Exegese Completa - Atos

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SEMINÁRIO TEOLÓGICO PRESBITERIANO REV. DENOEL NICODEMOS ELLER DEPARTAMENTO DE TEOLOGIA EXEGÉTICA EXEGESE DO LIVRO DE ATOS EXEGESE EM ATOS 13.1-3 GLADSON PEREIRA DA CUNHA TRABALHO DA DISCIPLINA DE EXEGESE EM ATOS PROF. REV. JOSÉ JOÃO DE PAULA, TH.M.

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Exegese em Atos 13.1-3

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SEMINRIO TEOLGICO PRESBITERIANO

Seminrio Teolgico Presbiteriano

Rev. Denoel Nicodemos Eller

Departamento de Teologia Exegtica

Exegese do Livro de Atos

Exegese em Atos 13.1-3

Gladson Pereira da Cunha

Trabalho da Disciplina de Exegese em Atos

Prof. Rev. Jos Joo de Paula, Th.M.

Belo Horizonte

Setembro

2003

ndice

3Introduo

1Texto Atos 13.1-341.1Texto Original42Anlise Morfolgica43Traduo63.1Traduo Literal63.2Traduo Pessoal64Gnero Literrio75Estrutura do Contexto85.1Contexto Anterior [At.12.20-25]85.2Contexto Posterior [At.13.4-12]86Contexto Histrico96.1Autor96.1.1Evidncias Internas96.1.2Evidncias Externas106.2Data e Local126.3Propsito146.4Destinatrio16Bibliografia17

Introduo

Certa vez ouvi dizer que o comeo que importante. O comeo pode determinar todo o desenvolvimento e o trmino de algum empreendimento. Um bom incio pode ser o fator determinante para um bom desenvolvimento e uma boa concluso e, ao mesmo tempo, o contrrio tambm pode ser verdadeiro. Esta realidade pode muito bem ser aplicada ao Cristianismo.

Atos a descrio do grande comeo da Igreja Crist. Ele narra tem as origens do desenvolvimento e expanso da f crist, dos seus primrdios at o momento em que a Igreja alcana a capital do mundo daquela poca, Roma. Cumprindo, assim, as palavras de Jesus Cristo: mas recebereis poder, ao descer sobre vs o Esprito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalm como em toda a Judia e Samaria e at aos confins da terra (At.1.8).

Cumprindo esta comisso de Nosso Senhor, a Igreja chegou a Antioquia. De Antioquia vemos um grande movimento em prol de uma maior expanso deste evangelho, e sobre isto que falaremos neste trabalho.

O texto, em que estaremos trabalhando, narra o chamado e o comissionamento de Paulo e Barnab pelo Esprito Santo, a fim de que este dois servos cumprissem uma obra que o prprio Deus lhes havia designado, isto , as grandes viagens missionrias para a proclamao do evangelho e plantao de Igreja no mundo gentlico.

Mas como entender que esta passagem em nossos dias? O que este chamado tem haver com a Igreja do nosso tempo? Ele continua vlido como um paradigma da expanso missionria ou apenas uma narrativa-informativa? Existe alguma lio aplicvel ao nosso contexto? Ser possvel abrirmos mo do nosso melhor para enviar para longe? Como devemos entender misses a partir deste texto?

para responder estas perguntas que dedicaremos, neste semestre, ao estudo e a anlise histrico-gramatical do texto grego de Atos13.1-3. O nosso trabalho ser academicamente conduzido dentro da metodologia proposta pelo Seminrio, a qual entendemos ser uma forma mais lgica e dinmica de se construir uma trabalho desta natureza. Mas entendemos tambm que necessrio uma conduo do Esprito Santo, supremo autor e interprete da Escrituras. Que Deus nos abenoe!

s.d.g.

1 Texto Atos 13.1-3

1.1 Texto Original

v.1 )=Hsan de\ e)n )Antioxei/# kata\ th\n ou)=san e)kklhsi/an profh=tai kai\ dida/skaloi o(/ te Barnaba=j kai\ Sumew\n o( kalou/menoj Ni/ger, kai\ Lou/kioj o( Kurhnai=oj, Manah/n te (Hr%/dou tou= tetraa/rxou su/ntrofoj kai\ Sau=loj.

v.2 leitourgou/ntwn de\ au)tw=n t%= kuri/% kai\ nhsteuo/ntwn ei)=pen to\ pneu=ma to\ a(/gion, )Afori/sate dh/ moi to\n Barnaba=n kai\ Sau=lon ei)j to\ e)/rgon o(\ proske/klhmai au)tou/j.

v.3 to/te nhsteu/santej kai\ proseuca/menoi kai\ e)piqe/ntej ta\j xei=raj au)toi=j a)pe/lusan.

2 Anlise Morfolgica

PalavraAnlise MorfolgicaRaizTraduo

Versculo 1

)=HsanVerbo Imperfeito Indicativo Ativo 3 Pessoa Pluralei)mi/Havia

de\Conjuno aditiva pospositivade/e

e)nPreposio com dativoe)nem

)Antioxei/#Substantivo Dativo Singular Feminino)Antio/xeiaAntioquia

kata\Preposio com Acusativokata/entre, em

th\nArtigo Acusativo Feminino Singularo(a

ou)=sanVerbo Acusativo Feminino Singular Presente Particpio Ativoei)mi/havendo

e)kklhsi/anSubstantivo Acusativo Feminino Singulare)kklhsi/aIgreja

profh=taiSubstantivo Nominativo Masculino Pluralprofh/thjprofetas

kai\Conjunokai/e

dida/skaloiSubstantivo Nominativo Masculino Pluraldida/skalojmestres

o(/Artigo Nominativo Masculino Singularo(o

teConjunote/no somente

Barnaba=jSubstantivo Nominativo Masculino SingularBarnaba=jBarnabas

kai\Conjunokai/mas tambm

Sumew\nSubstantivo Nominativo Masculino SingularSumew/nSymen

o(Artigo Nominativo Masculino Singularo(o

kalou/menojVerbo Nominativo Masculino Singular Presente Particpio Passivokale/wsendo chamado

Ni/ger,Substantivo Nominativo Masculino SingularNi/gerNiger

kai\Conjunokai/e

Lou/kiojSubstantivo Nominativo Masculino SingularLou/kiojLoukios

o(Artigo Nominativo Masculino Singularo(o

Kurhnai=oj,Substantivo Nominativo Masculino SingularKurhnai=ojnascido em Cirene

Manah/nSubstantivo Nominativo Masculino SingularManah/nManan

teConjuno enclticate/e

(Hr%/douSubstantivo Genitivo Masculino Singular(Hr%/dhjHerods

tou=Artigo Genitivo Masculino Singular o(o

tetraa/rxouSubstantivo Genitivo Masculino Singulartetraa/rxhjtetrarca

su/ntrofojAdjetivo Nominativo Masculino Singularsu/ntrofojirmo de leite / colao

kai\Conjunokai/e

Sau=loj.Substantivo Nominativo Masculino SingularSau=lojSaulos

Versculo 2

leitourgou/ntwnVerbo Genitivo Masculino Plural Presente Particpio Ativoleitourge/wadorando

de\Conjuno aditiva pospositivade/e

au)tw=nPronome Pessoal Genitivo Masculino Pluralau)to/jdeles

t%=Artigo Dativo Masculino Singularo(ao

kuri/%Substantivo Dativo Masculino Singularku/riojSenhor

kai\Conjunokai/e

nhsteuo/ntwnVerbo Genitivo Masculino Plural Presente Particpio Ativonhsteu/wjejuando

ei)=penVerbo Aoristo Indicativo Ativo 3a Pessoa Singularle/gwdisse

to\Artigo Nominativo Neutro Singularo(o

pneu=maSubstantivo Nominativo Neutro Singularpneu=maEsprito

to\Artigo Nominativo Neutro Singularo(o

a(/gion,Adjetivo Nominativo Neutro Singulara(/giojSanto

)Afori/sateVerbo Aoristo Imperativo Ativo 2 Pessoa Plurala)fori/zwSeparai

dh/Partcula Enftica Pospositivadh/ora

moiPronome Possessivo Dativo Singulare)gw/ mim

to\nArtigo Acusativo Masculino Singularo(o

Barnaba=nSubstantivo Acusativo Masculino SingularBarnaba=jBarnabas

kai\Conjuno Aditivakai/e

Sau=lonSubstantivo Acusativo Masculino SingularSau=lojSaulos

ei)jPreposio ei)jpara

to\Artigo Acusativo Neutro Singularo(o

e)/rgonSubstantivo Acusativo Neutro Singulare)/rgontrabalho

o(\Pronome Relativo Acusativo Neutro Singularo(/jque

proske/klhmaiVerbo Perfeito Indicativo Mdio 1 Pessoa Singularproskale/omaitenho convocado

au)tou/j.Pronome Reflexivo Acusativo Masculino Plural

e(autou=eles mesmos

Versculo 3

to/teAdvrbioto/teento

nhsteu/santejVerbo Nominativo Masculino Plural Aoristo Particpio Ativonhsteu/wtendo jejuado

kai\Conjunokai/e

proseuca/menoiVerbo Nominativo Masculino Plural Aoristo Mdio Particpioproseu/xomaitendo orado

kai\Conjunokai/e

e)piqe/ntejVerbo Nominativo Masculino Plural Aoristo Particpio Ativoe)piti/qhmitendo imposto

ta\jArtigo Acusativo Feminino Pluralo(as

xei=rajSubstantivo Acusativo Feminino Pluralxei/rmos

au)toi=jPronome Pessoal Dativo Masculino Pluralau)to/j eles

a)pe/lusan.Verbo Aoristo Indicativo Ativo 3a Pessoa Plurala)polu/wenviaram

3 Traduo

3.1 Traduo Literal

1 Estavam e em Antioquia entre a havendo Igreja profetas e mestres o no somente Barnabas mas tambm Symen o sendo chamado Niger e Loukios o nascido em Cirene

Manan e Herods o tetrarca irmo-de-leite e Saulos. 2 Adorando e deles ao Senhor e jejuando disse o Esprito o Santo Separai ora mim o Barnabas e Saulos para o trabalho que tenho convocado eles mesmos. 3 Ento tendo jejuado e tendo orado e tendo imposto as mos eles enviaram.

3.2 Traduo Pessoal

1 E havia em Antioquia, entre a membresia da Igreja, profetas e mestres no somente Barnab, mas tambm Simeo, chamado de Niger, Lcio, natural de Cirene, e Manam, amigo ntimo de Herodes, o Tetrarca, e Saulo. 2 E, [enquanto] eles adoravam ao Senhor, e jejuavam, disse Esprito Santo: Ora, Separai para mim a Barnab e a Saulo para o trabalho que os tenho convocado. 3 Ento, tendo [eles] jejuado, orado e imposto as mos [sobre eles], os enviaram.

4 Gnero Literrio

Atos dos Apstolos o nome dado desde a metade do segundo sculo A.D. ao segundo volume de uma Histria das Origens Crists, escrito por um cristo do primeiro sculo e dedicado a um certo Tefilo. Esta uma boa definio do livro de Atos dos Apstolos, que doravante simplesmente chamaremos de Atos, que pode conduzir-nos como uma espcie de norteador em nosso estudo.

possvel supormos que, por ser o segundo volume de uma nica obra, Atos seja uma espcie de evangelho, contudo, tal idia deve ser de imediato desconsiderada, isto porque ele no uma narrativa do ministrio terreno de Jesus, sendo, porm, o registro da continuidade do ministrio do Cristo Exaltado atravs dos seus discpulos, que parece ser a nfase lucana. Mas como devemos, ento, classificar literariamente o livro de Atos.

