LITERATURA PORTUGUESA LIVRO EDITADO.odt

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Onde se iniciou a Literatura?

A Literatura Portuguesa teve seu incio durante a Idade Mdia.

Influenciada pelas literaturas grega e latina.

Atravs delas que muitos autores portugueses se engajaram no caminho literrio e se fixaram na histria das artes.

Os Lusadas, de Lus de Cames.

Observamos a grandiosidade dos feitos e a exaltao do heri, que desbrava aventuras mgicas e percorre caminhos de vida ou de morte.

Tal como Ulisses e Aquiles enaltecidos por Homero.O nobre Enas de Virglio.

Vasco da Gama ora enfrentar a fria de deuses e outros seres fantsticos.

Ora por outros ser protegido e mantido alerta sobre os perigos que esto por vir.

Figuras imaginrias que servem de modelo ao homem - antigo ou medieval.

Algumas manifestaes literrias da Grcia Antiga.

No princpio, a literatura narrava os feitos de personagens hericos:

Suas derrotas e vitrias. - Gnero pico.

Depois, deu-se lugar aos deuses para protagonizarem histrias de amor e cime; ganharam aspecto humano e passaram a sentir e agir como mortais.Configurou-se o gnero lrico.

Por fim, surgiu o teatro com o objetivo fundamental de emocionar o pblico atravs dos aspectos cmicos e trgicos o gnero dramtico.

A Ilada e a Odissia

Dois maiores modelos de epopia e tm como principais caractersticas:

A narrativa em grandes dimenses.Retrata o tema de modo herico.Na maioria das vezes, sobrecarregando-o de elementos fantsticos e sobrenaturais.

A presena do mito tem papel fundamental.

O Mito ir mostrar outra forma de ver o mundo e estreitar a distncia entre o humano e o divino.

Suas narrativas focalizam episdios ocorridos durante a guerra de gregos e troianos e tem, como personagens principais:

os heris lendrios Aquiles e Ulisses, cruis e sanguinrios, justos e generosos.

Idade Mdia

Inicia-se no final do sculo V, com o avano do Cristianismo, estendendo-se at o sculo XV.

Neste perodo h uma preocupao com os ideais gregos e judaicos em relao ao Novo Testamento.

Surgem a literatura cortes e as novelas de cavalaria. Este perodo da literatura fica conhecido como Trovadorismo (1198 1434).

O Trovadorismo foi o primeiro movimento literrio no mundo ocidental.

Apresentou a realidade da poca.

Poesias acompanhadas por instrumentos musicais: a lira, a harpa, a rabeca, o alade, a flauta, o tamborete, o cmbalo e outros.

Cantiga da Ribeirinha - o primeiro documento literrio em Portugal - escrita por Paio Soares de Taveirs em 1198.

Obra dotada de lirismo e stira - classificada como cantiga de amor.

Esta cantiga oferecida a Maria Pais Ribeiro (Ribeirinha), amante de D. Sancho I, ento rei de Portugal.

A literatura cortes se desenvolveu no sul da Frana, na Provena.

As novelas de cavalaria se desenvolveram no norte da Frana.

Guilherme de Aquitnia - criou o amor idealizado.Seu objetivo era centrado no amor impossvel entre a mulher amada e o poeta (trovador).

Autores de cantigas destacam-se: D. Dinis, Paio Soares de Taveirs, Martim Codax, D. Afonso Mendes de Besteiros, Fernando Esguio, Joo Garcia de Guilhade, Joo Zorro, Airas Nunes de Santiago e Nunes Fernandes Torneol.

A novela de cavalaria teve como precursor o francs Chrstien de Troyes, autor de Lancelot.

As novelas de cavalaria desenvolveram-se sob a forma de narrativas.

Retratavam o amor concreto e mais realista.As relaes amorosas se davam entre nobres.De carter pago, os poetas exaltavam a valentia, a aventura e a capacidade de conquista.Surgiram as narrativas centradas no rei Artur e seus cavaleiros da Tvola Redonda.

As cantigas

Criadas por trovadores, poetas das cortes feudais.

Cantigas de amor - Retratavam sentimentos amorosos entre cavalheiros e damas da nobreza.

Cantigas de amigo - uma jovem campesina e seu amante distante de origem galaico-portuguesa, so marcadas por um eu-lrico feminino, uma donzela que fala sobre seu problema amoroso.

Monlogo ntimo, um confidente, simbolizada pela figura da me, irm, amiga ou at mesmo algum elemento da natureza (flores, rvores...).

A cantiga de amigo - aspecto folclrico, retrata um determinado ambiente ou costume repleto de sentimento amoroso burgus.

bailada, romaria, barcarola, pastorela ou alba.

Carter narrativo e descritivo - retrata as relaes afetivas entre pessoas de nveis sociais inferiores. O amor singelo e espontneo.

Normalmente, estas cantigas narram a partida do namorado para combater os mouros.Surgindo - aspectos como a solido, a tristeza e a saudade.

Os versos apresentam musicalidade e ritmo, com repetio total ou parcial do refro.

Ondas do mar levantado, se vistes meu amado! e ai Deus, voltar cedo? Se vistes meu amigo, aquele por quem suspiro, e ai Deus, voltar cedo? Se vistes meu amado que me ps neste cuidado, e ai Deus, voltar cedo?

CODAX, Martim. Cantares dos trovadores galegoportugueses. Seleo, introduo, notas e adaptao de Natlia Correia. Lisboa: Editorial Estampa, 1970, p. 76.

Cantiga de amigo

Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! e ai Deus, se ver cedo! Ondas do mar levado, se vistes meu amado! e ai Deus, se ver cedo! Se vistes meu amigo, o por que eu suspiro! e ai Deus, se ver cedo! Se vistes meu amado por que hei gran cuidado! e ai Deus, se ver cedo!(adaptao)

No poema acima, o poeta assume a fala da mulher enamorada.

Cantiga de amigo(Aires Nunes)

Bailemos ns j tdas trs, ai [amigas, so aquestas avelaneiras frolidas, e quen for velida, como ns, velidas, [se amigamar, so aquestas avelaneiras frolidas [verr bailar. Bailemos ns j tdas trs, ai [irmanas, so aqueste ramo destas avelanas, e quen bem parecer, como ns [parecemos, se amigamar, so aqueste ramos destas avelanas [verr bailar. Por Deus, ai amigas, mentral non [fazemos,

Ondas do mar de Vigo, se vistes meu amigo! e ai Deus, voltar cedo?

so aqueste ramo frolido bailemos e quen ben parecer, como ns [parecemos, se amigamar, so aqueste ramo so lo que ns [verr bailar.

Cantigas de amor originria de Provena, sul da Frana, a cantiga de amor chegou a Portugal atravs de casamentos, peregrinaes, cruzadas entre os reinos, dando incio s primeiras manifestaes do lirismo subjetivo, reunidas na coletnea Cancioneiro da Ajuda.

Sua caracterstica principal revela sempre a fala de um homem a uma senhora da nobreza o chamado amor corts.

Os ambientes desta poesia so os arredores do palcio, campo ou vilas em construo.Mostra uma diferena de classe social, e neste caso, o homem est sempre abaixo da camada social da amada.

O amor baseia-se na relao vassalo/senhor, refletindo o sistema feudal e a diviso de classe social: nobreza clero povo.

A cantiga de amor marcada pelo eu-lrico masculino e sofredor, sua amada chamada por ele de mia senhor, de novo um reflexo da relao vassalo/ senhor feudal.

No se revela o nome da dama, cultivando seu amor em segredo.

Dessa forma, a mulher idealizada, inatingvel e sempre colocada num plano elevado.Essa relao conhecida por coita damor(amor-sofredor).

Cantiga de amor

Quereu a Deus rogar de coraon, comome que cuitado damor, que el me leixe veer mia senhor mui ced; e se mel non quiser or, logo lheu querrei outra ren pedir: que me lon leixe mais eno mundo [viver! E se mel de fazer algum bem, or-mi- questo que lheu rogarei, e mostrar-mi- quanto bem [no mundoei, E se mi-o el non quiser amostrar, logo lheu outra ren querrei rogar: que me non leixe mais eno [mundo viver! E se mel amostrara mia senhor, que ameu mais ca o meu coraon, vedes, o que lhe rogarei enton: que me d seu Ben que m [mui mester; e roga-lhei que, se non fezer, que me non leixe mais eno mundo [viver! E roga-lhei, se me Ben fazer, que el me leixe viver en logar u a veja e lhe possa falar, por quanta coita me por ela deu; se non, vedes que lhe rogarei eu: que me non leixe mais eno [mundo viver!

TORNEOL, Nuno Fernandes. MENDES dos Remdios. Histria da Literatura portuguesa. Coimbra: Atlntida Livraria Editora, 1930, p. 64.

No poema acima, o trovador dirigese dama, que, quase sempre indiferente s suas splicas.

Cantiga de maldizer

Ai dona fea! foste-vos queixar porque vos nunca louv en meu trobar, mais ora quero fazer un cantar en que vos loarei tda via; e vdes como vos quero loar: dona fea, velha e sandia! Ai dona fea! se Deus me perdon! e pois havedes tan gran coraon que vos eu loe en esta razon, vos quero j loar tda via; e vdes qual ser a loaon: dona fea, velha e sandia! Dona fea, nunca vos eu loei en meu trobar; pero muito trobei; mais ora j um bon cantar farei en que vos loarei tda via; e direi-vos como vos loarei: dona fea, velha e sandia!

GUILHADE, J. Garcia de Apud Amora, A S. Et alli. Presenca da Literatura Portuguesa. So Paulo: Difuso Europia do Livro, 1961, p. 52.

Cantiga de amor(Bernardo Bonaval)

A dona que eu ame tenho por [senhor amostrade-mh-a Deus, se vos en [prazer fr, se non dade-mh-a morte. A que tenheu por lume dstes olhos [meus e por que choran sempre [amostrade-me-a Deus, se non dade-mh-a morte. Essa que Vs fezestes melhor [parecer De quantas sei, ai Deus, [fazede-me-a ver, Se non dade-mh-a morte. Ai Deus, que me-a fizestes mais ca [mim amar, Mostrade-me-a u possa com ela [falar, Se non dade-me-a morte. Neste perodo tambm surgiram cantigas satricas, nas quais os trovadores portugueses criticavam ou ridicularizavam situaes do cotidiano. Esse tipo de cantiga divide-se em cantigas de maldizer, na qual se falava mal de pessoas conhecidas, atravs de um vocabulrio de baixo calo; e cantigas de escrnio, onde se fazia crtica s pessoas, de maneira irnica, porm, sem citao de nomes.

No poema acima, a linguagem simples, direta, agressiva; predomina a zombaria aberta.

Cantiga de Maldizer(Duarte da Gama)

Nam sey que possa viuer Neste rreyno j contente, Poys a desorden na gente N quer layxar de creer. A qual vay tam sem medida, Q se no pode soffrer Nam h hy quem possa ter Boa vida. (...) outros vo trazer atados hus leninhos no pescoo q c gram pedra nu poo deuiam de ser lanados. Outros, sem ser mypados, Sendo menores dydade, Andam j c vaydade Agrauados. (...) em qual quer aldeazinha achareys tal corruam, ca molher do escriuam ccuyda q he hua rraynha. E tam bem os lauradores Com suas maas nouydades Querem ter as vaydades Dos senhores. (...) clice, conforme diz a lenda, teria sido levado um castelo na Inglaterra. Simbolicamente falando, esta busca nada mais do que a luta do homem em busca de uma verdade metafsica.

