mmjornal 1

40
Jornal 1 (Governar) MMJornal n.º 1, Setembro a Dezembro 2009, periodicidade quadrimestral, director Mark Deputter, distribuição gratuita no Teatro Maria Matos Setembro | Dezembro 2009

description

mmjornal 1 september > december 2009 The line-up of the Maria Matos Theatre concentrates on contemporary creative arts, developing its activities in an interdisciplinary context and opening doors to experimentation with new forms and proposals. The Maria Matos Theatre extends its activity to all stage arts - theatre, dance and music - seeking to activate the areas of confluence between these and creating opportunities for artistic research and questioning dynamics.

Transcript of mmjornal 1

Page 1: mmjornal 1

Jornal 1

(Governar)

MM

Jorn

al n

.º 1

, Set

embr

o a

Dez

embr

o 20

09, p

erio

dici

dade

qu

adr

imes

tra

l, di

rect

or M

ark

Dep

utt

er, d

istr

ibu

içã

o gr

atu

ita

no Teatro Maria MatosSetembro | Dezembro 2009

Page 2: mmjornal 1

Setembro Outubro

Carl Michael von Hausswolff, Mike Harding & Heitor Alvelos • Inauguração do Consulado de Lisboa do Reino de Elgaland-Vargaland

12sábado

18h30

www.teatromariamatos.pt

1quinta

2sexta

3sábado

4domingo

9sexta

10sábado

11domingo

13terça

17sábado

20terça

22quinta

25domingo

27terça

28quarta

31sábado

A metrópole, fábrica social • As lutas metropolitanasCão Solteiro e Vasco Araújo • A Portugueza

16h0021h30

Marta Silva • O rei riCão Solteiro e Vasco Araújo • A Portugueza

11h00 Marta Silva • O rei ri

18h3021h30

A política para além da política • Política, razão e emoçãoBen Hamidou e Sam Touzani • Gembloux

10h00 - 17h3018h30

Manuela Pedroso • Histórias de corpo inteiroSuper Disco

18h3021h30

Encontros com artistas • Cão SolteiroCão Solteiro e Vasco Araújo • A Portugueza

18h3021h30

11h00 Marta Silva • O rei ri

21h30 Rabih Mroué How Nancy wished that everything was an April Fool´s joke

16h0018h3021h30

Marta Silva • O rei riEncontros com artistas • Rabih MrouéRabih Mroué • How Nancy wished that everything was...

18h30 A política para além da política • Políticas de identidade

Miguel Pereira e Henrique Neves40.º aniversário do Teatro Maria Matos

Sonic Scope #9 Festival de música experimental e improvisada

16h30 - 20h30

18h30A política para além da política A política “a partir de baixo”

22h00 Jon Hassell & Maarifa Street

16h00 Sónia Baptista Um capucho, dois lobos e um porco vezes três

17quinta

18sexta

19sábado

20domingo

22terça

26sábado

27domingo

28segunda

29terça

30quarta

16h0018h3021h30

Catarina Requeijo e Inês Barahona • É bom mandar?Super DiscoXavier Le Roy • Le sacre du printemps

21h30 Xavier Le Roy • Le sacre du printemps

18h3021h30

Encontros com artistas • Xavier Le Roy Xavier Le Roy • Le sacre du printemps

16h00 Catarina Requeijo e Inês Barahona • É bom mandar?

16h00 Catarina Requeijo e Inês Barahona • É bom mandar?

16h00 Catarina Requeijo e Inês Barahona • É bom mandar?

22h00 Burnt Friedman & Jaki Liebezeit • Secret rhythms

18h30A metrópole, fábrica social Para que servem as “cidades criativas”?

18h30A metrópole, fábrica social Da cidade dos criadores à metrópole dos produtores

18h3021h30

A metrópole, fábrica social • O governo metropolitanoCão Solteiro e Vasco Araújo • A Portugueza

Teatro

Música

Dança

projecto educativo

encontro

debate

21h30

Page 3: mmjornal 1

Novembro Dezembro

Sónia Baptista • Um capucho, dois lobos e...A política para além da política • A crise da representação

4quarta

5quinta

Sónia BaptistaUm capucho, dois lobos e um porco vezes três

10h002segunda

10h00 Sónia BaptistaUm capucho, dois lobos e um porco vezes três

22h00 Sam Amidon, Nico Muhly, Ben Frost & Valgeir SigurðssonWhale watching tour

18h30

A política para além da política • Polícia e política10

terça

10h00 e 14h30 18h30

3terça

Sónia Baptista Um capucho, dois lobos e um porco vezes três

1domingo

16h00

16segunda

21sábado

24terça

22domingo

18h3021h30

Super DiscoLúcia Sigalho • E a mulher teve morte quase instantânea14

sábado

21h30 Lúcia Sigalho • E a mulher teve morte quase instantânea

A política para além da política • A biopolíticaLúcia Sigalho • E a mulher teve morte quase instantânea

Encontros com artistas • Michel Schweizer, Dany-Robert Dufour e Jean-Pierre Lebrun (espaço alkantara)

18h3019quinta

21h30 Michel Schweizer • BLEIB opus #3

21h30 Michel Schweizer • BLEIB opus #3

18h30 A política para além da política • Da ciência à filosofia

25quarta

27sexta

18h3021h30

Encontros com artistas • Lúcia SigalhoLúcia Sigalho • E a mulher teve morte quase instantânea

17terça

18h3021h30

22h00 Moritz von Oswald Trio • Vertical ascent

21h30 Faustin Linyekula • More more more… future

18h3021h30

Encontros com artistas • Faustin LinyekulaFaustin Linyekula • More more more… future

15domingo

28sábado

2quarta

7segunda

6domingo

5sábado

4sexta

3quinta

14segunda

13domingo

12sábado

11sexta

10quinta

15segunda

17quinta

18sexta

10h00

10h0018h30

21h30

18h3021h30

22h00

21h30

10h00

10h00

10h00

10h0016h00

18h3021h30

21h30

21h30

21h30

Marta Bernardes e Ignácio Martinez de Salazar • Rubro

Marta Bernardes e Ignácio Martinez de Salazar • RubroEncontros com artistas • Tónan Quito e os actores de Ivanov

Marta Bernardes e Ignácio Martinez de Salazar • Rubro

Marta Bernardes e Ignácio Martinez de Salazar • Rubro

João Garcia Miguel • O banqueiro anarquista

Marta Bernardes e Ignácio Martinez de Salazar • Rubro

Marta Bernardes e Ignácio Martinez de Salazar Rubro

Encontros com artistas • João Garcia MiguelJoão Garcia Miguel • O banqueiro anarquista

Super DiscoJoão Garcia Miguel • O banqueiro anarquista

João Garcia Miguel • O banqueiro anarquista

Alèmu Aga • The harp of King David

Mala VoadoraSpitx

João Garcia Miguel • O banqueiro anarquista

João Garcia Miguel • O banqueiro anarquista

20domingo

18h00

21h30

Tiago Rodrigues e estudantes do ensino secundário Projecto GovernarMala Voadora • Spitx

19sábado

21h30Mala VoadoraSpitx

21segunda

21h30Mala VoadoraSpitx

Page 4: mmjornal 1

------------------------------------------

Xavier Le Roy Le sacre du printempsBen Hamidou e Sam Touzani Gembloux

Burnt Friedman & Jaki Liebezeit Secret rhythms Manuela Pedroso oficina Histórias de corpo inteiro

Sonic Scope #9 Festival música experimental e improvisadaJon Hassell & Maarifa Street Sónia Baptista Um capucho, dois lobos e um porco vezes trêsAmidon, Muhly, Frost & Sigurðsson Whale watching tourLúcia Sigalho E a mulher teve morte quase instantâneaMarta Bernardes, Ignácio Martinez de Salazar Rubro Moritz von Oswald Trio Vertical ascent

João Garcia Miguel O banqueiro anarquistaAlèmu Aga The harp of King David

----------------------------------------------

No âmbito do projecto educativo,

Tiago Rodrigues cria um

espectáculo com estudantes do ensino secundário

sobre os temas da governação e do poder. O resultado é apresentado publicamente num espectáculo

na sala principal do Teatro.

projecto educativo

Em Spitx a

Mala Voadora revisita a sua encenação de uma série

de discursos históricos de figuras políticas como Salvador Allende, Yasser

Arafat, Chiang Kai-Shek, Álvaro Cunhal, Charles de Gaulle, Josef Stalin, Fidel Castro, Adolf Hitler, Muhammar Kadhafi, Martin Luther King, Aung San Suu Kyi e

muitos outros.

O Cão Solteiroe o artista plástico Vasco Araújo encenam uma

masterclass de cantobaseado no Hino Nacional português.

O trabalho do

dramaturgo, encenador eactor libanês Rabih Mroué foca

regularmente a guerra civil e o imbróglio político do seu país natal. How Nancy

wished that everything was an April Fool´s joke debruça-se sobre a omnipresença de cartazes dos “heróis” assassinados de cada facção política nas ruas de Beirute.

Haverá alguma vez entendimento, se as forças políticas apenas “dialogam”

com as frases feitas dos seus mártires?

É impressionante

como o espectáculo Bleib, criado em 2007 por Michel

Schweizer, profetiza a falência do capitalismo desenfreado que criou

a actual crise mundial. Interroga os comportamentos sociais e as atitudes do novo “homem sem gravidade”, que é induzido a acreditar que a soma das

ambições individuais iguala o bem comum. É, de facto, o fim da

política…

Faustin Linyekula dizacerca do espectáculo More more more... future: desde 2001, todos os projectos artísticos que tenho realizado na República Democrática do Congo tratam de uma questão: como chegámos aqui? em relação à situação política e económica e o seu impacto nas nossas vidas, até ao nível mais íntimo. E como continuar a sonhar, como inventar maneiras de sonhar? Sonhar com lucidez. (…) Em conjunto, talvez consigamos captar qualquer coisa maior, emblemática de uma geração actual no Congo. Como a música rock ou punk, a certa altura, conseguiram revelar a energia e as aspirações de uma geração. (em entrevista

com Gilles Amalvi para o Festival

d’Automne à Paris 2009)

Duas oficinas procuram com as crianças respostas a uma série de perguntas: é bom mandar? Será que todos sabemos mandar? E quem decide? E como se decide? E quem decide como se decide? O que é a política? O que é uma assembleia? Quem inventa leis? E elas servem para quê?

Elgaland-Vargaland

Carl Michael von Hausswolff, Mike Harding e Heitor Alvelos

inauguram o Consulado de Lisboa do Reino de Elgaland-Vargaland, num jogo satírico e irreverente com as noções e simbolismos de patriotismo, governabilidade e soberania.

==

ina

ug

ura

ção

Page 5: mmjornal 1

Os textos do dossier são sugestões de leitura a propósito do ciclo de debates a política para além da política. Inclui textos de Peter Pal Pelbart, Eric Hobsbawm, Pierre Bourdieu, Jacques Rancière e Alain Badiou, entre outros.

um mapa de afinidades(Governar)

Provavelmente não haverá palavra cuja crise tenha sido mais vezes anunciada. A simples enunciação do termo parece suscitar cansaço, fastio, ou, na melhor das hipóteses, um comentário irónico, céptico, cínico. E contudo não existe outro caminho que não o de voltar, uma e outra vez, a discutir política.

Uma série de 7 debates sobre a política para além da política.

política.

A arte fala sobre omundo. Como também o fazem a

ciência, a filosofia, a religião, a política… mas de maneira diferente. A criação artística não

precisa de provas como a ciência, nem da argumentação detalhada da filosofia; não envolve um acto de fé, nem o

exercício da retórica. As metáforas abundam: a arte é um espelho, o palco o mundo; a arte salva o mundo ou tira-lhe a máscara; a arte

é a mais bela mentira ou a última verdade. De maneira muito própria, cria aberturas para pensar o mundo.

Por isso, o teatro é um lugar para a arte, mas também para o debate e a reflexão. A partir de Setembro, o Teatro Maria Matos aborda em cada quadrimestre um tema específico, que é discutido em conferências e debates, e aprofundado no dossier do Jornal. O tema serve também de inspiração para a programação de certos espectáculos e várias iniciativas do Projecto Educativo. Estes espectáculos nunca se esgotam no tema escolhido, fazem antes surgir ressonâncias e dissonâncias. Daí os parênteses: (Governar) .

art

e

para além da política.seminário

A metrópole, fábrica social é um seminário para debater a cidade. Em 4 dias consecutivos, os

convidados aprofundam temas ligados à cidade contemporânea, desde a muito popular

noção das “cidades criativas” às “lutas metropolitanas”.

a metrópole, fábrica social ~~

Page 6: mmjornal 1

Sala principal

sábado 12 Setembro 18h30

Entrada livre (sujeita à lotação da sala). Levantamento do bilhete no local do espectáculo, a partir das 15h00, mediante entrega de oferenda para o banquete

Neste dia irá assistir-se à escrita de uma importante página da nossa História e da História do Reino de Elgaland-Vargaland (KREV - KonungaRikena Elgaland-Vargaland). Vamos todos poder testemunhar uma reunião diplomática, à porta fechada, entre um soberano e dois embaixadores do KREV, onde serão tratados os assuntos necessários para a formalização e inauguração do seu consulado de Lisboa. Para terem o privilégio de assistir a esta sessão única, terão de trazer uma oferenda alimentar ao Rei, para que possamos todos partilhá-la num banquete real no exterior do Teatro Maria Matos, ao final da tarde. Todos os convidados que tragam a sua oferenda têm direito ao banquete e poderão assistir aos trabalhos diplomáticos e à interpretação do hino do KREV. Um dia para os anais da História.E se, além disto, lhe dissermos também que já visitou o KREV? Não é surpresa: este reino duplo não só recebe um número avassalador de visitantes e turistas todos os anos, como é o maior estado do mundo. Toda a sua superfície é constituída por territórios-fronteira: geográficos, mentais e virtuais. Todo o espaço que divide os países é reclamado pelos reis; toda a área das águas internacionais e de zonas desmilitarizadas também; alguns estados mentais, como o estado de sonolência ou estado de alerta foram já igualmente anexados; o mesmo se passa com o espaço virtual ou digital. Qualquer parcela de espaço, físico ou virtual, sem dono aparente, é imediatamente reclamada pela soberania do KREV - tal como o reino dos mortos ou o estado moribundo, que faz com que esta dupla monarquia autocrática seja a mais populosa do mundo.

Carl Michaelvon Hausswolff (Suécia)

Mike Harding (Reino Unido)

Heitor Alvelos

música

Inauguração do Consulado de Lisboa do Reino de

Elgaland-Vargaland

Carl Michael von Hausswolff é um músico e artista multidisciplinar sueco, com presenças na Manifesta, Documenta e Bienal de Veneza. Trabalha o som e as frequências sonoras de modo intenso e hipnótico, aliando-os a fortes componentes visuais. Com Leif Elggren funda o Reino duplo de Elgaland-Vargaland (KREV) em 1992. Tem já 30 embaixadas e consulados por todo o mundo, mantém relações amistosas com outros países e o seu gabinete ministerial conta com mais de 70 tutelas - os ministros têm cargos vitalícios e incluem o Ministro do Prazer, o Ministro da Boa Vontade e o Ministro da Persuasão. Saliente-se que o único encerrado foi o Ministério das Pessoas Desaparecidas - não se conhece o paradeiro do titular da pasta. Seja para formalizar um conceito de nacionalismo ou uma hipótese para um concerto, a criação deste Estado acaba por ser uma performance ‘on the road’ ou, até, um longo projecto artístico. Reis e súbditos induzem a reflexão sobre a liberdade de cada cidadão de escolher livremente o seu destino através de um jogo simples, porém satírico, de referências políticas.

Mike Harding é curador, autor e produtor de performances e instalações. Dirige a editora Touch desde 1982, com a ajuda de Jon Wozencroft. É membro da Freq-Out Orchestra e embaixador no Reino Unido de Elgaland-Vargaland desde 1996.

