Aptidão física e actividade física em populações Africanas: Uma … · África, face à...

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Rev Port Cien Desp 6(3) 373–400 373 Aptidão física e actividade física em populações Africanas: Uma revisão da literatura Leonardo Nhantumbo 1,3 Sílvio Saranga 1,3 André Seabra 2 José Maia 2 António Prista 1,3 1 Faculdade de Ciências de Educação Física e Desporto Universidade Pedagógica Moçambique 2 Faculdade de Desporto Universidade do Porto Portugal 3 Laboratório de Fisiologia do Exercício DCD — Universidade Eduardo Mondlane Maputo Moçambique RESUMO O estabelecimento de relações entre a aptidão física e saúde a partir de uma óptica epidemiológica deriva, de entre outras razões, do incremento conspícuo do sedentarismo que se observa nos países industrializado e que se apresenta associado a uma multiplicidade de factores de condições mórbidas. Em África, face à predominância de actividades de sobrevivência o sedentarismo e suas comorbilidades não se afiguram como prioridade ou matéria de relevo. Contudo, as preocupações em torno da aptidão física neste continente, ainda que de panora- ma distinto, são pertinentes face a crescente urbanização das sociedades Africanas tem concorrido para o incremento dos níveis de hipocinésia, o que começa a inquietar as autoridades sanitárias. A presente revisão da literatura foi realizada com o propósito de minorar a escassez e dispersão da pesquisa em populações Africanas. Recorrendo à consulta de bases disponí- veis, foram seleccionados todos os artigos que versassem estu- dos realizados em África com indexação aptidão física e activi- dade física. Dos estudos revistos emerge (1) uma inquietação em torno do alcance antropobiológico da expressão da aptidão física e dos padrões de actividade física das populações africa- nas de diferentes idades, grupos étnicos e estratos sócio-econó- micos, designadamente da influência stress ambiental, do estado nutricional e das infecções parasitárias na variabilidade da sua expressão e (2) o facto da avaliação da aptidão física e dos cri- térios de normalização estatural se basearem em valores de referência construídos a partir de amostras de países desenvol- vidos emprestarem a este processo problemas de transculturali- dade, têm ultimamente suscitado polémica e investigação sobre a sua validade. Palavras-Chave: aptidão física, actividade física, África, saúde pública, epidemiologia. ABSTRACT Physical Fitness and Physical Activity in Africa. State of the Art The established link between physical fitness and health is based on epidemiological evidence about sedentary lifestyles associated with mul- tiple factors of morbid conditions. In Africa, survival activities demanding a lot of energy expenditure and moderate to high levels of physical fitness are not correlated with sedentary and its co-morbidi- ties. Due to this major reason, no special attention was given to the relationship between fitness and health. Yet, there has been an increased interest and research about physical fitness of African chil- dren and adolescents due to the fact the urbanization is increasing in small to big African cities, and its potentiality in reducing physical activity levels. Such a fact is becoming a concern of health authorities. The present literature review was conducted with the aim of synthesis- ing the available information. Based on a data base search, we selected all indexed papers with Africa, physical activity and physical fitness. From this search, two main issues are at hand: (1) a discussion about the clear anthropobiological meaning of physical fitness and physical activity patterns of African population of different ages, ethnicity, and socio-economic strata with a special emphasis on environmental stress, nutritional status and infection; (2) the fact that physical fitness assessment and normalizing criteria to height are based on reference data from developed countries that pose cross-cultural validity prob- lems. Key-words: physical fitness, physical activity, Africa, public health, epidemiology.

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Aptidão física e actividade física em populações Africanas: Uma revisão da literatura

Leonardo Nhantumbo1,3

Sílvio Saranga1,3

André Seabra2

José Maia2

António Prista1,3

1 Faculdade de Ciências de Educação Física e DesportoUniversidade PedagógicaMoçambique

2 Faculdade de DesportoUniversidade do PortoPortugal

3 Laboratório de Fisiologia do ExercícioDCD — Universidade Eduardo MondlaneMaputoMoçambique

RESUMOO estabelecimento de relações entre a aptidão física e saúde apartir de uma óptica epidemiológica deriva, de entre outrasrazões, do incremento conspícuo do sedentarismo que seobserva nos países industrializado e que se apresenta associadoa uma multiplicidade de factores de condições mórbidas. EmÁfrica, face à predominância de actividades de sobrevivência osedentarismo e suas comorbilidades não se afiguram comoprioridade ou matéria de relevo. Contudo, as preocupações emtorno da aptidão física neste continente, ainda que de panora-ma distinto, são pertinentes face a crescente urbanização dassociedades Africanas tem concorrido para o incremento dosníveis de hipocinésia, o que começa a inquietar as autoridadessanitárias. A presente revisão da literatura foi realizada com opropósito de minorar a escassez e dispersão da pesquisa empopulações Africanas. Recorrendo à consulta de bases disponí-veis, foram seleccionados todos os artigos que versassem estu-dos realizados em África com indexação aptidão física e activi-dade física. Dos estudos revistos emerge (1) uma inquietaçãoem torno do alcance antropobiológico da expressão da aptidãofísica e dos padrões de actividade física das populações africa-nas de diferentes idades, grupos étnicos e estratos sócio-econó-micos, designadamente da influência stress ambiental, do estadonutricional e das infecções parasitárias na variabilidade da suaexpressão e (2) o facto da avaliação da aptidão física e dos cri-térios de normalização estatural se basearem em valores dereferência construídos a partir de amostras de países desenvol-vidos emprestarem a este processo problemas de transculturali-dade, têm ultimamente suscitado polémica e investigação sobrea sua validade.

Palavras-Chave: aptidão física, actividade física, África, saúdepública, epidemiologia.

ABSTRACTPhysical Fitness and Physical Activity in Africa. State of the Art

The established link between physical fitness and health is based onepidemiological evidence about sedentary lifestyles associated with mul-tiple factors of morbid conditions. In Africa, survival activitiesdemanding a lot of energy expenditure and moderate to high levels ofphysical fitness are not correlated with sedentary and its co-morbidi-ties. Due to this major reason, no special attention was given to therelationship between fitness and health. Yet, there has been anincreased interest and research about physical fitness of African chil-dren and adolescents due to the fact the urbanization is increasing insmall to big African cities, and its potentiality in reducing physicalactivity levels. Such a fact is becoming a concern of health authorities.The present literature review was conducted with the aim of synthesis-ing the available information. Based on a data base search, we selectedall indexed papers with Africa, physical activity and physical fitness.From this search, two main issues are at hand: (1) a discussion aboutthe clear anthropobiological meaning of physical fitness and physicalactivity patterns of African population of different ages, ethnicity, andsocio-economic strata with a special emphasis on environmental stress,nutritional status and infection; (2) the fact that physical fitnessassessment and normalizing criteria to height are based on referencedata from developed countries that pose cross-cultural validity prob-lems.

Key-words: physical fitness, physical activity, Africa, public health,epidemiology.

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INTRODUÇÃOO incremento galopante do sedentarismo da socieda-de moderna industrializada tem conduzido à suaassociação a factores de risco de um complexo espec-tro de condições mórbidas, bem como ao estabeleci-mento de relações entre aptidão física e saúde, funda-mentalmente a partir de uma óptica epidemiológica.É assim que, nos países desenvolvidos, as consequên-cias marcadamente nefastas do sedentarismo têmcondicionado uma parte substancial da atenção deepidemiologistas da actividade física, não só emtorno da inactividade física e da sua associação a fac-tores mórbidos, como também, e sobretudo, da apro-priação da aptidão física na sua relação com a saúde(12, 13, 50). É pois nesta perspectiva de saúde que asCiências do Desporto têm conhecido, nas últimasdécadas, um crescimento substancial da investigação.Sendo África um continente onde a maior parte dapopulação vive fundamentalmente na base de activi-dades de subsistência, e porque desprovido de meiose condições eficazes de monitorização e controlo decalamidades, como as secas e cheias cíclicas, o proble-ma do sedentarismo e suas comorbilidades não cons-titui prioridade ou assunto de realce. Obviamente, osserviços de saúde em África continuam a ser confron-tados com a busca de soluções de problemas deriva-dos de constrangimentos nutricionais e de endemiasinfecto-contagiosas. É assim que o estudo da capaci-dade funcional das populações Africanas se temdesenrolado de forma escassa e dispersa.Há contudo a considerar que nos países não desen-volvidos, como é o caso da maioria dos países deÁfrica, a eficiência em realizar trabalho é determi-nante, o que torna a capacidade funcional de umgrupo populacional um elemento essencial para asua capacidade produtiva(14, 51, 61). É desta forma que,as preocupações com a aptidão física em Africa, sebem que de perspectiva distinta, não deixam de seapresentar como pertinentes. Mais, a crescente urba-nização das sociedades Africanas tem evoluído parao crescimento do sedentarismo que começa a preo-cupar as autoridades sanitárias.O reconhecimento da influência da pressão ambien-tal sobre a expressão da aptidão física tem favorecidoo interesse pelos estudos em África, já que persistemneste continente condições “ecológicas” singularesde pesquisa e já difíceis de encontrar noutros luga-

