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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE FARMÁCIA MESTRADO EM CIÊNCIAS APLICADAS A PRODUTOS PARA SAÚDE JÚLIA GONÇALVES MAYER COMPARAÇÃO DA ANÁLISE DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS EM BISCOITO POR CROMATOGRAFIA GASOSA ACOPLADA A ESPECTROMETRIA DE MASSAS (CG-EM) E POR ESPECTROSCOPIA NO INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE FOURIER E REFLECTÂNCIA TOTAL ATENUADA (FT-IR- ATR) Niterói, 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE FARMÁCIA

MESTRADO EM CIÊNCIAS APLICADAS A PRODUTOS PARA SAÚDE

JÚLIA GONÇALVES MAYER

COMPARAÇÃO DA ANÁLISE DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS EM BISCOITO POR

CROMATOGRAFIA GASOSA ACOPLADA A ESPECTROMETRIA DE MASSAS

(CG-EM) E POR ESPECTROSCOPIA NO INFRAVERMELHO COM

TRANSFORMADA DE FOURIER E REFLECTÂNCIA TOTAL ATENUADA (FT-IR-

ATR)

Niterói,

2017

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JÚLIA GONÇALVES MAYER

COMPARAÇÃO DA ANÁLISE DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS EM BISCOITO POR

CROMATOGRAFIA GASOSA ACOPLADA A ESPECTROMETRIA DE MASSAS

(CG-EM) E POR ESPECTROSCOPIA NO INFRAVERMELHO COM

TRANSFORMADA DE FOURIER E REFLECTÂNCIA TOTAL ATENUADA (FT-IR-

ATR)

Dissertação de mestrado apresentado ao

Programa de Pós Graduação em Ciências

Aplicadas a produtos para Saúde, da Faculdade

de Farmácia, da Universidade Federal

Fluminense, como parte dos requisitos

necessários para obtenção do título de mestre

em ciências.

Orientadora:

Professora Dra. KÁTIA GOMES DE LIMA ARAÚJO

Co-orientadora:

Professora Dra. JOSIANE ROBERTO DOMINGUES

Niterói,

2017

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JÚLIA GONÇALVES MAYER

COMPARAÇÃO DA ANÁLISE DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS EM BISCOITO POR

CROMATOGRAFIA GASOSA ACOPLADA A ESPECTROMETRIA DE MASSAS

(CG-EM) E POR ESPECTROSCOPIA NO INFRAVERMELHO COM

TRANSFORMADA DE FOURIER E REFLECTÂNCIA TOTAL ATENUADA (FT-IR-

ATR)

Dissertação de mestrado apresentado ao

Programa de Pós Graduação em Ciências

Aplicadas a produtos para Saúde, da Faculdade

de Farmácia, da Universidade Federal

Fluminense, como parte dos requisitos

necessários para obtenção do título de mestre

em ciências.

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________________________________

Professora Dra. Kátia Gomes de Lima Araújo – Orientadora – UFF

____________________________________________________________

Professora Dra. Marcia Barreto da Silva Feijó - UFF

____________________________________________________________

Professora Dra. Silvia Regina Magalhaes Couto Garcia - UFRJ

Niterói,

2017

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“Feliz é aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”

Cora Coralina

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AGRADECIMENTO

Agradeço a Deus por iluminar e proteger minha trajetória de vida.

Agradeço à minha mãe, Zelma, pelo seu constante carinho e dedicação. Sempre com

sua calma, me dando força e acreditando nos meus sonhos e minhas realizações.

Ao meu pai, Jorge Miguel sempre disposto a me ajudar, meu espelho de inteligência.

À minha avó, Zilá, pelo estímulo carinhoso e orações incessantes.

À minha orientadora, Kátia, por ter me incentivado a desafiar os limites do meu

conhecimento, por sua atenção, apoio incondicional e sempre acreditar que no final tudo vai

dar certo.

À minha co-orientadora, Josiane pela atenção e sempre disposta a ajudar.

Aos amigos conquistados no Laboratório de Biotecnologia de Alimentos

(LABIOTEC).

Aos professores e técnicos do Programa de Pós-Graduação em Ciências Aplicadas a

Produtos para Saúde e aos funcionários da Faculdade de Farmácia.

À aluna de iniciação científica, Carolina Dinizr por contribuir com os resultados

alcançados.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela

concessão de bolsa de estudo durante o curso do mestrado.

Enfim, agradeço aos presentes em minha vida e aos que passaram por ela deixando

saudades.

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RESUMO

Os métodos analíticos utilizados para medir o percentual de ácido graxo trans (AGT) em

alimentos envolvem cromatografia em fase gasosa com detecção de ionização de chama (CG-

DIC), espectrometria de massas (CG-EM) e espectroscopia no infravermelho com

transformada de Fourier e refletância total atenuada (FT-IR-ATR). O presente estudo teve

como objetivo investigar a viabilidade e a aplicabilidade do uso das técnicas de FT-IR-ATR,

sem extração, com extração prévia da gordura e após hidrólise e metilação dos ácidos graxos,

para avaliar o conteúdo de AGT em biscoitos recheados e comparar os resultados obtidos com

os encontrados para a determinação de ácido elaídico pela técnica de CG-EM. Foram

escolhidas 9 marcas de biscoitos recheados sabor chocolate e 1 pacote de gordura vegetal

hidrogenada, para ser usada como padrão secundário para análise de AGT por FT-IR-ATR.

As amostras foram analisadas, inicialmente, quanto aos seus conteúdos de umidade e lipídeos

totais. Para todas as amostras não foi observada concentração de umidade superior a 6,03

g/100 g. Os lipídeos totais variaram de 12,51±0,58 a 23,84±0,09 g/100 g. A presença de AGT

foi identificada por FT-IR-ATR pela visualização da banda próxima a 966 cm−1

e confirmada

com adição de padrão às amostras. Ao analisar as amostras de biscoito homogeneizadas e sem

outro preparo, não foi viável a utilização do método de FT-IR-ATR, visto que a absorção de

radiação infravermelha de substâncias da amostra se sobrepõe à absorção na região das

ligações duplas trans, o que demonstra que a matriz do alimento pode influenciar na análise.

Quanto a presença dos AGT, ácido elaídico (C18:1, n-9 trans) foi identificado e confirmado

em todas as amostras através de CG-EM. Ao comparar a quantificação pelos métodos CG-EM

e FT-IR-ATR em amostras de extratos e na forma de ácidos graxos metilados (FAME), foram

observadas concentrações baixas de ácido elaídico/ácidos graxos trans (de 0,03±0,01 a

0,86±0,01 g/100 g de biscoito) obtidas pelos diferentes métodos. Não foram encontradas

diferenças significativas entre as concentrações de AGT determinadas pelos três métodos

testados para oito das nove amostras analisadas. O presente trabalho mostrou que a técnica de

FT-IR-ATR, analisando o extrato lipídico e as amostras em forma de FAME foi adequado

para estimar os teores de AGT em biscoito recheado de chocolate, visto que proporciona uma

análise mais rápida, com um menor número de etapas e menor consumo de reagentes em

relação às análises por CG-EM.

Palavras-chave: Espectroscopia no infravermelho com transformada de Fourier e refletância

total atenuada (FT-IR-ATR), cromatografia gasosa (CG), ácidos graxos trans

(AGT), ester metílico de ácidos graxos (FAME), biscoitos recheados de chocolate, lipídeos,

ácido elaídico.

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ABSTRACT

The analytical methods used to measure the percentage of trans fatty acids in foods involve

gas chromatography with flame ionization detection (GC-FID), mass spectrometry (GC-MS)

and attenuated total reflectance fourier transform infrared spectroscopy (ATR-FT-IR). The

aim of the present study was to investigate the feasibility and applicability of ATR-FT-IR

techniques, without extraction, with previous extraction of fat and after hydrolysis and

methylation of fatty acids to evaluate the content of TFA in filled biscuits, and compare the

results obtained with those found for the determination of elaidic acid by the CG-MS

technique. Were chosen 9 marks of chocolate filled biscuit and 1 packet of hydrogenated

vegetable fat to be used as a secondary standard for AGT analysis by ATR-FT-IR. The

samples were initially analyzed for their moisture contents and total lipids. For all samples, no

moisture content higher than 6.03 g/100 g. Total lipids ranged from 12.51 ± 0.58 to 23.84 ±

0.09 g/100g. The presence of TFA was identified by ATR-FT-IR through the visualization of

the band near 966 cm−1

and confirmed with addition of standard to the samples. When

analyzing the homogenized cookie samples and without further preparation, the use of the

ATR-FT-IR method was not feasible because the absorption of infrared radiation from sample

substances overlaps the absorption in the region of the trans double bonds, which

demonstrates that the food matrix may influence the analysis. Regarding the presence of TFA,

elaidic acid (C18: 1, n-9 trans) was identified and confirmed in all samples by GC-MS. When

comparing quantification by GC-MS and ATR-FT-IR in samples of extracts and in the form

of fatty acids methly esters (FAME), low concentrations of elaidic acid / trans fatty acids

were observed (0.03 ± 0.01 to 0.86 ± 0.01 g / 100 g of biscuit) obtained by the different

methods. No significant differences were found between the concentrations of TFA

determined by the three methods tested for eight of the nine samples analyzed. The present

study showed that the ATR-FT-IR technique, analyzing the lipid extract and the samples in

the form of FAME, was adequate to estimate the TFA contents in chocolate filled biscuit,

because it provides a faster analysis with a smaller number of steps and lower toxic chemicals

in relation to GC-MS analyzes.

Keywords: attenuated total reflectance fourier transform infrared spectroscopy (ATR-FT-IR),

gas chromatography (GC), trans fatty acids (TFA), fatty acid methyl ester (FAME), chocolate

filled biscuits, lipids, elaidic acid.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1. Fórmulas estruturais de ácido graxo cis (ácido oleico) e seu isômero trans

(ácido elaídico), p.20

Figura 2. Esquema interno de funcionamento do cromatógrafo a gás com detecção de

espectrometria de massas, p.36

Figura 3. Diferentes formas de vibrações moleculares de deformação, p.41

Figura 4. Representação esquemática do interferômetro de Michelson, o interferograma

gerado e o espectro, p.43.

Figura 5. Cromatograma de íons totais (TIC) para identificação dos principais ésteres

metílicos de ácidos graxos obtidos da amostra de gordura vegetal hidrogenada por

cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (tempo de retenção (TR) versus

intensidade), p.54

Figura 6. Cromatograma de íons totais (TIC) para identificação dos principais ésteres

metílicos de ácidos graxos obtidos da amostra de biscoito B por cromatografia gasosa

acoplada à espectrometria de massas (tempo de retenção (TR) versus intensidade), p.55

Figura 7. Zoom do TIC do padrão de elaidato de metila (visualização do TR 36.300 min),

p.68

Figura 8. Espectro de massas do do padrão de elaidato de metila (TR 36.30 min), p.68

Figura 9. Zoom do TIC da amostra G antes de fortificação com a solução padrão de elaidato

de metila, p.68

Figura 10. Zoom do TIC da amostra G após de fortificação com a solução padrão de elaidato

de metila (60 μL de solução padrão), p.69

Figura 11. Curva de calibração do ácido elaídico (área versus concentração em μg/mL), p.72

Figura 12. Espectro de FT-IR-ATR de Gordura vegetal hidrogenada, analisada por FT-IR-

ATR sem pré-tratamento, p.76

Figura 13. Espectros de FT-IR-ATR de amostras de biscoitos recheados homogeneizados (A,

B, C, D, F, G, H, I) analisadas por FT-IR-ATR sem pré-tratamento, p.79

Figura 14. Espectros de FT-IR-ATR de extratos gordurosos de biscoitos recheados de

chocolate, p.82

Figura 15. Espectros de FT-IR-ATR de amostras de biscoitos recheados de chocolate na

forma de FAME, p.84

Figura 16. Espectro de FT-IR-ATR de gordura vegetal hidrogenada na forma de FAME, p.85

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Figura 17. Banda de absorção a 966 cm-1

do extrato da amostra E e após fortificação com

gordura vegetal hidrolisada (GV), p.85

Figura 18. Banda de absorção a 966 cm-1

da amostra E, como FAME e após fortificação com

padrão de elaidato de metila (AE), p.86

Figura 19. Espectro de FT-IR-ATR de óleo de soja, p.87

Figura 20. Curva de calibração para quantificar AGT nas amostras de extratos lipídicos, p.88

Figura 21. Curva de calibração para quantificar AGT nas amostras FAME, p.88

Figura 22. Curva de calibração para quantificar AGT nas amostras de extrato lipídicos (% de

ácido elaídico versus a altura da banda 966 cm-1

), p.89

Figura 23. Comparação da quantidade de ácido elaídico/ácidos graxos trans em biscoito

recheado sabor chocolate usando os diferentes métodos CG-EM, FT-IR-ATR extrato e FT-IR-

ATR com amostras na forma de FAME, p.94

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Regiões espectrais do infravermelho, p.40

Tabela 2. Determinação do conteúdo de lipídeos das amostras de biscoitos recheados de

chocolate analisados, p.52

Tabela 3. Estruturas químicas dos ésteres metílicos de ácidos graxos (FAME), p.57

Tabela 4. Perfil dos principais ácidos graxos presente na gordura vegetal hidrogenada, p.58

Tabela 5. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado A, p.59

Tabela 6. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado B, p.60

Tabela 7. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado C, p.61

Tabela 8. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado D, p.62

Tabela 9 Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado E, p.63

Tabela 10. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado F, p.64

Tabela 11. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado G, p.65

Tabela 12. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado H, p.66

Tabela 13. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado I, p.67

Tabela 14. Amostras analisadas e os ingredientes declarados nos respectivos rótulos, p.70

Tabela 15. Concentrações de ácido elaídico (AE) por 100 g de gordura, por 100 g de biscoito

e por porção de biscoito recheado (30 g) (Análises efetuadas por CG-EM), p.73

Tabela 16. Ácidos graxos trans analisados (g/100g de gordura) por FT-IR-ATR extrato e FT-

IR-ATR FAME, p.90

Tabela 17. Ácidos graxos trans analisados (g/100g de biscoito) por FT-IR-ATR extrato e FT-

IR-ATR FAME, p.91

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

AG - ácidos graxos

AGE - ácidos graxos essenciais

AGI - ácidos graxos insaturados

AGS - ácidos graxos saturados

AGT- ácidos graxos trans

ANVISA – Agência Nacional da Saúde

AOAC- Association of Official Analytical Chemists

ATR- reflectância total atenuada

BF3 - trifluoreto de boro

CG – cromatografia gasosa

CG-DIC - cromatografia em fase gasosa com detecção de ionização de chama

CG-EM - cromatografia em fase gasosa com espectrometria de massas

CLA – ácido linoleico conjugado

EUA- Estados Unidos da América

FAMES – ésteres metílicos de ácidos graxos ou ácidos graxos metilados

FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

FDA- Food and Drug Administration

FT-IR-ATR - espectroscopia no Infravermelho com Transformada de Fourier e

Reflectância Total Atenuada

HDL – lipoproteína de alta densidade

IE- Impacto de elétrons

IQ-Ionização química

IR - espectroscopia no infravermelho

LDL - lipoproteína de baixa densidade

LOD – Limite de detecção

LOQ- Limite de quantificação

M/Z –Massa/carga

OMS- Organização Mundial da Saúde

OPAS - Organização Pan Americana de Saúde

PCIE- perfil de corrente iônica extraída

PCR- proteína C reativa

POF- Pesquisa de Orçamento Familiar

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RDC- Resolução da Diretoria da Colegiada

TIC- perfil de corrente iônica total

TOF- Analisador de massas por tempo de voo

TR - tempo de retenção

EU – União europeia

VET- valor energético total

VLDL- lipoproteína de muito baixa densidade

WHO- Organização Mundial da Saúde

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SUMÁRIO

RESUMO, p.6

ABSTRACT, p.7

LISTA DE ILUSTRAÇÕES, p.8

LISTA DE TABELAS, p.10

LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS, p.11

1.INTRODUÇÃO, p.15

2. OBJETIVOS, p.18

2.1 OBJETIVO GERAL, p.18

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS, p.18

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA, p.19

3.1 ÁCIDOS GRAXOS TRANS, p.19

3.1.1 SURGIMENTO DOS ÁCIDOS GRAXOS TRANS, p.20

3.1.2 OCORRÊNCIAS DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS EM ALIMENTOS E SUAS

PROPRIEDADES, p.21

3.1.3 METABOLISMO E EFEITOS BIOLÓGICOS DOS ÁCIDOS GRAXOS TRANS, p.25

3.1.4 ESTIMATIVAS DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS NOS PAÍSES E ESTRATÉGIA

PARA REDUÇÃO, p.28

3.2 MÉTODOS PARA ANÁLISE DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS, p.32

3.2.1 CROMATOGRAFIA GASOSA, p.35

3.2.1.1 MÉTODOS DE EXTRÇÃO DE LIPÍDEOS, p.38

3.2.2 ESPECTROSCOPIA NO INFRAVERMELHO, p.40

3.2.2.1 ESPECTROSCOPIA NO INFRAVERMELHO COM TRANSFORMADA DE

FOURRIER E REFLECTÂNCIA TOTAL ATENUADA (FT-IR-ATR), p.42

4 – MATERIAIS E MÉTODOS, p.45

4.1 AMOSTRAS, p.45

4.2 ANÁLISES QUÍMICAS DAS AMOSTRAS DE BISCOITOS RECHEADOS E

GORDURA VEGETAL HIDROGENADA, p.45

4.2.1 DETERMINAÇÃO DE UMIDADE DAS AMOSTRAS DE BISCOITO RECHEADO,

p.45

4.2.2 DETERMINAÇÃO DO CONTEÚDO DE LIPÍDEOS EM BISCOITO RECHEADO,

p.45

4.3 DETERMINAÇÃO DO PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DO BISCOITO E GORDURA

VEGETAL HIDROGENADA, p.46

4.3.1 HIDRÓLISE DE GLICERÍDEOS E ESTERIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS

PARA ANÁLISE POR CROMATOGRAFIA GASOSA, p.46

4.3.2 AVALIAÇÃO DA ANÁLISE DE AGT EM BISCOITO RECHEADO E GORDURA

VEGETAL HIDROGENADA POR CG-EM, p.47

4.3.3 AVALIAÇÃO DA ANÁLISE DE AGT EM BISCOITO RECHEADO POR FT-IR-

ATR COM EXTRAÇÃO DA GORDURA, SEM EXTRAÇÃO PRÉVIA DA GORDURA E

APÓS HIDRÓLISE DE GLICERÍDEOS E ESTERIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS, p.48

4.3.3.1 AQUISIÇÃO DOS ESPECTROS, p.48

4.4 QUANTIFICAÇÃO DO ACÍDO GRAXO ELAÍDICO, p.49

4.4.1 QUANTIFICAÇÃO DO ÁCIDO ELAÍDICO POR CG-EM, p.49

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4.4.2 QUANTIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS POR FT-IR-ATR, p.49

4.5 ANÁLISE DOS RÓTULOS DAS AMOSTRAS DE BISCOITO RECHEADO, p.50

4.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA, p.51

5- RESULTADOS E DISCUSSÃO, p.52

5.1 CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS ANALISADAS, p.52

5.2 AVALIAÇÃO DA ANÁLISES DE AGT EM BISCOITO RECHEADO POR CG-EM,

p.53

5.2.1 QUANTIFICAÇÃO DO ÁCIDO GRAXO TRANS ELAÍDICO POR CG- EM, p.72

5.3 AVALIAÇÃO DA ANÁLISES DE AGT EM BISCOITO RECHEADO POR FT-IR-

ATR, p.74

5.3.1 QUANTIFICAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS POR FT-IR- ATR, p.86

5.4 COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS, p.93

6. CONCLUSÃO, p.96

7. PERSPECTIVAS FUTURAS, p.97

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p.98

9. ANEXOS I, p.110

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1. INTRODUÇÃO

No Brasil, os alimentos industrializados, como salgadinhos fritos ou assados,

chocolates, bolos, refrigerantes, pizzas, sanduíches e biscoitos estão entre os alimentos mais

consumidos, segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (BRASIL, 2010). Com o aumento do

consumo dos produtos industrializados, sugerem-se fontes potenciais de ácidos graxos trans

(AGT).

Os AGT são considerados substâncias prejudiciais à saúde, na maioria dos casos. São

encontrados naturalmente em pequenas quantidades em alimentos de origem animal, como

leite e carne bovina, devido à biohidrogenação. Estão também presentes nas gorduras vegetais

hidrogenadas industrialmente, a partir da reação de hidrogenação catalítica (GALVÍN et al,

2016).

