Exegese de Rm 5.1-11. EFEITOS PRESENTES E FUTUROS DA JUSTIFICAÇÃO-RECONCILIAÇÃO

22
Exegese de Romanos 5:1~11 EFEITOS PRESENTES E FUTUROS DA JUSTIFICAÇÃO-RECONCILIAÇÃO Paulo Sung Ho Won INTRUDUÇÃO Martinho Lutero, em sua introdução ao livro de Romanos, diz que “Esta carta é verdadeiramente a mais importante peça do Novo Testamento. É o evangelho mais puro. É de grande valor para um Cristão não somente para memorizar palavra por palavra, mas também para ocupá-lo com isso diariamente, como se fosse o pão diário da alma. É impossível ler ou meditar nesta carta. Quanto mais alguém lida com ela, mais preciosa ela se torna e melhor ela saboreia.1 . Certamente, Paulo foi autor dessa carta que foi destinada à igreja de Roma, formada em sua maioria de gentios. Provavelmente, essa carta foi escrita em circa 56/57 A.D. para preparar a sua ida à Roma. O grande tema da carta é: “a Justiça de Deus”. Paulo desenvolve de maneira muito precisa a “doutrina da justificação pela fé”. De 1:18~3:20, o apóstolo mostra a necessidade da justiça de Deus diante da depravação humana em geral: nesse caso, não há distinção entre gentios (1:18~32), moralistas (2:1~16) e judeus (2:17~3:8). Todos pecaram “e estão destituídos da glória de Deus1 Disponível em http://openlink.br.inter.net/gospel/prefrom.htm , acessado em 20 de junho de 2009.

description

Exegese feita no Seminário Servo de Cristo.

Transcript of Exegese de Rm 5.1-11. EFEITOS PRESENTES E FUTUROS DA JUSTIFICAÇÃO-RECONCILIAÇÃO

Exegese de Romanos 5:1~11 EFEITOS PRESENTES E FUTUROS DA JUSTIFICAO-RECONCILIAO Paulo Sung Ho Won INTRUDUO MartinhoLutero,emsuaintroduoaolivrodeRomanos,dizqueEstacarta verdadeiramente a mais importante pea do Novo Testamento. o evangelho mais puro. degrandevalorparaumCristonosomenteparamemorizarpalavraporpalavra, mas tambm para ocup-lo com isso diariamente, como se fosse o po dirio da alma. impossvelleroumeditar nesta carta.Quanto mais algum lida com ela,mais preciosa elasetornaemelhorelasaboreia.1.Certamente,Paulofoiautordessacartaquefoi destinadaigrejadeRoma,formadaemsuamaioriadegentios.Provavelmente,essa carta foi escrita em circa 56/57 A.D. para preparar a sua ida Roma.O grande tema da carta : a Justia de Deus. Paulo desenvolve de maneira muito precisa a doutrina da justificao pela f. De1:18~3:20,oapstolomostraanecessidadedajustiadeDeusdiantedadepravao humanaemgeral:nessecaso,nohdistinoentregentios(1:18~32),moralistas (2:1~16)ejudeus(2:17~3:8).TodospecarameestodestitudosdaglriadeDeus 1Disponvelemhttp://openlink.br.inter.net/gospel/prefrom.htm,acessadoem20dejunhode2009. 2(Rm3:23)etodosmerecemdacondenaodivina(3:9~20).Apartirde3:21Paulo comea a descrever a maneira pela qual Deus, por intermdio de Cristo, alcanou queles que estavam perdidos, justificando-os. De 3:21 at 4:25, a mensagem clara: apenas pela f em Cristo Jesus podemos ser inocentados dos nossos pecados, sendo conduzidos diante dapresenadeDeus;paraisso,ograndeexemploAbrao.PorqueAbrao?Ora, Abrao,almdeserpaidosjudeus,mostraqueajustificaopelafindependede obrashumanas,massimunicamentedagraadivina:AbraocreuemDeus,eissolhe foiimputadoparaajustia(4:3).Logo,issoquerdizerqueasalvaonovempela observnciadaleiedasobrasdalei,umavezqueAbraoanterioraoscdigoslegais dados no Sinai. Paulo no quer dizer que houve uma mudana de planos por parte de DeusnoPlanodaSalvao,mas,quesempre,mesmoduranteavignciadaantiga aliana,asalvaoeraobtidapelaf,enoporobras.diantedessequadroque entramos no captulo 5. Otextoanalisadonestaexegesefoidivididoemtrspartes:Ajustificao-reconciliaonavidapresente(5:1~5),ocomentriodePauloacercadagrandezada morte de Jesus que nos trouxe vida (5:6~8) e, em ltimo lugar, as conseqncias futuras dajustificao-reconciliaonavidadocristo(5:9~11).Assim,hoentendimentode queaaograciosadejustificaoporintermdiodeCristoalcanatodaanossa existncia: tanto a presente como a futura. Juntamentecomasanlisestcnicaslingsticasecriticasdooriginalgrego,os comentrios exegticos foram colocados dentro da mesma diviso. Optou-se por colocar nantegraotextogregoesuatraduoentreparntesisparafacilitaravisualizaodas duasformas.Tambm,emltimolugar,humregistroparticulardaquiloquetemosde grandelio,deaplicaodiretaemnossasvidas.Aexegesequenofazvoltaranossa vidaDeusestril,porm,aexegesequelevaaumquestionamentodenossomodo atual de vida muito fecunda. 3 1. LIMITES DA PASSAGEM. A anlise detalhada de Rm 5:1~11 mostra que esta uma passagem completa. Paulo faz usodapartculaparacomearessetrecho,comumdesenvolvimentoeraciocnio completo.Assim,elechegaaumaconclusodaquiloquefoidesenvolvidodesdeo primeiro captulo at o quarto, a saber, acerca da justia de Deus. Poroutrolado,seolharmostambmparaRm5:12,textoposterioraotrecho analisado,perceberemosousodaexpressodiaw,estnoParticpio1.aoristopassivoquedenota umaaonica4edefinitivadeCristosobreavidadaquelesquecremNele.Essa justificao5,ouoatodetornaralgumjusto,noslevaaoimaginriojurdicodapoca. Hqueseperceberqueajustificaoopostacondenao,conceitoestequefoi desenvolvidoporPaulodeRm1:18~3:20.Podemosanalisarporvriosnguloso conceitodejustificaodentrodateologiapaulina.Emprimeirolugar,ajustificao indica que, de acordo com o imaginrio jurdico, o ru deliberadamente absolvido pelo juiz.Emsegundolugar,ajustificaoimplicaqueoeventoescatolgicoantecipado trazendo para o presente o veredicto final do juzo de Deus6, a saber, a absolvio eterna do antes condenado. Porm, a justificao no emana da ao humana, mas sim de Deus. Dessa maneira, Paulonosexplicaqueesseatodivinoegraciosodeinocentarumcondenadomorte eternaspodeserrecebidamedianteaf.DeacordocomSttot,agraaeaf pertencem indissoluvelmente uma outra, uma vez que a nica funo da f receber o queagraalivrementeoferece7.Aftiradohomemtodaapossibilidadedejactncia emsi,umavezquesomentemedianteconfianaplenanagraadivinaquetemos 4Rega,pg213.5dikaiosu>nhmuitoutilizadoporPauloquelheconfereamaiorgamadesentidos.Humaconexomuito estreita desse termo com o Antigo Testamento, ao falar da justia de Deus e de como Elejustifica,ouseja,tornajustooseupovo.Cf.DITNTVl1,pg1128.6STTOT,John,ACruzdeCristo,pg171.7Ibid.pg170. 7imputado sobre ns a condio de justificados, e sendo assim, absolvidos do juzo final. mediante a essa f que temos paz com Deus. Nesse versculo temos pelo menos umproblemademanuscritocomrelaoaoverbo.Muitosmanuscritosusamo verbonoPresentedoIndicativoAtivo8.Porm,algunsoutrosmanuscritos importantestaiscomos*,A,B*,C,D,K,L,33,81,630,1175,1739*eMarcio apresentam a variao, no Presente do Subjuntivo Ativo9. Para Bruce, a variao podetervindodeumprimitivoestgiodetransmissodetextoqueseriaantesda redaofinaldasepstolaspaulinas.Brucesalientaqueoacentonaprimeiraslabadas duasformasfariacomqueadistinofonticatantodomicron,quantodomega, desaparecesse,demodoqueasonoridadedasduaspalavrasfosseidntica10.Assim,a traduoficariatenhamospazcomDeus.DeacordocomFitzmyeressasegunda variaofoientendidapelospaisdaigrejacomomanterapazoucontinuemosem paz11comDeus.SegundoCranfield,devidoaocontextodeexortao,aprimeira alternativa deve ser levada mais em conta12. Essajustificaopelafnosconduzaumoutroconceitodesemelhanteimpacto no pensamento paulino que a Reconciliao. No podemos dissociar os dois conceitos. AlgunsestudiososcolocamumahierarquiadentrodarelaoentreJustificaoe Reconciliao.Fitzmyer,e.g.,dizqueajustificaopareceestarsubordinada reconciliao13enquantoqueCranfielddizqueofatodoshomensseremjustificados implica que devem ter sido igualmente reconciliados com Deus14. De qualquer maneira, que tipo de reconciliao essa? Isso est expresso justamente na frase temos paz com 8ANA27seutilizadosmanuscritoss1,B2,F,G,P,Y,0220,cf.Fitzmyer.9Harrison,pg58eNA27.10Bruce,pg60.11Ibid.pg61.12Cranfield,pg106.13Fitzmyer,pg395.14Cranfield,pg105. 