Revista Ilustrar 06

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Nesta Edição Kako, David Downton, Leo Gibran, Péricles, Furia e Daniel Bueno

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desenho, pintura, ilustração

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NestaEdição

Kako, David Downton,Leo Gibran, Péricles,Furia e Daniel Bueno

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várias áreas... antendo o objetivo de divulgar todasas formas de ilustração, a Revista Ilustrar trouxe, nestaedição nº 6, convidados dos mais variados campos,divulgando algumas áreas de atuação pouco comentadas.

Na seção Portfolio temos o premiado e conhecido ilustradorKako, com seu estilo inconfundível, falando de seu trabalhoe de suas influências, além de ser também o autor da capa.

Na seção Internacional, o convidado é David Downton, um dosmais importantes ilustradores de moda do mundo e dos mais

requisitados na Europa, falando sobre o mundo fashion.

O Sketchbook fica por conta de Leo Gibran, mostrandoum volume de trabalho impressionante, comdesenhos de uma beleza gráfica de encher os olhos.

A seção Memória é preenchida por Péricles e umdos personagens mais queridos da história gráfica

do Brasil, o Amigo da Onça.

Step by Step mostra um lado pouco conhecido daatuação dos ilustradores, através da pós-produção, acargo do Estúdio Fúria, dos irmãos Luiz Paulo e JoãoCarlos Furia.

E as 15 perguntas são por conta de Daniel Bueno, outroimportante e premiado ilustrador de sucesso e artista gráfico,falando, entre outras coisas, sobre o ilustrador Saul Steinberg.

Espero que gostem. Dia 1 de novembro tem mais.

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DIREÇÃO, COORDENAÇÃO E ARTE-FINAL: Ricardo Antunes [email protected]

DIREÇÃO DE ARTE: Neno Dutra - [email protected] Ricardo Antunes - [email protected]

REDAÇÃO: Ricardo Antunes - [email protected]

REVISÃO:

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:

ILUSTRAÇÃO DE CAPA: Kako - [email protected]

PUBLICIDADE: [email protected]

DIREITOS DE REPRODUÇÃO: Esta revista pode ser copiada, impressa, publicada,postada, distribuída e divulgada livremente, desde que seja na íntegra, gratuitamente,sem qualquer alteração, edição, revisão ou cortes, juntamente com os créditosaos autores e co-autores.Os direitos de todas as imagens pertencem aos respectivos ilustradores de cada seção.

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• EDITORIAL ......................................................................... 2

• PORTFOLIO: Kako .............................................................. 4

• INTERNACIONAL: David Downton ...................................... 18

• SKETCHBOOK: Leo Gibran .................................................. 29

• MEMÓRIA: Péricles ............................................................ 38

• STEP BY STEP: Furia ......................................................... 47

• 15 PERGUNTAS PARA: Daniel Bueno ............................... 57

• CURTAS ............................................................................... 71

• LINKS DE IMPORTÂNCIA ............................................ 73

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Jal (Péricles) - [email protected] Shuman (divulgação) - [email protected]

Neno Dutra - [email protected] Jansen - [email protected]

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remiado diversas vezes,mais recentemente com otroféu HQMIX na categoria de“Melhor Ilustrador”, Kako vemconstruindo uma sólida carreira,tanto no mercado nacionalquanto internacional.

E seu sucesso vem através daforma como se expressa nasilustrações, seu gosto particularpelo traço e por uma paleta decores muito especial, resultadode diversas influências.

Conversando sobre váriostemas, Kako explica muitode sua personalidade, de suacarreira, das influências e decomo a cultura japonesa passoua ter grande marca na sua vidapessoal e profissional.

Inclusive com uma dedicatóriatambém em japonês.

Arigatô.

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Nenhuma. Sou um autodidata teimoso.Não acho o caminho mais correto, mas foicomo segui o meu. Comecei a fazer ArtesPlásticas na USP, em meados de 90,mas não cheguei a terminar.

Um dos motivos foi a oportunidade de abrirmeu estúdio e começar a trabalhar no meioeditorial, primeiro com ilustração e depoiscom design gráfico.

Tomei gosto pela coisa e assim nuncavoltei a estudar.

Minha técnica não tem nada de mais, nãotem um desenvolvimento complexo nemnada. Basicamente faço o que fazia antes,porém usando vetores.

Sempre gostei do traçado preto daarte-final; acho que tá no sangue de quemno começo teve os quadrinhos comointenção de carreira.

Gosto da marcação que o preto impõena composição e por causa disso acabeime afastando um pouco das cores e doestudo delas.

Às vezes penso que seria muito bom voltara fazer uma faculdade e acredito quevoltaria a fazer Artes Plásticas de novo.Mas infelizmente não há tempo para isso.

Vai ficar para outra vida. Mas nuncadeixei de ler e estudar, de procurar sabermais sobre o que precisava; só deixeia formalidade de lado.

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Quando moleque, sempre busquei certaperfeição no traçado da arte final.

Em vez de simplesmente traçar uma linhausando caneta ou pincel eu “construía”essa linha, o fino e o grosso, as curvas, iapuxando a tinta, como se tocasse o gado

no pasto, pouquinho pra lá, tequinho pracá e assim ia desenhando. Demorava prafinalizar qualquer ilustração por causadessa obsessão pela precisão.

Hoje, com o vetor, ficou tão fácil ter essecontrole sobre as linhas, uma maravilha.

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Anos atrás, quando comecei a trabalharcom vetores, eu usava uma técnica vetorialboba, tentando imitar aquarela, usandoformas coloridas transparentes; os clientesgostavam e trazia trabalho, mas eu sempreachei que faltava algo, que era algo quenão tinha a minha cara.

Faltava aquele peso do preto no papel.

Lembro-me exatamente da matéria quemudou tudo; foi uma matéria sobrea Guerra Franco-Prussiana, na Aventurasna História, da Editora Abril; falei praDébora Bianchi, diretora de Arte darevista, que havia decidido experimentaruma coisa nova e ela topou – e assimplantei a semente do que veio a ser

meu traço, hoje.

Deixei de lado as transparênciase resolvi “arte-finalizar” o desenhocom um preto calçado, pra marcarbem o papel. É bobo, eu sei, masnunca o tinha feito antes, nuncahavia pensado o vetor dessamaneira.

Quando você se inicia no vetor,você tem a tendência de usar

muitas formas coloridas, gradientes e sobreposições – e não foidiferente comigo.

Demorei até um pouco demais prausar o preto. E ficou bacana esse

desenho, bem simplesinho e jácom uma prévia de umaseleção limitada de cores.

Enfim, não foi a descobertada roda.

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Na seqüência, quando veio a oportunidadede fazer uma seção fixa para a revistaGrandes Guerras, fiz dessa técnica o meucarro-chefe; e desde então curti muito oresultado, usando para outros trabalhos.

Se você comparar meu último desenhocom estes, você não verá diferença naproposta visual. Ela é a mesma até hoje.

O que houve foi o aprimoramento datécnica, com o tempo, entendendo melhorcomo usar o Illustrator, estabelecendo umametodologia para o conjunto de cores,criando recursos gráficos como texturas etraços finos, que hoje definem esta técnica.

Ou o que chamam de estilo.

Estilo é a técnica com nariz empinado.Não gosto muito desta palavra.

Muita gente acha que sei muito sobrevetores, mas não uso nem 20% dacapacidade do Illustrator.

É só linha, uma atrás da outra, comoqualquer outro desenho. Se existe uma“personalidade” é porque cada umé cada um, assim como existe diferençanos pintores ou escultores.