res. Originalmente, a pesquisa relativa à aptidãoparecia confinada ao efeito da estatura na perfor-mance corporal, já que apresentando-se as criançasafricanas geralmente mais baixas e mais magras rela-tivamente às crianças americanas e europeias, have-ria todo o interesse em estabelecer o seu efeito naperformance motora. A influência do meio ambienteno tamanho e no físico foram já estudadas há cercade trinta e sete anos por Hiernaux(35) através de umarevisão de dados referentes a mais de quatrocentasetnias habitantes da região de África Sub-Sahariana,tendo constatado que valores estaturais elevadosestavam associados a um clima seco e quente comaltas variações sazonais; a estatura baixa associava-se a uma temperatura húmida e constante, enquantoque a massa corporal revelava uma afinidade comhumidade e uma relação negativa com a altitude.Desde então que o olhar sobre a aptidão física emÁfrica tem percorrido, tímida e dispersamente,outros campos de visão, que no entanto se confinammaioritariamente em torno de fenómenos associadosà estatura, como seja da influência do aporte nutri-cional e das insuficiências higinénico-sanitárias. Poroutro lado, o facto da avaliação da aptidão física ecritérios de normalização estatural se basearem emvalores de referência construídos a partir de estudosrealizados em países desenvolvidos, empresta a esteprocesso problemas de transculturalidade que têmultimamente suscitado polémica e investigação sobrea sua validade.Do exposto, e dada a complexidade da realidade con-textual Africana, emerge a ideia de que as manifesta-ções de aptidão física em África adquirem complexi-dades de descrição e interpretação distintas das quecaracterizam o mundo industrializado, conferindo aoseu estudo em África desafios singulares. O presente trabalho surge da necessidade de congre-gar a informação disponível na literatura sobre ainvestigação em aptidão física em África de forma acontribuir para a sistematização dos problemas con-ceptuais, metodológicos e de interpretação. A partirda revisão dos estudos realizados em África sobre aaptidão física, espera-se com a presente revisão, nãoapenas disponibilizar na forma de artigo a informa-ção sobre a temática, mas também contribuir parauma melhor estruturação da pesquisa sobre a apti-dão física em África.

Leonardo Nhantumbo, Sílvio Saranga, André Seabra, José Maia, António Prista

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ESTUDOS DESCRITIVOS E COMPARATIVOS Uma parte considerável dos estudos publicadossobre a aptidão física em África consiste na descriçãodo padrão da aptidão em função do sexo e idade e nasobreposição dos valores às normas e dados publica-dos com populações do mundo industrializado.Estes estudos utilizam exclusivamente baterias detestes criadas em países desenvolvidos.Utilizando a bateria da AAHPERD(1), Elnashir eMayhew(22) avaliaram um total de 710 crianças egíp-cias de ambos os sexos (rapazes, n = 399; raparigas,n = 311) com idades compreendidas entre os 9 e os18 anos. Relativamente às normas americanas, ascrianças egípcias apresentaram resultados mais bai-xos em quase todos os testes, com excepção do testede força de braços até aos 14 anos nos rapazes, e noteste de tempo de suspensão na barra nas raparigas,mas apenas no intervalo etário dos 9-11 anos. Osautores especulam que os resultados encontradospodem ser explicados pela menor estatura, os baixosníveis de actividade física, a insuficiência nutricional,bem como razões culturais, porém não é apresentadaqualquer evidência que sustente estas afirmações.No Zaire, Ghesquiere et al.(31) administraram a bate-ria do EUROFIT em crianças e jovens da floresta Iturie relacionaram os seus resultados com valores decrianças e jovens europeias. A generalidade dosresultados encontrados deu a indicação de que oseuropeus tinham, em termos absolutos, melhoresvalores nos testes de força de resistência abdominal,força de braços e agilidade, porém inferiores nos tes-tes de equilíbrio, batimento de placas, impulsãohorizontal sem corrida preparatória, flexibilidade etempo de suspensão na barra. Perante este quadrode resultados, e com base no conhecimento da rela-ção deste conjunto de testes com a composição cor-poral, os autores concluíram que os europeus erammelhores somente naqueles testes em que a maiorestatura lhes conferia vantagem, atribuindo à umamais elevada actividade física habitual a performancedos africanos.Ainda no Zaire, Nkiama(46) encontrou resultadosidênticos com a aplicação da mesma bateria EUROFITnuma população escolar de ambos os sexos, com ida-des compreendidas entre os 6 e os 20 anos. Sendouma população mais baixa e magra, os seus valoresda aptidão física sobrepostos aos resultados encon-

trados com crianças e jovens Belgas revelaram supe-rioridade dos belgas nos testes em que a influênciada maturação e/ou da altura é determinante. Ao ajus-tar os valores àquelas duas variáveis, o autor consta-tou que as diferenças deixavam de existir e, emalguns caso, se invertiam, tornando a estatura umelemento decisivo na explicação das diferenças.Prista(51) estudou 593 crianças e jovens de Maputo,Moçambique, tendo aplicado um conjunto de testesretirados das baterias de AAHPERD(1) e EUROFIT(23).A amostra integrou rapazes e raparigas dos 8 aos 15anos e os resultados revelaram um perfil idêntico deaptidão física ao que é encontrado nos demais estu-dos, isto é, os rapazes são mais capazes em tarefasde força e resistência, enquanto que as raparigas evi-denciaram maiores índices de flexibilidade. Contudo,as diferenças entre rapazes e raparigas em algumastarefas foram inferiores ao que é normalmenteencontrado nos estudos. Por outro lado, os resulta-dos sobrepostos às normas da AAHPERD e estudoscom Europeus revelaram performances marcadamen-te superiores dos Africanos, não apenas em tarefasonde a massa muscular absoluta é determinante,como também em termos de resistência cardiorespi-ratória, agilidade e flexibilidade. Nesse estudo, oautor demonstrou que os níveis de actividade físicada população estudada, ligada a tarefas de sobrevi-vência e jogos activos ao ar livre poderiam explicaros bons níveis de performance encontrados.Ainda em Moçambique, num estudo realizado porMuria et al.(43) com o propósito de testar, em popu-lações Africanas, os critérios sugeridos pela bateriada Prudential Fitnessgram, foram avaliadas 547 crian-ças e jovens dos 8 aos 11 anos de idade de ambos ossexos. Os resultados evidenciaram uma elevada pro-porção de sujeitos que ultrapassa o limite de aptidãofísica associada à saúde, para além da presença devalores percentuais superiores a 50% de crianças deambos os sexos com valores iguais e/ou superioresaos critérios adoptadas pelo Fitnessgram.Faye et al.(25) numa pesquisa realizada sobre umaamostra de 700 de rapazes e raparigas Senegalesas,com idades compreendidas entre os 7 e os 13 anosde idade, estudaram a dinâmica da expressão dealgumas capacidades físicas em função da idade e dogénero, nomeadamente velocidade, coordenação,potência, flexibilidade e equilíbrio. Os rapazes obti-

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veram melhores resultados que as raparigas nos tes-tes de velocidade e potência, enquanto que estas evi-denciaram melhores performances nos testes de fle-xibilidade e de equilíbrio. Verificou-se ainda umaredução pronunciada seguida de um decréscimo nosníveis de prestação nos testes de velocidade e potên-cia nas raparigas, contrariamente ao que se verificounos rapazes, em que à excepção da flexibilidade, osníveis de aptidão física permaneceram estáveis, reve-lando em alguns casos aumentos significativos.No intuito de explicar o dimorfismo sexual, Maia etal.(38) avaliaram o efeito na aptidão física, da matura-ção biológica, do tamanho do corpo, do estatutosócio-económico e da percentagem de gordura, em2503 crianças e jovens de ambos os sexos (rapazes,n=1199; raparigas, n=1304) provenientes de váriasregiões da cidade de Maputo, com idades que varia-vam entre os 8 e os 17 anos. A aptidão física foi ava-liada através de nove provas provenientes das bate-rias do EUROFIT, Prudential Fitnessgram e AAHPERD.O estudo confirmou o efeito determinante da idade egénero mesmo depois de controlado o efeito damassa corporal, estágio maturacional e estatutosócio-económico.Em resumo, os escassos estudos descritivos e compa-rativos realizados em África confirmam a existênciade um dimorfismo sexual e etário, idêntico, em ter-mos de padrão, ao já estabelecido para os países dochamado mundo desenvolvido. Os rapazes são maiscapazes em eventos de força e resistência, enquantoque as raparigas sobressaem no teste de flexibilidade.É evidente uma melhoria dos níveis de aptidão físicaem função da idade. Por outro lado, as crianças ejovens africanos apresentam valores de estatura epeso inferiores aos valores normativos, e não obstan-te esse facto, à excepção dos testes em que a maiorestatura constitui vantagem, apresentam melhoresníveis de aptidão física nos demais testes em relaçãoàs crianças e jovens americanas e europeias.

