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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA LAURA MARTINS COLOÇO UTILIZAÇÃO DO DMAIC COMO ESTRATÉGIA ORIENTADA AOS CLIENTES DE UMA INDÚSTRIA QUÍMICA Lorena - SP 2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

LAURA MARTINS COLOÇO

UTILIZAÇÃO DO DMAIC COMO ESTRATÉGIA ORIENTADA AOS CLIENTES DE

UMA INDÚSTRIA QUÍMICA

Lorena - SP

2014

LAURA MARTINS COLOÇO

UTILIZAÇÃO DO DMAIC COMO ESTRATÉGIA ORIENTADA AOS CLIENTES DE

UMA INDÚSTRIA QUÍMICA

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como parte do requisito para

obtenção do título de Bacharel em

Engenharia Industrial Químico na Escola de

Engenharia de Lorena da Universidade de

São Paulo.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Ferro dos Santos

Lorena - SP

2014

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por

qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa,

desde que citada a fonte.

Catalogação da Publicação

Biblioteca “Cel. Luiz Sylvio Teixeira Leite”

Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo

Coloço, Laura Martins

Estudo da utilização do DMAIC como estratégia orientada aos clientes de uma

Indústria Química / Laura Martins Coloço; Orientador: Professor Doutor Eduardo

Ferro dos Santos – Lorena: 2014.

55 Páginas.

Monografia (Bacharelado em Engenharia Industrial Química) – Escola de

Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo.

1. DMAIC 2. Seis Sigma 3.Gestão da Qualidade

A minha família, que é meu maior patrimônio.

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Cristóvão e Regina, que são minha base de tudo e por toda

atenção, compreensão e incansável apoio durante meu percurso.

As minhas irmãs, Beatriz e Sofia, que estão sempre ao meu lado, caminhando

juntas.

A toda a minha família, pelas orações e suporte que me deram durante esta

caminhada.

Ao meu namorado, Ray, por estar sempre comigo, por todo seu incentivo, amor e

carinho.

As minhas amigas da república, Renata, Carolina, Mariana, Andressa e Beatriz,

por me proporcionarem um aprendizado a cada dia, um compartilhamento de

amizade, carinho e presença.

A Deus, por estar sempre iluminando o meu caminho.

Ao meu orientador, por ter me ajudado e dado suporte durante todo este

percurso.

A todos que me apoiaram nesta caminhada, com suas orações e pensamentos

positivos.

RESUMO

COLOÇO, L. M. Utilização do DMAIC como estratégia orientada aos clientes

de uma Indústria Química. 2014. 55f. Trabalho de Conclusão de Curso - Escola

de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

A interligação entre qualidade, produtividade e competitividade é um dos fatores

mais importantes na economia industrial. Diante deste fato, é necessário que a

qualidade esteja sempre orientada para o cliente, uma vez que é para ele e para a

satisfação das suas necessidades, que a empresa moderna trabalha e existe. O

presente trabalho foi realizado com base na pesquisa-ação, apresentando um

estudo das reclamações de clientes relacionadas com a qualidade de um produto

final de uma Indústria Química, localizada no estado de São Paulo. Um estudo

estatístico das reclamações de clientes do ano de 2012 foi realizado com base

nas ferramentas da qualidade, em especial o DMAIC, do Seis Sigma, a fim de

identificar as causas raízes e o ponto crítico do processo. Analisando as principais

causas foi possível propor melhorias no sistema de produção, visando à

diminuição da quantidade de reclamações. Após a implementação de uma

melhoria no processo no ano de 2013, foi realizado um comparativo com o ano de

2012 a fim de medir a eficácia do projeto. Os resultados apresentaram um

decréscimo de aproximadamente 30% em todo o processo, e quase 60% no

específico ponto crítico identificado pelo trabalho.

Palavras-chave: DMAIC, Seis Sigma, Gestão da qualidade.

ABSTRACT

COLOÇO, L. M. DMAIC application as an oriented strategy to customers in a

Chemical Industry. 2014. 55p. Monograph - Escola de Engenharia de Lorena,

Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

The interconnection between quality, productivity and competitiveness is one of

the most important factors in the industrial economy. On this fact, it is necessary

that the quality is always oriented for the customers, since is for them and for the

satisfaction of its needs that the modern company works and exists. This work was

developed based on the action-research methodology, wherein the customer’s

complaints were analyzed due to the lack of quality on the final product in a

Chemical Industry, situated in the state of São Paulo. A statistical study of the

2012 year customer´s complaints was performed which proposed the use of

quality tools, especially DMAIC-Six Sigma, in order to verify the root causes and

process critical point. Analyzing the roots causes was possible propose

improvements in the production system, targeting to decrease the number of

customer’s complaints. After an improvement in the 2013 work process, were

performed a comparison with 2012 research to measure the effectiveness of the

project. The results showed a decrease of approximately 30% throughout the

process, and almost 60% in the specific critical point identified in the project.

Keywords: DMAIC, Six Sigma, Quality management.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Tradução do nível da qualidade para a linguagem financeira ......................... 28

Tabela 2 - Onze características da pesquisa-ação .......................................................... 34

Tabela 3 - Número de reclamações de clientes de 2012 ................................................. 43

Tabela 4 - Causas das reclamações de 2012 .................................................................. 43

Tabela 5 - Número de reclamações de clientes de 2013 ................................................. 48

Tabela 6 - Causas das reclamações de 2013 .................................................................. 50

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Diagrama de Pareto para os principais motivos de parada da linha 25-50 kg . 16

Figura 2 - Diagrama de causa-efeito ............................................................................... 18

Figura 3 - Estrutura de um Histograma............................................................................ 18

Figura 4 - Representação gráfica da folha de verificação ................................................ 20

Figura 5 - Gráfico de dispersão ....................................................................................... 21

Figura 6 - Exemplo de um gráfico de controle ................................................................. 23

Figura 7 - Símbolos utilizados em Fluxogramas .............................................................. 24

Figura 8 – Fluxograma atividades fabril ........................................................................... 25

Figura 9 - Metodologia Seis Sigma e suas cinco fases (D-M-A-I-C) ................................ 32

Figura 10 - Fluxograma reclamação de cliente ................................................................ 41

Figura 11 - Fluxograma do material retornado de uma reclamação de cliente ................. 42

Figura 12 - Gráfico de controle de pH de um material ..................................................... 46

Figura 13 - Número de reclamações de clientes de 2012 e 2013 .................................... 49

