Estudos Biblicos em Portugues EV. Missionario Roberto Gernow
Fundamentos Biblicos Para Estabelecer Um Planejamento
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FUNDAMENTOS BÍBLICOS PARA ESTABELECER UMA CULTURA DE PLANEJAMENTO
Solano Portela
Colégios e Universidade Presbiteriana Mackenzie
Por que não planejamos? Nossas instituições evangélicas são muito carentes de um planejamento eficaz. Talvez, no passado, a rejeição a um planejamento e organização maior esteve ligada a uma reação exagerada à rigidez litúrgica, hierárquica e de planejamento da Igreja Católica. Em alguns setores e denominações, talvez a falta de planejamento vem como uma rebelião ao formalismo das denominações históricas mais estruturadas. De qualquer forma criou‐se, no campo evangélico, a idéia de que qualquer planejamento e organização maior, no que diz respeito às coisas do Reino de Deus, seria uma "camisa de força" inadequada. A questão é “confiar em Deus”, e como não há nada de errado nisso, seguimos sem planejar. Se não planejamos as ações mais imediatas, imaginem um planejamento mais a longo prazo: para cinco anos; para dez anos! Um planejamento que considere a conjuntura; que coloque as ameaças e oportunidades; que vise a estratégia a ser seguida. Que faça um levantamento dos diferenciais e dos recursos disponíveis e reconheça as limitações; que leve ao aclaramento da visão, missão, e que traga uma cristalização dos valores e princípios; que traduza tudo isso em objetivos exeqüíveis, atingíveis e mensuráveis. Isso é, muitas vezes, rotulado como uma tentativa frustrante e não espiritual. Os descrentes planejam! Já nos avisa a Escritura Sagrada que os descrentes são, muitas vezes, mais sagazes e sábios que os crentes (Lc 16.8 — pois os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz).1 Temos observado as organizações "seculares" se concentrarem no planejamento e na organização enquanto nós, no campo evangélico, abrimos mão de toda esta capacidade que nos foi dada por Deus. Uma empresa "secular" raramente realiza uma simples reunião sem antes existir um planejamento sobre os objetivos, a duração e os meios de demonstração, enquanto que em nossas escolas achamos que essas coisas necessitam apenas de um planejamento mínimo. Uma organização secular quase nunca embarca em uma atividade ou programa sem antes avaliar todos os ângulos, sem colocar responsáveis definidos com delegação de poderes claramente delimitada e com algum tipo de acompanhamento da própria execução. Desculpa para não planejar Nas escolas estamos nos acostumamos a creditar o sucesso, ou insucesso de algo, à "vontade de Deus", ou aos ataques de Satanás, sem parar para pensar que a boa organização nada mais é do que o exercício eficaz da mordomia dos talentos, capacidades e recursos que Deus colocou em nossas mãos, para a sua glória. A cultura vem de nossas igrejas. Em muitas delas perseguimos a espontaneidade a qualquer custo, ao ponto de chegarmos a identificar "espiritualidade" com a falta de organização e ordem. Temos muito medo, justificado, da "ortodoxia morta". Mas isso pode resultar em um "vale tudo espiritual" onde quaisquer ações, desde que "cristianizadas" com palavras de ordem bíblicas, são admissíveis. Isso ocorre, não apenas nas igrejas, mas também nas instituições evangélicas e até em nossas escolas. Planejamento e organização possuem base bíblica
Deus planejou tudo e executa o seu plano (Is 46.9‐11). Ele deu ao homem o mandato de dominar a Criação (Gn 1.28) e de sujeitá‐la, para sua glória. Tendo sido criado à imagem e semelhança de Deus, o homem é um ser que planeja também, mesmo em sua condição de pecador e mesmo com esta imagem afetada pelo pecado. O homem, conseqüentemente, procura determinar metas e visualizar suas ações antes destas ocorrerem (Pv 13.19 e 16.9). Deus ensinou seu povo a planejar. Deus planejou, instituiu e determinou ao seu povo, debaixo da Antiga Aliança, toda a sistemática das cerimônias, requerendo obediência no cumprimento de todos os seus passos. Deus desejava, através dela, focalizar as atenções dos israelitas no Messias que haveria de vir e redimir o seu povo. Neste sentido, o povo foi ensinado a planejar e a organizar, em sua esfera, as festas e sacrifícios e existia considerável rigidez litúrgica, assim como sistematização e repetição. Nada de "qualquer um faz qualquer coisa, a qualquer hora", mas ações e obrigações definidas e todas relevantes ao enfoque central das práticas de adoração. Um exemplo de planejamento. Na esfera administrativa, a sobrecarga e a desorganização, temporariamente experimentadas por Moisés, quando todas as decisões e definições foram colocadas sobre seus ombros, foi prontamente estruturada por Deus, através da palavra sábia de Jetro (Êx 