Alguns estudiosos consideram que o nome Atos [gr. praceij] indicaria o gnero literrio utilizado por seu autor. De acordo com os proponentes desta teoria, o suposto gnero Atos era um tipo de narrativa que relatava os feitos hericos de indivduos ou cidades, e pode ser que a igreja primitiva tenha achado que era esta a categoria em que a narrativa de Lucas se encaixava. Contudo, como nos afirma Dr. Carson, o Atos no era propriamente um gnero literrio tcnico, logo, no devemos considerar o livro de Atos como uma classe literria a parte das que so constantes dentro do cnon bblico. possvel, sem muitas dificuldades, aceitarmos e definirmos o gnero literrio de Atos como uma narrativa histrica. A forma literria de Atos comparvel ao modo utilizado pelos escritores veterotestamentrios, quando estes registraram a histria de Israel, sendo que os princpios para a anlise exegtica dos livros histricos do AT so os mesmos aplicveis ao estudo dos Atos. Isto significa, segundo Gordon Fee, que o proponente da similaridade entre os histricos do AT e o histrico do NT, que Atos um livro histrico como os do AT, esta parece ser a idia da maioria dos autores consultados.

Contudo, este mesmos estudiosos consideram que a historiografia lucana no estritamente histrica, isto , que existem elementos pertencentes ao carter pessoal do autor deste livro, o que no invalida a classificao deste livro na categoria de Histrico.

Para Donald Guthrie, Lucas planejou que seu trabalho fosse considerado como uma obra de carter histrico, mas no no sentido de uma crnica rida dos eventos narrados. Fee corrobora com Guthrie dizendo que, pelo fato de Lucas ser um gentios de origem grega, Atos um bom exemplo da historiografia helenstica, que ambicionava ser muito mais que uma simples crnica, mas que objetava ser um meio de encorajamento, informao moralizao e mesmo para fornecer uma base apologtica.

Neste caso, podemos considerar que Lucas, alm de procurar um demonstrao histrica fiel aos acontecimentos, trabalhou afim de alcanar o seu objetivo, o qual veremos e trataremos mais a frente. Desta forma, Lucas no idealizava a situao, e tampouco contava tudo o que aconteceu, mas focalizava o que era de extrema importncia para a Igreja que nascia naqueles dias. claro tal coisa se deu primeiramente por obra e inspirao do Esprito Santo e tambm por meio de uma acurada investigao(Lc.1.3).

5 Estrutura do Contexto

A parte da leitura e anlise do contexto anterior e posterior da passagem em estudo, chegamos seguinte estrutura:

5.1 Contexto Anterior [At.12.20-25]

I. Oposio ao progresso do Reino de Deus [v.22]

II. Julgamento divino da oposio ao progresso do seu Reino [v.23]

III. Avano e Cumprimento da Misso [v.24-25]

5.2 Contexto Posterior [At.13.4-12]

I. A manifestao da oposio ao progresso do Reino de Deus [v.6-10]

II. Julgamento divino da oposio ao do progresso do seu Reino [v.11]

III. Avano e Cumprimento da Misso [v.12]

6 Contexto Histrico

Como j temos trabalhado a algum, para uma boa compreenso de uma passagem das Escrituras e para a sua correta interpretao, temos que considerar o fato de que o texto bblico est condicionado dentro de um contexto histrico que proveu um ambiente no qual ele seria desenvolvido, de sorte que ele traz consigo alguns deste elementos, os quais no foram desprezados por Deus no ato da revelao. Vejamos o que o contexto histrico de Atos tem a nos dizer:

6.1 Autor

O primeiro problema que esbarramos ao iniciar o trabalho de avaliao e anlise do contexto histrico de uma passagem bblica a identificao do autor. O grande problema que muitas vezes encontramos quando trabalhamos com o Novo Testamento o fato do anonimato ser algo comum entre os escritores neotestamentrios. Assim sendo, torna-se meio complicado definir o autor de determinado livro, como o nosso caso atual, pois o livro de Atos annimo.

6.1.1 Evidncias Internas

Assim como outros livros do Novo Testamento, o autor de Atos no se preocupou em identificar-se. Os motivos que o levaram a tal omisso desconhecido por ns. Porm, esta omisso tem motivado, durante os ltimos dois sculos, o trabalho de crticos que buscam provar que o autor dos Atos no foi Lucas, de modo que Atos um dos livros mais atacados pelo criticismo moderno.

Mas ser que o fato do autor no ter se identificado, acrescentando o seu nome, pode uma evidncia suficiente para descartarmos a tradio? O texto dos Atos no evidncia a autoria lucana de alguma forma? Comecemos pela ltima questo.

Para William K. Hobart, citado Dr. Broadus D. Hale, o texto dos Atos traz uma evidncia interessante. Segundo um estudo feito por Hobart, que comparou os escritos de Lucas com quatro outros mdicos da antigidade, entre os quais est o famoso Hipcrates, e concluiu que o material dois volumes lucanos s poderia ter vindo das mos de um mdico, por causa de uso de termos e locues mdicas, os quais foram utilizados devido ao treinamento e hbitos do prprio autor. Contudo, o seu trabalho foi contestado pelos crticos que afirmavam que o trabalho de Hobart era desprovido de elementos cientficos.

Portanto, se reconhecermos o trabalho de William Hobart podemos dizer que o texto dos Atos, assim como o do Terceiro Evangelho, de autoria de Lucas, o mdico amado, por ser um texto que segue o padro lingistico de um mdico do mundo antigo.

Outra evidncia que encontramos, o que responde a nossa primeira questo, que o autor foi companheiro de Paulo durante as suas viagens martimas. A partir de um determinado momento da narrativa de Atos, o autor parece entrar na histria quando ele abruptamente muda a narrativa em que fazia uso da terceira pessoa do plural ele e passa a usar a primeira pessoa do plural ns (At.16.10-17;20.5-15;21.1-18;27.1-28.16).

Essa abrupta transio tem auxiliado os estudiosos a determinar a autoria dos Atos, e por sua vez tambm a do Terceiro Evangelho, mediante um processo eliminatrio, no qual so listados todos os auxiliares paulinos e posteriormente elimina-se aqueles que deixaram a companhia de Paulo para cumprir uma outra misso ou mesmo por abandon-lo, como no caso de Demas (Cl.4.14).

Aps se fazer todas as eliminaes deste processo, apesar desta linha de raciocnio no ser cem por cento segura, o nico personagem que nos resta o prprio mdico Lucas, sendo ele geralmente admitido como o autor do dirio [que se tornou a] fonte [das sees-ns], o que aceito mesmo pelos crticos mais extremados. Somando-se a isto o emprego dos termos e locues mdicas temos como o autor de Lucas-Atos o amado mdico Lucas.

6.1.2 Evidncias Externas

As evidncias externas que encontramos acerca da autoria lucana dos Atos so restritos basicamente aos escritos da era patrstica. Segundo Carson, os expoentes da patrstica que de algum forma comentaram algo sobre o livro de Atos confirmam tanto a antigidade como a incontestabilidade da autoria lucana. E Guthrie endossa esta afirmao dizendo que existe uma forte conjectura que a tradio verdadeira [dentro do crculos acadmicos].

Entre os pais que defendem a tradio de Lucas como o autor tanto dos Atos como tambm do Terceiro Evangelho encontramos: Irineu de Lion, em Adversus Haeresis 3.1;3.14, por volta do ano 185 A.D., Clemente de Alexandria em Strom.5.12, acerca de 190 A.D., Tertuliano, em Adversus Marcion 4.2, e Origines, j no incio do terceiro sculo, e Eusbio de Cesaria, em Histria Eclesistica 3.4; 3.24.15, por volta de 325 A.D..

Entretanto, o documento desta poca que mais corrobora para determinar a autoria lucana de Atos o Cnon de Muratori. O Cnon de Muratori o documento mais antigo que se tem a respeito do cnon bblico do Novo Testamento, por ter sido escrito por volta do ano 150 [A.D.], uma vez que cita o nome de Pio, bispo de Roma de 143 155 [A.D.], afirma que Lucas autor do Terceiro Evangelho, nas seguintes palavras:

O terceiro livro do Evangelho o de Lucas. Este Lucas - mdico que depois da ascenso de Cristo foi levado por Paulo em suas viagens - escreveu sob seu nome as coisas que ouviu, uma vez que no chegou a conhecer o Senhor pessoalmente, e assim, a medida que tomava conhecimento, comeou sua narrativa a partir do nascimento de Joo [Batista].

E sobre Atos diz:

Os Atos foram escritos em um s livro. Lucas narra ao bom Tefilo aquilo que se sucedeu em sua presena, ainda que fale bem por alto da paixo de Pedro e da viagem que Paulo realizou de Roma at a Espanha.

Estas evidncias da patrstica demonstram o entendimento que os primeiros cristos tinham com respeito a autoria do livro em questo. De forma que todo cristo antigo ao ter contato com pores ou cpias deste documento no contestava a sua autoria, primeiramente por estarem prximos da poca em que foram escritos e a tradio ainda era algo recente. Logo, ou confiamos na tradio passada atravs do santos pais ou temos que aceitar as teorias da Crtica Textual, que vagueia em teorias que eles mesmos no conseguem provar.

6.2 Data e Local

Chegar a uma data segura para a redao de livros do Novo Testamento no algo fcil, como bem sugeriu Carson. A data da autoria de Atos um outro ponto de grande discusso quando falamos sobre as origens deste livro. Os estudiosos no concordam entre si sobre a melhor data para a redao dos Atos, as quais variam entre 62 130 A.D. No entanto, todas as possveis datas no passam de meras suposies.

A data mais recente proposta pela Escola de Tbingen, que atribui a Atos uma data de meados do sculo II. Segundo esta hiptese, proposta por F.C. Baur, Atos datam do ltimo perodo da cristandade primitiva e cuja inteno era a conciliao entre os cristos de origem judaica e dos cristos de origem gentlica. Esta conciliao se d atravs da apresentao de Pedro mais gentio e de Paulo mais judeu da que realmente eram. Contudo, o posicionamento de Baur e da Escola de Tbingen, que Kmel qualifica com criticismo tendencioso, passaram a enfrentar uma oposio tanto de estudiosos da ala conservadora como da ala de orientao fundamentalmente crtica, no havendo mais quem defenda a interpretao de Tbingen.

Sustentando outro perodo, Werner G. Kmel afirma que a data mais provvel para a redao final de Atos seja o perodo entre 80 e 90 A.D.. Para Kmel, a evidncia definitiva para tal data reside na idia de que o autor no conhecia as epstolas paulinas que foram reunidas depois do final do sculo I. Isto explicaria, a falta de conhecimento das doutrinas elementares proclamada sob o ponto de vista paulino.

