Domingo, 5 de Outubro de 2014 Nº 174 SÉRIE III...

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JOSÉ CASIMIRO | Mbelipa era uma bela jovem que vivia numa aldeia longínqua, onde o tempo corria tão lento que o Sol se cansava de brilhar e a Lua ficava com os pés em san- gue de tanto percorrer a noite. As sementes germinavam, os frutos amadureciam e a caça era abun- dante. Nada faltava naquele lu- gar distante, mas todos os dias eram tão iguais que ninguém dis- tinguia os domingos. Até que um belo dia, chegou um viajante e tudo mudou tanto, que ninguém voltou a reconhecer o tempo passado. O mais velho da aldeia sossegou o seu povo: - Ukombe Elende! Todos os viajantes são como a nuvem que passa. Chegam, falam dos ca- minhos que percorreram, das vi- das que viveram e das lutas que travaram. E tal como chegam, partem suavemente sem que ninguém dê por isso. - Dai de co- mer ao viajante porque ele não vos aborrece muito tempo! – Proclamou o mais velho de to- dos os velhos da aldeia. E assim se fez. O viajante dizia palavras desconhecidas e contava vidas que ninguém se lembrava de ter vivido. Mbelipa apaixonou-se por ele e esqueceu-se que as nu- vens se desvanecem com o ven- to ou desabam em aguaceiros sobre os telhados das casas e as plantações. Era feliz e aprendeu tantas palavras, que se sentia uma sábia. Um dia, o viajante partiu ao amanhecer como quem vai ao rio buscar água. Nunca mais voltou. Mas Mbeli- pa guardou no seu ventre o fru- to do amor. E quando a criança nasceu houve festa na aldeia. Chamaram-lhe aquele que parte com o vento e acaricia o Sol. Mbelipa tinha que trabalhar e le- vava o filho para a lavra. Como não tinha ninguém que lhe des- se carinho, tirava-o das costas e deitava-o no seu pano. E a criança de Mbelipa ficava ali, so- zinha, esperneando na ânsia de atingir o Sol. Naquelas para- gens existiam muitos macacos. E o chefe da comunidade foi buscar a criança ao pano e le- vou-a para as árvores. Nesse dia, todos se sentiram muito felizes com a presença da criança. Mas quando Mbelipa aca- bou os trabalhos e se dirigiu para o local onde tinha deixado o filho, um macho grande foi a correr de- positar a criança no pano. Desde aquele dia, os macacos iam bus- car o menino e levavam-no de ár- vore em árvore, davam-lhe de co- mer. As mães macacas até lhe da- vam do seu leite. Um dia, o maca- co que estava a vigiar a criança de Mbelipa distraiu-se e ela chegou ao seu pano e não a viu. Teve um mau pressentimento e o seu cora- ção ficou tão apertado que doeu. Pensou que também o seu meni- no havia partido como a nuvem le- vada pelo vento. Wavilikiya onda- ka yalwa nd’ohombi ikoma: - Onde está o meu filho? Aquele grito desesperado ecoou na flo- resta como o rugido de um leão fe- rido de morte. Os macacos assus- taram-se e só então o chefe da co- munidade percebeu o que tinha acontecido. Trouxe o menino e de- positou-o nos braços da sua mãe. - Nós temos cuidado e acarinhado o teu filho. Queremos que ele seja o nosso rei. Entregas-nos a tua cria? Mbelipa abraçou o que parte com o vento e acaricia o Sol, bei- jou-o e respondeu: - O meu filho nasceu para ser um viajante. Jamais será rei! Os macacos ficaram muito tristes mas Mbelipa permitiu que eles continuassem a cuidar da criança enquanto trabalhava. E o que par- te com o vento e acaricia o Sol foi crescendo feliz, à medida que conhecia todos os recantos da floresta. Quando se fez homem, não partiu com o vento nem se desvaneceu como uma nuvem. Passou a fazer parte daquele lu- gar e por lá ficou para sempre. Os seus braços confundiam-se com as árvores e o seu corpo era parte da terra. Era um verdadeiro rei da- quele