8Deus.Essapaznopodeserentendidaemtermossomentesubjetivosourelacionados apenas a resoluo de algum tipo de conflito interno ou externo ao homem, porm, deve seguir o conceito mais pleno do :: hebraico15. Esse termo que em grego foi traduzido como16implicanosomenteumaquestofsica,mastambm,esobretudo, espiritual.Eladeveserentendidanoseusentidopositivoprosperidade,deplenitudede um relacionamento com Deus. ParaBarth,pazcomDeussignificaumacordoentreohomemeDeus,tornando possvelpormeiodamodificaodacondiohumana,vindadapartedeDeus,e efetivada por meio do estabelecimento das relaes normais da criatura com o Criador, pela fundamentao do amor a Deus no temor do Senhor, o nico e verdadeiro amor que a criatura pode dedicar a Deus17. 2.d()18 ,.(porintermdiode quemobtivemosacessopelafaestagraanaqualpermanecemosfirmes;enos orgulhamos na esperana da glria de Deus.) A grande questo : de onde vem tal condio? A resposta categrica: por intermdio da f. A preposio dia>tem um peso muito importante nesse trecho: ela se repete sete vezes.Nosomenteisso:comoseapresentanotexto,apreposiodia> seguidapor genitivo19, indicando claramente uma relao de mediao que Cristo assume como nico 15Dunn,pg247.16noNT,almdecarregarosentidode:: indicaduascoisas:apazcomoantnimodaguerrae segurana eterna, sendo ddiva de Deus. Dentro do contexto de Romanos 5:1~11, Cristo omediadordessapaz,cujoconceitocorrelatoodareconciliao.Cf.DITNTVl2,pg1596.17Barth,pg238.18NohconsensoentreosMSSdainclusooudaexcluso.Pelocontexto,parecefazermaissentidoainclusodaexpresso.19Rega,pg101. 9possvelmediadorentreDeuseoshomenscadosdagraa.Talquestotornou-seto importante no pensamento cristo posterior que a tentativa da Igreja Romana em manter umsistemadeautopromoomedianteanfasenasobrasenonagraaencontrousua maiorresistncianomovimentodeReformadosc.XVI.Cristoapresentadocomo kurio>v,SenhorabsolutodignodeserconsideradoMediadordajustificao-reconciliao.Algunsmanuscritosnotrazemaexpresso,porm,mesmo que esta no esteja presente, o seu conceito est implcito no trecho. AobrademediaodeCristodetalhadanoversculo2,ondePaulo provavelmente conduz o nosso imaginrio para a sala de audincia de um rei. A figura do reieracomparadaaodosdeusesnaantiguidade.Assim,adentraremseurecintode maneiradesrespeitosaedesonrosapoderiacustaravida.Oatodoreipermitiraentrada deumapessoaexpressabemotermoacessopelafaestagraa,ca>riv20.Nsno somos mais adversrios ou inimigos do Rei, pelo contrrio, fomos considerados justos e da mesma forma dignos de entrar na presena de Deus e desfrutar da sua presena. ConformeBruce,existeumavariaodeleituradotermo,quevem verbokauca>omai21,cujosentidojactar-se,orgulhar-se,podendosertraduzido como nos gloriamos ou pelo subjuntivo gloriemo-nos. As verses inglesas traduzem o termo como boast, ou seja, uma extremo orgulho, satisfao ou alegria. Esse orgulho est focalizada na glria de Deus22. De acordo com Dunn, o termo prosagwgh> usado culticamente no sentido de ter acessoaotemploondeestapresenadeDeus.nessapresenaquepermanecemos firmes,tendoaesperananaglriadeDeus.OatosalvficodeCristonotemeficcia 20Nosentidodefavorreal,demisericrdia,encontrandoparalelocomo: doAntigoTestamento.21Gingrich,pg114.22Cf.NETBibleeNIV. 