A Demanda do Santo Graal

A novela A Demanda do Santo Graal inicia-se em Camaalot, reino do rei Artur. dia de Pentecostes, e os cavaleiros esto reunidos volta da Tvola Redonda. Galaaz chega, ocupa o assento reservado para o cavaleiro escolhido e tira a espada fincada no padrom (pedra de mrmore) que boiava na gua. Durante a refeio, o Graal (clice com que Jos de Arimatia colhera o sangue derramado por Cristo na cruz) perpassa o ar, nutre os presentes com o seu manjar celestial e desaparece. No dia seguinte, aps ouvir a missa, os cavaleiros saem na demanda (procura) do Santo Vaso. Da por diante, vo-se entrelaando vrias aventuras, que culminam quando Galaaz beneficiado com a apario do Graal enquanto celebra o ofcio religioso. O episdio a seguir transcrito corresponde ao capitulo XXV.

Adaptao do texto transcrito in Moiss, Massaud. A Literatura Portuguesa atravs dos textos. 3. ed. , So Paulo: Cultrix,1970, pp. 36 e 37.

Novelas de cavalaria

Posteriormente, a Igreja passa a aceitar tais obras em sua doutrina e, com isso, surgem as primeiras novelas de cavalaria, nas quais encontramos aspectos msticos, ou seja, as aventuras dos cavaleiros tm significado religioso. Podemos destacar, como exemplo A Demanda do Santo Graal, uma lenda baseada na busca incessante do clice sagrado pelos cavaleiros da Tvola Redonda, onde Jos de Arimatia recolheu o sangue de Jesus quando este ainda estava na cruz. Este (fragmentos) Vspera de Pinticoste foi grande gente assada em Camaalot, assi que podera homem i veer mui gram gente, muitos cavaleiros e muitas donas mui bem guisadas. El-rei, que era ende mui ledo, honrou-os muito e feze-os mui bem servir; e toda rem que entendeo per que aquela corte seeria mais viosa e mais leda, todo o fez fazer.

Aquel dia que vos eu digo, direitamente quando queriam poer as mesas esto era ora de noa aveeo que a donzela chegou i, mui fremosa e mui bem vestida. E entrou no paao a pee, como mandadeira. Ela comeou a catar de a parte e da outra, pelo paao; e perguntavam-na que demandava. Eu demando disse ela por Dom Lanarot do Lago. aqui? Si, donzela disse u cavaleiro. Veede-lo: st aaquela freesta, falando com Dom Gualvam. Ela foi logo pera el e salv-o. Ele, tanto que a vio, recebeo-a rnui bem e abraou-a, ca aquela era a das donzelas que moravam na Insoa da Ledia, que a filha Amida del-rei Peles amava mais que donzela da sua companha i. Ai, donzela! disse Lanalot que ventura vos adusse aqui, que bem sei que sem razom nom veestes vs? Senhor, verdade ; mais rogovos, se vos aprouguer, que vaades comigo aaquela foresta de Camaalot; e sabede que manha, ora de comer, seeredes aqui. Certas, donzela disse el muito me praz; ca tedo e soom de vos fazer servio em tdalas cousas que eu poder. Entam pedio suas armas. E quando el-rei vio que se fazia armar a tam gram coita, foi a el com a raa e disse-lhe: Como leixar-nos queredes a atal festa, u cavaleiros de todo o mundo veem aa corte, e mui mais ainda por vos veerem ca por al deles por vos veerem e deles por averem vossa companha? Senhor, disse el nom vou senam a esta foresta com esta donzela que me rogou; mais cras, ora de tera, seerei aqui. Entom se sao Lanarot do Lago e sobio em seu cavalo, e a donzela em seu palafrem; e forom com a donzela dous cavaleiros e duas donzelas. E quando ela tornou a eles, disse-lhes: Sabede que adubei o por que viim: Dom Lanarot do Lago se ir comnosco. Entam se filharom andar e entrarom na foresta; e nom andarom muito per ela que chegarom a casa do ermitam que soa a falar com Gualaz. E quando el vio Lanarot ir a donzela, logo soube que ia pera fazer Gualaaz cavaleiro, e leixou sua irmida por ir ao mosteiro das donas, ca nom queria que se fosse Gualaaz ante que o el visse, ca bem sabia que, pois se el partia dali, que nom tornaria i, ca lhe convenria e, tanto que fosse cavaleiro, entrar aas venturas do reino de Logres. E por esto lhe semelhava que o avia perdudo e que o nom veeria a meude, e temia, ca avia em ele mui grande sabor, porque era santa cousa e santa creatura. Quando eles cheguarom aa abadia, levarom Lanarot pera a camara, e desarmarom-no. E vo a ele a abadessa com quatro donas, e adusse consigo Gualaaz: tam fremosa cousa era, que maravilha era; e andava tam bem vesdo, que nom podia milhor. E a abadessa chorava muito com prazer. Tanto que vio Lanarot, disse-lhe:

Senhor, por Deos, fazede vs nosso novel cavaleiro, ca nom queriamos que seja cavaleiro por mo doutro; ca milhor cavaleiro ca vs nom no pode fazer cavaleiro; ca bem crcemos que ainda seja tam bo que vos acharedes ende bem, e que ser vossa honra de o fazerdes; e se vos el ende nom rogasse, v-lo devades de fazer, ca bem sabedes que vosso filho. Gualaaz disse Lanalot queredes vs seer cavaleiro? El respondeo baldosamente: Senhor, se prouvesse a vs, bem no queria seer, ca nom h cousa no mundo que tanto deseje como honra de cavalaria, e seer da vossa mo, ca doutra nom. no: queria seer, que tanto vos auo louvar e prear de cavalaria, que nenhu, a meu cuidar, nom podia seer covardo nem mao que vs fezssedes cavaleiro. E esto a das cousas do mundo que me d maior esperana de seer homem bo e bo cavaleiro. Filho Gualaaz disse Lanalot stranhamente vos fez Deos fremosa creatura. Par Deos, se vs nom cuidades seer bo homem ou bo cavaleiro, assi Deos me conselhe, sobejo seria gram dapno e gram malaventura de nom seerdes bo cavaleiro, ca sobejo sedes fremoso. E ele disse: Se me Deos fez assi fremoso, dar-mi- bondade, se lhe prouver; ca, em outra guisa, valeria pouco. E ele querr que serei bo e cousa que semelhe minha linhagem e aaqueles onde eu venho; e metuda ei minha sperana em Nosso Senhor. E por esto vos rogo que me faades cavaleiro. E Lanalot respondeo: Filho, pois vos praz, eu vos farei cavaleiro. E Nosso Senhor, assi como a el aprouver e o poder fazer, vos faa tam bo cavaleiro como sodes fremoso. E o irmitam respondeo a esto: Dom Lanalot, nom ajades dulda de Galaaz, ca eu vos digo que de bondade de cavalaria os milhores cavaleiros do mundo passar. E Lanalot respondeo: Deos o faa assi como eu queria. Entam comearom todos a chorar com prazer quantos no lugar stavam.

(...) Como os da Mesa Redonda houveram da graa do Santo Graal (trecho adaptado ao portugus moderno) Grande foi a alegria e o prazer que os cavaleiros da Tvola Redonda tiveram naquele dia, quando se encontravam todos reunidos. Nunca, nem antes nem depois do incio da Tvola Redonda todos os cavaleiros assim se reuniram. Ao cair da noite, quando se sentavam s mesas, ouviram um trovo to grande e assustador, que lhes pareceu que todo o palcio tremia. E, logo aps, uma imensa claridade o iluminou inteiramente. Ento, todos os cavaleiros foram tomados da graa do Esprito Santo e comearam a contemplar uns aos outros e viram que estavam muito mais formosos. De to maravilhados que estavam no conseguiam falar. Apenas se olharam. E nesse momento entrou no palcio o Santo Graal, envolto por um veludo branco, sem que ningum conseguisse ver quem o trazia. To logo o Santo Graal penetrou no palcio, este se cobriu de um odor to agradvel como se os mais finos perfumes a tivessem sido derramados. E ele percorreu o palcio de ponta a ponta, detendo-se ao redor de cada uma das mesas. E estas, sua passagem, cobriam-se dos mais deliciosos manjares, despertando o apetite e o prazer de todos. Depois que cada um se serviu, o Santo Graal desapareceu da mesma forma como entrara: sem que ningum percebesse quem o conduzia nem por qual porta sara. Ento os cavaleiros retomaram a voz e comearam a dar Graas a Nosso Senhor, que to grande e honra lhes dera, confortando-os com a graa do Santo Vaso. Mas, mais alegre que todos estava o rei Artur, porque maior graa lhe proporcionara Nosso Senhor que a qualquer outro rei que anteriormente houvesse reinado sobre Logres. E disse aos que com ele estavam: Amigos, devemos nos considerar imensamente felizes, pois Deus nos mostrou to grande sinal de amor, alimentando-nos, nesta festa de Pentecostes, de seu santo celeiro.

Resumo do Trovadorismo

Momento scio-cultural

Idade Mdia Feudalismo: sistema de poder baseado na posse da terra Supremacia do clero (teocentrismo) e da nobreza (senhores feudais, patriarcalismo) De escrnio (crtica pessoal e/ou social indireta, irnica) De maldizer (crtica pessoal e/ou social direta) Prosa medieval: novelas de cavalaria (o herosmo de influncia religiosa e feudal).

Caractersticas literrias

Predomnio da literatura oral, associada msica e dana, as cantigas Tipos de cantiga: De amor (eu-lrico masculino, prestando vassalagem amorosa mulher, senhora: o amor corts) (eu-lrico feminino, sensual e popular, o lamento pela ausncia do amigo/amante)

Autores e obras

Trovadores (poetas-cantores) Paio Soares de Taveirs, autor da Cantiga da Ribeirinha, cantiga de amor homenageando uma dama da corte (D. Maria Paes Ribeiro) D. Dinis: rei-trovador e mecenas (protetor das artes). Novelas de cavalaria (criaes populares): O rei Artur e os cavaleiros da Tvola Redonda, Carlos Magno e os doze pares da Frana.

Humanismo

Perodo de transio entre a Idade Mdia e o Renascimento;marcado por diversas transformaes,nas quais podemos citar a expanso martima,as invenes como a bssola e a plvora,o aperfeioamento da imprensa,o desenvolvimento do comrcio,o mercantilismo,o desaparecimento do misticismo medieval,

Compreendendo-se o homem com mais naturalidade.

Movimento que tinha por objetivo a contestao do teocentrismo.

Dando espao ao antropocentrismo.

Autores como Dante Alighieri (1265 1375), Petrarca (1304 1373) e Boccaccio (1313 1375).

Dante Alighieri nascido em Florena, estudou clssicos latinos e dedicou-se filosofia. Sua obra principal foi A Divina Comdia, que se dividia em Inferno, Purgatrio e Paraso. A Obra: Perdido numa selva (o Pecado), Dante auxiliado pelo poeta latino Virglio (a Razo), que o guia atravs do Inferno:para ele, um grande local afunilado, situado no centro da Terra, onde os condenados sofrem enormes tormentos. Acompanhado de Virglio, o poeta visita depois o Purgatrio, uma montanha de nove estgios, ao final dos quais desaparece Virglio e aparece Beatriz (a Teologia). Junto desta, Dante avana entre os coros dos anjos, ao longo das nove esferas do Paraso, at que So Bernardo (a Mstica) lhe permite desfrutar da presena de Deus.

