Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o...

197
GESTÃO ESTRATÉGICA DA INOVAÇÃO: PROPOSTA DE UM FRAMEWORK DE REFERÊNCIA PARA SUPORTAR O DESENVOLVIMENTO DA ABSORPTIVE CAPACITY Rafael Gomes Clemente DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO. Aprovada por: Prof. Heitor Mansur Caulliraux, D.Sc. Prof. Luiz Antônio Meirelles, D.Sc. Prof. Domício Proença Júnior, D.Sc. Prof. João Eduardo de Morais Pinto Furtado, D.Sc. RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL MARÇO DE 2007

Transcript of Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o...

Page 1: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

GESTÃO ESTRATÉGICA DA INOVAÇÃO: PROPOSTA DE UM FRAMEWORK

DE REFERÊNCIA PARA SUPORTAR O DESENVOLVIMENTO DA ABSORPTIVE

CAPACITY

Rafael Gomes Clemente

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM

ENGENHARIA DE PRODUÇÃO.

Aprovada por:

Prof. Heitor Mansur Caulliraux, D.Sc.

Prof. Luiz Antônio Meirelles, D.Sc.

Prof. Domício Proença Júnior, D.Sc.

Prof. João Eduardo de Morais Pinto Furtado, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

MARÇO DE 2007

Page 2: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

ii

CLEMENTE, RAFAEL GOMES

Gestão estratégica da inovação: Proposta de

um framework de referência para suportar o

desenvolvimento da absorptive capacity [Rio de

Janeiro] 2007

XI, 187 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc.,

Engenharia de Produção, 2007)

Dissertação - Universidade Federal do Rio

de Janeiro, COPPE

1. Gestão da Inovação

2. Absorptive Capacity

I. COPPE/UFRJ II. Título ( série )

Page 3: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

iii

A todos os meus amigos.

Page 4: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

iv

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer aos professores Heitor Caulliraux e Adriano Proença pelo

incentivo e orientações.

Ao professor Luiz Antonio Meirelles pelo trabalho ativo de orientação deste

trabalho.

A meu pai Armando, minha mãe, Célia, meu irmão, Ricardo, e Priscila pelo

suporte e apoio.

Aos amigos do GPI, Heitor, Adriano, Renato Cameira, Alexandre, Vina, Rafael,

Elaine, Valadares, Alvarez, Leandro, Daniel, André, Elibel, Bruno, Rodrigues, Lam,

Karrer, Sandra, Bruna, Eliza e todos os demais que não listo aqui.

Aos amigos da turma de mestrado, pelo entusiasmo, incentivo e carinho.

Aos professores Domínio Proença Júnior, Anne Marie Maculan, Francisco

Duarte, Marcos Estelita, Michel Thiollent, Vera Feitosa, Roberto Bartholo, Ana Célia

Castro e todos que contribuíram para minha formação.

Fátima, Zui, Roberta, Maria pelas inúmeras ajudas em inscrições, bolsas, prazos,

o curso foi muito mais fácil com a presença de vocês.

Aos membros da banca pela pronta aceitação do convite para avaliar este

trabalho.

Aos executivos que, por questões de sigilos não podem ser citados

nominalmente, mas que prontamente cederam seu tempo para realização das entrevistas.

A todos que, de alguma forma, colaboraram para materialização deste trabalho.

Page 5: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

v

Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

GESTÃO ESTRATÉGICA DA INOVAÇÃO: PROPOSTA DE UM FRAMEWORK

DE REFERÊNCIA PARA SUPORTAR O DESENVOLVIMENTO DA ABSORPTIVE

CAPACITY

Rafael Gomes Clemente

Março/2007

Orientador: Heitor Mansur Caulliraux

Programa: Engenharia de Produção

O desenvolvimento deste trabalho se dá um contexto em que as inovações são

cada vez mais determinantes para o sucesso competitivo e a dinâmica do ambiente faz

com que as organizações precisem freqüentemente reconfigurar sua base de recursos

para obter vantagens competitivas. Desta forma, com cada vez mais disponibilidade de

conhecimentos no ambiente em que uma dada empresa se insere, desenvolver a

habilidade de identificar, assimilar e explorar estes conhecimentos externos passa a ser

questão prioritária para a capacidade de inovação. Esta habilidade conhecida na

literatura como absorptive capacity, no entanto, carece de um maior desenvolvimento

metodológico, de forma a orientar os gestores a projetarem suas soluções

organizacionais particulares que levarão ao desenvolvimento da absorptive capacity. O

objetivo desta dissertação é a construção de um framework de referência que possa

cumprir este papel.

Esta construção é realizada com base na revisão da literatura e em seguida, o seu

resultado é levado, através de entrevistas semi-estruturadas, para verificação com

executivos de três organizações de diferentes setores. A partir destas, algumas

considerações sobre o potencial e as limitações da proposta puderam ser elaboradas.

Page 6: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

vi

Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

STRATEGIC MANAGEMENT OF INNOVATION: A REFERENCE FRAMEWORK

PROPOSAL TO SUPPORT ABSORPTIVE CAPACITY DEVELOPMENT

Rafael Gomes Clemente

March/2007

Advisor: Heitor Mansur Caulliraux

Department: Production Engineering

This research project was developed in a context in which innovations are

increasing importance to competitive success. The environment dynamics compel

organizations to frequently reconfigure their resource base in order to achieve

competitive advantage. In such context, of increasing knowledge availability in the

environment in which an organization compete, to develop the ability to identify,

assimilate and exploit the external available knowledge is a priority to increase the

innovative capability. This ability, known in the literature as absorptive capacity, needs

to be more practically developed. This is important to guide the executives in designing

his particulars solutions that will support the absorptive capacity development. The

main objective of this dissertation is to develop a reference framework to support this.

The framework development is supported by a literature review and the results are

empirically verified in three interviews with executives from different industries. After

that, some conclusions about the proposal potential and limitation are presented.

Page 7: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

vii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1

1.1. Contextualização do problema .................................................................... 2

1.2. Objetivos.................................................................................................... 14

1.3. A relevância do tema para a Engenharia de Produção .............................. 15

1.4. Visão geral do trabalho.............................................................................. 16

2. MÉTODO DA PESQUISA ...................................................................................... 19

2.1. Caracterização da Pesquisa........................................................................ 19

2.2. Considerações sobre representações gerenciais ........................................ 25

2.3. Estrutura da investigação........................................................................... 29

2.3.1. As etapas de um trabalho de pesquisa ........................................... 29

2.3.2. A estrutura da pesquisa realizada .................................................. 32

3. ABSORPTIVE CAPACITY: ORIGENS, USOS E EVOLUÇÃO DO CONCEITO

43

3.1. As origens do construto Absorptive Capacity ........................................... 43

3.2. Uma análise crítica sobre o uso do construto ao longo dos anos: a pesquisa

de Lane, Koka e Pathak (2006) .................................................................................. 48

3.3. Uma análise temática da aplicação do construto da Absorptive capacity . 56

3.3.1. Definições e operacionalização da absorptive capacity ................ 57

3.3.2. Tipos de conhecimentos e a absorptive capacity........................... 59

3.3.3. Estrutura organizacional e a absorptive capacity .......................... 61

3.3.4. Escopo organizacional e absorptive capacity ................................ 61

3.3.5. Aprendizado organizacional e absorptive capacity ....................... 63

3.3.6. Aprendizado inter-organizacional e absorptive capacity............... 64

3.3.7. Inovação e absorptive capacity...................................................... 66

3.3.8. Considerações a partir da análise temática .................................... 66

3.4. As restrições que limitam o desenvolvimento do tema ............................. 67

3.5. Absorptive capacity: as principais contribuições ...................................... 69

3.5.1. A contribuição de Van den Bosch, Valberda e de Boer, 1999 ...... 70

3.5.2. A contribuição de Zahra e George, 2002....................................... 79

3.5.3. A contribuição de Lane, Koka e Pathak, 2006 .............................. 85

Page 8: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

viii

4. FRAMEWORK DE REFERÊNCIA PARA SUPORTAR O

DESENVOLVIMENTO DA ABSORPTIVE CAPACITY ........................................... 89

4.1. Lógica de construção e características do framework de referência ........ 89

4.2. Primeira camada: Representação do construto.......................................... 92

4.3. Segunda camada: Framework de aplicação............................................... 96

4.3.1. Das capacitações às atividades de Gestão da Inovação................. 97

4.3.2. Os requisitos de integração.......................................................... 101

4.4. Terceira camada: Solução de aplicação................................................... 105

4.4.1. Dos requisitos de integração às técnicas ..................................... 106

4.4.2. Roadmap tecnológico .................................................................. 109

4.4.3. Tech mining................................................................................. 120

4.4.4. Gatekeeper ................................................................................... 126

4.4.5. Comunidades de práticas ............................................................. 128

4.5. Sobre o uso do framework de referência para desenvolver a absorptive

capacity 133

5. VERIFICAÇÃO DO FRAMEWORK DE REFERÊNCIA ..................................... 136

5.1. A lógica de verificação do framework de referência............................... 136

5.2. Os resultados das entrevistas ................................................................... 137

5.2.1. Entrevista com Empresa A do Setor de Vacinas e imunobiológicos

137

5.2.2. Entrevista com Empresa B do Setor de Petróleo......................... 141

5.2.3. Entrevista com Empresa C do Setor Elétrico .............................. 144

5.2.4. Impressões do entrevistador ........................................................ 145

5.3. Implicações para o modelo ...................................................................... 146

6. CONCLUSÕES...................................................................................................... 147

6.1. Uma síntese ............................................................................................. 147

6.2. Contribuições da pesquisa ....................................................................... 149

6.3. Limitações da pesquisa............................................................................ 150

6.4. Sugestões para trabalhos futuros ............................................................. 151

7. BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 152

ANEXO I: ESTRUTURA PROPOSTA DE ROADMAP ........................................... 169

ANEXO II : QUESTÕES E ANÁLISES DO TECH MINING ................................... 178

Page 9: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

ix

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Tamanho, eficiência e liderança das firmas na indústria brasileira.................. 3

Tabela 2: Salários e características dos trabalhadores empregados nas firmas industriais

brasileiras.......................................................................................................................... 4

Tabela 3: Principais periódicos no tema da absorptive capacity................................... 36

Tabela 4: Estruturas organizacionais e impactos na absorptive capacity....................... 73

Tabela 5: Capacitações combinativas e impactos na absorptive capacity...................... 75

Tabela 6: Tipos de ambientes de conhecimento e dimensões da absorção de

conhecimento.................................................................................................................. 76

Tabela 7: Camadas e características do framework de referência.................................. 92

Tabela 8: As questões de orientação para a busca bibliográfica .................................... 97

Tabela 9: Requisitos de integração e técnicas de suporte............................................. 109

Tabela 10: Análises que podem ser suportadas pelo tech mining ................................ 121

Page 10: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

x

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Mudança do modelo da inovação fechada para a inovação aberta ................... 9

Figura 2: Mobilidade das inovações entre as empresas.................................................. 10

Figura 3: Dimensões para categorização das representações a abordagens gerenciais.. 26

Figura 4: Representações e abordagens gerenciais em contexto.................................... 27

Figura 5: As etapas do procedimento de pesquisa.......................................................... 30

Figura 6: Estrutura da pesquisa ...................................................................................... 33

Figura 7: Citações para o trabalho de Cohen e Levinthal, 1990..................................... 35

Figura 8: Funcionalidades de refino da busca sobre absorptive capacity ...................... 37

Figura 9: Estrutura de camadas do framework de referência ......................................... 40

Figura 10: Modelo de Cohen e Levinthal....................................................................... 44

Figura 11: Análise do uso da Absorptive capacity ......................................................... 52

Figura 12: Mapa temático da Absorptive Capacity ........................................................ 57

Figura 13: Determinantes da absorptive capacity .......................................................... 71

Figura 14: Co-evolução da absorptive capacity e o ambiente de conhecimento............ 78

Figura 15: Modelo de absorptive capacity ..................................................................... 82

Figura 16: Modelo de absorptive capacity: processos, antecedentes e resultados ......... 86

Figura 17: A articulação das representações gerenciais: do conceitual ao aplicado ...... 90

Figura 18: Dimensões da absorptive capacity e a integração entre elas ........................ 93

Figura 19: Representação conceitual da absorptive capacity......................................... 94

Figura 20: Decalque das capacitações em processos de Gestão da Inovação .............. 100

Figura 21: Framework de aplicação ............................................................................. 101

Figura 22: Solução de aplicação................................................................................... 107

Figura 23: Formato do roadmap genérico ................................................................... 111

Figura 24: Aplicações do roadmap tecnológico ........................................................... 113

Figura 25: T-plan fast start approach............................................................................ 114

Figura 26: Arquitetura para generalização do roadmap ............................................... 116

Figura 27: Proposta de estrutura de roadmap ............................................................... 118

Figura 28: Características do roadmap proposto .......................................................... 119

Figura 29: Passos do processo de análise de informações técnicas.............................. 123

Figura 30: Buscas sugeridas por tipo de estudo ........................................................... 124

Page 11: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

xi

Figura 31: Construtos ................................................................................................... 125

Figura 32: Objetos a serem utilizados na camada de mercado e tendências ................ 169

Figura 33: Informações por objeto a serem utilizados na camada de mercado e

tendências ..................................................................................................................... 170

Figura 34: Objetos a serem utilizados na camada de produtos..................................... 171

Figura 35: Informações por objeto a serem utilizados na camada de produtos............ 172

Figura 36: Objetos a serem utilizados na camada de tecnologias e capacitações ........ 173

Figura 37: Informações por objeto a serem utilizados na camada de tecnologias e

capacitações .................................................................................................................. 174

Figura 38: Objetos a serem utilizados na camada de pesquisa de base........................ 175

Figura 39: Informações por objeto a serem utilizados na camada pesquisa de base.... 176

Figura 40: Representação esquemática da camada de projetos.................................... 177

Page 12: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

1

1. INTRODUÇÃO

Para apresentar o trabalho de pesquisa realizado e os resultados obtidos, esta

introdução inicia com a contextualização do problema, apresentando a importância do

tema gestão da inovação no contexto do sistema capitalista e, mais especificamente, da

identificação da absorptive capacity1 como capacitação fundamental para atuação no

atual cenário de negócios, marcado por uma grande dinâmica no ambiente em que as

organizações se inserem.

Esta capacidade, proposta por Cohen e Levinthal (1989, 1990 e 1994) e

amplamente utilizada na literatura, carece, como observado por diversos autores como

Van den Bosch, Volberda e de Boer (1999), Zahra e George (2002) e Lane, Koka e

Pathak (2006), de um maior desenvolvimento prático, que será o objeto de pesquisa

desta dissertação com a proposição de um framework de referência que oriente as

organizações no desenvolvimento da absorptive capacity.

A partir desta contextualização, que culmina com a definição da questão da

pesquisa, os objetivos gerais e específicos são definidos. Apresenta-se também a

relevância deste trabalho do ponto de vista da engenharia de produção. Por fim, oferece-

se uma visão geral dos assuntos abordados em cada um dos capítulos.

Cabe ressaltar nesta apresentação, o contexto institucional em que esta

dissertação se realiza. Ela é fruto de uma pesquisa integrada graduação-mestrado, o

Projeto Integração, que se inicia com a orientação conjunta da monografia de conclusão

de graduação em Engenharia de Produção na Escola Politécnica e sua continuidade no

trabalho da dissertação de mestrado no Programa de Engenharia de Produção da

COPPE.

1 O termo absorptive capacity poderia ser traduzido como capacidade de absorção ou

capacitação de absorção. Entretanto, por perceber que não existe um consenso na tradução adotada pelos

autores de língua portuguesa e para que o conceito original não se perdesse com a tradução, optou-se por

utilizar o termo em inglês ao longo de todo o trabalho.

Page 13: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

2

1.1. Contextualização do problema

Em muitas indústrias, a inovação é o principal direcionador do sucesso

competitivo. Muitas empresas possuem mais de um terço de suas receitas e lucros

relacionadas a produtos lançados nos últimos cinco anos. A 3M, por exemplo, uma das

empresas mais citadas quando se discute a gestão da inovação, possui 45% das suas

vendas oriundas de produtos desenvolvidos nos últimos cinco anos (SCHILLING,

2005).

Esta pressão por inovar é em grande parte explicada pelo acirramento da

competição no mundo, provocada pela liberalização comercial e financeira, fenômeno

este conhecido como globalização. Para manter-se no mercado, uma organização

precisa desenvolver novas formas de vantagens competitivas, seja por meio de novos

produtos, que atraiam a atenção de consumidores e, portanto, mais vendas; seja por

meio de novas formas de produção, que reduzam seus custos e a permitam praticar

preços menores sem comprometer as suas margens.

A superioridade de desempenho das empresas que inovam já foi objeto de

inúmeras pesquisas pela OCDE2, mas de especial interesse é a Pesquisa Industrial-

Inovação Tecnológica (Pintec) realizada no Brasil. Esta foi a base3 para o trabalho

organizado por De Negri e Salerno (2005). A partir da investigação realizada, De Negri,

Salerno e Castro (2005) afirmam que a escala de produção das firmas inovadoras é

consideravelmente maior do que a das demais. Além disso, o faturamento médio destas

empresas é de R$ 135,5 milhões. Já nas focadas em produtos padronizados, este é de R$ 2 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico 3 O trabalho organizado por De Negri e Salerno se baseou numa base de dados integrada pelo

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) que possui dados da Pesquisa Industrial-Inovação

Tecnológica (Pintec) e da Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE; da Relação Anual de Informações

Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE); da Secretaria de Comércio Exterior (Secex)

do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC); do Censo do Capital

Estrangeiro (CEB) e do Registro de Capitais Brasileiros no Exterior (CBE) do Banco Central do Brasil

(Bacen); e da base de dados de compras governamentais (ComprasNet) do Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão (MPOG).

Page 14: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

3

25,7 milhões e nas que não diferenciam nem produto e nem processos o faturamento é

de R$ 1,3 milhão. Além disso, as firmas que inovam e diferenciam produtos têm

eficiência de escala média de 0,77, ou seja, 60,4% maior do que a eficiência de escala

média das empresas que não diferenciam produto, que é de 0,48. Estes dados podem ser

observados na Tabela 1.

Tabela 1: Tamanho, eficiência e liderança das firmas na indústria brasileira

Fonte: De Negri, Salerno e Castro, 2005, p. 10

Estratégia competitivaPessoal ocupado (número)

Faturamento (R$ milhões)

Eficiênciaa de escala (índice)

Eficiência técnica (índice)

Produtividade do trabalhador

(R$ 1.000)

Liderançab

(participação no mercado)

Inovam e diferenciam produtos 545,9 135,5 0,77 0,3 74,1 0,02

Especializadas em produtos padronizados 158,1 25,7 0,7 0,18 44,3 0,004

Não diferenciam produtos e têm produtividade menos 34,2 1,3 0,48 0,11 10 0,00028

Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pintec 2000. Elaboração: IPEA/DISET apartir da transformação dos dados obtidos na fonte com a incorporação de dados da PIA/IBGE, Secex/MDIC, CBE e CEB/Bacen, Compras Net/MPOG e Rais/TEM.

a A eficiência de uma firma diz respeito à capacidade da firma em obter o máximo de produto a partir de um dado conjunto de insumos, ou seja, a eficiência mede a habilidade da firma em produzir tantos produtos quanto permitem os insumos utilizados, ou usar o mínimo de insumos para produzir determinada quantidade do produto. Essa eficiência, por sua vez, pode também ser separada em dois componentes: eficiência de escala, que é a habilidade de a firma operar na escala mais produtiva o possível, e eficiência técnica propriamente dita. A eficiência de escala mede a diferença de produtividade da firma em relação à escala mais produtiva da sua indústria, ou seja, em relação ao ponto onde a elasticidade de escala é igual à unidade. Sobre isso, ver Debreu (1951) e Farrell (1957). A estimativa de eficiência de escala e eficiência técnica utilizadas neste projeto foram ralizadas por De Negri (2003)para 30 setores da indústria de transformação brasileira usando Data Envelopment Analysis (DEA).

b O indicador de liderança foi calculado a partir da participação de mercado de cada firma no seu grupo CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas a 3 digitos industrial.

Outra informação importante sobre esta diferença é que nas firmas que inovam e

diferenciam produtos, cada pessoa ocupada é responsável por R$ 74,1 mil de valor

adicionado na produção, que corresponde a 67,3% a mais do que um trabalhador das

firmas especializadas em produtos padronizados, que possuem uma média de R$ 44,3

mil. A diferença é ainda mais gritante se comparada à média das empresas que não

diferenciam produtos e têm produtividade menor, que é de R$ 10 mil.

Esta diferença se reflete também nos salários, nos quais se percebe que a

remuneração média mensal dos trabalhadores das firmas que inovam e diferenciam

produto é de R$ 1.254,65, já nas firmas especializadas em produtos padronizados é de

R$ 749,02 e de R$ 431,15 nas empresas que não diferenciam produtos e têm

produtividade menor, como pode ser observado na Tabela 2.

Page 15: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

4

Tabela 2: Salários e características dos trabalhadores empregados nas firmas industriais brasileiras

Fonte: De Negri, Salerno e Castro, 2005, p. 12.

Estratégia competitivaRemuneração

média (R$/mês)

Escolaridade média (anos)

Tempo de emprego médio

(meses)

Prêmio Salarial (%)

Inovam e diferenciam produtos 1.254,64 9,13 54,09 23

Especializadas em produtos padronizados 749,02 7,64 43,9 11

Não diferenciam produtos e têm produtividade menos 431,15 6,89 35,41 0

Fonte: IBGE/Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Indústria, Pintec 2000. Elaboração: IPEA/DISET apartir da transformação dos dados obtidos na fonte com a incorporação de dados da PIA/IBGE, Secex/MDIC, CBE e CEB/Bacen, Compras Net/MPOG e Rais/TEM.

Esta diferença de desempenho demonstra a importância da capacidade de inovar

como fator crítico para a permanência e para o sucesso no mercado atual. A valorização

da importância da inovação no processo concorrencial tem sua raiz na escola

Schumpeteriana, e demais escolas seguidoras, da economia.

Schumpeter, insatisfeito com a forma pela qual as escolas econômicas explicavam

o capitalismo, desenvolve uma visão completamente não ortodoxa para caracterizá-lo.

Nessa construção, o primeiro grande questionamento é em relação à visão neoclássica de

que a concorrência monopolística ou oligopolística é desfavorável ao máximo desempenho

da produção, claramente associada à noção de concorrência perfeita. O autor argumenta que

esta não passa de uma visão idealizada pelos economistas, quando na prática, o que se via

era uma ampla proliferação das estruturas monopolísticas acompanhadas de aumento das

taxas de produção. Desta forma, pode-se perceber que, ao contrário do que se pensava, o

caminho para o progresso estava muitas vezes nos grandes conglomerados

(SCHUMPETER, 1942), ou seja, como caracterizado por Possas (2002, p. 419):

“concorrência não é o contrário de monopólio”.

Schumpeter (1942) destaca que o principal aspecto não considerado anteriormente é

que o capitalismo deve ser tratado como um processo evolutivo, fato este, inclusive já

enfatizado por Karl Marx anteriormente. Ao se desconsiderar esta característica, todas as

Page 16: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

5

análises econômicas são apenas fragmentadas e, portanto, incompletas. O autor apresenta

esta visão, com a seguinte afirmação:

“O capitalismo, então, é, pela própria natureza, uma forma ou método

de mudança econômica, e não apenas nunca está, mas nunca pode estar,

estacionário. E tal caráter evolutivo do processo capitalista não se deve

meramente ao fato de a vida econômica acontecer num ambiente social que

muda e, por sua mudança, altera os dados da ação econômica; isso é

importante e, tais mudanças (guerras, revoluções e assim por diante)

frequentemente condicionam a mudança industrial, mas não são seus motores

principais.” (SCHUMPETER, 1942, p. 82).

Na noção de concorrência Schumpeteriana, as ações empreendidas pelas firmas na

busca incessante por lucro, conseguido através da obtenção de posições competitivas

vantajosas, ou seja, monopólios temporários, são as questões-chave para o entendimento do

capitalismo. Como destaca o autor:

“O impulso fundamental que inicia e mantém o movimento da máquina

capitalista decorre dos novos bens de consumo, dos novos métodos de produção

ou transporte, dos novos mercados, das novas formas de organização industrial

que a empresa capitalista cria.” (SCHUMPETER, 1942, p. 83).

Schumpeter expressou seu ponto de vista em relação a este impulso interno e como

este influencia a forma pela qual a economia deve ser entendida, com a seguinte colocação:

“Eu sentia de forma muito forte (...) existe uma fonte de energia no

sistema econômico que por si só seria capaz de romper com qualquer equilíbrio

que pudesse ser alcançado. Se é assim, deve existir uma teoria econômica de

evolução que não se baseie apenas em fatores externos impulsionando o sistema

econômico de um estado de equilíbrio ao outro. É esta teoria que eu tentei

construir (...)” (SCHUMPETER, 1912 apud. ALCOUFFE & KUHN, 2004, p.

226).

Page 17: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

6

Desta forma, a visão Schumpeteriana trata a concorrência como um processo ativo

de criação de oportunidades econômicas, diferente do tratamento passivo de ajustamento

em direção ao equilíbrio como nas visões clássica e neoclássica. O processo concorrencial

Schumpeteriano é sempre aberto e, portanto, imprevisível, resultado de uma interação de

diversas forças que tomam forma ao longo do processo.

Esta característica implica o constante surgimento de diversidade, através das

inovações, que é mais importante do que a forma pela qual estas diferenças são eliminadas.

Este processo de mutação industrial chamado pelo autor de destruição criativa, e que:

“incessantemente revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro,

incessantemente destruindo a velha, incessantemente criando uma nova”

(SCHUMPETER, 1942, p. 83).

É o fato essencial para entendimento do capitalismo, e é neste contexto que todas as

empresas estão inseridas. Esta característica, portanto, implica nos elementos de análise de

diversas maneiras. Primeiro, como ressaltado por Schumpeter (1942, p. 83),

“como estamos tratando de um processo em que todos os elementos

levam um tempo considerável para revelar suas características verdadeiras e

seus efeitos finais, não tem sentido avaliar o desempenho de tal processo ex visu

de um dado ponto no tempo; devemos julgar seu desempenho no tempo (...)”.

Ressalta-se que esta visão confronta a lógica neoclássica de análises estáticas, que

pressupondo o equilíbrio, buscam otimizar as alocações. Segundo, o fato de se tratar de um

processo orgânico, faz com que a análise dos elementos da estratégia de negócios das

empresas só adquira sentido quando analisada sob o pano de fundo deste processo.

Schumpeter (1942) destaca que os economistas que aceitam os dados de uma situação

momentânea, desconsiderando que esta possui passado e futuro, e acreditam que o princípio

de maximização de lucros é suficiente para promover o entendimento completo da situação,

dificilmente conseguirão formar um entendimento claro da situação. O autor destaca que:

Page 18: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

7

“(...) normalmente se vê o problema de como o capitalismo administra

as estruturas existentes, enquanto o relevante é saber como ele as cria e as

destrói. Enquanto não reconhecer isso, o pesquisador realizará um trabalho

sem sentido.” (SCHUMPETER, 1942, p. 84).

Isto implica em uma considerável guinada na forma de se entender a forma de

operação da concorrência, antes vista apenas em termos de preço. “A concorrência

através de novas mercadorias, novas tecnologias, novas fontes de oferta, novos tipos de

organização (a grande unidade de controle em larga escala)(...)” (SCHUMPETER, 1942,

p. 84) é ainda mais importante, pois altera as bases pelas quais as empresas estão

competindo.

As inovações, portanto, ocupam papel central da definição do processo pelo qual o

capitalismo evolui. Schumpeter ressalta esta importância com a colocação:

“A eficiência desse tipo de concorrência, perto do outro, é assim como

um bombardeio comparado a se forçar um porta – e é tão mais importante que

passa a ser relativamente indiferente saber se a concorrência no sentido comum

funciona mais ou menos prontamente (...)” (SCHUMPETER, 1942, p. 84-5).

Pelo apresentado, pode-se perceber alguns pontos de ruptura das idéias de

Schumpeter em relação aos pressupostos econômicos das demais escolas. Mais

precisamente, esta ruptura é centrada nos seguintes elementos:

1. na noção do capitalismo como um processo dinâmico, em detrimento a visão

estática, pressupondo equilíbrio, utilizada pelas noções clássica e neoclássica;

2. o caráter endógeno da mudança, provocado pela busca por diferenciação como

meio para alcançar vantagens competitivas, e portanto, lucros de monopólio,

mesmo que de forma temporária. Nas noções clássica e neoclássica, esta

mudança é considerada de forma exógena, por algum choque (seja este

tecnológico, mudança na estrutura etc..) que perturba o sistema de seu equilíbrio

inicial, mas que tenderá, através do seu processo de ajustamento a um novo

estado de equilíbrio;

Page 19: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

8

3. o papel da inovação, vista de forma ampla, como principal fator gerador de

diversidade e, portanto, motor fundamental da dinâmica.

Esta visão do sistema econômico é que conforma o alicerce teórico desta

dissertação.

O dinamismo proposto por Schumpeter pode ser percebido na emergência de

diversas contribuições contemporâneas no campo da Gestão Estratégica da Inovação. Uma

discussão que vem recebendo grande destaque é o conceito da inovação aberta, proposto

por Chesbrough (2003a, 2003b e 2006). Este se baseia na percepção de que as organizações

não são mais capazes de desenvolver, em seu próprio sistema de pesquisa e

desenvolvimento (P&D), todas as tecnologias que precisam para colocar novos produtos

com grande freqüência no mercado. Passa a ser necessária uma visão mais ampla das

tecnologias e idéias disponíveis no ambiente, de forma que a empresa possa se beneficiar

disso.

Um bom exemplo deste contraste é a comparação das estratégias da Lucent

Technologies e da Cisco Systems. A primeira direcionava um grande montante de recursos

para explorar os novos materiais e o estado da arte dos componentes e sistemas, em busca

de descobertas e invenções que pudessem alavancar futuras gerações de produtos e serviços.

Já a Cisco adotou uma estratégia em que, toda vez que necessitava de alguma tecnologia, a

adquiria externamente, ou por meio de parcerias, ou através de investimentos em start-ups.

Com isso, a Cisco continuava se beneficiando dos resultados de pesquisas, mas sem

conduzí-las internamente, reduzindo os custos e as incertezas do seu P&D.

Segundo Chesbrough (2003a, 2003b e 2006), trata-se de uma mudança

paradigmática, uma alteração na forma pela qual as organizações geram idéias e as trazem

ao mercado. No modelo anterior, o da inovação fechada, o pressuposto era de que a

inovação efetiva requeria controle, ou seja, a organização deve gerar as suas próprias idéias,

que seriam de responsabilidade dela até a sua comercialização, caracterizando uma total

verticalização do processo. Esta mentalidade foi hegemônica durante muitos anos,

sustentada por um ciclo virtuoso em que um maior investimento em P&D levava ao

descobrimento de um maior número de idéias, que habilitava uma organização a chegar

primeiro ao mercado com idéias fortemente protegidas por propriedade intelectual. Desta

Page 20: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

9

forma, alcançava maiores lucros que a permitiam investir um maior montante na atividade

de P&D, reforçando o efeito positivo do ciclo.

Entretanto, no fim do século XX alguns fenômenos minaram a estabilidade deste

modelo. O aumento da mobilidade dos trabalhadores do conhecimento (CARDOSO, 2004),

tornou mais difícil o controle da propriedade da organização sobre as idéias. O aumento da

disponibilidade de capital de risco ajudou o financiamento de diversas empresas criadas

para comercializar idéias originadas nos laboratórios de pesquisas de grandes organizações.

Estes fenômenos geraram uma quebra na espiral virtuosa que sustentava o modelo da

inovação fechada (CHESBROUGH, 2003a, 2003b e 2006). Agora, um cientista com uma

idéia de alto potencial, mas que não é priorizada pela organização, seja por desviar de seu

negócio central, seja pela falta de canais até o mercado, possui maneiras externas de

desenvolvê-la com o financiamento por capital de risco, por exemplo. (CHRISTENSEN e

RAYNOR, 2003 e CHESBROUGH, 2003a, 2003b e 2006).

No modelo da inovação aberta, as empresas comercializam idéias externas e

internas, incorporando-as aos caminhos internos até o mercado, no caso das primeiras, ou

utilizando-se de caminhos externos até o mercado, no caso da segunda. Essa mudança de

paradigma pode ser vista na Figura 1.

Figura 1: Mudança do modelo da inovação fechada para a inovação aberta

Fonte: Adaptado de Chesbrough (2003a e 2003b)

Mercado

Pesquisa Desenvolvimento

Fronteira da firma

Na inovação fechada, uma empresa gera, desenvolve e comercializa as suas próprias idéias. Esta filosofia

de autoconfiança dominava o P&D da maior parte das empresas no século XX,

Mercadoatual

Pesquisa Desenvolvimento

Fronteira da firmaNovo

mercado

Inovação fechada Inovação aberta

Na inovação aberta, uma empresa comercializa tanto a suas próprias idéias quanto inovações de outras

firmas, buscando maneiras de levar suas idéias ao mercado através de caminhos externos ao seu negócio atual. A fronteira entre a organização e

ambiente a sua volta é porosa, habilitando uma maior mobilidade das inovações entre os dois.

Page 21: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

10

Neste modelo, a fronteira entre a firma e o ambiente a sua volta se torna mais

porosa, com uma maior mobilidade do conhecimento, através de novas empresas, criadas e

financiadas para explorar determinada inovação ou contratos de licenciamento de

tecnologias. Desta forma, uma empresa não deve restringir o conhecimento que ela

desenvolve nas suas pesquisas aos seus canais até o mercado e nem restringí-los apenas a

pesquisas desenvolvidas por ela. Esta operação é bastante diferente do modelo anterior.

Agora, uma empresa não deve esconder a sua propriedade intelectual, e sim, descobrir

maneiras de lucrar com o uso dela por outras empresas. Essa lógica pode ser ilustrada na

Figura 2.

Novo mercado

Novo mercado

Mercado existente

Empresa A

Empresa B

Mercado existente

Novo mercado

Novo mercado

Mercado existente

Empresa A

Empresa B

Mercado existente

Figura 2: Mobilidade das inovações entre as empresas

Fonte: Adaptado de Chesbrough (2003a e 2003b).

Um fator fundamental neste modelo é a forma pela qual as empresas fazem a

triagem e priorização das idéias e projetos de pesquisa. Uma empresa muito focada

internamente pode deixar de aproveitar idéias com muito potencial por não estarem

alinhadas aos seus canais até o mercado. Um clássico exemplo disso foi o desenvolvimento

da interface gráfica (grafical user interface – GUI) pelos pesquisadores do Palo Alto

Research Center (PARC), da Xerox, que por não estar alinhado ao foco da empresa,

impressoras e máquinas de cópia, foi explorado por empresas com a Apple, no Macintosh, e

pela Microsoft, no Windowns.

Page 22: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

11

A Proctor e Gamble é um grande exemplo de mudança na direção do modelo da

inovação aberta. Com seu modelo denominado “Connect & Develop”, aprensentado por

Houston e Sakkab (2006), a empresa definiu uma meta de ter 50% de suas inovações

oriundas de fontes externas dentro de cinco anos, já atingindo a marca de 35% em 2006.

Casos como o da melhoria da batata frita Pringles ilustram o potencial deste

modelo. Após uma seção de brainstorming para identificar como as vendas do produto

poderiam ser aumentadas, a idéia de imprimir textos e figuras nas batatas, que antes seria

descartada em função dos riscos e da falta de competência interna para tal, foi objeto de

uma busca no ambiente na qual se descobriu um professor de engenharia italiano que já

desenvolvera tal tecnologia para a padaria que possuía. Licenciando a tecnologia deste

professor, a Proctor e Gamble pode colocar um novo produto no mercado, reduzindo o

tempo e sem os riscos associados ao desenvolvimento, aumentando as vendas da batata. Do

ponto de vista do professor, a tecnologia, que antes era utilizada para aumentar as vendas de

sua padaria, passou a gerar receita a partir do licenciamento.

Esse modelo só é viável em um ambiente em que exista uma abundância de

conhecimentos disponíveis externamente, e cuja dinâmica e complexidade torna inviável

que as empresas possam se basear exclusivamente nos conhecimentos internamente

disponíveis, sem perder a sua competitividade. Esta constatação está em perfeito

alinhamento com as idéias já destacadas por Schumpeter e preocupa os executivos de

diversos setores.

Uma questão que caracteriza bem a necessidade de lidar com os conhecimentos

externos foi formulada por um executivo de uma organização do setor de biotecnologia, ao

longo de um projeto de extensão desenvolvido pelo Grupo de Produção Integrada da

COPPE - UFRJ4. “Como a minha organização pode utilizar-se dos conhecimentos

disponíveis em seu redor, para tomar melhores decisões e para melhorar a sua capacidade

competitiva? O que preciso mudar internamente para tal?”

4 O Grupo de Produção Integrada é um grupo de pesquisa ligado à Coordenação dos Programas

de Pós-graduação em Engenharia e à Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro,

coordenado pelo Professor Heitor Mansur Caulliraux, orientador desta dissertação.

Page 23: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

12

A resposta a esta pergunta encontra sustentação na vertente teórica das capacitações

dinâmicas. Do ponto de vista mais geral, a noção das capacitações dinâmicas é proposta por

Teece, Pisano e Shuen (1997) como uma maneira de responder à incapacidade da visão

baseada em recursos em explicar como a vantagem competitiva era alcançada em ambientes

de rápida mudança.

De acordo com a visão baseada em recursos (VBR), as organizações podem ser

vistas como uma coleção de recursos, que são distribuídos de forma heterogênea entre elas

(PENROSE, 1959, WERNERFELT, 1984; PROENÇA, 1999). Quando as firmas possuem

recursos que são valiosos, raros, não imitáveis e não substituíveis, elas podem alcançar e

sustentar vantagem competitiva através da adoção de estratégias que não podem ser

facilmente duplicadas pelas firmas concorrentes.

No entanto, ao observar que as firmas vencedoras nos mercados altamente

dinâmicos eram aquelas que demonstravam um curto tempo de resposta, flexibilidade e

velocidade na inovação de seus produtos, o conceito da VBR perdia sua capacidade de

explicação (TEECE, PISANO e SCHUEN, 1997). Nestes mercados, nos quais a competição

está mudando, a capacitação pela qual as firmas integram, constroem e reconfiguram

competências internas e externas para responder aos ambientes em rápida alteração, se torna

a fonte principal de vantagem competitiva sustentável (EISENHARDT e MARTIN, 2000,

p.1106).

Teece, Pisano e Schuen (1997) se referem a esta habilidade de gerar novas formas

de vantagem competitiva como capacitações dinâmicas. Esta denominação busca enfatizar

dois aspectos que não eram bem enfatizados nas demais perspectivas da estratégia.

Primeiro, o termo dinâmica se refere à capacidade de renovar competências para alcançar

congruência com o ambiente de negócios que está mudando. Segundo, o termo capacitação

enfatiza o papel central da gestão estratégica em adaptar, integrar e reconfigurar

apropriadamente as competências, recursos e habilidades tanto internas quanto externas,

para se adequar aos requisitos de um ambiente em mudança.

Eisenhardt e Martin (2000, p. 1107) definem capacitações dinâmicas como:

Page 24: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

13

“Os processos da firma que usam recursos – especificamente os processos

utilizados para integrar, reconfigurar, adquirir e descartar recursos – para se

adequar ou criar mudanças no mercado. Capacitações dinâmicas são, portanto, as

rotinas organizacionais e estratégicas pelas quais as firmas alcançam novas

configurações de recursos enquanto os mercados emergem, colidem, dividem-se,

evoluem e morrem.”

Esta visão é interessante, uma vez que deixa explícita a lógica da relação entre

capacitações dinâmicas, recursos e vantagem competitiva. Os autores argumentam que o

valor das capacitações dinâmicas não está nelas mesmas, mas sim na vantagem competitiva

oriunda das configurações de recursos que elas criam, ou seja, as capacitações dinâmicas

são condições necessárias mas não suficientes para a vantagem competitiva.

Na tentativa de rebater as críticas de que o conceito das capacitações dinâmicas é

vago e tautológico, os autores argumentam que estas podem ser identificadas como rotinas

bem específicas e que já possuem um corpo teórico desenvolvido fora da VBR. Algumas

capacitações podem ser utilizadas para integrar recursos, como os processos de

desenvolvimento de novos produtos (WHEELWRIGHT, 1992); outras focam na

reconfiguração de recursos, como as rotinas de geração de conhecimentos a partir de redes

de colaboração (DHANARAJ e PARKHE, 2006 e VON HIPPEL, 2005a e 2005b); outras

são relacionadas à aquisição e assimilação de recursos, como as rotinas de alianças e

aquisição (DYER e SINGH,1998); por fim, as capacitações de saída, ou melhor, descarte de

recursos, nas quais recursos sem valor para a firma são eliminados, como as rotinas de

gestão de portfólio (GOFFIN e MITCHELL, 2005).

O contexto de alta dinâmica nos mercados e de abundância de conhecimentos

disponíveis externamente, destacado anteriormente, reforça a importância da visão das

capacitações dinâmicas para suportar o desenvolvimento de uma solução para o

problema que as empresas enfrentam em utilizar os conhecimentos disponíveis

externamente para gerar vantagens competitivas. Mostra-se necessário uma formulação

teórica e prática que suporte as organizações no desenvolvimento de um conjunto de

rotinas e capacitações gerencias que as permitam utilizar-se do conhecimento disponível

no ambiente externo, tanto para melhorar a efetividade das suas decisões estratégicas,

Page 25: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

14

quanto para aumentar a sua capacidade de geração de inovações, garantindo assim

melhores resultados.

Para responder a isto, a partir da revisão bibliográfica, foi possível identificar na

literatura um corpo teórico, apresentado de forma detalhada mais a frente neste texto,

que pode servir de base para o tratamento da questão formulada. Mais especificamente,

o construto teórico denominado absortive capacity, classificado por Zahra e George (2002)

como uma capacitação dinâmica, e que representa a habilidade de uma firma identificar,

assimilar e explorar conhecimentos disponíveis externamente (COHEN e LEVINTHAL,

1989), constitui o alicerce conceitual deste trabalho, sendo a base para a formulação da

questão de pesquisa e dos objetivos a serem alcançados nesta investigação.

1.2. Objetivos

O objetivo central deste trabalho é a proposição de um framework de referência

para orientar as organizações no desenvolvimento de sua solução particular de rotinas,

das quais emergirá a absorptive capacity, ou seja, a capacidade de identificar, assimilar,

e explorar conhecimentos do ambiente em que se insere. Este objetivo pode ser

sintetizado na seguinte questão de pesquisa:

“Qual é a estrutura, e conteúdo, de um framework de referência, no qual uma

organização poderia se basear para construir a sua solução particular, de forma que

possa desenvolver a sua absorptive capacity?”

Para responder a esta questão, é necessária a realização de algumas atividades

intermediárias. As contribuições destas podem ser consideradas os objetivos

específicos, destacados a seguir:

1. Realizar uma revisão bibliográfica a respeito da absorptive capacity e da

sua importância no contexto da gestão da inovação.

2. Realizar revisões bibliográficas no campo da gestão da inovação para

transpor capacitações em processos e identificar técnicas para suportar o

framework proposto.

Page 26: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

15

3. Realizar um conjunto de entrevistas semi-estruturadas para verificar a

viabilidade do modelo e as contribuições que este pode trazer as

empresas de diferentes setores que o adotem.

1.3. A relevância do tema para a Engenharia de Produção

A inovação tecnológica é objeto de inúmeros estudos no campo da economia.

Entretanto, estes estudos, pela sua própria natureza, têm seu principal interesse nos

efeitos que as inovações provocam no mercado, tanto do ponto de vista

macroeconômico quanto do ponto de vista microeconômico.

Por outro lado, tomando o problema pela perspectiva da questão acima colocada,

ou seja, uma visão intra-firma, com foco no “como fazer”, a Engenharia de Produção

pode aportar grande contribuição, uma vez que a organização de sistemas produtivos é o

seu objeto de estudo.

Este trabalho, o desenvolvimento de um framework de referência no qual as

organizações possam se basear para desenvolver a absorptive capacity se mostra de

interesse para Engenharia de Produção uma vez que, em função da maior dinamicidade

e da complexidade do ambiente em que muitas organizações estão inseridas, a natureza

dos seus sistemas produtivos torna-se cada vez mais complexa, com um número maior

de variáveis, relações entre elas e cada vez menos tempo para ajustá-las e otimizá-las. O

desenvolvimento de um modelo de referência traz uma contribuição para que as

organizações possam se preparar para atuar em tais ambientes.

Já do ponto do vista do Brasil, as inovações tecnológicas ganharam destaque na

Política Industrial e de Comercio Exterior – PITCE e em um conjunto de mecanismos

de incentivos criados por órgão governamentais. Alguns autores, por exemplo Kim

(1997), destacam o papel da inovação tecnológica no processo de desenvolvimento de

um país. Entretanto, a situação do Brasil ainda se encontra delicada. Viotti, Baessa e

Koeller (2005) realizaram uma comparação entre a Pintec e a CIS3, pesquisa realizada

nos países da União Européia e os resultados demonstram que a situação brasileira é

Page 27: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

16

significantemente pior do que a desses países. A taxa de inovação5 na indústria

brasileira é de 31,5%, contra 49% na Dinamarca, 51% na Holanda, 59% na Bélgica e

60% na Alemanha.

Além das diferenças com relação às taxas de inovação, é importante destacar

que a maior parte das empresas no Brasil só faz inovações em processos, o que parece

indicar um foco muito grande em redução de custos, fortemente associado à

incorporação de tecnologias já existentes no mercado. Na Europa, a maior parte das

firmas inova em produto e processo simultaneamente, o que guarda um potencial de

retorno muito maior (DE NEGRI, SALERNO e CASTRO, 2005).

Esta situação nos demonstra a necessidade do desenvolvimento da capacidade de

inovar das firmas brasileiras, de forma que estas possam adotar os padrões mundiais de

competição com produtos diferenciados e de alto valor agregado. O desenvolvimento de

pesquisas e sistemas de gestão que possam contribuir para esta questão é parte da

responsabilidade da Engenharia de Produção para com o desenvolvimento econômico e

social do país.

1.4. Visão geral do trabalho

Para alcançar os objetivos anteriormente definidos, o trabalho se inicia por esta

introdução, que apresentou a contextualização do problema, os objetivos e a relevância

desta dissertação.

No segundo capítulo, é apresentado o método utilizado para o desenvolvimento

deste trabalho. Inicialmente é feita a caracterização da pesquisa realizada do ponto de

vista do método científico. Em seguida, são apresentadas algumas considerações sobre

representações gerenciais, tema importante para orientar a formulação do framework

5 Percentual de firmas com 10 ou mais pessoas ocupadas que realizaram algum tipo de

inovação.

