Revista Talento

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Novembro de 2011 - Ano XII - Número 3

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Publicação elaborada pelos alunos do Curso de Jornalismo da UVV

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Novembro de 2011 - Ano XII - Número 3

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“Você trocaria o resto da sua vida sem acesso à internet por um milhão de reais?”. A pergunta pro-vocou um alvoroço na aula de Laboratório de Jor-nalismo (J2M) e foi feita por Bárbara Becalli, uma fascinada pelas redes sociais e que não conseguia imaginar a possibilidade de ficar sem elas.

O que parecia uma pergunta “sem noção” na sala de aula se transformou em um projeto interdiscipli-nar, que envolveu o Laboratório de Radiojornalismo, coordenado pela professora Gilda Miranda. Decidi-mos, inicialmente, fazer uma enquete com alunos do campus da UVV para saber se eles fariam a troca e uma matéria para o jornal laboratório Talento.

Parecia tudo decidido, quando o professor Rodri-go Cerqueira, coordenador do curso de Jornalismo, comentou: “Será que um aluno toparia ficar sem internet por uma semana?”. O desafio foi lançado e não apenas um, mas quatro alunos aceitaram. Bár-bara Becalli, Lia Menegaz, Felipe Brotto e Renato Bertoly.

A avaliação deles surpreendeu por algumas consi-derações que não esperávamos, entre elas, a de que as redes sociais são muito mais limitantes do que libertadoras. A enquete, no entanto, revelou certo equilíbrio com pelo menos metade dos entrevistados afirmado que trocariam a internet pelo reforço na conta bancária.

A proposta para os alunos, que ganhou status de desafio, reflete a disposição de propor mudanças na configuração e no espaço que o Talento ocupa na vida acadêmica dos estudantes de Jornalismo. Ao assumir a coordenação do jornal laboratório, junto com os professores do Núcleo Editorial, no início do segundo semestre, acredito que tenha assumido também o compromisso de continuar o exercício da experiência, da criatividade, da integração e das pos-sibilidades para o jornalismo impresso.

Essa edição do Jornal Talento buscou inspiração na arte de Miró, um dos mestres espanhóis a expor no Palácio Anchieta, mas não se limitou a um esti-lo ou escola, como ocorreu nas edições passadas. As matérias foram produzidas durante a disciplina de Laboratório de Jornalismo Impresso por alunos do J4N e J4M a partir de um exercício de observação e desenvolvimento de pautas.

Marcilene Forechi

Professora coordenadora

Os alunos Renato Bertoly, Bárbara Becalli, Lia Menegaz e Felipe Brotto, que participaram do desafio e ficaram uma semana desconectados.

EXPEDIENTE

Centro Universitário Vila Velha - ESRua Comissário José Dantas de Mello,

15, Boa Vista - Vila Velha -ES-CEP: 29102-770

ReitorManoel Ceciliano Salles de Almeida

Vice-ReitoraLuciana Dantas da Silva Pinheiro

Pró-Reitor AcadêmicoPaulo Régis Vescovi

Pró-Reitor AdministrativoEdson Franco Immaginario

Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão

Danielle BrescianiDiretor de GraduaçãoNilton Dessaune Filho

Coordenador de Jornalismo Rodrigo Cerqueira

Professora Orientadora Marcilene Forechi

O Talento é uma produção do NÚCLEO EDITORIAL DA UVVMonitores do Laboratório Gisele Porto e Mário AzevedoDiagramaçãoGisele Porto, Mário Azevedo e Rafael LaghiTextos Alunos da turma J4MEnsaioAluna Jocilane Rubertt do curso de Publicidade e PropagandaProfª Orientadora de FotojornalismoElizabeth NaderCapaArte do professor Marcos SpinasséSupervisão de Design GráficoMarcos SpinasséTiragem 500 exemplares

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Marcelo B

arros Diniz

O desafio de propor algo novo

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A Arte do Aprendizado

Os segredos

do brilho das telas

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A peça Monalisa, de Michelangelo, existe há 500

anos e permanece intacta. Já a gravura que o dentista

Carlos Henriques de Sá comprou em Madri, em suas

férias, se transformou em um borrão por conta de um

descuido na hora de limpar. O nome de alguns artis-

tas renomados foi imortalizado mas, para eternizar

suas obras, é preciso uma diversidade de cuidados.

