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Universidade do Porto Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física Modelação táctica do jogo de Futebol Estudo da organização da fase ofensiva em equipas de alto rendimento Júlio Manuel Garganta da Silva Junho de 1997

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Universidade do Porto Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física

Modelação táctica do jogo de Futebol

Estudo da organização da fase ofensiva em equipas de alto rendimento

Júlio Manuel Garganta da Silva

Junho de 1997

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Universidade do Porto Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física

Modelação táctica do jogo de Futebol

Estudo da organização da fase ofensiva em equipas de alto rendimento

Dissertação apresentada às provas de doutoramento no ramo de Ciências do Desporto, nos termos do Decreto-Lei n9

216/92 de 13 de Outubro.

Júlio Manuel Garganta da Silva

Junho de 1997

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Agradecimentos

Um trabalho de doutoramento, pelas características de que se reveste, deixa necessariamente uma marca indelével no seu autor e, simultaneamente, revela as limitações do mesmo face ao tema que se propôs abordar.

Tal tarefa decorre, todavia, de diversos contributos, que no seu conjunto viabilizam a obra final.

Como tal, não seria justo deixar de manifestar o nosso mais sincero agradecimento:

Ao Doutor António Marques, orientador deste trabalho. Devemos-lhe admiração, respeito e gratidão. Pelo referencial humano e profissional que constitui; pela solidariedade e amizade sem vacilações.

Ao Doutor José Maia, co-orientador do presente trabalho, pela competência, pela sólida amizade e disponibilidade incondicional.

Ao meu irmão, Rui Garganta, porque com o seu apoio pessoal, vigilante e quotidiano, viabilizou o trabalho que aqui apresentamos. Também pelo auxílio precioso na organização gráfica do texto.

Ao saudoso Professor Walter Dufour, da Universidade Livre de Bruxelas. Pelo seu exemplo de humanismo e capacidade científica. Pela forma como nos recebeu para com ele trabalhar e discutir os problemas da análise do jogo em Futebol. Ao seu assistente Marc Verlinden agradecemos também a colaboração prestada na instalação do CASMAS e no seu aperfeiçoamento.

Ao Professor Jean-Francis Gréhaigne, da Universidade de Besançon, cujos ensinamentos a propósito da organização do jogo em Futebol muito nos ajudaram. Também pela hospitalidade com que nos recebeu para com ele trabalhar.

Ao Jorge Pinto, pelas achegas e incentivos constantes. Porque tem sido, desde o primeiro momento da nossa carreira académica, um companheiro de jornada atento e insubstituível.

Aos alunos da FCDEF-UP, Abílio Fernandes, Carlos Ribeiro, Duarte Morgado, Fernando Faria, Paulo Maia e Tiago Sousa, devemos o nosso mais sincero reconhecimento, pela participação intensiva na fase de recolha de dados e pela maturidade que demonstraram no trabalho de equipa.

Aos nossos companheiros do CEJD, Amândio Graça, António Marques, Carlos Moutinho, Dimas Pinto, Fernando Tavares, Isabel Mesquita, Jorge Pinto e José Oliveira, peia sábia gestão do culto da diferença. Por serem "solidários praticantes" e amigos de todas as horas.

Ao Doutor Paulo Cunha e Silva pelos ensinamentos a propósito da "coisa" caológica.

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Ao Dr. Vítor Frade, pelas conversas a propósito deste trabalho. Pelos horizontes que nos rasgou, na paixão contagiante com que, a todas as horas, vive a aventura do conhecimento.

Ao Paulo Santos e ao Rui Faria, pela cedência oportuna dos respectivos Mac's portáteis, quando "trabalhar longe" era menos difícil. Também pelo apoio e solidariedade em momentos críticos.

Ao Manuel António Janeira pelos incentivos e pela amizade. Ao Conselho Directivo da FCDEF-UP, pelas facilidades concedidas na

realização das cópias da tese. Ao Queiró pela colaboração prestada na distribuição e recolha dos

questionários. A todos os treinadores e investigadores que responderam ao questionário. Aos meus pais pela discreta e permanente vigilância. Por terem logrado, na

sua curiosidade humilde, incutir-nos o gosto pelo conhecimento e por nos transmitirem o respeito que devemos à vida.

À Sara, pelo tempo que lhe soneguei. Espero poder compensá-la, com juros de afecto e atenção redobrada.

À Bel, por connosco ter partilhado grandes momentos, por entre as tempestades e bonanças desta vida. Pela inteireza do seu carácter e por ter criado condições para que este trabalho se realizasse.

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Codificação de abreviaturas

Abort - sequência ofensiva finalizada sem remate

AC - zona avançada central

Ac Rupt - acção ofensiva que induz ruptura na defesa contrária

AD - zona avançada direita

AE - zona avançada esquerda

AP - ataque posicionai

AR - ataque rápido

BJ - bolas jogadas

Bll - reposição da bola pela linha lateral

CA - contra-ataque

CAV - contenção avançada

DC - zona defensiva central

DD - zona defensiva direita

DE - zona defensiva esquerda

Df/GR - defesa do guarda-redes

Drbl - drible

Dsr- desarme

EDA - eficácia defensiva absoluta

EDR - eficácia defensiva relativa

EJE - espaço de jogo efectivo

EOA - eficácia ofensiva absoluta

EOR - eficácia ofensiva relativa

EP - êxito parcial: sequência ofensiva finalizada com golo

Err - erro do adversário

ET - êxito total: sequência ofensiva finalizada com remate enquadrado sem obtenção de golo

FAR - forma de aquisição/recuperação da posse da bola

FJ - fora de jogo

Fr - circulação da bola fora do espaço de jogo efectivo

Ft - falta

I - intercepção

IC - circulação da bola no interior do espaço de jogo efectivo, através de condução

IP - circulação da bola no interior do espaço de jogo efectivo, através de passe

MDC - zona média defensiva central

MDD - zona média defensiva direita

MDE - zona média defensiva esquerda

MJO - método de jogo ofensivo

MOC - zona ofensiva central

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MOD - zona ofensiva direita

MOE - zona ofensiva esquerda

NC - número de bolas conquistadas

Net - número de contactos com a bola

Nint - número de interrupções

NJ - número de jogadores

NP - número de passes

NR - número de bolas recebidas

NVC - número de variações de corredor

NVD a - número de variações do alcance do passe

NVP d/s - número de variações de direcção/sentido do passe

NVRt - número de variações do ritmo de jogo

PB - pontapé de baliza

PC - circulação da bola à periferia do espaço de jogo efectivo, através de condução

Pcm - passe curto/médio

Plg - passe longo PP - circulação da bola à periferia do espaço de jogo efectivo, através de passe

Press - pressing

PS - pontapé de saída no início ou reinício do jogo, ou após a marcação de um golo

R - sequência ofensiva finalizada com remate

R Gr - reposição da bola pelo guarda-redes

Result - resultado da sequência ofensiva positiva

S - sequência ofensiva

SE - sequência ofensiva sem êxito, i.e., concluída com remate não enquadrado

SN - sequência ofensiva negativa

SP - sequência ofensiva positiva

SR - sequência ofensiva concluída sem remate

Tabl - tabelinha; 1-2

Tjd - tempo de jogo decorrido

TOD - tipo de organização defensiva

TRA - tempo de realização do ataque

VTB - velocidade de transmissão da bola

ZA - zona activa

ZP - zona passiva

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indice

I. Considerações prévias

1. Modelos conceptuais de referência 2

1.1. Positivismo vs constructivismo 3

1.2. Alcance e limites da observação 7

II. Introdução

2. Introdução 11

2.1. Objectivos 12

2.2. Estrutura do trabalho 13

2.3. Pertinência do trabalho 15

III. Natureza do jogo de Futebol 16

3. Futebol: um jogo desportivo colectivo 17

3.1. Natureza do jogo de Futebol 17

3.2. Essencialidade estratégico-táctica do Futebol 21

3.2.1. Conceitos de estratégia e de táctica 26

3.2.1.1. A estratégia 27

3.2.1.2. Atactica 30

3.2.1.3. Estratégia e táctica, dimensões do mesmo fenómeno 38

IV. A investigação em Futebol 43

4. Características da investigação em Futebol 44

4.1. A dimensão técnica da performance 45

4.2. A dimensão energético-funcional da performance 62

4.3. A dimensão estratégico-táctica da performance 77

4.3.1. As capacidades cognitivas enquanto subestruturas da táctica 87

V. Natureza do jogo vs investigação 97

5. Antinomia: natureza do jogo-direcção da investigação 97

5.1. Metodologia 100

5.1.1. Amostra 100

5.1.2. Instrumento e avaliação 101

5.1.3. Procedimentos estatísticos 102

5.2. Resultados 102

5.2.1. Análises dos especialistas em geral 102

5.2.2. Análises dos treinadores vs investigadores 105

5.3. Conclusões 109

5.4. Considerações a propósito 109

VI. Modelação do jogo 112

6. O jogo como objecto de estudo: um imperativo 113

6.1. A modelação enquanto meio para aceder ao conhecimento do jogo 116

6.1.1. Conceito de modelo 116

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Indice

6.1.2. A modelação do jogo 120

6.2. Explicitação de um modelo conjectural do jogo de Futebol 125

6.3. Jogo de Futebol: um sistema de sub-sistemas 133

6.3.1. Analogia sistémica do jogo de Futebol 135

6.3.2. Organização: categoria central da modelação do jogo de Futebol 138

VILA observação e análise do jogo 142

7. Observação e análise do jogo nos JDC 143

7.1. Observação e análise do jogo em Futebol 145

7.1.1. Eixos de análise do jogo de Futebol 153

7.1.2. Sistemas de observação e análise do jogo 160

7.1.2.1. Audio-visuais: vantagens e limitações 161

7.1.3. Evolução dos instrumentos e métodos de análise do jogo 162

7.1.4. Tendências de análise do jogo 169

VIII. Estudo da fase ofensiva em Futebol 175

8. Dois estudos exploratórios da fase ofensiva em Futebol 176

8.1. Estudo comparativo do comportamento ofensivo de equipas de distintos

níveis competitivos 177

8.1.1. Introdução 177

8.1.2. Objectivos 178

8.1.3. Método 179

8.1.3.1. Explicitação das variáveis 179

8.1.3.2. Fiabilidade da observação 182

8.1.3.3. Procedimentos estatísticos 184

8.1.4. Resultados e discussão 184

8.1.5. Conclusões 191

8.2. Estudo da organização ofensiva em equipas de alto nível competitivo com

base na análise de sequências de jogo 192

8.2.1. Introdução 192

8.2.2. Objectivos 195

8.2.3. Método 195

8.2.3.1. Critérios de seleccção da amostra 195

8.2.3.2. Recolha e registo das imagens 196

8.2.3.3. Explicitação das variáveis 197

8.2.3.3.1. Macrodimensão Tempo 198

8.2.3.3.2. Macrodimensão Espaço 201

8.2.3.3.3. Macrodimensão Tarefa 205

8.2.3.3.4. Macrodimensão Organização da equipa 207

8.2.3.4. Metodologia da observação 216

8.2.3.4.1. Fiabilidade da observação 218

8.2.3.5. Procedimentos estatísticos 219

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Indice

8.2.5. Resultados e discussão 219

8.2.5.1. Análise univariada 219

8.2.5.1.1. Macrodimensão Tempo 220

8.2.5.1.2. Macrodimensão Espaço 223

8.2.5.1.3. Macrodimensão Tarefa 226

8.2.5.1.4. Macrodimensão Organização da equipa 232

8.2.5.2. Análise multivariada 238

8.2.5.2.1. Análise da função discriminante 238

8.2.5.2.2. Análise da regressão logística 239

8.2.5.2.3. Classificação automática (análise de clusters) 251

8.2.6. Conclusões 256

IX. Considerações finais 259

X. Bibliografia 266

XI. Anexos 293

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I - Considerações prévias

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Considerações prévias 2

1. Modelos conceptuais de referência

O homem procurou sempre com tenacidade critérios objectivos que lhe permitissem orientar os seus sentimentos, as suas ideias ou a sua acção. O seu desejo de encontrar bússolas exteriores viu-se frequentemente frustrado, porque a sua busca o conduzia, depois de uma circunvalação estéril pela realidade, até si próprio, onde só encontrava os critérios subjectivos de que pretendia escapar.

J.A. Marina (1995)

Tendo por mote a epígrafe do espanhol José António Marina (1995), diríamos que a identificação do critério de cientificidade com a neutralização do sujeito face ao objecto de conhecimento, tem, talvez, constituído o maior mito da ciência. Um mito cuja paternidade intelectual deve ser assacada ao filósofo francês René Descartes (1596-1650), dela constituindo prova o conteúdo inserto na sua obra mais divulgada, o Discurso do Método, datada de 1637.

Desde há longos anos que a ciência tem vindo a institucionalizar, implícita e explicitamente, duas noções que constituem o travejamento conceptual da atitude científica moderna: (1) existimos num mundo objectivo, susceptível de ser objectivamente conhecido e sobre o qual podemos enunciar asserções cognitivas que o fazem surgir como uma realidade independente do sujeito que o pretende conhecer; (2) acedemos ao conhecimento através dos nossos órgãos sensoriais por um processo de projecção - mapping - da realidade exterior objectiva sobre o nosso sistema nervoso (Maturana, 1974).

Não obstante, cada vez é maior o número de cientistas que questionam não apenas o conceito de ciência mas sobretudo o modo de "fazer ciência".

Várias personalidades, oriundas de diferentes quadrantes do conhecimento, têm chamado à atenção para o facto desta forma particular de aceder ao conhecimento, designada por ciência, ao impor a neutralização e o isolamento do sujeito como critério de cientificidade, se neutralizar e isolar, por extensão, a ela própria, aprisionando-se naquela que tem constituído a sua mais incómoda e irresolúvel armadilha tautológica. Concomitantemente, têm alertado para o facto de a ciência, na procura quase obsessiva de objectivar o objecto de estudo, correr o risco de o implicar numa condição de tal distância e exterioridade que conflitue com a representação objectiva da prática.

Como sustenta o epistemólogo Edgar Morin (1981), na sua obra Pour Sortir du Vingtième Siècle, o conhecimento, incluindo o científico, não é o reflexo das coisas, pois depende duma organização teórica, a qual é condicionada por factores supra cognitivos, isto é, os paradigmas, e factores infra cognitivos, tais como necessidades e aspirações.

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3 Considerações prévias

Neste contexto, a ciência depara com o problema da reintegração do observador nas suas descrições (Atlan, 1997), quando a tendência da epistemologia "científica" parecia ser a de uma eliminação radical deste (Ceruti, 1995). Torna-se, por isso, cada vez mais clara e premente a necessidade de inserir o cientista na sua ciência, como defende Von Foerster (1992), o que de algum modo parece explicar o interesse actual que existe em relação à estrutura lógica do próprio conceito de ciência.

Sabe-se, desde 1927 com Werner Heisenberg, que a observação científica, que aspira à máxima objectividade, não é uma contemplação inocente (Popper, 1991) e que o acto de observar é uma intervenção que altera o sistema observado em modos que não podem ser inferidos dos resultados da observação (Von Foerster, 1992; Moles, 1995).

Aquilo que observamos não é a própria natureza, mas antes a natureza determinada pela índole das nossas perguntas. Estas perguntas que colocamos à realidade, isto é, as nossas hipóteses, não são mais do que suposições cuja natureza desejamos comprovar e que dirigem a nossa busca na exploração do objecto.

Compreende-se, portanto, que o conceito de situação do sujeito/observador, se encontre indissoluvelmente ligado ao conceito de horizonte, entendido como o círculo que envolve e inclui tudo aquilo que é visível (Gadamer, 1983) e compreensível, de um determinado ponto.

1.1. Positivismo vs constructivismo

O desenvolvimento do conhecimento não ê redutível a uma história de paradigmas que ganham, perdem, se amplificam ou desaparecem. É também a história de como as nossas teorias, as nossas ideias, as nossas categorias, as nossas imagens da natureza e do conhecimento se constroem a partir de e através da luta e da inconciliabilidade dos diferentes paradigmas e dos diferentes pontos de vista.

M. Ceruti (1995)

Tudo o que pensamos é autor referencial, estamos em tudo o que enunciamos, como uma praga que vai crescendo com mais intensidade à medida que se combate.

P. Cunha e Silva (1995)

As actividades humanas são, no plano cognitivo, um conjunto variado de projectos, de programações, de realizações e de avaliações (Greimas, 1990).

Sabe-se que não há um único sistema racional que possa impôr-se, que cada objectivo tem um valor relativo e que nenhum resultado se afirma como permanente (Manzini, 1986). Mesmo os resultados científicos são aproximações provisórias para serem saboreadas por um tempo e abandonadas logo que surjam melhores explicações (Damásio, 1994).

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Considerações prévias 4

A coerência de observações, ideias ou metodologias não é dada, mas construída de acordo com processos e estratégias referenciados a modelos. Qualquer modelo utilizado para apreender a inteligibilidade dum fenómeno decorre, necessariamente, de um quadro conceptual e temporal em relação ao qual se referencia.

A modelação do campo cognitivo implica, sempre, o assumir de um cenário evolutivo (Donald, 1991). A história da ciência mostra-nos que se a adaptação correcta entre os princípios explicativos e os dados empíricos constitui a base da elaboração teórica ideal, esta deve ver-se, sobretudo, como um pólo de atracção permanente, dum lado e do outro do qual oscilam as disciplinas ao longo da sua evolução. Por isto se explicam os desfasamentos que se podem observar, frequentemente, entre os diversos domínios de investigação, conforme o acento é posto na procura dos princípios ou nas observações (Delattre, 1992).

Os paradigmas, porque construções teóricas humanas que guiam a acção, constituem-se como modelações do campo cognitivo e envolvem sempre três questões (Guba, 1990; Denzin & Lincoln, 1994): (1) a questão ontológica, ou seja, qual é a natureza da realidade? (2) A questão epistemológica, i.e., qual a natureza da relação entre o sujeito que conhece e o objecto conhecido? (3) E a questão metodológica, i.e., como conhecemos a realidade, ou melhor, que caminhos são trilhados para a conhecer?

A resposta às questões atrás formuladas varia em função dos paradigmas adoptados (Guba, 1990), na medida em que estes determinam os critérios de acordo com os quais se elege e formula um problema, bem como a metodologia adoptada para o abordar (Hussén, 1988).

Durante séculos, os cientistas pensaram e trabalharam no interior de um universo de referências no qual o objectivo do esforço científico foi a descoberta de leis deterministas permanentes e imutáveis, procurando uma causa para todos os efeitos observáveis (Stacey, 1995).

O modelo de racionalidade que preside à ciência moderna constituiu-se a partir da revolução científica do século XVI. Até finais do século XIX e princípios do século XX, a ciência moderna fundou-se numa perspectiva analítica através da qual o modelo newtoniano, alicerçado no mecanicismo e no positivismo científico, alcançou o seu apogeu (Santos, 1987).

O mecanicismo é uma concepção filosófica que considera que a partir dos conceitos de matéria e de movimento é possível explicar todos os fenómenos, incluindo os vitais (cf. Enciclopédia Luso-Brasileira).

Movimento que influencia toda a cultura europeia e extra-europeia da segunda metade do século XIX, o positivismo, mais do que uma doutrina filosófica, é um método que considera a experiência como único critério de

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5 Considerações prévias

verdade, como campo de verificação de toda e qualquer hipótese ou princípio (cf. Enciclopédia Luso-Brasileira).

O paradigma positivista preconiza que existem evidências objectivas independentes do observador, às quais se pode aceder por decomposição ou divisão. Na perspectiva da epistemologia positivista, o observador recebe os dados do real, não os constrói. A palavra positivo designa o real (Le Moigne, 1990).

Segundo a concepção de Guba (1990), o paradigma positivista está enraizado: (1) numa ontologia realista, isto é, na convicção de que existe uma realidade exterior ao sujeito, guiada por leis naturais; (2) numa epistemologia dualista/objectivista, mediante a qual o sujeito deve adoptar uma postura não interactiva,de distanciação; (3) numa metodologia experimental/manipulativa, na qual as questões e/ou hipóteses são previamente enunciadas sob a forma de proposições e posteriormente sujeitas a testes empíricos (falsificação) sob condições cuidadosamente controladas.

O positivismo decorre das normas cartesianas (Guba, 1990) cujo conteúdo tem inspirado o método científico ao longo de três séculos. "O mundo é complicado e a mente humana não o pode compreender completamente" é um dos preceitos do Discurso do Método (Descartes, 1637) e que consiste precisamente em dividir cada uma das dificuldades a examinar em tantas parcelas quantas for possível e requerido para melhor as resolver.

Contudo, o percurso evolutivo de um dos ramos do conhecimento com maior tradição no domínio da ciência, a Física, tem tornado possível saber que, mesmo no âmbito das designadas "ciências duras", o entendimento dos fenómenos como mosaicos de marchetes (Ceruti, 1995) constitui uma construção, que depende do lugar de observação do sujeito.

Aliás, nas décadas de setenta e de oitenta, constata-se uma tomada de consciência da fragilidade do designado paradigma dominante (Santos, 1987), corporizado na tríade - mecanicismo, positivismo, cartesianismo. Esta crise foi desencadeada, sobretudo, a partir da reformulação dos conceitos clássicos de matéria e de energia, do surgimento do conceito de informação e também, já nos anos sessenta, com a redefinição da noção de sistema e das relações entre observador e sistema.

Nos anos noventa temos vindo a assistir à falência deste paradigma, o que pode ser ilustrado pelo crescente recurso aos conceitos de sistema, auto-organização, caos, fractal e outros.

Registe-se que os contributos de Gaston Bachelard e de Jean Piaget, bem como os do epistemólogo francês, Edgar Morin e do prémio Nobel da Economia (1978), o norte americano H. A. Simon, embora em registos

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Considerações prévias 6

distintos, têm sido decisivos para a fragilização das epistemologias positivistas e para a edificação e consolidação das epistemologias constructivistas contemporâneas (Le Moigne, 1990).

Em oposição ao paradigma positivista, o paradigma constructivista radica, de acordo com Guba (1990): (1) numa ontologia relativista, isto é, na convicção de que a realidade não é algo independente do sujeito, mas decorre da construção mental do próprio sujeito; (2) numa epistemologia subjectivista, mediante a qual sujeito e objecto se fundem numa única entidade e em que as descobertas ou invenções são uma criação da interacção entre ambos; (3) numa metodologia hermenêutica/dialéctica, na qual as construções individuais são deduzidas e refinadas hermeneuticamente, e comparadas e contrastadas dialecticamente, com o objectivo de gerar uma construção.

Como refere Béjin (1974), uma das teses sustentadas por Heinz Von Foerster é que os "objectos" e os "acontecimentos" não possuem qualquer realidade objectiva, isto é, devem a sua existência às propriedades de representação do sujeito.

Na falta de qualquer perspectiva de tradução e de unificação numa meta linguagem neutra, é precisamente a reintegração radical do ponto de vista do observador nas suas próprias descrições, que passa a ser critério de referência para qualquer processo de comunicação e de construção de conhecimentos (Ceruti, 1995).

Para o constructivismo, o conhecimento é construído pelo sujeito que modela, nas interacções permanentes com os fenómenos que ele concebe e percebe (Schwandt, 1994). Um sistema complexo é, por definição, um sistema construído pelo observador (Varela et ai., 1974; Le Moigne, 1990), o que implica, em relação a um determinado objecto, a existência de vários regimes de verdade (Veyne, 1987).

O processo de conhecimento é, sobretudo, um processo de percepção daquilo que ignoramos. O observador relaciona-se com o sistema através de uma compreensão, que modifica a sua relação com ele, originando um círculo hermenêutico de interpretação e acção (Varela, 1979).

As operações e as decisões do observador intervêm a vários níveis no processo de construção de um sistema observado. Traçam a fronteira entre sistema e meio, mas estabelecem também a relação entre sistema e subsistemas, entre a dinâmica global e suas componentes. As deslocações dos pontos de vista e dos observadores provocam uma restruturação dos tipos de sistemas, dos tipos de dinâmicas e da natureza das interacções em consideração (Ceruti, 1995).

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7 Considerações prévias

1.2. Alcance e limites da observação

Ver, perceber, conceber, pensar, são interdependentes. São termos inseparáveis. É tanto preciso pensar para ver como ver para pensar... Por outro lado, devemos saber que todo o ângulo de visão e toda a escala de grandeza não só modificam os caracteres do objecto visto, como também parecem modificarlhe a natureza .

E. Morin(1982)

Vemos a partir do que sabemos, percebemos a partir da linguagem, pensamos a partir da percepção, inferimos modelos a partir de casos concretos.

J.A.Marina (1995)

O conhecimento humano na sua acepção mais vasta, da ciência à arte, é tributário de esquemas de integração perceptiva e de ordens conceptuais que precedem a experiência, guiando-a e conferindo-lhe um sentido. O conhecimento desenvolve-se assim através de um contínuo diálogo entre expectativas e dados sensoriais (Piatelli Palmarini, 1992).

A elevada importância atribuída à observação, enquanto processo fortemente vinculado ao conhecimento e à acção, impõe a necessidade dum quadro de referência que confira maior visibilidade acerca do seu alcance e das suas limitações e que, mais do que viabilizá-la, lhe confira sentido.

As etapas evolutivas que caracterizam o treino, na longa história do Futebol, têm resultado da aplicação de diferentes concepções de observação (Korcek, 1981). Contudo, raramente o processo de observação tem sido abordado na sua vertente conceptual e generativa.

Sendo considerada a forma mais primitiva para aquisição de conhecimentos (D'Antola, 1976; Anguera, 1985), pese embora a sua maior ou menor subjectividade, a observação foi, e continua a ser, um meio privilegiado a que o ser humano tem recorrido para aceder ao conhecimento, bem como um importante guia para a acção.

Como refere Carrilho (1986), durante muito tempo pensou-se que tudo começa aqui: as opiniões, os juízos, as teorias. Que na simples, mas atenta, observação do mundo se encontra a mais firme base do nosso pensamento e do nosso comportamento; que ela nos permite uma miraculosa transformação do não saber em saber e nos assegura um permanente saltitar do desconhecido para o conhecido. Observar seria assim, independentemente da actividade da esfera considerada, ter em relação à diversidade do mundo e ao nosso saber sobre ele, um olhar tão neutro como imediato e eficaz.

Contudo, a observação não se esgota no olhar, enquanto representante por excelência de todo o conhecimento sensitivo (Marina, 1995). Através dele colhemos, percebemos, os dados da realidade. Mas o nosso olhar não é um

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Considerações prévias 8

olhar inocente ou distraído, antes está orientado, na sua mirada, pelos nossos desejos e projectos (Moles, 1995).

Na tentativa de apreender o ambiente que o envolve, o sujeito/observador é levado a reduzir a sua incerteza acerca dos acontecimentos que nele ocorrem. Ele só consegue reconhecer algumas formas de comportamento e não outras. Essas formas que ele reconhece são as suas percepções, que existem em número finito (Pask, 1970).

Pode acontecer captarmos o estímulo mas não sabermos extrair-lhe a informação necessária (Marina, 1995). A observação não é um mecanismo de impressão como a fotografia (Damas & Ketele, 1985), mas um processo que inclui a atenção voluntária da cognição e da percepção (Sarmento, 1987).

Calvino (1985), ao longo dos três capítulos que constituem a sua narrativa "Palomar", ilustra magistralmente que a observação, longe de se esgotar no olhar, é sobretudo uma experiência do conhecimento.

Este entendimento não se confina, contudo, ao domínio literário. Antes tem experimentado uma significativa ressonância no âmbito da ciência e da epistemologia, sobretudo a partir das ideias de Karl Popper, que sustenta a não existência de observadores no estado puro e nega a existência de conhecimentos de pura observação, não contaminados -untainted - por antecipações ou teorias (1975).

Hoje, sabe-se que a observação se encontra interligada com a interpretação, na medida em que aquilo que é observado depende dos conceitos e teorias a partir dos quais a realidade é percebida (Kaplan, 1988). Não se trata de que vemos as coisas e as interpretamos de imediato, mas antes que a inteligência parece funcionar ao contrário: vemos a partir do significado (Marina, 1995).

Por isso, um dos pontos cardeais da ciência contemporânea é partir do princípio de que o observador é parte integrante do sistema observado (Manzini, 1986).

Embora através dos métodos de observação se procure uma ampliação dos sentidos, tal não implica, automaticamente, a proporcional ampliação dos conceitos nem a compreensão dos factos. Um erro de observação tanto poderá decorrer de uma deficiente percepção visual, como radicar numa concepção anómala, ou destorcida, de um determinado fenómeno (Marina, 1995).

A tarefa ou o objecto de observação seleccionado, os planos de referência do observador, e o propósito da observação, entre outros factores, influenciarão necessariamente aquilo que for percebido, registado, analisado e descrito pelo observador (Evertson & Green, 1986), impondo-se assim que

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9 Considerações prévias

o observador explicite o seu modelo de entendimento do objecto de observação.

As considerações aqui formuladas constituem uma tomada de posição prévia, relativamente ao conteúdo e à forma do presente trabalho. Através delas procura-se afirmar uma atitude constructivista face ao conhecimento, explicitando as coordenadas conceptuais que nortearam o seu autor.

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Il - Introdução

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Introdução 11

2. Introdução No universo desportivo é já um lugar comum afirmar que o rendimento

competitivo é multidimensional por serem vários os factores que concorrem para a sua efectivação.

No entanto, distintamente do que acontece noutras modalidades consideradas de dominante energético-funcional ou de carácter técnico combinado, nos jogos desportivos colectivos (JDC), a dimensão táctica condiciona duma forma importante a prestação dos jogadores e das equipas (Teodorescu, 1977; Konzag, 1983; Schnabel, 1988; Frade, 1990; Faria & Tavares, 1992; Gréhaigne, 1992; Castelo, 1993; Dufour, 1993; Bayer, 1994; Deleplace, 1994; Garganta, 1995).

Não obstante, no domínio científico os estudos realizados ao nível do Futebol têm exorbitado outras dimensões, e.g. energético-funcional, em detrimento da táctica, embora ela seja considerada uma dimensão nuclear deste grupo de desportos.

Dado que a capacidade táctica dos jogadores e das equipas se materializa sobretudo na competição, isto é no jogo, a elevação do fenómeno jogo formal a objecto de estudo surge como um imperativo ao qual urge responder.

Todavia, o problema afigura-se de difícil resolubilidade, na medida em que o Futebol é uma actividade motora complexa que se caracteriza e exprime mediante acções de jogo que não correspondem a uma sequência previsível de códigos.

Do ponto de vista táctico, segundo Mombaerts (1996), os constrangimentos típicos do jogo de Futebol situam-se a três níveis: i) no plano perceptivo, na medida em que os jogadores devem perceber e analisar a situação que se lhes depara; ii) no plano decisional, porque têm que conceber e escolher uma solução; iii) no plano motor, dado que devem agir numa situação de oposição, em crise de tempo e de espaço, utilizando os recursos disponíveis.

Assim, pela natureza e diversidade dos factores que concorrem para o rendimento, o jogo de Futebol evidencia uma estrutura multifactorial de grande complexidade, sendo apontado como aquele, de entre os demais JDC, que comporta um maior grau de indeterminismo (Dufour, 1991). Esta característica tem sido responsável pelas acentuadas dificuldades encontradas sempre que se pretende avaliar o rendimento de um jogador ou de uma equipa.

Entendemos que a edificação duma qualquer matriz que vise dilucidar um "olhar" sobre o jogo de Futebol, deverá necessariamente ter como núcleo director a dimensão táctica do jogo, porque é nela, e através dela, que se consubstanciam os comportamentos que ocorrem ao longo duma partida.

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12 Introdução

Paradoxalmente, nesta modalidade desportiva são raros os estudos de âmbito científico que focalizam a sua atenção no tratamento de variáveis de carácter táctico. Frequentemente, refere-se que os problemas encontrados na definição de categorias de observação, bem como na construção de uma metodologia adequada, têm dificultado o estudo criterioso do jogo e frenado a evolução dos JDC em geral e do Futebol em particular.

Pensamos, no entanto, que as referidas limitações decorrem de uma lacuna que as precede. Ela resulta da vulgar tentação de partir para a observação do jogo e para a construção de instrumentos operativos, sem antes explicitar o travejamento conceptual em que estes se fundam, pelo que, por mais sofisticados, podem achar-se desprovidos de sentido.

No presente estudo, tendo como referência fundamental a dimensão táctica do jogo, pretendemos congregar e articular conhecimentos que permitam a explicitação dum entendimento sobre as características organizativas (estruturais e funcionais) das equipas em confronto numa partida de Futebol.

Considerando que o fenómeno jogo, na interacção concorrente e recorrente de dois sistemas (as equipas em confronto), evidencia uma lógica acontecimental, pretendemos, através da observação sistemática, analisar rectroactivamente o que foi realizado no seu decurso, com o intuito de inteligir a organização dos sistemas implicados, em função de um quadro conceptual pré-definido.

Desta forma, visa-se coleccionar e sistematizar um conjunto de dados a propósito da organização táctica das equipas, que constituam referências para ensino e treino do Futebol.

2.1. Objectivos É nesta linha de raciocínio que no presente trabalho nos propomos atingir

os seguintes objectivos: i) Realçar a importância da elevação do jogo de Futebol a objecto de

estudo. ii) Questionar e reformular os conceitos que têm servido o raciocínio lógico

que suporta os modelos de entendimento do jogo de Futebol (esquema, táctica, estratégia, equilíbrio, estrutura, comunicação) e adoptar conceitos-écran (complexidade, sistema, organização, informação, configuração, modelo) que permitam uma mais ajustada identificação da natureza táctica do jogo.

iii) Evidenciar a proficuidade da modelação táctica da fase ofensiva do jogo de Futebol, com base na organização do jogo das equipas.

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Introdução 13

iv) A partir do modelo adoptado, definir categorias e indicadores que, no seu conjunto, traduzam a organização ofensiva das equipas e possibilitem uma recolha de dados sobre o jogo de futebol.

v) Detectar vias, formas e métodos preferenciais de acção que configuram a organização ofensiva das equipas.

2.2. Estrutura do trabalho No sentido de cumprir os objectivos propostos a estrutura do presente

trabalho obedece a uma configuração tripolar: (1) O pólo epistemológico trata da dimensão discursiva do Futebol enquanto objecto de conhecimento; (2) no pólo teórico-morfológico definem-se os conceitos centrais do trabalho e explicita-se o processo de modelação do jogo de Futebol; (3) no pólo metodológico-operativo estabelece-se a relação entre o modelo conjectural provisório do jogo e o mundo dos acontecimentos, a partir da definição de categorias, recolha, tratamento e exploração de dados sobre o jogo de Futebol.

No primeiro capítulo apresentamos algumas considerações prévias, relativas aos modelos conceptuais de referência que orientam este trabalho. No presente capítulo (Introdução) definimos a questão central, os objectivos, a pertinência e a estrutura do trabalho, que podemos ver ilustrada na Figura 1.

^ j u y u uu i uiuuui ^ y\ Natureza Investigação

1 r . . . .

1 Modelação i 1 1 1 r

Observação

i ' Exploração de dados

Figura 1 - Estrutura do presente trabalho

No terceiro capítulo definimos a natureza do jogo de Futebol enquanto jogo desportivo colectivo e realçamos a sua essencialidade estratégico-

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14 Introdução

táctica. No quarto são apresentadas as características da investigação em Futebol, a partir duma revisão crítica da literatura, considerando as dimensões física, técnica e estratégico-táctica.

No quinto capítulo é realçada a antinomia entre a natureza do jogo de Futebol e a direcção da investigação nesta modalidade, a partir de um questionário aplicado a treinadores e investigadores. No capítulo sexto destacamos a importância da elevação do jogo de Futebol a objecto de estudo e realizamos a conceptualização de um modelo conjectural do jogo. No sétimo capítulo realizamos uma revisão acerca dos processos de observação e análise do jogo e no oitavo são realizados dois estudos exploratórios da fase ofensiva em Futebol, explicitando as respectivas categorias e indicadores, tendo sido discutidos os respectivos resultados.

No nono capítulo são elaboradas as considerações finais, no décimo é apresentada a bibliografia e do décimo primeiro constam os anexos do trabalho.

A formalização ou modelação da dimensão táctica do jogo de Futebol é perspectivada a partir da articulação de dois níveis.

O primeiro nível constitui a vertente conceptual da modelação e é cumprido através da formulação de um discurso sobre a essencialidade táctica do jogo, enquanto sistema aberto que integra subsistemas com diferenciados níveis de organização.

O segundo nível constitui a vertente observacional-exploratória da modelação e é concretizado através da observação de sequências de jogo e da exploração de dados decorrentes da análise qualitativa e quantitativa do conteúdo da fase ofensiva do jogo de equipas de Futebol.

A partir dos dados recolhidos, foram registadas as regularidades e/ou as variações observadas para os indicadores seleccionados em relação com a eficácia das sequências positivas analisadas.

Para cumprir este processo adoptaram-se as etapas processuais ilustradas

na Figura 2.

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Introdução 15

1 a

Definição do projecto

Fixar os objectivos

Delimitar fronteiras

2a

Concepção do modelo

Explicitação de conceitos

Selecção das ligações a reter

Analogia sistémica (elementos e relações)

J Definição de categorias e indicadores

3a

Observação dos comportamentos

Estudo dos comportamentos

Via algorítmica Via heurística

Quantificação Criação de cenários

' * ' Busca de

regularidades e variações

Figura 2 - Etapas do processo de modelação.

2.3. Pertinência do trabalho O presente estudo justifica-se enquanto proposta de um entendimento

sobre o jogo de Futebol, perspectivado como fenómeno essencialmente condicionado pelas linhas de força geradas a partir do confronto entre dois sistemas: as equipas.

Justifica-se ainda, na medida em que pretende disponibilizar um conjunto coerente de categorias e de indicadores que possibilitem balizar a recolha de informação a propósito da prestação dos jogadores e das equipas na fase ofensiva do jogo de Futebol.

O presente estudo pode constituir um contributo para a instalação de corredores de abertura que possibilitem um entendimento do jogo de acordo com uma lógica fundada na dimensão táctica, enquanto dimensão vertebradora do fenómeno.

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- Natureza do jogo de Futebol

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Natureza do jogo de Futebol 17

3. Futebol: um jogo desportivo colectivo

Os jogos desportivos colectivos são uma criação da inteligência humana.

Deleplace (1994)

Praticado em todas as nações, sem excepção, o Futebol é considerado a modalidade desportiva mais popular à escala mundial (Reilly, 1996).

Todavia, na sua expressão multitudinária, o Futebol não é apenas um jogo desportivo colectivo, ou um espectáculo desportivo, mas também um meio de educação física e desportiva, um campo de aplicação da ciência e uma disciplina de ensino.

No decurso da sua existência, o Futebol tem sido ensinado, treinado e investigado à luz de diferentes perspectivas, as quais subentendem distintas "focagens" e concepções dissemelhantes a propósito do conteúdo do jogo e das características do ensino-treino.

Dado que a forma de interpretação da natureza do jogo é uma condição importante para a formulação de um conceito de ensino e treino no Futebol (Korcek, 1981), este facto tem provocado o despontar de caminhos díspares para a sua compreensão e caracterização, tanto numa dimensão sincrónica como diacrónica1.

No entanto, estas diferenças podem assumir capital importância para a reflexão e estudo do Futebol, desde que questionadas e esclarecidas. Isso requer não apenas uma utilização inovadora de instrumentos lógicos de classificação, mas também uma sistematização das operações de classificação correntes sobre as características do jogo de Futebol.

Neste contexto, a construção de um quadro de referências supõe a elaboração e articulação de conhecimentos que permitam configurar a designada natureza do jogo.

3.1. Natureza do jogo de Futebol O Futebol é uma modalidade desportiva inscrita no quadro dos

designados jogos desportivos colectivos (JDC). As modalidades incluídas neste grupo de desportos possuem um sistema

de referência com vários componentes, no qual se integram todos os jogadores e com o qual se confrontam constantemente (Konzag, 1991), e são configuradas a partir de situações motoras de confrontação codificada, reguladas por um sistema de regras que determina a sua lógica interna (Parlebas, 1981).

1 A dimensão sincrónica é relativa a factos que ocorrem num mesmo jogo; a diacrónica diz respeito a factos que ocorrem em jogos diferentes.

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18 Natureza do jogo de Futebol

Os JDC caracterizam-se, entre outros factores, pela aciclicidade técnica, por solicitações e efeitos cumulativos morfológico-funcionais e motores e por uma intensa participação psíquica (Teodorescu, 1977). Na medida em que as acções de jogo se realizam num contexto permanentemente variável (Pawels & Vanhille, 1985), de oposição e cooperação, o factor estratégico-táctico assume uma importância capital (Gréhaigne, 1989; Deleplace, 1994; Mombaerts, 1996).

O problema fundamental dos JDC pode ser enunciado da seguinte forma (Gréhaigne & Guillon, 1992): numa situação de oposição, os jogadores devem coordenar as acções com a finalidade de recuperar, conservar e fazer progredir a bola, tendo como objectivo criar situações de finalização e marcar golo ou ponto.

As equipas que se defrontam formam dois colectivos que planificam as suas acções e agem através de comportamentos sempre determinados pela relação de contraste: ataque-defesa ou defesa-ataque (Konzag, 1991).

As situações que ocorrem no contexto dos JDC devem ser entendidas como unidades de acção que possuem uma natureza complexa, decorrente não apenas do número de variáveis em jogo, mas também da imprevisibilidade e aleatoriedade 2 das situações que se colocam ao jogador e às equipas (Pittera & Riva, 1982; Matveiev, 1986; Konzag, 1991; Riera, 1995a; Reilly, 1996).

Sendo os JDC actividades férteis em acontecimentos cuja frequência, ordem cronológica e complexidade não podem ser determinados antecipadamente, aos jogadores é requerida uma permanente atitude estratégico-táctica (Garganta, 1994).

Vários autores têm sustentado que a construção do conhecimento em Futebol se deve edificar a partir de perspectivas que se focalizem na lógica interna ou natureza do jogo (Teodorescu, 1977; Parlebas, 1981; Korcek, 1981; Queiroz & Ferreira, 1982; Dufour, 1983; Menaut, 1983; Teodorescu, 1985; Queiroz, 1986; Dugrand, 1989; Gréhaigne, 1989; Castelo, 1992; Pinto & Garganta, 1993; Ribas, 1994; Loy, 1994; Baconi & Marella, 1995; Garganta, 1995; Grosgeorge, 1996).

A lógica interna do jogo é o produto da interacção contínua entre as principais convenções do regulamento e a evolução das soluções práticas encontradas pelos jogadores, decorrentes das suas habilidades tácticas, técnicas e físicas (Deleplace, 1979).

2Entenda-se como imprevisível um fenómeno inesperado, inopinado; e como aleatório um fenómeno dependente das circunstâncias do acaso, que pode tomar um certo número de valores a cada um dos quais está ligada uma possibilidade subjectiva (Ville, 1937; Godet, 1991).

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Natureza do jogo de Futebol 19

Para Teodorescu (1985), a relação da lógica didáctica com a lógica interna do jogo, é uma das tarefas mais importantes e mais complexas que se colocam ao nível dos JDC, pelo que a análise do jogo se deve processar a partir da estreita relação entre o conteúdo do jogo e a estrutura da actividade (Korcek, 1981), expressos na performance individual e colectiva.

Este entendimento vem na linha do já expresso por Ferreira & Queiroz (1982), segundo os quais a identificação, a definição e a caracterização das fases, componentes e factores de competição são aspectos que viabilizam a conceptualização do "modelo de treino".

De acordo com Frade (1990), o estudo do conteúdo do jogo vem adquirindo uma importância crescente, na medida em que se tem reconhecido que a compreensão da estrutura "microscópica" do jogo é uma das chaves para a sistematização do universo teórico e metodológico deste JDC.

Castelo (1992) refere que da reflexão conceptual do jogo de Futebol emerge a necessidade da construção e unificação de um modelo técnico-táctico do jogo, de forma a definir a sua lógica interna, a partir da observação e análise das equipas mais representativas de um nível superior de rendimento.

Contudo, a unanimidade registada por diversos autores, no que concerne à necessidade de descodificar a(s) lógica(s) que preside(m) ao desenvolvimento do jogo de Futebol, esbate-se quando os mesmos procuram qualificar este JDC.

Os JDC podem ser alvo de uma pletora de qualificações, cujas diferenças elevem ser atribuídas às referências utilizadas. Com base nas perspectivas de vários autores o Futebol pode ser considerado um jogo de:

• grande terreno (Bauer & Ueberle, 1988) • território (Ellis, 1985; Dugrand, 1989) • alvo oposto (Ellis, 1985) • alvo convergente (Almond, 1986; Werner et al., 1996) • alvo vertical (Bauer & Ueberle, 1988) • participação simultânea (Ivoilov, 1973) • cooperação/oposição (Moreno, 1994; Fradua Uriondo, 1993) • oposição/cooperação (Riera, 1995) • oposição directa (Deleplace, 1979; Gréhaigne, 1989; Mombaerts, 1996) . invasão (Harris & Reilly, 1988; Werner et ai., 1996) • interpenetração, ou espaço comum (Almond, 1986) • interacção cooperativa com especialização de funções (Barth, 1994) • interacção competitiva com intervenção directa sobre o adversário (Barth, 1994)

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20 Natureza do jogo de Futebol

. luta directa pela posse da bola (Garganta & Soares, 1986)

. circulação da bola (Crevoisier, 1984; Garganta & Soares, 1986) • repulsão da bola (Ivoilov, 1973)

Porque decorrem de diferentes referências, estas qualificações, quando confrontadas, geram diferentes categorias de problemas. Nessa medida, embora salvaguardando a sua importância e pertinência relativas, pode dizer-se que não têm idêntica ressonância ao nível dos processos de ensino e treino no Futebol, nem da avaliação da prestação dos jogadores e das equipas na competição.

Contudo, constata-se uma prevalência de qualificações configuradas a partir da dimensão estratégico-táctica, nomeadamente, da utilização do espaço (comum ou separado), da forma de participação dos intervenientes (simultânea ou alternada), da forma de disputa da bola (luta directa ou indirecta), das trajectórias da bola (troca ou circulação da bola) e da natureza do conflito (oposição, cooperação/oposição) ou forma de interacção dos atletas.

O Futebol é um jogo entre duas equipas. Quando uma delas detém a posse da bola, tenta ultrapassar a oposição dos adversários no sentido de se aproximar da baliza, rematar e marcar golo. Por sua vez, a equipa que não possui a bola procura impedir a progressão e os remates dos adversários, ao mesmo tempo que tenta apoderar-se da bola para atacar (Wade, 1978).

Trata-se de uma luta incessante pelo tempo e pelo espaço, dentro dos constrangimentos impostos pelo regulamento, no sentido de que sejam realizadas as tarefas pretendidas. Deste modo, as acções que ocorrem durante o jogo não são divididas equitativamente entre as duas equipas que se defrontam. As posses de bola, por exemplo, não são atribuídas em igual proporção a cada uma das equipas, embora às posses de bola conquistadas por uma equipa corresponda igual número de perdas de bola registado pela equipa contrária.

Mais recentemente, Franks & McGarry (1996) incluíram o Futebol nos designados jogos dependentes do factor \empo-time-dependent, por contraste com os jogos dependentes do factor resultado-score-depenc/enf, como o Voleibol e o Ténis.

Os desportos dependentes do factor tempo são interactivos e tendem a integrar cadeias de acontecimentos descontínuos, implicitamente relacionados, não apenas com os acontecimentos antecedentes, mas também com as probabilidades de ocorrência de acontecimentos subsequentes, considerada a sua aleatoriedade.

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Natureza do jogo de Futebol 21

Estes pressupostos têm conduzido a que, no treino dos JDC, se recorra a exercícios que provoquem uma mobilização importante da atenção e um aumento da carga perceptiva. Tal estratégia de intervenção, ao induzir nos jogadores a construção de memórias mais versáteis, materializadas num aumento da significação e da capacidade de discriminação das informações percebidas como mais úteis ou pertinentes, permite-lhes alargar o seu espectro de respostas e prepara-os para enfrentar situações imprevistas (Grosgeorge, 1996).

Dada a complexidade do jogo, nas suas diferentes fases, as competências para jogar decorrem dos imperativos ditados pela necessidade de, face à descontinuidade e aleatoriedade das acções, encontrar as respostas mais adequadas a diferentes configurações.

O Futebol é um JDC que ocorre num contexto de elevada variabilidade, imprevisibilidade e aleatoriedade, no qual as equipas em confronto, disputando objectivos comuns, lutam para gerir em proveito próprio, o tempo e o espaço, realizando, em cada momento, acções reversíveis de sinal contrário (a taque^ defesa) alicerçadas em relações de oposição «-►cooperação.

Deste tipo de conflitualidade decorre um forte pendor estratégico-táctico que emerge como factor capital no comportamento dos jogadores e das equipas.

3.2. Essencialidade estratégico-táctica do Futebol

A acção humana caracteriza-se pelo seu aspecto acontecimental. Ela é função dos valores, das crenças, das finalidades e da racionalidade daqueles que agem mas também da situação concreta e complexa na qual se desenvolve.

Susman & Evered (1978)

São múltiplos e interactuantes os aspectos que concorrem para o rendimento desportivo em Futebol.

Frequentemente, sustenta-se que a expressão mais elevada da performance, neste jogo desportivo, decorre de um alto grau de desenvolvimento e especialização de diversos factores

3, tradicionalmente

agrupados em quatro macrodimensões: táctica, técnica, física e psicológica (Kunze, 1981; Bangsbo, 1993; Miller, 1995).

Ao longo da história da investigação no desporto, temos assistido a uma multitude de categorizações relativas às dimensões e capacidades que concorrem para o rendimento desportivo. Todavia, as sucessivas

3Um factor é uma condição necessária para o funcionamento de um efector, isto é, de algo que produz

um efeito (Laborit, 1973).

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22 Natureza do jogo de Futebol

reformulações de conceitos realizadas por vários especialistas reflectem sobretudo a intenção de traduzir, cada vez mais fielmente, a tese abrangente e interactuante das dimensões configuradoras da prestação desportiva.

Recorreremos não apenas à terminologia tradicional que agrupa os factores do rendimento nas dimensões táctica, técnica, física e psicológica, mas também a outras mais recentes, de acordo com as exigências que, nas diferentes fases do trabalho, motivarem o nosso discurso. Se, por um lado, a terminologia mais actual nos permite situar mais adiante no entendimento do fenómeno em estudo e, assim, confrontar ideias com os conteúdos das concepções mais actuais, por outro, a classificação tradicional, porque já criou fortes raízes no mundo do desporto, confere-nos a possibilidade de comunicar também nesse registo linguístico e conceptual.

A evolução experimentada pelas diferentes modalidades desportivas, com referência aos processos de ensino, treino e competição, tem demonstrado que os distintos factores do rendimento, sendo embora comuns a diferentes modalidades desportivas, adquirem um impacte variável em função da especificidade de cada uma delas.

Como refere Weineck (1983), embora o comportamento optimal de um atleta em competição pressuponha uma atitude táctica optimal, é conveniente acautelar eventuais generalizações, na medida em que o factor táctico joga nas diversas modalidades desportivas um papel de importância variável. Este entendimento completa o de Ulatowski (1975) para quem a táctica, embora se manifeste em todas as disciplinas desportivas, solicita, de acordo com a especificidade requerida, diferentes valências físicas, técnicas e psíquicas.

As afirmações anteriores estão na mesma linha das já expressas por um reconhecido especialista da área do treino desportivo, o russo Lev Matveiev, para quem as especificidades da táctica diferem, de acordo com a modalidade a que respeitam (1986).

Enquanto que nos desportos individuais, com excepção daqueles que integram o factor oposição (esgrima, boxe, etc.), um conhecimento táctico de base, geral, é suficiente (Weineck, 1983), nos JDC, porque a competição se desenrola em condições de grande variabilidade e aleatoriedade, a formação táctica específica é imprescindível para o êxito desportivo (Ivoilov, 1973), adquirindo neste contexto um papel de destaque (Matveiev, 1986; Deleplace, 1994; Delfini, 1994).

Os JDC caracterizam-se por um complexo de relações de oposição e de cooperação, cujas configurações decorrem dos objectivos dos jogadores e das equipas em confronto (Konzag, 1991; Delfini, 1994; Sisto & Greco, 1995). Na medida em que a actividade dos jogadores se desenvolve em contextos

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Natureza do jogo de Futebol 23

cujas condições se alteram permanentemente, são considerados desportos situacionais (Pittera & Riva, 1982; Morino, 1995) de forte determinante estratégico-táctica (Barth, 1994).

Assim, são as situações de jogo com a variabilidade, alternância e aleatoriedade que lhes é inerente, que determinam a direcção dos comportamentos a adoptar pelos jogadores, pelo que a estes é reclamada uma atitude táctica permanente (Garganta, 1995). A ocorrência de determinados comportamentos, mesmo os mais elementares como uma corrida ou um salto, num dado momento ou numa dada zona do terreno de jogo, é mais ou menos pertinente em função das configurações que o jogo apresenta.

Por tal motivo, nos JDC é cada vez mais evidente a tendência para se atribuir o primado à dimensão estratégico-táctica (Gréhaigne, 1989; Roth, 1989; Barth, 1994), considerando-se que é neste grupo de desportos que ela tem um impacte superior e assume o seu nível de expressão mais alto, mais complexo e flutuante (Matveiev, 1986; Greco & Chagas, 1992), condicionando, duma forma importante, as demais estruturas do rendimento (Hagedorn et ai., 1982; Duricek, 1985; Schock, 1985; Schnabel, 1988; Dugrand, 1989; Gréhaigne, 1989; Frade, 1990; Lassierra, 1990; Grosgeorge, 1990; Konzag, 1991; Gréhaigne & Guillon, 1992; Dufour, 1993; Sisto & Greco, 1995).

Todavia, esta perspectiva não anula a importância das demais dimensões do rendimento. Antes impõe um enquadramento das mesmas, face à especificidade dos JDC, num duplo sentido.

Por um lado, a mestria estratégico-táctica permite a um atleta utilizar com maior eficácia os pressupostos e condições de prestação (Platonov, 1988; Barth, 1994); por outro, a acção táctica, ao ser dirigida para a optimização do rendimento, implica o recurso, para além dos conhecimentos tácticos, às habilidades técnicas, às capacidades condicionais, às características da vontade e a outros componentes (Harre, 1982).

Como refere Weineck (1983), um plano táctico não é realizável senão sobre uma base técnica correspondente, bases condicionais adequadas e capacidades cognitivas à altura (Figura 3).

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24 Natureza do jogo de Futebol

Habilidades técnicas

Capacidades cognitivas

Capacidades motoras e psíquicas

t Táctica

desportiva

t Prestação optimal

em competição

Figura 3 - Componentes do rendimento desportivo (adap. Weineck, 1983).

O jogo é um sistema dinâmico que varia não-linearmente com o tempo e no qual o resultado depende da forma como se vai jogando (Cunha e Silva, 1995). Neste sentido, a sua especificidade consubstancia-se na dimensão estratégico-táctica, constituindo esta, simultaneamente, o princípio generativo e o polo de confluência da dinâmica criada no seu decurso.

O que em primeira instância caracteriza os JDC é o confronto entre duas formações, duas equipas, condicionadas pelo cumprimento de um regulamento, que se dispõem de uma forma particular no terreno de jogo e se movimentam, com o objectivo de vencer.

No Futebol, oposição e cooperação são tarefas básicas reversíveis, tanto no ataque como na defesa, e as sucessivas configurações que o jogo vai experimentando resultam da forma como ambas as equipas gerem as relações, de cooperação e adversidade, em função do objectivo do jogo.

Isto significa que a alteração do dispositivo defensivo ou ofensivo de uma equipa, num dado instante, é susceptível de induzir alterações na conf iguração 4 momentânea do dispositivo ofensivo ou defensivo, respectivamente, da equipa contrária e vice-versa.

Moreno (1994) inclui o Futebol no grupo de desportos de cooperação-oposição, nos quais as acções de jogo são resultantes das interacções entre os participantes, existe um espaço comum às equipas em confronto e há uma participação simultânea dos jogadores/equipas. Este autor atribui à cooperação o papel primordial enquanto factor configurador da especificidade dos JDC.

Numa perspectiva diversa, autores como Dietrich (1978), Deleplace (1979), Menaut (1982), Gréhaigne (1994) e Riera (1995), consideram que a oposição entre as duas equipas que jogam é o aspecto mais relevante e

4Entenda-se por configuração o aspecto/formato exterior definido pelo posicionamento dos jogadores na constelação das equipas (sistemas) em confronto, num dado momento.

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Natureza do jogo de Futebol 25

significativo na caracterização dos desportos de equipa e que a essência de toda a acção de jogo se situa na interacção jogo-jogador.

O Futebol possui uma estrutura formal (terreno de jogo, bola, regulamento, companheiros, adversários) e uma estrutura funcional, que decorre das acções de jogo enquanto resultado da interacção entre os companheiros duma mesma equipa em torno da bola, no sentido de conseguirem vencer a oposição dos adversários e atingir os objectivos propostos.

A finalidade dos comportamentos dos jogadores é guiada por um objectivo de produção: vencer o jogo (Gréhaigne, 1989). No decurso de uma partida, até conseguir marcar um golo ou impedir a sua marcação, os jogadores/equipa dirigem os seus esforços no sentido de estabelecer uma supremacia sobre o seu adversário. Devem por isso garantir, no âmbito do quadro regulamentar do jogo, o cumprimento de princípios de jogo e procurar atingir objectivos intermédios, desenvolvendo acções parcelares.

A essencialidade estratégico-táctica do Futebol decorre assim de um quadro de referências que contempla: (1) o tipo e relação de forças (conflitualidade) entre os efectivos que se confrontam; (2) a variabilidade, a imprevisibilidade e a aleatoriedade do contexto em que as acções de jogo decorrem; (3) as características das habilidades motoras para agir num contexto específico.

No Futebol assume importância capital o que Barth (1994) designa por saber estratégico-táctico, e que consiste, não apenas no conhecimento das regras da competição e das regras de gestão e organização do jogo (estratégico-tácticas), mas também no conhecimento das condições de regulação situacional.

Deste modo, a dimensão estratégico-táctica emerge simultaneamente como pólo de atracção, campo de configuração e território de sentido das tarefas dos jogadores no decurso do jogo (Figura 4).

► Estratégia -Táctica ^

+ Situação

| I I I 1

0 quê (objectivo)

Quando (momento)

Onde (espaço)

Como (forma)

I I I 1

. + Resu tado

Figura 4 - A dimensão estratégico-táctica enquanto como pólo de atracção, campo de configuração e território de sentido das tarefas dos jogadores no decurso do jogo.

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26 Natureza do jogo de Futebol

Na medida em que estratégia e táctica são conceitos centrais no presente

trabalho, justifica-se que, para além do conteúdo semântico, esclareçamos o

seu alcance e os seus limites.

Tendo como ponto de partida um trabalho realizado por Garganta &

Oliveira (1995), abordaremos, em primeiro lugar, os conceitos de estratégia e

de táctica per se, e, de seguida, procuraremos evidenciar a sua feição

integradora, quer dum ponto de vista conceptual, quer no plano operativo.

3.2.1. Conceitos de estratégia e de táctica Os conceitos de estratégia e de táctica, não pertencendo exclusivamente

ao universo do desporto, têm a sua origem em fenómenos sociais que se caracterizam pela conflitualidade de interesses e objectivos. Relação conflitual que, como diz Godet (1991), resulta da confrontação de interesses antagónicos entre actores e se apresenta sob a forma de uma tensão entre duas tendências.

É assim que comummente vemos referidos estes termos em áreas da actividade humana como a política, a economia e o meio empresarial, tendo sido, no entanto, na arte e na ciência militar que mais profusamente se desenvolveram.

No século XIX o general prussiano Carl Von Clausewitz, sob influência da dialéctica de Hegel, produz a sua obra Da Guerra, na qual dá a conhecer o produto de aturado estudo e reflexão sobre este conflito típico, explicitando de forma sistematizada os conceitos de estratégia e táctica.

Para Clausewitz (1955), a estratégia forma o plano da guerra; e nesse sentido liga a série de actos que devem conduzir à decisão final, ou seja, faz os planos para as campanhas isoladamente e regula os combates que em cada uma deverão ser combatidos. Para o mesmo autor, a táctica identifica-se com a formação e condução dos combates, ou seja, com a utilização das forças militares em combate, levando em conta a acção recíproca, bem como a natureza dos objectivos e dos meios.

No contexto desportivo, estratégia e táctica são conceitos que caminham lado a lado, e de tal modo que podemos constatar uma utilização, cada vez mais frequente, destes dois termos em justaposição.

A componente estratégico-táctica tem vindo a adquirir uma importância crescente no desenvolvimento multiforme da competição de quase todas as modalidades desportivas, o que pode ser comprovado pelo aumento do número de estudos e publicações, relativos à estratégia e à táctica, que tem ocorrido nos últimos anos (Barth, 1994).

Contudo, no domínio do desporto, as noções de estratégia e de táctica sempre tiveram contornos pouco claros e imprecisos (Garganta & Oliveira,

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Natureza do jogo de Futebol 27

1995), como o comprovam a controvérsia (Barth, 1994) e a confusão (Riera, 1995) gerada em torno destes conceitos.

Particularmente no âmbito dos JDC, o uso dos termos estratégia e táctica deixa perceber a existência de imprecisões terminológicas que não raramente parecem radicar no plano conceptual. Tais imprecisões têm provocado uma utilização indiscriminada destas duas noções, o que por vezes se constitui como elemento perturbador da comunicação não só entre treinadores e investigadores de modalidades diferentes, mas, o que causa maior perplexidade, no contexto da mesma modalidade (Garganta & Oliveira, 1995).

3.2.1.1. A estratégia Durante muito tempo, a palavra estratégia, que resultou do vocábulo grego

strategía que significa "expedição militar", "campanha", serviu para designar a ciência e a arte da organização do plano de operações militares (cf. Enciclopédia Luso-Brasileira; Dicionário da Língua Portuguesa, 1985).

Todavia, por extensão, os conceitos de estratégia e de táctica são actualmente utilizados para classificar acções e comportamentos sistemáticos, inteligentes e calculados, não só no âmbito militar, mas noutros sectores da vida social (político, diplomático, empresarial), da ciência (psicologia, cibernética), do desporto e mesmo da vida quotidiana (Barth, 1994).

Com o objectivo de confrontar os diversos sentidos atribuídos ao termo estratégia, reunimos um leque de definições apresentadas por diferentes autores, oriundos de distintos quadrantes geográficos (Quadro 1).

Quadro 1 - Definições de estratégia propostas por diferentes autores (elaborado a partir de Garganta & Oliveira, 1995).

Autor/data País Definição

Clausewitz, 1955 Alemanha A estratégia forma o plano da guerra; e nesse sentido liga a série de actos que devem conduzir à decisão final.

Morin, 1973 França Combinação de um conjunto de decisões-- escolhas em função de um fim.

López-Quadra, 1977 Espanha Soluções preparadas para o que se possa prever: sistemas tácticos, acções técnicas, estudo de possibilidade. Preside e dirige o comportamento da equipa mas é a táctica que concretiza o fim projectado por aquela.

Teodorescu, 1977 Roménia Plano táctico especial e outras medidas anteriores ao jogo, portanto, que precedem a táctica (esta tem um carácter aplicativo e operativo).

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28 Natureza do jogo de Futebol

Quadro 1 (continuação)

Autor/data País Definição

Kirkov, 1979 Ex-URSS

Zerhouni, 1980 França

Parlebas, 1981 França

Hagedorn et ai., 1982 Alemanha

LaRose, 1982 Canadá

Wrzos, 1984 Polónia

Duricek, 1985 Checoslováquia

Ellis, 1985 Canadá

Gréhaigne, 1992a França

Barth, 1994 Alemanha

Garbarino, 1995

Garcia, 1995

França

Espanha

Gréhaigne & Godbout, 1995 França/Canadá

Riera, 1995

Toran, 1995

Smith et ai., 1996

Mercier & Cross, s.d.

Espanha

Itália

Inglaterra

França

Dicionário Língua Portuguesa , 1985

É a ciência da direcção de equipa com o fim de obter êxitos a longo e a curto prazo.

Arte de dirigir um conjunto de disposições.

Arte de adaptar as tácticas ao objectivo escolhido.

Sistema de planos de acção e alternativas de decisão a longo e médio prazo.

Arte de coordenar os meios para atingir os objectivos.

Conjunto das actividades e das acções que precedem o confronto desportivo.

Programa de princípios ou concepção do desenvolvimento do confronto desportivo contra o oponente.

Procedimentos estudados para alcançar o objectivo do jogo; plano geral de como se deverá desenvolver o jogo.

Representa o que está determinado previamente para permitir a organização.

Plano de acção ou comportamento através do qual, tendo em conta as regras da competição e os pontos fortes e fracos, próprios e do adversário, se antecipam mentalmente as

potenciais decisões relativas ao comporta -mento competitivo.

Orientações a longo prazo que têm como objectivo optimizar a prestação individual e colectiva.

Arte ou habilidade de preparar e realizar, no decurso de uma partida, qualquer tipo de acção de bola parada, com o objectivo de ganhar vantagem sobre a equipa adversária, sobretudo através da obtenção de um golo.

Tem a ver com aspectos que se prendem com escolhas prévias relativas à equipa e aos jogadores (o plano de jogo, a constituição da equipa, as posições e funções pré-determina - das dos jogadores).

Plano para abordar qualquer problema. Está associada ao objectivo principal, à planificação e à globalidade da acção.

Programa que optimiza o procedimento para atingir determinado objectivo.

Plano director traçado para atingir objectivos específicos.

Arte de dirigir um conjunto de disposições que podem influir no resultado final.

Astúcia, manha, estratagema. Ciência que ensina a organizar o plano das operações.

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Natureza do jogo de Futebol 29

As definições apresentadas no Quadro anterior deixam perceber uma dualidade na sua dimensão temporal. Para alguns autores, a estratégia representa o conjunto das actividades e das acções que precedem o confronto desportivo (Teodorescu, 1977; Wrzos, 1984; Gréhaigne, 1992a) enquanto que outros estabelecem de forma explícita ou implícita que, tal como a táctica, também o conjunto das actividades e acções aplicadas durante a condução do confronto fazem parte do domínio da estratégia (Morin, 1973; Zerhouni, 1980; Parlebas, 1980; Duriceck, 1985; Toran, 1995; Mercier & Cross, s.d.).

Das definições apresentadas ressalta ainda a natureza prospectiva da estratégia. Expressões como "decisões-escolhas" (Morin, 1973), "direcção de equipa" (Kirkov, 1979), "sistema de planos e alternativas de decisão" (Hagedorn et ai., 1982) ou ainda "programa de princípios ou concepção do desenvolvimento do confronto" (Duricek, 1985), permitem inferir que a estratégia é um processo que partindo de um conjunto de dados, define cenários, baliza os meios, os métodos e institui regras de gestão e princípios de acção.

La Rose (1982) refere que a elaboração da estratégia é um processo complexo, estratificado em níveis devidamente hierarquizados, que vão da gestão de um grupo até ao atleta envolvido na acção. Neste sentido, a estratégia supõe a aptidão para empreender uma acção na incerteza e para integrar a incerteza na conduta da acção, o que significa que a estratégia necessita de competência e iniciativa, combinando um conjunto de decisões-escolhas em função de um fim (Morin, 1973).

C. Von Clausewitz (1955), talvez o principal teórico da estratégia militar do mundo ocidental, definiu os elementos necessários para a sua elaboração. De forma semelhante, os autores que reflectem sobre os JDC adoptaram esses elementos extraíndo-os do seu contexto específico (Kirkov, 1979; La Rose, 1982).

Esses elementos são os objectivos, os princípios (qualitativos e quantitativos), o valor próprio e do adversário, as acções, o espaço e o tempo. No entanto, como já dizia Clausewitz (1955), a elaboração da estratégia baseia-se em conjecturas. A conjectura baseia-se em factores objectivos e subjectivos (Clausewitz, 1955; Kirkov, 1979; La Rose, 1982). Daí a falibilidade da estratégia no plano operacional, já que por exemplo, factores como a moral, coragem, perseverança, espírito de sacrifício e a acção recíproca não são passíveis de quantificação e objectivação.

Para Morin (1980), a estratégia contempla o desencadeamento de sequências de operações coordenadas e comporta essencialmente a arte de

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30 Natureza do jogo de Futebol

evitar os próprios erros, de os corrigir, e quando existe adversário de o induzir em erro e tirar partido dos seus erros. No âmbito da estratégia, o jogo do erro é, portanto, um jogo vital (Morin, 1981).

Thomas (1994) considera que os desportos colectivos são modalidades de alta estratégia, na medida em que reclamam do jogador, para além do domínio de habilidades ou conjuntos de habilidades, a capacidade de lidar com as situações de imprevisibilidade que ocorrem ao longo do jogo.

Numa perspectiva diametralmente oposta, Garcia (1995) identifica estratégia, no âmbito do jogo de Futebol, com a capacidade de resposta dos jogadores/equipas a acções padronizadas, designadas por situações de bola parada, conferindo-lhe assim um campo de intervenção demasiado restrito, estático e esteriotipado. Para Teodorescu (1977), estas situações fazem apelo aos designados esquemas tácticos.

Parece existir unanimidade no que concerne ao facto da estratégia estar associada ao objectivo principal, à planificação e ao sentido global de uma actividade (Riera, 1995). Todavia, como diz Morin (1981), ela baseia-se não só em decisões iniciais de desencadeamento mas também em acções sucessivas, tomadas em função da evolução da situação, o que pode provocar modificações na cadeia, e até na natureza das operações previstas.

Neste sentido a estratégia surge nos JDC fortemente vinculada à capacidade dos jogadores e das equipas para agirem em condições de adversidade, aleatoriedade e imprevisibilidade.

A estratégia encaminha-se para a solução consciente de situações de jogo de distinto grau de complexidade (Duricek, 1985), e identifica-se com um processo de carácter prospectivo que define os contornos da actuação táctica do jogador, na qual a função cognitiva desempenha um papel central (Delfini, 1994).

3.2.1.2. A táctica Na evolução do Futebol, as considerações tácticas apareceram quando o resultado dos encontros se tornou mais importante do que o jogo em si.

A. Wade(1981)

O vocábulo táctica, do grego taktiké, significava originariamente colocar em ordem, designando mais precisamente (cf. Enciclopédia Luso-Brasileira), a arte de manobrar as tropas (Platão: Leis, 813) ou de as ordenar (Plutarco: Tratado

sobre a táctica).

A aplicação deste conceito, que inicialmente se reportava, sobretudo, ao uso e modo de aplicação das armas em combate, foi-se estendendo a áreas diversas, sendo actualmente conotado com a gestão inteligente do comportamento face a situações que impliquem conflitualidade de interesses,

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Natureza do jogo de Futebol 31

ou concorrência entre objectivos, de que o desporto é uma das expressões mais representativas.

Nos JDC, no conceito de táctica vincam-se três aspectos característicos: a sua ligação ao jogo, isto é, ao contacto directo entre os opositores e os companheiros; o seu carácter de execução para tornar operativa a estratégia, à qual cabe a concepção e a direcção; e a sua estreita dependência da estratégia.

Para melhor nos situarmos face à utilização e ao sentido atribuído ao termo, reunimos no Quadro 2, algumas definições de táctica, preconizadas por diferentes autores.

Quadro 2 - Definições de táctica propostas por diferentes autores (elaborado a partir de Garganta & Oliveira, 1995).

Autor/data

Clausewitz, 1963

Teissie, 1969

Zech, 1971

Bologne, 1972

Ulatowski, 1975

Kunze, 1977

López- Quadra, 1977

Teodorescu, 1977

Cornu, 1978

Letzelter, 1978

País

Alemanha

França

Alemanha

França

Polónia

Alemanha

Espanha

Roménia

França

Alemanha

Definição

Formação e condução dos combates ... levando em conta a acção recíproca.

Modo de organização e adaptação dos movimentos colectivos de ataque e defesa que caracterizam um método ou um sistema de jogo e que definem a maneira de jogar.

Comportamento racional, baseado na capacida -dade de rendimento desportivo próprio e adverso e nas condições exteriores, num confronto individual ou por equipas.

Resposta espontânea dos jogadores, no plano individual e colectivo, às situações que se lhes deparam, tanto no ataque como na defesa.

Conjunto de meios aplicados para atingir o objectivo fixado. Arte de organizar e dirigir as acções no decurso da competição desportiva.

Método pelo qual, no ataque ou na defesa, com ou sem bola, resulta a disputa, individual ou colectiva com o adversário.

Aplicação dos sistemas colectivos de jogo através dos quais se procura superar o adversário no terreno.

Totalidade das acções individuais e colectivas dos jogadores duma equipa, organizadas e coordenadas racionalmente e de uma forma unitária nos limites do regulamento do jogo, com vista à obtenção da vitória.

Reacção espontânea ou iniciativa dum jogador ou grupo de jogadores face a determinada situação e num dado momento. A táctica anima a organização do jogo.

Desenvolvimento de planos de acção e tomadas de decisão que delimitadas temporalmente, por um conjunto de acções na competição, permitem o êxito.

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32 Natureza do jogo de Futebol

Quadro 2 (continuação)

Autor/data

Olivares & Telefia, 1978

País

Espanha

Definição

Utilização adequada dos jogadores de acordo com a sua distribuição no terreno.

Kirkov, 1979 Ex-URSS

Zerhouni, 1980 França

Boulogne, 1981 França

Parlebas, 1981 França

Konzag & Konzag, 1981 Alemanha

Wade, 1981

Hagedorn et ai., 1982

Matveiev, 1986

Weineck, 1983

Ivoilov, 1984

Wrzos, 1984

Inglaterra

Alemanha

Ex-URSS

Alemanha

Ex-URSS

Polónia

Dicionário da Língua Portuguesa , 1985

Duricek, 1985

Ellis, 1985

Schock, 1985

Ex-Checoslováquia

Canadá

Alemanha

Utilização racional das acções individuais de grupo e colectivas contra um adversário com o fim de alcançar o melhor resultado.

Acções individuais e colectivas dos jogadores de uma equipa, limitadas no tempo e no espaço e realizadas em função das situações de jogo.

Expressão última da totalidade das acções desenvolvidas pelos jogadores duma equipa.

Aplicação concreta de meios de acção.

Conjunto dos comportamentos individuais e colectivos, medidas e atitudes que permitem obter o nível óptimo respeitando as regras e o adversário.

Utilização planificada do talento individual ou de grupo e exploração exaustiva dos pontos fracos do adversário.

Sistema de planos de acção e alternativas de decisão para cumprir objectivos temporalmente delimitados, regulando acções de curto prazo para obter êxito momentâneo sobre o adversário.

Arte de condução do confronto desportivo. Uso dos métodos de condução da competição que permitem utilizar com eficácia capacidades (individuais ou da equipa) e aptidões vencendo a oposição.

