Apostila Economia e Mercado 2010

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UNIVERSIDADE PAULISTA CURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA ANCHIETA  CHÁCARA  MARQUÊS  PINHEIROS  ECONOMIA  E  MERCADO Prof. Rodrigo Marchesin (Organizador) www.rodrigomarchesin.spaces.live.com São Paulo 2010

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UNIVERSIDADE PAULISTACURSOS SUPERIORES DE TECNOLOGIA

ANCHIETA  CHÁCARA  MARQUÊS  PINHEIROS  

ECONOMIA  E  MERCADO

Prof. Rodrigo Marchesin

(Organizador)

www.rodrigomarchesin.spaces.live.com 

São Paulo2010

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 Agenda do Estudante

Esta agenda tem como objetivo auxiliar o aluno na construção dos alicerces para a

aprovação acadêmica na disciplina Economia e Mercado, através da organização e do

planejamento dos estudos durante o primeiro semestre letivo de 2010. Na agenda, estão

apresentadas as distintas fases das atividades previstas no Plano de Aulas, e os prazos de

entrega das Atividades Complementares – AC (ver Calendário de Aulas e Anexo 1).

FASES DAS ATIVIDADES INÍCIO FIM

1 Apresentação da Disciplina; Direcionamento Metodológico* 02.02.10 05.03.10

2 Consolidação dos Conceitos Básicos da Disciplina; Entrega AC 08.03.10 09.04.10

3  Avaliação NP1; Resultados; Entrega AC 12.04.10 23.04.10

4 Consolidação dos Conceitos Avançados da Disciplina; Entrega AC 26.04.10 04.06.10

5 Avaliação NP2, Apresentação do PIM; Substitutivas 07.06.10 25.06.10

6  Resultados Finais; Encerramento do Semestre 28.06.10 01.07.10

* As turmas calouras tem o início das aulas previsto para 18/02/2010.

CALENDÁRIO 2010 –

 1º SEMESTRE**

FEVEREIRO MARÇO ABRIL

D S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S

1 2 3 4 5 6 1 2 3 4 5 6 1 2 3

7 8 9 10 11 12 13 7 8 9 10 11 12 13 4 5 6 7 8 9 10

14 15 16 17 18 19 20 14 15 16 17 18 19 20 11 12 13 14 15 16 17

21 22 23 24 25 26 27 21 22 23 24 25 26 27 18 19 20 21 22 23 24

28 28 29 30 31 25 26 27 28 29 30

02 Início das Aulas Veteranos16 Carnaval18 Início das Aulas Calouros

22 a 26 Atividades Complementares (AC1) 02 Paixão de Cristo21 Tiradentes14, 19 a 23 Atividades Complementares (AC2)

MAIO JUNHO JULHO

D S T Q Q S S D S T Q Q S S D S T Q Q S S1 1 2 3 4 5 1 2 3

2 3 4 5 6 7 8 6 7 8 9 10 11 12 4 5 6 7 8 9 10

9 10 11 12 13 14 15 13 14 15 16 17 18 19 11 12 13 14 15 16 17

16 17 18 19 20 21 22 20 21 22 23 24 25 26 18 19 20 21 22 23 24

23 24 25 26 27 28 29 27 28 29 30 25 26 27 28 29 30 3130 3101 Dia do Trabalho

03 a 07 Atividades Complementares (AC3)17 a 21 Atividades Complementares (AC4)

03 Corpus Christi   02 a 31 Férias

** A relação, com indicações de Atividades Complementares, encontra-se no Anexo 1 desta Apostila.

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PLANO DE AULAS – 1º SEMESTRE/2010

Economia e Mercado (ECM)

TEMA CONTEÚDO*** LEITURA PRÉVIA ATIVIDADE

01 Conceito de Economia (2)Apostila – Cap. 2

(pág. 13 a 19)Estudo de Caso

02 História do Pensamento Econômico (1)Apostila – Cap. 3

(pág. 20 a 31)---

03 Introdução à Microeconomia (2)Apostila – Cap. 4

(pág. 32 a 40)Estudo de Caso

04 Estruturas de Mercado (2)Apostila – Cap. 5

(pág. 41 a 45)Estudo de Caso

05 O Setor Público (1)Apostila – Cap. 6

(pág. 46 a 48)Estudo de Caso

06 Sistema Monetário Nacional (2)Apostila – Cap. 7

(pág. 49 a 69)Estudo de Caso

07 Relações Econômicas Internacionais (2)Apostila – Cap. 8

(pág. 70 a 77)Estudo de Caso

08 Crescimento Econômico (2)Apostila – Cap. 9

(pág. 78 a 87)Estudo de Caso

*** Os números entre parênteses indicam o número de aulas referentes àquele tema, porém a distribuição das

aulas pode sofrer alterações para atendimento do Calendário Acadêmico.

ORIENTAÇÕES:

  O Plano de Aulas tem por objetivo apresentar, detalhadamente, todas as

temáticas a serem trabalhadas ao longo da disciplina, de acordo com a

ementa prevista pela universidade. Desse modo, para cada etapa do

conteúdo programático e adequado desenvolvimento discente, é

importante que o estudante tome ciência da matéria a ser ministrada,

preparando-se antecipadamente, através da leitura preliminar do

capítulo programado para aquela data.

  Para acompanhar os TEMAS e suas respectivas datas, o aluno deve utilizar

o Cronograma de Aulas, apresentado na página seguinte, atentando-se

para a identificação (legenda) de sua turma e dia da semana, no qual os

encontros (aulas) serão realizados.

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CRONOGRAMA DE AULAS – 1º SEMESTRE/2010**** 

DIA FEVEREIRO DIA MARÇO DIA ABRIL DIA MAIO DIA JUNHO

01 01TEMA 2 TURMA AAPRES TURMA B

01 RECESSO sáb TRABALHO 01 TEMA 8 TURMA C

02 APRES TURMA C 02 TEMA 1 TURMA C 02 PAIXÃO dom 02 TEMA 8 TURMA DTEMA 8 TURMA E

03 03TEMA 1 TURMA DTEMA 1 TURMA E

sáb 03TEMA 6 TURMA ATEMA 5 TURMA B

03 CORPUS CHRISTI

04 APRES TURMA G 04TEMA 1 TURMA FTEMA 3 TURMA G

dom 04 TEMA 4 TURMA C 04 RECESSO

05 05 TEMA 1 TURMA H 05TEMA 5 TURMA ATEMA 3 TURMA B

05TEMA 6 TURMA DTEMA 6 TURMA E

sáb

sáb sáb 06 TEMA 2 TURMA C 06TEMA 6 TURMA FTEMA 7 TURMA G

dom

dom dom 07TEMA 4 TURMA DTEMA 4 TURMA E

07 TEMA 6 TURMA H 07PROVA 2 TURMA APROVA 2 TURMA B

08 APRES TURMA A 08TEMA 3 TURMA ATEMA 1 TURMA B

08TEMA 4 TURMA FTEMA 5 TURMA G

sáb 08 PROVA 2 TURMA C

09 TEMA 1 TURMA C 09 TEMA 1 TURMA C 09 TEMA 4 TURMA H dom 09PROVA 2 TURMA DPROVA 2 TURMA E

10 10 TEMA 1 TURMA DTEMA 1 TURMA E

sáb 10 TEMA 7 TURMA ATEMA 6 TURMA B

10 PROVA 2 TURMA FPROVA 2 TURMA G

11 TEMA 1 TURMA G 11TEMA 1 TURMA FTEMA 3 TURMA G

dom 11 TEMA 5 TURMA C 11 PROVA 2 TURMA H

12 12 TEMA 2 TURMA H 12PROVA 1 TURMA APROVA 1 TURMA B

12TEMA 6 TURMA DTEMA 6 TURMA E

sáb

sáb sáb 13 PROVA 1 TURMA C 13TEMA 7 TURMA FTEMA 7 TURMA G

dom

dom dom 14PROVA 1 TURMA DPROVA 1 TURMA E

14 TEMA 7 TURMA H 14

PIM15 RECESSO 15

TEMA 4 TURMA ATEMA 2 TURMA B

15PROVA 1 TURMA FPROVA 1 TURMA G

sáb 15

16 CARNAVAL 16 TEMA 1 TURMA C 16 PROVA 1 TURMA H dom 16

17 CINZAS 17TEMA 2 TURMA DTEMA 2 TURMA E

sáb 17TEMA 8 TURMA ATEMA 6 TURMA B

17

18 TEMA 1 TURMA G 18 TEMA 2 TURMA FTEMA 4 TURMA G

dom 18 TEMA 6 TURMA C 18

19 APRES TURMA H 19 TEMA 3 TURMA H 19TEMA 5 TURMA ATEMA 4 TURMA B

19TEMA 7 TURMA DTEMA 7 TURMA E

sáb

sáb sáb 20 TEMA 3 TURMA C 20TEMA 7 TURMA FTEMA 8 TURMA G

dom

dom dom 21 TIRADENTES 21 TEMA 7 TURMA H 21SUB TURMA ASUB TURMA B

22 TEMA 1 TURMA A 22TEMA 4 TURMA ATEMA 2 TURMA B

22TEMA 5 TURMA FTEMA 6 TURMA G

sáb 22 SUB TURMA C

23 TEMA 1 TURMA C 23 TEMA 1 TURMA C 23 TEMA 5 TURMA H dom 23SUB TURMA DSUB TURMA E

24APRES TURMA DAPRES TURMA E

24TEMA 3 TURMA DTEMA 3 TURMA E

sáb 24TEMA 9 TURMA ATEMA 7 TURMA B

24SUB TURMA FSUB TURMA G

25APRES TURMA F

TEMA 2 TURMA G25

TEMA 3 TURMA FTEMA 4 TURMA G

dom 25 TEMA 7 TURMA C 25 SUB TURMA H

26 TEMA 1 TURMA H 26 TEMA 3 TURMA H 26TEMA 6 TURMA ATEMA 5 TURMA B

26TEMA 8 TURMA DTEMA 8 TURMA E

sáb

sáb sáb 27 TEMA 4 TURMA C 27TEMA 8 TURMA FTEMA 8 TURMA G

dom

dom dom 28TEMA 5 TURMA DTEMA 5 TURMA E

28 TEMA 8 TURMA H 28

RESULTADOSFINAIS

29TEMA 4 TURMA ATEMA 3 TURMA B

29TEMA 6 TURMA FTEMA 6 TURMA G

sáb 29

30 TEMA 2 TURMA C 30 TEMA 6 TURMA H dom 30

31TEMA 3 TURMA DTEMA 3 TURMA E

31TEMA 10 TURMA ATEMA 8 TURMA B

01 ENCERRAMENTO

**** Os campos preenchidos na cor verde correspondem às semanas de entrega das Atividades Complementares.

Legenda / Turmas:

MAT A = Paraíso / ACG D = Marquês / ECM F = Marquês / ECM

NOT B = Chácara / RMP C = Marquês / FF E = Anchieta / ECM G = Pinheiros / ECM H = Chácara / ECM

SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA

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Apresentação1 

 Até o ano de 1615, o conjunto de conhecimentos dessa ciência era denominado

simplesmente Economia, nome ainda preferido, conforme veremos mais adiante. Nesse

mesmo ano, pela primeira vez, usou-se um nome mais extenso: Economia Política. Foi o autor

 francês Antoine de Montchrétien (1575-1621) quem acrescentou a palavra política à expressão

economia, em seu célebre livro Traité de l’économie politique , o qual afirmou: “A ciência da

aquisição da riqueza é comum ao Estado e à família”. 

Em seu entender, não era conveniente, em nenhum caso, a separação do adjetivo

 política do substantivo economia, na designação dessa disciplina.

Como a denominação economia política tem sido criticada, propuseram-lhe outros

nomes em substituição, uns mais antigos, como, por exemplo, crematística (do grego Khrema 

–  ‘ r iqueza’ –  ciência da riqueza), plutologia (do grego PLOUTOS = riqueza, ciência da riqueza),

catalactica (do grego Katallactein – ciência das trocas) e outros mais recentes, como economia

nacional, economia social, econômica (com a desinência empregada na denominação de

outras disciplinas –  Física, Botânica, Química) e economia (excluindo o adjetivo política, que

implica estudo dos fatos pertencentes à ciência do governo de um país) etc.

 Ao examinarmos a expressão tradicional economia política, vamos verificar,

 primeiramente, que temos nela um substantivo e um adjetivo qualificativo. A expressão

economia tem origem na palavra grega oikos , que significa casa, fortuna, riqueza, e na palavra

nomos (também grega), que quer dizer lei, regra ou administração.

Não é por outra razão que um dos maiores gênios da Idade Média e o maior filósofo

da Igreja dizia que “ecônomos” eram aqueles que administravam os bens, as rendas e  as

despesas da casa ou do lar. Ainda hoje, encontramos as pessoas encarregadas da

1 Texto retirado de uma apostila de Economia do Centro Universitário Monte Serrat, s.d.

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administração de certos estabelecimentos da Igreja, isto é, os ecônomos das casas, dos

colégios e conventos religiosos.

O adjetivo política vem do latim, representado pela palavra politicus (remotamente

do grego polis ), que significa cidade, país ou nação (Estado). A palavra grega polis também

tem o significado de cidade, pois é muito usada, ainda hoje, na terminação do nome de

algumas cidades brasileiras, como, por exemplo: Florianópolis, Teresópolis, Martinópolis etc.

Portanto, política significa cidade, país ou “ação” (Estado). Ou, por outras pal avras, a arte de

governar a cidade, o país ou nação (Estado).

Caso adotássemos a opinião de acordo com a origem das palavras, teríamos um

objeto falso da Economia Política, porque então ela seria as leis, as regras ou a administração

de uma casa, e, por extensão, as leis ou as regras de uma cidade, sociedade ou país. Sabemos

que isto não é verdade, pois compete a outras ciências o estudo das leis ou regras de uma

cidade ou país, não à Economia.

Não devemos abandonar o nome economia, como propõem muitos autores, porque,se examinarmos as outras denominações, nelas vamos encontrar os mesmos defeitos.

Podemos manter a expressão mais extensa economia política, ou então usar a última

denominação proposta –  economia –  o que será preferível, porque, além de tradicional, é de

uso geral e adotada pela maioria dos economistas, apesar de sua origem etimológica significar

a administração da casa.

 Assim como outras ciências são denominadas por uma única palavra (este é o

argumento de alguns autores), usa-se apenas o termo economia, que tem a vantagem de ser

uma expressão breve. Uma vez conhecidas as razões do nome desse ramo do conhecimento

humano, passaremos ao estudo de sua definição e de seu objeto.

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Sumário

1 PROGRAMA DA DISCIPLINA 9 

1.1  UNIDADE CURRICULAR  9

1.2  PERÍODO LETIVO  9

1.3  EMENTA  9

1.4  CARGA HORÁRIA TOTAL  9

1.5  OBJETIVOS  9

1.6  CONTEÚDO PROGRAMÁTICO  10

1.7  METODOLOGIA  10

1.8  CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO  11

1.9  BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA  12

2 O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA ECONÔMICO 13 

2.1  CONCEITO  13

2.2  SISTEMAS ECONÔMICOS  13

2.3  OS PROBLEMAS ECONÔMICOS FUNDAMENTAIS  14

2.4  CUSTO DE OPORTUNIDADE  16

2.5  FUNCIONAMENTO DE UMA ECONOMIA DE MERCADO  16

2.6  BENS E FATORES DE PRODUÇÃO  18

3 HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO 20 

3.1  INTRODUÇÃO  20

3.2  PRECURSORES  21

3.3  PENSAMENTO MARXISTA  27

3.4  A TEORIA NEOCLÁSSICA (FINS DO SÉC. XIX AO INÍCIO DO SÉC. XX) 28

3.5  O KEYNESIANISMO (DÉCADA DE 1930) 29

4 DINÂMICA DOS MERCADOS 32 

4.1  MICROECONOMIA  32

4.2  DEMANDA, OFERTA E EQUILÍBRIO DE MERCADO  34

4.3  INTERFERÊNCIA DO GOVERNO NO EQUILÍBRIO DE MERCADO  39

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5 ESTRUTURAS DE MERCADO 41 

5.1  INTRODUÇÃO  41

5.2 E

STRUTURAS DOM

ERCADO DEB

ENS ES

ERVIÇOS  41

5.3  ESTRUTURAS DO MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO  44

6 O SETOR PÚBLICO 46 

6.1  FORMAS DE AÇÃO ECONÔMICA  46

6.2  RAZÕES DA EXPANSÃO DAS ATIVIDADES PÚBLICAS  47

6.3  FINANCIAMENTO DAS ATIVIDADES PÚBLICAS  48

7 O SISTEMA MONETÁRIO NACIONAL 49 

7.1  HISTÓRIA DA MOEDA  49

7.2  FUNÇÕES DA MOEDA  53

7.3  A OFERTA DE MOEDA  53

7.4  O BANCO CENTRAL  58

7.5  A DEMANDA DE MOEDA  63

7.6  RELAÇÃO ENTRE MOEDA E INFLAÇÃO  68

8 AS RELAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS 70 

8.1  TEORIA DAS VANTAGENS COMPARATIVAS  70

8.2  DETERMINAÇÃO DA TAXA DE CÂMBIO  71

8.3  A INFLAÇÃO INTERNA E SEUS EFEITOS SOBRE A TAXA DE CÂMBIO  73

8.4  A ATUAÇÃO GOVERNAMENTAL NO MERCADO DE DIVISAS  73

8.5  A ESTRUTURA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS  73

8.6  ORGANISMOS INTERNACIONAIS  75

8.7  O BALANÇO DE PAGAMENTOS NO BRASIL  76

9 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOS 78 

9.1  NOÇÕES DE CRESCIMENTO ECONÔMICO  78

9.2  CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO  78

9.3  FATORES DE CRESCIMENTO  79

9.4  CRESCIMENTO ECONÔMICO NO BRASIL  80

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REFERÊNCIAS 88 

BIBLIOGRÁFICAS  88

ELETRÔNICAS

  88

ANEXOS 89 

ANEXO 1: ATIVIDADES COMPLEMENTARES  90

ANEXO 2: CONTEÚDO PROGRAMÁTICO DETALHADO  92

ANEXO 3: A IMPORTÂNCIA DA IGNORÂNCIA NA PESQUISA CIENTÍFICA  95

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9

1 Programa da Disciplina

1.1 Unidade Curricular

Economia e Mercado.

1.2 Período Letivo

1º Semestre.

1.3 Ementa

O problema econômico. A dinâmica dos mercados e seus impactos nas

organizações. A importância da moeda. Estudo das variáveis macroeconômicas, suas

interdependências e impactos nas organizações. Mudanças de salários, lucros, impostos,

 juros, câmbio e oferta de moeda e seus impactos no nível de preços e produção.

