios a todos os associados

312 Dilemas de accedilatildeo coletiva

Para Olson (1999) numa accedilatildeo coletiva o fato de uma situaccedilatildeo ser desejaacutevel

para as pessoas envolvidas natildeo garante que essa situaccedilatildeo ideal iraacute prevalecer Ao

agir racionalmente os indiviacuteduos muitas vezes podem natildeo atingir a melhor soluccedilatildeo

mediante as circunstacircncias que se encontram Outro determinante eacute que o fato de

agirem coletivamente na implementaccedilatildeo de uma accedilatildeo natildeo garante tambeacutem a

continuidade da cooperaccedilatildeo pelos mesmos agentes jaacute que os indiviacuteduos tendem a

agir individualmente em algumas casos e em outros natildeo Portanto o interesse de

cada um eacute que vai determinar o seu grau de participaccedilatildeo

35

Surge daiacute o dilema da accedilatildeo coletiva Deste modo indiviacuteduos se empreendem

numa accedilatildeo para atender seus interesses mas natildeo conhecem integralmente as

circunstacircncias em que iratildeo fazer isso Conforme Bueno (2004) uma das razotildees

porque as pessoas natildeo podem prever as consequencias completas de suas

decisotildees eacute porque tais consequecircncias dependem do que as demais pessoas iratildeo

fazer Eacute como em um jogo

Bueno (2006) contribui ao sugerir diferentes situaccedilotildees que ilustram quando

dilemas de accedilatildeo coletiva podem ser definidos Primeiro no caso em que se observa

que a cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos se desenvolve espontaneamente agrave medida

que estes percebem os benefiacutecios muacutetuos a serem alcanccedilados em virtude do

esforccedilo coletivo Deste modo os participantes coordenam suas accedilotildees para superar

os obstaacuteculos existentes agrave accedilatildeo cooperativa Neste caso a confianccedila muacutetua eacute o preacute-

requisito para validaccedilatildeo do processo pois caso um dos participantes natildeo continue a

cooperar acarretaraacute desvantagem para aquele que cooperou A segunda

possibilidade sugerida por Bueno (2004) eacute representada pelo claacutessico Dilema do

Prisioneiro Esse eacute o mais conhecido de todos os jogos conforme relatado

sucintamente por Elster (1994)

Dois prisioneiros suspeitos de terem colaborado num crime satildeo colocados em celas separadas A poliacutecia diz a cada um que seraacute liberado (4) se denunciar o outro e este natildeo o denunciar Se denunciarem um ao outro ambos receberatildeo trecircs anos de reclusatildeo (2) Se ele natildeo denunciar o outro mas o outro o denunciar seraacute condenado a cinco anos (1) Se nenhum denunciar o outro a poliacutecia tem provas suficientes para mandar cada um agrave prisatildeo por um ano (3) (ELSTER 1994 p 45)

Nesse caso o fato dos prisioneiros natildeo se comunicarem para cada um deles

a melhor estrateacutegia eacute a natildeo cooperaccedilatildeo pois natildeo haacute possibilidade de interaccedilatildeo

entre eles por esse motivo as decisotildees satildeo tomadas isoladamente Sob o ponto de

vista do interesse individual dificilmente se chegaraacute agrave soluccedilatildeo para o dilema do

prisioneiro Pois racionalmente cada prisioneiro deveria confessar o crime mas caso

isso ocorra os dois ficariam em pior situaccedilatildeo do que se escolhessem diferente

Conclui-se com o dilema que ldquoquando cada um de noacutes individualmente escolhe

aquilo que eacute do seu interesse proacuteprio pode ficar pior do que ficaria se tivesse sido

feita uma escolha que fosse do interesse coletivordquo (Bueno 2004) Neste ponto

Elster (1994) reforccedila que a noccedilatildeo de escolha racional eacute definida para um indiviacuteduo

natildeo para a coletividade uma vez que a opccedilatildeo para um indiviacuteduo eacute superior a suas

36

outras opccedilotildees independentemente do que as outras pessoas fazem ele seria

irracional se natildeo a praticasse

Outra situaccedilatildeo comum na accedilatildeo coletiva eacute o indiviacuteduo que age como ldquofree

riderrdquo (carona) Esta deriva do fato de que indiviacuteduos preferem agindo racionalmente

beneficiar-se de soluccedilotildees coletivas sem incorrer nos custos necessaacuterios para

produzir essas soluccedilotildees e sem colaborar em nada para sua obtenccedilatildeo (BUENO

2004 e FERREIRA NETO 1996) ou seja se aproveita dos benefiacutecios sem nenhum

esforccedilo pessoal ou com qualquer tipo de contribuiccedilatildeo mas natildeo pode ser excluiacutedo

desses benefiacutecios

O problema do carona eacute observado em organizaccedilotildees cooperativas quando

associados tentam usufruir de seus serviccedilos sem empreender esforccedilos para sua

operacionalizaccedilatildeo que natildeo se efetiva somente com o fornecimento de sua produccedilatildeo

De outra forma quando o grupo de associados dominantes na gestatildeo cooperativa

conseguem defender seus interesses em detrimento dos demais cooperados estes

agem tambeacutem como ldquofree riderrdquo

Conforme Bueno (2004) ocorre um dilema de ordem social quando o grupo

consegue identificar os benefiacutecios da cooperaccedilatildeo e solucionar o problema do dilema

do prisioneiro No entanto eacute necessaacuterio desenvolver mecanismos visando garantir

aplicaccedilatildeo de normas coercitivas aos indiviacuteduos que continuarem atuando como free

riders Isso eacute assegurado por Olson (1999) ao afirmar que soacute determinados acertos

institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir

quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo

como um todo Mesmo assim conforme Bueno (1996) esse dilema torna-se de difiacutecil

soluccedilatildeo quando os indiviacuteduos natildeo participam da elaboraccedilatildeo das normas

institucionais

313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo

Mais uma visualizaccedilatildeo de problemas de accedilatildeo coletiva eacute representada na

ldquoTrageacutedia dos Comunsrdquo Esse legado de Garret Hardin permite uma ilustraccedilatildeo sobre

utilizaccedilatildeo dos recursos de um bem coletivo Embora seu trabalho tenha focado a

superpopulaccedilatildeo com a ideacuteia essencial de que a sobre exploraccedilatildeo de recursos

manejados de forma comunal tais como oceanos rios atmosfera e aacutereas de

37

parques satildeo sujeitos agrave maciccedila degradaccedilatildeo (DIEGUES E MOREIRA 2001) eacute

importante consideraacute-lo em outros estudos pois apontou em seu coloraacuterio a

necessidade de mudanccedilas sociais em grande escala para uso de bens coletivos

apoacutes sua hipoteacutetica experiecircncia de raciociacutenio

() o que ocorreria com os recursos comuns de uma determinada comunidade caso cada um de seus membros adicionasse alguns animais aos seus respectivos rebanhos Se cada pecuarista considerasse mais lucrativo criar mais animais do que uma pastagem poderia suportar uma vez que cada criador obteria todo o lucro proveniente dos animais extras e somente uma fraccedilatildeo do custo decorrente da sobre-exploraccedilatildeo das pastagens o resultado seria uma traacutegica perda de recursos para a totalidade da comunidade de pecuaristas (HARDIN CITADO EM FEENY ET ALII 2001 p18)

Com essa ilustraccedilatildeo Hardin concluiu que se houver liberdade para utilizaccedilatildeo

de recursos comuns os homens na busca de seus interesses individuais levariam

todos agrave ruiacutena Para evitar a trageacutedia dos comuns existem duas opccedilotildees ou o Estado

cria mecanismos legais para coibir determinadas praacuteticas ou a proacutepria comunidade

cria arranjos sociais e mecanismos de autodefesa (HARDIN CITADO EM FEENY ET

ALII 2001) Desta forma criam algum tipo de coerccedilatildeo que impeccedila a accedilatildeo do

indiviacuteduo no uso exagerado do benefiacutecio

Visando elucidar a extensatildeo desses argumentos no cooperativismo poderia

imaginar que se todos os soacutecios de uma cooperativa fossem utilizaacute-la como

desejassem eacute possiacutevel que seus membros procurassem utilizar a maior quantidade

de recursos possiacuteveis conseguidos coletivamente e desta maneira obter melhores

descontos nas compras ou entregar a produccedilatildeo quando melhor lhe conviesse

Nesta perspectiva haacute o pressuposto comportamental do oportunismo no

cooperativismo e neste caso o aspecto doutrinaacuterio natildeo eacute suficiente para garantir

fidelidade entre o soacutecio e a cooperativa

Conforme Zylbersztajn (2002) o compartilhamento doutrinaacuterio criou as bases

para uma linguagem comum permitindo que se faccedila referecircncia a um movimento

cooperativista internacional devidamente estruturado e regido pela ACI Por outro

lado os valores impliacutecitos nos princiacutepios deveriam inibir o comportamento egoiacutesta e

o membro que apresentasse tal comportamento deveria sofrer coaccedilatildeo pelos proacuteprios

cooperados

Entretanto as instituiccedilotildees satildeo estabelecidas com definiccedilatildeo de direitos e

obrigaccedilotildees dos soacutecios em organizaccedilotildees cooperativas que satildeo os estatutos sociais

elaborados com base nas diretrizes dos princiacutepios cooperativistasSe essas

38

instituiccedilotildees natildeo satildeo suficientes conforme Zylbersztajn (2002) o oportunismo dos

cooperados induz custos de controles aos incentivos que afetam as relaccedilotildees entre

cooperado e cooperativa

Entatildeo para este autor as instituiccedilotildees com base na doutrina cooperativista por

si natildeo eacute suficiente para coibir e superar os dilemas sugeridos por Olson (1999)

Bueno (2006) e Hardin citado em Feeny et alii (2001) encontrados em

organizaccedilotildees cooperativas conforme constatado na literatura apresentados em

Pereira (2002) Perius (1983) e Schneider (1999)

314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos Em outra abordagem Olson (1999) enfatiza o relacionamento entre membros

de diferentes grupos Sua crenccedila eacute de que conjuntos de indiviacuteduos com interesses

comuns constituem grupos com o fim de articular accedilotildees coletivas visando a

realizaccedilatildeo de tais interesses Neste caso o autor centraliza a discussatildeo sobre as

implicaccedilotildees do tamanho do grupo no processo de cooperaccedilatildeo e estabelece

situaccedilotildees que influenciam a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos na accedilatildeo coletiva

Sobre o tamanho dos grupos para Olson (1999) haacute uma efetividade distinta

entre os pequenos e grandes grupos Essa efetividade portanto vai depender de

que em qual grau a participaccedilatildeo (contribuiccedilatildeo) ou ausecircncia de participaccedilatildeo (falta de

contribuiccedilatildeo) de um ou mais membros vai influenciar sobre o custo ou benefiacutecio de

qualquer outro membro dentro do grupo Quando o nuacutemero de participantes de

uma accedilatildeo eacute grande conforme Olson (1999) o indiviacuteduo tiacutepico tem consciecircncia de

que seus esforccedilos individuais provavelmente natildeo faratildeo muita diferenccedila Ao contraacuterio

em grupos menores todos os membros teratildeo um incentivo para se esforccedilar afim de

que tudo corra bem

Nesse aspecto Olson (1999) classifica trecircs tipos de grupos privilegiados

intermediaacuterios e latentes O grupo privilegiado eacute aquele em que poucos membros

tecircm incentivos para produzir o benefiacutecio coletivo mesmo que ele tenha de arcar com

os custos da produccedilatildeo desses benefiacutecios Nesse caso a proacutepria natureza do grupo

eacute a condiccedilatildeo para que ele consiga prover os benefiacutecios coletivos

Os grupos intermediaacuterios satildeo grupos em que natildeo haacute incentivos suficientes

para que uma pessoa empreenda esforccedilos individualmente para a produccedilatildeo de

39

benefiacutecio coletivo Neste grupo natildeo haacute tantos integrantes a ponto de um membro

natildeo perceber se o outro estaacute ou natildeo ajudando a prover o benefiacutecio coletivo Por

outro lado neste grupo natildeo haveraacute nenhum benefiacutecio se natildeo houver alguma

coordenaccedilatildeo ou organizaccedilatildeo grupal

No grupo latente os membros natildeo tecircm incentivos para produzir bens

isoladamente pois sua accedilatildeo natildeo seraacute percebida pelos demais dado o grande

nuacutemero de membros Conforme Olson (1999) neste grupo somente um incentivo

independente e seletivo em relaccedilatildeo aos outros membros estimularaacute um indiviacuteduo

racional a agir de maneira grupal Assim como sugere o autor

No grupo grande e latente cada membro eacute por definiccedilatildeo tatildeo pequeno em relaccedilatildeo ao total que seus atos natildeo contaratildeo muito de um modo ou de outro em qualquer grupo grande ningueacutem tem como conhecer todos os outros membros e o grupo natildeo seraacute ipso facto um grupo de amigos Assim via de regra um iniviacuteduo natildeo se veraacute afetado socialmente se natildeo fizer os sacrifiacutecios que lhe couberem em favor da realizaccedilatildeo das metas do seu grupo (OLSON 1999 P72)

Outra caracteriacutestica que se acrescenta ao conceito de pequenos e grandes

grupos definidos por Olson foi devidamente explorada por Nassar e Zylbersztajn

(2004) Se refere agrave homogeneidade ou heterogeneidade desses grupos que

influenciam a estrutura organizacional Num grupo pequeno com interesses

homogecircneos onde todos atribuem o mesmo valor ao bem coletivo haveraacute maior

coesatildeo Caso contraacuterio o valor atribuiacutedo tende a se alterar e a probabilidade de

coesatildeo cai

Com relaccedilatildeo ao grande grupo conforme Nassar e Zylbersztajn (2004)

quando satildeo homogecircneos as accedilotildees implementadas tendem a alinhar-se com os

objetivos preacute-estipulados enquanto que nos grupos grandes heterogecircneos em

virtude dos custos de monitoramento nem sempre as accedilotildees vatildeo ser equivalentes

aos objetivos estabelecidos Nessa observaccedilatildeo o autor constatou que quando o

grande grupo eacute heterogecircneo na sua base seus objetivos tenderatildeo a ser difusos e

generalistas

Nassar e Zylbersztajn (2004) portanto corroboram o argumento de que a

heterogeneidade do grupo leva a conflitos entre seus membros comuns aos

expostos por Pereira (2002) e Perius (1983) jaacute apresentado neste trabalho Portanto

esses primeiros autores sinalizam necessidades de maior atenccedilatildeo pela gestatildeo ao

lidar com as caracteriacutesitcas do grupo heterogecircneo devido agrave dificuldade de

comunicaccedilatildeo para coordenaccedilatildeo dos membros associados

40

A conclusatildeo geral de Olson eacute de que grupos pequenos atuam com maior

eficiecircncia e isso se evidencia pela experiecircncia praacutetica quando se observa a forccedila e o

poder residente na existecircncia de comitecircs subcomitecircs e pequenos grupos de

lideranccedila Conforme Olson (1999) ldquoos comitecircs devem ser pequenos quando se

espera accedilatildeo e relativamente grandes quando se buscam pontos de vista reaccedilotildeesrdquo

Outros autores (JAMES 1951 HARE 1952) citados em OLSON (1999) corroboram

que grupos e subgrupos ativos tendem a ser muito menores do que os grupos e

subgrupos que natildeo agem

Essa discussatildeo suscita a necessidade de saber se haacute uma definiccedilatildeo sobre o

nuacutemero apropriado de membros para se efetivar melhor participaccedilatildeo dos indiviacuteduos

em uma accedilatildeo coletiva Sobre isto Olson (1999) considera que haacute uma dificuldade de

se analisar o tamanho do grupo e o comportamento do individuo poreacutem faz uma

alusatildeo aos pequenos e grandes grupos com as mudanccedilas das sociedades primitivas

para as sociedades modernas

nas sociedades primitivas os pequenos grupos primaacuterios prevaleceram porque eram mais adequados ( ou pelo menos suficientes) para desempenhar certas funccedilotildees para o povo dessas sociedades Nas sociedades modernas em contraste presume-se que predominem as grandes associaccedilotildees porque na conjuntura moderna soacute elas satildeo capazes de desempenhar ( ou satildeo mais aptas a desempenhar) certas funccedilotildees uacuteteis ao povo dessas sociedades (OLSON 1999 p32)

Deste modo Olson (1999) constata que haacute um ldquoinstintordquo ou ldquotendecircnciardquo para

formar associaccedilotildees que se manifestam tanto nos pequenos grupos familiares e de

parentesco das sociedades primitivas quanto nas grandes associaccedilotildees voluntaacuterias

das sociedades modernas

O autor verifica tambeacutem que os pequenos grupos quando organizados

costumam reunir e empregar todas as suas energias ao passo que nos grupos

grandes essas energias permanecem com muito mais frequumlecircncia em estado

potencial jaacute que os membros natildeo dedicam ao grupo toda sua capacidade produtiva

Outra observaccedilatildeo empregada por Olson (1999) para justificar sua tese eacute que ldquono

niacutevel do pequeno grupo a sociedade conseguiu coesatildeordquo portanto eacute proposto que

em grupos maiores deva-se manter alguns traccedilos do pequeno grupo

Um importante aspecto observado por Olson (1999) eacute sobre o consenso

grupal Conforme o autor natildeo eacute de se esperar que haja consenso numa accedilatildeo

grupal pois isso raramente pode ocorrer Mas conforme este autor eacute importante

41

distinguir entre os obstaacuteculos agrave accedilatildeo coletiva que se devem de um lado agrave falta de

consenso no grupo e de outro os que se devem agrave falta de incentivos individuais Se

houver muitos desacordos conforme o autor natildeo haveraacute esforccedilo coordenado e

voluntaacuterio mas se houver um alto grau de concordacircncia a respeito do que se quer e

da forma de obtecirc-lo eacute quase certo que haveraacute accedilatildeo grupal eficiente

Mais uma constataccedilatildeo que deve ser considerada conforme Olson (1999) eacute

que em casos que natildeo haja nenhum incentivo econocircmico para que um indiviacuteduo

contribua para a realizaccedilatildeo de um interesse grupal pode haver contudo um

incentivo social para que ele decirc sua contribuiccedilatildeo Nestes casos o autor considera

status desejo de prestiacutegio respeito aceitaccedilatildeo pelo grupo motivaccedilotildees de fundo

social e psicoloacutegico Essas consideraccedilotildees justificam a existecircncia de diferentes

motivaccedilotildees para se unir a um grupo podem tambeacutem estar associadas agraves

necessidades gerada por ldquodesejos e oportunidadesrdquo ou preferecircncias dos indiviacuteduos

ao objetivo que se espera alcanccedilar conforme descrito anteriormente No entanto

para Olson (1999) os incentivos sociais e pressatildeo social funcionam somente em

grupos de tamanho menor em grupos pequenos o bastante para que cada membro

possa ter um contato face a face com todos os demais jaacute em grupos grandes Soacute determinados acertos institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo como um todo Mesmo em grupos menores o benefiacutecio geralmente natildeo seraacute provido em um niacutevel oacutetimo mas quanto maior for o grupo mais longe ficaraacute de atingir o ponto oacutetimo de provimento do benefiacutecio coletivo Tal subotimalidade poderaacute ser superada em grupos marcados pela disparidade de recursos individuais ou intensidade de interesse no bem puacuteblico entre seus membros Tal configuraccedilatildeo implicaraacute entretanto em uma tendecircncia agrave exploraccedilatildeo do grande pelo pequeno participantes do interesse grupal (OLSON 1999 p47)

Tomando-se como base esta afirmativa e conforme mostram os dados

apresentados anteriormente nas cooperativas agropecuaacuterias de leite haacute grupos

distintos de produtores conforme os estratos sociais de produccedilatildeo Nesses grupos

haacute um nuacutemero muito maior de pequenos produtores em relaccedilatildeo a grandes

produtores em seus quadros sociais Estes pequenos produtores somam um

montante menor em volume de leite em relaccedilatildeo ao volume dos grandes produtores

Sendo assim os grandes produtores formam um nuacutemero menor de membros

associados agrave cooperativa Entatildeo estes tecircm mais possibilidades de se organizarem e

fazer prevalecer seus interesses em relaccedilatildeo aos pequenos produtores Situaccedilatildeo

caracteriacutestica das anaacutelises realizadas pela Teoria da Escolha Racional

42

O comportamento de indiviacuteduos em accedilatildeo coletiva eacute tambeacutem estudado em

outras vertentes Dentre outros autores Mary Douglas (1998) critica as proposiccedilotildees

de Olson que aqui foram expostas Um ponto inicial que distancia os dois autores

eacute sobre a racionalidade Os neo-institucionalistas corrente teoacuterica de Douglas

definem a racionalidade dos agentes como sendo limitada e portanto dependente

do apoio institucional quando da tomada de decisotildees enquanto para Olson (1999)

o indiviacuteduo como um ser racional toma suas decisotildees baseado no conhecimento

(ALCAcircNTARA 2003) Para a antropoacuteloga natildeo existe a possibilidade de descartar os

problemas enfrentados por uma comunidade pequena na explicaccedilatildeo da accedilatildeo

coletiva neste ponto ela concorda com Olson (1999) mas aponta como falha na

argumentaccedilatildeo deste autor a alegaccedilatildeo de que em escala pequena o grupo promove

confianccedila muacutetua no sentido de que a confianccedila muacutetua eacute a base da comunidade

Olson (1999) natildeo expotildee isso diretamente mas ao valorizar as caracteriacutesticas de

pequenos grupos das comunidades primitivas fica impliacutecita essa consideraccedilatildeo pois

eacute certo que confianccedila eacute uma instituiccedilatildeo presente nesse tipo de grupo Caso ela seja

quebrada por um membro este sofre as coerccedilotildees pelo proacuteprio grupo em relaccedilatildeo ao

seu comportamento O que Olson (1999) defende eacute que por si soacute a confianccedila na

cooperaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para garantir que indiviacuteduos cooperem numa accedilatildeo

coletiva

Douglas (1998) se mostra ambiacutegua pois para ela a solidariedade soacute eacute

possiacutevel quando os indiviacuteduos compartilham categorias de pensamento Mas

fundamentada em Durkheim considera que para compreender a solidariedade eacute

necessaacuterio examinar formas elementares de sociedade ou seja aquelas que natildeo

dependem das trocas de serviccedilos e produtos diferenciados Sob esse aspecto

portanto Olson natildeo se contradiz por deixar claro que suas colocaccedilotildees satildeo

consideradas para grupos que tenham uma atividade econocircmica envolvida Douglas

(1998) ressalta ainda que a maior parte das organizaccedilotildees tem seu iniacutecio sob forma

de comunidades pequenas Nesse ponto Olson (1999) natildeo se descuidou dessa

prerrogativa pois natildeo desconsidera essa perspectiva ao afirmar que todo ldquogrande

grupo deveria manter algumas caracteriacutesticas de pequeno grupordquo dadas as suas

vantagens

Outro ponto para Douglas eacute que a instituiccedilatildeo interfere fornecendo a visatildeo

que o indiviacuteduo teraacute sobre determinado problema Neste caso o indiviacuteduo transfere

43

a ela a responsabilidade de decidir em seu nome Mesmo que essa transferecircncia

natildeo seja nominal uma vez que este natildeo deixa de responder ao que se questiona

Poreacutem ele atribui a sua resposta aos preceitos (valores) fornecidos pela instituiccedilatildeo agrave

qual ele encontra-se afiliado ou agrave qual ele recorreu (ALCAcircNTARA 2003)

Haacute ambiguumlidade em Douglas (1989) tambeacutem neste ponto A autora natildeo nega

o fato de que as instituiccedilotildees satildeo formadas de indiviacuteduos que iratildeo imprimir nestas

caracteriacutesticas suas influenciando na sua estrutura interna Ainda segundo a autora

satildeo os indiviacuteduos um a um que escolhem agir de dada forma Deste modo a autora

daacute abertura para inferirmos que se a instituiccedilatildeo influencia na accedilatildeo do indiviacuteduo

pode-se dizer sim que ela tem autonomia Se os indiviacuteduos agem agrave sua proacutepria

maneira entatildeo natildeo haacute garantia de que os indiviacuteduos que estatildeo no centro das

instituiccedilotildees compartilharatildeo a melhor escolha que seria vista pelo indiviacuteduo externo

Conforme Alcacircntara (2003) para Douglas um grupo agiraacute portanto de

determinada forma natildeo somente devido agraves necessidades e caracteriacutesticas de seus

integrantes mas de acordo com os preceitos institucionais que orientam as suas

accedilotildees ldquoas instituiccedilotildees antecipam a accedilatildeo coletivardquo Neste ponto na oacutetica de Olson

(1999) poder-se-ia interpretar isso diferentemente

A conclusatildeo eacute de que o aprofundamento dos estudos de Olson (1999) na

discussatildeo sobre o comportamento dos indiviacuteduos nos diferentes tamanhos de

grupos na accedilatildeo coletiva eacute um ponto relevante para valorizaccedilatildeo da sua teoria pois

um desafio dos proacuteprios membros de organizaccedilotildees coletivas eacute justamente ter

habilidade para lidar com as diferentes situaccedilotildees que surgem agrave medida que a

organizaccedilatildeo cresce

Portanto natildeo se esgotam aqui as consideraccedilotildees sobre as interpretaccedilotildees de

Olson (1999) no entanto face agrave afinidade e consenso com a teoria da escolha

racional eacute que seraacute feito a interpretaccedilatildeo dos resultados obtidos com a pesquisa de

campo a partir da realidade vivida pelo produtor rural enquanto membro de

cooperativa agropecuaacuteria onde se formaliza sua participaccedilatildeo na coletividade para

defesa de seus interesses Segue-se antes a apresentaccedilatildeo dos ldquodilemas do

cooperativismordquo no desenvolvimento social e econocircmico da organizaccedilatildeo

cooperativa

315 Dilemas do Cooperativismo

44

No cooperativismo accedilotildees coletivas acontecem numa primeira ordem entre os

associados e numa segunda ordem entre as cooperativas e outras empresas A

analogia feita por Olson (1999) sobre o comportamento do mercado competitivo com

a accedilatildeo coletiva natildeo estaacute distante do que se observa nos dois casos Entatildeo

conforme as accedilotildees que norteiam a adaptaccedilatildeo de cooperativas ao ambiente

competitivo origina-se o grande desafio em escolher estrateacutegias capazes de manter

seu papel de sistema produtivo centrado no homem e ao mesmo tempo tornar-se

uma organizaccedilatildeo apta a competir com empresas que satildeo orientadas exclusivamente

para o mercado (FERREIRA e BRAGA 2002) Ao centro encontra-se o cooperado

que fica entre cooperar ou natildeo e participar ou natildeo das accedilotildees de tomada de decisotildees

que influenciam no seu proacuteprio desenvolvimento e posicionamento das cooperativas

nesse ambiente

Quanto agrave anaacutelise da influecircncia do tamanho das cooperativas e a participaccedilatildeo

social pode-se inferir que agrave medida que as cooperativas crescem aumentam

tambeacutem as dificuldades de participaccedilatildeo ativa dos membros uma vez que estes

estaratildeo cada vez mais distantes das instacircncias de poder Aleacutem disso haacute registros de

que em alguns casos a questatildeo gerencial permite que esta se distancie tambeacutem dos

objetivos iniciais dos soacutecios como constatado por Duarte (2006) Pereira (2002) e

Perius (1983)

Um dilema que se instala jaacute na sua base eacute que na praacutetica dos princiacutepios

cooperativistas o fato de ser ldquoaberta a todas as pessoasrdquo uma mesma cooperativa

tem interfaces positivas que eacute a natildeo discriminaccedilatildeo das pessoas com neutralidade

social e racial poliacutetica e religiosa (Pereira 2002) e negativas causadas pela

heterogeneidade que se forma no quadro social dadas as consequumlecircncias jaacute

apresentadas neste trabalho Reforccedilado neste caso tanto por Olson (1999) quanto

por Douglas (1989) ao concordarem que a homogeneidade do grupo facilita sua

unidade e a promoccedilatildeo da accedilatildeo Deste modo os ldquodilemas do cooperativismordquo

conceituados por Pereira (2002) levam agrave dificuldade de cumprir a previsatildeo de

ldquoigualdade e participaccedilatildeo ativa dos soacuteciosrdquo

Essa eacute uma discussatildeo de difiacutecil consenso pois Schneider (1999) afirma que

Em muitos paiacuteses a adequaccedilatildeo dos seus valores princiacutepios ou normas agrave realidade cultural social e poliacutetica local se realizou de forma difiacutecil contraditoacuteria e lenta nos uacuteltimos anos assim como a necessidade de adequar-se a um mercado

45

cada vez mais competitivo obrigou muitas cooperativas a criar organizaccedilotildees grandes e administrativamente complexas por esse motivo tende a distanciar da sua funccedilatildeo social assim como dificultar a participaccedilatildeo do conjunto de associados (SCHNEIDER1999 p20-21)

Essa dificuldade eacute apontada por Boesche e Mafioletti (2007) como um desafio

a ser resolvido

O grande desafio da cooperativa eacute encontrar o ponto de equiliacutebrio entre os interesses de cada membro que compotildee a sociedade e os objetivos coletivos simbolizados na necessidade de permanecer ativa e dinacircmica Na praacutetica existe uma grande tensatildeo entre as dimensotildees econocircmica e social Poreacutem quando uma das duas eacute subestimada a cooperativa perde a sua identidade Manter o equiliacutebrio entre ambas as dimensotildees natildeo eacute uma tarefa simples pois se trata do relacionamento com pessoas o que nem sempre eacute faacutecil de administrar (BOESCHE e MAFIOLETTI 2007 p9)

A pressatildeo sobre o cooperativismo que o deixa voluacutevel em seus princiacutepios

tem origem tambeacutem na gestatildeo da poliacuteticas puacuteblicas A exemplo do cooperativismo

agropecuaacuterio dentre motivaccedilotildees e incentivos a organizaccedilatildeo de produtores rurais

tecircm sido estimuladas pelo Estado que exige a constituiccedilatildeo juriacutedica de cooperativas

associaccedilotildees conselhos comissotildees ou comitecircs para que possam ter acesso a

recursos oferecidos por programas de governo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas que

objetivam o seu desenvolvimento e sustentabilidade assim como indicados por

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Deste modo por meio de organizaccedilotildees

cooperativas o Estado tem facilitado acesso ao creacutedito fomento agrave agricultura

familiar e outros recursos que favorecem os produtores que a elas estatildeo associados

Entretanto organizaccedilotildees tecircm sido formadas sem a atenccedilatildeo que deveria ser

dada agraves condiccedilotildees proacuteprias dos membros e dos lugares que elas se desenvolvem

Por outro lado pensar na formaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo sem que os membros

tenham tido interaccedilotildees anteriores para que se desenvolva confianccedila no grupo

dificilmente haveraacute cooperaccedilatildeo e consequentemente desejo de participaccedilatildeo

premissa que eacute corroborada por Bueno (2004)

O que mostra Schneider (1981) e Campanhola e Graziano da Silva (2000) eacute

que nas comunidades tem havido formas de manipulaccedilatildeo na composiccedilatildeo de

conselhos comissotildees cooperativas e associaccedilotildees rompendo-se com a ideacuteia

original de representatividade democraacutetica para a defesa do exerciacutecio da cidadania

Eacute possiacutevel que ocorrecircncias dessa natureza sigam em ambiente de cooperativas

pois essa condiccedilatildeo se perpetua com tendecircncias de crescimento de cooperativas que

tendem a reproduzir e mesmo reforccedilar as condiccedilotildees estruturais vigentes na

46

sociedade (Schneider1981) Com a mesma opiniatildeo Pereira (2002) diz que o modo

de produccedilatildeo capitalista se reproduz no interior das cooperativas

Diferente de como observam estes autores grande parte da literatura que

trata do tema natildeo considera tais conflitos e outros problemas que decorrem das

diferenccedilas sociais do tamanho das cooperativas e a baixa participaccedilatildeo dos

associados nestas organizaccedilotildees

Para Schneider (2001) cooperativas que querem ser fieacuteis aos ideais dos

pioneiros devem abraccedilar o conjunto de princiacutepios por eles formulados e depois

redefinidos pelas instituiccedilotildees herdeiras ldquosegundo as necessidades de cada eacutepocardquo

Nesse aspecto o autor define fatores internos tradicionais e fatores decorrentes da

mudanccedila na estrutura e na organizaccedilatildeo de cooperativas como desafios agrave

ldquodemocracia-participaccedilatildeo cooperativardquo

bull pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias

bull os integrantes da direccedilatildeo geralmente provecircm dos estratos soacutecio-econocircmicos meacutedios ou altos

bull os proacuteprios associados em geral estatildeo mais interessados em obter benefiacutecios e vantagens econocircmicas imediatas sem uma correspondente assunccedilatildeo consciente da cooperativa como organizaccedilatildeo especiacutefica com a contrapartida de obrigaccedilotildees e compromissos para com sua organizaccedilatildeo

bull a transformaccedilatildeo na estrutura das organizaccedilotildees cooperativas muito influenciou na vigecircncia da democracia-participaccedilatildeo e autonomia cooperativa

bull cooperativas pequenas administrativamente simples e vizinhas ao homem apresentavam um estilo de democracia diferente do estilo de democracia e autonomia que se daria com a evoluccedilatildeo mais recente das cooperativas e ao assumirem dimensotildees empresariais tornando-se cooperativas grandes e espacialmente extensas poderosas e administrativamente complexas (SCHNEIDER 1999 p20-21)

Esses fatores sinalizam situaccedilotildees que dificultam tanto a oportunidade quanto

o interesse dos soacutecios em melhorar a participaccedilatildeo o que justifica a existecircncia de

problemas de accedilatildeo coletiva Surge por isso a necessidade de maior coerecircncia social

nas cooperativas a fim de permitir melhor funcionamento assim como maior

interaccedilatildeo entre as pessoas

A questatildeo espacial pode ser relevante pois o que constroacutei o fortalecimento

dos grupos satildeo as relaccedilotildees e interaccedilotildees entre as pessoas e os benefiacutecios que

surgem destas O processo de desenvolvimento das cooperativas como mostrado

por Schneider (1999) favorece esse dilema Nesse aspecto como cooperativas que

47

tecircm sido desenvolvidas nesse modelo poderiam funcionar em diferentes tamanhos

possibilitando a participaccedilatildeo dos soacutecios como preconizado originalmente no

princiacutepio cooperativista para conseguir atingir seus objetivos

Conforme a perspectiva interpretativa de Ferreira Neto (1996) ao abordar

sobre ponto comum do corporativismo e pluralismo indiviacuteduos agem racionalmente

no sentido de organizar e articular seus interesses como forma de maximizar suas

possibilidades de realizaccedilatildeo exitosa deste modo a escolha do indiviacuteduo se daacute num

caacutelculo de custo benefiacutecio elaborado Essa afirmaccedilatildeo estaacute em sintonia com os

argumentos de Olson (1999) sobre o grau de participaccedilatildeo individual numa causa

conforme seus interesses Sob este ponto de vista as cooperativas satildeo em muitos

casos a uacutenica forma de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo de produtores rurais Dentre os

incentivos esta seria uma motivaccedilatildeo para participar

Deste modo pode-se inferir que a participaccedilatildeo no cooperativismo natildeo estaacute

relacionada somente a uma preferecircncia individual mas uma necessidade gerada por

oportunidades pois ao considerar suas alternativas a associaccedilatildeo agrave cooperativa

supre sua capacidade cada vez menor de negociar sozinho sua produccedilatildeo Nesta

linha de pensamento o interesse em associar eacute motivado pela possibilidade de

utilizar a cooperativa como canal de comercializaccedilatildeo entre outros benefiacutecios Entre

os membros desse quadro encontram-se em maior nuacutemero os pequenos produtores

rurais entatildeo poder-se-ia dizer que estes deveriam ser os mais interessados em

participar na articulaccedilatildeo de estrateacutegias da cooperativa Mas o que se observa eacute que

o pequeno produtor participa menos das tomadas de decisotildees

Valadares (2005) mostra que a institucionalizaccedilatildeo da participaccedilatildeo cooperativa

por meio do Comitecirc Educativo cria na cooperativa um espaccedilo para a reproduccedilatildeo das

contradiccedilotildees da sociedade ou para operacionalizaccedilatildeo de mudanccedilas O estudo deste

autor revela que a racionalidade no Comitecirc Educativo eacute proacutepria dos modelos teoacutericos

de desenvolvimento humano e de produtividade e eficiecircnica e o quadro de referecircncia

dos participantes nas atividades deste Comitecirc eacute determinado por uma visatildeo

particular individual e de interesse pessoal dos dirigentes em relaccedilatildeo ao resultado

pretendido com o envolvimento das comunidades no processo decisoacuterio Este

contribui eficazmente para o aprimoramento das condiccedilotildees tecnoloacutegicas da

produccedilatildeo de leite mas natildeo prepara o cooperado para participar politicamente da

gestatildeo da empresa

48

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Pereira (2002) assim como

Schneider (1981) mostram que formas de subordinaccedilatildeo se perpetuam em

organizaccedilotildees cooperativas Isso mostra que associados cooperam individualmente

com as lideranccedilas que permanecem em atividade sem maior envolvimento em suas

accedilotildees Neste caso as motivaccedilotildees para deixaacute-los nesse quadro poderiam ser

ilustradas de duas formas pelo dilema do prisioneiro e pelo caso free rider

Os conceitos de saiacuteda e voz desenvolvidos por Hirschman (1996) citado em

Machado (2007) ajudam a definir essa relaccedilatildeo Para esse autor a forma que

agentes insatisfeitos manifestam sua indignaccedilatildeo com o natildeo atendimento de suas

expectativas acontecem pela

saiacuteda como pura e simplesmente o ato de partir em geral porque se julga que um bem serviccedilo ou benefiacutecio melhor eacute fornecido por outra firma ou organizaccedilatildeordquo enquanto a ldquovozldquoeacute o ato de reclamar de organizar-se para reclamar ou protestar com a intenccedilatildeo de obter diretamente uma recuperaccedilatildeo da qualidade que foi prejudicada (HIRSCHMAN 1996 p 20 )

Segundo MACHADO (2007) de modo geral ainda para Hirschman a relaccedilatildeo

principal entre saiacuteda e voz eacute a de que ldquoa voz pode ser vista como sobra Quem natildeo

usa a saiacuteda eacute candidato agrave vozrdquo O uso da voz eacute bastante influenciado pelo tipo de

organizaccedilatildeo

Mesmo que hajam interaccedilotildees entre os soacutecios a oportunidade de

manifestar e concretizar opiniotildees que resultam na tomada de decisotildees se daacute em

assembleacuteias Nesse caso se o produtor manifestar sua opiniatildeo contraacuteria a dos

gestores mesmo que outros produtores sejam da mesma opiniatildeo ele natildeo tem

certeza de que seraacute apoiado pelos demais Entatildeo ele prefere cooperar que eacute manter

o status quo do quadro exposto Se os outros pensarem da mesma forma ocorre

como no dilema do prisioneiro natildeo haveraacute cooperaccedilatildeo A situaccedilatildeo iraacute perpetuarPor

outro lado pode ser racional no sentido de que o produtor pode optar por natildeo

participar jaacute que o envolvimento demanda o custo do seu tempo de trabalho que

poderia ser empregado em outra atividade na sua propriedade Mesmo sem

participar ele tem garantida sua parcela nos benefiacutecios puacuteblicos do cooperativismo e

nos resultados uma vez que as sobras satildeo distribuiacutedas proporcionais ao volume de

produccedilatildeo entregue agrave organizaccedilatildeo De outra forma sua falta de participaccedilatildeo tambeacutem

natildeo o impede de usar serviccedilos que satildeo disponibilizados a todos Isso pode ser

tambeacutem outro exemplo do comportamento free rider (carona) no cooperativismo

49

Deste modo o custo de agirem como ldquocaronardquo nessa situaccedilatildeo eacute refletido

como incentivo agrave pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias como exposto por

Schneider (1999) Eacute incentivo tambeacutem para que o pequeno grupo que lidera a

cooperativa tenha outros benefiacutecios por permanecerem nos cargos ainda que

sejam incentivos natildeo econocircmicos como status e prestiacutegio demonstrados em

(OLSON 1999) que geram outros benefiacutecios para si

Outro dilema comum no cooperativismo que envolve o problema do carona

surge conforme Zylbersztajn (2002) quando existem problemas de observabilidade

e monitoramento tornando possiacutevel um agente comportar-se oportunisticamente

Neste caso a utilizaccedilatildeo dos serviccedilos da cooperativa pelos cooperados pode incorrer

no problema do carona

quando a assistecircncia teacutecnica for demandada em demasia por um produtor ou quando o membro da cooperativa adquirir os insumos da cooperativa ou ainda quando um natildeo cooperado entregar o produto para a cooperativa por meio de um membro auferindo eventuais vantagens para as quais natildeo contribuiu (ZYLBERSZTAJN 2002 p 60)

Outro dilema que se identifica eacute o da gestatildeo participativa Tendo em vista que

em funccedilatildeo da diversidade de atuaccedilatildeo na cadeia produtiva a montante e a jusante a

cooperativa torna-se uma organizaccedilatildeo complexa Deste modo conforme

Zylbersztajn (2002) Quando ocorre a gestatildeo pelo cooperado de organizaccedilotildees com elevado grau de complexidade a cooperativa incorre em um problema de separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle da corporaccedilatildeo A natildeo separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle introduz ineficiecircncias que se tornam relevantes e o cooperado que gerencia com sucesso um empreendimento cooperativo no seu iniacutecio tenderaacute a perder eficiecircncia (ZYLBERSZTAJN 2002 p59)

Portanto exige-se que o gestor da organizaccedilatildeo cooperativa tenha habilidades

que podem natildeo ser encontradas dentro seu quadro social Por esse motivo o grupo

de produtores responsaacuteveis pela gestatildeo se vecirc por decidir contratar um especialista

em gestatildeo ou eles mesmo reconhecendo suas limitaccedilotildees executam a tarefa de

dirigentes

Estudos de Perius (1983) e Schneider (1999) mostram que quando se tem um

gestor natildeo soacutecio responsaacutevel pelo desenvolvimento da empresa cooperativa em

muitos casos este tende a priorizar decisotildees que melhor atenderatildeo agrave empresa do

que as necessidades dos associados Daiacute surge um dilema Os soacutecios tecircm que

decidir por deixar que a empresa cooperativa seja gerida profissionalmente face agrave

necessidade criada pelo proacuteprio ambiente econocircmico que estaacute instalada ou arrisca-

50

se em ser auto-gerida conforme prevecirc o princiacutepio da autogestatildeo mas neste caso

corre-se o risco de natildeo ter eficiecircncia como prevecirc o economista Zylbersztajn (2002)

No estudo sobre problemas estruturais do cooperativismo Perius (1983)

exprime uma melhor explicaccedilatildeo para identificaccedilatildeo deste dilema

() o poder interventaacuterio como medida saneadora de maacutes administraccedilotildees vem a ferir a natureza privada das sociedades cooperativas que como sociedades de pessoas devem ser geridas e ldquoautocontroladasrdquo pelos proacuteprios associados Infelizmente a participaccedilatildeo associativa e operacional dos associados na vida das cooperativas eacute muito fraca O princiacutepio do controle democraacutetico pelo qual as decisotildees satildeo tomadas pela maioria eacute constantemente esquecido pois minorias acabam homologando via de regra as decisotildees anteriormente arquitetadas estudadas e projetadas (PERIUS 1982 p101)

Amodeo (2001) concorda com Perius (1982) e Pereira (2002) ao se referir a

um possiacutevel comprometimento da supremacia dos princiacutepios em alguns casos de

organizaccedilotildees cooperativas frente a estrateacutegias utilizadas na gestatildeo Segundo esta

autora muitas vezes esses valores e princiacutepios natildeo satildeo considerados em toda sua

magnitude na gestatildeo de organizaccedilotildees cooperativas

Todas essas questotildees tecircm ao centro o comportamento dos indiviacuteduos que se

associam e formam as cooperativas Pinho (1982) descreve que o ldquohomus

cooperativusrdquo da forma concebida por alguns estudiosos do cooperativismo eacute

apenas uma abstraccedilatildeo que permanece no campo do comportamento ideal ou seja

o que seria o comportamento esperado do individuo no cooperativismo

o ldquohomem cooperativordquo eacute honesto justo respeitoso solidaacuterio e responsaacutevel Age animado de ldquoespiacuterito cooperativistardquo ou seja de uma atitude interior de compreensatildeo de aprovaccedilatildeo e de adesatildeo agrave moral cooperativa assim como agraves finalidades e objetivos dos quais as cooperativas satildeo o meio E ao mesmo tempo agraves razotildees de ser qualitativas e profundas dessas finalidades Natildeo se trata somente de uma crenccedila intelectual mas tambeacutem de um sentimento e de uma vontade que se situam ao niacutevel da consciecircncia moral (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

De outra forma mostra tambeacutem o comportamento individual na praacutetica

cooperativista

a pluralidade de papeacuteis atribuiacutedos ao homem cooperativo dificulta o ajustamento na pessoa do cooperado de comportamentos tatildeo diferentes de associado cooperado ou cooperador proprietaacuterio empresaacuterio administrador gerente fiscal usuaacuterio etc (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

Portanto o dilema do ldquohomem cooperativordquo reflete na realidade o caraacuteter

racional dos indiviacuteduos Outra percepccedilatildeo de Pinho (1982) neste contexto eacute natildeo

ignorar que a associaccedilatildeo se daacute com objetivos pessoais afim de realizar suas

atividades econocircmicas com mais eficaacutecia o que corrobora pressupostos da Teoria

da Escolha Racional em que o indiviacuteduo age segundo seus caacutelculos racionais de

51

forma exitosa A autora mostra entretanto essa relaccedilatildeo de racionalidade na accedilatildeo

do associado Para Pinho (1982) o soacutecio age tambeacutem conforme a necessidade de

ajustamento da sua participaccedilatildeo na realizaccedilatildeo de suas obrigaccedilotildees com a

cooperativa Ou seja mostra o ponto de vista do associado que renuncia sua

autonomia racionalmente Como associado-empresaacuterio-usuaacuterio racional o cooperado renuncia a uma parte de sua autonomia e de seu poder para se unir cooperativamente a outros empresaacuterios submetendo-se aos princiacutepios de igualdade e da gestatildeo democraacutetica bem como agrave formaccedilatildeo de um patrimocircnio ou acervo de utilizaccedilatildeo coletiva mas impartilhaacutevel entre os associados Aceita limitaccedilotildees agrave sua decisatildeo pessoal imposta pelas assembleacuteias gerais de cooperados em troca de determinadas vantagens (PINHO 1982 p 66)

Deste modo o comportamento do cooperativo representa um tipo de ajustamento ao meio tal como este eacute percebido ndash natildeo pelo idealista romacircntico ndash mas pelo cooperado-produtor ou pelo cooperado empresaacuterio-usuaacuterio Como o meio ambiente percebido eacute dinacircmico haacute um permanente esforccedilo de ajustamento agraves mudanccedilas e de elaboraccedilatildeo de ldquoplanos cooperativos adequados agrave realidade (PINHO 1982 p 66)

Esta autora manifesta assim sua opiniatildeo sobre o instrumentalismo

cooperativista embora natildeo aprofunde nessa discussatildeo Pinho (1982) considera que

esse comportamento eacute amplamente utilizado seguindo as regras praacuteticas de

funcionamento concebidas pelos idealizadores do cooperativismo mas sem o

objetivo de reformar a sociedade isto eacute para a solidariedade Deste modo a autora

corrobora com a opiniatildeo de que a doutrina cooperativista por si soacute natildeo tem sido

eficaz para impedir que o comportamento tipicamente utilitarista comum do modelo

capitalista assim como problemas do dilema do prisioneiro e oportunismo sejam

encontrados em cooperativas

O desenvolvimento social e consequumlente melhoria na qualidade de vida dos

soacutecios satildeo entendidos como objetivo finaliacutesitico de uma cooperativa por meio da

promoccedilatildeo econocircmica natildeo obstante a isso autores fazem discussatildeo em torno dos

meios para conseguir esse fim De modo geral a forma de destinar os recursos

obtidos com o resultado das operaccedilotildees econocircmicas da cooperativa eacute em si um

dilema Pois os associados eacute que tomam tais decisotildees Mais frequentemente o

investimento tem sido feito na proacutepria cooperativa dadas as necessidades de

modernizaccedilatildeo o recurso deixa de ser utilizado pelo associado em seu benefiacutecio

proacuteprio

52

Quando ele aprova a integralizaccedilatildeo do capital que eacute o investimento na

proacutepria cooperativa ao inveacutes de decidir pela distribuiccedilatildeo este abre matildeo de suas

vontades e necessidades pessoais em benefiacutecio do coletivo Se nesta decisatildeo se o

associado natildeo estiver sob nenhuma pressatildeo coercitiva como no exemplo do dilema

do prisioneiro este estaraacute cumprindo seu papel do ldquohomus cooperativusrdquo como

definido por Pinho (1982) A necessidade desse tipo de accedilatildeo deve estar clara para o

indiviacuteduo que queira fazer parte de uma cooperativa pois esse eacute o comportamento

que se espera do cooperado

De outra forma conforme Pinho (1982) haacute um dilema entre a praacutetica

cooperativista de inspiraccedilatildeo rochdaleana e a praacutetica cooperativista sem Rochdale

isto eacute marcado tatildeo somente quando haacute uma racionalidade econocircmica e

administrativa da empresa cooperativa sem adesatildeo agrave moral cooperativista

Deste modo haacute uma diferenccedila qualitativa na eficaacutecia da cooperativa mesmo

que ambos os casos tenham resultados econocircmicos eficientes Haacute portanto uma

definiccedilatildeo distinta entre eficiecircncia e eficaacutecia que pode ser tomada para chamar a

atenccedilatildeo e observar a gestatildeo cooperativa Conforme Drucker (1994) eficiecircncia eacute

fazer as coisas de maneira correta eficaacutecia satildeo as coisas certas o resultado

depende de ldquofazer certo as coisas certasrdquo Uma metaacutefora simples usada por Augusto

(2006) clarifica isso ldquoeficiecircncia eacute cavar com perfeiccedilatildeo teacutecnica um poccedilo artesiano

eficaacutecia eacute encontrar a aacuteguardquo Para o contabilista Padoveze (2004) o lucro eacute a melhor

medida da eficaacutecia empresarial mas eficiecircncia permeia todas as accedilotildees e atividades

da empresa Portanto tomadas essas definiccedilotildees haacute uma visualizaccedilatildeo na diferenccedila

entre as praacuteticas cooperativistas expostas por Pinho (1982) Neste caso para

reconhecer os resultados em eficiecircncia e eficaacutecia no cooperativismo os indicadores

estariam em recorrer natildeo soacute a criteacuterios de eficaacutecia econocircmica mas tambeacutem a

criteacuterios de eficaacutecia social que se daria nos niacuteveis de desenvolvimento

envolvimento e participaccedilatildeo dos associados

Embora dilemas da ordem que foi apresentada ocorram no cooperativismo

organizaccedilotildees cooperativas funcionam com bons resultados e benefiacutecios extensivos

aos soacutecios Sobre isso Ostron citado em Olson (1995) ao comparar as iniciativas de

gestatildeo cooperativa de recursos comuns fez o seguinte questionamento ldquoPor que

certas instituiccedilotildees conseguiram superar a loacutegica da accedilatildeo coletiva e outras natildeo Da

sua comparaccedilatildeo emerge alguns requisitos para essa superaccedilatildeo Dos sugeridos por

53

Putnam (1996) haacute indicaccedilatildeo de que se deva ter clara definiccedilatildeo dos limites da

instituiccedilatildeo e participaccedilatildeo das partes interessadas assim como a definiccedilatildeo de regras

entre os agentes envolvidos Deste modo eacute percebido nesses dois pontos que haacute

pistas para direcionar o entendimento das dificuldades apontadas que satildeo comuns

em cooperativas Eacute nessa busca que posteriormente se faraacute uma apresentaccedilatildeo de

como se constroacutei a participaccedilatildeo e procurar mostrar como confianccedila cooperaccedilatildeo e

capital social satildeo importantes para superaccedilatildeo dos dilemas no cooperativismo

32 A Participaccedilatildeo 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo A participaccedilatildeo tem sido considerada em diferentes pesquisas e estudos sobre

desenvolvimento uma importante ferramenta para potencializar o desenvolvimento

humano Abordagens de Bordenave (1983) e Freire (1982) indicam a participaccedilatildeo

como direito das pessoas e caminho para auto-realizaccedilotildees ao inserir o indiviacuteduo em

discussotildees que o fazem assumir atitudes realizadoras para si Nesta pesquisa a

participaccedilatildeo eacute abordada como uma possibilidade para reduccedilatildeo do distanciamento

entre produtores rurais e as atividades de cooperativas rurais agraves quais satildeo

associados

Conforme Alencar (2001) as poliacuteticas de modernizaccedilatildeo da agricultura por

volta da deacutecada de 70 foram bastante seletivas em termos de distribuiccedilatildeo de

recursos Do mesmo modo se deram as poliacuteticas de pesquisa e assistecircncia teacutecnica

Neste sentido entre outros resultados houve maior emergecircncia de diferenciaccedilatildeo

social com a formaccedilatildeo de categorias distintas de produtores e trabalhadores rurais

Na populaccedilatildeo rural ldquopara alguns significou proletarizaccedilatildeo ou eminecircncia de

desintegraccedilatildeo de suas unidades de produccedilatildeo para outros abertura de novas

oportunidades e crescimentordquo A partir daiacute diferentes estrateacutegias foram sendo

estabelecidas para orientar programas que tivessem como objetivo incluir

segmentos sociais colocados agrave margem desse ldquonovo modelo de desenvolvimentordquo

Nessa eacutepoca algumas organizaccedilotildees natildeo governamentais fundamentadas

nas obras de Paulo Freire jaacute desenvolviam metodologias de intervenccedilatildeo centradas

na ldquoparticipaccedilatildeordquo de pequenos produtores na formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de

projetos de desenvolvimento (ALENCAR 2001) A partir daiacute ldquoparticipaccedilatildeordquo foi

54

incorporada em outras experiecircncias O foco comum passou a ser ldquoparticipaccedilatildeo das

pessoasrdquo Entretanto conforme Alencar (2001) as estrateacutegias adotadas de

participaccedilatildeo variam de acordo com a visatildeo que os agentes possuem do papel ou

natureza da intervenccedilatildeo Eacute dessa visatildeo que resultam diferentes dimensotildees e

significados atribuiacutedos agrave participaccedilatildeo

Portanto o conceito de participaccedilatildeo admite diferentes conotaccedilotildees e pode ser

visto como um termo ambiacuteguo nas ciecircncias sociais Dentre os significados atribuiacutedos

por Oakley e Marsden citados em Alencar (2001) estatildeo associados agrave participaccedilatildeo o

sentido de colaboraccedilatildeo desenvolvimento de comunidade organizaccedilatildeo e

empowering (aquisiccedilatildeo de poder) Ao analisar diferentes projetos de

desenvolvimento esses autores supracitados atribuiacuteram novos sentidos ao temo

participaccedilatildeo

1 Envolvimento voluntaacuterio dos indiviacuteduos nos programas sem contudo participarem da sua elaboraccedilatildeo

2 Sensibilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos aumentando-lhes a responsabilidade para responderem as propostas de programas de desenvolvimento e encorajando iniciativas locais

3 Envolvimento dos indiviacuteduos no processo de tomada de decisatildeo na implementaccedilatildeo dos programas na divisatildeo dos benefiacutecios e na avaliaccedilatildeo das decisotildees tomadas

4 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com o direito e dever dos indiviacuteduos participarem na soluccedilatildeo dos seus problemas terem responsabilidade de assegurar a satisfaccedilatildeo de suas necessidades baacutesicas mobilizarem recursos locais e sugerirem novas soluccedilotildees bem como de criarem e manterem as organizaccedilotildees locais

5 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com a iniciativa de pessoas e grupos visando a soluccedilatildeo de seus problemas e a busca de autonomia

6 Organizaccedilatildeo de esforccedilos de pessoas excluiacutedas para que elas aumentem o controle sobre recursos necessaacuterios ao desenvolvimento e sobre as instituiccedilotildees que regulam a distribuiccedilatildeo desses recursos (ALENCAR 2001 P21)

Segundo Bordenave (1983) participar eacute uma necessidade humana e

universal cuja praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades natildeo menos baacutesicas

tais como a interaccedilatildeo com os demais homens a auto-expressatildeo o desenvolvimento

do pensamento reflexivo o prazer de criar e recriar coisas e ainda a valorizaccedilatildeo de

si mesmo pelos outros

Portanto Bordenave (1983) vecirc na participaccedilatildeo duas bases complementares

uma base afetiva ndash participamos porque sentimos prazer em fazer coisas com

outros e uma base instrumental ndash participamos porque fazer coisas com outros eacute

55

mais eficaz e eficiente que fazecirc-las sozinhos Esta uacuteltima afirmativa conota os

aspectos da participaccedilatildeo individual em accedilotildees coletivas discutidos neste trabalho e

que fundamentam o entendimento dos dilemas da participaccedilatildeo no cooperativismo

Conforme Pereira citado em Bento (1993) A participaccedilatildeo advem de uma situaccedilatildeo ou problema existente a partir do qual as pessoas unem-se para a) apresentar ideacuteias discutir e contribuir conforme a possibilidade de cada um para a soluccedilatildeo desses problemas ou dessa situaccedilatildeo e b) contrapor ou responder a essa situaccedilatildeo ou problema existente Portanto participar eacute um ato coletivo (BENTO 1993 p32)

Das diferentes aneiras de participar Bordenave (1983) apresenta conceitos

sobre tipos de participaccedilatildeo dentre os quais define participaccedilatildeo voluntaacuteria cujo

grupo eacute criado pelos proacuteprios participantes que definem sua proacutepria organizaccedilatildeo e

estabelecem seus objetivos e meacutetodos de trabalho Neste caso satildeo exemplos os

sindicatos livres as associaccedilotildees profissionais as cooperativas e os partidos

poliacuteticos Entretanto segundo este autor nem sempre a participaccedilatildeo voluntaacuteria surge

como iniciativa dos membros do grupo agraves vezes trata-se de uma participaccedilatildeo

provocada por agentes externos que ajudam outros a realizarem seus objetivos ou

os manipulam a fim de atingir seus proacuteprios objetivos previamente estabelecidos

Para Bordenave (1983) no processo de participaccedilatildeo eacute possiacutevel fazer parte sem

tomar parte Se refere a niacuteveis de participaccedilatildeo cujas diferenccedilas se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte

Deste modo Bordenave (1983) mostra graus de participaccedilatildeo em que os

membros de uma organizaccedilatildeo podem atuar sob o ponto de vista de maior ou menor

acesso aos controles das decisotildees dos membros Conforme o autor a participaccedilatildeo

varia de niacutevel da informaccedilatildeo agrave autogestatildeo sendo que o menor grau de participaccedilatildeo

eacute o da informaccedilatildeo Neste caso os dirigentes informam os membros da organizaccedilatildeo

sobre as decisotildees tomadas Contudo haacute casos de lideranccedilas que natildeo fazem o

mesmo Neste niacutevel a reaccedilatildeo dos membros agraves informaccedilotildees recebidas eacute observada

pelos agentes responsaacuteveis Estes por sua vez acatam as observaccedilotildees e

reconsideram uma decisatildeo inicial ou de modo contraacuterio natildeo aceitam o direito de

reaccedilatildeo

Em segundo niacutevel acontece a consulta facultativa em que a administraccedilatildeo

pode se quiser e quando quiser consultar outros membros solicitando criacuteticas

56

sugestotildees ou dados para resolver algum problema Quando a consulta eacute obrigatoacuteria

os integrantes devem ser consultados em certas ocasiotildees embora a decisatildeo final

pertenccedila ainda aos diretores

No niacutevel da elaboraccedilatildeorecomendaccedilatildeo os membros do grupo elaboram

propostas e recomendam medidas que a administraccedilatildeo aceita ou rejeita mas

sempre se obrigando a justificar sua posiccedilatildeo (Bordenave 1983)

Outro niacutevel considerado eacute o da co-gestatildeo sobre o qual

a administraccedilatildeo da organizaccedilatildeo eacute compartilhada mediante mecanismos de co-decisatildeo e colegialidade Aqui os administrados exercem uma influecircncia direta na eleiccedilatildeo de um plano de accedilatildeo e na tomada de decisotildees Comitecircs conselhos ou outras formas colegiadas satildeo usadas para tomar decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

O sexto niacutevel eacute o da delegaccedilatildeo

Eacute um grau de participaccedilatildeo onde os gestores tecircm autonomia em certos campos ou jurisdiccedilotildees antes reservados eles A administraccedilatildeo define certos limites dentro dos quais os administradores tecircm poder de decisatildeo Ora para que haja delegaccedilatildeo real os delegados devem possuir completa autoridade sem precisar consultar seus superiores para tomarem as decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

Ainda segundo Bordenave o niacutevel mais avanccedilado de participaccedilatildeo eacute o da

autogestatildeo neste

O grupo determina seus objetivos escolhe seus meios e estabelece os controles pertinentes sem referecircncia a uma autoridade externa Na autogestatildeo desaparece a diferenccedila entre administradores e administrados visto que nela ocorre a auto administraccedilatildeo (BORDENAVE 1983 p32)

Portanto parte da efetividade da participaccedilatildeo depende do comportamento

dos indiviacuteduos frente agraves diferentes situaccedilotildees em que satildeo envolvidos Deste modo

quando as pessoas satildeo envolvidas a participaccedilatildeo eacute percebida como uma estrateacutegia

para criaccedilatildeo de novas oportunidades e as pessoas por elas mesmas se

comprometem a apoiar as accedilotildees identificadas como melhor opccedilatildeo Para isso

conforme Alencar (2001) a forma de intervenccedilatildeo tem de ser um conjunto de accedilotildees

praticadas por agentes externos mas deve ser feita num caraacuteter educativo em que

a populaccedilatildeo alvo seja estimulada a desenvolver a habilidade de diagnosticar e

analisar seus problemas decidir coletivamente sobre as accedilotildees para solucionaacute-los

executar tais accedilotildees e avaliaacute-las

Oakley citado em ASBRAER (2007) faz uma distinccedilatildeo importante sobre

participaccedilatildeo como meio ou como fim na literatura e na praacutetica

Quando participaccedilatildeo eacute interpretada como meio descreve uma condiccedilatildeo e quando eacute interpretada como fim refere-se a um processo que tem como resultado participaccedilatildeo significativa Ateacute recentemente a noccedilatildeo que dominava a

57

praacutetica da participaccedilatildeo tinha sido efetivada por meio da criaccedilatildeo de organizaccedilotildees formais como as cooperativas e associaccedilotildees de agricultores Nos programas que foram realizados usando conceito de participaccedilatildeo nesses moldes certas melhorias econocircmicas foram realizadas mas poucos conseguiram participaccedilatildeo significativa Participaccedilatildeo como fim eacute a consequumlecircncia do processo de empoderamento e libertaccedilatildeo (ASBRAER 2007 p 36)

A ideacuteia contida no sentido da participaccedilatildeo como fim estaacute articulada ao

conceito de conscientizaccedilatildeo que se refere ao processo onde os indiviacuteduos passam a

compreender a realidade social que molda suas vidas bem como a capacidade que

possuem de transformar tal realidade (ALENCAR 2001) vencendo o que Freire

(1976) chama de ldquocultura do silecircnciordquo

Na cultura do silecircncio os indiviacuteduos dependentes ou dominados acham-se

semimudos ou mudos ou seja satildeo proibidos de participar criativamente na

transformaccedilatildeo da sociedade e por conseguinte proibidos de ser (Freire 1976) Esta

cultura do silecircncio eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia do

dominado com o dominador

A liberdade e oportunidade de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos nos niacuteveis

propostos em Bordenave (1983) portanto vatildeo depender de que seja superado a

ldquocultura do silecircnciordquo e que a estrutura da organizaccedilatildeo em que os indiviacuteduos se

associam utilize pelos seus teacutecnicos a intervenccedilatildeo de caraacuteter educativo a fim de

identificar juntos as limitaccedilotildees necessidades e expectativas de todosEntretanto os

dirigentes que estatildeo conduzindo a organizaccedilatildeo devem aceitar e desejar que essa

mudanccedila ocorra

Alencar (2001) mostra que a superaccedilatildeo da cultura do silecircncio estaacute

relacionada ao processo de constituiccedilatildeo da autoconfianccedila que eacute um conceito

definido por Galtung (1980) Segundo este autor autoconfianccedila eacute um processo em

que para construccedilatildeo de novas formas de interaccedilatildeo social deve-se destruir as

velhas formas de interaccedilatildeo iniciando novos padrotildees de cooperaccedilatildeo com a

destruiccedilatildeo do centro de monopoacutelio da interaccedilatildeo e das organizaccedilotildees

A autoconfianccedila eacute assim uma caracteriacutestica que as pessoas apresentam em

seu comportamento individual que transfere ao grupo e lhes daacute a capacidade de

negociaccedilatildeo e de reivindicaccedilatildeo Eacute a auto-expressatildeo sugerida em Bordenave (2003)

Portanto conforme estes autores a liberdade individual fundamenta a participaccedilatildeo eacute

um meio em que se consegue resolver problemas que ao indiviacuteduo parecem

insoluacuteveis se contar soacute com suas proacuteprias forccedilas

58

Neste ponto de vista o cooperativismo eacute uma forma de expressatildeo da

participaccedilatildeo Uma cooperativa eacute formalmente definida como uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees e

necessidades econocircmicas sociais e culturais comuns Se baseiam em valores de

ajuda muacutetua responsabilidade democracia igualdade e solidariedade Deste modo

com esta ideologia formaram-se diferentes estruturas de organizaccedilotildees

cooperativas em certos casos grandes e complexas Entretanto as prioridades e

objetivos nessas organizaccedilotildees nem sempre satildeo direcionados agraves necessidades da

maioria de seus membros Todavia esses associados podem por si mesmos

munidos de autoconfianccedila criar oportunidades para assegurar sua participaccedilatildeo em

diferentes niacuteveis na organizaccedilatildeo Natildeo menos do que fazer valer o princiacutepio da auto

gestatildeo

322 A Participaccedilatildeo em cooperativas

O cooperativismo tem como princiacutepio a proposta do mais elevado niacutevel de

participaccedilatildeo conforme descriccedilotildees de Bordenave (2003) ateacute atingir a auto gestatildeo

Deste modo os valores do cooperativismo se materializariam agrave medida que a

organizaccedilatildeo conseguisse incluir participativamente os soacutecios dotando-os de

informaccedilotildees e permitindo interaccedilotildees no planejamento das accedilotildees e na tomada de

decisotildees

Geralmente a discussatildeo em torno da participaccedilatildeo de associados em

organizaccedilotildees cooperativas natildeo mostra operacionalmente como se efetiva a praacutetica

participativa Schneider (1999) Alencar (2001) e Perius (1983) aprofundaram um

pouco mais nesse assunto levantando importantes consideraccedilotildees sobre a conduccedilatildeo

da participaccedilatildeo no processo de desenvolvimento acompanhamento e fiscalizaccedilatildeo

da organizaccedilatildeo cooperativa pelos seus associados

Embora os princiacutepios norteiem a conduccedilatildeo do cooperativismo cada

organizaccedilatildeo cooperativa manteacutem caracteriacutesticas proacuteprias no seu processo de

gestatildeo que satildeo regulamentadas pelos seus estatutos sociais Formalmente a

participaccedilatildeo nas decisotildees em cooperativas brasileiras eacute absolutamente igualitaacuteria

ou seja todo associado tem direito a um voto independente do volume de produccedilatildeo

ou serviccedilos prestados agrave cooperativa Neste caso a participaccedilatildeo oficial dos soacutecios

estaacute apoiada na Lei 5764 do cooperativismo que estabelece as diretrizes gerais e

59

por sua vez tem suas bases convergentes com as normas da ACI Deste modo

todos os associados participam da gestatildeo representados pelos membros que

compotildeem os oacutergatildeos de administraccedilatildeo fiscalizaccedilatildeo ou do comitecirc educativo

(SESCOOP 2008) Esses representantes satildeo eleitos pelos demais soacutecios que

participam anualmente das Assembleacuteias Gerais onde se concretizam as decisotildees

mais importantes em cooperativas Pela lei do cooperativismo brasileiro os oacutergatildeos

de gestatildeo se organizam da seguinte maneira

Art 47 - A sociedade seraacute administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administraccedilatildeo composto exclusivamente de associados eleitos pela Assembleacuteia Geral com mandato nunca superior a 4 (quatro) anos sendo obrigatoacuteria a renovaccedilatildeo de no miacutenimo 13 (um terccedilo) do Conselho de Administraccedilatildeo

Art 56 - A administraccedilatildeo da sociedade seraacute fiscalizada assiacutedua e minuciosamente por um Conselho Fiscal constituiacutedo de 3 (trecircs) membros efetivos e 3 (trecircs) suplentes todos associados eleitos anualmente pela Assembleacuteia Geral sendo permitida apenas a reeleiccedilatildeo de 13 (um terccedilo) dos seus componentes (OCB 2007 p1)

No trabalho sobre o cooperativismo de leite em diferentes paiacuteses Martins et

alli (2004) retratam experiecircncias de sucesso e descrevem a dinacircmica do processo

de participaccedilatildeo de produtores na gestatildeo dessas cooperativas No exemplo da

Fonterra na Nova Zelacircndia para eleiccedilatildeo do Corpo de Diretores os produtores

recebem uma ceacutedula pelos correios juntamente com um viacutedeo que conteacutem o

curriculum vitae e as propostas dos candidatos O sistema adotado requer que os

cooperados ordenem suas preferecircncias entre os onze candidatos inscritos de um a

onze Neste caso entendem que eacute melhor ordenar do que votar em apenas um A

regra eleitoral nesta cooperativa eacute de que cada produtor recebe uma ceacutedula para

cada uma tonelada de leite soacutelido produzido ao longo de um ano O espaccedilo de

representaccedilatildeo dos produtores eacute o Conselho de Acionistas que consiste de 45

representantes Neste caso cada membro representa um setor previamente definido

conforme a localizaccedilatildeo em todo o paiacutes Deste modo nesta cooperativa o nuacutemero de

votos por associado para participaccedilatildeo nas decisotildees da cooperativa eacute proporcional

ao volume de produccedilatildeo Esse meacutetodo jaacute eacute comum em cooperativas de produccedilatildeo

A DFA ndash Cooperativa Dairy Farmers of Ameacuterica fruto da fusatildeo de quatro

cooperativas americanas conta com 24124 cooperados Segundo Martins et alli

(2004) os interesses dos cooperados satildeo representados por meio de trecircs canais na

seleccedilatildeo do representante no Conselho Regional na reuniatildeo anual e indiretamente

na escolha do Conselho de Diretores O Conselho de Diretores eacute formado por 51

60

produtores eleitos entre seus pares por um mandato de dois anos Este conselho

tem a finalidade de estabelecer as grandes linhas diretivas da companhia definem

as poliacuteticas de governanccedila os rumos a serem seguidos a estrutura financeira o

orccedilamento e as prioridades de novos investimentos A este conselho estatildeo

vinculados seis Comitecircs de orccedilamento de mercado fluido de valor agregado de

auditoria e o de relaccedilotildees governamentais Desta forma estatildeo representados os

interesses dos cooperados localizados em sete regiotildees geograacuteficas diferentes dos

Estados Unidos Os encontros anuais ocorrem no Foacuterum para tomada das grandes

decisotildees da Cooperativa Conforme Martins et alii (2004) no uacuteltimo Foacuterum realizado

foi registrada a participaccedilatildeo de 1150 produtores entre delegados eleitos diretores

liacutederes de conselhos regionais e convidados Como se verifica o cooperado

participa de um processo do tipo democracia representativa

Em outra cooperativa a Campina Melkunie localizada nos Paiacuteses Baixos

tem como associados 6823 produtores e espacialmente distribuiacutedos num percentual

de 75 residentes na Holanda 24 na Alemanha e o restante (1) na Beacutelgica

Conforme Martins et alii (2004) satildeo eleitos soacutecio-representantes que integram o

Comitecirc de Departamentos e representantes no Conselho dos Membros Todos os

soacutecios pertencem a um departamento regional e se reuacutenem duas vezes por ano

quando satildeo discutidas questotildees relevantes da cooperativa A cada trecircs anos haacute

eleiccedilatildeo e o nuacutemero de membros de um departamento depende do volume de leite

produzido em cada departamento O direito de voto para cada cooperado estaacute

baseado no volume de leite que este entrega nesta cooperativa Desta forma a

participaccedilatildeo do associado estaacute condicionada tambeacutem ao volume de produccedilatildeo tanto

individual quanto da regiatildeo (departamento) em que o produtor estaacute localizado Essas diferentes cooperativas tecircm em comum um grande nuacutemero de

associados e uma estrutura complexa de gestatildeo em que os produtores estatildeo

distantes espacialmente dos dirigentes Portanto essa estrutura requer alto niacutevel de

organizaccedilatildeo e aacutegeis canais de comunicaccedilatildeo pois caso seja diferente natildeo seria

possiacutevel que os associados acompanhassem as accedilotildees dessas cooperativas

Em se tratando de organizaccedilatildeo cooperativa Schneider (1999) apresenta a

concepccedilatildeo de que participaccedilatildeo natildeo se mede somente por criteacuterios quantitativos

como taxas de presenccedila em assembleacuteias eleiccedilatildeo dos dirigentes e em registros de

utilizaccedilatildeo de serviccedilos Para este autor deve-se complementar com outros

61

indicadores pois a participaccedilatildeo do soacutecio natildeo se limita ao voto Esta deve se dar

tambeacutem na esfera estrateacutegica das accedilotildees e na formulaccedilatildeo de proposiccedilotildees

Schneider (1999) sugere como novas formas de participaccedilatildeo nas etapas

anterior e posterior agrave tomada de decisotildees a organizaccedilatildeo de pequenos grupos

locais setoriais profissionais ou por tipo de produccedilatildeo O autor acredita que os

pequenos grupos apresentam vantagens para uma participaccedilatildeo mais efetiva nas

reuniotildees o que estaacute em sintonia com os argumentos de Olson (1999) Deste modo

Schneider (1999) mostra as vantagens dos pequenos grupos no fomento agrave

participaccedilatildeo

Permite atividades conduzidas mais informalmente predominam as relaccedilotildees pessoais que envolvem a totalidade da pessoa na interaccedilatildeo haacute maior controle social reciacuteproco entre eles constrangendo os indecisos ou pouco motivados a comparecer haacute a possibilidade de dimensionar as atividades e os planos da cooperativa em acircmbito local e o encaminhamento agrave direccedilatildeo de propostas mais realistas e efetivamente adequadas agraves peculiaridades e agraves carecircncias de cada localidade surgem oportunidades de cooperaccedilatildeo desconhecidas na cuacutepula da grande organizaccedilatildeo cooperativa melhorando e inovando a capacidade produtiva (SCHNEIDER 1999 p 241-242)

Deste modo Schneider (1999) conseguiu mostrar de forma concisa as

caracteriacutesticas positivas do comportamento de associados quando organizados em

comitecircs ou pequenos nuacutecleos De certa forma isso ilustra tambeacutem indiviacuteduos com

autonomia de participaccedilatildeo e autoconfianccedila desenvolvida Ao mesmo tempo mostra

a relaccedilatildeo de auto-coerccedilatildeo que se desenvolve no grupo Quando isso acontece

mesmo em grandes cooperativas eacute de se esperar que por meio dos nuacutecleos as

pessoas consigam influenciar no planejamento de accedilotildees para a organizaccedilatildeo com

suas opiniotildees Essa forma de conduzir portanto teraacute como resultado maiores

possibilidades de que o consenso entre os participantes da organizaccedilatildeo tanto

dirigentes quanto os outros membros esteja mais proacuteximo do que o dissenso em

relaccedilatildeo agraves propostas que surgem quando satildeo elaboradas somente pela direccedilatildeo

Outra forma de participaccedilatildeo de associados deve se dar tambeacutem no controle e

acompanhamento da execuccedilatildeo das decisotildees tomadas Isso requer uma atuaccedilatildeo

constante No entanto a dinacircmica operacional da estrutura empresarial de uma

cooperativa natildeo permite que os mecanismos de controle e acompanhamento sigam

no mesmo ritmo A especializaccedilatildeo proacutepria das necessidades da cooperativa exige

da fiscalizaccedilatildeo igual niacutevel de especializaccedilatildeo de associados que se interesse em

atuar nesse aspecto da participaccedilatildeo Essa especializaccedilatildeo entretanto eacute pouco

encontrada na maior parte do quadro de associados Essa loacutegica eacute confirmada

62

tambeacutem por Lickert citado em Schneider (1999) ao dizer que a participaccedilatildeo exige

uma estrutura apropriada e habilidades das quais a maioria da populaccedilatildeo carece

Uma variaacutevel ainda observada em Schneider (1999) que influi na participaccedilatildeo

cooperativa e convergente com a opiniatildeo de Olson (1999) foi identificar fatores

psicoloacutegicos que influenciam na decisatildeo de participar Para Schneider (1983) o

prestiacutegio percebido na cooperativa expressa o significado emocional de participar

coletivamente ao se comparar com outras organizaccedilotildees Por outro lado participar

dessas organizaccedilotildees por si cria tensotildees especialmente porque exige

comparativamente um alto niacutevel de racionalidade de disciplina e neutralidade

afetiva o que depende de fatores comportamentais agraves vezes conflitantes para os

indiviacuteduos

As possibilidades acerca de participaccedilatildeo e potencialidades do indiviacuteduo em

ldquotransformaccedilatildeordquo quando este se torna um ser livre e autoconfiante satildeo indicadores

de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos seja em cooperativa ou em outra forma de accedilatildeo

coletiva

Conforme mostrado na literatura acerca dessa temaacutetica bem como na

demonstraccedilatildeo das praacuteticas de participaccedilatildeo em cooperativas conforme as

complexas formas de gestatildeo adotadas por essas organizaccedilotildees a participaccedilatildeo de

produtores nestess modelos deve ser cuidadosamente pensada e acompanhada

para que a proposta hochdaleana da auto gestatildeo e participaccedilatildeo natildeo fique somente

na origem ideoloacutegica desse movimento Portanto como pode ser observado eacute

importante considerar que a participaccedilatildeo se efetiva num processo com diversas

etapas que exigem estrateacutegias e modo de participar diferentes

333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo

Os benefiacutecios da participaccedilatildeo satildeo inquestionaacuteveis mas natildeo se pode esperar

que em absolutamente todas as organizaccedilotildees consiga-se ter essa praacutetica com a

mesma efetividade Assim como visto estas tecircm formas distintas e agraves vezes

contraditoacuterias de serem conduzidas Por essa razatildeo continuando a reflexatildeo sobre

participaccedilatildeo eacute oportuno mostrar os riscos de tratar esse tema sem entender os

possiacuteveis desvios que podem ocorrer na praacutetica da utilizaccedilatildeo desse princiacutepio

democraacutetico na autogestatildeo cooperativa

63

Bordenave (1983) expressou a potencialidade da participaccedilatildeo mas

demonstra tambeacutem que haacute risco de ter seu sentido esvaziado antes de sua

contribuiccedilatildeo para a democracia verdadeira Amodeo (2007) baseada numa

conferecircncia realizada na universidade de Manchester Inglaterra com o tema ldquoa

tirania da participaccedilatildeordquo apresenta questotildees relevantes discutidas no evento para

chamar a atenccedilatildeo sobre as formas de utilizaccedilatildeo do discurso da participaccedilatildeo em

praacuteticas diversas e distantes do seu real significado

O discurso da participaccedilatildeo estaria sendo utilizado para agendas poliacuteticas distintas estaria impondo relaccedilotildees de poder em vez de as eliminar ao transformar a participaccedilatildeo numa simples aplicaccedilatildeo de tecnologias sociais estaria sendo negligenciado quando restringido agraves escalas locais esquecendo seus viacutenculos com processo e institucionalidades mais amplas estaria encobrindo o fato da participaccedilatildeo natildeo ser uma panaceacuteia e apresentar as suas proacuteprias tensotildees praacuteticas e teoacutericas (KESBY 2005 CITADO EM AMODEO 2007 P56)

Sabendo-se de formas contraditoacuterias que se pode usar a participaccedilatildeo tem-se

aqui o cuidado de natildeo sombrear toda potencialidade que existe nessa forma de

interagir Conforme Amodeo (2007) qualificar a participaccedilatildeo como tirania eacute um ato

chocante aos atores vinculados ao mundo da participaccedilatildeo tanto quando existe uma

visatildeo romacircntica dos processos participativos quanto quando existe a necessidade

de validaccedilatildeo poliacutetica da participaccedilatildeo

Portanto ao se questionar as formas de participaccedilatildeo e suas reais

consequumlecircncias conforme mostra Amodeo (2007) existe o perigo de ser mal

interpretado como se propusesse o retorno a modelos de dominaccedilatildeo conquanto

essa discussatildeo eacute uacutetil para fazer uma anaacutelise criacutetica e consciente para separar o

discurso da praacutetica

Para Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) as ldquotiraniasrdquo

identificadas no estudo tinham trecircs origens principais as derivadas da tomada de

decisotildees e do controle a tirania do grupo e a tirania como meacutetodo Assim estes

autores as definiram

a) As tiranias derivadas da tomada de decisotildees e do controle tentavam ser resumidas nesta pergunta ldquoos facilitadores da participaccedilatildeo deixam de lado os processos existentes e os processos legiacutetimos de tomada de decisotildeesrdquo () haacute uma tendecircncia verificada de promoccedilatildeo da legitimidade de determinados processos de intervenccedilatildeo com o consequumlente cumprimento de determinadas agendas e objetivos especiacuteficos desconhecendo as instacircncias e interesses genuinamente locais b) No argumento da tirania do grupo questionava se a dinacircmica dos grupos faria com que as decisotildees participativas reforccedilassem os interesses dos que jaacute eram poderosos O principal argumento criacutetico satildeo as falhas dos processos participativos em lidar com as desigualdades internas agraves comunidades tendendo muitas vezes a reforccedilar as relaccedilotildees de poder preexistentes

64

c) por fim a conclusiva da tirania do meacutetodo eacute que agrave medida que as relaccedilotildees de poder internas a comunidade natildeo sofrem transformaccedilotildees draacutesticas aqueles tradicionalmente excluiacutedos dos possessos de decisatildeo e controle ficam deslegitimados de participar dos benefiacutecios dos processos participativos jaacute que eles seratildeo dominados pelos grupos que tradicionalmente deteacutem mais poder (AMODEO 2007 p57-58)

Essas evidecircncias portanto satildeo orientadoras para se ter o cuidado de

ldquoenfrentar as encruzilhadas e armadilhasrdquo que o processo participativo pode

apresentar a fim de evitar que as propostas da participaccedilatildeo fiquem restritas ao

discurso As observaccedilotildees registradas pelos autores procedem com loacutegica aos

argumentos tratados na teoria da escolha racional pois concatenam com o

comportamento de indiviacuteduos em grupos latentes ou heterogecircneos Nesse caso o

fato de que em grupos grandes a contribuiccedilatildeo de um indiviacuteduo natildeo seja percebida

pelos demais membros da accedilatildeo coletiva a possibilidade de ocorrer tambeacutem uma

sobre-exploraccedilatildeo se eleva De outro modo os argumentos satildeo coerentes com os

riscos de que a proposta de auto-gestatildeo quando natildeo se tem o grupo homogecircneo

pode ficar no discurso

Outras distorccedilotildees sobre o processo participativo apresentadas no mesmo

estudo registrado por Amodeo (2007) mostraram tambeacutem que os ideais da

participaccedilatildeo podem ser constrangidos por metas burocraacuteticas formais ou informais

propostas por contextos institucionais De modo diferente os sentimentos

pensamentos e comportamentos das pessoas satildeo influenciados pela presenccedila real

imaginaacuteria ou impliacutecita dos outros membros do grupo Ainda observaram que os

processos participativos podem levar as pessoas a tomar decisotildees coletivas que

apresentam mais riscos do que as que teriam tomado individualmente

Todos esses argumentos se aproximam das evidecircncias encontradas na tese

de Olson (1999) sobre o comportamento dos indiviacuteduos Portanto do ponto de vista

do cooperativismo essas reflexotildees satildeo importantes orientaccedilotildees para se resguardar

e impedir que os ldquofenocircmenos tiranosrdquo identificados em processos de participaccedilatildeo

sejam reconhecidos e cuidadosamente tratados para natildeo contrariar os princiacutepios da

doutrina cooperativista Pois estes princiacutepios unificam as organizaccedilotildees cooperativas

sem considerar possiacuteveis desvios como os apresentados nesta etapa da pesquisa

Outro ponto eacute que se as caracteriacutesticas do perfil do ldquohomus cooperativusrdquo (Pinho

1983) fossem comum na grande maioria dos membros associados o

comportamento destes se apresentaria favoravelmente coercitivo para inibir os

65

ldquofenocircmenos tiranos da participaccedilatildeordquo Ou concomitante a isso os princiacutepios do

cooperativismo seriam suficientes para garantir que esses fenocircmenos natildeo

ocorressem em cooperativas

Diante do exposto os dilemas de accedilatildeo coletiva apresentados por Olson

(1999) ocorrem porque natildeo se tem certeza de como o indiviacuteduo iraacute se comportar

uma vez que a natureza da cooperaccedilatildeo humana ainda natildeo foi devidamente

compreendida Entatildeo como saber como as pessoas vatildeo agir Quando se tem um

ambiente de elevado capital social as relaccedilotildees de confianccedila muacutetua favorecem as

interaccedilotildees e haacute uma menor incidecircncia de conflitos Essa perspectiva seraacute tratada na

seccedilatildeo seguinte

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema

A formaccedilatildeo de capital social tem na cooperaccedilatildeo um dos elementos primaacuterios

que influenciam o fortalecimento de accedilotildees coletivas Correa (2003) mostra que

regiotildees dotadas de elevados iacutendices de capital social estariam assim propensas agrave

cooperaccedilatildeo e participaccedilatildeo o que facilitaria a articulaccedilatildeo entre os diferentes atores

sociais Este fortaleceria a coesatildeo da comunidade melhoraria a qualidade das

decisotildees e facilitaria o alcance dos objetivos de interesse comum Do mesmo modo

conforme Colleman citado em Correa (2003) o capital social seria tambeacutem uma

resposta aos desafios da sociedade moderna sobreposto ao comportamento

individualista em que cada um age para alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

Todos os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais que se formam numa comunidade

contribuem para fortalecer o capital social Deste modo para Bueno (2004) as

soluccedilotildees cooperativas que uma sociedade alcanccedila formam um ldquoestoquerdquo de capital

social no sentido de que essas soluccedilotildees ao gerar confianccedila inter-pessoal agem

como um insumo na produccedilatildeo sem o qual muitos empreendimentos coletivos natildeo

podem ser realizados Deste modo capital social conforme Bialoskorski Neto

(2001) poderia ser mensurado como uma eficaacutecia do coletivo

Para tanto a consecuccedilatildeo desse capital requer a participaccedilatildeo da comunidade

Nesse sentido Putnan (1996) por sua vez mostra que o capital social eacute um

elemento decisivo do desenvolvimento Este seria o grande responsaacutevel por incutir

nos seus membros haacutebitos de cooperaccedilatildeo solidariedade e espiacuterito puacuteblico

66

Entatildeo dentre outras definiccedilotildees sobre capital social Putnan (2002) inclui as

redes e normas que orientam accedilotildees coletivas a partir do grau de confianccedila que

pessoas de uma determinada regiatildeo tecircm nos resultados coletivos que se obtecircm a

partir da cooperaccedilatildeo Assim o autor o define capital social

Caracteriacutesticas da organizaccedilatildeo social como confianccedila normas e sistemas que contribuam para aumentar a eficiecircncia da sociedade facilitando as accedilotildees coordenadas na referecircncia de Ostron ldquoassim como outras formas de capital o capital social eacute produtivo possibilitando a realizaccedilatildeo de certos objetivos que seriam inalcanccedilaacuteveis se ele natildeo existisserdquo (PUTNAN 1996 P177)

Hirshman citado em Arauacutejo (2003) se refere a capital social no sentido de que

este aumenta dependendo da intensidade do seu uso Para este autor praticar

cooperaccedilatildeo e confianccedila produz mais cooperaccedilatildeo e confianccedila e logo mais

prosperidade corroborando a formaccedilatildeo de um ldquoestoquerdquo como se referiu Bueno

(2004) Deste modo as sociedades fortes em capital social natildeo geram apenas

riqueza geram tambeacutem sentimentos de igualdade de justiccedila de bem comum O

crescimento econocircmico viria acompanhado de bens sociais direcionados para o

bem das pessoas e natildeo para o aumento da riqueza como um fim em si mesmo

Fukuyama citado em Arauacutejo (2003 ) acrescenta que satildeo os viacutenculos sociais

baseados no enraizamento no local em que as relaccedilotildees comerciais satildeo

fundamentadas na confianccedila e nas interaccedilotildees do dia a dia

Maciel (2003) distingue duas tendecircncias na literatura sobre capital social a

primeira de ordem socioloacutegica usando o argumento de que a confianccedila eacute produto de

padrotildees histoacutericos de longo prazo de associativismo engajamento ciacutevico e

interaccedilotildees extra familiares De outro modo a autora apresenta a natureza

econocircmica do capital social ao enfatizar que haacute o interesse proacuteprio de longo prazo

no caacutelculo de custos e benefiacutecios por atores maximizadores de ganhos por meio da

promoccedilatildeo de comportamento de confianccedila

No primeiro caso para a autora a confianccedila eacute sinocircnimo de amizade e na

tendecircncia econocircmica as relaccedilotildees de confianccedila reciprocidade e cooperaccedilatildeo satildeo

vistas para estreitar relaccedilotildees entre agentes e melhorar eficiecircncia econocircmica Neste

caso reforccedila-se o argumento de que mesmo em paiacuteses de economia mais

avanccedilada o mercado precisa ser complementado por relaccedilotildees natildeo mercantis

Entretanto Maciel (2003) observa que o conceito de capital social ou confianccedila soacute

teraacute maior capacidade explicativa para o ecircxito das iniciativas produtivas se sua

definiccedilatildeo for independente do resultado Deste modo a autora critica a visatildeo

67

instrumentalista de capital social como meio de se obter resultados econocircmicos

Mas se haacute uma visatildeo geral de que nas relaccedilotildees de fins econocircmicos existem outras

motivaccedilotildees natildeo econocircmicas que satildeo incentivos para os indiviacuteduos estas

motivaccedilotildees natildeo deveriam ser restritivas no conjunto das variaacuteveis que formam o

capital social nem mesmo censurar o sucesso econocircmico como resultado desse

capital O inverso tambeacutem poderia ocorrer Nas relaccedilotildees comerciais onde as

interaccedilotildees tendem a se repetir cria-se uma relaccedilatildeo de confianccedila e aiacute pode emergir

capital social Entatildeo este pode ser tanto meio quanto fim entre as instituiccedilotildees das

relaccedilotildees econocircmicas

Outra discussatildeo em torno de capital social estaacute vinculada agrave ambiguumlidade de

que ele pode ser criado ou natildeo Para Bueno (2002) e Araujo (2003) embora a

criaccedilatildeo de capital social pareccedila ser de fato um processo lento a adaptaccedilatildeo de

capital social jaacute existente para outros fins pode ser feita em periacuteodos de tempo bem

mais curtos e a principal forma de fazer essa adaptaccedilatildeo eacute mediante a participaccedilatildeo

dos indiviacuteduos pertencentes agrave comunidade Entretanto para esses autores

corroborando Putnam (2002) as tradiccedilotildees ciacutevicas capital social e praacuteticas

colaborativas por si soacute natildeo desencadeiam o progresso econocircmico Elas entretanto

se constituiriam em elementos importantes para as regiotildees enfrentarem e se

adaptarem aos desafios e oportunidades da realidade presente e futura O capital

social portanto favorece o desenvolvimento poreacutem natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para

que ele ocorra

Outra observaccedilatildeo pertinente eacute que mudanccedilas favoraacuteveis ao capital social

podem ser apresentadas em menor tempo Nesse tocante Putnam (2002) deu iniacutecio

a uma reflexatildeo sobre a influecircncia de haacutebitos culturais e valores na poacutes-modernidade

seus impactos sobre a democracia e possiacuteveis reflexos sobre a comunidade ciacutevica

de seu paiacutes Isso sustenta a observaccedilatildeo de que mudanccedilas desta natureza podem

influenciar ou natildeo na confianccedila muacutetua e participaccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas

respectivas accedilotildees coletivas

Putnam (2002) e Fukuyama (1996) citado em Arauacutejo (2003) enfatizam o

papel da confianccedila para a prosperidade de uma naccedilatildeo Para ambos confianccedila e a

expectativa de reciprocidade que pessoas de uma comunidade tecircm acerca do

comportamento dos outros baseada em normas partilhadas eacute a base para o capital

social De modo contraacuterio Putnan (1996) observa que o clima de desconfianccedila

68

muacutetua generalizada e ausecircncia de compromisso para com o bem puacuteblico inviabiliza

natildeo soacute a democracia como tambeacutem o desenvolvimento econocircmico Ambos os

modos portanto pautam na confianccedila a criaccedilatildeo do outro elemento que influencia o

desenvolvimento econocircmico e social das comunidades que eacute a cooperaccedilatildeo

Conforme Lynn Smith citado em Pinho (1966) haacute diversos tipos de cooperaccedilatildeo

Gradaccedilotildees que vatildeo das reaccedilotildees espontacircneas de ajuda - muacutetua tiacutepica sobretudo dos grupos primaacuterios considerada natildeo-contratual que ocorre entre vizinhos em busca de determinado fim sem que haja qualquer acordo sobre a maneira de prestaccedilatildeo desse auxiacutelio e entre ajuda contratual ou formal representada pelas cooperativas sindicatos sociedades por accedilotildees e outras que atuam de acordo com normas regulamentares previamente elaboradas pelos associados (PINHO 1966 P44)

Portanto a dinacircmica da construccedilatildeo e aumento do capital social ou o

contraacuterio estatildeo diretamente relacionados agrave capacidade ou incapacidade de

cooperar e de confiar

No cooperativismo a observaccedilatildeo desses dois aspectos satildeo premissas que

datildeo sustentaccedilatildeo agrave efetividade dessas organizaccedilotildees Para Taylor citado em Aguiar

(1991) a cooperaccedilatildeo individual sempre se daacute nas seguintes condiccedilotildees

a) que as opccedilotildees individuais sejam limitadas b) que os incentivos seletivos restringidos estejam bem definidos evidentes e sejam sustentados c) que se obtenha maior benefiacutecio e menor custo mediante o curso de accedilatildeo eleito do que com outras possibilidades d) que o marco de eleiccedilatildeo natildeo seja completamente novo senatildeo que se haja ocorrido anteriormente muitas situaccedilotildees similares (TAYLOR citado em AGUIAR 1991 P31)

Diante dessas exposiccedilotildees se identifica no relato da OCB (2007) que a origem

do desenvolvimento cooperativista no paiacutes se deve agrave presenccedila de fortes indiacutecios de

capital social nas comunidades de imigrantes e em relaccedilotildees horizontais

Os imigrantes trouxeram de seus paiacuteses de origem a bagagem cultural o trabalho associativo e a experiecircncia de atividades familiares comunitaacuterias que os motivaram a organizar-se em cooperativas A histoacuteria relata que os problemas de comunicaccedilatildeo adaptaccedilatildeo agrave nova cultura carecircncia de estradas e de escolas e discriminaccedilatildeo racial criaram entre eles laccedilos de coesatildeo resultando no nascimento de sociedades culturais e agriacutecolas Assim fundaram suas proacuteprias escolas e igrejas e iniciaram atividades de caraacuteter cooperativo como mutiratildeo para o preparo de solo construccedilatildeo de galpotildees casas colheitas (OCB 2007)

Essas evidecircncias estatildeo tambeacutem em Riedl e Vogt (2003) ao mostrarem no

histoacuterico do cooperativismo que os imigrantes e seus descendentes motivados pela

necessidade tiveram que cooperar para resolver os problemas comuns Neste

aspecto eacute constatada uma relaccedilatildeo onde se formaram redes horizontais de

cooperaccedilatildeo que satildeo a base do capital social Entretanto o desenvolvimento do

cooperativismo em outras regiotildees natildeo se deu da mesma forma no nordeste por

69

exemplo surgiu para as elites poderem controlar as cooperativas que foram

escolhidas pelos governos como mediadoras na aplicaccedilatildeo das poliacuteticas agriacutecolas

dessa forma elas reproduzem internamente as relaccedilotildees de poder daquela

sociedade

Em meio a essas contradiccedilotildees a filosofia do cooperativismo eacute convergente agrave

formaccedilatildeo de capital social tendo em vista que as cooperativas satildeo agentes de

desenvolvimento da regiatildeo em que satildeo formadas e por atuarem em um espaccedilo

delimitado pela rede estabelecida entre os cooperados Essa caracteriacutestica do

cooperativismo conforme Salanek Filho e Silva (2003) eacute determinada porque o

acesso de uma pessoa a um sistema cooperativo torna-a tambeacutem um agente

participante desse desenvolvimento tanto por sua capacidade de articulaccedilatildeo e de

influecircncia quanto pela forma como interage com os demais cooperados Nesse

caso conforme esses autores a interaccedilatildeo confianccedila definiccedilatildeo de objetivos comuns

e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees fundamentais para compreender o

processo cooperativista e a importacircncia relativa do capital social para o

desenvolvimento do local onde essas organizaccedilotildees se formam Reciprocamente

onde haacute capital social desenvolvido haacute facilidade de se formar associaccedilotildees

Os benefiacutecios da confianccedila capital social e cooperaccedilatildeo podem ser

considerados instrumentos de sustentaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Embora o conceito

de capital social tenha sido tratado muito depois de Owen essas premissas jaacute

estavam na impliacutecitas na sua proposta quando articulou sobre o cooperativismo

Portanto dentre importantes contribuiccedilotildees de diferentes correntes teoacutericas

conforme Carneiro (1981) talvez a maior delas tenha sido de Robert Owen

talvez a mais importante liccedilatildeo comunitaacuteria na sociedade moderna advenha da experiecircncia owenista onde se tentou conciliar o incentivo individual com uma eficiente decisatildeo no processo democraacutetico deste modo a sociedade para Owen deveria ser implantada para os fins da cooperaccedilatildeo (CARNEIRO 1981 P69)

Com esse pensamento instituiu-se o princiacutepio da co-operation na sua

idealizaccedilatildeo que se transformou no principal elemento da doutrina cooperativista

Para Owen a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo

importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos de

sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO1981) Esses

condicionamentos referidos por Owen seriam as sensaccedilotildees percepccedilotildees e os

conhecimentos que na sua visatildeo criam o motivo de accedilatildeo chamado vontade a qual

estimula o homem a agir e decidir suas accedilotildees

70

Carneiro (1981) evidencia ainda que Owen aguardava ardentemente a

reforma da sociedade e sua grande proposta de co-operaccedilatildeo estava subordinada a

novos conceitos de educaccedilatildeo psicologia e eacutetica social Na sua concepccedilatildeo o

comportamento do homem seria definido por um composto cujo caraacuteter eacute formado

por sua constituiccedilatildeo ou formaccedilatildeo durante o nascimento e pelo efeito das

circunstacircncias externas desde o nascimento ateacute a morte Essas determinantes

continuam sendo discutidas pelos pesquisadores das ciecircncias sociais e muitos

deles corroboram que o comportamento dos indiviacuteduos eacute influenciado pelo meio e

este resulta das relaccedilotildees entre os pares Essa afirmativa exposta por Owen citada

em Carneiro (1981) eacute tambeacutem presente em Arauacutejo (2003) Putnan (2002) e Douglas

(1998) embora de forma diferente foi descartado por Olson (1999) e Elster (1994)

entre outros autores que discutem o comportamento social

Talvez essas prerrogativas justifiquem e ao mesmo tempo mostrem todo o

creacutedito que deve ser depositado agrave importacircncia e necessidade de fortalecimento do

cooperativismo com os dilemas aqui apresentados inibidos pela interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos nas premissas que se formam o capital social Pois nenhuma outra forma

de organizaccedilatildeo da economia foi proposta para substituir o modelo do cooperativismo

que ao longo de mais de um seacuteculo vem resistindo a diferentes mudanccedilas

ocorridas na sociedade

Dumont (2005) indica que a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das

outras civilizaccedilotildees e culturas Portanto eacute importante observar as necessidades de

correccedilotildees ponderando as particularidades de cada lugar

Natildeo haacute uma configuraccedilatildeo comum de ideacuteias e valores existe uma continuidade histoacuterica e intercomunicaccedilatildeo - e de outra ndash a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das outras civilizaccedilotildees e culturas As ideacuteias ou categorias de pensamento especificamente modernas aplicavam-se mal agraves outras sociedades Portanto eacute interessante estudar o nascimento o lugar ou funccedilatildeo dessas categorias que o autor se refere ao indiviacuteduo agrave poliacutetica e agrave moralidade para apurar como ela se diferencia e finalmente que papel desempenha na configuraccedilatildeo global (DUMONT 1985 P22-23)

Portanto na nova ordem econocircmica os novos modelos de accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidos jaacute satildeo respostas agraves necessidades de observar o

modelo de cooperativismo para o qual evoluiacutemos Que seja de fato retomado para

uma gestatildeo da economia de forma mais solidaacuteria e justa para atender uma

populaccedilatildeo mais homogecircnea em suas reais necessidades Nesta concepccedilatildeo haacute uma

congruecircncia com Olson (1999) porque o autor considera sobretudo que os

71

indiviacuteduos faratildeo escolhas neste caso dotados de informaccedilotildees e com estiacutemulos para

que a escolha seja a melhor opccedilatildeo Deste modo ele tem que escolher

racionalmente em que modelo de organizaccedilatildeo cooperativa ele quer participar

72

4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO COOPERATIVISMO

Este capiacutetulo apresenta os resultados observaccedilotildees e percepccedilotildees obtidos

durante a pesquisa de campo sobre a participaccedilatildeo do produtor rural em

organizaccedilatildeo cooperativa Primeiramente acha-se importante expor a caracterizaccedilatildeo

do municiacutepio de Carlos Chagas onde a pesquisa foi feita pois o municiacutepio eacute

conhecido regionalmente como cidade cooperativista Entatildeo buscou-se

informaccedilotildees para entender o porquecirc desta caracteriacutestica

Em seguida uma descriccedilatildeo da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM objeto do estudo de caso Em sequumlecircncia seraacute apresentada sua

estrutura organizacional atuaccedilatildeo com os associados atuaccedilatildeo no mercado e outros

trabalhos realizados na comunidade Posteriormente seratildeo mostrados os resultados

dos questionaacuterios aplicados assim como informaccedilotildees obtidas com as entrevistas

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas

A cidade de Carlos Chagas estaacute localizada na regiatildeo nordeste do Estado de

Minas Gerais no Vale do Rio Mucuri agraves margens da BR 418 entre as rodovias BR

116 e BR 101 principais malhas viacutearias que ligam a regiatildeo norte ao sul do paiacutes

Com a chegada de imigrantes para trabalhar na construccedilatildeo da Ferrovia Bahia

Minas em meados do seacuteculo XIX originou-se a colocircnia que cem anos depois se

transformaria em municiacutepio

A colocircnia Militar do Urucu criada em 1854 para dar proteccedilatildeo aos trabalhadores da Companhia do Mucuri foi o foco inicial da colonizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas Uma leva de colonos estrangeiros se dirigiu para a Colocircnia Eram de origem belga e holandesa A colocircnia tornou-se o celeiro para o fornecimento de mantimentos para o pessoal que trabalhava na construccedilatildeo da estrada de Ferro Bahia e Minas (NOGUEIRA FILHO 1989 P6)

Figura 3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de Mangalocirc

Assim os desbravadores se encantaram pelo solo feacutertil e foram ficando Da

exploraccedilatildeo de madeiras foram-se abrindo pastagens que permitiram ao municiacutepio

desenvolver-se na pecuaacuteria e ser conhecido tambeacutem como a Capital do Boi pois

pelas caracteriacutesticas propiacutecias permitiu-se ter um dos melhores rebanhos bovinos

do Estado

Em 1938 o municiacutepio conseguiu emancipaccedilatildeo e atualmente tem a populaccedilatildeo

de 21722 habitantes com 7723 moradores na aacuterea rural (IBGE 2002) Eacute um dos

maiores municiacutepios mineiros em extensatildeo e faz parte do Territoacuterio Vale do Mucuri

mesorregiatildeo definida pelo Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel

para poliacutetica de apoio agrave agricultura familiar estabelecida pela Secretaria de

Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio (MDA)

Para melhor visualizaccedilatildeo dessa localizaccedilatildeo segue Figura 4

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas no Estado de MG

Fonte httpterritoriomucuriorg

73

74

Atualmente o municiacutepio destaca-se por ser reconhecida como Cidade

Cooperativista pois haacute grande interaccedilatildeo entre as cooperativas locais e instituiccedilotildees

puacuteblicas e privadas onde tecircm-se buscado desenvolver a cultura da cooperaccedilatildeo em

toda comunidade desde as escolas de ensino baacutesico e ensino meacutedio local Eacute

modelo na regiatildeo por essa forma de conduzir suas atividades tanto quando se

destinam ao urbano quanto ao rural

Todo trabalho realizado com essa finalidade tem tido apoio das cooperativas

locais que satildeo a Coolvam a Cooperativa de Creacutedito Rural de Carlos Chagas

(Credicar) atualmente integrada agrave rede Sistema de Creacutedito Coopeativo do Brasil

(Sicoob) e a Cooperativa Educacional de Carlos Chagas (Cooeducar) dentre outras

pequenas cooperativas juntamente com a Agecircncia de Desenvolvimento de Carlos

Chagas (Adecar) Prefeitura Municipal e o Conselho de Desenvolvimento Rural

Sustentaacutevel (CMDRS) e as associaccedilotildees comunitaacuterias rurais que tecircm sido

importantes na construccedilatildeo dessa cultura pois eacute por meio da participaccedilatildeo de seus

membros que as cooperativas estatildeo desenvolvendo trabalhos sobre a educaccedilatildeo

cooperativista Conforme o Diretor Presidente da Coolvam

Carlos Chagas eacute considerada cidade do cooperativismo quatro cooperativas da cidade que satildeo muito fortes e satildeo sem duacutevida que datildeo sustentaccedilatildeo para o municiacutepio ()Estatildeo muito ligadas ao meio rural precisa fazer uma trabalho que estaacute comeccedilando agora no meio urbano Temos trabalho jaacute comeccedilado A cooperativa de produccedilatildeo e de creacutedito participam de todo e qualquer evento ou movimento que eacute realizado na cidade participa de todas as entidades carentes (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Na cidade permite-se identificar que por essa forma de interaccedilatildeo entre esses

agentes no desenvolvimento de atividades diversas haacute uma formaccedilatildeo de capital

social que propicia o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio

42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM

A COOLVAM estaacute classificada no ramo agropecuaacuterio com sessenta anos de

atuaccedilatildeo fundada em 27 de julho do ano de 1947 por um grupo de trinta produtores

que buscavam uma maneira mais rentaacutevel para o aproveitamento do leite produzido

em suas fazendas Apoacutes vaacuterios diaacutelogos entre esses produtores realizou-se a

primeira reuniatildeo para oficializar a constituiccedilatildeo desta cooperativa

75

() Aberta a sessatildeo foi declarado pelo Sr Presidente que o fim da reuniatildeo era o de constituir uma cooperativa de responsabilidade limitada com sede em Carlos Chagas sob a denominaccedilatildeo ldquoSociedade Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucurirdquo e com o objetivo econocircmico de beneficiamento e industrializaccedilatildeo do leite (LIVRO DE ATA 1947 P1)

A histoacuteria de idealizaccedilatildeo da cooperativa foi contada pelo filho de um dos

fundadores

Meu pai era um visionaacuterio ele foi um grande empreendedor ele passou muito tempo falando de fundar uma cooperativa com os amigos por conta proacutepria ele foi a Satildeo Paulo conhecer uma cooperativa em funcionamento naquela eacutepoca

Eles reuniam sempre debaixo de uma aacutervore ldquonaquela casardquo (no momento da entrevista coincidentemente estaacutevamos proacuteximo ao local) no centro da cidade nas tardes e conversavam sobre a ideacuteia da cooperativa ( PRODUTOR 53 2008)

Percebe-se assim que havia uma motivaccedilatildeo para organizaccedilatildeo da cooperativa

pela necessidade de um meio para comercializar a produccedilatildeo jaacute naquela eacutepoca

Numa ata de eleiccedilatildeo e empossamento de presidente da cooperativa em 1963 estaacute

transcrito a fala que exprime um sentimento de responsabilidade frente agrave funccedilatildeo de

representaccedilatildeo do grupo de associados que caracteriza o objetivo da participaccedilatildeo na

lideranccedila ideal na organizaccedilatildeo cooperativa

ldquoEstando certo de que o homem natildeo pertence somente a si proacuteprio e a sua famiacutelia senatildeo que tem deveres para com a sociedade em que labuta natildeo me fiz de rogado e aceitei o pronunciamento da urna com pleno conhecimento das graves responsabilidades que iratildeo pesar sobre os meus fraacutegeis ombros em ocasiatildeo ensombrada de tantas dificuldades Entretanto supervisionarei os negoacutecios da nossa Cooperativa com a prudecircncia e criteacuterio que ateacute aqui tenho posto na gerecircncia de meus interesses privados (LIVRO DE ATA 1963)

Desde a constituiccedilatildeo e conforme conjuntura de cada eacutepoca agrave sua maneira

cada presidente eleito deixou contribuiccedilotildees para a evoluccedilatildeo da cooperativa Nos

uacuteltimos anos na busca de excelecircncia e competitividade vem se desenvolvendo e

conquistando espaccedilo junto ao mercado nacional Em 2002 recebeu o precircmio

Qualidade Ameacuterica Do Sul ndash 2002 em decorrecircncia do padratildeo de qualidade dos

produtos e serviccedilos apresentados e apoio e suporte agraves instituiccedilotildees sociais locais

Juntamente com a outorga do precircmio foi recebido o trofeacuteu Incentivo que representa

o reconhecimento puacuteblico da eficiecircncia no setor empresarial constituindo a

homenagem ao trabalho desenvolvido pela COOLVAM

No ano de 2003 por meio de pesquisa realizada entre clientes oacutergatildeos de

classe formadores de opiniatildeo e indicadores sociais a Coolvam foi aprovada para

receber o precircmio ldquoTop Of Qualityrdquo composto de trofeacuteu e diploma especial como

destaque no segmento Cooperativa de Laticiacutenios simbolizando o reconhecimento da

76

qualidade e excelecircncia em sua aacuterea de atividade e respectiva influecircncia social

Ainda no mesmo ano recebeu o precircmio Master Qualidade Ameacuterica do Sul 2003

No ano seguinte em 2004 a Coolvam foi condecorada com mais um precircmio

como destaque pelos relevantes serviccedilos prestados agrave sociedade tratando-se da

Medalha e Diploma Dr Ulisses Guimaratildees outorgados pela Ordem dos

Parlamentares do Brasil sendo que apenas 20 empresas brasileiras participam da

premiaccedilatildeo

A Coolvam ocupou em 2005 o trigeacutesimo lugar na classificaccedilatildeo por nuacutemero de

empregados diretos e 49ordm lugar por faturamento entre as 50 maiores cooperativas

no ranking da OCEMG (INFORMATIVO COOLVAM 2007) Essa classificaccedilatildeo

efetiva a dimensatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo desta cooperativa na economia do

municiacutepio e todas as outras conquistas retratam o reconhecimento do

desenvolvimento da Coolvam que tem focado as mudanccedilas de mercado buscando

parcerias de forma ativa e competitiva e conforme o Diretor Presidente ldquoprioriza as

necessidades dos associadosrdquo

421 Estrutura Organizacional

As diretrizes para funcionamento da cooperativa estatildeo no seu Estatuto social

assim definidas

Objeto social A sociedade tem por objetivo a melhoria econocircmica e social dos seus cooperados com base na participaccedilatildeo consciente e na colaboraccedilatildeo reciacuteproca a que se obrigam desenvolvendo as seguintes atividades econocircmicas

1)- Industrializaccedilatildeo de vaacuterios produtos atraveacutes do beneficiamento do leite entregue por seus cooperados e a produccedilatildeo de sal mineralizado para pecuaacuteria de corte e leiteira

2)- Comercializaccedilatildeo venda em comum de produtos in natura eou industrializados de produccedilatildeo agropecuaacuteria de seus cooperados

3)- Serviccedilo de abastecimento adquirindo ou produzindo para fornecimento ao quadro social na medida em que os interesses soacutecio-econocircmicos aconselharem todos os artigos necessaacuterios agrave sua atividade econocircmica e ao seu uso pessoal ou domeacutestico

4)- Serviccedilos Teacutecnicos mediante assistecircncia teacutecnica agro-pecuaacuteria e assistecircncia teacutecnica contaacutebil objetivando a racionalidade e produtividade das exploraccedilotildees agropecuaacuterias

5)- Serviccedilos sociais mediante a celebraccedilatildeo de convecircnios com entidades puacuteblicas e privadas de atividade de promoccedilatildeo humana educativa de assistecircncia meacutedico hospitalar de serviccedilos culturais desportivos de integraccedilatildeo social dos cooperados e dos funcionaacuterios da empresa

77

6)- Incentivo agrave produccedilatildeo atraveacutes de recursos proacuteprios quando possiacutevel ou pela intermediaccedilatildeo junto a estabelecimentos de creacutedito particulares ou puacuteblicos para incorporaccedilatildeo de tecnologia apropriada de produccedilatildeo de melhoria da produtividade (ESTATUDO SOCIAL 1988 P8-9)

De acordo com o Estatuto Social da Coolvam a Assembleacuteia Geral eacute o Oacutergatildeo

Supremo da cooperativa com poderes dentro dos limites da Lei e do Estatuto

vigente Eacute responsaacutevel por toda decisatildeo de interesse social e suas deliberaccedilotildees

vinculam a todos ainda que ausentes ou discordantes O Conselho de

Administraccedilatildeo eacute formado por nove cooperados eleitos em Assembleacuteia Geral

Ordinaacuteria

O Conselho Fiscal eacute composto por 3 membros efetivos e 3 suplentes eacute

responsaacutevel pela fiscalizaccedilatildeo das atividades da cooperativa e a diretoria executiva eacute

composta por um diretor presidente (cooperado) eleito em Assembleacuteia Geral um

Gerente Geral contratado e um consultor que acompanha a administraccedilatildeo da

cooperativa haacute mais de 15 anos completando com a equipe de 148 funcionaacuterios que

desempenham as atividades administrativas de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

422 Quadro Social

Atualmente o quadro social da Cooperativa eacute composto por 352 associados

sendo 273 em Carlos Chagas e municiacutepios circunvizinhos e os 79 restantes satildeo

associados agrave Cooperativa Regional Agropecuaacuteria de Satildeo Domingos do Prata

(Duprata) na cidade de Satildeo Domingos do Prata Minas Gerais incorporada agrave

Coolvam desde marccedilo de 2006

423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo

Os associados se organizam por meio do Comitecirc Educativo oacutergatildeo criado

desde 1990 com o objetivo de manter um canal de comunicaccedilatildeo com os cooperados

e desenvolver atividades ligadas agrave educaccedilatildeo cooperativista Eacute um oacutergatildeo de

assessoria ajuda na resoluccedilatildeo de problemas podendo apresentar sugestotildees

reivindicaccedilotildees poreacutem natildeo tem poder de decisatildeo

Os trabalhos desenvolvidos pelo comitecirc educativo envolvem a realizaccedilatildeo de

reuniotildees bimestrais em cada uma das comunidades dias de campo visitas teacutecnicas

palestras cursos campanhas de vacinaccedilatildeo e treinamentos

78

423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam

Devido agrave necessidade de se promover a autogestatildeo na Cooperativa e

melhorar o contato entre cooperativa e cooperados no ano de 1990 a Coolvam

contratou uma empresa de consultoria com a finalidade de iniciar o processo de

OQS com a implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo

Apoacutes meses de trabalho o Comitecirc Educativo se definiu abrangendo cinco

comunidades da aacuterea de accedilatildeo da Coolvam passando a ser entatildeo um oacutergatildeo de

assessoria da administraccedilatildeo e dos cooperados constituiacutedo por um grupo de

lideranccedilas que se reuacutenem para levantar e discutir problemas analisaacute-los e sugerirem

ideacuteias que atendam aos interesses da comunidade cooperativista

Com a constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo os cooperados passaram a levar agrave

administraccedilatildeo seus problemas desejos e necessidades bem como sua ajuda para

soluccedilotildees de problemas Eacute por meio dele que a administraccedilatildeo se comunica com os

associados quando apresentam planos de trabalho metas e informaccedilotildees sobre a

cooperativa

Atualmente esse conselho eacute formado por 12 membros sendo um

coordenador e um secretaacuterio de cada uma das 06 comunidades rurais pertencentes

agrave Coolvam Vila Pereira BrejauacutebaLajeado Coacuterrego do Oito Burro

PrateadoCapoeiras JequiririPampa Coacuterrego SecoCoraccedilatildeo de Minas que estatildeo

organizadas espacialmente no municiacutepio

conforme a logiacutestica de captaccedilatildeo de leite

Uma descriccedilatildeo mais detalhada sobre a formaccedilatildeo do Comitecirc Educativo estaacute

no extrato da entrevista com a assessora de cooperativismo da Coolvam

Depois das cinco comunidades que foram formadas que comeccedilou esse trabalho outras surgiram depois em meacutedia quatro a cinco soacute que tambeacutem tivemos exemplos de comunidades que foram formadas mas duraram muito pouco teve o exemplo da criaccedilatildeo da comunidade urbana pelas segunda ata durou apenas dois meses e outras comunidades que duraram seis meses e um ano aproximadamente Pelo que pesquisei quando cheguei aqui em 99 o motivo maior da extinccedilatildeo da comunidade foi da falta de lideranccedila naquela regiatildeo e tambeacutem problemas de ordem poliacutetica em oposiccedilatildeo muito forte em relaccedilatildeo agrave cooperativa Natildeo da cooperativa de se impor mas da parte deles de natildeo estarem mais de acordo com a poliacutetica da cooperativa Entatildeo eles deixaram de dar continuidade aos trabalhos naquela regiatildeo Em 99 tinham oito comunidades

79

formadas ativas um ano depois foi criada mais uma e chegamos a nove Por um periacuteodo de influecircncias de outras empresas de laticiacutenios aqui na regiatildeo vaacuterios produtores deixaram de atuar junto a Coolvam entatildeo a gente perdeu bastante associados e noacutes viemos a perder algumas comunidades tambeacutem Hoje temos ativas seis comunidades podemos dizer hoje que satildeo bastante atuantes Pegamos diversos setores varias aacutereas de atuaccedilatildeo da Coolvam

Teve caso que a gente juntou duas comunidades Isso funciona muito bem a cada dois meses a gente realiza reuniotildees em uma regiatildeo outro mecircs realiza em outra Egrave uma comunidade muito integrada bastante homogecircnea entatildeo facilita bastante o trabalho No mecircs em que faz a reuniatildeo os associados da outra regiatildeo vatildeo ate la e vice versaEntatildeo isso eacute muito interessante A gente tentou tambeacutem a junccedilatildeo de outras comunidades mas natildeo teve muito sucesso Fizemos umas duas junccedilotildees que deu muito certo

Hoje temos seis comunidades e agente acredita que o trabalho estaacute no caminho certo O que precisamos agora e estar mensurando esse trabalho quantificando mais esse trabalho que eacute feito pela cooperativa Acho que eacute o caminho Tem que haver esse tipo de integraccedilatildeo entre a cooperativa e o associado Soacute atraveacutes dessa integraccedilatildeo a gente consegue levar ateacute eles informaccedilotildees consegue extrair deles aquilo que eacute realmente necessaacuterio para o crescimento deles na cooperativa e o que a gente pode estar melhorando em relaccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico e social Enfim algo que e necessaacuterio que exista em toda cooperativa (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Em mensagem enviada pelos membros da empresa de assessoria de

cooperativismo (ASCOOP) com saudaccedilotildees agrave constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo teve

o teor que desenha o ideal da participaccedilatildeo dos soacutecios nas accedilotildees da Cooperativa

() Noacutes da ASCOOP que colaboramos no plantio da semente da participaccedilatildeo aqui na Coolvam deixamos com vocecircs esta mensagem ldquouma vez plantada a semente da participaccedilatildeo cabe a cada um de vocecircs regaacute-la com a responsabilidade consciecircncia e coragem Responsabilidade para cumprir com os compromissos assumidos consciecircncia para compreender o futuro seguro que existe no cooperativismo e coragem para decidir e administrar um patrimocircnio que eacute de todos cujo bem maior eacute a solidariedaderdquo

Desejamos sucesso a todos Cada vez mais acreditamos no cooperativismo porque cada vez mais acreditamos no trabalho e no ser humano () Saudaccedilotildees cooperativistas (CARTA ASCOOP 1999)

Desta maneira percebe-se a importacircncia dada agrave necessidade de fomentar a

participaccedilatildeo de associados nos oacutergatildeos que os representam na defesa de seus

interesses junto agrave organizaccedilatildeo cooperativaseja no comitecirc nos conselhos nas

reuniotildees ou em assembleacuteias

425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos

No iniacutecio das suas atividades a cooperativa funcionava somente com venda

de leite in natura para outras empresas pois natildeo tinha estrutura industrial montada

80

para a produccedilatildeo de derivados laacutecteos Somente em 1986 iniciou-se a

industrializaccedilatildeo do leite com a produccedilatildeo de queijo e manteiga

Dez anos depois por meio de contrato fez parceria com a Cooperativa

Agropecuaacuteria do Vale do Rio Doce (COOPERIODOCE) em Governador Valadares ndash

MG para envasamento de leite Longa Vida com a marca Mucuri Posteriormente

foi cancelado tal contrato e o envase passou a ser feito pela empresa Barbosa amp

Marques no mesmo municiacutepio

No ano de 2001 a COOLVAM firmou contrato com a empresa Nutriacutecia e deu

iniacutecio agrave produccedilatildeo de leite em poacute Mais recentemente em 2003 foi iniciada a

produccedilatildeo de bebida Laacutectea mais um produto com sua marca

Atualmente com captaccedilatildeo meacutedia de leite estaacute em torno de 60000 litros de

leite por dia produz queijo mussarela queijo prato queijo prato light queijo

parmesatildeo queijo minas leite em poacute leite longa vida integral e desnatado e bebida

laacutectea UAT O mercado atendido com seus produtos estaacute em diferentes regiotildees do

Paiacutes sendo que para a Bahia e Sergipe se destinam aproximadamente 58 da sua

produccedilatildeo total Nessas localidades os clientes satildeo na maioria grandes atacadistas

enquanto que o restante da produccedilatildeo 42 vai para outras regiotildees onde as vendas

satildeo mais pulverizadas com atendimento a supermercados restaurantes padarias e

pizzarias ainda na Bahia e nos estados do Espiacuterito Santo e Rio de Janeiro

426 Serviccedilos prestados aos associados A cooperativa possui um Departamento de Assistecircncia Teacutecnica (DAT)

composto por um agrocircnomo um teacutecnico agriacutecola e apoio de estagiaacuterios que vecircm de

convecircnios com instituiccedilotildees de ensino que deste modo formam uma equipe para

prestar serviccedilos aos associados A forma de facilitar o acesso dos associados a

produtos veterinaacuterios e agropecuaacuterios eacute por meio da Farmaacutecia Veterinaacuteria que tem o

objetivo de atender agraves necessidades dos cooperados com insumos e suporte de

outros produtos principalmente raccedilotildees e sementes

Em parceria com o SEBRAE ndash MG participa do Projeto Educampo desde

1997 com o objetivo e finalidade de especializar e tecnificar a atividade leiteira junto

aos associados A participaccedilatildeo no programa eacute custeada pelos associados e

atualmente atende um grupo de 58 produtores Estes recebem orientaccedilotildees e

81

informaccedilotildees zooteacutecnicas agriacutecolas de educaccedilatildeo administrativa gerenciamento

agropecuaacuterio e difusatildeo tecnoloacutegica realizada por teacutecnicos

O Educampo projeto desenvolvido pelo SebraeMG se propotildee a orientar grupos de produtores rurais por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e gerencial com o objetivo de desenvolver aspectos econocircmicos e sociais tornando-os mais eficientes e competitivos As accedilotildees do projeto visam ao aumento da produtividade agropecuaacuteria e consequumlentemente da lucratividade e da qualidade de vida do produtor rural Para participar do Educampo eacute fundamental que o produtor apresente perfil empreendedor e esteja disposto a adotar as orientaccedilotildees do teacutecnico que o acompanha tanto no tocante agraves teacutecnicas produtivas quanto aos controles gerenciais que se constituem no grande diferencial da assistecircncia oferecida pelo projeto (DUARTE 2006 p23)

427 Perfil dos produtores associados da Coolvam

O perfil dos produtores rurais desta pesquisa apresentou-se com dados

semelhantes aos observados por Gomes (2005) sobre o perfil dos produtores

rurais em Minas com algumas caracteriacutesticas tiacutepicas do municiacutepio jaacute que a

populaccedilatildeo entrevistada restringiu-se a Carlos Chagas

Nos trabalhos com produtores de leite usa-se a terminologia pequeno

meacutedio e grande produtor No entanto tecnicamente na Coolvam os

produtores natildeo satildeo identificados por estrato social mas por faixa de

produccedilatildeo Estes satildeo distribuiacutedos em quatro faixas conforme mostra o quadro

abaixo Deste modo nos registros em controles internos as informaccedilotildees satildeo

registradas conforme essa classificaccedilatildeo

Faixa Associados Produtores Litrosdia Volume Ateacute 200 173 65 1484287 25 De 201 a 350 lts 39 15 987157 17 De 351 a 500 lts 19 7 762167 13 Acima de 501 lts 35 13 2666160 45 Total 266 5899770 100

Tabela 2 Organizaccedilatildeo de produtores assiciados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008

Numa melhor visualizaccedilatildeo graacutefica assim satildeo agrupados os produtores

associados (Figura 5)

65

157 13

100

0

20

40

60

80

100

Produtores

Ateacute 200

De 201 a 350 lts

De 351 a 500 lts

Acima de 501 lts

Total

Figura 5 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008 Portanto para utilizar a terminologia proposta nesta pesquisa e

possibilitar anaacutelises comparativas com outros trabalhos foi feito um

reagrupamento dos produtores em conformidade com informaccedilotildees do diretor

e o gerente do Departamento de Assistecircncia Teacutecnica ficando os produtores

reagrupados desta forma

Estratos Sociais Associados Produtores Pequenos (0 a 200 lts) 173 65 Meacutedios (201a 499 lts) 58 22

Grandes (acima de 500 lts) 35 13 Total 266 100

Tabela 3 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por estrato social 2008

Deste modo a Coolvam apresenta em seu quadro social um nuacutemero

consideravelmente maior de pequenos produtores rurais o que confirma a

caracterizaccedilatildeo da maioria das cooperativas de leite brasileiras conforme mostra a

Figura 6 Este grupo tem uma representaccedilatildeo de 65 da populaccedilatildeo de soacutecios

seguido de 22 considerados meacutedios produtores e 13 de grandes produtores

Estes dois uacuteltimos grupos perfazem uma diferenccedila menor em nuacutemero de

associados entretanto no grupo dos grandes produtores estatildeo incluiacutedas as

associaccedilotildees rurais associadas agrave cooperativa Essas associaccedilotildees satildeo compostas por

nuacutemeros variados de produtores mas eacute cadastrado como soacutecio no quadro social da

cooperativa a pessoa juriacutedica que eacute representada pelo presidente da associaccedilatildeo

Este tem direito a um voto nas assembleacuteias

82

65

2213

100

0102030405060708090

100

Produtores

Pequenos (0 a 200 lts)

Meacutedios (201 a 499 lts)

Grandes (Mais de 500 lts)

Total

Figura 6 Organizaccedilatildeo de Produtores associados agrave Coolvam por Estrato Social 2008

A figura 7 mostra a distribuiccedilatildeo de produtores entrevistados por comunidade

rural o que demonstra uma quantidade maior de comunidades do que as seis

citadas pela cooperativa Isso deve-se ao fato de que os associados se identificam

numa comunidade mas para melhor gestatildeo dessas comunidades pela cooperativa

foi feito agrupamento de algumas como Jequiriri e Coraccedilatildeo de Minas Outras estatildeo

desativadas (Mangalocirc) ou seja natildeo estatildeo se reunindo Ainda haacute produtores que

residem em regiotildees cujas comunidades natildeo satildeo formalmente reconhecidas pela

cooperativa como a do Baixo Mucuri

66

0

27

38

20

9

00

1213

0

6

00

15

0

40

6

13

0

9

1920

30

20

0

6

0

66

00

5

10

15

20

25

30

35

40

Pampa

m

BPratea

do

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Jequ

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Cde M

inas

Baixo M

ucuri

Corrego

do O

ito

Capoe

iras

Vila P

ereira

Mangalocirc

Outras PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 7 Amostra de produtores por comunidades rurais na aacuterea da Coolvam 2008

A meacutedia de idade dos associados eacute de 52 anos corrobora com a constataccedilatildeo

de Gomes (2005) embora na Coolvam haja no quadro social jovens cooperativistas 83

84

participando do comitecirc e de conselhos essa eacute uma minoria Quanto ao grau de

escolaridade dos associados o estrato de grandes produtores apresentou maior

nuacutemero de membros com curso superior entretanto em todos os estratos a maioria

dos produtores tem o primeiro grau conforme tabela 4

Idade PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Meacutediaanos 56 47 58 Escolaridade

PEQUENO MEacuteDIO GRANDEEnsino meacutedio 47 50 402 grau 36 42 20Superior 18 8 40

Estado civil PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Solteiro 5 27 17Casado 95 73 67Viuacutevo 0 0 17

Tabela 4 Perfil do Produtor associados agrave Coolvam (idadeescolaridadeestado civil) 2008

A maioria dos produtores entrevistados manteacutem residecircncia tanto na cidade

quanto na propriedade rural Entretanto a pesquisa mostrou um equiliacutebrio entre o

nuacutemero de associados que consideraram sua residecircncia principal na cidade

Conforme Figura 8 45 dos produtores disseram residir na propriedade enquanto

que 55 consideraram sua principal residecircncia na cidade O grupo dos meacutedios

produtores apresentou uma diferenccedila maior 63 moram na cidade contra 38 que

moram no meio rural o que mostra tambeacutem nuacutemeros mais equilibrados nesse grupo

47

38

50 53

63

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Rural Urbana

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 8 Residecircncia principal de produtores associados agrave Coolvam 2008

Quanto agrave naturalidade a pesquisa mostrou que haacute um equiliacutebrio entre os

produtores quanto ao percentual dos que nasceram no municiacutepio e os que vieram de

outras regiotildees mostrando que na maioria dos casos os produtores satildeo de origem

de lugares proacuteximos como Vale do Jequitinhonha Norte de Minas e Bahia sendo

que os mais distantes vieram do nordeste do paiacutes

Os associados tecircm no leite a principal atividade econocircmica mas todos

possuem complemento de renda com venda de bezerros cria e engorda de gado

de corte ou aposentadoria Haacute algumas exceccedilotildees de produtores que satildeo

profissionais na comercializaccedilatildeo de gado de corte para outras regiotildees Somente

alguns respondentes citaram diversificar a atividade produtiva somente um produtor

respondeu trabalhar com apicultura atuando na comercializaccedilatildeo e beneficiamento

de mel e outros com a produccedilatildeo de farinha Portanto o municiacutepio se caracteriza

praticamente pela pecuaacuteria e precisamente dependecircncia da comercializaccedilatildeo do

leite

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM

Agrave luz da teoria da escolha racional sobre os custos e benefiacutecios provenientes

da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas coube neste trabalho identificar a

motivaccedilatildeo dos soacutecios sobre a associaccedilatildeo e participaccedilatildeo nas atividades da

cooperativa local

85

86

A cooperativa em estudo demonstra evoluccedilatildeo no direcionamento de

trabalhos de organizaccedilatildeo do quadro social valoriza a educaccedilatildeo cooperativista

canaliza esforccedilos para crescimento da empresa cooperativa entretanto o estudo

teve a oportunidade de identificar algumas lacunas conforme ponto de vista dos

associados que merecem atenccedilatildeo para accedilotildees mais participativas destes

Para saber sobre quais motivos o produtor se associa agrave cooperativa foi

perguntado aos entrevistados por que se associaram agrave Coolvam Obteve-se

respostas homogecircneas nos grupos de pequenos e meacutedios produtores associadas agrave

importacircncia do cooperativismo (43 e 44) agrave fidelidade na captaccedilatildeo de leite (37

e 39) e agrave tradiccedilatildeo familiar (17 e 11) como mostra a Figura 9 Eacute certo que haacute

uma dependecircncia maior do grupo de pequenos produtores agrave cooperativa

corroborando o que mostra os trabalhos de Pereira (2002) e Graziano da Silva

(2000) mas essa questatildeo mostrou uma maior associaccedilatildeo de grandes produtores

pela valorizaccedilatildeo da filosofia do cooperativismo (57) do que nos outros estratos em

relaccedilatildeo aos outros indicadores entretanto os pequenos produtores mostraram em

maior nuacutemero ser motivo da associaccedilatildeo o viacutenculo familiar quando responderam

que satildeo associados tambeacutem por tradiccedilatildeo familiar enquanto que essa posiccedilatildeo natildeo

foi registrada no estrato de grandes produtores Essa constataccedilatildeo pode ser

relacionada a capital social formado entre esses soacutecios que se fortalece quando

satildeo mantidas as tradiccedilotildees familiares (Putnam (1996) Bueno (2004) A presenccedila de

capital social se evidenciou em outros dois aspectos

Primeiro a indicaccedilatildeo do cooperativismo em si ter sido considerada o maior

motivo da associaccedilatildeo em todos os estratos e segundo a indicaccedilatildeo da fidelidade da

cooperativa na captaccedilatildeo de leite Esse uacuteltimo eacute um diferencial da organizaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a outras empresas do segmento com reconhecimento dos soacutecios ao

esforccedilo da cooperativa em captar leite nos meses de chuva periacuteodo em que haacute

maior volume produzido o mercado paga menor preccedilo pelo leite in natura e

produtos derivados e por outro lado haacute maior custo de captaccedilatildeo em funccedilatildeo das

dificuldades com as estradas Com a cooperativa o produtor eacute mais confiante de

que seu leite seraacute recolhido do que por outras empresas privadas Ambas as

indicaccedilotildees caracterizam uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a cooperativa e os

produtores essencial para formaccedilatildeo de capital social

O quesito preccedilo natildeo foi evidenciado em nenhum estrato portanto essa

questatildeo natildeo foi considerada relevante pelos respondentes como motivo de sua

associaccedilatildeo Entretanto o indicativo da associaccedilatildeo pela fidelidade da captaccedilatildeo

como foi registrado pode indicar mecanismos de escolha racional dos associados

em avaliar a relaccedilatildeo preccedilo pago pela produccedilatildeo e a fidelidade de captaccedilatildeo

4344

57

36

14

3739

29

1711

0 0000

10

20

30

40

50

60C

oope

rativ

ism

o

Com

pra

dein

sum

os

Fide

lidad

eca

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atildeo

Trad

iccedilatildeo

fam

iliar

Preccedil

o do

leite

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 9 Motivaccedilatildeo dos produtores para associaccedilatildeo agrave cooperativa Coolvam 2008

Em seguida quando foi solicitado ao associado para indicar o que diferencia

a cooperativa em relaccedilatildeo a outras empresas (Figura 10) as respostas mostraram

novamente certa homogeneidade (23 38 e 33) na valorizaccedilatildeo e

reconhecimento dos associados ao papel social da cooperativa Esse ponto

corrobora Putnan (1996) com a constataccedilatildeo de que as associaccedilotildees civis contribuem

para a eficaacutecia e a estabilidade do governo democraacutetico natildeo soacute por causa de seus

efeitos internos sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem por causa de seus efeitos externos

sobre a sociedade

Nesta etapa foi reforccedilado o indicativo de confianccedila entre a organizaccedilatildeo e os

associados com a importacircncia dada agrave captaccedilatildeo de leite (23 31 e 17) mesmo

que tenha sido evidenciada uma diminuiccedilatildeo dessa preocupaccedilatildeo com a mudanccedila de

estrato social para o grande produtor

Nessa questatildeo o fator que mais chama a atenccedilatildeo eacute que os grandes

produtores indicaram ter mais facilidade de acesso agrave cooperativa do que os outros

grupos que mostraram maior utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de assistecircncia teacutecnica Esse

87

acesso no significado da palavra se refere agrave comunicaccedilatildeo capacidade de trocar ou

discutir ideacuteias de dialogar de conversar com vista ao bom entendimento entre

pessoas (FERREIRA 1993) De modo geral essa interaccedilatildeo entre soacutecios e

organizaccedilatildeo permite que o agente participe do desenvolvimento pela sua

capacidade de articulaccedilatildeo e interaccedilatildeo conforme foi exposto por Salanek Filho e Silva

(2003)

23

3833

813

0

8

00

1513

0

8

00

15

6

50

23

31

17

05

101520253035404550

Pape

l soc

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leite

Aces

so

Cap

taccedilatilde

ode

Lei

te PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios Coolvam 2008

Foi demonstrado no referencial teoacuterico a constataccedilatildeo de que a participaccedilatildeo

de associados em cooperativas tem se limitado agrave presenccedila em assembleacuteias

Portanto permitiu-se verificar a participaccedilatildeo de associados tanto em assembleacuteias

como nas reuniotildees em comunidades e como se daacute a manifestaccedilatildeo dos produtores

em diferentes ocasiotildees

Sobre a participaccedilatildeo em assembleacuteias a maioria dos associados dos dois

primeiros estratos responderam que vatildeo sempre (40 e 49) de vez em quando

(43 e 35) e o restante respondeu que nunca vai Quanto aos grandes

produtores o percentual maior respondeu que vai soacute de vez em quando (83)

conforme Figura 11

88

40

59

17

4335

83

17

60

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

sempre de vez em quando nunca

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 11 Frequecircncia de associados em assembleacuteias Coolvam 2008

