OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · por meio da leitura e produção de histórias...

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS (HQ) COMO APOIO PEDAGÓGICO PARA LEITURA

Aparecida Licei Prado 1

Professora Doutora Vera Helena Gomes Wielewicki2

Resumo

O presente artigo é resultado da implementação da Unidade Didática intitulada “As Histórias em

Quadrinhos (HQ) como apoio pedagógico para leitura”, desenvolvida com alunos do 6 o ano do ensino

fundamental, no período matutino, da Escola Estadual Curitiba, em Paranavaí, Pr, apresentado como

requisito obrigatório no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). O objetivo foi utilizar a

biblioteca da escola como ambiente propício para estimular a leitura de Histórias em Quadrinhos e

assim, ampliar o recurso linguístico em língua estrangeira moderna, neste caso, a língua inglesa. A

Unidade Didática foi dividida em cinco etapas, e cada etapa teve um enfoque diferenciado sobre as

histórias em quadrinhos. Na primeira etapa fez-se um levantamento de dados sobre o conhecimento

prévio que os alunos tinham sobre as histórias em quadrinhos; na segunda etapa, abordaram-se as

estruturas das HQs, como: balões, falas, onomatopéias, metáforas visuais, linhas de movimentos,

pontuação e interjeições; na terceira etapa, iniciou-se a leitura de Gibis com histórias em quadrinhos

em inglês, onde foram trabalhados os elementos da narrativa (narrador, personagem, tempo, espaço,

foco narrativo). A quarta etapa foi direcionada à produção de histórias em quadrinhos e, para concluir,

foi montado um painel na área comum da escola apresentando o produto final da implementação e

ainda a produção de portfólios individuais como forma de registro e avaliação das atividades. Para

tanto, utilizaram-se de diferentes atividades, como pesquisas orientadas na internet, leituras individuais,

leituras coletivas, música, vídeos, produção de cartazes, produção de quadrinhos, entre outras. Dessa

forma, conseguiu-se unir duas formas de comunicação, as palavras e as imagens, ainda foi possível

transmitir mensagens importantes aos alunos sobre as mais diversas temáticas. Os resultados obtidos

por meio da leitura e produção de histórias em quadrinhos mostrou que é possível resgatar os valores

culturais, éticos e morais e ainda desenvolver nos jovens leitores o gosto pela leitura.

Palavras-chave: Histórias em Quadrinhos; Leitura; Língua Inglesa

1 INTRODUÇÃO

O presente artigo se constitui como parte integrante das atividades previstas

no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), promovido pela Secretaria de

Educação do Paraná (SEED) e também como resultado do aprofundamento teórico

e reflexões sobre práticas pedagógicas e da implementação da Unidade Didática

intitulada “As Histórias em Quadrinhos (HQ) como apoio pedagógico para leitura” , aplicada

a alunos do 6º ano do Ensino Fundamental, da Escola Estadual Curitiba, no município

de Paranavaí.

1Professora da rede pública de educação do Estado do Paraná. 2Professora do Departamento de Letras Modernas da Universidade Estadual de Maringá

A escolha do tema se deu por acreditar que a leitura das histórias em

quadrinhos realizada em um ambiente agradável ultrapassa o espaço do divertimento

de massa e, a partir daí, influencia os leitores em esferas psicológicas e sociais como

forma de leitura alternativa na língua estrangeira moderna. Embora ainda não seja

considerada como literatura, ela é uma grande aliada no ensino de línguas, consegue

unir duas formas de comunicação, as palavras e as imagens e, ainda, consegue

transmitir mensagens importantes aos alunos sobre as mais diversas temáticas.

Partindo desse pressuposto, traçou-se como objetivo geral utilizar a biblioteca

escolar como ambiente propício para estimular a leitura de Histórias em Quadrinhos

e, assim, ampliar o recurso linguístico em língua estrangeira moderna, neste caso, a

língua inglesa.