18.13‐26). Deus fez com que um sistema de delegação e representatividade fosse rapidamente estabelecido, aliviando Moisés de uma tarefa impossível, permitindo que o grande servo de Deus se concentrasse na tarefa de realmente liderar. Deus não é, portanto, avesso ao planejamento e à sistematização da nossa parte, tanto mais porque ele próprio nos ensina que interage com a sua criação em seus tempos determinados (Ec 3.1‐8), definindo, conseqüentemente, padrões de ordem e uma hierarquia de prioridades que devem nos auxiliar na execução dos nossos deveres, como seus servos. Elementos do Planejamento O administrador José Roberto Lupi (Instituto Jetro), chama nossa atenção para Provérbios 4:25‐27 (“Os teus olhos olhem direito, e as tuas pálpebras, diretamente diante de ti. Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos sejam retos. Não declines nem para a direita nem para a esquerda; retira o teu pé do mal”), indicando que temos aqui os elementos do planejamento. Na versão NVI, a leitura é a seguinte: “Olhe sempre para a frente, mantenha o olhar fixo no que está adiante de você. Veja bem por onde anda, e os seus passos serão seguros. Não se desvie nem para a direita nem para a esquerda; afaste o seus pés da maldade.” Esses elementos são:
1) Olhe “para frente” ‐ selecione seu alvo. Enxergue longe; como é que você quer o seu posicionamento no futuro?
2) Mantenha o foco; o “olhar fixo” – Concentre‐se nos seus objetivos; 3) Veja “por onde anda” – pondere os caminhos; tome pé de sua situação atual; avalie as
finanças e recursos; nunca gaste ou invista mais do que a renda, ou a capacidade de captação; faça o orçamento prévio e reja‐se rigidamente por ele; faça uma revisão de suas práticas, se elas consomem mais do que entra;
4) Dê “passos seguros” ‐ caminhe pelo percurso mais curto (“os teus caminhos sejam retos”); firmemente rumo ao alvo;
5) Não se desvie – Não permita que os atalhos; as coisas que não são essenciais; ou aquelas que são atraentes, mas não contribuem para o “core business”, o tirem do rumo correto;
6) Afaste‐se da maldade ‐ mantenha um caminhar ético; que agrada a Deus; preserve a reputação sua e o testemunho de sua escola.
Administrando o que é possível administrar. Tenha consciência das limitações; mas concentre‐se na esfera de atuação que Deus lhe deu. Se é gestora; na gestão da escola; se é professora, na gestão da sala de aula; se é coordenadora, na administração do segmento. Não se frustre (e nem frustre outros), tentando controlar o que não lhe cabe. Isso só gerará ansiedade e desespero. José Bernardo (Jetro), em um artigo: “Eliminando a Ansiedade na Administração”, traça um paralelo dos nossos empreendimentos e responsabilidades, com a travessia dos discípulos no barquinho, na Galiléia:
Considere o barquinho no mar da Galiléia como sua escola. Jesus está dormindo na popa, longe do leme, e nos pediu para levá‐lo no barco até o outro lado do mar. Devemos usar nossas habilidades e nos concentrar em manejar a âncora, as velas, o leme... Enfim, tudo que é administrável e Jesus espera que o façamos. Mas nós não podemos administrar o vento e o mar. Durante a tempestade, devemos confiar em Cristo para controlar o incontrolável, mas antes e depois administraremos aquilo que pode ser administrado e assim chegaremos ao objetivo.
Normalmente, esses seis aspectos são administráveis: • Público – escolher com quem trabalhar (não pode decidir pelas pessoas, nem mudar os gostos
delas) • Produto – ter diferenciais (não pode controlar o governo, as leis, o clima) • Propaganda – controlar e torná‐la eficaz (não pode escolher seus concorrentes, nem determinar
o que eles têm que fazer) • Pessoal – treinamento, para obter maiores resultados (não pode controlar os pais e
responsáveis) • Passo – você pode determinar a velocidade e definir os sistemas (não vai poder controlar a
economia, mas pode agir para ser mais eficiente) • Preço – controlando os investimentos, compatibilizando com os benefícios (você não vai poder
controlar o mercado, mas pode adequar os benefícios e diferenciais que oferece ao preço que necessita cobrar).
Aja, confie em Deus e faça o seu barco navegar! Tiago ensina que é errado planejar? Na carta de Tiago (4.13‐16) parece termos indicação de que definir o que vamos fazer no dia de amanhã seria errado. Ali lemos:
Atendei agora, vós que dizeis: Hoje, ou amanhã, iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano, e negociaremos e teremos lucros. Vós não sabeis o que sucederá amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa. Em vez disso, devíeis dizer: Se o Senhor quiser, não só viveremos, como faremos isto ou aquilo. Agora, entretanto, vos jactais das vossas arrogantes pretensões. Toda jactância semelhante a essa é maligna.
