Exegese Mt 13.44 Final

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Euler Clayton Gomes da silva

ExegeseMateus 13.44

Exegese apresentada ao Presbitrio de Nova Iguau como requisito parcial para a licenciatura. Conforme artigo 120, alnea a, do captulo VII da CI/IPB

Nova Iguau Outubro de 2010

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SUMRIOExegese no texto de Mateus 13.44..................................................................................5 1. Introduo....................................................................................................................5 2. Texto Grego..................................................................................................................6 2.1 Texto grego e anlise morfolgica..........................................................................6 2.2.1 Traduo Idiomtica.............................................................................................7 2.2.2 Traduo literal.....................................................................................................7 2.2.3 Traduo prpria...................................................................................................7 2.3 Avaliao das modernas verses em portugus do Novo Testamento ...................8 2.3.1 Bblia Almeida Revista e Atualizada ...............................................................8 2.3.2 Avaliao da Traduo de Almeida Revista e Atualizada...............................8 2.3.3 Bblia TEB (Traduo Ecumnica Bblica)......................................................8 2.3.4 Avaliao da Traduo da Bblia TEB (Traduo Ecumnica Bblica)...........8 2.3.5 A Bblia de Jerusalm.......................................................................................9 3. Panorama do Evangelho de Mateus........................................................................10 3.1 A questo Sinptica...............................................................................................10 3.2 O Evangelho de Mateus.........................................................................................11 3.2.1 Autoria................................................................................................................11 3.2.2 Data e Lugar.......................................................................................................13 3.3 Contedo e contexto maior e menor......................................................................15 3.3.1 Contedo.........................................................................................................15 3.3.2 contexto maior................................................................................................17 3.3.3 Contexto Menor..............................................................................................19 3.4 Modelos de estruturao do captulo 13................................................................19 3.5 O ensinamento de Jesus: a recorrncia de um esquema tripartido........................20 3.5.1 Os destinatrios: em esquema bipartido:............................................................21 4. Anlise literria.........................................................................................................22 4.1 Delimitao do texto .............................................................................................22 4.2 Estrutura do Texto.................................................................................................24 4.2.1 Subdiviso do texto e diagramao do contedo............................................24 4.2.2 Esquematizao da estrutura do texto:...........................................................24 5. Nossa percope Mt 13.44...........................................................................................24 5.1 Anlise do gnero literrio....................................................................................24 5.2 O tesouro escondido (13.44)..................................................................................27 5.2.1 A imagem do tesouro......................................................................................27 5.3 Anlise do lugar vivencial (sitz im leben)...........................................................28 6. Anlise de contedo...................................................................................................29 6.1 O Reino dos cus...................................................................................................29 6.1.1 Tesouro escondido no campo, o homem acha e esconde...................................30 6.1.2 Alegria, atitude e valor.......................................................................................30 6.1.3 O elemento surpresa da parbola........................................................................31 6.2 Do smbolo realidade..........................................................................................31 7. Anlise teolgica........................................................................................................32 7.1 Reino dos Cus: uma anlise do termo..................................................................33 7.2 O Reino no Antigo Testamento.............................................................................34 7.3 O Reino no Novo Testamento...............................................................................34 Concluso:......................................................................................................................36

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Tabela de Siglas e Abreviaturas

IPB CI/IPB Ed. Org. PNIG Preb. Rev. AT

Igreja Presbiteriana do Brasil Constituio Interna/Igreja Presbiteriana do Brasil Editor Organizador Presbitrio de Nova Iguau Presbtero Reverendo Antigo Testamento

* Todas as abreviaes de livros bblicos seguem o padro da verso de Almeida Revista e Atualizada, 2 Edio, da Sociedade Bblica do Brasil.

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Exegese no texto de Mateus 13.44

1. Introduo. O presente trabalho exegtico elaborado sob o texto de Mateus captulo 13 versculo 44; visa atender uma das exigncias da Igreja Presbiteriana do Brasil [IPB] em sua Constituio Interna [CI/IPB] conforme se verifica no captulo VII, Artigo 120, alnea a para a ordenao de candidato ao Sagrado Ministrio. O Reino de Deus assunto deveras importante para o cristo, ele tema central da mensagem de Cristo e est permeado por todos os Evangelhos sinpticos. Mas, apesar da vasta gama de textos relacionados a ele, os dito de Jesus sobre o Reino sua compreenso no fcil, mesmo entre os estudiosos do assunto h divergncias sobre vrios pontos. De fato tarefa complexa buscar o entendimento do tema, mas isso que tentaremos fazer neste trabalho exegtico. Tendo sempre em vista que nosso propsito no o de esgotar a questo, nem to pouco absolutizar a opinio do autor desta exegese. Nosso desejo o de um aprendiz, que busca aprofundar seu conhecimento para entender melhor sua tarefa e, desta forma desempenh-la com mais eficcia. A percope escolhida traz-nos informaes essenciais para essa compreenso. O texto de Mateus rico em contedo e simbolismo, deixando entrever desta forma a realidade do Reino dos Cus, sua grata irrupo em Jesus, a misericrdia e o beneplcito divino ao d-lo a quem ele quer e a contrapartida humana nas exigncias do Reino que so feitas ao discpulo. Esperamos ao trmino deste trabalho compreender no apenas o texto sagrado escolhido, mas a realidade do Reino de Deus contido nele e sua aplicao a vida crist diria. No o intuito deste trabalho entrar em pormenores relativos a crtica literria alta e baixa. No far parte desta exegese uma anlise aprofundada da composio do Evangelho de Mateus, se suas fontes foram o chamado proto-marcos, a dita fonte Q (Quelle = fonte em alemo)1 e ainda para o material peculiar de Mateus a fonte M com1

N. Ex: Essa teoria busca entender as diferenas de material entre Mateus e Lucas que no esto em Marcos. Como Marcos tido como base dos outros dois evangelhos, formulou-se a hiptese de uma fonte tradicional no conhecida chamada Q.

6 a incluso dos logia. Entendemos que essa questo no essencial por sabermos que, de fato, em ltima anlise Deus o autor e nos fez chegar o texto sagrado desta forma complexa e sem respostas a todos os questionamentos levantados pelos homens, mas com respostas suficientes para estes mesmos homens conheceram a vontade de Deus para suas vidas.

2. Texto Grego2.1 Texto grego e anlise morfolgicaO , , 2. O adjetivo nominativo feminino singular: Semelhante, tal. verbo ser ou estar na terceira pessoa do singular do presente do indicativo: . artigo definido nominativo feminino singular: o, a. substantivo nominativo feminino singular: Reino, realeza, investidura real. artigo definido genitivo masculino plural, no texto tem a traduo por: dos, das. substantivo genitivo masculino plural: do cu, celeste. substantivo dativo masculino singular: coisas preciosas acumuladas, tesouro. verbo particpio perfeito, da voz passiva, dativo, masculino, terceira pessoa do singular: oculto, escondido.

preposio dativa: em, dentro de, no interior de. artigo definido dativo masculino singular: o, a. substantivo dativo masculino singular de : campo. adjetivo pronominal relativo acusativo masculino singular: o qual verbo particpio aoristo ativo nominativo masculino singular de : achar, descobrir.

substantivo nominativo masculino singular: ser humano, pessoa. verbo indicativo aoristo ativo terceira pessoa do singular: esconder conjuno coordenativa: e2

Texto do Novum Testamentum Graece Stuttgart: Deutsche Bibelgesellschaft, 1993, 27 edio.

7 preposio genitiva: de artigo definido genitivo feminino singular: a. substantivo genitivo feminino singular: alegria, regozijo. pronome genitivo masculino terceira pessoa singular: ele. verbo indicativo presente ativo terceira pessoa do singular: partir, ir embora, ir. conjuno coordenativa: e verbo presente do indicativo ativo terceira pessoa do singular de vender - pronome acusativo neutro plural: completamente, tudo pronome relativo acusativo neutro plural: que verbo presente do indicativo ativo terceira pessoa do singular: ter conjuno coordenativa: e - verbo presente do indicativo ativo terceira pessoa do singular de : comprar artigo definido acusativo masculino singular: o. substantivo acusativo masculino singular de : campo. adjetivo demonstrativo masculino singular : aquele, aquela, aquilo. :

2.2.1 Traduo IdiomticaSemelhante o Reino dos cus [a um] tesouro escondido no campo, o qual [certo] homem achou [e novamente o] escondeu, e da [imensa] alegria ele vai e vende tudo o que tem e compra aquele campo.

2.2.2 Traduo literalSemelhante o Reino dos cus, coisas preciosas oculto dentro do campo, o qual achar pessoa e de alegria ela partir e vender tudo que ter e Comprar o.campo aquele.

2.2.3 Traduo prpria

8 Semelhante o Reino dos Cus a coisas preciosas ocultas num campo, o qual algum acha e alegrando-se vai e vende tudo o que tem e compra aquele campo.

2.3 Avaliao das modernas verses em portugus do Novo Testamento

2.3.1 Bblia Almeida Revista e AtualizadaO Reino dos cus semelhante a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem, tendo-o achado, escondeu. E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.

2.3.2 Avaliao da Traduo de Almeida Revista e Atualizada A verso de Almeida acrescenta a um tesouro no texto traduzido para o portugus; Acrescenta tambm certo antes da palavra homem; Acrescenta tendo-o antes do verbo achar; Acrescenta transbordante antes de alegria; Acrescenta o artigo definido o antes do verbo ter; E omite o artigo definido oantes do substantivo campo.