O importante é que gosto muito do quefaço. Não gostaria de passar meus diasusando uma técnica com a qual não estousatisfeito ou tentando imitar o traço dealguém que eu não sou.

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Adoro o preto, adoro a massa escura nopapel. Isso já delimita por si só váriaspossibilidades de uso de cores e técnicas.

Também diria que tem o gosto pelominimalismo e pela funcionalidadede uma composição.

Acho que isso veio do tempotrabalhei como designer;achar uma função paraas cores, criar pontos deatenção, equilíbrio, clarezade informação.

Acho que muitas cores numdesenho acabamconfundindo o conjunto;vide os posters psicodélicos– são umas maçarocasgráficas ininteligíveis.

Mas claro que isso já é gostopessoal, tem gente que sabemuito bem usar um extensoconjunto de cores.

Por fim, e acho que o maisimportante fator, diria queo estudo sobre Ukio-ê e sobreo trabalho de artistas comoHokusai e Hiroshige pesarammuito, como influência.

A limitação de cores que elestinham em suas gravuras,na época, fazia estes artistaspensarem muito nacomposição, em todos oselementos gráficos que elesteriam que colocar e, porconseqüência, ondeestariam estas cores.

Busquei sempre meaproximar deles e criar asmesmas limitações paramim e isso é um desafiomuito grande, pois apesarde serem poucasescolhas, elas são muitodifíceis de fazer.

Para facilitar, decidi colocaro vermelho como guia.

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Adoro vermelho, em todas as suasdensidades, do mais vivo ao mais“escuro sangue coagulado quase preto”.

E para tê-lo como peça principal,dessaturei todas as outras cores - e comelas dessaturadas foi fácil fazer umaseleção final que uso até hoje, compequenas variações.

Uso uma gama de azuis, verdese tons de cinza, quentes, para comporo geral – e os vermelhos para criar ospontos principais da ilustra.

Com o tempo, adicionei dois tiposde amarelo, mais por causa danecessidade da seção da GrandesGuerras do que por predileção.

Mas os mantenho vivos até hojee os uso de vez em quando.

Volta e meia substituo o vermelho pelomagenta e gosto bastante do resultado.Nunca entendi o poder do magenta puro,até colocá-lo junto com uma mancha preta.

Mas esse é o básico, as cores que usocostumeiramente e que se tornou ummétodo de trabalho para mim.

Trabalho com outras cores, mas sempre,ao iniciar um trabalho, há uma seleçãoprévia da paleta de cores que vou usare ela é sempre limitada.

Sempre haverá uma cor dominantee vários neutros para elevá-la.

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Hoje me influencio muito mais pelos queestão à minha volta que por qualquer outracoisa; a afinidade com meus amigos e oque brota dela é o que me estimula, botaminha cabeça pra funcionar.

Certas conversas intermináveis pelotelefone às vezes podem surpreendere se tornar mais úteis para seu trabalhodo que horas a fio na frente do brancoda tela. O visual estimula? Sim, claro.

Posso citar os mesmos de sempre, aquelesque fazem a mão coçar por uma caneta eum caderno, mas tem coisas que são únicase que você só consegue trocar com aquelesque estão na tua frente, em carne e osso.

Tenho um grande amigo artista plástico,James Kudo com quem sempre conversosobre meu trabalho, meu processo criativo,sobre meus anseios e dúvidas e é sempremuito bom.

Por mais experiente que ele seja, ele semprete trata como um igual e sempre se coloca àdisposição pra mostrar o que é novo por aí.

Muito do que sei sobre expressõesartísticas em todas as suas formas foi eleque me mostrou; se fosse por mim, ficariasempre batendo na mesma tecla, olhandoos mesmos, aprendendo com os mesmos,pois hoje é muito difícil eu parar e buscaresse novo.

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Outra coisa que me deixa doido é passaruma tarde com o Hiro (www.hiro.art.br).

Acabamos de nos ver, neste último sábado,e foi demais. Ele tem essa mesma sintoniaque eu, de gostar de criar estratégias eplanejar à frente, não ter medo de pensargrande e, como ele, eu acredito que nadaé por acaso, que toda idéia boa tem queser posta em prática.

Ele vê tudo de maneira muito abrangente;é um cara informado e sempre me ajudamuito quando minha cachola dá aquelatravada.

Acho que tem uma sinergia quandoconversamos; um potencializa o outro,num incentivo mútuo.

Vê-lo com um papel e lápis, bolandoestratagemas, é instigante, faz você querertocar pra frente suas loucuras, te dá ânimopra acreditar no que você tem a oferecer,sem medo de errar.

Por coincidência, os dois são descendentesde japoneses, mas essa influência vemde antes de conhecê-los.

Acho que hoje, do ponto de vista pessoal,a cultura japonesa não tem tamanhaimportância como pode parecer; elame atinge muito mais do ponto de vistaartístico, mas está sempre presenteem minha rotina.

A Carlinha, com quem sou casado, édescendente de japoneses e adquiricertos costumes através dela; vocêacaba aprendendo aqui e ali, e por jáconhecer e gostar desta cultura antes,a assimilação foi fácil.

Adoro aquele arroz grudento! Mas comodisse, é apenas o dia a dia.

Saio sempre “energizado” das conversasque temos. Tenho por ele muitaadmiração e tento aproveitar cada palavraque ele oferece.

Tenho realmente muita sorte de teramigos como estes.

E essa troca, o que nasce dela, ninguémtira mais de mim. São mudanças muitomais profundas, que realmente afetamvocê no nível criativo.

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Agora quando se trata de influênciasno trabalho é diferente; existe umabusca, existe um aprendizado constanteque é traduzido em meu trabalho dasmais diversas maneiras, sejam elasvisuais ou conceituais.

Digo isso porque não é só por desenharuma gueixa ou um samurai, que tenhoinfluência japonesa.

Tal influência vai além das temáticase ícones desta cultura; toda a maneirade pensar uma ilustração foi influenciada.

Como disse, o estudo das gravurasjaponesas e seus mestres mudoucompletamente a minha maneira depensar cores e composição.

O minimalismo do design japonêsme fez escolher melhor os elementosgráficos e priorizar de maneira maisefetiva as informações. E por aí vai.

E tem horas que o pessoal e o artísticose cruzam. Por causa desses estudosacabo sempre querendo me aprofundarmais e para isso busquei meios queajudassem nesse processo.

Tenho aulas de japonês, por exemplo.

Não me ajuda diretamente no processocriativo, mas do ponto de vista de pesquisa,que o antecede ou o acompanha, eleme é muito útil.

E hoje consigo rasgar uma conversasimples se um japonês aparece poraí em terras tupiniquins. Não é umaconversa ultra filosófica, mas já dápra perguntar coisa ou outra.

Os planos continuam os mesmos: fazermeu trabalho de forma correta eprofissional, assim como faço por aqui.

Nada mudou. Agora, uma coisa que temsido muito interessante é ser convidadopara projetos que não têm nada a vercom trampo, o que é bem estimulantedo ponto de vista autoral.

São nesses lugares que você podemostrar 100% do que você é feito; suasidéias e desenho sem interferências,sejam numa antologia de quadrinhosnos EUA ou numa exposição de postersna Inglaterra, como aconteceurecentemente.

Em retorno à esta procura estou memovendo para fazer o mesmo por aqui,trazer o pessoal de fora, cá; e já temprojetos que estamos conseguindo fazeracontecer ainda este ano.

Acredito que esta troca deva ir além dainternet, além do JPG trocado por e-mail.