Comportamento racional, regulado sobre a capacidade de performance e as condições exteriores, num confronto individual ou por equipas.

Conjunto de acções coordenadas e adaptadas dos jogadores duma equipa, tendo por objectiv a obtenção dos melhores resultados em competição.

Forma reflectida, racionalizada, económica e planificada de conduzir o confronto desportivo.

Forma hábil de conduzir um jogo ou um negócio; arte de dispor as tropas no terreno onde devem combater.

Eleição dos meios para realizar o plano estratégico.

Manobras práticas empregues para levantar vantagem no confronto com o adversário ou com a situação.

Utilização das capacidades psíquicas, físicas e das habilidades motoras, segundo as condições da competição.

ivo

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Quadro 2 (continuação)

Natureza do jogo de Futebol 33

Autor/data País Definição

Bauer & Ueberle, 1988

Platonov, 1988

Alemanha

Ex-URSS

Forma para solucionar os objectivos e tarefas relacionados com o jogo, através do emprego estruturado de conhecimentos e experiências.

Utilização dos recursos de um atleta (equipa) durante a competição, tendo em conta as características da modalidade, as condições do envolvimento e as particularidades dos seus concorrentes, com o intuito de exercer um ascendente sobre os seus adversários.

Kern, 1989

Godet, 1991

Konzag, 1991

Alemanha

França

Alemanha

Martin et ai., 1991

Cari, 1992

Gréhaigne, 1992a

LaRose, 1992

Serrano, 1993

Barth, 1994

Alemanha

Alemanha

França

Canadá

Espanha

Alemanha

Gréhaigne & Godbout, 1995 França/Canadá

Decisões tomadas durante a competição que influenciam de uma forma imediata o seu decurso, e as decisões estratégicas a longo prazo.

Utilização dos meios disponíveis. Conjunto de decisões contingentes e anti-aleatórias a tomar, segundo os diferentes contextos de evolução possíveis, para alcançar os objectivos.

Normas e comportamentos individuais que servem para a utilização óptima em competição dos pressupostos condicionais, motores e psíquicos, tendo em conta o modo de jogar do adversário e outras condições (instalações, regras, ...).

Sistema de planos de acção e alternativas decisionals utilizados para a optimização desportiva.

Complexo de habilidades utilizadas para analisar as situações, para tomar decisões e para se adaptar às situações.

Método de acção próprio do sujeito em situação de jogo, através do qual este utiliza ao máximo os constrangimentos, a imprevisibilidade e a incerteza do jogo.

Apelo à manipulação mecânica dos recursos dos atletas no sentido de atingir os objectivos impostos pela estratégia.

Acções de ataque e de defesa que se podem realizar para surpreender ou contrariar o adversário, durante uma partida e com a bola em jogo.

Modos de comportamento e acções e operações individuais e colectivas dos atletas e da equipa, realizados, tendo em conta as regras, o comportamento dos adversários e dos companheiros, bem como as condições externas, com o objectivo de obter o melhor resultado competi -tivo possível, ou uma prestação optimal.

Adaptação pontual às configurações de jogo, sobretudo à oposição, e à circulação da bola.

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34 Natureza do jogo de Futebol

Quadro 2 (continuação)

Autor/data País Definição

Marchi, 1995 Itália Acção racional realizada por um ou mais jogadores com o intuito de atingir um determinado objectivo.

Riera, 1995 Espanha Actuação imediata para superar ou evitar ser superado pelos oponentes. A táctica associa-se ao objectivo parcial no combate com o oponente.

Smith et ai., 1996 Inglaterra Conjunto de decisões e acções desenvolvidas no decurso do jogo.

Mercier & Cross (s.d.) França Arte de colocar e fazer manobrar a equipa sobre o terreno de jogo. Aplicação prática de alguns elementos da estratégia.

Do extenso conjunto de definições atrás apresentado, emergem aspectos essenciais que permitem delimitar a noção de táctica.

O conceito de táctica expressa os níveis de relação intra-equipa segundo os quais se pode desenvolver: a táctica individual e a táctica colectiva (Riera, 1995), contendo esta dois subníveis - a táctica de grupo e a táctica da equipa (Zech, 1977; Zerhouni, 1980; Hagedom et ai., 1982; Bauer & Ueberle, 1988; Barth, 1994).

É possível distinguir dois tipos de objectivos: os imediatos, tomados isoladamente e relativos à acção de jogo, e os de médio e longo prazo, isto é, aqueles que se referem à obtenção da vitória na competição ou num conjunto de competições (Teodorescu, 1977; Letzelter, 1978; Hagedom, 1982; LaRose, 1992).

Embora Bauer & Ueberle (1988) atribuam ao termo táctica duas conotações, i.e., planificação/preparação/organização da partida e realização das acções, o conceito de táctica é referido como possuindo uma dimensão espaço-temporal de realização, traduzida pela sua subordinação à estratégia e pelos constrangimentos espaço-temporais das acções de jogo (Letzelter, 1978; Zerhouni, 1980; LaRose, 1992; Duricek, 1985; Serrano, 1993; Mercier & Cross, s.d.).

O espaço de jogo nos JDC é estandardizado, tem medidas fixas, e é estável. No jogo o que varia não é, portanto, o espaço físico absoluto mas o informacional, o organizacional, que se altera em função da colocação e movimentação dos jogadores, da posse ou não da bola, da zona do terreno ocupada, da velocidade de execução das tarefas, etc.

Deste modo, a táctica não traduz apenas uma organização das variáveis físicas (tempo e espaço) do jogo mas implica também, e sobretudo, uma organização informacional.

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Natureza do jogo de Futebol 35

Como tal, nos JDC não devem ser apenas consideradas as distâncias métricas, mas também o espaço de interacção e a componente decisional (Moreno, 1994). A magnitude de uma distância, nestes contextos, avalia-se não apenas na medida das exigências do foro energético, ou físico, mas também pela dificuldade em cobri-la, de acordo com as sucessivas configurações que o jogo apresenta.

Paia que as opções tácticas sejam eficazes, os jogadores devem eleger os espaços de jogo que permitam um intercâmbio de funções entre os companheiros. Colocam-se as hipóteses possíveis e estabelecem-se relações de preferência que garantam uma maior eficácia (Moreno, 1994). Isto conduz a uma correcta estruturação do espaço de acção de cada jogador gerando um determinado sistema de interacção (Menaut, 1982), ou seja, um complexo de relações mútuas que se estabelece entre os jogadores, de acordo com as finalidades das respectivas acções de jogo.

Assim, o conceito de táctica transcende as missões e tarefas específicas de cada jogador e pressupõe a existência de uma concepção unitária da equipa para tornar o jogo mais eficaz. As transacções que se operam, estando embora limitadas pela disponibilidade dos recursos energéticos e técnicos dos intervenientes, encontram na capacidade de comunicação entre os jogadores da mesma equipa e de contra-comunicação entre os jogadores das equipas em confronto, os seus factores críticos de constrangimento.

O desempenho dos jogadores depende em primeira análise dos aspectos relacionados com o processamento da informação (leitura do jogo) e as decisões (Tavares, 1994). Durante um jogo de Futebol os jogadores, do ponto de vista perceptivo, são receptivos aos estímulos (sinais pertinentes), a partir dos quais tomam decisões (Luhtanen, 1994).

Os comportamentos dos jogadores são induzidos pelas relações de cooperação e de oposição, e portanto, pelas sucessivas transformações que ocorrem ao longo do jogo. Deste modo, a não apreensão da informação veiculada pelas configurações que o jogo apresenta, traduz-se em duas consequências negativas: incompreensão das "linhas de força" do jogo; e consequente inépcia táctica, traduzida na incapacidade para gerar significados pertinentes para os companheiros de equipa.

Numa partida, em cada acção a realizar, os problemas prioritários que se colocam ao jogador são de natureza táctica. Este deve saber o que fazer, para poder resolver o problema subsequente, o como fazer, ou seja, seleccionar e utilizar a resposta motora mais adequada (Garganta & Pinto, 1994). Como tal, as competências dos jogadores e da equipa transcendem largamente o domínio de um conjunto de habilidades técnicas e capacidades motoras para se situarem fundamentalmente em princípios de acção, em

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36 Natureza do jogo de Futebol

regras de gestão da organização do jogo e em aptidões perceptivas e decisionais (Gréhaigne & Guillon, 1992; Deleplace, 1994).

Neste sentido, no processo de treino do Futebol o conteúdo das demais componentes da preparação (técnica, volitiva, física, etc.), deve estar orientado para objectivos de natureza táctica (Venglos, 1974).

Na construção da atitude táctica, o desenvolvimento das possibilidades de escolha de um jogador depende do conhecimento que este possui do jogo, estando a sua forma de actuação fortemente condicionada pelo modo como ele concebe e percebe o jogo, isto é, pelos seus modelos de explicação.

As funções de efectuação constituem o lado vísivel do acto táctico (Mahlo, 1969), sendo suportadas por estratégias do tipo cognitivo ligadas às funções de resolução e compreensão5, que fazem apelo a uma actividade abstracta de representação (modelos).

Como tal, a edificação de atitudes tácticas adequadas é marcadamente influenciada pela forma como o jogo é dado a conhecer ao praticante, decorrendo, em larga medida, dos modelos (de jogo e de preparação) preconizados.

Isto significa que a forma de um jogador entender o jogo e de nele se exprimir, depende de um fundo, ou de um metanível, que constitui aquilo que podemos designar por "modelo de jogo". As relações que o jogador estabelece entre este modelo e as situações que ocorrem no jogo, orientam as respectivas decisões, condicionando a organização da percepção, a compreensão das informações e a resposta motora

O desenvolvimento da atitude táctica supõe o desenvolvimento da atitude de decidir rapidamente, estando esta dependente da atitude de conceber soluções, o que quer dizer que o desenvolvimento das possibilidades de escolha necessita do desenvolvimento de conhecimentos (Gréhaigne, 1992a).

Olivares (1978) fala em mentalidade táctica ou mentalidade de jogo quando se refere à capacidade que os jogadores têm para se dar conta dos problemas tácticos que se apresentam durante o jogo.

Matveiev (1986), recorre à expressão saber táctico para identificar o conhecimento dos princípios e formas racionais da táctica específica duma determinada modalidade. O saber táctico exprime-se sob a forma de aptidões e hábitos, que resultam duma dimensão cognitiva e duma aprendizagem

5Compreende-se algo quando se consegue introduzi-lo num conjunto de informações mais amplo. Explica-se algo quando se expõe o conjunto de informações em que deve incluir-se para ser comprendido. Ou seja, compreende-se uma acção quando se conhece os seus motivos, e explica-se essa acção quando se descreve esses motivos (Marina, 1995).

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Natureza do jogo de Futebol 37

motora, sendo, portanto, um "conhecimento em acção" (Gréhaigne & Godbout, 1995).

Barth (1994), fala em sentido de jogo, e diz que nos JDC este depende sobretudo das capacidades intelectuais (pensamento estratégico-táctico, antecipação, decisão), das capacidades sensoriais (orientação e diferenciação) e do saber estratégico-táctico (leis do jogo, regras de gestão, regulação situacional) dos jogadores.

No decurso duma competição o comportamento táctico não deve restringir-se a um comportamento estável e esteriotipado. Se um jogador procura solucionar as situações de jogo, utilizando os meios (técnicas) mais adequados, de acordo com os contrangimentos que o tempo, o espaço e a própria tarefa lhe impõem, pode dizer-se que revela sentido táctico (Bologne, 1972; Cornu, 1978).

Para Matveiev (1986), o sentido táctico reside: (1) na aptidão para identificar situações e tratar as informações essenciais para a solução dos problemas que podem ocorrer ao longo duma competição; (2) na capacidade para prever as acções do adversário e o curso da competição; (3) na capacidade para escolher a melhor e a mais rentável das variantes possíveis.

Num registo semelhante recorre-se também à expressão cultura táctica (Frade, 1990), a qual constitui um guia de escolhas na acção, referenciado ao conjunto de valores e percepções que decorrem do corpo de significações criado (princípios, regras e modelos de jogo).

A expressão capacidade de jogo, tem sido proposta por alguns autores (Schellenberger, 1990; Brettschneider, 1990; Konzag, 1991), para caracterizar a capacidade complexa que implica a combinação de uma grande diversidade de pressupostos ou requisitos físico-condicionais, psicológicos, técnico-coordenativos e tácticos.

Como salienta C. Hughes (1994), o Futebol é predominantemente um jogo de julgamentos e decisões. Durante os noventa minutos regulamentares a bola está em jogo cerca de sessenta minutos. Desses, cada equipa possui a bola cerca de trinta minutos. Em média cada jogador não consegue ter a bola por mais de dois minutos. O que faz então o jogador nos restantes minutos em que a bola está em jogo? Selecciona, julga, decide.

Numa partida de Futebol, quanto mais tempo duram as acções de jogo (jogadas), menos tem sentido recorrer a esquemas tácticos rígidos ou fixos. Neste sentido, importa que os jogadores desenvolvam sobretudo a adaptabilidade, isto é, como refere Atlan (1985), uma forma particular de adaptação que se evidencia em contextos não definidos à priori.

Deste modo, afigura-se mais importante saber gerir regras de funcionamento, ou princípios de acção, do que utilizar esquemas pré-

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38 Natureza do jogo de Futebol

determinados. O jogador deve ajustar-se não apenas às situações que vê

mas também aquelas que prevê, decidindo em função das probabilidades de

evolução do jogo (Garganta & Pinto, 1994).

Estas alegações reforçam a ideia de que é de toda a conveniência que os

estudos que se requerem do Futebol, incidam eles nos jogadores enquanto

produtores do jogo, ou no jogo enquanto produto da actividade dos

jogadores, não subvalorizem, e muito menos ignorem, o contexto táctico

específico em que a actividade decorre, na justa medida em que são as

sucessivas configurações tácticas do jogo que conferem aos comportamentos dos jogadores e à sua expressão multitudinária, uma localização de sentido.

3.2.1.3. Estratégia e táctica, dimensões do mesmo fenómeno Conforme foi referido, no contexto desportivo a táctica é normalmente

referida à situação voluntária de acções que realizam a estratégia. De acordo com esta perspectiva, o papel da estratégia consiste em

examinar as condições e o carácter do combate desportivo e determinar os meios, métodos e formas que conduzam à sua realização (Wrzos, 1984), ao passo que a táctica, sendo um elemento integrante do próprio conteúdo do jogo, se realiza sobretudo quando a situação implica a adopção de passos intermédios (indirectos) para predispor os meios que viabilizem a obtenção do objectivo fundamental preconizado pela estratégia (Barth, 1994).

Para alguns autores, como Gréhaigne (1992a) e Riera (1995), a estratégia representa o que está previsto antecipadamente enquanto que a táctica é a adaptação instantânea da estratégia às configurações do jogo e à circulação da bola, logo à oposição. A táctica constrói-se no decurso da acção modificando, segundo os determinismos e as variações do contexto, a percepção da informação ou a conduta.

Barth (1994), partilha deste entendimento ao referir que, em sentido lato, a estratégia permite definir uma "linha de conduta" ou um plano de desenvolvimento, a longo ou médio prazo, que é operacionalizado, a curto prazo, pela táctica.

Outros, como Olivares (1978), reportam o conceito de táctica a três aspectos básicos: um do tipo passivo ou teórico, prévio relativamente à partida (jogo), em que se analisam as características positivas e negativas dos jogadores da nossa equipa, em relação directa com as similaridades da equipa oponente; outro aspecto que diz respeito à aplicação de princípios e esquemas, durante a partida propriamente dita; um último que se reporta às inovações e variantes que devem adoptar-se para reforçar os aspectos positivos e corrigir os negativos.

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Natureza do jogo de Futebol 39

Pese embora algumas divergências, parece claro que a maioria dos autores entende que à estratégia compete orientar a evolução da táctica, a fim de que esta possa desempenhar o papel conveniente para a consecução dos objectivos por aquela fixados.

Pode então dizer-se que, tradicionalmente, se distingue estratégia de táctica, colocando a primeira do lado da concepção, planificação e previsão e a segunda do lado da execução, da luta directa com o oponente (Parlebas, 1981; LaRose, 1982; Duricek, 1985; Barth, 1994; Riera, 1995).

Todavia, a restrição temporal de estratégia, que a coloca como plano de acção totalmente pré-determinado, a longo ou a médio prazo, não se afigura compatível com a natureza dos JDC (Garganta & Oliveira, 1995).

Embora a magnitude da conexão entre estratégia e táctica dependa das características de cada modalidade desportiva e de cada situação concreta (Riera, 1995), nos desportos de oposição a relação entre estas dimensões é, de facto, muito estreita.

Enquanto que a estratégia representa um plano global de comportamento e acção para atingir um objectivo, através da táctica procura-se resolver as situações de jogo nas quais existe um problema que não permite uma solução directa. A solução "indirecta" tanto pode ser procurada através da variação das estratégias disponíveis, adoptando diferentes sistemas de jogo ou recorrendo a estratégias paradoxais, como através dos comportamentos tácticos (Barth, 1994).

Sonnenschein (1987), para quem a táctica representa um "agir interactivo", um modo de influenciar os comportamentos dos demais elementos em jogo, reforça igualmente o carácter "indirecto" da acção táctica. Aquilo que caracteriza a acção táctica é precisamente o carácter interactivo dos comportamentos dos contendores, no sentido de exercerem influências recíprocas: a intenção deve ser realizada em função da oposição do adversário (Riera, 1995a), que por sua vez revela uma intenção de sentido oposto.

A mestria táctica decorre da excelência do pensamento operativo do atleta, isto é, do pensamento estritamente ligado à actividade específica, ao jogo. Os melhores jogadores nos JDC distinguem-se dos outros, quer pela velocidade das decisões tomadas durante o confronto, quer pela justeza com que elas são tomadas (Wrzos, 1984; Tavares, 1994).

As acções são direccionadas de acordo com a variabilidade das situações, decorrendo de escolhas-decisões com características estratégico-tácticas.

As decisões estratégico-tácticas surgem, numa dada organização, para responder a contextos variáveis, ambíguos, em que há interdependência

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40 Natureza do jogo de Futebol

entre os diversos elementos, o que implica o envolvimento ininterrupto de feedbacks (Gist et al., 1989; Sagie et al., 1990).

Na hierarquia que se pode estabelecer, a estratégia é um a priori da táctica, na medida em que a actuação táctica é superditada pelo objectivo estratégico. Contudo, há uma zona de confluência onde os resultados das acções tácticas podem implicar uma reformulação da estratégia. Nesta zona de confluência não pode haver conflito de competências, porquanto a eficácia dos comportamentos dos jogadores no jogo, depende da harmonia entre a hierarquia responsável pelos mais altos escalões da estratégia e os níveis subordinados da expressão táctica.

Face a alterações do envolvimento, a decisão estratégica pode ser descrita a partir de sequências de comportamentos do tipo: "se" ... "então" (Thomas & Thomas, 1994; Sagie et ai., 1995). A decisão táctica refere-se sobretudo ao "o quê" e ao "como" dos comportamentos face às mudanças produzidas. Isto é, enquanto que a decisão estratégica está mais relacionada com os fins da mudança, a decisão táctica reporta-se aos meios a utilizar.

Estas afirmações conduzem-nos à ideia de que a estratégia e a táctica estão intimamente ligadas e concorrem para o mesmo fim, o que implica a necessidade de estender o alcance da estratégia ao desembocar da acção propriamente dita, até ser materializada pelo seu intérprete, isto é, pelo jogador.

Neste sentido, considerando que a estratégia inclui os recursos tácticos disponíveis, a táctica é superditada pelos objectivos estratégicos e os resultados da sua acção podem levar a uma reformulação da estratégia (Riera, 1995).

Neste sentido, a estratégia não é um programa, isto é, uma sequência de acções pré-determinadas (Morin, 1990). Pelo contrário, ela permite, a partir de uma decisão inicial, encarar um certo número de cenários para a acção, isto é, de possibilidades futuras e caminhos a elas associados (Godet, 1991).

Um programa caracteriza-se sobretudo pela sua economia, na medida em que é produzido através de automatismos. Uma estratégia, pelo contrário, é determinada por uma situação aleatória, elementos adversos, que pode ser modificada segundo as informações que vão chegando no decurso da acção e segundo os imprevistos que vão surgindo e perturbando a acção (Morin, 1990).

Como sustenta Temprado (1991), os conhecimentos constituintes do pensamento estratégico-táctico estão organizados sob a forma de cenários, ou seja, de acordo com um conjunto de indicadores, de objectivos a alcançar e de efeitos a produzir.

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Natureza do jogo de Futebol 41

Na designada prospectiva estratégica, muito util izada no mundo empresarial, recorre-se frequentemente ao método dos cenários, entendido como o conjunto coerente formado pela descrição de uma situação futura e do encaminhamento dos acontecimentos que permitem passar da situação de origem à situação futura (Bluet & Zemor, 1970; Godet, 1991).

Nesta perspectiva, distinguem-se, classicamente, os cenários possíveis, isto é, tudo o que se pode imaginar; os cenários realizáveis, isto é, tudo o que é possível, tendo em conta os condicionalismos; e os cenários desejáveis que se encontram em qualquer parte do possível, mas não todos necessariamente realizáveis (Godet, 1991).

Nos JDC, o jogador recorre a conhecimentos6 acumulados, à utilização de regras de organização e de gestão do jogo e a técnicas específicas.

Os conhecimentos de que o jogador dispõe permitem-lhe orientar-se, prioritariamente, para certas sequências de acção, em detrimento de outras (Tavares, 1993). Dos diversos aspectos que influenciam a solução de um qualquer problema estratégico no jogo, necessário se torna discernir e seleccionar quais são, para cada caso, os factores dominantes.

O jogador eficaz é aquele que, para além de respeitar as regras de acção e de gestão, possui capacidades e qualidades pessoais que lhe permitem identificar e eleger os factores essenciais e, com base neles, conceber a melhor solução para cada problema.

Não obstante, Barth (1994) refere dois tipos de estratégia: a estratégia lógica, fundada no conhecimento de probabilidades objectivas; e a estratégia paradoxal, que contrasta com a estratégia lógica por privilegiar o subjectivo e a surpresa.

No decurso do jogo, o conhecimento, a informação e a decisão, consubstanciam-se a partir da profusão de relações que se estabelecem entre (Zech, 1971; Teodorescu, 1977; Letzelter, 1978; Hagedom, 1982; Wrzos, 1984; Duricek, 1985; Konzag, 1991; Gréhaigne, 1992a): (1) os sujeitos da acção, ou seja aqueles que se enfrentam, (2) as condições em que se desenvolve o confronto, (3) a relação intrínseca com os objectivos, (4) o carácter sistemático reflectido nos planos e alternativas para a resolução dos problemas colocados.

6 0 conceito de conhecimento é usado de diferentes maneiras dependendo do conteúdo da área em estudo. Todavia, em sentido lato, o conhecimento tem sido tradicionalmente definido como o produto armazenado na memória, resultante de disposições inatas ou de tendências invariantes para interagir adaptativamente com o envolvimento (Newell & Barclay, 1982). A interacção do indivíduo com o envolvimento, no contexto particular do desporto, impõe o confronto da noção de conhecimento com outras igualmente importantes para a compreensão do fenómeno. Para Monteil (1985), enquanto que a informação é um dado exterior ao sujeito, o conhecimento resulta da experiência pessoal, ligada à actividade do sujeito que assimila a informação e se acomoda. O saber é a consequência duma organização intelectual, em que os conhecimentos colocados em relação com a actividade do sujeito, são conscientes e intransmissíveis.

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42 Natureza do jogo de Futebol

Táctica e estratégia não dependem, portanto, do livre arbítrio. Sendo a táctica a aplicação da estratégia às condições específicas do confronto, no decurso do jogo aquela dimensão exprime-se através de comportamentos observáveis, que decorrem de um processo decisional metódico regulado por normas, que pressupõem conhecimento, informação e decisão.

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IV - A investigação em Futebol

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A investigação em Futebol 44

4. Características da investigação em Futebol

Uma ideia é o que é, mais a harmonia de um contexto em que se integre e o interesse pela ressonância nesse contexto.

Vergílio Ferreira (1992)

O rendimento desportivo é condicionado por uma estrutura multifactorial de elementos interagindo de forma complexa (Marques, 1990).

No contexto dos jogos desportivos colectivos (JDC), a identificação dos factores que estão associados à eficiência e à eficácia dos jogadores e das equipas, quer em contextos de treino quer na competição, têm constituído tarefas prioritárias da investigação.

Uma das grandes ambições dos investigadores que gravitam no universo dos JDC é, de há longos anos a esta parte, perceber qual a influência relativa dos diferentes factores no rendimento dos jogadores e detectar as características das equipas bem sucedidas. Aliás, um dos exemplos mais elucidativos deste desiderato pode ser testemunhado por um trabalho de investigação, publicado por G. Hartmann, em 1930, no primeiro número do periódico Research Quarterly, intitulado: What constitutes a good football team?

Não obstante, no âmbito do Futebol, pode dizer-se que a investigação apenas experimentou um incremento significativo a partir dos anos oitenta, constatando-se que os estudos e publicações tratam dois pólos preferenciais: o jogador, enquanto processador do jogo, e o jogo, enquanto produto da interacção recorrente e concorrente dos jogadores e das equipas.

Dos diversos escritos relativos a esta modalidade, repartidos por manuais e artigos de âmbito científico, emergem traços que, no seu conjunto, perfilam um entendimento sobre o jogo e o jogador, ilustrado pelas sucessivas focagens da "objectiva" de análise em relação a várias capacidades e competências que, não raramente, se supõe concorrerem autonomamente para o rendimento desportivo.

Para identificar um quadro de partida que nos permita situar face ao estado actual do conhecimento em Futebol, em relação com a temática que nos propomos abordar no presente trabalho, efectuámos uma revisão dos trabalhos e perspectivas que se afiguram mais representativos.

No que concerne ao quadro teórico de fundamentação e de explicação dos factores que concorrem para o rendimento desportivo em Futebol, a literatura consagra habitualmente quatro dimensões: técnica, física ou energético-funcional, estratégico-táctica e psicológica ou mental. Todavia, a

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45 A investigação em Futebol

nossa análise centrou-se nas três primeiras, por razões que se prendem com o âmbito do estudo.

A abordagem destas dimensões permite configurar diferentes fases no que concerne ao direccionamento da investigação. A primeira e segunda fases, alicerçadas numa perspectiva mecanicista, caracterizam-se, respectivamente, por eleger a dimensão técnica como alvo privilegiado dos estudos e abordagens, e por fazer emergir a dimensão energético-funcional como factor prevalente do rendimento. A terceira fase edifica-se a partir de um interesse crescente pelos aspectos estratégico-tácticos e pela dimensão cognitiva do rendimento, privilegiando-se as perspectivas comunicacional-informacional e sistémica.

4.1. A dimensão técnica da performance Comummente utilizado em distintas actividades humanas, o vocábulo

técnica é entendido, duma forma genérica, como o conjunto de processos bem definidos e transmissíveis que se destinam à produção de certos resultados (Dicionário da Língua Portuguesa, 1985).

No domínio do desporto, sendo o corpo o primeiro instrumento de que o homem dispõe, ele constitui, a um tempo, objecto e meio técnico. Neste contexto assumem particular importância as designadas técnicas do corpo (Mauss, 1980), isto é, as diferentes formas de utilização do corpo que permitem lidar eficazmente com os constrangimentos impostos pelas características das respectivas modalidades desportivas.

Uma dada técnica corporal, na medida em que se configura a partir de um conjunto de padrões fundamentais, é algo identificável, reprodutível e transmissível, revelando uma forte componente cultural. Constitui, portanto, um meio específico para gerar certos efeitos, um "utensílio" reconhecido por uma comunidade, que se consagrou culturalmente através do uso e da eficácia demonstrada na produção de determinados resultados.

Nos JDC, as técnicas não se restringem a movimentos específicos. Constituem acções motoras1, formas de expressão do comportamento (Sisto & Greco, 1995), realizadas no sentido de solucionar os problemas que as várias situações de jogo colocam ao praticante.

Através da técnica o jogador procura optimizar as condições de realização de determinada tarefa de modo a conseguir o máximo rendimento desportivo (Morino, 1982; Bayer, 1994). Neste sentido, trata-se de uma motricidade

1 Enquanto que o termo movimento é aqui entendido na sua acepção mecânica, o termo acção releva, na sua abrangência, o carácter intencional, consciente e determinado de toda a organização do comportamento (Schubert, 1990).

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A investigação em Futebol 46

especializada e específica de uma modalidade desportiva que lhe permite resolver duma forma eficiente as tarefas do jogo.

Durante muito tempo, a técnica foi considerada o elemento fundamental e básico na configuração e desenvolvimento da acção de jogo nos desportos de equipa (Moreno, 1994).

O Futebol não constitui excepção, podendo identificar-se várias concepções que atribuem a primazia à técnica, enquanto factor determinante no ensino e treino, nas quais se consagra a aquisição e aperfeiçoamento do "gesto perfeito", através da repetição de padrões gestuais. Considera-se que a técnica corresponde a um tipo motor ideal (Weineck, 1983), a um modelo ideal de movimento, que pode ser descrito de uma forma biomecânica ou anatómico-funcional (Grosser & Neumaier, 1982) e preconiza-se a repetição exaustiva de movimentos, com incidência quase exclusiva nos "gestos" efectuados com bola (Worthington, 1974).

Deste modo, a técnica, entendida como um conjunto de gestos que definem a maneira de se servir da bola nas condições normais do jogo (Teissie, 1969), ou seja, de a jogar (Ferreira, 1981), restringe-se à capacidade de dominar e entregar o móbil do jogo em benefício próprio, do companheiro ou da equipa (Serrano, 1993).

De facto, grande parte dos escritos relativos ao Futebol denotam uma concepção restritiva da técnica, porquanto a circunscrevem ao conjunto de movimentos efectuados com a bola (passe, remate, drible, recepção, etc.), ignorando as atribuições técnicas que competem aos demais jogadores, que não ao portador da bola, encontrem-se eles na fase defensiva ou ofensiva.

Contudo, as acções de jogo, impliquem ou não a presença directa ou próxima da bola, apelam a requisitos técnicos. Uma corrida rápida, uma desmarcação, uma marcação a um adversário directo, são técnicas utilizadas no jogo de Futebol, o que faz com que este conceito possua uma abrangência maior do que aquela que usualmente se lhe atribui.

Acresce que o uso do termo técnica tem assumido, no contexto específico do Futebol, contornos sui generis. Quando se recorre à expressão: "o jogador X tem técnica", é comum associar o vocábulo à expressão qualitativa de sinal positivo da acção, perspectivando-a à margem do contexto que motivou a sua expressão. Ou seja, um jogador "tem técnica" apenas quando denota uma proficiência que se coadune com determinados preceitos de natureza mecânica.

De acordo com este ponto de vista é privilegiada a dimensão eficiência (forma de realização) da habilidade, independentemente das dimensões eficácia (finalidade) e adaptação, isto é, do ajustamento das soluções e respostas ao contexto (Rink, 1985; Graça, 1994).

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47 A investigação em Futebol

Pode assim dizer-se que estamos em presença duma perspectiva mecanicista, uma vez que a racionalização do movimento corresponde à réplica de racionalização duma máquina simples, ou da 1 § geração, privilegiando-se uma concepção biomecânica do corpo e da actividade desportiva (Moreno, 1994).

Obviamente, as questões da técnica no Futebol não se prendem estritamente com a eficácia. Enquanto que no domínio da eficiência técnica se procura uma conformação a modelos padronizados, a eficácia coloca-se sobretudo relativamente à dimensão adaptativa da técnica face às acções de

jogo. Neste sentido, enquanto que alguns autores conferem à técnica um

sentido ideal e abstracto, outros remetem para a importância da sua faceta dinâmica, adaptativa e relacional.

Na primeira perspectiva considera-se que a técnica é genérica, ideal e impessoal e que consiste na execução dos elementos fundamentais do jogo: passe, remate, drible,... (Araújo, 1976), através da aplicação dos princípios da mecânica humana, no sentido de tornar eficazes os gestos desportivos próprios da modalidade a que respeita (López-Quadra, 1977).

Segundo Bayer (1979), a ideia central é partir do simples para chegar ao complexo, sendo o simples um elemento extraído da totalidade. O todo é o jogo e a equipa, o simples é o elemento técnico e o jogador. A equipa é considerada uma espécie de super- indivíduo (Menaut, 1982), que corresponde ao somatório das competências técnicas dos indivíduos que constituem o conjunto (Bouthier, 1988).

Esta concepção denota uma dicotomia entre a técnica e táctica. Considera-se que a acção de jogo resulta, por um lado, do somatório dos movimentos dos jogadores - a técnica - e, por outro lado, da coordenação dos movimentos entre os componentes da equipa - a táctica (Moreno, 1988).

Os traços desta perspectiva estão bem patentes no exemplo típico do modelo técnico utilizado nas sessões de ensino e treino dos jogos desportivos (Bunker & Thorpe, 1986): 1 9 actividade introdutória; 2- fase das técnicas; 39 jogo.

Neste enfatiza-se a dimensão gestual-técnica em detrimento da dimensão jogo (Bailey & Almond, 1983; Bunker & Thorpe, 1986; Oslin, 1996). A abordagem do jogo é retardada até que os requisitos técnicos sejam perfeitamente executados e os aspectos tácticos são ignorados até que esta "mestria" das habilidades aconteça (Thorpe & Bunker, 1985).

Noutra perspectiva, a técnica é entendida como um meio da táctica (Tavares, 1993), pois implica uma execução coordenada de todos os

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A investigação em Futebol 48

sistemas de percepção e resposta do jogador, em relação com as peculiaridades do envolvimento (Riera, 1995).

A acção de jogo está muito para além dos processos motores contidos na dimensão gestual da técnica (Araújo, 1992). O jogador que recorre a uma dada técnica, no decurso de um jogo, fá-lo sempre em função de um contexto (Moreno, 1989).

Deste modo, técnica e táctica condicionam-se reciprocamente, formando uma unidade (Knapp, 1972; Teodorescu, 1977; Leali, 1985; Araújo, 1992; Tavares, 1993), pelo que qualquer elemento técnico só adquire sentido se for qualificado e avaliado em função da natureza específica do confronto desportivo.

Por isso, na abordagem dos JDC, aos trabalhos centrados nos modelos de execução têm sucedido outros que colocam em evidência uma abordagem centrada nos modelos de decisão táctica (Bouthier, 1993).

No âmbito do ensino e do treino nos JDC, Bunker & Thorpe (1982) constataram que quando a técnica é abordada através de situações que ocorrem à margem dos requisitos tácticos, ela adquire um transfere diminuto para o jogo.

Assim, no âmbito dos JDC a técnica não constitui uma finalidade, devendo antes ser considerada um meio de jogo e utilizada de acordo com as exigências tácticas colocadas pela competição (Smith et ai., 1996).

De acordo com estas concepções, que se enquadram numa outra perspectiva, a técnica, entendida na sua acepção dinâmica, adaptativa e relacional, constitui o conjunto de aprendizagens motoras (Kirkov, 1979) que permitem a um praticante utilizar as suas próprias capacidades em relação com as situações externas: terreno, adversários, etc. (Morino, 1982), com eficácia máxima para o jogo (Teodorescu, 1977).

Neste caso é colocada a tónica na adaptabilidade do jogador ao contexto, no sentido de permitir a resolução dos problemas concretos e imediatos (Ferignac et ai., 1965), duma forma congruente com as configurações que surgem no decurso do jogo. Trata-se de uma perspectiva que se apoia em bases teóricas que convergem com os avanços da Psicologia a propósito do papel das imagens mentais de acção na formação das habilidades e da influência da actividade colectiva nas restruturações cognitivas (Bouthier, 1993).

No domínio dos JDC, vários autores têm contribuído para a redefinição do termo técnica, referindo que esta deve privilegiar a interacção com o envolvimento (Vankersschaver, 1982a; Frade, 1985; Gréhaigne, 1989; Deleplace, 1994; Riera, 1995a) e que os processos técnicos devem constituir actos motores contextualizados, ajustados, em função da regulamentação e

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49 A investigação em Futebol

dos princípios específicos de cada modalidade (Bauer & Ueberle, 1988; Gréhaigne, 1992a; Dufour, 1993).

Contudo, a técnica, entendida como o conjunto de procedimentos utilizados para resolver da forma mais efectiva, racional e económica, os problemas colocados pela competição (Hegedus, 1980; Kunze, 1981), não assume idêntica importância em todas as modalidades desportivas, recebendo, em cada uma delas, uma afectação vectorial diferente.

Enquanto que nas modalidades desportivas de expressão, e.g. ginástica desportiva, o refinamento técnico é uma finalidade, porquanto a técnica intervém autonomamente na cotação da performance, nos jogos desportivos colectivos a selecção e utilização da técnica decorrem da solução pretendida para as diversas situações complexas de jogo (Weineck, 1983), pelo que neste caso, o escopo cognitivo está mais centrado na componente informacional do jogo do que nos detalhes gestuais.

Nos JDC, a técnica, enquanto parâmetro configurador da acção de jogo (Moreno, 1994), constitui uma motricidade hiperespecializada (Bayer, 1979) que se exprime através dum repertório de acções realizadas em função da tarefa que se tem em vista (Kunze, 1981), determinadas pelos aspectos tácticos (Fidelus, 1983; Moreno, 1994).

Conforme Deleplace (1994), no caso duma habilidade como o salto em altura ou o lançamento do disco, as informações são captadas pelo sujeito no âmbito das determinantes mecânicas do movimento. Nas habilidades utilizadas no Futebol ou no Basquetebol, há um primeiro nível de informações captadas conscientemente, concernentes à avaliação da evolução provável da relação de oposição. A decisão é executada através dum gesto complexo que mobiliza um segundo nível de informações, similar ao do tipo de habilidade precedente (salto em altura ou lançamento do disco), mas tratando-as em subordinação à tomada de decisão táctica.

Segundo o mesmo autor, tal é a noção de matriz de acção, a um nível (no Atletismo) ou a dois níveis (nos JDC).

No seu livro, La sintassi dei Cálcio, Accame (1991) estabelece uma homologia entre Futebol e linguagem e preconiza o estudo da dimensão sintáctica do jogo de Futebol, enquanto condição sine qua non de uma adequada formação da competência futebolística. Refere ainda que, tal como na comunicação humana, a palavra isolada não constitui um processo efectivo de significação, também no Futebol um movimento operativo isolado - uma técnica - adquire sentido na medida em que se considera o contexto que justificou a sua exteriorização.

As posições veiculadas remetem para a importância de se ensinar e treinar as técnicas do Futebol a partir do jogo, numa lógica oposta à de

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A investigação em Futebol 50

ensinar e treinar o jogo a partir das técnicas, o que aponta para a necessidade de desenvolver a mestria táctica da técnica (Deleplace, 1979), a técnica situacional (Marchi, 1995) ou a técnica aplicada (Accame, 1991), em detrimento de técnicas isoladas, cuja aprendizagem e exercitação ocorrem à margem dos requisitos do jogo.

Deste modo, em contraste com a abordagem do jogo a partir da técnica, a abordagem do jogo centrada na dimensão táctica, para além de ser mais motivante para os praticantes, permite a exercitação das habilidades técnicas em contextos próximos do jogo (Oslin, 1996).

Bunker & Thorpe (1982), verificaram em praticantes sujeitos à aplicação do modelo técnico de ensino dos jogos desportivos, que estes revelavam técnicas pouco "flexíveis", restrito poder de iniciativa, capacidades decisionals muito limitadas e um fraco conhecimento do jogo.

Em alternativa, outros autores, tal como Werner & Almond (1990) e Werner et al. (1996), advogam a utilização de um modelo táctico de abordagem dos jogos desportivos, centrado nos princípios do jogo, no qual o domínio da técnica não constitua condição sine qua non do conhecimento estratégico-táctico.

Convém, por isso, ter presente que, como refere Riera (1995), nos desportos de oposição, a estratégia, a táctica e a técnica estão intimamente relacionadas. Elas não implicam três acções distintas mas três formas diferentes de contemplar a mesma acção (Figura 5).

Estratégia Táctica Técnica

Palavra-chave planificação confronto execução

O jogador rela-ciona-se com globalidade oponente meio/objecto

Finalidade conseguir o objec- v e n c e r s e r e f i c a z

tivo principal

Figura 5 - Particularidades da estratégia, da táctica e da técnica desportivas (adap. Riera, 1995)

Para resolverem as situações que se lhes deparam no jogo, os jogadores recorrem a formas de execução cujas características são ditadas pela natureza do confronto. Deste modo, face à cadeia acontecimental experimentada por um jogador nas situações de jogo (Figura 6), justifica-se a definição de modelos tácticos que funcionem como complexos de referências que orientam a construção de situações/exercícios nos processos de ensino e treino.

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51 A investigação em Futebol

I JOGO -4

t o ©

Apreensão do jogo

1 ©

Capacidade táctica

0 ' ► Decisões: —

• O que fazer? • Como fazer?

Figura 6 - Cadeia acontecimental do comportamento táctico-técnico do jogador no jogo (adap. Bunker & Thorpe, 1982).

O jogo de Futebol é uma actividade particularmente fértil em situações diversas e descontínuas, às quais o indivíduo que joga e a equipa devem responder duma forma ajustada, em estrita concordância com os objectivos a atingir em cada uma das fases (ataque e defesa).

Durante uma partida surgem inúmeras situações cuja frequência, ordem cronológica e complexidade não podem ser previstas antecipadamente e que reclamam, ao nível do comportamento dos jogadores e das equipas, um elevado e flexível espectro adaptativo.

Neste sentido, a adaptação produz-se na presença de um quadro específico de competências do sujeito em face das alterações do envolvimento.

Ao dizer-se que um jogador de Futebol que efectua um gesto técnico no decurso dum encontro, o deve fazer em função do contexto (Vankersschaver, 1982a; Leali, 1985), isso significa que, antes de agir, o mesmo deve conceber soluções e seleccionar as respostas que lhe parecem mais adequadas de acordo com as condições do envolvimento (Dugrand, 1989).

Uma das facetas reveladoras da competência de um jogador de Futebol, prende-se com a sua aptidão para seleccionar os recursos motores mais adequados no sentido de responder à configuração do jogo num dado instante, e com a capacidade de os utilizar no momento de materializar a

acção. Como tal, a competência do jogador não decorre dum entendimento

mecânico que se restringe ao saber como executar determinadas técnicas (Barrow & Woods, 1979). No sentido de seleccionar e executar a resposta motora mais adequada ao contexto que a reclamou, o jogador deve

Acção motora

0 t

Habilidade motora

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A investigação em Futebol 52

prioritariamente saber o que fazer e quando fazer (Bunker & Thorpe, 1982; Helsen & Powels, 1988; Gréhaigne, 1992a; Garganta & Pinto, 1994).

Os factores de execução são assim determinados por um contexto de oposição e cooperação, pelo que a proficiência técnica decorre deste compromisso. Assim, porquanto dão suporte às acções de jogo, as técnicas específicas do Futebol não podem situar-se fora do quadro que as reclama.

No contexto dos JDC, vários autores preconizam que no ensino, treino e avaliação da técnica não tem sentido separar o modo de fazer das razões de fazer (Deleplace, 1979; Bunker & Thorpe, 1982; Ellis, 1985; Garganta, 1985; Gréhaigne, 1989; Lassierra, 1990; Werner et ai., 1990; Accame, 1991; Graça, 1994; Marshi, 1995).

Para Schock (1987) o vocábulo técnica, nos jogos desportivos, designa todos os movimentos ou partes de movimentos que permitem realizar acções de ataque e defesa, baseados numa intenção de jogo. Deste modo, táctica e técnica são indissociáveis, estando as habilidades técnicas sempre em relação com as apreciações (leituras), escolhas e tomadas de decisão realizadas pelos jogadores (Gréhaigne, 1992a; Burwitz, 1997).

Constata-se a tendência, cada vez mais evidente, para os especialistas perspectivarem a técnica duma forma abrangente, considerando não apenas os estatutos de portador e não portador da bola (Bauer & Ueberle, 1988), mas também as fases do jogo - defesa e ataque - e o efectivo de jogadores -acções individuais, colectivas elementares e colectivas complexas (Queiroz, 1983).

Na tentativa de ultrapassar alguns equívocos, Teodorescu (1975) preconiza que a técnica nos jogos desportivos deve ser perspectivada como parte integrante da táctica individual, entendida como o conjunto de acções individuais utilizadas conscientemente por um jogador nas suas interacções com os seus colegas e adversários. Na medida em que o jogador não executa isoladamente os procedimentos técnicos, mas acções de ataque e de defesa, as acções técnicas devem integram-se nos saber-fazer tácticos.

De acordo com este entendimento, os procedimentos técnicos devem estar integrados na estrutura específica de jogo, desenvolvendo-se sob a égide do pensamento táctico, na medida em que é o raciocínio táctico que confere conteúdo aos procedimentos técnicos (Knapp, 1972; Teodorescu, 1984).

As qualidades básicas do raciocínio táctico exprimem-se na aptidão do atleta para captar, avaliar, discriminar e processar a informação essencial no sentido de resolver os problemas concretos colocados pela competição (Matveiev, 1986).

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53 A investigação em Futebol

Na mesma linha de pensamento, French & Thomas (1987) preconizam que a avaliação das habilidades técnicas deve ocorrer mais em situações abertas, que integrem os aspectos essenciais do jogo, do que em testes realizados em condições analíticas. Também Deleplace (1979) sustenta que, nos JDC, à análise tradicional das técnicas gestuais utilizadas em jogo, se deve substituir outra que contemple o contexto de relações de oposição entre as forças antagonistas em confronto.

Todavia, este desiderato, embora não passando de uma aspiração dos investigadores, é legitimado pela insatisfação gerada face ao reduzido e tímido aporte veiculado pelos resultados de testes realizados em condições que não contemplam as especificidades do jogo.

Por isso, autores como os retrocitados e outros (e.g. Castelo, 1992) têm chamado à atenção para a necessidade de preconizar situações de observação-avaliação dos comportamentos dos jogadores e das equipas em contextos que, no seu conjunto, possam contribuir para respeitar o designado círculo de validade ecológica (Maia, 1996).

Do ponto de vista terminológico, no plano da técnica desportiva, constata-se algumas imprecisões.

Autores anglófonos, como Hughes (1994), Bate (1996) e Werner et ai. (1996), quando mencionam o termo técnica -technique- referem-se à execução normativa do gesto, isolado do contexto do jogo, isto é, à sua realização de acordo com os critérios mecânicos estabelecidos, centrada na dimensão eficiência (Rink, 1985). Neste caso, a componente decisional é mínima.

Quando pretendem referir-se à aplicação da técnica em função do contexto, isto é, à sua dimensão adaptação (Rink, 1985), aqueles autores falam de skill, que definem como a habilidade para seleccionar e executar uma técnica correcta de acordo com as exigências situacionais. Neste sentido, o termo reporta-se a uma actividade organizada e coordenada, relativamente a um objecto ou uma situação, que envolve uma cadeia de mecanismos de natureza sensorial, central e motora (Argyle & Kendon,

1967). Contudo, a abrangência com que se utiliza o termo skill, patenteada numa

das mais representativas obras consagradas aos aspectos da aprendizagem motora, Skill in Sport da autoria de Barbara Knapp (1972), gera acrescidas dificuldades na sua tradução. Segundo a autora, a designação skill emprega-se, na língua inglesa, com acepções diferentes: destreza, técnica, actividade específica, experiência, talento, competência, etc., o que faz com que o seu uso seja controverso, mesmo no contexto linguístico de origem.

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A investigação em Futebol 54

Um professor de Educação Física inglês, Eric Worthington, outrora jogador e treinador de Futebol, questionou a restritividade do conceito de skill de acordo com o respectivo uso linguístico no âmbito desta modalidade. No seu livro Learning & Teaching Soccer Skills, Worthington (1974) identifica skill com habilidade e competência específicas duma actividade.

O autor citado, sustenta que o conceito de habilidade, no Futebol, não deve confinar-se às acções realizadas com bola nem às acções individuais e introduz noções inovadoras como habilidade de grupo e habilidade de equipa, que dizem respeito à forma como as equipas, no seu conjunto, aplicam a estratégia e a táctica. Trata-se, portanto, duma habilidade para jogar na acepção mais ampla da expressão.

Dado que, como foi já referido, a habilidade se encontra relacionada com as apreciações e julgamentos, bem como com a selecção das respostas para resolver as situações do jogo, um jogador competente ao nível técnico sem o confronto de um adversário não o é necessariamente quando colocado face à sua oposição.

Por isso, pode dizer-se que um jogador domina determinado procedimento técnico apenas quando ele for capaz de o utilizar numa situação de confronto desportivo, com um adversário de nível semelhante ou superior ao seu (Ulatowski, 1975).

Como foi já referido, nos JDC os jogadores utilizam sobretudo habilidades motoras complexas, no sentido de dar resposta às diferentes alterações que ocorrem nas condições do envolvimento. A sua realização processa-se em contextos cujas particularidades condicionam quer a selecção da técnica a adoptar quer a sua forma de execução.

Nestes contextos, de acordo com a perspectiva de Poulton (1957), retomada e desenvolvida por Knapp (1972), os atletas recorrem sobretudo aos designados open skills (habilidades abertas), que se caracterizam pelo facto da sua execução se processar em contextos de elevada variabilidade. Os closed skills (habilidades fechadas), utilizados para dar resposta a situações de envolvimento estável, são apenas utilizados em situações pontuais e esteriotipadas.

No caso das habilidades fechadas, a faceta mecânica da execução adquire grande importância. Todavia, a execução de habilidades abertas está subordinada a um meio exterior variável, imprevisível e aleatório, que reclama respostas não esteriotipadas.

Na medida em que são reguladas pelos constrangimentos dos factores exteriores (posição e movimento dos companheiros e adversários, colocação no terreno de jogo, distância do alvo a atacar ou defender, entre outros), a capacidade perceptiva e a tomada de decisão desempenham um papel

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55 A investigação em Futebol

crucial (Crossman, 1959; Pawels & Vanhille, 1985; Graça, 1994), porquanto o pensamento táctico do jogador é condicionado pela forma como o atleta capta as informações do envolvimento necessárias à adequada orientação das acções motoras (Tavares, 1993).

Quer isto dizer que uma ajustada tomada de decisão é, pelo menos, tão importante quanto uma boa técnica (Smith, 1976).

Deste modo, no Futebol como noutros JDC, a execução das acções motoras, longe de se restringir ao âmbito mecânico e energético, é essencialmente ditada pelas tomadas de decisão (Burwitz, 1997), formuladas a partir de soluções mentais adoptadas em função de contextos variados (Mannoetal., 1992).

Na justa medida em que a eficácia da acção do jogador depende da estreita adequação do seu comportamento às sucessivas alterações produzidas no envolvimento, o Futebol é designado por desporto situacional de opção táctica (Petrocchi & Roticiani, 1996), ou por modalidade de mapa aberto (Morino, 1985; Delfini, 1994),

Face a estes argumentos, o inventário de padrões técnicos habitualmente inserto nos livros sobre o ensino e treino do Futebol, afigura-se, de alguma forma, antinómico, na medida em que aqueles são perspectivados à rebelia da natureza situacional do jogo e apresentados como se de "habilidades fechadas" se tratasse.

Dado que a maior parte das acções se realiza com recurso às designadas habilidades abertas, em confronto com adversários, o Futebol é considerado uma actividade aberta com adversário e, portanto, uma modalidade táctica por excelência (Dugrand, 1989; Toran, 1995).

No âmbito da investigação constata-se a existência de vários trabalhos que, sob ângulos diversos, abordam as questões da técnica no Futebol.

Tendo como centro de interesse a aprendizagem da técnica e as suas consequências, Vankersschaver tem vindo a estudar o processo de aquisição das habilidades motoras no Futebol, a partir da análise da capacidade de tratamento da informação dos jogadores, de acordo com o seu nível execução.

Num dos seus trabalhos, datado de 1983, Vankersschaver analisou a acção de condução da bola em corrida, realizada por jogadores de Futebol de diferenciados níveis de execução. A análise desta tarefa visual dupla, assim designada porque as referências visuais do jogador se repartem entre a bola e os sinais veiculados pelos restantes elementos do jogo, permitiu concluir que, nas diferentes etapas da formação desta habilidade, a evolução se caracteriza pela passagem do controlo visual ao controlo quinestésico.

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A investigação em Futebol 56

Ao progressivo refinamento técnico parece assim corresponder uma transferência da atenção visual do sujeito, da bola para os demais elementos do jogo, facto que testemunha, de uma forma clara, a estreita relação entre os aspectos técnicos e tácticos no Futebol (Lassierra, 1990). Ao adoptarem, na sua relação com a bola, o controlo quinestésico em detrimento do controlo visual realizado através da visão central, os jogadores mais evoluídos tecnicamente encontram-se também mais capacitados para captar a informação inerente aos aspectos estratégico-tácticos do jogo.

Numa direcção de pesquisa diferente, alguns estudos têm-se focalizado na expressão qualitativa e quantitativa das principais acções técnicas do Futebol: recepção, drible, passe, remate, desarme e intercepção (Rico, 1994). Noutros procura-se relacionar a performance técnica com a zona do terreno onde as respectivas acções ocorrem (Franks & Goodman, 1986; Hughes, 1988).

O Futebol caracteriza-se por uma grande variedade de situações nas quais a precisão e a velocidade de movimentos é reclamada aos jogadores. Neste sentido pode dizer-se que se trata de uma modalidade que exige elevados níveis de coordenação motora (Starosta, 1990).

Contudo, no jogo de Futebol as acções, com e sem bola, desenvolvidas pelos jogadores diferem no que concerne à duração, espaço, velocidade, direcção e técnicas utilizadas, de acordo com a finalidade táctica (Luhtanen, 1988).

Nesta linha têm surgido vários estudos que denotam a preocupação de analisar a actividade do futebolista, durante o jogo de Futebol, a partir de indicadores técnicos e/ou técnico-tácticos (Quadro 3).

Quadro 3- Estudos (variável observada, autor, país de origem e data) nos quais a actividade do futebolista é analisada a partir de indicadores quantitativos e quantitativos de âmbito técnico e/ou técnico-táctico.

INDICADORES QUANTITATIVOS Número de ataques finalizados Hughes (Reino Unido, 1990); Luhtanen (Finlândia, 1990); Castelo (Portugal, 1992); Bishovets et ai. (Rússia, 1993); Basto (Portugal, 1994); Dufour (Bélgica, 1993); Garganta & Gonçalves (Portugal, 1994); Marella (Itália, 1994); Garganta et ai. (Portugal, 1995)

Número de jogadores directamente envolvidos em cada ataque Castelo (Portugal, 1992); Claudino (Portugal, 1993); Bishovets et ai. (Rússia, 1993); Dufour (Bélgica, 1993); Basto (Portugal, 1994); Garganta et ai. (Portugal, 1995)

Número de passes realizados em cada ataque Reep & Benjamin (Reino Unido, 1968); Piechniczec (Polónia, 1983); Olsen (Noruega, 1988); Luhtanen (Finlândia, 1990); Hughes (Reino Unido, 1990); Dufour (Bélgica, 1993); Basto (Portugal, 1994)

Número de contactos com a bola realizados Morris (Reino Unido, 1981); Talaga (Polónia, 1986); Withers et ai. (Austrália, 1992); Luhtanen (Finlândia, 1990); Dufour (Bélgica, 1993); Castelo (Portugal, 1992); Dogan et ai. (Turquia, 1996)

Número de intercepções realizadas Talaga (Polónia, 1976); Luhtanen (Finlândia, 1990)

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57 A investigação em Futebol

Quadro 3 (continuação)

Número de remates por jogo Gayoso (Espanha, 1980); Castelo (Portugal, 1992); Luhtanen (Finlândia, 1988, 1990, 1993); Basto (Portugal, 1994)

Número e tempo de posses de bola Castelo (Portugal, 1992), Bezerra (Portugal, 1995)

Número de recepções Luhtanen (Finlândia, 1988, 1990)

Número de dribles Luhtanen (Finlândia, 1988, 1990)

Número de duelos (situações de contacto corporal entre adversários) Dufour (Bélgica, 1993)

Número de defesas do guarda-redes Luhtanen (Finlândia, 1990)

Duração do ataque Piechniczec (Polónia, 1983); Luhtanen (Finlândia, 1990); Basto (Portugal, 1994); Garganta & Gonçalves (Portugal, 1994); Garganta et ai. (Portugal, 1995)

INDICADORES QUALITATIVOS Tipo de intersecção (antecipação, tackle, pressão individual) Talaga (Polónia, 1976)

Tipo e efectividade do passe Luhtanen (Finlândia, 1990); Basto (Portugal, 1994); Dufour (Bélgica, 1994); Dogan et ai. (Turquia, 1996)

Tipo de finalização (com ou sem domínio prévio da bola; de situação de "bola parada") Basto (Portugal, 1994); Dufour (Bélgica, 1994)

Zonas e causas de recuperação da posse da bola Bate (Reino Unido, 1988); Castelo (Portugal, 1992); Basto (Portugal, 1994); Garganta et ai. (Portugal, 1995)

Método de jogo ofensivo (ataque posicionai, ataque rápido; contra-ataque) Piechniczec (Polónia, 1983); Castelo (Portugal, 1992); Basto (Portugal, 1994); Garganta & Gonçalves (1994); Garganta et ai. (Portugal, 1995)

Zonas da baliza por onde foram marcados os golos Basto (Portugal, 1994); Dufour & Verliinden ( Bélgica, 1994)

Zonas de intervenção dos jogadores sobre a bola Castelo (Portugal, 1992)

Zonas de origem e finalização dos ataques Gayoso (Espanha, 1980); Bate (Reino Unido, 1988); Luhtanen (Finlândia, 1990); Basto (Portugal, 1994); Garganta et ai. (Portugal, 1995)

Ângulos de precedência dos golos Basto (Portugal, 1994); Gayoso (Espanha, 1980)

Zona de acção preferencial/função do marcador do golo Basto (Portugal, 1994)

Velocidade do jogador em posse da bola

Luhtanen (Finlândia, 1993); Bezerra (Portugal, 1996)

Superfície de contacto e preferência lateral no remate

Starosta (Polónia, 1988); Puignare & Reyes (Espanha, 1990); Dufour (Bélgica, 1993)

Relação numérica gerada pela oposição directa ( 0, 1, 2 ou mais oponentes) Rico & Bangsbo (Dinamarca, 1992); Basto (Portugal, 1994)

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A investigação em Futebol 58

Contudo, a inépcia das conclusões decorrentes dos resultados provenientes de estudos quantitativos das acções técnicas aponta para a necessidade de centrar a análise nas virtuais interrelações entre variáveis qualitativas e quantitativas, já que nenhuma delas pode perfilar per se os traços dominantes do jogo (Gréhaigne, 1989; Dufour, 1993; Garganta, 1995).

Alguns trabalhos sustentam a importância da análise conjugada das expressões quantitativa e qualitativa, bem como da eficiência e eficácia, da dimensão técnica.

Puignare & Reyes (1990), a partir dos jogos realizados no Mundial do México/86, analisaram a acção técnica dos jogadores durante a execução do penalti, tomando em consideração a preferência lateral, relativamente ao pé que contacta com a bola (direito ou esquerdo) e a zona da baliza para onde a bola é dirigida (direita ou esquerda).

Concluíram que 77.7% dos remates foram executados com o pé direito e 22.2% com o pé esquerdo. 70% foram dirigidos para a zona direita da baliza (lado direito do guarda-redes) e 30% para a zona esquerda (lado esquerdo do guarda-redes). Os mesmos autores constataram ainda que os jogadores destros remataram com maior frequência para a zona direita da baliza enquanto que os esquerdinos o fizeram mais vezes para a esquerda.

Quando comparados com os destros, os futebolistas esquerdinos gozam de uma reputação quase ancestral que os considera detentores de uma habilidade superior à média.

Todavia, ao comparar a lateralidade pedal entre 50 futebolistas praticantes de alto nível, 25 esquerdinos e 25 destros, Guillodo (1990) constatou que o jogador destro é, quanto a este aspecto, mais polivalente do que o esquerdino, na medida em que utiliza com maior frequência o pé não dominante.

Starosta (1988), a partir duma análise extensiva dos remates efectuados em jogos dos Campeonatos do Mundo, Argentina/78, México/86, e de competições nacionais de Futebol da Polónia, estudou as superfícies de contacto utilizadas e a preferência lateral dos respectivos executantes.

O autor mostrou que os rematadores mais bem sucedidos (com maior número de golos) revelaram simetria lateral no remate, isto é, utilizaram quer o pé esquerdo quer o direito nas acções de finalização.

No seu conjunto, estes dados sugerem que a versatilidade técnica parece ser uma característica importante dos jogadores de alto nível de rendimento, com implicações na dimensão táctica do jogo. Embora nas acções técnicas de contacto com a bola o recurso a um membro inferior dominante não deva ser excluída, parece de toda a conveniência que a aprendizagem e o treino

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59 A investigação em Futebol

do Futebol contemplem situações que estimulem a bilateralidade pedal do jogador, isto é, que induzam a utilização eficaz do pé direito e do pé esquerdo.

Na medida em que o Futebol reclama a utilização de habilidades abertas, quanto mais ampla for a gama de recursos corporais ou motores (técnicas) de um jogador mais elevado será o seu potencial para gerar soluções eficazes no contexto do jogo.

No âmbito do Futebol de alto nível competitivo, a existência de um crescente número de jogadores com simetria ou bilateralidade pedal é, mais do que um presságio (Starosta & Bergier, 1993), uma condição importante. Não obstante, não é despiciendo sobrevalorizar a dimensão qualitativa deste requisito, traduzida num superior refinamento táctico-técnico, porquanto este se reveste de capital importância para o jogo, nomeadamente no que diz respeito às acções indutoras de desequilíbrios do balanço ataque/defesa.

Noutro registo, pode dizer-se que a análise da técnica constitui uma das mais importantes direcções de investigação da biomecânica aplicada ao Futebol (Lees, 1993). Neste domínio, a investigação tem-se focalizado quer na definição de modelos de movimento, quer na relação da funcionalidade muscular com as condições de execução técnica.

Kollath & Schwirtz (1988) estudaram a influência da eficiência mecânica no lançamento da bola pela linha lateral. Outros investigadores têm centrado a análise biomecânica nas acções técnicas realizadas pelo guarda-redes (Eda, 1969), e.g. mergulho (Suzuki et ai., 1988) e impulsão vertical (Marella et ai., 1996).

Todavia, não obstante a complexa gama de acções motoras que integram o jogo de Futebol, as acções de remate têm sido as mais investigadas (Lees, 1993), quer no que se refere ao padrão de movimento (Stoner & Ben-Shira, 1976; Bloomfield et ai., 1979; Elliot et ai., 1980; Phillips, 1985; Olson & Hunter, 1985; lsokawa& Lees, 1988; Luhtanen, 1988b; Opavsky, 1988; Casale, 1995; Sforza et ai., 1997) e ao padrão de actividade neuro-muscular (Robertson & Mosher, 1985; De Proft et ai., 1988; Narici et ai., 1988), quer no que concerne à influência da eficiência mecânica na potência do remate (Togari, 1972; Shibukawa, 1973; Asami & Noite, 1983; Putnam, 1983; Cabri et al., 1988; Ródano & Tavana, 1993) e na sua precisão (Zaciorski et al., 1980).

Godik et al. (1993), num trabalho de interface entre a biomecânica e o treino, estudaram a influência de diferentes cargas de treino na precisão do remate, e a relação desta com a respectiva corrida preparatória.

Constataram que, quando os jogadores são solicitados para efectuarem remates à sua velocidade de corrida "normal", aqueles que registam uma corrida preparatória mais rápida são os que conseguem obter remates com

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A investigação em Futebol 60

maior precisão. No entanto, esta relação inverte-se quando se lhes pede para executarem os remates com corrida à máxima velocidade, pois que, neste caso, os jogadores cuja velocidade máxima é mais baixa conseguem realizar remates mais precisos.

Daqui se pode concluir, tal como já o haviam feito Zaciorski et ai. (1980), que existe, em relação à corrida preparatória para o remate e para cada jogador, uma velocidade optimal que permite atingir o alvo com precisão.

Godik et ai. (1993) referem ainda que a precisão dos remates se altera com a fadiga causada pelas cargas de treino. Enquanto que para uma velocidade de corrida considerada normal para cada jogador, quando o treino é predominantemente aeróbico a precisão dos remates não sofre alterações significativas, quando o treino é prevalentemente anaeróbico a precisão decresce significativamente para a mesma velocidade.

Não obstante, como o demonstraram Zaciorski et ai. (1980), há outros factores que influem na precisão do remate, tal como a complexidade da tarefa e a colocação do pé de apoio (de bloqueio) em relação à linha da bola no momento do remate.

Curiosamente, estes temas de estudo têm sido abordados por vários autores russos. Alguns trabalhos, referidos por Godik et ai. (1993), estão publicados em periódicos especializados (Zatsiorsky & Smimov, 1976; Godik & Skomorokov, 1981; Gadjiev et ai., 1982; Popov, 1986), outros foram objecto de dissertações de doutoramento (Smimov, 1975; Babudjan, 1978; Mechdi, 1984; Shestakov, 1984).

Os resultados obtidos a partir da definição de modelos motores relativos às habilidades técnicas do Futebol (Luhtanen, 1989b) e aos padrões de actividade muscular, pese embora a sua coerência interna, devem ser interpretados e utilizados com o cuidado que se impõe.

Embora salvaguardando a importância relativa dos estudos mencionados, no Futebol, não parece viável determinar um modelo geral de técnica que seja "boa" ou "má" a partir de preceitos mecânicos pré-fixados. Não obstante a execução de uma determinada técnica se aproxime mais ou menos de um modelo teórico ideal, a sua característica fundamental é permitir a interacção eficaz entre o jogador e as situações de jogo.

As situações que ocorrem num jogo de Futebol, com excepção dos designados lances que representam as fracções constantes do jogo, também denominados lances de "bola parada" (livres, cantos, pontapés de baliza), fazem com que a execução das diferentes técnicas utilizadas pelos jogadores se processe, não em condições estandardizadas mas, pelo contrário, em contextos imprevisíveis de grande variabilidade.

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61 A investigação em Futebol

Não obstante, a tarefa duma equipa é um desempenho colectivo realizado para vencer a oposição, com base na cooperação, o que implica, a cada momento e para cada jogador, o conhecimento das acções dos seus companheiros e adversários, assim como as consequências possíveis e prováveis dessas acções (Gamier, 1979).

Roth (1990) evidencia a importância da estreita relação entre formação estratégico-táctica e formação técnico-coordenativa nos jogos desportivos colectivos, e coloca o acento tónico na dominância dos aspectos estratégico-tácticos. Este autor refere que a técnica, tal como as capacidades condicionais, nos jogos desportivos não tem um sentido autónomo. Apenas adquire sentido sobre um fundo de planos e concepções tácticas.

A adaptação do jogador às condições especiais que lhe são colocadas no processo de treino, não se confinam, portanto, à dimensão orgânica e muscular. O pensamento táctico é um dos pressupostos mais importantes a ter em conta no processo de adaptação do jogador ao treino, razão pela qual o desenvolvimento do sistema funcional e motor, deve ser obtido através do complexo técnica-táctica (Tschiene, 1994).

Procura-se desenvolver competências que apelem à utilização das habilidades motoras e das capacidades físicas e psíquicas, segundo os constrangimentos da competição, no sentido de solucionar problemas tácticos colectivos e individuais (Schock, 1987).

Schubert (1990), na mesma linha de pensamento, alerta para a conveniência de, nos desportos situacionais, os principais objectivos formativos se centrarem, não nos aspectos técnicos nem nos condicionais, mas na capacidade complexa de acção. No contexto dos jogos desportivos, Brettschneider (1990), utiliza a expressão capacidade de jogo, para designar a capacidade de comunicar com os outros e de interagir com eles no espaço e no tempo configurados através do jogo.

A capacidade de jogo é uma capacidade complexa que combina tacticamente uma grande diversidade de capacidades psicológicas e físicas, assim como um grande número de habilidades técnicas, com acções de jogo complexas (Schellenberger, 1990).

Na Figura 7 pode observar-se a ordenação hierárquica dos factores que, segundo Brettschneider (1990) configuram a estrutura da prestação complexa no jogo.

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A investigação em Futebol 62

Processos energéticos

Grau de eficácia da prestação

Factores dominantes da prestação

Pressupostos gerais e específicos da prestação

Processos informacionais

Figura 7 - Estrutura da prestação complexa no jogo, segundo Brettschneider (1990).

O Futebol moderno apresenta-se sobretudo como uma forma de jogo, de forte e organizada oposição entre equipas em confronto (Serrano, 1995), na qual duas formações de onze jogadores repartidos por dois campos disputam um território (Dugrand, 1989).

A actividade empreendida pelos jogadores deve, a todo o momento, estar em consonância com as características das situações às quais pretendem dar resposta, o que faz com que a selecção e a execução das diversas acções a desenvolver sejam essencialmente ditadas por imperativos de ordem estratégica e táctica (Dufour, 1970; Petrocchi, 1995). Neste sentido, como refere Castelo (1992), as acções técnicas estão estreitamente associadas à componente táctica, condicionando-se e influenciando-se reciprocamente.

Assim sendo, o critério mais importante para perspectivar e avaliar os quesitos técnicos decorre da sua efectividade no jogo, portanto, da sua conformidade às tarefas tácticas que os reclamam (Fidelus, 1983).

4.2. A dimensão energético-funcional da performance As máquinas transformadoras de energia, ou da 2- geração, surgidas no

século XVIII, com a revolução industrial, representam uma evolução na forma de entender o movimento e as formas de o produzir (Moreno, 1994).

Os aspectos energéticos são considerados essenciais para a compreensão da prestação dos jogadores, privilegiando-se uma concepção fisiologista do corpo e do movimento.

Nesta perspectiva, com base na análise da actividade desenvolvida durante as partidas, os investigadores têm procurado configurar o perfil

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63 A investigação em Futebol

energético-funcional reclamado pelo jogo de Futebol, nas múltiplas solicitações que este impõe aos jogadores.

Vários caminhos têm sido trilhados. Todavia, os mais explorados são, de acordo com a literatura: (1) a caracterização de indicadores externos: distância percorrida, duração, frequência, tipo e intensidade dos deslocamentos produzidos, repartição dos esforços e das pausas; (2) a caracterização de indicadores internos: frequência cardíaca, lactacidemia e consumo máximo de oxigénio (VO2 máx.).

Os trabalhos pioneiros foram dirigidos para a quantificação das exigências físicas da competição, determinadas a partir das distâncias percorridas pelos jogadores.

O direccionamento das linhas de investigação nesta área, foi alargando o seu âmbito, evoluindo da determinação das distâncias percorridas para a denominada análise do tempo-movimento (do inglês time-motion analysis), através da qual se procura identificar, de forma detalhada, o número, tipo e frequência das acções realizadas pelos jogadores ao longo de um jogo.

Para além do frequentemente citado trabalho de Reilly & Thomas (1976), vários estudos se situam claramente nesta perspectiva (Withers et ai., 1982; Bangsbo et ai., 1991; Pirnay et ai., 1991; D'Ottavio &Tranquilli, 1992; Rebelo, 1993).

Paralelamente, alguns autores têm procurado descrever outra faceta do jogo de Futebol a partir da avaliação de indicadores internos, de âmbito biológico, nomeadamente, a frequência cardíaca, a concentração de lactato sanguíneo e o VO2 máx.

Nalguns casos, como referem Mayhew & Wenger (1985) e Ohashi et ai. (1993), a caracterização do esforço é realizada duma forma indirecta e, não raras vezes, os dados resultantes da avaliação de indicadores externos da actividade do jogador (distâncias percorridas, tipo, número e frequência de tarefas motoras realizadas) são utilizados para, a partir deles, se inferir o comportamento de variáveis individuais de âmbito fisiológico que se depreende influenciarem o rendimento.

Num período de produção bibliográfica que podemos situar entre os anos cinquenta e os anos noventa, é possível dispor de uma quantidade considerável de trabalhos que podem testemunhar o que temos vindo a referir (Quadro 4).

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A investigação em Futebol 64

Quadro 4 - Cronologia de estudos (variável estudada, autor, país de origem e data) nos quais, para caracterizar a actividade do futebolista, se recorreu a indicadores externos (distância percorrida, duração e frequência das acções realizadas) e a indicadores internos (frequência cardíaca, VO2 máx. e concentração de lactato sanguíneo). .