Heitor Alvelos é investigador, designer e operador media - com doutoramento em Media Studies pelo Royal College of Art de Londres. Actualmente, dirige o festival de media digitais Future Places com a Universidade do Texas em Austin, é director do Mestrado em Design da Imagem da Universidade do Porto e é director associado do Instituto de Investigação em Design Media e Cultura com a Universidade de Aveiro. Edita media em nome próprio, como Autodigest e integrando os colectivos un, Cabaret Of Complexity e FEAR. É, desde 2001, o embaixador em Portugal do Reino de Elgaland-Vargaland.

electrónica Carl Michael von Hausswolff, Rei de Vargalandelectrónica Mike Harding, Embaixador do KREV no Reino Unidoelectrónica Heitor Alvelos, Embaixador do KREV em Portugal

(Portugal)

6 Jornal

Page 7: mmjornal 1

dança

Xavier Le Roy(Berlim)

Le sacre du printempsSala principal com bancada

quinta 17 sexta 18 sábado 19 Setembro 21h30

12€ / <30 anos 5€

Um solo único, sensual, musical, absurdo e burlesco! (Le Monde de la Musique)

Observando um ensaio do concerto Le sacre du printemps pela Orquestra Filarmónica de Berlim em DVD, Xavier Le Roy ficou tão intrigado pelos movimentos do maestro Sir Simon Rattle que decidiu criar uma peça a partir desta obra clássica de Stravinsky. Sem formação musical, a sua análise concentra-se na actuação do maestro como se fosse uma coreografia de movimentos que ora parecem produzir a música, ora ser produzidos por ela. O resultado é um solo minucioso e surpreendente que baralha a causalidade e a função dos movimentos originais, colocando questões que estão no cerne da criação coreográfica contemporânea. O que precede: o som ou o movimento? É a música que dá lugar aos movimentos ou a dança que utiliza a música? Como agem e interagem os corpos que interpretam Le sacre du printemps? O que ouve um músico, um maestro, um bailarino ou um espectador? Se ouvir é em primeiro lugar uma experiência corporal, não será para todos os intervenientes uma experiência visceral de movimento e som?

© V

ince

nt C

avar

oc

criação e interpretação Xavier Le Roymúsica Igor Stravinskydesenho de som Peter Boehmgravação Berliner Philharmoniker conduzida por Sir Simon Rattlecolaboradores Berno Polzer, Bojana Cvejicgestão Alexandra Wellensiekprodução in situ productions e Le Kwatt co-produção Centre Chorégraphique National de Montpellier Languedoc-Roussillon (Xavier Le Roy Artista Associado), Les Subsistances/Residência (Lyon), Tanz im August (Berlim) e PACT Zollverein Choreographisches Zentrum NRW (Essen) apoios National Performance Network, com fundos da Fundação Cultural de Alemanha Federal no contexto do Dance Plan Germany

apresentação em Lisboa apoiada por

7Jornal

Page 8: mmjornal 1

Continuamos todos a gostar de acreditar que existe um bonito mistério na arte de Jaki Liebezeit. O que faz com que a sua bateria, desde os dias dos Can, seja tão enigmática e hipnotizante? A falta de resposta deve-se, sobretudo, à contínua ambivalência do seu ritmo. É, simultaneamente, um postulado da perfeição e rigidez, e, no entanto, devolve-nos um groove contagiante; parecia perfeito para o psicadelismo dos anos 70, mas soube apoiar contagiantemente as canções e a pop dos Can; parece querer emular a estratégia de uma máquina que não erra mas de lá sopra o vento quente das músicas eternas de África. Foi esta a virtude que Burnt Friedman procurou para este projecto a dois, até porque também ele é um esteta irrequieto, centrado na electrónica, mas com tentações de se deixar alienar pela soul, pop, dub ou jazz. Juntos convocam mantras de alta-definição, imersos em detalhes sempre em agitação, animados pela taquicardia rítmica de Liebezeit. Secret rhythms (Ritmos secretos) tem sido o nome constante com que têm apelidado os seus discos porque, possivelmente, querem dizer-nos que nem tudo é aquilo que ouvimos e vemos e talvez haja outras coisas a descobrir quando exigimos algo mais.

Foi como baterista dos Can que Jaki Liebezeit ganhou toda a notoriedade que hoje exibe. Baterista de serviço durante as várias encarnações da banda, fora dos Can não voltou a ter reconhecimento e a fama que merecia - nem os seus projectos Phantomband ou Club Off Chaos tiveram a qualidade necessária. Só com Burnt Friedman e os álbums Secret rhythms é que a sua carreira encontra o público e a crítica, após o lançamento do primeiro volume, em 2002.

Burnt Friedman é um dos mais expansivos músicos electrónicos das duas últimas décadas, dono de um léxico reconhecível, rico em detalhes e sempre aberto a influências e estilos exteriores. Depois de marcantes projectos durante os anos 90 (Drome ou Nonplace Urban Field, por exemplo), Friedman estendeu a sua influência a diferentes músicos e projectos: com Jaki Liebezeit formou o duo que nos visita neste dia; com Uwe Schimdt criou Flanger para recriarem uma ideia pessoal de jazz; com David Sylvian e Steve Jansen tem os Nine Horses, onde se aventura com canções; com os Nu Dub Players deu azo a um amor muito pessoal pelo reggae e dub.

Burnt Friedman & Jaki Liebezeit (Alemanha)

Secret rhythmsSala principal com bancada

terça 22 Setembro 22h00 12€ / <30 anos 5€

electrónica Burnt Friedman bateria Jaki Liebezeit

© M

artin

a N

ehls

- Sa

haba

ndu

música

8 Jornal

Page 9: mmjornal 1

A PortuguezaSala principal com bancada

quarta 30 Setembro a sábado 3 Outubro 21h30

12€ / <30 anos 5€

O Cão Solteiro põe e não põe em cena.A Portugueza encerra um ciclo de três espectáculos iniciado em 2008. Será a última de três “caixas” sugestionadas pelo trabalho do artista americano Joseph Cornell (1903-1977). Mais uma vez, e como é prática no grupo, pediu-se a colaboração de um artista plástico. Em A Portugueza são arrumados dentro de uma “caixa preta” os seguintes elementos: um piano, uma masterclass de canto, um pianista, uma professora, um cantor, quatro actores, um Hino Nacional, algumas dissonâncias e uma incerta apoteose filarmónica. No fim, ficam a caixa e o piano. O Cão Solteiro não põe em cena outra coisa além do lugar. “Rien n’aura eu lieu que le lieu”.

co-produção

um espectáculo construído por Vasco Araújo, Paula Sá Nogueira, Mariana Sá Nogueira, Joana Dilão, José Nunes, Cátia Pinheiro, Raimundo Cosme, André Godinho, André E. Teodósio, Miguel Manso, Lúcia Lemos, Nicholas Mcnair, Teresa Louro, Palmira Abranches, Maria José Baptista, Natália Ferreira, Filipe Pereira, Nuno Tomaz e Paulo Reis produção Cão Solteiroco-produção Teatro Maria Matos A Portugueza Alfredo Keil (música) e Henrique Lopes de Mendonça (letra)

Cão Solteiro eVasco Araújo I

Heróis do mar, nobre povo, Nação valente, imortal, Levantai hoje de novo O esplendor de Portugal! Entre as brumas da memória, Ó Pátria sente-se a voz Dos teus egrégios avós, Que há-de guiar-te à vitória! Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar Contra os canhões marchar, marchar! II Desfralda a invicta Bandeira, À luz viva do teu céu! Brade a Europa à terra inteira: Portugal não pereceu Beija o solo teu jucundo O oceano, a rugir d’amor, E o teu braço vencedor Deu mundos novos ao Mundo! Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar, Às armas, às armas! Pela Pátria lutar Contra os canhões marchar, marchar! III Saudai o Sol que desponta Sobre um ridente porvir; Seja o eco de uma afronta O sinal do ressurgir. Raios dessa aurora forte São como beijos de mãe, Que nos guardam, nos sustêm, Contra as injúrias da sorte. Às armas, às armas! Sobre a terra, sobre o mar, Ás armas, às armas! Pela Pátria lutar Contra os canhões marchar, marchar!

teatro

9Jornal

Page 10: mmjornal 1

Sala principal com bancada

sexta 9 sábado 10 Outubro 21h30 12€ / <30 anos 5€ Espectáculo em árabe, legendado em português

teatro

Durante a longa guerra civil do Líbano, as paredes de Beirute costumavam estar cobertas de cartazes dos mártires de guerra. No período pós-guerra, a propaganda foi perdendo visibilidade, mas após o ataque israelita no Verão de 2006, os retratos dos guerreiros e líderes políticos mortos voltaram a surgir com renovada intensidade, olhando os transeuntes como se recusassem sair da vida quotidiana da cidade. How Nancy wished that everything was an April Fool’s joke do dramaturgo, director e actor libanês Rabih Mroué aborda o turbulento tema da memória e da história oficial da guerra civil do Líbano. Em Beirute, os reinos dos vivos e dos mortos misturam-se. Bashir Gemayel, Kamal Jumblatt, Rafik Hariri, Imam al Sadr e todos os outros heróis assassinados não morreram, porque cada comunidade mantém-nos vivos. Não haverá maneira de induzir os beirutis a deixarem os seus mortos descansar em paz, longe das paredes e das praças da cidade?

texto Fadi Toufíq e Rabih Mrouédirecção Rabih Mrouécom Lina Saneh, Hatem El-Imam, Ziad Antar, Rabih Mrouécenografia e desenho gráfico Samar Maakaroun animação Ghassan Halwani colecção de cartazes e investigação Zeina Maasriprodução Tokyo International Arts Festival, Festival d’Automne (Paris), Ashkal Alwan (Beirute), La Ferme du Buisson - Scène Nationale de Marne La Vallée

Rabih Mroué (Beirute)

How Nancy wishedthat everything was an April Fool’s joke

10 Jornal

Page 11: mmjornal 1

Espectáculo integrado na Semana Cultural Belga

GemblouxSala principal com bancada

teatro

No momento em que comemoramos 40 anos de imigração marroquina, debates sobre o uso do véu, o direito de voto dos imigrantes, o medo dos “estrangeiros”, corredores de segurança e a estigmatização dos bairros sociais, dois palhaços generosos fazem mais pela integração das culturas do que todos os despachos e todos os manifestos cheios de boas intenções.

(Sophie Creuz, L’Echo, Bruxelas)

Nunca a Bélgica e a França esquecerão os heróis que lutaram e deram a vida pela pátria e pela liberdade, disse o Presidente da Câmara Municipal de Gembloux, no sul da Bélgica, em 1940. Mas ninguém se recordava dos 2000 marroquinos e africanos que lutaram no exército francês no início da Segunda Guerra Mundial, até Ben Hamidou e Sam Touzani descobrirem a história quase por acaso. Intrigados por uma história contada por um velho marroquino numa casa de chá de Bruxelas, os dois actores belgas de origem marroquina decidiram investigar o recrutamento, muitas vezes forçado, de soldados provenientes dos territórios coloniais. Através da vida de Moktar, vindo das montanhas do norte de Marrocos, Gembloux conta uma parte esquecida da História Europeia, com rigor, mas também com muito humor.

texto Ben Hamidou, Nacer Nafti, Cennaro Pitisci e Sam Touzanicom Sam Touzani e Ben Hamidouencenação Gennaro Pitisciassistente de encenação Monique Wilsensdramaturgia Jan Goossenscenografia e iluminação Ruud Gielens e Gennaro Pitiscidirecção técnica Stephen Ferrari e Josse Derbaixmúsica Gaston Hénuzetprodução Smoners asblco-produção Brocoli Théâtre, KVS (Bruxelas) e Théâtre de l’Escalierapoios Ministério da Cultura da Comunidade Flamenga e Parlamento de Bruxelas

apresentação em Lisboa financiada pela Embaixada da Bélgica

Sam Touzani (Bruxelas)

Entrada livre (sujeita à lotação da sala), mediante levantamento de bilhete no dia do espectáculo, a partir de 18h30Espectáculo em francês, legendado em português

terça 13 Outubro 21h30

Ben Hamidou e

11Jornal

Page 12: mmjornal 1

40.º

Teatro Maria Matos

quinta 22 Outubro 21h30 Seguido de Festa

Entrada livre (sujeita à lotação da sala), mediante levantamento de bilhete no dia do espectáculo

No dia 22 de Outubro de 1969, o Teatro Maria Matos abriu as portas, sob a Direcção Artística de Igrejas Caeiro, levando à cena a peça Tombo no Inferno, de Aquilino Ribeiro.

Igrejas Caeiro, emocionado, fez a apresentação dos colegas, pediu palmas para quem construiu a sala de espectáculos e chamou Luís de Oliveira Guimarães que, na presença de Maria Helena, filha da gloriosa actriz, fez o elogio a Maria Matos. Traçou a sua biografia através de anedotas destinadas a ilustrar a personalidade da artista (…). A sala escureceu. Um retrato iluminou o palco e a voz acentuadamente beiroa de Mestre Aquilino falou da sua vida e obra com a modéstia e o espírito liberal que o caracterizavam. Do que disse, um aviso ficou a ressoar bem nítido: Cultivem a inquietação!

(Maria Helena Dá Mesquita, A Capital, 22 de Outubro de 1969)

O programa do 40.º aniversário é uma surpresa. Apenas podemos dizer que encomendámos ao coreógrafo, encenador, bailarino e actor Miguel Pereira, em colaboração com Henriques Neves, a criação de um evento especial… Tragam roupa de festa!

Convidámos um grupo de meninos entre os 4 e os 5 anos a descobrirem o palco do Teatro Maria Matos. A olharem com olhos de ver e com as mãos nas máquinas fotográficas para guardarem numa fotografia um céu de teatro, um actor, uma corrida relâmpago, imagens estátua e muitos sorrisos.Com estes bocadinhos de teatro fotografado vamos fazer uma exposição para todos poderem ver, por instantes, o que estas crianças viram.

Exposição de Fotografia

projecto educativo

Miguel PereiraHenrique Neves

em colaboração com

Aniversário

12 Jornal

Page 13: mmjornal 1

música

Sala principal com bancada

domingo 25 Outubro 16h30Preço único 5€

Sonic Scope #9

São nestes recantos que muitas das vezes se confirmam os talentos e se revelam as surpresas, confrontando-nos com atitudes e desafios de que nem sempre estamos à espera. E mesmo que falhemos, são estes eventos que solidificam discursos e fortalecem as necessárias energias criativas locais. Depois, terá de haver um enorme respeito por quem acha que é aqui que se deve gastar tempo e dinheiro, numa empreitada disfarçada de serviço público, com a poética vontade e desejo de nos colocar cara-a-cara com música e artistas que precisam desse momento de atenção. O Sonic Scope exibe garbosamente oito edições consecutivas, feitas com a dedicação e o detalhe de uma realidade paralela que se quer perfeita. Ouçam as propostas que mostramos como a tal realidade alternativa e deixem-se surpreender pelo que desconhecem e pelo que reconhecem. Da experiência acumulada dos Osso Exótico à vitalidade dub dos Gala Drop, da electrónica texturada dos Oto à dinâmica colectiva da Variable Geometry Orchestra ou do embalo dos drones de The Beautiful Schizophonic ao jogo de volumes dos Scarp com Gabriel Ferrandini, eis uma paleta com cores suficientes para iluminar toda esta tarde de domingo.

O festival Sonic Scope nasceu em Setembro de 2001 a partir de uma iniciativa de dois artistas sonoros e visuais, Nuno Moita e João Vicente (André Gonçalves juntar-se-ia à equipa organizadora na edição de 2002), que fundaram posteriormente a plataforma editorial Grain of Sound. O objectivo do evento, que se quis anual, foi dar a oportunidade de mostrar, num único contexto, novas linguagens ou novas propostas de projectos marcantes da realidade experimental em Portugal, sempre que possível em confronto directo com propostas estrangeiras. Vitriol, Soundtrap, Manuel Mota, Margarida Garcia, Sei Miguel, Carlos Santos, Stapletape, Vítor Joaquim, David Maranha, Caveira, Curia ou @c já circularam pelas diferentes salas que o Sonic Scope foi ocupando desde a sua primeira ocupação (Fonoteca de Lisboa, Galeria Zé dos Bois ou Gare Marítima de Alcântara, por exemplo).

