Monografia Gestão do Tempo

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Instituto Superior da Maia Licenciatura em Gestão de Recursos humanos Gestão do tempo (Trabalho de projeto) Discente: André Filipe Martins Cunha, nº 20901 Orientador: José da Costa Dantas Maia, Junho de 2012

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Gestão do Tempo

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Instituto Superior da Maia

Licenciatura em Gestão de Recursos humanos  

   

 

 

 

Gestão do tempo

(Trabalho de projeto)

 

 

 

Discente: André Filipe Martins Cunha, nº 20901

Orientador: José da Costa Dantas

 

 

Maia, Junho de 2012  

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Instituto Superior da Maia

Licenciatura em Gestão de Recursos humanos  

   

 

 

 

Gestão do tempo

(Trabalho de projeto)

 

 

 

Discente: André Filipe Martins Cunha, nº 20901

Maia, Junho de 2012  

 

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“  A  vida  é  o  que  fazemos  dela.”  

(Buffet,  2010,  28)  

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Dedicatória

Caminho de prazer, de conquista, de vitória, foi o que percorri na

construção deste trabalho. Pedras, buracos, socalcos, planaltos e

montanhas ultrapassei, não por mim, mas com a ajuda de muito, muito,

não um número, mas muito na personificação do apoio, da força e da

garra que me incutiram na prossecução do meu objectivo, a realização

deste trabalho. A esse muito, em representação daqueles que me

acompanharam nesta jornada, o obrigado mais humilde e sincero que

até hoje eu posso proferir.

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Agradecimentos

O primeiro agradecimento para quem me dá vida, me faz ser e querer ser algo diferente

do que já sou, pois me incutem diariamente a vontade de querer ser mais e me mostram

o prazer de ser esse mais através do seu exemplo. Pais, meus amigos, companheiros dos

caminhos que percorro, obrigado.

A ti que me deste ao mundo, que me apoias incondicionalmente, que vives as minhas

alegrias, as minhas tristezas, frustrações, conquistas e derrotas e que me dás a mão para

sempre me levantar, agradeço. Mãe, obrigado pelo constante eu estou aqui para o que

precisares, pela força que me transmites e pela singularidade do teu ser que me faz

orgulhar de ti. Esta vitória é tua, também.

A ti, que és um exemplo de vida, de entrega à mesma, de superação de dificuldades, de

não virar a cara à luta, meu Pai, agradeço, porque também me permitiste concluir esta

importante fase da minha vida, e sempre me compreendeste ao longo deste percurso.

Não precisamos de grandes conversas para percebermos o que estamos a pensar, para

percebermos como cada um de nós está a pensar e só isso demonstra a cumplicidade da

relação que temos. Tu és o exemplo mais real que eu quero seguir.

A toda a minha família, e como esta palavra tem real valor e relevância para todos nós.

Vocês que me mimam, que me aconchegam e que, esteja eu onde estiver, estarão

sempre comigo e eu com vocês. Padrinhos, tios, primos e, acima de todos estes ,os meus

avós, muito obrigado a vocês não só pelo carinho mas também pelas noções de

responsabilidade e de cuidado pelos outros que sempre me ensinaram e demonstraram

através do vosso exemplo.

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Pedro Moura, Joana Moura, João Moura e Miguel Araújo, os meus primos mais

próximos. Agradeço-vos obviamente. Crescemos juntos, continuámos juntos e o futuro

só poderá manter-nos juntos. Vocês são, para mim, um grande apoio.

Sofia Matos, a ti agradeço-te pela presença e apoio ao longo dos três anos e pela partilha

não só de conhecimento mas também de uma forma de ser que me permite ser uma

pessoa melhor.

Luís Faria, Daniel Marques, Joana Teixeira, Rita Silva, Clara Gonçalves, Edgar Novo

obrigado a vós pelos momentos partilhados durante este percurso. Tudo é mais fácil

com pessoas como vós por perto.

A si, Mestre José da Costa Dantas, coordenador da licenciatura, e meu orientador,

obrigado pelas palavras que desde cedo neste percurso trocámos, pelos ensinamentos,

pelos conhecimentos partilhados. Acima de tudo, obrigado pela influência que teve no

romper de alguns paradigmas que eu tinha. Obrigado, porque realmente me mudou e se

hoje sou uma pessoa melhor, e acredito verdadeiramente que o sou, a si, em larga

escala, se deve. O meu obrigado pela presença, apoio e orientação constante na

realização deste trabalho.

Professor Alberto Moreira, agradeço-lhe pela disponibilidade demonstrada, pelas

leituras recomendadas, que através da confusão que me provocaram me permitiram ver

coisas que eram completamente obscuras para mim. Obrigado, porque me fez

compreender melhor o que é ser uma pessoa de recursos humanos e me indicou

caminhos nessa descoberta através da descoberta do próprio eu.

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A si, professor Alberto Pinto, o meu obrigado porque sempre se mostrou disponível

para partilhar a sua experiência pessoal que a mim também muito serve de exemplo.

Professor Célio Sousa, foi um enorme prazer ser leccionado por si. O seu conhecimento,

exemplo de vida e percurso é algo que para sempre vou reter. Obrigado, também, pela

disponibilidade para as conversas que tivemos que em muito me ajudaram a definir

possíveis caminhos para o meu futuro.

Agradeço, também, a todos os professores com quem tive o enorme prazer de partilhar

este percurso. Os seus conhecimentos e a vossa sempre afável presença e

disponibilidade demonstradas fizeram com que todo este caminho tenha sido muito

mais agradável de ser percorrido.

À instituição ISMAI pelas instalações de alto calibre que dispõe, e que por isso põe ao

dispor dos alunos todas as facilidades para que este percurso se faça com sucesso.

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André  Cunha  

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Índice

Introdução ..................................................................................................................... 11  I – PARTE TEÓRICA  .................................................................................................................  13  

1   O tempo: conceitos genéricos em filosofia ............................................................ 14  

2   O início do tempo .................................................................................................... 20  2.1   O  tempo  tem  um  início?  ..................................................................................................  20  

3   O tempo ................................................................................................................... 23  3.1   O  relógio  ...............................................................................................................................  23  3.2   A  palavra  tempo  ................................................................................................................  24  3.3   O  tempo  antes  do  tempo  .................................................................................................  26  3.4   O  tempo  físico  ....................................................................................................................  28  3.4.1   Henri  Bergson  e  o  tempo  físico  .............................................................................................  29  3.4.2   Tempo  físico  vs  tempo  psicológico  ......................................................................................  30  

3.5   Tempo:  linear  ou  cíclico?  ...............................................................................................  33  3.6   A  continuidade  e  descontinuidade  do  tempo  ..........................................................  35  3.7   Tempo  no  inconsciente  ...................................................................................................  37  

4   Tempo em Agostinho de Hipona ........................................................................... 40  4.1   A  eternidade  de  Deus  ......................................................................................................  40  4.2   Tempo  como  característica  humana  ..........................................................................  43  4.3   O  tempo  ................................................................................................................................  44  

5   Tempo e temporalidade em Jean Paul Sartre ...................................................... 48  5.1   As  três  dimensões  temporais  .......................................................................................  48  5.1.1   O  passado  .......................................................................................................................................  48  5.1.2   O  presente  ......................................................................................................................................  54  5.1.3   O  Futuro  ..........................................................................................................................................  55  

5.2   Temporalidade  ..................................................................................................................  56  5.2.1   Estática  temporal  ........................................................................................................................  57  5.2.2   Dinâmica  temporal  .....................................................................................................................  59  

6   O tempo no ser ........................................................................................................ 62  6.1   O  ser  –  regulador  do  tempo  ...........................................................................................  65  6.2   Ser  na  perspectiva  teológica  .........................................................................................  68  6.2.1   O  homem  .........................................................................................................................................  68  6.2.2   O  sentido  da  vida  .........................................................................................................................  69  

7   Competências – estar no tempo ............................................................................. 71  

8   Conclusão parte teórica .......................................................................................... 75  II – PARTE PRÁTICA  ...............................................................................................................  77  

9   Execução prática ..................................................................................................... 78  9.1   Problemática  ......................................................................................................................  78  9.2   Metodologia  ........................................................................................................................  78  9.3   Identificação  da  empresa  ...............................................................................................  78  

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

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9.4   População,  amostra  e  colheita  de  dados  ...................................................................  79  9.5   Análise  da  amostra  ...........................................................................................................  80  9.6   Análise  das  respostas  relativas  ao  tema  ...................................................................  84  

10   Conclusão parte prática ....................................................................................... 97  

11   Considerações finais ............................................................................................. 99  

Bibliografia .................................................................................................................. 101  ANEXOS  .......................................................................................................................................  103  ANEXO 1  ......................................................................................................................................  104  ANEXO 2  ......................................................................................................................................  109  

 

 

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Introdução

No seio das Ciências Humanas, nas quais se encontra a Gestão de Recursos Humanos,

uma temática parece-me fundamental para o presente e futuro em termos de

diferenciação e incremento de valorização pessoal e profissional, o tempo. Tempo,

recurso finito, limitado, que passa e não volta. Ou será que o tempo não é e nada tem a

ver com o que acima foi escrito e simplesmente ainda não entendemos o que é o tempo,

o que vale o tempo, o que significa passado, presente e futuro? Será o conceito tempo

algo absolutamente objetivo, isto é, sobre o qual não restam quaisquer dúvidas e por

esse motivo não exista a necessidade de sobre ele refletirmos? O que pensa a sociedade

contemporânea do tempo? Que importância damos ao tempo? É este pensado?

Pensadores e filósofos influenciaram a forma como vemos o tempo de alguma maneira?

Fazem sentido as suas ideias e pensamentos? Existem um cem número de questões que

a meu ver podem ser feitas sobre esta temática e é absolutamente premente que as

façamos, pois o tempo existe e inequivocamente condiciona os nossos pensamentos,

juízos e consequentemente as nossas ações.

Com a clara intenção de destrinçarmos este tema, procurámos seguir um caminho que a

isso conduzisse. Assim, optámos por primeiramente apresentar conceitos sobre o tempo

e dessa forma demonstrar que na verdade este tema foi e é pensado por importantes

personalidades. Seguidamente, tentámos perceber se existe um início do tempo e se faz

sentido falarmos sobre esse mesmo início. Posteriormente, abordámos esta temática sob

vários pontos de vista, que vão desde o tempo que é ditado pelo relógio, a existência ou

não do tempo antes de ser considerado o seu início, a própria palavra tempo, o tempo

físico, tempo psicológico, a continuidade e a descontinuidade do tempo e o tempo no

inconsciente. Desta forma tentámos clarificar em larga escala do que se trata tão vasto e

complexo tema.

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O curso da investigação levou-nos até à concepção do tempo de dois importantes

pensadores, que por terem visões distintas, consideramos essencial apresentá-las para

mais ficarmos a conhecer sobre o tema. O tempo em Agostinho de Hipona e Jean Paul

Sartre vão elucidar-nos sobre diferentes visões do tempo que são relevantes no curso da

história.

Aproximando-nos do final da nossa investigação no âmbito deste trabalho de projeto,

quisemos apresentar duas visões do que é ser e da existência humana. A intenção foi

demonstrar como o nosso ser e essência são importantes na regulação do tempo.

Por fim, considerámos premente referir como a atualização constante e necessária das

competências individuais influencia diretamente a forma como conseguimos lidar com

as exigências profissionais com que nos deparamos e faz com que estejamos à vontade

com o tempo que corre, pois este não vai dessa forma absorver-nos no seu curso normal.

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I – PARTE TEÓRICA  

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1 O tempo: conceitos genéricos em filosofia

O conceito tempo é, de fato, muito abrangente e tem tentado ser definido por várias

áreas do saber. Nesta monografia, e porque abordaremos nos capítulos seguintes a

forma como vários filósofos entendiam o tempo, considerámos pertinente apresentar a

definição do conceito tempo em dois dicionários de filosofia, para que possamos

entender como este conceito é complexo, é alvo de pensamento, de estudo, de reflexão e

através das definições que abaixo transcrevemos podemos ter a noção de como já

muitos pensadores se importaram e questionaram sobre a problemática do tempo.

A natureza do tempo tem sido um dos maiores problemas filosóficos desde a antiguidade. Concebemos bem o tempo quando o concebemos como um fluxo? Se é esse o caso, o tempo flui do futuro para o passado, mantendo-nos como barcos atolados no meio de um rio? Ou flui do passado para o futuro, transportando-nos com ele? E pode fluir mais depressa ou mais devagar? Estas questões parecem suficientemente difíceis (ou absurdas) para nos encorajar a rejeitar a metáfora do tempo. Mas, se não concebermos o tempo como um fluxo, como poderemos conceber a sua passagem? O que distingue o presente do passado e do futuro, se é que há alguma distinção objectiva? O que dá ao tempo a sua direcção – o que explica a assimetria entre o passado e o futuro? Faz algum sentido falar de uma existência intemporal, ou só faz sentido falar da existência no tempo? É o tempo infinitamente divisível, ou será que pode ter uma textura granular, existindo assim o mais pequeno pedaço ou fracção do tempo? Muitos destes problemas foram colocados pela primeira vez na Física de Aristóteles sob a forma de paradoxos ou problemas sobre a própria existência do tempo. Um dos problemas é que o tempo não pode existir já que nenhuma das suas partes existe (o instante presente, por não ter duração, não pode contar como uma parte do tempo). Um outro problema surge ao perguntarmos quando deixa o instante presente de existir porque qualquer resposta envolve uma contradição: não deixa de existir no presente, porque enquanto existe não deixa de existir; não deixa de existir no momento seguinte, porque na continuidade temporal não existe o momento seguinte (do mesmo modo que não há uma fracção seguinte a uma qualquer função dada); não deixa de existir num momento posterior porque aí já deixou de existir. No entanto, não podemos conceber o instante presente como algo que existe continuamente, porque, nesse caso, aquilo que aconteceu há 10000 anos seria simultâneo com o que acontece hoje. Os enigmas de Aristóteles e os paradoxos de Zenão sobre o tempo e o espaço suscitaram soluções atomistas, nas quais se defendeu a estrutura granular do tempo. Diodoro de Cronus e Epicuro foram alguns dos partidários do atomismo, mas encontraram a oposição dos Estóicos; os argumentos de ambas as partes foram usados por Sexto Empírico, para levar a água ao moinho dos cépticos. Uma solução fundamentalmente idealista, na qual se permite a existência de tempos diferentes como objectos de contemplação simultânea, foi proposta por Agostinho nas Confissões (livro 11), e é visível em Leibniz, Berkeley, Kant e Bergson. Entre outros problemas embaraçosos estão o de determinar se o tempo pode ter um início e o de saber se pode existir um tempo sem acontecimentos que nele decorram (Blackburn, 2007, 423-424).

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Outra definição, mais completa, e que ilustra de forma bem clara como a definição do

conceito de tempo tem mudado ao longo das gerações, e tem também sofrido alterações

de acordo com diferentes correntes filosóficas, provém de outro autor muito famoso e

conceituado, Nicola Abbagnano.

Podemos distinguir três concepções fundamentais: 1ª - o tempo como ordem mensurável do movimento; 2ª - o tempo como movimento intuído; 3ª - o tempo como estrutura de possibilidades. À primeira concepção vinculam-se, na Antiguidade, o conceito cíclico do mundo e da vida do homem (metempsicose) e, na época moderna, o conceito científico do tempo. À segunda concepção vincula-se o conceito de consciência, com a qual o tempo é identificado. A terceira concepção, derivada da filosofia existencialista, apresenta algumas inovações na análise do conceito de tempo. 1ª A concepção de tempo mais antiga e difundida considera-o como ordem mensurável do movimento, os pitagóricos, ao definirem o tempo como “a esfera que abrange tudo” (a esfera celeste), relacionaram-no com o céu, que com o seu movimento ordenado permite medi-lo perfeitamente, segundo Aristóteles. Ao definir o tempo como “a imagem móvel da eternidade”, Platão pretende dizer que, na forma dos períodos planetários, do ciclo constante das estações ou das gerações vivas e de qualquer espécie de mudança, ele reproduz no movimento a imutabilidade do ser eterno. A definição de Aristóteles, “o tempo é o número do movimento segundo o antes e o depois”, é a expressão mais perfeita dessa concepção, que identifica o tempo com a ordem mensurável do movimento. Não é diferente o significado da definição dos estóicos, segundo a qual o tempo é “o intervalo do movimento cósmico”. Na verdade, intervalo não passa de ritmo, ordem, movimento cósmico. Talvez não seja diferente tampouco o significado da definição de Epicuro. “O tempo é uma propriedade, um acompanhamento do movimento”. Na Idade Média, essa concepção do tempo foi compartilhada por realistas e por nominalistas, que repetiram unanimemente a definição de Aristóteles. Telésio, que criticava essa definição, reduziu o tempo à duração e ao intervalo do movimento. Hobbes definiu o tempo como “imagem (phantasma) do movimento, na medida em que imaginamos no movimento o antes e o depois, ou seja, a sucessão”; considerava que essa definição estava de acordo com a de Aristóteles. Descartes simplesmente repetia essa última, definindo o tempo como “número do movimento”. Locke criticava a vinculação do temo ao movimento, estabelecida pela definição de Aristóteles, só para afirmar que o tempo está ligado a qualquer espécie de ordem constante e repetível: “Qualquer aparição periódica e constante, ou mudança de ideias, que acontecesse entre espaços de duração aparentemente equidistantes, e fosse constante e universalmente observável, poderia servir para distinguir intervalos do tempo tão bem quanto as que foram usadas na realidade”. Para definir o tempo, Berkeley substituía a ordem do movimento pela ordem das ideias, ou melhor, a ordem do movimento externo pela ordem do movimento interno: “Se eu tentar construir uma simples ideia do tempo abstraindo da sucessão de ideias de meu espírito, que flui uniformemente e é compartilhada por todos os seres, estarei perdido e embaraçado por dificuldades inexplicáveis”. Essa concepção de tempos fundamentou a mecânica de Newton, que distinguia o tempo absoluto e o tempo relativo, mas a ambos atribuía ordem e uniformidade. “O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, na realidade e por natureza, sem relação com nada de externo, flui uniformemente (aequabilitier) e também se chama duração. O tempo relativo, aparente e comum é uma medida sensível e externa da duração por meio do movimento”. Nessa definição de Newton, o uniforme fluir da duração absoluta é confrontado com a uniformidade do movimento que é tomado como medida do tempo. Leibniz esclarecia o mesmo conceito do seguinte modo: “Conhecendo-se as regras dos movimentos não

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uniformes, é possível relacioná-los com os movimentos uniformes inteligíveis e prever com este meio o que acontecerá a diferentes movimentos reunidos. Nesse sentido, o tempo é a medida do movimento, ou seja, o movimento uniforme é a medida do movimento não uniforme”. Portanto, definia o tempo como “uma ordem de sucessões”: definição aceite por Wolff e por Baumgarten. Essa era a concepção a que Kant se referia implicitamente, ao afirmar, em Estética transcendental, a idealidade transcendental do tempo, ao lado de sua realidade empírica. Mas a principal contribuição de Kant está na interpretação do conceito de tempo não está na Estética transcendental, mas na Analítica dos princípios, mais precisamente no estudo da segunda analogia, ou “princípio da série temporal segundo a lei da causalidade”. Aí Kant reduz ordem de sucessão a ordem causal. Afirma que uma coisa só “pode conquistar seu lugar no tempo com a condição de que no estado precedente se pressuponha outra coisa à qual esta sempre deva seguir-se, ou seja, segundo uma regra”. A série temporal não pode inverter-se porque, “uma vez posto o estado precedente, o acontecimento deve seguir-se infalível e necessariamente”; portanto , “é lei necessária de nossa sensibilidade e, consequentemente condição formal de todas as percepções que o tempo precedente determine necessariamente o seguinte”. Isso realmente permite a distinção entre percepção real do tempo e imaginação, que poderia e pode inverter a ordem dos eventos, transformando a sucessão temporal “em único critério empírico do efeito em relação à causalidade da causa”. Essa redução do tempo à ordem causal, defendida por Kant em relação ao conceito de tempo dominante em sua época (derivada da física newtoniana), foi reapresentada em nosso dias com relação à física einsteiniana. Ao afirmar a relatividade da medida temporal, Einstein na realidade não inovou o conceito tradicional de tempo como ordem de sucessão: só negou que a ordem de sucessão fosse única e absoluta. Em confronto com a física de Einstein, H. Reichenbach voltou a propor a tese kantiana da identidade do tempo com a causalidade: “O tempo é a ordem das cadeias causais: este é o principal resultado das descobertas de Einstein”. “A ordem do tempo, a ordem do antes e do depois, é redutível à ordem causal. (...) A inversão da ordem temporal para certos eventos, resultado que deriva da relatividade da simultaneidade, é apenas uma consequência desse facto fundamental. Uma vez que a velocidade de transmissão é limitada, existem eventos tais que nenhum deles pode ser causa ou efeito do outro. Para tais eventos, a ordem do tempo não é definida, e cada um deles pode ser chamado de posterior ou anterior ao outro”. Esses mesmos conceitos foram explicados por Reichenbach em seu livro póstumo The Direction of Time (1956), no qual identifica a ordem do tempo com a causalidade, e a direcção do tempo com a entropia crescente. A redução do tempo à causalidade pode ser considerada a mais importante (mas não por isso a mais consistente) proposição filosófica apresentada no campo da concepção do tempo como ordem. Ao contrário, tem bem menos importância a discussão – a que muitas vezes os filósofos se inclinaram – sobre a subjectividade ou objectividade do tempo. Foi Aristóteles quem deu início a tais discussões, chegando à conclusão de que, se por um lado o tempo como medida não pode existir sem a alma – pois só com a alma pode medir -, por outro lado o movimento ao qual a medida se refere não depende da alma. No século XIV, retomando essas considerações, Ockham afirmava que não existiria tempo se a alma não pudesse medir nem existiria tempo se a alma não pudesse numerar. Até Hobbes chamava o tempo de imagem. Menos significativa é a redução do tempo, de autoria de Locke e Berkeley, à ordem das ideias: porque as ideias, para esses filósofos, são os únicos objectos de que se pode falar. Quanto ao subjectivismo da concepção kantiana, segundo a qual o tempo é “intuição pura”, condição de qualquer percepção sensível, não passa de mal-entendido, pois só o tempo pode ser considerado subjectivo com relação às coisas em si, que estão além da consideração humana, mas é objectivo e real em relação às coisas naturais, em virtude do que o tempo tem “realidade empírica” indubitável. Além disso, o objectivismo da concepção kantiana é demonstrado pela redução do tempo à ordem causal: tese a que os neo-empiristas chegaram sem conhecer sua proveniência kantiana.

