Os sete-principios-para-entender-a-biblia

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Os Sete Princípios Para Entender a Bíblia Trecho do Capítulo 3

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(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

Os SetePrincípios

Para Entendera Bíblia

Trecho doCapítulo 3

(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

2

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(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

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5

(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

6

Quando retiramos um texto fora de seu con-texto, arrumamos um pretexto para errar.

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(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

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(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

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(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

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(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

(...Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo? Ele respondeu: Como poderei entender, se alguém não me

explicar?) – At 8.30-31

A passagem que abre este capítulo nos remete à cena onde Filipe, um dos sete diáconos escolhidos pela Igreja de Jerusalém, é impelido pelo Espírito no deserto com o �m de se encontrar com o eunuco etíope, um alto o�cial do reino de Candace, para anunciar e explicar o Evangelho. No episódio, vemos o coração sincero e a simplicidade do eunuco ao a�rmar: “Como poderei en-tender as Escrituras, se alguém não me explicar?”. De certo, esta passagem é reveladora. Neste evento, torna-se evidente que a Bíblia é diferenciada e se trata de um livro complexo. Isso é óbvio, pois Ela revela os fatos referentes ao Deus Cri-ador e Suas Obras. O próprio apóstolo Pedro tescreve acerca de sua complexi-dade: (...Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como igualmente o

nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada, ao falar acerca destes assuntos, como, de fato, costuma fazer em todas as suas epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e

instáveis deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição deles.) – 2Pe 3:15-16

Certamente existem assuntos nas escrituras que são difíceis de com-preender, como por exemplo, o trecho que o eunuco lia antes da chegada de Filipe. Porém, precisamos notar que estes assuntos sempre estão relacionados com as coisas mais profundas do conhecimento de Deus. Os assuntos que são os mais fundamentais e vitais para a salvação podem ser compreendidos até mesmo por uma criança, e precisamente por isso, todo homem é indes-culpável quando a�rma que a bíblia é um livro totalmente incompreensível. Portanto, tendo em vista a natureza da mensagem Bíblica, claramente se faz necessária uma introdução para todo aquele que deseja sinceramente compreender plenamente as escrituras. Isto signi�ca que é responsabilidade de homens mais exercitados na Palavra da Verdade iluminar o entendimento dos mais novos no que se refere às Escrituras. Com poucas exceções, o caminho que Deus utiliza para ensinar e edi�car os novos conver-tidos na fé é através de irmãos mais velhos. Desta forma, além de evitarmos cair em erros doutrinários graves, somos edi�cados e podemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo. Assim como foi dito na introdução deste material, é imprescindível con-hecermos as bases interpretativas corretas para que possamos entender a Bíblia. Fazendo um paralelo com o capítulo anterior, o conhecimento dos princípios corretos de interpretação das Escrituras é talvez o mais forte efeito causado pela iluminação espiritual. Nossa intenção neste material é introduzi-lo nas principais bases interpre-

tativas. Não intentamos neste capítulo escrever um tratado exaustivo sobre hermenêutica¹, mas sim apresentar os mais importantes e práticos aspectos interpretativos da Palavra de Deus. Acredite: ao tomar posse deste conteúdo, seu entendimento Bíblico será outro, todas as vezes que ler as Escrituras.

Jesus Cristo: O Tema Central de Toda a Bíblia

(...A seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei

de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Então, lhes abriu o entendimento para compreenderem as Escrituras;) Lc 24:44-45

O primeiro passo para a real compreensão da Bíblia é entendermos qual é o centro de sua mensagem, ou melhor, quem é o centro de sua mensagem. A Bíblia inteira está centralizada na Pessoa e Obra de Nosso Senhor Jesus Cristo. A proclamação da Pessoa de Cristo e de Suas rea-lizações é a mensagem que Deus tem para toda a humanidade. Entretanto, Cristo mesmo precisa abrir nosso entendimento por intermédio da Pessoa do Espírito Santo, para que possamos ter essa percepção.

