Evidenciação das operações com derivativos pelas empresas não...

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Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis Evidenciação das operações com derivativos pelas empresas não financeiras Carlos dos Reis Neto São Paulo 2011

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Evidenciação das operações com derivativos pelas empresas não

financeiras

Carlos dos Reis Neto

São Paulo

2011

2

Carlos dos Reis Neto

Evidenciação das operações com derivativos pelas empresas não financeiras

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Contábeis da

Universidade Presbiteriana Mackenzie para a

obtenção do título de Mestre em Controladoria

Empresarial.

Orientador: Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera

São Paulo

2011

3

Reitor da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Professor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto

Decano de Pesquisa e Pós-Graduação

Professor Dr. Moisés Ari Zilber

Diretor do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas

Professor Dr. Sérgio Lex

Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Contábeis

Professora Dra. Maria Thereza Pompa Antunes

4

5

R375e Reis Neto, Carlos.

Evidenciação das operações com derivativos pelas empresas não financeiras / Carlos Reis Neto - 2011.

91 f. : il.

Dissertação (Mestrado em Controladoria Empresarial) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.

Bibliografia: f.73-79.

1. Derivativos. 2. Evidenciação. 3. Problema de Agência. 4.

Stakeholder. 5. Normas Internacionais de Contabilidade. I. Título.

CDD 658.151

6

Primeiramente agradeço a Deus e a seu filho Jesus Cristo por ter me iluminado ao longo

deste caminho e ter me dado força para prosseguir.

Agradeço a todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Controladoria

Empresarial; em especial ao Prof. Dr. Luiz Carlos Jacob Perera pela sua orientação e

ajuda.

Agradeço ao Prof. Dr. Herbert Kimura e ao Prof. Dr. Carlos R. Godoy pelas críticas e

sugestões apresentadas durante a realização da banca de qualificação.

Agradeço também a todos os meus amigos que de alguma forma colaboraram para a

conclusão deste trabalho.

Um agradecimento especial a minha namorada, Aline Crespo, pela sua paciência

durante a minha ausência devido aos estudos, e também por ter me ajudado muito na

finalização desta dissertação.

Finalmente, de forma especial, agradeço a minha família.

À minha mãe, Dona Maria Fernanda pela educação e orientação que sempre me deu ao

longo de toda a minha vida, e por estar sempre ao meu lado para me ajudar em tudo.

Ao meu pai, Antonio, pelo exemplo de pessoa.

Este trabalho foi financiado em parte pelo Fundo Mackenzie de Pesquisa.

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RESUMO

A aceleração da crise financeira no final de 2008 impactou moedas e mercados fazendo com

que empresas que operavam derivativos com finalidades diversas das de hedge fossem

surpreendidas por variações bruscas de suas posições. Isso trouxe os instrumentos financeiros

derivativos para o centro das atenções e o questionamento de qual seria o papel da

contabilidade na divulgação de informações para os stakeholders. Estes instrumentos são

utilizados para o gerenciamento de riscos aos quais as empresas estão expostas devido aos

seus negócios, porém estes mesmos instrumentos também podem ser utilizados para a

alavancagem do resultado, trazendo grandes riscos para os stakeholders. Esta atitude é

motivada principalmente pela assimetria de informação entre as partes, já que os riscos

envolvidos com a operação com derivativos não são perfeitamente evidencias nas

demonstrações financeiras, causando assim um conflito de agência. A contabilidade, através

das recentes normas internacionais e dos pronunciamentos técnicos do CPC, tem como

objetivo reduzir essa assimetria de informação através da evidenciação adequada de

informações importantes para que os usuários possam avaliar a natureza e extensão dos riscos

resultantes dos instrumentos financeiros derivativos que a entidade está exposta e como estes

riscos são gerenciados. Este trabalho teve por objetivo mostrar se as empresas não financeiras

estão adotando adequadamente as normas contábeis explicitadas pelos pronunciamentos

técnicos do Comitê de Pronunciamento Contábil (CPC), com relação aos itens que dizem

respeitos à evidenciação de operações com derivativos. Para isso foram consultadas as Notas

Explicativas às Demonstrações Contábeis. A Comissão de Valores Mobiliários foi a fonte de

consulta dos dados das demonstrações financeiras padronizadas. Como metodologia, foi

elaborado um checklist com as principais normas referentes à evidenciação de operações com

instrumentos financeiros derivativos, emitidas pelo CPC. As empresas da amostra foram as 98

empresas com as ações mais negociadas na BM&FBOVESPA no ano de 2010. Os principais

resultados mostraram que as empresas estão, no geral, evidenciando adequadamente as

operações com instrumentos financeiros, mesmo tendo à necessidade de adequar as

divulgações financeiras já para o exercício de 2010 e sendo essas normas publicadas no final

de 2009.

PALAVRAS-CHAVE: Derivativos, Evidenciação, Problema de Agência, Stakeholder,

Normas Internacionais de Contabilidade.

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ABSTRACT

The acceleration of the financial crisis in late 2008 impacted currencies and markets

so that companies operating derivative hedging purposes other than those they were

surprised by sudden changes in their positions. This brought the derivative financial

instruments to the center of attention and questioning what the role of accounting in

providing information to stakeholders. These instruments are used to manage the risks to

which companies are exposed because of their business, but these same tools can also be used

to leverage a result, bringing great risks to stakeholders. This attitude is motivated mainly by

the asymmetry of information between the parties, since the risks involved with the operation

and derivatives are not fully reflected in financial statements, thereby causing an agency

conflict. Accounting, through to recent international standards and pronouncements of the

CPC, aims to reduce this information asymmetry through adequate disclosure of important

information so that users can assess the nature and extent of risks arising from derivative

financial instruments that the entity is exposed and how these risks are managed. This study

aimed to show whether non-financial companies are adopting accounting standards

adequately explained by the pronouncements of the Accounting Standard Committee (CPC)

with regard to items concerning the disclosure of derivative transactions. To this were

consulted Notes to Financial Statements. The Securities Commission has the power to search

data from standardized financial statements. The methodology was developed a checklist with

key standards for disclosure of transactions with derivative financial instruments, issued by

the CPC. Firms in the sample were 98 companies with the most actively traded shares on the

BOVESPA in 2010. The main results showed that the companies are, in general, adequately

showing the operations with financial instruments, even though the need to adjust the

financial disclosures for the year since 2010 and these rules are published in late 2009.

KEY-WORDS: Derivatives, Disclosure, Agency Problem, Stakeholder, International

Accounting Standards.

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SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................ 11

LISTA DE QUADROS ...................................................................................................... 12 LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ 12

TABELA ............................................................................................................................ 12 1. Introdução ...................................................................................................................... 14

1.1 Contextualização ........................................................................................................ 14

1.2 Questão de Pesquisa ................................................................................................... 17

1.3 Pressuposto................................................................................................................. 17

1.4 Objetivo Geral ............................................................................................................ 18

1.4.1 Objetivos Específicos ........................................................................................... 18

1.5 Justificativas e Contribuições ...................................................................................... 18

2. Referencial Teórico ........................................................................................................ 19 2.1 Derivativos ................................................................................................................. 19

2.1.1 Contrato a Termo ................................................................................................. 23

2.1.2 Contrato Futuro .................................................................................................... 24

2.1.3 Opção .................................................................................................................. 25

2.1.4 Swap .................................................................................................................... 26

2.1.5 Outros Derivativos ............................................................................................... 28

2.2 Participantes do Mercado ............................................................................................ 30

2.3 Mercados onde são negociados ................................................................................... 31

2.4 Gerenciamento de Risco ............................................................................................. 32

2.5 Normas contábeis ....................................................................................................... 36

2.6 Teorias da Agência e do Stakeholder .......................................................................... 46

3. Procedimentos Metodológicos ....................................................................................... 50 3.1 Tipo de pesquisa ......................................................................................................... 50

3.2 Método de Pesquisa .................................................................................................... 51

3.3 Amostra e População .................................................................................................. 51

3.4 Procedimentos de Coleta de Dados ............................................................................. 52

3.5 Procedimentos de Tratamento dos Dados .................................................................... 55

4. Análise dos resultados .................................................................................................... 55 4.1 Quanto à divulgação, em notas explicativas às demonstrações contábeis, de informações

qualitativas e quantitativas relativas aos instrumentos financeiros derivativos ................... 57

4.2 Quanto à divulgação de análise dos vencimentos para os instrumentos financeiros

derivativos passivos .......................................................................................................... 62

10

4.3 Quanto à divulgação quadro demonstrativo de análise de sensibilidade, para cada tipo

de risco de mercado originado por instrumentos financeiros derivativos ........................... 62

4.4 Quanto à divulgação separada de alguns itens para cada tipo de hedge accounting...... 63

4.5 Quanto às divulgações referentes à hedge de fluxo de caixa ........................................ 65

CONCLUSÃO .................................................................................................................... 67

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................. 75

APÊNDICES ...................................................................................................................... 82

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BACEN – Banco Central do Brasil

BBF – Bolsa Brasileira de Futuros

BDR – Brazilian Depositary Receipts

BM&F – Bolsa de Mercadorias & Futuros

BM&FBOVESPA – Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BOVESPA – Bolsa de Valores de São Paulo

CBOT – Chicago Board of Trade

CDS – Credit Default Swap

CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis

CVM – Comissão de Valores Mobiliários

DFP – Demonstração Financeira Padronizada

FASB – Financial Accounting Standards Board

IAS – International Accounting Standard

IASB – International Accounting Standards Board

IFRS – International Financial Reporting Standard

SUSEP – Superintendência de Seguros Privados

12

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Diferenças entre Contrato a Termo e Contrato Futuro.........................................25

Quadro 2 – Operações básicas com opção................................................................................26

Quadro 3 – Checklist para aplicação das normas contábeis aos instrumentos financeiros

derivativos............................................................................................................................. ....54

Quadro 4 – Exemplo de boas práticas quanto à política de utilização de derivativos; objetivos

e estratégias de gerenciamento de riscos; e riscos associados a cada estratégia de atuação no

mercado............................................................................................................................. ........58

Quadro 5 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação separada de alguns itens para cada

tipo de hedge accounting..........................................................................................................63

Quadro 6 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação dos períodos em que se espera que

o fluxo de caixa vá ocorrer e quando se espera que eles afetem o resultado............................66

Quadro 7 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação quantia que tenha sido

reclassificada do patrimônio líquido para o resultado do período, mostrando o montante

incluído em cada item da demonstração do resultado abrangente............................................67

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Swap de taxa de juros.........................................................................................27

Figura 2 – Swap de taxa moeda...........................................................................................27

Figura 3 – Credit Default Swap............................................................................................29

Figura 4 – Hedge de valor justo...........................................................................................42

Figura 5 – Hedge de fluxo de caixa......................................................................................43

Figura 6 – O modelo da teoria dos stakeholders...................................................................50

TABELA

Tabela 1 – Volume financeiro e quantidade de contratos negociados na BM&FBOVESPA no

dia 20 de maio de 2011.........................................................................................................21

Tabela 2 – Principais segmentos das empresas que não operam com

derivativos...........................................................................................................................56

Tabela 3 – Faixas de faturamento bruto das empresas que não operam com

derivativos.............................................................................................................................56

13

Tabela 4 – Exemplo de boas práticas quanto à apresentação do valor justo de todos os

derivativos contratados, os critérios de avaliação e mensuração, métodos e premissas

significativas aplicadas na apuração do valor justo.............................................................59

Tabela 5 – Exemplo de boas práticas quanto à apresentação dos valores registrados em contas

de ativo e passivo segregados, por categoria, risco e estratégia de atuação no mercado, aqueles

com o objetivo de proteção patrimonial (hedge) e aqueles com o propósito de negociação....60

Tabela 6 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação dos valores agrupados por ativo,

indexador de referência, contraparte, local de negociação (bolsa ou balcão) ou de registro e

faixas de vencimento, destacados os valores de referência, de custo, justo............................61

Tabela 7 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação dos ganhos e perdas no período,

agrupados pelas principais categorias de riscos assumidos, segregados aqueles registrados no

resultado e no patrimônio líquido........................................................................................61

Tabela 8 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação de análise dos vencimentos para os

instrumentos financeiros derivativos passivos.....................................................................62

Tabela 9 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação de quadro de análise de

sensibilidade.........................................................................................................................63

Tabela 10 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação de ganhos ou perdas sobre o

instrumento de hedge de valor justo....................................................................................64

Tabela 11 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação do resultado decorrente da

ineficácia do hedge de fluxo de caixa...................................................................................65

Tabela 12 - Resumo do resultado, com uma análise quantitativa e qualitativa, da aplicação do

checklist para as empresas que utilizam apenas derivativos.................................................69

Tabela 13 - Resumo do resultado, com uma análise quantitativa e qualitativa, da aplicação do

checklist para as empresas que aplicam hedge accounting...................................................71

14

1. Introdução

1.1 Contextualização

A crise financeira ocorrida em 2008 trouxe os derivativos para o centro das atenções, e

o questionamento sobre qual seria papel da contabilidade na divulgação de informações, pois

conforme Roubini e Mihm (2010) afirmam, uma pletora de inovações financeiras e uma

regulamentação financeira quase inexistente conspiraram para criar uma grande bolha que ao

estourar preparou o cenário para o quase colapso do sistema financeiro e uma recessão

mundial.

Do lado das inovações financeiras, tem-se os instrumentos financeiros derivativos que,

de acordo com Rossi Júnior (2008, p. 95), vem crescendo rapidamente, desde a década de

1980, motivado pelo desenvolvimento de modelos de precificação, pelo avanço tecnológico e

pela maior integração dos mercados financeiros. Já, para Culp (2002), uma das razões para o

enorme sucesso e popularidade dos derivativos, nas últimas décadas, é que permitem as

empresas adequarem seus perfis de risco, facilitando a transferência de risco específico.

Uma inovação financeira, que fez com que Sadia e Aracruz registrassem um grande

prejuízo no mercado futuro de câmbio e visse suas ações perderem valor em poucos dias

(Machado, 2008, p. 27; Agência Estado; Reuters, 2008), é a operação de target forward que

consistiu na empresa ter apostado duplamente na valorização do dólar. Neste diapasão, Saito e

Schiozer (2004) alertam que a volatilidade dos mercados financeiros pode afetar o valor das

empresas de forma significativa ou mesmo levá-las à falência.

Já, do lado da quase inexistente regulamentação financeira, a evidenciação se tornou

uma preocupação tanto para os usuários quanto para as empresas, após as situações

emblemáticas ocorridas com as empresas Sadia e Aracruz Celulose em operações com

derivativos. Como mencionado por Darós (2006, p. 72) e por Darós e Borba (2005, p. 68), a

Sadia em sua demonstração financeira padronizada (DFP) do ano de 2004, por exemplo, não

há qualquer referência a seus objetivos, finalidades e intenções com o uso de derivativos, isto

evidencia a não-observância dos princípios (ou orientação) de governança corporativa.

Nas demonstrações financeiras de 2007, a Aracruz apenas cita que utiliza instrumentos

financeiros derivativos para se proteger, porém não há informação sobre o valor justo desses

instrumentos, sobre os vencimentos dos contratos, como também uma análise de sensibilidade

por conta de possíveis alterações no mercado. Já a Sadia apresentava de maneira mais

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detalhada os derivativos, com o seu valor justo e os vencimentos, entretanto não apresenta

uma análise de sensibilidade.

Lopes e Lima (1999) afirmam que, do ponto de vista da divulgação e do conhecimento

público, os derivativos apresentam um problema bastante complexo, uma vez que todos os

riscos envolvidos com a sua operação não estão perfeitamente evidenciados nas

demonstrações financeiras das empresas.

Diante desse contexto, qual seria então o objetivo da contabilidade? Segundo o

Statement of Financial Accounting Concepts nº. 8 do Financial Accounting Standards Board

(FASB), o objetivo da contabilidade é de fornecer informações financeiras sobre a entidade

que seja útil para investidores atuais e potencias, assim como os demais stakeholders que

visem à tomada de decisão racional de investimentos, créditos e outros.

No Brasil, conforme o Pronunciamento Conceitual Básico (2009) do Comitê de

Pronunciamentos Contábeis (CPC), o objetivo das demonstrações contábeis é fornecer

informações sobre posição patrimonial e financeira e, acerca do desempenho, que sejam úteis

a um número de usuários para avaliação e tomada de decisão.