Francisco Petrarca o criador do Humanismo. Escreveu Canzoniere, obra que contm canes, badaladas, sextinas, estncias e sonetos que, posteriormente, vieram a ser imitados por toda a lrica europeia.

Giovanni Boccaccio escreveu Decameron, obra repleta de linguagem expressiva e rica inventividade.

Ferno Lopes foi o primeiro cronista-mor de Portugal, responsvel pela tarefa de registrar a Histria de seu pas. Lopes foi o iniciador da historiografia portuguesa. Utilizava-se de um estilo elegante e coloquial nas suas narrativas e descries e acreditava que o povo era o agente das transformaes sociais.

Crnica de D. Pedro I

Como foi trelladada Dona Ines pera o moesteiro Dalcobaa, e da morte delRei Dom Pedro Por que semelhante amor, qual elRei Dom Pedro ouve a Dona Enes, raramente he achado em alguuma pessoa, porem disserom os antiigos quc nenhuum he tam verdadeiramente achado, como aquel cuja morte nom tira da memoria o gramde espao do tempo. E se alguum disser que muitos forom ja que tanto e mais que el amarom, assi como Adriana e Dido, e outras que nom nomeamos, segumdo se lee em suas epistolas, respomdesse que nom fallamos em amores compostos, os quaaes alguuns autores abastados de eloquemcia, e floreentes em bem ditar, hordenarom segumdo lhes prougue, dizemdo em nome de taaes pessoas, razoes que numca nenhuuma dellas cuidou; mas fallamos daquelles amores que se contam e leem nas estorias, que seu fumdamento teem sobre verdade. Este verdadeiro amor ouve elRei Dom Pedro a Dona Enes como se della namorou, seemdo casado e aimda Iffamte, de guisa que pero dela no comeo perdesse vista e falla, seemdo alomgado, como ouvistes, que he o prinipal aazo de se perder o amor, numca essava de lhe emviar recados, como em seu logar teemdes ouvido. Quanto depois trabalhou polla aver, e o que fez por sua morte, e quaaes justias naquelles que em ella forom culpados, himdo contra seu juramento, bem he testimunho do que nos dizemos. E seemdo nembrado de homrrar seus ossos, pois lhe ja mais fazer nom podia, mandou fazer huum muimento dalva pedra, todo mui sotillmente obrado, poemdo emlevada sobre a campa de ima a imagem della com coroa na cabea, como se fora Rainha; e este muimento mandou poer no moesteiro Dalcobaa, nom aa emtrada hu jazem os Reis, mas demtro na egreja ha mao dereita, aerca da capella moor. E fez trazer o seu corpo do mosteiro de Samta Clara de Coimbra, hu jazia, ho mais homrradamente que se fazer pode, ca ella viinha em huumas andas, muito bem corregidas pera tal tempo, as quaaes tragiam gramdes cavalleiros, acompanhadas de gramdes fidalgos, e muita outra gente, e donas, e domzellas, e muita creelezia. Pelo caminho estavom muitos homeens com irios nas maos, de tal guisa hordenados, que sempre o seu corpo foi per todo o caminho per antre irios aesos; e assi chegarom ataa o dito moesteiro, que eram dalli dezassete legoas, omde com muitas missas e gram solenidade foi posto em aquel muimento: e foi esta a mais homrrada trelladaom, que ataa aquel tempo em Portugal fora vista. Semelhavelmente mandou elRei fazer outro tal muimento e tam bem obrado pera si, e fezeo poer aerca do seu della, pera quamdo se aqueeesse de morrer o deitarem em elle. E estamdo el em Estremoz, adoeeo de sua postumeira door, e jazemdo doemte, nembrousse como depois da morte Dalvoro Gomallvez e Pero Coelho, el fora erto, que Diego Lopes Pachequo nom fora em culpa da morte de Dona Enes, e perdohou-lhe todo queixume que del avia, e mandou que lhe emtregassem todos seus beens; e assi o fez depois elRei Dom Fernamdo seu filho, que lhos mandou emtregar todos, e lhe alou a semtema que elRei seu padre comtra elle passara, quamto com dereito pode. E mandou elRei em seu testamento, que Ihe tevessem em cada huum ano pera sempre no dito mosteiro seis capellaaens, que cantassem por el e lhe dissessem cada dia huuma missa oficiada, e sahirem sobrel com cruz e augua beemta: e elRei Dom Fernamdo seu filho, por se esto melhor comprir e se cantarem as ditas missas, deu depois ao dito moesteiro em doaom por sempre o logar que chamam as Paredes, termo de Leirea, com todallas rendas e senhorio que em el avia. E leixou elRei Dom Pedro em seu testamento ertos legados, a saber, aa Iffamte Dona Beatriz sua filha pera casamento cem mil livras; e ao Iffamte Dom Joham seu filho viimte mil livras; e ao Iffamte Dom Denis outras viinte mil; e assi a outras pessoas. E morreo elRei Dom Pedro huuma segumda feira de madurgada, dezoito dias de janeiro da era de mil e quatro cemtos e cimquo anos, avemdo dez annos e sete meses e viimte dias que reinara, e quaremta e sete anos e nove meses e oito dias de sua hidade, e mandousse levar aaquel moesteiro que dissemos, e lamar em seu muimento, que esta jumto com o de Dona Enes. E por quamto o Iffamte Dom Fernamdo seu primogenito filho nom era estome hi, foi elRei deteudo e nom levado logo, ataa que o Iffamte veo, e aa quarta feira foi posto no muimento. E diziam as gentes, que taaes dez annos numca ouve em Portugal, como estes que reinara elRei Dom Pedro.

O teatro popular

Em 1502, o teatro praticamente no existia em Portugal.

Apenas haviam representaes religiosas nas festas da Igreja.

Encenavam-se a vida de Cristo com o intuito de educar os fiis.

Somente mais tarde que surgiu o teatro de Gil Vicente.

Com a sua encenao mais popular: Monlogo do Vaqueiro.Seu teatro era chamado profano, por ser representado nas praas pblicas.

O autor portugus mais importante do perodo Gil Vicente (1460 1536).

Viveu a maior parte de sua vida em Lisboa, centro comercial e cultural de Portugal.

Autor de Monlogo do Vaqueiro.

Primeira pea dentre os mais de 44 ttulos que escreveu.

Retratou a sociedade da poca e sua stira atingia todas as classes sociais como frades, bispos, fidalgos, plebeus, ciganos, etc., criticando sua postura moral.

A poesia palaciana

Surgiu no sculo XV nos palcios.

Na vida aristocrtica.

Garcia de Resende, poeta que costumava frequentar a Corte, reuniu toda a sua produo potica palaciana no Cancioneiro Geral.

Poesia possui uma linguagem mais rica do que a poesia trovadoresca.

Trecho de Auto da Lusitana, de Gil Vicente

Entra Todo o Mundo, homem como rico mercador, e faz que anda buscando alguma cousa que se lhe perdeu; e logo aps le um homem, vestido como pobre. ste se chama Ningum, e diz: Ningum Que andas tu a buscando? Todo o Mundo Mil cousas ando a buscar: delas no posso achar, porm ando perfiando, por quo bom perfiar. Ningum Como hs nome, cavaleiro? Todo o Mundo Eu hei nome Todo o Mundo, e meu tempo todo inteiro sempre buscar dinheiro e sempre nisto me fundo. Ningum E eu hei nome Ningum, e busco a conscincia. (Belzebu para Dinato) Esta boa experincia! Dinato, escreve isto bem. Dinato Que escreverei, companheiro? Belzebu Que Ningum busca conscincia, E Todo o Mundo dinheiro.

(Ningum para Todo o Mundo) E agora que buscas l? Todo o Mundo Busco honra muito grande. Ningum E eu virtude, que Deus mande que tope co ela j. (Belzebu para Dinato) Outra adio nos acude: escreve logo a, a fundo, que busca honra Todo o Mundo, e Ningum busca virtude. Ningum Buscas outro mor bem qusse? Todo o Mundo Busco mais quem me louvasse Tudo quanto eu fizesse. Ningum E eu quem me repreendesse Em cada cousa que errasse. (Belzebu para Dinato) Escreve mais Dinato Que tens sabido? Belzebu Que quer em extremo grado Todo o Mundo ser louvado, e Ningum ser repreendido.

VICENTE, Gil. Auto da Lusitnia. In Saraiva, Antonio Jose. Teatro de Gil Vicente. 4. ed. Lisboa: Portugal, 1968, p. 303.

O poeta critica o comportamento humano com finalidade moralizadora, embora de maneira cmica, com o uso de prosopopias (Todo Mundo e Ningum), satirizando o comportamento humano. Eis que chega a primeira alma para a viagem. Dom Henrique, o Fidalgo, acompanhado por um criado que transporta uma cadeira e carrega um manto para seu Senhor. Assim como outros personagens, o Fidalgo argumenta contra sua ida para o Inferno, considera que a barca no digna de sua nobre pessoa. O Diabo procura ironizar os diversos argumentos do nobre, dizendo que uma vida cheia de prazeres e pecados s podia resultar em punio. O Fidalgo reporta-se barca do Anjo. Alega direito de embarcar por pertencer a uma boa linhagem, mas era muito tirano e vaidoso. Seu esforo foi em vo e, retornando barca do Inferno, quer demonstrar fora moral ao reconhecer que vivera erroneamente. Chega o Onzeneiro, carregando seus bolses de dinheiro. Recusa-se a embarcar quando toma conhecimento do destino da barca, mas o Diabo, sarcstico, se faz de espantado e ironiza o fato de o dinheiro do Onzeneiro no ter servido para salv-lo da morte. Procura ento a barca do Anjo, pedindo-lhe que o deixasse entrar, pois queria mesmo era o Paraso. Seu pedido recusado quando o Anjo v seus bolses, afirmando que estavam to cheios de dinheiro que tomariam todo o espao do navio. Desconsolado, o Onzeneiro entra na barca infernal, cumprimentando com respeito o Fidalgo, que l j estava, aguardando a triste partida. Joane, personagem caracterizado como o Parvo, conversa com o Diabo e comea a praguej-lo quando descobre o destino de sua barca; entra em territrio do Anjo porque - assim lhe haviam dito - o reino do Cu seria dos pobres. Para o Anjo, os atos do bobo eram fruto de uma doena, sendo provas de inocncia e no sua sagacidade. Ir ao Paraso, portanto, o Parvo, passageiro do barco que vai Glria! Mas antes de entrar, mantm-se ao lado do Anjo, para ajudar na avaliao dos prximos passageiros. Chega ao barco do Inferno um Sapateiro, com suas ferramentas de ofcio. Aparentemente, um bom trabalhador. Quando convidado pelo Diabo a embarcar, tenta repeli-lo com o argumento de que morrera comungado e confessado. Que bom cristo parece ser! Mas o Diabo responde que foi excomungado por omisso de seus pecados, pois roubava seus fregueses ao cobrar pelos servios prestados. No contente, dirige-se barca do Anjo e barrado; explicao: o lugar de quem rouba na praa no barco que vai ao Demo. De nada adiantava ter ido missa se ao mesmo tempo havia roubado, cobrado preos extorsivos. Assim, o Sapateiro se dirige a outra barca, aceitando seu destino. Chega ento um Frade, trazendo uma moa pela mo: sua amante, Florena. Com ela, traz um broquel, uma espada e um capacete, representando sua paixo pelo esporte. O Frade tenta convencer o Diabo de sua inocncia, ensinando-lhe a arte da esgrima, mas seu esforo em vo. No contente, busca a barca do Anjo para tentar defender seus direitos enquanto representante da Santa Madre Igreja, mas nada consegue, nem sequer uma resposta do Anjo. Volta barca do Diabo ridicularizado pelo Parvo, que lhe pergunta se furtara o faco. Assim que o Frade e sua amante so embarcados, chega uma alcoviteira, Brsida Vaz, que se recusa a entrar na barca. Representa a mais terrvel das almas penadas, passara a vida aliciando meninas para padres. A Alcoviteira dirige-se barca do Anjo, que se nega ouvi-la, alegando que uma pessoa inoportuna. Brsida, ento, volta barca do Diabo, pedindo-lhe a prancha e embarcando nela. Depois da Alcoviteira, chega o Judeu com um bode s costas. O Diabo nega-se a embarcar o animal, mas o Judeu tenta suborn-lo com alguns tostes, sem muita discusso, rebocado pela barca do Inferno. Ento chega a vez do Corregedor; carregado de processos, aproxima-se da barca do Inferno. Recusa-se a rumar para destino to cruel, tentando defender-se, mas desmascarado pelo Diabo, que expe o recebimento de propinas atravs de sua mulher. Para se defender, o Corregedor culpa sua prpria esposa, mas o esforo em vo. Enquanto o Corregedor conversa com o Diabo, chega um Procurador cheio de livros; ambos se recusam a entrar no barco do Diabo, chamando pelo Anjo e dirigindo-se at ele. O Anjo roga praga aos documentos jurdicos que carregam e os manda de volta.