De acordo com as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Inglesa, ler é

familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas esferas sociais:

jornalística, artística, científica, didático-pedagógica, cotidiana, midiática, literária,

publicitária, etc. No processo de leitura, também é preciso considerar as linguagens

não verbais como: imagens, fotos, cartazes, propagandas, imagens digitais e virtuais,

figuras que povoam com intensidade crescente nosso universo cotidiano, que se

denomina multiletramentos e que possibilita a interação com outras formas de

linguagem (PARANÁ, 2008, p.71).

Os objetivos específicos foram: Incentivar o aprendizado de língua inglesa por

meio da leitura e interpretação de Histórias em Quadrinhos; Desenvolver habilidades

de compreensão e leitura por parte dos estudantes; Estimular o reconhecimento do

gênero estudado; Proporcionar o conhecimento das características que compõem o

gênero História em Quadrinhos, e ainda apresentar as estruturas linguísticas que

estão presentes no gênero escolhido.

Partindo do pressuposto que as histórias em quadrinhos são meios de

comunicação de massa com grande envolvimento popular, principalmente entre os

adolescentes e jovens em idade escolar, foram elaboradas as seguintes perguntas de

pesquisa: Será que o gênero textual História em Quadrinhos, aliados a um ambiente

propício para a leitura, como a biblioteca, pode favorecer a formação de alunos

leitores? As Histórias em Quadrinhos podem fornecer uma leitura que possibilite uma

posição de sujeito-leitor e uma produção de sentido para o educando? Tais questões

que nortearam o desenvolvimento deste estudo.

Para buscar respostas a tais questionamentos, os alunos foram orientados a

“analisar a função do gênero estudado, sua composição, a distribuição de

informações, o grau de informação presente ali, a intertextualidade, os recursos

coesivos, a coerência e somente depois, a gramática em si” (PARANA, 2008, p. 63).

Pois, ainda segundo as Diretrizes (PARANA, 2008), o aluno, quando em contato com

uma língua estrangeira por meio da compreensão e produção de textos verbais e não

verbais, passa a se posicionar no mundo de forma mais participativa e não limitada.

Como suporte metodológico, foram utilizadas atividades que abordaram o

conhecimento prévio que os alunos têm sobre as histórias em quadrinhos; a estrutura

das histórias em quadrinhos, como balões, falas, metáforas visuais, onomatopeias; os

elementos da narrativa (narrador, personagem, tempo, espaço, foco narrativo); leitura

e produção de histórias em quadrinhos. Como apoio pedagógico, foram utilizados os

gibis e as tirinhas em inglês, vídeos, pesquisa orientada na internet, portfólios,

colagem entre outros. Tudo isto visando estimular nos alunos o hábito da leitura e

ainda o hábito de frequentar a biblioteca, não por obrigação, mas com a compreensão

de que é um ambiente pedagógico destinado a favorecer o prazer de ler.

2 ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS

Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (PARANÁ, 2008), o

ensino e aprendizagem de língua estrangeira moderna devem ser voltados para o uso

efetivo da língua, impregnados de valores, tais como: construção de identidade,

cidadania, cultura, inclusão social, função social e formação crítica.

Desta forma, o professor tem que contribuir para o aprendizado do educando

oportunizando diálogos e textos autênticos sobre assuntos diversos, apresentando-os

de forma a permitir a expansão do seu vocabulário, o domínio da estrutura gramatical

e o aprimoramento de seu espírito crítico, além de desenvolver sua fluência na

conversação e na leitura, preparando o educando para enfrentar situações reais do

cotidiano.

Nesse contexto, o educando vê a sua cultura e a sua língua como uma entre

várias possibilidades igualmente desejáveis e válidas e, ao constatar e vivenciar

criticamente a diversidade cultural, pode delinear sua própria identidade, cumprindo,

assim, um objetivo pedagógico fundamental na aula de língua estrangeira, que é

contribuir para que o aluno perceba as diferenças entre os usos, as convenções e os

valores de seu grupo social e os da comunidade, que está em constante movimento

e transformação.