Reportando-se à palavra “divulgar” em língua inglesa, disclosure, de acordo com

Iudícibus (2004) está ligada aos objetivos da contabilidade, ao garantir informações

diferenciadas para os vários tipos de usuários.

Já, para Hendriksen e Van Breda (2009), divulgar tem como sentido amplo veiculação

de informação; no sentido mais restrito, à área contábil, divulgar tem, como significado,

veicular informações financeiras que vão desde a discussão e a análise pela administração, às

notas explicativas e às demonstrações complementares.

Em resumo, o objetivo da contabilidade é divulgar, evidenciar, informações

financeiras para todos os usuários. Ernst & Young e FIPECAFI (2009) citam que esses

usuários das demonstrações financeiras incluem investidores e potenciais investidores,

empregados, credores, fornecedores, clientes, governos e suas agências, e o público em geral.

Ainda, segundo Ernst & Young e FIPECAFI (2009), estes usuários utilizam tais informações

para satisfazer certas necessidades como auxílio na análise de risco, para saber sobre a

continuidade da empresa, a destinação de recursos, o desempenho, dentre outras.

Essa evidenciação tem a finalidade de evitar que haja assimetria de informação entre

os usuários, ou melhor, entre agente (detentor da informação) e os principais (usuários da

informação), podendo, assim, serem evitados problemas que Eisenhard (1989) descreve como

aqueles que surgem quando as partes colaboram com atitudes diferentes em relação ao risco.

16

Tentando explicar ou elucidar o conflito, surge a Teoria dos Stakeholders, explicado por

Jensen (2001), ao afirmar que os administradores devem tomar as decisões, levando em conta

os interesses de todas as partes relacionadas.

Ou seja, a principal questão diz respeito à evidenciação de operações com derivativos,

pois, em nenhum momento, os usuários externos, (os stakeholders) das informações das

empresas foram comunicados que estas se utilizavam de instrumentos financeiros derivativos

para alavancar o resultado.

Para tanto, deve-se lembrar que não apenas os derivativos que, de acordo com Lopes e

Lima (2001), possuem uma elevada complexidade, podem causar prejuízos às empresas.

Instrumentos financeiros menos complexos, como cessão de crédito, podem também causar

problemas às instituições, exemplificado no recente caso do banco Panamericano. Segundo

Saunders (2007), cessão de empréstimo bancário ocorre quando o banco gera um empréstimo

e o vende a outro banco, devendo o empréstimo cedido ser removido do ativo do banco

vendedor, porém, no caso do banco Panamericano, devido a erros na contabilização não

houve essa baixa do ativo, fato este que causou uma perda de R$ 2,5 bilhões (Valor

Econômico, 2010).

Portanto, após a ocorrência desses problemas com instrumentos financeiros, e mais

especificamente com os derivativos, o foco passou a ser a adoção das normas internacionais

de contabilidade traduzidas pelos Pronunciamentos Técnicos do CPC, com o objetivo de

evitar novos problemas. Porém, segundo o atual diretor da Comissão de Valores Mobiliários

(CVM), um evento como os derivativos que abalaram empresas como Aracruz e Sadia em

meio à crise financeira internacional não seria evitado pela simples adoção das novas normas,

mas seria obrigatória a transparência sobre o uso da ferramenta financeira (Valor Econômico,

2010).

No sentido de adequar as normas contábeis brasileiras às internacionais, o CPC

publicou diversos pronunciamentos técnicos que seriam traduções do International Financial

Reporting Standard (IFRS), as normas internacionais de contabilidade divulgadas pelo

International Accounting Standards Board (IASB). Dentre os pronunciamentos técnicos,

podem-se destacar aqueles que tratam dos instrumentos financeiros: o Pronunciamento

Técnico nº 38 (CPC 38), que trata do reconhecimento e mensuração dos instrumentos

financeiros; o Pronunciamento Técnico nº 39 (CPC 39), que descreve como deve ser a

apresentação dos instrumentos financeiros; o Pronunciamento Técnico nº 40 (CPC 40), que

descreve como deve ser a divulgação, a evidenciação dos instrumentos financeiros.

17

Com esses pronunciamentos técnicos pretende-se adequar a contabilidade brasileira às

principais normas de contabilidade internacional, além de melhorar a apresentação, a

mensuração e a evidenciação dos instrumentos financeiros.

1.2 Questão de Pesquisa

Considerando a relevância do tema proposto e o atual estágio de divulgação das

informações financeiras, formula-se a seguinte questão: As empresas não financeiras estão

cumprindo as recentes normas contábeis com relação à evidenciação de operações com

derivativos?

1.3 Pressuposto

Pode-se observar que as empresas, por muitas vezes, utilizaram os instrumentos

financeiros derivativos com o objetivo de especular, pois para Das (2001), derivativos são um

simples caso de medo e ganância, em que clientes usam estes instrumentos para proteger-se

de riscos de perdas ou para especular.

Exemplos da utilização de derivativos para especular são citados por Machado (2008,

p. 27), Agência Estado e Reuters (2008), que tanto a Sadia quanto a Aracruz realizaram

operações no mercado de derivativos de câmbio – a empresa se posicionava buscando ter

lucro com a eventual manutenção da tendência de valorização do real ante o dólar, o que

acabou não acontecendo, devido ao agravamento da crise – e isso gerou uma contaminação

das ações de muitas empresas brasileiras na Bovespa. Contudo, os stakeholders não tiveram

conhecimento sobre os riscos que as empresas estavam assumindo.

Devido a esses acontecimentos, e também pela convergência da contabilidade

brasileira para o padrão contábil internacional, surgiram diversas normas contábeis que, além

de outros objetivos, exige que as empresas divulguem em notas explicativas às demonstrações

contábeis, informações qualitativas e quantitativas quanto às operações com instrumentos

financeiros derivativos.

18

1.4 Objetivo Geral

Considerando a evidenciação exigida pelas normas de contabilidade dos instrumentos

financeiros derivativos, o objetivo geral do presente trabalho é mostrar se as empresas não

financeiras estão adotando adequadamente as normas contábeis explicitadas pelos

pronunciamentos técnicos do Comitê de Pronunciamento Contábil (CPC), com relação aos

itens que dizem respeitos à evidenciação de operações com derivativos.

1.4.1 Objetivos Específicos

Como objetivos específicos, têm-se:

descrever as características dos principais derivativos e onde são operados;

explicar os principais riscos a que as empresas estão expostas e a aplicação dos

derivativos no gerenciamento destes;

descrever, com base na legislação contábil vigente, as normas que tratam sobre

a evidenciação de instrumentos financeiros e derivativos;

avaliar a freqüência e profundidade com que as normas contábeis referentes

aos derivativos estão sendo evidenciadas nos demonstrativos financeiros pelas

empresas não-financeiras;

mostrar, por meio de exemplos, as melhores práticas de evidenciação de

operações com derivativos.

1.5 Justificativas e Contribuições

Em 2008, cada vez mais as empresas utilizaram os derivativos tanto para proteger-se

de oscilações no mercado efetuando o hedge de suas operações, quanto para utilização destes

instrumentos para fins especulativos, alavancando posições, ou seja, maximizando o retorno

do investimento (LUQUET, 2005, p. 41). Alves et al. (2008, p. 1) adverte que os derivativos

pertencem a uma classe de operações que, em um primeiro momento, exigem a utilização de

valores imateriais, mas que poderão transformar-se em grandes ganhos ou perdas para a

empresa. Além disso, a cada dia, os derivativos se tornam mais sofisticados e difíceis de

serem entendidos e operados, exigindo do analista um bom conhecimento, para que não

incorra em riscos maiores do que está disposto a assumir.

19

Este trabalho justifica-se pelo fato que, segundo Lopes e Lima (1998), podem-se

apontar os seguintes problemas nas práticas de evidenciação, atualmente adotadas por

empresas nos Estados Unidos, Europa e Brasil:

evidenciação bastante restrita às notas explicativas, ficando os derivativos fora

da evidenciação presente no corpo das demonstrações contábeis;

ausência de evidenciação quantitativa do risco assumido pelas operações; ou

absoluta ausência de evidenciação, sendo que algumas empresas ignoram o uso

desses instrumentos financeiros.

Ainda, segundo Lopes e Lima (2001), há desafios e oportunidades de pesquisas

trazidas para contabilidade pelos derivativos sobre a mensuração quantitativa dos riscos desse

instrumento, já que as informações sobre os riscos dos derivativos são fundamentais para os

usuários das informações emanadas pela contabilidade, mas essas informações devem ser

preditivas para que os usuários possam construir a relação risco e retorno dos ativos

analisados.

Finalmente, pretende-se, por meio desta pesquisa, explicitar as normas contábeis

vigentes para os instrumentos financeiros derivativos, tanto aquelas originadas por

deliberações da CVM quanto pelos pronunciamentos técnicos do CPC. Além disso, mostrar a

possibilidade da evidenciação adequada de informações quantitativas e qualitativas referentes

aos derivativos para os usuários externos, pela da adoção completa de todos os itens que se

referem a esses produtos, contempladas nestas normas de contabilidade.

2. Referencial Teórico

2.1 Derivativos

Nos últimos anos, devido ao crescimento do mercado financeiro, a incidência de

operações com derivativos também aumentou significativamente, pois, conforme Culp

(2002), uma das razões para o enorme sucesso e popularidade dos derivativos nas últimas

décadas é que permitem as empresas adequar seus perfis de risco, facilitando a transferência

de tipos de risco específico. Climeni e Kimura (2008) enfatizam que, mesmo com os reveses

no desenvolvimento dos derivativos, o mercado tem apresentado avanços com relação ao

volume negociado como também na abrangência de produtos. Todavia, este aumento não foi

20

acompanhado do aumento do conhecimento sobre esses instrumentos, que são complexos e

ainda não perfeitamente entendidos pelos participantes do mercado.

Como afirma Chisholm (2010), a história dos derivativos remonta à Grécia Antiga,

onde Aristóteles conta a história de Thales, em que este conclui que haveria uma grande

colheita de olivas no ano seguinte e, com isso, Thales adquiriu opções de compra de diversos

lagares de azeite, sendo que ele não era obrigado a exercer essas opções se a colheita fosse

pobre, pois sua perda ficaria restrita ao preço pago pela compra dessas opções. Porém, caso a

colheita fosse excelente, ele exerceria a opção e seria capaz de alugar os lagares de azeite para

outros com um lucro.

Por isso, o surgimento e o desenvolvimento dos derivativos, de acordo com Hull

(2005), estão ligados à necessidade de produtores e de comerciantes de produtos agrícolas.

Lopes, Lima e Galdi (2009) citam que essa necessidade se referia à sazonalidade dos produtos

agrícolas e aos riscos financeiros decorrentes dessa característica de mercado, cujas colheitas

se concentravam em certo período do ano, enquanto os industriais e demais consumidores

necessitavam de tais produtos durante o ano todo.

Hull (2005) exemplifica esses riscos, observando a posição de um produtor, que possui

o risco, que é a incerteza sobre preço que venderá a sua mercadoria, já que, em anos de

escassez, poderá receber um valor alto, contudo, em anos de abundância, o seu produto

provavelmente será vendido a preços baixos. Já, os comerciantes possuem esses riscos do lado

oposto.

Para continuidade ao desenvolvimento do mercado de derivativos, em 1848, foi criada

a Chicago Board of Trade (CBOT), com o objetivo de permitir que produtores e comerciantes

se encontrassem na tentativa de anular os riscos que cada um possuía. Hull (2005) explica

que, no início, a função da CBOT era de padronizar as quantidades e as qualidades dos

produtos agrícolas.

No Brasil, a primeira bolsa a ser criada foi a Bolsa de Mercadorias de São Paulo em

1917. Em 1983, surgiu a Bolsa Brasileira de Futuros (BBF) e, em 1986, em São Paulo,

começa a operar a Bolsa Mercantil & de Futuros. Esta, em 1991, se uniu-se à Bolsa de

Mercadorias de São Paulo, originando a Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F). Em 2008,

há a integração da Bolsa de Valores de São Paulo (BOVESPA) com a BM&F, dando origem

à Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBOVESPA).

Em 2011, a BM&FBOVESPA é uma das bolsas mais importantes no mundo na

negociação de derivativos, possuindo um volume financeiro diário em torno de R$ 170

21

bilhões, para quase 3 milhões de contratos negociados, somando o pregão eletrônico e o

mercado de balcão. Abaixo, na tabela 1, pode-se observar essa importância da

BM&FBOVESPA.

Volume total

(R$)

Ouro 111.808 765.453.827

Índice 89.328 4.792.070.000

Taxas de juro 1.849.506 120.948.513.540

Taxas de câmbio 607.438 43.855.936.560

Títulos da dívida externa 15 2.975.240

Agropecuários 12.895 445.081.420

Dólar pronto - 181.486.375

Subtotal 2.670.990 170.991.516.962

Swaps 12.800 640.000.000

Opções flexíveis 5.716 459.966.572

Termo - 0

Subtotal Balcão 18.516 1.099.966.572

TOTAL GERAL 2.689.506 172.091.483.534

Fonte: BM&FBOVESPA

Mercado/Commodity Contratos negociados

Pregão Eletrônico

Mercado de Balcão

Tabela 1 – Volume financeiro e quantidade de contratos

negociados na BM&FBOVESPA no dia 20 de maio de 2011

Bernstein (1997) afirma que os derivativos são instrumentos financeiros sem valor

próprio, tendo este nome pelo fato de derivarem seu valor do valor de algum outro ativo.

Conforme Durbin (2010), um instrumento financeiro é apenas um tipo de padrão de

acordo ou contrato, que confere certos direitos patrimoniais e/ou responsabilidades para as

suas partes, como, por exemplo, uma ação negociada em bolsa de valores que, por um

determinado valor, concede-se o direito a uma parte de um patrimônio da empresa. E,

portanto, não pode ser qualificado como um derivativo porque seus valores não dependem

diretamente de outro instrumento ou mercadoria, já que os preços das ações são determinadas

por expectativas de ganhos, oferta e procura, etc.

De modo mais formal, Culp (2002) define um contrato derivativo como um zero net

supply, contrato bilateral que deriva a maior parte do seu valor de determinado ativo

22

subjacente, taxa de referência, ou índice. Onde zero net supply simplesmente significa que

para cada comprador de um contrato de derivados, há um vendedor.

Outra definição é apresentada por Gregory (2010), o qual afirma que os contratos de

derivativos representam acordos, quer para efetuar pagamentos, quer para comprar ou vender

um contrato subjacente em um tempo no futuro. Por isto, de acordo com Culp (2004), uma

das características mais importante dos derivativos, que os distingue de outros produtos

financeiros é a dimensão temporal explícita de um contrato. Ainda que, de acordo com Culp

(2006), envolvem algum elemento de futuridade, como o direito ou a obrigação de comprar

ou vender um ativo a um preço fixado hoje para entrega em uma data específica no futuro.

Outra característica, apontada por Gregory (2010), é que, em muitos casos, o valor

inicial de um derivativo negociado será contratualmente igual a zero para ambas as partes.

Brealey e Myers (2005) afirmam que os derivativos proporcionam alavancagem, pois não é

necessária a aplicação inicial de uma elevada quantidade de dinheiro, e que os lucros ou

perdas podem ser muitas vezes o gasto inicial.

Pode-se citar, ainda, a definição de derivativo apresentada pelo Comitê de

Pronunciamentos Contábeis – CPC, pelo CPC 38:

Derivativo é um instrumento financeiro ou outro contrato dentro do alcance deste

Pronunciamento Técnico com todas as três características seguintes:

(a) o seu valor altera-se em resposta à alteração na taxa de juros especificada, preço

de instrumento financeiro, preço de mercadoria, taxa de câmbio, índice de preços ou

de taxas, avaliação ou índice de crédito, ou outra variável, desde que, no caso de

variável não financeira, a variável não seja específica de uma parte do contrato (às

vezes denominada ―subjacente‖);

(b) não é necessário qualquer investimento líquido inicial ou investimento líquido

inicial que seja inferior ao que seria exigido para outros tipos de contratos que se

esperaria que tivessem resposta semelhante às alterações nos fatores de mercado e;

(c) é liquidado em data futura. (CPC 38 - Instrumentos Financeiros:

Reconhecimento e Mensuração, 2009).

