Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

20
hojemacau 3 JOANA FREITAS POLÍTICA PÁGINA 4 SOCIEDADE PÁGINA 7 CHINA PÁGINA 12 CHINA PÁGINA 13 DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 QUINTA-FEIRA 15 DE JANEIRO DE 2015 ANO XIV Nº 3252 ESTUDO Coimbra ainda é uma lição HONG KONG O futuro segundo CY Leung JOSÉ CESÁRIO Relações no melhor dos mundos TERRORISMO Dez turcos detidos no Xinjiang GRANDE PLANO PÁGINA 3 DECLARAÇÕES DE FONG CHI KEONG AFECTAM CHUI SAI ON E HO IAT SENG DANOS COLATERAIS Um porque o nomeou, outro porque o deixou falar. Leonel Alves critica o presidente do hemiciclo e defende o Chefe do Executivo. Pereira Coutinho zurze nos dois. Isto no meio de uma onda de críticas na imprensa, nas redes sociais, na sociedade e nos meios políticos. PUB PUB Ter para ler AGÊNCIA COMERCIAL PICO 28721006 PUB LIVRO FOTOGRAFIA Os trajectos de Gonçalo Lobo Pinheiro CENTRAIS

description

Hoje Macau N.º3252 de 15 de Janeiro de 2015

Transcript of Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

Page 1: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

hojemacau

3

JOAN

A FR

EITA

S

POLÍTICA PÁGINA 4 SOCIEDADE PÁGINA 7

CHINA PÁGINA 12 CHINA PÁGINA 13

DIRECTOR CARLOS MORAIS JOSÉ WWW.HOJEMACAU.COM.MO MOP$10 Q U I N TA - F E I R A 1 5 D E J A N E I R O D E 2 0 1 5 • A N O X I V • N º 3 2 5 2

ESTUDOCoimbra aindaé uma lição

HONG KONGO futuro segundo CY Leung

JOSÉ CESÁRIORelações no melhor dos mundos

TERRORISMODez turcos detidos no Xinjiang

GRANDE PLANO PÁGINA 3

DECLARAÇÕES DE FONG CHI KEONG AFECTAM CHUI SAI ON E HO IAT SENG

DANOS COLATERAISUm porque o nomeou, outro porque o deixou falar. Leonel Alves critica o presidente

do hemiciclo e defende o Chefe do Executivo. Pereira Coutinho zurze nos dois. Isto no meiode uma onda de críticas na imprensa, nas redes sociais, na sociedade e nos meios políticos.

PUB

PUB

Ter para ler

AGÊNCIA COMERCIAL PICO • 28721006

PUB

LIVRO FOTOGRAFIAOs trajectos de Gonçalo

Lobo Pinheiro

CENTRAIS

Page 2: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

“A polícia tem responsabilidade de recusar a entrada a pessoas que não cumpram as condições de entrada em Macau, de acordo com as leis da RAEM. Os casos são, então, avaliados consoante o agente policial que estiver na fronteira. “A polícia vai, de acordo com a lei e os conhecimentos profissionais do agente avaliar os casos”• Porta-voz da PSP, sobreo impedimento de entradade pessoas na RAEM

“A nossa indústria do Jogo vai existir durante um longo tempo, o que causa interesses aos chamados ‘sub-produtos’ dependentes do Jogo. Trabalhei num estabelecimento destes e testemunhei que um cliente que ganhou muito dinheiro no jogo, pediu o ‘serviço’ [de prostituição] e mostrou vontade em pagar cerca de cem mil patacas por ele. [Elas] são induzidas e, naturalmente, isto atrai muitas mulheres a dedicarem-se a este sector”TONG NOI TONG• Comentador social

“Para que é que se casaram? Não foi para suprir essa necessidade [sexual]? Quandoo marido precisa disso e a mulher diz que está ocupada, claro que isso dá origem a conflitos”FONG CHI KEONG• Deputado nomeado pelo Governo, sobre a violência doméstica

2 hoje macau quinta-feira 15.1.2015

‘‘édi toon t em

macau

hojeglobalw w w. h o j e m a c a u . c o m . m of a c e b o o k / h o j e m a c a ut w i t t e r / h o j e m a c a u

L I G U E - S E • PA R T I L H E • V I C I E - S E

POR CARLOS MORAIS JOSÉ

www.hojemacau.

com.mo

Propriedade Fábrica de Notícias, Lda Director Carlos Morais José Editores Joana Freitas; José C. Mendes Redacção Andreia Sofia Silva; Filipa Araújo; Flora Fong (estagiária); Leonor Sá Machado Colaboradores António Falcão; António Graça de Abreu; Gonçalo Lobo Pinheiro; José Simões Morais; Maria João Belchior (Pequim); Michel Reis; Rui Cascais; Sérgio Fonseca; Tiago Quadros Colunistas Agnes Lam; Arnaldo Gonçalves; David Chan; Fernando Eloy; Fernando Vinhais Guedes; Isabel Castro; Jorge Rodrigues Simão; Leocardo; Paul Chan Wai Chi; Paula Bicho Cartoonista Steph Grafismo Catarina Lau Pineda; Paulo Borges Ilustração Rui Rasquinho Agências Lusa; Xinhua Fotografia Hoje Macau; Lusa; GCS; Xinhua Secretária de redacção e Publicidade Madalena da Silva ([email protected]) Assistente de marketing Vincent Vong Impressão Tipografia Welfare Morada Calçada de Santo Agostinho, n.º 19, Centro Comercial Nam Yue, 6.º andar A, Macau Telefone 28752401 Fax 28752405 e-mail [email protected] Sítio www.hojemacau.com.mo

DIÁRIODE

BORDO

horahCATÓLICOS no Sri Lanka comungam após a missa dada pelo Papa Francisco no Galle Face Green, em Colombo, no Sri Lanka. O Papa Francisco está de visita ao país, naquela que é a sua segunda visita à Ásia

MeiraBurguete

CADA PEÇA tem o seu papel neste tabuleiro que de xadrez — pura lógica — tem pouco. Elas encaixam-se e desencaixam-se refinadamen-te ou à bruta, muitas vezes sem que no momento em que tal acontece se entenda com niti-dez, no início da onda, como esta se irá derramar na praia. Ontem ficámos a saber que morreu nas Filipinas Meira Burguete, um dos primeiros directores do Macau Hoje que, como todos sabem, é um predecessor do Hoje Macau.É uma coincidência mórbida que Meira Burguete tenha partido quando em Paris se matavam cartoonistas. Dele relembro, entre muitas outras particularidades, um espírito irreverente e mor-daz, impetuoso e atrevido, até pontualmente libertino, que manifestava diariamente na temida secção “Prata da Casa”. O seu estilo de jornalismo (que, entenda-se, não é de todo comparável ao Charlie Hebdo) poderia ser incom-preendido em certos meios na altura, mas hoje, olhando para trás, compreende-se que também ele fez parte de um processo, de um fluxo de acontecimentos e interesses, no qual desempenhou o seu papel. As peças acabam todas por se encaixar, mesmo em Macau, onde por vezes pres-tam a sensação de flutuarem à toa, átonas, na corrente do tempo.Meira Burguete escreveu um livro singular, “Passaporte Português”, no qual, realmen-te num estilo muito próprio, para alguns excessivamente directo, narra de forma crua a vida da comunidade portu-guesa desses tempos. Havia então no ambiente um fedor a fim de império: uma mistela de excessos de humidade, suor, perfumes, tabaco, angústia e pó-de--arroz. Algo apodrecia algures nesta cidade e Meira Burguete exprimia-o com tiradas natu-ralistas.Em vários sentidos, de modos diferentes e às vezes indi-ferentes, deixou inscrita no ADN do seu jornal uma marca libertária, que com certeza herdámos no Hoje Macau. Obrigado, Meira!

EPA/

M.A

.PUS

HPA

KUM

ARA

“O objectivo geral é criar formas de integração destas estruturas na história da cidade, apontar-lhes uma cultura arquitectónica,

possibilitar a sua viabilidade para lá do Jogo. Parte-se do princípio que se Macau não pode só ser uma ‘cidade do Jogo’, também os casinos não podem ser só uma ‘arquitectura do Jogo’”

Comunicado da Universidade de Coimbra sobre um estudo dos casinos em Macau | P. 3

Page 3: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

hoje macau quinta-feira 15.1.2015 3GRANDE PLANO

A aprovação da proposta de Lei de Correcção e Prevenção da Violên-cia Doméstica ficou

marcada esta terça-feira por uma intervenção do deputado nomeado Fong Chi Keong que causou grande polémica nas redes sociais e na imprensa. O deputado não só se mostrou contra a posição de “to-lerância zero” contra a violência doméstica como defendeu que “quando há dor há alegria”.

“Qual é a cultura dos chineses? É a tolerância. Entre maridos e mulhe-res são frequentes as zaragatas. Se o marido ralha e a mulher não refilar, não vai ter consequência. Não con-cordo com a tolerância zero”, disse.

Mas qual a reacção do hemici-clo a esta intervenção? Todos os deputados contactados referem não concordar com as ideias expressas por Fong Chi Keong.

Ho Iat Seng, presidente da AL, assume ao HM que fez o que estava

COLIGAÇÃO ANTI-VIOLÊNCIA DOMÉSTICA “CONDENA” DISCURSO

ANDREIA SOFIA [email protected]

FLORA [email protected]

ao seu alcance. “Posso dizer que mantive a ordem do debate”, disse ao HM Ho Iat Seng. “Fong Chi Keong também deve ter respon-sabilidade sobre o seu discurso. Não posso controlar as ideias do deputado e ele não disse [palavrões]. Quando o deputado começou a falar olhei para o deputado de maneira diferente”, adiantou.

Um olhar que para Leonel Alves não é suficiente. Em decla-rações aos jornalistas, num evento público, o deputado também pediu uma melhor actuação por parte do presidente do hemiciclo. “O presidente tem sido bastante benevolente e gostaria de ter um presidente mais actuante e mais seguidor do regimento. É altura de ter uma actuação mais condizente com as normas regimentais.”

Contudo, Leonel Alves protege o Chefe do Executivo, quanto ao facto de Fong Chi Keong ter este comportamento, enquanto deputado

nomeado. Por um lado, considerou o pensamento do seu colega de hemi-ciclo como sendo “retrógrado”, mas por outro não relaciona as declara-ções de Fong com a sua nomeação pelo Chefe do Executivo.

“Há liberdade de expressão e de pensamento e, apesar de não con-cordar com as ideias do deputado,

a meu ver um bocado retrógradas, não quer dizer que não possam ser expressas. Não acho que haja uma conexão entre a maneira como o deputado expressa a sua opinião e o acto político de nomeação de uma pessoa que trabalhou para Macau muitos anos”, disse, referindo-se à sua nomeação por Chui Sai On.

Opinião diferente tem Pereira Coutinho. “As declarações do deputado foram infelizes e é uma amostra da qualidade de alguns dos políticos que há em Macau. A vergo-nha reflecte-se também na pessoa ou pessoas que indicaram o seu nome para ser deputado nomeado”, disse o deputado da Nova Esperança, numa referência ao Chefe do Executivo.

Num ponto Pereira Coutinho está de acordo com Leonel Alves: na crítica à postura de Ho Iat Seng. “Foi lamentável que o presidente não tenha tido a coragem para parar o discurso antes de ele pro-ferir aquelas infelizes declarações

contra as mulheres”, frisou ao HM, sem esquecer que Fong Chi Keong “fere a imagem da própria AL”.

IDEIAS TRADICIONAISA deputada Melinda Chan, que sempre defendeu publicamente a criminalização pública da violên-cia doméstica, apenas referiu não poder concordar com as declara-ções do colega do hemiciclo.

“Ele disse que uma bofetada é uma forma de amor e não concordo com isso, também deu como exem-plo casais em que a mulher fica na cozinha a comer, enquanto o marido almoça na sala. Isso não acontece na sociedade de Macau actualmente. Não concordo com essa forma de tra-tar as mulheres, isso não é aceitável”, apontou. “Mas apenas posso dizer que não concordo com essa forma de dizer as coisas, mas na AL todos têm a sua forma de expressão. Não consigo controlar a sua intervenção”, acrescentou ainda Melinda Chan.

Para Gabriel Tong, deputado nomeado, a intervenção de Fong Chi Keong não retira credibilidade ao hemiciclo. “A maioria dos deputados manifestou o total apoio para aprovar a lei contra a violência doméstica. Só houve uma abstenção. Não acho que isso tenha a ver com toda a As-sembleia e com todos os deputados. Cada deputado fala da sua maneira, de uma maneira mais forte ou fraca, com uma posição diferente. Mas acho que os debates devem ser feitos com mais sensibilidade e com maior sentimento para com a sociedade”.

Para Kwan Tsui Hang, deputada directa, Fong Chi Keong defende os conceitos tradicionais da sociedade chinesa, ainda que a deputada con-sidere que, para o desenvolvimento da sociedade, as ideias, no geral, já são bem diferentes actualmente. “Do meu ponto de vista, não concordo com as suas ideias”, apontou.

A reacção às palavras de Fong Chi Keong não se fez esperar por parte da Coligação Anti-Violência Doméstica: um comunicado enviado ontem às redacções revela que o discurso do deputado nomeado “não só ofende as mulheres e homens como põe em causa a igualdade de géneros, reforçando estereótipos, o que agrava a

violência e põe em causa o conceito de família e a harmonia social”. O comunicado, assinado por diversas associações, exige que Fong Chi Keong peça desculpa “publicamente pelo discurso impróprio”. “Também apelamos à sociedade de Macau para não tolerar qualquer linguagem ou comportamento impróprios que possam apoiar

ou contribuir para a violência doméstica”, pode ler-se. Comentado algumas palavras do deputado, a coligação entende que são “uma visão distorcida de amor” e que “a segurança e a liberdade são direitos humanos universais, que também são aplicados às relações íntimas e familiares”.

“Não posso controlar as ideias do deputado e ele não disse [palavrões]. Quando o deputado começou a falar olhei para o deputado de maneira diferente”HO IAT SENG Presidente da AL

“O presidente tem sido bastante benevolente e gostaria de ter um presidente mais actuante e mais seguidor do regimento. É altura de ter uma actuação mais condizente com as normas regimentais”LEONEL ALVES Deputado

Ho Iat Seng

OPINIÕES DE FONG CHI KEONG CAUSAM MOSSA. HO IAT SENG, DEBAIXO DE FOGO, RESPONDE

“Não posso controlar as ideias do deputado”

Fong Chi Keong disse que não deveria existir “tolerância zero” para a violência doméstica e que “onde há dor há alegria”, motivando um dilúvio de críticas. O presidente Ho Iat Seng diz apenas que “manteve a ordem do debate”, mas Leonel Alves e Pereira Coutinho criticam a sua benevolência

Page 4: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

DANI

EL R

OCHA

, PÚB

LICO

4 hoje macau quinta-feira 15.1.2015POLÍTICA

O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, manifestou

ontem ao Governo de Macau a “disponibilidade” de Portugal co-laborar com as autoridades RAEM em acções que beneficiem ambas as partes e a comunidade portu-guesa residente. O representante disse ainda à rádio Macau que os portugueses vão continuar sempre a receber “discriminação positiva” da parte do Executivo de cá.

José Cesário encontrou-se com Alexis Tam, o novo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, com Raimundo do Rosário, Secretário para as Obras Públicas e Trans-portes, e com Wong Sio Chak, Se-cretário para a Segurança, a quem manifestou a disponibilidade de Portugal e da representação consu-lar local para “toda a colaboração”.

Para José Cesário, Portugal pode articular com Macau acções em comum, que beneficiem o território, Portugal e a comunidade portuguesa.

“Evidentemente, é nosso ob-jectivo que estas acções de coope-ração sejam acções concretas, em variadíssimos domínios - cultural, formação, segurança. A todos os níveis que se traduzam na continui-dade do que tem sido feito”, disse.