Outro indicador do perfil e valorizaccedilatildeo do cooperativismo pelos associados

estaacute representado na Figura 12 ao demonstrar que a maioria destes nos trecircs

estratos vatildeo agraves assembleacuteias mais para cumprir o papel de associado (69 59 e

50) do que pelo fato de ter algo em pauta que seja do seu interesse

69

59

50

3135

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Cumprir papel de associado Interesse na pauta

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 12 ndash Motivaccedilatildeo dos associados para participaccedilatildeo em assembleacuteias Coolvam 2008

Deste modo ao registrar as observaccedilotildees durante a pesquisa a fidelidade

com a cooperativa fica expliacutecita na fala de um produtor de 76 anos associado haacute 30

anos se referindo agrave valorizaccedilatildeo da sua presenccedila e assiduidade em reuniotildees da

cooperativa

Eu vinha a cavalo quando natildeo tinha carro (PRODUTOR 76 2008)

Por outro lado dos respondentes que disseram natildeo participar das

assembleacuteias foram registrados motivos convergentes 89

90

Nunca participo porque existem umas coisas que acho que natildeo estaacute certo (PRODUTOR 77 2008)

Natildeo natildeo gosto de participar porque jaacute levam pronto (PRODUTOR 68 2008)

Esse posicionamento reflete as discussotildees de estudos de Perius (1983) sobre

problemas estruturais do cooperativismo em que ele observa que nasce um conflito

entre soacutecios e administradores quando os interesses passam a natildeo ser mais

ldquoidecircnticosrdquo e observa que a existecircncia desse conflito comeccedila a colocar em duacutevida a

teoria da fidelidade entre soacutecios e administradores Outro trabalho de Munkner

citado em Schneider (1999) aponta para um conflito latente que tende a verificar-se

entre os interesses dos associados e os interesses dos executivos

Segundo Eschenburg citado em Perius (1983) surge uma nova ciecircncia

cooperativa que sustenta que com o crescimento do nuacutemero de soacutecios e o

simultacircneo crescimento da empresa orgacircnica o management se emancipou e a

original identidade da promoccedilatildeo dos soacutecios e da poliacutetica empresarial se transformou

num problema (Eschenburg citado em Perius 1983) Deste modo natildeo haacute de se

esperar unanimidade em satisfaccedilatildeo de associados com a gestatildeo da cooperativa e

do mesmo modo em participaccedilatildeo Resulta daiacute o sentimento que reflete as

observaccedilotildees expostas pelos produtores que natildeo costumam ir agraves assembleacuteias

Numa questatildeo seguinte para ajudar a perceber se haacute o sentimento de

liberdade para participar foi perguntado aos produtores se eles se sentem agrave vontade

para manifestarem em reuniotildees de comunidade e em assembleacuteias da cooperativa

Identificou-se que os associados de maneira geral ficam menos agrave vontade para

manifestar nas assembleacuteias do que nas reuniotildees de comunidade conforme mostram

as Figuras 13 e 14 Mas haacute de se considerar que eacute bastante expressivo o percentual

de participaccedilatildeo dos associados pois nos trecircs grupos a maioria respondeu se sentir

totalmente agrave vontade

63

76

60

141820

14

6

20

9

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Totalmente Parcialmente Natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 13 Liberdade dos associados para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade Coolvam 2008

5558

50

9

26

3330

1617

6

0

10

20

30

40

50

60

Totalmente Parcialmente Natildeo Natildeo Vai

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 14 Liberdade dos associados para manifestar em assembleacuteias Coolvam 2008

Conforme relatado pela assessora de cooperativismo da Coolvam haacute uma

maior participaccedilatildeo de pequenos produtores nas reuniotildees de comunidade Em seu

trabalho de organizaccedilatildeo do quadro social vem sobre a incentivando que estes

manifestem suas opiniotildees quando lhes convier conforme mostra extrato de

entrevista

Eu que estou aqui haacute oito anos e meio e percebo que jaacute houve uma evoluccedilatildeo muito grande Esse trabalho iniciado em 1990 jaacute vai fazer 18 anos e a gente percebe claramente que haacute uma mudanccedila de percepccedilatildeo de visatildeo haacute uma evoluccedilatildeo das pessoas em termos de participaccedilatildeo de chegar e expor seu ponto de vista entatildeo a gente percebe que haacute uma evoluccedilatildeo a gente natildeo tem como mensurar isso aiacute Grau de escolaridade influencia sim mas vai depender tambeacutem de cada pessoa (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

A pesquisa mostra que o grande produtor vai menos agraves reuniotildees somente

17 responderam que vatildeo sempre e consideraram em sua maioria pouco

91

importante (33) ou indiferente (33) sua presenccedila nas assembleacuteias como

mostram as Figuras 15 e 16 Mas outros dados mostraram que estes vatildeo com mais

frequumlecircncia agrave sede da cooperativa para conversar com os dirigentes

28

1817

4241

1714

29

33

17

12

33

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Muito importante Importante Pouco Importante Indiferente

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 15 Consideraccedilotildees sobre a presenccedila de associados em reuniotildees Coolvam 2008

51

82 83

29

1217 20

60

010

20

30

40

5060

70

80

90

Sempre De vez em quando Somente quandoconvocado

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 16 Frequumlecircncia de associados que vatildeo agrave sede da cooperativa Coolvam 2008

Isso indica conforme mostrado em Pereira (2002) sobre a dinacircmica das

relaccedilotildees sociais que os grandes produtores tecircm melhor acesso aos dirigentes e

defendem seus interesses diretamente assim como demonstra a Figura 15

Portanto natildeo sentem necessidade de discussotildees com os demais membros do grupo

cooperativista Entretanto a entrevista com o Presidente mostra que os associados

tecircm igual tratamento e liberdade para conversar com a diretoria Quando foi

perguntado sobre as dificuldades de gerir os diferentes grupos de interesses devido

agrave heterogeneidade do quadro social este confirmou ter dificuldades mas atua sem

restriccedilotildees ou privileacutegios

92

93

Tem Noacutes procuramos praticar os direitos iguais todos tem o voto tem os direitos mas a gente sabe que a populaccedilatildeo de associados natildeo vecirc dessa forma Mas a Coolvam pratica o cooperativismo de verdade (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As proposiccedilotildees da teoria olsoniana sobre incentivos que natildeo os econocircmicos

como desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e

psicoloacutegico se confirmam na entrevista com um pequeno produtor que participa do

conselho administrativo ao responder sobre motivaccedilotildees que o fazem participar

Por ser pequeno produtor e ter vez e voz do grande e poder participar (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Outra indicaccedilatildeo reproduzida na fala do conselheiro que corrobora a

afirmaccedilatildeo da teoria de Olson (1999) eacute quando natildeo respondeu sobre as vantagens

em participar desta funccedilatildeo

A convivecircncia com pessoas de niacutevel intelectual que passa coisas boas e a oportunidade de conviver com essas pessoas (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Apesar de haver remuneraccedilatildeo para os membros que participam dos

Conselhos a relevacircncia dessa remuneraccedilatildeo foi mencionada somente por um

conselheiro como incentivo para sua participaccedilatildeo

Eacute um complemento de renda (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Os grandes produtores mostraram utilizar mais os serviccedilos da cooperativa

nas respostas ldquode vez em quandordquo (67) e ldquosemprerdquo (33)Dentre os serviccedilos que

mais utilizam foram citados os serviccedilos teacutecnicos o Educampo e a compra de

insumos na Farmaacutecia Veterinaacuteria Jaacute os pequenos e meacutedios responderam

respectivamente natildeo utilizar (17 e 18) de vez em quando (51 e 47) e

sempre (31 e 35) e responderam utilizar aleacutem da Farmaacutecia Veterinaacuteria e

assistecircncia teacutecnica vacinas e orientaccedilotildees sobre a produccedilatildeo (Figura 17) Nesse

ponto a cooperativa se firma como importante mediadora da transferecircncia de novas

tecnologias e informaccedilatildeo para os associados

17 18

0

5147

67

3135 33

0

10

20

30

40

50

60

70

Natildeo Utiliza De vez em quando Sempre

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa Coolvam 2008

No indicador que teve o objetivo de verificar a participaccedilatildeo dos associados e

em atividades educativas promovidas pela cooperativa identificou-se que os

pequenos e meacutedios produtores responderam participar mais (56 e 65) enquanto

33 dos grandes confirmaram essa participaccedilatildeo Aos que responderam

afirmativamente foi perguntado quem mais participa entre o produtor a esposa e

filhos As respostas dos grupos dos pequenos e meacutedios produtores indicaram que

eles mesmos participam (41 e 38) enquanto a participaccedilatildeo de esposas (29 e

38) e filhos (29 e 25) respectivamente indicando que todos da famiacutelia

participam No grupo dos grandes produtores dos que responderam participar das

atividades 100 disseram que eles mesmos participam natildeo registrando presenccedila

de esposas e filhos desse grupo nessas atividades conforme demonstra a Figura

18

5665

3344

35

67

4138

100

2938

2925

0102030405060708090

100

Sim Natildeo Produtores Esposa Filhos

PEQUENOMEDIOGRANDE

Figura 18 Participaccedilatildeo de Produtores e da famiacutelia em atividades educativas

94

A participaccedilatildeo de mulheres e filhos vem sendo incentivada pela cooperativa

Eles satildeo convidados a participar de todos os eventos e reuniotildees com os produtores

A pesquisa mostra que esse incentivo vem obtendo resultado pois dentre os

produtores que responderam participar conforme a Figura 16 um percentual de

29 e 38 respectivamente disseram que a famiacutelia tambeacutem jaacute participou de

eventos na Coolvam

A Figura 19 a seguir foi registrada em uma reuniatildeo de comunidade onde

foram agrupadas duas comunidades rurais Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas

ambas satildeo mais homogecircneas e tem um maior nuacutemero de pequenos produtores

Pode-se observar a presenccedila de mulheres e crianccedilas juntamente com os

produtores Essa interaccedilatildeo das famiacutelias com a organizaccedilatildeo reforccedila tambeacutem o

aumento de capital social

Figura 19 Preacute-Assembleacuteia da Coolvam com as comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas 2008

As respostas dos associados vecircm demonstrando que satildeo participativos nas

atividades promovidas pela cooperativa e foi registrado em todos os estratos que

suas reivindicaccedilotildees satildeo totalmente ou parcialmente atendidas conforme mostra a

Figura 20 No entanto mesmo entre produtores que responderam afirmativamente

foram registradas reclamaccedilotildees sobre a forma de gestatildeo referente a tomada de

decisotildees Natildeo tem muitas coisas que satildeo feitas por eles mesmos compraram outra cooperativa sem comunicar parcialmente (PRODUTOR 73 2008) Parcialmente devido agrave poliacutetica administrativa atual da empresa (PRODUTOR 39 2008) Natildeo vaidade da direccedilatildeo descreacutedito em relaccedilatildeo ao associado (PRODUTOR 62 2008) Nem sempre conseguimos ser atendidos (PRODUTOR 36 2008)

95

4235

17

4853

67

9 1217

0

10

20

30

40

50

60

70

Totalmente Parcialmente Natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 20 Atendimento a reivindicaccedilotildees dos associados da Coolvam 2008

De forma geral em todos os estratos os produtores consideram a

participaccedilatildeo da Coolvam no desenvolvimento da propriedade com poucas exceccedilotildees

registradas principalmente entre os pequenos produtores que responderam que a

cooperativa natildeo eacute atuante neste quesito conforme demonstra a Figura 21 Tal

situaccedilatildeo confirma a utilizaccedilatildeo por esse grupo em menor proporccedilatildeo de serviccedilos

teacutecnicos conforme apresentado anteriormente na Figura 17 Nesse sentido

observou-se que os produtores que satildeo assistidas com os serviccedilos do Educampo

consideraram em maior proporccedilatildeo a atuaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento de

sua propriedade

6

19

0

30

44

67

39

25

17

24

1317

0

10

20

30

40

50

60

70

Muito atuante Atuante Pouco atuante Natildeo atua NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade Carlos Chagas 2008

Outro fator relevante eacute que os produtores responderam se sentir bem

informados sobre a cooperativa (Figura 22) No entanto nesta mesma questatildeo

96

pediu-se que apontasse que tipo de informaccedilatildeo sente mais necessidade de obter

As respostas foram semelhantes conforme representaccedilatildeo das falas subscritas que

demonstram a necessidade de informaccedilotildees sobre as tomadas de decisotildees da

gerecircncia e formaccedilatildeo de preccedilo de leite

bull Compraram outra cooperativa e natildeo informam o que se passa laacute

bull Mais detalhe sobre preccedilo de leite Se enviassem carta explicando sobre o preccedilo seria bom

bull Sobre como satildeo tomadas as decisotildees das reuniotildees do conselho administrativo

bull Excesso de funcionaacuterios com alta remuneraccedilatildeo

bull Natildeo natildeo tem comunidade e a informaccedilatildeo eacute repassada principalmente para as comunidades

bull Informaccedilotildees mais profundas

bull Informa depois das accedilotildees realizadas

bull Controla demais o produto (leite)

bull Preccedilo do leite

bull Como estaacute a atuaccedilatildeo da cooperativa

bull o que a diretoria pensa para melhorar as condiccedilotildees para o associado

bull por que a cooperativa paga o leite tatildeo barato

bull em relaccedilatildeo a mudanccedilas como por exemplo queda no preccedilo

do leite (QUESTIONAacuteRIOS DE PESQUISA COOLVAM 2008)

79 75

60

2125

40

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 22 Informaccedilotildees dos associados sobre a cooperativa Coolvam 2008

A cooperativa utiliza-se da realizaccedilatildeo de Preacute-assembleacuteias como estrateacutegia

para informar aos associados dos resultados e outras atividades que aconteceram

durante o ano assim como outras accedilotildees a serem aprovadas pelos soacutecios Estas satildeo 97

98

reuniotildees para apresentar a pauta a ser tratada posteriormente na Assembleacuteia Geral

O presidente entende que dessa forma eacute possiacutevel que todos tirem suas duacutevidas e

esclareccedilam os assuntos que mais interessam como mostra extrato de entrevista

Jaacute eacute exemplo de participaccedilatildeo nas comunidades satildeo as preacute-assembleacuteias Fazemos 10 a 15 preacute-assembleacuteias e apresentamos o balanccedilo Acredito que laacute na comunidade o produtor fica mais a vontade para tirar suas duvidas para fazer qualquer pergunta e levantar questionamento Entatildeo quando o produtor vem agrave Assembleacuteia Geral jaacute estaacute com tudo esclarecido jaacute tirou as duvidas laacute fica mais agrave vontade para tirar duvidas e fazer perguntas (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As decisotildees satildeo tomadas em caraacuteter definitivo nas assembleacuteias gerais sejam

elas ordinaacuterias ou extraordinaacuterias conforme previsto em estatuto e eacute justamente isso

que garante o caraacuteter democraacutetico do cooperativismo Dessa forma a administraccedilatildeo

participativa significa a auto-administraccedilatildeo como definiu Schneider (1999) os

associados satildeo a autoridade suprema com poder para decidir sobre todos os

aspectos importantes de sua cooperativa Todos os associados tecircm o direito ao voto

(um homem um voto) Geralmente essas decisotildees satildeo de maior importacircncia pois

trazem influecircncias ou consequumlecircncias diretas no desempenho da empresa

cooperativa e dos associados ao responder aos seus interesses econocircmicos caso

os resultados sejam positivos ou negativos Nessas reuniotildees haacute trecircs formas de

participaccedilatildeo dos associados quanto agrave aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo do que se tem a

decidir na forma de voto

O voto eacute o modo de expressar a vontade (FERREIRA1993) num ato de

escolha pode-se dizer num sentido amplo eacute sinocircnimo de participaccedilatildeo e

democracia Conforme levantamento nos processos de escolhas nas assembleacuteias

da cooperativa o voto acontece de diferentes formas Embora natildeo seja descrito

como procede no Estatuto Social (2008) citam-se trecircs meios a) Simboacutelica ou

Aclamaccedilatildeo b) Nominal e c) Secreta Deste modo buscou-se o significado e como

acontece a votaccedilatildeo nas modalidades supra-citadas

a) Simboacutelica ou aclamaccedilatildeo Aclamaccedilatildeo tem o sentido de aplaudir com

entusiasmo eleger por aclamaccedilatildeo Neste caso pede-se que os associados que

concordam com o assunto a ser decidido aclamem e ao maior som toma-se a

decisatildeo

b) Nominal (manifestaccedilatildeo individual) conforme Ferreira (1993) manifestaccedilatildeo

eacute o ato ou efeito de manifestar-se significa exprimir-se mostrar-se Esta modalidade

de voto eacute utilizada em vaacuterios tipos de assembleacuteias Na cooperativa o produtor ao

99

comparecer na assembleacuteia recebe um cartatildeo Este eacute usado para votaccedilatildeo de forma

que o produtor exprima publicamente sua vontade na decisatildeo a ser tomada Essa eacute

a forma mais utilizada por ser mais praacutetica e mais raacutepida a votaccedilatildeo e de resultado

imediato No entanto devido ao receio de se expor o associado pode natildeo exercer

muitas vezes a sua vontade o que leva a uma tendecircncia de prevalecer a vontade

dos dirigentes uma vez que estes ao colocar o assunto em votaccedilatildeo fazem a

seguinte abordagem

Quem for contra a proposta apresentada que se manifeste e quem for a favor permaneccedila como estaacute (PRODUTOR 69 COOLVAM 2008)

c) Secreto eacute o voto confidencial particular em segredo Neste caso os

produtores recebem as ceacutedulas com as opccedilotildees de escolha marcam a melhor

alternativa no seu entendimento e depositam a ceacutedula na urna secretamente

Dentre os trecircs modos apresentados o mais comum eacute o voto nominal ou seja

por manifestaccedilatildeo individual Entretanto esta natildeo foi a melhor opccedilatildeo no

entendimento dos associados haja vista o resultado apresentado na Figura 23 e os

comentaacuterios feitos pelos produtores justificando a preferecircncia pelo voto secreto

conforme transcriccedilotildees abaixo

bull O voto secreto eacute um meio de expressar a opiniatildeo mais verdadeira

bull Porque o produtor se sente mais agrave vontade

bull Depende do momento e do assunto tratado

bull A pessoa natildeo fala um natildeo ou sim para natildeo criar problema com o voto secreto fica mais agrave vontade (QUESTIONAacuteRIOS COOLVAM 2008)

Dada a importacircncia de seu sentido o ato de votar eacute o grande indicador de

democracia e maior marco de sua efetivaccedilatildeo utilizado nas escolhas dos indiviacuteduos

para sua representaccedilatildeo em uma causa A forma secreta eacute o melhor meio para que

as pessoas possam de fato manifestar a sua vontade Nas discussotildees sobre a

participaccedilatildeo e democracia cooperativista Schneider (1999) expotildee sua opiniatildeo de

que natildeo estaacute no voto a dimensatildeo participativa do associado Para o autor

o exerciacutecio do voto natildeo permite ao associado assumir a dimensatildeo participativa que deveria ter cabe aos trabalhos dos representantes comitecircs disseminar a informaccedilatildeo de forma que conscientize os votantes para ter percepccedilatildeo de que a participaccedilatildeo estaacute aleacutem do ato de votar (SCHNEIDER 1999 p224)

Deste modo o mesmo autor complementa que a viabilidade da democracia

cooperativa depende tambeacutem da vontade e do interesse de participaccedilatildeo aleacutem dos

mecanismos montados para promovecirc-la (SCHNEIDER 1999 p152)

613

0

29

13

0

6675

100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Aclamaccedilatildeo Manifestaccedilatildeo Individual Secreto

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 23 Opiniatildeo dos associados sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees Coolvam 2008

Esse modo de participar na escolha de decisotildees a serem tomadas e as

razotildees que os levam a preferir o voto secreto podem ser indicadores que justificam

o decrescente nuacutemero de participantes nas assembleacuteias nos uacuteltimos anos conforme

levantamento nos livros de atas Mesmo que esse resultado seja diferente do outro

apresentado anteriormente na Figura 12 onde mostra boa participaccedilatildeo dos soacutecios

esta vem diminuindo quando se verifica registros de presenccedilas conforme mostra a

Figura 24 a seguir Foi feito levantamento das seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias (AGO) que compreende o periacuteodo da atual gestatildeo entre 2002 e 2007

As seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais Extraordinaacuterias (AGE) aconteceram no periacuteodo

de 1996 a 2005

010

20

3040

50

60

70

1 2 3 4 5 6

Seis uacuteltimas AGOacutes e AGEacutesPeriacuteodo de 1996 a 2007 AGO

AGE

Figura 24 Participaccedilatildeo dos associados em Assembleacuteias Coolvam 2008

Fonte Livros de Atas da Coolvam de 1996 a 2007

100

No debate sobre participaccedilatildeo a pesquisa demonstrou dois quadros distintos

um conforme a teoria da escolha racional sobre o interesse individual na

participaccedilatildeo para consecuccedilatildeo de um bem coletivo que nem sempre as pessoas tem

interesse em participar efetivamente da lideranccedila e accedilotildees internas pois os

resultados mostram que parte dos associados natildeo tecircm interesse em participar da

gestatildeo da cooperativa principalmente nos grupos de meacutedios e grandes produtores

O outro quadro de modo contraacuterio mostra o consideraacutevel interesse entre os

pequenos produtores jaacute que 35 disseram que gostariam de participar Poreacutem

nesse grupo as respostas mostraram que alguns destes entendem que soacute podem

participar se forem convidados pela diretoria conforme demonstra extrato das

respostas obtidas nesta questatildeo

Gostaria de participar do conselho mas natildeo foi convocado (PRODUTOR 73 2008)

De maneira semelhante outro associado respondeu Falta ser convidado (PRODUTOR 40 2008)

Desta forma o caraacuteter de liberdade e democracia em participaccedilatildeo cooperativa

ainda natildeo estaacute claro para o associado assim como diz Schneider (1999) ldquoo

processo participativo do ldquomilitante cooperativistardquo enfrenta em geral uma seacuterie de

resistecircncias da parte da estrutura hieraacuterquica Assim como reforccedila Bordenave

(2003) parte da efetividade da participaccedilatildeo depende da oportunidade de participar

35

917

65

9183

010

20304050

60708090

100

sim natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 25 ndash Interesse de produtores em participar dos Oacutergatildeos de Gestatildeo Coolvam 2008 A participaccedilatildeo dos soacutecios na administraccedilatildeo e controle da cooperativa se

materializa formalmente por meio dos membros nas funccedilotildees dos Conselhos de

Administraccedilatildeo e Fiscal eleitos em assembleacuteia geral e pela participaccedilatildeo no Comitecirc

101

Educativo Portanto para efetivar a auto-gestatildeo deve-se por em praacutetica as

recomendaccedilotildees comuns em Perius (1983) e Schneider (1999) Para esses autores

os soacutecios por si mesmos devem ter as condiccedilotildees de controlar a administraccedilatildeo da

cooperativa na perspectiva de que os dirigentes e administradores sempre devem

ter bem presente que satildeo mandataacuterios dos soacutecios atuando em nome deles gozaratildeo

de sua confianccedila Conforme Drucker (2006) eacute preciso pensar numa parceria entre o

conselho e os membros aleacutem do mais um conselho precisa saber que possui a

organizaccedilatildeo para o benefiacutecio da missatildeo que essa organizaccedilatildeo deve desempenhar

A pesquisa mostra que os produtores que compotildeem os conselhos estatildeo

presentes nos trecircs estratos sociais poreacutem observou-se que o Conselho

Administrativo tem em seu quadro o maior nuacutemero de meacutedios e grandes produtores

Jaacute o Conselho Fiscal eacute composto por um nuacutemero maior de meacutedios e pequenos

produtores corroborando Pereira (2002) ao apontar que os maiores produtores

conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees das organizaccedilotildees

cooperativas Jaacute o Comitecirc Educativo que eacute organizado e regulamentado pelo

Conselho de Administraccedilatildeo constatou-se na pesquisa que na cooperativa este

comitecirc eacute composto em sua maioria por pequenos produtores rurais (83) conforme

demonstrado na Figura 26 a seguir

20

50

30 33

50

17

83

17

0

0102030405060708090

ConselhoAdministrativo

Conselho Fiscal Comitecirc Educativo

Pequeno

Meacutedio

Grande

Figura 26 ndash Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo Coolvam

2008

Na praacutexis a gestatildeo cooperativa conforme demonstrado neste estudo de

caso evidencia a gestatildeo com a predominacircncia de um pequeno grupo representado

pelo estrato de grandes produtores sobre o grande grupo (pequenos produtores) o

102

103

que corrobora questotildees abordadas pela teoria da escolha racional Nesse aspecto

pode-se indagar Por que natildeo haacute presenccedila de grandes produtores na composiccedilatildeo do

comitecirc educativo jaacute que estes participam dos outros oacutergatildeos de gestatildeo a que

compete diretamente os interesses dos demais associados Os coordenadores e

secretaacuterios dos Nuacutecleos de Associados (comitecircs) conforme Estatuto (1988) tecircm a

funccedilatildeo de trazer ao conselho de Administraccedilatildeo as reivindicaccedilotildees bem como

sugestotildees para solucionar os problemas observados desde que sejam

fundamentados para assim solicitar providecircncias Entatildeo seria de se esperar que

houvesse uma participaccedilatildeo representativa de todos os estratos sociais numa

distribuiccedilatildeo mais homogecircnea em todos os oacutergatildeos da gestatildeo

Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) alertaram que entre as

falhas dos processos participativos ao lidar com as desigualdades internas agraves

comunidades haacute tendecircncia muitas vezes em reforccedilar as relaccedilotildees de poder

preexistentes Essa situaccedilatildeo identificada na Cooperativa pode ser indicativa do que

expotildee esses autores De modo diferente na perspectiva de Schneider (1999) na

participaccedilatildeo em nuacutecleos as pessoas conseguem influenciar no planejamento de

accedilotildees para a organizaccedilatildeo Deste modo a participaccedilatildeo deve ser percebida como

uma estrateacutegia para criaccedilatildeo de novas oportunidades ou seja capaz de modificar as

relaccedilotildees de poder preexistentes

Conforme Salanek Filho e Silva (2003) juntamente com a confianccedila a

interaccedilatildeo definiccedilatildeo de objetivos comuns e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees

fundamentais para compreender o capital social no processo cooperativista Entatildeo

com a finalidade de verificar a satisfaccedilatildeo e grau de confianccedila no trabalho dos

referidos conselhos buscou-se na pesquisa dados que pudessem dar pistas para

compreender esse processo Neste ponto foi questionado se os conselhos estariam

atuando conforme proposto para a funccedilatildeo O resultado demonstrou que de forma

geral os associados apresentaram significativo grau de confianccedila no trabalho dos

membros dos Conselhos conforme resultados apresentados nas Figuras 27 e 28

Houve maior nuacutemero de aprovaccedilotildees do que o modo contraacuterio constatando

portanto que haacute uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a maioria dos associados quando

se trata do trabalho dos conselhos Ao observar a confianccedila na perspectiva

econocircmica conforme Maciel (2003) esse comportamento estreita as relaccedilotildees entre

os agentes e melhora a eficiecircncia econocircmica

Nessa perspectiva as duas uacuteltimas questotildees tratadas mostram que a

participaccedilatildeo de associados de modo geral exerce pouca influecircncia no desempenho

econocircmico Jaacute que foi identificado que haacute dificuldade de participaccedilatildeo e ao mesmo

tempo haacute confianccedila no trabalho dos oacutergatildeos de gestatildeo

5850

80

23

50

20 19

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 27 Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo Coolvam 2008

62 64 60

15

3640

23

0

10

20

30

40

50

60

70

Sim Natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 28 ndash Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal Coolvam 2008

Embora tenha sido constatada forte relaccedilatildeo de confianccedila entre os associados

e os oacutergatildeos de gestatildeo identificou-se que os associados sentem necessidade de

informaccedilotildees do processo de gestatildeo Estes indicaram carecircncia de informaccedilatildeo sobre

a formaccedilatildeo de preccedilo de leite pago pela cooperativa como mostra a Figura 29 em

que a maioria disse natildeo participar da formaccedilatildeo do preccedilo da produccedilatildeo entregue ao

laticiacutenio Essa questatildeo foi contraditoacuteria ao assunto tratado representado na Figura

22 em que os produtores disseram se sentir bem informados sobre a cooperativa

Contradiccedilatildeo desse tipo evidencia o que Freire (1976) chama de cultura do silecircncio

que eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia Mas eacute possiacutevel que

104

numa organizaccedilatildeo de fortes laccedilos de confianccedila conforme constatado possa

permear a cultura do silecircncio

14 12

0

8088

100

60

0

20

40

60

80

100

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo

Ateacute mesmo produtores que participam do Comitecirc demonstraram que em

alguns casos tecircm dificuldades em atuar e se informar Entrevista com um membro

de Comitecirc Educativo mostrou que ele tem dificuldade em ter informaccedilotildees sobre o

futuro da organizaccedilatildeo e disse achar a cooperativa ldquomuito fechadardquo

a gente natildeo tem acesso a informaccedilatildeo sobre planejamento da cooperativa para longo prazo (MEMBRO DO COMITEcirc EDUCATIVO COOLVAM 2008)

Entretanto a assessoria de cooperativismo mostra que o desempenho dos

membros do Comitecirc eacute diferenciado e as caracteriacutesticas da proacutepria comunidade

exercem influecircncia sobre atuaccedilatildeo do Comitecirc conforme mostra extrato de entrevista

Uma outra coisa interessante eacute a questatildeo da lideranccedila nessas regiotildees que eu estou mencionando Coacuterrego de Areia Coraccedilatildeo de Minas Lageado Brejauba essas regiotildees satildeo as mais participativas e satildeo bastante atuantes Talvez seja hoje o ponto mais importante do nosso trabalho Satildeo regiotildees onde a gente tem lideranccedila mais forte mais atuante consegue mobilizaccedilatildeo mais forte com os associados e com os familiares dependendo da atividade que a gente for desenvolver (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Jaacute em comunidades mais heterogecircneas onde participam tambeacutem grandes

produtores eacute reconhecido haver mais dificuldades em conseguir desenvolver

trabalho de mobilizaccedilatildeo para participaccedilatildeo de cooperados

a gente percebe no dia a dia que tem uma diferenccedila com as demais comunidades As regiotildees de capoeiras Coacuterrego da Prata Vila Pereira Jequiriri onde temos um nuacutemero de associados produtores considerados de meacutedio e grande porte a gente percebe que haacute dificuldade natildeo todos mas uma grande parte de mobilizaacute-los para alguma atividade para reuniatildeo de comunidade Temos que mostrar algo mais atrativo eles satildeo mais exigentes em relaccedilatildeo ao geral a participaccedilatildeo deles com certeza eacute menor alegam que tem muitas

105

atividades agraves vezes natildeo estatildeo disponiacuteveis para estar participando entatildeo a gente tem muita dificuldade de mobilizar essas pessoas Uma parte que estaacute sempre de fora e natildeo participa de forma alguma esse eacute um problema a gente soacute consegue mobilizaacute-los quando tem um evento maior por exemplo dia de campo algum evento na loja veterinaacuteria promoccedilotildees (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Outro levantamento complementar na pesquisa foi avaliar a participaccedilatildeo dos

produtores rurais em outras atividades coletivas desde realizaccedilotildees festivas nas

comunidades rurais na cooperativa e atuaccedilatildeo em outros segmentos da comunidade

urbana (Figuras 30 31 e 32) Identificou-se que a maioria eacute tambeacutem associado agrave

cooperativa de creacutedito rural e ao sindicato rural (83) Poucos produtores disseram

participar de outras organizaccedilotildees coletivas (meacutedia de 34 nos trecircs estratos) dentre

eles um disse fazer parte da Comissatildeo de Estradas na gestatildeo puacuteblica dois

produtores disseram ser registrados em partido poliacutetico Dentre os associados com

filhos em idade escolar a maioria estaacute associado agrave Cooperativa de ensino Foi

registrado somente um caso de pequeno produtor que trabalha como empregado

para outra propriedade mas registrou-se casos de prestaccedilatildeo de serviccedilos por

produtores que tecircm formaccedilatildeo teacutecnica (engenheiro veterinaacuterio zootecnista dentre

outros)

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Sim Natildeo

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Figura 30 Participaccedilatildeo dos associados em outras organizaccedilotildees coletivas Coolvam 2008

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nunca NRPEQUENO

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Figura 31 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na comunidade Coolvam

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Sempre De vez emquando

nunca NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 32 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na cooperativa Coolvam 2008

Com estas informaccedilotildees confirma-se a interaccedilatildeo entre a organizaccedilatildeo

cooperativa com a comunidade jaacute que as mesmas pessoas participam do quadro

social das diferentes cooperativas Dessa forma os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais

que se formam na comunidade contribuem para fortalecer o capital social Por outro

lado outra caracteriacutestica observada por meio das notiacutecias no Informativo Coolvam

(2004 2005 2006 2007) ficou constatado que as lideranccedilas que participam de uma

cooperativa atuam tambeacutem em algum oacutergatildeo de gestatildeo em outra portanto interagem

entre si e com outras atividades da comunidade Essa relaccedilatildeo reforccedila a presenccedila de

capital social na comunidade promovido em parte pela presenccedila das cooperativas e

pela forma de se organizarem Entretanto a pesquisa mostra que mesmo nesse

ambiente prevalece a dominaccedilatildeo de um mesmo grupo na conduccedilatildeo destas

107

organizaccedilotildees e no caso estudado dados mostram dificuldades para participaccedilatildeo do

restante da populaccedilatildeo associada

A literatura mostra que a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o

homem exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si

mesmo e sua praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades como a auto-expressatildeo

(BORDENAVE1983) Essas caracteriacutesticas satildeo pessoais sendo assim podem natildeo

se manifestar na mesma intensidade em indiviacuteduos diferentes Deste modo

Bordenave (1983) se refere ainda agraves diferenccedilas que se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte Assim como se justifica ter indiviacuteduos que empreendem mais ou menos em

causas sociais

Por outro lado foi percebiacutevel em todos os estratos que haacute interaccedilatildeo entre os

associados eles mantecircm o haacutebito de visitar outras propriedades (somatoacuterio de 84

para as respostas ldquosempre e de vez em quandordquo) conforme figura 33 A maioria

citou que nessas visitas trocam informaccedilotildees vecircm a forma de produccedilatildeo ou o gado do

outro Esses haacutebitos fortalecem os laccedilos pessoais assim como a participaccedilatildeo em

atividades festivas nas comunidades reforccedilam tradiccedilotildees ciacutevicas e satildeo accedilotildees que

fortalecem o capital social

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Sempre De vez emquando

dificilmente nuncaPEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 33 ndash Haacutebito de visitar outros produtores rurais associados da Coolvam 2008

Dentre os que responderam que natildeo costumam ir a outra propriedade

mostra-se uma preocupaccedilatildeo que foi comentada tambeacutem por outros produtores

As pessoas natildeo ficam mais nas propriedades entatildeo perdemos aquele costume de ir na casa do outro hoje vatildeo para a cidade e outros vizinhos venderam as fazendas para o eucalipto estou ficando sozinho na minha regiatildeo (PRODUTOR 59 COOLVAM 2008)

108

109

Foi importante registrar esse comentaacuterio porque embora se tenha

constatado a interaccedilatildeo entre produtores nas propriedades essa preocupaccedilatildeo foi

demonstrada em todos os estratos haacute produtores que jaacute venderam suas terras para

cultura de eucalipto Alguns tecircm a preocupaccedilatildeo de que se os grandes produtores

venderem suas terras em alguns pontos pode inviabilizar a coleta de leite de um

pequeno produtor que ficar ldquoilhadordquo (palavra usada por diferentes produtores vaacuterias

vezes durante as entrevistas) Essa nova cultura agriacutecola vem se expandido na

regiatildeo destinada agraves induacutestrias de papel e celulose satildeo cultivadas em grandes

extensotildees de terra e tem influenciado no modo de vida local

Por outro lado ao longo do trabalho percebeu-se ao conversar com os

produtores que participaram das entrevistas que entre eles haviam

comportamentos diferentes uns mais entusiasmados outros menos alguns se

mostraram indiferentes poreacutem todos contribuiacuteram agrave sua maneira conforme

planejamento da pesquisa de campo Entretanto em meio a esses diferentes

comportamentos foi percebido uma motivaccedilatildeo diferente durante a pesquisa de

campo especialmente na entrevista com pequeno produtor que participa como

membro do Conselho Administrativo quando este contou suas experiecircncias e

histoacuteria de vida

Sou filho de pequeno produtor rural fui para Satildeo Paulo trabalhar fiquei seis anos por laacute quando voltei fui motorista da Cooperativa quando meu pai faleceu herdei pequena parte da propriedade e comecei a trabalhar Logo iniciei na comunidade como secretaacuterio depois fui coordenador do comitecirc educativo por trecircs mandatos fui convidado para ser conselheiro e jaacute estou atuando haacute seis anos (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

O que chamou a atenccedilatildeo foi que nenhum outro entrevistado ateacute o momento

tinha demonstrado tanto entusiasmo com a cooperativa como este produtor ele

dissedisse

Eu sou apaixonado pelo cooperativismo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse associado foi indicado a receber uma das premiaccedilotildees para a

cooperativa realizada no Caribe e contou entusiasmado

Imagina dentro do conselho eu fui indicado para ir receber o precircmio foi a melhor viagem que jaacute fiz Quando cheguei contei isso na minha comunidade (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Dentre outros soacutecios este produtor se destaca pela dedicaccedilatildeo e forma de

trabalhar na sua propriedade assim como empenho e mobilizaccedilatildeo para articular

accedilotildees na sua comunidade e na cooperativa A entrevista com a assessora de

110

cooperativismo mostrou tambeacutem que em seu entendimento a participaccedilatildeo de

associados tanto nas comunidades quanto nas atividades da cooperativa eacute

determinada pelo perfil individual de cada associado que se manifesta na vontade de

participar

a gente tem uma situaccedilatildeo em que um associado anda acho que doze quilocircmetros a cavalo para chegar agrave reuniatildeo e ele vai em todas as reuniotildees e tem comunidades que a distacircncia eacute muito menor e a pessoa deixa de ir Agraves vezes tem automoacutevel um amigo que mora proacuteximo que pode dar uma carona e natildeo vai Entatildeo Isso depende muito da pessoa do perfil da pessoa essa pessoa que estou falando ela eacute muito empreendedora muito participativa procura participar sempre das atividades que a gente realiza junto a cooperativa

Temos tambeacutem situaccedilatildeo de grandes produtores empreendedores estatildeo sempre participando das reuniotildees de torneio leiteiro de dia de campo um exemplo eacute Zeacute Firmino e Eurico satildeo pessoas que participam muito com a gente e que satildeo considerados grandes e meacutedios produtores (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

O pequeno produtor no exemplo dado eacute participativo busca crescimento

acredita que pode ajudar outros produtores a entender e melhorar o interesse em

participar apresenta visatildeo de futuro como demonstra em suas palavras

O pequeno produtor deve buscar espaccedilo participando de eventos palestras se sentir importante ouvir e dar opiniotildees Acho que todo produtor deveria participar do Educampo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Natildeo obstante a todas as caracteriacutesticas positivas que os relatos demonstram

o exemplo de associado aqui exposto mostra que existem limitaccedilotildees conforme este

mesmo produtor indicou como dificuldade em participar do Conselho ao defender

suas ideacuteias junto aos outros conselheiros

eacute difiacutecil defender uma ideacuteia que seja viaacutevel para a empresa e aos associados para os outros conselheiros (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse dilema eacute presente na auto-gestatildeo frente a interesses dos membros que

compotildeem o grupo mesmo que o objetivo seja comum Natildeo se pode esperar a

mesma motivaccedilatildeo no comportamento de todos muito menos que o altruiacutesmo seja a

inclinaccedilatildeo dos membros que ali se dispotildee atuar

A necessidade de realizaccedilatildeo e reconhecimento satildeo sentimentos inerentes a

qualquer indiviacuteduo (HELLER CIT IN BRITO E BRITO 2000) e pode-se dizer que na

accedilatildeo coletiva eacute possiacutevel que essas caracteriacutesticas estejam em niacuteveis diferentes por

isso as vontades de participaccedilatildeo nas atividades da cooperativa pelos associados

satildeo encontradas em graus diferentes Bordenave (1983) confirma essa prerrogativa

e isso foi constatado no resultado da pesquisa

Ao considerar que cada pessoa tem um grau de interesse desejo e

habilidade de realizaccedilatildeo diferentes assim como reconhecidos por Maslow citado em

Brito e Brito (2000) psicoacutelogo e pesquisador de comportamento confirma-se a teoria

de Olson (1999) aqui apresentada e ilustrada pela limitaccedilatildeo exposta pelo associado

entrevistado no que se refere agrave sua participaccedilatildeo no Conselho assim como a

motivaccedilatildeo dos demais em aceitar sugestotildees e buscar soluccedilotildees

Por uacuteltimo como informaccedilatildeo complementar buscou-se verificar a motivaccedilatildeo

dos produtores com sua atividade produtiva jaacute que a maioria principalmente os

pequenos tem na propriedade rural a principal fonte de renda Dos questionamentos

feitos o maior percentual de respostas mostrou que os produtores satildeo ldquoMuito

entusiasmadosrdquo com a atividade conforme mostra a Figura 34 Satildeo dinacircmicos pois

estatildeo sempre ldquomodificando para melhorarrdquo

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natildeo

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odifi

car

NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 34 Motivaccedilatildeo dos associados em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural Coolvam 2008

Outra percepccedilatildeo durante a aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios eacute que os produtores

parecem ser ldquoapaixonados pelo que fazemrdquo Essa expressatildeo eacute comumente utilizada

em Recursos Humanos pois conforme Candeloro (2007) a paixatildeo eacute forccedila

motivadora que daacute agraves pessoas a energia necessaacuteria para suportar contratempos ter

persistecircncia e dedicaccedilatildeo necessaacuterias para alcanccedilar um objetivo

Por outro lado e de modo diferente essa paixatildeo e interesse na atividade

individual pode natildeo ser transferida na mesma intensidade para sua atuaccedilatildeo na

organizaccedilatildeo cooperativa que teoricamente eacute tambeacutem de sua propriedade De certo

111

112

modo ele age dessa forma por que eacute naturalmente difiacutecil conseguir que as pessoas

cooperem para benefiacutecio muacutetuo conforme defende Olson (1999)

113

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo permitiu verificar e contextualizar a participaccedilatildeo de associados

em organizaccedilotildees cooperativas e confirmar tanto o vigor no cooperativismo quanto

sua fragilidade no enfrentamento de problemas conjunturais no ambiente

econocircmico Desde a Revoluccedilatildeo industrial no seacuteculo XIX na idealizaccedilatildeo como

proposta para vencer as desigualdades sociais daquela eacutepoca e atualmente quase

duzentos anos depois em meio agrave ldquoRevoluccedilatildeo da Informaccedilatildeordquo o cooperativismo

continua com seus princiacutepios teoricamente conservados e se adaptando agraves mais

diferentes exigecircncias deste novo seacuteculo com o objetivo de defender os interesses

de seus cooperados

Numa conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Comeacutercio e Desenvolvimento

Ricupero (2007) disse que a resposta para os problemas de desigualdade e pobreza

extremas natildeo viraacute apenas da tecnologia e da economia A soluccedilatildeo desses

problemas dependeraacute de valores como a equidade a solidariedade e a compaixatildeo

que pertencem a um domiacutenio bastante distinto A necessidade de cooperaccedilatildeo

cresce em todos os segmentos e estaacute apontado como instrumento mais apropriado

para desafiar e vencer os vieses que permeiam a busca para reduccedilatildeo dessas

desigualdades sociais A emergecircncia econocircmica de paiacuteses em desenvolvimento por

ora cheios de oportunidades sem divisas com a economia mundial carece de

instrumentos para incluir populaccedilotildees que contraditoriamente nunca foram tatildeo

proacuteximas e ao mesmo tempo tatildeo distantes

Nesse contexto o estudo sobre o cooperativismo mostra que essa forma de

accedilatildeo coletiva eacute reconhecidamente um importante meio para diminuir esse

distanciamento pois eacute uma forma de organizaccedilatildeo que consegue estar presente em

todos os segmentos e niacuteveis sociais Entretanto natildeo se pode ignorar que sob as

influecircncias do ambiente externo no que diz respeito agrave competitividade

modernizaccedilatildeo e diversificaccedilatildeo de atividades que vatildeo de encontro agrave crescente

complexidade que tem se tornado as organizaccedilotildees cooperativas a efetiva

participaccedilatildeo de associados tem sido cada vez mais difiacutecil poreacutem necessaacuteria e deve

ser valorizada para validar e fortalecer a doutrina cooperativista

Essa constataccedilatildeo tem fundamento no potencial da participaccedilatildeo como

mecanismo e caminho para o desenvolvimento de organizaccedilotildees cooperativas o que

114

foi confirmado durante a discussatildeo nesta dissertaccedilatildeo No entanto ainda haacute

necessidade de mudanccedila de atitude das pessoas e nos modos tradicionais de

conduzir suas accedilotildees bem como dar liberdade e adotar meios apropriados para

atrair novos membros para participar das atividades e oacutergatildeos que compotildee a gestatildeo

cooperativa a fim de renovar o quadro ponderadas eacute claro as vontades

necessidades e limitaccedilotildees de cada um O investimento em educaccedilatildeo cooperativista

objetivando qualificaccedilatildeo dos soacutecios para que estes tenham condiccedilotildees de

acompanhar a complexidade de informaccedilotildees e controles da gestatildeo cooperativa

somados ao investimento no aprendizado teacutecnico para o desenvolvimento de

habilidades de gestatildeo satildeo vistos como elementos relevantes para tornar possiacutevel e

efetiva a participaccedilatildeo

Embora haja accedilatildeo da Coolvam neste sentido o estudo mostrou que tanto

membros dos Conselhos quanto do Comitecirc Educativo que satildeo a forma organizada

para promover educaccedilatildeo cooperativista e instituiccedilotildees de ldquovozrdquo dos associados

atuam com mais eficiecircncia como canal de informaccedilotildees do que como instrumentos de

accedilatildeo poliacutetica e estrateacutegica dos produtores que vecircm interferir na gestatildeo da

organizaccedilatildeo com objetivo defender os interesses dos associados As entrevistas

mostraram a necessidade de treinamentos praacuteticos com linguagem que permita

melhor entendimento dos membros em substituiccedilatildeo agrave metodologia utilizada nos

treinamentos oferecidos Percebe-se que haacute muito mais disposiccedilatildeo em qualificar as

cooperativas nas aacutereas de sua operacionalizaccedilatildeo administrativo-financeira e

mercadoloacutegica tratando-as em muitos casos como empresas comuns

Diferentemente talvez natildeo se tenha dispensado o mesmo empenho no resgate e

reforccedilo da doutrina cooperativista para aleacutem do discurso interno ou seja tecirc-la como

ldquoordem do diardquo principalmente para as novas geraccedilotildees na esperanccedila de que estes

sejam fonte de mudanccedila de comportamento mentalidade e que de fato ocorra

transformaccedilatildeo no desejo de fazer o coletivo funcionar para todos

Deste modo a participaccedilatildeo para cooperaccedilatildeo foi identificada tambeacutem como a

mais apropriada para o estabelecimento e criaccedilatildeo de novos meios motivados a

despertar o interesse de pessoas em sair da ldquoineacuterciardquo que faz manter o status quo

das diferenccedilas sociais e perda de oportunidades que se encontram em sociedades

cooperativas

115

Outra caracteriacutestica do quadro social corrobora a afirmativa de que

deveriacuteamos avaliar o desenvolvimento em termos da expansatildeo das capacidades das

pessoas para levarem o tipo de vida que valorizam ndash e tem razatildeo para valorizar

(SEN 2000) deste modo respeitar as diferenccedilas das pessoas tambeacutem na forma de

participar pois o estudo mostrou que o grupo de associados que compotildee uma

organizaccedilatildeo coletiva natildeo participa de forma homogecircnea elas apresentam perfis

proacuteprios e haacute diferentes motivaccedilotildees individuais e particulares em cada associado

que os faz envolver mais ou menos intensamente na accedilatildeo Isso deve ser respeitado

mas natildeo utilizado como pretexto de que natildeo se tem pessoas preparadas para

substituiccedilatildeo e justificar a permanecircncia das mesmas pessoas na frente dessas

organizaccedilotildees por tanto tempoA teoria da escolha racional mostra a sobreposiccedilatildeo

dos interesses do pequeno grupo melhor organizado sobre o maior grupo Neste

trabalho essa premissa estaacute presente no cooperativismo quando dados mostram

que em cooperativas agropecuaacuterias o maior nuacutemero de membros satildeo pequenos

produtores em relaccedilatildeo a um nuacutemero muito menor de grandes produtores do mesmo

modo que se confirma a presenccedila de maior nuacutemero de grandes produtores na

conduccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Com base nessa constataccedilatildeo pode-se inferir que

seja possiacutevel que grandes produtores possam naturalmente defender estrateacutegias

conforme seus proacuteprios interesses em detrimento dos interesses dos membros do

outro grupo

Esta mesma teoria confirma tambeacutem o dilema da proacutepria organizaccedilatildeo em

contratar profissionais externos para sua gestatildeo pois ao fazecirc-lo estaacute defendendo o

interesse da empresa cooperativa que sobrepotildee em diferentes momentos aos

interesses dos associados mesmo que racionalmente esta seja a melhor opccedilatildeo

Embora o posicionamento construiacutedo durante o trabalho seja de acreditar na

potencialidade da participaccedilatildeo natildeo se espera que estas organizaccedilotildees sejam

puramente auto-gestionadas pois se concorda que natildeo seja possiacutevel um isolamento

dessas organizaccedilotildees agrave pressatildeo crescente do mercado agrave qual estas tecircm que

responder com rapidez e eficiecircncia Assim como visto satildeo poucos os casos de

soacutecios preparados tecnicamente para estar agrave frente dos negoacutecios cooperativos

Portanto seria ideoloacutegico e irracional natildeo aceitar esta realidade A necessidade estaacute

no reforccedilo e incentivo a associados para participarem nos diferentes niacuteveis de

116

gestatildeo e conseguir desempenhar eficientemente suas funccedilotildees de controles e

conscientemente defender os interesses sociais da organizaccedilatildeo

A heterogeneidade relacionada agraves diferenccedilas sociais existente no quadro

social das cooperativas foi pouco abordada nas literaturas consultadas e de fato

natildeo eacute considerada nos princiacutepios cooperativistas Pode-se perceber no estudo de

caso que esta problemaacutetica tambeacutem natildeo eacute tratada individualmente e com a atenccedilatildeo

que merece para natildeo ir contra o princiacutepio da igualdade Mas contraditoriamente

mostrou tambeacutem que natildeo se trata de modo igual aos desiguais haacute utilizaccedilatildeo de

poliacuteticas e estrateacutegias diferenciadas e direcionadas agrave participaccedilatildeo de produtores nas

comunidades rurais Nessa perspectiva leva-se em consideraccedilatildeo o perfil e o estrato

social dos membros que as compotildeem Portanto haacute necessidade de utilizar

mecanismos diferentes natildeo no sentido de beneficiar uns em detrimento de outros

mas identificar as dificuldades e potencialidades encontradas em niacuteveis diferentes

nos comportamentos individuais e destes aproveitar as aptidotildees de uns para

desenvolver nos demais

Um outro ponto positivo natildeo aprofundado neste estudo mas sugerido em

outros trabalhose considerado prioridade no desenvolvimento do cooperativismo se

refere agrave importacircncia da educaccedilatildeo cooperativista para melhorar a participaccedilatildeo de

associados e o estiacutemulo agrave presenccedila de mulheres e jovens nas atividades da

cooperativa como estrateacutegia e instrumento de desenvolvimento de cooperativas A

cooperativa em estudo mostrou resultados positivos nesse sentido Pode-se

observar presenccedila de mulheres e crianccedilas em reuniotildees nas diferentes comunidades

rurais como mostrado na Figura 19 Isso se deve agrave accedilatildeo conjunta e o arranjo de

parceria entre as cooperativas instituiccedilotildees e escolas do municiacutepio O trabalho de

construccedilatildeo da cultura do cooperativismo investida em jovens como visto vem

conseguindo resultados positivos na comunidade e dessa forma faratildeo ldquoestoquerdquo de

capital social local Esse capital eacute importante para fortalecer as bases locais Caso

as grandes aquisiccedilotildees incorporaccedilotildees e fusotildees observadas como tendecircncias no

segmento do cooperativismo de leite se concretizem com o capital social

fortalecido haveraacute melhor participaccedilatildeo local para fortalecimento e defesa dos

interesses dos produtores associados

Deste modo fortalecimento do capital social pela cooperaccedilatildeo e confianccedila

apresentados no referencial como soluccedilatildeo para os dilemas eacute um conjunto a que

117

deve creditar a superaccedilatildeo das dificuldades de participaccedilatildeo de associados em gestatildeo

cooperativa Os soacutecios devem ser estimulados a acreditar que o investimento em

esforccedilo pessoal pode ser o diferencial para mudar a realidade de muitos Esses

instrumentos satildeo capazes de fortalecer as relaccedilotildees das pessoas criar e manter

viacutenculos propiciando um ambiente de relaccedilotildees familiares no sentido superar os

benefiacutecios individuais no alcance dos objetivos comuns conseguidos pelo espiacuterito

associativo

O fator limitante da pesquisa eacute que esta mostrou a participaccedilatildeo numa

cooperativa pequena onde os produtores estatildeo numa distribuiccedilatildeo geograacutefica

consideravelmente proacutexima ainda assim identificaram-se dificuldades de

participaccedilatildeo A conjuntura apresentada indica que cada vez mais o produtor vai

ficando distante espacialmente da gestatildeo e mais difiacutecil de acompanhar e participar

diretamente Portanto faz-se a indagaccedilatildeo o que vai acontecer com o produtor em

niacutevel macro nesse modelo a que tendem as cooperativas agropecuaacuterias de leite ao

pensar a participaccedilatildeo nessas organizaccedilotildees Como fica a essecircncia do

cooperativismo Cabem novos estudos em grandes organizaccedilotildees cooperativas para

avaliar os benefiacutecios e as dificuldades diante do que vem acontecendo e identificar a

percepccedilatildeo de produtores rurais nessas situaccedilotildees Como a filosofia da participaccedilatildeo

se aplica a esses casos Ainda de fato a opiniatildeo dos produtores que estatildeo nos

nuacutecleos menores consegue ser ouvida pelos que estatildeo tomando as decisotildees

Enfim o ambiente estaraacute satisfatoriamente equilibrado em termos de ldquocapacidades

sociaisrdquo para apoiar um modelo de participaccedilatildeo que possa trazer benefiacutecios

significativos para os pequenos produtores

Uma resposta aos desafios da participaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo exige novas

atitudes e mentalidades Existe forccedila poder e seguranccedila em pessoas que

compartilham natildeo soacute objetivos comuns mas necessidades comuns No

cooperativismo para o bem dos cooperados eacute fundamental que haja oportunidade

para novos participantes com apoio e cooperaccedilatildeo para o bem coletivo e mesmo

tentado ao individualismo cooperar e atuar coletivamente deve ser visto como a

melhor opccedilatildeo

118

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

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APENDICE A

Princiacutepios Cooperativistas

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica

3 - Participaccedilatildeo econocircmica dos membros - Os membros contribuem equumlitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente Parte desse capital eacute normalmente propriedade comum da cooperativa Os membros recebem habitualmente se houver uma remuneraccedilatildeo limitada ao capital integralizado como condiccedilatildeo de sua adesatildeo Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades

bull Desenvolvimento das suas cooperativas eventualmente atraveacutes da criaccedilatildeo de reservas parte das quais pelo menos seraacute indivisiacutevel

bull Beneficios aos membros na proporccedilatildeo das suas transaccedilotildees com a cooperativa

bull Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros

4 - Autonomia e independecircncia - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees autocircnomas de ajuda muacutetua controladas pelos seus membros Se firmarem acordos com outras organizaccedilotildees incluindo instituiccedilotildees puacuteblicas ou recorrerem a capital externo devem fazecirc-lo em condiccedilotildees que assegurem o controle democraacutetico pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa

5 - Educaccedilatildeo formaccedilatildeo e informaccedilatildeo - As cooperativas promovem a educaccedilatildeo e a formaccedilatildeo dos seus membros dos representantes eleitos e dos trabalhadores de forma que estes possam contribuir eficazmente para o desenvolvimento das suas cooperativas Informam o puacuteblico em geral particularmente os jovens e os liacutederes de opiniatildeo sobre a natureza e as vantagens da cooperaccedilatildeo

6 - Intercooperaccedilatildeo - As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e datildeo mais -forccedila ao movimento cooperativo trabalhando em conjunto atraveacutes das estruturas locais regionais nacionais e internacionais

7 - Interesse pela comunidade - As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades atraveacutes de poliacuteticas aprovadas pelos membros (OCB 2007)

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APENDICE B

QUESTIONAacuteRIO DE PESQUISA

1 O Sr eacute associado agrave Cooperativa de Produccedilatildeo ndash Coolvam

( ) sim ( ) natildeo 2 Idade ( ) Grau de Escolaridade ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) 3 Residecircncia principal ( ) rural ( ) urbana 4 Qual comunidade rural pertence 5 Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) 6 Quantos moram na sua propriedade aleacutem da famiacutelia ( ) 7 Aacuterea da Propriedade ( ) Hectares 8 Qual a origem da propriedade

( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar 9 Eacute natural de C Chagas

( ) sim ( ) Natildeo Regiatildeo de origem 10 Haacute quanto tempo mora em CChagas 11 Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz 12 O leite eacute entregue todo na cooperativa ( ) sim ( ) natildeo 13 Se natildeo o que eacute feito do restante da produccedilatildeo 14 Possui outra fonte de renda aleacutem do leite

( ) Sim ( ) Natildeo Se sim citar qual 15 Porque o Sr eacute associado agrave Cooperativa

( ) pelo cooperativismo ( ) por tradiccedilatildeo familiar ( ) pela compra de insumos ( ) preccedilo de leite ( ) pela fidelidade na captaccedilatildeo do leite

16 Enumere em grau de importacircncia que diferencia a cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios

( ) seu papel social ( ) auxilio a compras ( ) captaccedilatildeo de leite ( ) assistecircncia teacutecnica ( ) preccedilo do leite ( ) atendimento de funcionaacuterios ( ) facilidade de acesso

17 Haacute quanto tempo o Sr eacute associado `a cooperativa ( ) anos 18 O Sr Costuma ir agraves assembleacuteias da sua cooperativa

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 19 Quando vai agraves assembleacuteias da cooperativa

( ) eacute para cumprir o meu papel de associado ( ) eacute porque estaacute em pauta algo que seja do meu interesse

20 O Sr eacute informado com antecedecircncia dos assuntos a serem tratados nas reuniotildees ( ) sim ( ) natildeo

21 Como fica sabendo das reuniotildees da sua cooperativa ( )Informativo ( ) Carta ( ) Raacutedio ( ) Telefone

22 Na sua opiniatildeo qual melhor meio de comunicaccedilatildeo para informaccedilatildeo sobre reuniotildees em sua cooperativa

( ) InformativoJornal ( ) Carta ( ) Telefone ( ) Reuniotildees ( ) outros citar 23 O Sr considera sua presenccedila nas reuniotildees da cooperativa

( ) muito importante ( )importante ( ) pouco importante ( ) indiferente 24 O Sr costuma utilizar serviccedilos da sua cooperativa

( ) Natildeo utilizo ( ) De vez em quando ( )sempre Se utiliza qual (is)

25 Algueacutem da famiacutelia jaacute participou de alguma atividade educativa (cursos palestras etc) promovida pela cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Se sim Quem ( ) Produtor (respondente) ( ) Esposa ( ) Filhos

26 Suas reivindicaccedilotildees satildeo atendidas pela cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo Porque

27 O Sr se sente bem informado sobre sua cooperativa ( ) sim ( ) natildeo

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Porque Que tipo de informaccedilotildees o Sr Sente mais necessidade de obter

28 Com que frequumlecircncia o Sr Vai agrave sede da sua Cooperativa ( ) sempre ( ) dificilmente ( ) somente quando convocado

29 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees da sua comunidade ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

30 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees de sua cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

31 Como o Sr Considera a participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da sua propriedade

( ) muito atuante ( ) atuante ( ) pouco atuante ( ) natildeo atua Se natildeo em que gostaria que atuasse melhor

32 Na sua opiniatildeo qual melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees nas reuniotildees ( ) por aclamaccedilatildeo ( ) por manifestaccedilatildeo individual ( ) por voto secreto ( ) outro citar

33 O Sr Costuma visitar outros produtores ( ) sempre ( ) de vez em quando ( ) dificilmente ( ) nunca

34 Quando eacute realizado alguma atividade festiva na sua comunidade rural o Sr Comparece

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 35 Quando eacute realizado alguma atividade de lazer ou festiva na cooperativa o Sr

comparece ( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca

36 O Sr Tem alguma forma de participaccedilatildeo e controle na fixaccedilatildeo do preccedilo do leite entregue na cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Como 37 O Sr Participa de alguma atividade na gestatildeo da Cooperativa

( ) Sim Qual ( )Natildeo Porque Gostaria de participar em qual funccedilatildeo

38 O Sr Considera que os representantes (conselheiros) atuam como proposto para sua funccedilatildeo

Conselho Administrativo ( ) sim ( ) natildeo Conselho Fiscal ( ) sim ( )natildeo PorquecircO que pode ser melhorado

39 O Sr eacute associado ao Sindicato de Produtores Rurais ( ) sim ( ) natildeo Porquecirc

40 O Sr costuma participar de reuniotildees do seu sindicato ( ) sim ( )natildeo

41 Sr eacute associado a outras cooperativas ( ) sim ( ) natildeo Qual (is)

42 O Sr Participa de alguma outra organizaccedilatildeo coletiva na sua cidade (partido poliacutetico grupo de reuniotildees comissotildees etc)

( ) sim ( )natildeo Se sim qual 43 Decirc sua opiniatildeo sobre como melhorar participaccedilatildeo de associados em cooperativas

44 Como o Sr se vecirc em relaccedilatildeo agrave sua propriedade (pode marcar mais de uma

alternativa) ( ) muito entusiasmado ( ) pouco entusiasmado ( ) cauteloso demais nas accedilotildees ( ) natildeo gosto de arriscar ( ) faccedilo poucas modificaccedilotildees durante o ano ( ) estou sempre modificando ( ) natildeo tem muito o que modificar

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APENDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM DIRIGENTES

IDENTIFICACcedilAtildeO bull Nome bull Idade ( ) bull Grau de Escolaridade bull Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) bull Quantos moram na sua residecircncia bull Qual comunidade rural a sua propriedade pertence bull Qual aacuterea da propriedade ( ) Alqueires bull Qual a origem da propriedade ( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar bull Qual eacute a sua regiatildeo de origem bull Haacute quanto tempo mora em CChagas bull Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz

PERFIL PROFISSIONAL bull Como foi sua tragetoacuteria profissional ateacute a direccedilatildeo da cooperativa bull Quais atividades de gestatildeo desenvolveu antes de atuar na diretoria da

cooperativa bull Quais experiecircncias vocecirc teve com gestatildeo de grupos antes de atuar na

cooperativa

PARTICIPACAO DE ASSOCIADOS bull Sob seu ponto de vista quais satildeo as principais dificuldades para conseguir

que um maior nuacutemero de associados participem das atividades e decisotildees da cooperativa

bull Na sua opiniatildeo qual eacute o problema mais criacutetico da cooperativa em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo de associados bull Quais os pontos fracos da cooperativa que dificultam a participaccedilatildeo de

associados bull Quais os pontos fortes da cooperativa que propicia melhor participaccedilatildeo de

associados bull Em cooperativas haacute heterogeneidade no quadro de associados relacionada

agraves diferenccedilas sociais (pequenos meacutedios e grandes produtores) O sr Considera que haja essa heterogeneidade e deste modo diferentes grupos de interesses Como trabalha com esses diferentes grupos de associados

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na Cooperativa bull Quais estrateacutegias usadas pela cooperativa para lidar com as diferentes

necessidades ou solicitaccedilotildees de associados bull Na sua opiniatildeo o que eacute preciso fazer para facilitar a participaccedilatildeo dos

associados nas decisotildees tomadas pela diretoria bull Na sua opiniatildeo o associado vai agraves reuniotildees cumprindo seu papel de

associado ou quando estaacute em pauta algo que seja do seu interesse individual

bull Quais as accedilotildees que vocecirc considera necessaacuterias que possa melhorar o

interesse de participaccedilatildeo dos associados bull No seu entendimento os associados participam da cooperativa mais como

ldquodonordquo (participaccedilatildeo ativa) ou usuaacuterio (participaccedilatildeo passiva) bull Haacute trabalho visando a participaccedilatildeo e integraccedilatildeo das mulheres e dos jovens

na cooperativa bull Como o Sr prioriza tomadas de decisotildees bull Quais accedilotildees tem sido feitas pela cooperativa para profissionalizaccedilatildeo dos

associados e familiares bull Qual eacute a forma de participaccedilatildeo de associados no planejamento das accedilotildees

presentes e futuras da cooperativa bull Como o Sr acompanha as atividades dos departamentos da cooperativa

prestadas aos associados bull Qual melhor meio de comunicaccedilatildeo com os associados considerado pelo Sr bull Em sua opiniatildeo quais contribuiccedilotildees atuais e futuras que a Diretoria pode

deixar para os futuros sucessores com o objetivo de melhorar a participaccedilatildeo para associados na cooperativa

bull Na sua opiniatildeo quais estrateacutegias de accedilatildeo devem ser empreendidas para

que possa ter uma cooperativa melhor nos proacuteximos 10 (dez) anos no sentido de maior participaccedilatildeo e responsabilidade social

bull O autor que norteia minha pesquisa (Mancur Olson) diz a ldquoatraccedilatildeo que

exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo O que o Sr diria pela experiecircncia com o cooperativismo sobre essa afirmaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave forma de participaccedilatildeo de associados

bull No geral o Sr considera que os princiacutepios do cooperativismo conseguem ser aplicados por essa cooperativa ou sugeriria alguma modificaccedilatildeo para

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adaptaccedilatildeo agrave realidade operacional da cooperativa Que tipo de modificaccedilatildeo

bull O segundo princiacutepio do cooperativismo diz que os associados ldquoparticipam ativamente na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e tomadas de decisotildeesrdquo Na sua experiecircncia isso eacute aplicaacutevel dificilmente parcialmente ou totalmente Porque Como eacute feito

APENDICE D

COLETA DE DADOS SECUNDAacuteRIOS

45 Percentual de participaccedilatildeo de associados nas uacuteltimas 5 assembleacuteias gerais 46 Qual o percentual de participaccedilatildeo nas 5 uacuteltimas assembleacuteias extraordinaacuterias 47 As assembleacuteias extraordinaacuterias costumam ser por quem (Diretoria

Conselho administrativo Fiscal ou Comitecirc educativo) 48 Nos uacuteltimos 5 anos houve alguma assembleacuteia solicitada pelos associados

49 A cooperativa utiliza de algum indicador para fazer acompanhamento do iacutedice

de participaccedilatildeo de associados em suas atividades Se sim que tipo de indicador

50 Taxa de utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa pelos associados (como medir

isso Por compras ex tanques coletivos)

51 Quando foi a uacuteltima aquisiccedilatildeo coletiva financiada ou intermediada pela cooperativa para benefiacutecio dos associados

52 Que tipo de aquisiccedilatildeo

53 Quais tipos de atividades de campo satildeo promovidas pela cooperativa (citar)

54 O associado participa de que tipo de accedilotildees da cooperativa em relaccedilatildeo agraves

suas atividades operacionais histoacuterico e descriccedilatildeo da Cooperativa

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Page 4: AÇÃO COLETIVA EM ORGANIZAÇÕES COOPERATIVAS: UM …livros01.livrosgratis.com.br/cp087171.pdf · Classificação da Biblioteca Central da UFV T Pimentel, Patrícia Ferreira Coimbra,

i

ii

Ao meu querido esposo Joacutebson pelo amor e por ser tatildeo presente e amigo Te amo

Agraves minhas filhas Flaacutevia Laura e Marina pelo amor incondicional Que me inspiram e por terem convivido com minhas ausecircncias nesta fase e ainda assim serem tatildeo maravilhosas Amo vocecircs

iii

AGRADECIMENTOS

Obrigada Senhor por este trabalho pela forccedila da superaccedilatildeo e por me conduzir sempre para o melhor caminho Aos meus pais Zeca 84 anos cheio de vida sempre dedicado agrave simplicidade do viver rural Exemplo de paciecircncia e coragem Agrave minha matildee Vilma obrigada pela semente que plantou na minha formaccedilatildeo como pessoa Meu exemplo de caraacuteter forccedila e dedicaccedilatildeo Aos meus irmatildeos que cada um ao seu modo me acompanham e apoacuteiam mesmo sem entender muito ldquoo porquecirc de estudar tantordquo Aos meus sobrinhos Carol Rodrigo e Ricardo por quem esforccedilo para acreditarem nos estudos e aspirar crescimento Ao Prof Newton Paulo Bueno pela oportunidade Ao Prof Joseacute Ambroacutesio Ferreira Neto por aceitar o desafio e acreditar em mim pelo apoio e amizade no momento mais difiacutecil Pela orientaccedilatildeo e dedicaccedilatildeo Agrave UFV e aos professores do DER que contribuiacuteram para uma percepccedilatildeo diferente do rural Aos funcionaacuterios em especial agrave Carminha e Cida pelo carinho e atenccedilatildeo de sempre Aos membros da banca examinadora Aos produtores rurais dirigentes e funcionaacuterios da COOLVAM pela acessibilidade e apoio Aos amigos da Incubadora de Base Tecnoloacutegica CENTEVUFV pela oportunidade de aprendizado no desafio do empreendedorismo grande contribuiccedilatildeo na minha carreira profissional Aos amigos do Centro Vocacional Tecnoloacutegico de Viccedilosa (CVT) pela convivecircncia A Flaacutevia Moreira pela consideraccedilatildeo e pelo apoio de sempre A Cris Xavier por ter cuidado tatildeo bem das minhas filhas e da minha casa enquanto natildeo estava presente A Kmila Neacutedma e Wiliam por terem acompanhado toda essa caminhada Aos colegas pela famiacutelia que formamos em ERU 623 pela amizade companheirismo consolo superaccedilatildeo e por todas as vezes que pudemos compartilhar momentos de descontraccedilatildeo e alegria A toda famiacutelia IPV pela amizade cristatilde

iv

Fizeste-me avanccedilar a largos passos (Sl 1836)

v

SUMAacuteRIO

LISTA DE TABELAS ix

RESUMO x

ABSTRACT xi

1 INTRODUCcedilAtildeO 1

11 Definiccedilatildeo do Problema4 12 Objetivos7

121 Objetivo Geral 7 122 Objetivos Especiacuteficos 7

13 Metodologia 7 2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 12

21 O cooperativismo12 211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas 15 212 O cooperativismo agropecuaacuterio 16 213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de produtores rurais 18

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa22 23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas 25

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO29

31 Accedilatildeo Coletiva29 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos29 312 Dilemas de accedilatildeo coletiva 34 313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo36 314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos 38 315 Dilemas do Cooperativismo 43

32 A Participaccedilatildeo53 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo53 322 A Participaccedilatildeo em cooperativas 58 333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo 62

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema 65 4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO

COOPERATIVISMO72

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas72 42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM 74

421 Estrutura Organizacional76 422 Quadro Social 77 423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo 77 423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam 78 425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos 79 426 Serviccedilos prestados aos associados 80 427 Perfil dos produtores associados da Coolvam 81

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM85 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 113

vi

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA118

APENDICE A126

APENDICE B127

APENDICE C 129

APENDICE D 131

vii

LISTA DE FIGURAS

1 Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada COOLVAM 2008 8

2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em

cooperativas 25

3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de

Mangalocirc71

4 Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas 71

5 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo79

6 Organizaccedilatildeo de Produtores por Estrato Social 80

7 Amostra de produtores por comunidades rurais 81

8 Residecircncia principal de produtores 82

9 Motivo da associaccedilatildeo agrave cooperativa 84

10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios 85

11 Frequumlecircncia de produtores em assembleacuteias86

12 Motivaccedilatildeo para participaccedilatildeo em assembleacuteias 86

13 Liberdade para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade88

14 Liberdade para manifestar em assembleacuteias 88

15 Consideraccedilatildeo sobre a presenccedila em reuniotildees 89

16 Frequumlecircncia que vai agrave sede da cooperativa 89

17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa 91

18 Participaccedilatildeo da famiacutelia em atividades educativas 91

19 Preacute-assembleacuteia com comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de

Minas 92

20 Atendimento a reivindicaccedilotildees pessoais93

21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade 93

22 Informaccedilotildees sobre a cooperativa 94

23 Opiniatildeo sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees 97

24 Participaccedilatildeo em Assembleacuteias 97

25 Interesse de produtores em participar dos oacutergatildeos de gestatildeo 98

26 Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo 99

27 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo

1019

viii

28 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal 101

29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo 102

30 Participaccedilatildeo em outra organizaccedilatildeo coletiva 103

31 Participaccedilatildeo em atividade festiva na comunidade 104

32 Participaccedilatildeo em atividade festiva na cooperativa 104

33 Haacutebito de visitar outros produtores 105

34 Motivaccedilatildeo do produtor em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural 108

ix

LISTA DE TABELAS

1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil22

2 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo 79

3 Organizaccedilatildeo de produtores por estrato social 80

4 Perfil do Produtor82

x

RESUMO

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra MS Universidade Federal de Viccedilosa julho de 2008 Accedilatildeo coletiva em organizaccedilotildees cooperativas um estudo de caso na Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda em Carlos Chagas -MG Orientador Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-Orientadores Nora Beatriz Presno Amodeo e Marcelo Minaacute Dias

Esta dissertaccedilatildeo apresenta uma anaacutelise sobre o processo de participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas agropecuaacuterias tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees que

supostamente levam ao surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido

pela Teoria da Escolha Racional Portanto buscou-se identificar e compreender

estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas e analisar o comportamento de

diferentes grupos existentes nessas organizaccedilotildees e como lidar com a complexa

forma de gestatildeo e controle dadas as dificuldades impostas pelo mercado cada vez

mais exigente e competitivo Por meio de uma discussatildeo fundamentada na literatura

sobre participaccedilatildeo e cooperativismo pode-se associaacute-la agraves discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como aos estudos sobre confianccedila

cooperaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de capital social mostradas como instrumentos potenciais

para soluccedilatildeo dos dilemas de accedilatildeo coletiva

xi

ABSTRACT

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra M Sc Federal University of Viccedilosa July of 2008 Class action in cooperative organizations a study of case in the Cooperative of Laticiacutenios Valley of the Mucuri Ltda in Carlos Chagas - MG Adviser Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-advisers Nora Beatriz Presno Amodeo and Marcelo Minaacute Dias

This dissertation presents an analysis on the process of participation of rural

producers in agricultural cooperatives taking as reference the existent heterogeneity

in the social picture of those organizations that supposedly take to the appearance of

problems of collective action as suggested by the Theory of the Rational Choice

Therefore it was looked for to identify and to understand strategies of collective

action in cooperatives and to analyze the behavior of different existent groups in

those organizations and how to work with the complex administration form and

control given the difficulties imposed more and more by the market demanding and

competitive Through a discussion based in the literature on participation and

cooperativism it can associate it to the concerning discussions to the collective

action and institutions as well as to the studies about trust cooperation and

valorization of social capital shown as potential instruments for solution of the

dilemmas of collective action

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas a abertura econocircmica proporcionou novas

oportunidades e restriccedilotildees de muacuteltiplas naturezas para grande parte da populaccedilatildeo

A sociedade civil tem assumido responsabilidades que antes eram obrigaccedilotildees

majoritariamente do Estado Em vaacuterios setores tem havido diferentes manifestaccedilotildees

de pessoas oriundas de motivaccedilotildees variadas seja na conquista pela terra pelo

teto por menos impostos por melhores estradas alimentos saudaacuteveis enfim as

pessoas tecircm buscado defender de vaacuterias formas melhores condiccedilotildees em seus

meios de vida As organizaccedilotildees se viram em ambientes mais competitivos com

clientes e consumidores mais exigentes por qualidade Eacute nesse cenaacuterio que pessoas

encontram no cooperativismo uma forma para defender seus interesses coletivo e

solidariamente Deste modo no meio rural muitos produtores se fortalecem nas

cooperativas para comercializar sua produccedilatildeo e melhorar tambeacutem suas condiccedilotildees

de vida Neste panorama o presente trabalho apresenta uma anaacutelise sobre o

processo de participaccedilatildeo em cooperativas rurais tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees o que leva ao

surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva

Para fundamentaccedilatildeo conceitual dessa pesquisa optou-se pela Teoria da

Escolha Racional enfatizada por Mancur Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica da

accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas que motivam a

participaccedilatildeo bem como problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a

coerecircncia a eficaacutecia e a atratividade dos grupos nesse processo Dada a

importacircncia da participaccedilatildeo Amman (1980) a apontada como uma estrateacutegia para a

superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Neste contexto sugere que para atingir o

desenvolvimento as pessoas do meio rural devem se unir em grupos de forma a

juntar forccedilas para busca de soluccedilotildees de seus problemas Assim como argumenta

Bordenave (1983) a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o homem

exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si mesmo

tratando-se de uma necessidade humana e por conseguinte um direito das

pessoas Eacute uma praacutetica transformadora e libertadora que leva o indiviacuteduo a discutir

2

analisar e assumir atitudes conforme corrobora Freire (1982) O processo

participativo se materializa em vaacuterias aacutereas portanto para entender como se daacute a

participaccedilatildeo de associados em cooperativas face ao complexo funcionamento

dessas organizaccedilotildees optou-se por estudar o cooperativismo de produtores rurais a

fim de identificar e compreender como se constroem as estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

nessas cooperativas

De forma geral a necessidade de ser economicamente eficiente sem perder a

finalidade social potildee o cooperativismo num dilema onde os desafios estatildeo divididos

entre de um lado sustentar a originalidade proposta por essa forma de organizaccedilatildeo

social cujos princiacutepios se reforccedilam ao resistir a vaacuterias transformaccedilotildees econocircmicas e

sociais ocorridas desde a sua fundaccedilatildeo em meados do seacuteculo XIX e por outro lado

competir no mercado cumprindo as exigecircncias impostas pelo capitalismo no que se

refere agrave eficiecircncia da organizaccedilatildeo e agrave gestatildeo de seus processos

As questotildees sociais estatildeo entre os desafios competitivos de qualquer

empreendimento independente do ramo de atividade ou puacuteblico alvo por isso eacute

crescente o nuacutemero de projetos sociais patrocinados por empresas de diversos

segmentos assim como accedilotildees voltadas para o bem estar da equipe de trabalho As

cooperativas estatildeo inseridas nesse contexto poreacutem sua funccedilatildeo social natildeo deve se

realizar como diferencial competitivo mas como compromisso estatutaacuterio com seus

soacutecios que eacute a razatildeo de ser do cooperativismo Deste modo uma cooperativa eacute

simultaneamente uma associaccedilatildeo de pessoas e uma organizaccedilatildeo econocircmica

Para tanto com o objetivo de atingir sua finalidade social o cooperativismo

tem como base os Princiacutepios Cooperativos (Anexo 1) que satildeo as regras de conduta

(CARNEIRO 1981) linhas orientadoras da praacutetica cooperativista (OCB 2007)

Dentre outros propotildee igualdade no Princiacutepio da Adesatildeo Voluntaacuteria para funcionar

sem discriminaccedilatildeo social e no Princiacutepio da Gestatildeo Democraacutetica a participaccedilatildeo ativa

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas internas e tomada de decisotildees No entanto natildeo haacute uma

efetividade desses princiacutepios se natildeo houver participaccedilatildeo dos associados em suas

respectivas cooperativas

Conforme Braga e Reis (2002) o cooperativismo estaacute presente em quase

todos os paiacuteses do mundo e cerca de 40 da populaccedilatildeo mundial estaacute de alguma

forma ligada a esse movimento Embora no Brasil esse nuacutemero natildeo passe de 10

grande parte dos resultados apresentados pela produccedilatildeo agropecuaacuteria eacute meacuterito das

3

cooperativas Este setor eacute o terceiro em nuacutemero de cooperados Braga e Reis (2002)

estimam um puacuteblico aproximado de seis milhotildees de pessoas envolvidas nesse

segmento considerando cooperados empregados familiares e agregados

Este trabalho teve como objeto de anaacutelise a Cooperativa de Laticiacutenios Vale do

Mucuri Ltda ndash COOLVAM sediada em Carlos Chagas cidade de 24000 habitantes

localizada regiatildeo nordeste do estado de Minas Gerais conhecida entre os

municiacutepios da regiatildeo como ldquocidade do cooperativismordquo assim tambeacutem reconhecida

por outras instituiccedilotildees do mesmo segmento

Atualmente o municiacutepio de Carlos Chagas conta com outras trecircs

cooperativas sendo a Cooperativa de Creacutedito Rural (CREDICAR) a Cooperativa

Educacional (COOEDUCAR) e Cooperativa de Produtos Artesanais de Carlos

Chagas (COOPAC) A Coolvam exerce importante atuaccedilatildeo na organizaccedilatildeo soacutecio-

econocircmica do municiacutepio pois eacute a segunda maior empregadora de matildeo-de-obra o

que demonstra a sua forte participaccedilatildeo na economia local O setor produtivo no

municiacutepio eacute focado essencialmente na agropecuaacuteria principalmente na pecuaacuteria

leiteira que tem na cooperativa uma forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo

principalmente no caso de pequenos produtores rurais Essa conjuntura corrobora a

afirmaccedilatildeo de Graziano da Silva (2000) sobre o cooperativismo como sendo ldquoa uacutenica

forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo dos pequenos produtores rurais em

certos municiacutepiosrdquo

Como forma de organizaccedilatildeo do quadro social funciona haacute dezoito anos o

comitecirc educativo que atua como um oacutergatildeo de assessoria da administraccedilatildeo e dos

cooperados constituiacutedo por um grupo de lideranccedilas que se reuacutenem para identificar e

discutir problemas analisaacute-los e sugerir propostas que atendam aos interesses da

comunidade cooperativista Haacute uma divisatildeo do quadro social em seis comunidades

distribuiacutedas geograficamente na aacuterea de accedilatildeo da COOLVAM onde acontecem

reuniotildees bimestrais com os associados e uma reuniatildeo mensal com as lideranccedilas

das comunidades na sede da Cooperativa Outras formas de contato entre a

administraccedilatildeo e os associados satildeo torneio leiteiro de comunidades realizados

anualmente os dias-de-campo geralmente duas vezes ao ano a veiculaccedilatildeo mensal

do jornal Informativo COOLVAM campanhas de vacinaccedilatildeo e nas assembleacuteias

gerais realizadas nos fins de cada exerciacutecio

4

Considerando a forma estrutural como a COOLVAM lida com os associados

essa cooperativa se qualificaria como exemplo de organizaccedilatildeo cooperativa

conforme aspectos referentes agrave prioridade e importacircncia dadas aos associados e

suas diferenccedilas em relaccedilatildeo a uma sociedade comercial tiacutepica sugerido em

literaturas sobre o relacionamento cooperativa e cooperados Por isso o interesse

desse trabalho se configura em pesquisar como se daacute a participaccedilatildeo em

cooperativas rurais com base na proposta da Teoria da Escolha Racional sobre os

dilemas da accedilatildeo coletiva

A composiccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em quatro capiacutetulos a partir

desta introduccedilatildeo que faz a apresentaccedilatildeo geral da finalidade da pesquisa os

objetivos o problema levantado e a metodologia utilizada para realizaccedilatildeo do

trabalho O primeiro capiacutetulo faz uma apresentaccedilatildeo histoacuterica e do contexto

econocircmico-social que perpassam a construccedilatildeo do cooperativismo e o enfrentamento

de seus dilemas O segundo capiacutetulo eacute composto pelo referencial conceitual e

argumentativo que orienta o trabalho e tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias

e argumentos Inicia-se com uma discussatildeo sobre accedilatildeo coletiva e como se

fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme proposta de Mancur Olson

(1999) que direciona as outras discussotildees do trabalho Na seccedilatildeo seguinte haacute uma

abordagem conceitual e praacutetica sobre participaccedilatildeo Em seguida uma discussatildeo

sobre cooperaccedilatildeo e capital social apresentados como correccedilotildees para os dilemas

de accedilatildeo coletiva

No terceiro capiacutetulo apresenta-se o estudo de caso da COOVAM e a anaacutelise

dos resultados dos questionaacuterios e entrevistas realizadas durante a pesquisa No

quarto e uacuteltimo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo apresentam-se as consideraccedilotildees finais

11 Definiccedilatildeo do Problema

Dados da OCB (2001) citados em Braga e Reis (2002) mostram que cerca de

83 dos associados agraves cooperativas agropecuaacuterias possuem propriedades com

dimensatildeo de ateacute 50 hectares ao passo que pouco mais de 5 satildeo grandes

produtores cujas propriedades satildeo superiores a 500 hectares1 Apesar da

1 Para fins desta pesquisa a referecircncia de grande e pequeno produtor rural teraacute como paracircmetro o volume de produccedilatildeo

5

significativa diferenccedila em nuacutemero de pequenos produtores a dinacircmica das relaccedilotildees

sociais no interior das cooperativas eacute marcada por acentuada diferenciaccedilatildeo social

que beneficia sobretudo grandes produtores em detrimento dos pequenos pois os

grandes produtores conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees dessas

organizaccedilotildees (PEREIRA 2002) Isso eacute retratado em estudos sobre o quadro social

das cooperativas agropecuaacuterias brasileiras onde se verifica grande diferenciaccedilatildeo

soacutecio-econocircmica entre os associados jaacute que as cooperativas abrigam grandes e

pequenos produtores rurais Este fato causa o que Pereira (2002) classifica ldquodilemas

do cooperativismordquo que geram implicaccedilotildees de diversas naturezas tais como

Grupos ou indiviacuteduos que possuem maior informaccedilatildeo maior disponibilidade de tempo e que estatildeo articulados com o poder local geralmente conduzem as cooperativas os associados esperam que as lideranccedilas exerccedilam o papel de tutor ou de bom patratildeo resolvendo seus problemas e trazendo benefiacutecios (PEREIRA 2002 P136)

De acordo com Campanhola e Graziano da Silva (2000) as associaccedilotildees e

cooperativas satildeo formas tradicionais de organizaccedilatildeo dos produtores rurais que

facilitam o seu acesso ao mercado aos programas de fomento oficiais agrave assistecircncia

teacutecnica agraves informaccedilotildees entre outros Teoricamente constituem uma forma

participativa de tomada de decisatildeo partindo-se do princiacutepio de que a uniatildeo dos

produtores nessas organizaccedilotildees os fortalece tanto quanto a sua representatividade

para a participaccedilatildeo em conselhos comitecircs comissotildees bem como no seu poder de

barganha com os setores puacuteblico e privado Do mesmo modo haacute uma importacircncia

social atribuiacuteda a essas organizaccedilotildees que satildeo em certos municiacutepios e regiotildees a

uacutenica forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo obtida por produtores rurais

No entanto essa proposta de accedilatildeo participativa eacute restrita a uma minoria que

geralmente exerce diferentes papeacuteis na comunidade e deste modo consegue ter

maior acesso a diversos benefiacutecios Instala-se tambeacutem uma condiccedilatildeo hieraacuterquica

verificada na sociedade que causa distanciamento entre as organizaccedilotildees

cooperativas e os associados prejudicial ao desenvolvimento econocircmico e social

dos produtores rurais Isto sucinta questionamentos sobre a universalidade dos

princiacutepios do cooperativismo que enfatizam somente os fatores beneacuteficos dessas

organizaccedilotildees sem levar em conta contradiccedilotildees internas das diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas

Tomando como referecircncia as argumentaccedilotildees de Olson (1999) para a anaacutelise

de cooperativas vecirc-se que uma minoria se organiza e conquista posiccedilotildees nas quais

6

conseguem defender interesses proacuteprios Por outro lado grande parte dos

associados principalmente pequenos produtores em maior nuacutemero tecircm dificuldade

em se mobilizar para defesa de seus interesses Baseado nos princiacutepios do

cooperativismo seria de se esperar que as decisotildees tomadas em cooperativas

fossem no sentido de atender aos interesses da maioria dos associados o que nem

sempre ocorre devido agrave concentraccedilatildeo do poder de decisatildeo nas matildeos do pequeno

grupo dominante

A esse respeito Duarte citado em Pereira (2002) destaca que a praacutetica do

cooperativismo tem conferido aos pequenos produtores associados somente a

condiccedilatildeo de usuaacuterios eliminando o seu papel de dono o que enfraquece tanto o

propoacutesito de seus princiacutepios quanto a funccedilatildeo de organizaccedilatildeo para a accedilatildeo coletiva

Dessa maneira conforme sugerido por Ramirez e Berdegueacute (2003) a

compreensatildeo das causas dos ecircxitos e fracassos de estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

deve ser uma fonte de aprendizagem para melhorar as intervenccedilotildees orientadas a

modificar os sistemas de exclusatildeo e promover o desenvolvimento rural sustentaacutevel

Nessa perspectiva a participaccedilatildeo eacute apontada por Amman (1980) como uma

estrateacutegia para a superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Dentro do cooperativismo

conforme Pereira (2000) natildeo satildeo oferecidos mecanismos para diminuir ou amenizar

as diferenccedilas entre os grupos e a heterogeneidade dos associados o que impede

uma efetiva participaccedilatildeo

Portanto conforme mostram os dados oficiais e a literatura haacute falhas das

associaccedilotildees e cooperativas em atender aos interesses da maioria de seus membros

jaacute que muitas dessas passaram a atuar sem a participaccedilatildeo dos seus associados nas

tomadas de decisotildees as quais se apoacuteiam apenas nas opiniotildees de sua

administraccedilatildeo superior (CAMPANHOLA E GRAZIANO DA SILVA 2000)

A partir deste panorama que mostra a dificuldade de participaccedilatildeo de

pequenos produtores nas cooperativas torna-se oportuno questionar sobre a

controveacutersia do cooperativismo ser instrumento criado para esse fim e ao mesmo

tempo permitir um distanciamento entre estes e os que o gerenciam Assim sendo

indaga-se como se constroacutei a participaccedilatildeo no ambiente de cooperativas rurais

tendo em vista a heterogeneidade do quadro social dessas organizaccedilotildees

Deste modo se na proposta do cooperativismo haacute um diferencial que eacute a

ecircnfase dada agrave igualdade de participaccedilatildeo dos associados cabe questionar sobre as

7

dificuldades das pessoas que natildeo participam assim como os motivos que levam

outros a participar

12 Objetivos

121 Objetivo Geral

Verificar as dificuldades de participaccedilatildeo em cooperativas e a heterogeneidade

relacionada agraves diferenccedilas sociais existentes no quadro social que levam a

problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido pela Teoria da Escolha Racional

utilizando o estudo de caso da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM no municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG

122 Objetivos Especiacuteficos

a Identificar e compreender estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas

b Identificar mecanismos que dificultam a participaccedilatildeo de pequenos produtores rurais associados a cooperativas rurais para o desenvolvimento local

c Analisar o processo de participaccedilatildeo dos diferentes grupos existentes em cooperativas

13 Metodologia

Para conduccedilatildeo desta pesquisa utilizou-se o meacutetodo qualitativo por meio de

estudo de caso Neste meacutetodo segundo Tivinotildes citado em Alencar (2000) as

posiccedilotildees qualitativas baseiam-se especialmente em dois enfoques especiacuteficos o de

compreender e analisar a realidade

Um enfoque eacute o compreensivista o outro eacute o critico participativo com visatildeo histoacuterico-estrurtural e se fundamenta na dialeacutetica da realidade social que parte da necessidade de conhecer a realidade atraveacutes de percepccedilatildeo reflexatildeo e intuiccedilatildeo para transformaacute-la em processos contextuais e dinacircmicos (ALENCAR 2000 p69)

Jaacute o estudo de caso em particular

8

Propotildee-se a investigar um fenocircmeno contemporacircneo em seu contexto real onde os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo satildeo claramente percebidos por meio do uso de muacuteltiplas fontes de evidecircncias como entrevistas arquivos documentos observaccedilatildeo etc (Yin 1989 citado em Lazzarini 1999 P6)

Portanto a realizaccedilatildeo deste estudo teve como referecircncia empiacuterica produtores

rurais associados agrave Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda ndash Coolvam no

municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG onde se buscou coleta de dados e informaccedilotildees

realizadas por meio de aplicaccedilatildeo de questionaacuterios e entrevistas semi-estruturadas

Os questionaacuterios foram elaborados com questotildees estruturadas de perguntas

e respostas padronizadas e questotildees semi-estruturadas exatamente como sugere

Alencar (2000) nas questotildees semi-estruturadas as perguntas satildeo padronizadas

mas as respostas ficam a criteacuterio do entrevistado ou seja eacute o seu discurso

A populaccedilatildeo para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios foi escolhida por amostragem

probabiliacutestica estratificada neste caso

O universo eacute subdividido (estratificado) em grupos mutuamente exclusivos escolhendo-se uma amostra probabiliacutestica simples de cada estrato A amostragem estratificada conduz a estimativas mais ldquoverdadeirasrdquo do que as obtidas por outros meacutetodos jaacute que eacute interessante conhecer caracteriacutesticas do universo o que ela revela mais claramente (ALENCAR 2000 p64)

A pesquisa foi desenvolvida no periacuteodo entre os anos de 2006 e 2008 sendo

que o trabalho de campo foi realizado durante o mecircs de Janeiro de 2008 Foram

aplicados 62 questionaacuterios Foi possiacutevel conforme planejado envolver a populaccedilatildeo

de 20 dos produtores associados agrave Cooperativa estudada Dos diferentes estratos

de associados ou seja do total de 176 pequenos produtores foram entrevistados

35 do total de 58 meacutedios produtores foram aplicados 17 e aos 35 grandes

produtores foram aplicados sete questionaacuterios

173

35

58

12

35

7

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Pequenos (0 a 200 lts) Meacutedios (201 a 499 lts) Grandes (Mais de 500 lts)

Associados Entrevistados

Figura 01 ndash Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada Coolvam 2008

A aplicaccedilatildeo de questionaacuterios foi feita durante o periacuteodo da pesquisa em dois

pontos escolhidos pelo pesquisador na Farmaacutecia Veterinaacuteria da Coolvam e na

Cooperativa de Creacutedito Rural O primeiro foi considerado um local apropriado pois

diariamente agraves sete horas da manhatilde os produtores passam para comprar insumos

para levar agraves fazendas Aproveitou-se da constante presenccedila de associados para

serem abordados e aplicar os questionaacuterios Neste local foi solicitado autorizaccedilatildeo

da gerente da loja para permanecircncia da pesquisadora

O outro local a Credicar considerado ldquoponto de encontro dos produtoresrdquo

Neste lugar foi solicitado ao gerente da agecircncia um espaccedilo para aplicaccedilatildeo dos

questionaacuterios Este autorizou utilizaccedilatildeo de uma mesa com cadeiras ficando um

lugar restrito e apropriado para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios Desta forma agrave medida

que chegavam os produtores eram abordados O maior nuacutemero de questionaacuterios foi

aplicado no dia do pagamento do leite 20 de janeiro de 2008 pois esta foi a data de

maior concentraccedilatildeo de produtores na cidade

Em nuacutemero menor alguns questionaacuterios foram aplicados nas propriedades

rurais nestes casos o pesquisador foi ateacute as propriedades de produtores indicados

durante a aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os demais na cidade Foi possiacutevel visitar

propriedades de estratos diferentes (pequenos meacutedios e grandes) o que permitiu

ao pesquisador vivenciar estilos de vida proacuteprios de cada um

9

10

A maioria dos questionaacuterios foi aplicada pessoalmente pela pesquisadora aos

produtores possibilitando observar e registrar comentaacuterios adicionais Alguns foram

preenchidos pelos proacuteprios produtores Nestes casos eles eram orientados a fazer

os comentaacuterios nas questotildees

Para obter informaccedilotildees e percepccedilotildees de associados participantes da gestatildeo

da cooperativa foram feitas sete entrevistas semi-estruturadas com o presidente

trecircs conselheiros administrativos dois conselheiros fiscais e dois membros do

comitecirc educativo

As entrevistas semi-estruturadas foram adotadas por serem consideradas

mais apropriadas nas pesquisas em que a compreensatildeo de atitudes ideacuteias e accedilotildees

satildeo relevantes conforme as vantagens classificadas por Alencar (2000)

Estaacute centrada em torno de toacutepicos a serem cobertos durante a entrevista os quais natildeo chegam a assumir a forma de questotildees estruturadas natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo ao aprofundamento dos toacutepicos por meio de questotildees que emergem durante a realizaccedilatildeo da entrevista (ALENCAR 2000 P63)

Algumas entrevistas foram gravadas quando autorizadas pelos entrevistados

e outras foram apenas registradas no caderno de campo respeitando a vontade do

respondente Percebeu-se que o gravador eacute um aparelho que intimidou o falar

portanto por sugestatildeo de entrevistados eram feitas anotaccedilotildees das respostas e em

seguida fazia-se a leitura para confirmaccedilatildeo das falas do entrevistado Aproveitou-se

desse recurso tambeacutem para anotaccedilotildees durante a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio para

registrar as percepccedilotildees a partir das observaccedilotildees da pesquisadora

Durante a sistematizaccedilatildeo dos dados das entrevistas optou-se por natildeo

identificar o entrevistado por isso todas as falas seratildeo identificadas pela funccedilatildeo do

entrevistado Nos questionaacuterios aplicados para resguardar individualidade e obter

informaccedilotildees com maior niacutevel de veracidade natildeo foi identificado o respondente Mas

para identificar as respostas dos diferentes estratos todos os questionaacuterios foram

codificados com nuacutemero e a letra que indica o grupo do associado No entanto na

apresentaccedilatildeo dos resultados utiliza-se como identificaccedilatildeo do respondente o seu

estrato social idade e o ano da pesquisa

Utilizou-se tambeacutem a pesquisa bibliograacutefica e documental No primeiro caso

recorreu-se a trabalhos teoacutericos sobre o assunto em questatildeo e levantamento de

dados secundaacuterios Quanto agrave pesquisa documental foram analisadas atas de

assembleacuteias dos uacuteltimos 5 anos sendo que as atas das Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias compreendeu o periacuteodo de 2002 a 2007 e as atas de Assembleacuteias

11

Gerais Extraordinaacuterias no periacuteodo de 1996 a 2007 jaacute que estas acontecem em

menos frequumlecircncia Outras atas analisadas foram de reuniotildees das comunidades

rurais no mesmo periacuteodo Seguiu-se leitura de Informativos e outros jornais da

cidade com o objetivo de verificar informaccedilotildees sobre a cooperativa e participaccedilatildeo

de associados em suas atividades assim como a participaccedilatildeo da cooperativa em

accedilotildees na comunidade

Portanto a busca do entendimento sobre como ocorre a participaccedilatildeo do

quadro social nas atividades desenvolvidas por essas organizaccedilotildees fundamentou-

se na literatura sobre participaccedilatildeo e cooperativismo para associaacute-las a discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como estudos sobre a construccedilatildeo e

valorizaccedilatildeo de capital social interesse e individualismo cooperaccedilatildeo e confianccedila

Todos esses conceitos foram portanto utilizados na compreensatildeo sobre as

relaccedilotildees sociais e interesses individuais que influenciam a decisatildeo de participar ou

natildeo de accedilotildees coletivas

12

2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 21 O cooperativismo Este capiacutetulo retrata a origem do cooperativismo o desenvolvimento e

classificaccedilatildeo dos ramos de atividade enfatizando o cooperativismo agropecuaacuterio de

leite com apresentaccedilatildeo da conjuntura e evoluccedilatildeo das organizaccedilotildees cooperativas

desse segmento seu posicionamento mediante o esforccedilo de sobrevivecircncia e

atuaccedilatildeo no mercado cada vez mais competitivo aleacutem dos desafios pertinentes agrave sua

firmeza no compromisso com a funccedilatildeo social

As cooperativas satildeo formas de accedilotildees coletivas organizadas por pessoas que

reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviccedilos para o exerciacutecio de

uma atividade econocircmica de proveito comum sem objetivo de lucro (MONEZI 2004

e SEBRAE 2003) Satildeo caracterizadas por Pinho (1977) como ldquoempresas de

autogestatildeordquo cujo nuacutemero estaacute diretamente relacionado com a satisfaccedilatildeo das

ilimitadas necessidades dos homens e consequentemente com a complexidade do

meio econocircmico no conceito de Bialoskorski Neto (2007) cooperativas satildeo

estruturas intermediaacuterias formadas a partir da accedilatildeo coletiva situadas entre as

economias particulares dos cooperados por um lado e o mercado por outro

O Cooperativismo portanto eacute um movimento filosofia de vida e modelo

socioeconocircmico capaz de unir desenvolvimento econocircmico e bem-estar social

(OCB 2007) A origem do cooperativismo estaacute na cooperaccedilatildeo presente nas

relaccedilotildees humanas e reconhecida como uma praacutetica milenar Mas o corolaacuterio do

princiacutepio cooperativo (Co-operation) como doutrina nasceu de Robert Owen um

visionaacuterio social que criou a concepccedilatildeo de uma nova forma de vida social assim

como descreve Carneiro (1981)

Owen postulava que a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos como ele adiantou de sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO 1981 p72)

Contudo a concretizaccedilatildeo do cooperativismo emergiu de uma reaccedilatildeo popular

agraves condiccedilotildees degradantes de produccedilatildeo e vida em meados do seacuteculo XIX em meio agrave

Revoluccedilatildeo Industrial Tem seu marco em 21 de dezembro de 1844 no bairro de

Rochdale em Manchester Inglaterra como resultado da uniatildeo de 27 tecelotildees e

uma tecelatilde que se reuniram e fundaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de

13

Rochdale depois de uma economia mensal de uma libra de cada participante

durante um ano Naquele momento a constituiccedilatildeo de uma pequena cooperativa de

consumo no entatildeo chamado Beco do Sapo (Toad Lane) estaria mudando os

padrotildees econocircmicos da eacutepoca e dando origem ao movimento cooperativista (OCB

2007)

Tendo o homem como principal finalidade - e natildeo o lucro os tecelotildees de

Rochdale buscavam naquele momento uma alternativa econocircmica para atuarem no

mercado frente ao modelo capitalista que os submetiam a preccedilos abusivos

exploraccedilatildeo da jornada de trabalho de mulheres e crianccedilas (que trabalhavam ateacute

dezesseis horas por dia) e do desemprego crescente advindo da Revoluccedilatildeo

Industrial (SESCOOP 2007)

Daiacute em diante vaacuterios movimentos surgiram em todos os pontos do mundo As

cooperativas como organizaccedilotildees similares agraves que conhecemos rapidamente

comeccedilaram a se multiplicar natildeo soacute em extensatildeo geograacutefica mas tambeacutem

setorialmente (Amodeo 2001) No Brasil conforme Schneider (1999) haacute

constataccedilatildeo de que antes e durante o periacuteodo colonial e especialmente durante o

periacuteodo do Impeacuterio houveram vaacuterias experiecircncias associativas entre africanos

foragidos e nas ldquoconfrarias de negrosrdquo A primeira cooperativa de produccedilatildeo

agropecuaacuteria foi criada em 1847 numa colocircnia no Paranaacute (COOPERFORTE 2008)

Em Minas Gerais foi formalizada a Sociedade Cooperativa Econocircmica dos

Funcionaacuterios Puacuteblicos de Ouro Preto no ano de 1889 (OCB 2007) Entretanto a

experiecircncia de cooperaccedilatildeo econocircmica e social no modelo rochdaleano se originou

com a implantaccedilatildeo das primeiras cooperativas de consumo em 1891 em Limeira

Satildeo Paulo

De modo geral as cooperativas satildeo orientadas pelos Princiacutepios do

Cooperativismo (Anexo I) que satildeo as normas regulamentadoras e tecircm impliacutecito os

valores que regem todas as organizaccedilotildees cooperativistas Esses valores que

norteiam as cooperativas satildeo a ajuda e responsabilidade proacuteprias democracia

igualdade equidade e solidariedade Pela tradiccedilatildeo dos seus fundadores os

membros das cooperativas devem acreditar nos valores eacuteticos da honestidade

transparecircncia responsabilidade social e preocupaccedilatildeo pelos outros (ACI 2003)

14

Os princiacutepios cooperativistas vistos isoladamente pouco expressam mas

tomados em bloco segundo Schneider (1999) apresentam uma grande loacutegica

coerecircncia interna e uma grande eficaacutecia dessas organizaccedilotildees

Neste trabalho dois dentre os sete princiacutepios satildeo o alvo das discussotildees o

princiacutepio da adesatildeo voluntaacuteria e livre e o princiacutepio da gestatildeo democraacutetica a saber

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica (OCB 2007335)

Essa escolha se justifica porque satildeo estes os princiacutepios que mais diretamente

sustentam a forma de participaccedilatildeo dos membros associados em organizaccedilotildees

cooperativas

O movimento cooperativista mundial eacute coordenado pela Alianccedila Cooperativa

Internacional (ACI) que segundo Schneider (1999) tem a responsabilidade de

adequar os Princiacutepios Cooperativistas a uma realidade econocircmica e social em

evoluccedilatildeo com o compromisso de fidelidade aos valores fundamentais da

cooperaccedilatildeo Portantoeacute um oacutergatildeo representativo dos diversos paiacuteses que mantem e

regulamenta esses princiacutepios Contudo as normas fundamentais baseadas no

Estatuto de Rochdale satildeo utilizadas ateacute os dias de hoje no sistema cooperativista

buscando enfrentar a dinacircmica da desigualdade socioeconocircmica persistente em

vaacuterios setores da sociedade

O oacutergatildeo maacuteximo de representaccedilatildeo das cooperativas no paiacutes eacute a Organizaccedilatildeo

das Cooperativas Brasileiras (OCB) responsaacutevel pela promoccedilatildeo fomento e defesa

do sistema cooperativista em todas as instacircncias poliacuteticas e institucionais (OCB

2007) Eacute de sua responsabilidade tambeacutem a preservaccedilatildeo e o aprimoramento desse

sistema Jaacute em acircmbito estadual existem as OCEs que satildeo as Organizaccedilotildees

Cooperativas Estatuais num total de 27 unidades que passaram a ser os agentes

poliacuteticos e representativos que zelam e divulgam a doutrina cooperativista em seus

respectivos estados

15

A legislaccedilatildeo cooperativista regulamenta um nuacutemero miacutenimo de vinte pessoas

para constituiccedilatildeo de uma cooperativa Embora os princiacutepios primitivos de Rocdale

reafirmavam a livre adesatildeo estes fixavam provisoriamente um limite de 250

associados (Schneider 1999) Nesse aspecto houve evoluccedilatildeo para o caraacuteter

indiscriminativo de participaccedilatildeo pois o princiacutepio da livre adesatildeo natildeo impotildee nenhum

limite em nuacutemero de associados No entanto analogamente conforme exposto na

teoria dos grupos agrave medida que organizaccedilotildees cooperativas crescem em nuacutemero de

associados aumentaraacute tambeacutem as dificuldades de se organizar e defender os

interesses individuais dos seus membros

Em face dessa evoluccedilatildeo conforme Tauk Santos e Lima (2004) na dinacircmica

da cooperativa em relaccedilatildeo ao ambiente externo haacute desafios tanto para a

participaccedilatildeo do indiviacuteduo quanto a sua capacidade de delegar poder ao coletivo

Estes desafios satildeo assim classificados por esses autores

a)o desafio dos valores cooperativos que eacute reagrupar pessoas que tenham uma necessidade comum em um projeto segundo os valores do cooperativismo b) o desafio da relaccedilatildeo de uso refere-se agraves vantagens cooperativas de seus membros c) o desafio do desenvolvimento da coletividade oferecer melhores produtos e serviccedilos aos membros promovendo o desenvolvimento harmonioso da comunidade d) o desafio daldquoeducaccedilatildeo cooperativa que daacute ecircnfase agraves diferenccedilas cooperativas seus papeacuteis e suas responsabilidades no sentido de manter uma coesatildeo no seu desenvolvimento e) e finalmente o desafio do serviccediloproduto materializado no esforccedilo de ofertar um produto ou serviccedilo no quadro de desenvolvimento cooperativo ressaltando as vantagens em relaccedilatildeo ao desenvolvimento tradicional (TAUK SANTOS E LIMA 2004 p3)

Mas o desafio ainda maior eacute assegurar a identidade cooperativa com a

vitalidade dos princiacutepios colocados como condicionantes agraves organizaccedilotildees

cooperativas Dessa forma as cooperativas seguem superando as modificaccedilotildees e

constante evoluccedilatildeo nos diversos segmentos da sociedade com vistas ao

crescimento em seu ramo de atividade

211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas

Uma caracterizaccedilatildeo para identificaccedilatildeo das cooperativas eacute a classificaccedilatildeo por

ramos de atividades conforme os segmentos de atuaccedilatildeo No Brasil a OCB os dividiu

em treze onde estatildeo agrupados um nuacutemero de 7518 cooperativas com 6791054

associados e a respectiva geraccedilatildeo de aproximadamente 200000 empregos Em

todos os ramos natildeo eacute difiacutecil encontrar modelos e exemplos de sucesso de

16

empreendimentos cooperativos que se tornaram gigantes na economia nacional e

mundial a exemplo o reconhecimento da Mondragoacuten Corporacioacuten Cooperativa ndash

MCC frequentemente citada como modelo de sucesso de cooperativismo

a MCC reuacutene 104 cooperativas e estaacute estruturada em trecircs grandes grupos financeiroindustrial e distribuiccedilatildeo aleacutem de contar com onze centros de pesquisa e desenvolvimento uma universidade e um centro de formaccedilatildeo cooperativa e empresarial ndash Otalora O grupo industrial eacute sub dividido em (automotivo componentes construccedilatildeo equipamentos industriais eletrodomeacutesticos moacuteveis e bens de capital)Com sede no paiacutes Basco Espanha a MCC eacute 7ordm maior grupo econocircmico espanhol (AZEVEDO 2007 p2)

Essa conjuntura ilustra o que faz cada vez mais cooperativas planejarem

crescimento para atender competitivamente os desafios e demandas de mercado

Nesse sentido mesmo quando globalizadas devem teoricamente ser fieacuteis agrave missatildeo

do cooperativismo com seus soacutecios ainda que atuem de forma corporativa como as

empresas tradicionais em locais distantes de seus cooperados Contudo da certeza

da importacircncia e resultados do cooperativismo visto a dimensatildeo que essas

organizaccedilotildees tecircm tomado natildeo haacute duvida de que seja difiacutecil manter racionalmente a

fidelidade aos princiacutepios e atuar com a participaccedilatildeo ativa dos cooperados diante da

complexidade de accedilotildees exigida por esse direcionamento

Tomadas essas proporccedilotildees eacute crescente tambeacutem a necessidade de

profissionais competentes em diferentes aacutereas para participarem da elaboraccedilatildeo de

metas e defesa dos interesses da organizaccedilatildeo cooperativa conforme descreve

Amodeo (2001)

Os apelos para profissionalizar a gestatildeo e buscar melhorar a competitividade podem ser considerados o eixo que orienta as transformaccedilotildees recentes das cooperativas (AMODEO 2001 p11)

Surge em resposta ao atendimento dessa necessidade uma complexa

estrutura de gestatildeo se visualizar que dentre as diferentes aacutereas em que o

movimento cooperativista atua elas cumprem papeacuteis distintos em todas as fases de

um processo de produccedilatildeo quais sejam nas funccedilotildees de fornecedoras ou

consumidoras e transformadoras de bens ou serviccedilos Nesse aspecto o ramo

agropecuaacuterio eacute um dos mais complexos do segmento cooperaivista

212 O cooperativismo agropecuaacuterio

Os trabalhadores pioneiros de Rochdale visualizaram nas cooperativas uma

forma de propiciar ajuda muacutetua entre eles Do mesmo modo os produtores rurais

17

esperam no cooperativismo agropecuaacuterio um meio de apoacuteia-los no enfrentamento

dos inuacutemeros desafios desse segmento

No Brasil o Ramo Agropecuaacuterio tem o maior nuacutemero de cooperativas em

torno de 1514 com 879918 associados e maior gerador de emprego com

aproximadamente 124000 empregados o que define sua importacircncia em

participaccedilatildeo no desenvolvimento econocircmico do paiacutes Este ramo eacute caracterizado pela

OCB da seguinte forma

O Ramo Agropecuaacuterio eacute definido por cooperativas formadas por produtores rurais e tecircm como finalidade organizar a produccedilatildeo dos seus associados em maior escala garantindo um melhor preccedilo na comercializaccedilatildeo de seus produtos Visa tambeacutem integrar e orientar suas atividades bem como facilitar a utilizaccedilatildeo reciacuteproca dos serviccedilos como adquirir insumos dividir custos de assistecircncia teacutecnica difundir o uso de novas tecnologias produtivas comercializar a produccedilatildeo e em muitos casos beneficiar e industrializar as mateacuterias-primas eliminando o atravessador e vendendo a produccedilatildeo dos cooperados diretamente ao consumidor (OCB 2007 p334)

Das accedilotildees desenvolvidas pelas cooperativas no segmento agropecuaacuterio as

mais comuns conforme Amodeo (2001) satildeo venda de insumos (fertilizantes

sementes agrotoacutexicos etc) ferramentas e maquinaria agriacutecola pesquisa e

assistecircncia teacutecnica aos produtores processamento industrializaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da

produccedilatildeo exportaccedilatildeo classificaccedilatildeo padronizaccedilatildeo e embalagem de produtos in

natura serviccedilos de creacuteditos seguros e administraccedilatildeo

Segundo Amodeo (2001) eacute na interface entre a agricultura e a induacutestria que

as cooperativas agropecuaacuterias crescem a montante e a jusante a fim de obter

melhores resultados para os seus cooperados na medida em que paralelamente

satildeo intensificados os processos de modernizaccedilatildeo da agricultura tanto na induacutestria

de insumos ou bens para a agricultura quanto na induacutestria que compra a oferta

agriacutecola para o seu processamento e distribuiccedilatildeo

Os produtores rurais tambeacutem satildeo pressionados nessa mesma direccedilatildeo e eacute por

meio da mediaccedilatildeo dessas cooperativas que as demandas por especializaccedilatildeo de

produtores vecircm sendo atendidas principalmente no grupo dos pequenos Os

processos produtivos no campo estatildeo cada vez mais pautados nas particularidades

dos processos industriais Daiacute a amplitude do cooperativismo agropecuaacuterio pois

participa do desenvolvimento e especializaccedilatildeo da produccedilatildeo de seus associados

transferindo tecnologia melhorando a renda e possibilitando o desenvolvimento

rural

18

Deste modo eacute grande o nuacutemero de atividades econocircmicas abrangidas pois

conforme a OCB (2007) essas cooperativas geralmente cuidam de toda a cadeia

produtiva desde o preparo da terra ateacute a industrializaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos

produtos De modo geral conforme Braga e Reis (2002) as cooperativas de

produtores tem desempenhado importante papel na fixaccedilatildeo do homem no campo e

na distribuiccedilatildeo de renda O resultado econocircmico portanto eacute a significativa

participaccedilatildeo na economia Conforme a OCB (2008) cooperativas agropecuaacuterias

movimentam cerca de 6 do PIB nacional e tecircm uma participaccedilatildeo entre 35 a 40

no PIB agriacutecola

Desde o iniacutecio dos anos 90 as cooperativas sofreram fortes impactos

macroeconocircmicos conforme registros de Lopes et alli (2002) estabilizaccedilatildeo

econocircmica com o Plano Real abertura comercial acelerada desregulamentaccedilatildeo dos

mercados agriacutecolas e imposiccedilotildees de maior disciplina fiscal Nesse cenaacuterio a

consolidaccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio na economia brasileira conforme

OCB (2007) foi resultado do esforccedilo de produtores pela modernizaccedilatildeo do sistema

incorporaccedilatildeo de tecnologia agraves suas atividades e profissionalizaccedilatildeo da gestatildeo Essa

postura vem permitindo que cooperativas permaneccedilam atuando no mercado

competitivamente

Deste modo a dinacircmica de operacionalizaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees vai aleacutem

das intenccedilotildees que estavam impliacutecitas no desejo de associaccedilatildeo que impulsionou o

surgimento das cooperativas Eacute nessa perspectiva que as cooperativas de laticiacutenios

atuam Portanto a seccedilatildeo seguinte tem a finalidade de demonstrar o que vem

ocorrendo na evoluccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a atuaccedilatildeo dos

produtores rurais no setor

213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de

produtores rurais

Para se ter a dimensatildeo e extensatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite

dentro da economia global apresenta-se as perspectivas atuais e futuras dessas

cooperativas no mercado face ao cenaacuterio dos resultados desse segmento Para isso

recorreu-se a estudos sobre o setor leiteiro pois esta atividade eacute a maior geradora

de emprego no mercado nacional de trabalho e responsaacutevel por grande parte da

fixaccedilatildeo e sobrevivecircncia de famiacutelias no meio rural

19

Em muitos paiacuteses a participaccedilatildeo das cooperativas na captaccedilatildeo de leite eacute

relativamente alta chegando a 80 na Austraacutelia 83 na Holanda e EUA mais de

95 na Nova Zelacircndia (Chaddad 2004) e na Iacutendia sede do maior movimento

cooperativo do mundo 94 dos laticiacutenios provecircm de cooperativas (Amodeo 2001)

Nesse cenaacuterio o crescimento dessas organizaccedilotildees natildeo tem ficado restrito a

uma atuaccedilatildeo no mercado local na funccedilatildeo de intermediar o produtor rural As

cooperativas tecircm apresentado um crescimento cada vez mais acelerado e

conseguido atuar na economia mundial haja vista alguns exemplos de grandes

cooperativas de leite reconhecidas neste setor

Fonterra liacuteder absoluta no mercado da Nova Zelacircndia com mais de 95 do leite do paiacutes (14 bilhotildees de litrosano) a cooperativa mais globalizada do mundo() seu lema eacute nossa casa eacute o mundordquo controla hoje cerca de 30 do mercado internacional de laacutecteos possui alianccedilas em diversos continentes inclusive com potenciais concorrentes

Arla Foods eacute a maior cooperativa de laticiacutenios da Europa com cerca de 84 bilhotildees de litros anuais Foi a primeira grande fusatildeo entre cooperativas transnacionais a sueca Arla e a dinamarquesa MD Foods Apesar do porte gigantesco sabe que precisa crescer mais precisa olhar para aleacutem de suas fronteiras europeacuteias (CARVALHO 2008 P1)

A Cooperativa Daiy Farmers of Ameacuterica (DFA) participa de treze joint-ventures com empresas americanas e multinacionais visa ganhar competitividade num mercado global por meio de raacutepido reposicionamento (MARTINS ET ALLI 2004 P 58)

Nesse segmento o Brasil eacute o sexto maior produtor mundial de leite

entretanto ainda haacute uma baixa participaccedilatildeo de cooperativas na captaccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo deste produto Conforme Chaddad (2004) no paiacutes essa

participaccedilatildeo estaacute em torno de 22 da captaccedilatildeo do volume total do leite produzido e

40 do leite comercializado no mercado formal ou seja captado por laticiacutenios

legalmente inspecionados

Grandes mudanccedilas tecircm ocorrido em torno das cooperativas de laticiacutenios

brasileiras Recentemente importantes decisotildees foram registradas para assumir

formatos que sejam competitivos entre cooperativas e entre outras empresas A

Itambeacute - Cooperativa Central de Produtores Rurais de Minas Gerais eacute um exemplo

da importacircncia crescente das cooperativas na economia nacional

A Itambeacute eacute a maior cooperativa brasileira de laticiacutenios quer ampliar sua linha de produtos expandir a atuaccedilatildeo no mercado interno e aos poucos aumentar as exportaccedilotildees Com 58 anos de atividade a cooperativa alcanccedilou faturamento bruto de 13 bilhotildees de reais em 2005 Satildeo 8 000 produtores rurais cadastrados na cooperativa responsaacuteveis pelo fornecimento diaacuterio de 27 milhotildees de litros de leite (OCEMG 2008 P1)

20

Por outro lado a Cooperativa do Vale do Rio Doce (Cooperriodoce) a maior

cooperativa regional no leste de Minas Gerais recentemente teve seu parque

industrial vendido para Parmalat um grupo privado

Este cenaacuterio ilustra o desafio das cooperativas em permanecer no mercado

frente agrave missatildeo que desempenham como promotoras de desenvolvimento social

Em artigo com o tiacutetulo ldquoo capital encontrou o leiterdquo Carvalho (2008) mostra como

empresas de outros ramos tecircm investido no setor de laticiacutenios o que ameaccedila

diretamente as cooperativas

A compra dos Laticiacutenios Morrinhos dona da marca LeitBom pela GP investimentos natildeo deixa mais duacutevidas o capital finalmente descobriu o leite Em meio a uma onda de aquisiccedilotildees protagonizadas pela Laep (Parmalat) Perdigatildeo Bom Gosto e Liacuteder nada mais emblemaacutetico para representar a corrida ao leite do que a investida de um grupo conhecido pela sua habilidade de multiplicar o capital dos negoacutecios em que investe

O ponto eacute que se trata de uma inovaccedilatildeo consideraacutevel feita por quem chega de fora olha para o setor sem os vieses criados por quem jaacute estaacute nele haacute tempos e faz perguntas que os participantes tradicionais com suas posiccedilotildees de lideranccedila natildeo precisam fazer essa descoberta traz ameaccedilas ainda maiores para as cooperativas(CARVALHO 2008 p1)

O extrato da entrevista transcrito a seguir ilustra uma preocupaccedilatildeo da

lideranccedila da cooperativa objeto deste estudo no que se refere a perspectivas de

longo prazo quanto agrave sua sobrevivecircncia

Temos a necessidade para os proacuteximos 10 anos muito grande de crescer de unir Vem crescendo mas ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao mundo globalizado precisa unir jaacute fez incorporaccedilatildeo de Satildeo Domingos do Prata precisa juntar mais cooperativas ser forte para disputar mercado Se natildeo crescer com outras cooperativas se natildeo acontecer uma uniatildeo de cooperativas vai sair de circulaccedilatildeo (Diretor Presidente COOLVAM 2008)

Desse mesmo modo a preocupaccedilatildeo quanto agrave continuidade e sobrevivecircncia eacute

comum nas pequenas cooperativas devido principalmente agrave pressatildeo que sofrem do

mercado na comercializaccedilatildeo de produtos pois concorrem com cooperativas maiores

e com grandes empresas privadas

Esse quadro vem progredindo desde a deacutecada de 90 com a abertura de

mercado onde a entrada de produtos como o leite tiveram condiccedilotildees de

financiamento mais favoraacuteveis do que nas induacutestrias nacionais que foram obrigadas

a reduzir preccedilos (FAVERET FILHO 2002) Nesse periacuteodo milhares de produtores

abandonaram a atividade e empresas regionais e cooperativas fecharam ou foram

vendidas

21

Conforme Faveret Filho (2002 p240) tais mudanccedilas levaram empresas a

buscar mecanismos de aumento da eficiecircncia produtiva Portanto haacute grandes

desafios para as cooperativas de laticiacutenios brasileiras principalmente as pequenas

cooperativas em atuar nesse mercado Eacute por esse motivo que a forma de conduzi-

las eacute discutida em diferentes perspectivas Sob o ponto de vista de Chaddad (2004)

o desempenho dessas organizaccedilotildees se daacute em funccedilatildeo de

poliacutetica agriacutecola regulamentaccedilatildeo do setor leiteiro barreiras agrave importaccedilatildeo de leite e derivados estrutura do setor produtivo poliacuteticas de apoio a organizaccedilotildees cooperativas niacutevel tecnoloacutegico e educacional dos produtores e ambiente institucional entre outros (CHADDAD 2004 p36)

Outro trabalho realizado com cooperativas de leite de outros paises identificou

pontos comuns indicados como responsaacuteveis pelo sucesso dessas organizaccedilotildees

Consolidaccedilatildeo por meio de fusotildees e incorporaccedilotildees

Alianccedilas estrateacutegicas

Sistema profissional e representativo de governanccedila corporativa

Estrutura centralizada

Esforccedilos de fidelizaccedilatildeo do cooperado

Novos mecanismos de capitalizaccedilatildeo

Estrateacutegia competitiva alinhada com estrutura corporativa

(CHADDAD 2004 p37) Esses pontos corroboram Faveret Filho (2002) ao mostrar que mudanccedilas no

ambiente competitivo devido agrave globalizaccedilatildeo e avanccedilos tecnoloacutegicos forccedilam as

cooperativas a buscar ganhos de eficiecircncia a fim de natildeo perder relevacircncia no

mercado Segundo Chaddad (2004) essa busca resultou em alianccedilas estrateacutegicas

com outras cooperativas ou mesmo com empresas privadas O termo alianccedila

estrateacutegica expressa a decisatildeo de uma ou mais empresas cooperarem para atingir

objetivos comuns Para Lewis citado em Rola e e Sobral (2002) numa alianccedila

estrateacutegica as empresas cooperam em nome de suas necessidades muacutetuas e

compartilham os riscos para alcanccedilar um objetivo comum

Todos os pontos indicados para o sucesso das cooperativas de lacticiacutenios

devem ser cuidadosamente discutidos e avaliados para adequada aplicaccedilatildeo

conforme a realidade de cada cooperativa Para isso os gestores devem ter uma

visatildeo ampla da organizaccedilatildeo e conhecer o ambiente onde a empresa estaacute inserida

(SANTOS 2000) Deste modo o planejamento e execuccedilatildeo de diferentes formas de

22

atuaccedilatildeo do cooperativismo frente agrave conjuntura apresentada passam a ser a busca

pelo aperfeiccediloamento das ferramentas de gestatildeo Isso exige dos dirigentes assim

como dos soacutecios conhecimento e constante aperfeiccediloamento

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa

Na operacionalizaccedilatildeo das atividades gerenciais da cooperativa assim como

em outro tipo de empresa o corpo diretivo deve estar atento aos objetivos

especiacuteficos agrave missatildeo da organizaccedilatildeo Isso facilita a busca do consenso e

potencializa os esforccedilos das partes em benefiacutecio do todo (Santos 2000)

Deste modo para que as tomadas de decisotildees sejam compartilhadas de

forma oportuna e adequada na cooperativa os dirigentes e associados devem ter

claro seu papel no processo administrativo

A tabela 01 que segue mostra as diferenccedilas tiacutepicas entre uma empresa

mercantil e uma organizaccedilatildeo cooperativa

Empreendimento cooperativo Empresa mercantil

bull sociedade simples regida por

legislaccedilatildeo especiacutefica bull nuacutemero de associados limitado agrave

capacidade de prestaccedilatildeo de serviccedilos bull controle democraacutetico cada pessoa

corresponde a um voto bull objetiva a prestaccedilatildeo de serviccedilos bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no nuacutemero de associados bull natildeo eacute permitida a transferecircncia de

quotas-parte a terceiros bull retorno dos resultados eacute proporcional

ao valor das operaccedilotildees

bull sociedade de capital - accedilotildees bull nuacutemero limitado de soacutecios bull cada accedilatildeo ndash um voto bull objetiva o lucro bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no capital bull eacute permitida a transferecircncia e a venda

de accedilotildees a terceiros bull dividendo eacute proporcional ao valor de

total das accedilotildees

Tabela 1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil Fonte OCB ( 2007)

Portanto os dirigentes devem dar maior atenccedilatildeo a pontos que merecem mais

cuidado na gestatildeo cooperativa Conforme Chiavenato (1993) no funcionamento das

organizaccedilotildees as vaacuterias funccedilotildees do administrador consideradas como um todo

formam o processo administrativo composto pelo planejamento organizaccedilatildeo

direccedilatildeo e controle Consideradas separadamente constituem as funccedilotildees

administrativas mas quando visualizadas na sua abordagem total para o alcance de

objetivos elas formam esse processo De acordo com Chiavenato (1993) o processo

23

administrativo implica que os acontecimentos e as relaccedilotildees sejam dinacircmicos com

mudanccedilas contiacutenuas uma vez que este natildeo eacute algo parado estaacutetico eacute moacutevel natildeo

tem um comeccedilo nem um fim nem uma sequumlecircncia fixa de eventos

Neste caso o papel da direccedilatildeo eacute dinamizar a empresa com atuaccedilatildeo sobre

todos os recursos e orientaccedilatildeo a ser dada agraves pessoas por meio de uma adequada

comunicaccedilatildeo habilidade de lideranccedila e motivaccedilatildeo Na gestatildeo da organizaccedilatildeo

cooperativa conforme Schneider (1999) cabe aos gestores encontrar mecanismos

de decisatildeo que sejam conformes ao mesmo tempo agraves exigecircncias essenciais da

democracia cooperativa e aos da eficaacutecia-eficiecircncia da empresa orgacircnica

Deste modo em niacutevel de coordenaccedilatildeo da empresa as decisotildees se ordenam

segundo uma hierarquia em decisotildees estrateacutegicas decisotildees taacuteticas e decisotildees

teacutecnicas ou operacionais De acordo com Chiavenato (1993) o niacutevel estrateacutegico

corresponde ao niacutevel mais elevado da empresa cuida das atividades da

organizaccedilatildeo e seu ambiente Situam-se as decisotildees fundamentais de ordem geral

ou econocircmica e que envolvem os objetivos de meacutedio e longo prazo Conforme

Schneider (1999) em cooperativas deve ser realizada de forma soberana pelos

associados tendo em vista os seus interesses seguindo determinados planos

As decisotildees taacuteticas satildeo do niacutevel gerencial coordenam e unificam o

desempenho das tarefas pelo sistema operacional Cabem aos gestores ou teacutecnicos

decidir pela melhor conduta ou teacutecnica de produccedilatildeo Neste niacutevel conforme

Schneider (1999) em cooperativas cabe um papel maior aos membros do Conselho

de Administraccedilatildeo que concretizam as diretrizes gerais do niacutevel estrateacutegico

O niacutevel teacutecnico operacional diz respeito ao desempenho das tarefas na

organizaccedilatildeo relacionadas agrave produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de produtos Conforme

Chiavenato (1993) estaacute relacionado agrave execuccedilatildeo cotidiana e eficiente das tarefas e

operaccedilotildees da organizaccedilatildeo Segundo Schneider em cooperativas essa fase estaacute

acessiacutevel a um nuacutemero limitado de soacutecios eacute atribuiccedilatildeo predominante do quadro

executivo e teacutecnico da cooperativa

Eacute importante considerar tambeacutem que um fator que influencia particularmente

a forma de accedilatildeo na tomada de decisotildees eacute o tamanho da empresa Em cooperativas

Schneider (1999) faz a seguinte observaccedilatildeo

Quando se trata de uma cooperativa pequena geralmente os associados compreendem mais facilmente a natureza dos problemas e de suas soluccedilotildees Por isso tecircm melhores condiccedilotildees de eles mesmos tomarem as decisotildees em todos os niacuteveis ateacute mesmo as de caraacuteter teacutecnico Poreacutem numa cooperativa maior

24

e mais complexa a estrutura de poder se apresenta com clara distinccedilatildeo entre a estrutura de fins e a estrutura de meios os fins se asseguram pela assembleacuteia de soacutecios que expressa de forma soberana seus objetivos e interesses pelos fiscais eleitos e pelo presidente Os meios satildeo realizados atraveacutes da direccedilatildeo os executivos contratados os teacutecnicos e os funcionaacuterios (SCHNEIDER 1999 p188)

Na evoluccedilatildeo do processo administrativo em cooperativas portanto as

tomadas de decisotildees tecircm a participaccedilatildeo dos soacutecios efetivadas nas instacircncias de

poder conforme descrito por Schneider (1999)

a) Assembleacuteia Geral ordinaacuteria ou extraordinaacuteria eacute o oacutergatildeo soberano que expressa a vontade soberana dos soacutecios sobre todos os assuntos essenciais da organizaccedilatildeo Tem analogia com a assembleacuteia de acionistas de uma sociedade anocircnima

b) O Conselho de Administraccedilatildeo a democracia natildeo significa o governo de todos de forma direta e imediata em todos os niacuteveis de atividade da organizaccedilatildeo Reivindicar a democracia direta onde os soacutecios participariam de todos os niacuteveis de decisotildees levaria agrave perda da agilidade e eficiecircncia imprescindiacuteveis em cada empresa Ela soacute eacute possiacutevel em unidades muito pequenas

c) Outras instacircncias de poder satildeo o Conselho Diretor escolhido dentre os membros do Conselho de Administraccedilatildeo quando este eacute muito grande e dificulta a coesatildeo e o razoaacutevel grau de informaccedilatildeo Sua funccedilatildeo eacute exercer por delegaccedilatildeo as atribuiccedilotildees outorgadas pelo Conselho de Administraccedilatildeo Eacute um oacutergatildeo de tutela permanente do presidente ao qual devem submeter-se as principais decisotildees ou um organismo colegiado de decisotildees (SCHNEIDER 1999 P189 - 190)

Vinculado ao Conselho de Administraccedilatildeo eacute criado em cooperativas o Comitecirc

Educativo segundo Valadares (1995) este assume as atividades vinculadas ao

desenvolvimento social e poliacutetico dos associados preparando e capacitando-os para

agirem decisivamente na organizaccedilatildeo cooperativa Este mecanismo possibilita aos

associados atuarem em grupo e constitui-se de um canal por meio do qual podem

expressar suas necessidades desejos e inquietudes aleacutem de constituir um meio de

comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo importante entre os dirigentes e as bases sociais

Portanto o seu funcionamento estaacute orientado pelos objetivos de estruturar um

espaccedilo de poder na cooperativa viabilizando a participaccedilatildeo democraacutetica do maior

nuacutemero de associados na gestatildeo cooperativa (VALADARES 2005)

Ao tratar do processo administrativo no acircmbito interno das cooperativas

devem ser estimuladas interaccedilotildees entre os cooperados aleacutem da participaccedilatildeo

nessas instacircncias de poder Nesse sentido uma das condiccedilotildees colocadas por

Schneider (1999) eacute a necessidade de superar a impessoalidade nas interaccedilotildees entre

a cooperativa e os associados mais comum em cooperativas grandes e conseguir

articulaccedilatildeo de todos por meio de um variado circuito de informaccedilotildees livres de

quaisquer manipulaccedilotildees que seraacute ao mesmo tempo um estiacutemulo ao conhecimento e

agrave discussatildeo

25

O risco da falta de informaccedilatildeo do produtor nesse processo pode acarretar um

consequumlente sentimento de desconfianccedila que de acordo com a observaccedilatildeo de

Perius (1983) a esse respeito ldquonasce assim um conflito entre soacutecios e

administradoresrdquo Para este autor A informaccedilatildeo completa e apropriada aos soacutecios eacute essencial tarefa da educaccedilatildeo cooperativista Sendo a atividade cooperativa uma atividade essencialmente econocircmica esses conhecimentos devem incluir definitivamente informaccedilotildees completas e exatas sobre os programas as poliacuteticas as operaccedilotildees e as estruturas da cooperativa como empresa comercial (JOACHIM CIT IN PERIUS 1983 p 73)

Com essas observaccedilotildees confirma-se que a comunicaccedilatildeo deve ter

importacircncia vital no processo de gestatildeo cooperativa pois esta quando utilizada em

diferentes canais acessiacuteveis ao produtor vai materializar a participaccedilatildeo de

cooperados nos diferentes niacuteveis de tomadas de decisotildees

23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas Grande parte da produccedilatildeo de leite no paiacutes eacute realizada por pequenos

produtores que em sua maioria tecircm na atividade a uacutenica fonte de renda Conforme

Gomes (2005) a produccedilatildeo de leite em Minas Gerais configura-se como uma das

atividades mais importantes para a economia do Estado Eacute tambeacutem significativa face

ao seu percentual de participaccedilatildeo no volume total da produccedilatildeo nacional

Nesse segmento a referecircncia tiacutepica a produtores rurais se daacute em funccedilatildeo do

volume produzido identificando-os como pequeno meacutedio e grande produtor

Conforme Gomes (1987 e 2005) o perfil do produtor de leite em Minas Gerais segue

as seguintes caracteriacutesticas

o pequeno produtor trabalha com produtividade meacutedia de 25 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 12 litros de leite Cerca de 90 da matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente familiar

O meacutedio produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 40 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo meacutedia diaacuteria 100 L de leite A matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente contratada e a matildeo-de-obra familiar corresponde a 30

Jaacute o grande produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 6 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 360 litros de leite A matildeo-de-obra familiar corresponde a apenas 8 do total (Gomes 1987)

A Idade meacutedia de 52 anos para os pequenos produtores sendo constatado um envelhecimento neste grupo fenocircmeno tiacutepico da pequena produccedilatildeo familiar isto eacute o chefe da famiacutelia suporta conviver com pequena lucratividade

A escolaridade meacutedia de 517 anos o que aumenta agrave medida que aumentam os estratos de produccedilatildeo

Os produtores de mais de 1000 litros tecircm 658 anos de escolaridade

Em meacutedia os produtores tecircm 20 anos de experiecircncia na atividade leiteira

Predominantemente a origem do produtor eacute do proacuteprio municiacutepio num percentual de 73

Em meacutedia tecircm 264 filhos havendo maior nuacutemero de filhos e filhas que trabalham na cidade do que na atividade leiteira

Quanto agrave residecircncia do produtor prevalece a propriedade rural com 77 dos entrevistados

As esposas pouco participam de algum trabalho na produccedilatildeo de leite ateacute mesmo entre os produtores ateacute 50 litros de leitedia (GOMES 2005 P 40-41)