16h30 Osso Exótico

17h00 The Beautiful Schizophonic + Laetitia Morais

18h00 Gala Drop

18h30 Oto

19h30 Scarp + Gabriel Ferrandini

20h00 Variable Geometry Orchestra

Festival de música experimental e improvisadaProgramado por Grain of Sound

13Jornal

Page 14: mmjornal 1

Devo muito ao Jon. Na verdade, muita gente deve muito ao Jon. Ele semeou uma poderosa e fértil semente cujos frutos ainda hoje colhemos. É difícil evitar que citemos esta espécie de carta aberta de Brian Eno de 2007: Parece impossível que alguém tão essencial tenha passado ao lado de tanta gente. Mas a sua revolução foi sempre sem sangue, em surdina, abafada tal como o som do seu trompete mutante. O que conta para a História, de facto, são testemunhos como este, são estas as entradas oficiais para a enclicopédia musical. Isso e os discos que ainda hoje ribombam de emoção e poder, como Vernal equinox, que, em 1978, deslumbrou um Brian Eno acabado de chegar a Nova Iorque. Estava criado, ao primeiro take, o seu conceito de Quarto Mundo, onde espíritos e insinuações de outras paragens (Índia, África e América do Sul) se fundem com atitudes e ferramentas contemporâneas. Fusão espiritual e meditativa, acima de tudo, que ainda hoje cimenta as suas criações mais recentes.Last night the moon came dropping its clothes in the street, o seu álbum de 2009, é um epílogo, se assim o quisermos ouvir, quase perfeito para tudo aquilo que Jon Hassell deu à música nos últimos 30 anos. E falamos em epílogo não porque este disco sugira um fim de qualquer coisa, mas porque transmite uma espécie de encaixe perfeito para algumas das suas essenciais implosões criativas. Epílogo, também, porque há um manto cada vez mais denso de silêncio que corporiza os seus mantras. E, no fundo, falamos sempre do mesmo silêncio que parece abater-se sobre as suas composições, como um aprumo renovado da sua visão de In a silent way de Miles Davis.

trompete e teclados Jon Hassellsampler e live sampling Jan Bangguitarra e baixo Eivind Aarsetviolino Kheir Eddine M’Kachiche

Jon Hassell estudou com Stockhausen e banhou-se em Pandit Pran Nath antes de editar, em 1978, Vernal equinox na editora de Robert Ashley. Estavam aí criados alguns pressupostos importantes para quase toda a sua obra. Consolidou o Quarto Mundo com Brian Eno, onde fundiu a música do mundo com as teorias da música ambiental; assumiu o risco com perfeição ao infiltrar-se nos Farafina do Burkina Faso; viu o futuro do jazz com City: works of fiction, em 1990, e voltou a ver o outro futuro com Fascinoma, em 1999. Durante a sua carreira foi um importante guia sonoro para muitos músicos, tendo por isso participado em muitos álbuns e alguns filmes, alterando inquestionavelmente o som de muitos discos e de algumas imagens.

música

Jon Hassell & Maarifa Street (EUA/Noruega/Argélia)

Sala principal quarta 28 Outubro 22h00 12€ / <30 anos 5€

© JH

Jmlu

bran

o

14 Jornal

Page 15: mmjornal 1

São um grupo de amigos, muito amigos, que em conjunto partilham uma editora onde lançam os seus discos. A amizade é de tal modo intensa que é natural que, quando um precise que alguém cante, Sam Amidon seja chamado para estúdio. E se alguém necessitar de um óptimo enredo rítmico, talvez chamem o Valgeir Sigurðsson. Entretanto, Nico Muhly será chamado quando alguém estiver com falta de um bom arranjo para piano ou quarteto de cordas ou qualquer uma das inúmeras coisas que ele consegue tão brilhantemente fazer. E sempre que alguém quiser um mergulho electrónico, Ben Frost será o eleito. É uma ideia prática para montar álbuns e uma editora, mas é sobretudo uma bela prova de amizade.Daqui até formalizarem uma digressão onde pudessem todos comungar músicas de todos foi um pequeno passo. A Whale watching tour nasceu na Islândia e irá passar neste dia por Lisboa, com duas horas de celebração musical colectiva de um grupo de músicos que tem mais em comum que apenas a sua música. Será, também, um festim para os sentidos, com folk americano, música de câmara e electrónica, em alegre casamento e colisão.

Sala principal

quinta 5 Novembro 22h00

12€ / <30 anos 5€

Sam Amidon (EUA)

Nico Muhly(EUA)

Ben FrostValgeir Sigurðsson

música

&

Sam Amidon nasceu em Vermont, Estados Unidos da América, e não tem ainda 30 anos. Começou a estudar free jazz com Leroy Jenkins e Mark Feldman, mas, por influência indirecta dos seus pais - eram músicos folk -, o seu repertório tem sido sobre o cancioneiro americano. No seu último álbum apenas fez versões de canções tradicionais americanas.

É fácil pensar-se que Nico Muhly é um sobredotado. Quando for trintão, dentro de dois anos, poder-se-á escrever que após a licenciatura em Julliard começou por ser o braço direito de Philip Glass, depois foi arranjador para Antony And The Johnsons e Björk, escreveu bandas sonoras para alguns filmes premiados com Oscar, escreveu música para campanhas publicitárias, compôs inúmeras obras para orquestra, para coro, para percussão, a solo, editou discos, fez ainda uma ópera, e mais uma série de façanhas que terão escapado aos mais atentos. Para além disto tudo, tem todo o tempo do mundo para ajudar os seus três amigos desta digressão a gravar os seus discos.

Ben Frost nasceu na Austrália há menos de 30 anos e vive actualmente na Islândia. Se é verdade que de um local para o outro vai quase um mundo de distância, também é verdade que a sua música é feita de pólos opostos em permanente choque. Imaginem um apaziguante ambientalismo mergulhado em acidez digital. Esta versatilidade tem feito de Ben Frost um regular agente infiltrado na música de Fennesz, Tim Hecker ou Jóhann Jóhannsson.

Valgeir Sigurðsson nasceu e vive na Islândia. Tem mais de trinta anos e desde muito novo que nutre pelo estúdio e pelo som um invulgar fascínio. Em 1998 acontece a primeira linha de currículo interessante: é contratado para a banda sonora do filme Dancer In the dark de Lars von Trier. A partir desse momento torna-se presença constante nos discos de Björk e, por consequência, um técnico de som demasiado precioso para Kronos Quartet, Bonnie “Prince” Billy, CocoRosie ou Maps.

banjo, guitarra e vozSam Amidonpiano e teclados Nico Muhlyelectrónica Ben Frostelectrónica Valgeir Sigurðsson

© B

jarn

i Gri

ssom

(Islândia)

Whale watching tour

(Austrália)

15Jornal

Page 16: mmjornal 1

Morreu uma mulher às 9h da manhã à porta do infantário onde ia deixar o seu filho de 6 anos. O ex-marido, um polícia a quem já tinha sido retirada a arma, roubou a arma de um colega, deslocou-se 70 km, fez-lhe uma espera, foi directo a eles, arrancou-lhe o filho e, com a criança pela mão, disparou dois tiros sobre a mãe, matou-a e fugiu com a criança. O presidente da Câmara de Santarém disse, em declarações à imprensa: A mulher teve morte quase instantânea. Assim. Não sei mais nada sobre ela, nem o nome, nem a cor dos cabelos, nem se era alegre ou triste, o que levava nos olhos. Mas este apagamento, este esquecimento que a morte lhe trouxe é a morte “matada”. Ela passou a ser “a mulher”, “a mulher” morta. E a memória, a memória dela, passou a ser nada.

No meu país, todas as semanas morre, pelo menos, uma. Todas as semanas há uma mulher morta por um homem que é, foi ou pretendia ser seu namorado, seu marido, seu amante. Todas as semanas, há uma que passa a ser “a mulher”: sem in memoriam, sem rasto nem história, que deixa de existir assim, trocada em números para a estatística.

Lúcia Sigalho

Lúcia SigalhoE a mulher teve morte quase instantânea

Sala principal

sábado 14 a terça 17 Novembro 21h30

12€ / <30 anos 5€

dramaturgia, pesquisa e textos Lúcia Sigalho, Fernanda Câncio e Mafalda Ivo Cruzinterpretação Deborah Krystal e outros a confirmarsom João Lucasluzes Daniel Worm D’Assumpçãocenário e figurinos João Pedro Valeprodução Sensurroundco-produção Festival Temps d’Images e Teatro Maria Matos

Sensurround é uma estrutura financiada pelo Ministério da Cultura / Direcção-Geral das Artes

Espectáculo integrado no festival Temps d’Images

teatro | co-produção

16 Jornal

Page 17: mmjornal 1

O que é que cinco magníficos cães pastor belga, um filósofo, um psicanalista, um bailarino e um actor poderão estar a fazer juntos num palco de teatro? Desde Maio de 2005 que Michel Schweizer mantém uma conversa fértil com Dany-Robert Dufour, filósofo, e Jean-Pierre Lebrun, psiquiatra e psicanalista, sobre alguns dos temas cruciais da sociedade contemporânea: a liberdade individual e a imposição do consumismo, o ensino e a uniformização, a política e a manipulação.É impressionante como o espectáculo BLEIB, criado em 2007, profetiza a falência do capitalismo desenfreado que criou a actual crise mundial. Interroga os comportamentos sociais e as atitudes do novo “homem sem gravidade”,

que é induzido a acreditar que a soma das ambições individuais iguala o bem comum. Já não precisamos de pensar!, exclama Jean-Pierre Lebrun no espectáculo, já não precisamos de nos organizar colectivamente, já não precisamos de nos esforçar para viver em sociedade… Tornámo-nos numa sociedade de consumidores–individualistas e obcecados pelo poder de compra, mas sem nos dar conta de que estamos a ser dirigidos e manipulados. Na sala reinava um silêncio absoluto, escreveu o De Volkskrant depois das apresentações em Roterdão, as centenas de espectadores pareciam estar a sentir a mesma inquietação. Como se sentíssemos todos a trela apertar…

conceito, direcção e cenografia Michel Schweizer com Philippe Desamblanc e Titeuf de la Fontaine St Maurice, Jean Gallego e Ulster, François Vavasseur e Robot du Vieux Marronnier, Frédéric Prulhière e Khéops, Hervé Guével e Bosco, Dany-Robert Dufour, Gérard Gourdot, Jean-Pierre Lebrun, Friedrich Lauterbach colaboração artística Severine Garat direcção técnica e luz Marc-Emmanuel Mouton e Eric Blosse criação som Nicolas Barillot desenho Franck Tallon fotografia Frederic Desmesure e Jean-Paul Dubecq conselheiros treino cães e assistência técnica Yann Armand e Andrej Skrha produção e digressão Nathalie Nilias administração Hélène Vincentadministração digressão e comunicação Cécile Broqua agradecimentos Patricia Chen, Jean-Yves Coquelin, Jean-Paul Dubecq, Romain Louveau, Cécile Pécondon-Lacroix, Jean-Luc Petit, Eric Servant e Scorpion du Musher, Jean-Marc Toillon e Jean-Marc Teuléagradecimentos desenho de luz Eric Blosse, Marc-Emmanuel Mouton e Yannick Taleuxprodução La Coma - centre de profit, Espace Malraux - scène nationale de Chambéry et de la Savoie, O.A.R.A - Office artistique de la Région Aquitaine, TnBA - Théâtre national de Bordeaux Aquitaine, Festival Novart (Bordéus), Château Rouge (Annemasse), ARCADI - Action régionale pour la création artistique et la diffusion en Ile de Franceparceria La Coma - centre de profit e Le Cuvier - Centre de Développement Chorégraphique d’Aquitaine (2008-09)

apresentação em Lisboa apoiada por

teatro

Michel Schweizer (Bordéus)

Sala principal com bancada

sábado 21 domingo 22 Novembro 21h30

12€ / <30 anos 5€ Espectáculo em francês, legendado em português

BLEIB opus #3Espectáculo apresentado pelo Teatro Maria Matos, festival alkantara e festival Temps d’Images

© F

rédé

ric

Des

mes

ure

17Jornal

Page 18: mmjornal 1

A música electrónica é, regra geral, uma actividade solitária e pouco dedicada à formação de bandas. Esta foi a surpresa número um com o trio de Moritz von Oswald. A segunda surpresa vem do facto do seu líder ser, com Mark Ernestus, o influente arquitecto dos Rhythm & Sound, uma das mais emblemáticas transformações que o techno sofreu desde que se emancipou de Detroit. A terceira é vermos o brilhante músico electrónico Vladislav Delay assumir o seu primeiro instrumento - a bateria. Juntos, com Max Loderbauer dos Sun Electric, planeiam uma longa viagem hipnótica pelas entrelinhas do techno, abdicando do ritmo em prol do ambientalismo dub e de uma ideia de jazz falso. A capa do seu disco de estreia, mostrando um protótipo de um foguetão, ilustra quanto o trio procura o espaço e, por consequência, a liberdade. É justamente para lá que Vertical ascent nos empurra e é lá que nos mantém.

No início dos anos 90, Moritz von Oswald criou a Basic Channel em Berlim para editar e produzir artistas próximos da sua linha de pensamento techno. Com Mark Ernestus formou os Rhythm & Sound, insuflando o dub, como paixão antiga, no coração do techno de Berlim. Desde então, a Basic Channel ajudou a criar mais um punhado de editoras, desde a Chain Reaction (onde Porter Ricks e Monolake despontaram) à Wackie’s (onde é recuperado o espólio da editora original).Max Loderbauer é um histórico acanhado. Esteve no epicentro da Tresor, mas ultimamente prefere subtilezas electrónicas e viagens experimentais com Sun Electric e NSI, respectivamente.Sasu Ripatti deve a sua primeira visibilidade a von Oswald e à sua Chain Reaction. Entre a Finlândia e Berlim, desdobrou-se em múltiplas personalidades - Vladislav Delay, Luomo ou Uusitalo - para alargar a sua electrónica multitexturada. Contudo, foi como baterista de jazz que Ripatti abraçou a música e é nessa qualidade que fecha o trio de modo esplendoroso.

música

Vertica ascentSala principal com bancada

quarta 25 Novembro 22h00

12€ / <30 anos 5€

Moritz von Oswald Trio

electrónica Moritz von Oswaldelectrónica Max Loderbauer percussão Vladislav Delay

l

18 Jornal

Page 19: mmjornal 1

More more more... future

O Kunstenfestivaldesarts (Bruxelas) fecha em apoteose com a estreia de Faustin Linyekula: More more more… future. Durante as três semanas do festival, vimos mais espectáculos com mensagens positivas do que negativas, mas não esperávamos que a mais bela lição de esperança viesse de Kisangani

(Catherine Makereel, Le Soir, Bruxelas)

Filha bastarda da rumba, dos ritmos tradicionais, das fanfarras nos domingos na igreja e do funk, a ndombolo é a música das noites de Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo. O som é denso e saturado, os ouvintes bebem cerveja e comem espetadas, dançam e namoriscam até de madrugada, quando os primeiros transportes retomam na cidade adormecida.