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Ultimamente tenho me voltado paratudo que não é digital, quando há tempopara me concentrar decentemente, comoa pintura, por exemplo.

Nada profissional; apenas umaprendizado básico para me familiarizarcom o material e as técnicas. Tudo aindaseguindo o meu modelo cabeça-durade autodidatismo.

Estou também começando a fazerexperimentos com serigrafia, o que estáme deixando bem satisfeito e empolgado.Tudo isso está acontecendo pela vontadeque tenho de me afastar um poucodo meu dia a dia e mexer com o erro,com o inusitado.

Tenho essa busca incessante pelaprecisão, mas chega uma hora que vocêprecisa extravasar. É muito contrastantequando comparo ambos os caminhosque sigo, e hoje, apesar de tãodiferentes, um não existiria sem o outro.

Lembro-me quando fiz o curso de DiárioGráfico do Alarcão.(www.renatoalarcao.com.br)

Eu deveria pegar 3 papéis grandes ecriar imagens neles, para depois usarcomo suporte para criar os cadernos.

Ele havia trazido vários stencilse coisa e tal, tudo chamando muitopro figurativo.

E eu nem quis saber; peguei aquelaslatas de spray e descarreguei tudo quepodia nos papéis, sem pensar, fugindomuito das formas, apenas criandomanchas com aquelas tintasempasteladas.

Num dado momento o próprio Alarcãochega e me pergunta se eu não iriacompor algo ou usar as máscaras – eacho que só de olhar minha satisfaçãoem sujar os papéis ele entendeu essaminha fuga.

Aprendi que em tudo deve haverequilíbrio, principalmente no trabalho.

Fazendo o que é diferente você podeaprender mais sobre você, suas formasde expressão, seus limites, suagestualidade, sua voz.

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* Tradução: “Muito obrigado a todos da Revista Ilustrar! Até a próxima!”

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ilustração de moda éalgo muito presente e utilizado no meiofashion, mas pouco divulgado fora dele.

E um dos grandes representantes dessegênero na atualidade é David Downton,um dos mais importantes ilustradoresde moda da Europa e consagrado nomundo todo, criando ilustrações paratodas as grandes revistas especializadas.

Com um traço seguro e pinceladasfluidas, Downton é consideradopor muitos como o grande sucessorde um dos maiores gênios da ilustraçãode moda, René Gruau.

A seguir, David Downton fala umpouco do seu trabalho e de comose enveredou nessa área.

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crayon... qualquer um que pareçaapropriado ao tema.

Eu desenvolvi a minha técnica lentamentee não tentei forçar ou planejar as coisas.

Acho que nos tornamos muitopreocupados em procurar um estilo.O ideal é o estilo encontrar você.

Eu uso principalmente aquarela, mastambém guache, nanquim, carvão,

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Ele realmente é um mundo comonenhum outro, um universo paralelo.

O que eu adoro é a teatralidade,a dedicação à beleza, o exercícioda perfeição.

Não é um ambiente fácil de setrabalhar, é extremamentepressionado… mas eu tenho tido sortesuficiente para trabalhar com pessoasextraordinárias e criativas.

Novamente, nada planejado. Eu nãotive nenhum treinamento em moda,e não é uma paixão particular minha.

Eu tive um chamado que caiu docéu: ir a Paris para cobrir o CoutureShow (um dos mais importanteseventos de moda de Paris).

Fiquei encantado! Uma viagema Paris com despesas pagas mepareceu boa.

Mas o Couture realmente medeixou encantado, e desse pontoem diante (isso foi em 1996) euredirecionei meu trabalho, ficandofascinado com o mundo da moda,e, mais importante, veio o amare o respeitar o trabalho de grandesartistas da moda.

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Eu ainda faço trabalhos publicitáriose editoriais, mas há muito menosdeles, hoje em dia.

A maioria das revistas sofisticadase de alto nível pararam de usardesenhos. É uma perda deles.

Acho que às revistas, no geral, hojeem dia, faltam ritmo e senso de design.

Fotografia e desenho sãocomplementares, eles não competem.

Tantos. Eu acho que Gruau é um gênio.Também Blossac, Eric, Bouche,existem tantos grandes artistas.

No ano passado eu lancei a revistaPourquoi Pas?, celebrando o trabalhoe as vidas desses extraordináriostalentos. (www.pqpmagazine.com)

Nós acabamos de lançar a segundaedição e tem sido fascinante trabalharnisso, um verdadeiro trabalhode amor.

Não, acho que temos maissimilaridades do que diferenças.

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Eu tenho desenhado algumas das maisbelas e icônicas mulheres do mundo,incluindo Dita Von Teese, Catherine

Deneuve, Linda Evangelista, Iman,Rachel Weisz e Paloma Picasso.

O que destaca (e "faz" um desenho)é o caráter, a individualidade, presença,uma linha forte, a habilidade de"projetar" dentro da página.

Beleza por ela própria nunca é suficiente.

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Ela é como uma pincelada viva. Tudoo que eu tento conseguir nos meusdesenhos ela já tem, na vida.

Eu estou adorando trabalhar com eladurante esta última década… e nãopretendo parar agora!

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Sinto vergonha de dizer que nãoconheço, mas adoraria ir e desenhar noRio de Janeiro Fashion Week.

Eu também estaria interessado em vero trabalho de artistas que você acherealmente interessantes.

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esenhistacompulsivo, o ilustrador LeoGibran tem um portfolio cheiode personalidade, compersonagens de narizestortos, mas por algummotivo sempre atraentes,expressando todo umuniverso próprio.

O que faz parte constanteda vida desse ilustradoré também o sketchbook,aliás varios, pilhas,sempre anotando idéias,experimentando novostraços ou técnicas.

Esse quase diário de umdesenhista é mostrado

aqui, com um material deencher os olhos.

E Leo Gibran também fala daimportância que os sketchbookstêm para ele, no seu dia a dia.

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“Sabe quando você está fervendode idéias e elas vão se perdendopor falta de registro?

Ou porque você escreveu cada umadelas num papelzinho ou num cantoqualquer do livro que estava em suacabeceira - e que agora está perdidopra sempre, na estante?

Pra mim tudo começou com umaforma mais organizada de rabiscar,de manter as idéias num mesmolugar, de poder voltar sempree dar uma olhada...

Nunca tive um diário, mas achoque deve ser parecido.”

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“Hoje eu posso dizer que o sketchbooké ao mesmo tempo arquivo, terapiae descoberta.

Sendo um compulsivo do desenho,é o lugar que eu uso pra extravasara minha vontade de desenhar, deixarrolar solto, experimentar semconseqüências, técnica, traço, cor,material... e guardar idéias.”

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“Essa liberdade de desenhar ajuda oartista a se descobrir. Ajuda a encontraro seu estilo. A encontrar a "cara" doseu trabalho. E é ali que você registraa sua livre interpretação do mundo queestá à sua volta.

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Além, é claro, de treinar a mãoe descobrir novas maneiras de fazera mesma coisa. Tudo isso acabaincorporado na sua essênciae aparecendo no seu trabalho.”

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poder da imagem muitas vezesé maior do que podemos imaginar, e às

vezes um ilustrador é capaz de darforma a sentimentos, expressões ousimplesmente à essência de um povo.

Isso foi o que conseguiu Péricles deAndrade Maranhão, ou simplesmentePéricles, através da criação de umdos personagens mais queridosda história gráfica do Brasil.