No entanto, quando se trata de leitura, segundo Zilberman (2001) parece não

ter lugar nos bancos escolares. Principalmente aquela leitura que desafia o aluno a

arriscar-se no texto e buscar nas significações o sentido que perpassam pelas leituras,

assim como as descobertas, julgamentos, cultura e ideologia do estudante

impregnada no texto, não vem acontecendo na escola.

Santos (2009) acrescenta que “a leitura foi esquecida em detrimento do ensino

da gramática”, porém, retoma sua importância no ensino de língua inglesa. Assim,

cabe ao educador buscar formas que incentivem o educando a pensar, a interagir

tanto na primeira como na segunda língua.

Nesse contexto, a história em quadrinhos oferece condições de envolvimento

do leitor permitindo uma comunicação em que ele troque informações, construa e

reconstrua conhecimentos, interagindo socialmente, ora com grupo de leitores, ora

com a própria leitura (SANTOS, 2009, p. 7).

Para que se possam compreender os desafios e necessidades pertinentes a

este projeto é fundamental rever alguns pontos importantes relacionados ao contexto

da leitura e ao gênero História em quadrinhos.

2.1 CONCEITO DE LEITURA

Ler é um processo em que o leitor aprende a ler lendo, onde ele pode estar em

contato com os mais variados tipos de textos, e sendo assim, pode questionar as

coisas do mundo e de seu cotidiano para a aquisição de sentidos. Cada leitor, a partir

da sua experiência e conhecimento do mundo, interage com o universo textual,

desencadeia estratégias variadas para a construção dos sentidos que serão

construídos no momento da interação entre texto/leitor.

Dessa forma, a leitura não se restringe à “simples decodificação”, sendo preciso

que o aluno associe, relacione, generalize e abstraia elementos do texto, evidenciando

a perspectiva de leitura do leitor.

Ou seja, cabe ao aluno extrair informações, decodificar elementos, práticas

evidentes no início do trabalho com a leitura. Nela, espera-se que o aluno relacione o

texto com o seu conhecimento de mundo, trazendo seu posicionamento para aquilo

que lê (MENEGASSI, 2010, p. 327). Nesse sentido, a leitura só é eficiente se resultar

em aprendizagem significativa.

Esse conceito é apoiado nas Diretrizes Curriculares Estaduais (2008) ao mencionar que ler

[...] é familiarizar-se com diferentes textos produzidos em diversas esferas sociais: jornalística, artística, científica, didático-pedagógica, cotidiana, midiática, literária, publicitária, etc. No processo de leitura, também é preciso considerar as linguagens não verbais como: imagens, fotos, cartazes, propagandas, imagens digitais e virtuais, figuras que povoam com intensidade crescente nosso universo cotidiano, que se denomina multiletramentos e que possibilita a interação com outras formas de linguagem. Trata-se de propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma atitude responsiva diante deles. Somente uma leitura aprofundada, em que o aluno é capaz de enxergar os implícitos, permite que ele depreenda as reais intenções que cada texto traz (PARANÁ, 2008, p.71).

Diante disso, é preciso que cada vez mais professores e pessoas de modo

geral se apercebam da importância da leitura na vida, é necessária uma mudança de

hábitos e uma tomada de consciência, pois a herança cultual existente não valoriza a

aquisição e consumo de livros, considerando que a atual geração valoriza

sobremaneira o bem supérfluo e a aparência.

2.2 GÊNERO TEXTUAL HISTÓRIA EM QUADRINHOS (HQ)

Segundo Silva (2002, p. 54), “as histórias em quadrinhos são uma forma de

linguagem que combina imagem e texto por meio do encadeamento de quadros, narra

uma história ou ilustra uma situação”. Sobre isso o roteirista O’neil (2005) escreve:

Quadrinhos não são uma coleção de palavras impressas numa mesma página (isto é o que os livros ilustrados são). Para ser uma história em quadrinhos, essas palavras e imagens devem trabalhar juntas da mesma maneira que partes de uma linguagem trabalham juntas. Pense nos quadrinhos como uma linguagem formada por dois elementos separados e bastante diferentes, usados em conjunto para transmitir informação. (O’NEIL, 2005, p.10)

Rama et.al. (2006) completa

As histórias em quadrinhos vão ao encontro das necessidades do ser humano, na medida em que utilizam fartamente um elemento de comunicação que esteve presente na história da humanidade desde os primórdios: a imagem gráfica (RAMA et al, 2006, p. 8).