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2ª A segunda concepção fundamental de tempo considera-o como intuição do movimento ou “devir intuído”. Esta última definição é de Hegel, que acrescenta ser “o tempo o princípio mesmo do Eu = Eu, da autoconsciência pura, mas é esse princípio ou o simples conceito ainda em sua complexa exterioridade e abstração”. Portanto, Hegel não identifica o tempo com a consciência, mas com algum aspecto parcial ou abstracto da consciência. Sem essa limitação, Scheling dissera: “o tempo outra coisa não é senão o sentido interno que se torna objecto para si”. A rigor, a concepção de tempo como intuição do devir traz em seu bojo a redução do tempo a consciência. Isso já acontece em Plotino. Segundo este último, o tempo não existe fora da alma: “é a vida da alma e consiste no movimento graças ao qual a alma passa de uma condição de sua vida para outra”; assim, pode-se dizer que até o universo está no tempo só na medida em que está na alma, ou seja, na alma do mundo. A S. Agostinho deve-se a melhor expressão e a difusão dessa doutrina na filosofia ocidental. O tempo é identificado por Agostinho com a própria vida da alma que se estende para o passado ou para o futuro (extensio ou distensio animi). S. Agostinho diz: “De que modo diminui e consuma-se o futuro que ainda não existe? E de que modo cresce o passado que já não é mais, senão porque na alma existem as três coisas, presente, passado e futuro? A alma de fato espera, presta atenção e recorda, de tal modo que aquilo que ela espera passa, através daquilo a que ela presta atenção, para aquilo que ela recorda. Ninguém nega que o futuro ainda não exista, mas na alma já existe a espera do futuro; ninguém nega que o passado já não exista, mas na alma ainda existe a memória do passado. E ninguém nega que o presente careça de duração porque logo incide no passado, mas dura a atenção por meio da qual aquilo que será passa, afasta-se em direção ao passado”. A tese fundamental dessa concepção de tempo foi enunciada pelo próprio S. Agostinho: “A rigor, não existem três tempos, passado, presente e futuro, mas somente três presentes: o presente do passado, o presente do presente e o presente do futuro”. Na filosofia moderna, Bergson reexpôs essa concepção, contrapondo-a ao conceito científico de tempo. Segundo ele, o tempo da ciência é especializado e, por isso, não tem nenhuma das características que a consciência lhe atribui. Ele é representado como uma linha, mas “a linha é imóvel, enquanto o tempo é mobilidade. A linha já está feita, ao passo que o tempo é aquilo que se faz; aliás, é aquilo graças a que todas as coisas se fazem”. Já em sua primeira obra, Essai sur les données immédiates de la conscience, Bergson insistira na exigência de considerar o tempo vivido (a duração da consciência) como uma corrente fluida na qual é impossível até distinguir estados, porque cada instante dela transpõe-se no outro em continuidade ininterrupta, como acontece com as cores do arco-íris. Esse ficou sendo o conceito fundamental de sua filosofia. Segundo Bergson, o tempo como duração possui duas características fundamentais: 1º novidade absoluta a cada instante, em virtude do que é um processo contínuo de criação; 2º conservação infalível e integral de todo o passado, em virtude do que age como uma bola de neve e continua crescendo à medida que caminha para o futuro. Não muito diferente é o conceito de Husserl sobre o “tempo fenomenológico”. Ele afirma: “Toda a vivência efetiva é necessariamente algo que dura; e com essa duração insere-se em um infinito contínuo de durações, em um contínuo pleno. Tem necessariamente um horizonte temporal atualmente infinito de todos os lados. Isso significa que presente a uma corrente infinita de vivências. Cada vivência isolada, assim como pode começar, pode acabar e encerrar sua duração; é o que acontece, por exemplo, com a experiência de uma alegria. Mas a corrente de vivências não pode começar nem acabar”. Isso significa que, assim como a duração bergsoniana, a corrente de vivências tudo conserva e é uma espécie de eterno presente. 3ª O terceiro conceito de tempo transforma-o em estrutura da possibilidade. Esse é o conceito encontrado em Heidegger na obra Ser e o Tempo (1927), que já no título anuncia a identidade dos dois termos. A primeira característica dessa concepção é o primado do futuro na interpretação do tempo; as duais concepções anteriores fundam-se no primado do presente. O tempo como ordem do movimento é uma totalidade presente porque toda ordem pressupõe a simultaneidade de suas partes, de cuja recíproca adaptação ela nasce. A

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concepção de tempo como devir intuído só faz interpretá-lo em função do presente, porque a intuição do devir é sempre um agora, um instante presente. Heidegger, ao contrário, interpretou o tempo em termos de possibilidade ou de projeção: o tempo é originariamente o por-vir (Zu-kunft); mais precisamente: quanto o tempo é autêntico (originário e próprio da existência), é “o porvir do ente para si mesmo na manutenção da possibilidade característica como tal”. “Porvir não significa um agora, que, ainda não tendo se tornado atual, algum dia o será, mas o advento em que o ser-aí vem a si em seu poder-ser mais próprio. É a antecipação que torna o ser-aí propriamente porvindouro, de sorte que a própria antecipação só é possível porque o ser-aí, enquanto ente, sempre já vem a si”. O passado, como um ter-sido, é condicionado pelo porvir porque, assim como são possibilidades autênticas aquelas que já foram, também já foram as possibilidades às quais o homem pode autenticamente retornar e de que ainda pode apropriar-se. Tanto o tempo autêntico, em que o ser-aí projeta sua própria possibilidade privilegiada (o que já foi, de tal modo que suas escolhas do já escolhido, isto é, da impossibilidade de escolher), quanto o tempo inautêntico, que é o da existência banal, como sucessão infinita de instantes, ambos são o sobrevir do que a possibilidade projetada apresente ao ser-aí (isto é, ao homem); portanto são um apresentar-se, a partir do futuro, daquilo que já foi no passado. A análise heideggeriana do tempo sem dúvida contém um grande compromisso metafísico, porquanto o tempo é considerado uma espécie de círculo, em que a perspectiva para o futuro é aquilo que já passou; por sua vez, o que já passou é a perspectiva para o futuro. Nesse sentido, Heidegger fala de tempo finito, ou autêntico, já que tempo inautêntico (que ele também chama de databilidade ou tempo público) é o desconhecimento parcial da natureza do tempo e a sua concepção como linha aberta e sucessão infinita de instantes. Todavia, a análise de Heidegger contém alguns elementos de interesse filosófico notável porque constitui uma importante inovação na análise do conceito de tempo. Esses elementos são os seguintes: 1º Mudança do horizontal modal, passando-se da necessidade à possibilidade: o tempo já não é integrado numa estrutura necessária, como a ordem causal, mas na estrutura da possibilidade. Esse aspecto pode ser utilizado para expressar adequadamente a transformação a que a noção de tempo foi submetida pela relatividade de Einstein. Com efeito, se dois eventos são simultâneos segundo certo sistema de referência mas podem não ser simultâneos segundo um outro, conclui-se que o tempo não é uma ordem necessária, mas a possibilidade de várias ordens. 2º O primado do futuro na interpretação do tempo não constitui apenas uma alternativa diferente do primado do presente e a ele oposta, na qual se baseiam as outras duas interpretações principais, mas também oferece a possibilidade de não achatar sobre o presente as outras determinações do tempo e de entendê-las em sua natureza específica: o futuro como futuro (e não como “presente do futuro”) e o passado como passado. 3º A relação entre passado e futuro, que Heidegger enrijeceu num círculo, pode ser facilmente dissolvida com a introdução da noção de possível. O passado pode ser entendido como ponto de partida ou fundamento das possibilidades porvindouras, e o futuro como possibilidade de conservação ou de mudança do passado, em limites (e aproximações) determináveis. 4º A introdução de novos conceitos interpretativos, expressos por termos como projeto ou projeção, antecipação, expectativa, etc., mostraram-se úteis nas análises filosóficas e passaram a fazer parte do uso filosófico (Abbagnano, 1998, 944-948).

Através da leitura destas definições podemos constatar a dificuldade inerente à

definição do conceito tempo. Os próximos capítulos tentarão explicitar algo que

acrescente valor sobre este tema.

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2 O início do tempo

2.1 O tempo tem um início?  

Tentarmos perceber e entender o início do tempo é uma questão que suscita indubitável

reflexão. Existirá um instante preciso em que se possa afirmar que aí se deu o início do

tempo? É pertinente tentarmos determinar quando esse início se deu? Qual a relevância

de apontarmos para um instante onde se tenha dado início ao tempo? As linhas

seguintes abordam esta temática sobre a qual ainda muitas reticências existem.

Aristóteles, no termo de uma análise do instante, concluía com a tese de que o tempo é eterno e que, na realidade, não se pode falar de um seu início (Prigogine, 1988, 35).

A tradição bíblica levou a que alguns filósofos traduzissem a ideia de que o tempo foi

criado num determinado momento, ou seja, o início do tempo deu-se perante a

ocorrência de um qualquer acontecimento ou fenómeno, havendo também a ideia

apresentada por alguns pensadores como Giordano Bruno e Albert Einstein de que o

tempo era eterno, o que é o mesmo que dizer que o tempo não tem início nem fim.

(Prigogine, 1988).

A concepção do tempo e o seu começo é, sem qualquer margem para dúvida, um tema

inquietante, ao mesmo tempo apaixonante, pois, como referimos anteriormente, não

pode considerar-se existir algo objetivo e definitivo sobre esta temática. Muitas

gerações de pensadores deixaram o seu testemunho sobre esta problemática e acredita-

se que esta discussão continue nas gerações vindouras.

Para Prigogine (1988), a pergunta mencionada no início deste capítulo não faz sentido

no contexto da ciência clássica. Tal deve-se ao fato do universo, nesta concepção, ser

considerado um autómato e por esse motivo não possuir história, isto pois, e

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transcrevendo as palavras do autor, “uma vez posto a caminho, ele prossegue o seu

percurso até ao infinito” (Prigogine, 1988, 35).

No século XIX, com o aparecimento da teoria de Charles Darwin, o evolucionismo, a

ideia de evolução já estava bastante presente e a pergunta sobre o início do tempo, era já

feita de forma muito clara, havendo quem se questionasse como era possível conceber

um mundo em evolução quando a ciência postulava que vivíamos num mundo estático e

determinista (Prigogine, 1988).

Iremos tentar esclarecer e clarificar alguns pontos sobre este tema. Para isso,

abordaremos nas linhas seguintes o ponto de como terá aparecido o tempo no universo.

A obra de apoio é O nascimento do tempo (Prigogine, 1988).

A questão central é: deu-se, em verdade, o nascimento do tempo? É uma questão

melindrosa e como já temos vindo a referir, possivelmente não existe uma resposta

única e óbvia à questão.

A questão é muito complexa. Provavelmente deu-se o nascimento do nosso tempo. Está aqui o nascimento do tempo em si? É um hábito, uma convenção, aquela que nos leva a contar o tempo a partir de um evento. Seja o nascimento de Cristo ou a fundação de Roma, trata-se sempre do nascimento do nosso tempo (Prigogine, 1988, 59).

Como constatamos no excerto acima transcrito, o tempo tem o seu início quando esse

início é convencionado por alguns grupos de pessoas, alguns pensadores, alguns

filósofos, denominações religiosas, enfim, o nascimento do tempo é de difícil

determinação, correndo mesmo o risco de afirmar que é impossível determinar o seu

início.

 

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Afirmar que o tempo nasce com o Big Bang é afirmar o impossível, pois não se conhece

o fenómeno na sua plenitude nem este pode ser inteiramente comprovado (Prigogine,

1988).

Da mesma maneira, não creio que a vida corresponda a um fenómeno único: forma-se sempre que as circunstâncias planetárias sejam favoráveis. E mais, creio que se formará outro universo sempre que as condições astrofísicas forem favoráveis a tal evento. O nascimento do nosso tempo não é, por conseguinte, o nascimento do tempo. Já no vazio flutuante o tempo preexistia em estado potencial (Prigogine, 1988, 59).

Não importa, aqui, concordarmos ou aceitarmos a perspectiva do autor. O que se torna

fundamental é percebermos que a problemática tempo é real, é latente a pensadores de

várias gerações e continuará sendo. Neste sentido e baseado nisto, afirmo que é muito

difícil gerirmos o nosso tempo. Difícil, porquê? Gerirmos algo que não temos a certeza

do que é, ultrapassa em larga escala a capacidade humana. Podemos debater-nos sobre

as várias concepções de tempo, onde nasceu, como existe e estas perguntas, muito

dificilmente, terão respostas objectivas e únicas. Assim, fundamental é tentarmos saber

o máximo sobre o tema para que dessa forma possamos compreender o nosso tempo e

assim rentabilizá-lo.

 

 

 

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3 O tempo

3.1 O relógio  

Quando pensamos em tempo, um objeto aparece-nos imediatamente no nosso

pensamento. Esse objeto é o relógio. Será o relógio o reflexo do tempo? É o relógio o

tempo em si mesmo? O pensamento mais comum e redutor é responder sim às questões

acima apresentadas. O relógio, no conhecimento denominado de popular, é o tempo,

controla e dita o mesmo. É esta a verdadeira realidade?

Um relógio dá as horas, estamos de acordo, passa mesmo as suas horas a não fazer senão isso, mas não mostra nada daquilo que é o tempo para além deste processo de actualização. Pelo contrário, dissimula o tempo por detrás da máscara convincente de uma mobilidade perfeitamente regular. Revestindo-o de movimento, desloca-o: o tempo torna-se uma metamorfose do espaço, um duplicado da extensão. Mas o movimento confunde-se com o tempo? É antes uma camuflagem do tempo ou um substituto, de resto fácil de identificar. Quando um relógio avaria, os seus ponteiros imobilizam-se sem que isso impeça o tempo de continuar a fluir. A paragem do movimento não equivale à paragem do tempo: um objecto imóvel é tão temporal como um objecto em movimento (Klein, 2007, 14).

Na verdade e como podemos verificar pelo texto acima transcrito, o relógio não é o

tempo, não reflete o tempo, simplesmente mostra horas (Klein, 2007). O tempo, em si, é

muito mais que isto, é imensamente mais complexo.

O tempo habita fora do relógio. Mais precisamente, não há muito mais tempo dentro de um relógio do que fora dele, pela simples razão de que ele não existe em lado nenhum de maneira directa: este tempo que fabrica a sucessão dos instantes nunca o vimos, nem nunca o cheiramos, o escutamos ou tocámos. Na verdade, não percebemos senão os seus efeitos, as suas obras, os seus adornos, as suas metamorfoses, que podem enganar-nos a respeito da sua natureza (Klein, 2007, 15).

A história do tempo é já longa e até por esse motivo vemos que os relógios não

poderiam nunca ser o tempo, pois estes não existiam no antigamente mais profundo e as

referências ao tempo são já feitas desde há vários séculos atrás, como aconteceu nas

paredes do túmulo de Tutankamon, faraó da 18ª dinastia, ainda muito antes de Galileu,

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onde se encontram representados vinte e quatro babuínos que pensa-se representarem as

vinte e quatro horas de um dia (Klein, 2007).

Está provado que os relógios não são o tempo, e que apenas mostram o passar das

horas. Devemos admitir que é um instrumento atualmente útil e importante para a

sociedade contemporânea na sua regulação.

Agora, o que é o tempo? Mais uma vez uma incógnita. Este não se mostra, nem se

revela, embora não seja possível viver sem o tentarmos conceber (Klein, 2007).

3.2 A palavra tempo

Todos julgamos saber o que é o tempo, o que envolve o tempo. Frequente é usarmos

expressões como não tenho tempo ou o tempo passa tão rápido, tenho que fazer duas

coisas ao mesmo tempo, ou seja, banalizamos a palavra tempo e usámo-la de uma forma

corriqueira sem pensar no seu verdadeiro significado ou essência.

Qualquer um de nós percebe tacitamente do que está a falar quando se fala de tempo. Quem não crê mesmo conhecê-lo intimamente? Não é preciso sermos um Kant, um Einstein ou um Heidegger para nos autorizarmos uma opinião de perito, para apresentarmos a nossa própria concepção da coisa. E sim! Pertencemos, à condição humana, temos a sua experiência e isso é quanto basta, pensámos nós, para evocar a questão do tempo. Então apregoamos velhos truísmos, reciclamos ideias-múmias, elevamos simples conversas de café ao estatuto de pensamento colectivo (Klein, 2007, 19).

Voltando ao título com que iniciei esta parte do trabalho, tempo é na verdade uma

palavra bastante usual no nosso vocabulário e léxico diário, daí pode advir a nossa

banalização na tentativa de compreendermos o seu conceito. Por isso, pensemos sobre

qual o significado desta palavra, pois, o mesmo parece não estar perfeitamente

esclarecido nas nossas mentes.

...será sinónimo de simultaneidade, como na expressão ele faz duas coisas ao mesmo tempo? Reenviará para a ideia de sucessão, como na frase virá o tempo de este livro estar terminado? Para a de duração, como em o autor precisou de

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algum tempo – oh, não muito – para terminar a escrita da sua obra? (Klein, 2007, 20).

Como vemos, a palavra tempo acarreta sobre si três outras palavras que também elas

têm significâncias bem distintas. Simultaneidade, sucessão e duração, que podem

significar mudança, evolução e repetição, enfim, significados diferentes que trazem

ambiguidade à problemática tempo, advindo também desse facto a dificuldade em

concretizá-lo objectivamente (Klein, 2007).

Muitas definições de tempo existem e todas elas são diferentes e nos fazem refletir

sobre algo novo.

Para Platão “o tempo é a imagem móvel da eternidade imóvel”, para Aristóteles, “o

número do movimento de acordo com o antes e o depois”, Giono menciona que “o

tempo é o que passa quando nada se passa”, desta forma é, e volto a frisar, de enorme

dificuldade caracterizar objectivamente o tempo, isto se for, realmente possível fazê-lo

(Klein, 2007, 20).

Sobre a problemática da definição do tempo, afirma Pascal:

O tempo é deste tipo. Quem o poderá definir? E porquê tentá-lo, se todos os homens compreendem o que queremos dizer quando falamos do tempo sem o designarmos mais profundamente? (Klein, 2007, 20).

A palavra tempo e o seu conceito varia de autor para autor, de época para época e não é

algo que se possa considerar estático. Podemos julgar saber do que se trata, mas a nossa

visão é e será sempre limitada, mesmo muito pequena sobre a verdadeira grandeza

daquilo que é o fenómeno tempo. Continuará sendo um dos grandes mistérios com o

qual nos teremos que debater. Algo que é inequívoco no pensamento de todos é que

mesmo não conhecendo a sua verdadeira essência, afecta-nos e temos que de alguma

forma geri-lo, sedo que é inerente à nossa vivência.

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Debrucemo-nos, agora, sobre a passagem do tempo. Todos afirmamos que o tempo

passa. Será mesmo assim?

Mas ao deduzir que é o próprio tempo que passa, equivocamo-nos. A sucessão dos três momentos do tempo (futuro, presente e passado) não significa que o tempo se suceda a si próprio. Eles passam, ele não (Klein, 2007, 22).

Heidegger afirma também “o próprio tempo, em todo o seu desdobramento, não se

move e está imóvel e em paz” (Klein, 2007, 22).

Por estas transcrições constatámos que o tempo existe sempre e não é este que passa. O

que passa são os acontecimentos, as diferentes realidades. O tempo não (Klein, 2007).

Mesmo assim, o que é fascinante sobre esta temática é a sua contínua descoberta e o

aprofundar do seu estudo. Com isto em mente continuaremos a tentar desbravar os

caminhos que o tempo percorre, mesmo que esses caminhos possam ser infinitos e a

nenhum destino nos conduzam.