APTIDÃO FÍSICA, ALOMETRIA E ESTADO NUTRICIONALÉ consensual que, relativamente às populações dospaíses desenvolvidos, o crescimento em África seprocessa de forma mais lenta seguindo um padrãocomum com algumas variações locais dependendodas circunstâncias sociais, estado nutricional e graude urbanização(14, 24). Relativamente às normas inter-

nacionais, a média das dimensões corporais é consis-tentemente inferior nas crianças e jovensAfricanas(17, 24, 40, 46, 58). Assumindo que o desvio dataxa normal de crescimento de uma criança podereflectir os efeitos de condições deficientes de nutri-ção e/ou a presença de doenças infecciosas, critériosantropométricos foram adoptados como indicadoresdo estado nutricional, constituindo uma práticacomum em saúde pública e em estudos epidemioló-gicos(67, 68, 69).Tem sido polémica a classificação da normalidade empopulações de países não desenvolvidos a partir denormas construídas em estudos realizados com crian-ças e jovens de países desenvolvidos(28, 32, 39). Emborase reconheça a influência desfavorável da malnutriçãono crescimento infantil e juvenil, a classificação doestado nutricional duma criança a partir da posiçãopercentílica que esta ocupa em relação a outros podenão ser suficiente(14, 53, 58). Desta forma, a procura dosignificado da menor estatura de uma população rela-tivamente a outra tem constituído uma preocupação.Dado que a prontidão física para o desempenho davida é determinante, a influência da menor estaturadescrita para os Africanos, em especial crianças ejovens, tem vindo a ser alvo de estudo.A investigação realizada neste âmbito, e em contextoafricano, abrange crianças em idade pré-escolar, emidade escolar, jovens e adultos jovens. Contudo, osestudos realizados com crianças em idade pré-esco-lar são bastante diminutos. Neste espaço etário exis-tem três trabalhos disponíveis na literatura, sendoum realizado na Nigéria por Toriola e Igbokwe(65) eoutros dois no Senegal por Bénéfice(4, 5). O estudo deToriola e Igbokwe realizado em 341 crianças deambos os sexos em idade pré-escolar (3 aos 5 anos)e pretendia comparar a sua performance motora emfunção do género e da idade cronológica. Os resulta-dos evidenciaram uma tendência bastante linear deincremento dos níveis de performance dos gruposem função da idade, à excepção das raparigas nasprovas de equilíbrio e corrida. Em todos os gruposetários, os rapazes obtiveram melhores resultadosque as raparigas em quatro dos seis testes motoresde que a bateria utilizada era composta. Foi assimpossível verificar que já na infância as diferenças naperformance motora em função do género e da idadecronológica eram evidentes.

Leonardo Nhantumbo, Sílvio Saranga, André Seabra, José Maia, António Prista

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Nos estudos realizados no Senegal por Bénéfice pre-tendia-se descrever o crescimento somático e odesenvolvimento da capacidade de trabalho em 88crianças rurais saudáveis dos 3 aos 6 anos de ambosos sexos e avaliar o impacto do seu estado nutricio-nal na resposta cardiovascular ao exercício bemcomo a relação entre o crescimento, funcionalidade eperformance motora. Para além das medidas antro-pométricas, foram administrados os testes de 20metros de corrida, impulsão horizontal sem corridapreparatória, força de preensão e arremesso de bolae um teste de degrau adaptado para crianças emidade pré-escolar. Os resultados confirmaram ráciosde peso e altura e pregas de adiposidade abaixo dasmedianas dos valores de referência da OMS e valoresde aptidão física em todos os testes inferiores aosencontrados em europeus. Contudo, depois de nor-malizado para o tamanho corporal, as diferençasentre as crianças senegaleses e europeias diminuí-ram de forma relevante. Para além das questões alo-métricas, o autor considerou que a influência cultu-ral na performance dos testes poderia explicar algu-ma desvantagem das crianças africanas, nomeada-mente índices motivacionais e de agressividade paraa competição mais baixos que as europeias. Bénéfice et al.(9), num outro estudo realizado com139 rapazes e raparigas comparou a coordenação e aperformance motoras de crianças Senegalesas comdiferentes histórias nutricionais e determinou ainfluência das dimensões corporais na variância dacoordenação e performance motoras. Para o efeito,foram utilizados os critérios antropométricos paraclassificação nutricional para dividir a amostra em 3grupos nomeadamente, um grupo com história clíni-ca de algum estado de depressão nutricional, umsegundo com história de desnutrição severa e umterceiro considerado nutricionalmente normal. Alémdas variáveis somáticas os sujeitos realizaram 6 tes-tes de coordenação motora e 5 testes motores. Nocômputo geral, o grupo de crianças bem nutridasobteve melhores performances na maioria dos testescomparativamente aos grupos com problemas nutri-cionais. As dimensões corporais explicaram uma sig-nificativa parte da variância da aptidão motora,tendo sido a altura a revelar-se como melhor predi-tor. Todavia, depois de remover o efeito da idade edo tamanho corporal, as diferenças entre os três gru-

pos nutricionais desapareceram na performancemotora, ainda que tenham persistido em alguns tes-tes coordenativos. Os autores concluíram que a mánutrição per se, conjugada com a pequenez dasdimensões corporais, atraso no crescimento e condi-ções precárias são factores que afectam negativamen-te a performance motora e coordenativa de criançasem áreas em vias de desenvolvimento no mundo, eque as diferenças encontradas entre os grupos nutri-cionais na performance motora e coordenativa eramfundamentalmente explicadas pelas diferenças notamanho.Socorrendo-se da equação alométrica fundamentalCorlett(16) investigou, em 240 crianças de ambos ossexos dos 7 aos 12 anos de idade (120 de cada géne-ro), os efeitos das variáveis dimensionais nas provasde força estática, impulsão vertical e longitudinal ena prova de corrida. As diferenças encontradas entreos expoentes dimensionais teóricos e empíricos daamostra revelaram ausência do pressuposto de simi-laridade geométrica, a qual era, segundo o autor,explicada pela ausência de variação substancial nacomposição corporal. Por outro lado, os resultadossugeriram, de forma algo explícita, a presença dediferenças manipulativas na realização dos testes,facto que parece constituir a substância interpretati-va do dimorfismo sexual que os resultados do estu-do revelaram.As questões alométricas ligadas à expressão diferen-cial da aptidão física, também foram investigadas porPrista et al.(55), num estudo realizado em 593 crian-ças moçambicanas de ambos os sexos, com idadescompreendidas entre os 8 e os 15 anos (rapazes, n =276; raparigas, n = 317). Para além do peso e daestatura, foram avaliadas a força abdominal e depreensão, a agilidade e a resistência cárdio-respirató-ria. Constituía propósito do estudo, verificar se osexpoentes alométricos eram equivalentes aos postu-lados pela teoria dimensional, por forma a tornarequilibrada a comparação da performance entre ossexos. Os valores empíricos encontrados não confir-maram os da teoria dimensional, o que pareceu tra-duzir aspectos peculiares do crescimento linear eponderal das crianças e jovens de Moçambique.Benéfice e Malina(7) pesquisaram a relação entre ascaracterísticas antropométricas e a performancemotora, bem como a influência relativa das dimen-

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sões e composição corporais na variabilidade da per-formance motora em 348 crianças, classificadascomo moderadamente subnutridas e com idadescompreendidas entre os 5 e os 13 anos. As medidascompreenderam peso, altura, perímetros, pregas deadiposidade, velocidade, arremesso de bola, impul-são horizontal sem corrida preparatória e força depreensão. A altura e o peso explicaram 30-50% davariância na performance das crianças com menos de10 anos, enquanto que nas com mais de 10 anos, opeso explicou cerca de 10-25% da variância. Poroutro lado, os indicadores da composição corporalrevelaram uma limitada contribuição na variância daperformance motora. Contudo, foi possível observarque a gordura corporal afectava negativamente a per-formance motora das raparigas com idade superior a10 anos. Os autores consideraram que os resultadosnão permitiam esclarecer a associação entre o estadode “stunted” e “wasted” e a relativamente reduzidaperformance nos testes, sublinhando, como emoutros trabalhos, a ausência de controlo sobre odeterminismo cultural na prestação dos testes. Pieterse et al.(49) estudaram a influência do tamanhocorporal na capacidade de produção de força emindivíduos adultos investigando a associação entre oestatuto nutricional e a força de preensão em 828refugiados Ruandeses adultos de ambos os sexos ecom idades compreendidas entre os 50 e os 92 anos.As variáveis avaliadas consistiram no peso, altura,perímetro braquial, prega adiposa tricipital e dina-mometria manual. Os resultados revelaram valoresmédios de força de preensão dos homens mais eleva-dos em relação às mulheres (30.3±6.7 Kg vs22.3±5.1 Kg; p<0.001), e uma tendência de dimi-nuição ao longo da idade. A força de preensãomanual correlacionou-se positivamente com o índicede massa corporal (homens, r = 0.26; mulheres, r =0.16) e com o perímetro braquial (homens, r = 0.41;mulheres, r = 0.26). O índice de massa corporalrevelou-se como uma variável contribuinte para avariação da força de preensão, mesmo depois de con-trolar o efeito do género sexual, idade e altura.Considerando a característica da população estuda-da, os autores verificaram que o estatuto nutricionalse associava de forma independente da capacidadede produzir força de preensão.