Crescimento e desenvolvimento econômico. Nova economia mundial.

1.4 Carga Horária Total

60 horas.

1.5 Objetivos

Identificar e compreender as formas de organização que prevaleceram no País até a

data atual. Analisar os fatores responsáveis pela diversidade dos aspectos físicos e humanos

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10

do território brasileiro. Identificar e compreender a dinâmica das relações inter e intra-

regionais do território brasileiro. Compreender a teoria, os objetivos e os métodos da

abordagem microeconômica e o modelo de desenvolvimento econômico. Compreender as

interdependências e impactos das variáveis macroeconômicas nas organizações.

1.6 Conteúdo Programático2 

1.6.1 Funcionamento do Sistema Econômico

  O Problema Econômico

  Fatores de Decisão Econômica

  Evolução do Pensamento Econômico

1.6.2 Impacto Econômico nas Organizações

  Introdução à Microeconomia

  Equilíbrio de Mercado

  Estruturas de Mercado

1.6.3 Políticas Macroeconômicas

  O Setor Público

  Sistema Monetário Nacional

  Relações Econômicas Internacionais

  Planos Econômicos

1.7 Metodologia3 

Para o desenvolvimento do conteúdo proposto, serão utilizadas as seguintes

técnicas:

2 O detalhamento do Conteúdo Programático encontra-se no Anexo 2 desta apostila.3 Ver Agenda do Estudante: Cronograma de Aulas.

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11

  Aulas expositivas dialogadas;

  Estudos dirigidos;

  Resenhas;

  Estudos de casos;

  Exibição de vídeos-documentários.

As atividades contidas no Cronograma de Aulas poderão ser alteradas conforme

necessidade ou mudança do Calendário Acadêmico do Curso.

1.8 Critérios de Avaliação4 

O processo de avaliação será contínuo, através de provas escritas, estudos dirigidos

(individuais e/ou em grupo) e participação ativa nas atividades desenvolvidas durante o

andamento da disciplina.

Todas as atividades previstas serão medidas, através de uma escala de 0 (zero)

ponto até 10,0 (dez) pontos, e terão pesos proporcionais ao seu grau de importância e

dificuldade, de acordo com o quadro a seguir:

Etapas de Avaliação Peso

Atividades Programadas 20%

Avaliação Bimestral 80%

As Atividades Programadas referem-se aos estudos de caso, interpretação e análise

de textos ou planilhas de cálculos. A Avaliação Bimestral é o instrumento final de

4 A Média Semestral (MS) é composta do somatório das notas NP1 e NP2 (peso 4) e PIM (peso 2), divididos por10, de acordo com a fórmula abaixo e disposta no Manual de Informações Acadêmicas/UNIP 2010:

MS =

NP1 x 4 + PIM x 2 + NP2 x 4

10

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12

acompanhamento do(a) aluno(a) para classificação do nível de domínio da matéria

lecionada e será aplicada individualmente, sem consulta a qualquer fonte bibliográfica,

anotações ou outros meios classificados como material de apoio à aprendizagem.

O(A) aluno(a) será considerado(a) aprovado(a) se alcançar média semestral (MS)

igual ou superior a 5,0 (cinco) pontos no conjunto das habilidades que compõem a disciplina

cursada e obtiver freqüência mínima de 75% (setenta e cinco por cento).

O(A) aluno(a) que não comparecer à prova (NP1 ou NP2) na data marcada, deverá

abrir pedido junto a Secretaria Acadêmica, solicitando oportunidade para realizar Prova

Substitutiva, conforme orientação da Coordenação Geral e previsto no Manual do Aluno.

1.9 Bibliografia Recomendada

FERREIRA, Vera. Decisões Econômicas. São Paulo: Saraiva, 2007.

GONÇALVES, Carlos e GUIMARÃES, Bernardo. Economia Sem Truques. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2008.

GONÇALVES, Carlos e RODRIGUES, Mauro. Sob a Lupa do Economista. Rio de

Janeiro: Elsevier, 2009.

JORGE, F. e MOREIRA, J. Economia: Notas Introdutórias. São Paulo: Atlas, 1990.

MANKIW, N. G. Introdução à Economia: Princípios de Micro e Macroeconomia. Rio

de Janeiro: Campus, 2001.

PRAHALAD, C. K. A Riqueza na Base da Pirâmide –  Erradicando a Pobreza com Lucro. 

Porto Alegre: Bookman, 2010.

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13

2 O Funcionamento do Sistema Econômico

2.1 Conceito

É uma ciência social que estuda como o indivíduo e a sociedade decidem empregar

recursos produtivos escassos na produção de bens e serviços, de modo a distribuí-los entre

as pessoas e grupos da sociedade, a fim de satisfazer as necessidades humanas.

Em qualquer sociedade, os recursos ou fatores de produção são escassos; contudo

as necessidades humanas são ilimitadas, e sempre se renovam. Isso obriga a sociedade a

escolher entre alternativas de produção e de distribuição dos resultados da atividade

produtiva aos vários grupos da sociedade.

2.2 Sistemas Econômicos

Pode ser definido como sendo a forma política, social e econômica pela qual está

organizada uma sociedade.

Os elementos básicos de um sistema econômico são:

  Estoques de Recursos Produtivos ou Fatores de Produção: recursos humanos

(trabalho e capacidade empresarial), o capital, terra, reservas naturais e a

tecnologia.

  Complexo de unidades de produção: constituído pelas empresas.

  Conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais: que são à base

da organização da sociedade.

Os sistemas econômicos podem ser classificados em:

  Sistema capitalista, ou economia de mercado, é aquele regido pelas forças de

mercado, predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de

produção;

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  Sistema socialista ou economia centralizada, ou ainda economia planificada, é

aquele em que as questões econômicas fundamentais são resolvidas por um

órgão central de planejamento, predominando a propriedade pública dos

fatores de produção.

2.3 Os Problemas Econômicos Fundamentais

Da escassez dos recursos ou dos fatores de produção, associa-se às necessidades

ilimitadas do homem, originando problemas econômicos fundamentais:  O quê e quanto produzir: dada a escassez de recursos de produção, a sociedade

terá de escolher, quais produtos serão produzidos e em que quantidades.

  Como produzir: a sociedade terá de escolher ainda quais recursos de produção

serão utilizados para a produção de bens e serviços, dado o nível tecnológico

existente.

  Para quem produzir: a sociedade terá também que decidir como seus membros

participarão da distribuição dos resultados de sua produção (demanda, oferta,

determinação de salários, das rendas das terras, dos juros etc.).

Em economias de mercado, esses problemas são resolvidos pelos mecanismos de

preços atuando por meio da oferta e da demanda. Nas economias centralizadas, essas

questões são decididas por um órgão central de planejamento, a partir de um levantamento

dos recursos de produção disponíveis e das necessidades do país, e não pela oferta e

demanda no mercado.

2.3.1 Curva de Possibilidades de Produção

É um conceito teórico com o qual se ilustra, como a questão da escassez impõe um

limite à capacidade produtiva de uma sociedade, que terá que fazer escolhas entre

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alternativas de produção. Devido à escassez de recursos, a produção total de um país tem

um limite máximo, onde todos os recursos disponíveis estão empregados.

Suponhamos uma economia que só produza máquinas (Bens de Capital) e

alimentos (Bens de Consumo) e que as alternativas de produção de ambos sejam as

seguintes:

Alternativas de

Produção

Máquinas

(milhares)

Alimentos

(toneladas)

A 25 0

B 20 30

C 15 45

D 10 60

E 0 70

Quadro 1 – Curva de Possibilidades de Produção

Na primeira alternativa (A) todos os fatores de produção seriam alocados para a

produção de máquinas; na última (E) seriam alocados somente para a produção de

alimentos; e nas alternativas intermediárias (B, C e D) os fatores de produção seriam

distribuídos na produção de um ou de outro bem.

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2.4 Custo de Oportunidade

A transferência dos fatores de produção de um bem A para produzir um bem B

implica um custo de oportunidade que é igual ao sacrifício de se deixar de produzir parte do

bem A para se produzir mais do bem B. O custo de oportunidade por representar o custo da

produção alternativa sacrificada, reflete em um custo implícito.

2.5 Funcionamento de Uma Economia de Mercado

Para entender o funcionamento do sistema econômico, vamos supor uma

economia de mercado que não tenha interferência do governo e não tenha transações com

exterior (economia fechada). Os agentes econômicos são as famílias e as empresas. As

famílias são proprietárias de fatores de produção e os fornecem às empresas, através do

mercado dos fatores de produção. As empresas, através da combinação dos fatores de

produção, produzem bens e serviços e os fornecem às famílias por meio do mercado de

bens e serviços:

     MERCADO DE BENS E

SERVIÇOS 

   

 

 

DEMANDA  OFERTA 

 

FAMÍLIAS  EMPRESAS 

 

OFERTA  DEMANDA 

 MERCADO DE FATORES DE

PRODUÇÃO          

 

Quadro 2 – Fluxo Real

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No entanto, o fluxo real da economia só se torna possível com a presença da

moeda, que é utilizada para remunerar os fatores de produção e para o pagamento dos

bens e serviços. Desse modo, paralelamente ao fluxo real temos um fluxo monetário da

economia:

PAGAMENTO DOS BENS E

SERVIÇOS 

   

 

 

FAMÍLIAS  EMPRESAS 

 REMUNERAÇÃO DOS FATORES DE

PRODUÇÃO      

Quadro 3 – Fluxo Monetário

Unindo os fluxos real e monetário, temos o chamado Fluxo Circular de Renda:

MERCADO DE BENS E SERVIÇOS DEMANDA DE

BENS E

SERVIÇOS 

OFERTA DE

BENS E

SERVIÇOS  O QUE E QUANTO PRODUZIR 

   

FAMÍLIAS  COMO PRODUZIR    EMPRESAS    

OFERTA DE

SERVIÇOS DOS

FATORES DE

PRODUÇÃO 

PARA QUEM

PRODUZIR DEMANDA DE

SERVIÇOS DOS

FATORES DE

PRODUÇÃO  

MERCADO DE FATORES DE PRODUÇÃO 

Fluxo Monetário Fluxo Real (Bens e Serviços)

Quadro 4 – Fluxo Circular

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2.6 Bens e Fatores de Produção

2.6.1 Bens de Capital

São aqueles utilizados na fabricação de outros bens, mas que não se desgastam

totalmente no processo produtivo. Exemplo: Máquinas, Equipamentos e Instalações.

2.6.2 Bens de Consumo

Destinam-se diretamente ao atendimento das necessidades humanas. De acordo

com sua durabilidade, podem ser classificados como duráveis (geladeiras, fogões,

automóveis) ou como não –duráveis (alimentos, produtos de limpeza).

2.6.3 Bens Intermediários

São aqueles que são transformados ou agregados na produção de outros bens e

que são consumidos totalmente no processo de produtivo (insumos, matérias-primas e

componentes).

2.6.4 Fatores de Produção

Elementos indispensáveis ao processo produtivo de bens materiais. De modo geral,

os fatores de produção são limitados e, por isso, eles se combinam de forma diferente

conforme o local e a situação histórica. A forma como estão distribuídos os fatores de

produção tem particular importância na teoria dos preços dos fatores e na teoria dos custos

de produção, sendo portanto fundamental na produtividade e rentabilidade da empresa.

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São constituídos, basicamente, pelos recursos humanos (trabalho e capacidade

empresarial), terra, capital e tecnologia.

Cada fator de produção corresponde a uma remuneração, a saber:

Fator de Produção Tipo de Remuneração

Trabalho Salário

Capital Juro

Terra Aluguel

Tecnologia Royalty

Capacidade empresarial Lucro

Tabela 1 – Fatores de Produção

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3 História do Pensamento Econômico

3.1 Introdução

O pensamento econômico passou por diversas fases, que se diferenciam

amplamente, com muitas discrepâncias e oposições. No entanto, a evolução deste

pensamento pode ser dividida em dois grandes períodos: Fase Pré- Científica e Fase

Científica Econômica.

A fase pré-científica é composta por três subperíodos. A Antigüidade Grega, que se

caracteriza por um forte desenvolvimento nos estudos político- filosóficos. A Idade Média

ou Pensamento Escolástico, repleta de doutrinas teológico- filosóficas e tentativas de

moralização das atividades econômicas. E, o Mercantilismo, onde houve uma expansão dos

mercados consumidores e, conseqüentemente, do comércio. Como iremos tratar de um

pensamento econômico que nos influencia até hoje só trataremos da fase científica.

A fase científica pode ser dividida em Fisiocracia, Escola Clássica e Pensamento

Marxista. Esta primeira pregava a existência de uma "ordem natural", onde o Estado não

deveria intervir (laissez-faire, laissez-passer ) nas relações econômicas. Os doutrinadores

clássicos acreditavam que o Estado não deveria intervir para equilibrar o mercado (oferta e

demanda), através do ajuste de preços ("mão- invisível"). Já o marxismo criticava a "ordem

natural" e a "harmonia de interesses" (defendida pelos clássicos), afirmando que tanto um

como outro resultava na concentração de renda e na exploração do trabalho.

Apesar de fazer parte da fase científica, convém ressaltar que a Escola Neoclássica

e o Keynesianismo, diferenciam-se dos outros períodos por elaborar princípios teóricos

fundamentais e revolucionar o pensamento econômico, merecendo, portanto, destaque. É

na Escola Neoclássica que o pensamento liberal se consolida e surge a teoria subjetiva do

valor. Na Teoria Keynesiana, procura-se explicar as flutuações de mercado e o desemprego

(suas causas, sua cura e seu funcionamento).

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3.2 Precursores

3.2.1 Fisiocracia (Séc. XVIII)

Doutrina de ordem natural: O Universo é regido por leis naturais, absolutas e

imutáveis e universais, desejadas pela Providência divina para a felicidade dos homens.

A palavra fisiocracia significa governo da natureza. Isto é, de acordo com o

pensamento fisiocrata as atividades econômicas não deveriam ser reguladas de modo

excessivo e nem guiadas por forças "antinaturais". Deveria-se conceder uma maior

liberdade a essas atividades, afinal "uma ordem imposta pela natureza e regida pelas leis

naturais" governaria o mercado e tudo se acomodaria como tivesse que ser.

Na fisiocracia a base econômica é a produção agrícola, ou seja, um liberalismo

agrário, onde a sociedade estava dividida em três classes:

  a classe produtiva, formada pelos agricultores.

  a classe estéril, que engloba todos os que trabalham fora da agricultura

(indústria, comércio e profissões liberais);

  a classe dos proprietários de terra, que estava ao soberano e aos recebedores

de dízimos (clero).

A classe produtiva garante a produção de meios de subsistência e matérias primas.

Com o dinheiro obtido, ela paga o arrendamento da terra aos proprietários rurais, impostos

ao Estado e os dízimos; e compra produtos da classe estéril - os industriais. No final, esse

dinheiro volta à classe produtiva, pois as outras classes têm necessidade de comprar meios

de subsistência - matérias primas. Dessa maneira, ao final, o dinheiro retorna ao seu ponto

de partida, e o produto se dividiu entre todas as classes, de modo que assegurou o consumo

de todos.

Para os fisiocratas, a classe dos lavradores era a classe produtiva, porque o trabalhoagrícola era o único que produzia um excedente, isto é, produzia além das suas

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necessidades. Este excedente era comercializado, o que garantia uma renda para toda a

sociedade. A indústria não garantia uma renda para a sociedade, visto que o valor produzido

por ela era gasto pelos operários e industriais, não criando, portanto, um excedente e,

conseqüentemente, não criando uma renda para a sociedade.

O papel do Estado se limitava a ser o guardião da propriedade e garantidor de

liberdade econômica, não deveria intervir no mercado ("laissez-faire, laissez-passer" que

quer dizer deixe-se fazer, deixe-se passar.), pois existia uma "ordem natural" que regia as

atividades econômicas.

3.2.1.1 François Quesnay

O fundador da escola fisiocrata, e da primeira fase científica da economia, foi

François Quesnay (1694-1774), autor de livros que até hoje são inspiração para economistas

atuais, como por exemplo Tableau Économique. Não se pode falar em fisiocracia, sem citar

seu nome. Quesnay foi autor de alguns princípios, como o da filosofia social utilitarista, em

que deveria se obter a máxima satisfação com um mínimo de esforço; o do harmonismo,

não obstante a existência do antagonismo das classes sociais, acreditava-se na

compatibilidade ou complementaridade dos interesses pessoais numa sociedade

competitiva; e, por fim, a teoria do capital, onde os empresários só poderiam começar o seu

empreendimento com um certo capital já acumulado, com os devidos equipamentos.

Em seu livro Tableau Économique foi representado um esquema de fluxo de bens e

despesas entre as diferentes classes sociais. Além de evidenciar a interdependência entre as

atividades econômicas e mostrou como a agricultura fornece um "produto líquido" que é

repartido na sociedade.

Com o advento da fisiocracia surgiram duas grandes idéias de alta relevância para o

desenvolvimento do pensamento econômico. A primeira diz que há uma ordem natural que

rege todas as atividades econômicas, sendo inútil criar leis à organização econômica. A

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segunda se refere a maior importância da agricultura sobre o comércio e a indústria, ou

seja, a terra é a fonte de todas as riquezas que mais tarde farão parte destes dois campos

econômicos.

3.2.2 A Escola Clássica (Fins do Séc. XVIII e início do séc. XIX)

A base do pensamento da Escola Clássica é o liberalismo econômico, ora defendido

pelos fisiocratas. Seu principal membro é Adam Smith, que não acreditava na forma

mercantilista de desenvolvimento econômico e sim na concorrência que impulsiona omercado e conseqüentemente faz girar a economia.

A teoria clássica surgiu do estudo dos meios de manter a ordem econômica através

do liberalismo e da interpretação das inovações tecnológicas provenientes da Revolução

Industrial. Todo o contexto da Escola Clássica está sendo influenciado pela Revolução

Industrial. É caracterizada pela busca no equilíbrio do mercado (oferta e demanda) via

ajuste de preços, pela não- intervenção estatal na atividade econômica, prevalecendo a

atuação da "ordem natural" e pela satisfação das necessidades humanas através da divisão

do trabalho, que por sua vez aloca a força de trabalho em várias linhas de emprego.

De acordo com o pensamento de Adam Smith, a economia não deveria se limitar ao

estoque de metais preciosos e ao enriquecimento da nação, pois, segundo o mercantilismo,

desta nação fazia parte apenas a nobreza, e o restante da população estaria excluída dos

benefícios provenientes das atividades econômicas. Sua preocupação fundamental era a de

elevar o nível de vida de todo o povo.