Assim, a associação do texto escrito com a imagem não-abstrata torna fácil a

compreensão. O uso dos recursos gráficos, das onomatopeias e dos movimentos

representados através de imagens estáticas, contribui para a leitura e compreensão

do texto escrito, possibilitando, dessa forma, trabalhar com o imaginário do leitor

(CARMO, 2010, p.9).

De acordo com Bakhtin (2003), as histórias em quadrinhos constituem um

gênero de discurso secundário. Gêneros primários são mais simples, presentes na

vida cotidiana, como réplicas de diálogo, diários internos, documentos. Já os gêneros

secundários são mais elaborados, como o romance, o teatro, o discurso científico, e

outros.

Conhecer e identificar os elementos que compõem a linguagem característica

dos quadrinhos e que estão presentes em sua narrativa auxiliam a análise desta forma

de comunicação enquanto ferramenta pedagógica, pois possibilitam tornar o ensino

mais lúdico e, consequentemente, ser um importante instrumento capaz de motivar o

aluno para a leitura e para a escrita, contribuindo, portanto, para o desenvolvimento

da própria linguagem (MADIA, 2010, p.12).

O gênero textual história em quadrinhos ainda, segundo Carvalho (2006),

proporciona o incentivo à leitura, fixa conceitos de ortografia, semântica, e amplia o

vocabulário. Sendo assim, o educador fará as intervenções necessárias no

estudo/ensino da constituição da língua, observando as necessidades específicas dos

educandos na aquisição e domínio dos componentes léxicos e gramaticais da língua.

Madia (2010) defende a ideia de trabalhar o gênero História em Quadrinhos

nas aulas de inglês por possibilitar ao ser humano o aperfeiçoamento do dom da

comunicação como forma de perceber os significados por meio de imagens que se

encontram no gênero em questão.

Quanto ao uso de Histórias em Quadrinhos como recurso para complementar

o ensino de determinado conteúdo, segundo Calazans (2004, p.11), elas prendem

mais a atenção dos alunos do que outros recursos porque permitem que ocorra uma

leitura simultânea da página, podendo o leitor captar a ação em todos os seus tempos.

Assim sendo, é possível desenvolver um bom trabalho de leitura utilizando o

gênero textual das Histórias em Quadrinhos dentro do que propõe o Interacionismo

Sócio Discursivo.

3 DESENVOLVIMENTO

O material foi desenvolvido com 28 alunos matriculados no 6o ano do ensino

fundamental, no período matutino, em encontros semanais, perfazendo um total de

32 horas de atividades, que se encontram relacionadas no quadro e que

posteriormente estão descritas.

Título/Tema Estratégias Carga

Horária

Levantamento de dados

sobre o conhecimento

prévio que os alunos têm

sobre as histórias em

quadrinho.

Avaliação diagnóstica; pesquisa

orientada; observação; vídeos,

leitura de tirinhas

04

Horas/aulas

Estruturas das HQs, como:

balões, falas, onomatopéias,

metáforas visuais, linhas de

movimentos, pontuação e

interjeições.

Leituras, reflexões e discussões,

slides, vídeos, desenhos, pesquisas

orientadas na internet

10

Horas/aulas

Elementos da narrativa

(narrador, personagem,

tempo, espaço, foco

narrativo).

Leitura dos gibis “Mônica’s Gangs”,

ou Mônica Teen.

10

Horas/aulas

Produção de história em

quadrinhos

Colagens, software para desenhos,

passatempos da revistinha “Nosso

Amiguinho English”

06

Horas/aulas

Apresentação das

produções e demais

atividades.

Murais explicativos e portfólios 02

Horas/aulas

Todas as atividades foram realizadas na biblioteca da escola, onde as mesas

são para seis alunos. Dessa forma formaram-se grupos que, juntos, desenvolveram

todas as ações propostas na implementação.