Indicadores externos

Distância percorrida Jakoblew (URSS, 1950*), Krestownikov (URSS, 1952*), Winterbottom (R.U., 1952), Tchaidze (URSS, 1955*), Wade (R.U., 1962), Christiaens (Bélgica, 1966), Choutke (Checoslováquia, 1969*), Agnevik (Suécia, 1970), Palfai (Hungria, 1970*), Saltin (Suécia, 1973), Vinnai (Ex-URSS, 1973"), Knowles & Brooke (R.U., 1974), Whitehead (R.U., 1975), Reilly & Thomas (R.U., 1976), Dufour (Bélgica, 1982), Lacour (França, 1982), Withers et al. (Austrália, 1982), Mayhew & Wenger (Canadá, 1985), Ohashi et al. (Japão, 1988), Van Gool et al. (Bélgica, 1988), Reilly (R.U., 1990), Bangsbo et ai. (Dinamarca, 1991), Pirnay et ai. (França, 1991), D'Ottavio & Tranquilli (Itália, 1992), Rebelo (Portugal, 1993), Avello (Itália, 1995), Meli (Itália, 1995), Maréchal (Bélgica, 1996)

Tipo e/ou intensidade dos deslocamentos Christian (Bélgica, 1966*), Withers et ai. (Austrália, 1982), Dufour (Bélgica, 1983), Saltin (Suécia, 1973), Lacour (França, 1982), Lacour & Chatard (França, 1984), Talaga (Hungria, 1985), Reilly (R.U., 1990), Pirnay et ai. (França, 1991), Rebelo (Portugal, 1993)

Duração e frequência das acções Reilly & Thomas (R.U., 1976), Withers et al. (Austrália, 1982), Mayhew & Wenger (Canadá, 1985), Ohashi et al. (Japão,1988), Yamanaka et al. (Japão, 1988), Ali & Farrally (R.U., 1991), Bangsbo et al. (Dinamarca, 1991), Pirnay et al. (França, 1991), D'Ottavio & Tranquilli (Itália, 1992), Rebelo (Portugal, 1993), Avello (Itália, 1995), Meli (Itália, 1995)

Indicadores internos

Frequência cardíaca Seliger (Checoslováquia, 1968), Raven et ai. (USA, 1976), Reilly & Thomas (R.U., 1976), Solomonko (URSS, 1979), Chamoux et ai. (França, 1980), Smaros (Hungria, 1980), Potiron-Josse et ai. (França, 1980), Dufour (Bélgica, 1982), De Bruyn-Prevost & Thillens (França, 1983), Lacour & Chatard (França, 1984), Vogelaere (Bélgica, 1985), Ekblom (Suécia, 1986), Rhodes et ai. (Canadá, 1986), MacLaren et ai. (R.U., 1988), Rohde & Espersen (Dinamarca, 1988), Van Gool et ai. (Bélgica, 1988), Vankersschaver et ai. (França, 1989), Reilly (R.U., 1990), Ali & Farraly (R.U., 1990a), Pirnay et ai. (França, 1991), Ortega (Espanha, 1992), Bangsbo (Dinamarca, 1993), Drust & Reilly (R.U., 1995), J. Santos (Portugal, 1995), Marella (Itália, 1995), Maréchal (Bélgica, 1996), Brady et ai. (R.U., 1997), Drust & Reilly (R.U., 1997), Islegen et ai. (Turquia, 1997), Odetoyinbo & Ramsbottom (R.U., 1997), Rebelo & Soares (Portugal, 1997), Tamer et ai. (Turquia, 1997)

VO2 max. Agnevik (Suécia, 1970), Williams et ai. (Escócia, 1973), Cochrane & Pyke (Austrália, 1976), Raven et ai. (USA, 1976), Reilly & Thomas (R.U., 1976), Marechal et ai. (França, 1979), Cuevas (Espanha, 1980), Ferret et ai. (França, 1980), Flandrois (França , 1980), Losada (Chile, 1980), Luhtanen (Finlândia, 1980), Vos (Holanda, 1980), Barthélémy (França, 1981), Eclache et ai. (França, 1981), Rochcongar et ai. (França, 1981), Zelenka (Checoslováquia, 1982), Georgescu & Motroc (Roménia, 1984), Jousselin et ai. (França, 1984), Lacour & Chatard (França, 1984), Vogelaere (Bélgica, 1985), Ekblom (Suécia, 1986), Faina et ai. (Itália, 1986), Rhodes et ai. (Canadá, 1986), Iturri & Prado (Espanha, 1987), Apor (Hungria, 1988), Bell (U.K. Gales, 1988), Faina et ai. (Itália, 1988), MacLaren et al. (R.U., 1988), Medelli et ai. (França, 1988), Nowacki et ai. (Alemanha, 1988), Tumilty et ai. (Austrália, 1988), Van Gool et ai. (Bélgica, 1988), Vankersschaver et ai. (França, 1989), Bangsbo et ai. (Dinamarca, 1991), Bunc et ai. (Checoslováquia, 1991), Chatard et ai. (França, 1991), Rahkila & Luhtanen (Finlândia, 1991), Ortega (Espanha, 1992), Matkovic et ai. (Croácia, 1993), Puga et ai. (Portugal, 1993), Vanfraechem & Thomas (Bélgica, 1993), Mercer et al. (R.U., 1995), J. Santos (Portugal, 1995), Tamer et ai. (Turquia, 1995), Williams et ai. (U.K. Gales, 1995), Odetoyinbo & Ramsbottom (R.U., 1997), Tiryaki et ai. (Turquia, 1997), Tamer et ai. (Turquia, 1997)

Concentração de lactato sanguíneo Cochrane & Pyke (Austrália, 1976), Chamoux et ai. (França, 1980), Smaros (Finlândia, 1980), Eclache et ai. (França, 1981), Rochcongar et ai. (França, 1981), De Bruyn-Prevost & Thillens (França, 1983), Ekblom (Suécia, 1986), Van Gool et ai. (Bélgica, 1988), Chamoux et ai. (França, 1988), Gerish et ai. (Alemanha, 1988), MacLaren et ai. (R.U., 1988), Rohde & Espersen (Dinamarca, 1988), Tumilty et ai. (Austrália, 1988), Bangsbo (Dinamarca, 1990), Bangsbo (Dinamarca, 1991), Chatard et ai. (França, 1991), Pirnay et ai. (França, 1991), Bangsbo (Dinamarca, 1993), Smith et al. (R.U., 1993), Brady et ai. (Escócia, 1995), Mognoni et ai. (Itália, 1995), J. Santos (Portugal, 1995), P. Santos (Portugal, 1995), Gatteschi et ai. (Itália, 1996), Maréchal (Bélgica, 1996), Brady et al. (R.U., 1997), Islegen et ai. (Turquia, 1997)

(*) cit. Dufour (1983); (**) cit. Reilly & Thomas (1976)

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65 A investigação em Futebol

Estes estudos, no seu conjunto, têm permitido chegar a diversas

conclusões, umas complementares outras contraditórias.

Distância percorrida A distância total percorrida pelos jogadores no decurso de um jogo é

considerada uma medida da produção de trabalho mecânico, o qual está directamente relacionado com o gasto de energia (Reilly & Thomas, 1976).

A literatura disponibiliza um conjunto de valores de referência provenientes de estudos sobre esta temática (Quadro 5).

Quadro 5 - Distâncias (em metros) percorridas pelos jogadores de Futebol durante o jogo. Data Autor Distância ^____ (metros)

1950 Jakoblew * 5000- 10000 1952 Krestownikov * 14000- 17000 1952 Winterbottom 4500 1955 Tchaidsze * 4500 - 9000 1962 Wade 1600 - 5400 1967 Zelenka et ai. 11500 1969 Choutke * 5000 - 6000 1970 Agnevik 10200 1970 Palfai* 3400 • 5000 1973 Saltin 10900 1973 Vinnai ** 17000 1974 Knowles & Brooke 4800 1975 Whitehead 11600 1976 Reilly-Thomas 8700 1970 Palfai 6000- 8000 1980 Lacour 4000- 8000 1980 Losada 5000- 10000 1980 Smaros 8100 1982 Withers et ai. 11500 1984 Lacour & Chatard 7000- 12000 1985 Talaga 10000 1986 Ekblom 10000 1988 Ohashi et ai. 10000 1988 Van Gool et ai. 10200 1991 Bangsbo et ai. 10800 1991 Pirnay et ai. 7000 -10000 1994 Luhtanen 10000 -12000

(*) cit. Dufour (1983); (") cit. Reilly & Thomas (1976)

Conforme se pode constatar, o Quadro realça uma elevada amplitude de valores registados para as distâncias percorridas pelos jogadores de Futebol durante o jogo (entre 1600 m e 17000 m), o que traduz uma larga discrepância entre os dados publicados.

As diferenças observadas são frequentemente atribuídas à utilização de diferentes métodos de observação (Ekblom, 1986; Tumilty, 1993; Rico, 1994).

Contudo, o progressivo refinamento e uniformização dos meios e métodos de observação têm levado os autores a atribuírem as causas de tais diferenças a outras razões: (i) estilo de jogo praticado (Talaga, 1986;

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A investigação em Futebol 66

Bangsbo, 1993); (ii) nível competitivo (Ekblom, 1986; Bangsbo, 1993); (iii) aspectos tácticos particulares (Bangsbo, 1993; Reilly, 1996); (iv) estatuto posicionai e funcional dos jogadores na equipa (Reilly & Thomas, 1976; Dufour, 1983; Ekblom, 1986; Talaga, 1986; Yamanaka, 1988; Withers et ai., 1992; Bangsbo et ai., 1991; Luhtanen, 1992; Rebelo, 1993); (v) condições de envolvimento, e.g. peculiaridades climatéricas (Ekblom, 1986).

Tipo e intensidade dos deslocamentos Através do estudo da distância percorrida os investigadores têm sido

levados a concluir que a diferença fundamental entre equipas de diferente nível não é a distância percorrida pelos seus jogadores durante o jogo, mas a percentagem dessa distância coberta com elevada intensidade (Palfai, 1979; Ekblom, 1986). Sabe-se que os jogadores de nível competitivo mais elevado empregam uma percentagem maior do tempo total da partida correndo a velocidade maximal.

Todavia, no que se refere à percentagem da distância total coberta em intensidade maximal, os autores não são unânimes: 10% (Talaga, 1985), 11.2% (Reilly-Thomas, 1976), 18.8% (Withers et ai., 1982), 20% (Saltin, 1973), 25% (Lacour & Chatard, 1982).

Contudo, alguns estudos (Reilly & Thomas, 1976; Yamanaka et ai., 1988; Bangsbo, 1993) revelam que, em média, e tendo como referência o tempo total de jogo, os futebolistas estão parados ou a caminhar entre 55 e 60% (50 a 55 minutos); correm a ritmo moderado durante 30-35% (25 a 30 minutos); correm a velocidade quase máxima durante 3-6% (3-5 minutos) e correm a velocidade maximal durante 0.5-2% (22 a 170 segundos).

Quer isto dizer que numa partida de Futebol o jogador está parado ou realiza corridas com intensidade submaximal, 80-85% do tempo total de jogo. Todavia, estes valores diferem quando se considera o estatuto posicionai e funcional de cada jogador (Yamanaka, 1988).

Para além disso, torna-se conveniente notar que as actividades que fazem apelo a velocidades maximais, não obstante ocuparem um volume temporal relativamente reduzido, revestem-se de uma importância fundamental, na medida em que, a maior parte das acções críticas ou decisivas do jogo (remates, desmarcações, saltos, acelerações, mudanças de direcção e sentido, etc.), são executadas de forma explosiva, portanto, com elevada velocidade.

Duração das acções O Futebol é considerado um desporto intermitente, porquanto constitui uma

alternância de esforços e acções de duração e intensidade variáveis

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67 A investigação em Futebol

(Nevmyanov, 1979; Ekblom, 1986; Bangsbo, 1993; Lacour & Chatard, 1984; Vogelaere, 1985; Colli et al., 1987; Reilly, 1996a). Os jogadores realizam esforços aleatórios, ocorrendo fases de intensa participação (sprints, saltos, tackles, remates, etc.) entrecortadas por períodos de menor intensidade (marcha, corrida de baixa intensidade, etc.).

Obviamente, não é possível estandardizar as acções a desenvolver pelos jogadores num jogo, nem a sua sequência. Não obstante, a natureza intermitente do esforço reclamado aos jogadores conduz a que o estudo da repartição dos esforços e das pausas ao longo duma partida de Futebol constitua um conjunto de referências a ter em conta na modelação do treino (Colli, 1986).

Alguns autores (Mayhew & Wenger, 1985; Mckenna et ai., 1988) têm recorrido a um artifício metodológico que consiste em identificar os períodos de esforço (trabalho) com as acções de alta e média intensidade e as pausas (recuperação) com as situações de parado, marcha e acções de baixa intensidade.

Os mesmos referem que as acções de alta e média intensidade cobrem cerca de 10% do tempo total de jogo (8-9 minutos) enquanto que as acções de baixa intensidade ocupam cerca de 90% do tempo total de jogo (80 minutos).

Contudo, tem-se verificado uma gradual mas significativa diminuição do tempo útil de jogo (do México/70 até Itália/90 diminuiu, em média, cerca de 10 minutos) o que se traduz em mais e/ou maiores intervalos de recuperação entre as fases activas do esforço, facto que tem permitido um aumento da intensidade nas fases activas do jogo (Pinto, 1991).

Importa, no entanto, registar que a relação entre os períodos de intensidade variável, desenvolvida pelos jogadores durante o jogo, se altera consoante: (1) o nível de jogo - nos jogos da 1§ divisão ocorrem mais períodos de intensidade elevada do que nas divisões inferiores (Whitehead, 1975); (2) o modelo e estilo de jogo - as equipas inglesas realizam mais períodos de intensidade elevada do que as equipas suecas (Ekblom, 1986); (3) as funções que o jogador desempenha na equipa - os avançados e os defesas centrais executam mais acções explosivas (saltos) do que os outros jogadores (Withers et ai., 1982; Reilly & Thomas, 1986).

Frequência Cardíaca (FC) A FC é um parâmetro frequentemente utilizado como indicador da

intensidade do esforço e como medida indirecta do custo energético da actividade física (Solomonko, 1979).

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A investigação em Futebol 68

Todavia, à elevação da FC nem sempre corresponde o aumento da intensidade do esforço. Numa situação de stress ou de inadaptação ela pode atingir valores elevados sem que a isso corresponda qualquer aumento do esforço produzido (De Bruyn-Prevost & Thillens, 1983; Vogelaere, 1985). Quer isto dizer que actividades formalmente semelhantes realizadas em condições diferentes, por exemplo situação de treino, jogo particular ou jogo oficial, podem ter reflexos diferentes na FC.

A labilidade deste indicador pode ainda ser atestada por um conjunto de factores que se sabe afectarem a sua expressão: idade do sujeito, estado de treino, tipo de esforço, fases do jogo, condições ambientais (temperatura, estado do terreno de jogo e nível competitivo, entre outros (Ekblom, 1986; Soares, 1988; Bangsbo, 1993; Janeira, 1994).

Para além disso, a frequência cardíaca máxima apenas é atingida nalgumas fases do jogo que correspondem a períodos de intensidade elevada (Lacour & Chatard, 1984). Ao longo do jogo, cerca de 2/3 do tempo total, a FC situa-se à volta de 85% da FC máxima (Agnevik, 1970; De Bruyn-Prevost & Thilens, 1983; Ekblom, 1986), registando valores entre 160-170 batimentos por minuto (Reilly & Thomas, 1979; De Bruyn-Prevost & Thilens, 1983; Van Gool et ai., 1989; Pirnay et ai, 1991; Maréchal, 1996).

Não obstante estes valores de referência, constata-se que os futebolistas registam claras diferenças interindividuais relativamente aos valores da FC, o que não se deve unicamente à condição física, mas a factores como a motivação (Bangsbo, 1994), ao estatuto posicionai/funcional e a outros condicionalismos tácticos (Van Gool et ai., 1988; Bangsbo, 1994).

Deste modo, pese embora a larga utilização da FC, a interpretação dos seus valores deve ser realizada com cuidado (Janeira, 1994).

Consumo máximo de oxigénio (VO2 máx.) O consumo máximo de oxigénio é um parâmetro utilizado para avaliar, não

tanto a intensidade do esforço, mas sobretudo a capacidade aeróbica de trabalho dos futebolistas (Ayestarán, 1993).

Contudo, a avaliação do VO2 máx. é habitualmente realizada em condições que não se assemelham, no essencial, à actividade que o jogador desenvolve em jogo (Ekblom, 1986), pelo que se torna, mais do que fictício, abusivo predizer o comportamento deste indicador na competição ou definir qualquer perfil.

Sabe-se que o VO2 máx. não constitui um factor preponderante na prestação de um futebolista (Faina et ai., 1986), pois a sua capacidade de trabalho não é necessariamente condicionada por este parâmetro (Bangsbo & Mizuno, 1987).

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69 A investigação em Futebol

Os resultados encontrados em jogadores de alto nível revelaram que estes não possuem um VO2 máx. excepcional (Jousselin et ai., 1984; Faina et ai., 1986; Rhodes et ai., 1986; Vanfraechen & Thomas, 1993), mesmo quando comparados com indivíduos não atletas, possuidores de uma condição física razoável.

Todavia, este entendimento não é consensual. Autores como Rochcongar et ai. (1981), Reilly (1983), Lacour & Chatard (1984) e Apor (1988), sustentam que existe uma relação directa entre o nível de preparação do jogador e o respectivo valor de VO2 máx.

Não obstante, o VO2 máx. parece constituir um argumento que beneficia a prestação do futebolista duma forma indirecta, na medida em que, ao viabilizar uma recuperação mais rápida entre esforços, retarda o aparecimento da fadiga (Santos, 1995) e permite ao atleta manter o desempenho de elevadas intensidades (Tumilty, 1993).

Como se pode constatar no Quadro 6, os valores de VO2 máx. evidenciados por jogadores de Futebol revelam claras diferenças, correspondendo a cifras que oscilam, em média, entre 46.2 e 71 ml/kg/min.

Quadro 6 - VO2 máx. (em mi/kg/min.) de jogadores de futebol.

Ano Autor VO2 máx. (ml/kg/min)

1964 Hollman et ai. 65-67 1967 Saltin 63.0 1970 Agnevik 56.5 1970 Caru et ai. 56.0 1973 Williams et ai. 57.8 1975 Reilly & Thomas 66.0 1976 Raven et al. 58.9 1979 Maréchal et al. 64.7 1980 Cuevas 46.2 1980 Flandrois 71.0 1980 Losada 66.0 1981 Barthélémy 47.1±1.6 1981 Eclache et al. 51.0 1984 Jousselin et al. 63.9±5.5 1985 Vogelaere 49.0 1986 Ekblom 61.0 1986 Rhodes et al. 58.7±4.1 1988 Faina et al. 58.9+6.1 1991 Bangsbo 60.6±1.0 1991 Bunc et al. 61.9 1993 Bangsbo 60.5 1993 Matkovic et al. 52.7±10.7 1993 Puga et al. 58.4 1993 Vanfraechem & Thomas 56.5±7.0 1996 Maréchal 58.0 1997 Tiryaki et al. 51.6±3.1

A disparidade entre alguns destes valores parece decorrer da utilização de diferentes protocolos de avaliação e ergómetros utilizados (Ekblom, 1986; Ayestarán, 1993; Janeira, 1994). Contudo, grande parte das diferenças deve ser também atribuída à variabilidade de situações inerente a aspectos tácticos do jogo (Bangsbo, 1993), nomeadamente ao estatuto posicionai e às

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A investigação em Futebol 70

funções específicas dos jogadores, bem como ao estilo e métodos de jogo adoptados pelas equipas (Reilly, 1996a).

Sabe-se, por exemplo, que os médios e os defesas laterais registam normalmente os valores mais elevados de VO2 máx., e que os mais baixos são obtidos pelos avançados e defesas centrais (Van Gool et ai., 1988; Bangsbo, 1993; Puga, 1993; J. Santos, 1995; P. Santos, 1995).

Toda esta labilidade explica, em grande parte, a razão porque não tem sido atribuída grande atenção aos valores do VO2 máx. em modalidades cuja estrutura é fortemente determinada por condicionalismos técnicos e tácticos (Janeira, 1994).

Concentração de lactato sanguíneo Alguns autores estimam que a intensidade média de uma partida de

Futebol corresponde a 75-80% do VO2 máx. (Ekblom, 1986) o que indicia que os processos aeróbicos predominam sobre os anaeróbicos (Pirnay et ai., 1991; Maréchal, 1996).

Todavia, esta predominância parece situar-se apenas no plano quantitativo, na medida em que são as acções curtas de intensidade maximal (saltos, sprints, acelerações, remates, etc.) que provocam desequilíbrios no balanço ataque <-> defesa.

Deste modo, as fases menos intensas e mais numerosas (aeróbicas) funcionam como "pano de fundo", enquanto que as fases curtas e intensas (anaeróbicas), embora menos numerosas, constituem no plano qualitativo as "fases críticas" do jogo.

A participação do metabolismo anaeróbico durante uma partida de Futebol fornece uma ideia acerca da intensidade do esforço produzido (Ekblom, 1986; Ayestarán, 1993). Ela pode ser estimada a partir do estudo da evolução da concentração de lactato no sangue (Ferret et ai., 1980; Bangsbo, 1993).

Autores como Faina et ai. (1986), Grosgeorge (1990) e Maréchal (1996) consideram que, dadas as características do esforço em Futebol - acções pouco intensas e repetidas, alternadas com acções explosivas, curtas, de intensidade maximal - o metabolismo anaeróbico láctico parece não desempenhar um papel importante.

Contudo, no Futebol, o papel deste tipo de metabolismo não está ainda totalmente clarificado (Tumilty et ai., 1988)

Outros autores consideram que o futebolista deve ser capaz de suportar consideráveis concentrações de ácido láctico no sangue, porque tem que responder a esforços que, embora curtos, se repetem, entrecortados por recuperações incompletas (Mercier, 1981; Mayhew & Wenger, 1985; Colli et ai., 1988).

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71 A investigação em Futebol

No entanto, de acordo com os valores médios de lactacidemia medidos, por diferentes autores, em futebolistas, os resultados variam visivelmente (Quadro 7).

Quadro 7 - Valores médios de lactacidemia (em mmol/l) medidos em jogadores de futebol.

Autor Lactacidemia (mmol/l)

De Bruyn Prévost & Thillens (1983) 2.7

Pimayetal. (1991) 3.5- 4.5

VanGooletal. (1987) 4.0

Pimayetal. (1991) 4.0

Bangsbo (1991) 4.4

Smaros (1980) 4.0-5.0

Gerishetal. (1988) 4.7-5.6

Ekblom (1986) 7.0-8.0

Agnevik (1970) 10.0

As diferenças para tais resultados parecem radicar sobretudo: (1) na diferente capacidade de cada jogador para oxidar o lactato produzido (Bangsbo et ai., 1991); (2) nas características dos esforços que antecedem o momento da recolha da amostra de sangue (Soares, 1988; Bangsbo, 1993); (3) nas diferentes atribuições tácticas dos jogadores (Gerish et ai., 1988); (4) no ritmo de jogo (Tumilty et ai., 1988).

Sabe-se, por exemplo, que existe uma correlação positiva entre os valores de lactacidemia e a quantidade de deslocamentos de alta intensidade realizados no jogo (Bangsbo et ai., 1991). Todavia, o lactato é constantemente removido e metabolizado durante as fases menos intensas do jogo (Van Gool et ai., 1987).

Dado que a relação aleatória entre períodos de maior e menor intensidade é determinada pelas sucessivas configurações e atribuições tácticas que se perfilam no decurso de um jogo, os resultados obtidos só podem ser interpretados duma forma pertinente e ajustada se referenciados aos contextos tácticos que motivaram a sua expressão.

Aliás, o estudo de Gerish et ai. (1988) ilustra um modo de analisar o comportamento de variáveis fisiológicas ao longo do jogo, no caso a concentração de lactato, em relação com as atribuições tácticas e o estatuto posicionai dos jogadores.

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A investigação em Futebol 72

Em síntese Dos dados da investigação parece legítimo inferir que as capacidades

configuradas a partir da dimensão energético-funcional, talvez a mais profusamente abordada até ao momento, não são de facto faculdades substantivas, mas capacidades subsidiárias do rendimento que apenas adquirem sentido quando enquadradas no contexto que motivou a sua expressão.

Não obstante a proliferação de estudos com as características mencionadas, são alguns dos seus autores têm alertado para a debilidade dos resultados deles decorrentes e para a inconsistência das conclusões, porquanto não são consideradas as peculiaridades tácticas do jogo, nomeadamente o estilo e os métodos de jogo (ofensivos e defensivos) utilizados, bem como as funções desempenhadas pelos jogadores no quadro dos respectivos sistemas tácticos utilizados.

Investigadores, como o britânico Reilly (1994, 1996) e os alemães Liesen & Muecke (1994), notabilizados através dos seus estudos no âmbito da fisiologia do Futebol, alertam para o facto das exigências colocadas ao nível da actividade do jogador de Futebol decorrerem, em larga medida, do nível da competição e das imposições tácticas (estilo de jogo, posição/função do jogador).

Brettschneider (1990) alerta quem pretender analisar os jogos desportivos e a prestação dos jogadores, para o fazer através da análise do contexto no qual ocorrem as acções, não se devendo limitar a aspectos isolados.

Mesmo as características do esforço realizado pelo jogadores de Futebol, a partir da recolha de imagens e posterior análise em vídeo, remetem para o facto da interpretação dos resultados assim obtidos depender fortemente das funções específicas dos jogadores e das características do jogo, bem como da concepção táctica das equipas em confronto (Soares, 1993).

Isto implica que, como refere Van Lingen (1992), qualquer pessoa que ensine, treine ou investigue no âmbito do Futebol, deva conhecer o jogo "por dentro".

O Futebol praticado ao mais alto nível evidencia alterações qualitativas importantes, sobretudo no que se refere ao aumento da efectividade das acções de jogo.

Num artigo de revisão intitulado Características fisiológicas dos jogadores de futebol de elite, Tumilty (1993) conclui que continua por determinar o perfil óptimo do jogador de Futebol e aponta como factores condicionantes: a variedade de testes utilizados; as inerentes dificuldades na comparação de

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73 A investigação em Futebol

resultados; e os problemas metodológicos que se colocam quando se pretende estudar uma modalidade tão complexa.

As posições sustentadas por diversos autores, permitem deduzir que se afigura inglória e ficcionista a procura de um perfil óptimo de jogador de Futebol in abstracto, isto é, à margem dos condicionalismos estratégico-tácticos do jogo.

Diríamos que o cerne do problema parece situar-se, não tanto ao nível da variedade dos testes e das metodologias utilizadas, mas sobretudo na ausência de um esforço integrador que perspective o padrão de actividade do jogador com referência ao distintos enquadramentos tácticos que o motivaram, porquanto dessas dissemelhanças resultam diferentes formas de jogar, exigências diversas, logo, "perfis" distintos.

Nalgumas posições, anteriormente referidas, está implícita a limitação da validade ecológica dos estudos face ao artificialismo do seu enquadramento. Contudo, como foi possível constatar, alguns autores revelam conhecer as limitações dos dados dos seus estudos, facto que pode ser ilustrado pela prudência com que formulam as respectivas conclusões.

A análise de indicadores como por exemplo, a distância percorrida, ou a concentração de lactato sanguíneo, em jogadores de diferentes equipas, adquirem sentido quando perspectivadas no quadro do cumprimento de tarefas tácticas particulares, considerando os princípios directores da actividade, nomeadamente o estilo, os métodos de jogo utilizados e o estatuto posicionai e funcional dos jogadores.

Como tal, afigura-se pertinente a perspectivação do jogo e do jogador a partir de contextos nos quais a componente táctica se constitua como princípio director da organização do jogo, porquanto é a organização da equipa que dá coerência construtiva aos comportamentos, às interacções dos jogadores e que confere ou retira sentido à sua actividade durante o jogo.

As peculiaridades energético-funcionais do Futebol são configuradas, portanto, a partir das características que o jogo vai assumindo no seu decurso.

Tomemos um exemplo como referência. Como foi já mencionado, o que diferencia o nível dos jogadores e das

equipas, no que respeita à actividade realizada durante uma partida de Futebol, não é tanto o número de acções, mas fundamentalmente a intensidade com que elas são desenvolvidas (Palfai, 1979; Ekblom, 1986).

Todavia, a intensidade com que um jogador executa as acções no jogo depende da forma como as equipas jogam, da maneira como condicionam o ritmo do jogo. Deste modo, ela é desencadeada em função da qualidade das

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A investigação em Futebol 74

escolhas e das opções táctico-técnicas efectuadas pelo jogador no decurso

do jogo. Ao longo da história do Futebol, as equipas inglesas sempre foram

consideradas modelares no plano atlético, nomeadamente pelas elevadas intensidades de esforço desenvolvidas pelos seus jogadores no decurso do longo período de tempo que constitui um jogo de Futebol (90 minutos). No entanto, a obtenção de vários resultados desportivos negativos por parte das equipas inglesas, ao nível internacional, essencialmente a partir dos anos setenta, deixaram desde logo perceber que as exigências do jogo de Futebol caminhariam mais no sentido de reclamar inteligência (adaptabilidade) aos jogadores, do que força, resistência ou velocidade, entendidas como capacidades autónomas, relativamente aos respectivos contextos táctico-estratégicos.

Weissweiler (1977), outrora treinador de equipas de renome internacional, como o Borussia de Moenchengladbach, o Colónia e o Barcelona, afirmava que as equipas inglesas do momento incorriam em repetidos insucessos desportivos, pelo facto de exacerbarem a combatividade e a componente física, em detrimento daquilo que designava por "arte de jogar".

Actualmente são já várias as discordâncias provindas do contexto futebolístico inglês, contra o designado futebol de kick and rush (chuta e corre), no qual se abusa do designado estilo de jogo directo2.

Aliás a forma de jogar da selecção inglesa no Campeonato da Europa de 1996, que decorreu em Inglaterra, reflète já uma alteração clara neste domínio. A equipa britânica denotou preocupações em frequentemente realizar a transição defesa-ataque duma forma apoiada, alternando passes curtos com passes longos, adoptando intencionais variações de ritmo e criando espaços de liberdade para a expressão criativa do talento de jogadores como Paul Gascoigne e Steve McManaman.

Isto permite afirmar que no Futebol praticado actualmente ao mais alto nível, caracterizado por requerer um ritmo muito elevado (Olsen, 1988) e por reclamar dos jogadores um empenho permanente, o significado de características como esta pode ser destorcido, quando se atribui às

2 0 estilo directo, também designado por long-ball game (Hughes, 1996), é caracterizado por uma orientação sistemática das acções em direcção à baliza adversária, privilegiando-se o eixo longitudinal do terreno (Gréhaigne, 1989) e quase se omitindo, na fase de preparação do ataque, o jogo de transição. A bola é sistematicamente jogada para a frente (Catlin, 1994), verificando-se uma elevada frequência de passes longos (Hainaut & Benoit, 1979) e de corridas com bola para a frente, reduzindo-se ao mínimo os passes para trás e para o lado (Bate, 1988). No estilo de jogo indirecto, pelo contrário, privilegia-se o jogo de transição, isto é, a fase de preparação do ataque em detrimento da fase de realização ou finalização (Teissie, 1969). Quando uma equipa recorre com elevada frequência a passes curtos e os jogadores, privilegiam o jogo à largura do terreno em relação ao jogo em profundidade, e enfatizam o jogo de transição, manobrando a bola no sector intermédio do terreno, diz-se que estamos em presença de um estilo de jogo indirecto (Hainaut & Benoit, 1979).

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75 A investigação em Futebol

capacidades motoras um estatuto de autonomia à rebelia do contexto que as reclama.

Como diz Van Lingen (1992), quando, tentando analisar alguns aspectos do Futebol, falamos em velocidade ou em potência não conseguimos um aporte de informação importante para melhorar a qualidade do treino e do jogo. A velocidade, por exemplo, está sempre relacionada com os companheiros e os oponentes. É sobretudo uma velocidade táctico-técnica.

Daí a sua dificuldade de avaliação.

Esta dificuldade foi parcialmente experimentada por Luhtanen (1988), quando o autor procurou determinar a fiabil idade de observação na avaliação do desempenho de cinco acções (recepção, passe, drible, remate e defesa do guarda-redes). Para o estudo foram seleccionadas quatro variáveis: (1) técnica utilizada; (2) velocidade do jogador; (3) direcção da bola; (4) resultado da acção.

Na validação inter-observadores a comparação dos resultados permitiu constatar uma elevada percentagem de acordos, com excepção para a variável velocidade do jogador. Este facto parece dever-se às sucessivas acelerações e desacelerações produzidas pelos jogadores para responderem às solicitações do jogo o que, segundo o autor, cria grandes dificuldades de avaliação.

Actualmente sabe-se que não é apenas na forma, mas também no ritmo de execução das habilidades técnicas, que os jogadores mais talentosos se distinguem dos demais (Mercier, 1979).

Contudo, a velocidade das acções do jogador adquire sentido quando relacionada com a velocidade de jogo, isto é, com a interacção de várias formas de manifestação parcelares que se entrecruzam e que vão desde a velocidade mental (Cianciabella, 1995) até à velocidade de deslocamento e de execução, numa interacção recorrente entre colegas e concorrente entre adversários.

Neste contexto, a compatibilização da velocidade com a precisão parece ser um problema importante.

Diz-se que "depressa e bem... há pouco quem!" ou, para os mais radicais, "...não há ninguém!". Mas não é apenas no plano do senso comum que este aforismo tem cabimento.

Já em 1951, Gibbs demonstrou que existe uma correlação negativa entre velocidade e precisão, observação que se aplica ao Futebol, onde, jocosamente, se costuma dizer que alguns jogadores quando pretendem jogar muito depressa se "esquecem" da bola (Dugrand, 1989).

Sabe-se desde 1942, com Fulton, que o nível de precisão adquirido a baixa velocidade decresce rapidamente quando esta aumenta e que, pelo

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A investigação em Futebol 76

contrário, quando se pede a um indivíduo, que treinou a elevada velocidade, que procure cuidar os aspectos de precisão, ele perde pouca velocidade.

Há, no entanto, que considerar a relação da velocidade das acções com a precisão e com antecipação da resposta motora decorrente dos aspectos tácticos do jogo.

O Futebol em que o jogador se posicionava para receber a bola, depois de a receber observava, pensava e agia, faz pouco sentido no contexto actual. As marcações são cada vez mais pressionantes, a velocidade de jogo cada vez mais elevada, o tempo para agir cada vez mais curto, pelo que, cada vez é mais premente a necessidade de realizar a antecipação mental e motora (Serrano, 1995).

A este propósito, Bouthier (1988) sustenta que os jogadores mais experientes e os mais inteligentes se distinguem pelo apuro das capacidades de antecipação, quer na evolução das relações de oposição, quer nas escolhas tácticas mais ajustadas, quer ainda na execução das correspondentes operações que viabilizem o desencadeamento dessas acções em tempo útil.

Também Ripoll (1979), comparando praticantes de Basquetebol com sujeitos não praticantes, demonstrou que os segundos, não obstante serem capazes de reconhecer uma considerável quantidade de informação sobre o jogo, ignoravam a sintaxe e o conteúdo semântico das mesmas. Neste âmbito a capacidade de antecipação parece revelar-se um indicador fundamental para discriminar jogadores experientes ou inteligentes de jogadores principiantes ou pouco esclarecidos tacticamente (Tavares, 1993).

Enquanto que as relações da velocidade com a precisão estão estreitamente ligadas às acções com bola, a antecipação decorre da "leitura" das acções dos protagonistas sobre o terreno de jogo. Segundo Dugrand (1989), existe uma relação positiva entre a velocidade e a "previsibilidade" das soluções retidas pelos jogadores e uma relação negativa entre velocidade e precisão.

Nos JDC a capacidade de previsão permite que um jogador, mesmo sendo mais lento do que outro do ponto de vista neuro-muscular, possa "chegar primeiro" a um determinado lugar do terreno de jogo porque previu e antecipou a resposta. Assim, a velocidade, tal como outras capacidades motoras (e.g. resistência, força), longe de se restringir à acepção física do termo, impõe-se sobretudo como uma grandeza táctico-técnica, perceptiva e informacional.

Mesmo se tomarmos como exemplo os movimentos basilares de locomoção dos jogadores, nas suas diferentes formas (marcha, trote, corrida rápida, sprint) constatamos que as razões da sua expressão se fundam numa

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77 A investigação em Futebol

intencionalidade guiada sobretudo por imperativos tácticos. O jogador está parado, ou desloca-se para algum lugar, com maior ou menor intensidade, num ou noutro momento, em função da movimentação dos jogadores, colegas e adversários, e da posição da bola, isto é, em função das configurações do jogo. Ou seja, embora não dispensando o suprimento das exigências energético-funcionais para a sua realização, a corrida tem uma finalidade táctica.

Por isso reforçamos a convicção de que nos estudos relativos ao Futebol os problemas em análise terão que ser, por definição, problemas fundados na expressão táctica do jogo.

Em face do cenário apresentado, torna-se importante sintetizar alguns pontos: (1) as exigências que se colocam durante um jogo de Futebol, para a realização de vários movimentos e acções, variam consoante o estilo de jogo da equipa, a função, a zona de intervenção predominante e o nível competitivo do jogador (Reilly, 1992; Bangsbo, 1993); (2) nos JDC a capacidade funcional dos jogadores tem de estar intimamente ligada à execução técnica e à aplicação táctica de diferentes elementos do jogo (Soares, 1991); (3) é no jogo que o jogador manifesta o seu nível máximo de desempenho (Van Gool et ai., 1988), pelo que a preparação e o treino no Futebol não podem deixar de ter como referência o jogo de Futebol e as suas características particulares (Pinto, 1991).

Por tais razões, cada vez mais se impõe a existência de estudos que contemplem os comportamentos dos jogadores e das equipas nos contextos de jogo, o que implica que os resultados sejam perspectivados e interpretados em função do seu enquadramento face à actividade específica a partir da qual foram percebidos e registados.

4.3. A dimensão estratégico-táctica da performance O aparecimento das máquinas informáticas, ou da 3- geração, marca uma

viragem nas formas de perspectivar o movimento humano no contexto desportivo, nomeadamente nos JDC. Em vez de se pensar o movimento, o jogo, como um conjunto de técnicas, ou como mera expressão energética, começa a perspectivar-se estas actividades em termos de transmissão de signos de mensagens, atribuindo-lhe um cunho comunicacional-informacional.

A equipa passa a ser entendida, sobretudo, como uma rede de comunicações interindividuais (Caron & Pelchat, 1975; Parlebas, 1976, 1981; Bouthier, 1988).

Uma das fases evolutivas mais importantes na concepção dos JDC, e nos consequentes procedimentos de análise, passou pelo facto de se considerar

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A investigação em Futebol 78

a comunicação entre os jogadores como um factor chave do comportamento táctico-estratégico. Não obstante, apenas alguns trabalhos abordam esta perspectiva, o que demonstra que este modelo informacional penetrou escassamente no mundo dos JDC (Moreno, 1994).

Não obstante, grande parte dos trabalhos realizados neste âmbito têm como base os modelos linguísticos.

Em 1954, Teissie chamava à atenção para o facto da organização estratégico-táctica nos desportos de equipa não se confinar à gestão do espaço por parte dos jogadores. Segundo este autor, a eficácia dos jogadores depende, em larga medida, da definição de princípios que permitam a adopção duma linguagem comum e bem assim uma melhor compreensão entre os elementos da mesma equipa.

Também Frantz (1964), refere que importa fornecer aos jogadores bases comuns para que se exprimam através duma "linguagem" comum, mesmo que adoptando estilos de jogo distintos.

Caron & Pelchat (1975), reforçam estas asserções ao considerarem que na base das relações que se estabelecem entre os elementos constituintes duma mesma equipa, está uma linguagem comum que permite a transmissão e a compreensão das intenções respectivas dos jogadores. Estes autores canadianos, para quem a criação duma rede de comunicações entre os jogadores é o problema central dos desportos colectivos, adoptaram e divulgaram o modelo linguístico análogo ao utilizado na teoria da comunicação, enquanto elemento fundamental na aprendizagem e treino.

A analogia com o modelo linguístico, originou a expressão linguagem do jogo (Teissie, 1969; Caron & Pelchat, 1975; Ripoll, 1979) e, por extensão, a de leitura do jogo, frequentemente utilizadas em contextos de ensino e treino dos JDC.

Para Fages (1968), a linguagem de um jogo decorre do conjunto de regras que o regem, e que o tornam diferente de qualquer outro (Parlebas, 1976a), bem como das relações que os jogadores (companheiros e adversários) estabelecem, no sentido de comunicarem entre si, sob a dependência dessas regras.

Esta perspectiva é corroborada por Pierre Parlebas (1968; 1976), um dos especialistas que mais têm realçado a importância da comunicação e contra-comunicação motora nos desportos de equipa. Segundo este autor (1981) nos JDC toda a acção motora, na medida em que ocorre num ambiente de incerteza e variabilidade, constitui um sistema de interacção global entre o sujeito actuante e os demais participantes.

Sendo a linguagem do jogo caracterizada como o conjunto de combinações tácticas que ocorrem em função das regras do jogo, torna-se

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79 A investigação em Futebol

fundamental conhecer a lógica das restrições e interdições consignadas no

regulamento, bem como identificar os princípios de acção que transcendem

cada jogador (enquanto elemento individual) e asseguram a regulação das

relações no seio de cada equipa e entre as equipas no contexto do

regulamento (Parlebas, 1981).

Para Accame (1991), existe uma homologia entre o jogo de Futebol e a

linguagem. Tal como a linguagem ordinária, também o jogo de Futebol se

confronta continuamente com situações que, embora diversas, ocorrem no

seio de um quadro conceptual de referência. O autor sustenta mesmo que

sem uma análise da dimensão sintáctica do jogo de Futebol, a aquisição de

uma competência futebolíst ica toma-se um processo mister ioso e

incontrolável.

O termo "linguagem" é habitualmente utilizado no seu sentido lato, isto é,

enquanto instrumento de comunicação extensivo a todos os sistemas de

significação (Figura 8).

Emissor Mensagem Emissor w t

Retroacção

(resposta à mensagem)

Figura 8 - Modelo de comunicação (Caron & Pelchat, 1975).

No entanto, no contexto dos desportos de equipa, dada a importância das tomadas de decisão, existe um certo grau de liberdade que é parte integrante das acções dos jogadores e do qual decorre também um grau de incerteza que influi sobre a criação do sistema de relações de forma determinante.

Caron & Pelchat (1975) alertam para o facto destes aspectos não deverem ser negligenciados na elaboração de um modelo de comunicação específico dos JDC e propõem uma reformulação do modelo no sentido de incluir os companheiros de equipa (C), os adversários (A.) e a incerteza (I.), enquanto factores que influenciam duma forma importante a comunicação entre os jogadores (Figura 9).

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A investigação em Futebol 80

C.A.I. C.A.I.

Mensagem ^ tmissor w neceptor

Ái

Retroacção (resposta à mensagem)

Figura 9 - Modelo de comunicação específico para os JDC (Caron & Pelchat, 1975).

Segundo os mesmos autores, assim formulado, o modelo corresponde ao tipo de comunicação característica dos jogos desportivos colectivos. No entanto, para ser operacional, impõe à mensagem transmitida um quadro de referências comum e idêntico relativamente ao emissor e ao receptor, perspectiva aliás já defendida por Chappuis (1967). De acordo com este autor, para que exista comunicação numa equipa e possa emergir uma harmonia funcional, é necessário que o grupo aceite e adopte uma norma ou quadro de referências comum.

Nos jogos desportivos, actividades regidas por um código lúdico, a interacção (comunicação) motora desencadeada por um ou vários participantes favorece directamente a realização da tarefa de um ou vários outros jogadores. Os praticantes implicados nesta situação de cooperação são os companheiros de equipa (Parlebas, 1981).

O jogador deve utilizar formas (códigos) de comunicação3 que sejam portadoras de sentido para os seus companheiros. Quando um ou vários praticantes desencadeiam uma situação para se oporem directamente à realização de uma tarefa por parte de um ou vários jogadores, provocando uma ruptura nas comunicações, diz-se que há contra-comunicação (Caron & Pelchat, 1975; Parlebas, 1981). Os participantes implicados nesta interacção são os adversários.

A perspectiva comunicacional-informacional tem conduzido ao levantamento de problemas importantes, quer no domínio da prática, quer no que diz respeito à sua teorização, contribuindo para uma melhor compreensão da dimensão estratégico-táctica dos JDC. Para além do valioso aporte de informação que trouxe aos processos de aprendizagem e de treino, abriu novas pistas para a investigação.

3 A comunicação motora é traduzida pela interacção operativa de cooperação motora realizada por um jogador, que favoreça directamente a realização da tarefa de um outro jogador da mesma equipa. A contra-comunicação motora é uma interacção operativa de oposição motora que dificulte directamente a realização da tarefa de um outro jogador adversário.

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81 A investigação em Futebol

No limiar do século XXI, assistimos ao emergir de novas valências conceptuais e metodológicas decorrentes de áreas como a teoria dos jogos, as ciências do caos, a teoria das organizações, as ciências da cognição e a teoria da acção, que oferecem a possibilidade duma utilização ampla e fecunda, apresentando-se como importantes contributos para a construção do conhecimento no domínio dos JDC.

A equipa passa a ser entendida como um sistema organizado (Gréhaigne, 1989), que opera com base em iniciativas individuais coordenadas com a acção colectiva, e no qual os aspectos técnicos, físicos, estratégicos e tácticos se articulam (Frade, 1990) em função das relações de oposição que se estabelecem, na procura de uma actuação eficaz (Bouthier, 1988).

É a partir das perspectivas delineadas por Teodorescu, num colóquio realizado em Vichy em 1965, e retomadas por Bayer, em 1979, que esta nova fase parece tomar forma, com base nas noções de sistema e interactividade, na qual através de aspectos mais globais e unitários como equipa, acções de jogo, ataque-defesa, se procura configurar métodos de ensino e treino mais específicos dos JDC.

As acções de jogo são entendidas como unidades de acção (Parlebas, 1976a; Pittera & Riva, 1982; Konzag, 1991; Tavares, 1993) subordinadas à dimensão estratégico-táctica (Teodorescu, 1977; Harre, 1982; Schellenberger, 1990;Sisto & Greco, 1995).

Léon Teodorescu, titular, durante vários anos, da cadeira de Jogos Desportivos no Instituto de Educação Física de Bucareste, marcou o panorama do conhecimento no âmbito dos JDC, sobretudo a partir dos anos setenta. Na sua obra mais divulgada, Problème de teorie si metódica ín jocurile sportive, publicada em Bucareste em 1975, apresenta uma perspectiva de vanguarda, dando conta de variadas preocupações teórico-metodológicas e definindo os pilares para a edificação duma teoria dos jogos desportivos.

Não obstante, grande parte dos discursos teóricos sobre a estratégia e a táctica baseiam-se no modelo de acto táctico proposto pelo alemão Friedrich Mahlo (1969). Este autor, partindo do princípio que toda a acção de jogo é necessariamente táctica e que os comportamentos dos jogadores são actos conscientes e orientados, elaborou um modelo através do qual pretende evidenciar a natureza complexa e sequencial do "acto táctico no jogo" (Figura 10).

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Percepção e análise da

situação

Solução mental do problema

A investigação em Futebol 82

RESULTADO

Resolução motora do problema

J Figura 10 - Modelo das fases do acto táctico no jogo (Mahlo, 1969).

A pertinência do referido modelo tem sido realçada por vários autores (Harre, 1982; Scochk, 1985; Ripoll, 1987; Dufour, 1989; Tavares, 1993).

Partindo da concepção de Choutka e fundando-se nos dados decorrentes da prática dos jogos desportivos e nos conhecimentos acumulados pela Psicologia, Mahlo procurou, no seu livro O acto táctico no jogo (1969), lançar as bases científicas e teóricas duma formação táctica nos jogos desportivos, reconhecendo o jogador mais como um ser pensante do que como mero executor mecânico (Tavares, 1993).

Paralelamente, ao mencionar que dum ponto de vista qualitativo as acções tácticas se distinguem de todas as outras acções desportivas porque o seu desenvolvimento faz um apelo superior aos processos intelectuais, Mahlo (1969) dava já a entender que a forma como o jogador apreende as informações veiculadas pelo jogo, o modo como conhece ou reconhece determinadas configurações, como decide e como age, no decurso de uma partida, eram aspectos cuja compreensão se impunha.

Neste sentido pode dizer-se que Mahlo abriu caminhos importantes para a investigação, nomeadamente no que se refere aos modelos de decisão e de processamento de informação nos jogos desportivos.

Não obstante, no modelo de Mahlo (1969) o jogador surge essencialmente como receptor de informação (Ripoll, 1987). Ora nos jogos desportivos as acções tácticas realizadas pelos jogadores revestem a forma de processamento de informação. O jogador é fundamentalmente um processador de informação (Tavares, 1993) e um servomecanismo (Laborit, 1973; Moreno, 1994).

Nesta linha de entendimento e alicerçado na teoria da acção, Barth (1994) apresenta um modelo baseado nos diversos planos da elaboração da informação. Através dele, o autor elege a captação, a elaboração e o

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83 A investigação em Futebol

armazenamento da informação, como processos fundamentais da prestação estratégico-táctica e enuncia os respectivos pressupostos (Figura 11).

Competência estratégico-táctica

Captação de informação

capacidade para sentir, escolher, discriminar,

perceber, reconhecer

Elaboração da informação

capacidade para antecipar, planificar, decidir, descriminar; representação

mental

Armazenamento da informação

capacidade para aprender, memorizar, conhecer,

adquirir experiências

Figura 11 - Processos e componentes da prestação estratégico-táctica (adap. Barth, 1994).

Num outro modelo, mais abrangente, Barth (1995) ilustra as relações entre os processos condicionais de regulação de energia, os aspectos técnicos da regulação da execução, os aspectos psico-cognitivos de regulação do comportamento estratégico-táctico e os aspectos emotivos, motivacionais e cognitivos que regulam o impulso da acção (Figura 12).

0

Processos emotivos, motivacionais e cognitivos de regulação do impulso

Processos psico-cognitivos de regulação da acção estratégico - táctica

a Processos sensomotores de regulação do

movimento - técnica

Processos biológicos de regulação da energia

D Figura 12 - Representação esquemática dos planos funcionais dos sistemas de acção (Barth, 1995).

A acção motora é assim perspectivada duma forma mais abrangente, porquanto é contemplada a interacção das dimensões da personalidade com as capacidades do indivíduo e as condições da situação.

Dos estudos realizados no âmbito da teoria da acção, enquanto disciplina que funciona como interface entre a psicologia e a aprendizagem motora (Cei & Buonamano, 1991), podemos relevar, segundo Barth (1994), três postulados com elevado interesse para o tratamento de problemas relativos à estratégia e à táctica: (1) a acção é um evento global complexo; (2) as acções são organizadas de forma hierárquica e sequencial; (3) as acções típicas da

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A investigação em Futebol 84

actividade desportiva, são acções voluntárias, orientadas para um objectivo, e às quais se pode atribuir um valor.

Relativamente à teoria da acção e sua aplicabilidade no contexto desportivo, Barth (1994) questiona a pertinência das abordagens recorrentes a modelos da psicologia da actividade mental, nomeadamente os modelos de problem solving, para explicar aspectos inerentes à estratégia e à táctica.

Segundo este autor, os processos que justificam o recurso a modelos deste tipo reportam-se a situações cuja resolução passa por uma só acção. Pelo contrário, no contexto desportivo, as situações imprevistas e conflituais com que os indivíduos deparam exigem decisões estratégico-tácticas que, submetidas a uma grande pressão temporal, prefiguram múltiplas soluções e geram sequências de comportamentos, ou cadeias de acção.

A estratégia funciona principalmente com base em modelos de sequências optimais de acções, sobre a forma de "complexos de acção", no sentido de desenvolver comportamentos criteriosos e racionais (Barth, 1994).

A aleatoriedade, a imprevisibilidade e a variabilidade de comportamentos e acções, são aspectos que concorrem para conferir aos JDC características peculiares, baseadas no apelo à dimensão estratégico-táctica e à capacidade decisional. Contudo, neste grupo de desportos o número de estratégias possíveis é claramente superior ao de outras modalidades desportivas, na medida do grau de imprevisibilidade e do universo de possibilidades dos comportamentos. Isto faz com que a probabilidade de ocorrência de acções pré-configuradas estrategicamente diminua, aumentando assim o risco da decisão em antecipação.

Nos JDC é importante que o jogador evidencie inteligência táctica, i.e., seja capaz de detectar, em pleno jogo, as evoluções nascentes na complexidade das relações de oposição, e deduzir as escolhas sucessivamente mais apropriadas às situações que se materializam, instante a instante, sobre o terreno (Deleplace, 1994).

Nesta linha, assiste-se a uma evolução expressa no recurso aos designados modelos de decisão, reconhecendo-se ao jogador capacidade para intervir sobre a informação que ele próprio processa (Ripoll, 1987; Rodionov, 1991; Tavares, 1993).

Confirma-se a tendência crescente para a realização de estudos sobre o jogador e o jogo a partir da dimensão estratégico-táctica, entendendo o jogador mais como servo-mecanismo do que como regulador (Moreno, 1994).

Apesar do recurso à "porta de acesso" estratégico-táctica permitir uma maior visibilidade do fenómeno jogo, a elaboração científica, neste âmbito, está ainda num estado pré-científico (Wilkinson, 1982; Barth, 1994).

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85 A investigação em Futebol

A preponderância da dimensão táctica nos JDC, configurada a partir das relações de oposição e cooperação que os jogadores estabelecem, tem vindo a ser realçada por autores como Teodorescu (1977), Deleplace (1979), Moreno (1988), Schnabel (1988), Gréhaigne, 1989, Barth (1994) e Riera (1995), para quem esta dimensão constitui o elemento vertebrador da competição desportiva e, como tal, contribui duma forma muito importante para a optimização do rendimento.

Vários autores têm estudado o comportamento táctico dos jogadores em diferentes JDC (Mahlo, 1965; Ivoilov, 1973; Bayer, 1974, 1979; Deleplace, 1979; Konzag & Konzag, 1981; Hagedorn et ai., 1982, 1984; Hegedus, 1984; Hughes et ai., 1988; Roth, 1989; Gréhaigne, 1990, 1991; Castelo, 1992; Bouthier & Barthes, 1994; Garganta et ai., 1995; Sisto & Greco, 1995).

Alguns, como Menaut (1982), através da configuração da estrutura e funcionalidade dos JDC, procuraram elaborar e propor formas minimais como ponto essencial do estudo e do ensino dos JDC. Essas tentativas de formalização e modelação têm sido precedidas de uma análise e de um tratamento do conteúdo das respectivas modalidades, no sentido de evidenciar a sua lógica interna através duma representação das relações existentes na situação conflitual.

O estudo de Menaut (1982) é um trabalho de charneira entre os jogos desportivos colectivos, a psicologia e as ciência da educação, que se debruça sobre o modo de funcionamento e desenvolvimento das estruturas cognitivas do acto táctico, com o intuito de evidenciar uma estrutura mínima que consubstancie a complexidade dos JDC. O autor, partindo do Futebol, refere ter confirmado a hipótese que submeteu a estudo: a situação de dois contra dois (2x2) constitui a "estrutura fundamental" dos JDC.

Todavia, o entendimento da estrutura 2x2 enquanto "estrutura base" (Corbeau, 1988) geradora de invariantes ludo-motoras que alicerçam a lógica interna de cada jogo desportivo colectivo (Menaut, 1983), é questionado por Gréhaigne (1989), que propõe o 3x3 como estrutura minimal do jogo desportivo colectivo.

O jogo a três (3x3) parece garantir a essência do JDC, na medida em que, do ponto de vista ofensivo, permite reunir o portador da bola e dois recebedores potenciais e, do ponto de vista defensivo, permite reunir um defensor directo ao portador da bola e dois defensores para concretizarem eventuais coberturas, dobras e compensações. Esta forma permite, portanto, passar duma escolha binária a uma escolha múltipla, que se desdobra em inúmeras possibilidades de combinação, conservando uma complexidade minimal (Gréhaigne, 1989; Garganta & Pinto, 1994), no respeito pelos princípios ofensivos - penetração, cobertura ofensiva, mobilidade, espaço - e

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defensivos - contenção, cobertura defensiva, equilíbrio e concentração (Worthington, 1974; Queiroz, 1983).

Num dos capítulos do livro Le Football, consagrado à dimensão táctica, Teissie (1969) apresenta as designadas "bases racionais" do jogo de Futebol, considerando que cada equipa representa um sistema de forças ilustrado por uma estrutura geométrica variável. Desenvolve a ideia de que os sistemas de jogo se baseiam em estruturas geométricas simples: corredores, triângulos, quadrados, etc., que definem linhas de força.

Posteriormente, Zerhouni (1980) e Batty (1981) procuraram dar conta das relações recíprocas de cooperação e de oposição entre colegas e adversários. Contudo, centrando-se quase exclusivamente nos problemas colocados pela cooperação entre companheiros, estes autores, tal como Teissie (1969), resvalaram para as configurações geométricas, estáticas e formais, sem tomarem em consideração os princípios de funcionamento do jogo, nomeadamente a reversibilidade (ataque-defesa) dos comportamentos dos jogadores e das equipas.

Para Delaunay (1980), cada jogo desportivo representa um sistema global de forças associadas ou antagonistas, com oposições variáveis carregadas de significado, individual ou grupai. Este autor considera como componentes fundamentais para analisar a estrutura funcional dos JDC: o espaço-tempo, as relações entre companheiros e adversários, o móbil do jogo (bola) e as regras do jogo.

Segundo Teodorescu (1965), o desenvolvimento das acções de jogo, nos JDC, depende das acções individuais e colectivas realizadas numa situação de cooperação com os companheiros e de oposição face aos adversários, de acordo com um pensamento táctico que deve ser coordenado entre os jogadores da mesma equipa.

A acção colectiva do jogo é uma construção permanente, resultante de um jogo onde a lógica repousa sobre a eficácia das acções recíprocas. A base é a acção da equipa na interacção exercida pelos praticantes.

Menaut (1982) define os elementos configuradores da estrutura, ou lógica interna, nos jogos desportivos: sistema de interacção; sistema de pontuação; sistema de resultado final; sistema de papéis sócio-motores (regulamento-direitos e deveres); sistema de comportamentos possíveis face ao desenrolar do jogo; sistema de códigos gestémicos (signos ou gestos empregues por uma equipa para comunicar entre si) e praxémicos (acções portadoras de significado estratégico, realizadas pelos jogadores).

Moreno (1994), apresenta um modelo (Figura 13) no qual menciona como principais parâmetros configuradores da estrutura dos desportos, o tempo, o

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espaço, o regulamento (regras) e a técnica, funcionando a comunicação como interface entre estes e a estratégia .

Figura 13 - Parâmetros configuradores da estrutura dos JDC (Moreno, 1994).

Uma característica da actividade futebolística é que as acções são determinadas tacticamente (Dufour, 1970; Petrocchi, 1995; Mombaerts, 1996).

No treino do Futebol trata-se de fazer corresponder o sistema de constrangimentos decorrentes da lógica do jogo ao sistema de recursos do jogador para lhes dar resposta (Mombaerts, 1996).

Pode dizer-se que no último decénio se perfila uma nova tendência na investigação, que aponta para a importância de elevar o jogo a objecto de estudo, destacando a dimensão táctica do rendimento.

Todavia, embora nos últimos anos tenha crescido o número de estudos e publicações sobre a estratégia e a táctica, continua a denotar-se um desequilíbrio que favorece claramente as dimensões técnica e física, como o demonstra o aumento de estudos realizados no seio de várias disciplinas científicas com abordagens e modelos teóricos diversos (Barth, 1994).

Deste modo, a orientação dos processos de ensino, treino e avaliação da prestação competitiva no Futebol, enquanto JDC, afigura-se mais profícua quando subordinada à componente táctica (Gréhaigne, 1989; Deleplace, 1994; Mombaerts, 1996).

4.3.1. As capacidades cognitivas, subestruturas da táctica De acordo com Menaut (1982), cada jogo desportivo pode ser

caracterizado considerando quatro componentes estruturais: i) sincronia externa: sistema de regras; ii) diacronia externa: acção de jogo, sujeito em acção; iii) sincronia interna: comportamento possível do jogador face aos

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princípios do jogo e sua utilização; iv) diacronia interna: possível evolução do jogo resultante da elaboração de um sentido estratégico do jogo.

Sabe-se que todos os seres humanos projectam os seus actos recorrendo quer a modelos explícitos, que podem articular de forma relativamente fácil, quer a modelos implícitos, que foram colocados num nível subconsciente. Quanto maior for a perícia exigida na acção, mais ela é projectada de acordo com os modelos implícitos. Estes tomam-se difíceis de revelar, examinar, questionar e alterar, precisamente porque se encontram abaixo do nível do consciente (Stacey, 1995).

Os JDC implicam uma solicitação importante das capacidades cognitivas (Sisto & Greco, 1995), enquanto subestruturas da táctica (Konzag, 1991), na medida em que a proficiência dos jogadores é reflectida pela sua habilidade de perceber as alterações do envolvimento e de a elas se adaptarem rapidamente (Poulton, 1957; Whiting, 1969; Knapp, 1972; Tavares, 1993; Lerda et ai., 1996).

A actividade do jogador não se restringe, portanto, a comportamentos, entendidos na acepção conductivista do termo. Na medida em que é referenciada a modelos e a princípios, implica compreensão e conhecimento. A compreensão envolve actos de cognição, isto é, comportamentos inteligentes, o que implica a existência de conhecimento que, sob a forma de "princípios do jogo", funciona como ingrediente indispensável para a compreensão (Kirk, 1983).

A dimensão cognitiva é cada vez mais apontada como marcador da diferença entre os atletas e a que mais parece determinar o grau de sucesso na competição, especialmente quando se denota um equilíbrio entre todas as componentes do rendimento desportivo (Harris, 1985).

Nessa medida, a literatura sugere insistentemente que ao nível dos processos de ensino-aprendizagem e treino nos JDC, grande destaque deve ser dado ao desenvolvimento dos processos cognitivos dos jogadores (Sisto & Greco, 1995; Hernandez Pérez, 1996).

Nos últimos anos tem-se assistido a um aumento do número de estudos que contemplam os factores cognitivos enquanto indutores de eficácia do rendimento desportivo.

Actualmente vários investigadores têm centrado as suas análises ao nível dos tipos de conhecimentos que suportam as acções dos jogadores na resolução de problemas do jogo, nomeadamente no que concerne às estratégias cognitivas que guiam as tomadas de decisão (Tavares, 1994; French & Housner, 1994; Barth, 1994, 1995).

De acordo com Rink et ai. (1996), a investigação permite identificar um conjunto de traços cognitivos e motores que caracterizam a excelência nos

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jogos desportivos. Constata-se que os atletas de elite se caracterizam por possuírem:

(1) ao nível cognitivo • conhecimento declarativo e processual mais organizado e estruturado • processo de captação da informação mais eficiente • processo decisional mais rápido e preciso • mais rápido e preciso reconhecimento dos padrões de jogo (sinais

pertinentes) • superior conhecimento táctico • maior capacidade de antecipação dos eventos do jogo e das respostas

do oponente • superior conhecimento das probabilidades situacionais (evolução do jogo)

(2) ao nível da execução motora • elevada taxa de sucesso na execução das técnicas durante o jogo • maior consistência e adaptabilidade nos padrões de movimento • movimentos automatizados, executados com superior economia de

esforço • superior capacidade de detecção dos erros e de correcção da execução

Estas características, tanto no plano cognitivo como no âmbito da execução motora, deixam perceber a importância do conhecimento específico nos JDC.

São vários os estudos que demonstram o papel do conhecimento específico nos JDC (Allard et ai., 1980; Starkes & Deakin, 1984; Borgeaud & Abemethy, 1987; Lerda et ai., 1996) e dos "sistemas de representação" na planificação e controlo da actividade (Bouthier & Savoyant, 1987).

Sabe-se, desde Choutka (cit. Mahlo, 1969), que o resultado da acção decorre da eficiente conjugação de mecanismos perceptivos, decisionals e efectores.

A compreensão do jogo passa pela captação dos elementos que o configuram, na sua complexidade. Contudo, para compreender o jogo o sujeito deve ser capaz de, para além da esfera da percepção, organizar os seus comportamentos, a sua acção, em função de um projecto (Menaut, 1974).

O indivíduo capta a informação do envolvimento em função de uma estratégia perceptiva (Bard & Carrièrre, 1975), que lhe permite reter os elementos e as ligações consideradas mais pertinentes. Ou seja, a percepção não decorre da justaposição de sensações elementares, mas da integração de mensagens sensoriais e esquemas do conhecimento (Bard &

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A investigação em Futebol 90

F:leuty, 1976), realizada com base na experiência do indivíduo (Carrièrre & Breton, 1976).

Isto implica que, no sentido de responder à instabilidade do contexto, à continua variabilidade das configurações e à interdependência das acções num jogo de Futebol, o desenvolvimento dos comportamentos dos jogadores resulte da adopção de uma atitude estratégico-táctica (Queiroz, 1986; Garganta & Pinto, 1995) fortemente vinculada aos pressupostos cognitivos da prestação (Gréhaigne, 1989; Hernandez Pérez, 1996).

Embora o factor "acaso" possa assumir um peso importante no desenrolar dos acontecimentos e mesmo na determinação do resultado de um jogo de Futebol, isso não significa que este seja prevalentemente ditado por uma lógica semelhante à de um "jogo de dados". A adequação do comportamento dos jogadores em situação de jogo é sempre acompanhada da construção contínua de processos cognitivos (Vankersschaver, 1982). Nesta medida, os comportamentos edificam-se com base numa infra-lógica, cuja expressão decorre do tipo de relação entre as imposições do contexto, os modelos e os projectos dos jogadores.

Pode assim dizer-se que o comportamento dos jogadores num jogo de Futebol se situa numa tensão permanente entre conhecimento e acção4.

Como dizem Gréhaigne & Godbout (1995), o conhecimento táctico -tactical knowledge - é fundamental para o conhecimento na acção. Para um jogador, o saber táctico e a performance estão fortemente ligados.

Um conhecimento táctico fecundo decorre de uma ajustada leitura do jogo, que, de acordo com Queiroz & Ferreira (1982), se reflecte na conceptualização do próprio modelo de treino enquanto processo unitário e harmonioso de aquisição de novos conhecimentos e aperfeiçoamento das capacidades e hábitos motores.

Malglaive (1990) e Gréhaigne & Godbout (1995), sustentam que o sistema de conhecimento, nos desportos colectivos, decorre de três categorias:

(1) regras de acção, isto é. regras básicas do conhecimento táctico do jogo, que definem as condições a respeitar e os elementos a ter em conta para que a acção seja eficaz (Gréhaigne & Guillon, 1988). As regras de acção podem ser observadas a partir dos princípios de acção, isto é, construções teóricas e instrumentos operatórios que se constituem como referenciais macroscópicos que permitem identificar e classificar os comportamentos dos jogadores;

4Conhecimento e acção podem ser perspectivados, ambos e simultaneamente, como o produto e/ou o processo da interacção do indivíduo com c seu envolvimento (Newell & Barclay, 1982).

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91 A investigação em Futebol

(2) regras de organização do jogo, relacionadas com a lógica da actividade, nomeadamente com a dimensão da área de jogo, com a repartição dos jogadores no terreno, com a distribuição de papéis e alguns preceitos simples de organização que podem permitir a elaboração de estratégias;

(3) capacidades motoras, que englobam a actividade perceptiva e decisional do jogador, bem como os aspectos da execução motora propriamente dita (Figura 14).

( ^\

Regras de acção ^ ^ Regras de gestão e organização do

jogo Regras de acção ^ w

Regras de gestão e organização do

jogo

\ / Organização colectiva \ / \ V e individual J /

Capacidades motoras

v J Figura 14 - Conteúdos do conhecimento em desportos colectivos (adap. Gréhaigne & Godbout. 1995).

Face a diversas situações com que se depara no jogo, o jogador escolhe os sinais que se afiguram mais importantes para organizar a suas acções

O desenvolvimento da capacidade para jogar implica um desenvolvimento de "saberes". Saber o que fazer, o que se prende com um conhecimento factual ou declarativo, que pode ser exprimido através de enunciados linguísticos; saber executar, isto é, possuir um conhecimento processual que decorre da acção propriamente dita (Anderson, 1976; Chi & Glasser, 1980; George, 1983; Magill, 1993).

Os teóricos da inteligência artificial, de entre os quais Simon (1991), distinguem conhecimentos proposicionais ou declarativos de conhecimentos processuais, referindo que os primeiros contêm informação e os segundos os modos de operar com essa informação. No entanto, sustentam que é cada vez mais clara a tendência para a distância entre estes dois tipos de conhecimento se ir sucessivamente encurtando.

O animal evoluído possui uma memória que lhe permite formar imagens mentais. A linguagem tem cada vez mais conferido ao homem a capacidade de nomear os "items" que constituem essas imagens e bem assim o desenvolvimento de uma memória declarativa (Ehresmann & Vanbremeersch, 1991).

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A investigação em Futebol 92

Como referem Chi & Glasser (1980), o conhecimento declarativo reporta-se à componente estrutural do conhecimento que pode ser representada através duma rede de conceitos5 e das suas relações; o conhecimento processual respeita à reunião de um conjunto de processos cognitivos para executar uma sequência de acção com esse conteúdo.

Enquanto que o conhecimento declarativo tem sobretudo a ver com o conhecimento do regulamento e das regras de gestão estratégica da competição (Thomas et ai., 1986; Barth, 1995), o conhecimento processual está sobretudo relacionado com as regras da acção táctica (Barth, 1995).

Contudo, para Abernethy et ai. (1993), a descrição do conhecimento processual coloca alguns problemas, na medida em que saber "como fazer" pode reportar-se quer à selecção duma acção quer à sua execução. No entendimento destes autores, em desportos de baixa incidência táctica, o conhecimento processual pode reportar-se inteiramente à execução duma determinada acção. No entanto, nas modalidades de incidência táctica elevada, como os JDC, o conhecimento processual está, íntima e simultaneamente, relacionado com selecção da resposta motora e com a execução da acção.

Estes dois tipos de conhecimento constituem importantes factores da performance desportiva (Chi, 1981; McPherson & Thomas, 1989; French & Thomas, 1987), porquanto os atletas de alto nível evidenciam uma expressiva quantidade de conhecimento declarativo e processual acerca de como e quando executar determinadas acções (Starks & Lindley, 1994; Williams & Davids, 1995).

Alguns dos estudos realizados têm demonstrado que os melhores executantes se distinguem dos menos bons, por disporem de um conhecimento mais refinado e elaborado das tarefas específicas (Helsen & Pauwels, 1993; McPherson, 1993; Williams et ai., 1993), e pela forma como utilizam esse conhecimento durante o desempenho desportivo (Williams et ai., 1994; Williams & Davis, 1995).

Como referem Myers & Davids (1993) e Williams & Davids (1995), na prática desportiva a transição do conhecimento declarativo para o processual é facilitada através do treino e da exercitação. Por sua vez, o conhecimento processual promove a aquisição e a retenção dum conhecimento declarativo específico.

Este entendimento sugere que o domínio dos pressupostos cognitivos para realizar as acções de jogo, não implica automaticamente o domínio dos

5 No contexto do jogo, o termo conceito significa uma unidade de informação acerca da selecção da resposta (McPherson, 1994).

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pressupostos e das condições motoras para as realizar. Isto é, saber quando e como executar não significa saber executar as acções em jogo, porquanto a capacidade de execução não se esgota na dimensão cognitiva, mas tem que ser viabilizada por outras dimensões, nomeadamente a energética e a coordenativa.

A qualidade do jogo reclama do sujeito comportamentos inteligentes, o que, de acordo com Andreewsky (1991), depende da sua capacidade para assegurar três tipos de funções: funções de resolução (elaborar e seleccionar soluções pertinentes para atingir os objectivos e resolver problemas), funções de compreensão (responder de modo coerente e apropriada às questões e criar formas significantes compreensíveis) e funções de efectuação (organicamente ligadas às tomadas de decisão).

Portanto, o jogo não oferece automaticamente as soluções aos jogadores. Eles podem jogar ignorando as desmarcações, o contra-ataque, a recuperação defensiva, etc., mas inversamente, podem procurar explorar de forma optimal os campos de intervenção propiciados pelo jogo (Garganta & Oliveira, 1995).

As capacidades desenvolvem-se a partir de blocos de informação integrados, conhecimentos tácitos que o jogador percebe como conjuntos de possibilidades. Os jogadores têm "sentido da jogada", "cheiram o golo", têm "capacidade de antecipação", um conjunto de dons que mais não são do que modos eficazes de manejar grandes blocos de informação (Marina, 1995).

De acordo com Temprado (1991), os conhecimentos que estão na base do pensamento táctico estão organizados sob a forma de cenários, i.e., de acordo com um conjunto de indicadores, de objectivos a alcançar e de efeitos a produzir. Neste contexto, os conhecimentos de que o atleta dispõe permitem-lhe orientar-se, com prioridade, para certas sequências de acções, em detrimento de outras (Tavares, 1996).

A antecipação é uma actividade preditiva que implica um prognóstico espaço-temporal (Whitting, 1969). Para desencadear um comportamento de antecipação, um jogador concentra-se nos dados do momento, para, a partir deles, predizer um futuro possível (Bayer, 1979).

O jogador ajusta-se não apenas ao que vê, mas também ao que prevê (Bourdieu, 1980). Ele decide em função das probabilidades, isto é, em função duma apreciação global e instantânea das linhas de força (configurações) do jogo e pelas suas possibilidades de transformação.

Deste modo, a dificuldade do jogo está ligada à necessidade do jogador adaptar a sua actividade não apenas ao que vê, mas também, e sobretudo, ao que ele, não vendo, deve intuir (Ripoll, 1979).

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A investigação em Futebol 94

Contudo, a intuição está intimamente ligada ao conhecimento específico duma determinada actividade ou acção. Especialistas da inteligência artificial, como Simon (1991), referem que a intuição é uma busca muito rápida nos bancos de memória de pensamentos previamente processados, pelo que a maioria dos reflexos intuitivos não são mais do que actos de reconhecimento.

Aparentemente, a memória a longo prazo tem uma capacidade de armazenamento ilimitada, mas o raciocínio requer a transferência de dados para a memória a curto prazo antes do seu processamento. Por isso, os limites do raciocínio residem na capacidade de armazenamento da memória de curto prazo e na velocidade de processamento dos dados. Resultados experimentais mostram que apenas conseguimos manter quatro a sete items na memória de curto prazo simultaneamente, e demoramos alguns segundos a transferir esses dados para a memória a longo prazo (Stacey, 1995).

Este entendimento conduz à convicção de que todo o raciocínio é algorítmico. Todavia, para um jogador de Futebol é necessário identificar factores críticos, realizar escolhas rápida e eficazmente, operando face a situações de final aberto, num contexto de oposição e de cooperação.

Em face de problemas de final aberto, quando é necessário racionalizar o aleatório e o acaso, o raciocínio do tipo algorítmico, realizando um número pré-estabelecido de passos, entra em colapso. Impõe-se então o recurso a procedimentos superditados pelo pensamento do tipo estratégico, que envolvem uma acção contínua de tentativas.

Trata-se de uma busca heurística6 (Stacey, 1995), que se aplica a problemas de natureza aberta, caracterizados por uma grande variabilidade e volatilidade, como no caso do jogo de Futebol.

O jogador constrói o seu sistema de hábitos, possui um repertório de saberes e com os seus recursos pode resolver vários problemas durante o jogo. Numa sequência de jogo a informação captada por um jogador é consequência de uma analogia circunstancial (Ripoll, 1979) entre a situação real e a situação percebida (construída).

Um jogador possui um padrão de jogo, um sistema de preferências com que avalia continuamente as suas prestações. Através do treino as acções

('A heurística pode ser considerada a arte de descobrir (Morin, 1973) ou a ciência de encontrar soluções (Moles, 1995), estando por isso relacionada com certos atributos da actividade do pensamento criador (Epstein, 1986). Marina (1995) considera que a busca, consiste em examinar possíveis soluções para atravessar o vazio entre o estado inicial e o estado final ou meta de um estudo e se realiza através de duas etapas diferenciadas: na primeira suscita-se informação; na segunda compara-se essa informação com o padrão de busca. Segundo o autor, as actividades de busca são classificadas em dois grandes grupos: buscas algorítmicas - sistemáticas, procuram explorar todas as possibilidades e têm uma eficácia limitada; buscas heurísticas - realizadas com base em suposições, guiadas pelos conhecimentos acumulados, sentimentais ou não. São menos seguras mas mais eficazes.

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95 A investigação em Futebol

organizam-se em hábitos que, segundo Marina (1995), são sistemas de produção de conhecimentos.

No domínio do jogo, a actualização dos conhecimentos tácticos faz-se a partir da análise da situação, isto é, da observação do jogo e, por outro lado, a partir da análise dos próprios conhecimentos (Mahlo, 1969). A estrutura cognitiva do sujeito é uma condição essencial da capacidade perceptiva, pois como refere Sonnenschein (1989), a percepção das situações implica dois subprocessos que se influenciam reciprocamente: a selecção (processo de escolha) e a codificação (atribuição de uma significação).

