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    24 A GESTÃO DO TEMPO NO TRABALHO

    A dificuldade na conciliação entre trabalho e vida familiar é, frequente-

    mente, associada às condições de organização do trabalho, verificando--se a existência de um sentimento partilhado de escassez de medidas

    práticas que, no mundo do emprego, facilitem a articulação da carreira

    profissional com as exigências da vida familiar.

    No domínio do trabalho, as principais áreas de dificuldade, identificadas

    pelas mulheres, prendem-se com a carga horária excessiva ou incom-

    patível com as necessidades da vida familiar.

    Principais dificuldades:

    – Carga horária excessiva;

    – Incompatibilidade dos horários de trabalho com horários de creches/

    escolas;

    – Tempo excessivo despendido em deslocações casa-trabalho;

    – Dificuldades de progressão na carreira;

    – Tensão psicológica da articulação de papéis.

    Reconhecidamente, a cultura e as práticas organizacionais podem

    constituir-se como importantes elementos facilitadores da articulação

    entre as dimensões profissional e familiar. Mas, na verdade, não são

    suficientes. Por isso, são tão importantes as formas pessoais – e por

    isso, únicas – de resolver problemas, de enfrentar dificuldades e de

    encontrar soluções. Ou seja, as estratégias pessoais para facilitar a arti-

    culação entre papéis.

    Relativamente aos horários e aos gastos de tempo, as estratégias identi-

    ficadas passam, por exemplo, pela utilização da jornada contínua ou pela

    recusa em realizar horas extraordinárias de trabalho.

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    No que toca à carreira profissional, as estratégias assumidas pelas

    mulheres passam por adiar o investimento na progressão, ou mesmo,em casos mais extremos, as da desistência da progressão na carreira.

    Principais estratégias:

    – Organização do tempo;

    – Utilização da jornada contínua;

    – Utilização do horário flexível;

    – Recusa de horas extraordinárias de trabalho;

    – Adiamento da progressão na carreira.

    A história da Rita (os custos de uma carreira de sucesso)

     A Rita tem 38 anos e um filho de 6 anos. É licenciada em Marketing e

    trabalha numa agência de publicidade, tendo sido promovida, há cerca

    de um ano, para um cargo de chefia, a nível ibérico.

    Nasceu numa família que classifica como conservadora, do ponto de vista

    dos valores e dos estilos de vida. O pai trabalhava numa empresa privada demédia dimensão, onde tinha um cargo de direcção na área da Contabilidade.

     A mãe trabalhou na mesma empresa, até ao casamento, como funcionária

    administrativa. Depois de casar não tornou a ter qualquer actividade profis-

    sional. Teve 3 filhos, dois rapazes e a Rita, que é a mais nova.

    Quando pensa na vida dos seus pais, nas suas aspirações, nos seussucessos, no seu casamento, a Rita experimenta um sentimento algo

    ambivalente: por um lado “inveja” a sua segurança, as suas certezas, a

    sua estabilidade. Ao mesmo tempo sabe que aquele não é, nem poderia

    ser, o seu modelo.

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    actual, sente que conseguiu realizar a maioria deles, ainda que não exac-

    tamente da forma como os imaginava.

    Quando pensa em filhos, a Rita diz que não gostaria de ter ficado pelo

    filho único. O facto de ter crescido com dois irmãos fá-la temer a soli-

    dão do filho. No entanto, pensa que, quer no plano financeiro, quer ao

    nível de qualidade de vida, não poderia ter mais crianças.

    Para evitar o estigma do filho único, a Rita procura que o filho convivabastante com os seus dois primos e é frequente que passem um dia de

    fim-de-semana nas casas uns dos outros.

    Gostaria de ter mais tempo para si própria, o que na verdade significa

    tempo para estar com as amigas e, sobretudo, gostaria de ter mais tempo

    para namorar, porque tem medo que o quotidiano acabe com a paixão.

    Feliz, enérgica e sempre activa, a Rita pensa que ter tempo para tudo é

    uma questão de ginástica.