10apenasnopresente,muitopelocontrario,elageradentrodenossoscoraesesperana futuranaglriadeDeus.Apalavraejlpiv,possuiseucorrespondentenohebraico, denotandonoumaexpectativaincerta,masumaconfianaplenadiantedofuturoem Deus.Avidadocristonopodeserapenasresumidanacondiodopresente,mas tambmnaesperanafutura.Paulonosindicaquevivemosnumatensoentreascoisas do agora e do por vir. A expectativa que a salvao seja plenamente completada no diaescatolgicofinal.Tambmessamesmaesperananoestrelacionadacomo egosmohumano,massimcomaexpectativadaplenitudedoReinoqueddivado prprio Deus: por isso, a esperana no depende das obras, mas sim da obra graciosa de JesusCristo23.ParaCalvino,aesperanaresplandeceparansdesdeoevangelhoque testifica que participaremos da natureza divina, pois quando virmos a Deus, face a face, seremos semelhantes a ele24. 3.,, ,4.,5. , ,(Nosomenteisso,mastambmnos orgulhamosnastribulaes,sabendoqueatribulaoproduzperseverana; 4ea perseverana,umcarteraprovado;eocarteraprovadoproduzesperana. 5Ea esperananonosdesaponta,porqueoamordeDeustemsidoderramadoem nossos coraes, por meio do Esprito Santo que ele nos concedeu.) Enosomenteisso.EssaconstruousadadiversasvezesporPaulopararatificare confirmar seu desenvolvimento inicial. De acordo com Dunn, a expresso 23DITNT,verbeteesperana.24Barth,pg241. 11era amplamente utilizado na literatura grega e judaica25. Paulo, ao expressar a esperana futuradaglriadeDeusvoltaaanalisaroimpactodajustificaopelafnavida cotidianadoscrentesemCristo.Talvezhojetenhamosperdidoosignificadorealde termoscomotribulao,perseverana,carteraprovadoeesperana,pois vivemosemumcontextototalmentediferentedaquelevividonoprimeirosculodaera Crist. Os seguidores de Cristo, na poca de Paulo, estavam sob perseguio, no somente naregiodaJudia,mastambmfora.SeguiraCristo,naquelecontexto,significava muitasvezesterquepassarporapuros,sendonecessrioatarriscaraprpriavida. Diantedessequadrodedificuldadeaparente,Paulonosconfortafazendocomquede nossa condio presente, tenhamos os olhos fitos, novamente, na esperana do por vir. Elespodiamrealmentedizerqueseorgulhavamnastribulaes.Aexpresso 26,deacordocomFitzmyerpodesignificarnstemos orgulho em nossas aflies27. Emoposioaopensamentosecular,ondeosproblemaseastribulaesso encaradas como coisas ruins, e at maldio divina, Paulo nos expe de maneira clara que a tribulao um poderoso instrumento da graa divina para que o homem seja testado e aprovadoparapoderteracondiodedesfrutardaseternasbnosdeDeusna eternidade.Enquantoessetempoderefrigrioplenonochega,essamesmatribulao, que produz em ns aprovao, consolida a nossa esperana em Deus mediante Cristo. Tal estado de paz que vivemos em Deus no significa ausncia de algum tipo de sofrimento, uma vez que no podemos comparar a dimenso da nossa paz com as tribulaes que so 25Dunn,pg249.26 Danker argumenta que a expresso freqentemente usada em um sentidometafrico:opresso,aflio,tribulao.Cf.Danker:2000.27Fitzmyer,pg397. 12passageiras: na paz de Deus existe um sofrer, um submergir, um estar perdido e ser estraalhado (Barth:1999:244). Namentalidadedosprimeiroscristos,atribulaoproduziaperseverana.U28significapacincia,persistir.Atribulaoeraumagrandeoportunidade paraqueoprprioegodaspessoasfossemquebradasequeelaspudessemolhare depender de somente de Deus. Paulo nos leva a imaginar uma pea de jia que colocada no fogo para ser purificada. O forno da purificao, nesse caso, seriam as tribulaes. O resultadodisso,quepassamosaterassimumcarteraprovado.Aprpriapalavra significa caracterstica de ser aprovado, da, carter29. A ARA traduz por experincia enquanto que a A21 traduz como aprovao. Esse carter aprovado das tribulaes e dos testes da vidagera a