Dois estudos realizados em Moçambique revelamuma inquietação em torno da generalização dos cri-térios antropométricos de classificação nutricional ealertam para a necessidade de validação transculturaldos mesmos(53, 58). No primeiro estudo foi utilizada aaptidão física, medida por um conjunto de testes dabateria da AAHPERD(1) e EUROFIT(23), e a actividadefísica habitual, medida por questionário. As medidasforam realizadas em 316 crianças e jovens em idadeescolar da Cidade de Maputo, as quais foram poste-riormente classificadas nutricionalmente de acordocom as normas da OMS(48). Não obstante, e de acor-do com os critérios referenciados 46.2% da amostrater demonstrado algum sinal de malnutrição, a apti-dão física só se diferenciou nas tarefas em que amassa muscular era determinante. No caso da activi-dade física, nenhum efeito do estatuto nutricionalpôde ser observado. Foi assim constatado que asdiferenças entre os grupos só se revelavam quando aestatura corporal determinava a performance.Na continuidade deste estudo, Prista et al.(58) repeti-ram o procedimento com uma amostra substancial-mente maior (n = 2316), ampliando o escalão etário(6-18 anos) e introduzindo, para além da aptidãofísica e actividade física, variáveis do fórum clínico.Os critérios de classificação nutricional foram actua-lizados de acordo com a OMS(69). Pretendiam osautores testar com mais robustez a validade dos cri-térios para a população escolar de Maputo. Não obs-tante o número considerável de variáveis, não foi, denovo, possível encontrar relevância nos critérios queclassificam subnutrição, embora os autores tenhamconstatado validade nos valores de corte para defini-ção de sobrepeso e obesidade.Pode-se assim dizer que a pesquisa em torno daaptidão física e estatura em África tem dado umaimportante contribuição no esclarecimento da rele-vância do tamanho corporal para a performance, eatravés da classificação nutricional, do estado desaúde. Não obstante a grande polémica em torno dotema, da revisão da literatura Africana, emergem evi-dências que permitem concluir que, (1) uma grandeparte do stress nutricional se repercute na estaturados sujeitos, a qual por sua vez tem uma influênciadeterminante na performance, (2) que as diferençasde performance entre grupos nutricionais quase queexclusivamente se explicam pelas diferenças estatu-

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rais e (3) que a relevância dos critérios de classifica-ção nutricional do ponto de vista da aptidão físicadesaparece, quando as tarefas não dependem dotamanho corporal e/ou as diferenças estaturais dei-xam de existir. O debate sobre as vantagens e des-vantagens de ser pequeno em torno da saúde e pro-dutividade mantém-se assim em aberto.

APTIDÃO FÍSICA E ESTATUTO SÓCIO-ECONÓMICOEm Africa, o estudo da interacção hereditariedade-ambiente na interpretação da variação observadanum dado fenótipo, como seja a aptidão física dosindivíduos, encontra condições simultaneamente pri-vilegiadas, porém de acrescida complexidade. Aenorme variação cultural e a grande clivagem social,conjugadas com uma extrema diversidade biológicadão origem a ambientes extremamente ricos, e porisso complexos, em factores que co-determinam ascaracterísticas humanas. A potencializar, a urbaniza-ção crescente provoca o desabrochar de grandesaglomerados de populações que misturam hábitos eestágios de desenvolvimento, potencializados pelochamado fenómeno da “globalização”.Esta condição tem sido explorada pelos investigado-res que procuram explicar a variabilidade na aptidãofísica através de abordagens metodológicas comoseja, (1) pela comparação de grupos étnicos e raciais,(2) pela comparação entre populações urbanas erurais, (3) e pela comparação entre grupos classifica-dos por critérios sócio-económicos e (4) a avaliaçãoda tendência secular.

Comparação por grupos étnicosGoslin e Burden(29) investigaram a aptidão física de222 crianças sul-africanas de ambos os sexos emidade escolar (brancas, n = 98, mestiças, n = 92;negras, n = 32) pertencentes a grupos culturais esócio-económicos distintos. Para além do peso e daaltura, avaliaram a flexibilidade, a agilidade, a força,o equilíbrio, a potência anaeróbia e aeróbia, a resis-tência muscular e cardiorespiratória e a composiçãocorporal através do somatório de pregas adiposas.As crianças brancas apresentaram melhores valoresde peso e altura em relação aos demais grupos, masapesar disso as crianças negras obtiveram melhoresresultados ao nível da força. Os resultados da esti-mativa de VO2máx evidenciaram um maior poten-

cial aeróbio (p<0.05) das crianças brancas (ª61ml/kg/min) em relação às mestiças (ª47ml/kg/min) e negras (ª53 ml/kg/min) e destas emrelação àquelas. Os autores encontraram grandesdificuldades para explicar os resultados consideran-do que a interacção do factor racial com estadossócio-económicos e culturais distintos, como sejamhábitos nutricionais e padrões da actividade físicahabitual, poderiam influenciar determinantemente aprestação nos testes.Também na Africa do Sul, Badenhorst et al.(3) inves-tigaram 22 rapazes negros dos 9 aos 15 anos resi-dentes em zonas rurais, comparando os resultadoscom seus compatriotas sócio-economicamente privi-legiados. As variáveis em estudo incluíram peso,altura, pregas de adiposidade, VO2máx, a actividadefísica habitual e o estatuto nutricional. Os resultadosrevelaram uma ingestão calórica em Quilojoules naordem dos 37-41% inferior em relação à quantidadediária recomendada; uma ingestão satisfatória deproteínas; baixa percentagem de gordura corporal,sem que no entanto tivessem sido encontradas situa-ções de “stunting” ou “wasting”. Não obstante odéfice em aporte nutricional, os valores de VO2máxencontrados (9-10 anos = 49.8±3.4 ml/kg/min; 11-12 anos = 48.4±3.1 ml/kg/min e 13-14 anos =50.6±3.8 ml/kg/min) eram comparáveis aos encon-trados por outros autores para crianças da mesmaidade. Uma capacidade adaptativa destas crianças ao“stress” ambiental e às condições nutricionais adver-sas foi apontada pelos autores para explicar estesresultados.

Comparação cidade-campoNa Tanzânia, Davies et al.(20) avaliaram e compara-ram a composição corporal e a aptidão aeróbia, ava-liada através de um teste de esforço submaximal emaximal em cicloergómetro em 94 jovens adultos deambos os sexos residentes em Dar-es-Salamm. Osresultados encontrados foram comparados comdados provenientes de 48 homens e 7 mulhereseuropeus. No plano somático, os resultados dessacomparação indicaram que os africanos eram maisleves e mais baixos que os europeus, possuíammenos gordura corporal, menos massa isenta de gor-dura e menor volume da perna. Em relação à potên-cia aeróbia os europeus apresentavam, em ambos os

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sexos, valores absolutos de VO2máx superiores aosafricanos (homens = 3.48±0.46 vs 2.76±0.39 L.min-