PORTUGUESES BENEFICIADOS Os portugueses que queiram fixar residência em Macau vão con-tinuar a receber um tratamento

FIL IPA ARAÚ[email protected]

N O seu primeiro dia de visita oficial a Macau, o Secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, marcou

ainda presença em algumas associações de matriz portuguesa e macaense. Depois dos encontros com Secretários do Governo, José Cesário almoçou na cantina da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC). “[José Cesário] de todas as vezes que vem a Macau não deixa de fazer uma visita à APOMAC, até porque ele sempre diz que gosta muito da nossa comida e por isso gosta sempre de comer aqui”, avançou Jorge Fão, membro da direcção da Associação, ao HM.

VISTOS GOLD ESCÂNDALO SEM IMPACTO“É nosso objectivo que estas acções de cooperação sejam acções concretas, em variadíssimos domínios - cultural, formação, segurança. A todos os níveis que se traduzam na continuidade doque tem sido feito”

O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas assegura que Portugal está à disposição da RAEM e que a intençãode continuar a tratar os cidadãos lusosde forma privilegiada é real em Macau

JOSÉ CESÁRIO GARANTE QUE PORTUGUESES VÃO RECEBER SEMPRE “DISCRIMINAÇÃO POSITIVA”

Macau e Portugal de mãos dadasde “discriminação positiva” por parte das autoridades, afirmou ainda à Rádio Macau José Cesá-rio, após um encontro com Wong Sio Chak.

O governante português des-tacou que o Secretário para a Segurança manifestou total dis-

ponibilidade para colaborar com as autoridades portuguesas, “para colaborar com o Consulado-Geral no sentido de resolver situações mais delicadas que possam existir e, sobretudo, dar continuidade ao processo de concessão de autoriza-ção de residências que, nos últimos

ASSOCIAÇÕES SATISFEITAS COM VISITA DE CESÁRIO

Tudo bons amigosMas não só de apreciação gastronómica

se tratou a visita do representante português, segundo Jorge Fão, que afirma que, nesta visita, o tema que reinou foi o lançamento da plataforma online do Consulado-Geral de Portugal em Macau.

“Durante a visita não houve qualquer pedi-do ou reivindicação. Apenas elogios da nossa entidade consular em Macau. A plataforma que será lançada amanhã [hoje] foi o centro de toda a conversa”, clarificou. Assim, sem apre-sentar queixas, Jorge Fão afirma que garantiu ao Secretário “todo o apoio que é possível [à associação] na divulgação da plataforma”.

O responsável explica ainda que, depois de perceberem como todo o sistema online funciona, vai ser “redigida uma carta e enviada para todas

as moradas dos associados”, para promover a iniciativa. “Esta é a ajuda que iremos dar”, remata.

INCENTIVOS Á MISERICÓRDIA A tarde começou com um visita à Santa Casa de Misericórdia, seguindo-se um breve encontro com António José de Freitas, provedor da ins-tituição. “A conversa baseou-se em colocar [o representante] a par das actividades que temos desenvolvido, nos projectos já lançados, os que ainda estão por concretizar e principalmente falámos de uma futura creche”, começou por explicar o provedor.

A ambição da construção de uma cre-che da Santa Casa da Misericórdia não é novidade e António José de Freitas não nega o desejo de conclusão até “Setembro deste ano”.

“Do Secretário surgiram palavras de incentivo”, afirmou o provedor que con-sidera que estas visitas são importantes principalmente pela “relação entre Portugal e Macau”.

anos, já atingiram as 1600 aqui em Macau”.

De acordo com Cesário, este é um número “muito significativo” e Portugal está firmemente conven-cido “que a intenção manifestada corresponde à realidade, ou seja, ter relativamente aos portugueses

aquele tratamento que se considera ser de discriminação positiva que desde sempre foi a intenção das autoridades do território”.

PORTUGUÊS AO ALTOSobre o encontro com Alexis Tam, o Secretário de Estado destacou a manifestação de vontade de co-laborar em áreas como a Saúde, a Cultura e a difusão da Língua Portuguesa, um campo onde o Instituto Português do Oriente terá “um papel decisivo”.

Apesar de reconhecer que este instituto tem hoje “uma resposta mais cabal” para os desafios apre-sentados, José Cesário defendeu que deve ter um papel mais inter-ventivo no campo regional.

“O nosso plano é passar para outros pontos da Ásia e fiquei muito feliz por ouvir o senhor Secretário referenciar oportunidades e neces-sidades de colaboração no plano cultural e no plano da língua, porque aí o IPOR terá sempre um papel absolutamente decisivo”, afirmou.

Sobre Raimundo do Rosário, que até 20 de Dezembro foi chefe da Missão de Macau em Lisboa, José Cesário lembrou que “co-nhece muito bem Portugal” e sabe aquilo que o país pode oferecer para “uma colaboração frutífera para o desenvolvimento de Macau”.

José Cesário está em Macau para uma visita de três dias, durante a qual será lançada uma nova plataforma de registo consular que permitirá diminuir o tempo de espera para a renovação de documentos de iden-tidade ou de viagem necessários aos 168 mil portugueses que residem em Macau e Hong Kong, a maioria dos quais de etnia chinesa. - HM/LUSA

Em declarações à Rádio Macau, José Cesário falou ainda sobre os “vistos gold”. O governante diz que a investigação sobre a alegada corrupção envolvendo altos quadros da administração não teve um

impacto negativo na procura chinesa. “Tenho olhado para os números e os números das aprovações continuam a ser muito elevados. Há, aliás, muitos processos ainda pendentes. É bom dizer que houve sempre um

escrutínio muito aturado, muito sério relativamente às mais variadas situações”. Cesário acrescentou que o mecanismo “continua a ser muito utilizado para a captação de investimentos em Portugal”.

Page 5: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

5 políticahoje macau quinta-feira 15.1.2015

LEONOR SÁ [email protected]

O S deputados da 1.ª Comissão Permanente da Assembleia

Legislativa (AL) pediram ontem ao Governo que sejam feitas alterações às alíneas da Lei de Protecção dos Animais respeitantes ao alojamento, tratamento, apreensão e criação.

“Condições adequadas” foi o que Kwan Tsui Hang, presidente da Comissão, pediu ao Executivo, que se mostrou flexível em intro-duzir alterações no regime.

“Tivemos em conta as-pectos como a iluminação e o chamado cativeiro, que é o recinto específico para criar os animais, que tem de ter um tamanho adequado”, disse a presidente. Os dois aspectos fundamentais para os membros da Comissão são, de acordo com a reu-nião de ontem, o cuidado com a saúde pública e a protecção dos animais.

O presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais

(IACM), Alex Vong, revelou ontem que o Governo está a ponderar trans-ferir os animais existentes no Jardim da Flora para o parque de Seac Pai Van, onde se encontra o panda Hoi Hoi e outras espécies animais. “Há um grupo de trabalho que está a avaliar a situação e sabem muito bem que a zona adjacente é mais residencial. Ainda não chegámos ao ponto de fa-zer um projecto com orçamento, mas tudo será devidamente apresentado”, afirmou ontem Alex Vong, à saída de

uma reunião com a 1.ª Comissão Per-manente da Assembleia Legislativa. Neste momento, estão na Flora vários animais, como o urso Bobo e algumas aves e macacos. Um dos argumentos para a possível mudança de instalações dos animais da Flora tem a ver com a transmissão de doenças de aves para seres humanos, já que o jardim se encontra rodeado por residências.

Além disso, o presidente do IACM acrescentou ainda que, embora neste momento o espaço para os pandas seja suficiente, há a hipótese de se aumen-tar a estrutura. “Aquele pavilhão tem

capacidade para albergar três pandas, mas no futuro veremos se há essa necessidade”, continuou. Continua, no entanto, sem haver um calendário definido para a chegada dos dois novos pandas. “O Governo Central vai-nos oferecer mais um par [de pandas] e há um grupo especializado a ver a situação de Hoi Hoi, se fica ou não. Será o grupo que vai estudar a vinda dos outros, mas neste momento temos que ver o que o grupo tem para dizer. É bem possível que ele regresse à China”, afirmou a Secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan. - L.S.M.

ANIMAIS DEPUTADOS PEDEM CRITÉRIOS MAIS CLAROS

Para pobres e ricosL IBERTAÇÃO EM CAUSANa qualidade de cidadã – e não como representante dos deputados – Kwan Tsui Hang disse ao Jornal Ou Mun que, apesar de concordar com os princípios de protecção dos animais, discorda com a Lei de Protecção dos Animais em alguns pontos. Um deles, como refere, é o facto de esta ser “muita ampla” e trazer problemas, como por exemplo ao nível da libertação de animais. Kwan aponta que a proibição de libertação de animais gera grande polémica, uma vez que há actividades religiosas de “libertação de pombos”, algo que poderá ser proibido, mas que até “nem é incompatível com os princípios de vida animal”. A deputada diz que “é difícil entender a razão de proibição”. Também o presidente da Associação Taoísta de Macau, Ng Peng Chi, referiu que a religião Taoísta e Budista têm também o costume de libertação de animais, uma tradição de deixar os animais capturados regressar à natureza. Da parte do vice-presidente da Associação Budista Geral de Macau, Kuan Wai Lam, foi ainda referido que o acto de libertação de animais é feito de forma racional e humana, sendo que o animal é libertado num meio adequado.

São precisos critérios mais claros e ponderação, por parte do Governo, no que diz respeito à diferenciação no tratamento dos animais domésticos vendidos em lojas e aqueles que se vendem em mercados. Os deputados da 1.ª Comissão Permanente da AL voltam ainda a insistir no licenciamento de outros animais para além dos cães

PUB

“É preciso que haja regulamentação que diferencie os animais económicos”KWAN TSUI HANG Deputada

animais económicos”, disse a representante.

A justificação é simples: é que ambos os grupos de-vem ser protegidos, mas de forma distinta. O Governo prometeu então reflectir sobre este ponto.

Outras das alíneas está relacionada com o trata-mento prestado aos animais pelos seus donos. É que, de acordo com os deputados da Comissão, as regras não podem ser “muito rígidas” de modo a permitir que tanto pessoas abastadas, como menos endinheiradas possam ter animais domés-ticos. Ainda assim, Kwan Tsui Hang frisou que é necessário definir um nível de tratamento que possibilite os indivíduos de qualquer camada social de terem animais a seu cuidado.

Kwan mostrou ainda preocupação no que diz res-peito a um assunto há muito debatido: o licenciamento dos animais. “Se um gato for apanhado na rua, como podemos contactar o dono, se o animal não está licencia-do?”, questionou. Até agora, só o licenciamento de cães é obrigatório.

Kwan frisou que é pre-ciso fazer alterações na legislação. É então neces-sário esclarecer as defini-ções relativas a animais “económicos” vendidos em lojas – como cães e gatos que posteriormente se tornam domésticos – e vendidos em mercados, como é o caso das galinhas. “É preciso que haja regula-mentação que diferencie os

Jardim da Flora Equacionada transferência de animais para Seac Pai Van

Page 6: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

PUB

hoje macau quinta-feira 15.1.20156 política

WWW. IACM.GOV.MO

ANÚNCIOÉpoca balnear de 2015 – Prestação de Serviços de Gestão, Manutenção,

Limpeza, Vigilância e Segurança da Piscina Estoril

Concurso Público no. 04/SCR/2014

Faz-se público que, por deliberação do Conselho de Administração do IACM, tomada em sessão de 21 de Novembro de 2014, se acha aberto o concurso público para a Época balnear de 2015 – Prestação de Serviços de Gestão, Manutenção, Limpeza, Vigilância e Segurança da Piscina Estoril.

O programa de concurso e o caderno de encargos podem ser obtidos, todos os dias úteis e dentro do horário normal de expediente, no Núcleo de Expediente e Arquivo do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), sito na Avenida de Almeida Ribeiro no 163, r/c, Macau.

A sessão de esclarecimentos terá lugar no dia 19 de Janeiro de 2015, pelas10:00 horas, no auditório do Centro de Formação do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, sito na Avenida da Praia Grande, Nº 762-804, Edificio China Plaza, 6° andar.

O prazo para a entrega das propostas termina às 17:00 horas do dia 3 de Fevereiro de 2015. Os concorrentes ou seus representantes devem entregar as propostas e os documentos no Núcleo de Expediente e Arquivo do IACM e prestar uma caução provisória no valor de MOP80.000,00 (oitenta mil patacas). A caução provisória pode ser efectuada na Tesouraria da Divisão de Con-tabilidade e Assuntos Financeiros do IACM, sita no mesmo edifício no 163, r/c, por depósito em dinheiro, cheque, garantia bancária ou seguro-caução, em nome do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais.

O acto público de abertura das propostas realizar-se-á no auditório do Centro de Formação do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, sito na Avenida da Praia Grande, Nº 762-804, Edificio China Plaza, 6° andar, pelas 10:00 horas do dia 4 de Fevereiro de 2015.

Macau, aos 8 de Janeiro de 2015.

O Presidente do Conselho da AdministraçãoVong Iao Lek

As alterações aos estatutos das universidades vão poder trazer melhorias na qualidade das instituições. Pelo menos é o que diz o presidente do IPM, que assegura queaté ao níveldos professores isto se vai sentir

FLORA [email protected]

O novo Regime Jurídico do En-sino Superior, proposta de lei

cuja discussão já foi concluí-da pelo Conselho Executivo, vem obrigar as instituições do ensino superior a elabo-

IPM NOVOS ESTATUTOS VÃO TRAZER MAIS QUALIDADE, DIZ PRESIDENTE

Elevar o nível[os novos estatutos] “trazem um desenvolvimento mais flexível às instituições, permitindo até atrair professorescom umnível mais elevado”

rarem novos estatutos. Algo que é visto como positivo para o presidente do Insti-tuto Politécnico de Macau (IPM).

Em declarações ao canal chinês da TDM, Lei Heong Iok disse que os novos es-tatutos trazem “um desen-volvimento mais flexível às

do Governo”. Lei Heong Iok considera que o Regime que traz agora os novos es-tatutos como consequência vai permitir a criação de um conselho de curadores, o que, diz, “aumenta a eficiência na verificação” e mantém, ao mesmo tempo, “a autonomia da instituição”.

“Se o regime puder ser aprovado, vamos começar o mais rapidamente possível a revisão dos procedimentos dos estatutos do IPM. Os estatutos e o conselho tra-tarão uma influência óbvia”, garantiu.

Caracterizando o Regi-me como “uma espada que foi afiada por muitos anos”, ou seja, que levou muito tempo para ser aperfeiçoada, Lei Heong Iok disse ainda que, com a criação do conse-lho de curadores, vão poder ser elaboradas “políticas de desenvolvimento flexível para o IPM”. “A actual lei do ensino superior sofre um grande atraso, o que faz com que o IPM só possa abrir cursos de mestrado em instituições estrangei-ras”, explicou. Algo que vai também mudar com os novos estatutos.

instituições, permitindo até atrair professores com um nível mais elevado”. Isso acontece, diz o responsável, porque os estatutos actuais obrigam a que a remunera-ção dos docentes seja igual à dos funcionários públicos.

“Limitado pelos estatu-tos actuais, a remuneração

dos docentes é igual à do Go-verno, não sendo suficiente para atrair docentes de nível mais elevado. Por exemplo, a posição de director de uma das nossas escolas ficou vaga durante três anos, porque o salário é baixo e o pessoal recrutado é de nível baixo”, explicou.

O presidente do IPM dis-se ainda que, aquando dos pe-didos entregues ao Governo, eram necessários “diversos processos de verificação” que levavam entre dois a três anos a ficarem concluídos, pelo que o IPM era tratado como um “departamento

Page 7: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

hoje macau quinta-feira 15.1.2015 7SOCIEDADE

JOANA [email protected]

A Universidade de Coim-bra (UC) vai levar a cabo um estudo sobre os casinos de Macau.