Carson, apresentando o argumento que sugere esta mesma data, afirma que no se pode pensar numa data muito posterior a 95 A.D., devido sua atitude otimista diante do governo romano. Esta afirmao passvel de anlise, pois como pode-se ter uma atitude otimista diante do governo romano quando este mesmo imprio acabara de destruir Jerusalm? Ou ainda como possvel manter tal atitude diante da perseguio movida por Nero, a partir de 64 A.D? Logo, a data proposta por Kmel carece de algumas avaliaes, porque a tirania que ocorreu neste perodo de 64 95 A.D. motivo para uma atitude pessimista e no o contrrio, portanto, necessrio retrocedermos um pouco a datao de Kmel.

F.F. Bruce considera a existncia de pelo menos sete argumentos que situam Atos entre os anos anteriores a 70 A.D. So eles: (a) Atos revela poucos conhecimento das doutrinas paulinas; (b) o encerramento abrupto do livro; (c) No se fala da morte de Paulo; (d) as atitudes dos oficiais, romanos e judeus, indica que a perseguio de neroniana no havia comeado; (e) no h informaes sobre a Guerra Judaico-Romana, e a posterior destruio de Jerusalm e do Templo; (f) a discusso de assuntos de importncia para o perodo antes-queda; (g) a teologia de Atos parece ser primitiva tanto na concepo quanto na terminologia.

Para Broadus Hale apenas o segundo, o terceiro e o quarto argumentos so relevantes para a datao de Atos. Carson admite que o segundo argumento de Bruce o que favorece e determina uma data relativamente segura e exata para o livro [de Atos]. E ainda I. Howard Marshall considera o ponto-de-vista de Bruce como o mais recomendvel. Mas quais so as implicaes dos argumentos de Bruce?

Considerando a posio de Hale, que aceita apenas trs como vlidos, a forma abrupta do encerramento dos Atos uma indicao de que Lucas terminou de escrever Atos quando Paulo j estava em Roma havia dois anos, pois ele no relato os dois argumentos posteriores de Bruce, a morte de Paulo, em 65 A.D., e nem a queda de Jerusalm, em 70 A.D. Isto porque sem cabimento Lucas, como um historiador, omitir tais acontecimentos que so de grande importncia para a histria. Pelo contrrio, apesar de abrupto, Lucas apresenta um quadro animador da expanso do Evangelho que, atravs de Paulo, alcanara os confins da terra (At.1.8). Quadro este que Horward Marshall chama de ponto significante da histria. Por isso, definimos a data da autoria de Atos num perodo anterior ao ano 70 A.D., entre 62 e 65 A.D.

Quanto ao local, preferimos o posicionamento de W.G. Kmel, quando este afirma que impossvel determinar o local em que Lucas escreveu o livro de Atos e, como Howard Marshall, resignar-nos com a nossa falta de resposta. Consequentemente, todas as possibilidade que os autores levantam no passaram de conjecturas improvveis.

6.3 Contedo

Podemos definir o contedo de Atos atravs da sua diviso em cinco sees determinadas geograficamente, de acordo com o objetivo missionrio (At.1.8), no seguinte esquema:

1. A Igreja em Jerusalm [At.1.1 8.3]

2. A Igreja em Samaria e nas regies costeiras [At.8.4 11.18]

3. A Igreja em Antioquia [At.11.19 15.35]

4. A Igreja nas proximidades do Mar Egeu [At.15.36 19.20]

5. A Igreja chega Roma [At.19.21 28.31]

Podemos ainda simplificar o esquema proposto por Kmel reduzindo o nmero de tpicos para apenas trs, resultando o seguinte esquema:

1. A Igreja em Jerusalm [At.1 - 7]

2. A Igreja em Samaria [At.8 - 12]

3. A Igreja nos Confins da Terra [At.13-28]

6.4 Propsito

Outro ponto em que a falta de consenso se transforma num obstculo ao trabalho histrico-exegtico. Por causa desta falta de congenialidade temos pelo menos quatro pontos-de-vista sobre o propsito de Lucas ao escrever os Atos. O primeiro ponto-de-vista da Conciliao, proposto pela Escola de Tbingen, o qual j foi descrito anteriormente (ver. p.12), e cuja a influncia deixou de existir, no sobrevivendo aos ataques de J.B. Ligthfoot e Albrecht Ritschl.

O segundo ponto-de-vista o de que Atos a resposta a um problema teolgico. Hans Conlzemann, citado por Carson, pensa que Lucas est divulgando um novo conceito [teolgico] da histria da salvao como resposta ao problema da demora da parousia. Mas no existe evidncias concretas a respeito deste ponto-de-vista. Atualmente, a natureza teolgica de Atos defendida por grupos pentecostais, que arrogam a natureza teolgica deste livro, afim de evidenciarem a sua perspectiva pneumatolgica.O outro ponto-de-vista o da Evangelizao/Apologtica. Muitos estudiosos tem considerado a evangelizao como um propsito secundrio em Atos, mas o seu propsito real a defesa do cristianismo perante a sociedade romana, que considerava as religies orientais como prejudiciais populao. Segundo os proponentes desta hiptese, Lucas queria demonstrar que o cristianismo poderia ser reconhecida como uma religio licita, por isso ele dedica boa parte da sua obra a registrar minunciosamente as defesas de Paulo (At.22.1-21; 23.1-10;24.10-21;26.1-23). Mas h tambm a defesa de Paulo, como um judeu-cristo, que continuava leal aos seus compatriotas segundo a carne. Mas este no este o propsito de Atos, como confirma Kmel ao dizer que este objetivo apologtico de menor importncia. Ento, qual o objetivo ou propsito de maior importncia no trabalho de Lucas, em Atos?

O prprio Kmel responde esta questo, quando ele, citando Haenchen, afirma que este propsito duplo; Atos serviria tanto para a edificao dos cristos como a conquistas dos pagos. E Acredito que ele esteja certo.

Quando voltamos ao prlogo do terceiro evangelho, Lucas afirma que o seu propsito era o de promover um conhecimento exato [gr. epignwskw] e este verbo est relacionado com verbo ensinar [gr. kathxew], que na voz passiva, traz a idia da traduo portuguesa, em que fostes instrudo(At.1.4). , portanto, perceptvel este propsito no prlogo de Lucas. Se compreendermos que Atos a continuidade do terceiro evangelho, ento, teremos uma continuidade do propsito.

Carson trabalha a idia que o leitor primrio de Atos, ou seja, Tefilo, era algum que j era antes um temente a Deus, isto , que adorava a Deus sem ter se tornado um proslito. Este propsito, continua Carson, efetivado quando Lucas descreve o fundamento histrico da f crist para Tefilo e para os demais leitores primrios, demonstrando, assim, que aquele momento da histria era o ponto culminante da histria bblica, que podemos resumir da seguinte forma: Deus confia a salvao ao seu Filho, o Filho confia a proclamao da mensagem de salvao, mediante o Esprito Santo, aos seu apstolos, e estes proclamam esta mensagem at aos confins da terra.

Neste caso, com exceo da tendenciosa interpretao crtica de Tbingen, todos os demais pontos-de-vista so abarcados por este ltimo, de modo que eles se tornam propsitos secundrios na percepo lucana. Gordon Fee resume esta idia dizendo que qualquer entendimento do propsito de Atos que no contemple o desenvolvimento ou o movimento [da Igreja na histria], orquestrado pelo Esprito Santo certamente ter perdido a mensagem do livro.

6.5 Destinatrio

No muito difcil identificar o destinatrio de Atos. Entre as vrias indicaes histricas que poderiam ser-nos dadas pelo autor, esta a nica evidente no texto dos Atos. Lucas nos informa, j no primeiro versculo de Atos, que este livro destinado inicialmente Tefilo (At.1.1). Mas que era este tal de Tefilo?

A nica coisa que Lucas fala a respeito de Tefilo o adjetivo excelentssimo. [gr. kratistoj] (Lc.1.3) e mais nada. Tambm podemos inferir do texto lucano que Tefilo tenha sido convertido ao Caminho(Lc1.4). Carson entende que Tefilo tenha sido o patrocinador de Lucas no seu trabalho como pesquisador do cristianismo nascente. No obstante, temos que atentar para o fato de que quase certo que Lucas tinha em mente um pblico mais amplo do que apenas um nico indivduo.

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Rev. Denoel Nicodemos Eller

Departamento de Teologia Exegtica

Exegese em Atos

Exegese em Atos 13.1-3

Gladson Pereira da Cunha

Trabalho da Disciplina de Exegese em Atos

Prof. Rev. Jos Joo de Paula, Th.M.

Belo Horizonte

Outubro

2003

ndice31Termos-Chaves

2Traos Gramaticais33Estrutura da Passagem54Amarrao da Estrutura Contextual55Mensagem para os dias do Autor65.1O Ensino Cristocntrico65.2O Chamado para a Obra Missionria85.3A Igreja e o Envio Missionrio11

7 Termos-Chaves

Ao trabalharmos a passagem de Atos 13.1-3, podemos considerar as seguintes palavras abaixo listadas de acordo como seu referente versculo, como os termos-chaves desta percope:

Versculo 1

Havia - =HsanProfetas - profh=taiMestres - dida/skaloiVersculo 2

Adorando - leitourgou/ntwn Senhor - Kuri/ojVersculo 3

Separai para mim - Afori/sate moiObra - e)/rgonTenho convocado - proske/klhmaiImpondo as mos - e)piqe/ntej ta\j xei=rajDespediram - a)pe/lusanEsprito - pneu=ma

Jejuando - nhsteuo/ntwn8 Traos Gramaticais

Outro elemento importante na elaborao deste trabalho exegtico o levantamento e anlise dos traos gramaticais que so predominantes nesta passagem. Estes traos determinam, filologicamente, a estrutura e o contedo das informaes que o texto tem a nos oferecer, recordando-nos sempre o fato que as Escrituras nos foram reveladas atravs de uma estrutura lingisticamente qualificada.

Primeiramente, faz-se necessrio a anlise das classes verbais existentes no texto. Existem no texto trs modos diferentes: o Indicativo, o Imperativo e o Particpio.

Em primeiro lugar, no modo indicativo, temos o Imperfeito, que expressa um evento contnuo em perspectiva pretrita, ou seja, uma ao que ocorre linearmente no passado, servindo mais para a melhor descrio da narrativa. Ocorre uma s vez.

O outro tempo que temos neste primeiro modo o aoristo, que tempo um verbal grego que no modo indicativo pode transmitir uma idia temporal na realizao de uma ao. Neste caso, o modo indicativo se associa com aspecto pontilear [Aktionsart] do aoristo expressando uma conotao temporal absoluta, anterior, prvia e passada. A ocorrncia do modo indicativo no aoristo se d por 2 vezes. Nesta duas ocorrncia do aoristo podemos inferir a existncia do elemento histrico, o qual parte integrante de uma narrativa histrica, como o o Atos. Tambm encontramos outro modos do aoristo, o imperativo.

O ltimo tempo que encontramos neste modo o Perfeito. O perfeito o mais teolgico dos tempos gregos, devemos prestar ateno na voz em que ele se encontra, que a passiva.

O segundo modo que encontramos nesta percope o imperativo. O imperativo o modo das ordens taxativas, das determinaes. Este modo est ligado as questes da volio, isto , a determinao da vontade uma pessoa. O imperativo ocorre apenas uma nica vez, tambm no tempo aoristo, sendo a expresso afirmativa da vontade de Deus, revelada pelo Esprito Santo, como veremos mais a frente.