É sobre os seus sucessos que cantam os músicos: o poder trazido pelo dinheiro, as mulheres bonitas, os carros de alta cilindrada, as roupas de marca. Porque não utilizar a extraordinária energia das guitarras e das vozes da ndombolo, pensou o coreógrafo Faustin Linyekula, não para espalhar sonhos tão leves como os lenços de papel que se vendem nas ruas de Kinshasa, mas para falar da vida real com as suas dificuldades, os impasses e os erros. Penso na energia do movimento punk na Europa e nos Estados Unidos e como os jovens se apropriaram da música para decretar o fim do futuro. Aqui, no Congo, é difícil recusar um futuro que nunca tivemos, de destruir ainda mais o nosso monte de ruínas… apenas sonhar com os pés bem assentes na terra que se possa construir, em cima das ruínas, um pouco mais de futuro…

direcção artística Faustin Linyekuladirecção musical Flamme Kapayamúsicos Flame Kapaya, Patou “Tempête” Kayembe, Cédric “Béton” Lokamba, Pasnasintérpretes Dinozord, Papy Ebotani, Faustin Linyekula figurinos Xuly Bët (Paris)textos Antoine Vumilia Muhindodirecção técnica Antoine Tokanwaadministração Virginie Duprayassistentes de administração Jean-Louis Mwandika, Eddy Mbalangaprodução Studios Kabakoco-produção KVS Theater (Bruxelas), Kunstenfestivaldesarts (Bruxelas), Festival d’Automne (Paris), Maison des Arts de Créteil.apoios Theaterformen (Hannover), Tanz im August (Berlim)Studios Kabako são financiados pela DRAC Ile-de-France / Ministère de la Culture et de la Communication

apresentação em Lisboa apoiada por

dança/música

Faustin LinyekulaSala principal com bancada

sexta 27 sábado 28 Novembro 21h30

12€ / <30 anos 5€

© A

gath

e Po

upen

ey /

Phot

oSce

ne.fr

(Kisangani)

19Jornal

Page 20: mmjornal 1

Tínhamos acabado de jantar. Defronte de mim o meu amigo, o banqueiro, grande comerciante e açambarcador notável, fumava como quem não pensa. A conversa, que fora amortecendo, jazia morta entre nós. Procurei reanimá-la, ao acaso, servindo-me de uma ideia que me passou pela meditação. Voltei-me para ele, sorrindo. É verdade: disseram-me há dias que você em tempos foi anarquista…

Assim começa o famoso “conto de raciocínio”, O banqueiro anarquista, de Fernando Pessoa. Sobre a sua leitura do texto e a vontade de o encenar, diz o encenador João Garcia Miguel: Este texto é um emblema paradoxal da liberdade e da guerra, que se move entre o estrabismo reaccionário e o radicalismo absurdo. Pugna pelo individualismo levado aos seus limites como forma de ultrapassagem das limitações que as estruturas colectivas e as ficções sociais impõem. Neste momento particular da nossa história colectiva a sua pertinência, o seu sentido de humor e de ridículo, levam-nos a reflectir sobre os caminhos que deixamos que escolham por nós e coloca a questão se há, de algum modo, saída.

texto Fernando Pessoa encenação João Garcia Miguelinterpretação Anton Skrzypiciel,Ana Rosa Abreu, Isa Araújo, João Pedro Santos e Sara Ribeiromúsica original Rui Lima e Sérgio Martinsrealização vídeo Rui Gatoapoio ao espaço cénico Mantos e Rui Violadesenho de luz Luís Bombicodirecção técnica Luís Bombico, Várias Cenas Ldadirecção de produção Filipa Horaprodução executiva Marta Vieiraweb design Mantosco-produção JGM, Teatro Maria Matos

apoio Teatro-Cine Torres Vedras, Câmara Municipal Torres Vedrasestrutura financiada Ministério da Cultura / Direcção-Geral das ArtesJGM é um artista associado do Espaço do Tempo e Director Artístico do Teatro-Cine de Torres Vedras apresentação no âmbito da rede

co-financiada por

O banqueiro anarquista

JoãoGarciaMiguel

Sala principal com bancada

quinta 10 a terça 15 Dezembro 21h30 12€ / <30 anos 5€

(Fernando Pessoa)

teatro | co-produção

20 Jornal

Page 21: mmjornal 1

JoãoGarciaMiguel

música

The harp of King David

Alèmu Aga é um dos grandes – e cada vez mais escassos – mestres da bègèna, um instrumento que se aproxima da família das liras e das harpas, que se crê ter origem no país desde a época do Rei David, há cerca de três mil anos. Um instrumento inicialmente conotado com um meio real e aristocrático (vários membros da família real etíope, ao longo dos tempos, tocavam-no), sofreu uma democratização no seu uso e tradição em épocas mais recentes. É quase exclusivamente utilizado em orações (mesmo que em espaços ou ocasiões de âmbito não religioso, onde não existe esse hábito), como música de meditação, sempre num registo puramente solista, nunca se misturando com outra instrumentação. Resulta de uma antiga e extensíssima tradição oral, sem qualquer espécie de documentação que hoje, não havendo mais mestres a ensinar a bègèna em escolas de música no país (Aga foi o seu último professor nesse meio), vê a continuidade dos seus grandes músicos e intérpretes – e a sua própria, também – ameaçada. Alèmu Aga, tocador, geógrafo e lojista residente em Adis Abeba, viaja, há já algum tempo, um pouco por todo o mundo (mesmo que não tantas vezes quanto a sua arte o merece), a mostrar esta sua maravilhosa música ancestral, que parece pertencer a este e a todos os outros

tempos, passados, futuros, espaciais, tridimensionais. Uma música da maior solenidade, do alinhamento a uma paz eterna, luminosa, beatífica, capaz de nos levar para um outro estado, um outro sítio, de nos devolver a uma outra vida. Amplamente desconhecida do mundo ocidental até meados dos anos 80, a música etíope, uma multitude de expressões culturais e espirituais próprias de um vasto país, independente há milhares de anos (à excepção da relativamente breve ocupação fascista italiana no século XX), tem sido revelada perante nós no último par de décadas e recebida com o maior entusiasmo, pasmo e reverência. O principal responsável por este notável trabalho de divulgação é Francis Falceto, produtor francês que continua a dirigir, há já 12 anos, a essencial série de discos Éthiopiques, com mais de duas dezenas de alguns dos fundamentais documentos da música etíope do último século. O 11.º volume deste conjunto de obras, pertencente a Alèmu Aga, é uma das pedras mais preciosas que, por cá, deste lado dos mares e oceanos, temos podido avistar.

bèguèna Alèmu Aga

Sala principal com bancada quinta 17 Dezembro 22h00 10€ / <30 anos 5€

Alèmu AgaEm colaboração com a Filho Único

21Jornal

Page 22: mmjornal 1

DISCURSO, s. m. (lat. discursu-). Peça oratória, própria para persuadir: discursos forenses, discursos sagrados. Arrazoado. Exposição de ideias (falada ou escrita). Série de raciocínios. Ant. Decurso: o discurso da existência. Fam. Palavreado oco.

Numa altura em que o Teatro Maria Matos se concentra nos temas da governação e da política, convidamos a Mala Voadora a revisitar o espectáculo O Decisivo na política não é o pensamento individual, mas sim a arte de pensar a cabeça dos outros (disse Brecht), que estreou em meados de 2008 na Casa de Serralves. No espectáculo, o actor e encenador Jorge Andrade utilizava alguns dos grandes discursos políticos da história, cujo conteúdo foi determinante em relação ao que tem vindo a ser o destino de Portugal e do mundo: Salvador Allende, Yasser Arafat, Chiang Kai-Shek, Winston Churchill, Álvaro Cunhal, o Dalai Lama, Charles De Gaulle, Josef Stalin, Fidel Castro, Patrick Henry,

o Imperador Hirohito, Adolf Hitler, Muhammar Kadhafi, Vladimir I. Lenine, Martinho Lutero, Martin Luther King, Nelson Mandela, Mao Tsé-Tung, Benito Mussolini, Napoleão I, General Patton, Yitzhak Rabin, António de Oliveira Salazar, Andrei D. Shakarov, Shimon Peres, Mário Soares, Elizabeth Stanton, Aung San Suu Kyi, Leon Trotsky e ainda um hit dos Beatles.

A nova versão do espectáculo, agora dirigida por Miguel Loureiro, recua da dimensão pública do discurso, entidade ideológica, para uma projecção imaginária da intimidade do seu autor. Matéria documental para reelaboração ficcional. Partir de escassas palavras produzidas a seu tempo por Mussolini, Salazar, Allende e Bonaparte e tornar fábula o que era antes retórico, circunstancial ou apenas factual.Uma sala. Uma porta.

teatro

Mala VoadoraSpitx

Sala de ensaios

sexta 18 a segunda 21 Dezembro 21h30

12€ / <30 anos 5€

direcção Miguel Loureirocom Jorge Andradecenografia José Capeladirecção de produção Magda Bullprodução Mala Voadoraco-produção Teatro Maria MatosMala Voadora é uma estrutura financiada pelo Ministério da Cultura / Direcção-Geral das ArtesMala Voadora é uma estrutura associada da Associação Zé dos Bois

22 Jornal

Page 23: mmjornal 1

==Os textos que se seguem são sugestões de leitura a propósito

do ciclo de debates a política para além da política.

A cada debate corresponde um texto. Boas leituras

e vemo-nos às terças, ao fim da tarde, no

mmcafé.

Governar

O populismo segundo Ernesto LaclauEditado a partir de entrevistas aos jornais Clarín (Maio 2007) e Folha de São Paulo (Maio 2006)

A partir de seus trabalhos o populismo deixou de ser uma palavra pejorativa para muitos. Como fez isso?Fiz o que os cristãos fizeram com a cruz, que era um sinal de opróbrio e eles a transformaram em algo positivo. No sentido que eu lhe dou, populismo são as demandas dos de baixo que ainda não estão bem inscritas no discurso político, mas que começam a se expressar. É nesse sentido que penso que o populismo é um fenômeno positivo. Claro que isto pode ir em sentidos divergentes, porque há populismos de direita ou de esquerda.

Qual a sua definição de populismo?Primeiro, sou contra a ideia de que o populismo seja um conceito pejorativo, ou seja, que o único que é válido é o momento institucionalista e que o movimento de mobilização é sempre vilipendiado. Mas o conceito também não é necessariamente positivo. Não é algo que se relacione como um tipo de regime ou ideologia. É uma forma de construir o político que consiste em privilegiar o que eu chamo de lógica da equivalência sobre a lógica institucional diferenciada. Por exemplo, se temos uma localidade onde os moradores pedem à prefeitura que seja criada uma linha de ônibus para levar e trazer ao trabalho. Se é criada, sem problemas. Mas, se não conseguem, isso vira uma frustração. Quando as pessoas têm outras dessas demandas frustradas, de saúde, de educação, então começa a ter uma certa solidariedade entre todas essas demandas. Então, tende-se a dicotomizar o espaço social entre o campo dos que estão no poder e dos que estão abaixo. Isso já é uma situação pré-populista. Quando todas essas cadeias equivalenciais de demanda se cristalizam em torno de certos símbolos comuns, nesse caso já temos o populismo no sentido estrito.

O sr. defende o governo Chávez, que a experiência alarga a participação democrática. Mas há ganhos efetivos?O caso de Chávez é o que mais se aproxima do populismo clássico pelo fato mesmo de que se tinha lá um sistema político podre, com uma base clientelista, com uma escassíssima participação de massa. Havia a típica situação pré-populista: havia demandas que ninguém podia canalizar dentro do sistema político. Chávez começa a interpelar essas massas por fora do sistema institucional tradicional. Faz essas massas participarem do sistema político pela primeira vez. Isso se produz por meio de mecanismos populistas, através da identificação com o líder. O que se dá não é um populismo do tipo autoritário, porque essa não é uma mobilização de cima. Pelo contrário, há um aspecto de auto-organização das massas, nos locais de trabalho. E nisso a participação dos técnicos cubanos foi decisiva. É um ganho efetivo. Não há dúvidas que o futuro latino-americano passa por esse tipo de projeto.

As críticas feitas a partir dos Estados Unidos ou da Europa se concentram em Chávez como suporte do populismo de esquerda.Eu estive na Venezuela no ano passado e vi como vai se dando o processo nessa sociedade. Antes do governo de Chávez essas demandas populares não encontravam eco, hoje isso é possível. Antes da chegada de Chávez o que existia na Venezuela era um regime superclientelístico de gestão da coisa pública, como na Argentina dos anos 30. Quando as demandas das bases não encontram inscrição nos modelos institucionais normais se dá a identificação com um elemento transcendente que é a figura aglutinadora do líder. Essa é a característica geral de todos os regimes populares, não só na América Latina. O gaullismo na França era um fenômeno similar.

E o excesso de personalismo de alguns governantes não pode ameaçar a democracia como sistema?Creio que não. A ameaça para as democracias na América Latina não vem dos populismos, mas do neoliberalismo.

23Jornal

Page 24: mmjornal 1

Os maiores atentados contra a democracia na região ocorreram em regimes como o de Videla, Com Martínez de Hoz ou com Pinochet e os Chicago Boys, no Chile. O que acontece é que no populismo se encontram os dois elementos, a mobilização a partir de baixo e a identificação a partir de cima. E o que os discursos da direita tratam de dizer é que o que conta é apenas a identificação de cima com o líder e não vêem o processo da mobilização a partir de baixo, mas os dois elementos estão em tensão. Muitas vezes a identificação com o líder se confunde com autoritarismo, mas pode ter identificação com o líder e mobilização de massas simultaneamente ao aumento da participação democrática.

Hobsbawm e as Políticas de Identidade

Excertos de Eric Hobsbawm, The Cult of Identity Poli-tics, em New Left Review, 217, 1996. Trad. unipop.

Habituámo-nos de tal modo a conceitos como “identidade colectiva”, “políticas de identidade”, ou, na mesma linha, “etnicidade”, que é difícil nos apercebermos de que apenas recentemente aqueles termos passaram a fazer parte do vocabulário corrente – do jargão – do discurso político. Por exemplo, se olharmos para a International Encyclopedia of the Social Sciences, publicada em 1968 – ou seja, escrita em meados dos anos 60 – não encontraremos nenhuma entrada para a palavra identidade. A excepção é uma entrada referente a identidade psicossocial, da autoria de Erik Erikson, o qual estava sobretudo interessado em coisas como a chamada “crise de identidade” de adolescentes à procura de se descobrirem; ou coisas como a avaliação genérica da identificação dos eleitores.[…]As identidades, ou a sua expressão, não são fixas, mesmo supondo que optamos por um dos vários potenciais eus [selves] de que dispomos, à semelhança do que fez Michael Portillo quando optou por ser britânico em lugar de ser espanhol. As identidades mudam e podem mudar, se necessário for mais do que uma vez. Por exemplo, grupos não-étnicos, em que todos ou a maior parte dos membros são negros ou judeus, tornam-se grupos conscientemente étnicos. Isto aconteceu com a Igreja Baptista, sob liderança de Martin Luther King. O oposto também sucede, caso do IRA oficial [Official IRA] quando passou de organização nacionalista feniana a organização classista, agora Partido dos Trabalhadores e parte da coligação governamental da República da Irlanda.[…]Certamente, a esquerda não reservava um lugar central aos grupos identitários. Basicamente, os movimentos políticos e sociais de massas da esquerda, isto é, aqueles inspirados pelas revoluções americana e francesa e pelo socialismo, eram efectivamente coligações ou alianças de grupo, mas que se associavam devido a causas universais e não devido a objectivos específicos ao grupo, causas através das quais cada grupo entendia poder realizar os seus objectivos particulares: democracia, república, socialismo, comunismo, fosse o que fosse.

A multidão de E.P. Thompson

Excerto de E.P. Thompson, A Economia Moral da Multidão na Inglaterra do Século XVIII, Antígona, 2008. O texto foi primeiramente publicado em 1971.

Muitos dos nossos historiadores do desenvolvimento podem ser acusados de um reducionismo económico

crasso por eliminarem as complexidades inerentes à motivação, à conduta e ao desempenho, o que aliás levaria esses mesmos historiadores a protestar, caso descobrissem semelhante limitação no trabalho dos seus colegas marxistas. As suas explicações comungam de uma mesma debilidade: uma visão redutora do homem económico. Verdadeiramente surpreendente talvez seja o ambiente intelectual-esquizóide que permite que esta historiografia quantitativa co-exista (nos mesmos locais e por vezes nas mesmas mentes) com uma antropologia social que dimana de Durkheim, Weber ou Malinowski. Sabemos tudo acerca do delicado tecido de normas e reciprocidades sociais que regulam a vida dos ilhéus de Trobriand e acerca das energias psíquicas envolvidas nos cultos de carga da Melanésia; mas nas nossas histórias, a determinada altura, esta criatura social infinitamente complexa, o homem da Melanésia, torna-se o mineiro de carvão inglês oitocentista que leva espasmodicamente a sua mão à barriga e reage a estímulos económicos elementares.

À perspectiva espasmódica contraporei a minha própria perspectiva. Em quase todas as acções da multidão oitocentista é possível encontrar alguma noção legitimadora. Através do conceito de legitimação, pretendo afirmar que os homens e as mulheres da multidão acreditavam estar a defender direitos ou costumes tradicionais e, em geral, de terem o apoio de um amplo consenso comunitário. Em determinadas ocasiões, este consenso popular era confirmado por algum tipo de resolução da parte das autoridades. Mais frequentemente, porém, o consenso era de tal modo forte que se sobrepunha a sentimentos de medo ou deferência.

Os motins de subsistência em Inglaterra, no século XVIII, eram uma forma de acção popular directa altamente complexa e disciplinada, com objectivos claros. Saber em que medida foram estes objectivos atingidos – ou seja, até que ponto o motim de subsistência foi uma forma de acção “bem sucedida” – constitui uma questão demasiado complexa para ser tratada no âmbito deste texto. Mas a questão pode pelo menos ser colocada, em lugar de ser, como costuma acontecer, simplesmente abandonada e ignorada. Para que tal suceda, contudo, há, primeiro, que identificar os objectivos da própria multidão. É por certo verdade que os motins eram provocados por grandes aumentos dos preços, por práticas abusivas da parte de comerciantes ou pela fome. Mas agravamentos opróbrios como estes ocorriam no quadro de um consenso popular acerca do que eram as práticas legítimas e as práticas ilegítimas do mercado, da moagem, da produção de pão, etc.. Esse quadro, por seu turno, assentava num sólido e tradicional entendimento acerca das normas e obrigações sociais, e das funções económicas inerentes aos diversos sectores da comunidade, que, no seu conjunto, podem ser descritos como a economia moral dos pobres. Afrontar semelhantes preceitos morais constituía habitualmente um motivo para a acção directa – tanto quanto a efectiva privação.

