O Bandeirante - n® 269 - Abril de 2015

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269 269 269 269 269 ABRIL 2015 O Bandeirante Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional S.Paulo AS DU AS DU AS DU AS DU AS DUAS AS AS AS AS ARMADURAS ARMADURAS ARMADURAS ARMADURAS ARMADURAS “Meu amigo, após longa procura, encantou- se por duas armaduras, ambas medievais; uma florentina, delgada, elegante e muito bem conservada; a outra germânica, pesadona e pouco elegante, também em boas condições de conservação. Cada qual guardaria um lado do trono, colocadas um tanto atrás dele.” Manlio Mario Marco Napoli Na história da humanidade observa- -se, desde o início, estes movimentos revolucionários, com causas muito variadas...” Carlos Augusto Ferreira Galvão Visite nosso BLOG: http://sobramespaulista.blogspot.com.br Menino de rua Crepúsculo Ligia Terezinha Pezzuto Regina Lúcia da Costa Araujo “O enforcamento punitivo, judicial, não consta de nossa tradição penal, como ocorre no país do Norte, com raízes anglo-saxônicas...” Luiz Celso Mattozinho França Alcione Alcântara Gonçalves Está chegando Coleção Letra de Médico O primeiro grupo de autores da Coleção Letra de Médico já está formado e os trabalhos para o lançamento dos livros estão a todo vapor. Falta pouco para vocês conhecerem as novas obras de nossos autores. Outros grupos já estão em formação para ampliar a coleção. Informe-se e participe: [email protected] Convulsões revoluções & Construção literária Hangman’s noose

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269269269269269ABRIL2015O Bandeirante

Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional S.Paulo

AS DUAS DUAS DUAS DUAS DUAS AS AS AS AS ARMADURASARMADURASARMADURASARMADURASARMADURAS“Meu amigo, após longa procura, encantou-

se por duas armaduras, ambas medievais; uma

florentina, delgada, elegante e muito bem

conservada; a outra germânica, pesadona e pouco

elegante, também em boas condições de

conservação. Cada qual guardaria um lado do trono,

colocadas um tanto atrás dele.”

Manlio Mario Marco Napoli

“Na história da

humanidade observa-

-se, desde o início,

estes movimentos

revolucionários, com

causas muito

variadas...”

Carlos AugustoFerreira Galvão

Visite nosso BLOG: http://sobramespaulista.blogspot.com.br

Menino de rua

Crepúsculo

Ligia TerezinhaPezzuto

Regina Lúcia daCosta Araujo

“O enforcamentopunitivo, judicial, nãoconsta de nossatradição penal, comoocorre no país doNorte, com raízes

anglo-saxônicas...”

Luiz CelsoMattozinho França

Alcione AlcântaraGonçalves

Está chegando Coleção Letra de MédicoO primeiro grupo de autores da Coleção Letra de Médico já está formado e os

trabalhos para o lançamento dos livros estão a todo vapor. Falta pouco para vocês

conhecerem as novas obras de nossos autores. Outros grupos já estão em formação

para ampliar a coleção. Informe-se e participe: [email protected]

Convulsõesrevoluções &

Construçãoliterária

Hangman’snoose

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2 O Bandeirante - Abril 2015

EXPEDIENTE: Jornal O Bandeirante - ANO XXIV - nº. 269 - Abril 2015 | Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São

Paulo - SOBRAMES-SP. | Sede: Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 278 - 7º. Andar - Sala 1 (Prédio da Associação Paulista de Medicin a) - São Paulo - SP | Editores: Josyanne Rita de Arruda Francoe Marcos Gimenes Salun (MTb 20.405-SP) | Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671-SP).| Redação e Correspondência: Av. Prof.Sylla Mattos, 652 - ap.12

– Jd. Sta.Cruz – CEP 04182-010 – São Paulo – SP E-mail: [email protected] Tels.: (11) 2331-1351 Celular (11) 99182-4815. | Colaboradores desta edição: (Textos literários): Alcione

Alcântara Gonçalves, Carlos Augusto Ferreira Galvão, Ligia Terezinha Pezzuto, Luiz Celso Mattozinho França, Manlio Mario Marco Napoli e Regina Lúcia da Costa Araujo. | (Olhar Paulista):Márcia Etelli Coelho. | Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de 1.000 exemplares PDF enviados por e-mail. | Diretoria - Gestão 2015/2016 - Presidente: Carlos Augusto Ferreira

Galvão. Vice-Presidente: Márcia Etelli Coelho. Primeiro-Secretário: Marcos Gimenes Salun. Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-Tesoureiro: Helio Begliomini.