Numa viagem a ser feita ao terri-tório – e que terá lugar na próxima semana -, académicos da institui-ção chegam à RAEM para perceber a política de expansão dos casinos e da indústria do Jogo, além de virem ainda demonstrar o impacto que o novo metro ligeiro terá na cidade (ver texto abaixo).

De acordo com um comunica-do enviado ao HM pela própria universidade, a investigação aos casinos quer perceber a presença dos empreendimentos de jogo em Macau e a sua envolvência na cidade ao nível da arquitectura. Mais ainda, a ideia é que se consi-ga realmente implementar a alme-jada diversificação económica, começando pela arquitectura.

“O objectivo geral é criar for-mas de integração destas estruturas na história da cidade, apontar-lhes uma cultura arquitectónica, possi-bilitar a sua viabilidade para lá do Jogo. Parte-se do princípio que se Macau não pode só ser uma ‘cidade do Jogo’, também os casinos não podem ser só uma ‘arquitectura do Jogo’.

A investigação sobre os casinos de Macau será feita a vários níveis

I NTEGRADO numa mis-são de académicos da Universidade de Coimbra

(UC) a Macau está também a divulgação de resulta-dos de um estudo sobre o impacto do novo metro ligeiro em Macau. Numa investigação dedicada à articulação entre “Cidade e Infra-estrutura”, na qual os investigadores e mes-trandos do Departamento de Arquitectura (DARQ/FCTUC) da Universidade de Coimbra analisaram a

UNIVERSIDADE DE COIMBRA ESTUDA CASINOS AO NÍVEL DA INTEGRAÇÃO NA CIDADE

Ser mais do que Jogo

METRO ACADÉMICOS DA UC QUEREM LIGAR NOVOS A VELHOS ATERROS

Uma estação aqui, outra alirelação histórica entre a cidade e a água, pretende--se mostrar o impacto que a implementação do novo sistema de transporte de Macau vai trazer à vista para o Delta do Rio das Pérolas.

“[Os académicos] con-centraram as suas opções em torno da inserção do novo sistema de metro ligeiro na cidade e do seu impacto na transformação do ‘Waterfront Sul’ da península de Macau. Para

isso, analisaram o traçado do metro – ainda em estudo pelo Gabinete de Infra-es-truturas e Transportes (GIT) -, mas também os novos aterros urbanos”, indica um comunicado da UC.

Dentro dos novos ater-ros, vão ser analisados não só os propostos pelo plano director de Macau, como os de projectos anteriores, levados a cabo por arqui-tectos portugueses: o Plano da Baía da Praia Grande, de Manuel Vicente, e o Plano

do Novo Aterro do Porto Exterior, de Álvaro Siza.

“Este projecto tem como objectivo principal ligar, de modo mais sustentável, os novos aterros urbanos aos anteriores, privilegiando, sobretudo, a relocaliza-ção das novas estações de metro ligeiro, as áreas verdes lúdicas e as zonas de passeio de peões junto à água, em articulação com novas áreas de residência e de equipamentos”, indica a universidade. - J.F.

- elementos gráficos, relações com o espaço público, espaço interno, performance e genealogias -, até porque a ideia é também perceber

como se integram estes empreen-dimentos na cidade.

“A investigação sobre os casinos de Macau visa analisar,

em termos académicos e críticos, a presença destas estruturas no território, particularmente as suas características arquitectónicas e urbanas, sem preconceitos no plano estilístico ou programático”, explica a UC.

A ideia é fazer um levantamento e “reflectir sobre estes edifícios, agora dominantes na cidade”. A análise começa no casino Grand

Lisboa e vai “até às mais recentes construções no Cotai”, sendo que será tudo “inventariado e analisa-do” para efectuar “casos de estu-do”, como explica Jorge Figueira, um dos académicos e investigador da UC que se desloca a Macau.

FUTURO EM DEBATEAs opções apresentadas nesta investigação, liderada não só pelo professor Jorge Figueira, mas também por Nuno Grande “constituem um contributo pró--activo da UC para o debate, hoje em curso em Macau, sobre as transformações urbanísticas e arquitectónicas do seu tecido urbano”. Transformações estas geradas pelas recentes infra--estruturas como o novo sistema de metro ligeiro e a nova faixa de aterros urbanos, “mas também pela política de expansão dos casinos e da indústria do Jogo”.

“Recentes declarações do Governo chinês apontam para a necessidade deste desenvol-vimento ser realizado de modo mais sustentável no futuro, contrariando a concentração excessiva da economia de Ma-cau nas actividades do Jogo e na exagerada densificação dos novos aterros urbanos”, realçam os docentes do Departamento de Arquitectura da UC.

No âmbito do “Macau-Coim-bra Project”, proposto pelo Depar-tamento de Arquitectura (DARQ)/ Faculdade de Ciências e Tecno-logia (FCTUC) e integrado na “Plataforma de Colaboração para as Indústrias Culturais e Criativas Portugal-RAEM” do programa Inov C da UC, os académicos vão estar em destaque numa Missão de Investigação da Universidade de Coimbra a Macau, a decorrer de 19 a 26 de Janeiro e que visa “criar pontes de articulação entre a cidade e a sua arquitectura”.

A actividade contará com a participação de 13 mestrandos e três professores do DARQ.

“A investigação sobre os casinos de Macau visa analisar, em termos académicos e críticos, a presença destas estruturas no território, particularmente as suas características arquitectónicas e urbanas, sem preconceitos no plano estilístico ou programático”COMUNICADO DAUNIVERSIDADE DE COIMBRA

Numa investigação que será feita a vários níveis, académicos do Departamentode Arquitectura da Universidade de Coimbra chegam a Macau para analisar a presença dos casinos na cidade e perceber se é possível, também ao nível da arquitectura, expandir além do Jogo

Page 8: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

HOJE

MAC

AU

hoje macau quinta-feira 15.1.20158 sociedade

O salário base das empregadas do- mésticas não residentes em

Macau é de 2500 patacas. Um valor que a investigadora do IPM Cecília Ho sugere que aumente para 3800 patacas, de modo a ficar equiparado ao índice mínimo de subsis-tência. Salários baixos e dias longos de trabalho com apenas uma folga semanal, muitas vezes aproveitada para fazer biscates, são o denominador comum dos trabalhadores migrantes não especializados em Macau, cada vez mais pressionados pelo custo de vida.

Mais de cem mil dos 167.272 trabalhadores não residentes de Macau são oriundos do interior da China. Filipinas e Vietname completam os três primei-ros lugares da tabela, com 21.263 e 13.344 nacionais desses países com visto de trabalho no território, segundo os mais recentes dados do Gabinete para os Recursos Humanos. A po-pulação está estimada em 631 mil pessoas.

“A maioria dos traba-lhadores não especializados em Macau vem do interior da China e dos países do sudeste asiático, onde não há muitas oportunidades de trabalho”, afirma Larry So, professor do Instituto Politécnico (IPM), que fala antes de se assinalar o Dia Mundial do Migrante e Refugiado, que se celebra no próximo dia 18.

“Os salários que recebem em Macau não são bons, mas são aceitáveis para os padrões de vida dos seus países de origem”, explica.

Caso Palácio Lisboa Empresa diz que vai ajudar DSALA Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) afirmou, numa resposta ao HM, que vai prestar “toda a assistência à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais, para garantir que os direitos dos trabalhadores [do restaurante Palácio Lisboa, do Hotel Lisboa] estão assegurados de acordo com a Lei Laboral de Macau”. A empresa garante ainda que iniciou uma investigação ao caso de alegado desrespeito dos direitos dos trabalhadores. “A STDM sempre respeitou as leis laborais praticadas em Macau”, remata. Recorde-se que mais de duas dezenas de funcionários do restaurante se queixaram esta semana de trabalhar horas extra e não receber compensações e de não terem dias de folga.

Óbito José Meira Burguete, antigo director do Macau Hoje, morreu nas FilipinasJosé Meira Burguete faleceu na semana passada, na sua residência em Daraga, nas Filipinas. Meira Burguete chegou a Macau na década de 80 para exercer funções de notário, acabando por adquirir o diário Macau Hoje – actualmente Hoje Macau - alguns anos depois. Dirigiu o jornal até 1996. Vivia nas Filipinas desde 2004 e aos 83 anos deixa a sua esposa de origem filipina e filhos do casal.

TNR CECÍLIA HO PEDE AUMENTO DE SALÁRIO DE EMPREGADAS DOMÉSTICAS

Isto assim não é vida

“Excluindo o subsídio de alojamento, as empregadas domésticas deviam pelo menos receber 3200 patacas como salário base”

Para a investigadora do IPM é preciso actualizar o salário base das empregadas não residentes que têm vindo a ser cada vez mais pressionadas pelo constante aumento do custo de vida e das rendas

no caso dos trabalhadores migrantes é melhor que tenham boa saúde quando vêm trabalhar para Macau”.

“A questão dos seguros e da assistência médica para estes trabalhadores é funda-mental”, sublinha.

LUGAR AO CONFLITOPor outro lado observa que a contratação de não resi-dentes é fonte de “vários conflitos sociais, porque os migrantes estão a tirar a ocupar um lugar que podia ser ocupado por um local”.

“Se as empresas con-seguirem quotas para con-tratar trabalhadores estran-geiros vão fazê-lo porque preferem pagar menos”, argumenta.

Nos casinos, a posição de ‘croupier’ é garantida exclusivamente para os trabalhadores locais, mas os estrangeiros podem trabalhar, por exemplo, nas áreas da segurança e restauração.

“Assim que tenham hipó-tese vão querer ir trabalhar para os casinos, e alguns migrantes – nomeadamente do sudeste asiático, como as Filipinas – vão estar em vantagem porque falam inglês”, explica.

Ao defender uma “polí-tica mais humana” para os trabalhadores estrangeiros, Larry So frisa que o governo “precisa de incluir estas pes-soas na definição da política demográfica do território.

“Sem os migrantes, a população local vai envelhe-cer muito rapidamente, com todos os problemas que daí decorrem, por exemplo, ao nível da segurança social”, conclui. - HM/Lusa

O académico considera, no entanto, a situação dos trabalhadores migrantes tem vindo a piorar: “As rendas estão a subir e muitas vezes

eles vivem em condições indecentes”.

No caso das empregadas domésticas, Larry So aponta que as 500 patacas para

custos de alojamento “não chegam para alugar uma cama num quarto”.

“É impossível. O valor não é humano”, frisa.

TONS AFINADOSTambém Cecília Ho concor-da. “Excluindo o subsídio de alojamento, as empre-gadas domésticas deviam pelo menos receber 3200 patacas como salário base. Penso que é mais pragmá-tico pedir um aumento de apenas 800 patacas afirma a docente que há vários anos acompanha a situação das empregadas domésticas e realizou o documentário “Jeritan – A Sua História” sobre a comunidade indo-nésia em Macau.

Cecília Ho reconhece que há casos em que os or-denados já foram actualiza-dos – há quem ganhe quatro a cinco mil patacas –, mas diz que enquanto o Governo não aumentar o valor base, “as que entram no mercado de trabalho vão continuar a passar por situações de grande dificuldade”.

Para Cecília Ho, “a falta de regulamentação por via do contrato torna difícil desafiar os empregadores

pelos canais legais. Embora a lei regulamente os dias de férias, nem todos os empre-gadores a seguem. Além dis-so, não há regulação sobre as folgas, por isso muitos trabalhadores não têm dias de descanso”.

O seguro é outro dos pontos críticos que deno-tam a fragilidade destas trabalhadoras, uma vez que “a lei apenas estipula que os empregadores cubram casos relacionados com acidentes de trabalho, mas não inclui seguro de saúde ou vida”.

Neste âmbito recorda o incêndio numa loja usa-da como alojamento, que causou a morte dos quatro trabalhadores migrantes em Novembro. “Aquele fogo é um alarme para a segurança dos que não têm alojamento assegurado (…). Deve ser garantida mais protecção por via do seguro através da revisão da contratação de trabalhadores não resi-dentes”, defende.

“Estamos a falar de coberturas muito básicas”, corrobora Larry So: “Os residentes permanentes recebem até vales de saúde para irem ao médico, mas

Page 9: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

TIAG

O AL

CÂNT

ARA

HOJE

MAC

AU

9 sociedadehoje macau quinta-feira 15.1.2015

PUB

FLORA [email protected]

O deputado Chan Meng Kam sus- peita que as es-tações emisso-

ras de mensagens de spam, utilizadas por simuladores de radiofrequência para o envio de publicidade sobre casinos e Jogo online aos visitantes de Macau, deverão estar loca-lizadas em Gongbei, do lado de lá da fronteira, em Zhuhai. Por isso mesmo, o deputado espera que o Governo de Macau coopere com a cidade vizinha para combater estas ilegalidades.

Numa interpelação escri-ta, Chan Meng Kam recordou que vários residentes e tu-ristas de Macau receberam mensagens spam nos seus telemóveis com publicidade ao Jogo, quando passavam no

UM Contratados três docentes “mundialmente conhecidos”A Universidade de Macau (UM) conta com mais três novos docentes, sendo eles Richard Dequan Ye, vice-presidente do Instituto de Ciências de Medicina Chinesa, o historiador Haijian Mao e De Bao Xiu, da área de Linguística. Segundo o comunicado da UM, os professores são uma mais valia para o currículo da instituição. Os académicos contam com anos de experiência nas suas áreas de actuação. “Acredito que estes académicos irão permitir à UM alcançar o sucesso no ensino e na pesquisa”, afirmou o reitor da universidade, Wei Zhao.

Talentos Grupo discute parceria com universidades estrangeirasO Grupo Especializado para Formação de Talentos – parte integrante da Comissão de Talentos – está a ponderar alargar as parcerias de ensino superior com outras universidades estrangeiras além da já incluída Universidade de Cambridge. As eventuais parcerias foram discutidas ontem, durante uma reunião do grupo. Foi ainda debatida a criação de uma plataforma de informação para programas de formação de quadros técnico-profissionais. “Os membros da Comissão acordaram que, com base na actual cooperação com a Universidade de Cambridge, deveriam ser contactadas, para este efeito, mais instituições académicas e de investigação”, lê-se no comunicado do grupo.

As estações que enviavam mensagensde publicidade ao Jogo a residentes e turistas que entravam em Macau através das fronteiras das portas do Cerco podem ter mudado para Zhuhai, diz Chan Meng Kam. O deputado considera que a ideia é fugir às autoridades da RAEM e pede, por isso, que estasse juntem às homólogas vizinhas

MENSAGENS SPAM DEPUTADO ACREDITA QUE ESTAÇÕES ESTÃO EM ZHUHAI

Precisamos de ajuda aqui do lado

posto fronteiriço das Portas do Cerco. Depois da detenção da Polícia Judiciária (PJ), junto com a Direcção dos Serviços de Regulação de Telecomunicações (DSRT) em Novembro de 2014, as mensagens spam pareciam estar controladas. No en-tanto, o deputado descobriu que os residentes as recebem na mesma quando chegam a Gongbei, levando-o a suspei-tar que as estações emissoras estão ali localizadas.

Assim sendo, defende o deputado, essas mesmas estações foram transferidas

para a cidade em causa, permitindo aos criminosos fugir à possibilidade de detecção das autoridades policiais de Macau. Chan Meng Kam questiona, por isso, se o Governo irá tra-balhar em conjunto com os departamentos de Zhuhai, para perceber o que se passa.