Essa estatiacutestica natildeo varia muito para a atividade nos outros estados

Nogueira Netto et all (2004) mostram que no Brasil cerca de dois a cada trecircs

produtores de leite satildeo associados a cooperativas que captam leite acima de 555

mil litros por dia A meacutedia diaacuteria de leite obtida por esses produtores estaacute

representada na Figura 2 Conforme este autor os produtores com entrega diaacuteria

ateacute 100 litrosdia formam 605 de todos os cooperados enquanto 168 entregam

entre 100 e 200 litrosdia Na faixa de 200 a 500 litros encontram-se 109 dos

cooperados e entre 500 a 1000 litros somente 50 Acima de 1000 litros estatildeo

68 dos cooperados

605

168109 50 68

00

100

200

300

400

500

600

700

Produtores

ateacute 100

100 a 200 lts

200 a 500 lts

500 a 1000 lts

acima de 1000 lts

Figura 2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em cooperativas

Fonte de dados Nogueira Netto et all (2004 p74)

Comparativamente o perfil da produccedilatildeo em outros paiacuteses apresenta um

quadro diferente Conforme Nogueira Netto et all (2004) na Uniatildeo Europeacuteia por

exemplo os produtores considerados de pequena produccedilatildeo satildeo os que produzem

26

27

um volume inferior agrave meacutedia de 545 litrosdia ou seja muito distante da realidade

apresentada no Brasil

De modo semelhante ao que ocorre com as cooperativas que tecircm sido

pressionadas para especializaccedilatildeo e crescimento acontece com o produtor rural

Este eacute pressionado da porteira para dentro por produtividade e ainda vivencia

criacuteticas sobre a forma de produccedilatildeo

Dentro da porteira um dos maiores problemas ainda eacute o de gestatildeo Muitos produtores satildeo eficientes mas natildeo estatildeo preparados para gerir os negoacutecios () as receitas anuais na propriedade (incluindo descartes) satildeo de R$ 056 por litro 27 a mais do que os custos totais de R$ 044 (inclui terra e proacute-labore) () vatildeo ficar no mercado apenas os profissionais (EMATER E AGROINFORME 2008 P2)

Esse quadro corrobora outra caracteriacutestica do perfil dos produtores que eacute o

sistema de produccedilatildeo Estes trabalham distintamente pois conforme Fellet e Galan

(2000) existem na atividade produtores com os sistemas de produccedilatildeo

completamente especializados com elevados pacotes tecnoloacutegicos modernos para

a produccedilatildeo de leite Enquanto outros encontram-se com sistemas nitidamente

extrativistas com baixos investimentos e iacutendices de produccedilatildeo Isso retrata e

distancia os produtores dos diferentes estratos apresentados No primeiro caso

estatildeo os produtores de maiores volumes e no segundo modo de produccedilatildeo encontra-

se os produtores de pequena produccedilatildeo

Essa realidade de pequenos produtores vai de encontro agraves cooperativas de

laticiacutenios que conforme visto anteriormente tecircm como opccedilatildeo de sobrevivecircncia agraves

pressotildees de mercado o crescimento De modo geral o aumento da captaccedilatildeo meacutedia

por produtor tem sido estimulado por todas as empresas de laticiacutenios mas conforme

Favoret Filho (2000) os grandes produtores satildeo os mais incentivados tendo em

vista o pagamento diferenciado de preccedilos aos produtores de maior volume O que

aumenta sua rentabilidade e viabiliza novas expansotildees cada vez mais difiacuteceis para

os pequenos

Nos dados apresentados em Gomes (1987 e 2005) que retrata o perfil do

produtor de leite e em Nogueira Netto et alli (2004) que mostra a participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas por estrato de produccedilatildeo reafirma portanto a

relevacircncia social do cooperativismo de leite

Portanto na funccedilatildeo de mediadoras dos produtores a montante e a jusante na

cadeia produtiva as cooperativas devem ainda apoiar a criaccedilatildeo de mecanismos para

mudar a realidade instalada na produccedilatildeo de pequenos produtores afim de superar

28

as diferenccedilas tratadas em Favoret Filho (2000) Certamente natildeo se conseguiraacute

mudar essa realidade com a accedilatildeo isolada desses produtores

Esse quadro confirma a heterogeneidade qualitativa em volume de produccedilatildeo

de produtores rurais que reflete na oportunidade de participaccedilatildeo nas diferentes

instacircncias da gestatildeo cooperativa

Portanto se na autogestatildeo cooperativa a representatividade entre os

produtores eacute equilibrada jaacute que cada associado tem direito a um voto independente

do seu volume de produccedilatildeo espera-se que esteja aiacute a oportunidade do pequeno

produtor defender os seus interesses por meio de uma maior participaccedilatildeo nas

tomadas de decisotildees Uma maior participaccedilatildeo deste grupo seria tambeacutem uma forma

de mudar o ldquostatus quordquo de grande parte de pequenos produtores de leite Portanto

espera-se que a cooperativa incentive a participaccedilatildeo de produtores na sua estrutura

de gestatildeo para que essas diferenccedilas sejam melhor niveladas

29

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO

A construccedilatildeo do conhecimento requer um domiacutenio conceitual baacutesico para que

a decodificaccedilatildeo dos dados identificados possa se sustentar Deste modo Kopnin

(1978) argumenta que

A teoria descreve e explica um conjunto de fenocircmenos fornece o conhecimento dos fundamentos reais de todas as teses lanccediladas e reduz os descobrimentos em determinado campo e as leis a um princiacutepio unificador uacutenico sendo que a unificaccedilatildeo do conhecimento em teoria eacute realizada antes de tudo pelo proacuteprio objeto e suas leis determinando a relaccedilatildeo entre juiacutezos isolados conceitos e deduccedilotildees na teoria (KOPNIN 1978 p237)

Portanto esta etapa tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias e

argumentos para interpretar as praacuteticas presentes no caso e nos discursos

vivenciados durante a pesquisa de campo Primeiramente faz-se uma revisatildeo sobre

accedilatildeo coletiva e como se fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme

proposta de Mancur Olson (1999) de forma a dar base e direcionamento agraves outras

discussotildees do trabalho Em seguida haacute uma abordagem conceitual e praacutetica sobre

participaccedilatildeo e ao final completa-se com argumentos sobre cooperaccedilatildeo e capital

social apresentados como correccedilotildees para os dilemas de accedilatildeo coletiva

31 Accedilatildeo Coletiva 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos

Dificilmente conseguiriacuteamos que as pessoas participassem com igual

dedicaccedilatildeo empenho e motivaccedilatildeo em algo que venha a ter o mesmo benefiacutecio e

resultados para todos Pois o indiviacuteduo age segundo seu proacuteprio interesse com o

fim de maximizar seus benefiacutecios Essa suposiccedilatildeo estaacute fundamentada na Teoria da

Escolha Racional proposta por Olson (1999) e corroborada por Elster (1994) ao

afirmar que os problemas de accedilatildeo coletiva surgem porque eacute difiacutecil conseguir que as

pessoas cooperem para benefiacutecio muacutetuo Segundo Olson (1999) o comportamento

centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral considerado a regra pelo menos quando

haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas Neste raciociacutenio justifica-se que

numa cooperativa natildeo haacute de se esperar que todos os soacutecios tenham o mesmo

empenho para o seu desenvolvimento assim como eacute difiacutecil que todos consigam

30

usufruir dos resultados alcanccedilados Isso eacute um dilema vivenciado no cooperativismo

que se origina por diversas situaccedilotildees as quais seratildeo discutidas neste capiacutetulo

Esta seccedilatildeo inicia-se por apresentar a definiccedilatildeo do termo accedilatildeo coletiva e bem

puacuteblico cujos sentidos seratildeo trabalhados no decorrer desta dissertaccedilatildeo

O termo accedilatildeo coletiva foi difundido por Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica

da accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas bem como

problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a coerecircncia a eficaacutecia e a

atratividade dos grupos nesse processo

Uma accedilatildeo coletiva surge basicamente para solucionar necessidades geradas

por dois fatores oportunidades e desejos ou seja pelo que as pessoas podem fazer

e pelo que querem fazer (ELSTER 1994) Deste modo mesmo que as pessoas

difiram em seus desejos assim como em suas oportunidades os desejos humanos

podem ter pontos comuns aos apresentados individualmente

Quando estes pontos comuns satildeo reconhecidos pelos indiviacuteduos ocorre o

que Marx chamaria de adquirir consciecircncia (OLSON 1999) A partir desses pontos

comuns os homens planejam uma accedilatildeo coordenada conforme seus proacuteprios

interesses Essa atuaccedilatildeo portanto recebe o nome de accedilatildeo coletiva A accedilatildeo coletiva

desta forma seria a maneira pela qual o individuo se faz presente nos sistemas

abstratos reforccedilando a sua capacidade transformadora desde que consiga agir em

coletividade (ASENSI 2006)

Para Olson (1999) haacute trecircs tipos de situaccedilotildees teoacutericas (ou ideais) em que os

indiviacuteduos podem estar frente agrave accedilatildeo coletiva No primeiro caso em que grupos de

indiviacuteduos jaacute adquiriram ou natildeo a consciecircncia do interesse que eacute partilhado por

todos mas os custos de empreenderem na accedilatildeo satildeo maiores em relaccedilatildeo aos

benefiacutecios que teratildeo Neste caso a accedilatildeo coletiva eacute inviaacutevel De outra forma os

indiviacuteduos jaacute compartilham objetivos mas os custos para consecuccedilatildeo do benefiacutecio

satildeo da mesma proporccedilatildeo que teratildeo de retorno se empreenderem a accedilatildeo Neste

caso a possibilidade de accedilatildeo coletiva eacute baixa Emoutra situaccedilatildeo os benefiacutecios da

accedilatildeo coletiva satildeo muito maiores do que os custos individuais Neste caso haacute

existecircncia de grupos sociais com potencialidade de accedilatildeo coletiva que satildeo os grupos

organizados

31

A accedilatildeo coletiva eacute necessaacuteria para a conquista de espaccedilos da cidadania e da

democracia que requerem mobilizaccedilatildeo social Com esse objetivo haacute accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidas por diferentes atores e sujeitos sociais movimentos

de mulheres de jovens de direitos humanos ecoloacutegicos e as mobilizaccedilotildees

pacifistas satildeo exemplos de accedilotildees coletivas cujas formas de articulaccedilatildeo mobilizaccedilatildeo

e luta expressam as caracteriacutesticas proacuteprias dos movimentos e accedilotildees coletivas da

contemporaneidade (QUEIROZ 2003)

Ramirez e Berdeguegrave (2002) entendem a accedilatildeo coletiva como uma estrateacutegia

instrumental orientada a alcanccedilar resultados Neste enfoque estes autores

destacam trecircs objetivos da accedilatildeo

(a) melhorar os ingressos ou outra dimensatildeo do bem-estar material imediato aos grupos envolvidos (b) modificar as relaccedilotildees sociais no interior de uma populaccedilatildeo especiacutefica e particularmente as relaccedilotildees de poder e (c) influenciar sobre as poliacuteticas puacuteblicas para ampliar as oportunidades de desenvolvimento e enfraquecer ou superar os sistemas de exclusatildeo e de discriminaccedilatildeo (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

Outros elementos que os autores supracitados entendem ser de uma visatildeo

realista sobre accedilatildeo coletiva satildeo

(1) a accedilatildeo coletiva natildeo se justifica por si soacute o que faz pertinente e necessaacuterio nos perguntarmos pela sua eficaacutecia (2) a accedilatildeo coletiva natildeo substitui a accedilatildeo e a responsabilidade individual mas precisa dela e ao mesmo tempo a pertencia e (3) a accedilatildeo coletiva natildeo eacute ubiacutequa e permanente mas sim acidental (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

A accedilatildeo coletiva portanto eacute capaz de promover

(a) desenvolvimento das capacidades dos indiviacuteduos (capital humano) (b) fortalecimento organizacional (c) construccedilatildeo de redes e alianccedilas sociais e (d) profundizaccedilatildeo de normas e valores (tais como a solidariedade a reciprocidade a confianccedila) que contribuem ao alcance do bem comum (capital social) (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p3)

Mas de modo geral o envolvimento dos indiviacuteduos eacute que vai dar maior ou

menor potencialidade agrave consecuccedilatildeo dos objetivos pretendidos numa accedilatildeo coletiva

Portanto eacute importante o entendimento sobre o comportamento dos indiviacuteduos E eacute

nessa direccedilatildeo que Olson (1999) iniciou sua investigaccedilatildeo sobre a participaccedilatildeo

individual na accedilatildeo coletiva conforme exposto neste trecho da sua obra

A ideacuteia de que grupos sempre agem para promover seus interesses eacute supostamente baseada na premissa de que na verdade os membros de um grupo agem por interesse pessoal individual Se os indiviacuteduos integrantes de um grupo altruisticamente desprezassem seu bem-estar pessoal natildeo seria muito provaacutevel que em coletividade eles se dedicassem a lutar por algum egoiacutestico objetivo comum ou grupal Tal altruiacutesmo eacute de qualquer maneira considerado uma exceccedilatildeo e o comportamento centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral

32

considerado a regra pelo menos quando haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas(OLSON 1999 p13)

Essa visatildeo caracteriza o individualismo metodoloacutegico ou comportamento

utilitarista Em seu trabalho Olson (1999) faz uma comparaccedilatildeo do comportamento

individual na accedilatildeo coletiva com o comportamento do mercado em concorrecircncia

Nesta analogia embora todas as empresas tenham o interesse comum em

maximizar seus lucros eacute do interesse individual de cada uma delas que as outras

paguem os custos necessaacuterios para obter preccedilos mais altos que se daria com uma

reduccedilatildeo na produccedilatildeo de outrem

Na conduccedilatildeo do seu pensamento central Olson (1999) faz uma observaccedilatildeo

para justificar o comportamento utilitarista

Ningueacutem se surpreende quando um homem de negoacutecios persegue individualmente mais lucros quando trabalhadores perseguem individualmente salaacuterios mais altos ou quando consumidores perseguem individualmente preccedilos mais baixos A ideacuteia de que os grupos tendem a agir em favor de seus interesses grupais eacute concebida como uma extensatildeo loacutegica dessa premissa amplamente aceita do comportamento racional centrado nos proacuteprios interesses (OLSON 1999 p13)

Neste sentido vecirc-se que os desejos individuais que motivam as pessoas a

buscarem melhores condiccedilotildees de vida estatildeo em diferentes contextos Entretanto a

busca por esses avanccedilos eacute perseguida racionalmente

Considerando que o termo racionalidade eacute utilizado em diferentes sentidos

Elster (1994) traz uma explicaccedilatildeo que eacute complementar para o entendimento sobre o

comportamento racional dos indiviacuteduos

Racionalidade eacute uma relaccedilatildeo entre uma crenccedila e a premissa sobre a qual esta eacute mantida mas que eacute ldquonecessaacuterio ir aleacutemrdquo assim como ldquoeacute necessaacuterio que a quantidade de indiacutecios reunidos seja de certa forma oacutetimardquo e que em muitas situaccedilotildees de escolha as probabilidades devem ser consideradas muito seriamente e agir racionalmente eacute fazer tatildeo bem por si quanto se eacute capaz Quando dois ou mais indiviacuteduos interagem eles podem fazer muito pior por si mesmos do que agindo isolados Essa eacute a premissa da teoria dos jogos Considera que toda accedilatildeo racional deve ser auto-interessada porque eacute motivada pelo prazer que proporciona ao agente (ELSTER 1994 p47-59)

A propoacutesito o que eacute considerado racional por um indiviacuteduo que faz parte de

um grupo social ao tomar uma decisatildeo em relaccedilatildeo a uma accedilatildeo coletiva pode ser

considerado irracional pelo seu par De certa forma a razatildeo eacute uma maneira de

organizar a realidade pela qual esta se torna compreensiacutevel (CHAUI 1994) Nesse

aspecto Weber (1979) deu sua contribuiccedilatildeo ao explicar que um modo de ver os

processos sociais estaacute relacionado ao modelo de racionalizaccedilatildeo do mundo moderno

33

Nesse sentido Weber (1979) entende a racionalizaccedilatildeo como o caminho que orienta

a sociedade para o mais alto grau de instrumentalizaccedilatildeo e burocratizaccedilatildeo onde a

eacutetica e os valores satildeo determinados pelos fins uacuteltimos (ALMEIDA 2007)

Portanto dadas diferentes formas de racionalidade para satisfaccedilatildeo individual

numa accedilatildeo coletiva Olson (1999) natildeo desconsiderou o valor e importacircncia de outros

fatores que tambeacutem estatildeo presentes na conduccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas relaccedilotildees

com o grupo e nas suas decisotildees de participaccedilatildeo Para este autor

ldquoos incentivos econocircmicos natildeo satildeo para os indiviacuteduos os uacutenicos incentivos possiacuteveis As pessoas algumas vezes sentem-se motivadas tambeacutem por um desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e psicoloacutegicordquo (OLSON 1999 p72)

Neste ponto de vista pode-se empregar que a racionalidade na participaccedilatildeo

natildeo estaacute fundada somente em aspectos econocircmicos mas tambeacutem em outros

incentivos sociais e psicoloacutegicos Conforme definiu Olson (1999) esta eacute uma visatildeo

mais comumente compartilhada por outros autores da ciecircncias sociais que discutem

a temaacutetica da accedilatildeo coletiva poreacutem natildeo corroborada com o sentido utilitarista

tratado por ele Mas o diferencial deste autor eacute justamente analisar conceitos das

instituiccedilotildees econocircmicas de forma distinta em diferentes situaccedilotildees na sociedade para

compreender o problema da cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos Nessa discussatildeo eacute

indispensaacutevel definir alguns conceitos instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

Entende-se por instituiccedilotildees segundo North citado em Santos (2000)

um conjunto de regras poliacuteticas sociais e legais que estabelecem as bases para a produccedilatildeo troca distribuiccedilatildeo ou produccedilatildeo correspondem ao sistem de normas ndash regras formais (constituiccedilotildees leis) restriccedilotildees informais (normas de comportamento costumes convenccedilotildees tradiccedilotildees tabus e coacutedigos de autoconduta) e sistemas de controle ndash que regulam a interaccedilatildeo humana na sociedade (SANTOS 2000 p70)

Jaacute as organizaccedilotildees conforme Santos (2000) satildeo entendidas como sendo

um grupo de indiviacuteduos dedicados a alguma atividade executada para um

determinado fim e que podem constituir-se em firmas associaccedilotildees partidos

poliacuteticos etc Segundo Olson (1999) existem organizaccedilotildees de todos os tipos

formas e tamanhos poreacutem uma caracteriacutestica comum a todas elas eacute a promoccedilatildeo

dos interesses de seus membros Para Festinger e Laski citados em Olson (1999) a

ldquoatraccedilatildeo que exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer

mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo

consecutivamente as ldquoassociaccedilotildees existem para realizar propoacutesitos que um grupo

34

de pessoas tem em comumrdquo Embora na visatildeo olsoniana frequentemente elas

sirvam a interesses puramente pessoais e individuais

Assim como o Estado eacute um tipo de organizaccedilatildeo que provecirc benefiacutecios puacuteblicos

para seus cidadatildeos similarmente outros tipos de organizaccedilotildees provecircem benefiacutecios

puacuteblicos para seus membros Deste modo conforme Olson (1999) os benefiacutecios

comuns ou coletivos proporcionados pelo governo satildeo usualmente chamados de

ldquobem puacuteblicordquo ou ldquobenefiacutecios puacuteblicosrdquo Neste caso os serviccedilos tecircm de estar

disponiacuteveis para todos se estiverem disponiacuteveis para algueacutem Portanto o bem

puacuteblico se caracteriza pela natildeo excludecircncia e indivisibilidade dos resultados

produzidos individual ou coletivamente numa organizaccedilatildeo Com outros argumentos Olson (1999) utiliza o conceito de bens puacuteblicos de

forma generalizada

o provimento de benefiacutecios puacuteblicos ou coletivos eacute a funccedilatildeo fundamental das organizaccedilotildees em geral portanto nas organizaccedilotildees a consecuccedilatildeo de qualquer objetivo comum ou a satisfaccedilatildeo de qualquer interesse comum significa que um benefiacutecio puacuteblico ou coletivo foi proporcionado ao grupo (OLSON 1999 P27-28)

Num entendimento anaacutelogo eacute que se insere o sentido do conceito de bens

puacuteblicos no cooperativismo pois uma vez constituiacuteda os benefiacutecios gerados pela

cooperativa passam a ser um bem puacuteblico para os seus associados e estes natildeo

podem ser excluiacutedos da utilizaccedilatildeo dos benefiacutecios conseguidos Mesmo que os

associados tenham participado ou natildeo da sua formaccedilatildeo ou de participarem

ativamente ou natildeo das suas accedilotildees Na praacutetica eacute de se esperar que a organizaccedilatildeo

cooperativa produza benefiacutecios a todos os associados

312 Dilemas de accedilatildeo coletiva

Para Olson (1999) numa accedilatildeo coletiva o fato de uma situaccedilatildeo ser desejaacutevel

para as pessoas envolvidas natildeo garante que essa situaccedilatildeo ideal iraacute prevalecer Ao

agir racionalmente os indiviacuteduos muitas vezes podem natildeo atingir a melhor soluccedilatildeo

mediante as circunstacircncias que se encontram Outro determinante eacute que o fato de

agirem coletivamente na implementaccedilatildeo de uma accedilatildeo natildeo garante tambeacutem a

continuidade da cooperaccedilatildeo pelos mesmos agentes jaacute que os indiviacuteduos tendem a

agir individualmente em algumas casos e em outros natildeo Portanto o interesse de

cada um eacute que vai determinar o seu grau de participaccedilatildeo

35

Surge daiacute o dilema da accedilatildeo coletiva Deste modo indiviacuteduos se empreendem

numa accedilatildeo para atender seus interesses mas natildeo conhecem integralmente as

circunstacircncias em que iratildeo fazer isso Conforme Bueno (2004) uma das razotildees

porque as pessoas natildeo podem prever as consequencias completas de suas

decisotildees eacute porque tais consequecircncias dependem do que as demais pessoas iratildeo

fazer Eacute como em um jogo

Bueno (2006) contribui ao sugerir diferentes situaccedilotildees que ilustram quando

dilemas de accedilatildeo coletiva podem ser definidos Primeiro no caso em que se observa

que a cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos se desenvolve espontaneamente agrave medida

que estes percebem os benefiacutecios muacutetuos a serem alcanccedilados em virtude do

esforccedilo coletivo Deste modo os participantes coordenam suas accedilotildees para superar

os obstaacuteculos existentes agrave accedilatildeo cooperativa Neste caso a confianccedila muacutetua eacute o preacute-

requisito para validaccedilatildeo do processo pois caso um dos participantes natildeo continue a

cooperar acarretaraacute desvantagem para aquele que cooperou A segunda

possibilidade sugerida por Bueno (2004) eacute representada pelo claacutessico Dilema do

Prisioneiro Esse eacute o mais conhecido de todos os jogos conforme relatado

sucintamente por Elster (1994)

Dois prisioneiros suspeitos de terem colaborado num crime satildeo colocados em celas separadas A poliacutecia diz a cada um que seraacute liberado (4) se denunciar o outro e este natildeo o denunciar Se denunciarem um ao outro ambos receberatildeo trecircs anos de reclusatildeo (2) Se ele natildeo denunciar o outro mas o outro o denunciar seraacute condenado a cinco anos (1) Se nenhum denunciar o outro a poliacutecia tem provas suficientes para mandar cada um agrave prisatildeo por um ano (3) (ELSTER 1994 p 45)

Nesse caso o fato dos prisioneiros natildeo se comunicarem para cada um deles

a melhor estrateacutegia eacute a natildeo cooperaccedilatildeo pois natildeo haacute possibilidade de interaccedilatildeo

entre eles por esse motivo as decisotildees satildeo tomadas isoladamente Sob o ponto de

vista do interesse individual dificilmente se chegaraacute agrave soluccedilatildeo para o dilema do

prisioneiro Pois racionalmente cada prisioneiro deveria confessar o crime mas caso

isso ocorra os dois ficariam em pior situaccedilatildeo do que se escolhessem diferente

Conclui-se com o dilema que ldquoquando cada um de noacutes individualmente escolhe

aquilo que eacute do seu interesse proacuteprio pode ficar pior do que ficaria se tivesse sido

feita uma escolha que fosse do interesse coletivordquo (Bueno 2004) Neste ponto

Elster (1994) reforccedila que a noccedilatildeo de escolha racional eacute definida para um indiviacuteduo

natildeo para a coletividade uma vez que a opccedilatildeo para um indiviacuteduo eacute superior a suas

36

outras opccedilotildees independentemente do que as outras pessoas fazem ele seria

irracional se natildeo a praticasse

Outra situaccedilatildeo comum na accedilatildeo coletiva eacute o indiviacuteduo que age como ldquofree

riderrdquo (carona) Esta deriva do fato de que indiviacuteduos preferem agindo racionalmente

beneficiar-se de soluccedilotildees coletivas sem incorrer nos custos necessaacuterios para

produzir essas soluccedilotildees e sem colaborar em nada para sua obtenccedilatildeo (BUENO

2004 e FERREIRA NETO 1996) ou seja se aproveita dos benefiacutecios sem nenhum

esforccedilo pessoal ou com qualquer tipo de contribuiccedilatildeo mas natildeo pode ser excluiacutedo

desses benefiacutecios

O problema do carona eacute observado em organizaccedilotildees cooperativas quando

associados tentam usufruir de seus serviccedilos sem empreender esforccedilos para sua

operacionalizaccedilatildeo que natildeo se efetiva somente com o fornecimento de sua produccedilatildeo

De outra forma quando o grupo de associados dominantes na gestatildeo cooperativa

conseguem defender seus interesses em detrimento dos demais cooperados estes

agem tambeacutem como ldquofree riderrdquo

Conforme Bueno (2004) ocorre um dilema de ordem social quando o grupo

consegue identificar os benefiacutecios da cooperaccedilatildeo e solucionar o problema do dilema

do prisioneiro No entanto eacute necessaacuterio desenvolver mecanismos visando garantir

aplicaccedilatildeo de normas coercitivas aos indiviacuteduos que continuarem atuando como free

riders Isso eacute assegurado por Olson (1999) ao afirmar que soacute determinados acertos

institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir

quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo

como um todo Mesmo assim conforme Bueno (1996) esse dilema torna-se de difiacutecil

soluccedilatildeo quando os indiviacuteduos natildeo participam da elaboraccedilatildeo das normas

institucionais

313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo

Mais uma visualizaccedilatildeo de problemas de accedilatildeo coletiva eacute representada na

ldquoTrageacutedia dos Comunsrdquo Esse legado de Garret Hardin permite uma ilustraccedilatildeo sobre

utilizaccedilatildeo dos recursos de um bem coletivo Embora seu trabalho tenha focado a

superpopulaccedilatildeo com a ideacuteia essencial de que a sobre exploraccedilatildeo de recursos

manejados de forma comunal tais como oceanos rios atmosfera e aacutereas de

37

parques satildeo sujeitos agrave maciccedila degradaccedilatildeo (DIEGUES E MOREIRA 2001) eacute

importante consideraacute-lo em outros estudos pois apontou em seu coloraacuterio a

necessidade de mudanccedilas sociais em grande escala para uso de bens coletivos

apoacutes sua hipoteacutetica experiecircncia de raciociacutenio

() o que ocorreria com os recursos comuns de uma determinada comunidade caso cada um de seus membros adicionasse alguns animais aos seus respectivos rebanhos Se cada pecuarista considerasse mais lucrativo criar mais animais do que uma pastagem poderia suportar uma vez que cada criador obteria todo o lucro proveniente dos animais extras e somente uma fraccedilatildeo do custo decorrente da sobre-exploraccedilatildeo das pastagens o resultado seria uma traacutegica perda de recursos para a totalidade da comunidade de pecuaristas (HARDIN CITADO EM FEENY ET ALII 2001 p18)

Com essa ilustraccedilatildeo Hardin concluiu que se houver liberdade para utilizaccedilatildeo

de recursos comuns os homens na busca de seus interesses individuais levariam

todos agrave ruiacutena Para evitar a trageacutedia dos comuns existem duas opccedilotildees ou o Estado

cria mecanismos legais para coibir determinadas praacuteticas ou a proacutepria comunidade

cria arranjos sociais e mecanismos de autodefesa (HARDIN CITADO EM FEENY ET

ALII 2001) Desta forma criam algum tipo de coerccedilatildeo que impeccedila a accedilatildeo do

indiviacuteduo no uso exagerado do benefiacutecio

Visando elucidar a extensatildeo desses argumentos no cooperativismo poderia

imaginar que se todos os soacutecios de uma cooperativa fossem utilizaacute-la como

desejassem eacute possiacutevel que seus membros procurassem utilizar a maior quantidade

de recursos possiacuteveis conseguidos coletivamente e desta maneira obter melhores

descontos nas compras ou entregar a produccedilatildeo quando melhor lhe conviesse

Nesta perspectiva haacute o pressuposto comportamental do oportunismo no

cooperativismo e neste caso o aspecto doutrinaacuterio natildeo eacute suficiente para garantir

fidelidade entre o soacutecio e a cooperativa

Conforme Zylbersztajn (2002) o compartilhamento doutrinaacuterio criou as bases

para uma linguagem comum permitindo que se faccedila referecircncia a um movimento

cooperativista internacional devidamente estruturado e regido pela ACI Por outro

lado os valores impliacutecitos nos princiacutepios deveriam inibir o comportamento egoiacutesta e

o membro que apresentasse tal comportamento deveria sofrer coaccedilatildeo pelos proacuteprios

cooperados

Entretanto as instituiccedilotildees satildeo estabelecidas com definiccedilatildeo de direitos e

obrigaccedilotildees dos soacutecios em organizaccedilotildees cooperativas que satildeo os estatutos sociais

elaborados com base nas diretrizes dos princiacutepios cooperativistasSe essas

38

instituiccedilotildees natildeo satildeo suficientes conforme Zylbersztajn (2002) o oportunismo dos

cooperados induz custos de controles aos incentivos que afetam as relaccedilotildees entre

cooperado e cooperativa

Entatildeo para este autor as instituiccedilotildees com base na doutrina cooperativista por

si natildeo eacute suficiente para coibir e superar os dilemas sugeridos por Olson (1999)

Bueno (2006) e Hardin citado em Feeny et alii (2001) encontrados em

organizaccedilotildees cooperativas conforme constatado na literatura apresentados em

Pereira (2002) Perius (1983) e Schneider (1999)

314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos Em outra abordagem Olson (1999) enfatiza o relacionamento entre membros

de diferentes grupos Sua crenccedila eacute de que conjuntos de indiviacuteduos com interesses

comuns constituem grupos com o fim de articular accedilotildees coletivas visando a

realizaccedilatildeo de tais interesses Neste caso o autor centraliza a discussatildeo sobre as

implicaccedilotildees do tamanho do grupo no processo de cooperaccedilatildeo e estabelece

situaccedilotildees que influenciam a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos na accedilatildeo coletiva

Sobre o tamanho dos grupos para Olson (1999) haacute uma efetividade distinta

entre os pequenos e grandes grupos Essa efetividade portanto vai depender de

que em qual grau a participaccedilatildeo (contribuiccedilatildeo) ou ausecircncia de participaccedilatildeo (falta de

contribuiccedilatildeo) de um ou mais membros vai influenciar sobre o custo ou benefiacutecio de

qualquer outro membro dentro do grupo Quando o nuacutemero de participantes de

uma accedilatildeo eacute grande conforme Olson (1999) o indiviacuteduo tiacutepico tem consciecircncia de

que seus esforccedilos individuais provavelmente natildeo faratildeo muita diferenccedila Ao contraacuterio

em grupos menores todos os membros teratildeo um incentivo para se esforccedilar afim de

que tudo corra bem

Nesse aspecto Olson (1999) classifica trecircs tipos de grupos privilegiados

intermediaacuterios e latentes O grupo privilegiado eacute aquele em que poucos membros

tecircm incentivos para produzir o benefiacutecio coletivo mesmo que ele tenha de arcar com

os custos da produccedilatildeo desses benefiacutecios Nesse caso a proacutepria natureza do grupo

eacute a condiccedilatildeo para que ele consiga prover os benefiacutecios coletivos

Os grupos intermediaacuterios satildeo grupos em que natildeo haacute incentivos suficientes

para que uma pessoa empreenda esforccedilos individualmente para a produccedilatildeo de

39

benefiacutecio coletivo Neste grupo natildeo haacute tantos integrantes a ponto de um membro

natildeo perceber se o outro estaacute ou natildeo ajudando a prover o benefiacutecio coletivo Por

outro lado neste grupo natildeo haveraacute nenhum benefiacutecio se natildeo houver alguma

coordenaccedilatildeo ou organizaccedilatildeo grupal

No grupo latente os membros natildeo tecircm incentivos para produzir bens

isoladamente pois sua accedilatildeo natildeo seraacute percebida pelos demais dado o grande

nuacutemero de membros Conforme Olson (1999) neste grupo somente um incentivo

independente e seletivo em relaccedilatildeo aos outros membros estimularaacute um indiviacuteduo

racional a agir de maneira grupal Assim como sugere o autor

No grupo grande e latente cada membro eacute por definiccedilatildeo tatildeo pequeno em relaccedilatildeo ao total que seus atos natildeo contaratildeo muito de um modo ou de outro em qualquer grupo grande ningueacutem tem como conhecer todos os outros membros e o grupo natildeo seraacute ipso facto um grupo de amigos Assim via de regra um iniviacuteduo natildeo se veraacute afetado socialmente se natildeo fizer os sacrifiacutecios que lhe couberem em favor da realizaccedilatildeo das metas do seu grupo (OLSON 1999 P72)

Outra caracteriacutestica que se acrescenta ao conceito de pequenos e grandes

grupos definidos por Olson foi devidamente explorada por Nassar e Zylbersztajn

(2004) Se refere agrave homogeneidade ou heterogeneidade desses grupos que

influenciam a estrutura organizacional Num grupo pequeno com interesses

homogecircneos onde todos atribuem o mesmo valor ao bem coletivo haveraacute maior

coesatildeo Caso contraacuterio o valor atribuiacutedo tende a se alterar e a probabilidade de

coesatildeo cai

Com relaccedilatildeo ao grande grupo conforme Nassar e Zylbersztajn (2004)

quando satildeo homogecircneos as accedilotildees implementadas tendem a alinhar-se com os

objetivos preacute-estipulados enquanto que nos grupos grandes heterogecircneos em

virtude dos custos de monitoramento nem sempre as accedilotildees vatildeo ser equivalentes

aos objetivos estabelecidos Nessa observaccedilatildeo o autor constatou que quando o

grande grupo eacute heterogecircneo na sua base seus objetivos tenderatildeo a ser difusos e

generalistas

Nassar e Zylbersztajn (2004) portanto corroboram o argumento de que a

heterogeneidade do grupo leva a conflitos entre seus membros comuns aos

expostos por Pereira (2002) e Perius (1983) jaacute apresentado neste trabalho Portanto

esses primeiros autores sinalizam necessidades de maior atenccedilatildeo pela gestatildeo ao

lidar com as caracteriacutesitcas do grupo heterogecircneo devido agrave dificuldade de

comunicaccedilatildeo para coordenaccedilatildeo dos membros associados

40

A conclusatildeo geral de Olson eacute de que grupos pequenos atuam com maior

eficiecircncia e isso se evidencia pela experiecircncia praacutetica quando se observa a forccedila e o

poder residente na existecircncia de comitecircs subcomitecircs e pequenos grupos de

lideranccedila Conforme Olson (1999) ldquoos comitecircs devem ser pequenos quando se

espera accedilatildeo e relativamente grandes quando se buscam pontos de vista reaccedilotildeesrdquo

Outros autores (JAMES 1951 HARE 1952) citados em OLSON (1999) corroboram

que grupos e subgrupos ativos tendem a ser muito menores do que os grupos e

subgrupos que natildeo agem

Essa discussatildeo suscita a necessidade de saber se haacute uma definiccedilatildeo sobre o

nuacutemero apropriado de membros para se efetivar melhor participaccedilatildeo dos indiviacuteduos

em uma accedilatildeo coletiva Sobre isto Olson (1999) considera que haacute uma dificuldade de

se analisar o tamanho do grupo e o comportamento do individuo poreacutem faz uma

alusatildeo aos pequenos e grandes grupos com as mudanccedilas das sociedades primitivas

para as sociedades modernas

nas sociedades primitivas os pequenos grupos primaacuterios prevaleceram porque eram mais adequados ( ou pelo menos suficientes) para desempenhar certas funccedilotildees para o povo dessas sociedades Nas sociedades modernas em contraste presume-se que predominem as grandes associaccedilotildees porque na conjuntura moderna soacute elas satildeo capazes de desempenhar ( ou satildeo mais aptas a desempenhar) certas funccedilotildees uacuteteis ao povo dessas sociedades (OLSON 1999 p32)

Deste modo Olson (1999) constata que haacute um ldquoinstintordquo ou ldquotendecircnciardquo para

formar associaccedilotildees que se manifestam tanto nos pequenos grupos familiares e de

parentesco das sociedades primitivas quanto nas grandes associaccedilotildees voluntaacuterias

das sociedades modernas

O autor verifica tambeacutem que os pequenos grupos quando organizados

costumam reunir e empregar todas as suas energias ao passo que nos grupos

grandes essas energias permanecem com muito mais frequumlecircncia em estado

potencial jaacute que os membros natildeo dedicam ao grupo toda sua capacidade produtiva

Outra observaccedilatildeo empregada por Olson (1999) para justificar sua tese eacute que ldquono

niacutevel do pequeno grupo a sociedade conseguiu coesatildeordquo portanto eacute proposto que

em grupos maiores deva-se manter alguns traccedilos do pequeno grupo

Um importante aspecto observado por Olson (1999) eacute sobre o consenso

grupal Conforme o autor natildeo eacute de se esperar que haja consenso numa accedilatildeo

grupal pois isso raramente pode ocorrer Mas conforme este autor eacute importante

41

distinguir entre os obstaacuteculos agrave accedilatildeo coletiva que se devem de um lado agrave falta de

consenso no grupo e de outro os que se devem agrave falta de incentivos individuais Se

houver muitos desacordos conforme o autor natildeo haveraacute esforccedilo coordenado e

voluntaacuterio mas se houver um alto grau de concordacircncia a respeito do que se quer e

da forma de obtecirc-lo eacute quase certo que haveraacute accedilatildeo grupal eficiente

Mais uma constataccedilatildeo que deve ser considerada conforme Olson (1999) eacute

que em casos que natildeo haja nenhum incentivo econocircmico para que um indiviacuteduo

contribua para a realizaccedilatildeo de um interesse grupal pode haver contudo um

incentivo social para que ele decirc sua contribuiccedilatildeo Nestes casos o autor considera

status desejo de prestiacutegio respeito aceitaccedilatildeo pelo grupo motivaccedilotildees de fundo

social e psicoloacutegico Essas consideraccedilotildees justificam a existecircncia de diferentes

motivaccedilotildees para se unir a um grupo podem tambeacutem estar associadas agraves

necessidades gerada por ldquodesejos e oportunidadesrdquo ou preferecircncias dos indiviacuteduos

ao objetivo que se espera alcanccedilar conforme descrito anteriormente No entanto

para Olson (1999) os incentivos sociais e pressatildeo social funcionam somente em

grupos de tamanho menor em grupos pequenos o bastante para que cada membro

possa ter um contato face a face com todos os demais jaacute em grupos grandes Soacute determinados acertos institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo como um todo Mesmo em grupos menores o benefiacutecio geralmente natildeo seraacute provido em um niacutevel oacutetimo mas quanto maior for o grupo mais longe ficaraacute de atingir o ponto oacutetimo de provimento do benefiacutecio coletivo Tal subotimalidade poderaacute ser superada em grupos marcados pela disparidade de recursos individuais ou intensidade de interesse no bem puacuteblico entre seus membros Tal configuraccedilatildeo implicaraacute entretanto em uma tendecircncia agrave exploraccedilatildeo do grande pelo pequeno participantes do interesse grupal (OLSON 1999 p47)

Tomando-se como base esta afirmativa e conforme mostram os dados

apresentados anteriormente nas cooperativas agropecuaacuterias de leite haacute grupos

distintos de produtores conforme os estratos sociais de produccedilatildeo Nesses grupos

haacute um nuacutemero muito maior de pequenos produtores em relaccedilatildeo a grandes

produtores em seus quadros sociais Estes pequenos produtores somam um

montante menor em volume de leite em relaccedilatildeo ao volume dos grandes produtores

Sendo assim os grandes produtores formam um nuacutemero menor de membros

associados agrave cooperativa Entatildeo estes tecircm mais possibilidades de se organizarem e

fazer prevalecer seus interesses em relaccedilatildeo aos pequenos produtores Situaccedilatildeo

caracteriacutestica das anaacutelises realizadas pela Teoria da Escolha Racional

42

O comportamento de indiviacuteduos em accedilatildeo coletiva eacute tambeacutem estudado em

outras vertentes Dentre outros autores Mary Douglas (1998) critica as proposiccedilotildees

de Olson que aqui foram expostas Um ponto inicial que distancia os dois autores

eacute sobre a racionalidade Os neo-institucionalistas corrente teoacuterica de Douglas

definem a racionalidade dos agentes como sendo limitada e portanto dependente

do apoio institucional quando da tomada de decisotildees enquanto para Olson (1999)

o indiviacuteduo como um ser racional toma suas decisotildees baseado no conhecimento

(ALCAcircNTARA 2003) Para a antropoacuteloga natildeo existe a possibilidade de descartar os

problemas enfrentados por uma comunidade pequena na explicaccedilatildeo da accedilatildeo

coletiva neste ponto ela concorda com Olson (1999) mas aponta como falha na

argumentaccedilatildeo deste autor a alegaccedilatildeo de que em escala pequena o grupo promove

confianccedila muacutetua no sentido de que a confianccedila muacutetua eacute a base da comunidade

Olson (1999) natildeo expotildee isso diretamente mas ao valorizar as caracteriacutesticas de

pequenos grupos das comunidades primitivas fica impliacutecita essa consideraccedilatildeo pois

eacute certo que confianccedila eacute uma instituiccedilatildeo presente nesse tipo de grupo Caso ela seja

quebrada por um membro este sofre as coerccedilotildees pelo proacuteprio grupo em relaccedilatildeo ao

seu comportamento O que Olson (1999) defende eacute que por si soacute a confianccedila na

cooperaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para garantir que indiviacuteduos cooperem numa accedilatildeo

coletiva

Douglas (1998) se mostra ambiacutegua pois para ela a solidariedade soacute eacute

possiacutevel quando os indiviacuteduos compartilham categorias de pensamento Mas

fundamentada em Durkheim considera que para compreender a solidariedade eacute

necessaacuterio examinar formas elementares de sociedade ou seja aquelas que natildeo

dependem das trocas de serviccedilos e produtos diferenciados Sob esse aspecto

portanto Olson natildeo se contradiz por deixar claro que suas colocaccedilotildees satildeo

consideradas para grupos que tenham uma atividade econocircmica envolvida Douglas

(1998) ressalta ainda que a maior parte das organizaccedilotildees tem seu iniacutecio sob forma

de comunidades pequenas Nesse ponto Olson (1999) natildeo se descuidou dessa

prerrogativa pois natildeo desconsidera essa perspectiva ao afirmar que todo ldquogrande

grupo deveria manter algumas caracteriacutesticas de pequeno grupordquo dadas as suas

vantagens

Outro ponto para Douglas eacute que a instituiccedilatildeo interfere fornecendo a visatildeo

que o indiviacuteduo teraacute sobre determinado problema Neste caso o indiviacuteduo transfere

43

a ela a responsabilidade de decidir em seu nome Mesmo que essa transferecircncia

natildeo seja nominal uma vez que este natildeo deixa de responder ao que se questiona

Poreacutem ele atribui a sua resposta aos preceitos (valores) fornecidos pela instituiccedilatildeo agrave

qual ele encontra-se afiliado ou agrave qual ele recorreu (ALCAcircNTARA 2003)

Haacute ambiguumlidade em Douglas (1989) tambeacutem neste ponto A autora natildeo nega

o fato de que as instituiccedilotildees satildeo formadas de indiviacuteduos que iratildeo imprimir nestas

caracteriacutesticas suas influenciando na sua estrutura interna Ainda segundo a autora

satildeo os indiviacuteduos um a um que escolhem agir de dada forma Deste modo a autora

daacute abertura para inferirmos que se a instituiccedilatildeo influencia na accedilatildeo do indiviacuteduo

pode-se dizer sim que ela tem autonomia Se os indiviacuteduos agem agrave sua proacutepria

maneira entatildeo natildeo haacute garantia de que os indiviacuteduos que estatildeo no centro das

instituiccedilotildees compartilharatildeo a melhor escolha que seria vista pelo indiviacuteduo externo

Conforme Alcacircntara (2003) para Douglas um grupo agiraacute portanto de

determinada forma natildeo somente devido agraves necessidades e caracteriacutesticas de seus

integrantes mas de acordo com os preceitos institucionais que orientam as suas

accedilotildees ldquoas instituiccedilotildees antecipam a accedilatildeo coletivardquo Neste ponto na oacutetica de Olson

(1999) poder-se-ia interpretar isso diferentemente

A conclusatildeo eacute de que o aprofundamento dos estudos de Olson (1999) na

discussatildeo sobre o comportamento dos indiviacuteduos nos diferentes tamanhos de

grupos na accedilatildeo coletiva eacute um ponto relevante para valorizaccedilatildeo da sua teoria pois

um desafio dos proacuteprios membros de organizaccedilotildees coletivas eacute justamente ter

habilidade para lidar com as diferentes situaccedilotildees que surgem agrave medida que a

organizaccedilatildeo cresce

Portanto natildeo se esgotam aqui as consideraccedilotildees sobre as interpretaccedilotildees de

Olson (1999) no entanto face agrave afinidade e consenso com a teoria da escolha

racional eacute que seraacute feito a interpretaccedilatildeo dos resultados obtidos com a pesquisa de

campo a partir da realidade vivida pelo produtor rural enquanto membro de

cooperativa agropecuaacuteria onde se formaliza sua participaccedilatildeo na coletividade para

defesa de seus interesses Segue-se antes a apresentaccedilatildeo dos ldquodilemas do

cooperativismordquo no desenvolvimento social e econocircmico da organizaccedilatildeo

cooperativa

315 Dilemas do Cooperativismo

44

No cooperativismo accedilotildees coletivas acontecem numa primeira ordem entre os

associados e numa segunda ordem entre as cooperativas e outras empresas A

analogia feita por Olson (1999) sobre o comportamento do mercado competitivo com

a accedilatildeo coletiva natildeo estaacute distante do que se observa nos dois casos Entatildeo

conforme as accedilotildees que norteiam a adaptaccedilatildeo de cooperativas ao ambiente

competitivo origina-se o grande desafio em escolher estrateacutegias capazes de manter

seu papel de sistema produtivo centrado no homem e ao mesmo tempo tornar-se

uma organizaccedilatildeo apta a competir com empresas que satildeo orientadas exclusivamente

para o mercado (FERREIRA e BRAGA 2002) Ao centro encontra-se o cooperado

que fica entre cooperar ou natildeo e participar ou natildeo das accedilotildees de tomada de decisotildees

que influenciam no seu proacuteprio desenvolvimento e posicionamento das cooperativas

nesse ambiente

Quanto agrave anaacutelise da influecircncia do tamanho das cooperativas e a participaccedilatildeo

social pode-se inferir que agrave medida que as cooperativas crescem aumentam

tambeacutem as dificuldades de participaccedilatildeo ativa dos membros uma vez que estes

estaratildeo cada vez mais distantes das instacircncias de poder Aleacutem disso haacute registros de

que em alguns casos a questatildeo gerencial permite que esta se distancie tambeacutem dos

objetivos iniciais dos soacutecios como constatado por Duarte (2006) Pereira (2002) e

Perius (1983)

Um dilema que se instala jaacute na sua base eacute que na praacutetica dos princiacutepios

cooperativistas o fato de ser ldquoaberta a todas as pessoasrdquo uma mesma cooperativa

tem interfaces positivas que eacute a natildeo discriminaccedilatildeo das pessoas com neutralidade

social e racial poliacutetica e religiosa (Pereira 2002) e negativas causadas pela

heterogeneidade que se forma no quadro social dadas as consequumlecircncias jaacute

apresentadas neste trabalho Reforccedilado neste caso tanto por Olson (1999) quanto

por Douglas (1989) ao concordarem que a homogeneidade do grupo facilita sua

unidade e a promoccedilatildeo da accedilatildeo Deste modo os ldquodilemas do cooperativismordquo

conceituados por Pereira (2002) levam agrave dificuldade de cumprir a previsatildeo de

ldquoigualdade e participaccedilatildeo ativa dos soacuteciosrdquo

Essa eacute uma discussatildeo de difiacutecil consenso pois Schneider (1999) afirma que

Em muitos paiacuteses a adequaccedilatildeo dos seus valores princiacutepios ou normas agrave realidade cultural social e poliacutetica local se realizou de forma difiacutecil contraditoacuteria e lenta nos uacuteltimos anos assim como a necessidade de adequar-se a um mercado

45

cada vez mais competitivo obrigou muitas cooperativas a criar organizaccedilotildees grandes e administrativamente complexas por esse motivo tende a distanciar da sua funccedilatildeo social assim como dificultar a participaccedilatildeo do conjunto de associados (SCHNEIDER1999 p20-21)

Essa dificuldade eacute apontada por Boesche e Mafioletti (2007) como um desafio

a ser resolvido

O grande desafio da cooperativa eacute encontrar o ponto de equiliacutebrio entre os interesses de cada membro que compotildee a sociedade e os objetivos coletivos simbolizados na necessidade de permanecer ativa e dinacircmica Na praacutetica existe uma grande tensatildeo entre as dimensotildees econocircmica e social Poreacutem quando uma das duas eacute subestimada a cooperativa perde a sua identidade Manter o equiliacutebrio entre ambas as dimensotildees natildeo eacute uma tarefa simples pois se trata do relacionamento com pessoas o que nem sempre eacute faacutecil de administrar (BOESCHE e MAFIOLETTI 2007 p9)

A pressatildeo sobre o cooperativismo que o deixa voluacutevel em seus princiacutepios

tem origem tambeacutem na gestatildeo da poliacuteticas puacuteblicas A exemplo do cooperativismo

agropecuaacuterio dentre motivaccedilotildees e incentivos a organizaccedilatildeo de produtores rurais

tecircm sido estimuladas pelo Estado que exige a constituiccedilatildeo juriacutedica de cooperativas

associaccedilotildees conselhos comissotildees ou comitecircs para que possam ter acesso a

recursos oferecidos por programas de governo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas que

objetivam o seu desenvolvimento e sustentabilidade assim como indicados por

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Deste modo por meio de organizaccedilotildees

cooperativas o Estado tem facilitado acesso ao creacutedito fomento agrave agricultura

familiar e outros recursos que favorecem os produtores que a elas estatildeo associados

Entretanto organizaccedilotildees tecircm sido formadas sem a atenccedilatildeo que deveria ser

dada agraves condiccedilotildees proacuteprias dos membros e dos lugares que elas se desenvolvem

Por outro lado pensar na formaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo sem que os membros

tenham tido interaccedilotildees anteriores para que se desenvolva confianccedila no grupo

dificilmente haveraacute cooperaccedilatildeo e consequentemente desejo de participaccedilatildeo

premissa que eacute corroborada por Bueno (2004)

O que mostra Schneider (1981) e Campanhola e Graziano da Silva (2000) eacute

que nas comunidades tem havido formas de manipulaccedilatildeo na composiccedilatildeo de

conselhos comissotildees cooperativas e associaccedilotildees rompendo-se com a ideacuteia

original de representatividade democraacutetica para a defesa do exerciacutecio da cidadania

Eacute possiacutevel que ocorrecircncias dessa natureza sigam em ambiente de cooperativas

pois essa condiccedilatildeo se perpetua com tendecircncias de crescimento de cooperativas que

tendem a reproduzir e mesmo reforccedilar as condiccedilotildees estruturais vigentes na

46

sociedade (Schneider1981) Com a mesma opiniatildeo Pereira (2002) diz que o modo

de produccedilatildeo capitalista se reproduz no interior das cooperativas

Diferente de como observam estes autores grande parte da literatura que

trata do tema natildeo considera tais conflitos e outros problemas que decorrem das

diferenccedilas sociais do tamanho das cooperativas e a baixa participaccedilatildeo dos

associados nestas organizaccedilotildees

Para Schneider (2001) cooperativas que querem ser fieacuteis aos ideais dos

pioneiros devem abraccedilar o conjunto de princiacutepios por eles formulados e depois

redefinidos pelas instituiccedilotildees herdeiras ldquosegundo as necessidades de cada eacutepocardquo

Nesse aspecto o autor define fatores internos tradicionais e fatores decorrentes da

mudanccedila na estrutura e na organizaccedilatildeo de cooperativas como desafios agrave

ldquodemocracia-participaccedilatildeo cooperativardquo

bull pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias

bull os integrantes da direccedilatildeo geralmente provecircm dos estratos soacutecio-econocircmicos meacutedios ou altos

bull os proacuteprios associados em geral estatildeo mais interessados em obter benefiacutecios e vantagens econocircmicas imediatas sem uma correspondente assunccedilatildeo consciente da cooperativa como organizaccedilatildeo especiacutefica com a contrapartida de obrigaccedilotildees e compromissos para com sua organizaccedilatildeo

bull a transformaccedilatildeo na estrutura das organizaccedilotildees cooperativas muito influenciou na vigecircncia da democracia-participaccedilatildeo e autonomia cooperativa

bull cooperativas pequenas administrativamente simples e vizinhas ao homem apresentavam um estilo de democracia diferente do estilo de democracia e autonomia que se daria com a evoluccedilatildeo mais recente das cooperativas e ao assumirem dimensotildees empresariais tornando-se cooperativas grandes e espacialmente extensas poderosas e administrativamente complexas (SCHNEIDER 1999 p20-21)

Esses fatores sinalizam situaccedilotildees que dificultam tanto a oportunidade quanto

o interesse dos soacutecios em melhorar a participaccedilatildeo o que justifica a existecircncia de

problemas de accedilatildeo coletiva Surge por isso a necessidade de maior coerecircncia social

nas cooperativas a fim de permitir melhor funcionamento assim como maior

interaccedilatildeo entre as pessoas

A questatildeo espacial pode ser relevante pois o que constroacutei o fortalecimento

dos grupos satildeo as relaccedilotildees e interaccedilotildees entre as pessoas e os benefiacutecios que

surgem destas O processo de desenvolvimento das cooperativas como mostrado

por Schneider (1999) favorece esse dilema Nesse aspecto como cooperativas que

47

tecircm sido desenvolvidas nesse modelo poderiam funcionar em diferentes tamanhos

possibilitando a participaccedilatildeo dos soacutecios como preconizado originalmente no

princiacutepio cooperativista para conseguir atingir seus objetivos

Conforme a perspectiva interpretativa de Ferreira Neto (1996) ao abordar

sobre ponto comum do corporativismo e pluralismo indiviacuteduos agem racionalmente

no sentido de organizar e articular seus interesses como forma de maximizar suas

possibilidades de realizaccedilatildeo exitosa deste modo a escolha do indiviacuteduo se daacute num

caacutelculo de custo benefiacutecio elaborado Essa afirmaccedilatildeo estaacute em sintonia com os

argumentos de Olson (1999) sobre o grau de participaccedilatildeo individual numa causa

conforme seus interesses Sob este ponto de vista as cooperativas satildeo em muitos

casos a uacutenica forma de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo de produtores rurais Dentre os

incentivos esta seria uma motivaccedilatildeo para participar

Deste modo pode-se inferir que a participaccedilatildeo no cooperativismo natildeo estaacute

relacionada somente a uma preferecircncia individual mas uma necessidade gerada por

oportunidades pois ao considerar suas alternativas a associaccedilatildeo agrave cooperativa

supre sua capacidade cada vez menor de negociar sozinho sua produccedilatildeo Nesta

linha de pensamento o interesse em associar eacute motivado pela possibilidade de

utilizar a cooperativa como canal de comercializaccedilatildeo entre outros benefiacutecios Entre

os membros desse quadro encontram-se em maior nuacutemero os pequenos produtores

rurais entatildeo poder-se-ia dizer que estes deveriam ser os mais interessados em

participar na articulaccedilatildeo de estrateacutegias da cooperativa Mas o que se observa eacute que

o pequeno produtor participa menos das tomadas de decisotildees

Valadares (2005) mostra que a institucionalizaccedilatildeo da participaccedilatildeo cooperativa

por meio do Comitecirc Educativo cria na cooperativa um espaccedilo para a reproduccedilatildeo das

contradiccedilotildees da sociedade ou para operacionalizaccedilatildeo de mudanccedilas O estudo deste

autor revela que a racionalidade no Comitecirc Educativo eacute proacutepria dos modelos teoacutericos

de desenvolvimento humano e de produtividade e eficiecircnica e o quadro de referecircncia

dos participantes nas atividades deste Comitecirc eacute determinado por uma visatildeo

particular individual e de interesse pessoal dos dirigentes em relaccedilatildeo ao resultado

pretendido com o envolvimento das comunidades no processo decisoacuterio Este

contribui eficazmente para o aprimoramento das condiccedilotildees tecnoloacutegicas da

produccedilatildeo de leite mas natildeo prepara o cooperado para participar politicamente da

gestatildeo da empresa

48

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Pereira (2002) assim como

Schneider (1981) mostram que formas de subordinaccedilatildeo se perpetuam em

organizaccedilotildees cooperativas Isso mostra que associados cooperam individualmente

com as lideranccedilas que permanecem em atividade sem maior envolvimento em suas

accedilotildees Neste caso as motivaccedilotildees para deixaacute-los nesse quadro poderiam ser

ilustradas de duas formas pelo dilema do prisioneiro e pelo caso free rider

Os conceitos de saiacuteda e voz desenvolvidos por Hirschman (1996) citado em

Machado (2007) ajudam a definir essa relaccedilatildeo Para esse autor a forma que

agentes insatisfeitos manifestam sua indignaccedilatildeo com o natildeo atendimento de suas

expectativas acontecem pela

saiacuteda como pura e simplesmente o ato de partir em geral porque se julga que um bem serviccedilo ou benefiacutecio melhor eacute fornecido por outra firma ou organizaccedilatildeordquo enquanto a ldquovozldquoeacute o ato de reclamar de organizar-se para reclamar ou protestar com a intenccedilatildeo de obter diretamente uma recuperaccedilatildeo da qualidade que foi prejudicada (HIRSCHMAN 1996 p 20 )

Segundo MACHADO (2007) de modo geral ainda para Hirschman a relaccedilatildeo

principal entre saiacuteda e voz eacute a de que ldquoa voz pode ser vista como sobra Quem natildeo

usa a saiacuteda eacute candidato agrave vozrdquo O uso da voz eacute bastante influenciado pelo tipo de

organizaccedilatildeo

Mesmo que hajam interaccedilotildees entre os soacutecios a oportunidade de

manifestar e concretizar opiniotildees que resultam na tomada de decisotildees se daacute em

assembleacuteias Nesse caso se o produtor manifestar sua opiniatildeo contraacuteria a dos

gestores mesmo que outros produtores sejam da mesma opiniatildeo ele natildeo tem

certeza de que seraacute apoiado pelos demais Entatildeo ele prefere cooperar que eacute manter

o status quo do quadro exposto Se os outros pensarem da mesma forma ocorre

como no dilema do prisioneiro natildeo haveraacute cooperaccedilatildeo A situaccedilatildeo iraacute perpetuarPor

outro lado pode ser racional no sentido de que o produtor pode optar por natildeo

participar jaacute que o envolvimento demanda o custo do seu tempo de trabalho que

poderia ser empregado em outra atividade na sua propriedade Mesmo sem

participar ele tem garantida sua parcela nos benefiacutecios puacuteblicos do cooperativismo e

nos resultados uma vez que as sobras satildeo distribuiacutedas proporcionais ao volume de

produccedilatildeo entregue agrave organizaccedilatildeo De outra forma sua falta de participaccedilatildeo tambeacutem

natildeo o impede de usar serviccedilos que satildeo disponibilizados a todos Isso pode ser

tambeacutem outro exemplo do comportamento free rider (carona) no cooperativismo

49

Deste modo o custo de agirem como ldquocaronardquo nessa situaccedilatildeo eacute refletido

como incentivo agrave pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias como exposto por

Schneider (1999) Eacute incentivo tambeacutem para que o pequeno grupo que lidera a

cooperativa tenha outros benefiacutecios por permanecerem nos cargos ainda que

sejam incentivos natildeo econocircmicos como status e prestiacutegio demonstrados em

(OLSON 1999) que geram outros benefiacutecios para si

Outro dilema comum no cooperativismo que envolve o problema do carona

surge conforme Zylbersztajn (2002) quando existem problemas de observabilidade

e monitoramento tornando possiacutevel um agente comportar-se oportunisticamente

Neste caso a utilizaccedilatildeo dos serviccedilos da cooperativa pelos cooperados pode incorrer

no problema do carona

quando a assistecircncia teacutecnica for demandada em demasia por um produtor ou quando o membro da cooperativa adquirir os insumos da cooperativa ou ainda quando um natildeo cooperado entregar o produto para a cooperativa por meio de um membro auferindo eventuais vantagens para as quais natildeo contribuiu (ZYLBERSZTAJN 2002 p 60)

Outro dilema que se identifica eacute o da gestatildeo participativa Tendo em vista que

em funccedilatildeo da diversidade de atuaccedilatildeo na cadeia produtiva a montante e a jusante a

cooperativa torna-se uma organizaccedilatildeo complexa Deste modo conforme

Zylbersztajn (2002) Quando ocorre a gestatildeo pelo cooperado de organizaccedilotildees com elevado grau de complexidade a cooperativa incorre em um problema de separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle da corporaccedilatildeo A natildeo separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle introduz ineficiecircncias que se tornam relevantes e o cooperado que gerencia com sucesso um empreendimento cooperativo no seu iniacutecio tenderaacute a perder eficiecircncia (ZYLBERSZTAJN 2002 p59)

Portanto exige-se que o gestor da organizaccedilatildeo cooperativa tenha habilidades

que podem natildeo ser encontradas dentro seu quadro social Por esse motivo o grupo

de produtores responsaacuteveis pela gestatildeo se vecirc por decidir contratar um especialista

em gestatildeo ou eles mesmo reconhecendo suas limitaccedilotildees executam a tarefa de

dirigentes

Estudos de Perius (1983) e Schneider (1999) mostram que quando se tem um

gestor natildeo soacutecio responsaacutevel pelo desenvolvimento da empresa cooperativa em

muitos casos este tende a priorizar decisotildees que melhor atenderatildeo agrave empresa do

que as necessidades dos associados Daiacute surge um dilema Os soacutecios tecircm que

decidir por deixar que a empresa cooperativa seja gerida profissionalmente face agrave

necessidade criada pelo proacuteprio ambiente econocircmico que estaacute instalada ou arrisca-

50

se em ser auto-gerida conforme prevecirc o princiacutepio da autogestatildeo mas neste caso

corre-se o risco de natildeo ter eficiecircncia como prevecirc o economista Zylbersztajn (2002)

No estudo sobre problemas estruturais do cooperativismo Perius (1983)

exprime uma melhor explicaccedilatildeo para identificaccedilatildeo deste dilema

() o poder interventaacuterio como medida saneadora de maacutes administraccedilotildees vem a ferir a natureza privada das sociedades cooperativas que como sociedades de pessoas devem ser geridas e ldquoautocontroladasrdquo pelos proacuteprios associados Infelizmente a participaccedilatildeo associativa e operacional dos associados na vida das cooperativas eacute muito fraca O princiacutepio do controle democraacutetico pelo qual as decisotildees satildeo tomadas pela maioria eacute constantemente esquecido pois minorias acabam homologando via de regra as decisotildees anteriormente arquitetadas estudadas e projetadas (PERIUS 1982 p101)

Amodeo (2001) concorda com Perius (1982) e Pereira (2002) ao se referir a

um possiacutevel comprometimento da supremacia dos princiacutepios em alguns casos de

organizaccedilotildees cooperativas frente a estrateacutegias utilizadas na gestatildeo Segundo esta

autora muitas vezes esses valores e princiacutepios natildeo satildeo considerados em toda sua

magnitude na gestatildeo de organizaccedilotildees cooperativas

Todas essas questotildees tecircm ao centro o comportamento dos indiviacuteduos que se

associam e formam as cooperativas Pinho (1982) descreve que o ldquohomus

cooperativusrdquo da forma concebida por alguns estudiosos do cooperativismo eacute

apenas uma abstraccedilatildeo que permanece no campo do comportamento ideal ou seja

o que seria o comportamento esperado do individuo no cooperativismo

o ldquohomem cooperativordquo eacute honesto justo respeitoso solidaacuterio e responsaacutevel Age animado de ldquoespiacuterito cooperativistardquo ou seja de uma atitude interior de compreensatildeo de aprovaccedilatildeo e de adesatildeo agrave moral cooperativa assim como agraves finalidades e objetivos dos quais as cooperativas satildeo o meio E ao mesmo tempo agraves razotildees de ser qualitativas e profundas dessas finalidades Natildeo se trata somente de uma crenccedila intelectual mas tambeacutem de um sentimento e de uma vontade que se situam ao niacutevel da consciecircncia moral (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

De outra forma mostra tambeacutem o comportamento individual na praacutetica

cooperativista

a pluralidade de papeacuteis atribuiacutedos ao homem cooperativo dificulta o ajustamento na pessoa do cooperado de comportamentos tatildeo diferentes de associado cooperado ou cooperador proprietaacuterio empresaacuterio administrador gerente fiscal usuaacuterio etc (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

Portanto o dilema do ldquohomem cooperativordquo reflete na realidade o caraacuteter

racional dos indiviacuteduos Outra percepccedilatildeo de Pinho (1982) neste contexto eacute natildeo

ignorar que a associaccedilatildeo se daacute com objetivos pessoais afim de realizar suas

atividades econocircmicas com mais eficaacutecia o que corrobora pressupostos da Teoria

da Escolha Racional em que o indiviacuteduo age segundo seus caacutelculos racionais de

51

forma exitosa A autora mostra entretanto essa relaccedilatildeo de racionalidade na accedilatildeo

do associado Para Pinho (1982) o soacutecio age tambeacutem conforme a necessidade de

ajustamento da sua participaccedilatildeo na realizaccedilatildeo de suas obrigaccedilotildees com a

cooperativa Ou seja mostra o ponto de vista do associado que renuncia sua

autonomia racionalmente Como associado-empresaacuterio-usuaacuterio racional o cooperado renuncia a uma parte de sua autonomia e de seu poder para se unir cooperativamente a outros empresaacuterios submetendo-se aos princiacutepios de igualdade e da gestatildeo democraacutetica bem como agrave formaccedilatildeo de um patrimocircnio ou acervo de utilizaccedilatildeo coletiva mas impartilhaacutevel entre os associados Aceita limitaccedilotildees agrave sua decisatildeo pessoal imposta pelas assembleacuteias gerais de cooperados em troca de determinadas vantagens (PINHO 1982 p 66)

Deste modo o comportamento do cooperativo representa um tipo de ajustamento ao meio tal como este eacute percebido ndash natildeo pelo idealista romacircntico ndash mas pelo cooperado-produtor ou pelo cooperado empresaacuterio-usuaacuterio Como o meio ambiente percebido eacute dinacircmico haacute um permanente esforccedilo de ajustamento agraves mudanccedilas e de elaboraccedilatildeo de ldquoplanos cooperativos adequados agrave realidade (PINHO 1982 p 66)

Esta autora manifesta assim sua opiniatildeo sobre o instrumentalismo

cooperativista embora natildeo aprofunde nessa discussatildeo Pinho (1982) considera que

esse comportamento eacute amplamente utilizado seguindo as regras praacuteticas de

funcionamento concebidas pelos idealizadores do cooperativismo mas sem o

objetivo de reformar a sociedade isto eacute para a solidariedade Deste modo a autora

corrobora com a opiniatildeo de que a doutrina cooperativista por si soacute natildeo tem sido

eficaz para impedir que o comportamento tipicamente utilitarista comum do modelo

capitalista assim como problemas do dilema do prisioneiro e oportunismo sejam

encontrados em cooperativas

O desenvolvimento social e consequumlente melhoria na qualidade de vida dos

soacutecios satildeo entendidos como objetivo finaliacutesitico de uma cooperativa por meio da

promoccedilatildeo econocircmica natildeo obstante a isso autores fazem discussatildeo em torno dos

meios para conseguir esse fim De modo geral a forma de destinar os recursos

obtidos com o resultado das operaccedilotildees econocircmicas da cooperativa eacute em si um

dilema Pois os associados eacute que tomam tais decisotildees Mais frequentemente o

investimento tem sido feito na proacutepria cooperativa dadas as necessidades de

modernizaccedilatildeo o recurso deixa de ser utilizado pelo associado em seu benefiacutecio

proacuteprio

52

Quando ele aprova a integralizaccedilatildeo do capital que eacute o investimento na

proacutepria cooperativa ao inveacutes de decidir pela distribuiccedilatildeo este abre matildeo de suas

vontades e necessidades pessoais em benefiacutecio do coletivo Se nesta decisatildeo se o

associado natildeo estiver sob nenhuma pressatildeo coercitiva como no exemplo do dilema

do prisioneiro este estaraacute cumprindo seu papel do ldquohomus cooperativusrdquo como

definido por Pinho (1982) A necessidade desse tipo de accedilatildeo deve estar clara para o

indiviacuteduo que queira fazer parte de uma cooperativa pois esse eacute o comportamento

que se espera do cooperado

De outra forma conforme Pinho (1982) haacute um dilema entre a praacutetica

cooperativista de inspiraccedilatildeo rochdaleana e a praacutetica cooperativista sem Rochdale

isto eacute marcado tatildeo somente quando haacute uma racionalidade econocircmica e

administrativa da empresa cooperativa sem adesatildeo agrave moral cooperativista

Deste modo haacute uma diferenccedila qualitativa na eficaacutecia da cooperativa mesmo

que ambos os casos tenham resultados econocircmicos eficientes Haacute portanto uma

definiccedilatildeo distinta entre eficiecircncia e eficaacutecia que pode ser tomada para chamar a

atenccedilatildeo e observar a gestatildeo cooperativa Conforme Drucker (1994) eficiecircncia eacute

fazer as coisas de maneira correta eficaacutecia satildeo as coisas certas o resultado

depende de ldquofazer certo as coisas certasrdquo Uma metaacutefora simples usada por Augusto

(2006) clarifica isso ldquoeficiecircncia eacute cavar com perfeiccedilatildeo teacutecnica um poccedilo artesiano

eficaacutecia eacute encontrar a aacuteguardquo Para o contabilista Padoveze (2004) o lucro eacute a melhor

medida da eficaacutecia empresarial mas eficiecircncia permeia todas as accedilotildees e atividades

da empresa Portanto tomadas essas definiccedilotildees haacute uma visualizaccedilatildeo na diferenccedila

entre as praacuteticas cooperativistas expostas por Pinho (1982) Neste caso para

reconhecer os resultados em eficiecircncia e eficaacutecia no cooperativismo os indicadores

estariam em recorrer natildeo soacute a criteacuterios de eficaacutecia econocircmica mas tambeacutem a

criteacuterios de eficaacutecia social que se daria nos niacuteveis de desenvolvimento

envolvimento e participaccedilatildeo dos associados

Embora dilemas da ordem que foi apresentada ocorram no cooperativismo

organizaccedilotildees cooperativas funcionam com bons resultados e benefiacutecios extensivos

aos soacutecios Sobre isso Ostron citado em Olson (1995) ao comparar as iniciativas de

gestatildeo cooperativa de recursos comuns fez o seguinte questionamento ldquoPor que

certas instituiccedilotildees conseguiram superar a loacutegica da accedilatildeo coletiva e outras natildeo Da

sua comparaccedilatildeo emerge alguns requisitos para essa superaccedilatildeo Dos sugeridos por

53

Putnam (1996) haacute indicaccedilatildeo de que se deva ter clara definiccedilatildeo dos limites da

instituiccedilatildeo e participaccedilatildeo das partes interessadas assim como a definiccedilatildeo de regras

entre os agentes envolvidos Deste modo eacute percebido nesses dois pontos que haacute

pistas para direcionar o entendimento das dificuldades apontadas que satildeo comuns

em cooperativas Eacute nessa busca que posteriormente se faraacute uma apresentaccedilatildeo de

como se constroacutei a participaccedilatildeo e procurar mostrar como confianccedila cooperaccedilatildeo e

capital social satildeo importantes para superaccedilatildeo dos dilemas no cooperativismo

32 A Participaccedilatildeo 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo A participaccedilatildeo tem sido considerada em diferentes pesquisas e estudos sobre

desenvolvimento uma importante ferramenta para potencializar o desenvolvimento

humano Abordagens de Bordenave (1983) e Freire (1982) indicam a participaccedilatildeo

como direito das pessoas e caminho para auto-realizaccedilotildees ao inserir o indiviacuteduo em

discussotildees que o fazem assumir atitudes realizadoras para si Nesta pesquisa a

participaccedilatildeo eacute abordada como uma possibilidade para reduccedilatildeo do distanciamento

entre produtores rurais e as atividades de cooperativas rurais agraves quais satildeo

associados

Conforme Alencar (2001) as poliacuteticas de modernizaccedilatildeo da agricultura por

volta da deacutecada de 70 foram bastante seletivas em termos de distribuiccedilatildeo de

recursos Do mesmo modo se deram as poliacuteticas de pesquisa e assistecircncia teacutecnica

Neste sentido entre outros resultados houve maior emergecircncia de diferenciaccedilatildeo

social com a formaccedilatildeo de categorias distintas de produtores e trabalhadores rurais

Na populaccedilatildeo rural ldquopara alguns significou proletarizaccedilatildeo ou eminecircncia de

desintegraccedilatildeo de suas unidades de produccedilatildeo para outros abertura de novas

oportunidades e crescimentordquo A partir daiacute diferentes estrateacutegias foram sendo

estabelecidas para orientar programas que tivessem como objetivo incluir

segmentos sociais colocados agrave margem desse ldquonovo modelo de desenvolvimentordquo

Nessa eacutepoca algumas organizaccedilotildees natildeo governamentais fundamentadas

nas obras de Paulo Freire jaacute desenvolviam metodologias de intervenccedilatildeo centradas

na ldquoparticipaccedilatildeordquo de pequenos produtores na formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de

projetos de desenvolvimento (ALENCAR 2001) A partir daiacute ldquoparticipaccedilatildeordquo foi

54

incorporada em outras experiecircncias O foco comum passou a ser ldquoparticipaccedilatildeo das

pessoasrdquo Entretanto conforme Alencar (2001) as estrateacutegias adotadas de

participaccedilatildeo variam de acordo com a visatildeo que os agentes possuem do papel ou

natureza da intervenccedilatildeo Eacute dessa visatildeo que resultam diferentes dimensotildees e

significados atribuiacutedos agrave participaccedilatildeo

Portanto o conceito de participaccedilatildeo admite diferentes conotaccedilotildees e pode ser

visto como um termo ambiacuteguo nas ciecircncias sociais Dentre os significados atribuiacutedos

por Oakley e Marsden citados em Alencar (2001) estatildeo associados agrave participaccedilatildeo o

sentido de colaboraccedilatildeo desenvolvimento de comunidade organizaccedilatildeo e

empowering (aquisiccedilatildeo de poder) Ao analisar diferentes projetos de

desenvolvimento esses autores supracitados atribuiacuteram novos sentidos ao temo

participaccedilatildeo

1 Envolvimento voluntaacuterio dos indiviacuteduos nos programas sem contudo participarem da sua elaboraccedilatildeo

2 Sensibilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos aumentando-lhes a responsabilidade para responderem as propostas de programas de desenvolvimento e encorajando iniciativas locais

3 Envolvimento dos indiviacuteduos no processo de tomada de decisatildeo na implementaccedilatildeo dos programas na divisatildeo dos benefiacutecios e na avaliaccedilatildeo das decisotildees tomadas

4 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com o direito e dever dos indiviacuteduos participarem na soluccedilatildeo dos seus problemas terem responsabilidade de assegurar a satisfaccedilatildeo de suas necessidades baacutesicas mobilizarem recursos locais e sugerirem novas soluccedilotildees bem como de criarem e manterem as organizaccedilotildees locais

5 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com a iniciativa de pessoas e grupos visando a soluccedilatildeo de seus problemas e a busca de autonomia

6 Organizaccedilatildeo de esforccedilos de pessoas excluiacutedas para que elas aumentem o controle sobre recursos necessaacuterios ao desenvolvimento e sobre as instituiccedilotildees que regulam a distribuiccedilatildeo desses recursos (ALENCAR 2001 P21)

Segundo Bordenave (1983) participar eacute uma necessidade humana e

universal cuja praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades natildeo menos baacutesicas

tais como a interaccedilatildeo com os demais homens a auto-expressatildeo o desenvolvimento

do pensamento reflexivo o prazer de criar e recriar coisas e ainda a valorizaccedilatildeo de

si mesmo pelos outros

Portanto Bordenave (1983) vecirc na participaccedilatildeo duas bases complementares

uma base afetiva ndash participamos porque sentimos prazer em fazer coisas com

outros e uma base instrumental ndash participamos porque fazer coisas com outros eacute

55

mais eficaz e eficiente que fazecirc-las sozinhos Esta uacuteltima afirmativa conota os

aspectos da participaccedilatildeo individual em accedilotildees coletivas discutidos neste trabalho e

que fundamentam o entendimento dos dilemas da participaccedilatildeo no cooperativismo

Conforme Pereira citado em Bento (1993) A participaccedilatildeo advem de uma situaccedilatildeo ou problema existente a partir do qual as pessoas unem-se para a) apresentar ideacuteias discutir e contribuir conforme a possibilidade de cada um para a soluccedilatildeo desses problemas ou dessa situaccedilatildeo e b) contrapor ou responder a essa situaccedilatildeo ou problema existente Portanto participar eacute um ato coletivo (BENTO 1993 p32)

Das diferentes aneiras de participar Bordenave (1983) apresenta conceitos

sobre tipos de participaccedilatildeo dentre os quais define participaccedilatildeo voluntaacuteria cujo

grupo eacute criado pelos proacuteprios participantes que definem sua proacutepria organizaccedilatildeo e

estabelecem seus objetivos e meacutetodos de trabalho Neste caso satildeo exemplos os

sindicatos livres as associaccedilotildees profissionais as cooperativas e os partidos

poliacuteticos Entretanto segundo este autor nem sempre a participaccedilatildeo voluntaacuteria surge

como iniciativa dos membros do grupo agraves vezes trata-se de uma participaccedilatildeo

provocada por agentes externos que ajudam outros a realizarem seus objetivos ou

os manipulam a fim de atingir seus proacuteprios objetivos previamente estabelecidos

Para Bordenave (1983) no processo de participaccedilatildeo eacute possiacutevel fazer parte sem

tomar parte Se refere a niacuteveis de participaccedilatildeo cujas diferenccedilas se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte

Deste modo Bordenave (1983) mostra graus de participaccedilatildeo em que os

membros de uma organizaccedilatildeo podem atuar sob o ponto de vista de maior ou menor

acesso aos controles das decisotildees dos membros Conforme o autor a participaccedilatildeo

varia de niacutevel da informaccedilatildeo agrave autogestatildeo sendo que o menor grau de participaccedilatildeo

eacute o da informaccedilatildeo Neste caso os dirigentes informam os membros da organizaccedilatildeo

sobre as decisotildees tomadas Contudo haacute casos de lideranccedilas que natildeo fazem o

mesmo Neste niacutevel a reaccedilatildeo dos membros agraves informaccedilotildees recebidas eacute observada

pelos agentes responsaacuteveis Estes por sua vez acatam as observaccedilotildees e

reconsideram uma decisatildeo inicial ou de modo contraacuterio natildeo aceitam o direito de

reaccedilatildeo

Em segundo niacutevel acontece a consulta facultativa em que a administraccedilatildeo

pode se quiser e quando quiser consultar outros membros solicitando criacuteticas

56

sugestotildees ou dados para resolver algum problema Quando a consulta eacute obrigatoacuteria

os integrantes devem ser consultados em certas ocasiotildees embora a decisatildeo final

pertenccedila ainda aos diretores

No niacutevel da elaboraccedilatildeorecomendaccedilatildeo os membros do grupo elaboram

propostas e recomendam medidas que a administraccedilatildeo aceita ou rejeita mas

sempre se obrigando a justificar sua posiccedilatildeo (Bordenave 1983)

Outro niacutevel considerado eacute o da co-gestatildeo sobre o qual

a administraccedilatildeo da organizaccedilatildeo eacute compartilhada mediante mecanismos de co-decisatildeo e colegialidade Aqui os administrados exercem uma influecircncia direta na eleiccedilatildeo de um plano de accedilatildeo e na tomada de decisotildees Comitecircs conselhos ou outras formas colegiadas satildeo usadas para tomar decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

O sexto niacutevel eacute o da delegaccedilatildeo

Eacute um grau de participaccedilatildeo onde os gestores tecircm autonomia em certos campos ou jurisdiccedilotildees antes reservados eles A administraccedilatildeo define certos limites dentro dos quais os administradores tecircm poder de decisatildeo Ora para que haja delegaccedilatildeo real os delegados devem possuir completa autoridade sem precisar consultar seus superiores para tomarem as decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

Ainda segundo Bordenave o niacutevel mais avanccedilado de participaccedilatildeo eacute o da

autogestatildeo neste

O grupo determina seus objetivos escolhe seus meios e estabelece os controles pertinentes sem referecircncia a uma autoridade externa Na autogestatildeo desaparece a diferenccedila entre administradores e administrados visto que nela ocorre a auto administraccedilatildeo (BORDENAVE 1983 p32)

Portanto parte da efetividade da participaccedilatildeo depende do comportamento

dos indiviacuteduos frente agraves diferentes situaccedilotildees em que satildeo envolvidos Deste modo

quando as pessoas satildeo envolvidas a participaccedilatildeo eacute percebida como uma estrateacutegia

para criaccedilatildeo de novas oportunidades e as pessoas por elas mesmas se

comprometem a apoiar as accedilotildees identificadas como melhor opccedilatildeo Para isso

conforme Alencar (2001) a forma de intervenccedilatildeo tem de ser um conjunto de accedilotildees

praticadas por agentes externos mas deve ser feita num caraacuteter educativo em que

a populaccedilatildeo alvo seja estimulada a desenvolver a habilidade de diagnosticar e

analisar seus problemas decidir coletivamente sobre as accedilotildees para solucionaacute-los

executar tais accedilotildees e avaliaacute-las

Oakley citado em ASBRAER (2007) faz uma distinccedilatildeo importante sobre

participaccedilatildeo como meio ou como fim na literatura e na praacutetica

Quando participaccedilatildeo eacute interpretada como meio descreve uma condiccedilatildeo e quando eacute interpretada como fim refere-se a um processo que tem como resultado participaccedilatildeo significativa Ateacute recentemente a noccedilatildeo que dominava a

57

praacutetica da participaccedilatildeo tinha sido efetivada por meio da criaccedilatildeo de organizaccedilotildees formais como as cooperativas e associaccedilotildees de agricultores Nos programas que foram realizados usando conceito de participaccedilatildeo nesses moldes certas melhorias econocircmicas foram realizadas mas poucos conseguiram participaccedilatildeo significativa Participaccedilatildeo como fim eacute a consequumlecircncia do processo de empoderamento e libertaccedilatildeo (ASBRAER 2007 p 36)

A ideacuteia contida no sentido da participaccedilatildeo como fim estaacute articulada ao

conceito de conscientizaccedilatildeo que se refere ao processo onde os indiviacuteduos passam a

compreender a realidade social que molda suas vidas bem como a capacidade que

possuem de transformar tal realidade (ALENCAR 2001) vencendo o que Freire

(1976) chama de ldquocultura do silecircnciordquo

Na cultura do silecircncio os indiviacuteduos dependentes ou dominados acham-se

semimudos ou mudos ou seja satildeo proibidos de participar criativamente na

transformaccedilatildeo da sociedade e por conseguinte proibidos de ser (Freire 1976) Esta

cultura do silecircncio eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia do

dominado com o dominador

A liberdade e oportunidade de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos nos niacuteveis

propostos em Bordenave (1983) portanto vatildeo depender de que seja superado a

ldquocultura do silecircnciordquo e que a estrutura da organizaccedilatildeo em que os indiviacuteduos se

associam utilize pelos seus teacutecnicos a intervenccedilatildeo de caraacuteter educativo a fim de

identificar juntos as limitaccedilotildees necessidades e expectativas de todosEntretanto os

dirigentes que estatildeo conduzindo a organizaccedilatildeo devem aceitar e desejar que essa

mudanccedila ocorra

Alencar (2001) mostra que a superaccedilatildeo da cultura do silecircncio estaacute

relacionada ao processo de constituiccedilatildeo da autoconfianccedila que eacute um conceito

definido por Galtung (1980) Segundo este autor autoconfianccedila eacute um processo em

que para construccedilatildeo de novas formas de interaccedilatildeo social deve-se destruir as

velhas formas de interaccedilatildeo iniciando novos padrotildees de cooperaccedilatildeo com a

destruiccedilatildeo do centro de monopoacutelio da interaccedilatildeo e das organizaccedilotildees

A autoconfianccedila eacute assim uma caracteriacutestica que as pessoas apresentam em

seu comportamento individual que transfere ao grupo e lhes daacute a capacidade de

negociaccedilatildeo e de reivindicaccedilatildeo Eacute a auto-expressatildeo sugerida em Bordenave (2003)

Portanto conforme estes autores a liberdade individual fundamenta a participaccedilatildeo eacute

um meio em que se consegue resolver problemas que ao indiviacuteduo parecem

insoluacuteveis se contar soacute com suas proacuteprias forccedilas

58

Neste ponto de vista o cooperativismo eacute uma forma de expressatildeo da

participaccedilatildeo Uma cooperativa eacute formalmente definida como uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees e

necessidades econocircmicas sociais e culturais comuns Se baseiam em valores de

ajuda muacutetua responsabilidade democracia igualdade e solidariedade Deste modo

com esta ideologia formaram-se diferentes estruturas de organizaccedilotildees

cooperativas em certos casos grandes e complexas Entretanto as prioridades e

objetivos nessas organizaccedilotildees nem sempre satildeo direcionados agraves necessidades da

maioria de seus membros Todavia esses associados podem por si mesmos

munidos de autoconfianccedila criar oportunidades para assegurar sua participaccedilatildeo em

diferentes niacuteveis na organizaccedilatildeo Natildeo menos do que fazer valer o princiacutepio da auto

gestatildeo

322 A Participaccedilatildeo em cooperativas

O cooperativismo tem como princiacutepio a proposta do mais elevado niacutevel de

participaccedilatildeo conforme descriccedilotildees de Bordenave (2003) ateacute atingir a auto gestatildeo

Deste modo os valores do cooperativismo se materializariam agrave medida que a

organizaccedilatildeo conseguisse incluir participativamente os soacutecios dotando-os de

informaccedilotildees e permitindo interaccedilotildees no planejamento das accedilotildees e na tomada de

decisotildees

Geralmente a discussatildeo em torno da participaccedilatildeo de associados em

organizaccedilotildees cooperativas natildeo mostra operacionalmente como se efetiva a praacutetica

participativa Schneider (1999) Alencar (2001) e Perius (1983) aprofundaram um

pouco mais nesse assunto levantando importantes consideraccedilotildees sobre a conduccedilatildeo

da participaccedilatildeo no processo de desenvolvimento acompanhamento e fiscalizaccedilatildeo

da organizaccedilatildeo cooperativa pelos seus associados

Embora os princiacutepios norteiem a conduccedilatildeo do cooperativismo cada

organizaccedilatildeo cooperativa manteacutem caracteriacutesticas proacuteprias no seu processo de

gestatildeo que satildeo regulamentadas pelos seus estatutos sociais Formalmente a

participaccedilatildeo nas decisotildees em cooperativas brasileiras eacute absolutamente igualitaacuteria

ou seja todo associado tem direito a um voto independente do volume de produccedilatildeo

ou serviccedilos prestados agrave cooperativa Neste caso a participaccedilatildeo oficial dos soacutecios

estaacute apoiada na Lei 5764 do cooperativismo que estabelece as diretrizes gerais e

59

por sua vez tem suas bases convergentes com as normas da ACI Deste modo

todos os associados participam da gestatildeo representados pelos membros que

compotildeem os oacutergatildeos de administraccedilatildeo fiscalizaccedilatildeo ou do comitecirc educativo

(SESCOOP 2008) Esses representantes satildeo eleitos pelos demais soacutecios que

participam anualmente das Assembleacuteias Gerais onde se concretizam as decisotildees

mais importantes em cooperativas Pela lei do cooperativismo brasileiro os oacutergatildeos

de gestatildeo se organizam da seguinte maneira

Art 47 - A sociedade seraacute administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administraccedilatildeo composto exclusivamente de associados eleitos pela Assembleacuteia Geral com mandato nunca superior a 4 (quatro) anos sendo obrigatoacuteria a renovaccedilatildeo de no miacutenimo 13 (um terccedilo) do Conselho de Administraccedilatildeo

Art 56 - A administraccedilatildeo da sociedade seraacute fiscalizada assiacutedua e minuciosamente por um Conselho Fiscal constituiacutedo de 3 (trecircs) membros efetivos e 3 (trecircs) suplentes todos associados eleitos anualmente pela Assembleacuteia Geral sendo permitida apenas a reeleiccedilatildeo de 13 (um terccedilo) dos seus componentes (OCB 2007 p1)

No trabalho sobre o cooperativismo de leite em diferentes paiacuteses Martins et

alli (2004) retratam experiecircncias de sucesso e descrevem a dinacircmica do processo

de participaccedilatildeo de produtores na gestatildeo dessas cooperativas No exemplo da

Fonterra na Nova Zelacircndia para eleiccedilatildeo do Corpo de Diretores os produtores

recebem uma ceacutedula pelos correios juntamente com um viacutedeo que conteacutem o

curriculum vitae e as propostas dos candidatos O sistema adotado requer que os

cooperados ordenem suas preferecircncias entre os onze candidatos inscritos de um a

onze Neste caso entendem que eacute melhor ordenar do que votar em apenas um A

regra eleitoral nesta cooperativa eacute de que cada produtor recebe uma ceacutedula para

cada uma tonelada de leite soacutelido produzido ao longo de um ano O espaccedilo de

representaccedilatildeo dos produtores eacute o Conselho de Acionistas que consiste de 45

representantes Neste caso cada membro representa um setor previamente definido

conforme a localizaccedilatildeo em todo o paiacutes Deste modo nesta cooperativa o nuacutemero de

votos por associado para participaccedilatildeo nas decisotildees da cooperativa eacute proporcional

ao volume de produccedilatildeo Esse meacutetodo jaacute eacute comum em cooperativas de produccedilatildeo

A DFA ndash Cooperativa Dairy Farmers of Ameacuterica fruto da fusatildeo de quatro

cooperativas americanas conta com 24124 cooperados Segundo Martins et alli

(2004) os interesses dos cooperados satildeo representados por meio de trecircs canais na

seleccedilatildeo do representante no Conselho Regional na reuniatildeo anual e indiretamente

na escolha do Conselho de Diretores O Conselho de Diretores eacute formado por 51

60

produtores eleitos entre seus pares por um mandato de dois anos Este conselho

tem a finalidade de estabelecer as grandes linhas diretivas da companhia definem

as poliacuteticas de governanccedila os rumos a serem seguidos a estrutura financeira o

orccedilamento e as prioridades de novos investimentos A este conselho estatildeo

vinculados seis Comitecircs de orccedilamento de mercado fluido de valor agregado de

auditoria e o de relaccedilotildees governamentais Desta forma estatildeo representados os

interesses dos cooperados localizados em sete regiotildees geograacuteficas diferentes dos

Estados Unidos Os encontros anuais ocorrem no Foacuterum para tomada das grandes

decisotildees da Cooperativa Conforme Martins et alii (2004) no uacuteltimo Foacuterum realizado

foi registrada a participaccedilatildeo de 1150 produtores entre delegados eleitos diretores

liacutederes de conselhos regionais e convidados Como se verifica o cooperado

participa de um processo do tipo democracia representativa

Em outra cooperativa a Campina Melkunie localizada nos Paiacuteses Baixos

tem como associados 6823 produtores e espacialmente distribuiacutedos num percentual

de 75 residentes na Holanda 24 na Alemanha e o restante (1) na Beacutelgica

Conforme Martins et alii (2004) satildeo eleitos soacutecio-representantes que integram o

Comitecirc de Departamentos e representantes no Conselho dos Membros Todos os

soacutecios pertencem a um departamento regional e se reuacutenem duas vezes por ano

quando satildeo discutidas questotildees relevantes da cooperativa A cada trecircs anos haacute

eleiccedilatildeo e o nuacutemero de membros de um departamento depende do volume de leite

produzido em cada departamento O direito de voto para cada cooperado estaacute

baseado no volume de leite que este entrega nesta cooperativa Desta forma a

participaccedilatildeo do associado estaacute condicionada tambeacutem ao volume de produccedilatildeo tanto

individual quanto da regiatildeo (departamento) em que o produtor estaacute localizado Essas diferentes cooperativas tecircm em comum um grande nuacutemero de

associados e uma estrutura complexa de gestatildeo em que os produtores estatildeo

distantes espacialmente dos dirigentes Portanto essa estrutura requer alto niacutevel de

organizaccedilatildeo e aacutegeis canais de comunicaccedilatildeo pois caso seja diferente natildeo seria

possiacutevel que os associados acompanhassem as accedilotildees dessas cooperativas

Em se tratando de organizaccedilatildeo cooperativa Schneider (1999) apresenta a

concepccedilatildeo de que participaccedilatildeo natildeo se mede somente por criteacuterios quantitativos

como taxas de presenccedila em assembleacuteias eleiccedilatildeo dos dirigentes e em registros de

utilizaccedilatildeo de serviccedilos Para este autor deve-se complementar com outros

61

indicadores pois a participaccedilatildeo do soacutecio natildeo se limita ao voto Esta deve se dar

tambeacutem na esfera estrateacutegica das accedilotildees e na formulaccedilatildeo de proposiccedilotildees

Schneider (1999) sugere como novas formas de participaccedilatildeo nas etapas

anterior e posterior agrave tomada de decisotildees a organizaccedilatildeo de pequenos grupos

locais setoriais profissionais ou por tipo de produccedilatildeo O autor acredita que os

pequenos grupos apresentam vantagens para uma participaccedilatildeo mais efetiva nas

reuniotildees o que estaacute em sintonia com os argumentos de Olson (1999) Deste modo

Schneider (1999) mostra as vantagens dos pequenos grupos no fomento agrave

participaccedilatildeo

Permite atividades conduzidas mais informalmente predominam as relaccedilotildees pessoais que envolvem a totalidade da pessoa na interaccedilatildeo haacute maior controle social reciacuteproco entre eles constrangendo os indecisos ou pouco motivados a comparecer haacute a possibilidade de dimensionar as atividades e os planos da cooperativa em acircmbito local e o encaminhamento agrave direccedilatildeo de propostas mais realistas e efetivamente adequadas agraves peculiaridades e agraves carecircncias de cada localidade surgem oportunidades de cooperaccedilatildeo desconhecidas na cuacutepula da grande organizaccedilatildeo cooperativa melhorando e inovando a capacidade produtiva (SCHNEIDER 1999 p 241-242)

Deste modo Schneider (1999) conseguiu mostrar de forma concisa as

caracteriacutesticas positivas do comportamento de associados quando organizados em

comitecircs ou pequenos nuacutecleos De certa forma isso ilustra tambeacutem indiviacuteduos com

autonomia de participaccedilatildeo e autoconfianccedila desenvolvida Ao mesmo tempo mostra

a relaccedilatildeo de auto-coerccedilatildeo que se desenvolve no grupo Quando isso acontece

mesmo em grandes cooperativas eacute de se esperar que por meio dos nuacutecleos as

pessoas consigam influenciar no planejamento de accedilotildees para a organizaccedilatildeo com

suas opiniotildees Essa forma de conduzir portanto teraacute como resultado maiores

possibilidades de que o consenso entre os participantes da organizaccedilatildeo tanto

dirigentes quanto os outros membros esteja mais proacuteximo do que o dissenso em

relaccedilatildeo agraves propostas que surgem quando satildeo elaboradas somente pela direccedilatildeo

Outra forma de participaccedilatildeo de associados deve se dar tambeacutem no controle e

acompanhamento da execuccedilatildeo das decisotildees tomadas Isso requer uma atuaccedilatildeo

constante No entanto a dinacircmica operacional da estrutura empresarial de uma

cooperativa natildeo permite que os mecanismos de controle e acompanhamento sigam

no mesmo ritmo A especializaccedilatildeo proacutepria das necessidades da cooperativa exige

da fiscalizaccedilatildeo igual niacutevel de especializaccedilatildeo de associados que se interesse em

atuar nesse aspecto da participaccedilatildeo Essa especializaccedilatildeo entretanto eacute pouco

encontrada na maior parte do quadro de associados Essa loacutegica eacute confirmada

62

tambeacutem por Lickert citado em Schneider (1999) ao dizer que a participaccedilatildeo exige

uma estrutura apropriada e habilidades das quais a maioria da populaccedilatildeo carece

Uma variaacutevel ainda observada em Schneider (1999) que influi na participaccedilatildeo

cooperativa e convergente com a opiniatildeo de Olson (1999) foi identificar fatores

psicoloacutegicos que influenciam na decisatildeo de participar Para Schneider (1983) o

prestiacutegio percebido na cooperativa expressa o significado emocional de participar

coletivamente ao se comparar com outras organizaccedilotildees Por outro lado participar

dessas organizaccedilotildees por si cria tensotildees especialmente porque exige

comparativamente um alto niacutevel de racionalidade de disciplina e neutralidade

afetiva o que depende de fatores comportamentais agraves vezes conflitantes para os

indiviacuteduos

As possibilidades acerca de participaccedilatildeo e potencialidades do indiviacuteduo em

ldquotransformaccedilatildeordquo quando este se torna um ser livre e autoconfiante satildeo indicadores

de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos seja em cooperativa ou em outra forma de accedilatildeo

coletiva

Conforme mostrado na literatura acerca dessa temaacutetica bem como na

demonstraccedilatildeo das praacuteticas de participaccedilatildeo em cooperativas conforme as

complexas formas de gestatildeo adotadas por essas organizaccedilotildees a participaccedilatildeo de

produtores nestess modelos deve ser cuidadosamente pensada e acompanhada

para que a proposta hochdaleana da auto gestatildeo e participaccedilatildeo natildeo fique somente

na origem ideoloacutegica desse movimento Portanto como pode ser observado eacute

importante considerar que a participaccedilatildeo se efetiva num processo com diversas

etapas que exigem estrateacutegias e modo de participar diferentes

333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo

Os benefiacutecios da participaccedilatildeo satildeo inquestionaacuteveis mas natildeo se pode esperar

que em absolutamente todas as organizaccedilotildees consiga-se ter essa praacutetica com a

mesma efetividade Assim como visto estas tecircm formas distintas e agraves vezes

contraditoacuterias de serem conduzidas Por essa razatildeo continuando a reflexatildeo sobre

participaccedilatildeo eacute oportuno mostrar os riscos de tratar esse tema sem entender os

possiacuteveis desvios que podem ocorrer na praacutetica da utilizaccedilatildeo desse princiacutepio

democraacutetico na autogestatildeo cooperativa

63

Bordenave (1983) expressou a potencialidade da participaccedilatildeo mas

demonstra tambeacutem que haacute risco de ter seu sentido esvaziado antes de sua

contribuiccedilatildeo para a democracia verdadeira Amodeo (2007) baseada numa

conferecircncia realizada na universidade de Manchester Inglaterra com o tema ldquoa

tirania da participaccedilatildeordquo apresenta questotildees relevantes discutidas no evento para

chamar a atenccedilatildeo sobre as formas de utilizaccedilatildeo do discurso da participaccedilatildeo em

praacuteticas diversas e distantes do seu real significado

O discurso da participaccedilatildeo estaria sendo utilizado para agendas poliacuteticas distintas estaria impondo relaccedilotildees de poder em vez de as eliminar ao transformar a participaccedilatildeo numa simples aplicaccedilatildeo de tecnologias sociais estaria sendo negligenciado quando restringido agraves escalas locais esquecendo seus viacutenculos com processo e institucionalidades mais amplas estaria encobrindo o fato da participaccedilatildeo natildeo ser uma panaceacuteia e apresentar as suas proacuteprias tensotildees praacuteticas e teoacutericas (KESBY 2005 CITADO EM AMODEO 2007 P56)

Sabendo-se de formas contraditoacuterias que se pode usar a participaccedilatildeo tem-se

aqui o cuidado de natildeo sombrear toda potencialidade que existe nessa forma de

interagir Conforme Amodeo (2007) qualificar a participaccedilatildeo como tirania eacute um ato

chocante aos atores vinculados ao mundo da participaccedilatildeo tanto quando existe uma

visatildeo romacircntica dos processos participativos quanto quando existe a necessidade

de validaccedilatildeo poliacutetica da participaccedilatildeo

Portanto ao se questionar as formas de participaccedilatildeo e suas reais

consequumlecircncias conforme mostra Amodeo (2007) existe o perigo de ser mal

interpretado como se propusesse o retorno a modelos de dominaccedilatildeo conquanto

essa discussatildeo eacute uacutetil para fazer uma anaacutelise criacutetica e consciente para separar o

discurso da praacutetica

Para Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) as ldquotiraniasrdquo

identificadas no estudo tinham trecircs origens principais as derivadas da tomada de

decisotildees e do controle a tirania do grupo e a tirania como meacutetodo Assim estes

autores as definiram

a) As tiranias derivadas da tomada de decisotildees e do controle tentavam ser resumidas nesta pergunta ldquoos facilitadores da participaccedilatildeo deixam de lado os processos existentes e os processos legiacutetimos de tomada de decisotildeesrdquo () haacute uma tendecircncia verificada de promoccedilatildeo da legitimidade de determinados processos de intervenccedilatildeo com o consequumlente cumprimento de determinadas agendas e objetivos especiacuteficos desconhecendo as instacircncias e interesses genuinamente locais b) No argumento da tirania do grupo questionava se a dinacircmica dos grupos faria com que as decisotildees participativas reforccedilassem os interesses dos que jaacute eram poderosos O principal argumento criacutetico satildeo as falhas dos processos participativos em lidar com as desigualdades internas agraves comunidades tendendo muitas vezes a reforccedilar as relaccedilotildees de poder preexistentes

64

c) por fim a conclusiva da tirania do meacutetodo eacute que agrave medida que as relaccedilotildees de poder internas a comunidade natildeo sofrem transformaccedilotildees draacutesticas aqueles tradicionalmente excluiacutedos dos possessos de decisatildeo e controle ficam deslegitimados de participar dos benefiacutecios dos processos participativos jaacute que eles seratildeo dominados pelos grupos que tradicionalmente deteacutem mais poder (AMODEO 2007 p57-58)

Essas evidecircncias portanto satildeo orientadoras para se ter o cuidado de

ldquoenfrentar as encruzilhadas e armadilhasrdquo que o processo participativo pode

apresentar a fim de evitar que as propostas da participaccedilatildeo fiquem restritas ao

discurso As observaccedilotildees registradas pelos autores procedem com loacutegica aos

argumentos tratados na teoria da escolha racional pois concatenam com o

comportamento de indiviacuteduos em grupos latentes ou heterogecircneos Nesse caso o

fato de que em grupos grandes a contribuiccedilatildeo de um indiviacuteduo natildeo seja percebida

pelos demais membros da accedilatildeo coletiva a possibilidade de ocorrer tambeacutem uma

sobre-exploraccedilatildeo se eleva De outro modo os argumentos satildeo coerentes com os

riscos de que a proposta de auto-gestatildeo quando natildeo se tem o grupo homogecircneo

pode ficar no discurso

Outras distorccedilotildees sobre o processo participativo apresentadas no mesmo

estudo registrado por Amodeo (2007) mostraram tambeacutem que os ideais da

participaccedilatildeo podem ser constrangidos por metas burocraacuteticas formais ou informais

propostas por contextos institucionais De modo diferente os sentimentos

pensamentos e comportamentos das pessoas satildeo influenciados pela presenccedila real

imaginaacuteria ou impliacutecita dos outros membros do grupo Ainda observaram que os

processos participativos podem levar as pessoas a tomar decisotildees coletivas que

apresentam mais riscos do que as que teriam tomado individualmente

Todos esses argumentos se aproximam das evidecircncias encontradas na tese

de Olson (1999) sobre o comportamento dos indiviacuteduos Portanto do ponto de vista

do cooperativismo essas reflexotildees satildeo importantes orientaccedilotildees para se resguardar

e impedir que os ldquofenocircmenos tiranosrdquo identificados em processos de participaccedilatildeo

sejam reconhecidos e cuidadosamente tratados para natildeo contrariar os princiacutepios da

doutrina cooperativista Pois estes princiacutepios unificam as organizaccedilotildees cooperativas

sem considerar possiacuteveis desvios como os apresentados nesta etapa da pesquisa

Outro ponto eacute que se as caracteriacutesticas do perfil do ldquohomus cooperativusrdquo (Pinho

1983) fossem comum na grande maioria dos membros associados o

comportamento destes se apresentaria favoravelmente coercitivo para inibir os

65

ldquofenocircmenos tiranos da participaccedilatildeordquo Ou concomitante a isso os princiacutepios do

cooperativismo seriam suficientes para garantir que esses fenocircmenos natildeo

ocorressem em cooperativas

Diante do exposto os dilemas de accedilatildeo coletiva apresentados por Olson

(1999) ocorrem porque natildeo se tem certeza de como o indiviacuteduo iraacute se comportar

uma vez que a natureza da cooperaccedilatildeo humana ainda natildeo foi devidamente

compreendida Entatildeo como saber como as pessoas vatildeo agir Quando se tem um

ambiente de elevado capital social as relaccedilotildees de confianccedila muacutetua favorecem as

interaccedilotildees e haacute uma menor incidecircncia de conflitos Essa perspectiva seraacute tratada na

seccedilatildeo seguinte

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema

A formaccedilatildeo de capital social tem na cooperaccedilatildeo um dos elementos primaacuterios

que influenciam o fortalecimento de accedilotildees coletivas Correa (2003) mostra que

regiotildees dotadas de elevados iacutendices de capital social estariam assim propensas agrave

cooperaccedilatildeo e participaccedilatildeo o que facilitaria a articulaccedilatildeo entre os diferentes atores

sociais Este fortaleceria a coesatildeo da comunidade melhoraria a qualidade das

decisotildees e facilitaria o alcance dos objetivos de interesse comum Do mesmo modo

conforme Colleman citado em Correa (2003) o capital social seria tambeacutem uma

resposta aos desafios da sociedade moderna sobreposto ao comportamento

individualista em que cada um age para alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

Todos os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais que se formam numa comunidade

contribuem para fortalecer o capital social Deste modo para Bueno (2004) as

soluccedilotildees cooperativas que uma sociedade alcanccedila formam um ldquoestoquerdquo de capital

social no sentido de que essas soluccedilotildees ao gerar confianccedila inter-pessoal agem

como um insumo na produccedilatildeo sem o qual muitos empreendimentos coletivos natildeo

podem ser realizados Deste modo capital social conforme Bialoskorski Neto

(2001) poderia ser mensurado como uma eficaacutecia do coletivo

Para tanto a consecuccedilatildeo desse capital requer a participaccedilatildeo da comunidade

Nesse sentido Putnan (1996) por sua vez mostra que o capital social eacute um

elemento decisivo do desenvolvimento Este seria o grande responsaacutevel por incutir

nos seus membros haacutebitos de cooperaccedilatildeo solidariedade e espiacuterito puacuteblico

66

Entatildeo dentre outras definiccedilotildees sobre capital social Putnan (2002) inclui as

redes e normas que orientam accedilotildees coletivas a partir do grau de confianccedila que

pessoas de uma determinada regiatildeo tecircm nos resultados coletivos que se obtecircm a

partir da cooperaccedilatildeo Assim o autor o define capital social

Caracteriacutesticas da organizaccedilatildeo social como confianccedila normas e sistemas que contribuam para aumentar a eficiecircncia da sociedade facilitando as accedilotildees coordenadas na referecircncia de Ostron ldquoassim como outras formas de capital o capital social eacute produtivo possibilitando a realizaccedilatildeo de certos objetivos que seriam inalcanccedilaacuteveis se ele natildeo existisserdquo (PUTNAN 1996 P177)

Hirshman citado em Arauacutejo (2003) se refere a capital social no sentido de que

este aumenta dependendo da intensidade do seu uso Para este autor praticar

cooperaccedilatildeo e confianccedila produz mais cooperaccedilatildeo e confianccedila e logo mais

prosperidade corroborando a formaccedilatildeo de um ldquoestoquerdquo como se referiu Bueno

(2004) Deste modo as sociedades fortes em capital social natildeo geram apenas

riqueza geram tambeacutem sentimentos de igualdade de justiccedila de bem comum O

crescimento econocircmico viria acompanhado de bens sociais direcionados para o

bem das pessoas e natildeo para o aumento da riqueza como um fim em si mesmo

Fukuyama citado em Arauacutejo (2003 ) acrescenta que satildeo os viacutenculos sociais

baseados no enraizamento no local em que as relaccedilotildees comerciais satildeo

fundamentadas na confianccedila e nas interaccedilotildees do dia a dia

Maciel (2003) distingue duas tendecircncias na literatura sobre capital social a

primeira de ordem socioloacutegica usando o argumento de que a confianccedila eacute produto de

padrotildees histoacutericos de longo prazo de associativismo engajamento ciacutevico e

interaccedilotildees extra familiares De outro modo a autora apresenta a natureza

econocircmica do capital social ao enfatizar que haacute o interesse proacuteprio de longo prazo

no caacutelculo de custos e benefiacutecios por atores maximizadores de ganhos por meio da

promoccedilatildeo de comportamento de confianccedila

No primeiro caso para a autora a confianccedila eacute sinocircnimo de amizade e na

tendecircncia econocircmica as relaccedilotildees de confianccedila reciprocidade e cooperaccedilatildeo satildeo

vistas para estreitar relaccedilotildees entre agentes e melhorar eficiecircncia econocircmica Neste

caso reforccedila-se o argumento de que mesmo em paiacuteses de economia mais

avanccedilada o mercado precisa ser complementado por relaccedilotildees natildeo mercantis

Entretanto Maciel (2003) observa que o conceito de capital social ou confianccedila soacute

teraacute maior capacidade explicativa para o ecircxito das iniciativas produtivas se sua

definiccedilatildeo for independente do resultado Deste modo a autora critica a visatildeo

67

instrumentalista de capital social como meio de se obter resultados econocircmicos

Mas se haacute uma visatildeo geral de que nas relaccedilotildees de fins econocircmicos existem outras

motivaccedilotildees natildeo econocircmicas que satildeo incentivos para os indiviacuteduos estas

motivaccedilotildees natildeo deveriam ser restritivas no conjunto das variaacuteveis que formam o

capital social nem mesmo censurar o sucesso econocircmico como resultado desse

capital O inverso tambeacutem poderia ocorrer Nas relaccedilotildees comerciais onde as

interaccedilotildees tendem a se repetir cria-se uma relaccedilatildeo de confianccedila e aiacute pode emergir

capital social Entatildeo este pode ser tanto meio quanto fim entre as instituiccedilotildees das

relaccedilotildees econocircmicas

Outra discussatildeo em torno de capital social estaacute vinculada agrave ambiguumlidade de

que ele pode ser criado ou natildeo Para Bueno (2002) e Araujo (2003) embora a

criaccedilatildeo de capital social pareccedila ser de fato um processo lento a adaptaccedilatildeo de

capital social jaacute existente para outros fins pode ser feita em periacuteodos de tempo bem

mais curtos e a principal forma de fazer essa adaptaccedilatildeo eacute mediante a participaccedilatildeo

dos indiviacuteduos pertencentes agrave comunidade Entretanto para esses autores

corroborando Putnam (2002) as tradiccedilotildees ciacutevicas capital social e praacuteticas

colaborativas por si soacute natildeo desencadeiam o progresso econocircmico Elas entretanto

se constituiriam em elementos importantes para as regiotildees enfrentarem e se

adaptarem aos desafios e oportunidades da realidade presente e futura O capital

social portanto favorece o desenvolvimento poreacutem natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para

que ele ocorra

Outra observaccedilatildeo pertinente eacute que mudanccedilas favoraacuteveis ao capital social

podem ser apresentadas em menor tempo Nesse tocante Putnam (2002) deu iniacutecio

a uma reflexatildeo sobre a influecircncia de haacutebitos culturais e valores na poacutes-modernidade

seus impactos sobre a democracia e possiacuteveis reflexos sobre a comunidade ciacutevica

de seu paiacutes Isso sustenta a observaccedilatildeo de que mudanccedilas desta natureza podem

influenciar ou natildeo na confianccedila muacutetua e participaccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas

respectivas accedilotildees coletivas

Putnam (2002) e Fukuyama (1996) citado em Arauacutejo (2003) enfatizam o

papel da confianccedila para a prosperidade de uma naccedilatildeo Para ambos confianccedila e a

expectativa de reciprocidade que pessoas de uma comunidade tecircm acerca do

comportamento dos outros baseada em normas partilhadas eacute a base para o capital

social De modo contraacuterio Putnan (1996) observa que o clima de desconfianccedila

68

muacutetua generalizada e ausecircncia de compromisso para com o bem puacuteblico inviabiliza

natildeo soacute a democracia como tambeacutem o desenvolvimento econocircmico Ambos os

modos portanto pautam na confianccedila a criaccedilatildeo do outro elemento que influencia o

desenvolvimento econocircmico e social das comunidades que eacute a cooperaccedilatildeo

Conforme Lynn Smith citado em Pinho (1966) haacute diversos tipos de cooperaccedilatildeo

Gradaccedilotildees que vatildeo das reaccedilotildees espontacircneas de ajuda - muacutetua tiacutepica sobretudo dos grupos primaacuterios considerada natildeo-contratual que ocorre entre vizinhos em busca de determinado fim sem que haja qualquer acordo sobre a maneira de prestaccedilatildeo desse auxiacutelio e entre ajuda contratual ou formal representada pelas cooperativas sindicatos sociedades por accedilotildees e outras que atuam de acordo com normas regulamentares previamente elaboradas pelos associados (PINHO 1966 P44)

Portanto a dinacircmica da construccedilatildeo e aumento do capital social ou o

contraacuterio estatildeo diretamente relacionados agrave capacidade ou incapacidade de

cooperar e de confiar

No cooperativismo a observaccedilatildeo desses dois aspectos satildeo premissas que

datildeo sustentaccedilatildeo agrave efetividade dessas organizaccedilotildees Para Taylor citado em Aguiar

(1991) a cooperaccedilatildeo individual sempre se daacute nas seguintes condiccedilotildees

a) que as opccedilotildees individuais sejam limitadas b) que os incentivos seletivos restringidos estejam bem definidos evidentes e sejam sustentados c) que se obtenha maior benefiacutecio e menor custo mediante o curso de accedilatildeo eleito do que com outras possibilidades d) que o marco de eleiccedilatildeo natildeo seja completamente novo senatildeo que se haja ocorrido anteriormente muitas situaccedilotildees similares (TAYLOR citado em AGUIAR 1991 P31)

Diante dessas exposiccedilotildees se identifica no relato da OCB (2007) que a origem

do desenvolvimento cooperativista no paiacutes se deve agrave presenccedila de fortes indiacutecios de

capital social nas comunidades de imigrantes e em relaccedilotildees horizontais

Os imigrantes trouxeram de seus paiacuteses de origem a bagagem cultural o trabalho associativo e a experiecircncia de atividades familiares comunitaacuterias que os motivaram a organizar-se em cooperativas A histoacuteria relata que os problemas de comunicaccedilatildeo adaptaccedilatildeo agrave nova cultura carecircncia de estradas e de escolas e discriminaccedilatildeo racial criaram entre eles laccedilos de coesatildeo resultando no nascimento de sociedades culturais e agriacutecolas Assim fundaram suas proacuteprias escolas e igrejas e iniciaram atividades de caraacuteter cooperativo como mutiratildeo para o preparo de solo construccedilatildeo de galpotildees casas colheitas (OCB 2007)

Essas evidecircncias estatildeo tambeacutem em Riedl e Vogt (2003) ao mostrarem no

histoacuterico do cooperativismo que os imigrantes e seus descendentes motivados pela

necessidade tiveram que cooperar para resolver os problemas comuns Neste

aspecto eacute constatada uma relaccedilatildeo onde se formaram redes horizontais de

cooperaccedilatildeo que satildeo a base do capital social Entretanto o desenvolvimento do

cooperativismo em outras regiotildees natildeo se deu da mesma forma no nordeste por

69

exemplo surgiu para as elites poderem controlar as cooperativas que foram

escolhidas pelos governos como mediadoras na aplicaccedilatildeo das poliacuteticas agriacutecolas

dessa forma elas reproduzem internamente as relaccedilotildees de poder daquela

sociedade

Em meio a essas contradiccedilotildees a filosofia do cooperativismo eacute convergente agrave

formaccedilatildeo de capital social tendo em vista que as cooperativas satildeo agentes de

desenvolvimento da regiatildeo em que satildeo formadas e por atuarem em um espaccedilo

delimitado pela rede estabelecida entre os cooperados Essa caracteriacutestica do

cooperativismo conforme Salanek Filho e Silva (2003) eacute determinada porque o

acesso de uma pessoa a um sistema cooperativo torna-a tambeacutem um agente

participante desse desenvolvimento tanto por sua capacidade de articulaccedilatildeo e de

influecircncia quanto pela forma como interage com os demais cooperados Nesse

caso conforme esses autores a interaccedilatildeo confianccedila definiccedilatildeo de objetivos comuns

e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees fundamentais para compreender o

processo cooperativista e a importacircncia relativa do capital social para o

desenvolvimento do local onde essas organizaccedilotildees se formam Reciprocamente

onde haacute capital social desenvolvido haacute facilidade de se formar associaccedilotildees

Os benefiacutecios da confianccedila capital social e cooperaccedilatildeo podem ser

considerados instrumentos de sustentaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Embora o conceito

de capital social tenha sido tratado muito depois de Owen essas premissas jaacute

estavam na impliacutecitas na sua proposta quando articulou sobre o cooperativismo

Portanto dentre importantes contribuiccedilotildees de diferentes correntes teoacutericas

conforme Carneiro (1981) talvez a maior delas tenha sido de Robert Owen

talvez a mais importante liccedilatildeo comunitaacuteria na sociedade moderna advenha da experiecircncia owenista onde se tentou conciliar o incentivo individual com uma eficiente decisatildeo no processo democraacutetico deste modo a sociedade para Owen deveria ser implantada para os fins da cooperaccedilatildeo (CARNEIRO 1981 P69)

Com esse pensamento instituiu-se o princiacutepio da co-operation na sua

idealizaccedilatildeo que se transformou no principal elemento da doutrina cooperativista

Para Owen a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo

importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos de

sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO1981) Esses

condicionamentos referidos por Owen seriam as sensaccedilotildees percepccedilotildees e os

conhecimentos que na sua visatildeo criam o motivo de accedilatildeo chamado vontade a qual

estimula o homem a agir e decidir suas accedilotildees

70

Carneiro (1981) evidencia ainda que Owen aguardava ardentemente a

reforma da sociedade e sua grande proposta de co-operaccedilatildeo estava subordinada a

novos conceitos de educaccedilatildeo psicologia e eacutetica social Na sua concepccedilatildeo o

comportamento do homem seria definido por um composto cujo caraacuteter eacute formado

por sua constituiccedilatildeo ou formaccedilatildeo durante o nascimento e pelo efeito das

circunstacircncias externas desde o nascimento ateacute a morte Essas determinantes

continuam sendo discutidas pelos pesquisadores das ciecircncias sociais e muitos

deles corroboram que o comportamento dos indiviacuteduos eacute influenciado pelo meio e

este resulta das relaccedilotildees entre os pares Essa afirmativa exposta por Owen citada

em Carneiro (1981) eacute tambeacutem presente em Arauacutejo (2003) Putnan (2002) e Douglas

(1998) embora de forma diferente foi descartado por Olson (1999) e Elster (1994)

entre outros autores que discutem o comportamento social

Talvez essas prerrogativas justifiquem e ao mesmo tempo mostrem todo o

creacutedito que deve ser depositado agrave importacircncia e necessidade de fortalecimento do

cooperativismo com os dilemas aqui apresentados inibidos pela interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos nas premissas que se formam o capital social Pois nenhuma outra forma

de organizaccedilatildeo da economia foi proposta para substituir o modelo do cooperativismo

que ao longo de mais de um seacuteculo vem resistindo a diferentes mudanccedilas

ocorridas na sociedade

Dumont (2005) indica que a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das

outras civilizaccedilotildees e culturas Portanto eacute importante observar as necessidades de

correccedilotildees ponderando as particularidades de cada lugar

Natildeo haacute uma configuraccedilatildeo comum de ideacuteias e valores existe uma continuidade histoacuterica e intercomunicaccedilatildeo - e de outra ndash a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das outras civilizaccedilotildees e culturas As ideacuteias ou categorias de pensamento especificamente modernas aplicavam-se mal agraves outras sociedades Portanto eacute interessante estudar o nascimento o lugar ou funccedilatildeo dessas categorias que o autor se refere ao indiviacuteduo agrave poliacutetica e agrave moralidade para apurar como ela se diferencia e finalmente que papel desempenha na configuraccedilatildeo global (DUMONT 1985 P22-23)

Portanto na nova ordem econocircmica os novos modelos de accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidos jaacute satildeo respostas agraves necessidades de observar o

modelo de cooperativismo para o qual evoluiacutemos Que seja de fato retomado para

uma gestatildeo da economia de forma mais solidaacuteria e justa para atender uma

populaccedilatildeo mais homogecircnea em suas reais necessidades Nesta concepccedilatildeo haacute uma

congruecircncia com Olson (1999) porque o autor considera sobretudo que os

71

indiviacuteduos faratildeo escolhas neste caso dotados de informaccedilotildees e com estiacutemulos para

que a escolha seja a melhor opccedilatildeo Deste modo ele tem que escolher

racionalmente em que modelo de organizaccedilatildeo cooperativa ele quer participar

72

4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO COOPERATIVISMO

Este capiacutetulo apresenta os resultados observaccedilotildees e percepccedilotildees obtidos

durante a pesquisa de campo sobre a participaccedilatildeo do produtor rural em

organizaccedilatildeo cooperativa Primeiramente acha-se importante expor a caracterizaccedilatildeo

do municiacutepio de Carlos Chagas onde a pesquisa foi feita pois o municiacutepio eacute

conhecido regionalmente como cidade cooperativista Entatildeo buscou-se

informaccedilotildees para entender o porquecirc desta caracteriacutestica

Em seguida uma descriccedilatildeo da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM objeto do estudo de caso Em sequumlecircncia seraacute apresentada sua

estrutura organizacional atuaccedilatildeo com os associados atuaccedilatildeo no mercado e outros

trabalhos realizados na comunidade Posteriormente seratildeo mostrados os resultados

dos questionaacuterios aplicados assim como informaccedilotildees obtidas com as entrevistas

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas

A cidade de Carlos Chagas estaacute localizada na regiatildeo nordeste do Estado de

Minas Gerais no Vale do Rio Mucuri agraves margens da BR 418 entre as rodovias BR

116 e BR 101 principais malhas viacutearias que ligam a regiatildeo norte ao sul do paiacutes

Com a chegada de imigrantes para trabalhar na construccedilatildeo da Ferrovia Bahia

Minas em meados do seacuteculo XIX originou-se a colocircnia que cem anos depois se

transformaria em municiacutepio

A colocircnia Militar do Urucu criada em 1854 para dar proteccedilatildeo aos trabalhadores da Companhia do Mucuri foi o foco inicial da colonizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas Uma leva de colonos estrangeiros se dirigiu para a Colocircnia Eram de origem belga e holandesa A colocircnia tornou-se o celeiro para o fornecimento de mantimentos para o pessoal que trabalhava na construccedilatildeo da estrada de Ferro Bahia e Minas (NOGUEIRA FILHO 1989 P6)

Figura 3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de Mangalocirc

Assim os desbravadores se encantaram pelo solo feacutertil e foram ficando Da

exploraccedilatildeo de madeiras foram-se abrindo pastagens que permitiram ao municiacutepio

desenvolver-se na pecuaacuteria e ser conhecido tambeacutem como a Capital do Boi pois

pelas caracteriacutesticas propiacutecias permitiu-se ter um dos melhores rebanhos bovinos

do Estado

Em 1938 o municiacutepio conseguiu emancipaccedilatildeo e atualmente tem a populaccedilatildeo

de 21722 habitantes com 7723 moradores na aacuterea rural (IBGE 2002) Eacute um dos

maiores municiacutepios mineiros em extensatildeo e faz parte do Territoacuterio Vale do Mucuri

mesorregiatildeo definida pelo Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel

para poliacutetica de apoio agrave agricultura familiar estabelecida pela Secretaria de

Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio (MDA)

Para melhor visualizaccedilatildeo dessa localizaccedilatildeo segue Figura 4

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas no Estado de MG

Fonte httpterritoriomucuriorg

73

74

Atualmente o municiacutepio destaca-se por ser reconhecida como Cidade

Cooperativista pois haacute grande interaccedilatildeo entre as cooperativas locais e instituiccedilotildees

puacuteblicas e privadas onde tecircm-se buscado desenvolver a cultura da cooperaccedilatildeo em

toda comunidade desde as escolas de ensino baacutesico e ensino meacutedio local Eacute

modelo na regiatildeo por essa forma de conduzir suas atividades tanto quando se

destinam ao urbano quanto ao rural

Todo trabalho realizado com essa finalidade tem tido apoio das cooperativas

locais que satildeo a Coolvam a Cooperativa de Creacutedito Rural de Carlos Chagas

(Credicar) atualmente integrada agrave rede Sistema de Creacutedito Coopeativo do Brasil

(Sicoob) e a Cooperativa Educacional de Carlos Chagas (Cooeducar) dentre outras

pequenas cooperativas juntamente com a Agecircncia de Desenvolvimento de Carlos

Chagas (Adecar) Prefeitura Municipal e o Conselho de Desenvolvimento Rural

Sustentaacutevel (CMDRS) e as associaccedilotildees comunitaacuterias rurais que tecircm sido

importantes na construccedilatildeo dessa cultura pois eacute por meio da participaccedilatildeo de seus

membros que as cooperativas estatildeo desenvolvendo trabalhos sobre a educaccedilatildeo

cooperativista Conforme o Diretor Presidente da Coolvam

Carlos Chagas eacute considerada cidade do cooperativismo quatro cooperativas da cidade que satildeo muito fortes e satildeo sem duacutevida que datildeo sustentaccedilatildeo para o municiacutepio ()Estatildeo muito ligadas ao meio rural precisa fazer uma trabalho que estaacute comeccedilando agora no meio urbano Temos trabalho jaacute comeccedilado A cooperativa de produccedilatildeo e de creacutedito participam de todo e qualquer evento ou movimento que eacute realizado na cidade participa de todas as entidades carentes (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Na cidade permite-se identificar que por essa forma de interaccedilatildeo entre esses

agentes no desenvolvimento de atividades diversas haacute uma formaccedilatildeo de capital

social que propicia o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio

42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM

A COOLVAM estaacute classificada no ramo agropecuaacuterio com sessenta anos de

atuaccedilatildeo fundada em 27 de julho do ano de 1947 por um grupo de trinta produtores

que buscavam uma maneira mais rentaacutevel para o aproveitamento do leite produzido

em suas fazendas Apoacutes vaacuterios diaacutelogos entre esses produtores realizou-se a

primeira reuniatildeo para oficializar a constituiccedilatildeo desta cooperativa

75

() Aberta a sessatildeo foi declarado pelo Sr Presidente que o fim da reuniatildeo era o de constituir uma cooperativa de responsabilidade limitada com sede em Carlos Chagas sob a denominaccedilatildeo ldquoSociedade Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucurirdquo e com o objetivo econocircmico de beneficiamento e industrializaccedilatildeo do leite (LIVRO DE ATA 1947 P1)

A histoacuteria de idealizaccedilatildeo da cooperativa foi contada pelo filho de um dos

fundadores

Meu pai era um visionaacuterio ele foi um grande empreendedor ele passou muito tempo falando de fundar uma cooperativa com os amigos por conta proacutepria ele foi a Satildeo Paulo conhecer uma cooperativa em funcionamento naquela eacutepoca

Eles reuniam sempre debaixo de uma aacutervore ldquonaquela casardquo (no momento da entrevista coincidentemente estaacutevamos proacuteximo ao local) no centro da cidade nas tardes e conversavam sobre a ideacuteia da cooperativa ( PRODUTOR 53 2008)

Percebe-se assim que havia uma motivaccedilatildeo para organizaccedilatildeo da cooperativa

pela necessidade de um meio para comercializar a produccedilatildeo jaacute naquela eacutepoca

Numa ata de eleiccedilatildeo e empossamento de presidente da cooperativa em 1963 estaacute

transcrito a fala que exprime um sentimento de responsabilidade frente agrave funccedilatildeo de

representaccedilatildeo do grupo de associados que caracteriza o objetivo da participaccedilatildeo na

lideranccedila ideal na organizaccedilatildeo cooperativa

ldquoEstando certo de que o homem natildeo pertence somente a si proacuteprio e a sua famiacutelia senatildeo que tem deveres para com a sociedade em que labuta natildeo me fiz de rogado e aceitei o pronunciamento da urna com pleno conhecimento das graves responsabilidades que iratildeo pesar sobre os meus fraacutegeis ombros em ocasiatildeo ensombrada de tantas dificuldades Entretanto supervisionarei os negoacutecios da nossa Cooperativa com a prudecircncia e criteacuterio que ateacute aqui tenho posto na gerecircncia de meus interesses privados (LIVRO DE ATA 1963)

Desde a constituiccedilatildeo e conforme conjuntura de cada eacutepoca agrave sua maneira

cada presidente eleito deixou contribuiccedilotildees para a evoluccedilatildeo da cooperativa Nos

uacuteltimos anos na busca de excelecircncia e competitividade vem se desenvolvendo e

conquistando espaccedilo junto ao mercado nacional Em 2002 recebeu o precircmio

Qualidade Ameacuterica Do Sul ndash 2002 em decorrecircncia do padratildeo de qualidade dos

produtos e serviccedilos apresentados e apoio e suporte agraves instituiccedilotildees sociais locais

Juntamente com a outorga do precircmio foi recebido o trofeacuteu Incentivo que representa

o reconhecimento puacuteblico da eficiecircncia no setor empresarial constituindo a

homenagem ao trabalho desenvolvido pela COOLVAM

No ano de 2003 por meio de pesquisa realizada entre clientes oacutergatildeos de

classe formadores de opiniatildeo e indicadores sociais a Coolvam foi aprovada para

receber o precircmio ldquoTop Of Qualityrdquo composto de trofeacuteu e diploma especial como

destaque no segmento Cooperativa de Laticiacutenios simbolizando o reconhecimento da

76

qualidade e excelecircncia em sua aacuterea de atividade e respectiva influecircncia social

Ainda no mesmo ano recebeu o precircmio Master Qualidade Ameacuterica do Sul 2003

No ano seguinte em 2004 a Coolvam foi condecorada com mais um precircmio

como destaque pelos relevantes serviccedilos prestados agrave sociedade tratando-se da

Medalha e Diploma Dr Ulisses Guimaratildees outorgados pela Ordem dos

Parlamentares do Brasil sendo que apenas 20 empresas brasileiras participam da

premiaccedilatildeo

A Coolvam ocupou em 2005 o trigeacutesimo lugar na classificaccedilatildeo por nuacutemero de

empregados diretos e 49ordm lugar por faturamento entre as 50 maiores cooperativas

no ranking da OCEMG (INFORMATIVO COOLVAM 2007) Essa classificaccedilatildeo

efetiva a dimensatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo desta cooperativa na economia do

municiacutepio e todas as outras conquistas retratam o reconhecimento do

desenvolvimento da Coolvam que tem focado as mudanccedilas de mercado buscando

parcerias de forma ativa e competitiva e conforme o Diretor Presidente ldquoprioriza as

necessidades dos associadosrdquo

421 Estrutura Organizacional

As diretrizes para funcionamento da cooperativa estatildeo no seu Estatuto social

assim definidas

Objeto social A sociedade tem por objetivo a melhoria econocircmica e social dos seus cooperados com base na participaccedilatildeo consciente e na colaboraccedilatildeo reciacuteproca a que se obrigam desenvolvendo as seguintes atividades econocircmicas

1)- Industrializaccedilatildeo de vaacuterios produtos atraveacutes do beneficiamento do leite entregue por seus cooperados e a produccedilatildeo de sal mineralizado para pecuaacuteria de corte e leiteira

2)- Comercializaccedilatildeo venda em comum de produtos in natura eou industrializados de produccedilatildeo agropecuaacuteria de seus cooperados

3)- Serviccedilo de abastecimento adquirindo ou produzindo para fornecimento ao quadro social na medida em que os interesses soacutecio-econocircmicos aconselharem todos os artigos necessaacuterios agrave sua atividade econocircmica e ao seu uso pessoal ou domeacutestico

4)- Serviccedilos Teacutecnicos mediante assistecircncia teacutecnica agro-pecuaacuteria e assistecircncia teacutecnica contaacutebil objetivando a racionalidade e produtividade das exploraccedilotildees agropecuaacuterias

5)- Serviccedilos sociais mediante a celebraccedilatildeo de convecircnios com entidades puacuteblicas e privadas de atividade de promoccedilatildeo humana educativa de assistecircncia meacutedico hospitalar de serviccedilos culturais desportivos de integraccedilatildeo social dos cooperados e dos funcionaacuterios da empresa

77

6)- Incentivo agrave produccedilatildeo atraveacutes de recursos proacuteprios quando possiacutevel ou pela intermediaccedilatildeo junto a estabelecimentos de creacutedito particulares ou puacuteblicos para incorporaccedilatildeo de tecnologia apropriada de produccedilatildeo de melhoria da produtividade (ESTATUDO SOCIAL 1988 P8-9)

De acordo com o Estatuto Social da Coolvam a Assembleacuteia Geral eacute o Oacutergatildeo

Supremo da cooperativa com poderes dentro dos limites da Lei e do Estatuto

vigente Eacute responsaacutevel por toda decisatildeo de interesse social e suas deliberaccedilotildees

vinculam a todos ainda que ausentes ou discordantes O Conselho de

Administraccedilatildeo eacute formado por nove cooperados eleitos em Assembleacuteia Geral

Ordinaacuteria

O Conselho Fiscal eacute composto por 3 membros efetivos e 3 suplentes eacute

responsaacutevel pela fiscalizaccedilatildeo das atividades da cooperativa e a diretoria executiva eacute

composta por um diretor presidente (cooperado) eleito em Assembleacuteia Geral um

Gerente Geral contratado e um consultor que acompanha a administraccedilatildeo da

cooperativa haacute mais de 15 anos completando com a equipe de 148 funcionaacuterios que

desempenham as atividades administrativas de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

422 Quadro Social

Atualmente o quadro social da Cooperativa eacute composto por 352 associados

sendo 273 em Carlos Chagas e municiacutepios circunvizinhos e os 79 restantes satildeo

associados agrave Cooperativa Regional Agropecuaacuteria de Satildeo Domingos do Prata

(Duprata) na cidade de Satildeo Domingos do Prata Minas Gerais incorporada agrave

Coolvam desde marccedilo de 2006

423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo

Os associados se organizam por meio do Comitecirc Educativo oacutergatildeo criado

desde 1990 com o objetivo de manter um canal de comunicaccedilatildeo com os cooperados

e desenvolver atividades ligadas agrave educaccedilatildeo cooperativista Eacute um oacutergatildeo de

assessoria ajuda na resoluccedilatildeo de problemas podendo apresentar sugestotildees

reivindicaccedilotildees poreacutem natildeo tem poder de decisatildeo

Os trabalhos desenvolvidos pelo comitecirc educativo envolvem a realizaccedilatildeo de

reuniotildees bimestrais em cada uma das comunidades dias de campo visitas teacutecnicas

palestras cursos campanhas de vacinaccedilatildeo e treinamentos

78

423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam

Devido agrave necessidade de se promover a autogestatildeo na Cooperativa e

melhorar o contato entre cooperativa e cooperados no ano de 1990 a Coolvam

contratou uma empresa de consultoria com a finalidade de iniciar o processo de

OQS com a implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo

Apoacutes meses de trabalho o Comitecirc Educativo se definiu abrangendo cinco

comunidades da aacuterea de accedilatildeo da Coolvam passando a ser entatildeo um oacutergatildeo de

assessoria da administraccedilatildeo e dos cooperados constituiacutedo por um grupo de

lideranccedilas que se reuacutenem para levantar e discutir problemas analisaacute-los e sugerirem

ideacuteias que atendam aos interesses da comunidade cooperativista

Com a constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo os cooperados passaram a levar agrave

administraccedilatildeo seus problemas desejos e necessidades bem como sua ajuda para

soluccedilotildees de problemas Eacute por meio dele que a administraccedilatildeo se comunica com os

associados quando apresentam planos de trabalho metas e informaccedilotildees sobre a

cooperativa

Atualmente esse conselho eacute formado por 12 membros sendo um

coordenador e um secretaacuterio de cada uma das 06 comunidades rurais pertencentes

agrave Coolvam Vila Pereira BrejauacutebaLajeado Coacuterrego do Oito Burro

PrateadoCapoeiras JequiririPampa Coacuterrego SecoCoraccedilatildeo de Minas que estatildeo

organizadas espacialmente no municiacutepio

conforme a logiacutestica de captaccedilatildeo de leite

Uma descriccedilatildeo mais detalhada sobre a formaccedilatildeo do Comitecirc Educativo estaacute

no extrato da entrevista com a assessora de cooperativismo da Coolvam

Depois das cinco comunidades que foram formadas que comeccedilou esse trabalho outras surgiram depois em meacutedia quatro a cinco soacute que tambeacutem tivemos exemplos de comunidades que foram formadas mas duraram muito pouco teve o exemplo da criaccedilatildeo da comunidade urbana pelas segunda ata durou apenas dois meses e outras comunidades que duraram seis meses e um ano aproximadamente Pelo que pesquisei quando cheguei aqui em 99 o motivo maior da extinccedilatildeo da comunidade foi da falta de lideranccedila naquela regiatildeo e tambeacutem problemas de ordem poliacutetica em oposiccedilatildeo muito forte em relaccedilatildeo agrave cooperativa Natildeo da cooperativa de se impor mas da parte deles de natildeo estarem mais de acordo com a poliacutetica da cooperativa Entatildeo eles deixaram de dar continuidade aos trabalhos naquela regiatildeo Em 99 tinham oito comunidades