(Porque fazes resplandecer a minha lâmpada; o SENHOR, meu Deus, derrama

luz nas minhas trevas) Sl 18:28.

É o próprio Cristo que é contemplado através de toda a mensagem bíbli-ca. De Gênesis a Apocalipse temos Cristo como o cerne da toda mensagem, Aquele que é a própria centralidade e universalidade de Deus é também o eixo central de toda a mensagem das Escrituras. É preciso aprender a vê-Lo por toda parte em toda ela, em cada narrativa, em cada profecia, em cada poesia, em cada símbolo, em cada tipo, em cada trecho e etc... Sabendo que Cristo é a centralidade da mensagem Bíblica, a partir daí, passamos a enxergar a Bíblia com outros olhos e contemplar Cristo até mesmo nos mínimos detalhes. Quando nossos olhos espirituais são iluminados pela luz que vem do alto, a Bíblia se torna um livro indescritivelmente fantástico. É impressionante a riqueza de detalhes e conexões que a Bíblia faz para nos falar sobre Jesus, e nos fala dEle o tempo todo. O fato do próprio Livro de Deus ser centralizado em Cristo nos leva a uma conclusão magní�ca: Cristo é o centro do universo de Deus. Tudo omeça, se desenvolve e termina em Cristo. Sempre que lemos a Bíblia de forma correta, ela torna-se útil e necessária para de alguma forma aprender mais de Cristo e apreendê-Lo em nossos corações. Quando nos reunimos, é no Nome, ao Nome, e para o Nome de Cristo. Nossa vida também deve ser vivida para Cristo. Isto é um conceito necessário e grandioso.

(...Porque dEle (Cristo), e por meio dEle, e para Ele são todas as coisas...) Rm 11.36

(...Este (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; pois, nEle, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potesta-des. Tudo foi criado por meio dEle e para Ele. Ele é antes de todas as coisas.

NEle, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da igreja. Ele é o princípio, o pri-mogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque

aprouve a Deus que, nEle, residisse toda a plenitude...) Cl 1.15-19

Regras Básicas de Interpretação

Existem algumas regras que regem a �el interpretação das Escrituras. Estas regras são fundamentais e altamente úteis para se obter um boa, correta e �dedigna interpretação de qualquer texto, conceito ou doutrina revelada

1# Princípio da unidade Escriturística

Devemos ter em mente que a Bíblia é um livro homogêneo e harmonioso. Logo, sua mensagem não contém divergências de nenhuma ordem. De fato, existem o que chamamos de “aparentes paradoxos, que são porções das Es-crituras que, aparentemente, se chocam umas com as outras, causando dúvi-das na mente de muitos com respeito à veracidade do texto Bíblico. Para um cristão maduro e exercitado na Palavra de Deus, no entanto, esses aparentes paradoxos são fáceis de resolver. Escreveremos sobre este assunto mais pro-fundamente em outro material, mas queremos deixar um exemplo ilustrativo. Compare estes dois conjuntos de versículos:

(...Não julgueis, para que não sejais julgados.Pois, com o critério com que julgar-des, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também.) Mt 7:1-2

(...Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas.) Rm 2:1

(...Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas? ) 1Co 6:2 (...julgai todas as coisas, retende o que é bom;) 1Ts 5:21