Segundo-Tesoureiro: Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal Efetivos:Josyanne Rita de Arruda Franco, José Alberto Vieira e Roberto Antonio Aniche. Conselho FiscalSuplentes: Alcione Alcântara Gonçalves, Geovah Paulo da Cruz e Mércia Lúcia de Melo Neves Chade. | Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam,

necessariamente, a opinião da Sobrames-SP | Editores de O Bandeirante: Flerts Nebó - novembro a dezembro de 1992, Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1993-1994, Carlos Luis Campana

e Hélio Celso Ferraz Najar - 1995-1996, Flerts Nebó e Walter Whitton Harris - 1996-2000, Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun - 2001 a abril de 2009, Helio Begliomini - maio a dezembro de 2009,

Roberto A.Aniche e Carlos Augusto F. Galvão - 2010, Josyanne R.A.Franco e Carlos Augusto F.Galvão - 2011-2012, Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun - 2013 em diante | Presidentesda Sobrames-SP: 1º. Flerts Nebó (1988-1990), 2º. Flerts Nebó (1990-1992), 3º. Helio Begliomini (1992-1994), 4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996), 5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998),

6º. Walter Whitton Harris (1999-2000), 7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002), 8º. Luiz Giovani (2003-2004), 9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005), 10º. Flerts Nebó

(out/2005 a dez/2006), 11º. Helio Begliomini (2007-2008), 12º. Helio Begliomini (2009-2010), 13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012), 14º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2013-2014),

15º Carlos Augusto Ferreira Galvão (2015/2016). | Editores: Josyanne R.A.Franco e Marcos Gimenes Salun, | Revisão: Ligia Terezinha Pezzuto | Diagramação: Marcos Gimenes Salun | Rumo

Editorial Produções e Edições Ltda. E-mail: [email protected] | Impressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica Editora - São Paulo

04/04 – Sérgio Perazzo04/04 – Tereza Freire Vieira06/04 – Wlademir do Carmo Porto07/04 – Carlos Augusto Ferreira Galvão12/04 – Luiz Celso Matozzinho França21/04 – Maria Gertrudes Vagliendo Focássio

As Pizzas Literárias daSOBRAMES-SP acontecem naterceira quinta-feira de cadamês, a partir das 19h00 naPIZZARIA BONDE PAULISTARua Oscar Freire, 1.597 -

Pinheiros - S.Paulo

As Reuniões de Diretoria são abertas a todos osassociados e acontecem na SEDE da SOBRAMES-SP

(APM) - Av.Brigadeiro Luis Antônio, 278 - 7º. andar -Sala 1 - Início às 19h00

Carlos Augusto Ferreira Galvão

Psiquiatra - Presidente da Sobrames-SP

EDITORIAL

Bolo & Champanhe

Esta agenda está sujeita a alterações em decorrência defatores não previstos por ocasião de sua elaboração.

Meio século

Quando fundou a nossa sociedade, Eurico BrancoRibeiro, visionário que era, seguramente imaginava quesua cria se espalharia por todos os cantos de nossoBrasil, se transformando numa grande e prestigiadasociedade literária.

Nossa regional se junta à diretoria nacional nosfestejos e estaremos representados no evento quemarcará o Jubileu de Ouro da Sobrames, que serárealizado em conjunto com a regional de Sergipe.

Por aqui, aproximam-se nossos eventosdomésticos: em maio, no dia 29, teremos mais umaimperdível “Balada Literária” no Espaço Maracá daAPM, e desde já convoco os colegas que mostrem nelasuas artes na literatura e também na música.

E, como o tempo passa rápido, já estamoscuidando dos preparativos de nossa Jornada queacontecerá no mês de agosto, também no histórico prédioda Associação Paulista de Medicina.

Outra boa notícia do mês é que foi fechado oprimeiro grupo do projeto “Coleção Letra de Médico”,uma espécie de consórcio de publicações, que estimulanossos associados a publicar suas obras. Teremos 12livros sendo publicados nos próximos meses.

Enquanto esperamos nossos eventos, continuemoscurtindo o nosso evento mais tradicional de todos: asdeliciosas Pizzas Literárias com sobremesa de literatura.