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12

1.1 Justificativas ........................................................................................................ 13

2 OBJETIVOS ........................................................................................................ 14

2.1 Objetivo Geral ...................................................................................................... 14

2.2 Objetivos Específicos ........................................................................................... 14

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ........................................................................... 15

3.1 As Sete Ferramentas da Qualidade ..................................................................... 15

3.2 Tipos .................................................................................................................... 15

3.2.1 Diagrama de Pareto ............................................................................................. 15

3.2.2 Diagrama de causa-efeito (espinha de peixe ou diagrama de Ishikawa) .............. 16

3.2.3 Histogramas ......................................................................................................... 18

3.2.4 Folhas de verificação ........................................................................................... 19

3.2.5 Gráficos de dispersão .......................................................................................... 20

3.2.6 Cartas de controle ................................................................................................ 22

3.2.7 Fluxograma .......................................................................................................... 23

3.3 Gestão da Qualidade ........................................................................................... 26

3.4 Seis Sigma........................................................................................................... 27

3.5 DMAIC ................................................................................................................. 28

3.5.1 Etapa Definir ........................................................................................................ 29

3.5.2 Etapa Medir ......................................................................................................... 29

3.5.3 Etapa Analisar ..................................................................................................... 30

3.5.4 Etapa Melhorar .................................................................................................... 31

3.5.5 Etapa Controlar .................................................................................................... 31

4 METODOLOGIA .................................................................................................. 33

4.1 Método de pesquisa ............................................................................................. 33

4.2 Aplicação da metodologia DMAIC ........................................................................ 36

4.2.1 Etapa Definir ........................................................................................................ 36

4.2.2 Etapa Medir ......................................................................................................... 37

4.2.3 Etapa Analisar ..................................................................................................... 38

4.2.4 Etapa Melhorar .................................................................................................... 38

4.2.5 Etapa Controlar .................................................................................................... 39

4.3 Metodologia Proposta .......................................................................................... 39

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 41

5.1 Etapas ................................................................................................................. 41

5.1.1 Etapa Definir ........................................................................................................ 41

5.1.2 Etapa Medir ......................................................................................................... 44

5.1.3 Etapa Analisar ..................................................................................................... 45

5.1.4 Etapa Melhorar .................................................................................................... 47

5.1.5 Etapa Controlar .................................................................................................... 50

6 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................... 51

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 52

12

1 INTRODUÇÃO

O termo “qualidade” está presente no nosso cotidiano: ouve-se falar muito

em “qualidade de vida”, “qualidade de um produto”, “qualidade de ensino”, etc.

Com isso, as pessoas tornaram-se mais exigentes e o mercado cada vez mais

competitivo. Em uma indústria química isso não é diferente. Constantemente são

realizadas melhorias nos processos e nos produtos com a finalidade de melhorar

o cenário da empresa e como consequência, excelentes retornos financeiros são

alcançados.

A metodologia Seis Sigma visa à otimização e melhoria de processos e

requer dados e análises estatísticas para medição e melhoramento do

desempenho operacional nas indústrias, tendo como objetivo a identificação e

eliminação de defeitos relativos às falhas dos processos, direcionando assim,

soluções efetivas às causas-raiz dos problemas.

Conforme Harry e Schroeder (1998), a metodologia Seis Sigma começou a

se desenvolver na Motorola em meados de 1980, mas a raiz original do Seis

Sigma foi encontrada por Philip Crosby no livro Quality is Free em 1979. Neste

livro encontra-se o conceito do “zero defeito”, que é a filosofia adotada pelo Seis

Sigma.

Por volta de 1985, a Motorola se sentiu ameaçada pela concorrência da

indústria eletrônica japonesa e necessitava de uma melhoria em sua qualidade.

Com isso, iniciou-se um novo modelo gerencial para uma melhoria na qualidade

(PHILLIPS, 2002).

A nova meta de melhoria da Motorola teve como base melhorar em dez

vezes a qualidade de todos os produtos até 1989, e em cem vezes até 1991 e

atingir o desempenho Seis Sigma até 1992 (PEREZ-WILSON, 1999).

Segundo Klefsjö, Wiklund e Edgeman (2001), a empresa então focou todos

os recursos no Seis Sigma, incluindo os esforços humanos na redução da

variação dos processos de manufatura, administrativos e os demais processos da

organização.

13

1.1 Justificativas

Para atentar a concorrência e buscar a excelência no seu ramo de atuação,

as empresas devem investir e inovar com vista à maximização dos seus ganhos.

Uma das maneiras é utilizar constantemente técnicas da qualidade, buscando

uma melhoria contínua, aperfeiçoando os seus processos e reduzindo os

desperdícios. Com isso, também podemos garantir e atender as necessidades

dos clientes.

Os estudos das reclamações de clientes apresentados neste trabalho

foram de uma Indústria Química, localizada no Vale do Paraíba - SP. Além de

atender as legislações vigentes, como a ISO 9001:2008, priorizam a máxima

redução possível do número de reclamações de clientes, gerando valores tanto

para a empresa quanto para o cliente a fim de manter uma boa relação entre as

empresas.

No presente trabalho, foi realizado um levantamento das causas raízes de

todas as reclamações de clientes de uma Indústria Química referentes ao ano de

2012 e foi apresentado um comparativo com as reclamações de 2013. A

avaliação foi realizada com base na ferramenta Seis Sigma, metodologia DMAIC,

com o objetivo de mapear e reduzir o número de reclamações de clientes. Uma

proposta de melhoria no processo foi implementada para atender aos requisitos e

as necessidades do processo.

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2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Este trabalho visa realizar um estudo das reclamações de clientes

referentes à qualidade do produto final de uma Indústria Química do ano de 2012.

Analisou as causas raízes dessas reclamações, com base na ferramenta Seis

Sigma, metodologia DMAIC, buscando identificar os principais pontos de

melhorias e o ponto crítico do processo a fim de determinar alternativas para

redução das mesmas. Após uma melhoria no processo de 2013, levantou um

comparativo com os dados do ano de 2012 para medir a eficácia do trabalho.

2.2 Objetivos Específicos

Avaliar as causas raízes das reclamações de clientes referentes aos anos

de 2012 e 2013.

Utilizar o DMAIC da metodologia Seis Sigma, com o objetivo de mapear e

reduzir o número de reclamações de clientes.

Propor uma melhoria no processo, no ano de 2013, para que possa ser

implementada e testada, atendendo aos requisitos e as necessidades do

processo.