3.3 O tempo antes do tempo

Num capítulo anterior, com o título o tempo tem um início?, referimos que não era de

todo simples e fácil definir quando o tempo tinha tido o seu começo. Escrevemos que o

nascimento do tempo correspondia ao nascimento do nosso tempo, isto é, esse

nascimento foi definido por nós, teve início com algum acontecimento. Neste capítulo

abordaremos o tempo antes de ser tempo fazendo alusão a mitos antigos.

Acreditava-se, segundo esses mitos antigos, que o mundo que existia não estava sob a

influência do tempo. Este aparece pela necessidade de se criar uma história, de provocar

evolução (Klein, 2007).

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Jean-Pierre Vernant conta que na versão dos mitos gregos existia, no início, o Céu e a

Terra, Urano e Gaia. O Céu tinha sido criado por Gaia e cobria toda a Terra. Urano, por

seu lado, estava continuamente colado a Gaia com quem tinha e mantinha uma

constante atividade sexual. Isso levou a que Gaia engravidasse e tenha tido uma série de

filhos. Reza a história que a pressão sobre Gaia por parte de Urano era de tal forma que

esta não conseguia libertar os filhos concebidos no seu ventre e estes acabavam por

asfixiar. Assim, Kronos, o último filho a ser concebido, tenta ajudar a sua mãe, tentando

libertá-la de Urano. O plano passou por agarrar os órgãos sexuais de Urano durante a

atividade sexual e cortá-los. Isso aconteceu, e dessa forma Urano separou-se de Gaia,

tendo este se fixado no topo do mundo e nunca mais de lá ter saído. Com esta ação de

Kronos ocorreu a separação entre o céu e a terra e assim o que fosse criado e nascesse

tinha um lugar para se desenvolver. Com esta possibilidade passa a haver história e

assim o surgimento de um tempo, embora antes Urano e Gaia já experimentassem a

duração sendo isso considerado um tempo fechado, pois era somente entre eles os dois.

Com este acontecimento Kronos liberta Cronos e dá-se o desenrolar da história (Klein,

2007).

No hinduísmo, algo de muito similar aconteceu. Tal é comprovado através de textos

muito antigos. Vemos que o tempo surge somente a partir de um momento, onde tal se

tornou necessário (Klein, 2007). “Noutros termos, há um mundo que existe

previamente, no qual explicam-nos, há duração mas não há tempo” (Klein, 2007, 33).

Salphata Brahmana em relação aos mitos da criação afirma o seguinte:

No começo as Águas, o Oceano existiam sozinhos. As Águas suspiraram: Como chegaremos a procriar? Fizeram um esforço, demoraram o seu fervor e desenvolveu-se n’Elas um ovo de ouro. O tempo, é certo, não existia então, mas o ovo flutuou tanto tempo quanto dura um ano. Durante esse ano, surgiu um ser: era Prajapati. Prajapati, o senhor das criaturas, pronunciando balbucios de uma ou duas sílabas, criou a Terra, o Espaço e o Céu (Klein, 2007, 33).

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Assim vemos mais um exemplo sobre a não existência de tempo que posteriormente

passa a existir. O tempo existe! O que é o tempo? É e será uma questão por responder.

Certo parece ser que há um tempo antes de haver tempo e que este surge por uma

absoluta necessidade de se criar história e de dar ordem às coisas. Esta parece ser uma

das funções do tempo. Querermos objetivar o que quer que seja sobre esta questão é

incorrermos no erro de limitarmos o nosso pensamento e dessa forma não estarmos

predispostos a um ponto essencial na descoberta do conhecimento. Esse ponto é a

consciencialização necessária de que nada sabemos e por isso percorrermos caminhos,

trilhos e montanhas no sentido de mais sabermos, de sermos mais e sermos melhores.

Resumindo: o tempo é no mínimo a razão de as coisas continuarem a estar presentes. Sem ele, tudo passaria de uma vez só: no momento em que aparecesse, o mundo voltaria a mergulhar no nada. Podemos ter a impressão de que ele não flui, mas não é mais que uma impressão, uma ilusão, uma maneira de dizer: ele não pára nunca de fluir. O tempo não é um lago (Klein, 2007, 37).

3.4 O tempo físico

A obra O tempo, de Galileu a Einstein (Klein, 2007) apresenta-nos uma visão sobre o

tempo físico que consideramos muito pertinente apresentar.

Afirmar que o tempo físico é uma alegoria, uma fantasia e algo que não pode ser

percepcionado é considerado um exagero. Relacionado com isto aparece o exemplo do

tédio que vem mostrar a forma como esta ideia é exagerada (Klein, 2007).

Existe uma experiência – propriamente metafísica – do tempo físico que é a do tédio: quando nada acontece, quando nada se anuncia, quando nada se passa, vivenciamos a existência de um tempo esvaziado despido das suas transfigurações e dos seus cambiantes, investido de autonomia, um tempo sem elasticidade, que parece ter-se dissociado do devir e da mudança. É o tempo posto a nu, o tempo físico tal como foi pela primeira vez definido por Newton (Klein, 2007, 45).

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O que é isto do tédio? O tédio dá-se quando nada temos para fazer, quando o que

fazemos carece de interesse e quando a duração daquilo que fazemos não existe (Klein,

2007).

O autor apresenta-nos também a ideia que o tédio tem dois lados: um negativo e um

positivo. Do lado negativo, ou lado mau, o tédio transparece uma falta de ser, um vazio,

um nada. Do lado positivo, o tédio oferece o espaço para o auto conhecimento, para nos

percebermos, nos entendermos. O tédio permite-nos, porque temos tempo, encontrarmo-

nos e assim realizarmos um exercício de reflexão muito pessoal. O tédio permite-nos

saborear o tempo, ou seja, a sensação de um tempo físico (Klein, 2007).

3.4.1 Henri Bergson e o tempo físico

Relacionado com esta temática, não houveram muitos pensadores que ousaram escrever

e teorizar sobre a mesma, contudo Henri Bergson fê-lo e assim tentaremos expor o seu

ponto de vista.

Ele defendia a ideia de que o tempo físico resultava de uma simples extensão às coisas da nossa experiência subjectiva da duração. Para ele, se acabámos por desenvolver uma representação física do tempo, é porque estendemos ao mundo que nos rodeia por simples continuidade, o nosso próprio vivido temporal (Klein, 2007, 48).

Bergson afirma ainda que:

...a temporalidade do açúcar que derrete num copo de água sobre a mesa é na realidade o reflexo da minha espera, eventualmente o da minha impaciência. Partindo assim da minha própria consciência para o copo de água, depois para a mesa, depois para os outros objectos ao meu redor, posso passar da afirmação eu perduro à conclusão de que o universo perdura também (Klein, 2007, 49).

Estas ideias de Bergson não tinham grande apoio, isto pois, colocar o tempo físico como

sendo o estender do que havíamos vivido era considerado subjetivo, carecia realmente

de real compreensão (Klein, 2007).

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Quem se opôs frontalmente a esta ideia de Bergson foi Einstein, com quem de resto,

este travou alguns diálogos bem interessantes. Assim Einstein citado por Maurice

Merleau-Ponty:

É à ciência, explica ele ao filósofo, que é preciso exigir a verdade sobre o tempo como sobre tudo o resto. E a experiência do mundo apreendido com as suas evidências não é senão um balbucio antes da clara palavra da ciência (Klein, 2007, 49).

Mais uma vez podemos verificar que a discussão sobre o tempo, e neste caso concreto,

o tempo físico também não gera consensos quanto à sua natureza e definição. Podemos

contudo, afirmar que existe um tempo físico e que este tem vindo a ser tentado

caracterizar. Outro ponto que é interessante voltar a frisar, revelado pelo autor do livro,

é a importância e relevância do tédio neste contexto. Os caminhos do entendimento do

tempo a todos estes passos obrigam.

3.4.2 Tempo físico vs tempo psicológico

Estando, nesta fase, já bem claro e explícito o conceito de tempo físico, importa

contrastar este com um novo, o tempo psicológico, que é descrito por vários autores.

Por esse motivo cremos ser importante apresentar de que forma estes dois tempos

diferem e se realmente existe alguma lógica nesta distinção. Comummente associamos

o tempo psicológico à nossa interpretação da passagem do tempo, das durações, se algo

que está para acontecer está a demorar muito ou se algo que ocorreu passou muito

rápido. É realmente disto que trata o tempo psicológico? Faz sentido falarmos neste

tempo? Que diferenças, a existirem, podemos apontar entre o tempo psicológico e

físico? Tentemos responder a estas questões.

Num dos muitos diálogos que se deram entre Bergson e Einstein sobre a questão do

tempo, o segundo afirmou: “Não há um tempo dos filósofos; há um tempo psicológico

diferente do tempo dos físicos” (Klein, 2007, 131).

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Suportando-nos nesta afirmação de Einstein, faz todo o sentido a referência à existência

de um tempo psicológico diferente de um tempo físico, que é muitas vezes associado ao

tempo ditado pelos relógios, como também já vimos num capítulo anterior (Klein,

2007).

Também sobre isto e sobre o que pode ser uma experiência pertinente de apresentar na

compreensão do que é o tempo psicológico e a sua existência, escreve Paul Valery:

“Esperai pela fome. Tende necessidade de comer e vereis o tempo” (Klein, 2007, 131).

Lembremo-nos que para percebermos a existência do tempo físico recorremos à

experiência do tédio. Posto isto, acreditamos que faz todo o sentido dissertar sobre a

existência de um tempo psicológico diferente de um tempo físico (Klein, 2007).

O objectivo passa por apontar essas diferenças e explicitá-las convenientemente.

A distinção mais evidente entre estes dois tempos refere-se ao seu escoamento. O tempo físico flui de maneira uniforme, ao passo que o ritmo do tempo psicológico varia; de acordo com as circunstâncias, pode dar a impressão de estagnar ou, pelo contrário, de acelerar. Se usamos um relógio no pulso é precisamente porque a nossa apreciação das durações não é fiável: temos regularmente de acertar os nossos pêndulos (Klein, 2007, 131-132).

Não podem haver dúvidas quanto à existência de alguns fatores que influem na nossa

percepção do tempo, o que é igual a dizer tempo psicológico. Os fatores mais relevantes

são a idade, que vai influenciar a forma como vemos as coisas, a intensidade e o

significado que certos acontecimentos passados ou que estão no porvir têm para nós.

Estes factores têm total importância na forma como entendemos o tempo (Klein, 2007).

Várias experiências realizadas comprovam o que acima foi escrito. Uma das

experiências relevantes é a chamada experiência dos espeleonautas, homens e mulheres

que voluntariamente decidiram viver durante um longo período de tempo em cavernas

sem qualquer elemento que lhes permitisse percepcionar corretamente o passar das

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horas, como é o caso do relógio. O que se verificou foi que a sua percepção de duração

e de passagem do tempo era tremendamente diferente daquela que era dada pelos

relógios (Klein, 2007).

Outro caso onde se constata que o que é intuído pela passagem do tempo é diferente do

que realmente se passa verificou-se no relato de Paul Fraisse sobre a catástrofe mineira

de Courrières:

...na sequência de desabamentos, os mineiros ficaram encerrados numa galeria de onde apenas conseguiram sair depois de três semanas de esforços. Uma vez livres, declararam espontaneamente que lhes parecia não terem passado mais do que quatro ou cinco dias no fundo da mina. As durações, mesmo quando vividas em angústia, podem portanto estimar-se em cinco vezes mais curtas do que o são na realidade (Klein, 2007, 132).

É absolutamente tremenda a forma díspar como percepcionamos o tempo quando não

temos qualquer referência objetiva do passar do mesmo. Assim vemos que existem

claras diferenças entre os dois tempos mencionados e, por esse motivo, não podemos

negar a sua existência. Apresentemos outra diferença.

Tempo físico e tempo psicológico distinguir-se-iam igualmente pelas suas maneiras correspondentes de apresentar o presente. O presente do tempo físico tem uma duração nula. Concentra-se num ponto, precisamente o instante presente, que separa dois infinitos um do outro: o infinito do passado e o infinito do futuro. O tempo psicológico, por sua vez, mistura dentro do próprio presente um pouco do passado recente e um pouco do futuro próximo. Cria, portanto, uma certa duração ao verificar o que o tempo físico não pára de separar, retendo provisoriamente o que transporta, incluindo o que ele exclui (Klein, 2007, 133).

Esta distinção entre tempo físico e psicológico é bastante complexa e está comprovado

cientificamente que envolve processos a nível cerebral e neurológico absolutamente

fantásticos do ponto de vista da dificuldade da sua compreensão (Klein, 2007).

Interiorizemos que a passagem do tempo e a sua duração é algo que na verdade é muito

complicado. Os fatores enunciados anteriormente, a idade, a importância e o significado

que damos às coisas influenciam em larga escala tudo o que pensamos sobre o tempo.

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Não poderemos nunca afirmar que este processo ocorre sempre da mesma forma.

Bachelard, outro importante filósofo afirma o seguinte sobre a duração:

A duração não se limita a perdurar, ela vive! Por pequeno que seja o fragmento considerado, um exame microscópico é suficiente para ler aí uma multiplicidade de acontecimentos. Sempre os bordados, nunca o tecido; sempre sombras e reflexos sobre o espelho móvel do rio, nunca o fluxo límpido (Klein, 2007, 134).

Mais uma vez, muita precaução é necessária quando dissertamos sobre o tema tempo.

Neste ponto onde introduzimos o tempo psicológico, precaução é igualmente

necessária. Que este existe parece ser inequívoco, que ele tem influência no nosso

quotidiano e nas nossas ações também é indubitável. Agora é essencial termos presente

que a sua compreensão não é um caminho sem pedras, sem socalcos ou qualquer ruído.

Tenhamos noção da sua existência e tentemos compreendê-lo mas nunca proferir

certezas sobre o mesmo (Klein, 2007).

3.5 Tempo: linear ou cíclico?

Na continuação da nossa reflexão sobre o tempo, uma questão torna-se importante. É o

tempo uma linha reta, isto é, um tempo que corre sempre ou é o tempo circular, o que

significa que se pode repetir e é dessa forma considerado cíclico? Certo é que o tempo

corre do passado para o futuro (Klein, 2007).

Vejamos, então, qual a ideia sobre o tempo, neste contexto, que prevalece.

O tempo cíclico foi uma concepção que perdurou ao longo de vários séculos, embora

tenha sido destronado posteriormente pelo tempo linear (Klein, 2007). Tentemos

perceber como.

Está referenciado que esta mudança de paradigma se deveu em larga escala a uma

influência do cristianismo primitivo (Klein, 2007). Este tinha como fundamento o fato

de que o reino de Deus se viria a estabelecer na terra, o que por conseguinte reafirma

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que novos tempos são fundados com a ocorrência de alguns acontecimentos, como

também já anteriormente mencionamos. Este fato vem contrariar o aspeto da repetição

dos tempos, a concepção cíclica do mesmo, no qual ocorrem repetição de tempos

(Klein, 2007).

Sendo ponto assente que um acontecimento determina o surgimento de um novo tempo.

A ideia de que os tempos se repetem é rejeitada, pelo fato de acontecimentos não se

repetirem, pelo menos, acontecimentos exatamente iguais.

Associado a esta ideia e para corroborar a teoria que o tempo é linear, mencionaremos o

princípio da causalidade no destrinçar desta questão.

Em geral, o princípio da causalidade enuncia-se dizendo que todos os factos têm uma causa e que a causa de um fenómeno é necessariamente anterior ao próprio fenómeno (Klein, 2007, 64).

Este princípio aponta para a necessidade de uma causa para que algo aconteça,

pensamento partilhado por filósofos como Aristóteles, Kant e até La Palice (Klein,

2007). Mas qual a relação deste aspeto com a justificação de o tempo ser não cíclico?

Num tempo circular, o devir regressa sobre si mesmo para tudo fazer reaparecer, embora o que chamamos a causa pudesse igualmente ser o efeito, e vice-versa. O princípio de causalidade seria, pois, inaplicável. A circularidade do tempo levaria além disso a enfrentar situações muito curiosas: se ir em direcção ao futuro fosse equivalente a voltar ao passado, um ser humano poderia suprimir no passado uma das causas que permitiram o seu nascimento, por exemplo impedir qualquer encontro entre o seu pai e a sua mãe. Tal paradoxo, possível com um tempo cíclico, já não o é com um tempo linear, ordenando este os acontecimentos de acordo com um encadeamento cronológico irremediável (Klein, 2007, 65).

Perante este excerto vemos que a ideia de um tempo cíclico é completamente refutada.

É fatual que o tempo não volta atrás, e que aquilo que fazemos fica para a história, a

nossa história, não sendo possível mudar tudo o que já foi feito ou ficou por fazer. O

tempo segue o seu curso e simplesmente conta o que vamos fazendo e o que podemos

vir a fazer.

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O princípio da causalidade sofreu ao longo dos tempos algumas alterações. Ao invés de

apresentar que determinada causa tinha sempre o mesmo efeito, passou a postular que

uma causa produzia um efeito, não tendo o mesmo que ser sempre o mesmo. Por vezes,

acontecimentos muito similares ocorrem mas isso não significa que o tempo é cíclico,

significa apenas que algo muito parecido aconteceu com o que já previamente se havia

dado (Klein, 2007).

Assim depurado, o princípio de causalidade estipula simplesmente que o tempo não tem caprichos, que flui num sentido bem determinado, de modo que podemos sempre estabelecer uma cronologia bem definida se os acontecimentos estiverem causalmente relacionados (Klein, 2007, 66).

Estando o ponto sobre o princípio da causalidade esclarecido, importa reafirmar algo

que é comummente aceite e que sintetiza a importância da linearidade do tempo.

A linearidade do tempo, desde que foi afirmada, abriu novas perspectivas: marcada por acontecimentos únicos, tendente para um futuro necessariamente novo, rompia radicalmente com a gaguice do tempo circular e as duas monótonas iterações. Ela fez do futuro uma aventura. Antes dela, a lengalenga, o sempiterno, e nada mais. Com ela, a produção histórica, a invenção, o inédito. Mas também os ciclos. E às vezes o irreparável, o definitivo. Por construção, o tempo linear avança implacável em direcção do futuro. Cada dia que faz, é um dia novo incessantemente, o desfile rectilíneo dos seus tiquetaques consome pouco a pouco os restícios de perfeição circular. Melhor, dá-nos uma margem de manobra e um semblante de liberdade (Klein, 2007, 68).

3.6 A continuidade e descontinuidade do tempo

Relativamente ao aspeto da continuidade ou descontinuidade do tempo torna-se

importante referir que devemos ser cautelosos e não tentarmos achar ou retirar

conclusões precipitadas sobre o tema. Existem, na verdade, equações que podem

ultrapassar o nível da nossa inteligência e até mesmo aspetos relacionados com isto que

não sejam possíveis de entendimento. Talvez exista mesmo mais que um tempo,

podendo estes existir ao mesmo tempo. Assim, prudência é o termo certo quando

procuramos refletir sobre esta temática (Klein, 2007).

Tendo em conta o que anteriormente foi escrito, vamos desdobrar esta questão.

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O que seria mais facilmente aceite e que à primeira vista se sustenta naquilo a que

chamámos de lógica é de que o tempo e consequentemente o espaço, pois aqui

estaremos sempre a referir-nos ao binómio espaço-tempo, são grandezas contínuas. Em

verdade, é até estranho imaginarmos qualquer umas destas duas grandezas sendo como

não contínua. Isso implicaria a existência de buracos, lados escuros e desconhecidos, em

suma, haveria falhas no espaço que desconhecemos (Klein, 2007).

Relativamente a esta possibilidade existem alguns exemplos mencionados na obra O

tempo, de Galileu a Einstein (Klein, 2007) que podem levar ao levantamento desta

hipótese.

Em primeiro lugar são referenciados os trabalhos de Max Planck sobre o corpo negro

que concluíram que as trocas de energia entre a radiação e a matéria só podiam ocorrer

através de pacotes descontínuos. Vemos aqui o primeiro sinal de descontinuidade.

Posteriormente, é-nos apresentada a ideia da descontinuidade do espaço, estando este

agregado ao tempo, que estaria estruturado como sendo uma espécie de rede, ou seja,

que teria espaços entre si. Mas seria isto realmente possível? (Klein, 2007).

Vejamos o que aconteceu com o decorrer dos trabalhos de Alain Connes em 1980

também mencionados na obra (Klein, 2007).

Estes referem-se às geometrias não comutativas que permitem considerar estruturas que apresentam um carácter descontínuo. (...) Para construir estas novas geometrias, é necessário substituir as coordenadas espaciais usuais que são números comuns por operadores algébricos que têm a propriedade de não comutarem entre si. (...) Estes operadores algébricos não são uns quaisquer: verificam certas relações que definem as propriedades do espaço a uma escala muito pequena (Klein, 2007, 115).

Esta escala muito pequena permite deduzir que existem pequenos espaços no espaço,

permitindo-me a redundância. Por isso, a possibilidade da descontinuidade estar aqui

vincada e expressa (Klein, 2007).