79

formadas ativas um ano depois foi criada mais uma e chegamos a nove Por um periacuteodo de influecircncias de outras empresas de laticiacutenios aqui na regiatildeo vaacuterios produtores deixaram de atuar junto a Coolvam entatildeo a gente perdeu bastante associados e noacutes viemos a perder algumas comunidades tambeacutem Hoje temos ativas seis comunidades podemos dizer hoje que satildeo bastante atuantes Pegamos diversos setores varias aacutereas de atuaccedilatildeo da Coolvam

Teve caso que a gente juntou duas comunidades Isso funciona muito bem a cada dois meses a gente realiza reuniotildees em uma regiatildeo outro mecircs realiza em outra Egrave uma comunidade muito integrada bastante homogecircnea entatildeo facilita bastante o trabalho No mecircs em que faz a reuniatildeo os associados da outra regiatildeo vatildeo ate la e vice versaEntatildeo isso eacute muito interessante A gente tentou tambeacutem a junccedilatildeo de outras comunidades mas natildeo teve muito sucesso Fizemos umas duas junccedilotildees que deu muito certo

Hoje temos seis comunidades e agente acredita que o trabalho estaacute no caminho certo O que precisamos agora e estar mensurando esse trabalho quantificando mais esse trabalho que eacute feito pela cooperativa Acho que eacute o caminho Tem que haver esse tipo de integraccedilatildeo entre a cooperativa e o associado Soacute atraveacutes dessa integraccedilatildeo a gente consegue levar ateacute eles informaccedilotildees consegue extrair deles aquilo que eacute realmente necessaacuterio para o crescimento deles na cooperativa e o que a gente pode estar melhorando em relaccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico e social Enfim algo que e necessaacuterio que exista em toda cooperativa (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Em mensagem enviada pelos membros da empresa de assessoria de

cooperativismo (ASCOOP) com saudaccedilotildees agrave constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo teve

o teor que desenha o ideal da participaccedilatildeo dos soacutecios nas accedilotildees da Cooperativa

() Noacutes da ASCOOP que colaboramos no plantio da semente da participaccedilatildeo aqui na Coolvam deixamos com vocecircs esta mensagem ldquouma vez plantada a semente da participaccedilatildeo cabe a cada um de vocecircs regaacute-la com a responsabilidade consciecircncia e coragem Responsabilidade para cumprir com os compromissos assumidos consciecircncia para compreender o futuro seguro que existe no cooperativismo e coragem para decidir e administrar um patrimocircnio que eacute de todos cujo bem maior eacute a solidariedaderdquo

Desejamos sucesso a todos Cada vez mais acreditamos no cooperativismo porque cada vez mais acreditamos no trabalho e no ser humano () Saudaccedilotildees cooperativistas (CARTA ASCOOP 1999)

Desta maneira percebe-se a importacircncia dada agrave necessidade de fomentar a

participaccedilatildeo de associados nos oacutergatildeos que os representam na defesa de seus

interesses junto agrave organizaccedilatildeo cooperativaseja no comitecirc nos conselhos nas

reuniotildees ou em assembleacuteias

425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos

No iniacutecio das suas atividades a cooperativa funcionava somente com venda

de leite in natura para outras empresas pois natildeo tinha estrutura industrial montada

80

para a produccedilatildeo de derivados laacutecteos Somente em 1986 iniciou-se a

industrializaccedilatildeo do leite com a produccedilatildeo de queijo e manteiga

Dez anos depois por meio de contrato fez parceria com a Cooperativa

Agropecuaacuteria do Vale do Rio Doce (COOPERIODOCE) em Governador Valadares ndash

MG para envasamento de leite Longa Vida com a marca Mucuri Posteriormente

foi cancelado tal contrato e o envase passou a ser feito pela empresa Barbosa amp

Marques no mesmo municiacutepio

No ano de 2001 a COOLVAM firmou contrato com a empresa Nutriacutecia e deu

iniacutecio agrave produccedilatildeo de leite em poacute Mais recentemente em 2003 foi iniciada a

produccedilatildeo de bebida Laacutectea mais um produto com sua marca

Atualmente com captaccedilatildeo meacutedia de leite estaacute em torno de 60000 litros de

leite por dia produz queijo mussarela queijo prato queijo prato light queijo

parmesatildeo queijo minas leite em poacute leite longa vida integral e desnatado e bebida

laacutectea UAT O mercado atendido com seus produtos estaacute em diferentes regiotildees do

Paiacutes sendo que para a Bahia e Sergipe se destinam aproximadamente 58 da sua

produccedilatildeo total Nessas localidades os clientes satildeo na maioria grandes atacadistas

enquanto que o restante da produccedilatildeo 42 vai para outras regiotildees onde as vendas

satildeo mais pulverizadas com atendimento a supermercados restaurantes padarias e

pizzarias ainda na Bahia e nos estados do Espiacuterito Santo e Rio de Janeiro

426 Serviccedilos prestados aos associados A cooperativa possui um Departamento de Assistecircncia Teacutecnica (DAT)

composto por um agrocircnomo um teacutecnico agriacutecola e apoio de estagiaacuterios que vecircm de

convecircnios com instituiccedilotildees de ensino que deste modo formam uma equipe para

prestar serviccedilos aos associados A forma de facilitar o acesso dos associados a

produtos veterinaacuterios e agropecuaacuterios eacute por meio da Farmaacutecia Veterinaacuteria que tem o

objetivo de atender agraves necessidades dos cooperados com insumos e suporte de

outros produtos principalmente raccedilotildees e sementes

Em parceria com o SEBRAE ndash MG participa do Projeto Educampo desde

1997 com o objetivo e finalidade de especializar e tecnificar a atividade leiteira junto

aos associados A participaccedilatildeo no programa eacute custeada pelos associados e

atualmente atende um grupo de 58 produtores Estes recebem orientaccedilotildees e

81

informaccedilotildees zooteacutecnicas agriacutecolas de educaccedilatildeo administrativa gerenciamento

agropecuaacuterio e difusatildeo tecnoloacutegica realizada por teacutecnicos

O Educampo projeto desenvolvido pelo SebraeMG se propotildee a orientar grupos de produtores rurais por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e gerencial com o objetivo de desenvolver aspectos econocircmicos e sociais tornando-os mais eficientes e competitivos As accedilotildees do projeto visam ao aumento da produtividade agropecuaacuteria e consequumlentemente da lucratividade e da qualidade de vida do produtor rural Para participar do Educampo eacute fundamental que o produtor apresente perfil empreendedor e esteja disposto a adotar as orientaccedilotildees do teacutecnico que o acompanha tanto no tocante agraves teacutecnicas produtivas quanto aos controles gerenciais que se constituem no grande diferencial da assistecircncia oferecida pelo projeto (DUARTE 2006 p23)

427 Perfil dos produtores associados da Coolvam

O perfil dos produtores rurais desta pesquisa apresentou-se com dados

semelhantes aos observados por Gomes (2005) sobre o perfil dos produtores

rurais em Minas com algumas caracteriacutesticas tiacutepicas do municiacutepio jaacute que a

populaccedilatildeo entrevistada restringiu-se a Carlos Chagas

Nos trabalhos com produtores de leite usa-se a terminologia pequeno

meacutedio e grande produtor No entanto tecnicamente na Coolvam os

produtores natildeo satildeo identificados por estrato social mas por faixa de

produccedilatildeo Estes satildeo distribuiacutedos em quatro faixas conforme mostra o quadro

abaixo Deste modo nos registros em controles internos as informaccedilotildees satildeo

registradas conforme essa classificaccedilatildeo

Faixa Associados Produtores Litrosdia Volume Ateacute 200 173 65 1484287 25 De 201 a 350 lts 39 15 987157 17 De 351 a 500 lts 19 7 762167 13 Acima de 501 lts 35 13 2666160 45 Total 266 5899770 100

Tabela 2 Organizaccedilatildeo de produtores assiciados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008

Numa melhor visualizaccedilatildeo graacutefica assim satildeo agrupados os produtores

associados (Figura 5)

65

157 13

100

0

20

40

60

80

100

Produtores

Ateacute 200

De 201 a 350 lts

De 351 a 500 lts

Acima de 501 lts

Total

Figura 5 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008 Portanto para utilizar a terminologia proposta nesta pesquisa e

possibilitar anaacutelises comparativas com outros trabalhos foi feito um

reagrupamento dos produtores em conformidade com informaccedilotildees do diretor

e o gerente do Departamento de Assistecircncia Teacutecnica ficando os produtores

reagrupados desta forma

Estratos Sociais Associados Produtores Pequenos (0 a 200 lts) 173 65 Meacutedios (201a 499 lts) 58 22

Grandes (acima de 500 lts) 35 13 Total 266 100

Tabela 3 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por estrato social 2008

Deste modo a Coolvam apresenta em seu quadro social um nuacutemero

consideravelmente maior de pequenos produtores rurais o que confirma a

caracterizaccedilatildeo da maioria das cooperativas de leite brasileiras conforme mostra a

Figura 6 Este grupo tem uma representaccedilatildeo de 65 da populaccedilatildeo de soacutecios

seguido de 22 considerados meacutedios produtores e 13 de grandes produtores

Estes dois uacuteltimos grupos perfazem uma diferenccedila menor em nuacutemero de

associados entretanto no grupo dos grandes produtores estatildeo incluiacutedas as

associaccedilotildees rurais associadas agrave cooperativa Essas associaccedilotildees satildeo compostas por

nuacutemeros variados de produtores mas eacute cadastrado como soacutecio no quadro social da

cooperativa a pessoa juriacutedica que eacute representada pelo presidente da associaccedilatildeo

Este tem direito a um voto nas assembleacuteias

82

65

2213

100

0102030405060708090

100

Produtores

Pequenos (0 a 200 lts)

Meacutedios (201 a 499 lts)

Grandes (Mais de 500 lts)

Total

Figura 6 Organizaccedilatildeo de Produtores associados agrave Coolvam por Estrato Social 2008

A figura 7 mostra a distribuiccedilatildeo de produtores entrevistados por comunidade

rural o que demonstra uma quantidade maior de comunidades do que as seis

citadas pela cooperativa Isso deve-se ao fato de que os associados se identificam

numa comunidade mas para melhor gestatildeo dessas comunidades pela cooperativa

foi feito agrupamento de algumas como Jequiriri e Coraccedilatildeo de Minas Outras estatildeo

desativadas (Mangalocirc) ou seja natildeo estatildeo se reunindo Ainda haacute produtores que

residem em regiotildees cujas comunidades natildeo satildeo formalmente reconhecidas pela

cooperativa como a do Baixo Mucuri

66

0

27

38

20

9

00

1213

0

6

00

15

0

40

6

13

0

9

1920

30

20

0

6

0

66

00

5

10

15

20

25

30

35

40

Pampa

m

BPratea

do

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Baixo M

ucuri

Corrego

do O

ito

Capoe

iras

Vila P

ereira

Mangalocirc

Outras PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 7 Amostra de produtores por comunidades rurais na aacuterea da Coolvam 2008

A meacutedia de idade dos associados eacute de 52 anos corrobora com a constataccedilatildeo

de Gomes (2005) embora na Coolvam haja no quadro social jovens cooperativistas 83

84

participando do comitecirc e de conselhos essa eacute uma minoria Quanto ao grau de

escolaridade dos associados o estrato de grandes produtores apresentou maior

nuacutemero de membros com curso superior entretanto em todos os estratos a maioria

dos produtores tem o primeiro grau conforme tabela 4

Idade PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Meacutediaanos 56 47 58 Escolaridade

PEQUENO MEacuteDIO GRANDEEnsino meacutedio 47 50 402 grau 36 42 20Superior 18 8 40

Estado civil PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Solteiro 5 27 17Casado 95 73 67Viuacutevo 0 0 17

Tabela 4 Perfil do Produtor associados agrave Coolvam (idadeescolaridadeestado civil) 2008

A maioria dos produtores entrevistados manteacutem residecircncia tanto na cidade

quanto na propriedade rural Entretanto a pesquisa mostrou um equiliacutebrio entre o

nuacutemero de associados que consideraram sua residecircncia principal na cidade

Conforme Figura 8 45 dos produtores disseram residir na propriedade enquanto

que 55 consideraram sua principal residecircncia na cidade O grupo dos meacutedios

produtores apresentou uma diferenccedila maior 63 moram na cidade contra 38 que

moram no meio rural o que mostra tambeacutem nuacutemeros mais equilibrados nesse grupo

47

38

50 53

63

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Rural Urbana

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 8 Residecircncia principal de produtores associados agrave Coolvam 2008

Quanto agrave naturalidade a pesquisa mostrou que haacute um equiliacutebrio entre os

produtores quanto ao percentual dos que nasceram no municiacutepio e os que vieram de

outras regiotildees mostrando que na maioria dos casos os produtores satildeo de origem

de lugares proacuteximos como Vale do Jequitinhonha Norte de Minas e Bahia sendo

que os mais distantes vieram do nordeste do paiacutes

Os associados tecircm no leite a principal atividade econocircmica mas todos

possuem complemento de renda com venda de bezerros cria e engorda de gado

de corte ou aposentadoria Haacute algumas exceccedilotildees de produtores que satildeo

profissionais na comercializaccedilatildeo de gado de corte para outras regiotildees Somente

alguns respondentes citaram diversificar a atividade produtiva somente um produtor

respondeu trabalhar com apicultura atuando na comercializaccedilatildeo e beneficiamento

de mel e outros com a produccedilatildeo de farinha Portanto o municiacutepio se caracteriza

praticamente pela pecuaacuteria e precisamente dependecircncia da comercializaccedilatildeo do

leite

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM

Agrave luz da teoria da escolha racional sobre os custos e benefiacutecios provenientes

da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas coube neste trabalho identificar a

motivaccedilatildeo dos soacutecios sobre a associaccedilatildeo e participaccedilatildeo nas atividades da

cooperativa local

85

86

A cooperativa em estudo demonstra evoluccedilatildeo no direcionamento de

trabalhos de organizaccedilatildeo do quadro social valoriza a educaccedilatildeo cooperativista

canaliza esforccedilos para crescimento da empresa cooperativa entretanto o estudo

teve a oportunidade de identificar algumas lacunas conforme ponto de vista dos

associados que merecem atenccedilatildeo para accedilotildees mais participativas destes

Para saber sobre quais motivos o produtor se associa agrave cooperativa foi

perguntado aos entrevistados por que se associaram agrave Coolvam Obteve-se

respostas homogecircneas nos grupos de pequenos e meacutedios produtores associadas agrave

importacircncia do cooperativismo (43 e 44) agrave fidelidade na captaccedilatildeo de leite (37

e 39) e agrave tradiccedilatildeo familiar (17 e 11) como mostra a Figura 9 Eacute certo que haacute

uma dependecircncia maior do grupo de pequenos produtores agrave cooperativa

corroborando o que mostra os trabalhos de Pereira (2002) e Graziano da Silva

(2000) mas essa questatildeo mostrou uma maior associaccedilatildeo de grandes produtores

pela valorizaccedilatildeo da filosofia do cooperativismo (57) do que nos outros estratos em

relaccedilatildeo aos outros indicadores entretanto os pequenos produtores mostraram em

maior nuacutemero ser motivo da associaccedilatildeo o viacutenculo familiar quando responderam

que satildeo associados tambeacutem por tradiccedilatildeo familiar enquanto que essa posiccedilatildeo natildeo

foi registrada no estrato de grandes produtores Essa constataccedilatildeo pode ser

relacionada a capital social formado entre esses soacutecios que se fortalece quando

satildeo mantidas as tradiccedilotildees familiares (Putnam (1996) Bueno (2004) A presenccedila de

capital social se evidenciou em outros dois aspectos

Primeiro a indicaccedilatildeo do cooperativismo em si ter sido considerada o maior

motivo da associaccedilatildeo em todos os estratos e segundo a indicaccedilatildeo da fidelidade da

cooperativa na captaccedilatildeo de leite Esse uacuteltimo eacute um diferencial da organizaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a outras empresas do segmento com reconhecimento dos soacutecios ao

esforccedilo da cooperativa em captar leite nos meses de chuva periacuteodo em que haacute

maior volume produzido o mercado paga menor preccedilo pelo leite in natura e

produtos derivados e por outro lado haacute maior custo de captaccedilatildeo em funccedilatildeo das

dificuldades com as estradas Com a cooperativa o produtor eacute mais confiante de

que seu leite seraacute recolhido do que por outras empresas privadas Ambas as

indicaccedilotildees caracterizam uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a cooperativa e os

produtores essencial para formaccedilatildeo de capital social

O quesito preccedilo natildeo foi evidenciado em nenhum estrato portanto essa

questatildeo natildeo foi considerada relevante pelos respondentes como motivo de sua

associaccedilatildeo Entretanto o indicativo da associaccedilatildeo pela fidelidade da captaccedilatildeo

como foi registrado pode indicar mecanismos de escolha racional dos associados

em avaliar a relaccedilatildeo preccedilo pago pela produccedilatildeo e a fidelidade de captaccedilatildeo

4344

57

36

14

3739

29

1711

0 0000

10

20

30

40

50

60C

oope

rativ

ism

o

Com

pra

dein

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os

Fide

lidad

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Trad

iccedilatildeo

fam

iliar

Preccedil

o do

leite

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 9 Motivaccedilatildeo dos produtores para associaccedilatildeo agrave cooperativa Coolvam 2008

Em seguida quando foi solicitado ao associado para indicar o que diferencia

a cooperativa em relaccedilatildeo a outras empresas (Figura 10) as respostas mostraram

novamente certa homogeneidade (23 38 e 33) na valorizaccedilatildeo e

reconhecimento dos associados ao papel social da cooperativa Esse ponto

corrobora Putnan (1996) com a constataccedilatildeo de que as associaccedilotildees civis contribuem

para a eficaacutecia e a estabilidade do governo democraacutetico natildeo soacute por causa de seus

efeitos internos sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem por causa de seus efeitos externos

sobre a sociedade

Nesta etapa foi reforccedilado o indicativo de confianccedila entre a organizaccedilatildeo e os

associados com a importacircncia dada agrave captaccedilatildeo de leite (23 31 e 17) mesmo

que tenha sido evidenciada uma diminuiccedilatildeo dessa preocupaccedilatildeo com a mudanccedila de

estrato social para o grande produtor

Nessa questatildeo o fator que mais chama a atenccedilatildeo eacute que os grandes

produtores indicaram ter mais facilidade de acesso agrave cooperativa do que os outros

grupos que mostraram maior utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de assistecircncia teacutecnica Esse

87

acesso no significado da palavra se refere agrave comunicaccedilatildeo capacidade de trocar ou

discutir ideacuteias de dialogar de conversar com vista ao bom entendimento entre

pessoas (FERREIRA 1993) De modo geral essa interaccedilatildeo entre soacutecios e

organizaccedilatildeo permite que o agente participe do desenvolvimento pela sua

capacidade de articulaccedilatildeo e interaccedilatildeo conforme foi exposto por Salanek Filho e Silva

(2003)

23

3833

813

0

8

00

1513

0

8

00

15

6

50

23

31

17

05

101520253035404550

Pape

l soc

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Preccedil

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leite

Aces

so

Cap

taccedilatilde

ode

Lei

te PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios Coolvam 2008

Foi demonstrado no referencial teoacuterico a constataccedilatildeo de que a participaccedilatildeo

de associados em cooperativas tem se limitado agrave presenccedila em assembleacuteias

Portanto permitiu-se verificar a participaccedilatildeo de associados tanto em assembleacuteias

como nas reuniotildees em comunidades e como se daacute a manifestaccedilatildeo dos produtores

em diferentes ocasiotildees

Sobre a participaccedilatildeo em assembleacuteias a maioria dos associados dos dois

primeiros estratos responderam que vatildeo sempre (40 e 49) de vez em quando

(43 e 35) e o restante respondeu que nunca vai Quanto aos grandes

produtores o percentual maior respondeu que vai soacute de vez em quando (83)

conforme Figura 11

88

40

59

17

4335

83

17

60

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

sempre de vez em quando nunca

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 11 Frequecircncia de associados em assembleacuteias Coolvam 2008

Outro indicador do perfil e valorizaccedilatildeo do cooperativismo pelos associados

estaacute representado na Figura 12 ao demonstrar que a maioria destes nos trecircs

estratos vatildeo agraves assembleacuteias mais para cumprir o papel de associado (69 59 e

50) do que pelo fato de ter algo em pauta que seja do seu interesse

69

59

50

3135

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Cumprir papel de associado Interesse na pauta

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 12 ndash Motivaccedilatildeo dos associados para participaccedilatildeo em assembleacuteias Coolvam 2008

Deste modo ao registrar as observaccedilotildees durante a pesquisa a fidelidade

com a cooperativa fica expliacutecita na fala de um produtor de 76 anos associado haacute 30

anos se referindo agrave valorizaccedilatildeo da sua presenccedila e assiduidade em reuniotildees da

cooperativa

Eu vinha a cavalo quando natildeo tinha carro (PRODUTOR 76 2008)

Por outro lado dos respondentes que disseram natildeo participar das

assembleacuteias foram registrados motivos convergentes 89

90

Nunca participo porque existem umas coisas que acho que natildeo estaacute certo (PRODUTOR 77 2008)

Natildeo natildeo gosto de participar porque jaacute levam pronto (PRODUTOR 68 2008)

Esse posicionamento reflete as discussotildees de estudos de Perius (1983) sobre

problemas estruturais do cooperativismo em que ele observa que nasce um conflito

entre soacutecios e administradores quando os interesses passam a natildeo ser mais

ldquoidecircnticosrdquo e observa que a existecircncia desse conflito comeccedila a colocar em duacutevida a

teoria da fidelidade entre soacutecios e administradores Outro trabalho de Munkner

citado em Schneider (1999) aponta para um conflito latente que tende a verificar-se

entre os interesses dos associados e os interesses dos executivos

Segundo Eschenburg citado em Perius (1983) surge uma nova ciecircncia

cooperativa que sustenta que com o crescimento do nuacutemero de soacutecios e o

simultacircneo crescimento da empresa orgacircnica o management se emancipou e a

original identidade da promoccedilatildeo dos soacutecios e da poliacutetica empresarial se transformou

num problema (Eschenburg citado em Perius 1983) Deste modo natildeo haacute de se

esperar unanimidade em satisfaccedilatildeo de associados com a gestatildeo da cooperativa e

do mesmo modo em participaccedilatildeo Resulta daiacute o sentimento que reflete as

observaccedilotildees expostas pelos produtores que natildeo costumam ir agraves assembleacuteias

Numa questatildeo seguinte para ajudar a perceber se haacute o sentimento de

liberdade para participar foi perguntado aos produtores se eles se sentem agrave vontade

para manifestarem em reuniotildees de comunidade e em assembleacuteias da cooperativa

Identificou-se que os associados de maneira geral ficam menos agrave vontade para

manifestar nas assembleacuteias do que nas reuniotildees de comunidade conforme mostram

as Figuras 13 e 14 Mas haacute de se considerar que eacute bastante expressivo o percentual

de participaccedilatildeo dos associados pois nos trecircs grupos a maioria respondeu se sentir

totalmente agrave vontade

63

76

60

141820

14

6

20

9

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Totalmente Parcialmente Natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 13 Liberdade dos associados para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade Coolvam 2008

5558

50

9

26

3330

1617

6

0

10

20

30

40

50

60

Totalmente Parcialmente Natildeo Natildeo Vai

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 14 Liberdade dos associados para manifestar em assembleacuteias Coolvam 2008

Conforme relatado pela assessora de cooperativismo da Coolvam haacute uma

maior participaccedilatildeo de pequenos produtores nas reuniotildees de comunidade Em seu

trabalho de organizaccedilatildeo do quadro social vem sobre a incentivando que estes

manifestem suas opiniotildees quando lhes convier conforme mostra extrato de

entrevista

Eu que estou aqui haacute oito anos e meio e percebo que jaacute houve uma evoluccedilatildeo muito grande Esse trabalho iniciado em 1990 jaacute vai fazer 18 anos e a gente percebe claramente que haacute uma mudanccedila de percepccedilatildeo de visatildeo haacute uma evoluccedilatildeo das pessoas em termos de participaccedilatildeo de chegar e expor seu ponto de vista entatildeo a gente percebe que haacute uma evoluccedilatildeo a gente natildeo tem como mensurar isso aiacute Grau de escolaridade influencia sim mas vai depender tambeacutem de cada pessoa (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

A pesquisa mostra que o grande produtor vai menos agraves reuniotildees somente

17 responderam que vatildeo sempre e consideraram em sua maioria pouco

91

importante (33) ou indiferente (33) sua presenccedila nas assembleacuteias como

mostram as Figuras 15 e 16 Mas outros dados mostraram que estes vatildeo com mais

frequumlecircncia agrave sede da cooperativa para conversar com os dirigentes

28

1817

4241

1714

29

33

17

12

33

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Muito importante Importante Pouco Importante Indiferente

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 15 Consideraccedilotildees sobre a presenccedila de associados em reuniotildees Coolvam 2008

51

82 83

29

1217 20

60

010

20

30

40

5060

70

80

90

Sempre De vez em quando Somente quandoconvocado

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 16 Frequumlecircncia de associados que vatildeo agrave sede da cooperativa Coolvam 2008

Isso indica conforme mostrado em Pereira (2002) sobre a dinacircmica das

relaccedilotildees sociais que os grandes produtores tecircm melhor acesso aos dirigentes e

defendem seus interesses diretamente assim como demonstra a Figura 15

Portanto natildeo sentem necessidade de discussotildees com os demais membros do grupo

cooperativista Entretanto a entrevista com o Presidente mostra que os associados

tecircm igual tratamento e liberdade para conversar com a diretoria Quando foi

perguntado sobre as dificuldades de gerir os diferentes grupos de interesses devido

agrave heterogeneidade do quadro social este confirmou ter dificuldades mas atua sem

restriccedilotildees ou privileacutegios

92

93

Tem Noacutes procuramos praticar os direitos iguais todos tem o voto tem os direitos mas a gente sabe que a populaccedilatildeo de associados natildeo vecirc dessa forma Mas a Coolvam pratica o cooperativismo de verdade (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As proposiccedilotildees da teoria olsoniana sobre incentivos que natildeo os econocircmicos

como desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e

psicoloacutegico se confirmam na entrevista com um pequeno produtor que participa do

conselho administrativo ao responder sobre motivaccedilotildees que o fazem participar

Por ser pequeno produtor e ter vez e voz do grande e poder participar (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Outra indicaccedilatildeo reproduzida na fala do conselheiro que corrobora a

afirmaccedilatildeo da teoria de Olson (1999) eacute quando natildeo respondeu sobre as vantagens

em participar desta funccedilatildeo

A convivecircncia com pessoas de niacutevel intelectual que passa coisas boas e a oportunidade de conviver com essas pessoas (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Apesar de haver remuneraccedilatildeo para os membros que participam dos

Conselhos a relevacircncia dessa remuneraccedilatildeo foi mencionada somente por um

conselheiro como incentivo para sua participaccedilatildeo

Eacute um complemento de renda (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Os grandes produtores mostraram utilizar mais os serviccedilos da cooperativa

nas respostas ldquode vez em quandordquo (67) e ldquosemprerdquo (33)Dentre os serviccedilos que

mais utilizam foram citados os serviccedilos teacutecnicos o Educampo e a compra de

insumos na Farmaacutecia Veterinaacuteria Jaacute os pequenos e meacutedios responderam

respectivamente natildeo utilizar (17 e 18) de vez em quando (51 e 47) e

sempre (31 e 35) e responderam utilizar aleacutem da Farmaacutecia Veterinaacuteria e

assistecircncia teacutecnica vacinas e orientaccedilotildees sobre a produccedilatildeo (Figura 17) Nesse

ponto a cooperativa se firma como importante mediadora da transferecircncia de novas

tecnologias e informaccedilatildeo para os associados

17 18

0

5147

67

3135 33

0

10

20

30

40

50

60

70

Natildeo Utiliza De vez em quando Sempre

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa Coolvam 2008

No indicador que teve o objetivo de verificar a participaccedilatildeo dos associados e

em atividades educativas promovidas pela cooperativa identificou-se que os

pequenos e meacutedios produtores responderam participar mais (56 e 65) enquanto

33 dos grandes confirmaram essa participaccedilatildeo Aos que responderam

afirmativamente foi perguntado quem mais participa entre o produtor a esposa e

filhos As respostas dos grupos dos pequenos e meacutedios produtores indicaram que

eles mesmos participam (41 e 38) enquanto a participaccedilatildeo de esposas (29 e

38) e filhos (29 e 25) respectivamente indicando que todos da famiacutelia

participam No grupo dos grandes produtores dos que responderam participar das

atividades 100 disseram que eles mesmos participam natildeo registrando presenccedila

de esposas e filhos desse grupo nessas atividades conforme demonstra a Figura

18

5665

3344

35

67

4138

100

2938

2925

0102030405060708090

100

Sim Natildeo Produtores Esposa Filhos

PEQUENOMEDIOGRANDE

Figura 18 Participaccedilatildeo de Produtores e da famiacutelia em atividades educativas

94

A participaccedilatildeo de mulheres e filhos vem sendo incentivada pela cooperativa

Eles satildeo convidados a participar de todos os eventos e reuniotildees com os produtores

A pesquisa mostra que esse incentivo vem obtendo resultado pois dentre os

produtores que responderam participar conforme a Figura 16 um percentual de

29 e 38 respectivamente disseram que a famiacutelia tambeacutem jaacute participou de

eventos na Coolvam

A Figura 19 a seguir foi registrada em uma reuniatildeo de comunidade onde

foram agrupadas duas comunidades rurais Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas

ambas satildeo mais homogecircneas e tem um maior nuacutemero de pequenos produtores

Pode-se observar a presenccedila de mulheres e crianccedilas juntamente com os

produtores Essa interaccedilatildeo das famiacutelias com a organizaccedilatildeo reforccedila tambeacutem o

aumento de capital social

Figura 19 Preacute-Assembleacuteia da Coolvam com as comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas 2008

As respostas dos associados vecircm demonstrando que satildeo participativos nas

atividades promovidas pela cooperativa e foi registrado em todos os estratos que

suas reivindicaccedilotildees satildeo totalmente ou parcialmente atendidas conforme mostra a

Figura 20 No entanto mesmo entre produtores que responderam afirmativamente

foram registradas reclamaccedilotildees sobre a forma de gestatildeo referente a tomada de

decisotildees Natildeo tem muitas coisas que satildeo feitas por eles mesmos compraram outra cooperativa sem comunicar parcialmente (PRODUTOR 73 2008) Parcialmente devido agrave poliacutetica administrativa atual da empresa (PRODUTOR 39 2008) Natildeo vaidade da direccedilatildeo descreacutedito em relaccedilatildeo ao associado (PRODUTOR 62 2008) Nem sempre conseguimos ser atendidos (PRODUTOR 36 2008)

95

4235

17

4853

67

9 1217

0

10

20

30

40

50

60

70

Totalmente Parcialmente Natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 20 Atendimento a reivindicaccedilotildees dos associados da Coolvam 2008

De forma geral em todos os estratos os produtores consideram a

participaccedilatildeo da Coolvam no desenvolvimento da propriedade com poucas exceccedilotildees

registradas principalmente entre os pequenos produtores que responderam que a

cooperativa natildeo eacute atuante neste quesito conforme demonstra a Figura 21 Tal

situaccedilatildeo confirma a utilizaccedilatildeo por esse grupo em menor proporccedilatildeo de serviccedilos

teacutecnicos conforme apresentado anteriormente na Figura 17 Nesse sentido

observou-se que os produtores que satildeo assistidas com os serviccedilos do Educampo

consideraram em maior proporccedilatildeo a atuaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento de

sua propriedade

6

19

0

30

44

67

39

25

17

24

1317

0

10

20

30

40

50

60

70

Muito atuante Atuante Pouco atuante Natildeo atua NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade Carlos Chagas 2008

Outro fator relevante eacute que os produtores responderam se sentir bem

informados sobre a cooperativa (Figura 22) No entanto nesta mesma questatildeo

96

pediu-se que apontasse que tipo de informaccedilatildeo sente mais necessidade de obter

As respostas foram semelhantes conforme representaccedilatildeo das falas subscritas que

demonstram a necessidade de informaccedilotildees sobre as tomadas de decisotildees da

gerecircncia e formaccedilatildeo de preccedilo de leite

bull Compraram outra cooperativa e natildeo informam o que se passa laacute

bull Mais detalhe sobre preccedilo de leite Se enviassem carta explicando sobre o preccedilo seria bom

bull Sobre como satildeo tomadas as decisotildees das reuniotildees do conselho administrativo

bull Excesso de funcionaacuterios com alta remuneraccedilatildeo

bull Natildeo natildeo tem comunidade e a informaccedilatildeo eacute repassada principalmente para as comunidades

bull Informaccedilotildees mais profundas

bull Informa depois das accedilotildees realizadas

bull Controla demais o produto (leite)

bull Preccedilo do leite

bull Como estaacute a atuaccedilatildeo da cooperativa

bull o que a diretoria pensa para melhorar as condiccedilotildees para o associado

bull por que a cooperativa paga o leite tatildeo barato

bull em relaccedilatildeo a mudanccedilas como por exemplo queda no preccedilo

do leite (QUESTIONAacuteRIOS DE PESQUISA COOLVAM 2008)

79 75

60

2125

40

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 22 Informaccedilotildees dos associados sobre a cooperativa Coolvam 2008

A cooperativa utiliza-se da realizaccedilatildeo de Preacute-assembleacuteias como estrateacutegia

para informar aos associados dos resultados e outras atividades que aconteceram

durante o ano assim como outras accedilotildees a serem aprovadas pelos soacutecios Estas satildeo 97

98

reuniotildees para apresentar a pauta a ser tratada posteriormente na Assembleacuteia Geral

O presidente entende que dessa forma eacute possiacutevel que todos tirem suas duacutevidas e

esclareccedilam os assuntos que mais interessam como mostra extrato de entrevista

Jaacute eacute exemplo de participaccedilatildeo nas comunidades satildeo as preacute-assembleacuteias Fazemos 10 a 15 preacute-assembleacuteias e apresentamos o balanccedilo Acredito que laacute na comunidade o produtor fica mais a vontade para tirar suas duvidas para fazer qualquer pergunta e levantar questionamento Entatildeo quando o produtor vem agrave Assembleacuteia Geral jaacute estaacute com tudo esclarecido jaacute tirou as duvidas laacute fica mais agrave vontade para tirar duvidas e fazer perguntas (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As decisotildees satildeo tomadas em caraacuteter definitivo nas assembleacuteias gerais sejam

elas ordinaacuterias ou extraordinaacuterias conforme previsto em estatuto e eacute justamente isso

que garante o caraacuteter democraacutetico do cooperativismo Dessa forma a administraccedilatildeo

participativa significa a auto-administraccedilatildeo como definiu Schneider (1999) os

associados satildeo a autoridade suprema com poder para decidir sobre todos os

aspectos importantes de sua cooperativa Todos os associados tecircm o direito ao voto

(um homem um voto) Geralmente essas decisotildees satildeo de maior importacircncia pois

trazem influecircncias ou consequumlecircncias diretas no desempenho da empresa

cooperativa e dos associados ao responder aos seus interesses econocircmicos caso

os resultados sejam positivos ou negativos Nessas reuniotildees haacute trecircs formas de

participaccedilatildeo dos associados quanto agrave aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo do que se tem a

decidir na forma de voto

O voto eacute o modo de expressar a vontade (FERREIRA1993) num ato de

escolha pode-se dizer num sentido amplo eacute sinocircnimo de participaccedilatildeo e

democracia Conforme levantamento nos processos de escolhas nas assembleacuteias

da cooperativa o voto acontece de diferentes formas Embora natildeo seja descrito

como procede no Estatuto Social (2008) citam-se trecircs meios a) Simboacutelica ou

Aclamaccedilatildeo b) Nominal e c) Secreta Deste modo buscou-se o significado e como

acontece a votaccedilatildeo nas modalidades supra-citadas

a) Simboacutelica ou aclamaccedilatildeo Aclamaccedilatildeo tem o sentido de aplaudir com

entusiasmo eleger por aclamaccedilatildeo Neste caso pede-se que os associados que

concordam com o assunto a ser decidido aclamem e ao maior som toma-se a

decisatildeo

b) Nominal (manifestaccedilatildeo individual) conforme Ferreira (1993) manifestaccedilatildeo

eacute o ato ou efeito de manifestar-se significa exprimir-se mostrar-se Esta modalidade

de voto eacute utilizada em vaacuterios tipos de assembleacuteias Na cooperativa o produtor ao

99

comparecer na assembleacuteia recebe um cartatildeo Este eacute usado para votaccedilatildeo de forma

que o produtor exprima publicamente sua vontade na decisatildeo a ser tomada Essa eacute

a forma mais utilizada por ser mais praacutetica e mais raacutepida a votaccedilatildeo e de resultado

imediato No entanto devido ao receio de se expor o associado pode natildeo exercer

muitas vezes a sua vontade o que leva a uma tendecircncia de prevalecer a vontade

dos dirigentes uma vez que estes ao colocar o assunto em votaccedilatildeo fazem a

seguinte abordagem

Quem for contra a proposta apresentada que se manifeste e quem for a favor permaneccedila como estaacute (PRODUTOR 69 COOLVAM 2008)

c) Secreto eacute o voto confidencial particular em segredo Neste caso os

produtores recebem as ceacutedulas com as opccedilotildees de escolha marcam a melhor

alternativa no seu entendimento e depositam a ceacutedula na urna secretamente

Dentre os trecircs modos apresentados o mais comum eacute o voto nominal ou seja

por manifestaccedilatildeo individual Entretanto esta natildeo foi a melhor opccedilatildeo no

entendimento dos associados haja vista o resultado apresentado na Figura 23 e os

comentaacuterios feitos pelos produtores justificando a preferecircncia pelo voto secreto

conforme transcriccedilotildees abaixo

bull O voto secreto eacute um meio de expressar a opiniatildeo mais verdadeira

bull Porque o produtor se sente mais agrave vontade

bull Depende do momento e do assunto tratado

bull A pessoa natildeo fala um natildeo ou sim para natildeo criar problema com o voto secreto fica mais agrave vontade (QUESTIONAacuteRIOS COOLVAM 2008)

Dada a importacircncia de seu sentido o ato de votar eacute o grande indicador de

democracia e maior marco de sua efetivaccedilatildeo utilizado nas escolhas dos indiviacuteduos

para sua representaccedilatildeo em uma causa A forma secreta eacute o melhor meio para que

as pessoas possam de fato manifestar a sua vontade Nas discussotildees sobre a

participaccedilatildeo e democracia cooperativista Schneider (1999) expotildee sua opiniatildeo de

que natildeo estaacute no voto a dimensatildeo participativa do associado Para o autor

o exerciacutecio do voto natildeo permite ao associado assumir a dimensatildeo participativa que deveria ter cabe aos trabalhos dos representantes comitecircs disseminar a informaccedilatildeo de forma que conscientize os votantes para ter percepccedilatildeo de que a participaccedilatildeo estaacute aleacutem do ato de votar (SCHNEIDER 1999 p224)

Deste modo o mesmo autor complementa que a viabilidade da democracia

cooperativa depende tambeacutem da vontade e do interesse de participaccedilatildeo aleacutem dos

mecanismos montados para promovecirc-la (SCHNEIDER 1999 p152)

613

0

29

13

0

6675

100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Aclamaccedilatildeo Manifestaccedilatildeo Individual Secreto

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 23 Opiniatildeo dos associados sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees Coolvam 2008

Esse modo de participar na escolha de decisotildees a serem tomadas e as

razotildees que os levam a preferir o voto secreto podem ser indicadores que justificam

o decrescente nuacutemero de participantes nas assembleacuteias nos uacuteltimos anos conforme

levantamento nos livros de atas Mesmo que esse resultado seja diferente do outro

apresentado anteriormente na Figura 12 onde mostra boa participaccedilatildeo dos soacutecios

esta vem diminuindo quando se verifica registros de presenccedilas conforme mostra a

Figura 24 a seguir Foi feito levantamento das seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias (AGO) que compreende o periacuteodo da atual gestatildeo entre 2002 e 2007

As seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais Extraordinaacuterias (AGE) aconteceram no periacuteodo

de 1996 a 2005

010

20

3040

50

60

70

1 2 3 4 5 6

Seis uacuteltimas AGOacutes e AGEacutesPeriacuteodo de 1996 a 2007 AGO

AGE

Figura 24 Participaccedilatildeo dos associados em Assembleacuteias Coolvam 2008

Fonte Livros de Atas da Coolvam de 1996 a 2007

100

No debate sobre participaccedilatildeo a pesquisa demonstrou dois quadros distintos

um conforme a teoria da escolha racional sobre o interesse individual na

participaccedilatildeo para consecuccedilatildeo de um bem coletivo que nem sempre as pessoas tem

interesse em participar efetivamente da lideranccedila e accedilotildees internas pois os

resultados mostram que parte dos associados natildeo tecircm interesse em participar da

gestatildeo da cooperativa principalmente nos grupos de meacutedios e grandes produtores

O outro quadro de modo contraacuterio mostra o consideraacutevel interesse entre os

pequenos produtores jaacute que 35 disseram que gostariam de participar Poreacutem

nesse grupo as respostas mostraram que alguns destes entendem que soacute podem

participar se forem convidados pela diretoria conforme demonstra extrato das

respostas obtidas nesta questatildeo

Gostaria de participar do conselho mas natildeo foi convocado (PRODUTOR 73 2008)

De maneira semelhante outro associado respondeu Falta ser convidado (PRODUTOR 40 2008)

Desta forma o caraacuteter de liberdade e democracia em participaccedilatildeo cooperativa

ainda natildeo estaacute claro para o associado assim como diz Schneider (1999) ldquoo

processo participativo do ldquomilitante cooperativistardquo enfrenta em geral uma seacuterie de

resistecircncias da parte da estrutura hieraacuterquica Assim como reforccedila Bordenave

(2003) parte da efetividade da participaccedilatildeo depende da oportunidade de participar

35

917

65

9183

010

20304050

60708090

100

sim natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 25 ndash Interesse de produtores em participar dos Oacutergatildeos de Gestatildeo Coolvam 2008 A participaccedilatildeo dos soacutecios na administraccedilatildeo e controle da cooperativa se

materializa formalmente por meio dos membros nas funccedilotildees dos Conselhos de

Administraccedilatildeo e Fiscal eleitos em assembleacuteia geral e pela participaccedilatildeo no Comitecirc

101

Educativo Portanto para efetivar a auto-gestatildeo deve-se por em praacutetica as

recomendaccedilotildees comuns em Perius (1983) e Schneider (1999) Para esses autores

os soacutecios por si mesmos devem ter as condiccedilotildees de controlar a administraccedilatildeo da

cooperativa na perspectiva de que os dirigentes e administradores sempre devem

ter bem presente que satildeo mandataacuterios dos soacutecios atuando em nome deles gozaratildeo

de sua confianccedila Conforme Drucker (2006) eacute preciso pensar numa parceria entre o

conselho e os membros aleacutem do mais um conselho precisa saber que possui a

organizaccedilatildeo para o benefiacutecio da missatildeo que essa organizaccedilatildeo deve desempenhar

A pesquisa mostra que os produtores que compotildeem os conselhos estatildeo

presentes nos trecircs estratos sociais poreacutem observou-se que o Conselho

Administrativo tem em seu quadro o maior nuacutemero de meacutedios e grandes produtores

Jaacute o Conselho Fiscal eacute composto por um nuacutemero maior de meacutedios e pequenos

produtores corroborando Pereira (2002) ao apontar que os maiores produtores

conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees das organizaccedilotildees

cooperativas Jaacute o Comitecirc Educativo que eacute organizado e regulamentado pelo

Conselho de Administraccedilatildeo constatou-se na pesquisa que na cooperativa este

comitecirc eacute composto em sua maioria por pequenos produtores rurais (83) conforme

demonstrado na Figura 26 a seguir

20

50

30 33

50

17

83

17

0

0102030405060708090

ConselhoAdministrativo

Conselho Fiscal Comitecirc Educativo

Pequeno

Meacutedio

Grande

Figura 26 ndash Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo Coolvam

2008

Na praacutexis a gestatildeo cooperativa conforme demonstrado neste estudo de

caso evidencia a gestatildeo com a predominacircncia de um pequeno grupo representado

pelo estrato de grandes produtores sobre o grande grupo (pequenos produtores) o

102

103

que corrobora questotildees abordadas pela teoria da escolha racional Nesse aspecto

pode-se indagar Por que natildeo haacute presenccedila de grandes produtores na composiccedilatildeo do

comitecirc educativo jaacute que estes participam dos outros oacutergatildeos de gestatildeo a que

compete diretamente os interesses dos demais associados Os coordenadores e

secretaacuterios dos Nuacutecleos de Associados (comitecircs) conforme Estatuto (1988) tecircm a

funccedilatildeo de trazer ao conselho de Administraccedilatildeo as reivindicaccedilotildees bem como

sugestotildees para solucionar os problemas observados desde que sejam

fundamentados para assim solicitar providecircncias Entatildeo seria de se esperar que

houvesse uma participaccedilatildeo representativa de todos os estratos sociais numa

distribuiccedilatildeo mais homogecircnea em todos os oacutergatildeos da gestatildeo

Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) alertaram que entre as

falhas dos processos participativos ao lidar com as desigualdades internas agraves

comunidades haacute tendecircncia muitas vezes em reforccedilar as relaccedilotildees de poder

preexistentes Essa situaccedilatildeo identificada na Cooperativa pode ser indicativa do que

expotildee esses autores De modo diferente na perspectiva de Schneider (1999) na

participaccedilatildeo em nuacutecleos as pessoas conseguem influenciar no planejamento de

accedilotildees para a organizaccedilatildeo Deste modo a participaccedilatildeo deve ser percebida como

uma estrateacutegia para criaccedilatildeo de novas oportunidades ou seja capaz de modificar as

relaccedilotildees de poder preexistentes

Conforme Salanek Filho e Silva (2003) juntamente com a confianccedila a

interaccedilatildeo definiccedilatildeo de objetivos comuns e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees

fundamentais para compreender o capital social no processo cooperativista Entatildeo

com a finalidade de verificar a satisfaccedilatildeo e grau de confianccedila no trabalho dos

referidos conselhos buscou-se na pesquisa dados que pudessem dar pistas para

compreender esse processo Neste ponto foi questionado se os conselhos estariam

atuando conforme proposto para a funccedilatildeo O resultado demonstrou que de forma

geral os associados apresentaram significativo grau de confianccedila no trabalho dos

membros dos Conselhos conforme resultados apresentados nas Figuras 27 e 28

Houve maior nuacutemero de aprovaccedilotildees do que o modo contraacuterio constatando

portanto que haacute uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a maioria dos associados quando

se trata do trabalho dos conselhos Ao observar a confianccedila na perspectiva

econocircmica conforme Maciel (2003) esse comportamento estreita as relaccedilotildees entre

os agentes e melhora a eficiecircncia econocircmica

Nessa perspectiva as duas uacuteltimas questotildees tratadas mostram que a

participaccedilatildeo de associados de modo geral exerce pouca influecircncia no desempenho

econocircmico Jaacute que foi identificado que haacute dificuldade de participaccedilatildeo e ao mesmo

tempo haacute confianccedila no trabalho dos oacutergatildeos de gestatildeo

5850

80

23

50

20 19

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 27 Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo Coolvam 2008

62 64 60

15

3640

23

0

10

20

30

40

50

60

70

Sim Natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 28 ndash Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal Coolvam 2008

Embora tenha sido constatada forte relaccedilatildeo de confianccedila entre os associados

e os oacutergatildeos de gestatildeo identificou-se que os associados sentem necessidade de

informaccedilotildees do processo de gestatildeo Estes indicaram carecircncia de informaccedilatildeo sobre

a formaccedilatildeo de preccedilo de leite pago pela cooperativa como mostra a Figura 29 em

que a maioria disse natildeo participar da formaccedilatildeo do preccedilo da produccedilatildeo entregue ao

laticiacutenio Essa questatildeo foi contraditoacuteria ao assunto tratado representado na Figura

22 em que os produtores disseram se sentir bem informados sobre a cooperativa

Contradiccedilatildeo desse tipo evidencia o que Freire (1976) chama de cultura do silecircncio

que eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia Mas eacute possiacutevel que

104

numa organizaccedilatildeo de fortes laccedilos de confianccedila conforme constatado possa

permear a cultura do silecircncio

14 12

0

8088

100

60

0

20

40

60

80

100

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo

Ateacute mesmo produtores que participam do Comitecirc demonstraram que em

alguns casos tecircm dificuldades em atuar e se informar Entrevista com um membro

de Comitecirc Educativo mostrou que ele tem dificuldade em ter informaccedilotildees sobre o

futuro da organizaccedilatildeo e disse achar a cooperativa ldquomuito fechadardquo

a gente natildeo tem acesso a informaccedilatildeo sobre planejamento da cooperativa para longo prazo (MEMBRO DO COMITEcirc EDUCATIVO COOLVAM 2008)

Entretanto a assessoria de cooperativismo mostra que o desempenho dos

membros do Comitecirc eacute diferenciado e as caracteriacutesticas da proacutepria comunidade

exercem influecircncia sobre atuaccedilatildeo do Comitecirc conforme mostra extrato de entrevista

Uma outra coisa interessante eacute a questatildeo da lideranccedila nessas regiotildees que eu estou mencionando Coacuterrego de Areia Coraccedilatildeo de Minas Lageado Brejauba essas regiotildees satildeo as mais participativas e satildeo bastante atuantes Talvez seja hoje o ponto mais importante do nosso trabalho Satildeo regiotildees onde a gente tem lideranccedila mais forte mais atuante consegue mobilizaccedilatildeo mais forte com os associados e com os familiares dependendo da atividade que a gente for desenvolver (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Jaacute em comunidades mais heterogecircneas onde participam tambeacutem grandes

produtores eacute reconhecido haver mais dificuldades em conseguir desenvolver

trabalho de mobilizaccedilatildeo para participaccedilatildeo de cooperados

a gente percebe no dia a dia que tem uma diferenccedila com as demais comunidades As regiotildees de capoeiras Coacuterrego da Prata Vila Pereira Jequiriri onde temos um nuacutemero de associados produtores considerados de meacutedio e grande porte a gente percebe que haacute dificuldade natildeo todos mas uma grande parte de mobilizaacute-los para alguma atividade para reuniatildeo de comunidade Temos que mostrar algo mais atrativo eles satildeo mais exigentes em relaccedilatildeo ao geral a participaccedilatildeo deles com certeza eacute menor alegam que tem muitas

105

atividades agraves vezes natildeo estatildeo disponiacuteveis para estar participando entatildeo a gente tem muita dificuldade de mobilizar essas pessoas Uma parte que estaacute sempre de fora e natildeo participa de forma alguma esse eacute um problema a gente soacute consegue mobilizaacute-los quando tem um evento maior por exemplo dia de campo algum evento na loja veterinaacuteria promoccedilotildees (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Outro levantamento complementar na pesquisa foi avaliar a participaccedilatildeo dos

produtores rurais em outras atividades coletivas desde realizaccedilotildees festivas nas

comunidades rurais na cooperativa e atuaccedilatildeo em outros segmentos da comunidade

urbana (Figuras 30 31 e 32) Identificou-se que a maioria eacute tambeacutem associado agrave

cooperativa de creacutedito rural e ao sindicato rural (83) Poucos produtores disseram

participar de outras organizaccedilotildees coletivas (meacutedia de 34 nos trecircs estratos) dentre

eles um disse fazer parte da Comissatildeo de Estradas na gestatildeo puacuteblica dois

produtores disseram ser registrados em partido poliacutetico Dentre os associados com

filhos em idade escolar a maioria estaacute associado agrave Cooperativa de ensino Foi

registrado somente um caso de pequeno produtor que trabalha como empregado

para outra propriedade mas registrou-se casos de prestaccedilatildeo de serviccedilos por

produtores que tecircm formaccedilatildeo teacutecnica (engenheiro veterinaacuterio zootecnista dentre

outros)

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17

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Figura 30 Participaccedilatildeo dos associados em outras organizaccedilotildees coletivas Coolvam 2008

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nunca NRPEQUENO

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Figura 31 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na comunidade Coolvam

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Sempre De vez emquando

nunca NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 32 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na cooperativa Coolvam 2008

Com estas informaccedilotildees confirma-se a interaccedilatildeo entre a organizaccedilatildeo

cooperativa com a comunidade jaacute que as mesmas pessoas participam do quadro

social das diferentes cooperativas Dessa forma os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais

que se formam na comunidade contribuem para fortalecer o capital social Por outro

lado outra caracteriacutestica observada por meio das notiacutecias no Informativo Coolvam

(2004 2005 2006 2007) ficou constatado que as lideranccedilas que participam de uma

cooperativa atuam tambeacutem em algum oacutergatildeo de gestatildeo em outra portanto interagem

entre si e com outras atividades da comunidade Essa relaccedilatildeo reforccedila a presenccedila de

capital social na comunidade promovido em parte pela presenccedila das cooperativas e

pela forma de se organizarem Entretanto a pesquisa mostra que mesmo nesse

ambiente prevalece a dominaccedilatildeo de um mesmo grupo na conduccedilatildeo destas

107

organizaccedilotildees e no caso estudado dados mostram dificuldades para participaccedilatildeo do

restante da populaccedilatildeo associada

A literatura mostra que a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o

homem exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si

mesmo e sua praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades como a auto-expressatildeo

(BORDENAVE1983) Essas caracteriacutesticas satildeo pessoais sendo assim podem natildeo

se manifestar na mesma intensidade em indiviacuteduos diferentes Deste modo

Bordenave (1983) se refere ainda agraves diferenccedilas que se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte Assim como se justifica ter indiviacuteduos que empreendem mais ou menos em

causas sociais

Por outro lado foi percebiacutevel em todos os estratos que haacute interaccedilatildeo entre os

associados eles mantecircm o haacutebito de visitar outras propriedades (somatoacuterio de 84

para as respostas ldquosempre e de vez em quandordquo) conforme figura 33 A maioria

citou que nessas visitas trocam informaccedilotildees vecircm a forma de produccedilatildeo ou o gado do

outro Esses haacutebitos fortalecem os laccedilos pessoais assim como a participaccedilatildeo em

atividades festivas nas comunidades reforccedilam tradiccedilotildees ciacutevicas e satildeo accedilotildees que

fortalecem o capital social

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Sempre De vez emquando

dificilmente nuncaPEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 33 ndash Haacutebito de visitar outros produtores rurais associados da Coolvam 2008

Dentre os que responderam que natildeo costumam ir a outra propriedade

mostra-se uma preocupaccedilatildeo que foi comentada tambeacutem por outros produtores

As pessoas natildeo ficam mais nas propriedades entatildeo perdemos aquele costume de ir na casa do outro hoje vatildeo para a cidade e outros vizinhos venderam as fazendas para o eucalipto estou ficando sozinho na minha regiatildeo (PRODUTOR 59 COOLVAM 2008)

108

109

Foi importante registrar esse comentaacuterio porque embora se tenha

constatado a interaccedilatildeo entre produtores nas propriedades essa preocupaccedilatildeo foi

demonstrada em todos os estratos haacute produtores que jaacute venderam suas terras para

cultura de eucalipto Alguns tecircm a preocupaccedilatildeo de que se os grandes produtores

venderem suas terras em alguns pontos pode inviabilizar a coleta de leite de um

pequeno produtor que ficar ldquoilhadordquo (palavra usada por diferentes produtores vaacuterias

vezes durante as entrevistas) Essa nova cultura agriacutecola vem se expandido na

regiatildeo destinada agraves induacutestrias de papel e celulose satildeo cultivadas em grandes

extensotildees de terra e tem influenciado no modo de vida local

Por outro lado ao longo do trabalho percebeu-se ao conversar com os

produtores que participaram das entrevistas que entre eles haviam

comportamentos diferentes uns mais entusiasmados outros menos alguns se

mostraram indiferentes poreacutem todos contribuiacuteram agrave sua maneira conforme

planejamento da pesquisa de campo Entretanto em meio a esses diferentes

comportamentos foi percebido uma motivaccedilatildeo diferente durante a pesquisa de

campo especialmente na entrevista com pequeno produtor que participa como

membro do Conselho Administrativo quando este contou suas experiecircncias e

histoacuteria de vida

Sou filho de pequeno produtor rural fui para Satildeo Paulo trabalhar fiquei seis anos por laacute quando voltei fui motorista da Cooperativa quando meu pai faleceu herdei pequena parte da propriedade e comecei a trabalhar Logo iniciei na comunidade como secretaacuterio depois fui coordenador do comitecirc educativo por trecircs mandatos fui convidado para ser conselheiro e jaacute estou atuando haacute seis anos (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

O que chamou a atenccedilatildeo foi que nenhum outro entrevistado ateacute o momento

tinha demonstrado tanto entusiasmo com a cooperativa como este produtor ele

dissedisse

Eu sou apaixonado pelo cooperativismo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse associado foi indicado a receber uma das premiaccedilotildees para a

cooperativa realizada no Caribe e contou entusiasmado

Imagina dentro do conselho eu fui indicado para ir receber o precircmio foi a melhor viagem que jaacute fiz Quando cheguei contei isso na minha comunidade (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Dentre outros soacutecios este produtor se destaca pela dedicaccedilatildeo e forma de

trabalhar na sua propriedade assim como empenho e mobilizaccedilatildeo para articular

accedilotildees na sua comunidade e na cooperativa A entrevista com a assessora de

110

cooperativismo mostrou tambeacutem que em seu entendimento a participaccedilatildeo de

associados tanto nas comunidades quanto nas atividades da cooperativa eacute

determinada pelo perfil individual de cada associado que se manifesta na vontade de

participar

a gente tem uma situaccedilatildeo em que um associado anda acho que doze quilocircmetros a cavalo para chegar agrave reuniatildeo e ele vai em todas as reuniotildees e tem comunidades que a distacircncia eacute muito menor e a pessoa deixa de ir Agraves vezes tem automoacutevel um amigo que mora proacuteximo que pode dar uma carona e natildeo vai Entatildeo Isso depende muito da pessoa do perfil da pessoa essa pessoa que estou falando ela eacute muito empreendedora muito participativa procura participar sempre das atividades que a gente realiza junto a cooperativa

Temos tambeacutem situaccedilatildeo de grandes produtores empreendedores estatildeo sempre participando das reuniotildees de torneio leiteiro de dia de campo um exemplo eacute Zeacute Firmino e Eurico satildeo pessoas que participam muito com a gente e que satildeo considerados grandes e meacutedios produtores (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

O pequeno produtor no exemplo dado eacute participativo busca crescimento

acredita que pode ajudar outros produtores a entender e melhorar o interesse em

participar apresenta visatildeo de futuro como demonstra em suas palavras

O pequeno produtor deve buscar espaccedilo participando de eventos palestras se sentir importante ouvir e dar opiniotildees Acho que todo produtor deveria participar do Educampo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Natildeo obstante a todas as caracteriacutesticas positivas que os relatos demonstram

o exemplo de associado aqui exposto mostra que existem limitaccedilotildees conforme este

mesmo produtor indicou como dificuldade em participar do Conselho ao defender

suas ideacuteias junto aos outros conselheiros

eacute difiacutecil defender uma ideacuteia que seja viaacutevel para a empresa e aos associados para os outros conselheiros (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse dilema eacute presente na auto-gestatildeo frente a interesses dos membros que

compotildeem o grupo mesmo que o objetivo seja comum Natildeo se pode esperar a

mesma motivaccedilatildeo no comportamento de todos muito menos que o altruiacutesmo seja a

inclinaccedilatildeo dos membros que ali se dispotildee atuar

A necessidade de realizaccedilatildeo e reconhecimento satildeo sentimentos inerentes a

qualquer indiviacuteduo (HELLER CIT IN BRITO E BRITO 2000) e pode-se dizer que na

accedilatildeo coletiva eacute possiacutevel que essas caracteriacutesticas estejam em niacuteveis diferentes por

isso as vontades de participaccedilatildeo nas atividades da cooperativa pelos associados

satildeo encontradas em graus diferentes Bordenave (1983) confirma essa prerrogativa

e isso foi constatado no resultado da pesquisa

Ao considerar que cada pessoa tem um grau de interesse desejo e

habilidade de realizaccedilatildeo diferentes assim como reconhecidos por Maslow citado em

Brito e Brito (2000) psicoacutelogo e pesquisador de comportamento confirma-se a teoria

de Olson (1999) aqui apresentada e ilustrada pela limitaccedilatildeo exposta pelo associado

entrevistado no que se refere agrave sua participaccedilatildeo no Conselho assim como a

motivaccedilatildeo dos demais em aceitar sugestotildees e buscar soluccedilotildees

Por uacuteltimo como informaccedilatildeo complementar buscou-se verificar a motivaccedilatildeo

dos produtores com sua atividade produtiva jaacute que a maioria principalmente os

pequenos tem na propriedade rural a principal fonte de renda Dos questionamentos

feitos o maior percentual de respostas mostrou que os produtores satildeo ldquoMuito

entusiasmadosrdquo com a atividade conforme mostra a Figura 34 Satildeo dinacircmicos pois

estatildeo sempre ldquomodificando para melhorarrdquo

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natildeo

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odifi

car

NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 34 Motivaccedilatildeo dos associados em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural Coolvam 2008

Outra percepccedilatildeo durante a aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios eacute que os produtores

parecem ser ldquoapaixonados pelo que fazemrdquo Essa expressatildeo eacute comumente utilizada

em Recursos Humanos pois conforme Candeloro (2007) a paixatildeo eacute forccedila

motivadora que daacute agraves pessoas a energia necessaacuteria para suportar contratempos ter

persistecircncia e dedicaccedilatildeo necessaacuterias para alcanccedilar um objetivo

Por outro lado e de modo diferente essa paixatildeo e interesse na atividade

individual pode natildeo ser transferida na mesma intensidade para sua atuaccedilatildeo na

organizaccedilatildeo cooperativa que teoricamente eacute tambeacutem de sua propriedade De certo

111

112

modo ele age dessa forma por que eacute naturalmente difiacutecil conseguir que as pessoas

cooperem para benefiacutecio muacutetuo conforme defende Olson (1999)

113

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo permitiu verificar e contextualizar a participaccedilatildeo de associados

em organizaccedilotildees cooperativas e confirmar tanto o vigor no cooperativismo quanto

sua fragilidade no enfrentamento de problemas conjunturais no ambiente

econocircmico Desde a Revoluccedilatildeo industrial no seacuteculo XIX na idealizaccedilatildeo como

proposta para vencer as desigualdades sociais daquela eacutepoca e atualmente quase

duzentos anos depois em meio agrave ldquoRevoluccedilatildeo da Informaccedilatildeordquo o cooperativismo

continua com seus princiacutepios teoricamente conservados e se adaptando agraves mais

diferentes exigecircncias deste novo seacuteculo com o objetivo de defender os interesses

de seus cooperados

Numa conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Comeacutercio e Desenvolvimento

Ricupero (2007) disse que a resposta para os problemas de desigualdade e pobreza

extremas natildeo viraacute apenas da tecnologia e da economia A soluccedilatildeo desses

problemas dependeraacute de valores como a equidade a solidariedade e a compaixatildeo

que pertencem a um domiacutenio bastante distinto A necessidade de cooperaccedilatildeo

cresce em todos os segmentos e estaacute apontado como instrumento mais apropriado

para desafiar e vencer os vieses que permeiam a busca para reduccedilatildeo dessas

desigualdades sociais A emergecircncia econocircmica de paiacuteses em desenvolvimento por

ora cheios de oportunidades sem divisas com a economia mundial carece de

instrumentos para incluir populaccedilotildees que contraditoriamente nunca foram tatildeo

proacuteximas e ao mesmo tempo tatildeo distantes

Nesse contexto o estudo sobre o cooperativismo mostra que essa forma de

accedilatildeo coletiva eacute reconhecidamente um importante meio para diminuir esse

distanciamento pois eacute uma forma de organizaccedilatildeo que consegue estar presente em

todos os segmentos e niacuteveis sociais Entretanto natildeo se pode ignorar que sob as

influecircncias do ambiente externo no que diz respeito agrave competitividade

modernizaccedilatildeo e diversificaccedilatildeo de atividades que vatildeo de encontro agrave crescente

complexidade que tem se tornado as organizaccedilotildees cooperativas a efetiva

participaccedilatildeo de associados tem sido cada vez mais difiacutecil poreacutem necessaacuteria e deve

ser valorizada para validar e fortalecer a doutrina cooperativista

Essa constataccedilatildeo tem fundamento no potencial da participaccedilatildeo como

mecanismo e caminho para o desenvolvimento de organizaccedilotildees cooperativas o que

114

foi confirmado durante a discussatildeo nesta dissertaccedilatildeo No entanto ainda haacute

necessidade de mudanccedila de atitude das pessoas e nos modos tradicionais de

conduzir suas accedilotildees bem como dar liberdade e adotar meios apropriados para

atrair novos membros para participar das atividades e oacutergatildeos que compotildee a gestatildeo

cooperativa a fim de renovar o quadro ponderadas eacute claro as vontades

necessidades e limitaccedilotildees de cada um O investimento em educaccedilatildeo cooperativista

objetivando qualificaccedilatildeo dos soacutecios para que estes tenham condiccedilotildees de

acompanhar a complexidade de informaccedilotildees e controles da gestatildeo cooperativa

somados ao investimento no aprendizado teacutecnico para o desenvolvimento de

habilidades de gestatildeo satildeo vistos como elementos relevantes para tornar possiacutevel e

efetiva a participaccedilatildeo

Embora haja accedilatildeo da Coolvam neste sentido o estudo mostrou que tanto

membros dos Conselhos quanto do Comitecirc Educativo que satildeo a forma organizada

para promover educaccedilatildeo cooperativista e instituiccedilotildees de ldquovozrdquo dos associados

atuam com mais eficiecircncia como canal de informaccedilotildees do que como instrumentos de

accedilatildeo poliacutetica e estrateacutegica dos produtores que vecircm interferir na gestatildeo da

organizaccedilatildeo com objetivo defender os interesses dos associados As entrevistas

mostraram a necessidade de treinamentos praacuteticos com linguagem que permita

melhor entendimento dos membros em substituiccedilatildeo agrave metodologia utilizada nos

treinamentos oferecidos Percebe-se que haacute muito mais disposiccedilatildeo em qualificar as

cooperativas nas aacutereas de sua operacionalizaccedilatildeo administrativo-financeira e

mercadoloacutegica tratando-as em muitos casos como empresas comuns

Diferentemente talvez natildeo se tenha dispensado o mesmo empenho no resgate e

reforccedilo da doutrina cooperativista para aleacutem do discurso interno ou seja tecirc-la como

ldquoordem do diardquo principalmente para as novas geraccedilotildees na esperanccedila de que estes

sejam fonte de mudanccedila de comportamento mentalidade e que de fato ocorra

transformaccedilatildeo no desejo de fazer o coletivo funcionar para todos

Deste modo a participaccedilatildeo para cooperaccedilatildeo foi identificada tambeacutem como a

mais apropriada para o estabelecimento e criaccedilatildeo de novos meios motivados a

despertar o interesse de pessoas em sair da ldquoineacuterciardquo que faz manter o status quo

das diferenccedilas sociais e perda de oportunidades que se encontram em sociedades

cooperativas

115

Outra caracteriacutestica do quadro social corrobora a afirmativa de que

deveriacuteamos avaliar o desenvolvimento em termos da expansatildeo das capacidades das

pessoas para levarem o tipo de vida que valorizam ndash e tem razatildeo para valorizar

(SEN 2000) deste modo respeitar as diferenccedilas das pessoas tambeacutem na forma de

participar pois o estudo mostrou que o grupo de associados que compotildee uma

organizaccedilatildeo coletiva natildeo participa de forma homogecircnea elas apresentam perfis

proacuteprios e haacute diferentes motivaccedilotildees individuais e particulares em cada associado

que os faz envolver mais ou menos intensamente na accedilatildeo Isso deve ser respeitado

mas natildeo utilizado como pretexto de que natildeo se tem pessoas preparadas para

substituiccedilatildeo e justificar a permanecircncia das mesmas pessoas na frente dessas

organizaccedilotildees por tanto tempoA teoria da escolha racional mostra a sobreposiccedilatildeo

dos interesses do pequeno grupo melhor organizado sobre o maior grupo Neste

trabalho essa premissa estaacute presente no cooperativismo quando dados mostram

que em cooperativas agropecuaacuterias o maior nuacutemero de membros satildeo pequenos

produtores em relaccedilatildeo a um nuacutemero muito menor de grandes produtores do mesmo

modo que se confirma a presenccedila de maior nuacutemero de grandes produtores na

conduccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Com base nessa constataccedilatildeo pode-se inferir que

seja possiacutevel que grandes produtores possam naturalmente defender estrateacutegias

conforme seus proacuteprios interesses em detrimento dos interesses dos membros do

outro grupo

Esta mesma teoria confirma tambeacutem o dilema da proacutepria organizaccedilatildeo em

contratar profissionais externos para sua gestatildeo pois ao fazecirc-lo estaacute defendendo o

interesse da empresa cooperativa que sobrepotildee em diferentes momentos aos

interesses dos associados mesmo que racionalmente esta seja a melhor opccedilatildeo

Embora o posicionamento construiacutedo durante o trabalho seja de acreditar na

potencialidade da participaccedilatildeo natildeo se espera que estas organizaccedilotildees sejam

puramente auto-gestionadas pois se concorda que natildeo seja possiacutevel um isolamento

dessas organizaccedilotildees agrave pressatildeo crescente do mercado agrave qual estas tecircm que

responder com rapidez e eficiecircncia Assim como visto satildeo poucos os casos de

soacutecios preparados tecnicamente para estar agrave frente dos negoacutecios cooperativos

Portanto seria ideoloacutegico e irracional natildeo aceitar esta realidade A necessidade estaacute

no reforccedilo e incentivo a associados para participarem nos diferentes niacuteveis de

116

gestatildeo e conseguir desempenhar eficientemente suas funccedilotildees de controles e

conscientemente defender os interesses sociais da organizaccedilatildeo

A heterogeneidade relacionada agraves diferenccedilas sociais existente no quadro

social das cooperativas foi pouco abordada nas literaturas consultadas e de fato

natildeo eacute considerada nos princiacutepios cooperativistas Pode-se perceber no estudo de

caso que esta problemaacutetica tambeacutem natildeo eacute tratada individualmente e com a atenccedilatildeo

que merece para natildeo ir contra o princiacutepio da igualdade Mas contraditoriamente

mostrou tambeacutem que natildeo se trata de modo igual aos desiguais haacute utilizaccedilatildeo de

poliacuteticas e estrateacutegias diferenciadas e direcionadas agrave participaccedilatildeo de produtores nas

comunidades rurais Nessa perspectiva leva-se em consideraccedilatildeo o perfil e o estrato

social dos membros que as compotildeem Portanto haacute necessidade de utilizar

mecanismos diferentes natildeo no sentido de beneficiar uns em detrimento de outros

mas identificar as dificuldades e potencialidades encontradas em niacuteveis diferentes

nos comportamentos individuais e destes aproveitar as aptidotildees de uns para

desenvolver nos demais

Um outro ponto positivo natildeo aprofundado neste estudo mas sugerido em

outros trabalhose considerado prioridade no desenvolvimento do cooperativismo se

refere agrave importacircncia da educaccedilatildeo cooperativista para melhorar a participaccedilatildeo de

associados e o estiacutemulo agrave presenccedila de mulheres e jovens nas atividades da

cooperativa como estrateacutegia e instrumento de desenvolvimento de cooperativas A

cooperativa em estudo mostrou resultados positivos nesse sentido Pode-se

observar presenccedila de mulheres e crianccedilas em reuniotildees nas diferentes comunidades

rurais como mostrado na Figura 19 Isso se deve agrave accedilatildeo conjunta e o arranjo de

parceria entre as cooperativas instituiccedilotildees e escolas do municiacutepio O trabalho de

construccedilatildeo da cultura do cooperativismo investida em jovens como visto vem

conseguindo resultados positivos na comunidade e dessa forma faratildeo ldquoestoquerdquo de

capital social local Esse capital eacute importante para fortalecer as bases locais Caso

as grandes aquisiccedilotildees incorporaccedilotildees e fusotildees observadas como tendecircncias no

segmento do cooperativismo de leite se concretizem com o capital social

fortalecido haveraacute melhor participaccedilatildeo local para fortalecimento e defesa dos

interesses dos produtores associados

Deste modo fortalecimento do capital social pela cooperaccedilatildeo e confianccedila

apresentados no referencial como soluccedilatildeo para os dilemas eacute um conjunto a que

117

deve creditar a superaccedilatildeo das dificuldades de participaccedilatildeo de associados em gestatildeo

cooperativa Os soacutecios devem ser estimulados a acreditar que o investimento em

esforccedilo pessoal pode ser o diferencial para mudar a realidade de muitos Esses

instrumentos satildeo capazes de fortalecer as relaccedilotildees das pessoas criar e manter

viacutenculos propiciando um ambiente de relaccedilotildees familiares no sentido superar os

benefiacutecios individuais no alcance dos objetivos comuns conseguidos pelo espiacuterito

associativo

O fator limitante da pesquisa eacute que esta mostrou a participaccedilatildeo numa

cooperativa pequena onde os produtores estatildeo numa distribuiccedilatildeo geograacutefica

consideravelmente proacutexima ainda assim identificaram-se dificuldades de

participaccedilatildeo A conjuntura apresentada indica que cada vez mais o produtor vai

ficando distante espacialmente da gestatildeo e mais difiacutecil de acompanhar e participar

diretamente Portanto faz-se a indagaccedilatildeo o que vai acontecer com o produtor em

niacutevel macro nesse modelo a que tendem as cooperativas agropecuaacuterias de leite ao

pensar a participaccedilatildeo nessas organizaccedilotildees Como fica a essecircncia do

cooperativismo Cabem novos estudos em grandes organizaccedilotildees cooperativas para

avaliar os benefiacutecios e as dificuldades diante do que vem acontecendo e identificar a

percepccedilatildeo de produtores rurais nessas situaccedilotildees Como a filosofia da participaccedilatildeo

se aplica a esses casos Ainda de fato a opiniatildeo dos produtores que estatildeo nos

nuacutecleos menores consegue ser ouvida pelos que estatildeo tomando as decisotildees

Enfim o ambiente estaraacute satisfatoriamente equilibrado em termos de ldquocapacidades

sociaisrdquo para apoiar um modelo de participaccedilatildeo que possa trazer benefiacutecios

significativos para os pequenos produtores

Uma resposta aos desafios da participaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo exige novas

atitudes e mentalidades Existe forccedila poder e seguranccedila em pessoas que

compartilham natildeo soacute objetivos comuns mas necessidades comuns No

cooperativismo para o bem dos cooperados eacute fundamental que haja oportunidade

para novos participantes com apoio e cooperaccedilatildeo para o bem coletivo e mesmo

tentado ao individualismo cooperar e atuar coletivamente deve ser visto como a

melhor opccedilatildeo

118

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

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APENDICE A

Princiacutepios Cooperativistas

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica

3 - Participaccedilatildeo econocircmica dos membros - Os membros contribuem equumlitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente Parte desse capital eacute normalmente propriedade comum da cooperativa Os membros recebem habitualmente se houver uma remuneraccedilatildeo limitada ao capital integralizado como condiccedilatildeo de sua adesatildeo Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades

bull Desenvolvimento das suas cooperativas eventualmente atraveacutes da criaccedilatildeo de reservas parte das quais pelo menos seraacute indivisiacutevel

bull Beneficios aos membros na proporccedilatildeo das suas transaccedilotildees com a cooperativa

bull Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros

4 - Autonomia e independecircncia - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees autocircnomas de ajuda muacutetua controladas pelos seus membros Se firmarem acordos com outras organizaccedilotildees incluindo instituiccedilotildees puacuteblicas ou recorrerem a capital externo devem fazecirc-lo em condiccedilotildees que assegurem o controle democraacutetico pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa

5 - Educaccedilatildeo formaccedilatildeo e informaccedilatildeo - As cooperativas promovem a educaccedilatildeo e a formaccedilatildeo dos seus membros dos representantes eleitos e dos trabalhadores de forma que estes possam contribuir eficazmente para o desenvolvimento das suas cooperativas Informam o puacuteblico em geral particularmente os jovens e os liacutederes de opiniatildeo sobre a natureza e as vantagens da cooperaccedilatildeo

6 - Intercooperaccedilatildeo - As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e datildeo mais -forccedila ao movimento cooperativo trabalhando em conjunto atraveacutes das estruturas locais regionais nacionais e internacionais

7 - Interesse pela comunidade - As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades atraveacutes de poliacuteticas aprovadas pelos membros (OCB 2007)

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APENDICE B

QUESTIONAacuteRIO DE PESQUISA

1 O Sr eacute associado agrave Cooperativa de Produccedilatildeo ndash Coolvam

( ) sim ( ) natildeo 2 Idade ( ) Grau de Escolaridade ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) 3 Residecircncia principal ( ) rural ( ) urbana 4 Qual comunidade rural pertence 5 Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) 6 Quantos moram na sua propriedade aleacutem da famiacutelia ( ) 7 Aacuterea da Propriedade ( ) Hectares 8 Qual a origem da propriedade

( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar 9 Eacute natural de C Chagas

( ) sim ( ) Natildeo Regiatildeo de origem 10 Haacute quanto tempo mora em CChagas 11 Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz 12 O leite eacute entregue todo na cooperativa ( ) sim ( ) natildeo 13 Se natildeo o que eacute feito do restante da produccedilatildeo 14 Possui outra fonte de renda aleacutem do leite

( ) Sim ( ) Natildeo Se sim citar qual 15 Porque o Sr eacute associado agrave Cooperativa

( ) pelo cooperativismo ( ) por tradiccedilatildeo familiar ( ) pela compra de insumos ( ) preccedilo de leite ( ) pela fidelidade na captaccedilatildeo do leite

16 Enumere em grau de importacircncia que diferencia a cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios

( ) seu papel social ( ) auxilio a compras ( ) captaccedilatildeo de leite ( ) assistecircncia teacutecnica ( ) preccedilo do leite ( ) atendimento de funcionaacuterios ( ) facilidade de acesso

17 Haacute quanto tempo o Sr eacute associado `a cooperativa ( ) anos 18 O Sr Costuma ir agraves assembleacuteias da sua cooperativa

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 19 Quando vai agraves assembleacuteias da cooperativa

( ) eacute para cumprir o meu papel de associado ( ) eacute porque estaacute em pauta algo que seja do meu interesse

20 O Sr eacute informado com antecedecircncia dos assuntos a serem tratados nas reuniotildees ( ) sim ( ) natildeo

21 Como fica sabendo das reuniotildees da sua cooperativa ( )Informativo ( ) Carta ( ) Raacutedio ( ) Telefone

22 Na sua opiniatildeo qual melhor meio de comunicaccedilatildeo para informaccedilatildeo sobre reuniotildees em sua cooperativa

( ) InformativoJornal ( ) Carta ( ) Telefone ( ) Reuniotildees ( ) outros citar 23 O Sr considera sua presenccedila nas reuniotildees da cooperativa

( ) muito importante ( )importante ( ) pouco importante ( ) indiferente 24 O Sr costuma utilizar serviccedilos da sua cooperativa

( ) Natildeo utilizo ( ) De vez em quando ( )sempre Se utiliza qual (is)

25 Algueacutem da famiacutelia jaacute participou de alguma atividade educativa (cursos palestras etc) promovida pela cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Se sim Quem ( ) Produtor (respondente) ( ) Esposa ( ) Filhos

26 Suas reivindicaccedilotildees satildeo atendidas pela cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo Porque

27 O Sr se sente bem informado sobre sua cooperativa ( ) sim ( ) natildeo

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Porque Que tipo de informaccedilotildees o Sr Sente mais necessidade de obter

28 Com que frequumlecircncia o Sr Vai agrave sede da sua Cooperativa ( ) sempre ( ) dificilmente ( ) somente quando convocado

29 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees da sua comunidade ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

30 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees de sua cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

31 Como o Sr Considera a participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da sua propriedade

( ) muito atuante ( ) atuante ( ) pouco atuante ( ) natildeo atua Se natildeo em que gostaria que atuasse melhor

32 Na sua opiniatildeo qual melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees nas reuniotildees ( ) por aclamaccedilatildeo ( ) por manifestaccedilatildeo individual ( ) por voto secreto ( ) outro citar

33 O Sr Costuma visitar outros produtores ( ) sempre ( ) de vez em quando ( ) dificilmente ( ) nunca

34 Quando eacute realizado alguma atividade festiva na sua comunidade rural o Sr Comparece

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 35 Quando eacute realizado alguma atividade de lazer ou festiva na cooperativa o Sr

comparece ( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca

36 O Sr Tem alguma forma de participaccedilatildeo e controle na fixaccedilatildeo do preccedilo do leite entregue na cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Como 37 O Sr Participa de alguma atividade na gestatildeo da Cooperativa

( ) Sim Qual ( )Natildeo Porque Gostaria de participar em qual funccedilatildeo

38 O Sr Considera que os representantes (conselheiros) atuam como proposto para sua funccedilatildeo

Conselho Administrativo ( ) sim ( ) natildeo Conselho Fiscal ( ) sim ( )natildeo PorquecircO que pode ser melhorado

39 O Sr eacute associado ao Sindicato de Produtores Rurais ( ) sim ( ) natildeo Porquecirc

40 O Sr costuma participar de reuniotildees do seu sindicato ( ) sim ( )natildeo

41 Sr eacute associado a outras cooperativas ( ) sim ( ) natildeo Qual (is)

42 O Sr Participa de alguma outra organizaccedilatildeo coletiva na sua cidade (partido poliacutetico grupo de reuniotildees comissotildees etc)

( ) sim ( )natildeo Se sim qual 43 Decirc sua opiniatildeo sobre como melhorar participaccedilatildeo de associados em cooperativas

44 Como o Sr se vecirc em relaccedilatildeo agrave sua propriedade (pode marcar mais de uma

alternativa) ( ) muito entusiasmado ( ) pouco entusiasmado ( ) cauteloso demais nas accedilotildees ( ) natildeo gosto de arriscar ( ) faccedilo poucas modificaccedilotildees durante o ano ( ) estou sempre modificando ( ) natildeo tem muito o que modificar

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APENDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM DIRIGENTES

IDENTIFICACcedilAtildeO bull Nome bull Idade ( ) bull Grau de Escolaridade bull Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) bull Quantos moram na sua residecircncia bull Qual comunidade rural a sua propriedade pertence bull Qual aacuterea da propriedade ( ) Alqueires bull Qual a origem da propriedade ( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar bull Qual eacute a sua regiatildeo de origem bull Haacute quanto tempo mora em CChagas bull Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz

PERFIL PROFISSIONAL bull Como foi sua tragetoacuteria profissional ateacute a direccedilatildeo da cooperativa bull Quais atividades de gestatildeo desenvolveu antes de atuar na diretoria da

cooperativa bull Quais experiecircncias vocecirc teve com gestatildeo de grupos antes de atuar na

cooperativa

PARTICIPACAO DE ASSOCIADOS bull Sob seu ponto de vista quais satildeo as principais dificuldades para conseguir

que um maior nuacutemero de associados participem das atividades e decisotildees da cooperativa

bull Na sua opiniatildeo qual eacute o problema mais criacutetico da cooperativa em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo de associados bull Quais os pontos fracos da cooperativa que dificultam a participaccedilatildeo de

associados bull Quais os pontos fortes da cooperativa que propicia melhor participaccedilatildeo de

associados bull Em cooperativas haacute heterogeneidade no quadro de associados relacionada

agraves diferenccedilas sociais (pequenos meacutedios e grandes produtores) O sr Considera que haja essa heterogeneidade e deste modo diferentes grupos de interesses Como trabalha com esses diferentes grupos de associados

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na Cooperativa bull Quais estrateacutegias usadas pela cooperativa para lidar com as diferentes

necessidades ou solicitaccedilotildees de associados bull Na sua opiniatildeo o que eacute preciso fazer para facilitar a participaccedilatildeo dos

associados nas decisotildees tomadas pela diretoria bull Na sua opiniatildeo o associado vai agraves reuniotildees cumprindo seu papel de

associado ou quando estaacute em pauta algo que seja do seu interesse individual

bull Quais as accedilotildees que vocecirc considera necessaacuterias que possa melhorar o

interesse de participaccedilatildeo dos associados bull No seu entendimento os associados participam da cooperativa mais como

ldquodonordquo (participaccedilatildeo ativa) ou usuaacuterio (participaccedilatildeo passiva) bull Haacute trabalho visando a participaccedilatildeo e integraccedilatildeo das mulheres e dos jovens

na cooperativa bull Como o Sr prioriza tomadas de decisotildees bull Quais accedilotildees tem sido feitas pela cooperativa para profissionalizaccedilatildeo dos

associados e familiares bull Qual eacute a forma de participaccedilatildeo de associados no planejamento das accedilotildees

presentes e futuras da cooperativa bull Como o Sr acompanha as atividades dos departamentos da cooperativa

prestadas aos associados bull Qual melhor meio de comunicaccedilatildeo com os associados considerado pelo Sr bull Em sua opiniatildeo quais contribuiccedilotildees atuais e futuras que a Diretoria pode

deixar para os futuros sucessores com o objetivo de melhorar a participaccedilatildeo para associados na cooperativa

bull Na sua opiniatildeo quais estrateacutegias de accedilatildeo devem ser empreendidas para

que possa ter uma cooperativa melhor nos proacuteximos 10 (dez) anos no sentido de maior participaccedilatildeo e responsabilidade social

bull O autor que norteia minha pesquisa (Mancur Olson) diz a ldquoatraccedilatildeo que

exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo O que o Sr diria pela experiecircncia com o cooperativismo sobre essa afirmaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave forma de participaccedilatildeo de associados

bull No geral o Sr considera que os princiacutepios do cooperativismo conseguem ser aplicados por essa cooperativa ou sugeriria alguma modificaccedilatildeo para

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adaptaccedilatildeo agrave realidade operacional da cooperativa Que tipo de modificaccedilatildeo

bull O segundo princiacutepio do cooperativismo diz que os associados ldquoparticipam ativamente na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e tomadas de decisotildeesrdquo Na sua experiecircncia isso eacute aplicaacutevel dificilmente parcialmente ou totalmente Porque Como eacute feito

APENDICE D

COLETA DE DADOS SECUNDAacuteRIOS

45 Percentual de participaccedilatildeo de associados nas uacuteltimas 5 assembleacuteias gerais 46 Qual o percentual de participaccedilatildeo nas 5 uacuteltimas assembleacuteias extraordinaacuterias 47 As assembleacuteias extraordinaacuterias costumam ser por quem (Diretoria

Conselho administrativo Fiscal ou Comitecirc educativo) 48 Nos uacuteltimos 5 anos houve alguma assembleacuteia solicitada pelos associados

49 A cooperativa utiliza de algum indicador para fazer acompanhamento do iacutedice

de participaccedilatildeo de associados em suas atividades Se sim que tipo de indicador

50 Taxa de utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa pelos associados (como medir

isso Por compras ex tanques coletivos)

51 Quando foi a uacuteltima aquisiccedilatildeo coletiva financiada ou intermediada pela cooperativa para benefiacutecio dos associados

52 Que tipo de aquisiccedilatildeo

53 Quais tipos de atividades de campo satildeo promovidas pela cooperativa (citar)

54 O associado participa de que tipo de accedilotildees da cooperativa em relaccedilatildeo agraves

suas atividades operacionais histoacuterico e descriccedilatildeo da Cooperativa

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Page 5: AÇÃO COLETIVA EM ORGANIZAÇÕES COOPERATIVAS: UM …livros01.livrosgratis.com.br/cp087171.pdf · Classificação da Biblioteca Central da UFV T Pimentel, Patrícia Ferreira Coimbra,

ii

Ao meu querido esposo Joacutebson pelo amor e por ser tatildeo presente e amigo Te amo

Agraves minhas filhas Flaacutevia Laura e Marina pelo amor incondicional Que me inspiram e por terem convivido com minhas ausecircncias nesta fase e ainda assim serem tatildeo maravilhosas Amo vocecircs

iii

AGRADECIMENTOS

Obrigada Senhor por este trabalho pela forccedila da superaccedilatildeo e por me conduzir sempre para o melhor caminho Aos meus pais Zeca 84 anos cheio de vida sempre dedicado agrave simplicidade do viver rural Exemplo de paciecircncia e coragem Agrave minha matildee Vilma obrigada pela semente que plantou na minha formaccedilatildeo como pessoa Meu exemplo de caraacuteter forccedila e dedicaccedilatildeo Aos meus irmatildeos que cada um ao seu modo me acompanham e apoacuteiam mesmo sem entender muito ldquoo porquecirc de estudar tantordquo Aos meus sobrinhos Carol Rodrigo e Ricardo por quem esforccedilo para acreditarem nos estudos e aspirar crescimento Ao Prof Newton Paulo Bueno pela oportunidade Ao Prof Joseacute Ambroacutesio Ferreira Neto por aceitar o desafio e acreditar em mim pelo apoio e amizade no momento mais difiacutecil Pela orientaccedilatildeo e dedicaccedilatildeo Agrave UFV e aos professores do DER que contribuiacuteram para uma percepccedilatildeo diferente do rural Aos funcionaacuterios em especial agrave Carminha e Cida pelo carinho e atenccedilatildeo de sempre Aos membros da banca examinadora Aos produtores rurais dirigentes e funcionaacuterios da COOLVAM pela acessibilidade e apoio Aos amigos da Incubadora de Base Tecnoloacutegica CENTEVUFV pela oportunidade de aprendizado no desafio do empreendedorismo grande contribuiccedilatildeo na minha carreira profissional Aos amigos do Centro Vocacional Tecnoloacutegico de Viccedilosa (CVT) pela convivecircncia A Flaacutevia Moreira pela consideraccedilatildeo e pelo apoio de sempre A Cris Xavier por ter cuidado tatildeo bem das minhas filhas e da minha casa enquanto natildeo estava presente A Kmila Neacutedma e Wiliam por terem acompanhado toda essa caminhada Aos colegas pela famiacutelia que formamos em ERU 623 pela amizade companheirismo consolo superaccedilatildeo e por todas as vezes que pudemos compartilhar momentos de descontraccedilatildeo e alegria A toda famiacutelia IPV pela amizade cristatilde

iv

Fizeste-me avanccedilar a largos passos (Sl 1836)

v

SUMAacuteRIO

LISTA DE TABELAS ix

RESUMO x

ABSTRACT xi

1 INTRODUCcedilAtildeO 1

11 Definiccedilatildeo do Problema4 12 Objetivos7

121 Objetivo Geral 7 122 Objetivos Especiacuteficos 7

13 Metodologia 7 2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 12

21 O cooperativismo12 211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas 15 212 O cooperativismo agropecuaacuterio 16 213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de produtores rurais 18

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa22 23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas 25

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO29

31 Accedilatildeo Coletiva29 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos29 312 Dilemas de accedilatildeo coletiva 34 313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo36 314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos 38 315 Dilemas do Cooperativismo 43

32 A Participaccedilatildeo53 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo53 322 A Participaccedilatildeo em cooperativas 58 333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo 62

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema 65 4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO

COOPERATIVISMO72

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas72 42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM 74

421 Estrutura Organizacional76 422 Quadro Social 77 423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo 77 423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam 78 425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos 79 426 Serviccedilos prestados aos associados 80 427 Perfil dos produtores associados da Coolvam 81

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM85 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 113

vi

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA118

APENDICE A126

APENDICE B127

APENDICE C 129

APENDICE D 131

vii

LISTA DE FIGURAS

1 Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada COOLVAM 2008 8

2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em

cooperativas 25

3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de

Mangalocirc71

4 Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas 71

5 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo79

6 Organizaccedilatildeo de Produtores por Estrato Social 80

7 Amostra de produtores por comunidades rurais 81

8 Residecircncia principal de produtores 82

9 Motivo da associaccedilatildeo agrave cooperativa 84

10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios 85

11 Frequumlecircncia de produtores em assembleacuteias86

12 Motivaccedilatildeo para participaccedilatildeo em assembleacuteias 86

13 Liberdade para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade88

14 Liberdade para manifestar em assembleacuteias 88

15 Consideraccedilatildeo sobre a presenccedila em reuniotildees 89

16 Frequumlecircncia que vai agrave sede da cooperativa 89

17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa 91

18 Participaccedilatildeo da famiacutelia em atividades educativas 91

19 Preacute-assembleacuteia com comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de

Minas 92

20 Atendimento a reivindicaccedilotildees pessoais93

21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade 93

22 Informaccedilotildees sobre a cooperativa 94

23 Opiniatildeo sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees 97

24 Participaccedilatildeo em Assembleacuteias 97

25 Interesse de produtores em participar dos oacutergatildeos de gestatildeo 98

26 Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo 99

27 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo

1019

viii

28 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal 101

29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo 102

30 Participaccedilatildeo em outra organizaccedilatildeo coletiva 103

31 Participaccedilatildeo em atividade festiva na comunidade 104

32 Participaccedilatildeo em atividade festiva na cooperativa 104

33 Haacutebito de visitar outros produtores 105

34 Motivaccedilatildeo do produtor em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural 108

ix

LISTA DE TABELAS

1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil22

2 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo 79

3 Organizaccedilatildeo de produtores por estrato social 80

4 Perfil do Produtor82

x

RESUMO

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra MS Universidade Federal de Viccedilosa julho de 2008 Accedilatildeo coletiva em organizaccedilotildees cooperativas um estudo de caso na Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda em Carlos Chagas -MG Orientador Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-Orientadores Nora Beatriz Presno Amodeo e Marcelo Minaacute Dias

Esta dissertaccedilatildeo apresenta uma anaacutelise sobre o processo de participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas agropecuaacuterias tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees que

supostamente levam ao surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido

pela Teoria da Escolha Racional Portanto buscou-se identificar e compreender

estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas e analisar o comportamento de

diferentes grupos existentes nessas organizaccedilotildees e como lidar com a complexa

forma de gestatildeo e controle dadas as dificuldades impostas pelo mercado cada vez

mais exigente e competitivo Por meio de uma discussatildeo fundamentada na literatura

sobre participaccedilatildeo e cooperativismo pode-se associaacute-la agraves discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como aos estudos sobre confianccedila

cooperaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de capital social mostradas como instrumentos potenciais

para soluccedilatildeo dos dilemas de accedilatildeo coletiva

xi

ABSTRACT

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra M Sc Federal University of Viccedilosa July of 2008 Class action in cooperative organizations a study of case in the Cooperative of Laticiacutenios Valley of the Mucuri Ltda in Carlos Chagas - MG Adviser Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-advisers Nora Beatriz Presno Amodeo and Marcelo Minaacute Dias

This dissertation presents an analysis on the process of participation of rural

producers in agricultural cooperatives taking as reference the existent heterogeneity

in the social picture of those organizations that supposedly take to the appearance of

problems of collective action as suggested by the Theory of the Rational Choice

Therefore it was looked for to identify and to understand strategies of collective

action in cooperatives and to analyze the behavior of different existent groups in

those organizations and how to work with the complex administration form and

control given the difficulties imposed more and more by the market demanding and

competitive Through a discussion based in the literature on participation and

cooperativism it can associate it to the concerning discussions to the collective

action and institutions as well as to the studies about trust cooperation and

valorization of social capital shown as potential instruments for solution of the

dilemmas of collective action

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas a abertura econocircmica proporcionou novas

oportunidades e restriccedilotildees de muacuteltiplas naturezas para grande parte da populaccedilatildeo

A sociedade civil tem assumido responsabilidades que antes eram obrigaccedilotildees

majoritariamente do Estado Em vaacuterios setores tem havido diferentes manifestaccedilotildees

de pessoas oriundas de motivaccedilotildees variadas seja na conquista pela terra pelo

teto por menos impostos por melhores estradas alimentos saudaacuteveis enfim as

pessoas tecircm buscado defender de vaacuterias formas melhores condiccedilotildees em seus

meios de vida As organizaccedilotildees se viram em ambientes mais competitivos com

clientes e consumidores mais exigentes por qualidade Eacute nesse cenaacuterio que pessoas

encontram no cooperativismo uma forma para defender seus interesses coletivo e

solidariamente Deste modo no meio rural muitos produtores se fortalecem nas

cooperativas para comercializar sua produccedilatildeo e melhorar tambeacutem suas condiccedilotildees

de vida Neste panorama o presente trabalho apresenta uma anaacutelise sobre o

processo de participaccedilatildeo em cooperativas rurais tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees o que leva ao

surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva

Para fundamentaccedilatildeo conceitual dessa pesquisa optou-se pela Teoria da

Escolha Racional enfatizada por Mancur Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica da

accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas que motivam a

participaccedilatildeo bem como problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a

coerecircncia a eficaacutecia e a atratividade dos grupos nesse processo Dada a

importacircncia da participaccedilatildeo Amman (1980) a apontada como uma estrateacutegia para a

superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Neste contexto sugere que para atingir o

desenvolvimento as pessoas do meio rural devem se unir em grupos de forma a

juntar forccedilas para busca de soluccedilotildees de seus problemas Assim como argumenta

Bordenave (1983) a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o homem

exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si mesmo

tratando-se de uma necessidade humana e por conseguinte um direito das

pessoas Eacute uma praacutetica transformadora e libertadora que leva o indiviacuteduo a discutir

2

analisar e assumir atitudes conforme corrobora Freire (1982) O processo

participativo se materializa em vaacuterias aacutereas portanto para entender como se daacute a

participaccedilatildeo de associados em cooperativas face ao complexo funcionamento

dessas organizaccedilotildees optou-se por estudar o cooperativismo de produtores rurais a

fim de identificar e compreender como se constroem as estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

nessas cooperativas

De forma geral a necessidade de ser economicamente eficiente sem perder a

finalidade social potildee o cooperativismo num dilema onde os desafios estatildeo divididos

entre de um lado sustentar a originalidade proposta por essa forma de organizaccedilatildeo

social cujos princiacutepios se reforccedilam ao resistir a vaacuterias transformaccedilotildees econocircmicas e

sociais ocorridas desde a sua fundaccedilatildeo em meados do seacuteculo XIX e por outro lado

competir no mercado cumprindo as exigecircncias impostas pelo capitalismo no que se

refere agrave eficiecircncia da organizaccedilatildeo e agrave gestatildeo de seus processos

As questotildees sociais estatildeo entre os desafios competitivos de qualquer

empreendimento independente do ramo de atividade ou puacuteblico alvo por isso eacute

crescente o nuacutemero de projetos sociais patrocinados por empresas de diversos

segmentos assim como accedilotildees voltadas para o bem estar da equipe de trabalho As

cooperativas estatildeo inseridas nesse contexto poreacutem sua funccedilatildeo social natildeo deve se

realizar como diferencial competitivo mas como compromisso estatutaacuterio com seus

soacutecios que eacute a razatildeo de ser do cooperativismo Deste modo uma cooperativa eacute

simultaneamente uma associaccedilatildeo de pessoas e uma organizaccedilatildeo econocircmica

Para tanto com o objetivo de atingir sua finalidade social o cooperativismo

tem como base os Princiacutepios Cooperativos (Anexo 1) que satildeo as regras de conduta

(CARNEIRO 1981) linhas orientadoras da praacutetica cooperativista (OCB 2007)

Dentre outros propotildee igualdade no Princiacutepio da Adesatildeo Voluntaacuteria para funcionar

sem discriminaccedilatildeo social e no Princiacutepio da Gestatildeo Democraacutetica a participaccedilatildeo ativa

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas internas e tomada de decisotildees No entanto natildeo haacute uma

efetividade desses princiacutepios se natildeo houver participaccedilatildeo dos associados em suas

respectivas cooperativas

Conforme Braga e Reis (2002) o cooperativismo estaacute presente em quase

todos os paiacuteses do mundo e cerca de 40 da populaccedilatildeo mundial estaacute de alguma

forma ligada a esse movimento Embora no Brasil esse nuacutemero natildeo passe de 10

grande parte dos resultados apresentados pela produccedilatildeo agropecuaacuteria eacute meacuterito das

3

cooperativas Este setor eacute o terceiro em nuacutemero de cooperados Braga e Reis (2002)

estimam um puacuteblico aproximado de seis milhotildees de pessoas envolvidas nesse

segmento considerando cooperados empregados familiares e agregados

Este trabalho teve como objeto de anaacutelise a Cooperativa de Laticiacutenios Vale do

Mucuri Ltda ndash COOLVAM sediada em Carlos Chagas cidade de 24000 habitantes

localizada regiatildeo nordeste do estado de Minas Gerais conhecida entre os

municiacutepios da regiatildeo como ldquocidade do cooperativismordquo assim tambeacutem reconhecida

por outras instituiccedilotildees do mesmo segmento

Atualmente o municiacutepio de Carlos Chagas conta com outras trecircs

cooperativas sendo a Cooperativa de Creacutedito Rural (CREDICAR) a Cooperativa

Educacional (COOEDUCAR) e Cooperativa de Produtos Artesanais de Carlos

Chagas (COOPAC) A Coolvam exerce importante atuaccedilatildeo na organizaccedilatildeo soacutecio-

econocircmica do municiacutepio pois eacute a segunda maior empregadora de matildeo-de-obra o

que demonstra a sua forte participaccedilatildeo na economia local O setor produtivo no

municiacutepio eacute focado essencialmente na agropecuaacuteria principalmente na pecuaacuteria

leiteira que tem na cooperativa uma forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo

principalmente no caso de pequenos produtores rurais Essa conjuntura corrobora a

afirmaccedilatildeo de Graziano da Silva (2000) sobre o cooperativismo como sendo ldquoa uacutenica

forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo dos pequenos produtores rurais em

certos municiacutepiosrdquo

Como forma de organizaccedilatildeo do quadro social funciona haacute dezoito anos o

comitecirc educativo que atua como um oacutergatildeo de assessoria da administraccedilatildeo e dos

cooperados constituiacutedo por um grupo de lideranccedilas que se reuacutenem para identificar e

discutir problemas analisaacute-los e sugerir propostas que atendam aos interesses da

comunidade cooperativista Haacute uma divisatildeo do quadro social em seis comunidades

distribuiacutedas geograficamente na aacuterea de accedilatildeo da COOLVAM onde acontecem

reuniotildees bimestrais com os associados e uma reuniatildeo mensal com as lideranccedilas

das comunidades na sede da Cooperativa Outras formas de contato entre a

administraccedilatildeo e os associados satildeo torneio leiteiro de comunidades realizados

anualmente os dias-de-campo geralmente duas vezes ao ano a veiculaccedilatildeo mensal

do jornal Informativo COOLVAM campanhas de vacinaccedilatildeo e nas assembleacuteias

gerais realizadas nos fins de cada exerciacutecio

4

Considerando a forma estrutural como a COOLVAM lida com os associados

essa cooperativa se qualificaria como exemplo de organizaccedilatildeo cooperativa

conforme aspectos referentes agrave prioridade e importacircncia dadas aos associados e

suas diferenccedilas em relaccedilatildeo a uma sociedade comercial tiacutepica sugerido em

literaturas sobre o relacionamento cooperativa e cooperados Por isso o interesse

desse trabalho se configura em pesquisar como se daacute a participaccedilatildeo em

cooperativas rurais com base na proposta da Teoria da Escolha Racional sobre os

dilemas da accedilatildeo coletiva

A composiccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em quatro capiacutetulos a partir

desta introduccedilatildeo que faz a apresentaccedilatildeo geral da finalidade da pesquisa os

objetivos o problema levantado e a metodologia utilizada para realizaccedilatildeo do

trabalho O primeiro capiacutetulo faz uma apresentaccedilatildeo histoacuterica e do contexto

econocircmico-social que perpassam a construccedilatildeo do cooperativismo e o enfrentamento

de seus dilemas O segundo capiacutetulo eacute composto pelo referencial conceitual e

argumentativo que orienta o trabalho e tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias

e argumentos Inicia-se com uma discussatildeo sobre accedilatildeo coletiva e como se

fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme proposta de Mancur Olson

(1999) que direciona as outras discussotildees do trabalho Na seccedilatildeo seguinte haacute uma

abordagem conceitual e praacutetica sobre participaccedilatildeo Em seguida uma discussatildeo

sobre cooperaccedilatildeo e capital social apresentados como correccedilotildees para os dilemas

de accedilatildeo coletiva

No terceiro capiacutetulo apresenta-se o estudo de caso da COOVAM e a anaacutelise

dos resultados dos questionaacuterios e entrevistas realizadas durante a pesquisa No

quarto e uacuteltimo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo apresentam-se as consideraccedilotildees finais

11 Definiccedilatildeo do Problema

Dados da OCB (2001) citados em Braga e Reis (2002) mostram que cerca de

83 dos associados agraves cooperativas agropecuaacuterias possuem propriedades com

dimensatildeo de ateacute 50 hectares ao passo que pouco mais de 5 satildeo grandes

produtores cujas propriedades satildeo superiores a 500 hectares1 Apesar da

1 Para fins desta pesquisa a referecircncia de grande e pequeno produtor rural teraacute como paracircmetro o volume de produccedilatildeo

5

significativa diferenccedila em nuacutemero de pequenos produtores a dinacircmica das relaccedilotildees

sociais no interior das cooperativas eacute marcada por acentuada diferenciaccedilatildeo social

que beneficia sobretudo grandes produtores em detrimento dos pequenos pois os

grandes produtores conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees dessas

organizaccedilotildees (PEREIRA 2002) Isso eacute retratado em estudos sobre o quadro social

das cooperativas agropecuaacuterias brasileiras onde se verifica grande diferenciaccedilatildeo

soacutecio-econocircmica entre os associados jaacute que as cooperativas abrigam grandes e

pequenos produtores rurais Este fato causa o que Pereira (2002) classifica ldquodilemas

do cooperativismordquo que geram implicaccedilotildees de diversas naturezas tais como

Grupos ou indiviacuteduos que possuem maior informaccedilatildeo maior disponibilidade de tempo e que estatildeo articulados com o poder local geralmente conduzem as cooperativas os associados esperam que as lideranccedilas exerccedilam o papel de tutor ou de bom patratildeo resolvendo seus problemas e trazendo benefiacutecios (PEREIRA 2002 P136)

De acordo com Campanhola e Graziano da Silva (2000) as associaccedilotildees e

cooperativas satildeo formas tradicionais de organizaccedilatildeo dos produtores rurais que

facilitam o seu acesso ao mercado aos programas de fomento oficiais agrave assistecircncia

teacutecnica agraves informaccedilotildees entre outros Teoricamente constituem uma forma

participativa de tomada de decisatildeo partindo-se do princiacutepio de que a uniatildeo dos

produtores nessas organizaccedilotildees os fortalece tanto quanto a sua representatividade

para a participaccedilatildeo em conselhos comitecircs comissotildees bem como no seu poder de

barganha com os setores puacuteblico e privado Do mesmo modo haacute uma importacircncia

social atribuiacuteda a essas organizaccedilotildees que satildeo em certos municiacutepios e regiotildees a

uacutenica forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo obtida por produtores rurais

No entanto essa proposta de accedilatildeo participativa eacute restrita a uma minoria que

geralmente exerce diferentes papeacuteis na comunidade e deste modo consegue ter

maior acesso a diversos benefiacutecios Instala-se tambeacutem uma condiccedilatildeo hieraacuterquica

verificada na sociedade que causa distanciamento entre as organizaccedilotildees

cooperativas e os associados prejudicial ao desenvolvimento econocircmico e social

dos produtores rurais Isto sucinta questionamentos sobre a universalidade dos

princiacutepios do cooperativismo que enfatizam somente os fatores beneacuteficos dessas

organizaccedilotildees sem levar em conta contradiccedilotildees internas das diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas

Tomando como referecircncia as argumentaccedilotildees de Olson (1999) para a anaacutelise

de cooperativas vecirc-se que uma minoria se organiza e conquista posiccedilotildees nas quais

6

conseguem defender interesses proacuteprios Por outro lado grande parte dos

associados principalmente pequenos produtores em maior nuacutemero tecircm dificuldade

em se mobilizar para defesa de seus interesses Baseado nos princiacutepios do

cooperativismo seria de se esperar que as decisotildees tomadas em cooperativas

fossem no sentido de atender aos interesses da maioria dos associados o que nem

sempre ocorre devido agrave concentraccedilatildeo do poder de decisatildeo nas matildeos do pequeno

grupo dominante

A esse respeito Duarte citado em Pereira (2002) destaca que a praacutetica do

cooperativismo tem conferido aos pequenos produtores associados somente a

condiccedilatildeo de usuaacuterios eliminando o seu papel de dono o que enfraquece tanto o

propoacutesito de seus princiacutepios quanto a funccedilatildeo de organizaccedilatildeo para a accedilatildeo coletiva

Dessa maneira conforme sugerido por Ramirez e Berdegueacute (2003) a

compreensatildeo das causas dos ecircxitos e fracassos de estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

deve ser uma fonte de aprendizagem para melhorar as intervenccedilotildees orientadas a

modificar os sistemas de exclusatildeo e promover o desenvolvimento rural sustentaacutevel

Nessa perspectiva a participaccedilatildeo eacute apontada por Amman (1980) como uma

estrateacutegia para a superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Dentro do cooperativismo

conforme Pereira (2000) natildeo satildeo oferecidos mecanismos para diminuir ou amenizar

as diferenccedilas entre os grupos e a heterogeneidade dos associados o que impede

uma efetiva participaccedilatildeo

Portanto conforme mostram os dados oficiais e a literatura haacute falhas das

associaccedilotildees e cooperativas em atender aos interesses da maioria de seus membros

jaacute que muitas dessas passaram a atuar sem a participaccedilatildeo dos seus associados nas

tomadas de decisotildees as quais se apoacuteiam apenas nas opiniotildees de sua

administraccedilatildeo superior (CAMPANHOLA E GRAZIANO DA SILVA 2000)

A partir deste panorama que mostra a dificuldade de participaccedilatildeo de

pequenos produtores nas cooperativas torna-se oportuno questionar sobre a

controveacutersia do cooperativismo ser instrumento criado para esse fim e ao mesmo

tempo permitir um distanciamento entre estes e os que o gerenciam Assim sendo

indaga-se como se constroacutei a participaccedilatildeo no ambiente de cooperativas rurais

tendo em vista a heterogeneidade do quadro social dessas organizaccedilotildees

Deste modo se na proposta do cooperativismo haacute um diferencial que eacute a

ecircnfase dada agrave igualdade de participaccedilatildeo dos associados cabe questionar sobre as

7

dificuldades das pessoas que natildeo participam assim como os motivos que levam

outros a participar

12 Objetivos

121 Objetivo Geral

Verificar as dificuldades de participaccedilatildeo em cooperativas e a heterogeneidade

relacionada agraves diferenccedilas sociais existentes no quadro social que levam a

problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido pela Teoria da Escolha Racional

utilizando o estudo de caso da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM no municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG

122 Objetivos Especiacuteficos

a Identificar e compreender estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas

b Identificar mecanismos que dificultam a participaccedilatildeo de pequenos produtores rurais associados a cooperativas rurais para o desenvolvimento local

c Analisar o processo de participaccedilatildeo dos diferentes grupos existentes em cooperativas

13 Metodologia

Para conduccedilatildeo desta pesquisa utilizou-se o meacutetodo qualitativo por meio de

estudo de caso Neste meacutetodo segundo Tivinotildes citado em Alencar (2000) as

posiccedilotildees qualitativas baseiam-se especialmente em dois enfoques especiacuteficos o de

compreender e analisar a realidade

Um enfoque eacute o compreensivista o outro eacute o critico participativo com visatildeo histoacuterico-estrurtural e se fundamenta na dialeacutetica da realidade social que parte da necessidade de conhecer a realidade atraveacutes de percepccedilatildeo reflexatildeo e intuiccedilatildeo para transformaacute-la em processos contextuais e dinacircmicos (ALENCAR 2000 p69)

Jaacute o estudo de caso em particular

8

Propotildee-se a investigar um fenocircmeno contemporacircneo em seu contexto real onde os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo satildeo claramente percebidos por meio do uso de muacuteltiplas fontes de evidecircncias como entrevistas arquivos documentos observaccedilatildeo etc (Yin 1989 citado em Lazzarini 1999 P6)

Portanto a realizaccedilatildeo deste estudo teve como referecircncia empiacuterica produtores

rurais associados agrave Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda ndash Coolvam no

municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG onde se buscou coleta de dados e informaccedilotildees

realizadas por meio de aplicaccedilatildeo de questionaacuterios e entrevistas semi-estruturadas

Os questionaacuterios foram elaborados com questotildees estruturadas de perguntas

e respostas padronizadas e questotildees semi-estruturadas exatamente como sugere

Alencar (2000) nas questotildees semi-estruturadas as perguntas satildeo padronizadas

mas as respostas ficam a criteacuterio do entrevistado ou seja eacute o seu discurso

A populaccedilatildeo para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios foi escolhida por amostragem

probabiliacutestica estratificada neste caso

O universo eacute subdividido (estratificado) em grupos mutuamente exclusivos escolhendo-se uma amostra probabiliacutestica simples de cada estrato A amostragem estratificada conduz a estimativas mais ldquoverdadeirasrdquo do que as obtidas por outros meacutetodos jaacute que eacute interessante conhecer caracteriacutesticas do universo o que ela revela mais claramente (ALENCAR 2000 p64)

A pesquisa foi desenvolvida no periacuteodo entre os anos de 2006 e 2008 sendo

que o trabalho de campo foi realizado durante o mecircs de Janeiro de 2008 Foram

aplicados 62 questionaacuterios Foi possiacutevel conforme planejado envolver a populaccedilatildeo

de 20 dos produtores associados agrave Cooperativa estudada Dos diferentes estratos

de associados ou seja do total de 176 pequenos produtores foram entrevistados

35 do total de 58 meacutedios produtores foram aplicados 17 e aos 35 grandes

produtores foram aplicados sete questionaacuterios

173

35

58

12

35

7

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Pequenos (0 a 200 lts) Meacutedios (201 a 499 lts) Grandes (Mais de 500 lts)

Associados Entrevistados

Figura 01 ndash Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada Coolvam 2008

A aplicaccedilatildeo de questionaacuterios foi feita durante o periacuteodo da pesquisa em dois

pontos escolhidos pelo pesquisador na Farmaacutecia Veterinaacuteria da Coolvam e na

Cooperativa de Creacutedito Rural O primeiro foi considerado um local apropriado pois

diariamente agraves sete horas da manhatilde os produtores passam para comprar insumos

para levar agraves fazendas Aproveitou-se da constante presenccedila de associados para

serem abordados e aplicar os questionaacuterios Neste local foi solicitado autorizaccedilatildeo

da gerente da loja para permanecircncia da pesquisadora

O outro local a Credicar considerado ldquoponto de encontro dos produtoresrdquo

Neste lugar foi solicitado ao gerente da agecircncia um espaccedilo para aplicaccedilatildeo dos

questionaacuterios Este autorizou utilizaccedilatildeo de uma mesa com cadeiras ficando um

lugar restrito e apropriado para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios Desta forma agrave medida

que chegavam os produtores eram abordados O maior nuacutemero de questionaacuterios foi

aplicado no dia do pagamento do leite 20 de janeiro de 2008 pois esta foi a data de

maior concentraccedilatildeo de produtores na cidade

Em nuacutemero menor alguns questionaacuterios foram aplicados nas propriedades

rurais nestes casos o pesquisador foi ateacute as propriedades de produtores indicados

durante a aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os demais na cidade Foi possiacutevel visitar

propriedades de estratos diferentes (pequenos meacutedios e grandes) o que permitiu

ao pesquisador vivenciar estilos de vida proacuteprios de cada um

9

10

A maioria dos questionaacuterios foi aplicada pessoalmente pela pesquisadora aos

produtores possibilitando observar e registrar comentaacuterios adicionais Alguns foram

preenchidos pelos proacuteprios produtores Nestes casos eles eram orientados a fazer

os comentaacuterios nas questotildees

Para obter informaccedilotildees e percepccedilotildees de associados participantes da gestatildeo

da cooperativa foram feitas sete entrevistas semi-estruturadas com o presidente

trecircs conselheiros administrativos dois conselheiros fiscais e dois membros do

comitecirc educativo

As entrevistas semi-estruturadas foram adotadas por serem consideradas

mais apropriadas nas pesquisas em que a compreensatildeo de atitudes ideacuteias e accedilotildees

satildeo relevantes conforme as vantagens classificadas por Alencar (2000)

Estaacute centrada em torno de toacutepicos a serem cobertos durante a entrevista os quais natildeo chegam a assumir a forma de questotildees estruturadas natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo ao aprofundamento dos toacutepicos por meio de questotildees que emergem durante a realizaccedilatildeo da entrevista (ALENCAR 2000 P63)

Algumas entrevistas foram gravadas quando autorizadas pelos entrevistados

e outras foram apenas registradas no caderno de campo respeitando a vontade do

respondente Percebeu-se que o gravador eacute um aparelho que intimidou o falar

portanto por sugestatildeo de entrevistados eram feitas anotaccedilotildees das respostas e em

seguida fazia-se a leitura para confirmaccedilatildeo das falas do entrevistado Aproveitou-se

desse recurso tambeacutem para anotaccedilotildees durante a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio para

registrar as percepccedilotildees a partir das observaccedilotildees da pesquisadora

Durante a sistematizaccedilatildeo dos dados das entrevistas optou-se por natildeo

identificar o entrevistado por isso todas as falas seratildeo identificadas pela funccedilatildeo do

entrevistado Nos questionaacuterios aplicados para resguardar individualidade e obter

informaccedilotildees com maior niacutevel de veracidade natildeo foi identificado o respondente Mas

para identificar as respostas dos diferentes estratos todos os questionaacuterios foram

codificados com nuacutemero e a letra que indica o grupo do associado No entanto na

apresentaccedilatildeo dos resultados utiliza-se como identificaccedilatildeo do respondente o seu

estrato social idade e o ano da pesquisa

Utilizou-se tambeacutem a pesquisa bibliograacutefica e documental No primeiro caso

recorreu-se a trabalhos teoacutericos sobre o assunto em questatildeo e levantamento de

dados secundaacuterios Quanto agrave pesquisa documental foram analisadas atas de

assembleacuteias dos uacuteltimos 5 anos sendo que as atas das Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias compreendeu o periacuteodo de 2002 a 2007 e as atas de Assembleacuteias

11

Gerais Extraordinaacuterias no periacuteodo de 1996 a 2007 jaacute que estas acontecem em

menos frequumlecircncia Outras atas analisadas foram de reuniotildees das comunidades

rurais no mesmo periacuteodo Seguiu-se leitura de Informativos e outros jornais da

cidade com o objetivo de verificar informaccedilotildees sobre a cooperativa e participaccedilatildeo

de associados em suas atividades assim como a participaccedilatildeo da cooperativa em

accedilotildees na comunidade

Portanto a busca do entendimento sobre como ocorre a participaccedilatildeo do

quadro social nas atividades desenvolvidas por essas organizaccedilotildees fundamentou-

se na literatura sobre participaccedilatildeo e cooperativismo para associaacute-las a discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como estudos sobre a construccedilatildeo e

valorizaccedilatildeo de capital social interesse e individualismo cooperaccedilatildeo e confianccedila

Todos esses conceitos foram portanto utilizados na compreensatildeo sobre as

relaccedilotildees sociais e interesses individuais que influenciam a decisatildeo de participar ou

natildeo de accedilotildees coletivas

12

2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 21 O cooperativismo Este capiacutetulo retrata a origem do cooperativismo o desenvolvimento e

classificaccedilatildeo dos ramos de atividade enfatizando o cooperativismo agropecuaacuterio de

leite com apresentaccedilatildeo da conjuntura e evoluccedilatildeo das organizaccedilotildees cooperativas

desse segmento seu posicionamento mediante o esforccedilo de sobrevivecircncia e

atuaccedilatildeo no mercado cada vez mais competitivo aleacutem dos desafios pertinentes agrave sua

firmeza no compromisso com a funccedilatildeo social

As cooperativas satildeo formas de accedilotildees coletivas organizadas por pessoas que

reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviccedilos para o exerciacutecio de

uma atividade econocircmica de proveito comum sem objetivo de lucro (MONEZI 2004

e SEBRAE 2003) Satildeo caracterizadas por Pinho (1977) como ldquoempresas de

autogestatildeordquo cujo nuacutemero estaacute diretamente relacionado com a satisfaccedilatildeo das

ilimitadas necessidades dos homens e consequentemente com a complexidade do

meio econocircmico no conceito de Bialoskorski Neto (2007) cooperativas satildeo

estruturas intermediaacuterias formadas a partir da accedilatildeo coletiva situadas entre as

economias particulares dos cooperados por um lado e o mercado por outro

O Cooperativismo portanto eacute um movimento filosofia de vida e modelo

socioeconocircmico capaz de unir desenvolvimento econocircmico e bem-estar social

(OCB 2007) A origem do cooperativismo estaacute na cooperaccedilatildeo presente nas

relaccedilotildees humanas e reconhecida como uma praacutetica milenar Mas o corolaacuterio do

princiacutepio cooperativo (Co-operation) como doutrina nasceu de Robert Owen um

visionaacuterio social que criou a concepccedilatildeo de uma nova forma de vida social assim

como descreve Carneiro (1981)

Owen postulava que a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos como ele adiantou de sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO 1981 p72)

Contudo a concretizaccedilatildeo do cooperativismo emergiu de uma reaccedilatildeo popular

agraves condiccedilotildees degradantes de produccedilatildeo e vida em meados do seacuteculo XIX em meio agrave

Revoluccedilatildeo Industrial Tem seu marco em 21 de dezembro de 1844 no bairro de

Rochdale em Manchester Inglaterra como resultado da uniatildeo de 27 tecelotildees e

uma tecelatilde que se reuniram e fundaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de

13

Rochdale depois de uma economia mensal de uma libra de cada participante

durante um ano Naquele momento a constituiccedilatildeo de uma pequena cooperativa de

consumo no entatildeo chamado Beco do Sapo (Toad Lane) estaria mudando os

padrotildees econocircmicos da eacutepoca e dando origem ao movimento cooperativista (OCB

2007)

Tendo o homem como principal finalidade - e natildeo o lucro os tecelotildees de

Rochdale buscavam naquele momento uma alternativa econocircmica para atuarem no

mercado frente ao modelo capitalista que os submetiam a preccedilos abusivos

exploraccedilatildeo da jornada de trabalho de mulheres e crianccedilas (que trabalhavam ateacute

dezesseis horas por dia) e do desemprego crescente advindo da Revoluccedilatildeo

Industrial (SESCOOP 2007)

Daiacute em diante vaacuterios movimentos surgiram em todos os pontos do mundo As

cooperativas como organizaccedilotildees similares agraves que conhecemos rapidamente

comeccedilaram a se multiplicar natildeo soacute em extensatildeo geograacutefica mas tambeacutem

setorialmente (Amodeo 2001) No Brasil conforme Schneider (1999) haacute

constataccedilatildeo de que antes e durante o periacuteodo colonial e especialmente durante o

periacuteodo do Impeacuterio houveram vaacuterias experiecircncias associativas entre africanos

foragidos e nas ldquoconfrarias de negrosrdquo A primeira cooperativa de produccedilatildeo

agropecuaacuteria foi criada em 1847 numa colocircnia no Paranaacute (COOPERFORTE 2008)

Em Minas Gerais foi formalizada a Sociedade Cooperativa Econocircmica dos

Funcionaacuterios Puacuteblicos de Ouro Preto no ano de 1889 (OCB 2007) Entretanto a

experiecircncia de cooperaccedilatildeo econocircmica e social no modelo rochdaleano se originou

com a implantaccedilatildeo das primeiras cooperativas de consumo em 1891 em Limeira

Satildeo Paulo

De modo geral as cooperativas satildeo orientadas pelos Princiacutepios do

Cooperativismo (Anexo I) que satildeo as normas regulamentadoras e tecircm impliacutecito os

valores que regem todas as organizaccedilotildees cooperativistas Esses valores que

norteiam as cooperativas satildeo a ajuda e responsabilidade proacuteprias democracia

igualdade equidade e solidariedade Pela tradiccedilatildeo dos seus fundadores os

membros das cooperativas devem acreditar nos valores eacuteticos da honestidade

transparecircncia responsabilidade social e preocupaccedilatildeo pelos outros (ACI 2003)

14

Os princiacutepios cooperativistas vistos isoladamente pouco expressam mas

tomados em bloco segundo Schneider (1999) apresentam uma grande loacutegica

coerecircncia interna e uma grande eficaacutecia dessas organizaccedilotildees

Neste trabalho dois dentre os sete princiacutepios satildeo o alvo das discussotildees o

princiacutepio da adesatildeo voluntaacuteria e livre e o princiacutepio da gestatildeo democraacutetica a saber

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica (OCB 2007335)

Essa escolha se justifica porque satildeo estes os princiacutepios que mais diretamente

sustentam a forma de participaccedilatildeo dos membros associados em organizaccedilotildees

cooperativas

O movimento cooperativista mundial eacute coordenado pela Alianccedila Cooperativa

Internacional (ACI) que segundo Schneider (1999) tem a responsabilidade de

adequar os Princiacutepios Cooperativistas a uma realidade econocircmica e social em

evoluccedilatildeo com o compromisso de fidelidade aos valores fundamentais da

cooperaccedilatildeo Portantoeacute um oacutergatildeo representativo dos diversos paiacuteses que mantem e

regulamenta esses princiacutepios Contudo as normas fundamentais baseadas no

Estatuto de Rochdale satildeo utilizadas ateacute os dias de hoje no sistema cooperativista

buscando enfrentar a dinacircmica da desigualdade socioeconocircmica persistente em

vaacuterios setores da sociedade

O oacutergatildeo maacuteximo de representaccedilatildeo das cooperativas no paiacutes eacute a Organizaccedilatildeo

das Cooperativas Brasileiras (OCB) responsaacutevel pela promoccedilatildeo fomento e defesa

do sistema cooperativista em todas as instacircncias poliacuteticas e institucionais (OCB

2007) Eacute de sua responsabilidade tambeacutem a preservaccedilatildeo e o aprimoramento desse

sistema Jaacute em acircmbito estadual existem as OCEs que satildeo as Organizaccedilotildees

Cooperativas Estatuais num total de 27 unidades que passaram a ser os agentes

poliacuteticos e representativos que zelam e divulgam a doutrina cooperativista em seus

respectivos estados

15

A legislaccedilatildeo cooperativista regulamenta um nuacutemero miacutenimo de vinte pessoas

para constituiccedilatildeo de uma cooperativa Embora os princiacutepios primitivos de Rocdale

reafirmavam a livre adesatildeo estes fixavam provisoriamente um limite de 250

associados (Schneider 1999) Nesse aspecto houve evoluccedilatildeo para o caraacuteter

indiscriminativo de participaccedilatildeo pois o princiacutepio da livre adesatildeo natildeo impotildee nenhum

limite em nuacutemero de associados No entanto analogamente conforme exposto na

teoria dos grupos agrave medida que organizaccedilotildees cooperativas crescem em nuacutemero de

associados aumentaraacute tambeacutem as dificuldades de se organizar e defender os

interesses individuais dos seus membros

Em face dessa evoluccedilatildeo conforme Tauk Santos e Lima (2004) na dinacircmica

da cooperativa em relaccedilatildeo ao ambiente externo haacute desafios tanto para a

participaccedilatildeo do indiviacuteduo quanto a sua capacidade de delegar poder ao coletivo

Estes desafios satildeo assim classificados por esses autores

a)o desafio dos valores cooperativos que eacute reagrupar pessoas que tenham uma necessidade comum em um projeto segundo os valores do cooperativismo b) o desafio da relaccedilatildeo de uso refere-se agraves vantagens cooperativas de seus membros c) o desafio do desenvolvimento da coletividade oferecer melhores produtos e serviccedilos aos membros promovendo o desenvolvimento harmonioso da comunidade d) o desafio daldquoeducaccedilatildeo cooperativa que daacute ecircnfase agraves diferenccedilas cooperativas seus papeacuteis e suas responsabilidades no sentido de manter uma coesatildeo no seu desenvolvimento e) e finalmente o desafio do serviccediloproduto materializado no esforccedilo de ofertar um produto ou serviccedilo no quadro de desenvolvimento cooperativo ressaltando as vantagens em relaccedilatildeo ao desenvolvimento tradicional (TAUK SANTOS E LIMA 2004 p3)

Mas o desafio ainda maior eacute assegurar a identidade cooperativa com a

vitalidade dos princiacutepios colocados como condicionantes agraves organizaccedilotildees

cooperativas Dessa forma as cooperativas seguem superando as modificaccedilotildees e

constante evoluccedilatildeo nos diversos segmentos da sociedade com vistas ao

crescimento em seu ramo de atividade

211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas

Uma caracterizaccedilatildeo para identificaccedilatildeo das cooperativas eacute a classificaccedilatildeo por

ramos de atividades conforme os segmentos de atuaccedilatildeo No Brasil a OCB os dividiu

em treze onde estatildeo agrupados um nuacutemero de 7518 cooperativas com 6791054

associados e a respectiva geraccedilatildeo de aproximadamente 200000 empregos Em

todos os ramos natildeo eacute difiacutecil encontrar modelos e exemplos de sucesso de

16

empreendimentos cooperativos que se tornaram gigantes na economia nacional e

mundial a exemplo o reconhecimento da Mondragoacuten Corporacioacuten Cooperativa ndash

MCC frequentemente citada como modelo de sucesso de cooperativismo

a MCC reuacutene 104 cooperativas e estaacute estruturada em trecircs grandes grupos financeiroindustrial e distribuiccedilatildeo aleacutem de contar com onze centros de pesquisa e desenvolvimento uma universidade e um centro de formaccedilatildeo cooperativa e empresarial ndash Otalora O grupo industrial eacute sub dividido em (automotivo componentes construccedilatildeo equipamentos industriais eletrodomeacutesticos moacuteveis e bens de capital)Com sede no paiacutes Basco Espanha a MCC eacute 7ordm maior grupo econocircmico espanhol (AZEVEDO 2007 p2)

Essa conjuntura ilustra o que faz cada vez mais cooperativas planejarem

crescimento para atender competitivamente os desafios e demandas de mercado

Nesse sentido mesmo quando globalizadas devem teoricamente ser fieacuteis agrave missatildeo

do cooperativismo com seus soacutecios ainda que atuem de forma corporativa como as

empresas tradicionais em locais distantes de seus cooperados Contudo da certeza

da importacircncia e resultados do cooperativismo visto a dimensatildeo que essas

organizaccedilotildees tecircm tomado natildeo haacute duvida de que seja difiacutecil manter racionalmente a

fidelidade aos princiacutepios e atuar com a participaccedilatildeo ativa dos cooperados diante da

complexidade de accedilotildees exigida por esse direcionamento

Tomadas essas proporccedilotildees eacute crescente tambeacutem a necessidade de

profissionais competentes em diferentes aacutereas para participarem da elaboraccedilatildeo de

metas e defesa dos interesses da organizaccedilatildeo cooperativa conforme descreve

Amodeo (2001)

Os apelos para profissionalizar a gestatildeo e buscar melhorar a competitividade podem ser considerados o eixo que orienta as transformaccedilotildees recentes das cooperativas (AMODEO 2001 p11)

Surge em resposta ao atendimento dessa necessidade uma complexa

estrutura de gestatildeo se visualizar que dentre as diferentes aacutereas em que o

movimento cooperativista atua elas cumprem papeacuteis distintos em todas as fases de

um processo de produccedilatildeo quais sejam nas funccedilotildees de fornecedoras ou

consumidoras e transformadoras de bens ou serviccedilos Nesse aspecto o ramo

agropecuaacuterio eacute um dos mais complexos do segmento cooperaivista

212 O cooperativismo agropecuaacuterio

Os trabalhadores pioneiros de Rochdale visualizaram nas cooperativas uma

forma de propiciar ajuda muacutetua entre eles Do mesmo modo os produtores rurais

17

esperam no cooperativismo agropecuaacuterio um meio de apoacuteia-los no enfrentamento

dos inuacutemeros desafios desse segmento

No Brasil o Ramo Agropecuaacuterio tem o maior nuacutemero de cooperativas em

torno de 1514 com 879918 associados e maior gerador de emprego com

aproximadamente 124000 empregados o que define sua importacircncia em

participaccedilatildeo no desenvolvimento econocircmico do paiacutes Este ramo eacute caracterizado pela

OCB da seguinte forma

O Ramo Agropecuaacuterio eacute definido por cooperativas formadas por produtores rurais e tecircm como finalidade organizar a produccedilatildeo dos seus associados em maior escala garantindo um melhor preccedilo na comercializaccedilatildeo de seus produtos Visa tambeacutem integrar e orientar suas atividades bem como facilitar a utilizaccedilatildeo reciacuteproca dos serviccedilos como adquirir insumos dividir custos de assistecircncia teacutecnica difundir o uso de novas tecnologias produtivas comercializar a produccedilatildeo e em muitos casos beneficiar e industrializar as mateacuterias-primas eliminando o atravessador e vendendo a produccedilatildeo dos cooperados diretamente ao consumidor (OCB 2007 p334)

Das accedilotildees desenvolvidas pelas cooperativas no segmento agropecuaacuterio as

mais comuns conforme Amodeo (2001) satildeo venda de insumos (fertilizantes

sementes agrotoacutexicos etc) ferramentas e maquinaria agriacutecola pesquisa e

assistecircncia teacutecnica aos produtores processamento industrializaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da

produccedilatildeo exportaccedilatildeo classificaccedilatildeo padronizaccedilatildeo e embalagem de produtos in

natura serviccedilos de creacuteditos seguros e administraccedilatildeo

Segundo Amodeo (2001) eacute na interface entre a agricultura e a induacutestria que

as cooperativas agropecuaacuterias crescem a montante e a jusante a fim de obter

melhores resultados para os seus cooperados na medida em que paralelamente

satildeo intensificados os processos de modernizaccedilatildeo da agricultura tanto na induacutestria

de insumos ou bens para a agricultura quanto na induacutestria que compra a oferta

agriacutecola para o seu processamento e distribuiccedilatildeo

Os produtores rurais tambeacutem satildeo pressionados nessa mesma direccedilatildeo e eacute por

meio da mediaccedilatildeo dessas cooperativas que as demandas por especializaccedilatildeo de

produtores vecircm sendo atendidas principalmente no grupo dos pequenos Os

processos produtivos no campo estatildeo cada vez mais pautados nas particularidades

dos processos industriais Daiacute a amplitude do cooperativismo agropecuaacuterio pois

participa do desenvolvimento e especializaccedilatildeo da produccedilatildeo de seus associados

transferindo tecnologia melhorando a renda e possibilitando o desenvolvimento

rural

18

Deste modo eacute grande o nuacutemero de atividades econocircmicas abrangidas pois

conforme a OCB (2007) essas cooperativas geralmente cuidam de toda a cadeia

produtiva desde o preparo da terra ateacute a industrializaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos

produtos De modo geral conforme Braga e Reis (2002) as cooperativas de

produtores tem desempenhado importante papel na fixaccedilatildeo do homem no campo e

na distribuiccedilatildeo de renda O resultado econocircmico portanto eacute a significativa

participaccedilatildeo na economia Conforme a OCB (2008) cooperativas agropecuaacuterias

movimentam cerca de 6 do PIB nacional e tecircm uma participaccedilatildeo entre 35 a 40

no PIB agriacutecola

Desde o iniacutecio dos anos 90 as cooperativas sofreram fortes impactos

macroeconocircmicos conforme registros de Lopes et alli (2002) estabilizaccedilatildeo

econocircmica com o Plano Real abertura comercial acelerada desregulamentaccedilatildeo dos

mercados agriacutecolas e imposiccedilotildees de maior disciplina fiscal Nesse cenaacuterio a

consolidaccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio na economia brasileira conforme

OCB (2007) foi resultado do esforccedilo de produtores pela modernizaccedilatildeo do sistema

incorporaccedilatildeo de tecnologia agraves suas atividades e profissionalizaccedilatildeo da gestatildeo Essa

postura vem permitindo que cooperativas permaneccedilam atuando no mercado

competitivamente

Deste modo a dinacircmica de operacionalizaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees vai aleacutem

das intenccedilotildees que estavam impliacutecitas no desejo de associaccedilatildeo que impulsionou o

surgimento das cooperativas Eacute nessa perspectiva que as cooperativas de laticiacutenios

atuam Portanto a seccedilatildeo seguinte tem a finalidade de demonstrar o que vem

ocorrendo na evoluccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a atuaccedilatildeo dos

produtores rurais no setor

213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de

produtores rurais

Para se ter a dimensatildeo e extensatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite

dentro da economia global apresenta-se as perspectivas atuais e futuras dessas

cooperativas no mercado face ao cenaacuterio dos resultados desse segmento Para isso

recorreu-se a estudos sobre o setor leiteiro pois esta atividade eacute a maior geradora

de emprego no mercado nacional de trabalho e responsaacutevel por grande parte da

fixaccedilatildeo e sobrevivecircncia de famiacutelias no meio rural

19

Em muitos paiacuteses a participaccedilatildeo das cooperativas na captaccedilatildeo de leite eacute

relativamente alta chegando a 80 na Austraacutelia 83 na Holanda e EUA mais de

95 na Nova Zelacircndia (Chaddad 2004) e na Iacutendia sede do maior movimento

cooperativo do mundo 94 dos laticiacutenios provecircm de cooperativas (Amodeo 2001)