Em sua obra Wealth of Nations  (Riqueza das Nações), Adam Smith estabelece

princípios para análise do valor, dos lucros, dos juros, da divisão do trabalho e das rendas da

terra. Além de desenvolver teorias sobre o crescimento econômico, ou seja, sobre a causa

da riqueza das nações, a intervenção estatal, a distribuição de renda, a formação e a

aplicação do capital.

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Alguns críticos de Smith afirmam que ele não foi original em suas obras, devido ao

seu método, que se caracteriza por percorrer caminhos já trilhados, buscando, assim,

segurança, utilizar elementos já existentes. No entanto, sabe-se que suas obras foram

grandiosas para o desenvolvimento do pensamento econômico, devido a sua clareza e ao

espírito equilibrado.

3.2.2.1 Adam Smith (1723-1790)

Filósofo, teórico e economista, nascido na Escócia em 1723, dedicou-se quase queexclusivamente ao magistério. É considerado o pai da Economia Política Clássica Liberal. Seu

pensamento filosófico e econômico encontra-se, basicamente, em a “Teoria dos

Sentimentos Morais” (1759) e em a “Riqueza das Nações” (1776), respectivamente. Os

críticos a essas duas importantes obras de Smith, afirmam haver um paradoxo entre ambas:

Na “Teoria”, Smith teria como sustentação de sua concepção ética o lado simpático da

natureza humana; enquanto na “Riqueza das Nações” realça a idéia do homem movido pelo

egoísmo, constituindo-se este, na força motriz do comportamento humano. Crítica essa

repudiada e apontada como um falso problema, não havendo descontinuidade de uma obra

para outra.

As idéias liberais de Adam Smith, em a Riqueza das Nações aparecem, entre outras,

na sua defesa a liberdade irrestrita do comércio, que deve, não só ser mantida como

incentivada, por suas inegáveis vantagens para a prosperidade nacional. Ao Estado caberá

manter uma relação de subordinação entre os homens e, por essa via, garantir o direito da

propriedade.

Para Adam Smith as classes se constituem em: classe dos proprietários; classe dos

trabalhadores, que vivem de salários e a classe dos patrões, que vivem do lucro sobre o

capital. A subordinação, na sociedade, se deve a quatro fatores: qualificações pessoais,

idade, fortuna e berço. Este último pressupõe fortuna antiga da família, dando a seus

detentores mais prestígio e a autoridade da riqueza aos mesmos.

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Smith afirmava que a livre concorrência levaria a sociedade à perfeição uma vez

que a busca do lucro máximo promove o bem-estar da comunidade. Smith defendia a não

intervenção do Estado na economia, ou seja o liberalismo econômico.

3.2.2.2 Thomas Malthus (1766 – 1834)

Tentou colocar a economia em sólidas bases empíricas. Para ele, o excesso

populacional era a causa de todos os males da sociedade (população cresce em progressão

geométrica e alimentos crescem em progressão aritmética). Malthus subestimou o ritmo e oimpacto do progresso tecnológico.

3.2.2.3 David Ricardo (1772 – 1823)

Mudou, de modo sutil, a análise clássica do problema do valor: “Então, a razão,

pela qual o produto bruto se eleva em valor comparativo é porque mais trabalho é

empregado na produção da última porção obtida, e não porque se paga renda ao

proprietário da terra. O valor dos cereais é regulado pela quantidade de trabalho

empregada em sua produção naquela qualidade de terra, ou com aquela porção de capital,

que não paga aluguel”. Ricardo mostrou as interligações entre expansão econômica e

distribuição de renda. Tratou dos problemas do comércio internacional e defendeu o livre-

cambismo.

3.2.2.4 John Stuart Mill (1806 – 1873)

Introduziu na economia preocupações de “justiça social”. Suas idéias refletem

diversas influências de outros pensadores contemporâneos, apresentando em sua evolução

uma série de contradições, a ponto de ser considerado um integrante do liberalismo clássicopor alguns autores e um pré-socialista por outros. Ele próprio chegou a se autodefinir um

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socialista. Nessa tentativa de conciliação de idéias socialistas com seus fundamentos

utilitaristas ele fez uso de uma relação entre a religião e a moral, na qual admitiu que o

aperfeiçoamento intelectual do homem serve de base ao desenvolvimento social. Daí a

principal crítica de Marx a esse tipo de ecletismo do qual Mill é o melhor intérprete. Para

Marx, isto é prova inconteste de ingenuidade ou uma tentativa de conciliação dos

inconciliáveis.

3.2.2.5 Jean Baptist Say (1768 – 1832)

Deu atenção especial ao empresário e ao lucro; subordinou o problema das trocas

diretamente à produção, tornando-se conhecida sua concepção de que a oferta cria a

procura equivalente”, ou seja, o aumento da produção transformar-se em renda dos

trabalhadores e empresários, que seria gasta na compra de outras mercadorias e serviços.

Lei de Say “É a lei dos mercados”. A oferta cria sua própria procura. 

Partindo do pressuposto de que o mecanismo da economia funcione de modo

perfeito e harmônico que tudo se governa de modo eficiente e sutil, o todo não é problema

e apenas as partes mereciam estudo e atenção.

Foi o economista francês Jean Baptist Say que deu formulação definitiva a esta

corrente de idéias em sua célebre “Lei dos Mercados”, a qual depois se transformou em

dogma indiscutível e aceito sem restrições.

De acordo com ela, a superprodução é impossível, pois as forças do mercado

operam de maneira tal que a produção cria sua própria demanda.

Nestas condições os rendimentos criados pelo processo produtivo serão

fortemente gastos na compra desta mesma produção. Tal opinião arraigou-se

profundamente no século atrasado.

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3.3 Pensamento Marxista

A principal reação política e ideológica ao classicismo foi feita pelos socialistas, mais

precisamente por Karl Marx (1818-1883) e Frederic Engels. Criticavam a "ordem natural" e a

"harmonia de interesses", pois há concentração de renda e exploração do trabalho.

O pensamento de Marx não se restringe unicamente ao campo da economia, mas

abrange, também, a filosofia, a sociologia e a história. Preconizava a derrubada da ordem

capitalista e a inserção do socialismo. Convém esclarecer que Marx não foi o fundador do

socialismo, pois este já vinha se formando durante os períodos ora citados, tendo por inícioa obra "A República", onde Platão demonstra sinais de ideologia socialista. No entanto, as

obras anteriores ao Karl Marx, estiveram destituídas de sentido prático e nada mais fizeram

do que contrapor-se às práticas comerciais realizadas à época.

Em contraposição aos clássicos, Marx afirmava que erraram ao afirmar que a

estabilidade e o crescimento econômico seria efeito da atuação da ordem natural. E explica,

dizendo que "as forças que criaram essa ordem procuram estabilizá-la, sufocando o

crescimento de novas forças que ameaçam solapá-la, até que essas novas forças finalmente

se afirmem e realizem suas aspirações".

Ao afirmar que "o valor da força de trabalho é determinado, como no caso de

qualquer outra mercadoria, pelo tempo de trabalho à produção, e conseqüentemente à

reprodução, desse artigo em especial", Marx modificou a análise do valor-trabalho (teoria

objetiva do valor). Desenvolveu, também, a teoria da mais- valia (exploração do trabalho),

que é a origem do lucro capitalista, de acordo com o pensamento marxista. Analisou as

crises econômicas, a distribuição de renda e a acumulação de capital.

No decorrer da evolução do pensamento econômico, Marx exerceu grande impacto

e provocou importantes transformações com a publicação de duas conhecidas obras:

Manifesto Comunista e O Capital. Segundo sua doutrina, a industrialização vinha

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acompanhada de efeitos danosos ao proletariado, tais como, baixo padrão de vida, longa

 jornada de trabalho, reduzidos salários e ausência de legislação trabalhista.

3.4 A Teoria Neoclássica (Fins do séc. XIX ao início do séc. XX)

A partir de 1870, o pensamento econômico passava por um período de incertezas

diante de teorias contrastantes (marxista, clássica e fisiocrata). Esse período conturbado só

teve fim com o advento da Teoria Neoclássica, em que se modificaram os métodos de

estudo econômicos. Através destes buscou-se a racionalização e otimização dos recursosescassos.

Conforme a Teoria Neoclássica, o homem saberia racionalizar e, portanto,

equilibraria seus ganhos e seus gastos. É nela que se dá a consolidação do pensamento

liberal. Doutrinava um sistema econômico competitivo tendendo automaticamente para o

equilíbrio, a um nível pleno de emprego dos fatores de produção.

A principal preocupação dos neoclássicos era o funcionamento de mercado e como

se chegar ao pleno emprego dos fatores de produção, baseada no pensamento liberal.

3.4.1 Alfred Marshall (1842-1924)

Alfred Marshall, um dos grandes fundadores da teoria Neoclássica no séc. XIX, no

processo de sua construção, procurou apoiar-se em dois paradigmas de ciência que não se

combinam confortavelmente: o mecânico e o evolucionário.

Conforme o primeiro, a economia real é entendida como um sistema de elementos

(basicamente, consumidores e firmas) que permanecem idênticos a si mesmos exteriores

uns aos outros, e que estabelecem relações de trocas orientados unicamente pelos preços.Estes últimos tem a função de equilibrar as ofertas e demandas que constituem os

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mercados. Na economia como um sistema mecânico é preciso notar, todo movimento é

reversível e nenhum envolve qualquer mudança qualitativa.

Conforme o segundo, a economia real é compreendida como um sistema m

permanente processo de auto- organização que apresenta propriedades emergentes. Os

elementos do sistema evolucionário podem se transformar no tempo. Influenciando-se uns

aos outros, relacionando-se entre si de várias formas, as quais também podem mudar. Ao

contrário do que ocorre no sistema mecânico, neste último o movimento acompanha a

flecha do tempo e aos acontecimentos são irrevogáveis.

Para Marshall é preciso tomar um caminho evolucionário e este caminho hoje está

aberto mesmo o plano do formalismo já que a era do computador permite o

desenvolvimento de modelos com base em dinâmicas complexas.

3.5 O Keynesianismo (Década de 1930)

Quando a doutrina clássica não se mostrava suficiente diante de novos fatos

econômicos, surgiu o economista inglês John Maynard Keynes que, com suas obras,

promoveu uma revolução na doutrina econômica, opondo-se, principalmente, ao marxismo

e ao classicismo. Substituindo os estudos clássicos por uma nova maneira da raciocinar na

economia, além de fazer uma análise econômica reestabelecedora do contato com a

realidade.

Seus objetivos eram de, principalmente, explicar as flutuações econômicas ou

flutuações de mercado e o desemprego generalizado, ou seja, o estudo do desemprego em

uma economia de mercado, sua causa e sua cura.

Opondo-se ao pensamento marxista, Keynes acreditava que o capitalismo poderia

ser mantido, desde que fossem feitas reformas significativas, já que o capitalismo houvera

se mostrado incompatível com a manutenção do pleno emprego e da estabilidade

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econômica. Recebendo, portanto, muitas críticas dos socialistas no que se refere ao

aumento da inflação, ao estabelecimento da uma lei única de consumo, ignorando as

diferenças de classes. E, por outro lado, algumas de suas idéias foram agregadas ao

pensamento socialista, como por exemplo, a política do pleno emprego e a do

direcionamento dos investimentos.

Keynes defendia a intervenção moderada do Estado. Afirmava que não havia razão

para o socialismo do Estado, pois não seria a posse dos meios de produção que resolveria os

problemas sociais, ao Estado compete incentivar o aumento dos meios de produção e a boa

remuneração de seus detentores.

Roy Harrod acreditava que Keynes tinha três talentos que poucos economistas

possuem. Primeiramente a lógica, para assim poder ter se transformado num grande

especialista na teoria pura da Economia. Dominar a técnica de escrever lúcida e

convincentemente. E, por fim, possuir um senso realista de como as coisas se realizarão na

prática.

Suas obras estimularam o desenvolvimento de estudos não só no campo

econômico, mas também nas áreas da contabilidade e da estatística. Na evolução do

pensamento econômico, até agora, não houve nenhuma obra que provocasse tanto impacto

quanto a Teoria Geral do Emprego, do juro e da moeda de Keynes.

O pensamento Keynesiano deixou algumas tendências que prevalecem até hoje no

nosso atual sistema econômico. Dentre as principais, os grandes modelos

macroeconômicos, o intervencionismo estatal moderado, a revolução matematizante da

ciência econômica...

Os Keynesianos admitiram que seria difícil conciliar o pleno emprego e o controle

da inflação, considerando, sobretudo, as negociações dos sindicatos com os empresários por

aumentos salariais. Por esta razão, foram tomadas medidas que evitassem o crescimento

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de salários e preços. Mas a partir da década de 60os índices de inflação foram acelerados de

forma alarmante.

A partir do final da década de 70, os economistas tem adotado argumentos

monetaristas em detrimento daqueles propostos pela doutrina Keynesiana; mas as

recessões em escala mundial, das décadas de 80 e 90 refletem os postulados da política

econômica de Jonh Maynard Keynes.

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4 Dinâmica dos Mercados

4.1 Microeconomia

A Microeconomia, ou Teoria Geral dos Preços, analisa a formação de preços no

mercado, ou seja, como a empresa e o consumidor interagem e decidem qual o preço e a

quantidade de um determinado bem ou serviço em mercados específicos. A microeconomia

estuda o funcionamento da oferta e da procura na formação do preço no mercado, isto é, o

preço sendo obtido pela interação do conjunto dos consumidores com o conjunto de

empresas que fabricam um dado bem ou serviço.

4.1.1 Pressupostos Básicos da Análise Microeconômica

A hipótese coeteris paribus (tudo o mais permanece constante): o foco de estudo é

dirigido apenas àquele mercado, analisando o papel que a oferta e a demanda nele

exercem, supondo que outras variáveis interfiram muito pouco, ou que não interfiram de

maneira absoluta.

4.1.1.1 Papel dos Preços Relativos

Na análise microeconômica, são mais relevantes os preços relativos, isto é, ospreços dos bens em relação aos demais, do que os preços absolutos ( isolados) das

mercadorias. Exemplo: se o preço do guaraná cair 10%, mas também o preço da soda cair

em 10%, nada deve acontecer na demanda dos dois bens, mas se cair apenas o preço do

guaraná, permanecendo inalterado o preço da soda, deve-se esperar um aumento na

quantidade procurada de guaraná e uma queda na soda. Embora não tenha havido

alteração no preço absoluto da soda, seu preço relativo aumentou, quando comparado com

o guaraná.

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4.1.1.2 Princípio da Racionalidade

Por esse princípio, os empresários tentam sempre maximizar lucros condicionados

pelos custos de produção, os consumidores procuram maximizar sua satisfação no consumo

de bens e serviços ( limitados por sua renda e pelos preços das mercadorias).

4.1.2 Aplicações da Análise Microeconômica

A teoria microeconômica não é um manual de técnicas para a tomada de decisões

do dia-a-dia, mesmo assim ela representa uma ferramenta útil para esclarecer políticas e

estratégias, dentro de um horizonte de planejamento, tanto em nível de empresas quanto

de nível de política econômica.

Para as empresas, a análise microeconômica pode subsidiar as seguintes decisões:

  políticas de preços da empresa;

  previsão de demanda e faturamento;

  previsão de custos de produção;

  decisões ótimas de produção (melhor combinação dos custos de produção);

  avaliação/elaboração de projetos de investimentos (análise custo/benefício);

  política de propaganda e publicidade;

  localização da empresa.

Em relação da política econômica, pode contribuir na análise e tomada de decisões

das seguintes questões:

  efeitos de impostos sobre mercados específicos;

  política de subsídios;

  fixação de preços mínimos na agricultura;

  controle de preços;

  política salarial;

  políticas de tarifas públicas. (água, luz, etc.).

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4.2 Demanda, Oferta e Equilíbrio de Mercado

Os fundamentos da análise da demanda ou procura estão alicerçados no conceito

subjetivo de utilidade. A utilidade representa o grau de satisfação que os consumidores

atribuem aos bens e serviços que podem adquirir no mercado. Como está baseada em

aspectos psicológicos ou preferências, a utilidade difere de consumidor para consumidor

(uns preferem uísque, outros preferem cerveja etc.).

4.2.1 Demanda de Mercado

A demanda ou procura pode ser definida como a quantidade de um determinado

bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir em determinado período de tempo.

A procura depende de variáveis que influenciam a escolha do consumidor. São

elas: o preço do bem e serviço, o preço dos outros bens, a renda do consumidor e o gosto

ou preferência do indivíduo.

Para estudar-se a influência dessas variáveis, utiliza-se a hipótese do coeteris

 paribus, ou seja, considera-se cada uma dessas variáveis afetando separadamente as

decisões do consumidor.

Há uma relação inversamente proporcional entre a quantidade procurada e o preço

do bem. É a chamada Lei Geral da Demanda.

Essa relação pode ser observada a partir dos conceitos de escala de procura, curva

de procura ou função demanda.

A relação preço/quantidade procurada pode ser representada por uma escala de

procura, conforme apresentada a seguir:

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Alternativa de preço ($) Quantidade Demandada

2,00 32.000

5,00 16.00010,00 8.000

16,00 4.000

20,00 3.000

Tabela 2 – Relação Preço/Quantidade

O gráfico, a seguir, correspondente à Tabela 02, representa a Lei Geral da

Demanda:

Gráfico 1 – Lei Geral da Demanda

Se o preço de um bem aumenta, a queda da quantidade demanda será provocada

por esses dois efeitos somados:

  Efeito substituição: se um bem possui um substituto, ou seja, outro bem similar

que satisfaça a mesma necessidade, quando seu preço aumenta, o consumidor

passa adquirir o bem substituto, reduzindo assim sua demanda. Exemplo:

Fósforo.

  Efeito renda: quando aumenta o preço de um bem, o consumidor perde o poder

aquisitivo, e a demanda por esse produto diminui.

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4.2.1.1 Elasticidade

Cada produto tem sua própria sensibilidade com relação às variações dos preços e

da renda. Essa sensibilidade ou reação pode ser medida através da elasticidade.

Genericamente, a elasticidade reflete o grau de reação de uma variável quando ocorrem

alterações em outra variável, coeteris paribus.

4.2.1.1.1 Elasticidade-preço da Demanda

É a resposta relativa da quantidade demandada de um bem X às variações de seu

preço. Pode ser:

  Demanda elástica: os consumidores de um determinado produto têm grande

reação ou resposta nas quantidades a eventuais variações de preços.

  Demanda inelástica: os consumidores tendem a reagir em menor escala às

variações de preços.

