Competencias Instrumentais

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Competências instrumentais (expressar ideias com clareza, lógica e criatividade, utilizando a comunicação de forma diferenciada e adequada a diversos públicos e contextos) A redacção de um argumento curto ______________________________________________________________________________ Com frequência não basta apenas conhecer os assuntos e compreendê-los para se conseguir responder de forma clara e lógica a uma questão ou mesmo para elaborar um pequeno texto (Weston, 1996). Ser capaz de expressar ideias com clareza, lógica e criatividade é uma competência transversal que deve ser adquirida e/ou melhorada no decurso da realização de um curso de 1º ciclo. O objectivo deste documento é fornecer alguns elementos de reflexão sobre o modo como se pode desenvolver a argumentação no contexto das Geociências, fornecendo orientações que vos apoiem na elaboração dos e-fólios, p-fólios e exames finais. Para esse efeito vamos partir de um conjunto de exemplos concretos. Começamos por apresentar algumas situações a evitar para depois sugerir aquilo que consideramos como boas práticas na redacção de um argumento curto. 1. Use uma linguagem precisa, específica e concreta Evite usar termos abstractos, vagos ou gerais. NÃO Os granitos são rochas compactas e duras”. Os termos “compactas” e “duras” poderiam ser usados em linguagem corrente, mas num texto científico revelam pouco domínio do assunto. 2. A distinção entre premissas e conclusão O primeiro passo para redigirmos um argumento é sabermos o que desejamos provar ou a que conclusão pretendemos chegar. É preciso não nos esquecermos que a conclusão é a afirmação para a qual estamos a fornecer razões. As afirmações que fornecem essas razões chamam-se “premissas”. “Se é, de certo modo, aceite usar-se indiferentemente as expressões rochas magmáticas e rochas ígneas, já não é correcto referi-las todas por eruptivas, pois este último

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  • Competncias instrumentais (expressar ideias com clareza, lgica e criatividade, utilizando a comunicao de forma diferenciada e adequada a diversos pblicos e contextos) A redaco de um argumento curto ______________________________________________________________________________ Com frequncia no basta apenas conhecer os assuntos e compreend-los para se conseguir responder de forma clara e lgica a uma questo ou mesmo para elaborar um pequeno texto (Weston, 1996). Ser capaz de expressar ideias com clareza, lgica e criatividade uma competncia transversal que deve ser adquirida e/ou melhorada no decurso da realizao de um curso de 1 ciclo. O objectivo deste documento fornecer alguns elementos de reflexo sobre o modo como se pode desenvolver a argumentao no contexto das Geocincias, fornecendo orientaes que vos apoiem na elaborao dos e-flios, p-flios e exames finais. Para esse efeito vamos partir de um conjunto de exemplos concretos. Comeamos por apresentar algumas situaes a evitar para depois sugerir aquilo que consideramos como boas prticas na redaco de um argumento curto.

    1. Use uma linguagem precisa, especfica e concreta Evite usar termos abstractos, vagos ou gerais. NO Os granitos so rochas compactas e duras. Os termos compactas e duras poderiam ser usados em linguagem corrente, mas num texto cientfico revelam pouco domnio do assunto.

    2. A distino entre premissas e concluso O primeiro passo para redigirmos um argumento sabermos o que desejamos provar ou a que concluso pretendemos chegar. preciso no nos esquecermos que a concluso a afirmao para a qual estamos a fornecer razes. As afirmaes que fornecem essas razes chamam-se premissas.

    Se , de certo modo, aceite usar-se indiferentemente as expresses rochas magmticas e rochas gneas, j no correcto referi-las todas por eruptivas, pois este ltimo

  • qualificativo pressupe a origem numa qualquer erupo vucnica, o que nem sempre o caso. (Carvalho, 2002, p. 138)

    Nesta frase o autor comea por apresentar a concluso que pretende defender e depois fornece uma razo para provar que no devemos usar o termo rochas eruptivas como sinnimo de rochas magmticas e gneas. O mesmo argumento poderia tambm ser apresentado de forma invertida, mas o que importante ter presente, no momento de responder a uma questo, qual a concluso a que pretendemos chegar e que argumentos vamos utilizar em apoio dessa concluso.

    3. Apresente as suas ideias por uma ordem natural Os argumentos curtos escrevem-se normalmente em um ou dois pargrafos. Coloque a concluso primeiro, seguida das suas razes, ou apresente as suas premissas primeiro e retire a concluso no fim. Em qualquer dos casos, apresente as suas ideias pela ordem que mais naturalmente revele o seu raciocnio. Repare neste pequeno texto (Velho et al., , F-46):

    Apesar do encerramento das electrometalrgicas, passados cerca de 10 anos aps esse encerramento, o mercado do quartzo reinicia um novo ciclo de forte dinamismo e reanimao, cujo destino a exportao para o fabrico de Fe-Si e Si. Trs factores explicam este fenmeno: 1. A existncia de depsitos de quartzo de excelente qualidade, com um grau de pureza muito elevado, que rivaliza com outros depsitos a nvel mundial; 2. Relao preo/qualidade altamente favorvel; 3. A crescente procura a nvel mundial, da parte dos principais produtores mundiais de Si e de Fe-Si, por quartzo de qualidade, reflectindo o mercado do Si.

    Cada afirmao desta passagem conduz naturalmente prxima. provvel que sejam necessrias vrias reformulaes at chegar a uma redaco clara.

    4. Argumentos com base em exemplos Este tipo de argumentos so muito comuns em Geocincias, mas deve ter o cuidado de escolher exemplos precisos e representativos.