Aparentemente, estes versículos são con�itantes. Nos dois primeiros, o julgamento é condenável; nos dois seguintes, nos é recomendado exercer jul-gamentos, alias é-nos revelado que cristãos maduros, aqueles que forem des-ignados por Deus para tal tarefa, hão de julgar o mundo inteiro, tanto o visível, quanto o invisível! Paradoxo?! Na verdade, não há contradição nenhuma. Trata-se de dois ensinos bem distintos e sólidos. Basicamente, existem dois tipos de juízo, sendo um deles condenável e o outro, não só recomendado, como também, louvado. Não de-vemos julgar segundo a carne, isto é, conforme as perspectivas humanas, e sim segundo o Espírito, isto é, segundo a mentalidade de Deus. Não devemos julgar segundo as aparências, e sim pela reta justiça. O homem não pode ir além de aparências; Deus, porém, conhece o essencial, o profundo de todas as coisas; o homem jamais poderia penetrar esses territórios por causa de sua própria �nitude, característica de sua própria natureza. Por isso mesmo, para que possa julgar além de suas próprias limitações, é preciso ser munido da visão celestial, ser possuidor do ponto de vista de Deus, para que através desse extraordinário expediente gracioso, possa então, com precisão e con-sistência espiritual genuína, exercitar reto e perfeito juízo em todas, sobre todas e de todas as coisas. Quando nos deparamos com trechos nas Escrituras que parecem con�i-tantes, devemos entender que os paradoxos são apenas aparentes, e devemos procurar o verdadeiro sentido dos ensinamentos propostos por cada um

deles. Sendo a Bíblia uma única mensagem, não pode haver diferença, nem tão pouco, con�itos doutrinários entre um livro e outro.

2# A Bíblia explica a própria Bíblia (Scriptura Interpres Scrip-turae)

A não utilização desta regra chave tem sido uma das principais causadoras de criação e introdução das mais variadas heresias destruidoras em todos os séculos. Entenda que não existe nada fora da revelação que possa elucidar a própria revelação. Se quisermos compreender perfeitamente o sentido dos diversos textos Bíblicos, é preciso fazer uma comparação de porções aparente-mente diferentes das Escrituras, mas que mantém uma relação por corres-pondência em sentido espiritual. Este é mais um motivo para conhecer muito bem a Bíblia. Por exemplo, em provérbios capítulo 31, temos a descrição da mulher vir-tuosa, isto é, a mulher que é cheia de virtudes, e que é louvada pelo Senhor na Bíblia; Entre suas características, encontramos:

(Faz para si cobertas, veste-se de linho �no e de púrpura.) Pv 31.22

Num primeiro momento, podemos imaginar que o tipo de mulher que é

louvada pela Bíblia é aquela que se veste como uma verdadeira princesa. Mas isso não teria coerência nenhuma! Qual seria o real sentido desse versículo, então? Se usarmos a Bíblia para interpretar a própria Bíblia, certamente desco-briremos. Vejamos o que nos diz o livro de Apocalipse:

(Porque o linho �níssimo são os atos de justiça dos santos.) Ap 19:8

Achamos nossa resposta! A mulher que é louvada pela Bíblia, portanto, é aquela que transborda na prática de atos de justiça. Isto sim, faz completo sen-tido, até porque temos a con�rmação desta mesma idéia em 1 Timóteo e em 1 Pedro:

(Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispen-dioso, porém com boas obras...) 1Tm 2.9-10

(Mulheres, sede vós, igualmente, submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...)1Pe 3.1-6

Que harmonia espetacular ao estabelecermos um paralelo na análise entre os textos! Pondo lado a lado estes quatro trechos bíblicos, podemos encontrar o real sentido da mensagem Bíblica com respeito à mulher virtuosa. Na ver-dade, é assim que devemos proceder para com todos os textos das Escrituras e, com isso, deixar que a Bíblia se auto-interprete.