Além disso, citando opiniões de residentes, o de-putado informa que existem pessoas a distribuir de forma evidente folhetos e/ou pro-dutos sobre o Jogo. Segundo os residentes, os próprios táxis contêm publicidades sobre jogos nas redes sociais, apelando assim a quem olha. Chan Meng Kam considera que as publicidades violam a respectiva lei e contrariam a ideia de “Jogo Responsá-vel” e pede, por isso, que sejam tomadas as medidas necessárias. Chan Meng Kam

Page 10: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

JOAN

A FR

EITA

S

hoje macau quinta-feira 15.1.2015

A NOITE MAIS LONGA • Miguel PinheiroNa noite de 6 de setembro de 1968, as figuras mais importantes do Estado Novo dividiram-se por dois acontecimentos que tiveram lugar exactamente ao mesmo tempo, a poucos quilómetros um do outro. O primeiro foi um dos segredos mais bem guardados do país: no Hospital da Cruz Vermelha, António de Oliveira Salazar foi operado de urgência na sequência da queda de uma cadeira. O segundo foi um dos eventos mais noticiados do país: na sua quinta de Alcoitão, o milionário boliviano Antenor Patiño deu aquele que ficou conhecido como “o baile do século”. Foram treze horas intermináveis que misturaram o drama e a ostentação - e que marcaram o fim do salazarismo. Através de documentos e depoimentos na sua maioria inéditos, o jornalista Miguel Pinheiro reconstitui com detalhes os episódios, os ambientes e os diálogos dos dois lados dessa noite. A data em que Salazar realmente caiu da cadeira, os pormenores do mês que o ditador passou em acelerada decadência física e o que de facto se passou dentro da sala de cirurgia. As polémicas da festa do Rei do Estanho, o impacto da chegada a Portugal de actrizes de Hollywood, de membros de famílias reais europeias e de alguns dos homens mais ricos da época e as histórias dos jornalistas que se disfarçaram de empregados para se conseguirem infiltrar num baile fortemente vigiado pela polícia e pela PIDE. Tudo se passou entre as 20 horas e as 9 da manhã. No começo da noite, Portugal era um país governado há 36 anos pelo mesmo homem. No final, era um país onde nada seria como dantes.

À VENDA NA LIVRARIA PORTUGUESA

10 EVENTOS

ANDREIA SOFIA [email protected]

“S EMPRE tive vontade de fazer qualquer coisa, um livro, um projecto, uma exposição”. Em Setem-

bro, o fotojornalista Gonçalo Lobo Pinheiro concretiza o seu sonho, com uma obra que irá reunir imagens captadas durante os cinco anos de residência em Macau. Há 15 anos que o fotojornalista trabalha atrás da lente, tendo ainda uma larga ex-periência na imprensa portuguesa e de Macau. Gonçalo Lobo Pinheiro foi fotojornalista do jornal ‘A Bola’ e foi também editor do HM, parceiro nesta iniciativa.

O “Projecto Macau: 2010-2015” será lançado a 10 de Setem-bro, estando a ser também pensada uma exposição, a ter lugar no consulado de Portugal em Macau. O prefácio do livro será escrito pelo romancista português José Luís Peixoto.

“Há muito tempo que queria fazer isto, mas nem sempre tive o tempo disponível para me dedicar ao projecto. Gostaria de o fazer numa altura em que fizesse sentido e faz sentido este ano, porque faço cinco anos de Macau e comemoro 15 anos de carreira como fotojor-nalista”, explicou ao HM.

“Quero deixar um documento, um registo, da minha visão, valha ela o que valer, para as gerações futuras, de como é Macau. Gostava de deixar cá o registo da minha passagem e é uma coisa que me está a dar muito prazer fazer”, disse ainda o fotojornalista.

EM BUSCA DE APOIOSPor se tratar de uma iniciativa sua, Gonçalo Lobo Pinheiro criou

FOTOGRAFIA GONÇALO LOBO PINHEIRO PREPARA LANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE MACAU

“Quero deixar um registo da minha visão”

uma conta para recolha de fundos na plataforma Crowdfunding Portugal.

“Tornei isto do conhecimento do público quase oito meses antes da altura em que o livro e a expo-sição serão lançados, porque quero recolher apoios monetários e logís-ticos. A Fundação Macau apoia, a Casa de Portugal em Macau apoia na parte da logística, o Consulado português também. Mas estou a começar do zero e possivelmente vou investir dinheiro do meu bolso.

Fotojornalista há 15 anos e ex-editor do HM, Gonçalo Lobo Pinheiro pretende lançar em Setembro o “Projecto Macau: 2010-2015”, um livro de fotografias sobre o território tirados durante cinco anos de vivência na RAEM. O prefácio terá a assinatura do escritor português José Luís Peixoto e, ao mesmo tempo do livro, vai ainda ter lugar uma exposição

Page 11: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

hoje macau quinta-feira 15.1.2015

A NOITE MAIS LONGA • Miguel PinheiroNa noite de 6 de setembro de 1968, as figuras mais importantes do Estado Novo dividiram-se por dois acontecimentos que tiveram lugar exactamente ao mesmo tempo, a poucos quilómetros um do outro. O primeiro foi um dos segredos mais bem guardados do país: no Hospital da Cruz Vermelha, António de Oliveira Salazar foi operado de urgência na sequência da queda de uma cadeira. O segundo foi um dos eventos mais noticiados do país: na sua quinta de Alcoitão, o milionário boliviano Antenor Patiño deu aquele que ficou conhecido como “o baile do século”. Foram treze horas intermináveis que misturaram o drama e a ostentação - e que marcaram o fim do salazarismo. Através de documentos e depoimentos na sua maioria inéditos, o jornalista Miguel Pinheiro reconstitui com detalhes os episódios, os ambientes e os diálogos dos dois lados dessa noite. A data em que Salazar realmente caiu da cadeira, os pormenores do mês que o ditador passou em acelerada decadência física e o que de facto se passou dentro da sala de cirurgia. As polémicas da festa do Rei do Estanho, o impacto da chegada a Portugal de actrizes de Hollywood, de membros de famílias reais europeias e de alguns dos homens mais ricos da época e as histórias dos jornalistas que se disfarçaram de empregados para se conseguirem infiltrar num baile fortemente vigiado pela polícia e pela PIDE. Tudo se passou entre as 20 horas e as 9 da manhã. No começo da noite, Portugal era um país governado há 36 anos pelo mesmo homem. No final, era um país onde nada seria como dantes.

RUA DE S. DOMINGOS 16-18 • TEL: +853 28566442 | 28515915 • FAX: +853 28378014 • [email protected]

HISTÓRIA DA EXPANSÃO E DO IMPÉRIO PORTUGUÊS • Vários autoresOs historiadores João Paulo Oliveira e Costa, José Damião Rodrigues e Pedro Aires Oliveira traçam um retrato rigoroso e exaustivo da História da Expansão e dos Descobrimentos portugueses, que permite interpretar este processo his-tórico à escala mundial, analisando o comércio, a conquista, a missionação, entre outros temas, bem como os povos ultramarinos, com as suas civilizações e as suas organizações políticas, sociais e económicas, a que os portugueses tiveram de se adaptar. Um livro essencial para perceber o império português, que se estendeu por quase 6 séculos, desde a conquista de Ceuta em 1415, até 1999, ano em que Macau deixou de estar sob a administração portuguesa.

11 eventos

FOTOGRAFIA GONÇALO LOBO PINHEIRO PREPARA LANÇAMENTO DE LIVRO SOBRE MACAU

“Quero deixar um registo da minha visão”

“É um livro que é muito generalista. Podemos ter fotos de mercados e depois do Grande Prémio. O fio condutor é a minha visão destes cinco anos de Macau”

O projecto é meu e, em princípio, não vou dar a chancela do livro a ninguém, porque quero que seja uma coisa minha. Quero chegar ao dia 10 de Setembro e ter orgulho naquilo que vou mostrar”, disse ao HM. Apesar de ainda se tratar de algo embrionário, o livro já pode ser pré-reservado na plataforma de crowdfunding.

UM LIVRO “ABRANGENTE”As fotografias do “Projecto Macau: 2010-2015” ainda estão a ser escolhi-

meus cinco anos em Macau. Quero transmitir a minha visão sobre as pessoas, os locais, os bairros, mo-numentos, o desporto. É um livro que é muito generalista. Podemos ter fotos de mercados e depois do

Fotojornalista há 15 anos e ex-editor do HM, Gonçalo Lobo Pinheiro pretende lançar em Setembro o “Projecto Macau: 2010-2015”, um livro de fotografias sobre o território tirados durante cinco anos de vivência na RAEM. O prefácio terá a assinatura do escritor português José Luís Peixoto e, ao mesmo tempo do livro, vai ainda ter lugar uma exposição

Grande Prémio. O fio condutor é a minha visão destes cinco anos de Macau”, referiu Gonçalo Lobo Pinheiro.

Apesar de se afirmar um “apai-xonado pela cor”, o fotojornalista deverá incluir algumas fotografias a preto e branco. “Estou numa fase em que estou a escolher as fotos e de tentar perceber como é que as vou publicar. Não tenho ainda certezas se vou fazer um livro totalmente a preto e branco, a cores, ou com uma mistura. Se calhar vou optar por fotos a cores e preto e branco, porque há fotos que tenho que gosto muito mais de ver a preto e branco, porque ganham mais força sem a cor”, explicou.

Apesar de já ter publicado livros de poesia, Gonçalo Lobo Pinheiro garante que, desta vez, o seu livro vai ser quase vazio de palavras. “Será um livro muito parco de palavras. Pretendo fazer qualquer coisa no futuro, se calhar aliar a poesia à fotografia, mas para já não é isso que pretendo fazer. Tenho ainda mais dois projectos que ficarão para os anos seguintes. Cada coisa a seu tempo”, concluiu.

das, mas é certo que o livro não será focado apenas numa das muitas ca-racterísticas que o território possui.

“Há livros de fotografia que têm um fio condutor. Neste caso vai ser um livro mais abrangente, sobre os

Page 12: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

12 CHINA hoje macau quinta-feira 15.1.2015

O Chefe do Executivo de Hong Kong, CY Leung, garantiu ontem que não haverá qual-

quer desvio no caminho que Pequim traçou para as eleições do território.

No seu primeiro discurso no Con-selho Legislativo desde que come-çaram os protestos pró-democracia, Leung não fez qualquer concessão

D OIS membros do orga-nismo que lidera a cam-panha anti-corrupção em

curso na China foram expulsos do Partido Comunista Chinês por “graves violações da lei e da disciplina”, anunciou ontem a Comissão Central de Disciplina do PCC.

A expulsão de Shen Weichen e de Liang Bin foi confirmada durante a reunião plenária anual da Comissão, que decorre des-de segunda-feira em Pequim e durante a qual o Presidente Xi Jinping prometeu “manter a espada da anti-corrupção bem afiada”.

Shen Weichen, ex-secretário do PCC e vice-presidente exe-cutivo na Associação Chinesa para a Ciência e Tecnologia,

Gripe das aves Confirmada primeira vítima mortal de 2015 As autoridades sanitárias da província chinesa de Fujian, no sudeste do país, confirmaram ontem a primeira morte do ano de um paciente infectado com a gripe da aves H7N9, na cidade de Xiamen. De acordo com a agência Xinhua, na mesma província estão outras quatro pessoas infectadas com a mesma estirpe do vírus, três das quais em estado grave enquanto a quarta pessoa estará livre de perigo.Já em Guangdong, província que faz fronteira com Hong Kong e Macau, as autoridades sanitárias detectaram desde segunda-feira quatro novos casos da gripe das aves em humanos, dos quais três estão em estado grave. As autoridades chinesas advertiram no início do mês que a temporada de maior incidência da gripe se verifica agora. Em 2014 foram registados na China os primeiros contágios em humanos das três variantes do vírus da gripe das aves H10N8, H6N1, H7N9, sendo esta última a estirpe mais mortífera.

CY Leung falou pela primeira vez no Conselho Legislativodesde o iníciodos protestos e não podia ser mais claro: o poder de Hong Kong advém da soberania de Pequim. Dois deputados pró- -democratas foram expulsos antes do discurso e outros vinte abandonaram o local em protesto

HONG KONG LÍDER GARANTE QUE SISTEMA ELEITORAL VAI SEGUIR A VONTADE DE PEQUIM

Não há nada que enganar

CAMPANHA ANTI-CORRUPÇÃO ATINGIU DOIS MEMBROS DA COMISSÃO CENTRAL DE DISCIPLINA

Tigres em vias de extinção

aos manifestantes e questionou o seu “entendimento” sobre a política da cidade semi-autónoma chinesa.

“O poder de Hong Kong é pro-veniente das autoridades centrais [em Pequim]”, lembrou.

“A autonomia de Hong Kong é elevada, mas não é absoluta”, sublinhou.

Pequim decidiu que os candida-tos à primeira votação popular para chefe do Executivo da cidade, em

2017, têm de ser seleccionados por uma comissão, vista como próxima do poder, uma situação que muitos consideram de “falsa democracia”.

Os pró-democratas dizem ser preferível não votar do que ter res-

trição de candidatos, e têm instado Leung - que foi também nomeado por um comité pró-Pequim - a demitir-se.

Mas o líder do Governo afirmou que qualquer forma de voto deve ser feita de acordo com os critérios de Pequim.

“A selecção do chefe do Exe-cutivo inclui tanto elementos de eleição como de nomeação”, disse.

CONTRA O DESPERDÍCIOO governante afirmou ainda que os estudantes - que lideraram os pro-testos de larga escala que ocuparam as ruas da cidade por mais de dois meses - “devem procurar um en-tendimento pleno” da relação entre Hong Kong e Pequim, de modo a evitarem discussões “inúteis”.

Cerca de 20 deputados pró-de-mocratas abandonaram o Conselho Legislativo e dois foram expulsos por seguranças antes do discurso de Leung.

Empunhando cartazes e cha-péus-de-chuva amarelos - o símbo-lo do movimento pró-democracia de Hong Kong - gritaram “Abaixo CY Leung! Verdadeiro sufrágio universal!”

Seguranças rodearam dois membros do partido do Poder Popular que se recusaram a sair e continuaram a gritar “Vergonho-so”. Os homens acabaram por ser levados para foram do edifício.

“A autonomiade Hong Kongé elevada, masnão é absoluta”CY LEUNG

“aproveitou-se do seu cargo para beneficiar outros e aceitou “uma grande quantidade de su-bornos”, concluiu a Comissão.

Liang Bin, antigo membro do Comité Permanente do PCC na província de Hebei, norte da China, é suspeito de “graves vio-lações da disciplina do Partido e da lei”, indicou a mesma fonte.

A Comissão Central de Dis-

ciplina do PCC, eleita no XVIII Congresso do partido, em No-vembro de 2012, é constituída por 180 membros.

O secretário da Comissão, o antigo vice-primeiro-ministro Wang Qishan, é também um dos sete membros do Comité Per-manente do Politburo do PCC, a cúpula do poder na China.

Dezenas de quadros di-

rigentes com a categoria de vice-primeiro-ministro, entre os quais o ex-chefe da Segurança Zhou Yongkang, foram presos desde que o actual presidente, Xi Jinping, assumiu a chefia do PCC, há cerca de dois anos, afirmando que ninguém ficaria impune, fossem eles “tigres”, (altos quadros), ou “moscas”, (funcionários).

Trata-se da mais drástica e persistente campanha anti--corrupção das ultimas décadas, mas segundo Xi Jinping afirmou na referida reunião, “ainda tem muitos desafios pela frente”.

Xi Jinping qualificou o com-bate à corrupção como “uma questão de vida ou de morte para o Partido Comunista e a nação”. Shen Weichen Liang Bin

Page 13: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

13 chinahoje macau quinta-feira 15.1.2015

Os detidos são acusados de terem fornecido passaportes falsos a suspeitos de acções terroristas em Xinjiang

A S autoridades de Xangai detive-ram dez cidadãos turcos que ale-

gadamente ajudaram vários suspeitos de terrorismo na região autónoma uigure de Xinjiang, no noroeste do país, informou a imprensa oficial.

Segundo o jornal Chi-na Daily, estas detenções somam-se às de outras 11 pes-soas, incluindo nove suspeitos de terrorismo da região, que foram detidas em Novembro sob acusação de ligação a actividades terroristas.