Nova alma vai se aproximando: o Enforcado, que se julga merecedor do perdo por ter tido uma morte cruel. o prximo personagem a entrar na barca do Diabo, que no se comove com o sofrimento de um homem que tantos furtos cometera em vida. O Enforcado simboliza o ladro que rouba sem vantagens, sendo manipulado por outros de posies mais privilegiadas. Dirigem-se agora barca do cu os Quatro Cavaleiros, empunhando a cruz de Cristo. Lutaram pela expanso da F Catlica e ganham a vida eterna como recompensa por terem sido mortos pelos mouros. Prosseguiram na barca do Anjo, cantando e sentindo-se aliviados por terem cumprido corretamente suas misses. Falado: Ins Renego deste lavrar E do primeiro que o usou! diabo que o eu dou, Que to mao daturar! Jesu! Que enfadamento, E que raiva, e que tormento, Que cegueira, e que [canseira! Eu hei-de buscar maneira Dalgum outro aviamento. Coitada, assi hei-de estar Encerrada nesta casa Como panela sem asa Que sempre est num lugar? E assi ho-de ser logrados Dous dias amargurados, Que eu posso durar viva? E assi hei-de estar cativa Em poder de desfiados? Antes o darei ao diabo Que lavrar mais nem [pontada. J tenho a vida cansada De jazer sempre dum cabo. Todas folgam e eu no Todas vm e todas vo Onde querem, seno eu. Hui! E que pecado o meu, Ou que dor de corao? Esta vida mais que morta. So eu coruja ou corujo, Ou so algum caramujo Que no sai seno porta? E quando me do algum dia Licena, como a bugia, Que possa estar janela j mais que a Madalena Quando achou a aleluia.

Auto da Barca do Inferno

Publicado em 1517.

Foi encenada pela primeira vez na cmara da rainha D. Maria de Castela, na presena do rei D. Manuel I e de sua irm D. Leonor, a Rainha Velha.

O Auto da Barca do Inferno tem como cenrio fixo duas embarcaes, num porto imaginrio para onde vo as almas no instante em que morrem.

Uma barca representada por um Anjo, simbolizando o Paraso e a outra representada pelo diabo, simbolizando o Inferno.A ao se desenrola a partir da chegada dos personagens no porto, procurando encontrar a passagem para a vida eterna.

Na pea, os personagens sero julgados segundo as obras que realizaram em vida.

A obra apresenta-se com versos redondilhos, rimas, smbolos e metforas.

Os personagens so considerados tipos sociais a nobreza, o clero e o povo.

Alm da oposio do Bem X Mal, Cu X Inferno, o Anjo e o Diabo assumem posturas tambm opostas, fazendo com que a simpatia e a ironia do Diabo domine toda a pea.

Num brao de mar, onde esto ancoradas duas barcas, chegam as almas de representantes de vrias classes sociais e profissionais. Uma das barcas dirige-se ao Purgatrio ou ao Inferno; a outra, ao Paraso. A primeira ser tripulada pelo Diabo e seu Companheiro; a outra, por um Anjo.

Farsa de Ins Pereira

Esta pea foi representada em 1523.

E considerada a mais famosa de Gil Vicente.Trata-se de uma moa sonhadora, cansada do trabalho domstico e que resolve fugir de toda essa monotonia.

Casa-se com um escudeiro, considerado malandro, porm, este morre durante a guerra.

Viva, casa-se novamente, com um homem que faz todas as suas vontades. (fragmento da obra)

Entra logo Ins Pereira, e finge que est lavrando s em casa, e canta esta cantiga: Canta Ins: Quien com veros pena y muere Que har cuando no os viere?

Resumo do Humanismo

Momento scio-cultural

Transio do feudalismo para o mercantilismo.

Desenvolvimento de prticas comerciais por uma nova classe social: a burguesia.

Crise do teocentrismo e ascenso do racionalismo humanista, com a laicizao da cultura.

Teatro popular, de influncia medieval, mas crtico, satrico, polmico Gil Vicente. Crnicas e histrias dos reis e do povo portugus (desenvolvimento da prosa) Ferno Lopes.

Autores e obras

Ferno Lopes, criador da historiografia portuguesa: Crnica dEl Rei D. Pedro, Crnica dEl Rei D. Fernando e Crnica del Rei D. Joo I.

Gil Vicente, criador do teatro portugus: Auto da visitao ou Monlogo do vaqueiro; Farsa de Ins Pereira; Auto da Barca do Inferno, Auto da Barca do Cu; Auto da Barca do Purgatrio.

Caractersticas literrias

Divulgao doa clssicos da antiguidade greco-latina. Poesia palaciana recolhida por Garcia de Resende no Cancioneiro Geral (poesias de amor, stira e religiosa).

Renascimento

Teve seu incio no sculo XV e estendeu-se at meados do sculo XVI.

Marcado pela supervalorizao do homem e pelo antropocentrismo, em oposio ao teocentrismo e misticismo.

H uma retomada das ideias greco-romanas.

O artista no se contenta em apenas observar a natureza.Procura estud-la e imit-la.

Valoriza-se a individualidade do artista, em contraposio coletividade das obras clssicas.O Renascimento em Portugal deu-se no perodo de 1527 a 1580.

O retorno do poeta S de Miranda aps seus estudos na Itlia.Trazendo inovaes de poetas italianos.

Foi com Lus de Cames que ocorreu o aprimoramento dessas novas tcnicas poticas.

Este perodo ficou conhecido como Classicismo.

Os escritores introduziram em suas obras temas pagos.

Alm do ideal do amor platnico.

A exaltao do antropocentrismo.

A imitao de autores clssicos.

A predominncia da cincia e da razo.

O uso da mitologia.

Clareza e objetividade.

Uso de linguagem simples e precisa.

O culto da beleza e da perfeio.

Alm do poema pico, Cames ficou conhecido por seus poemas lricos, em que buscava o amor espiritual e expunha as contradies do corao. Sua poesia lrica toma dois sentidos: popular (redondilhas) e erudita (sonetos).

A poesia lrica de Cames

Soneto

Transforma-se o amador na [cousa amada, Por virtude do muito imaginar; No tenho logo mais que desejar, Pois em mim tenho a parte desejada. Se nela est minha alma [transformada, Que mais deseja o corpo de [alcanar? Em si somente pode descansar, Pois consigo tal alma est liada. Mas esta linda e pura semidia, Que, como o acidente em seu sujeito, Assim com a minha alma se conforma, Est no pensamento como ideia; E o vivo e puro amor de que sou feito, Como a matria simples busca [a forma.In MOISS, Massaud. A Literatura Portuguesa atravs dos textos. 9. ed. So Paulo: Cultrix, 1980, p. 76.

Lus Vaz de Cames (1524 1580)

Publicou em 1572 Os Lusadas, poema pico organizado em: Proposio, Invocao, Dedicao, Narrao e Epca.

Percebemos que o autor retrata explicitamente a questo platnica do amor.

Pois este passa a idealizar tanto a amada que acredita t-la em si mesmo, no seu prprio corpo.

Como j diz o poema: aquele que ama se transforma na amada; logo no tem mais o que desejar, pois j tem em si mesmo o ser que deseja (versos 1 a 8).Podemos ressaltar tambm neste soneto o valor da mulher ante a figura masculina.

Esta idealizada, inacessvel, vista como uma semidia (metade mulher, metade deusa), ou seja, colocada num plano superior ao do poeta.

De carter discursivo, Cames pretende argumentar a questo acerca do Amor e da Mulher.

No soneto anterior, Cames conceitua o significado do amor atravs de paradoxos, que se encadeiam no decorrer dos versos at chegar ao ponto mximo do soneto, onde o poeta questiona o prprio carter contraditrio do amor. Quantos sentidos diferentes podem emergir da semelhana sugerida entre amor e fogo nesta conhecida metfora? Alguns exemplos, provavelmente desnecessrios: o amor, como o fogo, queima. intenso. Ilumina. Deixa marcas. Consome. No se pode mexer nas suas cinzas, que renasce... e muitas outras significaes. Linguagem criadora: signos que geram signos. Smbolos que geram smbolos.(Cursos Prticos Nova Cultural para Vestibular SP, 1998.)

Soneto

Amor fogo que arde sem se ver; ferida que di e no se sente; um contentamento descontente; dor que desatina sem doer. um no querer mais que bem querer; solitrio andar por entre gente; nunca contentar-se de contente; cuidar que se ganha em se perder. querer estar preso por vontade; servir a quem vence, o vencedor; ter com quem nos mata lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos coraes humanos amizade, Se to contrrio a si o mesmo amor?

In MOISS, Massaud. A Literatura Portuguesa atravs dos textos. 9 ed. So Paulo: Cultrix, 1980, p. 76.

Tanto de meu estado me acho incerto

Tanto de meu estado me acho [incerto Que em vivo ardor tremendo estou [de frio Sem causa, justamente choro e rio; O mundo todo abarco e nada a [perto. tudo quanto sinto um [desconcrto; Da alma um fogo me sai, da vista [um rio; Agora espero, agora desconfio, Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao cu [voando; Numa hora acho mil anos, e de [jeito Que em mil anos no posso achar [uma hora. Se me pergunta algum porque [assim ando, Respondo que no sei; porm [suspeito Que s porque vos vi, minha [Senhora.

Os Lusadas

Constitui-se de dez cantos em 1102 oitavas de versos decasslabos hericos, com esquema rimtico ABABABCC em denominado 8 rima, num total de 8816 versos.