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Hangman’s NooseLuiz Celso Mattozinho França

Formado havia pouco tempo, fui para osEstados Unidos, na Flórida, completar minhaformação como patologista em 1957.Carregava já alguma experiência profissionalem autópsias, obtida no Departamento deAnatomia Patológica da USP e no Serviço deMedicina Legal da Polícia. Assim é que, lendoo artigo de Arnaldo Amado Ferreira sobre oenforcamento de Cláudio Manuel da Costa,publicado agora por seu filho, meucontemporâneo de faculdade, rememorei osconhecimentos sobre a morte porenforcamento que eu possuía então, segundo adoutrina ensinada na Medicina Legal brasileira.Como choque cultural médico, entrei emcontato com os conhecimentos sobreenforcamento vigentes no sul dos EstadosUnidos, que me foram ensinados por umpatologista mais velho, Joe Dyrenforth. Estetinha sido legista de uma penitenciária denegros, no tempo da segregação, que, aliás,ainda perdurava em 1957, quando comeceimeu estágio. Nessa penitenciária seguia-se anorma do “escreveu, não leu, a forca comeu”.

O enforcamento punitivo, judicial, não constade nossa tradição penal, como ocorre no paísdo Norte, com raízes anglo-saxônicas, vikingse normandas. Na nossa gênese, os romanos,visigodos, suevos e muçulmanos não nos

transmitiram a tradição do enforcamento; nessacircunstância, usavam, antes, o estrangulamentocom corda e nó corrediço, com ação direta sobrea laringe e o hioide — elevação da base da língua—, que consistia na compressão de vasoscervicais, ramos nervosos e do corpo carotídeo,conforme a doutrina ensinada por nossa MedicinaLegal. Já o enforcamento anglo-saxão é maiscomplexo, dado o uso do hangman’s noose, o nódo enforcador, no qual o nó corrediço é baseadono enrodilhamento da corda, que forma peçarígida, de um palmo de comprimento,comprimindo lateralmente o pescoço, além deestrangular. O nó do enforcador, semprecolocado atrás da orelha esquerda, ao sertensionado pelo peso do corpo, causa a chamadahangman’s fracture, a fratura do enforcador,afetando as vértebras cervicais iniciais e seusprocessos transversos, lesando outranseccionando a medula espinhal. A liberaçãodesta desencadeia a dança do enforcado e aejaculação final, razão da ignomínia da morte peloenforcamento anglo-saxão. Os enforcamentosdos condenados de Nuremberg, e maisrecentemente de Saddam Hussein, foram todosexecutados com o hangman’s noose. Já com oirmão de Saddam, dias após, houve aintercorrência da decapitação pela corda, queocorre quando o corpo é pesado ou tracionadopelos auxiliares do carrasco. O mecanismo é emtodo semelhante ao que nossas avós usavam paramatar frangos, com a compressão da articulaçãoatlanto-occipital, que, deslocada, desencadeia odebater e morte do destroncado. O enforcamentocom o uso do nó do enforcador é parte da culturapopular americana, e a exibição de amostrasdesse nó era parte das manifestações da Klu KluxKlan, dos linchamentos, bem como uma forma deultrajar os negros em profissões acadêmicas.

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Convulsões & revoluçõesCarlos Augusto Ferreira Galvão

Uma das atividades mórbidas mais horrorosas de seobservar é um ser humano convulsionando. O indiví-duo perde a consciência, apresenta quedas (onde écomum machucados de maior ou menor gravidadedevido a estas quedas) e debate-se em movimentosanárquicos. Para um leigo que observa, é a própriamorte acometendo este indivíduo. Trata-se de umamanifestação clínica que acusa, ou uma doençaconvulsiva (epilepsia), ou um sintoma de que algo estáagredindo o sistema nervoso do acometido.

Nas sociedades humanas, observamos estados desublevação ou desobediência que gera movimentosdenominados de convulsões sociais (talvez em analo-gia, a anarquia que se observa em uma convulsão),quando os liderados começam a desconfiar dos líde-res. Nestes casos observamos queda na produção,desobediência e multidões revoltadas nas ruas, reagin-do ao que consideram injustiças ou desonestidade dosque dirigem esta sociedade. Geralmente tais movimen-tos terminam em revoluções, que pode ser sintetizadana troca traumática dos dirigentes, geralmente “tempe-radas” com violência, mortandades e lutasencarniçadas entre as forças políticas rivais.

