Manual Prático de Reeducação Postura

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Manual prático da reeducação postural O que você precisa saber para um tratamento eficiente

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Mézières, mãe das terapias por Cadeias Musculares, era uma mulher cujos dons de observação eram fora do comum, o que tornou o seu método uma grande evolução no tratamento de doenças ditas “incuráveis” e acabou influenciando outros alunos que adicionaram suas experiências e criaram suas próprias técnicas.

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Manual prático da reeducação postural

O que você precisa saber para um tratamento eficiente

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São Paulo 2012

Jose Luis Pimentel do Rosario

Manual prático da reeducação postural

O que você precisa saber para um tratamento eficiente

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Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa e Projeto GráficoAline Benitez

DiagramaçãoThaís Santos

Revisão Jacqueline Lima

Priscila Loiola CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

_______________________________________________________________R713m Rosário, José Luís Pimentel do Manual prático de reeducação postural: o que você precisa sa-ber para um tratamento eficiente/ José Luís Pimentel do Rosário. - São Paulo: Baraúna, 2011. Inclui índice ISBN 978-85-7923-521-4 1. Postura humana - Manuais, guias, etc. 2. Distúrbios da pos-tura. 3. Fisioterapia. I. Título.

11-8545. CDD: 613.78 CDU: 613.73

21.12.11 27.12.11 032231 _______________________________________________________________

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

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Sumário

Introdução ..................................................................7

Fisiologia do músculo esquelético .................... 10

As cadeias musculares e sua avaliação ............. 17

Testando as cadeias ............................................... 41

Avaliação fotográfica ............................................ 49

Tratamento ............................................................. 54

Tratamento da fáscia ............................................. 77

Principais pompages usadas na reeducação postural .................................................................... 89

Como montar uma sessão de reeducação pos-tural ........................................................................102

Ficha de avaliação ...............................................104

Referências bibliográficas .................................108

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Introdução

Françoise Mézières recebeu uma paciente com do-res nos ombros que não melhoravam com nenhum tipo de terapia. Percebeu nela uma grande cifose. Deitando-a, verificou que suas costas possuiam pouco contato com o solo. Somente algumas vértebras dorsais e quase nenhuma lombar apoiavam. Vendo isto, experimentou aproximar o queixo ao esterno (movimento que reduz a lordose cervi-cal), e percebeu que a parte inferior do tórax se elevava (por acentuação da lordose lombar). Depois, elevando as pernas (para diminuir a curvatura lombar), o queixo levantava, arqueando assim a região cervical superior.

Ao retificar as duas lordoses (cervical e lombar), se pro-duzia um ligeiro flexo de joelhos, deduzindo que esta cadeia posterior do tronco continuava pelos membros inferiores, formando uma terceira concavidade: a “lordose” poplítea.

Este fato a fez pensar na existência de mecanismos compensatórios, nos quais a musculatura posterior do tronco forma uma cadeia que atua em uníssono por toda sua longitude. Nascia assim em 1947 o Método Méziè-res, como ela mesma conta no “Les Cahiers de la Métho-de naturelle” de 1973.

Continuando suas observações ela postulou três leis básicas no tratamento postural:

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1 — Toda e qualquer correção local gera uma compensação a distância (a causa muitas vezes está distante do problema que preocupa o paciente);

2 — Toda tentativa de tensionamento da cadeia leva a tendência da rotação interna dos membros;

3 — No tensionamento global da cadeia, pro-move-se a tendência de um bloqueio respirató-rio em apneeia inspiratória.

Em resumo: deslordose, desrotação e desbloqueio diafragmático.

Mézières, segundo sua aluna Therése Bertherat, era uma mulher cujos dons de observação eram fora do comum, o que tornou o seu método uma grande evolução no trata-mento de doenças ditas “incuráveis” e acabou influenciando outros alunos que adicionaram suas experiências criaram suas próprias técnicas. Dentre eles podemos citar:

Therése Bertherat — antiginástica;Michael Nissand — Reconstrução Postural;Serge Peyrot e Pierre Mignard — morfoanálise (MARP);Philippe Emmanuel Souchard — Reeducação Postural Global (Reeducação Postural);Godelieve Denys-Struyf — Cadeias musculares e articulares (GDS);George Courchinaux — Corpo e Consciência;Leopold Busquet. — Cadeias musculares.