Hoje menos conhecido, durantemais de 30 anos o Amigo da Onça

foi um dos personagens maispopulares do imagináriobrasileiro, expressandoo humor, a brincadeira,a canalhice e a sacanagem,misturados com classe,

elegância e humor, às vezesquase inocente.

Para entender o personageme o seu criador, é preciso voltar

no tempo.

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Aos 16 anos demonstrou seu talento parao desenho e para o humor, quando começoua publicar suas primeiras tiras no jornalDiário de Pernambuco.

Por uma indicação que viria a mudar suavida, Aníbal Fernandes, diretor do jornal,sugere a Péricles mudar-se para o Riode Janeiro para tentar trabalhar nos DiáriosAssociados – na época o maior impériode comunicação da América Latina. Suaestréia foi no dia 6 de junho de 1942 – e,aos 17 anos, Péricles se tornou o maisjovem artista da empresa.

Nos dois anos seguintes ele trabalhou nasrevistas Guri e A Cigarra, e no jornal Diárioda Noite, todos dos Diários Associados,criando vários personagens, colunas e tiras:Oliveira, o Trapalhão; Miriato, o Gostosão;Cenas Cariocas; O Negócio Foi Assim;A Piada do Mês e O Rádio Por Dentro.

Depois foi convidado para trabalhar naquelaque foi uma das mais emblemáticas revistasbrasileiras e uma das estrelas dos DiáriosAssociados: a revista O Cruzeiro.

Para se ter uma idéia, na década de 1950,época em que a população brasileira estavanos 45 milhões de habitantes, O Cruzeirochegou a vender 720 mil exemplares.

Péricles nasceu em Pernambuco, na cidadedo Recife, no dia 14 de agosto de 1924,e, desde adolescente, mostrou terum enorme talento para o desenho,se inspirando nos grandes sucessos dosquadrinhos da época, como Dick Tracy,Agente X-9 ou Flash Gordon.

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Além disso, foi a revista de mais longaduração no Brasil, durando 47 anos (aRevista Veja completa 40 anos este ano).

Leão Gondim de Oliveira, diretor do Cruzeirona época, teve a idéia de criar uma páginade humor, que traduzisse "a verve típicae o humor carioca" de então, captando"o estado de espírito daquele que vive noRio de Janeiro, não importando onde tenhanascido".

O projeto de criação do personagem seriadado a Nássara ou a Augusto Rodrigues,

na época os dois principais cartunistas darevista, mas ambos recusaram, por acharema idéia muito ruim e destinada ao fracasso.

A terceira opção foi convidar o joveme tímido Péricles para o trabalho.

Quando o personagem foi desenvolvido,foi o próprio Leão Gondim quem batizouo personagem com o nome "Amigo daOnça", que virou sinônimo de amigo falsoe que vive colocando os outros em situaçõesembaraçosas, a partir de uma piada bemconhecida da época:

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“Dois caçadores conversam emseu acampamento:- O que você faria se estivesse agorana selva e uma onça aparecessena sua frente?- Ora, dava um tiro nela.- Mas se você não tivesse nenhumaarma de fogo?- Bom, então eu matava ela commeu facão.- E se você estivesse sem o facão?- Apanhava um pedaço de pau.- E se não tivesse nenhum pedaçode pau?- Subiria na árvore mais próxima!- E se não tivesse nenhuma árvore?- Sairia correndo.- E se você estivesse paralisadopelo medo?Então, o outro, já irritado, retruca:- Mas, afinal, você é meu amigo ouamigo da onça?”

O personagem criado por Périclestinha um humor simples, rápido,quase inocente mas sacana, comum texto curto – quando tinha.

O impacto das piadas era enorme porqueeram piadas que viviam muito da imagem,esculhambando tudo e todos: desdesogras, casamentos, padres, empregadose patrões, até o governo, políticos,exército e todas as instituições.

E também as pessoas do dia a dia,sofrendo em armadilhas, pegadinhase sacanagens, quase sempre como personagem vestido de summer,gel no cabelo, com calma e elegância.

Apesar das inúmeras maldades, nuncahouve um palavrão. Sucesso absoluto!Captou a atenção de todos os brasileiros,deixando-os em delírio ao se identificaremem algum momento com aqueleanti-herói franzino.

E ajudou a aumentar as vendas da revistaO Cruzeiro.

O sucesso foi tanto que a revista foiobrigada a passar as páginas do Amigoda Onça, que antes eram na capa e contracapa, para o meio da revista, evitandoque as pessoas apenas folheassem sempagar, em busca do personagem.

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O personagem chegou até mesmoa ganhar algumas histórias emquadrinhos, apesar de Péricles nuncater aproveitado da fama do personageme do potencial comercial dele. Nunca outilizou em comerciais ou produtos demerchandising.

O Amigo da Onça estreou na edição de23 de outubro de 1943 e foi produzidoreligiosamente todas as semanas porPéricles até 1961, ano de sua morte.

Em 1961, no dia 31 de dezembro, aos37 anos de idade, Péricles escreveudois bilhetes em seu apartamento,reclamando da solidão.

Depois, se vestiu de forma caprichada,igual ao seu personagem, fechou todasas portas do apartamento, vedou todosos buracos, deitou-se no chãoda cozinha e abriu o gás do fogão.

Mas antes teve muito cuidado, namensagem que deixou do lado de forada porta do apartamento, onde dizia:"Não risquem fósforos. É gás".

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A morte triste e solitária de Péricles pegouo Brasil de surpresa, e a tristeza correutodo o país.

Apesar disso, o personagem ainda continuouna revista, dessa vez pelas mão de CarlosEstevão, outro grande desenhista e amigode Péricles.

O Amigo da Onça continuou sendo publicadono Cruzeiro até 1975, quando a revistachegou ao seu fim.

Mas a genial criação continuou viva,e mesmo depois da morte de Périclese do fim da revista O Cruzeiro, o Amigoda Onça continuou no imaginário brasileiro,se tornando inesquecível por váriasgerações, e sendo revivido, tempos depois,por outros artistas.

Atualmente, quem detém os direitosdo personagem é o ilustrador e cartunistaJosé Alberto Lovetro, o Jal, presidenteda Associação dos Cartunistas do Brasil.

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Jal e Otávio Cariello, outro grandeilustrador e um dos fundadores da escolaQuanta Academia de Artes, chegarama criar em parceria novas páginas doAmigo da Onça, modernizando otratamento gráfico sem mudar o traçobásico.

O resultado excelente se adaptou bemaos nossos dias; eles chegaram aproduzir juntos mais de cem pranchas.

A mais importante criação de Périclesnão foi somente o Amigo da Onça, mastambém a forma de se contar o humor,que na época era algo muito novo eacabou por influenciar (e continuainfluenciando) gerações até hoje, nosquadrinhos, nas rádios e principalmentena TV, com sketchs rápidos e pegadinhas.

É o espírito malandro do Amigo da Onçaque continuará sempre presente.

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s irmãos Luiz Paulo eJoão Carlos Furia criaram em 2004o estúdio Furia, colocando a enormeexperiência de ambos em umestúdio para ser referência nomercado na área de pós-produção.

Luiz Paulo é um dos precursoresda atividade no país, e foi o primeiroPhotoshop Ace do Brasil, comcertificado Adobe Systems, alémde beta tester de várias versõesdo Photoshop.

João Carlos é ilustrador, comcolaborações em diversas revistas,como Veja, Isto É, Exame, Playboy,e é dele também o dragão queestampa a exposição “Ilustrandoem Revista”, da Editora Abril.