lugar cheio de encantos! CONSELHOS CONTOS POPULARES ANGOLANOS PROVÉRBIO ADIVINHAS Soluções: 1. Rabanete; 2. Papel; 3. Olhos; 4. Neve; 5. Relógio Saudades dos professores A pausa escolar em Agosto foi muito boa porque os meus pais deixaram-me ir para a cama mais tarde e vi na televisão os jogos do Afrobasket. Eu gosto da Selecção Nacional, e quando puder vou aprender a jogar andebol, porque quero ser boa jogadora co- mo as nossas campeãs africanas. Nestas férias fui passear com a minha família ao Cuanza Norte e acompanhei a minha mãe e as minhas tias à peregrinação da Nossa Senhora da Vitória em Massangano. Gostei muito, mas fiquei admirada porque encontrei a fortaleza arruinada. Deviam pedir aos técnicos que arranjaram a Frotaleza de São Miguel para fazerem o mesmo em Massangano. E lá tam- bém ficava bem uma Bandeira Nacional como a que está no mor- ro da Fortaleza. Os edifícios antigos deviam ser conservados porque os jovens e as crianças de hoje têm o direito de saber o que aconteceu anti- gamente. E eu aprendi com as minhas tias que Massangano é um lugar muito antigo e tem a sua História. O então governador de Angola levou para lá a capital quando o país foi ocupado pelos holandeses. Nessa altura, a população de Luanda defendeu a sua cidade e hoje temos uma das mais belas capitais do mundo. ANABELA MACHADO |12 ANOS | QUIBALA 1. É encarnado e não é sangue, é branco e não é papel. 2. O que é que cai abaixo da torre e não parte, e se cai à água desfaz-se todo? 3. Altos palácios, lindas janelas; abrem-se e fecham, mas nin- guém mora nelas. 4. Do grã monarca das luzes, tanto sou enamorada, que quando o vejo ou o sinto, fico toda liquidada. 5. Uma casa com 12 meninas. Cada uma com quatro quartos, todas elas usam meias, nenhuma rompe sapatos. O que é? «Um inimigo inteligente é me- lhor que um amigo estúpido. Domingo, 5 de Outubro de 2014 Nº 174 SÉRIE III |11 Como escrever para o “Recreio” O nosso endereço é: Recreio - Página Infantil do Jornal de Angola - Rua Rainha Ginga, 18/26 - Luanda, ou para o e-mail: [email protected]. R R ecreio ecreio Suplemento infantil do Jornal de angola BRINCAR E APRENDER CARTAS DOS AMIGUINHOS AToda a gente pelo menos uma vez na vida, carregou na tecla Scroll Lock para ver o que iria acontecer. E o resultado foi sempre decepcionante, já que nada acontece. É uma tecla decorativa AProvavelmente já te perguntaste isso, porque aparentemente nin- guém usa. No máximo, as pessoas carregam nela uma vez ou outra como atalho de algum jogo. Mas todos os teclados a possuem; isso é um facto. AComo tu já deves ter percebido, o Scroll Lock, assim como o Num Lock e o Caps Lock, existe em dois estados: activado e desactivado, sendo o seu estado representado por um LED do teclado que acende e apaga, de- pendendo da (des)activação do botão. A verdade é que o Scroll Lock não exerce função sobre o teclado e não tem uma função específica; o que de- fine para que serve é exclusivamente de acordo com cada programa em uso no computador. S S A A B B I I A A S S Q Q U U E E . . . . . . Tenha bom carácter O carácter das pessoas deter- mina as qualidades pessoais. As pessoas têm vários tipos de com- portamentos e muitos deles são maus. Os que roubam, matam, fazem coisas que magoam, difa- mam outras pessoas, mentem, são chamadas de pessoas com mau carácter. O bom carácter prima pela ho- nestidade, sinceridade, respeito pelos outros e por si mesmo. Por- que ninguém respeita uma pes- soa se primeiro não se respeitar a si mesmo. Tudo o que querem que vos façam devem fazê-lo aos outros da mesma forma. CASIMIRO PEDRO VAMOS COLORIR Um menino pobre que um dia chegou a ser rei