Nesse cenaacuterio o crescimento dessas organizaccedilotildees natildeo tem ficado restrito a

uma atuaccedilatildeo no mercado local na funccedilatildeo de intermediar o produtor rural As

cooperativas tecircm apresentado um crescimento cada vez mais acelerado e

conseguido atuar na economia mundial haja vista alguns exemplos de grandes

cooperativas de leite reconhecidas neste setor

Fonterra liacuteder absoluta no mercado da Nova Zelacircndia com mais de 95 do leite do paiacutes (14 bilhotildees de litrosano) a cooperativa mais globalizada do mundo() seu lema eacute nossa casa eacute o mundordquo controla hoje cerca de 30 do mercado internacional de laacutecteos possui alianccedilas em diversos continentes inclusive com potenciais concorrentes

Arla Foods eacute a maior cooperativa de laticiacutenios da Europa com cerca de 84 bilhotildees de litros anuais Foi a primeira grande fusatildeo entre cooperativas transnacionais a sueca Arla e a dinamarquesa MD Foods Apesar do porte gigantesco sabe que precisa crescer mais precisa olhar para aleacutem de suas fronteiras europeacuteias (CARVALHO 2008 P1)

A Cooperativa Daiy Farmers of Ameacuterica (DFA) participa de treze joint-ventures com empresas americanas e multinacionais visa ganhar competitividade num mercado global por meio de raacutepido reposicionamento (MARTINS ET ALLI 2004 P 58)

Nesse segmento o Brasil eacute o sexto maior produtor mundial de leite

entretanto ainda haacute uma baixa participaccedilatildeo de cooperativas na captaccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo deste produto Conforme Chaddad (2004) no paiacutes essa

participaccedilatildeo estaacute em torno de 22 da captaccedilatildeo do volume total do leite produzido e

40 do leite comercializado no mercado formal ou seja captado por laticiacutenios

legalmente inspecionados

Grandes mudanccedilas tecircm ocorrido em torno das cooperativas de laticiacutenios

brasileiras Recentemente importantes decisotildees foram registradas para assumir

formatos que sejam competitivos entre cooperativas e entre outras empresas A

Itambeacute - Cooperativa Central de Produtores Rurais de Minas Gerais eacute um exemplo

da importacircncia crescente das cooperativas na economia nacional

A Itambeacute eacute a maior cooperativa brasileira de laticiacutenios quer ampliar sua linha de produtos expandir a atuaccedilatildeo no mercado interno e aos poucos aumentar as exportaccedilotildees Com 58 anos de atividade a cooperativa alcanccedilou faturamento bruto de 13 bilhotildees de reais em 2005 Satildeo 8 000 produtores rurais cadastrados na cooperativa responsaacuteveis pelo fornecimento diaacuterio de 27 milhotildees de litros de leite (OCEMG 2008 P1)

20

Por outro lado a Cooperativa do Vale do Rio Doce (Cooperriodoce) a maior

cooperativa regional no leste de Minas Gerais recentemente teve seu parque

industrial vendido para Parmalat um grupo privado

Este cenaacuterio ilustra o desafio das cooperativas em permanecer no mercado

frente agrave missatildeo que desempenham como promotoras de desenvolvimento social

Em artigo com o tiacutetulo ldquoo capital encontrou o leiterdquo Carvalho (2008) mostra como

empresas de outros ramos tecircm investido no setor de laticiacutenios o que ameaccedila

diretamente as cooperativas

A compra dos Laticiacutenios Morrinhos dona da marca LeitBom pela GP investimentos natildeo deixa mais duacutevidas o capital finalmente descobriu o leite Em meio a uma onda de aquisiccedilotildees protagonizadas pela Laep (Parmalat) Perdigatildeo Bom Gosto e Liacuteder nada mais emblemaacutetico para representar a corrida ao leite do que a investida de um grupo conhecido pela sua habilidade de multiplicar o capital dos negoacutecios em que investe

O ponto eacute que se trata de uma inovaccedilatildeo consideraacutevel feita por quem chega de fora olha para o setor sem os vieses criados por quem jaacute estaacute nele haacute tempos e faz perguntas que os participantes tradicionais com suas posiccedilotildees de lideranccedila natildeo precisam fazer essa descoberta traz ameaccedilas ainda maiores para as cooperativas(CARVALHO 2008 p1)

O extrato da entrevista transcrito a seguir ilustra uma preocupaccedilatildeo da

lideranccedila da cooperativa objeto deste estudo no que se refere a perspectivas de

longo prazo quanto agrave sua sobrevivecircncia

Temos a necessidade para os proacuteximos 10 anos muito grande de crescer de unir Vem crescendo mas ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao mundo globalizado precisa unir jaacute fez incorporaccedilatildeo de Satildeo Domingos do Prata precisa juntar mais cooperativas ser forte para disputar mercado Se natildeo crescer com outras cooperativas se natildeo acontecer uma uniatildeo de cooperativas vai sair de circulaccedilatildeo (Diretor Presidente COOLVAM 2008)

Desse mesmo modo a preocupaccedilatildeo quanto agrave continuidade e sobrevivecircncia eacute

comum nas pequenas cooperativas devido principalmente agrave pressatildeo que sofrem do

mercado na comercializaccedilatildeo de produtos pois concorrem com cooperativas maiores

e com grandes empresas privadas

Esse quadro vem progredindo desde a deacutecada de 90 com a abertura de

mercado onde a entrada de produtos como o leite tiveram condiccedilotildees de

financiamento mais favoraacuteveis do que nas induacutestrias nacionais que foram obrigadas

a reduzir preccedilos (FAVERET FILHO 2002) Nesse periacuteodo milhares de produtores

abandonaram a atividade e empresas regionais e cooperativas fecharam ou foram

vendidas

21

Conforme Faveret Filho (2002 p240) tais mudanccedilas levaram empresas a

buscar mecanismos de aumento da eficiecircncia produtiva Portanto haacute grandes

desafios para as cooperativas de laticiacutenios brasileiras principalmente as pequenas

cooperativas em atuar nesse mercado Eacute por esse motivo que a forma de conduzi-

las eacute discutida em diferentes perspectivas Sob o ponto de vista de Chaddad (2004)

o desempenho dessas organizaccedilotildees se daacute em funccedilatildeo de

poliacutetica agriacutecola regulamentaccedilatildeo do setor leiteiro barreiras agrave importaccedilatildeo de leite e derivados estrutura do setor produtivo poliacuteticas de apoio a organizaccedilotildees cooperativas niacutevel tecnoloacutegico e educacional dos produtores e ambiente institucional entre outros (CHADDAD 2004 p36)

Outro trabalho realizado com cooperativas de leite de outros paises identificou

pontos comuns indicados como responsaacuteveis pelo sucesso dessas organizaccedilotildees

Consolidaccedilatildeo por meio de fusotildees e incorporaccedilotildees

Alianccedilas estrateacutegicas

Sistema profissional e representativo de governanccedila corporativa

Estrutura centralizada

Esforccedilos de fidelizaccedilatildeo do cooperado

Novos mecanismos de capitalizaccedilatildeo

Estrateacutegia competitiva alinhada com estrutura corporativa

(CHADDAD 2004 p37) Esses pontos corroboram Faveret Filho (2002) ao mostrar que mudanccedilas no

ambiente competitivo devido agrave globalizaccedilatildeo e avanccedilos tecnoloacutegicos forccedilam as

cooperativas a buscar ganhos de eficiecircncia a fim de natildeo perder relevacircncia no

mercado Segundo Chaddad (2004) essa busca resultou em alianccedilas estrateacutegicas

com outras cooperativas ou mesmo com empresas privadas O termo alianccedila

estrateacutegica expressa a decisatildeo de uma ou mais empresas cooperarem para atingir

objetivos comuns Para Lewis citado em Rola e e Sobral (2002) numa alianccedila

estrateacutegica as empresas cooperam em nome de suas necessidades muacutetuas e

compartilham os riscos para alcanccedilar um objetivo comum

Todos os pontos indicados para o sucesso das cooperativas de lacticiacutenios

devem ser cuidadosamente discutidos e avaliados para adequada aplicaccedilatildeo

conforme a realidade de cada cooperativa Para isso os gestores devem ter uma

visatildeo ampla da organizaccedilatildeo e conhecer o ambiente onde a empresa estaacute inserida

(SANTOS 2000) Deste modo o planejamento e execuccedilatildeo de diferentes formas de

22

atuaccedilatildeo do cooperativismo frente agrave conjuntura apresentada passam a ser a busca

pelo aperfeiccediloamento das ferramentas de gestatildeo Isso exige dos dirigentes assim

como dos soacutecios conhecimento e constante aperfeiccediloamento

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa

Na operacionalizaccedilatildeo das atividades gerenciais da cooperativa assim como

em outro tipo de empresa o corpo diretivo deve estar atento aos objetivos

especiacuteficos agrave missatildeo da organizaccedilatildeo Isso facilita a busca do consenso e

potencializa os esforccedilos das partes em benefiacutecio do todo (Santos 2000)

Deste modo para que as tomadas de decisotildees sejam compartilhadas de

forma oportuna e adequada na cooperativa os dirigentes e associados devem ter

claro seu papel no processo administrativo

A tabela 01 que segue mostra as diferenccedilas tiacutepicas entre uma empresa

mercantil e uma organizaccedilatildeo cooperativa

Empreendimento cooperativo Empresa mercantil

bull sociedade simples regida por

legislaccedilatildeo especiacutefica bull nuacutemero de associados limitado agrave

capacidade de prestaccedilatildeo de serviccedilos bull controle democraacutetico cada pessoa

corresponde a um voto bull objetiva a prestaccedilatildeo de serviccedilos bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no nuacutemero de associados bull natildeo eacute permitida a transferecircncia de

quotas-parte a terceiros bull retorno dos resultados eacute proporcional

ao valor das operaccedilotildees

bull sociedade de capital - accedilotildees bull nuacutemero limitado de soacutecios bull cada accedilatildeo ndash um voto bull objetiva o lucro bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no capital bull eacute permitida a transferecircncia e a venda

de accedilotildees a terceiros bull dividendo eacute proporcional ao valor de

total das accedilotildees

Tabela 1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil Fonte OCB ( 2007)

Portanto os dirigentes devem dar maior atenccedilatildeo a pontos que merecem mais

cuidado na gestatildeo cooperativa Conforme Chiavenato (1993) no funcionamento das

organizaccedilotildees as vaacuterias funccedilotildees do administrador consideradas como um todo

formam o processo administrativo composto pelo planejamento organizaccedilatildeo

direccedilatildeo e controle Consideradas separadamente constituem as funccedilotildees

administrativas mas quando visualizadas na sua abordagem total para o alcance de

objetivos elas formam esse processo De acordo com Chiavenato (1993) o processo

23

administrativo implica que os acontecimentos e as relaccedilotildees sejam dinacircmicos com

mudanccedilas contiacutenuas uma vez que este natildeo eacute algo parado estaacutetico eacute moacutevel natildeo

tem um comeccedilo nem um fim nem uma sequumlecircncia fixa de eventos

Neste caso o papel da direccedilatildeo eacute dinamizar a empresa com atuaccedilatildeo sobre

todos os recursos e orientaccedilatildeo a ser dada agraves pessoas por meio de uma adequada

comunicaccedilatildeo habilidade de lideranccedila e motivaccedilatildeo Na gestatildeo da organizaccedilatildeo

cooperativa conforme Schneider (1999) cabe aos gestores encontrar mecanismos

de decisatildeo que sejam conformes ao mesmo tempo agraves exigecircncias essenciais da

democracia cooperativa e aos da eficaacutecia-eficiecircncia da empresa orgacircnica

Deste modo em niacutevel de coordenaccedilatildeo da empresa as decisotildees se ordenam

segundo uma hierarquia em decisotildees estrateacutegicas decisotildees taacuteticas e decisotildees

teacutecnicas ou operacionais De acordo com Chiavenato (1993) o niacutevel estrateacutegico

corresponde ao niacutevel mais elevado da empresa cuida das atividades da

organizaccedilatildeo e seu ambiente Situam-se as decisotildees fundamentais de ordem geral

ou econocircmica e que envolvem os objetivos de meacutedio e longo prazo Conforme

Schneider (1999) em cooperativas deve ser realizada de forma soberana pelos

associados tendo em vista os seus interesses seguindo determinados planos

As decisotildees taacuteticas satildeo do niacutevel gerencial coordenam e unificam o

desempenho das tarefas pelo sistema operacional Cabem aos gestores ou teacutecnicos

decidir pela melhor conduta ou teacutecnica de produccedilatildeo Neste niacutevel conforme

Schneider (1999) em cooperativas cabe um papel maior aos membros do Conselho

de Administraccedilatildeo que concretizam as diretrizes gerais do niacutevel estrateacutegico

O niacutevel teacutecnico operacional diz respeito ao desempenho das tarefas na

organizaccedilatildeo relacionadas agrave produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de produtos Conforme

Chiavenato (1993) estaacute relacionado agrave execuccedilatildeo cotidiana e eficiente das tarefas e

operaccedilotildees da organizaccedilatildeo Segundo Schneider em cooperativas essa fase estaacute

acessiacutevel a um nuacutemero limitado de soacutecios eacute atribuiccedilatildeo predominante do quadro

executivo e teacutecnico da cooperativa

Eacute importante considerar tambeacutem que um fator que influencia particularmente

a forma de accedilatildeo na tomada de decisotildees eacute o tamanho da empresa Em cooperativas

Schneider (1999) faz a seguinte observaccedilatildeo

Quando se trata de uma cooperativa pequena geralmente os associados compreendem mais facilmente a natureza dos problemas e de suas soluccedilotildees Por isso tecircm melhores condiccedilotildees de eles mesmos tomarem as decisotildees em todos os niacuteveis ateacute mesmo as de caraacuteter teacutecnico Poreacutem numa cooperativa maior

24

e mais complexa a estrutura de poder se apresenta com clara distinccedilatildeo entre a estrutura de fins e a estrutura de meios os fins se asseguram pela assembleacuteia de soacutecios que expressa de forma soberana seus objetivos e interesses pelos fiscais eleitos e pelo presidente Os meios satildeo realizados atraveacutes da direccedilatildeo os executivos contratados os teacutecnicos e os funcionaacuterios (SCHNEIDER 1999 p188)

Na evoluccedilatildeo do processo administrativo em cooperativas portanto as

tomadas de decisotildees tecircm a participaccedilatildeo dos soacutecios efetivadas nas instacircncias de

poder conforme descrito por Schneider (1999)

a) Assembleacuteia Geral ordinaacuteria ou extraordinaacuteria eacute o oacutergatildeo soberano que expressa a vontade soberana dos soacutecios sobre todos os assuntos essenciais da organizaccedilatildeo Tem analogia com a assembleacuteia de acionistas de uma sociedade anocircnima

b) O Conselho de Administraccedilatildeo a democracia natildeo significa o governo de todos de forma direta e imediata em todos os niacuteveis de atividade da organizaccedilatildeo Reivindicar a democracia direta onde os soacutecios participariam de todos os niacuteveis de decisotildees levaria agrave perda da agilidade e eficiecircncia imprescindiacuteveis em cada empresa Ela soacute eacute possiacutevel em unidades muito pequenas

c) Outras instacircncias de poder satildeo o Conselho Diretor escolhido dentre os membros do Conselho de Administraccedilatildeo quando este eacute muito grande e dificulta a coesatildeo e o razoaacutevel grau de informaccedilatildeo Sua funccedilatildeo eacute exercer por delegaccedilatildeo as atribuiccedilotildees outorgadas pelo Conselho de Administraccedilatildeo Eacute um oacutergatildeo de tutela permanente do presidente ao qual devem submeter-se as principais decisotildees ou um organismo colegiado de decisotildees (SCHNEIDER 1999 P189 - 190)

Vinculado ao Conselho de Administraccedilatildeo eacute criado em cooperativas o Comitecirc

Educativo segundo Valadares (1995) este assume as atividades vinculadas ao

desenvolvimento social e poliacutetico dos associados preparando e capacitando-os para

agirem decisivamente na organizaccedilatildeo cooperativa Este mecanismo possibilita aos

associados atuarem em grupo e constitui-se de um canal por meio do qual podem

expressar suas necessidades desejos e inquietudes aleacutem de constituir um meio de

comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo importante entre os dirigentes e as bases sociais

Portanto o seu funcionamento estaacute orientado pelos objetivos de estruturar um

espaccedilo de poder na cooperativa viabilizando a participaccedilatildeo democraacutetica do maior

nuacutemero de associados na gestatildeo cooperativa (VALADARES 2005)

Ao tratar do processo administrativo no acircmbito interno das cooperativas

devem ser estimuladas interaccedilotildees entre os cooperados aleacutem da participaccedilatildeo

nessas instacircncias de poder Nesse sentido uma das condiccedilotildees colocadas por

Schneider (1999) eacute a necessidade de superar a impessoalidade nas interaccedilotildees entre

a cooperativa e os associados mais comum em cooperativas grandes e conseguir

articulaccedilatildeo de todos por meio de um variado circuito de informaccedilotildees livres de

quaisquer manipulaccedilotildees que seraacute ao mesmo tempo um estiacutemulo ao conhecimento e

agrave discussatildeo

25

O risco da falta de informaccedilatildeo do produtor nesse processo pode acarretar um

consequumlente sentimento de desconfianccedila que de acordo com a observaccedilatildeo de

Perius (1983) a esse respeito ldquonasce assim um conflito entre soacutecios e

administradoresrdquo Para este autor A informaccedilatildeo completa e apropriada aos soacutecios eacute essencial tarefa da educaccedilatildeo cooperativista Sendo a atividade cooperativa uma atividade essencialmente econocircmica esses conhecimentos devem incluir definitivamente informaccedilotildees completas e exatas sobre os programas as poliacuteticas as operaccedilotildees e as estruturas da cooperativa como empresa comercial (JOACHIM CIT IN PERIUS 1983 p 73)

Com essas observaccedilotildees confirma-se que a comunicaccedilatildeo deve ter

importacircncia vital no processo de gestatildeo cooperativa pois esta quando utilizada em

diferentes canais acessiacuteveis ao produtor vai materializar a participaccedilatildeo de

cooperados nos diferentes niacuteveis de tomadas de decisotildees

23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas Grande parte da produccedilatildeo de leite no paiacutes eacute realizada por pequenos

produtores que em sua maioria tecircm na atividade a uacutenica fonte de renda Conforme

Gomes (2005) a produccedilatildeo de leite em Minas Gerais configura-se como uma das

atividades mais importantes para a economia do Estado Eacute tambeacutem significativa face

ao seu percentual de participaccedilatildeo no volume total da produccedilatildeo nacional

Nesse segmento a referecircncia tiacutepica a produtores rurais se daacute em funccedilatildeo do

volume produzido identificando-os como pequeno meacutedio e grande produtor

Conforme Gomes (1987 e 2005) o perfil do produtor de leite em Minas Gerais segue

as seguintes caracteriacutesticas

o pequeno produtor trabalha com produtividade meacutedia de 25 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 12 litros de leite Cerca de 90 da matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente familiar

O meacutedio produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 40 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo meacutedia diaacuteria 100 L de leite A matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente contratada e a matildeo-de-obra familiar corresponde a 30

Jaacute o grande produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 6 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 360 litros de leite A matildeo-de-obra familiar corresponde a apenas 8 do total (Gomes 1987)

A Idade meacutedia de 52 anos para os pequenos produtores sendo constatado um envelhecimento neste grupo fenocircmeno tiacutepico da pequena produccedilatildeo familiar isto eacute o chefe da famiacutelia suporta conviver com pequena lucratividade

A escolaridade meacutedia de 517 anos o que aumenta agrave medida que aumentam os estratos de produccedilatildeo

Os produtores de mais de 1000 litros tecircm 658 anos de escolaridade

Em meacutedia os produtores tecircm 20 anos de experiecircncia na atividade leiteira

Predominantemente a origem do produtor eacute do proacuteprio municiacutepio num percentual de 73

Em meacutedia tecircm 264 filhos havendo maior nuacutemero de filhos e filhas que trabalham na cidade do que na atividade leiteira

Quanto agrave residecircncia do produtor prevalece a propriedade rural com 77 dos entrevistados

As esposas pouco participam de algum trabalho na produccedilatildeo de leite ateacute mesmo entre os produtores ateacute 50 litros de leitedia (GOMES 2005 P 40-41)

Essa estatiacutestica natildeo varia muito para a atividade nos outros estados

Nogueira Netto et all (2004) mostram que no Brasil cerca de dois a cada trecircs

produtores de leite satildeo associados a cooperativas que captam leite acima de 555

mil litros por dia A meacutedia diaacuteria de leite obtida por esses produtores estaacute

representada na Figura 2 Conforme este autor os produtores com entrega diaacuteria

ateacute 100 litrosdia formam 605 de todos os cooperados enquanto 168 entregam

entre 100 e 200 litrosdia Na faixa de 200 a 500 litros encontram-se 109 dos

cooperados e entre 500 a 1000 litros somente 50 Acima de 1000 litros estatildeo

68 dos cooperados

605

168109 50 68

00

100

200

300

400

500

600

700

Produtores

ateacute 100

100 a 200 lts

200 a 500 lts

500 a 1000 lts

acima de 1000 lts

Figura 2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em cooperativas

Fonte de dados Nogueira Netto et all (2004 p74)

Comparativamente o perfil da produccedilatildeo em outros paiacuteses apresenta um

quadro diferente Conforme Nogueira Netto et all (2004) na Uniatildeo Europeacuteia por

exemplo os produtores considerados de pequena produccedilatildeo satildeo os que produzem

26

27

um volume inferior agrave meacutedia de 545 litrosdia ou seja muito distante da realidade

apresentada no Brasil

De modo semelhante ao que ocorre com as cooperativas que tecircm sido

pressionadas para especializaccedilatildeo e crescimento acontece com o produtor rural

Este eacute pressionado da porteira para dentro por produtividade e ainda vivencia

criacuteticas sobre a forma de produccedilatildeo

Dentro da porteira um dos maiores problemas ainda eacute o de gestatildeo Muitos produtores satildeo eficientes mas natildeo estatildeo preparados para gerir os negoacutecios () as receitas anuais na propriedade (incluindo descartes) satildeo de R$ 056 por litro 27 a mais do que os custos totais de R$ 044 (inclui terra e proacute-labore) () vatildeo ficar no mercado apenas os profissionais (EMATER E AGROINFORME 2008 P2)

Esse quadro corrobora outra caracteriacutestica do perfil dos produtores que eacute o

sistema de produccedilatildeo Estes trabalham distintamente pois conforme Fellet e Galan

(2000) existem na atividade produtores com os sistemas de produccedilatildeo

completamente especializados com elevados pacotes tecnoloacutegicos modernos para

a produccedilatildeo de leite Enquanto outros encontram-se com sistemas nitidamente

extrativistas com baixos investimentos e iacutendices de produccedilatildeo Isso retrata e

distancia os produtores dos diferentes estratos apresentados No primeiro caso

estatildeo os produtores de maiores volumes e no segundo modo de produccedilatildeo encontra-

se os produtores de pequena produccedilatildeo

Essa realidade de pequenos produtores vai de encontro agraves cooperativas de

laticiacutenios que conforme visto anteriormente tecircm como opccedilatildeo de sobrevivecircncia agraves

pressotildees de mercado o crescimento De modo geral o aumento da captaccedilatildeo meacutedia

por produtor tem sido estimulado por todas as empresas de laticiacutenios mas conforme

Favoret Filho (2000) os grandes produtores satildeo os mais incentivados tendo em

vista o pagamento diferenciado de preccedilos aos produtores de maior volume O que

aumenta sua rentabilidade e viabiliza novas expansotildees cada vez mais difiacuteceis para

os pequenos

Nos dados apresentados em Gomes (1987 e 2005) que retrata o perfil do

produtor de leite e em Nogueira Netto et alli (2004) que mostra a participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas por estrato de produccedilatildeo reafirma portanto a

relevacircncia social do cooperativismo de leite

Portanto na funccedilatildeo de mediadoras dos produtores a montante e a jusante na

cadeia produtiva as cooperativas devem ainda apoiar a criaccedilatildeo de mecanismos para

mudar a realidade instalada na produccedilatildeo de pequenos produtores afim de superar

28

as diferenccedilas tratadas em Favoret Filho (2000) Certamente natildeo se conseguiraacute

mudar essa realidade com a accedilatildeo isolada desses produtores

Esse quadro confirma a heterogeneidade qualitativa em volume de produccedilatildeo

de produtores rurais que reflete na oportunidade de participaccedilatildeo nas diferentes

instacircncias da gestatildeo cooperativa

Portanto se na autogestatildeo cooperativa a representatividade entre os

produtores eacute equilibrada jaacute que cada associado tem direito a um voto independente

do seu volume de produccedilatildeo espera-se que esteja aiacute a oportunidade do pequeno

produtor defender os seus interesses por meio de uma maior participaccedilatildeo nas

tomadas de decisotildees Uma maior participaccedilatildeo deste grupo seria tambeacutem uma forma

de mudar o ldquostatus quordquo de grande parte de pequenos produtores de leite Portanto

espera-se que a cooperativa incentive a participaccedilatildeo de produtores na sua estrutura

de gestatildeo para que essas diferenccedilas sejam melhor niveladas

29

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO

A construccedilatildeo do conhecimento requer um domiacutenio conceitual baacutesico para que

a decodificaccedilatildeo dos dados identificados possa se sustentar Deste modo Kopnin

(1978) argumenta que

A teoria descreve e explica um conjunto de fenocircmenos fornece o conhecimento dos fundamentos reais de todas as teses lanccediladas e reduz os descobrimentos em determinado campo e as leis a um princiacutepio unificador uacutenico sendo que a unificaccedilatildeo do conhecimento em teoria eacute realizada antes de tudo pelo proacuteprio objeto e suas leis determinando a relaccedilatildeo entre juiacutezos isolados conceitos e deduccedilotildees na teoria (KOPNIN 1978 p237)

Portanto esta etapa tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias e

argumentos para interpretar as praacuteticas presentes no caso e nos discursos

vivenciados durante a pesquisa de campo Primeiramente faz-se uma revisatildeo sobre

accedilatildeo coletiva e como se fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme

proposta de Mancur Olson (1999) de forma a dar base e direcionamento agraves outras

discussotildees do trabalho Em seguida haacute uma abordagem conceitual e praacutetica sobre

participaccedilatildeo e ao final completa-se com argumentos sobre cooperaccedilatildeo e capital

social apresentados como correccedilotildees para os dilemas de accedilatildeo coletiva

31 Accedilatildeo Coletiva 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos

Dificilmente conseguiriacuteamos que as pessoas participassem com igual

dedicaccedilatildeo empenho e motivaccedilatildeo em algo que venha a ter o mesmo benefiacutecio e

resultados para todos Pois o indiviacuteduo age segundo seu proacuteprio interesse com o

fim de maximizar seus benefiacutecios Essa suposiccedilatildeo estaacute fundamentada na Teoria da

Escolha Racional proposta por Olson (1999) e corroborada por Elster (1994) ao

afirmar que os problemas de accedilatildeo coletiva surgem porque eacute difiacutecil conseguir que as

pessoas cooperem para benefiacutecio muacutetuo Segundo Olson (1999) o comportamento

centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral considerado a regra pelo menos quando

haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas Neste raciociacutenio justifica-se que

numa cooperativa natildeo haacute de se esperar que todos os soacutecios tenham o mesmo

empenho para o seu desenvolvimento assim como eacute difiacutecil que todos consigam

30

usufruir dos resultados alcanccedilados Isso eacute um dilema vivenciado no cooperativismo

que se origina por diversas situaccedilotildees as quais seratildeo discutidas neste capiacutetulo

Esta seccedilatildeo inicia-se por apresentar a definiccedilatildeo do termo accedilatildeo coletiva e bem

puacuteblico cujos sentidos seratildeo trabalhados no decorrer desta dissertaccedilatildeo

O termo accedilatildeo coletiva foi difundido por Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica

da accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas bem como

problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a coerecircncia a eficaacutecia e a

atratividade dos grupos nesse processo

Uma accedilatildeo coletiva surge basicamente para solucionar necessidades geradas

por dois fatores oportunidades e desejos ou seja pelo que as pessoas podem fazer

e pelo que querem fazer (ELSTER 1994) Deste modo mesmo que as pessoas

difiram em seus desejos assim como em suas oportunidades os desejos humanos

podem ter pontos comuns aos apresentados individualmente

Quando estes pontos comuns satildeo reconhecidos pelos indiviacuteduos ocorre o

que Marx chamaria de adquirir consciecircncia (OLSON 1999) A partir desses pontos

comuns os homens planejam uma accedilatildeo coordenada conforme seus proacuteprios

interesses Essa atuaccedilatildeo portanto recebe o nome de accedilatildeo coletiva A accedilatildeo coletiva

desta forma seria a maneira pela qual o individuo se faz presente nos sistemas

abstratos reforccedilando a sua capacidade transformadora desde que consiga agir em

coletividade (ASENSI 2006)

Para Olson (1999) haacute trecircs tipos de situaccedilotildees teoacutericas (ou ideais) em que os

indiviacuteduos podem estar frente agrave accedilatildeo coletiva No primeiro caso em que grupos de

indiviacuteduos jaacute adquiriram ou natildeo a consciecircncia do interesse que eacute partilhado por

todos mas os custos de empreenderem na accedilatildeo satildeo maiores em relaccedilatildeo aos

benefiacutecios que teratildeo Neste caso a accedilatildeo coletiva eacute inviaacutevel De outra forma os

indiviacuteduos jaacute compartilham objetivos mas os custos para consecuccedilatildeo do benefiacutecio

satildeo da mesma proporccedilatildeo que teratildeo de retorno se empreenderem a accedilatildeo Neste

caso a possibilidade de accedilatildeo coletiva eacute baixa Emoutra situaccedilatildeo os benefiacutecios da

accedilatildeo coletiva satildeo muito maiores do que os custos individuais Neste caso haacute

existecircncia de grupos sociais com potencialidade de accedilatildeo coletiva que satildeo os grupos

organizados

31

A accedilatildeo coletiva eacute necessaacuteria para a conquista de espaccedilos da cidadania e da

democracia que requerem mobilizaccedilatildeo social Com esse objetivo haacute accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidas por diferentes atores e sujeitos sociais movimentos

de mulheres de jovens de direitos humanos ecoloacutegicos e as mobilizaccedilotildees

pacifistas satildeo exemplos de accedilotildees coletivas cujas formas de articulaccedilatildeo mobilizaccedilatildeo

e luta expressam as caracteriacutesticas proacuteprias dos movimentos e accedilotildees coletivas da

contemporaneidade (QUEIROZ 2003)

Ramirez e Berdeguegrave (2002) entendem a accedilatildeo coletiva como uma estrateacutegia

instrumental orientada a alcanccedilar resultados Neste enfoque estes autores

destacam trecircs objetivos da accedilatildeo

(a) melhorar os ingressos ou outra dimensatildeo do bem-estar material imediato aos grupos envolvidos (b) modificar as relaccedilotildees sociais no interior de uma populaccedilatildeo especiacutefica e particularmente as relaccedilotildees de poder e (c) influenciar sobre as poliacuteticas puacuteblicas para ampliar as oportunidades de desenvolvimento e enfraquecer ou superar os sistemas de exclusatildeo e de discriminaccedilatildeo (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

Outros elementos que os autores supracitados entendem ser de uma visatildeo

realista sobre accedilatildeo coletiva satildeo

(1) a accedilatildeo coletiva natildeo se justifica por si soacute o que faz pertinente e necessaacuterio nos perguntarmos pela sua eficaacutecia (2) a accedilatildeo coletiva natildeo substitui a accedilatildeo e a responsabilidade individual mas precisa dela e ao mesmo tempo a pertencia e (3) a accedilatildeo coletiva natildeo eacute ubiacutequa e permanente mas sim acidental (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

A accedilatildeo coletiva portanto eacute capaz de promover

(a) desenvolvimento das capacidades dos indiviacuteduos (capital humano) (b) fortalecimento organizacional (c) construccedilatildeo de redes e alianccedilas sociais e (d) profundizaccedilatildeo de normas e valores (tais como a solidariedade a reciprocidade a confianccedila) que contribuem ao alcance do bem comum (capital social) (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p3)

Mas de modo geral o envolvimento dos indiviacuteduos eacute que vai dar maior ou

menor potencialidade agrave consecuccedilatildeo dos objetivos pretendidos numa accedilatildeo coletiva

Portanto eacute importante o entendimento sobre o comportamento dos indiviacuteduos E eacute

nessa direccedilatildeo que Olson (1999) iniciou sua investigaccedilatildeo sobre a participaccedilatildeo

individual na accedilatildeo coletiva conforme exposto neste trecho da sua obra

A ideacuteia de que grupos sempre agem para promover seus interesses eacute supostamente baseada na premissa de que na verdade os membros de um grupo agem por interesse pessoal individual Se os indiviacuteduos integrantes de um grupo altruisticamente desprezassem seu bem-estar pessoal natildeo seria muito provaacutevel que em coletividade eles se dedicassem a lutar por algum egoiacutestico objetivo comum ou grupal Tal altruiacutesmo eacute de qualquer maneira considerado uma exceccedilatildeo e o comportamento centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral

32

considerado a regra pelo menos quando haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas(OLSON 1999 p13)

Essa visatildeo caracteriza o individualismo metodoloacutegico ou comportamento

utilitarista Em seu trabalho Olson (1999) faz uma comparaccedilatildeo do comportamento

individual na accedilatildeo coletiva com o comportamento do mercado em concorrecircncia

Nesta analogia embora todas as empresas tenham o interesse comum em

maximizar seus lucros eacute do interesse individual de cada uma delas que as outras

paguem os custos necessaacuterios para obter preccedilos mais altos que se daria com uma

reduccedilatildeo na produccedilatildeo de outrem

Na conduccedilatildeo do seu pensamento central Olson (1999) faz uma observaccedilatildeo

para justificar o comportamento utilitarista

Ningueacutem se surpreende quando um homem de negoacutecios persegue individualmente mais lucros quando trabalhadores perseguem individualmente salaacuterios mais altos ou quando consumidores perseguem individualmente preccedilos mais baixos A ideacuteia de que os grupos tendem a agir em favor de seus interesses grupais eacute concebida como uma extensatildeo loacutegica dessa premissa amplamente aceita do comportamento racional centrado nos proacuteprios interesses (OLSON 1999 p13)

Neste sentido vecirc-se que os desejos individuais que motivam as pessoas a

buscarem melhores condiccedilotildees de vida estatildeo em diferentes contextos Entretanto a

busca por esses avanccedilos eacute perseguida racionalmente

Considerando que o termo racionalidade eacute utilizado em diferentes sentidos

Elster (1994) traz uma explicaccedilatildeo que eacute complementar para o entendimento sobre o

comportamento racional dos indiviacuteduos

Racionalidade eacute uma relaccedilatildeo entre uma crenccedila e a premissa sobre a qual esta eacute mantida mas que eacute ldquonecessaacuterio ir aleacutemrdquo assim como ldquoeacute necessaacuterio que a quantidade de indiacutecios reunidos seja de certa forma oacutetimardquo e que em muitas situaccedilotildees de escolha as probabilidades devem ser consideradas muito seriamente e agir racionalmente eacute fazer tatildeo bem por si quanto se eacute capaz Quando dois ou mais indiviacuteduos interagem eles podem fazer muito pior por si mesmos do que agindo isolados Essa eacute a premissa da teoria dos jogos Considera que toda accedilatildeo racional deve ser auto-interessada porque eacute motivada pelo prazer que proporciona ao agente (ELSTER 1994 p47-59)

A propoacutesito o que eacute considerado racional por um indiviacuteduo que faz parte de

um grupo social ao tomar uma decisatildeo em relaccedilatildeo a uma accedilatildeo coletiva pode ser

considerado irracional pelo seu par De certa forma a razatildeo eacute uma maneira de

organizar a realidade pela qual esta se torna compreensiacutevel (CHAUI 1994) Nesse

aspecto Weber (1979) deu sua contribuiccedilatildeo ao explicar que um modo de ver os

processos sociais estaacute relacionado ao modelo de racionalizaccedilatildeo do mundo moderno

33

Nesse sentido Weber (1979) entende a racionalizaccedilatildeo como o caminho que orienta

a sociedade para o mais alto grau de instrumentalizaccedilatildeo e burocratizaccedilatildeo onde a

eacutetica e os valores satildeo determinados pelos fins uacuteltimos (ALMEIDA 2007)

Portanto dadas diferentes formas de racionalidade para satisfaccedilatildeo individual

numa accedilatildeo coletiva Olson (1999) natildeo desconsiderou o valor e importacircncia de outros

fatores que tambeacutem estatildeo presentes na conduccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas relaccedilotildees

com o grupo e nas suas decisotildees de participaccedilatildeo Para este autor

ldquoos incentivos econocircmicos natildeo satildeo para os indiviacuteduos os uacutenicos incentivos possiacuteveis As pessoas algumas vezes sentem-se motivadas tambeacutem por um desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e psicoloacutegicordquo (OLSON 1999 p72)

Neste ponto de vista pode-se empregar que a racionalidade na participaccedilatildeo

natildeo estaacute fundada somente em aspectos econocircmicos mas tambeacutem em outros

incentivos sociais e psicoloacutegicos Conforme definiu Olson (1999) esta eacute uma visatildeo

mais comumente compartilhada por outros autores da ciecircncias sociais que discutem

a temaacutetica da accedilatildeo coletiva poreacutem natildeo corroborada com o sentido utilitarista

tratado por ele Mas o diferencial deste autor eacute justamente analisar conceitos das

instituiccedilotildees econocircmicas de forma distinta em diferentes situaccedilotildees na sociedade para

compreender o problema da cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos Nessa discussatildeo eacute

indispensaacutevel definir alguns conceitos instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

Entende-se por instituiccedilotildees segundo North citado em Santos (2000)

um conjunto de regras poliacuteticas sociais e legais que estabelecem as bases para a produccedilatildeo troca distribuiccedilatildeo ou produccedilatildeo correspondem ao sistem de normas ndash regras formais (constituiccedilotildees leis) restriccedilotildees informais (normas de comportamento costumes convenccedilotildees tradiccedilotildees tabus e coacutedigos de autoconduta) e sistemas de controle ndash que regulam a interaccedilatildeo humana na sociedade (SANTOS 2000 p70)

Jaacute as organizaccedilotildees conforme Santos (2000) satildeo entendidas como sendo

um grupo de indiviacuteduos dedicados a alguma atividade executada para um

determinado fim e que podem constituir-se em firmas associaccedilotildees partidos

poliacuteticos etc Segundo Olson (1999) existem organizaccedilotildees de todos os tipos

formas e tamanhos poreacutem uma caracteriacutestica comum a todas elas eacute a promoccedilatildeo

dos interesses de seus membros Para Festinger e Laski citados em Olson (1999) a

ldquoatraccedilatildeo que exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer

mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo

consecutivamente as ldquoassociaccedilotildees existem para realizar propoacutesitos que um grupo

34

de pessoas tem em comumrdquo Embora na visatildeo olsoniana frequentemente elas

sirvam a interesses puramente pessoais e individuais

Assim como o Estado eacute um tipo de organizaccedilatildeo que provecirc benefiacutecios puacuteblicos

para seus cidadatildeos similarmente outros tipos de organizaccedilotildees provecircem benefiacutecios

puacuteblicos para seus membros Deste modo conforme Olson (1999) os benefiacutecios

comuns ou coletivos proporcionados pelo governo satildeo usualmente chamados de

ldquobem puacuteblicordquo ou ldquobenefiacutecios puacuteblicosrdquo Neste caso os serviccedilos tecircm de estar

disponiacuteveis para todos se estiverem disponiacuteveis para algueacutem Portanto o bem

puacuteblico se caracteriza pela natildeo excludecircncia e indivisibilidade dos resultados

produzidos individual ou coletivamente numa organizaccedilatildeo Com outros argumentos Olson (1999) utiliza o conceito de bens puacuteblicos de

forma generalizada

o provimento de benefiacutecios puacuteblicos ou coletivos eacute a funccedilatildeo fundamental das organizaccedilotildees em geral portanto nas organizaccedilotildees a consecuccedilatildeo de qualquer objetivo comum ou a satisfaccedilatildeo de qualquer interesse comum significa que um benefiacutecio puacuteblico ou coletivo foi proporcionado ao grupo (OLSON 1999 P27-28)

Num entendimento anaacutelogo eacute que se insere o sentido do conceito de bens

puacuteblicos no cooperativismo pois uma vez constituiacuteda os benefiacutecios gerados pela

cooperativa passam a ser um bem puacuteblico para os seus associados e estes natildeo

podem ser excluiacutedos da utilizaccedilatildeo dos benefiacutecios conseguidos Mesmo que os

associados tenham participado ou natildeo da sua formaccedilatildeo ou de participarem

ativamente ou natildeo das suas accedilotildees Na praacutetica eacute de se esperar que a organizaccedilatildeo

cooperativa produza benefiacutecios a todos os associados

312 Dilemas de accedilatildeo coletiva

Para Olson (1999) numa accedilatildeo coletiva o fato de uma situaccedilatildeo ser desejaacutevel

para as pessoas envolvidas natildeo garante que essa situaccedilatildeo ideal iraacute prevalecer Ao

agir racionalmente os indiviacuteduos muitas vezes podem natildeo atingir a melhor soluccedilatildeo

mediante as circunstacircncias que se encontram Outro determinante eacute que o fato de

agirem coletivamente na implementaccedilatildeo de uma accedilatildeo natildeo garante tambeacutem a

continuidade da cooperaccedilatildeo pelos mesmos agentes jaacute que os indiviacuteduos tendem a

agir individualmente em algumas casos e em outros natildeo Portanto o interesse de

cada um eacute que vai determinar o seu grau de participaccedilatildeo

35

Surge daiacute o dilema da accedilatildeo coletiva Deste modo indiviacuteduos se empreendem

numa accedilatildeo para atender seus interesses mas natildeo conhecem integralmente as

circunstacircncias em que iratildeo fazer isso Conforme Bueno (2004) uma das razotildees

porque as pessoas natildeo podem prever as consequencias completas de suas

decisotildees eacute porque tais consequecircncias dependem do que as demais pessoas iratildeo

fazer Eacute como em um jogo

Bueno (2006) contribui ao sugerir diferentes situaccedilotildees que ilustram quando

dilemas de accedilatildeo coletiva podem ser definidos Primeiro no caso em que se observa

que a cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos se desenvolve espontaneamente agrave medida

que estes percebem os benefiacutecios muacutetuos a serem alcanccedilados em virtude do

esforccedilo coletivo Deste modo os participantes coordenam suas accedilotildees para superar

os obstaacuteculos existentes agrave accedilatildeo cooperativa Neste caso a confianccedila muacutetua eacute o preacute-

requisito para validaccedilatildeo do processo pois caso um dos participantes natildeo continue a

cooperar acarretaraacute desvantagem para aquele que cooperou A segunda

possibilidade sugerida por Bueno (2004) eacute representada pelo claacutessico Dilema do

Prisioneiro Esse eacute o mais conhecido de todos os jogos conforme relatado

sucintamente por Elster (1994)

Dois prisioneiros suspeitos de terem colaborado num crime satildeo colocados em celas separadas A poliacutecia diz a cada um que seraacute liberado (4) se denunciar o outro e este natildeo o denunciar Se denunciarem um ao outro ambos receberatildeo trecircs anos de reclusatildeo (2) Se ele natildeo denunciar o outro mas o outro o denunciar seraacute condenado a cinco anos (1) Se nenhum denunciar o outro a poliacutecia tem provas suficientes para mandar cada um agrave prisatildeo por um ano (3) (ELSTER 1994 p 45)

Nesse caso o fato dos prisioneiros natildeo se comunicarem para cada um deles

a melhor estrateacutegia eacute a natildeo cooperaccedilatildeo pois natildeo haacute possibilidade de interaccedilatildeo

entre eles por esse motivo as decisotildees satildeo tomadas isoladamente Sob o ponto de

vista do interesse individual dificilmente se chegaraacute agrave soluccedilatildeo para o dilema do

prisioneiro Pois racionalmente cada prisioneiro deveria confessar o crime mas caso

isso ocorra os dois ficariam em pior situaccedilatildeo do que se escolhessem diferente

Conclui-se com o dilema que ldquoquando cada um de noacutes individualmente escolhe

aquilo que eacute do seu interesse proacuteprio pode ficar pior do que ficaria se tivesse sido

feita uma escolha que fosse do interesse coletivordquo (Bueno 2004) Neste ponto

Elster (1994) reforccedila que a noccedilatildeo de escolha racional eacute definida para um indiviacuteduo

natildeo para a coletividade uma vez que a opccedilatildeo para um indiviacuteduo eacute superior a suas

36

outras opccedilotildees independentemente do que as outras pessoas fazem ele seria

irracional se natildeo a praticasse

Outra situaccedilatildeo comum na accedilatildeo coletiva eacute o indiviacuteduo que age como ldquofree

riderrdquo (carona) Esta deriva do fato de que indiviacuteduos preferem agindo racionalmente

beneficiar-se de soluccedilotildees coletivas sem incorrer nos custos necessaacuterios para

produzir essas soluccedilotildees e sem colaborar em nada para sua obtenccedilatildeo (BUENO

2004 e FERREIRA NETO 1996) ou seja se aproveita dos benefiacutecios sem nenhum

esforccedilo pessoal ou com qualquer tipo de contribuiccedilatildeo mas natildeo pode ser excluiacutedo

desses benefiacutecios

O problema do carona eacute observado em organizaccedilotildees cooperativas quando

associados tentam usufruir de seus serviccedilos sem empreender esforccedilos para sua

operacionalizaccedilatildeo que natildeo se efetiva somente com o fornecimento de sua produccedilatildeo

De outra forma quando o grupo de associados dominantes na gestatildeo cooperativa

conseguem defender seus interesses em detrimento dos demais cooperados estes

agem tambeacutem como ldquofree riderrdquo

Conforme Bueno (2004) ocorre um dilema de ordem social quando o grupo

consegue identificar os benefiacutecios da cooperaccedilatildeo e solucionar o problema do dilema

do prisioneiro No entanto eacute necessaacuterio desenvolver mecanismos visando garantir

aplicaccedilatildeo de normas coercitivas aos indiviacuteduos que continuarem atuando como free

riders Isso eacute assegurado por Olson (1999) ao afirmar que soacute determinados acertos

institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir

quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo

como um todo Mesmo assim conforme Bueno (1996) esse dilema torna-se de difiacutecil

soluccedilatildeo quando os indiviacuteduos natildeo participam da elaboraccedilatildeo das normas

institucionais

313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo

Mais uma visualizaccedilatildeo de problemas de accedilatildeo coletiva eacute representada na

ldquoTrageacutedia dos Comunsrdquo Esse legado de Garret Hardin permite uma ilustraccedilatildeo sobre

utilizaccedilatildeo dos recursos de um bem coletivo Embora seu trabalho tenha focado a

superpopulaccedilatildeo com a ideacuteia essencial de que a sobre exploraccedilatildeo de recursos

manejados de forma comunal tais como oceanos rios atmosfera e aacutereas de

37

parques satildeo sujeitos agrave maciccedila degradaccedilatildeo (DIEGUES E MOREIRA 2001) eacute

importante consideraacute-lo em outros estudos pois apontou em seu coloraacuterio a

necessidade de mudanccedilas sociais em grande escala para uso de bens coletivos

apoacutes sua hipoteacutetica experiecircncia de raciociacutenio

() o que ocorreria com os recursos comuns de uma determinada comunidade caso cada um de seus membros adicionasse alguns animais aos seus respectivos rebanhos Se cada pecuarista considerasse mais lucrativo criar mais animais do que uma pastagem poderia suportar uma vez que cada criador obteria todo o lucro proveniente dos animais extras e somente uma fraccedilatildeo do custo decorrente da sobre-exploraccedilatildeo das pastagens o resultado seria uma traacutegica perda de recursos para a totalidade da comunidade de pecuaristas (HARDIN CITADO EM FEENY ET ALII 2001 p18)

Com essa ilustraccedilatildeo Hardin concluiu que se houver liberdade para utilizaccedilatildeo

de recursos comuns os homens na busca de seus interesses individuais levariam

todos agrave ruiacutena Para evitar a trageacutedia dos comuns existem duas opccedilotildees ou o Estado

cria mecanismos legais para coibir determinadas praacuteticas ou a proacutepria comunidade

cria arranjos sociais e mecanismos de autodefesa (HARDIN CITADO EM FEENY ET

ALII 2001) Desta forma criam algum tipo de coerccedilatildeo que impeccedila a accedilatildeo do

indiviacuteduo no uso exagerado do benefiacutecio

Visando elucidar a extensatildeo desses argumentos no cooperativismo poderia

imaginar que se todos os soacutecios de uma cooperativa fossem utilizaacute-la como

desejassem eacute possiacutevel que seus membros procurassem utilizar a maior quantidade

de recursos possiacuteveis conseguidos coletivamente e desta maneira obter melhores

descontos nas compras ou entregar a produccedilatildeo quando melhor lhe conviesse

Nesta perspectiva haacute o pressuposto comportamental do oportunismo no

cooperativismo e neste caso o aspecto doutrinaacuterio natildeo eacute suficiente para garantir

fidelidade entre o soacutecio e a cooperativa

Conforme Zylbersztajn (2002) o compartilhamento doutrinaacuterio criou as bases

para uma linguagem comum permitindo que se faccedila referecircncia a um movimento

cooperativista internacional devidamente estruturado e regido pela ACI Por outro

lado os valores impliacutecitos nos princiacutepios deveriam inibir o comportamento egoiacutesta e

o membro que apresentasse tal comportamento deveria sofrer coaccedilatildeo pelos proacuteprios

cooperados

Entretanto as instituiccedilotildees satildeo estabelecidas com definiccedilatildeo de direitos e

obrigaccedilotildees dos soacutecios em organizaccedilotildees cooperativas que satildeo os estatutos sociais

elaborados com base nas diretrizes dos princiacutepios cooperativistasSe essas

38

instituiccedilotildees natildeo satildeo suficientes conforme Zylbersztajn (2002) o oportunismo dos

cooperados induz custos de controles aos incentivos que afetam as relaccedilotildees entre

cooperado e cooperativa

Entatildeo para este autor as instituiccedilotildees com base na doutrina cooperativista por

si natildeo eacute suficiente para coibir e superar os dilemas sugeridos por Olson (1999)

Bueno (2006) e Hardin citado em Feeny et alii (2001) encontrados em

organizaccedilotildees cooperativas conforme constatado na literatura apresentados em

Pereira (2002) Perius (1983) e Schneider (1999)

314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos Em outra abordagem Olson (1999) enfatiza o relacionamento entre membros

de diferentes grupos Sua crenccedila eacute de que conjuntos de indiviacuteduos com interesses

comuns constituem grupos com o fim de articular accedilotildees coletivas visando a

realizaccedilatildeo de tais interesses Neste caso o autor centraliza a discussatildeo sobre as

implicaccedilotildees do tamanho do grupo no processo de cooperaccedilatildeo e estabelece

situaccedilotildees que influenciam a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos na accedilatildeo coletiva

Sobre o tamanho dos grupos para Olson (1999) haacute uma efetividade distinta

entre os pequenos e grandes grupos Essa efetividade portanto vai depender de

que em qual grau a participaccedilatildeo (contribuiccedilatildeo) ou ausecircncia de participaccedilatildeo (falta de

contribuiccedilatildeo) de um ou mais membros vai influenciar sobre o custo ou benefiacutecio de

qualquer outro membro dentro do grupo Quando o nuacutemero de participantes de

uma accedilatildeo eacute grande conforme Olson (1999) o indiviacuteduo tiacutepico tem consciecircncia de

que seus esforccedilos individuais provavelmente natildeo faratildeo muita diferenccedila Ao contraacuterio

em grupos menores todos os membros teratildeo um incentivo para se esforccedilar afim de

que tudo corra bem

Nesse aspecto Olson (1999) classifica trecircs tipos de grupos privilegiados

intermediaacuterios e latentes O grupo privilegiado eacute aquele em que poucos membros

tecircm incentivos para produzir o benefiacutecio coletivo mesmo que ele tenha de arcar com

os custos da produccedilatildeo desses benefiacutecios Nesse caso a proacutepria natureza do grupo

eacute a condiccedilatildeo para que ele consiga prover os benefiacutecios coletivos

Os grupos intermediaacuterios satildeo grupos em que natildeo haacute incentivos suficientes

para que uma pessoa empreenda esforccedilos individualmente para a produccedilatildeo de

39

benefiacutecio coletivo Neste grupo natildeo haacute tantos integrantes a ponto de um membro

natildeo perceber se o outro estaacute ou natildeo ajudando a prover o benefiacutecio coletivo Por

outro lado neste grupo natildeo haveraacute nenhum benefiacutecio se natildeo houver alguma

coordenaccedilatildeo ou organizaccedilatildeo grupal

No grupo latente os membros natildeo tecircm incentivos para produzir bens

isoladamente pois sua accedilatildeo natildeo seraacute percebida pelos demais dado o grande

nuacutemero de membros Conforme Olson (1999) neste grupo somente um incentivo

independente e seletivo em relaccedilatildeo aos outros membros estimularaacute um indiviacuteduo

racional a agir de maneira grupal Assim como sugere o autor

No grupo grande e latente cada membro eacute por definiccedilatildeo tatildeo pequeno em relaccedilatildeo ao total que seus atos natildeo contaratildeo muito de um modo ou de outro em qualquer grupo grande ningueacutem tem como conhecer todos os outros membros e o grupo natildeo seraacute ipso facto um grupo de amigos Assim via de regra um iniviacuteduo natildeo se veraacute afetado socialmente se natildeo fizer os sacrifiacutecios que lhe couberem em favor da realizaccedilatildeo das metas do seu grupo (OLSON 1999 P72)

Outra caracteriacutestica que se acrescenta ao conceito de pequenos e grandes

grupos definidos por Olson foi devidamente explorada por Nassar e Zylbersztajn

(2004) Se refere agrave homogeneidade ou heterogeneidade desses grupos que

influenciam a estrutura organizacional Num grupo pequeno com interesses

homogecircneos onde todos atribuem o mesmo valor ao bem coletivo haveraacute maior

coesatildeo Caso contraacuterio o valor atribuiacutedo tende a se alterar e a probabilidade de

coesatildeo cai

Com relaccedilatildeo ao grande grupo conforme Nassar e Zylbersztajn (2004)

quando satildeo homogecircneos as accedilotildees implementadas tendem a alinhar-se com os

objetivos preacute-estipulados enquanto que nos grupos grandes heterogecircneos em

virtude dos custos de monitoramento nem sempre as accedilotildees vatildeo ser equivalentes

aos objetivos estabelecidos Nessa observaccedilatildeo o autor constatou que quando o

grande grupo eacute heterogecircneo na sua base seus objetivos tenderatildeo a ser difusos e

generalistas

Nassar e Zylbersztajn (2004) portanto corroboram o argumento de que a

heterogeneidade do grupo leva a conflitos entre seus membros comuns aos

expostos por Pereira (2002) e Perius (1983) jaacute apresentado neste trabalho Portanto

esses primeiros autores sinalizam necessidades de maior atenccedilatildeo pela gestatildeo ao

lidar com as caracteriacutesitcas do grupo heterogecircneo devido agrave dificuldade de

comunicaccedilatildeo para coordenaccedilatildeo dos membros associados

40

A conclusatildeo geral de Olson eacute de que grupos pequenos atuam com maior

eficiecircncia e isso se evidencia pela experiecircncia praacutetica quando se observa a forccedila e o

poder residente na existecircncia de comitecircs subcomitecircs e pequenos grupos de

lideranccedila Conforme Olson (1999) ldquoos comitecircs devem ser pequenos quando se

espera accedilatildeo e relativamente grandes quando se buscam pontos de vista reaccedilotildeesrdquo

Outros autores (JAMES 1951 HARE 1952) citados em OLSON (1999) corroboram

que grupos e subgrupos ativos tendem a ser muito menores do que os grupos e

subgrupos que natildeo agem

Essa discussatildeo suscita a necessidade de saber se haacute uma definiccedilatildeo sobre o

nuacutemero apropriado de membros para se efetivar melhor participaccedilatildeo dos indiviacuteduos

em uma accedilatildeo coletiva Sobre isto Olson (1999) considera que haacute uma dificuldade de

se analisar o tamanho do grupo e o comportamento do individuo poreacutem faz uma

alusatildeo aos pequenos e grandes grupos com as mudanccedilas das sociedades primitivas

para as sociedades modernas

nas sociedades primitivas os pequenos grupos primaacuterios prevaleceram porque eram mais adequados ( ou pelo menos suficientes) para desempenhar certas funccedilotildees para o povo dessas sociedades Nas sociedades modernas em contraste presume-se que predominem as grandes associaccedilotildees porque na conjuntura moderna soacute elas satildeo capazes de desempenhar ( ou satildeo mais aptas a desempenhar) certas funccedilotildees uacuteteis ao povo dessas sociedades (OLSON 1999 p32)

Deste modo Olson (1999) constata que haacute um ldquoinstintordquo ou ldquotendecircnciardquo para

formar associaccedilotildees que se manifestam tanto nos pequenos grupos familiares e de

parentesco das sociedades primitivas quanto nas grandes associaccedilotildees voluntaacuterias

das sociedades modernas

O autor verifica tambeacutem que os pequenos grupos quando organizados

costumam reunir e empregar todas as suas energias ao passo que nos grupos

grandes essas energias permanecem com muito mais frequumlecircncia em estado

potencial jaacute que os membros natildeo dedicam ao grupo toda sua capacidade produtiva

Outra observaccedilatildeo empregada por Olson (1999) para justificar sua tese eacute que ldquono

niacutevel do pequeno grupo a sociedade conseguiu coesatildeordquo portanto eacute proposto que

em grupos maiores deva-se manter alguns traccedilos do pequeno grupo

Um importante aspecto observado por Olson (1999) eacute sobre o consenso

grupal Conforme o autor natildeo eacute de se esperar que haja consenso numa accedilatildeo

grupal pois isso raramente pode ocorrer Mas conforme este autor eacute importante

41

distinguir entre os obstaacuteculos agrave accedilatildeo coletiva que se devem de um lado agrave falta de

consenso no grupo e de outro os que se devem agrave falta de incentivos individuais Se

houver muitos desacordos conforme o autor natildeo haveraacute esforccedilo coordenado e

voluntaacuterio mas se houver um alto grau de concordacircncia a respeito do que se quer e

da forma de obtecirc-lo eacute quase certo que haveraacute accedilatildeo grupal eficiente

Mais uma constataccedilatildeo que deve ser considerada conforme Olson (1999) eacute

que em casos que natildeo haja nenhum incentivo econocircmico para que um indiviacuteduo

contribua para a realizaccedilatildeo de um interesse grupal pode haver contudo um

incentivo social para que ele decirc sua contribuiccedilatildeo Nestes casos o autor considera

status desejo de prestiacutegio respeito aceitaccedilatildeo pelo grupo motivaccedilotildees de fundo

social e psicoloacutegico Essas consideraccedilotildees justificam a existecircncia de diferentes

motivaccedilotildees para se unir a um grupo podem tambeacutem estar associadas agraves

necessidades gerada por ldquodesejos e oportunidadesrdquo ou preferecircncias dos indiviacuteduos

ao objetivo que se espera alcanccedilar conforme descrito anteriormente No entanto

para Olson (1999) os incentivos sociais e pressatildeo social funcionam somente em

grupos de tamanho menor em grupos pequenos o bastante para que cada membro

possa ter um contato face a face com todos os demais jaacute em grupos grandes Soacute determinados acertos institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo como um todo Mesmo em grupos menores o benefiacutecio geralmente natildeo seraacute provido em um niacutevel oacutetimo mas quanto maior for o grupo mais longe ficaraacute de atingir o ponto oacutetimo de provimento do benefiacutecio coletivo Tal subotimalidade poderaacute ser superada em grupos marcados pela disparidade de recursos individuais ou intensidade de interesse no bem puacuteblico entre seus membros Tal configuraccedilatildeo implicaraacute entretanto em uma tendecircncia agrave exploraccedilatildeo do grande pelo pequeno participantes do interesse grupal (OLSON 1999 p47)

Tomando-se como base esta afirmativa e conforme mostram os dados

apresentados anteriormente nas cooperativas agropecuaacuterias de leite haacute grupos

distintos de produtores conforme os estratos sociais de produccedilatildeo Nesses grupos

haacute um nuacutemero muito maior de pequenos produtores em relaccedilatildeo a grandes

produtores em seus quadros sociais Estes pequenos produtores somam um

montante menor em volume de leite em relaccedilatildeo ao volume dos grandes produtores

Sendo assim os grandes produtores formam um nuacutemero menor de membros

associados agrave cooperativa Entatildeo estes tecircm mais possibilidades de se organizarem e

fazer prevalecer seus interesses em relaccedilatildeo aos pequenos produtores Situaccedilatildeo

caracteriacutestica das anaacutelises realizadas pela Teoria da Escolha Racional

42

O comportamento de indiviacuteduos em accedilatildeo coletiva eacute tambeacutem estudado em

outras vertentes Dentre outros autores Mary Douglas (1998) critica as proposiccedilotildees

de Olson que aqui foram expostas Um ponto inicial que distancia os dois autores

eacute sobre a racionalidade Os neo-institucionalistas corrente teoacuterica de Douglas

definem a racionalidade dos agentes como sendo limitada e portanto dependente

do apoio institucional quando da tomada de decisotildees enquanto para Olson (1999)

o indiviacuteduo como um ser racional toma suas decisotildees baseado no conhecimento

(ALCAcircNTARA 2003) Para a antropoacuteloga natildeo existe a possibilidade de descartar os

problemas enfrentados por uma comunidade pequena na explicaccedilatildeo da accedilatildeo

coletiva neste ponto ela concorda com Olson (1999) mas aponta como falha na

argumentaccedilatildeo deste autor a alegaccedilatildeo de que em escala pequena o grupo promove

confianccedila muacutetua no sentido de que a confianccedila muacutetua eacute a base da comunidade

Olson (1999) natildeo expotildee isso diretamente mas ao valorizar as caracteriacutesticas de

pequenos grupos das comunidades primitivas fica impliacutecita essa consideraccedilatildeo pois

eacute certo que confianccedila eacute uma instituiccedilatildeo presente nesse tipo de grupo Caso ela seja

quebrada por um membro este sofre as coerccedilotildees pelo proacuteprio grupo em relaccedilatildeo ao

seu comportamento O que Olson (1999) defende eacute que por si soacute a confianccedila na

cooperaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para garantir que indiviacuteduos cooperem numa accedilatildeo

coletiva

Douglas (1998) se mostra ambiacutegua pois para ela a solidariedade soacute eacute

possiacutevel quando os indiviacuteduos compartilham categorias de pensamento Mas

fundamentada em Durkheim considera que para compreender a solidariedade eacute

necessaacuterio examinar formas elementares de sociedade ou seja aquelas que natildeo

dependem das trocas de serviccedilos e produtos diferenciados Sob esse aspecto

portanto Olson natildeo se contradiz por deixar claro que suas colocaccedilotildees satildeo

consideradas para grupos que tenham uma atividade econocircmica envolvida Douglas

(1998) ressalta ainda que a maior parte das organizaccedilotildees tem seu iniacutecio sob forma

de comunidades pequenas Nesse ponto Olson (1999) natildeo se descuidou dessa

prerrogativa pois natildeo desconsidera essa perspectiva ao afirmar que todo ldquogrande

grupo deveria manter algumas caracteriacutesticas de pequeno grupordquo dadas as suas

vantagens

Outro ponto para Douglas eacute que a instituiccedilatildeo interfere fornecendo a visatildeo

que o indiviacuteduo teraacute sobre determinado problema Neste caso o indiviacuteduo transfere

43

a ela a responsabilidade de decidir em seu nome Mesmo que essa transferecircncia

natildeo seja nominal uma vez que este natildeo deixa de responder ao que se questiona

Poreacutem ele atribui a sua resposta aos preceitos (valores) fornecidos pela instituiccedilatildeo agrave

qual ele encontra-se afiliado ou agrave qual ele recorreu (ALCAcircNTARA 2003)

Haacute ambiguumlidade em Douglas (1989) tambeacutem neste ponto A autora natildeo nega

o fato de que as instituiccedilotildees satildeo formadas de indiviacuteduos que iratildeo imprimir nestas

caracteriacutesticas suas influenciando na sua estrutura interna Ainda segundo a autora

satildeo os indiviacuteduos um a um que escolhem agir de dada forma Deste modo a autora

daacute abertura para inferirmos que se a instituiccedilatildeo influencia na accedilatildeo do indiviacuteduo

pode-se dizer sim que ela tem autonomia Se os indiviacuteduos agem agrave sua proacutepria

maneira entatildeo natildeo haacute garantia de que os indiviacuteduos que estatildeo no centro das

instituiccedilotildees compartilharatildeo a melhor escolha que seria vista pelo indiviacuteduo externo

Conforme Alcacircntara (2003) para Douglas um grupo agiraacute portanto de

determinada forma natildeo somente devido agraves necessidades e caracteriacutesticas de seus

integrantes mas de acordo com os preceitos institucionais que orientam as suas

accedilotildees ldquoas instituiccedilotildees antecipam a accedilatildeo coletivardquo Neste ponto na oacutetica de Olson

(1999) poder-se-ia interpretar isso diferentemente

A conclusatildeo eacute de que o aprofundamento dos estudos de Olson (1999) na

discussatildeo sobre o comportamento dos indiviacuteduos nos diferentes tamanhos de

grupos na accedilatildeo coletiva eacute um ponto relevante para valorizaccedilatildeo da sua teoria pois

um desafio dos proacuteprios membros de organizaccedilotildees coletivas eacute justamente ter

habilidade para lidar com as diferentes situaccedilotildees que surgem agrave medida que a

organizaccedilatildeo cresce

Portanto natildeo se esgotam aqui as consideraccedilotildees sobre as interpretaccedilotildees de

Olson (1999) no entanto face agrave afinidade e consenso com a teoria da escolha

racional eacute que seraacute feito a interpretaccedilatildeo dos resultados obtidos com a pesquisa de

campo a partir da realidade vivida pelo produtor rural enquanto membro de

cooperativa agropecuaacuteria onde se formaliza sua participaccedilatildeo na coletividade para

defesa de seus interesses Segue-se antes a apresentaccedilatildeo dos ldquodilemas do

cooperativismordquo no desenvolvimento social e econocircmico da organizaccedilatildeo

cooperativa

315 Dilemas do Cooperativismo

44

No cooperativismo accedilotildees coletivas acontecem numa primeira ordem entre os

associados e numa segunda ordem entre as cooperativas e outras empresas A

analogia feita por Olson (1999) sobre o comportamento do mercado competitivo com

a accedilatildeo coletiva natildeo estaacute distante do que se observa nos dois casos Entatildeo

conforme as accedilotildees que norteiam a adaptaccedilatildeo de cooperativas ao ambiente

competitivo origina-se o grande desafio em escolher estrateacutegias capazes de manter

seu papel de sistema produtivo centrado no homem e ao mesmo tempo tornar-se

uma organizaccedilatildeo apta a competir com empresas que satildeo orientadas exclusivamente

para o mercado (FERREIRA e BRAGA 2002) Ao centro encontra-se o cooperado

que fica entre cooperar ou natildeo e participar ou natildeo das accedilotildees de tomada de decisotildees

que influenciam no seu proacuteprio desenvolvimento e posicionamento das cooperativas

nesse ambiente

Quanto agrave anaacutelise da influecircncia do tamanho das cooperativas e a participaccedilatildeo

social pode-se inferir que agrave medida que as cooperativas crescem aumentam

tambeacutem as dificuldades de participaccedilatildeo ativa dos membros uma vez que estes

estaratildeo cada vez mais distantes das instacircncias de poder Aleacutem disso haacute registros de

que em alguns casos a questatildeo gerencial permite que esta se distancie tambeacutem dos

objetivos iniciais dos soacutecios como constatado por Duarte (2006) Pereira (2002) e

Perius (1983)

Um dilema que se instala jaacute na sua base eacute que na praacutetica dos princiacutepios

cooperativistas o fato de ser ldquoaberta a todas as pessoasrdquo uma mesma cooperativa

tem interfaces positivas que eacute a natildeo discriminaccedilatildeo das pessoas com neutralidade

social e racial poliacutetica e religiosa (Pereira 2002) e negativas causadas pela

heterogeneidade que se forma no quadro social dadas as consequumlecircncias jaacute

apresentadas neste trabalho Reforccedilado neste caso tanto por Olson (1999) quanto

por Douglas (1989) ao concordarem que a homogeneidade do grupo facilita sua

unidade e a promoccedilatildeo da accedilatildeo Deste modo os ldquodilemas do cooperativismordquo

conceituados por Pereira (2002) levam agrave dificuldade de cumprir a previsatildeo de

ldquoigualdade e participaccedilatildeo ativa dos soacuteciosrdquo

Essa eacute uma discussatildeo de difiacutecil consenso pois Schneider (1999) afirma que

Em muitos paiacuteses a adequaccedilatildeo dos seus valores princiacutepios ou normas agrave realidade cultural social e poliacutetica local se realizou de forma difiacutecil contraditoacuteria e lenta nos uacuteltimos anos assim como a necessidade de adequar-se a um mercado

45

cada vez mais competitivo obrigou muitas cooperativas a criar organizaccedilotildees grandes e administrativamente complexas por esse motivo tende a distanciar da sua funccedilatildeo social assim como dificultar a participaccedilatildeo do conjunto de associados (SCHNEIDER1999 p20-21)

Essa dificuldade eacute apontada por Boesche e Mafioletti (2007) como um desafio

a ser resolvido

O grande desafio da cooperativa eacute encontrar o ponto de equiliacutebrio entre os interesses de cada membro que compotildee a sociedade e os objetivos coletivos simbolizados na necessidade de permanecer ativa e dinacircmica Na praacutetica existe uma grande tensatildeo entre as dimensotildees econocircmica e social Poreacutem quando uma das duas eacute subestimada a cooperativa perde a sua identidade Manter o equiliacutebrio entre ambas as dimensotildees natildeo eacute uma tarefa simples pois se trata do relacionamento com pessoas o que nem sempre eacute faacutecil de administrar (BOESCHE e MAFIOLETTI 2007 p9)

A pressatildeo sobre o cooperativismo que o deixa voluacutevel em seus princiacutepios

tem origem tambeacutem na gestatildeo da poliacuteticas puacuteblicas A exemplo do cooperativismo

agropecuaacuterio dentre motivaccedilotildees e incentivos a organizaccedilatildeo de produtores rurais

tecircm sido estimuladas pelo Estado que exige a constituiccedilatildeo juriacutedica de cooperativas

associaccedilotildees conselhos comissotildees ou comitecircs para que possam ter acesso a

recursos oferecidos por programas de governo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas que

objetivam o seu desenvolvimento e sustentabilidade assim como indicados por

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Deste modo por meio de organizaccedilotildees

cooperativas o Estado tem facilitado acesso ao creacutedito fomento agrave agricultura

familiar e outros recursos que favorecem os produtores que a elas estatildeo associados

Entretanto organizaccedilotildees tecircm sido formadas sem a atenccedilatildeo que deveria ser

dada agraves condiccedilotildees proacuteprias dos membros e dos lugares que elas se desenvolvem

Por outro lado pensar na formaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo sem que os membros

tenham tido interaccedilotildees anteriores para que se desenvolva confianccedila no grupo

dificilmente haveraacute cooperaccedilatildeo e consequentemente desejo de participaccedilatildeo

premissa que eacute corroborada por Bueno (2004)

O que mostra Schneider (1981) e Campanhola e Graziano da Silva (2000) eacute

que nas comunidades tem havido formas de manipulaccedilatildeo na composiccedilatildeo de

conselhos comissotildees cooperativas e associaccedilotildees rompendo-se com a ideacuteia

original de representatividade democraacutetica para a defesa do exerciacutecio da cidadania

Eacute possiacutevel que ocorrecircncias dessa natureza sigam em ambiente de cooperativas

pois essa condiccedilatildeo se perpetua com tendecircncias de crescimento de cooperativas que

tendem a reproduzir e mesmo reforccedilar as condiccedilotildees estruturais vigentes na

46

sociedade (Schneider1981) Com a mesma opiniatildeo Pereira (2002) diz que o modo

de produccedilatildeo capitalista se reproduz no interior das cooperativas

Diferente de como observam estes autores grande parte da literatura que

trata do tema natildeo considera tais conflitos e outros problemas que decorrem das

diferenccedilas sociais do tamanho das cooperativas e a baixa participaccedilatildeo dos

associados nestas organizaccedilotildees

Para Schneider (2001) cooperativas que querem ser fieacuteis aos ideais dos

pioneiros devem abraccedilar o conjunto de princiacutepios por eles formulados e depois

redefinidos pelas instituiccedilotildees herdeiras ldquosegundo as necessidades de cada eacutepocardquo

Nesse aspecto o autor define fatores internos tradicionais e fatores decorrentes da

mudanccedila na estrutura e na organizaccedilatildeo de cooperativas como desafios agrave

ldquodemocracia-participaccedilatildeo cooperativardquo

bull pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias

bull os integrantes da direccedilatildeo geralmente provecircm dos estratos soacutecio-econocircmicos meacutedios ou altos

bull os proacuteprios associados em geral estatildeo mais interessados em obter benefiacutecios e vantagens econocircmicas imediatas sem uma correspondente assunccedilatildeo consciente da cooperativa como organizaccedilatildeo especiacutefica com a contrapartida de obrigaccedilotildees e compromissos para com sua organizaccedilatildeo

bull a transformaccedilatildeo na estrutura das organizaccedilotildees cooperativas muito influenciou na vigecircncia da democracia-participaccedilatildeo e autonomia cooperativa

bull cooperativas pequenas administrativamente simples e vizinhas ao homem apresentavam um estilo de democracia diferente do estilo de democracia e autonomia que se daria com a evoluccedilatildeo mais recente das cooperativas e ao assumirem dimensotildees empresariais tornando-se cooperativas grandes e espacialmente extensas poderosas e administrativamente complexas (SCHNEIDER 1999 p20-21)

Esses fatores sinalizam situaccedilotildees que dificultam tanto a oportunidade quanto

o interesse dos soacutecios em melhorar a participaccedilatildeo o que justifica a existecircncia de

problemas de accedilatildeo coletiva Surge por isso a necessidade de maior coerecircncia social

nas cooperativas a fim de permitir melhor funcionamento assim como maior

interaccedilatildeo entre as pessoas

A questatildeo espacial pode ser relevante pois o que constroacutei o fortalecimento

dos grupos satildeo as relaccedilotildees e interaccedilotildees entre as pessoas e os benefiacutecios que

surgem destas O processo de desenvolvimento das cooperativas como mostrado

por Schneider (1999) favorece esse dilema Nesse aspecto como cooperativas que

47

tecircm sido desenvolvidas nesse modelo poderiam funcionar em diferentes tamanhos

possibilitando a participaccedilatildeo dos soacutecios como preconizado originalmente no

princiacutepio cooperativista para conseguir atingir seus objetivos

Conforme a perspectiva interpretativa de Ferreira Neto (1996) ao abordar

sobre ponto comum do corporativismo e pluralismo indiviacuteduos agem racionalmente

no sentido de organizar e articular seus interesses como forma de maximizar suas

possibilidades de realizaccedilatildeo exitosa deste modo a escolha do indiviacuteduo se daacute num

caacutelculo de custo benefiacutecio elaborado Essa afirmaccedilatildeo estaacute em sintonia com os

argumentos de Olson (1999) sobre o grau de participaccedilatildeo individual numa causa

conforme seus interesses Sob este ponto de vista as cooperativas satildeo em muitos

casos a uacutenica forma de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo de produtores rurais Dentre os

incentivos esta seria uma motivaccedilatildeo para participar

Deste modo pode-se inferir que a participaccedilatildeo no cooperativismo natildeo estaacute

relacionada somente a uma preferecircncia individual mas uma necessidade gerada por

oportunidades pois ao considerar suas alternativas a associaccedilatildeo agrave cooperativa

supre sua capacidade cada vez menor de negociar sozinho sua produccedilatildeo Nesta

linha de pensamento o interesse em associar eacute motivado pela possibilidade de

utilizar a cooperativa como canal de comercializaccedilatildeo entre outros benefiacutecios Entre

os membros desse quadro encontram-se em maior nuacutemero os pequenos produtores

rurais entatildeo poder-se-ia dizer que estes deveriam ser os mais interessados em

participar na articulaccedilatildeo de estrateacutegias da cooperativa Mas o que se observa eacute que

o pequeno produtor participa menos das tomadas de decisotildees

Valadares (2005) mostra que a institucionalizaccedilatildeo da participaccedilatildeo cooperativa

por meio do Comitecirc Educativo cria na cooperativa um espaccedilo para a reproduccedilatildeo das

contradiccedilotildees da sociedade ou para operacionalizaccedilatildeo de mudanccedilas O estudo deste

autor revela que a racionalidade no Comitecirc Educativo eacute proacutepria dos modelos teoacutericos

de desenvolvimento humano e de produtividade e eficiecircnica e o quadro de referecircncia

dos participantes nas atividades deste Comitecirc eacute determinado por uma visatildeo

particular individual e de interesse pessoal dos dirigentes em relaccedilatildeo ao resultado

pretendido com o envolvimento das comunidades no processo decisoacuterio Este

contribui eficazmente para o aprimoramento das condiccedilotildees tecnoloacutegicas da

produccedilatildeo de leite mas natildeo prepara o cooperado para participar politicamente da

gestatildeo da empresa

48

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Pereira (2002) assim como

Schneider (1981) mostram que formas de subordinaccedilatildeo se perpetuam em

organizaccedilotildees cooperativas Isso mostra que associados cooperam individualmente

com as lideranccedilas que permanecem em atividade sem maior envolvimento em suas

accedilotildees Neste caso as motivaccedilotildees para deixaacute-los nesse quadro poderiam ser

ilustradas de duas formas pelo dilema do prisioneiro e pelo caso free rider

Os conceitos de saiacuteda e voz desenvolvidos por Hirschman (1996) citado em

Machado (2007) ajudam a definir essa relaccedilatildeo Para esse autor a forma que

agentes insatisfeitos manifestam sua indignaccedilatildeo com o natildeo atendimento de suas

expectativas acontecem pela

saiacuteda como pura e simplesmente o ato de partir em geral porque se julga que um bem serviccedilo ou benefiacutecio melhor eacute fornecido por outra firma ou organizaccedilatildeordquo enquanto a ldquovozldquoeacute o ato de reclamar de organizar-se para reclamar ou protestar com a intenccedilatildeo de obter diretamente uma recuperaccedilatildeo da qualidade que foi prejudicada (HIRSCHMAN 1996 p 20 )

Segundo MACHADO (2007) de modo geral ainda para Hirschman a relaccedilatildeo

principal entre saiacuteda e voz eacute a de que ldquoa voz pode ser vista como sobra Quem natildeo

usa a saiacuteda eacute candidato agrave vozrdquo O uso da voz eacute bastante influenciado pelo tipo de

organizaccedilatildeo

Mesmo que hajam interaccedilotildees entre os soacutecios a oportunidade de

manifestar e concretizar opiniotildees que resultam na tomada de decisotildees se daacute em

assembleacuteias Nesse caso se o produtor manifestar sua opiniatildeo contraacuteria a dos

gestores mesmo que outros produtores sejam da mesma opiniatildeo ele natildeo tem

certeza de que seraacute apoiado pelos demais Entatildeo ele prefere cooperar que eacute manter

o status quo do quadro exposto Se os outros pensarem da mesma forma ocorre

como no dilema do prisioneiro natildeo haveraacute cooperaccedilatildeo A situaccedilatildeo iraacute perpetuarPor

outro lado pode ser racional no sentido de que o produtor pode optar por natildeo

participar jaacute que o envolvimento demanda o custo do seu tempo de trabalho que

poderia ser empregado em outra atividade na sua propriedade Mesmo sem

participar ele tem garantida sua parcela nos benefiacutecios puacuteblicos do cooperativismo e

nos resultados uma vez que as sobras satildeo distribuiacutedas proporcionais ao volume de

produccedilatildeo entregue agrave organizaccedilatildeo De outra forma sua falta de participaccedilatildeo tambeacutem

natildeo o impede de usar serviccedilos que satildeo disponibilizados a todos Isso pode ser

tambeacutem outro exemplo do comportamento free rider (carona) no cooperativismo

49

Deste modo o custo de agirem como ldquocaronardquo nessa situaccedilatildeo eacute refletido

como incentivo agrave pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias como exposto por

Schneider (1999) Eacute incentivo tambeacutem para que o pequeno grupo que lidera a

cooperativa tenha outros benefiacutecios por permanecerem nos cargos ainda que

sejam incentivos natildeo econocircmicos como status e prestiacutegio demonstrados em

(OLSON 1999) que geram outros benefiacutecios para si

Outro dilema comum no cooperativismo que envolve o problema do carona

surge conforme Zylbersztajn (2002) quando existem problemas de observabilidade

e monitoramento tornando possiacutevel um agente comportar-se oportunisticamente

Neste caso a utilizaccedilatildeo dos serviccedilos da cooperativa pelos cooperados pode incorrer

no problema do carona

quando a assistecircncia teacutecnica for demandada em demasia por um produtor ou quando o membro da cooperativa adquirir os insumos da cooperativa ou ainda quando um natildeo cooperado entregar o produto para a cooperativa por meio de um membro auferindo eventuais vantagens para as quais natildeo contribuiu (ZYLBERSZTAJN 2002 p 60)

Outro dilema que se identifica eacute o da gestatildeo participativa Tendo em vista que

em funccedilatildeo da diversidade de atuaccedilatildeo na cadeia produtiva a montante e a jusante a

cooperativa torna-se uma organizaccedilatildeo complexa Deste modo conforme

Zylbersztajn (2002) Quando ocorre a gestatildeo pelo cooperado de organizaccedilotildees com elevado grau de complexidade a cooperativa incorre em um problema de separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle da corporaccedilatildeo A natildeo separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle introduz ineficiecircncias que se tornam relevantes e o cooperado que gerencia com sucesso um empreendimento cooperativo no seu iniacutecio tenderaacute a perder eficiecircncia (ZYLBERSZTAJN 2002 p59)

Portanto exige-se que o gestor da organizaccedilatildeo cooperativa tenha habilidades

que podem natildeo ser encontradas dentro seu quadro social Por esse motivo o grupo

de produtores responsaacuteveis pela gestatildeo se vecirc por decidir contratar um especialista

em gestatildeo ou eles mesmo reconhecendo suas limitaccedilotildees executam a tarefa de

dirigentes

Estudos de Perius (1983) e Schneider (1999) mostram que quando se tem um

gestor natildeo soacutecio responsaacutevel pelo desenvolvimento da empresa cooperativa em

muitos casos este tende a priorizar decisotildees que melhor atenderatildeo agrave empresa do

que as necessidades dos associados Daiacute surge um dilema Os soacutecios tecircm que

decidir por deixar que a empresa cooperativa seja gerida profissionalmente face agrave

necessidade criada pelo proacuteprio ambiente econocircmico que estaacute instalada ou arrisca-

50

se em ser auto-gerida conforme prevecirc o princiacutepio da autogestatildeo mas neste caso

corre-se o risco de natildeo ter eficiecircncia como prevecirc o economista Zylbersztajn (2002)

No estudo sobre problemas estruturais do cooperativismo Perius (1983)

exprime uma melhor explicaccedilatildeo para identificaccedilatildeo deste dilema

() o poder interventaacuterio como medida saneadora de maacutes administraccedilotildees vem a ferir a natureza privada das sociedades cooperativas que como sociedades de pessoas devem ser geridas e ldquoautocontroladasrdquo pelos proacuteprios associados Infelizmente a participaccedilatildeo associativa e operacional dos associados na vida das cooperativas eacute muito fraca O princiacutepio do controle democraacutetico pelo qual as decisotildees satildeo tomadas pela maioria eacute constantemente esquecido pois minorias acabam homologando via de regra as decisotildees anteriormente arquitetadas estudadas e projetadas (PERIUS 1982 p101)

Amodeo (2001) concorda com Perius (1982) e Pereira (2002) ao se referir a

um possiacutevel comprometimento da supremacia dos princiacutepios em alguns casos de

organizaccedilotildees cooperativas frente a estrateacutegias utilizadas na gestatildeo Segundo esta

autora muitas vezes esses valores e princiacutepios natildeo satildeo considerados em toda sua

magnitude na gestatildeo de organizaccedilotildees cooperativas

Todas essas questotildees tecircm ao centro o comportamento dos indiviacuteduos que se

associam e formam as cooperativas Pinho (1982) descreve que o ldquohomus

cooperativusrdquo da forma concebida por alguns estudiosos do cooperativismo eacute

apenas uma abstraccedilatildeo que permanece no campo do comportamento ideal ou seja

o que seria o comportamento esperado do individuo no cooperativismo

o ldquohomem cooperativordquo eacute honesto justo respeitoso solidaacuterio e responsaacutevel Age animado de ldquoespiacuterito cooperativistardquo ou seja de uma atitude interior de compreensatildeo de aprovaccedilatildeo e de adesatildeo agrave moral cooperativa assim como agraves finalidades e objetivos dos quais as cooperativas satildeo o meio E ao mesmo tempo agraves razotildees de ser qualitativas e profundas dessas finalidades Natildeo se trata somente de uma crenccedila intelectual mas tambeacutem de um sentimento e de uma vontade que se situam ao niacutevel da consciecircncia moral (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

De outra forma mostra tambeacutem o comportamento individual na praacutetica

cooperativista

a pluralidade de papeacuteis atribuiacutedos ao homem cooperativo dificulta o ajustamento na pessoa do cooperado de comportamentos tatildeo diferentes de associado cooperado ou cooperador proprietaacuterio empresaacuterio administrador gerente fiscal usuaacuterio etc (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

Portanto o dilema do ldquohomem cooperativordquo reflete na realidade o caraacuteter

racional dos indiviacuteduos Outra percepccedilatildeo de Pinho (1982) neste contexto eacute natildeo

ignorar que a associaccedilatildeo se daacute com objetivos pessoais afim de realizar suas

atividades econocircmicas com mais eficaacutecia o que corrobora pressupostos da Teoria

da Escolha Racional em que o indiviacuteduo age segundo seus caacutelculos racionais de

51

forma exitosa A autora mostra entretanto essa relaccedilatildeo de racionalidade na accedilatildeo

do associado Para Pinho (1982) o soacutecio age tambeacutem conforme a necessidade de

ajustamento da sua participaccedilatildeo na realizaccedilatildeo de suas obrigaccedilotildees com a

cooperativa Ou seja mostra o ponto de vista do associado que renuncia sua

autonomia racionalmente Como associado-empresaacuterio-usuaacuterio racional o cooperado renuncia a uma parte de sua autonomia e de seu poder para se unir cooperativamente a outros empresaacuterios submetendo-se aos princiacutepios de igualdade e da gestatildeo democraacutetica bem como agrave formaccedilatildeo de um patrimocircnio ou acervo de utilizaccedilatildeo coletiva mas impartilhaacutevel entre os associados Aceita limitaccedilotildees agrave sua decisatildeo pessoal imposta pelas assembleacuteias gerais de cooperados em troca de determinadas vantagens (PINHO 1982 p 66)

Deste modo o comportamento do cooperativo representa um tipo de ajustamento ao meio tal como este eacute percebido ndash natildeo pelo idealista romacircntico ndash mas pelo cooperado-produtor ou pelo cooperado empresaacuterio-usuaacuterio Como o meio ambiente percebido eacute dinacircmico haacute um permanente esforccedilo de ajustamento agraves mudanccedilas e de elaboraccedilatildeo de ldquoplanos cooperativos adequados agrave realidade (PINHO 1982 p 66)

Esta autora manifesta assim sua opiniatildeo sobre o instrumentalismo

cooperativista embora natildeo aprofunde nessa discussatildeo Pinho (1982) considera que

esse comportamento eacute amplamente utilizado seguindo as regras praacuteticas de

funcionamento concebidas pelos idealizadores do cooperativismo mas sem o

objetivo de reformar a sociedade isto eacute para a solidariedade Deste modo a autora

corrobora com a opiniatildeo de que a doutrina cooperativista por si soacute natildeo tem sido

eficaz para impedir que o comportamento tipicamente utilitarista comum do modelo

capitalista assim como problemas do dilema do prisioneiro e oportunismo sejam

encontrados em cooperativas

O desenvolvimento social e consequumlente melhoria na qualidade de vida dos

soacutecios satildeo entendidos como objetivo finaliacutesitico de uma cooperativa por meio da

promoccedilatildeo econocircmica natildeo obstante a isso autores fazem discussatildeo em torno dos

meios para conseguir esse fim De modo geral a forma de destinar os recursos

obtidos com o resultado das operaccedilotildees econocircmicas da cooperativa eacute em si um

dilema Pois os associados eacute que tomam tais decisotildees Mais frequentemente o

investimento tem sido feito na proacutepria cooperativa dadas as necessidades de

modernizaccedilatildeo o recurso deixa de ser utilizado pelo associado em seu benefiacutecio

proacuteprio

52

Quando ele aprova a integralizaccedilatildeo do capital que eacute o investimento na

proacutepria cooperativa ao inveacutes de decidir pela distribuiccedilatildeo este abre matildeo de suas

vontades e necessidades pessoais em benefiacutecio do coletivo Se nesta decisatildeo se o

associado natildeo estiver sob nenhuma pressatildeo coercitiva como no exemplo do dilema

do prisioneiro este estaraacute cumprindo seu papel do ldquohomus cooperativusrdquo como

definido por Pinho (1982) A necessidade desse tipo de accedilatildeo deve estar clara para o

indiviacuteduo que queira fazer parte de uma cooperativa pois esse eacute o comportamento

que se espera do cooperado

De outra forma conforme Pinho (1982) haacute um dilema entre a praacutetica

cooperativista de inspiraccedilatildeo rochdaleana e a praacutetica cooperativista sem Rochdale

isto eacute marcado tatildeo somente quando haacute uma racionalidade econocircmica e

administrativa da empresa cooperativa sem adesatildeo agrave moral cooperativista

Deste modo haacute uma diferenccedila qualitativa na eficaacutecia da cooperativa mesmo

que ambos os casos tenham resultados econocircmicos eficientes Haacute portanto uma

definiccedilatildeo distinta entre eficiecircncia e eficaacutecia que pode ser tomada para chamar a

atenccedilatildeo e observar a gestatildeo cooperativa Conforme Drucker (1994) eficiecircncia eacute

fazer as coisas de maneira correta eficaacutecia satildeo as coisas certas o resultado

depende de ldquofazer certo as coisas certasrdquo Uma metaacutefora simples usada por Augusto

(2006) clarifica isso ldquoeficiecircncia eacute cavar com perfeiccedilatildeo teacutecnica um poccedilo artesiano

eficaacutecia eacute encontrar a aacuteguardquo Para o contabilista Padoveze (2004) o lucro eacute a melhor

medida da eficaacutecia empresarial mas eficiecircncia permeia todas as accedilotildees e atividades

da empresa Portanto tomadas essas definiccedilotildees haacute uma visualizaccedilatildeo na diferenccedila

entre as praacuteticas cooperativistas expostas por Pinho (1982) Neste caso para

reconhecer os resultados em eficiecircncia e eficaacutecia no cooperativismo os indicadores

estariam em recorrer natildeo soacute a criteacuterios de eficaacutecia econocircmica mas tambeacutem a

criteacuterios de eficaacutecia social que se daria nos niacuteveis de desenvolvimento

envolvimento e participaccedilatildeo dos associados

Embora dilemas da ordem que foi apresentada ocorram no cooperativismo

organizaccedilotildees cooperativas funcionam com bons resultados e benefiacutecios extensivos

aos soacutecios Sobre isso Ostron citado em Olson (1995) ao comparar as iniciativas de

gestatildeo cooperativa de recursos comuns fez o seguinte questionamento ldquoPor que

certas instituiccedilotildees conseguiram superar a loacutegica da accedilatildeo coletiva e outras natildeo Da

sua comparaccedilatildeo emerge alguns requisitos para essa superaccedilatildeo Dos sugeridos por

53

Putnam (1996) haacute indicaccedilatildeo de que se deva ter clara definiccedilatildeo dos limites da

instituiccedilatildeo e participaccedilatildeo das partes interessadas assim como a definiccedilatildeo de regras

entre os agentes envolvidos Deste modo eacute percebido nesses dois pontos que haacute

pistas para direcionar o entendimento das dificuldades apontadas que satildeo comuns

em cooperativas Eacute nessa busca que posteriormente se faraacute uma apresentaccedilatildeo de

como se constroacutei a participaccedilatildeo e procurar mostrar como confianccedila cooperaccedilatildeo e

capital social satildeo importantes para superaccedilatildeo dos dilemas no cooperativismo

32 A Participaccedilatildeo 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo A participaccedilatildeo tem sido considerada em diferentes pesquisas e estudos sobre

desenvolvimento uma importante ferramenta para potencializar o desenvolvimento

humano Abordagens de Bordenave (1983) e Freire (1982) indicam a participaccedilatildeo

como direito das pessoas e caminho para auto-realizaccedilotildees ao inserir o indiviacuteduo em

discussotildees que o fazem assumir atitudes realizadoras para si Nesta pesquisa a

participaccedilatildeo eacute abordada como uma possibilidade para reduccedilatildeo do distanciamento

entre produtores rurais e as atividades de cooperativas rurais agraves quais satildeo

associados

Conforme Alencar (2001) as poliacuteticas de modernizaccedilatildeo da agricultura por

volta da deacutecada de 70 foram bastante seletivas em termos de distribuiccedilatildeo de

recursos Do mesmo modo se deram as poliacuteticas de pesquisa e assistecircncia teacutecnica

Neste sentido entre outros resultados houve maior emergecircncia de diferenciaccedilatildeo

social com a formaccedilatildeo de categorias distintas de produtores e trabalhadores rurais

Na populaccedilatildeo rural ldquopara alguns significou proletarizaccedilatildeo ou eminecircncia de

desintegraccedilatildeo de suas unidades de produccedilatildeo para outros abertura de novas

oportunidades e crescimentordquo A partir daiacute diferentes estrateacutegias foram sendo

estabelecidas para orientar programas que tivessem como objetivo incluir

segmentos sociais colocados agrave margem desse ldquonovo modelo de desenvolvimentordquo

Nessa eacutepoca algumas organizaccedilotildees natildeo governamentais fundamentadas

nas obras de Paulo Freire jaacute desenvolviam metodologias de intervenccedilatildeo centradas

na ldquoparticipaccedilatildeordquo de pequenos produtores na formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de

projetos de desenvolvimento (ALENCAR 2001) A partir daiacute ldquoparticipaccedilatildeordquo foi

54

incorporada em outras experiecircncias O foco comum passou a ser ldquoparticipaccedilatildeo das

pessoasrdquo Entretanto conforme Alencar (2001) as estrateacutegias adotadas de

participaccedilatildeo variam de acordo com a visatildeo que os agentes possuem do papel ou

natureza da intervenccedilatildeo Eacute dessa visatildeo que resultam diferentes dimensotildees e

significados atribuiacutedos agrave participaccedilatildeo

Portanto o conceito de participaccedilatildeo admite diferentes conotaccedilotildees e pode ser

visto como um termo ambiacuteguo nas ciecircncias sociais Dentre os significados atribuiacutedos

por Oakley e Marsden citados em Alencar (2001) estatildeo associados agrave participaccedilatildeo o

sentido de colaboraccedilatildeo desenvolvimento de comunidade organizaccedilatildeo e

empowering (aquisiccedilatildeo de poder) Ao analisar diferentes projetos de

desenvolvimento esses autores supracitados atribuiacuteram novos sentidos ao temo

participaccedilatildeo

1 Envolvimento voluntaacuterio dos indiviacuteduos nos programas sem contudo participarem da sua elaboraccedilatildeo

2 Sensibilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos aumentando-lhes a responsabilidade para responderem as propostas de programas de desenvolvimento e encorajando iniciativas locais

3 Envolvimento dos indiviacuteduos no processo de tomada de decisatildeo na implementaccedilatildeo dos programas na divisatildeo dos benefiacutecios e na avaliaccedilatildeo das decisotildees tomadas

4 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com o direito e dever dos indiviacuteduos participarem na soluccedilatildeo dos seus problemas terem responsabilidade de assegurar a satisfaccedilatildeo de suas necessidades baacutesicas mobilizarem recursos locais e sugerirem novas soluccedilotildees bem como de criarem e manterem as organizaccedilotildees locais

5 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com a iniciativa de pessoas e grupos visando a soluccedilatildeo de seus problemas e a busca de autonomia

6 Organizaccedilatildeo de esforccedilos de pessoas excluiacutedas para que elas aumentem o controle sobre recursos necessaacuterios ao desenvolvimento e sobre as instituiccedilotildees que regulam a distribuiccedilatildeo desses recursos (ALENCAR 2001 P21)

Segundo Bordenave (1983) participar eacute uma necessidade humana e

universal cuja praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades natildeo menos baacutesicas

tais como a interaccedilatildeo com os demais homens a auto-expressatildeo o desenvolvimento

do pensamento reflexivo o prazer de criar e recriar coisas e ainda a valorizaccedilatildeo de

si mesmo pelos outros

Portanto Bordenave (1983) vecirc na participaccedilatildeo duas bases complementares

uma base afetiva ndash participamos porque sentimos prazer em fazer coisas com

outros e uma base instrumental ndash participamos porque fazer coisas com outros eacute

55

mais eficaz e eficiente que fazecirc-las sozinhos Esta uacuteltima afirmativa conota os

aspectos da participaccedilatildeo individual em accedilotildees coletivas discutidos neste trabalho e

que fundamentam o entendimento dos dilemas da participaccedilatildeo no cooperativismo

Conforme Pereira citado em Bento (1993) A participaccedilatildeo advem de uma situaccedilatildeo ou problema existente a partir do qual as pessoas unem-se para a) apresentar ideacuteias discutir e contribuir conforme a possibilidade de cada um para a soluccedilatildeo desses problemas ou dessa situaccedilatildeo e b) contrapor ou responder a essa situaccedilatildeo ou problema existente Portanto participar eacute um ato coletivo (BENTO 1993 p32)

Das diferentes aneiras de participar Bordenave (1983) apresenta conceitos

sobre tipos de participaccedilatildeo dentre os quais define participaccedilatildeo voluntaacuteria cujo

grupo eacute criado pelos proacuteprios participantes que definem sua proacutepria organizaccedilatildeo e

estabelecem seus objetivos e meacutetodos de trabalho Neste caso satildeo exemplos os

sindicatos livres as associaccedilotildees profissionais as cooperativas e os partidos

poliacuteticos Entretanto segundo este autor nem sempre a participaccedilatildeo voluntaacuteria surge

como iniciativa dos membros do grupo agraves vezes trata-se de uma participaccedilatildeo

provocada por agentes externos que ajudam outros a realizarem seus objetivos ou

os manipulam a fim de atingir seus proacuteprios objetivos previamente estabelecidos

Para Bordenave (1983) no processo de participaccedilatildeo eacute possiacutevel fazer parte sem

tomar parte Se refere a niacuteveis de participaccedilatildeo cujas diferenccedilas se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte

Deste modo Bordenave (1983) mostra graus de participaccedilatildeo em que os

membros de uma organizaccedilatildeo podem atuar sob o ponto de vista de maior ou menor

acesso aos controles das decisotildees dos membros Conforme o autor a participaccedilatildeo

varia de niacutevel da informaccedilatildeo agrave autogestatildeo sendo que o menor grau de participaccedilatildeo

eacute o da informaccedilatildeo Neste caso os dirigentes informam os membros da organizaccedilatildeo

sobre as decisotildees tomadas Contudo haacute casos de lideranccedilas que natildeo fazem o

mesmo Neste niacutevel a reaccedilatildeo dos membros agraves informaccedilotildees recebidas eacute observada

pelos agentes responsaacuteveis Estes por sua vez acatam as observaccedilotildees e

reconsideram uma decisatildeo inicial ou de modo contraacuterio natildeo aceitam o direito de

reaccedilatildeo

Em segundo niacutevel acontece a consulta facultativa em que a administraccedilatildeo

pode se quiser e quando quiser consultar outros membros solicitando criacuteticas

56

sugestotildees ou dados para resolver algum problema Quando a consulta eacute obrigatoacuteria

os integrantes devem ser consultados em certas ocasiotildees embora a decisatildeo final

pertenccedila ainda aos diretores

No niacutevel da elaboraccedilatildeorecomendaccedilatildeo os membros do grupo elaboram

propostas e recomendam medidas que a administraccedilatildeo aceita ou rejeita mas

sempre se obrigando a justificar sua posiccedilatildeo (Bordenave 1983)

Outro niacutevel considerado eacute o da co-gestatildeo sobre o qual

a administraccedilatildeo da organizaccedilatildeo eacute compartilhada mediante mecanismos de co-decisatildeo e colegialidade Aqui os administrados exercem uma influecircncia direta na eleiccedilatildeo de um plano de accedilatildeo e na tomada de decisotildees Comitecircs conselhos ou outras formas colegiadas satildeo usadas para tomar decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

O sexto niacutevel eacute o da delegaccedilatildeo

Eacute um grau de participaccedilatildeo onde os gestores tecircm autonomia em certos campos ou jurisdiccedilotildees antes reservados eles A administraccedilatildeo define certos limites dentro dos quais os administradores tecircm poder de decisatildeo Ora para que haja delegaccedilatildeo real os delegados devem possuir completa autoridade sem precisar consultar seus superiores para tomarem as decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

Ainda segundo Bordenave o niacutevel mais avanccedilado de participaccedilatildeo eacute o da

autogestatildeo neste

O grupo determina seus objetivos escolhe seus meios e estabelece os controles pertinentes sem referecircncia a uma autoridade externa Na autogestatildeo desaparece a diferenccedila entre administradores e administrados visto que nela ocorre a auto administraccedilatildeo (BORDENAVE 1983 p32)

Portanto parte da efetividade da participaccedilatildeo depende do comportamento

dos indiviacuteduos frente agraves diferentes situaccedilotildees em que satildeo envolvidos Deste modo

quando as pessoas satildeo envolvidas a participaccedilatildeo eacute percebida como uma estrateacutegia

para criaccedilatildeo de novas oportunidades e as pessoas por elas mesmas se

comprometem a apoiar as accedilotildees identificadas como melhor opccedilatildeo Para isso

conforme Alencar (2001) a forma de intervenccedilatildeo tem de ser um conjunto de accedilotildees

praticadas por agentes externos mas deve ser feita num caraacuteter educativo em que

a populaccedilatildeo alvo seja estimulada a desenvolver a habilidade de diagnosticar e

analisar seus problemas decidir coletivamente sobre as accedilotildees para solucionaacute-los

executar tais accedilotildees e avaliaacute-las

Oakley citado em ASBRAER (2007) faz uma distinccedilatildeo importante sobre

participaccedilatildeo como meio ou como fim na literatura e na praacutetica

Quando participaccedilatildeo eacute interpretada como meio descreve uma condiccedilatildeo e quando eacute interpretada como fim refere-se a um processo que tem como resultado participaccedilatildeo significativa Ateacute recentemente a noccedilatildeo que dominava a

57

praacutetica da participaccedilatildeo tinha sido efetivada por meio da criaccedilatildeo de organizaccedilotildees formais como as cooperativas e associaccedilotildees de agricultores Nos programas que foram realizados usando conceito de participaccedilatildeo nesses moldes certas melhorias econocircmicas foram realizadas mas poucos conseguiram participaccedilatildeo significativa Participaccedilatildeo como fim eacute a consequumlecircncia do processo de empoderamento e libertaccedilatildeo (ASBRAER 2007 p 36)

A ideacuteia contida no sentido da participaccedilatildeo como fim estaacute articulada ao

conceito de conscientizaccedilatildeo que se refere ao processo onde os indiviacuteduos passam a

compreender a realidade social que molda suas vidas bem como a capacidade que

possuem de transformar tal realidade (ALENCAR 2001) vencendo o que Freire

(1976) chama de ldquocultura do silecircnciordquo

Na cultura do silecircncio os indiviacuteduos dependentes ou dominados acham-se

semimudos ou mudos ou seja satildeo proibidos de participar criativamente na

transformaccedilatildeo da sociedade e por conseguinte proibidos de ser (Freire 1976) Esta

cultura do silecircncio eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia do

dominado com o dominador

A liberdade e oportunidade de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos nos niacuteveis

propostos em Bordenave (1983) portanto vatildeo depender de que seja superado a

ldquocultura do silecircnciordquo e que a estrutura da organizaccedilatildeo em que os indiviacuteduos se

associam utilize pelos seus teacutecnicos a intervenccedilatildeo de caraacuteter educativo a fim de

identificar juntos as limitaccedilotildees necessidades e expectativas de todosEntretanto os

dirigentes que estatildeo conduzindo a organizaccedilatildeo devem aceitar e desejar que essa

mudanccedila ocorra

Alencar (2001) mostra que a superaccedilatildeo da cultura do silecircncio estaacute

relacionada ao processo de constituiccedilatildeo da autoconfianccedila que eacute um conceito

definido por Galtung (1980) Segundo este autor autoconfianccedila eacute um processo em

que para construccedilatildeo de novas formas de interaccedilatildeo social deve-se destruir as

velhas formas de interaccedilatildeo iniciando novos padrotildees de cooperaccedilatildeo com a

destruiccedilatildeo do centro de monopoacutelio da interaccedilatildeo e das organizaccedilotildees

A autoconfianccedila eacute assim uma caracteriacutestica que as pessoas apresentam em

seu comportamento individual que transfere ao grupo e lhes daacute a capacidade de

negociaccedilatildeo e de reivindicaccedilatildeo Eacute a auto-expressatildeo sugerida em Bordenave (2003)

Portanto conforme estes autores a liberdade individual fundamenta a participaccedilatildeo eacute

um meio em que se consegue resolver problemas que ao indiviacuteduo parecem

insoluacuteveis se contar soacute com suas proacuteprias forccedilas

58

Neste ponto de vista o cooperativismo eacute uma forma de expressatildeo da

participaccedilatildeo Uma cooperativa eacute formalmente definida como uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees e

necessidades econocircmicas sociais e culturais comuns Se baseiam em valores de

ajuda muacutetua responsabilidade democracia igualdade e solidariedade Deste modo

com esta ideologia formaram-se diferentes estruturas de organizaccedilotildees

cooperativas em certos casos grandes e complexas Entretanto as prioridades e

objetivos nessas organizaccedilotildees nem sempre satildeo direcionados agraves necessidades da

maioria de seus membros Todavia esses associados podem por si mesmos

munidos de autoconfianccedila criar oportunidades para assegurar sua participaccedilatildeo em

diferentes niacuteveis na organizaccedilatildeo Natildeo menos do que fazer valer o princiacutepio da auto

gestatildeo

322 A Participaccedilatildeo em cooperativas

O cooperativismo tem como princiacutepio a proposta do mais elevado niacutevel de

participaccedilatildeo conforme descriccedilotildees de Bordenave (2003) ateacute atingir a auto gestatildeo

Deste modo os valores do cooperativismo se materializariam agrave medida que a

organizaccedilatildeo conseguisse incluir participativamente os soacutecios dotando-os de

informaccedilotildees e permitindo interaccedilotildees no planejamento das accedilotildees e na tomada de

decisotildees

Geralmente a discussatildeo em torno da participaccedilatildeo de associados em

organizaccedilotildees cooperativas natildeo mostra operacionalmente como se efetiva a praacutetica

participativa Schneider (1999) Alencar (2001) e Perius (1983) aprofundaram um

pouco mais nesse assunto levantando importantes consideraccedilotildees sobre a conduccedilatildeo

da participaccedilatildeo no processo de desenvolvimento acompanhamento e fiscalizaccedilatildeo

da organizaccedilatildeo cooperativa pelos seus associados

Embora os princiacutepios norteiem a conduccedilatildeo do cooperativismo cada

organizaccedilatildeo cooperativa manteacutem caracteriacutesticas proacuteprias no seu processo de

gestatildeo que satildeo regulamentadas pelos seus estatutos sociais Formalmente a

participaccedilatildeo nas decisotildees em cooperativas brasileiras eacute absolutamente igualitaacuteria

ou seja todo associado tem direito a um voto independente do volume de produccedilatildeo

ou serviccedilos prestados agrave cooperativa Neste caso a participaccedilatildeo oficial dos soacutecios

estaacute apoiada na Lei 5764 do cooperativismo que estabelece as diretrizes gerais e

59

por sua vez tem suas bases convergentes com as normas da ACI Deste modo

todos os associados participam da gestatildeo representados pelos membros que

compotildeem os oacutergatildeos de administraccedilatildeo fiscalizaccedilatildeo ou do comitecirc educativo

(SESCOOP 2008) Esses representantes satildeo eleitos pelos demais soacutecios que

participam anualmente das Assembleacuteias Gerais onde se concretizam as decisotildees

mais importantes em cooperativas Pela lei do cooperativismo brasileiro os oacutergatildeos

de gestatildeo se organizam da seguinte maneira

Art 47 - A sociedade seraacute administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administraccedilatildeo composto exclusivamente de associados eleitos pela Assembleacuteia Geral com mandato nunca superior a 4 (quatro) anos sendo obrigatoacuteria a renovaccedilatildeo de no miacutenimo 13 (um terccedilo) do Conselho de Administraccedilatildeo

Art 56 - A administraccedilatildeo da sociedade seraacute fiscalizada assiacutedua e minuciosamente por um Conselho Fiscal constituiacutedo de 3 (trecircs) membros efetivos e 3 (trecircs) suplentes todos associados eleitos anualmente pela Assembleacuteia Geral sendo permitida apenas a reeleiccedilatildeo de 13 (um terccedilo) dos seus componentes (OCB 2007 p1)

No trabalho sobre o cooperativismo de leite em diferentes paiacuteses Martins et

alli (2004) retratam experiecircncias de sucesso e descrevem a dinacircmica do processo

de participaccedilatildeo de produtores na gestatildeo dessas cooperativas No exemplo da

Fonterra na Nova Zelacircndia para eleiccedilatildeo do Corpo de Diretores os produtores

recebem uma ceacutedula pelos correios juntamente com um viacutedeo que conteacutem o

curriculum vitae e as propostas dos candidatos O sistema adotado requer que os

cooperados ordenem suas preferecircncias entre os onze candidatos inscritos de um a

onze Neste caso entendem que eacute melhor ordenar do que votar em apenas um A

regra eleitoral nesta cooperativa eacute de que cada produtor recebe uma ceacutedula para

cada uma tonelada de leite soacutelido produzido ao longo de um ano O espaccedilo de

representaccedilatildeo dos produtores eacute o Conselho de Acionistas que consiste de 45

representantes Neste caso cada membro representa um setor previamente definido

conforme a localizaccedilatildeo em todo o paiacutes Deste modo nesta cooperativa o nuacutemero de

votos por associado para participaccedilatildeo nas decisotildees da cooperativa eacute proporcional

ao volume de produccedilatildeo Esse meacutetodo jaacute eacute comum em cooperativas de produccedilatildeo

A DFA ndash Cooperativa Dairy Farmers of Ameacuterica fruto da fusatildeo de quatro

cooperativas americanas conta com 24124 cooperados Segundo Martins et alli

(2004) os interesses dos cooperados satildeo representados por meio de trecircs canais na

seleccedilatildeo do representante no Conselho Regional na reuniatildeo anual e indiretamente

na escolha do Conselho de Diretores O Conselho de Diretores eacute formado por 51

60

produtores eleitos entre seus pares por um mandato de dois anos Este conselho

tem a finalidade de estabelecer as grandes linhas diretivas da companhia definem

as poliacuteticas de governanccedila os rumos a serem seguidos a estrutura financeira o

orccedilamento e as prioridades de novos investimentos A este conselho estatildeo

vinculados seis Comitecircs de orccedilamento de mercado fluido de valor agregado de

auditoria e o de relaccedilotildees governamentais Desta forma estatildeo representados os

interesses dos cooperados localizados em sete regiotildees geograacuteficas diferentes dos

Estados Unidos Os encontros anuais ocorrem no Foacuterum para tomada das grandes

decisotildees da Cooperativa Conforme Martins et alii (2004) no uacuteltimo Foacuterum realizado

foi registrada a participaccedilatildeo de 1150 produtores entre delegados eleitos diretores

liacutederes de conselhos regionais e convidados Como se verifica o cooperado

participa de um processo do tipo democracia representativa

Em outra cooperativa a Campina Melkunie localizada nos Paiacuteses Baixos

tem como associados 6823 produtores e espacialmente distribuiacutedos num percentual

de 75 residentes na Holanda 24 na Alemanha e o restante (1) na Beacutelgica

Conforme Martins et alii (2004) satildeo eleitos soacutecio-representantes que integram o

Comitecirc de Departamentos e representantes no Conselho dos Membros Todos os

soacutecios pertencem a um departamento regional e se reuacutenem duas vezes por ano

quando satildeo discutidas questotildees relevantes da cooperativa A cada trecircs anos haacute

eleiccedilatildeo e o nuacutemero de membros de um departamento depende do volume de leite

produzido em cada departamento O direito de voto para cada cooperado estaacute

baseado no volume de leite que este entrega nesta cooperativa Desta forma a

participaccedilatildeo do associado estaacute condicionada tambeacutem ao volume de produccedilatildeo tanto

individual quanto da regiatildeo (departamento) em que o produtor estaacute localizado Essas diferentes cooperativas tecircm em comum um grande nuacutemero de

associados e uma estrutura complexa de gestatildeo em que os produtores estatildeo

distantes espacialmente dos dirigentes Portanto essa estrutura requer alto niacutevel de

organizaccedilatildeo e aacutegeis canais de comunicaccedilatildeo pois caso seja diferente natildeo seria

possiacutevel que os associados acompanhassem as accedilotildees dessas cooperativas

Em se tratando de organizaccedilatildeo cooperativa Schneider (1999) apresenta a

concepccedilatildeo de que participaccedilatildeo natildeo se mede somente por criteacuterios quantitativos

como taxas de presenccedila em assembleacuteias eleiccedilatildeo dos dirigentes e em registros de

utilizaccedilatildeo de serviccedilos Para este autor deve-se complementar com outros

61

indicadores pois a participaccedilatildeo do soacutecio natildeo se limita ao voto Esta deve se dar

tambeacutem na esfera estrateacutegica das accedilotildees e na formulaccedilatildeo de proposiccedilotildees

Schneider (1999) sugere como novas formas de participaccedilatildeo nas etapas

anterior e posterior agrave tomada de decisotildees a organizaccedilatildeo de pequenos grupos

locais setoriais profissionais ou por tipo de produccedilatildeo O autor acredita que os

pequenos grupos apresentam vantagens para uma participaccedilatildeo mais efetiva nas

reuniotildees o que estaacute em sintonia com os argumentos de Olson (1999) Deste modo

Schneider (1999) mostra as vantagens dos pequenos grupos no fomento agrave

participaccedilatildeo

Permite atividades conduzidas mais informalmente predominam as relaccedilotildees pessoais que envolvem a totalidade da pessoa na interaccedilatildeo haacute maior controle social reciacuteproco entre eles constrangendo os indecisos ou pouco motivados a comparecer haacute a possibilidade de dimensionar as atividades e os planos da cooperativa em acircmbito local e o encaminhamento agrave direccedilatildeo de propostas mais realistas e efetivamente adequadas agraves peculiaridades e agraves carecircncias de cada localidade surgem oportunidades de cooperaccedilatildeo desconhecidas na cuacutepula da grande organizaccedilatildeo cooperativa melhorando e inovando a capacidade produtiva (SCHNEIDER 1999 p 241-242)

Deste modo Schneider (1999) conseguiu mostrar de forma concisa as

caracteriacutesticas positivas do comportamento de associados quando organizados em

comitecircs ou pequenos nuacutecleos De certa forma isso ilustra tambeacutem indiviacuteduos com

autonomia de participaccedilatildeo e autoconfianccedila desenvolvida Ao mesmo tempo mostra

a relaccedilatildeo de auto-coerccedilatildeo que se desenvolve no grupo Quando isso acontece

mesmo em grandes cooperativas eacute de se esperar que por meio dos nuacutecleos as

pessoas consigam influenciar no planejamento de accedilotildees para a organizaccedilatildeo com

suas opiniotildees Essa forma de conduzir portanto teraacute como resultado maiores

possibilidades de que o consenso entre os participantes da organizaccedilatildeo tanto

dirigentes quanto os outros membros esteja mais proacuteximo do que o dissenso em

relaccedilatildeo agraves propostas que surgem quando satildeo elaboradas somente pela direccedilatildeo

Outra forma de participaccedilatildeo de associados deve se dar tambeacutem no controle e

acompanhamento da execuccedilatildeo das decisotildees tomadas Isso requer uma atuaccedilatildeo

constante No entanto a dinacircmica operacional da estrutura empresarial de uma

cooperativa natildeo permite que os mecanismos de controle e acompanhamento sigam

no mesmo ritmo A especializaccedilatildeo proacutepria das necessidades da cooperativa exige

da fiscalizaccedilatildeo igual niacutevel de especializaccedilatildeo de associados que se interesse em

atuar nesse aspecto da participaccedilatildeo Essa especializaccedilatildeo entretanto eacute pouco

encontrada na maior parte do quadro de associados Essa loacutegica eacute confirmada

62

tambeacutem por Lickert citado em Schneider (1999) ao dizer que a participaccedilatildeo exige

uma estrutura apropriada e habilidades das quais a maioria da populaccedilatildeo carece

Uma variaacutevel ainda observada em Schneider (1999) que influi na participaccedilatildeo

cooperativa e convergente com a opiniatildeo de Olson (1999) foi identificar fatores

psicoloacutegicos que influenciam na decisatildeo de participar Para Schneider (1983) o

prestiacutegio percebido na cooperativa expressa o significado emocional de participar

coletivamente ao se comparar com outras organizaccedilotildees Por outro lado participar

dessas organizaccedilotildees por si cria tensotildees especialmente porque exige

comparativamente um alto niacutevel de racionalidade de disciplina e neutralidade

afetiva o que depende de fatores comportamentais agraves vezes conflitantes para os

indiviacuteduos

As possibilidades acerca de participaccedilatildeo e potencialidades do indiviacuteduo em

ldquotransformaccedilatildeordquo quando este se torna um ser livre e autoconfiante satildeo indicadores

de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos seja em cooperativa ou em outra forma de accedilatildeo

coletiva

Conforme mostrado na literatura acerca dessa temaacutetica bem como na

demonstraccedilatildeo das praacuteticas de participaccedilatildeo em cooperativas conforme as

complexas formas de gestatildeo adotadas por essas organizaccedilotildees a participaccedilatildeo de

produtores nestess modelos deve ser cuidadosamente pensada e acompanhada

para que a proposta hochdaleana da auto gestatildeo e participaccedilatildeo natildeo fique somente

na origem ideoloacutegica desse movimento Portanto como pode ser observado eacute

importante considerar que a participaccedilatildeo se efetiva num processo com diversas

etapas que exigem estrateacutegias e modo de participar diferentes

333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo

Os benefiacutecios da participaccedilatildeo satildeo inquestionaacuteveis mas natildeo se pode esperar

que em absolutamente todas as organizaccedilotildees consiga-se ter essa praacutetica com a

mesma efetividade Assim como visto estas tecircm formas distintas e agraves vezes

contraditoacuterias de serem conduzidas Por essa razatildeo continuando a reflexatildeo sobre

participaccedilatildeo eacute oportuno mostrar os riscos de tratar esse tema sem entender os

possiacuteveis desvios que podem ocorrer na praacutetica da utilizaccedilatildeo desse princiacutepio

democraacutetico na autogestatildeo cooperativa

63

Bordenave (1983) expressou a potencialidade da participaccedilatildeo mas

demonstra tambeacutem que haacute risco de ter seu sentido esvaziado antes de sua

contribuiccedilatildeo para a democracia verdadeira Amodeo (2007) baseada numa

conferecircncia realizada na universidade de Manchester Inglaterra com o tema ldquoa

tirania da participaccedilatildeordquo apresenta questotildees relevantes discutidas no evento para

chamar a atenccedilatildeo sobre as formas de utilizaccedilatildeo do discurso da participaccedilatildeo em

praacuteticas diversas e distantes do seu real significado

O discurso da participaccedilatildeo estaria sendo utilizado para agendas poliacuteticas distintas estaria impondo relaccedilotildees de poder em vez de as eliminar ao transformar a participaccedilatildeo numa simples aplicaccedilatildeo de tecnologias sociais estaria sendo negligenciado quando restringido agraves escalas locais esquecendo seus viacutenculos com processo e institucionalidades mais amplas estaria encobrindo o fato da participaccedilatildeo natildeo ser uma panaceacuteia e apresentar as suas proacuteprias tensotildees praacuteticas e teoacutericas (KESBY 2005 CITADO EM AMODEO 2007 P56)

Sabendo-se de formas contraditoacuterias que se pode usar a participaccedilatildeo tem-se

aqui o cuidado de natildeo sombrear toda potencialidade que existe nessa forma de

interagir Conforme Amodeo (2007) qualificar a participaccedilatildeo como tirania eacute um ato

chocante aos atores vinculados ao mundo da participaccedilatildeo tanto quando existe uma

visatildeo romacircntica dos processos participativos quanto quando existe a necessidade

de validaccedilatildeo poliacutetica da participaccedilatildeo

Portanto ao se questionar as formas de participaccedilatildeo e suas reais

consequumlecircncias conforme mostra Amodeo (2007) existe o perigo de ser mal

interpretado como se propusesse o retorno a modelos de dominaccedilatildeo conquanto

essa discussatildeo eacute uacutetil para fazer uma anaacutelise criacutetica e consciente para separar o

discurso da praacutetica

Para Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) as ldquotiraniasrdquo

identificadas no estudo tinham trecircs origens principais as derivadas da tomada de

decisotildees e do controle a tirania do grupo e a tirania como meacutetodo Assim estes

autores as definiram

a) As tiranias derivadas da tomada de decisotildees e do controle tentavam ser resumidas nesta pergunta ldquoos facilitadores da participaccedilatildeo deixam de lado os processos existentes e os processos legiacutetimos de tomada de decisotildeesrdquo () haacute uma tendecircncia verificada de promoccedilatildeo da legitimidade de determinados processos de intervenccedilatildeo com o consequumlente cumprimento de determinadas agendas e objetivos especiacuteficos desconhecendo as instacircncias e interesses genuinamente locais b) No argumento da tirania do grupo questionava se a dinacircmica dos grupos faria com que as decisotildees participativas reforccedilassem os interesses dos que jaacute eram poderosos O principal argumento criacutetico satildeo as falhas dos processos participativos em lidar com as desigualdades internas agraves comunidades tendendo muitas vezes a reforccedilar as relaccedilotildees de poder preexistentes

64

c) por fim a conclusiva da tirania do meacutetodo eacute que agrave medida que as relaccedilotildees de poder internas a comunidade natildeo sofrem transformaccedilotildees draacutesticas aqueles tradicionalmente excluiacutedos dos possessos de decisatildeo e controle ficam deslegitimados de participar dos benefiacutecios dos processos participativos jaacute que eles seratildeo dominados pelos grupos que tradicionalmente deteacutem mais poder (AMODEO 2007 p57-58)

Essas evidecircncias portanto satildeo orientadoras para se ter o cuidado de

ldquoenfrentar as encruzilhadas e armadilhasrdquo que o processo participativo pode

apresentar a fim de evitar que as propostas da participaccedilatildeo fiquem restritas ao

discurso As observaccedilotildees registradas pelos autores procedem com loacutegica aos

argumentos tratados na teoria da escolha racional pois concatenam com o

comportamento de indiviacuteduos em grupos latentes ou heterogecircneos Nesse caso o

fato de que em grupos grandes a contribuiccedilatildeo de um indiviacuteduo natildeo seja percebida

pelos demais membros da accedilatildeo coletiva a possibilidade de ocorrer tambeacutem uma

sobre-exploraccedilatildeo se eleva De outro modo os argumentos satildeo coerentes com os

riscos de que a proposta de auto-gestatildeo quando natildeo se tem o grupo homogecircneo

pode ficar no discurso

Outras distorccedilotildees sobre o processo participativo apresentadas no mesmo

estudo registrado por Amodeo (2007) mostraram tambeacutem que os ideais da

participaccedilatildeo podem ser constrangidos por metas burocraacuteticas formais ou informais

propostas por contextos institucionais De modo diferente os sentimentos

pensamentos e comportamentos das pessoas satildeo influenciados pela presenccedila real

imaginaacuteria ou impliacutecita dos outros membros do grupo Ainda observaram que os

processos participativos podem levar as pessoas a tomar decisotildees coletivas que

apresentam mais riscos do que as que teriam tomado individualmente

Todos esses argumentos se aproximam das evidecircncias encontradas na tese

de Olson (1999) sobre o comportamento dos indiviacuteduos Portanto do ponto de vista

do cooperativismo essas reflexotildees satildeo importantes orientaccedilotildees para se resguardar

e impedir que os ldquofenocircmenos tiranosrdquo identificados em processos de participaccedilatildeo

sejam reconhecidos e cuidadosamente tratados para natildeo contrariar os princiacutepios da

doutrina cooperativista Pois estes princiacutepios unificam as organizaccedilotildees cooperativas

sem considerar possiacuteveis desvios como os apresentados nesta etapa da pesquisa

Outro ponto eacute que se as caracteriacutesticas do perfil do ldquohomus cooperativusrdquo (Pinho

1983) fossem comum na grande maioria dos membros associados o

comportamento destes se apresentaria favoravelmente coercitivo para inibir os

65

ldquofenocircmenos tiranos da participaccedilatildeordquo Ou concomitante a isso os princiacutepios do

cooperativismo seriam suficientes para garantir que esses fenocircmenos natildeo

ocorressem em cooperativas

Diante do exposto os dilemas de accedilatildeo coletiva apresentados por Olson

(1999) ocorrem porque natildeo se tem certeza de como o indiviacuteduo iraacute se comportar

uma vez que a natureza da cooperaccedilatildeo humana ainda natildeo foi devidamente

compreendida Entatildeo como saber como as pessoas vatildeo agir Quando se tem um

ambiente de elevado capital social as relaccedilotildees de confianccedila muacutetua favorecem as

interaccedilotildees e haacute uma menor incidecircncia de conflitos Essa perspectiva seraacute tratada na

seccedilatildeo seguinte

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema

A formaccedilatildeo de capital social tem na cooperaccedilatildeo um dos elementos primaacuterios

que influenciam o fortalecimento de accedilotildees coletivas Correa (2003) mostra que

regiotildees dotadas de elevados iacutendices de capital social estariam assim propensas agrave

cooperaccedilatildeo e participaccedilatildeo o que facilitaria a articulaccedilatildeo entre os diferentes atores

sociais Este fortaleceria a coesatildeo da comunidade melhoraria a qualidade das

decisotildees e facilitaria o alcance dos objetivos de interesse comum Do mesmo modo

conforme Colleman citado em Correa (2003) o capital social seria tambeacutem uma

resposta aos desafios da sociedade moderna sobreposto ao comportamento

individualista em que cada um age para alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

Todos os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais que se formam numa comunidade

contribuem para fortalecer o capital social Deste modo para Bueno (2004) as

soluccedilotildees cooperativas que uma sociedade alcanccedila formam um ldquoestoquerdquo de capital

social no sentido de que essas soluccedilotildees ao gerar confianccedila inter-pessoal agem

como um insumo na produccedilatildeo sem o qual muitos empreendimentos coletivos natildeo

podem ser realizados Deste modo capital social conforme Bialoskorski Neto

(2001) poderia ser mensurado como uma eficaacutecia do coletivo

Para tanto a consecuccedilatildeo desse capital requer a participaccedilatildeo da comunidade

Nesse sentido Putnan (1996) por sua vez mostra que o capital social eacute um

elemento decisivo do desenvolvimento Este seria o grande responsaacutevel por incutir

nos seus membros haacutebitos de cooperaccedilatildeo solidariedade e espiacuterito puacuteblico

66

Entatildeo dentre outras definiccedilotildees sobre capital social Putnan (2002) inclui as

redes e normas que orientam accedilotildees coletivas a partir do grau de confianccedila que

pessoas de uma determinada regiatildeo tecircm nos resultados coletivos que se obtecircm a

partir da cooperaccedilatildeo Assim o autor o define capital social

Caracteriacutesticas da organizaccedilatildeo social como confianccedila normas e sistemas que contribuam para aumentar a eficiecircncia da sociedade facilitando as accedilotildees coordenadas na referecircncia de Ostron ldquoassim como outras formas de capital o capital social eacute produtivo possibilitando a realizaccedilatildeo de certos objetivos que seriam inalcanccedilaacuteveis se ele natildeo existisserdquo (PUTNAN 1996 P177)

Hirshman citado em Arauacutejo (2003) se refere a capital social no sentido de que

este aumenta dependendo da intensidade do seu uso Para este autor praticar

cooperaccedilatildeo e confianccedila produz mais cooperaccedilatildeo e confianccedila e logo mais

prosperidade corroborando a formaccedilatildeo de um ldquoestoquerdquo como se referiu Bueno

(2004) Deste modo as sociedades fortes em capital social natildeo geram apenas

riqueza geram tambeacutem sentimentos de igualdade de justiccedila de bem comum O

crescimento econocircmico viria acompanhado de bens sociais direcionados para o

bem das pessoas e natildeo para o aumento da riqueza como um fim em si mesmo

Fukuyama citado em Arauacutejo (2003 ) acrescenta que satildeo os viacutenculos sociais

baseados no enraizamento no local em que as relaccedilotildees comerciais satildeo

fundamentadas na confianccedila e nas interaccedilotildees do dia a dia

Maciel (2003) distingue duas tendecircncias na literatura sobre capital social a

primeira de ordem socioloacutegica usando o argumento de que a confianccedila eacute produto de

padrotildees histoacutericos de longo prazo de associativismo engajamento ciacutevico e

interaccedilotildees extra familiares De outro modo a autora apresenta a natureza

econocircmica do capital social ao enfatizar que haacute o interesse proacuteprio de longo prazo

no caacutelculo de custos e benefiacutecios por atores maximizadores de ganhos por meio da

promoccedilatildeo de comportamento de confianccedila

No primeiro caso para a autora a confianccedila eacute sinocircnimo de amizade e na

tendecircncia econocircmica as relaccedilotildees de confianccedila reciprocidade e cooperaccedilatildeo satildeo

vistas para estreitar relaccedilotildees entre agentes e melhorar eficiecircncia econocircmica Neste

caso reforccedila-se o argumento de que mesmo em paiacuteses de economia mais

avanccedilada o mercado precisa ser complementado por relaccedilotildees natildeo mercantis

Entretanto Maciel (2003) observa que o conceito de capital social ou confianccedila soacute

teraacute maior capacidade explicativa para o ecircxito das iniciativas produtivas se sua

definiccedilatildeo for independente do resultado Deste modo a autora critica a visatildeo

67

instrumentalista de capital social como meio de se obter resultados econocircmicos

Mas se haacute uma visatildeo geral de que nas relaccedilotildees de fins econocircmicos existem outras

motivaccedilotildees natildeo econocircmicas que satildeo incentivos para os indiviacuteduos estas

motivaccedilotildees natildeo deveriam ser restritivas no conjunto das variaacuteveis que formam o

capital social nem mesmo censurar o sucesso econocircmico como resultado desse

capital O inverso tambeacutem poderia ocorrer Nas relaccedilotildees comerciais onde as

interaccedilotildees tendem a se repetir cria-se uma relaccedilatildeo de confianccedila e aiacute pode emergir

capital social Entatildeo este pode ser tanto meio quanto fim entre as instituiccedilotildees das

relaccedilotildees econocircmicas

Outra discussatildeo em torno de capital social estaacute vinculada agrave ambiguumlidade de

que ele pode ser criado ou natildeo Para Bueno (2002) e Araujo (2003) embora a

criaccedilatildeo de capital social pareccedila ser de fato um processo lento a adaptaccedilatildeo de

capital social jaacute existente para outros fins pode ser feita em periacuteodos de tempo bem

mais curtos e a principal forma de fazer essa adaptaccedilatildeo eacute mediante a participaccedilatildeo

dos indiviacuteduos pertencentes agrave comunidade Entretanto para esses autores

corroborando Putnam (2002) as tradiccedilotildees ciacutevicas capital social e praacuteticas

colaborativas por si soacute natildeo desencadeiam o progresso econocircmico Elas entretanto

se constituiriam em elementos importantes para as regiotildees enfrentarem e se

adaptarem aos desafios e oportunidades da realidade presente e futura O capital

social portanto favorece o desenvolvimento poreacutem natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para

que ele ocorra

Outra observaccedilatildeo pertinente eacute que mudanccedilas favoraacuteveis ao capital social

podem ser apresentadas em menor tempo Nesse tocante Putnam (2002) deu iniacutecio

a uma reflexatildeo sobre a influecircncia de haacutebitos culturais e valores na poacutes-modernidade

seus impactos sobre a democracia e possiacuteveis reflexos sobre a comunidade ciacutevica

de seu paiacutes Isso sustenta a observaccedilatildeo de que mudanccedilas desta natureza podem

influenciar ou natildeo na confianccedila muacutetua e participaccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas

respectivas accedilotildees coletivas

Putnam (2002) e Fukuyama (1996) citado em Arauacutejo (2003) enfatizam o

papel da confianccedila para a prosperidade de uma naccedilatildeo Para ambos confianccedila e a

expectativa de reciprocidade que pessoas de uma comunidade tecircm acerca do

comportamento dos outros baseada em normas partilhadas eacute a base para o capital

social De modo contraacuterio Putnan (1996) observa que o clima de desconfianccedila

68

muacutetua generalizada e ausecircncia de compromisso para com o bem puacuteblico inviabiliza

natildeo soacute a democracia como tambeacutem o desenvolvimento econocircmico Ambos os

modos portanto pautam na confianccedila a criaccedilatildeo do outro elemento que influencia o

desenvolvimento econocircmico e social das comunidades que eacute a cooperaccedilatildeo

Conforme Lynn Smith citado em Pinho (1966) haacute diversos tipos de cooperaccedilatildeo

Gradaccedilotildees que vatildeo das reaccedilotildees espontacircneas de ajuda - muacutetua tiacutepica sobretudo dos grupos primaacuterios considerada natildeo-contratual que ocorre entre vizinhos em busca de determinado fim sem que haja qualquer acordo sobre a maneira de prestaccedilatildeo desse auxiacutelio e entre ajuda contratual ou formal representada pelas cooperativas sindicatos sociedades por accedilotildees e outras que atuam de acordo com normas regulamentares previamente elaboradas pelos associados (PINHO 1966 P44)

Portanto a dinacircmica da construccedilatildeo e aumento do capital social ou o

contraacuterio estatildeo diretamente relacionados agrave capacidade ou incapacidade de

cooperar e de confiar

No cooperativismo a observaccedilatildeo desses dois aspectos satildeo premissas que

datildeo sustentaccedilatildeo agrave efetividade dessas organizaccedilotildees Para Taylor citado em Aguiar

(1991) a cooperaccedilatildeo individual sempre se daacute nas seguintes condiccedilotildees

a) que as opccedilotildees individuais sejam limitadas b) que os incentivos seletivos restringidos estejam bem definidos evidentes e sejam sustentados c) que se obtenha maior benefiacutecio e menor custo mediante o curso de accedilatildeo eleito do que com outras possibilidades d) que o marco de eleiccedilatildeo natildeo seja completamente novo senatildeo que se haja ocorrido anteriormente muitas situaccedilotildees similares (TAYLOR citado em AGUIAR 1991 P31)

Diante dessas exposiccedilotildees se identifica no relato da OCB (2007) que a origem

do desenvolvimento cooperativista no paiacutes se deve agrave presenccedila de fortes indiacutecios de

capital social nas comunidades de imigrantes e em relaccedilotildees horizontais

Os imigrantes trouxeram de seus paiacuteses de origem a bagagem cultural o trabalho associativo e a experiecircncia de atividades familiares comunitaacuterias que os motivaram a organizar-se em cooperativas A histoacuteria relata que os problemas de comunicaccedilatildeo adaptaccedilatildeo agrave nova cultura carecircncia de estradas e de escolas e discriminaccedilatildeo racial criaram entre eles laccedilos de coesatildeo resultando no nascimento de sociedades culturais e agriacutecolas Assim fundaram suas proacuteprias escolas e igrejas e iniciaram atividades de caraacuteter cooperativo como mutiratildeo para o preparo de solo construccedilatildeo de galpotildees casas colheitas (OCB 2007)

Essas evidecircncias estatildeo tambeacutem em Riedl e Vogt (2003) ao mostrarem no

histoacuterico do cooperativismo que os imigrantes e seus descendentes motivados pela

necessidade tiveram que cooperar para resolver os problemas comuns Neste

aspecto eacute constatada uma relaccedilatildeo onde se formaram redes horizontais de

cooperaccedilatildeo que satildeo a base do capital social Entretanto o desenvolvimento do

cooperativismo em outras regiotildees natildeo se deu da mesma forma no nordeste por

69

exemplo surgiu para as elites poderem controlar as cooperativas que foram

escolhidas pelos governos como mediadoras na aplicaccedilatildeo das poliacuteticas agriacutecolas

dessa forma elas reproduzem internamente as relaccedilotildees de poder daquela

sociedade

Em meio a essas contradiccedilotildees a filosofia do cooperativismo eacute convergente agrave

formaccedilatildeo de capital social tendo em vista que as cooperativas satildeo agentes de

desenvolvimento da regiatildeo em que satildeo formadas e por atuarem em um espaccedilo

delimitado pela rede estabelecida entre os cooperados Essa caracteriacutestica do

cooperativismo conforme Salanek Filho e Silva (2003) eacute determinada porque o

acesso de uma pessoa a um sistema cooperativo torna-a tambeacutem um agente

participante desse desenvolvimento tanto por sua capacidade de articulaccedilatildeo e de

influecircncia quanto pela forma como interage com os demais cooperados Nesse

caso conforme esses autores a interaccedilatildeo confianccedila definiccedilatildeo de objetivos comuns

e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees fundamentais para compreender o

processo cooperativista e a importacircncia relativa do capital social para o

desenvolvimento do local onde essas organizaccedilotildees se formam Reciprocamente

onde haacute capital social desenvolvido haacute facilidade de se formar associaccedilotildees