O ponto crítico identificado em 2012, parâmetro Produção, foi estudado

mais detalhadamente para melhorar a eficácia do processo e,

consequentemente, reduzir o número de reclamações.

15

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 As Sete Ferramentas da Qualidade

As ferramentas da qualidade são técnicas que podem ser utilizadas com o

objetivo de definir, mensurar, analisar e propor soluções para os problemas

encontrados ocasionalmente e também, influenciam na melhoria do desempenho

dos processos.

A partir da década de 50, com base em práticas e conceitos existentes,

foram estruturadas as ferramentas da qualidade. Desde então, têm sido de muita

importância para os sistemas de gestão e usadas para melhorias de produtos,

processos e serviços.

3.2 Tipos

3.2.1 Diagrama de Pareto

O diagrama de Pareto é uma das ferramentas da qualidade e recebeu este

nome, pois é originário dos estudos do economista italiano Vilfredo Pareto. O

diagrama estabelece uma ordenação das causas de perdas que devem ser

corrigidas. O objetivo é compreender a relação entre a ação e o beneficio, ou

seja, indica qual a ação que trará um melhor resultado.

O diagrama é representado por barras e uma curva de percentagens

acumuladas. As barras designam as frequências das ocorrências, da maior para a

menor, o que permite a priorização dos problemas, e a curva de percentagens

acumuladas apresentam as ocorrências dos fatos. Tal propriedade permite uma

fácil visualização e identificação dos problemas e causas mais importantes,

possibilitando a concentração dos esforços sobre os mesmos.

O princípio desta ferramenta baseia-se na Lei de Pareto, fato que indica

que a maioria das perdas está relacionada com poucas causas, ou seja, que os

pequenos problemas são os pontos críticos e causam as grandes perdas. A Lei

16

de Pareto é conhecida como 80/20, e com base nessa, 80% das consequências

vem de 20% das causas.

De maneira geral, Bellettini et al. (2012) define que melhores resultados

são obtidos analisando as barras mais altas do gráfico, pois são mais

representativas ao processo do que as barras menores. Portanto, se identificar as

causas desses poucos defeitos, torna-se possível eliminar quase todas as perdas,

concentrando esforços em causas particulares. Posteriormente, pode-se analisar

os outros defeitos triviais. Com base no diagrama apresentado na figura 1, foi

possível identificar os principais motivos das paradas da linha 25-50 kg.

Figura 1 - Diagrama de Pareto para os principais motivos de parada da linha 25-50 kg

FONTE: Bellettini (2012)

3.2.2 Diagrama de causa-efeito (espinha de peixe ou diagrama

de Ishikawa)

O diagrama de causa-efeito, também conhecido como diagrama de

Ishikawa ou espinha de peixe tem como finalidade a identificação das causas ou

fatores dos problemas que devem ser eliminados.

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Segundo Koscianski e Soares (2007) o eixo central do diagrama apresenta

o problema específico e as linhas diagonais representam os elementos que fazem

parte do cenário e são necessários para alcançar os resultados. Esses elementos

recebem o nome de “categorias” e depois, para cada uma delas é identificado

fatores (causas) que possam contribuir para o aumento ou redução do problema

(efeitos).

Coletti, Bonduelle e Iwakiri (2010) definiram para a metodologia do

diagrama de Ishikawa as seguintes etapas:

- Definição do efeito: o efeito pode ser um problema, como “erros em

pedidos” ou algo que necessita melhoria, como “desenvolver o melhor

treinamento em motivação gerencial”;

- Geração de ideias: pode ser realizado um “Brainstorming”, que é uma

atividade desenvolvida em um grupo para gerar muitas ideias em um curto

espaço de tempo;

- Identificação da principal categoria: com base na lista de ideias, é gerada

uma lista de categorias. As categorias são reduzidas, caso alguma seja comum à

outra, e verifica se as ideias estão de acordo com as categorias estabelecidas. O

diagrama não pode exceder sete categorias.

- Avaliação das ideias: ocorre o esclarecimento das ideias e o agrupamento

das que estão relacionadas.

- Projeção da folha para a coleta de dados: as informações para validar a

causa real são registradas em uma folha de coleta de dados.

Os diagramas de causas e efeitos apresentam apenas as possíveis causas

e somente os dados indicaram as reais causas.

Segundo Harrington e Harrington (1997) é obvio que há uma relação de

causa e efeito entre os dados que devem ser considerados para análise de um

processo. A figura 2 apresenta o diagrama de Ishikawa em sua forma original já

que estabelece os relacionamentos diretos a serem considerados em um

ambiente fabril. Essa ferramenta somente relaciona e analisa o que ocorre dentro

da estrutura fabril, mas apresenta-se muito eficiente, pois demonstra claramente a

18

mudança causada em um dos ramos da espinha-de-peixe, quando se altera

outro.

Figura 2 - Diagrama de causa-efeito

FONTE: Harrington e Harrington (1997)

3.2.3 Histogramas

Histogramas normalmente são demostrados por gráficos de barras

verticais. A representação gráfica é realizada pela distribuição de frequências de

uma medição e é composta por retângulos justapostos em que o eixo horizontal

de cada um deles corresponde ao intervalo de classe e o eixo vertical à respectiva

frequência. Os histogramas têm caráter preliminar em qualquer estudo e

apresenta um indicador importante da distribuição de dados. Conforme Pessoa

(2007) é possível identificar na figura 3 as frequências, classes e amplitudes.

Figura 3 - Estrutura de um Histograma

FONTE: Pessoa (2007)

19

3.2.4 Folhas de verificação

As folhas de verificação são planilhas ou tabelas planejadas utilizadas para

facilitar a coleta e análise de dados, preenchidos de forma concisa e fácil. Permite

que um grupo registre e compile dados dos itens a ser verificado de uma forma

mais organizada, o que possibilita uma interpretação imediata da situação e

exibição de padrões e tendências, além de uma percepção rápida da realidade,

ajudando a diminuir confusões e erros.

Esta ferramenta pode ser aplicada em quaisquer áreas e fornece uma

imagem mais clara dos fatos, fazendo com que os padrões dos dados se tornem

rapidamente óbvia.

As vantagens da folha de verificação são que a obtenção dos dados é

registrada no momento em que ocorrem, facilitando a identificação da causa ao

mesmo tempo em que ocorre o problema e a facilidade de aplicação. As

desvantagens são que o processo de coleta de dados pode ser lento e os

equipamentos de medição podem não estar aferidos.