2.3.3 Bblia TEB (Traduo Ecumnica Bblica)O Reino dos cus comparvel a um tesouro que estava escondido num campo e que um homem descobriu: ele o esconde novamente, e, em sua alegria, vai, pe venda tudo o que tem e compra aquele campo.

2.3.4 Avaliao da Traduo da Bblia TEB (Traduo Ecumnica Bblica) A verso da TEB acrescenta a um tesouro no texto traduzido para o portugus; Acrescenta um antes da palavra homem;

9 Acrescenta que estava antes do verbo escondido; Realiza uma substituio da preposio em, dentro de, no interior de mais artigo definido o, para a preposio em mais artigo indefinido um, fazendo a traduo para num campo; Faz a inverso do pronome masculino ele e acrescenta em sua traduo o advrbio de intensidade; Faz a substituio da preposio genitiva de mais artigo definido genitivo feminino singular a para a preposio em e acrescenta o pronome possessivo feminino sua. Acrescenta o verbo do presente do indicativo por e o artigo definido a mais a preposio a que resulta no a craseado. Faz a inverso do artigo definido o o colocando frente do pronome relativo que.

2.3.5 A Bblia de JerusalmO Reino dos cus semelhante a um tesouro escondido no campo; um homem o acha e torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo. A verso da TEB acrescenta a um tesouro no texto traduzido para o portugus; Acrescenta um antes da palavra homem; Acrescenta e torna a antes do verbo esconder; Faz a substituio da preposio genitiva de mais artigo definido genitivo feminino singular a para a preposio em mais o artigo definido feminino a e acrescenta o pronome possessivo feminino sua. Faz a inverso do artigo definido o o colocando frente do pronome relativo que. As tradues de Almeida Revista e Atualizada, Bblia TEB e Bblia de Jerusalm so boas tradues, especificamente nesta percope. Elas acrescentam e omitem alguns termos porque realmente o texto em grego um pouco truncado. Para a crtica textual3, as presentes tradues fazem bem o papel de versar o texto grego para o portugus,3

Conforme Uwe Wegner em seu livro exegese do Novo Testamento, p. 33.

10 concernente a este texto, porque aproximam o texto sagrado do leitor sem danificar sua mensagem. So acrscimos explicativos que procuram tornar melhor compreensvel o que estava implcito no texto. Portanto, no alteram, nem prejudicam o contedo do Texto Sagrado.

3. Panorama do Evangelho de Mateus3.1 A questo SinpticaNo podemos falar do Evangelho de Mateus sem tratar mesmo que superficialmente da questo sinptica (so derivados do grego / , viso de conjunto). O contedo e a disposio do material dos sinpticos esto intimamente relacionados. As atividades de Jesus so apresentadas de maneira semelhante. Vemos que os evangelhos sinpticos apresentam quase sempre a mesma seqncia de aparecimentos de Jesus: O aparecimento de Joo Batista esto unidos ao batismo e a tentao de Jesus, como tambm sua apario em pblico. At a poca de sua paixo, Jesus exerce sua atividade quase que somente na Galilia. A ida de Jesus a Jerusalm, seu aparecimento l, como tambm seu processo, so narrados com muita semelhana. Todos os trs relatos terminam com a crucifixo e a ressurreio.4 Mateus e Lucas tm material mais rico do que Marcos. Mesmo assim, os trs coincidem na descrio da atividade de Jesus. A exposio sinptica, consiste numa srie de unidades distintas de narrativas e discursos, completas em si mesmas e freqentemente colocadas uma aps a outra, independentemente de qualquer ligao espacial ou temporal. Mas, h seces homogneas, nas quais um material de contedo semelhante reunido, como, por exemplo, os trs discursos polmicos (relativos ao perdo dos pecados, ligao com pecadores e tambm sobre o jejum). A semelhana se estende at a pormenores de estilo e de linguagem.5 Uma comparao entre os sinpticos surpreendente principalmente por sua ampla semelhana no que diz respeito ao material, entre Mateus-Marcos e Lucas-Marcos.6

4 5

KMMEL, Werner. Introduo ao Novo Testamento. Ed. Paulinas, 17 edio: SP, 1982, p.41. Idem, p.42. 6 Idem, p.60.

11 No entanto, a percope em estudo neste trabalho s apresentada em Mateus, o que faz dela uma passagem especial por sua singularidade. Ele uma das peculiaridades de Mateus cujos estudiosos atribuem a uma fonte chamada M.7

3.2 O Evangelho de Mateus 3.2.1 AutoriaOs Evangelhos (to euanglion, ou na forma plural t euanglia) esta palavra significa em grego recompensa pela transmisso de boas novas8. Em sua redao os Evangelhos no trazem a sua autoria. Sendo assim teremos que fazer uma anlise de como o Evangelho da presente pesquisa recebeu o nome de Evangelho Segundo Mateus. Segundo Merrill C. Tenney, em seu livro O Novo Testamento sua origem e anlise, diz que este Evangelho tradicionalmente atribudo a Mateus Levi, cobrador de impostos ou publicano, chamado por Jesus para fazer parte dos doze discpulos 9. Uma vez que o livro no traz nenhuma indicao de seu autor recorremos tradio externa para identificao do autor.10 O mais antigo testemunho, no caso, a famosa passagem de Papias: Matthaos...Hebradi dialcto ta lgia synetcsato, hermneusen daut hos en dynats hcastos.11 Reforando o argumento da tradio Tenney faz referncia a Eusbio12 que cita Papias dizendo que o escrito de Mateus teria sido originalmente em aramaico; e tambm faz referncia a Irineu13 que afirma que Mateus escreveu um Evangelho entre os hebreus no seu prprio dialeto, enquanto Pedro e Paulo pregavam em Roma. Tenney diz que a autoria de Mateus era incontroversa sobre os seguintes argumentos: 1 Mateus era membro relativamente obscuro do grupo dos apstolos, por isso no h boa razo para o tornar autor de uma obra espria. Um falsificador para ganhar fama teria publicado em nome de um apstolo de mais renome; 2 H um consenso geral do conhecido carter de Mateus. Como publicano era letrado e estava7 8

KMMEL, Werner. Introduo ao Novo Testamento, op cit. KMMEL, Werner. Introduo ao Novo Testamento. Ed. Paulinas, 17 edio: SP, 1982, p.33. 9 TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento sua origem e anlise, p. 151. 10 KMMEL, Werner. Introduo ao Novo Testamento, p.146. 11 KMMEL, Werner apud (Eusbio de Cesaria. Histria Eclesistica III, 39,16), p.146. 12 TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento sua origem e anlise, p. 151 op cit Eusbio, Historia Eclesiae, III, xxxix, 16. 13 TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento sua origem e anlise, p. 151 op cit Irineu, Adv. Haer., III, i, 1.

12 acostumado a tomar notas, parte de sua atividade profissional; 3 A tradio de que este Evangelho fora escrito em aramaico no exclui mais tarde o fato de ter-se escrito uma edio em grego que substituiu a aramaica rapidamente14. J segundo Raymond E. Brown, em seu livro Introduo ao Novo Testamento, o ttulo segundo Mateus foi acrescentado por volta da segunda metade do sculo II 15. Este ttulo foi afirmado por Papias por volta do ano 125 quando escreveu: Mateus disps ordenadamente os ditos em lngua hebraica (= aramaico), e cada um interpretava/traduzia conforme era capaz 16. A pergunta que pertinente ao estudo : estaria Papias falando de um original semtico de Mateus do qual o texto grego foi traduzido? Da tradio onde hauriu Papias suas informaes, apenas se pode provar a correo do nome Mateus. Pode-se presumir que se trata do mesmo Matthaos encontrado em todas as listas dos doze.17 No entanto, no h comprovao de que Mateus tenha escrito em lngua semtica, sendo essa afirmao apenas uma hiptese embasada na tradio18.[...] o Mateus que possumos no traduo de nenhuma lngua semtica, mas, ao mesmo tempo em que depende do Marcos grego, foi escrito em lngua grega. Papias, alis, sem sombra de dvida se refere ao Mateus que conhecemos, embora, tampouco como as testemunhas mais tardias da igreja primitiva, que dele dependem, jamais conhecera um Mateus em lngua semtica.19

Brown responde que a maioria dos estudiosos acredita que o texto de Mateus foi escrito em grego, e, o melhor aceitar a opinio comum de que o Mateus cannico foi escrito originalmente em grego por uma testemunha no-ocular, cujo nome nos desconhecido e que dependeu de fontes como de Marcos e Q 20. Robert H. Mounce, em seu livro Mateus / Novo Comentrio Contemporneo diz que o forte argumento dos primitivos pais da igreja favorece a autoria do Evangelho, mas, que muito difcil responder com toda certeza pergunta sobre a autoria de um Evangelho que no traz registrado em si. Entretanto, Mounce se posiciona da seguinte maneira: ... A resposta mais razovel que Mateus, o apstolo, foi o responsvel pelo

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TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento sua origem e anlise, p. 151-152. BROWN, Raymond E. - Introduo ao Novo Testamento, p. 306. 16 Idem, p. 307. 17 KMMEL, Werner op cit. 18 Idem. 19 Idem. 20 Idem, p. 309.