3# Nunca retirem o texto fora de seu contexto

Quando retiramos um texto fora de seu contexto, arrumamos um pretexto para errar. Há contextos imediatos, e esses devem ser o material prioritário a ser con-siderado em uma análise interpretativa. Da mesma forma, podem existir também contextos distantes, que são relacionados direta ou indiretamente com o objeto de análise em questão. Ressaltamos que tudo isso deve sempre ser buscado dentro da própria Bíblia e nunca em fontes externas, e muito menos, em fontes estranhas à própria Bíblia. Para exempli�car este ponto, examinemos novamente o próprio texto de Mateus capítulo 7, que utilizamos para exempli�car o princípio da Unidade Es-criturística. No versículo 1, está escrito:

(Não julgueis, para que não sejais julgados.) Mt 7.1 Se apenas lermos este versículo isoladamente, sem levar em conta o con-texto em que ele está inserido, concluímos que não devemos julgar se não quisermos ser julgados. Julgamento, então, é algo indesejável! Mas, como já demonstramos, não é isso que a Bíblia ensina. O erro, neste caso, é que não estamos levando em conta o contexto imediato para entender o versículo. Ve-jamos o que nos diz os próximos versos:

(Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio?Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás clara-mente para tirar o argueiro do olho de teu irmão.) Mt 7:2-5

Ao analisar o conjunto de versículos que formam o contexto imediato, en-tendemos que Jesus condena o julgamento temerário e hipócrita. Jesus condena, principalmente, o comportamento dos fariseus, que agiam de acordo com o famoso dito popular “faça o que eu digo, não faça o que eu faço.” Tenhamos o cuidado de sempre analisar qualquer versículo dentro de seu

contexto imediato, para não incorrermos em erros.

4# Analise os tempos verbais Devemos sempre estar atentos ao tempo do verbo que rege qualquer declaração na Bíblia. Isto nos esclarecerá se o fato em questão foi consumado (passado), é escatológico (futuro), algo que está acontecendo no momento presente, algo que está em andamento ou em processo de continuidade, etc. Entender o tempo verbal é indispensável para a compreensão correta das doutrinas Bíblicas. O seguinte versículo é um ótimo exemplo:(...Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém re-belde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.)

Jo 3:36

Analisaremos o três verbos em destaque:

“Quem crê no Filho tem a vida eterna” – Neste caso, o verbo está no presente. Isto signi�ca que aquele que crê em Jesus, tem a vida eterna desde já. Não iremos receber a vida eterna, mas já temos a vida eterna. Diversos outros textos con�rmam esta doutrina, como Jo 5:24, Jo 6:47, 1Jo 5:12.

“o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida” - O verbo “verá” está no futuro, logo, este é um fato que ainda será consumado, caso o pecador se mantiver rebelde contra o Filho de Deus até a sua morte.

“mas sobre ele permanece a ira de Deus.” – Aqui o verbo está no presente con-tinuo; na verdade, esta forma verbal é uma característica do gerúndio em por-tuguês. Isto signi�ca que, todos aqueles que não têm o Filho de Deus perman-ecem continuamente sob a ira de Deus. Esses prosseguirão nesta terrível condição até o momento em que decidirem mudar a própria sorte, passando a crer, e assim recebendo o Filho de Deus em seus corações, de todo o coração.

Esperamos que este exemplo ilustre muito bem a importância da atenção aos tempos verbais das declarações Bíblicas. Com isto em mente, evitaremos erros e nossa interpretação será muito mais exata.

5# A interpretação sempre é feita do contexto doutrinário geral para o contexto doutrinário especí�co

Saiba que qualquer aspecto mais especí�co da Bíblia está relacionado com seu aspecto mais amplo doutrinariamente expresso. Este é um aspecto mais amplo e profundo do conhecimento das Escrituras; este nível de per-cepção interpretativa permite a interpretação de certos trechos que são natu-

ralmente, mais complexos e avançados em sentido doutrinário. Assim, será necessário mais esforço de nossa parte, visto que um conhecimento correto e prévio das doutrinas contidas na Bíblia se faz absolutamente necessário. Nos próximos materiais está proposto maiores explicações e desenvolvi-mentos acerca desse assunto especí�co!