Carlos Henriques voltou para casa com uma répli-

ca da obra de Miró depois de suas férias em Madri.

Após alguns dias, a funcionária que trabalhava em

sua casa tirou a poeira do enfeite pendurado com um

pano umedecido num produto de limpeza. A mancha,

no centro da peça, foi inevitável.

Na exposição “Mestres Espanhóis”, em Vitória,

as telas foram protegidas por vidros. Enquanto es-

tiveram no Palácio Anchieta não receberam limpe-

za direta. As telas domésticas também precisam de

cuidados. “As obras particulares devem ser limpas

periodicamente apenas com uso de um pincel muito

macio, com o objetivo de remover a poeira”, orienta

Gilca Flores, diretora do Centro de Artes da Ufes.

“Jamais devemos usar produto químico sobre a pin-

tura, nem mesmo um pano úmido”, alerta.

Ao contrário dos quadros domésticos que são pen-

durados até em varandas, as obras de arte precisam

ser mantidas sem iluminação direta. “Quando não es-

tão expostas, ficam armazenadas em total escuridão”,

explica Lorena Santos, assessora da Aldeia Corpora-

tiva. Segundo ela, as peças nunca devem refletir a luz

do sol, pois existe o risco de desbotar a pintura. Por

esse mesmo motivo, não podem receber sequer a luz

do flash da máquina fotográfica.

No transporte, elas precisam ser embaladas em cai-

xas especiais que protegem da umidade, calor e luz.

A temperatura ambiente deve ser de, no máximo, 20

graus centígrados. Por isso, as salas são refrigeradas.

No caso das obras de arte, se forem danificadas, exis-

tem especialistas em restauração para fazer o reparo.

Quanto ao quadro doméstico, não há muita opção. Se

for pendurado em um lugar em que haja luz do sol,

umidade ou calor em excesso o quadro vai embelezar

o ambiente por algum período, mas, com o passar do

tempo, vai desbotar e o jeito será comprar outro.

Gislene Goulart

“Só um sentido de invenção e uma necessidade in-tensa de criar levam o homem a revoltar-se, a desco-brir e a descobrir-se com lucidez” Pablo Picasso.

A arte é uma forma de expressar ideias e emoções. O mundo é recriado e adquire um significado único a cada obra. Os artistas retratam as características de uma época tecendo um olhar crítico, deixando como herança um pedaço da história, que perpassa o tempo falando sobre ele.

Os educadores, sabendo muito bem disso, buscam aproximar os alunos dos artistas e de suas obras, de forma a estimular o gosto pela arte. Deve ser por isso, que tantos estudantes visitaram a exposição “Mestres Espanhois, no Palácio Anchieta, 2 de agosto a 2 de outubro.

Lucas Moraes, 16 anos, cursa o 2° ano no Colégio Estadual e visitava, pela segunda vez, uma exposi-ção de artistas renomados. Ele voltava ao Palácio Anchieta para apreciar a exposição “Mestres Espa-nhóis”, em comemoração aos 460 anos de Vitória.

Depois de ter visto, em outra oportunidade, as obras de Michelangelo, Lucas afirmou ter gostado bastante de Salvador Dalí. “Eu reparei que, desde aquela épo-

ca, ele já retratava a sensualidade da mulher. Achei interessante também a noção de profundidade que ele passa nas obras”, comentou.

A professora Lívia Castro, 26 anos, prova que o contato com a arte não tem idade. Acompanhada por crianças de 3 a 4 anos, de uma escola privada, ela ex-plica como a arte é importante no processo educacio-nal. “Além de favorecer o desenvolvimento cultural e social das crianças, a arte é usada como suporte para várias outras atividades, para o desenvolvimen-to da coordenação motora e para o conhecimento das cores. Também podemos usar a arte no desenvolvi-metno da linguagem oral e escrita e no estímulo da imaginação através do lúdico”, explicou.