Para mostrar a importância doconhecimento visual e da ilustraçãoem uma foto com pós-produção,o estúdio Furia mostra um passo a

passo incrível, em um dos camposde atuação de ilustradores

que é pouco divulgado.

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Primeiro temos a transformação de um carrocomum na van "The Mistery Machine", em trêsfases principais: o original, a caracterizaçãoda forma (janelas, proporções, detalhes delataria, etc.) e a aplicação de arte vetorizada.

Campanha para Sony, executada pelaFortune PromoSeven, de Dubai. O produtoé o In-Car DVD. A idéia era que carrosde clássicos do cinema e da TVestivessem em cenários comuns, visualizadosem situações corriqueiras através da janelado carro do espectador.

O processo de trabalho, já previsto comode complexidade alta, implicou numa grandeliberdade para a produção de imagens.

Assim sendo, tomando por base os originais,e direcionados pelo conceito da campanha,escolhemos rumos que acreditamos oferecero melhor resultado; no caso desta peça,definimos que "The Mistery Machine"(Scooby-Doo) seria o carro abastecendono posto, que é bem lúdico; a ambientaçãonoturna, que remete ao caráter de suspense;a presença de cores variadas e luzes paralembrar um pouco dos Anos 70; aproveitamoso chão molhado do original e acrescentamosdetalhes de chuva onde fosse possível; aescolha de nomes e logos para o posto e orestaurante...

Enfim, para que a imagem se integrassetotalmente, para que pudéssemospotencializar ao máximo o conceito visual,pensamos em todos detalhes, perceptíveise imperceptíveis.

Foi importante a confianca depositada, assimcomo o diálogo, para definir uma direção deimagem com o fotógrafo Jaime Mandelbaum.O resultado foi esta campanha de 5 peças,premiada e comentada.

Apresentamos em seguida um passo-a-passoextremamente simplificado, para distinguiras fases principais na produção da peça.

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Esta é a foto que serve de base para o posto de gasolina, já aplicada certa distorção.Cada elemento que inserimos passa pelo processo completo: distorções, recortes, retoques,ajustes de cores, ambientação com luz e sombra... Mas tudo deve ser planejado e visualizado

antes, já tendo noções do resultado final, ganhando tempo e otimizando a técnica de produção.

Posicionamento do restaurante, já corrigido para adequaçãode perspectiva. Em seguida nós acertamos elementos como

o nome/logo do restaurante, reposicionamento,retoques na lateral para acerto de

proporções com a foto-basedo posto de gasolina.

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Fusão básica destes principais fundos, com inserção de mais elementos e mais correções,com a reconstrução de parede, laterais e traseira de carro, nome/logo do posto, etc.

Mais um elemento principal, céu carregado e mais detalhes: graffiti na parede, luminosona loja de conveniência do posto, etc.

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Agora temos a fusão básica do interior do carro do espectador, em primeiro plano.

Aqui já temos a presença de alguns ajustes de cores básicos, já direcionando para a nossaintenção de tornar a locação noturna.

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Inserimos "The Mistery Machine", e aqui já temos aplicados alguns detalhes para a fusãocom o fundo, como sutis reflexos na lataria, luzes, gotas escorrendo. Também no retrovisor,no primeiro plano, temos uma nova imagem. Mais graffitis, mais detalhes...

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Mais uma fase de ajustes de cor, luz e sombra mais adequada, acertos de perspectivana van, etc.

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Mais ajustes e luzes acesas: janelas, postes, o teto do posto, reflexo das luzes em todosos lugares adequados (chão, paredes, teto, carros, etc.); mais detalhes, como os faróisdos carros do retrovisor, frase no espelho, entre outros.

Começamos a "acender" mais luzes, no chão molhado, nas paredes grafitadas, no prédio;reflexos de luz nos carros do restaurante, nos logos luminosos do posto (com defeito!...)

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Imagem final, com o detalhe de gotas de chuva na janela do carro em primeiro planoe respectivos detalhes, como a sombra de gotas do vidro no interior do carro...Comparando os originais e o final, temos detalhes muito visíveis e, outros tantos,

impercetíveis. Porém todos essenciais para tornar a fusão verossímil, a imagem esteticamenteatrativa e valorizada conceitualmente.

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Foram 5 peças com o processo muito similar, sendo os outros carros fotografados originais debrinquedo, gerando fases um pouco mais complexas.

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A definição de luzes das demais peças ocorreu do mesmo modo, a partir de escolhas nossas,criação de luzes e sombras, ajustes de cor e ambientação de horas do dia.

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arquitetoDaniel Bueno fez bem

em ter mudado de carreira.

Tornou-se um premiadoilustrador de sucesso, trabalhandotambém como designer gráfico,quadrinista e, por vezes,colaborando em animações.

Também tem participado devárias exposições pelo mundo,sempre com destaque.

Daniel também foi mais umpremiado no último HQMIX,levando 2 prêmios: “Melhor

Ilustrador Infantil” e “MelhorTese de Mestrado”, em que fala

sobre Saul Steinberg.

Sobre tudo isso Daniel Buenoconversa agora com a Ilustrar.

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Gosto de desenhar e de ler quadrinhos desdepequeno, e na adolescência passei a ter grandeinteresse por geografia, urbanismo e arquitetura.

Havia a dúvida em relação à opção profissional,e o fato de ver que da FAU-USP saíam não apenasarquitetos, mas ótimos fotógrafos, designers,quadrinistas e humoristas (como Luiz Gê, PauloCaruso, Alcy, Maringoni e outros) me confortava.

Desde o primeiro ano, enviava quadrinhos feitosàs pressas para os salões de humor do país. CriavaHQ de modo esporádico, sendo que pouco participeidos bons fanzines da FAU, como a Rhino e aCroqui.

Ao longo dos vários anos de FAU tive “fases”,cada qual voltada para um campo. Meu entusiasmocom a arquitetura ocorreu na Faculdade do Porto,em Portugal, quando tranquei o curso para fazer

Você é formado em arquitetura e urbanismo.Como um arquiteto acaba se tornandoilustrador editorial, animador e quadrinista?

o ano letivo na “escola do Siza”.

Depois comecei a trabalhar com um professor,na elaboração de Planos Diretores.

Mas os primeiros trabalhos de ilustraçãoe quadrinhos começaram a aparecer: na Folhade São Paulo, Caros Amigos e revista Front.

Ajudou muito, nessa etapa final de FAU,a disciplina optativa de cenografia que fiz como professor Silvio Dworecki, e o Trabalho Finalde Graduação, também sob sua orientação,onde elaborei 60 desenhos em seqüência, feitoscom tinta preta, as “MEN TIRAS”.

Ainda gostava de arquitetura, mas naquelemomento minha carreira como ilustrador jácomeçava a ser trilhada e se fazia sugestiva,com uma demanda que parecia permitiro desenvolvimento de um trabalho autoral.

Mas não sou animador; já fiz animaçãoem parceria com animadores.

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Além da FAU, fiz poucos cursos. Algumasaulas particulares, de poucos dias, foramimportantes quando estava me preparandopra prova de aptidão do vestibular. Depoisde terminada a faculdade, fiz um semestrede xilogravura no Museu Lasar Segall.

Contou muito, em minha formação,a amizade que tenho desde a infância comdois grandes amigos, Fernando de Almeidae Luciano Tasso. Éramos fissurados emdesenhar e ler quadrinhos.

É legal ver como hoje todos nós nostornamos ilustradores profissionais.

E em relação ao seu trabalho comoilustrador, teve alguma formaçãoartística específica?