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Na verdade, e como referia no início do capítulo, temos que ser prudentes na discussão

deste tema, pois, existem várias possibilidades, duas neste caso, a serem consideradas.

Não há uma possibilidade unanimemente aceite, há sim possibilidades a serem

consideradas e por isso a terem que obrigatoriamente ser relevantes para o nosso

pensamento e exercício reflexivo sobre o tema. O tempo está presente, é real mas a sua

compreensão é alvo de uma grande subjetividade. Daí torna-se fundamental muito bem

o conhecermos em todas as suas variantes. “Dançará o Universo uma valsa a dois

tempos? Ou mesmo a três?” (Klein, 2007, 116). Fica aqui a questão.

3.7 Tempo no inconsciente

Dissertarmos sobre o tempo no inconsciente, é arriscar, é caminhar sobre um terreno

pantanoso, é percorrer caminhos com muito pouca luz. O inconsciente é desconhecido e

por esse motivo carece de entendimento, assim, tudo o que possamos escrever sobre o

que nele acontece é um exercício de reflexão puramente subjetivo. Porém, houve quem

o tenha feito e por isso a referência a este tipo de tempo seja pertinente e necessária.

Freud, considerado unanimemente o pai da psicanálise, discorreu sobre este tema. É

nosso propósito apresentar o ponto de vista do autor para dessa forma melhor

entendermos a que se refere quando menciona a existência de um tempo no

inconsciente.

O primeiro ponto, bastante claro e preciso, que Freud apresenta sobre o tema é que, “...o

inconsciente ignora o tempo” (Klein, 2007, 141). Ele é ainda mais preciso ao afirmar

que:

...o inconsciente não sofre os efeitos do tempo no sentido em que ele não declina, não enfraquece. Nada diminui jamais o seu poder de reivindicação. Ele seria, em suma, como o próprio passado: impossível de alterar (Klein, 2007, 141).

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Ainda segundo Freud: “No inconsciente – escreve - nada acaba, nada passa, nada é

esquecido” (Klein, 2007, 141).

A posição de Freud é bastante clara. O inconsciente não se importa com o tempo. Quase

podemos afirmar que este tem vida própria (Klein, 2007).

Como referia no início, é perigoso falarmos de um tempo no inconsciente como foi feito

por Freud, pois ele assume posições muito definitivas com as quais temos alguma

dificuldade em concordar. Mais uma vez, prudência é necessária neste tema.

Sobre o fato de o inconsciente ignorar o tempo, Freud apresenta-nos o exemplo de que

nos sonhos, que ocorrem no inconsciente, o tempo nem sempre corre do passado para o

presente, afirmando que “o sonho mostra-nos o coelho a perseguir o caçador” (Klein,

2007, 142).

Assim e continuando a percorrer a sua linha de raciocínio, o tempo no inconsciente não

pode ser visto nem interpretado como acontece no tempo físico, ou seja, percorrendo a

linha normal do tempo (Klein, 2007).

O inconsciente contenta-se em guardar, embora fora de qualquer relação temporal linear, vestígios dos depósitos do passado que são retidos apenas em função da sua intensidade e que podem sempre contaminar-se uns aos outros, a ponto, às vezes, de baralhar a ordem da sua sucessão: às vezes é apenas fora de tempo que um acontecimento passado se transforma realmente num acontecimento. Um efeito de desfasamento temporal interpõe-se entre a data de um facto passado e a sua assimilação pelo sujeito (Klein, 2007, 142).

Esta questão do tempo no inconsciente é na verdade muito intrigante. É-nos apresentado

que o inconsciente não se importa com o tempo mas contudo guarda e retém pedaços do

tempo, podendo estes posteriormente aparecerem sem qualquer relação com uma linha

temporal lógica, isto é, uma linha que vai do passado para o futuro. Torna-se confuso

percebermos as ideias de Freud pois o que realmente se constata é que mesmo no

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inconsciente o tempo está presente, simplesmente não está da mesma forma como

acontece no já mencionado tempo físico (Klein, 2007).

Mesmo assim Freud segue a sua linha de pensamento e apresenta uma nova relação,

sendo esta entre o inconsciente e a faculdade do esquecimento (Klein, 2007).

Ele observa primeiro certos comportamentos repetitivos que mostram que há formas circulares em acção no inconsciente. O sujeito repete um acto em vez de recordar a sua primeira ocorrência, reprodu-lo em vez de o representar, como se um curto-circuito o tivesse feito perder a memória daquilo a que a repetição se refere e tivesse imobilizado os seus actos numa forma circular estéril. Freud disse de um tal sujeito que ele repete em vez de recordar, mas poderíamos igualmente dizer que ele repete para não recordar. Quanto mais repete, menos recorda, menos sabe por que repete e continua a repetir para não arriscar tomar consciência do sentido daquilo que, em si, insiste e reitera (Klein, 2007,143-144).

Vemos aqui um claro contraste entre a memorização, ou seja, a consciência de que já

fizemos algo igual antes, e a tal faculdade de esquecimento que talvez seja mais

conveniente à posição assumida por Freud, pois assim, o tempo continua a ser algo que

é ignorado no inconsciente, pelo fato de não haver recordação do que se havia feito

(Klein, 2007).

O inconsciente é algo, como já referimos anteriormente, desconhecido e sobre o qual

muita coisa continuará a ser escrita. A posição de Freud é que este ignora o tempo. Mas

vimos também que o tempo ou pedaços dele ficam registados no inconsciente. Tomar

uma posição definitiva sobre a questão? Não podemos (Klein, 2007).

O que sabemos é que a problemática tempo é tão abrangente que até nas questões do

inconsciente tem lugar. Tentemos sobre ele saber o máximo para melhor o gerirmos,

tendo sempre em mente a tão já proclamada precaução.

 

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4 Tempo em Agostinho de Hipona

O tempo sempre foi um tema que inquietou personalidades e pensadores, pelo fato deste

influenciar e mesmo condicionar em grande parte a forma como vivemos, a forma como

sentimos a vida, porque realmente nós vivemos num espaço temporal contínuo, no qual

vivemos as nossas experiências, os momentos e as diferentes etapas da vida. Em tudo

isto está o tempo.

Alguém que foi completamente apaixonado pela vida, que acreditava na felicidade e

que procurava conhecer-se, assim como conhecer o mundo, foi Agostinho de Hipona ou

Santo Agostinho. Tal homem, numa contínua busca pela felicidade e porque procurava

conhecer-se, assim como conhecer o mundo, apresenta o que para si é o conceito de

tempo, contextualizando-o de acordo com as suas crenças. É sobre a definição de tempo

em Agostinho de Hipona que as próximas linhas se baseiam, pois consideramos ser uma

perspetiva interessante.

Em primeiro lugar apresentaremos algumas preposições que são fundamentais conhecer

em Agostinho para que posteriormente possamos entender o seu conceito de tempo.

4.1 A eternidade de Deus

Para Agostinho, Deus é eterno, e este é um ponto essencial a reter e que vem corroborar

o que posteriormente veremos sobre o conceito de tempo para este autor (Agostinho,

1984).

Todo o seu pensamento está centrado no fato que Deus criou o mundo para que o

mundo criado se concretizasse nesse mesmo Deus que o criou. Agostinho, muitas vezes,

citava um texto da Bíblia Sagrada, que se encontra em João 1:1 “No princípio era o

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verbo, e o verbo era Deus”. Assim todo o seu pensamento estava assente em que Deus

era o centro de tudo.

É essencial, desta forma, que a compreensão do mundo deve partir da compreensão do

Criador e é o homem no seu íntimo que tem que compreender o Criador. Para

percebermos o pensamento de Agostinho, necessário é interiorizarmos que o homem na

busca de uma maior intimidade consigo, só a alcançará através do seu Criador

(Agostinho, 1984).

Outro conceito absolutamente fundamental em Santo Agostinho, e que é necessário

referirmos e explicitarmos, é o conceito de eternidade.

A eternidade é definida como sua prioridade, de um ser infinito, cuja realização é

simultânea (Agostinho, 1984).

Precedes, porém, todo o passado com a sublimidade de tua eternidade sempre presente, e dominas todo o futuro, porque é ainda futuro, e, quando vier, tornar-se-á passado (Agostinho, 1984, 337-338).

De acordo com o que anteriormente foi escrito, para Agostinho, Deus é eterno e esta é

uma premissa básica no pensamento deste autor e que não pode nunca e de forma

alguma ser esquecida. Agostinho declara o seguinte:

Pois o que foi dito não foi sucessivamente proferido – uma coisa concluída para que a seguinte pudesse ser dita, mas todas as coisas proferidas simultânea e eternamente. Se assim não fosse, já haveria tempo e mudança e não verdadeira eternidade e verdadeira imortalidade (Agostinho, 1984, 332).

Assim e concluindo a ideia do autor, a eternidade não é mais que a simultaneidade de

todas as coisas e isto implica que eterno seja o que não se sujeita a mudanças, logo

somente Deus é eterno, pois nenhum homem é capaz de não se sujeitar a essas

mudanças. De acordo com o que acima está escrito, podemos afirmar que o tempo não

pode medir a eternidade, pois esta somente a Deus pertence (Agostinho, 1984).

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Sobre a questão da eternidade escreve ainda:

Mas a vontade de Deus não é uma criatura; é anterior a toda a criatura, pois nada seria criado se antes não existisse a vontade do Criador. Essa vontade pertence à própria substância de Deus. Mas se algo surge na substância de Deus que antes não existia, não é justo denominá-lo substância eterna. Pelo contrário, se era eterna a vontade de Deus que existisse a criatura, por que não é eterna também a criatura? (Agostinho, 1984, 335).

É sem dúvida alguma uma questão absolutamente pertinente, mas da percepção do

estudo que pudemos fazer, daquilo que é o pensamento de Santo Agostinho, o que Deus

cria é feito por um ato livre e por Sua própria vontade. E essa vontade de criar, essa sim,

é eterna e por isso a questão de as criaturas criadas serem eternas, é algo que não se

pode colocar. As criaturas ao serem criadas por Deus não significa que partilhem da Sua

eternidade, porque essas criaturas aparecem apenas num determinado momento em que

há vontade que essas criaturas apareçam. Em suma, a vontade divina não é a existência

das coisas, mas sim a vontade de que elas existam por si (Agostinho, 1984).

Para terminar esta parte referente à eternidade podemos mencionar uma ideia de

Agostinho que reflete que a eternidade pode ser definida como não sendo um tempo

dilatado, mas um eterno presente (Agostinho, 1984).

Medir a eternidade é, na verdade, uma tarefa impossível, pois nesta tudo é presente. Um

presente contínuo, onde o antes e o depois não têm lugar (Agostinho, 1984).

Estando neste momento perfeitamente perceptível que segundo o pensamento de Santo

Agostinho o mundo foi criado por alguém superior, Deus, o mesmo autor afirma que

todas as criações estão sujeitas ao tempo.

Compreendam portanto que não existe tempo algum antes da criação, e deixem de fazer frivolidades como essa. Que avancem para o que está adiante, de modo a compreender que tu existes antes de todos os tempos, eterno Criador de todos os tempos; que nenhum tempo é coeterno contigo, nem criatura alguma, se bem que haja algumas superiores ao tempo (Agostinho, 1984, 357).

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Não pode restar qualquer margem para dúvida que todas as coisas foram criadas por

Deus e que dessa forma nada existe antes da criação. (Agostinho, 1984).

4.2 Tempo como característica humana

Como referimos anteriormente, Deus é o criador de todas as coisas, e por esse fato e

através de simples dedução lógica, Deus é também o criador do tempo. Sendo o tempo

criado, significa que este está sujeito a mudanças e por esse fato o tempo aplica-se aos

homens e não a Deus (Agostinho, 1984).

O que era o homem para Santo Agostinho? O homem, sendo uma criatura criada, é um

ser limitado, um ser finito e, por isso, está sujeito ao tempo (Agostinho, 1984). Em

Génesis 1:26-27 diz o seguinte:

26: Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem sobre a terra. 27: Assim Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou.

Podemos ler que o homem foi criado à semelhança de Deus e não igual a Deus. Aqui

está a grande diferença. O ser criado não é igual ao Criador e aqui está a razão pela qual

este está sujeito ao tempo. O ser criado vive no tempo, vive na mudança, está sujeito ao

movimento, movimento este que ocorre no tempo. O que Agostinho escreve está

relacionado com este ponto, reforça o que acima foi escrito e corrobora o que está

descrito em Génesis 1:1 na Bíblia, onde Agostinho também muito se apoiava. Assim

transcrevo os dois textos:

O céu e a terra existem e, através de suas mudanças e variações, proclamam que foram criados (Agostinho, 1984, 329). No princípio criou Deus os céus e a Terra (Génesis 1:1).

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Sem dúvida que tudo foi criado, e tendo sido criado por Deus, este não se sujeitou ao

que por Si foi criado. O que pretendemos aqui afirmar, seguindo o pensamento de Santo

Agostinho, é que o tempo é uma propriedade do ser criado, pois o ser criado é finito, e

os vários momentos da história passam por ele. Deus é eterno, logo não está sob o

tempo; o homem, ser criado, é finito, estando dessa forma subjugado ao tempo

(Agostinho, 1984).

4.3 O tempo

Temos vindo, até esta fase, a compreender a forma como Santo Agostinho tinha o seu

pensamento organizado e as crenças nas quais se baseava. Chegamos agora a um ponto

onde é fundamental percebermos o que é o tempo para este pensador. Existiram outras

personalidades, como Aristóteles e Platão que tinham teorias como o tempo sendo a

medida do movimento para o primeiro e o tempo como a imagem móvel da eternidade

para o segundo com as quais Agostinho não concordava, para este, o tempo não era o

movimento dos corpos (Agostinho, 1984).

Desejas que eu concorde com quem diz que o tempo é o movimento dos corpos? É claro que não concordo. De fato, os corpos só se podem mover no tempo, eu sei e tu o afirmas. No entanto, não creio que o próprio movimento do corpo seja o tempo: isso não o dizes. Quando um corpo se move, posso medir com o tempo a duração do seu movimento, do começo ao fim. Se não vi quando começou, e continua o movimento, sem que eu veja quando acaba, não posso medi-lo (Agostinho, 1984, 349).

Provado está que Agostinho discordava em absoluto das ideias que os outros pensadores

tinham. Neste caso devemos concordar que o pensamento do autor tem toda a lógica. O

repouso, onde não existe movimento, também pode ser medido pelo tempo, logo o

movimento dos corpos não corresponde em absoluto ao tempo (Agostinho, 1984).

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Outro aspeto que também é muito claro é que esta problemática do tempo não é de todo

pacífica nem de fácil explicação. O tempo tendo sido criado, possui as mesmas

limitações das quais padecem as coisas criadas, ou seja, é limitado e é finito.

Mas, até este momento, ainda é vago o verdadeiro conceito de tempo que podemos ter

da visão de Agostinho. Sabemos que é finito e é limitado, mas existirá passado,

presente, futuro e podem estes três tempos, a existirem, serem divisíveis? Vejamos o

que diz o autor sobre este aspeto. Se o passado não existisse a história não existiria, se

não existisse o futuro, seria impossível qualquer previsão (Agostinho, 1984). Por esta

linha de pensamento, Santo Agostinho, admite a existência de passado e futuro e isto é

também um ponto assente. Importa é percebermos de que forma este passado, futuro e o

presente existem.

No entanto, posso dizer com segurança que não existiria um tempo passado, se nada passasse; e não existiria um tempo futuro, se nada devesse vir; e não haveria o tempo presente se nada existisse. De que modo existem esses dois tempos – passado e futuro -, uma vez que o passado não mais existe e o futuro ainda não existe? E quanto ao presente, se permanecesse sempre presente e não se tornasse passado, não seria mais tempo, mas eternidade (Agostinho, 1984, 338-339).

É notório por este texto que passado, presente e futuro existem. O que importa ressaltar

é que estes tempos existem para os seres e nas mentes desses seres. Cada ser tem o seu

passado, presente e futuro, daquilo que conseguimos perceber das palavras de Santo

Agostinho. Outro aspeto importante que devemos fazer notar é sobre o tempo presente.

Este para verdadeiramente existir, o tempo teria que se dividir em partes infinitamente

pequenas para poder ser considerado presente pois o presente é um constante passado

devido a não ter qualquer duração embora exista. O tempo presente, numa análise

extrema, nunca existe, não tem nenhum espaço pelo fato de constantemente estar a

passsar(Agostinho, 1984).

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Realmente a questão do tempo é muito complexa mas o ponto central é que estes

tempos existem e a sua existência ocorre na mente de cada ser criado.

Mas qual a medida do tempo? Agostinho frisa que o tempo só pode ser medido na

mente de cada um.

É em ti, meu espírito, que eu meço o tempo. Não me perturbes, ou melhor, não te perturbes com o tumulto de tuas impressões. É em ti, repito, que meço os tempos. Meço, enquanto está presente, a impressão que as coisas gravam em ti no momento em que passam, e que permanece mesmo depois de passadas, e não as coisas que passaram para que a impressão se reproduzisse. É essa impressão que meço, quando meço os tempos (Agostinho, 1984, 353-354).

O tempo é medido no espírito, o tempo é de cada um, o tempo é a percepção que cada

um tem do que lhe vai acontecendo, do que aconteceu e do que espera que venha a

acontecer.

Sobre a essência do tempo e a existência dos três tempos, passado, presente e futuro,

Agostinho escreve o que a nosso ver explicita bem a sua visão sobre este tema:

Se pudermos conceber um espaço de tempo que seja susceptível de ser dividido em minúsculas partes de momentos, só a este podemos chamar tempo presente. Esse, porém, passa tão velozmente do futuro ao passado, que não tem nenhuma duração. Se tivesse alguma duração, dividir-se-ia em passado e futuro (Agostinho, 1984, 341). Agora está claro e evidente para mim que o futuro e o passado não existem, e que não é exato falar de três tempos – passado, presente e futuro. Seria talvez mais justo dizer que os tempos são três, isto é, o presente dos fatos passados, o presente dos fatos presentes, o presente dos fatos futuros. E estes três tempos estão na mente e não os vejo em outro lugar. O presente do passado é a memória. O presente do presente é a visão. O presente do futuro é a espera. Se me é permitido falar assim, direi que vejo e admito três tempos, e três tempos existem (Agostinho, 1984,344-345).

Pode parecer confuso e até contraditório o que Agostinho escreve sobre esta matéria,

mas o que quer deixar claro, é que os três tempos são perceptíveis para cada ser de

forma diferenciada, e estes têm que obviamente existir pois são efetivamente

percepcionados e temos sensações de passado, presente e futuro.

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Santo Agostinho, realmente, é bastante claro e inequívoco quanto à possibilidade de

medirmos os tempos, embora não esteja certo quanto à delimitação desses mesmos

tempos. Isso está patente no texto seguinte:

Com efeito, medimos o tempo, mas não o que ainda não existe, nem o que já não existe, nem o que não tem extensão, nem o que não tem limites. Em outras palavras, não medimos o futuro, nem o passado, nem o presente, nem o tempo que está passando. E no entanto, medimos o tempo (Agostinho, 1984, 352-353).

O tempo é sem dúvida um tema fascinante para Santo Agostinho. A sua preocupação

por perceber o homem, a sua busca pela felicidade e por querer que todos a busquem,

como mencionámos no início do capítulo, levou-o a tentar explicar o tempo.

Deixou bem claro que Deus é eterno e por isso está acima do tempo, explicou o que é a

eternidade e apresentou através do seu pensamento que somente as coisas criadas estão

sob o jugo do tempo. O passado, o presente e o futuro, existem, são medidos, embora

isso aconteça na mente de cada um e não seja igual para todos. A medição do tempo

está dependente das percepções e das emoções individuais, é quase como o rastro que

fica gravado na mente de cada pessoa e que cria expectativas em relação ao futuro.

(Agostinho, 1984)

 

   

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5 Tempo e temporalidade em Jean Paul Sartre  

5.1 As três dimensões temporais

Decidimos incluir nesta monografia o tempo e a temporalidade na filosofia de Sartre,

pois a sua visão corresponde a uma corrente filosófica denominada de existencialismo.

Neste é apresentado uma concepção particular e diferente do tempo e por isso a

pertinência da sua inclusão neste trabalho. Jean Paul Sartre é uma das figuras maiores

desta época e na sua obra O Ser e o Nada (Sartre, 2003) elucida-nos sobre a sua visão

do tempo. Este capítulo vem na sequência do que tem vindo a ser abordado sobre a

temática, ou seja, temos vindo a apresentar as diferentes visões do tempo de alguns

pensadores de diferentes épocas. Um ponto prévio apresentado pelo autor é que:

A temporalidade é evidentemente uma estrutura organizada, e esses três pretensos elementos do tempo, passado, presente, futuro, não devem ser encarados como uma coleção de dados (data) cuja soma deve ser efectuada – como, por exemplo, uma série infinita de agoras na qual uns ainda não são, outros não são mais – e sim como momentos estruturados de uma síntese original. Senão, vamos deparar antes de tudo com esse paradoxo: o passado não é mais, o futuro não é ainda; quanto ao presente instantâneo, todos sabem que não existe: é o limite de uma divisão infinita, como o ponto sem dimensão. Assim, toda a série se aniquila, e duplamente, já que o agora futuro, por exemplo, é um nada enquanto futuro e se realizará em nada quando passar esse estado de agora presente. O único método possível para estudar a temporalidade é abordá-la como uma totalidade que domina suas estruturas secundárias e lhes confere significação (Sartre, 2003, 158).