6# Limite-se ao texto em questão, nada acrescente ou retire dele Concentre-se no que o texto te informa, do modo como te informa, sem nunca nada dele alterar torcendo seu sentido original, nem tão pouco acres-centar ou subtrair dele qualquer porção, nem ordem, nem ainda uma vírgula ou til sequer. Seja sempre criteriosamente exigente, preciso e perfeito para aquilo que é absoluto. Fazendo assim, di�cilmente se enganará no exercício de interpretações biblicas. Ainda no jardim do Éden, podemos observar como as conseqüências de acrescentar palavras ao que Deus disse foram trágicas. Depois de formar Adão, Deus ordenou:

(De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimen-to do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certa-mente morrerás.) Gn 2.16-17

Esta foi a ordem dada por Deus, nem mais, nem menos. Pouco depois, a serpente que na ocasião estava sendo utilizada como instrumento das ativi-dades tentadoras de Satanás, teve um encontro com a mulher próxima das árvores centrais do Paraíso, tanto a da Vida, quanto a do conhecimento do bem e do mal. Observe atentamente o desenrolar da narrativa e o diálogo desenvolvido na ocasião:

(...A serpente disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim po-demos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais...) – Gn 3.1-3

Note que Deus nada falou sobre tocar no fruto, e sim sobre comê-lo. Eva deliberadamente acrescentou palavras ao que Deus havia dito! As graves con-seqüências que decorreram deste episódio, todos nós já conhecemos bem e experimentamos diariamente. Irmãos, tenhamos o cuidado de nos limitar apenas ao que está escrito, sem fazer nenhum acréscimo ou decréscimo.

(...Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro, testi�co: Se alguém lhes �zer qualquer acréscimo, Deus lhe acrescentará os �agelos descri-tos neste livro e, se alguém tirar qualquer coisa das palavras do livro desta pro-

fecia, Deus tirará a sua parte da árvore da vida, da cidade santa e das coisas que se acham escritas nesse livro.) Ap 22:18-19

(...Toda a palavra de Deus é pura; Ele é escudo para os que Nele con�am. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado men-tiroso.) Pv 30: 5-6

7# Procure conhecer os textos em sua língua original

Por último, o quanto possível, devemos conhecer os textos em suas lín-guas originais, isto fará com que nosso exercício interpretativo seja muito mais rico, abrangente, e ainda, nos dará maior precisão na compreensão dos própri-os textos em questão. Hoje em dia, devido ao desenvolvimento das tecnolo-gias de comunicação, diversos excelentes acessórios estão disponibilizados na rede, que facilitam em muito, nosso acesso aos escritos originais em suas re-spectivas línguas.Tais acessórios nos ajudam a penetrar o signi�cado do texto bíblico em todas as suas nuances. Por exemplo, existem pelo menos três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzimos por amor; três vocábulos gregos diferentes para designar a palavra, que traduzi-mos por vida e assim por diante. No devido momento, quando estivermos desenvolvendo estes temas especí�cos e disponibilizando-os a você, entra-

remos em análises mais aprofundadas e mais amplas dos mesmos, bem como de outros tantos que pretendemos abordar posteriormente. Conhecer os textos em sua língua original é como beber águas cristalinas das corredeiras de suas nascestes originais. Existe uma enorme quantidade de tradução dos textos originais da Bíblia, quer seja para o português, quer para a maioria das línguas e dialetos, falados atualmente ou não. Algumas traduções são excelentes por sua aproximação formal aos mais antigos manuscritos, como por exem-plo a tradução em português Almeida Revista e Atualizada. Há, porém, muitas outras traduções da Bíblia de�cientes, precárias e muito fracas, no que se refer-em aos mais antigos pergaminhos e manuscritos. Caro leitor, recomendamos a você que evite basear suas analises interpretativas dos textos bíblicos em traduções que não possuam erudição e tradição reconhecidas e consagradas universalmente. Ainda assim, mesmo nas melhores traduções, a profundidade dos textos em sua língua original é maior. Muitas nuances são percebidas apenas quando temos contato com os textos originais. Logo, se quisermos verdadeiramente nos aprofundar nas Escrituras e tornar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.