Tal como outros JDC, o Futebol é um jogo que envolve uma elevada quantidade de movimentos cíclicos e acíclicos e diversos complexos de acções motoras executados em grupo ou colectivamente (Teodorescu, 1977; Moreno, 1984; Konzag, 1991). Neste sentido, não permite estandardizar as acções a desenvolver o que, portanto, inviabiliza a reprodução exacta da sua estrutura, em situação de treino.

Assim, a automatização dum qualquer movimento ou acção através da sua reprodução e repetição em condições analíticas não garante a sua realização bem sucedida nas acções de jogo, porquanto ao jogador é necessário entender o objectivo da acção, decifrar o momento mais propício para a sua realização e conhecer as formas de o regular.

Porque a diversidade de situações é enorme, a realização dessas acções requer numerosos e adequados programas de acção (Petrocchi, 1995; Tavares, 1996).

A implicação do processo cognitivo é, por essa razão, uma condição indispensável para o sucesso das acções motoras, não apenas na sua concepção (percepção-análise da situação/solução mental) mas também durante a própria execução (Petrocchi, 1995).

A investigação tem sustentado que a capacidade cognitiva (selecção da resposta e tomada de decisão) e a capacidade para executar eficientemente as habilidades específicas (técnica, execução da resposta) são condições imprescindíveis para se alcançar a optimização do rendimento em várias modalidades desportivas (Rink et ai., 1996).

Bate (1996) chama à atenção para o facto do Futebol envolver não apenas skills motores, mas também skills perceptivos e cognitivos (Anderson, 1990; Glencross, 1992), o que faz com que esta modalidade seja considerada um desporto de situação7.

7Entenda-se por situação (Schubert, 1990), a constelação de indicadores objectivos e particularidades subjectivas inerentes a uma determinada configuração de jogo (número de participantes, sua relação espacial, posição da bola, percepção do valor do adversário e das possibilidades de evolução de determinada sequência de jogo, etc.).

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A investigação em Futebol 96

Neste contexto, a actividade cognitiva do jogador ocupa um papel de relevo (Konzag, 1990) face à continuidade, velocidade, amplitude, variabilidade e número de mudanças que ocorrem durante o jogo, vendo-se o atleta obrigado a decidir e a elaborar respostas adequadas em função da configuração do jogo apresentada (Rahkila & Luhtanen, 1991; Sisto & Greco,

1995). No que concerne ao Futebol, Helsen & Pawels (1988) destacam a

importância dos designados skills tácticos (individuais e colectivos), entendidos como a capacidade para realizar decisões, rapidamente, duma forma apropriada e no momento certo.

Neste sentido, a observação da expressão táctica dos comportamentos dos jogadores, numa perspectiva diacrónica externa (cf. Menaut, 1982), afigura-se importante para, a partir das regularidades e das variações ocorridas nas fases de ataque e defesa, procurar inteligir a lógica subjacente ao desenvolvimento do jogo, de acordo com as peculiaridades situacionais e com as respectivas respostas realizadas pelos jogadores e equipas envolvidos.

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V - Natureza do jogo vs investigação

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Antinomia: natureza do jogo/investigação 98

5. Antinomia: natureza do jogo - direcção da investigação

Reconhecer a complexidade ou a opacidade de um objecto, não significa renunciar a conhecê-lo.

M. Dugrand (1989)

Há já muitos anos que treinadores e investigadores vêm tentando perceber a hierarquia e interacção dos diversos factores que concorrem para o sucesso competitivo.

No âmbito do Futebol, os factores de natureza técnica, física, táctica e psicológica têm sido apontados como os que mais directamente contribuem para a expressão do comportamento dos jogadores e das equipas (Kunze, 1981; Bangsbo, 1993; Miller, 1995).

O teor dos vários estudos e reflexões sobre esta matéria, acrescido ao relato da experiência de diferentes especialistas do terreno, confere cada vez maior consistência à ideia de que na hierarquia da estrutura do rendimento do Futebol os aspectos tácticos assumem um papel nuclear (Zerhouni, 1980; Wrzos, 1981; Queiroz, 1986; Olsen, 1988; Gréhaigne, 1989; Dufour, 1993; Castelo, 1994; Hughes, 1994; Miller, 1995; Garganta, 1997).

Tem-se tornado evidente que, tanto no processo de preparação como na competição, a dimensão táctica funciona como pólo de atracção e território de sentido do comportamento dos jogadores, nomeadamente nas facetas relacionadas com o desenvolvimento e aplicação dos designados modelos e concepções de jogo das equipas.

Paradoxalmente, no domínio da investigação e da produção bibliográfica, a performance no jogo de Futebol foi, e continua a ser, largamente referenciada a partir de factores energéticos e biomecânicos e das características fisiológicas dos jogadores (Talaga, 1984; Faina et ai., 1988; Reilly, 1990; Bangsbo, 1993). Nestes casos, os comportamentos dos jogadores são perspectivados enquanto produto duma maior ou menor adequação do organismo às exigências energéticas e funcionais do jogo, em termos de unidade entre o estímulo e a resposta, sem considerar as configurações tácticas que os induzem.

Contudo, alguns autores de tais tipos de estudos têm alertado para a debilidade dos resultados deles decorrentes e para a inconsistência das conclusões, porquanto não são valorizadas as peculiaridades tácticas do jogo, nomeadamente o estilo e os métodos de jogo (ofensivos e defensivos) utilizados, bem como as funções desempenhadas pelos jogadores no quadro dos respectivos sistemas tácticos utilizados.

Investigadores como o britânico Reilly (1994, 1996) e os alemães Liesen & Muecke (1994), notabilizados através dos seus estudos no âmbito da

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99 Antinomia: natureza do jogo/investigação

fisiologia do Futebol, alertam para o facto das exigências colocadas ao nível da actividade do jogador de Futebol decorrerem em larga medida do nível da competição e das imposições tácticas (estilo de jogo, posição/função do jogador).

O dinamarquês Bangsbo (1993), reconhecidamente um dos investigadores que, nos últimos anos, mais e melhor tem estudado a fisiologia do futebolista, afirma que, mesmo ao mais elevado nível internacional, é possível compensar uma inadequada expressão do desenvolvimento no tocante às exigências físicas do jogo de Futebol, através da astúcia táctica e de um elevado grau de motivação (1993). Sustenta ainda, tal como Reilly (1990, 1994, 1996), que o padrão de actividade que os jogadores desenvolvem durante um jogo de Futebol é influenciado pelo estilo de jogo - the way of playing - e pelo sistema táctico aplicado. Conclui que as atribuições tácticas e as habilidades motoras dos jogadores devem ser tomadas em consideração, porquanto têm implicações importantes ao nível das exigências fisiológicas do Futebol.

Santos (1995) reafirma estas asserções, ao referir que o compromisso entre as variáveis que concorrem para a performance num jogo de Futebol leva à relativização de cada uma delas, em função do modelo de jogo, das condições do envolvimento e do estatuto posicionai de cada jogador.

A antinomia entre a importância reconhecida ao factor táctico e a sua reduzida expressão no domínio da investigação pode radicar no facto de que, quando se recorre à dimensão táctica, no sentido de que esta se constitua como "saber de acesso" ou "corredor de abertura" para entender o jogo de Futebol, deparam-se inúmeras dificuldades. Estas prendem-se com a inviabilidade de lidar com as expressões quantitativa e qualitativa do fenómeno, face ao estado actual do conhecimento, ou melhor, face aos modelos de conhecimento vigentes.

Emergem limitações e motivações decorrentes da dificuldade de controlar objectivamente algumas variáveis, e até de as identificar, face à sua relativa subjectividade. Acresce o facto de, por forte influência dos quadros de investigação decalcados de outras áreas, bem como das características da estrutura tradicional dos trabalhos científicos, se secundarizar o tratamento de problemas desta natureza, atribuindo-lhes, explicita ou implicitamente, um estatuto de menoridade científica.

A produção deste tipo de conhecimentos, porque não se coaduna com os preceituários científicos dominantes, apresenta uma diminuta ressonância internacional, quer no que concerne às publicações efectuadas nos diversos periódicos científicos internacionais, quer no que respeita ao seu tratamento temático em congressos.

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Antinomia: natureza do jogo/investigação 100

O ano de 1987 constitui uma data importante para a evolução do conhecimento em Futebol, porquanto marca o início da realização de um conjunto de reuniões técnico-científicas periódicas, globalmente designadas por Congressos Mundiais de Ciência e Futebol.

Estes eventos, que congregam vários especialistas, entre treinadores, investigadores, médicos e dirigentes desportivos, visam disponibilizar informação corrente sobre o Futebol, enquanto objecto de conhecimento científico, constituindo-se assim como um espaço de divulgação, debate de ideias e apresentação de trabalhos com actualidade.

Na primeira destas reuniões, o World Congress of Science and Football, realizado em Liverpool (1987), dos oitenta e oito trabalhos apresentados, apenas oito (9.1%) se focalizam nos aspectos tácticos. Em 1991, no Second World Congress of Science and Football, realizado em Eindhoven, foram apresentados oitenta e quatro trabalhos. Desses, somente dez (11.9%) se dedicam ao estudo da dimensão táctica do jogo. Em 1995, no Third World Congress of Science and Football, ocorrido em Cardiff, foram apresentados setenta e um estudos, dos quais doze (16.9%) se centram na análise da dimensão táctica do jogo.

Não obstante o percentual tenha vindo a aumentar, duma leitura linear poder-se-á deduzir que o escasso número de estudos, apresentados aos sucessivos congressos, pode evidenciar uma diminuta importância atribuída aos aspectos tácticos no Futebol.

Contudo, entendemos que a reduzida expressão dos trabalhos de âmbito científico que focalizam a sua atenção na dimensão táctica, antes traduz significativas limitações ao nível do estado do conhecimento e da metodologia da investigação aplicada ao Futebol.

No sentido de testar a pertinência desta ideia-força, procurámos: - apurar a forma como os especialistas perspectivam e hierarquizam os

factores do rendimento em Futebol e como se posicionam face à sua investigação nesta modalidade;

- indagar se treinadores e investigadores, quando considerados em grupos distintos, de acordo com as suas atribuições, manifestam posições idênticas ou dissemelhantes.

5.1. Metodologia 5.1.1. Amostra O estudo foi aplicado a uma amostra composta por cinquenta especialistas,

vinte e quatro portugueses e vinte e seis estrangeiros1, profissionalmente

ÏQs vinte e seis indivíduos de nacionalidade estrangeira são oriundos de quadrantes geográficos diversos- Austrália (1), Bélgica (1), Canadá (1), Coreia (2), Dinamarca (1), Finlândia (1), França (3), Inglaterra (7) Irlanda (1), Itália (1), Japão (2). Noruega (1), País de Gales (1), Suécia (1) e Turquia (2).

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101 Antinomia: natureza do jogo/investigação

ligados ao Futebol, pela via do treino e/ou pela via académica, e cujas características constam do Quadro 8.

Quadro 8 - Número, percentagem e média±DP das idades dos especialistas inquiridos (n=50), de acordo com a respectiva atribuição profissional.

Atribuição n" % Idade

Treinador 27 54% 35 ±10

Investigador o 23 46% 41 ± 10

(*) Do efectivo de investigadores fazem parte dois indivíduos licenciados, sete com o grau de mestre e catorze com o grau de doutor.

5.1.2. Instrumento e validação A avaliação foi feita a partir de um questionário (Anexo 1) através do qual

se procurou apurar a forma como investigadores e treinadores perspectivam e hierarquizam os factores do rendimento em Futebol e como se posicionam face à investigação nesta modalidade.

A validação do questionário foi efectuada por peritagem e envolveu as seguintes fases:

19 Foram seleccionados os conteúdos relativos às questões que, de acordo com os objectivos delineados, pretendíamos ver respondidas.

29 Elaborou-se a primeira versão do questionário em língua portuguesa e submeteu-se a mesma a um painel de peritos.

39 Em função das dúvidas suscitadas, procedeu-se à sua reformulação. 49 Após reformulação, o questionário foi novamente apresentado ao

mesmo painel de peritos. 59 Elaborou-se a versão final do questionário em língua portuguesa. 69 Uma especialista procedeu à tradução do questionário para língua

inglesa2. 1- O questionário foi apresentado a dois reconhecidos especialistas

estrangeiros (um inglês e um francês), que reúnem uma dupla condição: i) são investigadores, no âmbito do Futebol; ii) já foram treinadores de Futebol.

89 Após algumas alterações de pormenor, foi elaborada a versão final do questionário em língua inglesa (Anexo 1).

2Dado que foi nossa intenção aplicar o questionário também à escala internacional, o mesmo foi traduzido para a língua inglesa.

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Antinomia: natureza do jogo/investigação 102

9S Na aplicação do questionário, procurou-se que o preenchimento fosse efectuado de forma presencial3, para que o autor pudesse, sempre que necessário, esclarecer eventuais dúvidas4.

5.1.3. Procedimentos estatísticos

Foi utilizada a média para as cotações atribuídas pelos especialistas nas respostas de escala ordinal, de 1 a 5. Relativamente às respostas de escala nominal recorreu-se à percentagem.

No sentido de comparar as cotações atribuídas aos factores da performance, em escala ordinal, por treinadores vs investigadores, foi usado o teste não paramétrico de Mann-Whitney. Para analisar as respostas às questões que envolviam escalas nominais, recorreu-se a tabelas de contingência e ao teste de Qui-quadrado (X2).

Utilizou-se o package estatístico Statview 4.0 e o nível de significância foi mantido em 5%.

5.2. Resultados 5.2.1. Análise dos especialistas em geral Pediu-se aos inquiridos para, numa escala ordinal de 1 a 5, do menos

para o mais relevante, atribuírem um valor aos factores que tradicionalmente se aceita contribuírem para o rendimento no Futebol (físicos, psicológicos, tácticos e técnicos)5.

As respostas evidenciam um equilíbrio nos valores das cotações atribuídas. Não obstante, o factor táctico surge como o mais cotado (27.1%), logo seguido do factor físico (25.6%), enquanto que os factores técnico e psicológico registam valores mais baixos (24.8% e 22.5%, respectivamente), como se pode observar na Figura 15.

3Apesar de terem respondido ao questionário 26 indivíduos estrangeiros, repartidos por um total de quinze países, foi possível respeitar esta condição, na medida em que aproveitámos a presença destes no Third World Congress of Science and Football, realizado em Cardiff, em 1995.

4No conjunto dos cinquenta questionários não se verificou a existência de quaisquer dúvidas dignas de registo.

5 Foi também concedida a possibilidade de optarem por um outro tipo de classificação dos factores do rendimento. Todavia, tal não aconteceu porque os mesmos consideraram a classificação tradicional pertinente e ajustada.

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103 Antinomia: natureza do jogo/investigação

210

200

190

180

170

160

150

£ZA 27.1%

A

25.6%

22.5%

£^A 24.8%

Físico ' Psicológ. ' Táctico ' Técnico r Factores do rendimento

Figura 15 - Cotações, numa escala de 1 a 5, atribuídas pelos inquiridos aos factores que tradicionalmente se aceita contribuírem para o rendimento em Futebol, em função da sua relevância.

Quando se pede aos inquiridos para hierarquizarem os factores de rendimento em relação aos quais, segundo a sua opinião, mais se justifica investir, no âmbito da investigação em Futebol, o equilíbrio continua a registar-se, e o factor táctico surge novamente como o mais cotado (26.0%), logo seguido dos factores psicológico (25.7%), físico (25.4%) e técnico (22.9), como se pode constatar na Figura 16.

o D.

C <u 3

210

200

190

180

170

160 -

150 A

25.4% 25.7% 26.0%

ZI7\ 22.9%

Físico ' Psicológ. ' Táctico ' Técnico Factores do rendimento

JZ

Figura 16 - Cotações, numa escala de 1 a 5, atribuídas pelos inquiridos aos factores do rendimento em relação aos quais, segundo a sua opinião, mais se justifica investir na investigação em Futebol.

Foi ainda solicitado que, considerando as dimensões física, psicológica, táctica e técnica, se pronunciassem a propósito do estado actual da investigação no Futebol, tanto no plano quantitativo como no qualitativo.

As respostas constam do Quadro 9.

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Antinomia: natureza do jogo/investigação 104

Quadro 9 - Distribuição das percentagens relativas às respostas dos especialistas, segundo a respectiva opinião face ao estado actual da investigação em Futebol, nos planos quantitativo e qualitativo, para cada um dos factores (F) considerados.

F Físico F. Psicol. F. Táctico F. Técnico • Quantidade

Reduzida/ Insuficiente 4 8 % 88% 56% 54%

Suficiente 52% 12% 44% 46% • Qualidade

Baixa 20% 44% 40% 34%

Média 54% 50% 40% 38%

Alta 26% 6% 20% 28%

Da análise deste Quadro é possível verificar que 88% dos especialistas consideram que a investigação no plano da dimensão psicológica é reduzida/insuficiente; e 44% consideram que a qualidade da que existe é

baixa. Embora com valores inferiores, esta tendência manifesta-se também ao

nível da dimensão táctica. No plano da quantidade, 56% dos especialistas consideram que é reduzida/insuficiente, enquanto que 40% consideram que a qualidade da investigação que se produz é baixa.

Curiosamente, quando foi pedido aos especialistas para nomearem a dimensão do rendimento que consideravam menos investigada, verifica-se uma inversão desta relação. Deste modo, a dimensão táctica surge como aquela que a maior parcela dos inquiridos (44%) considera menos investigada, logo seguida da dimensão psicológica (36%). As dimensões física e técnica figuram a grande distância, repartindo equitativamente, entre si, os restantes 20% (Figura 17).

:o o Q.

44% ■

36%

10% • 10% 10% •

■ ■

Física Psicol. Táctica Técnica

Figura 17- Frequência de respostas relativas à dimensão do rendimento considerada menos investigada.

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105 Antinomia: natureza do jogo/investigação

As principais razões apontadas para essa menor expressão das dimensões táctica e psicológica foram, respectivamente: i) serem factores cuja investigação se afigura difícil (65% e 64.3%); ii) não permitirem tratamento científico (5% e 7.1%); iii) ambas as razões (30% e 28.6%).

Nenhum dos indivíduos considerou qualquer uma das outras possibilidades apresentadas no questionário, i.e.: (1) não se tratar de uma dimensão tão importante como as outras; (2) outras razões.

5.2.2. Análise treinadores vs investigadores Em face dos resultados apresentados, em relação à globalidade das

respostas, procurámos apurar se treinadores (n=23) e investigadores (n=27), quando considerados em grupos distintos, de acordo com as suas atribuições, manifestavam posições idênticas ou dissemelhantes.

Relativamente aos factores que tradicionalmente se aceita contribuírem para o rendimento no Futebol (físicos, psicológicos, tácticos e técnicos), treinadores e investigadores apresentam posições semelhantes, salvo no que se refere ao factor táctico, em relação ao qual as diferenças são estatisticamente significativas. Neste caso, os treinadores atribuem ao factor táctico uma importância claramente superior (30.4 vs. 19.7), como se pode constatar na Figura 18.

401 L_

35-

30-

27.2 • -

25-D-

23.5 20-

15-

10 J r-Físico Psicológico Táctico Técnico

Figura 18 - Comparação dos valores médios das cotações atribuídas, numa escala ordinal de 1 a 5, pelos treinadores vs investigadores, relativamente aos factores que tradicionalmente se aceita contribuírem para o rendimento em Futebol (* p= 0.0051).

Todavia, quando se pede a investigadores e treinadores para hierarquizarem os factores de rendimento em relação aos quais mais se justifica investir, no âmbito da investigação em Futebol, observam-se

• - treinadores D - investigadores

30.4

Factores do rendimento

Page 115: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

Antinomia: natureza do jogo/investigação 106

diferenças estatisticamente significativas somente em relação ao factor

psicológico.

Como se pode observar na Figura 19, os treinadores, quando comparados

com os investigadores, atribuem ao factor psicológico uma importância

significativamente superior (31.2 vs. 18.8).

40

35

30-

25

20-

15

10

31.2

28.1

• - Treinadores D - Investigadores

26.4

22.4 24.4

18.8

Factores do rendimento

Físico Psicológico Táctico 1

Técnico

Figura 19 - Comparação dos valores médios das cotações atribuídas, numa escala ordinal de 1 a 5, pelos treinadores vs investigadores, em relação aos factores de rendimento e r que, segundo a sua opinião, mais se justifica investir no âmbito da investigação em Futebo (*p= 0.0018).

Observando as figuras 18 e 19, é possível constatar, que treinadores e investigadores revelam posições significativamente distintas, para as dimensões táctica e psicológica, no que se refere aos factores que tradicionalmente se aceita contribuírem para o rendimento e aos factores em relação aos quais mais se justifica investir no âmbito da investigação em F-"utebol.

Os treinadores consideram que o factor táctico contribui com um maior peso para o rendimento em Futebol, e que é em relação ao factor psicológico que mais se justifica investir no âmbito da investigação.

Talvez estas posições distintas se prendam, por um lado, cem as necessidades que o treinador sente de gerir quotidianamente um conjunto de problemas do foro táctico, como sejam a construção e a gestão da equipa com base num modelo/concepção de jogo.

Por outro lado, as questões relacionadas com a motivação, a autoconfiança e o equilíbrio emocional, fazem também parte de um conjunto mais vasto de problemas prementes de pendor psicológico, com os quais o treinador se confronta diariamente na gestão dos jogadores e da equipa.

Page 116: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

107 Antinomia: natureza do jogo/investigação

Foi ainda solicitado a investigadores e treinadores que se pronunciassem

a propósito do estado actual da investigação em Futebol, em relação às

dimensões consideradas, tanto no plano quantitativo como no qualitativo.

Os resultados podem ser observados no Quadro 10.

Quadro 10 - Distribuição das percentagens relativas às respostas dos treinadores (T) e investigadores (I), segundo a respectiva opinião face ao estado actual da investigação em Futebol, nos planos quantitativo e qualitativo, para cada um dos factores (F.) considerados.

F. Físico F. Psicológico F. Táctico F. Técnico

Quantidade T I T I T I J I _ _

Rd.-lnsufic. 48% 4 8 % 93% 83% 52% 6 1 % 52% 6 1 %

Suficiente 52% 5 2 % 7% 17% 48% 39% 48% 39%

Qualidade .

Baixa 19% 2 2 % 52% 35% 26% 56% 22% 48%

Média 52% 57% 48% 52% 52% 26% 44% 30%

Alta 30% 22% 0% 13% 22% 17% 33% 22%

Relativamente à faceta quantitativa da investigação em Futebol, no que se refere aos factores físicos, verifica-se que as posições dos especialistas coincidem (X2

(1)=0.001; p=0.98). Em ambos os grupos, 48% dos indivíduos classificam de reduzida/insuficiente a investigação produzida e 52% consideram-na suficiente.

A posição de treinadores e investigadores é relativamente próxima no que se refere aos factores psicológicos (X2

(1)=2.06; p=0.57), embora neste caso uma elevada percentagem de elementos de ambos os grupos (93% e 83%, respectivamente) considerem que a quantidade produzida é reduzida/insuficiente.

Identicamente, no que diz respeito aos factores de natureza táctica, as posições dos especialistas não são significativamente distintas, considerando as respectivas atribuições (X2

(1)=1.11; p=0.57). Enquanto que 52% dos treinadores e 6 1 % dos investigadores consideram que a investigação produzida é reduzida/insuficiente, 48% dos primeiros e 39% dos segundos, consideram-na suficiente.

No que diz respeito aos factores de natureza técnica, (X2(1)=0.97; p=0.61),

as posições dos especialistas são coincidentes com as observadas em relação à dimensão táctica: 52% dos treinadores e 6 1 % dos investigadores consideram que a investigação produzida é reduzida/insuficiente; 48% e 39%, respectivamente, consideram-na suficiente.

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Antinomia: natureza do jogo/investigação 108

No que concerne à faceta qualitativa da investigação em Futebol, e relativamente aos factores físicos, verifica-se a independência de respostas de treinadores vs investigadores (X2

(1)=0.41; p=0.81). Constata-se idêntica tendência em relação aos factores psicológico

(X2(1)=4.38; p=0.11), táctico (X2(1)=5.11; p=0.77) e técnico (2C2(1)=3.63; p=0.16)

Contudo, como se verifica no Quadro 10, é relativamente aos factores técnico e táctico que as posições manifestadas nas respostas mais se distinguem, de acordo com as atribuições pessoais dos especialistas.

Quando solicitados a nomear a dimensão do rendimento que consideravam menos investigada, treinadores e investigadores destacam a táctica (48% e 39%, respectivamente). Em segundo lugar surge a dimensão psicológica (37% e 35%). As dimensões física (11% e 9%) e técnica (4% e 17%), figuram a uma distância considerável destas, como se pode observar na Figura 20.

Dimensões do rendimento Figura 20 - Percentagem de nomeações registadas para os grupos de investigadores e treinadores, relativas à dimensão do rendimento considerada menos investigada.

Os percentuais relativos às principais razões apontadas para a menor expressão das dimensões táctica e psicológica estão representados no Quadro 11.

Quadro 11 - Percentagens relativas às principais razões apontadas, por investigadores e treinadores, para a menor expressão das dimensões psicológica e táctica.

Difícil Não científico Difíc. e n/científ.

Investigadores 42% 2 1 % 3 7 %

Treinadores 78% 4% 17%

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109 Antinomia: natureza do jogo/investigação

Nenhum dos indivíduos, de qualquer dos grupos, considerou qualquer das

outras possibilidades apresentadas no questionário: i) não se tratar de uma

dimensão tão importante como as demais; ii) outras razões.

O valor de X2(2)=6.14, p=0.046 expressa uma associação estatisticamente

significativa entre as características consideradas (difícil; não científico; difícil

e não científico) e o atributo pessoal (investigador, treinador). A análise post-

hoc destacou a característica "ser difícil de investigar" como aquela que mais

contribui para a proximidade das posições dos indivíduos segundo o seu

atributo.

5.3. Conclusões No plano da investigação em Futebol, as dimensões táctica e psicológica,

parecem apresentar uma expressão diminuta e desproporcionada, face à importância que investigadores e treinadores lhes atribuem, no âmbito do rendimento desportivo.

Os resultados deste estudo corroboram a conjectura inicial, i.e., embora os especialistas considerem que a dimensão táctica tem um peso importante no rendimento em Futebol, os mesmos reconhecem nela a dimensão menos investigada e referem que tal se deve à dificuldade que isso envolve.

5.4. Considerações a propósito A necessidade de uma revisão dos modelos de pensamento não é apenas uma necessidade cultural básica, mas também a necessidade de produzir, em sentido mais estrito, instrumentos de trabalho mais adequados.

E. Manzini (1986)

O Futebol tem oferecido, na labilidade dos seus princípios explicativos e na ambiguidade das suas interpretações, um terreno propício a infiltrações conceptuais e metodológicas, provenientes de distintos universos.

Por vezes formula-se a questão se o Futebol pode ou não ser alvo de tratamento científico. No entanto, o problema colocado deste modo parece destituído de qualquer sentido, na medida em que, reconhecendo-se a ciência, não nos resultados obtidos, mas nos métodos adoptados para os conseguir, é o tipo de procedimento utilizado que configura uma abordagem científica ou não científica (Accame, 1995).

No âmbito científico, os discursos e métodos utilizados para interpretar e explicar o jogo parecem revelar uma frágil congruência com o fenómeno visado, o que pode dever-se ao facto do escopo dos analistas não raras vezes descurar os aspectos tácticos que configuram a matriz do Futebol, o que impede uma tomada de consciência molar dos problemas.

O Futebol apresenta uma especificidade, uma essencialidade táctica (Gréhaigne, 1989; Garganta, 1995), decorrentes de um universo cujas

Page 119: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

Antinomia: natureza do jogo/investigação 110

fronteiras configuram a sua identidade, distinguindo-o das demais actividades.

O seu entendimento implica a adopção dum pensamento adequado e reclama a adopção de estratégias de compreensão edificadas a partir dessa especificidade.

O Futebol é um fenómeno multidimensional, e portanto, irredutível a qualquer das dimensões ou factores do rendimento que concorrem para a sua expressão. Todavia, o jogo, do ponto de vista fenomenológico, tem um núcleo director e uma essencialidade táctica que confere, ou retira, sentido aos comportamentos assumidos pelos jogadores e pelas equipas no decorrer duma partida.

Na impossibilidade de abordar esta modalidade na sua total expressão, toma-se conveniente perceber de que forma a entrada por uma "porta principal" de acesso ao conhecimento do fenómeno jogo, pode contribuir para clarificar o seu entendimento e viabilizar uma intervenção mais eficaz.

Na nossa perspectiva, a construção do conhecimento ao nível do ensino, do treino e da competição em Futebol, deve ser feita a partir de perspectivas e matrizes organizacionais que, sem descurar as demais facetas, considerem como núcleo director a dimensão táctica do jogo.

A aleatoriedade e imprevisibilidade das acções que constituem um jogo de Futebol fazem dele uma trama de contornos complexos. São acções que se afigura pertencerem a uma tipologia que Moles (1995) designa por fenómenos vagos ou imprecisos, no sentido em que se torna difícil dispor de técnicas de medida que permitam objectivá-los e que se ajustem aos preceitos científicos vigentes.

Neste caso impõe-se um esforço conceptual para delimitar e identificar os fenómenos que pretendemos estudar. Contudo, tudo se complica quando os próprios conceitos que os enunciam são, em si mesmos, vagos, talvez até pouco adequados.

Quando se trata de fenómenos vagos ou imprecisos é importante conceder maior lugar à modelação. No entanto, como refere Moles (1995), o investigador deve não somente atentar naquilo que aparece a seus olhos como "fenómeno", mas ser também capaz de o descrever, de o explicitar.

Neste plano, afigura-se importante distinguir os estudos do Futebol, dos estudos efectuados no âmbito de outras áreas do conhecimento, em que esta modalidade é apenas um campo de aplicação. Em tais áreas, não obstante a existência de alguns pontos de contacto, a problematização radica em terrenos alheios ao Futebol, facto que se traduz, não raras vezes, num culto de áreas científicas em detrimento do tratamento de problemas específicos dum objecto de estudo específico.

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111 Antinomia: natureza do jogo/investigação

A abordagem do Futebol, na sua complexa textura, reclama quadros de referência congruentes. Neste sentido, os estudos que se reclamam do Futebol enquanto jogo desportivo, devem necessariamente veicular informação que, no seu conjunto, possa contribuir para a edificação dum corpo de conhecimentos que permita aumentar a eficácia do ensino e do treino desta modalidade, bem como da avaliação da prestação dos jogadores e das equipas na competição.

Não sendo nossa pretensão esgotar o jogo de Futebol na sua dimensão táctica, entendemos que a abordagem do ensino, treino e competição, se afigura claramente mais fecunda e ajustada se perspectivada a partir de contextos nos quais a componente táctica funcione como guia de reflexão e acção, como elemento vertebrador, e não como resíduo ou subproduto do rendimento.

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VI - Modelação do jogo

Page 122: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

Modelação do jogo 113

6. O jogo como objecto de estudo: um imperativo

O jogo é um fenimeno natural que desde o início tem guiado os destinos do munda ele manifesta-se nas formas que a matéria pode assumir, na sua organização em estruturas vivas e no comportamento social dos seres humanos.

M. Eigen & R. Winkler (1989)

O processo de treino desportivo tem como objectivo fundamental o desenvolvimento da prestação desportiva em situação de treino e sua comparação na competição (Lehnert, 1986; Marques, 1990; Cari, 1992). Nessa medida, o objecto da Teoria e Metodologia do Treino Desportivo orienta-se para a prestação desportiva, tendo como âmbitos de intervenção privilegiados pela investigação, o treino e a competição (Marques, 1990).

Treinar é modelar através dum projecto (Marina, 1995), pelo que pode clizer-se que o modelo de prestação competitiva constitui um pressuposto fundamental do modelo de treino (Tschiene, 1995). Como tal, a definição do conteúdo, exigências e características específicas da competição, porquanto contribui para perfilar a especificidade da disciplina desportiva a que respeita, orienta o refinamento do processo de treino no sentido de potenciar o desenvolvimento do comportamento agonístico dos atletas.

No Futebol diz-se frequentemente que conforme se quer jogar assim se deve treinar, o que sugere uma relação de interdependência e reciprocidade entre a preparação e a competição.

Esta relação é consubstanciada por um dos princípios do treino, o princípio da especificidade, que preconiza que sejam treinados os aspectos que se prendem directamente com o jogo (estrutura do movimento, estrutura da carga, natureza das tarefas, etc.), no sentido de viabilizar a maior transferência possível das aquisições operadas no treino para o contexto específico do jogo.

Deste modo, pretende-se que a preparação seja adequada, isto é, induza adaptações específicas que viabilizem uma maior eficácia de processos na competição (Figura 21).

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114 Modelação do jogo

I Competição I T I Preparação I I

I Adequada I Inadequada

Adaptações específicas

Resultados eficazes

Resultados ineficazes

rn Adaptações Inespecíficas

Figura 21 - Interdependência entre a preparação e a competição (redesenhado de Pinto, 1991).

Thiess (1994), num artigo publicado no periódico Leistungssport, e tendo como base um princípio de aceitação generalizada, o da unidade e do condicionamento mútuo entre treino e competição, invoca a necessidade de paralelamente a uma teoria do treino se desenvolver uma teoria da competição, indispensável não apenas para o desenvolvimento da prática desportiva mas também para a evolução das ciências do desporto.

Este entendimento, que é corroborado por Tschiene (1995), tem implicações importantes no domínio particular dos jogos desportivos colectivos (JDC).

Neste contexto, Teodorescu (1985) vem chamando à atenção para o facto da representação do conteúdo do jogo e do sistema de relações dos elementos que o compõem se revestir de grande importância, na medida em que ao permitir evidenciar os aspectos relativos à sua lógica interior, possibilita o aperfeiçoamento contínuo, quer do treino quer do próprio jogo.

Reconhecendo-se que o jogo configura o perfil das exigências específicas impostas aos jogadores (Gréhaigne, 1989; Janeira, 1994; Garganta, 1995), quanto mais ele for privado do esforço de observação e análise, menos consistente e adequada se torna a sistematização e a reflexão sobre os seus fundamentos (Castelo,1992). Por conseguinte, o processo adquire pertinência na medida em que pode proporcionar uma maior visibilidade sobre a localização de sentido (Santos, 1989) dos comportamentos dos jogadores/equipas.

Impõe-se assim a identificação dos problemas do jogo, dos seus indicadores de qualidade, para, a partir deles, sistematizar conteúdos, definir objectivos, construir e seleccionar exercícios para o ensino e treino.

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Modelação do jogo 115

Trata-se de delimitar um quadro específico de constrangimentos colocado pelo jogo, perfilando-o com base na caracterização dos comportamentos dos jogadores, a partir da observação e análise das equipas (sistemas) em confronto na competição.

Ao jogo de Futebol estão adstritas propriedades materiais, susceptíveis de mensuração e quantificação e propriedades simbólicas que constituem propriedades materiais percebidas e apreciadas nas suas relações mútuas.

A compreensão do desenvolvimento do jogo e da relação de forças produzida passa invariavelmente pela identificação de comportamentos que testemunham a eficiência e eficácia dos jogadores e das equipas nas diferentes fases do jogo.

Os conhecimentos provenientes dos estudos realizados a partir da caracterização das acções dos jogadores e da organização das equipas, no decorrer duma partida, podem representar um aporte significativo de informação para a evolução do treino e da competição.

Contudo, a concretização de tais estudos acarreta elevadas dificuldades, porque a natureza e diversidade dos factores que concorrem para o rendimento neste JDC deixam perceber uma estrutura de grande complexidade, devido: i) à extensão das relações de envolvimento dos jogadores (Worthington, 1974): ii) ao facto das acções de jogo não corresponderem a uma sequência previsível de codificações (Garganta, 1994), revelando um elevado grau de indeterminismo (Dufour, 1993); (iii) à presença de sistemas sujeitos a rápidas alterações (Schubert, 1990), com componentes numerosas e variadas.

Assim, na aparência simples de um jogo de Futebol esconde-se um ienómeno que assenta numa lógica complexa, a qual é responsável pela opacidade de que o jogo se reveste quando perspectivado como objecto de conhecimento científico, nomeadamente no que diz respeito à sua expressão táctica.

Não obstante, a elevação do jogo a objecto de estudo constitui um imperativo fundamental, na medida em que o conhecimento da sua lógica e dos seus princípios tem implicações importantes nos planos do ensino, treino e controlo da prestação dos jogadores e das equipas.

Tal intenção pressupõe a escolha de procedimentos teóricos e metodológicos, que permitam explicitar o modelo que preside à observação e interpretação do jogo (Figura 22).

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116 Modelação do jogo

Estudo e caracterização dos sistemas implicados

Figura 22 - O jogo enquanto objecto de estudo.

Deste modo, a abordagem a que nos propomos na presente tese, passa não apenas por uma revisão a propósito da observação e análise do jogo de Futebol, como também por explicitar um modelo conjectural do jogo cuja configuração desemboca na definição de categorias e indicadores de observação.

6.1. A modelação enquanto meio para aceder ao conhecimento do jogo

L'homme na jamais pu se dépasser de grilles. Devam le désordre apparent du monde, il lui fallut chercher les termes signifiants, ceux qui, associés entre eux, rendaient son action sur le millieu plus eficace, lui permettaient de survivre. Devant l'abondance infinie des objects et des êtres, il a recherché entre eux des relations, et devant l'infinie mobilité des choses, il a cherché des invariances.

H. Laborit(1974)

A modelação e a simulação podem ser consideradas como as bases sobre as quais repousa o pensamento humano.

D. Durand (1992)

6.1.1. Conceito de modelo O objectivo da ciência é estabelecer corpos de conhecimentos sobre o

mundo, o que implica que este seja estudado ou observado (Phillips, 1990). No quadro das actividades científicas, as palavras modelo e teoria

vinculam-se imediatamente aos processos construtivos que nos permitem descrever e explicar os fenómenos que observamos. São noções intimamente ligadas à concepção do conhecimento, e particularmente do conhecimento científico. No entanto, a primeira possui certos matizes que fazem dela algo de mais particularizado do que a segunda (Delattre, 1992a).

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Modelação do jogo 117

Enquanto que as teorias são proposicionais, os modelos são analógicos e procuram torná-las operacionais (Johnson-Laird, 1983).

Embora a construção de modelos seja um método ao qual se recorre, desde Platão, para reduzir a opacidade da acção (Saint-Semin, 1992), nunca se falou tanto em modelos como nos tempos que correm, não só como instrumentos do progresso científico mas também como auxiliares pedagógicos (Pereira, 1989).

O termo modelo cobre um campo semântico extremamente indefinido, como o comprovam as definições dadas pelos diccionários e os usos encontrados na língua falada ou escrita.

O sentido original da palavra modelo é o de paradeigma, que exprime o que se deve copiar, ou o que se impõe necessariamente, do mesmo modo que o molde ou a matriz impõem à matéria uma forma pré-determinada. Contudo, o vocábulo foi-se alargando a outras realidades e a noção de modelo aplica-se já não a uma referência que se copia ou imita, mas ao resultado desta operação de cópia ou ao que se realiza para representar alguma coisa (Delattre, 1992).

A coisa representada pode, ela própria, ser concreta ou abstracta, e daí a diversidade de definições encontradas, conforme um ou outro destes caracteres se aplica ao objecto considerado ou à imagem que dele se dá (Quadro 14).

Quadro 14 - Definições de modelo propostas por autores oriundos de diferentes quadrantes do conhecimento.

Autor Data Definição

Walliser 1977 representação dum sistema real, mental ou física, expressa sob a forma verbal, gráfica ou matemática

Richards

Ouellet

Parlebas

Bompa

Minksy

Epstein

1980

1981

1981

1983

1985

1986

estrutura composta por símbolos, isomórfica com a estrutura ou processo que pretende representar

representação à escala de um conjunto complexo de grande dimensão (sentido físico do termo)

é uma representação simplificada da rede de interacções, de tipo causal ou descritivo, entre os elementos de um sistema

imitação, simulação da realidade, constituída por elementos específicos do fenómeno que se observa ou investiga

M é um modelo de A na medida em que M é útil para responder a certo tipo de questões acerca de A

representação artificial, pela qual se extraem da complexidade do real alguns factores que são abstraídos e considerados pertinentes

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118 Modelação do jogo

Quadro 14 (continuação).

Autor Data Definição

Rosado 1986

Soares 1987

Pereira 1988

Le Moigne 1990

Anshelletal. 1991

Die. Língua Portug. 1992

Durand 1992

Geymonat & Giorello 1992

Matos 1994

Bayer 1994a

Nigg 1994

Marina 1995

representação operacional (sobre a qual se pode actuar) e analógica (preservando a estrutura) de um fenómeno e que não precisa de ser exactamente uma réplica dele

instrumento de trabalho que medeia entre o sujeito que quer conhecer e o objecto que tem de ser conhecido

representações operacionais dos fenómenos, que não são exactamente réplicas superficiais destes, mas em que há uma semelhança de estrutura

representação artificial inteligível, simbólica, de situações sobre as quais se pretende intervir

representação visual ou gráfica entre variáveis identificáveis

esquema teórico em matéria científica, representativo de um comportamento, de um fenómeno ou conjunto de fenómenos

toda a representação ou transcrição abstracta de uma realidade concreta, qualquer que seja a sua forma ou linguagem utilizada (literal, gráfica ou matemática)

invenção, expediente, espécie de "máquina imaginária" que o homem constrói artificialmente, mas que pode ser referida ao sector da realidade que é o objecto de estudo

descrição de elementos considerados fundamentais numa situação, ignorando deliberadamente os elementos tidos como secundários

representação abstracta duma realidade concreta

ensaio para representar a realidade

programa de acção que unifica dados e relações dinâmicas entre esses dados, ligando um conjunto de referências

Das definições apresentadas, não obstante algumas diferenças, emergem categorias comuns que permitem configurar a noção de modelo:

• a de representação; • a de isomorfia estrutural e analogia funcional, que implica não apenas a correspondência entre os elementos do modelo e do objecto de modelação, mas também um comportamento análogo ao do sistema modelado; • a de simbolismo susceptível de ser representado graficamente (modelo pictográfico); • a de mediador do conhecimento, entre o sujeito e o objecto, e entre a prática e a teoria.

Pode assim dizer-se que um modelo: (1) se assemelha à realidade que é suposto representar, embora não se deva confundi-lo com a realidade; (2) é

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Modelação do jogo 119

pertinente na medida em que incorpora a dinâmica do fenómeno sobre o

qual pretendemos agir; (3) tem um estatuto intermédio entre o objecto real e

uma teoria científica e é frequentemente uma etapa intermédia na busca do

saber (Durand, 1992).

Qualquer que seja o nível a que se situa, todo o modelo, porque é uma

interpretação e uma síntese (Walliser, 1977), pode ser considerado um

mediador entre um campo teórico, que é o da problematização-conceptualização, e um campo empírico, que é o da observação (Le Moigne, 1990). A modelação cumpre-se através dum ciclo que se desenvolve através dum permanente vai-vém dum campo ao outro (Figura 27).

Problematização

Campo teórico

Signi

Campo teórico

ítação Signi ícação F

t 'epresentaçã

Interpr o

ítação Signi

w. Modelo ^

ítação

Modelo ^

Trata dose

w Modelo

^

ização lados

Trata dose

mento lados

Construção

1 Mobil

dose ização lados

Trata dose

Campo empírico

ização lados

Campo empírico

Observaçãc )

Figura 27 - Ciclo da rrodelação (Adap. Walliser, 1977).

Os modelos, embora funcionem como uma criação antecipativa fundamentada numa realidade existente, não são estabelecidos por uma análise presumivelmente fiel e objectiva do fenómeno positivamente observável, mas pela "projecção" do desenho do modelador, à qual se dá o nome de "concepção" (Le Moigne, 1990).

Este processo de construção activa do conhecimento (Schwandt, 1994), encontra-se no coração do processo de modelação dos fenómenos ou dos sistemas designados complexos (Le Moigne, 1990).

A modelação prende-se sobretudo com a representação do conhecimento, a partir dos constructos mentais que representam os fenómenos, entendendo-se a representação como uma entidade que está em vez de outra (Brachman & Levesque, 1985). Modelar um sistema complexo é

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120 Modelação do jogo

elaborar e conceber modelos, construções simbólicas, com a ajuda das quais

podemos definir projectos de acção, avaliar os seus processos e a sua

eficácia (Le Moigne, 1990).

6.1.2. A modelação do jogo Nos jogos desportivos colectivos (JDC), a procura de modelos que

funcionem, quer como reguladores da actividade dos jogadores (Menaut, 1983), quer como referenciais importantes na intervenção dos treinadores (Grosgeorge, 1990), é uma questão central que tem aberto vias de investigação e de reflexão profícuas nos planos do ensino, treino e competição (Gréhaigne, 1992a).

Neste contexto, a modelação do jogo permite fazer emergir problemas, determinar os objectivos de aprendizagem e de treino e constatar os progressos dos praticantes, em relação aos modelos de referência (Gréhaigne, 1989).

Vários autores têm recorrido à modelação para configurar a lógica interna dos JDC (Parlebas, 1976; Deleplace, 1979; Dugrand, 1989) com base na organização das acções de jogo (Gréhaigne, 1989; Godik & Popov, 1993; McGarry & Franks, 1995; Hughes, 1996a; Smith, et ai., 1996).

Neste âmbito, a modelação tem também sido utilizada para promover a identificação de relações entre os eventos do jogo e os factores que concorrem para a efectividade das equipas. Trata-se de configurar padrões de jogo a partir da observação dos comportamentos dos jogadores nas partidas, no sentido de identificar factores que estão associados ao sucesso e insucesso das equipas (Smith et ai., 1996).

A tentativa de formalizar ou modelar o jogo procede de uma análise e de um tratamento do seu conteúdo (quantitativo e qualitativo) visando colocar em evidência a respectiva lógica interna (Parlebas, 1981), através de representações simplificadas das relações de oposição e de cooperação estabelecidas na relação conflitual que se opera ao longo das partidas (Menaut, 1983).

Também no contexto do Futebol, o conhecimento, a identificação e a definição do jogo passam pela utilização de modelos capazes de interpretar e explicar a lógica do seu conteúdo, a partir da integração das dimensões consideradas essenciais ou mais representativas do fenómeno.

Qualquer abordagem da realidade implica a utilização de um filtro, de um modo de organizar a informação de acordo com um modelo (representação) apropriado ao tipo específico de informação que se pretende obter. E nessa medida, a qualidade do que é conhecido depende da qualidade (ou seja, da adequação) desse modelo (Manzini, 1986).

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Modelação do jogo 121

Sendo a modelação uma focagem, uma aproximação ao real, nenhum sistema complexo pode ser redutível a um modelo explicativo. Deste modo, a construção de modelos1 é sempre selectiva porquanto em todos eles há interpretação e mutilação da realidade estudada, e algumas variáveis que são privilegiadas em detrimento de outras (Ouellet, 1981).

Contudo, dado que raciocinamos sobre imagens2, a modelação é útil na medida em que permite aumentar a eficácia da acção (Damásio, 1994) e promover a compreensão da realidade (Nigg, 1994).

Cada sujeito-observador percebe o jogo, as suas configurações, em função das aquisições anteriores e do estado presente. Como refere Ceruti (1995), a adequação dos modos de pensar e das linguagens é sempre uma adequação hic et nunc, condicionada e construída a partir dos fins e modelos específicos do observador na edificação dos seus universos cognitivos.

Assim, podemos dizer que perante o fenómeno jogo, o observador constrói uma paisagem de observação, entendida como um conjunto de estímulos organizados face ao "ponto de vista" que ele possui sobre o fenómeno. Ou seja, retém o que se lhe afigura pertinente, interpreta os dados dispersos e organiza-os conferindo-lhes um sentido próprio, o que quer dizer que o sentido do jogo é construído e depende de um modelo de referência.

Como tal, o mesmo jogo pode ser percebido3, por várias pessoas, de maneiras diferentes, consoante o seu horizonte de sentido, pelo que o processo de interpretação e reflexão sobre o jogo decorre em primeira análise da natureza dos modelos (representações) do observador (Figura 28).

No plano do conhecimento, para cada modelo existem versões internas e externas. O modelo interno corresponde ao significado que o modelo externo ou a situação real tem para o observador (Lesh, 1990). No plano do comportamento do observador, enquanto que os modelos implícitos são constituídos pelos pressupostos que, embora subconscientes, condicionam o

1Os modelos não servem tanto para restituir ou antecipar o desenrolar concreto de uma acção, tal como um observador a contaria ou a filmaria, como para discernir a sua estrutura, coerência e lógica (Saint-Semin, 1992). Na sua acepção usual, otermo modelo sugere um objecto ou uma situação mais complexa e rica do que a representação, quaisquer que sejam as modalidades desta (Geymonat & Giorello, 1992).

2 0 cérebro humano é um sistema sknbólico. Recebe informação do ambiente (visual, auditiva e táctil), que traduz, utilizando um conjunto de regras e procedimentos, em símbolos ou dados (Simon, 1991). A sua natureza faz com que não seja possível pensar o mundo e os seus elementos, nem agir de forma eficaz sem que se tenha presente um modelo, ou seja, uma simplificação selectiva da realidade (Geymonat & Giorello, 1992; Stacey.1995).

3Perceber quer dizer identificar, reconhecer. Reconhecer é uma operação que remete a um conhecimento prévio e identificar é converter num significado. Onde quer que encontremos um fenómeno de reconhecimento temos de admitir a existência de um padrão que o tome possível (Marina, 1995). Não podemos perceber uma mudança sem um fundo, sem uma invariante que nos faça perceber a mudança. Isto é válido para todos os níveis: desde as simples experiências perceptivas, até aos nossos conceitos mais abstractos (Ceruti, 1995).

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122 Modelação do jogo

comportamento, os modelos explícitos são mobilizados para a realização de uma escolha e da acção sobre essa escolha (Stacey, 1995).

(— i Ï Jogo

(Modelo externo)

I I Modelo explícito Modelo implícito Modelo explícito Modelo implícito

Observação (Modelo interno)

T Interpretação e reflexão

Interpretação e reflexão

Figura 28 - A interpretação do jogo à luz dos modelos do observador

Contornamos assim as nossas limitações formando uma abstracção simplificada do mundo real, através da aprendizagem e da formação de conceitos, em resultado das quais aprendemos, entre outras coisas, a reconhecer padrões (Pask, 1970). Sabe-se que mesmo sobre um fundo de acaso a mente humana opera assente sobre conceitos de regularidade, periodicidade e predizibilidade (Moles, 1995).

Para modelar é necessário um vínculo entre a forma e a função4. O modelo permite situar um objecto entre três pólos: o perceptivo, o racional e o funcional (Ouellet, 1981).

O método dos modelos fundamenta-se no raciocínio por analogia5, i.e., a partir da semelhança de aspectos de alguns fenómenos, inferimos a semelhança de outros caracteres (Novik, 1963).

Segundo Stacey (1995), o raciocínio por analogia é o modo preferencial de raciocinar em condições de mudança de final aberto. Porque dirigido a alterações e a resultados imprevisíveis, reclama métodos de raciocínio diferentes daqueles que são utilizados em situações de mudança fechada ou restrita.

4Thom (1979) defende a tese de que o conteúdo (concreto ou abstracto, quantitativo ou qualitativo) de um modelo depende estreitamente da sua função (interpretação do real, teste duma hipótese, acção, compreensão). Para este autor, um modelo é satisfatório se proporciona uma resposta satisfatória à questão que motivou a modelação.

5 A analogia é uma semelhança estabelecida entre dois ou vários objectos ou acontecimentos (Bertrand & Guillemet, 1988), i.e., uma relação de homologia entre duas relações (Bourdieu, 1980). Pode representar-se sob a forma de uma simples imagem ou símbolo, embora também possa assumir formas mais complexas: metáforas, isomorfismos ou modelos (Durand, 1992).

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Modelação do jogo 123

Para inteligir a organização dum sistema de final aberto (como no caso do jogo de Futebol) a busca de laços directos causa/efeito revela-se pouco profícua (Stacey, 1995). O raciocínio eficaz está sobretudo relacionado com a descoberta das acções mais representativas da actividade do sistema.

Dado que se impõe a necessidade de descriminar as acções mais representativas, importa utilizar, a par do raciocínio analógico, um outro tipo de raciocínio não indutivo nem dedutivo, mas descriminante, isto é, o raciocínio por abdução (Durand, 1992). Este consiste em concentrar-se, de entre o grande número de situações e soluções, naquelas que parecem evidenciar maior pertinência, de acordo com um determinado entendimento dum fenómeno ou conjunto de fenómenos6.

O desenvolvimento dos comportamentos dos jogadores num jogo decorre da relação entre a permanência de invariantes7, a manifestação de regularidades6 (Reep & Benjamin, 1968; Latishkevitch & Dudin, 1992; McGarry & Franks, 1996) e a produção de novidade (Gréhaigne, 1989).

Nessa medida, o jogo de Futebol processa-se a partir de um carácter bifronte: por um lado, o aspecto estabilizador e conservador, o equilíbrio, os princípios, as regras; por outro, o aspecto criativo, inovador, o desequilíbrio. As suas configurações acontecimentais geram-se a partir da tensão entre aquilo que Ceruti (1995) designa por vínculo e possibilidade.

No entendimento de Teodorescu (1977), uma equipa pressupõe uma funcionalidade geral, constante, baseada em princípios e regras de coordenação das acções dos jogadores, e uma funcionalidade especial, variável, para cada jogo, para cada adversário, em função de condições diversas.

No estudo do jogo podemos recorrer ao que em ciências empresariais se designa por auto-semelhança (Stacey, 1995), isto é, utilizar os padrões de organização das equipas ao longo de um ou vários jogos para tirar conclusões sobre comportamentos de jogadores e equipas noutros jogos.

6 Foi o americano Herbert Simon (1991) quem, no âmbito da Psicologia Cognitiva, colocou em evidênca a importância deste tipo de raciocínio, a partir dos seus trabalhos sobre o conceito de racionalidade limitada e sobre o general problem solving, em que o autor busca uma metodologia para a resolução de problerras, dirigida, não para a solução óptima, mas para a designada solução aceitável.

7Propriedades que, não obstante as transformações que o sistema sofre (Walliser, 1977), se reveam permanentes para o horizonte estudado (Godet, 1991).

'^Comportamentos que, ocorrendo frequentemente ao longo de diferentes momentos do mesmo jogo e ou no conjunto de vários jogos, perfilam traços que exprimem a aplicação sistemática de regras de acção e de gestão do jogo.

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124 Modelação do jogo

A partir duma análise deste tipo parece pertinente conceber modelos que formalizem a organização das equipas, traduzida num conjunto de variações, regularidades e invariâncias9, configuradas no desenvolvimento do jogo.

Na perspectiva de Teodorescu (1977), a análise e interpretação do conteúdo do jogo desportivo e da funcionalidade da equipa através do prisma da modelação asseguram a possibilidade de utilizar uma metodologia científica na programação do treino, na selecção dos jogadores, no conhecimento dos adversários, na escolha da táctica de jogo e, em geral, para toda a actividade dos treinadores e das equipas.

Tschiene (1994) sustenta que a organização do processo de treino nos JDC deve necessariamente partir de um referencial: o modelo de jogo da equipa, que constitui, portanto, o "elemento causal" de todos os comportamentos (Frade, 1985).

Para Araújo (1987) o ensino e o treino das modalidades colectivas tem de desenvolver-se forçosamente segundo planeamentos e programações estritamente influenciados pelos modelos de jogo, de preparação e de jogador.

A análise dos modelos técnico-tácticos tem como objectivos fundamentais identificar, no conteúdo do jogo, quais os factores através dos quais se desenvolve o jogo, identificar e caracterizar os sistemas de organização (relações) dos factores de ataque e defesa e ainda determinar os índices de eficácia no jogo de acordo com um determinado nível de rendimento (Teodorescu, 1977).

Segundo Queiroz (1986), no Futebol a análise dos modelos técnico-tácticos tem um papel decisivo no que respeita à obtenção de rendimento. A sua definição deve resultar de uma concepção de jogo que veicule os modelos de acção mais eficazes do Futebol actual, assim como as suas tendências evolutivas de forma a estimular no treino, as exigências e dominantes do Futebol moderno.

Os jogadores, face aos constrangimentos do jogo, agem, individual e colectivamente, combinando o repertório motor com os princípios de acção. Essa combinação é realizada através do modelo de jogo, o qual ultrapassa o

9Um sistema é identificável num universo material na medida em que existe uma certa permanência das suas características, para além das modificações do meio externo ou interno. A regularidade é algo que diz respeito às relações entre estruturas, mais do que às próprias estruturas (Eigen & Winkler, 1989) e que se produz com uma frequência estatisticamente mensurável (Bourdieu, 1980). Fala-se de invariante para fazer referência a todo o fenómeno que se supõe permanente até ao horizonte estudado (Godet. 1991), i.e., à propriedade de um sistema que se conserva não obstante as transformações que ele sofre (Walliser, 1977). É possível distinguir duas grandes famílias de invariantes: as espaço-temporais. relativas às transformações geométricas do sistema, à periodicidade e reversibilidade das acções no tempo e aos movimentos; as qualitativas, respeitantes às transformações mais profundas do sistema como sejam as organizacionais (Godet, 1991).

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Modelação do jogo 125

quadro dos "saber-fazer" para situar o problema dos desportos de equipa ao

nível de um sistema (Caron & Pelchat, 1975).

Uma equipa de Futebol comporta-se como um sistema susceptível de

manifestar comportamentos que, embora não pré-determináveis, são

potencialmente antecipáveis (possíveis). Assim, embora conscientes de que

o conteúdo do jogo é incerto e imprevisível, entendemos que se impõe a

necessidade de identificar e registar características ou indicadores de

qualidade, a partir da análise qualitativa e quantitativa dos comportamentos

expressos pelos jogadores no jogo.

Este tipo de informação, uma vez sistematizada, permite racionalizar os

designados padrões de jogo e por extensão os modelos de jogo, que no

contexto do Futebol constituem importantes utensílios, na medida em que

funcionam como referenciais para a concretização dos objectivos e para a

elaboração e avaliação das situações de ensino e treino do jogo. Assim,

permitem não só articular e organizar o conhecimento, mas também verificar

e corrigir a acção.

Nesta medida, a apreensão de um modelo de jogo toma-se profícua a

partir das sínteses e do compromisso entre este e o modelo de treino.

6.2. Explicitação de um modelo conjectural do jogo de Futebol

A acção humana caracteriza-se pelo seu aspecto acontecimental. Ela é função dos valores, das crenças, das finalidades e da racionalidade daqueles que agem e caracteriza-se também pela situação concreta e complexa na qual se desenvolve.

Susman & Evered (1978)

O conceito de sistema foi sempre uma noção- apoio para designar o conjunto de relações entre constituintes formando um todo.

A. Kaplan (1988)

Para Teodorescu (1985a) os JDC, na medida em que não constituem uma sequência de acções rigorosamente pré-determinadas, não podem ser reduzidos a um modelo puramente algorítmico.

Referindo-se particularmente ao Futebol, Gréhaigne (1989) apela para um tipo de raciocínio heurístico e reforça esta ideia referindo que se a cascata de decisões for restringida a uma escolha binária do tipo algorítmico, ocorre necessariamente um empobrecimento e uma esteriotipia dos comportamentos.

O jogo de Futebol é uma construção activa na medida em que o seu

desenvolvimento decorre da afirmação e actualização das escolhas e

decisões dos jogadores, realizadas num ambiente de diversos

constrangimentos e possibilidades.

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126 Modelação do jogo

No contexto do jogo coexistem três grandes categorias de problemas (Gréhaigne & Guil lon, 1992): (1) No plano espacial e temporal: na fase ofensiva - problemas de utilização da bola, individual e colectivamente, na tentativa de ultrapassar obstáculos móveis não uniformes (adversários); na fase defensiva - problemas na produção de obstáculos, com a finalidade de dificultar ou parar o movimento da bola e dos jogadores adversários, no intuito de conseguir a posse da bola. (2) No plano informacional: problemas ligados à produção de incerteza para os adversários e de certeza para os companheiros. (3) No plano organizacional: problemas relacionados com a integração do projecto colectivo na acção individual e vice-versa.

Deste modo, as equipas em confronto operam como colectivos, organizados de acordo com uma lógica particular, em função de regras, princípios e prescrições. As acções dos jogadores da mesma equipa tendem a ser convergentes, na medida em que as estratégias e acções individuais são direccionadas no sentido de satisfazer finalidades e objectivos comuns.

Face a uma situação de jogo, cada jogador privilegia determinadas acções em detrimento de outras, estabelecendo uma hierarquia de relações de exclusão e de preferência, com implicações no comportamento da equipa enquanto sistema. Assim, a equipa constitui uma totalidade em permanente construção, na qual as acções pontuais, mesmo que aparentemente isoladas, influem no comportamento colectivo. Trata-se de uma actividade colectiva, que consiste numa rede de interacções complexas (Helsen & Powels, 1988; Gréhaigne, 1992a) de cooperação e oposição, integrando distintos níveis de organização (Gréhaigne, 1989).

Contudo, embora o grau de complexidade possa ser entendido a partir da quantidade e da qualidade dos níveis de organização, no jogo de Futebol essa noção deve ser complementada pelas de circularidade e de reversibilidade10, no sentido de que as partes agem em função do todo e de que este rectroage sobre as partes, com base numa alternância de papéis e funções de ataque e defesa (Gréhaigne, 1989; Deleplace, 1994).

Na medida em que a acção de um jogador desemboca obrigatoriamente na interacção11 entre os demais elementos em jogo, cada uma das equipas que se defrontam comporta-se como uma unidade cujas interacções dos seus elementos se sobrepõem às mais-valias individuais.

Na medida em que actuam num contexto em que se estabelecem relações de dependência e interdependência, as equipas de Futebol podem ser

10Para Deleplace (1994), a reversibilidade é uma lei da lógica interna do jogo nos JDC, a partir da qual as equipas configuram a sua organização.

1 1A interacção exprime o conjunto das relações, acções e rectroacções que se efectuam e se tecem num sistema (Morin, 1982).

Page 136: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

Modelação do jogo 127

consideradas sistemas hierarquizados12, especializados e fortemente dominados peias competências estratégias e heurísticas.

A noção de hierarquia remete para a imagem duma estrutura arborescente, na qual vários elementos possuem relações "verticais" orientadas em função dum elemento de nível superior. Mas supõe também a irnagem duma estrutura reticular na qual os elementos têm relações "horizontais" entre si (Walliser, 1991). Assim, podemos distinguir uma complexificação "vertical", hierarquisante, que faz a articulação entre níveis distintos, e uma complexificação "horizontal", que opera num mesmo nível

(Bailly, 1991). Pode pois dizer-se que uma equipa constitui um sistema adaptativo

complexo13. Por esta ordem de razão, o jogo, porque decorre do confronto de dois

sistemas complexos (as equipas), constitui um fenómeno eminentemente complexo (Dietrich, 1978; Frade, 1985; 1990; Gréhaigne, 1989; Garganta & Pinto, 1994; Hughes, 1996a; McGarry & Franks, 1996), pelo que se impõe que o jogo seja percebido e concebido a partir da especificidade dessa complexidade.

Contudo, o termo complexidade carece de explicitação, sob pena de alimentar um discurso inane, traduzido numa manifesta impotência para aceder à essencialidade dos fenómenos. Deste modo impõe-se a clarificação do seu alcance semântico e conceptual.

Cabe aqui esclarecer que a complexidade não é necessariamente uma propriedade dum sistema (seja natural ou artificial), mas uma propriedade da representação disponível desse sistema (Le Moigne, 1990).

É, portanto, uma propriedade do sujeito na apreensão dos fenómenos (Vallée, 1990), que se deve: (i) à composição do sistema, ao número e às características dos seus elementos e sobretudo das suas interacções (Wieser, 1972; Durand, 1992); (ii) à incerteza e aos acasos próprios do meio envolvente (Wieser, 1972; Durand, 1992); (iii) à imprevisibilidade potencial de

l 2Um sistema hierárquico é uma categoria segundo a qual os objectos estão repartidos em diferentes níveis de complexidade (Ehresmann & Vanbremeersch, 1991). A abordagem hierárquica permite construir uma representação funcional dos sistemas, baseada nas noções de função, componente, elemento (Braunschweig, 1991). As hierarquias funcionais e a representação dos conhecimentos sob a forma de esquemas ou de objectos deram origem ao raciocínio baseado em modelos, model-based reasoning ÍDavis & Hamscher, 1988), o qual tem permitido a várias gerações de investigadores aumentar significativamente o conhecimento em domínios tão diversos como a Física, a Química, a Economia, a Informática, a Medicina, a Gestão e o Desporto, entre outros.

13De acordo com Stacey (1996), os sistemas adaptativos complexos consistem num elevado número de agentes interrelacionados de modo não-linear, em que a acção de um agente pode provocar mais do que uma resposta por parte dos outros agentes. Para além disso, caracterizam-se pelo facto dos seus elementos identificarem regularidades na informação que obtêm, condensando-a posteriormente sob a forma de modelos.

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128 Modelação do jogo

comportamentos (Le Moigne, 1990a); (iv) às relações ambíguas entre determinismo e acaso aparente, entre ordem e desordem (Moles, 1995).

Torna-se então necessário entender o jogo de Futebol na sua complexidade, no antagonismo das equipas face ao concurso para um objectivo comum14.

O conhecimento, a identificação e a definição do jogo de Futebol, passa pela utilização de modelos capazes de o explicar e interpretar (Gréhaigne, 1989). Trata-se de representar o conteúdo e a lógica do jogo a partir da integração das dimensões percebidas como essenciais do fenómeno.

Ora, como refere Le Moigne (1990), se pretendemos construir a inteligibilidade de um sistema complexo, isto é, entendê-lo, devemos modelá-lo.

Modelar um sistema complexo é elaborar e conceber modelos, i.e., construções simbólicas, com a ajuda das quais podemos definir projectos de acção, avaliar os seus processos e a sua eficácia (Le Moigne, 1990).

Para Menaut (1982) e Gréhaigne (1989), não é possível compreender e explicar a complexidade dos JDC, enquanto sistema de transformação, senão apelando a modelos que integrem as noções de ordem, desordem, interacção e organização.

O conceito de sistema, porque subsume a complexidade, o paradoxal, o dialógico, e por isso mesmo o incerto (Jantsch, 1980), afigura-se nuclear porque permite focalizar a análise nos aspectos da organização do jogo. consubstanciados num conjunto de regras de gestão e acção (Catlin, 1994) que derivam de um conceito ou ideia central, vulgarmente designada por modelo ou concepção de jogo (Trapp, 1975).

Todo este quadro de referências aponta para a necessidade de realizar uma incursão nas designadas abordagens do tipo sistémico.

A sistémica constitui uma abordagem, um método de compreensão e de resolução de problemas que visa aumentar a eficácia da acção face a problemas relacionados com o modo de observação, de representação, de modelação ou de simulação de totalidades complexas (Figura 29).

1 4A complexidade das interacções pode provocar o aparecimento de efeitos perversos (Boudon, 1977 . Por efeito perverso entenda-se aquele que não é explicitamente procurado pelos agentes de um sistema e que resulta da sua situação de interdependência (Boudon, 1979).

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Modelação do jogo 129

Estruturalismo

Teoria da informação

^ Cibernética Teoria da

informação Cibernética Teoria da

informação ^ Cibernética

\ Ciências da

Comunicação ► SISTÉMICA < Auto-organização

Domínios de aplicação Instrumentos

Biologia Raciocínio analógico

Ecologia Representação gráfica

Economia Lógica matemática

Ciências Sociais Teoria dos jogos

Ciências do desporto Modelação sistémica

Figura 29 - Movimentos percursores e alguns domínios de aplicação e instrumentos da sistémica (adap. Durand, 1992).

É uma disciplina que emergiu, pouco a pouco, a partir do estruturalismo, da cibernética e da teoria da informação, nos anos 50, e que, gravitando em torno do conceito de sistema, recebeu diversas designações: análise de sistemas, análise sistémica, análise estrutural, análise funcional, abordagem sistémica, dinâmica dos sistemas.

Vários autores (Rosnay, 1975; Atlan, 1979; Andreewsky, 1991; Bertrand & Guillemet, 1988) recorreram à expressão abordagem sistémica para designarem as perspectivas e metodologias empregues na descrição e estudo dos sistemas, no sentido de tornar a acção mais eficaz. A abordagem sistémica consiste portanto numa estratégia de modelação da realidade que comporta a utilização de certos instrumentos conceptuais bem definidos, conduzindo à modelação sistémica

15 (Bertrand & Guillemet, 1988). A modelação sistémica assenta em quatro categorias fundamentais

(Durand, 1979): interacção, globalidade, complexidade e organização. Neste sentido parece revelar-se profícua para defrontar fenómenos complexos como o jogo de Futebol, porquanto estamos em presença de um processo: (1) interactivo, porque os jogadores que o constituem actuam numa relação

15Os métodos de modelação sistémica desenvolveram-se a partir de 1945, nomeadamente nas ciências

da engenharia (teoria cibernética, Norbert Wiener) e nas ciências da vida (teoria dos sistemas abertos, Ludwig Von Bertalanffy), com o objectivo entender os fenómenos complexos. A modelação sistémica assenta na noção de semelhança ou isomorfia (Bertrand & Guillemet, 1988), e consiste em reunir conjuntos de informações num quadro de referência, em determinar o objectivo do sistema, em definir os I mites e em identificar os elementos importantes e as suas interacções (Ouellet, 1981).

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130 Modelação do jogo

de reciprocidade; (2) global ou total, porque o valor das equipas pode ser maior ou menor do que a soma dos valores individuais dos jogadores que as constituem; (3) complexo (porque existe uma profusão de relações entre os elementos em jogo); (4) organizado, porque a sua estrutura e funcionalidade se configuram a partir das relações de cooperação e de oposição, estabelecidas no respeito por princípios e regras e em função de finalidades e objectivos.

O jogo de Futebol pode ser considerado um sistema, na medida em que manifesta as seguintes propriedades (Wilkinson, 1982):

• possui componentes que integram, eles próprios, outros sistemas; • comporta decisores e processos de decisão; • possui possibilidades de modificação, de variação; • existe um objectivo e unidades de avaliação para o sucesso da

prestação.

Esta analogia jogo de Futebol-sistema, é convergente com a de Gréhaigne (1989). Todavia, considerando as categorias apresentadas, em relação às componentes da estratégia desportiva, a anunciada referência de Wilkinson (1982) ao carácter sistémico dos JDC não produz o efeito desejado, ficando apenas remetida ao plano teórico (Gréhaigne, 1989).

Teodorescu (1977) foi um dos primeiros autores a utilizar, no âmbito dos JDC, os conceitos de sistema e de modelo e a alertar para a pertinência da modelação no desenvolvimento da teoria e da prática deste grupo de desportos. Cerca de vinte anos mais tarde, o francês Gréhaigne (1989) retomou, com maior profundidade, a problemática da modelação sistémica, na sua tese de doutoramento: Football de mouvement. Vers une approche systémique du jeu.

No contexto do Futebol, o conceito de sistema revela-se profícuo para inteligir a lógica do jogo. O recurso à abordagem sistémica parece justificar-se porquanto esta, ao salientar pontos sensíveis, pode contribuir para a emergência de novas representações da realidade, e oferecer vias de investigação e de reflexão profícuas nos planos do treino, ensino e competição Gréhaigne, 1995).

O entendimento do jogo de Futebol a partir do conceito de sistema, afigura-se assim como uma estratégia a privilegiar, na medida em que, porque se focaliza no estudo da complexidade organizada, isto é, em conjuntos de elementos com múltiplas variáveis interdependentes (Rapoport, 1976; Bertrand & Guillemet, 1988), parece revelar-se mais consentânea com a natureza do fenómeno em causa.

Não se trata de reduzir o jogo à noção abstracta de sistema, mas de procurar inteligir (modelar) princípios teleológicos que orientam o

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Modelação do jogo 131

comportamento e definem a organização dos sistemas implicados, através da identificação de regras de gestão e de funcionamento dos jogadores e das equipas, e da descrição acontecimental das regularidades e variações que ocorrem nas acções de jogo.

Isto significa que, neste âmbito, o conceito de sistema deve exprimir sobretudo a dinâmica do jogo, a qual permite configurar as opções tácticas dos jogadores e das equipas. Um sistema é uma forma de manifestação da táctica, que se organiza de acordo com princípios e métodos escolhidos de entre uma grande variedade (Godik & Popov, 1993).

Neste sentido, o sistema de jogo constitui o denominador comum a todos os jogadores da equipa no sentido em que, em situação real de jogo, toda a actividade de um jogador se inscreve no interior de um referencial simultaneamente estável e adaptável aos imperativos do momento (Ripoll, 1979). A táctica desenvolve-se sobretudo com base na dinâmica dos jogadores, através da qual as disposições iniciais se vão alterando. Um sistema de jogo é uma forma concreta de manifestação da táctica (Godik & Popov, 1993).

Contudo, no Futebol o conceito de "sistema" tem sido utilizado com um significado diverso (Wade, 19819. O que frequentemente se designa por sistema de jogo ou sistema táctico, e se descreve através de siglas como 4:2:4, 4:3:3, 4:4:2, WM, etc. (Frantz, 1975; Talaga, 1979; Batty, 1981; Morris, 1981; Wilkinson, 1984; Serrano, 1993), restringe-se a um dispositivo, uma distribuição topológica dos jogadores pelo terreno de jogo (Teissie, 1969; Hughes, 1973; Cornu, 1978; Olivares & Telena, 1978; Godik & Popov, 1993; Catlin, 1994), de acordo com o respectivo estatuto posicionai16.

Segundo Kacani (1982), pode constatar-se que a concepção de jogo no Futebol actual é caracterizada pelo equilíbrio entre a participação dos jogadores na defesa e no ataque, com a particularidade de existir, por parte das equipas, uma vontade de impor a sua concepção de jogo ao adversário. Tal equilíbrio requer a intervenção de jogadores universais no jogo.

No Futebol moderno mantém-se a denominação dos jogadores segundo o seu posicionamento no terreno de jogo (defesa, médio, atacante). No entanto, esta nomenclatura, baseada na posição ocupada pelo jogador no terreno, designa apenas o seu papel dominante (Kacani, 1982), pois que, dadas as exigências actuais do Futebol, a actividade dos jogadores, ao longo do jogo, transcende largamente o limite imposto por aquela denominação.

1 6No século XIX começou a atribuir-se designações aos jogadores de Futebol, de acordo com as suas tarefas e posições. Desde 1930 que os papéis desempenhados pelos diferentes jogadores estão tradicionalmente conectados com a numeração do equipamento (Boiling, 1994), cumprindo estes tarefas de jogo, de acordo com o espaço que ocupavam (fundamentalmente defensores ou atacantes). No entanto, no Futebol contemporâneo, a organização das acções faz-se considerando a intervenção dos jogadores em todo o terreno de jogo (Wrzos, 1984).