esperana. Talesperanavemcomagarantiadequenoseremosdecepcionados.Nossas expectativas futuras em Cristo certamente sero satisfeitas, uma vez que o amor de Deus tem sido derramado em nossos coraes pelo Esprito Santo30. O uso do termo ,de acordocomDunn,indicaqueoqueesseprocessodeaperfeioamentogarantidopelo amor de Deus, ou seja, a esperana selada pelo amor. Esse tem sido traduzido de diferentes maneiras: como genitivo objetivo (nosso amor por Deus), como genitivo subjuntivo (o amor de Deus por ns), ou at mesmo pelos dois indicando um genitivo geral ou pleno31. A seqncia da sentena deixa claro que se refere ao amor de Deusqueele"derramaemnossoscoraes",queoprprioEspritoSanto.De qualquermaneira,estexplcitonotextoatentativadePaulomostrarqueanossavida 28 De acordo com Danker, significa a capacidade de suportar e superar as dificuldades atravs dapacinciaeperseverana.Cf.Dankerpg1039.29Gingrich,pg59.30 H o uso do tempo perfeito indicando uma ao que se inicia no passado, mas que temcontinuidadepresente.31Cf.NETBible. 13futura,tantoquantoavidapresente,estbaseadanofundamentodoamor,queproduz esperanamedianteaf.Atradef-esperaa-amorumfundamentonopensamento paulino32. O amor derramado em nossos coraes. O corao, , entendido no como umrgofsico,mascompreendidosegundoaconcepojudaica: ,comocentrode todo o entendimento, dos sentimentos, e de toda a interioridade humana, contrapondo-se aparnciaexterna33.AaodeDeusinicia-se,assim,apartirdonossointerior, atingindoasnossasaesexteriores.Overbotambmseencontranotempoperfeito,o que indicaqueaao doderramar se iniciou nopassado, mas que temcontinuidade at agora. O Esprito Santo no faz mais morada em templos fsicos, mas no interior daqueles que crem em Cristo (1Co 3:16). A razo pela qual podemos estar firmes nessa esperana divina,semmedodeserenvergonhado,porumalado,aaoapartirdocorao humanoquepormeiodoEspritoSanto.DiferentedoAntigoTestamento,quandoo eraderramadoaapenaspoucaspessoas,elederramadoagoraemnossos coraes, cumprindo as profecias do derramamar do Esprito sobre todas aqueles que crem (Cf. E.g., Jl 2:28,29). O verbo dido>nai , dar, est no particpio aoristo passivo, indicando que o derramar do Esprito uma ddiva divina, ou seja, algo concedido por Deus de acordo com a sua vontade, soberania e graa. 4.2. Comentrio de Paulo: a magnitude da morte que nos gerou vida. 6. . 32Cf.1Co13:13.33Wolff,pg84. 14(Realmente, Cristo morreu em lugar dos mpios, a seu tempo, quando ainda ramos moralmente fracos.) Ohomem,antesdeserjustificadopelagraamedianteaf,viviaemumestadode ajsqenh>v,ousejadefraqueza34(talfraquezaparecesermaismoraldoquefsica). Porm, justamente por aqueles a quem Deus considerava fraco, ele enviou o seu Filho a fimdeque,medianteasuaobra,elesfossemsalvos.Almdafraquezamoral, salientado que o homem ou seja, mpio: nas palavras de Fitzmyer, um homem sem reverncia a Deus, ou no ingls, godless35, demonstrando mais uma vez a condio de separao com Deus, pelo pecado, que o homem estava antes de ter um encontro com Cristo.FoipelofracoepelompioqueJesusmorreu.Aquiestocernedaquiloque cremosseramensagemdoEvangelho:Jesusmorreuporaquelesquenoconheciama Deus, para que atravs dessa morte, o amor de divino fosse revelado cabalmente a todos aquelesqueouvissemdamensagemevanglica.Tudoissoobedeceotempo,ouseja,o kairo>vdivino.Algunsenxergamumaconexodessetempocomomomento escatolgico devido a nfase dada nas tribulaes. O importante que Deus soberano sobre o tempo cronolgico humano. O plano de salvao no foi uma soluo feita s pressas, mas sim, pensado desde a eternidade e colocado em ao a seu tempo. 