Tendo presente que para ser possível dissertar sobre a questão tempo na filosofia de

Sartre é necessário pensarmos os três tempos como não autónomos, veremos, mesmo

assim, individualmente o que cada um, passado, presente e futuro são para ele e

posteriormente poderemos explicitar como estes se conjugam.

5.1.1 O passado

Abordar o passado em Sartre é um exercício muito complicado, pois como já tem vindo

a ser referido neste trabalho, a própria reflexão sobre o tempo é bastante complexa,

visto ser algo que não se conhece nem se conhecerá nunca em absoluto.

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A primeira pergunta que é deixada em relação a este tempo é: “qual é o ser de um ser

passado?” (Sarte, 2003, 159). Para a questão ainda se tornar mais complicada, existem

duas posições do senso comum que carecem de objetividade mas que por serem

essenciais à compreensão deste tempo, iremos introduzir. A primeira é de que “o

passado, diz-se, não é mais” (Sartre, 2003, 159). Ao afirmar-se que o passado já não

existe, quer defender-se o ponto de que tudo é um presente e que somente há ser no

presente (Sartre, 2003).

Mesmo existindo recordações e memórias relativamente ao passado, estas ocorrem no

instante presente e por esse motivo estão reduzidas ao presente (Sartre, 2003).

Na verdade, esta noção e consequente negação através dela de um ser no passado,

remetendo tudo o que lembrámos para o presente é um pouco difícil de aceitar e

entender. O homem não poderia viver isolado num estado presente (Sartre, 2003).

Em uma palavra, se começamos fazendo do homem um insular encerrado na ilha instantânea de seu presente, e se todos os seus modos de ser, assim que aparecem, estão destinados por essência a um perpétuo presente, suprimiu-se radicalmente todos os meios de compreender sua relação originária com o passado. Assim como os geneticistas não lograram constituir a extensão com elementos inextensos, tampouco lograremos constituir a dimensão passado com elementos tomados exclusivamente do presente (Sartre, 2003, 160).

Existe, porém, outra visão sobre o passado, como referimos anteriormente, que assenta

igualmente numa grande dificuldade em aceitar a existência de um passado real e por

isso atribuí-lhe o pomposo nome de existência honorária (Sartre, 2003). “Ser passado,

para um acontecimento, seria simplesmente estar recolhido, perder a eficiência sem

perder o ser” (Sartre, 2003, 160).

Isto significa dizer que se admite a existência de um certo acontecimento no passado,

que em verdade é, mas por outro lado já não produz efeitos e está simplesmente num

lugar lá atrás que não mais virá ao presente (Sartre, 2003).

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50  

Estas duas visões atribuídas ao passado são realmente algo difíceis de compreender pois

saem fora da nossa linha de pensamento lógico. Nenhuma conclusão podemos ou

devemos tirar sobre estes pontos, mas devemos sim pensar e interiorizar estas duas

concepções.

A filosofia bergsoniana, também já mencionada em partes deste trabalho, a respeito do

tempo físico, tem a ideia apresentada anteriormente presente. Segundo esta filosofia

“entrando no passado, um acontecimento não deixa de agir, mas permanece em seu

lugar, em sua data, para toda a eternidade” (Sartre, 2003, 160).

Para Bergson, o passado é, em contraste com a ideia de Descartes, na qual o passado

não é mais (Sartre, 2003). Os autores mencionados têm importância no entendimento do

passado na filosofia de Sartre e assim continuaremos a apresentar os pontos essenciais

para a compreensão do tempo em causa.

Vejamos, também, a necessidade de se cortar as pontes entre o passado e o presente

para percebermos o primeiro.

Com efeito, se conferirmos ao presente um privilégio como presença ao mundo, colocamo-nos, para abordar o problema do passado, na perspectiva do ser intramundano. Pensamos existir primeiro como contemporâneo desta cadeira ou desta mesa, e fazemos existir pelo mundo a significação do temporal. Mas, se nos colocarmos no meio do mundo, perdemos toda a possibilidade de distinguir o que não é mais daquilo que não é. Contudo, dir-se-á, aquilo que não é mais, pelo menos foi, enquanto que aquilo que não é não tem nexo de espécie alguma com o ser. É verdade. Mas a lei de ser do instante intramundano, como vimos, pode ser expressa por essas simples palavras: O ser é – que indicam uma plenitude maciça de positividades, onde nada do que não é pode ser representado de alguma forma, sequer por um vestígio, um vazio, um sinal, uma histerese (hystérésis). O ser que é esgota-se inteiramente no ato de ser; nada tem a ver com o que não é e com o que não é mais. Nenhuma negação, seja radical ou suavizada em não...mais, pode ter lugar nesta densidade absoluta. Posto isso, o passado bem pode existir à sua maneira: as pontes estão cortadas. O ser nem mesmo esqueceu o seu passado: seria ainda uma forma de conexão. O passado lhe escapuliu como um sonho (Sartre, 2003, 161-162).

Isto pretende demonstrar que o passado existe em verdade, que o passado é e o que

ocorreu no passado, realmente está lá (Sartre, 2003).

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51  

Voltemos agora aos dois autores anteriormente referidos.

Se a concepção de Descartes e a de Bergson podem ser rechaçadas ombro a ombro, é porque ambas incidem na mesma objecção. Que se trate de nadificar o passado ou conservar a sua existência de um deus doméstico, esses autores consideraram seu destino à parte, isolando-o do presente; e qualquer que fosse sua concepção da consciência, conferiram a esta a existência de Em-si, tomaram-na como sendo aquilo que é. Não há por que se admirar depois que tenham fracassado na tentativa de religar o passado ao presente, pois o presente assim concebido irá negar com todas as forças o passado. Se houvessem considerado o fenómeno temporal em sua totalidade, teriam visto que meu passado é antes de tudo meu, ou seja, existe em função de certo ser que eu sou (Sartre, 2003, 162).

Este excerto pretende demonstrar que as concepções defendidas por Descartes e

Bergson teriam, segundo Sartre, que ser rejeitadas pois o passado não pode ser visto

como algo que fica à parte mas tem sim que ser realizado como parte integrante de um

espaço temporal (Sartre, 2003).

Sobre o passado e corroborando a ideia de que este não pode ser visto isoladamente,

Sartre escreve:

O passado não é nada, também não é presente, mas sua própria fonte acha-se vinculado a certo presente e certo futuro. (...) Meu passado não aparece jamais no isolamento de sua preteridade; seria até absurdo considerar que pudesse existir como tal: é originariamente passado deste presente. E é assim que deve ser elucidado previamente (Sartre, 2003, 162).

Na continuação do estudo do passado e do seu entendimento, vamos agora apresentar

exemplos que elucidam a percepção de passado para este autor.

O primeiro exemplo relaciona-se com um indivíduo que era estudante numa

determinada escola há alguns anos atrás. Podemos realmente afirmar que esse indivíduo

era estudante nessa escola, ou seja passado, mas que esse indivíduo existe ainda hoje e

por isso está no presente. Essa pessoa não ficou parada no tempo, isto é, não deixa de

existir. Ele foi estudante daquela escola e hoje é um ex-estudante dessa mesma escola,

mas nunca deixando de existir. O passado está intimamente ligado com o presente. O

que importa realçar é que essa pessoa tem o seu próprio passado e o seu próprio

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presente, não um passado de um todo, mas um passado individual e particular. O

presente dessa pessoa e de cada pessoa é o reflexo daquilo que foi o seu passado, o que

ele era, faz o que ele é. Assim cada pessoa é uma individualidade (Sartre, 2003).

Assim, os tempos particulares do perfeito designam seres que existem todos realmente, ainda que em modos de ser diversos, mas dos quais um é e, ao mesmo tempo, era o outro ou de alguém; tem-se um passado. É este utensílio, esta sociedade, este homem que têm seu passado. Não há primeiro um passado universal que depois se particularizasse em passados concretos. Mas, ao contrário, o que encontramos primeiro são passados particulares. E o verdadeiro problema (...) será saber por qual processo esses passados individuais podem unir-se para formar o passado (Sartre, 2003, 164).

No exemplo anterior, vimos um ser que era e continua sendo, ou seja, que teve um

passado que reflete o seu presente e que faz com que ele seja o que o seu passado o fez

ser (Sartre, 2003). Vamos agora ver um exemplo de alguém que foi e que já não é, isto

é, alguém que já não vive.

Imaginemos, assim, um sujeito que gostava muito de música. Essa pessoa morreu e por

isso afirmamos que o seu gosto pela música está no passado. Com relação a isto, não

podemos obviamente dizer que a pessoa em causa gosta de música hoje, pois está

morta, mas podemos dizer que a música sempre foi um gosto presente dessa pessoa,

pois ao longo da sua existência sempre gostou de música. Assim, a música é um

presente na sua vida que já está no passado, ou seja, uma vida que já não é mas foi.

Certo é que o passado, é passado e esse não pode ser mudado mas o que aconteceu com

a pessoa morta, fica com essa pessoa embora se reflita naqueles que vivos ficam e por

isso é sempre presente (Sartre, 2003). Malraux escreve: “O que há de terrível na Morte é

que transforma a vida em destino” (Sartre, 2003, 164). “Deve-se entender com isso que

a morte reduz o Para-si-Para-outro ao estado simples Para-outro” (Sartre, 2003, 164).

Isto reflete o que anteriormente mencionamos, que com a morte o que era com os outros

fica para nós no presente.

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Se vimos que há seres que eram no passado, isso implica que há seres que têm passados

(Sartre, 2003). Tentemos perceber o que é isto de ter um passado. Pese embora que:

Não se pode ter um passado como se tem um automóvel ou uma estrebaria. Ou seja, o passado não pode ser possuído por um ser presente que lhe permaneça estritamente exterior, assim como, por exemplo, permaneço exterior à minha esferográfica. Em suma, no sentido em que a posse exprime ordinariamente uma relação externa do possuidor ao possuído, a expressão de posso é insuficiente (Sartre, 2003, 165).

Na verdade o ter um passado, não se pode confinar ao termo de uma posse, algo que é

nosso. O ter passado significa que fomos algo e que esse algo permanece em nós, na

forma que influencia o que eu sou hoje. Ter é, neste caso, o ser (Sartre, 2003).

Não é de todo fácil percebermos estas diferenças. Numa linguagem simplista e pura, o

ser passado equivaleria a dizer que temos um passado mas tal fato não pode percebido

desse ponto de vista tão redutor. Realmente não possuímos nada. O que realmente

acontece é que somos algo, e esse algo que somos advém do passado que tivemos, ou

do que fomos nele.

Somente para a Realidade Humana é manifesta a existência de um passado, porque ficou estabelecido que ela tem-de-ser o que é. É pelo Para-si que o passado chega ao mundo, porque seu Eu sou existe sob a forma de um Eu me sou (Sartre, 2003, 166).

Por outro lado há, também, o ponto de vista de que não somos o nosso passado sempre

que afirmamos algo novo, ou mudámos a nossa opinião relativamente a alguma coisa

sobre a qual já havíamos previamente feito alguma observação. Isso implica a negação

do passado pois o presente não refletiria a nossa anterior posição. Contudo, mesmo

assim é por algo passado que mudámos a nossa visão e dizemos algo diferente do que

previamente havíamos feito, e assim continua válido o argumento de que somos hoje o

que o passado nos levou a ser (Sartre, 2003).

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A percepção do que é o tempo passado em Sartre não é de entendimento fácil pois

implica um conhecimento profundo da sua forma de pensar. O que podemos afirmar é

que o passado não pode ser visto isoladamente e ele está sempre presente no nosso

presente. Não temos passado, mas o que fomos no passado faz o que somos hoje.

Torna-se, dessa forma, essencial reter que o passado influencia diretamente o eu atual e

por esse facto tem sempre que ser tido em consideração. O passado tem que ser

presente no nosso pensamento (Sartre, 2003).

5.1.2 O presente

À diferença do Passado, que é Em-si, o Presente é Para-si. Qual o seu ser? Há uma antinomia própria do Presente: por um lado, definimo-lo facilmente pelo ser; é presente aquilo que é, em contraste com o futuro, que não é ainda, e com o passado, que não é mais (Sartre, 2003, 174).

É real que o presente é aquilo que é, como constatámos no que acima se encontra

transcrito, mas seria mais uma vez redutor vermos o presente isoladamente. Se o

víssemos dessa forma, estaríamos a reduzir o presente a um instante, a algo que

constantemente está a passar e isso seria igual a afirmar que o presente é um nada pois

cada instante já não é e seria simplesmente um era (Sartre, 2003).

O presente, sendo-nos permitida a redundância inerente ao que seguidamente

escrevemos, é mesmo isso, o estar presente, o ser, o acontecer agora (Sartre, 2003).

Agora, será assim tão simples? O que é isto de estar presente? O que significa? Em que

é que consiste? O que quer dizer que o presente é Para-si?

Meu presente consiste em ser presente. Presente a quê? A esta mesa, a este quarto, a Paris, ao mundo; em suma, ao ser-Em-si. Mas, inversamente, o ser-Em-si estará presente a mim e ao ser-Em-si que ele não é? Se assim fosse, o presente seria uma relação recíproca de presenças. Mas é fácil ver que não é assim. A presença a... é uma relação interna do ser que está presente com os seres aos quais está presente. Em caso algum pode tratar-se de simples relação externa de contiguidade. Presença a... significa existência fora de si junto a... Aquilo que pode ser presente a... deve ser de tal modo em seu ser que possa haver neste uma relação de ser com os demais seres. Só posso estar presente a esta cadeira se estiver unido a ela em uma relação ontológica de síntese, se estiver lá, no ser desta cadeira, como não sendo esta cadeira. O ser que é presente a... não pode,

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portanto, ser Em-si em repouso; o Em-si não pode ser presente, assim como não pode ser passado: pura e simplesmente é. Não pode se tratar de simultaneidade, qualquer que seja, entre um Em-si e outro Em-si, excepto do ponto de vista de um ser que fosse co-presente a ambos os Em-sis e tivesse em si mesmo o pode de presença. O Presente, pois, só pode ser presença do Para-si ao ser-Em-si. E esta presença não poderia ser efeito de um acidente, uma concomitância; ao contrário, pressupõe toda concomitância e deve ser uma estrutura ontológica do Para-si. Esta mesa deve estar presente a esta cadeira em um mundo que a realidade humana infesta como uma presença. Em outros termos, não se poderia conceber um tipo de existente que fosse primeiramente Para-si para ser depois presente ao ser. Mas o Para-si se faz presença ao ser fazendo-se ser Para-si, e deixa de ser presença deixando de ser Para-si. Esse Para-si se define como presença ao ser (Sartre, 2003, 174-175).

O presente existe para cada um e se faz presente nesse cada um. O presente tem que ser

vivido, tem que ser experimentado por cada pessoa. É um Para-si e somente dessa

forma se admite ser presente e se admite presença. O passado ocorre no Em-si, porque

se dá nessa pessoa e para essa pessoa, nela mesma. O presente passa-se no Para-si pelo

facto de que ele faz sentido na relação dessa pessoa com algo e num determinado

momento (Sartre, 2003).

5.1.3 O Futuro

Se o futuro se perfila no horizonte do mundo, só pode ser por um ser que é seu próprio porvir, ou seja, que é por-vir para si mesmo, cujo ser está constituído por um vir-a-si de seu ser. Encontramos aqui estruturas ek-státicas análogas às que descrevemos para o Passado. Somente um ser que tem-de-ser o seu ser, em vez de sê-lo simplesmente, pode ter um porvir (Sartre, 2003, 178).

Faz sentido falar de futuro, se o futuro for visto para um ser único. Isto é o mesmo que

dizer que cada ser, cada pessoa tem o seu futuro e não existe um futuro para todos. Tal

concepção é muito similar à referida aquando mencionamos o tempo passado. É óbvio e

claro que todos os seres têm um futuro embora não o conheçam nem o saibam. Tal

nunca seria possível, pois seria reduzir o ser a nada. Não ter a noção do porvir é

estarmos restritos a um eterno presente, a um agora. Isso é algo que não faz qualquer

sentido na nossa visão comum, assim como era algo que não fazia sentido para Sartre

(Sartre, 2003).

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Outra verdade inequívoca e que já foi anteriormente mencionada é que o futuro é

desconhecido, podemos imaginá-lo mas deve ser recorrente no nosso pensamento que o

que possamos idealizar pode não se realizar (Sartre, 2003).

Mas, afinal, o que é o futuro neste contexto?

O Futuro é revelado ao Para-si como aquilo que o Para-si ainda não é, na medida em que o Para-si constitui-se não-teticamente para si como um ainda-não na perspectiva desta revelação e faz-se ser como um projeto de si mesmo fora do Presente rumo ao que não é ainda. E decerto o Futuro pode ser sem esta revelação. E esta revelação exige, por sua vez, ser revelada a si, ou seja, exige a revelação do Para-si a si mesmo, caso contrário o conjunto Revelação-revelado cairia no inconsciente, quer dizer, no Em-si. Assim, somente um ser que é para si mesmo seu revelado, ou seja, cujo ser está em questão para si, pode ter um Futuro. Mas, reciprocamente, tal ser só pode ser para si na perspectiva de um Ainda-não, pois capta-se a si mesmo como um nada, quer dizer, como um ser cujo complemento de ser está à distância de si. À distância, ou seja, para além do ser. Assim, tudo que o Para-si é para além do ser é o Futuro (Sartre, 2003, 180-181).

Pensámos que está explícito e claro de que se trata o futuro. É algo que será e será para

cada um. Não há quem possa afirmar que não há um futuro, pois este dá-se.

O que podemos igualmente afirmar é que, à semelhança do que acontece com o

passado, onde afirmamos que o que nele fomos condiciona o presente que somos, o

nosso presente também irá ter direta influência no futuro que ainda não somos mas

seremos. É inquestionável que o que fazemos no agora terá repercussões no depois, isto

é, no que viremos a ser. O futuro continua a ser uma incógnita e muito do que

esperamos vir a ser poderá não se verificar, mas é certo que o que somos de alguma

forma marca o que seremos, mesmo tendo em conta todas as possibilidades e

considerando o que é imprevisível (Sartre, 2003).

5.2 Temporalidade

Após a explicitação dos três tempos, passado, presente e futuro, de uma forma

individual, importa nesta fase referir-nos à temporalidade como um todo, isto é, como

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algo que engloba os tempos anteriormente mencionados. Este é também um exercício

complexo para o simples entendimento humano mas o nosso esforço irá no sentido de o

tornar claro baseando-nos na filosofia do já referido autor e que serve de base para a

construção de todo este capítulo.

Um ponto prévio é que esta exposição irá ser feita através de dois pontos de vista

distintos. Os dois pontos distintos a serem considerados são a estática temporal, isto é,

“tomar em consideração a constituição e as exigências dos termos antes e depois (...) em

seu aspeto estritamente ordinal, independente da mudança propriamente dita” (Sartre,

2007, 185), e o outro ponto de vista está relacionado com a chamada dinâmica

temporal, na qual se afirma que:

...o tempo não é somente uma ordem fixa para uma multiplicidade determinada: observando melhor a temporalidade, constatámos o facto da sucessão, ou seja, o facto de que tal depois se torna um antes, o Presente se torna passado e o futuro se converte em futuro-anterior (Sartre, 2003, 185).

5.2.1 Estática temporal

A ordem a que o antes e o depois obedecem tem intrínseca uma característica da qual

não nos podemos dissociar. A essa característica damos o nome de irreversibilidade,

isto é, o facto de que o que se dá ou acontece segue para um acontecimento futuro e

nada podemos alterar nesse antes que aconteceu. O que também é perfeitamente

entendível é que esses dois momentos, o antes e o depois podem ser vistos em separado,

isto pelo simples facto de que o que eu faço antes ocorre num tempo diferente daquilo

que eu faço depois. Isto é bastante claro. Podemos afirmar que o antes e o depois se

conjugam, sim é verdade, mas não podemos em absoluto negar que eles ocorrem em

momentos perfeitamente distintos. Visto está que o tempo pode ser e é separado,

convém perceber se o tempo é somente separação. A resposta à retórica anterior, é

obviamente que não e tentemos ver o porquê (Sartre, 2003).

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Todavia, a Temporalidade não é unicamente, nem mesmo primeiramente, separação. Para atentar a isso, basta considerar com mais precisão a noção de antes e depois. Dizíamos que A está depois de B, o que pressupõe sua unificação no âmago desta ordem mesmo. Não houvesse entre A e B outra relação além dessa, bastaria ao menos para assegurar sua conexão, pois permitiria ao pensamento ir de um a outro e uni-los em um juízo de sucessão. Assim, portanto, se o tempo é separação, ao menos é uma separação de tipo especial: uma divisão que reúne. Que assim seja, dir-se-á, mas esta relação unificadora é, por excelência, uma relação externa. Quando os associacionistas quiseram concluir que as impressões mentais não estavam unidas umas às outras salvo por vínculos puramente externos, não reduziram finalmente todos os nexos associativos à relação antes-depois, concebida como simples contiguidade? (Sartre, 2003, 186).