    As rochas magmticas sujeitas a metamorfismo mantm a mesma composio da rocha inicial. Assim, o gneisse tem uma composio semelhante ao granito, com teores elevados em slica metais alcalinos e baixos em ferro, clcio, magnsio e titnio. Quanto ao micaxisto aproxima-se em termos de composio dos argilitos. Por ltimo, o anfbolito tem uma composio prxima das rochas bsicas do tipo basalto ou gabro (Metamorfismo, CC).

    Pode tambm ser importante desenvolver a sua argumentao com base em contra-exemplos, como acontece por exemplo na seguinte situao:

    Todos os minerais, incluindo as pedras preciosas, que se encontram expostos superfcie da Terra encontram-se num estado metaestvel uma vez que as actuais condies so distintas daquelas em que se formaram. Ou, segundo as leis da termodinmica, eles devero transformar-se em novos minerais estveis nas condies standard de temperatura e de presso, mas ningum assistiu jamais s referidas transformaes. A termodinmica, que estabelece leis relativas evoluo dos sistemas, deste modo colocada em causa pela

  • cintica das reaces retrgradas que tm velocidades bastante mais lentas para que estas reaces tenham lugar. O exemplo do mineral-rei, o diamante, particularmente demonstrativo desta situao. O diamante uma variedade de carbono formada a alta presso e alta temperatura (...). De acordo com as leis da termodinmica, ele no estvel superfcie da Terra, devendo transformar-se em grafite, mas ele apresentado como o modelo do mineral resistente e inaltervel por excelncia ... (Pons, 2001, p.12)

    5. Argumentos por analogia

    Ao contrrio da argumentao com base em exemplos em que se multiplicam os exemplos para apoiarem uma generalizao, neste caso o argumento desenvolve-se a partir de um caso ou exemplo especfico, procurando-se provar que outro caso, semelhante ao primeiro em muitos aspectos, tambm semelhante num outro aspecto determinado. Uma das analogias mais clebres nas Geocincias foi formulada por Alfred Wegener quando desenvolveu a teoria da deriva dos continentes, quando refere que os continentes sul americano e africano se fragmentaram e separaram durante o Cretcico:

    as duas partes devem ter aumentado a sua separao no decurso de um perodo de milhes de anos como peas de gelo flutuando na gua (Wegener, 1966, p.17)

    Nos argumentos por analogia devem ser destacadas as semelhanas relevantes.

    6. Argumentos por autoridade Com frequncia necessrio apoiar-nos nos conhecimentos de cientistas. Por isso, frequente em textos cientficos a citao das fontes.

    De acordo com Emmanuel et al. (2007) nas ltimas duas dcadas foram propostos dois modelos de conveco matlica.

    A citao pode ter dois propsitos. Um consiste em ajudar a estabelecer a verdade da premissa, permitindo verificar a citao, o outro objectivo possibilitar ao leitor encontrar a informao sozinho. Deve existir por isso rigor na indicao das fontes.

    7. Argumentos sobre causas A explicao dos fenmenos geolgicos, indicando as suas causas, um dos objectivos das Geocincias. Na tentativa de dar resposta a questes do tipo por que sucedeu ou sucede algo, como foi possvel que..., a que se deve ..., etc., estabelecem-se relaes de causa e efeito. Ao fazermos referncia s causas devemos indicar todas as condies necessrias para que o evento tenha lugar, ter o cuidado de relacionar os efeitos com causas espacialmente prximas, assim como prever o carcter temporal das relaes causais, isto , o efeito surge depois da causa. Por ltimo, no nos devemos esquecer que estas relaes no so simtricas, isto , o efeito no pode originar a causa.

    Sempre que uma regio da litosfera sujeita a esforos tectnicos compressivos ou de traco, no acompanhados de elevao significativa de temperatura ou de aces qumicas de fluidos, as rochas a existentes so simplesmente deformadas (Galopim, 1996, p.66).

  • Escrever um pequeno ensaio argumentativo (resposta a uma questo) 1. Depois de ter estudado o assunto e de ter uma ideia clara do que lhe est a ser pedido

    procure definir a linha argumentativa que pretende seguir. 2. Tenha presente que a introduo deve ser breve. Seja directo e objectivo a apresentar as

    suas ideias principais. 3. Utilize a diviso do texto em pargrafos como forma de tornar mais clara a sua exposio.

    Isto , no procure no mesmo pargrafo abordar uma srie de assuntos. 4. Se pretende defender uma determinada ideia deve afirm-lo de forma clara, passando depois

    a expor os argumentos que o levam a defender essa ideia. 5. Sempre que possvel enumere as razes que o levam a defender uma determinada ideia. 6. Tenha particular ateno s relaes causais que estabelece. Leia e releia o texto,

    procurando encontrar eventuais discrepncias. Referncias bibliogrficas Carvalho, A.M.G. (2002). Introduo ao estudo do magmatismo e das rochas magmticas. Lisboa: ncora. Carvalho, A.M.G. (1996). Geologia. Petrognese e Orognese. Lisboa: Universidade Aberta. Pons, J-C. (2001). La ptro sans peine 2. Minraux et roches mtamorphiques. Grenoble : C.R.D.P. de lacadmie de Grenoble. Velho, J., Fernandes, J. e Gomes, C. (1998). Potencialidades do quartzo de veios e pegmatitos como matria prima para a indstria metalrgica em Actas do V Congresso Nacional de Geologia, tomo 84, Fascculo 2, F27. Wegener, A. (1966). The Origino f Continents and Oceans. New York: Dover. Weston, A. (1996). A Arte de Argumentar. Lisboa: Gradiva.