Embora não possa ser descrita como “política” em nenhum sentido mais avançado do termo, esta economia moral também não pode ser descrita como apolítica, uma vez que supõe noções definidas do bem comum, que, diga-se, eram apaixonadamente defendidas. Noções a que o povo dava eco tão estrepitosamente que as próprias autoridades se tornavam, em certa medida, suas prisioneiras. Esta economia moral repercutiu-se assim sobre a política governamental e o pensamento do século XVIII de modo muito abrangente, não emergindo apenas em momentos de perturbação. A palavra “motim” é demasiado pequena para englobar tudo isto.

Governar~~

24 Jornal

Page 25: mmjornal 1

Governar

Bourdieu e o mistério do ministério

Excerto de Pierre Bourdieu, O Poder Simbólico, Difel, 2001 [1989].

O mistério do processo de transubstanciação que faz com que o porta-voz se torne no grupo que ele exprime só pode ser penetrado por uma análise histórica da génese e do funcionamento da representação, pela qual o representante faz o grupo que o faz a ele: o porta-voz dotado do pleno poder de falar e de agir em nome do grupo e, em primeiro lugar, sobre o grupo pela magia da palavra de ordem, é o substituto do grupo que somente por esta procuração existe; personificação de uma pessoa fictícia, de uma ficção social, ele faz sair do estado de indivíduos separados os que ele pretende representar, permitindo-lhes agir e falar, através dele, como um só homem. Em contrapartida, ele recebe o direito de se assumir pelo grupo, de falar e de agir como se fosse o grupo feito homem: Status est magistratus, «l´État c’est moi», «O Sindicato pensa que...», etc.

O mistério do ministério é um desses casos de magia social em que uma coisa ou uma pessoa se torna uma coisa diferente daquilo que ela é, um homem (ministro, bispo, delegado, deputado, secretário-geral, etc.) que pode identificar-se e ser identificado com um conjunto de homens, o Povo, os Trabalhadores, etc. ou com uma entidade social, a Nação, o Estado, a Igreja, o Partido. O mistério do ministério chega ao cúmulo quando o grupo só pode existir pela delegação num porta-voz que o fará existindo falando por ele, quer dizer a favor dele e no lugar dele. O círculo fica então fechado: o grupo é feito por aquele que fala em nome dele, aparecendo assim como o princípio do poder que ele exerce sobre aqueles que são o verdadeiro princípio dele. Esta relação circular é a raiz da ilusão carismática que faz com que, no limite, o porta-voz possa aparecer e apresentar-se como causa sui. A alienação política encontra a sua origem no facto de só ser possível aos agentes isolados – sobretudo por estarem mais desprovidos simbolicamente – constituírem-se como grupo, quer dizer, como força capaz de se fazer ouvir no campo político, desapossando-se em proveito de um aparelho, no facto de ser sempre preciso arriscar o desapossamento político para escapar ao desapossamento político. O feiticismo é, segundo Marx, o que advém quando «produtos da cabeça do homem aparecem como dotados de uma vida própria»; o feiticismo político reside precisamente em que o valor da personagem hipostasiada, esse produto da cabeça do homem, aparece como carisma, misteriosa propriedade objectiva da pessoa, encanto inapreensível, mistério sem nome.

Peter Pàl Pelbart, biopolítica e biopotência no coração do Império

Versão original do texto Pouvoir sur la vie, puissance de la vie, Multitudes, 9, Maio-Junho 2002.

O Imperador da China resolveu, um belo dia, construir uma muralha para se proteger dos nômades, vindos do Norte. A construção mobilizou a população inteira por anos a fio. Conta Kafka que ela foi empreendida por partes: um bloco aqui, outro ali, outro acolá, e não necessariamente eles se encontravam. De modo que entre um e outro pedaço de muralha construído em regiões desérticas abriam-se grandes brechas, lacunas quilométricas [1]. O resultado foi uma muralha descontínua cuja lógica ninguém entendia, já que ela não protegia de nada nem de ninguém. Talvez apenas os nômades, na sua circulação errática pelas fronteiras

do Império, tinham alguma noção do conjunto da obra. No entanto, todos supunham que a construção obedecesse a um plano rigoroso elaborado pelo Comando Supremo, mas ninguém sabia quem dele fazia parte e quais seus verdadeiros desígnios. Enquanto isso, um sapateiro residente em Pequim relatou que já havia nômades acampados na praça central, a céu aberto, diante do Palácio Imperial, e que seu número aumentava a cada dia [2]. O próprio Imperador apareceu uma vez na janela para espiar a agitação que eles provocavam. O Império mobiliza todas suas forças na construção da Muralha contra os nômades, mas eles já estão instalados no coração da capital enquanto o Imperador todo poderoso é um prisioneiro em seu próprio palácio.Kafka dá poucas indicações sobre os nômades. Eles têm bocas escancaradas, dentes afiados, comem carne crua junto a seus cavalos, falam como gralhas, reviram os olhos e afiam constantemente suas facas. Não parecem ter a intenção de tomar de assalto o palácio imperial. Eles desconhecem os costumes locais e imprimem à capital em que se infiltraram sua esquisitice. Ignoram as leis do Império, parecem ter sua própria lei, que ninguém entende. É uma lei-esquiza, dizem Deleuze-Guattari [3]. Por que esquiza? Talvez pela semelhança do nômade com o esquizo. O esquizo está presente e ausente simultaneamente, ele está na tua frente e ao mesmo tempo te escapa, sempre está dentro e fora, da conversa, da família, da cidade, da economia, da cultura, da linguagem. Ele ocupa um território mas ao mesmo tempo o desmancha, dificilmente ele entra em confronto direto com aquilo que recusa, não aceita a dialética da oposição, que sabe submetida de antemão ao campo do adversário, por isso ele desliza, escorrega, recusa o jogo ou subverte-lhe o sentido, corrói o próprio campo e assim resiste às injunções dominantes. O nômade, como o esquizo, é o desterritorializado por excelência, aquele que foge e faz tudo fugir. Ele faz da própria desterritorialização um território subjetivo.Como pode o Império lidar com um território subjetivo de tal natureza? Mas como pode ele deixar de lidar precisamente com isso? Por mais que um Imperador tenha muralhas concretas a construir, Império algum pode ficar indiferente a essa dimensão subjetiva sobre a qual ele se assenta primordialmente, sob pena de esfacelar-se – o que é ainda mais verdadeiro nas condições de hoje. De fato, como poderia o Império atual manter-se caso não capturasse o desejo de milhões de pessoas? Como conseguiria ele mobilizar tanta gente caso não plugasse o sonho das multidões à sua megamáquina planetária? Como se expandiria se não vendesse a todos a promessa de uma segurança, de uma felicidade, o desejo de um modo de vida? Afinal, o que nos é vendido o tempo todo, senão isto: maneiras de ver e de sentir, de pensar e de perceber, de morar e de vestir? O fato é que consumimos, mais do que bens, formas de vida – e mesmo quando nos referimos apenas aos estratos mais carentes da população, ainda assim essa tendência é crescente. Através dos fluxos de imagem, de informação, de conhecimento e de serviços que acessamos constantemente, absorvemos maneiras de viver e sentidos de vida, consumimos toneladas de subjetividade. Chame-se como se quiser isto que nos rodeia, capitalismo cultural, economia imaterial, sociedade de espetáculo, era da biopolítica, o fato é que vemos instalar-se nas últimas décadas um novo modo de relação entre o capital e a subjetividade. O capital, como o disse Jameson, através da ascenção da mídia e da indústria de propaganda, teria penetrado e colonizado um enclave até então aparentemente inviolável, o Inconsciente. Mas esse diagnóstico é hoje insuficiente. Ele agora não só penetra nas esferas mais infinitesimais da existência, mas também as mobiliza, ele as põe para trabalhar, ele as explora e amplia, produzindo uma plasticidade subjetiva que ao mesmo tempo lhe escapa por todos os lados, obrigando o próprio controle a nomadizar-se.O Império contemporâneo, diferentemente do Império chinês do conto de Kafka, já não funciona na base de

muralhas e trincheiras, e os últimos acontecimentos demonstraram cabalmente a falência da lógica da fortaleza. O Império se nomadizou completamente. Ou melhor, ele é a resposta política e jurídica à nomadização generalizada. Ele mesmo depende da circulação de fluxos de toda ordem a alta velocidade, fluxos de capital, de informação, de imagem, de bens, mesmo e sobretudo de pessoas [4]. Claro que nem tudo circula da mesma maneira por toda parte, e nem todos extraem dessa circulação os mesmos benefícios. O novo capitalismo em rede, que enaltece as conexões, a movência, a fluidez, produz novas formas de exploração e de exclusão, novas elites e novas misérias, e sobretudo uma nova angústia – a do desligamento. O que Castel chamou de desfiliação, e Rifkin de desconexão. Ser ameaçado de desconexão, de desengate – sabemos que a maioria se encontra nessa condição, de desplugamento efetivo da rede. O problema se agrava quando o direito de acesso às redes, como o diz Rifkin (e agora trata-se não só da rede no sentido estrito, tecnológico e informático, mas das redes de vida num sentido amplo) migra do âmbito social para o âmbito comercial. Em outras palavras: se antes a pertinência às redes de sentido e de existência, aos modos de vida e aos territórios subjetivos, dependia de critérios intrínsecos tais como tradições, direitos de passagem, relações de comunidade e trabalho, religião, sexo, cada vez mais esse acesso é mediado por pedágios [portagens] comerciais, impagáveis para uma grande maioria. O que se vê então é uma expropriação das redes de vida da maioria da população, através de mecanismos cuja inventividade e perversão parecem ilimitadas.

Mas não deveríamos deixar-nos embalar por um determinismo tão apocalíptico quanto complacente. Parafraseando Benjamin, seria preciso escovar esse presente a contrapelo, e examinar as novas possibilidades de reversão vital que se anunciam nesse contexto. Pois nada do que foi evocado acima pode ser imposto unilateralmente de cima para baixo, já que essa subjetividade vampirizada, essas redes de sentido expropriadas, esses territórios de existência comercializados, essas formas de vida visadas não constituem uma massa inerte e passiva à mercê do capital, mas um conjunto vivo de estratégias. A partir daí, seria preciso perguntar-se de que maneira, no interior dessa megamáquina de produção de subjetividade, surgem novas modalidades de se agregar, de trabalhar, de criar sentido, de inventar dispositivos de valorização e de autovalorização. Num capitalismo conexionista, que funciona na base de projetos em rede, como se viabilizam outras redes que não as comandadas pelo capital, redes autônomas, que eventualmente cruzam, se descolam, infletem ou rivalizam com as redes dominantes? Que possibilidade restam, nessa conjunção de plugagem global e exclusão maciça, de produzir territórios existenciais alternativos àqueles ofertados ou mediados pelo capital? De que recursos dispõe uma pessoa ou um coletivo para afirmar um modo próprio de ocupar o espaço doméstico, de cadenciar o tempo comunitário, de mobilizar a memória coletiva, de produzir bens e conhecimento e fazê-los circular, de transitar por esferas consideradas invisíveis, de reinventar a corporeidade, de gerir a vizinhança e a solidariedade, de cuidar da infância ou da velhice, de lidar com o prazer ou a dor? [5]

Mais radicalmente, impõe-se a pergunta: que possibilida-des restam de criar laço, de tecer um território existencial e subjetivo na contramão da serialização e das reterritoria-lizações propostas a cada minuto pela economia material e imaterial atual? Como reverter o jogo entre a valorização crescente dos ativos intangíveis tais como inteligência, criatividade, afetividade, e a manipulação crescente e violenta da esfera subjetiva? Como detectar modos de subjetivação emergentes, focos de enunciação coletiva, territórios existenciais, inteligências grupais que escapam aos parâmetros consensuais, às capturas do capital e que não ganharam ainda suficiente visibilidade no repertório de nossas cidades?

25Jornal

Page 26: mmjornal 1

Há alguns anos no Brasil eram visíveis configurações comunitárias diversas, ora mais ligadas à Igreja, ora ao Movimento dos Sem-Terra, ora às redes de tráfico, ou provenientes de movimentos reivindicatórios e estéticos diversos, como o hip-hop, ou modalidades de “inclusão às avessas” proporcionado pelas gangues de periferia [6], mantendo com as redes hegemônicas graus de distância ou enlace diversos. Eu não saberia dizer o que está nascendo hoje nos centros urbanos brasileiros, muito menos nas demais cidades do planeta. Mas há um fenômeno que me intriga, entre outros. No contexto de um capitalismo cultural, que expropria e revende modos de vida, não haveria uma tendência crescente, por parte dos chamados excluídos, em usar a própria vida, na sua precariedade de subsistência, como um vetor de autovalorização? Quando um grupo de presidiários compõe e grava sua música, o que eles mostram e vendem não é só sua música, nem só suas histórias de vida escabrosas, mas seu estilo, sua singularidade, sua percepção, sua revolta, sua causticidade, sua maneira de vestir, de "morar" na prisão, de gesticular, de protestar, de rebelar-se – em suma, sua vida. Seu único capital sendo sua vida, no seu estado extremo de sobrevida e resistência, é disso que fizeram um vetor de existencialização, é essa vida que eles capitalizaram e que assim se autovalorizou e produziu valor. É claro que num regime de entropia cultural essa "mercadoria" interessa pela sua estranheza, aspereza, visceralidade, ainda que facilmente também ela possa ser transformada em mero exotismo étnico de consumo descartável. Mas a partir desse exemplo extremo e ambíguo, eu perguntaria, também à luz dos nômades de Kafka a quem me referi no início, se não precisaríamos de instrumentos muito esquisitos para avaliar a capacidade dos chamados “excluídos” ou “desfiliados” ou “desconectados” de construirem territórios subjetivos a partir das próprias linhas de escape a que são impelidos, ou dos territórios de miséria a que foram relegados, ou da incandescência explosiva em que são capazes de transformar seus fiapos de vida em momentos de desespero coletivo.

Utilizando de maneira originalíssima textos de Gabriel Tarde, Maurizio Lazzarato debruçou-se recentemente sobre um feixe de questões correlatas [7], das quais reteríamos a seguinte: Que capacidade social de produzir o novo está disseminada por toda parte, sem estar essa capacidade subordinada aos ditames do capital, sem ser proveniente dele e nem depender de sua valorização? A ideia de Tarde relida por Lazzarato, e que eu retomo nesse contexto de maneira excessivamente sucinta, é que todos produzem constantemente, mesmo aqueles que não estão vinculados ao processo produtivo. Produzir o novo é inventar novos desejos e novas crenças, novas associações e novas formas de cooperação. Todos e qualquer um inventam, na densidade social da cidade, na conversa, nos costumes, no lazer – novos desejos e novas crenças, novas associações e novas formas de cooperação. A invenção não é prerrogativa dos grandes gênios, nem monopólio da indústria ou da ciência, ela é a potência do homem comum. Cada variação, por minúscula que seja, ao propagar-se e ser imitada torna-se quantidade social, e assim pode ensejar [provocar] outras invenções e novas imitações, novas associações e novas formas de cooperação. Nessa economia afetiva, a subjetividade não é efeito ou superestrutura etérea, mas força viva, quantidade social, potência psíquica e política.