Um dos momentos em que mais aprendifoi durante o TFG (Trabalho de Final deGraduação). Tinha muitas dúvidas ecuriosidade, e além de desenhar, olheimuitos desenhos e pinturas, ia direto alivrarias e à biblioteca e folheava bastanteos livros do Saul Steinberg.

Tenho algo de autodidata, mas achoque isso não se opõe à lógica da faculdade:é esperado que o aluno tire proveitodo ambiente ao seu redor, de uma boabiblioteca à disposição, de conversascom professores, de participaçõesem publicações e projetos paralelos.

Alguns anos depois de formado, entreino mestrado, para continuar a fazer umadas coisas que mais gosto: pesquisa.

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Durante o TFG aprendi muito sobre síntese,depuração e ilusão gráfica, olhando a obrade Saul Steinberg e outros artistas.

O período de trabalho para a Caros Amigostambém foi importante para o desenvolvimentoinicial, onde as experimentações contribuíram,aos poucos, para a definição de alguns caminhos.Comecei misturando traço solto e colagem, masoptei em determinado momento por soluçõesmenos expansivas e mais sutis.

Cheguei à conclusão de que deveria fazercolagens menos confusas e rebuscadas,e integrar mais os elementos gráficos, aproximá-los. Para tanto, passei a criar todos eles comcolagem – o objeto recortado pintado não traziao traço – , apresentando estes em um desenhogeométrico, de contornos retilíneos, feitosessencialmente de tinta acrílica e alguns detalhesde recortes de revistas.

Como apreciei o recurso e houve receptividadeà solução, comecei a aplicá-la com maisfreqüência, o que foi importante parao aprimoramento da linguagem.

Depois da fase de trabalhos da Caros Amigos,revistas da Editora Abril, como a Info Corporate,começaram a me dar amplo espaço, e houveum desenvolvimento gradativo, de descobertasa cada trabalho.

Os recortes foram se tornando mais complexos.Também comecei a aperfeiçoar o modode resolver o degradê que dá volume aos objetose define seus contornos.

Em algumas soluções, cheguei mesmo a fazerpersonagens bem escuros, para que estesse destacassem sobre cenários de fundo,como na HQ “Onde Enfiei o Gláuber?”.

Em relação às cores, no começo os trabalhoseram mais monocromáticos, geralmenteem tons ocre, e, com o tempo, passeia integrar cores variadas.

Sobre as texturas, passei a recorrer às maisdiferentes fontes para criá-las, sobrepondotexturas da colagem manual com imagensretiradas de revistas, ou scaneadas diretamentede alguns objetos (como a textura de umapá, por exemplo).

O seu estilo é muito pessoal e marcante,utilizando basicamente a colagem. Comochegou nessa técnica, como veículo deexpressão?

As influências são muitas, sendo difícil dizerum nome. Em termos de colagem, posso citarKurt Schwitters, as colagens dadaístas. Nãodá pra deixar de falar em Picasso, Pop Art ea produção de design gráfico contemporâneo.

Mas a colagem é apenas uma dascaracterísticas. Muito do uso conscientede elementos gráficos e dos recursos deambigüidade gráfica vem de Saul Steinberg,por exemplo. E em termos de síntese,depuração e liberdade formal, as referênciassão várias, como o próprio Steinberg,e Cassandre, Savignac, Leupin, inúmeroscartazistas europeus.

Geralmente, estou mais atento ao modo comoos artistas têm idéias, desenvolvem temas econstroem os desenhos. Venho, no momento,olhando muito o trabalho do futuristaFortunato Depero e de ilustradores que sódescobri agora, como Miguel Covarrubias,Boris Artzy e o Paolo Garretto. No fundo,as influências são tantas que fica difícil fazeruma lista... Tem o Jim Flora, André François,Mary Blair, Ralph Barton, Guevara, J. Carlos...

Fica evidente que tenho especial apreço pelosartistas que trabalham contornos geométricos,ou que se aventuram por aspectos gráficos,deformando e depurando elementos,subvertendo significados.

E teve a influência de quais artistas?

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Inicialmente, dedico um bom tempo – quandopossível – à idéia e concepção da imagem,fazendo vários rascunhos. A abordagem vaidepender do contexto e do briefing: possotanto partir para uma solução de ilusãoe síntese, como me aventurar pelo absurdoe excesso de elementos fantasiosos e gráficos.

Gosto de folhear livros, revistas, em buscade inspiração. Não é raro fazer uma pequenapesquisa na internet, coletando imagens quepossam servir de referência e apontarcaminhos.

Uma vez feito o rascunho, envio-o parao editor de arte. Depois de aprovada a idéia,parto para o processo de finalização – demodo geral, trabalhoso. Desenho os contornosde todas as figuras a lápis, em papel sulfite,e transponho-os para papel duro.

Aplico sobre essas figuras as técnicas decolagem, gerando elementos soltos, como“bonequinhos de papel”. Scaneio as peçasseparadamente e resolvo no Photoshop acomposição, contrastes, claro/escuro, cores.

Quando o prazo é curto, pulo o processomanual e resolvo a finalização utilizandoo material que tenho à mão, uma espéciede “banco de imagens digitais” feito a partirdas ilustrações que foram se acumulando.

Sim, de fato procuro conciliar a experimentaçãográfica e os aspectos conceituais com umuniverso onírico e fantasioso.

Este é um elemento importante paramim desde pequeno, e não por acasoa animação “Fantasia”, de Walt Disney,me marcou quando a assisti pela primeiravez, aos quatro anos.

Há pouco tempo descobri que por detrásde muitos desses desenhos do Disney, comoAlice e Peter Pan, estava a conceptual artistMary Blair, que influenciou outros ilustradores,como Tim Biskup.

Percebi, depois, que o onírico também estámuito presente na vertente de ilustraçãodenominada “surrealismo pop”, que transitado desenho punk de Gary Panter à pinturabem acabada de Mark Ryden.

Assisto sempre os clássicos de animação,observando muito o design. Também gostode mescla do onírico com universospsicológicos e pesados, algo que exploreino livro “O Pequeno Fascista”.

A fantasia mais abstrata da animação dosanos 1950 também me agrada muito, comonos espaços suspensos e soltos dos desenhosdo estúdio UPA.

Além de ter a técnica muito particular,a concepção das suas ilustraçõesé muito pessoal também.Como costuma ser o processo decriação?

As imagens que você cria são uma misturado mundo real com uma visão quaseonírica, expressa de forma bastantegráfica. No seu processo de criação,o lado sonhador conta muito?

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Não costumo ter conflitos, porque definium caminho desde cedo, e o cliente costumame pedir para realizar algo dentro do domínioda minha linguagem.

Por outro lado, já trabalhei como designerna Editora Abril e sei das particularidadesdo campo da ilustração editorial.

Procuro, deste modo, ser razoavelmenteflexível, oferecendo sempre alternativase novos gêneros de abordagem dentro daspossibilidades do meu estilo.

Felizmente, não é raro me darem bastanteliberdade.

Mas também gosto de receber um briefing,de ter um retorno do cliente e saber suaopinião. Não há problema em trabalharem conjunto.

Acho interessante o mercado americano,com ilustradores que têm não apenas umou alguns estilos, mas um modo de conceberas ilustrações.

Esse tipo de ilustrador trabalha em cima dodesenho, pensando também na abordagemconceitual – e ambas se desenvolvem juntas,uma fortalecendo a outra.

Esse tipo de liberdade não é grande, mastambém existe no Brasil.

Acredito que os resultados seriam melhoresse clientes e ilustradores estivessem maisatentos às possibilidades da unidade e coesãode idéia e desenho, pois teríamos ilustraçõesmenos “franksteins” e novos caminhos sendodesenvolvidos.