Portanto, derivativo é um instrumento financeiro cujo valor, hoje, ou em uma data

futura, é derivado integralmente do valor de outro ativo - ou grupo de outros ativos, conhecido

como ativo subjacente (WHALEY, 2006, p. 3; LUQUET, 2005, p. 41; GRINBLATT;

TITMAN, 2002, p. 204).

Mcdonald (2005) elenca alguns motivos para a utilização dos derivativos:

23

gerenciamento de risco: derivativos são uma arma para as empresas e outros

usuários reduzirem a sua exposição a riscos;

especulação: derivativos podem servir como um investimento, pois eles podem

fornecer uma maneira de fazer as apostas que são altamente alavancadas e

adaptadas a uma visão específica;

redução dos custos de transação: alguns derivativos fornecem uma maneira de

baixo custo para realizar uma determinada operação financeira;

arbitragem regulatória: às vezes é possível contornar restrições regulatórias,

impostos e regras contábeis pela negociação de derivativos;

Para essas finalidades, há 4 tipos mais comuns de derivativos, sendo eles: contrato a

termo, contrato futuro, opções e swap. Abaixo, cada um destes, será explicado com maiores

detalhes.

2.1.1 Contrato a Termo

O contrato a termo, de acordo com Culp (2006), é um contrato bilateral negociado

para a entrega física de um ativo ou o equivalente em caixa em um determinado tempo no

futuro por certo preço fixado no início do contrato. Para Mcdonald (2005), o contrato a termo:

especifica a quantidade e o tipo exato do ativo ou mercadoria que o vendedor

deve entregar;

especifica a logística da entrega, como a data e o lugar;

especifica o preço que o comprador pagará na data de entrega;

obriga o vendedor a vender e o comprador a comprar, de acordo com as

especificações acima.

Chisholm (2010) diz que alguns contratos futuros são liquidados financeiramente, em

vez de pela entrega física do ativo ou mercadoria, ou seja, a diferença entre o preço estipulado

no contrato e o valor real do ativo é pago em dinheiro por uma das partes.

Para Culp (2006), pode-se caracterizar 4 tipos de transações simplesmente,

considerando as variações no momento da data dos negócios:

quando o pagamento pelo comprador e a entrega pelo vendedor ocorre

imediatamente após a negociação, chama-se transação a vista;

quando o comprador concorda em pagar no futuro por um ativo que ele

receberá também no futuro, isso é o contrato a termo;

24

quando o comprador paga imediatamente para receber o ativo no futuro, dá-se

o nome de contrato a termo pré-pago; e,

finalmente, quando o vendedor entrega imediatamente a mercadoria, mas só

receberá o pagamento no futuro, chama-se contrato a termo payment-in-

arrears.

Culp (2006) continua afirmando que os três primeiros tipos de transações são

observados rotineiramente no mercado, e o quarto é observado em comércios ou contratos de

venda a prazo.

Kolb e Overdahl (2002) exemplificam um contrato a termo simples especificado para

a troca de 100 onças troy de ouro daqui a um ano por um preço acordado hoje, por exemplo,

de $400/oz. Se o desconto de preço esperado de ouro no futuro é igual a $ 400/oz. hoje, o

contrato a termo não tem nenhum valor para ambas as partes e, portanto, não envolve

pagamento em dinheiro no início. Se o preço a vista de ouro sobe para $ 450/oz daqui a um

ano, o comprador do contrato tem um lucro equivalente a $ 5.000 ($ 450 menos $ 400, vezes

100 onças), devido exclusivamente ao aumento do preço do ouro acima de seu valor inicial

esperado. Lembrando que caso o preço a vista caia, por exemplo, para $ 350/oz, o comprador

terá um prejuízo de $ 5.000 ($ 350 menos $ 400, vezes 100 onças).

2.1.2 Contrato Futuro

Contrato futuro, segundo Durbin (2010), é um contrato a termo padronizado

negociado em um mercado organizado que reúne compradores e vendedores e garante que

ambas as partes cumpram as suas obrigações. Já, Kolb e Overdahl (2002) afirmam que um

contrato a termo envolve uma troca organizada destinada a superar os maiores problemas que

os participantes enfrentam no uso de contratos a termo: a exposição ao risco de crédito, a

dificuldade de procurar parceiros comerciais, e da necessidade de um meio econômico de sair

de uma situação antes do término do contrato.

Silva Neto (2002) diz que o Contrato a Termo com padronização estabelecida pela

Bolsa dá-se o nome de Contrato Futuro, ou seja, o contrato futuro é aquele em que itens

como, por exemplo, quantidade de ativos, qualidade da mercadoria, data de vencimento e

local de entrega, são padronizados para todos os contratos.

Culp (2006) cita outra característica tipicamente associado aos contratos futuro que é o

reconhecimento diário de ganhos ou perdas.

25

Abaixo segue quadro1, contendo um resumo das principais diferenças entre contrato a

termo e contrato futuro.

Características Futuros A termo

Objetivo Proteção contra variações nos

preços e especulação sem que

haja na maioria das vezes

transferência de mercadoria

Proteção contra variações nos

preços, normalmente com entrega

do produto contratado

Negociabilidade Podem ser negociados antes do

vencimentos

Não são negociados

Responsabilidade Câmara de Compensação Partes contratantes

Qualidade/Quantidade Estabelecido pela Bolsa Estabelecido pelas partes

Local de Negociação Bolsa de Futuros Estabelecido pelas partes

Sistema de Garantias Sempre haverá garantias Nem sempre existirão

Vencimentos Estabelecidos pela Bolsa Normalmente negociados pelas

partes

Participantes Qualquer pessoa física ou

jurídica

Produtores ou consumidores

Ajuste Diários No vencimento

Variações nos Preços Diárias Não muda valor do contrato

Porte dos Participantes Pequenos, médios e grandes Grandes

Credibilidade Não é necessário comprovação

de boa situação creditícia

É normalmente exigido um alto

padrão de crédito

Fonte: Lopes, Galdi e Lima (2009)

Quadro 1 – Diferenças entre Contrato a Termo e Contrato Futuro

2.1.3 Opção

Enquanto um contrato a termo ou um contrato futuro cria uma obrigação de comprar

ou vender um ativo, uma opção, de acordo com Durbin (2010), confere ao seu titular o direito,

mas não a obrigação, de comprar ou vender algo a um preço determinado, em uma data

especificada, ou antes. Hull (2005) afirma que existem dois tipos básicos de opções: opção de

compra, também chamada de call, que dá ao seu detentor, conhecido como titular da opção, o

direito de comprar um ativo por certo preço em determinada data; já a opção de venda,

conhecida como put, dá o direito ao titular de vender o ativo por certo preço em uma

determinada data. Figueiredo (2002) explica que esse determinado preço é chamado de preço

de exercício.

26

Conforme Chisholm (2010), para que tenha este direito, o comprador de uma opção

paga uma taxa chamada de prêmio ao lançador da opção. Porém, Assaf Neto (2009) salienta

que este valor não é devolvido para o comprado, mesmo que ele não exerça esse direito.

Portanto, uma Opção, segundo Niyama e Gomes (2006), envolve o pagamento de um

prêmio para a aquisição de um contrato, sendo a liquidação efetuada em decorrência do

exercício da opção pelo titular.

A seguir o quadro 2, resumindo operações básicas com opção.

Estratégia Prêmio Característica

Compra call Paga Direito de comprar o ativo a um preço fixo.

Vende call Recebe Obrigação de entregar o ativo se a opção for exercida

Compra put Paga Direito de vender o ativo a um preço fixo.

Vende put Recebe Obrigação de comprar o ativo se a opção for exercida

Fonte: Chisholm (2010)

Quadro 2 – Operações básicas com opção

Culp (2006) descreve a diferença das opções quanto à data do exercício: se o direito de

comprar ou vender pode ser exercido a qualquer momento antes da data de vencimento, esse é

o tipo de opção americana; já quando esse direito somente pode ser exercido na data de

vencimento, essa é uma opção tipo europeia.

Durbin (2010) exemplifica, de modo simples, um contrato de opção: digamos que

você compre uma opção de compra americana sobre as ações de alguma companhia. Esta

expira em seis meses e tem um preço de exercício de $ 20. Seis meses depois, o estoque é

negociado a $ 25. Você pode comprar por $ 20 o que os outros devem pagar $ 25 para obter.

Então, você exerce a opção e compra as ações por $ 20.

2.1.4 Swap

“A palavra swap significa troca e é uma estratégia financeira que dois agentes

concordam em trocar fluxos futuros de fundos de uma maneira preestabelecida” (LOPES e

LIMA, 1999). Para Culp (2002), swaps são negociados em acordos privados entre duas partes

para troca (ou swap) de fluxos de caixa ou ativos em momentos determinados no futuro, de

acordo com alguma fórmula de pagamento especificado.

27

Castellano (2009) elenca os requisitos básicos que justificam uma operação de swap:

descasamento entre ativo e passivo das partes contrapartes;

prazo de vencimento das operações que causam descasamento;

característica do descasamento;

troca do fluxo, ou resultado financeiro, resultante do descasamento;

eliminação ou redução dos riscos existentes.

Hull (2005) cita que um dos swaps mais comuns é o de taxa de juros, em que a

companhia concorda em pagar fluxos de caixa iguais aos juros calculados a uma taxa de juro

fixa sobre determinado principal, durante certo número de anos (figura 1).

Figura 1 – Swap de taxa de juros

Fonte: Adaptado de Hull (2005)

Empresa A Empresa B

5%

Libor

Outro swap muito comum, ainda de acordo com Hull (2005), é o de moeda, que

envolve a troca de principal e juros em uma moeda por principal mais juros em outra moeda

(figura 2).

Figura 2 – Swap de taxa moeda

Fonte: Adaptado de Hull (2005)

Empresa A Empresa B

Dólar + 8%

Libra + 11%

Segundo Kolb e Overdahl (2002), os swaps podem ser classificados como: plain

vanilla que são contratos que podem ser altamente padronizados, tendo, como exemplo, os

mencionados acima; ou flavored, sendo contratos que podem ser personalizados.

Culp (2006) afirma que inúmeros termos do contrato de swap podem ser

personalizados como:

28

o valor principal (notional) ou o valor de referência;

se o notional estiver sujeito a um cronograma de amortização e, se sim, qual o

calendário;

quem paga e quem recebe os pagamentos de taxa fixa;

a moeda em que o juros ou o principal devem ser pagos;

a convenção de feriados que regem o calendário de pagamentos;

a duração do tempo da troca que será de fato;

o nível da taxa fixa;

o índice que repõe a taxa flutuante;

o spread (se houver) a ser adicionado ao índice de taxa variável, refletindo

considerações, tais como risco de crédito;

a freqüência dos fluxos de caixa;

a convenção de contagem de dias para cada fluxo de pagamento;

a frequência e a época da re-fixação da taxa de juros;

as cláusulas que afetam o risco de crédito.

Silva Neto (2002) elenca alguns requisitos básicos que dão origem aos swaps:

descasamento entre ativo e passivo das partes contratantes, o que gera risco; prazo de

vencimento das operações, que causam descasamento; características do descasamento; troca

do fluxo, ou resultado financeiro, resultado do descasamento entre o ativo e o passivo;

eliminação ou diminuição dos riscos existentes.

Como exemplo de uma swap, Assaf Neto (2009) cita uma empresa (A), que possui um

empréstimo de 5 anos de $ 15 milhões a uma taxa pré de 12% ao ano, e outra empresa (B),

que possui um empréstimo do mesmo valor e duração, pagando taxas flutuantes de juros,

podendo ser uma taxa CDI + 2,4% ao ano. A empresa (A) acredita que os juros vão cair no

futuro, sendo que a empresa não poderá usufruir dessa economia; já, a empresa (B) acredita

no inverso, que os juros irão subir no futuro, tendo que se proteger contra um dispêndio

adicional. Com isso, estas empresas poderiam fazer a troca dos seus fluxos de caixa,

assumindo uma obrigação da outra.

2.1.5 Outros Derivativos

Além desses derivativos, segundo Lopes, Lima e Galdi (2009), existem ainda os

derivativos de segunda geração, como o swaption e os derivativos exóticos.

29

De acordo com Kolb (2000), swaption é uma opção de entrar em um swap. O detentor

do swaption tem o direito de comprar ou vender a correlação entre duas variáveis financeiras.

Como uma opção, o detentor tem o direito, mas não uma obrigação.

Derivativos exóticos, segundo Lopes, Lima e Galdi (2009), são aqueles que possuem

características não padronizadas, existindo contratos que impõem limites de alta ou baixa,

além de contratos baseados em variáveis climáticas, ambientais, entre outras.

Como derivativo exótico, Kolb (2000) cita o forward-start option, que é uma opção

em que o preço é pago no momento, porém a existência desta somente começa no futuro.

Além disso, o preço de exercício é normalmente especificado para ser o preço corrente no

início da vida das opções.

Outro derivativo exótico é a opção com barreira que, de acordo com Ramirez (2008), é

uma opção em que o payoff depende de saber se o preço do ativo objeto cruza um

determinado limiar, chamado de barreira, antes do vencimento. Nesta perspectiva, Ramirez

(2008) apresenta dois tipos de opções com barreira:

opção knock-in: entra em vigor quando o preço do ativo objeto atinge uma

barreira a qualquer momento durante a vida da opção;

opção knock-out: deixa de existir quando o preço do ativo objeto atinge uma

barreira a qualquer momento durante a vida da opção.

Há, ainda, outro tipo de derivativo que são os chamados derivativos de crédito.

Segundo Fabozzi e Kothari (2008), derivativos de crédito são contratos de derivativos que

buscam transferir o risco de crédito, definido em um produto ou grupo de produtos de crédito

para a contraparte deste contrato. O derivativo de crédito mais popular é o Credit Default

Swap (CDS). Fabozzi e Kothari (2008) definem CDS como uma opção de realizar um swap

entre um ativo de crédito e dinheiro, caso um evento de crédito, ou seja, um default, aconteça.

Abaixo a figura 3 ilustra essa transação.

Figura 3 – Credit Default Swap

Fonte: Adaptado de Culp (2006)

Comprador da Proteção

de Crédito

Paga um Spread

Realiza pagamento em

caso de default

Vendedor da Proteção de

Crédito

30

Dentro das recentes inovações na criação de instrumentos financeiros derivativos há

um que foi responsável por fortes prejuízos causados em empresas como a Aracruz (Valor

Econômico, 2008), que são os chamados target forward. Vervloet e Garcia (2010) explicam

que, nesta operação, as partes envolvidas acordavam uma taxa de câmbio pela qual as

empresas venderiam os seus dólares a cada mês. Caso o câmbio se apreciasse de forma a ficar

abaixo deste preço combinado, a empresa poderia vender certa quantidade de dólares para a

instituição financeira por esse valor. Caso o câmbio se depreciasse, indo parar acima do preço

combinado, a empresa teria que vender 2 vezes a quantidade de dólares combinado à

instituição financeira, à taxa de câmbio combinada. Ou seja, em um cenário desfavorável (real

depreciado), a empresa se veria obrigada a vender, a preço baixo, quantidade de dólares duas

vezes maior do que compraria no cenário favorável, produzindo potenciais grandes perdas.

De acordo com Silva e Pinese (2009), a Aracruz, inicialmente, fez uma operação de

futuro cambial, ou seja, uma operação tradicional, em que a empresa assumiu a obrigação de

vender dólar em uma data futura para o banco cliente a uma cotação pre-fixada;

posteriormente, veio a operação de target forward, em que esse primeiro contrato futuro

cambial era sucedido por uma segunda operação acoplada. A empresa vendeu dólar ao banco

cliente por meio de uma operação de opção de compra, em que o banco pagou um prêmio

para ter o direito de comprar dólar em uma data futura. Porém, no caso da Aracruz, os

contratos de target forward possuíam uma cláusula em que limitava o ganho da empresa,

entretanto, em caso de ajuste negativo, a empresa perderia na razão de 2 para 1, ou seja, o

prejuízo seria dobrado.