Os dez cidadãos turcos, por sua vez, estão acusados de fornecerem passaportes

A poluição voltou a escurecer o céu de Pequim ontem, com a densidade de pe-

quenas partículas na atmosfera (PM 2.5) a exceder largamente o valor máximo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Às 11:00, o sol ainda não tinha aparecido no horizonte e a densi-dade das PM 2.5 apurada pelas agências de monitorização do município de Pequim era de 229 microgramas por metro cúbico, quase dez vezes mais do que os 25 definidos pela OMS e seis vezes acima da fasquia de 35 adoptada pela China e outros países.

PUB

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 5/AI/2015

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se o infractor CHAN, David (portador do Bilhete de Identidade de Residente Permanente de Hong Kong n.° G2164XXX), que na sequência do Auto de Notícia n.° 94/DI-AI/2012 de 01.09.2012, levantado pela DST, por controlar a fracção autónoma situada na Travessa da Amizade, n.° 82, Edf. Centro Internacional de Macau, Bloco 8, 7.° andar D e utilizada para a prestação ilegal de alojamento, bem como por despacho da signatária de 09.01.2015, exarado no Relatório n.° 2/DI/2015, de 02.01.2015, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas), e ordenada a cessação imediata da prestação ilegal de alojamento no prédio ou da fracção autónoma em causa, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e n.° 1 do artigo 15.°, todos da Lei n.° 3/2010. ------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma. ------------------------------Da presente decisão cabe reclamação para o autor do acto, no prazo de 15 dias e sem efeito suspensivo conforme o prescrito no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo, a interpor no prazo de 60 dias, conforme estipulado na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro e no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010. -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada. --------------------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau. -------------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 09 de Janeiro de 2015.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

MANDADO DE NOTIFICAÇÃO N.° 6/AI/2015

-----Atendendo à gravidade para o interesse público e não sendo possível proceder à respectiva notificação pessoal, pelo presente notifique-se a infractora LI XIAOPING (portadora do Salvo-Conduto de dupla viagem da RPC n.° W58404XXX), que na sequência do Auto de Notícia n.° 94/DI-AI/2012 de 01.09.2012, levantado pela DST, por prestação ilegal de alojamento da fracção autónoma situada na Travessa da Amizade, n.° 82, Edf. Centro Internacional de Macau, Bloco 8, 7.° andar D, bem como por despacho da signatária de 09.01.2015, exarado no Relatório n.° 3/DI/2015, de 02.01.2015, lhe foi determinada a aplicação de uma multa de $200.000,00 (duzentas mil patacas), e ordenada a cessação imediata da prestação ilegal de alojamento no prédio ou da fracção autónoma em causa, nos termos do n.° 1 do artigo 10.° e n.° 1 do artigo 15.°, todos da Lei n.° 3/2010. -----------------------------------------------------------------------O pagamento voluntário da multa deve ser efectuado no Departamento de Licenciamento e Inspecção destes Serviços, no prazo de 10 dias, contado a partir da presente publicação, de acordo com o n.° 1 do artigo 16.° da Lei n.° 3/2010, findo o qual será cobrada coercivamente através da Repartição de Execuções Fiscais, nos termos do n.° 2 do artigo 16.° do mesmo diploma. -----------------------------Da presente decisão cabe reclamação para o autor do acto, no prazo de 15 dias e sem efeito suspensivo conforme o prescrito no n.° 1 do artigo 148.°, artigo 149.° e n.° 2 do artigo 150.°, todos do Código do Procedimento Administrativo, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 57/99/M, de 11 de Outubro.------------------------------------------------------------------------------------------------------------Da presente decisão cabe recurso contencioso para o Tribunal Administrativo, a interpor no prazo de 60 dias, conforme estipulado na alínea b) do n.° 2 do artigo 25.° do Código do Processo Administrativo Contencioso, aprovado pelo Decreto-Lei n.° 110/99/M, de 13 de Dezembro e no artigo 20.° da Lei n.° 3/2010. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------Há lugar à execução imediata da decisão caso esta não seja impugnada. ----------------------------------------------------------------------------O processo administrativo pode ser consultado, dentro das horas normais de expediente, no Departamento de Licenciamento e Inspecção desta Direcção de Serviços, sito na Alameda Dr. Carlos d’Assumpção n.os 335-341, Edifício “Centro Hotline”, 18.° andar, Macau. -----------------Direcção dos Serviços de Turismo, aos 09 de Janeiro de 2015.

A Directora dos Serviços,Maria Helena de Senna Fernandes

XANGAI DEZ TURCOS DETIDOS POR ALEGADA AJUDA A TERRORISTAS

Mais um golpe na rede

POLUIÇÃO VOLTOU A PEQUIM

Quando o sol não nasce

200mortos na região de

Xinjiang em consequência

de atentados, em 2014

falsos do seu país aos sus-peitos de Xinjiang, e foram detidos quando tentavam abandonar a China a partir do aeroporto internacional de Pudong, o maior de Xangai, de onde deveriam embarcar para a Síria, Afeganistão e Paquistão.

dez cidadãos turcos foi o de alegadamente terem ajudado terceiras pessoas a atravessarem ilegalmente as fronteiras nacionais através da utilização e venda de passaportes falsos.

A lei chinesa castiga estes crimes com sentenças entre dois e sete anos de prisão.

ALTA TENSÃOAs detenções foram divul-gadas dois dias depois de a polícia chinesa ter matado a tiro seis pessoas que amea-çavam detonar explosivos em Xinjiang, região onde a tensão, elevada nos últimos anos, é habitual entre a etnia local uigur, de fé muçulma-na, e a etnia han, maioritária em quase todo o país.

A violência em Xinjiang fez cerca de 200 mortos em 2014. A China responsabili-za as forças separatistas do movimento do Turquestão

Oriental, que acusa de pre-tenderem criar um estado independente na zona mais ocidental do país.

Associações uigures no estrangeiro negam a exis-tência de grupos terroristas na província e atribuem a violência em Xinjiang à discriminação da minoria uigur, com centenas de pes-soas condenadas à morte no ano passado.

Situado a mais de dois quilómetros de Pequim, Xinjiang é um território quase 17 vezes maior que Portugal e com apenas 23,5 milhões de habitantes, muito rico em recursos minerais, que confina com o Afega-nistão, Paquistão e várias ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central.

Os uigures, etnia de re-ligião muçulmana e cultura turcófona, constituem 46% da população, quando há cerca de meio-século ul-trapassavam os dois terços. Milhares de famílias han, a principal etnia da China, radicaram-se em Xinjiang, e hoje constituem cerca de 40% da sua população. Na capital, Urumqi, ultrapas-saram mesmo os uigures.

Entretanto, a cidade reduziu em 2,6 milhões de toneladas o consumo anual de carvão, retirou da circulação 476.000 veículos e encerrou 375 fábricas, indicou a mesma fonte.

Sede de um município com cerca de 21 milhões de habitantes, Pequim é considerada uma das capitais mais poluídas do mundo, com evidentes prejuízos no domí-nio do turismo.

Há dois anos, durante vários dias seguidos, a densidade das PM2.5 em algumas zonas da cidade chegou a exceder os 500 microgramas por metro cúbico, dando origem a uma nova palavra - “arpocalipse”.

Pela primeira vez desde o início do ano, as autoridades colocaram a cidade em “alerta amarelo”, o terceiro mais grave de uma escala de quadro (azul-amarelo-laranja--vermelho). Aquele nível de alerta deverá vigorar até à próxima sexta--feira, disse a imprensa local.

Idosos e crianças são aconse-lhados a ficar em casa e as escolas devem reduzir as actividades ao ar livre.

As autoridades recomendam também que, em vez de utilizar o automóvel, a população recorra aos transportes públicos.

Em 2014, o número de dias “altamente poluídos” registados em Pequim baixou para 45, menos treze do que em 2013, indica o relatório anual do gabinete mu-nicipal da Protecção Ambiental, divulgado no passado dia 04 de Janeiro.

A densidade média de partícu-las PM 2.5 - as mais susceptíveis de se introduzirem nos pulmões e afectarem o sistema respiratório - baixou 4% em relação a 2013, para 85,9 microgramas por metro cúbico, mas manteve-se acima do limite recomendado pela OMS.

No conjunto, em 2014, Pequim teve 93 dias com qualidade do ar “excelente”, mais 22 do que no ano anterior.

A polícia de Xangai en-controu entre os objectos dos detidos várias gravações de áudio e vídeo relacionadas com actividades terroristas, explicou o jornal.

Segundo outro jornal, o Global Times, o motivo oficial da detenção dos

Page 14: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

14 hoje macau quinta-feira 15.1.2015

hARTE

S, L

ETRA

S E

IDEI

AS

C OMPREENDIDO por Axelos como questão aberta, o fim da arte se vincula à formulação da poeticidade do mundo. Para

além de um problema, esse tão propagado fim – desde a modernidade, para se dizer no mínimo – , “não está sozinho, muito pelo contrário atua como referencial nas áreas do saber e da técnica” (Axelos, 1991: 136), uma vez que se situa na constelação do mundo, numa condição mais condizente com um sentido sempre em actualização, disposto a um andamento dinamizador em vez de auferir um estado decrescente rumo a uma conclusão pré-racionalizada.

Exactamente por situar o debate so-bre a poeticidade face a uma  enigmática multiplicidade(ibid.) de esferas, de produtores culturais e relações interdiscursivas, é que a ênfase de Axelos na arte não se vê supera-da pela implantação histórica de um esta-do monopolizante de operações técnicas e geopolíticas, alcançando seu auge nessa fase transnacional e fundamentalmente merca-dológica do capital. Ao contrário, a criação poética (artística aí entendida) mais fortale-ce sob o risco do fim (de certas destinações e amoldamentos históricos) sua actividade, seu poder multiplicador de linguagens, na relação com o mundo. Passa a se projectar numa dimensão de exterioridade e exposi-ção – verifica-se uma auto-posição de seus componentes estéticos no cotejo com as forças de linguagens e os poderes (sejam os da cultura, sejam aqueles relativos à sua vei-culação) –, depois de destituídas as ideias de originalidade e finalidade, alçadas a metas absolutas e superiores.

Desde a realização de um ensaio como “Rimbaud e a poesia do mundo planetário” (1964), Kostas Axelos vem desbravando um corte filosófico que, só alguns anos mais tarde, encontrará interlocução, como, por exemplo, nas conceituações de Deleuze e, também, de Guattari (em particular, quan-do o esquizoanalista, co-autor de Mille pla-teaux,  pensa sobre a transdisciplinaridade). Repercute até hoje a compreensão de que Rimbaud praticou um diálogo com os dife-rentes planos do conhecimento no instante em que investigava, na escrita de poesia, so-bre o potencial inaudito de crítica e criação numa era tecnicista, como se lê em seu texto publicado nos anos 1960.

A contar de um referencial moderno – o poeta de Illuminations, no momento em que grafava suas experiências de linguagem, no enfrentamento totalizador e paradoxal das novas possibilidades de ser/estar no presen-te, tal como contém o enunciado “É preciso ser absolutamente moderno” –, o pensador de  Através do pensamento planetárioapresenta as coordenadas que situam poeticidade e mundo, a partir de uma descentralização fundamental dos lugares da poesia e do poe-ta, desde então. Rimbaud comparece como agente e imagem da arte que se produz sob o signo de uma indagação constante acerca dos seus limites e enlaces. Trava-se, à exaus-

A POETICIDADE DO MUNDOtão, um embate capaz de conduzir a escrita literária ao silêncio, seja através da incor-poração de todos os sentidos (discursos e saberes de uma época) seja pelas linhas-de--fuga (efetuadas numa gradação, que vai da caminhada à viagem, até a desterritorializa-ção crescente rumo ao Oriente e à África) traçadas em relação a uma ordem vigente, central. Não se convive com a abertura de dimensões culturais e conceituais trazida pelo expansionismo civilizacional da mo-dernidade sem que deixem de se imprimir na produção de literatura os sinais do des-locamento de referentes, numa acção con-junta sobre a corporalidade e o corpus (para falar, com J-L Nancy de toda uma topografia discursiva e cultural) do poeta (veja-se o li-vro Corpus, de Nancy).

Sublinha Axelos, com justeza, a visão interrogativa (Axelos, 1964: 165) de Rim-baud, que viabiliza a construção de um tra-balho poético montado sobre o ataque ao eurocentrismo, sobre a recusa aos valores ocidentais – dos religiosos aos políticos, projetados estes no pano-de-fundo radicali-zador da Comuna de Paris (1871). Apreen-dida como uma verdadeira sondagem do homem moderno, a poética indagativa e impaciente (tal como esposa a perspectiva de leitura de Blanchot, em  O livro por vir) composta por Rimbaud fornece, também, o desbravamento de veios múltiplos de ação e conhecimento na era expansionista indus-trial aberta pelo capitalismo no século XIX.

É nesse ponto que Axelos concebe a poética rimbaudiana com o perfil de inúme-ras problemáticas novas, relacionando elos insuspeitados entre a criação de poesia e o trabalho humano, entre espiritualidade e técnica, entre amorosidade e comunidade. Como bem captou o estudioso de Rimbaud, o autor de Uma estação no inferno se situa num plano já radiador da diversificação planetá-ria quando se confronta com a tendência homogeneizadora da modernidade mer-cantil, em franca expansão, capaz de tornar norma a dicotomia entre poesia e mercado, entre corpo e imaginação, entre indivíduo e colectividade. Rimbaud se mostra, então, como o autor (também recepcionado por Deleuze em igual proporção fomentadora de conceitos, novos cortes e combinações de literatura/vida, como se apreende, espe-cialmente, em seu Foucault) que mais se de-fronta com as potências vitais, assim como pela travessia de realidades culturais inter-ditadas até àquela época, territorializadas pelos testamentos geopolíticos europeus.

Numa espécie de contraviagem – em espécies de espaços (parafraseando-se o li-vro seminal de Georges Perec) –, Rimbaud comparece na mirada do filósofo grego como aquele que redistribui a topografia da escrita de poesia. Ao mesmo tempo, ele cartografa diversas espacialidades e culturas (as ditas “primitivas” e as que apresentam o contorno do devir). Assim, projectam suas caminhadas pelas cidades europeias moder-nas, já tomadas pelo esquadro das multidões

e das novas formações sócio-culturais, sob uma perspectiva descentralizadora (do des-regramento de todos os sentidos, de um trato com as margens), que vai conduzi-lo a Áden e a Harar.

Na realidade, Rimbaud pratica a escrita como cartografia. De início, o referencial literário clássico é refeito, quando ainda es-tudante aplicado no Latim. E, na sequência dos poucos anos de sua adolescência (tem-po em que dura sua produção poética), são apropriados o Romantismo e os poemas da actualidade parnasiana, posteriores a Baude-laire, na virada para o que ficou conhecido como Simbolismo. (Deve-se pôr em desta-que o dado que o criador de Fleurs du mal se situa como matriz de suas desleituras/rees-

critas). Em tal andamento, o literário deixa de ser o único molde para a escrita de Rim-baud. Seu material se mescla, plurificando--se. Recolhe textos diversos no quotidiano, em todas as variações inscritivas, em seu uso mais ordinário, a partir mesmo do refugo cultural (veja-se a esse respeito “Alquimia do Verbo”).

Jacques Rancière já observava que o poeta havia escrito, além de ter lido, o seu século (Veja-se o ensaio “As vozes e os cor-pos”, de  Políticas da escrita). Todo o poten-cial de conhecimento, na emergência de ciências e planos do saber (do esoterismo ao urbanismo, da apreensão geopolítica do mundo à concepção de uma revolução político-estética, proto-situacionista, como a disseminada pela Comuna de Paris) des-pontados àquela altura do tempo, move a poética rimbaudiana. Daí Axelos corrobar a abertura de esferas de sentido para a litera-tura, confrontada com o mercado e as nas-centes tecnologias de impressão e projeção visual, ao mesmo tempo em que se encontra

redesenhada pelas formações de linguagem no interior das ciências humanas operadas na segunda metade do século XIX a cami-nho de seu fim.