Page 28: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

17

desenvolvido neste trabalho. Por fim, é apresentada a estrutura seguida para o

desenvolvimento desta pesquisa.

No terceiro capítulo é apresentada a revisão da literatura sobre absorptive

capacity. Nesta buscou-se apresentar as origens deste conceito com a apresentação dos

trabalhos que o cunharam, uma análise de como o construto foi utilizado pelos demais

autores e, por fim, a apresentação da contribuição de três trabalhos mais relevantes para

a construção do framework de referência.

No quarto capítulo é realizada a elaboração do framework de referência para

desenvolvimento da absorptive capacity. Este é desenvolvido em três camadas, com

focos que incrementalmente variam do abstrato-conceitual para o prático. A primeira

camada, representação do construto, procura contextualizar a absorptive capacity como

uma capacitação dinâmica e apresentar os principais direcionadores que a influenciam.

A segunda camada, framework de aplicação, procura decalcar as capacitações que

compõem a absorptive capacity em processos consagrados na literatura de Gestão da

Inovação. Esta transposição tem como principal objetivo a passagem de uma visão

abstrata para uma aplicada, que se aproxime das ações realizadas pelas organizações.

Ainda nesta segunda camada, e de fato a principal contribuição, são definidos os

requisitos de integração entre estes processos, que garantam que este conjunto se

comporte como uma capacitação dinâmica, ou seja, permita a reconfiguração dos

recursos para gerar vantagem competitiva. Na terceira camada, ‘solução de aplicação’, é

proposto uma arquitetura de técnicas, composta pelo roadmap tecnológico, tech mining,

gatekeeper e comunidades de prática, para responder como o framework de aplicação da

segunda camada poderia ser suportado por completo. Por fim, são apresentadas algumas

considerações sobre o uso deste framework de referência.

No quinto capítulo, são apresentados os resultados das entrevistas realizadas

para verificar a aplicabilidade do framework de referência. Três executivos de

organizações de diferentes setores foram entrevistados.

Page 29: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

18

No sexto capítulo, são apresentadas as conclusões e sugestões para trabalhos

futuros. Para concluir, no sétimo capítulo é apresentada toda a bibliografia citada no

trabalho.

Page 30: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

19

2. MÉTODO DA PESQUISA

Este capítulo apresenta a caracterização da pesquisa do ponto de vista do método

científico, os principais aspectos relacionados a dificuldade de se representar problemas

gerenciais e as abordagens realizada neste trabalho, e, descreve a estrutura geral e etapas

da investigação realizada, indicando as principais relações e referências que suportam o

estudo.

2.1. Caracterização da Pesquisa

Minayo (1993 apud. Silva e Menezes, 2001, p.19) define pesquisa como a

“atividade básica das ciências na sua indagação e descoberta da realidade. É uma atitude

e prática teórica de constante busca que define um processo intrinsecamente inacabado e

permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se

esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados”.

Booth, Colomb e Williams (2003, p.10) mostram que a pesquisa faz parte das

atividades cotidianas de qualquer pessoa, uma vez que a define como uma coleta de

informações para responder a uma questão que resolva um problema. Esta perspectiva é

acompanhada por Demo (1996 apud. Silva e Menezes, 2001, p.19) que a define como o

“questionamento sistemático crítico e criativo, mais a intervenção competente na

realidade, ou o diálogo crítico permanente com a realidade em sentido teórico e

prático”.

Marconi e Lakatos (2006, p.43) ressaltam a importância do procedimento formal

e da utilização de métodos científicos para que os resultados possam ser alcançados. As

autoras citam Ander-Egg (1998, apud Marconi e Lakatos 2006, p.43) que define

pesquisa como “um procedimento reflexivo sistemático, controlado e crítico, que

permite descobrir novos fatos ou dados, relações ou leis, em qualquer campo de

conhecimento” para reforçar sua afirmativa. Por fim, Gil (1999 apud. Silva e Menezes,

2001, p.19-20) afirma o seu caráter pragmático quando a define como um “processo

Page 31: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

20

formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo da pesquisa é

descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”.

A partir da análise destas definições é possível verificar a importância de se

utilizar um método sistemático e científico para se garantir a validade dos resultados

alcançados na tentativa de responder a questão de pesquisa formulada. A correta

classificação e a escolha das técnicas a serem aplicadas são fundamentais no processo

de investigação.

De acordo com Silva e Menezes (2001, p.20), em relação à sua natureza, uma

pesquisa pode ser:

• Básica: quando objetiva desenvolver novos conhecimentos, úteis para

avançar a fronteira do conhecimento, sem que tenham uma aplicação

prática prevista.

• Aplicada: quando objetiva a geração de conhecimentos para solucionar

problemas específicos e práticos.

Booth, Colomb e Williams (2003, p.64) destacam que “quando a solução para

um problema de pesquisa não possui nenhuma aplicação aparente para nenhum

problema prático do mundo e é apenas de interesse acadêmico da comunidade de

pesquisadores, é denominada pesquisa pura. Quando a solução do problema de pesquisa

tem conseqüências práticas, é chamada pesquisa aplicada”.

Com base nestas definições, o trabalho descrito nesta dissertação pode ser

caracterizado como de natureza aplicada, uma vez que tem por objetivo o

desenvolvimento de um modelo teórico que oriente as organizações no

desenvolvimento de sua capacidade de identificar, assimilar e explorar conhecimentos

disponíveis no ambiente (COHEN e LEVINTHAL, 1990; VAN DEN BOSCH,

VOLBERDA e de BOER, 1999; ZAHRA e GEORGE, 2002; LANE, KOKA e

PATHAK, 2006).

Page 32: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

21

Seguindo o esquema das mesmas autoras, em relação à forma de abordagem,

uma pesquisa pode ser caracterizada como:

• Quantitativa: quando a pesquisa busca quantificar as informações

utilizadas na pesquisa. Estas são trabalhadas a partir de técnicas

estatísticas de forma tal que possam ser classificadas, agrupadas e

analisadas.

• Qualitativa: quando a pesquisa considera que a interpretação dos

fenômenos e a atribuição de significados são fundamentais no processo.

Existindo uma relação dinâmica e indissociável entre o mundo objetivo e

a subjetividade do sujeito.

Lee (1999 p.7) destaca como principal diferença que, enquanto a pesquisa

qualitativa aplica interpretações subjetivas para entendimento dos fenômenos

organizacionais, a pesquisa quantitativa busca descrições objetivas e minuciosamente

calibradas. Creswell (1994 apud. Lee, 1999), Cassell e Symon (1994) e Kvale (1996)

apresentam estudos bastante detalhados sobre as diferenças entre as pesquisas

qualitativas e quantitativas, mas estes não serão tratados neste trabalho.

Marshall e Rossman (1995, p.41-43) sugerem que pesquisas qualitativas são a

melhor alternativa quando a resposta a pelo menos uma das seis questões seguintes for

positiva:

1. É importante para o pesquisador entender em profundidade os processos

em funcionamento na determinada organização ou indústria?

2. Os desafios da pesquisa envolvem fenômenos organizacionais ou

sistemas ainda pouco entendidos?

3. O pesquisador está interessado nas diferenças entre políticas

determinadas e o seu estágio de implantação?

4. O pesquisador deseja estudar relações mal estruturadas entre entidades

ou subsistemas organizacionais?

5. O estudo envolve variáveis com as quais, seja por questões práticas ou

éticas, não se podem fazer experimentos?

6. O estudo está em uma fase de descobrir novas variáveis?

Page 33: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

22

Avaliando as perguntas acima propostas, pode-se identificar que a pesquisa

descrita nesta dissertação se enquadra nas questões 2 e 4, ou seja, trata de um construto

teórico cuja aplicação prática nas organizações ainda é pouco entendida, questão 2, e,

gera uma proposição de modelo para estruturar a relação entre quatro elementos

organizacionais, questão 4. Desta forma, a pesquisa em questão pode ser caracterizada

pela abordagem qualitativa.

Silva e Menezes (2001, p.21) definem ainda, que uma pesquisa pode ser

caracterizada de acordo com seus objetivos, podendo ser:

• Exploratória: quando a pesquisa tem por objetivo tornar o problema

explícito ou construir hipóteses. Normalmente envolve levantamento

bibliográfico, entrevistas com pessoas que possuem experiência prática

com o problema pesquisado e análise de casos.

• Descritiva: quando a pesquisa tem por objetivo descrever as

características de determinada população ou fenômeno. Normalmente

utiliza formas padronizadas de aquisição de dados.

• Explicativa: quando o objetivo da pesquisa é a identificação da razão,

do “porquê” determinados fenômenos ocorrem e que fatores são

determinantes para tal. Normalmente requer uso de técnicas

experimentais ou observacionais.

A partir destas definições, podemos classificar este trabalho como exploratório,

uma vez que busca construir um modelo que oriente as organizações na ação de

identificação, assimilação e exploração de conhecimentos disponíveis no ambiente em

que está inserida.

Em relação aos procedimentos técnicos adotados, Silva e Menezes (2001, p.21-

22) indicam que uma pesquisa pode adotar:

• Pesquisa bibliográfica: quando a pesquisa se vale de material já

publicado, ou seja, fontes secundárias, constituído de livros, artigos e

Page 34: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

23

material disponível na internet. Ressalta-se que esta se baseia em fontes

que já realizaram a sistematização e tratamento dos dados primários.

• Pesquisa documental: quando o material utilizado ainda não recebeu

um tratamento analítico.

• Pesquisa experimental: quando é determinado um objeto de estudo,

definem-se as variáveis que podem influenciá-lo, as formas de controle e

observação dos efeitos que estas produzem e por fim se realizam os

experimentos, sobre os quais as conclusões se baseiam.

• Levantamento: quando a pesquisa envolve a interrogação direta de

pessoas cujo comportamento se deseja conhecer.

• Estudo de caso: envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou

poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado

conhecimento. Yin (2005) e Lee (1999) destacam que este procedimento

deve ser utilizado quando o contexto em que o objeto se insere é

particular e fundamental para a análise.

• Pesquisa expost-facto: quando o experimento se realiza depois dos

fatos;

• Pesquisa-ação: quando concebida e realizada em estreita associação

com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo. Os

pesquisadores e participantes representativos da situação ou do problema

estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

• Pesquisa participante: quando se desenvolve a partir da interação entre

pesquisadores e membros das situações investigadas.

Neste trabalho dois dos procedimentos descritos são utilizados, a pesquisa

bibliográfica, para suportar a construção teórica do modelo, e, o levantamento, mais

especificamente, a partir de entrevistas semi-estruturadas com especialistas de diferentes

setores, nas quais o modelo teórico construído foi verificado a partir da experiência

prática de cada um deles. Estes dois procedimentos e a maneira como foram utilizados

são descritos em detalhes no item que apresenta a estrutura da investigação.

Page 35: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

24

Do ponto de vista do método científico adotado, Silva e Menezes (2001, p.25-

27) e Marconi e Lakatos (2006, p. 106) descrevem que uma pesquisa pode utilizar:

• Método dedutivo: quando o raciocínio caminha de planos mais gerais,

partindo das teorias e leis, para predizer a ocorrência de fenômenos

particulares, ou seja, utilizando-se de uma conexão descendente. Utiliza-

se do silogismo, construção lógica para, a partir de duas premissas,

retirar uma terceira logicamente decorrente das duas primeiras,

denominada de conclusão.

• Método indutivo: quando o raciocínio caminha de fenômenos

particulares, centrados na experiência e observação empírica, para a

formulação de generalizações, leis e teorias, ou seja, utilizando-se de

uma conexão ascendente.

• Método hipotético-dedutivo: quando são percebidas lacunas nos

conhecimentos disponíveis, um problema é identificado, para tentar

resolvê-lo, algumas conjecturas ou hipóteses são formuladas. Estas

hipóteses devem ser testadas e evidências empíricas são buscadas para

falseá-la.

• Método dialético: quando o raciocínio é fundamentado na dialética

proposta por Hegel, na qual as contradições se transcendem dando

origem a novas contradições que passam a requerer solução. É um

método de interpretação dinâmica, inerente à mudança dialética que

ocorre na natureza e na sociedade.

• Método fenomenológico: quando o método se preocupa em descrever a

experiência assim como ela é. Desta forma, a realidade passa por uma

construção social, uma vez que é compreendida, interpretada e

comunicada por diferentes atores, ou seja, existem tantas realidades

quantas forem as interpretações e comunicações realizadas. Desta

maneira, o sujeito que interpreta e comunica é peça central no processo

de construção do conhecimento.

Com base nestas descrições conclui-se que este trabalho utiliza-se do método

hipotético-dedutivo, pois propõe um framework de referência para suportar a absorptive

Page 36: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

25

capacity a partir da identificação das lacunas teóricas identificadas. A passagem de

Lane, Koka e Pathak, (2006, p.857) corrobora a existência da lacuna conceitual

identificada:

“Crítica para o avanço da literatura sobre absorptive capacity é a

necessidade de se mover de uma perspectiva estrutural da absorptive capacity

para uma visão desta como uma capacitação dinâmica. Esta mudança de

perspectiva foca atenção na estrutura, políticas e processos de uma organização

que afetam a transferência, compartilhamento, integração e criação de

conhecimento”.

Completando o método, o framework proposto é submetido a uma verificação

por três executivos especialistas de diferentes setores, com reconhecida experiência

empírica no tema. Entende-se que esta amostra e estas entrevistas, não são suficientes

para validar as proposições realizadas, mas apresentam uma primeira percepção dos

pontos problemáticos da proposta.

2.2. Considerações sobre representações gerenciais

Em função do objetivo estabelecido para esta pesquisa, de desenvolvimento de

um framework de referência para orientar o desenvolvimento da absorptive capacity,

uma questão que se mostra importante é relacionada à forma de representação a ser

adotada. Esta merece atenção especial, pois o propósito de um framework como este é

orientar uma ação prática por parte de um gestor ou profissional na organização, sendo

os seus resultados fortemente dependentes da cognição e entendimento que cada

indivíduo faz deste modelo antes de transformá-lo em ação.

Outra constatação importante é que apesar de muito referenciados em diferentes

trabalhos nas ciências de gestão, alguns termos como modelos, mapas, frameworks não

apresentam uma uniformidade em sua definição, o que é ainda mais dificultado pelo uso

destes termos em disciplinas muito diversas, com diferentes propósitos e estilos de

apresentação (SHEHABUDDEEN, PROBERT, PHAAL e PLATTS, 1999).

Page 37: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

26

Neste trabalho, buscou-se basear os resultados e as terminologias utilizadas ao

modelo proposto por Shehabuddeen, Probert, Phaal e Platts (1999), no qual os autores

classificam as diferentes representações e abordagens gerenciais segundo duas dimensões:

aplicado-conceitual e estática-dinâmica, conforme representado na Figura 3 e definido a

seguir:

• Conceitual: relacionado ao entendimento ou abstração de uma situação;

• Aplicado: relacionado com um ação concreta em um ambiente prático;

• Estático: relacionado com a estrutura e o posicionamento dos elementos em

um sistema;

• Dinâmico: relacionado às relações causais e interações entre os elementos

de um sistema;

Figura 3: Dimensões para categorização das representações a abordagens gerenciais

Fonte: Shehabuddeen et al., 1999

Os autores fazem ainda uma distinção ao definir representações gerenciais como

formas de desenhar e descrever questões ou problemas de gestão, e abordagens

gerenciais, como formas de implementar os conceitos contidos nas representações. Com

base nesta estrutura é possível classificar os principais termos utilizados para denominar

CONCEITUAL

APLICADO

DINÂMICOESTÁTICO

Page 38: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

27

as representações gerenciais. O resultados desta classificação é apresentado na Figura 4

e a definição de cada um destes termos é realizada em seguida.

Conceitual(abstrato,

entendimento)

Aplicado

Dinâmico(interação,

casualidade)

Estático(estrutura, elementos)

Sistema

Framework

ModeloMapa

ProcessoProcedimento

TécnicaFerramenta

Rep

rese

ntaç

ão

Abordagem

Figura 4: Representações e abordagens gerenciais em contexto

Fonte: Shehabuddeen et al., 1999

Com base na proposição dos autores, sistema pode ser definido como:

“um conjunto delimitado de elementos interrelacionados com

propriedades emergentes e representado no contexto de um paradigma.”

(SHEHABUDDEEN, PROBERT, PHAAL e PLATTS, 1999, p.8).

Já um framework pode ser definido como:

“Um framework suporta o entendimento e a comunicação da estrutura e

relacionamento de um sistema, para um propósito definido.”

(SHEHABUDDEEN, PROBERT, PHAAL e PLATTS, 1999, p.9).

Page 39: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

28

Segundo eles, “os frameworks vêm sendo muito utilizados nas disciplinas de

gestão, como uma forma de traduzir problemas complexos em formatos mais

simples e analisáveis” (p.10). Sendo constantemente aplicados para:

• Comunicar idéias ou descobertas para comunidades maiores;

• Realizar comparações entre diferentes situações e abordagens;

• Definir o escopo ou fronteira de uma determinada situação;

• Descrever o contexto ou argumentar a validade de uma descoberta;

• Suportar o desenvolvimento de procedimentos, técnicas, métodos e

ferramentas.

Os mesmos autores apresentam a definição de mapas, como:

“Um mapa suporta o entendimento de uma relação estática entre

elementos de um sistema.”

Já um modelo:

“Um modelo suporta o entendimento da dinâmica de interações entre os

elementos de um sistema.”

Para eles, um modelo, assim como um framework, é utilizado para representar,

mas apenas o primeiro possui características dinâmicas, permitindo prever o impacto

que uma mudança em uma variável trará ao sistema. Desta forma, podemos perceber

que as características de um modelo são parte das características de um framework, sem

que o inverso seja verdadeiro.

Além de apresentar as formas de representação, Shehabuddeen, Probert, Phaal e

Platts (1999) definem as diferentes abordagens gerenciais da seguinte forma:

“Um processo é uma forma de se atingir o objetivo gerencial através da

transformação de insumos em resultados; um procedimento é uma série de passos

para operacionalizar um processo; uma técnica é uma forma estruturada de se

Page 40: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

29

completar uma parte de um procedimento e, por fim, uma ferramenta facilita a

aplicação prática de uma técnica”.

Face ao exposto, pode-se caracterizar que o quadro de referência resultante da

pesquisa desta dissertação é formado por uma representação híbrida. Por um lado, apresenta

uma construção conceitual que estabelece os diferentes elementos e as relações entre eles, o

que o caracterizaria um framework; mas, por outro, devido ao caráter aplicado, ou seja, de

orientar as organizações no desenvolvimento da absorptive capacity, desdobra este

framework em um conjunto de técnicas que são importantes para suportar a realização dos

processos relacionados à absorptive capacity.

2.3. Estrutura da investigação

2.3.1. As etapas de um trabalho de pesquisa

Quivy e Campenhoudt (2005) propõem que o trabalho de investigação é

composto de sete etapas, conforme ilustrado na Figura 5. Estas etapas, descritas

sucintamente neste texto, serão utilizadas como base para a descrição da estrutura da

pesquisa realizada e documentada nesta dissertação.

Page 41: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

30

Figura 5: As etapas do procedimento de pesquisa

Fonte: Quivy e Campenhoudt, 2005, p. 27.

Segundo Quivy e Campenhoudt (2005), a primeira etapa do trabalho de pesquisa

é a formulação de uma boa questão de partida. Esta é a base para o delineamento de

todo o trabalho que será realizado ao longo da investigação. Para que esta pergunta

desempenhe concretamente a sua função, deve apresentar as seguintes características:

(i) clareza, ou seja, deve ser precisa, concisa e unívoca; (ii) exeqüibilidade, ou seja, deve

ser realista; (iii) pertinência, ou seja, deve ser uma verdadeira pergunta, abordar o

estudo do que existe, basear o estudo da mudança no do funcionamento e ter uma

intenção de compreensão dos fenômenos estudados.

Formulação da pergunta de partida

Exploração

Problemática

Construção do modelo de análise

Observação

Análise das informações

Conclusões

Page 42: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

31

Eco (2004) e Booth, Colomb e Willians (2003) são outros autores que destacam

a importância da formulação da questão de pesquisa. Estes autores propõem que a

passagem de um tema de interesse para uma questão de pesquisa é o primeiro passo

para que uma pesquisa possa se desenvolver.

Na segunda etapa, exploração, a partir da questão de pesquisa previamente

formulada, é necessário expandir o conhecimento sobre o objeto de estudo, melhorando

a qualidade da informação e encontrando a melhor forma de abordá-lo. Neste momento

entra em cena o trabalho exploratório que segundo Quivy e Campenhoudt (2005) é

realizado em paralelo, de duas formas, através de pesquisa bibliográfica e entrevistas

exploratórias. A primeira permite ao pesquisador ter uma clara percepção dos estudos

que já foram realizados sobre o determinado tema e das diferentes perspectivas

utilizadas. As entrevistas, por sua vez, completam o trabalho de leitura, uma vez que

habilitam o pesquisador a perceber questões que a sua experiência não permitiria.

Ressalta-se que estas entrevistas devem ser realizadas de forma aberta, garantindo uma

ampliação da visão e percepção do pesquisador em relação ao problema. Espera-se que

ao fim desta etapa a questão de pesquisa possa ser reformulada de forma mais precisa.

Ainda com base nestes autores, a terceira fase consiste na definição da

problemática. Esta pode ser definida como “a abordagem ou a perspectiva teórica que

se decide adotar para tratar o problema colocado pela pergunta de partida” (QUIVY e

CAMPENHOUDT, 2005, p.104). Neste ponto é importante que, a partir da fase

exploratória, se faça um balanço das diferentes perspectivas possíveis para abordar o

problema e se decida qual será utilizada no trabalho. Neste momento é necessário

reformular a questão de partida para explicitar claramente a problemática adotada.

A quarta etapa, a construção do modelo de análise, é a definição e

sistematização dos conceitos e hipóteses de forma tal que estes possam, em um

momento seguinte, passar pela etapa de observação. É importante ressaltar que “a

construção de conceitos é uma elaboração abstrata, que visa dar conta do real. Para

tal, não retém todos os aspectos da realidade em questão, mas somente aquilo que

Page 43: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

32

exprime o essencial desta realidade do ponto de vista do investigador” (QUIVY e

CAMPENHOUDT, 2005, p.150).

A quinta etapa, a observação, é o conjunto de atividades que serão utilizadas

para confrontar o modelo de análise proposto com dados observáveis. Nesta etapa,

portanto, uma série de informações deve ser coletada de forma sistemática para que

possa habilitar o trabalho de análise da etapa seguinte. Nesta etapa, o pesquisador deve

ter uma grande preocupação com a definição de que dados recolher, qual a mostra a ser

utilizada e como esta coleta se dará.

A sexta etapa, a análise de informações, é o tratamento das informações

coletadas para avaliar se as hipóteses e conceitos desenvolvidos são consistentes com as

observações realizadas. Para tal é importante descrever e organizar os dados coletados

de forma tal que permita a comparação, realizar as relações destes com as formulações

teóricas e, por fim, avaliar a diferença entre eles, confirmando ou não a validade da

formulação teórica realizada.

A sétima e última etapa, as conclusões, consiste na apresentação de três

principais pontos: “primeiro, uma retrospectiva das grandes linhas do procedimento

que foi seguindo; depois, uma apresentação pormenorizada das contribuições para o

conhecimento originados pelo trabalho e, finalmente, considerações de ordem prática”

(QUIVY e CAMPENHOUDT, 2005, p.243).

2.3.2. A estrutura da pesquisa realizada

A estrutura da pesquisa realizada, e documentada neste trabalho, é baseada na

proposta de Quivy e Campenhoudt (2005), mas passou por algumas adaptações. A

Figura 6 ilustra esta estrutura, que em seguida, é descrita de forma detalhada.

Page 44: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

33

Formulação da pergunta de partida

Exploração

Problemática

Construção do framework de

referência

Entrevistas de verificação do

framework

Análise das informações

Conclusões

Figura 6: Estrutura da pesquisa

A primeira etapa do trabalho consistiu na formulação e refinamento da questão de

pesquisa. A partir de pesquisa bibliográfica ampla e exploratória sobre o tema gestão da

inovação foi percebida a importância cada vez maior atribuída à dinâmica do ambiente e a

capacidade da organização em se adaptar e responder a essas mudanças. Estas discussões

estão fortemente relacionadas à abordagem Schumperiana, que ressalta o caráter dinâmico

do sistema capitalista e destaca a busca incessante pela inovação como o principal motor de

mudança e geração de dinamismo. Outros trabalhos como o de Tecee, Pisano e Schuen

(1997) destacam a importância da capacidade de reconfiguração dos recursos da empresa

como uma forma de responder a mudanças no ambiente. Muito discutidos atualmente, os

trabalhos de Chesbrough (2003a, 2003b e 2006) cunham a idéia da inovação aberta, que

Page 45: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

34

ressalta fortemente a adoção pelas empresas de estratégias que consideram e se apóiam na

constante troca de inovações e conhecimentos com o ambiente em que se insere.

Além desta revisão bibliográfica mais ampla, discussões iniciais realizadas em dois

projetos de extensão6 sobre o tema, realizados no âmbito do Grupo de Produção Integrada

da COPPE / Poli – UFRJ também contribuíram para a identificação da importância, da

necessidade e da dificuldade que as organizações possuíam para tratar de forma sistemática

a sua capacidade de identificar e tratar estes conhecimentos disponíveis externamente. Estas

discussões iniciais foram importantes para garantir um caráter tanto teórico quanto prático

para a definição do problema de pesquisa.

Uma característica que foi comum tanto na literatura quanto nas discussões práticas

foi o destaque dado a crescente necessidade de se aproveitar dos conhecimentos disponíveis

externamente para tomar suas decisões estratégicas e enriquecer suas atividades

operacionais. Este trabalho foi suficiente para a formulação da questão inicial de pesquisa:

“Como uma organização pode utilizar os conhecimentos disponíveis no ambiente em que

esta inserida para dar maior precisão as suas decisões e melhorar suas atividades

operacionais?”

Na segunda etapa, utilizou-se esta questão inicial para orientar uma pesquisa

bibliográfica exploratória, com o objetivo de aumentar as informações sobre o campo de

estudo e identificar os principais autores e conceitos. Foi utilizado um conjunto grande de

palavras-chave, que combinavam os termos “external knowledge”, “learning”,

“environment”, “assimilation” em diferentes buscas na base ISI - Web of Knowledge. Os

resultados destas buscas eram tratados com os recursos de análise na base como a contagem

de autores, citações, periódicos, entre outras. Desta forma, os principais artigos eram

selecionados e armazenados em software específico de referências bibliográficas. A partir

da leitura dos resumos destes artigos, novas combinações das palavras-chave eram

realizadas para o refinamento da busca.

6 Não descritos aqui em função de acordos de sigilo assinados com as duas empresas.

Page 46: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

35

Nos artigos lidos foi possível identificar um construto teórico, a absorptive

capacity, que representa a habilidade da firma para identificar, assimilar e explorar

conhecimentos disponíveis no ambiente. Esse construto teórico era sempre utilizado com

referência ao trabalho de Cohen e Levinthal intitulado “Absorptive Capacity: A new

perspective on learning and innovation” e publicado na Administrative Science Quartely

em 1990. Este artigo recebeu um grande número de citações, um total de 1569 até 2007 (a

Figura 7 ilustra a distribuição de citações ao longo dos anos), o que demonstra sua

relevância acadêmica.

Anos

Citações por ano

Anos

Citações por ano

Figura 7: Citações para o trabalho de Cohen e Levinthal, 1990.

Fonte: ISI Web of Knowledge

A identificação deste construto e a sua representatividade frente à questão inicial

formulada para a pesquisa permitiram o refinamento desta, que a passou a ser: “Como uma

organização pode desenvolver a sua absorptive capacity?”

Para identificar os principais periódicos relacionados ao tema absorptive capacity,

foi realizada uma análise de citações para o trabalho de Cohen e Levinthal de 1990,

identificando em que periódicos foram publicados os artigos que citavam este trabalho. A

Tabela 3 apresenta uma ordenação dos periódicos mais relevantes para o tema.

Page 47: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

36

Tabela 3: Principais periódicos no tema da absorptive capacity

Fonte: elaborada a partir de ISI - Web of Knowledge

Periódico Número de artigos % de 1596

STRATEGIC MANAGEMENT JOURNAL 121 7,5815%RESEARCH POLICY 89 5,5764%INTERNATIONAL JOURNAL OF TECHNOLOGY MANAGEMENT 60 3,7594%TECHNOVATION 60 3,7594%R & D MANAGEMENT 52 3,2581%ORGANIZATION SCIENCE 51 3,1955%ACADEMY OF MANAGEMENT JOURNAL 49 3,0702%MANAGEMENT SCIENCE 44 2,7569%JOURNAL OF MANAGEMENT STUDIES 42 2,6316%ACADEMY OF MANAGEMENT REVIEW 39 2,4436%TECHNOLOGY ANALYSIS & STRATEGIC MANAGEMENT 33 2,0677%ORGANIZATION STUDIES 31 1,9424%JOURNAL OF ENGINEERING AND TECHNOLOGY MANAGEMENT 30 1,8797%JOURNAL OF INTERNATIONAL BUSINESS STUDIES 30 1,8797%JOURNAL OF BUSINESS VENTURING 28 1,7544%IEEE TRANSACTIONS ON ENGINEERING MANAGEMENT 26 1,6291%JOURNAL OF MANAGEMENT 25 1,5664%JOURNAL OF PRODUCT INNOVATION MANAGEMENT 25 1,5664%INDUSTRIAL AND CORPORATE CHANGE 20 1,2531%MIS QUARTERLY 19 1,1905%SMALL BUSINESS ECONOMICS 19 1,1905%CALIFORNIA MANAGEMENT REVIEW 17 1,0652%JOURNAL OF BUSINESS RESEARCH 17 1,0652%JOURNAL OF MANAGEMENT INFORMATION SYSTEMS 17 1,0652%JOURNAL OF MARKETING 17 1,0652%

Em seguida, uma pesquisa bibliográfica específica relacionada ao construto

absorptive capacity foi realizada na base ISI - Web of Knowledge e nos periódicos

apresentados na Tabela 3. Esta busca retornou um grande número de artigos,

aproximadamente 820, que foram analisados (a Figura 8 ilustra as funcionalidades de refino

da busca bibliográfica) e limpos utilizando os seguintes critérios:

1. área temática do artigo: foram excluídas as áreas como nutrição, pediatria,

entre outras, que claramente não se relacionam com o tema em discussão;

2. ano de publicação: foram excluídos os artigos com data anterior a 1989,

ano do primeiro artigo propondo o construto da absorptive capacity;

3. título das fontes: foram excluídos os periódicos que não possuíam relação

com o tema, como por exemplo o Cancer Biology & Therapy.

Page 48: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

37

Figura 8: Funcionalidades de refino da busca sobre absorptive capacity

Fonte: ISI - Web of Knowledge

Duzentos e oitenta e sete resumos foram cadastrados no software de referência

bibliográfica como resultado deste refino. Cada um destes resumos foi lido, permitindo uma

ampla visão de como o construto foi utilizado na literatura. Dos artigos selecionados,

destaca-se o trabalho de Lane, Koka e Pathak (2006) que realiza uma revisão

bibliográfica de novecentos artigos relacionados ao tema, classificando-os e propondo

uma reconceituação da absorptive capacity. A leitura deste artigo serviu de base para a

identificação de artigos que não estavam inicialmente contemplados nos resultados da

pesquisa nas bases de periódicos. Estes foram incluídos na revisão bibliográfica.

O artigo de Lane et al. (2006) por se tratar de um trabalho bastante exaustivo e

muito atual foi utilizado como base para orientar a revisão bibliográfica realizada. A

partir dele puderam ser identificadas as diferentes perspectivas pelas quais a absorptive

capacity foi tratada, os problemas associados ao uso do conceito, os principais autores e

as contribuições de cada um deles. Desta forma, com base na leitura dos 287 resumos e

das indicações de Lane et al. (2006) um subconjunto de artigos foi selecionado para

leitura integral. Os resultados desta revisão bibliográfica são apresentados no terceiro

capítulo deste documento.

Page 49: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

38

Destaca-se ainda, que em paralelo à revisão bibliográfica foi realizada uma série de

entrevistas abertas, no âmbito dos dois projetos de extensão citados anteriormente, que

contribuíram para o entendimento dos problemas práticos relacionados ao tema e ao

desenvolvimento do framework que se pretendia.

A partir destas duas vertentes exploratórias, a revisão bibliográfica e as entrevistas,

e com a visão das diversas perspectivas que abordam o construto da absorptive capacity,

pôde-se definir a problemática que seria adotada para tratar da melhor maneira a questão

inicial de pesquisa. Optou-se por adotar a perspectiva das capacitações dinâmicas (TEECE,

PISANO e SCHUEN, 1997) uma vez que se relaciona com a capacidade reconfiguração, ou

seja, a habilidade de construir novas configurações para adaptar-se ao ambiente ou

conformar e explorar oportunidades vislumbradas. A adoção desta problemática é reforçada

por Lane, Koka e Pathak, (2006, p.857) com a afirmação:

“Crítica para o avanço da literatura sobre absorptive capacity é a

necessidade de se mover de uma perspectiva estrutural da absorptive capacity

para uma visão desta como uma capacitação dinâmica. Esta mudança de

perspectiva foca atenção na estrutura, políticas e processos de uma organização

que afetam a transferência, compartilhamento, integração e criação de

conhecimento”

Além disso, com o reconhecimento de que uma capacitação dinâmica emerge

das rotinas organizacionais e estas são muito particulares a cada firma (EISENHARDT

e MARTIN, 2000) percebe-se que não se pode prescrever uma solução que seja

universal para todos os contextos e organizações. Desta forma, o framework a ser

proposto deveria servir como referência para que a organização pudesse projetar, para

seu contexto específico, a solução a ser adotada para desenvolver as rotinas que levarão

à emergência da absorptive capacity.

A partir da definição da problemática foi possível a reformulação da questão da

pesquisa, já apresentada, em sua versão final, no item relativo aos objetivos desta

dissertação.

Page 50: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

39

“Qual é a estrutura, e conteúdo, de um framework de referência, no qual uma

organização poderia se basear para construir a sua solução particular, de forma que

possa desenvolver a sua absorptive capacity?”

A partir da reformulação da questão da pesquisa e da escolha da problemática que

este trabalho adotaria, a quarta etapa do trabalho consistiu na construção do framework de

referência.

A primeira questão importante a ser discutida era referente à escolha da forma de

representação a ser adotada. Para o tratamento de um problema gerencial complexo, essa

decisão influencia a capacidade cognitiva dos gestores e, portanto, a capacidade de

aplicação das propostas e resolução do problema (SHEHABUDDEEN, PROBERT,

PHAAL e PLATTS, 1999).

Para definir a estrutura do framework de referência optou-se por construir uma

lógica incremental de passagem entre o construto conceitual abstrato e a aplicação prática.

Utilizou-se como base a estrutura de proposta por Shehabuddeen et al. (1999) para construir

um framework de referência composto de três camadas. A primeira, um framework que

representasse o construto e as capacitações que o compõem. A segunda, um framework que

apresentasse os processos e os requisitos de integração entre eles. Por fim, a terceira, um

framework que apresentasse uma solução de técnicas articuladas que suportassem por

completo os requisitos estabelecidos na segunda camada. A lógica entre a passagem do

conceitual ao aplicado, proposta por Shehabuddeen et al. (1999) e a estrutura de camadas do

framework de referência é ilustrada na Figura 9.

Page 51: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

40

Conceitual(abstrato,

entendimento)

Aplicado

Dinâmico(interação,

casualidade)

Estático(estrutura, elementos)

Sistema

Framework

ModeloMapa

ProcessoProcedimento

TécnicaFerramenta

Rep

rese

ntaç

ão

Abordagem

1a Camada: Construto e

capacitações

2a Camada:Processos e requisitos de integração

3a Camada:Técnicas

articuladas

Figura 9: Estrutura de camadas do framework de referência

A construção de cada uma das camadas e as passagens entre elas foram

realizadas com base na literatura. A primeira camada é construída a partir da revisão

bibliográfica realizada no capítulo 3 desta dissertação. A partir desta, cada uma das

capacitações que compõem o construto da absorptive capacity é decalcada em um

processo relacionado à literatura de Gestão da Inovação. Essa passagem é realizada a

partir de buscas bibliográficas específicas, com base em questões definidas para

representar cada uma das capacitações. A análise dos resultados destas pesquisas

bibliográficas mais específicas permitiu a identificação de um processo que fosse

representativo e servisse como uma aproximação para cada uma das capacitações que

compõem a absorptive capacity.

O resultado alcançado com este decalque, apesar de representar uma redução do

conceito de capacitação, possui a vantagem de estar mais próximo à estrutura cognitiva

dos gestores que farão uso do framework no desenvolvimento de suas soluções. Além

da definição destes processos, foram propostos os requisitos de integração necessários

entre eles. Estes foram definidos de forma a garantir que o resultado gerado em cada um

dos processos possa ser utilizado pelos demais, buscando uma consistência que suporte

o caráter dinâmico necessário para a reconfiguração dos recursos.

Page 52: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

41

Esta segunda camada, apesar de já apresentar processos e requisitos de

integração, ainda se propõe a orientar as organizações no desenvolvimento de suas

próprias soluções. Entretanto, este projeto não se mostra trivial. Diferentes técnicas

estão disponíveis e diversas soluções podem ser construídas, dependendo do

conhecimento prévio e do contexto específico de cada organização. Para exemplificar

esta passagem, a terceira camada do framework propõe, a partir de buscas bibliográficas

específicas, um conjunto articulado de técnicas que combinadas poderiam suportar por

completo a segunda camada do framework.

A lógica detalhada de construção das diferentes camadas do framework de

referência é apresentada no capítulo 4 desta dissertação.

A quinta etapa da pesquisa foi a verificação do modelo proposto. Para tal, projetou-

se três entrevistas semi-estruturadas com executivos de três diferentes setores: petróleo,

energia-elétrica, e, vacinas e imunobiológicos. Estes executivos, após uma apresentação do

framework de referência proposto, eram confrontados com quatro questões:

• Quais as características do setor em relação à dinâmica e existência de

conhecimentos no ambiente? O quanto isso é importante para determinar o

sucesso da organização?

• Quais as contribuições que este framework poderia trazer às ações da

organização?

• Quais as lacunas percebidas no framework?

• A organização realiza as ações presentes no framework de forma estruturada e

integrada? O quão distante está disso?

Desta forma, buscou-se confrontar o framework resultante da proposição teórica

com a experiência destes profissionais, de forma que se pudesse verificar o potencial e as

principais restrições para aplicação deste framework na situação prática.

Entende-se que estas entrevistas não são suficientes para afirmar a validade do

framework, mas ressalta-se que este é de difícil validação empírica, uma vez que é muito

difícil isolar as suas contribuições. Estas impactam de maneira indireta os resultados de

Page 53: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

42

efetividade da empresa e, por fim, os resultados têm um tempo de maturação muito longo,

exigindo extensos períodos de observação para mensurá-los. Destaca-se, portanto, o

trabalho de pesquisa descrito na tese de Doutorado realizada sob orientação do Prof. DSc.

José Luis Duarte Ribeiro, defendida em 2004 pela aluna Istefani Carísio de Paula no

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul – UFRGS no qual a autora avalia o modelo de referência proposto para o

desenvolvimento de produtos farmacêuticos a partir da realização de entrevistas semi-

estruturadas com cinco empresas do setor.

Na sexta etapa da pesquisa os resultados das entrevistas foram analisados e algumas

considerações puderam ser realizadas a partir da identificação de pontos recorrentes ou

padrões nas respostas dos executivos. Ressalta-se mais uma vez, que as entrevistas não

permitem que nenhuma conclusão definitiva seja tomada, mas algumas especulações sobre

as virtudes do modelo e sobre potenciais restrições para sua adoção puderam ser

identificadas em função da recorrência nas respostas.

A sétima e última etapa do trabalho é referente à definição das conclusões obtidas

com a pesquisa. Neste ponto grande atenção foi dada à definição das limitações deste

trabalho e aos potenciais de evolução, estabelecendo uma agenda de continuidade de

pesquisa.

Page 54: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

43

3. ABSORPTIVE CAPACITY: ORIGENS, USOS E EVOLUÇÃO DO CONCEITO

O construto da absorptive capacity tem recebido grande atenção desde sua

proposição inicial em 1989 por Cohen e Levinthal no artigo “Innovation and Learning:

the two faces of R&D” publicado no Economic Journal. O número de artigos que citam

este conceito é bastante elevado, mais de 900 artigos em periódicos acadêmicos de

primeira linha, conforme levantamento de Lane, Koka e Pathak (2006). No entanto, o

uso deste conceito tem passado por adaptações que distorcem o seu significado original

e tornam impreciso o entendimento do construto, como alertam os trabalhos de Zahra e

George (2002) e de Lane, Koka e Pathak (2006). Parte deste problema se origina no

fato da definição original ser bastante abstrata, dando margem a interpretações e

aplicações que geraram uma dispersão ao longo tempo. A partir disto, este capítulo tem

como objetivo realizar uma revisão deste conceito, desde sua proposição inicial,

organizando os diferentes campos e temas em que foi aplicado, passando por uma

análise crítica da coesão das publicações no assunto, até a proposição de novas

definições para o construto. Por fim, através da apresentação da contribuição de três

autores, é destacada a perspectiva das capacitações dinâmicas, que será utilizada como

base para a construção do modelo de referência.

3.1. As origens do construto Absorptive Capacity

A idéia de que a capacidade de uma firma assimilar conhecimentos externos é

um dos resultados alcançados a partir do seu próprio esforço de P&D, já era apontada

na década de setenta por diferentes autores, como: Tilton (1971), Evenson e Kislev

(1975), Mowery (1983) e Allen (1977). Entretanto, foram Cohen e Levinthal, com uma

série de três artigos publicados em 1989, 1990 e 1994, que tornaram notório o papel

secundário (de absorção de conhecimento) que esse esforço de P&D trazia, baseando-se

em um conjunto de estudos econômicos e testes empíricos. Foram eles também que

cunharam a expressão absorptive capacity. Estes três artigos formam a base para o

Page 55: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

44

futuro desenvolvimento do conceito por outros autores, mostrando-se interessante

destacar as principais questões que estes trabalhos seminais abordaram.

No primeiro artigo, publicado em 1989 no Economic Journal e intitulado

“Innovation and Learning: The two faces of R&D” os autores propuseram que se uma

empresa tem um baixo custo para assimilar conhecimento externo no momento do

aprendizado, “é por que a empresa já investiu na habilidade de identificar, assimilar e

explorar conhecimentos do ambiente externo, o que é chamado de absorptive

capacity.” (COHEN e LEVINTHAL, 1989, p.570). “Diferente do learn-by-doing, que

permite a uma empresa melhorar naquilo que já fazem, a absorptive capacity permite a

firma aprender algo diferente.” (LANE, KOKA e PATHAK 2006, p. 836).

Ainda neste texto, os autores discutem como a propensão das empresas a

desenvolver a absorptive capacity difere em função da percepção dos incentivos para

aprender no ambiente em que esta está inserida. Estes incentivos estão relacionados a

diferentes fatores, apresentados por eles na Figura 10.

Figura 10: Modelo de Cohen e Levinthal

Fonte: Cohen e Levinthal (1989)

Gastos com P&D

Absorptive capacity

Facilidade de aprendizado de conhecimento externo-relevância para empresa;

-complexidade;-dependência de trajetória

Escopo das oportunidades tecnológicas

-volume de conhecimento disponível-potencial de melhoria no desempenho

tecnológico

Demanda da indústria-crescimento da demanda

-elasticidade da renda

Propensão ao transbordamento de conhecimento

- Inverso do uso de proteções a propriedade intelectual

CompetitividadeConcentração do

market share

Elasticidade de preço

++ +

+

++

+

-

Page 56: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

45

Primeiro, os autores sugerem que o escopo de oportunidades tecnológicas é

função da quantidade e do valor dos conhecimentos disponíveis no ambiente externo.

Quanto maior a disponibilidade e maior o potencial de melhorar os conhecimentos já

existentes, maior o incentivo para que a firma invista em P&D. Já o potencial de

apropriação dos conhecimentos disponíveis na indústria é inversamente proporcional ao

incentivo ao uso de mecanismos de proteção intelectual. Desta forma, quanto mais fraca

a capacidade de proteção intelectual, mais forte é o transbordamento de conhecimentos

e, portanto, maior o incentivo para investir em P&D. Analogamente, quanto maior o

crescimento da demanda e maior a elasticidade da receita, maiores os incentivos para

direcionar recursos para o P&D.

Estes efeitos são moderados por um conjunto de fatores. Quanto mais fácil for o

aprendizado do conhecimento externo, mais fácil identificar as oportunidades

tecnológicas, e, mais fácil a apropriação de conhecimentos. A influência do potencial de

apropriação dos conhecimentos nos gastos de P&D é mediada pela competitividade na

indústria. Quanto mais competitiva, maior a necessidade de absorptive capacity. Esta

mesma influência tende a sofrer um efeito negativo da elasticidade de preço, pois gera

um retorno muito limitado comparado ao acréscimo de custo de P&D.

Segundo Lane, Koka e Pathak (2006, p.837-838) este artigo de 1989 é notável

por três principais motivos:

“Primeiro porque estabelece o conceito da absorptive capacity na teoria

econômica. Segundo porque identifica diversos determinantes chaves para a

propensão de uma firma investir nesta capacitação, como: o escopo das

oportunidades tecnológicas disponíveis, a natureza desta oportunidade (ciência

básica ou aplicada) e o grau de melhora no desempenho tecnológico

proporcionado pelo uso do conhecimento externo. Terceiro, porque ele aponta

que ciência básica e aplicada são formas de conhecimento fundamentalmente

diferentes, com diferentes aplicações para a absorptive capacity e o

aprendizado organizacional.”

Page 57: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

46

Apesar da importância deste texto, é possível notar uma inconsistência na forma

pela qual Cohen e Levinthal discutem o construto e a forma pela qual o mesmo é

modelado e medido. “Eles apresentam a absorptive capacity explicitamente como um

processo de aprendizado e implicitamente com uma capacitação.” (LANE, KOKA e

PATHAK, 2006, p.838). Nos modelos e nos testes realizados, os autores utilizaram o

gasto em P&D como uma representação da absorptive capacity. Mesmo que isso seja

justificado por ser uma aproximação para mensurar um construto de difícil

representação, esta medida apresenta um grande problema, uma vez que trata a

absorptive capacity como um recurso estático, e não como um processo ou capacitação

(GODFREY e WILL, 1995).