A exposição “Mestres Espanhóis”, pouco mais de duas semanas após ter estreado em Vitória, já tinha recebido a visita de 140 escolas das redes pública e privada da Grande Vitória. Isto significa que 9.851 alunos e mais de 20 mil pessoas, de todas as idades, passaram diante das obras de Pablo Picasso, Salvador Dalí, Francisco Goya e Joan Miró.

Alessandra Santiago e Paula Maria

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Se você é adepto das redes sociais, responda à seguinte pergunta: consegue imaginar sua vida sem elas? Segundo os dados da consultoria americana comScore, especializada em serviços online, o Bra-sil ocupa a terceira posição em páginas visitadas nas redes sociais, atrás apenas dos EUA e da Rússia. No portal de vídeos do YouTube, o país também não faz feio. Está entre os cincos maiores usuários no mun-do.

Em uma outra pesquisa, essa realizada pelo Ibope, sobre a seguinte afirmação: comprei um celular ou mudei de plano de telefonia para acessar as redes sociais com mais facilidade, 20% dos entrevistados asseguraram que sim. Isso confirma outras pesquisas que revelam aumento superior a 100% nas vendas de aparelhos com acesso à internet nos últimos cinco anos.

Analisando os resultados das pesquisas acima, fica evidente a dependência que as redes sociais têm causado em boa parte da sociedade. Torna-se quase que uma necessidade, uma obrigação se constituir em um “ser virtualmente ativo”. Mesmo para os não adeptos dos sites de relacionamentos, é pratica-mente impossível ficar imune a eles. Essas páginas estão completamente interligadas a muito daquilo que fazemos na internet: as buscas online encamin-ham o usuário para esses sites quando se procura por pessoas, por exemplo, mas também nas buscas por qualquer outro assunto.

Muitos usuários dizem que as redes socias tor-naram-se um lugar no qual é mais fácil, por exemplo, marcar um programa com os amigos. É um processo mais dinâmico, onde se fala com todo mundo ao mes-mo tempo. Muitos também, assim como a estudante de jornalismo Poliana Pimentel, acreditam que viver sem internet é o mesmo que não ter vida. Ficam as perguntas: existe vida social sem vida virtual? É pos-sível, nos dias de hoje, socializar sem ter acesso a uma rede social?

Em uma enquete realizada pela equipe da Rádio UVV, coordenada por Sanmy Moura, foram ouvi- das pessoas entre 19 e 36 anos de idade. Ao serem perguntados se trocariam o resto de suas vidas sem acesso às redes sociais por 1 milhão de reais, muitos não hesitaram e disseram que trocariam facilmente, como o estudante Lucas, 23. Para ele, 1 milhão de reais vale muito mais à pena, pois existem muitas outras formas de comunicação além das redes soci-ais. Outros, como Bruna Moura, de 19 anos, pensam

de outra forma e não trocariam as redes sociais por dinheiro nenhum. “Com 1 milhão de reais eu viajaria, mas onde eu colocaria minhas fotos para as pessoas verem?”, questiona a estudante.

Muitos também acreditam que devido ao hábito de se manterem sempre conectados, não seria possível deixar de usar o Twitter, por exemplo, para se comu-nicar com os amigos.

Experiência enriquecedora

Tomando como base a enquete, as professoras do curso de Jornalismo Gilda Miranda e Marcilene Forechi decidiram realizar uma pesquisa sobre a rela-ção dos jovens com as redes sociais. Elas desafiaram quatro alunos do curso de Jornalismo da UVV a fi-carem uma semana inteira desconectados. Os alunos Bárbara Becalli, Felipe Brotto, Lia Menegaz e Re-nato Bertoly toparam o desafio.