Por ter um estilo e concepção tãopessoais, acontece de ter algum tipode conflito com clientes ou costumater total liberdade para trabalhar?

Trabalhei durante anos para jornais e revistas,antes de ilustrar meu primeiro livro infantil,para a Cosac Naify.

O livro infantil tem suas particularidades, nãoapenas no tema e na abordagem adequadaà criança, como na consciência do livro comoum “objeto”.

O ilustrador deve se preocupar coma integração da imagem ao texto, e ter umavisão de conjunto, atento ao ritmo e à relaçãográfica entre as páginas.

A publicação Charivari, feita por um grupoformado, em sua maior parte, por ilustradoresinfantis, trabalha muito em cima dessaspreocupações, apesar de não ser voltadaespecificamente para o público infantil.

Os trabalhos para livros infantis têm sido osmais difíceis, e é gratificante ver o resultadofinal e o retorno do público. É nesse campoque tenho feito as maiores experimentaçõesem termos de linguagem, como nos livros“Um Garoto chamado Rorbeto”, de Gabriel oPensador, e “O Melhor Time do Mundo”, deJorge Viveiros de Castro, editados pela Cosac.

Por outro lado, gosto das soluções maistradicionais também, como no “Históriasde Bicho Feio”, escrito pela Heloísa Seixas(Companhia das Letras).

O “Fernando Sabino na sala de aula” (PandaBooks) teve muito da lógica da ilustraçãoeditorial de revistas, com uma imagem blocadapor conto, e nesse caso explorei maisos recursos de ilusão e ambigüidade típicosdo meio.

Recentemente você ganhou dois prêmiosno último HQMIX, como "melhor ilustradorde livro infantil" e "melhor tese demestrado". Falando sobre o primeiroprêmio, qual a importância da ilustraçãoinfantil, para você? 

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Como o ilustrador recebe briefings para osmais diversos assuntos, é difícil desenvolverum tema específico ao longo dos trabalhos.

De modo geral nenhum assunto me incomoda,pois posso sempre dizer algo de modo indireto,e dessa forma tenho boa liberdade para nãocair na repetição e nos clichês de gênero.Procuro sempre explorar algumasparticularidades de estilo e de construçãode idéias.

Quando possível, elaboro ambientescarregados e soturnos, que demonstramo desconforto com a situação das cidades,da humanidade.

Há algum tema específico que gostede desenvolver?

Nesse sentido, ilustrar o livro “O PequenoFascista” (Cosac Naify) foi muito fácil, pois aproposta do Bonassi era acordar as pessoaspor meio do choque e do exagero negativo.

Andei me concentrando, recentemente, emfazer trabalhos com personagens compostospor várias camadas – cada camada como umestilo, que sai de dentro de outro; ou entãocomo um personagem dentro de outro, etc.

Com essa abordagem posso discutir desdequestões de desenho até as mais existenciais.

Faço algumas dessas imagens para mimmesmo, e, em determinados casos, consigoencaixar em encomendas e concursos, comoo cartaz do IlustraBrasil! 5 e um posterrecente.

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Meu interesse era o de estudar a rupturaocorrida com o advento do humor moderno– com soluções que primam pela síntese,depuração, ambigüidade gráfica, humor mudo.

Muitos dos principais humoristas brasileiros,como os da geração Pasquim, pertencema esse gênero de humor.

Em relação ao segundo prêmio HQMIX,ele foi relativo à sua tese de mestrado docurso de História da Arte e Arquiteturana FAU-USP, e o tema do mestrado foi"O Desenho Moderno de Saul Steinberg".O que o levou a escolher esse tema?

Quando percebi que a maior referência detodos eles, o artista romeno naturalizadoamericano, Saul Steinberg (1914-1999), nãohavia sequer sido estudado suficientementelá fora, resolvi centrar o foco em seu trabalho.

Era engraçado ver como os textos sobre umnome tão fundamental do humor modernopouco falavam de cartum e ilustração, dandoênfase às artes plásticas – Duchamp, Warhole os expressionistas abstratos.

Na pesquisa, orientada pelo Prof. Dr. LuizMunari, organizo cronologicamente sua vidae obra, contextualizando seu trabalho na áreadas artes gráficas.

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Ele mostrou que a ilustração pode ser bemamplicada em qualquer veículo, com belosresultados. Steinberg fez capas de revista,painéis, posters, propagandas, cartões deNatal e até um comercial de TV.

Uma característica importante é a autonomiade seus desenhos, independentes de briefingse, muitas vezes, dos assuntos envolvidos.

Ao mesmo tempo, Saul conseguiu desenvolvertemas próprios, como poucos ilustradores.

Na New Yorker, os desenhos eram dispostosnas páginas, sem correspondência comos textos.

Sendo um dos mais queridos artistas dosEUA, Steinberg é conhecido por terproduzido capas e ilustrações de alto nívelartístico para a revista The New Yorkerpor quase 60 anos, além de várias outrasatividades. Para você, que importânciaum ilustrador como esse tem, na formacomo a ilustração é veiculada?

Um extenso artigo sobre Norman Rockwell,publicado na revista, em 1945, por exemplo,tinha um cartum de Steinberg solto, em umadas páginas.

Steinberg nasce como cartunista na revistaitaliana Bertoldo, mas a complexidade deseus desenhos e o modo como muitas vezesforam aplicados o elevaram à categoria deilustrador e referência fundamental do meio.

É interessante notar que Saul começoua fazer capas, sistematicamente, no momentoem que a ilustração deixava de predominarnas capas das revistas, nos anos 60.

E essas ilustrações eram muito peculiares,com um nível de experimentação gráficae alusões simbólicas difíceis de seremencontradas em outro lugar.

Seu trabalho evidenciou quão diversose amplos podem ser os caminhos da ilustração.Steinberg mostrou que, em muitos casos,liberdade vale a pena.

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Como notou o crítico Harold Rosenberg,o trabalho de Steinberg é difícil de serencaixado em uma categoria, permeandodiversas áreas da criação.

O próprio Steinberg, por se encontrar nessacondição híbrida, é figura contraditória. Apesarde valorizar a publicação em veículosimpressos, problematizar a virtuose na pinturae criticar aqueles que tratavam a artedo cartum com desdém e incompreensão, apartir dos anos 60 passou a conferir maiorênfase à arte para ser vendida em galerias.

Nesse período seu trabalho mudou,se tornando cada vez mais filosófico eintelectual, com alegorias e paródias. Aomesmo tempo, seu amigo, o crítico HaroldRosenberg, desenvolveu um discursocomplexo, preocupado em inserí-lo nocontexto das artes plásticas.

É preciso entender que Steinberg surgiu comocartunista, mas seu círculo social era compostopor grandes escritores, músicos, artistasde Nova York. Neste sentido, é possívelimaginar algum conflito interno.

Mas Steinberg desenhou para a revista NewYorker até falecer, e entendo que ele semprebuscou valorizar o conteúdo de um trabalho,seja impresso ou exposto num espaço, e fugirde malabarismos e mistificações vazias.

Para você, como Steinberg via, ele próprio,a forma de expressar a arte junto dasociedade?

A obra de Steinberg contribuiu para mostraras inúmeras possibilidades da ilustração;tanto é que seu trabalho é referênciafundamental para cartunistas, ilustradores,animadores, designers gráficos.

Saul soube incorporar recursos, temase questões dos mais diferentes meios, gerandoum modo peculiar de pensar o desenhoe a criação humana.