1ª Etapa

Essa etapa teve o objetivo de identificar os conhecimentos prévios dos alunos

sobre as histórias em quadrinhos. Para tanto, iniciou-se aplicando uma avaliação

diagnóstica para compreender quais os seus hábitos e tipos de leituras. Dessa forma,

foram inseridas as questões das histórias em quadrinhos e do autor Maurício de

Souza.

Na sequência, os alunos pesquisaram no laboratório de informática as

características físicas de cinco personagens criados por Maurício de Souza. Nesta

atividade, tiveram que escrever também o nome dos personagens em português e em

inglês. Oralmente, para completar, informou-se que as histórias em quadrinhos no

Brasil são conhecidas como Gibis e nos Estados Unidos, como Comic Books.

Para mostrar em imagens as características de alguns personagens de

Maurício de Souza, pesquisados anteriormente, exibiu-se o vídeo “Turma da Mônica”

Cine gibi 3. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=I1f5hKjYz-

U&list=PLCdjCPTS5AUU4qv_UfsCoEqAqdXDhI1ys&index=1.

Para concluir a etapa, apresentou-se uma caixa chamada de gibiteca, com

exemplares de gibis da turma da Mônica em inglês, ou seja, comic books Mônica’s

Gangs. Cada equipe escolheu um exemplar, para “Ler” as imagens. Nesse primeiro

contato com os gibis, os grupos analisaram as imagens e escreveram de acordo com

o que estavam vendo, o que os personagens estavam falando. Enfim, não houve a

tradução efetiva, utilizou-se apenas a criatividade para tentar interpretar o que estava

escrito.

2ª Etapa:

A segunda etapa teve o objetivo de apresentar a estrutura de uma história em

quadrinhos, pois nela os ‘balões’ fazem parte da ilustração da história. Eles ajudam a

contar a história, demonstrando o tipo de sentimento envolvido nas falas dos

personagens. Eles são recursos gráficos utilizados para tornar sons e falas visíveis

na literatura. As HQs necessitam do balão para a visualização das palavras ditas pelas

personagens. O formato dos balões pode variar de acordo com as intenções do autor.

Nesse sentido, iniciou-se questionando oralmente os alunos sobre quais as

formas de balões eles identificaram ao fazer a leitura das imagens propostas na etapa

1. De acordo com as respostas obtidas, apresentou-se em forma de slides no data

show o formato dos balões e o que eles querem dizer. Os balões apresentados foram:

balão fala, balão grito, balão pensamento, balão narrador e balão cochicho. Para

completar, pediu-se que desenhassem balões demonstrando grito, fala, amor e

irritação.

Para prosseguir, os alunos foram ao laboratório de informática pesquisar outros

tipos de balões como: o balão duplo, o balão coletivo, o balão com nota musical e o

balão de dúvida.

As onomatopeias foram o alvo das próximas ações. Aqui os alunos

conheceram as principais onomatopeias e como elas são utilizadas. Na sequência,

foi solicitado que criassem onomatopeias para: A kiss; An alarm clock; A bell e A Bee.

A próxima atividade foi a análise de três tirinhas em inglês. Foram

apresentadas uma a uma das tirinhas em forma de slides no data show e depois

levantaram-se questões como: qual o tema central das tirinhas? algumas delas se

referem a animais ou plantas? Algumas delas falam de cores ou números? Esses

questionamentos tiveram o objetivo de entender se mesmo sem fazer a tradução das

tirinhas os alunos conseguiriam descobrir pelas imagens, mesmo que

superficialmente, o que os personagens estavam falando.

Nessa etapa trabalharam-se também os pronomes pessoais, servem para

substituir os objetos diretos ou indiretos e os provokes objetos, que servem para

substituir os objetos diretos ou indiretos. Eles sempre devem vir após verbos ou

preposições. As atividades nesse momento foram gramaticais e todas referentes às

histórias em quadrinhos.

3ª Etapa:

Essa etapa foi destinada à leitura dos gibis. Para tanto, os grupos de alunos

escolheram gibis da “Mônica’s Gangs”, ou Mônica Teen na gibiteca, escolheram um

cantinho agradável e começaram as leituras, com o auxílio de um dicionário e com a

intervenção da professora.