Segundo Tavares (2012) as folhas de verificação são ferramentas que

questionam o processo e são importantes para alcançar a qualidade. Podem

apresentar-se de vários tipos para:

- Distribuição do processo de produção: usado para coletar dados da

produção e para este tipo de folha de verificação os dados não podem ser

interrompidos. Realiza-se um comparativo com as especificações do processo na

medida em que os dados são coletados.

- Verificação de itens defeituosos: este tipo é usado quando quer saber

quais os tipos mais frequentes de defeitos e a quantidade causada por cada

motivo.

- Localização de defeito: utilizada para identificar os defeitos mais

extremos. Geralmente a lista apresenta um desenho do item a ser verificado, na

qual é assinalado o lugar e a forma de ocorrência desses defeitos. A importância

desta ferramenta é para análise do processo, uma vez que conduz para onde e

como o defeito ocorre.

20

- Causas de defeitos: usado para identificar as causas dos defeitos, sendo

que os dados das causas e os dados dos defeitos são apresentados de maneira

que fique clara a relação entre eles.

Definido o plano de ação e implementadas as medidas, a próxima etapa é

monitorar o processo, coletando e registrando os dados na Folha de Verificação,

da qual se apresenta na figura 4. Segundo Mariani, Pizzinatto e Farah (2005) sua

construção é de formato livre, devendo, porém, ser simples, de fácil manuseio e

capaz de comparar o planejado com o efetivo. Esta ferramenta favorece o

monitoramento e auxilia na avaliação da eficácia das ações corretivas adotadas.

Figura 4 - Representação gráfica da folha de verificação

FONTE: Mariani (2005)

3.2.5 Gráficos de dispersão

Os gráficos de dispersão permitem a identificação da relação entre causas

e efeitos, para avaliar o relacionamento entre as variáveis de um processo e sua

intensidade, representando a função entre duas ou mais variáveis. Esta

ferramenta é utilizada quando é preciso visualizar o que ocorre com uma variável

quando se altera a outra, tornando possível a identificação da relação entre a

causa e efeitos. De um modo geral, esses gráficos são utilizados para apresentar

e comparar valores numéricos, estatísticos e de engenharia.

21

Um gráfico de dispersão sempre exibe pontos na intersecção de valores

numéricos x e y. Esses pontos podem estar distribuídos de maneira uniforme ou

irregular no eixo horizontal, dependendo dos dados.

Conforme Petenate (2012) a figura 5 apresenta um gráfico de dispersão da

correlação entre o tráfego de pesquisa e as visitas recorrentes. Para um melhor

entendimento da relação entre os dados precisa analisar o (R²), que neste caso é

0,4677, o que significa que 46,77% da variação de y é explicada pela regressão.

Com a finalidade de definir se este índice é bom ou não, a resposta depende

muito do caso, uma vez que algumas variáveis não são simples de se explicar,

principalmente as que relacionam com comportamento. Neste exemplo, a análise

aponta que não existe uma correlação muito forte e não é possível explicar a

variação do número de visitantes recorrentes por meio da quantidade de

pesquisas no Google. Para um melhor resultado, é necessária uma maior

investigação.

Figura 5 - Gráfico de dispersão

FONTE: Petenate (2012)

22

3.2.6 Cartas de controle

As cartas de controle são gráficos utilizados para o acompanhamento de

um processo. Este gráfico apresenta estatisticamente uma faixa denominada

limites de controle, que é limitada por uma linha superior (limite superior de

controle) e uma linha inferior (limite inferior de controle), além de apresentar uma

linha média que foram estaticamente determinadas. A finalidade é verificar,

através do gráfico, se o processo está sob controle. As funções destes gráficos

são apresentar evidências de que o processo esta operando em estado de

controle estatístico e mostrar informações para que possam ser tomadas ações

gerenciais de melhoria do processo.

A utilização dessa ferramenta da qualidade na melhoria do processo segue

as fases de coleta, controle e análise dos dados que são repetidas

constantemente. Primeiramente, as informações são coletadas de acordo com um

plano, e com base nesses dados são determinados os limites de controle que

servem de base para a interpretação estatística. A fim de realizar melhorias no

controle e na capacidade dos processos, devem ser identificadas as causas

comuns e especiais e, quando possível, o processo deve ser alterado com o

intuito de eliminá-las. Então, o ciclo de reinicia, à medida que mais informações

serão coletadas, interpretadas e usadas como base para a ação.

Uma carta de controle tem o beneficio de ajustar o processo para que a

produção ocorra com qualidade e custos adequados e servir aos operadores para

um controle continuo do processo.

Segundo Nogueira (2009) o principal objetivo desta ferramenta é monitorar

uma atividade especifica ou processo contínuo com a finalidade de identificar

algum desvio. Com ela, pode prevenir defeitos, evitar desperdícios, eliminar algo

que comprometa a eficiência e reduzir custos. Através do acompanhamento do

processo é possível encontrar duas variações: comum e especiais. As variações

comuns são variações inerentes ao processo e, normalmente, provém de varias

fontes de pequenas variações. Eliminar essas causas é mais difícil, uma vez que

requer conhecimento e análise de todo o processo. As variações especiais

surgem ocasionalmente no processo e sua eliminação esta geralmente

23

relacionada com a execução das atividades do processo. Uma vez identificadas

essas causas, deve-se eliminá-las e prevenir a repetição da mesma com uma

ação preventiva.

Com base na figura 6 é possível identificar que qualquer dado que

ultrapasse o limite superior ou inferior são considerados causas especiais e os

que estiverem dentro, causas comuns.

Figura 6 - Exemplo de um gráfico de controle

FONTE: Nogueira (2009)

3.2.7 Fluxograma

Fluxograma é uma representação gráfica de um determinado processo ou

fluxo de trabalho, geralmente apresentado por figuras geométricas unidas por

setas. Com esta representação é possível compreender de forma simples e

rápida a trajetória dos elementos que participam do processo e uma fácil

identificação das ações que devem ser executadas, ou dependendo do

fluxograma, as alternativas do processo. Os fluxogramas sempre são

apresentados por um início, um sentido de leitura (fluxo) e um fim.

24

As vantagens dos fluxogramas são que possibilitam a visualização

integrada de todos os componentes de um processo, proporcionam um

levantamento e análise dos dados desde o mais simples ate o mais complexo,

desde o mais especifico ate o de maior abrangência e propiciam a utilização de

figuras geométricas o que possibilita uma leitura mais lógica e simples do

processo. Além destas vantagens, esta ferramenta é fundamental para a

simplificação do trabalho, o que possibilita um estudo mais detalhado dos

métodos e processos de uma organização.