Fatores que influenciam o grau de elasticidade da demanda:

  Disponibilidade de bens substitutos: quanto mais substitutos houver para um

bem, mais elástica será sua demanda;

  Essencialidade do bem: se o bem é essencial, será pouco sensível à variação do

preço;

  Importância do bem, quanto ao gasto no orçamento do consumidor: quanto

mais importante o gasto referente a um determinado bem, em relação ao

orçamento, mais sensível torna-se o consumidor a alterações de seu preço, ou

seja, a demanda é mais elástica.

Comparativamente, por exemplo, a carne tende a ter a elasticidade-preço da

demanda mais elevada que o fósforo, em função da relação do preço da carne junto ao

orçamento doméstico.

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4.2.2 Oferta de Mercado

Pode-se conceituar oferta como as várias quantidades que os produtores desejam

oferecer ao mercado em determinado período de tempo.

Da mesma maneira que a demanda, a oferta depende de vários fatores; dentre

eles:

  de seu próprio preço;

  dos demais preços;

  dos preços dos fatores de produção;  das preferências do empresário; e

  da tecnologia.

Diferentemente da função demanda, a função de oferta mostra uma correlação

direta entre a quantidade ofertada e nível de preços. É a chamada Lei Geral da Oferta.

Podemos expressar uma escala de oferta de um bem X, ou seja, dada uma série de

preços, quais seriam as quantidades ofertadas a cada preço:

Alternativas de Preço ( $ ) Quantidade Ofertada

2,00 4.000

5,00 12.000

10,00 23.000

16,00 32.000

20,00 36.000

Tabela 3 – Relação Preço/Quantidade

O gráfico, a seguir, correspondente à Tabela 03, representa a Lei Geral da Oferta:

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Gráfico 2 – Lei Geral da Oferta

A relação direta entre a quantidade ofertada de um bem e o preço desse bem

deve-se ao fato de que, coeteris paribus, um aumento do preço no mercado estimula as

empresas a produzirem mais, aumentando sua receita.

4.2.3 Equilíbrio de Mercado

A interação das curvas de demanda e de oferta determina o preço e a quantidade

de equilíbrio de um bem ou serviço em um dado mercado.

Veja o quadro a seguir representativo da oferta e da demanda do bem X:

QuantidadePreço ($) Procurada Ofertada Situação de Mercado

1,00 11 1 Excesso de procura (escassez de oferta)

3,00 9 3 Excesso de procura (escassez de oferta)

6,00 6 6 Equilíbrio entre oferta e procura

8,00 4 8 Excesso de oferta (escassez de procura)

10,00 2 10 Excesso de oferta (escassez de procura)

Tabela 4 – Relação entre quantidades ofertadas e demandas

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Como se observa na tabela, existe equilíbrio entre oferta e demanda do bem X,

quando o preço é igual a 6,00 unidades monetárias.

4.3 Interferência do Governo no equilíbrio de mercado

O governo intervém na formação de preços de mercado, a nível microeconômico ,

e quando fixa impostos e subsídios, estabelecem critérios de reajustes do salário mínimo,

fixa preços mínimos para produtos agrícolas decreta tabelamentos ou ainda congelamento

de preços e salários.

4.3.1 Estabelecimento de Impostos

É sabido que quem recolhe a totalidade do tributo é a empresa, mas isso não quer

dizer que é ela quem efetivamente paga. Assim, saber sobre quem recai efetivamente o

ônus do tributo é uma questão da maior importância na análise dos mercados.

Os tributos se dividem em impostos, taxas e contribuições de melhoria. O impostos

dividem-se em:

  Impostos Indiretos: impostos incidentes sobre o consumo ou sobre as vendas.

Exemplo: Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), Imposto sobre

Produtos Industrializados (IPI).

  Impostos Diretos: Impostos incidentes sobre a renda. Exemplo: Imposto de

Renda.

4.3.2 Política de preços mínimos na agricultura

Trata-se de uma política que visa dar garantia de preços ao produtor agrícola, compropósito de protegê-lo das flutuações dos preços no mercado, ou seja, ajudá-lo diante de

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uma possível queda acentuada de preços e conseqüentemente da renda agrícola. O

governo, antes do início do plantio, garante um preço que ele pagará após a colheita do

produto.

4.3.3 Tabelamento

Refere-se à intervenção do governo no sistema de preços de mercado visando

coibir abusos por parte dos vendedores, controlar preços de bens de primeira necessidade

ou então refrear o processo inflacionário, como foi adotado no Brasil (Planos Cruzado,Bresser etc.), quando se aplicou o congelamento de preços e salários.

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5  Estruturas de Mercado

5.1 Introdução

Nas aulas anteriores vimos, quais variáveis afetam a demanda e a oferta de bens e

serviços, e como são determinados os preços, supondo sem interferências, o mercado

automaticamente encontra seu equilíbrio. Implicitamente, estava sendo suposta uma

estrutura específica de mercado, qual seja, a de concorrência perfeita.

As várias formas ou estruturas de mercados dependem fundamentalmente de três

características:

  número de empresas que compõe esse mercado;

  tipo do produto ( se as firmas fabricam produtos idênticos ou diferenciados);

  se existem ou não barreiras ao acesso de novas empresas nesse mercado.

A maior parte dos modelos existentes pressupõe que as empresas maximizam o

lucro total, especificamente para o caso de estruturas oligopolistas de mercado, veremos

que existe uma teoria alternativa, que pressupõe que a empresa maximiza o mark-up, que é

margem entre a receita e os custos diretos (ou variáveis) de produção.

5.2 Estruturas do Mercado de Bens e Serviços

5.2.1 Concorrência Pura ou Perfeita

É um tipo de mercado em que há um grande número de vendedores ( empresas ),

de tal sorte uma empresa, isoladamente, por ser insignificante, não afeta os níveis de oferta

do mercado e, conseqüentemente, o preço de equilíbrio.

Nesse tipo de mercado devem prevalecer ainda as seguintes premissas:

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  produtos homogêneos: não existe diferenciação entre os produtos ofertados

pelas empresas concorrentes;

  não existem barreiras: para o ingresso de empresas no mercado;

  transparência do mercado: todas as informações sobre lucros, preços etc. são

conhecidas por todos os participantes do mercado.

5.2.2 Monopólio

O mercado monopolista se caracteriza por apresentar condições diametralmenteopostas às da concorrência perfeita. Nele existe, de um lado, um único empresário

(empresa) dominando inteiramente a oferta e, de outro, todos os consumidores. Não há,

portanto concorrência, nem produto substituto ou concorrente. Nesse caso, ou os

consumidores se submetem às condições impostas pelo vendedor, ou simplesmente

deixaram de consumir o produto.

Nessa estrutura de mercado, a curva de demanda da empresa é a própria curva de

demanda do mercado como um todo. Ao ser exclusiva no mercado, a empresa não estará

sujeita aos preços vigentes. Mas isso não significa que poderá aumentar os preços

indefinidamente.

Para a existência de monopólios, deve haver barreiras que praticamente impeçam a

entrada de novas firmas no mercado.

Essas barreiras podem advir das seguintes condições: Monopólio puro, elevado

volume de capital, patente e controle de matérias-primas básicas. Existem, ainda, os

monopólios institucionais ou estatais em setores considerados estratégicos ou de segurança

nacional (petróleo, energia, comunicação).

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5.2.3 Oligopólio

É um tipo de estrutura normalmente caracterizada por um pequeno número de

empresas que dominam a oferta de mercado. Pode caracterizar-se como um mercado em

que há um pequeno número de empresas, como a indústria automobilística, ou então onde

há um grande número de empresas, mas poucas dominam o mercado, como a indústria de

bebidas.

O setor produtivo no Brasil é altamente oligopolizado, sendo possível encontrar

inúmeros exemplos: montadoras de veículos, setor de cosméticos, indústria de papel,indústria farmacêutica etc.

Nos oligopólios, tanto as quantidades ofertadas quanto os preços são fixados entre

as empresas por meio de cartéis. O cartel é uma organização formal ou informal de

produtores dentro de um setor que determina a política de preços para todas as empresas

que a ele pertencem.

Podemos caracterizar também tanto oligopólios com produtos diferenciados (como

a indústria automobilística) como oligopólios com produtos homogêneos (alumínio).

5.2.4 Concorrência Monopolista

Trata-se de uma estrutura de mercado intermediária entre a concorrência perfeita

e o monopólio, mas que não se confunde com o oligopólio, pelas seguintes características:

  número relativamente grande de empresas com certo poder concorrencial,

porém com segmentos de mercados e produtos diferenciados, seja por

características físicas, embalagem ou prestação de serviços complementares

(pós-venda).

  margem de manobra para fixação dos preços não muito ampla, uma vez queexistem produtos substitutos no mercado.

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Essas características acabam dando um pequeno poder monopolista sobre o preço

de seu produto, embora o mercado seja competitivo (daí o nome concorrência

monopolista).

5.3 Estruturas do Mercado de Fatores de Produção

Até aqui identificamos as estruturas de mercados de bens e serviços. O mercado de

fatores de produção  –  mão de obra, capital, terra e tecnologia  –  também apresenta

diferentes estruturas.

5.3.1 Concorrência Perfeita no Mercado de Fatores

É um mercado onde existe oferta abundante do fator de produção, por exemplo,

mão de obra não especializada, o que torna o preço desse fator constante.

Os ofertantes ou fornecedores, como são em grande número, não têm condições

de obter preços mais elevados por seus serviços.

5.3.2 Monopsônio

Trata-se de uma forma de mercado na qual há somente um comprador para muitos

vendedores dos serviços dos insumos.

É o caso da empresa que se instala em uma determinada cidade do interior e, por

ser a única, torna-se demandante exclusiva da mão de obra local e das cidades próximas,

tendo para si a totalidade da oferta de mão de obra.

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5.3.3 Oligopsônio

É um mercado onde existem poucos compradores que dominam o mercado

para muitos vendedores. Exemplo: indústria de laticínios. Em cada cidade existem dois ou

três laticínios que adquirem a maior parte do leite dos inúmeros produtores rurais locais. A

indústria automobilística, além de oligopolista no mercado de bens e serviços, também é

oligopsonista na compra de autopeças.

5.3.4 Monopólio Bilateral

O monopólio bilateral ocorre quando um monopsonista, na compra de um fator de

produção, defronta-se com um monopolista na venda deste fator. Por exemplo, só a

empresa A compra um tipo de aço que é produzido apenas pela siderúrgica B. A empresa A

é monopsonista, porque só ela compra esse tipo de aço, e a siderúrgica B é monopolista,

porque só ela vende este tipo de aço.

Nesses casos, a determinação dos preços de mercado dependerá não só de fatores

econômicos, mas do poder de barganha de ambos: o monopsonista tentando pagar o preço

mais baixo (usando a força de ser o único comprador), e o monopolista tentando vender por

um preço mais elevado (usando o poder de ser o único fornecedor).

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6 O Setor Público

O Governo, um dos três elementos que entram na formação do Estado, ao lado da

população e do território, incorpora a autoridade capaz de organizar a sociedade e dirigi-la.

Em sentido amplo, O Governo compreende um conjunto de órgãos e funções por meio do

qual a autoridade dirige e regula, através de normas, as atividades dos cidadãos. A presença

do Governo no processo econômico vem modificando-se ao longo do tempo. Assim, há

algumas décadas, seu papel limitava-se às atividades fundamentais, voltadas para a

segurança e defesa dos cidadãos e de seu direito de propriedade.

Entretanto, com a publicação da obra Teoria Geral da Moeda, do Juro e do

Emprego, de John Maynard Keynes, o desequilíbrio intrínseco do sistema capitalista fica

evidenciado e sujeito a crises profundas. A solução para a minimização destas distorções é a

intervenção do Estado na economia. Desse modo, caberia ao Estado controlar o fluxo de

investimentos e de consumo, para evitar as crises e a inflação.

A política econômica ditada pelo Estado é que irá determinar o nível de

investimentos, do qual resultarão a taxa de poupança e o volume de lucros gerados pelo

sistema econômico. Ocorre, assim, a transformação do papel do Estado na economia: passa

a ser o Estado Regulador, que entra em ação na esfera econômica a fim de resolver os

problemas criados pelo desenvolvimento do capitalismo.

6.1 Formas de Ação Econômica

A participação do Estado enquanto ente regulador da atividade econômica é

exercida através de ações como: os seus gastos, as suas fontes de receita, os controles e a

produção de bens e serviços. O dispêndio governamental, quer seja para consumo ou

investimento, tem a característica de promover a atividade econômica: quando o Governo

está consumindo ou investindo em formação bruta de capital fixo, alguém está fornecendo-lhe bens e serviços. Os impostos, ou fontes de receita, servem para cobrir as despesas

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governamentais e também estabelecer ou modificar o perfil do consumo de determinados

bens, além de servirem de ferramental para a distribuição de renda.

A participação do governo na condução da atividade econômica significa o próprio

controle operacional do setor privado.

Esta responsabilidade e influência cresce e se revigora à medida que o Governo

toma para si as preocupações com:

  manutenção do pleno emprego e estabilidade de preços;

  motivação de investimentos em áreas consideradas prioritárias do ponto devista da política e estratégia econômica;

  modificação da distribuição “natural” de renda do setor privado, por meio de

impostos, distribuição indireta de renda e fornecimento de bens e serviços às

camadas da população de baixa renda;

  suprimento de bens e serviços que não seriam fornecidos pelo setor privado,

como defesa e manutenção da escritura institucional do Estado.

6.2 Razões da Expansão das Atividades Públicas

São diversos os fatores que levam à expansão das atividades públicas:

  condição de protetor da propriedade privada em períodos de conflitos armados;

  regulador da estrutura econômica nos momentos de crises e recessões

mundiais;

  avanços da legislação social, responsabilizando o Estado por um seguro social

cada vez mais abrangente;

  necessidade de investimentos em infra-estrutura e modernização dos meios de

transporte;

  ampliação e manutenção de serviços urbanos.

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6.3 Financiamento das Atividades Públicas

Para fazer frente aos seus gastos e investimentos, o Setor Público lança mão de

várias fontes: vendas de bens e serviços das diversas empresas públicas, imposição de

tributos e empréstimos compulsórios, operações de crédito público e emissão monetária.

A venda de bens e serviços de empresas públicas consiste na comercialização de

passagens ferroviárias, selos postais, taxas de expediente, taxas de utilização de portos e

aeroportos etc.

Os tributos constituem o mais importante item da receita e compreendem os

impostos, as taxas e as contribuições de melhorias. Classificam-se em diretos e indiretos. Os

impostos diretos incidem sobre a renda dos indivíduos, rendas da propriedade. Estes

tributos são recolhidos diretamente ao Estado. Os impostos indiretos incidem sobre o

dispêndio, e são embutidos nos preços dos bens que são adquiridos e são recolhidos aos

cofres públicos pelo vendedor.

As operações de crédito público são os empréstimos a que o Governo recorre tanto

interna como externamente. Em troca, o Governo emite um bônus ou título, pagando juros.

A emissão monetária compreende a emissão de dinheiro novo, um recurso

extremado de que dispõe Governo para cobrir suas necessidades de caixa, porque ao

ampliar o volume de moeda existente na economia, sem uma contrapartida no aumento

dos bens transacionados, ocorrerá elevação do nível de preços.

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7 O Sistema Monetário Nacional

7.1 História da Moeda

7.1.1 Origem da Moeda: o Escambo

Os primeiros grupos humanos, em geral nômades, não conheciam a moeda e

recorriam às trocas diretas de objetos (chamada de escambo) quando desejavam algo que

não possuíam. Esses grupos, basicamente, praticavam uma exploração primitiva da natureza

e se alimentavam por meio da pesca, caça e coleta de frutos. Num ambiente de pouca

diversidade de produtos, o escambo era viável.

O escambo apresenta alguns problemas no que se refere ao desenvolvimento das

atividades econômicas de uma maneira geral. Ele exige uma dupla coincidência de desejos,

porque quem pescasse e quisesse, por exemplo, um machado, teria que achar uma outra

pessoas que fabricasse machados e quisesse, exatamente, peixes. Outro problema diz

respeito à indivisibilidade dos objetos nas trocas diretas. Montoro Filho (1992) exemplifica

esse problema salientando a dificuldade que um fabricante de canoas teria se quisesse

tomar um cafezinho.

A primeira revolução agrícola foi modificando o sistema baseado no escambo. A

vida nômade foi gradativamente cedendo lugar para sedentária e a produção passou a

diversificar-se com a introdução de utensílios de trabalho. A divisão social do trabalho

começa a se manifestar e os integrantes do grupo ganham funções específicas como

guerreiros, agricultores, pastores, artesãos e sacerdotes Dessa maneira, a divisão do

trabalho provocou sensíveis mudanças na vida social.

A atividade econômica tornou-se mais complexa; o numero de bens e serviços

exigidos para satisfação das necessidades do grupo aumentou, por conseqüência, a "dupla

coincidência de desejos" torna-se mais difícil; a troca torna-se fundamental para asobrevivência do grupo social

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A partir de então, alguns bens de aceitação são eleitos como intermediários de

trocas, exercendo, portanto, função de moeda.

A moeda pode ser conceituada como um intermediário de trocas:

"que serve como medida de valor e que tem aceitação geral.(...) esta aceitação geral é um fenômeno essencialmente social. Alémdisso, como a moeda representa um poder de aquisição, desde omomento em que é recebida até o momento em que é dada empagamento de outra transação, ela também se caracteriza como umareserva de valor" (LOPES e ROSSETTI, 1991: 18).

7.1.2 Evolução Histórica da Moeda

As primeiras moedas foram mercadorias e deveriam ser suficientemente raras,

para que tivessem valor, e, como já foi dito, ter aceitação comum e geral. Elas tinham,

então, essencialmente valor de uso; e como esse valor de uso era comum e geral elas

tinham, conseqüentemente, valor de troca). O abandono da exigência do valor de uso dos

bens, em detrimento do valor de troca, foi gradativo.

Entre os bens usados como moeda estão o gado, que tinha a vantagem, de

multiplicar-se entre uma troca e outra —  mas, por outro lado, o sal na Roma Antiga; o

dinheiro de bambu na China; o dinheiro em fios na Arábia.

"As moedas-mercadorias variaram amplamente de comunidade para comunidade e

de época para época, sob marcante influência dos usos e costumes dos grupos sociais em

que circulavam".

Assim, por exemplo, na Babilônia e Assíria antigas utilizava-se o cobre, a prata e a

cevada como moedas; na Alemanha medieval, utilizavam-se gado, cereais e moedas

cunhadas de ouro e prata; na Austrália moderna fizeram a vez de moeda o rum, o trigo e até

a carne.