13 Evangelho, em sua forma primitiva, e que por trs do Evangelho jaz a autoria de Mateus, o publicano, cobrador de impostos, um dos Doze 21. Portanto, v-se que h uma discordncia de pensamento quanto autoria. Precisase entender que no se podem descartar as pesquisas de aproximadamente 1900 anos antes da presente era, como a de Papias e outros autores, que dissertaram sobre o assunto. Contudo, o que se pode acrescentar em conhecimento, e o autor desta pesquisa prefere pensar desta maneira, que os manuscritos dos Evangelhos no traziam o nome do autor, e, poderia ser Mateus ou outro autor de confiana da Igreja Primitiva. O que se sabe o que a prpria Bblia nos diz: homens santos inspirados pelo Esprito Santo. Os estudiosos concordam quanto ao nome de Mateus que aparece nas listas mais antigas dos doze, no demais h teorias mil para se tratar da autoria deste livro. Mesmo o testemunho dos antigos no suficiente para comprovar a autoria do Evangelho. O fato que sabemos quem quer que tenha escrito esse livro foi inspirado por Deus, e hoje este livro nos serve como revelao e Palavra de Deus para todos os que ouvem o Esprito do Senhor soprar em seus ouvidos as Sagradas Escrituras do Evangelho de Mateus.

3.2.2 Data e LugarQuanto ao seu lugar os escritores eclesisticos situavam Mateus na Palestina, visto que a tradio mais antiga supunha que Mateus havia escrito em hebraico/aramaico, e, na controvrsia interna com os judeus22. A opinio majoritria de que o Evangelho de Mateus foi redigido na Sria, provavelmente em Antioquia23. A composio na Palestina dificilmente admissvel, visto que Mateus estava vontade num ambiente de fala grega, e escreveu para cristos de lngua grega em sua maioria de origem judaica.24 Segundo Brown a opinio majoritria data Mateus no perodo entre 70 e 100 d.C.25. Os que dizem que Mateus foi o escritor do Evangelho tendem a uma datao

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MOUNCE, Robert H. Mateus - Novo Comentrio Contemporneo, p. 10. BROWN, Raymond E. - Introduo ao Novo Testamento, p. 311. 23 Para esse argumento de lugar os autores pesquisados entram em concordncia, tais como: BROWN, Raymond E. - Introduo ao Novo Testamento, p. 311; MOUNCE, Robert H. Mateus / Novo Comentrio Contemporneo, p. 10 e TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento sua origem e anlise, p. 153. 24 KMMEL, Werner. Introduo ao Novo Testamento, p.145. 25 BROWN, Raymond E. Introduo ao Novo Testamento, p. 316.

14 anterior a 70 d.C.26. Tenney, por exemplo, data o Evangelho de Mateus entre 50 e 70 d.C.27, baseado nos testemunhos de Papias e outros escritores antigos, da tradio. Contudo, deve-se atentar para a redao de Mateus que possivelmente contraria essa datao anterior a 70 d.C.. Brown diz que existem bons argumentos contra uma datao to antiga28: 1 em Mateus 21.13, h uma omisso de todos os povos ou naes redigido por Marcos 11.17, quando se fala que o templo de Jerusalm seria chamado de casa de orao e a referncia em Mateus 22.7 ao rei que incendeia a cidade podem espelhar a destruio de Jerusalm pelos exrcitos de Roma em 70 d.C.; 2 a formulao em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo em Mateus 28.19 uma teologia trinitria desenvolvida no final do perodo neo-testamentrio; 3 na narrativa de Mateus 27.8; 28.15 observa-se que o dito at o dia de hoje revela que muito tempo havia se passado entre tais acontecimentos e a poca em que o Evangelho foi redigido; 4 provavelmente, o melhor argumento para uma data ps-70 seja a dependncia de Mateus em relao a Marcos, datado no perodo entre 68 e 73 d.C. Segundo Kmmel, no que respeita ao tempo de composio, o ponto de partida s pode ser a dependncia em relao a Marcos, estando fora de cogitao uma data anterior a cerca do ano 70 d.C. Para ele a adio da parbola das festas (22.7) certamente aponta em direo a uma data posterior ao ano 70 d.C.29 Fato que no se tem uma data exata com relao ao escrito do Evangelho segundo Mateus, porm, h argumentos que condizem que a data mais plausvel seria entre 80 e 100 d.C.30.Admitamos que Marcos e Mateus se tenham originado em regies diferentes. Mesmo assim, Mateus mostra em sua reviso de Marcos uma to clara evoluo de situao geral da igreja e da reflexo teolgica (basta ver 18.15ss e 28.19) que uma data de composio logo depois de Marcos menos provvel do que o perodo de tempo situado entre 80 e 100 d. C. Uma data situada depois do ano 100 d. C est excluda, devido ao uso que Incio fez de Mateus.31

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BROWN, Raymond E. Introduo ao Novo Testamento, p. 316. TENNEY, Merrill C. O Novo Testamento sua origem e anlise, p. 153. 28 Esses argumentos so tirados do BROWN, Raymond E. - Introduo ao Novo Testamento, p. 317. 29 KMMEL, Werner. Introduo ao Novo Testamento, p.144. 30 BROWN, Raymond E. - Introduo ao Novo Testamento, p. 317. 31 KMMEL, Werner. Introduo ao Novo Testamento, p.146.

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3.3 Contedo e contexto maior e menor3.3.1 ContedoPodemos dividir o evangelho desta forma: Prlogo (1.1- 4.16); primeira parte: Proclamao do Reino de Deus (4.17- 16.20 e do 18.1-10); segunda parte: Jesus a caminho de Jerusalm e predio da Paixo (16.21- 24.46 com exceo de 18.1-10), predio do julgamento do Filho do homem sobre o mundo (25.31-46) e concluso: narrativa da Paixo e relato da Ressurreio (26.1-28.20)32. A estrutura acima baseada numa frmula de que ap tte hercsato ho Iess ou Iesos Christs, indica com clareza o comeo de uma nova atividade de Jesus, mas a percope 26.1-28.20 deve ser considerada, ento, uma seo conclusiva independente. Entretanto, essa estrutura, como a baseada na diviso de Marcos, no pode ser isenta de ambigidades (pr-histria e preparao para a atividade de Jesus: 1.1-4-4.11. Uns preferem a diviso que trs consigo a idia de que os discursos de Jesus marcam a estrutura em cinco livros fazendo aluso Torh.33 No entanto, essa diviso tem muitos problemas que devem ser considerados, um exemplo o captulo 23 que ficaria fora da diviso e sem encaixe no livro, fora outras questes com os captulos 1-2 e 26-28.34 A idia de que Mateus quer inculcar em seus leitores uma atualizao de Moiss, trazendo em Jesus a imagem de um novo Moiss seria forar o texto em diversos ngulos, o que no seria vivel nem honesto. De maneira geral Mateus usou o material de Marcos. Ele aproveitou o esquema marcano das narraes, tomando-o como base de seu trabalho, mais extenso, quem sabe por entender que este esquema lhe serviria melhor ao que tinha em mente.35 Apesar de utilizar como fonte o material marcano, Mateus tem muitas peculiaridades, a seguir enumeraremos algumas delas: 1. Mateus no explica os usos e costumes, os preceitos e as expresses judaicos: 15.2 (abluo, das mos); 23.5 (philactria e franjas); 23.24 (coar mosquito); 23.27 (sepulcros caiados); no traduz expresses hebraicas. 2. Dispe narrativas orientado-as para uma formulao especificamente rabnica de uma questo. Por exemplo, ao invs da questo mais geral, se32 33

KMMEL, Werner. Introduo ao Novo Testamento, p.126. Idem. 34 Para maiores informaes sobre a questo ver KMMEL, Werner. Introduo ao Novo Testamento, p.126. 35 KMMEL, Werner. Introduo ao Novo Testamento, p.127.

16 lcito repudiar a prpria mulher (Mc 10.2) Mateus 19.3 traz a pergunta dos fariseus lcito repudiar a prpria mulher por qualquer motivo que seja? 3. Traz toda uma srie de ditos em apoio da validez incondicional da Lei mosaica: Aquele, portanto, que violar um s destes menores mandamentos [...] ser chamado o menor no Reino dos Cus 5.19; Portanto, fazei e observai tudo quanto (os fariseus e escribas) vos disserem, 23.3. 4. Mateus traz de preferncia os logia de Jesus que circunscrevem expressamente a atividade de Jesus a Israel: No tomeis o caminho dos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos, 10.5; Eu no fui enviado seno s ovelhas perdidas da casa de Israel 15.24ss cf. 10.6; Em verdade vos digo que no acabarei de percorrer as cidades de Israel at que venha o Filho do Homem 10.23. 5. Mateus adapta a maneira de se exprimir de Jesus s expresses prprias dos judeus, com algumas excees, a saber: 12.28; 19.24; 21.31; 31.43. Mateus sempre usa a expresso peculiar sua he Basilia tn ouranon ao invs de he Basilia to theo que se encontra exclusivamente em marcos e Lucas. A conduta exigida dos discpulos designada como dicaiosyne apenas por Mateus. A orao do Senhor colocada de forma a se aproximar do uso litrgico judaico, mediante seu endereamento, as sete peties e a formulao do pedido de perdo das ofensas 6.12, usa opheilmata ao invs de hamartas Lc 11.4. Baseando-se nestas consideraes, concluiu-se que Mateus, com auxlio da tradio por ele usada, teria retocado Marcos a partir de um ponto de vista judeu-cristo. Tendo como finalidade defender o cristianismo, tornando-o palatvel para os leitores judeu-cristos, na medida em que prova o carter messinico de Jesus. Mateus teria sido proveniente do judasmo com conhecimentos rabnicos a sua disposio. Ele fala a uma comunidade ainda muito ligada ao judasmo, interpretando a Lei de maneira judaica. Mateus apresenta Jesus como um intrprete preciso da Lei, isso pode ser observado nas chamadas controvrsias ou, histrias de conflito36. Nesses conflitos os fariseus se36

OVERMAN, J. Andrew. O Evangelho de Mateus e o judasmo formativo o mundo social da comunidade de Mateus. Ed. Loyola, trad. Ceclia C, Bartalotti: SP, 1997, p.85.