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132 Modelação do jogo

Cada vez mais se esbatem as fronteiras entre os papéis de defensor, médio e avançado. A diferenciação de papéis e funções não se realiza tanto a partir da participação, ou não, de determinados jogadores nas fases do ataque e da defesa, mas sobretudo a partir das características dessa participação, face às configurações particulares do jogo em determinados momentos e zonas do terreno.

Navarra (1983) sublinha a necessidade de potenciar cada vez mais a universalidade dos jogadores numa relação óptima entre a universalidade e o nível de especialização. Segundo este autor, o futebolista deve ser capaz de resolver com eficácia as tarefas adstritas à sua função específica dentro da formação de base e, quando a situação o impõe, funcionar no âmbito da super-estrutura que a universalidade representa.

O Futebol actual exige, cada vez mais, que o jogador seja capaz de cumprir todas as funções, para além do espaço que predominantemente ocupa no terreno de jogo, pelo que à noção de posição se tem sobreposto a de função.

Todavia, a identificação da táctica com os "sistemas tácticos" tem feito com que a importância atribuída aos designados sistemas de jogo seja sobrevalorizada. De facto, duas equipas podem utilizar o mesmo "sistema táctico", e.g. 4-3-3, e jogarem de modo completamente diferente (Bologne, 1972; Hughes, 1973), o que quer dizer que conhecer o dispositivo não implica conhecer o modo como ele funciona (Gréhaigne, 1989).

Os jogadores de Futebol procuram desenvolver acções durante o jogo que, no seu conjunto, contribuam para dois aspectos importantes: (1) a coerência lógica que resulta do carácter unitário dos comportamentos técnico-tácticos, reconhecidos na estabilidade e na organização da própria equipa; (2) a procura de criar desequilíbrio ou ruptura na organização da equipa opositora, com o intuito de contrariar a lógica interna do adversário (Bacconi & Marella, 1995).

Neste contexto, a organização das acções dos jogadores decorre de sistemas que não que não se restringem a uma estrutura de base, ou seja, a uma repartição fixa das forças no terreno de jogo, mas, pelo contrário são configurados sobretudo a partir da evolução das funções (Mombaerts. 1991; Godik& Popov, 1993).

Os elementos duma equipa (sistema) funcionam numa perspectiva teleológica e teleonómica, na medida em que as actividades que contribuem para o êxito do processo, são organizadas em função dum fim, que pode ser alcançado por percursos diversos (Bertalanffy, 1968). O sistema apresenta uma equifinalidade, i.e., uma meta específica, ou um estado final, que pode

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Modelação do jogo 133

ser alcançado de diferentes maneiras, através de diferentes condições de trabalho (Epstein, 1986).

Neste contexto os conceitos de finalidade e de função são importantes. O conceito de finalidade é frequentemente utilizado como sinónimo de objectivo ou alvo. Neste caso trata-se de um objectivo de ordem geral. A função corresponde a uma actividade mais específica que permite realizar a finalidade (Goyette & Lessard-Hébert, 1987).

A noção de função é inseparável da de interacção e, por consequência, da de organização do sistema. A função de qualquer objecto está ligada ao comportamento deste objecto num determinado ambiente, ele próprio constituído por diversos elementos (Delattre, 1992a).

Por isso, o conceito de sistema está intimamente ligado ao de organização, na medida em que esta decorre de um arranjo de relações entre componentes, produzindo uma nova unidade (totalidade) que possui qualidades inexistentes nos seus elementos. O sistema apresenta, portanto, urna forma global que poderá implicar a aparição de qualidades emergentes que transcendem as qualidades das partes, desde que obedeça a uma dada organização expressa no conjunto das relações, acções e rectroacções que se efectuam e se tecem entre as partes constituintes17.

6.3. Jogo de Futebol: um sistema de sub-sistemas A equipa à um sistema, uma vez que as acções dos jogadores são integradas numa determinada estrutura, segundo um determinado modelo, de acordo com certos pnncfpios e regras.

L.Teodorescu (1977)

Várias tentativas têm sido feitas para descrever a estrutura do rendimento no Futebol. No entanto, apesar de alguns factores poderem já ser reunidos com alguma extensão, os catálogos de prioridades e as estruturas hierárquicas estabelecidas pouco mais têm conseguido do que reproduzir pequenas e desarticuladas fracções do jogo. Ora a realidade tem demonstrado que a pertinência do estudo dos problemas inerentes ao jogo e ao jogador deverá situar-se mais ao nível da inter-relação dos factores do que em cada um deles perse (Bauer & Ueberle, 1988).

O jogo de Futebol possui uma estrutura formal (terreno de jogo, bola, regulamento, companheiros, adversários) e uma estrutura funcional que

17Embora, como refere Lupasco (1968), o problema do todo e das partes seja tão velho quanto o mundo, Bertalanffy (1968) foi um dos primeiros autores a demonstrar que um sistema é um todo não necessariamente redutível às suas partes, o que supõe que os sistemas têm propriedades emergentes que diferem dos estados dos seus componentes quando considerados isoladamente. Na mesma linha de pensamento, Zeleny (1980) sustenta que um sistema apresenta três estados possíveis: (i) o todo organizado é mais do que a soma das suas partes (sinergia); (ii) o todo desorganizado é menos do que a soma das suas partes; (iii) o todo neutro é exactamente a soma das suas partes.

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134 Modelação do jogo

decorre das acções de jogo enquanto resultado da interacção recorrente, entre os companheiros duma mesma equipa, e concorrente, entre adversários, em torno da bola, no sentido de vencer a oposição dos adversários e atingir os objectivos propostos.

O desenvolvimento de um jogo decorre duma interacção entre uma dimensão mais previsível, induzida pelas leis e princípios do jogo, e uma dimensão mais imprevisível, materializada a partir da autonomia dos jogadores, que introduzem a diversidade e singularidade espácio-temporal dos acontecimentos.

As sucessivas configurações que o jogo vai experimentando decorrem da forma como ambas as equipas, constituindo uma fonte recíproca de perturbações, gerem essas relações em função das regras, dos princípios e do objectivo do jogo. Por outro lado, as transformações ocorridas no seio das equipas reflectem também um determinado tipo de organização que procura responder às características do próprio meio.

No concurso das equipas para um objectivo comum e no permanente antagonismo destas, de acordo com as diferentes fases que atravessa, o jogo apresenta-se como um fenómeno de contornos variáveis no qual as ocorrências se intrincam umas nas outras. As competências dos jogadores e das equipas não se confinam, portanto, a aspectos pontuais mas reportam-se a grandes categorias de problemas, pelo que se torna necessário perceber o jogo na sua complexidade.

Numa partida de Futebol o quadro do jogo é organizado e conhecido mas o conteúdo do jogo é sempre surpreendente, imprevisível, incerto, aleatório. Não é possível estandardizar as sequências de acções. Pode dizer-se que não existem duas situações absolutamente idênticas e que as possibilidades de combinação são inúmeras o que torna impossível recriá-las no treino.

Todavia, se não houvesse algo que ligasse o jogo a um território de possíveis previsíveis, no qual pontificam os designados modelos ou representações, a preparação dos jogadores e das equipas tomar-se-ia obsoleta.

Quer isto dizer que, não obstante essas características, as situações são "categorizáveis", isto é, reconvertíveis num número restrito de categorias ou tipos de situações, que constituem unidades tácticas isoláveis. Para cada uma destas unidades há a possibilidade de explicitar as linhas de evolução realizáveis na relação de oposição particular que a caracteriza (Deleplace, 1994).

Caillé (1990), investigador do Instituto de Pensamento Sistémico Aplicado de Oslo, refere que o jogo é um diálogo entre sistemas. O mesmo autor sustenta que importa considerar o fenómeno jogo enquanto modelo e aponta

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Modelação do jogo 135

como característica essencial do modelo de jogo o equilíbrio entre a ordem e a desordem, o conhecido e o desconhecido.

A noção de sistema exprime a unidade complexa e o carácter fenomenal do todo, assim como o complexo das relações entre o todo e as partes (Durand, 1992; Morin, 1982). Um sistema apresenta-se como um todo homogéneo, se o perspectivarmos a partir do conjunto, mas ele é também simultaneamente, pelas características dos seus constituintes, diverso e heterogéneo.

Contudo, a discriminação de um sistema tem uma carga subjectiva, não tendo necessariamente que haver consenso sobre a sua existência ou os seus limites (Epstein, 1986). Esta ubiquidade dos sistemas faz com que a sua classificação possa ser feita a partir de uma diversidade de critérios: natureza dos objectos ou dos atributos, inter-relações entre as partes constitutivas, níveis de complexidade, etc.

O desenvolvimento mais importante da noção de totalidade tem sido realizado a partir da conceptualização do termo sistema. E de tal forma isto tem acontecido, que no discurso sistémico a noção de totalidade é sinónima da noção de sistema (Durand, 1979).

6.3.1. Analogia sistémica do jogo de Futebol Na sua expressão multitudinária, o Futebol não é apenas um jogo

desportivo colectivo. É também um espectáculo desportivo, um meio de educação física e desportiva, uma disciplina de ensino e um campo de aplicação da ciência.

As conclusões decorrentes de grande parte dos estudos realizados faz emergir a necessidade de encontrar métodos que permitam reunir e organizar os conhecimentos, a partir do reconhecimento da complexidade do jogo de Futebol e das propriedades de interacção dinâmica das equipas implicadas, enquanto conjuntos ou totalidades.

O jogo de Futebol pode ser considerado um sistema constituído por outros sistemas que procuram alcançar determinadas finalidades (Gréhaigne, 1989). Trata-se de um sistema aberto, dinâmico, complexo e não-linear (Castelo, 1992), no qual coexistem subsistemas hierarquizados q u e interagem através de conexões múltiplas.

O sistema considera-se aberto, na medida em que os agentes que actuam no seu âmbito, pelas acções desencadeadas, mudam a relação entre os diferentes sub-sistemas e, porque aprendem com isso, actuam sobre o sistema, alterando-o (Santos, 1989). A sua condição de sistema aberto faz

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136 Modelação do jogo

emergir o consenso que a estrutura do jogo18 deve ser observada e analisada na identificação, conceptualização e interrelação dos factores que a constituem (Castelo, 1992).

Uma das mais importantes características dos sistemas abertos é serem regulados, procurarem atingir metas, portanto intencionais, visando uma finalidade (Bertalanffy, 1968).

Existem duas formas de perspectivar a abertura ou o fechamento de um sistema (sistemas abertos ou fechados): uma situa-se no plano termodinâmico, a outra no plano informacional (Laborit, 1974).

A essencialidade táctica faz da abertura do sistema a razão de existir dos comportamentos dos jogadores e das equipas, na medida em que precisam de estar em permanente relação com o envolvimento para, através da troca de energia, matéria e informação, manterem a sua organização19.

Durante uma partida, dado que os acontecimentos que ocorrem no terreno podem ser entendidos como os momentos de passagem de um estado para outro do sistema, o jogo pode ser considerado, recorrendo a uma expressão de Morin (1982), um sistema acontecimental.

Adoptando a classificação dos sistemas preconizada por Beer (1966) e Lesourne (1976), podemos considerar o jogo de Futebol:

• um macrosistema complexo, na medida em que os elementos que o constituem, pelas suas profusas inter-relações, o tornam altamente elaborado e portanto com elevado grau de inteligibilidade;

• um macrosistema probabilista de escolha múltipla, porque as suas unidades constituintes interagem de um modo não previsível e as respostas, nas acções de jogo, são condicionadas pela configuração de diferentes sequências de codificações.

Identificam-se dois grandes sistemas em confronto, as equipas, que exibem a capacidade de se auto-organizar e de se auto-transformar. Porque se comportam como unidades organizadas com uma rede de processos de

1 8 0 conteúdo do jogo corresponde à totalidade das acções individuais e colectivas expressas em oposição ao adversário, através dum determinado nível de rendimento. Quando observado e inserido no seu contexto global, o conteúdo do jogo permite definir a estrutura do jogo (Teodorescu, 1977; Queiroz, 1986), entendida como um conjunto organizado de relações(Crevoisier & Roche, 1981).

1 9A teoria das "estruturas dissipativas" e o princípio da "ordem através de flutuações" estabelecem que nos sistemas abertos, isto é, nos sistemas que funcionam nos limites da estabilidade, a evolução pode ser explicada por flutuações de energia que em determinados momentos, desencadeiam espontaneamente reacções que pressionam o sistema para além de um limite máximo de instabilidade e o conduzem a um novo estado macroscópico. Esta transformação é o resultado de processos segundo uma lógica de auto-organização numa situação de não-equilíbrio (Prigogine & Stengers, 1979). O resultado da auto-organização é uma estrutura dissipativa. O resultado da auto-organização é uma estrutura dissipativa, assim designada porque dissipa energia ou informação no seu meio e a energia, ou informação, dissipadas têm que ser continuamente substituídas (Prigogine & Stengers, 1984). As equipas com sucesso, embora longe-do-equilíbrio, têm que tender para a estabilidade. A procura da estabilidade é a procura de equlíbrio dinâmico entre as suas capacidades e as exigências do jogo.

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Modelação do jogo 137

auto-produção e auto-transformação de comportamentos dos seus componentes, podem ser considerados sistemas dinâmicos autopoiéticos (Maturaria, 1974).

Um sistema complexo é constituído por uma multiplicidade de subsistemas, tendo cada um deles a sua lógica e a sua história (Ceruti, 1995). Cada sistema tem uma variedade de informação dada pela diversidade dos seus elementos, estados, relações (Zeman, 1970), sendo possível distinguir-se graus de "sistematicidade" de acordo com a complexidade e riqueza das conexões entre as partes (Epstein, 1986).

Neste sentido, ao estudarmos o jogo confrontamo-nos com a hierarquia e a estratificação dos seus constituintes.

O macrosistema jogo integra outros sistemas com diferenciados níveis de organização, cada um dos quais dotados de uma relativa autonomia, no que se refere ao objectivo a cumprir. Dizemos por isso que o jogo de Futebol, no plano estrutural e funcional, pode ser entendido como um sistema, com uma hierarquia multinivelar de subestruturas semi-autónomas20.

A optimização dum sistema num dado momento, resulta da confluência de distintos níveis de organização dos demais sistemas que o compõem. É a concordância dessas confluências que mediatiza o caminho da optimização (Seirul-lo, 1993).

No jogo de Futebol importa identificar sub-sistemas que, relacionados entre si, operem a optimização de todo o sistema.

Partindo do princípio de que qualquer sistema pode ser decomposto num certo número de sistemas (Durand, 1992), num jogo de Futebol é possível discriminar (Gréhaigne, 1989):

• O macrosistema jogo, identificado a partir do nível de confronto global entre duas equipas, consideradas as zonas de acção dos jogadores e o espectro da equipa;

• o sub-sistema equipa, primeiro subsistema fundamental do macrosistema, cujos elementos, baseando-se num código de comunicação comum, definem um determinado nível de cooperação e confronto;

Cada equipa de Futebol pode ser considerada um sistema aberto na medida em que pratica várias trocas (sobretudo informação) com o envolvimento (colegas-adversários).

As equipas em confronto num jogo de Futebol são sistemas abertos que possuem uma hierarquia de componentes de diferente complexidade, modificam-se ao longo do tempo e são capazes de aprender a reconhecer o meio envolvente e a utilizar os resultados de experiências passadas para

2^Um sistema autónomo define-se como um sistema que subordina todas as mudanças estruturais à conservação da sua organização (Ceruti, 1995).

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138 Modelação do jogo

melhor adaptar o seu comportamento. Neste sentido, podem ser consideradas sistemas evolutivos com memória (Ehresmann & Vanbremeersch, 1991) dotados de uma forma particular de organização21.

• o sub-sistema (microsistema) confrontos parciais que contribui para a transformação do jogo, materializado na oposição entre uma parte das duas equipas numa dada zona do terreno;

• o sub-sistema (infra-sistema) confrontos elementares cuja expressão se confina às situações de 1 contra 1 e aos duelos (1x1 com contacto físico). Estes infra-sistemas modificam de forma pontual o sistema dos confrontos parciais (Benedek, 1984).

6.3.2. Organização: categoria central da modelação do jogo de Futebol

Toda a interacção dotada de alguma estabilidade ou regularidade assume um carácter organizacional e produz um sistema. Num sistema ou num meta-sistema, as partes devem ser concebidas em função do todo mas também isoladamente: uma parte tem a sua própria irredutibilidade em relação ao sistema.

E. Morin (1990)

É possível que as noções de ordem e desordem sejam mais importantes para a ciência e para a filosofia do que as de substância e de matéria.

J. Largeault(1985)

A modelação dos sistemas complexos é realizada a partir do conceito de organização22 (Le Moigne, 1990a; Walliser, 1977), pelo que este pode ser considerado o conceito central da sistémica (Wieser, 1972; Morin, 1982).

Como tal, se pretendemos modelar o jogo de Futebol importa que sejamos capazes de distinguir níveis de pertinência, descortinando a sua coerência interna, isto é, a sua organização23.

A organização abrange simultaneamente um estado e um processo, podendo dizer-se que ela implica a ideia de uma forma de optimização dos componentes de um sistema e do seu arranjo.

2 1 Segundo Bologne (1972), a organização do jogo de Futebol, para além de repousar em elementos fixos (forma e dimensões do terreno de jogo, número de jogadores, dimensões da baliza, etc.), diz respeito à repartição das tarefas/funções sobre o terreno de jogo. As suas formas de evolução decorrem do nível técnico e táctico dos jogadores. Cada organização pode ser encarada como um sistema de processamento de informação com vista à utilização de um fluxo material e energético. A utilização deste fluxo implica conhecimento, isto é, a atribuição de significados que orientem o processamento da informação correspondente (Caraça & Carrilho, 1992).

2 2 A importância da organização foi realçada por dois pensadores, no início do século XX (entre 1900 e 1930), o russo A. Bogdanov e o francês Paul Valéry. Nos nossos dias E. Morin é talvez quem melhor tem conseguido exprimir em toda a sua plenitude a riqueza do conceito de organização (Le Moigne, 1990).

2 3 A ideia de organização emergiu nas ciências sob o nome de estrutura. No entanto, o sentido do termo estrutura ultrapassou o seu significado etimológico - construção - e ampliou-se para designar não apenas a relação das partes entre si, como a disposição das partes num todo (Lupasco, 1968; Wieser, 1972; Laborit, 1974). Deste modo, organização e estrutura são dois níveis complementares embora distintos sobre os quais podem definir-se a abertura ou o fecho dum sistema e, como tal, podem perspectivar-se os problemas da invariância e da mudança (Ceruti, 1995).

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Modelação do jogo 139

Contudo não é possível compreender uma organização apenas através da dimensão formal, é necessário ter em conta as redes de relações informais (Lorshe & Morse, 1974; Kast & Rosenzweig, 1985). Por vezes é difícil "ver" a organização; deve-se antes inferi-la a partir das operações e do comportamento dos sistemas (Bertrand & Guillemet, 1988).

A optimização dum sistema num dado momento resulta da confluência de distintos níveis de organização dos demais sistemas que o compõem (Seirul-lo, 1993). Importa sobretudo valorizar o seu carácter organizacional, na medida em que é a organização que produz a unidade global do sistema; é ela que transforma, produz, relaciona e mantém o sistema, concedendo características distintas e próprias à totalidade sistémica (Morin, 1982).

O Futebol é um jogo organizado o que, desde logo, pressupõe uma organização das equipas (Bologne, 1972; Hainaut & Benoit, 1979).

Como referem Caraça & Carrilho (1992), cada organização pode ser encarada como um sistema de processamento de informação com vista à utilização de um fluxo material e energético. A utilização desse fluxo implica conhecimento, isto é, a atribuição de significados que orientem o processamento da informação correspondente.

As equipas de Futebol operam como sistemas cujos constituintes se organizam de acordo com uma lógica particular, em função de princípios e prescrições, num contexto de oposição e cooperação. No sentido em que as suas partes estão ligadas de certo modo e sob alguma regra, pode dizer-se que se trata de sistemas caracterizados pela sua forma particular de organização.

Este tipo de sistemas, pelas suas características, só se mantêm pela acção, pela mudança. A sua identidade, ou a sua invariância, não provém da inalterabilidade dos seus componentes, mas da estabilidade da sua forma e organização face aos fluxos acontecimentais que os atravessam.

A optimização dum sistema num dado momento resulta da confluência de distintos níveis de organização dos demais sistemas que o compõem (Seirul-lo, 1993). Nessa medida o conceito de organização parece evidenciar uma pertinência particular para traduzir os constrangimentos particulares dos sistemas (equipas) envolvidos (Gréhaigne, 1989).

Todo o sistema é definido simultaneamente pelos seus elementos constitutivos e pelas respectivas inter-relações. Importa sobretudo valorizar o seu carácter organizacional. É a organização que produz a unidade global do sistema; é ela que transforma, produz, relaciona e mantém o sistema, concedendo características distintas e próprias à totalidade sistémica (Morin, 1982).

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140 Modelação do jogo

Embora conscientes de que uma situação organizacional nunca constrange totalmente o indivíduo que age (Crozier & Friedberg, 1977), entendemos que o estudo da organização do jogo de Futebol, realizado através da observação do comportamento das equipas (sistemas), oferece a possibilidade de identificar e assinalar acções/sequências de jogo que, pela sua frequente ocorrência, ou por induzirem desequilíbrios (ofensivos e defensivos) importantes, se constituem como aspectos a reter para o ensino e treino da modalidade.

Importa analisar os procedimentos, os métodos e as diversas acções levadas a cabo pelas equipas na procura da eficácia. Com base nos dados obtidos importa perceber se a eficácia das equipas está associada a certas características tácticas que traduzam regras de funcionamento do sistema ataque<->defesa.

Em jogos de sorte, em jogos de estratégia e em jogos que combinam a sorte com a estratégia, o decurso de cada jogo é "historicamente" único em virtude do grande número de escolhas possíveis (Eigen & Winkler, 1989).

Não obstante, existe uma lógica interna do jogo que decorre da relação de oposição que, em cada sequência de jogo, gera uma dinâmica de movimento global de um alvo ao outro, e cujo sentido pode a cada momento inverter-se. Isto impõe uma organização a cada uma das equipas que se defrontam, que surge como resposta a esta reversibilidade de comportamentos (Deleplace, 1994).

O estudo da organização do jogo de Futebol, realizado através da observação do comportamento dos jogadores e das equipas, oferece a possibilidade de assinalar acções/sequências de jogo que, porque permitem verificar permanências na exibição da variabilidade sequencial (Dutta e Das, 1992), ou por induzirem desequilíbrios no balanço ataque/defesa, se afiguram representativas da dinâmica da partida.

Neste contexto, a partir dos constrangimentos estruturais e funcionais colocados pelo próprio jogo, enquanto resultante da interacção de forças das equipas em presença, a organização das equipas pode ser inteligida: (1) a partir da identificação de traços característicos expressos em vias e formas preferenciais de acção, no conjunto dos comportamentos e acontecimentos, e que traduzem aquilo que pode designar-se por repetitividade nas variações (Moles, 1995); (2) de caracteres distintivos que traduzem a variabilidade de comportamentos e acontecimentos.

Os elementos através dos quais se realiza a organização racional do jogo constituem o conteúdo da táctica (Teodorescu, 1977). Num jogo de Futebol, Gréhaigne (1995) considera dois níveis organizacionais: o nível jogo (confronto entre duas equipas) e o nível equipa.

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Modelação do jogo 141

O estabelecimento da estrutura do jogo de Futebol pode fazer-se "desenhando-se" as subestruturas e estabelecendo, em seguida, os "modelos" de relações entre essas componentes. Contudo, diríamos que não é apenas a estrutura que engendra o sistema, mas é também o sistema que impõe alterações na estruturação, o que pressupõe que o conceito de organização transcenda largamente a dimensão estrutural (estática), e remeta sobretudo para a dimensão funcional (dinâmica).

A compatibilidade dinâmica, isto é, a união estrutural e funcional entre sistema e ambiente, define-se como adaptação (Ceruti, 1995). A inteligência de um sistema complexo depende da sua capacidade de elaborar e conceber de modo endógeno ou interno os seus próprios comportamentos: as suas respostas adaptativas e logo projectivas (intencionais) ao que ele percebe como solicitações do seu envolvimento (Le Moigne, 1990).

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VII - A observação e análise do jogo

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Observação e análise do jogo 143

7. Observação e análise do jogo nos JDC

Uma acção desportiva não deve ser perspectivada apenas a partir da condição física ou da execução técnica, mas requer a compreensão da organização complexa do comportamento em condições situacionais diversificadas.

B. Barth (1994)

O estudo do jogo a partir da observação do comportamento dos jogadores e das equipas tem vindo a constituir um forte argumento para a organização e avaliação dos processos de ensino e treino nos jogos desportivos colectivos (Franks & Goodman, 1986; Gréhaigne, 1989; Grosgeorge, 1990; Dufour, 1989, 1993; Latishkevitch & Dudin, 1992; Oliveira, 1993; Garganta, 1996; Hughes, 1996).

As formas de manifestação da técnica (Dufour, 1989; Partridge, & Franks, 1991; Partridge et al., 1993), os aspectos tácticos (Gréhaigne, 1989; Olsen & Larsen, 1997) e a actividade física desenvolvida pelos jogadores (Reilly & Thomas, 1976; Bangsbo, 1993; Rebelo, 1993; Tumilty, 1993), têm sido os conteúdos prevalentemente abordados.

Na literatura, este tipo de estudos tem sido qualificado através de diferentes expressões, de entre as quais se destacam: observação do jogo (game observation), análise do jogo (match analysis) e análise notacional (notational analysis).

Embora não possa dizer-se que exista uma polémica em torno da justeza terminológica destas designações, alguns autores, como Winkler (1985) e Bacconi & Marella (1995), consideram que a expressão observação do jogo se reporta a determinados aspectos colectados e registados durante a partida em tempo real, enquanto que a análise do jogo diz respeito à recolha e colecção de dados em tempo diferido. De acordo com os autores, a observação do jogo conteria vários erros que poderiam e deveriam ser evitados através da utilização da análise do jogo.

Todavia, atentando nas expressões mencionadas constata-se que elas aludem a diferentes fases dum mesmo processo, ou seja, quando se pretende analisar o conteúdo de um jogo é necessário observá-lo, para notar ou registar as informações consideradas pertinentes.

Talvez por isso, a expressão mais utilizada na literatura seja a de análise do jogo, considerando-se que, pelo seu alcance semântico, ela engloba diferentes fases do processo, nomeadamente, a observação dos acontecimentos do jogo, a notação dos dados e a sua interpretação (Franks & Goodman, 1986; Hughes, 1996).

No âmbito dos jogos deportivos colectivos (JDC), a valência análise do jogo (AJ) tem vindo a constituir um argumento de crescente importância. Este

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144 Observação e análise do jogo

facto pode ser explicado pelas virtualidades que se lhe reconhece, traduzidas, quer no aporte de informação que daí pode resultar para o treino, quer nas potenciais vantagens que encerra para viabilizar a regulação da prestação competitiva (Figura 23).

f ^ -

Análise do jogo

• Observação

• Notação

• Interpretação

Planificação • Observação

• Notação

• Interpretação 1

• Observação

• Notação

• Interpretação Treino i i J

)

Performance * J ) \

J )

Figura 23 - Interacção do processo de análise do jogo com o treino e a performance.

Procura-se optimizar os comportamentos dos jogadores e das equipas na competição, a partir da análise de informações importantes acerca do jogo (McGarry & Franks, 1996). Estas, quando sistematizadas, permitem configurar modelos da actividade de jogo (Godik & Popov, 1993), que possibilitam, não só construir métodos de treino mais eficazes (Franks et ai., 1983; Talaga, 1985) e estratégias de trabalho mais profícuas (Olsen, 1988), mas também indiciar tendências evolutivas (Franks & Goodman, 1986), no respeito pelo princípio da especificidade.

Neste sentido, a AJ, realizada a partir da observação da prestação dos jogadores e das equipas, tem constituído um importante meio para aceder ao conhecimento do jogo (Worthington, 1974; Mombaerts, 1991) e dos factores que concorrem para a sua qualidade, quer no que concerne às exigências físicas (Reilly & Thomas, 1976; Van Gool et al., 1988; Bangsbo et al., 1991), quer no que respeita à expressão táctica e técnica dos comportamentos (Reep & Benjamim, 1968; Pollard et al., 1988; Gréhaigne, 1989; Ali & Farrally, 1990; Castelo, 1992; Claudino, 1993).

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Observação e análise do jogo 145

7.1. Observação e análise do jogo de Futebol

Dado que o fenómeno jogo é complexo e multifacetado, impõe-se não apenas a multiplicação dos ângulos e escalas para obter uma visão poliscopica, mas também a consciência de que todo o olhar comporta o seu ponto cego, que todo o princípio de explicação assenta em algo inexplicável no seu próprio sistema de explicação.

E-Morin (1981)

O jogo de Futebol é observado e apreciado por milhões de pessoas em todo o mundo. Muitas são as que se reclamam de especialistas mas em menor número estarão as que conseguem observar e entender o jogo sem resvalarem para a parcialidade.

Este facto, que poderá não ter implicações significativas ao nível do espectador comum, adquire grande importância para investigadores e treinadores, na medida em que ambos estão interessados em perceber o tipo de acções que se associam à eficácia das equipas: uns, com o intuito de aumentar os conhecimentos acerca do conteúdo do jogo e da sua lógica; outros, com o objectivo de modelar as situações de treino na procura da eficácia competitiva.

Um dos objectivos da análise do jogo é contribuir para diferenciar as opiniões dos factos (Worthington, 1974). Todavia, e não obstante a análise do jogo possa disponibilizar informação importante, permanece ainda uma certa resistência à sua utilização, baseada na visão tradicional de que os treinadores experientes podem observar um jogo sem qualquer sistema de apoio à observação, e que retêm com precisão os elementos críticos do jogo (Franks & McGarry 1996).

No Futebol, os observadores tendem a formar opiniões subjectivas sobre os factores determinantes do sucesso num jogo, o que faz com que as suas conclusões variem muito (Harris & Reilly, 1988). Por isso o Futebol é considerado um "jogo de opiniões". Contudo, como sustenta Bate (1988), embora as opiniões possam ser válidas e devam ser respeitadas, para traçar estratégias de sucesso é necessário ir muito além das opiniões.

Wilkinson (1982) chama à atenção para o facto da análise da prestação dos jogadores e das equipas no Futebol se basear, quase exclusivamente, na intuição dos treinadores, denotando uma elevada subjectividade e modesto valor científico.

Estas observações têm sentido na medida em que se sabe que, após terse assistido a uma partida de Futebol, a informação retida é limitada e influenciada por apreciações subjectivas que decorrem de uma gama muito complexa de laços afectivos e emoções (Franks & McGarry, 1996). Mesmo os treinadores experientes apenas conseguem reter uma restrita imagem dos

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146 Observação e análise do jogo

detalhes que ocorrem durante um jogo (Franks et ai., 1983; Bangsbo, 1993; Reilly, 1994).

Os treinadores têm dificuldade de memorizar e relembrar de forma precisa as sequências de acontecimentos complexos que ocorrem durante um longo período de tempo, como o demonstraram Franks & Miller (1986). Estes autores constataram que, mesmo os treinadores de Futebol mais experientes e de nível internacional, apenas retiveram 30% dos elementos que mais influenciaram o sucesso num jogo.

Dettmar Cramer (1987), técnico da F.I.F.A. e da Federação Alemã de Futebol, vem chamando à atenção, desde há longos anos, para a importância da análise do jogo em Futebol. Segundo ele, na medida em que as competições são a fonte privilegiada de informação útil para o treino, é a partir da observação do jogo que se aprende o que se deve treinar, para jogar melhor, e a orientar o processo de treino para a meta desejada.

Através deste entendimento, também preconizado por Gowan (1982) e por Mombaerts (1991), Cramer (1987) não só reforça o já inquestionável valor da análise do jogo, como reafirma implicitamente a importância da especificidade do treino em relação à competição.

Aliás, Whiting (1969) ilustra bem esta relação ao afirmar que, se algum princípio existe que tenha sido provado na análise experimental da acção humana, é a especificidade das actuações especializadas. Isto significa que a pretensão de atingir êxito numa área específica implica, enquanto condição prévia, um treino específico nessa mesma área.

Assim, no Futebol, a construção do treino deverá, em larga medida, decorrer da informação retirada do jogo (estrutura do movimento, estrutura da carga, natureza das tarefas, zonas de intervenção predominantes, funções prevalentes, modelo e concepção de jogo, etc.). Por isso, a caracterização da estrutura da actividade e a análise do conteúdo do jogo de Futebol têm vindo a revelar uma importância e influência crescentes na estruturação e na organização do treino desta modalidade (Korcek, 1981).

Num âmbito mais restrito, mas não menos importante, a planificação das partidas, tem implicado o estudo da estrutura básica do adversário a defrontar, o seu estilo, as suas características fundamentais. Nessa medida, tem-se recorrido a uma modalidade particular de observação-análise designada scouting, que consiste na detecção das características da equipa adversária, no sentido de explorar os seus pontos fracos e contrariar a suas dimensões fortes (Roach, 1970; Olivares, 1978; Smith et ai., 1996).

Os comportamentos exteriorizados pelos futebolistas durante o jogo traduzem, em grande parte, o resultado das adaptações provocadas pelo

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Observação e análise do jogo 147

processo de treino. Por outro lado, a orientação do processo de treino decorre da informação extraída do jogo (Rohde & Espersen, 1988).

A prática do Futebol ao mais alto nível de rendimento, impõe aos jogadores e às equipas uma forte disciplina táctica, aliada a uma sólida automatização das habilidades. Por outro lado, reclama comportamentos criativos, que, através da surpresa, do inesperado, provoquem rupturas na lógica organizativa do adversário.

Por isso, a caracterização da estrutura da actividade e a análise do conteúdo do jogo de Futebol têm vindo a revelar uma importância e influência crescentes na estruturação e na organização do treino desta modalidade (Korcek, 1981).

Obviamente, o problema principal passa, não apenas pela impossibilidade de identificar, a lógica integral ou a totalidade dos condicionalismos a que o sistema-jogo está submetido, mas também pela dificuldade de detectar os constrangimentos fundamentais que induzem alterações importantes no decurso dos acontecimentos.

Nesta medida, a análise sistemática do jogo apenas é viável se os propósitos da observação estiverem claramente definidos. A apreensão de determinados elementos e das suas relações depende dos modelos que orientam a acção do observador (Winkler, 1988). É este quem fixa os critérios em função dos objectivos perseguidos (Grosgeorge et ai., 1991).

Assim, para além do grau de sofisticação dos meios, no processo de observação do jogo de Futebol, trata-se de captar e registar fenómenos que não existem senão na sequência de relações particulares que são percebidas a partir de um determinado modelo de entendimento, ou grelha de descodificação. Essas relações são materializadas nas configurações que decorrem da dinâmica dos jogadores e da circulação da bola, com referência a um regulamento e a um terreno de jogo, marcado e delimitado fisicamente.

Deste modo, mesmo utilizando sistemas de observação sofisticados, não pode dizer-se que exista uma só análise do jogo, mas tantas quantas as filosofias subjacentes às concepções dos observadores (Bacconi & Marella, 1995).

Partindo do princípio de que o jogo se desenvolve de acordo com uma lógica interna (Teodorescu, 1985; Queiroz, 1986; Hérnandez-Pérez, 1994; Baconi & Marella, 1995), vários autores têm procurado perceber os constrangimentos que caracterizam o Futebol, a partir da identificação de certas acções que ocorrem com carácter de regularidade (Franks, 1988; Gréhaigne, 1989; Hughes, 1992b; Claudino, 1993; Castelo, 1992; Dufour & Verlinden, 1994; Luhtanen et ai., 1995), no sentido de modelar ou perfilar um

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148 Observação e análise do jogo

quadro de exigências que se constitua como referência fundamental para o ensino e treino (Gréhaigne, 1989; Luhtanen, 1989; Dufour, 1993).

O jogo é, antes de tudo um corpo de regras, um regulamento, que se apresenta sob a forma de um conjunto de prescrições. Este código gera invariantes sobre as quais os jogadores alicerçam os seus comportamentos e exprimem variações particulares (Parlebas, 1976).

Habitualmente a atenção do analista é dirigida para as regularidades (Frade, 1990; Garganta, 1995) ou para as invariantes (Gréhaigne & Bouthier, 1994; McGarry & Franks, 1996) dos comportamentos dos jogadores e das equipas, no mesmo, ou em vários jogos.

Contudo, os comportamentos dos jogadores e das equipas no jogo de Futebol, embora repousando sobre uma organização subjacente, movem-se entre dois pólos do sistema: o vínculo, i.e., o estabelecido, as regras, e a possibilidade, i.e., a inovação, o novo (Cerutti, 1995).

Neste sentido, parece conveniente analisar outras acções que, embora não representem regularidades ou invariâncias, possam assumir, pelo seu carácter não redundante e imprevisto, uma importância particular na história do jogo, condicionando claramente o rumo dos acontecimentos.

Admitindo que a identificação deste tipo de acções, que designamos por variações, possa dever-se, em parte, ao conhecimento pouco ajustado das leis que governam o sistema (ruído ou erro), os acontecimentos assim designados provêm de choques aleatórios provocados no seu ambiente, desencadeados pela acção de comportamentos, que, pela sua não previsibilidade, induzem desequilíbrios na organização da equipa adversária.

Embora ainda com uma expressão diminuta, talvez esta convicção esteja na base das preocupações actuais de alguns analistas, na medida em que começa a verificar-se o despontar de algumas referências ao impacte que a variabilidade de acções induz no desenvolvimento do jogo (McGarry & Franks, 1996).

Com o intuito de proceder à caracterização da actividade desenvolvida pelos jogadores e as equipas de Futebol durante as partidas, os especialistas têm explorado vários planos.

Na literatura mais recente, no que diz respeito à designada análise do jogo de Futebol, os especialistas têm recorrido quer à observação directa quer à diferida. Constata-se várias direcções de pesquisa:

• análise da actividade física imposta aos jogadores durante um jogo, através da determinação das distâncias percorridas: Winterbottom (1952), Knowles & Brooke (1974), Whitehead (1975), Reilly & Thomas (1976), Withers et al. (1982), Winkler (1983), Ekblom (1986), Ohashi et al. (1988), Bangsbo et al. (1991), Ohashi et al. (1993);

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Observação e análise do jogo 149

• análise quantitativa da técnica, onde se incluem, entre outros, os trabalhos de Bate (1988), Chervenjakov et ai. (1988), Luhtanen (1988a), Ohashi et ai. (1988; 1993), Suzuki et ai. (1988);

• análise quantitativa e qualitativa dos comportamentos dos jogadores e das equipas, relativizados ao espaço e tempo de jogo: Ali (1988), Dufour (1982a; 1989; 1993), Dufour & Verlinden (1994), Gréhaigne (1989; 1990; 1991), Harris & Reilly (1988), Luhtanen (1993), Reep & Benjamin (1968), Yamanaka et ai. (1992).

No âmbito da análise do jogo, os investigadores focalizaram inicialmente os seus estudos na actividade física imposta aos jogadores, nomeadamente no que respeita às distâncias percorridas ao longo das partidas.

Um dos primeiros, senão o primeiro, dos estudos que se conhecem no âmbito da análise do jogo nos JDC, foi realizado pelo norte-americano Lloyd Lowell Messersmith, com a colaboração de S. Corey, em 1931, no qual os autores dão a conhecer um método para determinar as distâncias percorridas por um jogador de Basquetebol (Messersmith & Corey, 1931). No ano seguinte surge um outro estudo, também liderado por Messersmith, com a colaboração de P. Fay, no qual os autores aplicam o método, já desenvolvido para o Basquetebol, para determinar a distância percorrida por jogadores de Futebol Americano (Messersmith & Fay, 1932).

Messersmith, mais do que um autor representativo, deve ser considerado um pioneiro e um percursor da investigação realizada com base na observação e análise dos comportamentos dos jogadores nos JDC. A comprová-lo estão as várias publicações que realizou sobre esta temática, entre 1931 e 1944, bem como uma dissertação que apresentou à Escola de Educação da Universidade de Indiana, em 1942, com a qual obteve o grau de doutor, subordinada ao título: The development of a measurement technique for determining the distances traversed by players in Basketball.

Posteriormente, para além de outros estudos realizados ainda no âmbito do Basquetebol (Hagedom et ai., 1984; Boutmans & Rammelaere, 1988; Grosgeorge, 1990; Grosgeorge et ai., 1991; Janeira, 1994), a observação e análise do jogo tem-se tornado extensiva a modalidades como o Voleibol (Vojik,1980; Lindla, 1980; Moutinho, 1993; Frõner, 1995; Zimmermann, 1996), o Pólo Aquático (Hart, 1984; Frank & Goodman, 1986b; Aguado & Riera, 1989; Smith & Hughes, 1992), o Hóquei em Campo (Hillmann, 1986; Hughes & Billingham, 1986; Franks et ai., 1987), o Hóquei sobre o Gelo (Franks et ai., 1986; Luhtanen et ai., 1986) o Râguebi (Hughes & Williams, 1988; Stanhope & Hughes, 1992) o Andebol (Especado & Cruz, 1984; Garcia, 1989a) e o Futebol (Reep & Benjamin, 1968; Dufour, 1982a; Luhtanen, 1988; Gréhaigne,

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150 Observação e análise do jogo

1989; Castelo, 1992; Hughes, 1992b; Claudino, 1993; Dufour & Verlinden, 1994; Gréhaigne & Bouthier, 1994; Bezerra, 1995; Garganta et ai., 1995).

Foi sobretudo a partir dos anos cinquenta que a análise do jogo de Futebol (Soccer) experimentou um claro incremento. Primeiro, com o britânico Walter Winterbottom, que em 1952 desenvolveu um método para a determinação das distâncias percorridas pelos jogadores de Futebol; posteriormente, com os trabalhos de Jakoblew (1950*), Krestownikov (1952*), Tchaidze (1955*)1, Wade (1962), Christiaens (1966), Agnevik (1970) e Saltin, (1973), entre outros.

Posteriormente, o direccionamento das linhas de investigação evoluiu para a denominada análise do tempo-movimento, através da qual se procura identificar, de forma detalhada, o número, tipo e frequência das tarefas motoras realizadas pelos jogadores ao longo do jogo.

Vários estudos se situam nesta perspectiva: Reilly & Thomas, 1976; Withers et al., 1982; Mayhew & Wenger, 1985; Ohashi et al.,1988; Yamanaka et al., 1988; Bangsbo et al., 1991; D'Ottavio &Tranquilli, 1992; Rebelo, 1993.

A análise das acções técnicas, nomeadamente no que respeita à frequência de utilização e taxa de sucesso, tem sido outro dos campos explorados na análise do jogo, embora com maior incidência na dimensão quantitativa (Reep & Benjamin, 1968; Talaga, 1979; Gayoso, 1980a; Morris, 1981; Piechniczec, 1983; Wrzos, 1984; Bate, 1988; Hughes, 1990; Luhtanen, 1990a; Dufour, 1993) do que na expressão qualitativa (Starosta, 1988; Dufour & Verlinden, 1994).

Contudo, a inépcia das conclusões decorrentes dos resultados provenientes de estudos quantitativos e centrados nas acções técnicas individuais, levaram os analistas a questionar a pouca relevância contextual dos dados recolhidos, logo, a duvidar da sua pertinência e utilidade.

Esta questão realça a necessidade de centrar a análise nas virtuais interrelações das variáveis quantitativas e qualitativas, e de considerar a dimensão técnica em subordinação aos aspectos tácticos, já que aquela não pode perfilar per se os traços dominantes do jogo (Gréhaigne, 1989; Dufour, 1993; Garganta, 1995).

Na medida em que as acções de jogo se realizam num contexto de oposição e cooperação, que guia as equipas na disputa de um objectivo comum (vencer), a dimensão táctica assume uma importância capital (Gréhaigne, 1989; Deleplace, 1994).

A prática do Futebol ao mais alto nível de rendimento impõe aos jogadores e às equipas uma forte disciplina táctica, aliada a uma sólida automatização

1 (*) citados por Dufour (1983).

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Observação e análise do jogo 151

das habilidades. Por outro lado, reclama comportamentos criativos, que,

através da surpresa, do inesperado, provoquem rupturas na lógica organizativa do adversário.

A partir da segunda metade da década de oitenta, a identificação de padrões de jogo com base nas regularidades reveladas pelas equipas, tem constituído uma das preocupações dominantes dos investigadores.

Neste âmbito, surgiram estudos vocacionados para a análise da actividade do futebolista com base em indicadores táctico-técnicos (Wrzos, 1984; Church & Hughes, 1986; Sleziewski, 1987; Bate,1988; Hughes et ai., 1988; Pollard et ai., 1988; Gréhaigne, 1988,1989; Ali & Farralli, 1990; Mombaerts, 1991; Castelo, 1992; Gerish & Reichelt, 1993; Luhtanen, 1990b, 1992, 1993; Dufour & Verlinden, 1994; Yamanaka et ai., 1994; Yi & Bo-Ping, 1995; Garganta et ai., 1997).

Sabe-se que, embora as equipas possam variar os seu padrões de jogo de acordo com as características da oposição oferecida pelo adversário (Hughes, 1996), poucos investigadores têm tomado em conta este aspecto (Gréhaigne, 1989; Deleplace, 1994).

A necessidade de interpretar os dados recolhidos em função das características específicas das partidas, tem levado os analistas a focalizarem cada vez mais a sua atenção na relevância contextual dos comportamentos dos jogadores, o que conduz ao estudo da organização do jogo de ambas as equipas em confronto (Hughes et ai., 1988; Gréhaigne, 1989; Gréhaigne & Bouthier,1994).

Uma das tendências que se perfilam prende-se com a detecção das acções de jogo mais representativas, ou críticas (Buzek, 1986), com o intuito de perceber os factores que induzem perturbação ou desequilíbrio no balanço ataque/defesa, nas situações que conduzem à obtenção de golos (Hughes, 1996a) mas não só. Neste sentido, os analistas procuram detectar e interpretar a permanência de traços comportamentais na variabilidade de acções, o que quer dizer que consideram não apenas as regularidades mas também as variações (McGarry & Franks, 1996).

O Futebol, quando comparado com outros JDC (eg. Basquetebol e Andebol), apresenta uma supremacia da defesa sobre o ataque (Bauer & Ueberle, 1984; Dufour, 1989; Gréhaigne, 1989; Marchai & Lété, 1990), o que faz com que um dos grandes problemas do jogo consista em conseguir oportunidades de finalização (Queiroz, 1989; Castelo, 1992).

Esta é uma das razões pelas quais Dufour (1983) não conseguiu, a partir de uma análise factorial, estabelecer uma correlação entre as acções registadas num jogo de Futebol e os resultados obtidos.

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152 Observação e análise do jogo

Enquanto que no Basquetebol uma grande percentagem dos ataques efectuados (80%, em média) termina com a concretização de um cesto, num jogo de Futebol apenas 1%, em média, dos ataques culmina com a obtenção de um golo (Dufour, 1989; Sleziewski, 1987). As balizas, colocadas na extremidade de um grande terreno, poucas vezes são atingidas. Nos 90 minutos de tempo regulamentar de jogo, constata-se um maior volume de jogo de transição (mais de 95% cf. Gréhaigne, 1989) em detrimento da finalização (Wrzos, 1984; Gréhaigne, 1989).

Para além disso, tem-se vindo a verificar, no computo geral, uma diminuição do número médio de golos obtidos nos sucessivos campeonatos do mundo de Futebol (Figura 24).

T 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 r 1930 1934 1938 1950 1954 1958 1962 1966 1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994

Campeonatos do Mundo

Figura 24 - Média de golos por jogo, nos campeonatos do mundo de Futebol realizados desde 1930 até 1994 (Dados de R. Zacarelli (1996) e de France Football -14.06.1994).

Dado que na fase de jogo correspondente ao ataque, a vantagem das equipas só tem sentido se conduzir à criação de situações de finalização (Teodorescu, 1977), a necessidade de tornar o processo ofensivo mais objectivo e concretizador, conduzindo à criação de um maior número de oportunidades de golo, tem constituído uma preocupação evidente de todos quantos pretendem ver aumentada a qualidade e espectacularidade deste JDC (Luhtanen, 1993; Safont-Tria et ai., 1996).

Este factos justificam que, no âmbito do Futebol, a procura de traços e de variações comportamentais, individuais e colectivas, tenha sido maioritariamente dirigida para as acções ofensivas (Luhtanen, 1993), no sentido de, cada vez mais e melhor, se detectarem os comportamentos que

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Observação e análise do jogo 153

se associam à criação de oportunidades de finalização e, bem assim, modelar as situações de treino na procura da optimização competitiva (Olsen, 1988).

7.1.1. Eixos de análise do jogo de Futebol Os sistemas de observação e análise do jogo, com recurso à notação

manual ou apoiados por computador, têm sido aplicados, sobretudo, no estudo da fase ofensiva do jogo, com incidência particular nas características dos golos e/ou das acções que os precedem.

No panorama nacional, no âmbito da observação e análise da dimensão técnica e táctica do jogo de Futebol, Castelo (1992), Claudino (1993) e Neto (1993), podem ser considerados os autores mais representativos. Os dois primeiros, porque realizaram, respectivamente, provas de doutoramento e de mestrado, sobre esta temática, e cujo conteúdo se encontra documentado sobre a forma de tese

2. O terceiro, porque foi pioneiro na edição de um livro

no qual dá a conhecer um conjunto de procedimentos de registos quantitativos, individuais e colectivos, relativos à sua prática enquanto analista do jogo de Futebol

3.

Do conteúdo da literatura ressalta que, a partir das diversas categorias e distintos níveis de análise a que os investigadores têm recorrido, parece plausível configurar três grandes eixos: (1) análise centrada no jogador; (2) análise centrada nas acções ofensivas; (3) análise centrada no jogo.

(1) Análise centrada nas acções e movimentações dos jogadores Esta modalidade de análise tem sido utilizada para estudos de caso, quer

para elaborar perfis individuais de jogadores, relativamente a um estatuto posicionai específico (Luhtanen & Valovirta, 1996; Safont-Tria et ai., 1996), quer para comparar perfis de jogadores com atribuições tácticas semelhantes (Marella & Bacconi, 1995) ou distintas (Winkler, 1984; Gréhaigne, 1988; Gerish & Reichelt, 1993; Godik & Popov, 1993; Kawai et ai., 1994; Bezerra, 1995).

Luhtanen & Valovirta (1996), procuraram definir o perfil de performance do futebolista finlandês Jari Litmanen, a partir da sua participação na liga dos campeões - U.E.F.A., 1994-95. Na mesma linha, Safont-Tria et ai. (1996) propõem um método de análise original para avaliar o comportamento táctico individual de futebolistas e, aplicam-no, como exemplo, à observação de

'■ No caso de Castelo (1992), grande parte desse conteúdo decorreu de uma longa actividade enquanto analista do jogo e constituiu também matéria de publicação de um livro (Castelo, 1994).

5 Neto, J. (1993): A observação no Futebol. Edição do Autor. Paços de Ferreira.

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154 Observação e análise do jogo

Michael Laudrup, considerando três aspectos: opção táctica elegida, forma de realização e resultado da acção.

Marella & Bacconi (1995), a partir da análise dos jogos do campeonato italiano de 1994-95, compararam o perfil de 18 atacantes de área (pontas-de-lança). Para o efeito analisaram as seguintes variáveis: tempo de posse de bola, número de contactos com a bola, número de bolas conquistadas e tipo de finalização (com o pé direito ou esquerdo, com a cabeça).

Gréhaigne (1988), reformulou o método já desenvolvido por Winkler (1984), para determinar a zona de acção prevalente dos jogadores num jogo de Futebol.

Num campograma correspondente à divisão do terreno de jogo em 40 zonas (5 corredores e 8 sectores transversais), em cada 30 segundos4 foi assinalada, através dum ponto, a respectiva posição, obtendo-se uma nuvem de 180 pontos para cada jogador.

A análise macroscópica da densidade de pontos em cada uma das zonas pré- definidas no campograma permite ter uma noção dos espaços preferencialmente utilizados. Unindo os pontos à periferia, obtém-se o espaço de jogo efectivo coberto pelo jogador.

Esta metodologia permite categorizar padrões de ocupação do espaço, expressos pelos jogadores num jogo de Futebol, e oferece a possibilidade de questionar a sua pertinência, face às noções de estatuto posicionai e polivalência, em função da estratégia definida pelo treinador para determinado jogo.

Num trabalho realizado por Gerish & Reichelt (1993), os autores procuram ilustrar que uma análise do jogo apoiada pelo vídeogravador e pelo computador pode fornecer dados importantes para os treinadores, desde que os resultados sejam apresentados de forma clara e coerente, no sentido de responder aos problemas postos pela prática.

Para cumprir este objectivo recorreram à análise das situações de 1 x 1 que ocorreram nas duas meias-finais da Taça dos Campeões Europeus (1991), entre o Bayern de Munich e o Estrela Vermelha de Belgrado.

As categorias seleccionadas para a entrada dos dados foram: tempo, jogador duma equipa e respectivo opositor, acção, zona. Foram encontradas, em cada um dos jogos, 200 e 270 situações de 1x1, respectivamente.

O tratamento dos dados permitiu apresentar vários gráficos, relativos às situações de 1x1, que ilustravam: (i) as curvas de evolução das situações, ao longo dos 90 minutos de jogo, por equipa e por jogador; (ii) os totais de

intervalos de 10 e 15 segundos foram também testados por Winkler (1984) e Gréhaigne (1986).

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Observação e análise do jogo 155

situações ganhas e perdidas e respectivas percentagens de eficácia; (iii) o traçado do perfil relativo a cada jogador.

Não obstante se trate duma análise centrada no jogador, dado que incide nas situações de 1x1, contempla a oposição. A síntese da informação, da observação e registo para a apresentação dos resultados, viabiliza uma leitura profícua com aplicação prática evidente, tal como pretendiam os autores.

Godik & Popov (1993), a partir de um modelo de análise elaborado para caracterizar a estrutura da actividade técnico-táctica, invidual e colectiva, ilustram um processo de comparação do perfil técnico-táctico do jogador Mijailichenko com os dos seus colegas de equipa do Dínamo de Kiev.

Kawai et ai. (1994) desenvolveram um sistema computorizado para análise do perfil táctico-técnico dos jogadores de Futebol, a partir da observação e registo de oito aspectos: jogador portador da bola; espacialização das acções; passes, positivos e frustrados; frequência de passes entre os jogadores; total de erros cometidos.

Bezerra (1995) realizou um estudo com o objectivo de caracterizar os deslocamentos do jogador de Futebol, considerando as variáveis: recepção e condução da bola. Procurou ainda detectar diferenças entre jogadores com distintos estatutos posicionais no seio da equipa.

Os resultados obtidos permitiram ao autor concluir que os atacantes e os médios ofensivos são os jogadores que desenvolvem, com maior frequência, percursos a alta velocidade, quer na acção de recepção da bola quer na condução desta.

Meot (1982) parte da ideia de que ao nível do conhecimento em Futebol existem lacunas importantes, como o défice de informação respeitante: (i) às acções desenvolvidas por um jogador, de jogo para jogo (ii) à comparação do rendimento de um jogador, de jogo para jogo; (iii) ao jogo da equipa, nomeadamente a circulação da bola e dos jogadores, e as fases privilegiadas do jogo.

No sentido de preencher essas lacunas, o autor propôs-se estudar as fases do jogo (circulações tácticas, duelos, permutações, ...), e caracteriza numericamente o jogo de Futebol.

É, como refere Gréhaigne (1989), um estudo muito preciso e objectivo das tarefas parciais do jogo, que apesar de fornecer dados sobre as regras de organização individuais, também não tem como fonte de análise a funcionalidade das equipas numa condição de confronto.

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156 Observação e análise do jogo

(2) Análise centrada nas acções ofensivas Este tipo de análise tem incidido, sobretudo, na dimensão quantitativa da

expressão técnica, no quadro das acções que conduzem à obtenção de golos (Jinshan et ai., 1993), nomeadamente, ao nível do remate (Gayoso, 1980a, 1982b; Van Meerbeek et ai., 1983; Puignare e Reys, 1990), dos contactos com a bola (Morris, 1981), dos passes (Church & Hughes, 1986; Calligaris et ai., 1990) e dos cruzamentos (Franks & Nagelkerke, 1988; Partridge & Franks, 1989a,b).

Numa perspectiva mais abrangente, Wrzos (1984) propõe, para a observação sistemática do jogo ofensivo das equipas, um quadro de referência centrado em sete pontos: (1) eficácia do ataque colectivo (de posição ou rápido); (2) características dos passes; (3) papel dos jogadores dominantes (líderes) nas acções ofensivas colectivas; (4) elementos do ataque individual; (5) meios utilizados para terminar a acção ofensiva com remate; (6) fases constantes (estáticas) do jogo na táctica de ataque; (7) causas de interrupção das acções ofensivas.

Esta categorização foi aplicada na observação e análise da táctica de ataque em jogos do Campeonato do Mundo, Argentina/78.

(3) Análise centrada no jogo A análise centrada no jogo tem possibilitado o estudo dos designados

padrões de jogo, a partir de regularidades comportamentais evidenciadas pelos jogadores, no quadro das acções colectivas. Neste âmbito, os analistas têm procurado coligir e confrontar dados relativos às sequências ofensivas de jogo, no sentido de tipificarem as acções que mais se associam à eficácia dos jogadores e das equipas.

Esta procura aponta três vias preferenciais: (i) Uma, que consiste em reunir e caracterizar blocos quantitativos de

dados para cada sequência ofensiva, em função do tipo de finalização, com ou sem marcação de golo (Reep & Benjamin, 1968; Sleziewski, 1987; Olsen, 1988; Jinshan et ai., 1993; Luhtanen, 1993; Garganta et ai., 1995);

(ii) outra, mais centrada na dimensão qualitativa dos comportamentos, e na qual o aspecto quantitativo funciona como suporte à categorização da dimensão espacial e temporal das acções ofensivas, de acordo com a sua efectividade (Ali, 1986; Bate, 1988; Chervenjakov et ai., 1988; Pollard et ai., 1988; Hughes et ai., 1988; Partridge & Franks, 1989ab; Ali & Farraly, 1990; Bishovets et ai., 1993; Partridge et ai., 1993; Perlado, 1993; Yamanaka et ai., 1993; Miller, 1994; Wrzos, 1994; Cabezón & Fernandez, 1996; Larsen et ai., 1996);

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Observação e análise do jogo 157

(iii) uma terceira, voltada para a modelação do jogo de Futebol, a partir da observação e análise de variáveis técnicas e tácticas, na qual se enquadram os trabalhos de Gréhaigne (1989), Mombaerts (1991), Castelo (1992) e Claudino (1993).

Neste contexto, tem-se constatado que, pese embora a oposição seja uma das características fundamentais dos JDC (Gréhaigne, 1989; Deleplace, 1994), a relação de forças entre as equipas em confronto num jogo de Futebol é um aspecto raramente contemplado na análise do jogo (Gréhaigne, 1992).

Todavia, é possível dispor de alguns trabalhos centrados nas características das relações de oposição que se estabelecem entre equipas cie Futebol que se defrontam (Gréhaigne, 1989, 1992; Gréhaigne & Bouthier, 1994; Harris & Reilly, 1988; Hughes, 1996b).

Na sua tese de doutoramento, Football de mouvement - Vers une approche systémique du jeu, o francês Jean-Francis Gréhaigne (1989), estimulado pelas concepções de Deleplace (1979) em relação ao Râguebi, coloca o problema da seguinte forma: como passar, no Futebol, de um modelo de análise que contempla sobretudo uma sucessão de acções individuais ou colectivas com a bola, a uma modelação que tenha em conta o confronto entre as duas equipas?

Recorrendo a uma perspectiva sistémica, Gréhaigne procura compreender a lógica de organização do jogo de Futebol, a partir de dois conceitos fundamentais: (i) a oposição como ponto de partida do estudo; (ii) o carácter de continuidade/reversibilidade dos JDC.

A partir destes pressupostos, o autor considera que um jogo de Futebol é um sistema, na medida em que se trata de um conjunto de elementos em interacção dinâmica, dirigida para um objectivo.

O objectivo (organização em função do golo) é a vitória no jogo. O estudo da interacção entre os jogadores, companheiros e adversários, constitui o elemento decisivo para a pertinência de toda a análise.

Partindo deste entendimento, Gréhaigne (1992) procurou demonstrar que é possível, a partir da análise da evolução das configurações de ambas as equipas, identificar invariantes no funcionamento do sistema ataque/defesa.

Partindo do princípio de que a marcação de um golo resulta duma ruptura produzida no sistema ataque/defesa, Gréhaigne (1989) sustenta que é possível caracterizar as acções determinantes e as situações desencadeantes destes momentos-chave.

Para o comprovar analisou 36 dos golos obtidos nos últimos dezasseis jogos do Campeonato do Mundo, México/86. Os golos realizados em situações de bola parada (livre directo fora da área de guarda-redes, penalti),

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158 Observação e análise do jogo

ou em situações próximas desta (livres indirectos, cantos), não foram considerados.

Na primeira fase do seu estudo, utilizando um magnetoscópio (25 imagens por segundo) efectuou registos topográficos dos jogadores e da bola, assinalando, segundo a segundo, num campograma representado no écran do computador, as respectivas posições nas fases que precediam cada golo.

Apenas são consideradas as posições dos jogadores que se considera terem uma influência efectiva na obtenção do golo, isto é, daqueles que têm a possibilidade de participar directamente na continuidade da acção em curso.

Posteriormente foi desenvolvido um programa de computador para Apple-Macintosh™, com o objectivo de analisar e caracterizar a evolução sequencial das configurações de jogo considerando a relação de forças ataque/defesa que precedem a obtenção de um golo em Futebol.

Para cada registo topográfico obtém-se uma nuvem de pontos a partir da qual o programa automaticamente calcula o eixo de dispersão, o eixo principal e o centro de gravidade para o ataque e para a defesa.

O eixo de dispersão e o eixo principal referem-se às componentes principais da área de jogo. O primeiro caracteriza a dimensão largura; o segundo, ortogonal em relação ao primeiro, caracteriza a dimensão profundidade. O centro de gravidade é definido como o equibaricentro das posições dos jogadores participantes na acção ofensiva ou defensiva. É o ponto que resulta da intersecção das dimensões largura e profundidade, definida pelos respectivos eixos (Figura 25).

sentido do ataque

\

o

Legenda • Defensor o Atacante

Eixos da defesa Eixos do ataque

. Bola

Figura 25 - Centros de gravidade do ataque e da defesa, definidos pela intersecção dos respectivos eixos, principal e de dispersão.

Esta análise apresenta um inconveniente importante, ilustrado pelo facto de ser atribuída a todos os jogadores a mesma importância (o mesmo peso),

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Observação e análise do jogo 159

independentemente da posição ocupada no terreno de jogo. Consciente desta limitação, Gréhaigne (1992) reformulou o programa atribuindo um valor ponderado a cada jogador, em função da sua distância ao centro da baliza de referência.

Todavia, subsistem duas limitações importantes. Considerando, num dado momento, dois jogadores colocados na mesma posição do terreno de jogo, perante mesma configuração, ao jogador com superior proficiência técnico-táctica deveria ser atribuído um peso mais elevado. Para além disso, ao jogador com bola deveria também ser atribuído um peso mais importante, na medida em que detém o móbil do jogo e, portanto, a iniciativa.

Embora com as reservas que se impõem, o centro de gravidade é um indicador que pode ser utilizado para referenciar a evolução das configurações de jogo definidas pelo ataque e pela defesa, permitindo-nos descrever topograficamente as principais linhas de força de uma ou várias sequências de jogo. A partir dele é possível visualizar as relações de equilíbrio e de desequilíbrio entre o ataque e a defesa, bem como perceber os momentos em que são criados desequilíbrios, isto é, os pontos de ruptura.

Gréhaigne (1989) chegou à conclusão que, quando os centros de gravidade da defesa e do ataque se sobrepõem, se está em presença de uma configuração que traduz um momento chave para o sistema ataque/defesa. Na maior parte das vezes, um golo é marcado quando se reúnem três condições: (i) o centro de gravidade do ataque ultrapassa o da defesa (desequilíbrio/ruptura); (ii) o ataque deve conservar esta vantagem; (iii) a acção de introduzir a bola na baliza adversária é bem sucedida.

Este trabalho centra-se no jogo, enquanto nível de organização, mais concretamente, no confronto global entre as equipas que se enfrentam. Apesar de inovador, neste estudo o autor limita-se a constatar que quando o centro de gravidade do ataque ultrapassa o da defesa se cria uma situação de desequilíbrio ou de ruptura para a defesa. Não é discutida qualquer explicação, nem se especula sequer, acerca da forma como as equipas chegam a determinadas configurações que induzem pontos de ruptura.

Neste sentido, a análise centra-se no produto das acções, descurando o processo, facto que provoca dificuldades acrescidas quando se pretende retirar quaisquer ilações para o ensino e treino.

Noutro registo, a partir das escolhas tácticas dos portadores da bola, no quadro das acções que precedem a obtenção de golo no jogo de Futebol, Gréhaigne & Bouthier (1994) procuraram modelar o sector de acção e de intervenção dos jogadores.

A análise centrou-se na evolução das configurações de jogo que conduziram ao golo, tendo como pressuposto que as razões da alteração de

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160 Observação e análise do jogo

uma configuração momentânea do jogo, num dado instante, devem ser procuradas na configuração que a precede. Para o estudo da configuração das acções que precedem um golo, os autores observaram 20 dos 32 golos marcados no Campeonato da Europa Suécia/92, com incidência em três indicadores: posição, velocidade de deslocamento e direcção, registadas pelos jogadores.

Noutra tese de doutoramento intitulada: Conceptualização de um modelo técnico-táctico do jogo de futebol. Identificação das grandes tendências evolutivas do jogo das equipas de rendimento superior, Castelo (1992) procura definir um modelo técnico-táctico do jogo de Futebol, através de um conjunto de dados obtidos a partir da observação e análise do jogo das equipas mais representativas de um nível superior de rendimento.

Harris & Reilly (1988) procuraram perceber o sucesso dos ataques em função do contributo de duas variáveis associadas: ocupação do espaço, em geral (individual e colectivamente); e espaço disponível para o portador da bola, em particular (distância, em metros, em relação ao defensor mais próximo).

Este estudo realizou-se sobre uma amostra de 180 ataques, recolhidos aleatoriamente de 24 partidas jogadas por equipas profissionais. A ocupação do espaço foi avaliada através de um coeficiente de configuração do jogo (configuration index, Cl), construído empiricamente, com base na relação entre o número de atacantes (A) e o número de defensores (D), a partir da seguinte fórmula: Cl = A (12-D) /11 (D) + [(D-6) /11]3 .

Os trabalhos de Hughes et ai. (1988), Harris & Reilly (1988) e Wrzos (1984), tomam em consideração a relação de forças entre as equipas em confronto num jogo de Futebol (oposição), aspecto frequentemente descurado na análise do jogo (Gréhaigne, 1992).

7.1.2. Sistemas de observação e análise do jogo O processo de observação e análise do jogo tem experimentado uma

evolução evidente ao nível dos sistemas utilizados. Essa evolução tem-se processado por etapas, em cada uma das quais o sistema desenvolvido surge no sentido de aperfeiçoar os precedentes, procurando-se uma cada vez maior adequação aos objectivos pretendidos.

Diagnosticar, coligir e tratar os dados recolhidos e disponibilizar informação, sobre a prestação dos jogadores e das equipas, são as principais funções dos sistemas de análise do jogo.

Nos primórdios as observações realizavam-se ao vivo, eram assistemáticas e subjectivas, impressionistas. Os registos dos comportamentos dos atletas e das equipas eram realizados a partir da

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Observação e análise do jogo 161

técnica designada por "papel e lápis", com recurso à notação manual. Posteriormente, embora mantendo-se a técnica de registo, a observação passou a ter um cariz sistemático, planeado, à qual está ligada a utilização de um meio auxiliar que se viria a revelar precioso, o videogravador.

Embora a fase inicial da análise do jogo se tivesse pautado por um forte pendor acumulacionista, à vontade de coligir uma enorme quantidade de dados parciais, sucedeu a de elaborar instrumentos de observação. Mais recentemente, a profissionalização das práticas de alta competição, os meios financeiros disponíveis e a utilização do desporto como terreno de aplicação da tecnologia suscitaram novas investigações, o que conduziu a que a informática, ao substituir as técnicas manuais, tenha permitido uma maior e mais rápida recolha de informação, bem como um acesso mais rápido aos dados disponíveis (Grosgeorge, 1990).

7.1.2.1. Audiovisuais: vantagens e limitações O recurso a meios técnicos audiovisuais, como o videogravador, porque

permite a visualização repetida e pormenorizada das acções e sequências de jogo, tantas vezes quantas as desejadas, diminui a possibilidade de ocorrência de erros de observação. Aliás, Wrzos (1981, 1984) ilustrou claramente as vantagens da utilização das imagens videogravadas, a partir das quais recolheu dados, cuja extensão e variedade não seriam possíveis senão apoiadas num instrumento com tais características.

Contudo, na maior parte das vezes, as imagens videogravadas apenas permitem observar os jogadores que se encontram num raio relativamente próximo da bola (Rico, 1994). Ora esta parcelização da imagem implica perda de informação (Cabezón & Fernandez, 1996).

A preocupação de conseguir imagens cujo ângulo de filmagem abarque todo o campo de Futebol, e assim permitam observar a movimentação de todos os jogadores, é uma razão que tem motivado alguns investigadores na procura do desenvolvimento de métodos congruentes.

O Computer-Controlled Dual Video System (CCDVS) preconizado por Winkler (1991) é um dos passos que podem ilustrar uma forma de resolução deste problema.

O CCDVS foi concebido para diagnosticar a performance táctica dos jogadores, nas fases ofensiva e defensiva do jogo, nas tarefas motoras realizadas com e sem bola.

Trata-se de um sistema que permite observar e analisar as acções de cada jogador e analisar sequências de jogo, de acordo com critérios específicos (erros tácticos, situações padronizadas, combinações tácticas, etc.). Para além disso, permite ainda alcançar outros importantes objectivos: (i) analisar dados quantitativos como o número de: posses de bola, bolas conquistadas,

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162 Observação e análise do jogo

bolas perdidas, remates, etc.; (ii) analisar a actividade física dos jogadores, através da determinação do número e tipo de actividade (marcha, corrida lenta, sprints, saltos, etc.), bem como da distância percorrida.

A grande vantagem deste sistema de captação de imagem, sobre os demais, reside no facto de permitir a cobertura da totalidade da superfície de jogo e possibilitar visualizar os movimentos dos jogadores de ambas as equipas em confronto, com excepção, nalguns casos, do guarda-redes da equipa que ataca.

Todavia, na gravação das imagens, o CCDVS, para além de implicar uma filmagem in loco, requer a utilização de duas máquinas de filmar montadas em paralelo, em conexão com dois vídeogravadores. Na altura de reproduzir as imagens, são necessários dois monitores de televisão colocados lado a lado, ou, de preferência, dois projectores que permitam sincronizar as imagens de cada um, de modo a projectar, num écran gigante, uma só imagem (Winkler, 1991).

A necessidade de realizar filmagens em jogos ao vivo, acrescida à parafrenália tecnológica necessária para as recolher e reproduzir, fazem deste sistema de observação um meio muito dispendioso e pouco versátil.

Nesta medida, os analistas têm recorrido à reprodução de imagens simples em magnetoscópio (videogravador), embora procurando, cada vez mais, uma associação e adequação de processos.

Erdmann (1993) utilizou um método videográfico que, numa primeira fase consiste em colocar, num plano elevado (à altura dos holofotes das torres de iluminação do estádio), uma máquina de filmar munida de uma lente de grande angular, "olho-de-peixe", de forma a captar todo o espaço de jogo. Quando as imagens são reproduzidas, a partir da videogravação, é colocado um acetato sobre o monitor e nele são traçados os deslocamentos dos jogadores nas respectivas acções ofensivas.

Embora com o método de Erdmann (1993), a captação e reprodução das imagens não coloque os problemas encontrados em relação aos procedimentos e material utilizados por Winkler (1991), subsiste a necessidade de gravar os jogos in loco.

7.1.3. Evolução dos Instrumentos e métodos de análise do jogo O processo de recolha, colecção, tratamento e análise dos dados obtidos a

partir da observação do jogo, assume-se cada vez mais como um elemento determinante na procura da optimização do rendimento dos jogadores e das equipas. Neste sentido, os especialistas têm procurado desenvolver instrumentos e métodos que lhes permitam reunir material importante para treinadores e investigadores.

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Observação e análise do jogo 163

Ma medida em que as técnicas e os sistemas de observação diferem segundo as disciplinas desportivas (Franks & Goodman, 1986; Dufour, 1989; Grosgeorge et ai., 1991), para analisar os comportamentos nos JDC toma-se necessário desenvolver métodos de recolha e de análise específicos.

Nos desportos individuais, desde há muito que a observação incide preferencialmente nos aspectos técnicos. Nestas modalidades, a Biomecânica, as técnicas de vídeo, podem bastar para informar com exactidão sobre o comportamento do atleta e, assim, fornecer dados suficientes que permitam estabelecer um plano de treino ou detectar talentos. Pelo contrário, nos JDC as capacidades dos atletas são condicionadas fundamentalmente pelas imposições do meio, isto é, pelas sucessivas configurações que o jogo vai experimentando e, por tal motivo, a observação de todos os jogadores em movimento torna-se extremamente complexa. Para além disso, a interdependência dos comportamentos constitui um obstáculo difícil de ultrapassar (Dufour, 1991).

As condições instáveis e aleatórias em que ocorrem os JDC, embora confiram originalidade e interesse às situações, tornam mais delicada a tarefa do observador e do experimentador (Menaut, 1983; Gerish & Reichelt, 1993).

De facto, ao nível do jogo coexistem variáveis diversas que permanentemente interagem, o que dificulta a recolha de dados acerca da prestação dos jogadores e torna muito complexa a tarefa de entender a quota parte de participação dessas variáveis no rendimento (Franks et ai., 1986; Ali & Farraly, 1990; Johnson & Franks, 1991; Riera, 1995b).

Gowan (1982) chama à atenção para a precariedade que representa a observação de uma determinada acção quando esta é isolada do contexto do jogo, e refere que a chave está em ajustar as partes no quadro da totalidade.

Com o advento dos meios informáticos, os analistas do jogo têm assistido ao alargamento progressivo do espectro de possibilidades instrumentais colocadas à sua disposição.

Por isso, no âmbito dos jogos desportivos em geral tem-se verificado uma aposta crescente na utilização de metodologias com recurso a meios cada vez mais sofisticados, e.g. a análise do jogo apoiada por computador (Quadro 12), as quais pelas suas elevadas capacidades de registo e memorização tendem a constituir-se como um equipamento importante para o treinador (Boutmans & Rammelaere, 1988) e para o investigador (Dufour, 1983; Franks, 1987; Grosgeorge, 1990).