Na história da humanidade observa-se, desde o início,estes movimentos revolucionários, com causas muitovariadas, mas todas com as características de revolta eindignação das comunidades onde acontecem.

A primeira de que se tem notícia aconteceu no Egitoantigo, quando um Faraó de nome Akinaton rompeucom a religião do império, e criou outra, monoteísta,que tinha o sol como deus supremo. Poucos anosdepois, os religiosos marginalizados ressurgiram comviolência, causaram muitas mortes e terminaram comesta dinastia, iniciando outra, a dinastia de Ramsésque era o comandante de armas de Akinaton.

Ainda hoje, muitos milênios depois, as revoluçõesainda acontecem pelas mesmas causas. O mundoatual apresenta conflitos por religiões, por economia epor injustiças. Risco de que nenhuma sociedade estáimune. No Brasil, observamos muitos movimentosrevolucionários, de sublevação e mesmo de convulsãosocial. A província do Pará, em 1835, com sua popu-lação desencantada com os rumos da independênciade Pedro I, revoltou-se, tomou Belém do Pará erompeu a ordem política do império, elegendo direta-mente seus dirigentes. O movimento durou cerca de 2anos, e terminou com mais de 50.000 mortos numapopulação de pouco mais de 100.000 habitantes.

Repete-se no Brasil de hoje todas as condições pararevoltas sociais que podem levar à uma convulsãosocial. Um governo ainda em seus primeiros dias, masque perdeu quase a totalidade do apoio que o elegeu,enfrentando gravíssima crise econômica, e uma per-cepção aguda de que algo vai acontecer. Preocupa emuito as perspectivas e urge que a nação, nestesdifíceis caminhos que ora trilha, mantenha a cabeçafria para que as mudanças exigidas (em especial adecência, a honestidade e a dignidade), sejamconseguidas sem, ou com um mínimo,de traumas.

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As duas armadurasManlio Mario Marco Napoli

Tenho um velho e querido amigo nascido emRoma, Itália. Muito orgulhoso de seus antepassados,carrega um sobrenome nobre, embora seus tataravóstenham perdido seus domínios e a antiga família perdeuseu baronato e passou de senhora a vassala.

Apesar deste pequeno senão genealógico, meuamigo comprou antiga propriedade rural na Úmbria, acem quilômetros de Roma, para lá tentar reconstruir seumundo de fantasia nobiliárquica. A construção típica dascasas dos camponeses dessa região, como em outras,principalmente do norte da Itália, é um amplocompartimento embaixo e alguns cômodos em cima. Aparte inferior é reservada aos animais e guarda daforragem para os tempos de inverno. Não só os animaisficam abrigados das intempéries dessa época do ano,como o calor de seus corpos aquece a casa.

Pois bem; meu amigo trnsformou a parte baixa dacasa em sala do trono, com as armas e os brasões deseus ancestrais. Não faltou sequer uma coroa. Algumheráldico, visitando o local, sugeriu que para completaro ambiente faltavam apenas duas armaduras. Para nósseria extremamente difícil adquirir tais objetos de museu;porém, na Europa, dispondo-se de dinheiro não é muitodifícil.

Meu amigo, após longa procura, encantou-se porduas armaduras, ambas medievais; uma florentina,delgada, elegante e muito bem conservada; a outragermânica, pesadona e pouco elegante, também em boascondições de conservação. Cada qual guardaria um ladodo trono, colocadas um tanto atrás dele.

Tudo devidamente arranjado, com documentaçãocertificando a antiquíssima origem das armaduras, meuamigo preocupou-se com o futuro delas, pois não temdescendentes e assim não tinha a quem deixá-las apóssua morte.

Seguindo conselho do mesmo heráldico, foiorientado a fazer doação, em vida, das duas peças aoMuseu de Heráldica e Numismática da Cidade Eterna,

Roma. Após muito procurar, finalmente descobriu ovelho prédio onde funcionava o museu.

Foi gentilmente atendido por um velho senhor,magro, alto, calvo, de óculos redondos de aro de ouro,voz macia, que lhe indagou o que desejava. Meu amigoexplicou por que tinha vindo ao museu e apressou-seem mostrar toda a documentação que legitimava ambasas armaduras. Sem dizer palavra, o velho pediu-lhe queo seguisse.