Vamos ver o seguinte e em resposta à questão levantada. Não restam dúvidas que os

associacionistas pretenderam demonstrar que as impressões mentais estavam unidas

somente por vínculos externos. Vamos tentar perceber melhor a teoria associacionista

(Sartre, 2003).

Esta teoria postula que “cada impressão da mente é em si mesmo aquilo que é, isola-se

em sua plenitude de presente, não comporta qualquer traço de provir, nenhuma falta”

(Sartre, 2003, 187). Tal conclusão advém de um desafio lançado por Hume, no qual este

pretende demonstrar que,

...é possível examinar à vontade uma impressão forte ou branda, sem que nada se encontre nela salvo ela mesma, de sorte que toda conexão entre um antecedente e um consequente, por constante que possa ser, permanece ininteligível (Sartre, 2003, 187).

Isto é o mesmo que afirmarmos que o que ocorre na mente, está restrito a esse espaço e

não carece de algo mais para ser perceptível. Desta forma também vemos a estática

temporal, pois o porvir e o antes não são necessários neste contexto. Importante é a

impressão existente na mente (Sartre, 2003).

Variadíssimas posições em relação a este tema foram tomadas por outros filósofos e

pensadores, mas o que importa neste trabalho realçar é a posição de Sartre que ele

sintetiza da seguinte forma:

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59  

...a temporalidade é uma força dissolvente, mas no âmago de um ato unificador; é menos uma multiplicidade real – que, em consequência, não poderia receber qualquer unidade e, portanto, sequer existiria como multiplicidade – do que uma quase-multiplicidade, um esboço de dissociação no núcleo da unidade. Não é preciso tentar considerar separadamente um ou outro desses dois aspectos: contemplando primeiro a unidade temporal, corremos o risco de não compreender mais a sucessão irreversível como sentido desta unidade; mas, tomando a sucessão desagregadora como carácter original do tempo, arriscamos não poder sequer entender que haja um tempo. Assim, portanto, se não há qualquer prioridade da unidade sobre a multiplicidade, nem da multiplicidade sobre a unidade, é preciso conceber a temporalidade como uma unidade que se multiplica, ou seja, é necessário que a temporalidade só possa ser uma relação de ser no âmago do próprio ser (Sartre, 2003, 191-192).

Referindo-nos à temporalidade na sua forma estática, implica que a vejamos como uma

unidade entre os três tempos anteriormente explicados e nunca em separado. Os três

tempos existem e têm influência uns sobre os outros mas nenhum prevalece sobre outro.

Um acontecimento tem lugar no seu tempo específico e por isso é estático na sua

temporalidade mas vai afetar o que possa acontecer nos outros tempos (Sartre, 2003).

5.2.2 Dinâmica temporal

Anteriormente neste trabalho, referimos o Para-si quando abordámos o tempo presente

e o tempo futuro. O Para-si, na realidade opera nas três dimensões da temporalidade

conhecidas. Quando mencionamos o tempo passado, é verdade que não o associámos ao

Para-si, mas isso acontece, porque o Para-si presente advém daquilo que o Em-si foi no

passado. Isto é dinâmico, a temporalidade faz sentido tendo em conta as três dimensões

temporais. Por isso se torna possível e mais fácil percebemos as questões relacionadas

com ela segundo uma vertente dinâmica.

Para abordarmos a questão da dinâmica da temporalidade, iremos referir-nos a outros

dois elementos essenciais que têm a ver com o tempo. São eles a duração e permanência

(Sartre, 2003).

O facto de que o surgimento do Para-si se opere necessariamente segundo as três dimensões da Temporalidade nada nos ensina sobre o problema da duração, que pertence à dinâmica do tempo. À primeira vista, o problema parece duplo: por

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que o Para-si sofre esta modificação de seu ser que o faz tornar-se Passado? E por que um novo Para-si surge ex nihilo para tornar-se o Presente desse Passado? Esse problema foi por muito tempo encoberto por uma concepção do ser humano como Em-si. O nervo da refutação kantiana do idealismo de Berkeley e um argumento favorito de Leibniz é o facto de que a mudança presume por si a permanência. Se supomos então certa permanência intemporal que permaneça através do tempo, a temporalidade limita-se a não ser mais que a medida e a ordem da mudança. Sem mudança não há temporalidade, pois o tempo não pode ficar preso ao permanente e ao idêntico. Se, por outro lado, como em Leibniz, a própria mudança é dada como explicação lógica de uma relação de consequências e premissas, ou seja, como desenvolvimento dos atributos de um sujeito permanente, então já não há mais temporalidade real (Sartre, 2003, 199).

Continuemos a ver os argumentos de Sartre em relação à permanência no sentido de que

esta não serve para justificar a mudança (Sartre, 2003).

Recorrer à permanência para fundamentar a mudança é, além disso, perfeitamente inútil. O que se quer mostrar é que uma mudança absoluta já não é mudança propriamente dita, porque não resta nada que mude – ou em relação ao qual haja mudança. Mas, com efeito, basta que aquilo que mude seja seu antigo estado, em seu modo passado, para que a permanência se torne supérflua; nesse caso, a mudança pode ser absoluta, pode tratar-se de uma metamorfose que afecte a totalidade do ser: não deixará, por isso, de constituir-se como mudança em relação a um estado anterior, que ela será no Passado sob o modo do era (Sartre, 2003, 200).

A mudança ocorre sempre tendo em conta um estado passado, caso contrário, a

mudança não faria sentido, pois estaríamos a mudar sobre o nada, isto é, não existiria

mudança. A dinâmica intrínseca à temporalidade vem neste sentido. É necessário haver

esta conexão entre os tempos para se dar temporalidade. A permanência, a duração e a

mudança são elementos chaves na compreensão da temporalidade e absolutamente

essenciais para esta se dar (Sartre, 2003).

Sartre explícita de uma forma muito clara e precisa toda esta questão da dinâmica

subjacente ao tempo e por esse motivo o citamos para melhor refletirmos a sua forma de

pensar.

...o Presente não poderia passar sem converter-se no antes de um Para-si que se constitui como o depois. Portanto, há apenas um fenómeno: o surgimento de novo Presente preterificando (passeifiant) o Presente que ele era, e Preterificação (Passéification) de um Presente conduzindo a aparição de um Para-si para o qual esse Presente converter-se-á em passado. O fenómeno do devir temporal é uma modificação global, pois já não seria Passado um Passado que fosse Passado de nada, e um Presente deve ser necessariamente Presente

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desse Passado. Além disso, esta metamorfose não atinge apenas o Presente puro: o Passado anterior e o Futuro são igualmente afectados. O Passado do Presente que sofreu a modificação da Preteridade torna-se Passado de um Passado, ou Mais-que-Perfeito. No que concerne a este, fica de súbito suprimida a heterogeneidade do Presente e do Passado, pois o que se distinguia do Passado como Presente transformou-se em Passado. No curso da metamorfose, o Presente continua sendo Presente desse Passado, mas se torna Presente passado desse Passado. Significa, primeiro, que tal presente é homogéneo com relação à série do Passado que dele remonta até ao nascimento; em segundo lugar, que já não é mais seu Passado ao modo do ter-de-sê-lo, mas sim ao modo do ter-tido-de-sê-lo (avoir eu à l’être). O nexo entre Passado e Mais-que-Perfeito é um nexo à maneira do Em-si: e este nexo aparece sobre o fundamento do Para-si presente, que sustenta a série do Passado e dos Mais-que-Perfeito, soldados em um único bloco (Sartre, 2003, 201-202).

Até aqui vimos como o passado interage com o presente e a conclusão é que estes estão

efetivamente ligados e não os podemos dissociar em absoluto. Vejamos ainda como o

futuro encaixa em toda esta lógica.

O Futuro, por outro lado, embora afectado igualmente pela metamorfose, não deixa de ser futuro, ou seja, permanece fora do Para-si, adiante, para-além do ser, mas se converte em futuro de um passado, ou futuro anterior. Pode manter dois tipos de relações com o novo Presente, conforme se trate do Futuro imediato ou do Futuro remoto. No primeiro caso, o Presente dá-se como sendo esse Futuro com relação ao Passado: Eis aqui o que eu esperava. É o Presente de seu Passado à maneira do Futuro anterior desse Passado. Mas, ao mesmo tempo que é Para-si como Futuro desse Passado, realiza-se como Para-si e, portanto, como não sendo o que o Futuro prometia ser. Há desdobramento: o Presente torna-se Futuro anterior do Passado negando ser esse Futuro. E o Futuro primitivo não se realiza: já não é futuro com relação ao Presente, sem deixar de ser futuro com relação ao Passado. Transforma-se no Co-presente irrealizável do Presente e conserva uma idealidade total. Era isso que eu esperava? Continua sendo futuro idealmente co-presente do presente, como Futuro irrealizado do Passado desse Presente (Sartre, 2003, 202).

Toda esta dissertação sobre a temporalidade e tempo na filosofia de Sartre vem mostrar

que existe uma real ligação entre as três dimensões temporais e que esta deve e tem que

ser tida em conta. Pensarmos os três tempos de forma isolada de nada nos servirá na sua

interpretação. Contudo, reafirmamos que não há uma conclusão única sobre esta

temática e por isso nenhuma afirmação absoluta em relação à mesma deve ser feita. O

tempo, a temporalidade, faz parte de uma discussão que absorve pensadores das mais

variadas épocas, das mais variadas ciências e todas as teorias devem ser escalpelizadas

por forma a melhor conhecermos a temática.

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6 O tempo no ser

Abordámos ao longo deste trabalho diferentes concepções do tempo. Filósofos de

diferentes épocas expuseram as suas ideias sobre o conceito, suscitaram em nós vontade

de o percebermos, de o clarificarmos, e pese embora os seus pontos de vista sejam

pertinentes e relevantes na compreensão de tão vasto tema, ainda muitas dúvidas e

lugares escuros permanecem. Porém, existe um espaço que é importante preencher e

pretendemos fazê-lo neste capítulo. Esse espaço prende-se com o fato de situarmos o

homem presente, o empregado, o gestor e consequentemente as empresas no tempo e na

forma como estes são e se fazem ser no tempo. O que queremos realçar é que o gestor,

que aqui assumiremos como figura central, através das suas competências e a necessária

atualização constante das mesmas se situa no tempo como estando à frente do tempo.

Vive um tempo pleno, onde o relógio, o chronos que anteriormente referimos não o

consome, não o atrapalha, não o afeta. Isto implica percebermos e revermos o que é o

homem como ser, a sua existência, o estar no presente tendo em vista o porvir, não se

preocupando minimamente com o tempo que o persegue, que o pressiona, pois para ele

esse tempo não existe, simplesmente porque ele através da sua vivência está à frente do

tempo, o tão afamado chronos. Perguntámo-nos, é este um exercício fácil? É algo para o

qual exista uma fórmula mágica que simplesmente aplicando-a todos os problemas se

resolvem? É algo que está ao alcance de qualquer um? Uma resposta imediata e prévia a

um estudo mais aprofundado, é um claro não. Não porquê? O homem, a sua essência, a

noção do tempo real, são coisas que ultrapassam muitas vezes a capacidade humana de

as perceberem. Assim, como não as percebemos não as podemos dominar, e não

podendo fazê-lo estaremos a viver sob pressão, estaremos sobrevivendo e nunca

vivendo, no sentido de estarmos à frente do tempo.

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Para percebermos este ponto de vista, vejamos o exemplo da “humanidade na poesia,

enfrentando o seu próprio sentido abstrato, eclipsado do tempo real numa metáfora

cristã de morte e ressurreição” (Coimbra e Almeida, 2001 in Serrão, 2001, 34), através

de Sophia de Mello Breyner Anderson:

Era uma tarde do fim de Novembro, já sem nenhum Outono. A cidade erguia as suas paredes de pedras escuras. O céu estava alto, desolado, cor de frio. Os homens caminhavam empurrando-se uns aos outros nos passeios. Os carros passavam depressa. Deviam ser quatro horas da tarde de um dia sem sol nem chuva. Havia muita gente na rua naquele dia. Eu caminhava no passeio, depressa. A certa altura encontrei-me atrás de um homem muito pobremente vestido que levava ao colo uma criança loira, uma daquelas crianças cuja beleza quase não se pode descrever. É a beleza de uma madrugada de Verão, a beleza de uma rosa, a beleza do orvalho, unidas à incrível beleza de uma inocência humana. Instintivamente o meu olhar ficou um momento preso na cara da criança. Mas o homem caminhava muito devagar e eu, levada pelo movimento da cidade, passei à sua frente. Mas ao passar voltei a cabeça para trás para ver mais uma vez a criança. Foi então que vi o homem. Imediatamente parei. Era um homem extraordinariamente belo, que devia ter trinta anos e em cujo rosto estavam inscritos a miséria, o abandono, a solidão. O seu fato, que tendo perdido a cor tinha ficado verde, deixava adivinhar um corpo comido pela fome. O cabelo era castanho-claro, apartado ao meio, ligeiramente comprido. A barba por cortar há muitos dias crescia em ponta. Estreitamente esculpida pela pobreza, a cara mostrava o belo desenho dos ossos. Mas mais belos do que tudo eram os olhos, os olhos claros, luminosos de solidão e de doçura. No próprio instante em que eu o vi, o homem levantou a cabeça para o céu. Como contar o seu gesto? Em um céu alto, sem resposta, cor de frio. O homem levantou a cabeça no gesto de alguém que, tendo ultrapassado um limite, já nada tem para dar e se volta para fora procurando uma resposta. A sua cara escorria sofrimento. A sua expressão era simultaneamente resignação, espanto e pergunta. Caminhava lentamente, muito lentamente, do lado de dentro do passeio, rente ao muro. Caminhava muito direito, como se todo o corpo estivesse erguido na pergunta. Com a cabeça levantada, olhava o céu. Mas o céu eram planícies e planícies de silêncio. Tudo isto se passou num momento e, por isso, eu, que me lembro nitidamente do fato do homem, da sua cara, do seu olhar e dos seus gestos, não consigo rever com clareza o que se passou dentro de mim. Foi como se tivesse ficado vazia olhando o homem. A multidão não parava de passar. Era o centro do centro da cidade. O homem estava sozinho, sozinho. Rios de gente passavam sem o ver. Só eu tinha parado, mas inutilmente. O homem não me olhava. Quis fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Era como se a sua solidão estivesse para além de todos os meus gestos, como se ela o envolvesse e o separasse de mim e fosse tarde de mais para qualquer palavra e já nada tivesse remédio. Era como se eu tivesse as mãos atadas. Assim às vezes nos sonhos queremos agir e não podemos. O homem caminhava muito devagar. Eu estava parada no meio do passeio, contra o sentido da multidão. Sentia a cidade empurrar-me e separar-me do homem. Ninguém o via caminhando lentamente, tão lentamente, com a cabeça erguida e com uma criança nos braços rente ao muro de pedra fria. Agora eu penso no que podia ter feito. Era preciso ter decidido depressa. Mas eu tinha a alma e as mãos pesadas de indecisão. Não via bem. Só sabia hesitar e

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duvidar. Por isso estava ali parada, impotente, no meio do passeio. A cidade empurrava-me e um relógio bateu horas. Lembrei-me de que tinha alguém à minha espera e que estava atrasada. As pessoas que não viam o homem começavam a ver-me a mim. Era impossível continuar parada. Então, como o nadador que é apanhado numa corrente desiste de lutar e se deixa ir com a água, assim eu deixei de me opor ao movimento da cidade e me deixei levar pela onda de gente para longe do homem. Mas enquanto seguia no passeio rodeada de ombros e cabeças, a imagem do homem continuava suspensa nos meus olhos. E nasceu em mim a sensação confusa de que nele havia alguma coisa ou alguém que eu reconhecia. Rapidamente evoquei todos os lugares onde eu tinha vivido. Desenrolei para trás o filme do tempo. As imagens passaram oscilantes, um pouco trémulas e rápidas. Mas não encontrei nada. E tentei reunir e rever todas as memórias de quadros, livros, de fotografias. Mas a imagem do homem continuava sozinha: a cabeça levantada que olhava o céu com uma expressão de infinita solidão, de abandono e de pergunta. E do fundo da memória, trazidas pela imagem, muito devagar, uma por uma, inconfundíveis, apareceram as palavras: - Pai, pai, porque me abandonaste? Então compreendi por que é que o homem que eu deixara para trás não era um estranho. A sua imagem era exatamente igual à outra imagem que se formara no meu espírito quando li: - Pai, pai, porque me abandonaste? Era aquela a posição da cabeça, era aquele o olhar, era aquele o sorriso, era aquele o abandono, aquela a solidão. Para além da dureza e das traições dos homens, para além da agonia da carne, começa a prova do último suplício: o silêncio de Deus. E os céus parecem desertos e vazios sobre as cidades escuras. (...) Voltei para trás. Subi a corrente o rio da multidão. Temi tê-lo perdido. Havia gente, gente, ombros, cabeças, ombros. Mas de repente vi-o. Tinha parado, mas continuava a segurar a criança e a olhar o céu. Corri, empurrando quase as pessoas. Estava já a dois passos dele. Mas nesse momento, exatamente, o homem caiu no chão. Da sua boca corria um rio de sangue e nos seus olhos havia ainda a mesma expressão de infinita paciência. A criança cairia com ele e chorava no meio do passeio, escondendo a cara na saia do seu vestido manchado de sangue. Então a multidão parou e formou um círculo à volta do homem. Ombros mais fortes do que os meus empurraram-me para trás. Eu estava do lado de fora do círculo. Tentei atravessá-lo, mas não consegui. As pessoas apertadas umas contra as outras eram como um único corpo fechado. À minha frente estavam homens mais altos do que eu que me impediam de ver. Quis espreitar, pedi licença, tentei empurrar, mas ninguém me deixou passar. Ouvi lamentações, ordens, apitos. Depois veio uma ambulância. Quando o círculo se abriu, o homem e a criança tinham desaparecido. Então a multidão dispersou-se e eu fiquei no meio do passeio, caminhando para a frente, levada pelo movimento da cidade. (...) Muitos anos passaram. O homem certamente morreu. Mas continua ao nosso lado. Pelas ruas (Almeida e Coimbra, 2001 in Serrão, 2001, 35-37).

Vimos nesta poesia uma mulher perdida na sua vivência. Uma mulher, com memória,

uma mulher afetada pelo tempo, uma mulher que tenta perceber a história da sua vida,

mas ao mesmo tempo vê essa mesma história passar-lhe ao lado. Uma mulher

procurando recuperar um tempo, mas que se conforma quando não consegue sequer

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estar perto de seu pai no momento da sua morte pois permite que outras pessoas se

interponham no seu espaço. Ela vê o tempo passar passivamente e é reativa nas suas

ações. Perde o rasto do seu pai e depois volta para tentar recuperá-lo. É uma mulher

perdida, perdida na sua essência e no seu ser.

Isto acontece com muitos de nós. Não conhecemos o nosso ser, a nossa essência.

Consequentemente, não dominámos o tempo, pois desconhecemos que competências

devemos potencializar por forma a estarmos à frente do tempo quer a nível pessoal,

como a um nível profissional. Analisaremos o que é ser e posteriormente as

competências a potencializar para sermos nós o tempo e não ser o tempo a comandar o

nós.

6.1 O ser – regulador do tempo

Dissertarmos sobre o homem como ser, a sua essência é algo que não é igualmente

objetivo. Isto significa dizer que, tal como acontece na temática tempo, sobre a qual

apresentámos várias concepções, também aqui, sobre a temática ser, teremos que

apresentar diferentes perspetivas para melhor ficar explicitada a questão. Sermos através

do nosso ser, reguladores do tempo é o desafio.

Para Feuerbach:

O homem é pensado a partir de uma dupla perspectiva: o homem como indivíduo no género, e o homem na relação consigo mesmo e, quer numa, quer noutra perspectiva é sempre a construção da identidade individual que está em causa (Teixeira, 2001 in Serrão, 2001, 77).

Continuemos, desta forma, a ver a visão deste autor segundo o ponto que mais importa

para este estudo. Esse ponto prende-se com a relação do homem consigo mesmo.

A essência do homem é religiosa, isto é, o homem constrói-se na relação, é a partir do outro, mais precisamente, é na minha relação com o outro que me descubro a mim como homem. Pensar um homem solitário é já desumanizá-lo,

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este, porque é um ser finito, carente, precisa de relação, de se dar na relação com um outro para se completar, completando assim também o outro. “O homem singular por si não possui em si a essência do homem nem enquanto ser moral nem enquanto ser pensante. A essência do homem está contida apenas na comunidade, na unidade do homem com o homem – uma unidade que, porém, se funda apenas na realidade da distinção do eu e do tu” – afirmava Feuerbach. Não é por isso possível pensar um homem solitário, que não seja ele mesmo relação (religião); para o fazermos teríamos que pensar num ser perfeito que não carecesse de nada fora dele, mas aqui ficaríamos somente com o Deus do Cristianismo (Teixeira, 2001 in Serrão, 2001, 77).

O autor continua e insiste na ideia de que somente através da relação se dá o homem

como ser.