Para as professoras, a iniciativa nao teve como propósito desqualificar a internet ou o uso das redes sociais. “A intenção foi tentar perceber, por meio da experiência dos alunos e alunas, o espaço que o uso das redes sociais ocupa na vida deles e registrar os sentimentos vivenciados no período”, afirma Mar-cilene Forechi.

Durante a semana em que ficaram “desconecta-dos”, os alunos fizeram registros diários em que apontaram o que sentiram e também o que fizeram nas horas que lhes sobrararam. Ao final da experiên-cia, foi feita uma reunião na qual eles puderam tro-car com os colegas também participatnes suas ex-periências. Os relatos incluíram desde a realização de atividades nunca antes feitas, entre elas caminhar na praia, preparar o jantar ou ficar mais tempo à mesa após o almoço conversando com os pais.

Diante da pergunta feita pelas pesquisadoras, sobre o que significam as redes sociais (o Facebook, prin-cipalmente), eles foram unânimes em afirmar: “as redes aprisionam”. Também houve consenso entre eles quanto à principal sensação que tiveram. “Eu me senti totalmente excluído”, disse Felipe Brotto. Bár-bara Becalli apontou a exclusão e a impotência. “Não poder acessar a internet me fez parecer uma pessoa incompleta. Eu sinto como se a internet fosse uma extensão do meu corpo”.

Na página ao lado, você confere uma síntese dessa semana sem rede, realizada pelos alunos que toparam o desafio.

Mário Azevedo

Existe vida fora da rede?

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Participar da semana sem redes foi pra mim um verdadeiro DESAFIO. Achei que não conseguiria, afinal, a internet é minha única companhia aqui. Pude perceber o quanto sou dependente dela e cheguei à conclusão que não conseguiria viver sem ela. O bom, é que fiz coisas que não tinha vontade de fazer, porque digamos que o FACEBOOK

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Bárbara Becalli

não deixava. Um exemplo foram minhas corridas na praia. Calculo que em média fico cerca de 8 a 10 horas conectada, ou até mais. Grande parte do dia vai aí. Mas foi muito bom participar, para perceber como era antes, e como nossos pais e avós faziam para passar o tempo. A diferença, é que eles não tinham acesso, enquanto nós temos.

Felipe Brotto

Lia Menagaz

Renato Bertoly

No primeiro e no segundo dia foi muito tranquilo. O que senti mais falta foi das con-versas no bate-bapo e das grandes risadas com os tweets e os posts. Aproveitei o tem-po livre para dormir e fazer exercícios em casa, que eu não fazia há muito tempo. No terceiro, no quarto e no último dia foi mais complicado e ainda teve um agravante: fiquei

doente! Não saí de casa e me senti excluído, impotente. Foi um “bullyng” virtual, estava fora da realidade, sem comunicação, sem in-formação. Percebi o quanto estamos presos e lembrei de Michael Foucault: “liberdade é escolher a prisão que lhe prende”. No meu caso, o facebook e o twitter.

O primeiro dia foi estranho, pois a primei-ra coisa que faço quando acordo é ligar o computador. Acesso meu Facebook sempre que chego da faculdade. Passei a tarde toda procurando coisas para fazer que ocupas-sem minha mente e me fizessem esquecer o bendito Facebook. À noite, tive que ler o jornal e assistir à TV, o que não costumo

fazer. Passei a semana tentando me ocupar: sai com minha mãe, fui à academia, assisti a uma série, passeei com minha cachorra, dormi mais cedo. No penúltimo dia, acordei bem, pois sabia que faltava só mais um dia. Me senti excluída, perdi um aniversário pois o convite foi feito pelo Facebook, mas con-versei mais com meus pais.

O período do desafio sem redes sociais coincidiu com o começo do meu estágio, por esse motivo não senti muito a falta do computador nesses dias. Continuei fazendo as mesmas coisas que antes para me informar: vendo televisão, lendo jornal e, em menor escala, ouvindo rádio. No começo foi um pouco difícil, pois, além

do computador, tenho o celular que me permite acesso à internet. Mas, com o passar dos dias, a vontade foi passando e percebi que nem senti tanta falta das redes sociais. A conclusão que chego após o desafio é que nós, diretamente, somos dependentes das redes sociais para termos uma “vida social”.

