HOMILÉTICA

31
HOMILÉTICA FACULDADE SÃO BENTO DA BAHIA DOM GREGÓRIO PAIXÃO, OSB Para complementar seus estudos leia: COMO ENSINAR SEU FILHO A ESTUDAR – Autor: Dom Gregório Paixão O LIVRO DE JONAS – Dom Gregório Paixão 100 FÁBULAS DE LA FONTAINE – Dom Gregório Paixão Onde encontrá-los: Edições Paulinas, Paulus Editora, CNBB e Mosteiro de São Bento INTRODUÇÃO Vivemos num mundo invadido pela comunicação. Todos somos continuamente bombardeados por mensagem de todas as proveniências: políticas, religiosas, culturais, comerciais. Com o surgimento da Internet e das TVs a cabo as ondas de comunicação multiplicaram-se e hoje penetram

description

MANUAL DE HOMILÉTICA DE D GREGÓRIO PAIXÃO

Transcript of HOMILÉTICA

Page 1: HOMILÉTICA

HOMILÉTICAFACULDADE SÃO BENTO DA

BAHIADOM GREGÓRIO PAIXÃO, OSB

Para complementar seus estudos leia:

COMO ENSINAR SEU FILHO A ESTUDAR – Autor: Dom Gregório PaixãoO LIVRO DE JONAS – Dom Gregório Paixão

100 FÁBULAS DE LA FONTAINE – Dom Gregório Paixão

Onde encontrá-los: Edições Paulinas, Paulus Editora, CNBB e Mosteiro de São Bento

INTRODUÇÃO

Vivemos num mundo invadido pela comunicação. Todos somos continuamente bombardeados por mensagem de todas as proveniências: políticas, religiosas, culturais, comerciais. Com o surgimento da Internet e das TVs a cabo as ondas de comunicação multiplicaram-se e hoje penetram todos os espaços, do palácio ao barraco da favela, de dia e de noite, formando consciências e, por vezes, dominando-as e escravizando-as. Nesse circuito nos tornamos receptores e até mesmo repetidores.

Page 2: HOMILÉTICA

Entretanto, ao lado da comunicação de massa existe outra, que não deseja apenas comunicar e formar opinião. Ele quer ser Boa Notícia, deseja tão somente levar aos homens e mulheres a mensagem proposta por Jesus, que nunca obriga, mas sugere, dá vida nova e salva.

Não posso deixar de dizer que há um imperativo de Jesus que sempre me falou ao coração: “Ide... e pregai...” (Mc 16,15) bem como as palavras de São Paulo: “Ai de mim se não evangelizasse” (1Cor 9,16), porque “o empenho em anunciar o Evangelho aos homens do nosso tempo (...) é, sem dúvida alguma, um serviço prestado à comunidade dos cristãos, bem como a toda a humanidade” (EN 1,1). Mas esse serviço deve ser bem prestado, usando os recursos necessários para que o expositor, geralmente o pregador da Palavra de Deus, o faça da melhor maneira possível.

Assim, falar e pregar bem não é privilégio de algumas pessoas, mas obrigação de todos aqueles que se dispõem a trabalhar com a comunidade do povo de Deus ou com o público em geral. E, para se falar bem, são

Page 3: HOMILÉTICA

necessários apenas alguns conhecimentos específicos e habilidades para a utilização de pequenos truques.

Desejo apresentar, tão somente, algumas sugestões de técnicas para a confecção de homilias, sermões e conferências. Bem elaborada, essa palavra do homem exprimirá melhor a Palavra de Deus, e esta, como outrora, pode, aqui e agora, ressoar como Palavra de Salvação. É esta a idéia central da Evangelii Nuntiandi quando afirma que “com a homilia, desejamos dar testemunho, de maneira simples e direta, do Deus revelado por Jesus Cristo, no Espírito Santo. Dar testemunho de que, no Seu Filho, Ele amou o mundo” (EN 26). E continua o Papa Paulo VI no mesmo documento: “Seria um erro não ver na homilia um instrumento valioso e muito adaptado para a evangelização”... Assim, “a homilia deve ser simples, clara, direta, adaptada, profundamente aderente ao ensino evangélico e fiel ao Magistério da Igreja, animada por um ardor apostólico equilibrado (...) e cheio de esperança...” (EN 43,1-2). Pretendemos, portanto, evangelizar através dos evangelizadores,

Page 4: HOMILÉTICA

sobretudo daqueles que utilizam a homilia como forma de evangelização.