“Qual horizonte englobaria a nova to-talidade humana?” (Axelos, 1964: 169). A indagação, crescente em Rimbaud até seu silêncio criativo e rompimento com o mundo europeu, deixa em suspenso, em passagem, um infinito campo de experi-mentações, questões em aberto lançadas, no entanto, a um certo desafio, a um visí-vel limite. Não sem razão, Axelos localiza em sua obra-vida (como a designou Alain Borer) o ponto de explosão de tal produti-vidade escritural e convivial com a abertura de planos/platôs/esferas em que se realizam

modos emergentes de síntese e relação com as multiplicidades, com as totalidades, não solucionáveis por um enquadramento mecâ-nico, unilateralmente racionalista. Eis o que se nota à medida em que ao criador e seu corpo se oferecem possibilidades não-duais de existência na esfera multidimensional de signos e referências contidos nos arquivos não-lineares do homem histórico, a Oci-dente do planeta.

O mundo moderno e contemporâneo, ociden-tal e europeu, em vias de se tonar planetário, justamente já o é; planetário, quer dizer, er-rante, migratório, percorrendo, assim como os planetas, o espaço e o tempo – o conti-nuum quadridimensional –, sem lugar e sem fórmula (…) Esse mundo aspirante ao Todo implica o Nada vazio, o niilismo, quer dizer, a nulificação da “verdade” do mundo. O niilismo é a verdade do mundo moderno to-mado na engrenagem planetária, do mundo onde a verdade do ser não se manifesta; toda resposta à questão do porquê fundamental

W. K

ANDI

NSKY

, YEL

LOW

-RED

-BLU

E (G

ELB-

ROT-

BLAU

), 19

25

Page 15: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

15 artes, letras e ideiashoje macau quinta-feira 15.1.2015

Mauricio SalleS VaSconceloS in Sibila*

(Continua na página seguinte)

fracassa – quando o horizonte escapa, como se já fosse fugidio. Os homens desse “mun-do” são consequentemente viajantes errantes e Rimbaud busca ter a verdade – o sentido da manifestação dessa errância.(ibid.: 150)

A sintonia promovida pelo poeta arde-nês (das Ardenas, noroeste francês, na fron-teira com a Bélgica) com um universo am-plificado de linguagens, saberes e culturas, a partir do movimento descentrado inau-gurado pela  flânerie  baudelaireana, significa na leitura do filósofo um marco não apenas para a produção literária do século XX, mas atua como referência para os impasses e mu-tações do mundo tardo-moderno. Por situá--lo no fulcro da problemática nascida entre uma ordenação global, expansionista e o di-mensionamento desterritorializador, capaz de articular o planetarismo para fora de um enfoque hegemônico, Axelos assimila de-

frontações da arte, da poeticidade, em ple-na repercussão na atualidade. Exatamente, quando se pensa no presente e no vir-a-ser da poesia. Algo que se acirra ainda mais no momento em que tal discussão é localizada na passagem do século/milênio. E mais: com um adendo contextualizador, que reloca a criação rimbaudiana na cena do mundo glo-balizado e no plano interdiscursivo de um diálogo com poéticas da periferia ocidental.

Photomaton & VoxEm  Photomaton & Vox  (1978), de Herberto Helder, surge de modo deliberado um in-tercâmbio dos mais produtivos com a vida--obra rimbaudiana. Juntamente com o trato da figura de Diotima, colhida do Hipérion, de Hölderlin, a presença de Rimbaud, naquele que é uma espécie de composto teórico--performativo da imagem e da dicção do poeta Helder – Photomaton/Vox –, acaba por criar uma interessante convergência com a leitura promovida por Axelos em  Métamor-phoses (1991).

Tomados pelo filósofo como recorrên-cias axiais da poesia do Ocidente no que envolve o esposamento das concepções de sujeito, divindade e mundo, tornados elementos essenciais da actividade escri-tural, Hölderlin e Rimbaud dão materia-lidade às modernas partilhas ocorridas sempre (desde Homero, apreendido por Axelos nas primícias da literatura) entre o conhecimento de cada, dada, época e uma linguagem que é ritmo, imagética e pen-samento, em articulações simultâneas de experiência e sentido. Referencializados pelo autor português no momento em que inventaria sua bio/bibliografia, de acordo com o enfoque de Diana Pimentel (Ver a voz, Ler o rosto, 2007) sobrePhotomaton & Vox, os poetas-chave de sua trajectória não por acaso tornam explícita a indissociável dinâ-mica nomeadora de uma arte confrontada com seus núcleos de extensão e finitude, por meio dos mais arriscados e radicados

desdobramentos. Especialmente, em torno de Rimbaud verifica-se uma concentração mais visível, reiterada, na sucessão dos “textos de auto-interpretação” (ibid.:  55), integrantes do livro citado.

Nada mais apaziguador que ter falhado em todos os lados da biografia. E – como se o não fosse: resolutamente!Olhe-se Rimbaud: “On n’est pas sérieux, quand on a dix-sept ans”. E quando se tem quarenta e dois? Aos dezessete pode, por exemplo, expor-se a desenvoltura impertinen-te: escrevo para compreender, ou modificar, ou salvar o mundo. Nada sério, claro.Mas aos quarenta e dois, é-se tão pouco sério que convém evitar os superlativos da candu-ra exercida com tanto impudor. Responde-mos que é “porque sim” (…) Resolve a gente ao menos o problema na internidade biográ-fica? Tudo para adiar, imagine-se. Adiar horizontalmente, sobre as idades pessoais, o mundo. E falam de seriedade

(Helder, 1987: 38-39)

Uma série de motivos se faz notar no elo formado entre as escritas de Rimbaud e Helder, exatamente no que se relaciona às indagações imorredouras (a palavra ininter-rupta, de que trata Blanchot em O livro por vir, 1984: 93), atualizadas pela linguagem da poesia em consonância com as diversificadas formas de saber existentes nos últimos sécu-los modernos. Como não atuar no presente, precisamente agora? Como deixar de con-siderar o chamado do mundo – seja como compreensão, modificação ou salvação (nos termos de HH), e ainda como linha-de-fuga trilhada ao revés, pelo risco, pela confronta-ção extrema do lugar e do tempo?

É sempre tempo de rebentar, sempre ódio, sem-pre crime, ou suicídio, ou loucura – eviden-temente: com a coroa de rosas, botânica das nossas posses.E o pânico? Ouviram falar? Pois eu estava num aeroporto africano, em fuga. Porque, quando se parte de um lugar, vai a gente a fugir, sempre

(Helder, 1987: 39)

Ao traçar, desde os gregos, os dimen-sionamentos abertos à poesia, no suceder de concepções que partem do mito e refa-zem o vínculo com as totalidades (o sagra-do, o cosmos, numa primeira instância) em proporções crescentemente problemáticas das ideias de divindade e homem, Kostas Axelos faz confluir em torno de Hölderlin e Rimbaud os últimos vestígios de um en-frentamento maximal do mundo em todas as suas acepções nomeadoras e conceituais. É a partir de tal encruzilhada histórico-cultural que pode ele relançar a poeticidade em vín-culo estreito com a perspectiva da planeta-riedade no campo do pensamento.

Por um lado, observa-se que o pacto pleno com as potências do presente, atra-vessadas pelo modular inter-relacionamento de mediação técnica e mundialização eco-nómica, encontra formas de abertura atra-vés da experiência inédita da poeticidade do mundo (Axelos, 1991: 147) . Em contrafa-ce, a poesia propriamente escrita, literária, se localiza no cerne de um embate milenar, procedente de uma extracção cosmogónica, do partilhamento entre linguagem humana e palavra primordial do sagrado, presentifi-cando-se pela regência suprema (ibid.: 142) da cosmotécnica contemporânea, como bem pontua o filósofo.

Queiramos ou não, somos ritmados pela oni-temporalidade constantemente tridimensional em que, e através da qual, surge e começa a se findar a história, configuração visível de uma cadeia de épocas. Pois o que chamamos de devir, continua, bem mais vasto do que a história. Mas o que, no curso do devir é des-tinado a advir, forma ou formará ainda uma época ou inscreve sua marca no fim das épo-cas, a era das épocas sendo terminada?(ibid.: 147)

É precisamente nesse ponto – nesse nú-cleo vivo, em movimento, de indagação – que a tecnicidade mundial, com toda uma engrenagem planificadora, não surge de modo consecutivo-causal como coroamen-

to de um processo aplainador de contrastes pelo qual se timbraria um fim de horizonte tanto histórico quanto poético. No ver de Axelos, embasado na leitura de autores lite-rários, a técnica articula um modo refigura-dor da experiência criadora e reflexiva, re-lacionado com a constelação do mundo in-visível, dizendo respeito ao plano imaterial, conceitualmente inexplorado, constitutivo dos aparatos “universais” da informatização, um domínio, aliás, nada monolítico. Refere--se, pois, ao que advém, uma vez que a poe-sia se instala no vórtice do questionamento lançado pela tecnicidade contemporânea. Cabe ao seu potencial liberador tanto de invenção quanto de investigação a mobili-zação de recursos e procedimentos em face de uma estagnação histórica geral, pois o “empreendimento da técnica planetária visa a açambarcar o mundo, que permanece in-visível e cessa no geral de propor questões” (ibid.: 148).

Essencial se mostra o erguimento da poesia enquanto  poeticidade do mundo  para a elaboração de um campo de estratégias e possibilidades pluralistas, formadoras de um outro conjunto de signos técnicos, estéticos e políticos nessa fase do chamado capitalis-mo conexionista, da forma como entende Peter Pál Pelbart. Como disse Rimbaud, na Carta do Vidente ou do Visionário, subsiste um espectro de imaterialidade merecedor de ingressos favoráveis à imaginação e à pre-sença dos diferentes agentes sociais e cultu-rais – dar a visão, enfim, ao mundo-imagem (ou do chamado sistema-mundo) desponta como trabalho urgente e desbravador na interface do uso meramente reprodutor do repertório tecno em vigência.

Pál Pelbart já podia sinalizar a emergên-cia de redes autónomas de criação indivi-dual e actuação comunitária no contrapolo do novo capitalismo tecnotrónico (Veja--se o ensaio “Poder sobre a vida, potências da vida”, integrante de Vida Capital,  2003). Com argúcia, o pensador brasileiro obser-va que em correspondência mesmo com a metáfora conexional plugada à máquina abstrata do capital globalizado, assiste-se ao surgimento de territórios existenciais al-ternativos, nos quais se imprime a marca do corpo, do sentido de vida em comunidade, difusa na simultaneidade do pacto das inte-rações on-line.

O filósofo de Vida Capital recepciona as constelações de sentido de que trata Axelos quando assinala a reinvenção da corporei-dade; a geração de vizinhança e solidarie-dade em contrafacção ao pertencimento impalpável e generalizador travado pela noção de sociedade (tal como podia, tam-bém, pontuar Sloterdijk); a criação, enfim, de um plano/projeto existencial e subjetivo na contramão da serialização e das reterri-torializações propostas pela economia atual em tempo de rede (“Poder sobre a vida, po-tências da vida”).

Justamente tal disposição entrelaçadora, formuladora de novas sínteses e propulsões de simultaneísmo e informação, favorece, no entendimento de Pál Pelbart, as inteligências

Page 16: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

16 hoje macau quinta-feira 15.1.2015h

grupais que escapam aos parâmetros consen-suais, às capturas do capitalismo. Refaz-se, por força de tal estatura deslocadora e multiplica-dora de agrupamentos e conjunções cogniti-vas, o potencial, por exemplo, dos excluídos urbanos, dos periféricos de todas as latitudes e margens, com foco voltado para vectores de auto-valorização, de autonomia política.

Atrito/ArteNão por acaso, a arte, ou, melhor dizendo, o que se concebe como poeticidade planetá-ria, na compreensão de Axelos, comparece no horizonte do monopólio técnico para além do uso imediato, funcionalista, das co-nexões, actuando através da postura dissen-sual das linguagens em difusão e diagramati-zação no espaço nocional da web, com maior investimento no eixo das cognições. Algo que também ocorre como fator de transfor-mação no que se refere ao senso corrente de comunidade. É o que se mostra observável em espaços de segregação revitalizados sob o influxo de criadores – nos campos da mú-sica e da poesia (etimologia do  rap em sua oralidade composta de rhythm and poetry), do teatro e do vídeo –, que são, numa crescente extensão, promotores culturais e sociais de uma realidade grupal, actuantes nas esferas abertas pela globalidade. Tomada essa numa acepção de força-invenção dos cérebros em rede (como pensa Pál Pelbart), em sincronia com a potência multitudinal do homem co-mum em ampla convivialidade.

Um ponto convergente com o pensamen-to de Pál Pelbart pode ser notado em Estética do conceito, de Sousa Dias, quando o filósofo português apreende a axiomática do capita-lismo informacional, caracterizado por uma “equivalência generalizada”, de toda a espécie de forças descodificadas: humanas e não hu-manas, naturais e “espirituais”, de trabalho e de tecnologia, fluxos de moeda, de saber, de linguagem” (Dias, 1999: 9). Frisa ele, simulta-neamente, o que compreende como dinamis-mos heterogéneos (ibid.), advindos, de modo não determinista, das mutações sociais e cul-turais no seio de uma civilização tecnocientí-fica como a actual.

O que torna nossa época interessante é que quanto mais o neocapitalismo “globaliza” as suas axiomáticas e articula liberdades inédi-tas (…) mais suscita movimentos descontro-lados, resistências e fugas que não consegue colmatar, forças não tecnocratizáveis que não sabe como controlar. (…) Migrações da periferia, facilitadas pela livre circulação internacional. (…) Será curioso ver como é que o sistema fará para lidar com as exclu-sões que produz e também que novas formas de resistência fará surgir, que contra-orga-nizações e que contra-poderes adaptados às condições da sociedade comunicacional emergente.(ibid.: 10)

Uma linha de diálogo com a arte agora – com a poeticidade no mundo global –, pode ser aberta de acordo com o interesse pela criação em diferentes culturas e formações comunitárias do presente, manifestado nos processos reinventados de resistência. EmLi-teratura, defesa do atrito, a teórica e, também, poeta Silvina Rodrigues Lopes destaca, pre-cisamente, o plano experimentador aberto à produção literária ante os regimentos cultu-ralizadores, os universais do mercado mun-dializado. Em lugar do amoldamento a uma face tecnicista, monovalente, de pertenci-mento às mais novas ofertas de legitimação da escrita, Rodrigues Lopes trilha a via in-quiridora, investigativa, pela qual a poeti-cidade se relança, através “de uma força de

pensamento capaz de, pela sua potência de interrupção, abrir vazios no manto liso da cultura e impedi-la de ser inteiramente do-minada pelo emaranhado das trocas sociais”. (Lopes, 2003: 13)

Concentrada no que define como “deli-bitação dos modelos e ideais de universaliza-ção” (ibid.), a estudiosa de “A literatura como experiência” escapa, contudo, dos contra-pontos localistas e identitários que poderiam, numa primeira instância, fazer oposição aos desígnios homogeneizadores da produção ar-tística atual, mas acabam por revelar um posi-cionamento imobilizante, refractário ao atrito com os modos sempre ativados de relação e captura. Resulta de tais posturas culturalistas o segregamento de estratégias localizáveis, auto-referenciadoras, com “data vencida”, en-tretanto, no que diz respeito ao seu poder de intervenção e interactividade.

Exactamente, por enfatizar o elo indis-sociável criado pela arte com o mundo é que o fator experimentação se mostra tão destacado por Silvina R. Lopes. O curioso é que ela o sublinha no momento em que, nos termos de uma vaga, ineficaz, designação pós-moderna, teria sido relativizado todo um potencial especulativo e radicalizador da criatividade literária, seguindo-se uma ultrapassagem linearmente histórica dos pa-radigmas da vanguarda.