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História. Você conhece a sua?

Por Jocilane Rubert

As fotografias produzidas no

Centro de Vitória despertam

para a situação dos monumentos

históricos.

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História. Você conhece a sua?

Por Jocilane Rubert

Importantes ícones

culturais da região, que,

apesar de fundamen-

tal relevância para os

espírito-santenses, são

ignorados e até depre-

dados.

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Se

O cinema sempre foi refúgio de casais apaixona-dos. Há tempos, romances como “Casablanca”, de Michael Curtiz, embalaram os encontros de Romeus e Julietas que fugiam de tudo e de todos para se encon-trar no escurinho. O professor Gladson Dalmonech, responsável pelo Núcleo de Audiovisual do Centro Universitário Vila Velha (UVV), diz que o cinema sempre teve esse poder de persuasão, inclusive para fisgar namorados. O amor se tornou ingrediente nas receitas de sucesso, tanto dentro das telas quanto nas cadeiras das salas.

Porém, esse enredo parece ter mudado. O cinema está deixando de ser visto apenas como um lugar de encontros românticos para os casaizinhos atuais. O escurinho do cinema tem se mostrado mais uma op-ção de lazer e de entretenimento para os fins de se-mana, do que um lugar romântico.

Marcella Martins, estudante de jornalismo, diz que quando vai ao cinema aproveita o momento para se distrair e fugir da correria do dia a dia junto com o namorado. Já a estudante de Publicidade e Propagan-da, Carolina Saitt, que namora há 3 meses, acredita que quando o namoro está firme, o cinema acaba se tornando mais um escapismo das coisas cotidianas.

Podemos dizer que as mudanças sociais são as an-tagonistas dessa trama. Antes, shopping lotado, filas enormes para comprar ingressos e mãos cheias de sacolas não competiam com o romantismo dos ca-sais. Com a mudança dos cinemas das ruas para os shoppings, o amor das poltronas parece estar cada vez mais longe de um final feliz.

Glauber Pinheiro

Longe de um final feliz

Desde a década de 50, a música sertaneja vem se renovando. Nomes como Tonico e Tinoco e Tião Car-reiro e Pardinho inspiraram outros artistas. Isso fez com que surgissem mais duplas sertanejas, com novos candidatos a ídolo, em busca de fama e retorno finan-ceiro. No início,

Luiz Cláudio Casado, profissional da música há mais de três décadas e que trabalhou nas maiores gra-vadoras do país, lembra que no início, devido à falta de experiência, as duplas não repetiam o mesmo sucesso musical no cenário financeiro. “Não havia tamanha estrutura naquela época e como não se tinha um mod-elo de gestão, os artistas que tinham muito talento não conseguiam gerar riqueza para si próprios”.

Enquanto outros ritmos passavam pelos seus mo-mentos de auge, o sertanejo preparava sua própria es-tratégia para invadir o país como ocorreu na virada do século. O primeiro grande produto comercial e que gerou retorno financeiro para as pessoas e empresas envolvidas foi o encontro de Zezé Dicamargo e Lucia-no com Leandro e Leonardo e Chitãozinho e Xororó no especial “Amigos”, de 1995, exibido pela Rede

Globo em várias edições. O mundo sertanejo deu mui-tas voltas, fez alguns milionários e se deparou com uma nova necessidade de modernização.

Nos anos 80, a música sertaneja se mistura com o eletrônico, com o pop, como o axé e com vários out-ros ritmos na busca incessante pela novidade. Vieram então novos nomes como Cesar Menotti e Fabiano, Victor e Leo, Jorge e Mateus, Fernando e Sorocaba, Luan Santana e a nova namoradinha do Brasil, Paula Fernandes. Ela, que já cantou pop internacional no iní-cio da carreira, alcançou mesmo o estrelato depois de se apresentar na gravação do DVD Emoções Sertane-jas de Roberto Carlos. Até o rei se rendeu ao sucesso da música sertaneja. O mercado sertanejo tem uma economia própria.