1

MANUAL DO “ENCHEDOR DE LINGÜIÇA”

Abaixo apresentamos o Manual do Tecnocrata Principiante. Publicado pela primeira vez no Zycle Warsawy, da Polônia, ele nos mostra como podemos ludibriar uma assembléia citando frases desconexas, mas “bonitas”.

Como usá-lo? Basta começar com a primeira casa da coluna 1, depois passar para qualquer frase da coluna 2, 3 e 4. Pode-se usar qualquer frase das colunas e das linhas, bastando seguir o esquema 1 – 2 – 3 – 4. São mais de dez mil combinações. Dá para passar mais de duas horas lendo um discurso vazio e sem significado. Entretanto, certamente, seremos

Page 5: HOMILÉTICA

aplaudidos de pé por termos feito um discurso “muito bonito e profundo”.

Manual do Tecnocrata Principiante1 2 3 4

(Saudação inicial) a execução das metas de nosso programa

nos obriga à análise perfunctória e detalhada

das condições financeiras e administrativas exigidas.

Por outro lado, a complexidade dos estudos efetuados

cumpre um papel essencial na formulação

das diretrizes de desenvolvimento para o futuro que vislumbramos.

Em assim sendo, a constante expansão de nossa atividade

exige uma grande dose de precisão e a clara definição

do sistema de participação geral.

Não podemos, no entanto, nos esquecer de que

a estrutura atual da organização

auxilia grandemente a preparação e a composição

das posturas dos órgãos dirigentes, com relação às suas atribuições próprias.

Do mesmo modo, o novo modelo estrutural aqui preconizado

garante a contribuição de um importante componente instrumental na composição

das novas propostas que visam a otimização e o completo emprego de nossos esforços.

A prática cotidiana nos permite afirmar, sem qualquer sombra de dúvida, que

o desenvolvimento contínuo de distintas formas de atuação

assume papel relevante no estabelecimento

de rumos preferenciais, voltados no sistema do progresso.

Nunca é demais lembrar o peso e o significado desses problemas, uma vez que

a democrática disseminação de informações

contribui grandemente para a criação

do sistema de formação de quadros, que responde mais adequadamente às nossas necessidades.

As experiências acumuladas por incontáveis gerações, demonstram que

a consolidação das estruturas

obstaculiza a apreciação da real importância

das condições que, sem sombra de dúvida, são as mais apropriadas para este momento atual.

Acima de tudo, é fundamental que tomemos consciência de

a consulta aos íntimos anseios de cada um

Oferece uma interessante oportunidade para a verificação

dos índices de engrandecimento tão duramente perseguidos.

Page 6: HOMILÉTICA

queO incentivo ao avanço tecnológico, nos permite afirmar que

o início da atividade geral de formação de atitudes

acarreta um processo de reformulação e modernização

de nossas formas de ação, até hoje empregadas.

Ao contrário do que vimos acima, o Magistério da Igreja nos mostra qual deve ser o nosso proceder quando à transmissão da Palavra. Isso fica bem claro no número 43 da Evangelii Nuntiandi:

“Numa altura em que a liturgia renovada pelo último Concílio valorizou tanto a Liturgia da Palavra, seria um erro não ver na homilia um instrumento valioso e muito adaptado para a evangelização. É preciso, naturalmente, conhecer as exigências e tirar o rendimento das possibilidades da homilia, a fim de que ela possa alcançar toda a sua eficácia pastoral. E é sobretudo necessário estar-se convencido e dedicar-se à mesma homilia com amor.