Unicamente no olhar do homem sobre o homem se acende a luz da consciência e do entendimento... Só mediante a comunicação, apenas a partir da conversação do homem com o homem brotam as ideias. Não é sozinho, mas apenas a dois que se chega aos conceitos, à razão em geral...; a comunidade do homem é o princípio e critério da verdade e da universalidade. A própria certeza das outras coisas fora de mim é para mim mediada pela certeza da existência de um outro homem exterior a mim. Duvido daquilo que eu apenas vejo; só é certo o que o outro também vê (Teixeira, 2001 in Serrão, 2001, 78).

Segundo a ideia deste autor, o homem é, existe e vive, através das suas relações e

somente através delas poderemos conhecer a sua identidade e o seu ser (Teixeira, 2001,

in Serrão, 2001). Retenhamos este ponto, o ser é conhecido através das suas relações.

Este autor escreveu muito sobre o ser, e esse ser relacionado com o tempo. Nesta fase

pretendemos apresentar o que ele deixou como mensagem em relação ao ser e o tempo,

mais propriamente um tempo futuro. Um tempo onde se busca a felicidade, um

caminho, uma vida que possa realmente ser vivida (Ferreira, 2001 in Serrão, 2001).

O que vive(...) quer viver, porque vive, quer ser, porque é. (...) O que quer, quer apenas (...) o que promove e sustenta a sua vida (...). Vontade é vontade de felicidade (Ferreira, 2001 in Serrão, 2001, 95).

Vemos aqui bem clara uma diferença que importa sublinhar. O ser e o ter. O ser vive, o

ter, o querer, apenas sobrevive (Ferreira, 2001 in Serrão, 2001). É nesta busca de sermos

ser no tempo que o nosso caminho deverá ser trilhado.

Sobre o futuro escreve:

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O futuro é a condição de cada começar de novo, não como a irrupção a partir de um nada criador, mas como o desenvolvimento embrionário de um sempre já dado, na latência de um todo e na virtualidade de uma plenitude, mais do que promessa programa de realização. (...) O futuro apresenta-se deste modo como uma dupla condição realizante, do fazer emergir na existência. Em primeiro lugar, como a condição do vir a ser de um não-ser, e é esta a definição do desejo; depois como fim, o ainda-não de um ser. (Ferreira, 2001 in Serrão, 2001, 97-98).

O ser procura ser o que ainda não é. Essa procura faz com ele seja mais, melhor, ou

seja, os seus esforços são no sentido de melhoria constante. Essa melhoria constante

fará com que o ser esteja à frente do seu tempo, pois ele procurará ser agora o que

outros serão depois por imposição da própria sociedade. Isto é ser, é ser no tempo.

Feuerbach continua a expor a sua visão de ser no tempo. A sua ideia baseia-se no

seguinte:

Mas é constante a tese de que ser é tempo, que é no tempo e como tempo que um ser pode ser dito verdadeiro, real, absoluto. A aparente supremacia do espaço, dito tolerante e liberal porque coordena e faz coexistir as diferenças, em face da tendência monárquica de um tempo fautor de exclusão que tudo subordina e devora na sucessão, não representa a posição mais autêntica de Feuerbach, mas tão somente a contraposição deste à concepção hegeliana da temporalidade, ela mesma redutoramente interpretada. O tempo estrutura de fato a efectividade da existência, como uma dimensão ínsita, sem se reduzir à formalidade de uma condição transcendental da sensibilidade. O tempo é essencialmente forma e condição da vida, transitividade constitutiva. (Ferreira, 2001 in Serrão, 2001, 99).

Muito especificamente sobre o tempo no qual devemos atuar:

O tempo da acção, da intencionalidade prática, é, privilegiadamente, o futuro. A acção, positividade do ser, distende, dilata, imortaliza: “ Tu és um ser imortal não significa nada a não ser que tu és um ser de valor e a considerar”- escreveu Feuerbach. O futuro assim prometido manifesta-se como a dimensão ética por excelência, de um duplo modo: o futuro, como horizonte de possibilitação e como tarefa de superação do fragmentário, como integralidade por conquistar, dois modos afinal de assegurar ao ser humano o valor de que está revestido e da consideração que lhe é devida (Ferreira, 2001 in Serrão, 2001, 100).

O nosso ser deve procurar a sensação de imortalidade, de eternidade. Com isto

queremos dizer que o tempo, o chronos, a pressão do relógio, não nos deverá afetar ou

sequer regular. Seremos nós o próprio tempo se conseguirmos dominar o nosso ser e

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fazer com que ele aja. Aja agora para que o depois seja um permanente agora onde eu

sou o tempo, o meu tempo.

6.2 Ser na perspectiva teológica

Fizemos referência ao tempo em Santo Agostinho num capítulo anterior. Santo

Agostinho, como sabemos, tem como inspiração da sua filosofia a teologia, a bíblia. Por

este motivo, cremos ser absolutamente pertinente apresentar o que é o homem na

perspectiva bíblica. É toda uma outra dimensão do ser, uma concepção diferente. O que

é o homem? A finalidade do homem? São perguntas que importam esclarecer, para

dessa forma, percebermos a perspetiva de tempo, não só de Santo Agostinho, mas para

termos conhecimento de uma nova ideia do que é o ser.

6.2.1 O homem

É dito e aceite que o homem pode ser visto segundo duas perspetivas. Uma primeira que

tem que ver com ser um fato e uma segunda relacionada como sendo um mistério, e

sendo mistério foi algo realmente querido por Deus. Será mesmo assim? (Ratzinger e

Seewald, 2005).

Eu diria que sim. A princípio só percepcionamos factos simples, aquilo que é. Isto aplica-se também à história, que no fundo podia ter sido diferente. É certo que ninguém pode sentir-se satisfeito com os meros factos, nem que seja por sermos, nós mesmos, em princípio, um mero facto, e, no entanto, também sabemos que temos e podemos ser algo mais que uma mera existência, produto da causalidade. Por este motivo é imprescindível analisar o que está subjacente à pura factualidade e compreender que o ser humano não foi lançado ao mundo por uma simples determinação da evolução. Ele foi desejado por Deus. Cada pessoa é ideia de Deus. Tudo o que existe, por dentro do puro facto, alberga um plano e uma ideia, que depois dá sentido à busca da ideia de mim mesmo e à minha união com o todo e com o curso da história (Ratzinger e Seewald, 2005, 71).

Vejamos agora o que quer dizer que todas as pessoas são ideia de Deus.

...essa é uma convicção fundamental do cristianismo. Quando a Sagrada Escritura apresenta metaforicamente a criação do homem por Deus – o oleiro que o molda e lhe insufla o espírito -, representa desse modo o arquétipo da criação de cada ser humano. Nos Salmos, o homem diz de si mesmo: “Vós

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formastes-me da terra, Vós me insuflastes o alento”. Aqui se expressa a ideia de que cada pessoa mantém uma relação directa com Deus. E, portanto, todas desempenham uma função com sentido na grande teia da história universal, ocupam o lugar que lhes foi atribuído, graças ao que lhes é dado contribuir como algo insubstituível para a história global (Ratzinger e Seewald, 2005, 71-72).

6.2.2 O sentido da vida

Certo, segundo esta concepção, que o homem é criação e ideia de Deus, qual é o sentido

da vida?

Se o mundo não tivesse já um sentido, também não seríamos nós quem o iria criar. Nós, os seres humanos, podemos realizar ações que têm significado no quadro pragmático de uma finalidade, mas incapazes, por nós mesmos, de produzir uma vida que tenha sentido. O sentido existe ou não existe. Não pode ser um produto nosso. O que produzimos pode dar-nos um instante de satisfação, mas não justificar toda a nossa vida, nem conferir-lhe sentido. (...) A posição da Igreja ao afirmar que o sentido não é um produto humano, mas dado por Deus, deve ser interpretada da seguinte maneira: o sentido é algo que está antes de nós e que transcende os nossos próprios pensamentos e as nossas descobertas. Só dessa maneira possui a capacidade de sustentar a nossa vida (Ratzinger e Seewald, 2005, 159).

Vemos através destes excertos que há um sentido para a vida, um sentido que já existia

e que não tem dedo humano. A concepção teológica aponta para uma lógica de uma

vivência junto a Deus, e apresenta-nos que essa é uma vivência de amor. Amor pelo

próximo, por aquele que está a meu lado, por aquele até que eu não conheço mas

procuro fazer-lhe bem e procurar o seu bem estar. Implica sermos semelhantes ao

caráter de Deus (Ratzinger e Seewald, 2005).

O homem, como ser, segundo esta concepção, vive segundo o amor. Isso fará com que

seja uma pessoa melhor, se conheça melhor, se domine melhor, e consequentemente

viva sendo o que quer ser (Ratzinger e Seewald, 2005). Dominando-se e conhecendo-se,

o homem controlará o seu tempo e estará à frente do seu tempo. Por isto afirmamos que

o ser é um regulador do tempo.

A Bíblia apresenta o seguinte em Génesis 1:1-2:

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1: No princípio criou Deus os céus e a terra. 2: A terra era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.

E continua, ainda sobre a criação revelando como foi criado o homem, em Génesis

1:26-28:

26: Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastam sobre a terra. 27: Assim Deus criou o homem à sua imagem , à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou. 28: Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra, e sujeitai-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre todas as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra.

Assim foi criado o homem. O seu sentido e propósito na vida já vimos anteriormente.

Não aprofundaremos mais a questão da essência do homem e do seu ser, até porque não

é esse o propósito principal deste trabalho. Contudo, pensámos aqui ter apresentado os

aspetos principais que se prendem com o ser segundo duas perspetivas diferentes. A

primeira, Feuerbach, alguém que tinha uma concepção de ser que o ligava às relações

que temos com os outros e relacionava o futuro com o desejo de ser. Posteriormente,

apresentámos o ser do ponto de vista teológico, o sentido e o propósito da vida segundo

esta concepção, que vem completar o que já havíamos apresentado no capítulo referente

ao tempo em Santo Agostinho.

 

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7 Competências – estar no tempo

Neste capítulo queremos ligar e relacionar as competências a deter e o como isso nos

permite estar à frente do tempo. Não ser consumido por chronos mas sim viver na

plenitude do tempo. Como mencionámos anteriormente neste trabalho, assumiremos

como figura central o papel do gestor para explicitar as ideias provenientes da nossa

investigação.

As competências que temos, que devemos procurar ter, vão fazer com que não sejamos

afetados pelo passar do tempo. Isto explica-se pelo simples fato de que, assim

acontecendo, seremos nós a determinar as regras do jogo, jogo este que simboliza o

mundo empresarial, e não será esse mesmo mundo a ditar o que acontecerá connosco.

Esta ideia relaciona-se em larga escala com o importante fator de sermos proactivos e

não reativos. Sempre que formos reativos estaremos a ser pressionados pelo tempo,

estaremos atrás do tempo, pois os acontecimentos já se deram. Sermos proactivos

implica sermos nós a ditar os acontecimentos, a antecipar movimentos e por esse

motivo, estarmos à frente do próprio tempo. Para isto, é absolutamente necessário

desenvolver algumas competências imprescindíveis à era do conhecimento que estamos

presentemente a viver. O processo neste capítulo passará por explicitarmos o conceito

de competência e posteriormente apresentarmos a forma como agir para não estarmos

sujeitos à tão afamada pressão do tempo.

Harvey, conhecido autor, em 1991 apresenta a seguinte sistematização para o conceito

de competência:

Knowledge (Conhecimento). A informação necessária e específica para realizar as tarefas de uma função. Isto é tipicamente adquirido através da educação formal, da formação no local de trabalho e da experiência profissional; Skill (Habilidade). Proficiência no uso de instrumentos e equipamentos na função. Esta habilidade deve ser adquirida num ambiente educacional ou aprendido na função de forma informal;

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Ability (Capacidade). Resulta de conceitos tais como a inteligência, orientação espacial e tempo de reacção. As capacidades são medidas frequentemente por testes que fornecem estimativas acerca da capacidade específica que uma pessoa tem para realizar uma tarefa; Other (Outras). São as características adicionais necessárias para fazer bem um trabalho. Esta categoria inclui as habilidades de realização, atitudes, personalidade e outras características pessoais exigidas ao trabalhador. Como se pode observar, este modelo comporta alguma orientação psicométrica na sua operacionalização mas, em simultâneo, apresenta alguma preocupação pelo desenvolvimento mais objetivo de habilidades de realização. De qualquer forma é algo contestado pelas orientações mais comportamentais que têm procurado suprimir o aspecto psicométrico das competências. Neste percurso, McClelland (1973, 1976), Boyatzis (1982) e mais recentemente Spencer e Spencer (1993) definem, de forma mais ou menos consensual, a competência como “uma característica subjacente de um indivíduo que tem uma relação causal com critérios de eficácia e/ ou de realização superior num trabalho ou situação” (Cascão, 2004, 22-23).

Não é muito relevante para este trabalho a exploração a fundo do conceito de

competência. Importa sim, percebermos que este está relacionado com o indivíduo e seu

conhecimento, habilidade, capacidade e outras características inerentes ao seu ser para

desempenhar determinadas funções (Cascão, 2004). Desta forma é importante frisar que

as competências são individuais em primeiro lugar. Posto isto, estamos em condições de

afirmar que só depende de cada um adquirir as competências necessárias para se

posicionar à frente do seu tempo.

Prestemos especial cuidado e atenção ao seguinte texto:

Nas coisas humanas – políticas, sociais, económicas e de negócios – não faz sentido tentar prever o futuro, nem sequer tentar ver à distância de 75 anos. Mas é possível – e útil – identificar grandes acontecimentos que já aconteceram, irrevogavelmente, e que terão, por isso, efeitos previsíveis na próxima década ou na que se lhe segue. É possível, por outras palavras, identificarmos e prepararmo-nos para o futuro que já aconteceu (Drucker, 1998, 9).

É tremendamente marcante o texto apresentado anteriormente. Reduz o futuro a uma

possível repetição do que já aconteceu. A discussão importante aqui não é se isso é ou

não uma realidade. O ponto central, na nossa opinião, é que é importante ao gestor estar

permanentemente ligado ao que acontece e ter uma total curiosidade pelos porquês do

que se vai passando no mundo. Dessa forma estará, desde logo, preparado para o que

possa vir a acontecer.

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Mencionamos anteriormente que estamos a viver na denominada era do conhecimento,

e como tal, existem preocupações e questões centrais com as quais se debatem os

profissionais desta era. O ser humano é como temos vindo a demonstrar ao longo do

trabalho muito complexo. Esse mesmo ser muito complexo é quem tem que gerir as

empresas de hoje e gerir-se a si (Terra, 2003 in Neves e Silva, 2003).

Sabemos, além disso, algumas das principais aspirações actuais do trabalhador do conhecimento. Cada vez mais, ele quer trabalhar em qualquer lugar e evitar actividades de baixo valor acrescentado. Procura também equilibrar a vida pessoal com a profissional e o trabalho individual com o colectivo. Enfim, quer encontrar caminhos que lhe permitam ser mais produtivo e também ter mais controlo sobre o seu dia-a-dia. (...) Os trabalhadores do conhecimento estão sempre numa espécie de corrida maluca, que nunca tem fim, sempre à procura de mais conhecimento e de aprendizagem contínua. Aprender continuamente tornou-se sinónimo de segurança para o trabalhador do conhecimento, oferecendo-lhe condições de empregabilidade e permitindo que se mantenha relevante nas redes cada vez mais amplas de conhecimento, que envolvem indivíduos, departamentos, empresas, comunidades de interesse, etc (Terra, 2003 in Neves e Silva, 2003, 536).

Quem quiser estar à frente do tempo, tem que obrigatoriamente estar em busca

constante por conhecimento e mais do que isso ainda, produzir esse mesmo

conhecimento. Isso é possível através, como pudemos ler, de aprendizagem contínua e a

noção de que nada sabemos. Reforçando ainda esta ideia. Como se desenvolvem as

competências?

• Atividades de aprendizagem – workshops e ações de formação; • Atividades de pesquisa – desenvolver competências através de

pesquisas de informação direcionadas para temas específicos e de interesse para a organização através da internet, bibliotecas digitais de conhecimento, projetos de benchmarking, entre outros;

• Atividades de partilha de conhecimento – participação em redes de conhecimento, comunidades de práticas, fóruns ou grupos de discussão (Sousa, Duarte, Saches, Gomes, 2006, 54).

O caminho é exatamente de uma vontade de aprender continuamente. Dessa forma

estaremos permanentemente atualizados e aptos a percepcionar o porvir de forma mais

eficaz e eficiente. É o único caminho para sermos os senhores do nosso tempo.

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Neste capítulo, pretendemos simplesmente mostrar que é através de uma constante

atualização das competências individuais que nos permitimos ser no tempo. É um

desafio e uma tarefa muito difícil e complexa, pois as mudanças são constantes e é

tendência humana a acomodação e a inércia. Não obstante a todas as concepções de

tempo que apresentámos e que nos permitem compreender melhor tão vasto conceito, a

interiorização de que depende unicamente de nós dominarmos o nosso tempo, deve ser

algo sempre presente na nossa mente. Tal não acontecendo, serão apenas sobreviventes

todos os que não ousarem ser antes do acontecer. Para esses o mundo correrá rápido

demais e os engolirá sem clemência.

   

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8 Conclusão parte teórica

O propósito central e geral desta investigação, no âmbito do trabalho de projeto, sobre

o tema do tempo foi o de percebermos e clarificarmos o que de obscuro existe sobre o

mesmo.

Optámos por seguir um caminho que teve muito em conta uma vertente filosófica pelo

fato de acreditarmos que um estudo nesse sentido nos daria visões mais claras e

precisas. Não é e não foi um caminho fácil, pois como sabemos a filosofia envolve e

requer uma compreensão muito específica sobre os termos e sobre as épocas nas quais

os pensadores proferiram as suas opiniões. Foi assim um processo de descoberta

contínua e que exigiu uma atenção constante nas leituras para dessa forma as podermos

perceber.

Desde a definição do conceito, passando pelo nascimento do tempo, evoluindo depois

para o estudo geral sobre o tempo, as visões dos dois pensadores até chegarmos à

problemática do ser e da essência humana, desaguando por fim na questão das

competências, uma conclusão é comum. O tempo é um conceito que dificilmente terá

uma única explicação, arriscando-nos mesmo a afirmar que por mais estudado que o

tema seja, muitas pontas continuarão soltas.

Durante toda a investigação, uma ideia comum foi ficando. A precaução, na abordagem

a este tema, é absolutamente essencial, uma vez que ninguém ousa afirmar que o tempo

é exatamente algo e só assim deve ser percebido e compreendido.

Os diferente autores apresentam as suas visões e muitas delas têm diferenças enormes

que não podem ser ignoradas.

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

76  

Como referíamos na introdução, o tempo corre, não pára, tem os seus ritmos e o seu

pulsar. Isso é certo e inegável. O nosso estudo pretendeu apresentar elementos sobre o

tempo que nos permitam ficar a conhecê-lo melhor. Só algo que conhecemos pode por

nós ser dominado e controlado. Não importa não haver definições únicas. Importa na

nossa opinião interiorizarmos o que sobre o tempo existe e dessa forma estaremos mais

cientes do que este trata.

Algo sobre o qual também não devem restar dúvidas é que o objetivo de cada um deve

ser estar à frente do tempo, e não permitir que este o consuma. Nesse sentido, torna-se

fundamental estarmos predispostos a ser proactivos na atualização das nossas

competências e assim estar prontos para o porvir. É uma transformação individual a que

se requer. Estarmos ou não dispostos a isso, é uma questão que deve ser respondida do

ponto de vista individual. O nosso ser pode funcionar como regulador do nosso tempo

se assim quisermos e direcionarmos esforços nesse sentido.

A vida é mais vida quando estamos à frente do tempo, do relógio e das suas imposições.

 

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Gestão  do  tempo  

77  

 

II – PARTE PRÁTICA

   

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Gestão  do  tempo  

78  

9 Execução prática

9.1 Problemática

Com este estudo pretendemos averiguar de que forma a população inquirida nesta

empresa vê a questão do tempo e a importância da sua gestão no exercício das suas

funções. Algo que também foi importante percebermos foi a forma como consideram

que a empresa em que estão se preocupa com este tão importante aspecto.

9.2 Metodologia

A metodologia usada para a execução da parte prática deste trabalho foi o inquérito por

questionário. O questionário é composto por cinco questões que serviram para

caracterizar o tipo de público que respondeu ao questionário e por mais 13 questões que

incidiram sobre a temática que esta monografia trata. Foi posteriormente feito o

tratamento dos dados recolhidos e que se encontram expressos nos gráficos que

seguidamente apresentamos.

9.3 Identificação da empresa

Ao vigésimo nono dia do mês de Março do presente ano desloquei-me à sede das

instalações do Grupo Salvador Caetano, sitas na Estrada Nacional 222, em Vila Nova

de Gaia onde funciona igualmente a TLSPT – Toyota Logísticos Serviços Portugal,

Unipessoal Lda., sendo esta subsidiaria da TME – Toyota Motor Europe. Esta empresa

exerce atividade no ramo da logística, sendo responsável pelo armazenamento e

distribuição de peças e acessórios Toyota e Lexus pela rede oficial de concessionários

da sua representada Toyota Caetano Portugal.