O ltimo modo que podemos ver neste texto o Particpio. Destes quatro esto no tempo presente, sendo trs no ativo e um no passivo e, os outros quatro, no tempo aoristo, sendo que trs na voz ativa e um na voz mdia. Um aspecto do particpio grego o de assumir uma forma adjetival ou uma forma adverbial, agindo, portanto, como uma espcie de adjetivo verbal. No caso que temos em mos, cinco destes particpios assumem a forma adverbial qualificando as duas aes principais que ocorrem no texto, enquanto apenas um assume o aspecto adjetival.

Podemos incluir neste levantamento de traos gramaticais as conjunes te e kai, que na relao em que se encontram pode ser traduzida como uma espcie de locuo inclusiva, no somentemas tambm.

Outra partcula que deve ser considerada importante dh/, que pode ser classificada como uma partcula de nfase, que refora a ao que a acompanha, como algo que realmente aconteceu.

9 Estrutura da Passagem

A partir das informaes dadas em aula reconhecemos como a estrutura da passagem as seguintes colunas:

I. O Ensino Cristocntrico [v.1]

II. O Chamado para a Obra Missionria [v.2]

III. A Igreja e o Envio Missionrio [v.3]

10 Amarrao da Estrutura Contextual

Antes de partirmos para a anlise da mensagem para os dias do autor, faz-se necessrio trabalharmos a estrutura contextual, afim de conhecermos o contexto em que nossa passagem se encontra.

O contexto prximo anterior apresenta uma situao no muito cmoda. Herodes estava perseguindo ao habitantes de Tiro e de Sidom (At.12.20), o que de certa forma parecia que estava criando algum tipo de problema para a Igreja Crist, como podemos observar no verso 24. Este problema estava posto como uma espcie de oposio ao progresso do Reino de Deus. Semelhantemente, no contexto posterior, encontramos Elimas, o mgico, se opondo a pregao da Palavra que estava sendo feita por Barnab e Saulo (At.13.4-10).

Diante, porm, da oposio tanto herodiana quanto elimaziana, Deus se levantou como um juiz a fim de julgar, naquele momento, a atitude de Herodes, em Jerusalm (v.23), e de Elimaz, em Chipre (At.13.11), contra o Evangelho; condenando-os pelo seu desfavor a Proclamao e Processo do Reino. Por fim, nos dois contextos, possvel ver avano e o cumprimento da misso que foi conferida a Saulo e Barnab, primeiramente, em Jerusalm (At.12.24-25) e, posteriormente, em Chipre (At.13.12).

Esta estrutura muito interessante quando a colocamos ao lado da estrutura da passagem que esboamos acima. Vemos em meio a esta oposio uma Igreja que no deixa de enviar os seus missionrios (v.3). Igreja que percebe a ao sobrenatural de Deus em dois extremos, agindo com mo forte para derrotar aqueles que se levantam contra ele e contra o seu povo, mas tambm manifestando a sua vontade, ao chamar aqueles a quem ele quer para cumprir uma misso que ele d (v.2). Neste sentido, o cumprimento desta misso apenas uma questo de tempo, porque o Deus que chamou o mesmo que capacitou e capacitar os seus servos a cumprirem tal ministrio, no qual est inserido o elemento do ensino correto e centralizado sobre a pessoa e obra de Jesus Cristo.

11 Mensagem para os dias do Autor

Chegamos ao momento mais importante de todo este trabalho, onde todas as coisas que foram anteriormente tratadas devero tomar corpo e transmitir algo para as nossas vidas como estudantes da palavra de Deus. Este momento em que temos que interpretar o nosso objeto de estudo, a Palavra de Deus. necessrio que faamos algumas perguntas ao texto, que nos auxiliaram nesta interpretao.

Qual era a mensagem que o autor de Atos pretendia transmitir aos seus primeiros leitores? E como estes primeiros leitores entenderam esta mensagem? Qual era a inteno de Lucas ao escrever esta obra? E isto se evidencia nos temas que se seguem.

11.1 O Ensino Cristocntrico

Lucas inicia a narrativa deste captulo dizendo que e(san de\ e)n )Antioxei/# kata\ th\n ou)=san e)kklhsi/an . Estas palavras introdutrias nos apontam a existncia de um grupo especial de pessoas na igreja de Antioquia. O verbo eimi, no imperfeito indicativo ativo [gr. e(san] deve ser preferencialmente traduzido por havia [idia de existir], o verbo principal da orao e est se referindo aos de profetas e mestres [gr. anprofh=tai kai\ dida/skaloi].

Esta ligao pode ser percebida atravs da anlise verbal, que trata-se de um verbo no plural que indica a existncia de dois ou mais objetos. Neste caso, a igreja [gr. e)kklhsi/a] uma palavra singular e, portanto, o verbo no se refere a ela. Contudo, profetas e mestres, alm de ser duas classes de pessoas, esto ainda ambas no plural, tornando-se, por conseguinte, o objeto do verbo principal.

Porm, devemos considerar algo sobre a e)kklhsi/a que estava em Antioquia. Enquanto e(san faz referncia aos pastores e mestres, ou)=san faz referncia a igreja. possvel confirmar esta idia, aceitando a interpretao de F.F. Bruce, que entende que kata\ th\n ou)=san e)kklhsi/an est se referindo a igreja local.

Esta estrutura indica que a Igreja em Antioquia era formada por pessoas que pertenciam quela cidade. De fato, a populao cosmopolita de Antioquia se refletia nos membros de sua igreja e at mesmo em sua liderana.

O texto continua dizendo que nesta igreja havia profetas e mestres [gr. e)san profh=tai kai\ dida/skaloi]. Neste caso, o verbo e)san, que um imperfeito que demonstra uma ao contnua no passado, refere-se a existncia de profetas e mestres [gr. anprofh=tai kai\ dida/skaloi] na Igreja que estava em Antioquia. Lucas, o autor de Atos, no especfica se h algum tipo de diferena entre as duas funes, contudo, entendemos que estas palavras determinam o corpo governante daquela Igreja, que segundo Alexander, exercia o governo de acordo com os princpios e as prticas apostlicos (cf. At.2.42).

Entretanto, quase opinio geral que os dois termos se aplicam a funes diferentes dentro da Igreja. Os profetas no eram membros fixos da Igreja, sendo itinerantes. Um bom exemplo disso pode ser retirado do prprio livro de Atos, isto , gabo (At.11.27-28). Eram pregadores ocasionais. Homens que, de acordo com Barclay, dedicavam toda a sua para ouvir a palavra de Deus e depois proclam-la para os outros.

O outro grupo, os mestres, era formado de membros da prpria igreja local. Tinham como tarefa instruir na F Crist todo aquele que entrava para a igreja. O termo usado para mestre no grego didaskaloj que derivado de didaxh [gr.ensino], palavra que aparece em At.2.42 para indicar a doutrina ou ensinamento dos apstolos. Mas quais eram os elementos que compunham este ensinamento? No texto, impossvel determinarmos o contedo do ensino aplicado na igreja em Antioquia. No contexto, porm, podemos ter uma certa noo.

Se voltarmos a At.2.42 vamos perceber que a igreja em Jerusalm perseverava na doutrina dos apstolos [gr. tv= didaxv= tw=n a)posto/lwn]. Compreendendo que a Igreja em Antioquia permanecia fiel aos mesmos princpios da Igreja em Jerusalm, podemos afirma que a igreja antioqueana estava firmada no ensino apostlico. Mas quais so os elementos da doutrina dos apstolos?

Podemos responder isso observando os contextos da passagem. No contexto prximo anterior, encontramos uma afirmao que a palavra do Senhor [gr. o) lo/goj tou= kuri/ou] estava crescendo e se multiplicando (At.12.24). No contexto prximo posterior, encontramos o procnsul Srgio Paulo maravilhado com a doutrina do Senhor [gr. tv= didaxv= tou= kuri/ou] (At.13.12).

As palavras lo/goj e didaxv= podem ser traduzidas por ensino (no caso de didaxv= este o seu significado primrio). Em ambos os caso, estas palavras se encontram numa relao com o genitivo tou= kuri/ou. Esta relao com o genitivo o que alguns eruditos chamam de genitivo subjetivo, no qual a palavra que est no genitivo refere-se ao agente originador do fato ou situao expressa pelo termo qualificado.

Por conseguinte, o Senhor, que uma forma de se referir a Jesus Cristo, a causa do ensino, e porque no dizer, ele o contedo deste ensino e, tambm, da mensagem que era anunciada na igreja e pela igreja de Antioquia, por intermdio de seus profetas e mestres.

11.2 O Chamado para a Obra Missionria

Lucas continua a sua narrativa dizendo que enquanto eles adoravam ao Senhor, e jejuavam, disse Esprito Santo [gr. leitourgou/ntwn de\ au)tw=n t%= kuri/% kai\ nhsteuo/ntwn ei)=pen to\ pneu=ma to\ a(/gion]. Ainda poderamos traduzir esta orao numa forma mais direta, que ficaria assim: E disse o Esprito Santo, enquanto eles adoravam ao Senhor e jejuavam (). a partir desta ltima traduo que analisaremos este versculo antes de desenvolvermos a mensagem.

possvel percebermos que o verbo ei)=pen, que o aoristo indicativo ativo de le/gw, o verbo que rege toda a orao. De fato, este verbo o verbo principal desta orao, ao qual esto submetidos os dois particpios que tambm se encontram nela. Ei)=pen, como um aoristo, apenas determina uma ao factual ocorrida e conclusa no passado. um tempo verbal que no nos d nenhuma possibilidade de conjecturas, mas nos direciona simplesmente ao fato. E o fato que este verbo narra que o Esprito Santo falou queles homens que eram os responsveis por aquela igreja.

No obstante, a ao do Esprito Santo ocorre dentro dum contexto de adorao. Lucas uso os particpios leitourgou/ntwn e nhsteuo/ntwn para descrever este contexto. O particpio leitourgou/ntwn derivado do verbo leitourgew. O grego usa leitourgew para definir a adorao pblica. O uso neotestamenttio deste termo pode ser comparado ao seu uso na LXX, onde ele possuia um emprego rigorosamente ritual-sagrado. Entretanto, o siginificado de ritual no contexto de At.13.2 completamente espiritualizado e aplicado adorao ao Senhor mediante a orao. Ligado ao particpio leitourgou/ntwn est o particpio nhsteuo/ntwn, e este ltimo traduzido por jejum. Jejum a abstinncia voluntria de alimentos. Esta era uma prtica muito comum entre os judeus e que foi perpetuada na igreja crist e que muitas vezes estava associada prtica da orao. Talvez seja at mesmo por este motivo que o autor de Atos utilizou ambos os termos numa estreita ligao.

Esta ligao nos faz pensar que no momento em que o Esprito Santo falou a Igreja se encontrava reunida para o seu momento cltico. Neste ponto temos um problema. Quem estava reunido no servio e no jejum, a Igreja ou os seus profetas e mestres?

Pelo contexto e atravs de uma anlise do texto grego temos que afirmar que eram apenas o grupo composto pelos cinco homens do versculo1. Chegamos a esta concluso pelo seguinte motivo; ambos os particpios esto no plural, logo, devem concordar com outros termos anteriores que estejam tambm no plural. Isto ocorre no versculo anterior. Vejamos esta orao da seguinte forma: e(san () profh=tai kai\ dida/skaloi () leitourgou/ntwn de\ au)tw=n t%= kuri/% kai\ nhsteuo/ntwn. No podemos considerar que a Igreja seja uma outra possibilidade, porque a palavra ekklhsia est no singular ou, ento, teramos que admitir um erro de concordncia no texto lucano.