Esta pregação, singularmente inserida na celebração eucarística, da qual recebe força e vigor particulares, tem certamente um papel especial na evangelização, na medida em que ela exprime a fé profunda do ministro sagrado e em que ela estiver impregnada de amor. Os fiéis congregados para formar uma Igreja pascal, a celebrar a festa do Senhor presente no meio deles, esperam muito desta pregação e dela poderão tirar fruto abundante, contanto que ela seja simples, clara, direta, adaptada, profundamente aderente ao ensinamento evangélico e fiel ao Magistério da Igreja, animada por um ardor apostólico equilibrado que lhe advém do seu caráter próprio, cheia de esperança, nutriente para a fé e geradora de paz e de unidade. Muitas comunidades paroquiais ou de outro tipo vivem e consolidam-se graças à homilia de cada Domingo, quando ela tem as qualidades apontadas.

2

HOMILIA X SERMÃO

Page 7: HOMILÉTICA

Muita gente confunde homilia com sermão. Aparentemente as palavras querem dizer a mesma coisa, mas existem diferenças que precisam ser conhecidas, para que saibamos exatamente o que desejamos apresentar na hora de falarmos em público.

Primeiramente precisamos definir homilia: trata-se de uma pregação em estilo familiar e quase coloquial sobre o Evangelho. A palavra é de origem grega (homilía) e foi latinizada com a mesma pronúncia e acentuação (paroxítona). Segundo alguns escritores a palavra surgiu no vocabulário da língua portuguesa no século XIV e queria dizer “discurso ao povo”. Podemos destacar dentre os grandes homiletas (ou homiliastas): Santo Agostinho, São Basílio Magno, São João Crisóstomo, São Leão Magno, Santo Ambrósio.

Vejamos um exemplo típico de homilia:

Page 8: HOMILÉTICA

“Meus irmãos e irmãs, estamos em plena manhã de Pentecostes. Manhã nova para o mundo! A comunidade cristã toma consciência de que um fogo novo e um vento impetuoso vêm sacudir seu interior. Não há mais razão para temores, porque já se realizou de alguma forma a promessa de Cristo, de que não abandonaria os seus. O mistério de Pentecostes leva a Páscoa às suas últimas conseqüências. Aquele que venceu a morte se torna presente, de modo invisível mas real, na trama da vida do mundo e no interior da história dos que constituem a Igreja. No Espírito os cristãos deixarão de lado as obras da carne e terão a garantia de construir a obra de Deus no coração do tempo. É Ele que nos ensina a rezar, clama dentro de nós e nos impulsiona para frente...”

(Homilia proferida por Frei Almir Ribeiro Guimarães, em Petrópolis – RJ).

O sermão, entretanto, tem origem latina (sermone) e surgiu na forma que conhecemos na língua portuguesa desde o século XIII. Podemos defini-lo como sendo um discurso religioso, geralmente pregado do púlpito ou da cátedra, em

Page 9: HOMILÉTICA

tom solene, longo e moralista, que busca o convencimento da platéia assistente. Podemos citar entre os grandes pregadores de sermão: Santo Agostinho, São Bernardo, Pe. Antônio Vieira, Karl Rahner, Urs Von Balthasar, Teilhard de Chardin, entre outros.

Exemplificando:

“Caríssimos fiéis, o primeiro ato da Encarnação – a primeira aparição da Cruz – está marcado pela imersão da Unidade divina nas últimas profundezas do Múltiplo. Nada pode entrar no Universo a não ser aquilo que dele sai. Nada conseguiria misturar-se às coisas a não ser pelo caminho da Matéria pela ascensão fora da pluralidade. Seria incompreensível uma intrusão do Cristo no Mundo por um caminho lateral qualquer. O Redentor só pode penetrar o estofo do Cosmo, infundir-se no sangue do Universo, fundindo-se inicialmente na matéria para, em seguida, renascer dela. “Integritatem Terrae Matris

Esquematicamente, temos: non minuit, sed sacravit”. A pequenez do Cristo em seu berço, e as pequenezas bem maiores que precederam sua

Page 10: HOMILÉTICA

aparição entre os homens não são uma lição moral de humildade. São primeiramente a aparição de uma lei de nascimento e, consecutivamente, o sinal de uma influência definitiva de Jesus sobre o Mundo...”