Nesse contexto, as forças vivas presentes por toda parte na rede social deixam de ser apenas reservas passivas à mercê de um capital insaciável, e passam a ser consideradas elas mesmas um capital, ensejando uma comunialidade de autovalorização. Ao invés de serem apenas objeto de uma vampirização por parte do Império, são positividade imanente e expansiva que o Império se esforça em regular, modular, controlar. A potência de vida da multidão, no seu misto de inteligência coletiva, afetação

recíproca, produção de laço, capacidade de invenção de novos desejos e novas crenças, de novas associações e novas formas de cooperação, é cada vez mais a fonte primordial de riqueza do próprio capitalismo. Uma economia imaterial que produz sobretudo informação, imagens, serviços, não pode basear-se na força física, no trabalho mecânico, no automatismo burro, na solidão compartimentada. São requisitados dos trabalhadores a sua inteligência, sua imaginação, sua criatividade, sua conectividade, sua afetividade – toda uma dimensão subjetiva e extra-econômica antes relegada ao domínio exclusivamente pessoal e privado, no máximo artístico. Como o diz Toni Negri, agora é a alma do trabalhador que é posta a trabalhar, não mais o corpo, que apenas lhe serve de suporte. Por isso, quando trabalhamos nossa alma se cansa como um corpo, pois não há liberdade suficiente para a alma, assim como não há salário suficiente para o corpo. Em todo caso, que a alma trabalhe significa, nos termos que mencionávamos há pouco, que é a vitalidade cognitiva e afetiva que é solicitada e posta a trabalhar. O que se requer de cada um é sua força de invenção, e a força-invenção dos cérebros em rede se torna tendencialmente, na economia atual, a principal fonte do valor. É como se as máquinas, os meios de produção tivessem migrado para dentro da cabeça dos trabalhadores e virtualmente passassem a pertencer-lhes. Agora sua inteligência, sua ciência, sua imaginação, isto é, sua própria vida, passaram a ser fonte de valor. A associação e cooperação entre uma pluralidade de cérebros prescinde, no limite, da mediação do capitalista, tão decisiva num regime fordista.

Podemos retomar nosso leitmotiv: todos e qualquer um, e não apenas os trabalhadores inseridos numa relação assalariada, detêm a força-invenção, cada cérebro-corpo é fonte de valor, cada parte da rede pode tornar-se vetor de valorização e de autovalorização. Assim, o que vem à tona com cada vez maior clareza é a biopotência do coletivo, a riqueza biopolítica da multidão. É esse corpo vital coletivo reconfigurado pela economia imaterial das últimas décadas que, nos seus poderes de afetar e de ser afetado e de constituir para si uma comunialidade expansiva, desenha as possibilidades de uma democracia biopolítica.

Duas palavrinhas ainda. Uma a respeito do termo biopolítica e outra a respeito do termo multidão. Biopolítico foi o termo forjado por Foucault para designar uma das modalidades de exercício do poder sobre a vida, sobre a população enquanto massa global afetada por processos de conjunto. Um grupo de teóricos, majoritariamente italianos, propôs uma pequena inversão, não só semântica, mas também conceitual e política. Com ela, a biopolítica deixa de ser prioritariamente a perspectiva do poder tendo por objeto passivo o corpo da população e suas condições de reprodução, sua vida. A própria noção de vida deixa de ser definida apenas a partir dos processos biológicos que afetam a população. Vida inclui a sinergia coletiva, a cooperação social e subjetiva no contexto de produção material e imaterial contemporânea, o intelecto geral. Vida significa inteligência, afeto, cooperação, desejo. Como diz Lazzarato, a vida deixa de ser reduzida, assim, a sua definição biológica para tornar-se cada vez mais uma virtualidade molecular da multidão, energia a-orgânica, corpo-sem-órgãos. O bios é redefinido intensivamente, no interior de um caldo semiótico e maquínico, molecular e coletivo, afetivo e econômico, aquém da divisão biológico/mecânico, individual/coletivo, humano/inumano. Assim, a vida ao mesmo tempo se pulveriza e se hibridiza, se dissemina e se alastra, se moleculariza e se totaliza, se descola de sua acepção biológica para ganhar uma amplitude inesperada e ser, portanto, redefinida como poder de afetar e ser afetado, na mais pura herança espinosana. Daí a inversão, em parte inspirada em Deleuze, do sentido do termo forjado por Foucault: biopolítica não mais como o poder sobre a vida, mas como a potência da vida.

A biopolítica como poder sobre a vida toma a vida como um fato, natural, biológico, como zoè, ou como diz Agamben, como vida nua, como sobrevida. É o que vemos operando na manipulação genética, mas no limite também no modo como são tratados os prisioneiros da Al Qaeda em Guantánamo, ou os adolescentes infratores nas instituições de "reeducação" em São Paulo – e os atos de auto-imolação espetacularizada que esses jovens protagonizam em suas rebeliões, diante das tropas de choque e das câmaras de televisão, não seriam a tentativa de reversão a partir desse “mínimo” que lhes resta, o corpo nú? [8]. Em contrapartida, a biopolítica concebida como potência de variação de formas de vida equivale à biopotência da multidão, tal como referida acima.

Ainda uma palavra sobre a multidão. Tradicionalmente o termo é usado de maneira pejorativa, indicando um agregado indomável que cabe ao governante domar e dominar. Já o povo é concebido como um corpo público animado por uma vontade única. Com efeito, como o diz Paolo Virno [9], e nas condições contemporâneas isso é ainda mais visível, a multidão é plural, centrífuga, refratária à unidade política. Ela não assina pactos com o soberano, não delega a ele direitos, inclina-se a formas de democracia não representativa. Talvez ela seja regida por uma lei-esquiza, tal como os nômades de Kafka. Numa fórmula sugestiva, Virno ainda diz: a multidão deriva do Uno, o povo tende ao Uno. O que é esse Uno do qual a multidão deriva? Para ir rápido, é o que Simondon chamou de realidade pré-individual (e que os pré-socráticos chamavam de a-peiron, Ilimitado), que Tarde referiu como virtualidade, que Marx designou por intelecto geral. Chamêmo-lo de caldo biopolítico, esse magma material e imaterial, corpo-sem-órgãos que precede cada individuação – a potência ontológica comum. De qualquer modo, por menos que se saiba que desenho pode ter uma democracia biopolítica, sabemos ao menos que ela está nas antípodas do que Canetti defininiu com sendo a lógica da massa, com sua composição homogênea e compacta, com sua direção única e líderança unitária. A multidão, na sua configuração acentrada e acéfala, no seu agenciamento esquizo, testemunha de um outro desejo e de uma outra subjetividade.

Eu concluo. Talvez Foucault continue tendo razão: hoje em dia, ao lado das lutas tradicionais contra a dominação (de um povo sobre outro, por exemplo) e contra a exploração (de uma classe sobre outra, por exemplo), é a luta contra as formas de assujeitamento, isto é, de submissão da subjetividade, que prevalecem. Talvez a explosividade desse momento tenha a ver com a extraordinária superposição dessas três dimensões.

Volta a pergunta insistente: como pensar as subjetividades em revolta? Como mapear o sequestro social da vitalidade na desmesurada extensão do Império e na sua penetração ilimitada, tendo em vista as modalidades de controle cada vez mais sofisticadas a que ele recorre, sobretudo quando ele se realavanca na base do terrorismo generalizado e da militarizaçao do psiquismo mundial? Mas como mapear igualmente as estratégias de reativação vital, de constituição de si, individual e coletiva, de cooperação e autovalorização das forças sociais à margem do circuito formal da produção? Como acompanhar as linhas de êxodo e desinvestimento ativo dos “excluídos”, evitando enclausurá-los no território da exclusão, a exemplo daqueles que os privam da dimensão subjetiva e das linhas de escape que eles secretam a cada passo? Em que medida a virtualidade da multidão extrapola o sistema produtivo atual com suas vampirizações, os modelos de subjetivação que ele engendrou (por exemplo, o do trabalhador assalariado), os cálculos do poder que ele suscita, a captura imperial e suas linhas de comando? Além de recusar o sistema de valores e de exploração hegemônicas, como cria ela

Governar

26 Jornal

Page 27: mmjornal 1

Governar

suas próprias possibilidades irredutíveis, mesmo quando isso é feito a céu aberto, nem que o Imperador esteja por perto, à espreita, espiando para ver no que poderia ele capitalizar aquilo que dele escapa?

Não sei o quanto as poucas páginas de Kafka sobre a Muralha da China refletem a paranóia do Império contemporâneo, com suas estratégias frustras para proteger-se dos excluídos que ele mesmo suscita, cujo contingente não pára de aumentar no coração da capital, numa vizinhança de intimidação crescente e num momento em que, como diria Kafka, sofre-se de enjôo marítimo mesmo em terra firme. Não sei o quanto os nômades de Kafka, na sua indiferença ostensiva em relação ao Império, não podem ajudar a pensar a lógica da multidão. Seja como for, em Kafka uma ironia fina vai solapando a solene consistência do Império. Há algo no funcionamento do Império que é puro disfuncionamento. Quando nas Conversas com Kafka Janoush diz ao escritor checo que vivemos num mundo destruído, este responde: Não vivemos num mundo destruído, vivemos num mundo transtornado. Tudo racha e estala como no equipamento de um veleiro destroçado. Rachaduras e estalos que Kafka dá a ver, e que a situação contemporânea escancara. Talvez o desafio atual seja intensificar esses estalos e rachaduras a partir da biopotência da multidão. Afinal o poder, como diz Negri inspirado em Espinosa, é superstição, organização do medo: Ao lado do poder, há sempre a potência. Ao lado da dominação, há sempre a insubordinação. E trata-se de cavar, de continuar a cavar, a partir do ponto mais baixo: este ponto... é simplesmente lá onde as pessoas sofrem, ali onde elas são as mais pobres e as mais exploradas; ali onde as linguagens e os sentidos estão mais separados de qualquer poder de ação e onde, no entanto, ele existe; pois tudo isso é a vida e não a morte. [10]

[1] F. Kafka, A grande muralha da China, São Paulo, Europa América, 1976.[2] F. Kafka, "Uma folha antiga" (texto complementar ao A grande muralha da China), in Um médico rural, trad. Modesto Carone, São Paulo, Cia das Letras, 1999.[3] G. Deleuze e F. Guattari, Kafka - Por uma literatura menor, Rio de Janeiro, Imago, 1977.[4] Cf. Toni Negri e Michael Hardt, Empire, Paris, Exils Ed. 2000.[5] F. Guattari, "Restauração da Cidade Subjetiva", in Caosmose, Rio de Janeiro, Ed. 34, 1992.[6] Glória Diógenes, Cartografias da cultura e da violência. Gangues, galeras e o movimento hip hop, São Paulo-Fortaleza, Secretaria da Cultura e do Desporto, 1998.[7] M. Lazzarato, Invention et travail dans la coopération entre cerveaux, Essai sur la théorie sociale de la différence de Gabriel Tarde, à paraître.[8] Maria Cristina Vicentin, Rebeliões da juventude, tese, inédito.[9] Paolo Virno, "Multitudes et principe d’individuation", in Multitudes n. 7, Paris, 2001.[10] T. Negri, Exílio, São Paulo, Iluminuras.

Polícia, Política, Foucault e Rancière

Excerto de Jacques Rancière, Les paradoxes de l’art politique, Le spectateur émancipé, Paris, 2008.

Excerto de Michel Foucault, Sécurité, territoire et population. Cours au Collège de France, 1977-1978, Paris, 2004. Michel FoucaultConcretamente, o que deverá ser a polícia? Deverá assumir como instrumento tudo o que seja necessário e suficiente para que a actividade do homem se torne

uma parte efectiva do Estado, das suas forças, do desenvolvimento destas, e deverá que o Estado, em troca, possa estimular, determinar, orientar essa actividade de um modo eficaz e útil para si mesmo. Resumindo, trata-se da criação da utilidade estatal, a partir e através da actividade dos homens. […]No fundo, e em geral, a polícia terá que reger – e esse será o seu objecto principal – todas as formas de, digamos, coexistência dos homens. O facto de viverem juntos, se reproduzirem, e necessitarem, cada qual, de determinada quantidade de alimentos, de ar para respirar, viver, subsistir; o facto de trabalharem, de trabalharem próximos uns dos outros em profissões diferentes ou semelhantes; e também o facto de se encontrarem num espaço de circulação, todo este tipo de socialidade (para utilizar uma palavra que é anacrónica em relação às reflexões da época) é do que a polícia se deverá ocupar. Os teóricos do século XVIII di-lo-ão: no fundo, a política ocupa-se da sociedade.

Jacques RancièreA política, com efeito, não é à partida o exercício do poder ou a luta pelo poder. O seu quadro não está desde logo definido pelas leis e instituições. A primeira questão política é saber que objectos e que sujeitos concernem a essas instituições e a essas leis, que forma de relações definem apropriadamente uma comunidade política, que objectos concernem essas relações, que sujeitos estão aptos a designar esses objectos e a discuti-los. A política é a actividade que reconfigura os quadros sensíveis no seio dos quais se definem os objectos comuns. Ela rompe com a evidência sensível da ordem “natural” que destina os indivíduos e os grupos ao comando e à obediência, à vida pública ou à vida privada, ao assigná-los desde logo a um certo tipo de espaço ou de tempo, a certa maneira de ser, de ver, e de dizer. Esta lógica dos corpos no seu lugar dentro da distribuição do comum e do privado, que é também uma distribuição do visível e do invisível, da palavra e do ruído, é aquilo a que propus nomear com o termo de polícia. A política é a prática que rompe com essa ordem da polícia que antecipa as relações de poder na própria evidência dos dados sensíveis. Ela fá-lo através da invenção de uma instância de enunciação colectiva que redesenha o espaço das coisas comuns.

Badiou, Filosofia & Política

Excertos de Alain Badiou, We need a popular discipline: Contemporary Politics and the crisis of the negative. Interview by Filippo del Lucchese and Jason Smith. In Critical Inquiry, vol. 34, nº 4, Summer 2008 pp. 645-659. Chicago: University of Chicago Press. Tradução unipop.

Desde os seus inícios, a relação da filosofia com a política tem sido fundamental. Não é algo que tenha sido inventado pela modernidade. A obra central de Platão chama-se A República, e é inteiramente dedicada às questões da cidade ou polis. Esta ligação continuou a ser fundamental através da história da filosofia. Mas eu penso que há duas maneiras básicas de estruturar esta relação.

A primeira atribui à filosofia a responsabilidade de encon-trar uma fundação para o político. A filosofia é chamada a reconstruir o político com base nesta fundação. Esta corrente argumenta que é possível localizar, para cada política, uma norma ética e que a filosofia tem como tarefa primeira a reconstrução ou nomeação desta norma, e a partir daí, julgar a relação entre esta norma e a multi-plicidade de práticas políticas. Neste sentido, então, o que abre a relação entre filosofia e política é a ideia de uma fundação bem como uma concepção ética do político.

Mas existe uma segunda orientação que é completamente diferente. Esta corrente sustenta que num certo sentido a política é primeira e que o político existe sem, antes e diferentemente da filosofia. A política seria o que eu chamo uma condição da filosofia. Neste caso, a relação entre filosofia e política seria, num certo sentido, retroactiva. Isto é, seria uma relação na qual a filosofia se situaria ela mesma dentro dos conflitos políticos de modo a clarificá-los. Hoje, na situação extremamente obscura que é o sistema geral da política contemporânea, a filosofia pode tentar clarificar a situação sem ter qualquer pretensão de a criar. A filosofia tem por condição e horizonte a situação concreta de diferentes práticas políticas, e tentará, dentro destas condições, encontrar instrumentos de clarificação, legitimação, e daí por diante. Esta corrente leva a sério a ideia de que a política é em si mesmo uma autonomia de pensamento, de que é uma prática colectiva com uma inteligência própria.[…]A filosofia tenta clarificar o que eu chamo a situação múltipla das políticas concretas e legitimar as escolhas feitas neste espaço.

>>

27Jornal

Page 28: mmjornal 1

A cidade constitui-se metrópole a partir do momento em que uma série de equipamentos e edifícios ligados em rede transformam cada via de acesso num fluxo produtivo. Uma teia de ligações, configurada por sistemas de transportes públicos, pontes e vias rápidas, redes sem fios e circuitos de videovigilância, é diariamente activada pela circulação dos habitantes da metrópole, os quais percorrem os escritórios, as fábricas, as salas de espectáculo, as lojas, as escolas, os hospitais, os jardins e os centros comerciais em que se produz e reproduz a vida social. A metrópole assemelha-se então a uma fábrica social, lugar de mobilização cooperativa da força de trabalho, onde se encontram as matérias-primas, circulam as mercadorias e onde se pratica o consumo, alimentando os circuitos de uma economia global.

Esta natureza produtora da metrópole encontra eco em alguns debates. Quando governantes e urbanistas invocam a imagem da “cidade criativa”, em parte reconhecem a natureza produtora da vida espiritual metropolitana. E quando nos falam acerca da necessidade de criação de uma imagem de “marca” para uma cidade, de algum modo repetem o gesto empresarial de criação do logotipo, símbolo que se inscreve no produto e cuja compra permite consumir um certo estilo de vida. Entretanto, a metrópole enquanto fábrica social extravasa largamente o que pode ser contido por aquelas formulações.