A importância dos ensaios escritos sob o signo-conceito do atrito é a força com que a escrita e o dado experimental obtêm rein-serção à altura da globalidade cultural. Rein-serção sem apagamento dos conflitos, sem aporte nas simplificadoras contrafacções à complexidade que envolve os elos entre arte e pensamento hoje. Avulta um modo novo, outro, que não adequa mais à agenda pós--moderna, com suas linhas programáticas vaga e infinitamente traçadas, desprovidas do diagrama das forças político-culturais do presente século, atravessadas no mínimo por dois eventos-chave, aquele proveniente dos abalos causados ao pacto da multicultu-ralidade incluso no constructo globalização (Setembro de 2001), assim como o desastre estrutural dos moldes eminentemente eco-nómicos de tal projecto, culminados na re-vivência norte-americana do crack, em 2008.

Notável se revela, em Literatura, defesa do atrito, a capacidade de restituição da concei-tualidade e da inventividade a uma esfera como a da arte. Tal proposição ocorre no momento em que o manancial fornecido pela tecnocultura é encaminhado a uma órbita cerrada, específica, de comunicação – mais próxima da manutenção one way, tão--somente on-line, da experiência, do que do ingresso pluralizador ao corpo presente, co-lectivo, oferecido pelo universo digital para além do funcionalismo maquínico. Ainda se

nota a débil absorção do suplemento dos saberes e das linguagens reconfigurados pe-lopick-up  rizomático, que se virtualiza para direcções infindáveis da vida quotidiana com procedimentos instauradores de formas inéditas de pensamento e existência.

Não à toa, o primeiro intertítulo de “A literatura como experiência” aponta para “Defender, escavar, vazios na cultura”. Não é por acaso, também, que a estudiosa portu-guesa vem insuflando, sobretudo, no âmbito da poética uma postura analítica incitadora de producentes relações artísticas e alianças em nível teórico, destacando-se, inclusive, como um dos leitores seminais de Herberto Helder.

Em A inocência do devir, Silvina R. Lopes cria uma intrigante intersecção da escrita helderia-na com o pensamento de Nietzsche (tantas vezes referido em Photomaton & Vox) e a poéti-ca de Hölderlin. Acerca, justamente, do con-ceito de devir, o sentido da invenção de uma origem implica outra ordem de destinação, envolvendo a abertura para o inominável (Lo-pes, 2003: 89), perceptível no signo criança, nuclear em um livro como Do mundo.

Porque eu sou uma abertura,porque as noites cruzam os cometas,porque a minha pedra com os lados frioscontra as faúlhas,porque abre as válvulas e se queima.Alguém com os dedos na cabeçadando volta à criança,metendo-lhe mais força pelo fogo,criança com um rastilho:ou muita resistência na armadura,ou peso, ou muita leveza,ou dulcíssima:ou fósforo, enxofre, pólvora, sopro, a farpa de ouro– e o orifício que traz para o visível

(Helder, 2006: 485)

Helder retorna sempre à génese que en-volve a criação tanto de linguagem quanto do mundo – criança/cosmos –, na propulsão aberta a um andamento rítimico que não de-tém o fecho de cada bloco poemático, assim como não se subordina ao que chama Silvina Lopes de “exigências de identificação que do-minam os discursos poéticos” (Lopes, 2003: 91). Mãe, terra, criança são elementos básicos e retornantes como que apreendidos à volta do fuso – orifício e espiral – de alteridade radical (no dizer de  A inocência do devir), em que se encontra o ponto de irrompimento e ruptura, de nascimento e diferença das coisas em seu sentido sensorializado pelos inúme-ros nomes. Um não-fundo – o contrário de uma ideia/substância mantida no dualismo de ausência/presença – em que tempo, espaço e movimento laborados pela dicção do poema contínuo favorece, sem trégua, a emergência de uma constelação imagético-verbal, aparta-da do referendo a um princípio, a um núcleo unificador mitológica ou culturalmente dado. Subsiste, assim, de uma heterogénese, pela qual todas as idades e identidades se inter-comunicam, implicadas na “última imagem, aquela que está sempre por vir e só é escrita na sua iminência irreconhecível”. (ibid.: 90)

poema do começoo sistema sideral infund-se nos trabalhosdo terror e da doçura:a ideia, a idade,o idioma:o mais rouco ou mais leve ou de azougue –poema que desconheço, o antigo, o novíssimo

(Helder, 2006: 529)

Assinala a estudiosa portuguesa de Helder que encontramos “esse tipo de permeabilida-de ao heterogêneo na quase perda da lingua-

gem que se lê em “Mnemosina”, de Hölder-lin” (Lopes, 2003: 88-89). Ao mesmo tempo, relança-se, no actual século/milênio em que escreve Helder, o sistema sideral instalado pe-las poéticas do autor de Patmos e de Rimbaud. Tal como capta Kostas Axelos, no momento em que a criação de literatura se rearticula e se expande, de modo não-causal, nada instru-mental, em face do espaço oferecido pela tec-nologia, nas órbitas imagéticas e interactivas da cultura, por força de seu modo heterodoxo e complexo de feitura e concepção.

À altura de  Do mundo  (1994), pode-se captar na obra contínua de H. Helder o que compreende o pensador de Metamorfoses como linguagem habitada, em movimento, na qual lugares não-topológicos e instantes não-cro-nológicos grafam sua correspondência com o jogo mesmo do tempo – sempre passado, presente e por vir (Axelos, 1991: 144). Jogo incessante da transmutação da história e do mundo, através do qual as grandes dimensões, as potências definidoras do humano, tomadas em correlações e compartilhamentos – a his-tória e o erotismo, a arte e a técnica, a ciência e a magia (usando-se aqui dois títulos conti-dos nos livros do autor) –, muito próximos da integralidade de forças concebida por Nietzs-che, se põem em gravitação no sistema aberto produzido pela poética helderiana.

Assim como Hölderlin investiga a cos-mogonia romântica entre os séculos XVIII e XIX e o autor de Iluminações precipita, em um diálogo apropriador e urgente com os postu-lados baudelaireanos, a modernidade, nodal para arte e a cultura na segunda metade de 1800 e em livre propagação nos novecentos, Herberto Helder sintoniza, em língua portu-guesa, passagens (de modernidades e séculos) para o tempo de agora. Já em outra conjunção histórica, sob a marcação de processos criati-vos, que aludem à problemática dos últimos 50 anos, especialmente no que toca o cam-po da poesia, em relação ao legado de crise e autoindagação, de cerramento e abertura, pertencente à arte desde o romantismo (le-gado lançado à poeticidade em um mundo administrado por amplificadas segmentações sócioculturais, em gradativa tecnificação).

Ou o poema contínuo (compreendido não apenas como o título da penúltima reunião da Poesia Toda, mas como seu projecto) concentra um universo de referências e recursos de lin-guagem cada vez mais imponente e influente.

* Artigo escrito em Português do Brasil

Referências Bibliográficas§AXELOS, Kostas. Vers la pensée planétaire. Paris: Minuit, 1964.§Métamorphoses. Clôture – Overture. Paris: Minuit, 1991.§BLANCHOT, Maurice. O livro por vir. Trad. Maria Regina Louro. Lisboa: Relógio D’água, 1984.§DELEUZE, Gilles e GUATTARI, Félix. Mille Plateaux. Paris: Minuit, 1980.§DELEUZE, Gilles. Foucault. Trad. Claudia Sant’anna Martins. São Paulo: Brasiliense, 1988.§DIAS, Sousa. Estética do conceito. A filosofia na era da comunicação. Lisboa: Pé de página, 1998.§HELDER, Herberto. Photomaton & Vox. 2. ed. Lisboa: Assírio & Alvim, 1987.§Ou o poema contínuo. São Paulo: Girafa, 2004.§LOPES, Silvina Rodrigues. Literatura, defesa do atrito. Lisboa: Vendaval, 2003. A inocência do devir. Lisboa: Vendaval, 2003.§NANCY, Jean-Luc. Corpus. Trad. Tomás Maia. Lisboa: Vega, 2000.§PELBART, Peter Pál. Vida capital. Ensaios de biopolítica. São Paulo: Iluminuras, 2003.§PEREC, Georges. Espèces d’espaces. Paris: Galilée, 1992.§RANCIÈRE, Jacques. Políticas da escrita. Trad. Raquel Ramalhete et al. São Paulo: 34, 1995.

Herberto Helder

Page 17: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

17hoje macau quinta-feira 15.1.2015 (F)UTILIDADESTEMPO POUCO NUBLADO MIN 10 MAX 19 HUM 45-80% • EURO 9 .4 BAHT 0 .2 YUAN 1 .2

O QUE FAZER ESTA SEMANA?

João Corvo fonte da inveja

C I N E M ACineteatro

SALA 1INTO THE WOODS [B]Um filme de: Rob MarshallCom: James Corden, Emily Blunt, Meryl Streep14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 2CLOUDS OF SILS MARIA [C]Um filme de: Oliver AssayasCom: Juliette Binoche, Kristen Stewart,

Chloe Grace Moretz14.30, 16.45, 19.15, 21.30

SALA 3WOMEN WHO FLIRT [B](FALADO EM MANDARIM COM LEGENDA EM CHINÊS E INGLÊS)Um filme de: Pang Ho-CheungCom: Zhou Xun, Huang Xiao Ming14.30, 16.30, 19.30, 21.30

SEVENTH SON

ACONTECEU HOJE 15 DE JANEIRO

H O J E H Á F I L M E

Só há uma mulher, mas é preciso conhecer 400 para saber isso.

Nasce Luther King, o lutador contra a segregação racial• Martin Luther King nasceu em Atlanta, a 15 de Janeiro de 1929 e foi um pastor protestante e activista político norte--americano, que se tornaria num dos mais importantes defensores dos direitos civis dos negros nos EUA.A defesa da paz no mundo era a sua grande causa, o que lhe valeu o Prémio Nobel da Paz, em 1964, tornando-se na pessoa mais jovem a receber tal distinção – com 35 anos, apenas.Luther King nasceu numa sociedade racista, com episódios que geraram revolta. A prisão de uma mulher negra, em 1955, por se ter negado a dar o seu lugar no autocarro a uma mulher branca é um dos exemplos desses inúmeros casos de segregação racial, contra os quais Martin Luther King lutou.Essa defesa dos direitos humanos gerou ódios, que por sua vez levaram a ataques e atentados à vida contra o próprio Luther King. Em 1963, um ano antes de ser galardoado com o Nobel da Paz, faz um dos mais marcantes discursos da história da humanidade: o famoso ‘Eu Tenho Um Sonho’, em Março de 1963, em frente ao Memorial Lincoln em Washington.Organizou marchas para conseguir o direito ao voto, além de outros direitos civis básicos, bem como o fim da segregação e das discriminações no trabalho. A sua batalha por esses direitos resultou na consagração na lei norte-americana da Lei de Direitos Civis (1964) e da Lei de Direitos Eleitorais (1965).Martin Luther King era odiado por muitos segregacionistas do sul, sentimento que levou à sua morte, a 4 de Abril de 1968, data em que foi assassinado, momentos antes de uma marcha, num hotel de Memphis. Está sepultado no Centro Martin Luther King Jr., em Atlanta.Os EUA homenageiam todos os anos esta figura incontornável da história norte-americana: desde 1986, foi estabelecido um feriado nacional no Dia de Martin Luther King, que se assinala na terceira segunda-feira de Janeiro, data próxima ao aniversário de King.Hoje, assinala-se o Dia da Wikipédia, enciclopédia livre fundada a 15 de Janeiro de 2001.

• DiariamenteEXPOSIÇÃO “PONTO DE PARTIDA: PINTURAS

DE DENNIS MURREL E DOS SEUS ARTISTAS” (ATÉ 31/01)

Fundação Rui Cunha, 18h30

Entrada livre

EXPOSIÇÃO DE SÂNDALO VERMELHO (ATÉ 22/03)

MGM Resort

Entrada livre

EXPOSIÇÃO DE PINTURA “KOREAN ART”,

COM OH YOUNG SOOK E KIM YEON OK (ATÉ 15/02)

Galeria Iao Hin

Entrada livre

EXPOSIÇÃO DE DESIGN DE CARTAZES “V•X•XV:”

(OBRAS DE 1999, 2004 E 2009) [ATÉ 15/03]

Museu da Transferência da Soberania de Macau,

10h00 às 19h00

Entrada livre

EXPOSIÇÃO “TRANSMUTATION” E “FOAM TIP”

(PINTURA E PORCELANA, POR CAROL KWOK E ARLINDA FROTA)

Signum Living Store, 18h30

Entrada livre

EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA

DE TAM KAI HON “BRILHANTE”

Centro UNESCO de Macau, 18h30

Entrada livre

“LINCOLN LAWYER”(BRAD FURMAN, 2011)

Matthew McConaughey protagoniza este thriller emocionante no papel de Mick Haller, um poderoso e invencível advogado que defende gregos e troianos, alguns inocentes e muitos culpados. O filme retrata o caso de Louis Roulet (Ryan Phillippe), um homem abastado que foi acusado de violentar uma prostituta. À medida que a trama se torna mais densa, Mick começa a duvidar da inocência de Roulet, rapidamente apercebendo-se de que pode até existir mais do que umas simples nódoas negras. Um criminoso em série, será? - Leonor Sá Machado

Page 18: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

18 OPINIÃO hoje macau quinta-feira 15.1.2015

O homem livre é o que não receia ir até ao fim da sua razão.

Jules Renard

AGORA que está mais ou me-nos assente a poeira levantada pela tragédia da semana pas-sada em Paris, e dado tempo para se respeitar o luto pelas vítimas, é altura de retirar algumas ilações, nomeada-mente do significado que teve este lamentável episódio do qual se conta um total de 20

mortos. Tudo começou na redacção de um conhecido jornal satírico, onde um grupo de homens (pesadamente) armados cometeu um atentado que tirou a vida a 12 pessoas, incluíndo a de quatro “cartoonistas”. Os dois homens viriam eles também a perder a vida dois dias mais tarde, após as autori-dades terem encontrado o seu paradeiro, e pelo meio deram-se mais seis fatalidades, num período de três dias de terror para a França, que deixaram a sua população em estado de choque e que geraram uma onda de solidariedade em todo o mundo livre.

Fiquei triste pela perda de vidas humanas e a primeira percepção que tive foi que, depois, o mundo se ia tornar um local ainda pior do que já é. Os autores do atentado do dia 7 foram identificados como seguidores da religião islâmica e mais tarde viemos a saber que tinham ligações a células ter-roristas. Não foi necessário conhecer os pormenores para que grupos que vivem do ódio étnico e religioso se colocassem na linha da frente da indignação, aproveitando a sede de justiça popular para retirar dividen-dos políticos. Não faltou quem aderisse ao populismo, indiferente ao facto de também estes grupos terem sido por vezes alvo da sátira dos malogrados “cartoonistas”, que reprovariam este tipo de reacção à forma como perderam a sua vida em nome da sua arte, da sua profissão.

Perante tão triste notícia, fez-se o diagnóstico mais elementar: tratou-se de um atentado à liberdade de expressão. Concordo com esta ideia, mas não posso deixar de manifestar algumas reservas, nomeadamente no que à definição de “li-berdade de expressão” diz respeito. Con-denar quem se recuse a demonstrar alto e bom som a sua revolta – mesmo que isso não signifique desculpar os terroristas – e julgá-lo na Praça Pública como “inimigo da liberdade” é uma corrupção da noção que devíamos ter da liberdade de expressão, ou de qualquer outra: ninguém deve ser obrigado a exercê-la e, caso decida fazê-lo, deve ser sem limites de qualquer ordem. “Liberdade de expressão” não depende do que se diz ou do que se escreve: aceitar este princípio implica ficar sujeito a ouvir e ler o não se gosta e, dentro desse salutar círculo, tem direito a exercer o contraditório e tudo dentro dos limites da lei, é lógico.

bairro do or ienteLEOCARDO

Panela de (Ex)Pressão

Não penso que a liberdade de expressão tenha ficado “ferida de morte“ (...) até porque não falta quem agora se disponha a dar continuidade à publicação francesa.Deste lado é que a liberdade de expressão anda moribunda. E sem sinal de melhoras

Mas o principal ponto que me leva a evitar juntar-me a esta “caravana” é a forma como alguns entendem a legitimidade de quem exerce a liberdade de expressão.