(Sermão proferido por Teilhard de Chardin, na catedral de Notre Dame de

Paris).

3

PARTES ESTRUTURAIS DA HOMILIA

Como em numa construção, a homilia deve ser elabora segundo critérios lógicos e consecutivos. Podemos, assim, dividi-la em três partes:

Introdução ou Exórdio Desenvolvimento ou Narração Conclusão ou Peroração

1. A Introdução

É o primeiro momento da homilia. Nele buscamos apresentar aos ouvintes o que de fato queremos dizer.

Uma boa introdução fará com que os ouvintes fiquem presos ao que desejamos dizer. Se os convencermos desde o início, eles ficarão atentos até o final da homilia. Se não apresentarmos de forma lógica e agradável o que

Page 11: HOMILÉTICA

desejamos dizer, dificilmente teremos pessoas atentas ao nosso discurso.

A introdução pode ser iniciada diretamente com o tema central da celebração, com uma frase de impacto, com uma fábula, com uma frase extraída do texto que acabara de ser lido, etc. Seu tempo deve ser curto e, de modo algum, deve tomar o lugar do desenvolvimento. Uma introdução muito longa gera cansaço e dispersão. Numa missa, por exemplo, ela não pode durar mais que três minutos. Ou seja, lembre-se que ela é apenas uma preparação para o assunto principal.

A última frase da introdução deve ser o ponto de partida para a fase seguinte, ou seja, o desenvolvimento.

Comparemos, abaixo:

Homilia 1

“Meio da noite. Está muito escuro em toda parte; a escuridão insinua-se em todos os ângulos e cantos do mundo. Quando refletimos sobre essa escuridão, talvez pensemos romanticamente em sua paz e quietude, no céu cheio de estrelas revelando a majestade de Deus e galáxias e planetas, girando, girando eternamente. É assim que as crianças consideram a escuridão dessa noite, enquanto dormem na expectativa do que terá acontecido durante essa noite quando acordarem pela manhã. Não é só o que podemos pensar; é certamente o que cantamos: “Noite Feliz, Noite Feliz...” Porém, meus irmãos e irmãs, não é por causa dessa cena que, na bênção solene dessa noite, dizemos que o Filho de Deus dissipou a escuridão deste mundo. Não é por causa da beleza da noite que fomos convidados a nos reunir no meio da noite para celebrar a vinda, o nascimento de Jesus.”

(Homilia de Natal proferida pelo Pe. Joseph G. Danders,extraída do livro A Paz de Jesus. São Paulo: Loyola, 1987)

Homilia 2

Page 12: HOMILÉTICA

“Meus irmão, Jesus nasceu hoje. Mas podia ter nascido ontem ou anteontem. O mais importante é ter o amor no coração. Esse mundo ainda não ama a Deus porque não soube escolher o Filho de Deus como Senhor de suas vidas. Sem Jesus não podemos caminhar para lugar algum, pois com Deus tudo e sem Deus nada. Mas o Natal é um tempo novo, maravilhoso. Eu lembro logo da minha infância, quando minha mãe enchia a árvore de Natal e botava um bocado de presente debaixo. Eu sempre pensava que as caixas estavam cheias, mas ficava decepcionado quando via que todas estavam vazias. Era só para a decoração. Mas com isso minha mãe nos ensinava que Natal não é só consumismo, mas beleza, pois uma criança é sempre causa de alegria, principalmente mos o Natal e eu adoro panetone...”