Desceram muitos lances de uma escada demadeira, que rangia sob seus pés e, finalmente, chegarama um amplo salão, precariamente iluminado e com forteodor de mofo.

“Veja, disse o velho, aqui estão não sei quantasarmaduras, certamente não menos de uma centena, todasdoadas por cidadãos de toda a Itália. Infelizmente, nãotemos pessoal especializado e nem recursos para polí--las, ou ao menos, lubrificar de vez em quando suasarticulações! Aliás, diga-se de passagem, se o Senhordesejar, o Museu pode emprestar-lhe, sem qualquerônus, uma ou mais destas armaduras, bastando assinarum compromisso de bem cuidá-las. Eu, particularmentelhe ficaria muito grato pelo serviço que nos prestasse.Boa tarde, Senhor!”

Tive oportunidade de visitar o salão do trono destemeu amigo. Confesso, até que gostei das armaduras,embora a florentina me assustasse menos.

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Belo diaNoite sólidaRumo tênueTrilha aberta. Solta a folhaNo marco zero.A cidade escondeO menino fero. Noite adentroSobe lento o brilho.Faísca de sobrasDos quilates de vento. O rular das pombasEscurece o diaQue devagar afagaO olhar doce do    menino negro.

Nosso crepúsculo é como a chama de uma velaQue se extingue lentamente e se confunde nas sombrasNa verdade, um flash de luz que ilumina apenas o essencial.

Já não preciso do tudo, já tive o suficienteÉ tempo de se desfazer até do necessárioPosto que o necessário, já não faz diferença.

Do que precisamos no crepúsculo além de nós mesmos?Além da nossa própria luz?A luz que decompõe e ao mesmo tempo constrói .A luz que nos ilumina o olhar e comove quando remove todas as certezasGerando liberdade, estampando nossa efemeridadeDestituindo-nos do que achamos que somosDo que achamos que fomosNos reconduzindo ao fim que também é o início...Afinal, tudo termina onde começou...

MENINO DE RUALigia Terezinha Pezzuto

Uma casa se constrói com tijolos,Amalgamados com massa de cimento e cal,Criando um lugar agradável aos nossos olhos,E um refúgio para nós sem igual!

Uma palavra se constrói com letras,Ligando consoantes e vogais, de forma tal,Que unidas umas às outras,Lhe dá origem, com significado gramatical.

As palavras, por sua vez reunidas,Formam frases representativas de nossas ideias,Por nós usadas em nossas vidas,Para transformar nossos sentimentos, em prosopopeia!

Letras, palavras, frases, formando um texto literário,Constitui a grande exteriorização do pensamento,Objetivando o registro deste mental sacrário,Num livro revelador do nosso talento.

CREPÚSCULORegina Lúcia da Costa Araujo

CONSTRUÇÃO

Alcione Alcântara GonçalvesLITERÁRIA

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O Bandeirante - Abril 2015 7Livros em destaque

DIVERSOS AUTORES“Letras que curam”Edições Sobrames - CEA medicina e a literatura sempre

andaram juntas. Mesmo porque a

literatura é uma espécie de remédio

para alguns males da mente, como

a preguiça ou limitação. Este é o

30º. volume da série de antologias

da regional cearense da Sobrames,(2013) que reúne um vasto número

de médicos escritores, poetas e

pensadores, com suas “receitas

literárias”, escritas numa variada

seleção de gêneros. Para maiores

informações sobre esta obra faça

contato por e-mail ou visite nossa

biblioteca: [email protected]

O trecho abaixo é parte de umacrônica escrita por um dosautores da SOBRAMES-SP, jápublicada anteriormente numa denossas ANTOLOGIAS. Vocêconsegue identificar o autor?Resposta na próxima edição.

O trecho publicado na edição anterior

pertence à poesia “Moça naporta”, escrita por Josef Tock, que

foi publicada na página 126 da“Antologia Paulista” de 2009. Que talreler essa poesia na íntegra, além deoutros textos dos talentosos autoresda SOBRAMES guardados para semprenaquela edição?

Relendo

Guardados para sempre

CARLOS LUIZ CAMPANA“Medicina, oração e poesia”Editora Morumbi - SPAntologia poética organizada pelo ex-

-presidente da regional São Paulo da

Sobrames (1994/1996) que reúne

uma preciosa coleção de textos e

poesias sobre a nobre arte da

Medicina, escritos por diversos

autores, dentre eles o próprioorganizador e alguns sobramistas.