A hidrogenação dos óleos vegetais causa a saturação de ligações duplas e também a

conversão de ligações duplas da configuração cis inicial para a configuração trans (SMOLIN;

GROSVENOR, 2008). O processamento transforma os óleos, inicialmente líquidos, em

materiais sólidos em temperatura ambiente, de mais fácil manuseio, melhora a qualidade

sensorial (principalmente a palatabilidade e a textura) dos alimentos e aumenta a vida de

prateleira devido à menor probabilidade de oxidação (MENAA et al, 2013).

O tipo de gordura consumida e o seu estado de oxidação influenciam o

desenvolvimento de doenças crônicas vasculares. O uso generalizado de óleos vegetais

parcialmente hidrogenados tem levantado questões sobre os efeitos na saúde decorrentes do

consumo de AGT. Em estudos abordando efeitos do consumo de AGT para doenças crônicas

verificam-se fatores de risco para doenças cardíacas, diabetes mellitus e síndrome metabólica

(ESTADELLA et al, 2013).

Apesar desses indícios, ainda não se estabeleceu a quantidade recomendada para

consumo de AGT que seja segura para a saúde, apenas que o consumo deve ser menor que

1% do valor energético diário, o que representa 2 g/dia, considerando-se uma dieta de 2.000

kilocalorias (BRASIL, 2014).

Verificou-se que biscoitos recheados são aceitos e consumidos por pessoas de todas as

idades (HISSANAGA; PASTORE; PROENÇA, 2012). O consumo de biscoitos por

adolescentes e crianças é elevado, de 3 a 4 vezes por dia, representando o consumo de grandes

quantidades de AGT (SREBERNICH; GONÇALVES; BAGGIO, 2013).

De acordo com a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO), o ácido

graxo majoritário presente nos biscoitos recheados é o ácido elaídico (C18:1, n9t)

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representando 91% dos ácidos graxos trans e 3,84% (m/m) no biscoito recheado de chocolate

(NEPA, 2011).

O ácido elaídico está presente nos óleos vegetais parcialmente hidrogenados

produzidos em escala industrial, contribuindo com a maior parte dos AGT presentes na

alimentação (MOZAFFARIAN; ARO; WILLETT, 2009). Portanto, é de grande interesse

para a saúde pública o estabelecimento de métodos analíticos confiáveis, porém de fácil

execução, para o controle dos produtos alimentícios disponíveis para as populações.

Os métodos analíticos utilizados para medir o percentual de AGT em óleos, gorduras e

alimentos envolvem cromatografia em fase gasosa com detecção de ionização de chama (CG-

DIC) ou espectrometria de massas (CG-EM) (TYBURCZY; MOSSOBA; RADER, 2013). O

método CG-DIC é o oficial recomendado pela Association of Official Analytical Chemists

(AOAC) para quantificar ácidos graxos trans (métodos AOAC 996.06 e AOAC 996.01)

(AOAC, 2001; AOAC, 2002).

O método oficial AOAC 2000.10 foi usado para desenvolver e validar espectroscopia

no infravermelho com transformada de Fourier com refletância total atenuada (FT-IR-ATR).

É aplicado a gorduras e óleos com níveis de ácidos graxos trans acima de 5 % e determina a

intensidade de absorção da banda de AGT, sem necessidade de converter em ésteres metílicos

de ácidos graxos (FAME) antes da análise, como é necessário na cromatografia gasosa

(AOAC, 2005).

As análises cromatográficas permitem determinar compostos em quantidades muito

pequenas e, por isso, são consideradas análises de alta sensibilidade. No entanto, estas

técnicas requerem operações de pré-tratamento da amostra como extração prévia das

substâncias de interesse, utilização de vários reagentes, vidrarias e equipamentos, o que as

tornam demoradas e geradoras de resíduos (SINELLI et al, 2010). Antes da injeção no

cromatógrafo, os ácidos graxos devem ser esterificados a ésteres metílicos, aumentando a sua

volatilidade e facilidade de análise, o que requer a utilização de reagentes de toxidez elevada

como, por exemplo o trifluoreto de boro (BF3) (CHO et al, 2011).

Neste contexto, FT-IR-ATR apresenta-se como uma técnica analítica rápida, seletiva,

sensível, de simples operação e baixo custo, além de apresentar elevada velocidade analítica e

de constituir um método não destrutivo e não poluente (MOHD; MOHAMAD; ABDUL,

2017). Esta técnica permite que dados espectrais de infravermelho sejam coletados com

amostras que não foram alteradas em relação ao seu estado original, sem a necessidade de

derivatização (YEBOAH et al, 2017).

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Existem poucos estudos que comparam método FT-IR-ATR sem pré-tratamento da

amostra (extração), em comparação com FT-IR-ATR com extração e cromatografia gasosa

acoplada a espectrometria de massas (CG-EM).

Portanto, considera-se de importância a avaliação desta técnica para determinação de

AGT em biscoitos recheados industrializados, devido ao elevado consumo por parte de

diversas camadas da população brasileira.

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2. OBJETIVOS

2.1 –OBJETIVO GERAL

Investigar a viabilidade e aplicabilidade do uso da técnica de FT-IR-ATR, sem

extração, com extração prévia da gordura e após hidrólise e metilação dos ácidos graxos, para

avaliar o conteúdo de ácidos graxos trans em biscoitos recheados e, comparar com os

resultados obtidos na determinação de ácido elaídico por CG-EM.

2.2 – OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Quantificar o ácido elaídico (C18:1, n9t) nas amostras de biscoito recheado sabor chocolate

por CG-EM.

- Aplicar a técnica de FT-IR-ATR para análise de AGT nos biscoitos recheados, com e sem

extração prévia da gordura e após a derivatização dos ácidos graxos, comparando os

resultados com os obtidos pela análise de ácido elaídico por CG-EM.

- Comparar os conteúdos de lipídeos totais e AGT dos biscoitos analisados aos valores

apresentados nos respectivos rótulos.

- Avaliar a variabilidade nos conteúdos de AGT nos biscoitos em função dos diferentes

produtos comercializados e fabricantes.

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3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 ÁCIDOS GRAXOS TRANS

Óleos e gorduras são formados pela união de três ácidos graxos (AG) a uma

molécula de glicerol, conhecendo-se essa união com o nome de triglicerídeos ou

triacilgliceróis. Os estados físicos destas substâncias variam de líquido para sólido,

dependendo da natureza dos AG incorporados nos glicerídeos e temperatura

(KHANDELIA et al, 2010).

Gorduras sólidas contém alta proporção de ácidos graxos saturados (AGS) de cadeia

longa. Já os produtos líquidos, como óleos comestíveis, contêm grande proporção de ácidos

graxos insaturados (AGI) (ESTADELLA et al, 2013).

Apenas 20 AG são encontrados na natureza. Destes, os ácidos palmítico, oleico,

linoleico e linolênico compõem aproximadamente 80% dos óleos e gorduras (GUNSTONE;

HARWOOD; DIJKSTRA, 2007).

Em produtos de origem vegetal, o AG mais comum é o ácido oleico (C18:1, n9 cis). Já

o seu isômero, o ácido elaídico (C18:1, n9 trans), é formado no processo de hidrogenação

catalítica dos óleos vegetais (KEEFE, 2008). Este representa o maior AGT presente na

alimentação (MOZAFFARIAN; ARO; WILLETT, 2009).

A configuração natural das ligações duplas em AGI é a configuração cis, porém a

configuração trans acarreta numa cadeia carbônica mais linear em relação à configuração cis,

tornando a molécula mais rígida e termodinamicamente mais estável (DAMODARAN;

PARKIN; FENNEMA, 2010).

Segundo o Comitê do Codex Alimentarius, AGT são definidos como todos os

isômeros geométricos de ácidos graxos mono-insaturados e ácidos graxos poli-insaturados

contendo dupla ligação carbono-carbono na configuração trans, não conjugado e interrompido

por, pelo menos, um grupo metileno (WHO, 2007a). Ácidos graxos conjugados com uma

ligação dupla trans, incluindo o ácido linoleico conjugado (CLA), estão excluídos desta

definição de gorduras trans (MOSSOBA et al, 2007).

A figura 1, abaixo, apresenta as fórmulas estruturais do ácido oleico e do seu isômero

trans, o ácido elaídico. Na forma cis, os átomos de hidrogênio estão no mesmo lado da

ligação dupla. Na forma trans, estão em lados opostos. O ácido graxo cis tem uma curvatura

na cadeia de carbono, ao passo que o ácido graxo trans tem um cadeia de carbono linear

semelhante à de um ácido graxo saturado (HUNTER, 2005).

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Monoinsaturado cis (ácido oleico)

Monoinsaturado trans (ácido elaídico)

Figura 1. Fórmulas estruturais de um ácido graxo cis (ácido oleico) e seu isômero trans (ácido

elaídico) (HUNTER, 2005).

A conformação linear é o estado de menor energia e permite um melhor

empacotamento das moléculas, ficando mais próximas umas das outras e aumentando a

interação entre elas. Como consequência do aumento das forças intermoleculares, os AGS e

AGT possuem ponto de fusão maior que AGI. Os AGT são termodinamicamente mais

estáveis, sendo menos reativos e apresentam maior resistência aos processos do que a forma

cis correspondente (CURI et al, 2008).

3.1.1 SURGIMENTO DOS ÁCIDOS GRAXOS TRANS

Os químicos franceses Sabatier e Senderens descobriram, em 1887, que a diferença na

consistência entre óleos vegetais e manteiga e, entre gordura bovina e banha de porco era

devido à quantidade de átomos de hidrogênio presentes (MARTIN et al, 2007). Baseados nos

trabalhos de Sabatier na hidrogenação catalisada por metal em componentes orgânicos

insaturados, o químico Normann desenvolveu, em 1903, o método para hidrogenação de óleos

vegetais. Quimicamente, a hidrogenação de óleos é a redução das duplas ligações de ácidos

graxos insaturados para ligações simples saturadas, pela reação do gás hidrogênio na presença

de um metal catalisador. O metal usado na época era o níquel e permanece sendo utilizado nos

procedimentos de hidrogenação atuais (TARRAGO-TRANI et al, 2006).

O processo de hidrogenação foi aplicado na Inglaterra, ainda em 1903 (MARTIN et al,

2007). As gorduras vegetais hidrogenadas foram introduzidas nos produtos alimentícios dos

Estados Unidos da América (EUA) em 1911, quando uma empresa americana (Procter and

Gamble) lançou o Crisco, uma gordura hidrogenada feita de óleo de algodão parcialmente

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hidrogenada, por interesse dos EUA em dar vazão à grande produção deste óleo (CURI et al,

2008). A demanda desses produtos para o consumo se intensificou durante tempos de guerra,

em virtude do baixo custo e da maior estabilidade oxidativa que confere aos alimentos um

maior período de validade (OKIE, 2007).

A indústria de hidrogenação teve um crescimento relevante resultante do consumo de

margarinas e gorduras hidrogenadas durante a Segunda Guerra Mundial. No final da década

de 1950, pesquisadores do Northen Regional Reserch Center descobriram que o ácido α-

linolênico estava relacionado à formação de odores desagradáveis quando os alimentos eram

feitos em óleo de soja. Foi proposto o desenvolvimento da hidrogenação seletiva como uma

alternativa para reduzir a quantidade desses AG no óleo de soja. Esta estratégia levou a uma

hidrogenação mais leve, processo para reduzir a quantidade de ácido α-linolênico para 3 % do

total de AG no óleo (MARTIN et al, 2007).

No Brasil, a indústria de hidrogenação surgiu por volta de 1950, inicialmente

produzindo gordura hidrogenada e margarina dura. De 1970 em diante, começou a produção

de margarina cremosa pela mistura de gordura hidrogenada com diferentes pontos de fusão. A

melhora no processo de hidrogenação pelo desenvolvimento da hidrogenação seletiva

possibilitou a produção de gordura cada vez mais específica e, o aumento de seu uso na

produção de alimentos, o que resultou na substituição quase total das gorduras animais na

dieta da população brasileira (ibid).

O processo de hidrogenação parcial de ácidos graxos poli-insaturados é o responsável

pela geração de maior parte dos AGT consumidos atualmente. O uso da gordura parcialmente

hidrogenada acelerou a partir da década de 1960, em resposta às recomendações contra o

consumo de gordura animal rica em gordura saturada e colesterol, devido a efeitos deletérios

sobre o perfil lipídico e o risco de aterosclerose (GAGLIARDI; MANCINI FILHO;

SANTOS, 2009).

3.1.2 OCORRÊNCIAS DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS EM ALIMENTOS E SUAS

PROPRIEDADES

Os AGT podem ser produzidos industrialmente ou ocorrem naturalmente.

Industrialmente, eles são formados durante a hidrogenação parcial de óleos vegetais

(GALVÍN et al, 2016).

O processo de hidrogenação parcial concede aos óleos vegetais algumas propriedades

físicas das gorduras saturadas, como consistência mais firme, maior ponto de fusão e estado

físico semi-sólido em temperatura ambiente. A indústria usa para conferir maior plasticidade

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aos alimentos, pelo aumento de solidez, maleabilidade e, para aumentar a estabilidade

oxidativa destes óleos, melhorando a resistência quanto à deterioração do sabor e aroma de

óleos e gorduras durante a fritura e, prolongando a vida útil dos alimentos (MARTIN;

MATSHUSHITA; SOUZA, 2004).

O processo de hidrogenação é controlado pelo ajuste de parâmetros da reação como a

temperatura, pressão de hidrogênio gasoso, tempo da reação, tipo e concentração do

catalisador empregado, que podem modular a produção de dupla ligação trans, para que se

obtenha um produto final de composição e propriedades funcionais desejadas (MARTIN et al,

2007).

A hidrogenação pode ser classificada como parcial ou total e seletiva ou não seletiva.

A seletividade refere-se à hidrogenação preferencial dos AG mais insaturados, que resulta na

menor formação possível de AGS (DIJKSTRA, 2012).

Na hidrogenação, a disponibilidade de hidrogênio no catalisador é um parâmetro

crucial no processo de isomerização cis/trans. Com o aumento da temperatura, diminui a

solubilidade do hidrogênio no óleo e aumenta a taxa da reação. Assim, a quantidade de

hidrogênio na superfície do catalisador é reduzida, resultando numa seletividade e formação

de isômeros trans elevada. Do mesmo modo, existe maior formação de AGT quando a

hidrogenação é realizada sob pressões baixas, com pouca agitação e com uma quantidade

menor de catalisadores (HASTENPFLUG; WOMMER, 2012).

Os AGT também podem estar presentes naturalmente na carne e leite de animais

ruminantes e são originados pela biohidrogenação no rúmen desses animais. Sua ingestão é

determinada principalmente pelo consumo de lacticínios ricos em gordura (GANGULY;

PIERCE, 2015).

Em animais ruminantes, os AGT são produzidos como intermediários durante a

biohidrogenação de ácidos graxos poli-insaturados provenientes de capins e plantas ingeridos

pelos animais, por bactérias (Butyrivibrio Fibrisolvens e Megasphaera Esdenii) anaeróbicas

no rúmen. A dessaturação bacteriana produz duplas ligações trans em toda a molécula de AG,

mas com preferência pela dupla ligação na posição 11 dos AG de 18 carbonos, como o ácido

vacênico (C18:1, n11t) que é o principal isômero presente na gordura de ruminantes

(HASTENPFLUG; WOMMER, 2012).

O ácido oleico também pode ser convertido em ácido esteárico pela biohidrogenação.

O isômero C18:2, 9c, 11t, chamado de rumênico também pode ser formado pelo ácido

vacênico por ação da enzima delta 9 dessaturase. Este isômero e o C18:2, 10t, 12c são os

CLA e, parecem ter efeitos distintos dos outros AGT no organismo humano (MARTIN et al,

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2007). Esse isômero natural, diferente dos produtos hidrogenados, vem sendo associado a

benefícios para a saúde, como, por exemplo, a melhora no metabolismo plasmático de

lipoproteínas (HOLANDA; HOLANDA; MENDONÇA JUNIOR, 2011).

Estima-se que de 2% a 8% dos AGT da dieta sejam provenientes dessa fonte,

dependendo do percentual individual de consumo desses alimentos, já cerca de 90% dos AGT

da dieta são provenientes de óleos vegetais poli-insaturados que passaram pelo processo

industrial de hidrogenação (HISSANAGA; PASTORE; PROENÇA, 2012).

Os AGT também podem ser formados, em quantidades menores, por mecanismo

induzido termicamente em operações de frituras e durante o processo industrial de refino.

Durante a fritura, o óleo deteriora-se por processos de oxidação e hidrogenação, resultando

em aumento de gordura trans (GUALLAR-CASTILLON et al, 2012).

Durante o processo de refino, especialmente durante a etapa de desodorização, que

tem a função de remover compostos oriundos da oxidação, que dão aroma ruim ao óleo, é

necessária alta temperatura (180 °C e 270 °C). Esta condição pode modificar as duplas

ligações cis ocorridas naturalmente nestes óleos em dupla ligação trans (CRUZ et al, 2013).

Gorduras utilizadas em frituras também são fontes de AGT na dieta. A formação de

AGT durante a fritura de alimentos, assim como no refino dos óleos e processo de

hidrogenação, ocorre por mecanismo induzido termicamente e está relacionada à temperatura

do processo e ao tempo de uso do óleo. Há controvérsias se alimentos fritos podem ser

considerados uma fonte de AGT, já que estes AG seriam constituintes em quantidades

irrelevantes nestes alimentos. Mas a reutilização de óleos refinados no preparo dos alimentos

fritos pode tornar significativa a formação de isômeros trans, contribuindo na ingestão diária

de AGT. Durante o processo de fritura, a gordura ou óleo utilizado é absorvido pelo alimento

representando cerca de 30% do conteúdo lipídico destes. Quando a gordura vegetal

parcialmente hidrogenada é usada na fritura, a formação de AGT é geralmente menor, mas o

elevado conteúdo inicial desse AG resulta em uma concentração maior de isômeros trans nos

alimentos (URIARTE; GUILLÉN, 2010).

O ácido graxo majoritário presente nos biscoitos recheados é o ácido elaídico (C18:1,

n9t) apresentando entre 3,84% (m/m) (recheado de chocolate) e 4,21% (m/m) (recheado de

morango) e representando 91% e 93% dos ácidos graxos trans respectivamente, de acordo

com a Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (TACO) (NEPA, 2011). Este AGT e o

isômero C18:1, n10t são os mais comuns presentes na gordura vegetal parcialmente

hidrogenada (GAYET-BOYER et al, 2014).

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Margarinas, cremes vegetais, biscoitos, produtos de panificação e confeitaria, massas,

sorvetes, bolos e salgadinhos chips contribuem com cerca de 80 a 90% dos AGT provenientes

da alimentação (SZWARCWALD et al, 2014).

Os fabricantes de óleos e gorduras têm sido incentivados a desenvolver alternativas

tecnológicas aos produtos com AGT, com características funcionais semelhantes. No entanto,

estudos em diversos países demonstraram que, mesmo com as alternativas já disponíveis, os

AGT ainda estão presentes na composição de inúmeros alimentos (ROE et al, 2013).

O desafio para as indústrias de alimentos tem sido desenvolver estratégias para a

redução dos AGT nos alimentos com a mesma aplicabilidade industrial, mantendo as

características estruturais e sensoriais dos produtos sem o aumento de custos (MENAA et al,

2013).

Contudo, a opção mais comum é a substituição direta por gorduras saturadas, sejam

naturais (frações dos óleos de palma, de coco ou palmiste) ou por industriais (hidrogenação

total). No entanto, qualquer um dos casos não representa um grande avanço do ponto de vista

da saúde dos consumidores, dados os problemas já conhecidos deste tipo de gordura,

frequentemente associado ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares (DHAKA et al,

2011).

De acordo com Eckel et al (2007), o mercado de matérias primas (como óleo de coco,

de palma, palmiste) tem sido capaz de absorver as mudanças na demanda desses materiais. E

o custo com os processos de interesterificação e fracionamento não são maiores que o de

hidrogenação tradicional.

Estudo realizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em 2016,

identificou as dificuldades no uso de gorduras naturalmente mais sólidas e semi-sólidas (óleos

de palma, palmiste), como cristalização lenta, fácil derretimento, possível separação de fases,

infraestrutura e logística limitada. Além do Brasil não ser autossuficiente na produção destes

óleos e aumentar o consumo de gordura saturada. Quanto ao processo de interestificação

(enzimático ou químico) foi observado aumento no custo da produção de 5 - 15 %. Além da

necessidade de investimento em equipamentos para aplicação da tecnologia, aumento de

gorduras saturadas, falta de flexibilidade para elaborar gorduras adequadas para todas as

aplicações em virtude dos perfis limitados de cristalização e derretimento que se obtém com

essa tecnologia (BRASIL, 2016).