(Homilia de Natal proferida poquando ela nasce. E hoje é o nascimento de Jesus. Sinto-me feliz por vocês estarem aqui, porque hoje em dia ninguém quer sair de suas casas, deixar

o seu vinho e o seu pinheirinho para celebrar o natal na Igreja. Conheço padres que celebram o Natal sozinhos e

ninguém os convida para jantar. Este ano recebi três convites e vou aos três; se recebesse vinte iria aos vinte,

pois não é todo dia que ter Sacerdote Anônimo,extraída do livro Falar Bem. Lisboa: Editora Pereira Castro, 1988)

Temos, acima, uma boa diferença entre duas homilias. Notemos que a primeira segue uma seqüência lógica, concatenada. As imagens citadas pelo pregador cria no ouvinte um cenário quase palpável. Usa-se um vocabulário fácil, acessível, e ao mesmo tempo poético.

2. O Desenvolvimento

É o segundo momento da homilia e, por assim dizer, a parte principal. Nessa etapa é fundamental que o discurso empregado seja direto, simples, sem exagero, sem falso moralismo, mas repleto de afirmações e exemplos que leve o ouvinte a receber e aceitar as propostas naturalmente. Qualquer tipo de imposição brusca e afirmações mal colocadas fará com que o leitor tome posição contrária a

Page 13: HOMILÉTICA

aquilo que está sendo pronunciado. Isso não quer dizer que o discurso deve ser sempre poético, desprovido de conteúdo, mas forte. De modo algum, entretanto precisamos saber o momento exato de dosar partes contrárias.

O desenvolvimento do corpo da homilia não deve durar mais de oito minutos. Os excelentes pregadores a fazem em cinco minutos, pois sabem a diferença entre uma homilia e uma conferência. Se o pregador não estiver muito inspirado nalgum dia deve se preocupar em falar o mínimo possível, porque assim pelo menos não enfadará a assembléia.

Lc 24,35-48: “Falavam ainda quando Jesus se apresentou no meio deles e disse: ‘A paz esteja convosco!’ Tomados de espanto e temor, imaginavam ver um espírito. Mas Ele disse: ‘Por que estais perturbados, e por que surgem tais dúvidas em vossos corações? Vede minhas mãos e meus pés: Sou eu!”

Homilia 1

“Os textos da Palavra de Deus, hoje lidos, nos fazem refletir sobre três comportamentos: a ignorância (causa de tantos males), o conhecer por experiência (que leva a não cometer o pecado) e o testemunho (de que, com a remissão dos pecados, encontramos a paz). Vejamos, rapidamente, cada um destes comportamentos.

Mas Pedro não para nisso. Ignorância não traz culpa. “Vocês não são culpados” muito embora o pecado da morte de Jesus e tantos outros pecados estejam aí, diante de nossos olhos. “Convertam-se, mudem de vida, voltem para Deus e os pecados serão remidos...”.

Homilia 2

“... É maravilhoso a gente ver o texto do evangelho de hoje e comparar com nossa realidade. Ontem, no Boris Casoy, a gente ouviu dizer que os Estados Unidos estão

Page 14: HOMILÉTICA

prontos para atacar a Colômbia, caso o presidente daquele país não colabore com o tráfico de drogas (sic!). Ora, onde já se viu uma prepotência dessa. Como é que se pode querer invadir o país dos outros assim? E os direitos da ONU (sic!)?

Por isso é que Jesus mais uma vez repete para todos: “A paz esteja convosco”. Precisamos de paz e não da prepotência de quem vez varias guerras, saiu de baixo, e deixou o mundo boquiaberto sem saber o que fazer com os destroços. Sou contra a todo o tipo de violência, a não ser a violência que Jesus pregou: “Não vim trazer a paz, mas a guerra”. Mas é a guerra do amor, a guerra do filho que respeita a mãe, a guerra da viúva, que mesmo sem ter nada dá a oferenda ao Templo.

Temos que pregar a paz, seja lá onde for: no trabalho, na escola, na universidade e, principalmente, em casa. Hoje os lares vivem numa verdadeira guerra. É marido contra mulher, filho contra pai, pai contra filho e contra mulher, guarda contra bandido e bandido contra o povo. Onde vamos parar? E aquela palavra de Jesus ‘a paz esteja convosco’ onde fica?...”