Nas rádios populares, o ritmo sertanejo é o preferi-do da audiência, ocupando quase 50% das programa-ções. No comércio, há lojas especializadas no estilo e a cada evento que acontece é possível encontrar mais pessoas ‘traiadas’, termo usado para indicar aqueles que se vestem no padrão sertanejo.

Renan Faé

Sertanejos: eles vieram para ficar

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“Os artistas que tinham

muito talento não

conseguiram gerar riqueza

para si próprios”.

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Se

Quem nunca pensou em fazer uma tatuagem? Não se sabe ao certo quando ou por quem a tatuagem foi inventada, mas há uma hipótese de que, nos primórdi-os, marcas involuntárias adquiridas em guerras, lutas corporais e caças geravam orgulho e reconhecimento ao homem que as possuísse, pois eram expressões naturais de força e vitória. O homem, então, partindo da ideia de que marcas na pele seriam sinônimos de diferenciação e status, passou a marcar-se voluntari-amente. Com o passar do tempo, essa prática cedeu espaço para a criação de desenhos com o uso de tintas vegetais e espinhos.

A partir de 1920, a tatuagem tornou-se mais popu-lar entre americanos e europeus e, durante muito tem-po, nos Estados Unidos, ela foi associada a classes socioeconômicas menos abastadas, aos militares, aos

marinheiros, às prostitutas e aos criminosos. Hoje, é difícil encontrar alguém que não tenha ao menos pensado em fazer uma tatuagem. A chamada “arte na pele”, cada vez mais, perde o estigma marginal que costumava caracterizá-la para passar a habitar corpos de várias idades e classes sociais.

No mundo da estética, as tattoos são muito bem recebidas na recomposição de sobrancelhas, deline-amento dos olhos e lábios, cobertura de manchas e cicatrizes. Lentamente, a tatuagem também passou a ser reconhecida como arte, graças a iniciativas dos tattoos clubs de todo o mundo, que promovem ex-posições, competições e convenções para a atualiza-ção e modernização dos métodos de aplicação e de higiene.

Gisele P Ribeiro

Você faria?

EntrevistaSe a tatuagem pode ser considerada uma forma

de arte no corpo, imagine se ela for uma obra reno-mada, como a obra Guernica, de Pablo Picasso. O famoso tatuador Ticano já teve a oportunidade de tatuar essa e outras obras de artistas renomados, entre eles os artistas que integraram a exposição “Mestres Espanhóis”, no Palácio do Anchieta. Ti-cano teve trabalhos premiados em feiras nacionais e internacionais e ganhou três prêmios em sua pri-meira participação em uma convenção aqui no Es-pírito Santo. Ah! E ele tinha apenas seis meses de experiência como tatuador! Hoje, já ganhou mais de quarenta prêmios.Talento – Quais são as tatuagens mais populares?Ticano – Há uma procura muito grande pelo básico, como borboletinhas e estrelinhas. A es-crita também está em alta, assim como os temas orientais e maori, que são desenhos tribais com um tema. As tatuagens de fênix também estão entre as mais procuradas. Faço ao menos uma por semana e, geralmente, são desenhos grandes, que vão do

ombro até o fim das costas. Talento – Você recebe muitos clientes que não sabem o que querem tatuar? Como você os ajuda a decidir?Ticano – Vamos dizer que 30% das pessoas que vêm aqui não sabem o que querem, sabem apenas que querem uma tatuagem no corpo. Se você chega aqui e fala “Eu quero uma borboleta bem difer-ente”, aí eu vou fazer uma borboleta espetacular. Mas se você não tem nem uma base do que, eu te deixo à vontade, ali na recepção, folheando as pas-tas, até que você encontre algo que te agrade.Talento – Seus clientes que optam por retratar obras de arte no corpo explicam o motivo?Ticano – Geralmente, quem procura tatuar uma obra de arte é porque se interessou exclusivamente por aquele artista e se apaixonou por ele. Mas, não é grande a procura.Por exemplo, um cara me pediu pra tatuar São Miguel Arcanjo, mas não porque era uma obra de um grande artista; ele tatuou porque era um anjo guerreiro.