No segundo artigo, publicado em 1990 na Administrative Science Quartely e

intitulado “Absorptive Capacity: A new perspective on learning and innovation” os

autores reforçam a argumentação do primeiro texto, mas dando um foco maior no

indivíduo, mais especificamente, na sua capacidade cognitiva. Desta forma, colocam

mais ênfase no processo que suporta esse aprendizado. Eles ressaltam que o

aprendizado individual é cumulativo e o seu desempenho é fortemente relacionado à

quantidade de conhecimento que o indivíduo já possui, como apontado nos trabalhos de

Bower e Hilgard (1981); Ellis (1965) e Estes (1970). Em seguida, essa capacitação

individual é estendida para o nível organizacional, permitindo que os autores redefinam

o construto como “a habilidade de uma firma de reconhecer o valor de novas

informações, assimilá-las e aplicá-las para fins comerciais.” (COHEN e LEVINTHAL,

1990, p.128).

Nesta passagem, do indivíduo para a organização, algumas questões são

fundamentais para o desenvolvimento da absorptive capacity de uma empresa: (1) é

construída sobre os investimentos anteriores na capacitação de cada um dos seus

membros individuais; (2) tem um caráter cumulativo e dependente da trajetória (path

dependent), e; (3) depende da capacidade de difusão de conhecimento da organização,

sendo importante um constante estado de alerta sobre quais os conhecimentos

disponíveis em cada uma das unidades (LANE, KOKA e PATHAK, 2006).

Page 58: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

47

Com esses avanços, Cohen e Levinthal terminam o artigo derivando esta

perspectiva nos modelos econômicos utilizados no trabalho de 1989 e aplicando-os

sobre os mesmos dados, mostrando resultados satisfatórios.

No terceiro artigo, publicado em 1994 na Management Science e intitulado

“Fortune favors the prepared firm” os autores mais uma vez ajustam a definição do

construto, afirmando que: A absorptive capacity de uma firma é definida como a

capacitação que não apenas habilita a exploração de novos conhecimentos disponíveis

externamente, mas também a permite fazer uma previsão mais acurada da natureza dos

avanços tecnológicos futuros (COHEN e LEVINTHAL, 1994).

Neste trabalho é desenvolvido um modelo econômico que contempla uma

decisão de investimento monopolista considerando a dependência da trajetória e a

cumulatividade dos seus investimentos e incertezas, bem como o impacto de novos

entrantes nas decisões da empresa presente na indústria. A idéia central é a de mostrar

que as empresas que historicamente investem mais no desenvolvimento da absorptive

capacity possuem maior acurácia na previsão de tendências tecnológicas e com isso

tiram maiores vantagens de oportunidades emergentes, antes mesmo que seus

concorrentes possam percebê-las (LANE, KOKA e PATHAK, 2006).

Pode-se perceber, ao analisar os três artigos publicados pelos autores, que o

conceito evoluiu e se expandiu, apesar de sempre relacionado ao contexto do P&D das

organizações. Nota-se ainda, que as suas definições ainda não permitiam um

entendimento uniforme, dando margem a interpretações e flexibilizações. No entanto, é

possível destacar, com base em Lane, Koka e Pathak (2006, p.839), as principais

contribuições de Cohen e Levinthal (1989, 1990 e 1994) para a origem do construto.

A primeira é a noção de que através de suas atividades de P&D, uma

organização desenvolve conhecimento sobre um determinado tema que, por sua vez, a

permite uma maior compreensão e identificação de conhecimentos disponíveis

externamente que possuam potencial para serem assimilados e aplicados internamente.

Esta é relacionada à capacidade de identificar e avaliar os conhecimentos, primeira parte

Page 59: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

48

da definição apresentada por eles. Ressalta-se o caráter cumulativo desta capacitação,

gerando um ciclo virtuoso em que mais conhecimento gera mais absorptive capacity e

mais absorptive capacity permite identificar e assimilar mais conhecimento.

A segunda contribuição indica que, ao longo do tempo, a organização

desenvolve processos e políticas que facilitam a disseminação destes conhecimentos

internamente, especialmente pelo aumento do conhecimento dos conhecimentos que a

própria organização possui, facilitando a identificação de que áreas podem fazer melhor

uso de conhecimentos identificados por determinada unidade. Esta questão é

relacionada à capacidade de assimilar os conhecimentos externos, segunda parte da

definição.

A terceira contribuição relaciona-se ao aprimoramento da capacidade de

previsão tecnológica, permitindo à firma, obter uma percepção antecipada das

oportunidades, e com isso, explorá-las estrategicamente. Este ponto relaciona-se à

terceira e última parte da definição, a exploração do conhecimento.

A composição destas contribuições conforma a definição que foi evoluindo ao

longo dos três artigos seminais.

3.2. Uma análise crítica sobre o uso do construto ao longo

dos anos: a pesquisa de Lane, Koka e Pathak (2006)

Lane, Koka e Pathak (2006) apresentam um exaustivo trabalho de levantamento

bibliográfico sobre o construto da absorptive capacity. Como mencionado, estes

avaliam 289 artigos7 publicados entre 1991 e 2002 e os analisam para confirmar a

7 A redução dos 900 artigos encontrados na busca bibliográfica para os 289 analisados é

realizada a partir da inclusão na amostra de apenas os artigos que citam Cohen e Levinthal, 1990, o

trabalho mais reconhecido dos autores, e da limitação da busca aos periódicos que publicaram pelo menos

5 artigos no tema no período entre 1991 e 2002. Os autores consideraram que um artigo a cada dois anos

era o mínimo necessário para considerar que o tema faz parte da agenda de pesquisa do periódico.

Page 60: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

49

hipótese de que este conceito passou pelo processo denominado reificação8, ou seja,

uma “coisificação” de um conceito. Esta idéia foi introduzida por Lukacs (1971) para

criticar o construto econômico, “trabalho”. Ele usa o conceito de reificação para

apresentar a tendência em se discutir o trabalho como uma coisa abstrata, destacada dos

trabalhadores que o realizam. Lane, Koka e Pathak (2006, p.835) definem o conceito de

reificação como: “o resultado de um processo pelo qual nós esquecemos a autoria das

idéias e teorias, objetificamos (transformando-as em “coisas”), e esquecemos que

fizemos esse processo.”

A reificação de um conceito pode ter aspectos positivos no processo de

aprendizado nos casos em que o aprendizado é principalmente prático, como por

exemplo, uma regra, uma ferramenta ou um procedimento. Nesses casos, o

entendimento dos argumentos, hipóteses e relações que sustentam o conceito é muito

menos importante do que o entendimento do que o conceito reificado pode fazer. Já no

caso da construção de conhecimento, esse processo é muito perigoso, uma vez que

induz aos pesquisadores que parem de especificar as hipóteses e conceitos que

sustentam o construto, prejudicando o seu questionamento e levando ao uso irrestrito

deste como uma solução genérica, cada vez aplicada a um escopo maior de problemas.

Latour (1987) cita como principal problema o fato do significado original do

construto ficar cada vez mais obscuro, à medida que sucessivamente cada pesquisador o 8 De acordo com o dicionário Houassis.

Reificar: 1. FIL encarar (algo abstrato) como uma coisa material ou concreta; coisificar <r.

conceitos como se fossem objetos é comum na literatura e em certos comportamentos patológicos> 2.

transformar em coisa; dar o caráter de coisa a <a tendência a r. heróis e anti-heróis é constante na

cultura popular> 3. tornar estático; paralisar.

Reificação: 1. FIL segundo Georg Lukácks (1885-1971), alargando e enriquecendo um conceito

de Karl Marx (1818-1883), processo histórico inerente às sociedades capitalistas, caracterizado por uma

transformação experimentada pela atividade produtiva, pelas relações sociais e pela própria subjetividade

humana, sujeitadas e identificadas cada vez mais ao caráter inanimado, quantitativo e automático dos

objetos ou mercadorias circulantes no mercado. Cf. alienação 2. p.ext. qualquer processo em que uma

realidade social ou subjetiva de natureza dinâmica e criativa passa a apresentar determinadas

características – fixidez, automatismo, passividade – de um objeto inorgânico, perdendo sua autonomia e

autoconsciência.

Page 61: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

50

adapta para se enquadrar a necessidade da sua pesquisa ou ao seu viés de pensamento.

No fim, este problema pode levar a sérios questionamentos em relação à validade do

conceito, uma vez que os diversos trabalhos são construídos sobre bases inconsistentes.

Para verificar se a absorptive capacity passou por esse processo de reificação,

Lane, Koka e Pathak (2006) definem duas questões para orientar a realização da sua

análise crítica. A primeira verifica como o construto da absorptive capacity vem sendo

utilizado e a segunda, o quão coesa é a comunidade de pesquisa no tema.

Como o construto absorptive capacity vem sendo utilizado?

Cronbach e Meehl (1955) em seu trabalho sobre validade de construtos,

argumentam que, quando ocorre o processo de reificação, um construto é separado das

hipóteses e conceitos que o sustentam, isolando-o das proposições que garantem o seu

relacionamento com outros construtos e com as variáveis de observação que o

suportam. Retirar o conceito de seu contexto permite aos pesquisadores percebê-lo

como uma entidade independente, possível de ser adaptada para qualquer aplicação e/ou

necessidade. Para checar a ocorrência deste fenômeno, Lane, Koka e Pathak (2006)

classificaram todos os 289 artigos de sua pesquisa de três formas:

1. O quão importante o construto é para o tema central do artigo: esta

análise permite avaliar o quanto o construto vem sendo utilizado apenas

para citações pró-forma, ou seja, sem importância para o tema tratado no

artigo. Para tal, os autores classificaram cada artigo em uma das quatro

categorias:

i. o artigo discute a extensão da definição do artigo;

ii. o construto é parte das hipóteses ou modelo utilizado no artigo;

iii. o construto é um instrumento para o desenvolvimento lógico das

proposições ou hipóteses formuladas pelo artigo;

iv. o artigo usa o construto como uma citação secundária, com pouca

ou nenhuma discussão a respeito.

Page 62: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

51

2. O número de dimensões da absorptive capacity que o artigo discute:

esta análise permite avaliar o quanto a definição original do construto

continua entendida e o quanto esta vem sendo utilizada de forma parcial

ou adaptada. Para tal, os autores classificam os artigos em oito

categorias:

i. identificação de conhecimento externo, ou seja, o artigo trata o

construto apenas como a atividade de adquirir conhecimentos

externos, desconsiderando as demais componentes;

ii. assimilação de conhecimento externo;

iii. exploração de conhecimento externo;

iv. todas as dimensões;

v. identificação e assimilação;

vi. identificação e exploração;

vii. assimilação e exploração;

viii. nenhuma das dimensões.

3. A forma pela qual o artigo caracteriza a relação do construto com a

firma: esta análise permite identificar o quanto o contexto teórico

original vem sendo entendido. Neste caso, a caracterização do construto

como uma capacitação é considerada a mais adequada e a não

caracterização do construto como uma capacitação ou recurso é

considerado a menos adequada. Para tal, os autores classificam os artigos

em quatro categorias:

i. o construto é caracterizado como uma capacitação;

ii. o construto é caracterizado como um recurso;

iii. ambas as caracterizações;

iv. nenhuma das caracterizações.

O resultado da classificação pode ser observado na Figura 11 apresentada a

seguir.

Page 63: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

52

Todas as dimensões Identificação Assimilação Exploração Identificação

e assimilaçãoIdentificação e exploração

Assimilação e exploração

Nenhuma dimensão

Uso 1 4 0 0 0 0 0 0 0 4 100,0% Capacitação0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0% Recurso0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0% Ambos

4 artigos: 1,4% 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,0% NenhumUso 2 9 0 0 0 1 0 0 0 10 68,8% Capacitação

1 0 0 0 1 0 0 0 2 12,5% Recurso1 0 0 0 0 0 0 0 1 6,3% Ambos

15 artigos: 5,2% 0 0 1 0 0 0 0 1 2 12,5% NenhumUso 3 17 1 0 0 5 3 0 4 30 65,1% Capacitação

2 1 0 0 1 2 0 0 6 14,0% Recurso3 1 0 0 0 2 0 0 6 14,0% Ambos

45 artigos: 15,6% 0 0 0 0 1 0 0 2 3 7,0% NenhumUso 4 27 13 5 6 4 6 3 8 72 32,0% Capacitação

2 14 2 2 3 6 3 2 34 15,1% Recurso0 1 1 1 0 1 0 0 4 1,8% Ambos

225 artigos: 77,9% 4 16 1 3 2 5 0 84 115 51,1% NenhumTotal 70 47 10 12 18 25 6 101 289

24,2% 16,3% 3,5% 4,2% 6,2% 8,7% 2,1% 34,9% 100%

Construção lógica

Citações secundárias

Número de artigos enfatizando cada dimensão do construtoNúmero de artigos em cada

perspectiva, em relação ao tipo de uso

Extensão da definição

Hipóteses ou modelo

Figura 11: Análise do uso da Absorptive capacity

Fonte: Adaptado de Lane, Koka e Pathak, 2006, p.841

Page 64: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

53

As informações sumarizadas na Figura 11 são importantes para uma análise de

como o uso do construto vem sendo feito ao longo dos anos. Uma primeira constatação

possível é que apesar da grande quantidade de artigos que abordam o tema, os 900

iniciais e os 289 analisados, o construto é normalmente utilizado sem receber grande

importância. Da amostra avaliada, 78% ou 225 artigos usam Cohen e Levinthal (1990)

apenas como uma citação secundária, sem nenhuma discussão a respeito. Outro ponto a

se notar é que 32,5% ou 94 artigos não discutem nenhuma das dimensões - identificar,

assimilar e explorar – propostas para a absorptive capacity. Avaliando pelo outro

extremo, apenas 22% dos artigos fazem mais do que uma referência secundária e, ainda

mais crítico, apenas 4 artigos procuram refinar ou estender a definição do construto. Do

ponto de vista das dimensões analisadas, apenas 24%, ou 70 artigos consideram as três

dimensões da absorptive capacity, o que pode ser considerado um número muito

reduzido, dada a clareza com que os trabalhos de Cohen e Levinthal (1989, 1990 e

1994) as expuseram. Em relação à perspectiva com que cada artigo tratou o construto,

pode-se observar que 40,1%, ou 116 artigos, observam a absorptive capacity como uma

capacitação, mas dentro destes, 72 fazem apenas uma mera citação, identificando o

construto como a base de conhecimento da organização.

Estas análises, portanto, sugerem que o construto da absorptive capacity passou

pelo referido processo de reificação. Desta análise, é importante ressaltar algumas

questões. Primeiro, apesar das definições detalhadas de Cohen e Levinthal sobre as três

dimensões, 35% dos artigos analisados não fazem nenhuma menção a elas. Segundo,

apesar do critério pouco restritivo usado pelos autores, 40% dos artigos não discutem o

construto nem como uma capacitação e nem como um recurso. Terceiro, quase 80% dos

artigos citam o construto apenas de uma maneira ritual, pró-forma, sem nenhum tipo de

discussão a respeito. Lane, Koka e Pathak (2006, p.841) destacam a dimensão deste

problema:

“Incluir um construto como uma citação ritual em alguns artigos não

gera um grande problema. Entretanto, quando um construto é percebido como

de grande importância para um campo, em função da elevada freqüência de

citações, e quando a grande maioria destas é apenas ritual, a verdadeira

Page 65: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

54

importância do construto, ou seja, a extensão com que suas afirmações e

hipóteses foram testadas e a suas contribuições para o determinado campo são

superestimadas. Nós acreditamos que isso aconteceu com a absorptive

capacity.”

Este problema deve servir como um alerta para este trabalho, indicando que para

seu desdobramento é importante que se deixe muito claro as perspectivas e hipóteses

sobre as quais se apoiará. A reificação acontecida com este conceito reforça a

importância do estabelecimento da problemática que foi realizado no capítulo anterior

(QUIVY e CAMPENHOUDT, 2005).

O quão coesa é a comunidade de pesquisa sobre absorptive capacity?

Latour (1987) indica que um dos principais determinantes da reificação é a

extensão em que os autores adaptam o construto para que este se enquadre nas suas

necessidades. Lane, Koka e Pathak (2006) acreditam que este problema pode ser

evidenciado por uma análise de padrões de citações cruzadas entre os artigos que

utilizam um mesmo construto. Porter e Cunningham (2005), Kuhn (2003), Garfield

(1979) e Merton (1973) afirmam que comunidades de pesquisas bem definidas possuem

como característica uma rede de citações entre os seus artigos de seus pesquisadores,

que referenciam fortemente um conjunto central de artigos que delineiam o construto,

os conceitos, as teorias e métodos compartilhados pela comunidade.

Lane, Koka e Pathak (2006) propõem que quanto mais frouxa for a relação de

um artigo com uma comunidade de pesquisa, maior o risco de que o conceito seja

desviado de sua proposição original e das normas desta comunidade. Para aplicar esta

avaliação ao caso da absorptive capacity, os autores utilizaram o software de análise

bibliométrica9 chamado SITKIS. Os autores calcularam duas medidas centrais: (1) o

número de vezes que um determinado artigo cita os demais 288, ou seja, citações

9 Estas técnicas serão expostas mais a frente neste trabalho. Para referências bastante completas

sobre o tema, pode-se indicar os trabalhos de Porter e Cunningham (2005), Daim, Rueda, Martin e

Gerdsri (2006), Watts e Porter (1997), Yoon e Park (2005) e Smalheiser (2001).

Page 66: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

55

enviadas, e; (2) o número de vezes que um determinado artigo é citado pelos outros 288,

ou seja, citações recebidas.

O resultado desta análise constata que 150 artigos, ou 52%, não receberam

citação de nenhum outro dos 288 artigos. Além disso, 162 artigos, ou 56%, tiveram uma

média de menos de 0,5 links por ano10, e 50 artigos, ou 18%, nem citam e nem são

citados pelos outros artigos considerados na pesquisa. O único link que estes 50 artigos

possuem para a literatura da absorptive capacity é a citação de Cohen e Levinthal

(LANE, KOKA e PATHAK, 2006).

Mesmo os trabalhos que estendem a definição do construto (DYER e SINGH,

1998; LANE e LUBATKIN, 1998; VAN DEN BOSCH, VOLERDA e DE BOER,

1999; ZAHRA e GEORGE, 2002), não recebem um grande número de citações. O

artigo de Van den Bosch, Volberda e de Boer (1999), por exemplo, apesar de sua

importância, não possui um índice de citações maior do que 1 link por ano (LANE,

KOKA e PATHAK, 2006).

Esta análise de coesão indica que a comunidade de pesquisa sobre a absorptive

capacity não é focada, o que gera problemas relacionados ao real avanço dos conceitos

relacionados ao construto e a conclusão de que a absorptive capacity passou por um

processo de reificação.

Por fim, esta análise crítica do uso do construto ao longo dos anos realizada por

Lane, Koka e Pathak, permite estabelecer alguns requisitos para a utilização da

absorptive capacity para o desenvolvimento teórico.

10 O número de links por ano á calculado como o número de citações recebidas mais o número de

citações enviadas dividido por 12, que é o número de anos considerado na pesquisa bibliográfica.

Ressalta-se ainda que, tanto no número de citações enviadas como o número de citações recebidas tem

viés temporal, mas como no primeiro caso, os artigos publicados depois podem citar mais e no segundo,

os artigos publicados depois recebem menos citação, foi considerado que um anularia o outro.

Page 67: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

56

Um primeiro ponto de atenção é que é de extrema importância explicitar e

clarificar as diferentes perspectivas que o construto foi utilizado, para que seja possível

decidir a trajetória a ser seguida. O segundo ponto de atenção é que, o uso da absorptive

capacity deve passar por um enorme rigor no estabelecimento e explicitação das

hipóteses, afirmações e conceitos que suportam toda a argumentação a ser gerada.

Apenas dessa forma o trabalho poderá ter validade e credibilidade científica, e com isso,

contribuir para o avanço do campo.

3.3. Uma análise temática da aplicação do construto da

Absorptive capacity

A análise temática é uma importante ferramenta para classificar conteúdo de

textos e identificar relações entre as diferentes categorias. Para um tema como a

absorptive capacity, que passou pelo processo da reificação, esta análise é ainda mais

relevante, pois apóia o entendimento sobre o que se sabe no determinado campo de

estudo.

Lane, Koka e Pathak (2006) realizaram uma análise temática11 nos 64 artigos

que foram caracterizados anteriormente como fazendo uso substancial do construto. A

classificação realizada pelos autores foi baseada em uma adaptação de Owen (1984).

Para tal, três critérios foram considerados: (1) a recorrência de mesma linha de

raciocínio em diferentes palavras; (2) a repetição de palavras, frases ou sentenças; (3) a

importância dada pelos autores aos conceitos.

Como resultado, os autores chegaram a sete temas, como apresentado na Figura

12. Destes, três representam características estáticas da absorptive capacity (tipos de

conhecimento, estrutura organizacional e escopo organizacional), três representam

características dinâmicas (aprendizado inter-organizacional, inovação e aprendizado

organizacional) e por fim, um tema relacionado à definição e mensuração do construto. 11 Para uma exposição detalhada do processo seguido pelos autores para realizar esta análise, o

leitor é remetido ao trabalho original.

Page 68: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

57

Cada um destes temas será apresentado e os principais trabalhos relacionados serão

discutidos na seqüência.

Tipos de conhecimento

Tipos de conhecimento

Escopo organizacional

Escopo organizacional

Definições e operacionalização

da absorptivecapacity

Definições e operacionalização

da absorptivecapacity

Aprendizado inter-organizacional

Aprendizado inter-organizacional

Aprendizado organizacionalAprendizado

organizacional

InovaçãoInovação

Estrutura organizacional

Estrutura organizacional

Figura 12: Mapa temático da Absorptive Capacity

Fonte: Lane, Koka e Pathak, (2006, p.844)

3.3.1. Definições e operacionalização da absorptive capacity

Uma das principais abordagens realizadas na literatura em relação à absorptive

capacity é tratá-la como uma base de conhecimento, ou seja, com o conhecimento

acumulado em uma empresa, ao longo dos anos (AHUJA e KATILA, 2001; KIM, 1998;

MOWERY, OXLEY e SILVERMAN, 1996). Para mensurá-la, alguns autores valem-se

de variáveis que tentavam representar este acúmulo, como a intensidade de P&D

(MEEUS, OELERMANS e HAGE, 2001; MOWERY, OXLEY e SILVERMAN, 1996;

TSAI, 2001) e patentes (MOWERY, OXLEY e SILVERMAN, 1996 e AHUJA e

Page 69: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

58

KATILA, 2001). Entretanto, o uso destas variáveis, além de demonstrar um viés muito

centrado no P&D, levava a sérios problemas de validade, uma vez que são muito

questionáveis como representativas do acúmulo de conhecimento. Como apontam Lane,

Koka e Pathak (2006, p.844) os estudos de Tsai (2001) e Meeus et al. (2001) chegam a

conclusões opostas em relação à validade da variável intensidade de P&D para prever o

aprendizado organizacional.

Uma outra abordagem que vem constantemente ganhando mais adeptos é a

caracterização da absorptive capacity como uma capacitação, adicionando as discussões

de rotinas organizacionais e processos à base teórica previamente utilizada. Para tal,

diversos autores utilizaram-se de variáveis representativas como a idade da empresa

(RAO e DRAZIN, 2002; SORENSEN e STUART, 2000) e tamanho (MOWERY,

OXLEY e SILVERMAN, 1996) para argumentar que organizações mais velhas e

maiores possuem maior absorptive capacity, uma vez que desenvolveram processos e

rotinas que facilitam a assimilação de conhecimento (LANE, KOKA e PATHAK, 2006,

p. 844).

Nota-se que apesar destes estudos procurarem mensurar o conceito inicial

proposto por Cohen e Levinthal (1990), pouquíssimos trabalhos, apenas quatro, segundo

a classificação de Lane, Koka e Pathak (2006), buscaram refinar ou estender o uso do

construto para além do escopo do P&D e com uma visão mais orientada por uma lógica

de capacitações dinâmicas. Dyer e Singh (1998) exploram a absorptive capacity como

um processo de aprendizado interativo, no qual duas organizações em uma relação de

parceria passam a desenvolver zonas de sobreposição de conhecimentos, o que tende a

gerar a possibilidade de desenvolvimento e exploração de rendas relacionais. Van den

Bosch, Volberda e de Boer (1999) destacam o papel da dinamicidade e competitividade

do ambiente como conformadora do looping de feedback proposto por Cohen e

Levinthal, no qual, a absorptive capacity leva a maior aprendizado, que por sua vez

desenvolve maior absorptive capacity. Pode-se perceber que, apesar das visões de Dyer

e Singh (1998) e Van den Bosch, Volberda e de Boer (1999) serem distintas, o primeiro

trata de uma relação entre duas empresas, e o segundo, da relação entre uma empresa e

todos os atores do ambiente, existe uma grande possibilidade de convergência.

Page 70: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

59

Zahra e George (2002) são outros autores que trazem contribuições substanciais

à discussão. Eles também utilizam a perspectiva de processos para tratar a absorptive

capacity como uma capacitação dinâmica, e destacam a importância da difusão do

conhecimento e da integração organizacional como os fatores críticos desta discussão.

Eles sugerem que o construto deve ser entendido a partir de duas naturezas: absorptive

capacity potencial (PACAP12), ou seja, o conhecimento externo que a firma pode

absorver, e absorptive capacity realizada (RACAP13), ou seja, o conhecimento externo

que a firma efetivamente explora.

Por fim, cabe ressaltar que Lane, Koka e Pathak (2006, p.846) afirmam que

apesar dos trabalhos analisados trazerem muitas contribuições para o tema, pouco

esforço de integração entre eles foi realizado, o que aponta para a necessidade de uma

revitalização do tema.

3.3.2. Tipos de conhecimentos e a absorptive capacity

A exploração entre a natureza do conhecimento e a facilidade com que este pode

ser absorvido é outra abordagem observada na literatura. Lane, Koka e Pathak (2006)

apontam que existem duas vertentes claramente percebíveis nos autores que tratam

deste tema. A primeira foca nas características do conhecimento externo como variável

que afeta a absorção e assimilação pela organização. A segunda foca nas características

do conhecimento de uma organização que agem como variáveis de suporte à absorptive

capacity.

Ainda segundo os mesmos autores (p.846), a primeira característica estudada é

em relação ao conteúdo do conhecimento, ou o “know-what”. Alguns fatores como

habilidades comuns (BIERLY e CHAKRABARTI, 1996; LANE e LUBATKIN, 1998),

estratégia (BARKEMA e VERMEULEN, 1998), bases de conhecimento (AHUJA e 12 Do inglês: Potential Absorptive CAPacity. 13 Do inglês: Realized Absorptive CAPacity.

Page 71: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

60

KATILA, 2001), cultura (BHAGAT, KEDIA, HARVESTON e TRIANDIS, 2002;

SIMONIN, 1999) e estruturas cognitivas, aumentam a absorptive capacity, segundo a

visão destes autores. A segunda característica estudada é o quanto o conhecimento é

tácito, ou seja, o quão embutido está em habilidades e formas não codificadas, ou

“know-how”. Estes conhecimentos, por estarem embarcados em rotinas organizacionais,

são mais difíceis de serem imitados, e, por conseqüência, mais difíceis de serem

absorvidos (SAVIOTTI, 1998; NONAKA, 1994; SIMONIN, 1999; SZULANSKI,

1996; LANE, KOKA e PATHAK, 2006). A terceira característica é a complexidade do

conhecimento, “definida como o número de tecnologias, rotinas, indivíduos e recursos

independentes, relacionados a um conhecimento específico.” (SIMONIN, 1999, apud.

LANE ET AL., 2006, p.846). O argumento por trás disso é que à medida que o

conhecimento se torna mais complexo, a organização precisa absorver mais áreas de

conteúdo, bem como entender as interfaces e relações entre elas (GARUD e NAYYAR,

1994; LANE ET AL., 2006, p.846).

A outra vertente de estudos mencionada argumenta que a absorptive capacity

pode ser melhorada a partir do desenvolvimento de rotinas que alavanquem a

recombinação de recursos (PAVLOU, 2004; CRUZ, 2006; PROENÇA, 2003; TEECE,

PISANO E SHUEN, 1997; GALUNIC E RODAN, 1998; VAN DEN BOSCH ET AL,

1999), assim como a partir do desenvolvimento de integração inter-organizacional e

participação em comunidades em rede (BEISE e STAHL, 1999; LIEBESKIND,

OLIVER, ZUCKER e BREWER, 1996; MCMILLAN, NARIN e DEEDS, 2000;

FONTAINE e MILLEN, 2004; LESSER e FONTAINE, 2004; HISLOP, 2004; LAAT e

BROER, 2004).

Lane, Koka e Pathak (2006, p.846) sumarizam a revisão deste tema, indicando:

“o foco destes estudos está em dois aspectos da definição de Cohen e

Levinthal: (1) como o tipo de conhecimento influencia a habilidade da firma de

reconhecer novos conhecimentos valiosos, e (2) a habilidade da firma em

assimilá-los.”

Page 72: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

61

E concluem que a falta de evidencias empíricas para demonstrar essa influencia

é um sinal da pouca atenção dada a essa vertente de pesquisa.

3.3.3. Estrutura organizacional e a absorptive capacity

Um dos aspectos mais marcantes no trabalho de Cohen e Levinthal (1990) foi a

discussão da absorptive capacity ao nível individual como um fator importante para a

formação da absorptive capacity da organização. Alguns autores discutem o papel das

rotinas como elemento fundamental para garantir a passagem entre estes dois níveis.

Apesar dos diversos estudos considerando o construto como uma capacitação dinâmica,

e, portanto entendido com um conjunto de processos (ZAHRA e GEORGE, 2002;

LANE, KOKA e PATHAK, 2006; VAN DEN BOSCH, VOLBERDA e DE BOER,

1999), poucos autores investigaram a importância da estrutura organizacional como

suporte para o construto. Dentre estes, Meeus et al. (2001) discutiu o papel dos times

multi-funcionais, Gupta e Govindarajan (2000) e Lane et al. (2001) o nível de

centralização, Gupta e Govindarajan (2000) e Meeus et al. (2001) discutiram o uso de

mecanismos formais de integração, tais como as forças-tarefas, e Lane et al. (2001) a

flexibilidade organizacional, como fatores relevantes.

Van den Bosch et al. (1999) faz uma das poucas abordagens que relaciona a

absorptive capacity com a estrutura organizacional, argumentando que o escopo,

flexibilidade e eficiência na assimilação do conhecimento variam dependendo se a

organização possui uma estrutura funcional, divisional ou matricial (LANE ET AL.

2006; DAFT, 2002; GALBRAITH, 1995). Lane, Koka e Pathak (2006, p.847) apontam

que este tema ainda carece de estudos que explorem como a estrutura organizacional

pode influenciar as capacitações do construto.

3.3.4. Escopo organizacional e absorptive capacity

Page 73: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

62

As decisões de escopo de atuação de uma empresa, e por conseqüência o grau de

coesão de seus produtos, capacitações e mercados, e a forma pela qual estas afetam a

absorptive capacity, foram temas de estudo de muitos pesquisadores. Zook (2003)

argumenta que as decisões de expansão devem ocorrer de forma incremental e em

mercados e produtos em que seja possível se valer das capacitações que já suportam seu

negócio principal. O argumento central é que quanto mais próxima da sua base de

conhecimento atual e da sua expertise, maior a absorptive capacity e por conseqüência,

melhor o desempenho que a firma pode obter com a expansão (ZOOK, 2003; AHUJA e

KATILA, 2001; BARKEMA e VERMEULEN, 1998; ISOBE, MAKINO e

MONTGOMERY, 2000; KIM e KOGUT, 1996).

A absorptive capacity é utilizada também para explicar decisões estratégicas de

como entrar em determinados mercados. No caso de um novo mercado ou indústria em

que a empresa já possua competência desenvolvida, ela pode prescindir de uma parceria

estratégica ou de uma aquisição, pois já possuirá absorptive capacity naquela

determinada base de conhecimento. Já no caso de um mercado inteiramente novo, ela

deve optar por algum tipo de parceria que a permita desenvolver a absorptive capacity,

caso contrário, poderá levar muito tempo para obtê-la (HITT, DACIN, LEVITAS,

ARREGLE e BORZA, 2000; SANTANGELO, 2000; ZOOK, 2003; LANE, KOKA e

PATHAK, 2006).

O caminho inverso, em que a expansão aumenta a absorptive capacity, também

foi abordado por alguns pesquisadores. McGrath (1997) e Bowman e Hurry (1993)

desenvolveram um modelo baseado em opções reais para demonstrar que alocar

recursos com objetivo de desenvolver conhecimentos em áreas pouco familiares as de

atuação, ajuda a desenvolver a absorptive capacity nestes assuntos. Ahuja e Katila

(2001) demonstraram que aquisições de tecnologias aumentam a base de conhecimentos

da firma.

Outros pesquisadores exploraram os efeitos negativos de expansões muito

rápidas, argumentando que isso impede a firma de ter tempo suficiente para absorver,

assimilar e explorar o novo conhecimento (VERMEULEN e BARKEMA, 2002). Já Lei

Page 74: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

63

e Hitt (1995) argumentam que aquisições continuadas gerariam um efeito negativo, uma

vez que a organização não geraria a sua própria absorptive capacity.

Lane, Koka e Pathak (2006) alertam que a maior parte dos artigos que tratam da

relação da absorptive capacity com o escopo organizacional, adota uma visão limitada

do construto, observando-o como uma base de conhecimento (recurso) e com o foco em

aquisição do conhecimento - que é apenas uma das dimensões da absorptive capacity.

3.3.5. Aprendizado organizacional e absorptive capacity

A relação entre o aprendizado organizacional e a absorptive capacity está no

centro do ciclo virtuoso proposto por Cohen e Levinthal (1989, 1990), no qual a

absorptive capacity leva a um maior aprendizado, aumentando a base de conhecimento,

que por sua vez, leva a mais absorptive capacity e com isso, a um maior potencial de

aprendizado. Esta discussão, principalmente relacionada ao aumento da base de

conhecimento e conseqüente aumento da absorptive capacity foi explorada nos

trabalhos de Autio, Sapienza e Almeida (2000) e Barkema e Vermeulen (1998).

Lane, Koka e Pathak (2006, p.848), no entanto, ressaltam a falta de estudos

explorando o tema, indicando que algumas questões como: “Como a absorptive

capacity afeta a criação de conhecimento em uma firma? Como ela ajuda a assimilar e

integrar conhecimento externo aos conhecimentos existentes na empresa?”, não foram

abordadas por nenhum autor. Alguns estudos pontuais fazem algumas proposições

implícitas desta relação, como o caso de Schilling (2002), que propõe que baixos

investimentos em aprendizado, resultam em ficar de fora, lock-out (GHEMAWATT,

1991), de mudanças para novas tecnológicas, com base no argumento de que baixo

investimento em aprendizado reduz a absorptive capacity. Rugman e Verbeke (2001)

indicam que o engajamento em aprendizado focado em uma determinada área é um

mecanismo de construção de absorptive capacity em um determinado tema.

Page 75: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

64

Lane, Koka e Pathak (2006) demonstram surpresa com o que encontram em

termos do teste da relação entre o aprendizado organizacional e o construto. Apenas o

trabalho de Szulanski (1996) aborta tal discussão. Os autores apontam que apesar do

enriquecimento das discussões da visão baseada em recursos (PROENÇA, 1999;

PENROSE, 1959; RUMELT, 1984; COLLIS e MONTGOMERY, 1997), a visão da

absorptive capacity, fortemente restrita à base de conhecimento e ao ambiente de P&D,

limitou o desenvolvimento de pesquisas orientadas ao entendimento da relação entre os

dois temas.

3.3.6. Aprendizado inter-organizacional e absorptive capacity

Dentro da divisão do campo da absorptive capacity este tema é o mais estudado

e que obteve maior atenção dos autores. Não apenas do ponto de vista de formulação

conceitual, mas também com aplicações e testes empíricos. Lane, Koka e Pathak (2006)

justificam esta constatação pelo fato do construto ser diretamente relacionado à

aquisição de conhecimento, que por sua vez é a principal razão pela qual as

organizações desenvolvem parcerias entre si. Este tema pode ser dividido, segundo os

autores, em dois tipos: as relações entre duas empresas e as redes de relações.

Lane e Lubatkin (1998) argumentam que aprendizado inter-organizacional, que

realmente agrega valor e pode ser considerado estratégico, requer uma aliança tal que

possua uma razoável sobreposição de conhecimentos que permita o aprendizado e uma

razoável diferença, que permita um aprendizado significativo. O balanceamento entre

estas sobreposições e diferenças foram associados aos resultados positivos de algumas

alianças, como por exemplo, inovações (DYER e SINGH, 1998; AHUJA e KATILA,

2001; FROST, 2001; JONES et al..2001; KOZA e LEWIN, 1998; LANE e

LUBATKIN, 1998; LARSON, BENGTSSON, HENRIKSSON e SPARKS, 1998;

SANTANGELO, 2000; SEHEKAR e LI, 1999; SIMONIN, 1999) e o desempenho da

organização (GUPTA e GOVINDARAJAN, 2000; LANE et al.,2001).

Page 76: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

65

Assim como na relação entre aprendizado organizacional e absorptive capacity,

este tema também possui uma relação recursiva. Bowman e Hurry (1993) propõem que

o aprendizado inter-organizacional pode aumentar a absorptive capacity. Outros

autores, por sua vez, argumentam que se basear estritamente em tecnologias externas,

pode degradar a absorptive capacity de uma empresa (LEI e HITT, 1995).

Este tema tende ainda a ganhar maior relevância, uma vez que a complexidade

dos conhecimentos aumenta rapidamente em ambientes dinâmicos (CHESBROUGH,

2003a, 2003b, 2006; CLEMENTE, 2005; CLEMENTE, 2006) e se torna muito difícil

para uma única organização reter, desenvolver ou combinar todos os conhecimentos

necessários. Desta forma, diferentes organizações se especializam em aspectos

particulares no tema, associando-se quando existe necessidade de complementariedade

entre estas especializações (CHESBROUGH, 2003, 2006; POWELL, KOPUT e

SMITH-DOERR, 1996; CHRISTENSEN, 1995, 1997a, 1997b, 2001, 2002, 2003,

2004). PISANO (2006) demonstra como esta dinâmica tem afetado a lógica de negócios

no setor de Biotecnologia, que é um dos maiores exemplos deste fenômeno, no qual

diversas empresas se especializam fortemente em determinadas etapas do processo de

inovação.

No caso das proposições de que a absorptive capacity é elevada pela inserção da

firma em redes inter-organizacionais, o argumento é que o conhecimento é um bem

público e o processo de transbordamento deste no ambiente é inevitável. Desta forma,

qualquer organização poderia se aproveitar disso, sem incorrer em grandes custos

(LANE et al., 2006). No entanto, Cohen e Levinthal (1990) já ressaltavam que sem um

esforço de investimento no desenvolvimento da absorptive capacity da empresa, esse

conhecimento externo seria de pouca ou nenhuma valia. Sem os processos e integrações

organizacionais necessárias, as empresas dificilmente conseguem identificar, assimilar e

explorar os conhecimentos externos.

Page 77: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

66

3.3.7. Inovação e absorptive capacity

A relação entre inovação e absorptive capacity pode ser vista de duas maneiras.

A primeira ressalta que a absorptive capacity pode aumentar a velocidade, freqüência e

magnitude de uma inovação. A segunda, por sua vez, indica que a inovação aumenta a

base de conhecimentos que a firma possui, o que, consequentemente, aumenta sua

absorptive capacity (LANE, KOKA e PATHAK, 2006, p.849).

Van den Bosch, Volberda e de Boer (1999) ressaltam que as inovações

incrementais são melhor suportadas por uma absorptive capacity que prioriza o

aprendizado aprofundado em temas fortemente correlacionados à competência central

(PRAHALAD e HAMEL, 1990) da firma, afirmação essa corroborada por Anderson e

Tushman (1990). Lane et al. (2006) destacam que pouquíssima atenção foi dada à

exploração da relação entre a absorptive capacity e o desenvolvimento de inovações

radicais, ocorrendo apenas na forma de algumas proposições como a de Van den Bosch,

Volberda e de Boer (1999) de que as capacitações de combinação são fundamentais

para gerar este tipo de inovação. Neste caso, diferente das incrementais, a absorptive

capacity que prioriza um escopo mais amplo e menos aprofundado é mais indicada para

suportar inovações radicais (LANE et al., 2006).

Por fim, cabe destacar que este tema é o único no qual o foco de investigação

migra da dimensão relativa à aquisição de conhecimento para a de exploração deste,

relacionando-o aos resultados do processo.

3.3.8. Considerações a partir da análise temática

A análise temática apresentada permite o desenvolvimento de algumas

considerações sobre o uso e contribuições teóricas que este campo de estudo passou ao

longo dos últimos anos.

Page 78: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

67

A primeira consideração a ser realizada é que, apesar do elevado número de

citações e artigos que utilizam o construto da absorptive capacity, poucos autores se

preocuparam em refinar as definições e conceitos que o suportavam. Apenas cinco

trabalhos se propuseram a tal (DYER e SINGH, 1998; LANE e LUBATKIN, 1998;

VAN DEN BOSCH, VALBERDA e DE BOER, 1999; ZAHRA e GEORGE, 2002;

LANE, KOKA e PATHAK, 2006), o que aponta para um grande potencial de

desenvolvimento teórico do construto.

Segundo, poucos trabalhos analisaram empiricamente os efeitos da absorptive

capacity, e os que o fizeram, a identificaram prioritariamente como uma base de

conhecimento, o que desvia o foco de suas definições originais como processos e

capacitações.

Terceiro, poucos pesquisadores investigaram as relações entre absorptive

capacity e aprendizado organizacional, escopo e conhecimento. Ao invés disso, a maior

parte utilizou-se do construto para suportar seus argumentos, sem que estas relações

estivem comprovadas ou validadas (LANE et al., 2006).

3.4. As restrições que limitam o desenvolvimento do tema

Em sua extensa revisão, Lane, Koka e Pathak (2006) apontam algumas

suposições que podem ser vistas como limitações para o desenvolvimento do conceito

da absorptive capacity. Parte delas é derivadas do trabalho de Cohen e Levinthal, e

parte, de interpretações equivocadas realizadas ao longo do processo de reificação que o

conceito passou.

A primeira delas, é que a absorptive capacity é relevante apenas para contextos

relacionados ao P&D. Esta suposição se consolida principalmente pela dificuldade de

verificar empiricamente o construto, o que levou os pesquisadores a utilizar o esforço de

P&D como uma variável de representação da absorptive capacity. No entanto, esse uso

recursivo, associado ao processo de reificação levou a um tratamento restrito. Este causa

Page 79: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

68

um problema de generalização, uma vez que os efeitos desta capacitação não são

investigados em relação a outros contextos organizacionais, como por exemplo,

conhecimento de técnicas de gestão e práticas de manufatura.

A segunda suposição indica que as empresas desenvolvem a absorptive capacity

em resposta à existência de conhecimentos externos valiosos. Esta existência pode ser

uma condição necessária, mas não suficiente para o desenvolvimento da absorptive

capacity. Os condicionantes externos criam incentivos para o investimento, mas a

decisão da organização de como fazê-lo e do esforço a ser empregado é fundamental

para o desenvolvimento desta capacitação. Esta condição é ressaltada por Cohen e

Levinthal em seu artigo de 1994, “Fortune Favors the Prepared Firm”14 no qual

argumentam que a capacidade de aproveitar-se do conhecimento externo é relacionada à

preparação prévia para tal. Caso contrário, grandes oportunidades podem passar sem

que a firma a perceba.

A terceira indica que a absorptive capacity é igual a base de conhecimentos

disponível na empresa. Esta afirmativa percebe o construto como sendo apenas os

conhecimentos já acumulados na empresa, o que limita fortemente a visão da absorptive

capacity como uma capacitação/processo. Lane e Lubatkin (1998) destacam ainda que

apesar de muitos autores adotarem esta perspectiva, poucos buscaram operacionalizá-la

em práticas. Mais uma vez, como na segunda suposição, a existência de conhecimentos

prévios é uma condição necessária, mas não suficiente para a absorptive capacity.

A quarta suposição indica que a vantagem competitiva de uma firma é baseada

em rendas Ricardianas e não em rendas de eficiência. Esta suposição está relacionada à

visão baseada em recursos (PENROSE, 1959; PROENÇA, 2003), escola na qual

Schulze (1994) afirma que duas correntes de pesquisas podem ser identificadas. A

primeira argumenta que a fonte da vantagem competitiva das firmas está baseada na

posse de recursos valiosos que não estão disponíveis para outras empresas (BARNEY,

1986; PETERAF, 1993), ou seja, suportada pela escassez de recursos (Rendas

Ricardianas). A segunda corrente, a de processos e capacitações, dá menos ênfase à 14 A fortuna favorece as firmas preparadas.

Page 80: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

69

aquisição e posse de recursos, e mais ênfase na forma como o recurso é utilizado

(SCHULZE, 1994; AMIT e SHOEMAKER, 1993). Neste caso, a vantagem competitiva

é vista como uma função da combinação de recursos para criar novas competências.

Lane, Koka e Pathak (2006) indicam que o fato da pesquisa no campo da

absortive capacity ser fortemente baseada na primeira corrente, a de rendas Ricardianas,

limitou consideravelmente seu avanço, por focar excessivamente na diferença entre

conhecimento das firmas, e ignorar os processos e técnicas pelos quais o construto é

operacionalizado.

A quinta e última suposição indica que a absorptive capacity reside apenas na

empresa. A falta da visão de capacitações e processos também contribui para que o

papel dos indivíduos seja subestimado. Apesar da ênfase dada por Cohen e Levinthal

em seu trabalho de 1990, os pesquisadores continuam dando ênfase apenas aos fatores

ambientais que incentivam o desenvolvimento desta capacitação. O maior prejuízo é

que as pesquisas falham ao entender a absorptive capacity como um construto de vários

níveis relacionado desde o ambiente externo em que a firma se insere, até os indivíduos

que realizam os processos da empresa.

3.5. Absorptive capacity: as principais contribuições

A revisão realizada indica que o construto foi utilizado de diferentes maneiras.

Como ressaltam Zahra e George (2002) e Lane et al. (2006), para que se possa

desenvolver o conceito da absorptive capacity no sentido de garantir uma maior

aplicação prática é necessário que esta seja abordada do ponto de vista de uma

capacitação dinâmica, especialmente relacionando-a como uma habilidade que emerge

dos processos e rotinas realizados pela organização. Neste sentido, como o objetivo

deste trabalho é o desenvolvimento de um framework de referência que oriente os

gestores a projetar seus processos e técnicas que suportarão o desenvolvimento das

rotinas organizacionais das quais emergirá a absorptive capacity, a perspectiva das

capacitações dinâmicas foi selecionada como a problemática a ser adotada.