2.2 Participantes do Mercado

Existem três participantes que podem ser identificados nesse mercado e são estes,

como mencionado por Hull (2005): os hedgers, os especuladores e os arbitradores.

Para Durbin (2010), hedgers usam os derivativos para reduzir o risco financeiro, ou a

perspectiva de que os preços de determinados ativos possam "se mover contra eles.” Para

Climeni e Kimura (2008), a utilização dos derivativos para proteção ou hedge envolve a

diminuição da exposição a fatores de riscos assumidos pela empresa.

Os especuladores, segundo Hull (2005), buscam ficar posicionados no mercado,

apostando em uma alta ou queda do preço de determinado ativo no futuro. Essa característica,

de acordo com Durbin (2010), é conhecida eufemisticamente como "tendo uma visão" de

31

preços futuros. A existência dos especuladores pode ser justificada pelo fato de que, conforme

afirma Chew (1999), os derivativos, em alguns casos, são os mecanismos de investimentos

mais eficientes por conta da sua alavancagem.

Já os arbitradores, conforme Darós e Borba (2005, p. 70) e Alves et al. (2008, p. 1)

afirmam, possuem o objetivo de travar (ou seja, garantir) os seus ganhos, realizando

operações simultâneas em dois mercados distintos. Eles também, conforme observado por

Durbin (2010), procuram por títulos mal precificados e tentar aproveitá-los, não tendo

nenhum risco.

2.3 Mercados onde são negociados

De acordo com Lopes, Lima e Galdi (2009), s derivativos podem ser negociados em

dois mercados: os chamados mercados organizados em bolsa, e os chamados mercados de

balcão.

Durbin (2010) conceitua um mercado de balcão como aquele em que duas partes se

encontram e, em seguida, trabalham diretamente com o outro e ninguém mais para formular,

executar e fazer cumprir uma transação com derivativos. Já, o mercado organizado de bolsa é,

segundo Durbin (2010), é no qual um potencial comprador e vendedor podem fazer um

negócio e não se preocupar em encontrar um ao outro. O intercâmbio prevê fabricantes do

mercado, que atuam como vendedores para aqueles que desejam comprar e compradores para

aqueles que desejam vender.

Harding (2010) destaca as principais diferenças entre o mercado de balcão e o

mercado de bolsa para os itens abaixo discriminados.

regulação: os mercados de bolsa são altamente regulados, tanto em relação à

própria bolsa quanto em relação aos produtos comercializados. Já, no mercado

de balcão, a regulação tem sido muitas vezes fragmentada e realizada pelos

reguladores individuais das partes.

risco da contraparte: no mercado organizado, a própria bolsa se torna a

contraparte de cada operação, uma vez que o comércio inicial foi feito, esta

garante que todos os pagamentos para a margem e acima da margem superior

sejam realizados. Já, no mercado de balcão, cada parte garante o crédito e a

capacidade de cumprir as suas obrigações ao longo da vida da operação.

32

padronização: no mercado de bolsa, os contratos são padronizados, por

exemplo, o tamanho do contrato, a data de vencimento, etc. Já, no mercado de

balcão, os contratos são elaborados de acordo com a necessidade das partes.

risco de preço: operações realizadas no mercado de bolsa podem ser liquidadas

a qualquer momento a preços transparentes. Já, nas operações de derivativos

exóticos, operadas no mercado de balcão, podem não ser possível obter um

preço adequado, pois poucos investidores podem estar interessados.

risco legal: transações de bolsa são geralmente sujeitas a uma estrutura muito

detalhada. Nas operações de balcão, não é necessário esse detalhamento e os

pareceres jurídicos que são muitas vezes necessário podem retardar a

negociação.

risco de liquidação: na bolsa, há a garantia de que as partes cumpram as

obrigações dentro dos prazos. Já, no mercado de balcão, a liquidação pode ser

adiada e o pagamento líquido pode não ser reconhecido, sob as leis de alguns

países.

Whaley (2006) cita ainda outra característica que distingue um mercado de bolsa de

um mercado de balcão, que é a Clearinghouse, ou câmara de compensação, sendo que o papel

desta é estar entre o comprador e o vendedor e a garantia da operação de cada parte. Chisholm

(2010) afirma que Clearinghouse associada com a troca, protege contra o risco de crédito,

garantindo o desempenho de todas as transações comerciais feitas em uma troca e operadores

são registrados na Clearinghouse pelas principais instituições financeiras. Ainda, de acordo

com Whaley (2006), a eficácia das operações da Clearinghouse depende criticamente sobre a

solvência dos membros desta. Para proteger a integridade das operações, esta impõe requisitos

mínimos de capital e de limites de posição sobre seus membros, além de limites de preço na

maioria dos contratos.

2.4 Gerenciamento de Risco

“Risco e incerteza são fundamentais para vida humana e corporativa” (SHIMPI, 2001,

p. 3). Com esta afirmação, pode-se observar a importância que o risco tem para os negócios e

para as empresas.

Segundo Beaver (1995), risco não é apenas a incidência de eventos adversos. Para

Holton (2004), parece que o risco envolve dois componentes principais, que é a incerteza e a

33

exposição. Por isto, para ele, risco é a exposição a uma proposição, uma das quais é incerta.

Knight (1921) diferencia incerteza do risco, sendo este último uma variável passível de ser

medida; já, a incerteza não é mensurável. Damodaran (2009) resume essa definição em uma

fórmula que é a probabilidade de um acidente multiplicado pela consequência em perdas

financeiras ou em perdas de vida.

Para Beaver (1995), muitos dos riscos são do tipo tradicional, sendo estes: risco de

crédito, que é o risco da parte não honrar seus compromissos (pagamentos); risco de taxa de

juros, que é o risco de descasamento entre ativos e passivos devido à flutuação de taxas de

juros; e o risco de liquidez que é o risco de não possuir condições de pagar saques desejados

pelos clientes.

Há, ainda, outros riscos, citados por Crouhy, Galai e Mark (2006), como:

risco de mercado: risco de mercado é o risco que as mudanças nos preços do

mercado financeiro e as taxas de juros reduzirão o valor de um título ou uma

carteira;

risco operacional: risco operacional diz respeito às perdas potenciais

resultantes de sistemas inadequados, às falhas de gerenciamento, aos controles

defeituosos, à fraude e ao erro humano;

risco legal e regulatório: risco regulatório e legal surge para toda uma

variedade de razões e está relacionado ao risco de reputação;

risco de negócios: risco de negócio refere-se aos riscos clássicos do mundo dos

negócios, tais como: incerteza sobre a demanda por produtos, o preço que pode

ser cobrado para esses produtos, ou o custo de produção e entrega de produtos;

risco estratégico: risco estratégico refere-se ao risco de investimentos

significativos para os quais não há uma grande certeza sobre o sucesso e a

rentabilidade;

risco de reputação: risco de reputação está tomando uma nova dimensão, após

os recentes escândalos contábeis que desfalcaram os acionistas, os credores e

os empregados de diversas grandes corporações.

A gestão de risco, conforme Gregory (2010) afirma, tem experimentado uma

revolução ao longo das últimas duas décadas, pois tem sido impulsionada pelas catástrofes

financeiras devido ao colapso de grandes instituições financeiras como a do Lehman Brothers.

Para Gregory (2010), essas catástrofes provaram que enormes prejuízos podem surgir de uma

34

insuficiente gestão de riscos e causar uma onda negativa no conjunto dos mercados

financeiros globais

Por isso, a gestão de riscos é importante, pois, segundo Damodaran (2009), as

empresas de sucesso precisam adotar uma visão mais abrangente de gestão de risco, em que

possam considerar não apenas a maneira de proteger-se contra alguns riscos, mas também

considerar quais os riscos que devem ser explorados e qual a melhor maneira de explorá-los.

Culp (1999) afirma que o principal objetivo da gestão de risco é eliminar dispendiosos

resultados.

Para Brealey e Myers (2005), algumas das justificativas em proteger-se dos riscos é

pelo fato de que, com isso, o planejamento financeiro seja facilitado, reduzindo as chances de

uma queda embaraçosa de caixa, e também para que ajude o gestor de produção a focar

apenas na sua atividade.

Porém, segundo Damodaran (2009), ultimamente a gestão de risco muitas vezes tem

sido equiparada somente ao hedge.

Para se protegerem dos riscos, as empresas podem utilizar diversos instrumentos

financeiros e, dentro dessa estratégia, os derivativos são importantes e, para Beaver (1995), as

empresas têm uma demanda por instrumentos derivativos para controlar os riscos.

Culp (2002) afirma que uma das razões para o enorme sucesso e popularidade dos

derivativos nas últimas décadas é que permitem que as empresas adequem seus perfis de

risco, facilitando a transferência de tipos específicos de risco. Culp (2006) conceitua

transferência de risco como sendo o processo pelo qual os impactos negativos explícitos de

um risco são transferidos de uma empresa a um ou mais indivíduos ou a uma ou mais

empresas.

Durbin (2010) cita dois motivos pelo qual os derivativos são usados para o

gerenciamento de risco: primeiro, porque o valor de um derivativo é determinado

principalmente pelo valor do ativo subjacente, sendo as posições no derivativo e no seu ativo

subjacente compensadas, por esse motivo tende a neutralizar as mudanças no valor do ativo

subjacente; segundo, os derivativos empregam o poder da alavancagem.

Devido a isso, muitas empresas hoje, de acordo com Chew (1999), utilizam os

derivativos como hedging, ou seja, para diminuir os seus riscos. Hedging, segundo Whaley

(2006), refere-se a reduzir o risco da nossa posição pela compra ou venda de outros ativos

cujo valor sofrerá mudanças no montante igual ao valor dos ativos que se tem.

35

Entretanto, como salienta Chew (1999), o hedging não necessariamente elimina todos

os riscos de uma empresa, pois quando uma empresa se protege contra um determinado risco,

esta se protege contra mudanças adversas no mercado, mas, caso o mercado se altere para um

cenário que favoreceria a empresa, esta pode encontrar-se em uma situação que combinará as

piores características da situação com hedge, com as piores características de um cenário sem

hedge.

Contratos futuros, contratos a termo, opções e swap são alguns dos derivativos

utilizados para efetuar proteção contra riscos. De acordo com Silva Neto (2002), para a

realização de um hedge, não existe um instrumento derivativo melhor ou pior, existe apenas

aquele que se adapta melhor ou pior às necessidades de proteção de uma empresa.

Kolb e Overdahl (2002) citam a utilização como ferramenta de hedge, os contratos

futuros que podem ser caracterizados de diversas maneiras, dependendo do risco a ser coberto

e da construção da cobertura. Uma empresa que sabe que vai vender um ativo no futuro pode

proteger o preço deste ativo, tomando a posição de vendido: isso é conhecido como um short

hedge. Já uma empresa que sabe que vai comprar um ativo no futuro, pode dar cobertura,

tomando uma posição longa: isso é conhecido como um long hedge.

Já, Chisholm (2010) menciona as opções que podem ser combinadas entre si e com as

posições em valores mobiliários subjacentes para construção de diferentes estratégias de

negociação e gerenciamento de risco, como, por exemplo, o uso de uma opção de venda para

se proteger contra perdas potenciais em uma posição de um ativo subjacente.

Culp (2002) afirma que uma transação com swap pode ser construída para ser

liquidado com base em praticamente qualquer tipo de evento, ou gatilho, por isso, não

surpreendentemente, os swaps são crescentemente utilizados para gerenciar os riscos que não

apenas o de mercado e o de risco de crédito.

Shimpi (2001) ainda cita os derivativos de crédito que surgiram para gerar uma

capacidade de crédito adicional para as contrapartes; e os derivativos de tempo, que surgiram

para mitigar os riscos de empresas que estão expostas aos riscos de alterações climáticas.

Entretanto, Climeni e Kimura (2008) destacam que, apesar de os derivativos serem

utilizados para o gerenciamento de riscos, estes instrumentos também possuem riscos

embutidos como: risco de flutuação do mercado, risco de problemas de crédito, risco de

liquidez, risco de erros ou fraudes em operações ou controles e risco de operações que podem

ser questionadas juridicamente.

36

2.5 Normas contábeis

Qual é o objetivo da contabilidade? Segundo o Statement of Financial Accounting

Concepts nº. 8 do Financial Accounting Standards Board - FASB, o objetivo da contabilidade

é de fornecer informações financeiras sobre a entidade que seja útil para investidores atuais e

potencias, assim como para outros usuários que visem à tomada de decisão racional de

investimentos, créditos e outros.

No Brasil, conforme o Pronunciamento Conceitual Básico do Comitê de

Pronunciamentos Contábeis – CPC, o objetivo das demonstrações contábeis é fornecer

informações sobre posição patrimonial e financeira e, acerca do desempenho, que sejam úteis

a um número de usuários para avaliação e tomada de decisão.

Já, para Hendriksen e Van Breda (2009), divulgar tem como sentido ampla veiculação

de informação; já, no sentido mais restrito à área contábil, divulgar tem como significado,

veicular informações financeiras que vão desde a discussão e a análise pela administração, às

notas explicativas e às demonstrações complementares. Reportando-se à palavra divulgar em

língua inglesa, disclosure, de acordo com Iudícibus (2006), está ligada aos objetivos da

contabilidade, ao garantir informações diferenciadas para os vários tipos de usuários.

Em resumo, o objetivo da contabilidade é divulgar, evidenciar, informações

financeiras para todos os usuários. Ernst & Young e FIPECAFI (2009) citam que esses

usuários das demonstrações financeiras incluem investidores e potenciais investidores,

empregados, credores, fornecedores, clientes, governos e suas agências, e o público em geral.

Ainda, segundo Ernst & Young e FIPECAFI (2009), estes usuários utilizam tais informações

para satisfazer certas necessidades como auxílio na análise de risco, para saber sobre a

continuidade da empresa, a destinação de recursos, o desempenho, dentre outras.

Segundo Lopes e Lima (1999), do ponto de vista da evidenciação contábil, os

derivativos apresentam um problema bastante complexo, uma vez que todos os riscos

envolvidos com a sua operação não estão perfeitamente evidenciados nas demonstrações

financeiras das empresas. Para Lopes e Carvalho (1999), essa não evidenciação é um

problema grave, pois os usuários externos não possuem acesso ao volume de operações da

instituição analisada pelas demonstrações contábeis.

No Brasil, a principal norma que dispunha sobre a evidenciação nas demonstrações

contábeis de companhias abertas do valor de mercado dos instrumentos financeiros era a

Instrução Normativa 235 da Comissão de Valores Mobiliários – CVM publicada em 23 de

37

março de 1995 (DARÓS; BORBA, 2005, p. 72). Esta norma trata de divulgação do valor de

mercado em nota explicativa dos instrumentos financeiros detidos pela empresa, reconhecidos

ou não nas demonstrações financeiras.

Em 2008, a CVM publicou a Instrução Normativa 475 e a Deliberação 550. Estas

publicações tratam da apresentação das informações dos instrumentos financeiros em nota

explicativa, e também sobre a divulgação de quadro demonstrativo de análise de

sensibilidade, considerando cenários de stress, e a perda ou ganho para cada cenário

projetado. Segundo Lopes, Lima e Galdi (2009), a crise no mercado financeiro e as perdas

relevantes, em algumas empresas brasileiras em operações com derivativo, fizeram com que a

atenção a este tema aumentasse consideravelmente, motivando, assim, a publicação dessas

normas por parte da CVM.

A CVM também publicou a Nota Explicativa à Instrução CVM 475 que vem informar

os conceitos por trás da Instrução Normativa 475 e da Deliberação 550. Nesta a CVM destaca

que essas publicações visam a fornecer maiores informações para que os usuários possam

avaliar adequadamente o risco inerente às operações da empresa. Dentre essas informações,

pode-se citar a divulgação da política de utilização de derivativos; os objetivos e estratégias

de gerenciamento de riscos; entre outros. Essa necessidade se torna mais importante quando o

produto envolvido é um derivativo, pois segundo a CVM (2008), por meio desse produto, a

empresa pode assumir riscos muito superiores às suas necessidades de capital, aumentando o

potencial de alavancagem das empresas que utilizam esses instrumentos.