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Desde a sua primeira edição, em 1985, o Rock in Rio reuniu em per-feita sintonia o poder das marcas, a força da mídia e a música, essa lingua-gem universal que mobiliza, conscien-tiza e emociona.

O evento em seu primeiro ano reuniu os maiores nomes do rock nacional e mundial da épo-ca. Nomes como Barão Vermelho, Paralamas do Su-cesso, Rita Lee, AC-DC, Iron Maiden, Queen e Scor-pions estiveram no palco tocando e cantando para 1 milhão 380 mil pessoas em 10 dias de shows.

Era o começo da democracia no Brasil, que foi ce-lebrada com um grito de união e liberdade ao se abrir pela primeira vez as portas do país às grandes atra-ções internacionais. Quem participou não consegue esquecer a emoção de ver e ouvir “Love of my life”, na voz de Fred Mercury.

“Nunca vou me esquecer daqueles dias! Amigos, Freddie Mercury e muito rock’n roll! Jamais haverá outro Rock in Rio como aquele.” – diz Cristina Laghi, que foi no primeiro Rock in Rio em 1985.

Vinte e um anos depois do primeiro Rock in Rio, o evento volta ao Brasil, após 6 anos na Europa (3 anos em Portugal e 3 na Espanha) e bem diferente da primeira edição.

O evento, que antes reunia apenas bandas do rock mundial, este ano reunirá nomes como Cláudia Leitte e Ivete Sangalo, do axé baiano, Maria Gadú, da MPB, Katy Perry, Kesha e Rihanna do pop americano, entre outros estilos que não têm nenhuma relação com o bom e velho Rock’n Roll.

As opinições se dividem. A estudante Fernanda Vilela, 19, gostou da mistura: “Eu, que sou muito ec-lética, fiquei muito feliz com a variedade de shows. Gosto de tudo, desde rock até pagode. Este Rock in Rio vai ser muito bom só por estar com meus amigos no maior evento musical do Brasil”, afirma.

Já o estudante Vinícius Guedes tem ou-tra opinião sobre a diversidade musical do

Rock in Rio 2011: “É ridículo! O Rock in Rio deveria mudar de nome para Music in Rio! Não faz sentido”, reclama o jovem.

No primeiro dia do evento, por exemplo, subiram ao palco, além do rock dos Paralamas do Sucesso e Titãs, a MPB de Maria Gadú, o Axé de Cláudia Leitte, o Pop de Katy Perry e Rihanna, o Pop rock romântico de Elton John e até a Orquestra Sinfônica Brasileira. Uma mistura, no mínimo, estranha.

O evento pode ser, para os ecléticos, o melhor show de suas vidas; já para os rockeiros, poderia ser melhor. Mesmo assim, o Rock in Rio 2011 é, para todo oBrasil, motivo de orgulho por receber tantos grandes nomes da música nacional e internacional.

Assim como foi em 1985.

Rafael Laghi

“É ridículo! O Rock in

Rio deveria mudar de nome para Music in Rio! Não faz

sentido.”

Diversidades de estilos no Rock in Rio: Axé, Pop e “até Rock”!

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Mesa, caixa de fósforos e paliteiro: objetos de uso cotidiano viram instrumentos musicais para quem quer samba. E o samba é a principal atração do Festival de Música de Botequim, o Femusquim, que acontece todos os anos no Morro dos Alagoanos, em Vitória.

E neste ano não foi diferente, além de toda a mística que o rodeia, o Festival de-butou e chegou a sua 15ª edição. O grande homenageado foi o mestre do samba Nelson Cavaquinho, cujo centenário de nascimento é comemorado em 2011. Para celebrar a obra desse baluarte do samba, nomes de peso como Noca da Portela, Monarco da Portela e Marquinho Sathan passaram pelo morro e levaram os amantes do samba ao delírio.