Para encerrar esta seção sobre as regras básicas de interpretação, gostaríamos de deixar claro que há, sem dúvida, outras regras importantes. Estas, porém, servem como uma base segura e con�ável para uma boa, correta e �el interpretação de qualquer trecho das Sagradas Escrituras.

Os Quatro Principais Tipos de Interpretações Bíbli-cas

Abordaremos nas próximas linhas os quatro tipos principais de interpre-tações Bíblicas. Para uma interpretação mais precisa e especializadas, elas tor-nam-se indispensáveis e fundamentais, além de complementares e graduais. São elas:

1# Interpretação Literal Este modo de se abordar as Escrituras poderia ser considerado o primeiro degrau na escada da interpretação Bíblica. A Escritura deve ser entendida no seu sentido literal, normal e naturalmente. Somente após entendermos literal-mente o que nos diz o texto, podemos avançar para a compreensão mais pro-funda e espiritual. Por exemplo, Jesus diz:

(...Ninguém põe vinho novo em odres velhos; do contrário, o vinho romperá os odres; e tanto se perde o vinho como os odres. Mas põe-se vinho novo em

odres novos.) Mc 2:22

Se não soubermos o que é um odre, é impossível chegar a uma conclusão literal desta passagem, sendo impossível, posteriormente, uma conclusão

mais profunda e espiritual.

2# Interpretação Histórica

Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o segundo degrau na escada da interpretação Bíblica. Seguindo o princípio histórico de interpretação procuraremos compreender o texto bíblico dentro do ponto de vista de seu contexto histórico. O que o texto diz a respeito das pessoas que formam a narrativas inseridas em seu ambiente histórico, a própria geogra�a histórica que compõe o cenário, dentro do qual se desenvolvem os eventos em questão. O quê o texto fala primária e diretamente às pessoas envolvidas na narrativa, e assim por diante. Quando se leva em conta o contexto histórico de um texto bíblico especif-ico, alcançamos um entendimento mais apropriado da intenção original das Escrituras.

3# Interpretação Gramatical Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o terceiro degrau na escada da interpretação Bíblica. Isso exigirá de todo aquele que se

propõe a interpretar o texto bíblico a este grau, possua noções bem sólidas de hermenêutica.Hermenêutica é a ciência que busca entender a estrutura gramatical fundamental dos textos originais: análise do tempo verbal, o sig-ni�cado etimológico, semântico, denotativo e etc, dos termos que formam as frases; o emprego dos pronomes e assim por diante. Com o auxílio de tal expe-diente interpretativo se poderá alcançar facilmente uma perspectiva mais pura, clara e brilhante do texto bíblico. Estes três princípios, na verdade, apenas pavimentam o caminho para o mais alto e excelente tipo de interpretação Bíblica:

4# Interpretação Espiritual: Este modo de abordar as Escrituras poderia ser considerado o quarto e mais importante degrau na escada da interpretação Bíblica. Ao avançarmos para uma interpretação espiritual do texto bíblico, e não uma espiritualização do texto bíblico (longe de nós tal coisa), atingiremos o ponto interpretativo mais signi�cativo e crucial, que obviamente cremos ser o mais elevado, mais dinâmico, mais instrutivo, mais prático, mais útil e que está em estrita sintonia com propósito e intenção originais de Deus ao nos entregar Sua mensagem por intermédio de Sua Escritura. Observe o testemunho que o próprio texto

Inspirado dá a este respeito:

(...mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o

amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito, que nele está? Assim,

também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas en-

sinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucu-ra; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por

ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós, porém, temos a mente de Cristo). 1Co 2. 9-16

O ponto de interpretação das Escrituras que devemos atingir, utilizan-do-nos de todos os modos e abordagens interpretativas que anteriormente citamos, deve, sem sombra de dúvidas, ser exatamente este que está descrito indelevelmente na Palavra da Verdade, ou seja: comparar coisas espirituais

com outras coisas espirituais, todas elas derivadas das Escrituras, que, por sua vez, é a fonte de todo pensamento, conceito e ideal espiritual genuínos. Procure perceber o que o texto diz aqui: Ele a�rma que o homem espiritu-al é o único em condição de se chegar a interpretações do Texto Inspirado com clareza e precisão genuína. E como ele consegue isso?Comparando coisas espirituais com espirituais! Nada menos!