Embora o óleo de palma esteja sendo utilizado em substituição à gordura vegetal

hidrogenada, deve-se ter cautela com o consumo desse óleo. O estudo de Galdino e

colaboradores (2010) relata que a fração lipídica LDL-colesterol teve um aumento moderado

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em jovens saudáveis do sexo masculino submetidos a uma dieta enriquecida com este óleo.

Isso pode ser explicado pelo fato do óleo de palma ser rico em gordura saturada, o que

promove efeito mais intenso sobre a colesterolemia (SPOSITO et al, 2007).

A manipulação da composição de AG de sementes de óleos comestíveis pode ser

realizada utilizando técnicas de melhoramento genético tradicional e de engenharia genética.

Essas ferramentas possibilitam, por exemplo, produção de semente de soja modificada com

menor quantidade de ácido linolênico e maior quantidade de oleico, o que gera maior

estabilidade à oxidação (SKEAFF, 2009).

O processo de interesterificação modifica as propriedades físicas da gordura pela

alteração do ponto de fusão e, em alguns casos pela modificação do comportamento de

cristalização, produzindo gorduras com baixas concentrações de AGT. O processo envolve o

rearranjo dos AG na estrutura do glicerol do triacilglicerol na presença de um catalisador

químico ou de uma enzima. Logo, o processo de interesterificação pode ser químico ou

enzimático. Ambos modificam o ponto de fusão e o comportamento de cristalização da

gordura, mantendo as propriedades físicas, sabor e estabilidade. Usualmente, o processo é

realizado pela mistura de gorduras ricas em AGS com óleos líquidos comestíveis para

produzir gordura com características intermediárias. As limitações deste processo incluem

maior tempo de reação, maior sensibilidade às condições de reação e maior custo (MENAA et

al, 2013).

3.1.3 METABOLISMO E EFEITOS BIOLÓGICOS DOS ÁCIDOS GRAXOS TRANS

Os AGT provenientes da alimentação são absorvidos e transportados até as células,

onde são utilizados como fonte de energia ou depositados nos tecidos para utilização futura

(VAZ et al, 2006).

Nos tecidos humanos, a absorção, o transporte, a incorporação e excreção dos AGT

ocorrem de forma similar a outros AG dietéticos (IOM, 2002). No entanto, o grau de

incorporação de isômero cis e trans difere no mesmo tecido ou em tecidos diferentes.

Estudos investigativos sobre a incorporação de AGT em tecidos de ratos concluíram

que os teores AGT adicionados às dietas foram suficientemente incorporados e

metabolizados, alterando o perfil de AG em tecidos desses animais (SABARENSE;

MANCINI FILHO, 2003).

A incorporação de AGT aos tecidos pode ser influenciada pelos níveis de ingestão

diária de ácidos graxos essenciais (AGE). Os AGT interagem de forma competitiva no

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metabolismo dos AGE, inibindo sua incorporação aos fosfolipídeos de membrana e reduzindo

sua conversão a eicosanoides nas células. Ingestões inadequadas dos AGE permitem maior

incorporação dos isômeros trans. A incorporação dos AGT aos fosfolipídeos de membrana

pode influenciar as propriedades físicas da membrana, assim como atividade enzimática

associada a esta (ESTADELLA et al, 2013).

Devido aos efeitos sobre o metabolismo dos AG ɣ-linolênico e araquidônico, os AGT

também podem afetar o metabolismo das prostaglandinas e de outros eicosanoides. AGT inibe

a ciclo-oxigenase (COX-2), uma enzima que converte o ácido araquidônico a um eicosanoide

que é necessário para prevenir coágulos sanguíneos nas artérias e veias. O risco de enfarte

agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e trombose é aumentado (CHEN et al, 2015).

Foi observada associação positiva entre a ingestão de AGT e concentrações de

marcadores inflamatórios (interleucina 6, TNF α, receptores de TNF e de proteínas

quimiotrativa de monócito1). Ingestão de dieta com 8 % de energia proveniente de AGT em

comparação ao mesmo teor de ácido oleico, durante 5 semanas, aumentou o nível plasmático

de interleucina 6 e proteína C reativa (PCR) (BHARDWAJ; PASSI; MISRA, 2011).

Desordens cardiovasculares e metabólicas são comumente associadas à inflamação

sistêmica ou localizada e os AGT têm sido relacionados a eventos pró-inflamatórios em

diversos estudos, podendo agir em qualquer processo inflamatório, como por exemplo,

intestinal (OKADA et al, 2013).

A inflamação é um fator de risco para aterosclerose, morte súbita, diabetes e, portanto,

os efeitos inflamatórios dos AGT podem explicar, em parte, seus efeitos sobre a saúde

cardiovascular. Vários estudos sugerem que os AGT podem causar disfunção endotelial. Esta

apresenta papel no desenvolvimento e progressão da aterosclerose e outras doenças

cardiovasculares (REMING et al, 2010).

Em estudo realizado por Monge-Rojas e colaboradores (2017), em mulheres, foi

observada uma relação direta do consumo de AGT com PCR que é um marcador de

inflamação sistêmica.

Apesar de ainda não se conhecerem os mecanismos por meio dos quais os AGT

interferem na sensibilidade à insulina (apenas que interferem de forma única com o fígado,

músculo e tecido adiposo), sabe-se que uma alimentação rica em AGT de origem industrial

aumenta ainda mais a resistência à insulina, particularmente em indivíduos predispostos como

aqueles com adiposidade visceral aumentada, com resistência pré-existente à insulina ou

sedentários (DHAKA et al, 2011).

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Os AGT são conhecidos por ter efeito indesejável sobre os perfis lipídicos séricos, e,

assim, estão associados ao aumento de doenças cardiovasculares. Quando absorvidos pelo

organismo humano, os AGT inibem a atividade da dessaturase D6, que converte o ácido

linoleico em ácidos graxos poli-insaturados (EBBESSON et al, 2012). Estes elevam a ação

das enzimas responsáveis pela transferência de ésteres de colesterol de moléculas do

lipoproteína de alta densidade (HDL) para lipoproteína de baixa densidade (LDL) e para

lipoproteína de muito baixa densidade (VLDL). Dessa forma causam mudança do perfil

lipídico, devido ao acúmulo de LDL e VLDL no plasma, aumentando, assim, o risco de

desenvolver doenças crônicas vasculares (SHAO; FORD, 2014).

A relação entre a ingestão de AGT e cânceres tem sido estudada extensivamente (LIU

et al, 2007). Stender et al (2012) investigaram a associação entre AGT no tecido adiposo e

incidência de câncer de mama, próstata, cólon e demonstraram associação positiva entre AGT

e câncer de mama e cólon, mas não de próstata. Supõe-se que os AGT podem aumentar o

risco de desenvolver câncer através da alteração da resposta imune, da integridade da parede

celular e da síntese de prostaglandina (GEBAUER et al, 2011).

AGT provenientes da dieta da gestante são transferidos para o feto por via placentária

e também podem ser transferidos para a criança durante a amamentação, sendo incorporados

ao leite materno. Estas evidências decorrem do fato de serem encontrados os mesmos níveis

de AGT no sangue tanto das mães como dos recém-nascidos (DHAKA et al, 2011).

O consumo de AGT na gestação e na lactação pode modificar tanto o perfil lipídico

plasmático quanto alterar a expressão de adipocinas envolvidas com a resistência insulínica e

doença cardiovascular dos descendentes. O estudo ainda salienta que esses efeitos deletérios

estariam presentes mesmo após a retirada do fator causal (PISANI et al, 2008). A associação

entre um elevado consumo de AGT e o risco de pré-eclâmpsia foi também verificado. Neste

estudo, as mulheres que desenvolveram pré-eclâmpsia tinham uma quantidade maior de AGT

(cerca de 30% superior) nos glóbulos vermelhos que as mulheres que não desenvolveram esta

disfunção (DHAKA et al, 2011).

Outros estudos apontam relação positiva entre o consumo de AGT e outros malefícios

para a saúde, podendo ser citados: infertilidade feminina e masculina, depressão, obesidade,

doenças alérgicas (como asma, rinite, eczema) (THOMPSON; MINIHANE; WILLIAMS,

2011).

Ao nível neurológico, um consumo prolongado de gordura hidrogenada permite a

incorporação de AGT nas membranas neuronais, facilitando o desenvolvimento de processos

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oxidativos e perturbações do movimento, estando assim associado às doenças degenerativas

(BANARD; BUNNER; AGARWA, 2014).

Os experimentos de Grimm et al (2016), in vitro, mostraram que AGT, em

comparação a conformação cis, aumentaram a produção, oligomerização e agregação de

peptídeos β-amilóide, principais componentes das placas senis, as quais são características da

doença de Alzheimer.

Quanto ao AGT de ruminantes, as evidências ainda são inconclusivas, no entanto,

estudos indicam que ácido vacênico (percursor do ácido rumênico (C18: 2, n9c, 11t), um

CLA, teria efeitos metabólicos positivos sobre a saúde humana (KALLAS; REALINI; GIL,

2014). Estudos em animais demonstraram que o consumo de CLA inibe a iniciação da

carcinogênese, reduz o teor de gordura corporal e aumenta a massa muscular, diminui a

aterosclerose, melhora a hiperinsulinemia, reforça o sistema imunitário e altera a razão

LDL/HDL (SERAFEIMIDOU; ZLATANOS; LASKARIDIS, 2012).

3.1.4 ESTIMATIVAS DE CONSUMO DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS NOS PAÍSES E

ESTRATÉGIA PARA REDUÇÃO

Apesar de todas as evidências de que uma alimentação inadequada propicia o

desenvolvimento de vários tipos de doenças, muitas vezes desencadeadas na infância, cada

vez mais observa-se que as crianças consomem, em grande quantidade, alimentos contendo

excesso de gorduras e açúcar como balas, salgadinhos, fast food e biscoitos recheados

(SZWARCWALD et al, 2014).

Elevado consumo de biscoitos recheados também são observados pelos adolescentes,

estes chegam a comer 3 a 4 vezes por dia, representando o consumo de grandes quantidades

de AGT. Observa-se que os biscoitos recheados, entre outros alimentos industrializados, são

aceitos e consumidos por pessoas de todas as idades (SREBERNICH; GONÇALVES;

BAGGIO, 2013).

O Brasil é o quarto maior produtor mundial de biscoitos, com 1,2 milhão de t/ano em

2015, sendo superado apenas pela China (3,4 milhão de t/ano), Estados Unidos (2,3 milhão de

t/ano) e Índia (1,9 milhão de t/ano). O consumo per capita em 2015 foi de 6,0 kg/ano, dessa

forma ocupando a quinta posição global. No cenário nacional é um mercado que gerou mais

de 21 bilhões de reais no ano de 2015, representando assim um aumento de mais de 48% em

relação ao ano de 2011 no qual gerou pouco mais de 14 bilhões, demonstrando o crescimento

deste produto ao longo dos anos (ABIMAPI, 2016).

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconizava o controle no consumo de

alimentos com AGT desde 1995, mas não determinava o valor quantitativo desse consumo.

Em 2002, uma consulta promovida pela OMS para atualizar as recomendações sobre

alimentação, nutrição e prevenção de doenças crônicas reiterou que as dietas deveriam

fornecer no máximo 1% de gordura trans do total calórico diário (WHO, 2004).

A Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 359 de 23 de dezembro de 2003 da

ANVISA tornou obrigatória à declaração do teor de gordura trans relativa à porção do

produto. E, segundo a RDC nº 360 de 23 de dezembro de 2003, pode ser considerado e

divulgado como “não contém trans” todo alimento industrializado que apresentar teor de

gordura trans menor ou igual a 0,2 g/porção. Para gordura total, o teor é considerado não

significante, ou zero, quando menor ou igual a 0,5 g/porção do alimento (BRASIL, 2003a;

BRASIL, 2003b).

É admitida uma tolerância de + 20% com relação aos valores de nutrientes declarados

no rótulo. Essa tolerância é ainda um ponto que merece discussão e maior clareza na

definição, considerando principalmente os teores dos nutrientes (PIMENTEL; ZENEBON,

2009).

Em 12 de novembro de 2012, foi publicada uma nova resolução, a RDC nº 54, pela

qual somente é permitido que alimentos com teor de ácidos graxos trans menor do que 0,1

g/porção e com baixo teor de gorduras saturadas (máximo de 1,5 g da soma de gorduras

saturadas e trans) possam conter a alegação de “zero trans”. As empresas abrangidas por esta

Resolução tiveram o prazo até 1º de janeiro de 2014 para promover as adequações necessárias

nos produtos em atendimento a este regulamento técnico (BRASIL, 2012).

Ressalte-se, ainda que, “porção” é definida como “a quantidade média do alimento que

deveria ser consumida por pessoas sadias, maiores de 36 meses, em cada ocasião de consumo,

com a finalidade de promover uma alimentação saudável”, sugerindo que um consumo

superior a essa porção definida pode não ser nutricionalmente seguro (BRASIL, 2003b).

Em 2004, a OMS lançou a Estratégia Global para Promoção da Alimentação Saudável,

Atividade Física e Saúde com a meta de eliminação do consumo de gordura trans industrial

(WHO, 2004).

No Brasil, o Guia Alimentar para População Brasileira, restringe o consumo de

gordura trans a 1% do valor energético diário, o que corresponde a aproximadamente 2 g/dia

em uma dieta de 2.000 calorias (BRASIL, 2014).

Em 2007, após uma atualização científica sobre AGT, com a participação de peritos

científicos e representantes da Organização das Nações Unidas para Agricultura e

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Alimentação (FAO), a OMS recomendou a revisão do limite tolerável de ingestão da gordura

trans, que era de até 1% do consumo energético diário e que atualmente continua em vigor em

muitos países, entre eles o Brasil (UAUY et al, 2009).

O Codex Alimentarius propõe que a informação nutricional seja apresentada por

porção ou por embalagem completa, no entanto, também recomenda que a medida para

quantificar nutrientes seja notificada por 100 g, para facilitar comparações entre os produtos.

Assim, permite que o consumidor saiba mais facilmente que o produto alimentício contém

AGT, sem precisar consultar a lista de ingredientes (WHO, 2007a).

Essa recomendação parece ser interessante para a declaração do conteúdo de AGT, já

que se o consumo for superior à quantidade da porção, pode ocorrer uma ingestão

considerável desses compostos. Por exemplo, sendo uma porção de biscoito equivalente a 2,5

unidades (30 g), se uma pessoa ingerir uma quantidade maior do que 2,5 unidades do biscoito,

elevará o consumo de ácidos graxos trans, podendo, eventualmente, alcançar o limite

destacado pelo Guia Alimentar para a População Brasileira, que é de 2 gramas/dia (BRASIL,

2014; MOSSOBA et al, 2007).

Principais indústrias alimentícias apoiaram medidas para eliminar as gorduras trans de

seus produtos, segundo o Relatório “Américas livres de gordura trans” da Organização Pan

Americana de Saúde (OPAS/OMS). Nas recomendações da OPAS/OMS, foi estabelecido o

limite de 5% de presença de AGT sobre o total de gorduras em alimentos processados e limite

de 2% de AGT em óleo vegetal e margarinas (WHO, 2007b).

Em março de 2010, foi publicada a proposta inicial do Projeto Latino-Americano de

Alinhamento dos Valores de Referência para Rotulagem Nutricional (LAVRON), visando

harmonizar os valores de referência para rotulagem entre os países latino-americanos. Essa

iniciativa de padronização é importante, tanto para comercialização de produtos entre os

países quanto para facilitar o entendimento do consumidor (PROENÇA; SILVEIRALL,

2012).

Considerando os efeitos adversos à saúde associado à ingestão de AGT, vários países

tem se esforçado para redução. Para isso, governos adotaram ou estão considerando adotar

ações de regulamentação, com legislação para eliminar o uso de AGT produzidos

industrialmente (ibid).

No Brasil, desde 2007, passou a ser declarado o conteúdo de AGT de seus produtos

alimentícios pré-embalados. No México e na Costa Rica, desde 2010, as empresas

alimentícias passaram a declarar o conteúdo de AGT (COLON-RAMOS; MONGE-ROJAS;

CAMPOS, 2014). No final do ano 2014, a Argentina obteve resultados efetivos na redução de

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AGT, seguindo os parâmetros recomendados pela OPAS/OMS (RUBINSTEIN;

ELORRIAGA; GARAY, 2015).

Os níveis de AGT foram significativamente reduzidos, no período de 2015 -2016, nos

países da América Latina, no entanto, com aumento, pelas indústrias do conteúdo de ácido

palmítico (C16: 0) e ácido oleico (C18: 1, n9 cis) (MONGE-ROJAS et al, 2017).

No Brasil, a oferta de novas alternativas tecnológicas, como a interesterificação,

contribuiu para a redução do teor de AGT em margarina e biscoitos recheados de chocolate

durante o período 2015-2016. Na Argentina, a notável redução do AGT, no período 2015-

2016, coincide com um aumento no uso de óleos de espécies de plantas modificadas (como

óleo de girassol com alta concentração de ácido oleico) (MARTIN et al, 2016).

Em junho de 2015, nos EUA, a Food and Drug Administration (FDA) declarou que os

óleos parcialmente hidrogenados, que são a principal fonte de AGT fabricados, não são mais

"geralmente reconhecidos como seguros". E, estabeleceu um período de conformidade de três

anos para limitar a quantidade ingerida. Isso levará as empresas a formular produtos sem

óleos parcialmente hidrogenados (MOHD; MOHAMAD; ABDUL, 2017).

A Organização Mundial da Saúde (WHO), no seu plano de ação nos alimentos e

nutrição na União Europeia (UE), no período de 2012-2016, pretendia reduzir as doenças não

transmissíveis relacionadas com a alimentação, incluindo uma intervenção prioritária na

eliminação de AGT. Foi observado resultados eficientes na redução de AGT (WHO, 2015).

O Parlamento Europeu determinou que, até dezembro de 2014, os dados sobre a

presença de gorduras trans na alimentação geral da população da UE deveria ser conhecida, a

fim de implementar medidas adequadas para a sua redução. Simultaneamente, o Plano de

Ação Europeu de Alimentação e Nutrição 2015-2020, concentrou-se numa redução de

doenças relacionadas com a alimentação, incluindo uma intervenção prioritária na eliminação

de gordura trans, que deve ser limitada a < 1% do consumo diário de energia, incluindo os de

origem natural (COSTA, 2016).

Alguns países optaram pela restrição total das gorduras com AGT na sua composição,

outros pela declaração obrigatória do seu teor na rotulagem nutricional, enquanto outros

apenas emitiram recomendações para a sua redução direcionadas às indústrias. Os resultados

observados têm sido muito diferentes, mas somente nos países com total restrição se verificou

uma redução generalizada do consumo de AGT pela população (STENDER; ASTRUP;

DYERBERG, 2012).

A Dinamarca, em 2003, foi primeiro país a introduzir leis que regulam rigorosamente

a venda de alimentos contendo AGT, limitando o conteúdo de AGT a 2 % da gordura total de

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alimentos, sendo exemplo de sucesso. A Áustria e a Suíça, em 2009, apresentaram uma

proibição semelhante à proibição da Dinamarca, seguida da Islândia em 2011, Hungria e

Noruega em 2014 e Letônia a partir de 2016 (STEEN; ARNE; DYERBERG, 2016). Os

Estados Unidos restringiu o uso do AGT, desde 2007, em restaurantes, o que reduziu

significativamente o seu uso nas grandes cadeias de restaurantes (ANGELL; COBB;

CURTIS, 2012).

No Brasil, não existe registro da ingestão de AGT de abrangência nacional. Em estudo

de Martin et al (2007) foi observado que, nas últimas três décadas, houve aumento

significativo no consumo de alimentos industrializados e análises de produtos brasileiros

indicam a presença de AGT.

O consumo de ácidos graxos trans pela população cresceu paralelamente ao aumento

do seu uso pelas indústrias de alimentos. No Brasil, ainda não foi identificado estudo que

estime o seu consumo, entretanto, dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) dos anos

de 2008 e 2009 demonstraram que, entre os anos de 2002-2003 e 2008-2009, o consumo de

produtos industrializados, fontes potenciais de ácidos graxos trans, como biscoitos aumentou

de 3,1% para 3,4%. Alimentos industrializados, como salgadinhos fritos ou assados,

chocolates, bolos, refrigerantes, pizzas, sanduíches e biscoitos estão entre os alimentos mais

consumidos, podendo sugerir aumento de produtos industrializados, fontes potenciais de AGT

(BRASIL, 2010).