Desde o começo em contato com a altaintelectualidade americana, expôs emmuseus e galerias.

Não sei se foi o suficiente para alçara ilustração à condição que ela merece, maso trabalho de Saul participou de um processode transformações que chegou ao públicosob as mais variadas formas, passando pelapropaganda e animação de determinadoperíodo, por exemplo.

Mas é uma pena ver como um artista tãoimportante ainda é pouco conhecido no Brasil.

De qualquer modo, apesar de as trocasentre diversos campos ser interessantíssima,entendo que as artes gráficas não devemsubordinar tanto suas preocupações às artesplásticas, como se estivesse em nível superiorou inferior.

Cada área tem suas particularidadese preocupações, e a ilustração apresenta umahistória repleta de grandes nomes da criação,como Cassandre, irmãos Stenberg, J. Carlos,Guevara, Maxfield Parrish, Norman Rockwell,Al Hirschfeld, Jim Flora, André François, MiltonGlaser e muitos outros.

No mais, mesmo uma ilustraçãoaparentemente direta e menos complexapode ter valor, dependendo de suascaracterísticas e do contexto em que é criada.

Somente o trabalho dele, na revista TheNew Yorker, resultou em quase 90 capase mais de 1.200 ilustrações, fazendo comque a linguagem de simples ilustraçõesfosse elevada ao nível de artes plásticas,criando uma comunicação mais refinada.

Acredita que isso pode ter mudado dealguma forma a maneira como as pessoasem geral vêem as ilustrações?

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O uso que Steinberg faz dos elementosgráficos em seu trabalho, a partir de recursosde ilusão que destacam a expressão darepresentação, transformando os elementosem “outra coisa” – “objetos” de manipulação(como o personagem que carrega umaimpressão digital) – é uma de suas maissignificativas contribuições.

Ao utilizar e tecer comentários sobreestes elementos gráficos (nem sempre“bonitinhos”), ao privilegiar a idéia e a vontadede “dizer algo”, Steinberg promoveu umanova poética, que demanda a eliminaçãoda exibição gratuita de talento e doacabamento laborioso desnecessário.

Em muitos casos, o que se tem é um“malfeito” genuíno.

Essa lição está presente no trabalho dos maisvariados cartunistas, ilustradores e designers,tenham eles um estilo próximo ao de Steinbergou não, como Millôr, Borjalo, Ziraldo, MiltonGlaser, Seymour Chwast, Goffin, Quino,Sempé, Tomi Ungerer, etc.

E como Steinberg influenciou outrosilustradores?

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Sua influência foi fundamental para a geraçãode cartunistas do Pasquim, como Millôr,Ziraldo, Jaguar, Borjalo, Fortuna, Claudius.

No livro de Herman Lima “História daCaricatura no Brasil”, publicado em 1963, éinteressante constatar como o autor percebeo surgimento de um novo cartum ao comentaro trabalho de Borjalo.

Outros artistas, de gerações seguintes,como Mário Vale e Guto Lacaz, tambémextraíram lições de Steinberg. Sua influênciapode ser sentida até os dias de hoje,em maior ou menor grau.

A relação de Steinberg com o Brasil vai alémdo modo como ele influenciou os brasileiros:a primeira capa de sua carreira foi feita paraa primeira edição da revista brasileira Sombra,em 1940. Victor Civita, fundador da EditoraAbril, foi fundamental para desovar ostrabalhos de Saul no continente americano.

Steinberg também teve uma passagem pelopaís: o artista chegou a expor no MASP,em 1952, e viajou durante dois meses pelosudeste, norte e nordeste do Brasil (alémde Buenos Aires).

Fez anotações sobre o país em cadernosde viagem e se encontrou com figurasimportantes como Flavio Motta, Pietro e LinaBardi, Victor Civita.

Após a pesquisa, a passagem de Saul peloBrasil começou a ter maior relevância,aparecendo com razoável destaque nosresumos biográficos da Steinberg Foundation.

Depois do mestrado, prossegui na pesquisae escrevi dois artigos, com texto em portuguêse inglês, sobre Saul e o Brasil, para a Revistade História da Arte e Arqueologia da Unicamp.

E no Brasil, qual a influência que ele teve?

Para saber mais sobre Saul Steinberg,sua vida e sua obra, visite o site daThe Saul Steinberg Foundation:

www.saulsteinbergfoundation.org

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O Prêmio HQMIX, um dos maisimportantes prêmios da área gráficano Brasil, chegou à sua 20ª ediçãoneste ano, com a festa da premiaçãorealizada no dia 23 de julho.

Foram 60 os premiados em váriascategorias, além de homenagensfeitas a grandes mestresilustradores.

Entre os premiados estava o Guiado Ilustrador, recebendo o prêmiode “Grande Contribuição” do ano.

Desde o seu lançamento, no anopassado, o Guia do Ilustrador temtido muito sucesso entre ilustradores,designers, quadrinistas, fotógrafose outros profissionais que dependemde um portfolio para conseguirtrabalho, utilizando o guia comoferramenta importante de orientaçãoprofissional.

www.guiadoilustrador.com.br

www.hqmix.com.br

No dia 11 de setembro a revista Veja completa exatos40 anos. São pouquíssimas as publicações no Brasilque chegaram tão longe, e, em todas as edições,Veja foi sempre marcada pelo uso intenso de imagens,tanto fotos quanto ilustrações.

Para celebrar os 40 anos, a Veja criou um site próprio paraa data, onde pretende fazer uma série de debates sobreo futuro da sociedade.

Além disso há também uma seção bacana com todasas capas de Veja, desde o seu primeiro número.

www.veja40anos.com.br Revista Veja - Edição nº 1

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O trabalho do fotógrafo Chris Jordan é incrívelpela maneira com que prepara as imagens,utilizando milhares, às vezes milhões deobjetos, como se fossem pixels.

O resultando, além de surpreendente,costuma ser quase sempre uma crítica aoconsumo exagerado ou à sociedade.

www.chrisjordan.com

As fontes de energia alternativa têm sidocada vez mais utilizadas, e uma delas é aenergia solar.

Mas convenhamos, as placas de captaçãode luz são muito feias...

Pensando nisso, vários engenheiros sejuntaram com designers para desenvolversoluções mais agradáveis para a utilizaçãode placas solares:

http://tonyvirtual.blogspot.com/2008/06/how-to-make-solar-power-more-appealing.html

Cada vez mais artistas brasileiros têmconseguido expor a sua arte no exterior.

Seguindo essa tendência, recentemente, noWacken Open Air, em Hamburgo, naAlemanha, ocorreu o pré-lançamento darevista em quadrinhos brasileira N'ROLL.

Os idealizadores do projeto são Gustavo Fialie Renata Benetti, e a idéia é quadrinizarmúsicas de rock e heavy metal.

A edição sai em setembro na Europa; terácapa de Greg Tocchini, com tiragensprogramadas em inglês e alemão. E maispara frente, aí sim, uma edição em português.

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Você acabou de devorar mais um númeroda Revista Ilustrar.

Uma revista histórica, já que é a única revista100% brasileira, voltada para o mercado de

ilustração, nacional e internacional, feita por ilustradores.

Com matérias de grande interesse e uma grande divulgação garantida, elaserá vista e revista por centenas de ilustradores, diretores e editores de arte,diretores de criação, designers, estudantes e diversos profissionais da área.

Se pretende que seu produto ou serviço chegue a este mercado,este é mais um meio de grande alcance e baixíssima dispersão.

Anuncie na Revista Ilustrar.

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