Chegado às instalações e com o objectivo de distribuir os questionários fui direcionado

até ao Sr. Horácio Sousa, gerente (Depot Manager), da TLSPT, com o seguinte contato

telefónico, 227 862 031. A ele expus o propósito dos questionários que levava comigo e

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

79  

para que efeito se destinavam. Houve logo pela permissão para a distribuição dos

mesmos questionários pela equipa que ele dirigia. O mesmo Sr. Horácio Sousa ficou

responsável pela distribuição e recolha dos questionários pelos elementos da sua equipa.

 

9.4 População, amostra e colheita de dados

A população escolhida para a aplicação dos questionários foi aleatória. Importava

mesmo perceber de que forma estas pessoas pensavam a questão do tempo. Por isso

foram inquiridas pessoas do sexo masculino e feminino, independentemente da sua

idade e escolaridade.

Foram distribuídos trinta questionários dos quais foram respondidos vinte e três de

forma voluntária.

A escolha desta empresa em particular deveu-se ao potenciamento de um contato que

tinha na mesma. Como já mencionamos anteriormente, o Sr. Horácio Sousa prontificou-

se e disponibilizou-se para a distribuição e recolha dos questionários que posteriormente

me foram entregues.

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

80  

9.5 Análise da amostra

Questão 1 – Género

Na presente empresa e tendo em conta a população inquirida, podemos constatar que

87% são do sexo masculino e os restantes 13% são do sexo feminino. População

maioritariamente masculina.

87%  

13%  

Género  

Masculino  

Femenino  

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

81  

Questão 2 – Estado civil

Relativamente à questão do estado civil, 87% são casados e 13% solteiros. Não existe

qualquer pessoa divorciada ou vivendo em união de fato.

Questão 3 - Idade

13%  

87%  

Estado  civil  

Solteiro  

Casado  

Divorciado  

União  de  fato  

4%  

17%  

65%  

14%  

Idade  

18  a  24  

24  a  34  

35  a  44  

45  a  54  

55  a  64  

Mais  de  64  

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

82  

No que respeita à idade daqueles que responderam ao questionário, 65% estão entre os

45 e 54 anos, sendo a faixa etária que mais significado tem depois desta a que vai dos

35 aos 44 anos com 17%, muito próxima da que vai dos 55 aos 64 anos com 14%.

Existe ainda uma pequena percentagem que tem entre 24 e 34 anos de idade. É uma

empresa onde existe uma larga percentagem de pessoas com mais de 45 anos o que

parece indicar que não há grande problema nesta empresa com a idade avançada da

maior parte dos seus colaboradores.

Questão 4 – Habilitações literárias

No que concerne às habilitações literárias, a maior percentagem corresponde a pessoas

com o 9º ano de escolaridade. Seguidamente, com 27% temos pessoas até ao 12º ano e

uma pequena percentagem de 5% com mestrado.

68%  

27%  

5%  

Hab.  literárias  

Até  9  anos  de  escolaridade  

Até  12  anos  de  escolariadade  

Bacharelato  ou  curso  médio  

Licenciatura  

Mestrado  

Doutoramento  

Outros  cursos  técnicos  

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Gestão  do  tempo  

83  

Questão 5 – Antiguidade

96% das pessoas que trabalham nesta empresa fazem-no há mais de 15 anos. Isto revela

que as pessoas são preservadas por muito tempo e por isso concluímos que é algo que é

valorado nesta empresa. Podemos também aqui encontrar uma relação com a idade das

pessoas. Vimos que a maior parte tinha já mais de 45 anos de idade e se já estão na

empresa há mais de 15 anos significa que entraram cedo na organização e por isso têm

bem enraizados os seus valores e princípios com o bom e o mau que isso possa

acarretar.

4%  

96%  

Antiguidade  

Até  1  ano  

1  a  2  anos  

2  a  5  anos  

5  a  10  anos  

10  a  15  anos  

Mais  de  15  anos  

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

84  

9.6 Análise das respostas relativas ao tema  

Questão 1 - Está satisfeito com o horário de trabalho que tem?

 

Verificamos que a maioria das pessoas se encontra satisfeita com o horário de trabalho

que neste momento é praticado na empresa. Contudo podemos sempre questionar se não

se trata de uma resposta que seja aquela que é mais fácil dar ao invés de ser o que

realmente reflete a opinião geral do público inquirido

83%  

17%  

Sim  

Não  

Page 85: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

85  

Questão 2- O tempo passado em contexto familiar e de trabalho é equilibrado?

 

A larga maioria das pessoas, com uma percentagem de 96% afirma que o tempo que

passa no local de trabalho e aquele que passa em contexto familiar, sugerindo que estão

satisfeitos com o nº de horas que passam nestes dois diferente ambientes.

Questão 3- A empresa respeito os horários consigo acordados?

 

96%  

4%  

Sim  

Não  

100%  

0%  

Sim  

Não    

Page 86: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

86  

Existe uma total e completa concordância relativamente a esta questão. Os horários

acordados são devidamente respeitados

Questão 4- A pressão do tempo é algo que o afeta diariamente?

 

Nesta questão já podemos verificar que há uma maior divisão nas resposta. O Sim

prevalece com 57% sobre o Não com 43%. É nossa convicção que o tempo realmente

afeta diariamente o quotidiano de cada pessoa até porque é inegável que este nunca para

ou volta atrás, referindo-nos ao tempo físico, aquele que todas as pessoas conseguem

perceber e entender. Contudo existe uma percentagem significativa que afirma a pressão

do tempo não as afecta o que pode indicar um maior relaxamento em relação ao mesmo

ou então a uma boa organização, algo que impede que o tempo as consuma.

57%  

43%  

Sim  

Não  

Page 87: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

87  

Questão 5- É usual pensar sobre a gestão do seu tempo?

 

Constatámos através das respostas obtidas a esta questão que já uma grande parte das

pessoas se preocupa com a gestão do seu tempo. Diremos que este é um bom indicador,

visto que acreditámos ser um fator diferenciador para o sucesso.

77%  

23%  

Sim  

Não  

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Gestão  do  tempo  

88  

Questão 6- Modificaria algo nos horários de trabalho atualmente praticados na

empresa?

 

As respostas obtidas nesta questão entram em conflito com as obtidas na questão 1 que

aferia a opinião sobre a satisfação com os horários praticas. Na primeira questão as

pessoas afirmaram que estavam satisfeitas com o horário, contudo nesta questão há uma

grande divisão sobre se alterariam os horários praticados. 52% responde que Sim e 48%

responde que Não. Chegar a uma conclusão relativamente a estes dados não é um

exercício fácil. Uma explicação possível pode ser que embora satisfeitas as pessoas

fariam diferente, relativamente aos que responderam afirmativamente nesta questão. Por

já ser uma fase mais avançada do questionário as pessoas poderão já não estar receosas

em expressar a sua verdadeira opinião.

52%  48%  

Sim  

Não  

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

89  

Questão 7- Quando pensa sobre o tempo, a sua atenção foca-se mais:

 

65% das pessoas responderam que a sua atenção foca-se mais no tempo presente em

contraponto com 35% que afirmaram que a sua atenção dirige-se para o tempo futuro.

Tendo em conta o contexto atual é perfeitamente normal que a atenção das pessoas se

foque essencialmente no tempo presente dada a grande volatilidade dos tempos em que

vivemos. Aqueles que se focam no futuro poderão estar numa situação mais confortável

e por isso optarem por planos a mais longo prazo. Ninguém tem o seu foco no tempo

passado.

65%  

35%  

No  tempo  presente  

No  tempo  passado  

No  tempo  futuro  

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

90  

Questão 8- Não tenho tempo para nada e o tempo passa tão rápido, são expressões que

costuma utilizar?

 

A expectativa relativamente a esta questão era que houvesse uma ainda maior e mais

expressiva percentagem do lado do Sim, contudo verificamos até um certo equilíbrio no

uso das expressões acima apresentadas.

58%  

42%  

Sim  

Não  

Page 91: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

91  

Questão 8.1- Se sim, acha que isso se deve a:

 

Aqui foram somente consideradas as respostas daqueles que anteriormente tinham

respondido Sim.

O excesso de tarefas a executar é a razão apontada, na maioria dos casos, para o uso

recorrente das expressões citadas. A má gestão do tempo de cada um é também uma

razão apontada, embora esta em muito pequena escala. Curioso é verificar que nenhum

dos inquiridos aponta como razão a não preocupação das chefias relativamente ao

tempo necessário para a execução das tarefas.

91%  

9%   Ter  muitas  tarefas  para  executar  

Uma  má  gestão  do  tempo  

À  não  preocupação  das  cheWias  em  relação  à  questão  tempo  

Page 92: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

92  

Questão 9- O tempo para si é:

 

As respostas a esta questão originaram um grande equilíbrio perante as opções

apresentadas. 39% das pessoas responderam que o tempo era para elas um passado, um

presente e um futuro, tempos estes distintos e separados. Muito próximo desta

percentagem, 35% das pessoas inquiridas afirmaram que o tempo era um presente

constante, ou seja, consideravam fundamental o presente. Com menor percentagem,

26%, mas ainda assim expressiva, corroboraram a ideia de que o tempo é uma sucessão

de diferentes momentos, valorando assim cada momento e considerando cada momento

o fundamental naquele que é o tempo como um todo.

39%  

35%  

26%  Passado,  presente  e  futuro  

Um  presente  constante  

Uma  sucessão  de  diferentes  momentos  

Page 93: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

93  

Questão 10- Na sua opinião:

 

Alguma divisão, igualmente, na resposta a esta questão. 57% defendem que a pessoa

controla o seu tempo, isto é, a pessoa que pensa o seu tempo e o gere consegue

controlar o mesmo. Por outro lado 43% estão do lado da opinião que o tempo é que

controla a pessoa, significando isto que o tempo domina as atividades diárias destas

pessoas e não conseguem, provavelmente, manter todas as suas tarefas em dia.

57%  

43%  

A  pessoa  controla  o  tempo  

O  tempo  controla  a  pessoa  

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

94  

Questão 11- Existem diferenças na percepção que tem da passagem do tempo?

 

A maior percentagem das pessoas responderam que têm diferentes percepções da

passagem do tempo. Tal pode dever-se a estarem ocupadas na realização das suas

tarefas e concentradas nelas e outras vezes poderão haver motivos externos ou internos

à realização do seu trabalho que as faça perceber uma passagem mais rápida ou mais

lenta do tempo.

83%  

17%  

Sim  

Não  

Page 95: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

95  

Questão 12- Dominar perfeitamente a execução das tarefas que lhe estão destinadas é

algo determinante no tempo que usa para as fazer?

 

Aqui obtivemos a maior percentagem do lado do Sim, algo que já era esperado. É

inegável que um melhor domínio das tarefas a executar vai influenciar diretamente a

performance na execução da mesma. Quisemos somente verificar se havia a noção por

parte das pessoas desta questão essencial.

97%  

3%  

Sim  

Não  

Page 96: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

96  

Questão 13- Considera que a constante atualização das suas competências tem

influência direta no tempo que usa para as desempenhar?

 

Em seguimento das respostas que obtivemos à questão anterior, embora com uma

percentagem ligeiramente menor, existe a consciência que a atualização de

competências é fundamental para um melhor desempenho das tarefas que são atribuídas

a cada pessoa. Assim constatamos que há, pelo menos no campo teórico, a sensibilidade

das pessoas inquiridas para a necessidade de constante formação e aprendizagem.

 

87%  

13%  

Sim  

Não  

Page 97: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

97  

10 Conclusão parte prática

A principal finalidade da aplicação deste questionário foi o tentarmos perceber de que

forma o tempo é um fator que atualmente prende, dirige e foca alguma da atenção das

pessoas.

O estudo que foi feito no decorrer deste trabalho foi algo profundo e envolveu aspetos

sobre os quais a larga maioria das pessoas que não têm como campo de atuação

profissional o tema em questão não são conhecedoras destes. Tendo este ponto em

consideração não poderíamos apresentar questões com um fundo teórico muito elevado

como seria desejável num tipo de investigação mais aprofundada. Contudo obtivemos

resultados que podemos considerar relevantes.

77% das pessoas inquiridas admitiram que pensam e se preocupam com a gestão do seu

tempo. Tal dado revela que existe a consciência da importância que este fator tem e

deve ter no campo profissional, assim como pessoal. Este é um indicador que nos

permite configurar um futuro em que a tendência será ainda uma maior preocupação

com a gestão do tempo e consequentemente um maior aproveitamento do mesmo.

Outro dado relevante que nos parece importante salientar está relacionado com o fato de

que algumas pessoas frequentemente afirmam não ter tempo para nada e que isso se

deve ao fato de terem muitas tarefas para executar. Isto pode ser uma realidade mas

pode também indicar que o tempo não está a ser gerido da melhor forma. Este fator

conjugado com o acima apresentado pode tender para a necessidade de como admitiram

pensar melhor sobre a gestão do tempo e com isso usar menos as expressões citadas na

questão 8.

Page 98: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

98  

Por fim, queremos salientar um ponto muito importante. É generalizada a opinião que a

atualização das competências pessoais e dominarmos perfeitamente as tarefas que nos

estão imputadas são um grande contributo para usarmos menos tempo a executá-las e

dessa forma sermos mais produtivos e eficientes. É essencial que estas respostas e este

pensamento possa não ser puramente demagógico para que se obtenham melhores

desempenhos na vida profissional e consequentemente maior felicidade no campo

pessoal.

O trabalho teórico envolveu assuntos e pontos mais profundos e não tanto objetivos,

mas fomos sempre afirmando e comprovando o quão importante era o foco na gestão do

tempo para um maior sucesso. Estes questionários vêm demonstrar que existe esse

cuidado relativamente a esta questão em particular, algo que nos entusiasma.

Acreditamos, ainda assim, que existe um longo caminho a percorrer para que se passe

das palavras aos atos.

   

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

99  

11 Considerações finais

Prazer. Esta talvez seja a melhor palavra para caraterizar o caminho que percorri para

fazer este trabalho de projeto. Tortuoso, difícil, muitas vezes sem saída, até

desesperante, adjetivos que permanentemente ouvia de muitos dos que convivi quando

ao trabalho de projeto se referiam. Discordo. Este foi um caminho de descoberta,

sobretudo de mim mesmo. A pesquisa, a leitura, a escrita, as perguntas, as hipóteses, as

palavras, as linhas, os parágrafos e as páginas, tudo neste trabalho me entusiasmou.

O tempo fascina-me, a passagem dele, muitas vezes, perturba-me, a sua insistência em

não voltar atrás inquieta-me. O que deixei por fazer, o que podia ter feito, o que quero

fazer, o que vou fazer. Tudo isto é tempo. Tudo isto me levou a querer pesquisar sobre

este tema. Uma certeza. Ainda nada sei sobre ele. O tempo é acima de tudo mistério.

Filósofos escreveram. Pensadores pensaram. Teólogos dissertaram. E o tempo contínua

sendo mistério. O estudo que fizemos conclui que nada pode ser concluído sobre o

tempo, este corre, é certo, mas o seu inicio é complicado arriscar, como decorre mais

complicado ainda. Findará? Não sabemos. Percorremos várias correntes de pensamento

e sobre elas escrevemos. Arriscámos muitas vezes a nossa humilde opinião sobre o que

líamos.

Isto é certo, o tempo, para a visão do comum dos mortais, nós, existe, passa, corre e não

para. Este influencia o nosso dia a dia e fundamentalmente o nosso campo profissional

que se relaciona diretamente com a nossa vida profissional, não necessariamente nesta

ordem.

Atualizarmos as nossas competências e dominarmos as tarefas que temos que executar

são indiscutivelmente fatores essenciais ao sucesso e para o domínio do tempo. A nossa

Page 100: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

100  

parte prática mostra que uma larga percentagem das pessoas se preocupa com o tema, e

que também acredita que este é um ponto diferenciador.

Estarmos dentro do tempo é sermos nós a dominá-lo. Fácil? Muito longe de sê-lo.

Possível? Acredito piamente que sim.

O estudo não pode parar aqui e é imprescindível que mais se reflita sobre este tema.

Procurar os textos e exemplos do passado para modificar o futuro é um desafio pessoal

e algo que quero deixar como mensagem final no término deste trabalho de projeto.

 

Page 101: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

101  

Bibliografia  

Abbagnano, Nicola (1998). Dicionário de Filosofia. São Paulo, Martins Fontes.

Agostinho, Santo (1984). Confissões. São Paulo, Paulus.

Bíblia. Português. Bíblia de referência Thompson. Compilado e Redigido por Frank

Charles Thompson. Tradução: João Ferreira de Almdeia. São Paulo, Editora Vida.

Blackburn, Simon (2007). Dicionário de Filosofia. Lisboa, Gradiva.

Buffet, Peter (2010). A vida é o que fazemos dela. Lisboa, Largebooks.

Cascão, Ferreira (2004). Entre a gestão de competências e a gestão do conhecimento:

um estudo exploratório de inovações na gestão de pessoas. Lisboa, Editora RH.

Drucker, Peter (1998). Sobre a profissão de gestão. Lisboa, Publicações Dom Quixote.

Klein, Éttiene (2007). O tempo, de Galileu a Einstein. Casal de Cambra, Caleidoscópio.

Neves, Ana & Silva, Ricardo (2003). Gestão de empresas na era do conhecimento.

Lisboa, Edições Sílabo.

Prigogine, Ilya (1988). O nascimento do tempo. Lisboa, Edições 70.

Ratzinger, Joseph & Seewald, Peter (2005). Deus e o mundo. A fé cristã explicada por

Bento XVI. Coimbra, Edições Tenacitas.

Sarte, Jean-Paul (2003). O Ser e o Nada. Petrópolis, Editora Vozes.

Page 102: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

102  

Serrão, Adriana (D.L. 2001), O homem integral. Antropologia e utopia em Ludwig

Feuerbach. Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, Faculdade de

Letras.

Sousa, Maria; Duarte, Teresa; Sanches, Pedro; Gomes, Jorge (2006). Gestão de

recursos humanos. Lisboa, Lidel – Edições Técnicas, Lda.

Page 103: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

103  

 

ANEXOS

   

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

104  

 

ANEXO 1

(Questionário modelo)

   

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

105  

Para conclusão da Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos do Instituto Superior da Maia, relativamente à unidade curricular de Trabalho de Projecto, solicito o preenchimento do presente questionário, que é totalmente anónimo e confidencial, agradecendo desde já a mais sincera opinião.

Os dados recolhidos serão usados exclusivamente para fins académicos.

Obrigado.

1. Género:

� Feminino

� Masculino

2. Estado civil:

� Solteiro

� Casado

� Divorciado

� União de facto

3. Idade:

� De 18 a 24 anos

� De 25 a 34 anos

� De 35 a 44 anos

� De 45 a 54 anos

� De 55 a 64 anos

� Mais de 64 anos

4. Habilitações literárias:

� Até 9 anos de escolaridade

� Até 12 anos de escolaridade

� Bacharelato ou curso médio

� Licenciatura

� Mestrado

� Doutoramento

� Outros cursos técnicos

5. Antiguidade:

� Até 1 ano

� 1 a 2 anos

� 2 a 5 anos

� 5 a 10 anos

� 10 a 15 anos

� Mais de 15 anos

QUESTIONÁRIO 2012

Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

106  

1- Está satisfeito com o horário de trabalho que tem?

� Sim

� Não

2- O tempo passado em contexto familiar e de trabalho é equilibrado?

� Sim

� Não

3- A empresa respeita os horários consigo acordados?

� Sim

� Não

4- A pressão do tempo é algo que o afeta diariamente?

� Sim

� Não

5- É usual pensar sobre a gestão do seu tempo?

� Sim

� Não

6- Modificaria algo nos horários de trabalho atualmente praticados na empresa?

� Sim

� Não

7- Quando pensa sobre o tempo, a sua atenção foca-se mais:

QUESTIONÁRIO 2012

Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

107  

� No tempo presente

� No tempo passado

� No tempo futuro

8- Não tenho tempo para nada e o tempo passa tão rápido, são expressões que costuma

utilizar?

� Sim

� Não

8.1 Se sim, acha que isso se deve a:

� Ter muitas tarefas para executar.

� Uma má gestão do tempo.

� À não preocupação das chefias em relação à questão tempo.

9- O tempo para si é:

� Passado, presente e futuro.

� Um presente constante

� Uma sucessão de diferentes momentos

10- Na sua opinião:

� A pessoa controla o tempo

� O tempo controla a pessoa

11 - Existem diferenças na percepção que tem da passagem do tempo?

� Sim

� Não

Page 108: Monografia Gestão do Tempo

André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

108  

12- Dominar perfeitamente a execução das tarefas que lhe estão destinadas é algo determinante no tempo que usa para as fazer?

� Sim

� Não

13- Considera que a constante atualização das suas competências tem influencia direta no

tempo que usa para as desempenhar?

� Sim

� Não

Obrigada pela sua colaboração

 

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André  Cunha  

Gestão  do  tempo  

109  

 

ANEXO 2

(Questionários respondidos)