3.2 MÉTODOS PARA ANÁLISE DE ÁCIDOS GRAXOS TRANS

A existência de poucas tabelas de composição de alimentos incluindo os valores de

AGT tem sido fator limitante para estimar a ingestão desses componentes em estudos

dietéticos no Brasil. Estudos analisaram que o relato da composição de alguns produtos

brasileiros nos rótulos muitas vezes não coincide com os teores encontrados nas análises,

destacando os teores elevados de AGT em amostras de biscoitos, sorvetes e batata fritas

(BLOCK; HERRERA, 2014). Enquanto a análise da composição dos produtos alimentares

não for obrigatória, serão sempre observados dados discrepantes com o real.

Diante da problemática relacionada aos efeitos à saúde causada pelo consumo de AGT

e as dificuldades para estimativa dessa ingestão, verifica-se a necessidade de análise

quantitativa do conteúdo de AGT em alimentos, incluindo os biscoitos recheados, visto serem

alimentos de grande consumo. Estas análises auxiliarão na avaliação mais precisa da ingestão

destes componentes (SREBERNICH; GONÇALVES; BAGGIO, 2013).

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Os métodos analíticos utilizados para medir o percentual de AGT em óleos, gorduras e

alimentos envolvem cromatografia em fase gasosa com detecção de ionização de chama (CG-

DIC) ou espectrometria de massas (CG-EM) (TYBURCZY; MOSSOBA; RADER, 2013). O

método CG-DIC é o oficial recomendado pela Association of Official Analytical Chemists

(AOAC) para quantificar AGT (métodos AOAC 996.06 e AOAC 996.01) (AOAC, 2001;

AOAC, 2002).

Método oficial AOAC 2000.10 foi usado para desenvolver e validar FT-IR- ATR. É

aplicado a gorduras e óleos com níveis de ácidos graxos trans acima de 5 % sobre o total de

gordura e determina a intensidade de absorção da banda de AGT sem necessidade de

converter em FAME antes da análise, como é necessário na cromatografia gasosa (AOAC,

2005).

A FDA aprova a cromatografia gasosa e espectroscopia no infravermelho como

métodos de mensuração da composição de AG para a declaração do conteúdo de AGT nos

rótulos dos alimentos (ECKEL et al, 2007).

A FDA considera cromatografia em fase gasosa com detecção de ionização de chama

(CG-DIC) método adequado. Neste método, os triacilglicerois são extraídos dos alimentos e

ocorre a hidrólise dos triacilglicerois, formando glicerol e ácidos graxos. Em seguida, os

ácidos graxos sofrem metilação para ésteres metílicos de ácidos graxos (FAME) utilizando

trifluoreto de boro (BF₃) em metanol. Os FAME são quantitativamente medidos por

cromatografia de gás em coluna capilar (AOAC, 2001).

A American Oil Chemists Society (AOCS) desenvolveu o método CE1h-05, método

de cromatografia gás-líquido (GLC) para a determinação da composição em ácidos graxos,

incluindo os isômeros trans, de ácidos graxos de óleos e gorduras de origem animal ou

vegetal. Os FAME da amostra são separados por cromatografia gasosa em coluna capilar

(colunas SP 2560 ou CP –Sil 88) com uma fase estacionária polar, de acordo com o seu

comprimento de cadeia, do grau de insaturação, da geometria e da posição das ligações duplas

(FIRESTONE, 2009a).

Comissão do Codex Alimentarius tem proposto métodos como o AOAC 996.06 para a

determinação de GT e AGS nos alimentos e o AOCS Ce 1h-05 para a quantificação de ácidos

graxos poli-insaturados e também AGT, no caso de disputas comerciais entre países (WHO,

2007a). No método AOAC 996.06, efetuado por cromatografia gasosa com detector de

ionização em chama (CG-DIC), recorre a análise Mojonnier para a extração seguida da

hidrólise ácida ou básica nos alimentos (AOAC, 2001).

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A determinação de ácidos graxos trans por FT-IR baseia-se na ocorrência de banda de

deformação da ligação C-H em 966 cm-1

, sendo os carbonos envolvidos em ligações duplas

isoladas com configuração trans (TYBURCZY; MOSSOBA; RADER, 2013).

Métodos CG permitem determinar compostos em quantidades muito pequenas e, por

isso, são consideradas análises de alta sensibilidade. No entanto, estas técnicas requerem

operações de pré-tratamento da amostra como extração prévia das substâncias de interesse,

utilização de vários reagentes, vidrarias e equipamentos, o que as tornam demoradas e

geradoras de resíduos. Antes da injeção no cromatógrafo, os AG devem ser esterificados a

ésteres metílicos, aumentando a sua volatilidade e facilidade de análise, o que requer a

utilização de reagentes de toxidez elevada como, por exemplo, o BF3 (CHO et al, 2011). A

derivatização pode gerar erros, como conversão incompleta dos ácidos graxos (ligados ou

livres) aos ésteres desejados e a alteração da estrutura durante a liberação e esterificação dos

ácidos graxos (SINELLI et al, 2010).

Uma das vantagens descritas da espectroscopia no infravermelho é que não há

necessidade de um preparo da amostra para análise, ou seja, pode-se economizar grande

quantidade de reagentes, reduzir o tempo e o pessoal para as análises. Outra vantagem é que

não é uma técnica destrutiva para obter as medições de componentes químicos. É uma técnica

rápida de quantificação dos isômeros monoenoicos e dienoicos dos ácidos graxos e tem a

capacidade para fornecer informações sobre as propriedades químicas e estruturais de

materiais biológicos (MOSSOBA et al, 2011).

A quantificação para teores de AGT inferiores a 5% é prejudicada em gorduras que

contenham, por exemplo, ligações duplas trans de sistemas conjugados e outros interferentes

que alterem a região de absorção dos AGT. Avanços na técnica de infravermelho utilizando

reflectância total atenuada (ATR), associada ao processamento matemático dos espectros por

transformada de Fourier tem tornado possível à determinação dos AGT de forma mais rápida

e/ou mais acurada (KODALI; LIST, 2005; ELSOHABY et al, 2014). A técnica permite

determinar não só o teor de AGT de uma gordura ou óleo, como também capacidade de

extrair informações relativas à composição e conformação dos componentes dos alimentos, a

partir dos espectros de baixos níveis no picograma e sem a necessidade de derivatização

(MOSSOBA et al, 2007).

Transformada de Fourier no infravermelho (FT-IR) pode ser uma das técnicas ideais

para quantificar ácidos graxos trans com ligações trans-duplas isoladas.Várias modificações

têm sido propostas para melhorar precisão dos métodos FT-IR. No entanto, como é entendido

pelas fontes bibliográficas disponíveis, têm havido poucos estudos para implementar os

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dados obtidos a partir FT-IR sem pré-tratamento da amostra (extração), em comparação com

cromatografia gasosa acoplado a espectrometria de massas (CG-EM)(TYBURCZY;

MOSSOBA; RADER, 2013).

Diante das provas conclusivas de que o consumo de AGT representa uma séria ameaça

para a saúde humana, a remoção e/ou redução significativa de AGT nos alimentos é questão

de saúde pública (MONGE-ROJAS et al, 2017), sendo necessário um monitoramento

continuo das situações atuais dos países, através de um método de análise oficial de rápida e

simples medição, como o FT-IR-ATR, que determine concentração de AGT <1% nos óleos e

gordura.

3.2.1 Cromatografia gasosa

A técnica de cromatografia em fase gasosa (CG) revolucionou o estudo de lipídeos,

tornando possível determinar a composição de ácidos graxos de um lipídeo em um curto

espaço de tempo. Para tal, os componentes de ácidos graxos são convertidos em um derivado

volátil mais simples, geralmente ésteres metílicos, apesar de outros ésteres poderem ser

escolhidos para fins específicos. A preparação destes ésteres é o tipo mais comum de reação

química para as análises de lipídeos (VISENTAINER, 2012).

O termo cromatografia gasosa (CG) refere-se a uma técnica de separação que envolve

duas fases distintas: uma fase estacionária, a qual pode ser sólida ou líquida, e uma fase

móvel, que é um gás que passa sobre a fase estacionária e que transporta a amostra. Este deve

ser um gás inerte relativamente à amostra e à fase estacionária, muitas vezes designado como

gás de arraste. No caso da coluna empacotada o nitrogênio é o gás de arraste mais utilizado,

seguido pelo hélio. No caso da coluna capilar ou tubular aberta, o gás de arraste mais usado é

o hélio, seguido por hidrogênio e nitrogênio. A fase estacionária é uma película fina de

líquido que pode revestir a superfície de partículas inertes sólidas contidas numa coluna de

aço inoxidável ou vidro (coluna de enchimento), ou que pode constituir um filme líquido que

reveste as paredes interiores de uma coluna capilar de sílica fundida (HARRIS, 2010).

O tipo de entrada e a técnica de injeção estão relacionados e são determinados pelo

tipo de coluna, propriedades da amostra e sensibilidade analítica necessária. As amostras são,

geralmente, injetadas diretamente na extremidade da coluna. No caso de colunas capilares, as

amostras são, geralmente, injetadas numa câmara separada da coluna, vaporizadas e

transferidas para a coluna na fase de vapor (HOLLER; SKOOG; CROUCH, 2009).

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A cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massa (CG-EM) é um processo

analítico que permite analisar qualitativa e quantitativamente a amostra num único

instrumento, mesmo em concentrações baixíssimas (como 0,5%, em percentagem da gordura

total). Ou seja, o CG-EM não só separa os componentes de uma mistura complexa, como

também recolhe o espectro de massa de cada componente, o que permite expressar o tempo de

retenção (TR) obtido. O TR obtido através do CG está relacionado com propriedades

químicas específicas das moléculas presentes na amostra (volatilidade, polaridade, presença

de grupos funcionais específicos), enquanto o peso molecular é indicador da composição

atômica (GOUVÊA et al, 2012).

A separação das moléculas de uma mistura ocorre pelas diferenças das propriedades

químicas das mesmas à medida que percorre o comprimento da coluna, sendo o esquema de

funcionamento do cromatógrafo ilustrado na figura 2. As moléculas eluem do cromatógrafo a

gás em período de tempo distintos, permitindo que a corrente do espectrômetro de massa

capture, ionize, acelere, desvie e detecte as moléculas ionizadas separadamente. O

espectrômetro de massa divide cada molécula em fragmentos ionizados e detectando esses

fragmentos pela razão massa/carga (VISENTAINER, 2012).

Figura 2. Esquema interno de funcionamento do cromatógrafo a gás com detecção de

espectrometria de massas (CG-EM) (LANCASHIRE, 2013).

Em resumo, cada componente da amostra, ao chegar ao detector, origina um sinal

elétrico proporcional à quantidade de íons originados pelo composto. O registro é feito sob a

forma de um cromatograma ou perfil de corrente iônica total (TIC) em que se tem a

representação dos picos correspondentes à abundância de todos os íons no detector em função

do tempo. O software utilizado deve permitir obter, a partir do TIC, o registro da abundância

dos íons de uma massa específica versus tempo, o qual se designa por perfil de corrente iônica

extraída (PCIE). Da análise do TIC obtém-se informação sobre o tempo de retenção e a área

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de cada pico. A identificação dos vários componentes da amostra é efetuada com base nos

tempos de retenção e na análise dos espectros de massa correspondentes a cada pico. O

software do equipamento processa o sinal obtido através da análise. Este possui uma

biblioteca que identifica os íons e os associa aos respectivos compostos. Estes são

identificados e quantificados por dois íons específicos denominados por íons de quantificação

(AHUJA; JESPERSEN, 2006).

Esses dois componentes usados em conjunto possibilitam um grau de identificação de

substância muito maior que se usados separadamente. Tal associação reduz a possibilidade de

erro, já que é improvável que duas moléculas diferentes se comportem da mesma maneira

tanto no cromatógrafo a gás como no espectrômetro de massa. Portanto, quando um espectro

de massa com tempo de retenção característico aparece em uma análise por CG-EM, a certeza

que o componente de interesse está presente na amostra aumenta (LANCASHIRE, 2013).

Os métodos de ionização mais empregados em CG-EM são ionização por impacto de

elétrons (IE) e a ionização química (IQ). Na IE, o analito de interesse, em fase gasosa, é

bombardeado com elétrons de alta energia (geralmente 70 eV). As moléculas do analito

absorvem esta energia desencadeando vários processos, dentre os quais o mais simples é

aquele em que o analito é ionizado pela remoção de um único elétron. Este processo requer

tipicamente 10 eV e o restante da energia gera fragmentação dos analitos. Isto consiste em um

dos maiores problemas encontrados na aplicação de IE, pois a fragmentação rápida pode

conduzir a não observação do íon molecular no espectro, perdendo-se, portanto, uma das mais

importantes informações analíticas oferecidas pelo EM (ARDREY, 2003).

A IQ é a técnica que foi desenvolvida especialmente para aumentar a produção do íon

molecular e reduzir as fragmentações associadas à ionização por elétrons. Nesta técnica, as

moléculas do analito, em fase gasosa, são introduzidas na câmara de ionização do

espectrômetro de massas, que contém um gás reagente. Esta mistura (moléculas do analito +

gás reagente) é bombardeada com elétrons, assim como na IE. Mas, como o gás reagente está

em excesso em relação ao analito (geralmente em proporção maior que 1000:1), ele é

ionizado quase que exclusivamente e passam a ocorrer reações entre os íons em fase gasosa

do gás reagente e as moléculas neutras do analito, dando origem aos íons pseudo moleculares

do analito [M+H]⁺. Por este processo ser relativamente de baixa energia, quase não é

observada fragmentação (VÉKEY, 2001).

Espectrômetros de massas com analisador quadrupolo é uma alternativa interessante,

uma vez que estão disponíveis na maioria dos cromatógrafos. Este analisador possui quatro

barras cilíndricas e paralelas que atuam como eletrodos. Uma combinação de corrente

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contínua e radiofrequência é aplicada nas barras, que passam a atuar como filtros. Somente os

íons que apresentarem determinada massa carga (m/z), a qual esteja em ressonância com o

campo aplicado, irão passar pelas barras do quadrupolo e serão detectadas. Os demais íons

que entrarem no quadrupolo terão trajetórias instáveis e, como consequência, atingirão as

barras e serão eliminados pela bomba de vácuo (BLASE et al, 2014).

Outro analisador de massas que tem seu uso bastante difundido é o analisador de

massas por tempo de voo (TOF). Neste analisador os íons produzidos são acelerados e passam

por um tubo de separação.Todos os íons que entram no tubo, possuem a mesma energia, logo,

suas velocidades variam de forma inversa às suas massas, fazendo que os íons mais leves

cheguem primeiro ao detector (HOLLER; SKOOG; CROUCH, 2009).

Na cromatografia gasosa associada ao detector de ionização por chama (CG-DIC), o

eluente à saída da coluna é misturado com hidrogênio que atravessa uma chama alimentada

por ar. Existe uma diferença de potencial entre a saída da coluna e o eletrodo coletor. O

analito, depois de queimado na chama, gera uma nova corrente de íons que vai ser recolhida

no elétrodo coletor e a corrente de ionização resultante é amplificada e enviada para o sistema

de aquisição de dados (GOUVÊA et al, 2012).

O detector é aquecido a uma temperatura um pouco superior à do injetor e é

independente do valor da temperatura do forno, sendo que este já deve estar a uma

temperatura elevada antes da ignição. O aquecimento evita a condensação da água a partir da

chama (ADAM; COOPER, 2008).

A identificação do carbono presente na amostra baseia-se no tempo de retenção, em

condições cromatográficas constantes e bem definidas. A área do pico traduz a quantidade de

carbono na amostra (GOUVÊA et al, 2012).

3.2.1.1 Métodos de extração de lipídeos

Em matrizes complexas, como a dos biscoitos, é recomendado primeiramente que se

faça uma extração desses compostos, isolando e pré-concentrando, dessa forma, o analito de

interesse. Isso é importante principalmente porque os açúcares podem interferir na análise

devido a sua alta concentração (KASKONIENE; VENSKUTONIS; CEKSTERYTE, 2008).

A extração de lipídeos é uma etapa importante na determinação da composição de

ácidos graxos. A preparação da amostra deve ser cuidadosa, sendo que em alguns

procedimentos e matrizes pode ocorrer a co-extração dos não lipídeos, oxidação indesejada,

perda dos compostos mais voláteis e dificuldade de extração dos lipídeos ligados a outras

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moléculas, influenciando na qualidade final da amostra e no perfil de ácidos graxos

(LUTHRIA, 2004).

A habilidade de recuperar os vários componentes dos lipídeos varia com o solvente de

extração. A ampla faixa de polaridade dos lipídeos, os diferentes tipos de ligações e energias

fazem com que a escolha do solvente seja uma tarefa difícil. Os solventes mais utilizados são:

éter etílico, éter de petróleo e clorofórmio-metanol. Todos estes solventes extraem

triacilgliceróis. O éter etílico e o de petróleo extraem mono, di e triacilgliceróis, esteróis e

ácidos graxos. Solventes mais polares, como a mistura de clorofórmio e metanol, também

extraem lipídios polares como fosfolipídios, esteróis, terpenos, ceras, hidrocarbonetos e outros

componentes não lipídicos (KASKONIENE; VENSKUTONIS; CEKSTERYTE, 2008).

Os métodos que empregam a mistura clorofórmio metanol, como por exemplo, o de

Bligh e Dyer (1959) e de Folch, Lees, Stanley (1957), são reconhecidos como os mais

adequados para a extração de todos os componentes dos lipídeos. Nestes métodos, as

proporções entre os solventes de extração, massa da amostra e solventes, o modo de

preparação da amostra, o tempo de agitação, o teor de gordura, água e o tipo de produtos, são

críticos, influenciando a eficiência de extração (PÉREZ-PALACIOS et al, 2008).

O método AOAC 996.01 foi avaliado e adotado como oficial para a determinação de

gordura e ácidos graxos para produtos à base de cereais contendo de 0,5 a 13% de GT. O

método AOAC 996.06, semelhante ao anterior, foi desenvolvido para a extração e

determinação da gordura total dos alimentos em geral, a partir da análise de ácidos graxos por

CG-DIC. Os métodos envolvem extração por hidrólise tipo Mojonnier, que causa quebra da

matriz do alimento, seguido de extração etérea, transesterificação do ácido graxo para seus

ésteres metílicos, usando BF3 em metanol (AOAC, 2001; AOAC, 2002).

Algumas técnicas mais modernas de extração de gordura têm sido propostas para

reduzir significativamente o tempo e o consumo de solvente e fornecer resultados

equivalentes. Entre estas técnicas, destacam-se a extração acelerada com solvente (EAS), a

extração com fluído supercrítico (EFSC), a extração dinâmica por ultra-som e com auxílio de

microondas. Entretanto, a desvantagem destes métodos é a necessidade de otimizar as

variáveis que influenciam na extração para cada tipo de produto, uma vez que os teores de

gordura e de água dos alimentos afetam a eficiência de extração (LUTHRIA, 2004).

Nas análises de rotina de muitos laboratórios brasileiros, visando gerar dados para a

informação da rotulagem nutricional, empregam-se extração a frio como no método de Bligh

e Dyer, utilizando a mistura de solventes de extração clorofórmio/metanol visando não alterar

a gordura original do alimento e, portanto, os AG (LOBANCO et al, 2009).

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3.2.2 Espectroscopia no infravermelho

A espetroscopia de infravermelho tem sido adotada em muitas áreas científicas,

superando, por vezes, os métodos tradicionais. As principais razões para a popularidade desta

ferramenta analítica são a rapidez com que as amostras são caracterizadas, praticamente sem

manipulação e a grande versatilidade do equipamento. Obtém-se rapidamente informação

relativa aos grupos funcionais presentes na amostra em estudo, e consegue-se também obter

alguma informação sobre o tipo de ligações presentes na molécula (LIN; CHEN; HEY, 2012).

A espectroscopia de infravermelho é uma técnica analítica que utiliza radiação

infravermelha para produzir vibrações moleculares, a fim de adquirir impressões espectrais

que são únicas e reproduzíveis para um determinado produto (SMITH; SPANEL, 2005).

A espectroscopia no infravermelho estuda interações da radiação eletromagnética com

a matéria (gases, líquidos ou sólidos). Essas interações podem levar a transições entre os

níveis de energia dos átomos e moléculas e o resultado destas interações depende diretamente

da energia incidente, associada ao comprimento de onda da radiação (AOUIDI et al, 2012).

A região do infravermelho corresponde ao local do espectro eletromagnético situado

entre as regiões do visível e micro-ondas, engloba radiações com número de onda de 12.800

cm-1

a 10 cm-1

, ou com comprimentos de onda de 780 a 1,0x10⁶nm. O espectro de

infravermelho pode ser divido em infravermelho próximo, médio e distante, conforme é

apresentado na tabela 1 (HOLLER; SKOOG; CROUCH, 2009).