17 colocam no primeiro plano como opositores a Jesus. H tambm outro partido judaico envolvido na oposio, os escribas. Eles so mencionados junto com os fariseus em algumas passagens no que parece ser uma frmula fixa.37 Mas, apesar de todo seu aparato quanto a Lei, do conhecimento das tradies judaicas, do uso da bblia hebraica e de suas profecias, Mateus em ponto algum cr que o Evangelho seja uma boa nova de exclusividade judaica, pelo contrrio, a mensagem de Jesus vlida para todos os povos, Ide, portanto, fazei discpulos de todas as naes, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo; ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que estou convosco todos os dias at consumao do sculo. Mt 28.19-20 Uma das caractersticas do Evangelho de Mateus so as chamadas citaes de cumprimento; esse termo refere-se especificamente utilizao de uma profecia da bblia hebraica com a afirmao de que um determinado evento acontece para cumprir algo que foi previsto por um profeta. Em Mateus, mais da metade dessas citaes de cumprimento vem do livro do profeta Isaas. H pelo menos 14 citaes de cumprimento em Mateus. Essas citaes so notas explicativas do autor para esclarecer que algo aconteceu na vida e no ministrio de Jesus e que dessa maneira cumpriu algo escrito e previsto por um dos antigos profetas. A idia de que toda a vida de Jesus, at nos pormenores estava no plano predeterminado de Deus.38 Obviamente, o interesse de Mateus no est nas questes judaicas. Ele est interessado em provar que Jesus o Messias, o Filho do Deus vivo, prometido por Ele desde tempos imemoriais, e que salvar seu povo, enfatizando que esta salvao obtida atravs de Jesus na sua igreja frutificando bons frutos para o Reino de Deus.39

3.3.2 contexto maiorO contexto maior abrange todo o Evangelho de Mateus. O captulo 13 o terceiro grande sermo de Jesus. O primeiro grande sermo o chamado Sermo da Montanha registrado nos captulos 5-7, onde Jesus instrui os seus discpulos quanto ao comportamento piedoso. O segundo grande sermo est registrado no captulo 10. Fazse a nomeao dos Doze, e, onde Jesus d instrues, admoestaes e estmulos,37 38

Idem, p 119. OVERMAN, J. Andrew. O Evangelho de Mateus e o judasmo formativo o mundo social da comunidade de Mateus. Ed. Loyola, trad. Ceclia C, Bartalotti: SP, 1997, p.81. 39 KMMEL, Werner. Introduo ao Novo Testamento, p.143..

18 chamado de Sermo da Misso. E o terceiro grande sermo registrado no captulo 13 uma instruo quanto ao Reino dos cus. Portanto, a estrutura do Evangelho segundo Mateus como se segue: I. Prlogo (captulos 1-2) A. A genealogia do Rei (1. 1-17) B. O nascimento do Rei (1.18-2.23) 1- Anncio a Jos e nascimento de Jesus (1.18-25) 2- Adorao dos magos (2.1-12) 3- Do Egito chamei o meu filho (2.13-23) II. Proclamao do Reino (captulos 3-7) A. O incio do Reino de Jesus (3.1-4.11) 1- Jesus batizado por Joo (captulo 3) 2- A tentao no deserto (4.1-11) B. O anncio do Reino (4.12-25) C. O primeiro discurso: o sermo do monte (captulos 5-7) 1-As bem-aventuranas (5.1-12) 2-Interpretando a lei para o Reino (5.13-48) 3-A piedade no Reino: caridade, orao, jejum (6.1-18) 4-Um corao para o Reino (5.13-48) 5-Os padres de julgamento no Reino (captulo 7) III. As obras do Reino (captulos 8-10) A. Cura de enfermos e o chamado dos discpulos (captulo 8-9) B. O segundo discurso: a misso do Reino (captulo 10) IV. A natureza do Reino (captulos 11-13) A. A identidade de Joo e de Jesus (captulos 11-12) 1- Resposta s obras de Jesus e de Joo (captulo 11) 2- Jesus, o senhor do sbado O captulo 13 uma continuidade do discurso de Jesus quanto ao Reino dos cus. No contexto do livro, a percope uma continuidade das obras do Reino relatadas nos captulos 8-10 e seguida por narrativas e discursos quanto autoridade do Reino nos captulos 14-18.

19

3.3.3 Contexto MenorO contexto menor da percope escolhida o prprio captulo de Mateus 13. Neste texto o Senhor Jesus ensina verdades acerca do Reino. 1-9 Inicia-se o discurso de Jesus com a parbola do semeador; 10-23 Depois passa-se explicao da parbola do semeador; 24-30 Jesus profere a parbola do joio; 31-32 A parbola do gro de mostarda; 33 Parbola do fermento; 34-35 Por que Jesus falou por parbolas; 36-43 A explicao da parbola do joio; 44 A parbola do tesouro escondido; 45-46 A parbola da prola; 47-50 A parbola da rede; 51-52 Jesus proferindo acerca do escriba versado no Reino dos cus; 53-58 O captulo concludo quando Jesus prega em Nazar e rejeitado.

3.4 Modelos de estruturao do captulo 13Percope 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. Esquema Introduo ao discurso parablico Parbola do semeador Por que Jesus fala em parbolas Felizes vs que vedes Explicao da parbola do semeador Como receber o ensinamento de Jesus Parbola da semente que cresce por si s Parbola do joio Parbola do gro de mostarda Parbola do fermento Concluso sobre as parbolas Explicao da parbola do joio Parbola do tesouro Parbola da prola Parbola da rede Concluso do discurso parablico Mateus Cap. 13 13.1-3a 3b -9 10-15 16-17 18-23 24-25/ Mc 21-25/ Lc 16-18 26-29/ 24-30 31-32 33 34-35 36-43 44 45-46 47-50 51-53

20

3.5 O ensinamento de Jesus: a recorrncia de um esquema tripartidoO captulo 13 de Mateus como sobressai na tabela acima, contm estritamente, apenas parbolas. De acordo com o esquema esboado, o captulo compreende catorze percopes, enumeradas de 1 a 5 e de 8 a 16, sendo que as percopes 6 e 7 s figuram nos paralelos de Marcos e de Lucas. Dessas catorze, percopes, sete (2, 8, 9, 10, 13, 14,15) consistem em parbolas e duas (5 e 12) em explicao destas. Para o restante, tirando a introduo (1) e a concluso (16) do discurso, o captulo relata um ensinamento de Jesus em relao s parbolas (3,4 e11) 40. I. Mateus 13.1-23 A Parbola contada s multides 13.1-9 = percopes 1-2 do esquema B Razo de ser das parbolas 13.10-17 = percopes 3-4 C Interpretao reservada aos discpulos 13.18-23 = percope 5 II. Mateus 13.24-53 A Parbolas contadas s multides 13.24-33 = percopes 8-10 B Razo de ser das parbolas 13.34-35 = percope 11 C Interpretao reservada aos discpulos 13.36-53 = percopes 12-16 Se olharmos com ateno esse esquema, mencionando correspondncias reais, ele no aparece exato. Assim, seria perfeitamente indicado ver em 13.34-35 (B) o correspondente de 13.1-17 (B) e agrup-lo na mesma rubrica razo de ser das parbolas levando em conta o desenvolvimento muito desigual das duas sees e do ngulo sob o qual as parbolas so abordadas tanto de um lado quanto de outro. Enquanto B trata do motivo da pregao em parbolas, B considera esta como realizao plena das Escrituras. Mas, no fundo se trata apenas de categorias com a funo de justificar o contedo das duas sees. Se quisermos podemos levar em conta o auditrio de Jesus, como o fazem as divises A-A e C-C. A primeira (13.10-17) deve ento ser agrupada como C no ensinamento aos discpulos, enquanto a segunda (13.34-35) entra de preferncia com A no ensinamento s multides.41

40 41

GOUGUES, Michel. As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus.Ed. Loyola: SP, p.30. Idem.

21

3.5.1 Os destinatrios: em esquema bipartido:Neste captulo o evangelista menciona por quatro vezes os destinatrios do ensinamento de Jesus. E essas indicaes mostram uma ordem de alternncia entre o esquema tripartido mostrado acima e outro surgido dos destinatrios, sendo este, um esquema bipartido. Por exemplo: I. Mateus 13.1-23 A Ensinamento s multides 13.1-9 = percopes 1-2 do esquema B Ensinamentos aos discpulos 13.10-23 = percopes 3-5 II. Mateus 13.24-53 A Ensinamentos s multides 13.24-35 = percopes 8-11 B Ensinamentos aos discpulos 13.36-53 = percopes 12-16 Essa estrutura bipartida tem a vantagem de se apoiar sobre indicaes explcitas de Mateus, trs (A,B,B) das quatro sees sendo providas de uma introduo prpria e a seo A de uma sumrio final (13.34-35), desempenhando um papel equivalente. Podemos observar que as sees A e B so trs parbolas introduzidas da mesma maneira.42 Podemos chegar a mais estruturas de acordo com o critrio usado. M exemplo que se designarmos A e A as parbolas munidas de uma explicao e p B e B as parbolas gmeas, obtemos, seguindo a ordem dos elementos, um esquema bastante harmonioso que responde sem dvida a uma inteno do evangelista43. A-A A B-B A B-B A-A Semeador e explicao Joio Gro de mostarda-fermento Explicao do joio Tesouro e prola Rede e explicao

Podemos ainda encontrar estruturas quismicas (onde dois elementos A e A correspondem a um plo central B) no captulo como vemos no exemplo das parbolas de 13.24-28 e 13.28b-30, neste esquema. Cena I: MT 13.24-28a = Situao A Semente do trigo (24)/ semente do joio (25) B Crescimento do trigo (26a)/ Crescimento do joio (26b)42 43

Idem, p.32. Idem, p.33.