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JOSÉ CASIMIRO |

Mbelipa era uma bela jovemque vivia numa aldeia longínqua,onde o tempo corria tão lentoque o Sol se cansava de brilhar ea Lua ficava com os pés em san-gue de tanto percorrer a noite. Assementes germinavam, os frutosamadureciam e a caça era abun-dante. Nada faltava naquele lu-gar distante, mas todos os diaseram tão iguais que ninguém dis-tinguia os domingos. Até que umbelo dia, chegou um viajante etudo mudou tanto, que ninguémvoltou a reconhecer o tempopassado. O mais velho da aldeiasossegou o seu povo:- Ukombe Elende! Todos os

viajantes são como a nuvem quepassa. Chegam, falam dos ca-minhos que percorreram, das vi-das que viveram e das lutas quetravaram. E tal como chegam,partem suavemente sem queninguém dê por isso. - Dai de co-mer ao viajante porque ele nãovos aborrece muito tempo! –Proclamou o mais velho de to-dos os velhos da aldeia. E assimse fez. O viajante dizia palavrasdesconhecidas e contava vidas

que ninguém se lembrava de tervivido. Mbelipa apaixonou-se porele e esqueceu-se que as nu-vens se desvanecem com o ven-to ou desabam em aguaceirossobre os telhados das casas e asplantações. Era feliz e aprendeutantas palavras, que se sentia

uma sábia. Um dia, o viajantepartiu ao amanhecer comoquem vai ao rio buscar água.Nunca mais voltou. Mas Mbeli-pa guardou no seu ventre o fru-to do amor. E quando a criançanasceu houve festa na aldeia.Chamaram-lhe aquele que parte

com o vento e acaricia o Sol.Mbelipa tinha que trabalhar e le-vava o filho para a lavra. Comonão tinha ninguém que lhe des-se carinho, tirava-o das costas edeitava-o no seu pano. E acriança de Mbelipa ficava ali, so-zinha, esperneando na ânsia deatingir o Sol. Naquelas para-gens existiam muitos macacos.E o chefe da comunidade foibuscar a criança ao pano e le-vou-a para as árvores. Nesse dia, todos se sentiram

muito felizes com a presença dacriança. Mas quando Mbelipa aca-bou os trabalhos e se dirigiu para olocal onde tinha deixado o filho,um macho grande foi a correr de-positar a criança no pano. Desdeaquele dia, os macacos iam bus-car o menino e levavam-no de ár-vore em árvore, davam-lhe de co-mer. As mães macacas até lhe da-vam do seu leite. Um dia, o maca-co que estava a vigiar a criança deMbelipa distraiu-se e ela chegouao seu pano e não a viu. Teve ummau pressentimento e o seu cora-ção ficou tão apertado que doeu.Pensou que também o seu meni-no havia partido como a nuvem le-vada pelo vento. Wavilikiya onda-

ka yalwa nd’ohombi ikoma: - Onde está o meu filho? Aquele

grito desesperado ecoou na flo-resta como o rugido de um leão fe-rido de morte. Os macacos assus-taram-se e só então o chefe da co-munidade percebeu o que tinhaacontecido. Trouxe o menino e de-positou-o nos braços da sua mãe.- Nós temos cuidado e acarinhadoo teu filho. Queremos que ele sejao nosso rei. Entregas-nos a tuacria? Mbelipa abraçou o que partecom o vento e acaricia o Sol, bei-jou-o e respondeu: - O meu filho nasceu para ser

um viajante. Jamais será rei! Osmacacos ficaram muito tristesmas Mbelipa permitiu que elescontinuassem a cuidar da criançaenquanto trabalhava. E o que par-te com o vento e acaricia o Sol foicrescendo feliz, à medida queconhecia todos os recantos dafloresta. Quando se fez homem,não partiu com o vento nem sedesvaneceu como uma nuvem.Passou a fazer parte daquele lu-gar e por lá ficou para sempre. Osseus braços confundiam-se comas árvores e o seu corpo era parteda terra. Era um verdadeiro rei da-quele lugar cheio de encantos!