(Homilia gravada para um trabalho sobre oratória,numa paróquia da periferia do Rio de Janeiro, no ano de

1990)

Creio que não sejam necessários grandes comentários, especialmente sobre a Homilia de número 2.

Mas devemos notar que o autor da Homilia de número 1 apresenta características louváveis:

Centraliza seu tema nas duas leituras da missa; Não foge da narrativa bíblica, mas enfatiza as

partes que considera mais relevantes; Atualiza o texto, tornando-o acessível a uma

assembléia mista; Não faz ‘sociologismo’, mas fundamenta suas

idéias;

Page 15: HOMILÉTICA

Não agride as pessoas, embora aplique frases incisivas;

Seu vocabulário é simples e seu raciocínio é lógico.

3. A Conclusão

É o terceiro e último momento da homilia. Nele, o orador deve mostrar sua capacidade de síntese e encerrar com chave de ouro.

Uma boa conclusão não deve ultrapassar quatro minutos. É tempo mais do que suficiente para resumir tudo o que foi dito, sem, entretanto, repetir o que já foi falado.

Pode-se usar expressões fortes, gestos eloqüentes. É interessante ter guardada uma frase de impacto, uma fábula que ilustre o que foi dito ou mesmo uma seqüência de frases que resumem o que fora dito.

Estando na conclusão e, por acaso, lembrar de algo que programou dizer e que esqueceu, não a apresente no final da homilia. Isso quebraria a seqüência lógica e desarrumaria o discurso em sua estrutura básica. Guarde essa idéia para uma outra oportunidade.

Assim, é fundamental estudar cuidadosamente o texto proposto, os gestos, as frases de impacto e o que a assembléia está precisando ouvir. Sem se conhecer a realidade do mundo contemporâneo e as carência da comunidade eclesial é impossível atingir a assembléia que está sedenta de uma palavra de vida e conversão.

Tempo conveniente para um sermão dominical:

PARTES DA HOMILIA TEMPO MÁXIMO 1. Introdução 3 minutos2. Desenvolvimento 8 minutos3. Conclusão 4 minutos

Total 15 minutos

Page 16: HOMILÉTICA
Page 17: HOMILÉTICA

4

DIDÁTICAS APLICADAS À HOMILIA

Muitas são as técnicas utilizadas pelos homiletas na condução de seu pensamento. Abaixo, algumas sugestões para os iniciantes, até que haja o desenvolvimento de sua didática pessoal.

1. DIDÁTICA BIFÁSICA

É aquela em que se parte do esquema

EU - VIDAVIDA - EVANGELHO

O homileta parte do pressuposto de um fato que marcou sua vida. A partir daí, discorre sobre o assunto sugerido pelas leituras bíblicas do dia.

Ele pode falar sobre um fato vivido pessoalmente ou pela comunidade, ou de um fato social relevante.

2. DIDÁTICA TRIFÁSICA

É aquela em que se parte do esquema do esquema sugerido pelo Cardeal Cardijn e que tem sido amplamente divulgada pela CNBB, especialmente pelo advento da Teologia da Libertação. Todos os documentos do CELAM, a partir de Puebla, partem desse esquema, inclusive o atual, de Aparecida.

O método utilizado é o do

VER - JULGAR - AGIR

Em outras palavras, parto da realidade, nem sempre boa. Faço um julgamento aprofundado sobre ela e,

Page 18: HOMILÉTICA

finalmente, mostro as diretivas para a solução do problema que levantei.

3.DIDÁTICA BABINIANA

É aquela desenvolvida por Pierre Babin. Ela possui 3 etapas

CONTINUIDADE - TRANSPARÊNCIA - RUPTURA

Vejamos como isso pode ser aplicado aos temas gerais do Evangelho:

Continuidade: Concorda-se, de início, com tudo o que a assembléia acha

Vê-se somente o lado positivo da continuidade, a partir da assembléia

Transparência: Expõe o outro ladoMostra que de tudo o que existe, há sempre um lado contrário

Ruptura: Soma a isso tudo o pensamento cristão, que nem sempre concorda com o que todos pensam

Em suma, devemos entrar com idéia da assembléia e fazer com que eles saiam com a nossa.