Tiago alerta para a impossibilidade do homem discernir os acontecimentos futuros que estão abrigados na soberana providência de Deus. Isto faz com que os planos efetivados possam ser frustrados — os resultados nem sempre correspondem às ações que os objetivavam. Seria errado, então, planejar? Uma leitura mais cuidadosa da passagem nos indica, entretanto, que não é errado planejar, mas sim fazê‐lo na pressuposição de que Deus está ausente do todo e dos detalhes da nossa vida. Errado é projetar as coisas como se Deus não fosse soberano, como se não detivesse o controle de tudo e de todos, como se a nossa existência fosse a coisa mais importante no universo. Realizar planos sem a percepção da fragilidade de nossa vida e da nossa posição perante o Criador, isto sim, é errado. Mais errado ainda é o homem se orgulhar dos planos que faz, como se fossem eles a causa final dos resultados obtidos, como nos diz o verso 16, na passagem bíblica acima referida.
É este mesmo trecho que nos ensina que, se tivermos a conscientização de que Deus está acima de nossas intenções e planos, podemos e devemos planejar. Se qualificarmos o nosso planejamento com o reconhecimento da sua soberania, podemos e devemos planejar. Se especificamente e seguramente afirmarmos a nossa limitação de conhecimento indicando que as coisas planejadas ocorrerão “se Deus quiser”, então podemos e devemos planejar o que faremos e executaremos. “Faremos isto ou aquilo”, diz o texto, se Deus for servido em nos conservar com vida. Podemos até ter a expectativa de resultados (“teremos lucro”), mas estes advirão dele. Saiba o Custo! Uma lição simples de Planejamento Financeiro: A Construção da Torre. Lucas 14:28‐30 Traz a lição mais direta sobre planejamento financeiro, que temos na Bíblia. É certo que o tema que Cristo está desenvolvendo é a necessidade de contarmos os custos pessoais quando nos colocamos a serviço do Reino, mas ele ensina isso expressando uma verdade – não se deve dar andamento a um empreendimento, se não fizemos todo o planejamento de ante‐mão. O texto bíblico tem esse princípio, que é senso comum: “Pois qual de vós, pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir? Para não suceder que, tendo lançado os alicerces e não a podendo acabar, todos os que a virem zombem dele, dizendo: Este homem começou a construir e não pôde acabar. Na sequência do texto, a lição continua (vs. 31‐33) falando do rei que sai à guerra, e tem que planejar todos os aspectos e a sua estratégia. Se ele faz isso corretamente, mesmo sendo mais fraco militarmente, pode sair‐se bem. Planejamento financeiro é boa administração cristã. Falar sobre finanças parece ser algo muito pouco espiritual. Acontece, entretanto, que, na prática, não podemos ignorar o fato de que lidamos com esse assunto todos os dias. Rodolfo Garcia Montosa, do Instituto Jetro, chama nossa atenção para o fato de que existem 1.565 versículos que falam em dinheiro, na Palavra de Deus. Curiosamente, dos 107 versículos do sermão do monte 28 se referem exatamente a dinheiro. Além disso, Jesus se referiu ao dinheiro (ou riqueza) em 13 parábolas. Isso mostra como a Bíblia trata desse assunto com expressividade. O Senhorio de Deus é sobre absolutamente todas as coisas, inclusive sobre as riquezas e os recursos. Ele tem todo o poder e autoridade sobre tudo e todos. O profeta Ageu escreveu que o Senhor dos Exércitos disse: "minha é a prata e meu é o ouro" (Ageu 2.8). Desde os tempos de Moisés havia a compreensão que "é Ele que te dá força para adquirires riquezas..." (Deuteronômio 8.18). Conclusão: Deus espera que nós planejemos. Deus se agrada, quando planejamos, reconhecendo nossa dependência dele. Somos “mordomos” (administradores), na Criação de Deus. Planejamento e organização começaram com Adão – antes do pecado, antes da Queda. Na escola, o planejamento tem que ser muito mais abrangente do que o mero planejamento pedagógico – esse é essencial, mas não é tudo. Devemos planejar todos os aspectos operacionais (quer da escola; quer das nossas salas de aula). O cuidado com as finanças da escola é dever de cada colaborador. Pode representar a diferença entre a sustentabilidade – e a continuidade de bênçãos para muitos; ou a descontinuidade, e o encerramento da nossa influência e testemunho. Que Deus nos abençoe e nos ensine a planejar, sempre confiando nEle.