Page 81: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

70

Em função disso, esta seção tem por objetivo apresentar a contribuição dos três

trabalhos mais relevantes neste contexto, os artigos de Van den Bosch, Valberda e de

Boer (1999), intitulado “Coevolution of Firm Absorptive Capacity and Knowledge

Environment: Organizational Forms and Combinative Capabilities”; Zahra e George

(2002), intitulado “Absorptive capacity: a review, reconceptualization and extension”;

e Lane, Koka e Pathak (2006), intitulado “The reification of absorptive capacity: a

critical review and rejuvenation of the construct”. A partir desta trajetória, será possível

construir as bases para o modelo de referência que será desenvolvido nesta pesquisa.

Destaca-se que os trabalhos de Lane e Lubatkin (1998) e Dyer e Singh (1998)

apesar de serem citados por Lane et al. (2006) como pesquisas que contribuíram para a

extensão do conceito, não serão apresentados detalhadamente aqui por se focarem no

estudo da absorptive capacity em relações entre duas firmas, o que desvia do foco de

interesse desta pesquisa.

3.5.1. A contribuição de Van den Bosch, Valberda e de Boer,

1999

Van den Bosch, Valberda e de Boer (1999) exploram em seu trabalho o papel da

absorptive capacity como mediadora da co-evolução da firma e do ambiente em que

esta se insere. Para tal, eles expandem a visão inicial de que o conhecimento acumulado

é o fator determinante desta capacitação (COHEN e LEVINTHAL, 1990) e sugerem a

incorporação de dois outros fatores: as estruturas organizacionais e as capacitações

combinativas, que podem ser entendidas como os processos organizacionais pelos quais

a firma sintetiza e assimila conhecimento (KOGUT e ZANDER, 1992). Eisenhardt e

Martin (2000) indicam que este termo é similar à definição de capacitação dinâmica por

eles adotada, ao termo competência arquitetural adotado por Cockburn (1994) e com o

termo capacitações adotado por Amit e Schoemaker (1993). Para evitar confusões de

definições, será utilizado o termo como originalmente proposto por Van den Bosch et

al. (1999).

Page 82: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

71

Baseados na importância levantada por Cohen e Levinthal (1990) em relação aos

mecanismos de coordenação interna tais como: transferência de conhecimento entre

sub-unidades, estrutura de comunicação entre o ambiente externo e a firma, a rede de

relacionamentos interno e externo para a formação da absorptive capacity, os autores

propõem um framework para entendimento do construto (Figura 13).

Figura 13: Determinantes da absorptive capacity

Fonte: Van den Bosch, Valberda e de Boer (1999, p. 554)

O primeiro elemento do modelo, o nível de conhecimento previamente

disponível, é um dos fatores mais estudados na literatura sobre absorptive capacity. Mas

como já colocado, Van den Bosch et al. (1999) afirmam que não é o único fator

determinante. Kogut e Zander (1992) afirmam que a base de conhecimentos de uma

firma não pode ser separada da forma como esta é organizada. A estrutura

organizacional influencia de forma determinante a maneira como a empresa processa o

conhecimento.

Van den Bosch et al. (1999) afirmam que diferentes configurações de estrutura

possuem diferentes potenciais para absorver conhecimento e, portanto, diferente

influência na absorptive capacity. Os autores analisam três formatos organizacionais:

funcional, divisional e matricial (DAFT, 2002; GALBRAITH, 1995), para explorar

estas diferenças em termos de eficiência, escopo e flexibilidade da absorção do

conhecimento.

A primeira forma analisada é a estrutura funcional. Nesta, as atividades são

agrupadas de acordo com a sua similaridade, sob a coordenação de um gerente

funcional. O conhecimento é bastante especializado, de acordo com a área funcional

Nível de conhecimento previamente disponível

Nível de conhecimento previamente disponível

Estrutura organizacional

Estrutura organizacional

Capacitações combinativas

Capacitações combinativas

Absorptivecapacity

Absorptivecapacity

Formação de expectativa

Formação de expectativa

Trajetória de conhecimentoTrajetória de

conhecimento

Nível de conhecimento previamente disponível

Nível de conhecimento previamente disponível

Estrutura organizacional

Estrutura organizacional

Capacitações combinativas

Capacitações combinativas

Absorptivecapacity

Absorptivecapacity

Formação de expectativa

Formação de expectativa

Trajetória de conhecimentoTrajetória de

conhecimento

Page 83: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

72

(CAULLIRAUX, 2001; DAFT, 2002; GALBRAITH, 1995). A principal vantagem

deste recorte é a eficiência que obtém de economias de escala, competências e recursos.

Já o escopo e a flexibilidade da absorção do conhecimento são mais limitados. No caso

de ambientes estáveis e homogêneos, com poucas combinações de mercados e produtos,

como ciclos de vida relativamente longos, este formato é apropriado (DAFT, 2002;

GALBRAITH, 1995). Já em ambientes mais instáveis, começam a ocorrer conflitos de

prioridades, atrasos de decisões e produtos; as linhas de comunicação passam a ser

maiores e o tempo de resposta às condições externas é muito longo. Desta forma, pode-

se concluir que a estrutura funcional tem um grande potencial para eficiência, mas um

baixo potencial para escopo e flexibilidade da absorção de conhecimento.

A segunda forma analisada pelos autores é a estrutura divisional. Nesta, o

agrupamento é realizado de acordo com combinações de produtos-mercados, com uma

estrutura limitada de hierarquia, ou seja, poucos níveis e elevado alcance de controle

(CAULLIRAUX, 2001; DAFT, 2002; GALBRAITH, 1995). Em função da maior

autonomia de cada uma das divisões e do contato direto destas com o ambiente, sua

flexibilidade na absorção de conhecimento é alta, mas com um escopo bastante

reduzido, limitado a cada divisão. A reconfiguração dos conhecimentos se dá

internamente em cada divisão, o que dificulta a integração e o compartilhamento destes

recursos entre as múltiplas divisões. Em ambientes muito dinâmicos, com muitas

combinações de produtos-mercados e em que os conhecimentos para explorar cada um

destes é muito diferente, esta estrutura é a mais indicada. Desta forma, pode-se concluir

que a estrutura divisional tem um baixo potencial para o escopo e a eficiência, mas um

alto potencial para a flexibilidade da absorção de conhecimento.

A terceira forma analisada é a estrutura matricial. Nesta, o agrupamento das

atividades é realizado considerando dois eixos15, um com recorte funcional e outro,

relacionado a unidades que precisam de uma ação mais autônoma, como por produto,

por exemplo. Esta possibilidade de se poder criar estas unidades, alocando e se valendo

15 A estrutura matricial permite a combinação de diferentes eixos, como: geográfico, processo,

função, produto, setor, cliente etc. Neste caso, para simplificar a apresentação, utilizaremos a combinação

de função com produto-mercado (divisão).

Page 84: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

73

dos conhecimentos especializados nas funções, garante a este tipo de estrutura grande

escopo e flexibilidade na absorção de conhecimento, uma vez que as pessoas, ou

recursos que embarcam conhecimentos, podem ser combinadas para tratar um

determinado problema. Em função disso, esta forma é a mais indicada para ambientes

com muita dinâmica, em que os ciclos de vida são muito curtos. Por outro lado, a

estrutura matricial tende a perder o ganho de escala que a estrutura funcional possui,

uma vez que como recursos vão ser necessários em diferentes projetos ao mesmo

tempo, tende a existir uma subutilização dos mesmos (VAN DEN BOSCH, 1999;

CAULLIRAUX, 2001; DAFT, 2002; GALBRAITH, 1995). Desta forma, pode-se

concluir que a estrutura matricial tem um alto potencial para o escopo e a eficiência,

mas um baixo potencial para a flexibilidade da absorção de conhecimento. A Tabela 4

sintetiza o impacto destas estruturas na absorptive capacity.

Tabela 4: Estruturas organizacionais e impactos na absorptive capacity

Fonte: Van den Bosch, Volberda e de Boer, (1999, p. 556)

Dimensões da absorção de conhecimento Estrutura Funcional Estrutura Divisional Estrutura Matricial

Eficiência da absorção Alto Baixo Baixo

Escopo da absorção Baixo Baixo Alto

Flexibilidade da absorção Baixo Alto Alto

Impacto na Absorptive Capacity Negativo Moderado Positivo

Estrutura Organizacional

Suposição: Tanto escopo quanto a flexibilidade têm impacto positivo na absorptive capacity, enquanto a eficiência tem um impacto negativo.

O terceiro elemento determinante discutido pelos autores são as capacitações de

combinação. A importância destas encontra reforço na afirmação de Cohen e Levinthal

(1990, p.133) em que afirmam “a absorptive capacity de um organização não reside em

nenhum indivíduo isoladamente, mas depende da ligação de um mosaico de

capacitações individuais.” Kogut e Zander (1992) afirmam que as capacitações

combinativas são as responsáveis por sintetizar e aplicar os conhecimentos assimilados.

Van den Bosch et al. (1999) identificam três categorias de capacitações

combinativas e fazem uma análise do impacto de cada uma delas na absorptive

capacity. O primeiro tipo, chamado de capacitações sistêmicas, descreve o grau em que

os comportamentos são programados previamente à sua execução (GALBRAITH,

Page 85: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

74

1995). Refletem o grau com que as regras, procedimentos, instruções e a comunicação

são explícitas em documentos ou sistemas formais. A partir do compartilhamento de

conhecimentos através desta forma, a necessidade de coordenação é reduzida, uma vez

que estes mecanismos formais passam a ser suficientes para situações de rotina, nas

quais o comportamento dos indivíduos é previsível e programável. Desta forma, a

eficiência na absorção de conhecimento é muito alta, mas a flexibilidade e o escopo são

baixos, em função do alto grau de formalidade.

O segundo tipo, chamado de capacitações de coordenação, habilita a absorção de

conhecimento através da relação entre os membros de um grupo. Neste contexto, os

mecanismos de coordenação lateral são especialmente importantes (CAULLIRAUX,

2001; GALBRAITH, 1995). Estes mecanismos podem ser projetados, mas possuem

uma forte componente emergente, de caráter cumulativo (path dependent). De acordo

com Van den Bosch (1999), estas capacitações combinativas acumulam-se na firma

como resultado de: (1) treinamento e rodízio de trabalhadores, (2) relacionamentos

informais, (3) participação e delegação. O treinamento é importante para que se

padronizem as habilidades, definindo um certo padrão pela qual as pessoas possam agir

autonomamente. O rodízio de trabalhadores é importante para o desenvolvimento nos

domínios complementares de conhecimento, questão central para a absoptive capacity.

Os relacionamentos informais são importantes para facilitar o ajuste mútuo,

extremamente necessário em ambientes de pouca previsibilidade. Cohen e Levinthal

(1990) ressaltam também a importância do relacionamento como facilitador da

integração entre áreas, garantindo que o conhecimento adquirido seja explorado na

unidade mais adequada. Já a participação e delegação são fundamentais para aumentar o

compartilhamento do conhecimento. Um maior envolvimento dos profissionais nos

processos de formulação da estratégia e tomada de decisão garante, primeiro, uma base

mais ampla de informações trazidas pelos profissionais de níveis mais baixos e,

segundo, um aumento do estado de alerta da organização quanto ao caminho por ela a

ser trilhado. Desta forma, os autores afirmam que esta capacitação possui uma

influência alta em relação ao escopo e à flexibilidade da absorção de conhecimento, mas

uma eficiência baixa.

Page 86: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

75

O terceiro tipo, chamado de capacitação de socialização, se refere à capacidade

de se produzir uma ideologia comum, capaz de gerar uma identidade dos seus membros

na interpretação da realidade. Esta se relaciona com a absorptive capacity uma vez que

determina regras tácitas de como proceder em determinadas circunstâncias (CAMERER

e VEPSALAINEN, 1988). Estes mesmos autores argumentam que a eficiência da

integração de conhecimento é muito alta, mas questionam o escopo e a flexibilidade. As

capacitações de socialização podem criar uma prisão mental, que impede as pessoas de

perceberem importantes mudanças, como no caso de uma disrupção, como discutido por

Christensen (1997) e Christensen e Raynor (2001). Ouchi (1981) afima que firmas com

culturas muito fortes normalmente sofrem de “xenofobia”, que Chesbrough (2003a,

2003b e 2007) e Huston e Sakkab (2006) denominaram a síndrome do NIH (“Non

invented here”). Esta situação acaba por prejudicar a absorção de conhecimentos

externos que contradigam quaisquer das crenças compartilhadas na organização. Desta

forma, os autores afirmam que as capacitações de socialização possuem um alto

potencial para eficiência e um baixo potencial tanto para o escopo quanto para a

flexibilidade da absorção do conhecimento. A Tabela 5 sintetiza o impacto destas

capacitações na absorptive capacity.

Tabela 5: Capacitações combinativas e impactos na absorptive capacity

Fonte: Van den Bosch, Volberda e de Boer, (1999, p. 558)

Dimensões da absorção de conhecimento Capacitações sistêmicas Capacitações de coordenação Capacitações de socialização

Eficiência da absorção Alto Baixo Alto

Escopo da absorção Baixo Alto Baixo

Flexibilidade da absorção Baixo Alto Baixo

Impacto na Absorptive Capacity Negativo Positivo Negativo

Estrutura Organizacional

Suposição: Tanto escopo quanto a flexibilidade têm impacto positivo na absorptive capacity, enquanto a eficiência tem um impacto negativo.

A partir da proposição destes dois condicionantes, Van den Bosch, Volberda e

de Boer (1999) discutem os efeitos da co-evolução da absorptive capacity e das

características do ambiente em que a firma se insere. Para tal, distinguem dois tipos: os

ambientes de conhecimentos estáveis e os ambientes de conhecimentos turbulentos. A

relação destes tipos de ambientes e as dimensões analisadas da absorção de

conhecimento são apresentadas na Tabela 6.

Page 87: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

76

Tabela 6: Tipos de ambientes de conhecimento e dimensões da absorção de conhecimento

Fonte: Van den Bosch et al. (1999, p.553)

Tipos de ambiente de conhecimento Foco da absorção de conhecimento Eficiência Escopo Flexibilidade

Ambiente de conhecimento estável Exploração-utilização (exploitation) Alto Baixo Baixo

Ambiente de conhecimento turbulento Exploração-investigação (exploration ) Baixo Alto Alto

Requesitos em relação às três dimensões da absorção de conhecimento

Nos ambientes de conhecimento estável, o foco da absorção de conhecimento

está principalmente na exploração16 (exploitation) com foco na utilização. Ou seja, em

relação às três dimensões utilizadas, tem-se uma alta necessidade de eficiência e uma

baixa necessidade de escopo e flexibilidade. Em função do foco das organizações neste

ambiente estar centrado na eficiência, a função de interface, ou seja, a captura dos

conhecimentos externos e a disseminação entre as demais unidades tende a ser mais

centralizada, aumentando a eficiência da comunicação interna. O que, por sua vez, leva

a uma absorptive capacity mais focada nas dimensões internas (VAN DEN BOSCH et

al., 1999, p.558). Cohen e Levinthal ressaltam que tanto as dimensões internas e

externas da absorptive capacity são necessárias para um efetivo aprendizado

organizacional, e que um desbalanceamento entre as duas pode levar a problemas. Um

foco em eficiência na absorção de conhecimentos resulta em uma baixa diversidade de

conhecimentos e poucos relacionamentos entre funções. Ao longo do tempo, esse foco

excessivo em eficiência vai resultar em uma trajetória cumulativa e consequentemente

em um trancamento, lock in, nesse caminho (GHEMAWATT, 1991; VAN DEN

BOSCH et al., 1999) que é ilustrado pelo elemento “Trajetória de Conhecimento” na

Figura 13. Esta trajetória resulta em uma menor sensibilidade para tecnologias ou

oportunidades emergentes (CHRISTENSEN, 1997, 2001; COHEN e LEVINTHAL,

1994; DAY, SCHOEMAKER e GUNTHER, 2000).

16 Aqui se apresenta o problema de tradução das palavras exploitation e exploration, uma vez

que no português utiliza-se a palavra exploração para ambas. No texto, procurou-se apresentar o termo em

inglês para facilitar o entendimento da palavra exploração. Exploration é a exploração com o sentido da

descoberta, busca de entendimento e novas informações. Exploitation é a exploração com o sentido de

obter o máximo de resultado do conhecimento em questão.

Page 88: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

77

Segundo Van den Bosch, Volberda e de Boer (1999,p.558),

“firmas adaptadas aos requisitos de absorção de conhecimento de um

ambiente estável tenderão a ser mais reativas. Estas firmas são propensas a não

possuir um alto nível de absorptive capacity, e são menos pró-ativas a explorar

(exploration) oportunidades fora do seu ambiente de conhecimentos atual.”

Nos ambientes de conhecimento turbulentos, o foco da absorção de

conhecimento está principalmente na exploração (exploration) com foco na

investigação exploratória, ou seja, em relação às três dimensões utilizadas, tem-se uma

baixa necessidade de eficiência e uma alta necessidade de escopo e flexibilidade. Neste

sentido, Van den Bosch, Volberda e de Boer (1999,p.558) propõem:

“Em ambientes cada vez mais turbulentos, as empresas estão propensas

a aumentar a sua absorptive capacity pelo desenvolvimento de estruturas

organizacionais e capacitações combinativas que promovam maior escopo e

maior flexibilidade à absorção de conhecimento.”

Em função do foco neste tipo de ambiente estar centrado no escopo e na

flexibilidade da absorção do conhecimento, a função de interface tende a ser mais

descentralizada, e a dimensão externa da absorptive capacity tende a ser mais

desenvolvida. Este traz dois efeitos para a organização. Primeiro, vai influenciar

positivamente o elemento “Formação de expectativas” conforme a Figura 13, resultando

em uma atitude mais pró-ativa em relação às tecnologias e oportunidades emergentes.

Segundo, vai proporcionar constantes mudanças no elemento “Trajetória de

conhecimento” em função das adaptações necessárias para explorar as oportunidades

emergentes (VAN DEN BOSCH ET AL., 1999).

A partir da base anteriormente apresentada, os autores colocam duas questões a

serem discutidas. A primeira é relacionada a como a absorptive capacity de uma

organização influencia o ambiente de conhecimento. A segunda é relacionada a como a

Page 89: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

78

absorptive capacity pode ser entendida como um resultado combinado de ações

gerenciais e mudanças no ambiente de conhecimento.

Para elaborar estas discussões, os autores se baseiam em McKelvey (1997,

p.360) que propõe que “efeitos co-evolucionários acontecem em múltiplos níveis em

uma firma (micro-evolução) bem como entre as firmas e o seu nicho (macro-

evolução).”

Van den Bosch et al. (1999) propõem um framework para explicitar os efeitos

co-evolucionários, tanto no nível micro quanto no macro, conforme Figura 14. O

primeiro mecanismo microevolucionário a ser discutido (representado pela seta 1 da

Figura 14) é chamado por Cohen e Levinthal (1990) de caráter cumulativo da

absorptive capacity. Ou seja, um maior nível de absorptive capacity leva a uma maior

capacidade de acumulação de conhecimentos nos períodos seguintes. O segundo

mecanismo (seta 2 da Figura 14) é o impacto que um maior nível de absorptive capacity

gera na capacidade de formação de expectativas, e as conseqüências disso em redefinir a

trajetória de conhecimentos a serem explorados. O terceiro mecanismo (seta 3 da Figura

14), por sua vez, indica que mudanças na formação de expectativas levam a um

aumento das atividades exploratórias (exploration) que podem gerar mudanças

deliberadas nas estruturas organizacionais ou nas capacitações combinativas.

Mudança donível de

conhecimento previamente disponível

Mudança donível de

conhecimento previamente disponível

Mudanças na estrutura

organizacional

Mudanças na estrutura

organizacional

Mudanças nas capacitações combinativas

Mudanças nas capacitações combinativas

Mudança naabsorptivecapacity

Mudança naabsorptivecapacity

Mudança na formação de expectativas

Mudança na formação de expectativas

Mudança no ambiente de

conhecimentos

Mudança no ambiente de

conhecimentos

Mudanças na dinâmica de competição, ambientes institucionais e contextosMudanças na dinâmica de competição, ambientes institucionais e contextos

11

22

55

3344

Mudança donível de

conhecimento previamente disponível

Mudança donível de

conhecimento previamente disponível

Mudanças na estrutura

organizacional

Mudanças na estrutura

organizacional

Mudanças nas capacitações combinativas

Mudanças nas capacitações combinativas

Mudança naabsorptivecapacity

Mudança naabsorptivecapacity

Mudança na formação de expectativas

Mudança na formação de expectativas

Mudança no ambiente de

conhecimentos

Mudança no ambiente de

conhecimentos

Mudanças na dinâmica de competição, ambientes institucionais e contextosMudanças na dinâmica de competição, ambientes institucionais e contextos

Mudança donível de

conhecimento previamente disponível

Mudança donível de

conhecimento previamente disponível

Mudanças na estrutura

organizacional

Mudanças na estrutura

organizacional

Mudanças nas capacitações combinativas

Mudanças nas capacitações combinativas

Mudança naabsorptivecapacity

Mudança naabsorptivecapacity

Mudança na formação de expectativas

Mudança na formação de expectativas

Mudança no ambiente de

conhecimentos

Mudança no ambiente de

conhecimentos

Mudanças na dinâmica de competição, ambientes institucionais e contextosMudanças na dinâmica de competição, ambientes institucionais e contextos

11

22

55

3344

Figura 14: Co-evolução da absorptive capacity e o ambiente de conhecimento

Fonte: Van den Bosch, Valberda e de Boer (1999, p. 560)

Page 90: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

79

Em relação ao mecanismos macroevolucionários, ou seja, o impacto no

ambiente das mudanças na absorptive capacity, a primeira relação (seta 4 da Figura 14)

indica que a formação de expectativas de uma firma pode ser tanto pró-ativa quanto

reativa. No primeiro caso, uma empresa que absorve conhecimentos de outras indústrias

e os aplica comercialmente no seu setor, está alterando o ambiente de conhecimento dos

seus competidores. No segundo caso, quando a firma assume um posição reativa,

qualquer mudança realizada pelos seus competidores afetará a sua absorptive capacity

(seta 5 da Figura 14).

A partir deste framework, Van den Bosch, Volberda e de Boer (1999, p.560)

propõem:

“Ambientes de conhecimentos co-evoluem com a emergência de novas

formas organizacionais e capacitações combinativas adequadas à absorptive

capacity.”

Desta forma os autores destacam que, para uma boa formulação estratégica, é

importante que uma firma desenvolva um alto nível de absorptive capacity, uma vez

que a formação de expectativas da firma pode passar a ser definida pelas oportunidades

presentes no ambiente, independente dos critérios atuais de desempenho.

3.5.2. A contribuição de Zahra e George, 2002

O trabalho de Zahra e George (2002) parte da mesma percepção que motivou o

trabalho de Lane, Koka e Pathak (2006) no estudo do fenômeno da reificação do

construto. Zahra e George (2002) fazem uma análise das contribuições de alguns

autores e propõem uma reconceitualização da absorptive capacity, centrada na visão

desta como uma capacitação dinâmica (TEECE, PISANO, SCHUEN, 1997;

EISENHARDT e MARTIN, 2000).

Esta visão, do ponto de vista desta dissertação, é importante, pois afirma que as

capacitações dinâmicas estão embarcadas em processos organizacionais e habilitam a

Page 91: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

80

evolução e transformação da organização (ZOTT, 2003). Outra vantagem desta

abordagem é que permite que a capacitação seja projetada ou mudada através de uma

ação gerencial, que redefine a combinação da base de recursos da organização (FLOYD

e LANE, 2000). Cabe ressaltar, que a visão da absorptive capacity como uma

capacitação dinâmica assegura uma visão mais ampla, pois esta passa a influenciar a

criação de outras competências organizacionais, proporcionando à firma múltiplas

fontes de vantagem competitiva (BARNEY, 1991).

Zahra e George (2002, p.186), baseados nas definições disponíveis na literatura,

identificaram as diferentes dimensões constituintes e propuseram uma nova definição

para a absorptive capacity:

“um conjunto de rotinas e processos organizacionais pelos quais as

firmas adquirem, assimilam, transformam e exploram conhecimento para

produzir uma capacitação dinâmica.”

Esta definição se diferencia de trabalhos anteriores por dois principais motivos.

Primeiro, porque caracteriza o construto como uma capacitação dinâmica, embarcado

em processos e rotinas organizacionais, o que torna possível a análise do fluxo de

conhecimento. Segundo, esta definição sugere quatro dimensões, vistas como

capacitações, que, combinadas, geram uma capacitação dinâmica. Ou seja, uma

habilidade da firma para criar e disponibilizar conhecimentos necessários para

desenvolver outras capacitações, como marketing e produção, por exemplo.

As quatro dimensões, entendidas como capacitações complementares, propostas

pelos autores são: aquisição, assimilação, transformação e exploração. A dimensão

aquisição constitui-se da habilidade da organização de identificar e adquirir

conhecimentos gerados externamente, que sejam críticos para sua operação. A

assimilação, por sua vez, refere-se às rotinas e processos que permitem a análise,

processamento, interpretação e entendimento da informação obtida das fontes externas.

A dimensão transformação relaciona-se à habilidade da firma em desenvolver e refinar

as rotinas que facilitam a combinação dos conhecimentos existentes com os novos

Page 92: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

81

conhecimentos adquiridos e assimilados externamente. Esta é especialmente importante,

pois permite o reconhecimento de novas oportunidades e altera a forma como a

organização vê a si mesma e ao ambiente de negócios em que se insere. A última

dimensão, a exploração, refere-se ao conjunto de processos e rotinas que permitem à

organização refinar, estender e alavancar as competências existentes, ou criar novas,

através da incorporação de conhecimentos adquiridos e transformados à sua operação

(ZAHRA e GEORGE, 2002).

De acordo com estes autores, para o pleno entendimento de como estas quatro

dimensões se combinam para formar uma capacitação dinâmica, é importante fazer a

distinção de dois componentes da absorptive capacity, a potencial ( PACAP – potential

absorptive capacity) e a realizada (RACAP – realized absorptive capacity). As

dimensões aquisição e assimilação compõem a PACAP, que representa a capacitação da

firma em receber os conhecimentos externos, o que não garante que esta os explore

efetivamente. Já a RACAP, composta pelas capacitações de transformação e

exploração, representa a habilidade da firma de efetivamente se aproveitar desses

conhecimentos que foram adquiridos. A PACAP e a RACAP têm uma forte

complementariedade, uma vez que uma firma não pode transformar e explorar um

conhecimento que não adquiriu. Por outro lado, uma firma com elevada PACAP que

não consiga explorar (RACAP) os conhecimentos absorvidos, não obterá benefício

nenhum da absorptive capacity.

Para mensurar essa relação, os autores propõem um índice, denominado “fator

de eficiência”, que é a razão entre a RACAP e a PACAP. As empresas que alcançam e

mantêm um alto fator de eficiência, estão propensas a melhorar seu desempenho

(ZAHRA e GEORGE, 2002, p.191).

Com base nestas discussões, Zahra e George propõem um modelo para o

construto, apresentado na Figura 15, que destaca os antecedentes, as contribuições da

PACAP e da RACAP e os principais ativadores da absorptive capacity, até a obtenção

de seu resultado final, a criação e manutenção de vantagem competitiva.

Page 93: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

82

Figura 15: Modelo de absorptive capacity

Fonte: Zahra e George (2002, p. 192)

O primeiro elemento do modelo proposto pelos autores diz respeito às fontes

externas e as complementariedades. Uma organização absorve conhecimento de

múltiplas fontes externas e esta diversidade influencia significativamente a sua

capacidade de assimilação. No entanto, se a firma não possuir uma razoável

sobreposição de conhecimentos com os da fonte, a absorção pode ser muito baixa. Desta

forma os autores realizam a seguinte proposição (ZAHRA e GEORGE, 2002, p.193):

“Quanto maior a exposição da firma a diversas e complementares fontes

de conhecimento externo, maior a oportunidade de a firma desenvolver a sua

PACAP.”

O segundo elemento destacado pelos autores é a experiência. Esta define o

escopo das buscas que a organização realiza, a capacidade de identificar novas

oportunidades e limita a facilidade de aprendizado de algo completamente novo

(COHEN e LEVINTHAL, 1990, 1994; VAN DEN BOSCH et al. 1999; LANE et al.,

2006). Desta forma os autores realizam a seguinte proposição (ZAHRA E GEORGE,

2002, p.193):

“A experiência vai influenciar o desenvolvimento da PACAP de uma

firma. Especificamente, a experiência influencia o escopo da busca e o

Fonte de conhecimento e

complementariedade

Experiência

Fonte de conhecimento e

complementariedade

Experiência

Potencial

Aquisição

Assimilação

Absorptive capacity da firma

Realizada

Transformação

Exploração

Vantagem competitiva

Flexibilidade estratégicaInovação

Desempenho

Vantagem competitiva

Flexibilidade estratégicaInovação

Desempenho

DisparadoresDisparadoresMecanismos

de integração

Mecanismos de

integraçãoRegimes de apropriação

Regimes de apropriação

Fonte de conhecimento e

complementariedade

Experiência

Fonte de conhecimento e

complementariedade

Experiência

Potencial

Aquisição

Assimilação

Absorptive capacity da firma

Realizada

Transformação

Exploração

Vantagem competitiva

Flexibilidade estratégicaInovação

Desempenho

Vantagem competitiva

Flexibilidade estratégicaInovação

Desempenho

DisparadoresDisparadoresMecanismos

de integração

Mecanismos de

integraçãoRegimes de apropriação

Regimes de apropriação

Page 94: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

83

desenvolvimento de capacitações dependentes de percurso (path-dependent) de

aquisição e assimilação de conhecimentos gerados externamente.”

O próximo elemento destacado é o conjunto de disparadores que ativam a

absorptive capacity. Estes podem ser entendidos como eventos que podem influenciar o

futuro do ambiente em que a organização se insere, estimulando-a a reagir de alguma

maneira (BOWER e CHRISTENSEN, 1995). Estes podem ser tanto internos quanto

externos como uma crise organizacional, uma falha de desempenho, o surgimento de

uma inovação radical ou disruptiva, mudanças tecnológicas, mudanças regulatórias,

entre outras (ALBERNATHY e UTTERBACK, 1978; DRUKER, 1998; WINTER,

2000; CHRISTENSEN e RAYNOR, 2001, 2003, TEECE et al., 1997). Huber (1991) e

Winter (2000) destacam que estes disparadores motivam uma intensificação no processo

de busca por conhecimentos externos, cuja intensidade será determinada pelo impacto

do evento na organização. Desta forma os autores realizam a seguinte proposição

(ZAHRA e GEORGE, 2002, p.194):

“Disparadores vão influenciar a relação entre a fonte de conhecimento

e experiência, e a PACAP da firma. Especificamente, a fonte de um evento

disparador vai influenciar o escopo da busca por novos conhecimentos,

enquanto a intensidade deste evento vai influenciar os investimentos em

desenvolver as capacitações de aquisição e assimilação.”

O quarto elemento refere-se aos mecanismos de integração adotados. De acordo

com Spender (1996), Garvin (1993) e Hildreth e Kimble (2004) a exploração de

conhecimento exige o compartilhamento deste entre os membros da organização, de

forma que se promova entendimento comum entre eles. Os mecanismos de integração

podem ser tanto informais (ex. redes de relacionamento interpessoal), quanto formais

(ex. coordenadores) (GALBRAITH, 1995; CAULLIRAUX, 2001; ZAHRA e

GEORGE, 2002).

O uso destes mecanismos garante um fluxo de conhecimentos entre as diferentes

áreas da empresa, permitindo tanto a melhoria da exploração das informações quanto

Page 95: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

84

um aumento do estado de alerta (awareness) quanto aos conhecimentos que esta possui.

Desta forma os autores realizam a seguinte proposição (ZAHRA e GEORGE, 2002,

p.194):

“O uso de mecanismos de integração reduz a lacuna entre a PACAP e a

RACAP, aumentando o seu fator de eficiência. Estes mecanismos reduzem as

barreiras de compartilhamento de informações e aumentam a eficiência das

capacitações de assimilação e transformação.”

O último elemento discutido pelos autores é definido pela influência da

absorptive capacity na criação e manutenção da vantagem competitiva. O argumento

que suporta esta relação é baseada na visão baseada em recursos, que afirma que quando

um recurso é valioso, raro, não imitável e não substituível, ele proporciona à firma uma

vantagem competitiva (BARNEY, 1991; PENROSE, 1959; PROENÇA, 1999). A

habilidade de uma organização de efetivamente criar, gerir e explorar conhecimento

pode ser considerada um destes recursos críticos (MATUSIK e HILL, 1998). Desta

forma, a absorptive capacity pode ser considerada como uma fonte de vantagem

competitiva.

De acordo com Barney (1991), duas das formas mais importantes pelas quais

uma firma pode obter vantagem competitiva são a inovação e a flexibilidade estratégica.

As dimensões de transformação e exploração (RACAP) estão diretamente relacionadas

ao desempenho na geração de novos produtos e processos. Com base neste argumento,

Zahra e George (2002, p.196) sugere a seguinte proposição:

“Firmas com capacitações de transformação e exploração (exploitation)

de conhecimentos (RACAP) bem desenvolvidas estão mais propensas a alcançar

vantagem competitiva através de inovação e desenvolvimento de produto, do

que aquelas com as capacitações menos desenvolvidas.”

Por outro lado, firmas com capacitações de aquisição e assimilação (PACAP)

podem continuamente reconfigurar sua base de recursos, a partir da identificação de

Page 96: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

85

tendências no ambiente externo da internalização destes conhecimentos. Com base neste

argumento, Zahra e George (2002, p.196) sugere a seguinte proposição:

“Firmas com capacitações de aquisição e assimilação de conhecimentos

(PACAP) bem desenvolvidas estão mais propensas a sustentar uma vantagem

competitiva em função da maior flexibilidade em reconfigurar a sua base de

recursos e em fazer isso no tempo correto e a baixos custos, do que aquelas com

as capacitações menos desenvolvidas.”

Por fim, os autores concluem seu trabalho ressaltando a importância de se

avançar a pesquisa em direção a uma maior operacionalização do construto, com foco

específico nas rotinas e processos que as organizações podem utilizar-se para adquirir,

assimilar, transformar e explorar conhecimento. Ressalta-se que esta indicação dos

autores tem grande alinhamento com os objetivos desta dissertação e será desenvolvida

mais a frente no texto.

3.5.3. A contribuição de Lane, Koka e Pathak, 2006

Lane, Koka e Pathak (2006) como um resultado da sua investigação em relação

ao processo de reificação do construto, propõem uma nova definição e um modelo para

sistematizar a absorptive capacity.

A definição proposta pelos autores, se baseia nos trabalhos de Cohen e Levinthal

(1989, 1990 e 1994), Van den Bosch, Volberda e de Boer (1999), Lane e Lubatkin

(1998) e Zahra e George (2002), e enfatiza uma visão processual do construto. Os

autores propõem que (LANE et al., 2006, p.856):

“Absorptive capacity é a habilidade da firma em utilizar conhecimentos

disponíveis externamente através de três processos seqüenciais: (1) reconhecer

e entender novos conhecimentos externos potencialmente valiosos através de

aprendizado exploratório, (2) assimilar novos conhecimentos valiosos através

Page 97: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

86

de aprendizado transformacional, e (3) utilizar o conhecimento assimilado para

criar novos conhecimentos e resultados comerciais através do aprendizado de

exploração.”

Nesta definição, o escopo de conhecimentos que a firma entende, determina o

quão longe o seu aprendizado exploratório pode ir. A eficiência deste processo de

assimilação influencia a capacidade de exploração do conhecimento adquirido através

das buscas. Entretanto, como ressaltado por Levinthal e March (1993), as organizações

devem balancear os aprendizados exploratórios (exploratory) e de exploração

(exploitative) do conhecimento. O aprendizado transformacional combina o novo

conhecimento com o conhecimento existente, relacionando os dois tipos de

aprendizados.

A partir desta definição do construto, mais orientada por processos, os autores

desenvolvem um modelo da absorptive capacity, que inclui os seus principais

direcionadores e seus principais resultados. Este modelo é apresentado na Figura 16.

Condições Ambientais

(incentivos para desenvolver a

absorptivecapacity)

Condições Ambientais

(incentivos para desenvolver a

absorptivecapacity)

Características do conhecimento interno e externo(guia a profundidade

e escopo do entendimento)

Características do conhecimento interno e externo(guia a profundidade

e escopo do entendimento)

Características das relações de

aprendizado(guia a facilidade do entendimento)

Características das relações de

aprendizado(guia a facilidade do entendimento)

Características do modelo mental dos membros da firma(guia a criatividade de

reconhecimento, assimilação e aplicação)

Características do modelo mental dos membros da firma(guia a criatividade de

reconhecimento, assimilação e aplicação)

Características da estrutura e dos

processos da firma(guia a eficiência e

efetividade de assimilação e aplicação)

Características da estrutura e dos

processos da firma(guia a eficiência e

efetividade de assimilação e aplicação) Resultados de

conhecimento(geral, científico,

técnico e organizacional)

Resultados de conhecimento(geral, científico,

técnico e organizacional)

Resultados comerciais

(produtos, serviços e propriedade

intelectual)

Resultados comerciais

(produtos, serviços e propriedade

intelectual)

Desempenho da firma

Desempenho da firma

Estratégia da firma(guia o foco de reconhecimento e entendimento,

de assimilação, e de aplicação)

Estratégia da firma(guia o foco de reconhecimento e entendimento,

de assimilação, e de aplicação)

Reconhecer e entender novos conhecimentos

externos(aprendizado exploratório)

Assimilar conhecimentos

externos valiosos

(aprendizado transformador)

Aplicar conhecimentos

externos assimilados

(aprendizado de exploração)

Absorptive capacity da firma

Condições Ambientais

(incentivos para desenvolver a

absorptivecapacity)

Condições Ambientais

(incentivos para desenvolver a

absorptivecapacity)

Características do conhecimento interno e externo(guia a profundidade

e escopo do entendimento)

Características do conhecimento interno e externo(guia a profundidade

e escopo do entendimento)

Características das relações de

aprendizado(guia a facilidade do entendimento)

Características das relações de

aprendizado(guia a facilidade do entendimento)

Características do modelo mental dos membros da firma(guia a criatividade de

reconhecimento, assimilação e aplicação)

Características do modelo mental dos membros da firma(guia a criatividade de

reconhecimento, assimilação e aplicação)

Características da estrutura e dos

processos da firma(guia a eficiência e

efetividade de assimilação e aplicação)

Características da estrutura e dos

processos da firma(guia a eficiência e

efetividade de assimilação e aplicação) Resultados de

conhecimento(geral, científico,

técnico e organizacional)

Resultados de conhecimento(geral, científico,

técnico e organizacional)

Resultados comerciais

(produtos, serviços e propriedade

intelectual)

Resultados comerciais

(produtos, serviços e propriedade

intelectual)

Desempenho da firma

Desempenho da firma

Estratégia da firma(guia o foco de reconhecimento e entendimento,

de assimilação, e de aplicação)

Estratégia da firma(guia o foco de reconhecimento e entendimento,

de assimilação, e de aplicação)

Reconhecer e entender novos conhecimentos

externos(aprendizado exploratório)

Assimilar conhecimentos

externos valiosos

(aprendizado transformador)

Aplicar conhecimentos

externos assimilados

(aprendizado de exploração)

Absorptive capacity da firma

Figura 16: Modelo de absorptive capacity: processos, antecedentes e resultados

Fonte: Lane, Koka e Pathak (2006, p.856)

Page 98: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

87

O modelo possui quatro componentes. Ao centro, está a definição da absorptive

capacity, à esquerda estão os direcionadores que são totalmente ou parcialmente

externos à firma, acima e abaixo do centro, os direcionadores internos à firma, e à

direita, os resultados da absorptive capacity.

Para apresentar os direcionadores externos, os autores os dividem em três tipos.

O primeiro, muito explorado em pesquisas anteriores, refere-se ao conhecimento prévio

existente na firma, que determina a profundidade e o escopo com que a firma pode

absorver o conhecimento externo. O segundo tipo refere-se às condições relacionadas

aos parceiros, como culturas, mecanismos de incentivo e sobreposição de

conhecimentos, aspectos esses necessários para um facilitar o processo de absorção. O

terceiro tipo, amplamente explorado no trabalho de Van den Bosch et al. (1999), refere-

se ao papel do ambiente em incentivar o investimento na absorptive capacity.

No caso dos direcionadores internos, os autores destacam a falta de estudos

sobre o tema e associam essa ausência a falta de uma visão do construto como uma

capacitação dinâmica. Este é um dos pontos destacados por eles que merece maior

atenção dos pesquisadores, principalmente no desenvolvimento de uma visão que

relacione processos, rotinas e aspetos da estrutura organizacional, com a capacidade de

compartilhar, integrar e criar conhecimento.

Outro aspecto destacados por eles, e em linha com as proposições de Cohen e

Levinthal (1990), é a importância individual. Os modelos mentais dos indivíduos que

compõem a organização podem gerar influências negativas e positivas na absorptive

capacity da organização, levando, por exemplo, a uma maior ou menor percepção de

novas tecnologias emergentes. Por fim, os autores destacam a estratégia e o seu

processo de formulação como um importante direcionador interno. Este processo tem

papel central em determinar que áreas de conhecimento são valiosas, quais devem ser

assimiladas e quais devem ser desenvolvidas.

Page 99: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

88

O elemento central do modelo, a visão multidimensional do construto, é

separado, da mesma forma como o fizeram Cohen e Levinthal, em três dimensões. Esta

segmentação é importante, pois a natureza dos processos em cada uma das dimensões é

bastante diferente, e a integração entre eles também deve ser tratada com atenção. Na

primeira dimensão, o aprendizado exploratório é utilizado para reconhecer e entender o

conhecimento externo. Neste momento, a estratégia tem um papel importante em definir

o estado de alerta com que os indivíduos, com seus modelos mentais, avaliarão a

relevância do conhecimento. Na segunda dimensão, o aprendizado transformativo é a

base para assimilar os conhecimentos externos que possuam valor para a organização.

Esta transformação envolve diferentes processos que afetam a forma como o

conhecimento novo adquirido é combinado com o conhecimento já existente. Sendo a

difusão de conhecimento para todas as partes da organização um dos pontos críticos

desta dimensão. Por fim, na terceira dimensão, o aprendizado de exploração é a base

para aplicar o conhecimento assimilado externamente nos processos de geração de valor

da organização.

O último elemento destacado no modelo refere-se aos resultados da absorptive

capacity. Historicamente, como apontado nas suposições que limitam o

desenvolvimento do tema propostas por Lane et al. (2006), os resultados do construto

foram associados à inovação, grande parte em função da visão restrita ao P&D e pela

facilidade de usar medidas como número de patentes como variáveis representativas.

Entretanto, os resultados oriundos da absorptive capacity, segundo os autores, podem

ser segmentados em duas vertentes. A primeira constitui-se dos resultados comerciais,

como produtos, serviços e patentes; e a segunda, relativo aos resultados de

conhecimento, como conhecimentos técnicos, científicos e organizacionais. O

desempenho de uma organização é influenciado por estas duas vertentes, como

representado no modelo da Figura 16. Ressalta-se também que ambas influenciam a

absorptive capacity futura da organização.

Page 100: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

89

4. FRAMEWORK DE REFERÊNCIA PARA SUPORTAR O DESENVOLVIMENTO DA ABSORPTIVE CAPACITY

Como visto na revisão bibliográfica, o construto teórico absorptive capacity

recebeu grande atenção dos acadêmicos. Entretanto, as pesquisas publicadas contribuem

pouco para a aplicação prática deste conceito, fornecendo indicações muito abstratas de

como um gestor pode desenvolver esta capacidade em uma organização. Este capítulo

desenvolve o objetivo central deste trabalho, que é o desdobramento do construto

abstrato em um framework de referência que possa orientar o projeto de processos e

rotinas organizacionais que levarão a uma maior absorptive capacity.

Para tal, inicialmente é apresentada a lógica de construção e desdobramento do

construto, assim como as características e estrutura do framework de referência. Em

seguida, cada uma das três camadas do modelo é construído e apresentado. Por fim, são

realizadas algumas considerações sobre a forma como este framework de referência

pode ser utilizado.

4.1. Lógica de construção e características do framework de

referência

O objetivo de um framework de referência, segundo Karathanos (1999), é

auxiliar o desenvolvimento de práticas de melhoria do desempenho das organizações,

disseminando as boas práticas, e servir como uma ferramenta para transmitir

conhecimentos gerenciais. Desta forma, um trade-off que vai acompanhar o

desenvolvimento de qualquer framework de referência é a relação entre o grau de

universalidade e a capacidade de aplicação direta deste. Quando o projetista deseja que

o framework possa ser utilizado para um universo maior de organizações, ele é obrigado

a fazer generalizações que contemplem as particularidades de cada uma das aplicações

previstas.

Page 101: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

90

Para a construção do framework de referência desta pesquisa, e para enfrentar

esta questão, decidiu-se por uma representação em três camadas de abstração. Estes

podem ser vistos como representações que incrementalmente fazem a passagem de um

conceito abstrato, mais universal, com um foco na representação e estruturação de um

problema complexo, até uma solução de aplicação, com foco na indicação de técnicas

de como aquele conceito pode ser implementado na prática. A Figura 17 ilustra como o

framework de referência e as suas três camadas estão associadas com a lógica de

passagem incremental apresentada no capítulo de método e ilustrada na Figura 9,

construída sobre o diagrama de Shehabuddeen et al. (1999).

Conceitual

(abstrato, entendimento)

Aplicado

Dinâmico(interação,

casualidade)

Estático(estrutura, elementos)

Sistema

Framework

ModeloMapa

ProcessoProcedimento

TécnicaFerramenta

Rep

rese

ntaç

ão

Abordagem

Representação do construto

Framework de aplicação

Solução de aplicação

Framework de referência

3a Camada:Técnicas

articuladas

1a Camada: Construto e

capacitações

2a Camada:Processos e requisitos de integração

Figura 17: A articulação das representações gerenciais: do conceitual ao aplicado

Esta passagem pode ser entendida pelas características das três camadas de

detalhe. A primeira camada, denominada ‘representação do construto’, tem como

principal objetivo definir a orientação conceitual e abstrata que será utilizada como base

para o desenvolvimento das demais camadas com foco em aplicação. A construção

dessa camada se dá a partir da revisão bibliográfica realizada sobre absorptive capacity

e da definição dos principais aspectos que este construto deve tratar, ou seja,

explicitando os antecedentes, condicionantes e resultados que este deve gerar. O

resultado gerado nesta camada é um framework conceitual que organiza os diversos

elementos que definem o construto.

Page 102: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

91

A partir deste framework, que representa uma base conceitual uniforme sobre a

qual uma orientação mais prática pode ser desdobrada, é desenvolvida a segunda

camada de representação, denominada ‘framework de aplicação’. O foco desta camada

está em prover uma orientação aos gestores de quais processos devem ser realizados e,

mais importante, os requisitos de integração entre eles. Para realizar esta construção,

cada uma das capacitações que compõem a absorptive capacity é associada a um

processo organizacional. Esta passagem tem como objetivo gerar uma relação (proxy)

entre uma visão mais conceitual, com a terminologia de capacitação, para uma visão

mais prática, com a terminologia de um processo que as organizações realizam. Ainda

nesta camada, os requisitos de integração entre cada um dos processos são definidos.