O poeta, no incio da sua obra, preocupa-se em explicar suas intenes em relao aos feitos hericos.

Em seguida, pede s musas do Tejo para que o ajudem nesta rdua tarefa.

Depois, o autor oferece seus poemas ao rei D. Sebastio e, ento, inicia-se todo o percurso da narrativa. (resumo)

Sete anos de pastor Jac servia

Sete anos de pastor Jac servia Labo, pai de Raquel, serrana bela; Mas no servia ao pai, servia a ela, E a ela s por prmio pretendia. Os dias, na esperana de um s dia, Passava, contentando-se com v-la; Porm o pai, usando de cautela, Em lugar de Raquel lhe dava Lia. Vendo o triste pastor que com [enganos Lhe fora negada a sua pastra, Como se a no tivera merecida, Comea de servir outros sete anos, Dizendo: - mais servira, se no fra Para to longo amor to curta a [vida!

A ao da narrativa tem o seu incio quando a frota do heri Vasco da Gama ainda se encontra em pleno Oceano ndico. No Olimpo, morada dos deuses, acontece uma reunio, na qual estes discutem a situao dos portugueses. Fica Baco na oposio, enquanto os demais resolvem auxiliar o heri. A essa altura, a frota portuguesa, j em plena viagem, chega a Moambique, na costa ocidental da frica. O deus Baco, que no quer a vitria de maneira alguma, arma uma cilada para Vasco da Gama; porm, o comandante portugus supera o problema. armada outra cilada quando a frota se aproxima de Mombaa, mas a deusa Vnus salva novamente os portugueses. Ao atracar em Melinde, a frota recebida pelo rei da cidade, que vem a bordo e solicita a Vasco da Gama lhe narre toda a histria de Portugal. O heri comea descrevendo a Europa, para ento chegar fundao da Lusitnia;

fala sobre D. Henrique de Borgonha, pai do fundador de Portugal; menciona alguns episdios da histria de Portugal, como o de Egas Moniz, a batalha de Aljubarrota, a tomada da cidade de Ceuta no norte da frica e outros. Relembra os fatos que antecederam sua partida de Lisboa, os preparativos da viagem; a conversa com o velho do Restelo; por ltimo as primeiras aventuras beira-mar: o fogo de Santelmo, a tromba marinha, a aventura de Veloso, o Gigante Adamastor e, finalmente, a chegada a Melinde. Terminado o relato, Vasco da Gama prossegue em sua viagem martima. Baco resolve falar com olo, deus dos ventos, para prejudicar a frota com uma forte ventania, no entanto, Vnus novamente protege os navegadores enviando ninfas amorosas para levar a calmaria. Fim da tormenta. A frota portuguesa chega salvo a Calicute, na ndia, e so recebidos por Samoriam. A bordo, Paulo da Gama recebe o Catual e decifra-lhe o significado dos desenhos nas bandeiras. Comea a viagem de volta a Portugal. Em caminho, fazem parada na Ilha dos Amores e so recebidos amorosamente pelas ninfas locais. A deusa Tethys mostra a Vasco da Gama a mquina do mundo e o futuro glorioso do povo portugus. A obra dividida em: Proposio a apresentao do assunto. Transparecem alguns elementos fundamentais, como a sobrevivncia do ideal das cruzadas, a supervalorizao do homem, a exaltao da aventura, a busca de novos horizontes e a presena da mitologia. As armas e os bares assinalados que da ocidental praia lusitana, por mares nunca dantes navegados passaram ainda alm da Taprobana. E em perigos e guerras esforados, Mais do que prometia a forca humana, Entre gente remota edificaram Novo reino, que tanto sublimaram; E tambm as memrias gloriosas Daqueles Reis que foram dilatando A f, o Imprio, e as terras viciosas De frica e de sia andaram [devastando E aqueles que por obras valerosas Se vo da lei da morte libertando: Cantando espalharei por toda [parte, Se a tanto me ajudar o engenho e [arte. Cessem do sbio Grego e do [Troiano As navegaes grandes que [fizeram; Cale-se de Alexandro e de Trajano A fama das vitrias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre [Lusitano, A quem Neptuno e Marte [obedeceram:

Cesse tudo o que a Musa antgua [canta, Que outro valor mais alto se [alevanta.

Invocao invocando a presena das musas para a construo da obra, o poeta espera que seus cantos sejam inspirados e se imortalizem. E vs, Tgides minhas, pois criado Tendes em mim um novo engenho [ardente, Se sempre em verso humilde [celebrado Foi de mim vosso rio alegremente, Dai-me agora um som alto e [sublimado, Um estilo grandloquo e corrente, Porque de vossas guas, Febo [ordene Que no tenham inveja s de [Hipoerene. Dai-me uma fria grande e [sonorosa, E no de agreste avena ou frauta [ruda, Mas de tuba canora e belicosa, Que o peito acende e a cor ao [gesto muda; Dai-me igual canto aos feitos da [famosa Gente vossa, que a Marte tanto [ajuda; Que se espalhe e se cante no [universo, Vs, tenro e novo ramo [florescente De uma rvore de Cristo mais [amada Que nenhuma nascida no [Ocidente, Cesrea ou Cristianssima [chamada; (Vede-o no vosso escudo, que [presente Vos amostra a vitria j passada, Na qual vos deu por armas, e [deixou As que Ele para si na Cruz tomou)

Narrao o desenrolar dos fatos. Est dividido em dois planos: mtico (em que agem os deuses) e o histrico (em que agem os homens). Se to sublime preo cabe em [verso. Dedicatria oferecimento do poema ao rei de Portugal, D. Sebastio. E vs, bem nascida segurana Da Lusitana antgua liberdade, E no menos certssima esperana De aumento da pequena [Cristandade; Vs, novo temor da Maura lana, Maravilha fatal da nossa idade, Dada ao mundo por Deus, que todo [o mande, Para do mundo a Deus dar parte [grande;

Oh, que famintos beijos na floresta! E que mimoso choro que soava! Que afagos to suaves! [Que ira honesta, Que em risinhos alegre se tornava! O que mais passam na manh e [na sesta, Que Vnus com prazeres inflamava, Melhor experiment-lo que julg-lo, Mas julgue-o quem no pode [experiment-lo.

Eplogo so as consideraes finais do poeta. No mais musa, no mais, [que a lira tenho Destemperada e a voz, enrouquecida, E no do canto, mas de ver que venho Cantar a gente surda e endurecida. O favor com que se acende o engenho No nos d ptria, no, [que est metida No gosto da cobia e da rudeza De uma austera, apagada e [vil tristeza. Aos montes ensinando e s ervinhas O nome que no peito escrito tinhas. (...) Tirar Ins ao mundo determina Por lhe tirar o filho que tem preso, Crendo com o sangue s de morte [indigna Matar o firme amor o fogo aceso. Que furor consentem que a [espada fina Que pde sustentar o grande peso Do furor mouro, fosse alevantada Contra uma fraca dama delicada? Traziam-na os horrficos algozes Ante o rei j movido piedade; Mas o povo, com as falsas e [ferozes Razes, morte crua o persuade. Ela, com tristes e piedosas vozes, Sadas s da mgoa e da saudade Do seu prncipe e filhos, que [deixava, Que mais que a prpria morte a [magoava. (...) Do teu Prncipe ali te respondiam As lembranas que na alma lhe [moravam. Que sempre ante seus olhos te [traziam, Quando dos teus fermosos se [apartavam; De noite, em doces sonhos que [mentiam,

Trechos do episdio de Ins de Castro

Estavas linda Ins, posta em [sossego, De teus anos colhendo doce fruito, Naquele engano da alma, ledo e [cego, Que a fortuna no deixa durar muito, Nos saudosos campos do Mondego, De teus fermosos olhos nunca [enxuito,De dia, em pensamentos que [voavam, E quanto, em fim, cuidava e [quanto via Eram tudo memrias de alegria. Caracterizado por duas estrofes em oitavas, os versos compem o famoso decasslabo herico e sfico, feitos de acordo com as convenes literrias do sculo XVI. Personagem central do episdio, Ins de Castro, que teve um romance com D. Pedro I, amor proibido, pois este era casado e a famlia de Ins era ligada aos inimigos dos portugueses. O pai, D. Afonso IV, manda mat-la. D. Pedro, ao saber disso, resolve desenterr-la e coro-la rainha. Eu sou aqule oculto e grande Cabo a quem jamais vs outros Tormentrio, que nunca a Ptolomeu, Pompnio, [Estrabo, Plnio, e quantos passaram fui [notrio, Aqui toda a Africana costa acabo Neste meu nunca visto Promontrio, Que para o Plo Antrtico se [estende, A quem vossa ousadia tanto [ofende! O Gigante Adamastor um dos episdios mais intensos e importantes dos Lusadas. Baseado em uma lenda de origem desconhecida, devido sua antigidade, narra a histria de um gigante, Adamastor, transformado pelos deuses no Cabo das Tormentas, localizado no extremo sul da frica, como castigo por ter se apaixonado por Ttis, esposa do rei grego Peleu, e ter visto-a nua. Adamastor revela aos heris portugueses as desventuras que os aguardam, num clima solene e trgico. A importncia desse episdio para a narrativa reside no fato de possuir vrios sentidos, que condensam a idEia central dos Lusadas. O episdio situa-se exatamente no meio do texto, o que refora sua importncia e fora trgica.

Trechos do episdio de O Gigante Adamastor

Porm j cinco Sis eram passados Que dali nos partramos, cortando Os mares nunca de outrem [navegados, Prosperamente os ventos [assoprando, Quando uma noite, estando [descuidados Na cortadora proa vigiando, Uma nuvem, que os ares escurece, Sobre nossas cabeas aparece. (...)

Resumo do Renascimento

Momento scio-cultural

Renascimento: revalorizao dos modelos culturais da Antiguidade clssica pela burguesia mercantilista

Grandes navegaes e desenvolvimento do antropocentrismo (humanismo)

Reforma protestante: crise da Igreja catlica.

Nascimento da cincia moderna.

Autores e obras

Luis Vaz de Cames, poeta-filsofo: Poesia lrica de influncia medieval e clssica, de temtica variada e abrangente (os mistrios da condio humana, a presena do homem no mundo, os conceitos e contradies amorosas etc). Poesia pica redondilha menor e redondilha maior) pela medida nova, proveniente da Itlia (versos decasslabos soneto).

Os Lusadas, narrao da herica viagem de Vasco da Gama s ndias e a eternizao de um dos momentos mais gloriosos de Portugal, a poca das grandes navegaes.

Caractersticas literrias

Humanismo, antropocentrismo, racionalismo (decadncia dos valores religiosos).

A arte como mimese: imitao de modelos da Antiguidade harmonia, equilbrio, proporo de formas.

Substituio da medida velha medieval (versos de 5 e 7 silabas mtri-

Barroco

um estilo voltado para a aluso (e no a cpia) e para a iluso enquanto fuga da realidade convencional.

Se partirmos da exegese (interpretao) do estilo barroco em termos de crise defensiva da Europa pr-industrial.

Aristocrtica e jesutica (Espanha e Portugal), perante o avano do racionalismo burgus (Inglaterra, Holanda, Frana).

Entenderemos o quanto de angstia, de desejo de fuga e de ilimitado subjetivismo havia nestas formas.