7. (Dificilmentealgummorreriaemlugardeumjusto,poisem favor de quem faa o bem algum teria a coragem de morrer.) ParecequePauloabreespaoparaumcomentrioparticularacercadamortedeJesus nesseversculo.Comoentenderessaobservao?Noexistempessoasquemorrempor 34Cf.Gingrich,pg36.35Fitamyer,pg398. 15pessoasjustas,esomuitopoucasaspessoasquepodemmorrerporpessoas consideradasboasouporumaboacausa36.Seessefatoreal,quemmorreriapor fracosempios?Diantedessacontraposiodeidias,h,semdvida,uma exaltao implcita de Paulo da obra salvfica de Cristo, concretizada na cruz. Na posio dePaulo,somenteDeuspoderiafazeralgoque,navisohumana,seriaumenorme paradoxo,ouseja,fariamaissentidomorrerporalgumquevalesseapenadoquepor uma pessoa que meu prprio adversrio. 8. . (Mas Deus demonstra seu prprio amor para conosco porque Cristo morreu quando ainda ns ramos pecadores.) Essa a razo pela qual Deus escolheu os fracos e mpios para enviar o seu Filho em sacrifciodefinitivo.Deusdemonstra,oumostra(suni>sthmi),oseuamorpornsno apenas pelo fato de Cristo ter morrido. Paulo no deseja discutir na morte por si mesma, masaqualidadedessamorte.Jesusmorreunoparaserummrtirpolticoeinsuflar posteriormenteamentedosseusseguidoresporumpropsitosecular,massim,Cristo morreu pelos transgresses de pessoas que ainda estavam mergulhadas em seus pecados. em favor (pe> ), dos , ou seja, pecadores, que Cristo morreu. 4.3. Os efeitos futuros da justificao-reconciliao. 9. . (Portanto, muito mais agora, tendo sido justificados pelo seu sangue, seremos salvos, por meio dele, da ira.) 36Fitzmayer,pg399. 16Paulo complementa o desenvolvimento do versculo anterior. Se Deus demonstrou o seu amorpormeiodeCristoquandoaindaramospecadores,muitomaisagoraquesomos justificados seremos salvos da ira divina. Paulo leva seu raciocnio mais longe: se Cristo morreu por pecadores, quanto mais, ou muito mais ( ) ele nos salvar da ira vindoura de Deus (acerca da qual Paulo explica em Rm 1). A expresso traduzida como muito mais ainda na NVI, usada por Paulo diversas vezes nos seus escritos, e pelomenosquatrovezesdentrodoversculo5.DeacordocomDunn,afrmula recorrente no corpus paulinus vem do exemplo : (leve e pesado) dos escritos rabnicos37, ou seja pares de idias que se completam no final. Paulo volta ao verbo que iniciou o captulo 5: . Ele faz um contraponto entre a situao atual do crente e a sua condio futura. No presente, estamos justificados porseusangue()enofuturo,seremossalvosdesua ira.OsubstantivopodeserentendidoaquicomoojuzofinaldeDeus,odiaem que ele exercer a sua justia de acordo com o conceito veterotestamentrio do :, oDiadoSENHOR.DeacordocomDunn,aadiodoaoristo,seguidopelofuturo, demonstraumatensoescatolgicapresentenodesenvolvimentodePaulo38.Maisuma vez temos a tenso entre o agora e o ainda no. 10., (Porquesens fomosreconciliadoscomDeuspormeiodamortedeseufilho,quandoramos inimigos dele, muito mais estando reconciliados, seremos salvos pela sua vida.) Mais uma vez, Paulo recorrendo expresso () , forma mais usual 37Dunn,pg257.38Dunn,pg257. 17que,ressaltaamagnitudedaobradaCristonavidadossalvos. PormatensopassaaserentreoinimigoeoreconciliadodeDeus.Oinimigode DeusaquelequedeacordocomCranfieldhostilaEle39.Jesus,mesmodianteda hostilidade e da inimizade estabelecida entre Deus e os homens, deu o primeiro passo emdireodohomem,reconciliandoemsiasduaspartes.Logo,jnohmais inimizade entre Deus e a humanidade que cr Nele. Diante disso, a tarefa de salvar pela suavidaosquejsoreconciliadosparecesermaisfcil.Paulotemapreocupaode no dissociar a justificao da reconciliao. AindasegundoCranfield,areconciliaopossuiumaconotaomaispessoaldo queajustificao,termomaisrepletodeumsentidomaisjurdico-forense.Essa reconciliaofoiconquistadamedianteamortedoseufilho.ParaCalvino,dizerque