Devemos, portanto, considerar que estava acontecendo algum tipo de servio religioso em que a presena do grupo pastoral estivesse envolvido. E os particpios, que esto numa relao predicativa, por serem particpios adverbiais, demonstram que o evento principal aconteceu dentro de um evento secundrio. Este evento secundrio o servio e o primrio o falar do Esprito Santo.

Antes de prosseguirmos na anlise da orao temos que tentar responder uma pergunta: como o Esprito Santo falou? Por certo, esta uma pergunta sem resposta. Possivelmente, tenha sido de uma forma audvel ou mesmo por meio de uma especial revelao dada a algum daqueles profetas, que l existiam, porm o texto no nos aponta de fato como isto ocorreu. O importante, contudo, notar que, seja como for, esta palavra foi aceita como ordem de Deus.

O Esprito Santo, ento, disse: Ora, Separai para mim a Barnab e a Saulo para o trabalho que os tenho convocado [gr. a)fori/sate dh/ moi to\n Barnaba=n kai\ Sau=lon ei)j to\ e)/rgon o(\ proske/klhmai au)tou/j.]

As palavras do Esprito Santo iniciam com um imperativo procedido pela partcula encltica de nfase dh, o que refora a incisiva ordem do Esprito. Segundo Rackham, da mesma forma que servio tinham um aspecto religioso por trs, o verbo a)fori/zw tem um sentido ritual. Este verbo, segundo este autor, refere-se a consagrao dos primognitos e dos sacerdotes. Pensando assim, podemos concordar com Alexander quando ele insinua que a)fori/zw pode indicar a separao ou eleio de Barnab e Saulo, que consistia na sada de uma funo, na qual eles j estavam engajados para um especial e extraordinrio trabalho [gr. e)rgon]. A isto temos que somar algumas caractersticas proporcionadas pelo verbo grego proskale/omai [lit. chamar].

O verbo proskale/omai, que derivado do conhecido kalew, indica um chamamento. Mas a caracterstica deste chamado de At.13.2 muito interessante. Sabendo que o tempo Perfeito o mais teolgico dos tempos gregos, devemos prestar ateno na voz em que ele se encontra, que a passiva. Nesta voz, a nfase posta no sujeito e no seu interesse pelo processo da ao, agindo o sujeito sobre si mesmo (voz reflexiva) ou sobre algo ou algum (voz mdia indireta).

Avaliando isto, podemos dizer que ao ordenar a separao e chamar Barnab e Saulo para uma obra diferente daquela que eles estavam realizando em Antioquia, o Esprito Santo estava dizendo, por meio do verbo proskale/omai, que ele estaria realizando esta obra atravs daqueles dois homens. A misso deles era ser simples instrumentos para ao do Esprito Santo.

11.3 A Igreja e o Envio Missionrio

A percope continua dizendo: Ento, tendo eles jejuado, orado e imposto as mos sobre os dois, os enviaram [gr. to/te nhsteu/santej kai\ proseuca/menoi kai\ e)piqe/ntej ta\j xei=raj au)toi=j a)pe/lusan]. Ou, numa forma mais direta, naquele momento os despediram, aps terem jejuado, orado e imposto as mos sobre ambos.

Encontramos, neste versculo, uma construo semelhante a encontrada no versculo anterior, composta por particpios regido por um verbo principal. Neste caso especficos temos uma sequncia de trs particpios. Da mesma forma que no anterior tambm iniciaremos a anlise pelo verbo principal.

O ltimo versculo da nossa percope inicia com um advrbio de tempo tote/, que tambm pode ser traduzido como naquele tempo, tempo momento. Este advrbio qualifica o verbo a)polu/w transmitindo a idia de uma ao ocorrida imediatamente a ordem do Esprito Santo, demonstrando a total obedincia daqueles homens ordem de Deus.O verbo a)pe/lusan o aoristo de a)polu/w, que por sua vez deriva-se do verbo lu/w [lit. soltar]. O verbo a)polu/w, portanto, tem o sentido de enviar, deixar ir ou libertar. Mas esta ao de enviar no deve ser entendida como uma ordenao para o ministrio, muito menos uma nomeao para o apostolado, vale at mesmo lembrar que Paulo mesmo disse que recebeu seu apostolado no da parte de homens (Gl.1.1). Este envio, entretanto, a designao para um novo trabalho nas misses estrangeiras.

Isso, no entanto, no acontece pura e simplesmente. Neste momento que entra os particpios que mencionamos anteriormente. O enviar imediato a ordem do Esprito, porm, este envio est inserido no contexto cltico do versculo dois.

Note que a sequncia de particpios a seguinte: () nhsteu/santej kai\ proseuca/menoi kai\ e)piqe/ntej ta\j xei=raj (). Todos este particpios esto no aoristo plural, que indica, mesmo no caso das formas nominais dos verbos, uma ao eventual e concluda que forma o contexto da ao principal.

O primeiro deles nhsteu/santej, que foi usado anteriormente. O uso dele parece indicar que o jejum do versculo anterior tem a sua continuao neste verso, o que refora ainda mais a idias do envio imediato. Este jejum parece ser uma forma auxiliar da orao, que o segundo particpio [gr. proseuca/menoi].

Parece haver uma ligao ntima entre estes dois elementos. Stott afirma que nunca os dois aparecem desassociado, sendo o jejum um fim em si mesmo, mas provvel que tenha um motivo de validao da vida de orao. possvel, ento, considerarmos estes dois elementos, como o faz Howard Marshall, como um perodo de intercesso em prol da obra futura.

O ltimo particpio e)piqe/ntej ta\j xei=raj. A imposio das mos, Segundo Bruce, citado por Rienecker, expressa a comunho com os dois e o reconhecimento da chamada divina. Mas tambm podemos consider-la como um sinal de transferncia do servio ordinrio na igreja local para uma misso extraordinria. Aps, ento, esta sequncia de fatos os dois missionrios foram enviados, como j trabalhamos anteriormente. Surge, todavia, uma questo: quem participou desta cerimnia de envio, a Igreja ou o grupo de Profetas e Mestres?

A melhor resposta seria a Igreja por intermdio do grupo pastoral. Esta seria a melhor resposta por um motivo j trabalho no versculo anterior. Tanto os particpios e o verbo principal da orao que compem o versculo esto no plural, e o verbo principal est na 3 pessoa do plural. Logo, o sujeito desta frase oculto. Em todo os trs versculos a nica possibilidade de sujeito no plural profetas e mestres.

Para admitir a participao ativa da Igreja no ato de envio, necessrio admitir tambm um erro de concordncia por parte de Lucas no registro deste texto. Por conseguinte, se o verbo principal se refere aos demais Profetas e Mestre, os particpios ele subordinados so aes nicas deste grupo. A Igreja, contudo, participa deste envio atravs dos seus pastores que a representa.

Bibliografia

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2. Barclay, William. The Acts of the Apostles The Daily Study Bibles Series. Philadelphia: The Westminster Press,19553. Bruce, Frederick Fyvie. Acts The Greek Text with Introduction and Commentary. Grand Rapids: Wm. B. Eedrmans Publishing House, 1979 4. Chamberlain, William Douglas. Gramtica Exegtica do Grego Neotestamentrio. So Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1989

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12. Pinto, Carlos Osvaldo Cardoso Pinto. Fundamentos para a Exegese do Novo Testamento. So Paulo: Edies Vida Nova

13. Rackham, Richard Belward. The Acts of the Apostles. London: Methuen e Co., 1951

14. Schalkwijk, Francisco Leonardo. Coin Pequena Gramtica do Grego Neotestamentrio. Patrocnio: CEIBEL, 1998

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16. Taylor, William Carrey. Dicionrio do Novo Testamento Grego. So Paulo: JUERP, 199117. _______________ , Introduo ao Estudo do Novo Testamento Grego. So Paulo: Editora Batista Regular,2000

Seminrio Teolgico Presbiteriano

Rev. Denoel Nicodemos Eller

Departamento de Teologia Exegtica

Exegese em Atos

Exegese em Atos 13.1-3

Gladson Pereira da Cunha

Trabalho da Disciplina de Exegese em Atos

Prof. Rev. Jos Joo de Paula, Th.M.

Belo Horizonte

Dezembro

2003

ndice

31Mensagem para todos os Tempos

1.1Igreja31.2Comunho41.3Adorao51.4Consagrao61.5Intercesso71.6Exerccio dos Dons91.7Senhorio de Cristo121.8Esprito Santo131.9Misses e o Chamado Missionrio142Mensagens para os dias de Hoje172.1A Igreja e o Envio MissionrioErro! Indicador no definido.

12 Mensagem para todos os Tempos

Retornando ao nosso trabalho exegtico, temos agora a tarefa de identificarmos os pontos doutrinrios que podem ser levantados deste texto, os quais so considerados como a mensagem que alcana todos os cristos em todas as pocas. Qual a importncia?

Como mensagem para todas as pocas, podemos considerar os seguintes princpios teolgicos que nos so apresentados no texto lucano:

12.1 Igreja

Etimologicamente, a palavra grega ekklhsia significa os chamados para fora. Este termo nos traz a idia de um grupo que chamado para uma reunio.

Teologicamente, ekklhsia a comunidade dos santos [communio sanctorum], daqueles que so chamados por Deus a fim de serem santos e irrepreensveis (Ef.1.4). A tradio reformada, como expressa a Confisso de F de Westminster, a igreja catlica ou universal o total de todos os eleitos em todos os momentos da histria; aquele foram, os que so e os que ainda sero regenerados por Deus. Disto podemos nos possvel dizer que a Igreja de Cristo no apenas neotestamentria, mas que ela abrange as duas dispensaes do Pacto da Graa.

Ainda definindo a posio Reformada, possvel dizer que a Igreja pode ser vista de dois modos, a Igreja visvel, que como Deus v, onde esto reunidos todos os salvos, e a Igreja visvel, que como o homem a v, onde esto todos os salvos e tambm aqueles, que mesmo no sendo regenerados por Deus, agregaram-se a ela desfrutando, mesmo que temporariamente as bno da vida crist. Isso se d pelo fato j previsto por Jesus que haveria joio entre o trigo, que somente seria separado na Consumao do Sculo (Mt.13.40)

Quando nos voltamos ao texto de Atos, encontramos a informao que na cidade de Antioquia havia uma Igreja (At.13.1). No uma igreja aptica e sem qualquer influncia na sociedade, vale lembrar que em Antioquia os seguidores do Caminho foram chamados pela primeira vez de cristos (At.11.26). Mas uma igreja que fazia diferena onde estava e onde havia uma liderana comprometida com o Reino de Deus e o seu crescimento.

Primeiramente, era uma igreja onde havia o correto ensino das Escrituras, o que em nossos dias poderia ser chamado de uma das marcas da verdadeira igreja. Como foi discutido na ltima parte deste trabalho, a existncia de profetas e mestres era designativo para a existncia de um ensino constante. Ora atravs de uma revelao direta de Deus ora mediante a interpretao da revelao j registrada, o Antigo Testamento. No de se esperar, que era uma Igreja que fazia diferena na sus sociedade.