E entenderemos tambm a imagem barroca da vida como um sonho, como uma comdia, como um labirinto, um jogo de espelhos, uma festa: o triunfo da iluso.(Alfredo Bosi)

A esttica barroca

O Barroco ope-se esttica clssica: superfcie X profundidade, forma fechada X forma aberta, multiplicidade X unidade.

O homem barroco foge das coisas e sentimentos contraditrios que envolvem a natureza humana, exaltando os valores cristos o homem volta-se para Deus.Podemos encontrar dois tipos de esttica barroca: a gongrica e a conceptista.

A esttica gongrica est preocupada com a descrio das coisas.

frequente o uso de figuras de linguagem como a anttese, a metonmia, o paradoxo, o assndeto, a metfora, o simbolismo, a sinestesia, a hiprbole e a catacrese, alm do uso de neologismos.

Preocupa-se com uma linguagem bem trabalhada.

Surgiu no final do sculo XVII e incio do sculo XVIII na Espanha.Se expandiu por toda a Europa.

O movimento barroco inicia-se, em Portugal, em 1580, com a morte de Cames e termina com a fundao da Arcdia Lusitana.

Est relacionado Contra-Reforma.

O sculo XVII um perodo de grandes conflitos e contradies.

A situao de instabilidade poltica e a decadncia econmica nos pases europeus foram fatores importantes para o surgimento deste movimento artstico.

O Barroco fruto de um perodo em que o conservadorismo da Igreja se intensifica, reagindo contra a inovao da poca e os valores burgueses, como o amor, o luxo, o dinheiro etc. Procura-se:

Restaurar um clima de religiosidade, contrrio s ideias da antiguidade clssica.

Estes fatores fizeram com que o homem conciliasse os valores medievais (teocentrismo) com os valores renascentistas (antropocentrismo).

Essa situao contraditria provocou o aparecimento de atitudes igualmente contraditrias do artista face ao mundo, vida e a si mesmo.

A esttica conceptista - est preocupada em conhecer a essncia das coisas, ao invs de descrev-las (teocentrismo).

Utiliza-se mais da razo do que da emoo.

H o uso de antteses e paradoxos, tornando o raciocnio mais ambguo em busca da satisfao da inteligncia.

A linguagem barroca exagerada de imagens e figuras de linguagem, preocupa-se com a aparncia.

Expe assuntos que envolvem a religio problemtica da poca, atravs de contraste de temas, assuntos, motivos e elementos expressivos como:

vida eterna X vida terrenaespiritualidade X materialidadecorpo X almaeu X mundoCristianismo X ReformaDeus X homemvida X mortereligioso X profano (erotismo)real X idealesprito X carnesensualismo X misticismorealismo X idealismocu X terra tenso provocada pela F e pela Razo.

Alm da religiosidade, o artista barroco retrata tambm a sensualidade.Tanto em relao natureza como ao corpo humano.

Principais artistas barrocos:

A Lentido burocrtica e a preguia do Brasil

Dizem que Hbis, filha del-rei Grgon, por haver sido criada nos bosques com leite de uma cerva, saiu ligeirssima no correr. Estou considerando que leite mamaria uma destas causas ou requerimentos na mo dos ministros e seus oficiais, que no h remdio a faz-la correr. Se beberia o leite da preguia do Brasil (a quem os Castelhanos chamaram por ironia perrillo ligero), que gasta dois dias em subir a uma rvore e outros dois em descer? Mas no adequado o smil. Porque a preguia do Brasil anda devagar, mas anda; e a preguia do Reino e seus ministros, a cada passo pra e dorme. Dois meses para entrar um papel, e parou; outros dois, para subir a consulta, e tornou a parar; outros dois, para descer abaixo, e temo-la outra vez parada. Mais tantos meses para se verem os autos, mais outros tantos para se formar a tenso, mais tantos anos para embargos, apelaes, visitas, revistas, rplicas e trplicas... Oh preguia do Brasil, j eu digo, no por ironia, seno por boa verdade, que tu em comparao da preguia do Reino s perrillo ligero.

In REBELO, Marques, org. Antologia escolar portuguesa. Rio de Janeiro: FENAME/MEC, 1970, p. 261.

Padre Manuel Bernardes (1644 1710)

Produziu obras de cunho mstico e moralista (didtico) com uma linguagem simples e espontnea. Sua principal obra foi Nova Floresta.

Francisco Rodrigues Lobo (1580-1622)

Poeta buclico e de influncia camoniana, escreveu obras como Romanceiro, clogas, Pastor Peregrino e outros.

Fermoso Tejo meu, quo diferente Te vejo e vi, me vs agora e viste: Turvo te vejo a ti, tu a mim triste, Claro te vi eu j, tu a mim contente. A ti foi-te trocando a [grossa enchente A quem teu largo campo no resiste; A mim trocou-me a vista [em que consiste O meu viver contente ou descontente. J que somos no mal participantes, Sejamo-lo no bem. Oh, quem me dera Que framos em tudo semelhantes! Mas l vir a fresca primavera; Tu tornars a ser quem eras de [antes, Eu no sei se serei quem de antes [era. Se s por ser de mim to receada, Com dura execuo me tira a vida Que far se chegar a ser sabida? Que far se passar de suspeitada? Porm se j me mata, sendo incerta, Somente imagin-la e presumi-la, Claro est (pois da vida o fio corta) O que far depois quando for certa: ou tornar a viver, para senti-la, ou senti-la tambm depois de morta. I Se apartada do corpo a doce vida, Domina em seu lugar a dura morte, De que nasce tardar-me tanto a [morte Se ausente da alma estou, que me [d vida? No quero sem Silvano j ter vida, Pois tudo sem Silvano viva morte, J que se foi Silvano, venha a [morte, Perca-se por Silvano a minha vida. Ah! suspirado ausente, se esta [morte No te obriga querer vir dar-me vida, Como no ma vem dar a mesma [morte? Mas se na alma consiste a prpria [vida, Bem sei que se me tarda tanto a [morte, Que porque sinta a morte de tal [vida.

Sror Violante do Cu (1601-1693)

Produziu poemas marcados pelo sentido passional, pelas imagens sutis e pela veemncia. Depois de entrar para o convento, impregna suas poesias de cunho religioso. Sua principal obra foi Rimas Vrias. Amor, se uma mudana imaginada j com tal rigor minha homicida, Que ser de passar de ser temida, A ser, como temida, averiguada?

Se era brando o rigor, firme a [mudana, Humilde a presuno, vria a [firmeza, Fraco o valor, cobarde a fortaleza, Triste o prazer, discreta a [confiana. Ter a ingratido firme lembrana, Ser rude o saber, sbia a rudeza, Lhana a fico, sofstica a [lhaneza, spero o amor, benigna a [esquivana; Ser merecimento a indignidade, Defeito a perfeio, culpa a [defensa, Intrpido o temor, dura a piedade, Delicto a obrigao, favor a ofensa, Verdadeira a traio, falsa a [verdade, Antes que vosso amor meu [peito vena. (...)

Frei Lus de Sousa (1555 1632)

Historiador rigoroso, escreveu Histria de So Domingos e Anais de D. Joo III.

Sror Mariana Alcoforado (1640 1723)

Escreveu Cartas Portuguesas em 1669, atribudas a um amor proibido, uma paixo violenta, incontrolada e no correspondida por um militar, o capito Chamilly. Nestas cinco cartas, a conscincia moral suplantada pelo sentimento amoroso e pela nsia de esquecer uma relao pecaminosa, mas que ainda assim era ardentemente desejada.

Transcrio da primeira carta:

V l tu, meu amor, como foste te iludir! Ah! Coitado de ti enganaste-te e enganaste-me com esperanas mentirosas. Tantas esperanas de gosto nos dava o nosso amor, e causa-nos agora o mortal desespero que s pode comparar-se crueldade desta separao. Pois que! A tua ausncia, para que a minha dor no acha nome bastante triste, h de privar-me para sempre de me mirar nos teus olhos, onde eu via tanto amor, que me enchiam de alegria, que eram tudo para mim?

Francisco Manuel de Melo (1608 1667)

Era voltado para a poesia lrica, a historiografia, o teatro e a prosa filosfica e moralizante. Sua principal obra foi Carta de Guia aos Casados, que retrata as relaes conjugais de forma irnica e humorstica.

Ai de mim! Os meus olhos perderam a luz que os alumiava e no fazem seno chorar. (...) Mil vezes em cada dia l te mando os meus suspiros; e no me trazem para alvio de tantos males seno este ajuizado aviso minha desventura, que estou sempre a ouvir: Deixa, pobre Mariana, deixa de querer quele que atravessou o mar para te fugir, que est em Frana no meio dos prazeres, que no pensa um instante no que sofres, nem te agradece, e que te dispensa de o amares tanto... Suas principais obras so: Sermo da Sexagsima (fala da arte de pregar) e Sermo de Santo Antnio ou Sermo aos Peixes (fala a respeito da escravido indgena) e so divididas em: introduo, argumentao e perorao.

Sermo da quarta feira de cinzas

(fragmento) Ora suposto que j somos p, e no pode deixar de ser, pois Deus o disse: perguntar-me-eis, e com muita razo, em que nos distinguimos logo os vivos dos mortos? Os mortos so p, ns tambm somos p; em que nos distinguimos uns dos outros? Distinguimo-nos os vivos dos mortos, assim como se distingue o p do p. Os vivos so p levantado, os mortos so p cado; os vivos so p que anda, os mortos so p que jaz: Hic jacet. Esto essas praas no vero cobertas de p: d um pde-vento, levanta-se o p no ar e que se faz? Os que fazem os vivos, e muitos vivos. No aquieta o p, nem pode estar quedo; anda, corre, voa; entra por esta rua, sai por aquela, j vai adiante, j torna atrs; tudo enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba, tudo toma, tudo cega, tudo penetra: em tudo e por tudo se mete, sem aquietar e sossegar um momento, enquanto o vento dura. Acalmou o vento; cai o p, e onde o vento parou, ali fica; ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar, ou no rio, ou no monte, ou na campanha. No assim? Assim . E que p, e que vento este? O p somos ns: Quia pulvis est: o vento a nossa vida. Quia ventus est vita mea. Deu o vento, levantou-se o p; parou o vento, caiu. Deu o vento, eis o p levantado; estes so os vivos. Parou o vento, eis o p cado; estes

Padre Antnio Vieira (1608-1697)

Nasceu em Lisboa no ano de 1608. Ainda menino, vem para o Brasil e estuda no Colgio dos Jesutas. Ordena-se em 1634. Com a restaurao portuguesa, depois do domnio espanhol, mudase para Portugal, porm, no consegue se adaptar realidade portuguesa, devido decadncia do pas e Inquisio. Volta para o Brasil e passa a morar no Maranho. Morre em 1697, aos 89 anos. Dividido entre dois mundos europeu e brasileiro e de estilo predominantemente conceptista, o autor estabelece analogias e comparaes da poca e passagens bblicas, apresentando uma grande profundidade de raciocnio. Considerado o maior orador sacro da histria portuguesa, critica os pregadores cultistas, por possurem discursos ocos. so os mortos. Os vivos p, os mortos p; os vivos p levantado, os mortos p cado; os vivos p com vento, e por isso vo; os mortos p sem vento, e por isso sem vaidade. Esta a distino e no h outra. acaba. Atreve-se o tempo a colunas de mrmore, quanto mais a coraes de cera? So as afeies como as vidas, que no h mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. So as linhas, que partem do centro para a circunferncia, que quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os Antigos sabiamente pintaram o amor menino; porque no h amor to robusto que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza, o desarma o tempo. Afrouxalhe o arco, com que j no atira; embotalhe as setas, com que j no fere; abrelhes os olhos, com que v o que no via; e faz-lhe crescer as asas, com que voa e foge. A razo natural de toda esta diferena, porque o tempo tira a novidade s cousas, descobre-lhe os defeitos, enfastia-lhe o gosto, e basta que sejam usadas para no serem as mesmas. Gastase o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar causa de no amar, e o ter amado muito, de amar menos. O sermo acima mencionado no se enquadra, em princpio, como sendo um texto literrio, por no se tratar de uma poesia, romance, conto, ou novela. Entretanto h uma literalidade por se referir ao tema Amor.