Nesse sentido, podemos falar sobre temas controversos, como o Carnaval, o Aborto, a Liberdade Sexual, a Televisão, o Álcool, dentre outros.

4.DIDÁTICA DO QUADRILÁTERO

É aquela desenvolvida especialmente no desenvolvimento de conferências. Ela parte de quatro perguntas básicas:

Page 19: HOMILÉTICA

QUE É?POR QUÊ?PARA QUÊ?COMO?

Em outras palavras poderíamos exemplificar: O que é o batismo? Por quê precisamos do batismo? Para quê existe o batismo? Como funciona o batismo?

Essas perguntas podem vir em ordem aleatória.

É sempre bom lembrar que o “por quê?” Refere-se à fundamentação do assunto, ao passo que o “para quê?” Refere-se aos frutos, efeitos, utilidade.

Temas possíveis: salvação, libertação, justiça, paz, vida cristã, graça, carisma, mandamentos, pureza, coerência, etc.

5.DIDÁTICA LEITORAL

6.DIDÁTICA DOS QUANTRO S(ÇÃOS)

Baseia-se no esquema seguinte:

INTRODUÇÃO - EXPOSIÇÃO - APLICAÇÃO - CONCLUSÃO

Pode ser utilizada amplamente, e tem a facilidade de ser muito bem aceita por boa parte da assembléia.

7.DIDÁTICA DE RESUMO DE LIVRO

Começa-se resumindo um livro lido, em menos de 3 minutos.

Page 20: HOMILÉTICA

Esse esquema serve para assembléia distintas.

Para isso: leia cuidadosamente o livro, sublinhando as frases mais importantes. Os títulos dos capítulos devem servir de tópicos. Finalmente, escreva os argumentos mais fortes e resuma tudo.

Ex: “O Retrato de Dorian Gray”, “O perfume”, dentre milhões de outros.

8.DIDÁTICA BIOGRÁFICA

Apresenta personagens marcantes. Para isso, leia atentamente a história bíblica ou a vida da personagem. Entretanto, na hora de falar, nunca comece com a data do nascimento, mas comece sempre com episódios calorosos. E mais, deve-se pegar, no máximo, dois pontos de vista marcantes.

Abordagens possíveis:

Cronológica: meminice, juventude, adolescência (Davi).

Funcional: partos, o orante, o político, o poeta, o chefe de estado.

Analítica: Colérico, combativo, incansável, persistente.Comparativa: Davi X Saul // Jesus X São Francisco //

Santo Inácio X Lutero

9.DIDÁTICA DIALOGADA

Deve ser utilizada apenas em grupos muito conhecidos e pequenos (no máximo 7 pessoas).

Ela não pode refletir a incapacidade do pregador em falar sobre o assunto.

Não é auditório do programa de Jô Soares.

Page 21: HOMILÉTICA

O homileta precisa entender com precisão sobre dinâmica de grupo.

Perigos:Surgir improviso comprometedorLembrar que todos devem falar alto e jamais de costasJamais passar microfone, pois perde-se tempo e fica enfadonhoFazer cochicho de dois minutos compromete o silêncio

litúrgicoResultado pode ser uma concha de retalhosAlguém pode manipular a assembléiaOs inibidos nada dizem e os audazes enfrentarão

assembléiaSe as pessoas não se conhecem, não falarão coisa

alguma

10. DIDÁTICA ECLÉTICA

Parte do gosto do pregador, mas sempre unindo as partes.

Pode resumir um filme. Pode contar uma estória no início ou no fim, mas com aplicação coerente sobre o texto das leituras sugeridas pela liturgia.

Page 22: HOMILÉTICA

5

COMO FALAR EM PÚBLICO: ORIENTAÇÕES PRÁTICAS

1. Uma pregação é sempre dirigida para uma meta, enquanto a conversa comum não tem em uma linha nem uma direção a serem seguidas. Já que são as metas que definem a direção do discurso, e é você quem as determina, é você também quem controla o fluxo da discussão.