Tanto em Portugal como em Macau não faltou quem se pusesse em bicos de pés para afirmar o seu apoio incondicional à “liberda-de de expressão”, visto ser esta a opção poli-ticamente correcta. Falando de Macau, onde eu próprio exerço o meu direito à liberdade de expressão, e para tal recorro aos canais que me são permitidos (caso contrário não estaria agora aqui a escrever estas linhas), a contabilidade neste departamento anda muito, mas mesmo muito desorganizada. Não sou ninguém para andar a dar lições de moral, mas gostaria de recordar certas cabecinhas pensadoras que a liberdade de expressão não é um exclusivo, nem requer que se esteja encartado para que se faça uso dela – é uma liberdade que todos podem (e devem) tomar, independente daquilo que V. Exas. pensam.

É evidente que as vítimas do atentado de Paris agiam ao abrigo da lei, do direito que lhes era conferido, mas não me recordo do

Islão lhes ter dado liberdade para os satirizar; aliás se há algo que demonstram amiúde é exactamente o contrário, mas sendo esta uma liberdade conferida aos autores daquela publicação, fizeram-no mesmo conscientes do perigo – pode-se dizer que caminhavam “na beira da estrada”, ou “na contramão”. De um modo abrangente, tenho pena que no Islão exista tanto fanatismo e congratulo--me de viver numa sociedade tolerante. Em Macau, o direito à liberdade de expressão está contemplada na Lei Básica, tal como outras liberdades que tanto prezamos, e a Igreja Católica, aquela com que mais nos identificamos, pauta-se hoje por um carácter humanista, dizendo-se aberta à crítica. Foi com tristeza que assistimos não há muito tempo à quebra destes compromissos por estes agentes em conluio, com a censura de um profissional da imprensa e o despe-dimento de um académico, quando tudo o que estes fizeram foi no pleno exercício da sua profissão e à luz das liberdades que lhes são garantidas – a eles e a todos, no fundo. Os paladinos da liberdade de expressão que agora dizem ser Charlie, não foram na

ocasião Zé Miguel, nem Eric, e em muitos casos remeteram a interpretação da liberdade que agora defendem com unhas e dentes para o âmbito das instituições em causa. Pena, foi mesmo pena.

Há quem pense que o mundo não cresceu, mas eu reparo que o pântano já transbordou, e quem tem a responsabilidade de se primar pela honestidade e tentar elevar o nível de exigência, contribui antes para um mundo pior, um mundo execrável. Mais do que um mundo que anda para a frente ou para trás, este é um mundo ao contrário, onde a fraude é premiada, e há quem diga que é “do melhor que se faz no mundo”; não no outro mundo, mas neste, onde as “top-models” passam fome, apesar de haver quem a combata à escala do outro mundo, bastando para isso prender milhares de colheres de metal umas às outras. Sim senhor, belo exemplo que nos chega de quem alegadamente recebeu uma educação esmerada, ao abrigo de todas as liberdades, mas comporta-se como um aleijadinho que terminou a corrida muito depois dos restantes participantes, e ainda espera que lhe digam que “é o maior”, com palmadinhas nas costas. Eu deixava-vos a rir de vós próprios, mas duvido que encontrem motivo para tal. Não penso que a liberdade de expressão tenha ficado “ferida de morte“ com aquilo que muitos consideram antes de mais nada um atentado à vida humana, até porque não falta quem agora se disponha a dar continuidade à publicação francesa. Deste lado é que a liberdade de expressão anda moribunda. E sem sinal de melhoras.

JERR

Y PA

RIS,

POL

ICE

ACAD

EMY

3

Page 19: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

19 opiniãohoje macau quinta-feira 15.1.2015

C OMO a imprensa e a TV larga-mente anunciaram, reuniu-se em Paris - a 11 de Janeiro - uma multidão imensa avaliada em cerca de um milhão e meio de pessoas e encabeçada por cerca de 40 líderes mundiais afirmando “Je suis Charlie”. Protestavam contra o ataque sofrido a 7 do mesmo mês

pelo jornal satírico Charlie Hebdo, do qual resultaram 12 mortos. Idênticas (embora de menor vulto) manifestações tiveram lugar em várias outras cidades.

E no entanto eu, um simples cidadão, uma única pessoa, no uso da minha liberdade permito-me dizer que “não sou Charlie”.

E permito-me dizer tal não por qualquer simpatia para com os atacantes e seus mé-todos (o que será até escusado dizer), mas porque não me consigo identificar com o percurso desse semanário. Um semanário que se dedicava sistematicamente a ridicularizar situações, opiniões e mesmo indivíduos con-cretos. Ora, para mim, o gozo tem limites - os objectos do “gozo” podem não achar graça e, nesse caso, deve-se parar - por isso, se ensina às crianças que não se devem gozar os deficientes, por exemplo, nem sequer apontar com o dedo. Como diz o ditado português “Quem diz o que quer ouve o que não quer”.

OS BONS E OS MAUSDe facto, quando sei que determinado tipo de piadas está ofendendo os outros e mes-mo assim insisto uma e outra vez em tais piadas estou implicitamente a dizer “Sim, podes ficar ofendido à vontade, que o que tu pensas ou sentes não me interessa para nada”. Isto é, estou a criar uma barreira entre mim, ou nós (os que achamos piada) e os outros, os que “ficam ofendidos”. E nada é mais vexante que ser-se exposto ao ridículo.

Mas mais – quem fica ofendido será, no pensamento do Charlie Hebdo, uma pes-soa “odienta” (ver figura). Isto é, Charlie Hebdo arroga-se o direito de lançar o opróbrio sobre aqueles que não têm as mesmas ideias.

PODE A LIBERDADE SER LEVADAÀS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS?Afirmam muitos que a Liberdade – um valor essencial na vivência do Homem (se o Criador, ou a Natureza, como se preferir, quisesse que não houvesse Liberdade tinha-nos feito todos iguais) – não pode ter limites, pois começando a coarctar-se daqui e dali pode-se acabar na mais negra das opressões. Entretanto, é evidente que a Liberdade tem limites – por exemplo, não posso dar uma bofetada a um parceiro só porque este me incomoda.

E se a Liberdade de Expressão é uma forma de Liberdade, fácil é aceitar que terá também de ter limites. O querer-se uma liberdade sem limites significa o querer levar-se uma ideia (que no caso até é um dos fundamentos do espírito humano) às últimas consequências, o que é um disparate.

Mas disparate porquê? Tão simplesmente

António SArAivA [email protected]

Je ne suis pas Charlie, my name is Antónioporque o Homem tem muitas pulsões/aspira-ções/necessidades, e não apenas uma, e essas pulsões são frequentemente contraditórias, ha-vendo assim que as harmonizar/compatibilizar. É fácil apresentar exemplos: o homem precisa/gosta de trabalhar, mas também de descansar e também de se divertir. Por vezes, gosta de estar isolado, às vezes só com a cara metade, outras vezes com um grupo de amigos, outras vezes ainda misturado numa multidão, etc.

Quem goste de observar crianças (como eu gosto) há-de ter visto como as crianças pe-quenas começam a explorar o mundo: correm um pouco afastando-se dos pais, mas, volta e meia, olham para trás para ver se o pai/mãe lá estão. E vendo-os, sossegadas, correm mais um bocado à procura de novidades. Isto é, o homem (neste caso a criança) precisa/gosta de Liberdade, e de explorar o Mundo, mas também de segurança, protecção e estabilidade.

Pode-se ainda apresentar o exemplo do pai (mãe) que tem o direito (e mais do que isso, o dever) de educar o seu filho - mas esse direito não pode ser levado às últimas consequências, pois tal se traduziria no esmagar da personalida-de da criança. Assim, esse direito tem limites. Limites difíceis de definir, é certo, mas limites.

É por tal que os sites de quase todos os fóruns especificam, com mais ou menos detalhes, “códigos de conduta”. Para que em Macau existisse e prosperasse teve que se ter sempre em atenção não se ultrapassar certos limites - embora estes nunca tivessem sido muito bem definidos.

Assim, um método usual no Direito - o de levar uma noção (embora verdadeira) às últimas consequências - está errado.

Os atacantes do Charlie Hebdo também assim procederam - levaram as suas ideias às últimas consequências.

LIBERDADE PARA TODOS?Entretanto na multidão que afirmava “Je suis Charlie” duas figuras faltavam – certamente que não por falta de vontade, mas por impos-sibilidade: Julian Assange, da Wikileaks, por estar refugiado na embaixada do Equador em Londres, e Edward Snowden, que expôs o programa global americano de espionar o Mundo - por estar refugiado na Rússia. Será porque – ao contrário do Charlie Hebdo - levavam tudo muito a sério?

PUB

Para mim, o gozo tem limites - os objectos do “gozo” podem não achar graça e, nesse caso, deve-se parar - por isso, se ensina às crianças que não se devem gozar os deficientes, por exemplo, nem sequer apontar com o dedo

Page 20: Hoje Macau 15 JAN 2015 #3252

hoje macau quinta-feira 15.1.2015

cartoonpor Stephff

DE FUGIR

O jornal oficial chinês Global Times diz ontem que os dias do magnata Li Ka-

-Shing como grande referência no país chegaram ao fim, tendo em conta a reorganização anun-ciada para a sua empresa.

O milionário Li, de 86 anos, anunciou na semana passada uma reestruturação profunda do seu império comercial.

A construtora de Hong Kong Cheung Kong Holdings, a sua principal empresa, vai assumir a subsidiária Hutchison Whampoa e a entidade conjunta será dividi-da em duas, criando uma empresa imobiliária e um conglomerado internacional.

Os investidores aplaudiram o negócio, causando uma va-lorização das acções das duas empresas na segunda-feira, mas o Global Times diz que Li vendeu algumas propriedades na China Continental e “aumentou as suas participações na Europa”.

O jornal cita “rumores” que a reestruturação empresarial indica que Li está prestes a retirar bens da China e de Hong Kong, numa aposta contra activos denomina-

MAGNATA LI KA-SHING DEIXOU DE SER A REFERÊNCIA ECONÓMICA

O fim de um reinado

“Li criou milagres para a sua geração, mas a geração de Jack Ma pode ser mais capaz de acompanhar as mudanças que estão a acontecer na China e tem a capacidade de ser mais aventureira”GLOBAL TIMES

O aumento das participações na Europa do milionário chinês, de 86 anos, levam a imprensa estatal a apostar mais numa nova classe de empresários de sucesso como referência para o futuro

dos em yuan. A estratégia, diz o diário, não vai gerar mudanças na economia chinesa e representa a emergência de uma nova classe

de empresários no país, como o fundador do gigante da Internet, Alibaba.

JÁ ERA“Li criou milagres para a sua geração, mas a geração de Jack Ma pode ser mais capaz de acompanhar as mudanças que estão a acontecer na China e tem a capacidade de ser mais aventureira”, escreve o jornal no seu editorial.

“O investimento de Li é uma gota no oceano em comparação com a enorme dimensão da economia chinesa”, acrescenta. “Já houve várias previsões pessi-mistas sobre a China, mas todas demonstraram estar à margem da realidade”.

Li tem sido o homem mais rico da Ásia desde 2012, sendo ultra-passado por Ma em Dezembro.

O jornal elogiou Li pelo contributo que deu para as re-formas económicas da China e na abertura ao mundo, mas disse que o seu papel como referência estava a diminuir.

“Merece a alcunha de ‘Super Homem’, mas não será a referên-cia no futuro”, afirma o jornal.

U MA chinesa furiosa por ter sido enganada pelo marido

com uma mulher mais nova resol-veu cortar-lhe o pénis e esperou que os cirurgiões recolocassem o membro para o cortar novamente três dias depois, noticia a AFP.

Os acontecimentos datam de Dezembro, mas os contornos da história só ontem foram divulgados pela agência noticiosa AFP, que conta que a vítima, um homem de 32 anos apresentado como ‘M. Fan’, sofreu a primeira amputação enquanto dormia, sendo depois levado de urgência para o hospital, onde os cirurgiões conseguiram suturar o órgão decepado.

O ataque da mulher, Fen Lung, aconteceu depois de descobrir que o seu marido a tinha enganado com uma mulher de 21 anos, quando reparou nas mensagens picantes enviadas através do seu telemóvel,

mas a sede de vingança não ficou por aqui: depois de três dias em recupe-ração no hospital, sempre acompa-nhado da mulher, esta esperou que o marido estivesse a dormir e cortou novamente o pénis, atirando-o pela janela do hospital, mas desta vez não foi possível encontrar o membro.

Este duplo acto de vingança, con-clui a AFP, acabou por sedimentar a relação de Fan com a amante, tendo os dois resolvido casar.

“Não faz mal que ele não seja fértil, porque de qualquer das ma-neiras já tem cinco filhos”, disse a amante que agora é esposa, Zhang, aos meios de comunicação da pro-víncia de Henan, no centro da China.

O estado clínico de Fang é “es-tável, apesar das fortes perturbações emocionais”, dizem os médicos.

A esposa de Fang está detida enquanto decorre a investigação policial.

Chinesa corta o pénis do marido duas vezes para se vingar de traição

O S directores substitutos dos Serviços de Regulação de

Telecomunicações (DSRT) e do Ins-tituto de Habitação (IH) assumiram oficialmente os cargos permanentes na direcção dos organismos.

Hoi Chi Leong assumiu oficial-mente o cargo de director da DSRT no início do presente ano, de acordo com um despacho publicado em Boletim Oficial e assinado pelo ac-tual Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo Arrais do Rosário.

Hoi Chi Leong é licenciado em Engenharia Electrotécnica e mestre em Gestão de Empresas. De 1990 até 1993 assumiu o cargo de técnico superior na Direcção dos Serviços de Correios e Telecomu-nicações, passando para Chefe do Sector de Gestão Radioeléctrica da mesma direcção. Desde 2006 que era técnico superior do quadro de

pessoal da DSRT e subdirector do mesmo organismo.

Já no caso do Instituto de Habi-tação (IH), Ieong Kam Wa, assumiu, desde o dia 1 de Janeiro, o cargo de presidente da instituição, segundo publicado em Boletim Oficial.

O actual presidente é licenciado em Engenharia Civil pela Hua Chiao University, da República Popular da China, e licenciado em Direito em Língua Chinesa pela Universidade de Macau. É também mestre em Direito pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST) e em Administração Pública pela Universidade de Zhongshan. In-gressou em 1991 na Função Pública como técnico superior do IH. Foi também chefe de Divisão de Apoio à Organização de Edifício, chefe de Departamento de Administração de Edifícios e vice-presidente do do mesmo instituto. - F.A.

IH e DSRT Directores substitutos assumem posições permanentes

O Instituto para Assuntos Cí-vicos e Municipais (IACM)

planeia transformar o actual espaço em frente da Assembleia Legislati-va (AL) num jardim com árvores e um grande canteiro de flores, destinado ao público. A obra, que deve estar finalizada daqui a três meses, vai custar cerca de 630 mil patacas ao erário público, mas o IACM garante que tudo está a ser feito de acordo com a lei.

Segundo uma resposta do IACM ao HM, as obras de manutenção do espaço estão em andamento e incluem a instalação de espaços

verde e a plantação de árvores. Está ainda prevista a colocação de um canteiro de flores e de um sistema de irrigação.

A autoridade referiu ainda que, uma vez que as obras envolvem a escavação de terra, cultivação de plantas e colocação de tubos, o espaço estará encerrado ao público, de forma a diminuir a afluência de pessoas. As obras serão feitas em diferentes fases, a primeira incluindo a colocação de placas, sistema de irrigação e plantação das árvores. Prevê o IACM que tudo estará con-cluído no fim deste mês.

IACM Espaço frente à AL vai transformar-se em jardim de lazer