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164 Observação e análise do jogo

Quadro 12- Estudos, realizados no âmbito de alguns jogos desportivos, com excepção do Futebol (Soccer), nos quais se recorreu a meios informáticos para observação e análise do jogo.

Data Autor Modalidade

1977 Sanderson & Way; Schutz & Kinsey Squash 1982 Baacke Voleibol

Bedingfield et al. Vários Hagedorn et al. Basquetebol

1984 Hagedorn et al. Basquetebol Hart Polo Aquático Penner Voleibol

1985 Hughes Squash 1986 Franks et al. Hóquei sobre o Gelo

Hughes & Billingham; Hughes & Cunliffe Hóquei em Campo Hughes & Feery Basquetebol

1986a Franks & Goodman Polo Aquático 1987 Franks et al. Hóquei em Campo

Martins Hóquei em Patins 1988 Boutmans & Rammelaere Basquetebol

Eom Voleibol 1988 Franks & Nagelkerke Hóquei em Campo

Hughes & Charlish Futebol Americano Hughes & Williams Rugby McKenna et al.; Patrick & McKenna Futebol Australiano Parlebas Voleibol Treadwell Râguebi

1989 Aguado & Riera Polo Aquático Eom Voleibol Erdman & Czerwinski Andebol Hughes et al.; Hughes & McGarry Squash

1990 Coghlan Vários Marques Basquetebol

1991 Grosgeorge et al. Basquetebol Hughes et al. Râguebi Van Fraayenhoven Ténis

1992 Doggart et al. Futebol Gaélico 1992 Handford & Smith Voleibol

Hughes et al. Râguebi Keane et al. Futebol Gaélico McGarry & Franks Squash Smith & Hughes Polo Aquático Stanhope & Hughes Râguebi Eom & Schutz Voleibol

1992a Eom & Schutz Voleibol 1992a Hughes et al. Râguebi 1993 Anton & Romance Andebol

Monteiro et al.; Moutinho Voleibol 1994 Bouthier & Barthes; Hughes et al. Râguebi

McGarry & Franks Squash 1995a Fróner Voleibol 1996 Zimmermann Voleibol

A investigação no domínio do Futebol confirma esta tendência, sendo interessante notar que foi sobretudo a partir dos anos oitenta que a utilização deste meio tecnológico experimentou uma maior expansão (Quadro 13).

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Observação e análise do jogo 165

Quadro 13 - Estudos realizados no âmbito específico do Futebol (Soccer), nos quais se recorreu à análise do jogo apoiada por computador.

Data Autor

1982 Dufour

1983 Franks et al.; Malveiro

1985 Mayhew & Wenger; Van Gool & Tilborgh

1986 Church & Hughes; Franks & Goodman

1988 Ali; Chervenjakov et ai.; Gréhaigne; Helsen & Pauwels; Hughes et ai.; Lewis

& Hughes; Luhtanen; Ohashi et ai.; Pollard et ai.; Rhode & Espersen; Suzuki

et ai.; Treadwell; Van Gool et ai.; Winkler; Yamanaka et ai.

1989 Dufour; Gréhaigne; Partridge & Franks

1990 Ali & Farrally; Gréhaigne

1991 Dufour; Gréhaigne; Reilly et ai.; Winkler

1992 D ' Ottavio & Tranquilli; Partridge & Franks; Rico & Bangsbo; Winkler;

Yamanaka et al.; Gréhaigne; Hughes

1993 Bishovets et al.; Claudino; Dufour; Dufour & Verlinden; Erdman; Gerish &

Reichelt; Hughes; Ohashi et ai.; Ortega et ai.; Partridge et ai.; Yamanaka et

ai. 1994; Dufour & Verlinden; Kawai et ai.; Loy; Yamanaka et ai.

1995 Bacconi & Marella; Garbarino et ai.; Melli

1996 Loy; Miiller & Lorenz

1997 Gréhaigne et ai.; Luhtanen; Miyamura et ai.; Olsen & Larsen; Verlinden;

Yamanaka et ai.

1997a Sforza et ai.

Não obstante, a análise do jogo em Futebol tenha sido realizada de forma imprecisa e variada (Franks & Goodman, 1984), é possível constatar uma evolução dos meios de investigação, nomeadamente, no processo de recolha e tratamento dos dados, a qual se deve, em larga medida, à utilização do computador.

Duma forma sintética é possível estabelecer uma cronologia relativa ao desenvolvimento de tais meios (Dufour, 1993; Hughes, 1993, 1996):

(19) sistemas de notação manual (hand notation) com recurso à designada técnica de papel e lápis (Reep & Benjamim, 1968);

(29) combinação da notação manual com o relato oral para ditafone (Reilly & Thomas, 1976);

(39) utilização do computador a posteriori da observação, para registo, armazenamento e tratamento dos dados (Malveiro, 1983; Ali, 1988);

(49) utilização do computador para registo simultâneo dos dados, à medida que se realiza a observação, em directo ou em diferido.

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166 Observação e análise do jogo

O teclado convencional é substituído por outro, onde figuram as categorias observadas - concept keyboard (Church & Hughes, 1987; Dufour & Verlinden,1993) e por uma mesa de digitalização - digital panei - na qual se assinala a espacialização das acções (Dufour & Verlinden, 1993). Nalguns sistemas, mesa de digitalização e teclado constituem uma única peça informática, embora representados em superfícies distintas, denominada touchpad (Hughes et ai., 1988; Treadwell, 1988; Partridge et ai., 1993; Loy, 1994). Noutros, as células com as categorias a digitar (teclas) figuram sobrepostas no terreno de jogo. Este tipo de aparelho designa-se por playpad (Partridge & Franks, 1989).

(59) a introdução de dados no computador através da voz (voice-over) é um sistema que está já a ser desenvolvido (Taylor & Hughes, 1988) e que, no futuro, poderá facilitar a recolha de dados, mesmo a não especialistas (Hughes, 1993). A utilização do CD-Rom, para aumentar a capacidade de memória para armazenamento dos dados, é outra das possibilidades a explorar (Hughes, 1996).

Uma das maiores dificuldades quando se utilizam os computadores no processo de observação e análise do jogo é a entrada de informação, ou input (Hughes, 1996).

As categorias e os indicadores seleccionados, para o efeito, procuram habitualmente responder a quatro questões: (i) quem executa a acção? (ii) qual a acção realizada? (iii) onde se realiza a acção? (iv) quando é realizada a acção?

O teclado convencional do computador (QWERTY) não preenche os requisitos necessários a um adequado e célere input dos dados. Por isso, em alternativa, este tem sido substituído por teclados especialmente concebidos, nos quais cada tecla, ou célula digital, corresponde à categoria/indicador que se pretende registar.

Walter Dufour (1982) foi um dos investigadores que cedo reconheceu a importância dos sistemas de observação apoiados por computador, podendo ser considerado um pioneiro neste domínio. De 1966 a 1988, com a colaboração de especialistas em informática, Dufour investiu no desenvolvimento dum sistema de observação sistemática do comportamento motor dos jogadores. Este sistema, que faz parte dum projecto designado CASMAS (Computer Assisted Scouting-Match Analysis System) , permite seguir uma equipa em tempo real (Dufour & Verlinden, 1993).

No Second World Congress of Science and Football, realizado em Eindhoven, em 1991, Dufour (1993), utilizando um algoritmo específico, apresentou uma análise do jogo de Futebol, centrada em três aspectos -físicos, técnicos e tácticos - através da qual salientou o interesse que as

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Observação e análise do jogo 167

informações assim obtidas podem representar para treinadores e investigadores.

As possibilidades deste sistema foram amplamente demonstradas por Dufour & Verlinden (1994). Os autores, apresentaram ao Third World Congress of Notational Analysis, em Cardiff, resultados exaustivos a propósito da análise dos jogos do Campeonato do Mundo USA/94.

As variáveis contempladas neste sistema traduzem, sobretudo, a dimensão técnica do comportamento dos jogadores, quer dum ponto de vista quantitativo, quer no plano qualitativo.

No sentido de alargar as possibilidades deste sistema, a Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto, através do seu Centro de Estudos dos Jogos Desportivos, está a colaborar, desde 1993, no aperfeiçoamento do CASMAS5, nomeadamente, na reformulação de algumas categorias e indicadores e, sobretudo, na introdução de descritores tácticos da organização do jogo.

Pese embora algumas diferenças, muitos dos sistemas actualmente utilizados no Futebol, e não só, apoiam-se num suporte tecnológico concebido a partir do modelo CASMAS (Grosgeorge, 1990).

O MEMOBSER (Doucet, 1986) é um sistema desenvolvido para registar e memorizar informações sobre três aspectos fundamentais do jogo de Futebol (Mombaerts, 1991): (i) ocupação do espaço de jogo; (ii) circulação da bola (passes); (iii) recuperação ou perda da bola (duelos).

Os dados podem ser registados e memorizados num teclado portátil, a partir da observação do jogo em directo ou em diferido. Posteriormente o teclado é ligado ao computador para o qual transfere a informação memorizada. De seguida, podem obter-se diagramas, sequências e cálculos estatísticos, concernentes aos aspectos estudados.

Este sistema foi utilizado por Mombaerts (1991), para determinar: a zona de proveniência das acções que conduzem à obtenção de remate/ golo; o número e duração das sequências para chegar ao golo; a qualidade do último passe; a qualidade da finalização; a ocupação do espaço de jogo.

Chervenjakov et ai. (1988) ensaiaram a modelação matemática da actividade dos jogadores de Futebol, recorrendo a um programa de computador -Soccer 75. A partir de um código de 34 parâmetros foram

5 Para que o CASMAS se torne operacional, são necessários, em conexão: (1) um computador IBM compatível 386 -2MB-RAM-DOS; (2) uma mesa de digitalização (digital panel), que permite assinalar a espacialização das acções de jogo; (3) um teclado especial (concept keyboard) com 127 células, algumas das quais correspondem ao tipo de acção desenvolvida (passe, remate, duelo, drible, etc.), outras à qualidade (+ ou -) das mesmas. Algumas das células não se encontram ainda codificadas, o que permite introduzir novas categorias. O algoritmo proposto é susceptível de adaptações múltiplas em função da evolução da pesquisa experimental; (4) um software CASMAS que permite uma recolha de dados e um tratamento estatístico em tempo real.

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168 Observação e análise do jogo

registadas as acções de jogo para cada jogador. Posteriormente foram reunidos e codificados 14 parâmetros, de entre os quais: o número de contactos com a bola, o número de bolas jogadas correctamente, o número de tackles, o número de remates enquadrados (à baliza), o número de remates não enquadrados e número de golos marcados e sofridos.

Em 1996, Luhtanen apresentou um sistema - SAGE (Sport Analysis and Game Evolution) - que foi usado para analisar todos os jogos dos Campeonatos do Mundo, USA/94, e da Europa, Inglaterra/96.

Este sistema permite realizar a análise, por jogador e por equipa, de vários aspectos como: passe, controlo e condução de bola, intercepção, duelo, tempo de posse de bola e fragmentos constantes do jogo. Isto quer dizer que o mesmo não introduz quaisquer inovações relativamente aos sistemas anteriores.

A informação produzida pela análise do jogo, quando consiste num inventário de acções demasiado parcelarizadas dos jogadores, não fornece uma imagem dos acontecimentos mais representativos no decurso da partida e, deste modo, pode dizer-se que não constitui matéria interessante para treinadores.

Ilustrando um modelo de análise do jogo com possibilidades interpretativas alargadas, a Escola de Treinadores de Coverciano, em Itália, realizou a análise dos jogos do Campeonato do Mundo, Itália/90, procurando um compromisso entre a dimensão quantitativa e a qualitativa dos dados.

Neste sentido, privilegia aspectos cuja abrangência permite fornecer uma ideia sobre como: a colocação e a movimentação dos jogadores no terreno de jogo (zonas prevalentes de jogo), os sistemas de jogo utilizados em relação com a atribuição ofensiva e defensiva das equipas, a identificação das zonas de construção e realização das finalizações/remates (F.I.G.C, 1991).

Na mesma linha, um grupo de investigadores ligados à Federação Italiana de Futebol desenvolveu o F.A.R.M. (Football Atlhetics Results Manager), que consiste num sistema informático modular, que permite, em tempo real, catalogar, cruzar e elaborar informação técnica e táctica útil para os treinadores (Marella et ai., s.d.; Bacconi & Marella, 1995).

Neste sistema a acção de jogo é a unidade basilar de análise, caracterizada através das categorias espaço, tempo, número, volume e forma.

O F.A.R.M. analisa quatro situações de jogo (Bacconi & Marella, 1995): • acção do jogador em posse de bola (bolas jogadas, bolas recuperadas,

bolas perdidas, passes longos, assistências, remates, etc.);

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Observação e análise do jogo 169

• acção do jogador que, pertencendo à equipa em pose de bola, se movimenta sem bola (corridas em sobreposição, desmarcações de apoio e ruptura, etc.);

• acção do jogador que pertence à equipa que não detém a pose de bola (dobras, coberturas, pressing, etc.);

• acções por sector (defensivo, intermédio, ofensivo). Para cada uma destas situações é possível determinar quando ocorre,

quanto dura, onde se desenvolve e de que tipo de acção se trata. Alicerçado num forte suporte informático, Claudino (1993) desenvolveu um

sistema de observação e registo de dados aplicado ao Futebol. Uma das vantagens deste sistema é que, através da conexão directa do

vídeogravador com o computador, as imagens, quando reproduzidas no vídeo, passam directamente no monitor do computador. Neste encontra-se representada uma grelha sobre a qual podem ser assinaladas, com a ajuda do rato do computador, as variáveis previamente seleccionadas.

Através de 16 variáveis seleccionadas, subdivididas em várias categorias, o autor propõe-se caracterizar os comportamentos duma equipa durante o processo ofensivo, e verificar a congruência entre o tipo de jogo praticado e o modelo de jogo preconizado pelo treinador.

Concluiu-se que o modelo de jogo do treinador é parcialmente aplicado, pelos jogadores e a equipa, e que as maiores diferenças dizem respeito às zonas de recuperação da posse da bola, aos jogadores que recuperam a posse da bola e à forma de perda da posse da bola.

7.1.4. Tendências da análise jogo A análise do rendimento dos jogadores pode ser empreendida à luz de

diferentes abordagens, e.g. fisiológica, biomecânica, técnica e táctica. Na medida em que se focaliza nas acções exteriorizadas pelos jogadores

e pelas equipas, o processo de análise do jogo permite identificar as acções realizadas pelos jogadores e as exigências que lhes são colocadas para as produzirem.

A actividade de jogo é fértil em acções ou sequências imprevistas e aleatórias. Todavia, mesmo em contextos de situações não definidas a priori, o jogador, na sua acção, recorre a referências (modelos) baseadas em memórias ligadas a experiências motoras activas (Mariot, 1996), que lhe permitam responder às situações de jogo com eficácia.

Sabendo que a elaboração de mecanismos de pensamento, ou a conceptualização de um sistema de jogo, determinam a realização da acção (Rippol, 1979), na observação e avaliação das competências dos jogadores deve atender-se, por um lado, aos imperativos ditados pelas características

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170 Observação e análise do jogo

do contexto e, por outro lado, às referências (modelos) subjacentes aos comportamentos evidenciados nas acções de jogo.

Embora não ignoremos a importância da faceta endógena do comportamento, isto é, da actividade perceptivo-cognitiva que preside à realização da acção, no presente estudo restringimos a nossa análise ao lado visível do jogo, ou seja, à exterioridade dos comportamentos dos jogadores, materializados na dimensão táctica.

O desempenho táctico, enquanto condição de observação directa (Cari, 1992), representa uma instância funcional que se reveste de grande significado para o estudo do comportamento dos jogadores e das equipas. Neste sentido, o jogo enquanto produto da actividade dos jogadores constitui o nosso objecto de observação.

Os estudos que se enquadram no âmbito da análise táctica envolvem dificuldades especiais derivadas do número de elementos a observar, da sua enorme variabilidade de comportamentos e acções que ocorrem nas partidas e dos múltiplos critérios existentes para os definir e identificar.

Na última década tem-se assistido a um aumento de alternativas para analisar a prestação táctica dos desportistas e das equipas, consubstanciadas numa disparidade de indicadores tácticos e de procedimentos adoptados para tal efeito (Dufour, 1982a; 1993; Crevoisier, 1984; Mathie, 1991; Sabatier, 1991; Lassierra & Escudero, 1993; McPherson, 1994; Riera, 1995a).

No domínio da dimensão táctica, os investigadores têm conduzido a AJ na procura da relevância contextual do comportamento específico dos jogadores e das equipas (Franks & McGarry, 1996), sobretudo a partir da definição de padrões de jogo (Reep & Benjamim, 1968; Hughes et ai., 1988; Ali & Farraly, 1990).

Neste contexto mais restrito a AJ possibilita: (i) interpretar a organização das equipas e das acções que concorrem para a qualidade do jogo (Gréhaigne, 1989); (ii) planificar e organizar o treino, tornando mais específicos os seus conteúdos (Luhtanen, 1989; Larsen et ai., 1996); (iii) estabelecer planos tácticos adequados em função do adversário a defrontar (Grosgeorge, 1996; Cabezón & Fernandez, 1996); (iv) regular a aprendizagem e o treino (Alderson et ai., 1990; Riera, 1995a).

Constata-se que o estudos que se enquadram no âmbito da análise táctica, envolvem dificuldades especiais derivadas do número de elementos a observar, da enorme variabilidade de comportamentos e acções que ocorrem nas partidas e dos múltiplos critérios existentes para os definir e identificar.

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Observação e análise do jogo 171

Nos últimos anos tem-se assistido a uma proliferação de alternativas para analisar a prestação táctica dos desportistas e das equipas, consubstanciada na disparidade de indicadores e de procedimentos adoptados para tal efeito (Dufour, 1982; 1993; Crevoisier, 1984; Mathie, 1991; Sabatier, 1991; Lassierra& Escudero, 1993; McPherson, 1994; Riera, 1995b).

Cada vez mais se procura, a partir da análise de bases alargadas de dados, configurar modelos de jogo (Castelo, 1992; Bishovets et ai., 1993; Claudino, 1993; McGarry & Franks, 1995a) que permitam definir asserções preditivas acerca da táctica eficaz -winning tactic (McGarry & Franks, 1995b).

Todavia, este entendimento tem gerado alguma controvérsia, sobretudo no Futebol, questionando-se os métodos estatísticos utilizados (Hughes, 1996) e a sua aplicabilidade face à aleatoriedade e imprevisibilidade dos comportamentos que caracterizam os JDC.

Contudo, os problemas relacionados com a modelação do jogo transcendem largamente a questão dos métodos estatísticos.

As técnicas e os sistemas de observação diferem segundo as disciplinas desportivas. Nos desportos individuais, desde há muito que a observação incide preferencialmente nos aspectos técnicos. Nestas modalidades, a Biomecânica, as técnicas de vídeo, podem bastar para informar com exactidão sobre o comportamento do atleta e, assim, fornecer dados suficientes que permitam estabelecer um plano de treino ou detectar talentos.

Pelo contrário, nos JDC as capacidades dos atletas são condicionadas fundamentalmente pelas imposições do meio, isto é, pelas sucessivas configurações que o jogo vai experimentando e, por tal motivo, a observação de todos os jogadores em movimento toma-se extremamente complexa. Para além disso, a interdependência dos comportamentos constitui um obstáculo difícil de ultrapassar (Dufour, 1991).

Nos JDC, ao nível do jogo coexistem variáveis diversas que interagem permanentemente, o que dificulta a recolha de dados acerca da prestação dos jogadores e torna muito complexa a tarefa de entender a quota parte de participação dessas variáveis no rendimento (Franks et ai., 1986a; Ali & Farraly, 1990; Johnson & Franks, 1991; Riera, 1995a).

Para analisar os comportamentos é necessário encontrar métodos de recolha e de análise específicos, diferentes dos utilizados nos desportos individuais (Dufour, 1989; Grosgeorge et ai., 1991). As condições instáveis e aleatórias em que ocorrem os JDC, embora confiram originalidade e interesse às situações, tornam mais delicada a tarefa do observador e do experimentador (Menaut, 1983).

Como evidencia Dufour (1991), as dificuldades encontradas na definição de categorias de observação relativas à dimensão táctica, bem como na

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172 Observação e análise do jogo

construção de um algoritmo adequado, têm entravado um melhor entendimento do jogo, dificultando uma célere evolução dos JDC em geral e do Futebol em particular.

Ora, um dos aspectos que tem gerado um impasse metodológico importante, ao nível do entendimento da organização táctica do jogo de Futebol, é precisamente o recurso a métodos exclusivamente algorítmicos, em detrimento dos métodos heurísticos6 (Gréhaigne, 1989).

No Futebol, o algoritmo, para ser exaustivo, deveria ter em conta todas as alternativas possíveis, o que colide com a aleatoriedade e imprevisibilidade das numerosas e diversas situações que ocorrem num jogo. Neste sentido, os procedimentos heurísticos, porque não preconizam uma tal exaustividade, parecem revelar-se mais apropriados ao carácter não totalmente previsível do jogo (Gréhaigne, 1992).

No entanto, a prática tem demonstrado que ambos os procedimentos, algorítmicos e heurísticos, são importantes na identificação e interpretação das inúmeras acções realizadas pelos jogadores e pela equipa ao longo de um jogo. O problema coloca-se sobretudo ao nível da sua complementaridade e compatibilização (Figura 26).

Observação assistemática

t Notação manual i * (Papel e lápis)

Computador Computador

Métodos heurísticos

t Métodos algorítmicos

Métodos heurísticos

Métodos algorítmicos

Figura 26 - A interdependência dos meios e métodos de observação e análise do jogo em Futebol.

As metodologias decorrem de modelos de entendimento que superditam as suas características. Os procedimentos heurísticos revelam-se, sobretudo, importantes nas fases de selecção dos descritores das acções de jogo (categorias e indicadores) e da sua reformulação. No momento de materializar a observação, através de um qualquer sistema, os

6 Os procedimentos algorítmicos comportam a identificação de todos os estados cruciais para a selecção das operações a realizar, com o fim de abranger toda a classe de estados iniciais possíveis. O algoritmo apresenta-se normalmente sob a forma de organigramas binários, com soluções antecipadamente definidas. A heurística pode ser considerada a arte de descobrir (Morin, 1973) ou a ciência de encontrar soluções (Moles, 1995), estando por isso relacionada com certos atributos da actividade do pensamento criador (Epstein, 1986).

Observação sistemática

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Observação e análise do jogo 173

procedimentos algorítmicos revelam-se eficazes. Contudo, a atitude heurística nunca deve ser passada para segundo plano, sob pena de se submeter a história dos acontecimentos do jogo às limitações do sistema de observação.

Nesta medida, os sistemas devem ter a abertura suficiente para permitirem, sempre que necessário, uma reformulação de categorias e indicadores, no sentido de garantir o seu permanente aperfeiçoamento e adequação.

No domínio particular da análise do jogo, tem-se verificado que, não raramente, os sistemas de observação e registo perdem eficácia pelo facto da informação por eles gerada se afigurar confusa (Gerish & Reichelt, 1993), porquanto constitui material disperso e retalhado. Quer isto dizer que, não obstante o recurso a meios sofisticados, a proliferação de bases de dados não garante, por si só, o acesso a informação útil para treinadores e investigadores. Para contornar este problema torna-se imprescindível dar um sentido ao dados recolhidos, explorando-os de forma a garantirem o acesso à informação considerada mais importante.

Assim, a viabilização duma observação e análise do jogo ajustadas impõe, para além dos instrumentos tecnológicos, a definição clara de instrumentos conceptuais (modelos) que balizem a elaboração e aplicação de metodologias congruentes com a natureza do jogo (Pinto & Garganta, 1989).

Como diz Popper (1991), para que os nossos sentidos nos digam alguma coisa, temos que possuir conhecimento prévio: para podermos ver uma "coisa", temos de saber o que são "coisas".

Habitualmente diz-se que para encontrar algo há que procurá-lo. No contexto da observação e análise do jogo, a lógica parece inversa, ou seja, primeiro encontra-se (configura-se) as categorias e os indicadores e só depois se procura as suas formas de expressão no jogo.

Na ausência de um modelo teórico que garanta o enquadramento e a interpretação dos dados obtidos, encontramo-nos face a uma massa de números com fraco poder informativo (Gréhaigne, 1992).

Assim, à sofisticação tecnológica dos sistemas de observação, deve corresponder o progressivo refinamento e extensão das categorias que os integram, no sentido de aumentar o seu potencial descritivo relativamente às acções de jogo consideradas mais representativas.

Verifica-se que os sistemas de observação, na sua maioria, têm privilegiado: a análise descontextualizada das acções do jogador; o produto das acções ou comportamentos; a dimensão quantitativa das acções; as situações que originam golo.

Para treinadores e investigadores, as análises que salientam o comportamento da equipa e dos jogadores, através da identificação das

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174 Observação e análise do jogo

regularidades e variações das acções de jogo, bem como da eficácia e eficiência ofensiva e defensiva, absoluta e relativa, afiguram-se mais profícuas do que a exaustividade de dados quantitativos relativos a acções terminais e não contextualizadas.

No sentido de que os trabalhos desenvolvidos no âmbito da análise do jogo de Futebol possam assegurar a elaboração de informação representativa sobre os eventos do jogo, entendemos que se impõe uma alteração do nível de análise (Figura 27).

Análise do jogo

Jogador

Produto (golos)

Dados avulso

Acções técnicas

Equipa

f Organização

I Análise de sequências

I Unidades tácticas

Figura 27 - Evolução desejável do processo de análise do jogo em Futebol.

Do nosso ponto de vista, essa alteração passa pela construção de sistemas elaborados a partir de categorias integrativas cuja configuração permita passar da análise centrada na quantidade das acções realizadas pelos jogadores, à análise centrada nas quantidades da qualidade das acções de jogo, no seu conjunto.

Deste modo, na definição de tais categorias, deverá tomar-se em consideração:

• a organização do jogo a partir das características do encadeamento sequencial de acções (unidades tácticas) da equipa;

• as características dos processos (sequências) que conduzem a diferentes produtos (p. ex., ataque abortado, ataque finalizado sem obtenção de golo, ataque finalizado com golo);

• as situações nas quais, ocorrendo ou não golo, se verifiquem rupturas ou perturbação no balanço ataque/defesa.

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VIM - Estudo da fase ofensiva em Futebol

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Estudos exploratórios 176

8,. Dois estudos exploratórios da fase ofensiva em Futebol

Não ê possível supor que, à medida que aumenta a complexidade do quadro de investigação, com recurso a diversas variáveis e ópticas de exame, haja um método que, por si só, satisfaça todas as exigências de observação, análise e interpretação dos tactos empíricos.

F. Sobral (1993)

Nos capítulos precedentes evidenciámos a importância de elevar o jogo de Futebol a objecto de estudo. Explicitámos também um modelo conjectural de entendimento do jogo a partir da organização das equipas enquanto sistemas, destacando a dimensão táctica como "porta principal" de acesso ao fenómeno.

No presente capítulo são apresentados dois estudos exploratórios com recurso a duas metodologias distintas para aceder à caracterização da fase ofensiva de equipas de Futebol.

O primeiro ilustra um modelo mais restrito em que as variáveis são consideradas per se, tal como acontece em grande parte dos estudos realizados sobre esta temática, e.g. Reep & Benjamin (1968), Withers (1982), Korcek (1987), Bate (1988), Olsen (1988), Hughes (1990), Garganta et ai. (1997). Este tipo de abordagem, eminentemente exploratória e empírica, representa uma entrada no entendimento do fenómeno exclusivamente centrada nos dados. Não reclama, por isso, a formulação de qualquer quadro apriorístico que veicule a ideia de uma qualquer inteligibilidade na informação recolhida. Trata-se estritamente de uma análise comparativa do comportamento ofensivo de equipas de distintos níveis competitivos, com incidência num lote pré-seleccionado de variáveis de âmbito táctico-técnico.

O segundo estudo incide na análise sequencial de unidades tácticas realizadas por equipas de alto nível competitivo, com base na eficácia da sua organização ofensiva, configurada a partir da "interacção" e da covariação de 1res dimensões fundamentais: tempo, espaço e tarefa, representadas que são pelos seus múltiplos indicadores. Trata-se de um estudo exploratório da organização ofensiva de equipas de alto nível competitivo centrado na análise de sequências de jogo (unidades tácticas), realizado com base no quadro conceptual de referência explicitado nos capítulos anteriores da presente dissertação.

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177 Estudos exploratórios

8.1. Estudo comparativo do comportamento ofensivo de equipas de distintos níveis competitivos

8.1.1. Introdução No conjunto das acções desenvolvidas ao longo de um jogo de Futebol as

equipas visam assegurar condições de vantagem sobre o adversário, o que quer dizer que o confronto determina, na maior parte das vezes, um vencedor e um vencido.

Contudo, quando comparado com outros jogos desportivos colectivos (e.g. Basquetebol e Andebol), o Futebol apresenta uma supremacia da defesa sobre o ataque (Bauer & Ueberle, 1984; Dufour, 1989), o que faz com que o sistema ataque/defesa tenda frequentemente para o equilíbrio. Enquanto que a defesa procura continuamente neutralizar a acção do ataque no sentido de conseguir ordem e equilíbrio para conquistar a posse da bola, o ataque procura criar desordem na defesa contrária no sentido de induzir desequilíbrios e conseguir a obtenção de golo (Gréhaigne, 1989). Por isso, um dos grandes problemas do jogo de Futebol consiste em conseguir oportunidades de finalização (Queiroz, 1989; Castelo, 1992).

Enquanto que, por exemplo, no Basquetebol uma grande percentagem dos ataques efectuados (80%, em média) termina com a concretização de um cesto, num jogo de Futebol apenas 1% dos ataques culmina com a obtenção de um golo (Dufour, 1982b; Sleziewski, 1987). As balizas, colocadas na extremidade de um grande terreno, poucas vezes são atingidas nos 90 minutos de tempo regulamentar de jogo, constatando-se um maior volume de jogo de transição (mais de 95%, cf. Gréhaigne, 1989) em detrimento da finalização (Wrzos, 1984; Gréhaigne, 1989).

Dado que na fase de jogo correspondente ao ataque, a vantagem das equipas só tem sentido se conduzir à criação de situações de finalização (Teodorescu, 1977), a necessidade de tornar o processo ofensivo mais objectivo e concretizador, conduzindo à criação de um maior número de oportunidades de golo tem constituído uma preocupação evidente de todos quantos pretendem ver aumentada a qualidade e espectacularidade do jogo de Futebol (Luhtanen, 1993; Safont-Tria et ai., 1996).

Este facto explica a razão da maioria das análises e das tácticas empregues no Futebol estarem relacionadas com a fase ofensiva do jogo (Luhtanen, 1993).

Efectivamente, o comportamento de variáveis relativas ao processo ofensivo de equipas de Futebol tem sido explorado por vários autores (Reep & Benjamin, 1968; Sleziewski, 1987; Olsen, 1988; Jinshan et ai., 1993; Luhtanen, 1993; Garganta et ai., 1995).

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Estudos exploratórios 178

Neste sentido, os analistas têm procurado coligir e confrontar dados relativos às sequências ofensivas de jogo, no sentido de tipificarem as acções que mais se associam à eficiência e eficácia dos jogadores e das equipas (Ali, 1986; Bate, 1988; Hughes et ai., 1988; Gréhaigne, 1989; Partridge & Franks, 1989ab; Ali & Farraly, 1990; Mombaerts, 1991; Castelo, 1992; Claudino, 1993; Bishovets et ai., 1993; Partridge et ai., 1993; Yamanaka et ai., 1993; Miller, 1994; Wrzos, 1994; Larsen et ai., 1996).

Em grande parte dos trabalhos realizados, os autores limitam-se a reunir e caracterizar blocos quantitativos de dados e a descrever o comportamento das variáveis, restringindo a sua análise às situações que conduzem à obtenção de golo.

Todavia, a descrição do processo ofensivo e a avaliação da sua eficácia efectuadas apenas com base nos golos obtidos, apenas permitem um entendimento muito restrito da sua dinâmica e da produção das equipas (Van Meerbeek et ai., 1983; Harris & Reilly, 1988; Garganta et ai., 1994; Mourrier, 1996), dada a precariedade que assiste à determinação de uma eventual correlação entre indicadores que caracterizam o comportamento dos jogadores e das equipas e o resultado final do jogo (Dufour, 1993).

Nas perspectivas do investigador e do treinador parece importante considerar, não apenas as situações que conduzem à obtenção de golo mas também todas as que permitam perceber o nível de produção de jogo ofensivo dos jogadores e das equipas, de acordo com a hierarquia de objectivos da fase ofensiva (cf. Dietrich, 1978): construir, criar situações de finalização, finalizar.

Neste sentido, o número de vezes que uma equipa consegue abeirar-se da baliza adversária e/ou atingi-la com um remate (Van Meerbeek et ai., 1983), para além do número de golos que consegue ou não concretizar, constitui um indicador importante acerca da produção ofensiva no jogo (Godik & Popov, 1993).

Assim, toma-se conveniente considerar as acções que, embora não provocando imediata ou directamente a obtenção de um golo, se apresentem como susceptíveis de induzir uma ruptura no balanço ataque/defesa, criando situações de perigo eminente para a equipa adversária (Riera, 1995a).

Em tal tipo de análise torna-se mais importante observar as acções da equipa do que dissecar o comportamento individual de cada jogador (Gréhaigne, 1989; Riera, 1995a).

8.1.2. Objectivos A partir do estudo da efectividade das acções ofensivas realizadas por

equipas de diferentes níveis competitivos, visa-se apurar a possibilidade de

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179 Estudos exploratórios

separar dois grupos claramente distintos quanto ao seu nível competitivo (superior e inferior), considerando as sequências ofensivas que terminam com remate enquadrado com a baliza.

Pretende-se conhecer o poder preditivo das variáveis seleccionadas relativamente à sua possibilidade para reclassificar grupos de rendimento distintos, aprioristicamente formados (nível superior =1; nível inferior =0).

8.1.3. Método A amostra é composta por dois grupos de distintos níveis competitivos: (i)

superior, que integra as Selecções Nacionais de Futebol dos países que se classificaram nos quatro primeiros lugares do Campeonato do Mundo, USA/94; (ii) inferior, composto por cinco equipas do Campeonato Nacional Português, que se classificaram na metade inferior da tabela classificativa, na época 1995/96.

A partir de um total de vinte jogos foram observadas 260 sequências ofensivas terminadas com remate à baliza, 133 para as equipas de nível competitivo superior e 127 para as de nível inferior.

Para cada sequência ofensiva foi observado e registado o comportamento de um lote de nove variáveis1, correspondentes a sete indicadores simples: número de jogadores que contactaram com a bola (NJ), número de passes realizados (NP), número de contactos com a bola realizados pelo rematador (NctR), número de contactos com a bola efectuados pelo jogador que realiza a assistência (NctA), número total de contactos realizados com a bola (Net), número de bolas recebidas (NR), tempo de realização do ataque (TRA); e dois indicadores compostos: velocidade de transmissão da bola (VTB) e número de bolas jogadas (BJ).

8.1.3.1. Explicitação das variáveis Número de jogadores que contactam a bola (NJ) Nos jogos desportivos colectivos o número de jogadores envolvidos nas

diversas acções é uma variável importante (Teodorescu, 1984), na medida em que a sua alteração afecta a variabilidade das situações de jogo (Franks & McGarry, 1996).

Para Hainaut & Benoit (1979) a superioridade numérica é um factor fundamental no Futebol. Contudo, os autores não se referem a uma superioridade absoluta.

1 Estas variáveis foram seleccionadas por figurarem em vários estudos (e.g., Reep & Benjamin, 1968; Morris, 1981; Withers, 1982; Talaga, 1985; Korcek, 1987; Bate, 1988; Olsen, 1988; Pollard et ai., 1988; Dugrand, 1989; Gréhaigne, 1989; Hughes, 1990; Cabezón & Fernandez, 1996), tendo, apesar disso, sido sujeitas à apreciação de um perito.

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Estudos exploratórios 180

De acordo com o quadro regulamentar do Futebol, cada equipa pode iniciar um jogo apresentando, em campo, um mínimo de 7 jogadores e um máximo de 11. Todavia, nas competições oficiais as equipas apresentam-se com o seu efectivo máximo (11 jogadores), o que traduz a impossibilidade de, salvo algumas situações particulares, uma equipa se superiorizar a outra através do efectivo absoluto de jogadores.

Deste modo, o número absoluto de elementos não pode constituir, como pretendia Clausewitz (1955) para o contexto militar, um factor indispensável à obtenção da vitória. Resta aos jogadores a possibilidade de criarem uma superioridade numérica relativa, através duma gestão racional do tempo e espaço, nomeadamente nas acções que se desenvolvem no centro do jogo, isto é, onde se encontra a bola (Castelo, 1992).

Neste sentido, o NJ constitui um indicador da participação dos jogadores nas acções ofensivas. O observador deverá registar, em relação à equipa que ataca, o número de jogadores que contactam com a bola em cada sequência ofensiva.

Número de passes (NP) O passe consiste numa transmissão do móbil de jogo entre os elementos

da mesma equipa na fase ofensiva. Nessa medida, constitui um meio que une as intenções dos jogadores e traduz a coesão ofensiva de uma equipa (Wrzos, 1984), razão pela qual, em alguns casos, funciona como um indicador importante para a caracterização do estilo e método de jogo praticados.

Foi registado o NP realizados em cada sequência ofensiva. Apenas foram contabilizadas como passes as acções em que a bola foi efectivamente transmitida a um elemento da mesma equipa.

Número de contactos com a bola (Net) É um indicador utilizado para determinar quer o volume de acções com

bola (Morris, 1981; Withers et ai., 1982; Gréhaigne, 1989), quer a velocidade de transmissão da bola (Dugrand, 1989), realizados por um jogador ou por uma equipa.

No presente estudo o Net será utilizado nesta dupla qualidade, devendo o observador registar o número de contactos com a bola realizados pela equipa para cada sequência ofensiva observada.

Relativamente a esta variável foram discriminados o número de contactos realizados pelo jogador que efectua o remate (NctR) e o número de contactos realizados pelo jogador que efectua a assistência (último passe) para o remate (NctA, para cada sequência ofensiva.

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181 Estudos exploratórios

Número de bolas recebidas (Nfí) É um indicador que, conjuntamente com o Net, é utilizado para determinar

(cf. Dugrand, 1989) a velocidade de transmissão da bola (ver VTB). Quando conjugado com o número de bolas conquistadas permite determinar também (cf. Gréhaigne, 1989) o número de bolas jogadas (ver BJ).

No presente estudo o observador deverá registar o total de NR que a equipa realiza para cada sequência ofensiva observada.

Número de bolas conquistadas (NC) Como já referido, trata-se de um indicador utilizado para, conjuntamente

com o número de bolas recebidas, determinar o número de bolas jogadas. No presente estudo o observador deverá registar o NC por cada equipa

para cada sequência ofensiva observada.

Tempo de realização do ataque (TRA) No Futebol o tempo de realização do ataque é uma variável importante

(Wrzos, 1984; Mombaerts, 1991). Por TRA o observador deverá considerar o período de tempo que medeia

entre o início do processo ofensivo (primeiro contacto com a bola) e a sua conclusão através de remate enquadrado com a baliza, o qual pode provocar pelo menos uma das seguintes situações: (i) golo; (ii) defesa do guarda-redes; (iii) intercepção realizada por um jogador da equipa que defende que constitua o último obstáculo móvel a transpor, substituindo posicionalmente o guarda-redes da sua equipa; (iv) bola embate nos postes ou na barra.

O observador regista, em relação a cada equipa e para cada sequência ofensiva, o tempo decorrido entre o primeiro contacto de um dos seus jogadores com a bola, o qual corresponde ao início da sequência ofensiva, e o momento do último contacto com a bola realizado pelo mesmo ou por outro dos seus jogadores nessa mesma sequência.

Velocidade de transmissão da bola (VTB) A exploração rápida do espaço de jogo, a antecipação, a inteligência e o

sentido táctico, são alguns dos principais ingredientes para se alcançar o grande objectivo do jogo de Futebol: o golo (Laurier, 1985).

Sabe-se que a circulação da bola realizada a elevada velocidade constitui um importante argumento ofensivo do jogo colectivo das equipas de alto nível, na medida em que funciona como indutor de eficácia ofensiva (Olsen, 1988; Dugrand, 1989).

Para apurar o comportamento desta variável, Dugrand (1989) preconiza a utilização de um índice, que designa por velocidade de transmissão da bola (VTB), o qual é calculado a partir do quociente entre dois indicadores

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Estudos exploratórios 182

simples: o número de bolas recebidas (NR) e o número de contactos (Net) realizados para as transmitir (VTB = NR/Nct).

O valor da VTB varia entre 0 e 1. A transmissão da bola é considerada tanto mais rápida quanto o valor da VTB mais se aproxima da unidade. Quando, na mesma acção de jogo, o número de bolas recebidas por um jogador, ou por uma equipa, iguala o número de contactos realizados pelo mesmo para a transmitir a VTB alcança o seu valor máximo (1). Quando numa acção ofensiva apenas um jogador intervém sobre a bola, não existindo qualquer passe, o valor da VTB atinge o seu valor mínimo (0). Neste sentido, toma-se claro que a VTB não deve necessariamente ser identificada com ritmo de jogo.

No presente estudo foi registada a VTB das equipas para as respectivas sequências ofensivas.

Bolas jogadas (BJ) Gréhaigne (1992), a partir dos estudos de Dugrand (1989), refere que o

número de BJ traduz o volume de jogo efectuado com bola, e decorre de dois indicadores:

- o número de bolas conquistadas (NC), quando o jogador ou a equipa passam a deter a posse da bola por intermédio de um duelo ou de uma intercepção;

- o número de bolas recebidas (NR), quando um jogador ou a equipa passam a deter a posse da bola como resultado de um passe de um colega de equipa.

O número de bolas jogadas resulta do somatório destes dois indicadores, i.e., BJ = NC+NR.

No presente estudo, foram registadas as BJ das equipas para cada sequência ofensiva.

8.1.3.2. Fiabilidade da observação Enquanto meio de representação da realidade e processo multifacetado e

contextualizado (Evertson & Green, 1986), a observação pode assumir várias formas, desde experiências casuais, não controladas, até registos exactos em condições de laboratório.

A consciência das limitações do processo de observação faz com que se deva questionar a fiabilidade dos dados obtidos através deste processo (D'Antola, 1976).

Para estabelecer a fiabilidade da observação deve comparar-se os dados obtidos, quer para o mesmo observador, quer para dois ou mais observadores (Sarmento et ai., 1990). Enquanto a primeira consiste em assegurar que, em diferentes momentos, o mesmo observador identifique e

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183 Estudos exploratórios

assinale, da mesma forma, um ou vários comportamentos (fiabilidade intra-observador); a segunda pretende garantir que, face às mesmas situações, vários observadores possam identificar e registar os mesmos comportamentos (fiabilidade inter-observadores).

O treino dos observadores e a uniformização de critérios são passos imprescindíveis para reduzir a possibilidade de discrepâncias e realizar observações fiáveis.

Neste sentido, os observadores tiveram acesso a um protocolo de observação que os identificou com as categorias2, indicadores3 e formas de registo.

Para apurar a fiabilidade de observação para cada uma das variáveis em estudo, foram observados os primeiros trinta minutos do jogo Suécia-Bulgária, realizado no Campeonato do Mundo dos Estados Unidos/94.

No plano intra-observador comparou-se os valores obtidos em duas observações do mesmo observador, realizadas com intervalo de quinze dias. No âmbito inter-observadores foram confrontados os registos obtidos em duas observações, por diferentes observadores.

As fiabilidades, intra- e inter-observadores foram apuradas com base na relação percentual entre o número de acordos e desacordos registados, segundo a fórmula utilizada por Heins & Zender (1956) e Bellack et ai. (1966):

n° acordos % acordos = x 100

n° acordos + n° desacordos

A fiabilidade da observação pode ser atestada pela elevada percentagem de acordos registados4, tanto na modalidade intra-observador, como na inter-observadores, na medida em que os resultados (Quadro 14) mostram que todos os valores se situam acima dos 80%.

2 As categorias são noções com origens empíricas e históricas, solidárias com um determinado corpus de conhecimentos. São noções bifrontes que constituem a interface, o momento de mediação, entre conhecimento e realidade, traçando o perímetro dos horizontes do sentido (Ceruti, 1995).

3Quando não é possível medir directamente um conceito, como por exemplo a capacidade táctica, é indispensável recorrer a indicadores (Madella, 1988). Conquanto o termo indicador possua várias conotações (Johnstone,1988), no presente estudo iremos utilizá-lo enquanto referência a algo observável, isto é, a um aspecto mensurável da variável latente em causa. Não deve, contudo, confundir-se o indicador com o conceito estudado (Madella, 1988). Por exemplo, a desmarcação é um indicador da capacidade táctica, enquanto expressão observável de um conjunto de operações sujeitas a constrangimentos espaciais e temporais, mas obviamente não é a capacidade táctica, dado que uma qualquer variável latente não pode ser reflectida por um único indicador indirecto.

4Segundo Bellack et ai. (1966) as observações podem ser consideradas fiáveis se o percentual de acordos não for inferior a 80%.

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Estudos exploratórios 184

Quadro 14 - Percentagem de acordos intra-observador e inter-observadores, registados para as variáveis em estudo.

Variáveis % acordos % acordos Observadas Intra-observador Inter-observadores

NJ 100.0% 92.0% NP 100.0% 87.5%

NctR 100.0% 100.0% NctA 100.0% 100.0% NR 100.0% 87.5% Net 100.0% 92.0% VTB 92.0% 92.0% BJ 92.0% 87.5%

TRA 100.0% 100.0%

8.1.3.3. Procedimentos estatísticos Para além da média e do desvio-padrão, para caracterizar as distribuições

em estudo, utlizou-se a análise da função discriminante (AFD), com e sem o procedimento stepwise, e a regressão logística (RL).

8.1.4. Resultados e discussão i) Análise da função discriminante (AFD) A primeira fase deste primeiro estudo consistiu em considerar todas as

variáveis sem qualquer restrição de entrada no modelo da AFD e da RL, precedida da análise da variância (ANOVA).

No Quadro 15 podem ser observados os resultados relativos à média e desvio-padrão, para os grupos de nível distinto (superior e inferior) e da ANOVA para testar a diferença de médias entre os dois grupos nas variáveis consideradas.

Quadro 15 - Média ± desvio-padrão para os grupos de nível superior (1) e inferior (0) e ANOVA nas variáveis consideradas (F é a razão dos Quadrados Médios e p é o valor da prova).

Variável X±DP 1 X±DP o F P

NctR 2.0 ±0.1 1.7±0.4 0.74 0.3906

NP 5.0±0.8 3.3±0.6 15.15 0.0001 *

NR 5.1±0.9 3.3±0.6 14.07 0.0002 *

NJ 5.0±0.5 4.2±0.4 5.21 0.0231 *

NctA 2.2±0.2 1.5±0.5 6.07 0.0142*

TRA 18.7±2.8 14.2±2.3 8.63 0.0035 *

Net 14.2±2.4 9.6±2.3 12.79 0.0004 *

BJ 19.3±3.2 12.9±2.9 13.63 0.0003 *

VTB 0.39±0.02 0.35±0.04 3.88 0.0496 *

* Diferença estatisticamente significativa (p<0.05)

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185 Estudos exploratórios

É evidente a presença de forte diferença entre os dois grupos de equipas favorecendo o grupo de nível superior, pois verifica-se que oito das variáveis apresentam diferenças estatisticamente significativas (p<0.05).

Habitualmente, as análises efectuadas neste tipo de estudos ficam-se por este procedimento, o que tem conduzido a conclusões alicerçadas quase exclusivamente na relevância estatística dos dados (Garganta et ai., 1995; Verlinden et ai., 1997). Contudo, este tipo de análise, dado que se concentra exclusivamente numa variável de cada vez, não contempla, a sua globalidade e interdependência, não permitindo, por isso, configurar uma diferença substantiva entre os grupos em análise, considerando vectores de médias em que interdependência e covariância estão presentes.

Neste sentido impôs-se o recurso à análise multivariada (AM), a qual incide sobre sistemas de variáveis, ou seja, conjuntos de variáveis interdependentes, que apresentam coerência interna e que podem estar a representar mais do que uma variável latente (Eom & Schutz, 1992).

No presente estudo, o resultado da AFD apresentou um A Wilks=0.916 (X2(8)=29.92, p=0.0002), valor que, pelo facto de ser significativo, reclamou um estudo dos coeficientes canónicos estruturais5 (CCest), os quais se encontram referidos no Quadro 16.

Quadro 16 - Valor dos coeficientes canónicos estruturais (CCest).

'ariável CCest

NP 0.69

NR 0.67

BJ 0.65

Net 0.63

TRA 0.52

Net A 0.43

NJ 0.40

VTB 0.35

NctR 0.15

Sabe-se que quanto maior é o CCest tanto maior é a sua importância na separação dos grupos e que, para efeitos de análise, o corte pode ser feito a partir de 0.30 ou 0.50 (Bernstein, 1988).

5Os CCest não são mais do que correlações entre cada variável e a função linear encontrada. A magnitude de cada CCest exprime pois a sua importância na função que separa maximalmente os grupos de equipas.

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Estudos exploratórios 186

No presente estudo, o corte foi feito a partir do valor 0.50, o que corresponde a 25% da variância comum entre a variável e a função discriminante linear.

De acordo com este procedimento destacou-se um lote menor composto por cinco variáveis, por ordem crescente de importância: TRA (tempo de realização do ataque), Net (número de contactos), BJ (número de bolas jogadas), NR (número de bolas recebidas) e NP (número de passes).

Este lote parece reflectir sobretudo o volume de jogo desenvolvido pelas equipas em relação às sequências ofensivas observadas, surgindo o número de passes (NP) como a variável que revela maior importância, logo seguida do número de bolas recebidas (NR).

De facto, as equipas de nível superior quando comparadas com as de nível inferior apresentam, em média, valores significativamente superiores para o NP (5.0±0.8 vs3.3±0.6).

Hughes et ai. (1988) chegaram a conclusões semelhantes num estudo em que compararam o número médio de passes por posse de bola em equipas de nível diferenciado.

Não obstante, quando se considera apenas as sequências que conduzem à obtenção de golo, os estudos realizados mostram que, independentemente do nível das equipas, a maior percentagem de golos é obtida através de sequências de cinco ou menos passes (Reep & Benjamin, 1968; Talaga, 1985; Hughes, 1986; Korcek, 1987; Bate, 1988; Franks, 1988; Olsen, 1988; Mombaerts, 1991; Garganta et ai., 1997).

A tendência verificada em relação ao NP revela-se também quando se considera o número de contactos realizados (Net): 14.2±2.4 para as equipas de nível superior e 9.6+2.3 para as de nível inferior, evidenciando que as primeiras recorrem mais a um estilo de jogo indirecto, com maior número de contactos e de passes em cada sequência, o que origina um tempo de ataque mais elevado.

Por isso, as equipas de nível superior revelam também um tempo significativamente superior de realização do ataque (18.7±2.8 vs 14.2±2.3), o que está intimamente associado ao maior volume de jogo realizado na fase de construção do processo ofensivo.

A corroborar o que foi referido, o número de bolas jogadas (BJ) reflecte um volume de jogo claramente mais elevado (p=0.0003) para as equipas de nível superior (19.3±3.2 vs 12.9±2.9).

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187 Estudos exploratórios

Todavia, a matriz de confusão6, e apesar do significado estatístico na discriminação dos grupos de rendimento distintos, evidencia de forma clara a insuficiência desta função em reclassificar as sequências ofensivas analisadas nos seus grupos de origem. De facto, 93 das 127 sequências (73.2%) do grupo de nível mais baixo são reclassificadas como se tratassem de sequências ofensivas de equipas de nível elevado (Quadro 17).

Quadro 17 - Matriz de confusão

0 1

0 34 (26.8%) 93 (73.2%)

1 15 (6.7%) 208 (93.3%)

Os resultados apurados permitem perceber que quando se comparam as variáveis uma a uma, se verificam diferenças estatisticamente significativas, na maioria dos casos (oito em nove), para os grupos estudados. Todavia, quando se considera o conjunto de variáveis, no sentido de definir um eventual padrão que discrimine as sequências realizadas, em função dos níveis distintos das equipas, verifica-se uma eventual irrelevância substantiva dos dados, não obstante a sua relevância estatística, como se pode constatar pelos valores referidos na matriz de confusão ilustrada no Quadro anterior.

De facto, se existisse alguma coerência interna entre as variáveis consideradas, os resultados deveriam necessariamente expressá-la, pelo que na matriz de confusão grande percentagem de sequências ofensivas seriam reclassificadas nos seus grupos de origem (0,1), o que não acontece.

ii) Num segundo momento de análise solicitou-se a um perito que seleccionasse previamente um menor lote de indicadores que entendesse suficientemente robusto para discriminar as equipas. As variáveis seleccionadas coincidiram com as sugeridas pelos resultados do procedimento da FD stepwise. Optou-se pois por NP, TRA e VTB, i.e., um lote de variáveis que parece representar o ritmo de jogo.

Também neste caso o resultado foi estatisticamente significativo na separação entre grupos (A Wilks=0.956; X2(3)=15.66; p=0.0013) e a hierarquia dos CCest pode ser observada no Quadro 18.

6A qualidade da função discriminante linear encontrada é avaliada a partir da reclassificação que faz dos grupos aprioristicamente formados. Trata-se em suma de calcular probabilidades condicionadas na pertença ao grupo original com base na distância do score discriminante ao centróide de cada grupo. De seguida elabora-se uma tabela de dupla entrada em que na horizontal temos os valores iniciais dos elementos de cada grupo, e na vertical os valores preditos em função do valor de probabilidade. Esta tabela é designada por matriz de confusão ou de Jackknife (Tabachnick e Fidell, 1996).

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Estudos exploratórios 188

Quadro 18 - Valor dos coeficientes canónicos estruturais (CCest).

Variável CCest

NP 0.97

TRA 0.73

VTB 0.49

Da análise do Quadro anterior verifica-se que o número de passes (NP) e o tempo de realização do ataque (TRA) são os indicadores que mais contribuem para separar os grupos de acordo com o seu nível. Não obstante, os valores registados em relação à velocidade de transmissão da bola (VTB), contribuem com cerca de 25% de variância comum.

Todavia, recorrendo mais uma vez à matriz de confusão (Quadro 19), pode constatar-se que, tal como no primeiro momento de análise, a qualidade da solução não é a melhor. Neste caso, 95.3% das sequências ofensivas das equipas de nível inferior (0) são consideradas como pertencendo a equipas de nível superior (1).

Quadro 19 - Matriz de confusão

0 1

0 6 (4.7%) 121 (95.3%)

1 7(3.1%) 216 (96.9%)

Assim, mesmo em relação a este lote mais restrito de variáveis, continua a manifestar-se uma irrelevância substantiva dos dados, não obstante a sua relevância estatística.

Estas contradições podem tomar-se mais claras com base nas conclusões de alguns estudos.

Reep & Benjamin (1968), entre 1953 e 1968, coligiram dados relativos a 3213 jogos e constataram que 80% dos golos resultaram de sequências de jogo envolvendo três passes ou menos; e que 50% de todos os golos obtidos resultaram de uma posse de bola conquistada no terço ofensivo do terreno de jogo.

Olsen (1988), a partir da análise das jogadas que conduziram ao golo, nos jogos do campeonato mundial do México'86, concluiu que 79.2% dos golos obtidos são precedidos de cinco ou menos passes.

Bate (1988) procurou explorar a criação de oportunidades de finalização em Futebol e sua relação com os aspectos estratégicos e tácticos. Constatou que 94% dos golos obtidos em jogos internacionais foram marcados a partir de sequências de quatro ou menos passes e que 50-60% dos movimentos

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189 Estudos exploratórios

que conduziram a acções de finalização-remate, tiveram origem no terço ofensivo.

Este autor, sustenta a ideia de que atacar no terço ofensivo do terreno de jogo, frequentemente e o mais rapidamente possível, é crucial para o êxito em Futebol.

Tais recomendações estão na linha das já preconizadas por Hughes (1990), que analisou 109 jogos, dezasseis jogos em que participou o Liverpool e os restantes realizados por selecções nacionais de vários países, em campeonatos do mundo e da europa. Conclui que: (i) 87% dos golos resultam de sequências de cinco ou menos passes e que 53% dos golos resultam de zero passes; (ii) 52% dos golos resultam de jogadas em que a bola foi conquistada no terço ofensivo, 30% no terço intermédio e 18% no terço defensivo; (iii) 85% dos remates realizados resultam de jogadas envolvendo cinco passes ou menos.

Os resultados destas análises conduziram a que as acções que eram supostas conduzir a padrões de jogo "mais eficazes" fossem adoptadas em detrimento de outras "menos proveitosas". Assim, procurar reduzir o número de passes e atingir o terço ofensivo o mais rapidamente possível, implicando um baixo tempo de realização do ataque e uma elevada velocidade de transmissão da bola, parece ser a estratégia a privilegiar.

Aliás, Bate (1988) advoga a importância da utilização do estilo de jogo directo7 e refere que no Futebol, embora nenhuma fórmula garanta 100% de sucesso, os seus estudos permitem concluir que jogar segundo um estilo de jogo directo -direct play, procurando atingir o terço ofensivo mais vezes do que a equipa adversária, é a estratégia mais bem sucedida.

Todavia, a adopção destas recomendações por parte de alguns responsáveis pela condução de equipas tem gerado aquilo que no Futebol inglês se designa por estilo de jogo directo, depreciativamente conotado com o Futebol de kick and rush, i.e., de chutar e correr para a frente.

Contudo, como refere Hughes (1996), se bem que tenham provado a sua pertinência quando se reportam a jogos em que participam equipas de nível inferior, tais recomendações são muito questionáveis quando se trata de níveis de jogo mais elevados.

7Através do estilo de jogo directo, também designado por long-ball game (Hughes, 1996), procura-se jogar a bola para a frente (Catlin, 1994), aumentando o número de passes longos e de corridas com bola para a frente, reduzindo ao mínimo os passes para trás e para o lado (Hainaut & Benoit, 1979; Bate, 1988). Quando uma equipa recorre com elevada frequência a passes curtos e os jogadores, privilegiam o jogo à largura do terreno em relação ao jogo em profundidade, e enfatizam o jogo de transição, manobrando a bola no sector intermédio do terreno, diz-se que estamos em presença de um estilo de jogo indirecto (Hainaut & Benoit, 1979). Enquanto que o estilo directo é caracterizado por uma orientação sistemática das acções em direcção à baliza adversária, quase omitindo a fase de preparação do ataque, no estilo de jogo indirecto, pelo contrário, privilegia-se o jogo de transição, isto é, a fase de preparação do ataque em deferimento da fase de realização ou finalização (Teissie, 1969).

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Estudos exploratórios 190

De facto, Garganta et ai. (1995), a partir da análise de 104 sequências ofensivas que conduziram à marcação de outros tantos golos, obtidos por cinco das melhores equipas europeias em 44 jogos, encontraram resultados que reforçam esta ideia. Os autores constataram a existência de um padrão de acções que conduzem ao golo, para as variáveis consideradas, incluindo o tempo de realização do ataque e zona de conquista da posse da bola, mas com excepção do número de passes realizados.

iii) Num terceiro momento, optou-se pelo recurso à regressão logística (RL), modelo stepwise, para testar o significado estatístico de cada indicador a reter no modelo, bem como o seu poder preditivo na reclassificação das sequências. Trata-se de um modelo mais flexível do que os anteriores, dada a sua versatilidade para lidar com variáveis que se encontram em escalas de medida diferentes.

Contudo, de acordo com este procedimento, das nove variáveis apenas duas foram retidas: NJ e NctA (Quadro 20). Os seus coeficientes são significativos (p<0.05) e a sua importância constante reflecte-se para um valor global do modelo (X2

(9) = 38.31; p = 0.000).

Quadro 20 - Solução da RL (B = coeficiente de regressão; ep = erro padrão; Wald = teste de Wald; gl = graus de liberdade; p = valor da prova).

Variáveis B ep Wald fll P

NJ

NctA

- 0.467

0.173

0.16

0.07

8.59

5.09

1

1

0.0034

0.0240

Assim, foram destacados o número de jogadores envolvidos no processo ofensivo (NJ) e o número de contactos realizados pelo jogador que efectua a assistência à finalização (NctA), o que conflitua com os lotes de variáveis retidos nos modelos anteriores.

Nesta medida, seria de esperar, o que veio a acontecer, que a qualidade de solução evidenciasse, uma vez mais, problemas de reclassificação, como se pode constatar no Quadro 21, pois 88 das 127 sequências ofensivas realizadas pelas equipas de alto nível foram classificadas como pertencendo às equipas de baixo nível competitivo.

Quadro 21 - Matriz de confusão

Predita

0 1

0 39 88 30.7%

1 15 208 93 .3%

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191 Estudos exploratórios

Neste caso continua a estar patente a contradição entre a relevância estatística dos dados e a qualidade das soluções adoptadas.

Quer isto dizer que o problema parece situar-se não ao nível da comparação de variáveis consideradas per se, mas na relevância contextual dos comportamentos e acções. O sucesso no ataque está sempre em relação com a estratégia da equipa e com as configurações que se apresentam aos jogadores em cada momento (Harris & Reilly, 1988).

8.1.5. Conclusões Nas sequências ofensivas finalizadas com remate enquadrado à baliza, e

considerando as variáveis do presente estudo, através da análise da função discriminante (AFD) parece possível discriminar os grupos de acordo com o seu nível competitivo. Contudo, o recurso às matrizes de confusão revela que a qualidade das soluções é muito fraca.

Quer no procedimento AFD, considerando todas as variáveis, quer quando se pede a um perito que escolha as variáveis que melhor separam as equipas de nível de rendimento distinto, os resultados apresentam-se estatisticamente significativos mas não se revelam substancialmente relevantes.

Entendemos que os motivos que parecem justificar tal "problema" decorrem do facto do comportamento das variáveis consideradas resultar de um compromisso de interrelação e interdependência. Quando se considera apenas o peso de uma variável per se o seu significado esvazia-se de sentido na medida em que não são considerados os laços que a unem a outras variáveis, o que quer dizer que, no seu conjunto, estes resultados não podem fornecer uma imagem dos acontecimentos relevantes do jogo.

Para além disso, a matriz de confusão mostra que há sérios problemas de reclassificação das acções nos grupos originais, especialmente com o grupo de nível mais baixo, o que quer dizer que as equipas que à partida deveriam possuir uma forma de associar as variáveis que as colocariam no grupo de nível inferior são colocadas no grupo superior.

Constata-se que os sucessivos procedimentos estatísticos utilizados fazem emergir uma incoerência manifesta na possibilidade dos indicadores separarem as equipas de acordo com o seu nível competitivo, quer se considerem lotes de variáveis mais alargados ou mais restritos.

Assim, quando se utiliza este pensamento e estes procedimentos concluímos que não é viável, a partir dos indicadores utilizados, separar claramente as equipas segundo o seu nível competitivo. Contudo, as causas para este facto devem ser imputadas, sobretudo, à inexistência de um quadro conceptual que permita seleccionar e enquadrar as variáveis, de acordo com

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Estudos exploratórios 192

um pensamento de referência e em relação ao qual se possa questionar a respectiva pertinência.

Estas conclusões reforçam a nossa tese e abrem caminho para um segundo estudo, cujos objectivos são inspirados no quadro conceptual definido no presente trabalho.

Deste modo, recorreu-se a um tipo de análise mais abrangente, na qual se procurou:

i) incidir em unidades tácticas8; ii) captar a sequência e temporalidade das acções entre os oponentes; iii) alargar o espectro de variáveis e de indicadores em referência a cada

unidade táctica ofensiva (sequência ofensiva); iv) considerar a interdependência das variáveis; v) considerar não apenas as sequências ofensivas terminadas com remate

enquadrado, mas todas as que ocorreram durante o jogo, sendo objecto de análise detalhada as sequências positivas, i. e., com êxito total (concluídas com golo), êxito parcial (concluídas com remate enquadrado com a baliza), sem êxito (concluídas com remate não enquadrado com a baliza) e abortadas (concluídas sem remate embora a bola tenha sido jogada a partir, ou para, o terço ofensivo do terreno de jogo).

8.2. Estudo da organização ofensiva em equipas de alto nível competitivo com base na análise de sequências de jogo

8.2.1. Introdução No Futebol, a informação sobre a actividade competitiva é

excepcionalmente importante, na medida em que, porque reflecte a orientação básica do desenvolvimento do jogo, constitui um critério fundamental para a preparação dos jogadores e das equipas (Godik & Popov, 1993) e para a organização dos processos de ensino e treino (Gréhaigne, 1992a).

Todavia, para compreender a lógica do jogo de Futebol é importante criar um "código de leitura" que permita passar da multiplicidade à unidade, da

8 0 conceito de unidade táctica foi introduzido pelo francês René Deleplace (1979), em relação ao jogo de Râguebi. Considerando os múltiplos tipos de oposição que ocorrem no desenvolvimento duma qualquer sequência de jogo, este autor define três planos: (i) o plano colectivo total, que corresponde ao efectivo total das duas equipas em confronto; (ii) o plano colectivo de linha, que corresponde à oposição dos subgrupos, num quantitativo aproximadamente igual à metade do efectivo de cada equipa; (iii) o plano homem-a-homem, que corresponde às acções de jogo que englobam o um contra um, o dois contra um e o dois contra dois. Colocando em evidência a relação estreita entre estes planos e as diferentes fases do jogo, Deleplace preconiza a existência de unidades tácticas isoláveis, cujo encaixe permite reconstituir a "matriz do jogo", a qual engloba duas "matrizes componentes da acção": a da lógica de distribuição colectiva na fase defensiva; e a da lógica de transformação do movimento colectivo de ataque.

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193 Estudos exploratórios

diversidade à identidade e do individual ao geral, sem perder de vista o seu carácter global e unitário (Bacconi & Marella, 1995).

Nesta perspectiva, a metodologia9 ideal para abordar o jogo seria aquela que permitisse afrontar unitariamente o fenómeno sem descurar a especificidade do confronto, na sua complexa latitude.

Embora muitos dos acontecimentos que ocorrem numa partida de Futebol sejam aleatórios, a interacção que se estabelece em relação a ambas as equipas em confronto não depende exclusivamente de factores como a sorte ou o azar. Se assim fosse, o processo de preparação e treino não faria sentido.

As equipas, enquanto sistemas auto-organizados, exibem, num plano macroscópico, ordem e forma que decorrem da miríade de interacções que se processam entre os jogadores. No decurso do jogo10 cada equipa tenta perturbar ou romper o estado de equilíbrio do adversário, com o intuito de gerar desordem na sua organização.

Como tal, os jogadores procuram desenvolver acções que, no seu conjunto, contribuam para dois aspectos importantes: (1) a coerência lógica que resulta do carácter unitário dos comportamentos técnico-tácticos, reconhecidos na estabilidade e na organização da própria equipa; (2) a procura de criar desequilíbrio ou ruptura na organização da equipa opositora, com o intuito de contrariar a coerência lógica interna do adversário (Bacconi & Marella, 1995).

Deste modo, as acções duma equipa inscrevem-se numa lógica fundada em princípios de acção e regras de gestão, decorrentes de concepções e modelos de jogo, em relação aos quais pode ser aferida a coerência das acções dos jogadores. Na materialização das intenções através dos comportamentos tácticos dos jogadores, as equipas, enquanto sistemas, revelam as suas formas peculiares de organização num contexto de confronto e cooperação.

Classicamente, um sistema é descrito a partir de dois componentes: o primeiro, para construir a sua estrutura, isto é, a organização dos seus constituintes no espaço; o segundo, para descrever o seu funcionamento, ou

^Uma metodologia é uma compilação e uma táctica dos métodos susceptíveis de tratar um fenómeno ou conjunto de fenómenos (Moles, 1995).

10Nas literaturas francófona e anglófona, partida (match) e jogo (jeu, game) têm conotações distintas. O jogo é identificado com a evolução dinâmica das sucessivas sequências. É um fenómeno que decorre, ancorado no presente, no momento. A partida é aquilo que já decorreu ou vai decorrer (é tempo passado ou futuro). Trata-se do conjunto de ocorrências do jogo que já se desenvolveram ou que vão ainda desenvolver-se. O conceito de partida (encontro) é, por isso, completamente fechado, no caso de ter já decorrido (é a história dos acontecimentos, o registo em vídeo); ou totalmente aberto, quando vai ainda decorrer, na medida em que encerra o conjunto de todas as possibilidades acontecimentais futuras (é um imenso espectro de possibilidades).

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Estudos exploratórios 194

seja, os processos de organização dependentes do factor tempo (Rosnay, 1975; Dubois, 1994). Trata-se, portanto, de duas dimensões do mesmo fenómeno (Bertrand & Guillemet, 1988).

Gréhaigne (1995) propõe que no estudo do jogo de Futebol seja contemplada não apenas a dimensão estrutural, isto é, a organização espacial dos elementos constituintes do sistema (propriedade sincrónica), mas também a dimensão funcional, ou seja, o decurso temporal das acções (propriedade diacrónica).

De acordo com Ehresmann & Vanbremeersch (1991) a modelação dum sistema pode fazer-se sobre três níveis ou planos: (1) constitutivo-estrutural, que revela o estado do sistema num dado instante; (2) evolutivo-funcional, que diz respeito à evolução temporal do sistema e (3) operativo-integral, que evidencia a auto-regulação do sistema.

Todavia, no âmbito da modelação do jogo de Futebol, do ponto de vista táctico ou técnico-táctico, e salvo algumas excepções (e.g. Gréhaigne, 1989; Castelo, 1992), apenas os dois primeiros níveis têm sido contemplados, focalizando-se a análise mais no produto do que no processo.

De facto, não raramente os analistas centram-se no produto das acções, recolhendo dados do jogo sem contextualizar as acções dos jogadores e das equipas, o que faz com que se obtenha uma amálgama numérica cuja interpretação se torna difícil e pouco profícua.

Ora, a interpretação das acções e dos comportamentos dos jogadores e das equipas é fértil sobretudo a partir da análise dos processos que conduzem a certos produtos (cf. McGarry & Franks, 1996). Sendo o jogo uma sequência global configurada a partir de várias sequências parcelares, afigura-se vantajoso contextualizar as acções de jogo em referência a unidades tácticas sequenciais, para a partir delas inteligir a organização das equipas.

As sequências constituem "unidades funcionais do jogo", ou formas que, no seu conjunto, encerram informação essencial que permite configurar uma matriz organizacional das equipas, na medida em que exprimem uma funcionalidade característica.

Como tal, no presente estudo, a unidade vital de análise não é a acção do jogador, tomada isoladamente, mas as sequências ou jogadas (unidades tácticas isoláveis, cf. Deleplace, 1979), que resultam do conjunto de acções perspectivadas durante as diferentes fases do jogo ao longo da partida e permitem configurar a organização da equipa. Todavia, é importante esclarecer que não se trata de estudar o comportamento dum sistema (equipa), num determinado momento do seu curso temporal, para

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195 Estudos exploratórios

posteriormente procurar uma previsibilidade exaustiva do seu desenvolvimento futuro.

A partir da análise qualitativa e quantitativa do conjunto dos comportamentos expressos pelos jogadores nas sequências ofensivas do jogo, no presente estudo procura-se descrever a organização ofensiva das equipas, fazendo sobressair os indicadores que se associam à sua eficácia ofensiva.

No entanto, e tal como foi demonstrado no primeiro estudo deste capítulo, a relevância dos indicadores não deve ser procurada a partir da sua expressão individual, mas nas formas de interacção que expressam.

Neste sentido, visa-se, a partir de um modelo de análise centrado nas sequências ofensivas, configurar aglomerados de variáveis (clusters) que atribuam um significado substantivo às sequências mais relevantes, i.e., mais eficientes e eficazes.

Trata-se, sobretudo, de apreender comportamentos significantes das equipas que se defrontam, em relação a um sistema de coordenadas tácticas, a partir das diferentes formas de organização adoptadas na relação conflitual ao longo do jogo. Os comportamentos são considerados significantes, quer por provocarem situações de ruptura do equilíbrio do balanço ataque/defesa, quer por exibirem uma certa permanência na variabilidade, isto é, pelo facto de evidenciarem regularidades que emergem da diversidade de acções de jogo.

8.2.2. Objectivos i) Descrever a organização ofensiva de equipas de alto nível competitivo,

com base no comportamento interdependente de variáveis táctico-técnicas, qualitativas e quantitativas;

ii) a partir do comportamento das referidas variáveis, apurar se é possível discriminar as sequências ofensivas em função da sua eficácia.

8.2.3. Método 8.2.3.1. Critérios de selecção da amostra No Futebol, as competições desportivas de elevado nível são momentos

privilegiados para proceder à observação e análise do comportamento dos jogadores e das equipas.

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Estudos exploratórios 196

Os campeonatos do mundo11 e da Europa, realizados de quatro em quatro anos, representam a vitrina do progresso dos vários estilos e escolas de jogo, dos métodos e das concepções mais avançadas (Garcia, 1995), constituindo o reflexo das novas tendências (Moravec, 1982; Mombaerts, 1991) e estabelecendo os referenciais do desenvolvimento desta modalidade desportiva (Castelo, 1992).

Deste modo, a análise da actividade competitiva das equipas mais representativas à escala mundial pode contribuir para o aperfeiçoamento do processo de treino, criar condições favoráveis para a observação e aferir a pertinência dos comportamentos dos jogadores no jogo. Nesta medida, abre caminhos para a elaboração mais detalhada dos designados modelos de joqo, cujo conteúdo pode contribuir para o aumento de eficácia do processo de treino (Wrzos, 1981).

Partindo destes pressupostos, no presente estudo seleccionámos uma amostra de 497 sequências ofensivas realizadas por seis equipas de alto nível competitivo, recolhidas em quatro jogos: dois do Campeonato do Mundo USA/94 - a final (Brasil-ltália) e uma meia final (Itália-Bulgária); dois do Campeonato da Europa Inglaterra/96 - a final (Alemanha-República Checa) e uma meia final (Alemanha-lnglaterra).

A observação das sequências permitiu reunir um lençol de 5664 dados.

R.2.3.2. Recolha e registo das imagens No jogo de Futebol o ambiente é muito instável (variável), aleatório e

volátil. A quantidade de jogadores envolvidos, a natureza do confronto e as dimensões do terreno, fazem com que a forma, o ritmo e a quantidade das acções desenvolvidas pelos jogadores das equipas que se defrontam dificultem o seu registo ou, frequentemente, propiciem a ocorrência de erros, quer de observação, quer de notação.

O recurso a meios técnicos audiovisuais (videogravação), na medida em que permite manipular a variável tempo, nas sucessivas fases da partida, viabiliza a observação repetida e pormenorizada das sequências de jogo, tantas vezes quantas as desejadas, sem as desvirtuar, o que permite minimizar eventuais erros.