Segundo Oliveira (2005) os símbolos utilizados nos fluxogramas têm a

finalidade de evidenciar a origem, o processo e o destino dos dados. É possível

usar símbolos diferentes dos convencionais, desde que não dificulte o

entendimento e compreensão para o leitor e estes sejam definidos previamente.

No entanto, há uma tendência de padronização desses símbolos, cuja

combinação permite esclarecer e interpretar as diferentes etapas dos sistemas.

Os símbolos mais utilizados estão apresentados na figura 7.

Figura 7 - Símbolos utilizados em Fluxogramas

FONTE: Oliveira (2005)

25

Segundo Palucci e Oliveira (2008) a figura 8 ilustra um fluxograma que

descreve o fluxo das atividades, documentos e informações de um processo,

através de símbolos padronizados. A elaboração é realizada como na escrita,

mas ao invés de somente palavras, são utilizados símbolos e palavras, o que

permite a descrição do fluxo do processo de um modo mais claro e preciso.

Figura 8 – Fluxograma atividades fabril

FONTE: Palucci e Oliveira (2008)

Com base nas sete ferramentas apresentadas anteriormente, é possível

concluir que se essas forem devidamente aplicadas, a organização poderá reduzir

os custos, através da obtenção de processos e produtos mais uniformes; obter

um aumento nos níveis da qualidade por meio de uma solução eficaz dos

problemas; identificar os problemas existentes nos processos e produtos; definir

as causas raízes dos problemas e proporcionar uma solução de modo eficiente,

etc.

Assim sendo, é necessário ter o conhecimento de cada uma das sete

ferramentas e saber devidamente como aplicá-las, a fim de conseguir obter bons

resultados para a organização.

26

3.3 Gestão da Qualidade

Segundo Oakland (1994), a gestão da qualidade total (em inglês “Total

Quality Management” ou “TQM”) é uma abordagem para melhorar a eficácia, a

competitividade e a flexibilidade de toda organização. Para obter uma verdadeira

eficácia, é necessária uma cooperação de cada uma das partes integrantes,

visando às mesmas metas, e saber reconhecer que cada pessoa e cada tarefa

afeta os outros e, por sua vez, é afetada por elas. Portanto, gestão da qualidade

total pode ser definida como uma estratégia orientada a conscientizar a qualidade

em todos os processos organizacionais.

O termo gestão da qualidade, segundo Crosby (1998), é referido como

gestão da qualidade "total", pois seu objetivo não é aplicar apenas dentro da

organização, e sim, a integração de todos que de uma forma ou de outra estão

relacionadas com a organização, tais como fornecedores, distribuidores e

usuários.

Segundo Lundin e Lundin (1993) o resultado desta filosofia da qualidade foi

obtido através da integração do pensamento de vários autores como Kaoru

Ishikawa, W. Edwards Deming, Joseph M. Juran, Armand V. Feigenbaum, e

outros. Mas foi no Japão, após a Segunda Guerra Mundial, que Deming e Juran

concretizaram a ideia da qualidade total e influenciaram empresários do mundo

todo.

Conforme Kaoru (1993) a empresa Toyota, no Japão, foi a primeira a

empregar este conceito, surgindo o termo Toyotismo, superando a etapa do

Fordismo. O sistema de produção da Toyota combinara os conceitos da qualidade

e sua filosofia gerencial com os sistemas Kanban e Just-in-time. Atualmente,

organizações do mundo todo vêm utilizando este conceito, conscientizando e

reconhecendo sua importância. Desta forma, também garante aos clientes um

produto, serviço e processo conformes que os atendem perfeitamente e de forma

segura e confiável as suas necessidades.

A gestão da qualidade é composta por diversos estágios, tais como,

planejamento, organização, controle e liderança. Um conceito desenvolvido

posteriormente é o Seis Sigma.

27

3.4 Seis Sigma

Segunda Silva et al. (2011) a metodologia Seis Sigma foi introduzida pela

Motorola na década de 1980, com o propósito de aumentar os níveis da

qualidade. O objetivo foi aumentar do nível mais comum de três sigma (3σ) para

os seis sigma (6σ). Este aumento seria alcançado pela utilização e aplicação de

ferramentas estatísticas orientadas à otimização de processos produtivos

(HARRY; SCHROEDER, 1998).

Segundo Harry e Schroeder (1998), na metodologia Seis Sigma existe uma

correlação direta entre o desperdício de recursos operacionais, o número de

produtos defeituosos e o grau de insatisfação do cliente. A estatística utilizada no

Seis Sigma calcula a capacidade de um processo em executar trabalhos livres de

defeitos.

Em termos de negócio, Coronado e Antony (2002) mencionaram Seis

Sigma como uma estratégia para melhorar a lucratividade, reduzir os custos com

a má qualidade e melhorar a eficiência de todas as operações, tendo como

objetivo exceder as necessidades e expectativas do cliente. As duas principais

metodologias são DMAIC e DMADV. DMAIC (Define, Measure, Analyze, Improve,

Control) é utilizado para um processo já existente e, DMADV (Define, Measure,

Analyze, Design, Verify) para a criação de um novo processo ou produto.

Segundo Souza et al. (2007) o objetivo da metodologia Seis Sigma é um

processo, produto ou serviço chegue o mais próximo possível de zero defeito,

erro ou falha. Quanto maior o "nível sigma", menor a possibilidade de defeitos.

Processos e produtos com nível seis sigma tem 99,99966 por cento de certeza de

que não haverá falhas e, consequentemente, obter um resultado financeiro para a

organização. A tabela 1 representa os principais benefícios obtidos em se

alcançar "níveis sigma" mais altos.

28

Tabela 1 - Tradução do nível da qualidade para a linguagem financeira

Nível da

qualidade

Defeitos por

milhão

(ppm)

Fator

Percentual

Custo de

qualidade

2 sigma 308.537 69,15 Não se aplica

3 sigma 66.807 93,32 25 a 40%

4 sigma 6.210 99,379 15 a 25%

5 sigma 233 99,9767 5 a 15%

6 sigma 3 99,99966 < 1%

FONTE: Souza et. al (2007)

3.5 DMAIC

Segundo Lucier e Seshadri (2001) e Matos e Caten (2003) a abordagem

Seis Sigma se baseia na utilização de ferramentas e metodologia para orientar as

mudanças nos processos. Na abordagem Seis Sigma, o ponto mais importante é

o modelo sumarizado pelas letras iniciais na língua inglesa DMAIC (Define –

Measure – Analyse – Improve – Control), que significam em português: Definir –

Medir – Analisar – Melhorar – Controlar.