Os benefiacutecios da confianccedila capital social e cooperaccedilatildeo podem ser

considerados instrumentos de sustentaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Embora o conceito

de capital social tenha sido tratado muito depois de Owen essas premissas jaacute

estavam na impliacutecitas na sua proposta quando articulou sobre o cooperativismo

Portanto dentre importantes contribuiccedilotildees de diferentes correntes teoacutericas

conforme Carneiro (1981) talvez a maior delas tenha sido de Robert Owen

talvez a mais importante liccedilatildeo comunitaacuteria na sociedade moderna advenha da experiecircncia owenista onde se tentou conciliar o incentivo individual com uma eficiente decisatildeo no processo democraacutetico deste modo a sociedade para Owen deveria ser implantada para os fins da cooperaccedilatildeo (CARNEIRO 1981 P69)

Com esse pensamento instituiu-se o princiacutepio da co-operation na sua

idealizaccedilatildeo que se transformou no principal elemento da doutrina cooperativista

Para Owen a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo

importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos de

sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO1981) Esses

condicionamentos referidos por Owen seriam as sensaccedilotildees percepccedilotildees e os

conhecimentos que na sua visatildeo criam o motivo de accedilatildeo chamado vontade a qual

estimula o homem a agir e decidir suas accedilotildees

70

Carneiro (1981) evidencia ainda que Owen aguardava ardentemente a

reforma da sociedade e sua grande proposta de co-operaccedilatildeo estava subordinada a

novos conceitos de educaccedilatildeo psicologia e eacutetica social Na sua concepccedilatildeo o

comportamento do homem seria definido por um composto cujo caraacuteter eacute formado

por sua constituiccedilatildeo ou formaccedilatildeo durante o nascimento e pelo efeito das

circunstacircncias externas desde o nascimento ateacute a morte Essas determinantes

continuam sendo discutidas pelos pesquisadores das ciecircncias sociais e muitos

deles corroboram que o comportamento dos indiviacuteduos eacute influenciado pelo meio e

este resulta das relaccedilotildees entre os pares Essa afirmativa exposta por Owen citada

em Carneiro (1981) eacute tambeacutem presente em Arauacutejo (2003) Putnan (2002) e Douglas

(1998) embora de forma diferente foi descartado por Olson (1999) e Elster (1994)

entre outros autores que discutem o comportamento social

Talvez essas prerrogativas justifiquem e ao mesmo tempo mostrem todo o

creacutedito que deve ser depositado agrave importacircncia e necessidade de fortalecimento do

cooperativismo com os dilemas aqui apresentados inibidos pela interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos nas premissas que se formam o capital social Pois nenhuma outra forma

de organizaccedilatildeo da economia foi proposta para substituir o modelo do cooperativismo

que ao longo de mais de um seacuteculo vem resistindo a diferentes mudanccedilas

ocorridas na sociedade

Dumont (2005) indica que a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das

outras civilizaccedilotildees e culturas Portanto eacute importante observar as necessidades de

correccedilotildees ponderando as particularidades de cada lugar

Natildeo haacute uma configuraccedilatildeo comum de ideacuteias e valores existe uma continuidade histoacuterica e intercomunicaccedilatildeo - e de outra ndash a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das outras civilizaccedilotildees e culturas As ideacuteias ou categorias de pensamento especificamente modernas aplicavam-se mal agraves outras sociedades Portanto eacute interessante estudar o nascimento o lugar ou funccedilatildeo dessas categorias que o autor se refere ao indiviacuteduo agrave poliacutetica e agrave moralidade para apurar como ela se diferencia e finalmente que papel desempenha na configuraccedilatildeo global (DUMONT 1985 P22-23)

Portanto na nova ordem econocircmica os novos modelos de accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidos jaacute satildeo respostas agraves necessidades de observar o

modelo de cooperativismo para o qual evoluiacutemos Que seja de fato retomado para

uma gestatildeo da economia de forma mais solidaacuteria e justa para atender uma

populaccedilatildeo mais homogecircnea em suas reais necessidades Nesta concepccedilatildeo haacute uma

congruecircncia com Olson (1999) porque o autor considera sobretudo que os

71

indiviacuteduos faratildeo escolhas neste caso dotados de informaccedilotildees e com estiacutemulos para

que a escolha seja a melhor opccedilatildeo Deste modo ele tem que escolher

racionalmente em que modelo de organizaccedilatildeo cooperativa ele quer participar

72

4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO COOPERATIVISMO

Este capiacutetulo apresenta os resultados observaccedilotildees e percepccedilotildees obtidos

durante a pesquisa de campo sobre a participaccedilatildeo do produtor rural em

organizaccedilatildeo cooperativa Primeiramente acha-se importante expor a caracterizaccedilatildeo

do municiacutepio de Carlos Chagas onde a pesquisa foi feita pois o municiacutepio eacute

conhecido regionalmente como cidade cooperativista Entatildeo buscou-se

informaccedilotildees para entender o porquecirc desta caracteriacutestica

Em seguida uma descriccedilatildeo da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM objeto do estudo de caso Em sequumlecircncia seraacute apresentada sua

estrutura organizacional atuaccedilatildeo com os associados atuaccedilatildeo no mercado e outros

trabalhos realizados na comunidade Posteriormente seratildeo mostrados os resultados

dos questionaacuterios aplicados assim como informaccedilotildees obtidas com as entrevistas

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas

A cidade de Carlos Chagas estaacute localizada na regiatildeo nordeste do Estado de

Minas Gerais no Vale do Rio Mucuri agraves margens da BR 418 entre as rodovias BR

116 e BR 101 principais malhas viacutearias que ligam a regiatildeo norte ao sul do paiacutes

Com a chegada de imigrantes para trabalhar na construccedilatildeo da Ferrovia Bahia

Minas em meados do seacuteculo XIX originou-se a colocircnia que cem anos depois se

transformaria em municiacutepio

A colocircnia Militar do Urucu criada em 1854 para dar proteccedilatildeo aos trabalhadores da Companhia do Mucuri foi o foco inicial da colonizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas Uma leva de colonos estrangeiros se dirigiu para a Colocircnia Eram de origem belga e holandesa A colocircnia tornou-se o celeiro para o fornecimento de mantimentos para o pessoal que trabalhava na construccedilatildeo da estrada de Ferro Bahia e Minas (NOGUEIRA FILHO 1989 P6)

Figura 3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de Mangalocirc

Assim os desbravadores se encantaram pelo solo feacutertil e foram ficando Da

exploraccedilatildeo de madeiras foram-se abrindo pastagens que permitiram ao municiacutepio

desenvolver-se na pecuaacuteria e ser conhecido tambeacutem como a Capital do Boi pois

pelas caracteriacutesticas propiacutecias permitiu-se ter um dos melhores rebanhos bovinos

do Estado

Em 1938 o municiacutepio conseguiu emancipaccedilatildeo e atualmente tem a populaccedilatildeo

de 21722 habitantes com 7723 moradores na aacuterea rural (IBGE 2002) Eacute um dos

maiores municiacutepios mineiros em extensatildeo e faz parte do Territoacuterio Vale do Mucuri

mesorregiatildeo definida pelo Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel

para poliacutetica de apoio agrave agricultura familiar estabelecida pela Secretaria de

Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio (MDA)

Para melhor visualizaccedilatildeo dessa localizaccedilatildeo segue Figura 4

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas no Estado de MG

Fonte httpterritoriomucuriorg

73

74

Atualmente o municiacutepio destaca-se por ser reconhecida como Cidade

Cooperativista pois haacute grande interaccedilatildeo entre as cooperativas locais e instituiccedilotildees

puacuteblicas e privadas onde tecircm-se buscado desenvolver a cultura da cooperaccedilatildeo em

toda comunidade desde as escolas de ensino baacutesico e ensino meacutedio local Eacute

modelo na regiatildeo por essa forma de conduzir suas atividades tanto quando se

destinam ao urbano quanto ao rural

Todo trabalho realizado com essa finalidade tem tido apoio das cooperativas

locais que satildeo a Coolvam a Cooperativa de Creacutedito Rural de Carlos Chagas

(Credicar) atualmente integrada agrave rede Sistema de Creacutedito Coopeativo do Brasil

(Sicoob) e a Cooperativa Educacional de Carlos Chagas (Cooeducar) dentre outras

pequenas cooperativas juntamente com a Agecircncia de Desenvolvimento de Carlos

Chagas (Adecar) Prefeitura Municipal e o Conselho de Desenvolvimento Rural

Sustentaacutevel (CMDRS) e as associaccedilotildees comunitaacuterias rurais que tecircm sido

importantes na construccedilatildeo dessa cultura pois eacute por meio da participaccedilatildeo de seus

membros que as cooperativas estatildeo desenvolvendo trabalhos sobre a educaccedilatildeo

cooperativista Conforme o Diretor Presidente da Coolvam

Carlos Chagas eacute considerada cidade do cooperativismo quatro cooperativas da cidade que satildeo muito fortes e satildeo sem duacutevida que datildeo sustentaccedilatildeo para o municiacutepio ()Estatildeo muito ligadas ao meio rural precisa fazer uma trabalho que estaacute comeccedilando agora no meio urbano Temos trabalho jaacute comeccedilado A cooperativa de produccedilatildeo e de creacutedito participam de todo e qualquer evento ou movimento que eacute realizado na cidade participa de todas as entidades carentes (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Na cidade permite-se identificar que por essa forma de interaccedilatildeo entre esses

agentes no desenvolvimento de atividades diversas haacute uma formaccedilatildeo de capital

social que propicia o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio

42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM

A COOLVAM estaacute classificada no ramo agropecuaacuterio com sessenta anos de

atuaccedilatildeo fundada em 27 de julho do ano de 1947 por um grupo de trinta produtores

que buscavam uma maneira mais rentaacutevel para o aproveitamento do leite produzido

em suas fazendas Apoacutes vaacuterios diaacutelogos entre esses produtores realizou-se a

primeira reuniatildeo para oficializar a constituiccedilatildeo desta cooperativa

75

() Aberta a sessatildeo foi declarado pelo Sr Presidente que o fim da reuniatildeo era o de constituir uma cooperativa de responsabilidade limitada com sede em Carlos Chagas sob a denominaccedilatildeo ldquoSociedade Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucurirdquo e com o objetivo econocircmico de beneficiamento e industrializaccedilatildeo do leite (LIVRO DE ATA 1947 P1)

A histoacuteria de idealizaccedilatildeo da cooperativa foi contada pelo filho de um dos

fundadores

Meu pai era um visionaacuterio ele foi um grande empreendedor ele passou muito tempo falando de fundar uma cooperativa com os amigos por conta proacutepria ele foi a Satildeo Paulo conhecer uma cooperativa em funcionamento naquela eacutepoca

Eles reuniam sempre debaixo de uma aacutervore ldquonaquela casardquo (no momento da entrevista coincidentemente estaacutevamos proacuteximo ao local) no centro da cidade nas tardes e conversavam sobre a ideacuteia da cooperativa ( PRODUTOR 53 2008)

Percebe-se assim que havia uma motivaccedilatildeo para organizaccedilatildeo da cooperativa

pela necessidade de um meio para comercializar a produccedilatildeo jaacute naquela eacutepoca

Numa ata de eleiccedilatildeo e empossamento de presidente da cooperativa em 1963 estaacute

transcrito a fala que exprime um sentimento de responsabilidade frente agrave funccedilatildeo de

representaccedilatildeo do grupo de associados que caracteriza o objetivo da participaccedilatildeo na

lideranccedila ideal na organizaccedilatildeo cooperativa

ldquoEstando certo de que o homem natildeo pertence somente a si proacuteprio e a sua famiacutelia senatildeo que tem deveres para com a sociedade em que labuta natildeo me fiz de rogado e aceitei o pronunciamento da urna com pleno conhecimento das graves responsabilidades que iratildeo pesar sobre os meus fraacutegeis ombros em ocasiatildeo ensombrada de tantas dificuldades Entretanto supervisionarei os negoacutecios da nossa Cooperativa com a prudecircncia e criteacuterio que ateacute aqui tenho posto na gerecircncia de meus interesses privados (LIVRO DE ATA 1963)

Desde a constituiccedilatildeo e conforme conjuntura de cada eacutepoca agrave sua maneira

cada presidente eleito deixou contribuiccedilotildees para a evoluccedilatildeo da cooperativa Nos

uacuteltimos anos na busca de excelecircncia e competitividade vem se desenvolvendo e

conquistando espaccedilo junto ao mercado nacional Em 2002 recebeu o precircmio

Qualidade Ameacuterica Do Sul ndash 2002 em decorrecircncia do padratildeo de qualidade dos

produtos e serviccedilos apresentados e apoio e suporte agraves instituiccedilotildees sociais locais

Juntamente com a outorga do precircmio foi recebido o trofeacuteu Incentivo que representa

o reconhecimento puacuteblico da eficiecircncia no setor empresarial constituindo a

homenagem ao trabalho desenvolvido pela COOLVAM

No ano de 2003 por meio de pesquisa realizada entre clientes oacutergatildeos de

classe formadores de opiniatildeo e indicadores sociais a Coolvam foi aprovada para

receber o precircmio ldquoTop Of Qualityrdquo composto de trofeacuteu e diploma especial como

destaque no segmento Cooperativa de Laticiacutenios simbolizando o reconhecimento da

76

qualidade e excelecircncia em sua aacuterea de atividade e respectiva influecircncia social

Ainda no mesmo ano recebeu o precircmio Master Qualidade Ameacuterica do Sul 2003

No ano seguinte em 2004 a Coolvam foi condecorada com mais um precircmio

como destaque pelos relevantes serviccedilos prestados agrave sociedade tratando-se da

Medalha e Diploma Dr Ulisses Guimaratildees outorgados pela Ordem dos

Parlamentares do Brasil sendo que apenas 20 empresas brasileiras participam da

premiaccedilatildeo

A Coolvam ocupou em 2005 o trigeacutesimo lugar na classificaccedilatildeo por nuacutemero de

empregados diretos e 49ordm lugar por faturamento entre as 50 maiores cooperativas

no ranking da OCEMG (INFORMATIVO COOLVAM 2007) Essa classificaccedilatildeo

efetiva a dimensatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo desta cooperativa na economia do

municiacutepio e todas as outras conquistas retratam o reconhecimento do

desenvolvimento da Coolvam que tem focado as mudanccedilas de mercado buscando

parcerias de forma ativa e competitiva e conforme o Diretor Presidente ldquoprioriza as

necessidades dos associadosrdquo

421 Estrutura Organizacional

As diretrizes para funcionamento da cooperativa estatildeo no seu Estatuto social

assim definidas

Objeto social A sociedade tem por objetivo a melhoria econocircmica e social dos seus cooperados com base na participaccedilatildeo consciente e na colaboraccedilatildeo reciacuteproca a que se obrigam desenvolvendo as seguintes atividades econocircmicas

1)- Industrializaccedilatildeo de vaacuterios produtos atraveacutes do beneficiamento do leite entregue por seus cooperados e a produccedilatildeo de sal mineralizado para pecuaacuteria de corte e leiteira

2)- Comercializaccedilatildeo venda em comum de produtos in natura eou industrializados de produccedilatildeo agropecuaacuteria de seus cooperados

3)- Serviccedilo de abastecimento adquirindo ou produzindo para fornecimento ao quadro social na medida em que os interesses soacutecio-econocircmicos aconselharem todos os artigos necessaacuterios agrave sua atividade econocircmica e ao seu uso pessoal ou domeacutestico

4)- Serviccedilos Teacutecnicos mediante assistecircncia teacutecnica agro-pecuaacuteria e assistecircncia teacutecnica contaacutebil objetivando a racionalidade e produtividade das exploraccedilotildees agropecuaacuterias

5)- Serviccedilos sociais mediante a celebraccedilatildeo de convecircnios com entidades puacuteblicas e privadas de atividade de promoccedilatildeo humana educativa de assistecircncia meacutedico hospitalar de serviccedilos culturais desportivos de integraccedilatildeo social dos cooperados e dos funcionaacuterios da empresa

77

6)- Incentivo agrave produccedilatildeo atraveacutes de recursos proacuteprios quando possiacutevel ou pela intermediaccedilatildeo junto a estabelecimentos de creacutedito particulares ou puacuteblicos para incorporaccedilatildeo de tecnologia apropriada de produccedilatildeo de melhoria da produtividade (ESTATUDO SOCIAL 1988 P8-9)

De acordo com o Estatuto Social da Coolvam a Assembleacuteia Geral eacute o Oacutergatildeo

Supremo da cooperativa com poderes dentro dos limites da Lei e do Estatuto

vigente Eacute responsaacutevel por toda decisatildeo de interesse social e suas deliberaccedilotildees

vinculam a todos ainda que ausentes ou discordantes O Conselho de

Administraccedilatildeo eacute formado por nove cooperados eleitos em Assembleacuteia Geral

Ordinaacuteria

O Conselho Fiscal eacute composto por 3 membros efetivos e 3 suplentes eacute

responsaacutevel pela fiscalizaccedilatildeo das atividades da cooperativa e a diretoria executiva eacute

composta por um diretor presidente (cooperado) eleito em Assembleacuteia Geral um

Gerente Geral contratado e um consultor que acompanha a administraccedilatildeo da

cooperativa haacute mais de 15 anos completando com a equipe de 148 funcionaacuterios que

desempenham as atividades administrativas de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

422 Quadro Social

Atualmente o quadro social da Cooperativa eacute composto por 352 associados

sendo 273 em Carlos Chagas e municiacutepios circunvizinhos e os 79 restantes satildeo

associados agrave Cooperativa Regional Agropecuaacuteria de Satildeo Domingos do Prata

(Duprata) na cidade de Satildeo Domingos do Prata Minas Gerais incorporada agrave

Coolvam desde marccedilo de 2006

423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo

Os associados se organizam por meio do Comitecirc Educativo oacutergatildeo criado

desde 1990 com o objetivo de manter um canal de comunicaccedilatildeo com os cooperados

e desenvolver atividades ligadas agrave educaccedilatildeo cooperativista Eacute um oacutergatildeo de

assessoria ajuda na resoluccedilatildeo de problemas podendo apresentar sugestotildees

reivindicaccedilotildees poreacutem natildeo tem poder de decisatildeo

Os trabalhos desenvolvidos pelo comitecirc educativo envolvem a realizaccedilatildeo de

reuniotildees bimestrais em cada uma das comunidades dias de campo visitas teacutecnicas

palestras cursos campanhas de vacinaccedilatildeo e treinamentos

78

423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam

Devido agrave necessidade de se promover a autogestatildeo na Cooperativa e

melhorar o contato entre cooperativa e cooperados no ano de 1990 a Coolvam

contratou uma empresa de consultoria com a finalidade de iniciar o processo de

OQS com a implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo

Apoacutes meses de trabalho o Comitecirc Educativo se definiu abrangendo cinco

comunidades da aacuterea de accedilatildeo da Coolvam passando a ser entatildeo um oacutergatildeo de

assessoria da administraccedilatildeo e dos cooperados constituiacutedo por um grupo de

lideranccedilas que se reuacutenem para levantar e discutir problemas analisaacute-los e sugerirem

ideacuteias que atendam aos interesses da comunidade cooperativista

Com a constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo os cooperados passaram a levar agrave

administraccedilatildeo seus problemas desejos e necessidades bem como sua ajuda para

soluccedilotildees de problemas Eacute por meio dele que a administraccedilatildeo se comunica com os

associados quando apresentam planos de trabalho metas e informaccedilotildees sobre a

cooperativa

Atualmente esse conselho eacute formado por 12 membros sendo um

coordenador e um secretaacuterio de cada uma das 06 comunidades rurais pertencentes

agrave Coolvam Vila Pereira BrejauacutebaLajeado Coacuterrego do Oito Burro

PrateadoCapoeiras JequiririPampa Coacuterrego SecoCoraccedilatildeo de Minas que estatildeo

organizadas espacialmente no municiacutepio

conforme a logiacutestica de captaccedilatildeo de leite

Uma descriccedilatildeo mais detalhada sobre a formaccedilatildeo do Comitecirc Educativo estaacute

no extrato da entrevista com a assessora de cooperativismo da Coolvam

Depois das cinco comunidades que foram formadas que comeccedilou esse trabalho outras surgiram depois em meacutedia quatro a cinco soacute que tambeacutem tivemos exemplos de comunidades que foram formadas mas duraram muito pouco teve o exemplo da criaccedilatildeo da comunidade urbana pelas segunda ata durou apenas dois meses e outras comunidades que duraram seis meses e um ano aproximadamente Pelo que pesquisei quando cheguei aqui em 99 o motivo maior da extinccedilatildeo da comunidade foi da falta de lideranccedila naquela regiatildeo e tambeacutem problemas de ordem poliacutetica em oposiccedilatildeo muito forte em relaccedilatildeo agrave cooperativa Natildeo da cooperativa de se impor mas da parte deles de natildeo estarem mais de acordo com a poliacutetica da cooperativa Entatildeo eles deixaram de dar continuidade aos trabalhos naquela regiatildeo Em 99 tinham oito comunidades

79

formadas ativas um ano depois foi criada mais uma e chegamos a nove Por um periacuteodo de influecircncias de outras empresas de laticiacutenios aqui na regiatildeo vaacuterios produtores deixaram de atuar junto a Coolvam entatildeo a gente perdeu bastante associados e noacutes viemos a perder algumas comunidades tambeacutem Hoje temos ativas seis comunidades podemos dizer hoje que satildeo bastante atuantes Pegamos diversos setores varias aacutereas de atuaccedilatildeo da Coolvam

Teve caso que a gente juntou duas comunidades Isso funciona muito bem a cada dois meses a gente realiza reuniotildees em uma regiatildeo outro mecircs realiza em outra Egrave uma comunidade muito integrada bastante homogecircnea entatildeo facilita bastante o trabalho No mecircs em que faz a reuniatildeo os associados da outra regiatildeo vatildeo ate la e vice versaEntatildeo isso eacute muito interessante A gente tentou tambeacutem a junccedilatildeo de outras comunidades mas natildeo teve muito sucesso Fizemos umas duas junccedilotildees que deu muito certo

Hoje temos seis comunidades e agente acredita que o trabalho estaacute no caminho certo O que precisamos agora e estar mensurando esse trabalho quantificando mais esse trabalho que eacute feito pela cooperativa Acho que eacute o caminho Tem que haver esse tipo de integraccedilatildeo entre a cooperativa e o associado Soacute atraveacutes dessa integraccedilatildeo a gente consegue levar ateacute eles informaccedilotildees consegue extrair deles aquilo que eacute realmente necessaacuterio para o crescimento deles na cooperativa e o que a gente pode estar melhorando em relaccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico e social Enfim algo que e necessaacuterio que exista em toda cooperativa (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Em mensagem enviada pelos membros da empresa de assessoria de

cooperativismo (ASCOOP) com saudaccedilotildees agrave constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo teve

o teor que desenha o ideal da participaccedilatildeo dos soacutecios nas accedilotildees da Cooperativa

() Noacutes da ASCOOP que colaboramos no plantio da semente da participaccedilatildeo aqui na Coolvam deixamos com vocecircs esta mensagem ldquouma vez plantada a semente da participaccedilatildeo cabe a cada um de vocecircs regaacute-la com a responsabilidade consciecircncia e coragem Responsabilidade para cumprir com os compromissos assumidos consciecircncia para compreender o futuro seguro que existe no cooperativismo e coragem para decidir e administrar um patrimocircnio que eacute de todos cujo bem maior eacute a solidariedaderdquo

Desejamos sucesso a todos Cada vez mais acreditamos no cooperativismo porque cada vez mais acreditamos no trabalho e no ser humano () Saudaccedilotildees cooperativistas (CARTA ASCOOP 1999)

Desta maneira percebe-se a importacircncia dada agrave necessidade de fomentar a

participaccedilatildeo de associados nos oacutergatildeos que os representam na defesa de seus

interesses junto agrave organizaccedilatildeo cooperativaseja no comitecirc nos conselhos nas

reuniotildees ou em assembleacuteias

425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos

No iniacutecio das suas atividades a cooperativa funcionava somente com venda

de leite in natura para outras empresas pois natildeo tinha estrutura industrial montada

80

para a produccedilatildeo de derivados laacutecteos Somente em 1986 iniciou-se a

industrializaccedilatildeo do leite com a produccedilatildeo de queijo e manteiga

Dez anos depois por meio de contrato fez parceria com a Cooperativa

Agropecuaacuteria do Vale do Rio Doce (COOPERIODOCE) em Governador Valadares ndash

MG para envasamento de leite Longa Vida com a marca Mucuri Posteriormente

foi cancelado tal contrato e o envase passou a ser feito pela empresa Barbosa amp

Marques no mesmo municiacutepio

No ano de 2001 a COOLVAM firmou contrato com a empresa Nutriacutecia e deu

iniacutecio agrave produccedilatildeo de leite em poacute Mais recentemente em 2003 foi iniciada a

produccedilatildeo de bebida Laacutectea mais um produto com sua marca

Atualmente com captaccedilatildeo meacutedia de leite estaacute em torno de 60000 litros de

leite por dia produz queijo mussarela queijo prato queijo prato light queijo

parmesatildeo queijo minas leite em poacute leite longa vida integral e desnatado e bebida

laacutectea UAT O mercado atendido com seus produtos estaacute em diferentes regiotildees do

Paiacutes sendo que para a Bahia e Sergipe se destinam aproximadamente 58 da sua

produccedilatildeo total Nessas localidades os clientes satildeo na maioria grandes atacadistas

enquanto que o restante da produccedilatildeo 42 vai para outras regiotildees onde as vendas

satildeo mais pulverizadas com atendimento a supermercados restaurantes padarias e

pizzarias ainda na Bahia e nos estados do Espiacuterito Santo e Rio de Janeiro

426 Serviccedilos prestados aos associados A cooperativa possui um Departamento de Assistecircncia Teacutecnica (DAT)

composto por um agrocircnomo um teacutecnico agriacutecola e apoio de estagiaacuterios que vecircm de

convecircnios com instituiccedilotildees de ensino que deste modo formam uma equipe para

prestar serviccedilos aos associados A forma de facilitar o acesso dos associados a

produtos veterinaacuterios e agropecuaacuterios eacute por meio da Farmaacutecia Veterinaacuteria que tem o

objetivo de atender agraves necessidades dos cooperados com insumos e suporte de

outros produtos principalmente raccedilotildees e sementes

Em parceria com o SEBRAE ndash MG participa do Projeto Educampo desde

1997 com o objetivo e finalidade de especializar e tecnificar a atividade leiteira junto

aos associados A participaccedilatildeo no programa eacute custeada pelos associados e

atualmente atende um grupo de 58 produtores Estes recebem orientaccedilotildees e

81

informaccedilotildees zooteacutecnicas agriacutecolas de educaccedilatildeo administrativa gerenciamento

agropecuaacuterio e difusatildeo tecnoloacutegica realizada por teacutecnicos

O Educampo projeto desenvolvido pelo SebraeMG se propotildee a orientar grupos de produtores rurais por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e gerencial com o objetivo de desenvolver aspectos econocircmicos e sociais tornando-os mais eficientes e competitivos As accedilotildees do projeto visam ao aumento da produtividade agropecuaacuteria e consequumlentemente da lucratividade e da qualidade de vida do produtor rural Para participar do Educampo eacute fundamental que o produtor apresente perfil empreendedor e esteja disposto a adotar as orientaccedilotildees do teacutecnico que o acompanha tanto no tocante agraves teacutecnicas produtivas quanto aos controles gerenciais que se constituem no grande diferencial da assistecircncia oferecida pelo projeto (DUARTE 2006 p23)

427 Perfil dos produtores associados da Coolvam

O perfil dos produtores rurais desta pesquisa apresentou-se com dados

semelhantes aos observados por Gomes (2005) sobre o perfil dos produtores

rurais em Minas com algumas caracteriacutesticas tiacutepicas do municiacutepio jaacute que a

populaccedilatildeo entrevistada restringiu-se a Carlos Chagas

Nos trabalhos com produtores de leite usa-se a terminologia pequeno

meacutedio e grande produtor No entanto tecnicamente na Coolvam os

produtores natildeo satildeo identificados por estrato social mas por faixa de

produccedilatildeo Estes satildeo distribuiacutedos em quatro faixas conforme mostra o quadro

abaixo Deste modo nos registros em controles internos as informaccedilotildees satildeo

registradas conforme essa classificaccedilatildeo

Faixa Associados Produtores Litrosdia Volume Ateacute 200 173 65 1484287 25 De 201 a 350 lts 39 15 987157 17 De 351 a 500 lts 19 7 762167 13 Acima de 501 lts 35 13 2666160 45 Total 266 5899770 100

Tabela 2 Organizaccedilatildeo de produtores assiciados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008

Numa melhor visualizaccedilatildeo graacutefica assim satildeo agrupados os produtores

associados (Figura 5)

65

157 13

100

0

20

40

60

80

100

Produtores

Ateacute 200

De 201 a 350 lts

De 351 a 500 lts

Acima de 501 lts

Total

Figura 5 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008 Portanto para utilizar a terminologia proposta nesta pesquisa e

possibilitar anaacutelises comparativas com outros trabalhos foi feito um

reagrupamento dos produtores em conformidade com informaccedilotildees do diretor

e o gerente do Departamento de Assistecircncia Teacutecnica ficando os produtores

reagrupados desta forma

Estratos Sociais Associados Produtores Pequenos (0 a 200 lts) 173 65 Meacutedios (201a 499 lts) 58 22

Grandes (acima de 500 lts) 35 13 Total 266 100

Tabela 3 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por estrato social 2008

Deste modo a Coolvam apresenta em seu quadro social um nuacutemero

consideravelmente maior de pequenos produtores rurais o que confirma a

caracterizaccedilatildeo da maioria das cooperativas de leite brasileiras conforme mostra a

Figura 6 Este grupo tem uma representaccedilatildeo de 65 da populaccedilatildeo de soacutecios

seguido de 22 considerados meacutedios produtores e 13 de grandes produtores

Estes dois uacuteltimos grupos perfazem uma diferenccedila menor em nuacutemero de

associados entretanto no grupo dos grandes produtores estatildeo incluiacutedas as

associaccedilotildees rurais associadas agrave cooperativa Essas associaccedilotildees satildeo compostas por

nuacutemeros variados de produtores mas eacute cadastrado como soacutecio no quadro social da

cooperativa a pessoa juriacutedica que eacute representada pelo presidente da associaccedilatildeo

Este tem direito a um voto nas assembleacuteias

82

65

2213

100

0102030405060708090

100

Produtores

Pequenos (0 a 200 lts)

Meacutedios (201 a 499 lts)

Grandes (Mais de 500 lts)

Total

Figura 6 Organizaccedilatildeo de Produtores associados agrave Coolvam por Estrato Social 2008

A figura 7 mostra a distribuiccedilatildeo de produtores entrevistados por comunidade

rural o que demonstra uma quantidade maior de comunidades do que as seis

citadas pela cooperativa Isso deve-se ao fato de que os associados se identificam

numa comunidade mas para melhor gestatildeo dessas comunidades pela cooperativa

foi feito agrupamento de algumas como Jequiriri e Coraccedilatildeo de Minas Outras estatildeo

desativadas (Mangalocirc) ou seja natildeo estatildeo se reunindo Ainda haacute produtores que

residem em regiotildees cujas comunidades natildeo satildeo formalmente reconhecidas pela

cooperativa como a do Baixo Mucuri

66

0

27

38

20

9

00

1213

0

6

00

15

0

40

6

13

0

9

1920

30

20

0

6

0

66

00

5

10

15

20

25

30

35

40

Pampa

m

BPratea

do

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Baixo M

ucuri

Corrego

do O

ito

Capoe

iras

Vila P

ereira

Mangalocirc

Outras PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 7 Amostra de produtores por comunidades rurais na aacuterea da Coolvam 2008

A meacutedia de idade dos associados eacute de 52 anos corrobora com a constataccedilatildeo

de Gomes (2005) embora na Coolvam haja no quadro social jovens cooperativistas 83

84

participando do comitecirc e de conselhos essa eacute uma minoria Quanto ao grau de

escolaridade dos associados o estrato de grandes produtores apresentou maior

nuacutemero de membros com curso superior entretanto em todos os estratos a maioria

dos produtores tem o primeiro grau conforme tabela 4

Idade PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Meacutediaanos 56 47 58 Escolaridade

PEQUENO MEacuteDIO GRANDEEnsino meacutedio 47 50 402 grau 36 42 20Superior 18 8 40

Estado civil PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Solteiro 5 27 17Casado 95 73 67Viuacutevo 0 0 17

Tabela 4 Perfil do Produtor associados agrave Coolvam (idadeescolaridadeestado civil) 2008

A maioria dos produtores entrevistados manteacutem residecircncia tanto na cidade

quanto na propriedade rural Entretanto a pesquisa mostrou um equiliacutebrio entre o

nuacutemero de associados que consideraram sua residecircncia principal na cidade

Conforme Figura 8 45 dos produtores disseram residir na propriedade enquanto

que 55 consideraram sua principal residecircncia na cidade O grupo dos meacutedios

produtores apresentou uma diferenccedila maior 63 moram na cidade contra 38 que

moram no meio rural o que mostra tambeacutem nuacutemeros mais equilibrados nesse grupo

47

38

50 53

63

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Rural Urbana

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 8 Residecircncia principal de produtores associados agrave Coolvam 2008

Quanto agrave naturalidade a pesquisa mostrou que haacute um equiliacutebrio entre os

produtores quanto ao percentual dos que nasceram no municiacutepio e os que vieram de

outras regiotildees mostrando que na maioria dos casos os produtores satildeo de origem

de lugares proacuteximos como Vale do Jequitinhonha Norte de Minas e Bahia sendo

que os mais distantes vieram do nordeste do paiacutes

Os associados tecircm no leite a principal atividade econocircmica mas todos

possuem complemento de renda com venda de bezerros cria e engorda de gado

de corte ou aposentadoria Haacute algumas exceccedilotildees de produtores que satildeo

profissionais na comercializaccedilatildeo de gado de corte para outras regiotildees Somente

alguns respondentes citaram diversificar a atividade produtiva somente um produtor

respondeu trabalhar com apicultura atuando na comercializaccedilatildeo e beneficiamento

de mel e outros com a produccedilatildeo de farinha Portanto o municiacutepio se caracteriza

praticamente pela pecuaacuteria e precisamente dependecircncia da comercializaccedilatildeo do

leite

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM

Agrave luz da teoria da escolha racional sobre os custos e benefiacutecios provenientes

da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas coube neste trabalho identificar a

motivaccedilatildeo dos soacutecios sobre a associaccedilatildeo e participaccedilatildeo nas atividades da

cooperativa local

85

86

A cooperativa em estudo demonstra evoluccedilatildeo no direcionamento de

trabalhos de organizaccedilatildeo do quadro social valoriza a educaccedilatildeo cooperativista

canaliza esforccedilos para crescimento da empresa cooperativa entretanto o estudo

teve a oportunidade de identificar algumas lacunas conforme ponto de vista dos

associados que merecem atenccedilatildeo para accedilotildees mais participativas destes

Para saber sobre quais motivos o produtor se associa agrave cooperativa foi

perguntado aos entrevistados por que se associaram agrave Coolvam Obteve-se

respostas homogecircneas nos grupos de pequenos e meacutedios produtores associadas agrave

importacircncia do cooperativismo (43 e 44) agrave fidelidade na captaccedilatildeo de leite (37

e 39) e agrave tradiccedilatildeo familiar (17 e 11) como mostra a Figura 9 Eacute certo que haacute

uma dependecircncia maior do grupo de pequenos produtores agrave cooperativa

corroborando o que mostra os trabalhos de Pereira (2002) e Graziano da Silva

(2000) mas essa questatildeo mostrou uma maior associaccedilatildeo de grandes produtores

pela valorizaccedilatildeo da filosofia do cooperativismo (57) do que nos outros estratos em

relaccedilatildeo aos outros indicadores entretanto os pequenos produtores mostraram em

maior nuacutemero ser motivo da associaccedilatildeo o viacutenculo familiar quando responderam

que satildeo associados tambeacutem por tradiccedilatildeo familiar enquanto que essa posiccedilatildeo natildeo

foi registrada no estrato de grandes produtores Essa constataccedilatildeo pode ser

relacionada a capital social formado entre esses soacutecios que se fortalece quando

satildeo mantidas as tradiccedilotildees familiares (Putnam (1996) Bueno (2004) A presenccedila de

capital social se evidenciou em outros dois aspectos

Primeiro a indicaccedilatildeo do cooperativismo em si ter sido considerada o maior

motivo da associaccedilatildeo em todos os estratos e segundo a indicaccedilatildeo da fidelidade da

cooperativa na captaccedilatildeo de leite Esse uacuteltimo eacute um diferencial da organizaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a outras empresas do segmento com reconhecimento dos soacutecios ao

esforccedilo da cooperativa em captar leite nos meses de chuva periacuteodo em que haacute

maior volume produzido o mercado paga menor preccedilo pelo leite in natura e

produtos derivados e por outro lado haacute maior custo de captaccedilatildeo em funccedilatildeo das

dificuldades com as estradas Com a cooperativa o produtor eacute mais confiante de

que seu leite seraacute recolhido do que por outras empresas privadas Ambas as

indicaccedilotildees caracterizam uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a cooperativa e os

produtores essencial para formaccedilatildeo de capital social

O quesito preccedilo natildeo foi evidenciado em nenhum estrato portanto essa

questatildeo natildeo foi considerada relevante pelos respondentes como motivo de sua

associaccedilatildeo Entretanto o indicativo da associaccedilatildeo pela fidelidade da captaccedilatildeo

como foi registrado pode indicar mecanismos de escolha racional dos associados

em avaliar a relaccedilatildeo preccedilo pago pela produccedilatildeo e a fidelidade de captaccedilatildeo

4344

57

36

14

3739

29

1711

0 0000

10

20

30

40

50

60C

oope

rativ

ism

o

Com

pra

dein

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os

Fide

lidad

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Trad

iccedilatildeo

fam

iliar

Preccedil

o do

leite

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 9 Motivaccedilatildeo dos produtores para associaccedilatildeo agrave cooperativa Coolvam 2008

Em seguida quando foi solicitado ao associado para indicar o que diferencia

a cooperativa em relaccedilatildeo a outras empresas (Figura 10) as respostas mostraram

novamente certa homogeneidade (23 38 e 33) na valorizaccedilatildeo e

reconhecimento dos associados ao papel social da cooperativa Esse ponto

corrobora Putnan (1996) com a constataccedilatildeo de que as associaccedilotildees civis contribuem

para a eficaacutecia e a estabilidade do governo democraacutetico natildeo soacute por causa de seus

efeitos internos sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem por causa de seus efeitos externos

sobre a sociedade

Nesta etapa foi reforccedilado o indicativo de confianccedila entre a organizaccedilatildeo e os

associados com a importacircncia dada agrave captaccedilatildeo de leite (23 31 e 17) mesmo

que tenha sido evidenciada uma diminuiccedilatildeo dessa preocupaccedilatildeo com a mudanccedila de

estrato social para o grande produtor

Nessa questatildeo o fator que mais chama a atenccedilatildeo eacute que os grandes

produtores indicaram ter mais facilidade de acesso agrave cooperativa do que os outros

grupos que mostraram maior utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de assistecircncia teacutecnica Esse

87

acesso no significado da palavra se refere agrave comunicaccedilatildeo capacidade de trocar ou

discutir ideacuteias de dialogar de conversar com vista ao bom entendimento entre

pessoas (FERREIRA 1993) De modo geral essa interaccedilatildeo entre soacutecios e

organizaccedilatildeo permite que o agente participe do desenvolvimento pela sua

capacidade de articulaccedilatildeo e interaccedilatildeo conforme foi exposto por Salanek Filho e Silva

(2003)

23

3833

813

0

8

00

1513

0

8

00

15

6

50

23

31

17

05

101520253035404550

Pape

l soc

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Preccedil

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leite

Aces

so

Cap

taccedilatilde

ode

Lei

te PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios Coolvam 2008

Foi demonstrado no referencial teoacuterico a constataccedilatildeo de que a participaccedilatildeo

de associados em cooperativas tem se limitado agrave presenccedila em assembleacuteias

Portanto permitiu-se verificar a participaccedilatildeo de associados tanto em assembleacuteias

como nas reuniotildees em comunidades e como se daacute a manifestaccedilatildeo dos produtores

em diferentes ocasiotildees

Sobre a participaccedilatildeo em assembleacuteias a maioria dos associados dos dois

primeiros estratos responderam que vatildeo sempre (40 e 49) de vez em quando

(43 e 35) e o restante respondeu que nunca vai Quanto aos grandes

produtores o percentual maior respondeu que vai soacute de vez em quando (83)

conforme Figura 11

88

40

59

17

4335

83

17

60

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

sempre de vez em quando nunca

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 11 Frequecircncia de associados em assembleacuteias Coolvam 2008

Outro indicador do perfil e valorizaccedilatildeo do cooperativismo pelos associados

estaacute representado na Figura 12 ao demonstrar que a maioria destes nos trecircs

estratos vatildeo agraves assembleacuteias mais para cumprir o papel de associado (69 59 e

50) do que pelo fato de ter algo em pauta que seja do seu interesse

69

59

50

3135

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Cumprir papel de associado Interesse na pauta

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 12 ndash Motivaccedilatildeo dos associados para participaccedilatildeo em assembleacuteias Coolvam 2008

Deste modo ao registrar as observaccedilotildees durante a pesquisa a fidelidade

com a cooperativa fica expliacutecita na fala de um produtor de 76 anos associado haacute 30

anos se referindo agrave valorizaccedilatildeo da sua presenccedila e assiduidade em reuniotildees da

cooperativa

Eu vinha a cavalo quando natildeo tinha carro (PRODUTOR 76 2008)

Por outro lado dos respondentes que disseram natildeo participar das

assembleacuteias foram registrados motivos convergentes 89

90

Nunca participo porque existem umas coisas que acho que natildeo estaacute certo (PRODUTOR 77 2008)

Natildeo natildeo gosto de participar porque jaacute levam pronto (PRODUTOR 68 2008)

Esse posicionamento reflete as discussotildees de estudos de Perius (1983) sobre

problemas estruturais do cooperativismo em que ele observa que nasce um conflito

entre soacutecios e administradores quando os interesses passam a natildeo ser mais

ldquoidecircnticosrdquo e observa que a existecircncia desse conflito comeccedila a colocar em duacutevida a

teoria da fidelidade entre soacutecios e administradores Outro trabalho de Munkner

citado em Schneider (1999) aponta para um conflito latente que tende a verificar-se

entre os interesses dos associados e os interesses dos executivos

Segundo Eschenburg citado em Perius (1983) surge uma nova ciecircncia

cooperativa que sustenta que com o crescimento do nuacutemero de soacutecios e o

simultacircneo crescimento da empresa orgacircnica o management se emancipou e a

original identidade da promoccedilatildeo dos soacutecios e da poliacutetica empresarial se transformou

num problema (Eschenburg citado em Perius 1983) Deste modo natildeo haacute de se

esperar unanimidade em satisfaccedilatildeo de associados com a gestatildeo da cooperativa e

do mesmo modo em participaccedilatildeo Resulta daiacute o sentimento que reflete as

observaccedilotildees expostas pelos produtores que natildeo costumam ir agraves assembleacuteias

Numa questatildeo seguinte para ajudar a perceber se haacute o sentimento de

liberdade para participar foi perguntado aos produtores se eles se sentem agrave vontade

para manifestarem em reuniotildees de comunidade e em assembleacuteias da cooperativa

Identificou-se que os associados de maneira geral ficam menos agrave vontade para

manifestar nas assembleacuteias do que nas reuniotildees de comunidade conforme mostram

as Figuras 13 e 14 Mas haacute de se considerar que eacute bastante expressivo o percentual

de participaccedilatildeo dos associados pois nos trecircs grupos a maioria respondeu se sentir

totalmente agrave vontade

63

76

60

141820

14

6

20

9

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Totalmente Parcialmente Natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 13 Liberdade dos associados para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade Coolvam 2008

5558

50

9

26

3330

1617

6

0

10

20

30

40

50

60

Totalmente Parcialmente Natildeo Natildeo Vai

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 14 Liberdade dos associados para manifestar em assembleacuteias Coolvam 2008

Conforme relatado pela assessora de cooperativismo da Coolvam haacute uma

maior participaccedilatildeo de pequenos produtores nas reuniotildees de comunidade Em seu

trabalho de organizaccedilatildeo do quadro social vem sobre a incentivando que estes

manifestem suas opiniotildees quando lhes convier conforme mostra extrato de

entrevista

Eu que estou aqui haacute oito anos e meio e percebo que jaacute houve uma evoluccedilatildeo muito grande Esse trabalho iniciado em 1990 jaacute vai fazer 18 anos e a gente percebe claramente que haacute uma mudanccedila de percepccedilatildeo de visatildeo haacute uma evoluccedilatildeo das pessoas em termos de participaccedilatildeo de chegar e expor seu ponto de vista entatildeo a gente percebe que haacute uma evoluccedilatildeo a gente natildeo tem como mensurar isso aiacute Grau de escolaridade influencia sim mas vai depender tambeacutem de cada pessoa (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

A pesquisa mostra que o grande produtor vai menos agraves reuniotildees somente

17 responderam que vatildeo sempre e consideraram em sua maioria pouco

91

importante (33) ou indiferente (33) sua presenccedila nas assembleacuteias como

mostram as Figuras 15 e 16 Mas outros dados mostraram que estes vatildeo com mais

frequumlecircncia agrave sede da cooperativa para conversar com os dirigentes

28

1817

4241

1714

29

33

17

12

33

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Muito importante Importante Pouco Importante Indiferente

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 15 Consideraccedilotildees sobre a presenccedila de associados em reuniotildees Coolvam 2008

51

82 83

29

1217 20

60

010

20

30

40

5060

70

80

90

Sempre De vez em quando Somente quandoconvocado

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 16 Frequumlecircncia de associados que vatildeo agrave sede da cooperativa Coolvam 2008

Isso indica conforme mostrado em Pereira (2002) sobre a dinacircmica das

relaccedilotildees sociais que os grandes produtores tecircm melhor acesso aos dirigentes e

defendem seus interesses diretamente assim como demonstra a Figura 15

Portanto natildeo sentem necessidade de discussotildees com os demais membros do grupo

cooperativista Entretanto a entrevista com o Presidente mostra que os associados

tecircm igual tratamento e liberdade para conversar com a diretoria Quando foi

perguntado sobre as dificuldades de gerir os diferentes grupos de interesses devido

agrave heterogeneidade do quadro social este confirmou ter dificuldades mas atua sem

restriccedilotildees ou privileacutegios

92

93

Tem Noacutes procuramos praticar os direitos iguais todos tem o voto tem os direitos mas a gente sabe que a populaccedilatildeo de associados natildeo vecirc dessa forma Mas a Coolvam pratica o cooperativismo de verdade (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As proposiccedilotildees da teoria olsoniana sobre incentivos que natildeo os econocircmicos

como desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e

psicoloacutegico se confirmam na entrevista com um pequeno produtor que participa do

conselho administrativo ao responder sobre motivaccedilotildees que o fazem participar

Por ser pequeno produtor e ter vez e voz do grande e poder participar (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Outra indicaccedilatildeo reproduzida na fala do conselheiro que corrobora a

afirmaccedilatildeo da teoria de Olson (1999) eacute quando natildeo respondeu sobre as vantagens

em participar desta funccedilatildeo

A convivecircncia com pessoas de niacutevel intelectual que passa coisas boas e a oportunidade de conviver com essas pessoas (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Apesar de haver remuneraccedilatildeo para os membros que participam dos

Conselhos a relevacircncia dessa remuneraccedilatildeo foi mencionada somente por um

conselheiro como incentivo para sua participaccedilatildeo

Eacute um complemento de renda (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Os grandes produtores mostraram utilizar mais os serviccedilos da cooperativa

nas respostas ldquode vez em quandordquo (67) e ldquosemprerdquo (33)Dentre os serviccedilos que

mais utilizam foram citados os serviccedilos teacutecnicos o Educampo e a compra de

insumos na Farmaacutecia Veterinaacuteria Jaacute os pequenos e meacutedios responderam

respectivamente natildeo utilizar (17 e 18) de vez em quando (51 e 47) e

sempre (31 e 35) e responderam utilizar aleacutem da Farmaacutecia Veterinaacuteria e

assistecircncia teacutecnica vacinas e orientaccedilotildees sobre a produccedilatildeo (Figura 17) Nesse

ponto a cooperativa se firma como importante mediadora da transferecircncia de novas

tecnologias e informaccedilatildeo para os associados

17 18

0

5147

67

3135 33

0

10

20

30

40

50

60

70

Natildeo Utiliza De vez em quando Sempre

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa Coolvam 2008

No indicador que teve o objetivo de verificar a participaccedilatildeo dos associados e

em atividades educativas promovidas pela cooperativa identificou-se que os

pequenos e meacutedios produtores responderam participar mais (56 e 65) enquanto

33 dos grandes confirmaram essa participaccedilatildeo Aos que responderam

afirmativamente foi perguntado quem mais participa entre o produtor a esposa e

filhos As respostas dos grupos dos pequenos e meacutedios produtores indicaram que

eles mesmos participam (41 e 38) enquanto a participaccedilatildeo de esposas (29 e

38) e filhos (29 e 25) respectivamente indicando que todos da famiacutelia

participam No grupo dos grandes produtores dos que responderam participar das

atividades 100 disseram que eles mesmos participam natildeo registrando presenccedila

de esposas e filhos desse grupo nessas atividades conforme demonstra a Figura

18

5665

3344

35

67

4138

100

2938

2925

0102030405060708090

100

Sim Natildeo Produtores Esposa Filhos

PEQUENOMEDIOGRANDE

Figura 18 Participaccedilatildeo de Produtores e da famiacutelia em atividades educativas

94

A participaccedilatildeo de mulheres e filhos vem sendo incentivada pela cooperativa

Eles satildeo convidados a participar de todos os eventos e reuniotildees com os produtores

A pesquisa mostra que esse incentivo vem obtendo resultado pois dentre os

produtores que responderam participar conforme a Figura 16 um percentual de

29 e 38 respectivamente disseram que a famiacutelia tambeacutem jaacute participou de

eventos na Coolvam

A Figura 19 a seguir foi registrada em uma reuniatildeo de comunidade onde

foram agrupadas duas comunidades rurais Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas

ambas satildeo mais homogecircneas e tem um maior nuacutemero de pequenos produtores

Pode-se observar a presenccedila de mulheres e crianccedilas juntamente com os

produtores Essa interaccedilatildeo das famiacutelias com a organizaccedilatildeo reforccedila tambeacutem o

aumento de capital social

Figura 19 Preacute-Assembleacuteia da Coolvam com as comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas 2008

As respostas dos associados vecircm demonstrando que satildeo participativos nas

atividades promovidas pela cooperativa e foi registrado em todos os estratos que

suas reivindicaccedilotildees satildeo totalmente ou parcialmente atendidas conforme mostra a

Figura 20 No entanto mesmo entre produtores que responderam afirmativamente

foram registradas reclamaccedilotildees sobre a forma de gestatildeo referente a tomada de

decisotildees Natildeo tem muitas coisas que satildeo feitas por eles mesmos compraram outra cooperativa sem comunicar parcialmente (PRODUTOR 73 2008) Parcialmente devido agrave poliacutetica administrativa atual da empresa (PRODUTOR 39 2008) Natildeo vaidade da direccedilatildeo descreacutedito em relaccedilatildeo ao associado (PRODUTOR 62 2008) Nem sempre conseguimos ser atendidos (PRODUTOR 36 2008)

95

4235

17

4853

67

9 1217

0

10

20

30

40

50

60

70

Totalmente Parcialmente Natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 20 Atendimento a reivindicaccedilotildees dos associados da Coolvam 2008

De forma geral em todos os estratos os produtores consideram a

participaccedilatildeo da Coolvam no desenvolvimento da propriedade com poucas exceccedilotildees

registradas principalmente entre os pequenos produtores que responderam que a

cooperativa natildeo eacute atuante neste quesito conforme demonstra a Figura 21 Tal

situaccedilatildeo confirma a utilizaccedilatildeo por esse grupo em menor proporccedilatildeo de serviccedilos

teacutecnicos conforme apresentado anteriormente na Figura 17 Nesse sentido

observou-se que os produtores que satildeo assistidas com os serviccedilos do Educampo

consideraram em maior proporccedilatildeo a atuaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento de

sua propriedade

6

19

0

30

44

67

39

25

17

24

1317

0

10

20

30

40

50

60

70

Muito atuante Atuante Pouco atuante Natildeo atua NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade Carlos Chagas 2008

Outro fator relevante eacute que os produtores responderam se sentir bem

informados sobre a cooperativa (Figura 22) No entanto nesta mesma questatildeo

96

pediu-se que apontasse que tipo de informaccedilatildeo sente mais necessidade de obter

As respostas foram semelhantes conforme representaccedilatildeo das falas subscritas que

demonstram a necessidade de informaccedilotildees sobre as tomadas de decisotildees da

gerecircncia e formaccedilatildeo de preccedilo de leite

bull Compraram outra cooperativa e natildeo informam o que se passa laacute

bull Mais detalhe sobre preccedilo de leite Se enviassem carta explicando sobre o preccedilo seria bom

bull Sobre como satildeo tomadas as decisotildees das reuniotildees do conselho administrativo

bull Excesso de funcionaacuterios com alta remuneraccedilatildeo

bull Natildeo natildeo tem comunidade e a informaccedilatildeo eacute repassada principalmente para as comunidades

bull Informaccedilotildees mais profundas

bull Informa depois das accedilotildees realizadas

bull Controla demais o produto (leite)

bull Preccedilo do leite

bull Como estaacute a atuaccedilatildeo da cooperativa

bull o que a diretoria pensa para melhorar as condiccedilotildees para o associado

bull por que a cooperativa paga o leite tatildeo barato

bull em relaccedilatildeo a mudanccedilas como por exemplo queda no preccedilo

do leite (QUESTIONAacuteRIOS DE PESQUISA COOLVAM 2008)

79 75

60

2125

40

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 22 Informaccedilotildees dos associados sobre a cooperativa Coolvam 2008

A cooperativa utiliza-se da realizaccedilatildeo de Preacute-assembleacuteias como estrateacutegia

para informar aos associados dos resultados e outras atividades que aconteceram

durante o ano assim como outras accedilotildees a serem aprovadas pelos soacutecios Estas satildeo 97

98

reuniotildees para apresentar a pauta a ser tratada posteriormente na Assembleacuteia Geral

O presidente entende que dessa forma eacute possiacutevel que todos tirem suas duacutevidas e

esclareccedilam os assuntos que mais interessam como mostra extrato de entrevista

Jaacute eacute exemplo de participaccedilatildeo nas comunidades satildeo as preacute-assembleacuteias Fazemos 10 a 15 preacute-assembleacuteias e apresentamos o balanccedilo Acredito que laacute na comunidade o produtor fica mais a vontade para tirar suas duvidas para fazer qualquer pergunta e levantar questionamento Entatildeo quando o produtor vem agrave Assembleacuteia Geral jaacute estaacute com tudo esclarecido jaacute tirou as duvidas laacute fica mais agrave vontade para tirar duvidas e fazer perguntas (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As decisotildees satildeo tomadas em caraacuteter definitivo nas assembleacuteias gerais sejam

elas ordinaacuterias ou extraordinaacuterias conforme previsto em estatuto e eacute justamente isso

que garante o caraacuteter democraacutetico do cooperativismo Dessa forma a administraccedilatildeo

participativa significa a auto-administraccedilatildeo como definiu Schneider (1999) os

associados satildeo a autoridade suprema com poder para decidir sobre todos os

aspectos importantes de sua cooperativa Todos os associados tecircm o direito ao voto

(um homem um voto) Geralmente essas decisotildees satildeo de maior importacircncia pois

trazem influecircncias ou consequumlecircncias diretas no desempenho da empresa

cooperativa e dos associados ao responder aos seus interesses econocircmicos caso

os resultados sejam positivos ou negativos Nessas reuniotildees haacute trecircs formas de

participaccedilatildeo dos associados quanto agrave aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo do que se tem a

decidir na forma de voto

O voto eacute o modo de expressar a vontade (FERREIRA1993) num ato de

escolha pode-se dizer num sentido amplo eacute sinocircnimo de participaccedilatildeo e

democracia Conforme levantamento nos processos de escolhas nas assembleacuteias

da cooperativa o voto acontece de diferentes formas Embora natildeo seja descrito

como procede no Estatuto Social (2008) citam-se trecircs meios a) Simboacutelica ou

Aclamaccedilatildeo b) Nominal e c) Secreta Deste modo buscou-se o significado e como

acontece a votaccedilatildeo nas modalidades supra-citadas

a) Simboacutelica ou aclamaccedilatildeo Aclamaccedilatildeo tem o sentido de aplaudir com

entusiasmo eleger por aclamaccedilatildeo Neste caso pede-se que os associados que

concordam com o assunto a ser decidido aclamem e ao maior som toma-se a

decisatildeo

b) Nominal (manifestaccedilatildeo individual) conforme Ferreira (1993) manifestaccedilatildeo

eacute o ato ou efeito de manifestar-se significa exprimir-se mostrar-se Esta modalidade

de voto eacute utilizada em vaacuterios tipos de assembleacuteias Na cooperativa o produtor ao

99

comparecer na assembleacuteia recebe um cartatildeo Este eacute usado para votaccedilatildeo de forma

que o produtor exprima publicamente sua vontade na decisatildeo a ser tomada Essa eacute

a forma mais utilizada por ser mais praacutetica e mais raacutepida a votaccedilatildeo e de resultado

imediato No entanto devido ao receio de se expor o associado pode natildeo exercer

muitas vezes a sua vontade o que leva a uma tendecircncia de prevalecer a vontade

dos dirigentes uma vez que estes ao colocar o assunto em votaccedilatildeo fazem a

seguinte abordagem

Quem for contra a proposta apresentada que se manifeste e quem for a favor permaneccedila como estaacute (PRODUTOR 69 COOLVAM 2008)

c) Secreto eacute o voto confidencial particular em segredo Neste caso os

produtores recebem as ceacutedulas com as opccedilotildees de escolha marcam a melhor

alternativa no seu entendimento e depositam a ceacutedula na urna secretamente

Dentre os trecircs modos apresentados o mais comum eacute o voto nominal ou seja

por manifestaccedilatildeo individual Entretanto esta natildeo foi a melhor opccedilatildeo no

entendimento dos associados haja vista o resultado apresentado na Figura 23 e os

comentaacuterios feitos pelos produtores justificando a preferecircncia pelo voto secreto

conforme transcriccedilotildees abaixo

bull O voto secreto eacute um meio de expressar a opiniatildeo mais verdadeira

bull Porque o produtor se sente mais agrave vontade

bull Depende do momento e do assunto tratado

bull A pessoa natildeo fala um natildeo ou sim para natildeo criar problema com o voto secreto fica mais agrave vontade (QUESTIONAacuteRIOS COOLVAM 2008)

Dada a importacircncia de seu sentido o ato de votar eacute o grande indicador de

democracia e maior marco de sua efetivaccedilatildeo utilizado nas escolhas dos indiviacuteduos

para sua representaccedilatildeo em uma causa A forma secreta eacute o melhor meio para que

as pessoas possam de fato manifestar a sua vontade Nas discussotildees sobre a

participaccedilatildeo e democracia cooperativista Schneider (1999) expotildee sua opiniatildeo de

que natildeo estaacute no voto a dimensatildeo participativa do associado Para o autor

o exerciacutecio do voto natildeo permite ao associado assumir a dimensatildeo participativa que deveria ter cabe aos trabalhos dos representantes comitecircs disseminar a informaccedilatildeo de forma que conscientize os votantes para ter percepccedilatildeo de que a participaccedilatildeo estaacute aleacutem do ato de votar (SCHNEIDER 1999 p224)

Deste modo o mesmo autor complementa que a viabilidade da democracia

cooperativa depende tambeacutem da vontade e do interesse de participaccedilatildeo aleacutem dos

mecanismos montados para promovecirc-la (SCHNEIDER 1999 p152)

613

0

29

13

0

6675

100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Aclamaccedilatildeo Manifestaccedilatildeo Individual Secreto

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 23 Opiniatildeo dos associados sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees Coolvam 2008

Esse modo de participar na escolha de decisotildees a serem tomadas e as

razotildees que os levam a preferir o voto secreto podem ser indicadores que justificam

o decrescente nuacutemero de participantes nas assembleacuteias nos uacuteltimos anos conforme

levantamento nos livros de atas Mesmo que esse resultado seja diferente do outro

apresentado anteriormente na Figura 12 onde mostra boa participaccedilatildeo dos soacutecios

esta vem diminuindo quando se verifica registros de presenccedilas conforme mostra a

Figura 24 a seguir Foi feito levantamento das seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias (AGO) que compreende o periacuteodo da atual gestatildeo entre 2002 e 2007

As seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais Extraordinaacuterias (AGE) aconteceram no periacuteodo

de 1996 a 2005

010

20

3040

50

60

70

1 2 3 4 5 6

Seis uacuteltimas AGOacutes e AGEacutesPeriacuteodo de 1996 a 2007 AGO

AGE

Figura 24 Participaccedilatildeo dos associados em Assembleacuteias Coolvam 2008

Fonte Livros de Atas da Coolvam de 1996 a 2007

100

No debate sobre participaccedilatildeo a pesquisa demonstrou dois quadros distintos

um conforme a teoria da escolha racional sobre o interesse individual na

participaccedilatildeo para consecuccedilatildeo de um bem coletivo que nem sempre as pessoas tem

interesse em participar efetivamente da lideranccedila e accedilotildees internas pois os

resultados mostram que parte dos associados natildeo tecircm interesse em participar da

gestatildeo da cooperativa principalmente nos grupos de meacutedios e grandes produtores

O outro quadro de modo contraacuterio mostra o consideraacutevel interesse entre os

pequenos produtores jaacute que 35 disseram que gostariam de participar Poreacutem

nesse grupo as respostas mostraram que alguns destes entendem que soacute podem

participar se forem convidados pela diretoria conforme demonstra extrato das

respostas obtidas nesta questatildeo

Gostaria de participar do conselho mas natildeo foi convocado (PRODUTOR 73 2008)

De maneira semelhante outro associado respondeu Falta ser convidado (PRODUTOR 40 2008)

Desta forma o caraacuteter de liberdade e democracia em participaccedilatildeo cooperativa

ainda natildeo estaacute claro para o associado assim como diz Schneider (1999) ldquoo

processo participativo do ldquomilitante cooperativistardquo enfrenta em geral uma seacuterie de

resistecircncias da parte da estrutura hieraacuterquica Assim como reforccedila Bordenave

(2003) parte da efetividade da participaccedilatildeo depende da oportunidade de participar

35

917

65

9183

010

20304050

60708090

100

sim natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 25 ndash Interesse de produtores em participar dos Oacutergatildeos de Gestatildeo Coolvam 2008 A participaccedilatildeo dos soacutecios na administraccedilatildeo e controle da cooperativa se

materializa formalmente por meio dos membros nas funccedilotildees dos Conselhos de

Administraccedilatildeo e Fiscal eleitos em assembleacuteia geral e pela participaccedilatildeo no Comitecirc

101

Educativo Portanto para efetivar a auto-gestatildeo deve-se por em praacutetica as

recomendaccedilotildees comuns em Perius (1983) e Schneider (1999) Para esses autores

os soacutecios por si mesmos devem ter as condiccedilotildees de controlar a administraccedilatildeo da

cooperativa na perspectiva de que os dirigentes e administradores sempre devem

ter bem presente que satildeo mandataacuterios dos soacutecios atuando em nome deles gozaratildeo

de sua confianccedila Conforme Drucker (2006) eacute preciso pensar numa parceria entre o

conselho e os membros aleacutem do mais um conselho precisa saber que possui a

organizaccedilatildeo para o benefiacutecio da missatildeo que essa organizaccedilatildeo deve desempenhar

A pesquisa mostra que os produtores que compotildeem os conselhos estatildeo

presentes nos trecircs estratos sociais poreacutem observou-se que o Conselho

Administrativo tem em seu quadro o maior nuacutemero de meacutedios e grandes produtores

Jaacute o Conselho Fiscal eacute composto por um nuacutemero maior de meacutedios e pequenos

produtores corroborando Pereira (2002) ao apontar que os maiores produtores

conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees das organizaccedilotildees

cooperativas Jaacute o Comitecirc Educativo que eacute organizado e regulamentado pelo

Conselho de Administraccedilatildeo constatou-se na pesquisa que na cooperativa este

comitecirc eacute composto em sua maioria por pequenos produtores rurais (83) conforme

demonstrado na Figura 26 a seguir

20

50

30 33

50

17

83

17

0

0102030405060708090

ConselhoAdministrativo

Conselho Fiscal Comitecirc Educativo

Pequeno

Meacutedio

Grande

Figura 26 ndash Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo Coolvam

2008

Na praacutexis a gestatildeo cooperativa conforme demonstrado neste estudo de

caso evidencia a gestatildeo com a predominacircncia de um pequeno grupo representado

pelo estrato de grandes produtores sobre o grande grupo (pequenos produtores) o

102

103

que corrobora questotildees abordadas pela teoria da escolha racional Nesse aspecto

pode-se indagar Por que natildeo haacute presenccedila de grandes produtores na composiccedilatildeo do

comitecirc educativo jaacute que estes participam dos outros oacutergatildeos de gestatildeo a que

compete diretamente os interesses dos demais associados Os coordenadores e

secretaacuterios dos Nuacutecleos de Associados (comitecircs) conforme Estatuto (1988) tecircm a

funccedilatildeo de trazer ao conselho de Administraccedilatildeo as reivindicaccedilotildees bem como

sugestotildees para solucionar os problemas observados desde que sejam

fundamentados para assim solicitar providecircncias Entatildeo seria de se esperar que

houvesse uma participaccedilatildeo representativa de todos os estratos sociais numa

distribuiccedilatildeo mais homogecircnea em todos os oacutergatildeos da gestatildeo

Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) alertaram que entre as

falhas dos processos participativos ao lidar com as desigualdades internas agraves

comunidades haacute tendecircncia muitas vezes em reforccedilar as relaccedilotildees de poder

preexistentes Essa situaccedilatildeo identificada na Cooperativa pode ser indicativa do que

expotildee esses autores De modo diferente na perspectiva de Schneider (1999) na

participaccedilatildeo em nuacutecleos as pessoas conseguem influenciar no planejamento de

accedilotildees para a organizaccedilatildeo Deste modo a participaccedilatildeo deve ser percebida como

uma estrateacutegia para criaccedilatildeo de novas oportunidades ou seja capaz de modificar as

relaccedilotildees de poder preexistentes

Conforme Salanek Filho e Silva (2003) juntamente com a confianccedila a

interaccedilatildeo definiccedilatildeo de objetivos comuns e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees

fundamentais para compreender o capital social no processo cooperativista Entatildeo

com a finalidade de verificar a satisfaccedilatildeo e grau de confianccedila no trabalho dos

referidos conselhos buscou-se na pesquisa dados que pudessem dar pistas para

compreender esse processo Neste ponto foi questionado se os conselhos estariam

atuando conforme proposto para a funccedilatildeo O resultado demonstrou que de forma

geral os associados apresentaram significativo grau de confianccedila no trabalho dos

membros dos Conselhos conforme resultados apresentados nas Figuras 27 e 28

Houve maior nuacutemero de aprovaccedilotildees do que o modo contraacuterio constatando

portanto que haacute uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a maioria dos associados quando

se trata do trabalho dos conselhos Ao observar a confianccedila na perspectiva

econocircmica conforme Maciel (2003) esse comportamento estreita as relaccedilotildees entre

os agentes e melhora a eficiecircncia econocircmica

Nessa perspectiva as duas uacuteltimas questotildees tratadas mostram que a

participaccedilatildeo de associados de modo geral exerce pouca influecircncia no desempenho

econocircmico Jaacute que foi identificado que haacute dificuldade de participaccedilatildeo e ao mesmo

tempo haacute confianccedila no trabalho dos oacutergatildeos de gestatildeo

5850

80

23

50

20 19

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 27 Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo Coolvam 2008

62 64 60

15

3640

23

0

10

20

30

40

50

60

70

Sim Natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 28 ndash Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal Coolvam 2008

Embora tenha sido constatada forte relaccedilatildeo de confianccedila entre os associados

e os oacutergatildeos de gestatildeo identificou-se que os associados sentem necessidade de

informaccedilotildees do processo de gestatildeo Estes indicaram carecircncia de informaccedilatildeo sobre

a formaccedilatildeo de preccedilo de leite pago pela cooperativa como mostra a Figura 29 em

que a maioria disse natildeo participar da formaccedilatildeo do preccedilo da produccedilatildeo entregue ao

laticiacutenio Essa questatildeo foi contraditoacuteria ao assunto tratado representado na Figura

22 em que os produtores disseram se sentir bem informados sobre a cooperativa

Contradiccedilatildeo desse tipo evidencia o que Freire (1976) chama de cultura do silecircncio

que eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia Mas eacute possiacutevel que

104

numa organizaccedilatildeo de fortes laccedilos de confianccedila conforme constatado possa

permear a cultura do silecircncio

14 12

0

8088

100

60

0

20

40

60

80

100

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo

Ateacute mesmo produtores que participam do Comitecirc demonstraram que em

alguns casos tecircm dificuldades em atuar e se informar Entrevista com um membro

de Comitecirc Educativo mostrou que ele tem dificuldade em ter informaccedilotildees sobre o

futuro da organizaccedilatildeo e disse achar a cooperativa ldquomuito fechadardquo

a gente natildeo tem acesso a informaccedilatildeo sobre planejamento da cooperativa para longo prazo (MEMBRO DO COMITEcirc EDUCATIVO COOLVAM 2008)

Entretanto a assessoria de cooperativismo mostra que o desempenho dos

membros do Comitecirc eacute diferenciado e as caracteriacutesticas da proacutepria comunidade

exercem influecircncia sobre atuaccedilatildeo do Comitecirc conforme mostra extrato de entrevista

Uma outra coisa interessante eacute a questatildeo da lideranccedila nessas regiotildees que eu estou mencionando Coacuterrego de Areia Coraccedilatildeo de Minas Lageado Brejauba essas regiotildees satildeo as mais participativas e satildeo bastante atuantes Talvez seja hoje o ponto mais importante do nosso trabalho Satildeo regiotildees onde a gente tem lideranccedila mais forte mais atuante consegue mobilizaccedilatildeo mais forte com os associados e com os familiares dependendo da atividade que a gente for desenvolver (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Jaacute em comunidades mais heterogecircneas onde participam tambeacutem grandes

produtores eacute reconhecido haver mais dificuldades em conseguir desenvolver

trabalho de mobilizaccedilatildeo para participaccedilatildeo de cooperados

a gente percebe no dia a dia que tem uma diferenccedila com as demais comunidades As regiotildees de capoeiras Coacuterrego da Prata Vila Pereira Jequiriri onde temos um nuacutemero de associados produtores considerados de meacutedio e grande porte a gente percebe que haacute dificuldade natildeo todos mas uma grande parte de mobilizaacute-los para alguma atividade para reuniatildeo de comunidade Temos que mostrar algo mais atrativo eles satildeo mais exigentes em relaccedilatildeo ao geral a participaccedilatildeo deles com certeza eacute menor alegam que tem muitas

105

atividades agraves vezes natildeo estatildeo disponiacuteveis para estar participando entatildeo a gente tem muita dificuldade de mobilizar essas pessoas Uma parte que estaacute sempre de fora e natildeo participa de forma alguma esse eacute um problema a gente soacute consegue mobilizaacute-los quando tem um evento maior por exemplo dia de campo algum evento na loja veterinaacuteria promoccedilotildees (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Outro levantamento complementar na pesquisa foi avaliar a participaccedilatildeo dos

produtores rurais em outras atividades coletivas desde realizaccedilotildees festivas nas

comunidades rurais na cooperativa e atuaccedilatildeo em outros segmentos da comunidade

urbana (Figuras 30 31 e 32) Identificou-se que a maioria eacute tambeacutem associado agrave

cooperativa de creacutedito rural e ao sindicato rural (83) Poucos produtores disseram

participar de outras organizaccedilotildees coletivas (meacutedia de 34 nos trecircs estratos) dentre

eles um disse fazer parte da Comissatildeo de Estradas na gestatildeo puacuteblica dois

produtores disseram ser registrados em partido poliacutetico Dentre os associados com

filhos em idade escolar a maioria estaacute associado agrave Cooperativa de ensino Foi

registrado somente um caso de pequeno produtor que trabalha como empregado

para outra propriedade mas registrou-se casos de prestaccedilatildeo de serviccedilos por

produtores que tecircm formaccedilatildeo teacutecnica (engenheiro veterinaacuterio zootecnista dentre

outros)

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17

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Figura 30 Participaccedilatildeo dos associados em outras organizaccedilotildees coletivas Coolvam 2008

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nunca NRPEQUENO

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Figura 31 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na comunidade Coolvam

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Sempre De vez emquando

nunca NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 32 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na cooperativa Coolvam 2008

Com estas informaccedilotildees confirma-se a interaccedilatildeo entre a organizaccedilatildeo

cooperativa com a comunidade jaacute que as mesmas pessoas participam do quadro

social das diferentes cooperativas Dessa forma os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais

que se formam na comunidade contribuem para fortalecer o capital social Por outro

lado outra caracteriacutestica observada por meio das notiacutecias no Informativo Coolvam

(2004 2005 2006 2007) ficou constatado que as lideranccedilas que participam de uma

cooperativa atuam tambeacutem em algum oacutergatildeo de gestatildeo em outra portanto interagem

entre si e com outras atividades da comunidade Essa relaccedilatildeo reforccedila a presenccedila de

capital social na comunidade promovido em parte pela presenccedila das cooperativas e

pela forma de se organizarem Entretanto a pesquisa mostra que mesmo nesse

ambiente prevalece a dominaccedilatildeo de um mesmo grupo na conduccedilatildeo destas

107

organizaccedilotildees e no caso estudado dados mostram dificuldades para participaccedilatildeo do

restante da populaccedilatildeo associada

A literatura mostra que a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o

homem exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si

mesmo e sua praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades como a auto-expressatildeo

(BORDENAVE1983) Essas caracteriacutesticas satildeo pessoais sendo assim podem natildeo

se manifestar na mesma intensidade em indiviacuteduos diferentes Deste modo

Bordenave (1983) se refere ainda agraves diferenccedilas que se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte Assim como se justifica ter indiviacuteduos que empreendem mais ou menos em

causas sociais

Por outro lado foi percebiacutevel em todos os estratos que haacute interaccedilatildeo entre os

associados eles mantecircm o haacutebito de visitar outras propriedades (somatoacuterio de 84

para as respostas ldquosempre e de vez em quandordquo) conforme figura 33 A maioria

citou que nessas visitas trocam informaccedilotildees vecircm a forma de produccedilatildeo ou o gado do

outro Esses haacutebitos fortalecem os laccedilos pessoais assim como a participaccedilatildeo em

atividades festivas nas comunidades reforccedilam tradiccedilotildees ciacutevicas e satildeo accedilotildees que

fortalecem o capital social

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Sempre De vez emquando

dificilmente nuncaPEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 33 ndash Haacutebito de visitar outros produtores rurais associados da Coolvam 2008

Dentre os que responderam que natildeo costumam ir a outra propriedade

mostra-se uma preocupaccedilatildeo que foi comentada tambeacutem por outros produtores

As pessoas natildeo ficam mais nas propriedades entatildeo perdemos aquele costume de ir na casa do outro hoje vatildeo para a cidade e outros vizinhos venderam as fazendas para o eucalipto estou ficando sozinho na minha regiatildeo (PRODUTOR 59 COOLVAM 2008)

108

109

Foi importante registrar esse comentaacuterio porque embora se tenha

constatado a interaccedilatildeo entre produtores nas propriedades essa preocupaccedilatildeo foi

demonstrada em todos os estratos haacute produtores que jaacute venderam suas terras para

cultura de eucalipto Alguns tecircm a preocupaccedilatildeo de que se os grandes produtores

venderem suas terras em alguns pontos pode inviabilizar a coleta de leite de um

pequeno produtor que ficar ldquoilhadordquo (palavra usada por diferentes produtores vaacuterias

vezes durante as entrevistas) Essa nova cultura agriacutecola vem se expandido na

regiatildeo destinada agraves induacutestrias de papel e celulose satildeo cultivadas em grandes

extensotildees de terra e tem influenciado no modo de vida local

Por outro lado ao longo do trabalho percebeu-se ao conversar com os

produtores que participaram das entrevistas que entre eles haviam

comportamentos diferentes uns mais entusiasmados outros menos alguns se

mostraram indiferentes poreacutem todos contribuiacuteram agrave sua maneira conforme

planejamento da pesquisa de campo Entretanto em meio a esses diferentes

comportamentos foi percebido uma motivaccedilatildeo diferente durante a pesquisa de

campo especialmente na entrevista com pequeno produtor que participa como

membro do Conselho Administrativo quando este contou suas experiecircncias e

histoacuteria de vida

Sou filho de pequeno produtor rural fui para Satildeo Paulo trabalhar fiquei seis anos por laacute quando voltei fui motorista da Cooperativa quando meu pai faleceu herdei pequena parte da propriedade e comecei a trabalhar Logo iniciei na comunidade como secretaacuterio depois fui coordenador do comitecirc educativo por trecircs mandatos fui convidado para ser conselheiro e jaacute estou atuando haacute seis anos (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

O que chamou a atenccedilatildeo foi que nenhum outro entrevistado ateacute o momento

tinha demonstrado tanto entusiasmo com a cooperativa como este produtor ele

dissedisse

Eu sou apaixonado pelo cooperativismo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse associado foi indicado a receber uma das premiaccedilotildees para a

cooperativa realizada no Caribe e contou entusiasmado

Imagina dentro do conselho eu fui indicado para ir receber o precircmio foi a melhor viagem que jaacute fiz Quando cheguei contei isso na minha comunidade (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Dentre outros soacutecios este produtor se destaca pela dedicaccedilatildeo e forma de

trabalhar na sua propriedade assim como empenho e mobilizaccedilatildeo para articular

accedilotildees na sua comunidade e na cooperativa A entrevista com a assessora de

110

cooperativismo mostrou tambeacutem que em seu entendimento a participaccedilatildeo de

associados tanto nas comunidades quanto nas atividades da cooperativa eacute

determinada pelo perfil individual de cada associado que se manifesta na vontade de

participar

a gente tem uma situaccedilatildeo em que um associado anda acho que doze quilocircmetros a cavalo para chegar agrave reuniatildeo e ele vai em todas as reuniotildees e tem comunidades que a distacircncia eacute muito menor e a pessoa deixa de ir Agraves vezes tem automoacutevel um amigo que mora proacuteximo que pode dar uma carona e natildeo vai Entatildeo Isso depende muito da pessoa do perfil da pessoa essa pessoa que estou falando ela eacute muito empreendedora muito participativa procura participar sempre das atividades que a gente realiza junto a cooperativa

Temos tambeacutem situaccedilatildeo de grandes produtores empreendedores estatildeo sempre participando das reuniotildees de torneio leiteiro de dia de campo um exemplo eacute Zeacute Firmino e Eurico satildeo pessoas que participam muito com a gente e que satildeo considerados grandes e meacutedios produtores (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

O pequeno produtor no exemplo dado eacute participativo busca crescimento

acredita que pode ajudar outros produtores a entender e melhorar o interesse em

participar apresenta visatildeo de futuro como demonstra em suas palavras

O pequeno produtor deve buscar espaccedilo participando de eventos palestras se sentir importante ouvir e dar opiniotildees Acho que todo produtor deveria participar do Educampo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Natildeo obstante a todas as caracteriacutesticas positivas que os relatos demonstram

o exemplo de associado aqui exposto mostra que existem limitaccedilotildees conforme este

mesmo produtor indicou como dificuldade em participar do Conselho ao defender

suas ideacuteias junto aos outros conselheiros

eacute difiacutecil defender uma ideacuteia que seja viaacutevel para a empresa e aos associados para os outros conselheiros (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse dilema eacute presente na auto-gestatildeo frente a interesses dos membros que

compotildeem o grupo mesmo que o objetivo seja comum Natildeo se pode esperar a

mesma motivaccedilatildeo no comportamento de todos muito menos que o altruiacutesmo seja a

inclinaccedilatildeo dos membros que ali se dispotildee atuar

A necessidade de realizaccedilatildeo e reconhecimento satildeo sentimentos inerentes a

qualquer indiviacuteduo (HELLER CIT IN BRITO E BRITO 2000) e pode-se dizer que na

accedilatildeo coletiva eacute possiacutevel que essas caracteriacutesticas estejam em niacuteveis diferentes por

isso as vontades de participaccedilatildeo nas atividades da cooperativa pelos associados

satildeo encontradas em graus diferentes Bordenave (1983) confirma essa prerrogativa

e isso foi constatado no resultado da pesquisa

Ao considerar que cada pessoa tem um grau de interesse desejo e

habilidade de realizaccedilatildeo diferentes assim como reconhecidos por Maslow citado em

Brito e Brito (2000) psicoacutelogo e pesquisador de comportamento confirma-se a teoria

de Olson (1999) aqui apresentada e ilustrada pela limitaccedilatildeo exposta pelo associado

entrevistado no que se refere agrave sua participaccedilatildeo no Conselho assim como a

motivaccedilatildeo dos demais em aceitar sugestotildees e buscar soluccedilotildees

Por uacuteltimo como informaccedilatildeo complementar buscou-se verificar a motivaccedilatildeo

dos produtores com sua atividade produtiva jaacute que a maioria principalmente os

pequenos tem na propriedade rural a principal fonte de renda Dos questionamentos

feitos o maior percentual de respostas mostrou que os produtores satildeo ldquoMuito

entusiasmadosrdquo com a atividade conforme mostra a Figura 34 Satildeo dinacircmicos pois

estatildeo sempre ldquomodificando para melhorarrdquo

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natildeo

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odifi

car

NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 34 Motivaccedilatildeo dos associados em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural Coolvam 2008

Outra percepccedilatildeo durante a aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios eacute que os produtores

parecem ser ldquoapaixonados pelo que fazemrdquo Essa expressatildeo eacute comumente utilizada

em Recursos Humanos pois conforme Candeloro (2007) a paixatildeo eacute forccedila

motivadora que daacute agraves pessoas a energia necessaacuteria para suportar contratempos ter

persistecircncia e dedicaccedilatildeo necessaacuterias para alcanccedilar um objetivo

Por outro lado e de modo diferente essa paixatildeo e interesse na atividade

individual pode natildeo ser transferida na mesma intensidade para sua atuaccedilatildeo na

organizaccedilatildeo cooperativa que teoricamente eacute tambeacutem de sua propriedade De certo

111

112

modo ele age dessa forma por que eacute naturalmente difiacutecil conseguir que as pessoas

cooperem para benefiacutecio muacutetuo conforme defende Olson (1999)

113

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo permitiu verificar e contextualizar a participaccedilatildeo de associados

em organizaccedilotildees cooperativas e confirmar tanto o vigor no cooperativismo quanto

sua fragilidade no enfrentamento de problemas conjunturais no ambiente

econocircmico Desde a Revoluccedilatildeo industrial no seacuteculo XIX na idealizaccedilatildeo como

proposta para vencer as desigualdades sociais daquela eacutepoca e atualmente quase

duzentos anos depois em meio agrave ldquoRevoluccedilatildeo da Informaccedilatildeordquo o cooperativismo

continua com seus princiacutepios teoricamente conservados e se adaptando agraves mais

diferentes exigecircncias deste novo seacuteculo com o objetivo de defender os interesses

de seus cooperados

Numa conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Comeacutercio e Desenvolvimento

Ricupero (2007) disse que a resposta para os problemas de desigualdade e pobreza

extremas natildeo viraacute apenas da tecnologia e da economia A soluccedilatildeo desses

problemas dependeraacute de valores como a equidade a solidariedade e a compaixatildeo

que pertencem a um domiacutenio bastante distinto A necessidade de cooperaccedilatildeo

cresce em todos os segmentos e estaacute apontado como instrumento mais apropriado

para desafiar e vencer os vieses que permeiam a busca para reduccedilatildeo dessas

desigualdades sociais A emergecircncia econocircmica de paiacuteses em desenvolvimento por

ora cheios de oportunidades sem divisas com a economia mundial carece de

instrumentos para incluir populaccedilotildees que contraditoriamente nunca foram tatildeo

proacuteximas e ao mesmo tempo tatildeo distantes

Nesse contexto o estudo sobre o cooperativismo mostra que essa forma de

accedilatildeo coletiva eacute reconhecidamente um importante meio para diminuir esse

distanciamento pois eacute uma forma de organizaccedilatildeo que consegue estar presente em

todos os segmentos e niacuteveis sociais Entretanto natildeo se pode ignorar que sob as

influecircncias do ambiente externo no que diz respeito agrave competitividade

modernizaccedilatildeo e diversificaccedilatildeo de atividades que vatildeo de encontro agrave crescente

complexidade que tem se tornado as organizaccedilotildees cooperativas a efetiva

participaccedilatildeo de associados tem sido cada vez mais difiacutecil poreacutem necessaacuteria e deve

ser valorizada para validar e fortalecer a doutrina cooperativista

Essa constataccedilatildeo tem fundamento no potencial da participaccedilatildeo como

mecanismo e caminho para o desenvolvimento de organizaccedilotildees cooperativas o que

114

foi confirmado durante a discussatildeo nesta dissertaccedilatildeo No entanto ainda haacute

necessidade de mudanccedila de atitude das pessoas e nos modos tradicionais de

conduzir suas accedilotildees bem como dar liberdade e adotar meios apropriados para

atrair novos membros para participar das atividades e oacutergatildeos que compotildee a gestatildeo

cooperativa a fim de renovar o quadro ponderadas eacute claro as vontades

necessidades e limitaccedilotildees de cada um O investimento em educaccedilatildeo cooperativista

objetivando qualificaccedilatildeo dos soacutecios para que estes tenham condiccedilotildees de

acompanhar a complexidade de informaccedilotildees e controles da gestatildeo cooperativa

somados ao investimento no aprendizado teacutecnico para o desenvolvimento de

habilidades de gestatildeo satildeo vistos como elementos relevantes para tornar possiacutevel e

efetiva a participaccedilatildeo

Embora haja accedilatildeo da Coolvam neste sentido o estudo mostrou que tanto

membros dos Conselhos quanto do Comitecirc Educativo que satildeo a forma organizada

para promover educaccedilatildeo cooperativista e instituiccedilotildees de ldquovozrdquo dos associados

atuam com mais eficiecircncia como canal de informaccedilotildees do que como instrumentos de

accedilatildeo poliacutetica e estrateacutegica dos produtores que vecircm interferir na gestatildeo da

organizaccedilatildeo com objetivo defender os interesses dos associados As entrevistas

mostraram a necessidade de treinamentos praacuteticos com linguagem que permita

melhor entendimento dos membros em substituiccedilatildeo agrave metodologia utilizada nos

treinamentos oferecidos Percebe-se que haacute muito mais disposiccedilatildeo em qualificar as

cooperativas nas aacutereas de sua operacionalizaccedilatildeo administrativo-financeira e

mercadoloacutegica tratando-as em muitos casos como empresas comuns

Diferentemente talvez natildeo se tenha dispensado o mesmo empenho no resgate e

reforccedilo da doutrina cooperativista para aleacutem do discurso interno ou seja tecirc-la como

ldquoordem do diardquo principalmente para as novas geraccedilotildees na esperanccedila de que estes

sejam fonte de mudanccedila de comportamento mentalidade e que de fato ocorra

transformaccedilatildeo no desejo de fazer o coletivo funcionar para todos

Deste modo a participaccedilatildeo para cooperaccedilatildeo foi identificada tambeacutem como a

mais apropriada para o estabelecimento e criaccedilatildeo de novos meios motivados a

despertar o interesse de pessoas em sair da ldquoineacuterciardquo que faz manter o status quo

das diferenccedilas sociais e perda de oportunidades que se encontram em sociedades

cooperativas

115

Outra caracteriacutestica do quadro social corrobora a afirmativa de que

deveriacuteamos avaliar o desenvolvimento em termos da expansatildeo das capacidades das

pessoas para levarem o tipo de vida que valorizam ndash e tem razatildeo para valorizar

(SEN 2000) deste modo respeitar as diferenccedilas das pessoas tambeacutem na forma de

participar pois o estudo mostrou que o grupo de associados que compotildee uma

organizaccedilatildeo coletiva natildeo participa de forma homogecircnea elas apresentam perfis

proacuteprios e haacute diferentes motivaccedilotildees individuais e particulares em cada associado

que os faz envolver mais ou menos intensamente na accedilatildeo Isso deve ser respeitado

mas natildeo utilizado como pretexto de que natildeo se tem pessoas preparadas para

substituiccedilatildeo e justificar a permanecircncia das mesmas pessoas na frente dessas

organizaccedilotildees por tanto tempoA teoria da escolha racional mostra a sobreposiccedilatildeo

dos interesses do pequeno grupo melhor organizado sobre o maior grupo Neste

trabalho essa premissa estaacute presente no cooperativismo quando dados mostram

que em cooperativas agropecuaacuterias o maior nuacutemero de membros satildeo pequenos

produtores em relaccedilatildeo a um nuacutemero muito menor de grandes produtores do mesmo

modo que se confirma a presenccedila de maior nuacutemero de grandes produtores na

conduccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Com base nessa constataccedilatildeo pode-se inferir que

seja possiacutevel que grandes produtores possam naturalmente defender estrateacutegias

conforme seus proacuteprios interesses em detrimento dos interesses dos membros do

outro grupo

Esta mesma teoria confirma tambeacutem o dilema da proacutepria organizaccedilatildeo em

contratar profissionais externos para sua gestatildeo pois ao fazecirc-lo estaacute defendendo o

interesse da empresa cooperativa que sobrepotildee em diferentes momentos aos

interesses dos associados mesmo que racionalmente esta seja a melhor opccedilatildeo

Embora o posicionamento construiacutedo durante o trabalho seja de acreditar na

potencialidade da participaccedilatildeo natildeo se espera que estas organizaccedilotildees sejam

puramente auto-gestionadas pois se concorda que natildeo seja possiacutevel um isolamento

dessas organizaccedilotildees agrave pressatildeo crescente do mercado agrave qual estas tecircm que

responder com rapidez e eficiecircncia Assim como visto satildeo poucos os casos de

soacutecios preparados tecnicamente para estar agrave frente dos negoacutecios cooperativos

Portanto seria ideoloacutegico e irracional natildeo aceitar esta realidade A necessidade estaacute

no reforccedilo e incentivo a associados para participarem nos diferentes niacuteveis de

116

gestatildeo e conseguir desempenhar eficientemente suas funccedilotildees de controles e

conscientemente defender os interesses sociais da organizaccedilatildeo

A heterogeneidade relacionada agraves diferenccedilas sociais existente no quadro

social das cooperativas foi pouco abordada nas literaturas consultadas e de fato

natildeo eacute considerada nos princiacutepios cooperativistas Pode-se perceber no estudo de

caso que esta problemaacutetica tambeacutem natildeo eacute tratada individualmente e com a atenccedilatildeo

que merece para natildeo ir contra o princiacutepio da igualdade Mas contraditoriamente

mostrou tambeacutem que natildeo se trata de modo igual aos desiguais haacute utilizaccedilatildeo de

poliacuteticas e estrateacutegias diferenciadas e direcionadas agrave participaccedilatildeo de produtores nas

comunidades rurais Nessa perspectiva leva-se em consideraccedilatildeo o perfil e o estrato

social dos membros que as compotildeem Portanto haacute necessidade de utilizar

mecanismos diferentes natildeo no sentido de beneficiar uns em detrimento de outros

mas identificar as dificuldades e potencialidades encontradas em niacuteveis diferentes

nos comportamentos individuais e destes aproveitar as aptidotildees de uns para

desenvolver nos demais

Um outro ponto positivo natildeo aprofundado neste estudo mas sugerido em

outros trabalhose considerado prioridade no desenvolvimento do cooperativismo se

refere agrave importacircncia da educaccedilatildeo cooperativista para melhorar a participaccedilatildeo de

associados e o estiacutemulo agrave presenccedila de mulheres e jovens nas atividades da

cooperativa como estrateacutegia e instrumento de desenvolvimento de cooperativas A

cooperativa em estudo mostrou resultados positivos nesse sentido Pode-se

observar presenccedila de mulheres e crianccedilas em reuniotildees nas diferentes comunidades

rurais como mostrado na Figura 19 Isso se deve agrave accedilatildeo conjunta e o arranjo de

parceria entre as cooperativas instituiccedilotildees e escolas do municiacutepio O trabalho de

construccedilatildeo da cultura do cooperativismo investida em jovens como visto vem

conseguindo resultados positivos na comunidade e dessa forma faratildeo ldquoestoquerdquo de

capital social local Esse capital eacute importante para fortalecer as bases locais Caso

as grandes aquisiccedilotildees incorporaccedilotildees e fusotildees observadas como tendecircncias no

segmento do cooperativismo de leite se concretizem com o capital social

fortalecido haveraacute melhor participaccedilatildeo local para fortalecimento e defesa dos

interesses dos produtores associados

Deste modo fortalecimento do capital social pela cooperaccedilatildeo e confianccedila

apresentados no referencial como soluccedilatildeo para os dilemas eacute um conjunto a que

117

deve creditar a superaccedilatildeo das dificuldades de participaccedilatildeo de associados em gestatildeo

cooperativa Os soacutecios devem ser estimulados a acreditar que o investimento em

esforccedilo pessoal pode ser o diferencial para mudar a realidade de muitos Esses

instrumentos satildeo capazes de fortalecer as relaccedilotildees das pessoas criar e manter

viacutenculos propiciando um ambiente de relaccedilotildees familiares no sentido superar os

benefiacutecios individuais no alcance dos objetivos comuns conseguidos pelo espiacuterito

associativo

O fator limitante da pesquisa eacute que esta mostrou a participaccedilatildeo numa

cooperativa pequena onde os produtores estatildeo numa distribuiccedilatildeo geograacutefica

consideravelmente proacutexima ainda assim identificaram-se dificuldades de

participaccedilatildeo A conjuntura apresentada indica que cada vez mais o produtor vai

ficando distante espacialmente da gestatildeo e mais difiacutecil de acompanhar e participar

diretamente Portanto faz-se a indagaccedilatildeo o que vai acontecer com o produtor em

niacutevel macro nesse modelo a que tendem as cooperativas agropecuaacuterias de leite ao

pensar a participaccedilatildeo nessas organizaccedilotildees Como fica a essecircncia do

cooperativismo Cabem novos estudos em grandes organizaccedilotildees cooperativas para

avaliar os benefiacutecios e as dificuldades diante do que vem acontecendo e identificar a

percepccedilatildeo de produtores rurais nessas situaccedilotildees Como a filosofia da participaccedilatildeo

se aplica a esses casos Ainda de fato a opiniatildeo dos produtores que estatildeo nos

nuacutecleos menores consegue ser ouvida pelos que estatildeo tomando as decisotildees

Enfim o ambiente estaraacute satisfatoriamente equilibrado em termos de ldquocapacidades

sociaisrdquo para apoiar um modelo de participaccedilatildeo que possa trazer benefiacutecios

significativos para os pequenos produtores

Uma resposta aos desafios da participaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo exige novas

atitudes e mentalidades Existe forccedila poder e seguranccedila em pessoas que

compartilham natildeo soacute objetivos comuns mas necessidades comuns No

cooperativismo para o bem dos cooperados eacute fundamental que haja oportunidade

para novos participantes com apoio e cooperaccedilatildeo para o bem coletivo e mesmo

tentado ao individualismo cooperar e atuar coletivamente deve ser visto como a

melhor opccedilatildeo

118

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

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APENDICE A

Princiacutepios Cooperativistas

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica

3 - Participaccedilatildeo econocircmica dos membros - Os membros contribuem equumlitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente Parte desse capital eacute normalmente propriedade comum da cooperativa Os membros recebem habitualmente se houver uma remuneraccedilatildeo limitada ao capital integralizado como condiccedilatildeo de sua adesatildeo Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades

bull Desenvolvimento das suas cooperativas eventualmente atraveacutes da criaccedilatildeo de reservas parte das quais pelo menos seraacute indivisiacutevel

bull Beneficios aos membros na proporccedilatildeo das suas transaccedilotildees com a cooperativa

bull Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros

4 - Autonomia e independecircncia - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees autocircnomas de ajuda muacutetua controladas pelos seus membros Se firmarem acordos com outras organizaccedilotildees incluindo instituiccedilotildees puacuteblicas ou recorrerem a capital externo devem fazecirc-lo em condiccedilotildees que assegurem o controle democraacutetico pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa

5 - Educaccedilatildeo formaccedilatildeo e informaccedilatildeo - As cooperativas promovem a educaccedilatildeo e a formaccedilatildeo dos seus membros dos representantes eleitos e dos trabalhadores de forma que estes possam contribuir eficazmente para o desenvolvimento das suas cooperativas Informam o puacuteblico em geral particularmente os jovens e os liacutederes de opiniatildeo sobre a natureza e as vantagens da cooperaccedilatildeo

6 - Intercooperaccedilatildeo - As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e datildeo mais -forccedila ao movimento cooperativo trabalhando em conjunto atraveacutes das estruturas locais regionais nacionais e internacionais

7 - Interesse pela comunidade - As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades atraveacutes de poliacuteticas aprovadas pelos membros (OCB 2007)

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APENDICE B

QUESTIONAacuteRIO DE PESQUISA

1 O Sr eacute associado agrave Cooperativa de Produccedilatildeo ndash Coolvam

( ) sim ( ) natildeo 2 Idade ( ) Grau de Escolaridade ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) 3 Residecircncia principal ( ) rural ( ) urbana 4 Qual comunidade rural pertence 5 Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) 6 Quantos moram na sua propriedade aleacutem da famiacutelia ( ) 7 Aacuterea da Propriedade ( ) Hectares 8 Qual a origem da propriedade

( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar 9 Eacute natural de C Chagas

( ) sim ( ) Natildeo Regiatildeo de origem 10 Haacute quanto tempo mora em CChagas 11 Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz 12 O leite eacute entregue todo na cooperativa ( ) sim ( ) natildeo 13 Se natildeo o que eacute feito do restante da produccedilatildeo 14 Possui outra fonte de renda aleacutem do leite

( ) Sim ( ) Natildeo Se sim citar qual 15 Porque o Sr eacute associado agrave Cooperativa

( ) pelo cooperativismo ( ) por tradiccedilatildeo familiar ( ) pela compra de insumos ( ) preccedilo de leite ( ) pela fidelidade na captaccedilatildeo do leite

16 Enumere em grau de importacircncia que diferencia a cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios

( ) seu papel social ( ) auxilio a compras ( ) captaccedilatildeo de leite ( ) assistecircncia teacutecnica ( ) preccedilo do leite ( ) atendimento de funcionaacuterios ( ) facilidade de acesso

17 Haacute quanto tempo o Sr eacute associado `a cooperativa ( ) anos 18 O Sr Costuma ir agraves assembleacuteias da sua cooperativa

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 19 Quando vai agraves assembleacuteias da cooperativa

( ) eacute para cumprir o meu papel de associado ( ) eacute porque estaacute em pauta algo que seja do meu interesse

20 O Sr eacute informado com antecedecircncia dos assuntos a serem tratados nas reuniotildees ( ) sim ( ) natildeo

21 Como fica sabendo das reuniotildees da sua cooperativa ( )Informativo ( ) Carta ( ) Raacutedio ( ) Telefone

22 Na sua opiniatildeo qual melhor meio de comunicaccedilatildeo para informaccedilatildeo sobre reuniotildees em sua cooperativa

( ) InformativoJornal ( ) Carta ( ) Telefone ( ) Reuniotildees ( ) outros citar 23 O Sr considera sua presenccedila nas reuniotildees da cooperativa

( ) muito importante ( )importante ( ) pouco importante ( ) indiferente 24 O Sr costuma utilizar serviccedilos da sua cooperativa

( ) Natildeo utilizo ( ) De vez em quando ( )sempre Se utiliza qual (is)

25 Algueacutem da famiacutelia jaacute participou de alguma atividade educativa (cursos palestras etc) promovida pela cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Se sim Quem ( ) Produtor (respondente) ( ) Esposa ( ) Filhos

26 Suas reivindicaccedilotildees satildeo atendidas pela cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo Porque

27 O Sr se sente bem informado sobre sua cooperativa ( ) sim ( ) natildeo

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Porque Que tipo de informaccedilotildees o Sr Sente mais necessidade de obter

28 Com que frequumlecircncia o Sr Vai agrave sede da sua Cooperativa ( ) sempre ( ) dificilmente ( ) somente quando convocado

29 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees da sua comunidade ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

30 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees de sua cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

31 Como o Sr Considera a participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da sua propriedade

( ) muito atuante ( ) atuante ( ) pouco atuante ( ) natildeo atua Se natildeo em que gostaria que atuasse melhor

32 Na sua opiniatildeo qual melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees nas reuniotildees ( ) por aclamaccedilatildeo ( ) por manifestaccedilatildeo individual ( ) por voto secreto ( ) outro citar

33 O Sr Costuma visitar outros produtores ( ) sempre ( ) de vez em quando ( ) dificilmente ( ) nunca

34 Quando eacute realizado alguma atividade festiva na sua comunidade rural o Sr Comparece

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 35 Quando eacute realizado alguma atividade de lazer ou festiva na cooperativa o Sr

comparece ( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca

36 O Sr Tem alguma forma de participaccedilatildeo e controle na fixaccedilatildeo do preccedilo do leite entregue na cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Como 37 O Sr Participa de alguma atividade na gestatildeo da Cooperativa

( ) Sim Qual ( )Natildeo Porque Gostaria de participar em qual funccedilatildeo

38 O Sr Considera que os representantes (conselheiros) atuam como proposto para sua funccedilatildeo

Conselho Administrativo ( ) sim ( ) natildeo Conselho Fiscal ( ) sim ( )natildeo PorquecircO que pode ser melhorado

39 O Sr eacute associado ao Sindicato de Produtores Rurais ( ) sim ( ) natildeo Porquecirc

40 O Sr costuma participar de reuniotildees do seu sindicato ( ) sim ( )natildeo

41 Sr eacute associado a outras cooperativas ( ) sim ( ) natildeo Qual (is)

42 O Sr Participa de alguma outra organizaccedilatildeo coletiva na sua cidade (partido poliacutetico grupo de reuniotildees comissotildees etc)

( ) sim ( )natildeo Se sim qual 43 Decirc sua opiniatildeo sobre como melhorar participaccedilatildeo de associados em cooperativas

44 Como o Sr se vecirc em relaccedilatildeo agrave sua propriedade (pode marcar mais de uma

alternativa) ( ) muito entusiasmado ( ) pouco entusiasmado ( ) cauteloso demais nas accedilotildees ( ) natildeo gosto de arriscar ( ) faccedilo poucas modificaccedilotildees durante o ano ( ) estou sempre modificando ( ) natildeo tem muito o que modificar

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APENDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM DIRIGENTES

IDENTIFICACcedilAtildeO bull Nome bull Idade ( ) bull Grau de Escolaridade bull Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) bull Quantos moram na sua residecircncia bull Qual comunidade rural a sua propriedade pertence bull Qual aacuterea da propriedade ( ) Alqueires bull Qual a origem da propriedade ( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar bull Qual eacute a sua regiatildeo de origem bull Haacute quanto tempo mora em CChagas bull Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz

PERFIL PROFISSIONAL bull Como foi sua tragetoacuteria profissional ateacute a direccedilatildeo da cooperativa bull Quais atividades de gestatildeo desenvolveu antes de atuar na diretoria da

cooperativa bull Quais experiecircncias vocecirc teve com gestatildeo de grupos antes de atuar na

cooperativa

PARTICIPACAO DE ASSOCIADOS bull Sob seu ponto de vista quais satildeo as principais dificuldades para conseguir

que um maior nuacutemero de associados participem das atividades e decisotildees da cooperativa

bull Na sua opiniatildeo qual eacute o problema mais criacutetico da cooperativa em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo de associados bull Quais os pontos fracos da cooperativa que dificultam a participaccedilatildeo de

associados bull Quais os pontos fortes da cooperativa que propicia melhor participaccedilatildeo de

associados bull Em cooperativas haacute heterogeneidade no quadro de associados relacionada

agraves diferenccedilas sociais (pequenos meacutedios e grandes produtores) O sr Considera que haja essa heterogeneidade e deste modo diferentes grupos de interesses Como trabalha com esses diferentes grupos de associados

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na Cooperativa bull Quais estrateacutegias usadas pela cooperativa para lidar com as diferentes

necessidades ou solicitaccedilotildees de associados bull Na sua opiniatildeo o que eacute preciso fazer para facilitar a participaccedilatildeo dos

associados nas decisotildees tomadas pela diretoria bull Na sua opiniatildeo o associado vai agraves reuniotildees cumprindo seu papel de

associado ou quando estaacute em pauta algo que seja do seu interesse individual

bull Quais as accedilotildees que vocecirc considera necessaacuterias que possa melhorar o

interesse de participaccedilatildeo dos associados bull No seu entendimento os associados participam da cooperativa mais como

ldquodonordquo (participaccedilatildeo ativa) ou usuaacuterio (participaccedilatildeo passiva) bull Haacute trabalho visando a participaccedilatildeo e integraccedilatildeo das mulheres e dos jovens

na cooperativa bull Como o Sr prioriza tomadas de decisotildees bull Quais accedilotildees tem sido feitas pela cooperativa para profissionalizaccedilatildeo dos

associados e familiares bull Qual eacute a forma de participaccedilatildeo de associados no planejamento das accedilotildees

presentes e futuras da cooperativa bull Como o Sr acompanha as atividades dos departamentos da cooperativa

prestadas aos associados bull Qual melhor meio de comunicaccedilatildeo com os associados considerado pelo Sr bull Em sua opiniatildeo quais contribuiccedilotildees atuais e futuras que a Diretoria pode

deixar para os futuros sucessores com o objetivo de melhorar a participaccedilatildeo para associados na cooperativa

bull Na sua opiniatildeo quais estrateacutegias de accedilatildeo devem ser empreendidas para

que possa ter uma cooperativa melhor nos proacuteximos 10 (dez) anos no sentido de maior participaccedilatildeo e responsabilidade social

bull O autor que norteia minha pesquisa (Mancur Olson) diz a ldquoatraccedilatildeo que

exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo O que o Sr diria pela experiecircncia com o cooperativismo sobre essa afirmaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave forma de participaccedilatildeo de associados

bull No geral o Sr considera que os princiacutepios do cooperativismo conseguem ser aplicados por essa cooperativa ou sugeriria alguma modificaccedilatildeo para

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adaptaccedilatildeo agrave realidade operacional da cooperativa Que tipo de modificaccedilatildeo

bull O segundo princiacutepio do cooperativismo diz que os associados ldquoparticipam ativamente na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e tomadas de decisotildeesrdquo Na sua experiecircncia isso eacute aplicaacutevel dificilmente parcialmente ou totalmente Porque Como eacute feito

APENDICE D

COLETA DE DADOS SECUNDAacuteRIOS

45 Percentual de participaccedilatildeo de associados nas uacuteltimas 5 assembleacuteias gerais 46 Qual o percentual de participaccedilatildeo nas 5 uacuteltimas assembleacuteias extraordinaacuterias 47 As assembleacuteias extraordinaacuterias costumam ser por quem (Diretoria

Conselho administrativo Fiscal ou Comitecirc educativo) 48 Nos uacuteltimos 5 anos houve alguma assembleacuteia solicitada pelos associados

49 A cooperativa utiliza de algum indicador para fazer acompanhamento do iacutedice

de participaccedilatildeo de associados em suas atividades Se sim que tipo de indicador

50 Taxa de utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa pelos associados (como medir

isso Por compras ex tanques coletivos)

51 Quando foi a uacuteltima aquisiccedilatildeo coletiva financiada ou intermediada pela cooperativa para benefiacutecio dos associados

52 Que tipo de aquisiccedilatildeo

53 Quais tipos de atividades de campo satildeo promovidas pela cooperativa (citar)

54 O associado participa de que tipo de accedilotildees da cooperativa em relaccedilatildeo agraves

suas atividades operacionais histoacuterico e descriccedilatildeo da Cooperativa

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Page 6: AÇÃO COLETIVA EM ORGANIZAÇÕES COOPERATIVAS: UM …livros01.livrosgratis.com.br/cp087171.pdf · Classificação da Biblioteca Central da UFV T Pimentel, Patrícia Ferreira Coimbra,

iii

AGRADECIMENTOS

Obrigada Senhor por este trabalho pela forccedila da superaccedilatildeo e por me conduzir sempre para o melhor caminho Aos meus pais Zeca 84 anos cheio de vida sempre dedicado agrave simplicidade do viver rural Exemplo de paciecircncia e coragem Agrave minha matildee Vilma obrigada pela semente que plantou na minha formaccedilatildeo como pessoa Meu exemplo de caraacuteter forccedila e dedicaccedilatildeo Aos meus irmatildeos que cada um ao seu modo me acompanham e apoacuteiam mesmo sem entender muito ldquoo porquecirc de estudar tantordquo Aos meus sobrinhos Carol Rodrigo e Ricardo por quem esforccedilo para acreditarem nos estudos e aspirar crescimento Ao Prof Newton Paulo Bueno pela oportunidade Ao Prof Joseacute Ambroacutesio Ferreira Neto por aceitar o desafio e acreditar em mim pelo apoio e amizade no momento mais difiacutecil Pela orientaccedilatildeo e dedicaccedilatildeo Agrave UFV e aos professores do DER que contribuiacuteram para uma percepccedilatildeo diferente do rural Aos funcionaacuterios em especial agrave Carminha e Cida pelo carinho e atenccedilatildeo de sempre Aos membros da banca examinadora Aos produtores rurais dirigentes e funcionaacuterios da COOLVAM pela acessibilidade e apoio Aos amigos da Incubadora de Base Tecnoloacutegica CENTEVUFV pela oportunidade de aprendizado no desafio do empreendedorismo grande contribuiccedilatildeo na minha carreira profissional Aos amigos do Centro Vocacional Tecnoloacutegico de Viccedilosa (CVT) pela convivecircncia A Flaacutevia Moreira pela consideraccedilatildeo e pelo apoio de sempre A Cris Xavier por ter cuidado tatildeo bem das minhas filhas e da minha casa enquanto natildeo estava presente A Kmila Neacutedma e Wiliam por terem acompanhado toda essa caminhada Aos colegas pela famiacutelia que formamos em ERU 623 pela amizade companheirismo consolo superaccedilatildeo e por todas as vezes que pudemos compartilhar momentos de descontraccedilatildeo e alegria A toda famiacutelia IPV pela amizade cristatilde

iv

Fizeste-me avanccedilar a largos passos (Sl 1836)

v

SUMAacuteRIO

LISTA DE TABELAS ix

RESUMO x

ABSTRACT xi

1 INTRODUCcedilAtildeO 1

11 Definiccedilatildeo do Problema4 12 Objetivos7

121 Objetivo Geral 7 122 Objetivos Especiacuteficos 7

13 Metodologia 7 2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 12

21 O cooperativismo12 211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas 15 212 O cooperativismo agropecuaacuterio 16 213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de produtores rurais 18

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa22 23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas 25

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO29

31 Accedilatildeo Coletiva29 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos29 312 Dilemas de accedilatildeo coletiva 34 313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo36 314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos 38 315 Dilemas do Cooperativismo 43

32 A Participaccedilatildeo53 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo53 322 A Participaccedilatildeo em cooperativas 58 333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo 62

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema 65 4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO

COOPERATIVISMO72

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas72 42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM 74

421 Estrutura Organizacional76 422 Quadro Social 77 423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo 77 423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam 78 425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos 79 426 Serviccedilos prestados aos associados 80 427 Perfil dos produtores associados da Coolvam 81

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM85 5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 113

vi

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA118

APENDICE A126

APENDICE B127

APENDICE C 129

APENDICE D 131

vii

LISTA DE FIGURAS

1 Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada COOLVAM 2008 8

2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em

cooperativas 25

3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de

Mangalocirc71

4 Mapa de localizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas 71

5 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo79

6 Organizaccedilatildeo de Produtores por Estrato Social 80

7 Amostra de produtores por comunidades rurais 81

8 Residecircncia principal de produtores 82

9 Motivo da associaccedilatildeo agrave cooperativa 84

10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios 85

11 Frequumlecircncia de produtores em assembleacuteias86

12 Motivaccedilatildeo para participaccedilatildeo em assembleacuteias 86

13 Liberdade para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade88

14 Liberdade para manifestar em assembleacuteias 88

15 Consideraccedilatildeo sobre a presenccedila em reuniotildees 89

16 Frequumlecircncia que vai agrave sede da cooperativa 89

17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa 91

18 Participaccedilatildeo da famiacutelia em atividades educativas 91

19 Preacute-assembleacuteia com comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de

Minas 92

20 Atendimento a reivindicaccedilotildees pessoais93

21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade 93

22 Informaccedilotildees sobre a cooperativa 94

23 Opiniatildeo sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees 97

24 Participaccedilatildeo em Assembleacuteias 97

25 Interesse de produtores em participar dos oacutergatildeos de gestatildeo 98

26 Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo 99

27 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo

1019

viii

28 Aprovaccedilatildeo sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal 101

29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo 102

30 Participaccedilatildeo em outra organizaccedilatildeo coletiva 103

31 Participaccedilatildeo em atividade festiva na comunidade 104

32 Participaccedilatildeo em atividade festiva na cooperativa 104

33 Haacutebito de visitar outros produtores 105

34 Motivaccedilatildeo do produtor em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural 108

ix

LISTA DE TABELAS

1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil22

2 Organizaccedilatildeo de produtores por faixa de produccedilatildeo 79

3 Organizaccedilatildeo de produtores por estrato social 80

4 Perfil do Produtor82

x

RESUMO

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra MS Universidade Federal de Viccedilosa julho de 2008 Accedilatildeo coletiva em organizaccedilotildees cooperativas um estudo de caso na Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda em Carlos Chagas -MG Orientador Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-Orientadores Nora Beatriz Presno Amodeo e Marcelo Minaacute Dias

Esta dissertaccedilatildeo apresenta uma anaacutelise sobre o processo de participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas agropecuaacuterias tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees que

supostamente levam ao surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido

pela Teoria da Escolha Racional Portanto buscou-se identificar e compreender

estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas e analisar o comportamento de

diferentes grupos existentes nessas organizaccedilotildees e como lidar com a complexa

forma de gestatildeo e controle dadas as dificuldades impostas pelo mercado cada vez

mais exigente e competitivo Por meio de uma discussatildeo fundamentada na literatura

sobre participaccedilatildeo e cooperativismo pode-se associaacute-la agraves discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como aos estudos sobre confianccedila

cooperaccedilatildeo e valorizaccedilatildeo de capital social mostradas como instrumentos potenciais

para soluccedilatildeo dos dilemas de accedilatildeo coletiva

xi

ABSTRACT

PIMENTEL Patriacutecia Ferreira Coimbra M Sc Federal University of Viccedilosa July of 2008 Class action in cooperative organizations a study of case in the Cooperative of Laticiacutenios Valley of the Mucuri Ltda in Carlos Chagas - MG Adviser Prof Joseacute Amboacuterosio Ferreira Neto Co-advisers Nora Beatriz Presno Amodeo and Marcelo Minaacute Dias

This dissertation presents an analysis on the process of participation of rural

producers in agricultural cooperatives taking as reference the existent heterogeneity

in the social picture of those organizations that supposedly take to the appearance of

problems of collective action as suggested by the Theory of the Rational Choice

Therefore it was looked for to identify and to understand strategies of collective

action in cooperatives and to analyze the behavior of different existent groups in

those organizations and how to work with the complex administration form and

control given the difficulties imposed more and more by the market demanding and

competitive Through a discussion based in the literature on participation and

cooperativism it can associate it to the concerning discussions to the collective

action and institutions as well as to the studies about trust cooperation and

valorization of social capital shown as potential instruments for solution of the

dilemmas of collective action

1

1 INTRODUCcedilAtildeO

Nas uacuteltimas deacutecadas a abertura econocircmica proporcionou novas

oportunidades e restriccedilotildees de muacuteltiplas naturezas para grande parte da populaccedilatildeo

A sociedade civil tem assumido responsabilidades que antes eram obrigaccedilotildees

majoritariamente do Estado Em vaacuterios setores tem havido diferentes manifestaccedilotildees

de pessoas oriundas de motivaccedilotildees variadas seja na conquista pela terra pelo

teto por menos impostos por melhores estradas alimentos saudaacuteveis enfim as

pessoas tecircm buscado defender de vaacuterias formas melhores condiccedilotildees em seus

meios de vida As organizaccedilotildees se viram em ambientes mais competitivos com

clientes e consumidores mais exigentes por qualidade Eacute nesse cenaacuterio que pessoas

encontram no cooperativismo uma forma para defender seus interesses coletivo e

solidariamente Deste modo no meio rural muitos produtores se fortalecem nas

cooperativas para comercializar sua produccedilatildeo e melhorar tambeacutem suas condiccedilotildees

de vida Neste panorama o presente trabalho apresenta uma anaacutelise sobre o

processo de participaccedilatildeo em cooperativas rurais tomando como referecircncia a

heterogeneidade existente no quadro social dessas organizaccedilotildees o que leva ao

surgimento de problemas de accedilatildeo coletiva

Para fundamentaccedilatildeo conceitual dessa pesquisa optou-se pela Teoria da

Escolha Racional enfatizada por Mancur Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica da

accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas que motivam a

participaccedilatildeo bem como problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a

coerecircncia a eficaacutecia e a atratividade dos grupos nesse processo Dada a

importacircncia da participaccedilatildeo Amman (1980) a apontada como uma estrateacutegia para a

superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Neste contexto sugere que para atingir o

desenvolvimento as pessoas do meio rural devem se unir em grupos de forma a

juntar forccedilas para busca de soluccedilotildees de seus problemas Assim como argumenta

Bordenave (1983) a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o homem

exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si mesmo

tratando-se de uma necessidade humana e por conseguinte um direito das

pessoas Eacute uma praacutetica transformadora e libertadora que leva o indiviacuteduo a discutir

2

analisar e assumir atitudes conforme corrobora Freire (1982) O processo

participativo se materializa em vaacuterias aacutereas portanto para entender como se daacute a

participaccedilatildeo de associados em cooperativas face ao complexo funcionamento

dessas organizaccedilotildees optou-se por estudar o cooperativismo de produtores rurais a

fim de identificar e compreender como se constroem as estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

nessas cooperativas

De forma geral a necessidade de ser economicamente eficiente sem perder a

finalidade social potildee o cooperativismo num dilema onde os desafios estatildeo divididos

entre de um lado sustentar a originalidade proposta por essa forma de organizaccedilatildeo

social cujos princiacutepios se reforccedilam ao resistir a vaacuterias transformaccedilotildees econocircmicas e

sociais ocorridas desde a sua fundaccedilatildeo em meados do seacuteculo XIX e por outro lado

competir no mercado cumprindo as exigecircncias impostas pelo capitalismo no que se

refere agrave eficiecircncia da organizaccedilatildeo e agrave gestatildeo de seus processos

As questotildees sociais estatildeo entre os desafios competitivos de qualquer

empreendimento independente do ramo de atividade ou puacuteblico alvo por isso eacute

crescente o nuacutemero de projetos sociais patrocinados por empresas de diversos

segmentos assim como accedilotildees voltadas para o bem estar da equipe de trabalho As

cooperativas estatildeo inseridas nesse contexto poreacutem sua funccedilatildeo social natildeo deve se

realizar como diferencial competitivo mas como compromisso estatutaacuterio com seus

soacutecios que eacute a razatildeo de ser do cooperativismo Deste modo uma cooperativa eacute

simultaneamente uma associaccedilatildeo de pessoas e uma organizaccedilatildeo econocircmica

Para tanto com o objetivo de atingir sua finalidade social o cooperativismo

tem como base os Princiacutepios Cooperativos (Anexo 1) que satildeo as regras de conduta

(CARNEIRO 1981) linhas orientadoras da praacutetica cooperativista (OCB 2007)

Dentre outros propotildee igualdade no Princiacutepio da Adesatildeo Voluntaacuteria para funcionar

sem discriminaccedilatildeo social e no Princiacutepio da Gestatildeo Democraacutetica a participaccedilatildeo ativa

na formulaccedilatildeo de poliacuteticas internas e tomada de decisotildees No entanto natildeo haacute uma

efetividade desses princiacutepios se natildeo houver participaccedilatildeo dos associados em suas

respectivas cooperativas

Conforme Braga e Reis (2002) o cooperativismo estaacute presente em quase

todos os paiacuteses do mundo e cerca de 40 da populaccedilatildeo mundial estaacute de alguma

forma ligada a esse movimento Embora no Brasil esse nuacutemero natildeo passe de 10

grande parte dos resultados apresentados pela produccedilatildeo agropecuaacuteria eacute meacuterito das

3

cooperativas Este setor eacute o terceiro em nuacutemero de cooperados Braga e Reis (2002)

estimam um puacuteblico aproximado de seis milhotildees de pessoas envolvidas nesse

segmento considerando cooperados empregados familiares e agregados

Este trabalho teve como objeto de anaacutelise a Cooperativa de Laticiacutenios Vale do

Mucuri Ltda ndash COOLVAM sediada em Carlos Chagas cidade de 24000 habitantes

localizada regiatildeo nordeste do estado de Minas Gerais conhecida entre os

municiacutepios da regiatildeo como ldquocidade do cooperativismordquo assim tambeacutem reconhecida

por outras instituiccedilotildees do mesmo segmento

Atualmente o municiacutepio de Carlos Chagas conta com outras trecircs

cooperativas sendo a Cooperativa de Creacutedito Rural (CREDICAR) a Cooperativa

Educacional (COOEDUCAR) e Cooperativa de Produtos Artesanais de Carlos

Chagas (COOPAC) A Coolvam exerce importante atuaccedilatildeo na organizaccedilatildeo soacutecio-

econocircmica do municiacutepio pois eacute a segunda maior empregadora de matildeo-de-obra o

que demonstra a sua forte participaccedilatildeo na economia local O setor produtivo no

municiacutepio eacute focado essencialmente na agropecuaacuteria principalmente na pecuaacuteria

leiteira que tem na cooperativa uma forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo

principalmente no caso de pequenos produtores rurais Essa conjuntura corrobora a

afirmaccedilatildeo de Graziano da Silva (2000) sobre o cooperativismo como sendo ldquoa uacutenica

forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo dos pequenos produtores rurais em

certos municiacutepiosrdquo

Como forma de organizaccedilatildeo do quadro social funciona haacute dezoito anos o

comitecirc educativo que atua como um oacutergatildeo de assessoria da administraccedilatildeo e dos

cooperados constituiacutedo por um grupo de lideranccedilas que se reuacutenem para identificar e

discutir problemas analisaacute-los e sugerir propostas que atendam aos interesses da

comunidade cooperativista Haacute uma divisatildeo do quadro social em seis comunidades

distribuiacutedas geograficamente na aacuterea de accedilatildeo da COOLVAM onde acontecem

reuniotildees bimestrais com os associados e uma reuniatildeo mensal com as lideranccedilas

das comunidades na sede da Cooperativa Outras formas de contato entre a

administraccedilatildeo e os associados satildeo torneio leiteiro de comunidades realizados

anualmente os dias-de-campo geralmente duas vezes ao ano a veiculaccedilatildeo mensal

do jornal Informativo COOLVAM campanhas de vacinaccedilatildeo e nas assembleacuteias

gerais realizadas nos fins de cada exerciacutecio

4

Considerando a forma estrutural como a COOLVAM lida com os associados

essa cooperativa se qualificaria como exemplo de organizaccedilatildeo cooperativa

conforme aspectos referentes agrave prioridade e importacircncia dadas aos associados e

suas diferenccedilas em relaccedilatildeo a uma sociedade comercial tiacutepica sugerido em

literaturas sobre o relacionamento cooperativa e cooperados Por isso o interesse

desse trabalho se configura em pesquisar como se daacute a participaccedilatildeo em

cooperativas rurais com base na proposta da Teoria da Escolha Racional sobre os

dilemas da accedilatildeo coletiva

A composiccedilatildeo desta dissertaccedilatildeo estaacute estruturada em quatro capiacutetulos a partir

desta introduccedilatildeo que faz a apresentaccedilatildeo geral da finalidade da pesquisa os

objetivos o problema levantado e a metodologia utilizada para realizaccedilatildeo do

trabalho O primeiro capiacutetulo faz uma apresentaccedilatildeo histoacuterica e do contexto

econocircmico-social que perpassam a construccedilatildeo do cooperativismo e o enfrentamento

de seus dilemas O segundo capiacutetulo eacute composto pelo referencial conceitual e

argumentativo que orienta o trabalho e tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias

e argumentos Inicia-se com uma discussatildeo sobre accedilatildeo coletiva e como se

fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme proposta de Mancur Olson

(1999) que direciona as outras discussotildees do trabalho Na seccedilatildeo seguinte haacute uma

abordagem conceitual e praacutetica sobre participaccedilatildeo Em seguida uma discussatildeo

sobre cooperaccedilatildeo e capital social apresentados como correccedilotildees para os dilemas

de accedilatildeo coletiva

No terceiro capiacutetulo apresenta-se o estudo de caso da COOVAM e a anaacutelise

dos resultados dos questionaacuterios e entrevistas realizadas durante a pesquisa No

quarto e uacuteltimo capiacutetulo desta dissertaccedilatildeo apresentam-se as consideraccedilotildees finais

11 Definiccedilatildeo do Problema

Dados da OCB (2001) citados em Braga e Reis (2002) mostram que cerca de

83 dos associados agraves cooperativas agropecuaacuterias possuem propriedades com

dimensatildeo de ateacute 50 hectares ao passo que pouco mais de 5 satildeo grandes

produtores cujas propriedades satildeo superiores a 500 hectares1 Apesar da

1 Para fins desta pesquisa a referecircncia de grande e pequeno produtor rural teraacute como paracircmetro o volume de produccedilatildeo

5

significativa diferenccedila em nuacutemero de pequenos produtores a dinacircmica das relaccedilotildees

sociais no interior das cooperativas eacute marcada por acentuada diferenciaccedilatildeo social

que beneficia sobretudo grandes produtores em detrimento dos pequenos pois os

grandes produtores conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees dessas

organizaccedilotildees (PEREIRA 2002) Isso eacute retratado em estudos sobre o quadro social

das cooperativas agropecuaacuterias brasileiras onde se verifica grande diferenciaccedilatildeo

soacutecio-econocircmica entre os associados jaacute que as cooperativas abrigam grandes e

pequenos produtores rurais Este fato causa o que Pereira (2002) classifica ldquodilemas

do cooperativismordquo que geram implicaccedilotildees de diversas naturezas tais como

Grupos ou indiviacuteduos que possuem maior informaccedilatildeo maior disponibilidade de tempo e que estatildeo articulados com o poder local geralmente conduzem as cooperativas os associados esperam que as lideranccedilas exerccedilam o papel de tutor ou de bom patratildeo resolvendo seus problemas e trazendo benefiacutecios (PEREIRA 2002 P136)

De acordo com Campanhola e Graziano da Silva (2000) as associaccedilotildees e

cooperativas satildeo formas tradicionais de organizaccedilatildeo dos produtores rurais que

facilitam o seu acesso ao mercado aos programas de fomento oficiais agrave assistecircncia

teacutecnica agraves informaccedilotildees entre outros Teoricamente constituem uma forma

participativa de tomada de decisatildeo partindo-se do princiacutepio de que a uniatildeo dos

produtores nessas organizaccedilotildees os fortalece tanto quanto a sua representatividade

para a participaccedilatildeo em conselhos comitecircs comissotildees bem como no seu poder de

barganha com os setores puacuteblico e privado Do mesmo modo haacute uma importacircncia

social atribuiacuteda a essas organizaccedilotildees que satildeo em certos municiacutepios e regiotildees a

uacutenica forma de organizar e comercializar a produccedilatildeo obtida por produtores rurais

No entanto essa proposta de accedilatildeo participativa eacute restrita a uma minoria que

geralmente exerce diferentes papeacuteis na comunidade e deste modo consegue ter

maior acesso a diversos benefiacutecios Instala-se tambeacutem uma condiccedilatildeo hieraacuterquica

verificada na sociedade que causa distanciamento entre as organizaccedilotildees

cooperativas e os associados prejudicial ao desenvolvimento econocircmico e social

dos produtores rurais Isto sucinta questionamentos sobre a universalidade dos

princiacutepios do cooperativismo que enfatizam somente os fatores beneacuteficos dessas

organizaccedilotildees sem levar em conta contradiccedilotildees internas das diferenccedilas soacutecio-

econocircmicas

Tomando como referecircncia as argumentaccedilotildees de Olson (1999) para a anaacutelise

de cooperativas vecirc-se que uma minoria se organiza e conquista posiccedilotildees nas quais

6

conseguem defender interesses proacuteprios Por outro lado grande parte dos

associados principalmente pequenos produtores em maior nuacutemero tecircm dificuldade

em se mobilizar para defesa de seus interesses Baseado nos princiacutepios do

cooperativismo seria de se esperar que as decisotildees tomadas em cooperativas

fossem no sentido de atender aos interesses da maioria dos associados o que nem

sempre ocorre devido agrave concentraccedilatildeo do poder de decisatildeo nas matildeos do pequeno

grupo dominante

A esse respeito Duarte citado em Pereira (2002) destaca que a praacutetica do

cooperativismo tem conferido aos pequenos produtores associados somente a

condiccedilatildeo de usuaacuterios eliminando o seu papel de dono o que enfraquece tanto o

propoacutesito de seus princiacutepios quanto a funccedilatildeo de organizaccedilatildeo para a accedilatildeo coletiva

Dessa maneira conforme sugerido por Ramirez e Berdegueacute (2003) a

compreensatildeo das causas dos ecircxitos e fracassos de estrateacutegias de accedilatildeo coletiva

deve ser uma fonte de aprendizagem para melhorar as intervenccedilotildees orientadas a

modificar os sistemas de exclusatildeo e promover o desenvolvimento rural sustentaacutevel

Nessa perspectiva a participaccedilatildeo eacute apontada por Amman (1980) como uma

estrateacutegia para a superaccedilatildeo do subdesenvolvimento Dentro do cooperativismo

conforme Pereira (2000) natildeo satildeo oferecidos mecanismos para diminuir ou amenizar

as diferenccedilas entre os grupos e a heterogeneidade dos associados o que impede

uma efetiva participaccedilatildeo

Portanto conforme mostram os dados oficiais e a literatura haacute falhas das

associaccedilotildees e cooperativas em atender aos interesses da maioria de seus membros

jaacute que muitas dessas passaram a atuar sem a participaccedilatildeo dos seus associados nas

tomadas de decisotildees as quais se apoacuteiam apenas nas opiniotildees de sua

administraccedilatildeo superior (CAMPANHOLA E GRAZIANO DA SILVA 2000)

A partir deste panorama que mostra a dificuldade de participaccedilatildeo de

pequenos produtores nas cooperativas torna-se oportuno questionar sobre a

controveacutersia do cooperativismo ser instrumento criado para esse fim e ao mesmo

tempo permitir um distanciamento entre estes e os que o gerenciam Assim sendo

indaga-se como se constroacutei a participaccedilatildeo no ambiente de cooperativas rurais

tendo em vista a heterogeneidade do quadro social dessas organizaccedilotildees

Deste modo se na proposta do cooperativismo haacute um diferencial que eacute a

ecircnfase dada agrave igualdade de participaccedilatildeo dos associados cabe questionar sobre as

7

dificuldades das pessoas que natildeo participam assim como os motivos que levam

outros a participar

12 Objetivos

121 Objetivo Geral

Verificar as dificuldades de participaccedilatildeo em cooperativas e a heterogeneidade

relacionada agraves diferenccedilas sociais existentes no quadro social que levam a

problemas de accedilatildeo coletiva como sugerido pela Teoria da Escolha Racional

utilizando o estudo de caso da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM no municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG

122 Objetivos Especiacuteficos

a Identificar e compreender estrateacutegias de accedilatildeo coletiva em cooperativas

b Identificar mecanismos que dificultam a participaccedilatildeo de pequenos produtores rurais associados a cooperativas rurais para o desenvolvimento local

c Analisar o processo de participaccedilatildeo dos diferentes grupos existentes em cooperativas

13 Metodologia

Para conduccedilatildeo desta pesquisa utilizou-se o meacutetodo qualitativo por meio de

estudo de caso Neste meacutetodo segundo Tivinotildes citado em Alencar (2000) as

posiccedilotildees qualitativas baseiam-se especialmente em dois enfoques especiacuteficos o de

compreender e analisar a realidade

Um enfoque eacute o compreensivista o outro eacute o critico participativo com visatildeo histoacuterico-estrurtural e se fundamenta na dialeacutetica da realidade social que parte da necessidade de conhecer a realidade atraveacutes de percepccedilatildeo reflexatildeo e intuiccedilatildeo para transformaacute-la em processos contextuais e dinacircmicos (ALENCAR 2000 p69)

Jaacute o estudo de caso em particular

8

Propotildee-se a investigar um fenocircmeno contemporacircneo em seu contexto real onde os limites entre o fenocircmeno e o contexto natildeo satildeo claramente percebidos por meio do uso de muacuteltiplas fontes de evidecircncias como entrevistas arquivos documentos observaccedilatildeo etc (Yin 1989 citado em Lazzarini 1999 P6)

Portanto a realizaccedilatildeo deste estudo teve como referecircncia empiacuterica produtores

rurais associados agrave Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri Ltda ndash Coolvam no

municiacutepio de Carlos Chagas ndash MG onde se buscou coleta de dados e informaccedilotildees

realizadas por meio de aplicaccedilatildeo de questionaacuterios e entrevistas semi-estruturadas

Os questionaacuterios foram elaborados com questotildees estruturadas de perguntas

e respostas padronizadas e questotildees semi-estruturadas exatamente como sugere

Alencar (2000) nas questotildees semi-estruturadas as perguntas satildeo padronizadas

mas as respostas ficam a criteacuterio do entrevistado ou seja eacute o seu discurso

A populaccedilatildeo para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios foi escolhida por amostragem

probabiliacutestica estratificada neste caso

O universo eacute subdividido (estratificado) em grupos mutuamente exclusivos escolhendo-se uma amostra probabiliacutestica simples de cada estrato A amostragem estratificada conduz a estimativas mais ldquoverdadeirasrdquo do que as obtidas por outros meacutetodos jaacute que eacute interessante conhecer caracteriacutesticas do universo o que ela revela mais claramente (ALENCAR 2000 p64)

A pesquisa foi desenvolvida no periacuteodo entre os anos de 2006 e 2008 sendo

que o trabalho de campo foi realizado durante o mecircs de Janeiro de 2008 Foram

aplicados 62 questionaacuterios Foi possiacutevel conforme planejado envolver a populaccedilatildeo

de 20 dos produtores associados agrave Cooperativa estudada Dos diferentes estratos

de associados ou seja do total de 176 pequenos produtores foram entrevistados

35 do total de 58 meacutedios produtores foram aplicados 17 e aos 35 grandes

produtores foram aplicados sete questionaacuterios

173

35

58

12

35

7

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Pequenos (0 a 200 lts) Meacutedios (201 a 499 lts) Grandes (Mais de 500 lts)

Associados Entrevistados

Figura 01 ndash Composiccedilatildeo da amostra da pesquisada Coolvam 2008

A aplicaccedilatildeo de questionaacuterios foi feita durante o periacuteodo da pesquisa em dois

pontos escolhidos pelo pesquisador na Farmaacutecia Veterinaacuteria da Coolvam e na

Cooperativa de Creacutedito Rural O primeiro foi considerado um local apropriado pois

diariamente agraves sete horas da manhatilde os produtores passam para comprar insumos

para levar agraves fazendas Aproveitou-se da constante presenccedila de associados para

serem abordados e aplicar os questionaacuterios Neste local foi solicitado autorizaccedilatildeo

da gerente da loja para permanecircncia da pesquisadora

O outro local a Credicar considerado ldquoponto de encontro dos produtoresrdquo

Neste lugar foi solicitado ao gerente da agecircncia um espaccedilo para aplicaccedilatildeo dos

questionaacuterios Este autorizou utilizaccedilatildeo de uma mesa com cadeiras ficando um

lugar restrito e apropriado para aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios Desta forma agrave medida

que chegavam os produtores eram abordados O maior nuacutemero de questionaacuterios foi

aplicado no dia do pagamento do leite 20 de janeiro de 2008 pois esta foi a data de

maior concentraccedilatildeo de produtores na cidade

Em nuacutemero menor alguns questionaacuterios foram aplicados nas propriedades

rurais nestes casos o pesquisador foi ateacute as propriedades de produtores indicados

durante a aplicaccedilatildeo de questionaacuterios com os demais na cidade Foi possiacutevel visitar

propriedades de estratos diferentes (pequenos meacutedios e grandes) o que permitiu

ao pesquisador vivenciar estilos de vida proacuteprios de cada um

9

10

A maioria dos questionaacuterios foi aplicada pessoalmente pela pesquisadora aos

produtores possibilitando observar e registrar comentaacuterios adicionais Alguns foram

preenchidos pelos proacuteprios produtores Nestes casos eles eram orientados a fazer

os comentaacuterios nas questotildees

Para obter informaccedilotildees e percepccedilotildees de associados participantes da gestatildeo

da cooperativa foram feitas sete entrevistas semi-estruturadas com o presidente

trecircs conselheiros administrativos dois conselheiros fiscais e dois membros do

comitecirc educativo

As entrevistas semi-estruturadas foram adotadas por serem consideradas

mais apropriadas nas pesquisas em que a compreensatildeo de atitudes ideacuteias e accedilotildees

satildeo relevantes conforme as vantagens classificadas por Alencar (2000)

Estaacute centrada em torno de toacutepicos a serem cobertos durante a entrevista os quais natildeo chegam a assumir a forma de questotildees estruturadas natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo ao aprofundamento dos toacutepicos por meio de questotildees que emergem durante a realizaccedilatildeo da entrevista (ALENCAR 2000 P63)