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Com o tempo, as moedas-mercadorias foram sendo descartadas. As principais

razões para isso foram:

  elas não cumpriam satisfatoriamente a característica de aceitação geral exigida

nos instrumentos monetários. Além disso, perdia-se a confiança em mercadorias

não homogêneas, sujeitas à ação do tempo (como no caso dos gados citado

acima), de difícil transporte, divisão ou manuseio;

  a característica valor de uso e valor de troca tornava o novo sistema muito

semelhante ao escambo e suas limitações intrínsecas.

Os metais preciosos passaram a sobressair por terem uma aceitação mais geral euma oferta mais limitada, o que lhes garantia um preço estável e alto. Além disso, não se

desgastavam, facilmente reconhecidos, divisíveis e leves. Entretanto, havia o problema da

pesagem.

Em cada transação, os metais preciosos deveriam ser pesados para se determinar

seu valor. Esse problema foi resolvido com a cunhagem, quando era impresso na moeda o

seu valor. Muitas vezes, entretanto, um soberano recontava as moedas para financiar o

tesouro real. Ele recolhia as moedas em circulação e as redividia em um número maior,

apoderando-se do excedente. Esse processo gerava o que conhecemos como inflação, uma

vez que existia um maior número de moedas para uma mesma quantidade de bens

existentes

Os primeiros metais utilizados como moeda foram o cobre, o bronze e,

notadamente, o ferro. Por serem, ainda, muito abundantes, não conseguiam cumprir uma

função essencial da moeda que é servir como reserva de valor. Dessa maneira, os metais

não nobres foram sendo substituídos pelo ouro e pela prata, metais raros e de aceitação

histórica e mundial.

O desenvolvimento de sistemas monetários demandaram o surgimento de um

novo tipo de moeda: a moeda-papel. A moeda-papel veio para contornar os inconvenientes

da moeda metálica (peso, risco de roubo), embora valessem com lastro nela. Assim surgem

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os certificados de depósito, emitidos por casas de custódia em troca do metal precioso nela

depositado. Por ser lastreada, essa moeda representativa poderia ser convertida em metal

precioso a qualquer momento, e sem aviso prévio, nas casas de custódia A moeda-papel

abre espaço para o surgimento da moeda fiduciária, ou papel-moeda, modalidade de moeda

não lastreada totalmente. O lastro metálico integral mostrou-se desnecessário quando foi

constatado que a reconversão da moeda-papel em metais preciosos não era solicitada por

todos os seus detentores ao mesmo tempo e ainda quando uns a solicitavam, outros

pediam novas emissões.

A passagem da moeda-papel para o papel-moeda é tida como uma das mais

importantes e revolucionárias etapas da evolução histórica da moeda A falência do sistema

privado de emissões (quando, em diversos momentos da História, todos resolviam

reconverter seus papéis-moeda em metais preciosos) levou o Estado a controlar o

mecanismo das emissões e a exercer seu monopólio.

Após o uso de diversos sistemas de conversão que se mostraram fracassados, os

sistemas monetários de quase todos os países, depois da Grande Depressão gerada pelacrise de 1929-33, com a exceção dos Estados Unidos — que mantiveram o lastro metálico

proporcional até 1971 —, adotaram o sistema fiduciário.

Hoje, esses sistemas apresentam inexistência de lastro metálico, inconversiblidade

absoluta e monopólio estatal das emissões Desenvolve-se, juntamente com a moeda

fiduciária, a chamada moeda bancária, escritural (porque corresponde a lançamentos a

débito e crédito) ou invisível (por não ter existência física). O seu desenvolvimento foi

acidental (LOPES e ROSSETTI, 1991), uma vez que não houve uma conscientização de que os

depósitos bancários, movimentados por cheques, eram uma forma de moeda. Eles

ajudaram a expandir os meios de pagamento através da multiplicação de seu uso. Hoje em

dia, a moeda bancária representa a maior parcela dos meios de pagamento existentes.

Criada pelos bancos comerciais, essa moeda corresponde à totalidade dos

depósitos à vista e a curto prazo e sua movimentação é feita por cheques ou por ordens de

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pagamento — instrumentos utilizados para sua transferência e movimentação. Atualmente,

as duas formas de moeda utilizadas são a fiduciária e a bancária, que têm apenas valor de

troca.

7.2 Funções da Moeda

Para aprofundar as utilizações da moeda descritas acima, quando foi feita a sua

conceituação, estão, a seguir, as principais funções da moeda relacionadas por Cavalcanti e

Rudge:a) Intermediária de trocas:  Superação do escambo, operação de economia

monetária, melhor especialização e divisão social do trabalho, transações com

menor tempo e esforço, melhor planejamento de bens e serviços;

b) Medida de valor:  Unidade padronizada de medida de valor, denominador

comum de valores, racionaliza informações econômicas constrói sistema

agregado de contabilidade social, produção, investimento, consumo, poupança;

c) Reserva de valor:  Alternativa de acumular riqueza, liquidez por excelência,

pronta aceitação consensual;

d) Função liberatória: Liquida débitos e salda dívidas, poder garantido pelo Estado;

e) Padrão de pagamentos:  Permite realizar pagamentos ao longo do tempo,

permite crédito e adiantamento, viabiliza fluxos de produção e de renda;

f) Instrumento de poder:  Instrumento de poder econômico, conduz ao poder

político, permite manipulação na relação Estado-Sociedade.

7.3 A Oferta de Moeda

Vamos nos concentrar agora nos fatores que determinam a oferta de moeda.

Vimos que a oferta de moeda é realizada tanto pelas autoridades monetárias, por meio da

emissão de notas e moedas metálicas, quanto pelos bancos comerciais que, apesar de nãopoderem emitir, podem, no entanto, criar ou destruir moeda.

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Iremos inicialmente estudar a oferta de moeda dos bancos comerciais e

posteriormente analisar os instrumentos disponíveis pelas autoridades para controlarem a

oferta total de moeda.

7.3.1 O Sistema Bancário: Criação e Destruição de Moeda

De início, convém definir o que venha a ser criação ou destruição de moeda. Na

seção anterior definimos moeda como sendo a soma do papel-moeda em poder do público

(inclusive moedas metálicas) e dos depósitos à vista nos bancos comerciais. A primeiraparcela é chamada moeda manual ou moeda corrente, e, a segunda, moeda escritural ou

bancária. Haverá criação de moeda quando houver um aumento desta soma, ou seja, um

aumento do volume da soma de moeda corrente e de moeda escritural. De outra parte

haverá destruição de moeda quando se reduzir o volume de meios de pagamento.

Alguns exemplos esclarecem estes aspectos:

  um indivíduo efetua um depósito à vista. Não há criação nem destruição de

moeda e, sim, uma transferência entre moeda manual e moeda escritural;

  um indivíduo efetua um depósito a prazo. Existe destruição de meios de

pagamento, pois depósitos a prazo não são considerados meios de pagamento;

  um banco compra títulos da dívida pública possuídos pelo público, pagando em

moeda corrente: há criação de meios de pagamento, pois aumenta o volume de

moeda manual em poder do público (estas operações são chamadas Mercado

Aberto ou Open Market ).

A criação (ou destruição) de moeda manual corresponde, assim, a um aumento (ou

diminuição) do papel-moeda em poder do público, enquanto para a moeda escritural a sua

criação (ou destruição) se dá quando há um acréscimo (ou decréscimo) dos depósitos à vista

ou a curto Prazo nos bancos comerciais. Portanto nossa preocupação, no momento, é

verificar como os bancos podem aumentar ou diminuir os depósitos à vista.

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Nestas condições vamos analisar o que ocorre quando é feito um novo depósito de

$ 100,00, em moeda, neste nosso banco monopolista.

A tabela a seguir mostra como esta transação será transcrita nos livros do banco:

Ativo Passivo

Encaixe 100 Depósitos 100

Tabela 5 – Encaixes Bancários

Nesta primeira etapa não houve criação de moeda e, sim, uma transferência demoeda manual para moeda escritural. Ocorre, entretanto, que o banco não precisa

conservar 100% de reservas para garantir seus depósitos. A experiência mostra que uma

parcela, pequena, é suficiente, vamos supor 10%.

Com $ 100,00 de reservas o banco pode prometer pagar $ 1.000,00 (de depósitos).

Assim ele poderá, por exemplo, emprestar $ 500,00 para a empresa X, e emprestar $ 400,00

ao indivíduo A, cobrando juros em ambas; as operações. Em contrapartida o banco permite

ao indivíduo A preencher cheques até o montante do empréstimo e abre um crédito na

conta da empresa X no valor de $ 500,00. A tabela, a seguir, mostra como estas transações

aparecerão nos livros do banco:

Ativo Passivo

Encaixe 100

Empréstimo para X 500

Empréstimo para A 400

Depósitos 1.000

1.000 1.000

Tabela 6 – Transações Bancárias

O ativo do banco agora inclui os $ 100,00 do depósito inicial, e os $ 900,00 de

empréstimos efetuados. O passivo, por sua vez, aumentou para $ 1.000,00, sendo $ 100,00

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dos depósitos iniciais, $ 500,00 de depósitos criados para a empresa X e $ 400,00 criados

para o indivíduo A.

Note-se que por simples lançamentos contábeis o banco criou $ 900,00 de novos

depósitos, ou seja, moeda escritural. Seus encaixes agora representam 10% de suas

obrigações (depósitos).

É de se esperar que tanto a empresa X como o indivíduo A gastem o seu dinheiro.

Na maioria dos casos eles o farão por meio de cheques. Como estamos supondo que exista

um único banco e que o público não deseje conservar quantias adicionais de moeda em

forma de moeda manual, os indivíduos, ou empresas, que receberem os cheques, irão

depositá-los no nosso banco. O banco, então, reduzirá a conta corrente de quem preencheu

o cheque e aumentará a conta de quem o recebeu. Não haverá, assim, qualquer alteração

no total dos seus depósitos, e a situação permanece a mesma que foi descrita pela Tabela 6,

com modificações apenas na composição interna dos depósitos.

7.3.2.2 Vários Bancos Comerciais

No raciocínio exposto acima, fizemos duas hipóteses simplificadoras. Vamos agora

alterar o raciocínio, eliminando-as. Em primeiro lugar, vamos supor a existência de muitos

bancos, hipótese esta que corresponde à realidade brasileira.

Neste caso, cada banco, isoladamente, não pode esperar que os cheques lançados

por seus clientes sejam recebidos por outros seus clientes e novamente depositados no

banco. É de se esperar que estes cheques sejam depositados em outros bancos, ao menos a

maioria. Assim, cada banco individualmente não poderá se comportar da forma que foi

exposta no caso de um único banco.

Podemos, entretanto, pensar no sistema em conjunto, ou seja, raciocinarmos com

todos os bancos agregadamente.

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Nestas condições, o raciocínio é o mesmo. De fato, para o sistema como um todo,

vale a hipótese feita de que todos os cheques serão novamente depósitos no sistema. E,

assim, o mecanismo de expansão é exatamente igual ao apresentado. O sistema bancário

pode criar depósitos num valor múltiplo dos depósitos iniciais.

7.4 O Banco Central

Os bancos que acabamos de analisar são bancos comerciais, ou seja, bancos

privados, cujo comportamento é ditado pela regra de maximizar os lucros, ou motivados emseu funcionamento pelos lucros a serem alcançados.

Além destes bancos, encontramos, em quase todos os países, Bancos Centrais, cuja

função primordial é regular o fluxo da moeda e do crédito na economia. O Banco Central é

uma agência das autoridades monetárias por meio da qual é realizada a política monetária.

Em outras palavras, o Banco Central é o instrumento pelo qual o governo realiza sua política

monetária.

A estrutura administrativa e jurídica dos diversos Bancos Centrais varia largamente

entre países. No Reino Unido, o Banco Central é o Banco da Inglaterra. Nos Estados Unidos,

encontramos o Sistema Federal de Reserva. No Brasil, as funções do Banco Central são

desempenhadas pelo Banco Central do Brasil e pelo Banco do Brasil. Entretanto, em que

pese as diferenças institucionais, as funções dos diversos bancos centrais são as mesmas.

Neste sentido, vamos nos concentrar no estudo das funções gerais de um banco central.

7.4.1 Banco dos Bancos

Os bancos comerciais podem querer depositar seus fundos em algum lugar e

necessitam de um mecanismo para transferir fundos de um banco para outro. O BancoCentral cumpre este papel. Recebe depósitos dos bancos comerciais e transfere fundos de

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um para outro banco. Esta última função é desempenhada pela Câmara de Compensação de

Cheques.

O funcionamento da compensação é simples. A Câmara se reúne, normalmente,

uma única vez por dia. Cada banco comercial apresenta os cheques de outros bancos,

recebidos em suas agências, e ao mesmo tempo lhe são cobrados cheques de seus clientes

depositados em outros bancos. São somados os débitos e créditos de cada banco. Os saldos

líquidos são a seguir transferidos. Os bancos que tenham saldos positivos recebem fundos

dos que tenham saldos negativos. Este mecanismo é controlado no Brasil pelo Banco do

Brasil.

Os bancos comerciais precisam também de fundos líquidos. Uma das formas de

consegui-los é pedir emprestado ao Banco Central. A taxa de juros que os bancos comerciais

pagam é conhecida como taxa de redesconto.

O Banco Central deve ser um banco austero. Recusar novos empréstimos quando

achar necessário e cobrar os empréstimos atrasados. O Banco Central deve ser "umemprestador de última instância-. Sua função deve ser a de socorrer os bancos em suas

dificuldades, mas somente nestas ocasiões.

De outra parte, o Banco Central pode usar, e realmente usa, este poder de

emprestar para controlar e regular as atividades dos bancos comerciais.

7.4.2 Banco do Governo

Grande parte dos fundos do governo são depositados no Banco Central. De outra

parte, quando o governo necessita de recursos, ele normalmente emite títulos (obrigações)

e os vende ou ao público ou ao Banco Central, obtendo, assim, os fundos necessários.

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Mesmo quando o governo vende títulos ao público, ele o faz por meio do Banco

Central. Este é, por estas razões, o agente financeiro do governo, ou melhor, o banco do

governo.

No Brasil, por causa da estrutura híbrida do Banco Central, uma parte das funções é

desempenhada pelo Banco do Brasil. O Banco Central do Brasil não recebe depósitos do

governo. Quem o faz é o Banco do Brasil.

7.4.2.1 Controle e Regulamentação da Oferta de Moeda

A principal função do Banco Central é controlar a oferta de moeda. Para tal fim, ele

pode utilizar vários instrumentos. Os principais são as emissões de papel-moeda, as reservas

obrigatórias dos bancos comerciais e as operações de mercado aberto ( open market ). A

seguir, examinaremos cada uni destes instrumentos e como por meio deles as autoridades

monetárias podem fornecer ao sistema econômico uma oferta de moeda suficiente para o

desenvolvimento das atividades econômicas, mas que, por outro lado, não seja excessiva a

ponto de se tornar uma fonte de inflação:

a) Monopólio das Emissões:

Em quase todos os países do mundo, o Banco Central controla, por força de lei, o

volume de papel-moeda emitido. Em outras palavras, o Banco Central tem o monopólio das

emissões.

Em geral, não se recomenda que o Banco Central use este seu poder para controlar

a oferta de moeda, mas que coloque em circulação o volume de notas e moedas metálicas

necessárias ao bom desempenho da economia. O controle da oferta de meios de

pagamento deve ser realizado pela utilização dos outros instrumentos.

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b) Reservas Obrigatórias

Como já foi discutido, os bancos comerciais guardam uma parcela dos depósitos

como reservas e com a finalidade de atender ao movimento de caixa.

Em geral, os bancos centrais forçam os bancos comerciais a guardar reservas

superiores às que seriam indicadas pela experiência e prudência destes estabelecimentos.

No Brasil, estas reservas obrigatórias ou compulsórias são em média pouco superiores a

35% dos depósitos à vista; nos Estados Unidos, esta taxa é pouco inferior a 20%; e na

Inglaterra, aproximadamente 8 % do total dos depósitos.

Além destes instrumentos, o Banco Central usa também seu poder de ser o banco

dos bancos, especialmente por meio da política de redesconto.

Como pôde ser visto, nas fórmulas apresentadas acima, a relação encaixe-depósitos

é uma das determinantes do mecanismo de expansão dos meios de pagamento. Assim, a

variação das taxas de reservas obrigatórias acarreta alterações substanciais na criação de

moeda por parte dos bancos comerciais.

De outra parte, não só a expansão dos meios de pagamento é afetada pela

modificação nas reservas, mas o próprio volume de moeda escritural é alterado e, portanto,

a oferta de meios de pagamento. De fato, para um volume de $ 1.000.000,00 de reservas e

com uma relação encaixe-depósitos igual a 0,20%, o total de moeda escritural será $

5.000.000,00. Caso o Banco Central altere a relação para 0,25%, o sistema bancário será

obrigado a reduzir o volume de moeda escritural para $ 4.000.000,00, mesmo que suas

reservas permaneçam iguais a $ 1.000.000,00, pois agora ele será obrigado a ter como

reservas 25% dos depósitos. Calculando 25% de 4 milhões, dará 1 milhão. Seria interessante

que o leitor estudasse o que ocorreria caso o Banco Central reduzisse a relação encaixe-

depósitos para 0,10%.

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c) Operações de Mercado Aberto ("Open Market")

Outro instrumento importante para o controle da oferta de moeda são as

operações de mercado aberto. Em muitos países, Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo,

este instrumento é o mais utilizado pelas autoridades monetárias.

No Brasil, sua utilização data do início da década de 70. Em essência, estas

operações consistem em vendas ou compras, por parte do Banco Central, de títulos

governamentais no mercado de capitais. Qual o efeito destas compras e vendas sobre a

oferta de moeda?

Para entendermos esta repercussão, vamos analisar o que ocorre quando estas

operações são realizadas.

Vamos supor que o Banco Central compre obrigações governamentais possuídas

pelo público. Como pagamento desta compra, o Banco Central entrega ao antigo possuidor

um cheque no valor da importância devida. Por sua parte o indivíduo que vendeu os títulos

deposita o cheque num banco comercial no qual seja correntista. Ora, o Banco Central,

quando realiza estas operações, compra títulos de inúmeros indivíduos, os quais vão seguir

o mesmo procedimento, ou seja, depositar os cheques recebidos nos seus bancos

comerciais. Já estudamos a repercussão do aumento dos depósitos no sistema bancário.

Como uma só parte dos depósitos precisa ser guardada como reserva ou encaixe, os bancos

vão agora se defrontar com encaixes excedentes. Estes encaixes são a condição necessária,

e de acordo com a hipótese formulada, suficiente para que se dê a expansão múltipla dos

meios de pagamento. Caso o leitor não esteja seguro desta repercussão, seria interessante

reler a parte anterior referente ao mecanismo de expansão dos meios de pagamento.