Já, no âmbito internacional, tem-se o International Accounting Standards Board

(IASB), que foi criado em 2001, com a reestruturação do International Accounting Standards

Committee (IASC). ERNST & YOUNG e FIPECAFI (2009) explanam que este evento

coincidiu com a decisão da Comissão Europeia de adotar as normas internacionais de

contabilidade (IAS), até então emitidas pelo IASC. Kimura, Basso e Perera (2009) explicam

que o IASB adotou todas as IAS, revisando e desenvolvendo essas normas internacionais,

passando a chamar este novo padrão de International Financial Reporting Standard (IFRS).

Ainda, segundo Kimura, Basso e Perera (2009), muitas das normas que compõem o IFRS

ainda são chamadas de IAS.

Dentre as normas internacionais sobre instrumentos financeiros e derivativos, pode-se

destacar o IAS 39 – Financial Instruments: Recognition and Measurement, o IAS 32 –

Financial Instruments: Presentation e o IFRS 7 – Financial Instruments: Disclosures. Para

Lopes, Lima e Galdi (2009), essas normas são concebidas dentro da tradição jurídica de

38

common Law, que são princípios gerais de orientação e não regras detalhadas, possuindo

considerável espaço de julgamento para o contador. De acordo com Lopes e Martins (2005),

agentes do mercado financeiro que possuem a cultura do common Law, estão mais

preocupados com a essência econômica das atividades da empresa do que com a forma

jurídica das transações. Ainda, Lopes e Martins (2005) expõem que, dentro da cultura do

common Law, a evidenciação tem papel central na contabilidade.

Para adequar a contabilidade brasileira à internacional, em 2005, foi criado o Comitê

de Pronunciamentos Contábeis (CPC), órgão este reconhecido pela comunidade contábil e de

negócios, que é ficou como responsável por emitir as normas internacionais de contabilidade

no Brasil. O CPC tem como objetivo:

[...] o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre

procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para

permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à

centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. (Art. 3°

da Resolução Conselho Federal de Contabilidade n° 1055, 2005).

Portanto, em 2010, as normas brasileiras de contabilidade sobre instrumentos

financeiros (contempladas nos pronunciamentos do Comitê de Pronunciamentos Contábeis –

CPC) são baseadas em normas internacionais sobre o assunto (International Financial

Reporting Standards – IFRS). Os principais temas regulamentados referem-se à apresentação

e à classificação dos instrumentos, ao seu reconhecimento e mensuração, e à divulgação –

forma como devem ser apresentadas as notas explicativas sobre instrumentos financeiros nas

demonstrações financeiras (LOPES; LIMA; GALDI, 2009, p. 98-99).

Dentre os principais pronunciamentos técnicos do CPC que tratam de instrumentos

financeiros e derivativos, pode-se citar: o CPC 38 – Instrumentos Financeiros:

Reconhecimento e Mensuração, que é equivalente ao IAS 39; o CPC 39 – Instrumentos

Financeiros: Apresentação, que é equivalente ao IAS 32; e o CPC 40 – Instrumentos

Financeiros: Divulgações, que é equivalente ao IFRS 7.

Em 2009, a CVM, mediante a Deliberação 604, aprovou todos os Pronunciamentos

Técnicos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), inclusive o CPC 38, o

CPC 39 e o CPC 40, que dispõe sobre reconhecimento, mensuração, apresentação e

evidenciação de instrumentos financeiros.

O pronunciamento técnico nº 39 (CPC 39 – Instrumentos Financeiros: Apresentação)

discorre sobre a apresentação e classificação de instrumentos financeiros, fornece conceitos

importantes como o de instrumentos financeiros:

39

Instrumento Financeiro é qualquer contrato que dê origem a um ativo financeiro

para a entidade e a um passivo financeiro ou instrumento patrimonial para outra

entidade. (CPC 39 - Instrumentos Financeiros: Apresentação, 2009).

Já, de acordo Lopes, Lima e Galdi (2009), um instrumento financeiro decorre de um

contrato entre duas ou mais partes que estão interessadas em realizar uma transação de

transferência de recursos, sendo um contrato, um acordo que gere consequências econômicas

para as partes envolvidas. De acordo com a definição do CPC 39, faz-se necessário saber os

conceitos de ativo financeiro, passivo financeiro e de títulos patrimoniais. Abaixo, seguem as

definições apresentadas pelo CPC 39.

Ativo financeiro é qualquer ativo que seja caixa; instrumento patrimonial de outra

entidade; direito contratual de receber caixa ou outro ativo financeiro de outra

entidade ou de trocar ativos financeiros ou passivos financeiros com outra entidade

sob condições potencialmente favoráveis para a entidade; um contrato que seja ou

possa vir a ser liquidado por instrumentos patrimoniais da própria entidade que não

seja um derivativo ou que sendo um derivativo poderá ou será liquidado de outra

forma que não pela troca de um montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro.

Como exemplo, temos dinheiro, aplicações em depósitos bancários, recebíveis,

investimentos em títulos. (CPC 39 - Instrumentos Financeiros: Apresentação, 2009).

Passivo financeiro é qualquer passivo que seja uma obrigação contratual de entregar

caixa ou outro ativo financeiro a uma entidade ou de trocar ativos financeiros ou

passivos financeiros com outra entidade sob condições que são potencialmente

desfavoráveis para a entidade; contrato que será ou poderá ser liquidado por

instrumento patrimonial da própria entidade e que não seja derivativo ou que sendo um derivativo poderá ou será liquidado de outra forma que não pela troca de um

montante fixo de caixa ou outro ativo financeiro. Exemplificando: contas a pagar,

duplicatas a pagar, títulos de dívida. (CPC 39 - Instrumentos Financeiros:

Apresentação, 2009).

Instrumento patrimonial é qualquer contrato que evidencie uma participação nos

ativos de uma entidade após a dedução de todos os seus passivos. Ações são grande

exemplo de um instrumento patrimonial. (CPC 39 - Instrumentos Financeiros:

Apresentação, 2009).

Ainda, conforme o CPC 39 (2009), os ativos e passivos financeiros devem ser

apresentados em base líquida, somente quando a entidade dispõe de um direito legalmente

executável para liquidar pelo montante líquido; e tiver a intenção tanto de liquidar em base

líquida, ou realizar o ativo e liquidar o passivo simultaneamente.

Já, o pronunciamento nº 38 (CPC 38 – Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e

Mensuração) conceitua derivativos como um instrumento que deve possuir todas as três

características seguintes: o seu valor altera-se em resposta à alteração na taxa de juros

especificada, no preço de instrumento financeiro, no preço de mercadoria, na taxa de câmbio,

no índice de preços ou nas taxas, avaliação ou índice de crédito, ou outra variável, desde que,

40

no caso de variável não financeira, a variável não seja específica de uma parte do contrato;

não é necessário qualquer investimento líquido inicial ou investimento líquido inicial que seja

inferior ao que seria exigido para outros tipos de contratos que se esperaria que tivessem

resposta semelhante às alterações nos fatores de mercado; é liquidado em data futura.

No que tange a derivativos, o CPC exige que todos devam ser mensurados a valor

justo com ajustes reconhecidos no resultado, exceto aqueles que fazem parte da estratégia de

hedge accounting, que possuem regras específicas de mensuração. De acordo ainda com o

CPC 38, valor justo é a quantia pela qual um ativo poderia ser trocado, ou um passivo

liquidado, entre partes conhecedoras e dispostas a isso em transação sem nenhum favorecido.

Segundo Lopes, Lima e Galdi (2009), a mensuração por valor justo é uma das mais relevantes

alterações na contabilidade de instrumentos financeiros.

Segundo Ramirez (2008), hedge accounting é uma técnica que modifica a base normal

para reconhecer ganhos e perdas associados a um item de hedge ou um instrumento de

hedging para permitir que os ganhos e perdas do instrumento de hedging possam ser

reconhecidos no resultado no mesmo período de compensação de perdas e ganhos do item

protegido. De acordo com ERNST & YOUNG e FIPECAFI (2009), para que a entidade possa

tratar o derivativo como dentro do hedge accounting, é necessário que sejam atendidos alguns

critérios:

identificação do tipo de hedge;

identificação dos itens ou das transações objeto de hedge;

identificação da natureza do risco objeto de hedge (risco de taxa de juros, risco

de variação cambial, risco de crédito e risco de mercado);

identificação do instrumento de hedge;

demonstração que o hedge está sendo altamente eficaz;

documentação de todos os passos acima desde o início da relação de hedge;

monitoramento de maneira retrospectiva à eficiência do hedge.

A demonstração da efetividade do hedge para que este se enquadre dentro da

modalidade de hedging accounting se mostra como um grande desafio para as empresas.

Iudícibus, Martins, Gelbcke, Santos e a FIPECAFI (2010) conceituam efetividade do hedge

como o grau em que a mudança no valor justo, ou no fluxo de caixa do item objeto de hedge é

compensada pela mudança no valor justo, o uno fluxo de caixa do instrumento de hedge. Um

dos principais métodos para a demonstração dessa efetividade é a correlação.

Lopes, Lima e Galdi (2009) elencam os principais objetos de hedge:

41

ativo ou passivo individual ou um grupo de ativos ou passivos;

compromissos firmes ou transações previstas altamente prováveis;

o risco de variação cambial ou o risco total de ativos ou passivos não

financeiros;

uma parte do fluxo de caixa de qualquer ativo ou passivo financeiro;

os investimentos líquidos em subsidiárias no exterior.

Já, Ramirez (2008) elenca os principais instrumentos de hedging:

um derivativo que envolve uma parte externa, exceto para a maioria das opções

vendidas;

um ativo ou passivo financeiro não derivativo financeiro externo, mas somente

para hedge de risco cambial;

uma parte do instrumento de cobertura;

dois ou mais derivativos, ou parte de seu valor nominal, pode ser visto em

combinações como o instrumento de cobertura se nenhum deles for uma opção

subscrita;

um único instrumento de cobertura a ser designado como cobertura para mais

de um tipo de risco, em que os riscos possam ser identificados claramente, a

efetividade do hedge possa ser demonstrada e seja possível assegurar que

existe uma designação específica.

Lopes, Lima e Galdi (2009) citam cada tipo de hedge e a sua forma de contabilização:

Hedge de valor justo é aquele que mitiga uma exposição nas alterações do

valor justo de um ativo ou passivo reconhecido ou de um compromisso firme

não reconhecido. Para aplicar, deve ser identificado e documentado o risco que

está sendo protegido. Deve ser classificado sempre como mensurado ao valor

justo por meio do resultado; se o objeto de hedge é mensurado pelo custo ou

pelo custo amortizado, a sua mensuração é ajustada para refletir as alterações

no valor justo do item objeto de hedge, decorrente das variações do risco

protegido. Estas mudanças são reconhecidas diretamente no resultado do

exercício; se o objeto de hedge é um disponível para a venda, as alterações no

seu valor justo passam a ser consideradas no resultado do exercício. A figura 4

exemplifica esse tipo de hedge.

42

Figura 4 – Hedge de valor justo

Fonte: Adaptado de Ramirez (2008)

Instrumento de hedging

Alterações no valor justo

Objeto de hedge

Alterações no valor justo

com relação ao risco coberto

Resultado

Hedge de fluxo de caixa é para proteção contra uma exposição de variações no

fluxo de caixa da empresa atribuída a um risco específico associado a um ativo,

passivo ou transação futura altamente provável. Alterações do valor justo do

instrumento de hedge são reconhecidas no PL; o item objeto de hedge não tem

a sua contabilização ajustada; quando uma transação projetada objeto de hedge

accounting é efetivada, a empresa tem a opção de manter os ganhos/perdas

com o instrumento de hedge no PL ou removê-los do PL e incluí-los no valor

contábil inicial do ativo/passivo; se o hedge de uma transação projetada

resultar em um ativo/passivo financeiro, os ganhos/perdas diferidos continuam

no PL; quando o item objeto de hedge impactar o resultado do exercício, o

montante correspondente classificado no PL é removido e é reconhecido no

resultado do exercício; se o hedge de fluxo de caixa não for totalmente efetivo,

a parcela ineficaz deve ser reconhecida no resultado. Abaixo, a figura 5

exemplifica essa situação.

43

Figura 5 – Hedge de fluxo de caixa

Fonte: Adaptado de Ramirez (2008)

Instrumento de

hedging

Alterações no

valor justo

Patrimônio Líquido

Resultado

Parte efetiva

Parte não

efetiva

Quando o item protegido

impactar o resultado

Hedge de investimento no exterior é para proteção do montante relacionado à

participação da empresa em uma subsidiária no exterior. Contabilização

semelhante ao do hedge de fluxo de caixa. Mudanças no valor justo do

instrumento de hedge são reconhecidas em item separado do PL e são baixadas

somente na venda da participação da empresa.

Ernst & Young e FIPECAFI (2009) ainda mencionam os derivativos embutidos, sendo

um componente de um instrumento híbrido, que inclui um derivativo e um contrato

hospedeiro, tendo, como resultado, que o fluxo de caixa do instrumento combinado varia de

maneira semelhante ao de um derivativo de forma isolada. O CPC 38 exige que os derivativos

sejam identificados e separados do contrato principal para que a contabilização seja conforme

os demais instrumentos financeiros derivativos.

A norma internacional referente à evidenciação de operações com instrumentos

financeiros é o IFRS 7 que, no Brasil, foi traduzido no pronunciamento nº 40 (CPC 40 –

Instrumentos Financeiros: Evidenciação). De acordo com Ernst & Young e FIPECAFI

(2009), o objetivo desta norma internacional é requerer que as entidades divulguem

informações sobre os instrumentos financeiros, permitindo que o usuário desta informação

possa avaliar a significância dos instrumentos financeiros sobre a posição financeira e acerca

do desempenho das entidades e também possa avaliar a natureza e a extensão da exposição

aos riscos associados aos instrumentos financeiros utilizados pela entidade e o gerenciamento

destes.

44

O pronunciamento CPC 40 também estabelece hierarquias de três níveis para a

mensuração do valor justo: nível 1, que são preços cotados no mercado ativo, para ativos e

passivos financeiros iguais; nível 2, que são preços cotados no mercado referente a

instrumentos similares ou, no caso de modelos de cálculo, que haja inputs de dados

observáveis; nível 3, que são aqueles instrumentos precificados mediante modelos de cálculo,

mas que os inputs não sejam observáveis.

Ainda, de acordo com o CPC 40, caso a entidade possua empréstimo ou um recebível

pelo valor justo, esta deve divulgar o montante pelo qual qualquer derivativo de crédito ou

instrumento similar elimina a exposição máxima ao risco de crédito.

Conforme a Orientação Técnica CPC 03, a empresa deve divulgar em notas

explicativas informações quantitativas e qualitativas referentes a instrumentos financeiros

derivativos. Dentre essas informações, pode-se listar:

política de utilização;

objetivos e estratégias de gerenciamento de riscos, particularmente a política de

proteção patrimonial (hedge);

riscos associados a cada estratégia de atuação no mercado, adequação dos

controles internos e parâmetros utilizados para o gerenciamento desses riscos e

os resultados obtidos em relação aos objetivos propostos;

o valor justo de todos os derivativos contratados, os critérios de avaliação e

mensuração, métodos e premissas significativas aplicadas na apuração do valor

justo;

os valores registrados em contas de ativo e passivo segregados, por categoria,

risco e estratégia de atuação no mercado, aqueles com o objetivo de proteção

patrimonial (hedge) e aqueles com o propósito de negociação;

os valores agrupados por ativo, indexador de referência, contraparte, local de

negociação (bolsa ou balcão) ou de registro e faixas de vencimento, destacados

os valores de referência, de custo, justo e em risco da carteira;

os ganhos e as perdas no período, agrupados pelas principais categorias de

riscos assumidos, segregados aqueles registrados no resultado e no patrimônio

líquido;

os valores e o efeito no resultado do período de operações que deixaram de ser

qualificadas para a contabilidade de operações de proteção patrimonial (hedge),

bem como aqueles montantes transferidos do patrimônio líquido em

45

decorrência do reconhecimento contábil das perdas e dos ganhos no item

objeto de hedge.