Algumas entrevistas foram gravadas quando autorizadas pelos entrevistados

e outras foram apenas registradas no caderno de campo respeitando a vontade do

respondente Percebeu-se que o gravador eacute um aparelho que intimidou o falar

portanto por sugestatildeo de entrevistados eram feitas anotaccedilotildees das respostas e em

seguida fazia-se a leitura para confirmaccedilatildeo das falas do entrevistado Aproveitou-se

desse recurso tambeacutem para anotaccedilotildees durante a aplicaccedilatildeo do questionaacuterio para

registrar as percepccedilotildees a partir das observaccedilotildees da pesquisadora

Durante a sistematizaccedilatildeo dos dados das entrevistas optou-se por natildeo

identificar o entrevistado por isso todas as falas seratildeo identificadas pela funccedilatildeo do

entrevistado Nos questionaacuterios aplicados para resguardar individualidade e obter

informaccedilotildees com maior niacutevel de veracidade natildeo foi identificado o respondente Mas

para identificar as respostas dos diferentes estratos todos os questionaacuterios foram

codificados com nuacutemero e a letra que indica o grupo do associado No entanto na

apresentaccedilatildeo dos resultados utiliza-se como identificaccedilatildeo do respondente o seu

estrato social idade e o ano da pesquisa

Utilizou-se tambeacutem a pesquisa bibliograacutefica e documental No primeiro caso

recorreu-se a trabalhos teoacutericos sobre o assunto em questatildeo e levantamento de

dados secundaacuterios Quanto agrave pesquisa documental foram analisadas atas de

assembleacuteias dos uacuteltimos 5 anos sendo que as atas das Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias compreendeu o periacuteodo de 2002 a 2007 e as atas de Assembleacuteias

11

Gerais Extraordinaacuterias no periacuteodo de 1996 a 2007 jaacute que estas acontecem em

menos frequumlecircncia Outras atas analisadas foram de reuniotildees das comunidades

rurais no mesmo periacuteodo Seguiu-se leitura de Informativos e outros jornais da

cidade com o objetivo de verificar informaccedilotildees sobre a cooperativa e participaccedilatildeo

de associados em suas atividades assim como a participaccedilatildeo da cooperativa em

accedilotildees na comunidade

Portanto a busca do entendimento sobre como ocorre a participaccedilatildeo do

quadro social nas atividades desenvolvidas por essas organizaccedilotildees fundamentou-

se na literatura sobre participaccedilatildeo e cooperativismo para associaacute-las a discussotildees

concernentes agrave accedilatildeo coletiva e instituiccedilotildees bem como estudos sobre a construccedilatildeo e

valorizaccedilatildeo de capital social interesse e individualismo cooperaccedilatildeo e confianccedila

Todos esses conceitos foram portanto utilizados na compreensatildeo sobre as

relaccedilotildees sociais e interesses individuais que influenciam a decisatildeo de participar ou

natildeo de accedilotildees coletivas

12

2 O MOVIMENTO COOPERATIVISTA 21 O cooperativismo Este capiacutetulo retrata a origem do cooperativismo o desenvolvimento e

classificaccedilatildeo dos ramos de atividade enfatizando o cooperativismo agropecuaacuterio de

leite com apresentaccedilatildeo da conjuntura e evoluccedilatildeo das organizaccedilotildees cooperativas

desse segmento seu posicionamento mediante o esforccedilo de sobrevivecircncia e

atuaccedilatildeo no mercado cada vez mais competitivo aleacutem dos desafios pertinentes agrave sua

firmeza no compromisso com a funccedilatildeo social

As cooperativas satildeo formas de accedilotildees coletivas organizadas por pessoas que

reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviccedilos para o exerciacutecio de

uma atividade econocircmica de proveito comum sem objetivo de lucro (MONEZI 2004

e SEBRAE 2003) Satildeo caracterizadas por Pinho (1977) como ldquoempresas de

autogestatildeordquo cujo nuacutemero estaacute diretamente relacionado com a satisfaccedilatildeo das

ilimitadas necessidades dos homens e consequentemente com a complexidade do

meio econocircmico no conceito de Bialoskorski Neto (2007) cooperativas satildeo

estruturas intermediaacuterias formadas a partir da accedilatildeo coletiva situadas entre as

economias particulares dos cooperados por um lado e o mercado por outro

O Cooperativismo portanto eacute um movimento filosofia de vida e modelo

socioeconocircmico capaz de unir desenvolvimento econocircmico e bem-estar social

(OCB 2007) A origem do cooperativismo estaacute na cooperaccedilatildeo presente nas

relaccedilotildees humanas e reconhecida como uma praacutetica milenar Mas o corolaacuterio do

princiacutepio cooperativo (Co-operation) como doutrina nasceu de Robert Owen um

visionaacuterio social que criou a concepccedilatildeo de uma nova forma de vida social assim

como descreve Carneiro (1981)

Owen postulava que a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos como ele adiantou de sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO 1981 p72)

Contudo a concretizaccedilatildeo do cooperativismo emergiu de uma reaccedilatildeo popular

agraves condiccedilotildees degradantes de produccedilatildeo e vida em meados do seacuteculo XIX em meio agrave

Revoluccedilatildeo Industrial Tem seu marco em 21 de dezembro de 1844 no bairro de

Rochdale em Manchester Inglaterra como resultado da uniatildeo de 27 tecelotildees e

uma tecelatilde que se reuniram e fundaram a Sociedade dos Probos Pioneiros de

13

Rochdale depois de uma economia mensal de uma libra de cada participante

durante um ano Naquele momento a constituiccedilatildeo de uma pequena cooperativa de

consumo no entatildeo chamado Beco do Sapo (Toad Lane) estaria mudando os

padrotildees econocircmicos da eacutepoca e dando origem ao movimento cooperativista (OCB

2007)

Tendo o homem como principal finalidade - e natildeo o lucro os tecelotildees de

Rochdale buscavam naquele momento uma alternativa econocircmica para atuarem no

mercado frente ao modelo capitalista que os submetiam a preccedilos abusivos

exploraccedilatildeo da jornada de trabalho de mulheres e crianccedilas (que trabalhavam ateacute

dezesseis horas por dia) e do desemprego crescente advindo da Revoluccedilatildeo

Industrial (SESCOOP 2007)

Daiacute em diante vaacuterios movimentos surgiram em todos os pontos do mundo As

cooperativas como organizaccedilotildees similares agraves que conhecemos rapidamente

comeccedilaram a se multiplicar natildeo soacute em extensatildeo geograacutefica mas tambeacutem

setorialmente (Amodeo 2001) No Brasil conforme Schneider (1999) haacute

constataccedilatildeo de que antes e durante o periacuteodo colonial e especialmente durante o

periacuteodo do Impeacuterio houveram vaacuterias experiecircncias associativas entre africanos

foragidos e nas ldquoconfrarias de negrosrdquo A primeira cooperativa de produccedilatildeo

agropecuaacuteria foi criada em 1847 numa colocircnia no Paranaacute (COOPERFORTE 2008)

Em Minas Gerais foi formalizada a Sociedade Cooperativa Econocircmica dos

Funcionaacuterios Puacuteblicos de Ouro Preto no ano de 1889 (OCB 2007) Entretanto a

experiecircncia de cooperaccedilatildeo econocircmica e social no modelo rochdaleano se originou

com a implantaccedilatildeo das primeiras cooperativas de consumo em 1891 em Limeira

Satildeo Paulo

De modo geral as cooperativas satildeo orientadas pelos Princiacutepios do

Cooperativismo (Anexo I) que satildeo as normas regulamentadoras e tecircm impliacutecito os

valores que regem todas as organizaccedilotildees cooperativistas Esses valores que

norteiam as cooperativas satildeo a ajuda e responsabilidade proacuteprias democracia

igualdade equidade e solidariedade Pela tradiccedilatildeo dos seus fundadores os

membros das cooperativas devem acreditar nos valores eacuteticos da honestidade

transparecircncia responsabilidade social e preocupaccedilatildeo pelos outros (ACI 2003)

14

Os princiacutepios cooperativistas vistos isoladamente pouco expressam mas

tomados em bloco segundo Schneider (1999) apresentam uma grande loacutegica

coerecircncia interna e uma grande eficaacutecia dessas organizaccedilotildees

Neste trabalho dois dentre os sete princiacutepios satildeo o alvo das discussotildees o

princiacutepio da adesatildeo voluntaacuteria e livre e o princiacutepio da gestatildeo democraacutetica a saber

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica (OCB 2007335)

Essa escolha se justifica porque satildeo estes os princiacutepios que mais diretamente

sustentam a forma de participaccedilatildeo dos membros associados em organizaccedilotildees

cooperativas

O movimento cooperativista mundial eacute coordenado pela Alianccedila Cooperativa

Internacional (ACI) que segundo Schneider (1999) tem a responsabilidade de

adequar os Princiacutepios Cooperativistas a uma realidade econocircmica e social em

evoluccedilatildeo com o compromisso de fidelidade aos valores fundamentais da

cooperaccedilatildeo Portantoeacute um oacutergatildeo representativo dos diversos paiacuteses que mantem e

regulamenta esses princiacutepios Contudo as normas fundamentais baseadas no

Estatuto de Rochdale satildeo utilizadas ateacute os dias de hoje no sistema cooperativista

buscando enfrentar a dinacircmica da desigualdade socioeconocircmica persistente em

vaacuterios setores da sociedade

O oacutergatildeo maacuteximo de representaccedilatildeo das cooperativas no paiacutes eacute a Organizaccedilatildeo

das Cooperativas Brasileiras (OCB) responsaacutevel pela promoccedilatildeo fomento e defesa

do sistema cooperativista em todas as instacircncias poliacuteticas e institucionais (OCB

2007) Eacute de sua responsabilidade tambeacutem a preservaccedilatildeo e o aprimoramento desse

sistema Jaacute em acircmbito estadual existem as OCEs que satildeo as Organizaccedilotildees

Cooperativas Estatuais num total de 27 unidades que passaram a ser os agentes

poliacuteticos e representativos que zelam e divulgam a doutrina cooperativista em seus

respectivos estados

15

A legislaccedilatildeo cooperativista regulamenta um nuacutemero miacutenimo de vinte pessoas

para constituiccedilatildeo de uma cooperativa Embora os princiacutepios primitivos de Rocdale

reafirmavam a livre adesatildeo estes fixavam provisoriamente um limite de 250

associados (Schneider 1999) Nesse aspecto houve evoluccedilatildeo para o caraacuteter

indiscriminativo de participaccedilatildeo pois o princiacutepio da livre adesatildeo natildeo impotildee nenhum

limite em nuacutemero de associados No entanto analogamente conforme exposto na

teoria dos grupos agrave medida que organizaccedilotildees cooperativas crescem em nuacutemero de

associados aumentaraacute tambeacutem as dificuldades de se organizar e defender os

interesses individuais dos seus membros

Em face dessa evoluccedilatildeo conforme Tauk Santos e Lima (2004) na dinacircmica

da cooperativa em relaccedilatildeo ao ambiente externo haacute desafios tanto para a

participaccedilatildeo do indiviacuteduo quanto a sua capacidade de delegar poder ao coletivo

Estes desafios satildeo assim classificados por esses autores

a)o desafio dos valores cooperativos que eacute reagrupar pessoas que tenham uma necessidade comum em um projeto segundo os valores do cooperativismo b) o desafio da relaccedilatildeo de uso refere-se agraves vantagens cooperativas de seus membros c) o desafio do desenvolvimento da coletividade oferecer melhores produtos e serviccedilos aos membros promovendo o desenvolvimento harmonioso da comunidade d) o desafio daldquoeducaccedilatildeo cooperativa que daacute ecircnfase agraves diferenccedilas cooperativas seus papeacuteis e suas responsabilidades no sentido de manter uma coesatildeo no seu desenvolvimento e) e finalmente o desafio do serviccediloproduto materializado no esforccedilo de ofertar um produto ou serviccedilo no quadro de desenvolvimento cooperativo ressaltando as vantagens em relaccedilatildeo ao desenvolvimento tradicional (TAUK SANTOS E LIMA 2004 p3)

Mas o desafio ainda maior eacute assegurar a identidade cooperativa com a

vitalidade dos princiacutepios colocados como condicionantes agraves organizaccedilotildees

cooperativas Dessa forma as cooperativas seguem superando as modificaccedilotildees e

constante evoluccedilatildeo nos diversos segmentos da sociedade com vistas ao

crescimento em seu ramo de atividade

211 Caracterizaccedilatildeo das cooperativas

Uma caracterizaccedilatildeo para identificaccedilatildeo das cooperativas eacute a classificaccedilatildeo por

ramos de atividades conforme os segmentos de atuaccedilatildeo No Brasil a OCB os dividiu

em treze onde estatildeo agrupados um nuacutemero de 7518 cooperativas com 6791054

associados e a respectiva geraccedilatildeo de aproximadamente 200000 empregos Em

todos os ramos natildeo eacute difiacutecil encontrar modelos e exemplos de sucesso de

16

empreendimentos cooperativos que se tornaram gigantes na economia nacional e

mundial a exemplo o reconhecimento da Mondragoacuten Corporacioacuten Cooperativa ndash

MCC frequentemente citada como modelo de sucesso de cooperativismo

a MCC reuacutene 104 cooperativas e estaacute estruturada em trecircs grandes grupos financeiroindustrial e distribuiccedilatildeo aleacutem de contar com onze centros de pesquisa e desenvolvimento uma universidade e um centro de formaccedilatildeo cooperativa e empresarial ndash Otalora O grupo industrial eacute sub dividido em (automotivo componentes construccedilatildeo equipamentos industriais eletrodomeacutesticos moacuteveis e bens de capital)Com sede no paiacutes Basco Espanha a MCC eacute 7ordm maior grupo econocircmico espanhol (AZEVEDO 2007 p2)

Essa conjuntura ilustra o que faz cada vez mais cooperativas planejarem

crescimento para atender competitivamente os desafios e demandas de mercado

Nesse sentido mesmo quando globalizadas devem teoricamente ser fieacuteis agrave missatildeo

do cooperativismo com seus soacutecios ainda que atuem de forma corporativa como as

empresas tradicionais em locais distantes de seus cooperados Contudo da certeza

da importacircncia e resultados do cooperativismo visto a dimensatildeo que essas

organizaccedilotildees tecircm tomado natildeo haacute duvida de que seja difiacutecil manter racionalmente a

fidelidade aos princiacutepios e atuar com a participaccedilatildeo ativa dos cooperados diante da

complexidade de accedilotildees exigida por esse direcionamento

Tomadas essas proporccedilotildees eacute crescente tambeacutem a necessidade de

profissionais competentes em diferentes aacutereas para participarem da elaboraccedilatildeo de

metas e defesa dos interesses da organizaccedilatildeo cooperativa conforme descreve

Amodeo (2001)

Os apelos para profissionalizar a gestatildeo e buscar melhorar a competitividade podem ser considerados o eixo que orienta as transformaccedilotildees recentes das cooperativas (AMODEO 2001 p11)

Surge em resposta ao atendimento dessa necessidade uma complexa

estrutura de gestatildeo se visualizar que dentre as diferentes aacutereas em que o

movimento cooperativista atua elas cumprem papeacuteis distintos em todas as fases de

um processo de produccedilatildeo quais sejam nas funccedilotildees de fornecedoras ou

consumidoras e transformadoras de bens ou serviccedilos Nesse aspecto o ramo

agropecuaacuterio eacute um dos mais complexos do segmento cooperaivista

212 O cooperativismo agropecuaacuterio

Os trabalhadores pioneiros de Rochdale visualizaram nas cooperativas uma

forma de propiciar ajuda muacutetua entre eles Do mesmo modo os produtores rurais

17

esperam no cooperativismo agropecuaacuterio um meio de apoacuteia-los no enfrentamento

dos inuacutemeros desafios desse segmento

No Brasil o Ramo Agropecuaacuterio tem o maior nuacutemero de cooperativas em

torno de 1514 com 879918 associados e maior gerador de emprego com

aproximadamente 124000 empregados o que define sua importacircncia em

participaccedilatildeo no desenvolvimento econocircmico do paiacutes Este ramo eacute caracterizado pela

OCB da seguinte forma

O Ramo Agropecuaacuterio eacute definido por cooperativas formadas por produtores rurais e tecircm como finalidade organizar a produccedilatildeo dos seus associados em maior escala garantindo um melhor preccedilo na comercializaccedilatildeo de seus produtos Visa tambeacutem integrar e orientar suas atividades bem como facilitar a utilizaccedilatildeo reciacuteproca dos serviccedilos como adquirir insumos dividir custos de assistecircncia teacutecnica difundir o uso de novas tecnologias produtivas comercializar a produccedilatildeo e em muitos casos beneficiar e industrializar as mateacuterias-primas eliminando o atravessador e vendendo a produccedilatildeo dos cooperados diretamente ao consumidor (OCB 2007 p334)

Das accedilotildees desenvolvidas pelas cooperativas no segmento agropecuaacuterio as

mais comuns conforme Amodeo (2001) satildeo venda de insumos (fertilizantes

sementes agrotoacutexicos etc) ferramentas e maquinaria agriacutecola pesquisa e

assistecircncia teacutecnica aos produtores processamento industrializaccedilatildeo e distribuiccedilatildeo da

produccedilatildeo exportaccedilatildeo classificaccedilatildeo padronizaccedilatildeo e embalagem de produtos in

natura serviccedilos de creacuteditos seguros e administraccedilatildeo

Segundo Amodeo (2001) eacute na interface entre a agricultura e a induacutestria que

as cooperativas agropecuaacuterias crescem a montante e a jusante a fim de obter

melhores resultados para os seus cooperados na medida em que paralelamente

satildeo intensificados os processos de modernizaccedilatildeo da agricultura tanto na induacutestria

de insumos ou bens para a agricultura quanto na induacutestria que compra a oferta

agriacutecola para o seu processamento e distribuiccedilatildeo

Os produtores rurais tambeacutem satildeo pressionados nessa mesma direccedilatildeo e eacute por

meio da mediaccedilatildeo dessas cooperativas que as demandas por especializaccedilatildeo de

produtores vecircm sendo atendidas principalmente no grupo dos pequenos Os

processos produtivos no campo estatildeo cada vez mais pautados nas particularidades

dos processos industriais Daiacute a amplitude do cooperativismo agropecuaacuterio pois

participa do desenvolvimento e especializaccedilatildeo da produccedilatildeo de seus associados

transferindo tecnologia melhorando a renda e possibilitando o desenvolvimento

rural

18

Deste modo eacute grande o nuacutemero de atividades econocircmicas abrangidas pois

conforme a OCB (2007) essas cooperativas geralmente cuidam de toda a cadeia

produtiva desde o preparo da terra ateacute a industrializaccedilatildeo e comercializaccedilatildeo dos

produtos De modo geral conforme Braga e Reis (2002) as cooperativas de

produtores tem desempenhado importante papel na fixaccedilatildeo do homem no campo e

na distribuiccedilatildeo de renda O resultado econocircmico portanto eacute a significativa

participaccedilatildeo na economia Conforme a OCB (2008) cooperativas agropecuaacuterias

movimentam cerca de 6 do PIB nacional e tecircm uma participaccedilatildeo entre 35 a 40

no PIB agriacutecola

Desde o iniacutecio dos anos 90 as cooperativas sofreram fortes impactos

macroeconocircmicos conforme registros de Lopes et alli (2002) estabilizaccedilatildeo

econocircmica com o Plano Real abertura comercial acelerada desregulamentaccedilatildeo dos

mercados agriacutecolas e imposiccedilotildees de maior disciplina fiscal Nesse cenaacuterio a

consolidaccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio na economia brasileira conforme

OCB (2007) foi resultado do esforccedilo de produtores pela modernizaccedilatildeo do sistema

incorporaccedilatildeo de tecnologia agraves suas atividades e profissionalizaccedilatildeo da gestatildeo Essa

postura vem permitindo que cooperativas permaneccedilam atuando no mercado

competitivamente

Deste modo a dinacircmica de operacionalizaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees vai aleacutem

das intenccedilotildees que estavam impliacutecitas no desejo de associaccedilatildeo que impulsionou o

surgimento das cooperativas Eacute nessa perspectiva que as cooperativas de laticiacutenios

atuam Portanto a seccedilatildeo seguinte tem a finalidade de demonstrar o que vem

ocorrendo na evoluccedilatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a atuaccedilatildeo dos

produtores rurais no setor

213 O Cooperativismo agropecuaacuterio de leite e a participaccedilatildeo de

produtores rurais

Para se ter a dimensatildeo e extensatildeo do cooperativismo agropecuaacuterio de leite

dentro da economia global apresenta-se as perspectivas atuais e futuras dessas

cooperativas no mercado face ao cenaacuterio dos resultados desse segmento Para isso

recorreu-se a estudos sobre o setor leiteiro pois esta atividade eacute a maior geradora

de emprego no mercado nacional de trabalho e responsaacutevel por grande parte da

fixaccedilatildeo e sobrevivecircncia de famiacutelias no meio rural

19

Em muitos paiacuteses a participaccedilatildeo das cooperativas na captaccedilatildeo de leite eacute

relativamente alta chegando a 80 na Austraacutelia 83 na Holanda e EUA mais de

95 na Nova Zelacircndia (Chaddad 2004) e na Iacutendia sede do maior movimento

cooperativo do mundo 94 dos laticiacutenios provecircm de cooperativas (Amodeo 2001)

Nesse cenaacuterio o crescimento dessas organizaccedilotildees natildeo tem ficado restrito a

uma atuaccedilatildeo no mercado local na funccedilatildeo de intermediar o produtor rural As

cooperativas tecircm apresentado um crescimento cada vez mais acelerado e

conseguido atuar na economia mundial haja vista alguns exemplos de grandes

cooperativas de leite reconhecidas neste setor

Fonterra liacuteder absoluta no mercado da Nova Zelacircndia com mais de 95 do leite do paiacutes (14 bilhotildees de litrosano) a cooperativa mais globalizada do mundo() seu lema eacute nossa casa eacute o mundordquo controla hoje cerca de 30 do mercado internacional de laacutecteos possui alianccedilas em diversos continentes inclusive com potenciais concorrentes

Arla Foods eacute a maior cooperativa de laticiacutenios da Europa com cerca de 84 bilhotildees de litros anuais Foi a primeira grande fusatildeo entre cooperativas transnacionais a sueca Arla e a dinamarquesa MD Foods Apesar do porte gigantesco sabe que precisa crescer mais precisa olhar para aleacutem de suas fronteiras europeacuteias (CARVALHO 2008 P1)

A Cooperativa Daiy Farmers of Ameacuterica (DFA) participa de treze joint-ventures com empresas americanas e multinacionais visa ganhar competitividade num mercado global por meio de raacutepido reposicionamento (MARTINS ET ALLI 2004 P 58)

Nesse segmento o Brasil eacute o sexto maior produtor mundial de leite

entretanto ainda haacute uma baixa participaccedilatildeo de cooperativas na captaccedilatildeo e

comercializaccedilatildeo deste produto Conforme Chaddad (2004) no paiacutes essa

participaccedilatildeo estaacute em torno de 22 da captaccedilatildeo do volume total do leite produzido e

40 do leite comercializado no mercado formal ou seja captado por laticiacutenios

legalmente inspecionados

Grandes mudanccedilas tecircm ocorrido em torno das cooperativas de laticiacutenios

brasileiras Recentemente importantes decisotildees foram registradas para assumir

formatos que sejam competitivos entre cooperativas e entre outras empresas A

Itambeacute - Cooperativa Central de Produtores Rurais de Minas Gerais eacute um exemplo

da importacircncia crescente das cooperativas na economia nacional

A Itambeacute eacute a maior cooperativa brasileira de laticiacutenios quer ampliar sua linha de produtos expandir a atuaccedilatildeo no mercado interno e aos poucos aumentar as exportaccedilotildees Com 58 anos de atividade a cooperativa alcanccedilou faturamento bruto de 13 bilhotildees de reais em 2005 Satildeo 8 000 produtores rurais cadastrados na cooperativa responsaacuteveis pelo fornecimento diaacuterio de 27 milhotildees de litros de leite (OCEMG 2008 P1)

20

Por outro lado a Cooperativa do Vale do Rio Doce (Cooperriodoce) a maior

cooperativa regional no leste de Minas Gerais recentemente teve seu parque

industrial vendido para Parmalat um grupo privado

Este cenaacuterio ilustra o desafio das cooperativas em permanecer no mercado

frente agrave missatildeo que desempenham como promotoras de desenvolvimento social

Em artigo com o tiacutetulo ldquoo capital encontrou o leiterdquo Carvalho (2008) mostra como

empresas de outros ramos tecircm investido no setor de laticiacutenios o que ameaccedila

diretamente as cooperativas

A compra dos Laticiacutenios Morrinhos dona da marca LeitBom pela GP investimentos natildeo deixa mais duacutevidas o capital finalmente descobriu o leite Em meio a uma onda de aquisiccedilotildees protagonizadas pela Laep (Parmalat) Perdigatildeo Bom Gosto e Liacuteder nada mais emblemaacutetico para representar a corrida ao leite do que a investida de um grupo conhecido pela sua habilidade de multiplicar o capital dos negoacutecios em que investe

O ponto eacute que se trata de uma inovaccedilatildeo consideraacutevel feita por quem chega de fora olha para o setor sem os vieses criados por quem jaacute estaacute nele haacute tempos e faz perguntas que os participantes tradicionais com suas posiccedilotildees de lideranccedila natildeo precisam fazer essa descoberta traz ameaccedilas ainda maiores para as cooperativas(CARVALHO 2008 p1)

O extrato da entrevista transcrito a seguir ilustra uma preocupaccedilatildeo da

lideranccedila da cooperativa objeto deste estudo no que se refere a perspectivas de

longo prazo quanto agrave sua sobrevivecircncia

Temos a necessidade para os proacuteximos 10 anos muito grande de crescer de unir Vem crescendo mas ainda eacute pequena em relaccedilatildeo ao mundo globalizado precisa unir jaacute fez incorporaccedilatildeo de Satildeo Domingos do Prata precisa juntar mais cooperativas ser forte para disputar mercado Se natildeo crescer com outras cooperativas se natildeo acontecer uma uniatildeo de cooperativas vai sair de circulaccedilatildeo (Diretor Presidente COOLVAM 2008)

Desse mesmo modo a preocupaccedilatildeo quanto agrave continuidade e sobrevivecircncia eacute

comum nas pequenas cooperativas devido principalmente agrave pressatildeo que sofrem do

mercado na comercializaccedilatildeo de produtos pois concorrem com cooperativas maiores

e com grandes empresas privadas

Esse quadro vem progredindo desde a deacutecada de 90 com a abertura de

mercado onde a entrada de produtos como o leite tiveram condiccedilotildees de

financiamento mais favoraacuteveis do que nas induacutestrias nacionais que foram obrigadas

a reduzir preccedilos (FAVERET FILHO 2002) Nesse periacuteodo milhares de produtores

abandonaram a atividade e empresas regionais e cooperativas fecharam ou foram

vendidas

21

Conforme Faveret Filho (2002 p240) tais mudanccedilas levaram empresas a

buscar mecanismos de aumento da eficiecircncia produtiva Portanto haacute grandes

desafios para as cooperativas de laticiacutenios brasileiras principalmente as pequenas

cooperativas em atuar nesse mercado Eacute por esse motivo que a forma de conduzi-

las eacute discutida em diferentes perspectivas Sob o ponto de vista de Chaddad (2004)

o desempenho dessas organizaccedilotildees se daacute em funccedilatildeo de

poliacutetica agriacutecola regulamentaccedilatildeo do setor leiteiro barreiras agrave importaccedilatildeo de leite e derivados estrutura do setor produtivo poliacuteticas de apoio a organizaccedilotildees cooperativas niacutevel tecnoloacutegico e educacional dos produtores e ambiente institucional entre outros (CHADDAD 2004 p36)

Outro trabalho realizado com cooperativas de leite de outros paises identificou

pontos comuns indicados como responsaacuteveis pelo sucesso dessas organizaccedilotildees

Consolidaccedilatildeo por meio de fusotildees e incorporaccedilotildees

Alianccedilas estrateacutegicas

Sistema profissional e representativo de governanccedila corporativa

Estrutura centralizada

Esforccedilos de fidelizaccedilatildeo do cooperado

Novos mecanismos de capitalizaccedilatildeo

Estrateacutegia competitiva alinhada com estrutura corporativa

(CHADDAD 2004 p37) Esses pontos corroboram Faveret Filho (2002) ao mostrar que mudanccedilas no

ambiente competitivo devido agrave globalizaccedilatildeo e avanccedilos tecnoloacutegicos forccedilam as

cooperativas a buscar ganhos de eficiecircncia a fim de natildeo perder relevacircncia no

mercado Segundo Chaddad (2004) essa busca resultou em alianccedilas estrateacutegicas

com outras cooperativas ou mesmo com empresas privadas O termo alianccedila

estrateacutegica expressa a decisatildeo de uma ou mais empresas cooperarem para atingir

objetivos comuns Para Lewis citado em Rola e e Sobral (2002) numa alianccedila

estrateacutegica as empresas cooperam em nome de suas necessidades muacutetuas e

compartilham os riscos para alcanccedilar um objetivo comum

Todos os pontos indicados para o sucesso das cooperativas de lacticiacutenios

devem ser cuidadosamente discutidos e avaliados para adequada aplicaccedilatildeo

conforme a realidade de cada cooperativa Para isso os gestores devem ter uma

visatildeo ampla da organizaccedilatildeo e conhecer o ambiente onde a empresa estaacute inserida

(SANTOS 2000) Deste modo o planejamento e execuccedilatildeo de diferentes formas de

22

atuaccedilatildeo do cooperativismo frente agrave conjuntura apresentada passam a ser a busca

pelo aperfeiccediloamento das ferramentas de gestatildeo Isso exige dos dirigentes assim

como dos soacutecios conhecimento e constante aperfeiccediloamento

22 A tomada de decisatildeo na gestatildeo da organizaccedilatildeo cooperativa

Na operacionalizaccedilatildeo das atividades gerenciais da cooperativa assim como

em outro tipo de empresa o corpo diretivo deve estar atento aos objetivos

especiacuteficos agrave missatildeo da organizaccedilatildeo Isso facilita a busca do consenso e

potencializa os esforccedilos das partes em benefiacutecio do todo (Santos 2000)

Deste modo para que as tomadas de decisotildees sejam compartilhadas de

forma oportuna e adequada na cooperativa os dirigentes e associados devem ter

claro seu papel no processo administrativo

A tabela 01 que segue mostra as diferenccedilas tiacutepicas entre uma empresa

mercantil e uma organizaccedilatildeo cooperativa

Empreendimento cooperativo Empresa mercantil

bull sociedade simples regida por

legislaccedilatildeo especiacutefica bull nuacutemero de associados limitado agrave

capacidade de prestaccedilatildeo de serviccedilos bull controle democraacutetico cada pessoa

corresponde a um voto bull objetiva a prestaccedilatildeo de serviccedilos bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no nuacutemero de associados bull natildeo eacute permitida a transferecircncia de

quotas-parte a terceiros bull retorno dos resultados eacute proporcional

ao valor das operaccedilotildees

bull sociedade de capital - accedilotildees bull nuacutemero limitado de soacutecios bull cada accedilatildeo ndash um voto bull objetiva o lucro bull quorum de uma assembleacuteia eacute

baseado no capital bull eacute permitida a transferecircncia e a venda

de accedilotildees a terceiros bull dividendo eacute proporcional ao valor de

total das accedilotildees

Tabela 1 Diferenccedila entre organizaccedilatildeo cooperativa e empresa mercantil Fonte OCB ( 2007)

Portanto os dirigentes devem dar maior atenccedilatildeo a pontos que merecem mais

cuidado na gestatildeo cooperativa Conforme Chiavenato (1993) no funcionamento das

organizaccedilotildees as vaacuterias funccedilotildees do administrador consideradas como um todo

formam o processo administrativo composto pelo planejamento organizaccedilatildeo

direccedilatildeo e controle Consideradas separadamente constituem as funccedilotildees

administrativas mas quando visualizadas na sua abordagem total para o alcance de

objetivos elas formam esse processo De acordo com Chiavenato (1993) o processo

23

administrativo implica que os acontecimentos e as relaccedilotildees sejam dinacircmicos com

mudanccedilas contiacutenuas uma vez que este natildeo eacute algo parado estaacutetico eacute moacutevel natildeo

tem um comeccedilo nem um fim nem uma sequumlecircncia fixa de eventos

Neste caso o papel da direccedilatildeo eacute dinamizar a empresa com atuaccedilatildeo sobre

todos os recursos e orientaccedilatildeo a ser dada agraves pessoas por meio de uma adequada

comunicaccedilatildeo habilidade de lideranccedila e motivaccedilatildeo Na gestatildeo da organizaccedilatildeo

cooperativa conforme Schneider (1999) cabe aos gestores encontrar mecanismos

de decisatildeo que sejam conformes ao mesmo tempo agraves exigecircncias essenciais da

democracia cooperativa e aos da eficaacutecia-eficiecircncia da empresa orgacircnica

Deste modo em niacutevel de coordenaccedilatildeo da empresa as decisotildees se ordenam

segundo uma hierarquia em decisotildees estrateacutegicas decisotildees taacuteticas e decisotildees

teacutecnicas ou operacionais De acordo com Chiavenato (1993) o niacutevel estrateacutegico

corresponde ao niacutevel mais elevado da empresa cuida das atividades da

organizaccedilatildeo e seu ambiente Situam-se as decisotildees fundamentais de ordem geral

ou econocircmica e que envolvem os objetivos de meacutedio e longo prazo Conforme

Schneider (1999) em cooperativas deve ser realizada de forma soberana pelos

associados tendo em vista os seus interesses seguindo determinados planos

As decisotildees taacuteticas satildeo do niacutevel gerencial coordenam e unificam o

desempenho das tarefas pelo sistema operacional Cabem aos gestores ou teacutecnicos

decidir pela melhor conduta ou teacutecnica de produccedilatildeo Neste niacutevel conforme

Schneider (1999) em cooperativas cabe um papel maior aos membros do Conselho

de Administraccedilatildeo que concretizam as diretrizes gerais do niacutevel estrateacutegico

O niacutevel teacutecnico operacional diz respeito ao desempenho das tarefas na

organizaccedilatildeo relacionadas agrave produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo de produtos Conforme

Chiavenato (1993) estaacute relacionado agrave execuccedilatildeo cotidiana e eficiente das tarefas e

operaccedilotildees da organizaccedilatildeo Segundo Schneider em cooperativas essa fase estaacute

acessiacutevel a um nuacutemero limitado de soacutecios eacute atribuiccedilatildeo predominante do quadro

executivo e teacutecnico da cooperativa

Eacute importante considerar tambeacutem que um fator que influencia particularmente

a forma de accedilatildeo na tomada de decisotildees eacute o tamanho da empresa Em cooperativas

Schneider (1999) faz a seguinte observaccedilatildeo

Quando se trata de uma cooperativa pequena geralmente os associados compreendem mais facilmente a natureza dos problemas e de suas soluccedilotildees Por isso tecircm melhores condiccedilotildees de eles mesmos tomarem as decisotildees em todos os niacuteveis ateacute mesmo as de caraacuteter teacutecnico Poreacutem numa cooperativa maior

24

e mais complexa a estrutura de poder se apresenta com clara distinccedilatildeo entre a estrutura de fins e a estrutura de meios os fins se asseguram pela assembleacuteia de soacutecios que expressa de forma soberana seus objetivos e interesses pelos fiscais eleitos e pelo presidente Os meios satildeo realizados atraveacutes da direccedilatildeo os executivos contratados os teacutecnicos e os funcionaacuterios (SCHNEIDER 1999 p188)

Na evoluccedilatildeo do processo administrativo em cooperativas portanto as

tomadas de decisotildees tecircm a participaccedilatildeo dos soacutecios efetivadas nas instacircncias de

poder conforme descrito por Schneider (1999)

a) Assembleacuteia Geral ordinaacuteria ou extraordinaacuteria eacute o oacutergatildeo soberano que expressa a vontade soberana dos soacutecios sobre todos os assuntos essenciais da organizaccedilatildeo Tem analogia com a assembleacuteia de acionistas de uma sociedade anocircnima

b) O Conselho de Administraccedilatildeo a democracia natildeo significa o governo de todos de forma direta e imediata em todos os niacuteveis de atividade da organizaccedilatildeo Reivindicar a democracia direta onde os soacutecios participariam de todos os niacuteveis de decisotildees levaria agrave perda da agilidade e eficiecircncia imprescindiacuteveis em cada empresa Ela soacute eacute possiacutevel em unidades muito pequenas

c) Outras instacircncias de poder satildeo o Conselho Diretor escolhido dentre os membros do Conselho de Administraccedilatildeo quando este eacute muito grande e dificulta a coesatildeo e o razoaacutevel grau de informaccedilatildeo Sua funccedilatildeo eacute exercer por delegaccedilatildeo as atribuiccedilotildees outorgadas pelo Conselho de Administraccedilatildeo Eacute um oacutergatildeo de tutela permanente do presidente ao qual devem submeter-se as principais decisotildees ou um organismo colegiado de decisotildees (SCHNEIDER 1999 P189 - 190)

Vinculado ao Conselho de Administraccedilatildeo eacute criado em cooperativas o Comitecirc

Educativo segundo Valadares (1995) este assume as atividades vinculadas ao

desenvolvimento social e poliacutetico dos associados preparando e capacitando-os para

agirem decisivamente na organizaccedilatildeo cooperativa Este mecanismo possibilita aos

associados atuarem em grupo e constitui-se de um canal por meio do qual podem

expressar suas necessidades desejos e inquietudes aleacutem de constituir um meio de

comunicaccedilatildeo e informaccedilatildeo importante entre os dirigentes e as bases sociais

Portanto o seu funcionamento estaacute orientado pelos objetivos de estruturar um

espaccedilo de poder na cooperativa viabilizando a participaccedilatildeo democraacutetica do maior

nuacutemero de associados na gestatildeo cooperativa (VALADARES 2005)

Ao tratar do processo administrativo no acircmbito interno das cooperativas

devem ser estimuladas interaccedilotildees entre os cooperados aleacutem da participaccedilatildeo

nessas instacircncias de poder Nesse sentido uma das condiccedilotildees colocadas por

Schneider (1999) eacute a necessidade de superar a impessoalidade nas interaccedilotildees entre

a cooperativa e os associados mais comum em cooperativas grandes e conseguir

articulaccedilatildeo de todos por meio de um variado circuito de informaccedilotildees livres de

quaisquer manipulaccedilotildees que seraacute ao mesmo tempo um estiacutemulo ao conhecimento e

agrave discussatildeo

25

O risco da falta de informaccedilatildeo do produtor nesse processo pode acarretar um

consequumlente sentimento de desconfianccedila que de acordo com a observaccedilatildeo de

Perius (1983) a esse respeito ldquonasce assim um conflito entre soacutecios e

administradoresrdquo Para este autor A informaccedilatildeo completa e apropriada aos soacutecios eacute essencial tarefa da educaccedilatildeo cooperativista Sendo a atividade cooperativa uma atividade essencialmente econocircmica esses conhecimentos devem incluir definitivamente informaccedilotildees completas e exatas sobre os programas as poliacuteticas as operaccedilotildees e as estruturas da cooperativa como empresa comercial (JOACHIM CIT IN PERIUS 1983 p 73)

Com essas observaccedilotildees confirma-se que a comunicaccedilatildeo deve ter

importacircncia vital no processo de gestatildeo cooperativa pois esta quando utilizada em

diferentes canais acessiacuteveis ao produtor vai materializar a participaccedilatildeo de

cooperados nos diferentes niacuteveis de tomadas de decisotildees

23 Perfil do Produtor de Leite de cooperativas Grande parte da produccedilatildeo de leite no paiacutes eacute realizada por pequenos

produtores que em sua maioria tecircm na atividade a uacutenica fonte de renda Conforme

Gomes (2005) a produccedilatildeo de leite em Minas Gerais configura-se como uma das

atividades mais importantes para a economia do Estado Eacute tambeacutem significativa face

ao seu percentual de participaccedilatildeo no volume total da produccedilatildeo nacional

Nesse segmento a referecircncia tiacutepica a produtores rurais se daacute em funccedilatildeo do

volume produzido identificando-os como pequeno meacutedio e grande produtor

Conforme Gomes (1987 e 2005) o perfil do produtor de leite em Minas Gerais segue

as seguintes caracteriacutesticas

o pequeno produtor trabalha com produtividade meacutedia de 25 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 12 litros de leite Cerca de 90 da matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente familiar

O meacutedio produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 40 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo meacutedia diaacuteria 100 L de leite A matildeo-de-obra utilizada na atividade leiteira eacute predominantemente contratada e a matildeo-de-obra familiar corresponde a 30

Jaacute o grande produtor trabalha com uma produtividade meacutedia eacute 6 Ldiavaca em lactaccedilatildeo e a produccedilatildeo diaacuteria 360 litros de leite A matildeo-de-obra familiar corresponde a apenas 8 do total (Gomes 1987)

A Idade meacutedia de 52 anos para os pequenos produtores sendo constatado um envelhecimento neste grupo fenocircmeno tiacutepico da pequena produccedilatildeo familiar isto eacute o chefe da famiacutelia suporta conviver com pequena lucratividade

A escolaridade meacutedia de 517 anos o que aumenta agrave medida que aumentam os estratos de produccedilatildeo

Os produtores de mais de 1000 litros tecircm 658 anos de escolaridade

Em meacutedia os produtores tecircm 20 anos de experiecircncia na atividade leiteira

Predominantemente a origem do produtor eacute do proacuteprio municiacutepio num percentual de 73

Em meacutedia tecircm 264 filhos havendo maior nuacutemero de filhos e filhas que trabalham na cidade do que na atividade leiteira

Quanto agrave residecircncia do produtor prevalece a propriedade rural com 77 dos entrevistados

As esposas pouco participam de algum trabalho na produccedilatildeo de leite ateacute mesmo entre os produtores ateacute 50 litros de leitedia (GOMES 2005 P 40-41)

Essa estatiacutestica natildeo varia muito para a atividade nos outros estados

Nogueira Netto et all (2004) mostram que no Brasil cerca de dois a cada trecircs

produtores de leite satildeo associados a cooperativas que captam leite acima de 555

mil litros por dia A meacutedia diaacuteria de leite obtida por esses produtores estaacute

representada na Figura 2 Conforme este autor os produtores com entrega diaacuteria

ateacute 100 litrosdia formam 605 de todos os cooperados enquanto 168 entregam

entre 100 e 200 litrosdia Na faixa de 200 a 500 litros encontram-se 109 dos

cooperados e entre 500 a 1000 litros somente 50 Acima de 1000 litros estatildeo

68 dos cooperados

605

168109 50 68

00

100

200

300

400

500

600

700

Produtores

ateacute 100

100 a 200 lts

200 a 500 lts

500 a 1000 lts

acima de 1000 lts

Figura 2 Distribuiccedilatildeo de produtores rurais por volume de leite entregue em cooperativas

Fonte de dados Nogueira Netto et all (2004 p74)

Comparativamente o perfil da produccedilatildeo em outros paiacuteses apresenta um

quadro diferente Conforme Nogueira Netto et all (2004) na Uniatildeo Europeacuteia por

exemplo os produtores considerados de pequena produccedilatildeo satildeo os que produzem

26

27

um volume inferior agrave meacutedia de 545 litrosdia ou seja muito distante da realidade

apresentada no Brasil

De modo semelhante ao que ocorre com as cooperativas que tecircm sido

pressionadas para especializaccedilatildeo e crescimento acontece com o produtor rural

Este eacute pressionado da porteira para dentro por produtividade e ainda vivencia

criacuteticas sobre a forma de produccedilatildeo

Dentro da porteira um dos maiores problemas ainda eacute o de gestatildeo Muitos produtores satildeo eficientes mas natildeo estatildeo preparados para gerir os negoacutecios () as receitas anuais na propriedade (incluindo descartes) satildeo de R$ 056 por litro 27 a mais do que os custos totais de R$ 044 (inclui terra e proacute-labore) () vatildeo ficar no mercado apenas os profissionais (EMATER E AGROINFORME 2008 P2)

Esse quadro corrobora outra caracteriacutestica do perfil dos produtores que eacute o

sistema de produccedilatildeo Estes trabalham distintamente pois conforme Fellet e Galan

(2000) existem na atividade produtores com os sistemas de produccedilatildeo

completamente especializados com elevados pacotes tecnoloacutegicos modernos para

a produccedilatildeo de leite Enquanto outros encontram-se com sistemas nitidamente

extrativistas com baixos investimentos e iacutendices de produccedilatildeo Isso retrata e

distancia os produtores dos diferentes estratos apresentados No primeiro caso

estatildeo os produtores de maiores volumes e no segundo modo de produccedilatildeo encontra-

se os produtores de pequena produccedilatildeo

Essa realidade de pequenos produtores vai de encontro agraves cooperativas de

laticiacutenios que conforme visto anteriormente tecircm como opccedilatildeo de sobrevivecircncia agraves

pressotildees de mercado o crescimento De modo geral o aumento da captaccedilatildeo meacutedia

por produtor tem sido estimulado por todas as empresas de laticiacutenios mas conforme

Favoret Filho (2000) os grandes produtores satildeo os mais incentivados tendo em

vista o pagamento diferenciado de preccedilos aos produtores de maior volume O que

aumenta sua rentabilidade e viabiliza novas expansotildees cada vez mais difiacuteceis para

os pequenos

Nos dados apresentados em Gomes (1987 e 2005) que retrata o perfil do

produtor de leite e em Nogueira Netto et alli (2004) que mostra a participaccedilatildeo de

produtores rurais em cooperativas por estrato de produccedilatildeo reafirma portanto a

relevacircncia social do cooperativismo de leite

Portanto na funccedilatildeo de mediadoras dos produtores a montante e a jusante na

cadeia produtiva as cooperativas devem ainda apoiar a criaccedilatildeo de mecanismos para

mudar a realidade instalada na produccedilatildeo de pequenos produtores afim de superar

28

as diferenccedilas tratadas em Favoret Filho (2000) Certamente natildeo se conseguiraacute

mudar essa realidade com a accedilatildeo isolada desses produtores

Esse quadro confirma a heterogeneidade qualitativa em volume de produccedilatildeo

de produtores rurais que reflete na oportunidade de participaccedilatildeo nas diferentes

instacircncias da gestatildeo cooperativa

Portanto se na autogestatildeo cooperativa a representatividade entre os

produtores eacute equilibrada jaacute que cada associado tem direito a um voto independente

do seu volume de produccedilatildeo espera-se que esteja aiacute a oportunidade do pequeno

produtor defender os seus interesses por meio de uma maior participaccedilatildeo nas

tomadas de decisotildees Uma maior participaccedilatildeo deste grupo seria tambeacutem uma forma

de mudar o ldquostatus quordquo de grande parte de pequenos produtores de leite Portanto

espera-se que a cooperativa incentive a participaccedilatildeo de produtores na sua estrutura

de gestatildeo para que essas diferenccedilas sejam melhor niveladas

29

3 REFERENCIAL CONCEITUAL E ARGUMENTATIVO

A construccedilatildeo do conhecimento requer um domiacutenio conceitual baacutesico para que

a decodificaccedilatildeo dos dados identificados possa se sustentar Deste modo Kopnin

(1978) argumenta que

A teoria descreve e explica um conjunto de fenocircmenos fornece o conhecimento dos fundamentos reais de todas as teses lanccediladas e reduz os descobrimentos em determinado campo e as leis a um princiacutepio unificador uacutenico sendo que a unificaccedilatildeo do conhecimento em teoria eacute realizada antes de tudo pelo proacuteprio objeto e suas leis determinando a relaccedilatildeo entre juiacutezos isolados conceitos e deduccedilotildees na teoria (KOPNIN 1978 p237)

Portanto esta etapa tem o propoacutesito de dar sustentaccedilatildeo agraves ideacuteias e

argumentos para interpretar as praacuteticas presentes no caso e nos discursos

vivenciados durante a pesquisa de campo Primeiramente faz-se uma revisatildeo sobre

accedilatildeo coletiva e como se fundamenta a Teoria da Escolha Racional conforme

proposta de Mancur Olson (1999) de forma a dar base e direcionamento agraves outras

discussotildees do trabalho Em seguida haacute uma abordagem conceitual e praacutetica sobre

participaccedilatildeo e ao final completa-se com argumentos sobre cooperaccedilatildeo e capital

social apresentados como correccedilotildees para os dilemas de accedilatildeo coletiva

31 Accedilatildeo Coletiva 311 Accedilatildeo Coletiva e benefiacutecios puacuteblicos

Dificilmente conseguiriacuteamos que as pessoas participassem com igual

dedicaccedilatildeo empenho e motivaccedilatildeo em algo que venha a ter o mesmo benefiacutecio e

resultados para todos Pois o indiviacuteduo age segundo seu proacuteprio interesse com o

fim de maximizar seus benefiacutecios Essa suposiccedilatildeo estaacute fundamentada na Teoria da

Escolha Racional proposta por Olson (1999) e corroborada por Elster (1994) ao

afirmar que os problemas de accedilatildeo coletiva surgem porque eacute difiacutecil conseguir que as

pessoas cooperem para benefiacutecio muacutetuo Segundo Olson (1999) o comportamento

centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral considerado a regra pelo menos quando

haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas Neste raciociacutenio justifica-se que

numa cooperativa natildeo haacute de se esperar que todos os soacutecios tenham o mesmo

empenho para o seu desenvolvimento assim como eacute difiacutecil que todos consigam

30

usufruir dos resultados alcanccedilados Isso eacute um dilema vivenciado no cooperativismo

que se origina por diversas situaccedilotildees as quais seratildeo discutidas neste capiacutetulo

Esta seccedilatildeo inicia-se por apresentar a definiccedilatildeo do termo accedilatildeo coletiva e bem

puacuteblico cujos sentidos seratildeo trabalhados no decorrer desta dissertaccedilatildeo

O termo accedilatildeo coletiva foi difundido por Olson (1999) em sua obra ldquoA loacutegica

da accedilatildeo coletivardquo que dentre outros argumentos analisa os custos e benefiacutecios

provenientes da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas bem como

problematiza as possiacuteveis relaccedilotildees entre o tamanho a coerecircncia a eficaacutecia e a

atratividade dos grupos nesse processo

Uma accedilatildeo coletiva surge basicamente para solucionar necessidades geradas

por dois fatores oportunidades e desejos ou seja pelo que as pessoas podem fazer

e pelo que querem fazer (ELSTER 1994) Deste modo mesmo que as pessoas

difiram em seus desejos assim como em suas oportunidades os desejos humanos

podem ter pontos comuns aos apresentados individualmente

Quando estes pontos comuns satildeo reconhecidos pelos indiviacuteduos ocorre o

que Marx chamaria de adquirir consciecircncia (OLSON 1999) A partir desses pontos

comuns os homens planejam uma accedilatildeo coordenada conforme seus proacuteprios

interesses Essa atuaccedilatildeo portanto recebe o nome de accedilatildeo coletiva A accedilatildeo coletiva

desta forma seria a maneira pela qual o individuo se faz presente nos sistemas

abstratos reforccedilando a sua capacidade transformadora desde que consiga agir em

coletividade (ASENSI 2006)

Para Olson (1999) haacute trecircs tipos de situaccedilotildees teoacutericas (ou ideais) em que os

indiviacuteduos podem estar frente agrave accedilatildeo coletiva No primeiro caso em que grupos de

indiviacuteduos jaacute adquiriram ou natildeo a consciecircncia do interesse que eacute partilhado por

todos mas os custos de empreenderem na accedilatildeo satildeo maiores em relaccedilatildeo aos

benefiacutecios que teratildeo Neste caso a accedilatildeo coletiva eacute inviaacutevel De outra forma os

indiviacuteduos jaacute compartilham objetivos mas os custos para consecuccedilatildeo do benefiacutecio

satildeo da mesma proporccedilatildeo que teratildeo de retorno se empreenderem a accedilatildeo Neste

caso a possibilidade de accedilatildeo coletiva eacute baixa Emoutra situaccedilatildeo os benefiacutecios da

accedilatildeo coletiva satildeo muito maiores do que os custos individuais Neste caso haacute

existecircncia de grupos sociais com potencialidade de accedilatildeo coletiva que satildeo os grupos

organizados

31

A accedilatildeo coletiva eacute necessaacuteria para a conquista de espaccedilos da cidadania e da

democracia que requerem mobilizaccedilatildeo social Com esse objetivo haacute accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidas por diferentes atores e sujeitos sociais movimentos

de mulheres de jovens de direitos humanos ecoloacutegicos e as mobilizaccedilotildees

pacifistas satildeo exemplos de accedilotildees coletivas cujas formas de articulaccedilatildeo mobilizaccedilatildeo

e luta expressam as caracteriacutesticas proacuteprias dos movimentos e accedilotildees coletivas da

contemporaneidade (QUEIROZ 2003)

Ramirez e Berdeguegrave (2002) entendem a accedilatildeo coletiva como uma estrateacutegia

instrumental orientada a alcanccedilar resultados Neste enfoque estes autores

destacam trecircs objetivos da accedilatildeo

(a) melhorar os ingressos ou outra dimensatildeo do bem-estar material imediato aos grupos envolvidos (b) modificar as relaccedilotildees sociais no interior de uma populaccedilatildeo especiacutefica e particularmente as relaccedilotildees de poder e (c) influenciar sobre as poliacuteticas puacuteblicas para ampliar as oportunidades de desenvolvimento e enfraquecer ou superar os sistemas de exclusatildeo e de discriminaccedilatildeo (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

Outros elementos que os autores supracitados entendem ser de uma visatildeo

realista sobre accedilatildeo coletiva satildeo

(1) a accedilatildeo coletiva natildeo se justifica por si soacute o que faz pertinente e necessaacuterio nos perguntarmos pela sua eficaacutecia (2) a accedilatildeo coletiva natildeo substitui a accedilatildeo e a responsabilidade individual mas precisa dela e ao mesmo tempo a pertencia e (3) a accedilatildeo coletiva natildeo eacute ubiacutequa e permanente mas sim acidental (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p2)

A accedilatildeo coletiva portanto eacute capaz de promover

(a) desenvolvimento das capacidades dos indiviacuteduos (capital humano) (b) fortalecimento organizacional (c) construccedilatildeo de redes e alianccedilas sociais e (d) profundizaccedilatildeo de normas e valores (tais como a solidariedade a reciprocidade a confianccedila) que contribuem ao alcance do bem comum (capital social) (RAMIREZ E BERDEGUEgrave 2002 p3)

Mas de modo geral o envolvimento dos indiviacuteduos eacute que vai dar maior ou

menor potencialidade agrave consecuccedilatildeo dos objetivos pretendidos numa accedilatildeo coletiva

Portanto eacute importante o entendimento sobre o comportamento dos indiviacuteduos E eacute

nessa direccedilatildeo que Olson (1999) iniciou sua investigaccedilatildeo sobre a participaccedilatildeo

individual na accedilatildeo coletiva conforme exposto neste trecho da sua obra

A ideacuteia de que grupos sempre agem para promover seus interesses eacute supostamente baseada na premissa de que na verdade os membros de um grupo agem por interesse pessoal individual Se os indiviacuteduos integrantes de um grupo altruisticamente desprezassem seu bem-estar pessoal natildeo seria muito provaacutevel que em coletividade eles se dedicassem a lutar por algum egoiacutestico objetivo comum ou grupal Tal altruiacutesmo eacute de qualquer maneira considerado uma exceccedilatildeo e o comportamento centrado nos proacuteprios interesses eacute em geral

32

considerado a regra pelo menos quando haacute questotildees econocircmicas criticamente envolvidas(OLSON 1999 p13)

Essa visatildeo caracteriza o individualismo metodoloacutegico ou comportamento

utilitarista Em seu trabalho Olson (1999) faz uma comparaccedilatildeo do comportamento

individual na accedilatildeo coletiva com o comportamento do mercado em concorrecircncia

Nesta analogia embora todas as empresas tenham o interesse comum em

maximizar seus lucros eacute do interesse individual de cada uma delas que as outras

paguem os custos necessaacuterios para obter preccedilos mais altos que se daria com uma

reduccedilatildeo na produccedilatildeo de outrem

Na conduccedilatildeo do seu pensamento central Olson (1999) faz uma observaccedilatildeo

para justificar o comportamento utilitarista

Ningueacutem se surpreende quando um homem de negoacutecios persegue individualmente mais lucros quando trabalhadores perseguem individualmente salaacuterios mais altos ou quando consumidores perseguem individualmente preccedilos mais baixos A ideacuteia de que os grupos tendem a agir em favor de seus interesses grupais eacute concebida como uma extensatildeo loacutegica dessa premissa amplamente aceita do comportamento racional centrado nos proacuteprios interesses (OLSON 1999 p13)

Neste sentido vecirc-se que os desejos individuais que motivam as pessoas a

buscarem melhores condiccedilotildees de vida estatildeo em diferentes contextos Entretanto a

busca por esses avanccedilos eacute perseguida racionalmente

Considerando que o termo racionalidade eacute utilizado em diferentes sentidos

Elster (1994) traz uma explicaccedilatildeo que eacute complementar para o entendimento sobre o

comportamento racional dos indiviacuteduos

Racionalidade eacute uma relaccedilatildeo entre uma crenccedila e a premissa sobre a qual esta eacute mantida mas que eacute ldquonecessaacuterio ir aleacutemrdquo assim como ldquoeacute necessaacuterio que a quantidade de indiacutecios reunidos seja de certa forma oacutetimardquo e que em muitas situaccedilotildees de escolha as probabilidades devem ser consideradas muito seriamente e agir racionalmente eacute fazer tatildeo bem por si quanto se eacute capaz Quando dois ou mais indiviacuteduos interagem eles podem fazer muito pior por si mesmos do que agindo isolados Essa eacute a premissa da teoria dos jogos Considera que toda accedilatildeo racional deve ser auto-interessada porque eacute motivada pelo prazer que proporciona ao agente (ELSTER 1994 p47-59)

A propoacutesito o que eacute considerado racional por um indiviacuteduo que faz parte de

um grupo social ao tomar uma decisatildeo em relaccedilatildeo a uma accedilatildeo coletiva pode ser

considerado irracional pelo seu par De certa forma a razatildeo eacute uma maneira de

organizar a realidade pela qual esta se torna compreensiacutevel (CHAUI 1994) Nesse

aspecto Weber (1979) deu sua contribuiccedilatildeo ao explicar que um modo de ver os

processos sociais estaacute relacionado ao modelo de racionalizaccedilatildeo do mundo moderno

33

Nesse sentido Weber (1979) entende a racionalizaccedilatildeo como o caminho que orienta

a sociedade para o mais alto grau de instrumentalizaccedilatildeo e burocratizaccedilatildeo onde a

eacutetica e os valores satildeo determinados pelos fins uacuteltimos (ALMEIDA 2007)

Portanto dadas diferentes formas de racionalidade para satisfaccedilatildeo individual

numa accedilatildeo coletiva Olson (1999) natildeo desconsiderou o valor e importacircncia de outros

fatores que tambeacutem estatildeo presentes na conduccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas relaccedilotildees

com o grupo e nas suas decisotildees de participaccedilatildeo Para este autor

ldquoos incentivos econocircmicos natildeo satildeo para os indiviacuteduos os uacutenicos incentivos possiacuteveis As pessoas algumas vezes sentem-se motivadas tambeacutem por um desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e psicoloacutegicordquo (OLSON 1999 p72)

Neste ponto de vista pode-se empregar que a racionalidade na participaccedilatildeo

natildeo estaacute fundada somente em aspectos econocircmicos mas tambeacutem em outros

incentivos sociais e psicoloacutegicos Conforme definiu Olson (1999) esta eacute uma visatildeo

mais comumente compartilhada por outros autores da ciecircncias sociais que discutem

a temaacutetica da accedilatildeo coletiva poreacutem natildeo corroborada com o sentido utilitarista

tratado por ele Mas o diferencial deste autor eacute justamente analisar conceitos das

instituiccedilotildees econocircmicas de forma distinta em diferentes situaccedilotildees na sociedade para

compreender o problema da cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos Nessa discussatildeo eacute

indispensaacutevel definir alguns conceitos instituiccedilotildees e organizaccedilotildees

Entende-se por instituiccedilotildees segundo North citado em Santos (2000)

um conjunto de regras poliacuteticas sociais e legais que estabelecem as bases para a produccedilatildeo troca distribuiccedilatildeo ou produccedilatildeo correspondem ao sistem de normas ndash regras formais (constituiccedilotildees leis) restriccedilotildees informais (normas de comportamento costumes convenccedilotildees tradiccedilotildees tabus e coacutedigos de autoconduta) e sistemas de controle ndash que regulam a interaccedilatildeo humana na sociedade (SANTOS 2000 p70)

Jaacute as organizaccedilotildees conforme Santos (2000) satildeo entendidas como sendo

um grupo de indiviacuteduos dedicados a alguma atividade executada para um

determinado fim e que podem constituir-se em firmas associaccedilotildees partidos

poliacuteticos etc Segundo Olson (1999) existem organizaccedilotildees de todos os tipos

formas e tamanhos poreacutem uma caracteriacutestica comum a todas elas eacute a promoccedilatildeo

dos interesses de seus membros Para Festinger e Laski citados em Olson (1999) a

ldquoatraccedilatildeo que exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer

mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo

consecutivamente as ldquoassociaccedilotildees existem para realizar propoacutesitos que um grupo

34

de pessoas tem em comumrdquo Embora na visatildeo olsoniana frequentemente elas

sirvam a interesses puramente pessoais e individuais

Assim como o Estado eacute um tipo de organizaccedilatildeo que provecirc benefiacutecios puacuteblicos

para seus cidadatildeos similarmente outros tipos de organizaccedilotildees provecircem benefiacutecios

puacuteblicos para seus membros Deste modo conforme Olson (1999) os benefiacutecios

comuns ou coletivos proporcionados pelo governo satildeo usualmente chamados de

ldquobem puacuteblicordquo ou ldquobenefiacutecios puacuteblicosrdquo Neste caso os serviccedilos tecircm de estar

disponiacuteveis para todos se estiverem disponiacuteveis para algueacutem Portanto o bem

puacuteblico se caracteriza pela natildeo excludecircncia e indivisibilidade dos resultados

produzidos individual ou coletivamente numa organizaccedilatildeo Com outros argumentos Olson (1999) utiliza o conceito de bens puacuteblicos de

forma generalizada

o provimento de benefiacutecios puacuteblicos ou coletivos eacute a funccedilatildeo fundamental das organizaccedilotildees em geral portanto nas organizaccedilotildees a consecuccedilatildeo de qualquer objetivo comum ou a satisfaccedilatildeo de qualquer interesse comum significa que um benefiacutecio puacuteblico ou coletivo foi proporcionado ao grupo (OLSON 1999 P27-28)

Num entendimento anaacutelogo eacute que se insere o sentido do conceito de bens

puacuteblicos no cooperativismo pois uma vez constituiacuteda os benefiacutecios gerados pela

cooperativa passam a ser um bem puacuteblico para os seus associados e estes natildeo

podem ser excluiacutedos da utilizaccedilatildeo dos benefiacutecios conseguidos Mesmo que os

associados tenham participado ou natildeo da sua formaccedilatildeo ou de participarem

ativamente ou natildeo das suas accedilotildees Na praacutetica eacute de se esperar que a organizaccedilatildeo

cooperativa produza benefiacutecios a todos os associados

312 Dilemas de accedilatildeo coletiva

Para Olson (1999) numa accedilatildeo coletiva o fato de uma situaccedilatildeo ser desejaacutevel

para as pessoas envolvidas natildeo garante que essa situaccedilatildeo ideal iraacute prevalecer Ao

agir racionalmente os indiviacuteduos muitas vezes podem natildeo atingir a melhor soluccedilatildeo

mediante as circunstacircncias que se encontram Outro determinante eacute que o fato de

agirem coletivamente na implementaccedilatildeo de uma accedilatildeo natildeo garante tambeacutem a

continuidade da cooperaccedilatildeo pelos mesmos agentes jaacute que os indiviacuteduos tendem a

agir individualmente em algumas casos e em outros natildeo Portanto o interesse de

cada um eacute que vai determinar o seu grau de participaccedilatildeo

35

Surge daiacute o dilema da accedilatildeo coletiva Deste modo indiviacuteduos se empreendem

numa accedilatildeo para atender seus interesses mas natildeo conhecem integralmente as

circunstacircncias em que iratildeo fazer isso Conforme Bueno (2004) uma das razotildees

porque as pessoas natildeo podem prever as consequencias completas de suas

decisotildees eacute porque tais consequecircncias dependem do que as demais pessoas iratildeo

fazer Eacute como em um jogo

Bueno (2006) contribui ao sugerir diferentes situaccedilotildees que ilustram quando

dilemas de accedilatildeo coletiva podem ser definidos Primeiro no caso em que se observa

que a cooperaccedilatildeo entre os indiviacuteduos se desenvolve espontaneamente agrave medida

que estes percebem os benefiacutecios muacutetuos a serem alcanccedilados em virtude do

esforccedilo coletivo Deste modo os participantes coordenam suas accedilotildees para superar

os obstaacuteculos existentes agrave accedilatildeo cooperativa Neste caso a confianccedila muacutetua eacute o preacute-

requisito para validaccedilatildeo do processo pois caso um dos participantes natildeo continue a

cooperar acarretaraacute desvantagem para aquele que cooperou A segunda

possibilidade sugerida por Bueno (2004) eacute representada pelo claacutessico Dilema do

Prisioneiro Esse eacute o mais conhecido de todos os jogos conforme relatado

sucintamente por Elster (1994)

Dois prisioneiros suspeitos de terem colaborado num crime satildeo colocados em celas separadas A poliacutecia diz a cada um que seraacute liberado (4) se denunciar o outro e este natildeo o denunciar Se denunciarem um ao outro ambos receberatildeo trecircs anos de reclusatildeo (2) Se ele natildeo denunciar o outro mas o outro o denunciar seraacute condenado a cinco anos (1) Se nenhum denunciar o outro a poliacutecia tem provas suficientes para mandar cada um agrave prisatildeo por um ano (3) (ELSTER 1994 p 45)

Nesse caso o fato dos prisioneiros natildeo se comunicarem para cada um deles

a melhor estrateacutegia eacute a natildeo cooperaccedilatildeo pois natildeo haacute possibilidade de interaccedilatildeo

entre eles por esse motivo as decisotildees satildeo tomadas isoladamente Sob o ponto de

vista do interesse individual dificilmente se chegaraacute agrave soluccedilatildeo para o dilema do

prisioneiro Pois racionalmente cada prisioneiro deveria confessar o crime mas caso

isso ocorra os dois ficariam em pior situaccedilatildeo do que se escolhessem diferente

Conclui-se com o dilema que ldquoquando cada um de noacutes individualmente escolhe

aquilo que eacute do seu interesse proacuteprio pode ficar pior do que ficaria se tivesse sido

feita uma escolha que fosse do interesse coletivordquo (Bueno 2004) Neste ponto

Elster (1994) reforccedila que a noccedilatildeo de escolha racional eacute definida para um indiviacuteduo

natildeo para a coletividade uma vez que a opccedilatildeo para um indiviacuteduo eacute superior a suas

36

outras opccedilotildees independentemente do que as outras pessoas fazem ele seria

irracional se natildeo a praticasse

Outra situaccedilatildeo comum na accedilatildeo coletiva eacute o indiviacuteduo que age como ldquofree

riderrdquo (carona) Esta deriva do fato de que indiviacuteduos preferem agindo racionalmente

beneficiar-se de soluccedilotildees coletivas sem incorrer nos custos necessaacuterios para

produzir essas soluccedilotildees e sem colaborar em nada para sua obtenccedilatildeo (BUENO

2004 e FERREIRA NETO 1996) ou seja se aproveita dos benefiacutecios sem nenhum

esforccedilo pessoal ou com qualquer tipo de contribuiccedilatildeo mas natildeo pode ser excluiacutedo

desses benefiacutecios

O problema do carona eacute observado em organizaccedilotildees cooperativas quando

associados tentam usufruir de seus serviccedilos sem empreender esforccedilos para sua

operacionalizaccedilatildeo que natildeo se efetiva somente com o fornecimento de sua produccedilatildeo

De outra forma quando o grupo de associados dominantes na gestatildeo cooperativa

conseguem defender seus interesses em detrimento dos demais cooperados estes

agem tambeacutem como ldquofree riderrdquo

Conforme Bueno (2004) ocorre um dilema de ordem social quando o grupo

consegue identificar os benefiacutecios da cooperaccedilatildeo e solucionar o problema do dilema

do prisioneiro No entanto eacute necessaacuterio desenvolver mecanismos visando garantir

aplicaccedilatildeo de normas coercitivas aos indiviacuteduos que continuarem atuando como free

riders Isso eacute assegurado por Olson (1999) ao afirmar que soacute determinados acertos

institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir

quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo

como um todo Mesmo assim conforme Bueno (1996) esse dilema torna-se de difiacutecil

soluccedilatildeo quando os indiviacuteduos natildeo participam da elaboraccedilatildeo das normas

institucionais

313 A Trageacutedia dos Comuns e Cooperativismo

Mais uma visualizaccedilatildeo de problemas de accedilatildeo coletiva eacute representada na

ldquoTrageacutedia dos Comunsrdquo Esse legado de Garret Hardin permite uma ilustraccedilatildeo sobre

utilizaccedilatildeo dos recursos de um bem coletivo Embora seu trabalho tenha focado a

superpopulaccedilatildeo com a ideacuteia essencial de que a sobre exploraccedilatildeo de recursos

manejados de forma comunal tais como oceanos rios atmosfera e aacutereas de

37

parques satildeo sujeitos agrave maciccedila degradaccedilatildeo (DIEGUES E MOREIRA 2001) eacute

importante consideraacute-lo em outros estudos pois apontou em seu coloraacuterio a

necessidade de mudanccedilas sociais em grande escala para uso de bens coletivos

apoacutes sua hipoteacutetica experiecircncia de raciociacutenio

() o que ocorreria com os recursos comuns de uma determinada comunidade caso cada um de seus membros adicionasse alguns animais aos seus respectivos rebanhos Se cada pecuarista considerasse mais lucrativo criar mais animais do que uma pastagem poderia suportar uma vez que cada criador obteria todo o lucro proveniente dos animais extras e somente uma fraccedilatildeo do custo decorrente da sobre-exploraccedilatildeo das pastagens o resultado seria uma traacutegica perda de recursos para a totalidade da comunidade de pecuaristas (HARDIN CITADO EM FEENY ET ALII 2001 p18)

Com essa ilustraccedilatildeo Hardin concluiu que se houver liberdade para utilizaccedilatildeo

de recursos comuns os homens na busca de seus interesses individuais levariam

todos agrave ruiacutena Para evitar a trageacutedia dos comuns existem duas opccedilotildees ou o Estado

cria mecanismos legais para coibir determinadas praacuteticas ou a proacutepria comunidade

cria arranjos sociais e mecanismos de autodefesa (HARDIN CITADO EM FEENY ET

ALII 2001) Desta forma criam algum tipo de coerccedilatildeo que impeccedila a accedilatildeo do

indiviacuteduo no uso exagerado do benefiacutecio

Visando elucidar a extensatildeo desses argumentos no cooperativismo poderia

imaginar que se todos os soacutecios de uma cooperativa fossem utilizaacute-la como

desejassem eacute possiacutevel que seus membros procurassem utilizar a maior quantidade

de recursos possiacuteveis conseguidos coletivamente e desta maneira obter melhores

descontos nas compras ou entregar a produccedilatildeo quando melhor lhe conviesse

Nesta perspectiva haacute o pressuposto comportamental do oportunismo no

cooperativismo e neste caso o aspecto doutrinaacuterio natildeo eacute suficiente para garantir

fidelidade entre o soacutecio e a cooperativa

Conforme Zylbersztajn (2002) o compartilhamento doutrinaacuterio criou as bases

para uma linguagem comum permitindo que se faccedila referecircncia a um movimento

cooperativista internacional devidamente estruturado e regido pela ACI Por outro

lado os valores impliacutecitos nos princiacutepios deveriam inibir o comportamento egoiacutesta e

o membro que apresentasse tal comportamento deveria sofrer coaccedilatildeo pelos proacuteprios

cooperados

Entretanto as instituiccedilotildees satildeo estabelecidas com definiccedilatildeo de direitos e

obrigaccedilotildees dos soacutecios em organizaccedilotildees cooperativas que satildeo os estatutos sociais

elaborados com base nas diretrizes dos princiacutepios cooperativistasSe essas

38

instituiccedilotildees natildeo satildeo suficientes conforme Zylbersztajn (2002) o oportunismo dos

cooperados induz custos de controles aos incentivos que afetam as relaccedilotildees entre

cooperado e cooperativa

Entatildeo para este autor as instituiccedilotildees com base na doutrina cooperativista por

si natildeo eacute suficiente para coibir e superar os dilemas sugeridos por Olson (1999)

Bueno (2006) e Hardin citado em Feeny et alii (2001) encontrados em

organizaccedilotildees cooperativas conforme constatado na literatura apresentados em

Pereira (2002) Perius (1983) e Schneider (1999)

314 O Tamanho coerecircncia eficaacutecia e atratividade do grupos Em outra abordagem Olson (1999) enfatiza o relacionamento entre membros

de diferentes grupos Sua crenccedila eacute de que conjuntos de indiviacuteduos com interesses

comuns constituem grupos com o fim de articular accedilotildees coletivas visando a

realizaccedilatildeo de tais interesses Neste caso o autor centraliza a discussatildeo sobre as

implicaccedilotildees do tamanho do grupo no processo de cooperaccedilatildeo e estabelece

situaccedilotildees que influenciam a participaccedilatildeo dos indiviacuteduos na accedilatildeo coletiva

Sobre o tamanho dos grupos para Olson (1999) haacute uma efetividade distinta

entre os pequenos e grandes grupos Essa efetividade portanto vai depender de

que em qual grau a participaccedilatildeo (contribuiccedilatildeo) ou ausecircncia de participaccedilatildeo (falta de

contribuiccedilatildeo) de um ou mais membros vai influenciar sobre o custo ou benefiacutecio de

qualquer outro membro dentro do grupo Quando o nuacutemero de participantes de

uma accedilatildeo eacute grande conforme Olson (1999) o indiviacuteduo tiacutepico tem consciecircncia de

que seus esforccedilos individuais provavelmente natildeo faratildeo muita diferenccedila Ao contraacuterio

em grupos menores todos os membros teratildeo um incentivo para se esforccedilar afim de

que tudo corra bem

Nesse aspecto Olson (1999) classifica trecircs tipos de grupos privilegiados

intermediaacuterios e latentes O grupo privilegiado eacute aquele em que poucos membros

tecircm incentivos para produzir o benefiacutecio coletivo mesmo que ele tenha de arcar com

os custos da produccedilatildeo desses benefiacutecios Nesse caso a proacutepria natureza do grupo

eacute a condiccedilatildeo para que ele consiga prover os benefiacutecios coletivos

Os grupos intermediaacuterios satildeo grupos em que natildeo haacute incentivos suficientes

para que uma pessoa empreenda esforccedilos individualmente para a produccedilatildeo de

39

benefiacutecio coletivo Neste grupo natildeo haacute tantos integrantes a ponto de um membro

natildeo perceber se o outro estaacute ou natildeo ajudando a prover o benefiacutecio coletivo Por

outro lado neste grupo natildeo haveraacute nenhum benefiacutecio se natildeo houver alguma

coordenaccedilatildeo ou organizaccedilatildeo grupal

No grupo latente os membros natildeo tecircm incentivos para produzir bens

isoladamente pois sua accedilatildeo natildeo seraacute percebida pelos demais dado o grande

nuacutemero de membros Conforme Olson (1999) neste grupo somente um incentivo

independente e seletivo em relaccedilatildeo aos outros membros estimularaacute um indiviacuteduo

racional a agir de maneira grupal Assim como sugere o autor

No grupo grande e latente cada membro eacute por definiccedilatildeo tatildeo pequeno em relaccedilatildeo ao total que seus atos natildeo contaratildeo muito de um modo ou de outro em qualquer grupo grande ningueacutem tem como conhecer todos os outros membros e o grupo natildeo seraacute ipso facto um grupo de amigos Assim via de regra um iniviacuteduo natildeo se veraacute afetado socialmente se natildeo fizer os sacrifiacutecios que lhe couberem em favor da realizaccedilatildeo das metas do seu grupo (OLSON 1999 P72)

Outra caracteriacutestica que se acrescenta ao conceito de pequenos e grandes

grupos definidos por Olson foi devidamente explorada por Nassar e Zylbersztajn

(2004) Se refere agrave homogeneidade ou heterogeneidade desses grupos que

influenciam a estrutura organizacional Num grupo pequeno com interesses

homogecircneos onde todos atribuem o mesmo valor ao bem coletivo haveraacute maior

coesatildeo Caso contraacuterio o valor atribuiacutedo tende a se alterar e a probabilidade de

coesatildeo cai

Com relaccedilatildeo ao grande grupo conforme Nassar e Zylbersztajn (2004)

quando satildeo homogecircneos as accedilotildees implementadas tendem a alinhar-se com os

objetivos preacute-estipulados enquanto que nos grupos grandes heterogecircneos em

virtude dos custos de monitoramento nem sempre as accedilotildees vatildeo ser equivalentes

aos objetivos estabelecidos Nessa observaccedilatildeo o autor constatou que quando o

grande grupo eacute heterogecircneo na sua base seus objetivos tenderatildeo a ser difusos e

generalistas

Nassar e Zylbersztajn (2004) portanto corroboram o argumento de que a

heterogeneidade do grupo leva a conflitos entre seus membros comuns aos

expostos por Pereira (2002) e Perius (1983) jaacute apresentado neste trabalho Portanto

esses primeiros autores sinalizam necessidades de maior atenccedilatildeo pela gestatildeo ao

lidar com as caracteriacutesitcas do grupo heterogecircneo devido agrave dificuldade de

comunicaccedilatildeo para coordenaccedilatildeo dos membros associados

40

A conclusatildeo geral de Olson eacute de que grupos pequenos atuam com maior

eficiecircncia e isso se evidencia pela experiecircncia praacutetica quando se observa a forccedila e o

poder residente na existecircncia de comitecircs subcomitecircs e pequenos grupos de

lideranccedila Conforme Olson (1999) ldquoos comitecircs devem ser pequenos quando se

espera accedilatildeo e relativamente grandes quando se buscam pontos de vista reaccedilotildeesrdquo

Outros autores (JAMES 1951 HARE 1952) citados em OLSON (1999) corroboram

que grupos e subgrupos ativos tendem a ser muito menores do que os grupos e

subgrupos que natildeo agem

Essa discussatildeo suscita a necessidade de saber se haacute uma definiccedilatildeo sobre o

nuacutemero apropriado de membros para se efetivar melhor participaccedilatildeo dos indiviacuteduos

em uma accedilatildeo coletiva Sobre isto Olson (1999) considera que haacute uma dificuldade de

se analisar o tamanho do grupo e o comportamento do individuo poreacutem faz uma

alusatildeo aos pequenos e grandes grupos com as mudanccedilas das sociedades primitivas

para as sociedades modernas

nas sociedades primitivas os pequenos grupos primaacuterios prevaleceram porque eram mais adequados ( ou pelo menos suficientes) para desempenhar certas funccedilotildees para o povo dessas sociedades Nas sociedades modernas em contraste presume-se que predominem as grandes associaccedilotildees porque na conjuntura moderna soacute elas satildeo capazes de desempenhar ( ou satildeo mais aptas a desempenhar) certas funccedilotildees uacuteteis ao povo dessas sociedades (OLSON 1999 p32)

Deste modo Olson (1999) constata que haacute um ldquoinstintordquo ou ldquotendecircnciardquo para

formar associaccedilotildees que se manifestam tanto nos pequenos grupos familiares e de

parentesco das sociedades primitivas quanto nas grandes associaccedilotildees voluntaacuterias

das sociedades modernas

O autor verifica tambeacutem que os pequenos grupos quando organizados

costumam reunir e empregar todas as suas energias ao passo que nos grupos

grandes essas energias permanecem com muito mais frequumlecircncia em estado

potencial jaacute que os membros natildeo dedicam ao grupo toda sua capacidade produtiva

Outra observaccedilatildeo empregada por Olson (1999) para justificar sua tese eacute que ldquono

niacutevel do pequeno grupo a sociedade conseguiu coesatildeordquo portanto eacute proposto que

em grupos maiores deva-se manter alguns traccedilos do pequeno grupo

Um importante aspecto observado por Olson (1999) eacute sobre o consenso

grupal Conforme o autor natildeo eacute de se esperar que haja consenso numa accedilatildeo

grupal pois isso raramente pode ocorrer Mas conforme este autor eacute importante

41

distinguir entre os obstaacuteculos agrave accedilatildeo coletiva que se devem de um lado agrave falta de

consenso no grupo e de outro os que se devem agrave falta de incentivos individuais Se

houver muitos desacordos conforme o autor natildeo haveraacute esforccedilo coordenado e

voluntaacuterio mas se houver um alto grau de concordacircncia a respeito do que se quer e

da forma de obtecirc-lo eacute quase certo que haveraacute accedilatildeo grupal eficiente

Mais uma constataccedilatildeo que deve ser considerada conforme Olson (1999) eacute

que em casos que natildeo haja nenhum incentivo econocircmico para que um indiviacuteduo

contribua para a realizaccedilatildeo de um interesse grupal pode haver contudo um

incentivo social para que ele decirc sua contribuiccedilatildeo Nestes casos o autor considera

status desejo de prestiacutegio respeito aceitaccedilatildeo pelo grupo motivaccedilotildees de fundo

social e psicoloacutegico Essas consideraccedilotildees justificam a existecircncia de diferentes

motivaccedilotildees para se unir a um grupo podem tambeacutem estar associadas agraves

necessidades gerada por ldquodesejos e oportunidadesrdquo ou preferecircncias dos indiviacuteduos

ao objetivo que se espera alcanccedilar conforme descrito anteriormente No entanto

para Olson (1999) os incentivos sociais e pressatildeo social funcionam somente em

grupos de tamanho menor em grupos pequenos o bastante para que cada membro

possa ter um contato face a face com todos os demais jaacute em grupos grandes Soacute determinados acertos institucionais especiacuteficos daratildeo aos membros individuais um incentivo para adquirir quantidades do benefiacutecio coletivo em um niacutevel que satisfaria aos interesses do grupo como um todo Mesmo em grupos menores o benefiacutecio geralmente natildeo seraacute provido em um niacutevel oacutetimo mas quanto maior for o grupo mais longe ficaraacute de atingir o ponto oacutetimo de provimento do benefiacutecio coletivo Tal subotimalidade poderaacute ser superada em grupos marcados pela disparidade de recursos individuais ou intensidade de interesse no bem puacuteblico entre seus membros Tal configuraccedilatildeo implicaraacute entretanto em uma tendecircncia agrave exploraccedilatildeo do grande pelo pequeno participantes do interesse grupal (OLSON 1999 p47)

Tomando-se como base esta afirmativa e conforme mostram os dados

apresentados anteriormente nas cooperativas agropecuaacuterias de leite haacute grupos

distintos de produtores conforme os estratos sociais de produccedilatildeo Nesses grupos

haacute um nuacutemero muito maior de pequenos produtores em relaccedilatildeo a grandes

produtores em seus quadros sociais Estes pequenos produtores somam um

montante menor em volume de leite em relaccedilatildeo ao volume dos grandes produtores

Sendo assim os grandes produtores formam um nuacutemero menor de membros

associados agrave cooperativa Entatildeo estes tecircm mais possibilidades de se organizarem e

fazer prevalecer seus interesses em relaccedilatildeo aos pequenos produtores Situaccedilatildeo

caracteriacutestica das anaacutelises realizadas pela Teoria da Escolha Racional

42

O comportamento de indiviacuteduos em accedilatildeo coletiva eacute tambeacutem estudado em

outras vertentes Dentre outros autores Mary Douglas (1998) critica as proposiccedilotildees

de Olson que aqui foram expostas Um ponto inicial que distancia os dois autores

eacute sobre a racionalidade Os neo-institucionalistas corrente teoacuterica de Douglas

definem a racionalidade dos agentes como sendo limitada e portanto dependente

do apoio institucional quando da tomada de decisotildees enquanto para Olson (1999)

o indiviacuteduo como um ser racional toma suas decisotildees baseado no conhecimento

(ALCAcircNTARA 2003) Para a antropoacuteloga natildeo existe a possibilidade de descartar os

problemas enfrentados por uma comunidade pequena na explicaccedilatildeo da accedilatildeo

coletiva neste ponto ela concorda com Olson (1999) mas aponta como falha na

argumentaccedilatildeo deste autor a alegaccedilatildeo de que em escala pequena o grupo promove

confianccedila muacutetua no sentido de que a confianccedila muacutetua eacute a base da comunidade

Olson (1999) natildeo expotildee isso diretamente mas ao valorizar as caracteriacutesticas de

pequenos grupos das comunidades primitivas fica impliacutecita essa consideraccedilatildeo pois

eacute certo que confianccedila eacute uma instituiccedilatildeo presente nesse tipo de grupo Caso ela seja

quebrada por um membro este sofre as coerccedilotildees pelo proacuteprio grupo em relaccedilatildeo ao

seu comportamento O que Olson (1999) defende eacute que por si soacute a confianccedila na

cooperaccedilatildeo natildeo eacute suficiente para garantir que indiviacuteduos cooperem numa accedilatildeo

coletiva

Douglas (1998) se mostra ambiacutegua pois para ela a solidariedade soacute eacute

possiacutevel quando os indiviacuteduos compartilham categorias de pensamento Mas

fundamentada em Durkheim considera que para compreender a solidariedade eacute

necessaacuterio examinar formas elementares de sociedade ou seja aquelas que natildeo

dependem das trocas de serviccedilos e produtos diferenciados Sob esse aspecto

portanto Olson natildeo se contradiz por deixar claro que suas colocaccedilotildees satildeo

consideradas para grupos que tenham uma atividade econocircmica envolvida Douglas

(1998) ressalta ainda que a maior parte das organizaccedilotildees tem seu iniacutecio sob forma

de comunidades pequenas Nesse ponto Olson (1999) natildeo se descuidou dessa

prerrogativa pois natildeo desconsidera essa perspectiva ao afirmar que todo ldquogrande

grupo deveria manter algumas caracteriacutesticas de pequeno grupordquo dadas as suas

vantagens

Outro ponto para Douglas eacute que a instituiccedilatildeo interfere fornecendo a visatildeo

que o indiviacuteduo teraacute sobre determinado problema Neste caso o indiviacuteduo transfere

43

a ela a responsabilidade de decidir em seu nome Mesmo que essa transferecircncia

natildeo seja nominal uma vez que este natildeo deixa de responder ao que se questiona

Poreacutem ele atribui a sua resposta aos preceitos (valores) fornecidos pela instituiccedilatildeo agrave

qual ele encontra-se afiliado ou agrave qual ele recorreu (ALCAcircNTARA 2003)

Haacute ambiguumlidade em Douglas (1989) tambeacutem neste ponto A autora natildeo nega

o fato de que as instituiccedilotildees satildeo formadas de indiviacuteduos que iratildeo imprimir nestas

caracteriacutesticas suas influenciando na sua estrutura interna Ainda segundo a autora

satildeo os indiviacuteduos um a um que escolhem agir de dada forma Deste modo a autora

daacute abertura para inferirmos que se a instituiccedilatildeo influencia na accedilatildeo do indiviacuteduo

pode-se dizer sim que ela tem autonomia Se os indiviacuteduos agem agrave sua proacutepria

maneira entatildeo natildeo haacute garantia de que os indiviacuteduos que estatildeo no centro das

instituiccedilotildees compartilharatildeo a melhor escolha que seria vista pelo indiviacuteduo externo

Conforme Alcacircntara (2003) para Douglas um grupo agiraacute portanto de

determinada forma natildeo somente devido agraves necessidades e caracteriacutesticas de seus

integrantes mas de acordo com os preceitos institucionais que orientam as suas

accedilotildees ldquoas instituiccedilotildees antecipam a accedilatildeo coletivardquo Neste ponto na oacutetica de Olson

(1999) poder-se-ia interpretar isso diferentemente

A conclusatildeo eacute de que o aprofundamento dos estudos de Olson (1999) na

discussatildeo sobre o comportamento dos indiviacuteduos nos diferentes tamanhos de

grupos na accedilatildeo coletiva eacute um ponto relevante para valorizaccedilatildeo da sua teoria pois

um desafio dos proacuteprios membros de organizaccedilotildees coletivas eacute justamente ter

habilidade para lidar com as diferentes situaccedilotildees que surgem agrave medida que a

organizaccedilatildeo cresce

Portanto natildeo se esgotam aqui as consideraccedilotildees sobre as interpretaccedilotildees de

Olson (1999) no entanto face agrave afinidade e consenso com a teoria da escolha

racional eacute que seraacute feito a interpretaccedilatildeo dos resultados obtidos com a pesquisa de

campo a partir da realidade vivida pelo produtor rural enquanto membro de

cooperativa agropecuaacuteria onde se formaliza sua participaccedilatildeo na coletividade para

defesa de seus interesses Segue-se antes a apresentaccedilatildeo dos ldquodilemas do

cooperativismordquo no desenvolvimento social e econocircmico da organizaccedilatildeo

cooperativa

315 Dilemas do Cooperativismo

44

No cooperativismo accedilotildees coletivas acontecem numa primeira ordem entre os

associados e numa segunda ordem entre as cooperativas e outras empresas A

analogia feita por Olson (1999) sobre o comportamento do mercado competitivo com

a accedilatildeo coletiva natildeo estaacute distante do que se observa nos dois casos Entatildeo

conforme as accedilotildees que norteiam a adaptaccedilatildeo de cooperativas ao ambiente

competitivo origina-se o grande desafio em escolher estrateacutegias capazes de manter

seu papel de sistema produtivo centrado no homem e ao mesmo tempo tornar-se

uma organizaccedilatildeo apta a competir com empresas que satildeo orientadas exclusivamente

para o mercado (FERREIRA e BRAGA 2002) Ao centro encontra-se o cooperado

que fica entre cooperar ou natildeo e participar ou natildeo das accedilotildees de tomada de decisotildees

que influenciam no seu proacuteprio desenvolvimento e posicionamento das cooperativas

nesse ambiente

Quanto agrave anaacutelise da influecircncia do tamanho das cooperativas e a participaccedilatildeo

social pode-se inferir que agrave medida que as cooperativas crescem aumentam

tambeacutem as dificuldades de participaccedilatildeo ativa dos membros uma vez que estes

estaratildeo cada vez mais distantes das instacircncias de poder Aleacutem disso haacute registros de

que em alguns casos a questatildeo gerencial permite que esta se distancie tambeacutem dos

objetivos iniciais dos soacutecios como constatado por Duarte (2006) Pereira (2002) e

Perius (1983)

Um dilema que se instala jaacute na sua base eacute que na praacutetica dos princiacutepios

cooperativistas o fato de ser ldquoaberta a todas as pessoasrdquo uma mesma cooperativa

tem interfaces positivas que eacute a natildeo discriminaccedilatildeo das pessoas com neutralidade

social e racial poliacutetica e religiosa (Pereira 2002) e negativas causadas pela

heterogeneidade que se forma no quadro social dadas as consequumlecircncias jaacute

apresentadas neste trabalho Reforccedilado neste caso tanto por Olson (1999) quanto

por Douglas (1989) ao concordarem que a homogeneidade do grupo facilita sua

unidade e a promoccedilatildeo da accedilatildeo Deste modo os ldquodilemas do cooperativismordquo

conceituados por Pereira (2002) levam agrave dificuldade de cumprir a previsatildeo de

ldquoigualdade e participaccedilatildeo ativa dos soacuteciosrdquo

Essa eacute uma discussatildeo de difiacutecil consenso pois Schneider (1999) afirma que

Em muitos paiacuteses a adequaccedilatildeo dos seus valores princiacutepios ou normas agrave realidade cultural social e poliacutetica local se realizou de forma difiacutecil contraditoacuteria e lenta nos uacuteltimos anos assim como a necessidade de adequar-se a um mercado

45

cada vez mais competitivo obrigou muitas cooperativas a criar organizaccedilotildees grandes e administrativamente complexas por esse motivo tende a distanciar da sua funccedilatildeo social assim como dificultar a participaccedilatildeo do conjunto de associados (SCHNEIDER1999 p20-21)

Essa dificuldade eacute apontada por Boesche e Mafioletti (2007) como um desafio

a ser resolvido

O grande desafio da cooperativa eacute encontrar o ponto de equiliacutebrio entre os interesses de cada membro que compotildee a sociedade e os objetivos coletivos simbolizados na necessidade de permanecer ativa e dinacircmica Na praacutetica existe uma grande tensatildeo entre as dimensotildees econocircmica e social Poreacutem quando uma das duas eacute subestimada a cooperativa perde a sua identidade Manter o equiliacutebrio entre ambas as dimensotildees natildeo eacute uma tarefa simples pois se trata do relacionamento com pessoas o que nem sempre eacute faacutecil de administrar (BOESCHE e MAFIOLETTI 2007 p9)

A pressatildeo sobre o cooperativismo que o deixa voluacutevel em seus princiacutepios

tem origem tambeacutem na gestatildeo da poliacuteticas puacuteblicas A exemplo do cooperativismo

agropecuaacuterio dentre motivaccedilotildees e incentivos a organizaccedilatildeo de produtores rurais

tecircm sido estimuladas pelo Estado que exige a constituiccedilatildeo juriacutedica de cooperativas

associaccedilotildees conselhos comissotildees ou comitecircs para que possam ter acesso a

recursos oferecidos por programas de governo atraveacutes de poliacuteticas puacuteblicas que

objetivam o seu desenvolvimento e sustentabilidade assim como indicados por

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Deste modo por meio de organizaccedilotildees

cooperativas o Estado tem facilitado acesso ao creacutedito fomento agrave agricultura

familiar e outros recursos que favorecem os produtores que a elas estatildeo associados

Entretanto organizaccedilotildees tecircm sido formadas sem a atenccedilatildeo que deveria ser

dada agraves condiccedilotildees proacuteprias dos membros e dos lugares que elas se desenvolvem

Por outro lado pensar na formaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo sem que os membros

tenham tido interaccedilotildees anteriores para que se desenvolva confianccedila no grupo

dificilmente haveraacute cooperaccedilatildeo e consequentemente desejo de participaccedilatildeo

premissa que eacute corroborada por Bueno (2004)

O que mostra Schneider (1981) e Campanhola e Graziano da Silva (2000) eacute

que nas comunidades tem havido formas de manipulaccedilatildeo na composiccedilatildeo de

conselhos comissotildees cooperativas e associaccedilotildees rompendo-se com a ideacuteia

original de representatividade democraacutetica para a defesa do exerciacutecio da cidadania

Eacute possiacutevel que ocorrecircncias dessa natureza sigam em ambiente de cooperativas

pois essa condiccedilatildeo se perpetua com tendecircncias de crescimento de cooperativas que

tendem a reproduzir e mesmo reforccedilar as condiccedilotildees estruturais vigentes na

46

sociedade (Schneider1981) Com a mesma opiniatildeo Pereira (2002) diz que o modo

de produccedilatildeo capitalista se reproduz no interior das cooperativas

Diferente de como observam estes autores grande parte da literatura que

trata do tema natildeo considera tais conflitos e outros problemas que decorrem das

diferenccedilas sociais do tamanho das cooperativas e a baixa participaccedilatildeo dos

associados nestas organizaccedilotildees

Para Schneider (2001) cooperativas que querem ser fieacuteis aos ideais dos

pioneiros devem abraccedilar o conjunto de princiacutepios por eles formulados e depois

redefinidos pelas instituiccedilotildees herdeiras ldquosegundo as necessidades de cada eacutepocardquo

Nesse aspecto o autor define fatores internos tradicionais e fatores decorrentes da

mudanccedila na estrutura e na organizaccedilatildeo de cooperativas como desafios agrave

ldquodemocracia-participaccedilatildeo cooperativardquo

bull pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias

bull os integrantes da direccedilatildeo geralmente provecircm dos estratos soacutecio-econocircmicos meacutedios ou altos

bull os proacuteprios associados em geral estatildeo mais interessados em obter benefiacutecios e vantagens econocircmicas imediatas sem uma correspondente assunccedilatildeo consciente da cooperativa como organizaccedilatildeo especiacutefica com a contrapartida de obrigaccedilotildees e compromissos para com sua organizaccedilatildeo

bull a transformaccedilatildeo na estrutura das organizaccedilotildees cooperativas muito influenciou na vigecircncia da democracia-participaccedilatildeo e autonomia cooperativa

bull cooperativas pequenas administrativamente simples e vizinhas ao homem apresentavam um estilo de democracia diferente do estilo de democracia e autonomia que se daria com a evoluccedilatildeo mais recente das cooperativas e ao assumirem dimensotildees empresariais tornando-se cooperativas grandes e espacialmente extensas poderosas e administrativamente complexas (SCHNEIDER 1999 p20-21)

Esses fatores sinalizam situaccedilotildees que dificultam tanto a oportunidade quanto

o interesse dos soacutecios em melhorar a participaccedilatildeo o que justifica a existecircncia de

problemas de accedilatildeo coletiva Surge por isso a necessidade de maior coerecircncia social

nas cooperativas a fim de permitir melhor funcionamento assim como maior

interaccedilatildeo entre as pessoas

A questatildeo espacial pode ser relevante pois o que constroacutei o fortalecimento

dos grupos satildeo as relaccedilotildees e interaccedilotildees entre as pessoas e os benefiacutecios que

surgem destas O processo de desenvolvimento das cooperativas como mostrado

por Schneider (1999) favorece esse dilema Nesse aspecto como cooperativas que

47

tecircm sido desenvolvidas nesse modelo poderiam funcionar em diferentes tamanhos

possibilitando a participaccedilatildeo dos soacutecios como preconizado originalmente no

princiacutepio cooperativista para conseguir atingir seus objetivos

Conforme a perspectiva interpretativa de Ferreira Neto (1996) ao abordar

sobre ponto comum do corporativismo e pluralismo indiviacuteduos agem racionalmente

no sentido de organizar e articular seus interesses como forma de maximizar suas

possibilidades de realizaccedilatildeo exitosa deste modo a escolha do indiviacuteduo se daacute num

caacutelculo de custo benefiacutecio elaborado Essa afirmaccedilatildeo estaacute em sintonia com os

argumentos de Olson (1999) sobre o grau de participaccedilatildeo individual numa causa

conforme seus interesses Sob este ponto de vista as cooperativas satildeo em muitos

casos a uacutenica forma de comercializaccedilatildeo da produccedilatildeo de produtores rurais Dentre os

incentivos esta seria uma motivaccedilatildeo para participar

Deste modo pode-se inferir que a participaccedilatildeo no cooperativismo natildeo estaacute

relacionada somente a uma preferecircncia individual mas uma necessidade gerada por

oportunidades pois ao considerar suas alternativas a associaccedilatildeo agrave cooperativa

supre sua capacidade cada vez menor de negociar sozinho sua produccedilatildeo Nesta

linha de pensamento o interesse em associar eacute motivado pela possibilidade de

utilizar a cooperativa como canal de comercializaccedilatildeo entre outros benefiacutecios Entre

os membros desse quadro encontram-se em maior nuacutemero os pequenos produtores

rurais entatildeo poder-se-ia dizer que estes deveriam ser os mais interessados em

participar na articulaccedilatildeo de estrateacutegias da cooperativa Mas o que se observa eacute que

o pequeno produtor participa menos das tomadas de decisotildees

Valadares (2005) mostra que a institucionalizaccedilatildeo da participaccedilatildeo cooperativa

por meio do Comitecirc Educativo cria na cooperativa um espaccedilo para a reproduccedilatildeo das

contradiccedilotildees da sociedade ou para operacionalizaccedilatildeo de mudanccedilas O estudo deste

autor revela que a racionalidade no Comitecirc Educativo eacute proacutepria dos modelos teoacutericos

de desenvolvimento humano e de produtividade e eficiecircnica e o quadro de referecircncia

dos participantes nas atividades deste Comitecirc eacute determinado por uma visatildeo

particular individual e de interesse pessoal dos dirigentes em relaccedilatildeo ao resultado

pretendido com o envolvimento das comunidades no processo decisoacuterio Este

contribui eficazmente para o aprimoramento das condiccedilotildees tecnoloacutegicas da

produccedilatildeo de leite mas natildeo prepara o cooperado para participar politicamente da

gestatildeo da empresa

48

Campanhola e Graziano da Silva (2000) Pereira (2002) assim como

Schneider (1981) mostram que formas de subordinaccedilatildeo se perpetuam em

organizaccedilotildees cooperativas Isso mostra que associados cooperam individualmente

com as lideranccedilas que permanecem em atividade sem maior envolvimento em suas

accedilotildees Neste caso as motivaccedilotildees para deixaacute-los nesse quadro poderiam ser

ilustradas de duas formas pelo dilema do prisioneiro e pelo caso free rider

Os conceitos de saiacuteda e voz desenvolvidos por Hirschman (1996) citado em

Machado (2007) ajudam a definir essa relaccedilatildeo Para esse autor a forma que

agentes insatisfeitos manifestam sua indignaccedilatildeo com o natildeo atendimento de suas

expectativas acontecem pela

saiacuteda como pura e simplesmente o ato de partir em geral porque se julga que um bem serviccedilo ou benefiacutecio melhor eacute fornecido por outra firma ou organizaccedilatildeordquo enquanto a ldquovozldquoeacute o ato de reclamar de organizar-se para reclamar ou protestar com a intenccedilatildeo de obter diretamente uma recuperaccedilatildeo da qualidade que foi prejudicada (HIRSCHMAN 1996 p 20 )

Segundo MACHADO (2007) de modo geral ainda para Hirschman a relaccedilatildeo

principal entre saiacuteda e voz eacute a de que ldquoa voz pode ser vista como sobra Quem natildeo

usa a saiacuteda eacute candidato agrave vozrdquo O uso da voz eacute bastante influenciado pelo tipo de

organizaccedilatildeo

Mesmo que hajam interaccedilotildees entre os soacutecios a oportunidade de

manifestar e concretizar opiniotildees que resultam na tomada de decisotildees se daacute em

assembleacuteias Nesse caso se o produtor manifestar sua opiniatildeo contraacuteria a dos

gestores mesmo que outros produtores sejam da mesma opiniatildeo ele natildeo tem

certeza de que seraacute apoiado pelos demais Entatildeo ele prefere cooperar que eacute manter

o status quo do quadro exposto Se os outros pensarem da mesma forma ocorre

como no dilema do prisioneiro natildeo haveraacute cooperaccedilatildeo A situaccedilatildeo iraacute perpetuarPor

outro lado pode ser racional no sentido de que o produtor pode optar por natildeo

participar jaacute que o envolvimento demanda o custo do seu tempo de trabalho que

poderia ser empregado em outra atividade na sua propriedade Mesmo sem

participar ele tem garantida sua parcela nos benefiacutecios puacuteblicos do cooperativismo e

nos resultados uma vez que as sobras satildeo distribuiacutedas proporcionais ao volume de

produccedilatildeo entregue agrave organizaccedilatildeo De outra forma sua falta de participaccedilatildeo tambeacutem

natildeo o impede de usar serviccedilos que satildeo disponibilizados a todos Isso pode ser

tambeacutem outro exemplo do comportamento free rider (carona) no cooperativismo

49

Deste modo o custo de agirem como ldquocaronardquo nessa situaccedilatildeo eacute refletido

como incentivo agrave pouca rotatividade e renovaccedilatildeo nas chefias como exposto por

Schneider (1999) Eacute incentivo tambeacutem para que o pequeno grupo que lidera a

cooperativa tenha outros benefiacutecios por permanecerem nos cargos ainda que

sejam incentivos natildeo econocircmicos como status e prestiacutegio demonstrados em

(OLSON 1999) que geram outros benefiacutecios para si

Outro dilema comum no cooperativismo que envolve o problema do carona

surge conforme Zylbersztajn (2002) quando existem problemas de observabilidade

e monitoramento tornando possiacutevel um agente comportar-se oportunisticamente

Neste caso a utilizaccedilatildeo dos serviccedilos da cooperativa pelos cooperados pode incorrer

no problema do carona

quando a assistecircncia teacutecnica for demandada em demasia por um produtor ou quando o membro da cooperativa adquirir os insumos da cooperativa ou ainda quando um natildeo cooperado entregar o produto para a cooperativa por meio de um membro auferindo eventuais vantagens para as quais natildeo contribuiu (ZYLBERSZTAJN 2002 p 60)

Outro dilema que se identifica eacute o da gestatildeo participativa Tendo em vista que

em funccedilatildeo da diversidade de atuaccedilatildeo na cadeia produtiva a montante e a jusante a

cooperativa torna-se uma organizaccedilatildeo complexa Deste modo conforme

Zylbersztajn (2002) Quando ocorre a gestatildeo pelo cooperado de organizaccedilotildees com elevado grau de complexidade a cooperativa incorre em um problema de separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle da corporaccedilatildeo A natildeo separaccedilatildeo entre a propriedade e o controle introduz ineficiecircncias que se tornam relevantes e o cooperado que gerencia com sucesso um empreendimento cooperativo no seu iniacutecio tenderaacute a perder eficiecircncia (ZYLBERSZTAJN 2002 p59)

Portanto exige-se que o gestor da organizaccedilatildeo cooperativa tenha habilidades

que podem natildeo ser encontradas dentro seu quadro social Por esse motivo o grupo

de produtores responsaacuteveis pela gestatildeo se vecirc por decidir contratar um especialista

em gestatildeo ou eles mesmo reconhecendo suas limitaccedilotildees executam a tarefa de

dirigentes

Estudos de Perius (1983) e Schneider (1999) mostram que quando se tem um

gestor natildeo soacutecio responsaacutevel pelo desenvolvimento da empresa cooperativa em

muitos casos este tende a priorizar decisotildees que melhor atenderatildeo agrave empresa do

que as necessidades dos associados Daiacute surge um dilema Os soacutecios tecircm que

decidir por deixar que a empresa cooperativa seja gerida profissionalmente face agrave

necessidade criada pelo proacuteprio ambiente econocircmico que estaacute instalada ou arrisca-

50

se em ser auto-gerida conforme prevecirc o princiacutepio da autogestatildeo mas neste caso

corre-se o risco de natildeo ter eficiecircncia como prevecirc o economista Zylbersztajn (2002)

No estudo sobre problemas estruturais do cooperativismo Perius (1983)

exprime uma melhor explicaccedilatildeo para identificaccedilatildeo deste dilema

() o poder interventaacuterio como medida saneadora de maacutes administraccedilotildees vem a ferir a natureza privada das sociedades cooperativas que como sociedades de pessoas devem ser geridas e ldquoautocontroladasrdquo pelos proacuteprios associados Infelizmente a participaccedilatildeo associativa e operacional dos associados na vida das cooperativas eacute muito fraca O princiacutepio do controle democraacutetico pelo qual as decisotildees satildeo tomadas pela maioria eacute constantemente esquecido pois minorias acabam homologando via de regra as decisotildees anteriormente arquitetadas estudadas e projetadas (PERIUS 1982 p101)

Amodeo (2001) concorda com Perius (1982) e Pereira (2002) ao se referir a

um possiacutevel comprometimento da supremacia dos princiacutepios em alguns casos de

organizaccedilotildees cooperativas frente a estrateacutegias utilizadas na gestatildeo Segundo esta

autora muitas vezes esses valores e princiacutepios natildeo satildeo considerados em toda sua

magnitude na gestatildeo de organizaccedilotildees cooperativas

Todas essas questotildees tecircm ao centro o comportamento dos indiviacuteduos que se

associam e formam as cooperativas Pinho (1982) descreve que o ldquohomus

cooperativusrdquo da forma concebida por alguns estudiosos do cooperativismo eacute

apenas uma abstraccedilatildeo que permanece no campo do comportamento ideal ou seja

o que seria o comportamento esperado do individuo no cooperativismo

o ldquohomem cooperativordquo eacute honesto justo respeitoso solidaacuterio e responsaacutevel Age animado de ldquoespiacuterito cooperativistardquo ou seja de uma atitude interior de compreensatildeo de aprovaccedilatildeo e de adesatildeo agrave moral cooperativa assim como agraves finalidades e objetivos dos quais as cooperativas satildeo o meio E ao mesmo tempo agraves razotildees de ser qualitativas e profundas dessas finalidades Natildeo se trata somente de uma crenccedila intelectual mas tambeacutem de um sentimento e de uma vontade que se situam ao niacutevel da consciecircncia moral (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

De outra forma mostra tambeacutem o comportamento individual na praacutetica

cooperativista

a pluralidade de papeacuteis atribuiacutedos ao homem cooperativo dificulta o ajustamento na pessoa do cooperado de comportamentos tatildeo diferentes de associado cooperado ou cooperador proprietaacuterio empresaacuterio administrador gerente fiscal usuaacuterio etc (LASSERE CITADO EM PINHO 1982 p 64)

Portanto o dilema do ldquohomem cooperativordquo reflete na realidade o caraacuteter

racional dos indiviacuteduos Outra percepccedilatildeo de Pinho (1982) neste contexto eacute natildeo

ignorar que a associaccedilatildeo se daacute com objetivos pessoais afim de realizar suas

atividades econocircmicas com mais eficaacutecia o que corrobora pressupostos da Teoria

da Escolha Racional em que o indiviacuteduo age segundo seus caacutelculos racionais de

51

forma exitosa A autora mostra entretanto essa relaccedilatildeo de racionalidade na accedilatildeo

do associado Para Pinho (1982) o soacutecio age tambeacutem conforme a necessidade de

ajustamento da sua participaccedilatildeo na realizaccedilatildeo de suas obrigaccedilotildees com a

cooperativa Ou seja mostra o ponto de vista do associado que renuncia sua

autonomia racionalmente Como associado-empresaacuterio-usuaacuterio racional o cooperado renuncia a uma parte de sua autonomia e de seu poder para se unir cooperativamente a outros empresaacuterios submetendo-se aos princiacutepios de igualdade e da gestatildeo democraacutetica bem como agrave formaccedilatildeo de um patrimocircnio ou acervo de utilizaccedilatildeo coletiva mas impartilhaacutevel entre os associados Aceita limitaccedilotildees agrave sua decisatildeo pessoal imposta pelas assembleacuteias gerais de cooperados em troca de determinadas vantagens (PINHO 1982 p 66)

Deste modo o comportamento do cooperativo representa um tipo de ajustamento ao meio tal como este eacute percebido ndash natildeo pelo idealista romacircntico ndash mas pelo cooperado-produtor ou pelo cooperado empresaacuterio-usuaacuterio Como o meio ambiente percebido eacute dinacircmico haacute um permanente esforccedilo de ajustamento agraves mudanccedilas e de elaboraccedilatildeo de ldquoplanos cooperativos adequados agrave realidade (PINHO 1982 p 66)

Esta autora manifesta assim sua opiniatildeo sobre o instrumentalismo

cooperativista embora natildeo aprofunde nessa discussatildeo Pinho (1982) considera que

esse comportamento eacute amplamente utilizado seguindo as regras praacuteticas de

funcionamento concebidas pelos idealizadores do cooperativismo mas sem o

objetivo de reformar a sociedade isto eacute para a solidariedade Deste modo a autora

corrobora com a opiniatildeo de que a doutrina cooperativista por si soacute natildeo tem sido

eficaz para impedir que o comportamento tipicamente utilitarista comum do modelo

capitalista assim como problemas do dilema do prisioneiro e oportunismo sejam

encontrados em cooperativas

O desenvolvimento social e consequumlente melhoria na qualidade de vida dos

soacutecios satildeo entendidos como objetivo finaliacutesitico de uma cooperativa por meio da

promoccedilatildeo econocircmica natildeo obstante a isso autores fazem discussatildeo em torno dos

meios para conseguir esse fim De modo geral a forma de destinar os recursos

obtidos com o resultado das operaccedilotildees econocircmicas da cooperativa eacute em si um

dilema Pois os associados eacute que tomam tais decisotildees Mais frequentemente o

investimento tem sido feito na proacutepria cooperativa dadas as necessidades de

modernizaccedilatildeo o recurso deixa de ser utilizado pelo associado em seu benefiacutecio

proacuteprio

52

Quando ele aprova a integralizaccedilatildeo do capital que eacute o investimento na

proacutepria cooperativa ao inveacutes de decidir pela distribuiccedilatildeo este abre matildeo de suas

vontades e necessidades pessoais em benefiacutecio do coletivo Se nesta decisatildeo se o

associado natildeo estiver sob nenhuma pressatildeo coercitiva como no exemplo do dilema

do prisioneiro este estaraacute cumprindo seu papel do ldquohomus cooperativusrdquo como

definido por Pinho (1982) A necessidade desse tipo de accedilatildeo deve estar clara para o

indiviacuteduo que queira fazer parte de uma cooperativa pois esse eacute o comportamento

que se espera do cooperado

De outra forma conforme Pinho (1982) haacute um dilema entre a praacutetica

cooperativista de inspiraccedilatildeo rochdaleana e a praacutetica cooperativista sem Rochdale

isto eacute marcado tatildeo somente quando haacute uma racionalidade econocircmica e

administrativa da empresa cooperativa sem adesatildeo agrave moral cooperativista

Deste modo haacute uma diferenccedila qualitativa na eficaacutecia da cooperativa mesmo

que ambos os casos tenham resultados econocircmicos eficientes Haacute portanto uma

definiccedilatildeo distinta entre eficiecircncia e eficaacutecia que pode ser tomada para chamar a

atenccedilatildeo e observar a gestatildeo cooperativa Conforme Drucker (1994) eficiecircncia eacute

fazer as coisas de maneira correta eficaacutecia satildeo as coisas certas o resultado

depende de ldquofazer certo as coisas certasrdquo Uma metaacutefora simples usada por Augusto

(2006) clarifica isso ldquoeficiecircncia eacute cavar com perfeiccedilatildeo teacutecnica um poccedilo artesiano

eficaacutecia eacute encontrar a aacuteguardquo Para o contabilista Padoveze (2004) o lucro eacute a melhor

medida da eficaacutecia empresarial mas eficiecircncia permeia todas as accedilotildees e atividades

da empresa Portanto tomadas essas definiccedilotildees haacute uma visualizaccedilatildeo na diferenccedila

entre as praacuteticas cooperativistas expostas por Pinho (1982) Neste caso para

reconhecer os resultados em eficiecircncia e eficaacutecia no cooperativismo os indicadores

estariam em recorrer natildeo soacute a criteacuterios de eficaacutecia econocircmica mas tambeacutem a

criteacuterios de eficaacutecia social que se daria nos niacuteveis de desenvolvimento

envolvimento e participaccedilatildeo dos associados

Embora dilemas da ordem que foi apresentada ocorram no cooperativismo

organizaccedilotildees cooperativas funcionam com bons resultados e benefiacutecios extensivos

aos soacutecios Sobre isso Ostron citado em Olson (1995) ao comparar as iniciativas de

gestatildeo cooperativa de recursos comuns fez o seguinte questionamento ldquoPor que

certas instituiccedilotildees conseguiram superar a loacutegica da accedilatildeo coletiva e outras natildeo Da

sua comparaccedilatildeo emerge alguns requisitos para essa superaccedilatildeo Dos sugeridos por

53

Putnam (1996) haacute indicaccedilatildeo de que se deva ter clara definiccedilatildeo dos limites da

instituiccedilatildeo e participaccedilatildeo das partes interessadas assim como a definiccedilatildeo de regras

entre os agentes envolvidos Deste modo eacute percebido nesses dois pontos que haacute

pistas para direcionar o entendimento das dificuldades apontadas que satildeo comuns

em cooperativas Eacute nessa busca que posteriormente se faraacute uma apresentaccedilatildeo de

como se constroacutei a participaccedilatildeo e procurar mostrar como confianccedila cooperaccedilatildeo e

capital social satildeo importantes para superaccedilatildeo dos dilemas no cooperativismo

32 A Participaccedilatildeo 321 Reflexotildees sobre Participaccedilatildeo A participaccedilatildeo tem sido considerada em diferentes pesquisas e estudos sobre

desenvolvimento uma importante ferramenta para potencializar o desenvolvimento

humano Abordagens de Bordenave (1983) e Freire (1982) indicam a participaccedilatildeo

como direito das pessoas e caminho para auto-realizaccedilotildees ao inserir o indiviacuteduo em

discussotildees que o fazem assumir atitudes realizadoras para si Nesta pesquisa a

participaccedilatildeo eacute abordada como uma possibilidade para reduccedilatildeo do distanciamento

entre produtores rurais e as atividades de cooperativas rurais agraves quais satildeo

associados

Conforme Alencar (2001) as poliacuteticas de modernizaccedilatildeo da agricultura por

volta da deacutecada de 70 foram bastante seletivas em termos de distribuiccedilatildeo de

recursos Do mesmo modo se deram as poliacuteticas de pesquisa e assistecircncia teacutecnica

Neste sentido entre outros resultados houve maior emergecircncia de diferenciaccedilatildeo

social com a formaccedilatildeo de categorias distintas de produtores e trabalhadores rurais

Na populaccedilatildeo rural ldquopara alguns significou proletarizaccedilatildeo ou eminecircncia de

desintegraccedilatildeo de suas unidades de produccedilatildeo para outros abertura de novas

oportunidades e crescimentordquo A partir daiacute diferentes estrateacutegias foram sendo

estabelecidas para orientar programas que tivessem como objetivo incluir

segmentos sociais colocados agrave margem desse ldquonovo modelo de desenvolvimentordquo

Nessa eacutepoca algumas organizaccedilotildees natildeo governamentais fundamentadas

nas obras de Paulo Freire jaacute desenvolviam metodologias de intervenccedilatildeo centradas

na ldquoparticipaccedilatildeordquo de pequenos produtores na formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de

projetos de desenvolvimento (ALENCAR 2001) A partir daiacute ldquoparticipaccedilatildeordquo foi

54

incorporada em outras experiecircncias O foco comum passou a ser ldquoparticipaccedilatildeo das

pessoasrdquo Entretanto conforme Alencar (2001) as estrateacutegias adotadas de

participaccedilatildeo variam de acordo com a visatildeo que os agentes possuem do papel ou

natureza da intervenccedilatildeo Eacute dessa visatildeo que resultam diferentes dimensotildees e

significados atribuiacutedos agrave participaccedilatildeo

Portanto o conceito de participaccedilatildeo admite diferentes conotaccedilotildees e pode ser

visto como um termo ambiacuteguo nas ciecircncias sociais Dentre os significados atribuiacutedos

por Oakley e Marsden citados em Alencar (2001) estatildeo associados agrave participaccedilatildeo o

sentido de colaboraccedilatildeo desenvolvimento de comunidade organizaccedilatildeo e

empowering (aquisiccedilatildeo de poder) Ao analisar diferentes projetos de

desenvolvimento esses autores supracitados atribuiacuteram novos sentidos ao temo

participaccedilatildeo

1 Envolvimento voluntaacuterio dos indiviacuteduos nos programas sem contudo participarem da sua elaboraccedilatildeo

2 Sensibilizaccedilatildeo dos indiviacuteduos aumentando-lhes a responsabilidade para responderem as propostas de programas de desenvolvimento e encorajando iniciativas locais

3 Envolvimento dos indiviacuteduos no processo de tomada de decisatildeo na implementaccedilatildeo dos programas na divisatildeo dos benefiacutecios e na avaliaccedilatildeo das decisotildees tomadas

4 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com o direito e dever dos indiviacuteduos participarem na soluccedilatildeo dos seus problemas terem responsabilidade de assegurar a satisfaccedilatildeo de suas necessidades baacutesicas mobilizarem recursos locais e sugerirem novas soluccedilotildees bem como de criarem e manterem as organizaccedilotildees locais

5 Associaccedilatildeo do conceito de participaccedilatildeo com a iniciativa de pessoas e grupos visando a soluccedilatildeo de seus problemas e a busca de autonomia

6 Organizaccedilatildeo de esforccedilos de pessoas excluiacutedas para que elas aumentem o controle sobre recursos necessaacuterios ao desenvolvimento e sobre as instituiccedilotildees que regulam a distribuiccedilatildeo desses recursos (ALENCAR 2001 P21)

Segundo Bordenave (1983) participar eacute uma necessidade humana e

universal cuja praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades natildeo menos baacutesicas

tais como a interaccedilatildeo com os demais homens a auto-expressatildeo o desenvolvimento

do pensamento reflexivo o prazer de criar e recriar coisas e ainda a valorizaccedilatildeo de

si mesmo pelos outros

Portanto Bordenave (1983) vecirc na participaccedilatildeo duas bases complementares

uma base afetiva ndash participamos porque sentimos prazer em fazer coisas com

outros e uma base instrumental ndash participamos porque fazer coisas com outros eacute

55

mais eficaz e eficiente que fazecirc-las sozinhos Esta uacuteltima afirmativa conota os

aspectos da participaccedilatildeo individual em accedilotildees coletivas discutidos neste trabalho e

que fundamentam o entendimento dos dilemas da participaccedilatildeo no cooperativismo

Conforme Pereira citado em Bento (1993) A participaccedilatildeo advem de uma situaccedilatildeo ou problema existente a partir do qual as pessoas unem-se para a) apresentar ideacuteias discutir e contribuir conforme a possibilidade de cada um para a soluccedilatildeo desses problemas ou dessa situaccedilatildeo e b) contrapor ou responder a essa situaccedilatildeo ou problema existente Portanto participar eacute um ato coletivo (BENTO 1993 p32)

Das diferentes aneiras de participar Bordenave (1983) apresenta conceitos

sobre tipos de participaccedilatildeo dentre os quais define participaccedilatildeo voluntaacuteria cujo

grupo eacute criado pelos proacuteprios participantes que definem sua proacutepria organizaccedilatildeo e

estabelecem seus objetivos e meacutetodos de trabalho Neste caso satildeo exemplos os

sindicatos livres as associaccedilotildees profissionais as cooperativas e os partidos

poliacuteticos Entretanto segundo este autor nem sempre a participaccedilatildeo voluntaacuteria surge

como iniciativa dos membros do grupo agraves vezes trata-se de uma participaccedilatildeo

provocada por agentes externos que ajudam outros a realizarem seus objetivos ou

os manipulam a fim de atingir seus proacuteprios objetivos previamente estabelecidos

Para Bordenave (1983) no processo de participaccedilatildeo eacute possiacutevel fazer parte sem

tomar parte Se refere a niacuteveis de participaccedilatildeo cujas diferenccedilas se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte

Deste modo Bordenave (1983) mostra graus de participaccedilatildeo em que os

membros de uma organizaccedilatildeo podem atuar sob o ponto de vista de maior ou menor

acesso aos controles das decisotildees dos membros Conforme o autor a participaccedilatildeo

varia de niacutevel da informaccedilatildeo agrave autogestatildeo sendo que o menor grau de participaccedilatildeo

eacute o da informaccedilatildeo Neste caso os dirigentes informam os membros da organizaccedilatildeo

sobre as decisotildees tomadas Contudo haacute casos de lideranccedilas que natildeo fazem o

mesmo Neste niacutevel a reaccedilatildeo dos membros agraves informaccedilotildees recebidas eacute observada

pelos agentes responsaacuteveis Estes por sua vez acatam as observaccedilotildees e

reconsideram uma decisatildeo inicial ou de modo contraacuterio natildeo aceitam o direito de

reaccedilatildeo

Em segundo niacutevel acontece a consulta facultativa em que a administraccedilatildeo

pode se quiser e quando quiser consultar outros membros solicitando criacuteticas

56

sugestotildees ou dados para resolver algum problema Quando a consulta eacute obrigatoacuteria

os integrantes devem ser consultados em certas ocasiotildees embora a decisatildeo final

pertenccedila ainda aos diretores

No niacutevel da elaboraccedilatildeorecomendaccedilatildeo os membros do grupo elaboram

propostas e recomendam medidas que a administraccedilatildeo aceita ou rejeita mas

sempre se obrigando a justificar sua posiccedilatildeo (Bordenave 1983)

Outro niacutevel considerado eacute o da co-gestatildeo sobre o qual

a administraccedilatildeo da organizaccedilatildeo eacute compartilhada mediante mecanismos de co-decisatildeo e colegialidade Aqui os administrados exercem uma influecircncia direta na eleiccedilatildeo de um plano de accedilatildeo e na tomada de decisotildees Comitecircs conselhos ou outras formas colegiadas satildeo usadas para tomar decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

O sexto niacutevel eacute o da delegaccedilatildeo

Eacute um grau de participaccedilatildeo onde os gestores tecircm autonomia em certos campos ou jurisdiccedilotildees antes reservados eles A administraccedilatildeo define certos limites dentro dos quais os administradores tecircm poder de decisatildeo Ora para que haja delegaccedilatildeo real os delegados devem possuir completa autoridade sem precisar consultar seus superiores para tomarem as decisotildees (BORDENAVE 1983 p32)

Ainda segundo Bordenave o niacutevel mais avanccedilado de participaccedilatildeo eacute o da

autogestatildeo neste

O grupo determina seus objetivos escolhe seus meios e estabelece os controles pertinentes sem referecircncia a uma autoridade externa Na autogestatildeo desaparece a diferenccedila entre administradores e administrados visto que nela ocorre a auto administraccedilatildeo (BORDENAVE 1983 p32)

Portanto parte da efetividade da participaccedilatildeo depende do comportamento

dos indiviacuteduos frente agraves diferentes situaccedilotildees em que satildeo envolvidos Deste modo

quando as pessoas satildeo envolvidas a participaccedilatildeo eacute percebida como uma estrateacutegia

para criaccedilatildeo de novas oportunidades e as pessoas por elas mesmas se

comprometem a apoiar as accedilotildees identificadas como melhor opccedilatildeo Para isso

conforme Alencar (2001) a forma de intervenccedilatildeo tem de ser um conjunto de accedilotildees

praticadas por agentes externos mas deve ser feita num caraacuteter educativo em que

a populaccedilatildeo alvo seja estimulada a desenvolver a habilidade de diagnosticar e

analisar seus problemas decidir coletivamente sobre as accedilotildees para solucionaacute-los

executar tais accedilotildees e avaliaacute-las

Oakley citado em ASBRAER (2007) faz uma distinccedilatildeo importante sobre

participaccedilatildeo como meio ou como fim na literatura e na praacutetica

Quando participaccedilatildeo eacute interpretada como meio descreve uma condiccedilatildeo e quando eacute interpretada como fim refere-se a um processo que tem como resultado participaccedilatildeo significativa Ateacute recentemente a noccedilatildeo que dominava a

57

praacutetica da participaccedilatildeo tinha sido efetivada por meio da criaccedilatildeo de organizaccedilotildees formais como as cooperativas e associaccedilotildees de agricultores Nos programas que foram realizados usando conceito de participaccedilatildeo nesses moldes certas melhorias econocircmicas foram realizadas mas poucos conseguiram participaccedilatildeo significativa Participaccedilatildeo como fim eacute a consequumlecircncia do processo de empoderamento e libertaccedilatildeo (ASBRAER 2007 p 36)

A ideacuteia contida no sentido da participaccedilatildeo como fim estaacute articulada ao

conceito de conscientizaccedilatildeo que se refere ao processo onde os indiviacuteduos passam a

compreender a realidade social que molda suas vidas bem como a capacidade que

possuem de transformar tal realidade (ALENCAR 2001) vencendo o que Freire

(1976) chama de ldquocultura do silecircnciordquo

Na cultura do silecircncio os indiviacuteduos dependentes ou dominados acham-se

semimudos ou mudos ou seja satildeo proibidos de participar criativamente na

transformaccedilatildeo da sociedade e por conseguinte proibidos de ser (Freire 1976) Esta

cultura do silecircncio eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia do

dominado com o dominador

A liberdade e oportunidade de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos nos niacuteveis

propostos em Bordenave (1983) portanto vatildeo depender de que seja superado a

ldquocultura do silecircnciordquo e que a estrutura da organizaccedilatildeo em que os indiviacuteduos se

associam utilize pelos seus teacutecnicos a intervenccedilatildeo de caraacuteter educativo a fim de

identificar juntos as limitaccedilotildees necessidades e expectativas de todosEntretanto os

dirigentes que estatildeo conduzindo a organizaccedilatildeo devem aceitar e desejar que essa

mudanccedila ocorra

Alencar (2001) mostra que a superaccedilatildeo da cultura do silecircncio estaacute

relacionada ao processo de constituiccedilatildeo da autoconfianccedila que eacute um conceito

definido por Galtung (1980) Segundo este autor autoconfianccedila eacute um processo em

que para construccedilatildeo de novas formas de interaccedilatildeo social deve-se destruir as

velhas formas de interaccedilatildeo iniciando novos padrotildees de cooperaccedilatildeo com a

destruiccedilatildeo do centro de monopoacutelio da interaccedilatildeo e das organizaccedilotildees

A autoconfianccedila eacute assim uma caracteriacutestica que as pessoas apresentam em

seu comportamento individual que transfere ao grupo e lhes daacute a capacidade de

negociaccedilatildeo e de reivindicaccedilatildeo Eacute a auto-expressatildeo sugerida em Bordenave (2003)

Portanto conforme estes autores a liberdade individual fundamenta a participaccedilatildeo eacute

um meio em que se consegue resolver problemas que ao indiviacuteduo parecem

insoluacuteveis se contar soacute com suas proacuteprias forccedilas

58

Neste ponto de vista o cooperativismo eacute uma forma de expressatildeo da

participaccedilatildeo Uma cooperativa eacute formalmente definida como uma associaccedilatildeo

autocircnoma de pessoas que se unem voluntariamente para satisfazer aspiraccedilotildees e

necessidades econocircmicas sociais e culturais comuns Se baseiam em valores de

ajuda muacutetua responsabilidade democracia igualdade e solidariedade Deste modo

com esta ideologia formaram-se diferentes estruturas de organizaccedilotildees

cooperativas em certos casos grandes e complexas Entretanto as prioridades e

objetivos nessas organizaccedilotildees nem sempre satildeo direcionados agraves necessidades da

maioria de seus membros Todavia esses associados podem por si mesmos

munidos de autoconfianccedila criar oportunidades para assegurar sua participaccedilatildeo em

diferentes niacuteveis na organizaccedilatildeo Natildeo menos do que fazer valer o princiacutepio da auto

gestatildeo

322 A Participaccedilatildeo em cooperativas

O cooperativismo tem como princiacutepio a proposta do mais elevado niacutevel de

participaccedilatildeo conforme descriccedilotildees de Bordenave (2003) ateacute atingir a auto gestatildeo

Deste modo os valores do cooperativismo se materializariam agrave medida que a

organizaccedilatildeo conseguisse incluir participativamente os soacutecios dotando-os de

informaccedilotildees e permitindo interaccedilotildees no planejamento das accedilotildees e na tomada de

decisotildees

Geralmente a discussatildeo em torno da participaccedilatildeo de associados em

organizaccedilotildees cooperativas natildeo mostra operacionalmente como se efetiva a praacutetica

participativa Schneider (1999) Alencar (2001) e Perius (1983) aprofundaram um

pouco mais nesse assunto levantando importantes consideraccedilotildees sobre a conduccedilatildeo

da participaccedilatildeo no processo de desenvolvimento acompanhamento e fiscalizaccedilatildeo

da organizaccedilatildeo cooperativa pelos seus associados

Embora os princiacutepios norteiem a conduccedilatildeo do cooperativismo cada

organizaccedilatildeo cooperativa manteacutem caracteriacutesticas proacuteprias no seu processo de

gestatildeo que satildeo regulamentadas pelos seus estatutos sociais Formalmente a

participaccedilatildeo nas decisotildees em cooperativas brasileiras eacute absolutamente igualitaacuteria

ou seja todo associado tem direito a um voto independente do volume de produccedilatildeo

ou serviccedilos prestados agrave cooperativa Neste caso a participaccedilatildeo oficial dos soacutecios

estaacute apoiada na Lei 5764 do cooperativismo que estabelece as diretrizes gerais e

59

por sua vez tem suas bases convergentes com as normas da ACI Deste modo

todos os associados participam da gestatildeo representados pelos membros que

compotildeem os oacutergatildeos de administraccedilatildeo fiscalizaccedilatildeo ou do comitecirc educativo

(SESCOOP 2008) Esses representantes satildeo eleitos pelos demais soacutecios que

participam anualmente das Assembleacuteias Gerais onde se concretizam as decisotildees

mais importantes em cooperativas Pela lei do cooperativismo brasileiro os oacutergatildeos

de gestatildeo se organizam da seguinte maneira

Art 47 - A sociedade seraacute administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administraccedilatildeo composto exclusivamente de associados eleitos pela Assembleacuteia Geral com mandato nunca superior a 4 (quatro) anos sendo obrigatoacuteria a renovaccedilatildeo de no miacutenimo 13 (um terccedilo) do Conselho de Administraccedilatildeo

Art 56 - A administraccedilatildeo da sociedade seraacute fiscalizada assiacutedua e minuciosamente por um Conselho Fiscal constituiacutedo de 3 (trecircs) membros efetivos e 3 (trecircs) suplentes todos associados eleitos anualmente pela Assembleacuteia Geral sendo permitida apenas a reeleiccedilatildeo de 13 (um terccedilo) dos seus componentes (OCB 2007 p1)

No trabalho sobre o cooperativismo de leite em diferentes paiacuteses Martins et

alli (2004) retratam experiecircncias de sucesso e descrevem a dinacircmica do processo

de participaccedilatildeo de produtores na gestatildeo dessas cooperativas No exemplo da

Fonterra na Nova Zelacircndia para eleiccedilatildeo do Corpo de Diretores os produtores

recebem uma ceacutedula pelos correios juntamente com um viacutedeo que conteacutem o

curriculum vitae e as propostas dos candidatos O sistema adotado requer que os

cooperados ordenem suas preferecircncias entre os onze candidatos inscritos de um a

onze Neste caso entendem que eacute melhor ordenar do que votar em apenas um A

regra eleitoral nesta cooperativa eacute de que cada produtor recebe uma ceacutedula para

cada uma tonelada de leite soacutelido produzido ao longo de um ano O espaccedilo de

representaccedilatildeo dos produtores eacute o Conselho de Acionistas que consiste de 45

representantes Neste caso cada membro representa um setor previamente definido

conforme a localizaccedilatildeo em todo o paiacutes Deste modo nesta cooperativa o nuacutemero de

votos por associado para participaccedilatildeo nas decisotildees da cooperativa eacute proporcional

ao volume de produccedilatildeo Esse meacutetodo jaacute eacute comum em cooperativas de produccedilatildeo

A DFA ndash Cooperativa Dairy Farmers of Ameacuterica fruto da fusatildeo de quatro

cooperativas americanas conta com 24124 cooperados Segundo Martins et alli

(2004) os interesses dos cooperados satildeo representados por meio de trecircs canais na

seleccedilatildeo do representante no Conselho Regional na reuniatildeo anual e indiretamente

na escolha do Conselho de Diretores O Conselho de Diretores eacute formado por 51

60

produtores eleitos entre seus pares por um mandato de dois anos Este conselho

tem a finalidade de estabelecer as grandes linhas diretivas da companhia definem

as poliacuteticas de governanccedila os rumos a serem seguidos a estrutura financeira o

orccedilamento e as prioridades de novos investimentos A este conselho estatildeo

vinculados seis Comitecircs de orccedilamento de mercado fluido de valor agregado de

auditoria e o de relaccedilotildees governamentais Desta forma estatildeo representados os

interesses dos cooperados localizados em sete regiotildees geograacuteficas diferentes dos

Estados Unidos Os encontros anuais ocorrem no Foacuterum para tomada das grandes

decisotildees da Cooperativa Conforme Martins et alii (2004) no uacuteltimo Foacuterum realizado

foi registrada a participaccedilatildeo de 1150 produtores entre delegados eleitos diretores

liacutederes de conselhos regionais e convidados Como se verifica o cooperado

participa de um processo do tipo democracia representativa

Em outra cooperativa a Campina Melkunie localizada nos Paiacuteses Baixos

tem como associados 6823 produtores e espacialmente distribuiacutedos num percentual

de 75 residentes na Holanda 24 na Alemanha e o restante (1) na Beacutelgica

Conforme Martins et alii (2004) satildeo eleitos soacutecio-representantes que integram o

Comitecirc de Departamentos e representantes no Conselho dos Membros Todos os

soacutecios pertencem a um departamento regional e se reuacutenem duas vezes por ano

quando satildeo discutidas questotildees relevantes da cooperativa A cada trecircs anos haacute

eleiccedilatildeo e o nuacutemero de membros de um departamento depende do volume de leite

produzido em cada departamento O direito de voto para cada cooperado estaacute

baseado no volume de leite que este entrega nesta cooperativa Desta forma a

participaccedilatildeo do associado estaacute condicionada tambeacutem ao volume de produccedilatildeo tanto

individual quanto da regiatildeo (departamento) em que o produtor estaacute localizado Essas diferentes cooperativas tecircm em comum um grande nuacutemero de

associados e uma estrutura complexa de gestatildeo em que os produtores estatildeo

distantes espacialmente dos dirigentes Portanto essa estrutura requer alto niacutevel de

organizaccedilatildeo e aacutegeis canais de comunicaccedilatildeo pois caso seja diferente natildeo seria

possiacutevel que os associados acompanhassem as accedilotildees dessas cooperativas

Em se tratando de organizaccedilatildeo cooperativa Schneider (1999) apresenta a

concepccedilatildeo de que participaccedilatildeo natildeo se mede somente por criteacuterios quantitativos

como taxas de presenccedila em assembleacuteias eleiccedilatildeo dos dirigentes e em registros de

utilizaccedilatildeo de serviccedilos Para este autor deve-se complementar com outros

61

indicadores pois a participaccedilatildeo do soacutecio natildeo se limita ao voto Esta deve se dar

tambeacutem na esfera estrateacutegica das accedilotildees e na formulaccedilatildeo de proposiccedilotildees

Schneider (1999) sugere como novas formas de participaccedilatildeo nas etapas

anterior e posterior agrave tomada de decisotildees a organizaccedilatildeo de pequenos grupos

locais setoriais profissionais ou por tipo de produccedilatildeo O autor acredita que os

pequenos grupos apresentam vantagens para uma participaccedilatildeo mais efetiva nas

reuniotildees o que estaacute em sintonia com os argumentos de Olson (1999) Deste modo