2. Use sempre a seqüência: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão (dentro das didáticas estudadas).

PREPARAÇÃO

Esteja sempre vestido dignamente e com simplicidade.

Cabelos excessivamente pintados, perucas, roupas chamativas e jóias devem ser evitados.

Os cabelos devem estar sempre naturalmente arrumados.

As roupas talares (como batina, por exemplo) não combinam senão com sapato. Jamais deve-se usá-las com sandália, seja de que modelo for. E, ainda, devem estar passadas, alinhadas e combinadas.

Depois de esquematizar sua fala, corte-a o máximo que puder.

Lembre-se de que sua homilia deve ser relevante, simples e ir direto ao que interessa.

O público fica mais impressionado com a profundidade e o alcance de seu raciocínio do que com a erudição e senso de humor forjados.

A convicção, a energia e o entusiasmo pelo assunto serão lembrados pela assembléia mesmo quando outros detalhes tiverem sido esquecidos.

Page 23: HOMILÉTICA

Use técnicas com as quais está acostumado(a).

Fale com autoridade.

Pareça (e sinta-se à vontade).

Não peça desculpas à platéia por sua falta de experiência (Quem sou eu para estar aqui pregando... eu não sou nada!).

Não resmungue ou hesite. Se tiver perdido o fio da meada, fique calmo até reencontrá-lo.

Não diminua a voz ao final de cada frase. Parecerá que você não está seguro sobre o que está dizendo.

Olhe para um relógio posto em lugar estratégico quando for checar o tempo, em vez de olhar para o seu próprio.

Mantenha-se no controle pelas interações dirigidas.

Sorria apenas quando for espontâneo. Um sorriso forçado sempre soa falso.

Pratique falando de forma clara, tanto em volume normal como em voz alta.

Varie o ritmo da fala e decida qual deles é mais eficaz.

Uma atitude natural pode aproximar você da assembléia.

Imagine a assembléia como se fosse um grupo pequeno.

Mantenha as mãos à sua frente e nunca nas costas.

Nunca se apóie no ambão

Não permita que o cabelo caia sobre seu rosto.

Comer e beber demais antes de proferir uma homilia o fará sentir-se – e parecer – sonolento.

Não ande em demasia sobre o presbitério, pois parecerá que está diante de um auditório.

Page 24: HOMILÉTICA

Se você esquecer alguma coisa, deixe-a para trás em vez de acrescentá-la ao final de sua fala.

Faça as pessoas perceberem que você entende os sentimentos delas.

Preste atenção em mãos que sobem furtivamente para abafar bocejos.

Atenção para pés agitados: é um forte indício de impaciência.

ATENÇÃO

Nervosismo Excessivo: Prepare-se ensaiando diante de um espelho e, se possível, no local da pregação. Veja se as anotações estão claras para quando precisar consultá-las. Respire fundo e sorria sempre.

Assembléia Entediada: Assegure-se de que tudo que tem a dizer é relevante. Se não for, corte. Seja entusiasmado. Varie a velocidade da homilia e sempre olhe nos olhos do público.

Assembléia Hostil: Mantenha-se educado e gentil. Caso a platéia tenha conhecimento especializado da matéria, faça concessões.

Quando a Assistência, for Pequena e Formal: Olhe nos olhos de cada membro do grupo logo no começo. Olhe para a platéia o tempo todo – isso o ajudará a mantê-la atenta.

Quando a Assistência, numa Conferência, for Pequena e Informal: Segure o nervosismo e não se preocupe com o que eles podem estar pensando sobre sua homilia.

Quando a Assistência for Grande e Formal: Garanta que todos possam ouvi-lo com clareza, inclusive os do fundo da igreja. Estabeleça associações, resuma.

Quando a Assistência e Informal: Fale devagar, articulando bem as palavras. Seja abrangente e simples. Atenha-se a detalhes apenas quando necessário.

Page 25: HOMILÉTICA
Page 26: HOMILÉTICA