Estes requisitos são fundamentais para que se desenvolva a absorptive capacity, uma

vez que a execução isolada dos processos não vai garantir a existência desta capacitação

dinâmica.

Este framework de aplicação ainda se propõe a ser uma orientação com grande

universalidade para desenvolver a absorptive capacity, uma vez que cada processo pode

ser realizado de diferentes maneiras, dependendo das características da organização que

a aplica. Entretanto, esta orientação ainda pode ser insuficiente para uma empresa que

queira implementar uma solução que a habilite a desenvolver a absorptive capacity.

Desta forma, uma terceira camada, foi desenvolvida no framework de referência. Essa é

denominada ‘solução de aplicação’, e se configura em um conjunto articulado de

técnicas que representam uma solução completa para as integrações necessárias entre os

processos. Ressalta-se que a solução apresentada nesta camada não tem mais um caráter

de universalidade, sendo apenas uma, de diversas soluções possíveis, para conceber a

concretização na prática do framework de aplicação.

As camadas que compõem o framework de referência e as características de cada

uma delas são sintetizados na Tabela 7.

Page 103: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

92

Tabela 7: Camadas e características do framework de referência

Camadas do framework de referência Características

Representação do construto

Natureza: conceitualFoco: entendimento teóricoComponentes: capacitações e direcionadoresRepresentação: framework

Framework de aplicação

Natureza: aplicadoFoco: orientação de "o que fazer"Componentes: processos e requisitos de integraçãoRepresentação: framework

Solução de aplicação

Natureza: aplicadoFoco: orientação de "como fazer"Componentes: técnicasRepresentação: framework

4.2. Primeira camada: Representação do construto

Em função das inúmeras abordagens teóricas a partir das quais o construto da

absorptive capacity é tratado, é importante que estabeleçamos um conjunto de aspectos

que devem servir de base para a construção do framework de referência. Desta forma,

esta seção tem por objetivo sintetizar a revisão bibliográfica realizada, destacando os

requisitos que devem ser tratados pelo framework a ser construído nesta camada.

Como já destacado, a perspectiva adotada neste trabalho caracteriza a absorptive

capacity como uma capacitação dinâmica, ou seja, o conjunto de processos e rotinas

pelos quais a organização vai reconfigurar seus recursos para se adaptar ou explorar

novas oportunidades no mercado (EISENHARDT e MARTIN, 2000). Esta visão está de

acordo com as proposições de Van den Bosch et al. (1999), Zahra e George (2002) e

Lane et al. (2006) apresentadas anteriormente, e é especialmente importante, pois

associa a capacitação a um conjunto de rotinas e processos, ou seja, ações que a

organização pode desenvolver e projetar.

A definição, já apresentada anteriormente, de Zahra e George (2002, p.186), é a

que mais destaca esse caráter e, portanto, será utilizada como a referência para

construção do framework. Segundo os autores, a absorptive capacity é:

Page 104: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

93

“um conjunto de rotinas e processos organizacionais pelos quais as

firmas adquirem, assimilam, transformam e exploram conhecimento para

produzir uma capacitação dinâmica.”

Esta proposição difere das demais, pois discretiza a absorptive capacity em

quatro dimensões, cada qual representando uma capacitação. Os autores ressaltam que a

combinação entre estas quatro dimensões é que gera a capacitação dinâmica, ou seja,

atenção especial deve ser dada à forma pela qual estas capacitações se integram,

conforme representado na Figura 18.

Aquisição

TransformaçãoAssimilação

Exploração

Figura 18: Dimensões da absorptive capacity e a integração entre elas

A aquisição de conhecimento representa a habilidade da firma em identificar os

conhecimentos gerados externamente que impactem as suas atividades. A dimensão

assimilação refere-se à capacidade de análise, processamento, interpretação e

entendimento das informações obtidas através das fontes externas. A capacitação de

transformação constitui-se na habilidade pela qual a organização, baseada nos

conhecimentos assimilados, redefine as suas ações a partir da combinação dos

conhecimentos novos com os previamente existentes. Esta tem papel fundamental na

identificação de novas oportunidades e na alteração da forma como a organização se

Page 105: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

94

relaciona com o ambiente a sua volta. Por fim, a dimensão exploração refere-se à

habilidade de refinar e se aproveitar dos conhecimentos assimilados no

desenvolvimento de suas atividades.

Estas dimensões, no entanto, como destacado no modelo proposto por Lane et

al. (2006) e apresentado na Figura 16, sofrem influência de fatores externos e internos a

firma. Desta forma, utilizando-se os quatro componentes propostos por Lane et al.

(2006) e adaptando o elemento central para contemplar as quatro dimensões propostas

por Zahra e George (2002), chega-se ao framework proposto na Figura 19.

Resultados

Estrutura organizacional e modelo mental dos

indivíduos

Estratégia da firma

Aquisição

TransformaçãoAssimilação

Exploração

Características ambientais

Figura 19: Representação conceitual da absorptive capacity

A primeira relação apresentada neste framework é a influência das

características ambientais no desenvolvimento da absorptive capacity. Van den Bosch

et al. (1999) destacaram como a dinâmica do ambiente cria incentivos para maior ou

menor investimento no desenvolvimento desta capacitação dinâmica. Outro fator muito

destacado por diversos autores é a característica do conhecimento e a influência direta

que este cria no processo de aquisição e assimilação. Questões relacionadas aos

parceiros, à sobreposição dos conhecimentos, aos incentivos e culturas dos atores no

Page 106: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

95

ambiente também são determinantes para a facilidade de aquisição e assimilação do

conhecimento.

Ainda neste tema, cabe destacar o caráter co-evolucionário também ressaltado

por Van den Bosch et al. (1999), no qual uma firma, ao identificar, assimilar e explorar

os conhecimentos, também influência o ambiente a sua volta, fazendo com que esta

relação precise ser analisada nos dois sentidos.

A segunda relação destacada por Lane et al. (2006) é o papel das estruturas

organizacionais, em especial a forma como estas garantem a coordenação do trabalho,

na assimilação e transformação do conhecimento. Diferentes tipos de estrutura terão

influências distintas na absorptive capacity, como destaca o trabalho de Van den Bosch

(1999). Outro ponto muito importante nesta relação é o papel do indivíduo. O

conhecimento prévio que este possui, as características culturais e os sistemas de

incentivo serão críticos para conformar que tipos de oportunidades serão percebidos,

como os indivíduos julgarão o valor de um determinado conhecimento, e,

principalmente a propensão destes a absorvê-lo (COHEN e LEVINTHAL, 1990).

O outro elemento deste conjunto, que Lane et al. (2006) denominou de

direcionadores internos, é a estratégia da empresa. O seu processo de formulação tem

um forte impacto em definir que áreas de conhecimento serão mais valiosas, que temas

precisam ser desenvolvidos, e qual o escopo de atuação e observação da organização.

Ressalta-se que nestes direcionadores internos também existem os mecanismos

co-evolucionários, ou seja, à medida que a absorptive capacity é desenvolvida, (1) as

estruturas organizacionais e mecanismos de coordenação são alterados em função de

novas ações determinadas nos processos de transformação e exploração (p.ex. a criação

de um time autônomo para desenvolver um produto); (2) os modelos mentais dos

indivíduos são alterados, uma vez que estes são confrontados com novos conhecimentos

e novas oportunidades e seu julgamento de valor dos conhecimentos passa a ser

orientado pelas prioridades estratégicas definidas (p.ex. o pesquisador de uma empresa

de petróleo que passa a pesquisar sobre bio-combustíveis), e, (3) novas combinações de

Page 107: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

96

recursos são geradas, podendo representar oportunidades que podem conformar a

estratégia da organização de forma que estas possam ser melhores exploradas (p.ex.

formação de um grupo de excelência em biotecnologia).

Por fim, a absorptive capacity influencia diretamente a capacidade de geração de

valor da firma, uma vez que esta recombina recursos a fim de incorporar conhecimentos

externos. Este impacto se reflete no desempenho da firma e na sua capacidade de

inovação, relação esta avaliada por diversos autores, como Cohen e Levinthal (1989),

Meeus, Oelermans, e Hage (2001), Mowery, Oxley e Silverman, (1996) e Ahuja e

Katila (2001), através de variáveis de representação, tais como o número de patentes

obtidas.

Lane et al. (2006) destacam que, além destes resultados comerciais, o aumento

da base de conhecimento da organização também é um resultado significativo. Em

função do caráter cumulativo (path dependent) deste construto, essa base influenciará

diretamente a absorptive capacity da organização, tento o caráter de ciclo virtuoso

apontado por Cohen e Levinthal (1994) e Van den Bosch et al. (1999), no qual maior

absorptive capacity gera mais aprendizado, que por sua vez aumenta a base de

conhecimento, que por sua vez potencializa a absorptive capacity.

4.3. Segunda camada: Framework de aplicação

A partir da definição da primeira camada, o framework de representação do

construto, é necessário transformar a representação de natureza conceitual, caracterizada

pelas quatro capacitações, em uma representação de natureza aplicada. Esta deve

permitir a orientação do que é preciso ser feito para que a absorptive capacity possa ser

desenvolvida.

Page 108: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

97

4.3.1. Das capacitações às atividades de Gestão da Inovação

Para realizar essa passagem, buscou-se associar cada uma das dimensões do

construto teórico a um processo reconhecido e consolidado na literatura e na prática da

Gestão da Inovação. Para orientar esta passagem, cada uma das quatro capacitações foi

representada em perguntas que orientaram a realização de uma busca bibliográfica, na

qual, eram identificados os processos que mais se adequavam para responder a questão

formulada. A Tabela 8 apresenta a questão que representa cada uma das capacitações e

em seguida, é apresentada breve síntese da literatura que motivou cada passagem.

Tabela 8: As questões de orientação para a busca bibliográfica

Capacitação Questão de orientação

adquirir Como as informações e conhecimentos relevantes para podem ser identificados?

assimilarComo as informações e conhecimentos adquiridos são acessados, interpretados e entendidos pelos indivíduos relevantes?

transformarComo a organização utiliza os conhecimentos assimilados para redefinir suas ações?

explorarComo a organização utiliza os conhecimentos assimilados para gerar valor?

De acordo com Savioz e Blum (2002), a velocidade das mudanças tecnológicas

e a crescente complexidade gerada pela crescente convergência de disciplinas

demandam das organizações uma capacidade de identificar sinais, mesmo que fracos, de

potenciais mudanças que possam impactar os seus negócios. Segundo os autores, essa

identificação pode ser conseguida através de ações de prospecção tecnológica e

monitoração de ambiente. Lang (1998, apud Savioz e Blum, 2002) afirma que estas

técnicas também podem ser utilizadas para informações sobre tecnologias já

conhecidas, através de buscas mais aprofundadas. Daim, Rueda, Martin e Gerdsri (2006,

p.981) afirmam que diversos fatores como: a situação política, a cultura, o

comportamento dos consumidores e a regulação, devem ser monitorados no processo

denominado prospecção e previsão tecnológica.

Page 109: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

98

Porter e Cunningham (2005) afirmam que, na era da informação, as

organizações devem fortemente utilizar-se de informações externas para apoiar as suas

inovações. A aquisição destas informações pode ser suportada por um conjunto de

técnicas de prospecção e mineração. Porter et al (1991) apresentam diferentes métodos

pelos quais informações sobre as tecnologias e suas aplicações podem ser acessadas e os

prováveis rumos futuros podem ser previstos. Glenn e Gordon (2003) apresentam uma

coletânea de métodos pelos quais o futuro de uma tecnologia pode ser estudado.

Segundo Canongia et al. (2002), a prospecção tecnológica é utilizada na

inteligência competitiva para coletar informações sobre o macro ambiente em que a

organização se insere, permitindo um processo de aprendizado contínuo, voltado ao

planejamento e suporte às decisões estratégicas. De acordo com a autora, um grande

desafio é o crescente volume de informações e da desarticulação entre elas, exigindo um

grande esforço para coletá-las, sistematizá-las e analisá-las. Martino (2003) destaca os

recentes avanços nas técnicas de prospecção com a crescente incorporação do

computador na busca de registros de patentes, literatura científica, internet e bancos de

regulação. Além destes, os avanços no campo da inteligência artificial e mineração de

dados, como os agrupamentos por modelos de lógica fuzzy, a análise de componentes

principais (PCA), modelos de probabilidade bayesianos, redes neurais e

reconhecimentos de padrão, proporcionam grande aumento da qualidade na

sistematização e análise destes grandes volumes (PORTER e CUNNINGHAM, 2005).

A partir da consulta à literatura do campo da Gestão da Inovação, é possível

indicar que o conjunto de procedimentos apresentados na literatura que responde a

questão de como identificar os conhecimentos relevantes para a organização podem ser

denominados pelo processo ‘prospecção tecnológica’.

A segunda capacitação, a assimilação, representada pela questão: ‘Como as

informações e conhecimentos adquiridos são acessados, interpretados e entendidos

pelos indivíduos relevantes?’, encontra rebatimento na literatura sobre gestão de

conhecimentos. Ashton e Klavans (1997) ressaltam a importância da distribuição da

Page 110: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

99

informação coletada na prospecção para que esta possa ser utilizada e interpretada pelo

profissional com maior potencial para utilizá-la. Allen (1977), em seu conhecido livro

sobre fonte de informações para P&D, ressalta a importância do relacionamento e

contato interpessoal para o fluxo dos conhecimentos na organização. Nonaka e

Takeuchi (1997), por sua vez, apresentam o modelo da espiral do conhecimento para

demonstrar como o conhecimento pode se socializado, externalizado, combinado e

internalizado. Hildreth e Kimble (2002) discutem as formas pelas quais conhecimentos

tácitos, denominados por eles de soft, podem ser compartilhados e geridos. Kimble, Li e

Barlow (2000) argumentam que a crescente internacionalização com o conseqüente

aumento da complexidade e do volume das informações disponíveis aumentam a

necessidade de compartilhamento e difusão de conhecimentos nas organizações. Lave e

Wenger (1991) destacam a assimilação de conhecimento como um processo social, no

qual as pessoas podem participar em um aprendizado comum dependendo do nível de

autoridade e senioridade no grupo. Desta forma, entende-se que a capacitação de

assimilação pode ser representada pelo processo ‘difusão de conhecimento’.

A terceira capacitação, a transformação, representada pela questão: ‘Como a

organização utiliza os conhecimentos assimilados para redefinir suas ações?’, encontra

rebatimento na literatura sobre planejamento tecnológico. Porter et al. (1991) definem

planejamento tecnológico como a dimensão do planejamento que define o processo pelo

qual as mudanças tecnológicas vão suportar a estratégia da organização. De acordo com

Gelle e Kerhu (2003), neste processo uma organização deve reconhecer as necessidades

de mudanças tecnológicas a partir de um monitoramento constante do ambiente,

identificando tanto a forma pela qual a sua base tecnológica pode proporcionar

oportunidades para a organização, quanto as mudanças e desenvolvimentos necessários

para responder as mudanças no ambiente. Roussel et al. (1991) destacam que a

capacidade de prospecção de informações no ambiente e o julgamento destas

informações são fundamentais para que a organização possa planejar o desenvolvimento

de suas tecnologias.

Phaal, Farrukh e Probert (2004) destacam que o planejamento tecnológico deve

garantir a consistência entre dois mundos, o comercial e o tecnológico. O primeiro com

Page 111: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

100

a definição das necessidades dos consumidores e o posicionamento da empresa para

responder a estas, e o segundo, com as tendências tecnológicas e definições de

desenvolvimento adotadas pela empresa. Desta forma, a capacitação de transformação

pode ser representada pelo processo de ‘planejamento tecnológico’.

A última capacitação, a exploração, representada pela questão: ‘Como a

organização utiliza os conhecimentos assimilados para redefinir suas ações?’, é a que

possui um caráter mais genérico. O uso destes conhecimentos pode se dar de diferentes

formas, como no desenvolvimento de um novo produto (WHEELWRIGHT, 1992;

GOFFIN e MITCHEL, 2005), na transferência de uma tecnologia (PISANO, 2006;

CHESBROUGH, 2006; WIPO; 2006), no desenvolvimento de uma aliança estratégica

(DYER, 2001), entre outros. Desta forma, para guardar o caráter amplo desta

capacitação, foi associada ao processo de ‘desenvolvimento’. Esta denominação, apesar

de genérica, facilita o entendimento prático, uma vez que cada gestor o visualiza

aplicado diretamente ao seu setor ou realidade específica. Por exemplo, ao se usar o

termo desenvolvimento, um gestor ou pesquisador de uma indústria farmacêutica

rapidamente o visualiza como o conjunto das atividades que compreende desde uma

descoberta até a realização de testes clínicos e aprovação da nova droga (PISANO,

2006). Desta forma, entende-se que o processo ‘desenvolvimento’ se configura numa

boa aproximação para representar a capacitação de exploração.

A Figura 20 apresenta uma síntese do decalque das capacitações em processos

relacionados à literatura de gestão da inovação.

Prospecção tecnológica

Planejamento tecnológico

Difusão de conhecimentos

Desenvolvimento tecnológico

Aquisição

TransformaçãoAssimilação

Exploração

Figura 20: Decalque das capacitações em processos de Gestão da Inovação

Page 112: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

101

4.3.2. Os requisitos de integração

Como já destacado, estas quatro capacitações, agora já decalcadas em processos,

isoladamente não constituem uma capacitação dinâmica, uma vez que não serão

suficientes para reconfigurar os recursos de uma organização para provocar ou

responder a mudanças no ambiente. Desta forma, é fundamental que se discuta quais os

requisitos de integração entre estas atividades, tanto para orientar as organizações a

projetarem os seus processos de trabalho, ou seja, a seqüência de atividades pelas quais

realizarão estas tarefas, quanto para permitir a definição de técnicas e ferramentas de

suporte.

A Figura 21 apresenta o framework de aplicação, nos quais os requisitos de

integração estão destacados por números17.

Prospecção tecnológica

Planejamento tecnológico

Difusão de conhecimentos

Desenvolvimento tecnológico

12

3

412

6

5

11

10

9

87

Figura 21: Framework de aplicação

17 Os números não representam nenhum tipo de seqüência entre as integrações. São apenas

identificadores do arco entre os processos.

Page 113: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

102

A primeira integração necessária (seta 1) é que as informações coletadas e

tratadas na prospecção tecnológica devem subsidiar o processo de planejamento.

Quanto maior a quantidade e a qualidade de informações disponíveis, melhor a

capacidade dos participantes do processo de planejamento em prever as mudanças que

ocorrerão, entender os possíveis impactos destas na organização e com isso tomar as

decisões estratégicas de como a organização irá responder a esta dinâmica.

É claro, no entanto, que independente destas informações, a incerteza associada

a esse tipo de planejamento é muito grande, o que torna impossível prever com acurácia

como o futuro se comportará. Desta forma (seta 2), o planejamento traçado deve

orientar um monitoramento contínuo do ambiente, no qual as hipóteses assumidas

durante o processo de formulação são sistematicamente testadas, a fim de identificar

eventos que gerem desvios e, portanto, necessidade de atualização do plano. Este

planejamento garante ainda uma orientação sobre a qual a prospecção tecnológica será

realizada com maior profundidade, garantindo que informações específicas e detalhadas

serão coletadas para suportar a atuação nas áreas de maior interesse da organização.

Estes requisitos (1 e 2) garantem que o planejamento se mantenha “vivo” em relação ao

ambiente; ou seja, mudanças no ambiente serão organicamente incorporadas ao

planejamento.

Estas decisões tomadas no planejamento orientam os projetos e ações que devem

ser realizadas no desenvolvimento tecnológico (seta 3). Ou seja, esta tomada de decisão

sobre o que fazer deve considerar questões como disponibilidade de recursos, carga de

trabalho, balanceamento de portfólio, entre outras (GOFFIN e MITCHELL, 2005).

Como já destacado, estes projetos e ações podem ter diferentes formas, dependendo das

características das tecnologias e setor de atuação da empresa, como: transferências de

tecnologias, licenciamento, parcerias, desenvolvimento de produtos, pesquisa básica,

outsourcing, aquisições, entre outros.

Em função das incertezas associadas a estas atividades, ao longo do

desenvolvimento ocorre uma série de desvios, podendo estes ser positivos, como um

novo composto que pode ser utilizado para outros fins além do previsto inicialmente, ou

Page 114: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

103

negativos, um insucesso tecnológico ou atraso em um projeto. De qualquer forma, este

desvio deve motivar uma constante avaliação em relação aos impactos causados no

planejado (seta 4). Desta forma, além de manter este planejamento “vivo” em relação ao

ambiente, garante-se que as ações efetivamente realizadas serão orgânicas com o

planejado (setas 3 e 4).

Esta organicidade entre ambiente e ações realizadas, garantidas pelos requisitos

1, 2, 3 e 4, apóia uma das tarefas de maior complexidade na gestão da inovação, que é a

gestão de portfólio. A mobilização de recursos para criar novos projetos não é uma

tarefa imediata, dada a necessidade de conhecimentos e experiências muito

especializados. Ainda mais complicada é a descontinuação de projetos. Burgelman e

Sayles (1986), Jain e Triandis (1997), Chiesa (2001) e Sapienza (2004) ressaltam a

inércia e o impacto cultural disso, no qual o sentimento de posse18 do projeto gera muita

resistência do pesquisador em abandoná-lo.

O processo de formulação do planejamento, do ponto de vista de uma

capacitação dinâmica, é mais importante do que o resultado gerado. O envolvimento

neste processo (seta 5) permite que os indivíduos, como destacado por Cohen e

Levinthal (1990), formem uma visão sistêmica das atividades e da trajetória estratégica

delineada para a organização. A difusão deste conhecimento permite aumentar o estado

de alerta (awareness) da organização, uma vez que os indivíduos estarão mais aptos a

perceber e avaliar os impactos das suas ações como de eventos externos na estratégia

tecnológica como um todo.

Além disso, esta participação permite um maior entendimento de que áreas estão

envolvidas em que atividades e das competências disponíveis em cada uma delas. Desta

forma, o fluxo de conhecimentos pode ser melhorado, uma vez que uma área ou

indivíduo tem melhor condição de avaliar onde um determinado conhecimento pode ser

melhor explorado.

18 Este sentimento foi curiosamente chamado de “efeito tese” por um dos executivos

entrevistados. É percebida uma grande dificuldade por parte do pesquisador em abandonar o projeto que

foi originado a partir de suas pesquisas de tese, ao qual dedicou toda a sua vida.

Page 115: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

104

O sentido inverso desta relação (seta 6) destaca que a difusão de conhecimento é

um fator fundamental para uma maior efetividade do processo de planejamento. Um

certo grau de sobreposição de conhecimento entre as várias áreas da organização é

necessário para que estas possam vislumbrar oportunidades a partir de combinação de

conhecimentos, estabelecer uma linguagem comum, priorizar ações e definir a trajetória

a ser seguida pela organização. Reforçando com isso a tomada de decisão estratégica.

Ao longo das atividades de desenvolvimento, diversos conhecimentos e

experiências são naturalmente gerados. Estes devem “transbordar” (seta 7) para além da

área que o gerou, permitindo o seu uso por todos os interessados da organização. Desta

forma, a estrutura de difusão deve garantir a possibilidade de sistematização e

distribuição deste conhecimento.

Por outro lado, os novos conhecimentos distribuídos pelo processo de difusão

(seta 8), sejam estes oriundos do processo de prospecção, planejamento ou do próprio

desenvolvimento realizado em outra parte da organização, podem ser utilizados ao

longo de um projeto ou ação específica de desenvolvimento. Melhorando a qualidade do

seu resultado e a capacidade de resolução de problemas da firma.

As informações e conhecimentos identificados e coletados no ambiente externo

devem ser sistematizados e difundidos (seta 9), tanto de forma ativa, ou seja, a partir a

identificação de um potencial usuário e alertando-o para o conhecimento; quanto de

forma passiva, ou seja, estando sempre disponível e de fácil acesso quando algum

usuário buscá-lo.

Ao longo do processo de difusão, a heterogeneidade dos conhecimentos dos

indivíduos que interagem e o processo de assimilação de cada um destes naturalmente

vai gerar questionamentos e necessidades de novas informações externas (seta 10), que

orientarão o processo de prospecção tecnológica.

Page 116: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

105

Por fim, ao longo das inúmeras ações de desenvolvimento, os pesquisadores

podem necessitar identificar e acessar conhecimentos externos à organização, como

perguntas como: “quem domina esta tecnologia?”, “existe algum tipo de solução para

este problema?” Desta forma, podem orientar (seta 11) o processo de prospecção de

informações de forma bem específica para a resolução de um problema. O sentido

inverso (seta 12), ou seja, as informações que respondem as necessidades específicas

dos pesquisadores, também deve estar garantido.

Estes requisitos de integração, como já destacado, são fundamentais para que

estas capacitações possam funcionar com uma dinâmica que permita à organização

utilizar-se dos conhecimentos externos para recombinar seus recursos e com isso

influenciar ou se adaptar ao ambiente. A falta destas integrações pode ser um dos

motivos de porque algumas organizações não conseguem responder de forma efetiva à

dinâmica do ambiente apesar de realizarem procedimentos corretos em cada uma dos

quatro processos.

4.4. Terceira camada: Solução de aplicação

A partir da definição da segunda camada do framework de referência, o

framework de aplicação, é possível desdobrar uma proposta dos requisitos de integração

estabelecidos, aqui denominada ‘solução de aplicação’. Na formulação desta, buscou-se

identificar na literatura um conjunto de técnicas que apoiassem a integração dos quatro

processos, garantindo que todos os requisitos fossem suportados. Nesta passagem, duas

observações devem ser feitas.

Primeiro, não se buscou prescrever como cada processo (caixinha) deveria ser

realizado e sim, que técnica garantiria que os resultados deste fossem integrados nos

demais processos. Ou seja, essa proposição se preocupa mais com a integração (setas)

do que com os processos específicos. Isso é razoável uma vez que, como destacado por

Zahra e George (2002), não são as quatro capacitações isoladas, e sim a integração entre

elas que configuram a capacitação dinâmica. Por exemplo, uma organização pode fazer

a prospecção tecnológica (caixa) a partir de um questionário DELPHI, um painel de

Page 117: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

106

especialistas, métodos estatísticos ou até uma combinação destes, mas o mais

importante é que estes resultados suportem o planejamento tecnológico (seta 1). Outro

ponto que reforça esse argumento é a intenção de manter esta solução com o máximo

grau de generalidade. As técnicas específicas mais indicadas para resolver cada

processo dependem de inúmeros fatores, tais como a maturidade tecnológica, a

concorrência no setor, as características da tecnologia, entre outros. Desta forma,

prescrever a priori uma técnica restringiria a aplicabilidade da solução. Uma última

ressalva é que as técnicas que compõem a solução resolvem parte dos processos, mas

não têm a intenção de ser exaustivas (p.ex. o roadmap ao ser usado no planejamento

tecnológico não restringe o uso de matrizes de balanceamento de portfólio).

Segundo, esta solução de aplicação é apenas uma alternativa que suporta por

completo o framework de aplicação. Diversas alternativas podem ser criadas,

respondendo completamente ou parcialmente ao framework, dependendo das

necessidades da organização.

4.4.1. Dos requisitos de integração às técnicas

A passagem entre os requisitos de integração e as técnicas propostas na solução

de aplicação se dá, mais uma vez, a partir de revisão bibliográfica no campo de gestão

da inovação. Buscou-se identificar um conjunto de técnicas, que combinadas, fossem

suficientes para suportar a operacionalização do framework de aplicação. A Figura 22

apresenta a solução proposta, composta por quatro elementos, que serão explorados com

mais detalhes nos próximos itens deste capítulo.

Page 118: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

107

Prospecção tecnológica

Planejamento tecnológico

Difusão de conhecimentos

Desenvolvimento tecnológico

Roadmaptecnológico

m i n i n g C o m u n i d d e d p á t i a s

Gat

ekee

pe

rs Tech

aserc

Figura 22: Solução de aplicação

O primeiro é o roadmap tecnológico. Este instrumento, cujo uso foi iniciado na

indústria e posteriormente foi objeto de pesquisa de diversos autores, tem sido bastante

utilizado para o planejamento tecnológico e a previsão tecnológica, tanto na esfera

privada quanto na esfera pública, como por exemplo, para suportar a formulação de

políticas públicas para o desenvolvimento de setores. Nesta solução, o roadmap, por ser

um instrumento de fácil visualização e contemplar diversas perspectivas, como

mercado, produtos e tecnologias, e forçar consistência entre elas, assume um papel

central, sendo o mecanismo que suporta a governança das diversas atividades ligadas ao

planejamento e desenvolvimento tecnológico.

O segundo elemento é a técnica de tech mining, proposta por Porter e

Cunningham (2005), que é uma evolução das análises bibliométricas, utilizando-se das

modernas tecnologias de text mining para tratar grandes volumes de informações e obter

informações para suportar os processos de planejamento e tomada de decisão. Nesta

solução, o tech mining tem importante papel no constante monitoramento do ambiente

externo e na obtenção, sistematização e análise das informações externas. Ressalta-se

Page 119: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

108

que esta técnica se baseia em conhecimentos explícitos, ou seja, que estão de alguma

forma publicados e documentados.

O terceiro elemento é o gatekeeper, proposto por Allen (1977) como o

profissional que por possuir um amplo conhecimento técnico e estar inserido em

comunidades científicas está em permanente contato com o ambiente externo, servindo

de ponte para a difusão destes conhecimentos adquiridos no contato pessoal externo,

para os demais profissionais da organização. Nesta solução, a figura do gatekeeper

desempenha tanto o papel de buscar conhecimentos tácitos no ambiente externo, quanto

o de promotor da difusão destes conhecimentos internamente, atuando como nó de

distribuição de informações.

O quarto elemento da solução é o uso de comunidades de práticas. Estas podem

ser entendidas como um conjunto de participantes que a partir do compartilhamento de

suas experiências desenvolvem conhecimentos, valores e uma identidade comum,

desenvolvendo uma visão de mundo compartilhada (HISLOP, 2004). Estas possuem

papel fundamental como mecanismo de disseminação de conhecimento para além das

estruturas hierárquicas formais. Nesta solução, estas comunidades, associadas à figura

do gatekeeper, têm papel fundamental de, além de registrar e disseminar os

conhecimentos adquiridos externamente, criar um compartilhamento de visão,

linguagens, percepções entre os membros da organização, o que é de extrema

importância para a troca e incorporação dos novos conhecimentos à base já existente.

A síntese da relação entre os requisitos de integração e os elementos que o

suportam estão apresentadas na Tabela 9.

Page 120: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

109

Tabela 9: Requisitos de integração e técnicas de suporte

Requisitos de integração Referência (seta) Técnicas

As informações e conhecimentos coletados na prospecção tecnológica devem suportar o processo de planejamento 1 Tech mining

Gatekeepers

O planejamento traçado deve orientar o monitoramento contínuo do ambiente 2

RoadmapTech miningGatekeepers

O planejamento deve orientar as ações executadas no desenvolvimento tecnológico 3 Roadmap

O acompanhamento das atividades no desenvolvimento tecnológico deve orientar as ações de replanejamento 4 Roadmap

O processo de planejamento deve desenvolver a visão sistêmica e promover o estado de alerta (awareness ) na organização 5 Roadmap

A difusão de informações deve garantir a elevação do conhecimento sistêmico da organização, permitindo uma participação mais efetiva no processo de planejamento

6 GatekeepersComunidades de práticas

Os conhecimentos gerados ao longo do processo de desenvolvimento devem transbordar para outras áreas da organização

7 GatekeepersComunidades de práticas

Os conhecimentos adquiridos ou transbordados de outras áreas devem ser difundidos de tal forma que possam ser utilizados no desenvolvimento tecnológico

8 GatekeepersComunidades de práticas

As informações e conhecimentos coletados na prospecção tecnológica devem ser sistematizados e difundidos, de forma ativa e passiva, por toda a organização

9Tech miningGatekeepers

Comunidades de práticas

As questões e necessidades de novos conhecimentos geradas ao longo da interação dos pesquisadores no processo de difusão de conhecimentos deve orientar novas prospecções tecnológicas

10 GatekeepersComunidades de práticas

As necessidades dos pesquisadores ao longo do processo de desenvolvimento tecnológico devem orientar buscas de conhecimentos específicos para a resolução do problema

11Tech miningGatekeepers

Comunidades de práticas

As informações e conhecimentos necessários para resolução de problemas e tomadas de decisão ao longo do processo de desenvolvimento tecnológico devem estar disponíveis para os pesquisadores

12Tech miningGatekeepers

Comunidades de práticas

4.4.2. Roadmap tecnológico

O roadmap tecnológico é uma técnica flexível que é amplamente utilizada na

indústria para suportar o planejamento estratégico de longo prazo (KOSTOFF,

BOYLAN e SIMONS, 2004; RINNE, 2004; LEE e PARK, 2005; PHALL, FARRUKH

e PROBERT, 2004b; LINTON e WALSH, 2004; PETRICK e ECHOLS, 2004; VOJAK

e CHAMBERS, 2004; PHAAL, FARRUKH e PROBERT, 2004a; WALSH, 2004;

SARITAS e ONER, 2004; LINTON, 2004; GALVIN, 2004; KAPPEL, 2001;

Page 121: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

110

KOSTOFF e SCHALLER, 2001). Esta abordagem proporciona uma forma estruturada,

e normalmente gráfica, para se explorar e comunicar as relações ao longo do tempo

entre os mercados que se desenvolvem, produtos e tecnologias. Esta técnica pode ajudar

as empresas a lidar com ambientes dinâmicos, proporcionando foco no monitoramento

do ambiente e um meio de acompanhar a evolução do desempenho de determinadas

tecnologias (PHAAL et al., 2004a).

Esta técnica possui um grande potencial para suportar o desenvolvimento e

implantação de um planejamento integrado da estratégia de negócios, produtos e

tecnologias, determinando as informações, processos e ferramentas para alcançá-lo. De

acordo com Galvin (2004, p.101):

“Um roadmap é uma visão estendida do futuro de um campo de

investigação escolhido, composto do conhecimento coletivo e da imaginação

dos mais brilhantes direcionadores de mudança naquele campo (...). Roadmaps

comunicam visões, atraem recursos privados e do governo, estimulam

investigações e monitoram progresso. Eles se tornam o inventário de

possibilidades de um campo particular.”

Os roadmaps representam uma poderosa técnica para suportar o planejamento e

a gestão tecnológica, especialmente por explorar e comunicar as relações dinâmicas

entre recursos tecnológicos, objetivos organizacionais e o ambiente em mudança. Estes

podem adotar tanto uma perspectiva empurrada (technology push) quanto puxada

(technology pull), ou qualquer ponto híbrido entre estes extremos. Além disso, e de

grande interesse para a solução proposta nesta dissertação, os roadmaps e o processo de

roadmapping proporcionam o aumento do “radar” da organização, aumentando seu

horizonte de planejamento, identificando potenciais ameaças e oportunidades no

ambiente em que a organização se insere (PHAAL et al. 2004a).

A sua caracterização mais comum é a do roadmap genérico (Figura 23), que é

um gráfico com um eixo temporal, composto de um conjunto de camadas que incluem

tanto a perspectiva de mercado, quanto a perspectiva tecnológica. Este gráfico permite

Page 122: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

111

representar como o mercado, os produtos e as tecnologias evoluem, explorando as suas

relações. O roadmap permite considerar, em conjunto e com a perspectiva temporal, os

principais fatores da estratégia tecnológica.

tempo

Mercado

Produto

Tecnologia

Figura 23: Formato do roadmap genérico

Fonte: Phaal et al. (2004a, p.10)

Em função de sua abordagem ser muito flexível, podendo ser aplicado a diversos

objetivos, diferentes formatos e formas gráficas foram desenvolvidas ao longo dos anos

de aplicação. Phaal et al. (2004a) apresentam uma proposta de classificação baseada na

análise de 40 aplicações. Estas consideram tanto o propósito do uso e o formato gráfico

adotado. A Figura 24 apresenta os oito tipos de propósitos identificados para os quais o

roadmap foi utilizado.

O primeiro (a) é o planejamento de produto. Este é a aplicação mais difundida

do roadmap e é caracterizado pela relação de como as tecnologias suportam a evolução

dos produtos, geralmente contemplando diversas famílias e gerações de produtos.

Motorola e Philips são empresas que utilizam este tipo de abordagem.

O segundo tipo (b) é o planejamento de serviços e capacitações, mais utilizado

por organizações de serviços, com foco em explorar como a tecnologia pode suportar as

capacitações organizacionais. Um exemplo desta aplicação é o Royal Mail da Inglaterra,

que discutiu como o avanço das tecnologias poderia impactar os negócios.

Page 123: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

112

O terceiro propósito (c) é o planejamento estratégico, no qual o roadmap é usado

para apoiar o planejamento a identificar possíveis oportunidades ou ameaças. O foco é

desenvolver uma visão de futuro dos negócios a partir da evolução dos mercados,

legislação, produtos, tecnologias, habilidades, pesquisa, cultura, entre outras. Esta visão

deve orientar a definição de ações estratégicas para mover a organização na direção

desejada.

A quarta aplicação (d) é o planejamento de longo prazo. Este tipo é normalmente

elaborado por setores, com uma visão nacional. Serve tanto para que as organizações se

posicionem em relação ao futuro esperado da indústria, quanto para orientar ações de

políticas públicas por parte dos órgãos do governo. Um possível exemplo é o uso do

roadmap para orientar o desenvolvimento da indústria de Bio-combustível,

coordenando ações de diversos setores como o de agricultura, as usinas, a indústria

automobilística, entre outros.

O quinto tipo (e) é o planejamento dos ativos de conhecimentos, relacionando as

iniciativas de gestão do conhecimento com os objetivos de negócio. Permitindo uma

visão dos ativos de conhecimento disponíveis e suas relações com as tecnologias,

processos e ações futuras planejadas.

O sexto tipo (f) é o planejamento de programas, com foco na implantação da

estratégia. É relacionado ao planejamento de projetos dentro de um determinado

programa de P&D, mostrando as relações do desenvolvimento de uma tecnologia e as

fases e marcos do programa. Um exemplo desta aplicação é o programa da NASA

denominado Telescópio Espacial de Nova Geração (Next Generation Space Telescope –

NGST).

O sétimo tipo (g) é o planejamento de processos. Esta aplicação permite a gestão

do conhecimento com foco em um determinado processo, por exemplo,

desenvolvimento de produto. Relacionando a evolução do processo, com as mudanças

no mercado e nas tecnologias que o suportam.

Page 124: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

113

Por fim, a oitava e última aplicação (h) é o planejamento de integrações. Este

foca na integração e evolução das tecnologias em termos de como diferentes tecnologias

se combinam em produtos e sistemas, formando novas tecnologias.

Produtos

Tecnologias

Mercado

Negócio

Produto

Tecnologia

Habilidades

Organização

Objetivos de negócios

Projetos ‘de ponta’e ações

Viabilizadoresde gestão de conhecimento

Perspectiva comercial

Processo de negócio

(ex. NPD)

Perspectiva técnica

Processos relacionados a conhecimentos

Ativos de conhecimento

Desenvolvimentos tecnológicos

Pontos chave de decisão

Metas de projeto

Fluxo de projeto

Desenvolvimentos tecnológicos

Negócios & Drivesde mercado

Desenvolvimentos tecnológicos

Capacitações para alcançar os drivers

Questões

Componente/

subsistema

tecnológico

Protótipos/

Testes d

e

sistemasSist

ema/

demonstr

ativo

s

tecnológico

s

Sistema

in-service

a)

c)

e)

g)

b)

d)

f)

h)

Figura 24: Aplicações do roadmap tecnológico

Fonte: Phaal et al. (2004a, p.12)

É importante destacar que este grande número de aplicações e formatos se deve

em parte da falta de um estabelecimento de padrão de formato único de construção, mas

que a facilidade de adaptação para o uso em determinadas situações é, sem dúvida, uma

virtude desta técnica. Ressalta-se também, que nem todas as aplicações devem se

Page 125: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

114

encaixar perfeitamente em uma destas oito categorias apresentadas. Híbridos destes

propósitos devem ser considerados no projeto de soluções específicas.

Assim como as aplicações e formatos, a construção do roadmap pode ser

conduzida de diversas maneiras. Entretanto, essa não deve ser uma questão

negligenciada, uma vez que o processo de discussão e elaboração do roadmap é o que

gera um entendimento comum e uma uniformização da visão da organização. Radnor e

Probert (2004) destacam essa importância quando afirmam: “é o processo de

roadmapping que agrega valor; o foco não pode ser apenas no roadmap”.

Phaal et al. (2004a) propõem um processo padrão para desenvolvimento de

roadmaps com foco em planejamento de produtos denominado T-plan. Este é

apresentado na Figura 25 e é composto por quatro workshops. Os três primeiros focam,

cada um em uma das camadas do roadmap – mercado, produtos e tecnologias – e o

último foca na integração das informações geradas em cada um deles para a geração do

mapa com a escala temporal. Este processo é, naturalmente, uma orientação, e deve ser

customizado em função das características da organização, objetivos, setor e outras

variáveis impactantes. No caso de um setor passando por novas descobertas científicas,

a ordem dos workshops poderia ser invertida para dar um foco maior na perspectiva

empurrada (technology push).

MERCADO PRODUTOS TECNOLOGIAS ROADMAPPING

WS 1 WS 2 WS 3 WS 4

•Dimensões de performance•Drivers de mercado•Posicionamento•SWOT•Gaps

•Funcionalidades do produto•Agrupamento•Ranking de impacto•Estratégia de produto•Gaps

•Soluções tecnológicas•Agrupamento•Ranking de impacto•Gaps

•Ligar tecnologias aos recursos, aos mercados•Gaps

Preparação do processo

Gerindo o processo

Acompanhamento a partir do processo

MERCADO PRODUTOS TECNOLOGIAS ROADMAPPING

WS 1 WS 2 WS 3 WS 4

•Dimensões de performance•Drivers de mercado•Posicionamento•SWOT•Gaps

•Funcionalidades do produto•Agrupamento•Ranking de impacto•Estratégia de produto•Gaps

•Soluções tecnológicas•Agrupamento•Ranking de impacto•Gaps

•Ligar tecnologias aos recursos, aos mercados•Gaps

Preparação do processo

Gerindo o processo

Acompanhamento a partir do processo

Figura 25: T-plan fast start approach

Fonte: Phaal et al. (2004a, p.16)

Page 126: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

115

Como já destacado, os inúmeros propósitos que podem ser associados ao

roadmap, combinados com as especificidades de cada organização, que vão possuir

características particulares em relação ao seu contexto de negócio, cultura, recursos e

tipos de tecnologias, exigem uma customização desta técnica. Lee e Park (2005)

apresentam um extenso trabalho sobre customizações do roadmap com base no

propósito de uso da técnica. Phaal et al. (2004a) propõem que o roadmap genérico pode

ser customizado nas seguintes dimensões:

1. Tempo: Esta dimensão pode ser adaptada para se adequar aos horizontes

do setor em questão. Estes serão, por exemplo, mais curtos em setores

como softwares e mais longos em setores como farmacêutico e

aeroespacial. Para horizontes muito longos é possível o uso de escalas

logarítmicas, com maior espaço para curto e médio prazo. Normalmente

é interessante também alocar espaço para a definição de uma visão de

horizonte muito longo por parte dos participantes envolvidos na

construção.

2. Camadas: As camadas definem o eixo vertical do roadmap. Elas são

críticas, pois definem os pontos a serem tratados e explorados no

processo de planejamento. A Figura 26 apresenta uma arquitetura que

pode orientar o processo de customização do roadmap, caracterizando a

flexibilidade desta técnica. As camadas superiores estão relacionadas aos

propósitos organizacionais (know-why); as camadas inferiores, aos

recursos, em especial os conhecimentos tecnológico, que serão utilizados

para alcançar as demandas das camadas superiores (know-how); e as

camadas intermediárias, por sua vez, são cruciais para determinar os

mecanismos pelos quais estes recursos alcançam os propósitos (know-

what).

Page 127: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

116

Mercado / Clientes / Competidores /Ambiente / Indústria /

Negócio / Tendências / Direcionadores / Ameaças /Objetivos / Metas / Estratégia

Produtos / Serviços / Aplicações /Serviços / Capacitações / Performance

Características / Componentes / Famílias /Processos / Sistemas / Plataformas /

Oportunidades / Requerimentos / Riscos

Tecnologia /Competências /Conhecimento

Outros recursos:Habilidades / Performance / Fornecedores /Instalações / Infra-estrutura / Organização /

Padrões / Ciência / Finanças / Projetos de P&D

Agora Planos Futuro VisãoPassado

‘recursos’(know-how)

‘entrega’(know-what)

‘propósito’(know-why)

(know-when)

Tempo

Figura 26: Arquitetura para generalização do roadmap

Fonte: Phaal et al. (2004a, p.18)

3. Anotações: adicionalmente às informações contidas nas camadas, outros

artifícios gráficos e textuais, como cores e caixas de texto, podem ser

utilizados para complementar o roadmap.

4. Processo: a seqüência de etapas utilizadas no processo de formulação e

na posterior manutenção do roadmap também pode variar

consideravelmente. Entretanto, como destacado por Radnor e Probert

(2004), é importante que este seja realizado de forma bastante

colaborativa, pois é a discussão realizada na sua montagem o principal

fator de agregação de valor para a organização.

Destaca-se que nesta proposta de solução de aplicação, o roadmap recebe um

papel de destaque como elemento de governança de todas as ações de desenvolvimento

tecnológico, o que está em pleno alinhamento com a proposta de Radnor e Probert

(2004):

Page 128: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

117

“Roadmapping precisa ser reconhecido como uma ferramenta de gestão

central que pode ajudar a suportar integração com outras necessidades

estratégicas e processos operacionais de gestão.”

A definição de Clemente (2006a) também ressalta a importância deste processo

e da capacidade de articulação desta técnica:

“Roadmap é o resultado de um método de planejamento que considera

diversas perspectivas, discutindo a integração destas ao longo do tempo. Este

processo suporta a organização na tomada de decisões estratégicas relativas à

alocação de recursos, portfólio de produtos, respostas às tendências de

mercado e trajetórias tecnológicas, de forma articulada, consistente e com

grande poder de comunicação.”

O roadmap contribui ainda para a construção de uma visão compartilhada de

toda a organização, aumentando o estado de alerta e a capacidade de percepção dos

profissionais em relação ao ambiente externo e às potenciais implicações internas que os

eventos podem ter. Phaal et al. (2004a, p.23) destaca:

“O processo traz pessoas de diferentes partes da organização,

proporcionando uma oportunidade para compartilhar informações e

perspectivas e propiciando um veículo para uma consideração holística dos

problemas, oportunidades e novas idéias.”