Outro ponto contribuinte desta passagem a dedicao ao servio cltico. Defendo a posio que neste texto todos os aspectos clticos esto primariamente ligados liderana. Contudo, no sem propsito admitir que a igreja reflexo da liderana. Neste caso, a liderana sugere um grande apego ao culto, logo, todo o restante da comunidade deveria tambm abraar esta causa.

Esta Igreja tambm se torna um exemplo para todas as igrejas em todas as pocas, no que se refere a conseqncia dos elementos anteriores. Era uma igreja que por meio de vrios elementos santificadores e consagratrios possua grande conhecimento da vontade de Deus. E o Rev. E. Johnson, em uma homilia neste texto considerou que quando uma igreja dinmica, esta igreja [inevitavelmente] ser uma Igreja Missionria. Por conseguinte, podemos afirmar sem nenhum pragmatismo, uma igreja que se preocupa com misses uma igreja que ama a Deus e a sua Palavra.

12.2 Comunho

O termos comunho no apare no texto de At.13.1-3 em nenhum momento. Entretanto, ela pode ser inferida das atitudes da igreja e mais exclusivamente atravs da sua liderana. A palavra koinwnia parece ter sua origem em koino/j [lit. comum], de onde se tem o origem o verbo koinwne/w [lit. compartilhar]. Koinwnia pode ser traduzida como comunho, mas tambm traz a idia de associao, que de certa forma pode ser um correspondente direto de ekklhsia. Portanto, a igreja de Cristo a associao daqueles que so chamados por Deus a fim de viverem um nova vida em Cristo e a comunho como os demais membros do corpo que a Igreja.

Sobre a Comunho que deve existir entre os Santos a CFW diz:

() estando unidos uns aos outros no amor, participam dos mesmos dons e graas e esto obrigados ao cumprimento dos deveres pblicos e particulares que contribuem para o seu mtuo proveito, tanto no homem interior como no exterior.

O vnculo que une cada elemento, cada parte do corpo o Amor. O Atos um bom exemplo da expresso da comunho que os santos viviam nos primeiros momentos da igreja. A Escritura diz que eles tinham tudo em comum. A vida cotidiana era uma expresso disto.

A comunho tambm expressa pela CFW como a obrigao ao cumprimento dos deveres pblicos e particulares. Pensando nas obrigaes pblicas relacionadas ao servio religioso, podemos considerar que o culto um elemento fortalecedor dos laos de unidade que envolve os santos. Alexander A. Hodge confirma esta idia ao comentar a Confisso. Para ele, entre vrios outros aspectos, o culto faz parte e exercita a comunho dos santos.

Embora, no vejamos e nem mesmo compreendemos exegeticamente que o texto trabalhado indique a participao direta da igreja antioqueana na narrativa de At.13.1-3, seno por meio da representatividade de sua liderana, possvel vermos nesta liderana a existncia de tal sentimento. Tudo o que ao humana neste texto no executado apenas por uma pessoa. Todos os verbos que designam isto esto no plural, inclusive a ordem do Esprito Santo no dirigida a uma pessoa apenas, mas ao grupo, de modo que mesmo esta verbo est numa forma plural.

Esta passagem, portanto, contribui para a doutrina da comunho dos santos nos seguintes aspectos: (a) os elementos que envolvem a comunidade da igreja no so exclusivistas, mas inclusivistas, isto , o que acontece com a igreja responsabilidade de todos os seus membros (mesmo que seja num sistema representativo como o sistema presbiteriano); (b) a comunidade deve viver os momentos clticos como uma das forma de desenvolver e fortalecer a comunho na igreja; (a) a comunidade deve apoiar os investimentos no reino, porque quem enviado faz parte do corpo, faz parte da comunho. Este elementos podem ser vistos nos prximos tpicos.

12.3 Adorao

Outra tpico dogmtico que precisamos tratar nesta parte a Adorao. Como j vimos na outra parte deste trabalho, a palavra que designa adorao neste texto leitourge/w, que refere-se a adorao pblica da igreja. neste contexto, como j dissemos que ocorreu o chamamento de Barnab e Saulo, isto , enquanto a liderana se dedicava ao servio cltico por intermdio da orao, jejuns e do ensino. Mas o que adorao? O que este servio que devemos ao Senhor?

Interpretando a Confisso de F, poderamos afirmar que adorao o reconhecimento que h um Deus que tem domnio e soberania sobre tudo, que bom e faz bem a todos, e este reconhecimento feito por meio do nosso amor, louvor, invocao, e total dedicao. Adorao dedicao a obra de Deus. Portanto, o culto como um sistema de vrios elementos que glorificam a pessoa e obra do Deus Trino, conforme preceitua a nossa Confisso, a mais importante tarefa da igreja.

Partindo desta idia, John Piper afirma, fazendo uma comparao entre o culto e misses, que o culto o fim em si mesmo, misses no; porque Deus o prprio fim, e no o homem. Para ele nem mesmo o ato de evangelizao to importante como a nossa obrigao de cultuar a Deus. Ele continua valorizando a adorao em seu argumento dizendo que aps a consumao de todas as coisas no restar mais evangelizao, e eu acrescento, nem reunies de planejamento, nem misses, nem ao social, nem reunies de grupo ou clulas, haver sim uma eterna celebrao ao Cordeiro que venceu (Ap.7.9-12).

A adorao, portanto, deve ser o princpio que move todas as coisas dentro da Igreja. Citando novamente Piper, quando este assevera que somente existe misses porque no existe o culto, isto , as misses objetivam o conhecimento respeito de Deus por parte dos pecadores, que tornam-se novos adoradores ao aceitarem a graa de Deus, cumprido a finalidade de ser do homem que glorificar a Deus e goz-lo para sempre.

A Igreja de Antioquia parecia entender muito bem isso. Ela estava dedicada ao servio de ensino, s oraes e jejuns. Em meio a esta dedicao, tornamos a repetir, que Deus move o seu povo as outras tarefas da igreja.

12.4 Consagrao

O termo consagrao no aparece no texto lucano. No entanto, ele est subtendido no contexto de adorao do v.2. Uma palavra que define esta idia contextual jejum. O jejum, como j dissemos, a abstinncia voluntria de alimentos. Esta era uma prtica muito comum entre os judeus e que foi perpetuada na igreja crist e que muitas vezes estava associada prtica da orao. Apesar de no primeiro versculo est vinculado apenas ao servio, era praticado em intima relao com a orao, cuja finalidade era a consagrao pessoal e tambm coletiva.

Os termos consagrao e santificao parecem causar certa confuso, mas podemos admiti-los como sinnimos, sendo que na teologia santificao usado para indicar o processo pelo qual a santa disposio nascida na regenerao fortalecida e os seus santos exerccios so aumentados. Neste processo todos os sentidos do regenerado comeam a ser moldados, afim que o indivduo se liberte dos atos pecaminosos e que seja formado nele as afeies, disposies e virtudes crists. A consagrao uma responsabilidade humana concomitante a ao de Deus, por meio do Esprito Santo que habita no crente.

A consagrao a auto-entrega a Deus e a sua vontade. Isto muito bem expressado pela Igreja Antioquena. Era uma igreja que, por meio da sua liderana, se consagrava ao Senhor, e num deste momento na consagrao comunitria desta liderana, Deus apresenta os seus planos. Por certo, o jargo evanglico tem razo: Deus no chama quem est toa.

Aquela igreja possua as disposies crists necessrias para entender o seu papel na evangelizao do mundo. De modo, que ao simples falar do Esprito ela se disps a enviar aqueles que forma chamado, entendendo claramente que era Deus quem falava e ordenava tal coisa. Esta santificao expressa-se, portanto, na sintonia que houve entre Deus e a Igreja. Deus usa quem pode ouvir a sua voz e perceber a sua voz. E isto somente possvel por meio da consagrao.

12.5 Intercesso

Prosseguindo a nossa anlise, o verbo usado em Atos 13.1-3 para orao proseu/xomai. A sua origem a palavra proseuxh/. A orao, como um elemento litrgico, uma herana do judasmo. Shedd afirma que era impossvel par um judeu do primeiro sculo pensar numa reunio sinagogal sem que nela houvesse oraes.

Charles Hodge, citado por R.C. Sproul, afirmou que a orao a conversa da alma com Deus. A orao um dos meios pelos quais temos comunho com Deus. Quando Deus criou o homem este foi provido da imagem e semelhana de Deus, para que ele pudesse se relacionar com o seu Criador. Caindo o homem, este estreito lao foi rompido pelo pecado. Ao redimi-lo, Deus providenciou-lhe meios para este que mantivessem comunho com ele, e um destes meios foi a orao. Portanto, a orao uma parte importante do nosso relacionamento com Deus.

A orao dirigida ao Pai, na mediao do Filho, sendo que esta formula apresentada em Jo.14.13-14; 15.16; 16.23-24. A orao somente deve ser dirigida ao Deus Trino, de modo que, qualquer orao dirigida a outra pessoa torna-se idolatria.

Contudo, a orao no um meio egosta de nos aproximarmos de Deus. A orao mesmo quando elevada de maneira individual ela no pode estar isolada do seu contexto social, antes, de alguma forma, nos aproximamos com algum ao nosso lado, por quem muitas vezes pedimos, isto intercesso. Interceder o ato suplicar por outrem. No uso religioso, interceder tambm suplicar pelo outro a Deus por meio da orao. O nosso smbolo de f contundente em afirmar que parte de nossas oraes devem voltar-se para a intercesso:

A orao deve ser feita por coisas lcitas, e por todas as classes de homens que existem atualmente ou que existiro no futuro; mas no deve ser feita em favor dos mortos, nem em favor daqueles que se saiba terem cometido o pecado para a morte.

Considerando que todos os homens so hipoteticamente alvo de nossas intercesses, quanto mais aqueles que pertencem a famlia da f. Este parecia o entendimento da Igreja em Antioquia, que por duas vezes aparece fazendo uso da orao. A primeira, implicitamente, com a finalidade de consagrao como vimos anteriormente no v.2. E uma segunda, no v.3, que explicitamente expressa a idia de intercesso pelos dois missionrios que seriam enviados.

A validade desta percope para todos os tempos est no fato dela demonstrar a necessidade da orao em todos os momentos, como bem expressa Paulo: Orai sem cessar (1Ts.5.17). Ainda mais quando estes momentos so momentos decisivos para o Corpo de Cristo, como de fato este o era. Lucas destaca em Atos pelo menos trs ocorrncias de intercesses em favor de decises (At.1.24-25; 6.1-4; e claro 13.1-3). Shedd diz que est era uma nova categoria de orao inserida pela igreja, a orao em busca da vontade de Deus.

De fato, a Igreja de Antioquia entendeu a seriedade daquele chamado. E por conta desta seriedade, era patente a entregar ao cuidados de Deus aqueles a que ele mesmo chamou, rogando-lhe que estivesse com os seus escolhidos guiando-os. Demonstrando que, muito mais do que apenas enviar, necessrio da parte daqueles que ficam sustentar os enviados em orao. A Igreja participa do ao missionria quando ela se dispe a interceder.

12.6 Exerccio dos Dons

Os Dons Espirituais um tema teolgico altamente controverso em nossos. Em outras poca no era um assunto to em voga como hoje, e, por causa disto, se tem pouco material sistemtico que elucida melhor este tema.