Em resumo, a compra de títulos governamentais, por parte do Banco Central,

acarretou uni aumento nos depósitos junto aos bancos comerciais. Este aumento, por sua

vez, gerou encaixes excedentes, e estes foram o ponto de partida para uma expansão

múltipla dos meios de pagamento e, portanto, para um aumento na oferta de moeda.

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O oposto se verificaria caso o Banco Central vendesse títulos. Os indivíduos que

comprassem os títulos os pagariam com cheques. Quando o Banco Central descontasse

estes cheques, ele reduziria as reservas dos bancos que, por sua vez, seriam obrigados a

contrair a oferta de meios de pagamento, ou seja, reduzir a oferta de moeda.

d) Política de Redesconto

Uma outra forma, bastante importante, de se controlar a oferta de moeda e a

política de redesconto. Esta é, inclusive, uma das mais usadas nas economias modernas. Já

vimos que o Banco Central é o banco dos bancos, e que ele empresta fundos líquidos aosoutros estabelecimentos bancários, seja por meio de empréstimos diretos ou por meio do

redesconto de títulos. Na medida em que adota uma política liberal de crédito, oferecendo

empréstimos abundantes e a juros (taxa de redesconto) baixos, o Banco Central fornece aos

bancos comerciais uma fonte acessível de empréstimos, e, portanto, estes podem também

adotar uma política liberal de crédito para seus clientes. Caso o Banco Central limite

quantitativamente os redescontos ou eleve suas taxas, os bancos comerciais serão

obrigados a reduzir seus empréstimos e elevar as taxas de juros. Desta forma, o crédito

bancário se torna difícil e dispendioso.

7.5 A Demanda de Moeda

Por qual razão indivíduos e empresas guardam moeda consigo ou nos bancos? Não

seria mais interessante comprar títulos e, portanto, ganhar juros? Ou fazer outras aplicações

e receber rendimentos? Se existem estas possibilidades, porque se guarda moeda que não

rende nada? Em outras palavras, podemos dizer que existe um custo ao se guardar moeda.

Este custo, de oportunidade, é exatamente o que se deixa de ganhar ao se manter a moeda

inativa. Se quisermos responder às perguntas acima, devemos desenvolver uma teoria da

demanda de moeda. É o que faremos a seguir.

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7.5.1 Razões para manter Encaixes Monetários

7.5.1.1 Pagamentos e Recebimentos não são Sincronizados

Todas as transações, ou praticamente todas, são realizadas com o pagamento em

moeda. A moeda passa dos indivíduos para as empresas, destas para outras empresas, ou

novamente para os indivíduos, e assim sucessivamente. Desta forma, tanto as empresas

como os indivíduos precisam guardar certa quantidade de moeda para os pagamentos que

têm que fazer. O economista inglês Lord   Keynes designou esta procura de procura de

moeda para transações. Podemos explicar melhor de onde surge esta procura, analisando

primeiramente o comportamento dos assalariados e depois o das empresas.

7.5.1.2 Assalariados

Normalmente recebem-se os salários no início do mês e gastam-se ao longo do

mês. Até o dia que antecede o novo pagamento os indivíduos têm certa despesa, como

condução, alimentação, cigarros, cafezinho etc. Assim, é necessário que se guarde até este

dia uma certa quantia de moeda.

Vamos supor um indivíduo que receba $ 12.000,00 por mês e decida gastá-lo em

parcelas diárias iguais a $ 400,00. No início do primeiro dia ele tem, na carteira ou no banco,

os $ 12.000,00 e gasta $ 400,00 durante este dia. No dia seguinte, ele começa com $

11.600,00 e termina com $ 11.200,00, e assim por diante. No fim do último dia do mês ele

estará absolutamente na lona, mas isto não o preocupa, pois sabe que no dia seguinte

receberá seu ordenado.

Qual é, nestas condições, a quantidade média de moeda retida, também chamada

de encaixe monetário médio? É fácil verificar que este encaixe é igual a $ 6.000,00, ou seja,

exatamente igual à metade de seu salário mensal ou de sua renda anual. É preciso lembrarque o comportamento de gastos apresentados não corresponde necessariamente ao

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comportamento normal. Pelo contrário. Em geral, nos primeiros dias do mês há um acúmulo

de despesas.

7.5.1.3 Empresas

No início de cada mês, a caixa das empresas ficaria a zero. No decorrer do mês, iria

aumentando e, no fim do mês, atingiria uni máximo, e com o pagamento dos empregados

cairia abruptamente para zero.

É bom notar que esta apresentação é bastante simplificada. É uma abstração darealidade visando apenas o entendimento do fenômeno. Na prática, o comportamento das

empresas e indivíduos é diferente porque existem outros fatores atuando. Vamos analisá-

los.

7.5.1.4 Incertezas quanto às Datas e Montantes dos Recebimentos

A segunda razão para empresas e indivíduos reterem moeda é a incerteza quanto

às datas e montantes dos recebimentos. O comportamento indicado nos gráficos anteriores

é bastante arriscado.

Vamos supor que os assalariados recebam seu ordenado no dia 3 ao invés do dia

12. Se eles tiverem gasto o seu último centavo na noite do dia 31, eles passariam os três

primeiros dias do novo mês sem dinheiro, nem para o cafezinho, nem para a condução. Para

evitar estes problemas, e devido ao fato de não ser possível prever exatamente o que

ocorrerá no futuro, os indivíduos e empresas, quando isto é possível, mantêm, mesmo no

fim do mês, uma certa quantia de moeda - encaixe de segurança - seja na carteira, seja nos

bancos. Este é o chamado motivo de precaução, ou a demanda de moeda para precaução,

de acordo com a terminologia keynesiana.

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A existência de encaixes para precaução aumenta o encaixe médio retido por

empresas e indivíduos, e, desta forma, a velocidade-renda da moeda se reduz.

É fácil verificar que estes encaixes de segurança ou precaução devem depender da

renda do indivíduo ou da empresa. Quanto maior for a empresa, maiores serão seus

encaixes necessários.

É por esta razão aceito que este encaixe seja uma proporção da renda dos

assalariados ou das empresas. Desta forma, nós podemos representar a demanda de moeda

para fins de transação e precaução como uma função proporcional da renda monetária.

Estas idéias deram origem à chamada Teoria Quantitativa do Valor da Moeda, que

iremos analisar logo após estudarmos a terceira razão para a manutenção de encaixes de

moeda.

7.5.1.5 A Moeda é uma Forma de Patrimônio

Um raciocínio simplista levaria à conclusão de que, como a moeda não rende juros

e não tem, a não ser para indivíduos extremamente avarentos, uma utilidade em si, os

indivíduos nunca guardariam moeda, a não ser o estritamente necessário para as transações

e para a segurança destas. Caso eles tivessem excedentes monetários, eles comprariam

títulos, que têm rendimentos, enquanto a moeda não os tem.

A falha deste raciocínio é esquecer que a moeda desempenha, além de outras, a

função de reserva de valor, ou seja, pode representar uma forma de riqueza ou patrimônio.

Vamos apresentar três casos onde, ao menos a curto prazo, torna-se racional guardar

moeda ao invés de títulos:

  quando se pretende comprar certo bem patrimonial indivisível - é o caso de

indivíduos que aumentam suas contas bancárias durante alguns meses para dar

a entrada na compra de uma casa, ou de um automóvel;

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  a moeda não apresenta rendimentos, mas tem a vantagem de não apresentar

riscos, especialmente quando não há inflação. A desvantagem de não gerar juros

pode ser compensada pela vantagem de ausência de riscos. O indivíduo, para

reduzir os riscos, diversifica seu patrimônio em vários títulos e aplicações,

inclusive guardando certa quantidade de moeda;

  quando se espera a baixa no preço de bens patrimoniais, é uma boa política

guardar moeda como reserva de valor. Por exemplo, quando se vai comprar um

terreno e espera-se que o preço do terreno diminua. O indivíduo, mesmo tendo

os recursos necessários para a compra, espera os preços diminuírem para

efetuar a transação.No caso da queda de preços esperada ser no preço dos títulos, esta razão

corresponde à procura especulativa de moeda, de Keynes. Exemplifiquemos.

Caso os preços dos títulos estejam muito altos e, portanto, a taxa de juros baixa, os

indivíduos não desejarão adquirir os títulos, pois não é provável que ganhem bons

rendimentos. O comportamento racional do aplicador será guardar a moeda e esperar a

queda no preço do título e, portanto, a alta na taxa de juros.

Isto corresponde à prática de comprar na baixa e vender na alta, e assim ganhar

grandes somas nestas transações.

Estas idéias nos levam a colocar esta demanda de moeda como dependente da taxa

de juros. Quando a taxa de juros for baixa, os indivíduos não desejam comprar títulos e

guardam todos os seus excedentes monetários, ou seja, a quantidade demandada de moeda

aumenta. De outra parte, quando a taxa de juros aumentar, os indivíduos passam a desejar

comprar títulos, e assim a quantidade demandada de moeda se reduz. Em outras palavras,

existe uma relação inversa entre a quantidade demandada de moeda e a taxa de juros.

Podemos apresentar este raciocínio de outra forma. A taxa de juros sendo o que se

pode ganhar nos títulos, é exatamente aquilo que se deixa de ganhar ao guardar moeda e,

portanto, representa um custo de oportunidade. É o preço de manter os estoques

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monetários. Assim, quanto maior o preço (taxa de juros menor a quantidade demandada de

moeda e vice-versa. A curva de demanda é decrescente, como é apresentada no gráfico

acima.

Pode-se também argumentar que mesmo a demanda de moeda para transação e

precaução é função da taxa de juros pois, se, por exemplo, os juros forem muito altos, vale a

pena reduzir o estoque de moeda para precaução e/ou usar parte da moeda retida para

transação posterior e, portanto, inativa durante alguns dias, para comprar títulos,

especialmente os de grande liquidez. Quando se necessitar de moeda de novo vende-se o

título, ficando, como saldo, com os juros recebidos.

7.6 Relação entre Moeda e Inflação

No mundo moderno, a moeda perde o seu poder aquisitivo, isto é, ela é depreciada

no tempo, em função da elevação contínua, generalizada e persistente dos preços. Em

função, portanto, da inflação.

O exame do comportamento dos preços nas economias ocidentais permite

identificar uma inflação do tipo rastejante, isto é, em que a alta dos preços se processa de

forma leve, quase imperceptível. Quando se trata de expansão do nível de preços em ritmo

e intensidade que supere o nível de 5% ao ano, diz-se que há inflação galopante ou

hiperinflação.

Existem dois motivos que provocam elevação do nível de preços praticados numa

economia:

  elevação dos custos;

  aceleração da demanda agregada5 a níveis superiores aos da oferta.

5 Demanda Agregada: ou Demanda de Mercado ou Demanda Global, quantidade de bens ou serviços que atotalidade dos consumidores deseja ou está disposta em adquirir em determinado período de tempo e pordeterminado preço.

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No caso de inflação tipicamente de demanda, isto é, provocada por aquecimento

da demanda, o tratamento adotado consiste em:

  reduzir o crédito;

  controlar de forma decisiva os gastos do governo;

  reduzir a moeda disponível;

  ampliar a carga tributária sobre as empresas e os indivíduos.

Evidenciam-se, portanto, medidas de cunho fiscal e outras de ordem monetária.

Sob outra hipótese, a de inflação de custos, existem pressões altistas sobre osinsumos utilizados, inclusive mão-de-obra, o que acaba por provocar um repasse aos preços

dos bens e serviços.

No caso de oferta monopolista, esta inflação pode ser identificada como inflação de

lucros. Como se pode deduzir, trata-se de inflação provocada pela alta de preços dos bens e

serviços unicamente com o objetivo de ampliar as margens de lucro do ofertante.

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8 As Relações Econômicas Internacionais

8.1 Teoria das Vantagens Comparativas

O que leva muitos países a comercializarem entre si? Esta é uma questão básica a

ser respondida. Os economistas clássicos fornecem a explicação teórica básica para o

comércio internacional através do chamado Princípio das Vantagens Comparativas.

O Princípio das Vantagens Comparativas sugere que cada país deva se especializar

na produção daquela mercadoria em que é relativamente mais eficiente (ou que tenha um

custo relativamente menor). Esta será, portanto a mercadoria exportada, por outro lado

este país deverá importar aqueles bens cuja produção implicar um custo relativamente

maior.

A Teoria das Vantagens Comparativas foi formulada por David Ricardo em 1817. No

exemplo construído por esse autor, existem dois países (Inglaterra e Portugal), dois

produtos (tecido e vinho) e apenas um fator de produção (mão de obra):

Qtde. de homens/horapara a produção de uma unidade de mercadoria

Tecidos Vinho

Inglaterra

Portugal

100

90

120

80

Tabela 7 – Comparativo de Produção

Em termos absolutos, Portugal é mais produtivo na produção de ambas as

mercadorias. Mas em termos relativos, o custo da produção de tecidos em Portugal é maior

do que o da produção de vinho, e na Inglaterra, o custo da produção de vinho é maior que

o da produção de tecidos. Comparativamente, Portugal tem a vantagem relativa na

produção de vinho, e a Inglaterra na produção de tecidos. Segundo Ricardo, os dois países

obterão benefícios ao especializarem-se na produção da mercadoria em que possuem

vantagem comparativa, exportando-a, e importando outro bem. Não importa aqui, o fato de

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que um país possa ter vantagem absoluta em ambas as linhas de produção, como é o caso

de Portugal, no exemplo acima.

A teoria desenvolvida por Ricardo fornece uma explicação para os movimentos de

mercadorias no comércio internacional, a partir da oferta ou dos custos de produção

existentes nesses países. Logo, os países exportarão e se especializarão na produção dos

bens cujo custo for comparativamente menor em relação àqueles existentes, para os

mesmos bens, nos demais países exportadores.

Segundo a corrente estruturalista, os produtos manufaturados apresentam

elasticidade - renda da demanda maior que um, e os produtos primários, menor que um,

significando que o crescimento da renda mundial provocaria um aumento relativamente

maior no comércio de manufaturados, acarretando uma tendência crônica ao déficit no

balanço de pagamentos dos países exportadores de produtos básicos ou primários.

8.2 Determinação da Taxa de Câmbio

Quando dois países mantêm relações econômicas entre si, entram

necessariamente em jogo duas moedas, exigindo que se fixe a relação de troca entre ambas.

A taxa de câmbio é a medida de conversão da moeda nacional em moeda de outros países.

Exemplo: dólar pode custar 0,97 de real, 1 libra pode custar 1,27 real etc.

A determinação da taxa de câmbio pode ocorrer de dois modos:

institucionalmente, através de decisão de autoridades econômicas com fixação periódica

das taxas (taxas fixas de câmbio), ou através do funcionamento do mercado, onde as taxas

flutuam automaticamente, em decorrência das pressões de oferta e demanda por divisas

estrangeiras (taxas flutuantes).

A oferta de divisas é realizada tanto pelo os exportadores, que recebem moeda

estrangeira em contrapartida de suas vendas, como através da entrada de capitais

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financeiros internacionais. Como as divisas não podem ser utilizadas internamente, precisa

ser convertida em moeda nacional. Isso é feito pelo Banco Central da seguinte forma:

recebe dos importadores do exterior a quantia em divisas  – dólar, por exemplo, retendo-as

em seus cofres, e paga, ao exportador nacional em moeda nacional, em reais, a importância

correspondente.

Uma taxa elevada de câmbio significa que o preço da divisa estrangeira está alto,

ou que a moeda nacional está desvalorizada. Assim, a expressão desvalorização cambial

indica que houve um aumento da taxa de câmbio  – maior número de reais por unidade de

moeda estrangeira. Por sua vez, valorização cambial significa moeda nacional mais forte,

isto é, paga-se menos reais por dólar, por exemplo, tem – se uma queda na taxa de câmbio.

As taxas de câmbio estão intimamente relacionadas com os preços dos produtos

exportados e importadas e conseqüentemente, com o resultado da balança comercial do

país.

Se a taxa de câmbio se encontrar em patamares elevados, estimulará asexportações, pois os exportadores passaram a receber mais reais pela mesma quantidade

de divisas derivadas da exportação; em conseqüência haverá maior oferta de divisas. Por

exemplo: Suponhamos uma taxa de câmbio de 0,90 real por dólar, e que o exportador

vendia 1.000 unidades de seu produto a 50 dólares cada.

Seu faturamento era de 50.000 dólares ou 45.000 reais. Se o câmbio for

desvalorizado em 10% , a taxa de câmbio subirá para 0,99 real por dólar e, vendendo as

mesmas 1.000 unidades, receberá os mesmos 50.000 dólares, só que valendo agora 49.500

reais. Isso estimulará o exportador a vender mais, aumentando a oferta de divisas.

Do lado das importações, a situação se inverte, pois se o preço dos produtos

importados se elevam, em moeda nacional, haverá um desestímulo às importações e,

conseqüentemente, uma queda na demanda de divisas.

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8.3 A Inflação Interna e seus Efeitos sobre a Taxa de Câmbio

Até aqui analisamos a paridade cambial sem considerarmos os efeitos da inflação.

No entanto, o aumento do nível de preços internos  – ocorrência da inflação – provoca uma

redução da taxa real de câmbio, ou seja, com a inflação gera-se, internamente, uma queda

no poder aquisitivo da moeda. Os efeitos da perda do poder aquisitivo são: um desestímulo

às exportações, uma vez que o preço do produto exportado não sofre correlação

equivalente à inflação; e um estímulo às importações, já que os bens importados, ao não

serem corrigidos, ficam mais baratos.

8.4 A Atuação Governamental no Mercado de Divisas

O governo pode atuar através da política cambial ou da política comercial. A

política cambial diz respeito a alterações na taxa de câmbio, enquanto a política comercial

constitui-se de mecanismos que interferem no fluxo de mercadorias e serviços.

As políticas cambiais mais freqüentes são:

  Regime de taxas fixas de câmbio;

  Regime de taxas flutuantes ou flexíveis de câmbio;

  Regime de Bandas cambiais.

Dentre as políticas comerciais externas, podemos destacar as seguintes:

  Alterações das tarifas sobre importações;

  Regulamentação do comércio exterior.

8.5 A Estrutura do Balanço de Pagamentos

O balanço de pagamentos é o registro estatístico  – contábil de todas as transações

econômicas realizadas entre os residentes do país com os residentes dos demais países.

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Desse modo, estão registrados no balanço de pagamentos, por exemplo, todas as

exportações e importações do período considerado: os fretes, os seguros, os empréstimos

obtidos no exterior etc. Ou seja, todas as transações com mercadorias, serviços e capitais

físicos e financeiros entre o país e o resto do mundo.