Caso a entidade possua hedge accounting, segundo o CPC 40, esta deve divulgar a

descrição de cada tipo de hedge, a descrição dos instrumentos financeiros designados como

instrumentos de hedge e seus valores justos, e a natureza dos riscos que estão sendo objeto do

hedge. E, ainda há, para o hedge de fluxo de caixa, a necessidade de divulgação dos períodos

em que se espera que o fluxo de caixa vá ocorrer e quando; uma descrição de operação

prevista em que foi utilizada a contabilidade de hedge, mas que já não se espera que ocorra; o

montante que tenha sido reconhecido no patrimônio líquido durante o período; quantia que

tenha sido reclassificada do patrimônio líquido para o resultado do período, mostrando o

montante incluído em cada item da demonstração do resultado abrangente; e o montante que

tenha sido removido do patrimônio líquido durante o período e incluído no custo inicial ou

outro valor contábil de ativo não financeiro ou passivo não financeiro, cuja aquisição ou não

ocorrência tenha sido um hedge de operação prevista e altamente provável.

Além disso, segundo o CPC 40, a entidade deve divulgar separadamente os ganhos ou

as perdas de hedge de valor justo sobre o instrumento de hedge e sobre o objeto de hedge

atribuído ao risco coberto; a ineficácia do hedge reconhecida no resultado que decorre de

hedges de fluxo de caixa; a inefetividade reconhecida nos resultados decorrentes dos hedges

de investimento no exterior.

De acordo com ERNST & YOUNG e FIPECAFI (2009), a entidade deve divulgar

informações que permitam que os usuários das demonstrações financeiras avaliem a natureza

e extensão dos riscos resultantes dos instrumentos financeiros que a entidade está exposta e

como estes riscos são gerenciados. Usualmente, estes riscos incluem, mas não se limitam ao

risco de crédito, risco de liquidez e risco de mercado.

Quanto ao risco de crédito, a empresa deve divulgar em relação aos derivativos uma

análise dos vencimentos para derivativos passivos, sendo que essa análise dos vencimentos

deve incluir os vencimentos contratuais remanescentes para aqueles passivos financeiros

derivativos cujo vencimento contratual é essencial para o entendimento do momento de

recebimento dos fluxos de caixa.

Já, para o risco de crédito, o CPC 40 juntamente com a Instrução Normativa 475 da

CVM obriga que as empresas divulguem quadro demonstrativo de análise de sensibilidade,

para cada tipo de risco de mercado considerado relevante pela administração, originado por

instrumentos financeiros derivativos.

46

Todas essas normas citadas e constantes nos pronunciamentos técnicos tratados neste

trabalho, juntamente com os demais pronunciamentos, deverão estar contidos nas

demonstrações financeiras do exercício encerrado em 2010 das empresas de capital aberto.

2.6 Teorias da Agência e do Stakeholder

A relação entre o acionista e o administrador da empresa é complexa e alvo de

diversos estudos que buscam entender e melhorar essa relação. Isso é mais forte em países

onde o mercado de capitais é muito desenvolvido, que faz com que o controle da empresa seja

pulverizado entre diversos acionistas, e eles escolham um administrador que julguem ser

capazes de tomar as melhores decisões para a empresa. Em outros países, como o Brasil, em

que o mercado de capitais está em desenvolvimento, ocorrem situações em que os acionistas

majoritários são os próprios administradores da empresa, tendo apenas algumas ações nas

mãos de poucos acionistas minoritários que não exercem influência no controle da empresa.

Porém, essa relação nem sempre foi assim, pois no passado, as empresas possuíam um

único dono, proprietário que era também o administrador da empresa. Pela teoria econômica

clássica, as empresas atuavam de forma racional, otimizando o resultado econômico de sua

organização, implicando também em minimizar os custos. Este é o modelo da Teoria da

Firma que, segundo Holanda (1982), a hipótese desta teoria é que a empresa procura

maximizar os seus lucros da mesma forma que o consumidor procura maximizar a sua

satisfação. Segundo Jensen e Meckling (1976), a empresa é uma caixa preta, operando para

satisfazer as condições pertinentes marginais em relação a entradas e saídas, maximizando

lucros, ou mais precisamente, o valor presente. De acordo com esta teoria clássica, não

existiam conflitos de interesse já que o administrador era o próprio proprietário da empresa,

ou seja, os objetivos da empresa (proprietário) estavam em conformidade com os objetivos do

administrador.

Porém, com o desenvolvimento da economia mundial, essa teoria não era mais

adequada para explicar as relações que apareceram. Com este desenvolvimento, passaram a

surgir empresas em que os proprietários não mais eram os próprios administradores, sendo

estes últimos nomeados pelos primeiros para administrar a empresa, pensando sempre na

lucratividade e na perenidade da empresa. Com isso, começaram a surgir os conflitos, as

diferenças de objetivos, entre a empresa, na figura dos acionistas e proprietários, e os

administradores.

47

Lopes e Martins (2005) explicam que a teoria clássica reza que, na ausência de custos

de transação e de insolvência, a empresa irá sempre preferir projetos que tenham maior valor

presente líquido, independentemente do risco inerente aos projetos. Porém, na prática, a

possibilidade de insolvência e os elevados custos relacionados criam conflitos de interesse

entre acionistas e administradores.

Essa relação não harmoniosa, gerando a situações de conflitos entre os interesses dos

acionistas e os interesses dos administradores, causa um problema de agência. Ross,

Westerfield e Jordan (2000) dizem que o problema de agência ocorre pela possibilidade de

haver conflito de interesse entre os proprietários (acionistas) e os administradores da empresa.

Para Jensen e Meckling (1976), uma relação de agência é como um contrato pelo qual

uma ou mais pessoas (o principal) contratam outra pessoa (o agente) para executar algum

serviço em seu nome, que envolve delegar alguma autoridade para a tomada de decisão do

agente. Se ambas as partes da relação são maximizadores de utilidade, há boas razões para

acreditar que o agente não agirá sempre no melhor interesse do principal. Besanko, Dranove,

Shanley e Schaefer (2006) afirmam que o objetivo do principal é maximizar a diferença entre

o valor que recebe como resultado das ações do agente e qualquer pagamento que faça ao

agente, mas, na ausência de algum mecanismo para alinhar os interesses de ambos, o agente

fica propenso a não se importar com o valor gerado para o principal. Pois, segundo Ross,

Westerfield e Jordan (2000), os administradores tenderiam a maximizar os recursos sobre os

quais eles têm controle, ou, em termos mais amplos, tenderiam a maximizar seu poder ou

riqueza na empresa, importando-se também com a manutenção do seu emprego.

Eisenhard (1989) destaca duas contribuições ao pensamento organizacional: a primeira

é o tratamento da informação que, na teoria da agência, é considerada como uma mercadoria,

tem um custo, e pode ser informação comprada; a segunda contribuição da teoria da agência é

a sua implicação de risco, pois as organizações têm um futuro incerto e o futuro pode trazer

prosperidade, falência ou algum intermediário resultado, e esse futuro só é parcialmente

controlado pelos membros da organização. Os efeitos ambientais como a regulamentação do

governo, a emergência de novos competidores e a inovação técnica podem afetar os

resultados. À teoria da agência estende-se pensamento organizacional, empurrando

ramificações de incerteza, resultado de suas implicações para a criação de risco.

Outro fator que tende a ocasionar o problema de agência é a assimetria de informação.

Assim, Lopes e Martins (2005) definem assimetria de informação: “[...] os agentes envolvidos

no mercado possuem informações diferentes sobre as características dos ativos em

48

negociação, sejam eles empresas, ações ou carros”. Ou seja, assimetria de informação é a

diferença de conhecimento sobre as informações de uma empresa entre os agentes, ou seja, o

administrador por estar sempre presente dentro da empresa possui informações que o

acionista (proprietário) não possui. Hendriksen e Van Breda (2009) exemplificam o conceito

de assimetria como sendo o proprietário que é incapaz de observar todas as ações do

administrador. As ações deste administrador podem ser diferentes daquelas que o proprietário

teria preferido, seja pelo motivo de que o administrador tenha um conjunto diferente de

preferências ou porque o administrador está procurando enganar o proprietário. Também se

pode exemplificar esta teoria pelos acontecimentos recentes com as empresas que utilizaram

inadequadamente derivativos, pois os acionistas não possuíam informação sobre os riscos

assumidos pela empresa.

Na firma da teoria clássica, não havia essa assimetria já que o proprietário (acionista)

era também o administrador da empresa, ou seja, ele possuía todas as informações sobre a

empresa e, possuía também o conhecimento sobre todas as operações que a empresa realiza.

Porém, atualmente, com empresas que possuem seu controle pulverizado, nem sempre os

acionistas controladores têm as mesmas informações que os administradores que estão

presentes no dia a dia da empresa. Todos os agentes podem ter acesso às informações

necessárias que precisa, porém, muitas vezes, os custos para ter o acesso a essa informação é

muito elevado, portanto, inviabilizando este acesso.

Isso pode ser reduzido por meio do disclosure, da evidenciação das informações pelos

comunicados ao mercado, pela publicação de demonstrações financeiras, etc. De acordo com

Iudícibus e Lopes (2008), a contabilidade surge para resolver problemas econômicos que não

foram adequadamente atendidos pela teoria clássica da firma. Lopes e Martins (2005) avaliam

que a existência da contabilidade está ligada à existência de problemas de assimetria de

informação.

Entretanto, nos últimos anos, tem-se o surgimento de uma nova teoria que se preocupa

não somente com o conflito entre o proprietário e os administrados, mas com todas as

relações que a empresa possui com o seu ambiente interno e externo. Em 1984, Freeman

apresenta o conceito mais conhecido de stakeholders, que é qualquer grupo ou indivíduo que

pode afetar ou é afetado pela realização dos objetivos da organização. Para Schneider (2002),

stakeholders são compostos por membros internos da organização, incluindo funcionários,

gerentes e membros da diretoria; membros externos, como os proprietários, clientes,

fornecedores, e concorrentes e membros engajados em atividades inter-organizacionais de

49

cooperação com a empresa. Jones e Wicks (1999) citam outra premissa para a teoria dos

stakeholders de que esta se preocupa com a natureza destas relações em termos de ambos os

processos e resultados para a empresa e para as suas partes interessadas.

Para Sundaram e Inkpen (2004), a teoria dos stakeholders tenta abordar a questão de

que os grupos de stakeholders merecem ou exigem atenção da administração. Jensen (2001)

afirma que a teoria dos stakeholders diz que os gestores devem fazer decisões que levem em

conta os interesses de todos os interessados em uma empresa.

Mitchell, Agle e Wood (1997) argumentam que a teoria dos stakeholders deve levar

em conta a urgência, bem como a legitimidade, não importando quão desagradável ou

perturbadora possam ser os resultados das decisões. Os gerentes devem saber sobre as

entidades de seu ambiente que possuem poder e tem a intenção de impor sua vontade sobre a

empresa. Poder e urgência devem ser atendidos, se os gestores estão a servir legalmente e

moralmente os interesses legítimos dos stakeholders.

Para Donaldson e Preston (1995), a teoria dos stakeholders difere de outras teorias da

empresa de forma fundamental já que essa teoria visa não só a explicar e a orientar a estrutura

e o funcionamento da corporação estabelecida, como e, para este fim, também considera a

empresa como uma entidade organizacional, por meio da qual os participantes numerosos e

diversificados realizam múltiplos e, nem sempre, totalmente congruente, efeitos. A figura 6

exemplifica os relacionamentos da empresa dentro da teoria dos stakeholders.

50

Ainda, de acordo com Donaldson e Preston (1995), a teoria dos stakeholders é geral e

abrangente, mas ela não está vazia, vai muito além da descritiva observação de que as

organizações têm as partes interessadas.

3. Procedimentos Metodológicos

3.1 Tipo de pesquisa

Este trabalho se caracterizou como uma pesquisa descritiva que, de acordo com Gil

(2002), busca primordialmente a descrição de características de determinada população. Além

disso, considerando o esquema tipológico, apresentado por Abramo (1979), este trabalho é,

segundo o nível de interpretação, uma pesquisa mensurativa, pois, mais do que descrever as

características, buscou quantificar e medir as mesmas.

O presente trabalho também pode ser classificado como uma pesquisa exploratória, já

que, de acordo com Beuren (2008), pesquisa exploratória normalmente ocorre quando ainda

há pouco conhecimento sobre o tema, buscando, por meio desse estudo, conhecer mais

profundamente o assunto com o objetivo de torná-lo mais claro.

51

Ainda, de acordo com Abramo (1979) esse trabalho pode ser classificado como uma

pesquisa aplicada, que é aquela realizada para que seus resultados tenham utilização na

solução de possíveis problemas encontrados que, no caso desse trabalho, pode ser aplicado

para o aumento do grau de disclosure em relação aos instrumentos financeiros derivativos

pelas empresas.

De acordo com o paradigma da pesquisa metodológica, essa pesquisa é classificada

como fenomenológica, que, para Collis e Hussey (2005), é um paradigma mais ligado ao

subjetivo, a observar e analisar o comportamento das pessoas e do ambiente, interpretando

todo tipo de informação que se possa retirar dessa observação

3.2 Método de Pesquisa

Esta pesquisa é considerada, predominantemente, qualitativa que, segundo Beuren

(2008), busca destacar características que não podem ser observadas pelo estudo quantitativo,

pois teve como objeto de análise as notas explicativas constantes das demonstrações contábeis

das empresas selecionadas para a amostra. Porém, seguindo a classificação apresentada por

Abramo (1979), esse trabalho, segundo o método de estudo, também pode ser considerado

como estatístico, pois busca examinar a frequência e a variabilidade dos itens analisada; e,

como comparativa, já que tem o objetivo de analisar vários organismos diferentes, verificando

o que há de comum e o que há de específico em cada um.

Ainda, de acordo com Abramo (1979), esse trabalho, segundo as técnicas, pode ser

classificado como uma observação indireta por meio de consulta bibliográfica e documental,

em que, neste caso, as notas explicativas às demonstrações contábeis foram os dados

secundários utilizados para a coleta de observações.

3.3 Amostra e População

Inicialmente, a população do presente trabalho eram todas as empresas com ativos

negociados na Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA, no ano de 2010. Dessa

população, foram excluídas as empresas do setor financeiro, que, na sua maioria, eram bancos

e empresas de seguro e previdência, que possuem outros organismos reguladores, no caso o

Banco Central do Brasil (BACEN) e a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP),

respectivamente e também por utilizarem instrumentos financeiros derivativos para a sua

52

atividade-fim. Também foram excluídas empresas do segmento de balcão, porque não

possuem liquidez; além de empresas do segmento Brazilian Depositary Receipts – BDRs,

pois são certificados de depósito com lastro em valores mobiliários de emissão de companhias

estrangeiras que não são reguladas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Da população inicial caracterizada pelas empresas não financeiras com ativos

negociados na BOVESPA não pertencentes ao mercado de balcão e nem ao segmento de

BDR, foi elaborada uma classificação, de acordo com a quantidade de negociações ocorridas

no ano de 2010 com as ações dessas empresas. Após isso, foi extraída uma amostra com as

100 maiores empresas em quantidade de negociação em 2010.

Dessa amostra de 100 empresas, duas empresas, Refinaria de Petróleos Manguinhos

S.A. e Minupar Participações S.A. foram excluídas, pois não haviam publicado as

demonstrações financeiras de 2010. Portanto, no final, tem-se uma amostra de 98 empresas

(apêndice 1).

Após isso, foi realizada uma análise das demais empresas excluídas dessa amostra,

devido aos filtros aplicados, para a verificação se havia alguma empresa que possuía

importância na análise dos instrumentos financeiros derivativos, não sendo encontrado

nenhum caso.

De acordo com a classificação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social (BNDES), todas as empresas constantes da amostra analisada podem ser classificadas

como grandes empresas com base no faturamento anual acima de 300 milhões de reais.

Portanto, essa pesquisa, segundo Abramo (1979), pode ser classificada, segundo o

grau de generalização dos resultados, como uma pesquisa por amostragem, já que foram

colhidos uma parte do todo, por meio de uma amostra não aleatória.

3.4 Procedimentos de Coleta de Dados

O objeto de análise foram as Notas Explicativas às Demonstrações Contábeis do ano

de 2010, mediante as quais, de acordo com as normas contábeis vigentes, devem ser

evidenciadas as informações sobre instrumentos financeiros derivativos. Essas demonstrações

devem ser publicadas pelas empresas da amostra, como preconizam as regulamentações da

CVM. Salientando que, a partir 2010, a adoção das normas de contabilidade descrita nos

pronunciamentos técnicos do CPC era obrigatória, de acordo com a Deliberação nº 604 da

53

CVM. Essas informações foram coletadas diretamente do sítio da própria Comissão de

Valores Mobiliários.