22 C Semente do trigo (27) semente do joio (28) Cena II: MT 13.28b-30 = Soluo A Afastada: Arrancar o joio (28b)/ semente do joio (29) B Conservada (agora): Deixar crescer juntos (30a) C Conservada (no fim): Arrancar o joio (30b) / Recolher o trigo (30c) Essas estruturas so apenas exemplos de formas encontradas no captulo 13 de Mateus que servem como ajuda na compreenso do mesmo, no nosso objetivo analisar todo o captulo, por isso, apenas exemplificamos tipos de estruturas como maneira de tornar a anlise de nossa percope melhor compreensvel.

4. Anlise literria4.1 Delimitao do textoUm texto se caracteriza por ter comeo, meio e fim. Delimitar um texto, portanto, significa estabelecer os limites superiores e inferiores, ou seja, onde ele comea e onde ele termina44. O resultado desta delimitao se chama percope. Em termos de anlise textual podemos classificar a percope como uma trama de revelao 45, neste tipo de trama a questo do conhecimento central. Parti-se da ignorncia inicial (O Reino dos cus semelhante a um tesouro oculto no campo...), ao conhecimento final (E, transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo.). A parbola do tesouro, que cabe apenas em um versculo, comea com uma frmula tpica: O Reino dos Cus semelhante.... A mesma frmula repetida no versculo seguinte (13.45), para introduzir a parbola da prola, e a encontraremos novamente no v. 47, no incio da parbola da rede. Portanto, trs parbolas consecutivas, todas bem divididas46. H critrios de delimitao tanto superiores, quanto inferiores47. Elementos que indicam um novo incio:44

SILVA, Cssio Murilo Dias da. Metodologia de exegese bblica. Ed. Paulinas, 2 edio 2003: SP, p.69. 45 Simian-Yofre, Horcio. Metodologia do Antigo Testamento. Ed. Loyola, trad. Joo R. Costa.: SP, 2000, p 136. 46 Gougues, Michel. As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus das origens atualidade. Ed. Loyola, trad. Odila A. de Queiroz: SP, 2004, p.56. 47 SILVA, Cssio Murilo Dias da, op cit.

23 Tempo e espao Actantes ou personagens Argumento Anncio de tema Ttulo Introduo ao discurso Mudana de estilo Elementos que indicam o trmino: Actantes ou personagens Espao Tempo Ao ou funo do tipo partida Ao ou funo terminal Ruptura de dilogo Comentrio Sumrio No caso de nossa percope temos as seguintes caractersticas delimitatrias: 1 A percope anterior uma explicao da parbola do joio e tem uma concluso (versculo 43); h uma frmula de trmino quem tem ouvidos [para ouvir], oua. 2 Apesar da parbola do tesouro no marcar uma delimitao natural ao iniciar como as outras parbolas do captulo 13 outra parbola lhes props tem sua delimitao no uso de O (omoa semelhante, tal), marcando o incio de outra mensagem atravs de parbola; utilizando o critrio de introduo ao discurso demonstrando assim, o incio de outro texto. 3 O texto escolhido um pargrafo completo, e, apesar da mensagem posterior (versculos 45-46) ter a mesma conotao, h uma mudana de personagem (critrio de actantes e personagens), quando estes mudam indicam trmino da seo. No v. 44 Jesus compara o Reino a um tesouro e nos vv. 45-46 compara o Reino a um mercador que procura prolas48. Por estas razes o texto deve ter como delimitao somente o versculo 44.

48

KISTEMAKER, Simon J. As Parbolas de Jesus, p. 74.

24

4.2 Estrutura do Texto

4.2.1 Subdiviso do texto e diagramao do contedoO texto pode ser subdividido em partes, que podem ser diferenciadas pela mudana de ao e atitude por parte do ator: Primeira parte: v. 44a Jesus inicia seu discurso com o adjetivo O, comparando o Reino dos cus a um tesouro oculto no campo, o qual certo homem acha e esconde novamente. Segunda parte: v. 44b A parte b do versculo 44 narra a alegria do homem ao encontrar o tesouro. Terceira parte: v. 44c A parte c do versculo 44 mostra a atitude do homem que deseja ardentemente se apossar do tesouro. O homem vende tudo e compra o campo.

4.2.2 Esquematizao da estrutura do texto:I A comparao que Jesus faz do Reino a um tesouro (a) II O tesouro encontrado produz alegria (b) III E motiva o homem a desprender-se de tudo para possuir o tesouro (c)

5. Nossa percope Mt 13.445.1 Anlise do gnero literrioA percope um discurso de Jesus a cerca do Reino dos cus no gnero literrio chamado de parbola. As parbolas remontam muitas vezes a um provrbio (Lucas 4.23), a um smbolo ou imagem no verbal (Hebreus 9.9), a um ditado profundo ou obscuro (Mateus 13.35), a algum tipo de comparao sem ornamentos de um enredo (Mateus 15)49. Um dos fatores constitutivos de uma parbola consiste num elemento49

CARSON, D. A. Deus Conosco, p. 109-110.

25 inesperado, fora dos padres, at mesmo uma extravagncia. No nosso caso o fato de ter de vender tudo a marca da extravagncia.50 A parbola a qual estamos estudando tem o estilo de comparao. Compara o Reino dos cus a um tesouro. O Reino dos Cus semelhante a um tesouro (v.44)...; a um negociante (v.45)...; a uma rede (v.47): o fato de nossas duas parbolas, do mesmo modo que a da rede, sejam introduzidas exatamente da mesma maneira j sugere uma aproximao arquitetada pelo evangelista. Esta ligao ainda fortalecida pela presena da frmula O Reino dos cus ainda semelhante...51

de fato so tantas as similaridades entre as

parbolas do tesouro e da prola que importante estud-las juntas.52 Elas so comumente chamadas de parbolas gmeas. H o mesmo aspecto nas parbolas do gro de mostarda e do fermento. Em nossa percope podemos ver que ela uma atenuao do discurso duro da parbola anterior (joio) que termina com uma evocao ameaadora do julgamento dos pecadores. Situada na seqncia a parbola do tesouro e da prola uma face positiva e complementar do Reino. Podemos perceber que h um esquema de perspectiva ameaadora e consoladora no que concerne ao Reino. Diante disto podemos montar o seguinte quadro53: A-A (Joio e explicao) B-B (mostarda e fermento) B-B (tesouro e prola) A-A (rede e explicao) O Reino escatolgico O Reino presente O Reino presente O Reino escatolgico Perspectiva ameaadora Perspectiva consoladora Perspectiva consoladora Perspectiva ameaadora

Talvez as trs parbolas tenham sido reunidas como parbolas do Reino hoje, e a ltima parbola ganha um aspecto escatolgico. Outra estrutura vista nesta percope diz respeito tambm com a parbola da prola. Como j falamos em parbolas gmeas, podemos perceber nelas outro esquema. H uma estrutura comum que envolve dois pares antitticos. De um lado e de outro h a descoberta de um bem precioso que leva a vender tudo, a fim de efetuarr sua aquisio. 44a O Reino dos Cus ( 45a O Reino dos Cus ( )50 51

)

GOUGUES, Michel. As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus, p. 65. GOUGUES, Michel. As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus, op cit. 52 Idem. 53 Idem, p.57.

26 semelhante (O ) a um tesouro escondido campo que um homem () ao achar () o escondeu 44b e, na sua () E vende tudo o que ( ) E compra () aquele campo De um lado e de outro, se contarmos os verbos que se referem aos dois personagens, teremos cinco passos. Desses cinco, quatro (encontrar, ir-se, vender, comprar) so comuns aos dois. Muito mais, como os paralelos dos textos o ressalta bem, as afinidades se estendem at ao vocabulrio e a formulao, muito particular, principalmente na ltima parte das parbolas gmeas (13.44b;13.46). Se observarmos mais de perto, veremos que elas se articulam em torno de um duplo par antittico. Podemos colocar dessa forma: primeiramente temos o par escondido-achado (13.44), E de outro lado o par procurar-encontrar (13.45-46), depois de um lado e de outro, a mesma anttese vender-comprar (13.44b; 46b). A primeira parte do quadro acima descreve a descoberta (antteses escondido-encontrado e procurar-encontrar), e a segunda a reao suscitada por ela (mesma anttese vender-comprar)54. Deste modo podemos dividir as aes em duas: descoberta e reao. Neste esquema temos a primeira frase da percope (v.44a), que narra a descoberta, completa em si mesma com verbo no passado; a reao vem logo aps (v.44b) do personagem em seguida descrita em trs verbos no presente (ele vai..., e vende...,e compra). Percebemos tambm que tanto o verbo que expressa descoberta (tendo achado) seguido imediatamente pelo verbo ir-se (vai e vende). Esse verbo vai marcar a mudana de lugar e sugere uma mudana de cena. Particularmente em Mateus esse verbo ( ) marca regularmente, a passagem de uma etapa para outra ou, se quisermos, o alegria, semelhante (O ) no a um homem (i) que anda em busca de prolas finas 46 ao achar () uma perola de grande valor vai tendo-se ido ( ) vendeu tudo o que possua

possui (

in)

e a comprou ( )

54

GOUGUES, Michel. As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus, op cit.