O balanço de pagamentos apresenta as seguintes subdivisões:

  Balança Comercial:  Essa conta compreende basicamente o comércio de

mercadorias. Se as exportações FOB excedem as importações FOB, temos um

superávit no balanço de comércio; caso contrário temos um déficit.

  Balanço de Serviços:  Registram-se todos os serviços pagos/ recebidos peloBrasil, tais como fretes, seguros, lucros, juros, royalties e assistência técnica,

viagens internacionais.

  Transferências Unilaterais:  Também conhecidas como conta donativos,

registram as doações interpaíses. Estes donativos podem ser em divisas como

em mercadorias.

  Balanço de Transações Correntes:  O somatório dos balanços comercial, de

serviços e de transferências unilaterais resulta no saldo em conta corrente ou

balanço de transações correntes. Se o saldo do balanço de transações correntes

for negativo, temos uma poupança externa positiva, pois indica que o país

aumentou seu endividamento externo, em termos financeiros, mas absorveu

bens e serviços em termos reais no exterior.

  Movimento de Capitais ou Balanço de Capitais: Na conta de capital aparecem

as transações que produzem variações no ativo e no passivo externos do país e

que, portanto, modificam sua posição devedora ou credora perante o resto do

mundo.

A conta de Capital subdivide-se em duas:

a) Movimento autônomo de capital, na forma de investimentos diretos de

empresas multinacionais, de empréstimos e financiamentos para projetos de

desenvolvimento do país e de capitais financeiros de curto prazo, aplicados no

mercado financeiro nacional.

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b) Movimentos induzidos de capital, para financiar o saldo do balanço de

pagamentos. Inclui as contas Atrasadas Comerciais (quando o país não paga suas

obrigações na data do vencimento) e Empréstimos de Regulamentação do FMI

(quando o país tem problemas de liquidez internacional).

Cabe uma observação sobre a rubrica Erros e Omissões. É a diferença entre o saldo

do balanço de pagamentos e o financiamento do resultado que surge quando se tenta

compatibilizar transações físicas e financeiras.

A regra internacional é admitir para Erros e Omissões um valor de, no máximo, 5%

da soma das exportações com as importações.

8.6 Organismos Internacionais

As grandes guerras mundiais, assim como os conturbados anos da Grande

Depressão, que culminaram com a crise dos anos 30, provocaram enormes perturbações na

economia de praticamente todos os países, e por seguinte nas (relações econômicas

internacionais). Já ao final da Segunda Guerra Mundial evidenciava-se a necessidade de

mudanças no sistema de pagamentos internacionais.

Tais eram as preocupações reinantes nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial,

quando se via no comércio mundial um importante instrumento para potencializar o

desenvolvimento do mundo capitalista.

Dentro desse contexto foram criados os três principais organismos econômicos

internacionais do pós-guerra:

  Fundo Monetário Internacional (FMI):  Um dos objetivos principais do FMI é

socorrer os países a ele associados quando da ocorrência de desequilíbrios

transitórios em seus balanços de pagamentos.

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  Banco Mundial: Também conhecido por BIRD, foi criado com intuito de auxiliar a

reconstrução dos países devastados pela guerra e, posteriormente, para

promover o crescimento dos países em vias de desenvolvimento.

  Organização Mundial do Comércio (OMC):  Foi criada com objetivo básico de

reduzir as restrições ao comércio internacional e a liberalização do comércio

multilateral. Através do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), procurava-

se estruturar um conjunto de regras e instituições que regulassem o comércio

internacional e encaminhassem a resolução de conflitos entre os países. Nesse

sentido, o GATT estabeleceu como princípios básicos: redução das barreiras

comerciais, a não - discriminação comercial entre os países, a compensação dospaíses prejudicados por aumentos de tarifas alfandegárias e a arbitragem de

conflitos comerciais.

8.7 O Balanço de Pagamentos no Brasil

O início da contabilização do balanço de pagamentos no Brasil data de 1947,

quando os levantamentos eram feitos pelo Banco do Brasil e pela Fundação Getúlio Vargas.

Atualmente, essa tarefa é atribuição do Banco Central do Brasil. Desde o início, o saldo do

balanço de pagamentos em transações correntes tem sido predominantemente deficitário,

o que é considerado natural para economias pobres, que dependem de poupança externa

para se desenvolver. Na maior parte do período, os déficits  foram decorrência de saldo

negativo na conta serviços, pois a balança comercial mostrou predomínio de resultados

positivos. A década de 70 constitui a exceção mais expressiva, pois nesse período o país

acumulou déficits nos balanços comercial e de serviços. A maior parte das dificuldades na

balança comercial dessa época resultou do brusco aumento dos gastos com importação em

razão do choque do petróleo ocorrido em 1973.

A crise da dívida externa dos anos 80 fez ressurgirem os superávits comerciais. Essa

crise se caracterizou pelo corte abrupto nos fluxos de capitais das nações industrializadas

para as menos desenvolvidas. Além disso, os países devedores, em particular os da América

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Latina, foram submetidos a fortes pressões para pronto pagamento dos créditos tomados

no passado. Com isso, foram forçados a adotar programas de ajustamento que tinham como

meta obter rápido incremento de divisas para honrar os compromissos externos.

Entre 1990 e 1991, houve uma drástica redução dos investimentos diretos no país,

bem como dos empréstimos e financiamentos a longo prazo, reflexo da insegurança dos

investidores internacionais quanto às atitudes do governo Collor. De 1992 em diante, a crise

de confiança em nosso governo foi superada e o país voltou a captar recursos internacionais

em volumes crescentes.

Em julho de 1994, o Plano Real foi implantado. Dentre suas conseqüências,

destaca-se a valorização da moeda nacional, que estimulou importações e reduziu

exportações. Esse fato contribuiu para nova transformação nas relações econômicas

brasileiras com o resto do mundo, deixando o país numa situação muito vulnerável aos

movimentos especulativos internacionais.

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9 Crescimento e Desenvolvimento Econômicos

9.1 Noções de Crescimento Econômico

O estudo do desenvolvimento  –  ou, como é mais conhecido, do crescimento  – 

econômico tem-se concentrado na abordagem da dinâmica dos sistemas industriais. Em

outras palavras, a teoria do desenvolvimento tem-se preocupado com a dinâmica das

economias desenvolvidas. O que for considerado válido para a explicação do fenômeno do

crescimento nos países avançados o será também para os países atrasados.

9.2 Crescimento e Desenvolvimento

Desenvolvimento e crescimento econômico apresentam-se intimamente

relacionados na análise econômica.

Uma diferenciação entre os dois conceitos pode ser assim formulada: crescimento

econômico implica alteração na taxa de crescimento ou na estrutura da economia, ou

ambas. O desenvolvimento econômico significa aumento de produtividade  –  com

repercussões sobre a distribuição e utilização da renda  –  decorrente de fenômenos de

crescimento em setores particulares da economia.

Se, por uma lado, o crescimento econômico implica melhor eficiência do sistema

produtivo, o processo de desenvolvimento econômico, por sua vez, consiste na observação

de uma diminuição dos níveis de pobreza, de desemprego e de desigualdade de

rendimentos, conjugada a uma elevação das condições de saúde, de nutrição, de educação,

de habitação e de outros requisitos básicos da população.

Dessa forma, o desenvolvimento é ao mesmo tempo um problema de acumulação

e progresso técnico  –  traduzidos pelo aumento da produtividade  –  e um problema deexpressão dos valores de uma coletividade – advindos da distribuição e utilização da renda.

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9.3 Fatores de Crescimento

Do ponto de vista técnico, o crescimento econômico está relacionado a três

variáveis principais: crescimento da população, acumulação de capital e progresso

tecnológico.

9.3.1 Crescimento da População

Sendo a mão-de-obra um dos fatores de produção, um aumento da população será

acompanhado de um deslocamento positivo da curva de possibilidade de produção da

sociedade. Acontece, no entanto, que crescimento econômico envolve aumento do Produto

Nacional per capita, dado pela relação entre Produto Nacional e o total da população. Se o

aumento do Produto Nacional for maior que o aumento da população, em termos

proporcionais, ter-se à um aumento de Produto per capita.

9.3.2 Acumulação de Capital

A acumulação de capital é também conhecida pela geração e acumulação de

excedentes, isto é, a produção de um volume de bens e serviços em níveis superiores àquele

necessário à sobrevivência dos membros da coletividade humana produtora destes bens e

serviços. Se tais excedentes forem direcionados para o consumo e absorvidos por toda a

população, certamente, melhorariam suas condições de vida, momentaneamente, sem que

nenhuma alteração se processasse na capacidade produtiva.

9.3.3 Progresso Tecnológico

Implica mudanças na qualidade e na utilização dos fatores básicos de produção.

Assim, são incorporados no processo produtivo novos métodos, novos materiais, novas

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aptidões etc., justificando a conclusão de que o progresso tecnológico vem sendo fator

propulsor do desenvolvimento nas economias modernas.

É importante considerar, neste sentido, que o progresso tecnológico é o resultado

de uma série de outros fatores que denotam o estágio de desenvolvimento de uma

coletividade, tais como a educação e a pesquisa, a aquisição de novas aptidões, as letras em

geral, o treinamento no trabalho e outras maneiras pelas quais uma sociedade prepara seus

membros para que descubram, desenvolvam e apliquem novos conhecimentos.

9.4 Crescimento Econômico no Brasil

Os desafios da estrutura econômica brasileira, impostos por uma estrutura

francamente exógena, ou seja, voltada para a exportação de produtos primários e uma

contrapartida desvantajosa, com a importação de produtos de valor agregado maior e mais

desenvolvidos tecnologicamente, traduzem-se na elaboração de sucessivos planos,

balizados pela busca da superação das desigualdades e redução da larga depressão entre

ricos e pobres.

A seguir, poderemos observar algumas dessas práticas, da história econômica

recente brasileira.

9.4.1 Plano Cruzado

O Plano Cruzado foi um conjunto de medidas econômico-institucionais descrito

pelo Decreto-Lei nº 2.283/86, cujas principais medidas foram:

  substituição do cruzeiro pelo cruzado como nova moeda do sistema monetário

brasileiro, 1 cruzado equivalendo a 1.000 cruzeiros;

  conversão geral, por prazo indefinido, dos preços finais dos produtos, ao nívelvigente em 27 de fevereiro (exceto as tarifas industriais de energia elétrica);

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  conversão dos salários com base na média do seu poder de compra nos seis

meses anteriores, e mais um acréscimo de 8% para os salários em geral e de 16%

para o mínimo;

  aluguéis e hipotecas seriam convertidos seguindo-se a mesma fórmula aplicada

aos salários, mas sem o aumento de 8%;

  introdução da escala móvel de salários (gatilho), a qual garantia um reajuste

salarial automático a cada vez que o aumento acumulado no nível de preços ao

consumidor atingisse 20%;

  proibição da indexação em contratos com prazo inferior a um ano;

  conversão dos contratos previamente estabelecidos em cruzeiros para cruzados,de acordo com uma tabela em que o cruzeiro era desvalorizado a uma taxa

mensal de 14% (taxa de inflação mensal esperada contida nos contratos) em

face da nova moeda;

  o regime cambial foi congelado na paridade de 13,84 cruzados por dólar.

Nos primeiros meses, o plano teve aparente sucesso, com controle da inflação e

crescimento econômico. O grande apoio da população deu origem aos “fiscais do Sarney”. O

congelamento transformou-se assim no elemento do Plano Cruzado de maior apelo popular,

o que levaria o governo a sustentá-lo ao máximo, a qualquer custo, sobretudo por se tratar

de ano eleitoral.

Houve uma explosão de consumo, reprimido durante os anos anteriores,

provocada pelo aumento do poder de compra dos salários, além de uma grande

“despoupança”.

9.4.2 Plano Bresser

No mês de junho de 87, o novo ministro lançou o Plano de Estabilização Econômica,

mais conhecido como Plano Bresser, um pacote híbrido, com elementos ortodoxos e

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heterodoxos, assemelhando-se ao Cruzado em alguns aspectos, mas procurando evitar os

erros já cometidos.

A meta principal do plano era controlar a inflação e evitar uma hiperinflação. Para

tanto o governo tomou as seguintes medidas:

  o gatilho foi extinto, reduziu-se os gastos do governo e as taxas de juros reais

foram mantidas elevadas;

  preços e salários foram congelados por três meses;

  política cambial de desvalorizações diárias para evitar desequilíbrios externos;

  política fiscal e monetária rigorosas.

No início, o plano atingiu alguns de seus objetivos, baixando a inflação e o déficit

público e expandindo os saldos comerciais, o que possibilitou o fim da moratória da dívida

externa.

Com o passar do tempo, outros problemas começaram a surgir: o plano perdeu

credibilidade junto à opinião pública, os desequilíbrios dos preços relativos e superávits

comerciais causaram pressões inflacionárias, os juros altos inibiram o investimento e a

reforma tributária que fazia parte do plano foi barrada por restrições de ordem política.

9.4.3 Maílson da Nóbrega e o Plano Verão

Seu objetivo era cortar o déficit operacional de 8% para 4% e reter a inflação ao

redor dos 15% ao mês. Dentre as medidas tomadas destacam-se a suspensão temporária

dos reajustes do funcionalismo público e o adiantamento dos aumentos de preços

administrados.

Tal política foi malsucedida e, em julho de 1988, a inflação já ultrapassava 24% e os

preços públicos foram reajustados. Emitia-se moeda para cobrir os superávits da balança

comercial e a nova constituição dificultava a pretendida redução dos gastos públicos.

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Em novembro de 1988, celebrou-se entre governo, empresários e trabalhadores o

chamado pacto social, que estabelecia limites para aumentos de preços e propunha uma

revisão da metodologia de reajustes salariais e um plano para equilibrar as contas públicas.

O fracasso dessa nova tentativa levou o governo a decretar um novo plano

econômico: o Plano Verão. Em 15 de janeiro de 1989, foi anunciado o Plano Verão, outro

plano misto. Foi introduzida uma nova moeda (Cruzado Novo), equivalente a mil cruzados e

o dólar foi cotado a NCz$ 1,00 após uma desvalorização da moeda nacional.

Principais medidas:

  taxas de juros elevadas, desindexação e a promessa de ajuste fiscal;

  os preços foram congelados por tempo indeterminado;

  os salários foram convertidos pelo poder de compra médio dos doze meses

anteriores e reajustados em 26,1%, sendo extinto o indexador dos salários;

Em setembro de 1989 o governo suspendeu o pagamento dos juros da dívida

externa, em razão da deterioração do saldo comercial.

9.4.4 Plano Collor

Seus objetivos centrais eram combater a inflação e reduzir o déficit público,

criando, segundo seus mentores, as condições para o Brasil ingressar no chamado Primeiro

Mundo.

As principais medidas adotadas foram:

  a extinção de 24 empresas estatais, com a demissão dos respectivos

funcionários que não estivessem protegidos pelas regras da estabilidade;

  a elevação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI);

  o aumento da taxação sobre os lucros do setor agrícola e o fim dos subsídios àexportação não garantidos no texto constitucional;

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  a reintrodução do Cruzeiro como moeda nacional, em substituição ao cruzado

novo, criado no governo anterior;

  o congelamento de preços e salários, que passariam a ser reajustados conforme

índices de inflação prefixados;

  o fim dos títulos ao portador e dos cheques ao portador de valores acima de um

teto determinado;

  a flutuação do câmbio segundo as tendências do mercado;

  a redução da presença do Estado na economia, por meio da privatização de

empresas estatais;

  e a abertura econômica para o exterior, com a redução progressiva das alíquotasde importação.

Os objetivos estratégicos do Plano Collor estavam sintonizados com as

recomendações do Consenso de Washington, denominação dada às conclusões do

seminário que, em novembro de 1989, reuniu técnicos do governo dos Estados Unidos, do

FMI, do Banco Mundial e do BID, além de economistas de países latino-americanos, para

avaliar as reformas econômicas em curso no continente.

O seminário concluiu pela aprovação dos programas de ajuste então levados a cabo

na maioria dos países da região - dos quais Peru e Brasil eram as principais exceções -,

inspirados nas medidas que o governo norte-americano recomendava como requisitos para

o estabelecimento de laços de cooperação financeira.

Tais medidas giravam em torno de três eixos principais:

  a retirada do Estado das atividades econômicas;

  a liberalização dos mercados nacionais à importação de bens e serviços e à

entrada de capitais de risco;

  a obtenção da estabilidade monetária, por meio do combate intransigente à

inflação, ainda que à custa de recessão.

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9.4.5 Plano Real

De acordo com a escola novo-clássica de Economia, a desaceleração da inflação no

longo prazo está associada a uma redução da  produção de bens e serviços por um certo

período, até que os agentes econômicos adaptem-se à nova realidade de formação de

preços e reestruturem suas expectativas quanto à Economia. Esta redução temporária da

produção é denominada Taxa de Sacrifício, noção proposta inicialmente por Robert Lucas. O

custo social dessa política é a elevação da taxa de desemprego. 

O plano foi composto por três principais frentes de ações:  Ajuste Fiscal: Combinando aumento de impostos e cortes nos gastos públicos, o

governo procurou reduzir o desequilíbrio entre a arrecadação e os gastos

públicos.

  Desindexação da Economia: após anos de inflação recorrente, os agentes

econômicos passaram a indexar preços a índices de inflação, criando um círculo

vicioso de aumento de preços. A principal ação para reverter este quadro foi a

adoção da URV (Unidade Real de Valor), como forma de eliminar a memória

inflacionária. A URV era definida diariamente através de um cálculo usando

como base uma média diária de inflação através de uma cesta de índices

inflacionários.

  Política Monetária Restritiva: o governo tomou diversas medidas para restringir

a atividade econômica interna, como aumento da taxa básica de juros e

aumento dos depósitos compulsórios.

9.4.6 Resumo dos Planos Econômicos e seus Resultados

A seguir, apresentaremos um quadro6 com as principais características dos planos

implementados na história econômica recente brasileira, e os resultados destas políticas:

6 Revista Conjuntura Econômica. Edição Especial. Novembro, 1997.

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Plano Principais Medidas Resultados

Cruzado

Fevereiro de 1986

 Congelamento geral de preços e salários;

 Desindexação da economia;

 Ausência de controle monetário e fiscal; Criação de nova moeda, com corte de 3

zeros: cruzado.

 Preços, salários e taxa de câmbio

estáveis por 6 meses;

 Crescimento momentâneo do PIB; Crise no Balanço de Pagamentos;

 Deterioração das expectativas dos

agentes acerca de novas medidas.