Entretanto duas empresas, Cosan S.A. Indústria e Comércio e Tereos Internacional

S.A., o exercício social é finalizado no mês de março de cada ano, portanto, para essas

empresas foram considerada as demonstrações contábeis publicadas em março de 2010.

A consulta às notas explicativas foi realizada a partir do software disponibilizado pela

BMF&BOVESPA chamado EmpresasNet. Neste software foram carregados os arquivos

referentes às Demonstrações Financeiras Padronizadas de 2010, que se encontram disponíveis

no sítio da Comissão de Valores Mobiliários – CVM. Para isto, foi efetuado o download

destes arquivos de cada empresa da amostra, para posterior carregamento individual no

software acima mencionado. Após isto, todas as informações referentes às demonstrações

financeiras, incluindo as notas explicativas, puderam ser analisadas.

Para análise das notas explicativas, foi elaborado um checklist (quadro 3), com base

nas normas contábeis transcritas nos pronunciamentos técnicos do CPC. Nessa elaboração,

foram consideradas as normas contábeis que tratavam das divulgações quantitativas e

qualitativas referentes aos instrumentos financeiros derivativos que as empresas deveriam

apresentar nas notas explicativas. Este checklist foi elaborado tendo como base somente as

normas contábeis vigentes sobre instrumentos financeiros derivativos, portanto não é objetivo

deste checklist contemplar as normas referentes aos demais instrumentos financeiros. Outra

premissa para a elaboração deste checklist foi inserir somente as normas referentes à

evidenciação desses instrumentos nas notas explicativas, não contemplando, assim, as normas

de contabilização.

54

Referência

OCPC 03 *

Divulgação, em notas explicativas às demonstrações contábeis, de informações qualitativas e

quantitativas relativas aos instrumentos financeiros derivativos, destacando, no mínimo, os seguintes

aspectos:

(a) política de utilização;

(b) objetivos e estratégias de gerenciamento de riscos;(c) riscos associados a cada estratégia de atuação no mercado, adequação dos controles internos e

parâmetros utilizados para o gerenciamento desses riscos;

(d) o valor justo de todos os derivativos contratados, os critérios de avaliação e mensuração, métodos e

premissas significativas aplicadas na apuração do valor justo;

(e) valores registrados em contas de ativo e passivo segregados, por categoria, risco e estratégia de

atuação no mercado, aqueles com o objetivo de proteção patrimonial (hedge) e aqueles com o propósito

de negociação;

(f) valores agrupados por ativo, indexador de referência, contraparte, local de negociação (bolsa ou

balcão) ou de registro e faixas de vencimento, destacados os valores de referência, de custo, justo;

(g) ganhos e perdas no período, agrupados pelas principais categorias de riscos assumidos, segregados

aqueles registrados no resultado e no patrimônio líquido.

CPC 40 Para Risco de Liquidez

(a) Uma análise dos vencimentos para os instrumentos financeiros derivativos passivos. A análise dos

vencimentos deve incluir os vencimentos contratuais remanescentes para aqueles passivos financeiros

derivativos.

Para Risco de Mercado

(a) Divulgação quadro demonstrativo de análise de sensibilidade, para cada tipo de risco de mercado

considerado relevante pela administração, originado por instrumentos financeiros.

CPC 40

Para hedge accounting a entidade deve divulgar separadamente os itens a seguir para cada tipo de

hedge

(a) descrição de cada tipo de hedge;

(b) descrição dos instrumentos financeiros designados como instrumentos de hedge e seus valores

justos na data das demonstrações contábeis; e

(c) a natureza dos riscos que estão sendo objeto do hedge.

CPC 40 Para hedges de fluxo de caixa, a entidade deve divulgar:

(a) os períodos em que se espera que o fluxo de caixa irá ocorrer e quando espera-se que eles afetarão o

resultado;

(b) uma descrição de qualquer operação prevista em que foi utilizada a contabilidade de hedge, mas que

já não se espera que ocorra;

(c) o montante que tenha sido reconhecido em outros resultados abrangentes durante o período;

(d) a quantia que tenha sido reclassificada do patrimônio líquido para o resultado do período,

mostrando o montante incluído em cada item da demonstração do resultado abrangente.

CPC 40 A entidade deve divulgar separadamente:

(a) em hedges de valor justo, ganhos ou perdas:

(i) sobre o instrumento de hedge; e

(ii) sobre o objeto de hedge atribuído ao risco coberto;

(b) a ineficácia do hedge reconhecida no resultado que decorre de hedges de fluxo de caixa; e

(c) a ineficácia do hedge reconhecida no resultado que decorre de hedges de investimentos líquidos em

operações no exterior.

CPC 40 / Instrução

Normativa CVM

n° 475

* OCPC 03 - Orientação Técnica OCPC 03

Quadro 3 – Checklist aplicação das normas contábeis aos instrumentos financeiros derivativos

55

Foram, então, criadas cinco classificações para cada item do checklist com o objetivo

de informar o grau de atendimento às normas contábeis dos pronunciamentos técnicos do

CPC, podendo cada item ser classificado em apenas uma. Essa classificação é listada abaixo:

atende plenamente: caso a empresa atenda tudo que está descrito no item do

checklist;

atende parcialmente: caso atenda algum ponto do item do checklist;

não atende: caso a empresa não atenda nada do que está descrito no item do

checklist;

não observado: no caso da empresa não atender nada do que está descrito no

item, porém esse item requereria informações adicionais não presentes nas

demonstrações contábeis;

não se aplica: caso algum item do checklist não se aplique à realidade da

empresa.

3.5 Procedimentos de Tratamento dos Dados

Foi aplicado o checklist, elaborado conforme mencionado, à análise das notas

explicativas das empresas selecionadas para verificar a aderência das empresas às normas dos

pronunciamentos técnicos do CPC, com relação ao disclosure de operação com derivativos.

Após isso, foi realizada uma estatística para saber a frequência de cada classificação

para cada item do checklist, verificando qual deles que possui a menor quantidade de

empresas que atendem e aquele que possui a maior quantidade de empresas e os respectivos

percentuais.

Com base nos resultados das empresas, com boas práticas de evidenciação de

instrumentos financeiros derivativos, foram extraídos exemplos dessa boa prática, mostrando

como cada item da norma contábil pesquisado no checklist deveria ser atendido, por meio de

trechos extraídos das notas explicativas às demonstrações contábeis.

4. Análise dos resultados

Conforme CPC 40, a entidade deve divulgar informações qualitativas e quantitativas

que permitam que os usuários das demonstrações financeiras avaliem a natureza e a extensão

56

dos riscos resultantes dos instrumentos financeiros que a entidade está exposta e como estes

riscos são gerenciados. Assim, foi aplicado o checklist mencionado na metodologia.

Com a aplicação deste checklist (apêndice 2 e 3), verificou-se que 41% das empresas

não utilizam instrumentos financeiros derivativos ou que liquidaram todas as suas posições

em derivativos durante o ano de 2010, portanto não sendo necessárias maiores informações

qualitativas e quantitativas nas notas explicativas. As tabelas 2 e 3 mostram as principais

características deste grupo de empresas que não operam com derivativos.

Destes 41%, existem algumas empresas que operam derivativos, mas que estes estão

totalmente ligados a um financiamento, portanto, conforme o Pronunciamento Básico do CPC

deve haver a primazia da essência sobre a forma, já que, para que uma informação represente

adequadamente as transações e outros eventos que esta se propõe a representar, é necessário

que essas transações e eventos sejam contabilizados e apresentados de acordo com a sua

essência econômica, e não meramente de acordo com a sua forma legal. Ou seja, os

57

derivativos dessas empresas são, na sua essência, um financiamento. Portanto, não deve haver

divulgações específicas referentes a instrumentos financeiros derivativos, sendo essas

empresas consideradas como não operantes de derivativos.

Assim, os resultados que serão apresentados se referem apenas às empresas que

utilizam derivativos, que da nossa amostra inicial são 58 empresas.

A ordem utilizada neste trabalho para a apresentação dos resultados foi:

resultados quanto à divulgação, em notas explicativas às demonstrações

contábeis, de informações qualitativas e quantitativas relativas aos

instrumentos financeiros derivativos;

resultados quanto à divulgação de análise dos vencimentos para os

instrumentos financeiros derivativos passivos;

resultados quanto à divulgação de quadro demonstrativo de análise de

sensibilidade, para cada tipo de risco de mercado originado por instrumentos

financeiros derivativos;

resultados quanto à divulgação separada de alguns itens para cada tipo de

hedge accounting;

resultados quanto às divulgações referentes à hedge de fluxo de caixa.

Para cada um desses resultados, serão apresentados exemplos de boas práticas de

divulgação, extraídos das notas explicativas. Para isto, foi efetuada uma análise das

informações constantes nas notas explicativas referentes aos instrumentos financeiros

derivativos, verificando os itens divulgados estavam aderentes às normas contábeis. No caso

de várias empresas estarem aderentes ao mesmo item, foi selecionado um exemplo com o

objetivo de clarificar a exposição do que seriam boas práticas de evidenciação.

4.1 Quanto à divulgação, em notas explicativas às demonstrações contábeis, de

informações qualitativas e quantitativas relativas aos instrumentos financeiros

derivativos

Conforme CPC 40, a entidade deve divulgar informações qualitativas e quantitativas

que permitam que os usuários das demonstrações financeiras avaliem a natureza e extensão

dos riscos resultantes dos instrumentos financeiros que a entidade está exposta e como estes

riscos são gerenciados.

Algumas dessas informações se referem:

58

à política de utilização;

aos objetivos e às estratégias de gerenciamento de riscos, e;

aos riscos associados a cada estratégia de atuação no mercado, à adequação dos

controles internos e aos parâmetros utilizados para o gerenciamento desses

riscos.

Esses itens estão muito relacionados, por isso foram estudados conjuntamente.

Das empresas que utilizam instrumentos financeiros derivativos, 100% delas atendem

plenamente ou parcialmente as essas divulgações, sendo que apenas 1 empresa que atende

parcialmente, pois uma subsidiária destas contratou apenas um único derivativo, mais

especificamente um swap, para efetuar o hedge de uma captação. Portanto não é política dessa

empresa utilizar derivativos para o gerenciamento de riscos.

Quanto às demais empresas que atendem totalmente essas divulgações, segue abaixo

exemplo do que poderia ser considerada boa prática de disclosure (quadro 4).

Quadro 4 – Exemplo de boas práticas quanto à política de utilização de derivativos;

objetivos e estratégias de gerenciamento de riscos; e riscos associados a cada estratégia

de atuação no mercado

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: JBS S.A.

Outra informação que deve ser divulgada é referente à apresentação do valor justo de

todos os derivativos contratados, os critérios de avaliação e mensuração, métodos e premissas

significativas aplicadas na apuração do valor justo. Neste caso, 97% das empresas que operam

59

com derivativos atendem plenamente ou parcialmente essa norma. Apenas 3% destas não

apresentaram quadro com o valor justo dos instrumentos financeiros derivativos.

Abaixo, na tabela 2, é apresentado um exemplo dessa divulgação.

Tabela 4 – Exemplo de boas práticas quanto à apresentação do valor justo de todos os

derivativos contratados, os critérios de avaliação e mensuração, métodos e premissas

significativas aplicadas na apuração do valor justo

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: COSAN S.A.

Um item que a norma cita é a apresentação dos valores registrados em contas de ativo

e passivo segregados, por categoria, risco e estratégia de atuação no mercado, aqueles com o

objetivo de proteção patrimonial (hedge) e aqueles com o propósito de negociação. Desse

item, apenas 12% das empresas que operam com derivativos atendem totalmente, e 74%

atendem parcialmente, muito pelo fato de que apenas demonstram os derivativos nas contas

de ativo e passivo, mas não fazem outras segregações. O restante, ou seja, 14% não

apresentam nas notas explicativas onde os derivativos estão contabilizados nas contas

patrimoniais. Na tabela 3, pode-se verificar um exemplo de boa prática quanto a essa

divulgação.

60

Tabela 5 – Exemplo de boas práticas quanto à apresentação dos valores registrados em

contas de ativo e passivo segregados, por categoria, risco e estratégia de atuação no

mercado, aqueles com o objetivo de proteção patrimonial (hedge) e aqueles com o

propósito de negociação

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: Lojas Americanas S.A.

Já, para o item de divulgar os valores agrupados por ativo, indexador de referência,

contraparte, local de negociação (bolsa ou balcão) ou de registro e faixas de vencimento,

destacados os valores de referência, de custo, justo e, em risco da carteira, 95% das empresas

ou atendem total ou parcialmente essa norma, sendo essa divisão de 48% para empresas que

atendem totalmente e 47% para empresas que atendem parcialmente. Somente 5% das

empresas não adotam essa divulgação nas suas notas explicativas. Abaixo (tabela 4), um

exemplo de boa prática quanto à divulgação dessas informações em nota explicativa.

61

Tabela 6 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação dos valores agrupados por

ativo, indexador de referência, contraparte, local de negociação (bolsa ou balcão) ou de

registro e faixas de vencimento, destacados os valores de referência, de custo, justo

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: PDG Realty S.A.

No último item referente a informações quanto à divulgação, em notas explicativas às

demonstrações contábeis, de informações qualitativas e quantitativas relativas aos

instrumentos financeiros derivativos, tem-se a exigência da norma da apresentação dos

ganhos e perdas no período, agrupados pelas principais categorias de riscos assumidos,

segregados aqueles registrados no resultado e no patrimônio líquido. Para esse item, 76% das

empresas que utilizam derivativos atendem totalmente essa norma. Somando-se a isso, tem-se

21% das empresas que apresentam parcialmente essas informações e apenas 3% das empresas

que não fazem essa evidenciação. Exemplo de uma boa prática na tabela 5.

Tabela 7 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação dos ganhos e perdas no

período, agrupados pelas principais categorias de riscos assumidos, segregados aqueles

registrados no resultado e no patrimônio líquido

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: Lupatech S.A.

62

4.2 Quanto à divulgação de análise dos vencimentos para os instrumentos financeiros

derivativos passivos

Para a norma que trata da divulgação em notas explicativas dos vencimentos dos

instrumentos financeiros passivos, tem-se 72% das que operam com esses instrumentos,

atendendo totalmente esta norma, 14% que atendem parcialmente, e outros 14% que não

apresentam esse quadro com os vencimentos dos contratos de derivativos passivos. Segue um

exemplo de como deve ser divulgada essa informação de acordo com a norma (tabela 6).

Tabela 8 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação de análise dos vencimentos

para os instrumentos financeiros derivativos passivos

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais S.A.

4.3 Quanto à divulgação quadro demonstrativo de análise de sensibilidade, para cada

tipo de risco de mercado originado por instrumentos financeiros derivativos

Já a norma que trata da divulgação em notas explicativas do quadro com a análise,

sensibilidade dos derivativos, de acordo com cenários de stress de mercado, é adotada

completamente por 93% das empresas que utilizam esses instrumentos, e que apenas 7% das

empresas não atendem. Não foi identificada nenhuma empresa que adote esta norma

parcialmente.

Abaixo um exemplo desse quadro de análise de sensibilidade divulgada por uma

empresa (tabela 7).

63

Tabela 9 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação de quadro de análise de

sensibilidade

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: Gerdau S.A.

4.4 Quanto à divulgação separada de alguns itens para cada tipo de hedge accounting

Identificou-se que apenas 29% das empresas, na contabilização dos instrumentos

financeiros derivativos, praticam a modalidade de hedge accounting.

Caso a empresa adote a prática do hedge accounting a norma exige algumas

divulgações, que são elas:

descrição de cada tipo de hedge;

descrição dos instrumentos financeiros designados como instrumentos de

hedge e seus valores justos na data das demonstrações contábeis; e

a natureza dos riscos que estão sendo objeto do hedge.

Considerando estes itens tem-se 100% das empresas que adotam o hedge accounting,

aplicando total ou parcialmente essas divulgações nas suas respectivas notas explicativas,

sendo apenas 3% das empresas que aplicam parcialmente essas normas.