Wayne Grudem define dons como qualquer talento potencializado pelo Esprito Santo e usado no ministrio da igreja. Nesta definio inclui tanto o que ele chama de dons naturais como os dons mais miraculosos. Logo, qualquer talento natural pode ser maximizado sobrenaturalmente por Deus atravs do Esprito Santo, transformando o talento que qualquer um poderia ter em algo completamente diferente do talento comum. A isso ajunta-se a existncia de dons que no so naturais, mas que so talentos espirituais e especiais que Deus concede para o servio na Igreja.

Os dons no so ddivas estticas e nem sequer para a glria do seu possuidor, mesmo porque o dons devem refletir mais a graa do Doador do que a graciosa condio do agraciado. Pelo contrrio, os dons so para o servio e o crescimento da Igreja de Cristo, at que ele retorne. Portanto, os dons no so para a glorificao pessoal nem para o estabelecimento de graus de espiritualidade. Tampouco eles devem ser listados em grau de importncia ou algo que o valha. Os dons devem promover a edificao do corpo de Cristo e no a sua mutilao.

Sob este ponto de vista, o texto Atos demonstra o correto uso dos dons que foram concedidos a Igreja, especialmente pelo exemplo da sua liderana. Quando foi avaliada a mensagem para os dias do autor, foi feita a considerao que havia entre a liderana duas funes eclesisticas definidas por dois dons diferentes, profetas e mestres [gr. profh=tai kai\ dida/skaloi].

Os profetas dedicavam-se a sua para ouvir a palavra de Deus e depois proclam-la para os outros. Num perodo em que o Novo Testamento no existia, a revelao era o meio pelo qual lanaria as bases para a nova igreja. Ferguson, portanto, demonstra que da mesma forma que era necessrio que profetas se levantassem no Antigo Testamento para declarar as palavras de Deus para que o povo tivesse preceitos para seguir, assim tambm deve ser o entendimento da ao proftica no NT. Os mestres dedicavam-se ao ensino [gr. didaskalia]. O didaskaloj o terceiro dom carismtico de um grupo composto de mais dois outros dons: apstolo e profeta (1Co.12.28). Este ofcio parece ser, no registro do NT, exclusivo dos homens, havendo uma recomendao do apstolo Paulo que as mulheres aprendessem em silncio (1Tm.2.11). eles cabia, ento, a tarefa de explicar aos outros a f crist e de providenciar uma exposio crist do AT.

O exerccio deste mistrio era de extrema importncia para a Igreja daquela, como tambm o em nossos dias, isto porque a nova f, que era o cristianismo, precisava de lanar os seus fundamentos para que a Igreja tivesse um bom desenvolvimento inicial. O carter apologtico do ensino tambm deve ser levado em considerao. Os mestres antioqueanos deveriam estar aptos para defender a sua f diante dos vrios pensamentos que permeava a sua cidade. Vale lembrar que Antioquia da Sria era uma das mais importantes e populosas cidades do Oriente naquelas alturas. A concentrao de pessoas de vrias partes do mundo conhecido estavam ali, o que pode ser claramente percebido na lista dos lderes da igreja que l estava. Logo, o dom do ensino tinha sua valia naquela igreja.Este texto contribui para a doutrina do uso dons, quando temos a compreenso da necessidade da correta administrao e pregao da Palavra de Deus. Sabemos que este dois dons tm um nico objetivo, o aperfeioamento dos santos para o desempenho do seu servio, para a edificao do corpo de Cristo (Ef.4.11). Estes dons esto ligados irremediavelmente a educao crist dos membros da comunidade do corpo de Cristo, que a Igreja. eles a incumbncia de ensinar e orientar a igreja segundo os preceitos da palavra de Deus, conforme revelado nas Escrituras.

Disto surge uma questo bem contempornea: o dom de profecia deve ser entendido dentro do entendimento do perodo apostlico, ainda em nossos dias? possvel conciliar a Suficincia das Escrituras com as Revelaes Contemporneas?

Um dos defensores de uma posio conciliadora justamente Dr. Wayne Grudem. Sua tese de doutoramento discute a continuidade da profecia neotestamentria na igreja ps-apostlica. Dr. Grudem admite a possibilidade de um profecia congregacional ordinria na igreja tanto neotestamentria como na igreja contempornea, todavia, esta vaticinao no deve ser considerada normativa ou palavra de Deus.

Ora, como uma revelao da parte de Deus no pode ser normativa? Como uma profecia vinda diretamente de Deus, sem intermedirios, no sujeita aos exames crticos da forma, redao ou mesmo textual, no possui elementos a coloquem na mesma ou superior posio em relao Bblia?

A Confisso de F de Westminster fecha a questo quando afirma que aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo cessaram, tornando assim indispensvel a Escritura Sagrada. Logo, se aceitamos que a Bblia a nica rega de f e prtica e tambm revelada por Deus, temos que aceitar que a possibilidade de Deus se revelar por meios extraordinrios nula.

Todavia, se em algum momento pelo seu sbio desgnio e soberana vontade ele o fizer, tal revelao dever ter a mesma dignidade, infalibilidade, inerrncia, santidade, preenchendo as caractersticas de 2Tm.3.16, e, portanto, ser Palavra de Deus de igual valor a Bblia. Portanto, ou admitimos que tais revelaes contemporneas esto no mesmo patamar com a Bblia, e por isso ela tem valor normativo e relevante para igreja como um todo, ou no admitimos a sua existncia e assumimos, por conseguinte, a suficincia das Escrituras.

12.7 Senhorio de Cristo

Entre os vrios ttulos que so concedidos Jesus no Novo Testamento um dos mais importantes deles o de Senhor. Mas em que sentido atribudo a Jesus o ttulo Kurioj? O ttulo kurioj aplicado a Deus na Septuaginta: (a) como a palavra equivalente a hwhy; (b) como traduo para yinowdA); (c) como verso de um ttulo honorfico aplicado a Deus.

Berkhof entende que todas as nuanas de sentido atribudas a Deus no Antigo Testamento, so aplicadas a Jesus no Novo Testamento, contudo, o sentido mais exaltado do ttulo indubitavelmente aplicado apenas aps a ressurreio. Oscar Cullmann concorda com Berkhof ao admitir que este ttulo a explicao da pessoa e obra de Jesus que supe a f em sua ressurreio.

A partir da ressurreio, que o incio da glorificao de Jesus, dado a ele o nome que est acima de todo o nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos cus, na terra e debaixo da terra, e toda lngua confesse que Jesus Cristo Senhor (Fl.2.10-11). O fato da ressurreio de Jesus to marcante que ele se torna o argumento da principal dos apstolos no incio da Igreja, e este argumento era central para a determinao do seu senhorio. Este um dos temas principais de Atos.Este relacionamento entre a ressurreio e o Senhorio de Cristo acontece porque na glorificao que Jesus assume a destra de Deus para reinar sobre todas as coisas (At.7.56; Ap.1.1-16; 14.1). Jesus Cristo, como Senhor, exerce o seu senhorio sobre todas as esferas de autoridade que existem, tanto angelicais como humanas (Mt.28.18; 1Pe.3.22). Ele exerce seu domnio e governo sobre a Igreja, do qual ele o cabea.

No texto de Atos aparece a seguinte frase: leitourgou/ntwn de\ au)tw=n t%= kuri/% [e, enquanto eles adoravam ao Senhor (v.2)]. Kurioj uma referncia direta ao Cristo Exaltado, que ao lado do Pai exerece todos direitos que ele tem como Deus e tambm recebe adorao do seu povo. Este governo de Cristo sobre a Igreja realizado atravs da Palavra e do Esprito Santo, sendo este texto contribuite para evidenciar tal afirmao anterior. A continuao desta frase cumina com justamente com as palavras de ordem do Esprito Santo.

12.8 Esprito Santo

O Esprito Santo, por certo, o principal personagem desta narrativa. De todas as aes praticada na passagem a dele a central. Tudo o que acontece no texto gira em torno dele. Mas quem o Esprito Santo? Quem esta pessoa e o que ela faz?

Partindo para uma definio confessional, o Esprito Santo uma das trs pessoas que compem a Trindade, sendo as outras pessoas o Pai e o Filho. Assim, o Esprito Santo um nico Deus da mesma substncia, poder, eternidade e demais atributos, juntamente com o Pai e o Filho. Por ser Deus, o Esprito Santo deve ser obedecido, amado, adorado juntamente com as demais pessoas da Trindade.

Jesus se referia ele, quando afirmou que no nos deixaria rfos mais enviaria outro Consolador [a)/llon para/klhton](Jo.14.16). Ele seria apenas o elo entre Cristo e sua Igreja, muito alm disso ele seria aquele que glorificaria a Cristo e, como um holofote, apontaria para a pessoa do Cristo Exaltado mostrando a sua majestade e glria para que tambm o homens glorificassem ao Senhor Jesus.

Nas Escrituras, ele quem falou atravs dos profetas do AT (Is.11.2; Is.40.13; Is.63.14; Ez.11.5 Mq.2.7). Ele falou por meio dos profetas do NT e mais especificamente aos profetas e mestres da Igreja em Antioquia.

Na passagem de Atos, o Esprito Santo exerce plenamente o seu papel como Deus. Ele ordena: Separai para mim [gr. Afori/sate moi]. Sua ordem imperativa e absoluta, uma fora que emana de Deus jamais poderia exercer esta autoridade e arrogar para si os chamados. Mas aqui o Esprito Santo se identifica como uma pessoa que exerce a autoridade divina. Packer argumenta que somente um ser pessoal pode falar, ensinar, determinar, interceder e ser ofendido.

Este argumento fica mais forte quando a frase concluda: Saulo para o trabalho que os tenho convocado [gr. to\ e)/rgon o(\ proske/klhmai au)tou/j]. Ele no age em nome de ningum, ele autnomo. Ele, o Esprito Santo, quem escolheu a Barnab e a Saulo. Mais uma vez fica provado a personalidade do Esprito Santo, esta a contribuio da passagem.

12.9 Misses e o Chamado Missionrio

Continuando o levantamento dos tpicos doutrinrios existentes e contribuintes para a formao do nosso escopo doutrinrio, precisamos agora ver algumas sobre misses. Uma boa e nacional definio do que misso pode nos ser dada pelo Dr. Ronaldo A. Lidrio, quando ele afirma que misses o cumprimento do plano eterno do Pai, atravs do sangue do Cordeiro, no poder do Esprito Santo movendo a Igreja proclamao do evangelho. Tal definio est plenamente de acordo com a situao expressada pelo texto de At.13.1-3 e com os contextos que nos enforma sobre a existncia do ensino cristocntrico, que poderamos afirmar ser nada mais que o puro evangelho de nosso Senhor Jesus. Evangelho, este, que crescia apesar da resistncia humana.

Dr. Lidrio mostra claramente Misses como um elemento em que a Trindade interage entre si e com a Igreja a fim de agir sobre o mundo, estendendo a influncia do evangelho por sobre ele. Ele completa: [a proclamao do evangelho] culmina com a salvao de pessoas de todas as lnguas, tribos, povos e naes para a glria do prprio Deus.

Vemos, portanto, que misses no apenas uma programao da igreja, pelo contrrio, ela se constitui na mais importante tarefa da Igreja de Cristo. Como bem expressaram os membros da comisso da Presbyterian Church in USA, que, em 1906, acrescentou dois novos captulos CFW, sendo que um deles trata sobre o do amor de Deus e das misses.