1; mulheres = 2.45±0.31 vs 2.00±0.24 L.min-1).Esta superioridade, ainda que atenuada, mantinha-semesmo quando o VO2máx era relativizado à massaisenta de gordura.Resultados divergentes foram encontrados porWyndham(70) numa pesquisa em que avaliou ainfluência do peso corporal, idade, género e da alti-tude sobre a capacidade de trabalho (VO2máx) em906 sujeitos Bantus, com valores médios de idade de32-40 anos, provenientes de duas províncias da Áfri-ca do Sul, nomeadamente Venda (zona rural, n =241; zona urbana, n = 240) e Pedi (zona rural, n =202; zona urbana, n = 223). Os principais resulta-dos deram conta de que os sujeitos Bantus da zonarural apresentavam valores mais baixos de peso(Venda = 56.7 vs 64.1 Kg; Pedi = 56.2 vs 60.6 Kg) ede VO2máx (Venda = 39.9 vs 40.5 ml/kg/min; Pedi= 37.6 vs 41.9 ml/kg/min) em relação aos da zonaurbana. Os valores de VO2máx de sujeitos sul-africa-nos Bantus da zona urbana eram similares aosencontrados em trabalhadores noruegueses daindústria e em mineiros brancos do intervalo etáriode 30-39 anos. Contudo, os valores apresentadosquer pelos sujeitos Bantus da zona urbana, querpelos da zona rural testemunhavam uma fraca capa-cidade de trabalho em relação aos resultados médiosdisponíveis na literatura referentes aos atletas esujeitos activos do mesmo intervalo etário.Procedendo igualmente a uma comparação entreetnias, Austin et al.(2), compararam a capacidade detrabalho e a morfologia de dois grupos étnicos daregião ocidental do Zaire, numa amostra de 169homens e mulheres de idades compreendidas entreos 18 e os 40 anos pertencentes às etnias Ntomba eTwa. As medidas incluíram indicadores somáticos ea potência máxima aeróbia. A etnia Ntomba apre-sentou médias mais elevadas de peso (homens,58.2±7.97kg vs 47.5±5.56Kg, p<0.01; mulheres,48.0±7.04 kg vs 44.1±7.06Kg, p<0.05) e altura(homens, 168.46±6.16cm vs 159.5±5.78cm,p<0.01; mulheres, 155.71±4.73cm vs153.10±4.76cm, p<0.05), enquanto que a composi-ção corporal se revelou idêntica. Em termos deVO2máx, a etnia Ntomba apresentou valores médiosabsolutos mais elevados, que quando relativizadosao peso corporal o deixavam de ser.

Corlett(18) avaliou e comparou a força de preensãoem crianças do Botswana de ambos os sexos (n =612; idade: 7-12 anos) provenientes de dois meiosdistintos, sendo 240 do meio urbano. A análise evi-denciou, para além do comum efeito significativo daidade e género sexual, que as crianças urbanas supe-ravam as do meio rural em ambos os sexos, mesmoapós o ajustamento dimensional para diferenças detamanho, sendo as diferenças mais acentuadas nasidades mais baixas e tendentes a diminuírem aolongo da idade. Segundo este autor, os resultados daforça de preensão encontrados eram meramente umaexpressão funcional da vantagem anatómica resul-tante das melhores condições nutricionais que ascrianças do meio urbano têm relativamente às domeio rural.Ainda na Africa do Sul, Henneberg e Louw(33) inves-tigaram os padrões de crescimento somático e daaptidão física em crianças do meio urbano e rural dacidade do Cabo e da região de Klein Karoo. Numaamostra de 3748 sujeitos de ambos os sexos dos 5aos 19 anos, e utilizando testes de velocidade dereacção e preensão manual, os autores observaramsuperioridade das crianças e jovens de estatutosocio-económico mais elevado, uma vez mais asso-ciada a uma maior estatura, também aqui mais pro-nunciada nas idades mais jovens. Resultados concor-dantes foram encontrados por Henneberg et al.(34),ao investigarem a relação entre força muscular está-tica e o ESE de crianças e jovens negros da África doSul de ambos os sexos dos 6 aos 18 anos (rapazes, n= 1704; raparigas, n = 1956). A amostra foi avaliadana força de preensão manual, prega adiposa tricipitale velocidade de reacção. Os resultados revelaramuma nítida vantagem na produção de força musculardos sujeitos de ESE mais elevado. Os valores médiossuperiores foram mais evidentes a partir da puberda-de, mesmo quando ajustados à área de secção trans-versal do músculo.

Comparação pela região e tipo de escolaA escolha da escola como critério de classificação doestatuto sócio-económico tem constituído um recur-so alternativo à grande dificuldade de sistematizareste critério na realidade Africana. Utilizando esteprocedimento, Guesquière e Eeckles(30) pesquisaramos padrões de aptidão física em crianças do ensino

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primário da cidade de Kinshasa, estratificadas emfunção ao tipo de escola frequentada. Os resultadosdo estudo evidenciaram que a grandeza estatural dosestudantes das escolas privilegiadas expressava umavantagem em termos absolutos. Todavia, quandoponderados em função do peso corporal a vantagemdesaparecia, e as crianças provenientes da escolapública, não obstante a sua pequenez estatural emaior incidência de parasitêmias, apresentavam per-formances similares e mesmo superiores em relaçãoaos restantes. De acordo com estes autores, as condi-ções adversas da vida no meio suburbano afectamenos a aptidão física do que o desenvolvimento físi-co e, por outro lado, o incremento de peso nos sujei-tos desfavorecidos processa-se através do aumento damassa muscular, o que em termos relativos, se tradu-ziria em vantagem na produção de trabalho.A influência do estatuto sócio-económico nos valo-res da aptidão física foi estudada em Moçambiquecom o recurso a idêntico procedimento(52). Os auto-res classificaram os grupos sócio-económicos emfunção de escolas e de acordo com regiões daCidade. Foram envolvidas um total de 593 crianças ejovens de ambos os sexos dos 8 aos 15 anos. As pro-vas de aptidão física realizadas incluíram flexibilida-de, força de resistência abdominal, força de preen-são, agilidade e resistência cardiorespiratória, tendoos resultados sido comparados em função dos gru-pos sócio-económicos. Controlando o efeito da idadee do sexo, as crianças e jovens socialmente mais des-favorecidos apresentaram prestações significativa-mente mais elevadas nos testes de flexibilidade eresistência cardiorespiratória. Apesar de uma acen-tuada diminuição de estatura relativamente aos maisprivilegiados, a força de preensão manual não foidiferente entre os grupos, ainda que a resistênciaabdominal tenha sido mais elevada nos grupossocialmente favorecidos. Utilizando a comparação daactividade física habitual dos grupos em estudo, ava-liada por questionário validado para esta popula-ção(56), os resultados sugerem que os grupos desfa-vorecidos, apesar de apresentarem sinais somáticosde sequelas nutricionais, são fisicamente mais aptosem função de um perfil de actividades de sobrevivên-cia e jogos activos ao ar livre que lhes conferem umdispêndio energético e vivência motora consideravel-mente intensa. Para os autores, o contraditório

resultado no teste de sit-ups poderá estar associado aquestões culturais, já que sendo um movimentoalheio à cultura local, é tecnicamente mais vivencia-do por populações que vivem em contacto com a“cultura do mundo desenvolvido”.

Tendência secularAs repercussões da passagem repentina deMoçambique de uma situação de guerra e de misériapara uma situação de paz e de economia de mercadoconstituiu uma ocasião única para avaliar os efeitosambientais em diferentes fenótipos. Foi neste con-texto que Saranga et al.(59), enquadrados na investi-gação dos aspectos relativos à designada “tendênciasecular”, investigaram as mudanças nos níveis deaptidão física na Cidade de Maputo, comparandodois estudos realizados nas mesmas escolas e comprocedimentos idênticos, respectivamente nos anosde 1992 e 1999. As amostras envolveram, na totali-dade, 2749 rapazes e raparigas em idade escolar. Aaptidão física foi avaliada através das provas seleccio-nadas dos protocolos da AAHPERD(1) e EUROFIT(23).A generalidade dos resultados do estudo permitiuconstatar uma abrupta redução do valor físico dapopulação escolar de 1992 para 1999, e que os auto-res advogam se dever a uma drástica mudança dehábitos de actividade e nutricionais confirmadas pelaaplicação, em ambos os estudos, de um questionáriode avaliação da actividade física habitual. Esta redu-ção de hábitos de actividade e performance física éigualmente sugerida como responsável pelo aumentoda prevalência de factores de risco de doença cardio-vascular observada na mesma população no mesmointervalo temporal(19).Da investigação publicada sobre estudos em Áfricaque versam a influência do estatuto socio-económicona aptidão física das populações, infere-se um acen-tuado défice metodológico no que respeita à classifi-cação dos sujeitos. As estratégias adoptadas, se bemque operativamente satisfatórias apresentam poucarobustez. Assumindo esta limitação, os estudosrevistos além de escassos, apresentam resultadosdíspares que podem também advir da característicadinâmica e contextual da aptidão física. Há contudoum primado comum que gira em torno do efeito daestatura corporal na performance. Com efeito, pareceser consensual que, em determinadas tarefas, a infe-

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rioridade estatural constitui uma desvantagem esendo esta produto de uma condição sócio-económi-ca desvantajosa, se poderá dizer que a aptidão énegativamente influenciada pela condição social.Contudo, o facto destas crianças estarem expostas aum meio higiénico-nutricional desfavorável, e aindaassim, apresentarem valores de aptidão semelhantese por vezes superiores aos de outras mais favoreci-das, parece efectivamente reflectir, uma plasticidadeadaptativa na interacção com o seu meio envolvente.Neste capítulo, a literatura reflecte inquietação eincerteza relativamente à polémica da capacidade detrabalho absoluta e relativa e sua real importânciapara os países Africanos.