Durante a leitura dos gibis selecionados os alunos foram respondendo as

seguintes questões norteadoras:

O que acontece nesta HQ?

Quais são os personagens envolvidos?

Qual é o seu ponto de vista sobre as atitudes de ambos em relação ao fato

principal (incidente)?

O que você faria se estivesse no lugar deles?

Como deveriam ser as relações de amizade em sua opinião?

Como deveria ser nossa postura em relação a pequenos problemas cotidianos

com outras pessoas?

Que atitudes fariam a diferença nas relações interpessoais?

4ª Etapa:

Aqui os alunos foram incentivados a produzir histórias em quadrinhos. Assim,

foi distribuída uma folha só com personagens e balões e os alunos, em grupos,

escreveram a história: Primeiramente, utilizando a língua portuguesa e depois, a

língua inglesa. As produções foram expostas em um mural no pátio da escola.

Ainda nessa etapa foi distribuída uma revistinha do Nosso Amiguinho English

da Editora ABDR, disponível no site: <http://www.nossoamiguinho.com.br> e os

alunos fizeram atividades recreativas como caça palavras, ache os sete erros, enigma,

carta enigmática, entre outros.

5ª Etapa:

Para concluir a implementação foi montado no pátio da escola um mural com

cópias de todas as atividades realizadas pelos alunos e as atividades originais foram

arquivadas em forma de portfólio individual.

4. RESULTADOS

Após a implementação do material didático algumas considerações podem ser

feitas em relação aos seus resultados. Iniciou-se apresentando aos alunos o teor do

projeto e o que o motivou, nesse momento aproveitou-se para fazer uma investigação

diagnóstica sobre os conhecimentos dos alunos a respeito das histórias em

quadrinhos. Observou-se nesse primeiro diálogo que muitos alunos não gostam de

ler, quando leem não é por prazer, apenas quando vão ser avaliados por algum

professor. Os alunos já conheciam as histórias em quadrinhos, só que na língua

portuguesa. Em língua inglesa, só tinham realizado leituras de pequenos textos de 3

ou 4 linhas, com a ajuda de um dicionário tradutor de português/inglês.

O questionário diagnóstico foi aplicado a 28 alunos e o resultado apontou que

05 alunos gostam de ler (gráfico 1), a leitura que mais agrada são as revistas de

fofoca e sites na internet (gráfico 2), os 28 alunos conhecem as histórias em

quadrinhos, porém somente 18 já haviam lido uma história completa (Gráfico 3). Dos

personagens em quadrinhos conhecidos destacaram-se o Pato Donald, o Pateta, a

Minnie e o Mickey criados por Walt Disney, e a Mônica, Cebolinha e Cascão criados

por Mauricio de Souza. Os 28 alunos não sabiam dizer quem é Maurício de Souza.

Gráfico1: Alunos do sexto ano que gostam e não gostam de ler

O fato dos alunos não gostarem de ler pode estar relacionado com o tipo de

leitura desenvolvida pela escola, tendo em vista que, segundo os próprios alunos, não

é atrativa e nem motivadora, ela é feita como uma imposição e exigida por meio de

resumos escritos com um fim avaliativo.

Gráfico 2: Tipos de leitura que os alunos do sexto ano fazem

9%

91%

Gosto pela Leitura

Jornais Revistas

3%

36%

29%

14%

7%

11%

Tipos de leitura

Jornais Revistas Site na internet Gibi Livros Nada

Este resultado confirma o pensamento de Bordini e Aguiar (1993, p.18-19)

quando afirmam que o leitor busca no ato de ler a satisfação de uma necessidade de

caráter informativo ou recreativo, que é condicionada por uma série de fatores: os

alunos são sujeitos diferenciados que têm, portanto, interesses de leitura variados.

Nesse sentido, o professor, ao trabalhar leitura, precisa acima de tudo conhecer o

gosto literário do aluno.