fomosreconciliadoscomDeuspormeiodamortedeCristosignificaquefoium sacrifcio expiatrio, atravs da qual Deus foi pacificado com relao ao mundo40. AidiadeumareconciliaomediadaporumapessoaerafamiliarnoAntigo Testamento(e.g.,Moiss,Aro,Finias).Porm,diferentedoAntigoTestamento,no Novo,Deusalmdetomarainiciativa,Elemesmoageemfavordessareconciliao. EstandojreconciliadocomDeusporCristo,seremossalvospelasuavida(A21).O termozwh> dentrodessecontextonoapontaapenasparaavidapresente,mas prioritariamenteparaavidadoCristoressurreto.Assim,Paulolanaesperanano corao dos cristos no sentido de que a nossa condio de reconciliados com Deus gera uma conseqncia futura, que a participao da ressurreio de da vida eterna no Filho. Essavidaeternafoijustamenteconquistadapelamorte,pelaqualseladaa reconciliao. Portanto, a morte do Filho gera vida eterna no Filho. 39Cranfield,pg111.40Calvino,pg198. 18 11., ,.(Nosomenteisso,masnos orgulhamostambmemDeuspormeiodenossoSenhorJesusCristo,por intermdio de quem recebemos, agora, a reconciliao.) Paulotemalgoamaisadizer:enosomenteisso,mastambm(, )quepodemosviverumavidadealegria,orgulho,glriaeexultaoemDeus.Se antesramosinimigosseparadosporumabismointransponvel,agora,desfrutamosde umgraudeproximidadetal,queestamosemDeus(41).Algumasverses variamnatraduode:amaioriadasversesdoportugus,comoaA21, trazem: nos gloriamos, porm, em verses inglesas como a NIV encontramos: we () rejoice.Porm,osdoissentidos,gloriar,orgulharoualegrar,secomplementamem expressaroestadodeespritodaspessoasqueforamjustificadas-reconciliadascom Deus. Como no poderia deixar de ser, Paulo tributa a Cristo a realidade da proximidade comDeus.Quandolemosdevemosterem mentequeesseCristoquenosreconcilioucomDeusSenhorAbsolutosobretodasas coisas.Foipormeiodelequerecebemosagora(),ouseja,desfrutamosnopresente momento, o privilgio de no mais sermos chamados de inimigos, mas amigos de Deus. Se entendermos que a justificao-reconciliao obtida por meio de Cristo, logo, a lei e astradiesjudaicasperdemespaoeoseupapelprioritrionavidadoscristos.No podemosmaisserconsiderados:spelasobras,masdi>kaiovemCristo.OAoristo indica que a ao da reconciliao teve um comeo pontual no passado, porm 41CasoLocativo. 19ela desfrutada at o agora () e serve de ponte para a esperana do futuro42. 5. SIGNIFICNCIA DO TEXTO E CONCLUSO. Esse texto onde Paulo nos mostra a dimenso da justificao pela f, base para aquilo queentendemosserasalvaoporintermdiodeCristo.Entendemosquenesse processo,omritohumanoirrelevantecomparadocomagraamanifestadeDeusna pessoa de seu Filho Jesus. Essa justificao e reconciliao com Deus faz-nos viver numa dimenso diferente de vida em relao quelas pessoas que no conhecem da Verdade. Se omundobuscaviveregozaraomximodasuaexistnciaefmerasobreaterra,sem nenhuma perspectiva verdadeira do post-mortem, ns podemos viver essa vida motivados pela esperana de estarmos eternamente na presena da glria de Deus. Isso nos leva a viverumavidacristdeequilbrioentreoagoraeoporvir:novivendocomoseo amanhnoexistisse,etopouconovivendoohojeemfunodoamanh.A Justificao-ReconciliaodeDeuspodeterinciopontualnanossaexistncia,porm, seusefeitoseseupoderseestendemnosomenteaquinaterra,mascomotambmna eternidade. Algumasliessoimportantesnessetrechoestudado:primeiramente,somos justificadospelaf,mediadospelaobraredentoradeJesusCristo.Issoimportante porque nos revela que tudo o que somos, nessa nova condio de vida em Cristo, vem do prprio Cristo. No h mritos pelas quais o homem possa se gloriar. O nico motivo que o texto apresenta para nos gloriarmos na esperana da glria de Deus. Em segundo lugar, por intermdio do sacrifcio de Jesus, temos paz com Deus. No 42Dunn,pg261. 