Tabela 1. Regiões espectrais do infravermelho

Fonte: HOLLER; SKOOG; CROUCH, 2009.

Para absorver a radiação infravermelha, uma molécula deve sofrer uma variação no

momento de dipolo durante seu movimento rotacional ou vibracional. Apenas sob estas

circunstâncias o campo elétrico pode interagir com a molécula e causar variações na

amplitude do movimento vibracional ou rotacional. O momento de dipolo é determinado pela

magnitude da diferença de carga e pela distância entre dois centros de carga (PAVIA et al,

2010).

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As características de uma vibração atômica podem ser aproximadas por um modelo

mecânico, o qual considera que a ligação entre duas massas (átomos) é feita por uma mola,

em que a frequência de vibração da mola é descrita pela Lei de Hooke (OZAKI et al, 2007).

Uma perturbação de uma dessas massas ao longo do eixo da mola resulta em uma

vibração chamada movimento harmônico simples. As vibrações moleculares podem ser

classificadas em dois tipos, vibração de deformação axial ou estiramento e vibração de

deformação angular podendo estas deformações ser simétricas ou assimétricas. As

deformações de estiramento são oscilações radiais das distâncias entre os núcleos, e as

deformações angulares envolvem mudanças dos ângulos entre o plano que contém a ligação e

um plano de referência. As vibrações de deformação angular podem ser de quatro tipos:

simétrica no plano, assimétrica no plano, simétrica fora do plano e assimétrica fora do plano

(PAVIA et al, 2010). Na figura 3, é ilustrado as diferentes formas de vibrações moleculares de

deformação.

Figura 3. Diferentes formas de vibrações moleculares de deformação (BRUICE, 2006).

O espectro no infravermelho médio apresenta vibrações fundamentais, onde as bandas

são intensas e bem definidas. Este pode ser subdividido em duas regiões, sendo a região de

4.000 cm-1

a 1.400 cm-1

, correspondente a bandas de absorção da maioria dos grupos

funcionais. Já a região de 1.400 cm-1

a 600 cm-1

é conhecida como região de impressão

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digital, onde cada substância apresenta um padrão específico de banda de absorção (PAVIA et

al, 2010).

As moléculas estão sujeitas ao desenvolvimento de vários efeitos inerentes às ondas

eletromagnéticas. A interação da radiação eletromagnética com a matéria pode ocorrer, por

exemplo, por meio de absorção, reflexão e espalhamento. Estas interações são características

dos átomos presente nas moléculas, bem como da região do espectro envolvida, permitindo a

identificação de compostos (POPESCU et al, 2015).

Para a caracterização de compostos na região do infravermelho pode-se utilizar entre

os mecanismos de medida, a absorbância, a transmitância e a reflectância, sendo que a técnica

de reflectância tem sido utilizada com a finalidade de determinar quantitativamente proteínas,

lipídeos e umidade em amostras sólidas (HOLLER; SKOOG; CROUCH, 2009).

A interação da radiação eletromagnética com a matéria pode sofrer diferentes tipos de

reflexão, tais como: reflexão difusa, reflexão especular, reflexão interna e reflexão total

atenuada (ibid).

Os espectros do FT-IR descrevem um sinal químico da amostra contendo informações

complexas onde as alterações na posição e intensidade das bandas no espectro estariam

associadas às alterações na composição química de uma amostra (ROHAETI et al, 2015).

3.2.2.1 Espectroscopia no Infravermelho com Transformada de Fourier e Reflectância

Total Atenuada (FT-IR-ATR)

Os espectrômetros de infravermelho começaram a ser usados na década de 40 do

século XX e têm sido alvo de inúmeras modificações. Um dos mais importantes avanços

nesta tecnologia foi à criação do espectrômetro de infravermelho com transformada de

Fourier (FT-IR). Este contém um interferômetro e explora um processo matemático

denominado transformada de Fourier. É utilizado para estudar desde impressões digitais

contaminadas, detectar falsificação, substâncias ilícitas até caracterizar materiais explosivos

(EWING; KAZARIAN, 2017).

A utilização da transformada de Fourier garante a otimização das funções da

espectrometria, permitindo maior sensibilidade e velocidade de análise (SALA, 2008).

A técnica baseia-se no interferômetro concebido por Michelson em finais do século

XIX. Neste aparelho, a radiação emitida interage com o divisor de feixe onde parte da

radiação segue na mesma direção e outra parte é refletida para um espelho fixo. Os espelhos

refletem a radiação de volta ao divisor de feixe onde se recombinam e interagem com a

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amostra. Os movimentos do espelho móvel determinam a intensidade com que a radiação

interage com a amostra, em função do espaço que o espelho percorre. O movimento com

velocidade constante do espelho móvel forma o interferograma. Este é posteriormente

convertido num espectro através dos algoritmos matemáticos da transformada de Fourier

(HOLLER; SKOOG; CROUCH, 2009). Na figura 4, é ilustrado a esquemática do

interferômeto de Michelson, o interferograma gerado e o espectro.

O recurso da transformada de Fourier permite uma melhor manipulação dos dados,

uma vez que o sinal analógico é convertido num sinal digital, o ruído é minimizado, a

resolução é melhorada e é possível a leitura de espectros de amostras em movimento

(FORATO et al, 2010).

Figura 4. Representação esquemática do interferômeto de Michelson, o interferograma gerado

e o espectro (FORATO et al, 2010).

O princípio da reflectância atenuada (ATR) está baseado na ocorrência de reflexão

com a passagem de um feixe de radiação de um meio mais denso (cristal de ATR), com índice

de refração superior ao da amostra, para um menos denso (amostra), induzindo a reflexão

interna total da radiação incidente, a qual é atenuada e penetra na amostra como uma onda

evanescente. O elemento de reflexão interna pode ser um diamante, selenito de zinco (ZnSe),

germânio ou silício. A penetração da radiação na amostra é particular a cada comprimento de

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onda e depende do índice de refração da amostra, do índice de refração do elemento de

reflexão interna e do ângulo de incidência da radiação (RASPE, 2011).

O feixe penetra uma fração de comprimento de onda para além da superfície refletora

e, quando o material que absorve seletivamente a radiação está em contato com a superfície, o

feixe perde energia no comprimento de onda em que o material absorve. É medida a radiação

atenuada resultante e usada pelo espetrofotômetro como uma função de comprimento de onda,

dando assim as características espectrais de absorção da amostra (HOLLER; SKOOG;

CROUCH, 2009).

A utilização de FT-IR-ATR permite obter maior precisão na medição, melhor relação

sinal/ruído, além de apresentar maior facilidade e agilidade na aquisição dos dados da amostra

(MAHAMUNI; ADEWUYI, 2009).

FT-IR-ATR fornece medições rápidas e reprodutíveis para amostras que contêm mais

do que 1% de AGT (MOSSOBA et al, 2011).

O método FT-IR-ATR, oficial AOAC 2000.10, tem sido ferramenta de escolha para a

determinação rápida de todas as ligações duplas trans isoladas em óleos e gorduras.

Proporciona redução significativa no tempo de análise total, quando comparados com os

outros métodos de análise, como AOAC 996.06. O impacto adverso sobre a precisão pode ser

observado, próximo de 5% trans do total de gordura, que é limite estabelecido pelo método

oficial (COLLISON et al, 2010).

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4 – MATERIAIS E MÉTODOS

4.1 AMOSTRAS

Foram escolhidas 9 marcas de biscoitos recheados sabor chocolate, de preços

variáveis, das quais foram comprados 3 pacotes de lotes distintos. Todas as amostras foram

compradas em mercado da cidade do Rio de Janeiro.

As amostras foram removidas das embalagens e homogeneizadas (os três lotes

diferentes de cada amostra juntos) em multiprocessador de alimentos (Black & decker,

modelo HC31) e armazenadas em sacos plásticos livres de ar, cobertos por papel alumínio e

mantidos congelados em freezer a -18°C.

As amostras foram denominadas de A, B, C, D, E, F, G, H, I.

Foi adquirido, em mercado da cidade do Rio de Janeiro, 1 pacote de gordura vegetal

hidrogenada para ser usada como padrão secundário para análise de AGT por FT-IR-ATR.

Todas análises foram feitas na Faculdade de Farmácia da UFF, Niterói, no período de

janeiro de 2016 até junho de 2017.

4.2 ANÁLISES QUÍMICAS DAS AMOSTRAS DE BISCOITOS RECHEADOS E

GORDURA VEGETAL HIDROGENADA

4.2.1 Determinação de umidade das amostras de biscoito recheado

A análise de umidade das amostras foi feita segundo as normas analíticas do Instituto

Adolfo Lutz (SÃO PAULO, 2008). Foram pesados cerca de 5 g de amostra em cápsulas de

porcelana, e o conjunto foi aquecido durante 6 horas em estufa a 105ºC e resfriado em

dessecador por 15 minutos para posterior pesagem. A operação de aquecimento por 1 hora e

resfriamento em dessecador por 15 minutos foi repetida até peso constante.

4.2.2 Determinação do conteúdo de lipídeos em biscoito recheado

O conteúdo total de lipídeos foi obtido pelo método de Soxhlet de acordo as normas

analíticas do Instituto Adolfo Lutz (2008), devido ao fato das amostras apresentarem

interferentes na sua composição que influenciaram na quantificação de lipídeos totais pelo

método Bligh- Dyer (1959).

Foram pesados, cerca de 5 g da amostra em cartucho de Soxhlet. A amostra foi coberta

com pedaço de algodão desengordurado. A extração foi levada a efeito em extrator contíuo

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(Soxhlet), com éter de petróleo, por 6 horas. Ao término da extração, recuperou-se por

destilação, a maior parte do solvente utilizado. Finalizada a evaporação do solvente, balão

com resíduo foi colocado em estufa a 105ºC. Em seguida, o balão foi resfriado em dessecador

até a temperatura ambiente e pesado. Com os dados obtidos, foi calculada a concentração em

lipídeo de cada amostra.

Para as análises de AGT em biscoitos por cromatografia gasosa e FT-IR- ATR, os

lipídeos foram extraídos a frio de acordo com método Bligh- Dyer (1959), onde três gramas

de amostra previamente homogeneizada foram transferidos para erlenmeyer, sendo

adicionados 10 mL de clorofórmio, 20 mL de metanol e 8 mL de água destilada e vedado.

Quando a amostra contém teor de água acima de 10%, é preciso descontar a umidade da

amostra na água fornecida, com o objetivo de manter a relação dos solventes 1:2:0,8, para

coexistir uma solução homogênea.

Para isso foi analisada a umidade, previamente, das amostras. Em seguida, os

solventes com a amostra foram agitados em shaker (Lucadema, 222) por 30 minutos, em 175

rotações por minuto (rpm). Após, foi retirado o líquido e repetida mais duas vezes a etapa,

transferindo o sobrenadante para funil de decantação. Posteriormente, foram adicionados 20

mL de cloreto de sódio a 10% e 10 mL de clorofórmio. A adição de mais clorofórmio e mais

água muda a proporção para 2:2:1,8 (v/v/v), causando a separação total do clorofórmio que

carrega os lipídeos (camada inferior). Foi retirada a camada inferior (clorofórmio) e colocada

num tubo de 30 mL. Foi adicionado 1g de sulfato de sódio anidro. A solução foi tampada e

agitada para remover os traços de água. Em seguida, foi filtrada em um funil com papel de

filtro, dando origem a uma solução límpida. Posteriormente, foi colocada em balão de fundo

redondo (previamente tarado) e foi evaporado o solvente em evaporador rotativo, sob vácuo

(Fisatom, 801) a 40°C. Posteriormente foi pesado o balão. A operação foi realizada em

duplicata.

4.3 DETERMINAÇÃO DO PERFIL DE ÁCIDOS GRAXOS DO BISCOITO E

GORDURA VEGETAL HIDROGENADA

4.3.1 Hidrólise de glicerídeos e esterificação de ácidos graxos para análise por

cromatografia gasosa.

A esterificação dos ácidos graxos foi realizada segundo a técnica por Hartman e Lago

(1973). Para ocorrer a hidrólise e esterificação dos ácidos graxos foram pesados de 100 a 400

mg do material lipídico em balão de fundo chato de 250 mL, aos quais foram adicionados 5

mL de solução metanólica de hidróxido de sódio 0,5 N, e deixou-se em ebulição com refluxo

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por 3 a 5 minutos. Na solução quente foram adicionados 15 mL do reagente de esterificação

(2 g de cloreto de amônio e 3 mL de ácido sulfúrico concentrado, em 60 mL de metanol,

misturados em refluxo por 15 minutos) e deixou-se em refluxo por 3 minutos.

Depois do resfriamento, a mistura foi colocada em funil de decantação de 250 mL e

foram acrescentados 50 mL de água destilada e 50 mL de éter de petróleo. Após a separação,

a fase com éter foi lavada com mais duas vezes com 25 mL de água destilada e descartada a

camada aquosa. A fase com éter foi filtrada em sulfato de sódio anidro e, posteriormente, foi

evaporado o solvente com o uso do evaporador rotativo sob vácuo (Fisatom, 801), a 40°C, e

o extrato foi colocado em frasco eppendorf, que foi lacrado e colocado em freezer (-18°C)

para posterior análise por cromatografia gasosa.

4.3.2 Avaliação da análise de AGT em biscoito recheado e gordura vegetal hidrogenada

por CG-EM

Com intuito de identificar os principais ácidos graxos presentes nas amostras de

biscoitos recheados e de gordura vegetal hidrogenada e, quantificar o ácido elaídico (C18:1,

n9 trans), AGT majoritário nestes tipos de amostras, utilizou-se a cromatografia gasosa

acoplada à espectrometria de massas (CG-EM).

Um microlitro de solução dos ésteres metílicos de ácidos graxos (FAME), em hexano

grau HPLC, foi injetado no cromatógrafo da marca Shimadzu, modelo CG 210 Plus, acoplado

a espectrômetro de massas EM QP2010 ULTRA. A coluna usada foi capilar, com fase 5%

difenil/95% dimetil-polisiloxano, modelo Rtx - 5 MS (30 m × 0,25 mm × 0,25 µm), usando o

hélio 5.0 como gás de arraste, com fluxo de 0,74 mL/minuto.

A temperatura inicial do forno da coluna foi 160 ºC por 1 minuto, que foi elevada até

182 ºC por 5 minutos na taxa de 0,5 ºC/min. Depois, foi elevada até 200 ºC na taxa de 3

ºC/min, chegando até 230 ºC, na taxa de 1 ºC/min, permanecendo por 15 minutos. A

temperatura de fonte de íons foi 180 ºC; a do injetor foi 220 ºC e a da interface foi 220 ºC. O

modo de injeção foi split/splitless e intervalo de m/z considerado foi 40.00 até 650.00.

O detector de espectrometria de massas operou com ionização por impacto de elétrons

(EI) de 70 eV. O analisador de íons foi quadrupolo e o modo de análise foi varredura de

íons (full scan).

O ácido elaídico, presente nas amostras, após hidrólise e metilação como elaidato de

metila foi identificado comparando o espectro de massa de fragmentação pela similaridade

dada pela biblioteca do aparelho (Nist- National Institute of Standards and Technology), pela

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comparação com o tempo de retenção do padrão elaidato de metila (10mg/mL em heptano, da

Sigma-Aldrich) e após confirmação com fortificação das amostras com 60 μL de solução

padrão de elaidato de metila (100 μL/mL em hexano grau HPLC).

O perfil dos ácidos graxos de cada amostra foi determinada pelo cromatograma de

íons totais (TIC) e identificado pela similaridade do espectro de massa de fragmentação dada

pela biblioteca do aparelho (Nist- National Institute of Standards and Technology).

4.3.3 Avaliação da análise de AGT em biscoito recheado por FT-IR-ATR com extração

da gordura, sem extração prévia da gordura e após hidrólise de glicerídeos e

esterificação de ácidos graxos

4.3.3.1 Aquisição dos espectros

A aquisição dos espetros de infravermelho das amostras foi efetuada em

espectrôfotometro de FT-IR-ATR de bancada, modelo IR TRACER 100, da Shimadzu,

equipado com dispositivo amostrador horizontal por reflectância total atenuada (ATR) com

cristal de ZnSe e diamante, divisor de feixe de brometo de potássio (KBr) e detector de

sulfato de triglicina deuterado (DLATGS)

O tratamento de dados foi realizado com o software LabSolutions IR (Shimadzu).

Os espetros foram medidos na região entre 4.000 cm-1

e 600 cm-1

, com resolução de 4

cm-1

e 45 scans, com um tempo total de aquisição de cerca de 6 minutos. Após cada

varredura, ocorreu remoção da amostra da superfície do cristal, que foi limpo com álcool

isopropílico.

Antes da análise foi realizada um espectro de background do ar (45 scans), sendo o

mesmo utilizado para descontar a influência dos componentes do ar no espectro.

O erro das determinações de absorbância foi de 0,125 cm-1

.

As amostras de biscoito recheado sem a etapa prévia de extração (apenas

homogeneizadas), com auxílio de uma espátula, foram colocadas diretamente sobre o cristal

de ATR em quantidades suficientes para cobrí-lo e prensados para serem atravessadas pela

radiação.

Já as amostras com extração e derivatização, foram dissolvidas em hexano grau

HPLC. Foram colocados 10 μL de solução, com auxílio de uma pipeta, no cristal de ATR

sobre uma célula-contentora, e foram aguardados 5 minutos para a evaporação completa do

solvente.

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A presença de AGT foi identificada por meio da visualização da banda próxima a 966

cm−1

e confirmada com adição de padrão às amostras. As amostras como extratos foram

fortificadas com, cerca de 1 mg de gordura vegetal hidrogenada (contendo ácido elaídico no

triglicerídeo) e amostras hidrolisadas e esterificadas foram fortificadas com cerca de 0,05 mL

do padrão de elaidato de metila (100 μL/mL em hexano grau HPLC).

Todas as análises foram realizadas em temperatura ambiente e em triplicata.

4.4 QUANTIFICAÇÃO DO ACÍDO ELAÍDICO

4.4.1 Quantificação do ácido graxo elaídico por CG-EM

Para a quantificação foi realizada padronização externa com curva de calibração

variando em cinco concentrações diferentes (6μg/mL, 30 μg/mL, 35 μg/mL, 40 μg/mL e 70

μg/mL).

Com os dados obtidos, foi calculada a conversão do elaidato de metila (massa

molecular 296,49 g/mol) presente nas amostras hidrolisadas e esterificadas (FAME) para

ácido elaídico (massa molecular de 281,45 g/mol, considerando um hidrogênico a menos,

devido a inserção do ácido elaídico no glicerol).

As amostras foram analisadas em g por 100g de gordura total e usado o teor de

lipídeo total analisado previamente para cada amostra, como base de cálculo para a

determinação do teor de ácido elaídico em g por 100 g de biscoito.

4.4.2 Quantificação de ácidos graxos trans por FT-IR-ATR

Estas análises foram feitas com base no estudo feito por CHO et al (2011), com

algumas modificações. As amostras, tanto de extrato quanto as que sofreram derivatização,

com concentrações padronizadas (100 mg/mL em hexano grau HPLC), foram colocadas

diretamente sobre o cristal de selenito de zinco e diamante do dispositivo para ATR do

aparelho, com auxílio de uma pipeta automática (colocando 10 μL de solução e aguardando 5

min para a evaporação por completa do hexano. A análise foi realizada em triplicata.

Para curva de calibração, foi feita adição de soluções padrões de calibração,

constituídas de misturas de gordura vegetal hidrogenada e óleo de soja. A análise prévia do

óleo de soja indicou que este não apresentou a banda de absorção em 966 cm−1

, característica

dos AGT. Sendo assim, foram elaborados padrões de gordura sem esterificação, através da

mistura do óleo de soja e gordura vegetal hidrogenada, de modo a serem obtidas amostras,

sem hidrólise e esterificação, de gorduras com diferentes concentrações de AGT.

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Vale ressaltar que a análise de AGT foi feita previamente na gordura hidrogenada

(CG-EM), para determinar o teor de AGT neste material, de forma que esta gordura pudesse

ser usada como padrão secundário para AGT na forma esterificada nos triglicerídeos.

Destaca-se que o ácido elaídico foi o único AGT identificado na gordura vegetal hidrogenada

utilizada.

Foram construídas duas curvas-padrão para quantificação de ácido elaídico nas

amostras, na forma de extrato lipídico e em forma de FAME, por meio da mistura de gordura

vegetal hidrogenada e óleo de soja (curva 1) e da mistura de elaidato de metila e ésteres

metílicos dos ácidos graxos oriundos do óleo de soja (curva 2). Estes últimos foram obtidos

no laboratório, após, hidrólise de glicerídeos e esterificação da mistura.