Conforme Cleto e Quinteiro (2011) o projeto que utiliza essa metodologia

deve-se referir a um problema de desempenho organizacional, o qual possui uma

solução desconhecida. Deve existir um conjunto de objetivos ligados a

indicadores bem definidos e que correspondam à oportunidade de solução,

através de uma perspectiva de melhoria contínua. O avanço do projeto deve ser

acompanhado por meio de indicadores e este deve culminar em benefícios de

qualidade, custo e tempo. Normalmente, é proposto que o projeto se realize em

um período de 6 a 12 meses dependendo do seu porte e dos recursos fornecidos.

Geralmente os períodos estimados de duração das etapas do DMAIC são: Etapa

Definir – 2%, Etapa Medir – 25%, Etapa Analisar – 45%, Etapa Melhorar – 25% e

Etapa Controlar – 3%. Cada uma das fases do ciclo DMAIC estão apresentadas a

seguir e as atividades que constituem o processo de melhoria.

29

3.5.1 Etapa Definir

Conforme Linderman et al. (2003) e Werkema (2002), o grupo de trabalho

definirá o problema e situações existentes no processo que necessitam ser

melhoradas, com base na estratégia do negócio ou no ponto em que é crítico para

o cliente. Este ponto crítico para o cliente é denominado pela ferramenta Seis

Sigma como características críticas para o cliente (CTQ - critical to quality). Esses

pontos críticos para a satisfação do cliente são relacionados com os processos da

empresa, e esta relação é realizada através do mapeando do processo. São

elaboradas cartas dos projetos (Project charters) para serem avaliadas pelos

gestores dos projetos a fim de definir os recursos necessários que maximizem os

resultados financeiros para a organização.

As informações significativas da qualidade do produto na visão do cliente,

tais como o prazo de entrega considerado aceitável pelo cliente e o tempo

máximo de espera para atendimento, são ditos como parâmetros relevantes para

identificar os defeitos dos processos e suas respectivas melhorias.

Werkema (2001) e Pande (2001) complementaram esta etapa sugerindo

que fossem feitas as seguintes perguntas para definir o tópico de um projeto Seis

Sigma: Qual o problema a ser abordado no projeto?; Qual é a meta a ser

atingida?; Quais são os clientes/consumidores afetados pelo problema? E qual é

o impacto econômico do projeto?.

3.5.2 Etapa Medir

Nesta etapa é determinado o nível de desempenho do processo atual. Com

o objetivo de definir as variáveis críticas do processo, são determinadas as

expectativas e necessidades do cliente. As ferramentas utilizadas nesta fase são

ferramentas básicas, tais como: as métricas Seis Sigma, a análise dos modos

efeitos de falha (FMEA-failure modes and effects analysis), a análise dos sistemas

de medição (MSA-measurement system analysis) e o desdobramento da função

qualidade (QFD-quality function deployment).

30

Segundo Franz e Caten (2003) a ferramenta Seis Sigma está fortemente

baseada no uso de métodos estatísticos para compreender o comportamento dos

processos e produtos. Deve-se definir e medir as variações com a intenção de

encontrar as causas dos problemas. Desta forma, torna-se possível desenvolver

os recursos necessários para reduzir e controlar as causas, o que demostra a

importância desta etapa durante a implantação de um projeto Seis Sigma.

Nesta etapa deve ser selecionada uma ou mais características críticas à

qualidade (CTQ - Critical to Quality), realizar o mapeamento do processo, registrar

os resultados e estimar as capacidades do processo a fim de obter maiores

informações, de modo medir os processos envolvidos com mais detalhes.

Os métodos estatísticos mais utilizados são diagrama de Pareto e

Histogramas. Estas medições indicam os principais pontos críticos no mapa de

processo e o nível Sigma do processo.

3.5.3 Etapa Analisar

O objetivo da etapa Analisar é consolidar as oportunidades de melhorias

identificadas na etapa Definir e consolidar o as informações da etapa Medir. Esta

análise permite a compreensão dos processos e a identificação das origens dos

problemas ou defeitos e quais os benefícios das melhorias identificadas.

As causas responsáveis pela geração dos defeitos são exploradas nesta

fase. Uma análise estatística é utilizada para determinar as variáveis potenciais

que estão afetando o resultado e busca identificar a causa raiz mais significativa.

Dentre as ferramentas mais utilizadas nesta etapa, Werkema (2001) sugere o uso

do FMEA (Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos), ASM (Análise de

Sistemas de Medição), FTA (Árvore de Falhas), DOE (Projeto de Experimentos),

Testes de Vida Acelerados. Pande (2001) também recomenda revisar o mapa do

processo, identificar as causas raízes e as atividades que agregam valor e as que

não agregam valor.

31

3.5.4 Etapa Melhorar

Nesta etapa a análise anteriormente efetuada é transformada em ações

concretas, sendo desenvolvido e testado o plano de ação para confirmar a

solução do problema, eliminando as causas raízes. São realizadas modificações

no processo e o resultado é calculado para avaliar o nível de otimização

alcançado, gerando novos valores de níveis Sigma, comprovando a eficiência das

ações implementadas. Com o novo processo, já otimizado, são obtidos resultados

de acordo com as especificações do cliente. Os métodos estatísticos mais

utilizados nesta etapa são os projetos de experimentos e regressão linear

múltipla.

As ferramentas mais utilizadas nesta etapa são 5W2H, Brainstorming,

Testes de Hipótese e FMEA. Pande (2001) ainda destaca que a etapa Melhorar

poderá durar algum tempo, visto que na mesma devem ser testadas as possíveis

soluções, os resultados devem ser medidos e deve-se garantir que as alterações

levem ao sucesso do projeto.

Werkema (2001) e Pande (2001), para esta etapa, sugerem algumas

perguntas como meio de verificar as melhorias, tais como: Quais as possíveis

ideias ou ações que podem permitir a eliminação das causas fundamentais do

problema?; Quais soluções irão permitir o alcance da meta com maior facilidade

de execução e menor custo?; De que forma analisar as soluções escolhidas como

meio de garantir sua eficácia?.