Veja-se o caso da “cidade criativa”, fórmula que tende a reduzir a produção metropolitana a uma dimensão elitista, reduzindo a metrópole dos produtores – que liga margem sul e margem norte, que engloba centros e periferias, que articula indústria, serviços e comércio – a uma pequena e mui nobre cidade de criadores, de acesso restrito a alguns grupos profissionais de índole artística, uma cidade preferencialmente localizada em novos bairros de charme que emergem no interior dos velhos bairros populares dos centros históricos. À contra-corrente desta concepção emergente, o tema da primeira sessão deste seminário de quatro dias começará por debater o conceito de “cidade criativa”.

No segundo dia, com a ajuda de quem trabalha a metrópole em planos tão diversos como as políticas de transporte e as representações cinematográficas, transitamos da cidade dos criadores à metrópole dos produtores. Esta passagem permitirá que, no terceiro dia, analisemos o governo metropolitano, debruçando-nos nomeadamente sobre a sua implicação no trabalho de arquitectos e urbanistas. O seu traço livre constitui muitas vezes a face mais visível de práticas e discursos de “renovação urbana” apontados à requalificação de zonas degradadas e à valorização do espaço público, mas a arte e engenho de arquitectos e urbanistas também participa, de forma menos evidente, de estratégias dirigidas à administração de pessoas e bens.

Finalmente, no quarto dia, focaremos os conflitos que ocorrem na metrópole e que são habitualmente tratados de forma despolitizada e avulsa (as chamadas “questões locais”) ou enquanto questões do foro criminal (a invenção dos “bairros perigosos”). Neste debate em torno das lutas metropolitanas, à procura de velhas e novas ligações entre antagonismos diversos, contaremos com a participação de activistas envolvidos nas lutas pelo melhoramento dos transportes públicos, membros de comissões de moradores, dinamizadores de associações culturais, etc.

mm café

segunda 28 Setembro a quinta 1 Outubro

18h30

seminário para debater a cidade

A metrópole, fábrica social é um seminário para debater a cidade. Em 4 dias consecutivos, os

convidados aprofundam temas ligados à cidade contemporânea, desde a muito popular

noção das “cidades criativas” às “lutas metropolitanas”.

A metrópole, fábrica social

28 Setembro Para que servem as “cidades criativas”? com Pedro Costa e João Pedro Nunes

29 Setembro Da cidade dos criadores à metrópole dos produtores com Luís Vasconcelos, Tiago Baptista e Renato Carmo

30 Setembro O governo metropolitano com Tiago Saraiva, João Seixas e Susana Durão

1 Outubro As lutas metropolitanas com Eugénia Margarida, João Branco e Chullage

Entrada Livre Organização Teatro Maria Matos e Unipop www.u-ni-pop.blogspot.com

28 Jornal

Page 29: mmjornal 1

João Pedro Nunes, sociólogo, é Investigador no Centro de Investigação e Estudos em Sociologia, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e Empresa (ISCTE) e lecciona sociologia urbana no departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH), onde se formou e completou o doutoramento. Tem investigado o desenvolvimento urbano da periferia de Lisboa nas últimas décadas.

Pedro Costa é economista, formado no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), e professor no Departamento de Economia do ISCTE. Tem trabalhado, sob diversas perspectivas, sobre questões do planeamento urbano e do desenvolvimento regional e local.

Luís Vasconcelos, antropólogo, licenciado no ISCTE, tem levado a cabo investigação no campo das festas de música electrónica, com base no projecto de doutoramento intitulado Percepção e Modernidade. Alucinogénios no Portugal Contemporâneo. É investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS).

Tiago Baptista, historiador, tem diversos trabalhos sobre a História do cinema em Portugal. Trabalha como conservador do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM) da Cinemateca Nacional - Museu do Cinema.

Renato Carmo é Investigador no Centro de Investigação e Estudos em Sociologia (ISCTE). Doutorou-se pelo ICS em Ciências Sociais com uma tese sobre os processos de urbanização dos meios rurais. Tem dedicado os seus estudos a temas como a desigualdade social e a marginalização territorial.

Tiago Saraiva é Investigador Auxiliar do ICS. Doutorou-se pela Universidade Autónoma de Madrid em 2004 com uma tese em História das Ciências sobre o papel dos laboratórios na

construção da cidade moderna. Publicou recentemente, em co-autoria, Cidade & Cidadania (Lisboa, Imprensa de Ciências Sociais, 2008).

João Seixas é Investigador Auxiliar do ICS. Doutorado em Geografia Urbana pela Universidade Autónoma de Barcelona e em Sociologia do Território e do Ambiente pelo ISCTE, tem desenvolvido as suas investigações em torno das dinâmicas contemporâneas de governação urbana, bem como das lógicas e perspectivas do desenvolvimento sócio-cultural das cidades.

Susana Durão é Investigadora Auxiliar do ICS. Doutorada em Antropologia pelo ISCTE (2006), tem desenvolvido pesquisa na área do policiamento, patrulha e proximidade em Portugal, tendo particular atenção ao trabalho desenvolvido pela Polícia de Segurança Pública.

Eugénia Margarida é membro da comissão de moradores do Bairro das Amendoeiras, em Chelas. Associação que, em 2005 e 2006, desenvolveu uma interessante mobilização contra o aumento de rendas imposto pela Fundação D. Pedro IV e pela defesa do direito à habitação condigna.

João Branco é membro do grupo Massa Crítica. Com origem em São Francisco (EUA) e realizado actualmente em mais de 350 cidades de todo o mundo, a Massa Crítica propõe um passeio no meio da cidade feito em transportes não poluentes, encorajando assim outras formas de mobilidade urbana.

Chullage é músico de intervenção e membro da Khapaz, associação sediada na Arrentela e pólo dinamizador da cultura local e da participação cívica. Tanto a sua música, como a sua intervenção política reflectem os problemas sociais existentes nas periferias das grandes metrópoles: a pobreza, o desemprego e precariedade laboral, a criminalidade e a violência policial.

29Jornal

Page 30: mmjornal 1

mm café

terças 18h30

13 Setembro a 24 NovembroEntrada Livre Organização Teatro Maria Matos e Unipop www.u-ni-pop.blogspot.com

13 de OutubroPolítica, razão e emoçãoCom Manuel Villaverde Cabral e Manuel Loff

A frequente utilização da ideia de populismo tem levado à sua banalização, a ponto de ser legítimo perguntar se nos tempos que correm populismo não é apenas a forma mais rápida de desautorizar projectos políticos de que se discorda [veja-se Laclau no dossier]. Simultaneamente assistimos a uma crescente tecnicização do debate político, definindo-se a política enquanto assunto de especialistas que deverá privilegiar um tratamento preferencialmente racional, de acordo com o qual uma qualquer relação entre política e emoção reveste um sentido patológico.

Autor de O operariado nas vésperas da República e Cidadania e Equidade política em Portugal, entre outras obras, Manuel Villaverde Cabral é Investigador-Coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Lisboa, sendo actualmente Vice-Reitor da Universidade de Lisboa.

Manuel Loff é historiador, professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e tem vários trabalhos na área da História. Publicou recentemente O nosso século é Fascista! - O mundo visto por Salazar e Franco (1936-1945).

20 de OutubroPolíticas de identidadeCom Miguel Vale de Almeida e Marcos Cardão

Nas últimas décadas, a palavra identidade tornou-se um conceito recorrente no debate político [veja-se Hobsbawm no dossier]. A nível dos movimentos sociais tem sido frequentemente defendida a necessidade de construir identidades que, fundindo dimensões políticas e culturais, permitam a várias figuras subalternas – colonizados, camponeses, indígenas, negros, mulheres, gays – forjar um poder de resistência e transformação que reaja às políticas de identidade dominantes, baseadas no colonialismo, no racismo, no machismo ou na homofobia. Entretanto, este identitarismo estratégico tem sido igualmente criticado pelo facto de ser incapaz de trabalhar uma alternativa que coloque em causa a própria ideia de uma política baseada na noção de identidade, deixando assim por problematizar categorias como nação, género ou família.

Miguel Vale de Almeida é antropólogo e professor no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE). É também activista em movimentos LGBT. Tem várias obras publicadas sobre corpo, “raça” e género. Publicou recentemente A chave do armário – homossexualidade, casamento e família.

Marcos Cardão é historiador e bolseiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). Realiza presentemente o seu doutoramento em História, no ISCTE, com uma tese intitulada Fado tropical: o luso-tropicalismo na segunda metade do Século XX.

7 debates

A política para além da política

Política. Provavelmente, nas duas últimas décadas, não haverá palavra cuja crise tenha sido mais vezes anunciada. A simples enunciação do termo parece suscitar cansaço, fastio, ou, na melhor das hipóteses, um comentário irónico, céptico, cínico. E contudo não existe outro caminho que não o de voltar, uma e outra vez, a discutir política, a questão estando no que se entende por política. Por isso dizemos que este ciclo de sete debates propõe levar a política para além da política e a fórmula sinaliza a vontade de extravasar os debates que predominam na agenda da política institucional, reunindo, preferencialmente, analistas políticos, ministros, jornalistas, deputados, técnicos de sondagens ou cientistas políticos. Decorrendo ao fim das tardes de terça-feira no mmcafé, este ciclo trata então de construir um mapa de problemas, da ideia de representação à questão do populismo, passando pela política da plebe ou da multidão, do conceito

de biopolítica às políticas de identidade e abordando a relação entre política e polícia.

30 Jornal

Page 31: mmjornal 1

27 de OutubroA política “a partir de baixo”Com Fátima Sá e Paula Godinho

Quando falamos de política tendemos a conceber uma actividade profissional que ocupa o quotidiano de executivos governamentais e representantes parlamentares. Entretanto sabemos que esta limitação destitui de politicidade a actividade dos que estão à margem daqueles círculos institucionais. Importa por isso recolocar a relação entre política e grupos menos privilegiados num plano de debate que não esteja subordinado aos critérios definidos no quadro daqueles círculos institucionais, critérios estes que tendem a ignorar o que se poderia entender como experiências plebeias da política, experiências que remetem para conceitos como “economia moral da multidão” ou “armas dos fracos” e ecoam a história de inúmeros casos de resistência quotidiana e rebeldia popular [veja-se Thompson no dossier]. Fátima Sá é historiadora e professora no ISCTE. Tem trabalhado sobre História dos movimentos sociais, História da cultura popular e História conceptual. Entre outros, publicou Rebeldes e Insubmissos – Resistências Populares ao Liberalismo (1834-1844).

Paula Godinho é antropóloga, leccionando na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH). Tem desenvolvido pesquisa, entre outros temas, em torno de movimentos sociais e contextos de fronteira. Publicou, entre outras obras, Memórias da Resistência Rural no Sul – Couço (1958-1962).

3 de NovembroA crise da representaçãoCom José Bragança de Miranda e Ricardo Noronha

De forma a dar conta da distância entre uma elite de representantes e o conjunto dos representados, é amiúde referido que vivemos em plena crise da representação. Assim, os debates em torno da abstenção ou dos votos em branco, ou a referência ao enfraquecimento dos poderes dos Estados nacionais no quadro da globalização, alimentam a ideia de uma crescente crise da representação. Paralelamente, a problemática da representação convoca um debate cujo alcance supera a actualidade político--institucional. No quadro da política, mas não só aqui, o ideal de representação parece pressupor a possibilidade de uma relação incorruptível entre quem representa e aquilo que é representado. De tal modo assim seria que, na relação estabelecida entre governante e governado, o sujeito primeiro reflectiria transparentemente o objecto representado [veja-se Bourdieu no dossier]. Contudo, se não estivermos seguros desta transparência, o debate da representação deverá começar por perguntar se a representação é sempre um lugar de crise e, por outro lado, questionar se é possível pensar em política e em democracia além da representação.

José Bragança de Miranda é professor de Ciências da Comunicação na FCSH e professor convidado na Universidade Lusófona. Entre outros, publicou Queda sem fim, Teoria da Cultura e mais recentemente Corpo e Imagem.

Ricardo Noronha é historiador e investigador do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, onde realiza o seu doutoramento acerca da nacionalização da banca no pós-25 de Abril.

10 de NovembroPolícia e políticaCom Manuel Deniz Silva e Tiago Pires Marques

Em vários países do século XX, a memória da polícia política remete necessariamente para os tempos da ditadura e sabemos que a crítica desses tempos cria uma oposição radical entre a ideia de polícia e a ideia de política. E hoje ainda, quando se trata de debater a relação entre política e polícia, é de um exercício físico e violento do poder de Estado que estamos muitas vezes a falar. Entretanto, polizei, policy, política, polícia, são palavras que percorrem um mesmo universo histórico, num quadro de continuidade e de ruptura que envolve a administração interna, a ordem pública, o direito, a estatística. Neste contexto, e partindo das aproximações de Michel Foucault e Jacques Rancière [veja-se os textos de ambos no dossier], esta sessão procura situar o debate político à luz de um mais amplo entendimento da relação entre polícia e política.

Manuel Deniz Silva é investigador do Instituto de Etnomusicologia – Centro de Estudos de Música e Dança, da FCSH. Realizou doutoramento em Paris sobre a História da Música em Portugal e trabalha actualmente sobre música e cinema.

Tiago Pires Marques é historiador e investigador na Universidade de Paris I. A sua investigação tem incidido sobre a História do direito penal, do sistema prisional e da criminologia. Publicou, entre outros, Crime e Castigo no Liberalismo em Portugal.

17 de NovembroA biopolíticaCom António Guerreiro e Nuno Nabais

Nos últimos anos, a biopolítica de Michel Foucault tornou-se um sugestivo lugar de debate. O recurso ao conceito parece anunciar que a discussão da política terá que decorrer num plano que ultrapassa largamente o domínio do institucional, alastrando-se a todas as esferas da vida, no momento em que emergem novas técnicas de governo da população. Entretanto, e a partir da obra de autores como Giorgio Agamben, Roberto Esposito ou Antonio Negri, a noção de biopolítica tem sido objecto de interpretações diversas, por vezes até contraditórias, nuns casos apresentando o conceito como “grito de alerta” contra o actual estado das coisas, noutros interpretando-o como gesto de abertura de novos campos de poder político [veja-se Peter Pàl Pelbart no dossier]. António Guerreiro é crítico no jornal Expresso, tradutor e ensaísta. Tem trabalhado particularmente autores como Walter Benjamin e Giorgio Agamben.

Nuno Nabais é professor de filosofia na Universidade de Lisboa e autor, entre outros, de A metafísica do trágico - estudos sobre Nietzsche. É ainda coordenador da Fábrica de Braço de Prata.

24 de NovembroDa ciência política à filosofiaCom Bruno Peixe, Eduardo Pellejero e

Lisete Rodrigues

Ao longo dos últimos anos, os cientistas políticos assumiram um lugar proeminente no comentário e na análise política. Assumindo frequentemente a figura do especialista e do perito, os seus comentários tendem a focar preferencialmente dinâmicas eleitorais e institucionais. Em Portugal, a Ciência Política tem conhecido assinalável desenvolvimento académico, demarcando-se da História, da Antropologia ou da Economia Política. Entretanto, nos últimos anos também assistimos a uma recuperação da filosofia enquanto discurso que é condição da política – e vice-versa [veja-se Badiou no dossier] – e que em certos casos vem mesmo rejeitar a própria ideia de uma articulação entre ciência e política. Esta sessão procura debater o lugar do conhecimento e das ideias na vida política.

Bruno Peixe é investigador da NUMENA. Economista de formação, realiza mestrado em Filosofia e tem-se interessado particularmente pela obra de Alain Badiou.

Eduardo Pellejero realiza actualmente pós-doutoramento em Filosofia, na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Técnica de Lisboa. Tem vários trabalhos publicados, nomeadamente acerca de Gilles Deleuze.

Lisete Rodrigues é doutoranda em filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde desenvolve uma tese sobre o pensamento político de Espinosa, Hannah Arendt e Alain Badiou.