    A história de Rita ilustra bem como as exigências de uma carreira profis-

    sional, enquanto elemento reconhecidamente fundamental nas expecta-

    tivas e trajectórias individuais, podem gerar tensões e limitar a própria

    capacidade de nos sentirmos felizes e realizadas, quer na família, quer

    no trabalho, sendo essencial encontrar pequenas estratégias que consti-

    tuam pontos de equilíbrio nos dois domínios.

    Para Rita, a carreira e o sucesso profissional constituem factores damaior importância, mas não consegue deixar de sentir, porventura com

    demasiada frequência, que os custos a suportar por essa realização pro-

    fissional são elevados, em matéria da sua vida familiar e, mais concreta-

    mente, da vivência da maternidade.

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    Em busca do tempo perdido

    A pressão da gestão do tempo é um dos sintomas da tensão entre papéis,

    gerador de sentimentos de insuficiência de resposta, que actuam

    condicionando-se mutuamente, ou seja, o tempo passado em família

    acaba por ser sentido como tempo roubado  à carreira profissional e o

    tempo passado no trabalho por ser sentido como tempo roubado à famí-

    lia e à intimidade.

    Na verdade, a má gestão do tempo é a grande responsável por chegar-

    mos ao fim do dia com a sensação de que, embora tendo trabalhado

    muito, não fizemos uma boa parte daquilo que havia para fazer.  Isto

    acontece porque nem sempre o tempo que passamos no local de traba-

    lho é, em rigor, aquilo que pode considerar-se tempo produtivo.

    Principais estratégias:

    – Registar o tempo gasto;

    – Planear e agendar;

    – Utilização eficiente do e-mail e do telemóvel;

    – Disciplinar o tempo das conversas;

    – Preparar reuniões eficientes;

    – Arrumar e organizar;

    – Definir prioridades.

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    As dificuldades em discurso directo:

    “Parece-me que gasto muito tempo sem saber em quê. Procuro fixarobjectivos para o dia, mas o que acontece é que, no fim, parece-me queacabei por fazer tudo o que não era importante e que o que era mesmo

     preciso ficou por fazer.”

    (Susana, 44 anos, técnica administrativa, casada, 2 filhos)

    Registar o tempo gasto

    Para evitar esta sensação tão comum de termos perdido tempo, experi-

    mente registar, por exemplo durante uma semana, o tempo que des-

    pende em cada situação do seu dia de trabalho.

    Proceda como se o tempo fosse (efectivamente) dinheiro e anote cada

    gasto. Desta forma poderá aferir em que medida está a fazer uma boa

    gestão desse tempo.

    Ao verificar qual a quantidade de tempo que gasta na realização de

    determinada tarefa e a relação com o seu grau de importância e priori-

    dade, poderá aperceber-se de que está a perder muito tempo com activi-dades pouco importantes. De igual modo, perceberá a dimensão e o

    peso dos tempos inúteis no conjunto do seu dia.

    Do ponto de vista da gestão do tempo de trabalho existem algumas

    estratégias simples que poderá utilizar e que, significando, cada uma, a

    poupança de alguns minutos, se traduzem, no seu conjunto, num impor-

    tante ganho de tempo no final do dia.

    Recorde que um uso eficiente do tempo evitará que tenha de se

    defrontar, permanentemente, com a necessidade de resolver crises

    geradas por urgências e imprevistos.

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    Planear e agendar

    Para organizar o seu tempo é fundamental que tenha uma boa agenda

    onde anote tudo o que tem para fazer, seja no trabalho – reuniões em

    que deve estar presente, relatórios que tem de entregar ou contactos

    que deve realizar –, seja na sua vida pessoal – aniversários, consultas

    médicas, encontros de amigos. Desta forma, evitará sobrepor compro-

    missos profissionais e pessoais.

    Lembre-se que a agenda não é, apenas, uma lista de tarefas, mas que

    ela deve constituir um verdadeiro compromisso pessoal, connosco pró-

    prias e com aquilo que definimos como as nossas prioridades.