E amantes do samba foi o que não fal-tou. Com o campo de futebol do Morro dos Alagoanos repleto de bambas, os malandros capixabas, do resto do Brasil, e até mesmo de outros países deram as cartas. Monarco, principal nome do Festival, não cansou de exaltar seus amigos, portelenses Paulinho da Viola e Paulo da Portela e os manguei-renses Cartola e o homenageado do ano, Nelson Cavaquinho.

E foi assim, neste compasso binário, que a o samba se estendeu por quase toda a madrugada. Para o estudante de admin-istração, Eric Regattieri, “a noite começou

TRADIÇÃODesde sua primeira edição, em 1997, cantores e compositores de destaque têm participado dos shows no Morro dos Alagoanos, reduto de saudosos chorões capixabas. Além de movimentar a cena cultural da cidade, o Femusquim ainda tem um importante papel social na co-munidade, uma das mais carentes de Vitória.Hoje, em sua décima quinta edição, in-corporado ao calendário oficial da ci-dade, recebe apoio de órgãos públicos sem perder o seu charme. Além da boa música, a cerveja gelada, a acolhida gos-tosa dos moradores do Morro dos Alago-anos e o sorriso simpático de Raimundo de Oliveira, criador do festival.

Magia, samba e boemia no Morro dos Alagoanos

Que tal fazer uma viagem no tempo e voltar algumas décadas atrás para falar do presente. Anos 60 e 70. Vitória, uma cidade pequena e pacata, trilhava o seu caminho com muita música. Embalando gente jovem reunida numa época de muita luta.

O regime político no Brasil era a Dita-dura Militar enquanto no mundo eclodia uma grande revolução cultural. Nascia a contracultura: undergraund, alternativa, marginal. O grito jovem nasce regado ao bom, e hoje velho rock’n roll.

Quem está se perguntando o que Vitória tem a ver com isso, talvez nunca tenha ou-vido falar que, por aqui, também fazia-se música com muita força e juventude. Re-centemente os capixabas puderam apre-ciar, no Teatro Carlos Gomes, a homena-gem prestada àquela que é considerada a primeira banda de rock capixada: “Os Mamíferos”. Com incentivos culturais, a banda capixaba “Aurora Gordon” resgatou diversas músicas de “Os Mamíferos”, mui-tas nunca gravadas.

Donos de um pop rock lisérgico e influ-enciada pelo Tropicalismo, suas letras eram marcantes e provocantes. O grupo anteci-pava por aqui o que o “Secos e Molhados” faria depois.

Afonso Abreu, que em parceria com Paulo Branco compunha grande parte das músicas da banda, diz sentir falta da boemia e dos amigos da época. Há 11 anos, o “Afonso Abreu Trio” se apresenta tocando jazz na noite capixaba. Além de Afonso Abreu (baixo acústico), Pedro Alcântara (piano) e Marco Antônio Grijó (bateria) integram o grupo. O grupo já gravou dois CDs e três vídeos e, para ele, é um conforto poder tocar musica elaborada e com inter-pretação musical em uma cidade pequena como Vitória.

Afonso ressalta a importância de resgatar a história da musica capixaba “A vida mu-sical de Vitória sempre teve muita história. É importante haver pesquisas para que os ‘neocapixabas’ entendam que Vitória é uma cidade tímida, mas bonita. Como uma moça, que tem uma saia bem comprida, mas que todo mundo quer ver o seu joelho”.

Vitória: história para contar e cantar

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a se completar e se unir com a madrugada boêmia, assim que Monarco puxou o clás-sico Folhas Secas. Foi um momento incrív-el. Nelson pareceu vivo naquele instante”. Regattieri ainda elogiou a qualidade dos tira-gostos: “o melhor de tudo é aproveitar estas comidinhas de boteco, com uma bela cerveja ao som de nossos sambistas”, com-pletou.

Allan Diego e José Erick de almeida

Marquinho Sathan, Noca e Monarco da Portela celebraram a obra de Nelson Cavaquinho, grande homenageado da 15ª edição do Femusquin

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