Sermes

H de tomar o pregador uma s matria, h de defini-la para que se conhea, h de dividi-la para que se distinga, h de prov-lo com a Escritura, h de declar-la com a razo, h de confirm-la com o exemplo, h de amplific-la com as causas, com os efeitos, com as circunstncias, com as convenincias que se ho de seguir, com os inconvenientes que se devam evitar, h de responder s dvidas e h de satisfazer as dificuldades, h de impugnar e refutar com toda a fora da eloquncia os argumentos contrrios, e depois disso, h de colher, h de apertar, h de concluir, h de persuadir, h de acabar... Neste sermo, h uma enumerao, ou seja, uma lista de elementos que caracterizam o ato de pregar, atravs de um tom de oratria, de pregao. Atravs do conceptismo, Vieira se utiliza de trs recursos para a elaborao do sermo: a escritura, a razo e o exemplo. Vieira tambm utiliza-se de textos bblicos como referencial fazendo analogias com o cotidiano.

Carta

(fragmento) Senhor, os reis so vassalos de Deus e, se os reis no castigam os seus vassalos, castiga Deus os seus. A causa principal de se no perpetuarem as coroas nas mesmas naes e famlias a injustia, ou so as injustias, como diz a Escritura Sagrada; e entre todas

Sermo do Mandato

(fragmento) O primeiro remdio que dizamos, o tempo. Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo as injustias nenhuma clama tanto ao cu como as que tiram a liberdade aos que nasceram livres, e as que no pagam o suor aos que trabalham; e estes so e foram sempre os dois pecados deste Estado, que ainda tem tantos defensores. A perda do Senhor rei D. Sebastio em frica, e o cativeiro de sessenta anos que se seguiu a todo o reino, notaram os autores daquele tempo que foi castigo dos cativeiros, que na costa da mesma frica comearam a fazer os nossos primeiros conquistadores, com to pouca justia como a que se l nas mesmas histrias. As injustias e tiranias, que se tem executado nos naturais destas terras, excedem muito s que se fizeram na frica. Em espao de quarenta anos se mataram e se destruram por esta costa e sertes mais de dois milhes de ndios, e mais de quinhentas povoaes como grandes cidades, e disto nunca se viu castigo. Proximamente, no ano de 1655, se cativaram no rio das Amazonas dois mil ndios, entre os quais muitos eram amigos e aliados dos portugueses, e vassalos de Vossa Majestade, tudo contra a disposio da lei que veio naquele ano a este Estado, e tudo mandado obrar pelos mesmos que tinham maior obrigao de fazer observar a mesma lei; e tambm no houve castigo: e no s se requer diante de Vossa Majestade a impunidade destes delitos, seno licena para os continuar! (...) Diro porventura (como dizem) que destes cativeiros, na forma em que se faziam, depende a conservao e aumento do Estado do Maranho; isto, Senhor, heresia. Se por no fazer um pecado venial, se houver de perder Portugal, perca-o Vossa Majestade e d por bem empregada to crist e to gloriosa perda; mas digo que heresia, ainda politicamente falando, porque sobre os fundamentos da injustia nenhuma cousa segura nem permanente; e a experincia o tem mostrado neste mesmo Estado do Maranho, em que muitos governadores adquiriram grandes riquezas e nenhum deles as logrou nem elas se lograram; nem h cousa adquirida nesta terra que permanea, como os mesmos moradores dela confessam, nem ainda que v por diante, nem negocio que aproveite, nem navio que aqui se faa que tenha bom fim; porque tudo vai misturado com sangue dos pobres, que est sempre clamando ao cu. Este trecho pertence a uma carta e, tambm no pode se enquadrar como um texto literrio, por no se tratar de um romance, poesia, conto ou novela. No entanto, h, tambm, literalidade nesta, pois est dirigida ao Rei de Portugal e comea com uma afirmao religiosa. Depois Vieira refere-se causa do tema que vai desenvolver, recorrendo citaes das escrituras sagradas. O autor compara as tiranias na frica com as tiranias e as injustias da colnia: a morte de milhares de ndios, a desobedincia pela coroa de suas prprias leis, a impunidade etc. Concluindo: o conceptismo amarra as ideias relacionadas com uma tica religiosa e poltica, cuja atualidade no se perdeu.

Resumo do Barroco

Momento scio-cultural

Contra-reforma: reao da Igreja catlica.

Os novos valores humanistas, defendidos pela burguesia, chocam-se com os valores teocntricos, representados pelo clero.

Comea em Portugal o domnio espanhol, que dura de 1580 a 1640.

Predominncia de duas tendncias, que se interpenetram: cultismo (rebuscamento formal, jogo sensorial de palavras) e conceptismo (sofisticao no plano das ideias e argumentaes paradoxais).

Autores e Obras

Padre Antnio Vieira: maior orador sacro da lngua, escreveu Sermes (15 volumes, entre 1679-1718), Histria do Futuro (1718) e outras.

Francisco Manuel de Melo: estudou com os jesutas e seguiu a carreira militar. Escreveu Carta de Guia de Casados (1651), Cartas Familiares (1664), Obras Mtricas (1665).

Padre Manuel Bernardes: escreveu Nova Floresta (5 volumes, 17061728), Luz e Calor (1696).

Caractersticas literrias

Anttese, dualidade, contradio: o sagrado e o profano, a razo e a emoo, o espiritual e o carnal, vida e morte, medievalismo e Renascimento.

Literatura baseada em antteses, paradoxos, inverses sintticas (hiprbatos) e exageros (hiprboles) que expressam a angstia existencial barroca.

Arcadismo

O inicio do sculo XVIII marcado pela decadncia do pensamento barroco.

Cujos fatores bsicos so:

o exagero da expresso barroca, que havia cansado o pblico; a ascenso da burguesia supera o domnio religioso;

o surgimento das primeiras arcdias, enfatizando a pureza e a simplicidade.

A palavra Arcadismo tem sua origem em Arcdia -

Uma antiga regio da Grcia, de relevo montanhoso, habitada por pastores que conciliavam os seus trabalhos com a poesia, cantando o paraso rstico em que viviam e simbolizando-o como uma terra de inocncia e felicidade.

O Arcadismo desenvolveu-se ao longo do sculo XVIII.Influenciado pela Revoluo Francesa.

Movimento revolucionrio de ideologia liberal burguesa.

Responsvel pela queda do absolutismo e da economia mercantilista e pela extino do antigo sistema feudal. O Arcadismo ficou conhecido por setecentismo (os anos 1700) e neoclassicismo.

E refletiu uma poca que ficou conhecida como o Sculo das Luzes ou Iluminismo.

Movimento filosfico - objetivo era o de defender a liberdade de pensamento e usar a razo como instrumento de anlise e domnio da realidade.

Lutaram contra os excessos do Barroco e defenderam uma arte racional e didtica.

Dentre os diversos pensadores iluministas, destacam-se:

Voltaire possuidor de ideias filosficas e polticas.Mostrou em suas primeiras obras seu estilo satrico e anticlerical.

Criticando ferozmente a Igreja de sua poca.

Proclamou dio pelas monarquias absolutas e sua admirao pela monarquia liberal inglesa.

Suas principais obras foram: dipo, A Henrada, Cartas Filosficas, Cndido ou o Otimismo e o Dicionrio Filosfico.

Montesquieu preocupado com a renovao.Contribuiu com a ideia da diviso de poderes como recurso para se evitar o autoritarismo.

Em sua obra Do Esprito das Leis, Montesquieu defendeu a ideia de que:

Cada um dos trs poderes (Legislativo, Executivo e Judicirio), deve estar em mos distintas.

Em Cartas Persas critica os costumes da sociedade.

Rousseau com sua teoria do bom selvagem, defendeu a natureza virgem e foi admirador do homem selvagem. Desprezou o otimismo um tanto ingnuo dos enciclopedistas.

Afirmou que as artes e as cincias tinham contribudo para o progresso da humanidade, mas tambm a corromperam.

Escreveu Discurso sobre as Cincias e as Artes e Do Contrato Social. Posteriormente, deu nfase importncia da Educao, com sua obra Emlio.

Inspirados nestes pensadores e suas teorias.

Os rcades voltam-se para a natureza em busca de uma vida simples, buclica e pastoril, fugindo, assim, dos centros urbanos.

A natureza passa a ser, ento, um refgio ao homem civilizado.

Sua preocupao prioritria era a de formular uma sociedade mais igualitria.

Teve sua fundao no culto das cincias, da razo e do progresso.

De esprito reformista, o Arcadismo pretende:

Reformular o ensino, os hbitos e as atitudes sociais.

Propunha a restaurao da simplicidade na linguagem, abandonando as figuras de linguagem antteses, metforas, paradoxos dando mais nfase a uma linguagem direta.

Em oposio aos artistas barrocos, que preferiam a fuga da realidade, o Arcadismo valoriza o tempo presente.

O artista rcade, alm de tomar a vida campestre e suas paisagens como modelos, incorpora, em suas obras, a mitologia, usando-se de deuses e heris da histria grega.

Resumidamente falando, podemos citar diversas caractersticas da arte literria arcadista:

volta aos modelos greco-romanos;

predominam a razo e a cincia, em oposio f e a religio;

h o retorno ao equilbrio, reagindo contra os preceitos barrocos quanto ao desequilbrio;

buscam a perfeio da forma;

procuram um estilo simples de linguagem, despojando-o das metforas e hiprboles deixadas pela esttica anterior;

utilizam-se da natureza em suas poesias, tornando-as de aspecto buclico e ingnuo;

do nfase linguagem simples, porm, sem perder a sua nobreza;

possuem uma tendncia introspectiva;

h o culto excessivo natureza;

a linguagem torna-se melodiosa;

usam pseudnimos pastoris.

Ex: Elmano Sadino (Bocage).

Este movimento chega a Portugal em 1756 com a fundao da Arcdia Lusitana.

Teve seu trmino em 1825, com a publicao do poema Cames, de Almeida Garret.

Com o lema da Arcdia Lusitana de cortar as coisas inteis.

Os rcades passam a buscar - a simplicidade, a linguagem mais clara, a metrificao simples e o uso de versos brancos (sem rima).

Permanece a presena da mitologia greco-romana e h uma restaurao de alguns escritores como Virglio, Horcio, Tecrito, Cames.

Com o governo de Marqus de Pombal.

H em Portugal uma preocupao em modernizar a sociedade portuguesa.

Expulsar os jesutas do sistema educacional portugus.Da o Marqus de Pombal ser conhecido como dspota esclarecido.