3.5.5 Etapa Controlar

Nesta etapa ocorre a avaliação do alcance do objetivo do projeto por meio

de análises dos resultados obtido. Medidas de controle são utilizadas para

prevenir a recorrência do problema e assegurar o desempenho alcançado através

do fechamento do projeto Seis Sigma. Se o resultado da avaliação do projeto

apresentar de acordo com os níveis desejados e previstos, então este é

considerado sob controle. Caso a meta desejada não tenha sido alcançada,

retorna-se a etapa Medir do DMAIC e avalia novamente as variações do

32

processo, verifica se ocorreu algum problema ou falha na medição ou definição

dos indicadores. As ferramentas mais utilizadas para esta verificação são controle

estatístico de processo, cartas de controle e Histogramas.

Depois de aplicadas as melhorias, avalia-se novamente a capacidade com

a finalidade de garantir que os resultados alcançados sejam mantidos por um

longo prazo. No caso de o projeto implementado ter efetivamente eliminado os

problemas críticos do processo, torna-se possível observar uma melhoria em

termos de satisfação do cliente e custos.

Filho (2012) apresenta na figura 9 uma breve definição de cada etapa (D-

M-A-I-C) que servirá de orientação para o cumprimento do projeto.

Figura 9 - Metodologia Seis Sigma e suas cinco fases (D-M-A-I-C)

FONTE: Filho (2012)

33

4 METODOLOGIA

O presente trabalho foi realizado para reduzir o número de reclamações de

clientes relacionadas com a qualidade do produto final de uma Indústria Química.

Foi realizado um estudo das reclamações do ano de 2012, o qual se tornou

possível à identificação do ponto crítico do processo. Após a implementação de

uma melhoria no processo no ano de 2013, foi levantado um comparativo com

2012 a fim de medir a eficácia do trabalho.

4.1 Método de pesquisa

A estratégia de pesquisa adotada foi à pesquisa-ação. Segundo Ketele e

Roegiers (1993) e Engel (2000), pesquisa-ação foi definida como um tipo de

pesquisa “independente”, “objetiva”, uma pesquisa participante engajada e

contrária à pesquisa tradicional.

Como o próprio nome apresenta, a pesquisa-ação associa a pesquisa com

a ação, ou seja, desenvolve o conhecimento como parte da prática. A pesquisa é

realizada por uma pessoa da prática que deseja aprimorar a compreensão desta.

Uma das características da pesquisa-ação é que ela pode intervir na prática de

maneira inovadora durante o próprio processo de pesquisa e não apenas como

uma recomendação na etapa final do trabalho.

Segundo Tripp (2005) pesquisa-ação requer ação tanto na pesquisa quanto

na prática, de modo que terá características tanto na pesquisa científica quanto

na prática. A tabela 2 apresenta as diferenças entre a Prática rotineira, a

Pesquisa-ação e a Pesquisa científica.

De acordo com a tabela 2, podemos analisar que a linha 1 apresenta a

prática rotineira como habitual, porém o que se tornou habitual foi anteriormente

inovador e original sob alguns aspectos. Analogamente, na pesquisa científica

existem coisas rotineiras.

34

Tabela 2 - Onze características da pesquisa-ação

Linha Prática rotineira Pesquisa-ação Pesquisa científica

1 habitual inovadora original / financiada

2 repetida contínua Ocasional

3 Reativa contingência pró-ativa

estrategicamente metodologicamente

conduzida

4 individual participativa colaborativa / colegiada

5 naturalista intervencionista Experimental

6 não questionada problematizada contratual (negociada)

7 com base na experiência

deliberada Discutida

8 não-articulada documentada revisada pelos pares

9 pragmática compreendida explicada / teorizada

10 específica do contexto

Generalizada

11 privada disseminada Publicada

FONTE: Tripp (2005)

A linha 2 expressa que a pesquisa-ação deve ser contínua e não como a

Prática rotineira que é repetida e nem como a Pesquisa científica que é ocasional,

pois não se pode realizar pesquisa-ação repetidamente sobre a prática, mas

pode-se trabalhar regularmente para melhorar seu aspecto.

Conforme indicado na linha 3, a pesquisa científica tende a ser realizada

com base em metodologias determinadas. A pesquisa-ação é intermediária aos

outros modos de pesquisa, pois é ação com base na compreensão alcançada

através da análise de informações de pesquisa.

A linha 4 exibe que atualmente a maior parte das pesquisas é realizada em

equipe. A pesquisa-ação é participativa, pois inclui todos os que, de um modo ou

de outro, estão nela envolvidos.

Em conformidade com o demonstrado na linha 5, a prática rotineira é

naturalista, de modo que não existe manipulação da situação. Já a pesquisa-ação

e a pesquisa científica são experimentais, porque fazem as coisas acontecerem

para poder ver o que realmente acontece. Porém, a pesquisa-ação acontece em

35

cenários sociais não manipulados, de forma que pode ser definida mais como

intervencionista do que experimental.

A linha 6 mostra que a prática rotineira não é questionada porque é

considerado um processo de aprimoramento. A pesquisa-ação é problematizada,

pois começa a partir do momento em que algum problema existe ou com um

exame sobre a quem cabe o problema. Segundo Kuhn (1970), a pesquisa

científica normalmente é realizada em um determinado período, juntamente com o

financiamento, o que significa, de um modo geral, que ela está comprometida com

os interesses comerciais ou com o governo.

A linha 7 aponta que a prática rotineira ocorre com base na experiência e

geralmente é vivenciada apenas pelos participantes. A pesquisa-ação é

deliberada, pois é necessário fazer julgamentos competentes. A pesquisa

científica é discutida no sentido de teorização indutiva e dedutiva.

A pesquisa-ação, mais uma vez, fica entre a prática rotineira e a pesquisa

científica. A linha 8 menciona que na prática rotineira normalmente não há

registros, já na pesquisa científica existe uma rigorosa revisão dos dados,

métodos e conclusões. A pesquisa-ação é intermediária, pois documenta seu

progresso.

A prática rotineira vem representada na linha 9 com principal critério a

funcionalidade. As preocupações sobre por que e como ela funciona só surge

quando existe um problema ou quando é possível fazer melhorias. A pesquisa

científica tem como preocupação primordial as teorias.

Em processos, contexto e resultados a prática rotineira é limitada aos do

prático envolvido, enquanto a pesquisa cientifica visa uma generalização mais

ampla possível, conforme apresentado na linha 10.