31Jornal

Page 32: mmjornal 1

A frase Disco é Cultura, comum em muitas edições discográficas brasileiras, era simples e nela lemos que nem só os discos de música clássica ou jazz mais erudito tinham o direito de ascender à categoria de Cultura com cê maiúsculo. Na verdade, qualquer disco é um artefacto cultural, tem uma história, representa uma época e, através dele, tem-se acesso a múltiplas outras histórias, tantas quantas as pessoas que o adquirem.Com estas sessões propomos a algumas pessoas que escolham discos de vinil que considerem importantes e que partilhem em público o que sabem sobre eles e o que sentem ao ouvi-los. Sem limites de género. Ainda, por excelência, o formato a que associamos a palavra Disco (o CD foi quase sempre CD), o álbum ou single em vinil transporta significados mais tangíveis que qualquer outro suporte para música, seja pelo manuseamento do próprio disco, pelo impacto

visual da capa ou, defendem os incondicionais, pela superioridade do som face a formatos digitais.Queremos, no entanto, realçar o puro valor emocional e o carisma de um disco, traçar-lhe um percurso nas mãos do seu dono, manter viva a tradição de contar histórias e, porque é essencial, mostrar/ouvir a música de que se fala. No espírito das tertúlias literárias mas livres de academismos que possam erguer barreiras, estas sessões acontecerão em formato de programa de rádio gravado ao vivo e com emissão na Rádio Oxigénio (102.6).Super disco era o título de algumas colectâneas de êxitos nos anos 70 e 80, uma espécie de disco com poderes reforçados pelas mais importantes canções nas listas de vendas. Para o que nos interessa, Super Disco é qualquer um que adquira poderes especiais nas mãos de quem o defende.

Encontros com artistas

mm café

18h30Entrada Livre

Super Discomm café

sábados, 18h30

19 Setembro, 17 Outubro

14 Novembro e 12 Dezembro

Entrada Livre

Oferecemos ao público a possibilidade de se encontrar com muitos dos artistas que se apresentam no Teatro Maria Matos. Nestes encontros procuraremos aproximar-nos do universo dos criadores convidados: o que os move, como trabalham, o que lhes interessa, porque fazem o que fazem. Os encontros serão informais, informativos, surpreendentes, divertidos… serão o que fizermos deles. E os formatos podem variar bastante.

sexta 18 Setembro Xavier Le Roy

sexta 2 Outubro Cão Solteiro

sábado 10 Outubro Rabih Mroué

domingo 15 Novembro Lúcia Sigalho

quinta 19 Novembro Michel Schweizer, Dany-Robert Dufour (no espaço alkantara) e Jean-Pierre Lebrun

sábado 28 Novembro Faustin Linyekula

quinta 3 Dezembro Tónan Quito e os actores do projecto Ivanov que estreia em Março 2010

sexta 11 Dezembro João Garcia Miguel

super disco

Super Disco um programa da Flur e do Teatro Maria Matos com os apoios da Rádio Oxigénio e da MK2

32 Jornal

Page 33: mmjornal 1

em Setembro, Outubro, Novembro e Dezembro: performance, teatro, dança, música, oficinas, visitas ao palco,espectáculos com estudantes

educativo projecto

..)

Page 34: mmjornal 1

Sala principal

sábado 31 Outubro e domingo 1 Novembro 16h00

segunda 2 Novembro 10h00

terça 3 Novembro 10h00 e 14h30

quarta 4 Novembro 10h00

A partir dos 7 anos Criança 2,5€ | Adulto 5€

No livro Histórias em verso para meninos perversos o escritor inglês Roald Dahl pega em duas conhecidas histórias infantis O capuchinho vermelho e Os três porquinhos e sacode o pó dos seus famosos arquétipos. Assim, agressores e vítimas trocam agilmente de lugar e, nem a menina capuchinho ficou tão indefesa, nem o lobo tão bestial ou o porco tão feliz no final. Sónia Baptista transforma o livro (integrado no Plano Nacional de Leitura) numa proposta transdisciplinar, em que três intérpretes se desdobram, encarnam e povoam palavras, músicas e imagens em movimento.

direcção artística, concepção musical, textos originais Sónia Baptista intérpretes e co-criadores Sónia Baptista, Miguel Bonneville, Rogério Nuno Costafilme e vídeo Rui Ribeirodesenho de luz Pedro Machadoprodução executiva João Lemosprodução Ninho de Víborasuma encomenda FCD/Serviço Educativo do Teatro do Campo Alegre para 2009co-produção Teatro Maria Matos e Festival Temps d’Images

projecto educativo | performance | co-produção

Um capucho, dois lobos e um porco vezes três (a partir de Roald Dahl)

Sónia Baptista

Espectáculo integrado no festival Temps d’Images

apresentação no âmbito da rede

co-financiada por

34 Jornal

Page 35: mmjornal 1

projecto educativo | teatro | co-produção

Vermelho, encarnado, red, rouge, rojo, rubro, muitos são os nomes pelos que é conhecido por todo o mundo aquele que tocou as cerejas e lhes deu cor, que beijou os lábios e as faces de todas as princesas, que decidiu morar no interior dos homens e dos bichos pintando-lhes o coração e corando-lhes as veias. Rubro conta a história da cor vermelha através da manipulação ilusionista de objectos, de canções e de pequenas histórias baseadas na história real do mundo.

RubroSala de ensaios

quarta 2 a segunda 7 Novembro

durante a semana > 10h00

sábado > 16h00

domingo > 11h00 e 16h00

3 aos 5 anos Criança 2,5€ | Adulto 5€

concepção Magma / Marta Bernardes e Ignácio Martinez de Salazar interpretação Marta Bernardes interpretação musical Ignácio Martinez de Salazar composição musical e videográfica Ignácio Martinez de Salazar figurinos, cenografia, desenho de luz e som Marta Bernardes e Ignácio Martinez de Salazar co-produção Magma e Teatro Maria Matos

Marta Bernardes e Ignácio Martinez de Salazar

35Jornal

Page 36: mmjornal 1

Sala principal com bancada

domingo 20 Dezembro 18h00

Entrada livre (sujeita à lotação da sala), mediante levantamento de bilhete no dia do espectáculo

projecto educativo | teatro | produção

Projecto Governar

O Projecto Educativo convidou o dramaturgo, actor e encenador Tiago Rodrigues a trabalhar durante três meses com um grupo de estudantes do ensino secundário sobre os temas da governação e do poder. O projecto parte da investigação e do levantamento fotográfico das representações de poder na cidade, para depois trabalhar o material com o objectivo de criar uma peça de teatro, que será apresentado na sala principal do Teatro Maria Matos.

Senhores deputados, senhor Presidente da Assembleia, Senhor Primeiro Ministro. O meu próximo espectáculo é criado em colaboração com estudantes do ensino secundário. O tema do projecto é Governar. O texto do espectáculo será escrito a partir de conversas e experiências realizadas com os estudantes ao longo de alguns meses, porque... (som de vozes indignadas) Eu pedia aos senhores deputados que não me interrompessem! Ouvi com serenidade e em silêncio as vossas

intervenções anteriores. Agradecia que mostrassem o mesmo respeito enquanto é a minha vez de falar. Compreendo que aquilo que estou prestes a dizer poderá ser incómodo, mas vivemos num Estado de Direito, numa democracia que salvaguarda a liberdade de expressão de qualquer cidadão. (Som de gargalhadas abafadas.) Seja como for, vinha a este hemiciclo apenas para vos avisar de que as consequências sociais, económicas e políticas deste espectáculo são absolutamente imprevisíveis. Primeiro pensaremos em conjunto e depois mostraremos aquilo que pensámos. O que a sociedade fará com este espectáculo é algo que... (O Presidente da Assembleia pede-me que termine a intervenção.) Vou já terminar, senhor Presidente. Como eu dizia, o impacto deste espectáculo é imprevisível, mas ficamos de consciência tranquila, porque vos deixámos aqui este aviso. Obrigado e até Dezembro.

Tiago Rodrigues

Tiago Rodrigues e estudantes do ensino secundário

36 Jornal

Page 37: mmjornal 1

Vamos experimentar várias formas de governo com personagens da política, directamente saídas de histórias de todo o mundo e de todos os tempos, e travar conhecimento com algumas personagens curiosas que se deslocam vagarosamente nas malhas do sistema, como, por exemplo, uma tartaruga chamada burocracia.Em conjunto, tentaremos encontrar respostas para uma série de perguntas: será que o rei manda sempre? É bom mandar? Será que todos sabemos mandar? E quem

decide? E como se decide? E quem decide como se decide? O que é a política? O que é uma assembleia? A família é um governo ou um desgoverno? Quem manda lá em casa? É fácil ser justo? Quem inventa leis? E elas servem para quê?Decidindo cada passo do nosso percurso em conjunto, em assembleias instantâneas e rápidas que tomam decisões sobre o rumo do trabalho, iremos ouvir histórias, criá-las e recriá-las, experimentar o teatro da política e trocar muitas vezes de papéis entre governantes e governados. Vamos a votos?

Nesta oficina vamos construir um reino imaginário com regras, tarefas e actividades onde todos vão poder reinar e governar, brincar aos líderes e assumir a liderança. Construir regras e leis que são jogos de actividades simples e divertidas, recorrendo ao movimento do nosso corpo e a objectos que fazem parte do imaginário das histórias reais. No final, contaremos os votos para ver quem conseguiu governar o jogo com mais imaginação.

Catarina Requeijo e Inês Barahona

É bom mandar? Histórias de tartarugas burocráticas

e outros seres com plenos poderes

Sala de ensaiossábado 19 domingo 20 sábado 26 domingo 27 Setembro 11h00 e 16h00

A partir dos 8 anos (pais e filhos)

Duração 2h Criança 2€ | Adulto 4€

Marta SilvaO rei ri

Sala de ensaiossábado 3 sábado 10 Outubro 16h00domingo 4 domingo 11 Outubro 11h00

4 aos 6 anos (pais e filhos)

Duração 1h30 Criança 1,5€ | Adulto 3€

projecto educativo | oficinas

37Jornal

Page 38: mmjornal 1

Há espaços que são tão especiais que precisam de ser olhados com olhos de sentir. Abrimos as portas do teatro para mostrar o interior de uma operação mágica que acontece nos camarins, no palco e por todo o teatro, sempre que há um espectáculo. Estão todos convidados!

3 aos 5 anosNesta visita as pontas dos dedos são olhos para tocar, sentir e conhecer os cantos e palcos do teatro. Tudo numa visita.

6 aos 12 anosUma viagem ao interior do teatro para descobrir os segredos que se escondem por trás do palco. De quantas partes se faz um teatro?

A partir dos 13 anosVisita ao teatro. A história e a arquitectura do edifício num percurso pelo seu interior. As formas e as funções por partes até descobrir o todo.

monitores da equipa do Teatro Maria Matos Rosa Ramos e Vasco Correia

Dentro de Cenaàs quartas, a partir de 28 Outubro

3 aos 5 anos | 6 aos 12 anos | a partir dos 13 anosGratuito, mediante marcação prévia

Convidamos o leitor a experienciar o prazer da leitura, descobrindo as suas capacidades criativas através de uma abordagem ao movimento do corpo, à manipulação do livro e à utilização da voz. Ampliar a ideia de contar, (re)contar e (re)escrever histórias.Como acrescentar um ponto ao contar uma história? Como explorar o desenvolvimento da função simbólica? Esta será a questão essencial desta oficina mostrando como o corpo, a voz, a relação com os objectos e as palavras são instrumentos fundamentais para a construção de uma leitura singular de uma história.

Manuela PedrosoHistórias de corpo inteiro

Sala de ensaiossábado 17 Outubro 10h00 > 13h00 e 14h30 > 17h30

Duração 6h Preço único 18€

projecto educativo | oficina para professores, educadores e formadores

projecto educativo | visitas

38 Jornal

Page 39: mmjornal 1

TeatroMariaMatos

Bilheteira

aberta todos os dias das 15h00 às 20h00em dias de espectáculo, até 30 minutos depois do início do mesmoTel. 218 438 [email protected]

Outros locais de venda Fnac | ticketline 707 234 234 | www.ticketline.pt

Reservas

Levantamento prévio obrigatório até dois dias antes do espectáculo. Só são válidas reservas realizadas até 48h antes do dia do espectáculo.

Classificação

Os concertos têm classificação “maiores de 6 anos”. Os restantes espectáculos incluídos neste programa têm classificação “maiores de 12 anos”.

Descontos*

desconto 50% estudantes, maiores de 65 anos, pessoas com deficiência e acompanhante, desempregados, profissionais do espectáculo, funcionários da CML e empresas municipais (extensível a acompanhante)

desconto 30% grupos com 10 ou mais pessoas (com reserva e levantamento antecipado)

5€ preço único para menores de 30 anos

projecto educativo - espectáculos5€ preço único adultos2,5€ preço único menores de 13 anos

*descontos não acumuláveis

Co-produções TMM em digressão em 2009

Teatro Praga Hamlet sou eu estreia: Outubro 2007Torres Novas, Teatro Virgínia, 16 e 17 de Fevereiro 2009Montemor-o-Novo, Espaço do Tempo, 19 de Abril 2009Porto, Teatro do Campo Alegre, 19 e 20 de Junho 2009Viseu, Teatro Viriato, 2 e 3 de Novembro 2009 Portimão, Tempo - Teatro Municipal de Portimão, 5, 6, 7 e 8 de Novembro 2009Guimarães, Centro Cultural Vila Flor, 3, 4 e 5 de Dezembro 2009

Martim Pedroso Purgatório estreia: Maio 2009Itália, Napoli Teatro Festiva, 16 e 17 de Junho 2009 Alcanena, Cine-Teatro São Pedro – Festival Materiais Diversos, 19 de Novembro 2009

Mala Voadora Chinoiserie estreia: Maio 2009Montemor-o-Velho, Festival Citemor, 13 e 14 de Agosto 2009

Cão Solteiro + Vasco Araújo A Portugueza estreia: Setembro 2009Alcanena, Cine-Teatro São Pedro – Festival Materiais Diversos, 26 de Novembro 2009

Margarida Bettencourt e Ana Mira Corpo - confiar no desconhecido estreia: Dezembro 2009Palmela, FIAR, Dezembro 2009Torres Vedras, Teatro Municipal de Torres Vedras, Dezembro 2009

Como chegar

Teatro Maria MatosAvenida Frei Miguel Contreiras, 521700-213 lisboa

comboio Roma-Areeirometro Romaautocarros 7, 35, 727, 737, 767

Quero receber informação do Teatro

Para receber o nosso jornal e newsletter consulte o nosso site www.teatromariamatos.pt

menores30 anos

5€No Teatro Maria Matos, os jovens até 30 anos têm acesso a todos os espectáculos por 5€

Page 40: mmjornal 1

Equipadirector artístico Mark Deputterprogramador música Pedro Santosprogramadora projecto educativo Susana Menezesassistente de programação Laura Lopesgestora Andreia Cunhaadjunta de gestão Glória Silvadirector de produção Joaquim Renéadjunta direcção de produção Mafalda Santosprodutores executivos Ana Gomes, Hugo Quintaestagiária de produção Filipa Moreiraprodutora do projecto educativo Rafaela Gonçalvesdirectora de comunicação Catarina Medinagabinete de comunicação Rita Tomásimagem e design gráfico Luciana Fina e Moritz Elbertassistente design gráfico Maria José Peyroteodirectora de cena Rita Monteiroadjunta direcção de cena Silvia Lécamareira Sandra Ferreiradirector técnico Zé Ruiadjunto direcção técnica André Caladotécnicos de audiovisual Félix Magalhães, Hugo Alves, Miguel Mendes, Rui Monteirotécnicos de iluminação/palco Catarina Ferreira, Luís Balola, Luís Duarte, Paulo Lopesbilheteira/recepção Carla Cerejo, Rosa Ramos, Vasco Correiafrente de sala Complet’arte – Isabel Clímaco (chefe de equipa), Cristina Almeida, Estevão Antunes, Fernanda Abreu, Marta Dias, Ricardo Simões, Sandra Lameira, Sérgio Torres

Teatro Municipal Maria Matos

TeatroAv. Frei Miguel Contreiras, 521700-213 Lisboa

EscritóriosRua Bulhão Pato, 1B1700-081 Lisboa

[email protected] 218 438 800 geral218 438 801 bilheteira

www.teatromariamatos.pt

40.ºAniversário

mm jornal proprietário EGEAC, EEMmorada Rua Bulhão Pato, 18, 1700-081 Lisboadirector Mark Deputtereditora Catarina Medinadesign e fotografia na capa Luciana Fina e Moritz Elbertsede de redacção Rua Bulhão Pato, 18, 1700-081 Lisboatiragem 40 000 exemplaresperiodicidade quadrimestraltipografia Mirandela morada Rua de Rodrigues Faria, 103, 1300 Lisboa

Parceiros Media Partners