Os padrões de calibração para a curva 1 foram preparados pela adição de gordura

vegetal hidrogenada ao óleo vegetal comercial, de modo que a concentração de ácido elaídico

na amostra fosse de 0,43%, 1,75%, 17%, 26%, 35%.

O resultado foi expresso em porcentagem de ácido elaídico na gordura. Foi obtido o

espectro de absorção no infravermelho, para cada padrão elaborado, e depois determinou-se a

área e a altura da banda próxima a 966 cm-1

. A curva de calibração foi construída

considerando a concentração de AGT na gordura versus a área ou altura da banda a 966 cm-1

.

Nas amostras metiladas, foi detectado o conteúdo de ácido graxo elaídico, por

conversão de massa molecular de elaidato de metila (296,49 g/mol) para ácido elaídico

(281,45 g/mol, considerando um hidrogênio a menos, devido a inserção do ácido elaídico no

glicerol) inserido na gordura.

Foi analisado AGT em g por 100 g de gordura total, posteriomente calculado para g

por 100 g de biscoito (com o valor do lipídeo total calculado previamente) e g por porção de

consumo (30 g).

4.5 ANÁLISE DOS RÓTULOS DAS AMOSTRAS DE BISCOITO RECHEADOS

Os rótulos das amostras dos biscoitos recheados sabor chocolate foram avaliados,

considerando-se a descrição dos ingredientes e nomeclatura usada para determinar, caso

presente, os AGT.

Foi identificado o teor de lipídeo total por porção (30g), como descrito na embalagem

do biscoito e, posteriormente convertido para 100 g de biscoito e comparado aos resultados

obtidos pela análise de lipídeo total realizada nos biscoitos.

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51

4.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Comparações entre os resultados obtidos por CG-EM, FT-IR-ATR com extração e FT-

IR-ATR com amostras de FAME, para verificação de diferença significativa, foram feitas por

meio de análise de Variância (ANOVA one way), com pós-teste de Tukey.

Foi considerado p<0,05 para determinação de diferença significativa. Foi usado

cálculo de média e desvio padrão para todas as análises. Análises estatísticas foram efetuadas

com o programa GraphPad Prism 5.0.

Para a função de regressão linear da curva padrão de calibração foi utilizado o

programa microsoft Excel 2013.

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5- RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Caracterização das amostras analisadas

Inicialmente determinou-se a concentração de umidade e de lipídeos totais das

amostras, cujos resultados médios de umidade variaram de 2,28 ± 0,16 a 6,03 ± 0,19 (g/100g)

e de lipídeos totais variaram de 12,51±0,58 a 23,84±0,09 (g/100 g), indicando

heterogeneidade entre as amostras de biscoitos analisados.

Em relação ao rótulo, as amostras C, D, G, H e I apresentaram valores menores de

lipídeos totais do que os declarados no rótulo, enquanto as demais amostras analisadas com

valores próximos aos declarados, como pode ser observado na tabela 2.

De acordo com a Comissão Brasileira de Normas e Padrões de Alimentos (CNNPA),

resolução nº 263 de 2005, a umidade máxima para biscoitos permitida é de 14% (MARTIN;

MATSHUSHITA; SOUZA, 2004). Para todas as amostras, não foi observada concentração de

umidade superior a 6,03 g/100g, estando dentro do preconizado pela legislação brasileira.

Tabela 2. Determinação do conteúdo de lipídeos das amostras de biscoitos recheados de

chocolate analisados

Amostras Umidade

(g/100 g)

Lipídeos

totais

analisados

(g/100 g)

Lipídeos

totais

analisados

(porção 30g)

Lipídeos

totais

declarados

no rótulo

(g/100 g)

Lipídeos totais

declarados no

rótulo

(porção 30 g)

Biscoito A 2,28±0,16 23,84± 0,09 7,15 ±0,04 23,67 7,1

Biscoito B 3,35±0,39 21,35±0,83 6,405±0,53 21,33 6,4

Biscoito C 4,19±0,84 17,40±0,06 4,32±0,02 18,00 5,4

Biscoito D 4,54±0,28 15,52±1,90 4,66±0,81 20,00 6,00

Biscoito E 6,03±0,19 12,51±0,58 3,753±0,25 13,00 3,90

Biscoito F 5,47±0,44 17,93±0,01 5,40±0,004 17,00 5,1

Biscoito G 3,96±0,31 14,02±1,93 4,206±0,82 17,00 5,1

Biscoito H 4,25±0,14 16,10±0,64 4,83±0,27 18,33 5,5

Biscoito I 3,55±0,27 13,74±0,01 4,12±0,004 15,00 4,5

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Vale ressaltar que a ANVISA não exige a análise constante e periódica destes

produtos, no que se refere à sua composição. A exigência é de realização de análise, apenas,

uma vez, ao iniciar a comercialização do produto. Portanto, um produto que foi analisado há

dez anos pode ter variado sua composição, ou o lote, mas a empresa pode elaborar seu rótulo

por meio de tabelas de composição de alimentos e não da análise, o que justifica diferença

entre os resultados da análise e dos rótulos (SREBERNICH; GONÇALVES; BAGGIO,

2013). Esta constatação pode ser um problema quanto ao fornecimento de informações

acuradas ao consumidor.

Diferenças entre a composição química de alguns alimentos e o conteúdo apresentado

em tabelas nacionais de referência e rótulos sugerem que a intervenção nutricional possa estar

sendo comprometida em nosso meio (PINTO et al, 2016).

5.2 AVALIAÇÃO DA ANÁLISES DE AGT EM BISCOITO RECHEADO POR CG-

EM

A metodologia oficial para análise de ácidos graxos em alimentos, recomendada pela

AOAC, faz utilização da técnica de cromatografia gasosa com detector de ionização em

chama (DIC) e padrões com certificado de referência, de modo a comparar os tempos de

retenção dos padrões com o das amostras analisadas, bem como a utilizar o método de

calibração externa para a quantificação dos componentes (AOAC, 2001). Posteriormente,

foram propostas alterações no método AOAC 996.06, as quais preveem utilização da técnica

de cromatografia gasosa com detector de massas (CG-EM) para confirmar a identidade de

ácidos graxos (AUED- PIMENTAL et al, 2016).

A cromatografia a gás com detector de massas é um método analítico bastante eficaz

na identificação de compostos e também na quantificação, especialmente no caso dos AG dos

alimentos presentes em pequenas quantidades (THURNHOFER; VETTER, 2005).

Por meio da análise de CG-EM, foi possível identificar preliminarmente os ácidos

graxos e, posteriormente, identificar e quantificar o ácido graxo trans predominante, ácido

elaídico, em todas as amostras de biscoitos e gordura vegetal hidrogenada.

Nas figuras 5 e 6, são ilustrados cromatograma obtidos nas análises de gordura

vegetal hidrogenada comercial e de uma amostra de biscoito recheado de chocolate (amostra

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54

B), sendo os demais cromatogramas apresentados no anexo I deste trabalho.

Figura 5. Cromatograma de íons totais (TIC) para identificação dos principais ésteres

metílicos de ácidos graxos obtidos da amostra de gordura vegetal hidrogenada por

cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas (tempo de retenção (TR) versus

intensidade). NOTA: Compostos identificados: picos 2. C16:0 (ácido palmítico); 3. C18:2

(ácido linoleico); 4. C18:1, n9-cis (ácido oléico); 5. C18:1, n9-trans (ácido elaídico) 6. C18:0

(ácido esteárico).

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Figura 6. Cromatograma de íons totais (TIC) para identificação dos principais ésteres

metílicos de ácidos graxos obtidos da amostra de biscoito B por cromatografia gasosa

acoplada à espectrometria de massas (tempo de retenção (TR) versus intensidade). NOTA:

Compostos identificados: picos 1. C16:0 (ácido palmítico); 2. C18:2 (ácido linoleico);

3.C18:1, n-9-cis (ácido oleico) 4. C18:1, n9-trans (elaídico) 5. C18:0 (ácido esteárico); 6.

C18:2, n9- trans, n12-trans (ácido linolelaidico).

No presente trabalho, foram testadas diferentes condições cromatográficas para

obtenção de melhores separações dos picos, sendo descrita na metodologia a melhor

alternativa encontrada. Foram otimizados os parâmetros como: temperatura do injetor, que

deve ser suficientemente elevada para que a amostra vaporize imediatamente, mas sem a

decomposição da amostra; volume injetado, de acordo com o tipo de coluna e o estado físico

da amostra; modo de injeção split/splitess, que previne a introdução de compostos não

voláteis da amostra; controle da temperatura do forno, para que em temperatura mais baixa,

os componentes mais voláteis sejam separados e em temperaturas mais altas, contribuir para

que os componentes menos voláteis eluam mais rapidamente.

No entanto, conforme foi demostrado nos cromatogramas acima, foram observadas

algumas sobreposições e co-eluições, justificadas sobretudo pela coluna de menor

comprimento (30 metros).

Ao analisar os cromatogramas, verifica-se que, na gordura vegetal hidrogenada,

apenas foi encontrado o AGT elaídico (C18:1, n9-trans), enquanto no cromatograma da

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56

amostra de biscoito B, além do AGT elaídico, identificado também o ácido linolelaidico

(C18:2, n9- trans, n12-trans).

O ácido elaídico foi identificado em todas as amostras analisadas, já o ácido

linolelaídico não foi encontrado em todas as amostras de biscoito. Em função da limitação de

recurso financeiro na execução da pesquisa apresentada, foi apenas efetuada a identificação e

quantificação do ácido elaídico nas amostras, através do padrão elaidato de metila, o que não

compromete o resultado porque o ácido majoritário é o ácido elaídico.

Alguns picos de compostos trans podem sobrepor aos pico de seus isômeros cis. O

motivo é que a hidrogenação parcial pode alterar a configuração geométrica e mudar a

posição da dupla ligação. Assim, a dupla pode existir entre C4 e C16. Embora a sobreposição

de picos pode incorrer no erro analítico, o ácido elaídico (C18:1, n9 trans) ou ácido

octadecenoico (C18:1, n10 trans) podem ser separados o suficiente do majoritário (C18:1, n9

cis) (MCDONALD; MOSSOBA, 2002).

Utilização de colunas maiores podem otimizar a determinação do teor total de

isômeros C18:1 trans, minimizando a sobreposição desses (GANGULY; PIERCE, 2015).

Métodos oficiais, como Ce 1h-05 e 996.06, sugerem comprimento das colunas

capilares estendidas para 100 ou 120 m para melhor resolução do isolamento de isômeros cis /

trans (FIRESTONE, 2009a; AOAC, 2001).

Observa-se mesmo perfil de ácidos graxos encontrado nas amostras de biscoitos e

gordura vegetal. Em todas as amostras, foram identificadas prováveis estruturas do ácido

palmítico (C16:0) e esteárico (C18:0), dois ácidos graxos saturados. Quanto aos ácidos graxos

insaturados, em todas as amostras, foram identificadas estruturas prováveis de ácido oleico

(C18:1, n-9 cis) e linoleico (C18:2, n6 cis). Quanto a presença dos isômeros trans, ácido

elaídico (C18:1, n-9 trans) foi identificado e confirmado em todas as amostras. Também foi

encontrado ácido linolelaídico (C18:2, n9- trans, n12-trans) nas amostras A e B, além do

ácido trans 13-octadecenoico (C18: 1, n-13 trans) nas amostras E, F e H. Em todas as

amostras de biscoitos em que foi encontrado outro AGT, além do elaídico, foi observado, no

cromatograma, picos pequenos, sendo elaídico o pico em destaque.

Na tabela 3, são demonstradas as estruturas dos ésteres metílicos de ácidos graxos

(FAME) encontrados e nas tabelas 4 a 13 são apresentados os prováveis ácidos graxos,

identificados através de CG-EM, nas amostras de gordura vegetal hidrogenada e de biscoitos

recheados sabor chocolate.

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Tabela 3 – Estruturas químicas dos principais ésteres metílicos de ácidos graxos (FAME)

encontrados nas amostras analisadas

Provável ácido graxo Ésteres metílicos dos ácidos graxos

Ácido palmítico (C16:0)

Ácido linoleico (C18:2, n-6 cis)

Ácido oleico (C18:1, n-9-cis)

Ácido elaídico (C18:1, n9-trans)

Ácido esteárico (C18:0)

Ácido linolelaidico (C18:2, n9-

trans, n12-trans)

Ácido trans 13-octadecenoico

(C18:1, n-13 trans)

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Tabela 4. Perfil dos principais ácidos graxos presente na gordura vegetal hidrogenada

Pico Tempo

de

retenção

(minutos)

Provável ácido graxo Índice de

similaridade*

2 20.847 ácido hexadecanoico

(ácido palmítico)

(C16:0)

94%

3 34.745 ácido cis, cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

96%

4 35,422 ácido cis 9-octadecenoico

(ácido oleico)

C18:1, n-9-cis

94%

5 36,463 ácido trans-9-octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

93%

6 38,290 ácido octadecanoico

(ácido esteárico)

(C18:0)

94%

*Expressa a precisão do resultado, quanto mais próximo de 100%, apresenta maior

confiabilidade entre a estrutura do ácido graxo encontrado e a sua identificação pela biblioteca

do aparelho.

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Tabela 5. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado A

Pico Tempo

de

retenção

(minutos)

Provável ácido graxo Índice de

similaridade*

1 21.113 ácido hexadecanoico

(ácido palmítico)

C16:0

94%

2 34.808 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

94%

3 34.90 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

88%

4 35.021 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

92%

5 35.142 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

88%

6 35.965 ácido cis 9-octadecenoico

(ácido oleico)

C18:1, n-9-cis

94%

7 36.196 ácido trans 9-octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

93%

8 36.575 ácido trans 9-octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

91%

9 38.494 ácido octadecanoico

(ácido esteárico)

C18:0

95%

10 41.616 ácido trans, trans-9,12-

octadecadienoico

(ácido linolelaidico)

C18:2, n9- trans, n12-trans

92%

*Expressa a precisão do resultado, quanto mais próximo de 100%, apresenta maior

confiabilidade entre a estrutura do ácido graxo encontrado e a sua identificação pela biblioteca

do aparelho.

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Tabela 6. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado B

Pico Tempo

de

retenção

(minutos)

Provável ácido graxo Índice de

similaridade*

1 21.055 ácido hexadecanoico

(ácido palmítico)

C16:0

94%

2 34.871 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

93%

3 35.8 ácido cis 9-

octadecenoico

(ácido oleico)

C18:1, n-9-cis

94%

4 36,124 ácido trans 9-

octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

93%

5 38,447 ácido octadecanoico

(ácido esteárico)

C18:0

95%

6 41,646 ácido trans, trans-9,12-

octadecadienoico

(ácido linolelaidico)

C18:2, n9- trans, n12-

trans

92%

*Expressa a precisão do resultado, quanto mais próximo de 100%, apresenta maior

confiabilidade entre a estrutura do ácido graxo encontrado e a sua identificação pela biblioteca

do aparelho.

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Tabela 7. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado C

Pico Tempo

de

retenção

(minutos)

Provável ácido graxo Índice de

similaridade*

1 20.856 ácido hexadecanoico

(ácido palmítico)

C16:0

94%

2 34.765 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

96%

3 35.463 ácido cis 9-

octadecenoico

(ácido oleico)

C18:1, n-9-cis

94%

4 36.111 ácido trans 9-

octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

90%

5 38.281 ácido octadecanoico

(ácido esteárico)

C18:0

94%

*Expressa a precisão do resultado, quanto mais próximo de 100%, apresenta maior

confiabilidade entre a estrutura do ácido graxo encontrado e a sua identificação pela biblioteca

do aparelho.

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Tabela 8. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado D

Pico Tempo

de

retenção

(minutos)

Provável ácido

graxo

Índice de similaridade*

1 20.966 ácido hexadecanoico

(ácido palmítico)

C16:0

95%

2 34.999 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

96%

3 35,769 ácido cis 9-

octadecenoico

(ácido oleico)

C18:1, n-9-cis

95%

4 36,267 ácido trans 9-

octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

93%

5 36,591 ácido trans 9-

octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

93%

6 38,461 ácido octadecanoico

(ácido esteárico)

C18:0

95%

*Expressa a precisão do resultado, quanto mais próximo de 100%, apresenta maior

confiabilidade entre a estrutura do ácido graxo encontrado e a sua identificação pela biblioteca

do aparelho.

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Tabela 9. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado E

Pico Tempo

de

retenção

(minutos)

Provável ácido graxo Índice de

similaridade*

1 20.851 ácido hexadecanoico

(ácido palmítico)

C16:0

94%

2 34.735 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

96%

3 35.390 ácido cis 9-

octadecenoico

(ácido oleico)

C18:1, n-9-cis

92%

4 36.407 ácido trans 9-

octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

93%

5 37.108 ácido trans 13-

octadecenoico

(C18:1, n-13 trans)

82%

6 38.281 ácido octadecanoico

(ácido esteárico)

C18:0

94%

*Expressa a precisão do resultado, quanto mais próximo de 100%, apresenta maior

confiabilidade entre a estrutura do ácido graxo encontrado e a sua identificação pela biblioteca

do aparelho.

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Tabela 10. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado F

Pico Tempo

de

retenção

(minutos)

Provável ácido graxo Índice de

similaridade*

2 20.791 ácido hexadecanoico

(ácido palmítico)

C16:0

94%

3 20.867 ácido hexadecanoico

(ácido palmítico)

C16:0

86%

4 34.725 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

96%

5 35.475 ácido cis 9-

octadecenoico

(ácido oleico)

C18:1, n-9-cis

95%

6 36.465 ácido trans 9-

octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

93%

7 37.133 ácido trans 13-

octadecenoico

(C18:1, n-13 trans)

92%

9 38.286 ácido octadecanoico

(ácido esteárico)

C18:0

95%

*Expressa a precisão do resultado, quanto mais próximo de 100%, apresenta maior

confiabilidade entre a estrutura do ácido graxo encontrado e a sua identificação pela biblioteca

do aparelho.

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Tabela 11. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado G

Pico Tempo

de

retenção

(minutos)

Provável ácido

graxo

Índice de

similaridade*

1 20.927 ácido hexadecanoico

(ácido palmítico)

C16:0

94%

2 35.049 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

96%

3 35.760 ácido cis 9-

octadecenoico

(ácido oleico)

C18:1, n-9-cis

93%

4 36.275 ácido trans 9-

octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

94%

5 36.656 ácido trans 9-

octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

93%

6 38.492 ácido octadecanoico

(ácido esteárico)

C18:0

94%

*Expressa a precisão do resultado, quanto mais próximo de 100%, apresenta maior

confiabilidade entre a estrutura do ácido graxo encontrado e a sua identificação pela biblioteca

do aparelho.

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Tabela 12. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado H

Pico Tempo

de

retenção

(minutos)

Provável ácido

graxo

Índice de

similaridade*

3 20,815 ácido

hexadecanoico

(ácido palmítico)

C16:0

94%

4 34,712 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

96%

5 35.358 ácido cis 9-

octadecenoico

(ácido oleico)

C18:1, n-9-cis

92%

6 36.362 ácido trans 9-

octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

93%

7 37.092 ácido trans 13-

octadecenoico

(C18:1, n-13

trans)

87%

8 38.249 ácido

octadecanoico

(ácido esteárico)

C18:0

95%

*Expressa a precisão do resultado, quanto mais próximo de 100%, apresenta maior

confiabilidade entre a estrutura do ácido graxo encontrado e a sua identificação pela biblioteca

do aparelho.

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Tabela 13. Perfil dos principais ácidos graxos presente no biscoito recheado I

Pico Tempo

de

retenção

(minutos)

Provável ácido

graxo

Índice de

similaridade*

1 20.975 ácido hexadecanoico

(ácido palmítico)

C16:0

94%

2 21.017 ácido hexadecanoico

(ácido palmítico)

C16:0

93%

3 35.075 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

89%

4 35.150 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

92%

5 35.251 ácido cis cis 9,12

octadecadienoico

(ácido linoleico)

C18:2, n-6 cis

95%

6 35.901 ácido cis 9-

octadecenoico

(ácido oleico)

C18:1, n-9-cis

93%

7 36.203 ácido trans 9-

octadecenoico

(ácido elaídico)

C18:1, n9-trans

92%

8 38.599 ácido octadecanoico

(ácido esteárico)

C18:0

95%

9 56.415 ácido eicosenoico

(C20:1, n11 -cis)

93%

10 58.803 ácido eicosanoico

(C20:0)

89%

*Expressa a precisão do resultado, quanto mais próximo de 100%, apresenta maior

confiabilidade entre a estrutura do ácido graxo encontrado e a sua identificação pela biblioteca

do aparelho.