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No Brasil, o método mais difundido foi a Reeduca-ção Postural. Souchard usa basicamente o método Mézières salientando a importância de colocar todas as estruturas musculares simultaneamente em tensão. Ou seja, uma pos-tura em Reeducação Postural Global constitui a súmula de todos os posicionamentos de estiramento da cadeia mus-cular. Já em Mézières, é muito comum tratar, primeiro, parte da cadeia para passar depois a outra parte da mesma (inicialmente, parte respiratória e zona superior da cadeia posterior, e depois, zona inferior da cadeia posterior).

A tensão colocada em Mézières é grande no sentido em que a deslordose requerida é máxima. Por outro lado, a Reeducação Postural usa mais frequentemente as postu-ras em coluna neutra além de ser um trabalho mais ativo para o paciente.

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Fisiologia do músculo esquelético

Introdução

O músculo esquelético constitui, aproximadamen-te, 45% do peso corporal, sendo um importante tecido na homeostasia tanto em repouso como em exercício. Representa o principal local de transformação e de arma-zenamento de energia, sendo o destino final dos sistemas de suporte primários envolvidos no exercício, como o cardiovascular e o pulmonar.

Noções histológicas fundamentais

A unidade de organização histológica do músculo es-quelético é a fibra muscular. Grupos de fibras musculares agrupam-se formando fascículos (visíveis a olho nu) que se associam para formar os diferentes tipos de músculos.

Cada fibra muscular isolada, cada fascículo e cada músculo no seu conjunto, estão revestidos por tecido conjuntivo. O próprio músculo inteiro está envolvido por uma capa de tecido conjuntivo — o epimísio. Os fascículos são envolvidos pelo perimísio e cada fibra muscular pelo endomísio. O tecido conjuntivo serve para reunir as unidades contráteis e integrar a sua ação além de permitir um certo grau de liberdade de movi-

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mentos entre elas. Deste modo, ainda que as fibras se encontrem extremamente compactadas, cada uma é re-lativamente independente das restantes e cada fascículo pode se movimentar independentemente dos vizinhos.

Cada fibra pode conter, desde várias centenas, até muitos milhares de miofibrilas. Por sua vez, cada miofibrila apresenta cerca de 1500 filamentos de miosina e 3000 de actina, dispostos lado a lado. A unidade estrutural a que se referem todos os fenômenos morfológicos do ciclo contrác-til é o sarcômero, que se define como sendo o segmento compreendido entre duas linhas Z consecutivas, incluindo uma banda A e a metade de duas bandas I contíguas.

Os núcleos da célula muscular estriada são nume-rosos e o seu número depende do comprimento da fibra. Numa fibra de vários centímetros de comprimento po-dem existir várias centenas de núcleos.

O número de células satélites encontradas num de-terminado músculo esquelético é inversamente proporcio-nal à idade desse tecido. São mais numerosas nos músculos oxidativos (ricos em fibras tipo I) e desempenham um papel importante na regeneração e no crescimento musculares.

Mecanismo molecular da contração muscular

Características moleculares dos filamentos contrácteis

Nenhuma proteína, por si só, apresenta propriedades contrácteis. No entanto, in vitro, a miosina e a actina sob certas condições, podem formar uma proteína complexa — a actomiosina — que apresenta propriedades contrácteis.

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Interação da actina e miosina

O modo através do qual os estímulos nervosos de-sencadeiam o movimento muscular é normalmente co-nhecido como processo de excitação-contração. Este processo pressupõe toda uma série de acontecimentos através dos quais os potenciais de ação dos motoneurô-nios desencadeiam a interação entre a actina e a miosina.

Mecanismo de deslize dos miofilamentos

Mecânica da contração muscular

A unidade motora

Uma unidade motora (UM) é constituída por um motoneurônio alfa e as fibras musculares por ele inervadas. A UM é a unidade funcional do controle nervoso da ativi-dade muscular. O número de fibras de uma UM pode variar consideravelmente. Em geral, os pequenos músculos que re-agem rapidamente e cujo controle é exato, apresentam pou-cas fibras musculares (cerca de 2 a 3 em alguns músculos da laringe e de 3 a 6 num músculo do olho) em cada UM, pos-suindo um grande número de fibras nervosas que se dirigem a cada músculo. Por outro lado, os grandes músculos, que não necessitam de um grau de controle muito fino, podem apresentar muitas fibras por UM (cerca de mil no gastrocnê-mico). Um valor médio para os músculos do corpo pode ser de aproximadamente 150 fibras por UM.