INFECÇÕES PARASITÁRIAS E APTIDÃO FÍSICAÁfrica é um continente com uma expressiva preva-lência de doenças infecto-contagiosas. As publica-ções sobre o seu efeito na aptidão funcional emAfrica limitam-se praticamente à bilharziose(Schistosomiasis haematobium). Os primeiros estudoslevados a efeito nesta vertente pareciam sustentar aideia de que a bilharziose não tinha nenhum efeitonegativo sobre a capacidade de trabalho(15, 21, 66).Walker et al.(66) avaliaram o efeito da bilharziosesobre a capacidade física em 329 crianças sul-africa-nas de ambos os sexos (rapazes, n=156; raparigas,n=173) com idades compreendidas entre os 14 e os15 anos. A amostra compreendia dois grupos,nomeadamente o grupo de infectados e o grupo denão infectados. Foram usadas como variáveis o peso,a altura, as pregas adiposas tricipital e subescapulare o teste de 12 minutos de marcha/corrida. Os resul-tados encontrados evidenciaram uma semelhançaestatística entre as médias dos dois grupos, tanto anível das medidas somáticas como a nível da perfor-mance de corrida. Estes autores assumiram que nocontexto das crianças Bantus estudadas, a bilharzio-se não afectava a performance de corrida, advogandoque, outros factores como a motivação, a maior acti-vidade física habitual que caracteriza as crianças resi-dentes em zona rural, assim como o baixo peso emfunção da idade seriam possíveis agentes que expli-cavam os resultados. Mais tarde, Davies(21) e Collinset al.(15) também encontraram resultados que corro-boravam os do estudo anterior, ao não encontrarqualquer efeito negativo da bilharziose na resposta

cardiorespiratória ao exercício em crianças deTanzânia e na capacidade produtiva em cortadores decana do Sudão, respectivamente.De modo particularmente interessante, Kvalsvig eBecker(36) ao pesquisarem o comportamento decrianças infectadas na África do Sul, constataramque eram mais sociáveis e activas nos jogos relativa-mente às crianças não infectadas, e que gostavam,inclusivamente, de nadar e brincar em lagoas alta-mente contaminadas, apontando este facto como umdos vectores de contaminação daquelas crianças.Outros estudos apresentam resultados contraditó-rios, levando alguns autores a considerem que acarga parasitária, i.e., a intensidade de infecção, sejadeterminante na detecção de efeitos negativos naperformance motora. Nesta linha, Stephenson etal.(62) lograram demonstrar, num estudo realizado noQuénia, que altos índices de infecção de bilharzioseprejudicavam a aptidão física, para além de causarperda de ferro por via urinária e, consequentemente,anemia. Por outro lado, Ndamba(44) mostrou, noZimbabwé, que crianças não infectadas e criançasfortemente infectadas depois de tratamento eviden-ciavam uma melhor resistência cardiorespiratória emrelação às crianças infectadas antes de tratamento.Mais tarde, estes resultados foram confirmados noQuénia, onde crianças infectadas exibiram, após otratamento, não só melhores resultados no teste dedegrau de Harvard(37), como também evidenciaramum maior apetite, melhores taxas de crescimento erevelaram-se mais activas(64).Outros autores têm envidado esforços no sentido dedeterminar o efeito do tratamento da bilharziosesobre a aptidão física. Nesta perspectiva, Stephensonet al.(63) aplicaram o tratamento com albendazole em33 rapazes quenianos com idades compreendidasentre os 6-12 anos, infectados com hookworm,Trichuris trichiura e Ascaris lumbricoides, e aplicaram oteste de degrau de Harvad modificado para determi-nar valores do esforço submaximal de crianças. Setesemanas após o tratamento, o grupo de albendazoleapresentou uma redução de prevalência e de intensi-dade de infecção de Hookworm e de A. Lumbricoides naordem de 80% e 100%, contra 17% e 20% deaumento verificados no grupo de placebo, respectiva-mente. Contudo, tanto a prevalência quanto a inten-sidade de infecção com T. trichiura não se alterou.

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Cerca de 78% das crianças tratadas melhoraram aaptidão cardiorespiratória, contra 33% dos rapazesdo grupo de placebo. Este estudo permitiu verificarque um tratamento de crianças com desvantagensnutricionais e infectadas com Hookworm e Ascaris lum-bricoides, através de uma dose oral simples de alben-dazole, pode melhorar a sua aptidão física sete sema-nas após o tratamento.Num outro estudo, usando o mesmo teste de degrauacima descrito, Stephenson et al.(64) determinaram,em 53 rapazes Quenianos infectados com Hookworm,Trichuris e Ascaris, o efeito de tratamento com umasimples dose de 600-mg de albendazole sobre a apti-dão física. Quatro meses após o tratamento, o grupoexperimental apresentou uma redução de prevalênciae de intensidade de infecção de Hookworm, A.Lumbricoides e Trichuris na ordem de 81%, 99% e 39%,contra 31%, 27% e 1% de aumentos verificados nogrupo de controlo, respectivamente. Para além deuma significativa melhoria nas variáveis somáticas, ogrupo experimental evidenciou significativas melho-rias na aptidão cardiorespiratória.Numa outra pesquisa, desta feita em adultos,Ndamba et al.(45) investigaram 497 cortadores decana-de-açúcar, dos quais 287 infectados comSchistosoma Mansoni. Ao pretenderem avaliar o efeitodo estado infeccioso na capacidade física e produtivi-dade, os autores socorreram-se do teste de degrau deHarvard e da medida da quantidade de cana cortadanum dado intervalo de tempo. Após dezasseis sema-nas de tratamento, a aptidão física dos trabalhadoresinfectados melhorou em 4.3% e a produtividade em16.6%. A aptidão física e a produtividade dos nãoinfectados também melhorou durante o mesmoperíodo, mas sem significância estatística, o quepareceu dever-se ao exercício físico ocupacional. Esteestudo permitiu observar que o tratamento debilharziose assegura a melhoria tanto da aptidão físi-ca como da produtividade e que existe uma correla-ção entre a intensidade de infecção e os níveis deaptidão física e de produtividade pré-tratamento.Em suma, os estudos realizados em África, centra-dos na avaliação e interpretação do efeito das doen-ças infecto-contagiosas sobre a aptidão física, cresci-mento e produtividade, sugerem que (1) tomandoem consideração a intensidade de infecção, a presen-ça de parasitas tem influência negativa no desempe-

nho em testes físicos; (2) a velocidade de crescimen-to é, também, negativamente influenciada pela acçãodos parasitas e (3) os efeitos negativos desses para-sitas no crescimento e na aptidão física, são reversí-veis com o tratamento adequado. Por outro lado,parece incontroverso que os estudos do impacto dedoenças infecto-contagiosas, condições higiénico-sanitárias e nutricionais sobre a aptidão física emÁfrica têm que levar em conta a grande complexida-de do assunto que obriga a equacionar factores comoas diferenças nos padrões de crescimento, as defi-ciências nutricionais, a anemia e a acção isolada ouconcomitante dos agentes infeccioso-parasitários.

ACTIVIDADE FÍSICAOs estudos dos padrões de actividade física empopulações africanas revestem-se de particularimportância, já que as actividades de subsistência damaior parte da população deste continente são dedemanda energética significativa. Sendo um conti-nente com uma taxa de urbanização muito baixa, osestudos consultados procuram traduzir os níveis deactividade física dos africanos em contextos rurais eurbanos, ou procuram contrastar as duas realidades.Em ordem a determinar até que ponto baixos níveisde dispêndio energético no trabalho e no lazer pode-riam contribuir para elevadas taxas de prevalência dedoença cardiovascular, Noakes et al.(47) avaliaram aactividade física e dispêndio energético no trabalho elazer em 7188 sul-africanos “caucasianos” de ambosos sexos com idades que variavam entre os 15 e os64 anos provenientes de três zonas rurais. Em todasas idades, e em ambos os sexos, menos de 1% dossujeitos avaliados executavam tarefas que requeriamtaxas elevadas de dispêndio energético. A partir dos24 anos de idade, registou-se um decréscimo acen-tuado da participação em actividades moderadas evigorosas durante o tempo de lazer. Acima dos 44anos, menos de 26% dos homens e menos de 16%das mulheres excediam a quantidade de 8400 Kjsemanais durante o tempo de lazer, quantidade reco-mendada como limiar de protecção coronária.Utilizando este critério, os autores consideraram quea população estudada era caracterizada por níveisbaixos de actividade física ocupacional e de lazer.Bénéfice(6) examinou 100 crianças Senegalesas comidades compreendidas entre os 10 e os 13 anos com o