A proposta de uso do roadmap como um instrumento de governança de todo o

desenvolvimento tecnológico implica algumas diretrizes para sua construção. Um ponto

importante é que as ações nele definidas devem suportar a definição de ações claras, ou

projetos, a serem desenvolvidos pela organização. Outro requisito é que as informações

nele discutidas devem orientar o monitoramento do ambiente, o que exige uma forte

preocupação com atores relevantes, ações concorrentes, hipóteses a serem falseadas,

entre outras. Para ilustrar esta visão, a Figura 27 apresenta uma proposta de estrutura de

Page 129: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

118

roadmap. O detalhamento de cada um dos objetos que o compõe está apresentado no

ANEXO I.

visão

1610 05030201 anos

Mercado Tendências

Produtos

TecnologiaCapacitações

Pesquisa de base

Projeto

Eventos

MarcosAções

internas

Ações externas

Internamente ao projeto, pode-se utilizar uma lógica específica de gestão de projetos

Trilha de confirmação

H5 H6

H7

H4H3

H2

H1Eventos sugeridos

Atores relevantes

Produto Real que decidiu-se fazerAções internas

Produto Real que decidiu-se não fazer

Figura 27: Proposta de estrutura de roadmap

Algumas características do instrumento proposto devem ser ressaltadas:

• A escala temporal – tal escala traduz o horizonte de tempo para o qual a

organização se proporá a “olhar” e planejar suas ações, e, portanto, deve

ser definida cuidadosamente, levando em conta as particularidades e

características do mercado em que a empresa está inserida. O horizonte

de 16 anos exibido na figura é ilustrativo.

• Há um campo específico para a delimitação da visão da empresa – neste

campo devem ser inseridas as percepções dos especialistas da

organização sobre as tendências e cenários de mercado e do ambiente em

geral.

Page 130: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

119

• A estrutura de desdobramento da camada de mercado para as camadas

inferiores foi mantida. Porém, é plenamente aceitável e importante que as

lógicas de desdobramento top-down (das camadas superiories para as

camadas inferiores) e construção bottom-up (das camadas inferiores para

as superiores, como no caso em que uma inovação pode gerar um novo

mercado) coexistam.

• A perspectiva de projetos permite a consolidação de uma atividade de

planejamento, que notadamente possui um grande horizonte de tempo,

com ações concretas executadas no presente. Tal característica enfatiza a

construção do futuro da organização como um processo contínuo de

reflexão e formulação estratégica e de adequação de trajetória.

Tais aspectos são ressaltados pela Figura 28:

Cam

adas

Escala temporal

Visão: devem ser definidas as opiniões dos especialistas em relação a evolução da indústria para além do horizonte temporal

Perspectiva de projetos

Estrutura desdobrada

Consolidação das atividades realizadas internamente na perspectiva de projeto.

visão

1610 05030201 anos

Mercado Tendências

Produtos

TecnologiaCapacitações

Pesquisa de base

Projeto

Eventos

MarcosAções

internas

Ações externas

Internamente ao projeto, utilizar uma lógica PMI ou outro modelo

Trilha de confirmação

H5 H6

H7

H4H3

H2

H1Eventos sugeridos

Atores relevantes

Produto Real que decidiu-se fazerAções internas

Produto Real que decidiu-se não fazer

Figura 28: Características do roadmap proposto

Desta forma, o roadmap assume papel central na solução proposta, servindo

como o principal instrumento para formulação do planejamento, acompanhamento das

ações realizadas, integração das diversas ações que podem adquirir conhecimentos

Page 131: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

120

externos, orientação para monitoramento e prospecção no ambiente e, por fim, e de

grande importância, geração de visão compartilhada do futuro da organização.

4.4.3. Tech mining

De acordo com Porter e Cunningham (2005) tech mining é a aplicação de

técnicas de mineração de texto (text mining) em informações de ciência e tecnologia,

direcionado para o entendimento do processo de inovação tecnológica.

Yoon e Park (2005) destacam que a mineração de dados (data mining) é uma

técnica para acessar e extrair conhecimento de uma base de dados. Aplica aprendizado

computacional e técnicas de análise estatística para o descobrimento automático de

padrões. A maior parte destes esforços, no entanto, foi realizada para extrair

informações de uma base estruturada, o que faz com que a utilidade destas técnicas seja

muito limitada quando usada em grandes volumes de documentos de texto não

estruturados. Para tratar este problema, a mineração de texto (text mining) é uma técnica

mais nova, desenvolvida para tratar este tipo de informação desestruturada. No text

mining uma série de “etiquetas” são colocadas nos textos e as operações de descoberta

são realizadas sobre elas.

Estas análises normalmente são realizadas sobre um grande volume de

informações, explorando-as para encontrar padrões, detectar associações e prever

oportunidades. Ressalta-se que o tech mining deve ser utilizado como suporte a um

conjunto de outras análises, como destacado na Tabela 10, e não deve ser utilizado de

forma completamente automática, sem interferência e interpretação de especialistas

(PORTER e CUNNINGHAM, 2005).

Page 132: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

121

Tabela 10: Análises que podem ser suportadas pelo tech mining

Fonte: Porter e Cunninghan, 2005

(A)Monitoramento tecnológico (também conhecido como observação tecnológica ou monitoramento do ambiente) - catalogação, caracterização e interpretação das informações tecnológicas

(B) Inteligência competitiva - achar "quem esta fazendo o que?"

(C) Previsão tecnológica - antecipar possíveis trajetórias de desenvolvimento para determinadas tecnologias

(D) Roadmap tecnológico - traçar a evolução de tecnologias e famílias de produtos

(E) Avaliação de tecnologia - antecipar possiveis consequências indiretas de mudanças tecnológicas particulares

(F) Planejamento tecnológico - planejamento estratégico com ênfase nos papéis da tecnologia e prioridades

(G) Gestão do processo tecnológico - manter o envolvimento das pessoas para tomar decisões sobre tecnologias

(H) Indicadores de ciência e tecnologia - series temporais que acompanham avanços em capacitações tecnológicas

Para tornar mais claro como o tratamento destas informações pode apoiar o

processo de planejamento, e no caso específico desta solução, a elaboração do roadmap,

pode-se destacar algumas das informações mais comumente usadas para suportar

decisões estratégicas e de assimilação de conhecimentos:

• Times: Padrões de co-autoria podem apoiar a identificação de times de

desenvolvimento e indivíduos centrais (importante para entender a rede de

conhecimento dos competidores);

• Comunidade de pesquisa: representa o corpo de conhecimento coletivo citado

pelo conjunto de documentos com seus respectivos autores e atividades de

pesquisa. Estas informações ajudam a identificar a extensão desta comunidade e

a proeminência de alguns indivíduos;

• Análise de co-citações: identifica as fronteiras de pesquisa, baseados nos

documentos e termos que são citados em conjunto por outros documentos;

• Reconhecimento: citações aos trabalhos da organização (e.x. autores, instituição

etc.) é uma métrica de valor atribuído a pesquisa realizada pela organização;

Page 133: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

122

• Transferência de conhecimento: Citações a um corpo de conhecimento podem

ser organizadas para verificar que campos estão recorrendo a estes resultados ou

utilizando-se dos métodos;

• Expertise: Quais autores (ou instituições ou países ou outras unidades) lidam

com cada um dos tópicos?

• Análise de clusters: Procedimentos estatísticos podem apoiar a identificação de

que tópicos tendem a co-ocorrer, implicando em relação entre eles;

• Auto-suficiência: a extensão em que os atores citam seus próprios trabalhos

(especialmente patentes, mas também artigos) é importante para determinar

interdependências (especialmente importante para Propriedade Intelectual);

• Colaboração: a extensão em que instituições trabalham juntas;

• Fontes principais: que periódicos ou conferências são mais citadas pelos

documentos, indicando forte suporte nestas fontes. Estas podem ser refinadas

para identificar fontes principais para tópicos particulares;

• Fator de impacto: quais periódicos são mais citados, implicando que seus artigos

exercem maior influência;

• Atualidade: O que é mais atual? Busca por padrões temporais de atividades.

• Ritmo de pesquisa: Definir que proporções das citações, para e por, são mais

recentes. Esta análise indica o quão rápido o domínio de P&D está se movendo

(válido para patentes e para publicações);

• Engajamento: Para definir quando uma organização ou país continua ativamente

envolvido na pesquisa e desenvolvimento no domínio em questão;

O conhecimento derivado destas análises ajuda na realização de melhores planos

e no suporte a tomada de decisão, facilitando a adequação da organização ao ambiente

em que se insere. O ANEXO II apresenta uma relação das perguntas que podem ser

realizadas ao longo dos processos de planejamento, desenvolvimento e difusão dos

conhecimentos e como estas se rebatem em análises de tech mining. Destaca-se ainda,

que a realização destas análises também possui um caráter cumulativo, ao longo dos

anos as buscas e tratamentos realizados formam uma importante base de conhecimento

para a organização.

Page 134: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

123

Para operacionalizar o tech mining, Porter e Cunninghan (2005) sugerem que o

processo de busca e análise de informações pode ser apresentado em nove passos

principais. A Figura 29 a seguir apresenta uma breve descrição de cada passo.

Nesta etapa o analista deve tabular, gerar gráficos, diagramas e textos para divulgar os resultados para o solicitante

7. Representação

Nesta fase os dados tratados nas análises básicas são trabalhados segundo modelos estatísticos e outras combinações, para que se possa reconhecer padrões e ainda, realizar inferências sobre a tecnologia

6. Análises avançadas

Nesta fase é importante que se ofereça suporte para leitura e interpretação das informações disponibilizadas pelo solicitante

8. Interpretação

Nesta fase são realizadas análises para eliminar redundâncias e variações desnecessárias nos dados

4. Limpeza dos dados

Nesta fase são iniciadas as análises nos dados. Dentre estas análises básicas, podemos listar: análise exploratória, limpeza adicional dos dados, elaboração de listas e combinação de listas em matrizes

5. Análises básicas

9. Utilização

3. Refinamento da busca e obtenção dos dados

2. Seleção das fontes de informação

1. Identificação dos objetivos

Passos do processo

Nesta fase o solicitante utilizará as informações para tomar decisões em suas atividades. É importante que os diversos usos dos resultados da prospecção devem ser acompanhados e conhecidos pela estrutura de prospecção, de forma a facilitá-la na identificação das informações necessárias ao suporte da ação

Nesta fase são formuladas queries para extrair documentos destas bases. Nesta fase podem ocorrer interações com o solicitante para refinar as buscas e os resultados

Nesta fase é necessário identificar que tipos de base serão pesquisadas (periódicos, patentes etc.) e quais bases mais apropriadas

Nesta fase é importante que sejam entendidos os objetivos da pesquisa e que seja realizada alguma interação com o solicitante para entendimento detalhado da busca a ser realizada

Descrição

Nesta etapa o analista deve tabular, gerar gráficos, diagramas e textos para divulgar os resultados para o solicitante

7. Representação

Nesta fase os dados tratados nas análises básicas são trabalhados segundo modelos estatísticos e outras combinações, para que se possa reconhecer padrões e ainda, realizar inferências sobre a tecnologia

6. Análises avançadas

Nesta fase é importante que se ofereça suporte para leitura e interpretação das informações disponibilizadas pelo solicitante

8. Interpretação

Nesta fase são realizadas análises para eliminar redundâncias e variações desnecessárias nos dados

4. Limpeza dos dados

Nesta fase são iniciadas as análises nos dados. Dentre estas análises básicas, podemos listar: análise exploratória, limpeza adicional dos dados, elaboração de listas e combinação de listas em matrizes

5. Análises básicas

9. Utilização

3. Refinamento da busca e obtenção dos dados

2. Seleção das fontes de informação

1. Identificação dos objetivos

Passos do processo

Nesta fase o solicitante utilizará as informações para tomar decisões em suas atividades. É importante que os diversos usos dos resultados da prospecção devem ser acompanhados e conhecidos pela estrutura de prospecção, de forma a facilitá-la na identificação das informações necessárias ao suporte da ação

Nesta fase são formuladas queries para extrair documentos destas bases. Nesta fase podem ocorrer interações com o solicitante para refinar as buscas e os resultados

Nesta fase é necessário identificar que tipos de base serão pesquisadas (periódicos, patentes etc.) e quais bases mais apropriadas

Nesta fase é importante que sejam entendidos os objetivos da pesquisa e que seja realizada alguma interação com o solicitante para entendimento detalhado da busca a ser realizada

Descrição

Figura 29: Passos do processo de análise de informações técnicas

Fonte: Porter e Cunninghan (2005)

Um dos pontos críticos deste processo é a definição das questões a serem

investigadas (queries). É fundamental a participação de profissionais que possuam

experiência nos temas pesquisados, como ressaltado por Cohen e Levinthal (1990) em

relação ao papel da base de conhecimento do indivíduo, para que abordem as diversas

nuances do tema. Como será visto adiante, os gatekeepers exercem um papel

fundamental neste momento. Os roadmaps também são importantes direcionadores para

definição do escopo e das direções em que as prospecções devem ser realizadas.

Page 135: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

124

Algumas diretrizes operacionais são importantes para esta tarefa. Primeiro, a

definição da linguagem a ser utilizada na busca depende da base onde será realizada a

consulta. Uma base de periódicos exige uma busca com termos científicos, enquanto

uma base de jornais de negócios exige uma busca com linguagem natural. Segundo, é

importante que se façam buscas redundantes com diferentes termos semelhantes e que

os resultados sejam comparados. Desta forma evita-se desconsiderar pontos

importantes. Terceiro, a realização de análises rápidas de todos os documentos ou

resumos pode contribuir para identificação de ou outros termos para realimentar a

busca. Por fim, é fundamental que se faça uma revisão dos resultados com um

especialista no tema para identificar se a busca está suficiente ou se é necessário ampliá-

la, reduzi-la ou redirecioná-la. A Figura 30 a seguir apresenta as queries indicadas para

cada um dos tipos de estudos que podem ser realizados com o suporte das buscas.

Diversas pesquisas amplas em diferentes tecnologias e os tratamentos de contextos necessários

Foresight tecnológico – planejamento estratégico nacional para uma tecnologia

Normalmente amplo, procurando novas direções, cruzando C&T com fatores de contexto para estimular o pensamento criativo

Gestão do processo tecnológico – manter as pessoas envolvidas para tomar decisões a respeito da tecnologia

Normalmente composta – ampla cobertura de uma tecnologia central aumentada de exploração da maturidade de componentes e tecnologias

Roadmapping tecnológico – acompanhar mudanças em famílias de produtos

Pesquisa ampla, para levantar influências de contexto e seus efeitos

Impactos tecnológicos – antecipar as possíveis conseqüências ou novos usos de uma tecnologia nova ou alterada

Indicadores de C&T

Forecasting tecnológico – antecipar desenvolvimentos futuros

Inteligência competitiva tecnológica – achar quem está fazendo o que

Monitoramento tecnológico – catalogar as atividades de desenvolvimento tecnológico

Estudos a serem suportados

Interesses amplos em tecnologias

Normalmente baseadas em termos – exploração bastante específica de tecnologias relacionadas

Normalmente nominal (autor, instituição, país etc.) ou um mix entre nominal e baseadas em tópicos específicos

Baseadas em termos; busca ampla em uma tecnologia alvo

Queries sugeridas

Diversas pesquisas amplas em diferentes tecnologias e os tratamentos de contextos necessários

Foresight tecnológico – planejamento estratégico nacional para uma tecnologia

Normalmente amplo, procurando novas direções, cruzando C&T com fatores de contexto para estimular o pensamento criativo

Gestão do processo tecnológico – manter as pessoas envolvidas para tomar decisões a respeito da tecnologia

Normalmente composta – ampla cobertura de uma tecnologia central aumentada de exploração da maturidade de componentes e tecnologias

Roadmapping tecnológico – acompanhar mudanças em famílias de produtos

Pesquisa ampla, para levantar influências de contexto e seus efeitos

Impactos tecnológicos – antecipar as possíveis conseqüências ou novos usos de uma tecnologia nova ou alterada

Indicadores de C&T

Forecasting tecnológico – antecipar desenvolvimentos futuros

Inteligência competitiva tecnológica – achar quem está fazendo o que

Monitoramento tecnológico – catalogar as atividades de desenvolvimento tecnológico

Estudos a serem suportados

Interesses amplos em tecnologias

Normalmente baseadas em termos – exploração bastante específica de tecnologias relacionadas

Normalmente nominal (autor, instituição, país etc.) ou um mix entre nominal e baseadas em tópicos específicos

Baseadas em termos; busca ampla em uma tecnologia alvo

Queries sugeridas

Figura 30: Buscas sugeridas por tipo de estudo

Fonte: Porter & Cunningham (2005)

A partir das informações obtidas nas buscas, dois tipos de análise podem ser

realizados. As análises básicas são caracterizadas por se tratarem de relatórios a partir

dos dados, ou seja, são informações geradas de forma simples e pragmática a partir dos

Page 136: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

125

dados coletados. As análises avançadas estendem as análises básicas e descritivas para

realizar inferências sobre relações entre os dados, indo além de simplesmente listá-los

ou contá-los. No cerne deste tipo de análise está a modelagem dos dados, permitindo

que se observem padrões emergentes. Estes padrões também podem ser denominados

“variáveis escondidas” ou implícitas. Ou seja, não podem ser medidas ou contadas

diretamente. Estas variáveis são construtos conceituais que ajudam a explicar as

relações entre os dados disponíveis (PORTER e CUNNINGHAN, 2005).

Ressalta-se que estas análises estão fortemente suportadas por modelagem

estatísticas dos dados, com modelos de regressão e ajustes a distribuições de

probabilidade. Para um maior aprofundamento do tema sugere-se consulta a Daim et al.

(2006), Yoon e Park (2005) e Fattori et al. (2003). Dentre estas análises, pode-se

ressaltar seis principais construtos e as medidas empíricas que os suportam, conforme

apresentado na Figura 31.

Incrementos de conhecimento ao longo do tempo. Aprendizado pode envolver incorporação de novas teorias ou conceitos e/ou resultados empíricos em um determinado campo de pesquisa. Acumulação de novas idéias são refletidas nos conteúdos de publicações ou patentes de um domínio de P&D

Ênfase em métodos ou tópicos

Aprendizado

Conhecimento técnico reflete estruturas (métodos, conceitos, abordagens, idéias) associados com disciplinas particulares, campos, ou escolas de pensamento. O vocabulário técnico específico normalmente difere e é refletido nos termos usados nas publicações. Prevalência de artigos de um determinado campo em periódicos particulares podem indicar estruturas de conhecimento dominantes

Ênfase em métodos ou tópicos (termos utilizados); popularidade de periódicos e conferências

Estrutura do conhecimento

Produção de conhecimento

Colégios invisíveis

Ciclo de vida de idéias

Prestígio

Construto

Publicações e patentes; afiliação de autores e inventores ao longo do tempo

Ênfase em tópicos do conteúdo; ênfase de métodos; padrões de co-autoria e citações

Tendências de patente ou publicações; tendências de citação

Citações

Medida empírica

Memórias de pesquisa mantidas pelas instituições. Continuidade da ênfase em uma pesquisa ao longo do tempo deriva de seleção, treinamento especial e colaboração. Network interno e externo reforçam a ênfase na pesquisa e alavancam a produtividade.

Escolas de pensamento desenvolvidas nas diferenças entre teorias ou métodos. Análise de conteúdo pode identificar o uso de conceitos chave. Idéias compartilhadas também refletem nas redes interpessoais. Alguns autores se tornam centrais na comunidade, como explicitado nas co-autorias e nas citações aos seus trabalhos

Atenção para surgimento e desaparecimento de questões particulares (ciclo de vida). Novas ferramentas ou novas descobertas podem disparar umaavalanche de P&D em certos campos ou iniciar novos campos. Podemos tratar o crescimento e difusão de idéias com modelos epidemiológicos

Reconhecimento mostrado pela comunidade de profissionais pertinente p.ex. periódicos fortemente citados por outros periódicos de prestígio; autores citados por seus pares

Descrição

Incrementos de conhecimento ao longo do tempo. Aprendizado pode envolver incorporação de novas teorias ou conceitos e/ou resultados empíricos em um determinado campo de pesquisa. Acumulação de novas idéias são refletidas nos conteúdos de publicações ou patentes de um domínio de P&D

Ênfase em métodos ou tópicos

Aprendizado

Conhecimento técnico reflete estruturas (métodos, conceitos, abordagens, idéias) associados com disciplinas particulares, campos, ou escolas de pensamento. O vocabulário técnico específico normalmente difere e é refletido nos termos usados nas publicações. Prevalência de artigos de um determinado campo em periódicos particulares podem indicar estruturas de conhecimento dominantes

Ênfase em métodos ou tópicos (termos utilizados); popularidade de periódicos e conferências

Estrutura do conhecimento

Produção de conhecimento

Colégios invisíveis

Ciclo de vida de idéias

Prestígio

Construto

Publicações e patentes; afiliação de autores e inventores ao longo do tempo

Ênfase em tópicos do conteúdo; ênfase de métodos; padrões de co-autoria e citações

Tendências de patente ou publicações; tendências de citação

Citações

Medida empírica

Memórias de pesquisa mantidas pelas instituições. Continuidade da ênfase em uma pesquisa ao longo do tempo deriva de seleção, treinamento especial e colaboração. Network interno e externo reforçam a ênfase na pesquisa e alavancam a produtividade.

Escolas de pensamento desenvolvidas nas diferenças entre teorias ou métodos. Análise de conteúdo pode identificar o uso de conceitos chave. Idéias compartilhadas também refletem nas redes interpessoais. Alguns autores se tornam centrais na comunidade, como explicitado nas co-autorias e nas citações aos seus trabalhos

Atenção para surgimento e desaparecimento de questões particulares (ciclo de vida). Novas ferramentas ou novas descobertas podem disparar umaavalanche de P&D em certos campos ou iniciar novos campos. Podemos tratar o crescimento e difusão de idéias com modelos epidemiológicos

Reconhecimento mostrado pela comunidade de profissionais pertinente p.ex. periódicos fortemente citados por outros periódicos de prestígio; autores citados por seus pares

Descrição

Figura 31: Construtos

Fonte: Porter & Cunningham (2005)

Page 137: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

126

O tech mining, portanto, se configura em um dos principais mecanismos de

identificação de conhecimentos externos, contribuindo para: (1) enriquecer as

informações disponíveis para o processo de planejamento tecnológico, tanto para sua

formulação quanto para o seu monitoramento; (2) acessar informações para resolução

de problemas específicos no processo de desenvolvimento; (3) alimentar o processo de

difusão de conhecimentos com informações relevantes e atualizadas.

4.4.4. Gatekeeper

O conceito de gatekeeper foi originado nas pesquisas de Allen (1977), que

constataram que a maior parte das informações utilizadas para inovação era oriunda de

fontes externas. Para Allen (1977, p.5):

“O tecnologista precisa obter sua informação através da difícil tarefa de

decodificar e traduzir informações fisicamente codificadas ou através de

contato e comunicação pessoal direto com outros tecnologistas.”

Savioz e Blum (2002) afirmam que uma empresa inovadora deve identificar

profissionais que estão em constante contato com pares fora da organização e

demonstram habilidades de comunicação acima da média, de forma tal que são

frequentemente demandados para ajudar e para compartilhar seus conhecimentos com

outras pessoas, criando uma rede de comunicação. Esses profissionais, os gatekeepers,

“atuam como a interface entre a organização e o ambiente tecnológico” (TSCHIRKY,

1998, p.354, apud. SAVIOZ e BLUM, 2002).

Algumas características são importantes para a definição de um gatekeeper: (i)

deve ser alguém com grande reconhecimento interno em relação ao assunto, ou seja, um

especialista; (ii) idealmente deve recrutado internamente, pois já possui o

relacionamento e reconhecimento interno; (iii) deve possuir habilidades de

relacionamento interpessoal e comunicação. Além da especificidade do perfil algumas

Page 138: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

127

políticas organizacionais devem ser adotadas para garantir a eficácia do trabalho do

gatekeeper, como por exemplo, mecanismos de reconhecimento e incentivos para este

tipo de atuação.

Um dos seus trabalhos é transformar as informações técnicas em conhecimentos

que sejam entendidos pelos seus colegas na organização. Gatekeepers são importantes

porque grupos diferentes têm diferentes mapas mentais, linguagens e tempos

(DOUGHERTY, 1992). Já Hillebrand e Biemans (2004) sugerem que os gatekeepers

“traduzem” esquemas de codificações diferentes, de forma que o conhecimento possa

ser difundido entre os diferentes grupos de uma organização.

A figura do gatekeeper tem dois principais papéis: produzir e promover

informações na organização. Esta pessoa deve atuar como um nó de coordenação

referente a determinado assunto, catalisando o processo de trocas de experiências e de

difusão de informações por todos os profissionais.

Harada (2003) ressalta que para exercer esse papel com efetividade o gatekeeper

precisa estar conectado a transformação interna de conhecimento, de forma tal que

consiga transformar a informação em conhecimento específico da organização. Por estar

diretamente ligado às atividades de desenvolvimento, possui pleno conhecimento das

necessidades, estando apto a direcionar as ações de prospecção tecnológica. Ele deve ser

responsável por: (i) acompanhar os principais acontecimentos no assunto de sua

responsabilidade; (ii) formar redes de relacionamento com pesquisadores e profissionais

de referência do seu campo; (iii) participar dos congressos e eventos no tema; (iv)

participar de comunidades virtuais (invisible colleges); (v) realizar a leitura dos

principais periódicos; (vi) orientar buscas no processo de prospecção tecnológica; (vii)

organizar seminários, palestras e apresentações sobre o tema; (viii) se relacionar com os

pesquisadores e profissionais para coleta e difusão de informações e dificuldades

percebidas; (ix) participar do processo de planejamento; (x) promover a difusão nas

comunidades de práticas.

Page 139: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

128

Jones (2006) ressalta que o conhecimento adquirido pelos gatekeepers precisa

ser difundido para os profissionais com maior potencial de transformá-lo e explorá-lo.

Para tal, o gatekeeper precisa ter consciência de quem são estes profissionais e ter

mecanismos para acessá-los para transmitir o conhecimento. A realização de atividades

de integração que permitam o aumento do relacionamento interno entre os profissionais

e permitam que estes entendam as diferentes responsabilidades e competências das

diferentes áreas são fundamentais para tal. Essa afirmativa reforça a integração,

realizada nesta solução de aplicação, deste elemento com as técnicas de roadmap e com

as comunidades de práticas, que podem suportar o desenvolvimento da consciência de

quem sabe o que internamente na organização.

4.4.5. Comunidades de práticas

Lave e Wenger (1991) definem comunidade de práticas como uma associação de

praticantes, no qual o aprendizado situacional acontece, gerando como principais

resultados o estabelecimento de relações entre as pessoas, atividades e o mundo. Hislop

(2004, p.36) destaca três características que emergem das atividades compartilhadas: (1)

os participantes de uma comunidade possuem um estoque comum e compartilhado de

conhecimentos; (2) normalmente desenvolvem valores compartilhados e uma visão

comum de mundo; (3) os participantes desenvolvem um senso de identidade com a

comunidade.

Para Lesser e Fontaine (2004):

“Uma comunidade de prática é um grupo de indivíduos que

regularmente se engaja em compartilhar e aprender baseados nos seus

interesses ou métodos de trabalho comuns. Nessas comunidades, os indivíduos

interagem uns com os outros para resolver problemas, testar novas idéias,

aprender sobre novos desenvolvimentos nos seus campos e construir um senso

de identidade com outros em circunstâncias similares.”

Page 140: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

129

Estas comunidades podem ser geradas pelos próprios membros ou criadas pela

organização para estimular esta forma de troca entre os seus profissionais. Estas

comunidades, pelas suas habilidades de desenvolver relações e visões compartilhadas

entre os demandantes e os provedores de conhecimento, ajudam a resolver diversas

barreiras no compartilhamento de conhecimento.

De acordo com Fontaine e Milen (2004) diversas organizações como

BP/Amoco, IBM, Shell, Siemens, Johnson & Johnson e Bristol-Myers Squibb

desenvolveram iniciativas de comunidades de práticas como uma forma de aumentar o

compartilhamento de lições aprendidas, troca de insights e idéias, e a transferência de

expertise e experiência prática.

Uma pesquisa realizada por Millen, Fontaine e Muller (2002) com 431

participantes de comunidades obteve como resposta que 65% deles afirmavam que a

participação e o uso dos recursos e atividades da comunidade de prática aumentaram as

habilidades e o know-how individual. Outros 58% afirmaram que se tornaram mais

produtivos e economizaram tempo dos trabalhos que estavam envolvidos e 46%

indicaram o aumento da sensação de pertencer a organização.

Como benefícios coletivos, ou seja, para o grupo como um todo, os participantes

citaram o aumento da consciência (awareness) e do acesso à expertise e experiência dos

demais membros da comunidade. Ao saber quem na comunidade pode apoiar a

resolução de problemas e compartilhar experiências similares, os membros podem

utilizar essa comunidade como uma fonte de conhecimento (FONTAINE e MILLEN,

2004).

Lesser e Fontaine (2004) ressaltam que no centro da discussão de difusão do

conhecimento existem dois indivíduos: os que buscam conhecimento e os que fornecem

o conhecimento; aqueles que possuem ou sabem onde encontrar o conhecimento

demandado. A ligação entre este dois indivíduos define a efetividade da difusão do

conhecimento na organização. Cross, Parker, Prusak e Borgatti (2001) sugerem quatro

características que definem essa efetividade: (1) saber o que a outra pessoa sabe e,

Page 141: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

130

portanto, quando acioná-la; (2) ser capaz de acionar a pessoa no momento necessário;

(3) disposição da pessoa procurada em engajar na resolução do problema ao invés de

apenas despejar informação; (4) um grau de segurança na relação tal que promova o

aprendizado e a criatividade.

Utilizando-se destas características, Lesser e Fontaine (2004) definem quatro

barreiras para o compartilhamento de conhecimento que as comunidades de práticas

podem ajudar a suportar:

1. Consciência (awareness)

Na maior parte das grandes organizações, achar o expert em um determinado

assunto pode ser muito difícil. Esse problema se agrava em organizações com atuações

em diversas regiões e unidades de negócio. Os profissionais, principalmente os novos,

possuem poucas ferramentas para localizar potenciais fontes de conhecimento fora de

sua rede de relacionamentos.

Os profissionais que possuem algum conhecimento para compartilhar também

sofrem com este problema, uma vez que não têm uma visão de quem poderia se

beneficiar do seu conhecimento, tornando difícil agir pró-ativamente na difusão das

suas idéias.

As comunidades de práticas podem ajudar a eliminar este problema, pois criam

espaços únicos, físicos e/ou virtuais, no qual os profissionais podem encontrar e

interagir uns com os outros. Desta forma, ganham percepção e consciência dos seus

pares com interesses, habilidades e problemas semelhantes, através da exposição a uma

massa crítica de conhecimentos trocados na comunidade.

2. Acesso

Em muitas empresas, mesmo que a fonte e o demandante do conhecimento

tenham consciência um do outro, a difusão de conhecimento entre eles pode ser

Page 142: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

131

comprometida. É necessário um conjunto de mecanismos que incentivem o provedor de

conhecimentos a se engajar no compartilhamento, pois este é um processo que consome

tempo e esforço.

Outro problema muito encontrado é que um especialista pode ser consultado por

inúmeros demandantes, com questionamentos muito semelhantes de cada um deles.

Responder a cada uma destas individualmente, além de exigir um alto

comprometimento de tempo, pode impedir que questões mais relevantes alcancem o

especialista.

Neste caso, as comunidades podem ser de grande ajuda, pois regulam as

interações entre os demandantes e as fontes, sistematizando-as em atividades regulares

e com um alcance maior, como por exemplo, um treinamento ou workshop, reduzindo o

número de contatos individuais necessários.

3. Aplicação

Mesmo que os demandantes e os provedores de conhecimento se conectem e

compartilhem o conhecimento, não é possível garantir que o conhecimento foi

efetivamente entendido e posteriormente aplicado. Isso exige a habilidade de

transformar aquele conhecimento para a sua realidade e contexto específico.

Muitas vezes o receptor deste conhecimento não possui tempo ou experiência

suficiente para absorver o conhecimento transferido, o que prejudica sua futura

aplicação. Com medo disso, muitas vezes o provedor de conhecimento evita passar

conhecimentos que, se mal aplicados, possam ter seus resultados negativos atribuídos a

uma má orientação por ele dada.

Nestes casos, a comunidade de práticas contribui para que regularmente os

conhecimentos sejam discutidos e as experiências práticas sejam analisadas em seus

contexto, permitindo o diálogo permanente sobre situações práticas e a forma de

aplicação para resolução de problemas específicos.

Page 143: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

132

4. Percepção

Em ambientes muito competitivos, alguns profissionais podem evitar fazer

perguntas e solicitar assistência de outros por entenderem que isto pode expô-los. Isso

acaba por levá-los a não buscar as melhores respostas, mas apenas uma suficiente para a

resolução do problema. Este tipo de comportamento é normalmente originado dos

sistemas de incentivos e recompensas adotados pela organização, que dificilmente

incentiva que se perca tempo em apoiar profissionais fora de seu departamento.

As comunidades de práticas podem ajudar muito no desenvolvimento de uma

cooperação mútua entre os seus membros, gerando uma percepção de valor pelo esforço

de compartilhamento dos conhecimentos. A relação entre os membros gera relações de

respeito e reputação que são muito valorizadas por pesquisadores, gerando muita

visibilidade para as suas idéias. Também é possível o desenvolvimento de mecanismos

de reconhecimento público, com o reconhecimento de alguns indivíduos pelas

contribuições por eles aportadas para o grupo.

Desta forma, os autores propõem cinco diretrizes que podem orientar a

implantação de comunidades de práticas, a fim de tornar o compartilhamento de

conhecimento mais efetivo. A primeira delas é prover locais em que indivíduos novos

na organização ou naquele tema possam rapidamente encontrar os profissionais mais

experientes. Isso exige que os profissionais tenham tempo para participar de encontros,

sessões de treinamento e fóruns. É importante também que se invista em tecnologias

que permitam a conexão virtual dos participantes, nas quais se possa acessar os

conhecimentos armazenados em documentos, participar de discussões, enviar perguntas

e comentários e conhecer os demais membros da comunidade.

A segunda é a manutenção de uma base de informações sobre os membros da

comunidade, principais habilidades e interesses. O compartilhamento destas

informações facilita o contato inicial dos participantes, permitindo fácil acesso a todo

Page 144: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

133

histórico e características dos demais profissionais, encurtando a identificação de pares

com experiências e interesses similares.

A terceira diretriz é fazer com que as sugestões e materiais enviados ao

repositório de informações passem por um processo de avaliação, garantindo que a base

de conhecimento explícito é atual e contém material relevante para os membros.

A quarta orientação é promover um ambiente em que os participantes se sintam

confortáveis para testar idéias, sem receio de serem ridicularizados ou de apropriação

indevida de suas sugestões. A quinta e última recomendação é usar a comunicação e

mecanismos de reconhecimento para aumentar a visibilidade e reuso das contribuições

dos membros da comunidade.

Desta forma espera-se que as comunidades de práticas possam agir como um

importante agente de difusão de conhecimento para suportar o framework de aplicação

proposto.

4.5. Sobre o uso do framework de referência para

desenvolver a absorptive capacity

O framework de referência foi desenvolvido de forma a poder suportar

organizações em diferentes níveis de maturidade em relação à gestão da inovação

tecnológica. Para tal, possui três camadas articuladas que podem orientar o projeto da

solução específica a ser adotada pela organização.

A primeira camada, a representação do construto, deve orientar a

contextualização da organização. Verificando as características do ambiente em que se

insere, o nível de absorptive capacity já existente, os aspectos culturais dos seus

profissionais e demais direcionadores do construto. Com isso é possível determinar a

importância da absorptive capacity para aquela organização e a propensão da

Page 145: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

134

organização a desenvolvê-la. Este diagnóstico deve orientar o esforço a ser empregado

no desenvolvimento desta capacitação dinâmica.

A segunda camada, o framework de integração, deve orientar a organização a

levantar que atividades são realizadas nos processos de prospecção tecnológica,

planejamento tecnológico, difusão de conhecimento e desenvolvimento tecnológico e,

principalmente, verificar se os requisitos de integração entre eles são cumpridos. A

partir disto, soluções para garantir a integração devem ser projetadas. É importante

ressaltar que estes requisitos podem originar diversas soluções, dependendo das técnicas

já empregadas anteriormente na empresa, das características dos conhecimentos mais

relevantes naquele setor, dos aspectos culturais, entre outros. O importante é garantir

que estes processos não estão sendo realizados de forma isolada, mas sim, integrados.

Caso as integrações entre os processos não estejam em funcionamento, a organização

pode até desenvolver as capacitações de adquirir, assimilar, transformar e explorar, mas

mesmo assim a absorptive capacity estaria prejudicada, pois a falta de integração não

garantiria a dinamicidade necessária para reconfigurar a base de recursos na velocidade

exigida.

A terceira camada, a solução de aplicação, por sua vez, trata da proposição de

uma alternativa, dentre as muitas possíveis, para suportar o framework da segunda

camada. Esta é composta por uma combinação de técnicas que suportam por completo

os requisitos de integração propostos. Organizações que já se encontrem num estágio

mais desenvolvido em relação ao diagnóstico realizado na segunda camada podem

utilizar esta solução de forma fragmentada, combinando parte das técnicas para suprir

suas lacunas em relação aos requisitos de integração. Por outro lado, organização em

estágios muito iniciais em relação ao framework de aplicação, podem utilizar a solução

de aplicação de forma mais completa, realizando apenas as adaptações às suas

características específicas.

Desta forma, espera-se que um grande número de organizações possa se

beneficiar do framework de referência para desenvolver ou aprimorar a sua habilidade

Page 146: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

135

de adquirir, assimilar, transformar e explorar os conhecimentos disponíveis no ambiente

em que se inserem.

Page 147: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

136

5. VERIFICAÇÃO DO FRAMEWORK DE REFERÊNCIA

Como o objetivo desta dissertação é a proposição de um framework de

referência que possa orientar as organizações a desenvolverem a absorptive capacity, é

importante que este passe por uma verificação de aplicabilidade pelos executivos que

seriam os responsáveis por este tipo de questão. Neste capítulo, são apresentados os

resultados de três entrevistas e as percepções dos executivos em relação às contribuições

que o framework pode trazer.

5.1. A lógica de verificação do framework de referência

Para verificar a aplicabilidade do framework de referência proposto, foram

realizadas três entrevistas com executivos responsáveis por organizações com ações de

pesquisa e desenvolvimento. Buscou-se utilizar uma amostra com organizações de

setores com diferentes características em termos de dinâmica do ambiente de forma que

o framework pudesse ser confrontado e criticado por diferentes realidades. Foram

entrevistados executivos dos setores de vacinas e imunobiológicos, petróleo e energia

elétrica.

Foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas, nas quais os executivos19

assistiam a uma apresentação que contemplava uma rápida familiarização com os

conceitos e uma visão mais detalhada do framework proposto. Esta apresentação tinha

duração de aproximadamente trinta minutos. Em seguida quatro questões associadas as

camadas do framework eram discutidas:

• Quais as características do setor em relação à dinâmica e existência de

conhecimentos no ambiente? O quanto isso é importante para determinar o

sucesso da organização?

• Quais as contribuições que este modelo poderia trazer às ações da organização? 19 Os encontros tiveram duração média de 2 horas e 30 minutos.

Page 148: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

137

• Quais as lacunas percebidas no modelo?

• A organização realiza as ações presentes no modelo de forma estruturada e

integrada? O quão distante está disso?

As discussões motivadas por estas entrevistas, apesar de não serem suficientes

para garantir a validade do modelo proposto, permitem fazer algumas comparações e

especulações que poderão ser testadas em futuros trabalhos.

5.2. Os resultados das entrevistas

5.2.1. Entrevista com Empresa A do Setor de Vacinas e imunobiológicos

O setor de vacinas e imunobiológicos passou por grandes mudanças nos vinte

anos. Principalmente pela incorporação de técnicas da biotecnologia moderna, os

produtos passaram a ter maior valor agregado, o que despertou o interesse das grandes

empresas multinacionais nesse negócio. A HPV (Human Papilloma Viruses) é um

exemplo, uma dose custa U$$ 120,00 e são necessárias 3 doses para um tratamento.

O executivo, para ilustrar este crescimento do mercado, estima20 que nestes vinte

últimos anos, o mercado tenha passado de U$$ 1 bilhão para U$$ 10 bilhões. Este

crescimento também foi acompanhado pelo crescimento do investimento em P&D, o

que o executivo estima que, considerando os recursos públicos e privados, esteja na

ordem de U$$ 5 bilhões. Nos últimos anos pode-se perceber também, um aumento

significativo de publicações com novas técnicas mais modernas e eficientes.

Segundo as estimativas deste mesmo executivo, dentro de aproximadamente 10

a 15 anos, todas as técnicas atuais serão completamente substituídas. Considerando que

20 Os números citados estão baseados nas estimativas do executivo.

Page 149: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

138

este é um setor em que o desenvolvimento de um produto é muito longo, em média 14

anos para uma vacina, essa taxa de renovação é bastante elevada. Com essa dinâmica, se

uma organização não estiver fortemente antenada ao que está acontecendo

externamente, em alguns anos estará completamente fora do mercado.

O executivo ressaltou que já é perceptível que a assimilação de conhecimento

externo é determinante no setor, que tende inclusive a uma maior concentração. Devido

do alto risco e da forte incerteza da fase de descoberta, as multinacionais adotam uma

estratégia agressiva de aquisições de empresas menores. Estas empresas detêm o

domínio das tecnologias, mas possuem pouca estrutura e ativos complementares para

sustentar todo o processo de desenvolvimento até a colocação no mercado. Já as grandes

empresas, utilizam sua capacidade de compra como forma de incorporar este

conhecimento e através de sua estrutura e ativos complementares, colocá-lo no

mercado. Desta forma, reduzem os riscos dos investimentos na fase de descoberta.

Chesbrough (2006) e Pisano (2006) descrevem como as aquisições, parcerias e

licenciamentos de tecnologias são marcantes neste setor.

Em função deste contexto o executivo acredita que o framework de referência

pode contribuir para o desenvolvimento desta capacitação. Algumas características

foram destacadas na avaliação. A primeira, que a estrutura em três camadas facilita a

construção do entendimento de forma incremental, desde o contexto e dos

direcionadores organizacionais, até possíveis técnicas aplicadas. A segunda

característica ressaltada foi a passagem entre as capacitações e os processos de gestão

da inovação. De acordo com ele, para uma ampla adoção ou até mesmo uma iniciativa

de implantação deste framework é importante que se garanta o alinhamento do

entendimento dos diversos profissionais impactados. Passar de uma nomenclatura,

extremamente conceitual e com um nível alto de abstração, para uma com que estes já

estejam habituados no seu dia a dia, certamente facilita esse entendimento.

Outra virtude destacada por ele foi a definição dos requisitos de integração no

framework de aplicação. Estes podem orientar a construções de soluções mais

simplificadas do que a apresentada na terceira camada do framework, mas que busquem

Page 150: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

139

e estejam orientadas à alcançá-los por completo futuramente: “É uma ótima orientação.

Utilizá-lo como norte, mesmo que adotando uma solução mais simples no primeiro

momento, te ajudará a seguir no caminho certo para alcançar esse nível de integração

no futuro.” Desta forma, a solução pode ser construída e aprimorada incrementalmente,

à medida que os profissionais vão ganhando maior experiência e capacidade de

percepção (awareness) do ambiente e da organização. Este efeito cumulativo, muito

discutido por Cohen e Levinthal (1990), foi percebido e destacado pelo executivo, com

o entendimento que esta é uma solução que os maiores benefícios não podem ser

esperados no curto prazo. É preciso tempo e diversos ciclos para que se forme massa

crítica nos indivíduos que suportarão o funcionamento desta solução

.

Desta forma, o executivo apresentou grande preocupação com os modelos

mentais dos profissionais. Apesar do próprio funcionamento do framework impactar

positivamente a formação da visão sistêmica e o acesso aos conhecimentos externos, ele

acredita que a sua implantação sem uma devida intervenção nos mecanismos de

incentivos, pode reduzir fortemente o seu potencial.

Outro ponto fundamental é que essa solução tem um efeito cumulativo em

relação à experiência prática dos indivíduos, “não adianta apenas envolver o mais

especializado PhD que ele não vai conseguir planejar bem.” Esse modelo, em especial

o roadmap, por integrar as várias perspectivas (mercado, produtos, tecnologias, entre

outras) e ser construído de forma colaborativa, pode contribuir muito para formar a

visão prática nos profissionais, pois são defrontados com problemas de outras áreas,

forçados a gerar consistências entre as ações, priorizar o que é melhor para a

organização como um todo e não para o “seu” laboratório e o “seu” assunto de pesquisa,

entre outras.

O executivo citou também, que por se tratar de uma instituição pública e

portanto, não possuir os mecanismos de incentivo utilizados em uma empresa privada,

como a participação nos lucros, por exemplo, esse modelo também contribuiria para

evitar uma acomodação dos profissionais em relação às suas atividades. O eixo

Page 151: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

140

temporal e o constante questionamento dos planos pelo monitoramento do ambiente

pressionariam os pesquisadores a alcançar os resultados e a buscar novas soluções.

Dentre as lacunas ou restrições para implantação percebidas no framework o

executivo destacou primeiro, a preocupação com o processo de transformação do

modelo mental. Apesar de reconhecer que este era um tema não tratado diretamente pela

proposta, poderia se apresentar como uma grande restrição para a implantação das

proposições. “A organização deve passar ou por um lento processo de catequese, por

alguma crise ou sofrer algum tipo de ameaça para que os profissionais mais ligados ‘à

bancada’ percebam a importância dessa adaptação ao ambiente.” Se os pesquisadores

“não comprarem a idéia, o potencial do framework será prejudicado”.

A segunda discussão que pode restringir a adoção do framework, segundo ele, é

a ânsia da maior parte dos executivos por resultados de curto prazo. “Eles devem ser os

primeiros a entender que esse tipo de capacitação tem esse efeito cumulativo e depende

da experiência dos profissionais. Isso não acontece de uma hora para outra. São

necessários diversos ciclos até que os maiores benefícios comecem a ser percebidos.

Caso estes executivos não tenham isso claro, provavelmente não implantarão uma

solução como esta.”

Em relação a sua organização, o executivo destacou que já existe uma percepção

da necessidade do desenvolvimento da absorptive capacity na organização. Neste

sentido, já iniciaram a implantação de alguns processos de planejamento e

acompanhamento de projetos mais integrados, mas ainda estão em estágio bastante

inicial. No entanto, tem consciência de que ainda estão no início da trajetória. Sabe que

ainda não pode querer um estágio de integração como o proposto na segunda camada,

pois isso leva tempo e requer experiência dos profissionais. “O framework proposto

ainda é uma Ferrari para uma organização que ainda não avançou muito nesta

trajetória. Seria necessário, a partir da orientação deste framework, estabelecer

versões simplificadas que levem incrementalmente à integração proposta.”