    Elimine, de uma vez, o sistema dos pequenos blocos dispersos e

    lembre-se, também, que os  post-its  não são agendas e, por isso,

    reserve-os para aquela que é de facto a sua função: lembretes específi-

    cos a colocar em local visível.

    Se, ainda assim, for uma grande utilizadora deste sistema, lembre-se de

    deitar fora os  post-its que já realizaram a sua função, ou seja, que já a

    lembraram daquilo que havia a fazer. A não ser que esteja a considerar

    utilizá-los para a realização de uma peça de arte (muito) vanguardista, omelhor sítio para eles é mesmo o caixote de lixo.

    Utilização eficiente do e-mail e telemóvel

    Em matéria de boa gestão do seu tempo é igualmente importante a

    adopção de algumas estratégias relacionadas com a utilização do e-mail

    e do telemóvel, que são hoje, seguramente, duas das principais fontes

    de gasto inútil de tempo.

    Relativamente ao e-mail, desligue os avisos sonoros e visuais de

    “mensagem nova” e estabeleça dois únicos momentos do dia, por

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    exemplo, 15 minutos antes de sair para almoçar e 20 minutos antes do

    final do seu dia de trabalho, para consultar a sua caixa de correio eresponder aos e-mails.

    Procure, igualmente, não se ligar à internet várias vezes ao dia, a menos

    que tenha mesmo de o fazer por razões profissionais.

    Lembre-se que, a não ser que receba muita correspondência electrónica

    procedente de países com fusos horários muito diferentes, a fixação

    destes dois horários de consulta ao e-mail permitir-lhe-á aceder a toda

    a informação que foi produzida em horário útil de trabalho.

    As mensagens chegadas fora destes períodos de tempo serão, muito

    provavelmente, de carácter lúdico, o que, neste caso, significa, sobre-

    tudo, perda de tempo. A este nível poderá ser também útil o recurso a

    filtros para evitar os e-mails indesejáveis.

    Se costuma consultar o seu e-mail em casa, fixe também um horário e

    um tempo máximo para se dedicar a essa tarefa.

    Quando consulta os seus e-mails tenha o cuidado de dar resposta ime-diata a todos, ainda que essa resposta seja apenas a de que vai procurar

    a informação ou a solução para o assunto exposto, e que contactará,

    oportunamente, o remetente da mensagem.

    Se responder de forma imediata, o autor da mensagem ficará informado

    que a sua questão foi devidamente tomada em conta e aguardará calma-mente nova comunicação. Isto além de o facto de responder, com brevi-

    dade, constituir uma óbvia demonstração de respeito por quem se dirige

    a si. Repare que se o email ficar sem resposta, é muito provável que se

    repitam os e-mails sobre o mesmo assunto.

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    No que respeita ao telemóvel, a melhor estratégia será mantê-lo em

    silêncio e longe do seu alcance visual.Estabeleça também dois momentos para consultar as chamadas recebi-

    das. Veja quem lhe ligou e quem lhe deixou mensagem através de voice-

    -mail. Devolva apenas estas últimas chamadas, pois é muito provável

    que quem lhe ligou e não deixou mensagem não tivesse realmente nada

    de urgente para lhe dizer.

    As estratégias em discurso directo:

    “Comecei a organizar melhor o meu dia de trabalho esforçando-me por gastar menos tempo em coisas inúteis. Percebi que, por exemplo, perdiaimenso tempo a receber e a mandar e-mails que não tinham nada a vercom o trabalho e que, na maior parte dos casos, até não tinham inte-

    resse nenhum. O engraçado é que alguns eram de pessoas que estavamdois gabinetes ao lado do meu. Não faz sentido, só é divertido nocomeço, porque às tantas já vemos e reenviamos as mensagens auto-maticamente e nisso perdemos uma quantidade de tempo precioso.”

    (Helena, 39 anos, economista em empresa privada, casada, 3 filhos)