27 passo inicial de um novo engajamento. Na parbola esse verbo garante a passagem de uma anttese outra. Portanto, de um passo fundamental (descoberta) a outro (reao).55 Tesouro (13.44) Prola (13.45-46)56 Anttese I Descoberta Escondido-achado 13.44a Procura-encontrar 13.45-46a Reao Transio: ele vai () Transio: tendo-se ido ( ) Anttese (13.44b) II: comprar-vender Anttese II: vender-comprar (13.46b

5.2 O tesouro escondido (13.44)Vimos que ambas comeam com a mesma frmula introdutria O Reino dos Cus semelhante...). Cr-se que Mateus tenha recebido essa frmula por tradio 57, a essa tradio ele teria colocado algo seu, substituindo Reino de Deus por Reino dos Cus, que na verdade so expresses equivalentes. Isto posto, podemos analisar a imagem do tesouro.

5.2.1 A imagem do tesouroA imagem do tesouro, nos Evangelhos, bastante costumeira. assim que a encontramos , nos trs sinpticos, no episdio do apelo do jovem rico (Mc 10.21). O mais impressionante que nesta parbola ela se apresenta como algo que motiva a renuncia de tudo em favor dele vai vende tudo o que tens e ters um tesouro nos Cus diz Jesus ao jovem; em nossa percope diz assim: vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo. 58 No h apenas ocorrncia de palavras iguais, mas tambm as idias se correspondem. A imagem do tesouro volta ainda em outro lugar: No ajunteis para vs55 56

Idem. Idem. 57 Elas so encontradas ainda no incio de duas parbolas prprias de Mateus, em 13.47 (a rede) e 20.1 (o contrato dos trabalhadores). 58 GOUGUES, Michel. As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus, p.61.

28 tesouros na terra [...] mas ajunteis tesouros nos Cus. 59 Uma sentena de sabedoria nos ajuda a esclarecer a dimenso de nossa percope, Pois, onde est o seu tesouro, a est o teu corao, Mt 6.21. O tesouro que mobiliza o corao, o objeto das afeies, o que faz viver e, portanto, vale a pena poder investir a fundo para possu-lo, como far o personagem da parbola.60 Aqui como em outras parbolas do mesmo captulo, o Reino comparado no aos personagens, mas s realidades que fazem os personagens agir. Nas parbolas do joio e da prola mencionam primeiramente a ao humana: o semeador comeou a semear e o negociante, a procurar.61 Na parbola do tesouro, a ateno dirigida de imediato para o tesouro escondido, a existncia dele ignorada por quem ir descobri-lo, no entanto, ele o encontra sem sequer precisar procurar. Este lhe vem por pura graa, sem que ele esperasse ou imaginasse algo semelhante. Podemos sublinhar o carter gratuito da descoberta e a sorte inaudita do descobridor.62

5.3 Anlise do lugar vivencial (sitz im leben)A parbola mostra que Jesus estava bem interado no contexto social de seu pblico. Devido s guerras, invases e dificuldade de se achar um lugar seguro onde depositar valores, por causa da fragilidade das casas, que ofereciam acesso fcil a ladres o prprio Jesus, no Sermo da Montanha, ensinou que no se deve acumular tesouros onde ladres possam roubar (cf. Mateus 6.19) os chefes de famlia recorriam a mtodos de enterrar suas preciosidades63. Segundo Mounce, esta prtica era to usada naquele tempo, que nos dias de hoje esto sendo desenterrados objetos de valor na Palestina64. Portanto, enterrar suas riquezas no campo, parecia aos homens da poca, mais seguro. Uma cultura onde, na ausncia de bancos, era comum a prtica de esconder-se na terra bens dos quais se queria garantir a segurana. Flvio Josefo diz que: uma quantidade considervel foi

59 60

Idem. Idem. 61 Idem. 62 GOUGUES, Michel. As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus, op cit. 63 Esta interpretao comum a HENDRIKSEN, William Mateus: Comentrio do Novo Testamento, volume 2, p. 104; e, KISTEMAKER, Simon J. As Parbolas de Jesus, p. 74. 64 MOUNCE, Robert H. Mateus - Novo Comentrio Contemporneo, p. 144.

29 encontrada (de tesouros, enterrada na cidade) pelos romanos, por ocasio da tomada de Jerusalm em 70 d.C. Ouro, prata e os outros bens preciosos que os judeus possuam.65 Jesus entra na situao vivencial daquele povo atravs de uma parbola, e mostra os valores do Reino Deus. Ele usa o simbolismo do tesouro escondido para salientar a preciosidade do Reino e seu dom gratuito. O Evangelho de Mateus est intimamente ligado a comunidade com uma identidade judaica muito forte, no que se possa excluir que haja no meio gentios, se h so bem poucos. Esta a situao vivencial de Mateus, um contexto social de judeucristos s voltas com opositores de partidos judaicos (fariseus e escribas). Por isso o Jesus de Mateus um excelente intrprete da Lei para marcar a posio do evangelista de que a Lei bno de Deus e Jesus seu maior cumpridor. nesse contexto social de um povo em meio a colonizao romana onde a religio serve como fator unificador e de definio de identidade que nasce este livro to rico e to peculiar nos mostrando um messias cheio de autoridade e fiel as tradies de seu povo sem contudo, abrir mo da obedincia a seu Pai.

6. Anlise de contedo

6.1 O Reino dos cusReino de Deus e Reino dos Cus so termos equivalentes, ou seja, significam a mesma coisa. Mateus tem preferncia por Reino dos Cus. Este reino o tema central da mensagem de Jesus, a partir de sua encarnao que a ecloso deste Reino acontece. Joo o Batista tambm em sua mensagem apregoava que o Reino de Deus estava prximo, mensagem que o prprio Jesus deu continuidade.66 Esse Reino precisa ser pregado a toda a criatura. Este tema central da mensagem de Jesus nesta parbola s relatado desta forma em Mateus e 37 vezes67. Nos outros evangelhos sinticos e em textos bblicos vo tratar desta temtica como Reino de Deus, forma usada por Mateus apenas 5 vezes68.

65 66

GOUGUES, Michel apud (Flvio Josefo, Guerra dos Judeus, VII, 114-115), p.61. DOUGLAS, J.D. O Novo dicionrio da Bblia vol. II. Ed. Vida Nova, trad. Joo Bentes: SP, 1984, p. 1383. 67 RIENECKER, Fritz Evangelho de Mateus - Comentrio Esperana, p. 59. 68 RIENECKER, Fritz Evangelho de Mateus - Comentrio Esperana, p. 59.

30 Tecnicamente no h diferena entre um termo e outro. Ambos falam da mesma coisa. Mateus utiliza a expresso Reino dos cus e evita a expresso Reino de Deus em reverncia ao nome de Deus69.

6.1.1 Tesouro escondido no campo, o homem acha e escondeDescoberto o tesouro, o homem apressa-se em escond-lo. Este comportamento tem criado divergncias entre os exegetas. Uns acham que seria ilegal ele esconder o tesouro que foi achado na terra de outrem70, Uns tentaram inocentar nosso personagem ao reivindicar o direito rabnico que diz: s o proprietrio pode desbloquear o tesouro escondido. Outros ainda acham que por ser um trabalhador modesto trapaceou ao esconder o tesouro para enriquecer e mudar sua condio de vida. Mounce diz que o homem em questo era aparentemente um peo de fazenda, sem dvida pobre. Trabalhava no campo pertencente a outrem, quando topou com um tesouro outrem72. Segundo Hendriksen o homem da parbola poderia ser um arrendatrio73. Na verdade, a parbola no nos fornece quaisquer informaes que possam corroborar tais conjecturas. O que podemos dizer que este homem no proprietrio desta terra, no entanto, tudo far para s-lo. Sua atitude espontnea no faz meno a nenhuma deliberao - age como se fosse normal agir assim. Sua inteno garantir a manuteno e conservao de sua descoberta. O Reino comparado a este tesouro que o homem quer garantir pra si.71

.

Hendriksen diz que no se sabe com que direito o homem estava cavando no campo de

6.1.2 Alegria, atitude e valorEm seguida podemos ver que a atitude de esconder seguida de um sentimento, o de alegria (... transbordante de alegria, vai, vende tudo o que tem e compra aquele campo). Essa alegria havia sido mencionada antes na parbola do semeador, e ela identificada do homem que ouve a Palavra e a recebe imediatamente com alegria Mt 13.20.69

Concordam com esta interpretao: RIENECKER, Fritz Evangelho de Mateus / Comentrio Esperana, p. 59; MOUNCE, Robert H. Mateus -Novo Comentrio Contemporneo, p. 144; 70 Idem, p.62. 71 MOUNCE, Robert H. Mateus Novo Comentrio Contemporneo, p. 144. 72 HENDRIKSEN, William Mateus Comentrio do Novo Testamento volume 2, p. 104. 73 Idem.