Page 152: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

141

5.2.2. Entrevista com Empresa B do Setor de Petróleo

O setor de petróleo está passando por mudanças em função da ascensão e da

necessidade de migração para as novas fontes de energia renováveis. Isso se confirma

inclusive com a mudança de foco da maior parte das empresas que passam a se

considerar empresas de energia, e não mais de petróleo.

Estas mudanças trazem impactos significativos para as organizações, pois pouco

tempo atrás, a indústria de petróleo era focada em tecnologias muito maduras. “Os

avanços eram principalmente incrementais e ocorriam de forma muito lenta. Não era

tão dinâmico. Com as pressões atuais pelo uso de novas fontes, as empresas estão

começando a expandir seu foco.”

O estágio de maturidade ainda muito inicial e a grande quantidade de

alternativas que estão sendo pesquisadas e desenvolvidas, sem uma clareza de qual

delas vai se estabelecer como um padrão, torna inviável que a organização conduza toda

a pesquisa internamente. “Precisamos montar massa crítica que nos permita identificar

conhecimentos seja internamente, nas universidades ou em outras empresas e ter

capacidade de identificar as oportunidades e se aproveitar destes para desenvolver o

que será a base da empresa no futuro.”

Mas lidar com isso gera um grande problema do ponto de vista da gestão do

P&D, pois a organização tem que lidar com dois tipos de tecnologias muito diferentes,

com estágios de maturidade distintos e conhecimentos diferentes. Esta situação acaba

por gerar grandes impactos culturais, nos mecanismos de incentivo e em toda a lógica

de gestão. “É como se pudéssemos separar duas empresas, uma ligada ao petróleo e

uma outra à energia”. No caso destas novas tecnologias, a necessidade de desenvolver

a absorptive capacity é crucial para que a empresa possa se posicionar e assumir um

papel de líder no mercado.

Quanto à importância e aplicabilidade do framework proposto, o executivo

declarou que o uso das três camadas permitia orientar organizações em diferentes níveis

Page 153: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

142

de estruturação em relação aos processos, técnicas e mecanismos de integração

propostos. No caso específico deles, que já possuem técnicas e ferramentas implantadas

de forma isolada, o maior ganho percebido foi na definição dos requisitos de integração,

que poderiam servir como referência para confrontar as ações por eles realizadas e

perceber que pontos necessitariam ser melhor sistematizados e integrados. A terceira

camada, entretanto, contribuiu para verificarem a possibilidade de expandir o uso do

roadmap, instrumento que eles já utilizam de maneira mais restrita, para que este possa

fazer o papel de instrumento de ‘governança’ tecnológica. Foi sugerido inclusive, que

este modelo poderia ser expandido para suportar todo o modelo de gestão tecnológica

da empresa.

A importância deste modelo é ainda mais crítica, em função do estágio de

transição que a organização se encontra. Percebendo a necessidade de estimular a

criação e absorção de conhecimentos externos, esta organização estruturou uma série de

redes temáticas, atualmente 38, envolvendo diversas universidades, reunidas em torno

de um tema comum. “A forma de direcionar os trabalhos nesta rede e a lógica de como

o conhecimento gerado será internalizado e explorado ainda não está consolidada,

podendo este framework contribuir consideravelmente.”

Outra aplicação que seria de grande importância para esta empresa é o constante

alinhamento entre o ambiente, o planejamento e os projetos. Hoje esta organização

possui um grande problema com a gestão de portfólio, projetos que não fazem mais

sentido estratégico continuam em andamento, não se consegue descontinuá-los. Isso

acaba com consumir muitos recursos da organização, sem que estes gerem retornos

satisfatórios. “...os pesquisadores reagem a gestão de portfólio. Para o responsável

pelo projeto, acaba se tornando pessoal, se sente perseguido. Mas a questão é aquele

projeto perdeu o sentido para a organização. Este modelo ajudaria a comunicar e a

tornar este processo mais sistemático, reduzindo as resistências e suportando uma

gestão de portfólio que otimizasse o uso dos recursos da organização.” O fato desta

priorização passar a ser feita de forma coletiva, também ajudará bastante este processo.

Page 154: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

143

O executivo ressaltou dois pontos que percebia com potenciais problemas

relacionados a implantação do framework. O primeiro refere-se ao modelo mental dos

profissionais da organização. “O conhecimento de um pesquisador de ponta tem um

efeito cumulativo semelhante ao de uma curva S. Para percorrê-la, exige-se a

dedicação de toda uma carreira. Dificilmente uma mesma pessoa consegue percorrer

essa curva em duas tecnologias de natureza diferentes. Atualmente, o aumento das

pesquisas nas novas alternativas de energias ainda está num estagio muito inicial, é

necessário o ingresso de novos quadros que possam percorrer essa nova curva,

dificilmente um pesquisador de ponta ligado ao petróleo fará esse salto. Mas como esse

modelo mental será mudado se os novos pesquisadores são submetidos a tutoria dos

pesquisadores que hoje são reativos?”

Essa colocação ressalta a importância de que o uso deste framework deve ser

acompanhado pela intervenção em diversas políticas organizacionais como os

mecanismos de reconhecimento e recompensa, o treinamento dos quadros, recrutamento

e contratação, entre outras.

O segundo problema ressaltado é que na visão dele, o framework sistematiza

excessivamente a integração entre os processos. “Em toda operação de P&D é

importante a existência de caos. Os meus melhores pesquisadores, os pontos fora da

curva, já fazem esta integração mentalmente, sozinhos. Se eu obrigá-los a preencher

formulários e participar de inúmeras reuniões de planejamento, certamente reagirão.”

Entretanto essa opinião não foi compartilhada pelo segundo profissional presente na

entrevista. “Não se pode pensar em gerir um centro de P&D pensando apenas nos

pontos fora da curva. É preciso sistematizar um conjunto de diretrizes e técnicas que

elevem o resultado do coletivo como um todo.”

Em relação ao estágio atual desta organização frente ao modelo, o executivo

ressaltou: “hoje, todas as ferramentas, softwares e técnicas mais modernas que existem

disponíveis em cada uma dessas caixinhas21 nós já adotamos. O nosso problema está

21 O executivo utilizou o termo caixinhas para se referir aos quatro processos de gestão da

inovação que constituem o segundo nível do framework de referência.

Page 155: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

144

em utilizá-las de forma integrada. Essas setas (requisitos de integração) é que são a

maior virtude deste modelo, e pode nos ajudar muito”.

5.2.3. Entrevista com Empresa C do Setor Elétrico

O setor elétrico apresenta uma dinâmica ainda pouco turbulenta. A tecnologia é

madura e, principalmente no Brasil, as inovações são incrementais. Existem algumas

iniciativas ainda muito preliminares de investimentos em alternativas mais radicais,

como a célula de hidrogênio, mas isso é uma parcela muito pequena e tratada de forma

muito lateral pelas empresas. Outro ponto ressaltado pelo executivo é que as dinâmicas

e o foco no P&D é muito diferente em cada um dos elos da cadeia de geração,

transmissão e distribuição. Na primeira, as pesquisas são fortemente orientadas para a

melhoria dos equipamentos de geração, na segunda, na redução de perdas de

transmissão e nos mecanismos de proteção contra desligamentos, e no último, em

dispositivos eletrônicos que facilitem a medição, controle e corte do consumo.

A organização entrevistada, entretanto, ainda está num estágio muito inicial de

estruturação das suas atividades de P&D. Neste sentido, o framework de referência foi

percebido como de grande valia para orientar o projeto inicial de suas iniciativas. Em

especial, a terceira camada permitiu a discussão mais concreta de como algumas

técnicas poderiam ser implantadas. Algumas discussões como a identificação de

profissionais que poderiam realizar o papel dos gatekeepers e de possíveis linhas de

prospecção derivaram da apresentação do framework.

Em relação às principais lacunas e restrições para implantação percebidas, o

executivo acredita que para uma organização em um estágio muito inicial de

estruturação das ações de P&D, é muito importante a definição de um conjunto de

indicadores de desempenho que possa mensurar as contribuições trazidas por estas

atividades. Isso é necessário para que a idéia possa ganhar credibilidade dos

profissionais e apoio da liderança, garantindo o seu crescimento incremental.

Page 156: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

145

O outro ponto destacado é referente à complexidade do modelo. Segundo o

executivo, implantá-lo integralmente exige experiência prévia da organização no tema.

Desta forma, ele acredita que o desenvolvimento de uma versão simplificada, que

pudesse ser implantada por organizações que desejassem iniciar estas ações, poderia ser

de grande valia para o framework.

5.2.4. Impressões do entrevistador

A partir das entrevistas realizadas, algumas impressões do entrevistador podem

ser destacadas. A primeira é que o construto da absorptive capacity se mostra bastante

abstrato para os executivos que possuem uma visão bastante aplicada. A transformação

do construto teórico na forma das quatro capacitações para os quatro processos de

Gestão de Inovação foi muito importante para facilitar o diálogo, “traduzindo” o

construto para uma terminologia que os executivos estão familiarizados.

A segunda impressão que merece destaque é que o grau de maturidade das

organizações em relação aos quatro processos determina a camada do modelo em que a

organização baseia prioritariamente a discussão. No caso da organização do setor de

petróleo que já possuía diversas técnicas implantadas, a discussão se concentrou na

segunda camada, utilizado para diagnosticar o grau de integração da solução da

empresa, comparado aos requisitos de integração. No caso das outras duas, que estão em

estágios muito iniciais, a terceira camada era vista como mais concreta, indicando como

estas deveriam realizar estas ações.

Estas duas impressões podem contribuir para posteriores ações de aplicação do

framework de referência.

Page 157: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

146

5.3. Implicações para o modelo

Observando o conjunto de entrevistas, pode-se perceber que alguns pontos

foram destacados com maior ênfase pelos executivos. A primeira preocupação

ressaltada diz respeito ao modelo mental dos profissionais. O efeito cumulativo da

absorptive capacity e as mudanças provocadas pelo framework proposto em relação à

formação de visão sistêmica e o aumento do estado de alerta (awareness), segundo os

executivos, não parecem ser suficientes para que a absorptive capacity seja

desenvolvida, estes devem ser acompanhados de mecanismos de incentivo como

indicadores de desempenho e recompensas que catalisem essa mudança de mentalidade.

Outra consideração recorrente é que o modelo é muito sofisticado para

organizações que estejam em um estágio muito inicial no desenvolvimento da

absorptive capacity. Desta forma, é importante que a implantação considere o

framework completo como referência idealizada e a partir desta, se criem versões

simplificadas que garantam a evolução incremental rumo framework completo.

A última implicação que pode ser desdobrada das entrevistas e que apesar de

não estar no escopo inicial trabalho merece destaque é a forma pela qual a efetividade

deste modelo será mensurada. Apesar deste se constituir um problema de complexa

resolução, em função dos efeitos indiretos que a absorptive capacity gera nos resultados

da organização, definir alguns tipos de medidas que acompanhem a evolução da

organização ao longo do tempo seria uma importante melhoria a ser realizada no

modelo.

Page 158: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

147

6. CONCLUSÕES

Este capítulo tem como objetivo apresentar as conclusões deste trabalho. Para

tal, primeiro é realizada uma síntese da pesquisa realizada. Em seguida, as contribuições

e limitações do trabalho são destacadas, dando base para a proposição de trabalhos

futuros. Por fim, algumas considerações finais são apresentadas.

6.1. Uma síntese

A crescente importância da inovação como fator crítico para alcance do sucesso

competitivo em um mundo cada vez mais dinâmico, impõe às organizações uma

capacidade de constantemente reconfigurar a sua base de recursos para alcançar

combinações que garantam e sustentem a sua vantagem competitiva. Para tal, é crucial

que as organizações percebam mudanças no ambiente que se inserem, de forma a se

aproveitar de oportunidades ou responder a ameaças, e internalizar os conhecimentos

disponíveis para alavancar o seu potencial de gerar inovações. Diversas discussões a

esse respeito estão em voga atualmente na literatura de gestão da inovação como o

conceito da open innovation de Chesbrough e da democratização da inovação de Von

Hippel.

Estas questões motivaram a formulação da questão inicial da pesquisa que

direcionou este trabalho: “Como uma organização pode desenvolver a sua habilidade

de identificar, assimilar, transformar e explorar os conhecimentos disponíveis no

ambiente externo, de forma a melhorar a sua capacidade de desenvolver inovações?”

A partir de uma pesquisa bibliográfica foi identificado na literatura, um

construto que sustenta o tratamento desta questão. Cohen e Levinthal propuseram o

conceito da absorptive capacity, que representa a habilidade de uma empresa de

identificar, assimilar e explorar os conhecimentos disponíveis no ambiente externo.

Page 159: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

148

Na revisão bibliográfica o mapeamento dos diversos artigos que utilizam-se ou

se referenciam a este conceito permitiu a identificação das diferentes perspectivas com

que o mesmo vem sendo utilizado, sendo possível perceber que o construto “absorptive

capacity” passou pelo processo de reificação. Estas constatações foram importantes para

que se apresentasse um rigor maior no estabelecimento da perspectiva e da explicitação

dos conceitos sobre os quais o construto seria utilizado.

Esta revisão da literatura permitiu ainda, como corroborado pelos trabalhos de

Lane et al. (2006) e Zahra e George (2002), constatar que esse construto apresentava

pouca aplicação prática, pouco ajudando na orientação da melhoria de desempenho das

empresas. Desta forma, para transformar esse construto de natureza fortemente

conceitual, com caráter mais abstrato, em uma visão aplicada, que efetivamente pudesse

orientar ações práticas, decidiu-se, com base na revisão bibliográfica, adotar a

perspectiva das capacitações dinâmicas como problemática da investigação.

A partir disso pôde-se definir, em sua forma final, o objetivo desta pesquisa, que

foi a construção de um framework de referência composto por três camadas, que

incrementalmente decalcavam o construto da absorptive capacity em processos,

requisitos de integração e técnicas para suportá-los.

A primeira camada deste framework, denominado representação do construto,

tem como principal objetivo contextualizar as quatro capacitações – adquirir, assimilar,

transformar e explorar - que conformam a absorptive capacity, apresentando os

direcionadores de seu funcionamento.

A segunda camada, de caráter mais aplicado, denominado framework de

aplicação, rebate cada uma das capacitações em processos característicos do campo de

gestão da inovação e define um conjunto de requisitos de integração entre eles, de forma

que as capacitações em conjunto e integradas, efetivamente cumpram o papel de uma

capacitação dinâmica, ou seja, de reconfiguração dos recursos para alcançar vantagens

competitivas.

Page 160: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

149

A terceira camada, denominada solução de aplicação, apresenta um conjunto de

técnicas que suportam a aplicação do framework de aplicação sugerido. Ressalta-se que

esta solução é apenas uma alternativa possível para suportar os processos e requisitos de

integração propostos, não pretendendo ser uma solução universal.

Além da construção teórica, o framework de referência foi verificado junto a

executivos responsáveis pelas atividades de P&D de três empresas brasileiras de

diferentes setores. Estas entrevistas contribuíram para, além de verificar o potencial de

aplicação do framework, identificar as principais lacunas e restrições vistas pelos

executivos em relação à implantação na organização de sua responsabilidade. A partir

destas entrevistas, algumas implicações para o modelo puderam ser reconhecidas e

algumas conclusões apresentadas.

6.2. Contribuições da pesquisa

Este trabalho, conforme objetivo central estabelecido, apresenta como principal

contribuição teórica a proposição do framework de referência que avança na relação

entre capacitações, processos e técnicas, relacionando-os em diversas camadas e

diferentes graus de abstração. Esta proposição contribui para o desenvolvimento do

construto da absorptive capacity como uma capacitação dinâmica. Necessidade esta que

já fora destacada por diversos autores como Zahra e George (2002) e Lane et al. (2006),

como de grande carência de investigação e avanços teóricos.

Do ponto de vista prático, apesar da validação do framework de referência ser de

difícil avaliação, espera-se que este framework contribua para orientar as organizações a

projetar suas próprias soluções integradas de processos e técnicas, que suportem o

desenvolvimento da absorptive capacity. Uma avaliação inicial desta contribuição foi

realizada pelos executivos durante as entrevistas. Nestas, todos declararam que o

framework de referência poderia ser usado e traria substanciais contribuições para

orientar o desenvolvimento de soluções específicas para cada uma das organizações.

Page 161: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

150

6.3. Limitações da pesquisa

Esta pesquisa apresenta algumas limitações de diferentes naturezas, nesta seção

são apresentadas tanto as limitações da pesquisa, quanto as limitações observadas no

framework proposto.

Do ponto de vista dos resultados desejados e do método empregado, pôde-se

concluir que a proposição do framework de referência por seu caráter aplicado e de uso

prático exigiu algumas simplificações que do ponto de vista cientifico levaram a

passagens pouco rigorosas, como por exemplo, as aproximações entre as capacitações e

os processos, que apesar de baseadas em revisão bibliográfica, são suscetíveis a críticas.

Outra limitação do método empregado é a forma de avaliação dos resultados

obtidos. Como avaliar se o framework contribui para orientar o desenvolvimento de

soluções organizacionais que suportem o desenvolvimento da absorptive capacity? As

entrevistas realizadas não permitem esta avaliação, mas sim, uma verificação com

executivos de diferentes realidades, indústrias e maturidade organizacional sobre a

viabilidade e potenciais contribuições que este framework poderia trazer. Por fim,

contatou-se que este tipo de problema é objeto do método de pesquisa conhecido como

design research (MANSON, 2006; OWEN, 1997).

De acordo com Hevner et al. (2004 apud. Manson, 2006):

“O resultado da “design research” é, por definição, um artefato com

propósito, que deve ser descrito de forma efetiva para que este possa ser

implementado e aplicado. Estes artefatos podem ser construtos, modelos,

métodos ou ‘ instanciações’. Eles são raramente completos ou totalmente

amadurecidos que possam ser usados na prática. Ao invés disso, são inovações

que definem idéias, práticas, capacitações técnicas e produtos através dos quais

a análise, projeto, implantação e uso dos sistemas pode ser alcançada de forma

efetiva e eficiente”.

Page 162: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

151

A partir desta definição pode-se constatar que o método da ‘design research’

poderia ter contribuído para a estruturação da pesquisa realizada, sendo esta, portanto

uma limitação deste trabalho.

Do ponto de vista das limitações do framework, o tratamento do modelo mental

dos indivíduos da organização é uma questão que é bastante destacada na literatura, mas

que por questões de escopo do trabalho foi tratada apenas como um direcionador do

construto, foi recursivamente apontada pelos executivos como uma potencial restrição à

implantação do modelo. Desta forma, a inserção de uma discussão mais detalhada deste

aspecto associado à implantação do modelo é algo que se caracteriza uma das limitações

deste trabalho e deve ser desenvolvido posteriormente.

6.4. Sugestões para trabalhos futuros

A partir dos resultados desta pesquisa, alguns direcionamentos podem ser

sugeridos para futuros desdobramentos:

• O uso do framework de referência para orientar o desenvolvimento da

absorptive capacity em uma organização deve ser objeto de um estudo de

caso, de forma tal que se possam constatar potenciais melhorias que

emergirão da aplicação prática.

• Outro desdobramento possível é a elaboração de uma trajetória de

implantação, com versões incrementais do framework, desde uma variante

mais simples, até o modelo completo.

• O desenvolvimento de uma estrutura de indicadores que permitam, tanto o

acompanhamento da evolução da maturidade da organização em direção a

níveis mais elevados de absorptive capacity.

• A avaliação do método utilizado nesta pesquisa à luz de um comparação com

a estrutura sugerida pelo método ‘design research’ é outra pesquisa que pode

trazer contribuições para o desenvolvimento dos métodos aplicáveis às

pesquisas da engenharia de produção.

Page 163: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

152

7. BIBLIOGRAFIA

ABERNATHY, W. J. and UTTERBACK, J. M. (1978). "Patterns of Industrial

Innovation." Technology Review 80(7): 40-47.

AHUJA, G. and KATILA, R. (2001). "Technological acquisitions and the innovation

performance of acquiring firms: A longitudinal study." Strategic Management

Journal 22(3): 197-220.

ALCOUFFE, A. and KUHN, T. (2004). "Schumpeterian endogenous growth theory and

evolutionary economics." Journal of Evolutionary Economics 14(2): 223-236.

ALLEN, T. J. (1977). Managing the flow of technology. Cambridge, Massachusetts,

MIT Press.

AMIT, R. and SCHOEMAKER, P. J. H. (1993). "Strategic assets and organizational

rent." Strategic Management Journal 14: 33–46.

ANDER-EGG, E. (1978). Introdución a las técnicas de investigación social: para

trabajadores sociales. Buenos Aires, Humanitas.

ANDERSON, P. and TUSHMAN, M. L. (1990). "Technological discontinuities and

dominant designs: A cyclical model of technological change." Administrative

Science Quarterly 35: 604–633.

ASHTON, W. B. and KLAVANS, R. A. (1997). An introduction to technical

intelligence in business. Keeping abreast of science and technology: technical

intelligence in business. W. B. Ashton and R. A. Klavans. Columbus, Ohio,

Batelle Press.

AUTIO, E., SAPIENZA, H. J. and ALMEIDA, J. G. (2000). "Effects of age at entry,

knowledge intensity, and imitability on international growth." Academy of

Management Journal 43: 909–924.

BARKEMA, H. G. and VERMEULEN, F. (1998). "International expansion through

start-up or acquisition: A learning perspective." Academy of Management

Journal 41: 7–26.

BARNEY, J. (1986). "Strategic factor markets: Expectations, luck, and business

Page 164: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

153

strategy." Management Science 32: 1231–1241.

BARNEY, J. (1991). "Firm Resources and Sustained Competitive Advantage." Journal

of Management 17(1): 99-120.

BEISE, M. and STAHL, H. (1999). "Public research and industrial innovations in

Germany." Research Policy 28: 397–422.

BHAGAT, R. S., KEDIA, B. L., HARVESTON, P. D. and TRIANDIS, H. C. (2002).

"Cultural variations in the cross-border transfer of organizational knowledge: An

integrative framework." Academy of Management Review 27: 204–221.

BIERLY, P. and CHAKRABARTI, A. (1996). "Generic knowledge strategies in the

U.S. pharmaceutical industry." Strategic Management Journal 17: 123–135.

BOOTH, W. C., WILLIAMS, J. M. and COLOMB, G. G. (2003). The craft of research,

University Of Chicago Press;.

BOWER, G. H. and HILGARD, E. R. (1981). Theories of learning. Englewood Cliffs,

NJ, Prentice-Hall.

BOWER, J. L. and CHRISTENSEN, C. M. (1995). "Disruptive Technologies - Reply."

Harvard Business Review 73(3): 172-172.

BOWMAN, E. H. and HURRY, D. (1993). "Strategy through the option lens: An

integrated view of resource investments and the incremental-choice process."

Academy of Management Review 18: 760-782.

BURGELMAN, R. A. and SAYLES, L. R. (1988). Corporate Innovation: Strategy,

Structure, and Managerial Skills, Free Press.

CAMERER, C. and VEPSALAINEN, A. (1988). "The Economic-Efficiency of

Corporate Culture." Strategic Management Journal 9: 115-126.

CANONGIA, C., SANTOS, D. M., SANTOS, M. M. and ZACKIEWICZ, M. (2004).

"Foresight, inteligência competitiva e gestão do conhecimento: instrumentos

para a gestão da inovação." Gestão & Produção 11: 231-238.

CARDOSO, V. C. (2004). Gestão de competências por processos: um método para a

gestão do conhecimento tácito da organização. Programa de Engenharia de

Produção / COPPE. Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Page 165: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

154

DSc.: 287.

CASSELL, C. and SYMON, G. (1994). Qualitative research in work contexts.

Qualitative methods in organizational research: A pratical guide. C. Cassell and

G. Symon. London, Sage.

CAULLIRAUX, H. M. (2001). Notas de aula do curso de Engenharia de Processos de

Negócio. Escola Politécnica - UFRJ.

CHESBROUGH, H. W. (2003). "The era of open innovation." Mit Sloan Management

Review 44(3): 35-41.

CHESBROUGH, H. W. (2003). Open innovation. The new imperative for creating and

profiting from technology. Boston, Massachusetts, Harvard Business School

Press.

CHESBROUGH, H. W. (2006). Open Business Models: How to Thrive in the New

Innovation Landscape Boston, Harvard Business School Press.

CHESBROUGH, H. W. (2007). "Why companies should have open business models."

Mit Sloan Management Review 48(2): 22-+.

CHIESA, V. (2001). R & D Strategy and Organisation: Managing Technical Change in

Dynamic Contexts.

CHRISTENSEN, C. (1997b). "Patterns in the evolution of product competition."

European Management Journal 15(2): 117-127.

CHRISTENSEN, C. (2001). "Making friends with disruptive technology: - an interview

with Clayton M. Christensen." Strategy and Leadership 29: 10-15.

CHRISTENSEN, C. M. (1997). The innovator’s dilemma. Boston, Massachusetts,

Harvard Busisness School Publishing.

CHRISTENSEN, C. M., ANTHONY, S. D. and ROTH, E. A. (2004). Seeing what's

next: using the theories of innovation to predict industry change. Boston,

Massachusetts, Harvard Busisness School Publishing.

CHRISTENSEN, C. M. and RAYNOR, M. E. (2003). The innovator's solution:

Creating and sustaining successful growth. Boston, Massachusetts, Harvard

Business School Publishing.

Page 166: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

155

CHRISTENSEN, C. M. and RAYNOR, M. E. (2004). "Practicing disruptive

innovation: The Innovator's Solution." Journal of Fashion Marketing and

Management 8(4): 452-454.

CHRISTENSEN, C. M. and RAYNOR, M. E. ( 2003). The Innovator's Solution:

Creating and sustaining successful growth. Boston, Massachusetts. , Harvard

Busisness School Publishing.

CHRISTENSEN, C. M. and ROSENBLOOM, R. S. (1995). "Explaining the attacker's

advantage: Technological paradigms, organizational dynamics, and the value

network." Research Policy 24(2): 233-257.

CLEMENTE, R. G. (2005). A compatibilidade entre Schumpeter e Christensen: uma

abordagem segundo a lógica dos programas de pesquisa científica. Escola

Politécnica - Engenharia de Produção, UFRJ. PFC.

CLEMENTE, R. G., LANGSCH, A. P. L., CAMEIRA, R. F. and PROENÇA, A.

(2006). Convergência e Inovação: entendendo os impactos do VoIP na dinâmica

do setor de telecomunicações. XXVI ENEGEP, Fortaleza, CE.

COCKBURN, I. and HENDERSON, R. (1998). "Absorptive Capacity, Co-authoring

Behavior, and the Organization of Research in Drug Discovery." Journal of

Industrial Economics 46(2): 157–83.

COHEN, W. M. and LEVINTHAL, D. A. (1989). "Innovation and Learning - the 2

Faces of R-and-D." Economic Journal 99(397): 569-596.

COHEN, W. M. and LEVINTHAL, D. A. (1990). "Absorptive-Capacity - a New

Perspective on Learning and Innovation." Administrative Science Quarterly

35(1): 128-152.

COHEN, W. M. and LEVINTHAL, D. A. (1994). "Fortune Favors the Prepared Firm."

Management Science 40(2): 227-251.

COLLIS, D. and MONTGOMERY, C. (1997). Corporate Strategy: Resources and the

Scope of the Firm. Chicago, Irwin.

CRESWELL, J. W. (1994). Research Design. Thousand Oaks, CA, Sage.

CRONBACH, L. J. and MEEHL, P. (1955). "Construct validity in psychological tests."

Page 167: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

156

Psychological Bulletin 52: 281–302.

CROSS, R., PARKER, A., PRUSAK, L. and BORGATTI, S. (2001). "Knowing what

we know: Supporting knowledge creation and sharing in social networks."

Organizational Dynamics 30 (2): 100-120.

DA CRUZ, D. K. (2006). Modelo de referência para desenvolvimento de inovações

tecnológicas sob a perspectiva de discussão das capacitações dinâmicas: uma

proposição. Escola Politécnica - Engenharia de Produção, UFRJ. PFC.

DAFT, R. (2002). Organizações - Teoria e Projetos, Thomson Pioneira.

DAIM, T. U., RUEDA, G., MARTIN, H. and GERDSRI, P. (2006). "Forecasting

emerging technologies: Use of bibliometrics and patent analysis." Technological

Forecasting and Social Change 73(8): 981-1012.

DAY, G. S., SCHOEMAKER, P. J. H. and GUNTHER, R. E. (2000). Wharton on

managing emerging technologies. New York, NY, Wiley.

DE NEGRI, J. A. and SALERNO, M. S., Eds. (2005). Inovações, padrões tecnológicos

e desempenho das firmas industriais brasileiras. Brasília, Instituto de Pesquisa

Econômica Aplicada - IPEA.

DE NEGRI, J. A., SALERNO, M. S. and CASTRO, A. B. (2005). Inovações, padrões

tecnológicos e desempenho das firmas industriais brasileiras. Inovações, padrões

tecnológicos e desempenho das firmas industriais brasileiras. J. A. De Negri and

M. S. Salerno. Brasília, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA.

DE PAULA, I. C. (2004). Proposta de um modelo de referência para o processo de

desenvolvimento de produtos farmacêuticos. Programa de Pós-Graduação em

Engenharia de Produção. Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do

Sul. D.Sc.

DEMO, P. (1996). Pesquisa e construção de conhecimento. Rio de Janeiro, Tempo

Brasileiro.

DHANARAJ, C. and PARKHE, A. (2006). "Orchestrating innovation networks."

Academy of Management Review 31(3): 659-669.

DOUGHERTY, D. (1992). "Interpretive Barriers to Successful Product Innovation in

Page 168: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

157

Large Firms." Organization Science 3(2): 179-202.

DRUCKER, P. (1998). Inovação e espírito empreendedor, Thomson Pioneira.

DYER, J. H., KALE, P. and SINGH, H. (2001). "How to make strategic alliances

work." Mit Sloan Management Review 42(4): 37-43.

DYER, J. H. and SINGH, H. (1998). "The relational view: Cooperative strategy and

sources of interorganizational competitive advantage." Academy of

Management Review 23(4): 660-679.

ECO, U. (2004). Como se faz uma tese. São Paulo, Perspectiva.

EISENHARDT, K. M. and MARTIN, J. A. (2000). "Dynamic capabilities: What are

they?" Strategic Management Journal 21(10-11): 1105-1121.

ELLIS, H. C. (1965). The transfer of learning. New York, Macmillan.

ESTES, W. K. (1970). Learning theory and mental development. New York, Academic

Press.

EVENSON, R. and KISLEV, Y. (1975). Agricultural research and productivity. New

Haven, Yale University Press.

FATTORI, M., PEDRAZZI, G. and TURRA, R. (2003). "Text mining applied to patent

mapping: a practical business case." World Patent Information 25(4): 335-342.

FLOYD, S. W. and LANE, P. J. (2000). "Strategizing throughout the organization:

Managing role conflict in strategic renewal." Academy of Management Review

25(1): 154-177.

FONTAINE, M. A. and MILLEN, D. R. (2004). Understanding the Benefits and Impact

of Communities of Practice. Kowledge networks: innovation throuh

communities of practice. P. Hildreth and C. Kimble. London, Idea Group

Publishing.

FROST, T. S. (2001). "The geographic sources of foreign subsidiaries’ innovations."

Strategic Management Journal 22: 101–123.

GALBRAITH, J. (1995). Designing Organizations: An Executive Briefing on Strategy,

Structure, and Process, Jossey-Bass.

Page 169: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

158

GALUNIC, D. C. and RODAN, S. (1998). "Resource recombinations in the firm:

Knowledge structures and the potential for Schumpeterian innovation." Strategic

Management Journal 19: 1193–1201.

GALVIN, R. (2004). "Roadmapping--A practitioner's update." Technological

Forecasting and Social Change 71(1-2): 101-103.

GARFIELD, E. (1979). Citation indexing: Its theory and application in science,

technology, and humanities. New York, Wiley.

GARUD, R. and NAYYAR, P. R. (1994). "Transformative capacity: Continual

structuring by intertemporal technology transfer." Strategic Management Journal

15: 365–385.

GARVIN, D. A. (1993). "Building a Learning Organization." Harvard Business Review

71(4): 78-91.

GHEMAWATT, P. (1991). Commitment. New York, NY Free Press.

GIL, A. C. (1999). Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo, Atlas.

GODFREY, P. C. and WILL, C. W. L. (1995). "The problems of unobservables in

strategic management research." Strategic Management Journal 16: 519–533.

GOFFIN, K. and MITCHELL, R. (2005). Innovation management: Strategy and

implementation using the pentathlon framework. London, Palgrave Macmillan.

GUPTA, A. K. and GOVINDARAJAN, V. (2000). "Knowledge flows within the

multinational corporation." Strategic Management Journal 21: 473–496.

HAMEL, G. and PRAHALAD, C. K. (1990). "The Core Competence of the

Corporation." Harvard Business Review May-June.

HARADA, T. (2003). "Three steps in knowledge communication: the emergence of

knowledge transformers." Research Policy 32(10): 1737-1751.

HEVNER, A. R., MARCH, S. T., PARK, J. and RAM, S. (2004). "Design science in

Information Systems research." Mis Quarterly 28(1): 75-105.

HILDRETH, P. and KIMBLE, C., Eds. (2004). Kowledge networks: innovation throuh

communities of practice. London, Idea Group Publishing.

Page 170: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

159

HILLEBRAND, B. and BIEMANS, W. G. (2004). "Links between internal and external

cooperation in product development: An exploratory study." Journal of Product

Innovation Management 21(2): 110-122.

HISLOP, D. (2004). The Paradox of Communities of Practice: Knowledge Sharing

Between Communities. Kowledge networks: innovation throuh communities of

practice. P. Hildreth and C. Kimble. London, Idea Group Publishing.

HITT, M. A., DACIN, M. T., LEVITAS, E., ARREGLE, J. L. and BORZA, A. (2000).

"Partner selection in emerging and developed market contexts: Resource-based

and organizational learning perspectives." Academy of Management Journal 43:

449–476.

HUSTON, L. and SAKKAB, N. (2006). "Connect and develop: Inside Procter &

Gamble's new model for innovation." Harvard Business Review 84(3): 58-+.

ISOBE, T., MAKINO, S. and MONTGOMERY, D. B. (2000). "Resource commitment,

entry timing, and market performance of foreign direct investments in emerging

economies: The case of Japanese international joint ventures in China."

Academy of Management Journal 43: 468–484.

JAIN, R. K. and TRIANDIS, H. C. (1997). Management of Research and Development

Organizations: Managing the Unmanageable.

JONES, G. K., LANCTOT, A. and TEEGEN, H. J. (2001). "Determinant and

performance impact of external technology acquisition." Journal of Business

Venturing 16: 255–283.

JONES, O. (2006). "Developing absorptive capacity in mature organizations - The

change agent's role." Management Learning 37(3): 355-376.

KAPPEL, T. A. (2001). "Perspectives on roadmaps: how organizations talk about the

future." Journal of Product Innovation Management 18(1): 39-50.

KARATHANOS, D. (1999). "Using the Malcolm Baldrige Criteria for Performance

Excellence to Teach an MBA-Level TQM Course." Quality Management

Journal 6(1): 19-28.

KIM, D. J. and KOGUT, B. (1996). "Technological platforms and diversifications."

Organization Science 17: 283-301.

Page 171: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

160

KIM, L. (1997). Imitation to innovation: the dynamics of Korea's technological

learning. Boston, Massachusetts, Harvard Business School Press.

KIM, L. (1998). "Crisis construction and organizational learning: Capability building in

catching-up at Hyundai Motor." Organization Science 9(4): 506-521.

KIMBLE, C., LI, F. and BARLOW, A. (2000 ). Effective virtual teams through

communities of practice, University of Strathclyde Management Science.

KOGUT, B. and ZANDER, U. (1992). "Knowledge of the firm, combinative

capabilities, and the replication of technology." Organization Science 3: 383–

397.

KOSTOFF, R. N., BOYLAN, R. and SIMONS, G. R. (2004). "Disruptive technology

roadmaps." Technological Forecasting and Social Change 71(1-2): 141-159.

KOSTOFF, R. N., BOYLAN, R. and SIMONS, G. R. (2004). "Disruptive technology

roadmaps." Technological Forecasting and Social Change 71(1-2): 141-159.

KOSTOFF, R. N. and SCALLER, R. R. (2001). "Science and technology roadmaps."

Ieee Transactions on Engineering Management 48(2): 132-143.

KOZA, M. and LEWIN, A. Y. (1998). "The coevolution of strategic alliances."

Organization Science 9: 255–264.

KUHN, T. (1962). A Estrutura das Revoluções Científicas. São Paulo, SP, Ed.

Perspectiva.

KUHN, T. (2003). Estrutura das revoluções científicas, Perspectiva.

KUPFER, D. and HASENCLEVER, L. (2002). Economia Industrial: fundamentos

teóricos e práticos no Brasil. Rio de Janeiro, Campus.

KVALE, S. (1996). InterViews: An introduction to qualitative research interviewing.

Thousand Oaks, CA, Sage.

LAAT, M. and BROER, W. (2004). CoPs for Cops: Managing and Creating Knowledge

through Networked Expertise. Kowledge networks: innovation throuh

communities of practice. P. Hildreth and C. Kimble. London, Idea Group

Publishing.

LANE, P. J., KOKA, B. R. and PATHAK, S. (2006). "The reification of absorptive

Page 172: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

161

capacity: A critical review and rejuvenation of the construct." Academy of

Management Review 31(4): 833-863.

LANE, P. J. and LUBATKIN, M. (1998). "Relative absorptive capacity and

interorganizational learning." Strategic Management Journal 19(5): 461-477.

LANE, P. J., SALK, J. E. and LYLES, M. A. (2001). "Absorptive capacity, learning,

and performance in international joint ventures." Strategic Management Journal

22(12): 1139-1161.

LANG, H. C. (1998). "Technology Intelligence: ihre Gestaltung in Abha¨ngigkeit der

Wettbewerbssituation." Verlag Industrielle Organisation.

LARSSON, R., BENGTSSON, L., HENRIKSSON, K. and SPARKS, J. (1998). "The

interorganizational learning dilemma: Collective knowledge development in

strategic alliances." Organization Science 9: 285-305.

LATOUR, B. (1987). Science in action. Cambridge, MA, Harvard University Press.

LAVE, J. and WENGER, E. (1991). Situated learning. Legitimate peripheral

participation, Cambridge University Press.

LEE, S. and PARK, Y. (2005). "Customization of technology roadmaps according to

roadmapping purposes: Overall process and detailed modules." Technological

Forecasting and Social Change 72(5): 567-583.

LEE, T. W. (1999). Using qualitative methods in organizational research. Thousand

Oaks, California, Sage Publications.

LEI, D. and HITT, M. A. (1995). "Strategic restructuring and outsourcing: The effect of

mergers, acquisitions and LBOs on building firm skills and capabilities." Journal

of Management 21: 835–859.

LESSER, E. L. and FONTAINE, M. A. (2004). Overcoming Knowledge Barriers with

Communities of Practice: Lessons Learned Through Practical Experience.

Kowledge networks: innovation throuh communities of practice. P. Hildreth and

C. Kimble. London, Idea Group Publishing.

LEVINTHAL, D. A. and MARCH, J. G. (1993). "The Myopia of Learning." Strategic

Management Journal 14: 95-112.

Page 173: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

162

LIEBESKIND, J. P., OLIVER, A. L., ZUCKER, L. and BREWER, M. (1996). "Social

networks, learning, and flexibility: Sourcing scientific knowledge in new

biotechnology firms." Organization Science 7: 428–443.

LINSTONE, H. A. (2004). "From information age to molecular age." Technological

Forecasting and Social Change 71(1-2): 187-196.

LINTON, J. D. (2004). "Determining demand, supply, and pricing for emerging markets

based on disruptive process technologies." Technological Forecasting and Social

Change 71(1-2): 105-120.

LINTON, J. D. and WALSH, S. T. (2004). "Roadmapping: from sustaining to

disruptive technologies." Technological Forecasting and Social Change 71(1-2):

1-3.

LUKACS, G. (1971). History and class consciousness: Studies in Marxist dialectics.

London, Merlin Press.

MANSON, N. J. (2006). "Is operations research really research?" Orion 22(2): 155-180.

MARCONI, M. A. and LAKATOS, E. M. (2006). Metodologia do trabalho científico:

procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicações e

trabalhos científicos. São Paulo, Atlas.

MARSHALL, C. and ROSSMAN, G. B. (1995). Designing qualitative research.

Thousand Oaks, CA, Sage.

MARTINO, J. P. (2003). "A review of selected recent advances in technological

forecasting." Technological Forecasting and Social Change 70(8): 719-733.

MATUSIK, S. F. and HILL, C. W. L. (1998). "The utilization of contingent work,

knowledge creation, and competitive advantage." Academy of Management

Review 23(4): 680-697.

MCGRATH, R. G. (1997). "A real options logic for initiating technology positioning

investments." Academy of Management Review 22: 974–996.

MCKELVEY, B. (1997). "Quasi-natural organization science." Organization Science

8(4): 352-380.

MCMILLAN, G. S., NARIN, F. and DEEDS, D. L. (2000). "An analysis of the critical

Page 174: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

163

role of public science in innovation: The case of biotechnology." Research

Policy 29: 1–8.

MEEUS, M. T. H., OERLEMANS, L. A. G. and HAGE, J. (2001). "Patterns of

interactive learning in a high-tech region." Organization Studies 22(1): 145-172.

MERTON, R. (1973). The sociology of science. Chicago, University of Chicago Press.

MINAYO, M. C. S. (1993). O desafio do conhecimento. São Paulo, Hucitec.

MOWERY, D. C. (1983). "The relationship intrafirm and contractual forms of industrial

research in American manufacturing, 1900–1940." Explorations in Economic

History 20: 351–374.

MOWERY, D. C., OXLEY, J. E. and SILVERMAN, B. S. (1996). "Strategic alliances

and interfirm knowledge transfer." Strategic Management Journal 17: 77-91.

NONAKA, I. (1994). "A dynamic theory of organizational knowledge creation."

Organization Science 5: 14–37.

NONAKA, I. and TAKEUCHI, H. (1997) Criação de conhecimento na empresa. Rio de

Janeiro, Campus.

OUCHI, W. G. (1981). "Organizational Paradigms - a Commentary on Japanese

Management and Theory Z Organizations." Organizational Dynamics 9(4): 36-

43.

OWEN, C. (1997). "Design research: Building the knowledge base." Journal of the

Japanese Society for the Science of Design 5(2): 36-45.

OWEN, W. F. (1984). "Interpretive themes in relational communication." Quarterly

Journal of Speech 70: 274–287.

PAVLOU, P. (2004). IT-enabled Dynamic Capabilities in New Product development:

Building a competitive advantage in turbulent Environments, University of

California. Ph.D.

PENROSE, E. (1959). The theory of the growth of the firm. New York, Oxford

University Press.

PETERAF, M. (1993). "The cornerstones of competitive advantage: A resource-based

view." Strategic Management Journal 14: 179–191.

Page 175: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

164

PETRICK, I. J. and ECHOLS, A. E. (2004). "Technology roadmapping in review: A

tool for making sustainable new product development decisions." Technological

Forecasting and Social Change 71(1-2): 81-100.

PHAAL, R., FARRUKH, C. J. P. and PROBERT, D. R. (2004). "A framework for

supporting the management of technological knowledge." International Journal

of Technology Management 27(1): 1-15.

PHAAL, R., FARRUKH, C. J. P. and PROBERT, D. R. (2004). "Technology

roadmapping--A planning framework for evolution and revolution."

Technological Forecasting and Social Change 71(1-2): 5-26.

PISANO, G. (2006). Science Business: The Promise, the Reality, and the Future of

Biotech, Harvard Business School Press.

PORTER, A. L., BANKS, J., MASON, T. W., ROSSINI, F. A. and ROPER, A. T.

(1991). Forecasting and management of technology, Wiley.

PORTER, A. L. and CUNNINGHAM, S. W. (2005). Tech mining: exploiting new

technologies for competitive advantage. Hoboken, NJ, John Wiley & Sons.

POSSAS, M. L. (2002). Concorrência Schumpeteriana. Economia Industrial:

fundamentos teóricos e práticos no Brasil. D. Kupfer and L. Hasenclever. Rio de

Janeiro, Campus: 415-429.

POWELL, W. W., KOPUT, K. W. and SMITH-DOERR, L. (1996).

"Interorganizational collaboration and the locus of innovation: Networks of

learning in biotechnology." Administrative Science Quarterly 41: 116–145.

PROENÇA, A. (1999). "Dinâmica estratégica sob uma perspectiva analítica: Refinando

o entendimentp gerencial." Arché Ano 8 (23).

PROENÇA, A. (2003). Capacitações dinâmicas e dinamismo das capacitações: O

enfoque centrado nas capacitações e o Processo Estratégico. 1º Encontro de

estudos estratégicos – ANPAD.

QUIVY, R. and CAMPENHOUDT, L. V. (1998). Manual de Investigação em Ciências

Sociais, Gradiva.

RADNOR, M. and PROBERT, D. R. (2004). "Technology roadmapping." Research-

Page 176: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

165

Technology Management 47(2): 24-37.

RAO, H. and DRAZIN, R. (2002). "Overcoming resource constraints on product

innovation by recruiting talent from rivals: A study of the mutual fund industry,

1984–94. ." Academy of Management Journal 45: 491–507.

RINNE, M. (2004). "Technology roadmaps: Infrastructure for innovation."

Technological Forecasting and Social Change 71(1-2): 67-80.

RUGMAN, A. M. and VERBEKE, A. (2001). "Subsidiary-specific advantages in

multinational enterprises." Strategic Management Journal 22: 237–250.

RUMELT, R. and (1984). Towards a Strategic Theory of the Firm. Competitive

Strategic Management, Prentice Hall.

SANTANGELO, G. D. (2000). "Corporate strategic partnerships in the European

information and communications technology industry." Research Policy 29:

1015–1031.

SAPIENZA, A. M. (1995). Managing scientists: leadership strategies in research and

development, Wiley-Liss.

SARITAS, O. and ONER, M. A. (2004). "Systemic analysis of UK foresight results:

Joint application of integrated management model and roadmapping."

Technological Forecasting and Social Change 71(1-2): 27-65.

SAVIOTTI, P. P. (1998). "On the dynamics of appropriability, of tacit and codified

knowledge." Research Policy 26: 843–856.

SAVIOZ, P. and BLUM, M. (2002). "Strategic forecast tool for SMEs: how the

opportunity landscape interacts with business strategy to anticipate technological

trends." Technovation 22(2): 91-100.