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propósito de analisar os efeitos da má nutrição cróni-ca na funcionalidade e nos padrões de actividade físi-ca. Para além dos indicadores antropométricos, a acti-vidade física foi avaliada através da monitorização dafrequência cardíaca minuto a minuto durante 6 horas.A funcionalidade foi avaliada por meio de um testesubmaximal realizado em subida e descida dumdegrau e de quatro testes motores. Os resultados per-mitiram constatar que dois terços da amostra apre-sentavam valores de peso abaixo de -1 DP das normasde WHO/NCHS referentes àquelas idades. Quandocomparadas com o com os seus parceiros de paísesdesenvolvidos, as crianças estudadas evidenciaramníveis inferiores de actividade física, bem como resul-tados inferiores em todos os testes de aptidão física.Ao agrupar as crianças com base no défice do peso emfunção da idade verificou-se que o grupo classificadode mal nutrido apresentava índices de aptidão funcio-nal bastante inferiores, embora nenhuma diferençaem relação à intensidade da actividade física tenhasido encontrada. Para o autor, estes resultados teste-munham claramente o efeito negativo da má nutriçãona performance motora das crianças.Sparling et al.(60) investigaram a associação entre aactividade física e os factores de risco de doença car-diovascular em 212 sujeitos negros sul-africanos desexo masculino, com idades compreendidas entre os25 e os 64 anos. As variáveis estudadas consistiramna altura, peso, perímetro braquial, pressão arterial,colesterol total, HDL-colesterol e actividade física,que foi medida através de questionário-entrevista.Os resultados indicaram que 43% dos sujeitos daamostra tinham empregos que requeriam uma activi-dade física moderada a vigorosa, e que os perfis deconcentração de lípidos e de pressão arterial maisfavoráveis se associavam a níveis baixos a modera-dos de exercício físico habitual. Na perspectiva dosautores, estes resultados parecem atribuir à activida-de física habitual e à ausência de um estilo de vidasedentária um papel explicativo da baixa taxa demorbilidade e mortalidade por doença cardiovascularna população negra sul-africana.Bénéfice e Cames(8) estudaram os padrões de activi-dade física e as estimativas diárias de dispêndioenergético em 40 raparigas adolescentes senegalesasrurais com 13.5±0.5 anos de idade. A actividade físi-ca foi avaliada através de acelerómetros durante qua-

tro dias consecutivos e de uma observação directadurante dois dias consecutivos. As raparigas partici-pantes no estudo foram seguidas durante as épocasseca (n=40) e chuvosa (n=30). Com os coeficientesde correlação intraclasse a evidenciarem uma fiabili-dade aceitável de registo dos movimentos (r=0.71),foi possível observar uma relação linear entre aquantidade de movimentos registados e os valoresdirectamente observados. Os níveis de actividadefísica preditos foram considerados elevados(1.90±0.12 MET min-1; dispêndio energético:9.03±0.77 MJ). Durante o dia a quantidade de movi-mentos registados foi mais elevada na época chuvosaque na época seca. Foi observada uma depressão doestado nutricional durante a época chuvosa em todaa amostra. Constatou-se que a estimativa de dispên-dio energético associado à actividade das raparigasadolescentes Senegalesas era superior à das adoles-centes urbanas dos países desenvolvidos, porém bas-tante semelhante à de adolescentes de zonas ruraisdos mesmos países. No Senegal encontramos quatro estudos transversaisda actividade física efectuados sobre várias sub-amostras de um estudo longitudinal do crescimentodurante a puberdade realizado com raparigas adoles-centes rurais dos 13.4 aos 15.3 anos de idade. O pri-meiro(26) pretendia testar a hipótese de que os níveisde actividade física de adolescentes ruraisSenegalesas diferiam em função da zona geográfica edas condições de vida, e que essas diferenças tinhamrepercussões negativas no crescimento e maturaçãodaquele extracto populacional. Para o efeito avalia-ram a actividade física habitual de 80 raparigas divi-didas em dois grupos, sendo um de migrantes (n =40), constituído por raparigas que saíram do campopara a cidade e o outro (n = 40) constituído porraparigas que permaneceram no campo para ajudaras famílias nas tarefas domésticas e de agricultura.As variáveis de estudo incluíram peso, altura, pregasde adiposidade, maturação sexual, estado nutricionale actividade física. O estado nutricional foi avaliadocom base em índices antropométricos, o estatutomaturacional de acordo com estágio de desenvolvi-mento da mama e da idade de menarca, enquantoque a intensidade e os padrões de actividade físicaforam avaliadas através de acelerómetros e de umquestionário para avaliar a natureza das actividades

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diárias bem como a respectiva frequência. Os resul-tados revelaram que as adolescentes estudadas erammais baixas, mais magras e com um atraso matura-cional em relação às raparigas dos países desenvolvi-dos do mesmo intervalo etário. As raparigas migran-tes pesavam 3.5 Kg a mais em relação às raparigasrurais, apresentando maiores valores de gordura cor-poral. A fiabilidade de registo dos acelerómetros,avaliada por comparação de dois dias seguidos, foiexcelente (r = 0.90). As raparigas migrantes eviden-ciaram valores médios diários de actividade físicamais elevados em relação às raparigas rurais, e des-penderam mais tempo em actividades moderadas aintensas (9.3h/24h vs 6.1h/24h). As raparigas ruraisdormiram ou estiveram inactivas por um períodomais longo (7.6h/24h vs 6.3h/24h) e descansarammais (2.1h/24h vs 0.8h/24h). Os resultados do estu-do da influência do estatuto maturacional na activi-dade física mostraram que as raparigas migrantes,com atraso maturacional eram mais activas, enquan-to que o inverso foi observado no grupo das rapari-gas rurais. O estado nutricional das migrantes foimelhor apesar da maior carga de trabalho. Segundoos autores, as diferenças encontradas podem serexplicadas pelas diferentes condições de vida e deaporte nutricional entre o campo e a cidade.O segundo estudo(10), foi realizado ao longo de trêsanos com 40 raparigas da mesma amostra, com oobjectivo de examinar os níveis de actividade física ea evolução do dispêndio energético. Para além dopeso e da altura, as variáveis do estudo compreende-ram pregas de adiposidade subcutâneas, perímetros,estatuto maturacional, estado nutricional e a activida-de física avaliada quantitativamente através de acele-rómetros. O grupo de adolescentes estudadas eviden-ciou níveis elevados de dispêndio energético e níveisde actividade física diária que variaram entre 1.70 e1.85 METs. Os níveis de actividade física registaramuma redução ao longo do crescimento, tendo sidoentre o primeiro e o terceiro ano que se observaramalterações no sentido negativo. Os resultados de aná-lise de regressão “stepwise” permitiram constatar quea estatura se correlacionava negativamente com otempo total de actividade, enquanto que o índice demassa corporal se correlacionou positivamente comesta variável. O estado pubertário e a gordura corpo-ral não se revelaram bons preditores de níveis de

actividade física. A contribuição destas adolescentesnas tarefas quotidianas domésticas foi bastante consi-derável, chegando a despender mais de três horas emeia por dia neste tipo de tarefas.No terceiro estudo(11), os autores pretendiam anali-sar a influência da idade, do estatuto maturacional eda composição corporal nos níveis de actividade físi-ca na mesma sub-amostra. Os registos da actividadefísica foram feitos durante quatro dias no primeiroano de avaliação (1997) e durante três dias nos doisanos de avaliação subsequentes (1998 e 1999). Entreas constatações mais relevantes destaca-se o factodas raparigas que frequentavam a escola terem serevelado menos activas em relação às que não fre-quentavam a escola e das raparigas de estado matu-racional mais avançado apresentarem maiores níveisde actividade física durante a noite. O quarto estu-do(27), que deriva de uma abordagem longitudinal doprimeiro estudo, analisou a influência da migraçãourbana na actividade física, no estado nutricional eno crescimento numa amostra constituída por 80adolescentes com uma média de idade de 14.4±0.5anos. A sub-amostra foi avaliada quantitativamenteem actividade física durante três dias consecutivosatravés de acelerómetros e qualitativamente pormeio de questionário; o estatuto maturacional foiavaliado com base no desenvolvimento da mama eda ocorrência da menarca; enquanto que o cresci-mento somático e o estado nutricional foram avalia-dos através de índices antropométricos. A mesmasub-amostra foi dividida em dois grupos, nomeada-mente grupo de não-migrantes (n = 40), constituídopor raparigas que permaneceram no campo e ogrupo de migrantes (n = 40), constituído por rapari-gas que migraram para a cidade em busca de traba-lho. As raparigas pertencentes ao grupo de migran-tes foram divididas em migrantes de curta, média elonga duração de acordo com a duração da suamigração urbana. Neste estudo, foram evidenciadosníveis bastantes elevados de actividade física nasraparigas migrantes, quando comparadas com estu-dos realizados nos Estado Unidos. As raparigasmigrantes revelaram-se mais activas em relação àsnão-migrantes (p<0.0001). Os valores do perímetrobraquial, do índice de massa corporal e do índice demassa gorda eram, após ajustamento às diferençasem maturação sexual, significativamente elevados