Gráfico 3: Porcentagem de alunos que já leram gibis e que não leram

Esses resultados apontam que mesmo quando a leitura é agradável, ainda há

resistência por parte de alguns alunos. Assim sendo, o professor ainda é o principal

instrumento para iniciar e conduzir o aluno pelo longo caminho da leitura, e para obter

êxito neste árduo trabalho é necessário que o professor faça uso de sua imaginação

criadora, sensibilidade e perspicácia.

Vale saber que, após a aplicação da avaliação diagnóstica e obtenção dos

resultados, foi combinado com as professoras de língua inglesa e de língua

portuguesa do sexto ano, que no mês de agosto de 2015 as aulas seriam na biblioteca

da escola, tendo em vista que a professora da implementação exerce a função de

bibliotecária na escola.

Assim, iniciou-se a aplicação do material. Na primeira etapa, foram trabalhados

primeiramente elementos chaves do gênero HQs, na sequência um pouco sobre a

historicidade da HQs e, em seguida, apresentou-se a Turma da Mônica – HQs

escolhida para trabalho nesta sequência didática. Nesse primeiro contato com o

gênero, os alunos demostraram grande interesse, principalmente pelo fato da

64%

36%

LEITURA DE GIBIS

Leu Gibi Nunca leu um gibi

disposição das mesas da biblioteca proporcionarem a liberdade de se trabalhar em

grupos.

Na segunda etapa destinada ao “Plano Discursivo”, trabalhou-se com os alunos

o reconhecimento do plano textual global das tiras em quadrinhos. Os alunos

aprenderam a observar uma sequência narrativa com as devidas divisões em

quadrinhos, os balões e os diálogos, os traços e desenhos, os personagens, e a

linguagem utilizada.

Nessa etapa, sugerimos atividades que abordam a composição e a estrutura

do gênero estudado e também a interpretação de tirinhas, a leitura de imagens que

se fez muito importante, pois nem sempre os alunos conseguiam traduzir todas as

falas e as imagens ajudaram na dedução dos significados.

Neste momento, buscou-se trabalhar também o vocabulário, pronomes,

adjetivos e uma breve revisão das formas interrogativas e negativas do verbo to be.

Foi o momento mais difícil, tendo em vista que os alunos nas séries iniciais do ensino

fundamental não estudam a língua estrangeira moderna, nesse caso o inglês, o que

dificultou bastante a implementação. Talvez, um melhor resultado poderia ter sido

obtido se o material tivesse sido desenvolvido no sétimo ano.

A terceira etapa foi destinada à leitura propriamente dita. Nesse momento os

alunos tiveram acesso a muitos gibis, tanto em português como em inglês. Entre os

gibis selecionados destacam-se o MÔNICA’s GANGs, o MÔNICA TEEN e o NOSSO

AMIGUINHO English. Cada aluno recebeu também um dicionário português-inglês,

para facilitar esse momento de leitura.

Neste momento trabalhou-se a interpretação das HQ, destacando as palavras

e expressões que pudessem oferecer mais dificuldades aos alunos, em relação ao

sentido, e procurou-se esclarecê-lo utilizando mímica e a entonação adequada das

falas.

A quarta etapa foi destinada à construção de HQs. Assim, sugerimos antes da

elaboração de uma HQs que os alunos criassem seus próprios personagens limitando

dar somente suas características físicas, psicológicas, nomes e sentimentos. Uma boa

imaginação e um senso de humor para os personagens foi tudo que os alunos

precisaram para confeccionarem seus próprios personagens.

Logo que concluíram as produções das histórias em quadrinhos, os alunos

tiveram um momento destinado ao lazer e ao passatempo. Nesse momento fizeram

pinturas, decifraram enigmas, leram cartas enigmáticas, jogaram o jogo dos sete

erros, enfim, foi o momento de exercitar o que aprenderam na forma de diversão.

O último e avaliativo momento foi a exposição, na biblioteca da escola, de todo

o material produzido durante o desenvolvimento desse material. A forma de

organização foi em portfólio, que ao final da exposição e da implementação, o aluno

pôde levar para casa.