SCHILLING, M. A. (2002). "Technology success and failure in winner-take-all

markets: The impact of learning orientation, timing, and network externalities."

Academy of Management Journal 45: 387–398.

SCHILLING, M. A. (2005). Strategic management of technological innovation. New

York, McGraw-Hill / Irwin.

SCHULZE, W. S. (1994). "The two schools of thought in resourcebased theory."

Page 177: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

166

Advances in Strategic Management 10: 127–151.

SCHUMPETER, J. A. (1942). Capitalism, Socialism and Democracy. New York,

Harper & Brothers.

SHEHABUDDEEN, N., PROBERT, D., PHAAL, R. and PLATTS, K. (1999).

Representing and Approaching Complex Management Issues: Part 1 – Role and

Definition. Centre for Technology Management Working Paper Series,

University of Cambridge.

SHENKAR, O. and LI, J. T. (1999). "Knowledge search in international cooperative

ventures." Organization Science 10: 134–143.

SILVA, E. L. and MENEZES, E. M. (2001). Metodologia da pesquisa e elaboração de

dissertação. Florianópolis, Laboratório de ensino a distância da UFSC.

SIMONIN, B. L. (1999). "Ambiguity and the process of knowledge transfer in strategic

alliances." Strategic Management Journal 20: 595–623.

SMALHEISER, N. R. (2001). "Predicting emerging technologies with the aid of text-

based data mining: the micro approach." Technovation 21(10): 689-693.

SORENSEN, J. B. and STUART, T. E. (2000). "Aging, obsolescence, and

organizational innovation." Administrative Science Quarterly 45: 81–112.

SPENDER, J. C. (1996). "Making knowledge the basis of a dynamic theory of the

firm." Strategic Management Journal 17: 45-62.

SZULANSKI, G. (1996). "Exploring internal stickiness: Impediments to the transfer of

best practice within the firm." Strategic Management Journal 17: 27-43.

TEECE, D. J., PISANO, G. and SHUEN, A. (1997). "Dynamic capabilities and strategic

management." Strategic Management Journal 18(7): 509-533.

TILTON, J. E. (1971). International diffusion of technology: The case of

semiconductors. Washington, DC, Brookings Institution Press.

TSAI, W. P. (2001). "Knowledge transfer in intraorganizational networks: Effects of

network position and absorptive capacity on business unit innovation and

performance." Academy of Management Journal 44(5): 996-1004.

VAN DEN BOSCH, F. A. J., VOLBERDA, H. W. and DE BOER, M. (1999).

Page 178: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

167

"Coevolution of firm absorptive capacity and knowledge environment:

Organizational forms and combinative capabilities." Organization Science 10(5):

551-568.

VERMEULEN, F. and BARKEMA, H. (2002). "Pace, rhythm, and scope: Process

dependence in building a profitable multinational corporation." Strategic

Management Journal 23: 637–653.

VIOTTI, E. B., BAESSA, A. R. and KOELLER, P. (2005). Perfil da inovação na

indústria brasileira: uma comparação internacional. Inovações, padrões

tecnológicos e desempenho das firmas industriais brasileiras. J. A. De Negri and

M. S. Salerno. Brasília, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA.

VOJAK, B. A. and CHAMBERS, F. A. (2004). "Roadmapping disruptive technical

threats and opportunities in complex, technology-based subsystems: The SAILS

methodology." Technological Forecasting and Social Change 71(1-2): 121-139.

VON HIPPEL, E. (2005). Democratizing innovation. Cambridge, Massachusetts, MIT

Press.

VON HIPPEL, E. (2005). "Democratizing innovation: The evolving phenomenon of

user innovation." Journal für Betriebswirtschaft 55(1): 63-78.

WALSH, S. T. (2004). "Roadmapping a disruptive technology: A case study - The

emerging microsystems and top-down nanosystems industry." Technological

Forecasting and Social Change 71(1-2): 161-185.

WATTS, R. J. and PORTER, A. L. (1997). "Innovation forecasting." Technological

Forecasting and Social Change 56(1): 25-47.

WERNERFELT, B. (1984). "A Resource-Based View of the Firm." Strategic

Management Journal 5(2): 171-180.

WHEELWRIGHT, S. C. and CLARK, K. B. (1992). Revolutionizing Product

Development: Quantum Leaps in Speed, Efficiency, and Quality. New York,

The Free Press.

WILLYARD, C. H. and MCCLEES, C. W. (1987). "Motorolas Technology Roadmap

Process." Research Management 30(5): 13-19.

Page 179: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

168

WINTER, S. G. (2000). "The satisficing principle in capability learning." Strategic

Management Journal 21(10-11): 981-996.

YIN, R. K. (2005). Estudo de Caso: Planejamento e métodos, Bookman.

YOON, B. and PARK, Y. (2005). "A systematic approach for identifying technology

opportunities: Keyword-based morphology analysis." Technological Forecasting

and Social Change 72(2): 145-160.

ZAHRA, S. A. and GEORGE, G. (2002). "Absorptive capacity: A review,

reconceptualization, and extension." Academy of Management Review 27(2):

185-203.

ZOOK, C. (2003). Além das fronteiras do Core Business, Campus.

ZOTT, C. (2003). "Dynamic capabilities and the emergence of intraindustry differential

firm performance: Insights from a simulation study." Strategic Management

Journal 24(2): 97-125.

Page 180: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

169

ANEXO I: ESTRUTURA PROPOSTA DE ROADMAP

Para cada camada deste roadmap foram estabelecidos um conjunto de objetos, que

têm como principal objetivo enriquecer a análise e o exercício de planejamento.

Camada de Mercados e Tendências

Nesta camada devem ser explicitados as principais tendências ou eventos em relação

a:

demanda geral pelos produtos

marco regulatório

percepção de valor dos clientes (atributos valorizados, componentes etc..)

tendências tecnológicas

entre outros.

Os objetos a serem utilizados, com suas respectivas descrições, podem ser

visualizados na Figura 32:

Figura 32: Objetos a serem utilizados na camada de mercado e tendências

Cada objeto destes deve conter um conjunto específico de informações:

Page 181: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

170

Figura 33: Informações por objeto a serem utilizados na camada de

mercado e tendências

Camada de produtos

Nesta camada, para cada um dos eventos validados deve ser associado um ou mais

produtos (inclusive alternativos) para responder àquele acontecimento. Estes produtos

podem assumir diferentes formatos e a organização pode decidir se quer ou não ofertá-

lo.

Os objetos a serem utilizados, com suas respectivas descrições, podem ser

visualizados na Figura 34:

Page 182: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

171

Define um produto real, ou seja, que existirá concretamente, que a organização decidiu que não fará parte de seu portfólio. Este é resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos, mas ainda deve ser validado pelo comitê de roadmapping ou sala se situações.

Define um produto virtual, ou seja, não existirá concretamente. Seu uso éimportante como resultado intermediário para habilitar a produção de produtos reais combinados etc.. A organização decidiu que este fará parte de seu portfólio. Este já foi objeto de consenso no comitê de roadmappingou na sala de situações.

Define um produto real, ou seja, que existirá concretamente, que a organização decidiu que fará parte de seu portfólio. Este é resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos, mas ainda deve ser validado pelo comitê de roadmapping ou sala se situações.

Define um produto real, ou seja, que existirá concretamente, que a organização decidiu que não fará parte de seu portfólio. Este já foi objeto de consenso no comitê de roadmapping ou na sala de situações.

Define um produto real, ou seja, que existirá concretamente, que a organização decidiu que fará parte de seu portfólio. Este já foi objeto de consenso no comitê de roadmapping ou na sala de situações.

DescriçãoObjeto

Define um produto real, ou seja, que existirá concretamente, que a organização decidiu que não fará parte de seu portfólio. Este é resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos, mas ainda deve ser validado pelo comitê de roadmapping ou sala se situações.

Define um produto virtual, ou seja, não existirá concretamente. Seu uso éimportante como resultado intermediário para habilitar a produção de produtos reais combinados etc.. A organização decidiu que este fará parte de seu portfólio. Este já foi objeto de consenso no comitê de roadmappingou na sala de situações.

Define um produto real, ou seja, que existirá concretamente, que a organização decidiu que fará parte de seu portfólio. Este é resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos, mas ainda deve ser validado pelo comitê de roadmapping ou sala se situações.

Define um produto real, ou seja, que existirá concretamente, que a organização decidiu que não fará parte de seu portfólio. Este já foi objeto de consenso no comitê de roadmapping ou na sala de situações.

Define um produto real, ou seja, que existirá concretamente, que a organização decidiu que fará parte de seu portfólio. Este já foi objeto de consenso no comitê de roadmapping ou na sala de situações.

DescriçãoObjeto

Produto real do portfólio

Produto real fora do portfólio

Produto real sugerido do portfólio

Produto real sugerido fora do portfólio

Produto virtual* do portfólio

Define os principais atores relacionados ao produto definido. Estes contemplam concorrentes, laboratórios de referência, universidades, centros de pesquisas, órgãos reguladores etc. Estes devem ser acompanhados de forma detalhada ao longo do tempo, tendo suas ações relacionadas ao produto acompanhadas.

Define as atividades realizadas internamente para o alcance de um determinado produto. Estas podem ter diferentes naturezas como desenvolvimento, transferência de tecnologia, contratação terceirizada etc..

Define um marco temporal importante. Deve refletir decisões importantes (go-no-go), necessidades de aprovações, registros, final de etapas importantes nas ações etc..

Define as atividades de outros atores, já identificadas, relacionadas ao alcance do produto definido. Estas ações devem ser fortemente acompanhadas pois representam uma concorrência direta às ações realizadas internamente. Este acompanhamento pode orientar a alteração das decisões de como atingir o produto (ação interna) em função da posição dos concorrentes.

Por se abordar horizontes de tempo longos, os produtos sugeridos possuirão um grau de incerteza alto. Para explicitar essa incerteza a barra deve ser utilizada para indicar o horizonte temporal em que aquele produto pode se consolidar.

Define um produto virtual, ou seja, não existirá concretamente. Seu uso éimportante como resultado intermediário para habilitar a produção de produtos reais combinados etc.. A organização decidiu que este não fará parte de seu portfólio Este é resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos, mas ainda deve ser validado pelo comitê de roadmapping ou sala se situações.

Define um produto virtual, ou seja, não existirá concretamente. Seu uso éimportante como resultado intermediário para habilitar a produção de produtos reais combinados etc.. A organização decidiu que este fará parte de seu portfólio Este é resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos, mas ainda deve ser validado pelo comitê de roadmapping ou sala se situações.

Define um produto virtual, ou seja, não existirá concretamente. Seu uso éimportante como resultado intermediário para habilitar a produção de produtos reais combinados etc.. A organização decidiu que este não fará parte de seu portfólio. Este já foi objeto de consenso no comitê de roadmapping ou na sala de situações.

Define os principais atores relacionados ao produto definido. Estes contemplam concorrentes, laboratórios de referência, universidades, centros de pesquisas, órgãos reguladores etc. Estes devem ser acompanhados de forma detalhada ao longo do tempo, tendo suas ações relacionadas ao produto acompanhadas.

Define as atividades realizadas internamente para o alcance de um determinado produto. Estas podem ter diferentes naturezas como desenvolvimento, transferência de tecnologia, contratação terceirizada etc..

Define um marco temporal importante. Deve refletir decisões importantes (go-no-go), necessidades de aprovações, registros, final de etapas importantes nas ações etc..

Define as atividades de outros atores, já identificadas, relacionadas ao alcance do produto definido. Estas ações devem ser fortemente acompanhadas pois representam uma concorrência direta às ações realizadas internamente. Este acompanhamento pode orientar a alteração das decisões de como atingir o produto (ação interna) em função da posição dos concorrentes.

Por se abordar horizontes de tempo longos, os produtos sugeridos possuirão um grau de incerteza alto. Para explicitar essa incerteza a barra deve ser utilizada para indicar o horizonte temporal em que aquele produto pode se consolidar.

Define um produto virtual, ou seja, não existirá concretamente. Seu uso éimportante como resultado intermediário para habilitar a produção de produtos reais combinados etc.. A organização decidiu que este não fará parte de seu portfólio Este é resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos, mas ainda deve ser validado pelo comitê de roadmapping ou sala se situações.

Define um produto virtual, ou seja, não existirá concretamente. Seu uso éimportante como resultado intermediário para habilitar a produção de produtos reais combinados etc.. A organização decidiu que este fará parte de seu portfólio Este é resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos, mas ainda deve ser validado pelo comitê de roadmapping ou sala se situações.

Define um produto virtual, ou seja, não existirá concretamente. Seu uso éimportante como resultado intermediário para habilitar a produção de produtos reais combinados etc.. A organização decidiu que este não fará parte de seu portfólio. Este já foi objeto de consenso no comitê de roadmapping ou na sala de situações.

Incerteza

Produto virtual* fora do portfólio

Produto virtual* sugerido do portfólio

Produto virtual* sugerido fora do portfólio

Atividade realizada internamente

Atividade externa (outros atores)

Atores

Marco

Figura 34: Objetos a serem utilizados na camada de produtos

Cada objeto destes deve conter um conjunto específico de informações:

Page 183: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

172

Descrição do atorInformações do atorClassificação do ator (concorrente, universidade, governo etc..)Responsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoFórum (registra observações sobre os atores – “blog”)

Descrição da atividadeNatureza da atividade (desenvolvimento, transferência de tecnologia, terceirização etc..)Responsável pela atividadeResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Descrição do produtoStatus (sugerido ou validado)Tipo de produto (real ou virtual)Decisão de portfólio (sim ou não)Fórum de validação (data e instância)PropositorFonte de informaçãoResponsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoAtores importantesPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre o produto – “blog”)

Informações por objetoObjeto

Descrição do atorInformações do atorClassificação do ator (concorrente, universidade, governo etc..)Responsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoFórum (registra observações sobre os atores – “blog”)

Descrição da atividadeNatureza da atividade (desenvolvimento, transferência de tecnologia, terceirização etc..)Responsável pela atividadeResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Descrição do produtoStatus (sugerido ou validado)Tipo de produto (real ou virtual)Decisão de portfólio (sim ou não)Fórum de validação (data e instância)PropositorFonte de informaçãoResponsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoAtores importantesPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre o produto – “blog”)

Informações por objetoObjeto

Produto

Atividade realizada internamente

Atores

Descrição do marcoPrazo para alcanceResponsávelResponsável pela verificaçãoImplicações do não alcanceFórum (registra opiniões sobre o marco – “blog”)

Produto relacionadoPeríodo de possível acontecimento

Descrição da atividadeAtor que realiza a atividadeImplicações da açãoResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Descrição do marcoPrazo para alcanceResponsávelResponsável pela verificaçãoImplicações do não alcanceFórum (registra opiniões sobre o marco – “blog”)

Produto relacionadoPeríodo de possível acontecimento

Descrição da atividadeAtor que realiza a atividadeImplicações da açãoResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Incerteza

Atividade externa (outros atores)

Marco

Figura 35: Informações por objeto a serem utilizados na camada de

produtos

Camada de tecnologias e capacitações

Nesta camada, para cada um dos produtos validados devem ser associadas às

tecnologias e capacitações que viabilizam a construção daquele produto. Deve-se

entender:

Page 184: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

173

Tecnologia: conhecimento teórico e prático, habilidades e artefatos que podem

ser usados para desenvolver produtos e serviços, assim como seus sistemas

produtivos. Pode estar embarcada nas pessoas, equipamentos e ferramentas.

Capacitação: as habilidades específicas da organização. Tais habilidades

manifestam-se em processos operacionais, a partir de combinações tipicamente

complexas de ativos tangíveis e intangíveis. Incluem habilidades de saber fazer a

baixo custo, saber fazer bem, e de saber escolher o que fazer. Incluem ainda

habilidades de fazer avançar o desempenho da organização, seja em termos de

novos produtos ou serviços, ou de novos processos de produção, venda,

financiamento, divulgação, etc..

Os objetos a serem utilizados, com suas respectivas descrições, podem ser

visualizados na Figura 36:

Define uma capacitação desejada, resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos. Esta deve ser validada pelo comitê de roadmapping ou sala se situações para que se torne uma capacitação.

Define uma tecnologia desejada, resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos. Esta deve ser validada pelo comitê de roadmapping ou sala se situações para que se torne uma tecnologia.

Define uma capacitação desejada que já foi discutida e acordada com os participantes do comitê de roadmapping ou na sala de situações.

Define uma tecnologia desejada que já foi discutida e acordada com os participantes do comitê de roadmapping ou na sala de situações.

DescriçãoObjeto

Define uma capacitação desejada, resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos. Esta deve ser validada pelo comitê de roadmapping ou sala se situações para que se torne uma capacitação.

Define uma tecnologia desejada, resultante de pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos. Esta deve ser validada pelo comitê de roadmapping ou sala se situações para que se torne uma tecnologia.

Define uma capacitação desejada que já foi discutida e acordada com os participantes do comitê de roadmapping ou na sala de situações.

Define uma tecnologia desejada que já foi discutida e acordada com os participantes do comitê de roadmapping ou na sala de situações.

DescriçãoObjeto

Tecnologia

Capacitação

Tecnologia sugerida

Capacitação sugerida

Define os principais atores relacionados a tecnologia definida. Estes contemplam concorrentes, laboratórios de referência, universidades, centros de pesquisas, órgãos reguladores etc. Estes devem ser acompanhados de forma detalhada ao longo do tempo, tendo suas ações relacionadas ao produto acompanhadas.

Por se abordar horizontes de tempo longos, as tecnologias sugeridas possuirão um grau de incerteza alto. Para explicitar essa incerteza a barra deve ser utilizada para indicar o horizonte temporal em que aquela tecnologia pode se consolidar.

Define um marco temporal importante. Deve refletir decisões importantes (go-no-go), necessidades de aprovações, registros, final de etapas importantes nas ações etc..

Define as atividades de outros atores, já identificadas, relacionadas ao alcance da tecnologia definida. Estas ações devem ser fortemente acompanhadas pois representam uma concorrência direta às ações realizadas internamente. Este acompanhamento pode orientar a alteração das decisões de como atingir a tecnologia (ação interna) em função da posição dos concorrentes.

Define as atividades realizadas internamente para o alcance de uma determinada tecnologia ou capacitação. Estas podem ter diferentes naturezas como desenvolvimento, transferência de tecnologia, contratação terceirizada etc..

Define os principais atores relacionados a tecnologia definida. Estes contemplam concorrentes, laboratórios de referência, universidades, centros de pesquisas, órgãos reguladores etc. Estes devem ser acompanhados de forma detalhada ao longo do tempo, tendo suas ações relacionadas ao produto acompanhadas.

Por se abordar horizontes de tempo longos, as tecnologias sugeridas possuirão um grau de incerteza alto. Para explicitar essa incerteza a barra deve ser utilizada para indicar o horizonte temporal em que aquela tecnologia pode se consolidar.

Define um marco temporal importante. Deve refletir decisões importantes (go-no-go), necessidades de aprovações, registros, final de etapas importantes nas ações etc..

Define as atividades de outros atores, já identificadas, relacionadas ao alcance da tecnologia definida. Estas ações devem ser fortemente acompanhadas pois representam uma concorrência direta às ações realizadas internamente. Este acompanhamento pode orientar a alteração das decisões de como atingir a tecnologia (ação interna) em função da posição dos concorrentes.

Define as atividades realizadas internamente para o alcance de uma determinada tecnologia ou capacitação. Estas podem ter diferentes naturezas como desenvolvimento, transferência de tecnologia, contratação terceirizada etc..

Incerteza

Atividade realizada internamente

Atividade externa (outros atores)

Marco

Atores

Figura 36: Objetos a serem utilizados na camada de tecnologias e

capacitações

Page 185: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

174

Cada objeto destes deve conter um conjunto específico de informações:

Descrição da capacitaçãoStatus (sugerida ou validada)Fórum de validação (data e instância)Tipo de capacitaçãoPropositorResponsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoAtores importantesNível de maturidade da capacitaçãoPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a capacitação – “blog”)

Descrição do atorInformações do atorClassificação do ator (concorrente, universidade, governo etc..)Responsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoFórum (registra observações sobre os atores – “blog”)

Descrição da tecnologiaStatus (sugerida ou validada)Fórum de validação (data e instância)Tipo de tecnologiaNível de maturidade da tecnologiaPropositorResponsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoAtores importantesPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a tecnologia – “blog”)

Informações por objetoObjeto

Descrição da capacitaçãoStatus (sugerida ou validada)Fórum de validação (data e instância)Tipo de capacitaçãoPropositorResponsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoAtores importantesNível de maturidade da capacitaçãoPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a capacitação – “blog”)

Descrição do atorInformações do atorClassificação do ator (concorrente, universidade, governo etc..)Responsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoFórum (registra observações sobre os atores – “blog”)

Descrição da tecnologiaStatus (sugerida ou validada)Fórum de validação (data e instância)Tipo de tecnologiaNível de maturidade da tecnologiaPropositorResponsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoAtores importantesPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a tecnologia – “blog”)

Informações por objetoObjeto

Atores

Tecnologia

Capacitação

Tecnologia sugerida

Capacitação sugerida

Descrição da atividadeNatureza da atividade (desenvolvimento, transferência de tecnologia, terceirização etc..)Responsável pela atividadeResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Descrição do marcoPrazo para alcanceResponsávelResponsável pela verificaçãoImplicações do não alcanceFórum (registra opiniões sobre o marco – “blog”)

Produto relacionadoPeríodo de possível acontecimento

Descrição da atividadeAtor que realiza a atividadeImplicações da açãoResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Descrição da atividadeNatureza da atividade (desenvolvimento, transferência de tecnologia, terceirização etc..)Responsável pela atividadeResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Descrição do marcoPrazo para alcanceResponsávelResponsável pela verificaçãoImplicações do não alcanceFórum (registra opiniões sobre o marco – “blog”)

Produto relacionadoPeríodo de possível acontecimento

Descrição da atividadeAtor que realiza a atividadeImplicações da açãoResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Incerteza

Atividade externa (outros atores)

Marco

Atividade realizada internamente

Figura 37: Informações por objeto a serem utilizados na camada de

tecnologias e capacitações

Page 186: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

175

Camada de pesquisa de base

Nesta camada, para cada uma das tecnologias validadas devem ser associadas as

descobertas científicas que restringem o seu desenvolvimento.

Os objetos a serem utilizados, com suas respectivas descrições, podem ser

visualizados na Figura 38:

Define os principais atores relacionados a pesquisa definida. Estes contemplam concorrentes, laboratórios de referência, universidades, centros de pesquisas, órgãos reguladores etc. Estes devem ser acompanhados de forma detalhada ao longo do tempo, tendo suas ações relacionadas a pesquisa acompanhada.

Define as atividades realizadas internamente para o alcance de uma determinada descoberta científica.

Define as atividades de outros atores, já identificadas, relacionadas ao alcance da descoberta científica . Estas ações devem ser fortemente acompanhadas pois representam uma concorrência direta às ações realizadas internamente. Este acompanhamento pode orientar a alteração das decisões de como atingir a descoberta tecnológica (ação interna) em função da posição dos concorrentes.

Por se abordar horizontes de tempo longos, as pesquisas sugeridas possuirão um grau de incerteza alto. Para explicitar essa incerteza a barra deve ser utilizada para indicar o horizonte temporal em que aquela descoberta pode se consolidar.

Define um marco temporal importante. Deve refletir decisões importantes (go-no-go), necessidades de aprovações, registros, final de etapas importantes nas ações etc..

Define uma descoberta científica desejada que restringe o desenvolvimento tecnológico e foi sugerida pelas pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos. Esta deve ser validada pelo comitê de roadmapping ou sala se situações para que se torne uma tecnologia.

Define uma descoberta científica desejada que restringe o desenvolvimento tecnológico e já foi discutida e acordada com os participantes do comitê de roadmapping ou na sala de situações.

DescriçãoObjeto

Define os principais atores relacionados a pesquisa definida. Estes contemplam concorrentes, laboratórios de referência, universidades, centros de pesquisas, órgãos reguladores etc. Estes devem ser acompanhados de forma detalhada ao longo do tempo, tendo suas ações relacionadas a pesquisa acompanhada.

Define as atividades realizadas internamente para o alcance de uma determinada descoberta científica.

Define as atividades de outros atores, já identificadas, relacionadas ao alcance da descoberta científica . Estas ações devem ser fortemente acompanhadas pois representam uma concorrência direta às ações realizadas internamente. Este acompanhamento pode orientar a alteração das decisões de como atingir a descoberta tecnológica (ação interna) em função da posição dos concorrentes.

Por se abordar horizontes de tempo longos, as pesquisas sugeridas possuirão um grau de incerteza alto. Para explicitar essa incerteza a barra deve ser utilizada para indicar o horizonte temporal em que aquela descoberta pode se consolidar.

Define um marco temporal importante. Deve refletir decisões importantes (go-no-go), necessidades de aprovações, registros, final de etapas importantes nas ações etc..

Define uma descoberta científica desejada que restringe o desenvolvimento tecnológico e foi sugerida pelas pesquisas e sugestões dos gatekeepers ou atores envolvidos. Esta deve ser validada pelo comitê de roadmapping ou sala se situações para que se torne uma tecnologia.

Define uma descoberta científica desejada que restringe o desenvolvimento tecnológico e já foi discutida e acordada com os participantes do comitê de roadmapping ou na sala de situações.

DescriçãoObjeto

Descoberta científica

Descoberta científica sugerida

Atores

Atividade externa (outros atores)

Atividade realizada internamente

Incerteza

Marco

Figura 38: Objetos a serem utilizados na camada de pesquisa de base

Cada objeto destes deve conter um conjunto específico de informações:

Page 187: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

176

Descrição do atorInformações do atorClassificação do ator (concorrente, universidade, governo etc..)Responsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoFórum (registra observações sobre os atores – “blog”)

Descrição da atividadeNatureza da atividade (desenvolvimento, transferência de tecnologia, terceirização etc..)Responsável pela atividadeResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Descrição da descoberta científicaStatus (sugerida ou validada)Fórum de validação (data e instância)PropositorResponsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoAtores importantesPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a descoberta científica – “blog”)

Informações por objetoObjeto

Descrição do atorInformações do atorClassificação do ator (concorrente, universidade, governo etc..)Responsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoFórum (registra observações sobre os atores – “blog”)

Descrição da atividadeNatureza da atividade (desenvolvimento, transferência de tecnologia, terceirização etc..)Responsável pela atividadeResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Descrição da descoberta científicaStatus (sugerida ou validada)Fórum de validação (data e instância)PropositorResponsável pelo acompanhamentoForma de busca para acompanhamentoAtores importantesPalavras-chaveForma de colapsoFórum (registra opiniões sobre a descoberta científica – “blog”)

Informações por objetoObjeto

Atores

Descoberta científica

Descoberta científica sugerida

Atividade realizada internamente

Produto relacionadoPeríodo de possível acontecimento

Descrição da atividadeAtor que realiza a atividadeImplicações da açãoResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Descrição do marcoPrazo para alcanceResponsávelResponsável pela verificaçãoImplicações do não alcanceFórum (registra opiniões sobre o marco – “blog”)

Produto relacionadoPeríodo de possível acontecimento

Descrição da atividadeAtor que realiza a atividadeImplicações da açãoResponsável pelo acompanhamentoPalavras-chaveFórum (registra opiniões sobre a ação – “blog”)

Descrição do marcoPrazo para alcanceResponsávelResponsável pela verificaçãoImplicações do não alcanceFórum (registra opiniões sobre o marco – “blog”)

Atividade externa (outros atores)

Incerteza

Marco

Figura 39: Informações por objeto a serem utilizados na camada pesquisa

de base

Camada de pesquisa de base

Nesta perspectiva, as ações internas que decidiu-se realizar são consolidadas. Desta

forma pode ser detalhada a lógica e programação do projeto, alocando recursos,

cronogramas etc. Para este detalhamento pode ser usado a metodologia específica da

organização ou alguma metodologia consagrada com o PMBoK (PMI) ou Price2. Nesta

perspectiva ficam explicitas concorrências por recursos, restrições de capacidade

instalada etc..

Page 188: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

177

Projeto

Figura 40: Representação esquemática da camada de projetos

Page 189: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

178

ANEXO II : QUESTÕES E ANÁLISES DO TECH MINING

Principais perguntas para o tech mining Análises para tratá-las

1. Quais tecnologias emergentes merecem nossa atenção?

Defina pontuações (scorecards) para possibilitar a rápida comparação entre as múltiplas tecnologias

Considere diferentes métricas para avaliar tecnologias industriais, informacionais e moleculares

Defina alertas (que medidas, que informações, freqüência etc.)

Plote tendências nas atividades de publicação, com uma medida da taxa de mudança (por tipo de base)

Plote tendências nas atividades de patentes, com uma medida da taxa de mudança (por tipo de base)

Apresente tendências de publicações a partir de múltiplas bases (considerando desde pesquisa de base, patentes, bases de negócios e jornais) para verificar a maturidade da tecnologia

Tamanho da comunidade de pesquisa - acompanhe mudanças nas publicações, patentes, autores e inventores - procure por crescimentos explosivos

Plote tamanho do dominio versus taxa de crescimento (tanto para publicações quanto para patentes)

Ajuste modelos de crescimento (normalmente curva S) às tecnologias pertinentes para avaliar as maturação

2. Quais facetas deste desenvolvimento tecnológico são efetivamente importantes?

Análise dos principais componentes (PCA) dos clusters de palavras-chaves para identificar as facetas importantes

Indicador do que "está quente" (quais as palavras-chaves estão sendo bastante usadas)

Gráficos de tendências em 3 dimensões para os tópicos (componentes da tecnologia) ao longo do tempo

Comparação das taxas de mudança entre os diferentes componentes

Tamanho da comunidade de pesquisa recortado pelos principais componentes

Indicador de espalhamento de interesse (número de organizações de vários tipos engajadas em cada um dos principais componentes e a taxa de mudança em cada um)

Ajustar cada um dos componentes a modelos de crescimento (curva S) para verificar a maturidade da tecnologia Comparação entre listas para identificar novos tópicos 3. Quais são as novas fronteiras

para esta tecnologia? Use processamento natural de linguagem (NLP) em títulos e abstracts para gerar novos potenciais tópicos para análise humana

Page 190: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

179

Conte o quanto as patentes citam artigos científicos. Se for considerável, busque potenciais tópicos e tendências recentes nestes domínios científicos. Mapeie os clusters de tópicos (PCA) Mapeie os códigos de classes (publicações) Mapeie os códigos de classes (patentes) Use ARM para organizar relações de pai-filho

4. Quais são os componentes tecnológicos que mais contribuem? Quais são os subtipos mais significantes?

Mapeie fluxogramas de relações entre tópicos para revisão de especialistas Mapas de espaços em branco 5. Como este desenvolvimento

tecnológico se ajusta ao contexto tecnológico?

Medidas de densidade para distinguir entre desertos, florestas e estágios intermediários

Mapas de superfície 3-D Medidas normalizadas como função do tamanho da

área tecnológica Forneça versões com os mapas em intervalos

temporais para apresentar a evolução no tempo (trajetórias de desenvolvimento)

Compare a cobertura desta tecnologia entre bases de publicações relevantes

Identifique alternativas e potenciais substitutos 6. O que está direcionando este desenvolvimento tecnológico?

Pontue a base científica relacionada (% de patentes citando artigos de P&D)

Preponderância de uso de termos que sugerem direcionadores particulares (e.x. regulação, puxado pelo mercado, empurrado pela tecnologia)

Publicações relativas pela academia, indústria e outros tipos de organizações

Líderes em publicações (e.x. países) e patentes (e.x. empresas, países) Busca de menções em conjunto com a tecnologia alvo.

7. Quais são as tecnologias competidoras?

Identificação de estudos de comparação Comparação do estágio de maturação, direcionadores

etc. entre a tecnologia alvo e a tecnologia concorrente 8. O quão favorável está a expectativa de desenvolvimento desta tecnologia?

Defina pontuações (scorecards) para possibilitar a rápida comparação entre as múltiplas tecnologias

Considere diferentes métricas para avaliar tecnologias emergentes e tecnologias já desenvolvidas

Atividade de pesquisa ao longo do tempo (publicações e patentes)

Potencial de evolução - gráficos de radares Indicador de espalhamento de interesse (número de

organizações de vários tipos engajadas e a taxa de mudança em cada um)

Indicadores de redução de interesse Espalhamento da palavra (número de fontes distintas

publicando sobre a tecnologia)

Page 191: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

180

Times de pesquisa - compare o tamanho dos times (número de co-autores) entre as diferentes tecnologias (quanto maior os times melhor o indicador)

9. Quais são os prováveis caminhos de desenvolvimento para esta tecnologia?

Velocidade de indicação (taxa de publicação e taxa de mudança)

Marque o status e o desenvolvimento do projeto na curva S (maturação da tecnologia)

Marque o status e a produção do projeto na curva S Marque o status e a expectativa de desenvolvimento

do projeto dos componentes críticos na curva S Realize análises de sensibilidade nos modelos de

crescimento Sinalize sinais de mudança de regime (transição

caótica para uma nova curva S) Compile medidas similares na variações e formas da

tecnologia (apresente de forma comparativa) Distinga possibilidades de diferenciação Apresente quebras para as expectativas de aplicação

(baseado nos pedidos de patente, códigos de classes, classe de publicação etc.) para comparar os principais tópicos com a tecnologia

10. Calcule a maturação da tecnologia dos componentes

Liste as tecnologias relacionadas para apreciação dos especialistas

Ressalte os tópicos peculiares a esta tecnologia 11. Identifique potencial de fusão entre tecnologias

Acompanhe ao longo do tempo - padrões de relações entre tópicos das publicações

Acompanhe ao longo do tempo - padrões de relações entre tópicos das patentes

Extrapole tendências para prever possíveis fusões Mapeie períodos de tempos de clusters de tópicos

agregados (procure pelo início da associação entre os tópicos)

Identifique as organizações que possuem múltiplas capacitações

12. Devemos buscar patentes relativas a esta tecnologia? Que reivindicações devemos perseguir?

Apresente relatório de uma página para facilitar verificação de risco por especialista

Apresente atividades "hot spot" que tenham interseção com esta patente

13. Desenvolva um roadmap tecnológico

Consolide informações dos componentes e suas maturações, trajetórias de desenvolvimento das tecnologias, desenvolvimento dos processos de produção e aplicações, em um formato de roadmap. Isso deve apresentar: a) integração dos componentes para produzir esta tecnologia; b) sua evolução em diferentes gerações; c) produtos e gerações para os quais esta tecnologia pode ser aplicada

Page 192: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

181

14. Calcule a maturidade dos sistemas em que esta tecnologia pode ser aplicada

Perfil de aplicação dos sistemas (identifique os alvos; identifique o status de cada um; apresente para opiniões de especialistas em relação a gaps e ao acesso ao sistema)

15. Quais aspectos desta tecnologia casam com os interesses da aplicação

Desdobre os principais tópicos por publicações e/ou pedidos de patentes mencionados (usando sua própria coleção de aplicações alvo)

Desdobre os principais tópicos por códigos de classe (publicações e patentes)

Plote tendências nestes desdobramentos 16. Quais são as nossas oportunidades nesta tecnologia emergente?

Perfil dos proprietários de patentes (quantos e o quão forte)

Comparação visual entre a nossa posição com a distribuição dos atores líderes

Indicação da densidade de patentes Indicação das licenças sendo mantidas Indicação das estratégias de patenteamento dos atores

líderes Indicação de velocidade de novos entrantes Indicação de importância do conjunto de patentes

pelas citações a ele realizadas Medidas particulares (densidade, tendências, etc.)

para tecnologias ou aplicações que tenham interseções com os nossos interesses

Identificação de patentes que bloqueiem o desenvolvimento desejado

Faça um benchmark por setor com o os dados de citação de patentes CHI

Componha um indicador com as barreiras à entrada baseado na extensão das patentes, auto-citação de patentes, concentração, atividades de publicação e maturidade

17. Quais necessidades sociais e de mercado esta tecnologia e suas aplicações suportam?

Busque por menções em publicações (para idéias, para contar possibilidades e identificar termos alternativos)

Sugestão de novas tendências nas necessidades 18. Que aplicações são promissoras para esta tecnologia?

Use processamento natural de linguagem (NLP) nos pedidos para procurar por aplicações

Desenvolva um catálogo de aplicações para usar nas buscas de aplicações nos pedidos

Represente visualmente a distribuição do IPC (International patent classification codes) ou Código manual

Represente visualmente o espalhamento ao longo do tempo do IPC (International patent classification codes) ou Código manual

19. Quais são as oportunidades globais?

Plote Geo-referenciadamente concentrações de proprietários de patentes

Page 193: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

182

Plote Geo-referenciadamente concentrações nacionais de vários proprietários de patentes (indicador de potencial de mercado)

Plote Geo-referenciadamente publicações por nacionalidade dos autores

Delimite importantes barreiras e impedimentos por região ou países (e.x. competidores, padrões, regulação, restrição de acesso)

Denote ativos significativos e vantagens por região ou país (e.x. parcerias, capacitações locais)

Métrica para avaliação de risco (definição dos riscos para atuação nas oportunidades globais)

20. O que está mudando no ambiente competitivo? Indique novos entrantes (primeiros a patentear) Indique a taxa de entrada dos novos patenteadores Identifique as organizações que estão saindo (sem

depositar novas patentes em 'X' anos ou não mantendo as patentes)

21. Esta tecnologia oferece fortes perspectivas de comercialização?

Avalie a infra-estrutura tecnológica (acompanhe a disponibilidade dos componentes necessários; acompanhe o desenvolvimento dos sistemas para absorver esta tecnologia)

Defina pontuações (scorecards) para possibilitar a rápida visualização das múltiplas tecnologias

Benchmark a atividade de patenteamento com outras tecnologias comparáveis

Benchmark a difusão dos códigos de classe de patentes e atividades de publicação por setores industriais

Tabule as aplicações mencionadas por setores industriais

Indicador de riqueza das palavras-chave - plote esta medida de especialização do P&D ao longo do tempo

Decomposição da tecnologia (difusão de tipos de palavra-chave) – usando um catálogo de tipos de palavra-chave, mostrar a tendência de espalhamento dos interesses de desenvolvimento (categorizando ênfase relativa em ciência de base, processo, desenvolvimento tecnológico, materiais, aplicações)

Gráfico de pizza com % de publicações de P&D por indústria (versus acadêmicas, governamentais e outras)

Tabulação das aplicações mencionadas ao longo do tempo (a partir de pedidos de patentes, abstracts de publicações)

Plotagem das tendências em 3-D dos códigos de classes ao longo do tempo (indicador de foco de espalhamento)

Identificação de substitutos para a tecnologia (real ou tecnologia com potencial de competição)

Defina uma pontuação para a facilidade de adoção

Page 194: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

183

Compare a correlação entre desenvolvimento tecnológico e oportunidades de mercado

22. Avalie o ambiente competitivo

Analise as 5 forças de Porter a) rivalidade, b) fornecedores, c) entrantes, d) compradores, e) substitutos

Mapeamento da dispersão da tecnologia com a difusão de patentes em países ao longo do tempo

23. Quem são os especialistas disponíveis?

Retrate os inventores mais citados que não estejam associados a uma grande empresa (afiliação, distribuição temporal, códigos de classe mais relevantes)

Retrate os autores mais citados (palavras-chave mais encontradas, afiliação, endereço web, background acadêmico) Retrate as "Top N" organizações com maior número de publicações nos anos recentes

24. Quais universidades ou laboratórios de pesquisa lideram nesta tecnologia - no geral ou em aspectos particulares?

Retrate os "Top N" tipos particulares de organizações ou localidades com maior número de publicações (e.x. Brasil)

Compare códigos de classes de publicação Mapeie em superfícies 3-D, mostrando a evolução no

tempo, as organizações líderes em publicações Indicador de longevidade - padrão ao longo do tempo

nas atividades de publicação Mapeamento de autores (co-autoria; ênfase de

tópicos) 25. Quais são as forças e lacunas da nossa própria organização?

Tabulação das atividades de publicações e/ou patentes em tecnologias relacionadas

Mapeie quem colabora com quem dentro na própria organização

Identifique as lacunas nas capacitações necessárias para atingir os objetivos da inovação Retrate as "Top N" organizações com maior número de patentes por tópicos principais (ou usando o código de classe)

26. Quais empresas lideram em determinados aspectos particulares desta tecnologia?

Retrate as "Top N" organizações com maior número de publicações por tópicos principais (ou usando o código de classe, palavras-chaves)

Indicador de concentração (% de patentes de propriedade das principais empresas)

Indicador de foco (proporção das patentes de uma organização no tópico principal, em tópicos relacionados e em tópicos não relacionados)

Mapeie as patentes das empresas líderes em superfícies 3-D, mostrando a evolução ao longo do tempo

Mapeie uma empresa de cada vez para entender a ênfase

Forneça avaliações de "uma página" para facilitar a combinação de julgamento de especialistas com os resultados do text mining

Page 195: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

184

Represente graficamente as empresas "outliers" (aquelas com padrões de patente diferentes)

Matriz de empresas líderes por tópicos principais Mapeie os inventores (co-inventores; tópicos de ênfase)

27. O quão fortes são os times de P&D das empresas líderes?

Mapeie os autores (co-autoria; tópicos de ênfase) Mapeie a atividade do time ao longo do tempo (por

tópicos de ênfase; perceba possibilidades de término, fusões ou potenciais fusões)

Identifique inventores associados à patentes muito citadas (grau de concentração)

28. Quais empresas lideram nesta tecnologia?

Retrate as "TOP N" organizações com maior número de publicações recentes

Plote publicações e patentes ao longo do tempo para cada uma das empresas líderes

Indicador de longevidade - compare a duração do engajamento (patentes e publicações)

Indique a auto-suficiência em patentes (o quanto se baseia em outras patentes)

Indicador de foco (proporção das patentes de uma organização nesta tecnologia, em tecnologias relacionadas e em tecnologias não relacionadas)

29. Como a ênfase de desenvolvimento das empresas líderes se compara com a nossa?

Compare a visualização do IPC (International patent classification codes) ou Código manual com a da sua organização

Compare a visualização dos códigos de classes de publicação com a da sua organização

Identifique os "hot spots" e as citações de outros "hot spots" contra os de sua organização

Sinalize as taxas de mudança nos padrões de atividades de P&D, comparando-as com as de sua organização

Defina pontuações para avaliar potenciais colaboradores; desenvolva indicadores que apontem para P&D em conjunto, licenciamento de patentes, etc.

30. Que outras forças tecnológicas cada uma das empresas líderes possuem?

Retrate as demais patentes relacionadas a esta organização pelo IPC (International patent classification codes) ou Código Manual

Mapeie as ênfases de suas patentes Calcule uma medida de concentração apresentando o

% de patentes nesta área tecnológica 31. Caracterize a Propriedade Industrial de uma empresa em relação a uma determinada tecnologia

Retrate comparativamente (quantas patentes cada uma e o quão forte elas são), em uma visualização composta, os principais proprietários (empresas e outros)

Indique a concentração para cada uma delas (que % de patentes é na tecnologia em questão, que % é relacionado e que % não tem relação)

Page 196: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

185

Indique a concentração de publicações (nesta e em tecnologias relacionadas) por editores-chave, ao longo do tempo

Acompanhe a concentração ao longo do tempo Indique as comercializações de patentes (licenças

sendo mantidas) Indique as estratégias de patenteamento aparentes dos

atores líderes Indique a partir das citações, a importância do

portfólio de patentes de cada proprietário de patente Retrate a força de P&D desta organização

(pesquisadores e inventores chave, longevidade, ênfase) Retrate os proprietários (quantos são, qual a força de cada um) em uma visualização comparativa Indique as comercializações de patentes (licenças sendo mantidas)

32. O que empresas pequenas ou inventores autônomos têm de interessante (Propriedade Intelectual) relacionado a esta tecnologia (potenciais aquisições ou licenciamento)?

Indique as estratégias de patenteamento aparentes dos atores líderes

Indique a velocidade dos novos entrantes Indique a partir das citações, a importância do

portfólio de patentes Identifique empresas recebendo financiamentos para

desenvolvimento de projetos Identifique co-propriedade de patentes 33. Quem está colaborando com

quem (ambiente competitivo)? Identifique co-autorias em publicações Identifique a duração destas colaborações Plote o interesse das organizações; identifique

interseções que podem ser potenciais colaborações Retrate potenciais duplas de parceria entre empresas

(status, forma, capacitações etc.) Retrate potenciais parcerias entre empresas e outros

(universidades, institutos, laboratórios) 34. Mapeamento de competidores Retrate as capacitações pertinentes para desenvolver a

determinada tecnologia (busque os estágios de desenvolvimento da pesquisa às vendas e questões relativas ao ciclo de vida) (formate para viabilizar opiniões de especialistas)

Retrate os recursos disponíveis (financeiros, conhecimento, técnico, marketing, base de clientes)

Defina pontuações para a inovatividade desta organização em vários aspectos (tecnologia, produtos, serviços, processos de produção, sistemas de distribuição) - procure utilizar opiniões de especialistas para refinamento

Defina pontuações para avaliar o alinhamento do potencial tecnológico com a estratégia de negócios

35. Quais as empresas devemos acompanhar de perto?

Defina pontuações para rápida visão geral das múltiplas organizações

Page 197: Clemente - Gestao Estrategica da Inovacao - Proposta de um Framework de Referencia para Suportar o Desenvolvimento da Absorptive Capacity - MSc COPPE - UFRJ - 2007

186

Retrate as empresas candidatas (seus "hot spots"; áreas que citam suas patentes "hot spots" e.x. patentes muito citadas no ano anterior)

Defina alertas (que medidas, que informações, freqüência, atualizações de "uma página")

36. Quem pode se interessar pelo nosso portfólio de Propriedade Intelectual?

Identifique empresas com tecnologias complementares em desenvolvimento como potenciais licenciadores para as nossas tecnologias

37. Quão empreendedor é o ambiente competitivo?

Indique a velocidade de entrada de pequenas empresas no patenteamento

Tendências das empresas em receber prêmios por desempenho em inovações (p.ex. prêmio FINEP)

Defina pontuações para avaliar a disponibilidade de capital de risco

38. Avalie cada um dos competidores chave

Mapeie a taxa de publicações (antigas e recentes) e patentes, para verificar diferenças na taxa de atividade

Avalie a estratégia tecnológica do competidor (identifique possíveis alvos e incertezas do nosso conhecimento)

Realize a análise SWOT de cada competidor (forças, fraquezas, ameaças e oportunidades)

Avalie o posicionamento de produto do competidor Avalie o time-to-market de novos produtos e serviços

do competidor Avalie a efetividade do desenvolvimento de novos

produtos do competidor Construa um roadmap tecnológico para cada um dos

principais competidores (identifique barreiras e riscos associados)

Defina pontuações "eles contra nós" nos diferentes fatores

Fonte: Adaptado de Porter & Cunningham, 2005