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em função da duração da migração (p<0.01). No iní-cio da puberdade não havia diferenças nos valores deíndice de massa corporal e de altura em função daidade. No entanto, a migração urbana resultou numapuberdade avançada e na melhoria do estado nutri-cional, mas sem catch-up no crescimento. Os resulta-dos encontrados parecem suficientemente explicá-veis pelas precárias condições de vida da zona rural,por um lado e, pela melhor aporte nutricional, nãoobstante uma elevada carga de trabalho na zonaurbana, por outro.Micklesfield et al.(42) investigaram a relação entre adensidade mineral óssea e a actividade física em 144mulheres sul-africanas com idade que variava dos 22aos 59 anos. A densidade mineral óssea foi avaliadaatravés do DEXA, e a actividade física monitorizadaatravés de um questionário contemplando activida-des domésticas, ocupacionais, de lazer e transporte.O dispêndio energético total em MET/h foi estimadopara quantificar a actividade física. A análise foi refe-renciada a quatro grupos etários, nomeadamente,14-21; 22-34; 35-50 e mais de 50 anos. Embora adensidade mineral óssea não se tenha correlacionadosignificativamente com a actividade física total, entreas idades de 14 e 21 anos, as actividades de trans-porte incluindo caminhar e pedalar, a idade e o pesoactual revelaram-se como os maiores determinantesda densidade óssea do fémur (r2 = 0.33, p<0.0001).Por outro lado, a densidade óssea da região lombarfoi explicada pelo dispêndio energético nas activida-des domésticas, idade e peso (r2 = 0.23, p<0.0001).Os coeficientes de correlação intraclasse calculadospara medir o “tracking” da actividade física ao longodos anos do estudo foram bastante elevados para odispêndio energético total (0.98), actividades domés-ticas (0.98), actividades ocupacionais (0.78) e activi-dades de transporte (0.92). Os autores concluíramque o caminhar ou as actividades com impacto naidade jovem estão associadas a uma elevada densida-de mineral óssea em idades mais avançadas. Poroutro lado, os resultados desta pesquisa parecemsugerir uma estabilidade da actividade física aolongo do tempo.A relação entre a densidade mineral óssea e a activi-dade física foi igualmente estudada em crianças sul-africanas, pelo contraste entre crianças negras e cau-casianas de 9 anos de idade(41). A actividade física foi

estimada de acordo com as componentes metabólica(valores metabólicos derivados da intensidade, fre-quência e duração) e mecânica (somatório de todasas forças de reacção do solo multiplicado pela dura-ção) e a densidade óssea através do DEXA. Foramencontradas diferenças étnicas nos padrões de activi-dade física, tendo as crianças caucasianas despendi-do valores significativamente mais elevados de ener-gia em relação às crianças negras (21.7±2.9MET.min-1 vs 9.5±0.5 MET.min-1; p<0.001). Ao divi-dir as crianças em quartís de acordo com o tempo ea intensidade de prática de actividades desportivas,as caucasianas mais activas apresentaram valoressignificativamente mais elevados de densidade mine-ral óssea de todo o corpo relativamente às criançasmenos activas. De igual modo, as crianças brancasem quartís mais elevados de actividade física mecâ-nica apresentaram valores mais elevados de densida-de mineral óssea. Nesta população, a actividade físi-ca evidenciou uma associação osteogénica apenasnas crianças brancas, o que pode ser explicado pelosníveis baixos de actividade física encontrados nestegrupo. Ainda assim, as raparigas negras apresenta-ram valores significativamente maiores de massaóssea na coluna e na bacia (p<0.001), mesmodepois de ajustá-los às dimensões corporais. De todoo modo, o estudo parece enaltecer o papel do exercí-cio no incremento da massa óssea, o que assumefunções importantes no mecanismo de protecçãocontra osteoporose em idades mais avançadas.Em Moçambique, Prista et al.(52) realizaram um estu-do sobre uma amostra de 593 crianças e jovens deambos os sexos dos 8 aos 15 anos e de diversosextractos sociais. A actividade física habitual foi ava-liada através de um questionário concebido e valida-do para esta população específica(50, 56). Os resulta-dos da aplicação do questionário revelaram que (1)as crianças e jovens de Maputo demonstravam hábi-tos de actividade relativamente intensas caracteriza-dos por tarefas de sobrevivência não mecanizadas ejogos ao ar livre; (2) a actividade desportiva ocupavaum espaço de pouca importância no dispêndio ener-gético total (3) as raparigas e os mais desfavorecidosapresentavam níveis de actividade mais intensos queos rapazes e os sócio-economicamente privilegiados,respectivamente.

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O questionário criado em Moçambique tem vindo aser aplicado em estudos relacionados com a evoluçãoe significado da actividade física. Saranga et al.(não publi-

cado) mostraram que os níveis de actividade físicaduma cidade Africana em transição estão a sofrer umacentuado declínio face às transformações sociais eeconómicas e física da cidade. Esta redução de activi-dade física pode explicar a observada redução do nívelde aptidão física(59) e aumento da prevalência de fac-tores de risco de doença cardiovascular(19) observadana mesma população e períodos em comparação.O questionário aplicado a uma amostra de 2316rapazes e raparigas de Maputo com idades entre os 6e 18 anos, foi utilizado para avaliar a relevância daclassificação nutricional adoptada pela OrganizaçãoMundial de Saúde(58). Os autores demonstraram queos níveis de actividade não se diferenciavam entre osgrupos nutricionais o que, associado a outros indica-dores, colocaram em causa a relevância dos pontosde corte estabelecidos.Em síntese, dos estudos dos padrões de actividadefísica realizados em África emerge o seguinte espec-tro de constatações: (i) a informação disponívelsobre os estudos da aptidão física e actividade físicarealizados em África é bastante avulsa e dispersa;(ii) a abordagem pelo contraste entre o campo e acidade parece ser a mais comum dos estudos consul-tados; (iii) a estimativa de dispêndio energéticoassociado à actividade física das raparigas africanas ésuperior a das raparigas urbanas dos países desen-volvidos, porém bastante semelhante a de adolescen-tes de zonas rurais destes países; (iv) parece haveruma influência da migração urbana nos níveis deactividade física e que estes revelam uma diminuiçãoao longo da idade e (v) os níveis de actividade físicahabitual não se diferenciam entre grupos nutricio-nais, o que coloca em causa a relevância dos pontosde corte estabelecidos para as populações africanas.

CONCLUSÕESDos estudos revistos parece claro que a aptidão físi-ca das populações africanas, à excepção das variáveisem que o tamanho corporal é determinante, é supe-rior em relação à que é observada nas populaçõeseuropeias e americanas. No cômputo geral, as popu-lações africanas expressam uma inferioridade estatu-ro-ponderal comparativamente às populações euro-

peias e americanas. Face à predominância de activi-dades de sobrevivência que caracteriza a maioria daspopulações africanas, a actividade física habitual des-tas testemunha uma ausência de estilo de vidasedentária, o que parece contribuir para que os seusníveis sejam superiores aos observados em paísesindustrializados e na maioria dos países em transi-ção. Os valores de corte para a classificação do esta-do nutricional parecem desprovidos de qualquerrelevância biológica para as populações africanas, jáque tanto na aptidão física, quanto nos níveis deactividade física, os estudos revistos não testemu-nham nenhuma diferenciação entre grupos de esta-dos nutricionais distintos, facto que parece denun-ciar uma falta de transculturalidade destes valores.

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APÊNDICEOs Quadros-A1:A5 resumem o essencial da informa-ção tratada nas diferentes secções de que o artigo écomposto.

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Aptidão física e actividade física em populações Africanas

Quadro A1. Sinopsedos estudos descri-tivos sobre a apti-dão física em África.

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Leonardo Nhantumbo, Sílvio Saranga, André Seabra, José Maia, António Prista

Quadro A2. Sinopsedos trabalhos

publicados sobre aAptidão física emÁfrica numa pers-

pectiva alométricae/ou do estado

nutricional.

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Aptidão física e actividade física em populações Africanas

Quadro A2 (cont.)

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Quadro A3. Sinopsedos estudos sobre

Aptidão física eestatuto sócio-eco-

nómico em África.

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Aptidão física e actividade física em populações Africanas

Quadro A3 (cont.)

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Quadro A4. Sinopsedos estudos sobre

infecções parasitá-rias e aptidão física

realizados em África.

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Aptidão física e actividade física em populações Africanas

Quadro A4 (cont.)

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Quadro-A5: Sinopsedos estudos sobre

actividade físicarealizados em África

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Aptidão física e actividade física em populações Africanas

Quadro-A5 (cont.)

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Quadro-A5 (cont.)