20somosmaismpioscondenadosaoinferno,pelocontrario,pelagraafomossalvose inocentados.NossarelaodeseparaocomDeusfoianuladaeunidaporCristo,e sendoassim,podemosvivernosomentecompazcomrelaoaoprprioDeus,mas tambm em relao minha prpria vida e a dos meus semelhantes. Em terceiro lugar, a paz que Deus nos concede nos permite viver, mesmo que sendo sobaspiorescondiesdesofrimentoetribulao,porqueapaznosfazestarabertos ao de Deus em todas as circunstncias, inclusive nas dificuldade. Nesse processo nasce a verdadeira esperana. A tribulao tira o foco de nossas vidas e a centralidade de nossas necessidades.Aovermosanossafragilidadeemmeiosdificuldade,desviamosnosso olharaDeusquesetornanicafontedeforaeconforto.Astribulaesgeramno apenas a expectativa da soluo dos problemas, mas do descanso eterno, da paz eterna, a ser completada e desfrutada naquele dia. Por isso, podemos nos alegrar nas tribulaes. Emquartolugar,PaulonosfazmeditaracercadagrandezadaobradeCristona Cruz. Em poucas palavras, ningum faria isso: nem por justos, to pouco por pecadores. Porm, o amor de Deus se manifestou no mundo na pessoa de Jesus. Somente por meio Dele que podemos desfrutar da real justificao. Ajustificao,emltimolugar,spodeserentendidaevividajuntamentecoma reconciliao.Sodoisladosdeumamesmamoeda.Tantooaspectolegal,com relaoleiejustia,quantooaspectorelacional,sosolucionadosemCristoJesus. Combasenisso,deacordocomosversculos9e11,podemossersalvosdairae salvospelasuavida.Jnohjuzo,nosentidodecondenao,paraosquecrem. AquelesqueentendemoEvangelhoesesubmetemaelepodemgozartambmdavida emCristo.Justificadosereconciliadospodemosviverohojedamelhorformapossvel, comafirmeesperanadequehoamanhedequemesmonaeternidadenunca 21deixaremos de ser em Cristo justificados e reconciliados com Deus? ___________________________ NOTAS BIBLIOGRFICAS BARTH, Karl. Carta aos Romanos, Novo Sculo, So Paulo, 1999. BBLIA SAGRADA ALMEIDA SCULO XXI, Vida Nova, So Paulo, 2008 BBLIA SAGRADA NOVA VERSO INTERNACIONAL, Vida, So Paulo, 2004 BRUCE, F. F. Romans in Tyndale New Testament Commentary, Eerdmans, Grand Rapids, 1983 CALVIN, John. Commentaries on the Epistle of Paul the apostle to the Romans. Eerdmans, Grand Rapids, 1947. COENEN,LothareBROWN,Colin.DicionrioInternacionaldeTeologiadoNovoTestamento (DITNT), Vida Nova, So Paulo, 2000. CRANFIELD, C. E. B. Comentrio de Romanos, Vida Nova, So Paulo, 2005. DANKER,FrederickWilliam.AGreek-EnglishLexiconoftheNewTestamentandOtherEarly Christian Literature, University of Chicago, Chicago, 2000. DUNN,JamesD.G.Romans1~8inWorldBiblicalCommentary,Vl38-A,TomasNelson, Nashville, 1988. FEE,Gordon.NewTestamentExegesis,ahandbookforstudentsanspastors.3.Ed.,WJK, Louisville, 2006. FITZMYER, Joseph A. Romans in The Anchor Bible. Doubleday, New York, 1993 GINGRICH,F.WilbereDANKER,FrederickW.LxicodoNovoTestamento,VidaNova,So Paulo, 2005 HARRISON,EverettF.RomansthroughGalatiansinTheExpositorsBibleCommentary, GAEBELEIN, Frank E. (org), Zondervan, GRand Rapids, 2006. LUTERO,Martinho.IntroduoepstolaaosRomanos.Disponvelem http://openlink.br.inter.net/gospel/prefrom.htm, acessado em 20 de junho de 2009. MURRAY,John.TheEpistletotheRomansinTheNewInternationalCommentaryontheNew 22Testament, Eedmans, 1965 NESTLE-ALAND, NOVUM TESTAMENTUM GREACE, 27. Ed., Deutsche Bibelgesellschaft. NET Bible em pdf. REGA, Loureno Stelio e BERGMANN, Johannes. Noes do grego bblico, Vida Nova, So Paulo, 2004 STTOT, John. A Cruz de Cristo, Vida, So Paulo, 2002. __________. Romanos in A Bblia fala Hoje, ABU, 2003. WOLFF, Hans Walter. Antropologia do Antigo Testamento, Hagnos, So Paulo, 2007