Schneider (1999) mostra as vantagens dos pequenos grupos no fomento agrave

participaccedilatildeo

Permite atividades conduzidas mais informalmente predominam as relaccedilotildees pessoais que envolvem a totalidade da pessoa na interaccedilatildeo haacute maior controle social reciacuteproco entre eles constrangendo os indecisos ou pouco motivados a comparecer haacute a possibilidade de dimensionar as atividades e os planos da cooperativa em acircmbito local e o encaminhamento agrave direccedilatildeo de propostas mais realistas e efetivamente adequadas agraves peculiaridades e agraves carecircncias de cada localidade surgem oportunidades de cooperaccedilatildeo desconhecidas na cuacutepula da grande organizaccedilatildeo cooperativa melhorando e inovando a capacidade produtiva (SCHNEIDER 1999 p 241-242)

Deste modo Schneider (1999) conseguiu mostrar de forma concisa as

caracteriacutesticas positivas do comportamento de associados quando organizados em

comitecircs ou pequenos nuacutecleos De certa forma isso ilustra tambeacutem indiviacuteduos com

autonomia de participaccedilatildeo e autoconfianccedila desenvolvida Ao mesmo tempo mostra

a relaccedilatildeo de auto-coerccedilatildeo que se desenvolve no grupo Quando isso acontece

mesmo em grandes cooperativas eacute de se esperar que por meio dos nuacutecleos as

pessoas consigam influenciar no planejamento de accedilotildees para a organizaccedilatildeo com

suas opiniotildees Essa forma de conduzir portanto teraacute como resultado maiores

possibilidades de que o consenso entre os participantes da organizaccedilatildeo tanto

dirigentes quanto os outros membros esteja mais proacuteximo do que o dissenso em

relaccedilatildeo agraves propostas que surgem quando satildeo elaboradas somente pela direccedilatildeo

Outra forma de participaccedilatildeo de associados deve se dar tambeacutem no controle e

acompanhamento da execuccedilatildeo das decisotildees tomadas Isso requer uma atuaccedilatildeo

constante No entanto a dinacircmica operacional da estrutura empresarial de uma

cooperativa natildeo permite que os mecanismos de controle e acompanhamento sigam

no mesmo ritmo A especializaccedilatildeo proacutepria das necessidades da cooperativa exige

da fiscalizaccedilatildeo igual niacutevel de especializaccedilatildeo de associados que se interesse em

atuar nesse aspecto da participaccedilatildeo Essa especializaccedilatildeo entretanto eacute pouco

encontrada na maior parte do quadro de associados Essa loacutegica eacute confirmada

62

tambeacutem por Lickert citado em Schneider (1999) ao dizer que a participaccedilatildeo exige

uma estrutura apropriada e habilidades das quais a maioria da populaccedilatildeo carece

Uma variaacutevel ainda observada em Schneider (1999) que influi na participaccedilatildeo

cooperativa e convergente com a opiniatildeo de Olson (1999) foi identificar fatores

psicoloacutegicos que influenciam na decisatildeo de participar Para Schneider (1983) o

prestiacutegio percebido na cooperativa expressa o significado emocional de participar

coletivamente ao se comparar com outras organizaccedilotildees Por outro lado participar

dessas organizaccedilotildees por si cria tensotildees especialmente porque exige

comparativamente um alto niacutevel de racionalidade de disciplina e neutralidade

afetiva o que depende de fatores comportamentais agraves vezes conflitantes para os

indiviacuteduos

As possibilidades acerca de participaccedilatildeo e potencialidades do indiviacuteduo em

ldquotransformaccedilatildeordquo quando este se torna um ser livre e autoconfiante satildeo indicadores

de participaccedilatildeo dos indiviacuteduos seja em cooperativa ou em outra forma de accedilatildeo

coletiva

Conforme mostrado na literatura acerca dessa temaacutetica bem como na

demonstraccedilatildeo das praacuteticas de participaccedilatildeo em cooperativas conforme as

complexas formas de gestatildeo adotadas por essas organizaccedilotildees a participaccedilatildeo de

produtores nestess modelos deve ser cuidadosamente pensada e acompanhada

para que a proposta hochdaleana da auto gestatildeo e participaccedilatildeo natildeo fique somente

na origem ideoloacutegica desse movimento Portanto como pode ser observado eacute

importante considerar que a participaccedilatildeo se efetiva num processo com diversas

etapas que exigem estrateacutegias e modo de participar diferentes

333 Os cuidados com o absolutismo da participaccedilatildeo

Os benefiacutecios da participaccedilatildeo satildeo inquestionaacuteveis mas natildeo se pode esperar

que em absolutamente todas as organizaccedilotildees consiga-se ter essa praacutetica com a

mesma efetividade Assim como visto estas tecircm formas distintas e agraves vezes

contraditoacuterias de serem conduzidas Por essa razatildeo continuando a reflexatildeo sobre

participaccedilatildeo eacute oportuno mostrar os riscos de tratar esse tema sem entender os

possiacuteveis desvios que podem ocorrer na praacutetica da utilizaccedilatildeo desse princiacutepio

democraacutetico na autogestatildeo cooperativa

63

Bordenave (1983) expressou a potencialidade da participaccedilatildeo mas

demonstra tambeacutem que haacute risco de ter seu sentido esvaziado antes de sua

contribuiccedilatildeo para a democracia verdadeira Amodeo (2007) baseada numa

conferecircncia realizada na universidade de Manchester Inglaterra com o tema ldquoa

tirania da participaccedilatildeordquo apresenta questotildees relevantes discutidas no evento para

chamar a atenccedilatildeo sobre as formas de utilizaccedilatildeo do discurso da participaccedilatildeo em

praacuteticas diversas e distantes do seu real significado

O discurso da participaccedilatildeo estaria sendo utilizado para agendas poliacuteticas distintas estaria impondo relaccedilotildees de poder em vez de as eliminar ao transformar a participaccedilatildeo numa simples aplicaccedilatildeo de tecnologias sociais estaria sendo negligenciado quando restringido agraves escalas locais esquecendo seus viacutenculos com processo e institucionalidades mais amplas estaria encobrindo o fato da participaccedilatildeo natildeo ser uma panaceacuteia e apresentar as suas proacuteprias tensotildees praacuteticas e teoacutericas (KESBY 2005 CITADO EM AMODEO 2007 P56)

Sabendo-se de formas contraditoacuterias que se pode usar a participaccedilatildeo tem-se

aqui o cuidado de natildeo sombrear toda potencialidade que existe nessa forma de

interagir Conforme Amodeo (2007) qualificar a participaccedilatildeo como tirania eacute um ato

chocante aos atores vinculados ao mundo da participaccedilatildeo tanto quando existe uma

visatildeo romacircntica dos processos participativos quanto quando existe a necessidade

de validaccedilatildeo poliacutetica da participaccedilatildeo

Portanto ao se questionar as formas de participaccedilatildeo e suas reais

consequumlecircncias conforme mostra Amodeo (2007) existe o perigo de ser mal

interpretado como se propusesse o retorno a modelos de dominaccedilatildeo conquanto

essa discussatildeo eacute uacutetil para fazer uma anaacutelise criacutetica e consciente para separar o

discurso da praacutetica

Para Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) as ldquotiraniasrdquo

identificadas no estudo tinham trecircs origens principais as derivadas da tomada de

decisotildees e do controle a tirania do grupo e a tirania como meacutetodo Assim estes

autores as definiram

a) As tiranias derivadas da tomada de decisotildees e do controle tentavam ser resumidas nesta pergunta ldquoos facilitadores da participaccedilatildeo deixam de lado os processos existentes e os processos legiacutetimos de tomada de decisotildeesrdquo () haacute uma tendecircncia verificada de promoccedilatildeo da legitimidade de determinados processos de intervenccedilatildeo com o consequumlente cumprimento de determinadas agendas e objetivos especiacuteficos desconhecendo as instacircncias e interesses genuinamente locais b) No argumento da tirania do grupo questionava se a dinacircmica dos grupos faria com que as decisotildees participativas reforccedilassem os interesses dos que jaacute eram poderosos O principal argumento criacutetico satildeo as falhas dos processos participativos em lidar com as desigualdades internas agraves comunidades tendendo muitas vezes a reforccedilar as relaccedilotildees de poder preexistentes

64

c) por fim a conclusiva da tirania do meacutetodo eacute que agrave medida que as relaccedilotildees de poder internas a comunidade natildeo sofrem transformaccedilotildees draacutesticas aqueles tradicionalmente excluiacutedos dos possessos de decisatildeo e controle ficam deslegitimados de participar dos benefiacutecios dos processos participativos jaacute que eles seratildeo dominados pelos grupos que tradicionalmente deteacutem mais poder (AMODEO 2007 p57-58)

Essas evidecircncias portanto satildeo orientadoras para se ter o cuidado de

ldquoenfrentar as encruzilhadas e armadilhasrdquo que o processo participativo pode

apresentar a fim de evitar que as propostas da participaccedilatildeo fiquem restritas ao

discurso As observaccedilotildees registradas pelos autores procedem com loacutegica aos

argumentos tratados na teoria da escolha racional pois concatenam com o

comportamento de indiviacuteduos em grupos latentes ou heterogecircneos Nesse caso o

fato de que em grupos grandes a contribuiccedilatildeo de um indiviacuteduo natildeo seja percebida

pelos demais membros da accedilatildeo coletiva a possibilidade de ocorrer tambeacutem uma

sobre-exploraccedilatildeo se eleva De outro modo os argumentos satildeo coerentes com os

riscos de que a proposta de auto-gestatildeo quando natildeo se tem o grupo homogecircneo

pode ficar no discurso

Outras distorccedilotildees sobre o processo participativo apresentadas no mesmo

estudo registrado por Amodeo (2007) mostraram tambeacutem que os ideais da

participaccedilatildeo podem ser constrangidos por metas burocraacuteticas formais ou informais

propostas por contextos institucionais De modo diferente os sentimentos

pensamentos e comportamentos das pessoas satildeo influenciados pela presenccedila real

imaginaacuteria ou impliacutecita dos outros membros do grupo Ainda observaram que os

processos participativos podem levar as pessoas a tomar decisotildees coletivas que

apresentam mais riscos do que as que teriam tomado individualmente

Todos esses argumentos se aproximam das evidecircncias encontradas na tese

de Olson (1999) sobre o comportamento dos indiviacuteduos Portanto do ponto de vista

do cooperativismo essas reflexotildees satildeo importantes orientaccedilotildees para se resguardar

e impedir que os ldquofenocircmenos tiranosrdquo identificados em processos de participaccedilatildeo

sejam reconhecidos e cuidadosamente tratados para natildeo contrariar os princiacutepios da

doutrina cooperativista Pois estes princiacutepios unificam as organizaccedilotildees cooperativas

sem considerar possiacuteveis desvios como os apresentados nesta etapa da pesquisa

Outro ponto eacute que se as caracteriacutesticas do perfil do ldquohomus cooperativusrdquo (Pinho

1983) fossem comum na grande maioria dos membros associados o

comportamento destes se apresentaria favoravelmente coercitivo para inibir os

65

ldquofenocircmenos tiranos da participaccedilatildeordquo Ou concomitante a isso os princiacutepios do

cooperativismo seriam suficientes para garantir que esses fenocircmenos natildeo

ocorressem em cooperativas

Diante do exposto os dilemas de accedilatildeo coletiva apresentados por Olson

(1999) ocorrem porque natildeo se tem certeza de como o indiviacuteduo iraacute se comportar

uma vez que a natureza da cooperaccedilatildeo humana ainda natildeo foi devidamente

compreendida Entatildeo como saber como as pessoas vatildeo agir Quando se tem um

ambiente de elevado capital social as relaccedilotildees de confianccedila muacutetua favorecem as

interaccedilotildees e haacute uma menor incidecircncia de conflitos Essa perspectiva seraacute tratada na

seccedilatildeo seguinte

33 Cooperaccedilatildeo confianccedila e capital social recursos para o dilema

A formaccedilatildeo de capital social tem na cooperaccedilatildeo um dos elementos primaacuterios

que influenciam o fortalecimento de accedilotildees coletivas Correa (2003) mostra que

regiotildees dotadas de elevados iacutendices de capital social estariam assim propensas agrave

cooperaccedilatildeo e participaccedilatildeo o que facilitaria a articulaccedilatildeo entre os diferentes atores

sociais Este fortaleceria a coesatildeo da comunidade melhoraria a qualidade das

decisotildees e facilitaria o alcance dos objetivos de interesse comum Do mesmo modo

conforme Colleman citado em Correa (2003) o capital social seria tambeacutem uma

resposta aos desafios da sociedade moderna sobreposto ao comportamento

individualista em que cada um age para alcanccedilar seus proacuteprios objetivos

Todos os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais que se formam numa comunidade

contribuem para fortalecer o capital social Deste modo para Bueno (2004) as

soluccedilotildees cooperativas que uma sociedade alcanccedila formam um ldquoestoquerdquo de capital

social no sentido de que essas soluccedilotildees ao gerar confianccedila inter-pessoal agem

como um insumo na produccedilatildeo sem o qual muitos empreendimentos coletivos natildeo

podem ser realizados Deste modo capital social conforme Bialoskorski Neto

(2001) poderia ser mensurado como uma eficaacutecia do coletivo

Para tanto a consecuccedilatildeo desse capital requer a participaccedilatildeo da comunidade

Nesse sentido Putnan (1996) por sua vez mostra que o capital social eacute um

elemento decisivo do desenvolvimento Este seria o grande responsaacutevel por incutir

nos seus membros haacutebitos de cooperaccedilatildeo solidariedade e espiacuterito puacuteblico

66

Entatildeo dentre outras definiccedilotildees sobre capital social Putnan (2002) inclui as

redes e normas que orientam accedilotildees coletivas a partir do grau de confianccedila que

pessoas de uma determinada regiatildeo tecircm nos resultados coletivos que se obtecircm a

partir da cooperaccedilatildeo Assim o autor o define capital social

Caracteriacutesticas da organizaccedilatildeo social como confianccedila normas e sistemas que contribuam para aumentar a eficiecircncia da sociedade facilitando as accedilotildees coordenadas na referecircncia de Ostron ldquoassim como outras formas de capital o capital social eacute produtivo possibilitando a realizaccedilatildeo de certos objetivos que seriam inalcanccedilaacuteveis se ele natildeo existisserdquo (PUTNAN 1996 P177)

Hirshman citado em Arauacutejo (2003) se refere a capital social no sentido de que

este aumenta dependendo da intensidade do seu uso Para este autor praticar

cooperaccedilatildeo e confianccedila produz mais cooperaccedilatildeo e confianccedila e logo mais

prosperidade corroborando a formaccedilatildeo de um ldquoestoquerdquo como se referiu Bueno

(2004) Deste modo as sociedades fortes em capital social natildeo geram apenas

riqueza geram tambeacutem sentimentos de igualdade de justiccedila de bem comum O

crescimento econocircmico viria acompanhado de bens sociais direcionados para o

bem das pessoas e natildeo para o aumento da riqueza como um fim em si mesmo

Fukuyama citado em Arauacutejo (2003 ) acrescenta que satildeo os viacutenculos sociais

baseados no enraizamento no local em que as relaccedilotildees comerciais satildeo

fundamentadas na confianccedila e nas interaccedilotildees do dia a dia

Maciel (2003) distingue duas tendecircncias na literatura sobre capital social a

primeira de ordem socioloacutegica usando o argumento de que a confianccedila eacute produto de

padrotildees histoacutericos de longo prazo de associativismo engajamento ciacutevico e

interaccedilotildees extra familiares De outro modo a autora apresenta a natureza

econocircmica do capital social ao enfatizar que haacute o interesse proacuteprio de longo prazo

no caacutelculo de custos e benefiacutecios por atores maximizadores de ganhos por meio da

promoccedilatildeo de comportamento de confianccedila

No primeiro caso para a autora a confianccedila eacute sinocircnimo de amizade e na

tendecircncia econocircmica as relaccedilotildees de confianccedila reciprocidade e cooperaccedilatildeo satildeo

vistas para estreitar relaccedilotildees entre agentes e melhorar eficiecircncia econocircmica Neste

caso reforccedila-se o argumento de que mesmo em paiacuteses de economia mais

avanccedilada o mercado precisa ser complementado por relaccedilotildees natildeo mercantis

Entretanto Maciel (2003) observa que o conceito de capital social ou confianccedila soacute

teraacute maior capacidade explicativa para o ecircxito das iniciativas produtivas se sua

definiccedilatildeo for independente do resultado Deste modo a autora critica a visatildeo

67

instrumentalista de capital social como meio de se obter resultados econocircmicos

Mas se haacute uma visatildeo geral de que nas relaccedilotildees de fins econocircmicos existem outras

motivaccedilotildees natildeo econocircmicas que satildeo incentivos para os indiviacuteduos estas

motivaccedilotildees natildeo deveriam ser restritivas no conjunto das variaacuteveis que formam o

capital social nem mesmo censurar o sucesso econocircmico como resultado desse

capital O inverso tambeacutem poderia ocorrer Nas relaccedilotildees comerciais onde as

interaccedilotildees tendem a se repetir cria-se uma relaccedilatildeo de confianccedila e aiacute pode emergir

capital social Entatildeo este pode ser tanto meio quanto fim entre as instituiccedilotildees das

relaccedilotildees econocircmicas

Outra discussatildeo em torno de capital social estaacute vinculada agrave ambiguumlidade de

que ele pode ser criado ou natildeo Para Bueno (2002) e Araujo (2003) embora a

criaccedilatildeo de capital social pareccedila ser de fato um processo lento a adaptaccedilatildeo de

capital social jaacute existente para outros fins pode ser feita em periacuteodos de tempo bem

mais curtos e a principal forma de fazer essa adaptaccedilatildeo eacute mediante a participaccedilatildeo

dos indiviacuteduos pertencentes agrave comunidade Entretanto para esses autores

corroborando Putnam (2002) as tradiccedilotildees ciacutevicas capital social e praacuteticas

colaborativas por si soacute natildeo desencadeiam o progresso econocircmico Elas entretanto

se constituiriam em elementos importantes para as regiotildees enfrentarem e se

adaptarem aos desafios e oportunidades da realidade presente e futura O capital

social portanto favorece o desenvolvimento poreacutem natildeo eacute condiccedilatildeo suficiente para

que ele ocorra

Outra observaccedilatildeo pertinente eacute que mudanccedilas favoraacuteveis ao capital social

podem ser apresentadas em menor tempo Nesse tocante Putnam (2002) deu iniacutecio

a uma reflexatildeo sobre a influecircncia de haacutebitos culturais e valores na poacutes-modernidade

seus impactos sobre a democracia e possiacuteveis reflexos sobre a comunidade ciacutevica

de seu paiacutes Isso sustenta a observaccedilatildeo de que mudanccedilas desta natureza podem

influenciar ou natildeo na confianccedila muacutetua e participaccedilatildeo dos indiviacuteduos em suas

respectivas accedilotildees coletivas

Putnam (2002) e Fukuyama (1996) citado em Arauacutejo (2003) enfatizam o

papel da confianccedila para a prosperidade de uma naccedilatildeo Para ambos confianccedila e a

expectativa de reciprocidade que pessoas de uma comunidade tecircm acerca do

comportamento dos outros baseada em normas partilhadas eacute a base para o capital

social De modo contraacuterio Putnan (1996) observa que o clima de desconfianccedila

68

muacutetua generalizada e ausecircncia de compromisso para com o bem puacuteblico inviabiliza

natildeo soacute a democracia como tambeacutem o desenvolvimento econocircmico Ambos os

modos portanto pautam na confianccedila a criaccedilatildeo do outro elemento que influencia o

desenvolvimento econocircmico e social das comunidades que eacute a cooperaccedilatildeo

Conforme Lynn Smith citado em Pinho (1966) haacute diversos tipos de cooperaccedilatildeo

Gradaccedilotildees que vatildeo das reaccedilotildees espontacircneas de ajuda - muacutetua tiacutepica sobretudo dos grupos primaacuterios considerada natildeo-contratual que ocorre entre vizinhos em busca de determinado fim sem que haja qualquer acordo sobre a maneira de prestaccedilatildeo desse auxiacutelio e entre ajuda contratual ou formal representada pelas cooperativas sindicatos sociedades por accedilotildees e outras que atuam de acordo com normas regulamentares previamente elaboradas pelos associados (PINHO 1966 P44)

Portanto a dinacircmica da construccedilatildeo e aumento do capital social ou o

contraacuterio estatildeo diretamente relacionados agrave capacidade ou incapacidade de

cooperar e de confiar

No cooperativismo a observaccedilatildeo desses dois aspectos satildeo premissas que

datildeo sustentaccedilatildeo agrave efetividade dessas organizaccedilotildees Para Taylor citado em Aguiar

(1991) a cooperaccedilatildeo individual sempre se daacute nas seguintes condiccedilotildees

a) que as opccedilotildees individuais sejam limitadas b) que os incentivos seletivos restringidos estejam bem definidos evidentes e sejam sustentados c) que se obtenha maior benefiacutecio e menor custo mediante o curso de accedilatildeo eleito do que com outras possibilidades d) que o marco de eleiccedilatildeo natildeo seja completamente novo senatildeo que se haja ocorrido anteriormente muitas situaccedilotildees similares (TAYLOR citado em AGUIAR 1991 P31)

Diante dessas exposiccedilotildees se identifica no relato da OCB (2007) que a origem

do desenvolvimento cooperativista no paiacutes se deve agrave presenccedila de fortes indiacutecios de

capital social nas comunidades de imigrantes e em relaccedilotildees horizontais

Os imigrantes trouxeram de seus paiacuteses de origem a bagagem cultural o trabalho associativo e a experiecircncia de atividades familiares comunitaacuterias que os motivaram a organizar-se em cooperativas A histoacuteria relata que os problemas de comunicaccedilatildeo adaptaccedilatildeo agrave nova cultura carecircncia de estradas e de escolas e discriminaccedilatildeo racial criaram entre eles laccedilos de coesatildeo resultando no nascimento de sociedades culturais e agriacutecolas Assim fundaram suas proacuteprias escolas e igrejas e iniciaram atividades de caraacuteter cooperativo como mutiratildeo para o preparo de solo construccedilatildeo de galpotildees casas colheitas (OCB 2007)

Essas evidecircncias estatildeo tambeacutem em Riedl e Vogt (2003) ao mostrarem no

histoacuterico do cooperativismo que os imigrantes e seus descendentes motivados pela

necessidade tiveram que cooperar para resolver os problemas comuns Neste

aspecto eacute constatada uma relaccedilatildeo onde se formaram redes horizontais de

cooperaccedilatildeo que satildeo a base do capital social Entretanto o desenvolvimento do

cooperativismo em outras regiotildees natildeo se deu da mesma forma no nordeste por

69

exemplo surgiu para as elites poderem controlar as cooperativas que foram

escolhidas pelos governos como mediadoras na aplicaccedilatildeo das poliacuteticas agriacutecolas

dessa forma elas reproduzem internamente as relaccedilotildees de poder daquela

sociedade

Em meio a essas contradiccedilotildees a filosofia do cooperativismo eacute convergente agrave

formaccedilatildeo de capital social tendo em vista que as cooperativas satildeo agentes de

desenvolvimento da regiatildeo em que satildeo formadas e por atuarem em um espaccedilo

delimitado pela rede estabelecida entre os cooperados Essa caracteriacutestica do

cooperativismo conforme Salanek Filho e Silva (2003) eacute determinada porque o

acesso de uma pessoa a um sistema cooperativo torna-a tambeacutem um agente

participante desse desenvolvimento tanto por sua capacidade de articulaccedilatildeo e de

influecircncia quanto pela forma como interage com os demais cooperados Nesse

caso conforme esses autores a interaccedilatildeo confianccedila definiccedilatildeo de objetivos comuns

e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees fundamentais para compreender o

processo cooperativista e a importacircncia relativa do capital social para o

desenvolvimento do local onde essas organizaccedilotildees se formam Reciprocamente

onde haacute capital social desenvolvido haacute facilidade de se formar associaccedilotildees

Os benefiacutecios da confianccedila capital social e cooperaccedilatildeo podem ser

considerados instrumentos de sustentaccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Embora o conceito

de capital social tenha sido tratado muito depois de Owen essas premissas jaacute

estavam na impliacutecitas na sua proposta quando articulou sobre o cooperativismo

Portanto dentre importantes contribuiccedilotildees de diferentes correntes teoacutericas

conforme Carneiro (1981) talvez a maior delas tenha sido de Robert Owen

talvez a mais importante liccedilatildeo comunitaacuteria na sociedade moderna advenha da experiecircncia owenista onde se tentou conciliar o incentivo individual com uma eficiente decisatildeo no processo democraacutetico deste modo a sociedade para Owen deveria ser implantada para os fins da cooperaccedilatildeo (CARNEIRO 1981 P69)

Com esse pensamento instituiu-se o princiacutepio da co-operation na sua

idealizaccedilatildeo que se transformou no principal elemento da doutrina cooperativista

Para Owen a co-operation deveria ser formada por um comportamento social ndash natildeo

importa muito qual fosse a forma porque somente os proacuteprios condicionamentos de

sentimentos e sensaccedilotildees poderiam determinaacute-la (CARNEIRO1981) Esses

condicionamentos referidos por Owen seriam as sensaccedilotildees percepccedilotildees e os

conhecimentos que na sua visatildeo criam o motivo de accedilatildeo chamado vontade a qual

estimula o homem a agir e decidir suas accedilotildees

70

Carneiro (1981) evidencia ainda que Owen aguardava ardentemente a

reforma da sociedade e sua grande proposta de co-operaccedilatildeo estava subordinada a

novos conceitos de educaccedilatildeo psicologia e eacutetica social Na sua concepccedilatildeo o

comportamento do homem seria definido por um composto cujo caraacuteter eacute formado

por sua constituiccedilatildeo ou formaccedilatildeo durante o nascimento e pelo efeito das

circunstacircncias externas desde o nascimento ateacute a morte Essas determinantes

continuam sendo discutidas pelos pesquisadores das ciecircncias sociais e muitos

deles corroboram que o comportamento dos indiviacuteduos eacute influenciado pelo meio e

este resulta das relaccedilotildees entre os pares Essa afirmativa exposta por Owen citada

em Carneiro (1981) eacute tambeacutem presente em Arauacutejo (2003) Putnan (2002) e Douglas

(1998) embora de forma diferente foi descartado por Olson (1999) e Elster (1994)

entre outros autores que discutem o comportamento social

Talvez essas prerrogativas justifiquem e ao mesmo tempo mostrem todo o

creacutedito que deve ser depositado agrave importacircncia e necessidade de fortalecimento do

cooperativismo com os dilemas aqui apresentados inibidos pela interaccedilatildeo dos

indiviacuteduos nas premissas que se formam o capital social Pois nenhuma outra forma

de organizaccedilatildeo da economia foi proposta para substituir o modelo do cooperativismo

que ao longo de mais de um seacuteculo vem resistindo a diferentes mudanccedilas

ocorridas na sociedade

Dumont (2005) indica que a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das

outras civilizaccedilotildees e culturas Portanto eacute importante observar as necessidades de

correccedilotildees ponderando as particularidades de cada lugar

Natildeo haacute uma configuraccedilatildeo comum de ideacuteias e valores existe uma continuidade histoacuterica e intercomunicaccedilatildeo - e de outra ndash a civilizaccedilatildeo moderna difere radicalmente das outras civilizaccedilotildees e culturas As ideacuteias ou categorias de pensamento especificamente modernas aplicavam-se mal agraves outras sociedades Portanto eacute interessante estudar o nascimento o lugar ou funccedilatildeo dessas categorias que o autor se refere ao indiviacuteduo agrave poliacutetica e agrave moralidade para apurar como ela se diferencia e finalmente que papel desempenha na configuraccedilatildeo global (DUMONT 1985 P22-23)

Portanto na nova ordem econocircmica os novos modelos de accedilotildees coletivas

que vecircm sendo desenvolvidos jaacute satildeo respostas agraves necessidades de observar o

modelo de cooperativismo para o qual evoluiacutemos Que seja de fato retomado para

uma gestatildeo da economia de forma mais solidaacuteria e justa para atender uma

populaccedilatildeo mais homogecircnea em suas reais necessidades Nesta concepccedilatildeo haacute uma

congruecircncia com Olson (1999) porque o autor considera sobretudo que os

71

indiviacuteduos faratildeo escolhas neste caso dotados de informaccedilotildees e com estiacutemulos para

que a escolha seja a melhor opccedilatildeo Deste modo ele tem que escolher

racionalmente em que modelo de organizaccedilatildeo cooperativa ele quer participar

72

4 ESTUDO DE CASO E DISCUSSAtildeO A PRAacuteXIS DA PARTICIPACcedilAtildeO NO COOPERATIVISMO

Este capiacutetulo apresenta os resultados observaccedilotildees e percepccedilotildees obtidos

durante a pesquisa de campo sobre a participaccedilatildeo do produtor rural em

organizaccedilatildeo cooperativa Primeiramente acha-se importante expor a caracterizaccedilatildeo

do municiacutepio de Carlos Chagas onde a pesquisa foi feita pois o municiacutepio eacute

conhecido regionalmente como cidade cooperativista Entatildeo buscou-se

informaccedilotildees para entender o porquecirc desta caracteriacutestica

Em seguida uma descriccedilatildeo da Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucuri -

COOLVAM objeto do estudo de caso Em sequumlecircncia seraacute apresentada sua

estrutura organizacional atuaccedilatildeo com os associados atuaccedilatildeo no mercado e outros

trabalhos realizados na comunidade Posteriormente seratildeo mostrados os resultados

dos questionaacuterios aplicados assim como informaccedilotildees obtidas com as entrevistas

41 Caracterizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas

A cidade de Carlos Chagas estaacute localizada na regiatildeo nordeste do Estado de

Minas Gerais no Vale do Rio Mucuri agraves margens da BR 418 entre as rodovias BR

116 e BR 101 principais malhas viacutearias que ligam a regiatildeo norte ao sul do paiacutes

Com a chegada de imigrantes para trabalhar na construccedilatildeo da Ferrovia Bahia

Minas em meados do seacuteculo XIX originou-se a colocircnia que cem anos depois se

transformaria em municiacutepio

A colocircnia Militar do Urucu criada em 1854 para dar proteccedilatildeo aos trabalhadores da Companhia do Mucuri foi o foco inicial da colonizaccedilatildeo do municiacutepio de Carlos Chagas Uma leva de colonos estrangeiros se dirigiu para a Colocircnia Eram de origem belga e holandesa A colocircnia tornou-se o celeiro para o fornecimento de mantimentos para o pessoal que trabalhava na construccedilatildeo da estrada de Ferro Bahia e Minas (NOGUEIRA FILHO 1989 P6)

Figura 3 Estaccedilatildeo da Ferrovia Bahia e Minas ainda existente na Comunidade de Mangalocirc

Assim os desbravadores se encantaram pelo solo feacutertil e foram ficando Da

exploraccedilatildeo de madeiras foram-se abrindo pastagens que permitiram ao municiacutepio

desenvolver-se na pecuaacuteria e ser conhecido tambeacutem como a Capital do Boi pois

pelas caracteriacutesticas propiacutecias permitiu-se ter um dos melhores rebanhos bovinos

do Estado

Em 1938 o municiacutepio conseguiu emancipaccedilatildeo e atualmente tem a populaccedilatildeo

de 21722 habitantes com 7723 moradores na aacuterea rural (IBGE 2002) Eacute um dos

maiores municiacutepios mineiros em extensatildeo e faz parte do Territoacuterio Vale do Mucuri

mesorregiatildeo definida pelo Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentaacutevel

para poliacutetica de apoio agrave agricultura familiar estabelecida pela Secretaria de

Desenvolvimento Territorial (SDT) do Ministeacuterio de Desenvolvimento Agraacuterio (MDA)

Para melhor visualizaccedilatildeo dessa localizaccedilatildeo segue Figura 4

Figura 4 Localizaccedilatildeo do Municiacutepio de Carlos Chagas no Estado de MG

Fonte httpterritoriomucuriorg

73

74

Atualmente o municiacutepio destaca-se por ser reconhecida como Cidade

Cooperativista pois haacute grande interaccedilatildeo entre as cooperativas locais e instituiccedilotildees

puacuteblicas e privadas onde tecircm-se buscado desenvolver a cultura da cooperaccedilatildeo em

toda comunidade desde as escolas de ensino baacutesico e ensino meacutedio local Eacute

modelo na regiatildeo por essa forma de conduzir suas atividades tanto quando se

destinam ao urbano quanto ao rural

Todo trabalho realizado com essa finalidade tem tido apoio das cooperativas

locais que satildeo a Coolvam a Cooperativa de Creacutedito Rural de Carlos Chagas

(Credicar) atualmente integrada agrave rede Sistema de Creacutedito Coopeativo do Brasil

(Sicoob) e a Cooperativa Educacional de Carlos Chagas (Cooeducar) dentre outras

pequenas cooperativas juntamente com a Agecircncia de Desenvolvimento de Carlos

Chagas (Adecar) Prefeitura Municipal e o Conselho de Desenvolvimento Rural

Sustentaacutevel (CMDRS) e as associaccedilotildees comunitaacuterias rurais que tecircm sido

importantes na construccedilatildeo dessa cultura pois eacute por meio da participaccedilatildeo de seus

membros que as cooperativas estatildeo desenvolvendo trabalhos sobre a educaccedilatildeo

cooperativista Conforme o Diretor Presidente da Coolvam

Carlos Chagas eacute considerada cidade do cooperativismo quatro cooperativas da cidade que satildeo muito fortes e satildeo sem duacutevida que datildeo sustentaccedilatildeo para o municiacutepio ()Estatildeo muito ligadas ao meio rural precisa fazer uma trabalho que estaacute comeccedilando agora no meio urbano Temos trabalho jaacute comeccedilado A cooperativa de produccedilatildeo e de creacutedito participam de todo e qualquer evento ou movimento que eacute realizado na cidade participa de todas as entidades carentes (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Na cidade permite-se identificar que por essa forma de interaccedilatildeo entre esses

agentes no desenvolvimento de atividades diversas haacute uma formaccedilatildeo de capital

social que propicia o desenvolvimento econocircmico e social do municiacutepio

42 Histoacuterico e caracterizaccedilatildeo soacutecio-econocircmica da COOLVAM

A COOLVAM estaacute classificada no ramo agropecuaacuterio com sessenta anos de

atuaccedilatildeo fundada em 27 de julho do ano de 1947 por um grupo de trinta produtores

que buscavam uma maneira mais rentaacutevel para o aproveitamento do leite produzido

em suas fazendas Apoacutes vaacuterios diaacutelogos entre esses produtores realizou-se a

primeira reuniatildeo para oficializar a constituiccedilatildeo desta cooperativa

75

() Aberta a sessatildeo foi declarado pelo Sr Presidente que o fim da reuniatildeo era o de constituir uma cooperativa de responsabilidade limitada com sede em Carlos Chagas sob a denominaccedilatildeo ldquoSociedade Cooperativa de Laticiacutenios Vale do Mucurirdquo e com o objetivo econocircmico de beneficiamento e industrializaccedilatildeo do leite (LIVRO DE ATA 1947 P1)

A histoacuteria de idealizaccedilatildeo da cooperativa foi contada pelo filho de um dos

fundadores

Meu pai era um visionaacuterio ele foi um grande empreendedor ele passou muito tempo falando de fundar uma cooperativa com os amigos por conta proacutepria ele foi a Satildeo Paulo conhecer uma cooperativa em funcionamento naquela eacutepoca

Eles reuniam sempre debaixo de uma aacutervore ldquonaquela casardquo (no momento da entrevista coincidentemente estaacutevamos proacuteximo ao local) no centro da cidade nas tardes e conversavam sobre a ideacuteia da cooperativa ( PRODUTOR 53 2008)

Percebe-se assim que havia uma motivaccedilatildeo para organizaccedilatildeo da cooperativa

pela necessidade de um meio para comercializar a produccedilatildeo jaacute naquela eacutepoca

Numa ata de eleiccedilatildeo e empossamento de presidente da cooperativa em 1963 estaacute

transcrito a fala que exprime um sentimento de responsabilidade frente agrave funccedilatildeo de

representaccedilatildeo do grupo de associados que caracteriza o objetivo da participaccedilatildeo na

lideranccedila ideal na organizaccedilatildeo cooperativa

ldquoEstando certo de que o homem natildeo pertence somente a si proacuteprio e a sua famiacutelia senatildeo que tem deveres para com a sociedade em que labuta natildeo me fiz de rogado e aceitei o pronunciamento da urna com pleno conhecimento das graves responsabilidades que iratildeo pesar sobre os meus fraacutegeis ombros em ocasiatildeo ensombrada de tantas dificuldades Entretanto supervisionarei os negoacutecios da nossa Cooperativa com a prudecircncia e criteacuterio que ateacute aqui tenho posto na gerecircncia de meus interesses privados (LIVRO DE ATA 1963)

Desde a constituiccedilatildeo e conforme conjuntura de cada eacutepoca agrave sua maneira

cada presidente eleito deixou contribuiccedilotildees para a evoluccedilatildeo da cooperativa Nos

uacuteltimos anos na busca de excelecircncia e competitividade vem se desenvolvendo e

conquistando espaccedilo junto ao mercado nacional Em 2002 recebeu o precircmio

Qualidade Ameacuterica Do Sul ndash 2002 em decorrecircncia do padratildeo de qualidade dos

produtos e serviccedilos apresentados e apoio e suporte agraves instituiccedilotildees sociais locais

Juntamente com a outorga do precircmio foi recebido o trofeacuteu Incentivo que representa

o reconhecimento puacuteblico da eficiecircncia no setor empresarial constituindo a

homenagem ao trabalho desenvolvido pela COOLVAM

No ano de 2003 por meio de pesquisa realizada entre clientes oacutergatildeos de

classe formadores de opiniatildeo e indicadores sociais a Coolvam foi aprovada para

receber o precircmio ldquoTop Of Qualityrdquo composto de trofeacuteu e diploma especial como

destaque no segmento Cooperativa de Laticiacutenios simbolizando o reconhecimento da

76

qualidade e excelecircncia em sua aacuterea de atividade e respectiva influecircncia social

Ainda no mesmo ano recebeu o precircmio Master Qualidade Ameacuterica do Sul 2003

No ano seguinte em 2004 a Coolvam foi condecorada com mais um precircmio

como destaque pelos relevantes serviccedilos prestados agrave sociedade tratando-se da

Medalha e Diploma Dr Ulisses Guimaratildees outorgados pela Ordem dos

Parlamentares do Brasil sendo que apenas 20 empresas brasileiras participam da

premiaccedilatildeo

A Coolvam ocupou em 2005 o trigeacutesimo lugar na classificaccedilatildeo por nuacutemero de

empregados diretos e 49ordm lugar por faturamento entre as 50 maiores cooperativas

no ranking da OCEMG (INFORMATIVO COOLVAM 2007) Essa classificaccedilatildeo

efetiva a dimensatildeo da importacircncia e contribuiccedilatildeo desta cooperativa na economia do

municiacutepio e todas as outras conquistas retratam o reconhecimento do

desenvolvimento da Coolvam que tem focado as mudanccedilas de mercado buscando

parcerias de forma ativa e competitiva e conforme o Diretor Presidente ldquoprioriza as

necessidades dos associadosrdquo

421 Estrutura Organizacional

As diretrizes para funcionamento da cooperativa estatildeo no seu Estatuto social

assim definidas

Objeto social A sociedade tem por objetivo a melhoria econocircmica e social dos seus cooperados com base na participaccedilatildeo consciente e na colaboraccedilatildeo reciacuteproca a que se obrigam desenvolvendo as seguintes atividades econocircmicas

1)- Industrializaccedilatildeo de vaacuterios produtos atraveacutes do beneficiamento do leite entregue por seus cooperados e a produccedilatildeo de sal mineralizado para pecuaacuteria de corte e leiteira

2)- Comercializaccedilatildeo venda em comum de produtos in natura eou industrializados de produccedilatildeo agropecuaacuteria de seus cooperados

3)- Serviccedilo de abastecimento adquirindo ou produzindo para fornecimento ao quadro social na medida em que os interesses soacutecio-econocircmicos aconselharem todos os artigos necessaacuterios agrave sua atividade econocircmica e ao seu uso pessoal ou domeacutestico

4)- Serviccedilos Teacutecnicos mediante assistecircncia teacutecnica agro-pecuaacuteria e assistecircncia teacutecnica contaacutebil objetivando a racionalidade e produtividade das exploraccedilotildees agropecuaacuterias

5)- Serviccedilos sociais mediante a celebraccedilatildeo de convecircnios com entidades puacuteblicas e privadas de atividade de promoccedilatildeo humana educativa de assistecircncia meacutedico hospitalar de serviccedilos culturais desportivos de integraccedilatildeo social dos cooperados e dos funcionaacuterios da empresa

77

6)- Incentivo agrave produccedilatildeo atraveacutes de recursos proacuteprios quando possiacutevel ou pela intermediaccedilatildeo junto a estabelecimentos de creacutedito particulares ou puacuteblicos para incorporaccedilatildeo de tecnologia apropriada de produccedilatildeo de melhoria da produtividade (ESTATUDO SOCIAL 1988 P8-9)

De acordo com o Estatuto Social da Coolvam a Assembleacuteia Geral eacute o Oacutergatildeo

Supremo da cooperativa com poderes dentro dos limites da Lei e do Estatuto

vigente Eacute responsaacutevel por toda decisatildeo de interesse social e suas deliberaccedilotildees

vinculam a todos ainda que ausentes ou discordantes O Conselho de

Administraccedilatildeo eacute formado por nove cooperados eleitos em Assembleacuteia Geral

Ordinaacuteria

O Conselho Fiscal eacute composto por 3 membros efetivos e 3 suplentes eacute

responsaacutevel pela fiscalizaccedilatildeo das atividades da cooperativa e a diretoria executiva eacute

composta por um diretor presidente (cooperado) eleito em Assembleacuteia Geral um

Gerente Geral contratado e um consultor que acompanha a administraccedilatildeo da

cooperativa haacute mais de 15 anos completando com a equipe de 148 funcionaacuterios que

desempenham as atividades administrativas de produccedilatildeo e distribuiccedilatildeo

422 Quadro Social

Atualmente o quadro social da Cooperativa eacute composto por 352 associados

sendo 273 em Carlos Chagas e municiacutepios circunvizinhos e os 79 restantes satildeo

associados agrave Cooperativa Regional Agropecuaacuteria de Satildeo Domingos do Prata

(Duprata) na cidade de Satildeo Domingos do Prata Minas Gerais incorporada agrave

Coolvam desde marccedilo de 2006

423 Organizaccedilatildeo do Quadro Social (OQS) estrateacutegia de participaccedilatildeo

Os associados se organizam por meio do Comitecirc Educativo oacutergatildeo criado

desde 1990 com o objetivo de manter um canal de comunicaccedilatildeo com os cooperados

e desenvolver atividades ligadas agrave educaccedilatildeo cooperativista Eacute um oacutergatildeo de

assessoria ajuda na resoluccedilatildeo de problemas podendo apresentar sugestotildees

reivindicaccedilotildees poreacutem natildeo tem poder de decisatildeo

Os trabalhos desenvolvidos pelo comitecirc educativo envolvem a realizaccedilatildeo de

reuniotildees bimestrais em cada uma das comunidades dias de campo visitas teacutecnicas

palestras cursos campanhas de vacinaccedilatildeo e treinamentos

78

423A Implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo na Coolvam

Devido agrave necessidade de se promover a autogestatildeo na Cooperativa e

melhorar o contato entre cooperativa e cooperados no ano de 1990 a Coolvam

contratou uma empresa de consultoria com a finalidade de iniciar o processo de

OQS com a implantaccedilatildeo do Comitecirc Educativo

Apoacutes meses de trabalho o Comitecirc Educativo se definiu abrangendo cinco

comunidades da aacuterea de accedilatildeo da Coolvam passando a ser entatildeo um oacutergatildeo de

assessoria da administraccedilatildeo e dos cooperados constituiacutedo por um grupo de

lideranccedilas que se reuacutenem para levantar e discutir problemas analisaacute-los e sugerirem

ideacuteias que atendam aos interesses da comunidade cooperativista

Com a constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo os cooperados passaram a levar agrave

administraccedilatildeo seus problemas desejos e necessidades bem como sua ajuda para

soluccedilotildees de problemas Eacute por meio dele que a administraccedilatildeo se comunica com os

associados quando apresentam planos de trabalho metas e informaccedilotildees sobre a

cooperativa

Atualmente esse conselho eacute formado por 12 membros sendo um

coordenador e um secretaacuterio de cada uma das 06 comunidades rurais pertencentes

agrave Coolvam Vila Pereira BrejauacutebaLajeado Coacuterrego do Oito Burro

PrateadoCapoeiras JequiririPampa Coacuterrego SecoCoraccedilatildeo de Minas que estatildeo

organizadas espacialmente no municiacutepio

conforme a logiacutestica de captaccedilatildeo de leite

Uma descriccedilatildeo mais detalhada sobre a formaccedilatildeo do Comitecirc Educativo estaacute

no extrato da entrevista com a assessora de cooperativismo da Coolvam

Depois das cinco comunidades que foram formadas que comeccedilou esse trabalho outras surgiram depois em meacutedia quatro a cinco soacute que tambeacutem tivemos exemplos de comunidades que foram formadas mas duraram muito pouco teve o exemplo da criaccedilatildeo da comunidade urbana pelas segunda ata durou apenas dois meses e outras comunidades que duraram seis meses e um ano aproximadamente Pelo que pesquisei quando cheguei aqui em 99 o motivo maior da extinccedilatildeo da comunidade foi da falta de lideranccedila naquela regiatildeo e tambeacutem problemas de ordem poliacutetica em oposiccedilatildeo muito forte em relaccedilatildeo agrave cooperativa Natildeo da cooperativa de se impor mas da parte deles de natildeo estarem mais de acordo com a poliacutetica da cooperativa Entatildeo eles deixaram de dar continuidade aos trabalhos naquela regiatildeo Em 99 tinham oito comunidades

79

formadas ativas um ano depois foi criada mais uma e chegamos a nove Por um periacuteodo de influecircncias de outras empresas de laticiacutenios aqui na regiatildeo vaacuterios produtores deixaram de atuar junto a Coolvam entatildeo a gente perdeu bastante associados e noacutes viemos a perder algumas comunidades tambeacutem Hoje temos ativas seis comunidades podemos dizer hoje que satildeo bastante atuantes Pegamos diversos setores varias aacutereas de atuaccedilatildeo da Coolvam

Teve caso que a gente juntou duas comunidades Isso funciona muito bem a cada dois meses a gente realiza reuniotildees em uma regiatildeo outro mecircs realiza em outra Egrave uma comunidade muito integrada bastante homogecircnea entatildeo facilita bastante o trabalho No mecircs em que faz a reuniatildeo os associados da outra regiatildeo vatildeo ate la e vice versaEntatildeo isso eacute muito interessante A gente tentou tambeacutem a junccedilatildeo de outras comunidades mas natildeo teve muito sucesso Fizemos umas duas junccedilotildees que deu muito certo

Hoje temos seis comunidades e agente acredita que o trabalho estaacute no caminho certo O que precisamos agora e estar mensurando esse trabalho quantificando mais esse trabalho que eacute feito pela cooperativa Acho que eacute o caminho Tem que haver esse tipo de integraccedilatildeo entre a cooperativa e o associado Soacute atraveacutes dessa integraccedilatildeo a gente consegue levar ateacute eles informaccedilotildees consegue extrair deles aquilo que eacute realmente necessaacuterio para o crescimento deles na cooperativa e o que a gente pode estar melhorando em relaccedilatildeo ao desenvolvimento econocircmico e social Enfim algo que e necessaacuterio que exista em toda cooperativa (EXTRATO DE ENTREVISTA 2008)

Em mensagem enviada pelos membros da empresa de assessoria de

cooperativismo (ASCOOP) com saudaccedilotildees agrave constituiccedilatildeo do Comitecirc Educativo teve

o teor que desenha o ideal da participaccedilatildeo dos soacutecios nas accedilotildees da Cooperativa

() Noacutes da ASCOOP que colaboramos no plantio da semente da participaccedilatildeo aqui na Coolvam deixamos com vocecircs esta mensagem ldquouma vez plantada a semente da participaccedilatildeo cabe a cada um de vocecircs regaacute-la com a responsabilidade consciecircncia e coragem Responsabilidade para cumprir com os compromissos assumidos consciecircncia para compreender o futuro seguro que existe no cooperativismo e coragem para decidir e administrar um patrimocircnio que eacute de todos cujo bem maior eacute a solidariedaderdquo

Desejamos sucesso a todos Cada vez mais acreditamos no cooperativismo porque cada vez mais acreditamos no trabalho e no ser humano () Saudaccedilotildees cooperativistas (CARTA ASCOOP 1999)

Desta maneira percebe-se a importacircncia dada agrave necessidade de fomentar a

participaccedilatildeo de associados nos oacutergatildeos que os representam na defesa de seus

interesses junto agrave organizaccedilatildeo cooperativaseja no comitecirc nos conselhos nas

reuniotildees ou em assembleacuteias

425 Atividades industriais e comercializaccedilatildeo de produtos

No iniacutecio das suas atividades a cooperativa funcionava somente com venda

de leite in natura para outras empresas pois natildeo tinha estrutura industrial montada

80

para a produccedilatildeo de derivados laacutecteos Somente em 1986 iniciou-se a

industrializaccedilatildeo do leite com a produccedilatildeo de queijo e manteiga

Dez anos depois por meio de contrato fez parceria com a Cooperativa

Agropecuaacuteria do Vale do Rio Doce (COOPERIODOCE) em Governador Valadares ndash

MG para envasamento de leite Longa Vida com a marca Mucuri Posteriormente

foi cancelado tal contrato e o envase passou a ser feito pela empresa Barbosa amp

Marques no mesmo municiacutepio

No ano de 2001 a COOLVAM firmou contrato com a empresa Nutriacutecia e deu

iniacutecio agrave produccedilatildeo de leite em poacute Mais recentemente em 2003 foi iniciada a

produccedilatildeo de bebida Laacutectea mais um produto com sua marca

Atualmente com captaccedilatildeo meacutedia de leite estaacute em torno de 60000 litros de

leite por dia produz queijo mussarela queijo prato queijo prato light queijo

parmesatildeo queijo minas leite em poacute leite longa vida integral e desnatado e bebida

laacutectea UAT O mercado atendido com seus produtos estaacute em diferentes regiotildees do

Paiacutes sendo que para a Bahia e Sergipe se destinam aproximadamente 58 da sua

produccedilatildeo total Nessas localidades os clientes satildeo na maioria grandes atacadistas

enquanto que o restante da produccedilatildeo 42 vai para outras regiotildees onde as vendas

satildeo mais pulverizadas com atendimento a supermercados restaurantes padarias e

pizzarias ainda na Bahia e nos estados do Espiacuterito Santo e Rio de Janeiro

426 Serviccedilos prestados aos associados A cooperativa possui um Departamento de Assistecircncia Teacutecnica (DAT)

composto por um agrocircnomo um teacutecnico agriacutecola e apoio de estagiaacuterios que vecircm de

convecircnios com instituiccedilotildees de ensino que deste modo formam uma equipe para

prestar serviccedilos aos associados A forma de facilitar o acesso dos associados a

produtos veterinaacuterios e agropecuaacuterios eacute por meio da Farmaacutecia Veterinaacuteria que tem o

objetivo de atender agraves necessidades dos cooperados com insumos e suporte de

outros produtos principalmente raccedilotildees e sementes

Em parceria com o SEBRAE ndash MG participa do Projeto Educampo desde

1997 com o objetivo e finalidade de especializar e tecnificar a atividade leiteira junto

aos associados A participaccedilatildeo no programa eacute custeada pelos associados e

atualmente atende um grupo de 58 produtores Estes recebem orientaccedilotildees e

81

informaccedilotildees zooteacutecnicas agriacutecolas de educaccedilatildeo administrativa gerenciamento

agropecuaacuterio e difusatildeo tecnoloacutegica realizada por teacutecnicos

O Educampo projeto desenvolvido pelo SebraeMG se propotildee a orientar grupos de produtores rurais por meio da capacitaccedilatildeo teacutecnica e gerencial com o objetivo de desenvolver aspectos econocircmicos e sociais tornando-os mais eficientes e competitivos As accedilotildees do projeto visam ao aumento da produtividade agropecuaacuteria e consequumlentemente da lucratividade e da qualidade de vida do produtor rural Para participar do Educampo eacute fundamental que o produtor apresente perfil empreendedor e esteja disposto a adotar as orientaccedilotildees do teacutecnico que o acompanha tanto no tocante agraves teacutecnicas produtivas quanto aos controles gerenciais que se constituem no grande diferencial da assistecircncia oferecida pelo projeto (DUARTE 2006 p23)

427 Perfil dos produtores associados da Coolvam

O perfil dos produtores rurais desta pesquisa apresentou-se com dados

semelhantes aos observados por Gomes (2005) sobre o perfil dos produtores

rurais em Minas com algumas caracteriacutesticas tiacutepicas do municiacutepio jaacute que a

populaccedilatildeo entrevistada restringiu-se a Carlos Chagas

Nos trabalhos com produtores de leite usa-se a terminologia pequeno

meacutedio e grande produtor No entanto tecnicamente na Coolvam os

produtores natildeo satildeo identificados por estrato social mas por faixa de

produccedilatildeo Estes satildeo distribuiacutedos em quatro faixas conforme mostra o quadro

abaixo Deste modo nos registros em controles internos as informaccedilotildees satildeo

registradas conforme essa classificaccedilatildeo

Faixa Associados Produtores Litrosdia Volume Ateacute 200 173 65 1484287 25 De 201 a 350 lts 39 15 987157 17 De 351 a 500 lts 19 7 762167 13 Acima de 501 lts 35 13 2666160 45 Total 266 5899770 100

Tabela 2 Organizaccedilatildeo de produtores assiciados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008

Numa melhor visualizaccedilatildeo graacutefica assim satildeo agrupados os produtores

associados (Figura 5)

65

157 13

100

0

20

40

60

80

100

Produtores

Ateacute 200

De 201 a 350 lts

De 351 a 500 lts

Acima de 501 lts

Total

Figura 5 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por faixa de produccedilatildeo 2008 Portanto para utilizar a terminologia proposta nesta pesquisa e

possibilitar anaacutelises comparativas com outros trabalhos foi feito um

reagrupamento dos produtores em conformidade com informaccedilotildees do diretor

e o gerente do Departamento de Assistecircncia Teacutecnica ficando os produtores

reagrupados desta forma

Estratos Sociais Associados Produtores Pequenos (0 a 200 lts) 173 65 Meacutedios (201a 499 lts) 58 22

Grandes (acima de 500 lts) 35 13 Total 266 100

Tabela 3 Organizaccedilatildeo de produtores associados agrave Coolvam por estrato social 2008

Deste modo a Coolvam apresenta em seu quadro social um nuacutemero

consideravelmente maior de pequenos produtores rurais o que confirma a

caracterizaccedilatildeo da maioria das cooperativas de leite brasileiras conforme mostra a

Figura 6 Este grupo tem uma representaccedilatildeo de 65 da populaccedilatildeo de soacutecios

seguido de 22 considerados meacutedios produtores e 13 de grandes produtores

Estes dois uacuteltimos grupos perfazem uma diferenccedila menor em nuacutemero de

associados entretanto no grupo dos grandes produtores estatildeo incluiacutedas as

associaccedilotildees rurais associadas agrave cooperativa Essas associaccedilotildees satildeo compostas por

nuacutemeros variados de produtores mas eacute cadastrado como soacutecio no quadro social da

cooperativa a pessoa juriacutedica que eacute representada pelo presidente da associaccedilatildeo

Este tem direito a um voto nas assembleacuteias

82

65

2213

100

0102030405060708090

100

Produtores

Pequenos (0 a 200 lts)

Meacutedios (201 a 499 lts)

Grandes (Mais de 500 lts)

Total

Figura 6 Organizaccedilatildeo de Produtores associados agrave Coolvam por Estrato Social 2008

A figura 7 mostra a distribuiccedilatildeo de produtores entrevistados por comunidade

rural o que demonstra uma quantidade maior de comunidades do que as seis

citadas pela cooperativa Isso deve-se ao fato de que os associados se identificam

numa comunidade mas para melhor gestatildeo dessas comunidades pela cooperativa

foi feito agrupamento de algumas como Jequiriri e Coraccedilatildeo de Minas Outras estatildeo

desativadas (Mangalocirc) ou seja natildeo estatildeo se reunindo Ainda haacute produtores que

residem em regiotildees cujas comunidades natildeo satildeo formalmente reconhecidas pela

cooperativa como a do Baixo Mucuri

66

0

27

38

20

9

00

1213

0

6

00

15

0

40

6

13

0

9

1920

30

20

0

6

0

66

00

5

10

15

20

25

30

35

40

Pampa

m

BPratea

do

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Jequ

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Baixo M

ucuri

Corrego

do O

ito

Capoe

iras

Vila P

ereira

Mangalocirc

Outras PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 7 Amostra de produtores por comunidades rurais na aacuterea da Coolvam 2008

A meacutedia de idade dos associados eacute de 52 anos corrobora com a constataccedilatildeo

de Gomes (2005) embora na Coolvam haja no quadro social jovens cooperativistas 83

84

participando do comitecirc e de conselhos essa eacute uma minoria Quanto ao grau de

escolaridade dos associados o estrato de grandes produtores apresentou maior

nuacutemero de membros com curso superior entretanto em todos os estratos a maioria

dos produtores tem o primeiro grau conforme tabela 4

Idade PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Meacutediaanos 56 47 58 Escolaridade

PEQUENO MEacuteDIO GRANDEEnsino meacutedio 47 50 402 grau 36 42 20Superior 18 8 40

Estado civil PEQUENO MEacuteDIO GRANDE

Solteiro 5 27 17Casado 95 73 67Viuacutevo 0 0 17

Tabela 4 Perfil do Produtor associados agrave Coolvam (idadeescolaridadeestado civil) 2008

A maioria dos produtores entrevistados manteacutem residecircncia tanto na cidade

quanto na propriedade rural Entretanto a pesquisa mostrou um equiliacutebrio entre o

nuacutemero de associados que consideraram sua residecircncia principal na cidade

Conforme Figura 8 45 dos produtores disseram residir na propriedade enquanto

que 55 consideraram sua principal residecircncia na cidade O grupo dos meacutedios

produtores apresentou uma diferenccedila maior 63 moram na cidade contra 38 que

moram no meio rural o que mostra tambeacutem nuacutemeros mais equilibrados nesse grupo

47

38

50 53

63

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Rural Urbana

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 8 Residecircncia principal de produtores associados agrave Coolvam 2008

Quanto agrave naturalidade a pesquisa mostrou que haacute um equiliacutebrio entre os

produtores quanto ao percentual dos que nasceram no municiacutepio e os que vieram de

outras regiotildees mostrando que na maioria dos casos os produtores satildeo de origem

de lugares proacuteximos como Vale do Jequitinhonha Norte de Minas e Bahia sendo

que os mais distantes vieram do nordeste do paiacutes

Os associados tecircm no leite a principal atividade econocircmica mas todos

possuem complemento de renda com venda de bezerros cria e engorda de gado

de corte ou aposentadoria Haacute algumas exceccedilotildees de produtores que satildeo

profissionais na comercializaccedilatildeo de gado de corte para outras regiotildees Somente

alguns respondentes citaram diversificar a atividade produtiva somente um produtor

respondeu trabalhar com apicultura atuando na comercializaccedilatildeo e beneficiamento

de mel e outros com a produccedilatildeo de farinha Portanto o municiacutepio se caracteriza

praticamente pela pecuaacuteria e precisamente dependecircncia da comercializaccedilatildeo do

leite

43 Resultados da Pesquisa a praacutexis da participaccedilatildeo na COOLVAM

Agrave luz da teoria da escolha racional sobre os custos e benefiacutecios provenientes

da participaccedilatildeo individual em atividades coletivas coube neste trabalho identificar a

motivaccedilatildeo dos soacutecios sobre a associaccedilatildeo e participaccedilatildeo nas atividades da

cooperativa local

85

86

A cooperativa em estudo demonstra evoluccedilatildeo no direcionamento de

trabalhos de organizaccedilatildeo do quadro social valoriza a educaccedilatildeo cooperativista

canaliza esforccedilos para crescimento da empresa cooperativa entretanto o estudo

teve a oportunidade de identificar algumas lacunas conforme ponto de vista dos

associados que merecem atenccedilatildeo para accedilotildees mais participativas destes

Para saber sobre quais motivos o produtor se associa agrave cooperativa foi

perguntado aos entrevistados por que se associaram agrave Coolvam Obteve-se

respostas homogecircneas nos grupos de pequenos e meacutedios produtores associadas agrave

importacircncia do cooperativismo (43 e 44) agrave fidelidade na captaccedilatildeo de leite (37

e 39) e agrave tradiccedilatildeo familiar (17 e 11) como mostra a Figura 9 Eacute certo que haacute

uma dependecircncia maior do grupo de pequenos produtores agrave cooperativa

corroborando o que mostra os trabalhos de Pereira (2002) e Graziano da Silva

(2000) mas essa questatildeo mostrou uma maior associaccedilatildeo de grandes produtores

pela valorizaccedilatildeo da filosofia do cooperativismo (57) do que nos outros estratos em

relaccedilatildeo aos outros indicadores entretanto os pequenos produtores mostraram em

maior nuacutemero ser motivo da associaccedilatildeo o viacutenculo familiar quando responderam

que satildeo associados tambeacutem por tradiccedilatildeo familiar enquanto que essa posiccedilatildeo natildeo

foi registrada no estrato de grandes produtores Essa constataccedilatildeo pode ser

relacionada a capital social formado entre esses soacutecios que se fortalece quando

satildeo mantidas as tradiccedilotildees familiares (Putnam (1996) Bueno (2004) A presenccedila de

capital social se evidenciou em outros dois aspectos

Primeiro a indicaccedilatildeo do cooperativismo em si ter sido considerada o maior

motivo da associaccedilatildeo em todos os estratos e segundo a indicaccedilatildeo da fidelidade da

cooperativa na captaccedilatildeo de leite Esse uacuteltimo eacute um diferencial da organizaccedilatildeo em

relaccedilatildeo a outras empresas do segmento com reconhecimento dos soacutecios ao

esforccedilo da cooperativa em captar leite nos meses de chuva periacuteodo em que haacute

maior volume produzido o mercado paga menor preccedilo pelo leite in natura e

produtos derivados e por outro lado haacute maior custo de captaccedilatildeo em funccedilatildeo das

dificuldades com as estradas Com a cooperativa o produtor eacute mais confiante de

que seu leite seraacute recolhido do que por outras empresas privadas Ambas as

indicaccedilotildees caracterizam uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a cooperativa e os

produtores essencial para formaccedilatildeo de capital social

O quesito preccedilo natildeo foi evidenciado em nenhum estrato portanto essa

questatildeo natildeo foi considerada relevante pelos respondentes como motivo de sua

associaccedilatildeo Entretanto o indicativo da associaccedilatildeo pela fidelidade da captaccedilatildeo

como foi registrado pode indicar mecanismos de escolha racional dos associados

em avaliar a relaccedilatildeo preccedilo pago pela produccedilatildeo e a fidelidade de captaccedilatildeo

4344

57

36

14

3739

29

1711

0 0000

10

20

30

40

50

60C

oope

rativ

ism

o

Com

pra

dein

sum

os

Fide

lidad

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atildeo

Trad

iccedilatildeo

fam

iliar

Preccedil

o do

leite

PEQUENOMEacuteDIO

GRANDE

Figura 9 Motivaccedilatildeo dos produtores para associaccedilatildeo agrave cooperativa Coolvam 2008

Em seguida quando foi solicitado ao associado para indicar o que diferencia

a cooperativa em relaccedilatildeo a outras empresas (Figura 10) as respostas mostraram

novamente certa homogeneidade (23 38 e 33) na valorizaccedilatildeo e

reconhecimento dos associados ao papel social da cooperativa Esse ponto

corrobora Putnan (1996) com a constataccedilatildeo de que as associaccedilotildees civis contribuem

para a eficaacutecia e a estabilidade do governo democraacutetico natildeo soacute por causa de seus

efeitos internos sobre o indiviacuteduo mas tambeacutem por causa de seus efeitos externos

sobre a sociedade

Nesta etapa foi reforccedilado o indicativo de confianccedila entre a organizaccedilatildeo e os

associados com a importacircncia dada agrave captaccedilatildeo de leite (23 31 e 17) mesmo

que tenha sido evidenciada uma diminuiccedilatildeo dessa preocupaccedilatildeo com a mudanccedila de

estrato social para o grande produtor

Nessa questatildeo o fator que mais chama a atenccedilatildeo eacute que os grandes

produtores indicaram ter mais facilidade de acesso agrave cooperativa do que os outros

grupos que mostraram maior utilizaccedilatildeo dos serviccedilos de assistecircncia teacutecnica Esse

87

acesso no significado da palavra se refere agrave comunicaccedilatildeo capacidade de trocar ou

discutir ideacuteias de dialogar de conversar com vista ao bom entendimento entre

pessoas (FERREIRA 1993) De modo geral essa interaccedilatildeo entre soacutecios e

organizaccedilatildeo permite que o agente participe do desenvolvimento pela sua

capacidade de articulaccedilatildeo e interaccedilatildeo conforme foi exposto por Salanek Filho e Silva

(2003)

23

3833

813

0

8

00

1513

0

8

00

15

6

50

23

31

17

05

101520253035404550

Pape

l soc

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leite

Aces

so

Cap

taccedilatilde

ode

Lei

te PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 10 Diferencial da cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios Coolvam 2008

Foi demonstrado no referencial teoacuterico a constataccedilatildeo de que a participaccedilatildeo

de associados em cooperativas tem se limitado agrave presenccedila em assembleacuteias

Portanto permitiu-se verificar a participaccedilatildeo de associados tanto em assembleacuteias

como nas reuniotildees em comunidades e como se daacute a manifestaccedilatildeo dos produtores

em diferentes ocasiotildees

Sobre a participaccedilatildeo em assembleacuteias a maioria dos associados dos dois

primeiros estratos responderam que vatildeo sempre (40 e 49) de vez em quando

(43 e 35) e o restante respondeu que nunca vai Quanto aos grandes

produtores o percentual maior respondeu que vai soacute de vez em quando (83)

conforme Figura 11

88

40

59

17

4335

83

17

60

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

sempre de vez em quando nunca

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 11 Frequecircncia de associados em assembleacuteias Coolvam 2008

Outro indicador do perfil e valorizaccedilatildeo do cooperativismo pelos associados

estaacute representado na Figura 12 ao demonstrar que a maioria destes nos trecircs

estratos vatildeo agraves assembleacuteias mais para cumprir o papel de associado (69 59 e

50) do que pelo fato de ter algo em pauta que seja do seu interesse

69

59

50

3135

50

0

10

20

30

40

50

60

70

Cumprir papel de associado Interesse na pauta

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 12 ndash Motivaccedilatildeo dos associados para participaccedilatildeo em assembleacuteias Coolvam 2008

Deste modo ao registrar as observaccedilotildees durante a pesquisa a fidelidade

com a cooperativa fica expliacutecita na fala de um produtor de 76 anos associado haacute 30

anos se referindo agrave valorizaccedilatildeo da sua presenccedila e assiduidade em reuniotildees da

cooperativa

Eu vinha a cavalo quando natildeo tinha carro (PRODUTOR 76 2008)

Por outro lado dos respondentes que disseram natildeo participar das

assembleacuteias foram registrados motivos convergentes 89

90

Nunca participo porque existem umas coisas que acho que natildeo estaacute certo (PRODUTOR 77 2008)

Natildeo natildeo gosto de participar porque jaacute levam pronto (PRODUTOR 68 2008)

Esse posicionamento reflete as discussotildees de estudos de Perius (1983) sobre

problemas estruturais do cooperativismo em que ele observa que nasce um conflito

entre soacutecios e administradores quando os interesses passam a natildeo ser mais

ldquoidecircnticosrdquo e observa que a existecircncia desse conflito comeccedila a colocar em duacutevida a

teoria da fidelidade entre soacutecios e administradores Outro trabalho de Munkner

citado em Schneider (1999) aponta para um conflito latente que tende a verificar-se

entre os interesses dos associados e os interesses dos executivos

Segundo Eschenburg citado em Perius (1983) surge uma nova ciecircncia

cooperativa que sustenta que com o crescimento do nuacutemero de soacutecios e o

simultacircneo crescimento da empresa orgacircnica o management se emancipou e a

original identidade da promoccedilatildeo dos soacutecios e da poliacutetica empresarial se transformou

num problema (Eschenburg citado em Perius 1983) Deste modo natildeo haacute de se

esperar unanimidade em satisfaccedilatildeo de associados com a gestatildeo da cooperativa e

do mesmo modo em participaccedilatildeo Resulta daiacute o sentimento que reflete as

observaccedilotildees expostas pelos produtores que natildeo costumam ir agraves assembleacuteias

Numa questatildeo seguinte para ajudar a perceber se haacute o sentimento de

liberdade para participar foi perguntado aos produtores se eles se sentem agrave vontade

para manifestarem em reuniotildees de comunidade e em assembleacuteias da cooperativa

Identificou-se que os associados de maneira geral ficam menos agrave vontade para

manifestar nas assembleacuteias do que nas reuniotildees de comunidade conforme mostram

as Figuras 13 e 14 Mas haacute de se considerar que eacute bastante expressivo o percentual

de participaccedilatildeo dos associados pois nos trecircs grupos a maioria respondeu se sentir

totalmente agrave vontade

63

76

60

141820

14

6

20

9

0

10

20

30

40

50

60

70

80

Totalmente Parcialmente Natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 13 Liberdade dos associados para manifestaccedilatildeo em reuniotildees de comunidade Coolvam 2008

5558

50

9

26

3330

1617

6

0

10

20

30

40

50

60

Totalmente Parcialmente Natildeo Natildeo Vai

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 14 Liberdade dos associados para manifestar em assembleacuteias Coolvam 2008

Conforme relatado pela assessora de cooperativismo da Coolvam haacute uma

maior participaccedilatildeo de pequenos produtores nas reuniotildees de comunidade Em seu

trabalho de organizaccedilatildeo do quadro social vem sobre a incentivando que estes

manifestem suas opiniotildees quando lhes convier conforme mostra extrato de

entrevista

Eu que estou aqui haacute oito anos e meio e percebo que jaacute houve uma evoluccedilatildeo muito grande Esse trabalho iniciado em 1990 jaacute vai fazer 18 anos e a gente percebe claramente que haacute uma mudanccedila de percepccedilatildeo de visatildeo haacute uma evoluccedilatildeo das pessoas em termos de participaccedilatildeo de chegar e expor seu ponto de vista entatildeo a gente percebe que haacute uma evoluccedilatildeo a gente natildeo tem como mensurar isso aiacute Grau de escolaridade influencia sim mas vai depender tambeacutem de cada pessoa (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

A pesquisa mostra que o grande produtor vai menos agraves reuniotildees somente

17 responderam que vatildeo sempre e consideraram em sua maioria pouco

91

importante (33) ou indiferente (33) sua presenccedila nas assembleacuteias como

mostram as Figuras 15 e 16 Mas outros dados mostraram que estes vatildeo com mais

frequumlecircncia agrave sede da cooperativa para conversar com os dirigentes

28

1817

4241

1714

29

33

17

12

33

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Muito importante Importante Pouco Importante Indiferente

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 15 Consideraccedilotildees sobre a presenccedila de associados em reuniotildees Coolvam 2008

51

82 83

29

1217 20

60

010

20

30

40

5060

70

80

90

Sempre De vez em quando Somente quandoconvocado

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 16 Frequumlecircncia de associados que vatildeo agrave sede da cooperativa Coolvam 2008

Isso indica conforme mostrado em Pereira (2002) sobre a dinacircmica das

relaccedilotildees sociais que os grandes produtores tecircm melhor acesso aos dirigentes e

defendem seus interesses diretamente assim como demonstra a Figura 15

Portanto natildeo sentem necessidade de discussotildees com os demais membros do grupo

cooperativista Entretanto a entrevista com o Presidente mostra que os associados

tecircm igual tratamento e liberdade para conversar com a diretoria Quando foi

perguntado sobre as dificuldades de gerir os diferentes grupos de interesses devido

agrave heterogeneidade do quadro social este confirmou ter dificuldades mas atua sem

restriccedilotildees ou privileacutegios

92

93

Tem Noacutes procuramos praticar os direitos iguais todos tem o voto tem os direitos mas a gente sabe que a populaccedilatildeo de associados natildeo vecirc dessa forma Mas a Coolvam pratica o cooperativismo de verdade (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As proposiccedilotildees da teoria olsoniana sobre incentivos que natildeo os econocircmicos

como desejo de prestiacutegio respeito amizade e outros objetivos de fundo social e

psicoloacutegico se confirmam na entrevista com um pequeno produtor que participa do

conselho administrativo ao responder sobre motivaccedilotildees que o fazem participar

Por ser pequeno produtor e ter vez e voz do grande e poder participar (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Outra indicaccedilatildeo reproduzida na fala do conselheiro que corrobora a

afirmaccedilatildeo da teoria de Olson (1999) eacute quando natildeo respondeu sobre as vantagens

em participar desta funccedilatildeo

A convivecircncia com pessoas de niacutevel intelectual que passa coisas boas e a oportunidade de conviver com essas pessoas (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Apesar de haver remuneraccedilatildeo para os membros que participam dos

Conselhos a relevacircncia dessa remuneraccedilatildeo foi mencionada somente por um

conselheiro como incentivo para sua participaccedilatildeo

Eacute um complemento de renda (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Os grandes produtores mostraram utilizar mais os serviccedilos da cooperativa

nas respostas ldquode vez em quandordquo (67) e ldquosemprerdquo (33)Dentre os serviccedilos que

mais utilizam foram citados os serviccedilos teacutecnicos o Educampo e a compra de

insumos na Farmaacutecia Veterinaacuteria Jaacute os pequenos e meacutedios responderam

respectivamente natildeo utilizar (17 e 18) de vez em quando (51 e 47) e

sempre (31 e 35) e responderam utilizar aleacutem da Farmaacutecia Veterinaacuteria e

assistecircncia teacutecnica vacinas e orientaccedilotildees sobre a produccedilatildeo (Figura 17) Nesse

ponto a cooperativa se firma como importante mediadora da transferecircncia de novas

tecnologias e informaccedilatildeo para os associados

17 18

0

5147

67

3135 33

0

10

20

30

40

50

60

70

Natildeo Utiliza De vez em quando Sempre

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 17 Utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa Coolvam 2008

No indicador que teve o objetivo de verificar a participaccedilatildeo dos associados e

em atividades educativas promovidas pela cooperativa identificou-se que os

pequenos e meacutedios produtores responderam participar mais (56 e 65) enquanto

33 dos grandes confirmaram essa participaccedilatildeo Aos que responderam

afirmativamente foi perguntado quem mais participa entre o produtor a esposa e

filhos As respostas dos grupos dos pequenos e meacutedios produtores indicaram que

eles mesmos participam (41 e 38) enquanto a participaccedilatildeo de esposas (29 e

38) e filhos (29 e 25) respectivamente indicando que todos da famiacutelia

participam No grupo dos grandes produtores dos que responderam participar das

atividades 100 disseram que eles mesmos participam natildeo registrando presenccedila

de esposas e filhos desse grupo nessas atividades conforme demonstra a Figura

18

5665

3344

35

67

4138

100

2938

2925

0102030405060708090

100

Sim Natildeo Produtores Esposa Filhos

PEQUENOMEDIOGRANDE

Figura 18 Participaccedilatildeo de Produtores e da famiacutelia em atividades educativas

94

A participaccedilatildeo de mulheres e filhos vem sendo incentivada pela cooperativa

Eles satildeo convidados a participar de todos os eventos e reuniotildees com os produtores

A pesquisa mostra que esse incentivo vem obtendo resultado pois dentre os

produtores que responderam participar conforme a Figura 16 um percentual de

29 e 38 respectivamente disseram que a famiacutelia tambeacutem jaacute participou de

eventos na Coolvam

A Figura 19 a seguir foi registrada em uma reuniatildeo de comunidade onde

foram agrupadas duas comunidades rurais Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas

ambas satildeo mais homogecircneas e tem um maior nuacutemero de pequenos produtores

Pode-se observar a presenccedila de mulheres e crianccedilas juntamente com os

produtores Essa interaccedilatildeo das famiacutelias com a organizaccedilatildeo reforccedila tambeacutem o

aumento de capital social

Figura 19 Preacute-Assembleacuteia da Coolvam com as comunidades de Coacuterrego Seco e Coraccedilatildeo de Minas 2008

As respostas dos associados vecircm demonstrando que satildeo participativos nas

atividades promovidas pela cooperativa e foi registrado em todos os estratos que

suas reivindicaccedilotildees satildeo totalmente ou parcialmente atendidas conforme mostra a

Figura 20 No entanto mesmo entre produtores que responderam afirmativamente

foram registradas reclamaccedilotildees sobre a forma de gestatildeo referente a tomada de

decisotildees Natildeo tem muitas coisas que satildeo feitas por eles mesmos compraram outra cooperativa sem comunicar parcialmente (PRODUTOR 73 2008) Parcialmente devido agrave poliacutetica administrativa atual da empresa (PRODUTOR 39 2008) Natildeo vaidade da direccedilatildeo descreacutedito em relaccedilatildeo ao associado (PRODUTOR 62 2008) Nem sempre conseguimos ser atendidos (PRODUTOR 36 2008)

95

4235

17

4853

67

9 1217

0

10

20

30

40

50

60

70

Totalmente Parcialmente Natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 20 Atendimento a reivindicaccedilotildees dos associados da Coolvam 2008

De forma geral em todos os estratos os produtores consideram a

participaccedilatildeo da Coolvam no desenvolvimento da propriedade com poucas exceccedilotildees

registradas principalmente entre os pequenos produtores que responderam que a

cooperativa natildeo eacute atuante neste quesito conforme demonstra a Figura 21 Tal

situaccedilatildeo confirma a utilizaccedilatildeo por esse grupo em menor proporccedilatildeo de serviccedilos

teacutecnicos conforme apresentado anteriormente na Figura 17 Nesse sentido

observou-se que os produtores que satildeo assistidas com os serviccedilos do Educampo

consideraram em maior proporccedilatildeo a atuaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento de

sua propriedade

6

19

0

30

44

67

39

25

17

24

1317

0

10

20

30

40

50

60

70

Muito atuante Atuante Pouco atuante Natildeo atua NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 21 Participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da propriedade Carlos Chagas 2008

Outro fator relevante eacute que os produtores responderam se sentir bem

informados sobre a cooperativa (Figura 22) No entanto nesta mesma questatildeo

96

pediu-se que apontasse que tipo de informaccedilatildeo sente mais necessidade de obter

As respostas foram semelhantes conforme representaccedilatildeo das falas subscritas que

demonstram a necessidade de informaccedilotildees sobre as tomadas de decisotildees da

gerecircncia e formaccedilatildeo de preccedilo de leite

bull Compraram outra cooperativa e natildeo informam o que se passa laacute

bull Mais detalhe sobre preccedilo de leite Se enviassem carta explicando sobre o preccedilo seria bom

bull Sobre como satildeo tomadas as decisotildees das reuniotildees do conselho administrativo

bull Excesso de funcionaacuterios com alta remuneraccedilatildeo

bull Natildeo natildeo tem comunidade e a informaccedilatildeo eacute repassada principalmente para as comunidades

bull Informaccedilotildees mais profundas

bull Informa depois das accedilotildees realizadas

bull Controla demais o produto (leite)

bull Preccedilo do leite

bull Como estaacute a atuaccedilatildeo da cooperativa

bull o que a diretoria pensa para melhorar as condiccedilotildees para o associado

bull por que a cooperativa paga o leite tatildeo barato

bull em relaccedilatildeo a mudanccedilas como por exemplo queda no preccedilo

do leite (QUESTIONAacuteRIOS DE PESQUISA COOLVAM 2008)

79 75

60

2125

40

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 22 Informaccedilotildees dos associados sobre a cooperativa Coolvam 2008

A cooperativa utiliza-se da realizaccedilatildeo de Preacute-assembleacuteias como estrateacutegia

para informar aos associados dos resultados e outras atividades que aconteceram

durante o ano assim como outras accedilotildees a serem aprovadas pelos soacutecios Estas satildeo 97

98

reuniotildees para apresentar a pauta a ser tratada posteriormente na Assembleacuteia Geral

O presidente entende que dessa forma eacute possiacutevel que todos tirem suas duacutevidas e

esclareccedilam os assuntos que mais interessam como mostra extrato de entrevista

Jaacute eacute exemplo de participaccedilatildeo nas comunidades satildeo as preacute-assembleacuteias Fazemos 10 a 15 preacute-assembleacuteias e apresentamos o balanccedilo Acredito que laacute na comunidade o produtor fica mais a vontade para tirar suas duvidas para fazer qualquer pergunta e levantar questionamento Entatildeo quando o produtor vem agrave Assembleacuteia Geral jaacute estaacute com tudo esclarecido jaacute tirou as duvidas laacute fica mais agrave vontade para tirar duvidas e fazer perguntas (DIRIGENTE COOLVAM 2008)

As decisotildees satildeo tomadas em caraacuteter definitivo nas assembleacuteias gerais sejam

elas ordinaacuterias ou extraordinaacuterias conforme previsto em estatuto e eacute justamente isso

que garante o caraacuteter democraacutetico do cooperativismo Dessa forma a administraccedilatildeo

participativa significa a auto-administraccedilatildeo como definiu Schneider (1999) os

associados satildeo a autoridade suprema com poder para decidir sobre todos os

aspectos importantes de sua cooperativa Todos os associados tecircm o direito ao voto

(um homem um voto) Geralmente essas decisotildees satildeo de maior importacircncia pois

trazem influecircncias ou consequumlecircncias diretas no desempenho da empresa

cooperativa e dos associados ao responder aos seus interesses econocircmicos caso

os resultados sejam positivos ou negativos Nessas reuniotildees haacute trecircs formas de

participaccedilatildeo dos associados quanto agrave aprovaccedilatildeo ou reprovaccedilatildeo do que se tem a

decidir na forma de voto

O voto eacute o modo de expressar a vontade (FERREIRA1993) num ato de

escolha pode-se dizer num sentido amplo eacute sinocircnimo de participaccedilatildeo e

democracia Conforme levantamento nos processos de escolhas nas assembleacuteias

da cooperativa o voto acontece de diferentes formas Embora natildeo seja descrito

como procede no Estatuto Social (2008) citam-se trecircs meios a) Simboacutelica ou

Aclamaccedilatildeo b) Nominal e c) Secreta Deste modo buscou-se o significado e como

acontece a votaccedilatildeo nas modalidades supra-citadas

a) Simboacutelica ou aclamaccedilatildeo Aclamaccedilatildeo tem o sentido de aplaudir com

entusiasmo eleger por aclamaccedilatildeo Neste caso pede-se que os associados que

concordam com o assunto a ser decidido aclamem e ao maior som toma-se a

decisatildeo

b) Nominal (manifestaccedilatildeo individual) conforme Ferreira (1993) manifestaccedilatildeo

eacute o ato ou efeito de manifestar-se significa exprimir-se mostrar-se Esta modalidade

de voto eacute utilizada em vaacuterios tipos de assembleacuteias Na cooperativa o produtor ao

99

comparecer na assembleacuteia recebe um cartatildeo Este eacute usado para votaccedilatildeo de forma

que o produtor exprima publicamente sua vontade na decisatildeo a ser tomada Essa eacute

a forma mais utilizada por ser mais praacutetica e mais raacutepida a votaccedilatildeo e de resultado

imediato No entanto devido ao receio de se expor o associado pode natildeo exercer

muitas vezes a sua vontade o que leva a uma tendecircncia de prevalecer a vontade

dos dirigentes uma vez que estes ao colocar o assunto em votaccedilatildeo fazem a

seguinte abordagem

Quem for contra a proposta apresentada que se manifeste e quem for a favor permaneccedila como estaacute (PRODUTOR 69 COOLVAM 2008)

c) Secreto eacute o voto confidencial particular em segredo Neste caso os

produtores recebem as ceacutedulas com as opccedilotildees de escolha marcam a melhor

alternativa no seu entendimento e depositam a ceacutedula na urna secretamente

Dentre os trecircs modos apresentados o mais comum eacute o voto nominal ou seja

por manifestaccedilatildeo individual Entretanto esta natildeo foi a melhor opccedilatildeo no

entendimento dos associados haja vista o resultado apresentado na Figura 23 e os

comentaacuterios feitos pelos produtores justificando a preferecircncia pelo voto secreto

conforme transcriccedilotildees abaixo

bull O voto secreto eacute um meio de expressar a opiniatildeo mais verdadeira

bull Porque o produtor se sente mais agrave vontade

bull Depende do momento e do assunto tratado

bull A pessoa natildeo fala um natildeo ou sim para natildeo criar problema com o voto secreto fica mais agrave vontade (QUESTIONAacuteRIOS COOLVAM 2008)

Dada a importacircncia de seu sentido o ato de votar eacute o grande indicador de

democracia e maior marco de sua efetivaccedilatildeo utilizado nas escolhas dos indiviacuteduos

para sua representaccedilatildeo em uma causa A forma secreta eacute o melhor meio para que

as pessoas possam de fato manifestar a sua vontade Nas discussotildees sobre a

participaccedilatildeo e democracia cooperativista Schneider (1999) expotildee sua opiniatildeo de

que natildeo estaacute no voto a dimensatildeo participativa do associado Para o autor

o exerciacutecio do voto natildeo permite ao associado assumir a dimensatildeo participativa que deveria ter cabe aos trabalhos dos representantes comitecircs disseminar a informaccedilatildeo de forma que conscientize os votantes para ter percepccedilatildeo de que a participaccedilatildeo estaacute aleacutem do ato de votar (SCHNEIDER 1999 p224)

Deste modo o mesmo autor complementa que a viabilidade da democracia

cooperativa depende tambeacutem da vontade e do interesse de participaccedilatildeo aleacutem dos

mecanismos montados para promovecirc-la (SCHNEIDER 1999 p152)

613

0

29

13

0

6675

100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Aclamaccedilatildeo Manifestaccedilatildeo Individual Secreto

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 23 Opiniatildeo dos associados sobre melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees Coolvam 2008

Esse modo de participar na escolha de decisotildees a serem tomadas e as

razotildees que os levam a preferir o voto secreto podem ser indicadores que justificam

o decrescente nuacutemero de participantes nas assembleacuteias nos uacuteltimos anos conforme

levantamento nos livros de atas Mesmo que esse resultado seja diferente do outro

apresentado anteriormente na Figura 12 onde mostra boa participaccedilatildeo dos soacutecios

esta vem diminuindo quando se verifica registros de presenccedilas conforme mostra a

Figura 24 a seguir Foi feito levantamento das seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais

Ordinaacuterias (AGO) que compreende o periacuteodo da atual gestatildeo entre 2002 e 2007

As seis uacuteltimas Assembleacuteias Gerais Extraordinaacuterias (AGE) aconteceram no periacuteodo

de 1996 a 2005

010

20

3040

50

60

70

1 2 3 4 5 6

Seis uacuteltimas AGOacutes e AGEacutesPeriacuteodo de 1996 a 2007 AGO

AGE

Figura 24 Participaccedilatildeo dos associados em Assembleacuteias Coolvam 2008

Fonte Livros de Atas da Coolvam de 1996 a 2007

100

No debate sobre participaccedilatildeo a pesquisa demonstrou dois quadros distintos

um conforme a teoria da escolha racional sobre o interesse individual na

participaccedilatildeo para consecuccedilatildeo de um bem coletivo que nem sempre as pessoas tem

interesse em participar efetivamente da lideranccedila e accedilotildees internas pois os

resultados mostram que parte dos associados natildeo tecircm interesse em participar da

gestatildeo da cooperativa principalmente nos grupos de meacutedios e grandes produtores

O outro quadro de modo contraacuterio mostra o consideraacutevel interesse entre os

pequenos produtores jaacute que 35 disseram que gostariam de participar Poreacutem

nesse grupo as respostas mostraram que alguns destes entendem que soacute podem

participar se forem convidados pela diretoria conforme demonstra extrato das

respostas obtidas nesta questatildeo

Gostaria de participar do conselho mas natildeo foi convocado (PRODUTOR 73 2008)

De maneira semelhante outro associado respondeu Falta ser convidado (PRODUTOR 40 2008)

Desta forma o caraacuteter de liberdade e democracia em participaccedilatildeo cooperativa

ainda natildeo estaacute claro para o associado assim como diz Schneider (1999) ldquoo

processo participativo do ldquomilitante cooperativistardquo enfrenta em geral uma seacuterie de

resistecircncias da parte da estrutura hieraacuterquica Assim como reforccedila Bordenave

(2003) parte da efetividade da participaccedilatildeo depende da oportunidade de participar

35

917

65

9183

010

20304050

60708090

100

sim natildeo

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 25 ndash Interesse de produtores em participar dos Oacutergatildeos de Gestatildeo Coolvam 2008 A participaccedilatildeo dos soacutecios na administraccedilatildeo e controle da cooperativa se

materializa formalmente por meio dos membros nas funccedilotildees dos Conselhos de

Administraccedilatildeo e Fiscal eleitos em assembleacuteia geral e pela participaccedilatildeo no Comitecirc

101

Educativo Portanto para efetivar a auto-gestatildeo deve-se por em praacutetica as

recomendaccedilotildees comuns em Perius (1983) e Schneider (1999) Para esses autores

os soacutecios por si mesmos devem ter as condiccedilotildees de controlar a administraccedilatildeo da

cooperativa na perspectiva de que os dirigentes e administradores sempre devem

ter bem presente que satildeo mandataacuterios dos soacutecios atuando em nome deles gozaratildeo

de sua confianccedila Conforme Drucker (2006) eacute preciso pensar numa parceria entre o

conselho e os membros aleacutem do mais um conselho precisa saber que possui a

organizaccedilatildeo para o benefiacutecio da missatildeo que essa organizaccedilatildeo deve desempenhar

A pesquisa mostra que os produtores que compotildeem os conselhos estatildeo

presentes nos trecircs estratos sociais poreacutem observou-se que o Conselho

Administrativo tem em seu quadro o maior nuacutemero de meacutedios e grandes produtores

Jaacute o Conselho Fiscal eacute composto por um nuacutemero maior de meacutedios e pequenos

produtores corroborando Pereira (2002) ao apontar que os maiores produtores

conseguem ter uma atuaccedilatildeo mais efetiva nas decisotildees das organizaccedilotildees

cooperativas Jaacute o Comitecirc Educativo que eacute organizado e regulamentado pelo

Conselho de Administraccedilatildeo constatou-se na pesquisa que na cooperativa este

comitecirc eacute composto em sua maioria por pequenos produtores rurais (83) conforme

demonstrado na Figura 26 a seguir

20

50

30 33

50

17

83

17

0

0102030405060708090

ConselhoAdministrativo

Conselho Fiscal Comitecirc Educativo

Pequeno

Meacutedio

Grande

Figura 26 ndash Participaccedilatildeo de produtores por estrato social nos oacutergatildeos de gestatildeo Coolvam

2008

Na praacutexis a gestatildeo cooperativa conforme demonstrado neste estudo de

caso evidencia a gestatildeo com a predominacircncia de um pequeno grupo representado

pelo estrato de grandes produtores sobre o grande grupo (pequenos produtores) o

102

103

que corrobora questotildees abordadas pela teoria da escolha racional Nesse aspecto

pode-se indagar Por que natildeo haacute presenccedila de grandes produtores na composiccedilatildeo do

comitecirc educativo jaacute que estes participam dos outros oacutergatildeos de gestatildeo a que

compete diretamente os interesses dos demais associados Os coordenadores e

secretaacuterios dos Nuacutecleos de Associados (comitecircs) conforme Estatuto (1988) tecircm a

funccedilatildeo de trazer ao conselho de Administraccedilatildeo as reivindicaccedilotildees bem como

sugestotildees para solucionar os problemas observados desde que sejam

fundamentados para assim solicitar providecircncias Entatildeo seria de se esperar que

houvesse uma participaccedilatildeo representativa de todos os estratos sociais numa

distribuiccedilatildeo mais homogecircnea em todos os oacutergatildeos da gestatildeo

Cook e Koothari (2001) citados em Amodeo (2007) alertaram que entre as

falhas dos processos participativos ao lidar com as desigualdades internas agraves

comunidades haacute tendecircncia muitas vezes em reforccedilar as relaccedilotildees de poder

preexistentes Essa situaccedilatildeo identificada na Cooperativa pode ser indicativa do que

expotildee esses autores De modo diferente na perspectiva de Schneider (1999) na

participaccedilatildeo em nuacutecleos as pessoas conseguem influenciar no planejamento de

accedilotildees para a organizaccedilatildeo Deste modo a participaccedilatildeo deve ser percebida como

uma estrateacutegia para criaccedilatildeo de novas oportunidades ou seja capaz de modificar as

relaccedilotildees de poder preexistentes

Conforme Salanek Filho e Silva (2003) juntamente com a confianccedila a

interaccedilatildeo definiccedilatildeo de objetivos comuns e estruturaccedilatildeo da rede social satildeo questotildees

fundamentais para compreender o capital social no processo cooperativista Entatildeo

com a finalidade de verificar a satisfaccedilatildeo e grau de confianccedila no trabalho dos

referidos conselhos buscou-se na pesquisa dados que pudessem dar pistas para

compreender esse processo Neste ponto foi questionado se os conselhos estariam

atuando conforme proposto para a funccedilatildeo O resultado demonstrou que de forma

geral os associados apresentaram significativo grau de confianccedila no trabalho dos

membros dos Conselhos conforme resultados apresentados nas Figuras 27 e 28

Houve maior nuacutemero de aprovaccedilotildees do que o modo contraacuterio constatando

portanto que haacute uma relaccedilatildeo de confianccedila entre a maioria dos associados quando

se trata do trabalho dos conselhos Ao observar a confianccedila na perspectiva

econocircmica conforme Maciel (2003) esse comportamento estreita as relaccedilotildees entre

os agentes e melhora a eficiecircncia econocircmica

Nessa perspectiva as duas uacuteltimas questotildees tratadas mostram que a

participaccedilatildeo de associados de modo geral exerce pouca influecircncia no desempenho

econocircmico Jaacute que foi identificado que haacute dificuldade de participaccedilatildeo e ao mesmo

tempo haacute confianccedila no trabalho dos oacutergatildeos de gestatildeo

5850

80

23

50

20 19

0

10

20

30

40

50

60

70

80

sim natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 27 Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Administrativo Coolvam 2008

62 64 60

15

3640

23

0

10

20

30

40

50

60

70

Sim Natildeo nr

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 28 ndash Aprovaccedilatildeo dos associados sobre atuaccedilatildeo do Conselho Fiscal Coolvam 2008

Embora tenha sido constatada forte relaccedilatildeo de confianccedila entre os associados

e os oacutergatildeos de gestatildeo identificou-se que os associados sentem necessidade de

informaccedilotildees do processo de gestatildeo Estes indicaram carecircncia de informaccedilatildeo sobre

a formaccedilatildeo de preccedilo de leite pago pela cooperativa como mostra a Figura 29 em

que a maioria disse natildeo participar da formaccedilatildeo do preccedilo da produccedilatildeo entregue ao

laticiacutenio Essa questatildeo foi contraditoacuteria ao assunto tratado representado na Figura

22 em que os produtores disseram se sentir bem informados sobre a cooperativa

Contradiccedilatildeo desse tipo evidencia o que Freire (1976) chama de cultura do silecircncio

que eacute o resultado das relaccedilotildees estruturais de dependecircncia Mas eacute possiacutevel que

104

numa organizaccedilatildeo de fortes laccedilos de confianccedila conforme constatado possa

permear a cultura do silecircncio

14 12

0

8088

100

60

0

20

40

60

80

100

sim natildeo NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 29 Participaccedilatildeo dos produtores na fixaccedilatildeo do preccedilo pago agrave produccedilatildeo

Ateacute mesmo produtores que participam do Comitecirc demonstraram que em

alguns casos tecircm dificuldades em atuar e se informar Entrevista com um membro

de Comitecirc Educativo mostrou que ele tem dificuldade em ter informaccedilotildees sobre o

futuro da organizaccedilatildeo e disse achar a cooperativa ldquomuito fechadardquo

a gente natildeo tem acesso a informaccedilatildeo sobre planejamento da cooperativa para longo prazo (MEMBRO DO COMITEcirc EDUCATIVO COOLVAM 2008)

Entretanto a assessoria de cooperativismo mostra que o desempenho dos

membros do Comitecirc eacute diferenciado e as caracteriacutesticas da proacutepria comunidade

exercem influecircncia sobre atuaccedilatildeo do Comitecirc conforme mostra extrato de entrevista

Uma outra coisa interessante eacute a questatildeo da lideranccedila nessas regiotildees que eu estou mencionando Coacuterrego de Areia Coraccedilatildeo de Minas Lageado Brejauba essas regiotildees satildeo as mais participativas e satildeo bastante atuantes Talvez seja hoje o ponto mais importante do nosso trabalho Satildeo regiotildees onde a gente tem lideranccedila mais forte mais atuante consegue mobilizaccedilatildeo mais forte com os associados e com os familiares dependendo da atividade que a gente for desenvolver (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Jaacute em comunidades mais heterogecircneas onde participam tambeacutem grandes

produtores eacute reconhecido haver mais dificuldades em conseguir desenvolver

trabalho de mobilizaccedilatildeo para participaccedilatildeo de cooperados

a gente percebe no dia a dia que tem uma diferenccedila com as demais comunidades As regiotildees de capoeiras Coacuterrego da Prata Vila Pereira Jequiriri onde temos um nuacutemero de associados produtores considerados de meacutedio e grande porte a gente percebe que haacute dificuldade natildeo todos mas uma grande parte de mobilizaacute-los para alguma atividade para reuniatildeo de comunidade Temos que mostrar algo mais atrativo eles satildeo mais exigentes em relaccedilatildeo ao geral a participaccedilatildeo deles com certeza eacute menor alegam que tem muitas

105

atividades agraves vezes natildeo estatildeo disponiacuteveis para estar participando entatildeo a gente tem muita dificuldade de mobilizar essas pessoas Uma parte que estaacute sempre de fora e natildeo participa de forma alguma esse eacute um problema a gente soacute consegue mobilizaacute-los quando tem um evento maior por exemplo dia de campo algum evento na loja veterinaacuteria promoccedilotildees (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

Outro levantamento complementar na pesquisa foi avaliar a participaccedilatildeo dos

produtores rurais em outras atividades coletivas desde realizaccedilotildees festivas nas

comunidades rurais na cooperativa e atuaccedilatildeo em outros segmentos da comunidade

urbana (Figuras 30 31 e 32) Identificou-se que a maioria eacute tambeacutem associado agrave

cooperativa de creacutedito rural e ao sindicato rural (83) Poucos produtores disseram

participar de outras organizaccedilotildees coletivas (meacutedia de 34 nos trecircs estratos) dentre

eles um disse fazer parte da Comissatildeo de Estradas na gestatildeo puacuteblica dois

produtores disseram ser registrados em partido poliacutetico Dentre os associados com

filhos em idade escolar a maioria estaacute associado agrave Cooperativa de ensino Foi

registrado somente um caso de pequeno produtor que trabalha como empregado

para outra propriedade mas registrou-se casos de prestaccedilatildeo de serviccedilos por

produtores que tecircm formaccedilatildeo teacutecnica (engenheiro veterinaacuterio zootecnista dentre

outros)

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17

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Figura 30 Participaccedilatildeo dos associados em outras organizaccedilotildees coletivas Coolvam 2008

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nunca NRPEQUENO

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Figura 31 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na comunidade Coolvam

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Sempre De vez emquando

nunca NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 32 Participaccedilatildeo dos associados em atividades festivas na cooperativa Coolvam 2008

Com estas informaccedilotildees confirma-se a interaccedilatildeo entre a organizaccedilatildeo

cooperativa com a comunidade jaacute que as mesmas pessoas participam do quadro

social das diferentes cooperativas Dessa forma os laccedilos e relaccedilotildees interpessoais

que se formam na comunidade contribuem para fortalecer o capital social Por outro

lado outra caracteriacutestica observada por meio das notiacutecias no Informativo Coolvam

(2004 2005 2006 2007) ficou constatado que as lideranccedilas que participam de uma

cooperativa atuam tambeacutem em algum oacutergatildeo de gestatildeo em outra portanto interagem

entre si e com outras atividades da comunidade Essa relaccedilatildeo reforccedila a presenccedila de

capital social na comunidade promovido em parte pela presenccedila das cooperativas e

pela forma de se organizarem Entretanto a pesquisa mostra que mesmo nesse

ambiente prevalece a dominaccedilatildeo de um mesmo grupo na conduccedilatildeo destas

107

organizaccedilotildees e no caso estudado dados mostram dificuldades para participaccedilatildeo do

restante da populaccedilatildeo associada

A literatura mostra que a participaccedilatildeo eacute indicada como caminho natural para o

homem exprimir sua tendecircncia inata de realizar fazer coisas e afirmar-se a si

mesmo e sua praacutetica envolve a satisfaccedilatildeo de necessidades como a auto-expressatildeo

(BORDENAVE1983) Essas caracteriacutesticas satildeo pessoais sendo assim podem natildeo

se manifestar na mesma intensidade em indiviacuteduos diferentes Deste modo

Bordenave (1983) se refere ainda agraves diferenccedilas que se datildeo em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo ativa e passiva que eacute a distacircncia entre o cidadatildeo engajado e o cidadatildeo

inerte Assim como se justifica ter indiviacuteduos que empreendem mais ou menos em

causas sociais

Por outro lado foi percebiacutevel em todos os estratos que haacute interaccedilatildeo entre os

associados eles mantecircm o haacutebito de visitar outras propriedades (somatoacuterio de 84

para as respostas ldquosempre e de vez em quandordquo) conforme figura 33 A maioria

citou que nessas visitas trocam informaccedilotildees vecircm a forma de produccedilatildeo ou o gado do

outro Esses haacutebitos fortalecem os laccedilos pessoais assim como a participaccedilatildeo em

atividades festivas nas comunidades reforccedilam tradiccedilotildees ciacutevicas e satildeo accedilotildees que

fortalecem o capital social

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Sempre De vez emquando

dificilmente nuncaPEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 33 ndash Haacutebito de visitar outros produtores rurais associados da Coolvam 2008

Dentre os que responderam que natildeo costumam ir a outra propriedade

mostra-se uma preocupaccedilatildeo que foi comentada tambeacutem por outros produtores

As pessoas natildeo ficam mais nas propriedades entatildeo perdemos aquele costume de ir na casa do outro hoje vatildeo para a cidade e outros vizinhos venderam as fazendas para o eucalipto estou ficando sozinho na minha regiatildeo (PRODUTOR 59 COOLVAM 2008)

108

109

Foi importante registrar esse comentaacuterio porque embora se tenha

constatado a interaccedilatildeo entre produtores nas propriedades essa preocupaccedilatildeo foi

demonstrada em todos os estratos haacute produtores que jaacute venderam suas terras para

cultura de eucalipto Alguns tecircm a preocupaccedilatildeo de que se os grandes produtores

venderem suas terras em alguns pontos pode inviabilizar a coleta de leite de um

pequeno produtor que ficar ldquoilhadordquo (palavra usada por diferentes produtores vaacuterias

vezes durante as entrevistas) Essa nova cultura agriacutecola vem se expandido na

regiatildeo destinada agraves induacutestrias de papel e celulose satildeo cultivadas em grandes

extensotildees de terra e tem influenciado no modo de vida local

Por outro lado ao longo do trabalho percebeu-se ao conversar com os

produtores que participaram das entrevistas que entre eles haviam

comportamentos diferentes uns mais entusiasmados outros menos alguns se

mostraram indiferentes poreacutem todos contribuiacuteram agrave sua maneira conforme

planejamento da pesquisa de campo Entretanto em meio a esses diferentes

comportamentos foi percebido uma motivaccedilatildeo diferente durante a pesquisa de

campo especialmente na entrevista com pequeno produtor que participa como

membro do Conselho Administrativo quando este contou suas experiecircncias e

histoacuteria de vida

Sou filho de pequeno produtor rural fui para Satildeo Paulo trabalhar fiquei seis anos por laacute quando voltei fui motorista da Cooperativa quando meu pai faleceu herdei pequena parte da propriedade e comecei a trabalhar Logo iniciei na comunidade como secretaacuterio depois fui coordenador do comitecirc educativo por trecircs mandatos fui convidado para ser conselheiro e jaacute estou atuando haacute seis anos (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

O que chamou a atenccedilatildeo foi que nenhum outro entrevistado ateacute o momento

tinha demonstrado tanto entusiasmo com a cooperativa como este produtor ele

dissedisse

Eu sou apaixonado pelo cooperativismo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse associado foi indicado a receber uma das premiaccedilotildees para a

cooperativa realizada no Caribe e contou entusiasmado

Imagina dentro do conselho eu fui indicado para ir receber o precircmio foi a melhor viagem que jaacute fiz Quando cheguei contei isso na minha comunidade (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Dentre outros soacutecios este produtor se destaca pela dedicaccedilatildeo e forma de

trabalhar na sua propriedade assim como empenho e mobilizaccedilatildeo para articular

accedilotildees na sua comunidade e na cooperativa A entrevista com a assessora de

110

cooperativismo mostrou tambeacutem que em seu entendimento a participaccedilatildeo de

associados tanto nas comunidades quanto nas atividades da cooperativa eacute

determinada pelo perfil individual de cada associado que se manifesta na vontade de

participar

a gente tem uma situaccedilatildeo em que um associado anda acho que doze quilocircmetros a cavalo para chegar agrave reuniatildeo e ele vai em todas as reuniotildees e tem comunidades que a distacircncia eacute muito menor e a pessoa deixa de ir Agraves vezes tem automoacutevel um amigo que mora proacuteximo que pode dar uma carona e natildeo vai Entatildeo Isso depende muito da pessoa do perfil da pessoa essa pessoa que estou falando ela eacute muito empreendedora muito participativa procura participar sempre das atividades que a gente realiza junto a cooperativa

Temos tambeacutem situaccedilatildeo de grandes produtores empreendedores estatildeo sempre participando das reuniotildees de torneio leiteiro de dia de campo um exemplo eacute Zeacute Firmino e Eurico satildeo pessoas que participam muito com a gente e que satildeo considerados grandes e meacutedios produtores (ASSESSORA DE COOPERATIVISMO COOLVAM 2008)

O pequeno produtor no exemplo dado eacute participativo busca crescimento

acredita que pode ajudar outros produtores a entender e melhorar o interesse em

participar apresenta visatildeo de futuro como demonstra em suas palavras

O pequeno produtor deve buscar espaccedilo participando de eventos palestras se sentir importante ouvir e dar opiniotildees Acho que todo produtor deveria participar do Educampo (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Natildeo obstante a todas as caracteriacutesticas positivas que os relatos demonstram

o exemplo de associado aqui exposto mostra que existem limitaccedilotildees conforme este

mesmo produtor indicou como dificuldade em participar do Conselho ao defender

suas ideacuteias junto aos outros conselheiros

eacute difiacutecil defender uma ideacuteia que seja viaacutevel para a empresa e aos associados para os outros conselheiros (CONSELHEIRO COOLVAM 2008)

Esse dilema eacute presente na auto-gestatildeo frente a interesses dos membros que

compotildeem o grupo mesmo que o objetivo seja comum Natildeo se pode esperar a

mesma motivaccedilatildeo no comportamento de todos muito menos que o altruiacutesmo seja a

inclinaccedilatildeo dos membros que ali se dispotildee atuar

A necessidade de realizaccedilatildeo e reconhecimento satildeo sentimentos inerentes a

qualquer indiviacuteduo (HELLER CIT IN BRITO E BRITO 2000) e pode-se dizer que na

accedilatildeo coletiva eacute possiacutevel que essas caracteriacutesticas estejam em niacuteveis diferentes por

isso as vontades de participaccedilatildeo nas atividades da cooperativa pelos associados

satildeo encontradas em graus diferentes Bordenave (1983) confirma essa prerrogativa

e isso foi constatado no resultado da pesquisa

Ao considerar que cada pessoa tem um grau de interesse desejo e

habilidade de realizaccedilatildeo diferentes assim como reconhecidos por Maslow citado em

Brito e Brito (2000) psicoacutelogo e pesquisador de comportamento confirma-se a teoria

de Olson (1999) aqui apresentada e ilustrada pela limitaccedilatildeo exposta pelo associado

entrevistado no que se refere agrave sua participaccedilatildeo no Conselho assim como a

motivaccedilatildeo dos demais em aceitar sugestotildees e buscar soluccedilotildees

Por uacuteltimo como informaccedilatildeo complementar buscou-se verificar a motivaccedilatildeo

dos produtores com sua atividade produtiva jaacute que a maioria principalmente os

pequenos tem na propriedade rural a principal fonte de renda Dos questionamentos

feitos o maior percentual de respostas mostrou que os produtores satildeo ldquoMuito

entusiasmadosrdquo com a atividade conforme mostra a Figura 34 Satildeo dinacircmicos pois

estatildeo sempre ldquomodificando para melhorarrdquo

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natildeo

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odifi

car

NR

PEQUENO

MEacuteDIO

GRANDE

Figura 34 Motivaccedilatildeo dos associados em relaccedilatildeo agrave sua propriedade rural Coolvam 2008

Outra percepccedilatildeo durante a aplicaccedilatildeo dos questionaacuterios eacute que os produtores

parecem ser ldquoapaixonados pelo que fazemrdquo Essa expressatildeo eacute comumente utilizada

em Recursos Humanos pois conforme Candeloro (2007) a paixatildeo eacute forccedila

motivadora que daacute agraves pessoas a energia necessaacuteria para suportar contratempos ter

persistecircncia e dedicaccedilatildeo necessaacuterias para alcanccedilar um objetivo

Por outro lado e de modo diferente essa paixatildeo e interesse na atividade

individual pode natildeo ser transferida na mesma intensidade para sua atuaccedilatildeo na

organizaccedilatildeo cooperativa que teoricamente eacute tambeacutem de sua propriedade De certo

111

112

modo ele age dessa forma por que eacute naturalmente difiacutecil conseguir que as pessoas

cooperem para benefiacutecio muacutetuo conforme defende Olson (1999)

113

5 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Este estudo permitiu verificar e contextualizar a participaccedilatildeo de associados

em organizaccedilotildees cooperativas e confirmar tanto o vigor no cooperativismo quanto

sua fragilidade no enfrentamento de problemas conjunturais no ambiente

econocircmico Desde a Revoluccedilatildeo industrial no seacuteculo XIX na idealizaccedilatildeo como

proposta para vencer as desigualdades sociais daquela eacutepoca e atualmente quase

duzentos anos depois em meio agrave ldquoRevoluccedilatildeo da Informaccedilatildeordquo o cooperativismo

continua com seus princiacutepios teoricamente conservados e se adaptando agraves mais

diferentes exigecircncias deste novo seacuteculo com o objetivo de defender os interesses

de seus cooperados

Numa conferecircncia das Naccedilotildees Unidas sobre Comeacutercio e Desenvolvimento

Ricupero (2007) disse que a resposta para os problemas de desigualdade e pobreza

extremas natildeo viraacute apenas da tecnologia e da economia A soluccedilatildeo desses

problemas dependeraacute de valores como a equidade a solidariedade e a compaixatildeo

que pertencem a um domiacutenio bastante distinto A necessidade de cooperaccedilatildeo

cresce em todos os segmentos e estaacute apontado como instrumento mais apropriado

para desafiar e vencer os vieses que permeiam a busca para reduccedilatildeo dessas

desigualdades sociais A emergecircncia econocircmica de paiacuteses em desenvolvimento por

ora cheios de oportunidades sem divisas com a economia mundial carece de

instrumentos para incluir populaccedilotildees que contraditoriamente nunca foram tatildeo

proacuteximas e ao mesmo tempo tatildeo distantes

Nesse contexto o estudo sobre o cooperativismo mostra que essa forma de

accedilatildeo coletiva eacute reconhecidamente um importante meio para diminuir esse

distanciamento pois eacute uma forma de organizaccedilatildeo que consegue estar presente em

todos os segmentos e niacuteveis sociais Entretanto natildeo se pode ignorar que sob as

influecircncias do ambiente externo no que diz respeito agrave competitividade

modernizaccedilatildeo e diversificaccedilatildeo de atividades que vatildeo de encontro agrave crescente

complexidade que tem se tornado as organizaccedilotildees cooperativas a efetiva

participaccedilatildeo de associados tem sido cada vez mais difiacutecil poreacutem necessaacuteria e deve

ser valorizada para validar e fortalecer a doutrina cooperativista

Essa constataccedilatildeo tem fundamento no potencial da participaccedilatildeo como

mecanismo e caminho para o desenvolvimento de organizaccedilotildees cooperativas o que

114

foi confirmado durante a discussatildeo nesta dissertaccedilatildeo No entanto ainda haacute

necessidade de mudanccedila de atitude das pessoas e nos modos tradicionais de

conduzir suas accedilotildees bem como dar liberdade e adotar meios apropriados para

atrair novos membros para participar das atividades e oacutergatildeos que compotildee a gestatildeo

cooperativa a fim de renovar o quadro ponderadas eacute claro as vontades

necessidades e limitaccedilotildees de cada um O investimento em educaccedilatildeo cooperativista

objetivando qualificaccedilatildeo dos soacutecios para que estes tenham condiccedilotildees de

acompanhar a complexidade de informaccedilotildees e controles da gestatildeo cooperativa

somados ao investimento no aprendizado teacutecnico para o desenvolvimento de

habilidades de gestatildeo satildeo vistos como elementos relevantes para tornar possiacutevel e

efetiva a participaccedilatildeo

Embora haja accedilatildeo da Coolvam neste sentido o estudo mostrou que tanto

membros dos Conselhos quanto do Comitecirc Educativo que satildeo a forma organizada

para promover educaccedilatildeo cooperativista e instituiccedilotildees de ldquovozrdquo dos associados

atuam com mais eficiecircncia como canal de informaccedilotildees do que como instrumentos de

accedilatildeo poliacutetica e estrateacutegica dos produtores que vecircm interferir na gestatildeo da

organizaccedilatildeo com objetivo defender os interesses dos associados As entrevistas

mostraram a necessidade de treinamentos praacuteticos com linguagem que permita

melhor entendimento dos membros em substituiccedilatildeo agrave metodologia utilizada nos

treinamentos oferecidos Percebe-se que haacute muito mais disposiccedilatildeo em qualificar as

cooperativas nas aacutereas de sua operacionalizaccedilatildeo administrativo-financeira e

mercadoloacutegica tratando-as em muitos casos como empresas comuns

Diferentemente talvez natildeo se tenha dispensado o mesmo empenho no resgate e

reforccedilo da doutrina cooperativista para aleacutem do discurso interno ou seja tecirc-la como

ldquoordem do diardquo principalmente para as novas geraccedilotildees na esperanccedila de que estes

sejam fonte de mudanccedila de comportamento mentalidade e que de fato ocorra

transformaccedilatildeo no desejo de fazer o coletivo funcionar para todos

Deste modo a participaccedilatildeo para cooperaccedilatildeo foi identificada tambeacutem como a

mais apropriada para o estabelecimento e criaccedilatildeo de novos meios motivados a

despertar o interesse de pessoas em sair da ldquoineacuterciardquo que faz manter o status quo

das diferenccedilas sociais e perda de oportunidades que se encontram em sociedades

cooperativas

115

Outra caracteriacutestica do quadro social corrobora a afirmativa de que

deveriacuteamos avaliar o desenvolvimento em termos da expansatildeo das capacidades das

pessoas para levarem o tipo de vida que valorizam ndash e tem razatildeo para valorizar

(SEN 2000) deste modo respeitar as diferenccedilas das pessoas tambeacutem na forma de

participar pois o estudo mostrou que o grupo de associados que compotildee uma

organizaccedilatildeo coletiva natildeo participa de forma homogecircnea elas apresentam perfis

proacuteprios e haacute diferentes motivaccedilotildees individuais e particulares em cada associado

que os faz envolver mais ou menos intensamente na accedilatildeo Isso deve ser respeitado

mas natildeo utilizado como pretexto de que natildeo se tem pessoas preparadas para

substituiccedilatildeo e justificar a permanecircncia das mesmas pessoas na frente dessas

organizaccedilotildees por tanto tempoA teoria da escolha racional mostra a sobreposiccedilatildeo

dos interesses do pequeno grupo melhor organizado sobre o maior grupo Neste

trabalho essa premissa estaacute presente no cooperativismo quando dados mostram

que em cooperativas agropecuaacuterias o maior nuacutemero de membros satildeo pequenos

produtores em relaccedilatildeo a um nuacutemero muito menor de grandes produtores do mesmo

modo que se confirma a presenccedila de maior nuacutemero de grandes produtores na

conduccedilatildeo dessas organizaccedilotildees Com base nessa constataccedilatildeo pode-se inferir que

seja possiacutevel que grandes produtores possam naturalmente defender estrateacutegias

conforme seus proacuteprios interesses em detrimento dos interesses dos membros do

outro grupo

Esta mesma teoria confirma tambeacutem o dilema da proacutepria organizaccedilatildeo em

contratar profissionais externos para sua gestatildeo pois ao fazecirc-lo estaacute defendendo o

interesse da empresa cooperativa que sobrepotildee em diferentes momentos aos

interesses dos associados mesmo que racionalmente esta seja a melhor opccedilatildeo

Embora o posicionamento construiacutedo durante o trabalho seja de acreditar na

potencialidade da participaccedilatildeo natildeo se espera que estas organizaccedilotildees sejam

puramente auto-gestionadas pois se concorda que natildeo seja possiacutevel um isolamento

dessas organizaccedilotildees agrave pressatildeo crescente do mercado agrave qual estas tecircm que

responder com rapidez e eficiecircncia Assim como visto satildeo poucos os casos de

soacutecios preparados tecnicamente para estar agrave frente dos negoacutecios cooperativos

Portanto seria ideoloacutegico e irracional natildeo aceitar esta realidade A necessidade estaacute

no reforccedilo e incentivo a associados para participarem nos diferentes niacuteveis de

116

gestatildeo e conseguir desempenhar eficientemente suas funccedilotildees de controles e

conscientemente defender os interesses sociais da organizaccedilatildeo

A heterogeneidade relacionada agraves diferenccedilas sociais existente no quadro

social das cooperativas foi pouco abordada nas literaturas consultadas e de fato

natildeo eacute considerada nos princiacutepios cooperativistas Pode-se perceber no estudo de

caso que esta problemaacutetica tambeacutem natildeo eacute tratada individualmente e com a atenccedilatildeo

que merece para natildeo ir contra o princiacutepio da igualdade Mas contraditoriamente

mostrou tambeacutem que natildeo se trata de modo igual aos desiguais haacute utilizaccedilatildeo de

poliacuteticas e estrateacutegias diferenciadas e direcionadas agrave participaccedilatildeo de produtores nas

comunidades rurais Nessa perspectiva leva-se em consideraccedilatildeo o perfil e o estrato

social dos membros que as compotildeem Portanto haacute necessidade de utilizar

mecanismos diferentes natildeo no sentido de beneficiar uns em detrimento de outros

mas identificar as dificuldades e potencialidades encontradas em niacuteveis diferentes

nos comportamentos individuais e destes aproveitar as aptidotildees de uns para

desenvolver nos demais

Um outro ponto positivo natildeo aprofundado neste estudo mas sugerido em

outros trabalhose considerado prioridade no desenvolvimento do cooperativismo se

refere agrave importacircncia da educaccedilatildeo cooperativista para melhorar a participaccedilatildeo de

associados e o estiacutemulo agrave presenccedila de mulheres e jovens nas atividades da

cooperativa como estrateacutegia e instrumento de desenvolvimento de cooperativas A

cooperativa em estudo mostrou resultados positivos nesse sentido Pode-se

observar presenccedila de mulheres e crianccedilas em reuniotildees nas diferentes comunidades

rurais como mostrado na Figura 19 Isso se deve agrave accedilatildeo conjunta e o arranjo de

parceria entre as cooperativas instituiccedilotildees e escolas do municiacutepio O trabalho de

construccedilatildeo da cultura do cooperativismo investida em jovens como visto vem

conseguindo resultados positivos na comunidade e dessa forma faratildeo ldquoestoquerdquo de

capital social local Esse capital eacute importante para fortalecer as bases locais Caso

as grandes aquisiccedilotildees incorporaccedilotildees e fusotildees observadas como tendecircncias no

segmento do cooperativismo de leite se concretizem com o capital social

fortalecido haveraacute melhor participaccedilatildeo local para fortalecimento e defesa dos

interesses dos produtores associados

Deste modo fortalecimento do capital social pela cooperaccedilatildeo e confianccedila

apresentados no referencial como soluccedilatildeo para os dilemas eacute um conjunto a que

117

deve creditar a superaccedilatildeo das dificuldades de participaccedilatildeo de associados em gestatildeo

cooperativa Os soacutecios devem ser estimulados a acreditar que o investimento em

esforccedilo pessoal pode ser o diferencial para mudar a realidade de muitos Esses

instrumentos satildeo capazes de fortalecer as relaccedilotildees das pessoas criar e manter

viacutenculos propiciando um ambiente de relaccedilotildees familiares no sentido superar os

benefiacutecios individuais no alcance dos objetivos comuns conseguidos pelo espiacuterito

associativo

O fator limitante da pesquisa eacute que esta mostrou a participaccedilatildeo numa

cooperativa pequena onde os produtores estatildeo numa distribuiccedilatildeo geograacutefica

consideravelmente proacutexima ainda assim identificaram-se dificuldades de

participaccedilatildeo A conjuntura apresentada indica que cada vez mais o produtor vai

ficando distante espacialmente da gestatildeo e mais difiacutecil de acompanhar e participar

diretamente Portanto faz-se a indagaccedilatildeo o que vai acontecer com o produtor em

niacutevel macro nesse modelo a que tendem as cooperativas agropecuaacuterias de leite ao

pensar a participaccedilatildeo nessas organizaccedilotildees Como fica a essecircncia do

cooperativismo Cabem novos estudos em grandes organizaccedilotildees cooperativas para

avaliar os benefiacutecios e as dificuldades diante do que vem acontecendo e identificar a

percepccedilatildeo de produtores rurais nessas situaccedilotildees Como a filosofia da participaccedilatildeo

se aplica a esses casos Ainda de fato a opiniatildeo dos produtores que estatildeo nos

nuacutecleos menores consegue ser ouvida pelos que estatildeo tomando as decisotildees

Enfim o ambiente estaraacute satisfatoriamente equilibrado em termos de ldquocapacidades

sociaisrdquo para apoiar um modelo de participaccedilatildeo que possa trazer benefiacutecios

significativos para os pequenos produtores

Uma resposta aos desafios da participaccedilatildeo e cooperaccedilatildeo exige novas

atitudes e mentalidades Existe forccedila poder e seguranccedila em pessoas que

compartilham natildeo soacute objetivos comuns mas necessidades comuns No

cooperativismo para o bem dos cooperados eacute fundamental que haja oportunidade

para novos participantes com apoio e cooperaccedilatildeo para o bem coletivo e mesmo

tentado ao individualismo cooperar e atuar coletivamente deve ser visto como a

melhor opccedilatildeo

118

6 REFEREcircNCIA BIBLIOGRAacuteFICA

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APENDICE A

Princiacutepios Cooperativistas

1 - Adesatildeo voluntaacuteria e livre - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees voluntaacuterias abertas a todas as pessoas aptas a utilizar os seus serviccedilos e assumir as responsabilidades como membros sem discriminaccedilotildees de sexo sociais raciais poliacuteticas e religiosas

2 - Gestatildeo democraacutetica - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees democraacuteticas controladas pelos seus membros que participam ativamente na formulaccedilatildeo das suas poliacuteticas e na tomada de decisotildees Os homens e as mulheres eleitos como representantes dos demais membros satildeo responsaacuteveis perante estes Nas cooperativas de primeiro grau os membros tecircm igual direito de voto (um membro um voto) as cooperativas de grau superior satildeo tambeacutem organizadas de maneira democraacutetica

3 - Participaccedilatildeo econocircmica dos membros - Os membros contribuem equumlitativamente para o capital das suas cooperativas e controlam-no democraticamente Parte desse capital eacute normalmente propriedade comum da cooperativa Os membros recebem habitualmente se houver uma remuneraccedilatildeo limitada ao capital integralizado como condiccedilatildeo de sua adesatildeo Os membros destinam os excedentes a uma ou mais das seguintes finalidades

bull Desenvolvimento das suas cooperativas eventualmente atraveacutes da criaccedilatildeo de reservas parte das quais pelo menos seraacute indivisiacutevel

bull Beneficios aos membros na proporccedilatildeo das suas transaccedilotildees com a cooperativa

bull Apoio a outras atividades aprovadas pelos membros

4 - Autonomia e independecircncia - As cooperativas satildeo organizaccedilotildees autocircnomas de ajuda muacutetua controladas pelos seus membros Se firmarem acordos com outras organizaccedilotildees incluindo instituiccedilotildees puacuteblicas ou recorrerem a capital externo devem fazecirc-lo em condiccedilotildees que assegurem o controle democraacutetico pelos seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa

5 - Educaccedilatildeo formaccedilatildeo e informaccedilatildeo - As cooperativas promovem a educaccedilatildeo e a formaccedilatildeo dos seus membros dos representantes eleitos e dos trabalhadores de forma que estes possam contribuir eficazmente para o desenvolvimento das suas cooperativas Informam o puacuteblico em geral particularmente os jovens e os liacutederes de opiniatildeo sobre a natureza e as vantagens da cooperaccedilatildeo

6 - Intercooperaccedilatildeo - As cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e datildeo mais -forccedila ao movimento cooperativo trabalhando em conjunto atraveacutes das estruturas locais regionais nacionais e internacionais

7 - Interesse pela comunidade - As cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas comunidades atraveacutes de poliacuteticas aprovadas pelos membros (OCB 2007)

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APENDICE B

QUESTIONAacuteRIO DE PESQUISA

1 O Sr eacute associado agrave Cooperativa de Produccedilatildeo ndash Coolvam

( ) sim ( ) natildeo 2 Idade ( ) Grau de Escolaridade ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) 3 Residecircncia principal ( ) rural ( ) urbana 4 Qual comunidade rural pertence 5 Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) 6 Quantos moram na sua propriedade aleacutem da famiacutelia ( ) 7 Aacuterea da Propriedade ( ) Hectares 8 Qual a origem da propriedade

( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar 9 Eacute natural de C Chagas

( ) sim ( ) Natildeo Regiatildeo de origem 10 Haacute quanto tempo mora em CChagas 11 Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz 12 O leite eacute entregue todo na cooperativa ( ) sim ( ) natildeo 13 Se natildeo o que eacute feito do restante da produccedilatildeo 14 Possui outra fonte de renda aleacutem do leite

( ) Sim ( ) Natildeo Se sim citar qual 15 Porque o Sr eacute associado agrave Cooperativa

( ) pelo cooperativismo ( ) por tradiccedilatildeo familiar ( ) pela compra de insumos ( ) preccedilo de leite ( ) pela fidelidade na captaccedilatildeo do leite

16 Enumere em grau de importacircncia que diferencia a cooperativa em relaccedilatildeo a outros laticiacutenios

( ) seu papel social ( ) auxilio a compras ( ) captaccedilatildeo de leite ( ) assistecircncia teacutecnica ( ) preccedilo do leite ( ) atendimento de funcionaacuterios ( ) facilidade de acesso

17 Haacute quanto tempo o Sr eacute associado `a cooperativa ( ) anos 18 O Sr Costuma ir agraves assembleacuteias da sua cooperativa

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 19 Quando vai agraves assembleacuteias da cooperativa

( ) eacute para cumprir o meu papel de associado ( ) eacute porque estaacute em pauta algo que seja do meu interesse

20 O Sr eacute informado com antecedecircncia dos assuntos a serem tratados nas reuniotildees ( ) sim ( ) natildeo

21 Como fica sabendo das reuniotildees da sua cooperativa ( )Informativo ( ) Carta ( ) Raacutedio ( ) Telefone

22 Na sua opiniatildeo qual melhor meio de comunicaccedilatildeo para informaccedilatildeo sobre reuniotildees em sua cooperativa

( ) InformativoJornal ( ) Carta ( ) Telefone ( ) Reuniotildees ( ) outros citar 23 O Sr considera sua presenccedila nas reuniotildees da cooperativa

( ) muito importante ( )importante ( ) pouco importante ( ) indiferente 24 O Sr costuma utilizar serviccedilos da sua cooperativa

( ) Natildeo utilizo ( ) De vez em quando ( )sempre Se utiliza qual (is)

25 Algueacutem da famiacutelia jaacute participou de alguma atividade educativa (cursos palestras etc) promovida pela cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Se sim Quem ( ) Produtor (respondente) ( ) Esposa ( ) Filhos

26 Suas reivindicaccedilotildees satildeo atendidas pela cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo Porque

27 O Sr se sente bem informado sobre sua cooperativa ( ) sim ( ) natildeo

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Porque Que tipo de informaccedilotildees o Sr Sente mais necessidade de obter

28 Com que frequumlecircncia o Sr Vai agrave sede da sua Cooperativa ( ) sempre ( ) dificilmente ( ) somente quando convocado

29 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees da sua comunidade ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

30 O Sr Se sente agrave vontade para manifestar nas reuniotildees de sua cooperativa ( ) totalmente ( ) parcialmente ( ) natildeo

31 Como o Sr Considera a participaccedilatildeo da Cooperativa no desenvolvimento da sua propriedade

( ) muito atuante ( ) atuante ( ) pouco atuante ( ) natildeo atua Se natildeo em que gostaria que atuasse melhor

32 Na sua opiniatildeo qual melhor meacutetodo para aprovaccedilatildeo de decisotildees nas reuniotildees ( ) por aclamaccedilatildeo ( ) por manifestaccedilatildeo individual ( ) por voto secreto ( ) outro citar

33 O Sr Costuma visitar outros produtores ( ) sempre ( ) de vez em quando ( ) dificilmente ( ) nunca

34 Quando eacute realizado alguma atividade festiva na sua comunidade rural o Sr Comparece

( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca 35 Quando eacute realizado alguma atividade de lazer ou festiva na cooperativa o Sr

comparece ( )Sempre ( )De vez em quando ( )Nunca

36 O Sr Tem alguma forma de participaccedilatildeo e controle na fixaccedilatildeo do preccedilo do leite entregue na cooperativa

( ) sim ( ) natildeo Como 37 O Sr Participa de alguma atividade na gestatildeo da Cooperativa

( ) Sim Qual ( )Natildeo Porque Gostaria de participar em qual funccedilatildeo

38 O Sr Considera que os representantes (conselheiros) atuam como proposto para sua funccedilatildeo

Conselho Administrativo ( ) sim ( ) natildeo Conselho Fiscal ( ) sim ( )natildeo PorquecircO que pode ser melhorado

39 O Sr eacute associado ao Sindicato de Produtores Rurais ( ) sim ( ) natildeo Porquecirc

40 O Sr costuma participar de reuniotildees do seu sindicato ( ) sim ( )natildeo

41 Sr eacute associado a outras cooperativas ( ) sim ( ) natildeo Qual (is)

42 O Sr Participa de alguma outra organizaccedilatildeo coletiva na sua cidade (partido poliacutetico grupo de reuniotildees comissotildees etc)

( ) sim ( )natildeo Se sim qual 43 Decirc sua opiniatildeo sobre como melhorar participaccedilatildeo de associados em cooperativas

44 Como o Sr se vecirc em relaccedilatildeo agrave sua propriedade (pode marcar mais de uma

alternativa) ( ) muito entusiasmado ( ) pouco entusiasmado ( ) cauteloso demais nas accedilotildees ( ) natildeo gosto de arriscar ( ) faccedilo poucas modificaccedilotildees durante o ano ( ) estou sempre modificando ( ) natildeo tem muito o que modificar

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APENDICE C

ROTEIRO DE ENTREVISTA COM DIRIGENTES

IDENTIFICACcedilAtildeO bull Nome bull Idade ( ) bull Grau de Escolaridade bull Nordm de pessoas da famiacutelia ( ) bull Quantos moram na sua residecircncia bull Qual comunidade rural a sua propriedade pertence bull Qual aacuterea da propriedade ( ) Alqueires bull Qual a origem da propriedade ( ) Aquisiccedilatildeo proacutepria ( ) Heranccedila ( ) Meeiro ( ) Arrendamento ( )Outra citar bull Qual eacute a sua regiatildeo de origem bull Haacute quanto tempo mora em CChagas bull Qual o volume diaacuterio meacutedio de leite que a sua propriedade produz

PERFIL PROFISSIONAL bull Como foi sua tragetoacuteria profissional ateacute a direccedilatildeo da cooperativa bull Quais atividades de gestatildeo desenvolveu antes de atuar na diretoria da

cooperativa bull Quais experiecircncias vocecirc teve com gestatildeo de grupos antes de atuar na

cooperativa

PARTICIPACAO DE ASSOCIADOS bull Sob seu ponto de vista quais satildeo as principais dificuldades para conseguir

que um maior nuacutemero de associados participem das atividades e decisotildees da cooperativa

bull Na sua opiniatildeo qual eacute o problema mais criacutetico da cooperativa em relaccedilatildeo agrave

participaccedilatildeo de associados bull Quais os pontos fracos da cooperativa que dificultam a participaccedilatildeo de

associados bull Quais os pontos fortes da cooperativa que propicia melhor participaccedilatildeo de

associados bull Em cooperativas haacute heterogeneidade no quadro de associados relacionada

agraves diferenccedilas sociais (pequenos meacutedios e grandes produtores) O sr Considera que haja essa heterogeneidade e deste modo diferentes grupos de interesses Como trabalha com esses diferentes grupos de associados

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na Cooperativa bull Quais estrateacutegias usadas pela cooperativa para lidar com as diferentes

necessidades ou solicitaccedilotildees de associados bull Na sua opiniatildeo o que eacute preciso fazer para facilitar a participaccedilatildeo dos

associados nas decisotildees tomadas pela diretoria bull Na sua opiniatildeo o associado vai agraves reuniotildees cumprindo seu papel de

associado ou quando estaacute em pauta algo que seja do seu interesse individual

bull Quais as accedilotildees que vocecirc considera necessaacuterias que possa melhorar o

interesse de participaccedilatildeo dos associados bull No seu entendimento os associados participam da cooperativa mais como

ldquodonordquo (participaccedilatildeo ativa) ou usuaacuterio (participaccedilatildeo passiva) bull Haacute trabalho visando a participaccedilatildeo e integraccedilatildeo das mulheres e dos jovens

na cooperativa bull Como o Sr prioriza tomadas de decisotildees bull Quais accedilotildees tem sido feitas pela cooperativa para profissionalizaccedilatildeo dos

associados e familiares bull Qual eacute a forma de participaccedilatildeo de associados no planejamento das accedilotildees

presentes e futuras da cooperativa bull Como o Sr acompanha as atividades dos departamentos da cooperativa

prestadas aos associados bull Qual melhor meio de comunicaccedilatildeo com os associados considerado pelo Sr bull Em sua opiniatildeo quais contribuiccedilotildees atuais e futuras que a Diretoria pode

deixar para os futuros sucessores com o objetivo de melhorar a participaccedilatildeo para associados na cooperativa

bull Na sua opiniatildeo quais estrateacutegias de accedilatildeo devem ser empreendidas para

que possa ter uma cooperativa melhor nos proacuteximos 10 (dez) anos no sentido de maior participaccedilatildeo e responsabilidade social

bull O autor que norteia minha pesquisa (Mancur Olson) diz a ldquoatraccedilatildeo que

exerce a afiliaccedilatildeo a um grupo natildeo eacute tanto pela sensaccedilatildeo de pertencer mas mais pela possibilidade de conseguir algo atraveacutes desse pertencerrdquo O que o Sr diria pela experiecircncia com o cooperativismo sobre essa afirmaccedilatildeo com relaccedilatildeo agrave forma de participaccedilatildeo de associados

bull No geral o Sr considera que os princiacutepios do cooperativismo conseguem ser aplicados por essa cooperativa ou sugeriria alguma modificaccedilatildeo para

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adaptaccedilatildeo agrave realidade operacional da cooperativa Que tipo de modificaccedilatildeo

bull O segundo princiacutepio do cooperativismo diz que os associados ldquoparticipam ativamente na formulaccedilatildeo das poliacuteticas e tomadas de decisotildeesrdquo Na sua experiecircncia isso eacute aplicaacutevel dificilmente parcialmente ou totalmente Porque Como eacute feito

APENDICE D

COLETA DE DADOS SECUNDAacuteRIOS

45 Percentual de participaccedilatildeo de associados nas uacuteltimas 5 assembleacuteias gerais 46 Qual o percentual de participaccedilatildeo nas 5 uacuteltimas assembleacuteias extraordinaacuterias 47 As assembleacuteias extraordinaacuterias costumam ser por quem (Diretoria

Conselho administrativo Fiscal ou Comitecirc educativo) 48 Nos uacuteltimos 5 anos houve alguma assembleacuteia solicitada pelos associados

49 A cooperativa utiliza de algum indicador para fazer acompanhamento do iacutedice

de participaccedilatildeo de associados em suas atividades Se sim que tipo de indicador

50 Taxa de utilizaccedilatildeo de serviccedilos da cooperativa pelos associados (como medir

isso Por compras ex tanques coletivos)

51 Quando foi a uacuteltima aquisiccedilatildeo coletiva financiada ou intermediada pela cooperativa para benefiacutecio dos associados

52 Que tipo de aquisiccedilatildeo

53 Quais tipos de atividades de campo satildeo promovidas pela cooperativa (citar)

54 O associado participa de que tipo de accedilotildees da cooperativa em relaccedilatildeo agraves

suas atividades operacionais histoacuterico e descriccedilatildeo da Cooperativa

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