Bresser

Junho de 1987

 Congelamento geral de preços e salários;

 Tentativa de ajuste fiscal;

 Tentativa de redução da dívida externa.

 Preços e salários ficaram estáveis por

3 meses;

 Fracasso no ajuste fiscal;

 Fracasso na negociação da dívida

externa;

 Política monetária descontrolada; Recessão;

 Superávit  comercial.

Verão

Janeiro de 1989

 Congelamento geral de preços, salários e

câmbio;

 Taxas de juros altas;

 Nova tentativa de ajuste fiscal;

 Desindexação parcial;

 Criação de uma nova moeda, com corte

de 3 zeros: cruzado novo.

 Preços e salários ficaram estáveis por

2 meses;

 Política monetária entra em

descontrole;

 Novo fracasso na tentativa de

controle fiscal;

 Diminuição do superávit  comercial;

 Calote da dívida externa;

 Introdução de uma indexação diária;

 Hiperinflação.

Collor I

Março de 1990

 Novo controle de preços e salários;

 Confisco de contas bancárias;

 Taxa de câmbio apreciada;

 Ajuste fiscal;

 Reintrodução do cruzeiro;

 Suspensão dos pagamentos da dívidaexterna;

 Desindexação dos salários.

 Preços e salários ficaram estáveis por

2 meses;

 Política monetária expansionista;

 Ajuste fiscal curto e ineficiente;

 Fraca performance na Balança

Comercial; Recessão;

 Nova crise de incerteza com

deterioração das expectativas acerca

da estabilização monetária.

Collor II

Fevereiro de 1991

 Controle de preços e salários;

 Desindexação;

 Ajuste das tarifas públicas;

 Redução das alíquotas de importação.

 Preços e salários estáveis por 3

meses;

 Criação de uma taxa de indexação

usada na maioria dos contratos;

 Deterioração, em termos reais, das

tarifas públicas.

continua na página seguinte...

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Plano Principais Medidas Resultados

Real

Março de 1994

 Renegociação da Dívida Externa;

 Criação de um indexador diário: URV;

 Conversão do cruzeiro novo em Real; Preços e salários livres;

 Salário mínimo passa a ser reajustado

uma vez por ano;

 Política cambial passa para o sistema de

bandas;

 Abertura comercial ampla;

 Acelerado processo de privatização;

 Reservas internacionais com lastro para a

nova moeda;

 Implantado o sistema de metas

monetárias;

 Proibição de indexação de contratos com

prazo inferior a um ano.

 Forte queda da inflação;

 Inserção das classe C e D no mercado

consumidor; Remonetização e aquecimento da

economia;

 Forte deterioração da Balança

Comercial;

 Aumento dos gastos públicos;

 Fim do imposto inflacionário;

 Fragilização do sistema bancário;

 Aumento da confiança dos agentes

externos;

 Forte influxo de capitais externos.

Quadro 5 – Resumo dos Planos Econômicos Brasileiros (1986 – 1994)

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Referências

Bibliográficas

CASTRO, A. e LESSA, C. Introdução à Economia: Uma Abordagem Estruturalista. 31ª

ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1988.

JORGE, F. e MOREIRA, J. Economia: Notas Introdutórias. São Paulo: Atlas, 1995.

SANDRONI, Paulo. Novo Dicionário de Economia. 4ª ed. São Paulo: Best Seller,

1994.

SINGER, Paul. Aprender Economia. São Paulo: Contexto, 2002.

VASCONCELLOS, M. e GARCIA, M. Fundamentos de Economia. São Paulo: Saraiva,

2003.

Eletrônicas

CORECON, Conselho Regional de Economia de São Paulo. Planos Econômicos no

Brasil . Disponível em: http://www.coreconsp.org.br/indicadores/dip/planos

 _economicos.html Acesso em: 17/02/10.

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ANEXOS

Anexos

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Anexo 1: Atividades Complementares

A1.1 Apresentação

As Atividades Complementares – AC são componentes curriculares obrigatórios dos

Projetos Pedagógicos dos Cursos Superiores de Tecnologia da UNIP, em consonância com as

respectivas Diretrizes Curriculares Nacionais. As AC possibilitam o reconhecimento, por

avaliação, de habilidades, conhecimentos e competências do aluno, incluindo a prática de

estudos e atividades independentes, transversais, opcionais e de caráter interdisciplinar,

especialmente nas relações com o mundo do trabalho, nas ações de extensão junto à

comunidade e no envolvimento inicial com a pesquisa acadêmica.

A1.2 Orientações

As indicações de AC estão distribuídas por categorias e em cada atividade proposta

constam os conceitos-chave da matéria correlata, as horas a serem validadas e os

respectivos prazos de entrega.

Os relatórios deverão ser, obrigatoriamente, de AUTORIA DO ALUNO e

MANUSCRITOS, com no mínimo 20 linhas e no máximo 2 páginas, e comprovantes em

anexo.

Estes comprovantes deverão ser, preferencialmente, os originais da atividade

realizada. Nos casos de artigos e/ou reportagens, uma cópia do mesmo deverá ser anexada.

Somente serão validadas, como cumprimento de horas de AC do semestre, as atividades

realizadas no próprio semestre.

Os alunos devem observar as datas previstas para entrega dos relatórios das AC.

Em hipótese alguma, serão aceitas atividades entregues fora do prazo!!

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A1.3 Indicações7/8 

a) Atividade Complementar 1:

Descrição: FERREIRA, Vera Rita de Mello. Anatomia das Decisões Econômicas. In:Decisões Econômicas: Você Já Parou Para Pensar?  São Paulo: Saraiva,2007, p. 95-107.

Gênero: Capítulo (6) de Livro.

Conceitos-Chave: Racionalidade; Comportamento do Consumidor; Finanças.

Validação (horas): Até 06 horas.

Data de Entrega: De 22 a 26.03.2010

b) Atividade Complementar 2:

Descrição: O GÂNGSTER ( American Gangster ). Direção: Ridley Scott. Roteiro:Steven Zaillian, baseado em artigo de Mark Jacobson. EUA, 2007. 157min. Legendado.

Gênero: Filme.

Conceitos-Chave: Oferta e Demanda; Estruturas de Mercado; Concorrência.

Validação (horas): Até 04 horas.

Data de Entrega: De 12 a 23.04.2010

c)  Atividade Complementar 3:

Descrição: GONÇALVES, C. e GUIMARÃES, B. E eu vos declaro marido e mulheres.In: Economia Sem Truques. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008, p. 43-47.

Gênero: Capítulo (6) de Livro.

Conceitos-Chave: Problema Econômico Fundamental; Ética; Fatores de Produção.

Validação (horas): Até 06 horas.

Data de Entrega: De 03 a 07.05.2010

d) Atividade Complementar 4:

Descrição: Atividade Livre.

Gênero: Artigo Científico; Congresso; Feira; Palestra; Reportagem; Seminário.

Conceitos-Chave: Economia; Mercado; Finanças Pessoais.

Validação (horas): Até 10 horas.

Data de Entrega: De 17 a 21.05.2010

7 Os alunos devem estar atentos às datas de entrega, conforme o dia da semana que têm aula da disciplina.8 As horas a serem atribuídas dependem do teor da matéria, podendo chegar às horas previstas.

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Anexo 2: Conteúdo Programático Detalhado

Unidade Curricular: Economia e Mercado

Período Letivo: 1º Semestre

Carga Horária: 60 horas

ObjetivosIdentificar e compreender as formas de organização que prevaleceram no País até a dataatual. Analisar os fatores responsáveis pela diversidade dos aspectos físicos e humanos doterritório brasileiro. Identificar e compreender a dinâmica das relações inter e intra-regionaisdo território brasileiro. Entender a teoria, os objetivos e os métodos da abordagemmicroeconômica e o modelo de desenvolvimento econômico. Entender as interdependênciase impactos das variáveis macroeconômicas nas organizações.

EmentasPanorama econômico/financeiro do Brasil. Socioeconomia: dimensões, desigualdades eindicadores. Políticas macroeconômicas e seu impacto. Abordagem histórica da economia.Desenvolvimento regional. O problema econômico. A dinâmica dos mercados e seusimpactos nas organizações. A importância da moeda. As contas nacionais como quadro dereferência para análise de variáveis macroeconômicas. Estudo das variáveis

macroeconômicas, suas interdependências e impactos nas organizações. Mudanças desalários, lucros, impostos, juros, câmbio e oferta de moeda e seus impactos no nível depreços e produção. Crescimento e desenvolvimento econômico. Nova economia mundial.

Conteúdo Programático

1. Panorama econômico/financeiro do Brasil  Dimensões e desigualdades sócio-econômicas  Abordagem histórica da economia brasileira  Desenvolvimento regional e impacto financeiro

2. O problema econômico  A razão de ser da economia política. A escassez e importância dos fatores de

produção no processo econômico  O aproveitamento dos recursos para a maximização da produção global da economia:

a curva de possibilidades de produção e a lei dos rendimentos decrescentes  As questões centrais da economia e a inserção das organizações nos ambientes

econômicos

3. O funcionamento do sistema econômico  Diferenciando regime, estrutura e sistema econômico, para a compreensão das formas

de organização da atividade econômica

  Os fluxos fundamentais e a inserção dos agentes na atividade econômica

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4. A dinâmica dos mercados e seus impactos nas organizações  Determinação de preços e quantidades em mercados concentrados e não

concentrados  Ameaças e oportunidades para as organizações, dos mercados concentrados e não

concentrados e estratégias de sobrevivência relacionadas5. O Setor Público  Formas de ação econômica e razões da expansão das atividades públicas  O papel regulador do Estado na atividade econômica e seus impactos sobre as

organizações

6. O Mercado monetário  Conceito e história da moeda  A demanda de moeda  A oferta de moeda  Criação e destruição de moeda  Os meios de pagamento, base monetária, o efeito multiplicador da moeda bancária e

seus impactos sobre as organizações e sobre o nível de preços da economia

7. O Mercado de divisas internacionais  As vantagens comparativas entre as nações, as razões de um intercâmbio comercial

com o exterior e as ameaças e oportunidades para as organizações deste intercâmbio  Taxa de câmbio: conceito e formas de estabelecimento da taxa de câmbio de

equilíbrio  O balanço de pagamentos e a inserção das organizações na política cambial

8. Desenvolvimento e crescimento econômicos

  Análise dos planos econômicos recentes e seus impactos nas organizações.

Bibliografia

Bibliografia Básica (títulos , periódicos, etc.) Título/Periódico Autor Edição Local Editora Ano

Economia brasileiracontemporânea

GREMAUD, A. P.;VASCONCELLOS,M.A.S.

4ª. São Paulo Atlas 1999/2004

Introdução àeconomia: princípios

de micro emacroeconomia

MANKIW, N. G. -

Rio de

Janeiro Campus 1999/2001

Bibliografia Complementar (títulos , periódicos, etc.) Título/Periódico Autor Edição Local Editora Ano

Economia: notasintrodutórias

JORGE, F. T.;MOREIRA, JoséOctávio C.

- São Paulo Atlas 1990

Introdução aodesenvolvimento: umaabordagem histórico-

estruturalista

FURTADO, C.  - São Paulo Ed. Paz eTerra 

2000 

Economia aplicada àadministração

JORGE, F. T.;SILVA, F. Gomes

3ª. São Paulo Futura 2001/2002

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Economia industrial KON, Anita - São Paulo Nobel 1994Introdução à economia ROSSETTI, J. P. 18ª. São Paulo Atlas 2000Câmbio, ouro e dívidaexterna

GAROFALO FILHO,E.

- São Paulo Saraiva 2003

Introdução à economia TROSTER, RobertoLuís; MOCHÓN,Francisco M.

- São Paulo MakronBooks

2000

Empresas feitas paravencer

COLLINS, Jim -Rio deJaneiro

Campus 2002

Empresas feitas paradurar

COLLINS, Jim -Rio deJaneiro

Campus 2000

Outros

Estratégias de EnsinoO curso contará com equilíbrio teórico  –  prático por meio de exposições e discussão de

casos práticos, utilizando:  Aulas expositivas  Aulas reflexivas com análise de casos  Dinâmica de grupos  Seminários  Vídeos  Debates

Será sempre indicada a bibliografia básica e específica necessária ao acompanhamento docurso e orientação do aluno na vida acadêmica e profissional.

 A exposição será feita por meio de colocação dos pontos a serem discutidos de formaesquemática, seguida de apresentação por parte do professor. Para todas as exposições epara todos os pontos deverão ser utilizadas apresentações de casos práticos.

Estratégias de AvaliaçãoDuas provas teóricas/práticas bimestrais e trabalhos individuais ou em grupo, mais o projetoPIM, sempre envolvendo os assuntos voltados à gestão das organizações, sendo que amédia do semestre será constituída por 40% da nota da P1, 40% da nota da P2 e 20 % danota do PIM.

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Anexo 3: A Importância da Ignorância na Pesquisa Científica9 

Reencontrei recentemente uma velha amiga que não via há anos. Éramos alunos de

doutorado na mesma época, ambos estudando ciência mas em diferentes áreas. Ela deixou

a área e foi para faculdade de direito em Havard e agora é advogada sênior de uma grande

organização ambiental. Num determinado momento a conversa pendeu para o porquê de

ela ter largado a academia. Para meu total espanto ela disse que saíra porque se cansou de

se sentir estúpida. Após alguns anos se sentindo estúpida todos os dias ela percebeu que

estava pronta para fazer outras coisas.

Para mim ela era uma das pessoas mais brilhantes que eu conheci, e a sua carreira

posterior prova esta constatação. O que ela disse me incomodou. Eu continuei pensando

naquilo, até que no dia seguinte caiu a ficha. A ciência me faz sentir idiota também. O que

acontece é que eu me acostumei com isso. Tanto me acostumei a isto que persigo

ativamente novas oportunidades de me sentir estúpido. Não sei o que eu faria sem este

sentimento, e até acho que é assim que deve ser. Deixe-me explicar.

Para a maioria de nós, uma das razões para gostarmos de ciências na escola era que

nós éramos bons nisto. Mas esta não pode ser a única razão  –  fascínio por entender o

mundo físico e uma necessidade emocional de descobrir novas coisas devem existir

também. Mas para a escola e a faculdade, a ciência consiste em fazer aulas, e ir bem nas

aulas significa dar as respostas certas nas provas. Se você souber as respostas você passa

bem e se sente esperto.

No doutorado, onde você tem um projeto de pesquisa, a coisa é bem diferente.

Para mim foi uma tarefa amedrontadora. Como eu poderia formular a pergunta que me

levaria a uma descoberta significativa; desenhar e interpretar um experimento para que as

conclusões fossem absolutamente convincentes; prever obstáculos e achar maneiras de

circundá-los, ou, caso falhasse nisso, resolvê-los quando aparecessem? Meu projeto de

doutorado era interdisciplinar e, por um tempo, sempre que tive um problema eu podia

9 Originalmente publicado no  Journal of Cell Science e traduzido por Rafael Soares. 

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importunar alguém em meu departamento, que tinha especialistas em várias disciplinas de

meu interesse. Eu me lembro de um dia em que Henry Taube (que ganhou o prêmio Nobel

dois anos depois) me disse que não sabia como resolver um problema que eu estava tendo,

mesmo se tratando de sua área.

Percebi que eu era apenas um aluno de trinta anos e que Taube deveria, por baixo,

saber mil vezes mais do que eu. Se ele não tinha a resposta, então ninguém tinha.

Foi aí que entendi: ninguém sabe. Por isso mesmo que é um problema em

pesquisa. E sendo a MINHA pesquisa, era minha responsabilidade resolvê-lo. Ao encarar

este fato resolvi o problema em poucos dias. (E não era realmente muito difícil; apenas tive

que testar algumas poucas coisas.) A moral da história é que a área das coisas que eu não

sabia não era apenas vasta; era, na prática, infinita. Ao invés desta constatação ser

desencorajadora, ela era libertadora. Se a ignorância é infinita, a única atitude que nos

sobra é dar o melhor de nós.

Eu gostaria de dizer que os programas de pós-graduação geralmente fazem umdesserviço para a formação do estudante de duas formas. Primeiro, porque os estudantes

não percebem o quão difícil é fazer pesquisa. Mais difícil ainda pesquisa de grande

importância. É muito mais difícil que ir bem nas aulas, mesmo nas mais exigentes. O que

torna a pesquisa difícil é o mergulho no desconhecido. Nós simplesmente não sabemos o

que estamos fazendo. Até termos um resultado, nós nem ao menos estamos certos se

estamos fazendo as perguntas certas ou os experimentos adequados. Para atrapalhar, ainda

temos a competição por financiamento e visibilidade em revistas de prestígio. Mas fora isto,

fazer pesquisa relevante é intrinsecamente difícil, por isso qualquer mudança nos cursos,

departamentos ou instituições não vão diminuir esta dificuldade intrínseca.

Segundo, nós não ensinamos nossos alunos a serem ignorantes produtivos  –  ou

seja, se eu não me sinto estúpido, significa que eu não estou realmente me esforçando. Não

estou falando de ´ignorância relativa´, como quando os outros alunos na turma lêem as

lições, estudam, passam na prova, e você não. Também não estou falando de pessoas

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brilhantes que estejam em áreas que não aproveitam seus talentos. Ciência envolve

confronto com a ´ignorância absoluta'. Aquela que é um fato existencial inerente a nosso

esforço de adentrar no desconhecido. Exames de admissão e bancas de defesa atingem seus

objetivos quando forçam o aluno até começar a dar respostas erradas ou desistir e dizer,

´não sei´. O objetivo do exame não é avaliar se o aluno responde todas as perguntas. Se ele

responder, quem falhou no teste foi a banca. O objetivo real é identificar as fraquezas do

aluno, primeiro para ver onde ele deve se esforçar mais, e segundo para saber se o

conhecimento dele estaciona no nível alto o suficiente para tocar um projeto de pesquisa.

Estupidez produtiva significa ser ignorante por escolha. Focar em uma questão

importante nos coloca numa posição de ignorância. Uma coisa boa em ciência é que ela nos

permite tropeçar por aí, errar de vez em quando, e mesmo assim nos sentirmos bem,

contanto que aprendamos algo com isso tudo. Claro que isto é muito difícil para alunos que

estão acostumados a ter a resposta certa. Claro que um bom nível de confiança e equilíbrio

emocional ajudam, mas eu acho que educação científica deve fazer mais para atenuar esta

grande transição: de aprender as descobertas de outras pessoas para começar a fazer as

suas próprias. Quanto mais confortáveis estivermos sendo ignorantes, mais profundamentepoderemos penetrar no desconhecido para fazer grandes descobertas.

Referência10 

SCHWARTZ, Martin. The importance of stupidity in scientific research. Virginia: Department