Abaixo, no quadro 5, tem-se um exemplo de como devem ser realizadas essas

divulgações nas notas explicativas.

Quadro 5 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação separada de alguns itens para

cada tipo de hedge accounting

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: JBS S.A.

64

Ainda dentro desse item, a norma solicita algumas divulgações específicas para cada

tipo de hedge accounting. A empresa deve divulgar separadamente os seguintes itens:

em hedges de valor justo, ganhos ou perdas:

o sobre o instrumento de hedge; e

o sobre o objeto de hedge atribuído ao risco coberto;

a ineficácia do hedge reconhecida no resultado que decorre de hedges de fluxo

de caixa; e

a ineficácia do hedge reconhecida no resultado que decorre de hedges de

investimentos líquidos em operações no exterior.

Para o hedge de valor justo, tem-se apenas 10% que adotam esse tipo de

contabilização. E, dentro dessas empresas, 80% das empresas divulgam os ganhos ou perdas

sobre o instrumento de hedge. Portanto, apenas 20% das empresas não o fazem. Já, quanto à

divulgação de ganhos ou perdas sobre o objeto de hedge de valor justo, apenas 40% das

empresas adotam totalmente ou parcialmente esta norma.

Apresenta-se abaixo um exemplo de como devem ser realizadas essas divulgações

(tabela 8).

Tabela 10 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação de ganhos ou perdas sobre o

instrumento de hedge de valor justo

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: Companhia de Bebidas das Américas - AmBev

Já, quanto à divulgação do resultado decorrente da ineficácia do hedge de fluxo de

caixa, de apenas 22% das empresas que adotam esse tipo de contabilização, 45% destas

adotam totalmente ou parcialmente essa divulgação, tendo ainda 5% que não adotam e 50%

que possuem hedge de fluxo de caixa, porém não foi observada qualquer ineficácia. Abaixo,

um exemplo de como deve ser evidenciada essa ineficácia caso ocorra (tabela 9).

65

Tabela 11 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação do resultado

decorrente da ineficácia do hedge de fluxo de

caixa

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: Companhia de Bebidas das Américas - AmBev

Em relação à divulgação do resultado decorrente da ineficácia do hedge de

investimento líquido, de apenas 5% das empresas que adotam esse tipo de contabilização,

20% delas adotam parcialmente essa divulgação, tendo 80% que possuem esse tipo de hedge,

porém não foi observada qualquer ineficácia. Não foi encontrada nenhuma empresa que adote

totalmente essa divulgação, portanto, sugere-se que o exemplo apresentado na figura 16

também seja utilizado para a apresentação dessa informação.

4.5 Quanto às divulgações referentes à hedge de fluxo de caixa

Para as empresas que adotam a contabilização de hedge de fluxo de caixa, a norma

solicita que sejam apresentadas algumas informações específicas sobre esse tipo de operação

que são:

os períodos em que se espera que o fluxo de caixa irá ocorrer e quando espera-

se que eles afetarão o resultado;

uma descrição de qualquer operação prevista em que foi utilizada a

contabilidade de hedge, mas que já não se espera que ocorra;

o montante que tenha sido reconhecido em outros resultados abrangentes

durante o período;

a quantia que tenha sido reclassificada do patrimônio líquido para o resultado

do período, mostrando o montante incluído em cada item da demonstração do

resultado abrangente.

66

Como já foi mencionado anteriormente, somente 22% das empresas adotaram a

contabilização na modalidade de hedge de fluxo de caixa. Dessas, 64% adotam total ou

parcialmente a divulgação dos períodos em que se espera que o fluxo de caixa vá ocorrer e

quando se espera que eles afetem o resultado. Abaixo um exemplo baseado em uma

publicação de como essa informação pode ser divulgada, sendo que, neste caso, essa

informação foi publicada em texto corrido e não em formato de tabela (quadro 6).

Quadro 6 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação dos períodos em que se

espera que o fluxo de caixa vá ocorrer e quando se espera que eles afetem o resultado

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: Lupatech S.A.

Já, em relação à apresentação de uma descrição de qualquer operação prevista em que

foi utilizada a contabilidade de hedge, mas que já não se espera que ocorra, não foi observada

dentro das empresas que adotam a prática do hedge de fluxo de caixa nenhuma informação

que possa se supor que houve esse tipo de movimentação, portanto, não há nenhuma empresa

que foi obrigada a divulgar essa informação, não sendo possível um exemplo desta prática.

Em relação à evidenciação do montante que tenha sido reconhecido em outros

resultados abrangentes durante o período, tem-se 73% das empresas que adotam totalmente ou

parcialmente essa divulgação dentro das empresas que praticam a contabilidade de hedge de

fluxo de caixa. Apenas 27% não atendem a essa norma. Na figura 11, já mencionada

anteriormente, pode-se observar um exemplo de como deve ser feita essa evidenciação.

A norma também cita que deve divulgada a quantia que tenha sido reclassificada do

patrimônio líquido para o resultado do período, mostrando o montante incluído em cada item

da demonstração do resultado abrangente referente ao hedge de fluxo de caixa. Neste caso,

tem-se 91% das empresas que adotam esse tipo de contabilização em que não foi observado

esse tipo de movimentação, não sendo obrigado, portanto qualquer divulgação a respeito.

Tem-se apenas 2 empresas, que adotaram parcialmente está divulgação, feita mediante um

67

texto corrido, em que estas somente não fazem essa divulgação para cada item da

demonstração do resultado abrangente (quadro 7).

Quadro 7 – Exemplo de boas práticas quanto à divulgação quantia que tenha sido

reclassificada do patrimônio líquido para o resultado do período, mostrando o montante

incluído em cada item da demonstração do resultado abrangente

Fonte: www.cvm.gov.br - empresa: Braskem S.A.

CONCLUSÃO

Para verificar o disclosure, de acordo com normas contábeis do CPC 38, do CPC 39 e

do CPC 40, referentes às operações com instrumentos financeiros pelas empresas não

financeiras utilizou-se um checklist (vide quadro 3) com 20 itens constantes nos

pronunciamentos técnicos do CPC, que tratam:

da divulgação de itens básicos, em notas explicativas às demonstrações

contábeis, de informações qualitativas e quantitativas relativas aos derivativos;

de divulgações referentes ao risco de liquidez, com a análise dos vencimentos

para os instrumentos financeiros derivativos passivos;

de divulgações referentes ao risco de mercado, com quadro demonstrativo de

análise de sensibilidade à cenários de stress que os derivativos são expostos;

da divulgação de informações específicas para a empresa que se utiliza do

hedge accounting;

da evidenciação de itens específicos para a empresa que faz uso do hedge de

fluxo de caixa.

É através dessas divulgações que os usuários das demonstrações financeiras podem

avaliar a natureza e extensão dos riscos resultantes dos instrumentos financeiros que a

entidade está exposta e como estes riscos são gerenciados.

A divulgação através das notas explicativas às demonstrações contábeis visa diminuir

a assimetria de informação entre os administradores da empresa e seus stakeholders. Lopes e

Martins (2005) afirmam que a própria existência das demonstrações contábeis auditadas é um

68

exemplo de que a informação contábil reduz a assimetria de informação, uma vez que os

investidores não possuem o mesmo nível de informação dos gestores, necessitando assim de

instrumentos independentes para avaliar a real situação da empresa.

Da amostra inicial de 98 empresas, 58 utilizam instrumentos financeiros derivativos

para proteção de riscos. Quanto à prática do hedge accounting, nem todas as empresas que

utilizam derivativos adotam esse tipo de contabilização, ou seja, das 58 empresas que utilizam

derivativos, somente 28 empresas adotam algum tipo de hedge accounting. Na tabela 12

destacamos as empresas que utilizam derivativos, mas não empregam o hedge accounting

para a contabilização dessas operações.

69

70

Deste grupo pode-se destacar que 67% das empresas atendem plenamente as normas

de evidenciação de instrumentos financeiros, ou seja, um percentual maior do que o grupo de

empresas que além de utilizarem derivativos adotam a prática do hedge accounting e que por

adotarem esta prática complexa que necessita de muitas informações, se esperava que elas

evidenciassem melhor as suas operações com derivativos.

Um dos itens pesquisados que possui o menor grau de atendimento neste grupo é o

que solicita a divulgação em nota explicativa dos valores registrados em contas de ativo e

passivo segregados, por categoria, risco e estratégia de atuação no mercado, aqueles com o

objetivo de proteção patrimonial (hedge) e aqueles com o propósito de negociação.

Possivelmente esta norma não é atendida por todas as empresas, pois já consta uma abertura

mínima ou no próprio balanço patrimonial da empresa ou durante o próprio texto das notas

explicativas que tratam dos instrumentos financeiros derivativos. Entretanto não há está

abertura nas notas explicativas como a norma pede.

Embora existam empresas que na avaliação quantitativa apresentam um percentual de

atendimento às normas de 90% a 95%, realizando uma avaliação qualitativa destas empresas,

pode-se observar pela tabela que elas deixam de divulgar informações relevantes para a

redução da assimetria de informação entre a empresa e os usuários das informações

financeiras, como, por exemplo, o quadro com a análise dos vencimentos para os

instrumentos financeiros derivativos passivos.

Deste grupo existem ainda empresas que necessitam melhorar o disclosure, porém, os

itens que deixam de atender não impactam a avaliação da extensão dos riscos aos quais a

empresa está exposta, como por exemplo, a divulgação nas notas explicativas dos ganhos e

perdas no período, agrupados pelas principais categorias de riscos assumidos, segregados

aqueles registrados no resultado e no patrimônio líquido. Algumas empresas ao invés de

efetuar a abertura dos ganhos e perdas, pelas principais categorias de riscos, divulgam estes

ganhos e perdas em uma única linha, agrupando todos os instrumentos financeiros utilizados

por ela.

Na tabela 13, temos um resumo do resultado, com uma análise quantitativa e

qualitativa, da aplicação do checklist para as empresas que além de utilizarem derivativos

aplicam também o hedge accounting. Porém, mesmo para estas empresas alguns itens do

checklist não se aplicam, pois há empresas que utilizam apenas um dos três tipos de hedge

accounting: hedge de fluxo de caixa, hedge de valor justo e hedge de investimento líquido.

71

72

Com relação a esse grupo de empresas, inicialmente, acreditava-se que elas, por

utilizarem o hedge accounting, seriam as empresas que possuiriam as melhores práticas de

evidenciação. Porém, neste grupo é onde encontramos a maior quantidade de empresas que

necessitam melhorar o seu disclosure, pois elas não divulgam informações relevantes para a

avaliação da extensão do risco que a empresa está exposta pela utilização de derivativos,

como, por exemplo, o quadro com o demonstrativo de análise de sensibilidade à cenários de

stress, aos quais os derivativos estão expostos.

Quanto a evidenciação de informações específicas relativas à hedge accounting, as

empresas ainda não o fazem adequadamente. Somente três empresas de um total de 10 que

utilizam o hedge de valor justo divulgam corretamente os ganhos ou perdas sobre o objeto de

hedge atribuído ao risco coberto, como solicitado pelo CPC 40. Isto evidencia possivelmente

uma dificuldade das empresas em segregar o resultado originado do instrumento de hedge do

resultado do objeto de hedge, ou que, possivelmente, este hedge de valor justo está

protegendo diversos objetos.

Para o hedge de fluxo de caixa, as empresas ainda não divulgam plenamente os

períodos em que se espera que o fluxo de caixa vá ocorrer e quando se espera que eles afetem

o resultado. Esta evidenciação é incompleta, cabendo ao usuário da informação ler totalmente

as notas explicativas e se atentar aos vencimentos dos objetos que estão sendo protegidos por

esse tipo de hedge, e interligar essa informação com os períodos que se espera que o fluxo de

caixa irá ocorrer. Este tipo de informação incompleta traz uma dúvida se a empresa sabe

quando realmente esses fluxos de caixa irão ocorrer, e se esse hedge é eficaz.

As dificuldades relatadas também são causadas pelo pouco conhecimento que ainda

existe em relação aos instrumentos financeiros derivativos e, principalmente, em relação à

prática do hedge accounting. Este tipo de contabilização exige um amplo conhecimento em

finanças e além de uma extensa lista de critérios que devem ser atendidos para que a empresa

adote está prática, como a demonstração da eficácia do hedge.

Na análise dos dois grupos em conjunto, destacam-se as empresas dos segmentos de

telecomunicações e de energia elétrica, que apresentam um elevado percentual de

atendimentos às normas referentes à evidenciação publicadas pelo CPC, motivado

aparentemente pela alta regulação deste mercado através das agências autônomas.

Esta análise visou responder a seguinte questão de pesquisa: As empresas não

financeiras estão cumprindo as recentes normas contábeis com relação à evidenciação

de operações com derivativos?

73

Além de responder a esta questão, o presente trabalho também cumpriu o seu objetivo

que era mostrar se as empresas não financeiras estão adotando adequadamente as normas

contábeis explicitadas pelos pronunciamentos técnicos do Comitê de Pronunciamento

Contábil (CPC), com relação aos itens que dizem respeitos à evidenciação de operações com

derivativos. Mesmo para os itens que as empresas atendem parcialmente, verifica-se que as

empresas estão caminhando para um melhor disclosure das operações com derivativos.

Quanto aos itens que não são atendidos, verificou-se que as normas que tratam de divulgações

específicas sobre o hedge accounting são as que apresentam maior número de empresas que

não divulgam corretamente tais informações, ressalve-se que estas normas são as mais

complexas de serem atendidas.

Para isto, alguns objetivos específicos foram cumpridos ao longo deste trabalho, no

referencial teórico, ao descrever as características dos principais derivativos e onde são

operados; ao explicar os principais riscos a que as empresas estão expostas e a aplicação dos

derivativos no gerenciamento dos mesmos; ao descrever, com base na legislação contábil

vigente, as normas que tratam sobre a evidenciação de instrumentos financeiros e derivativos;

Já os demais objetivos específicos foram cumpridos na análise de resultado ao realizar

levantamento estatístico sobre as normas contábeis referentes aos derivativos que estão sendo

adotadas pelas empresas não financeiras; e em mostrar através de exemplos, as melhores

práticas de evidenciação de operações com derivativos.

A exigência para as empresas publicarem informações financeiras conforme os

pronunciamentos emitidos pelo CPC foi a partir das demonstrações do exercício de 2010,

gerando assim uma dificuldade maior para que as empresas atendessem plenamente todas as

normas, já na sua primeira publicação, ainda mais se for considerado que os pronunciamentos

técnicos referentes à evidenciação de instrumentos financeiros derivativos foram aprovados

somente no final de 2009, ou seja, as empresas tiveram relativamente um período curto para

alterar todos os seus controles gerenciais para atender esses pronunciamentos.

De 58 empresas que utilizam derivativos, 31 empresas fazem o disclosure

adequadamente e 14 deixam de cumprir itens que não afetam significativamente o resultado

da disclosure ou mensuração. Logo, com base nestes números pode-se afirmar que as

empresas estão evidenciando adequadamente as suas operações com instrumentos financeiros

derivativos, informando os stakeholders quanto à exposição aos riscos originados destes

instrumentos.

74

A proposta desta pesquisa incentiva as empresas a adotarem um maior disclosure das

informações referentes às operações com instrumentos financeiros derivativos, buscando para

atendam não somente às normas de contabilidade, mas também gerem outras informações que

julguem ser relevantes, com o objetivo de reduzir a assimetria de informação entre a empresa

e os usuários dessas informações. Um maior disclosure poderia evitar problemas financeiros

como os ocorridos em 2008 que revelaram a postura especulativa de algumas empresas.

Como sugestão de estudos futuros, pode-se pesquisar se as normas referentes à

evidenciação de instrumentos financeiros derivativos atendem às necessidades dos

stakeholders.

75

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APÊNDICES

APÊNDICE 1 – Empresas selecionadas

APÊNDICE 2 – Empresas que não utilizam derivativos

APÊNDICE 3 – Resultado da aplicação do checklist nas empresas que utilizam derivativos

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APÊNDICE 1 – Empresas selecionadas

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APÊNDICE 2 – Empresas que não utilizam derivativos

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APÊNDICE 3 – Resultado da aplicação do checklist nas empresas que utilizam derivativos

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