Resumidamente falando, podemos citar diversas caractersticas da arte literria arcaica:

1. Volta aos modelos greco-romanos e arte camoniana.2. Predominam a razo e a cincia, em oposio f e a religio.3.H o retorno ao equilbrio, reagindo contra os preceitos barrocos quanto ao desequilbrio.4. Buscam a perfeio da forma. 5. Procuram um estilo simples de linguagem, despojando-se das metforas e hiprboles deixadas pela esttica anterior. 6. Utilizam-se da natureza em suas poesias, tornando-as de aspecto buclico e ingnuo. 7. Do nfase linguagem simples, porm, sem perder a sua nobreza. 8. Possuem uma tendncia introspectiva. 9. H o culto excessivo natureza (rococ). 10. A linguagem torna-se melodiosa. 11. Usam pseudnimos pastoris. Ex: Bocage (Elmano Sadino).

Podemos destacar, como principais autores:

Padre Francisco Manuel do Nascimento (1734-1819)

Destacou-se nos sonetos. Ficou conhecido por seus pseudnimos Niceno e Filinto Elsio.

Luis Antonio Verney (1713 1792)

Pseudnimo de Frade Barbadinho, publicou O Verdadeiro Mtodo de Ensinar.

Frei Jos de Santa Rita Duro (1722 1784)

o autor de Caramuru, poema cujos traos estilsticos imitam os de Cames. Nesta obra, o heri Diogo lvares Correia e a obra retrata a subordinao do ndio ao colonialismo europeu. Canto VI (...) Copiosa multido da nau francesa Corre a ver o espetculo [assombrada; E ignorando a ocasio da estranha [empresa, Pasma da turba feminil, que nada: Uma, que s mais precede em [gentileza,

Correia Garo (1724 1772)

Escreveu stiras, epstolas, sonetos e duas comdias: Teatro Novo e Assembleia ou Partida.

No vinha menos bela, do que [irada: Era Moema, que de inveja geme, E j vizinha nau se apega ao leme (...) Perde o lume dos olhos, pasma e [treme, Plida a cor, o aspecto moribundo, Com mo j sem vigor, soltando o [leme, Entre as salsas escumas desce ao [fundo: Mas na onda do mar, que irado [freme, Tornando a aparecer desde o [profundo: Ah! Diogo cruel! disse com mgoa, e sem vista ser, sorveu-se ngua. SADINO homenagem ao rio Sado, que passa por Setbal, sua terra natal. Bomio, conheceu a vida devassa em Lisboa, depois de se decepcionar amorosamente.

A poesia lrica de Bocage

Bocage, ou Elmano Sadino, cultivou a lrica buclica e amorosa, atravs de suas odes, elegias, canes, epstolas e sonetos. Influenciado por Cames, podemos encontrar em seus sonetos traos do artista clssico, alm de traos pessoais do prprio Bocage, atravs de uma linguagem mais prosaica e at mesmo coloquial.

Soneto

Cames, grande Cames, quo [semelhante Acho teu fado ao meu, quando [os cotejo Igual causa nos fez, perdendo o Tejo, Arrostar coo sacrlego gigante; Como tu, junto ao Ganges [sussurrante, Da penria cruel no horror me vejo; Como tu, gostos vos, que em [vo desejo, Tambm carpindo estou, [saudoso amante. Ludbrio, como tu, da Sorte dura Meu fim demando ao Cu, [pela certeza De que s terei paz na sepultura.

Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765 1805)

Integrou-se em 1790 ao Arcadismo com a publicao de Pavorosa Iluso da Eternidade.

Foi considerado o poeta mais importante do sculo XVIII em Portugal.

Escreveu poesia lrica e satrica, em idlios, odes, epigramas, canes, elegias.Sonetos.

Sua maior obra foram As Rimas.

Por sua sensibilidade e lirismo subjetivo, foi considerado um pr-romntico.

Bocage ficou conhecido por seu pseudnimo Elmano Sadino: ELMANO anagrama de Manoel.

Modelo meu tu s... Mas, oh tristeza!... Se te imito nos transes da Ventura, No te imito nos dons da Natureza.

BOCAGE, M. M. Barbosa. Sonetos. Lisboa: Bertland, s d. p. 207.

Encontrardes alguns, cuja aparncia Indique festival contentamento, Crde, mortais, que foram com [violncia Escritos pela mo do Fingimento, Cantados pela voz da Dependncia.

Neste soneto o poeta faz um paralelo de sua vida com a do poeta Cames. A poesia lrica de Bocage dividida em:

Lrica Arcdica ou da 1 Fase encontramos a presena de regras e convenes trazidas pelo Arcadismo.

O poeta adota uma atitude de artificialismo potico, dotando sua poesia de imagens mitolgicas e clssicas.

Procura utilizar o racionalismo, porm, a sua sensibilidade o levou a uma expresso mais emotiva, pessoal e sincera.

O artista demonstra o seu eu turbulento em reao impessoalidade e o fingimento da poesia rcade.

Lusos heris, cadveres cedios, Erguei-vos dentre o p, sombras [honradas, Surgi, vinde exercer as mos [mirradas Nestes vis, nestes ces, nestes [mestios. Vinde salvar destes pardais [castios As searas de arroz, por vs [ganhadas; Mas ah! Poupai-lhe as filhas [delicadas, Que elas culpa no tm, tm mil [feitios. De pavor ante vs no cho se deite Tanto fusco raj, tanto nababo, E as vossas ordens, trmulo, [respeite. Vo para as vrzeas, leve-os o [Diabo; Andem como os avs, sem mais [enfeite Que o langotim, dimetro do rabo.

M. M. B. Sonetos in Moiss, Massaud. A Literatura Portuguesa atravs dos textos. 9. ed. So Paulo: Cultrix, 1980, p. 226.

Sonetos

Incultas produes da mocidade Exponho a vossos olhos, leitores: Vde-as com mgoa, vde-as [com piedade, Que elas buscam piedade, [e no louvores: Ponderai da Fortuna a variedade Nos meus suspiros, lgrimas e [amres; Notai dos males seus a imensidade, A curta durao dos seus favores: E se entre versos mil de sentimento

Lrica Pr-Romntica ou da 2 Fase em seus poemas, encontramos um reflexo de si mesmo.

Destaca-se o lado psicolgico, atravs do sentimento e da personalidade do autor, gerando um gosto pelo noturno, por formas macabras e tendo a morte como nica soluo para os seus problemas:

retrato da Morte, Morte amiga Por cuja escurido suspiro h tanto! O artista se ope totalmente dependncia e ao despotismo, em nome da Razo. Em seus poemas, encontramos o cultivo a uma vida fnebre e noturna, exprimindo sentimentos negativos como o cime, a blasfmia e a contrio, gerados pelo abandono, alm de uma linguagem pessimista e fatalista: Esta alma, que sedenta em si [no coube, No abismo vos sumiu dos [desenganos; Deus, oh Deus!... Quando a morte [ luz me roube Ganhe um momento o que [perderam anos, Saiba morrer o que viver [no soube.

BOCAGE, M. M. Barbosa. Sonetos. Lisboa, Bertland, s d . p. 67.

Este soneto foi composto momentos antes da morte de Bocage.

retrato da morte! Noite amiga, Por cuja escurido suspiro h [tanto! Calada testemunha de meu pranto, De meus desgostos secretria [antiga! Pois manda Amor que a ti somente [os diga D-lhes pio agasalho no teu manto; Ouve-os, como costumas, ouve, [enquanto Dorme a cruel que a delirar me [obriga. E vs, cortesos da escuridade, Fantasmas vagos, mochos [piadores, Inimigos, como eu, da claridade! Em bandos acudi aos meus [clamores;

Sonetos

Meu ser evaporei na lida insana Do tropel de paixes, que me [arrastava: Ah! Cego eu cria, ah! msero [eu sonhava Em mim quase imortal a [essncia humana: De que inmeros sis a mente ufana Existncia falaz me no dourava! Mas eis sucumbe Natureza escrava Ao mal, que a vida em sua [origem dana. Prazeres, scios meus, e [meus tiranos!

Quero a vossa medonha [sociedade, Quero fartar meu corao de [horrores. Bocage procura fazer uma auto-anlise e disso encontramos traos vivos em sua poesia: confisses, arrependimentos, tenso dramtica, sofrimento, luta entre a Razo e o Sentimento, a cabea e o corao: Razo, de que me serve [o teu socorro? Mandas-me amar, eu ardo, eu amo; Dizes-me que sossegue, eu penso, [eu morro. Observando-se estes dois perodos da poesia lrica de Bocage, podemos dizer que a 1 fase do artista mais voltada ao seu lado emotivo, refletindo uma fase romntica de sua vida, quando conheceu seu grande amor, Gertrudes. A 2 fase, no entanto, por sua linguagem e expresso mais negativa, reflete a sua nova vida, quando descobriu que sua amada casou-se com o seu irmo; e a partir da, passou a levar uma vida errante e bomia: Eu deliro, Gertrria, eu desespero No inferno de suspeitas e temores. Eu da morte as angstias e [os horrores Por mil vezes sem morrer tolero. Pelo Cu, por teus olhos [te assevero. Que ferve esta alma em [cndidos amores; Longe o prazer de ilcitos favores! Quero o teu corao, mais nada quero. Ah! No sejas tambm qual comigo A cega divindade, a Sorte dura, A vria Deusa, que me nega abrigo! Tudo perdi: mais valha-me a ternura Amor me valha, e pague-me contigo Os roubos que me fez a m ventura.

BOCAGE, M. M. B. Sonetos. Lisboa: Bertland, s. d., p. 67

Gertrria = pseudnimo de Gertrudes, o verdadeiro amor do poeta, que se casou com seu prprio irmo, Gil Francisco Barbosa du Bocage.

A poesia satrica de Bocage

Bocage, em suas stiras, critica o poder e ironiza o clero e a nobreza decadente. Sua linguagem obscena e ertica: Ah! Faze-me ditoso, e s ditosa. Amar um dever, alm de um gosto, Uma necessidade, no um crime, Qual a impostura horrssona apregoa. Cus no existem, no existe inferno, O prmio da virtude a virtude, castigo do vcio o prprio vcio. Neste poema, Bocage renega aos cus, associados viso sensual do amor, que a priso do poeta.

Resumo do Arcadismo

Momento scio-cultural

Iluminismo, enciclopedismo, despotismo esclarecido: aliana entre os reis e a burguesia, formao da ideologia burguesa.

Didatismo na literatura: o texto como forma de ilustrao, de iluminao intelectual (neoclassicismo).

Lemas arcdicos: carpe diem (viver o momento), fugere urbem (fugir da cidade), inutilia truncat (cortar o que intil).

Caractersticas literrias

O texto como momento de lazer, de experincia amena com o belo, de distrao, de idealizao de um mundo pastoril e buclico (arcadismo).

Uso de pseudnimos pastoris, que remontam Antiguidade.

Fundao de Arcdias, academias literrias. Revigoramento do racionalismo classicista (neoclassicismo) em oposio ao Barroco.

Autores e obras

Correia Garo: um dos principais tericos do Arcadismo. Escreveu Teatro Novo (1766) e Assemblia ou Partida (1770), Obras Poticas (1778).

Manuel Maria Barbosa du Bocage: o maior poeta portugus do sculo XVIII, e um dos maiores da lngua. Autor de Rimas (1791), posteriormente acrescida de novos textos.