CONSELHOS

CONTOS POPULARES ANGOLANOS

PROVÉRBIO

ADIVINHAS

Soluções:1.Rabanete; 2. Papel; 3. Olhos; 4. Neve; 5. Relógio

Saudades dos professoresA pausa escolar em Agosto foi muito boa porque os meus paisdeixaram-me ir para a cama mais tarde e vi na televisão os jogosdo Afrobasket. Eu gosto da Selecção Nacional, e quando pudervou aprender a jogar andebol, porque quero ser boa jogadora co-mo as nossas campeãs africanas.Nestas férias fui passear com a minha família ao Cuanza Norte eacompanhei a minha mãe e as minhas tias à peregrinação daNossa Senhora da Vitória em Massangano.Gostei muito, mas fiquei admirada porque encontrei a fortalezaarruinada. Deviam pedir aos técnicos que arranjaram a Frotalezade São Miguel para fazerem o mesmo em Massangano. E lá tam-bém ficava bem uma Bandeira Nacional como a que está no mor-ro da Fortaleza.Os edifícios antigos deviam ser conservados porque os jovens eas crianças de hoje têm o direito de saber o que aconteceu anti-gamente. E eu aprendi com as minhas tias que Massangano é umlugar muito antigo e tem a sua História. O então governador deAngola levou para lá a capital quando o país foi ocupado pelosholandeses. Nessa altura, a população de Luanda defendeu asua cidade e hoje temos uma das mais belas capitais do mundo.

ANABELA MACHADO |12 ANOS | QUIBALA

1. É encarnado e não é sangue, é branco e não é papel.2. O que é que cai abaixo da torre e não parte, e se cai à águadesfaz-se todo?3. Altos palácios, lindas janelas; abrem-se e fecham, mas nin-guém mora nelas.4. Do grã monarca das luzes, tanto sou enamorada, quequando o vejo ou o sinto, fico toda liquidada.5. Uma casa com 12 meninas. Cada uma com quatro quartos,todas elas usam meias, nenhuma rompe sapatos. O que é?

«Um inimigo inteligente é me-lhor que um amigo estúpido.

Domingo, 5 de Outubro de 2014Nº 174 SÉRIE III

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Como escrever para o “Recreio”O nosso endereço é:Recreio - Página Infantil do Jornalde Angola - Rua Rainha Ginga,18/26 - Luanda, ou para o e-mail:[email protected].

RRecreioecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

RecreioSuplemento infantil do Jornal de angola

BRINCAR E APRENDERCARTAS DOS AMIGUINHOS

AToda a gente pelo menos uma vez na vida, carregou na teclaScroll Lock para ver o que iria acontecer. E o resultado foi sempredecepcionante, já que nada acontece. É uma tecla decorativaAProvavelmente já te perguntaste isso, porque aparentemente nin-guém usa. No máximo, as pessoas carregam nela uma vez ou outracomo atalho de algum jogo. Mas todos os teclados a possuem; issoé um facto. AComo tu já deves ter percebido, o Scroll Lock, assim como o Num Locke o Caps Lock, existe em dois estados: activado e desactivado, sendo oseu estado representado por um LEDdo teclado que acende e apaga, de-pendendo da (des)activação do botão. A verdade é que o Scroll Locknãoexerce função sobre o teclado e não tem uma função específica; o que de-fine para que serve é exclusivamente de acordo com cada programa emuso no computador.

SSAABBIIAASS QQUUEE......

Tenha bom carácterO carácter das pessoas deter-mina as qualidades pessoais. Aspessoas têm vários tipos de com-portamentos e muitos deles sãomaus. Os que roubam, matam,fazem coisas que magoam, difa-mam outras pessoas, mentem,são chamadas de pessoas commau carácter.O bom carácter prima pela ho-nestidade, sinceridade, respeitopelos outros e por si mesmo. Por-que ninguém respeita uma pes-soa se primeiro não se respeitar asi mesmo. Tudo o que queremque vos façam devem fazê-lo aosoutros da mesma forma.

CASIMIRO PEDRO

VAMOS COLORIR

Um menino pobre que um dia chegou a ser rei