11 pese embora a participação de um elevado número de equipas nos diversos campeonatos do mundo de Futebol realizados, do Uruguai/1930 ao USA/1994, até ao momento apenas seis nações lograram conquistar o título mundial: a Alemanha (Suíça'54, Alemanha'74 e ltália'90), a Argentina (Argentina78 e México'86), o Brasil (Suécia'58, Chile'62, México70 e USA'94), a Inglaterra (Inglaterra'66), a Itália (ltália'34, França'38 e Espanha'82) e o Uruguai (Uruguai'30 e Brasil'50). Para além destas, somente quatro alcançaram as finais: a Checoslováquia (em 1934 e 1962), a Hungria (em 1938 e 1954), a Suécia (em 1958) e a Holanda (em 1974 e 1978), o que nos permite constatar que, durante os sessenta e quatro anos em que se realizaram quinze campeonatos mundiais, apenas um número restrito de dez equipas acedeu aos jogos da final.

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197 Estudos exploratórios

No presente estudo recorreu-se à observação sistemática (sistemas de categorias) de imagens videogravadas a partir de jogos transmitidos por estações de televisão nacionais e internacionais.

Uma das desvantagens das gravações efectuadas a partir das transmissões televisivas convencionais é que, na maior parte das vezes, apenas permitem observar os jogadores que se encontram num raio relativamente próximo da bola (Rico, 1994). Esta parcelização de imagem pode implicar perda de informação (Cabezón & Fernandez, 1996).

O ideal seria obter imagens captadas num plano zenital, cobrindo todo o terreno de jogo, sem que para tal ficasse comprometida a possibilidade de identificar cada um dos jogadores. Ora os jogos televisionados não obedecem a tais requisitos. Contudo, não obstante as limitações que lhes são inerentes, os registos videogravados assim obtidos constituem, no seu conjunto, um universo muito importante, dada a qualidade, quantidade e diversidade de informação que encerram.

As observações do presente estudo centraram-se nas sequências ofensivas e foram essencialmente dirigidas para as acções desenvolvidas junto da bola ou próximo dela.

Não obstante, entendemos que foram abarcadas as acções fundamentais, pois embora o jogador de Futebol passe a maior parte do tempo de jogo em movimentos executados sem bola (Bauer & Ueberle, 1988), ele assume, em cada posse da bola, uma posição central no processo ofensivo (Bezerra, 1995). Neste sentido, pode dizer-se que onde está a bola está o centro do jogo (Castelo, 1992) porquanto os momentos críticos são gerados em função da sua posição e da sua utilização enquanto móbil do jogo.

8.2.3.3. Explicitação das variáveis12

Com base nas sequências de jogo o recenseamento das variáveis tácticas foi efectuado com referência a três macrodimensões configuradoras da fase ofensiva do jogo de Futebol - tempo, espaço e tarefa, que constituem as variáveis latentes do estudo, cada uma das quais representada através dos respectivos indicadores, ou variáveis observadas.

No presente estudo a análise incidiu, sobretudo, no nível operativo-integral do sistema, que corresponde à dimensão organização das equipas, considerando-a uma categoria central que decorre da interacção das dimensões Espaço, Tempo e Tarefa (Figura 28).

12Das variáveis utilizadas neste segundo estudo, nove foram já explicitadas no primeiro estudo deste capítulo, razão pela qual lhes é feita apenas uma breve referência.

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Estudos exploratórios 198

Nível de análise

Dimensão p>rivilegiada

Indicadores

Constitutivo-estrutural

Espaço

• Zonas preferenciais de intervenção

• Local de aquisição /recuperação da posse da bola

• Espaço de jogo efectivo

Canais de circulação da bola (n9 de variações de corredor)

Evolutivo-funcional

Tempo e/ou aspectos parciais da tarefa

• T. realização do ataque

• N9 de passes, remates, jogadores, contactos, bolas jogadas

• Forma de aquisição ou recuperação da bola

• N9 de variações de passe (alcance, direcção/sentido)

• Velocidade transm. bola

Operativo - integral

Espaço Tempo

| ORGANIZAÇÃO

.Tarefa

• Interacção das variáveis Espaço, Tempo e Tarefa

• Tipo e resultado das sequências positivas

• Métodos de jogo ofensivo e tipo de organização defensiva

• Acções de ruptura

• Ritmo de jogo

• Eficiência ofensiva

Figura 28 - Nível de análise, dimensão privilegiada e indicadores utilizados na modelação táctico-técnica do jogo de Futebol, no presente estudo.

8.2.3.3.1. Macrodimensão Tempo O tempo constitui um dos parâmetros configuradores da estrutura dos JDC

(Delaunay, 1980; Menaut, 1982; Gréhaigne, 1988; Moreno, 1994). Na medida em que a relação entre acontecimentos descontínuos é principalmente temporal, a modelação do factor tempo toma-se vital para o entendimento do jogo (Franks & McGarry, 1996).

No âmbito do Futebol, o factor tempo condiciona vários aspectos importantes, como o ritmo de jogo, ao qual estão associados a fadiga e o estilo de jogo.

A descontinuidade, a variabilidade e a aleatoriedade que caracterizam o jogo de Futebol não se manifestam somente à escala temporal, mas são também extensivas à forma de utilização do espaço, à realização das tarefas e à sua interacção.

Contudo, no jogo, a estrutura temporal funciona com um gerador de contingências, impondo fortes constrangimentos à utilização do espaço e à realização das tarefas, e sobretudo à sua interacção, na medida em que os jogadores não podem parar para pensar, devendo tomar decisões fortemente pressionados por essa variável (Barth, 1994; Thomas & Thomas, 1994).

A complexidade existe na medida em que existe tempo (Cunha e Silva, 1996). Se, em cada momento desejado, conseguíssemos parar o jogo para, após ter analisado a configuração respectiva, o jogar em seguida, a complexidade seria obviamente menor.

Durante o jogo, o jogador de Futebol vê-se obrigado a uma permanente análise das situações, a compará-las e a tirar conclusões o mais rapidamente

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199 Estudos exploratórios

possível (Bacconi & Marella, 1995). Dada a brevidade e transitoriedade dos estímulos e a pressão temporal imposta para a selecção da informação e decisão, o que o jogo lhe reclama não é que ele seja um pensador profundo, mas um perceiver, um hábil percebedor.

Todavia, o problema é mais abrangente, pois, como sustenta Barth (1995), a qualidade da acção estratégico-táctica depende da velocidade, da precisão, dos objectivos e da variabilidade e estabilidade dos processos mentais.

Por isso, no jogo de Futebol as noções de espaço e tempo estão estreitamente relacionadas. Restringir o espaço disponível para jogar significa diminuir o tempo para agir e, nessa medida, o jogo consiste numa luta incessante pelo tempo e pelo espaço.

O desenvolvimento das acções de jogo encerra uma temporalidade que permite configurar aspectos relacionados com a forma de jogar das equipas (Miller, 1996).

Processando-se sob a forma de sequências rítmicas, o jogo traduz uma diacronia interna e evidencia uma diacronia externa (Menaut, 1982) que fazem com que o seu decurso forme um continuum que se organiza e evolui com o tempo (Moreno, 1994).

Neste sentido, o factor tempo está também indissoluvelmente ligado à quantidade e à qualidade das tarefas do jogo. Esta temporalidade pode ser perspectivada em função da velocidade e quantidade de acções de jogo desenvolvidas num, ou em vários, períodos de tempo determinados.

Trata-se de um parâmetro configurador da lógica interna do jogo (Moreno, 1994) que Hemández-Pérez (1994) designa por tempus. Este constitui, segundo o autor, um parâmetro da lógica interna da modalidade a que respeita, que se refere tanto à actuação do indivíduo, como ao desenvolvimento geral do jogo e que reflecte a velocidade e a quantidade de acções motoras que caracterizam a acção de jogo num período determinado.

Dado que a efectividade em Futebol decorre da interacção do tempo com o espaço (Schõn, 1977; Singh, 1994), trata-se de duas noções vitais para entender este jogo desportivo, as quais remetem claramente para a interligação dos factores que permitem configurar a lógica de actuação dos jogadores e das equipas.

Variáveis observadas Tempo de jogo decorrido (Tjd) Por Tjd o observador deverá considerar o período de tempo que decorreu

desde o início do jogo até ao momento em que tem lugar a acção de posse da bola relativa ao início da sequência de jogo observada.

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Estudos exploratórios 200

Foi anotado o Tjd para cada sequência ofensiva observada (Ficha do ^-momento, Anexo 2). No início do jogo, que corresponde ao primeiro contacto com a bola no pontapé de saída, o cronometro incorporado no videogravador foi colocado em 00/00". A partir deste momento, o cronometro indicava automaticamente o Tjd correspondente a cada acção observada.

Para análise da evolução dos indicadores observados, em relação a esta variável, o Tjd foi dividido em seis períodos, com igual duração, de 15 minutos (de Q1 a Q6): Q1 [0 - 15[, Q2 [15 - 30[, Q3 [30 - 45[, Q4 [45 - 60[, Q5 [60 - 75[, Q6 [75 - 90].

Entre outros fraccionamentos de tempo possíveis, este, para além de nos parecer equilibrado, afigura-se mais vantajoso, na medida em que permite comparar os resultados do presente estudo com outros relativos a trabalhos realizados no mesmo âmbito, cuja divisão do tempo é semelhante (e.g. Castelo, 1992; Claudino, 1993).

Tempo de realização do ataque (TRA) Neste estudo, por TRA o observador deverá considerar o período de tempo

que medeia entre o início do processo ofensivo (primeiro contacto com a bola) e a sua conclusão através de:

(1) remate enquadrado com a baliza, o qual pode provocar pelo menos uma das seguintes situações: (i) golo; (ii) defesa do guarda-redes; (iii) intercepção de um jogador da equipa que defende, que constitua o último obstáculo móvel a transpor, substituindo posicionalmente o guarda-redes da sua equipa; (iv) embate da bola nos postes ou na barra.

(2) remate não enquadrado que implique perda de posse da bola; (3) qualquer acção que implique perda de posse de bola, desde que

respeite as condições relativas ao conceito de posse de bola já definido e se desenvolva no sector ofensivo ou a partir dele.

O tempo gasto em cada sequência foi contabilizado recorrendo ao cronometro integrado no vídeo com contagem do tempo real.

O observador registou (Ficha do 19 momento, Anexo 2), em relação a cada equipa e para cada sequência ofensiva, o tempo decorrido entre o primeiro contacto de um dos seus jogadores com a bola, e que corresponde ao início da sequência ofensiva, e o momento do último contacto com a bola realizado pelo mesmo, ou por outro dos seus jogadores nessa mesma sequência.

Velocidade de transmissão da bola (VTB) Dugrand (1989) efectua a análise do jogo a partir de comportamentos

ofensivos dos jogadores e das equipas, propondo como quadro de referência o jogo de passes rápidos ou passes directos. O autor parte da hipótese que o jogo de passe rápidos constituiu uma mais-valia ofensiva, à qual estão

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201 Estudos exploratórios

associados vários factores importantes: desmarcações, combinações tácticas, jogo sem bola, prática efectiva da entreajuda e da antecipação.

O autor propõe a utilização de um índice: a velocidade de transmissão da bola (VTB), cujos valores são encontrados a partir do quociente entre o número de bolas recebidas (NR) por um jogador e o número de contactos (Net) por ele realizados aquando em posse da bola. Donde, VTB = NR/Nct.

A VTB é um indicador cuja pertinência e consistência dependem, necessariamente, da definição das condições de oposição (configuração do jogo) e do resultado da acção. Todavia, Dugrand trata as acções de jogo como se estas fossem equivalentes, na medida em que esta metodologia não considera as estratégias empregues, nem as escolhas tácticas efectuadas (Gréhaigne, 1989).

No presente estudo foi registada a VTB das equipas para as respectivas sequências ofensivas (Ficha global de registo das observações - Anexo 2).

8.2.3.3.2. Macrodimensão Espaço No jogo de Futebol, as sagacidades técnicas e tácticas focalizam-se neste

elemento - o espaço - o qual, está estreitamente ligado ao factor tempo. Tendo mais espaço disponível, tem-se também mais tempo para decidir e optar pela melhor solução (Comucci, 1983).

Aliás, Kovacs, em 1977, chamava à atenção para o facto da relação espaço-tempo ser a condicionante fundamental do futebol. Batty (1981) e Michels (1981) referem que cada vez a marcação aos jogadores é mais rigorosa, o que faz com que estes disponham de menos tempo e espaço para agir.

A competência de um jogador deve ser perspectivada em função destes factores, na medida em que para duas acções formalmente semelhantes, a alteração da relação espaço-tempo faz variar drasticamente a possibilidade dela poder ser executada duma forma eficiente e eficaz.

Toda a acção de ataque tem por objectivo criar e aproveitar espaço e, consequentemente, toda a acção defensiva tende para o fecho destes espaços na vizinhança, quer da bola, quer do jogador que está para entrar na sua posse.

Mas, no Futebol, o espaço de acção não pode ser apenas perspectivado como uma estrutura geométrica onde se produzem deslocamentos e se projectam as técnicas, ou um sistema de eixos e planos segundo os quais os jogadores referenciam os seus movimentos. O espaço é sobretudo um quadro referencial de pensamento e acção, através do qual se desenvolvem outras acções, com base em modelos representativos da experiência do jogador.

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Estudos exploratórios 202

Por isso, o conceito de espaço, e a sua representação ideomotora, não se restringem às dimensões e marcações físicas assinaladas no terreno de jogo13. O jogador constrói um outro espaço de jogo, auto-referente, dentro das restrições físicas impostas pelo regulamento. É um espaço configuracional, ou informacional, que decorre da sua interacção com os demais elementos: bola, colegas, adversários, etc., a partir da sua percepção, do seu conhecimento e da sua acção.

Temos assim um espaço formal, físico, definido pelo regulamento; um espaço conformacional, definido pela posição dos jogadores no terreno; e um espaço informacional, não explícito, que resulta da construção cognitiva dos jogadores, a partir da experiência acumulada, face às situações com que deparam no decurso do jogo.

Variáveis observadas Local de aquisição ou recuperação da posse da bola (LAR) Por LAR o observador deverá entender a zona do terreno de jogo (sector e

corredor) na qual se desenvolve a acção observada. Para o presente trabalho, e a partir dos modelos de divisão do terreno de

jogo preconizados por Worthington (1974), Zerhouni (1980), Kacani (1981), Wrzos (1984), Luhtanen et ai. (1986), Mombaerts (1991), Castelo (1992), Gréhaigne (1992) e Godik & Popov (1993), foi elaborado um modelo topográfico de referência com 12 zonas (C), resultantes da justaposição da divisão transversal do terreno de jogo em quatro sectores (A) com a divisão longitudinal em 3 corredores (B), tal como se pode observar na Figura 29.

13Neste contexto, duas noções se revelam importantes: {\)conformação, i.e., o estado estrutural no qual cada constituinte ocupa uma certa posição no espaço (Eigen & Winkler, 1989). É um dado objectivável que decorre da posição absoluta e relativa dos jogadores, num dado momento, no terreno de jogo; (2) configuração, i.e., o aspecto/formato exterior de um sistema (jogo-equipa) captado por um sujeito, num dado momento, não apenas a partir da posição dos jogadores no terreno e na constelação equipa, mas também de acordo com as "linhas de força" do jogo (fase de ataque ou defesa; relação de superioridade, igualdade ou inferioridade numérica; zona do terreno de jogo; posição da bola, ...) e as suas possibilidades de evolução (Harris & Reilly, 1988; Gréhaigne, 1989). O termo configuração tem uma conotação constructivista e cognitivista na medida em que, enquanto forma de representação mental e/ou física, decorre duma "construção" do sujeito realizada a partir de informações cuja captação depende do conhecimento que este dispõe acerca da actividade em causa.

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203 Estudos exploratórios

® Meio campo defensivo | Meio campo ofensivo

sector defensivo

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sentido do ataque

Figura 29 - Campograma correspondente à divisão topográfica do terreno de jogo em 12 zonas (C), a partir da justaposição de 4 sectores transversais (A): SD (sector defensivo), SMD (sector médio defensivo), SMO (sector médio ofensivo), SO (sector ofensivo) e 3 corredores longitudinais (B): CD (corredor direito), CC (corredor central), CE (corredor esquerdo).

Embora a esta divisão do espaço não correspondam marcações físicas assinaladas no terreno de jogo, no domínio do treino e da competição ela tem constituído um referencial importante para a orientação dos jogadores, nomeadamente na definição do estatuto posicionai e da diferenciação de funções.

Numa primeira fase do presente estudo, as zonas foram codificadas através de números. Todavia, fomos constatando que a utilização de letras correspondentes às iniciais dos sectores e corredores respectivos nos permitia uma leitura mais directa dos resultados.

O campograma ficou então definido a partir das seguintes zonas: DD (defensiva direita), DC (defensiva central), DE (defensiva esquerda), MDD (média defensiva direita), MDC (média defensiva central), MDE (média defensiva esquerda), MOD (média ofensiva direita), MOC (média ofensiva central), MOE (média ofensiva esquerda), AD (avançada direita), AC (avançada central), AE (avançada esquerda).

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Estudos exploratórios 204

Para cada sequência ofensiva estudada, foi registada a zona do campograma que correspondia ao primeiro momento de posse de bola (Ficha do 1 9 momento, Anexo 2).

Espaço de jogo efectivo (EJE) O EJE é um procedimento de avaliação utilizado pela primeira vez em

1976, a propósito da observação de jogos desportivos colectivos, nos Jogos Olímpicos de Montreal (Mérand, 1976; Buono & Jade, 1977).

Trata-se de uma superfície poligonal configurada a partir das linhas que unem os jogadores que se encontram no interior do espaço de jogo regulamentar, situados, num instante T, na periferia do espaço ocupado pelas equipas que se defrontam, excluindo os guarda-redes (Figura 30).

sentido do ataque ►

o

Figura 30 - Espaço de jogo efectivo das equipas em confronto num instante T.

As sucessivas transformações temporais das configurações definidas permitem obter informação sobre:

• a colocação preferencial e as zonas privilegiadas de intervenção dos jogadores e das equipas, fornecendo elementos sobre a adaptação espacial dos jogadores, nas relações de cooperação com os companheiros e de confronto com os adversários;

• circulação do móbil de jogo (a bola), em relação ao espaço de jogo.

No presente estudo recorremos à noção de EJE para identificar, quanto à localização e forma, as acções correspondentes ao início da circulação da bola para as respectivas sequências ofensivas. Os dados obtidos complementam os do ponto relativo ao LAR.

Como foi já referido, o LAR indica a localização do primeiro momento de posse de bola numa dada sequência ofensiva, com referência à topografia do terreno de jogo, de acordo com o espaço regulamentar pré-definido. A utilização do EJE enquanto referência permite determinar a localização das acções, não em relação ao espaço regulamentar, mas em relação à

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205 Estudos exploratórios

colocação dos jogadores de ambas as equipas num dado momento (ver Figura 30).

Para cada sequência ofensiva foi registada (Ficha do 1Q momento, Anexo 2) uma das seguintes possibilidades: (i) circulação da bola à periferia do EJE através de passe (PP); (ii) circulação da bola à periferia do EJE através de condução (PC); (iii) circulação da bola fora do EJE (FR); (iv) circulação da bola no interior do EJE através de passe (IP); (v) circulação da bola no interior do EJE através de condução (IC).

Número de variações de corredor (NVC) As diversas sequências que ocorrem ao longo do jogo são orientadas em

função dos alvos, a atacar e a defender. Nesse sentido, é criada uma dinâmica que pressupõe formas de jogo que implicam a gestão do espaço numa articulação da componente profundidade (por corredor) com a componente largura (por sector).

O NVC pode fornecer indicações importantes relativas à amplitude das acções ofensivas (Gowan, 1982). Trata-se duma variável que diz respeito ao número de vezes que, na sequência ofensiva, a bola circula, através de passe, para um corredor diferente.

8.2.3.3.3. Macrodimensão Tarefa A dimensão tarefa representa a acção ou acções desempenhadas pelos

jogadores nas diferentes fases do jogo, de acordo com os constrangimentos de espaço e tempo que se lhes deparam. Por outro lado, a própria natureza da tarefa, considerando a sua eficiência e eficácia, induz constrangimentos relativamente às dimensões espaço e tempo.

As acções que os jogadores realizam num jogo não decorrem de tarefas únicas, mutuamente exclusivas e irreversíveis, mas resultam da assunção de papéis reversíveis diversos, que vão sendo desempenhados alternadamente ao longo do jogo pelo conjunto de jogadores.

A actividade dos jogadores organiza-se em função de escolhas tácticas e de formas de execução em torno de quatro papéis fundamentais: (i) portador da bola; (ii) companheiro do portador da bola; (iii) adversário do portador da bola; iv) adversário do jogador atacante não portador da bola.

Variáveis observadas Forma de aquisição ou recuperação da posse da bola (FAR) Por FAR o observador deve entender as formas de aquisição ou de

recuperação da posse da bola que correspondem ao início do processo ofensivo.

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Estudos exploratórios 206

Para efeitos de registo (Ficha do 1 9 momento, Anexo 2) foram considerados os seguintes tipos: i) pontapé de saída (PS), no início e reinício do jogo, ou após a marcação de um golo; ii) pontapé de baliza (PB); iii) fora-de-jogo do adversário (FJ); iv) fragmentos constantes do jogo (FCJ): canto (c), arremesso da bola pela linha lateral (II), livre directo (Id) ou indirecto (li); defesa (Def)/ reposição da bola pelo guarda-redes (RGR); v) falta do adversário (Ft); vi) erro adversário (Err); vii) intercepção (I); viii) desarme (D).

Número de contactos com a bola (Net) O observador deverá registar o número de contactos com a bola realizados

em cada sequência ofensiva observada (Ficha do 2- momento, Anexo 2).

Passes: número, alcance, direcção/sentido O passe representa uma das acções mais frequentemente realizadas no

decurso de um jogo de Futebol (Hughes, 1994). Como elemento de ligação-comunicação através da bola (Vaz, 1962), confere unidade e identidade colectiva às equipas (Accame, 1991) e constitui um instrumento privilegiado para contrariar a oposição defensiva do adversário.

Todavia, para que o passe possa constituir um elemento importante da análise táctica na fase ofensiva do jogo, a sua análise, como sustenta Riera (1995a), não deve restringir-se ao plano quantitativo.

No presente estudo, em cada sequência ofensiva, para além do número de passes (NP), foram anotados os respectivos alcances (curto/médio, longo) e direcção/sentido (frente, trás, lado) de cada um (Ficha do 2- momento, Anexo

2). Se a observação da direcção e sentido do passe não suscita dúvidas

dignas de registo, o mesmo já não se pode dizer da componente alcance. Para solucionar este problema registou-se um passe curto/médio (Pct)

sempre que a bola foi transmitida na mesma zona topográfica ou numa das zonas contíguas assinaladas no campograma (Anexo). Quando a bola, ao ser transmitida entre dois elementos da mesma equipa, cruzou uma das zonas contíguas à da origem da acção e foi jogada numa terceira zona, registou-se um passe longo (Plg).

Apenas foram contabilizadas como passes as acções em que a bola foi efectivamente transmitida a um elemento da mesma equipa.

Número de variações de passe (NVP) O NVP diz respeito ao número de variações de passe para cada sequência

ofensiva analisada, relativamente às dimensões alcance (NVPa) e direcção/sentido (NVPd/s).

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207 Estudos exploratórios

É uma variável que, do nosso ponto de vista, pode fornecer indicações importantes relativas à variabilidade das acções ofensivas, nomeadamente no que se refere à sua amplitude e profundidade.

O observador deve registar o número de variações de alcance (a) e direcção/sentido (d/s) dos passes para cada sequência ofensiva (Ficha do 2-momento, Anexo 2).

Número de jogadores que contactam a bola (NJ) O observador deverá registar, em relação à equipa que ataca, o número de

jogadores que contactam com a bola em cada sequência ofensiva (Ficha do 39 momento, Anexo 2).

Número de bolas recebidas (NR) No presente estudo o observador deverá registar o total de NR pelos

jogadores da mesma equipa em cada sequência ofensiva observada (Ficha do 39 momento, Anexo 2).

Número de bolas conquistadas (NC) No presente estudo o observador deverá registar o NC pelos jogadores da

mesma equipa para cada sequência ofensiva observada (Ficha do 39

momento, Anexo 2).

Bolas jogadas (BJ) Se numa sequência de jogo um jogador, após ter recebido ou conquistado

a bola, realiza vários contactos com ela, apenas verá registada uma BJ. Este facto conduz a que a intenção de quantificar o volume de jogo efectuado com bola, como pretende Gréhaigne (1989), não nos pareça viável a partir de tal entendimento, na medida em que entre o momento em que um jogador conquista a bola ou a recebe e o momento em que deixa de estar na sua posse, poderá realizar vários contactos que, desta forma, serão omitidos.

Deste modo, parece-nos importante adicionar ao NC e NR o número de contactos realizados com a bola (Net), no sentido de melhor caracterizar o volume de jogo com bola, encontrando assim o total de bolas jogadas (BJt), donde BJt = NR+NC+Nct.

No presente estudo, foram registadas as BJ e as BJt das equipas para cada sequência ofensiva (Ficha global de registo das observações, Anexo 2).

8.2.3.3A Macrodimensão Organização da Equipa A organização das equipas pode ser configurada a partir do modo como os

jogadores estruturam o espaço de jogo, gerem o tempo e realizam as tarefas,

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Estudos exploratórios 208

considerando a interacção destas dimensões ao longo das diferentes fases do jogo (ataque e defesa).

Variáveis observadas Sequências ofensivas (S) Em cada jogo foram registadas todas as sequências ofensivas, para

ambas as equipas envolvidas, de acordo com a sua ordem de ocorrência, considerando a seguinte tipologia:

i) SP (sequência positiva) - sempre que a sequência é concluída com remate (enquadrado ou não), e/ou sempre que a bola é jogada no meio campo ofensivo, ou a partir dele, mesmo que a sequência não seja concluída com remate.

ii) SN (sequência negativa) - sempre que a bola não chega a ser jogada no meio campo ofensivo, ou a partir dele, nem a sequência é concluída com remate.

Apenas foram objecto de análise detalhada as sequências ofensivas positivas. O critério que preside à definição de sequência ofensiva decorre do conceito de posse da bola que a seguir se explicita.

O conceito de posse de bola, utilizado para identificar que um jogador ou uma equipa se encontram na fase ofensiva do jogo de Futebol quando a detêm (Wrzos, 1984), aparentemente não coloca objecções.

Contudo, em observações efectuadas em estudos anteriores (Garganta & Gonçalves, 1994; Garganta et ai., 1995), constatámos situações nas quais um jogador da equipa que defende toca acidentalmente a bola, intercepta-a, voltando esta a ser jogada pelo adversário, ou a envia para fora do terreno de jogo. Isto implica que se clarifique a noção de "posse da bola", na medida em que os contactos casuais com a mesma, realizados por jogadores em fase defensiva, quando estes, por exemplo, tentam afastá-la de zonas perigosas, traduzem não uma atitude ofensiva mas defensiva (Castelo, 1992).

Sledziewski & Ksionda (1983a) chamam também à atenção para situações que ocorrem durante um jogo de Futebol, nas quais uma equipa, encontrando-se momentaneamente em posse da bola, não manifesta a intenção de finalizar, nem de se aproximar da baliza adversária. Estes casos surgem, frequentemente, quando uma equipa pretende jogar para manter um resultado que lhe é favorável. Por tal motivo, estes autores consideram que ocorre um processo ofensivo apenas quando uma equipa detém a posse da bola e desenvolve um conjunto de procedimentos técnico-tácticos individuais e colectivos que tenham como resultante qualquer uma das seguintes situações: (1) finalização - remate; (2) passe para dentro da pequena área

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209 Estudos exploratórios

adversária, de forma intencional e organizada; (3) livre directo perto da grande área adversária; (4) pontapé de canto.

Contudo, estes autores, ao considerarem apenas as acções interrompidas na fase de criação de situação de finalização, ou na fase de finalização, ignoram todos os processos ofensivos que terminam ainda na fase de construção, mesmo aqueles em que os jogadores não demonstram apenas a intenção de manter a posse da bola e pretendem atacar a baliza contrária.

Face a este quadro, Castelo (1992) estabelece para a observação e identificação dos processos ofensivos em Futebol, dois princípios fundamentais: i) uma equipa encontra-se em processo ofensivo quando detém a posse da bola; ii) uma equipa está na posse da bola, quando um dos seus jogadores detém a bola perfeitamente dominada em termos técnico-tácticos.

No entanto parece-nos que a expressão "bola perfeitamente dominada" poderá encerrar, do ponto de vista metodológico, alguma ambiguidade, na medida em que é plausível a ocorrência de uma sequência de jogo composta por uma sucessão de acções périclitantes, ressaltos, passes pouco precisos, etc., sem que isso comprometa a continuidade da jogada ou provoque uma perda da posse da bola, podendo até resultar num golo ou numa situação de grande perigosidade para a baliza do adversário. Isto é, não tendo estado a bola "perfeitamente dominada" a equipa conseguiu responder positivamente aos imperativos ditados pela fase ofensiva do jogo.

Numa tentativa de clarificação e objectivação, adoptamos os seguintes critérios para a observação deste indicador. Uma equipa encontra-se na posse da bola, e portanto em processo ofensivo, quando qualquer um dos seus jogadores respeita, pelo menos, uma das seguintes situações: (1) realiza pelo menos três contactos consecutivos com a bola; (2) executa um passe positivo (permite manter a posse da bola); (3) realiza um remate (finalização).

Em relação ao início da posse de bola foram analisados os seguintes indicadores: tempo de jogo decorrido; local/zona do terreno, ponto de circulação da bola relativamente ao espaço de jogo efectivo e forma de aquisição /recuperação da bola.

Resultado da sequência ofensiva positiva (Result) Embora todas as sequências tivessem sido contabilizadas, apenas as

sequências positivas, em número de duzentas e trinta, foram objecto de análise detalhada, em função do seu resultado. Para o efeito foram considerados quatro tipos:

• Êxito total (ET) - quando a sequência termina com a obtenção de um golo.

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Estudos exploratórios 210

• Êxito parcial (EP) - quando a sequência termina com a realização de um remate enquadrado com a baliza, sem obtenção de golo (a bola é defendida pelo guarda-redes, ou embate nos postes ou na trave).

• Sem êxito (SE) - quando o ataque é finalizado com remate não enquadrado com a baliza e a bola sai pela linha de baliza do sector ofensivo correspondente.

• Abortado (Abort) - quando a sequência ofensiva não chega a ser finalizada com remate, pelo facto da equipa que ataca ter perdido a posse de bola durante as fases de recuperação ou transição.

A partir dos dados obtidos, e de acordo com os procedimentos referidos por Dufour (1983), Piechniczeck (1983), Mombaerts (1991) e Godik & Popov (1993), foram calculadas:

1. Eficácia ofensiva relativa (EOR)

EOR = número remates à baliza/número de ataques x 100

2. Eficácia ofensiva absoluta (EOA)

EOA = número golos/número de ataques x 100

3. Eficácia defensiva relativa (EDR)

EDR = número remates à baliza permitidos/número ataques do adversário x 100

4. Eficácia defensiva absoluta (EDA)

EDA = número golos sofridos /número ataques do adversário x 100

Número de variações de ritmo nas acções de jogo (NVRt) O ritmo de jogo é uma variável que representa o intervalo de tempo que

medeia entre o início de uma acção e o início da acção subsequente (F.I.G.C., 1991). Deste modo, permite perceber a ordem, agrupamento e periodicidade14 das acções fortes (intensas, rápidas) «-» acções fracas (pouco intensas, lentas), numa ou várias sequências de jogo.

Ao longo dos anos, tem-se verificado que a capacidade para imprimir um ritmo rápido e, sobretudo, para variar o ritmo ao longo de um jogo de Futebol constitui um importante argumento táctico das equipas de alto nível (Teissie, 1969; Roach, 1970; Wrzos, 1984; Leali, 1985; Gréhaigne, 1989; Palfai, 1989; Marchai & Lété, 1990; Mombaerts, 1991; Garganta et ai., 1995; Leali, 1996;

Castelo, 1996). Esta capacidade é materializada através das variações de velocidade

realizadas pelos jogadores na execução das acções motoras, as quais induzem variações no ritmo do jogo, provocando um aumento da margem de incerteza para o adversário.

14Segundo Rigal et ai. (1979), a análise do ritmo numa ou várias acções implica o conhecimento de duas facetas: i) a estrutura, que se consubstancia na ordem e no agrupamento dos estímulos; ii) a periodicidade, traduzida na regularidade de estrutura, segundo as durações particulares.

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211 Estudos exploratórios

O ritmo de jogo tem uma importância maior no ataque do que na defesa devido ao poder de iniciativa determinado pela posse da bola (Teodorescu, 1977), pois a equipa que detém a posse de bola dispõe também de mais possibilidades de o controlar (Castelo, 1994).

Neste sentido, as acções executadas com bola consubstanciam o "centro do jogo" e constituem, por isso, um regulador do seu ritmo. Sabe-se, por exemplo, que o passe e o deslocamento com condução da bola, estão directamente relacionados com o abrandamento ou a aceleração do ritmo de jogo (Riera, 1995a).

A qualquer momento, não obstante a oposição defensiva do adversário, quem tem a bola tem a possibilidade de induzir variações de ritmo e de aumentar a margem de incerteza para o adversário, podendo provocar desequilíbrios no balanço ataque/defesa.

No presente estudo, a análise centrou-se nas tarefas realizadas com bola, tendo-se registado o ritmo de execução relativamente às acções desencadeadas por cada jogador que contactou com a bola na sequência ofensiva. A partir do seu conjunto foram determinadas as respectivas variações de ritmo para cada sequência ofensiva (Ficha do 4g momento, Anexo 2).

O ritmo foi tipificado segundo duas categorias: • rápido (Rp) - sempre que o portador da bola, através da sua intervenção,

originou ou manteve um ritmo de jogo rápido, desencadeando acções rápidas/intensas, cíclicas ou acíclicas: remate, passe longo, condução da bola com corrida rápida ou sprint, passe rápido, controlo da bola em velocidade, drible em velocidade, tackle ofensivo;

• lento/médio (Lt) - sempre que o portador da bola através da sua intervenção originou ou manteve um ritmo de jogo lento, desencadeando acções lentas e pouco intensas, cíclicas ou acíclicas: condução da bola a trote, controlo da bola parado, em marcha, ou em corrida lenta, passe lento.

Acção de ruptura (Ac rupt) No Futebol, o golo está no centro da dinâmica do jogo e representa o

elemento em relação ao qual se orientam as intenções técnico-tácticas dos jogadores (Petrocchi & Roticiani, 1996).

O ataque, face à defesa, procura criar situações que provoquem um desequilíbrio das forças em presença, tentando criar superioridade numérica e/ou vantagem espacial. Adoptando comportamentos de sinal contrário, a defesa tenta anular a possibilidade dessas situações ocorrerem, procurando apoderar-se da bola para assim poder deter a iniciativa do jogo, isto é, passar à fase de ataque.

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Estudos exploratórios 212

No decorrer de um jogo, até conseguir marcar um golo, os jogadores devem garantir o cumprimento de princípios e procurar alcançar objectivos intermédios, desenvolvendo acções parcelares. Neste sentido, o processo ofensivo abrange todas as acções realizadas pelos jogadores pertencentes à equipa que detém a posse da bola, e que ocorrem com base em cascatas de objectivos, hierarquizados em função da finalidade do jogo: manter a posse da bola, aproximar-se da baliza adversária, marcar golo.

A criação de oportunidades para finalizar ou marcar de um golo resulta, na maior parte dos casos, de acções que induzem alterações no equilíbrio de forças do ataque em relação à defesa contrária, em favor do ataque. Essas acções correspondem a pontos de ruptura que desencadeiam o desequilíbrio do balanço ataque/defesa (Gréhaigne, 1992).

Toda a acção que desencadeie o desequilíbrio do balanço ataque-defesa e, por isso, provoque uma configuração de jogo ofensivo claramente favorável, conduzindo à finalização (remate), designámo-la por acção de ruptura.

No presente estudo só foram consideradas acções de ruptura as acções que motivaram directa ou indirectamente a finalização através de remate numa sequência ofensiva.

Registámos (Ficha do 4- momento, Anexo 2), para sequência ofensiva concluída com remate, a acção de ruptura correspondente, tendo sido considerados os seguintes tipos: (i) passe (curto/médio ou longo); (ii) combinação 1-2 (tabelinha); (iii) drible; (iii) erro defensivo do adversário; (iv) falta do adversário.

Método de jogo ofensivo (MJO) Os métodos de jogo compreendem um conjunto coordenado de princípios,

de dispositivos e de acções técnicas individuais, que tem por objectivo a organização racional do ataque e da defesa, a passagem rápida da situação defensiva à situação ofensiva e vice-versa (Teissie, 1969).

Os métodos de jogo representam a forma geral de organização das acções de jogo (Castelo, 1992) e (cf. Teissie, 1969; Wrzos, 1984) exprimem-se através do modo como os jogadores/equipas: (1) ocupam o terreno de jogo e nele se movimentam; (2) gerem o tempo de jogo, impondo o ritmo ou adaptando-se ao do adversário; (3) coordenam as tarefas nas acções individuais, de grupo e colectivas.

Por MJO o observador deverá entender a forma como os jogadores duma equipa desenvolvem o processo ofensivo, desde o momento da aquisição ou recuperação da posse da bola, até ao momento de finalização ou perda da posse da bola.

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213 Estudos exploratórios

Para caracterizar esta variável foram consideradas as seguintes referências:

(1) relação de forças da equipa que defende, equilíbrio ou desequilíbrio espacial, face ao ataque, no momento da conquista ou aquisição da posse de bola (2) tipo de passes utilizados (direcção/sentido, alcance) (3) número de passes utilizados (4) tempo de realização do ataque (5) ritmo de jogo

Baseados em Teodorescu (1977), Wrzos (1984), Mombaerts (1991) e Castelo (1994), considerámos três métodos de jogo ofensivos fundamentais: contra-ataque, ataque rápido e ataque posicionai.

• Contra-Ataque (CA) É uma acção táctica que consiste em, logo após ter conquistado a bola no

meio campo defensivo próprio, procurar chegar o mais rapidamente possível à baliza adversária, sem que o oponente tenha tempo para se organizar defensivamente (Ramos, 1982).

Características (cf. Teissie, 1969; Wrzos, 1981; Ramos, 1982; Castelo, 1994):

(1) a bola é conquistada no meio campo defensivo e a equipa adversária apresenta-se avançada no terreno de jogo e desequilibrada defensivamente (2) utilizam-se sobretudo passes longos e para a frente. A circulação da bola é realizada mais em profundidade do que em largura, com desmarcações de ruptura (3) passes em número reduzido (igual ou inferior a 5) (4) rápida transição da zona de conquista da bola para a zona de finalização; baixo tempo de realização do ataque, em regra, igual ou inferior a 12" (5) ritmo de jogo elevado (elevada velocidade de circulação da bola e dos jogadores)

• Ataque Rápido (AR) A diferença entre este método e o contra-ataque reside no facto de que

enquanto no primeiro se assegura as condições mais favoráveis para preparar a fase de finalização antes da defesa contrária se organizar, no ataque rápido a fase de finalização é preparada já com a defesa adversária organizada (Castelo, 1992).

Características (cf. Teissie, 1969; Wrzos, 1981; Ramos, 1982; Castelo, 1994):

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Estudos exploratórios 214

(1) a bola é conquistada no meio campo defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se equilibrada defensivamente (2) a circulação da bola é realizada em profundidade e em largura, com passes rápidos, curtos e longos alternados, e desmarcações de ruptura (3) 7 é o número máximo de passes realizados (4) tempo de realização do ataque não ultrapassa, em regra, os 18" (5) ritmo de jogo elevado (elevada velocidade de circulação da bola e dos

jogadores)

• Ataque Posicionai (AP) É uma forma de ataque em que a fase de construção se revela mais

demorada e elaborada e na qual a transição defesa-ataque se processa com predominância dos passes curtos, desmarcações de apoio e coberturas ofensivas.

Características (cf. Teissie, 1969; Wrzos, 1981; Ramos, 1982; Castelo,

1994): (1) a bola é conquistada no meio campo defensivo ou ofensivo e a equipa adversária apresenta-se equilibrada defensivamente (2) a circulação da bola é realizada mais em largura do que em profundidade, com passes curtos e desmarcações de apoio (3) realiza acima de 7 passes (4) tempo de realização do ataque elevado (superior a 18") (5) ritmo de jogo lento relativamente aos dois métodos anteriores (menor velocidade de circulação da bola e dos jogadores)

No Futebol as equipas recorrem frequentemente à combinação de vários métodos de jogo ofensivo, não só ao longo da partida, como na mesma sequência ou jogada. Neste sentido, para além dos métodos de base referidos, foram consideradas as seguintes formas de organização compostas (Castelo, 1992): ataque posicionai passando a ataque rápido; ataque rápido passando a ataque posicionai; contra-ataque passando a ataque posicionai; contra-ataque passando a ataque rápido.

Tipo de organização defensiva (TOD) Por TOD o observador deverá entender a forma como os jogadores duma

equipa, em oposição ao ataque, desenvolvem o processo defensivo, desde o momento em que perderam a posse de bola até ao momento da sua reaquisição.

Para caracterizar esta variável foram consideradas as seguintes referências:

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215 Estudos exploratórios

(1) tipo de oposição, i.e., a forma activa ou passiva como a equipa que defende procura opor-se à manutenção da posse de bola, à progressão do adversário no terreno e à finalização

(2) colocação dos jogadores no terreno de jogo, relativamente à "linha da bola"1*.

Para efeitos de registo (Ficha do 59 momento, Anexo 2) foram considerados os seguintes tipos:

• Zona activa (ZA) (1) oposição activa, procura activa da bola no 1/2 campo defensivo,

marcação pressionante sobre o portador da bola (2) defesa equilibrada com elevada percentagem dos jogadores

colocados atrás da linha da bola (igual ou superior a 80%)

• Zona passiva (ZP) (1) oposição passiva, contenção no 1/2 campo defensivo, defesa recuada

no terreno, não há procura activa da bola (2) defesa equilibrada, com todos os jogadores, ou grande percentagem

(igual ou superior a 80%), colocados atrás da linha da bola

• Contenção avançada (Cav) (1) oposição passiva, contenção no 1/2 campo adversário, não há procura

activa da bola, marcação directa, embora não pressionante, ao portador da bola

(2) defesa equilibrada, avançada no terreno, com todos os jogadores, ou grande percentagem (igual ou superior a 80%), colocados atrás da linha da bola

• Pressing (Press) O pressing é uma acção defensiva de "opressão" exercida em particular

sobre o portador da bola, de modo a retirar-lhe espaço e tempo para agir. Não é uma acção individual mas de grupo ou colectiva (Ramos, 1982; Bonizzoni, 1988).

Neste sentido, a acção de pressing, implica uma oposição activa, i.e., a procura activa e rápida da posse de bola em todo o terreno de jogo, criando superioridade numérica junto do portador da bola.

15Linha imaginária que, atravessando a bola, é paralela às linhas do meio campo e de baliza e perpendicular às linhas laterais do terreno de jogo.

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Estudos exploratórios 216

Dado que as equipas recorrem frequentemente à combinação de vários TOD16, não só ao longo da partida, como na mesma sequência ou jogada, foram ainda consideradas todas as possibilidades de formas compostas: zona passiva passando a zona activa, zona activa passando a zona passiva, pressing passando a zona activa, etc.

fl ? 3.4. Metodologia da observação Para o exame sistemático das soluções táctico-técnicas exprimidas pelas

equipas na fase ofensiva foram considerados (cf. Teissie, 1969) três momentos: (1) recuperação, que coincide com o primeiro momento de posse de bola; (2) preparação ou transição, que corresponde à fase de construção do ataque; (3) conclusão, que corresponde ao momento da finalização-remate ou perda da posse da bola.

Nas modalidades em que a alternância de momentos de posse da bola é grande, como no caso do Futebol, torna-se difícil analisar todas as situações que ocorrem ao longo do jogo. Nesta medida, parece mais viável optar por dirigir a atenção para as sequências tácticas mais representativas, i.e., aquelas que originam situações de perigo para o adversário (Riera, 1995a).

No Futebol ocorrem diversas situações ofensivas que terminam quer na fase de transição, quer ainda na fase de recuperação.

Numa primeira fase do presente estudo, começámos por registar e analisar todas as situações ofensivas desenvolvidas por ambas as equipas. Porém, logo constatámos que tal opção onerava a observação e a recolha de dados, sem que isso tivesse correspondência num aporte de informação significativo. Acresce que esta estratégia implicava fortes restrições ao tamanho da amostra, o que, no nosso entender, comprometia a sua abrangência e representatividade.

Deste modo, numa segunda fase passámos a analisar apenas os ataques nos quais a bola era jogada no meio campo adversário, ou a partir dele. Mas, ainda assim, verificámos a existência de informação redundante, dado que continuava a ser contemplado um elevado número de situações cuja ofensividade era diminuta.

Concluímos então que, não obstante devêssemos continuar a registar todas as acções ofensivas, seria mais vantajoso analisar apenas as sequências mais representativas, pelo que registámos em pormenor todas as sequências ofensivas concluídas com remate (enquadrado ou não com a

1 6 Pode causar alguma perplexidade o facto de termos recorrido à designação "tipo de organização defensiva" (TOD) em detrimento dos "métodos de jogo defensivo" (MJD) tradicionalmente mencionados na literatura, i.e., individual, à zona e misto (Teissie, 1969; Castelo, 1994). Todavia, adoptámo-la para traduzir uma tipologia diferente (zona activa - ZA; zona passiva - ZP; contenção avançada - Cav; pressing - Press), a qual permite configurar os indicadores duma forma mais ajustada e permite obter informação mais pertinente de acordo com o que nos propusemos observar no presente trabalho.

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217 Estudos exploratórios

baliza) e aquelas nas quais a bola foi jogada no sector ofensivo ou a partir dele, ainda que não concluídas com remate.

Considerou-se que a sequência ofensiva duma equipa terminava quando se verificava, pelo menos, uma das seguintes possibilidades: (1) qualquer jogador dessa equipa incorria numa situação de fora-de-jogo; (2) a bola saía do terreno de jogo, ficando a pertencer à equipa contrária; (3) um jogador da equipa adversária ficava na posse da bola e executava: um remate, um passe bem sucedido ou pelo menos três contactos consecutivos com a bola.

Sempre que uma sequência ofensiva foí interrompida, por corte do adversário, falta ou qualquer outra acção, se a bola se manteve na posse da equipa que já se encontrava na fase de ataque, as acções subsequentes foram registadas como fazendo parte da mesma sequência, tendo-se assinalado, no entanto, o tipo de acção que provocou a interrupção (ou interrupções) e o momento em que ela ocorreu.

Cada sequência ofensiva foi observada cinco vezes sucessivas. A notação dos dados relativos às variáveis seleccionadas ocorreu de acordo com a cronologia que consta da Figura 31.

1S momento (1) Equipa detentora da posse da bola; (2) ordem de ocorrência da sequência no jogo; (3) momento, em tempo real, e local onde a equipa passa a deter a posse da bola, considerando o espaço de jogo efectivo e a acção desencadeada; (4) tempo de realização do ataque; (5) resultado do ataque (êxito total, êxito parcial, sem êxito, abortado).

2- momento (1) Número de contactos com a bola; (2) número de passes realizados; (3) número de variações de direcção/sentido e alcance dos passes.

3a momento (1) Número de jogadores que contactam com a bola; (2) número de variações de corredor na circulação da bola.

4a momento (1) Número de variações de ritmo nas acções com bola; (2) acção de ruptura que induz o desequilíbrio no balanço ataque/defesa; (3) interrupções (tipo e momento).

5a momento

(1) Forma de recuperação da posse da bola; método de jogo ofensivo adoptado; (2) tipo de organização defensiva do adversário em resposta ao ataque.

Figura 31 - Momentos de observação e registo dos indicadores em estudo.

Sempre que se justificou, e no sentido de tornar mais eficaz o processo de observação, as imagens das sequências em estudo foram passadas em movimento lento e, nalguns casos, revistas. Este facto permitiu aumentar a acuidade sobre alguns pormenores e, consequentemente, minimizar a possibilidade de ocorrência de erros de observação.

Para cada momento de observação foi elaborada uma ficha. Os registos foram posteriormente aglutinados numa ficha panorâmica (Anexo 2).

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Estudos exploratórios 218

A etapa seguinte consistiu em reunir todos os elementos num lençol de dados, no sentido de viabilizar o seu tratamento e ulterior interpretação.

8.2.3.4.1. Fiabilidade da observação Os observadores tiveram acesso a um protocolo de observação que, para

além de os identificar com as categorias, indicadores e formas de registo, incluía um esquema com o campograma, bem como um inventário com a codificação das abreviaturas para preenchimento da ficha de observação

(Anexo 2). Após um treino de observação, repartido por três sessões, de duas horas

cada, foi apurada a fiabilidade de observação para cada uma das vinte e quatro variáveis em estudo.

Para tal, foram observados os primeiros trinta minutos da final do campeonato do mundo dos Estados Unidos/94 (Brasil-ltália) e notados os dados para cada sequência ofensiva ocorrida nesse período.

À semelhança do que ocorreu em relação ao primeiro estudo, as fiabilidades, intra- e inter-observadores foram apuradas a partir da fórmula utilizada por Heins & Zender (1956) e Bellack et ai. (1966).

A fiabilidade da observação pode ser atestada pela elevada percentagem de acordos registados, tanto na modalidade intra-observador, como na inter-observadores (Quadro 22), situando-se todos os valores acima dos 80% (cf. Bellack et al., 1966).

Quadro 22 - Percentagem de acordos intra-observador e inter-observadores, registados para as variáveis em estudo (ver anexo).

Variáve i s % acordos % acordos Observadas Intra-observador Inter-observadores

Acrupt 100.0% 100.0% BJ 100.0% 100.0% EJE 100.0% 87.5% FAR 100.0% 100.0% LAR 100.0% 87.5% MJO 100.0% 100.0% NC 100.0% 100.0% Net 100.0% 100.0% NInt 100.0% 100.0% NJ 87.5% 100.0% NP 100.0% 100.0% NR 100.0% 100.0%

NVC 87.5% 100.0% NVPa 100.0% 100.0%

NVPd/s 100.0% 100.0% NVRt 87.5% 100.0% Result 100.0% 100.0%

S (n° e tipo) 100.0% 100.0% Tjd 100.0% 100.0%

TOD 100.0% 100.0% TRA 100.0% 100.0% VTB 100.0% 100.0%

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219 Estudos exploratórios

Não obstante, os pontos de desacordo foram posteriormente discutidos e esclarecidos com os observadores implicados no processo, tendo sido corrigidos os respectivos desvios, no sentido de uniformizar critérios e minimizar a ocorrência de erros.

8.2.3.5. Procedimentos estatísticos Para além da média, do desvio-padrão, da amplitude de variação e da

percentagem, para caracterizar as distribuições em estudo, foram utilizados três procedimentos estatísticos de uma forma exploratória: i) análise da função discriminante (AFD), com e sem o procedimento stepwise, regressão logística (RL),e classificação automática (clusters).

8.2.5. Resultados e discussão Neste estudo comparámos as sequências em função da sua eficácia

ofensiva, i.e., as terminadas com remate, com ou sem obtenção de golo, (ET, EP e SE) com as que terminaram sem remate (Abort).

Para o efeito foram consideradas as sequências durante as quais não se verificou qualquer interrupção, desde o primeiro momento da posse da bola até à finalização ou perda da posse da bola, por parte da mesma equipa.

Foi realizada uma análise eminentemente exploratória da organização ofensiva das equipas. Neste tipo de análise não se pretende veicular um discurso tipicamente inferencial para o universo de todos os jogos. Antes se procura identificar uma coerência interna nas variáveis que se supõe traduzirem a organização do jogo, ou mais concretamente, perceber como é que estas variáveis se associam entre si de modo a discriminarem as sequências ofensivas concluídas com e sem remate.

Trata-se, portanto, de uma análise mais heurística do que inferencial, preditiva ou confirmatória, o que implica que não interesse tanto o significado estatístico dos dados, quanto a forma como os resultados são colocados em interrelação de forma a configurarem informação relativa aos factos relevantes do jogo.

8.2.5.1. Análise univariada Num primeiro momento descrevemos as principais características das

sequências concluídas com e sem remate, i.e., R e SR, respectivamente. Recorremos à percentagem para caracterizar as distribuições relativas às

variáveis qualitativas, enquanto que a média, o desvio-padrão e a amplitude de variação foram utilizados para caracterizar as distribuições relativas às variáveis quantitativas.

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Estudos exploratórios 220

Para testar o significado estatístico das variáveis quantitativas para os dois grupos de sequências considerados (R e SR), foi ainda aplicado um t teste de medidas independentes (Quadro 23).

Quadro 23 - Média ± desvio-padrão e Amplitude de Variação (AV) relativa às sequências concluídas com remate (R) e sem remate (SR) e valores do t teste (t e p) para as variáveis quantitativas consideradas.

Variável X±DP R A V R X ± D P S R AVSR t P

NVRt 0.6±0.7 0-3 1.2±2.7 0-22 -1.4 0.16

NVP d/s 3.0±2.3 0-9 3.7±3.2 0-15 -1.3 0.19

VTB 0.4±0.1 0.1-0.6 0.1 ± 0.4 0.0-0.8 -1.1 0.29

NVC 2.8±2.1 0-9 2.5±1.9 0-8 1.0 0.34

NVP a 1.3±1.1 0-5 1.5±1.4 0-6 -0.9 0.38

BJ 6.7±3.6 1-15 7.2 ± 4.3 0-22 -0.6 0.58

NJ 5.4±2.0 2-9 5.6±2.2 1-11 -0.5 0.59

NP 5.9±3.3 1-15 3.3±0.6 0-19 -0.3 0.74

BJt 24.0±11.6 3-48 24.5 ±14.0 5-65 -0.2 0.84

TRA 33.3±31.5 3-156 32.3 ± 33.8 5-173 0.2 0.87

Net 17.2±8.3 2-35 17.3±10.0 3-43 0.0002 0.97

Como se pode constatar, não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas para qualquer das variáveis quantitativas consideradas. De registar, no entanto, os elevados valores relativos às amplitudes de variação, para ambos os grupos.

Contudo, e conforme pudemos verificar a partir das conclusões do primeiro estudo deste capítulo, para além do significado estatístico dos dados importa centrar a análise na sua relevância substantiva.

8.2.5.1.1. Macrodimensão tempo Tempo de jogo decorrido (Tjd) Quando se considera as sequências ofensivas em função da sua eficácia,

i. e., as que são concluídas com (R) e sem remate (SR), enquanto que 60% das R se realizam na primeira parte dos jogos, as SR ocorrem em maior percentagem na segunda parte (57%).

Na Figura 32 pode observar-se a percentagem de distribuição das sequências R e SR, considerando períodos de 15 minutos (Q1 a Q6).

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221 Estudos exploratórios

1 - parte 2S parte

Tjd (em períodos de 15')

Figura 32 - Percentagem de ocorrência de sequências ofensivas concluídas com (R) e sem remate (SR), de acordo com o tempo de jogo decorrido, fraccionado em períodos de quinze minutos (Q1 a Q6).

Claudino (1993), a partir da observação de 1148 sequências ofensivas realizadas em onze jogos, por uma equipa do campeonato nacional português, registou 588 sequências realizadas nas primeiras partes dos jogos e 560 nas segundas, i.e., 5 1 % vs 49%, respectivamente.

Castelo (1994) registou que 53% do total de sequências ofensivas eram realizadas na primeira parte dos jogos.

Embora se verifique a mesma tendência expressa nos nossos resultados, a diferença entre os valores obtidos na primeira e segunda partes é menos acentuada, o que parece dever-se ao facto do autor ter considerado a totalidade de sequências sem discriminar a forma como estas foram concluídas.

O que acabámos de referir pode ser comprovado pelos resultados do presente estudo, pois quando consideramos a totalidade de sequências a proporção é coincidente com a de Claudino (1993), i.e., 5 1 % das sequências são realizadas durante as primeiras partes, enquanto que 41% se realizam nas segundas.

Assim, embora o número absoluto de sequências seja equilibrado em ambas partes do jogo, quando se considera a respectiva eficácia, as diferenças acentuam-se, com vantagem para as sequências concluídas com remate nas primeiras partes e para as concluídas sem remate nas segundas.

Isto parece indiciar que com o decorrer do tempo de jogo não é tanto o número de sequências ofensivas que é afectado mas sobretudo a sua eficácia, ou seja a sua qualidade, o que poderá sugerir que a fadiga

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Estudos exploratórios 222

condiciona a possibilidade da equipa que ataca, ao jogar a bola, atingir o terço ofensivo do terreno de jogo.

Tempo de realização do ataque (TRA) O TRA é, em média, semelhante quando se compara as sequências R com

as SR (33.3±31.5 vs 32.3±33.8 segundos). Todavia, importa notar que se registam elevadas amplitudes de variação (3-156 seg. e 5-173 seg., respectivamente), o que, juntamente com os elevados valores do desvio-padrão, para ambos os casos, permite constatar uma considerável

variabilidade. Esta variabilidade parece estar associada aos diferentes métodos de jogo

ofensivo utilizados, como demonstra o estudo de Claudino (1993), nomeadamente no que diz respeito aos aspectos que se reportam às variações do ritmo e estilo de jogo.

Castelo (1994), considerando o conjunto das 674 sequências ofensivas observadas, registou uma duração média de 22 segundos. 39% das sequências foram realizadas com um TRA de 1 a 15 segundos, 37% com um TRA de 16 a 30 segundos e 34% com um TRA superior a 30 segundos.

Noutros estudos (Garganta et ai., 1995; Cabezón & Fernandez, 1996; Oliveira, 1996) verifica-se que as sequências que conduzem ao golo apresentam um tempo de realização do ataque relativamente curto (inferior a dez segundos).

O estudo de Marchai & Lété (1990) revela que mais de 93% dos golos foram realizados a partir de ataques que envolvem um tempo inferior a 15 segundos. Mombaerts (1991), a partir da análise dos jogos dos campeonatos da Europa 1988 e do mundo de 1990, concluiu que a maior percentagem dos golos é obtida com um TRA inferior a quinze segundos (4-10 seg. no Europeu; 7-14 seg. no Mundial).

Cabezón & Fernandez (1996) analisaram as acções ofensivas que conduziram à marcação de 100 golos, obtidos em 52 partidas, seleccionadas de forma casual, no conjunto das realizadas no campeonato espanhol de 1993-94. Concluíram que a eficácia das acções ofensivas é, na maior parte das vezes, inversamente proporcional à sua duração.

Todavia, se analisarmos não apenas as sequências concluídas com golo, mas o conjunto das sequências ofensivas realizadas, as equipas melhor sucedidas revelam um tempo superior de realização do ataque (superior a 15 segundos, cf. Luhtanen, 1992) o que parece traduzir claramente a importância da variação do ritmo de jogo.

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223 Estudos exploratórios

As equipas melhor sucedidas apostam mais frequentemente num estilo de jogo indirecto17, com um número superior de passes, de jogadores contactando com a bola e com um TRA mais elevado, recorrendo ao ataque posicionai. Contudo, ao longo do jogo, para surpreender o adversário e conseguir situações de finalização, elas tendem a recorrer, em alternância, ao ataque rápido, com poucos jogadores contactando com a bola, poucos passes e um TRA curto (Reep & Benjamim, 1968; Korcek, 1987; Bate, 1988).

Velocidade de transmissão da bola (VTB) Quando se considera as sequências R e SR verifica-se a existência de

valores coincidentes pois registou-se, em média, 0.40±0.10 para a VTB de ambos os grupos.

Sabe-se que a VTB é tanto maior quanto mais o seu valor se aproxima da unidade (Dugrand, 1989).

Os valores da VTB encontrados no nosso estudo sugerem que esta variável, considerada isoladamente, não permite discriminar as sequências positivas observadas segundo a sua eficácia. No entanto, importa considerar, não apenas a sua relação com o resultado da acção (eficácia ofensiva), mas também as variações de velocidade utilizadas para surpreender o adversário (Garganta et ai., 1995). Quer isto dizer que a circulação que nos interessa considerar é, sobretudo, a circulação táctica, baseada, quer no ritmo de trocas de bola, quer na exploração do espaço de jogo na transmissão da bola por parte dos jogadores.

Do nosso ponto de vista, a fecundidade do índice VTB reside no facto dele conceder a possibilidade de identificar o número e ordem das variações de ritmo relativas à circulação da bola, ocorridas ao longo das diferentes sequências de jogo.

Neste sentido a discussão deste ponto será retomada em relação à variável número de variações do ritmo de jogo (NVRt).

8.2.5.1.2. Macrodimensão Espaço Espaço de jogo efectivo (EJE) Para ambos os tipos de sequências, R e SR, a circulação da bola faz-se

prevalentemente à periferia do EJE através de passe (69% e 59%, respectivamente). A categoria "circulação da bola no interior do EJE, através de passe" surge imediatamente a seguir embora com valores claramente inferiores (22% vs 32%) como pode ser constatado na Figura 33.

1 7 0 jogo indirecto corresponde, em média, a 90% das acções de jogo em Futebol e pode ser subdividido em dois subconjuntos: o jogo em largura e o jogo em profundidade (Gréhaigne, 1989).

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Estudos exploratórios 224

% 40

EJE

Figura 33 - Distribuição percentual do espaço e forma de circulação da bola, considerando o EJE, nas sequências ofensivas realizadas (PP - circulação à periferia do EJE através de passe; PC -circulação à periferia do EJE através de condução da bola; FR - circulação fora do EJE através de passe; IP - circulação no interior do EJE através de passe; IC - circulação no interior do EJE através de condução da bola).

Tais valores sugerem que, independentemente das sequências ofensivas realizadas ao longo do jogo terminarem com ou sem remate, as equipas procuram garantir a amplitude das acções ofensivas, recorrendo ao passe para fazer circular a bola pelas zonas periféricas do espaço de jogo efectivo (PP), em princípio menos povoadas, e assim contrariarem a concentração de jogadores, da equipa adversária que defende, no corredor central do terreno.

Sugerem ainda que as equipas procuram as alas como espaços privilegiados para lançarem o seu ataque, nomeadamente para realizarem cruzamentos da bola para a retaguarda dos defensores da equipa adversária.

A importância dos cruzamentos efectuados para a retaguarda dos defensores foi realçada por Partridge & Franks (1989, 1989a) que constataram que no Campeonato do Mundo México/86, dos 38 golos obtidos a partir de cruzamentos, 37 dizem respeito a cruzamentos dirigidos para a retaguarda dos defensores.

Partridge et ai. (1993) realizaram um estudo em que compararam o padrão de jogo de dois grupos de equipas com distintos níveis de performance: (i) um constituído pelas equipas que disputaram o Campeonato do Mundo Itália/90; (ii) outro, constituído pelas melhores equipas universitárias, que disputaram o Campeonato Internacional (Alemanha, Brasil, Canadá, Estados Unidos e México). Os resultados revelaram a existência de diferenças estatisticamente significativas para o número de cruzamentos, tendo-se constatado que, em média, as equipas universitárias realizam um menor

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225 Estudos exploratórios

número de cruzamentos. Tal diferença acentua-se quando se analisa, em separado, os cruzamentos efectuados para a retaguarda dos defensores, aparecendo estes como o principal factor responsável pela diferenciação entre as equipas, a este nível.

Também Miller (1994) refere que os cruzamentos das alas, ou corredores laterais, são uma componente do jogo de qualidade. Segundo este autor, nos jogos do Campeonato do Mundo de 1986, 28.8% dos golos foram obtidos a partir de um cruzamento, sendo necessários, em média, 27 cruzamentos para produzir um golo. Refere ainda que 67%, dos nove golos marcados pela selecção nacional holandesa, em cinco jogos da fase final do Campeonato da Europa'88, foram provenientes de cruzamentos, tendo sido realizados, em média, trinta e cinco cruzamentos por jogo.

Como se pode observar no gráfico anterior, a maior percentagem de sequências concluídas com remate ocorre quando as equipas utilizam a circulação da bola à periferia (PP). Quando utilizam a circulação da bola no interior do EJE (IP) a percentagem de sequências terminadas sem remate é superior, o que atesta a eficácia de PP.

Contudo, os resultados do estudo de Cabezón & Fernandez (1996) parecem pôr em causa a ideia de que o perigo vem sobretudo das alas. De facto, os autores, com base num campograma dividido em 18 zonas, analisaram as acções ofensivas que conduziram à marcação de 100 golos, obtidos no Campeonato Espanhol de 1993-94, e concluíram que a maior percentagem dos golos (60%) é obtida a partir de acções ofensivas realizadas através do corredor central.

Estes resultados são corroborados por Hughes et ai. (1988) que efectuaram uma análise comparativa dos padrões de jogo de equipas, bem e mal sucedidas, participantes no Campeonato do Mundo México'86. Os autores concluíram que as equipas bem sucedidas realizam a aproximação à baliza contrária, na transição defesa-ataque, predominantemente pelo corredor central, enquanto que as mal sucedidas o fazem pelos corredores laterais.

Também Sleziewski (1987) constatou que 47% dos golos obtidos no campeonato mundial do México'86, foram conseguidos a partir de acções realizadas no corredor central. Em regra, nesta faixa do terreno aglomeram-se mais jogadores, o que aumenta consideravelmente a necessidade do domínio do jogo em contacto directo com os opositores.

As posições sustentadas pelos diferentes autores deixam perceber algumas contradições aparentes. E dizemos aparentes porque pensamos que a discussão se deve centrar, não na dominância de um tipo de transição defesa-ataque sobre as demais, mas sobretudo na alternância dos espaços

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Estudos exploratórios 226

de circulação da bola, na medida em que esta favorece a criação de surpresa na defensiva contrária e induz o desequilíbrio do balanço ataque/defesa, em favor do ataque.

Aliás, os resultados do nosso estudo mostram que as equipas procuram variar os espaços de circulação da bola, o que parece ser sugerido pelo facto da categoria "circulação da bola no interior do EJE através de passe" (IP) surgir como a segunda mais frequente.

ft.P.5.1.3. Macrodimensão Tarefa Número de contactos com a bola (Net) O Net é também semelhante para ambos os tipos de sequências, de

acordo com a sua eficácia: 17.2±8.3. para as R e 17.3±10.0 para as SR (amplitude de variação de 2-35 e 3-43, respectivamente).

Hughes et ai. (1988) compararam os padrões de jogo das equipas bem sucedidas, i.e., as que lograram atingir as meias-finais, com os das equipas que foram eliminadas logo na primeira ronda da fase final do Campeonato do Mundo de Futebol de 1986, concluindo que as equipas bem sucedidas realizam mais contactos por posse de bola.

Morris (1981), com o intuito de obter dados estatísticos precisos sobre o jogo, estudou o número de contactos com a bola em cada partida e a continuidade do jogo. A partir do estudo de dez jogos internacionais, o autor mostra que a média de contactos com a bola é de 2322 por jogo (amplitude de variação: 1911-2622), o que equivale a vinte e seis contactos de bola por minuto, isto é, um contacto cada dois segundos.

Talaga (1985) refere que, ao longo de um jogo, os futebolistas parecem realizar, em média, cerca de 60/65 contactos com a bola. Contudo, Withers (1982), encontrando valores inferiores (cerca de 51), admite que o valor desta variável depende de aspectos tácticos do jogo, nomeadamente, o sistema de jogo utilizado e o estatuto posicionai e funcional de cada jogador na equipa, pois as diferenças tornam-se mais claras quando se considera o tipo de acções realizadas pelos jogadores com diferentes funções (Quadro 24).

Quadro 24 - Número médio de contactos com a bola em relação com o estatuto posicionai dos jogadores (Withers, 1982).

Função duelos cont. cabeça cont. pé Total

libero 13.2 8.0 28.4 50 .6 defesa central 14.4 13.4 23.4 53 .4 médio 13.0 5.2 27.6 4 8 . 2 avançado 11.8 13.0 25.0 53 .2

Média 13.1 9.9 26.1 51 .4

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227 Estudos exploratórios

Os valores encontrados no presente estudo diferem substancialmente dos apresentados por Morris (1981), Talaga (1982) e Withers (1985), na medida em que apenas foram considerados os valores médios do Net realizados pelo conjunto dos jogadores da mesma equipa para as respectivas sequências ofensivas positivas.

Número de passes (NP) Relativamente ao NP, para as sequências R foram encontrados, em média,

valores de 5.9±3.3, e para as SR de 6.1 ±4.1 (amplitude de variação: 1-15 e 0-19, respectivamente).

Embora não haja diferenças estatisticamente significativas entre os grupos, importa salientar a elevada amplitude de variação, a qual sugere uma considerável variabilidade do NP por sequência ofensiva.

Bate (1988) refere que quanto maior for o número de passes realizados para cada posse de bola, mais baixos serão: (i) o número total de posses de bola; (ii) o número potencial de entradas no terço ofensivo; (iii) as possibilidades de obter uma oportunidade de finalização e um golo.

Franks (1988), a partir da análise de vários jogos do campeonato canadiano de Futebol, concluiu que 80% dos golos obtidos resultam de quatro ou menos passes.

Olsen (1988), a partir da análise das jogadas que conduziram ao golo, nos jogos do campeonato mundial do México'86, concluiu que 79.2% dos golos são precedidos de cinco ou menos passes.

Hughes (1990), a partir da análise de 109 jogos, dezasseis em que participou o Liverpool e os restantes realizados por selecções nacionais de vários países, em campeonatos do mundo e da europa, concluiu que 87% dos golos resultam de sequências de cinco ou menos passes. O mesmo autor, incluiu no mesmo estudo a análise de seis finais dos Campeonatos do Mundo, realizadas entre 1966-1986, a qual lhe permitiu concluir 92.5% dos golos são obtidos a partir de cinco passes ou menos.

Partridge et ai. (1993), num estudo em que compararam equipas universitárias com equipas profissionais de Futebol, registaram que a maior percentagem de passes realizados nas sequências de jogo se situa, para as equipas universitárias, em valores de 0 a 3, ao passo que as equipas profissionais utilizam em maior percentagem, 4 a 10 ou mais passes.

Garganta et ai. (1995) referem que uma elevada percentagem (61-93%) das acções finalizadas com golo resultam de movimentos que, em média, envolvem menos de 3 passes.

Hughes (1996), a partir de dados recolhidos nos jogos do Campeonato do Mundo ltália'90, analisou as situações de golo e sua relação com o número de posses de bola e de passes realizados por posse de bola. O autor

Page 237: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

Estudos exploratórios 228

concluiu que 88% dos golos obtidos resultaram de posses de bola que envolveram quatro ou menos passes (Figura 34).

HH N" de golos 1 % do total

Passes por posse de bola

Figura 34 - Golos marcados no Campeonato do Mundo - Itália'90 e sua relação com o número de passes realizados por posse de bola (Hughes, 1996).

Pollard et ai. (1988) realizaram um tipo de análise centrado sobre a comparação quantitativa de diferentes estilos de jogo em Futebol, a partir da observação do número e tipo de passes. Recorrendo à análise factorial, os autores determinam o estilo de jogo das equipas, chegando a conclusões que se afiguram contraditórias quando confrontadas com as do estudo de Bate (1988). Concluem que as equipas que realizam muitos passes, e poucos passes longos, marcam mais golos do que as que utilizam frequentemente passes longos para a frente.

Os dados do estudo de Mombaerts (1991) permitem esclarecer algumas destas contradições. O autor, com base na observação dos jogos do Campeonato da Europa de 1988 e do Mundial de 1990, concluiu que as equipas utilizavam, em média, sequências de 2-3 passes para marcarem golo e revela que a eficácia das equipas diminui à medida que as sequências ofensivas são mais longas e as equipas utilizam maior número de passes (até 10).

Contudo, verificou que nas sequências jogadas com um número superior a dez passes a eficácia ofensiva das equipas voltava a aumentar. Isto significa que o equilíbrio defensivo do adversário passa a ser afectado, sobretudo, pela manutenção colectiva da posse da bola e pela possibilidade que isso oferece de variar o ritmo e a forma de jogar e, portanto, de criar surpresa.

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229 Estudos exploratórios

Uma tendência semelhante pode ser verificada no estudo de Wrzos (1984). O autor, analisando os jogos do mundial de 1978, registou que, embora a eficácia das acções ofensivas decresça à medida que se realiza um maior número de passes, de 1 até 5, a partir deste valor as acções que envolvem entre 6 e 7 passes (com 20.5%), 8-9 passes (com 18.1%) e mais de 12 passes (com 16.7%) foram as que revelaram uma eficácia ofensiva mais elevada.

Número de jogadores que contactam a bola (NJ) Relativamente ao NJ, registaram-se valores médios de 5.4±2.0 para as

sequências R e de 5.6±2.2 para as SR (A.V. 2-9 e 1-11, respectivamente). Verifica-se que a maior percentagem relativa das sequências (18%) é

realizada com seis jogadores e 83% do total são realizadas com a participação de 4 a 8 jogadores.

Embora estes valores estejam em conformidade com os encontrados por Luhtanen (1992) e Castelo (1994), podemos considerá-los elevados quando comparados com os de outros trabalhos.

De facto, no estudo de Claudino (1993) constata-se que 25% das sequências ofensivas são realizadas com a participação de apenas dois jogadores e que cerca de 80% do total são realizadas com a participação de 1 a 4 jogadores.

Assim, quando se compara as percentagens médias do número de jogadores participantes nas sequências ofensivas registadas por Claudino (1993) com os do presente estudo, verificam-se perfis claramente distintos (Figura 35).

— Claudino (1993) — o Presente estudo

%

30

28 26

24

22 20 18 16

14 12 10 8 6 4 2 0

• ■

• ■

1

- 1 , , 4 5 6 7

Número de jogadores

10 11

Figura 35 - Comparação das percentagens médias relativas ao número de jogadores participantes nos processos ofensivos, considerando os dados do presente estudo e de Claudino (1993).

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Estudos exploratórios 230

Garganta et ai. (1995) revelam a mesma tendência que Claudino (1993), ao concluírem que uma elevada percentagem, entre 50 e 85%, das acções ofensivas finalizadas com golo resultam de movimentos que envolvem, em média, 1 a 3 jogadores que contactam com a bola.

As diferenças encontradas podem ser atribuídas a várias razões: 1 9 enquanto que Claudino (1993) contabilizou todos os processos

ofensivos e Garganta et ai. (1995) registaram apenas as sequências que conduziram à obtenção de golo, no presente estudo foram consideradas as sequências ofensivas positivas, i.e., todas aquelas em que a bola foi jogada a partir, ou para, o terço ofensivo do terreno de jogo;

2- as equipas observadas são diferentes, o que faz aumentar a probabilidade de utilizarem estilos e métodos de jogo distintos.