A confirmação da presença do ácido elaídico nas amostras de biscoito recheado e

gordura vegetal hidrogenada foi através da similaridade oferecida pela biblioteca do aparelho,

pelo tempo de retenção do padrão (figura 7), espectro de massas do TR médio (36.30 min) do

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68

padrão (figura 8) e pela fortificação das amostras com 60 μL de solução de padrão de elaidato

de metila (100 μL/ml em hexano grau HPLC), observado nas figuras 9 e 10.

Figura 7. Zoom do TIC do padrão de elaidato de metila (visualização do TR 36.300 min)

50.0 75.0 100.0 125.0 150.0 175.0 200.0 225.0 250.0 275.0 300.0

0

50

100

%

55

41 6974 97

264110123 222180152137 166 296223207 246

Figura 8. Espectro de massas do padrão de elaidato de metila (TR 36.30 min)

Apesar da comparação com o espectro de massa do padrão, sabe-se que não existe

uma característica que permite identificar a localização da dupla ligação, já que pode migrar

para qualquer posição quando a cadeia alquila é ionizada no espectrômetro de massa. Assim,

quase todos os isômeros cis e trans do C18:1, tem espectros virtualmente idênticos (CHEN et

al, 2015). Porém, com tempo de retenção do padrão da substância permite identificá-la, ao

fortificar as amostras com este padrão, observando-se o aumento da área do pico no tempo de

retenção do padrão, possibilitando identificar a presença da substância na amostra.

Figura 9. Zoom do TIC da amostra G antes de fortificação com a solução padrão de elaidato

de metila

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Figura 10. Zoom do TIC da amostra G após de fortificação com a solução padrão de elaidato

de metila (60 μL de solução padrão)

Em todas as amostras foi identificada e confirmada a presença de ácido elaídico.

Ressalta-se que ao consultar a lista de ingredientes para detectar a presença da gordura trans,

na maioria das vezes o consumidor fica na dúvida se o componente indica presença ou

ausência desse tipo de gordura, pelo uso de denominações alternativas, observadas nas

amostras analisadas (“gordura vegetal, gordura vegetal interestificada, gordura vegetal

hidrogenada, óleos vegetais hidrogenados”). O que impossibilita a certeza da presença ou não

de AGT, já que não se sabe se sofreram o processo parcial de hidrogenação que pode formar

esses ácidos graxos.

O termo “gordura trans” pode ser encontrado na lista de ingredientes de alimentos

industrializados como gordura parcialmente hidrogenada, gordura vegetal hidrogenada, óleo

vegetal parcialmente hidrogenado, óleo vegetal hidrogenado, óleo hidrogenado e gordura

parcialmente hidrogenada ou interesterificada (GAGLIARDI; MANCINI FILHO; SANTOS,

2009).

O processo de interesterificação possibilita a produção de gorduras livres ou com teor

muito baixo de AGT, a partir do rearranjo dos ácidos graxos (AG) nas ligações éster do

glicerol e consequente modificação do ponto de fusão e de cristalização da gordura (LOPEZ-

HERNANDEZ, 2007). A indústria tem utilizado, como alternativa ao processo de

hidrogenação, o processo de interesterificação enzimática, que produz alimentos livres de

isômeros trans (CUNNINGHAM, 2007). No entanto, na amostra E foi observada a descrição

de gordura vegetal interestificada, mas esta amostra não é livre de AGT, já que foi

identificada, pela análise de CG-EM, presença de ácido elaídico e ácido trans 13-

octadecenoico.

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Em relação aos óleos utilizados na fabricação dos biscoitos, as marcas apenas

informam a presença de gordura vegetal hidrogenada ou interesterificada, sem especificar o

tipo do processo aplicado (parcial ou completo) e os tipos de óleos contidos nestas misturas,

conforme é descrito na tabela 14.

Segundo Stroher et al (2012), a presença de C16:0 e C18:1 sugere gordura de palma.

Enquanto no óleo de girassol, milho e soja em sua composição química apresentam como

ácido graxo insaturado majoritário o ácido linoleico (C18:2, n-6 cis) (JORGE et al, 2005). No

entanto, nenhum dos rótulos foi especificado qual gordura vegetal foi usada, o que

impossibilita identificar a origem da gordura dos biscoitos analisados.

Apesar de não ser informação obrigatória em rótulo, a declaração dos tipos de óleos

utilizados é de interesse para o consumidor, pois uma quantidade inferior a 0,1 g de AGT por

porção pode ser legalmente considerada nula (BRASIL, 2012), mas pode ser significante

quando a ingestão é maior que uma porção de biscoito.

Tabela 14. Amostras analisadas e os ingredientes declarados nos respectivos rótulos.

AMOSTRAS INGREDIENTES DECLARADOS NO RÓTULO

A Açúcar, gordura vegetal, maltodextrina, farinha de trigo rica com

ferro e ácido fólico, cacau em pó, amido de milho, sal, emulsificante

(lecitina de soja), ácido cítrico, fermento químico, bicarbonato de

sódio e aromatizante.

B Farinha de trigo rica com ferro e ácido fólico, açúcar, gordura

vegetal, cacau em pó, leite em pó, açúcar invertido, maltodextrina,

amido de milho, sal, emulsificante (estearoil-2-tactil lactato de

cálcio e lecitina de soja), fermento químico, bicarbonato de sódio e

acidulantes (ácido cítrico e aromatizante).

C Farinha de trigo rica com ferro e ácido fólico, açúcar, gordura

vegetal, sulfato de zinco, cacau em pó, amido de milho, soro de

leite, carbonato de cálcio, sal, fumarato ferroso, vitaminas (PP, b6,

b2, açúcar), bicarbonato de sódio, lecitina de soja, acidulantes

(ácido cítrico e aromatizante).

D Farinha de trigo rica com ferro e ácido fólico, recheio sabor

chocolate (açúcar, gordura vegetal, cacau em pó, soro de leite,

liquor de cacau, aromatizante, emulsificante (lecitina de soja e

triesterato de sorbitana), açúcar, gordura vegetal, açúcar invertido,

farinha de rosca, cacau em pó, sal, corante caramelo, fermento

químico (bicarbonato de sódio e bicarbonato de amônio,

emulsificante (lecitina de soja).

E Farinha de trigo rica com ferro e ácido fólico, açúcar, gordura

vegetal interestificada, açúcar invertido, amido de milho, sal iodado,

acidulantes (ácido cítrico), fermento químico bicarbonato de sódio e

bicarbonato de amônio, lecitina, corante caramelo e aroma sintético

idêntico ao natural de cacau com baunilha.

F Farinha de trigo rica com ferro e ácido fólico, açúcar, gordura

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vegetal hidrogenada, creme de milho, cacau em pó, açúcar

invertido, sal, fermento químico bicarbonato de sódio e bicarbonato

de amônio, pirofosfato, ácido de sódio, corantes naturais de

caramelo e de urucum, emulsificante lecitina de soja e aromatizante.

G Farinha de trigo rica com ferro e ácido fólico, açúcar, gordura

vegetal hidrogenada, amido de milho e ou fécula de mandioca,

açúcar invertido, cacau em pó, sal refinado, fermento químico

bicarbonato de sódio e bicarbonato de amônio, emulsificante

lecitina de soja, aromatizante e corante caramelo.

H Farinha de trigo rica com ferro e ácido fólico, açúcar, gordura

vegetal hidrogenada, amido de milho e ou fécula de mandioca,

açúcar invertido, cacau em pó, soro do leite em pó, sal refinado,

fermento químico bicarbonato de sódio, bicarbonato de amônio e

pirosfosfato de sódio, emulsificante lecitina de soja, aromatizante e

corante caramelo e natural carmim.

I Farinha de trigo rica com ferro e ácido fólico, açúcar, gordura

vegetal, óleo vegetal, cacau, açúcar invertido, amido de milho, sal,

fermento químico bicarbonato de sódio, bicarbonato de amônio e

fosfato monocálcico, corante caramelo, emulsificante lecitina de

soja, ésteres de mono e diglicerídeos de ácidos graxos com ácido

diacetil tartárico e mono e diglicerídeos de ácidos graxos e

aromatizante.

GORDURA

VEGETAL

HIDROGENADA

Óleos vegetais hidrogenados, antioxidante BHT e ácido cítrico.

No estudo de Galdino e colaboradores (2010), ao analisar rótulos de 25 pacotes de

biscoitos recheados, de 4 marcas diferentes, verificaram que biscoitos contendo gordura

vegetal como ingrediente possuíam maior quantidade de gordura saturada, enquanto biscoitos

produzidos com gordura vegetal hidrogenada apresentavam menor quantidade de AGS e

maior quantidade de AGT. As amostras fabricadas com gordura vegetal e margarina

apresentaram 0 g de AGT na porção de 30 g. Todas as análises realizadas basearam-se nas

informações nutricionais contidas nas embalagens dos produtos. A ausência de análise

química para determinar o conteúdo de gorduras dos biscoitos estudados foi uma limitação do

estudo.

Aued-Pimentel et al (2016) analisaram, por cromatografia gasosa, amostras de

alimentos com a alegação nos rótulos de “0% de gordura trans” (incluindo salgadinhos,

batatas fritas, sorvetes, produtos de panificação, bebida láctea, creme vegetal e macarrão

instantâneo), os autores destacaram que somente uma amostra apresentou claramente na lista

de ingredientes descrita no rótulo a presença de gordura vegetal parcialmente hidrogenada.

Os conteúdos reduzidos de AGT observados na maior parte das amostras, especialmente em

produtos de panificação, indicam que as indústrias alimentícias brasileiras estão de acordo

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com as recomendações da Organização Mundial de Saúde para reduzir o conteúdo trans dos

alimentos o máximo possível.

5.2.1 Quantificação do ácido graxo trans elaídico por CG- EM

O ácido elaídico (C18:1, n9t) é produzido por isomerização do ácido oleico no

processo de hidrogenação (BROUWER; WANDERS, KATAN, 2010). Este é um dos que

surgem com mais frequência, devido ao fato do ácido oleico ser o AGI mais comum.

Em estudo dos gêneros alimentícios que continham óleos vegetais parcialmente

hidrogenados, o ácido elaídico foi o predominante dos AGT em comparação com os outros

isômeros (GAO et al, 2017).

Foi elaborada a curva de calibração, conforme observado na figura 11, para quantificar

o ácido elaídico, identificado em todas amostras por CG-EM.

Figura 11. Curva de calibração do ácido elaídico (área versus concentração em μg/mL)

Através da equação de regressão obtida pela curva de calibração (y= 2470739,6x-

13256911,03, com R²= 0,9989), em que x é a concentração do padrão e y é a área do pico, foi

quantificado o ácido elaídico. A análise quantitativa das amostras é mostrada na tabela 15. O

ácido elaídico variou nas amostras de 0,18± 0,005 a 4,76 ± 0,05 g por 100g de gordura

(extraída do biscoito) e 0,03 ± 0,01 a 0,85 g ± 0,01 por 100 g de biscoito. Observou-se

variabilidade nos conteúdos de ácido elaídico nas diferentes marcas de biscoitos recheados de

chocolate. As variações podem estar relacionadas às alterações nas formulações em função da

utilização de diferentes tipos de gordura.

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Gagliardi, Mancini Filho e Santos (2009) analisaram biscoitos recheados doce por CG-

DIC e encontraram concentrações de ácidos elaídico e linoelaídico, em média, de 0,10 e 0,13

g/100g de biscoito, respectivamente, e média de 0,03g e 0,04 g/por porção, respectivamente.

Srebernich, Gonçalves e Baggio (2013) ao analisar por CG-DIC o perfil de AGT de 8

marcas de biscoito recheados observaram uma heterogeneidade nas concentrações de ácido

elaídico, que variaram de 0,02 g/ por 100 g de biscoito recheado a 3,05 g/ por 100 g.

Na gordura vegetal hidrogenada, foi encontrada concentração de ácido elaídico média

de 35,06±1,23 g/100 g de gordura. A literatura relata que a gordura vegetal hidrogenada

contém entre 29,1 e 39,7 % de ácido elaídico (MARTIN et al, 2007), o que está em

concordância com o resultado encontrado no presente trabalho.

Tabela 15. Concentrações de ácido elaídico (AE) por 100 g de gordura, por 100 g de biscoito

e por porção de biscoito recheado (30 g) (Análises efetuadas por CG-EM).

Amostras de

biscoitos

AE analisado (100

g de gordura)

AE analisado

(100g de biscoito)

AE analisado

(porção de 30g de

biscoito)

A 0,85±0,02 0,20±0,01 0,06±0,004

B 0,41±0,01 0,09±0,03 0,03±0,01

C 0,18± 0,005 0,03±0,01 0,01±0,004

D 0,86±0,08 0,12±0,02 0,05±0,008

E 1,30±0,05 0,16±0,01 0,05±0,002

F 4,76±0,05 0,85±0,01 0,26±0,004

G 4,26±0,01 0,60±0,02 0,18±0,008

H 1,07±0,04 0,17±0,01 0,05±0,004

I 0,64±0,04 0,09±0,07 0,03±0,03

Das 9 amostras de biscoitos analisadas, as amostras A, B, C e I declararam não conter

AGT na porção, sendo amostras em que foram encontradas baixas concentrações de ácido

elaídico (menor que 0,1 g/ por porção). De acordo com RDC nº 54, de 12 de novembro de

2012, da ANVISA, alimentos com teor de ácidos graxos trans menor do que 0,1 g/porção e

com baixo teor de gorduras saturadas (máximo de 1,5 g da soma de gorduras saturadas e

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trans) podem conter alegação de “zero trans” (BRASIL, 2012). Nas amostras F e G, a

presença do ácido elaídico extrapola o limite exigido para alegar não conter AGT na porção,

no entanto, são marcas de biscoitos em que a presença dos AGT foi declarada. Amostras E e

H declararam, no rótulo, a presença de AGT, no entanto, foram encontradas concentrações

menores que 0,1 g/ porção de ácido elaídico, mas através da análise por CG-EM, foi

identificada, além do ácido elaídico, também a presença de outro isômero trans (C18:1, n13

trans), este não quantificado, apenas identificado, com pico menor no cromatograma que o do

ácido elaídico. Na amostra D, foi declarado presença de AGT por porção no rótulo, no

entanto, apenas encontrado na análise por CG-EM o ácido elaídico, como AGT, em

concentração menor que 0,1 g/por porção.

De acordo com Voci, Enes e Slater (2008), o consumo de biscoitos, principalmente

por crianças e adolescentes, não se limita a uma porção. E, sugere um alerta à tendência de se

consumir quantidade de AGT que ultrapasse as recomendações da OMS de 1% do valor

energético diário, o que representa 2 g/dia, considerando-se uma dieta de 2.000 kilocalorias.

5.3 AVALIAÇÃO DA ANÁLISES DE AGT EM BISCOITO RECHEADO POR FT-IR-

ATR

A FT-IR-ATR é considerada uma técnica útil quando se pretende efetuar análise não

destrutiva de amostras, através de uma caracterização imediata dos constituintes da amostra

em estudo (RAHMANIA; SUDJADI; ROHMAN, 2015).

A técnica de espectroscopia FT-IR, desenvolvida sem pré-tratamento de amostra,

poderia estimar o teor de ácidos graxos trans em 5 min enquanto que outros métodos de

controle exigiria pelo menos 2- 3 h até mesmo para extração de lipídios, de acordo com o que

foi indicado por Cho et al (2011).

FT-IR- ATR foi introduzido para medir a gordura trans em óleos e gorduras. Esta

técnica requer extração anterior de gordura de amostras de alimentos, enquanto a posterior

derivatização e uso de solventes tóxicos não seriam necessários (MOSSOBA et al, 2011).

Região do espectro de infravermelho entre 961 e 967 cm-1

pode detectar um ligação

dupla trans devido à deformação de ligações C-H adjacentes (GALVÍN, et al, 2016).

Segundo Rahmania, Sudjadi e Rohman (2015), a banda em 968 cm-1

revelou a

presença de um isômero trans de um éster metílico de ácido graxo (FAME).

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De acordo com os métodos oficiais de AOCS, os ácidos graxos trans em

triacilgliceróis podem absorver próximo a região de 973 cm-1

, quando AGT estão em baixas

concentrações, menor que 5 % do total de gordura (SONG et al, 2015).

Os equivalentes de retinol adicionados para o enriquecimento de margarina podem

interferir com bandas trans em 964 cm-1

a 966 cm-1

. Mas o conteúdo de equivalente de retinol

das margarinas é aproximadamente 0,001%, em relação à gordura total (TYBURCZY et al,

2012).

As ligações duplas conjugadas não são interferentes da detecção de AGT por FT-IR, já

que apresentam bandas de absorção próximas de 985 cm-1

e 950 cm-1

(conjugado cis / trans

ou trans / cis, respectivamente) e perto de 990 cm-1

(conjugado trans / trans) (MOSSOBA et

al, 2007).

Inicialmente, as 9 amostras de biscoitos homogeneizadas e a gordura vegetal

hidrogenada, sem nenhum pré-tratamento, foram colocadas diretamente no cristal de ATR do

espectrômetro de infravermelho utilizado para análise. Foi possível detectar, na gordura

vegetal hidrogenada, a presença da banda em 964 cm-1

, como pode ser visto na figura 12. Para

os biscoitos homogeneizados, a banda em 966 cm-1

foi detectada em somente duas amostras

(G e H), como pode ser observado na figura 13. No entanto, mesmo nas amostras em que foi

identificada a banda de interesse, não foi possível quantificar, visto que a absorção de

radiação infravermelha de substâncias das amostras se sobrepõe à absorção na região das

ligações duplas trans.

Resultado diferente do obtido no presente trabalho foi encontrado por Cho et al

(2011), que identificaram e quantificaram AGT em batata-frita utilizando a espectroscopia de

FT-IR-ATR, com método sem extração de ácido graxos, ou seja, utilizando a amostra

homogeneizada sem nenhum pré-tratamento. A FT-IR- ATR sem extração da gordura da

amostra foi considerada por estes autores como uma técnica confiável. Considerando os

resultados de Cho et al (2011) e os resultados do presente trabalho, pode-se inferir que a

matriz do alimento influencia na análise de AGT por FT-IR-ATR

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Figura 12. Espectro de FT-IR-ATR de Gordura vegetal hidrogenada, analisada por FT-IR-

ATR sem pré-tratamento.

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Figura 13. Espectros de FT-IR-ATR de amostras de biscoitos recheados homogeneizados (A,

B, C, D, F, G, H, I) analisadas por FT-IR-ATR sem pré-tratamento.

Tanto nas amostras de extratos lipídicos de biscoitos e de gordura vegetal hidrogenada

(figuras 14 e 15) como amostras na forma de FAME obtidos de gordura de biscoitos e de

gordura vegetal hidrogenada (figura 16 e 17), foram detectadas bandas em 970 cm-1

, 968 cm-1

e 966 cm-1

, consideradas bandas características de AGT, de acordo com Song et al (2015),

Rahmania, Sudjadi e Rohman (2015), Galvín et al (2016), respectivamente.

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Figura 14. Espectros de FT-IR-ATR de extratos gordurosos de biscoitos recheados de

chocolate

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Figura 15. Espectros de FT-IR-ATR de amostras de biscoitos recheados de chocolate na

forma de FAME.

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Figura 16. Espectro de FT-IR-ATR de gordura vegetal hidrogenada na forma de FAME.

Todas as amostras foram fortificadas para confirmação da banda de AGT, com padrão

elaidato de metila para amostras na forma de FAME e, para as amostras como extrato

gorduroso, com gordura vegetal hidrogenada, em que foi identificada, pela análise de CG-

EM, apenas a presença de ácido elaídico, como AGT.

Nas figuras 17 e 18 são demostrados exemplos das fortificações. Através da

fortificação, foi observado que intensidade do pico a 966 cm-1

depende diretamente da

concentração de AGT presente na amostra. Com aumento do valor de absorbância (pelo

aumento da área), ao acrescentar as soluções de fortificações.

Figura 17. Banda de absorção a 966 cm-1

do extrato da amostra E e após fortificação

com gordura vegetal hidrolisada (GV)

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Figura 18. Banda de absorção a 966 cm-1

da amostra E, como FAME e após

fortificação com padrão de elaidato de metila (AE).

5.3.1 Quantificação de ácidos graxos trans por FT-IR- ATR

Para a curva de calibração, utilizaram-se misturas de gordura vegetal hidrogenada e

óleo de soja (este sem banda 966 cm-1

, como ilustrado na figura 19), o que garante não

interferência do óleo de soja na análise, conforme descrito na seção de metodologia.