(...as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.) Jo 6.63

O texto jamais teve a intenção de a�rmar que deveríamos comparar coisas literais com literais, ou, coisas históricas com coisas históricas, ou ainda, coisas gramaticais com outras coisas gramáticas; antes, porém, deve-se comparar coisas espirituais com coisas espirituais! Nada menos! Se nos detivermos a uma interpretação literal do texto bíblico, teremos apenas uma perspectiva parcial, uma visão super�cial e incorreremos em erros de toda sorte. Isso se aplica também a todos os demais métodos de interpre-tação. Note o exemplo abaixo:

(...E Jesus lhes disse: Vede e acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos sadu-ceus. Eles, porém, discorriam entre si, dizendo: É porque não trouxemos pão. Percebendo-o Jesus, disse: Por que discorreis entre vós, homens de pequena fé, sobre o não terdes pão? Não compreendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães para cinco mil homens e de quantos cestos tomastes? Nem dos

sete pães para os quatro mil e de quantos cestos tomastes? Como não com-preendeis que não vos falei (literalmente) a respeito de pães? E sim: acaute-

lai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. Então, entenderam que não lhes dissera que se acautelassem do fermento de pães, mas da doutrina dos

fariseus e dos saduceus...) Mt 16.6-12 Tente interpretar esta declaração de Jesus em sentido literal, e não em seu sentido próprio, isto é, o espiritual. Como é evidente, você incorrerá no mesmo erro que os discípulos caíram, e como eles, seria repreendido e tido como alguém que não compreende devidamente as coisas espirituais, e ainda, alguém cuja fé é ainda pequena. Outro exemplo estaria mais dentro da linha interpretativa histórica, um pouco antes, no mesmo texto de Mateus, o Senhor Jesus se expressa da se-guinte forma:

(...Ele, porém, lhes respondeu: Chegada a tarde, dizeis: Haverá bom tempo, porque o céu está avermelhado; e, pela manhã: Hoje, haverá tempestade,

porque o céu está de um vermelho sombrio. Sabeis, na verdade, discernir o aspecto do céu e não podeis discernir os sinais dos tempos? Uma geração má

e adúltera pede um sinal; e nenhum sinal lhe será dado, senão o de Jonas...) Mt 16.2-4

Se balizarmos nossa interpretação bíblica na abordagem história tão so-

mente, então, teríamos um evento semelhante àquele encontrado no livro de Jonas. Sabemos que Jonas, ao tentar fugir do compromisso de pregar a men-sagem de arrependimento aos Ninivitas, (tarefa essa ordenada por Deus e que Jonas deveria cumprir na íntegra) é repreendido com dura lição por parte do Senhor, devido a sua rebeldia ao desobedecer uma ordem direta da parte do Senhor e desempenhar prontamente a tarefa que o Senhor lhe havia designa-do.Também sabemos como tudo acabou: um grande peixe vindo da parte do Senhor acabou por tragar o profeta vivo.Esta narrativa histórica era fundada sobre eventos históricos reais, com �nali-dades de nos transmitir mensagens espirituais especi�cas. Os eventos históri-cos encontrados no livro de Jonas tinham intima ligação, como um sinal, dos momentos em que o Senhor Jesus depois de morto, passaria no coração da terra, três dias e três noites, como Ele mesmo havia dito:

(...Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da

terra...) Mt 12.40

Compare: O grande peixe tem aqui, nesta passagem especí�ca, o mesmo sentido que a morte; e, Jonas no ventre do grande peixe, tem o mesmo signi�-cado de Cristo ter entrado na morte, e passado três dias e três noites nela, antes de Sua ressurreição. Veja um outro exemplo:

(...Pois está escrito que Abraão teve dois �lhos, um da mulher escrava e outro da livre. Mas o da escrava nasceu segundo a carne; o da livre, mediante a

promessa. Estas coisas são alegóricas; porque estas mulheres são duas alianças; uma, na verdade, se refere ao monte Sinai, que gera para escravidão; esta é Agar. Ora, Agar é o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à Jerusalém atual, que está em escravidão com seus �lhos. Mas a Jerusalém lá de cima é

livre, a qual é nossa mãe; porque está escrito: Alegra-te, ó estéril, que não dás à luz, exulta e clama, tu que não estás de parto; porque são mais numerosos os

�lhos da abandonada que os da que tem marido. Vós, porém, irmãos, sois �lhos da promessa, como Isaque. Como, porém, outrora, o que nascera segun-do a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora. Contudo, que diz a Escritura? Lança fora a escrava e seu �lho, porque de modo

algum o �lho da escrava será herdeiro com o �lho da livre. E, assim, irmãos, somos �lhos não da escrava, e sim da livre...) Gl 4.22-31

Ora, a�nal, estas duas mulheres que geraram �lhos a Abraão, eram mul-heres reais e históricas, ou eram elas apenas �guras alegóricas? Naturalmente eram elas mulheres literais, históricas e bem reais, mas no sentido espiritual, elas representavam as duas alianças que Deus havia estabelecido com os homens. Perceba como a interpretação espiritual atinge, de fato, o alvo. Portanto é preciso “conferir coisas espirituais com espirituais”, pois “as pa-

lavras que eu (Jesus) vos tenho dito são espírito e são vida”

As três formas de interpretação recomendadas acima são, indiscutivel-mente, de grande auxílio, elas possibilitam e oferecem maior clareza e en-riquecimento aos textos bíblicos, mas nunca devemos parar por ai; antes, pre-cisamos avançar e avançar muito, muito além desses modos de abordagens interpretativas, para que sejamos capazes de compreender plenamente aquilo que “...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam...” e, “...para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente...” no Amado. Somente conseguiremos alcançar a interpretação espiritual através de um mergulho profundo na Palavra de Deus e por decorrência de um relaciona-mento vivido com o Senhor. Jamais se esqueça, precisamos de Sua iluminação para termos compreensão. A Bíblia é um livro espiritual e, portanto, é apreen-dida somente por um entendimento espiritual da mesma. É por isso que muitas passagens nos parecem incompreensíveis. Quando conseguimos alca-nçar a interpretação espiritual dos assuntos contidos na Bíblia, então, estamos começando a nos tornar homens espi-rituais, aptos para conferir coisas espirituais com espirituais e a ter poder de discernimento muito além do comum.

As informações que inserimos neste capítulo são produto de uma análise criteriosa dos fatores mais cruciais para o entendimento Bíblico de uma forma geral. Não foi possível aprofundar tanto quanto necessário em muitos dos tópicos abordados. Ainda assim, procuramos passar aquilo de mais essencial e prático para que você, querido leitor, possa iniciar sua jornada nas Escrituras e, de fato, entender aquilo que está lendo. Por �m, gostaríamos de abordar o aspecto prático do estudo das Escritu-ras, a �m de guiá-lo de modo mais suave possível para os vastos pastos vivi�-cantes e cheios de refrigério da Palavra de Deus.

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Se quisermos verdadei-ramente nos aprofund-ar nas Escrituras e tor-nar-nos excelentes interpretes, é, indiscu-tivelmente, necessário o conhecimento dos textos originais.