Não se pode afirmar que não houve dificuldades durante a implementação,

como exemplo, a falta de hábito de se trabalhar em grupo, o período de greve, onde

o projeto foi interrompido, as conversas paralelas gerando um pouco de indisciplina,

entre outras. No entanto, tais dificuldades, aos poucos, foram sendo superadas de

forma que se pode dizer que vale a pena continuar desenvolvendo esse material nos

próximos anos, porém, diante de algumas dificuldades já expostas, o próximo ano, o

material será desenvolvido com alunos um pouco mais velhos e com mais bagagem

na disciplina de língua inglesa.

Para finalizar, é importante citar a participação dos professores no Grupo de

Trabalho em Rede (GTR) onde dos quatorze inscritos, onze concluíram o curso cujo

objetivo era socializar, interagir, discutir, trocar experiências e verificar a viabilidade

do nosso projeto na Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná. Ressalta-se

ainda que os cursistas não só compreenderam a fundamentação teórica abordada

como as ações didático-pedagógicas sugeridas, como socializaram suas

experiências e contribuíram dando sugestões de atividades, demonstrando que o

presente projeto foi de suma relevância para sua prática pedagógica e poderá ser

aplicado em suas escolas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ensino da língua inglesa por meio de gêneros textuais torna as aulas mais

atrativas e motivadoras. O gênero escolhido “Histórias em Quadrinhos” teve grande

aceitação por parte dos alunos e trouxe reflexões bem significativas para a prática

pedagógica. Um dos problemas enfrentados durante as aulas foi o vocabulário, pois

os educandos não têm contato com a língua inglesa de forma mais sistematizada.

Durante a aplicação da Sequência Didática, percebeu-se que a maioria dos

alunos já possuía algum conhecimento prévio por meio de questões orais e escritas

sobre o gênero HQs, pois participaram fazendo questionamentos e dando suas

contribuições se mostrando interessados com relação às atividades desenvolvidas.

A primeira dificuldade encontrada na aplicação do projeto foi levá-los para a

biblioteca para trabalharem em grupos, tendo em vista a falta de hábito. Outro ponto

que merece destaque foi o conhecimento nulo que esses alunos tinham da língua

inglesa. Enquanto o material estava sendo desenvolvido na língua portuguesa, houve

somente diversão, no entanto, a etapa destinada a leituras de gibis escritos em inglês

foi cheia de conflitos, necessitando de mediação constante por parte da professora.

Além da fundamentação teórica, foram apresentadas atividades de leitura,

interpretação e compreensão textual, análise linguística, produção, reescrita e

circulação dos textos produzidos.

Ao refletir sobre os resultados obtidos neste estudo, pode-se dizer que trabalhar

o gênero HQ na biblioteca da escola exige do professor uma atitude menos tradicional

e mais conectada às novas concepções de ensino e aprendizagem, que conduzem a

aulas mais dinâmicas e interativas, facilitando, assim, a aquisição de uma

competência linguística e discursiva se lhes for propiciado o acesso e domínio da

diversidade de gêneros que circulam na sociedade.

Enfim, esse não é um trabalho acabado, espera-se que tenha fomentado a

participação reflexiva, crítica e criadora de cada professor que atua no exercício do

ensino da Língua Inglesa.

Para concluir, é fundamental que o educador tenha o desejo de ensinar e

inovar, buscar novas possibilidades de estratégias, para suas ações pedagógicas.

Assim, possibilitar a construção de conhecimentos e não apenas transmissão de

conteúdo. É necessário conhecer diferentes práticas pedagógicas, por isso, é preciso

que o professor se mantenha informado e atualizado, buscando sempre alternativas

metodológicas para dinamizar a sua aula.

Pode-se dizer que os objetivos propostos pela pesquisa foram alcançados, já

que comprovou-se que a biblioteca escolar é sem dúvida alguma um ambiente

propício para estimular a leitura de Histórias em Quadrinhos e assim, ampliar o

recurso linguístico em língua estrangeira moderna, neste caso, a língua inglesa.

REFERÊNCIAS

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