Bolas jogadas (BJ) Este indicador composto decorre, como foi já referido, do somatório de dois

indicadores simples, i.e., o número de bolas conquistadas e o número de bolas recebidas na sequência ofensiva.

Para as sequências R, registaram-se os valores de 6.7±3.6 e para as SR, 7.2±4.3 (AV: 1-15 e 0-22, respectivamente).

A mesma tendência pode ser verificada quando se considera o Total de bolas jogadas (BJt), i.e., um indicador composto que decorre do somatório de E5J com o número total de contactos realizados na sequência ofensiva, pois para as sequências R foram encontrados valores de 24.0±11.6 e para as SR de 24.5±14.0 (AV: 3-48 e 5-65, respectivamente).

As elevadas amplitudes de variação evidenciam uma grande variabilidade. Tais valores sugerem que não é o número de bolas jogadas que induz a

eficácia ofensiva, mas sobretudo a forma como se joga, o que faz ressaltar a importância da faceta qualitativa do ataque.

As fases estáticas do jogo, vulgo situações de "bola parada", são um exemplo típico do que acabamos de referir.

Verifica-se que, na maior parte dos estudos realizados, as situações que constituem as denominadas fases estáticas (Mombaerts, 1991), também designadas por fragmentos constantes do jogo (cf. Wrzos, 1981), i.e., lançamentos pela linha lateral, cantos e livres, são filtradas, não constando das análises.

Alguns autores, como Gréhaigne (1989), encontram justificação para tal opção em estudos que demonstram que a maior percentagem dos golos é normalmente obtida através das fases dinâmicas do jogo (Olsen, 1988; Marchai & Lété, 1990; Garcia, 1995).

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231 Estudos exploratórios

De facto, da análise de 132 golos, respeitantes a 52 partidas do Campeonato do Mundo México'86, Olsen (1988) concluiu que 96 (72.5%) foram obtidos nas fases dinâmicas, contra os 36 (27.5%) marcados nas fases estáticas do jogo.

Piechniczec (1983), a partir da análise dos golos obtidos no campeonato do mundo de Espanha'82, registou 45% concretizados a partir de fases estáticas e 55% a partir de fases dinâmicas.

Jinshan (1993) e Garcia (1993) assinalam um aumento do número de golos obtidos a partir de fases estáticas: 26% em Espanha'82; 27% no México'86; 32% em ltália'90 e 39% nos USA'94.

Garcia (1995), numa análise dos golos obtidos no Campeonato do Mundo USA'94, concluiu que, dos 145 golos marcados, 88 (61%) foram obtidos em situações de jogo efectivo, e 57 (39%) foram concretizados a partir de fragmentos constantes do jogo.

Todavia, como ilustram Bate (1988), Franks (1988), Hughes (1990) e Miller (1994), os golos resultantes das fases estáticas constituem uma fonte vital a todos os níveis de jogo, não apenas por representarem uma percentagem importante do total de golos marcados (30 a 45%), mas, sobretudo, porque, frequentemente, se constituem como momentos críticos, ou cruciais, que permitem decidir o resultado do jogo.

Uma análise mais detalhada dos dados de Garcia (1995) permitiu constatar que, enquanto a percentagem de golos obtidos através dos fragmentos constantes do jogo aumenta à medida que se caminha dos jogos da 1- fase para a final do torneio, a percentagem dos golos marcados a partir de situações de jogo efectivo, decresce para os mesmos jogos considerados (Figura 36).

+ Golos de jogo efectivo

lafase 1/8 final 1/4 final 1/2 final Final

Figura 36 - Percentagem de golos obtidos a partir de situações de jogo efectivo nos fragmentos constantes do jogo, nos jogos decorridos entre a 18 fase e o jogo da final do C M . USA'94 (Garcia, 1995).

Page 241: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

Estudos exploratórios 232

Neste estudo verifica-se que, a partir dos quartos de final, os fragmentos constantes do jogo contribuem duma forma decisiva para a obtenção de

golos. Estes dados sugerem que, à medida que a competição progride, a

qualidade das equipas aumenta e o equilíbrio de forças entre as equipas em confronto toma-se mais evidente. Deste modo, os fragmentos constantes do jogo passam a ser determinantes.

fl.P.5.1.4. Macrodimensão Organização da Equipa Trata-se da dimensão essencial do presente estudo, na medida em que a

mesma é configurada a partir da interrelação de diversas variáveis. Neste sentido, foi realizada uma análise exploratória com recurso a diferentes procedimentos estatísticos.

Foram utilizados três procedimentos de uma forma exploratória: i) análise da função discriminante (AFD), com e sem o procedimento stepwise, com o intuito de encontrar o menor lote de variáveis substantivamente relevantes que permitisse maximizar a interpretação das ocorrências (sequências ofensivas) em função do seu resultado; ii) regressão logística (RL), procedimento mais fino que permite interpretar de uma forma mais precisa a importância das variáveis que estão numa escala ordinal e que reproduz os resultados da AFD duma forma mais detalhada, predizendo melhor a ocorrência das sequências ofensivas em função da finalização (com e sem remate à baliza); iii) classificação automática, para elaborar uma representação das sequências ofensivas em função das variáveis que as descrevem, procurando encontrar conglomerados de variáveis (clusters).

Sequências ofensivas (S) e respectivo Resultado (Result) A distribuição e características das sequências ofensivas registadas, bem

como os respectivos resultados, podem ser observadas no Quadro 25.

Quadro 25 - Total de sequências ofensivas observadas (TS), respectivas sequências positivas (SP) e negativas (SN), eficácia ofensiva relativa (EOR) e absoluta (EOA), eficácia defensiva relativa (EDR) e absoluta (EDA) e condição (Cd) de vencedora (V) ou derrotada (D) das equipas observadas nos respectivos jogos.

Jogo Equipa TS SP SN EOR EOA EDR EDA Cd

Alemanha- R. Checa Alemanha 68 34 34 26.5 1.5 31.9 2.1 V (n= 115) R. Checa 47 22 25 31.9 2.1 26.5 1.5 D Alemanha- Inglaterra Alemanha 41 28 13 21.9 2.4 19.6 1.8 V (n=97) Inglaterra 56 32 24 19.6 1.8 21.9 2.4 L) Brasil- Itália Brasil 81 39 42 23.5 0.0 8.9 0.0 V (n=137) Itália 56 17 39 8.9 0.0 23.5 0.0 U Itália-Bulgária Itália 74 26 48 14.9 2.7 17.6 1.4 V

(n=148) Bulgária 74 28 46 17.6 1.4 14.9 2.7 D

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233 Estudos exploratórios

Bishovets et ai. (1993) estudaram a estrutura e a efectividade das acções tácticas, individuais e colectivas, dos jogadores e das equipas que disputaram o Campeonato do Mundo de Futebol, Itália/90.

Tendo como objectivo identificar factores associados aos resultados positivos no jogo de Futebol, os autores compararam as equipas vencedoras com as derrotadas, a partir da observação das seguintes variáveis: número de ataques, zonas de início e finalização dos ataques, número de passes realizados em cada ataque, número de remates em cada ataque, zona de proveniência dos remates e número de situações críticas criadas no ataque.

Os valores registados foram usados para construir três matrizes: uma com os dados das equipas vencedoras, outra com os dados das equipas derrotadas e uma terceira com uma combinação de ambos.

Através da análise factorial e da correlação, os autores registaram como aspecto mais importante o facto das equipas vencedoras revelarem uma efectividade significativamente superior na movimentação ofensiva, na criação de um maior número de situações críticas durante o jogo.

Contudo, os autores não esclarecem o que entendem por situação crítica, nem referem se a efectividade das equipas é avaliada, exclusivamente, com base nas situações de golo, ou se são, também, consideradas as demais finalizações.

Luhtanen (1993) estudou a eficácia das acções ofensivas das equipas participantes no mundial de Itália/90, segundo a sua condição de vencedoras e derrotadas, e constatou que, com excepção da Argentina (2- classificada), as equipas melhor classificadas no ranking apresentaram também uma superior eficácia ofensiva. A Alemanha, vencedora do torneio, foi a equipa que realizou maior número de acções ofensivas e mais situações de remate criou.

No presente estudo não se verifica esta tendência. Da análise do Quadro é possível constatar que tanto o número total de sequências ofensivas, como o número de sequências positivas ou negativas realizadas, não permitem escalonar as equipas segundo a sua eficácia ofensiva e defensiva, relativa e absoluta, nem de acordo com a sua condição de vencedoras ou derrotadas.

Tal como já tinha sido referido, este facto traduz a necessidade de centrar a análise, não no resultado do jogo ou no produto das acções desenvolvidas, mas no processo configurado pela interacção de variáveis que geram sequências ofensivas positivas.

A finalidade de qualquer acção ofensiva é provocar um efeito surpresa, no sentido de criar e explorar o desequilíbrio induzido no dispositivo adversário, com o intuito de marcar golo (Gréhaigne, 1992).

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Estudos exploratórios 234

A finalização, entendida como a acção táctico-técnica exercida sobre a bola, por um jogador da equipa que ataca, no sentido de a introduzir na baliza adversária, representa, deste modo, a faceta mais importante do jogo de Futebol (Castelo, 1986; Jinshan et ai., 1993).

No Futebol o remate é a acção de finalização por excelência, encontrando-se a sua importância justificada pelo facto da sua acção representar o culminar de uma sequência de jogo ofensivo.

Trata-se de uma acção que, situando-se na extremidade duma cadeia de acções, encerra o momento de maior tensão dramática do jogo (Dietrich, 1979), na medida em que num curto lapso consubstancia todas as acções que a ela conduziram, numa confluência de tempo e espaço (Queiroz, 1989), e que permitem dar expressão ao resultado da partida.

No que se refere ao resultado das sequências ofensivas positivas (Result), verifica-se que 42.5% das sequências são concluídas com remate (R) e 57.5% são concluídas sem remate (SR). Apenas 4.3% das sequências terminam com a obtenção de golo e 17.5% são concluídas com remate enquadrado com a baliza, sem obtenção de golo. Das restantes, 20.8% terminam com um remate não enquadrado com a baliza, e 57.5% são concluídas sem remate, como pode ser observado na Figura 37.

65 60 55 50 45 40

% 35 30 25 20 15 10

5 0

/ A

ET EP SE Abort

Resultado das sequências ofensivas

Figura 37 - Distribuição percentual das sequências ofensivas de acordo com o respectivo resultado: ET- êxito total, i.e., concluídas com obtenção de golo; EP- êxito parcial, i.e., concluídas com remate enquadrado com a baliza; SE- sem êxito, i.e., concluídas com remate não enquadrado com a baliza; Abort- abortadas, i.e., concluídas sem remate.

Wrzos (1984) observou os jogos do campeonato do mundo de 1978 e encontrou uma média de 112 sequências ofensivas por jogo, 15% das quais terminadas com oportunidades de golo.

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235 Estudos exploratórios

Sleziewski & Ksionda (1984) analisaram os jogos do mundial de 1978 e registaram uma média de 161 sequências ofensivas e 14 remates à baliza.

No presente estudo registamos uma média de 124 sequências ofensivas (min. 97 - máx. 148) e de 13 remates à baliza (min. 10 - máx. 16).

Pensamos que as diferenças encontradas para o número médio de sequências ofensivas poderão ser explicadas, não apenas com base na diferença das amostras, mas sobretudo a partir de eventuais diferenças a propósito da noção de posse da bola, utilizada como critério para contabilizar as sequências ofensivas (ver pág.).

Aliás o número médio de remates é semelhante, o que indicia que as diferenças encontradas se situam mais ao nível das fases de transição do que de finalização.

Interrupções das sequências No presente estudo foram analisadas, em pormenor, 230 sequências

positivas. Verificou-se que o número de interrupções por sequência ofensiva oscilou entre zero e quatro, tendo-se registado uma média de vinte e oito interrupções por jogo.

Os valores da distribuição percentual das interrupções são próximos quando se compara as sequências concluídas com e sem remate, como se pode constatar na Figura 38.

60 55 50 45 40 35

% 30 25 20 15 10

5 0

0 1 2 3 4 N

s de interrupções

Figura 38 - Distribuição percentual do número de interrupções ocorridas nas sequências ofensivas concluídas com (R) e sem remate (SR).

Partindo do princípio que numa partida de Futebol o tempo de jogo efectivo é muito inferior ao tempo regulamentar, Perlado (1993) procurou identificar uma relação entre o tempo médio de jogo efectivo e o número médio de interrupções de jogo numa partida de Futebol.

- —•— R

- D — SR

NSs. N\\

\x i

-

\ (

Page 245: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

Estudos exploratórios 236

A partir da observação de 9 competições oficiais (4 da liga espanhola; 1 final da taça dos campeões europeus; 4 do campeonato da europa Suécia/92), o autor encontrou, em média, uma relação de 52 minutos de jogo efectivo para 38 minutos de interrupções. Foram registadas, em média, 120 interrupções por jogo (min. 111 - máx. 128), correspondentes a 48 faltas e 68 bolas que saíram do terreno de jogo.

O mesmo valor médio de interrupções por jogo (120) foi registado por Castelo (1994), a partir da análise de 674 acções ofensivas relativas a cinco jogos das finais dos campeonatos da europa e do mundo, realizados entre 1982 e 1990.

Claudino (1993), registou uma média de 104 interrupções, a partir da observação de onze jogos do campeonato nacional português.

Os valores do nosso estudo são claramente inferiores, o que se deve ao facto de apenas termos contabilizado as interrupções ocorridas durante as sequências positivas, isto é, quando a bola foi jogada para o terço ofensivo ou a partir dele.

A distribuição percentual do número de interrupções, para o conjunto dos jogos realizados, pode ser observada na Figura 39.

%

60 -ó 55 - ^ ; 5 0 :/

y 45 -y 40 -'/ 35 -//\ 30 -4 25 -y 20 -4 » ^ 10 ->■

sf S 0 1 2 3 4

N9 de interrupções

Figura 39 - Distribuição percentual do número de interrupções ocorridas nas sequências ofensivas positivas observadas.

De realçar que a frequência de ocorrência de sequências positivas diminui à medida que o número de interrupções aumenta. Este facto parece traduzir a importância da continuidade das acções de jogo, o que constitui, aliás, uma das finalidades a perseguir na fase de ataque.

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237 Estudos exploratórios

Acção de ruptura (Ac rupt) As equipas de Futebol recorrem a diversos argumentos no sentido de levar

de vencida o adversário, procurando induzir rupturas no equilíbrio dos opositores.

No presente estudo, tanto nas sequências R como nas SR, verifica-se que o passe longo (Plg) figura como a acção que contribui com maior percentagem para induzir acções de ruptura (59% vs 66.1%). Contudo, enquanto que para as sequências R a acção de drible figura em segundo lugar, com o valor de 23.1%, para as sequências SR encontramos, na mesma posição, a acção de passe curto/médio (Pcm), com 21.4% (Figura 40).

70

60

50

40

%

30

20

10

0 Pcm Pig Tabl Drbl Ft

Acções de ruptura

Figura 40 - Distribuição percentual das acções de ruptura produzidas nas sequências ofensivas: Pcm - passe curto/médio; Plg - passe longo; Tabl - tabelinha (1-2); Drbl - drible; Ft -falta.

Tal como em Mombaerts (1991), no nosso estudo verifica-se que as acções de passe curto/médio são mais frequentes do que as que envolvem passes longos (90% vs 10%).

Isto traduz o facto de, no Futebol, a importância das acções não dever ser considerada exclusivamente em relação à frequência das acções, mas atender sobretudo à sua qualidade, no sentido em que induzam desequilíbrios no dispositivo adversário.

Page 247: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

Estudos exploratórios 238

8.2.5.2. Análise multivariada A análise exploratória das variáveis que configuram a organização do jogo

decorreu em três etapas.

8.2.5.2.1. Análise da função discriminante (AFD) Recorreu-se à AFD para identificar o menor lote possível de variáveis que

permitisse maximizar as ocorrências que traduzem as diferenças entre as sequências concluídas com e sem remate.

Para configurar a organização do jogo ofensivo das equipas foram consideradas inicialmente treze variáveis18: LAR, FAR, TRA, NVRt, MJO, TOD, VTB, NVC, NCt, NP, NVPa, NVPd/s e NJ.

Os resultados da FD não são, no sentido estrito do termo, estatisticamente significativos, pois para a=0.05, obteve-se A Wilks=0.83, X2

(13 )=21.42, p=0.065. Contudo, o estudo dos coeficientes canónicos estruturais (CCest) revela um conjunto de sete variáveis com alguma coerência (Quadro 26).

Quadro 26 - Valor dos coeficientes canónicos estruturais (CCest).

Variável CCest

NVRt 0.32

NVP d/s 0.26

FAR 0.25

TOD 0.25

LAR 0.23

NVC 0.19

MJO 0.19

NVPa 0.17

VTB 0.14

NJ 0.10

NP 0.06

TRA 0.03

NCt 0.00

Da mais para a menos relevante obteve-se assim: NVRt, NVPd/s, FAR, TOD, LAR, NVC e MJO. É este subconjunto que ajuda a interpretar as variáveis que estão associadas à eficácia ofensiva das sequências.

18Estas variáveis foram seleccionadas a partir de um consenso entre o autor e um perito e também por constituírem objecto de análise de vários estudos (e.g., Wrzos, 1981; Van Meerbeek et ai., 1983; Church & Hughes, 1986; Sleziewski, 1987; Chervenjakov et ai., 1988; Franks, 1988; Dugrand, 1989; Gréhaigne, 1989; Bishovets et ai., 1993; Yamanaka et ai., 1993; Cabezón & Fernandez, 1996; Larsen et ai., 1996).

Page 248: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

239 Estudos exploratórios

A matriz de reclassificação (Quadro 27) permite verificar que as variáveis consideradas possuem poder reclassificativo e descritivo, pois a partir delas foi possível identificar 68.1% das sequências concluídas sem remate e 68.6% das concluídas com remate.

Quadro 27 - Matriz de reclassificação

Predita

0 1

0 68.1% 31.9%

1 31.4% 68.6%

Constata-se assim que o número de variações de ritmo (NVRt), de passe (NVPd/s), de corredor de jogo (NVC) e de método de jogo ofensivo (MJO) são variáveis contempladas no lote seleccionado a partir da função discriminante.

Por outro lado, são também destacados FAR, TOD e LAR, i.e., variáveis relativas à organização defensiva nos momentos que antecedem as sequências ofensivas. Tal sugere que a eficácia ofensiva está estreitamente relacionada com a natureza dos processos ofensivos adoptados, ou seja, a forma como se recupera a bola (FAR), o local em que ela é recuperada (LAR) e o tipo de organização defensiva (TOD) adoptada na procura da posse da bola condicionam a eficácia ofensiva das equipas.

8.2.5.2.2. Análise da regressão logística (RL) No sentido de apurar o contributo das diferentes variáveis retidas no

modelo e de aprofundar a sua análise, num segundo momento, recorreu-se a análise da regressão logística, a qual permite obter um maior grau de minúcia não possível na AFD.

Nesta operação foi exclusivamente considerado o lote de variáveis previamente identificado na AFD, tendo-se também considerado as respectivas subcategorias.

Os resultados detalhados da RL encontram-se no Quadro 28.

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Estudos exploratórios 240

Quadro 28 - Solução da RL (B = coeficiente de regressão; ep = erro padrão; Wald = teste de Wald; gl = graus de liberdade; p = valor da prova).

Variáveis

FAR

FAR1

FAR2

FAR3

LAR

LAR1

B _ep_ Wald _SL 3.273

-0.134 0.478 0.078

0.720 0.420 2.941

0.035 0.379 0.008

0.439

0.226 0.343 0.433

0.351

0.779

0.086

0.925

0.802

0.510

LAR2 0.045 0.321 0.023 1 0.877

•MJO 12.125 3 0.007

MJ01 -0.717 0.491 2.128 1 0.144

MJ02 -1.573 0.579 7.363 1 0.006

MJ03 1.5405 0.916 2.826 1 0.092

•NVC 0.545 0.185 8.659 1 0.003

• NVPd/s -0.033 0.138 5.656 1 0.017

•NVRt -1.122 0.425 6.972 1 0.008

•TOD 8.341 3 0.039

TOD1 2.863 6.123 0.218 1 0.640

TOD2 0.725 6.109 0.014 1 0.905

TOD3 1.173 6.118 0.036 1 0.847

A qualidade do modelo é evidente (X2(18)=38.86; p=0.000), reflectindo

claramente a ideia de parcimónia deste subconjunto de variáveis para descrever e esclarecer os diferentes tipos de sequências ofensivas positivas, concluídas com e sem remate.

A matriz de reclassificação (Quadro 29) permite verificar que as sete variáveis consideradas possuem um elevado poder reclassificativo e descritivo, pois a partir delas foi possível identificar 85.5% das sequências concluídas sem remate e 62.8% das concluídas com remate, tendo-se obtido para a totalidade das sequências o valor de 75.8%, o qual, considerando que se reporta a um fenómeno complexo, pode ser considerado relevante.

Quadro 29 - Matriz de reclassificação

Predita

Observada

0 1

0 59 10 85.5%

1 19 32 62.8%

Percentat gem total 75.8%

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241 Estudos exploratórios

O subconjunto que importa salientar compreende as seguintes variáveis, por ordem de importância relativa à sua contribuição no modelo: i) número de variações de corredor de jogo (NVC; p=0.003); ii) método de jogo ofensivo (MJO; p=0.007), particularmente no que se refere ao ataque rápido (MJO2; p=0.006); iii) número de variações de ritmo de jogo (NVRt; p=0.008); iv) número de variações de passe na componente direcção/sentido (NVPd/s; p=0.017); v) tipo de organização defensiva (TOD; p=0.039).

Para além destas variáveis são ainda de considerar, com base nos baixos valores de p, a forma de recuperação da posse da bola, no que se refere à categoria intercepção (FAR2; p=0.086) e o método de jogo ofensivo, no que diz respeito ao ataque posicionai (MJO3; p=0.092).

Pensamos que este vector de variáveis pode ser analisado, agora, a partir de um estudo mais detalhado do contributo de cada uma delas.

Considerando que estamos a reportar-nos às sequências positivas, i.e., às que terminaram com remate ou nas quais a bola foi jogada para o terço ofensivo, ou a partir dele, as elevadas amplitudes de variação registadas para o NVC (0-9 para as R e 0-8 para as SR) sugerem que, neste tipo de sequências, a variabilidade é um aspecto a registar, o que vem de encontro ao que referimos para a variável espaço de jogo efectivo (EJE).

Castelo (1994), partindo da observação do comportamento de equipas de alto nível que participaram em finais dos campeonatos do mundo e da europa, concluiu que a percentagem de utilização de um corredor de jogo é inferior (22%) à utilização de dois (44%) e três corredores (34%) nas sequências ofensivas.

Vieira & Garganta (1996) indagaram a frequência de utilização dos corredores laterais e a variação de corredor em cada ataque, comparando os ataques realizados por dez equipas de alto nível, segundo a sua condição de vencedoras ou derrotadas. Concluíram que as primeiras ganham vantagem, relativamente às segundas, não no que concerne ao número de ataques realizados, mas na superior amplitude das acções ofensivas, dado que apresentam, em média, para além de uma superior frequência de utilização dos corredores laterais, um número mais elevado de variações de corredor para cada ataque.

Considerando a globalidade dos métodos de jogo (simples e compostos), os métodos de jogo simples, i.e., ataque posicionai (AP), ataque rápido (AR) e contra-ataque (CA) são mais utilizados pelas equipas nas sequências ofensivas desenvolvidas, do que os métodos compostos, i.e., com recurso à combinação de dois ou mais métodos simples (AP-AR; CA-AP, etc.), numa relação de 60% para 40%.

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Estudos exploratórios 242

Quando se considera as sequências R e SR, verifica-se que, em ambos os casos, o AP é o método mais utilizado (35.3% vs 37.7%). Contudo, nas sequências R, em segundo lugar figura o método AP-AR com 27.5%, enquanto que nas SR figura o AR com 23.2%. Em terceiro lugar surge o CA (11.8%), nas sequências R, e o AP-AR (21.7%) nas SR (Figura 41).

AP AR CA AP-AR AR-AP CA-AP

MJO

Figura 41 - Distribuição percentual dos métodos de jogo ofensivo (MJO) utilizados nas sequências ofensivas positivas: simples (AP - ataque posicionai; AR - ataque rápido; CA -contra-ataque) e compostos (AP- AR; AR- AP e CA- AP).

Cabezón & Fernandez (1996) referem que os ataques rápidos, com a participação de poucos jogadores induzem um alto nível de eficácia. Mombaerts (1991) verifica a mesma tendência, ao registar que 68% dos golos são obtidos através de ataque rápido e 32% através de ataque posicionai.

Piechniczec (1983) notou que, durante o campeonato do mundo de 1982, 45% dos golos foram obtidos através de fases estáticas do jogo, 27% através de ataque rápido e 28% através de ataque posicionai.

O polaco Jerzy Wrzos efectuou, em 1981, uma análise do jogo ofensivo das melhores equipas do campeonato mundial de Futebol, realizado na Argentina, em 1978. O autor procurou obter informações a propósito do jogo ofensivo das equipas, atendendo, entre outros aspectos, ao tipo de passe, ao método de jogo ofensivo (ataque posicionai ou ataque rápido), às características do ataque individual, às acções de finalização com remate e às causas de interrupção das acções ofensivas.

Concluiu que das acções ofensivas realizadas (112.6) a maioria se processava através do ataque rápido (88.0), sendo a proporção entre os

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243 Estudos exploratórios

ataques rápidos e posicionais, aproximadamente, de 4:1. Refere ainda que a eficácia média do jogo ofensivo alcançou um nível de 15.1% sendo a eficácia das acções realizadas com ataque posicionai (19.1%) superior à eficácia das efectuadas com ataque rápido (9.1%).

Sleziewski (1987), com base na análise dos noventa e sete golos realizados no campeonato do mundo do México'86, registou 45% obtidos através de ataque posicionai, 37% de ataque rápido e 18% de ataque posicionai passando a ataque rápido.

Dufour (1993) refere que durante o campeonato do mundo de ltália'90 se observou 88% de ataques posicionais, com uma eficácia de 7%, contra 12% de ataques rápidos, com uma eficácia de 12%.

Castelo (1994), a partir da observação de 674 acções ofensivas realizadas em finais dos campeonatos do mundo e da europa, chegou a conclusões semelhantes. O autor, considerando o conjunto dos ataques eficazes e das tentativas de realização do ataque para cada método de jogo, encontrou as maiores percentagens de ocorrência para o ataque rápido 39.9% (18.7%+21.2), logo seguido do ataque posicionai 34.3% (21.4%+12.9).

Constata-se assim, como nos estudos de Wrzos (1981, 1984), que, embora a percentagem de ocorrência seja maior para o ataque rápido (Claudino, 1993), a eficácia do ataque posicionai se revela superior (21.4% vs 18.7%).

Do nosso ponto de vista, as incongruências encontradas entre a posição dos diferentes autores devem-se, não apenas às diferentes amostras utilizadas, mas também a problemas relacionados com a definição dos diferentes métodos de jogo ofensivo. De realçar que dos autores citados apenas dois (Claudino, 1993 e Castelo, 1994) explicitam os indicadores e critérios para cada método de jogo observado.

O número de variações do ritmo de jogo (NVRt) é outra das variáveis contempladas no modelo, o que atesta a sua importância face à eficácia ofensiva das equipas.

Aliás, o facto da velocidade de transmissão da bola não ter sido uma variável retida no modelo de RL reforça a ideia de que não é a velocidade absoluta, mas sobretudo as variações de ritmo, que importa considerar quando se persegue a eficácia ofensiva.

Como refere Teodorescu (1984), o ritmo de jogo tem uma importância superior no ataque, na medida em que condiciona o poder de iniciativa ditado pela posse da bola. Pretende-se que a equipa, em relação à sequência de acções, faça variar a ordem, o espaço, a velocidade e a distribuição no tempo.

Num jogo de Futebol cada uma das equipas em confronto tenta provocar desequilíbrios na organização do adversário. As variações de ritmo de jogo

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Estudos exploratórios 244

são uma condicionante importante, na medida em que fazem com que a equipa adversária não consiga adaptar-se (Castelo, 1994), propiciando o seu desequilíbrio defensivo.

Não obstante se reconheça a influência do ritmo de jogo na eficácia ofensiva das equipas, não encontrámos estudos que nos permitissem comparar e discutir os dados que obtivemos.

Os valores obtidos para a variável número de variações de passe na componente direcção/sentido (NVPd/s) sugerem também um forte contributo desta no modelo.

A utilização do passe parece ser um argumento de superior importância como demonstram Hughes et ai. (1988). Os autores chegaram à conclusão que as equipas bem sucedidas gerem melhor a posse da bola do ponto de vista estratégico, recorrendo ao passe, enquanto que as equipas mal sucedidas correm mais com a bola e driblam mais.

Verlinden et ai. (1996), a partir da análise discriminante e da regressão múltipla, sustentam que as acções relacionadas com o tipo de passe possuem um elevado poder preditivo da eficácia das equipas.

Segundo Bate (1988), é opinião largamente divulgada que o êxito de muitas das equipas europeias e sul-americanas pode ser explicado a partir da utilização de um estilo de jogo indirecto, baseado na retenção da posse da bola acompanhada da execução de muitos passes consecutivos.

Contudo, o autor considera que esta forma de jogar, que denomina possession football, embora possa denotar uma forte componente artística, não é necessariamente eficiente na criação de oportunidades de finalização, nem na marcação de golos, na medida em que grande parte dos ataques são abortados sem que se atinja o terço ofensivo do terreno de jogo.

Para Bate (1988), de acordo com os seus estudos, o terço ofensivo representa a zona crítica de concretização, na medida em que apenas se marcam golos quando a equipa que ataca tem a bola e um ou mais dos seus jogadores colocados no terço ofensivo. Neste sentido, a entrada na zona crítica de concretização (terço ofensivo) é a chave para a marcação de golos e consequentemente para a vitória nos jogos, o que sugere um estilo de jogo directo baseado em passes longos e corridas para a frente.

Todavia, este entendimento é discutível, pois como referem Harris & Reilly (1988), as incursões demasiado rápidas no meio campo do adversário podem ocasionar erros que, para além da perda da bola, facilitem o contra-ataque adversário.

Com pertinência, Mahe (1995), num artigo intitulado "Backpassing: the key to modem soccer", salienta a importância da utilização do passe para trás no

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245 Estudos exploratórios

jogo de Futebol e refere que, quando convenientemente utilizado, ele constitui um passe positivo.

O autor enuncia as vantagens deste tipo de passe: (i) permite a utilização de um jogador janela, que recebe a bola numa posição mais recuada, garantindo uma maior visibilidade do espaço e das configurações do jogo; (ii) reduz a pressão defensiva sobre a bola e sobre os atacantes; (iii) gera maior segurança defensiva para quem ataca; (iv) condiciona o ritmo de jogo, dando tempo aos atacantes para se colocarem à frente da linha da bola, nos espaços mais favoráveis; (v) induz a criação de espaços vantajosos nas costas dos adversários.

Yamanaka et ai. (1993), partindo da hipótese que existem distintos estilos de jogo, característicos de determinadas zonas do globo, procuraram demonstrar a existência de diferenças relativas aos padrões de jogo praticados por diferentes equipas à escala mundial. Para tal, foi efectuada uma análise comparativa dos padrões de jogo de equipas, consideradas representativas, da América do Sul (Argentina, Brasil e Uruguai), da Europa Continental (Alemanha, Holanda e Itália) e das Ilhas Britânicas (Escócia, Inglaterra e Irlanda do Norte), a partir de uma amostra de 36 jogos (12 para cada tipo mencionado) realizados no Campeonato do Mundo Itália/90.

Concluiu-se que, enquanto que as equipas das ilhas britânicas lançavam o ataque a partir do terço defensivo, através de passes longos, e exploravam mais o jogo aéreo, as da europa continental tendiam a construir o ataque recorrendo a passes curtos, conduções de bola e dribles, reduzindo o risco de perder a posse de bola. As equipas sul-americanas apresentaram uma elevada ratio de remates/cruzamentos, denotando uma maior percentagem de cruzamentos provenientes do terço ofensivo.

O que foi referido sugere que apenas parece plausível afirmar a superior eficiência de uma qualquer acção de jogo em relação a outras, se a mesma for referenciada aos estilos e métodos de jogo preconizados pela equipa, no sentido de dar resposta às diferentes configurações que o jogo apresenta.

Ali (1988), com base na análise de movimentações-padrão realizadas na fase de ataque por equipas da primeira divisão escocesa, sustenta que a combinação de passes curtos com passes longos oferece claras vantagens para a criação de oportunidades de remate.

Pollard et ai. (1988) sustentam a superior elaboração e eficácia do estilo de jogo indirecto. Os autores, a partir da análise de 32 jogos do mundial de Espanha'82 e de 42 jogos da primeira divisão inglesa, concluíram que as equipas que realizam ataques com multi-passes e poucos passes longos marcam mais golos do que as que recorrem a sequências curtas de passes longos.

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Estudos exploratórios 246

Contudo, no presente estudo a componente "alcance" não foi seleccionada no modelo de regressão logística, o que faz supor uma maior importância da variação da direcção/sentido dos passes relativamente ao seu

alcance. O TOD é outra das variáveis consideradas. Os mais utilizados são a zona activa (ZA), para ambos os tipos de

sequências R e SR (54.9% vs 66.7%) e, embora com valores muito inferiores, a zona passiva (ZP), com 19.6% para as R e 8.7% para as SR (Figura 42).

Estes factos parecem estar relacionados com a resposta dada pelas equipas, quer à utilização predominante do ataque posicionai e ataque rápido, quer à sua combinação, por parte dos adversários.

R D SR

Press ZP-ZA ZA-ZP CAV-ZA Press-ZA

TOD

Figura 42 - Distribuição percentual dos tipos de organização ofensiva utilizados nas sequências ofensivas: ZA - zona activa; ZP - zona passiva; Press - pressing; ZP-ZA -zona passiva passando a zona activa; ZA-ZP - zona activa passando a zona passiva; CAV-ZA - contenção avançada passando a zona activa; Press-ZA - pressing passando a zona activa.

Tais resultados realçam a interdependência dos processos defensivos e ofensivos. O tipo de organização defensiva preconizado pelas equipas, independentemente das sequências serem concluídas com ou sem remate, depende sobretudo das configurações adoptadas pelas equipas adversárias na fase ofensiva.

Fica assim reforçada a ideia de que o Futebol é um jogo em que o factor "oposição" condiciona duma forma muito importante o comportamento dos jogadores e das equipas. Isto significa também que, quer do ponto de vista do ensino, quer ao nível do treino, o factor oposição constitui um ingrediente fundamental para configurar a especificidade desta modalidade.

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247 Estudos exploratórios

Considerando a FAR, a maior percentagem das sequências R (33%) foi iniciada a partir de erros do adversário, enquanto que 24% se realizou a partir de intercepção e 14% a partir de desarme; para as SR verificou-se que 29% decorreram de desarme, 17% de erros do adversário e 16% de intercepções (Figura 43).

Bll PS PB FJ Df/Gr Ft Err Int Dsr

FAR

Figura 43 - Distribuição percentual das formas de aquisição ou recuperação da posse da bola (FAR) nas sequências ofensivas: Bll - lançamento da bola pela linha lateral; PS -pontapé de saída; PB - pontapé de baliza; FJ - fora de jogo; Df/Gr - defesa do guarda-redes; Ft - falta; Err - erro do adversário; Int - intercepção; Dsr - desarme.

No presente estudo verifica-se que a categoria "erro do adversário" (Err) é aquela que mais contribui para a realização das sequências concluídas com remate, enquanto que para as sequências concluídas sem remate isso acontece em relação à categoria desarme (Dsr).

Considerando o conjunto das sequências positivas, destacam-se claramente as categorias "erro", "intercepção" e "desarme".

Claudino (1993) registou a mesma tendência a partir da análise do jogo de equipas de alto nível, pois encontrou, em relação às formas de recuperação da posse da bola: 36% a partir de intercepção, 15% a partir de erros do adversário por mau passe e 14% a partir de desarme.

Se atentarmos nas três categorias mencionadas verificamos que elas traduzem situações de jogo dinâmico em contraposição com as demais, que se referem a fragmentos estáticos do jogo, nomeadamente Bll, PS, PB, FJ e Ft.

Este facto demonstra que é de toda a conveniência que as equipas procurem recuperar a posse da bola através de situações dinâmicas que

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Estudos exploratórios 248

garantam a continuidade e fluidez do jogo, no sentido de surpreenderem o adversário em situações de desequilíbrio defensivo.

Para além da forma como a equipa recupera a posse da bola, alguns estudos (Franks, 1988; Olsen, 1988; Hughes, 1990; Miller, 1994) referem a importância da zona onde a mesma é conquistada.

Embora no presente estudo a variável "local de recuperação/aquisição da bola" (LAR) não tivesse sido retida no modelo de regressão logística a mesma foi destacada através da análise da função discriminante. Neste sentido, entendemos que seria profícuo discutir os resultados a ela referentes.

Verifica-se assim que, a maior parte das vezes, as equipas conquistam a bola no seu meio campo defensivo, 78% para as sequências R e 73% das vezes para as SR, sendo a zona média defensiva central (MDC) a que contribui com maior percentagem relativa (20% e 25%, respectivamente), como se pode observar nas Figuras 44 e 45.

Sentido do ataque

Figura 44 - Distribuição percentual das zonas onde foi adquirida ou recuperada a posse da bola nas sequências ofensivas positivas concluídas com remate.

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249 Estudos exploratórios

Sentido do ataque

Figura 45 - Distribuição percentual das zonas onde foi adquirida ou recuperada a posse da bola nas sequências ofensivas positivas concluídas sem remate.

Sleziewski (1987) também registou uma preferência das equipas que observou no mundial do México'86 pela maior percentagem de jogo realizado no seu meio-campo defensivo.

Por sua vez, Mombaerts (1991) refere que a maior percentagem das 1778 sequências observadas, concluídas com remate, teve início na zona média defensiva central, logo seguida da zona defensiva central.

Constata-se uma tendência semelhante no estudo de Cabezón & Fernandez (1996), no qual se verifica que em 100 sequências ofensivas que conduziram à marcação de outros tantos golos, a maior percentagem de recuperações de posse da bola (43%) ocorre no sector intermédio, ou de construção.

Claudino (1993) registou os maiores valores para as bolas recuperadas na zona defensiva central e média defensiva central.

No seu estudo, Castelo (1994) conclui que nas 674 sequências ofensivas observadas, 9 1 % das bolas são conquistadas no meio campo defensivo das equipas, 7 1 % das quais no sector defensivo e 52% no corredor central.

Constatou ainda que em 70% das acções ofensivas observadas, as equipas apenas conseguiram realizar a fase de construção do ataque e verificou que em 13% das acções foram criadas situações de finalização e que dessas apenas 17% provocaram finalizações.

De alguma forma, estes resultados confirmam o facto do Futebol, quando comparado com outros JDC, ser considerado um jogo de transição, na

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Estudos exploratórios 250

medida em que a maior percentagem de volume do jogo, considerando as várias acções realizadas, se desenvolve no sector intermédio do terreno.

Numa perspectiva diferente, Hughes (1990) mostra que, enquanto que para marcar um golo a partir da conquista da posse de bola no terço defensivo uma equipa necessita, em média, de ganhar 235 posses de bola, para o fazer a partir de bolas conquistadas no terço ofensivo, apenas necessita de ganhar, em média, trinta e quatro bolas.

Franks (1988), a partir da análise de jogos do campeonato canadiano de Futebol, concluiu que as posses de bola conquistadas no terço ofensivo contribuem para 65% dos remates realizados; no terço intermédio com 25% e no terço defensivo 19%.

Hughes (1990), num estudo realizado a partir da análise de seis finais dos Campeonatos do Mundo, em que participaram doze selecções nacionais, concluiu que 51.9% dos golos resultam de jogadas em que a bola foi conquistada no terço ofensivo, 25.9% no terço intermédio e 22.2% no terço defensivo. No mesmo estudo, com base na análise de 109 jogos, dezasseis em que participou o Liverpool e os restantes realizados por selecções nacionais de vários países, em campeonatos do mundo e da europa, concluiu ainda que 52% dos golos resultam de jogadas em que a bola foi conquistada no terço ofensivo, 30% no terço intermédio e 18% no terço defensivo.

Garganta et ai. (1995), a partir da análise de 104 sequências ofensivas concluídas com golo, realizadas por cinco das melhores equipas europeias, referem que as equipas observadas ganharam, em média, 45% das bolas no terço ofensivo, 26% no terço intermédio e 29% no terço defensivo.

Olsen (1988), a partir da análise dos jogos do campeonato mundial do México'86, registou que mais de 50% das intercepções realizadas nas jogadas que conduziram ao golo ocorreram no terço ofensivo.

Bate (1988), ao procurar explorar a criação de oportunidades de finalização em Futebol e sua relação com os aspectos estratégicos e tácticos, constatou que 50-60% dos movimentos que conduziram a acções de finalização-remate, tiveram origem no terço ofensivo.

Na mesma linha de entendimento, Miller (1994) refere que um dos ingredientes mais importantes para o êxito em Futebol é a conquista da posse de bola no terço ofensivo. Segundo este autor uma bola conquistada nessa zona, oferece sete vezes mais possibilidades de produzir um remate, do que a bola conquistada no terço defensivo.

Do nosso ponto de vista, a explicação para estas aparentes incongruências parece radicar em duas razões. Uma que se prende com a metodologia utilizada, nomeadamente no que se refere aos diversos

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251 Estudos exploratórios

campogramas utilizados (integrando 12, 16, 18, 24 ou mais zonas); outra que está relacionada com o nível competitivo das equipas observadas e os diferentes estilos e métodos de jogo utilizados pelas mesmas, aspectos que frequentemente são omitidos.

Dos dados obtidos no presente estudo ressaltam dois aspectos importantes: 19 a variabilidade das acções ofensivas, consubstanciada nas variações de corredor, de ritmo e de tipo de passe (direcção/sentido), é um factor associado à eficácia das sequências ofensivas; 29 o ataque rápido e o ataque posicionai, enquanto métodos de jogo ofensivo, bem como a organização defensiva adoptada são factores que condicionam a eficácia ofensiva das equipas.

Os dados sugerem que uma equipa tem mais probabilidades de ser eficiente, do ponto de vista ofensivo, quando conquista a bola através de intercepção, circula a bola variando os corredores de jogo, na procura da amplitude das acções ofensivas, faz variar a direcção e o sentido dos passes utilizados bem como o ritmo de jogo e recorre prevalentemente ao ataque rápido. O tipo de organização defensiva surge também como factor condicionante, o que atesta a importância da ligação das duas fases do jogo (defesa/ataque). Contudo, nenhum tipo de organização defensiva revelou supremacia em relação aos demais.

8.2.5.2.3. Classificação automática (análise de clusters) Num terceiro momento procurámos indagar como é que as variáveis

tendem a associar-se naturalmente entre si, em função da sua distância, formando subgrupos que se espera sejam coerentes, ou clusters substantivos, que descrevam aspectos relevantes do jogo. Ou seja, de que forma as variáveis se associam no sentido de traduzirem uma "inteligibilidade" relativa à eficácia das sequências de jogo?

Com o intuito de utilizar o procedimento da classificação automática (análise de clusters) consideramos novamente as treze variáveis inicialmente seleccionadas. Tendo em conta a globalidade das sequências positivas foram identificados dois clusters (Figura 46).

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Estudos exploratórios 252

to '(D > 'tO

tt!

>

c 5 10 15 20 25 3C

NVPDd/s NCT

NP

! NVPDd/s NCT

NP hn ! NVPDd/s

NCT NP _i , í

NVPDd/s NCT

NP -A NJ

NVC NVP a

i j

! NJ

NVC NVP a

i j

! NJ

NVC NVP a i NVRT

LAR NVRT

LAR NVRT

LAR FAR VTB FAR VTB H TRA MJO . . TOD •

10 15

Distâncias métricas

20 25 30

Figura 46 - Dendograma obtido através do método de Ward, com os clusters relativos às treze variáveis para o total de sequências ofensivas positivas realizadas.

Verifica-se que num primeiro cluster encontramos um agrupamento de variáveis aparentemente mais associado à dimensão quantitativa do jogo, representado por NVPd/s, Net, NP, NJ, NVC, NVPa e NVRt. O segundo cluster revela um conjunto de variáveis que traduz, essencialmente, aspectos relacionados com a dimensão qualitativa do jogo, representado por LAR, FAR, VTB, TRA, MJO e TOD.

Todavia, pode constatar-se na Figura anterior que, no primeiro agrupamento, as variáveis se vão aglutinando num crescendo de associação, sugerindo que a sua maior influência se vai fazendo sentir à medida que se vão adicionando umas às outras. No segundo agrupamento, a tendência é diferente pois as variáveis, embora se aglutinem mais tardiamente, evidenciam uma associação num nível idêntico (leia-se idênticas distâncias métricas), o que indicia que a sua influência se faz sentir sobretudo quando a sua acção é conjugada.

Assim, no primeiro cluster verifica-se que o número de variações de direcção/sentido dos passes (NVPd/s) e o número de passes (NP), bem como o número de contactos (Net), são as variáveis que primeiro se associam e às quais se vão juntando, aditivamente, o número de jogadores (NJ) e o número de variações de corredor (NVC). A este conjunto vem, posteriormente, aglutinar-se um outro, constituído pelo número de variações de alcance do passe (NVPa) e pelo número de variações de ritmo (NVRt).

O segundo cluster traduz uma associação mais equilibrada e conjugada das variáveis. O tempo de realização do ataque (TRA) e a velocidade de transmissão da bola (VTB) aparecem intimamente associados à forma (FAR) e local de aquisição/recuperação da posse da bola (LAR). Os métodos de

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253 Estudos exploratórios

jogo ofensivo (MJO) surgem também intimamente associados ao tipo de organização defensiva (TOD), tal como tinha sido já constatado na AFD e RL.

Pode, assim, dizer-se que as equipas tendem a gerar sequências positivas a partir de duas formas básicas: uma em que procuram variar, adicionando segundo ordens diversas, a circulação da bola nos corredores, o tipo de passe, o ritmo de jogo, o número de contactos, o número de passes e de jogadores envolvidos; outra em que procuram variar, conjugadamente, o local e a forma de recuperação da bola, a velocidade de transmissão da bola, o tempo de realização do ataque, o método de jogo ofensivo e o tipo de organização defensiva.

No sentido de mapear de modo distinto o perfil das sequências ofensivas efectuou-se a representação dos dois clusters, com base nas médias de cada variável, previamente transformada em "scores Z" (Figura 47).

cluster n9 1 cluster ne2

co o

-CD

E CO CD i— O CO

>

-0.5

NV d/s NVPa Net LAR FAR MJO TOD NVRt VTB TRA NJ NP NVC

Variáveis

Figura 47 - Perfil dos valores médios para os dois clusters considerados, considerando o total de sequências ofensivas positivas realizadas.

Como pode ser verificado na figura, as sequências evidenciam uma enorme variabilidade em função da categorização preconizada para cada cluster, na medida em que se verificam perfis de comportamento diametralmente opostos em nível, i.e., na diferença de magnitude de cada variável.

Quer isto dizer que, embora as variáveis tendam a associar-se entre si para produzir um determinado tipo de sequência ofensiva, ao longo do jogo

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Estudos exploratórios 254

elas assumem formas diversificadas, representadas pelas assimetrias expressas na figura.

Todavia, verifica-se que o local (LAR) e a forma de aquisição/recuperação da posse da bola (FAR), bem como o tipo de organização defensiva (TOD) e a velocidade de transmissão da bola (VTB) são os aspectos cuja variabilidade se revela menos importante para configurar a eficácia ofensiva das sequências.

Por outro lado, o número de variações do tipo de passe (NVPd/s e NVPa), o tempo de realização do ataque (TRA), o número de passes (NP), de jogadores (NJ), de variações de corredor (NVC) e de ritmo (NVRt), bem como o método de jogo ofensivo (MJO), apresentam uma variabilidade importante.

Quando se separa as sequências de acordo com a sua eficácia verifica-se idêntica tendência para as sequências concluídas sem remate (SR), como se pode observar na Figura 48.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

NVPDd/s 1 i i NP j — M l L I ! ! I i i

NCT 1 H í —i I I I í NJ ! ! p j—i Í I I

NVC 1 1 !—' I j- 1 1 L 1—-•g NVPa 1 i ! i_i_l ! ! ! j ! á NVRT 1 1 1 f| i ! I E i i LAR 1 ! ! 1—L_J_ i I i I > TRA 1 1 1 !

r i -, FAR 1 1 1 1 H il I I VTB ! 1 1 1 H I ! ! i—I MJO 1 1 ; 1 1 i 1| i i j TOD 1 ; ; 1 ' T I I i I

; . . ; i ! , — . — i — . — . — í í — ■ — ■ — í > — ' — ■ — ■ —

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Distâncias métricas

Figura 48 - Dendograma obtido através do método de Ward, com os clusters relativos às treze variáveis para as sequências ofensivas concluídas sem remate.

O local (LAR) e a forma de aquisição/recuperação da posse da bola (FAR), bem como a velocidade de transmissão da bola (VTB) e o tipo de organização defensiva (TOD) continuam a revelar-se como as variáveis cuja variabilidade se revela menos importante para configurar a eficácia ofensiva, pois evidenciam um comportamento mais regular. Contudo, a estas vêm juntar-se os métodos de jogo ofensivo (MJO).

O NVPd/s e NVPa, o TRA, o NP, o NJ, o NVC e o NVRt voltam a evidenciar uma variabilidade importante (Figura 49).

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255 Estudos exploratórios

cluster n9 1 cluster ns2

1.5

to o

-CD E II) a> i— o (0 >

0.5

-0.5

-1

V^::4/ I Z_

.X

}

> -a' D-

. i . .

NVd/s NVPa Net LAR FAR MJO TOD NVRt VTB TRA NJ NP NVC

Variáveis

Figura 49 - Perfil dos valores médios para os dois clusters considerados, considerando as sequências ofensivas concluídas sem remate.

Todavia, constata-se que, para as sequências mais eficientes (R), se altera o agrupamento das variáveis (Figura 50). Assim, as variações de ritmo e o tipo de passe, na dimensão alcance, aparecem associadas aos métodos de jogo, ao tipo de organização defensiva utilizados, bem como à forma e local onde a bola é recuperada, dados que são congruentes com os resultados revelados pela análise da regressão logística.

0 5 10 15 20 2

NVPDd/s NCT

NVPDd/s NCT

NVPDd/s NCT

NP NJ

NVC

NP NJ

NVC

NP NJ

NVC

NP NJ

NVC £ TRA á VTB « NVPa

£ TRA á VTB « NVPa

£ TRA á VTB « NVPa

£ TRA á VTB « NVPa

> NVRT > NVRT MJO TOD LAR

MJO TOD LAR

•I MJO TOD LAR

MJO TOD LAR FAR FAR

10 15 Distâncias métricas

20 25

Figura 50 - Dendograma obtido através do método de Ward, com os clusters relativos às treze variáveis para as sequências ofensivas concluídas com remate.

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Estudos exploratórios 256

Não obstante, o facto mais saliente desta análise é também a elevada variabilidade traduzida nas assimetrias das variáveis integrantes dos respectivos clusters, conforme se pode observar na 51.

cluster n21 cluster n22

NV d/s NVPa Net LAR FAR MJO TOD NVRt VTB TRA NJ NP

Variáveis

NVC

Figura 51 - Perfil dos valores médios para os dois clusters considerados, considerando as sequências ofensivas concluídas com remate.

De facto, a análise da figura permite perceber que nas sequências mais eficientes, i.e., as terminadas com a acção de remate, a variabilidade é maior em relação ao conjunto das variáveis, com excepção do tipo de organização defensiva (TOD).

Pode, assim, dizer-se que as sequências concluídas com remate ocorrem com base na associação de dois grupos de variáveis: um em que as equipas procuram variar, conjuntamente, o número e tipo de passes (na dimensão direcção/sentido), o número de contactos, o número de jogadores envolvidos, o tempo de realização do ataque, a velocidade de transmissão da bola e a circulação da bola para diferentes corredores; outra em que as equipas procuram variar conjugadamente o tipo de passes (na dimensão alcance), o ritmo de jogo, o local e a forma de recuperação da bola, o método de jogo ofensivo e o tipo de organização defensiva.

8.2.6. Conclusões O jogo é um acontecimento que decorre na convergência de várias

polaridades: a polaridade global entre duas equipas; a polaridade entre

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257 Estudos exploratórios

ataque e defesa; a polaridade entre cooperação e tensão (Elias & Dunning, 1992; Dunning, 1994).

Num jogo de Futebol, não é possível saber, a partir de um estado inicial, qual o estado final duma acção ou sequência, o que quer dizer que estamos em presença de situações de final aberto. Muitas das acções empreendidas pelos jogadores de Futebol, embora se inscrevam no contexto do regulamento e dos princípios de acção e regras de gestão do jogo, representam alterações súbitas que se operam num contexto de incerteza e imprevisibilidade.

Uma pequena alteração, e.g. uma variação do ritmo de execução duma acção, ou a execução de passe longo numa dada zona do terreno de jogo, pode provocar efeitos consideráveis noutras zonas, o que traduz a dependência sensível das condições iniciais19 experimentada pelo sistema.

Ténues diferenças nas condições iniciais poderão, em certas circunstâncias, levar a mudanças maiores no comportamento do sistema, ou seja, um micro facto pode ter macro consequências ao nível do decurso do jogo e do seu resultado.

No plano da organização ofensiva das equipas de Futebol, não obstante a natureza aleatória e diversificada das acções de jogo, é possível detectar vias e formas preferenciais de acção dos jogadores, expressas na forma como se comportam algumas variáveis e do modo como elas se agrupam para interagir.

Ou seja, embora não exista um determinismo absoluto, a análise das sequências de jogo permite apurar regularidades e variações exibidas pelas equipas que exprimem uma lógica observável.

A eficácia das equipas parece depender, sobretudo, da sua organização materializada na capacidade para, na estreita relação entre o tipo de organização defensiva e os métodos de jogo ofensivo utilizados, controlar o jogo através das variações de corredor na circulação da bola, das alterações de ritmo e do tipo de passe, no sentido de criar surpresa e romper o equilíbrio da equipa adversária.

Os resultados permitem perceber que, para as sequências positivas (com e sem remate), é possível definir permanências na variabilidade. São, no entanto, regularidades de constructo, não invariâncias no sentido restrito do termo.

Considerando a amostra em estudo, os resultados encontrados permitem concluir o seguinte:

1^Trata-se de um fenómeno que resulta das propriedades ampliadas da estrutura da regra, do acto de repetição e da própria operação do acaso. Enquanto se repete a regra, os pequenos distúrbios ou flutuações, no contexto dentro do qual o sistema opera são ampliados ao ponto de alterarem completamente o comportamento do pormenor e, mais tarde, o resultado final (Stacey, 1995).

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Estudos exploratórios 258

• A variabilidade das acções ofensivas é um factor associado à eficácia das equipas. A uma maior variabilidade corresponde uma maior eficácia.

• As variações de corredor, de tipo de passe e de ritmo de jogo são indicadores associados à eficácia ofensiva das equipas.

• Uma acção de jogo aparentemente simples, como um passe longo, pode induzir desequilíbrio no balanço ataque/defesa e provocar rupturas no sistema defensivo do adversário.

• A intercepção é a forma de recuperação da posse da bola que se revela mais vantajosa na procura da eficácia ofensiva.

• Um baixo tempo de realização do ataque (TRA) e uma elevada velocidade de transmissão da bola (VTB) não são variáveis necessariamente associadas à eficácia ofensiva das equipas.

• O baixo tempo de realização do ataque (TRA), contrariamente ao que é concluído em vários estudos, não se revelou um factor associado a uma superior eficácia ofensiva das equipas.

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IX - Considerações finais

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Considerações finais 260

9. Considerações finais

"... não existe treinador que no seu Intimo não pretenda ser o "deus de Laplace" - conseguir prever com uma certeza infinitésimal a evolução do jogo, controlar esse sistema multivariávol. Por isso, talvez ele preferisse substituir a variabilidade pela estereotipia na expectativa de que as atitudes dos seus jogadores fossem previstas e articuladas com a máxima certeza, de que as propriedades topológicas do movimento que eles manifestam fossem as menos variáveis. Ele deve, no entanto, aperceber-se que a máxima estereotipia, correspondendo à mínima variabilidade, corresponde, também, à minima adaptabilidade...".

P. Cunha e Silva (1995)

O entendimento do jogo de Futebol enquanto sistema de sistemas faz emergir novos problemas que até ao momento têm sido pouco tratados, embora fundamentais, como sejam os relativos à dimensão táctica (Gréhaigne & Bouthier, 1997).

As equipas de Futebol de alto nível parecem operar em estados de não-equilíbrio, interagindo com o meio de forma a criar os ambientes ou condições que lhes são mais vantajosas, i.e., impondo a sua forma de jogar, nomeadamente através da variação do tipo de passe, dos espaços de circulação da bola e do controlo do ritmo de jogo.

Os comportamentos dos jogadores são determinados por regras relativamente simples e por relações com uma forma de feedback não-linear. Contudo, as regras simples podem gerar comportamentos complexos e ampliados.

Esta é uma a característica fundamental do caos1. Os sistemas caóticos são extremamente sensíveis a pequenas perturbações (Tarnowski, 1993). Vários autores (Gleick, 1989; Tarnowski, 1993; Dunning, 1994; Cunha e Silva, 1995; Stacey, 1995) têm destacado a existência de certos sistemas que encerram uma dinâmica caótica, no sentido em que, não obstante a aparente desordem traduzida nas variabilidade e instabilidade de formas que podem assumir, exibem uma ordem que decorre de processos sistemáticos de auto-organização (Potter & Hughes, 1996).

Aliás, como refere Dunning (1994), o jogo é um acontecimento caótico, particularmente sensível às condições iniciais. É um dos exemplos mais eloquentes do "caos determinista", na medida em que se joga na fronteira entre o caos e a ordem. É aí que se encontra o desequilíbrio permanente capaz de criar estrutura a partir dos mecanismos de auto-organização dos sistemas complexos (Cunha e Silva, 1995).

! o vocábulo caos, significa, de modo geral, "abertura". Contudo, pode distinguir-se no conceito de caos um duplo aspecto, já presente nas versões mais antigas: o negativo - vacuidade, trevas; e o positivo -totalidade absoluta indiferenciada (cf. Enciclopédia Luso-Brasileira). O caos é uma ciência mais de processos que de estados. É não apenas uma teoria mas também um método, um modo de fazer ciência (Gleick, 1989). É uma explicação para os fenómenos de características de ordem e estabilidade, por um lado, acompanhadas por desordem e irregularidade, por outro. Remete para a origem e a natureza de padrões combinados de uniformidade e variedade no comportamento dos sistemas (Stacey, 1995).

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261 Considerações finais

No jogo de Futebol, em muitos casos, a ordem parece nascer do caos2. Consoante o tipo de perturbação aleatória que o sistema sofre, no momento em que se torna instável, surge um outro tipo de organização, como resultado das reacções que se processam em condições de não equilíbrio e que provocam o aparecimento espontâneo de estruturas que apresentam uma certa ordem.

O jogo de Futebol é um fenómeno que se projecta numa cadeia de estados de desequilíbrio-equilíbrio. As equipas são "estruturas dissipativas", na medida em que desenvolvem o estado longe-do-equilíbrio^; uma nova e mais complexa forma de comportamento cuja principal propriedade é, como referem Prigogine & Stengers (1984), requerer inputs contínuos de energia e informação para se manterem.

A interacção dos jogadores em condições longe-do-equilíbrio prende-se com o fenómeno de auto-organização, i.e., um processo em que (cf. Stacey, 1995) os componentes comunicam espontaneamente entre si e cooperam subitamente num comportamento comum, coordenado, concertado. Mesmo quando parecem comportar-se de acordo com uma lógica determinista, os sistemas/equipas mais evoluídos manifestam tendência para manipularem essa lógica, transformando-a.

Quando a dinâmica é caótica, as soluções resultantes do raciocínio inspirado na relação directa entre causa/efeito podem ser pistas perigosas para uma escolha. Procurando ultrapassar um pouco a abordagem analítica, centrada na causa/efeito, devemos centrar-nos, como refere Stacey (1995), na descrição qualitativa dos padrões de comportamento.

Torna-se cada vez mais importante despistar categorias reconhecíveis no comportamento de um sistema caótico recorrendo a descrições qualitativas que possibilitem detectar a regularidade na variedade, face ao comportamento do sistema.

Num sistema, caos e estabilidade não são conceitos antagónicos (Gleick, 1989). Um sistema caótico pode ser isoladamente imprevisível mas globalmente estável, se o seu estilo particular de irregularidade persistir face a pequenas perturbações. Nesta situação, como refere Cunha e Silva (1995),

2Os cientistas identificaram algumas características do caos: (1) os movimentos simples de controlo de feedback produzem padrões de comportamento complexos, alguns dos quais são inerentemente aleatórios; (2) são necessárias mudanças muito pequenas para fazer com que o comportamento, ao longo do tempo, passe de ciclos previsíveis a padrões aleatórios; (3) existe ordem dentro da desordem; (4) os sistemas criativos têm de operar longe-do-equilíbrio, num estado de instabilidade; (5) uma inovação, uma nova direcção estratégica, ocorrem a partir da instabilidade (Stacey, 1995).

^0 comportamento longe do equilíbrio caracteriza-se pelo individual e pelo exclusivo. Os sistemas que operam longe-do-equilíbrio estão aptos a criar e a inovar, enquanto que os que operam próximo-do-equilíbrio não têm essa capacidade (Stacey, 1995).

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Considerações finais 262

irrompem padrões que denunciam o comportamento caótico, à pequena escala, mas que denunciam, à grande escala, uma certa regularidade.

Há uma forma geral, ou ritmo, de comportamento de um sistema num macronível, mesmo se, em certos momentos, o comportamento é totalmente fruto do acaso. É esta propriedade, juntamente com a dependência sensível das condições iniciais, que nos permite identificar uma categoria de fenómenos (Stacey, 1995).

Sendo o jogo uma sequência de sequências, é de admitir, como refere Bateson (1987), que cada sequência só possa ser jogada enquanto retiver alguns elementos criativos e inesperados.

Isso implica que os jogadores estejam em condições de inventar novos jogos durante o jogo, sendo nas zonas de incerteza que se jogam as fases críticas do jogo. Há um jogo que é partilhado e jogadores que elaboram as suas estratégias pessoais, sem as quais não haverá jogo. Se retirarmos ao jogo as suas regras, ou se privarmos os jogadores duma estratégia pessoal, o jogo não pode mais existir, desaparecerá (Parlebas, 1976a; Caillé, 1990).

As equipas operam como sistemas dinâmicos que se confrontam simultaneamente com o previsível e o imprevisível, com o estabelecido e a inovação. O decorrer do jogo dá-se na interacção, e através da interacção, das regras constitutivas do jogo, o acaso e a contingência de acontecimentos específicos com as escolhas específicas e as estratégias dos jogadores, viradas para a utilização das regras e do acaso para criarem novos cenários e novas possibilidades.

Na medida em que, grande parte da tarefa das equipas consiste numa hábil gestão das restrições, a incerteza e a surpresa consubstanciam-se nas acções e reacções dos jogadores que, tentando resolver eficazmente as situações de jogo, criam uma margem de imprevisibilidade correspondente às atitudes, às dificuldades e às decisões tomadas em cada momento (Bacconi & Marella, 1995).

A criatividade e o inesperado estão relacionados com a capacidade de, a partir de acções ambíguas e simulações, criar surpresa no adversário. Os jogadores tendem a agir no sentido de produzir configurações de jogo inesperadas e assim criar incerteza4 para o adversário. Todavia, os comportamentos assumidos pelo jogador em jogo têm, para ele e para os seus companheiros de equipa, um sentido que se insere numa determinada lógica, pelo que, como refere Bourdieu (1980), o sentido do jogo é

4De acordo com Garnier (1976), nos JDC a incerteza pode ser de três tipos: temporal, espacial e acontecimental.

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263 Considerações finais

simultaneamente a realização da teoria do jogo e da sua negação enquanto tal.

Apesar de determinadas variações momentâneas serem imprevisíveis, por vezes evidenciam o mesmo padrão quando as comparamos com variações para grandes lapsos de tempo (quantidades de sequências). A este fenómeno, típico dos fractais, Mandelbrot (1982) chamou invariância de

escala5.

É provável que no jogo a possibilidade de estratégias e escolhas tácticas esteja limitada a uma organização multifractal e a uma atracção caótica que restringe as opções evolutivas. Há uma interacção permanente entre a jogada e a sua eficácia; entre cada jogada, a jogada anterior e a subsequente, o que permite definir a natureza fractal^ da alteração evolutiva (Cunha e Silva, 1995).

Um exemplo aproximativo da noção de fractalidade em Futebol: as sequências de jogo, desde o momento em que a equipa adquire a posse da bola até à finalização. As formas perceptivas e as leis que as regem, o seu engendramento e as sua implicações parecem idênticas qualquer que seja a escala a que se observa o jogo. Cada uma delas, mesmo que caracterizada por um número de ocorrências diferente, reproduz os princípios e as regras de gestão relativamente ao jogo formal.

Entendemos que a explicitação de um entendimento sobre o jogo de Futebol, tanto no plano do jogador como do treinador, deve realizar-se a partir da emergência duma constelação conceptual, construída a partir do compromisso entre o estabelecido (as regras, os princípios) e a inovação. O estabelecido não é apenas limite, mas também oportunidade (Prigogine & Stengers, 1981).

5 A noção de invariância de escala pode ser considerada um princípio organizador geral. A resposta a uma dada questão depende da escala na qual o observador se coloca (Durand, 1992). Demasiado perto podemos não detectar aspectos que emergem quando nos afastamos; e o contrário também é verdadeiro.

^O conceito de fractal foi introduzido pelo matemático polaco Mandelbrot (Dubois, 1994). Os fractais são formas geométricas igualmente complexas nos seus detalhes e na sua forma geral. Se ampliarmos um pedaço de fractal, para o tomarmos do mesmo tamanho do todo, obteremos um motivo semelhante ao todo, ainda que, para isso, tenha que sofrer pequenas variações (Mandelbrot, 1992). No modelo fractal (Mandelbrot, 1982) cada nível tem as suas próprias características informacionais e está em interacção com os outros. A fractalidade é um modelo interpretativo, um registo organizador, uma linguagem que permite entender o funcional (Cunha e Silva, 1995), podendo garantir uma maior visibilidade aos fenómenos complexos, como por exemplo o jogo de Futebol.

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Considerações finais 264

Por outro lado, o jogador participa num jogo cujo resultado está para ele em aberto. Tem de fazer uso de todas as suas capacidades, para se afirmar como jogador e não se tornar apenas um joguete do acaso7 (Eigen & Winkler, 1989).

O que tem vindo a ser referido, e tal como alguns autores já vêm chamando à atenção, e.g. Potter & Hughes (1996), aponta para a necessidade de uma incursão nas designadas ciências do caos (Gleick, 1989).

Para além disso, diríamos que, num futuro próximo, parece desejável que a direcção da investigação na valência análise do jogo evolua no sentido de, conjuntamente com áreas como a Psicologia Cognitiva (construção de imagens mentais), colaborar na procura de algumas respostas que nos permitimos colocar:

• como concebem os treinadores, e os jogadores, a organização do jogo? • que categorias elegem como mais representativas da organização do

jogo? • que comportamentos privilegiam, no plano dos conhecimentos,

declarativo e processual, na defesa e no ataque? • que tipologia de exercícios utilizam os treinadores para que os seus

jogadores assimilem o modelo de jogo pretendido? • que congruência existe entre o modelo de jogo do treinador

(conceptualização), o modelo de jogo dos jogadores (conhecimento declarativo) e o tipo de organização de jogo que a equipa de facto exprime (conhecimento processual)?

Do nosso ponto de vista, a resposta para este tipo de perguntas passa: (i) pela possibilidade de reunir bases alargadas de dados que contemplem o comportamento de equipas representativas de diferentes estilos e escolas de jogo, considerando o conjunto de provas em que participam; (ii) pelo estudo de casos relativos ao comportamento de cada equipa ao longo de diferentes provas (campeonatos, nacionais, taças da europa, campeonatos do mundo, jogos olímpicos, etc.), no sentido de configurar modelos que caracterizem diferentes perfis de jogo8; (iii) pela análise conjugada do treino e do jogo,

7 O acaso é uma sequência de acontecimentos em que nenhum deles ocupa a posição que já ocupara anteriormente (Stacey, 1995). O problema está em saber se o acaso é um conceito que diz respeito ao estado do nosso conhecimento ou ao estado ontológico dos eventos e dos processos em si (Amsterdamski, 1996). O acaso tem um nome especial no domínio dos jogos. Designámo-lo por "sorte" quando nos é favorável e por "azar" quando nos é desfavorável (Eigen & Winkler, 1989).

8Neste momento, em colaboração com Marc Verlinden, da Universidade Livre de Bruxelas, encontramo-nos empenhados no aperfeiçoamento do Computer Assisted Scouting Match Analysis System (CASMAS), desenvolvido pelo Professor Walter Dufour. O alargamento das categorias e o refinamento dos indicadores de observação do comportamento das equipas irão permitir-nos, num futuro próximo, reunir extensas e diversificadas bases de dados relativos a variáveis tácticas e técnicas.

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265 Considerações finais

nomeadamente no que se refere à congruência entre os exercícios adoptados e os comportamentos expressos pelos jogadores/equipas na competição; (iv) pela construção e aplicação de questionários que permitam indagar as características fundamentais do conhecimento declarativo que jogadores e treinadores possuem acerca das regras de gestão e organização do jogo.

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X - Bibliografia

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* Consulta indirecta

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XI - Anexos

Page 303: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

Anexo 1

Page 304: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

Universidade do Porto Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física

Questionário

O presente questionário visa apurar a forma como treinadores e investigadores

perspectivam e hierarquizam os factores de rendimento no Futebol e como se

posicionam face à investigação nesta modalidade. Solicitamos-lhe que após

formularas suas respostas, nos devolva o questionário com a brevidade possível.

Obrigado pela sua colaboração.

1 . Identificação

Idade Habilitações literárias

Actividade: Treinador Q Investigador Q Outra U

Qual?

2. Prática desportiva

Foi praticante federado de Futebol? Não Q Sim Q

Durante quantos anos? Q Q Foi atleta internacional ? Não Q Sim G

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2

3. Factores do rendimento em Futebol

3.1. Numa escala de 1 (menos relevante) a 5 (mais relevante), atribua um valor aos factores que tradicionalmente se aceita contribuírem para o rendimento em Futebol:

.Físicos Q .Psicológicos Q .Tácticos G .Técnicos Q

3.2. Segundo a sua opinião, esta classificação tradicional dos factores que concorrem para o rendimento é pertinente e ajustada? Sim Ql Não Q . Se respondeu não, apresente, p.f., outra classificação e numa escala de 1 (menos relevante) a 5 (mais relevante), atribua um valor a cada factor que definir.

□ □ □ □ □ □ □ □ □

Se preferir, apresente um esquema que evidencie as relações entre os diferentes factores que influenciam o rendimento em futebol.

Page 306: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

4. Investigação no Futebol

4.1. Considere a investigação no Futebol. Ordene numa escala de 1 (menos relevante) a 5 (mais relevante), as dimensões sobre as quais, no momento actual e segundo a sua perspectiva, mais se justifica investir no âmbito da investigação.

.física □ .psicológica □ .táctica O .técnica □ .outras □ Quais?

.□

.□ .□ .□ .□

.□

.□

4.2. No quadro que se segue, assinale com um X os espaços que lhe parecerem corresponder ao estado actual da investigação em Futebol. Se optou por uma classificação diferente e já a mencionou no ponto 3.2., retome-

a, escrevendo-a nos rectângulos disponíveis da 1§ coluna do quadro

(Dimensão) e assinale com um X os espaços correspondentes.

INVESTIGAÇÃO NO FUTEBOL

QUANTIDADE QUALIDADE

Nula ou muito

reduzida Insuficiente Suficiente Baixa Média Alta

Dimensão Física

Dimensão Psicológica

Dimensão Táctica

Dimensão Técnica

Page 307: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

4

4.3. Nomeie a dimensão (dimensões) que considera menos investigada (s)?

Do seu ponto de vista, essa menor expressão ao nível da investigação deve-se ao facto da dimensão mencionada (pode assinalar várias opções):

. ser difícil de investigar LJ

. não ser tão importante quanto as outras LJ

. não permitir um tratamento científico LJ

. outras razões LJ Quais?

Agradecemos-lhe a atenção dispensada. Se pretender fazer quaisquer observações utilize o espaço que se segue.

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University of Porto Faculty of Sport Sciences and Physical Education

Portugal

Questionnaire

With this questionnaire we want to know the coaches' and researchers'

perspectives about performance factors and state of the art concerning the

main areas of research in soccer. After answering, please give it back during

the congress.

Thank you for your cooperation.

1. Identification

Age Country

Qualifications

Activity: Coach □ Researcher □ Other □ Which one?

2. Sport practice

Have you ever been a soccer player? No □ Yes □ . During how many

y e a r s ? Q Q

Have you ever been an international soccer player ? No □ Yes □

Page 309: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

2

3. Performance factors in soccer

3.1. In a scale from 1 (least relevant) to 5 (most relevant) score the factors that traditionaly are accepted as influencing soccer perfomance.

.Physical Q .Psychological Q .Tactical LJ .Technical G

3.2. In your opinion, is this traditional classification of performance factors adjusted and pertinent? Yes Q No G

If your answer is no, please present another classification and score each factor defined, from the least to the most relevant (in a scale from 1 to 5).

□ □ □ □ □ □ □ □ □

If you prefer, set up a diagram that shows the "causal flow" of the different factors, and their internal links, influencing soccer performance.

Page 310: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

3

4. Research in soccer

4.1. Consider research in soccer. Order in a scale from 1 to 5, from the least to the most relevant, the main areas that in your opinion research should direct their efforts, at the moment.

.physical □ .psychological □ .tactical □ .technical □ .others □

Which ones?

□ □ □ □ □ □ □ □ □

4.2. In the next table, mark with an X the spaces corresponding to the present status of research in soccer. If your option was a different classification mentioned on 3.2., please return to that, writting it in first column (cells A to F), and mark with an X the corresponding spaces concerning research in soccer.

Research in soccer

QUANTITY QUALITY

Nule or reduced Insufficient Sufficient Low Average High

Physical dimension

Psychological dimension Tactical

dimension

Technical dimension

A

B

C

D

E

F

Page 311: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

4

4.3. Name the least studied area of research?

From your point of view, this may be due to the following reasons:

It is a difficult subject to be studied Gl it is not very important LJ it does not allow a well suited scientific approach U

others U Which ones?

Thank you for your attention. If you want to make any observation pertaining our problem please use the following space.

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Anexo 2

Page 313: Modela��o t�tica do jogo de futebol.pdf

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