Este captulo afirma que por ser o evangelho o nico meio pela qual a graa de Deus se manifesta de modo salvador e ainda que o prprio Jesus Cristo comissionou a Igreja para ensinar a todo o mundo a sua Palavra, obrigao da Igreja treinar, sustentar as misses e missionrios pelas contribuies financeiras e pela intercesso por meio das oraes. Mas como saber quem so as pessoas indicadas para o trabalho missionrio? Como identific-las

Ao contrrio do que muitos pensam, poucas vezes o chamado de Deus para que um indivduo ou comunidade se disponha ao servio missionrio algo assombroso ou mesmo sobrenatural, por meio de uma viso como aconteceu com o apstolo Paulo (At.16.9-10). Ou, por que no, o prprio chamado em Antioquia (At.13.2). Mas o que podemos entender como chamado missionrio?

Em primeiro lugar, h de se aceitar como um axioma que todos os cristos so chamados para cumprir o papel de fazedores de discpulos(Mt.28.19). inegvel que esta uma tarefa cuja responsabilidade est sobre todos aqueles que foram salvos por Cristo. Portanto, todo o crente possui um chamado geral para a vida crist, isto , para a santificao e para a evangelizao, que parte do aspecto missionrio.

E em segundo lugar, existe um chamado especfico. Timteo Carriker considera que este tipo de chamado , freqentemente, uma convico profunda e crescente baseado em princpios bem definidos da Palavra de Deus, testemunhada pelo Esprito Santo e confirmada pela Igreja. Esta afirmao tambm est de acordo com o texto lucano.

Deste modo, esta passagem contribui para a dogmtica crist demonstrando pelo menos dois elementos necessrios para a confirmao do chamado missionrio. Primeiramente, o elemento a ao de especial de Deus. No texto de Atos, o Esprito Santo o agente que efetua tanto a escolha como o chamado: Separai para mim a Barnab e a Saulo para o trabalho que os tenho convocado(At.13.2). Vemos neste versculo os dois primeiros elementos descritos por Carriker a Palavra de Deus e o testemunho do Esprito Santo. Todos os que estavam presentes naquela reunio estenderam, inclusive Barnab e Saulo, que era Deus quem estava chamando. O elemento da Palavra est incluso na manifestao sobrenatural, considerando que ainda no havia o NT.

Hodiernamente, Deus fala atravs de sua Palavra Revelada, as Escrituras Sagradas, e pelo testemunho interno do seu Esprito. Mas no apenas por estes meios, um segundo elemento caracterstico do chamado especfico, a confirmao da Igreja.

A Igreja cumpre neste momento um papel muito importante no chamado. Em Atos, a percepo que Deus estava vocacionando dois de seus membros foi o suficiente para que ela se movesse no propsito de comission-los para tal finalidade demonstrada por Deus. isto demonstrado no v.3: Ento, tendo eles jejuado, orado e imposto as mos sobre eles, os enviaram. Uma vez confirmada pela igreja, Saulo e Barnab partem autorizados pela agncia do Reino para o exerccio de proclamaodo evangelho deste Reino.

Confimando isto, J.I. Packer diz que cada congregao local e cada cristo dessa congregao enviado ao mundo para cumprir uma tarefa definida e definitiva. Jesus, o Senhor da Igreja, deu a ordem de marchar. Individual e coletivamente, todo o povo de Deus est agora no mundo a servio do rei. Neste sentindo, cumprimos todos ns o chamado de ser testemunha em todo o mundo (At.1.8). a responsabilidade da Igreja, comunidade e indivduos levarem a cabo a ordem suprema do nosso Senhor.

13 Mensagens para os dias de Hoje

Atos marca o incio de um novo tempo. o marco zero da trplice inaugurao da Igreja, do Reino e da Dispensao do Evangelho. Ele o inicio de uma nova perspectiva do relacionamento entre Deus e o homem, que no mais precisaria de se voltar s sombras daquela nova realidade que eram ordenanas legais. Um novo e vivo caminho fora aberto mediante o sangue de Jesus Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.

Ao contrrio do que acontecia na antiga dispensao, cuja ao de Israel era fornecer uma outra opo de vida para os povos que o rodeava, chamando-os para aprender da Lei de Yahweh, esta nova dispensao inaugura uma nova forma de exerccio de influncia sobre os povos, ao invs de chamar as naes para aprender de Deus, a Igreja chamada para fazer discpulos indo por todas as naes (Mt.28.19).

E, a fim de que este objetivo fosse alcanado por este novo grupo chamado Igreja, um novo elemento inserido. O Esprito do Senhor seria derramado sobre todas aquela comunidade, como suspirara Moiss no deserto e como profetizara Joel (Jl.2). Este Esprito seria o doador do poder que moveria aquela igreja a testemunhar respeito de Jesus (At.1.8), que morreu e ressuscitou, e que conviveu ainda por curto perodo at ser elevado aos cus, para se assentar a destra de Deus Pai para governar sobre todas as coisas, at que todos os seu inimigos fossem colocados por estrado dos seus ps, e que ele devolvesse o trono ao Pai.

Atos para muitos o padro da Igreja de Cristo. Em todos os momentos que se pensou reformar a Igreja, a Igreja nos padres de Atos era o anseio perseguidos pelos empreendedores de tais reformas. Lutero pensou assim. Calvino pensou assim. Meno Simons pensou assim. E tantos outros que envidaram esforos para transformar a estrutura, por vezes considerada fria, sempre aspiravam pelos primeiros dias da Igreja Neotestamentria.

O grande problema que no se pode simplesmente trazer as prticas registradas em Atos e aplic-las sem qualquer trabalho, os tempos so outros. Porm podemos se aplicar todos os princpios existentes em Atos ou em qualquer outro livro da Bblia mediante um srio trabalho exegtico, que trar para os dias de hoje aquilo que era prtica naquele tempo.

Portanto, apesar de quase dois mil anos que separam a Igreja de Antioquia da Igreja da nossa era, possvel tornar Aos 13.1-3 uma realidade contempornea, um grande exemplo de uma igreja comprometida e empenhada no servio do Reino de Deus, ensinando certos princpios extremamente essncias Igreja em todos os tempos, bem com a Igreja de hoje.

A primeira mensagem que encontramos no texto se refere ao ensino centralizado na pessoa e na obra de Jesus Cristo (v.1). Ao fazer meno da igreja antioqueana, Lucas no fala da quantidade de membros, ou quantas pessoas de influncia ou sequer qual era a sua arrecadao financeira. No entanto ele destaca a presena de homens que desempenhava a tarefa de instruir aquela igreja segundo a Palavra de Deus, que era revelada aos profetas ou que j havia sido registrada, isto , o Antigo Testamento, que neste caso era tarefa dos mestres.

Esta descrio lucana demonstra que o ensino na igreja em Antioquia exercia um papel fundamental. Antioquia era a terceira cidade do Imprio com mais de quinhentos mil habitantes, sendo o porto de acesso ao Oriente. Num lugar assim, onde as idias circulavam entre as gentes dos mais diversos lugares esta diversidade de povos pode ser vista na prpria liderana da Igreja era necessrio ter um posicionamento bem definido do que era ser cristo e quais eram as suas crenas. A Palavra de Deus, portanto, no poderia ocupar um lugar secundrio nesta Igreja.

Situao semelhante a da cidade de Antioquia pode ser percebia hoje. Aquela era uma cidade cosmopolita. O nosso mundo hoje cosmopolita. O mundo teve as suas fronteiras derrubadas com o advento da Internet. Idias, pontos-de-vista, pensamentos religiosos, um universo de informaes viajam a uma velocidade altssima. E junto com estas idias, valores inominveis tambm so difundidos em todo o mundo. E por vezes estes valores so assumidos por pessoas dos nossos arraiais. E por que eles so enredados?

Ao mesmo tempo que o mundo oferece informaes e valores dos mais diversos, a igreja faz um caminho contrrio. O mais importante nos cultos so as experincias que podemos ter com Deus e no o que Deus tem para nos dizer. No que os plpitos se tornaram obsoletos, eles continuam sendo usados mais para ensinar outras formas de crescer espiritualmente, que vo desde a barganha financeira com Deus at rituais mgicos. Muitos at mesmo trazem revelaes de Deus para a transformao do mundo. Mas poucas vezes apresentam Jesus Cristo, como aquele que veio resolver o maior problema do mundo, o Pecado.

Mensagens como: Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os vossos pecados, a fim de que, da presena do Senhor, venham tempos de refrigrio, e que envie ele o Cristo, que j vos foi designado, Jesus (At.3.18-19), no so vistas com freqncia. Se no h poder em nossos plpitos, no h ao nos bancos, esta a tese de um dos captulos da obra de Leonard Ravenhill. Infelizmente ele tem razo.

Deixando um pouco este estilo mais devocional, e voltando para o acadmico, toda esta realidade avaliada anteriormente nos faz voltar os olhos para a seguinte realidade: o ensino na igreja tem sido grandemente negligenciado. E se a Igreja se encontra neste estado de inanio motivado pela falta do verdadeiro alimento, que a Palavra do Senhor que deve ser ansiada por todo cristo (1Pe.1.25;21-2).

A Palavra de Deus deve ser o padro de todas as aes da Igreja. Se no conhecemos a Palavra, o que conheceremos de misses, de adorao, de evangelizao, de comunho entre os irmos? E como a f vem pelo ouvir a palavra de Deus (Rm.10.17), no se pode pensar em Igreja sem o ensino que tenha a pessoa e a obra de Cristo no cerne do seu arcabouo, ainda mais na situao em que se encontra o nosso mundo.

A inclinao daquela igreja para a ao missionria uma demonstrao clara de que misses fruto de um verdadeiro conhecimento da palavra de Deus. No h outra forma de entender a rpida compreenso de que era Deus quem estava convocando dois de seus membros para a uma obra que ele mesmo havia determinado (v.2). Poderamos, ento, afirmar que uma igreja missionria tem o seu nascedouro na correta administrao do contedo bblico acerca da pessoa e obra de Cristo.

A segunda mensagem que encontramos tem haver com as palavras do Esprito Santo: )Afori/sate dh/ moi to\n Barnaba=n kai\ Sau=lon ei)j to\ e)/rgon o(\ proske/klhmai au)tou/j(v.2). Era um chamado imperativo sem possibilidade alguma de ser revogado. Era um chamado especfico para Barnab e Saulo, mas era tambm uma ordem para a Igreja de Antioquia.

Talvez isto poderia ter sido dito anteriormente, mas ainda d tempo. O verbo a)fori/zw est na segunda pessoa do plural, indicando que a ordem primeiramente a liderana para que esta envie os missionrios, e no uma ordem direta aos dois missionrios. Portanto, ao mesmo tempo que existe a responsabilidade em ir, da parte dos missionrio, existe a responsabilidade da igreja em separar e enviar.

Os membros daquele conselho sabiam da importncia do cumprimento do mandato de evangelizar que o prprio Senhor Jesus havia dado (Mt.28.19; Mc.16.15; At.1.8). Eles tinham conhecimento de que a palavra do Senhor crescia e se multiplicava por onde era pregada (At.12.24). Paulo e Barnab acabavam de chegar de uma misso, o que tambm demonstra esta ndole missionria (At.12.25). Como, ento, fechar os olhos para estas realidades? Como no abraar uma causa que j