Diferentes tipos de fibras

As fibras esqueléticas da maioria dos músculos posturais

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contraem e relaxam-se lentamente (fibras tônicas), sendo ha-bitualmente designadas por fibras de contração lenta (ST-slow twitch) ou, mais frequentemente, por tipo I (Quadro 1). Já as fibras majoritariamente constituintes dos músculos fásicos contraem e relaxam-se rapidamente, sendo por isso designa-das por fibras de contração rápida (FT-fast twitch) ou, mais frequentemente, por tipo II. Deste modo, em termos muito gerais, podemos dizer que as UMs tipo I, de contração lenta, com um limiar de excitabilidade mais baixo e uma menor velocidade de condução nervosa, são normalmente recruta-das nos movimentos habituais do dia a dia e nos esforços de longa duração. Já as UMs tipo II, de contração rápida, com um limiar de excitabilidade mais alto e uma maior velocida-de de condução nervosa, são mobilizadas essencialmente nos movimentos rápidos durante os esforços de alta intensidade. As principais designações, bem como as principais diferenças morfológicas, bioquímicas e contrácteis entre os vários tipos de fibras podem ser observadas no Quadro 1.

Quadro 1. Designações e características dos diferentes tipos de fibras musculares esqueléticas.

Características das fibras musculares

Característica

Tipo I (contração lenta)

(resistência)(oxidativa)(vermelhas)

(tônicas)

Tipo IIA (contração rápida)

(intermediária) (glico-oxidativa)

(fásicas)

Tipo IIB (contração rápida)

(força) (glicolítica)(brancas)(fásicas)

Velocidade de contração Lenta Rápida Rápida

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Capacidade ana-eróbia Baixa Moderada Alta

Capacidade oxidativa Alta Moderada Baixa

Estoque de tria-cilgliceróis Alto Moderado Baixo

Estoque de glico-gênio Moderado Moderado Alto

Volume de mito-côndrias Grande Moderado Pequeno

Enzimas oxidativas Alta Moderada Baixa Enzimas glico-

líticas Baixa Moderada Alta

Capilaridade Elevada Moderada Reduzida

Tipos de contração

O termo contração refere-se à ativação da capacidade de gerar força pelo complexo actomiosínico das fibras esqueléti-cas. Contração não implica, necessariamente, encurtamento muscular. Assim, quando o músculo desenvolve força, se a carga externa aplicada ao músculo é idêntica à quantidade de força que este desenvolve, então não ocorrerá alteração do comprimento muscular (não há aproximação entre as inser-ções musculares). Este tipo de contração é denominada de isométrica ou estática. Já se a força externa é inferior à força produzida pelo músculo, então observa-se uma contração de encurtamento designada por concêntrica. Finalmente, se a força externa for superior à força desenvolvida pelo músculo, então ocorrerá uma contração de alongamento designada por excêntrica (stretching contraction). É frequente os autores de-signarem as contrações que implicam encurtamento ou alon-gamento muscular por dinâmicas.

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Fusos musculares

Respondem ao estiramento das fibras intrafusais (portanto são sensíveis ao alongamento do músculo) enviando informações ao SNC sobre a o comprimento muscular e, consequentemente, sobre a posição relativa dos segmentos. Ele excita a contração do agonista dos si-nergistas e inibe os antagonistas. A inibição do neurônio motor antagonista, concomitante à excitação do neurô-nio do músculo homônimo e do sinergista, denomina-se “inibição recíproca”.

É importante no controle de movimentos involuntá-rios relacionados à manutenção da postura e do equilíbrio.

Fibras aferentes dos fusos:

— Ia — respondem linearmente e com alta sensibi-lidade à pequenas mudanças de comprimento da fibra e à taxa de variação do comprimento (velocidade). Quanto > e mais lento o estiramento, < a sensibilidade da resposta e menos linear. Ao final do estiramento, cessa a atividade das terminações primárias.

— II — respondem com menor sensibilidade à ve-locidade de mudança de comprimento. Ao final do esti-ramento, aumenta sua atividade e a mantém.

Fase dinâmica do estiramento — enquanto estiran-do — fibra Ia (resposta intensificada) muito sensíveis a pequenas alterações de comprimento. Sensíveis à veloci-dade: quanto > velocidade > estiramento e > resposta.

Fase estática do estiramento — novo comprimento