31 A parbola deixa claro que para se ter esse tesouro, preciso antes abrir mo do que se tem, para de fato obter o bem mais precioso. Na parbola em questo vemos que o personagem precisa dispor de tudo o que tem, toda sua fortuna. Uma apropriao que exige uma total desapropriao. O texto coloca em relevo a atitude de vender tudo o que se possui, mas esta no pode ser vista sem a motivao para tal. O carter nico do tesouro faz com que o personagem faa tudo para adquiri-lo. Seu valor inestimvel para quem o encontra (o homem) a ponto de se consentir em se despojar de tudo a fim de obter o tesouro. O investimento do sujeito de acordo com o valor do objeto. A amplido da exigncia decorre da amplido do dom.

6.1.3 O elemento surpresa da parbolaTemos tambm um elemento de surpresa na parbola. Este no consiste no fato de ter de esconder ou enterrar seu achado, como vimos isso era o costume da poca, isso seria algo normal, nem a alegria da descoberta algo fora do padro. O que nos chama a ateno, e que destoa e causa admirao, a exigncia de se vender tudo para adquirir o tesouro. O tesouro poderia ser descoberto por algum de posses, que no precisasse dispor de sua fortuna.74 Mas, o evangelista quer salientar o sacrifcio que se tem de fazer para adquirir o tesouro. O que nos leva novamente a motivao do descobridor em dispor de seus bens. O que ele encontrou no tem preo, vale o sacrifcio, sua alegria decorre do sentimento de quem foi agraciado, por isso, a motivao encontra eco na ao.

6.2 Do smbolo realidadeComo vimos Mateus usa de parbolas gmeas como supracitado para evidenciar a realidade do Reino dos Cus. Esta realidade que une as duas parbolas, tanto uma, como outra querem sublinhar a ocasio nica que a vinda do Reino de Deus representa. A interveno deste ltimo sobrevm como sorte extraordinria que s se apresenta uma vez na vida de uma pessoa e por isso preciso agarrar a oportunidade. Por isso os personagens no hesitam e fazer tudo para agarra chance que tiveram. Podemos

74

Idem, p.66.

32 observar que oferta do tesouro segue-se a contrapartida humana. Isso outro acento do texto, apesar da descoberta ser um dom h exigncias para a obteno dele. O texto analisado pode ser visto em conjunto com a parbola da prola como outrora foi dito, depois de nos debruar sobre a percope podemos expor algo do pensamento de Mateus. Podemos ver em primeiro plo: a descoberta do tesouro corresponde boa nova vinda de Deus, interveno de Deus, iniciativa que ele manifestou no momento decisivo em que o tempo chegou a sua plenitude: O tempo se cumpriu e o Reino de Deus est prximo Mc 1.15. J a reao dos personagens, colocada em relevo pelas parbolas representam o segundo plo: ... convertei-vos e crede no evangelho Mc 1.15b.75

7. Anlise teolgicaA teologia deste texto est intimamente ligada ao valor do Reino. A descoberta do tesouro evidencia o carter gratuito do tesouro, ele foi encontrado sem se esperar, ou mesmo por acaso. a graa divina que providencia uma forma de chegar at o ser humano. Como diz So Paulo: Porque pela graa sois salvos, mediante a f; e isto no vem de vs; dom de Deus; no de obras, para que ningum se glorie. Ef 2.8-9. Segundo Mounce, ... O Reino dos cus tem valor supremo. Quando ns o encontramos, abrimos mo com mxima alegria de tudo aquilo que faz concorrncia com o Reino, em nossa vida, e desse Reino fazemos nossa maior possesso 76. Hendriksen comenta a respeito desta idia da seguinte maneira:A essncia da parbola consiste em que o Reino do cu, o alegre reconhecimento do governo de Deus no corao e vida, inclusive a salvao para o presente e para o futuro, para a alma e finalmente para o corpo, o grande privilgio de assim ser transformado em bno para outros para a glria de Deus, tudo isso um tesouro to inestimavelmente precioso que aquele que o obtm se predispe a entregar por ele tudo quanto possa interferir em sua obteno. o tesouro supremo, porque satisfaz plenamente as necessidades do corao. Ele produz paz e satisfao interior (Atos 7.54-60).

Portanto, o Reino dos cus a preciosidade da vida daquele que o encontra. E esse encontrar s possvel porque o prprio Deus se deixa ser encontrado. Jeremias 29.1114 diz que o Senhor tem pensamento de paz para com o seu povo para dar o que75

Notemos que em Mateus a ordem do apelo e da proclamao est invertida: Convertei-vos, porque est prximo o Reino de Deus Mt 4.17b. 76 MOUNCE, Robert H. Mateus - Novo Comentrio Contemporneo, p. 145.

33 desejarem. Por isso que o povo invocaria o nome do Senhor e o Senhor os ouviria, se buscassem de todo o corao. Ento o texto passa a ter um paralelo com a interpretao da parbola quando diz na ntegra: Serei achado de vs, diz o Senhor, e farei mudar a vossa sorte; congregar-vos-ei de todas as naes e de todos os lugares para onde vos lancei, diz o Senhor, e tornarei a trazer-vos ao lugar donde vos mandei para o exlio 77. O que se v neste paralelo que o homem s encontra a preciosidade do Reino dos cus porque o prprio Deus d a oportunidade do homem encontr-lo. E, Deus, por sua inefvel graa, antigamente havia falado atravs dos profetas, mas agora se revelou pelo prprio Filho, herdeiro de todas as coisas78. Conforme Jesus afirma em Lucas 17.21: O Reino de Deus est no meio de vs. Desta forma, Deus nos deu a conhecer o seu Reino e no-lo revelou atravs do Filho Unignito, pelo qual, veio ser o mediador de toda a criao79.

7.1 Reino dos Cus: uma anlise do termoEste um termo freqentemente utilizado no Novo Testamento, principalmente nos Evangelhos. Quando Jesus profere palavras acerca do Reino, no est se referindo a uma nova doutrina, antes est se reportando ao Antigo Testamento, onde o termo foi amplamente utilizado. Deve-se notar que o termo hebraico pode ser traduzido por duas palavras na lngua portuguesa: Reino e reinado. Reino remete a um territrio, enquanto reinado indica uma esfera superior, que no est presa ao espao e tempo, porque o Senhor reina por todo o tempo, sem incio e sem fim, de eternidade a eternidade80. O termo trata-se sempre de exprimir fundamentalmente a idia da atividade concreta de Deus como Rei, ou, simplesmente, que Deus Rei. Deste modo o conceito deve ser entendido sempre numa grandeza ao mesmo tempo espacial e dinmica.81 Portanto vejamos quais so as implicaes do Reino no Antigo e Novo Testamento.

77 78

Jeremias 29.14. Hebreus 1.1-2. 79 Romanos 8.18-25. 80 Salmo 90.2. 81 NEUTZLING, Incio, S.J. O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola, reviso Jonas P. dos Santos: SP, 1986, p.33.

34

7.2 O Reino no Antigo TestamentoA teologia do Reino no Antigo Testamento uma reflexo sobre o Deus amigo particular de Israel e guerreiro que entra em luta para salv-lo, uma concepo antiga do rei: salvador82. Tal idia se consolida na arca que o trono de YHWH. O ttulo de rei ser dado a Deus publicamente por um profeta de Jerusalm, Isaas 83. Isaas reveste o termo de um significado especial. O reinado de YHWH tem dimenso universal: Toda a terra est cheira da sua glria 84. Este tema trabalhado e afirmado pelos Salmos do Reino, ou Senhor-Rei85-86. O termo no AT segundo a pesquisa que a noo de Reinado de Deus no frequente. O que se encontra, ao contrrio, a meno de Jav-Rei (Melek) e do exerccio de seu reinado. O tema parece ter as suas origens em Jerusalm, no tempo em que se introduziu a monarquia, e principalmente a monarquia davdica. Pouco a pouco o uso do termo foi se aclimatando e sendo desenvolvido no culto pblico e penetrando a piedade privada87. O tema de um Reino divino desenvolvido mais tarde. O trono pertence a Deus (Dn 3.54) e o Reino dado aos Santos do Altssimo (Dn 7.14, 18, 22, 27). O Reino de YHWH universal e eterno (Dn 4.3; Sl 103.19; 145.11-13)88. Ainda no AT podemos verificar duas vises de Reino de Deus: uma escatolgica a se realizar finalmente no alm celestial e, outra a se estabelecer aqui embaixo, sobre uma terra radicalmente transformada. Ao lado dessa compreenso escatolgica do Reino de Deus no AT, descobre-se tambm a presena de uma teocrtica ou hierocrtica.89

7.3 O Reino no Novo Testamento

82 83

MONLOUBOU, L. e DU BUIT, F. M. Dicionrio Bblico Universal, p. 677. Idem. 84 Isaas 6.3. 85 MONLOUBOU, L. e DU BUIT, F. M. Dicionrio Bblico Universal, loc cit. 86 Salmo 47; 93; 97-99. 87 NEUTZLING, Incio, S.J. O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola, reviso Jonas P. dos Santos: SP, 1986, p.33. 88 MONLOUBOU, L. e DU BUIT, F. M. Dicionrio Bblico Universal, loc cit. 89 NEUTZLING, Incio, S.J. O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola, reviso Jonas P. dos Santos: SP, 1986, p.35.