A intensidade de uma banda de absorção é proporcional à concentração do grupo

funcional que a provocou, logo a quantidade de AGT presente nas amostras pode ser

determinada através da curva de calibração, que se traduz pela intensidade da banda versus

concentração (MOHD; MOHAMAD; ABDUL, 2017).

Para quantificação por FT-IR-ATR é necessária a diluição da amostra em uma gordura

de referência, livre de gordura trans, com ácidos graxos com composição similar à amostra de

interesse, sendo que, para amostras com composição desconhecida, é sugerido o uso de óleo

de soja para ser o diluente da gordura com AGT na construção da curva de calibração

(BANSAL et al, 2009).

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Figura 19. Espectro de FT-IR-ATR de óleo de soja

O método oficial (AOAC 2000.10) para medir AGT indica adição dos padrões

trielaidina (C18: 1, n9t; TE) a trioleína (C18:1; n9c; TO). O teor total de AGT das amostras

expresso por % na gordura total, é determinado a partir da função de regressão linear da curva

padrão de calibração, utilizando a área da banda de absorção a 966 cm-1

(AOAC, 2005).

Entretanto, no presente trabalho, foi usada a gordura vegetal hidrogenada como padrão

secundário, diluída em óleo de soja, de modo a compor misturas gordurosas contendo de 0,43

a 35% de AGT na gordura, conforme foi descrito na seção de metodologia. Isto foi necessário

em função da não possibilidade de aquisição dos padrões de trioleína e trielaidina pelo nosso

laboratório.

Na figura 20 é demostrada a curva de calibração usada para quantificar AGT nas

amostras de extratos lipídicos dos biscoitos. Pelo método de FT-IR, obtém-se, apenas, o teor

de gorduras trans total, sem determinar o perfil de ácidos graxos (GAO et al, 2017).

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Figura 20. Curva de calibração para quantificar AGT nas amostras de extratos lipídicos

Na figura 21, encontra-se a curva de calibração usada para quantificar as amostras na

forma de FAME.

Figura 21. Curva de calibração para quantificar AGT nas amostras FAME

O teor de AGT total foi calculado a partir da função de regressão linear das curvas de

calibração, em percentual de ácido elaídico na mistura de gordura vegetal hidrogenada e óleo

de soja para as amostras de extratos lipídicos. E em percentual de elaidato de metila na

mistura em forma FAME de gordura vegetal hidrogenada e óleo de soja para as amostras

FAME, substituindo o valor da área integrada da banda trans na equação de regressão linear

pelo Y.

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Não foi possível detectar os AGT por meio da curva de calibração versus a altura da

banda 966 cm-1

, como observa-se na figura 22, apenas versus a área da banda, conforme é

recomendado pelo método AOAC 2000.10 (AOAC, 2005). A altura da banda não apresentou

variação proporcional à variação de concentrações diferentes de ácido elaídico na mistura.

O coeficiente de determinação (R²), calculado após medições experimentais usando o

método matemático conhecido como regressão linear, é o parâmetro que indica estimativa da

qualidade da curva obtida, pois quanto mais próximos de 1,0 menor a dispersão do conjunto

de pontos experimentais e menor a incerteza dos coeficientes de regressão estimados

(ARAGÃO; VELOSO; ANDRADE, 2009). Nas curvas de calibração construídas versus a

área da banda 966 cm-1

, observa-se R² próximo de 0,99 enquanto na curva de calibração

construída versus a altura da banda 966 cm-1

, R² abaixo de 0,90. O INMETRO recomenda um

coeficiente de correlação acima de 0,90 , já a ANVISA o R² de 0,99 (BRASIL, 2003c;

BRASIL, 2003d).

Resultados diferentes foram encontrados por Cho et al (2011), que por meio da

execução da curva de calibração, quantificaram os AGT em relação aos ácidos graxos totais

versus a altura da banda 966 cm-1

, como por meio da área da banda 966 cm-1

.

Estudo feito por Khan; Hassan, Rauf (2017) também relacionou a altura da banda de

absorvência com a intensidade dos picos a 966 cm-1

para calcular AGT.

Figura 22. Curva de calibração para quantificar AGT nas amostras de extrato lipídicos

(% de ácido elaídico versus a altura da banda 966 cm-1

)

As concentrações de ácido elaídico encontradas nas amostras situaram-se entre 0,44±

0,01 e 4,78 ± 0,04 g/100g de gordura quando medida por FT-IR- ATR com extração (bligh

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dyer) e entre 0,45±0,02 e 4,72 ± 0,42 g/100g de gordura de amostras após a conversão a

FAMES e cálculos descritos.

Ao comparar a quantificação pelo método FT-IR-ATR extrato lipídico com FT-IR-

ATR com as amostras na forma de FAME, apenas houve diferença significativa para a

amostra C, com resultados expressos em ácido elaídico g/100g de gordura (valores

respectivos de 0,44 ±0,005 e 0,64±0,005) como ácido elaídico g/100g de biscoito (0,08±0,02

e 0,11±0,01, valores respectivos). Valores maiores foram encontrados para a amostra C na

forma de FAME. Para as demais oito amostras não houve diferença significativa (p˃0.05),

como observado nas tabelas 16 e 17.

Tabela 16. Ácidos graxos trans analisados (g/100g de gordura) por FT-IR-ATR extrato e FT-

IR-ATR FAME

Amostras de

biscoito recheados

FT-IR-ATR

Extrato

(g/100g de

gordura)

FT-IR-ATR

FAME

(g/100g de

gordura)

A 0,84±0,04ᵃ 0,87 ± 0,04ᵃ

B 0,44± 0,01ᵃ 0,45 ±0,01ᵃ

C 0,44±0,005ᵃ 0,64± 0,005ᵇ

D 0,91±0,10ᵃ 0,86±0,06ᵃ

E 1,46±0,11ᵃ 1,28±0,11ᵃ

F 4,78±0,04ᵃ 4,72 ± 0,42ᵃ

G 4,24±0,01ᵃ 4,18 ±0,08ᵃ

H 1,01 ±0 0,05ᵃ 1,06±0,05ᵃ

I 0,71±0,04ᵃ 0,71±0,06ᵃ

*Valores de média e desvio padrão com letras diferentes na mesma linha indicam diferença

significativa (p<0,05).

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Tabela 17. Ácidos graxos trans analisados (g/100g de biscoito) por FT-IR-ATR extrato e FT-

IR-ATR FAME

Amostras de

biscoito recheados

FT-IR-ATR

Extrato

(g/100 g de

biscoito)

FT-IR-ATR

FAME

(g/100 g de

biscoito)

A 0,20±0,01ᵃ 0,21±0,02ᵃ

B 0,094±0,01ᵃ 0,11±0,01ᵃ

C 0,08±0,02ᵃ 0,11±0,01ᵇ

D 0,14±0,03ᵃ 0,13±0,01ᵃ

E 0,18±0,02ᵃ 0,16±0,02ᵃ

F 0,86±0,01ᵃ 0,85±0,20ᵃ

G 0,59±0,01ᵃ 0,59± 0,10ᵃ

H 0,16±0,01ᵃ 0,17±0,01ᵃ

I 0,10±0,01ᵃ 0,11±0,06ᵃ

*Valores de média e desvio padrão com letras diferentes na mesma linha indicam diferença

significativa (p<0,05).

No processo de hidrólise de glicerídeos e esterificação de ácidos graxos pode ocorrer

uma má conversão de FAME e ocasionar superestimação da gordura total do alimento. A

hidrólise seguida de extração com éter possibilita a extração de lipídeos neutros e outros

constituintes que não compõem a gordura. A presença de não lipídeos no momento do

processo de derivação pode levar a interferências com lipídeos e isso irá causar erros

potenciais com altos perfis de variáveis (HARMANESCU; GERGEN, 2012).

Além disso, os AG livres podem permanecer parcialmente não reagidos e a hidrólise

ou presença de vestígios de água também levar a baixas recuperações de FAME

(BASCONCILLO; MCCARRY, 2008).

A possibilidade de quantificar as amostras como extrato, sem a etapa de derivatização,

necessária nas metodologias envolvendo cromatografia, permite obter resultados quantitativos

favoráveis. Favorece a redução de materiais tóxicos, torna mais rápida a análise desejada, com

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menor custo e ainda evita dificuldades processuais, como a conversão incompleta das AG em

FAME.

Os métodos IR foram rotineiramente utilizados na indústria de gorduras e óleos para

determinar o conteúdo trans em triacilgliceróis ou ésteres metílicos de ácidos graxos. No

entanto, a banda IR perto de 935 cm-1

, atribuída ao grupo -COOH em ácidos graxos livres, foi

relatada como causando uma interferência indesejada e, portanto, sugere-se primeiro ser

esterificadas, particularmente em níveis baixos (menos de 15%) (SONG et al, 2015).

Avanços com a transformada de Fourier tornaram possível determinar não só o teor

total de ácidos graxos trans de uma gordura ou óleo, mas também sua composição de ácidos

graxos sem a necessidade de derivatização prévia de derivados voláteis como necessário para

análise CG (MOSSOBA et al, 2007).

Baixas concentrações de AGT foram detectadas nas amostras de biscoito. Resultado

semelhante foi encontrado por Song et al (2015) que afirma que FT-IR-ATR pode determinar

menos de 1% gordura trans em gorduras comestíveis e óleos, incluindo palmeiras, amendoim,

soja e óleo de girassol.

No estudo feito por CHO et al (2011), detectaram concentrações baixas de AGT nas

batatas fritas (entre 0,10 ± 0,01% e 4,05 ± 0,26% do total de ácidos graxos (g/100g de batata

frita), sem diferença significativa entre os métodos FT-IR-ATR de amostras sem pré preapro e

FT-IR-ATR de amostras com extração.

No entanto, métodos oficiais de AOAC e AOCS são aplicados para determinação

quantitativa de AGT acima 5g/100 g de gordura e 1 g /100 g de gordura, respectivamente

(AOAC, 2005; FIRESTONE, 2009b).

As análises de FT-IR-ATR no presente trabalho foram feitas com equipamento de

relação sinal/ruído de 60:1, o que pode ter contribuído para os resultados obtidos, visto que

uma boa relação sinal/ruído é imprescindível para uma boa análise, reduz as flutuações

decorrentes da análise instrumental (ruído aleatório), como mistura de erros experimentais de

medida, de amostragem e de outras fontes de variabilidade (FERREIRA, 2015).

O alto índice de refração do elemento ATR é adequado para obtenção de espectros de

excelente qualidade para a maior parte das substâncias, com grau de penetração da radiação

na amostra em torno de 1-2 µm. O uso de selenito de zinco (ZnSe) com fina camada de

diamante na superfície, ambos com mesmo índice de refração (2,4), torna o cristal

quimicamente inerte e resistente mecanicamente aos riscos durante as análises (MOSSOBA et

al, 2011). A dureza e a estabilidade química do diamante permite a obtenção direta de

espectros de material em fase líquida e sólida, com bom contato entre a amostra e o cristal

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(SIQUEIRA; DUTRA; DINIZ, 2008). O método oficial 2000.10 sugere o uso de ZnSe como

cristal (AOAC, 2005).

Os resultados obtidos no presente trabalho, em que notou-se a interferência da matriz

da amostra, ao passo que permitiu a quantificação de baixas concentrações de AGT nas

amostras, indica a importância de se efetuarem outros experimentos, com o objetivo de

validar a técnica de FT-IR-ATR, com o cristal usado neste trabalho, para diversas outras

amostras de alimentos.

5.4 COMPARAÇÃO ENTRE MÉTODOS

Há necessidade de abordar as diferenças no conteúdo total de AGT que são obtidas por

meio de técnicas cromatográficas e espectroscópicas. Problemas podem estar relacionados a

picos de AGT não identificados pelo método de CG, assim como compostos não lipídicos

como interferentes na absorção por FT-IR-ATR em algumas matrizes alimentares

(MOSSOBA et al, 2009).

Ao comparar a quantificação pelos métodos CG-EM (extrato via Bligh Dyer (1959) e

posterior derivatização via método de Hartaman Lago (1973), FT-IR- ATR (amostras de

extratos) e FT-IR- ATR (amostras na forma de FAME), foram observados valores baixos de

ácido elaídico/ácidos graxos trans detectados pelos diferentes métodos. Também foi

observado nos resultados entre as marcas de biscoitos analisados, o que indica a utilização de

gorduras diferentes quanto às suas composições.

Observou-se que as embalagens dos produtos analisados passam de 100 g do produto

(de 125g a 200g peso líquido), contribuindo para o maior consumo. Assim, biscoitos de

qualquer uma das marcas, quando consumidos em quantidades maiores que as porções

descritas no rótulo, podem levar a ultrapassar os limites recomendados para ingestão de

ácidos graxos trans.

Cabe destacar que, a quantidade de AGT varia de forma significativa em diferentes

tipos de alimentos industrializados e até mesmo dentro de uma mesma categoria de produto.

Essa variabilidade está associada às condições de hidrogenação e ao tipo de matéria-prima

utilizada (ESTADELLA et al, 2013).

Os resultados atuais referentes aos ácidos graxos trans e ácido elaídico nos biscoitos

recheados mostram uma tendência à redução de gorduras trans nos produtos industrializados,

sendo um ponto positivo com relação à saúde do consumidor. Resultados semelhantes foram

encontrados por Pinto et al (2016) e Stroher et al (2012).

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O trabalho realizado por Monge-rojas (2017) afirma que as indústrias alimentícias que

atuam na America Latina têm se esforçado para reduzir a utilização de gorduras trans em seus

produtos, tendo havido, em alguns deles, a supressão total desse componente em sua

formulação.

Uma pesquisa de dois anos de fornecedores especializados elaborada pela Associação

Brasileira da Indústria de Biscoitos (ANIB) demonstrou que 65% dos biscoitos disponíveis

no mercado brasileiro já estão livres de trans (PRIEGO-CAPOTE et al, 2007).

Um estudo avaliou a composição em ácidos graxos de cinco biscoitos da Malásia e

verificou que tais produtos eram livres de ácidos graxos trans ou que a quantidade era muito

pequena; constataram também que esses biscoitos eram produzidos com óleo de palma em

substituição à gordura hidrogenada (NEO; TAN; ARIFFIN, 2007).

Quando Gagliardi; Mancini-Filho e Santos (2009) avaliaram a composição nutricional

de produtos alimentícios com alegação de zero gordura trans, encontraram redução de

lipídeos em alimentos como margarinas, biscoitos doces, biscoitos salgados, batatas fritas e

lanches tipo hambúrguer de redes de fast-food, mas não a sua ausência, como os

consumidores acreditam ao comprar o produto.

Diferenças significativas entre as três metodologias foi encontrado apenas na análise

da amostra C. Nas demais amostras, não houve diferença significativa, como pode ser

observdo na figura 23.

Figura 23. Comparação da quantidade de ácido elaídico/ácidos graxos trans em biscoito

recheado sabor chocolate usando os diferentes métodos CG-EM, FT-IR-ATR extrato e FT-IR-

ATR com amostras na forma de FAME. A presença de * indica diferença significativa entre os três

métodos (p <0,05).

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A amostra C apresentou menor valor de ácido elaídico, pelo método CG-EM. Essas

discrepâncias entre CG e IR podem ser atribuídas a quantidades relevantes de gorduras

saturadas que podem interferir nos espectros FT-IR- ATR observados para gorduras trans

(MOSSOBA et al, 2007).

Diversos estudos encontraram diferença significativa entre FT-IR-ATR e CG-DIC, no

entanto, poucos trabalhos correlacionaram FT-IR-ATR com CG-EM.

Diferenças significativas nos resultados obtidos por FT-IR- ATR e CG-DIC foram

encontradas para óleos com um teor de gordura trans <2% da gordura total, em que a análise

por espectroscopia FT-IR- ATR de bancada produziu um teor de gordura trans

consistentemente maior (TYBURCZY et al, 2012).

Juanéda, Ledoux, Sebédio (2007) e Costa Filho (2014) também identificaram uma

superestimação, pelo método FT-IR, para as gorduras e óleos com teor de gordura trans <2%

da gordura total. A superestimação é justificada pelos sinais em parte, a partir de gorduras

saturadas ou por constituintes de não ácidos graxos (COSTA FILHO, 2014).

Acredita-se que certos constituintes de gorduras e óleos comestíveis poderiam

contribuir para a resposta a 966 cm-1

e aumentar erroneamente o teor aparente de gordura

trans e gerar as discrepâncias encontradas nos resultados comparativos entre os métodos

(MOSSOBA et al, 2011).

Resultado diferente foi encontrado por Cho et al (2011) que encontrou coerência nos

resultados entre FT-IR-ATR e CG-EM para quantificar quantificar ácidos graxos trans em

batata-frita.

Embora os métodos de CG forneçam informações detalhadas sobre a composição de

ácidos graxos, o método FT-IR- ATR é uma ferramenta de escolha para a determinação rápida

de AGT em óleos e gorduras.

A aplicabilidade dos métodos AOAC 996.01 e 996.06, para determinação de gordura

total e ácidos graxos, visando à informação na rotulagem nutricional já é comprovada para

diversas matrizes de alimentos com variadas quantidades de gordura (até níveis baixos como

0,5%, em percentagem da gordura total) (SATCHITHANANDAM et al, 2004). Para FT-IR-

ATR, Mossoba et al (2011) sugerem que a natureza da matriz da amostra é o principal

determinante para quantificação, ao em vez da sensibilidade do instrumento.

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6. CONCLUSÃO

A aplicabilidade da técnica de FT-IR-ATR, no extrato lipídico e nas amostras FAME,

para identificar os AGT e quantificar o ácido elaídico (AGT majoritário nas amostras) foi

comprovada por meio das análises realizadas.

Não houve diferença significativa entre as três metodologias avaliadas CG-EM, FT-

IR- ATR no extrato lipídico e FT-IR-ATR de amostras FAME, o que viabiliza a análise mais

rápida, por FT-IR-ATR em extrato de amostras de biscoitos recheados.

Ao analisar as amostras sem pré preparo, não foi viável a utilização do método de FT-

IR-ATR, visto que a absorção de radiação infravermelha de substâncias da amostra se

sobrepõe à absorção na região das ligações duplas trans, o que demonstra que a matriz do

alimento pode influenciar na sua análise.

Observou-se concentrações de ácido elaídico baixas nos biscoitos recheados de

chocolate, no entanto, não sua ausência. A declaração “zero trans” por porção no rótulo não

significa não conter esse tipo de gordura, mas expressa que uma porção do alimento não

ultrapassa o valor recomendado (0,1g por porção), mas quando o consumo for superior à

quantidade da porção, pode ocorrer uma ingestão considerável desses compostos.

Ressalta-se, ainda, ao consultar a lista de ingredientes para detectar a presença de

AGT, o uso constante de denominações alternativas e informações incompletas quanto ao

processo aplicado a gordura, gera dificuldades em considerar apenas tais informações para

determinar a presença ou ausência de AGT em produtos alimentícios.

É necessário que a declaração dos nutrientes seja mais objetiva, de modo a minimizar

dúvidas quanto ao tipo de lipídeo empregado nos produtos.

A variação de lipídeos totais e de ácido elaídico entre as marcas de biscoitos indica a

utilização de gorduras muito diferentes quanto às suas composições. Sendo de suma

importância dispor de métodos analíticos rápidos e simples que disponibilizem informação

correta ao consumidor, garantido o seu direito de escolha de alimentos saudáveis.

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7. PERSPECTIVAS FUTURAS

Aspecto importante a ser observado e analisado com a redução do ácido elaídico nas

amostras, consiste na substituição de óleos insaturados por gorduras saturadas, sendo

necessário analisar os ácidos graxos saturados e a analisar os AGT totais calculados pela soma

do ácido elaídico (C18:1,n9 trans), ácido vacênico (C18:1,n11 trans) e ácido linolelaidico

(C18:2, n9, n12, trans, trans) nas amostras de biscoitos recheados.

Reforça-se a necessidade de avaliação e validação das metodologias de CG-EM e FT-

IR-ATR para análise de AGT em outras matrizes alimentícias, que são bem consumidos pela

população, como margarinas, biscoito doce recheado, biscoito salgado sem recheio, batata

frita, sorvete, entre outros. Isso possibilitará a construção de ferramentas efetivas para a

análise, identificando as peculiaridades e influências das matrizes no processo.

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8. REFERÊNCIAS BLIBLIOGRÁFICAS

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9. ANEXOS I

Cromatograma Gordura Vegetal hidrogenada

Cromatograma Biscoito A

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Cromatograma Biscoito B

Cromatograma Biscoito C

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Cromatograma Biscoito D

Cromatograma Biscoito E

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Cromatograma Biscoito F

Cromatograma Biscoito G

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Cromatograma Biscoito H

Cromatograma Biscoito I