O livro brinda o leitor com

experiências de vida que valem a

pena ser analisadas e refletidas, quer

pelos jovens que se preparam para o

exercício da profissão, quer por

aqueles que já a conhecem bem.

Livro pertencente ao nosso acervo.

Edição anterior

Já pagou a anuidade 2015?

A anuidade de 2015 é de R$ 360,00 (trezentos esessenta reais), que podem ser pagos em 2 (dois)cheques mensais de R$ 180,00 (cento e oitenta reais)para abril e maio. O pagamento poderá ser feito nasPizzas Literárias ou através de envio de cheques, para oprimeiro tesoureiro, neste endereço:

Helio Begliomini - Rua Bias, 234 – Tremembé

CEP 02371-020 – São Paulo – SP

Colabore com a manutenção das atividades daSobrames-SP pagando em dia a anuidade!

XIII Jornada Paulista

“A moça bateu a porta.

Na arquitetura da vida

era tudo tão estático;

e o amor passou na secante.

Na literatura dos logaritmos

ela estudava a matemática do ego.

E sobravam favores, e faltava justiça.

Era o topônimo superlativo.”

A XIII Jornada Médico-Literária Paulista serárealizada de 27 a 29 de agosto de 2015 nasdependências da APM - Associação Paulista de

Medicina, na capital de São Paulo.Aguarde informações detalhadas sobre a

programação, forma e prazo de inscrições, além doregulamento de concursos em Suplemento Especial destejornal que está sendo preparado e será divulgado nospróximos dias através de e-mail e nas redes sociais.

Você também poderá ver as informações doevento e inscrever-se através do BLOG DA JORNADAque está em construção e irá ao ar ainda em abril.

Todos sabem quanto os políticos dissimulam

e representam muito bem. Acabam ao final

aparecendo como uma vítima, que perdeu a

visão, mas não age como cego. Essa

alternância, essa ambiguidade confunde e

prejudica. No meio desse emaranhado,

ficamos perdidos. O sim da esperança é

substituído pelo não do desalento.

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Olhar PaulistaAPESAR DA CHUVA

São Paulo ficou ilhada com as intensas chuvas de marçofechando o verão. Apesar de muitas ausências, a Pizza

Literária transcorreu animada com comemoração deaniversários, homenagens e apresentação de belos textos.

Contamos com a participação dos visitantes Vicente CortesAraujo, esposo de Regina Araujo que tomou posse durante

a reunião, e do filho deles, Geraldo Araujo.

VISITA E HOMENAGEMEnchente e congestionamento impediram o comparecimento dos vencedores doPrêmio Bernardo de Oliveira Martins de Melhor Poesia, cuja entrega foi transferidapara a Pizza Literária de abril. A presença de Cleide Lavieri Martins, filha do patronodo prêmio, comoveu a todos. Ela presenteou Márcia Etelli Coelho com um raroexemplar do livro “Boa Sorte” e a sobramista agradeceu essa gentileza declamandoum acróstico dedicado ao ilustre poeta.

SELO DO JUBILEUA empresa Brasileira deCorreios e Telégrafos,participando das festividades doJubileu de Ouro da SociedadeBrasileira de Médicos Escritoresem 23 de abril de 2015, lançouum selo comemorativo com afigura de Eurico Branco Ribeiro,o fundador da então SBEM. Aolado a arte do selo, ainda sem ovalor facial.

ACADEMIA DE MEDICINA DE SÃO PAULOHelio Begliomini apresentou na Pizza Literária um ensaio em homenagem aos 120

anos da Academia de Medicina de São Paulo. O texto foi publicado na ediçãonº. 10 da REVISTA OPINIAS, publicação virtual, disponível para download no

blog: opinias2014.blogspot.com.br/. No último dia 11 de março, Helio tomouposse como Diretor de Patrimônio daquela Entidade.

NOVA ASSOCIADADurante a Pizza Literária de 19 de março, tomou possecomo Membro Titular da SOBRAMES-SP a médicapsiquiatra Regina Lúcia de Araujo Costa. Ela é paraensee reside na capital paulista onde exerce a profissão naPrefeitura de São Paulo e em consultório particular.Aniversaria em 17 de março.Com o seu texto “Crepúsculo” (p. 6), Regina demonstrasua sensibilidade poética e com certeza abrilhantaránossas futuras reuniões. Bem-vinda!Contatos: [email protected]