35 A expresso Reino de Deus ou Reino dos cus usada cerca de 120 vezes s nos Evangelhos sinticos. No Evangelho segundo Joo aparece apenas 5 vezes, nos Atos dos Apstolos 8 vezes, as Epstolas repetem o termo 20 vezes e o Apocalipse 10 vezes. O Reino de Deus usado, mais freqentemente, nos lbios de Jesus, principalmente nos Evangelhos sinticos quase sempre co uma conotao escatolgica. Esse aspecto escatolgico e no-escatolgico fortalece a figura do profeta escatolgico em Jesus. Portanto, o que reflete o Reino de Deus no Novo testamento? 1. Reflete uma realidade escatolgica: est marcado na histria da humanidade e sua plenitude vir com a vinda do Filho do homem (Mateus 16.28; Marcos 9.1; Lucas 9.27). 2. Reflete uma realidade presente: Nos Evangelhos sinpticos encontramos um conjunto de afirmaes sobre a irrupo deste Reino no presente preciso. Desta forma a realidade de um Reino que vir no est dissociada da novidade presente da que Jesus anuncia.90

3. Reflete sua consumao na vida e obra de Jesus: Jesus no fala apenas de sinais que apontam para um Reino futuro, mas da realidade plenamente presente deste Reino. O novo mundo prometido por Deus no mais uma promessa, j tornou-se realidade. E no se reduz a algo meramente interior, ele a presena do poder de Deus.91 4. Reflete que em Jesus o Reino inaugurado: A vinda do Reino de Deus equivale a sua prpria vinda, ou seja, ao encanar Jesus tornou-se a presena de Deus no mundo, trazendo desta forma a inaugurao desta realidade do Reino. A vinda de Jesus manifestao da soberania de Deus no mundo. Em Jesus o Reino irrompeu j agora. Joo Batista diz que vir algum maior do que ele. Acentuando a diferena qualitativa de seu anncio do Reino, e a presena do Reino em Jesus, em Jesus Deus entrou em ao92, o Reino est aqui, diante dele tudo fica relativizado como vimos em nossa percope.

90 91

Idem, p. 44. Idem, p.45. 92 NEUTZLING, Incio, S.J. O Reino de Deus e os pobres. Ed. Loyola, reviso Jonas P. dos Santos: SP, 1986, p.47.

36

Concluso:A parbola que analisamos tem como tema central evocar a mente de quem a ouviu, ou de quem a l no nosso caso, pelo menos duas lies: a da gratuidade (graa) e a da exigncia (contrapartida humana). Se algum descobre um tesouro natural que queria adquiri-lo comprando o campo onde se encontra enterrado. Esse fato seria banal, ou mesmo inspido. A gratuidade da descoberta no anula a exigncia, ela poderia apenas enfatizar a questo da bno do achado. Mas, a parbola no pra nessa questo, ela vai adiante e nos mostra algo singular, ele tem de vender tudo para ter o tesouro. Ter esse tesouro impele o personagem ao extremo, ao radicalismo do investimento de todos os seus bens num s bem. necessrio investir tudo o que se possui. Mateus quer clarificar a compreenso do Reino de Deus: o acolhimento do Reino de Deus no poderia se acomodar com meias medidas. Fala da radicalidade de pertencer ao Reino de Deus. Entende que Cristo exige tudo de todos os que pertencem ao Reino. C.S Lewis (1898-1963) diz assim da exigncia de Cristo:D-me tudo. No quero tanto do seu tempo, tanto do seu dinheiro e tanto do seu trabalho; a voc que eu quero. No vim atormentar o seu eu natural, eu vim mat-lo. As meias

37medidas no adiantam. No quero cortar o ramo aqui e acol, quero abater a rvore toda. No quero tratar do dente, nem por coroa, nem fazer obturao; quero extra-lo. Ceda seu eu natural por completo, com todos os desejos que voc julga serem inocentes, e tambm os que voc julga maus; no deixe nada sem me ceder. Dar-lhe-ei em troca um outro eu. Na verdade, dar-lhe-ei a mim mesmo; a minha prpria vontade tonar-se- a sua.93

Interessante perceber que apesar da exigncia to expressiva, o descobridor do tesouro no hesita em cumprir. um investimento, alto, custoso. A parbola no d margem para a reflexo: O que vou fazer...? Vale mesmo investir? H, o preo muito alto, posso barganhar? No! A parbola passa direto da descoberta para a ao extrema do desapego aos bens. A desistncia total de tudo o que no leva ao tesouro evidente na cabea do descobridor.94 Observamos que o que move o descobridor a graa divina, a graa irresistvel, no possvel abrir mo desse tesouro, no possvel lhe esquecer, no lutar por ele. John Piper diz assim sobre a graa irresistvel:A doutrina da graa irresistvel significa que o Esprito Santo pode sobrepujar toda a resistncia humana e tornar sua influncia irresistvel. [...] A doutrina da graa irresistvel significa que Deus soberano para sobrepujar toda resistncia quando quiser. Quando Deus empreende cumprir seu propsito soberano, ningum pode resisti-lo com sucesso. 95

Por isso o descobridor no se importa com o custo do tesouro, vende tudo para obt-lo. Os cnones de Dort (1619) diro no artigo 8 do captulo III:Tantos quantos so chamados pelo Evangelho, o so seriamente, pois Deus revela sria e sinceramente na sua Palavra o que lhe aceitvel, ou seja, que aqueles que so chamados devem responder ao convite [...].96

Ao encontrar o tesouro a ao disposta na parbola a de cumprir a exigncia para obt-lo. O Reino de Deus torna-se para quem o acolhe, uma prioridade absoluta; para ele preciso estar pronto para todos os investimentos, mesmo os mais custosos. 97 Ao aderir ao Reino atravs do chamado da graa, os chamados devem mesmo passar a frente de suas afeies humanas mais caras, quer se refiram a bens ou a pessoas. Isso uma exigncia do chamado do Reino. Dietrich Bonhoeffer corrobora tal entendimento:

93 94

LEWIS, C.S. Cristianismo puro e simples. ABU Editora - 5 edio, 1997, So Paulo, p. 112. GOUGUES, Michel. As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus, op cit. 95 http://www.monergismo.com/textos/graca_irresistivel/graca-irresistivel_piper.pdf, acessado no dia 26/10/2010. 96 BEEKE, Joel R. e Ferguson, Sinclair B. Harmonia das confisses reformadas So Paulo: Cultura Crist, 2006, p.84. 97 GOUGUES, Michel. As parbolas de Jesus em Marcos e Mateus, op cit.

38No chamado de Jesus encontra-se j realizado o rompimento com as relaes naturais em que o homem vive. No o discpulo que provoca esse rompimento, mas o prprio Cristo j o concretizou ao pronunciar o chamado. Cristo libertou o homem de sua relao com o mundo e o transportou para uma relao imediata consigo mesmo. 98

Calvino dir:Pertencemos a Deus; portanto, deixemos de lado nossa convenincia e vivamos para Ele, permitindo que Sua sabedoria guie e domine todas as nossas aes. Se pertencemos ao Senhor, deixemos que cada parte de nossa existncia seja dirigida por Ele. Essa deve ser nossa meta suprema.99

Tudo isso porque o encontrar tal tesouro deve ter como resposta a re-orientao da vida do descobridor. Descobrir o Evangelho descobrir o tesouro da Boa Nova de salvao, por isso, investir tudo o que se possui a atitude certa, mesmo sendo, no caso de nosso texto, um tanto quanto inslito para quem no reconhece o valor desse achado. Nosso personagem o reconhece e por isso age de acordo com o valor do tesouro. Tudo se deve descoberta do Evangelho. Devemos a partir dele ter uma nova orientao de vida. Essa descoberta se esvai quando se tenta resistir exigncia do Reino: vender tudo, carregar a cruz, perder a vida, tudo que caiba como resposta humana ao chamado da graa, descoberta do tesouro do Evangelho. O simbolismo do tesouro trs consigo a eminncia da chegada do Reino. O tempo est realizado e o Reino de Deus est prximo. Os discpulos perceberam as dimenses da interveno divina ao ver eclodir o Reino de Deus em Cristo. Largar tudo pelo tesouro compreender a interveno divina na histria da humanidade na encarnao de Jesus. Se compreendermos a proposta de Mateus para essa parbola chegaremos ao entendimento do dom que recebemos atravs de Jesus Cristo, e que por ele fomo feitos cidados do Reino dos Cus e, por conseguinte, cumpriremos as exigncias feitas com alegria e disposio. Disposio que nos coloca diante do abandono total de coisas que podem nos ser muito caras, mas que perdem seu valor em face do bem maior adquirido, a saber: a cidadania celeste. So Paulo diz assim em Fl 3.7-8Mas o que, para mim, era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo. Sim, deveras considero tudo como perda100, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus,98 99

Idem. CALVINO, Joo. A verdadeira vida crist. Ed. Fonte Editorial, trad. Daniel Costa, So Paulo, 2008, p. 31. 100 Algumas tradues usam a palavra esterco.

39meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo [...].

A parbola do tesouro contm o ensinamento do compromisso total, que o Reino exige. No se faz por esforo de vontade, mas levado pela alegria de ter descoberto um valor incomparvel e de que no se tinha suspeitado. A renncia a tudo que se possui no , portanto, um ato asctico, e sim espontneo101. A descoberta da realidade do Reino relativiza todo o valor conhecido at ento. O Reino est contido em Cristo e em sua mensagem, neles anuncia a ecloso desta realidade do Reino e quem o encontra entrega toda sua vida a Cristo e a sua mensagem entendendo pela graa que este o maior bem que se pode possuir. O bem que leva a reconciliao com Deus e a pertena a seu Reino.

101

CAMACHO, Juan Mateos Fernando. O Evangelho de Mateus. Ed. Paulinas: SP, 1993, p.160-161.

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