Finalmente, a linha 11 refere-se à administração do conhecimento. A

prática rotineira é mais privada. O conhecimento é compartilhado com outras

pessoas da mesma profissão ou organização na pesquisa-ação, por isso ela

tende a ser mais disseminada por meio de rede e não publicações, como é o caso

da pesquisa científica.

36

Este método foi utilizado pelo pesquisador, em conjunto com o time de

engenharia de uma Indústria Química. Através de um estudo de todas as

reclamações de clientes relacionadas com a qualidade do produto final dos anos

de 2012 e 2013, foi possível fazer um levantamento das principais causas

geradoras das reclamações. Ações foram geradas para melhorar o sistema de

produção e consequentemente reduzir o número de reclamações.

4.2 Aplicação da metodologia DMAIC

4.2.1 Etapa Definir

Nesta etapa foram estabelecidas as diretrizes de trabalho com as

informações sobre a descrição do problema, meta objetivada, restrições nos

recursos e definição do projeto.

A aplicação da metodologia DMAIC deve ser sempre procedida de uma

definição e desdobramentos dos indicadores-chave de desempenho (na língua

inglesa, Key Performance Indicator, KPI) gerenciais da indústria, ou seja, dos

indicadores mais importantes para os negócios da indústria. A relação entre os

indicadores e a escolha do projeto permite direcionar os recursos para as

oportunidades mais significativas.

Atkinson (1998) enfatiza que indicadores-chave de desempenho são

ferramentas da qualidade utilizadas para realizar a medição e consequentemente,

tem o foco voltado ao nível de desempenho da organização. O foco do sistema

deve ser sobre as variáveis críticas para o sucesso da organização, que devem

ser identificadas a fim de estruturar o desempenho de seus contribuintes.

O número de reclamações de clientes era um índice apresentado

diariamente em reuniões com os responsáveis de cada área e, mensalmente,

para o time global da qualidade da Indústria Química, enfatizando a importância

deste indicador. No final do ano de 2012 o total do número de reclamações de

clientes finalizou fora dos parâmetros pré-determinados pela indústria. Portanto,

37

como uma medida corretiva, preventiva e de melhoria, o time da qualidade definiu

para esta etapa a redução do número de reclamações de clientes.

No processo da indústria existem apenas três classificações das causas

raízes para uma reclamação, as quais são Produção, Cliente ou Fluxo. A causa

classificada como Produção está relacionada a algum desvio no processo de

fabricação. O material apresentava algum desvio nos resultados de análise dos

parâmetros da qualidade, como por exemplo, nos testes de gel, viscosidade, pH,

sólidos, entre outros. Por outro lado, quando a causa era identificada como

Cliente, esta apresentava um material dentro das especificações e o desvio

ocorreu no próprio cliente. Como por exemplo, o produto final do cliente

apresentava separação de fases e alegavam que o problema estava no material

da Indústria Química. Após o processo de investigação para encontrar a causa

raiz, conclui-se que o material estava dentro da especificação e que o cliente

alterou outro parâmetro do processo da produção, como a velocidade de

agitação. Por último, quando a causa geradora da reclamação era determinada

como Fluxo, a divergência apresentada ocorreu durante o armazenamento,

transporte ou descarregamento do material. Um exemplo são as condições de

estocagem do material no cliente final.

4.2.2 Etapa Medir

Esta etapa foi estabelecida pela indústria como o uso de métodos

estatísticos para garantir a precisão dos dados, com o propósito de estabelecer as

variáveis críticas do processo. Foram estabelecidos dados estatísticos para

analisar a tendência e a estabilidade do processo.

A Indústria Química produz aproximadamente 115 diferentes tipos de

produtos finais, dos quais todos são no estado líquido. Os principais itens da área

de produção contam com o reator, linhas, filtração, embalagem e

armazenamento. Após o processo de fabricação realizado no reator, a indústria

conta com duas linhas de embalagens de produtos, sendo uma delas para

produtos leitosos e outra para transparentes.

38

Todos os produtos são divididos dentro dessas duas classes apresentadas

e dependendo da característica do produto, ou o material é embalado na linha

“leitoso” ou na “transparente”. Antes de o material ser embalado, este passa por

um filtro a fim de remover possíveis impurezas presentes no produto. Após o

completo carregamento da embalagem com o material, este é levado diretamente

para o armazém, onde fica armazenado até sua venda ao cliente. A grande

diversidade de produções na Indústria Química confere um rígido controle da

qualidade durante todo o procedimento.

4.2.3 Etapa Analisar

Esta fase representava a investigação da causa entre as variáveis do

processo e as causas potenciais das reclamações de clientes. Um levantamento

do processo de trabalho e os tempos de cada etapa foram realizados e, com isso,

foi possível identificar os principais pontos a serem melhorados. Ações foram

estabelecidas para melhorar e controlar o processo, buscando a estabilidade e

redução do tempo de cada etapa.

Nesta etapa foi identificado que o processo de manufatura apresentava

pontos de melhorias e, em específico, um ponto crítico relacionado com o

parâmetro Produção.

4.2.4 Etapa Melhorar

A etapa de filtração é de muita importância durante o processo de

produção, pois é possível obter uma retenção de partículas indesejáveis. Consiste

em uma operação unitária de separação de misturas heterogêneas, no caso

sólido-líquido, através da passagem do fluido por uma barreira ou meio poroso,

chamado filtro. Os filtros são constituídos de pequenos orifícios, onde ocorre à

retenção de partículas sólidas contidas na mistura e a fase líquida flui através do

filtro. Por meio desta prática, além de obter um material dentro das especificações

requeridas pela Indústria Química, também permite que os clientes alcancem uma

maior eficiência em seus processos produtivos e obtenha uma redução dos

39

custos de produção. Na Indústria Química, este processo é realizado por malhas

porosas de diferentes tamanhos, dependendo da especificação do material a ser

produzido.

Na etapa Analisar constatou que as primeiras embalagens apresentavam

contaminações com resquícios do produto anteriormente produzido ou com a

água de lavagem. O procedimento industrial já apresentava uma medida

preventiva que era a drenagem da linha de embalagem com água de lavagem. A

lavagem era realizada entre a produção de um material e o próximo, mas esta,

por si só, não estava apresentando um resultado satisfatório.

O novo plano de melhoria no processo era fazer uma espécie de

“drenagem” na linha de produção. O procedimento atuava com a retirada de uma

amostra apenas da primeira embalagem, sequencia de embalagem número 1, a

qual era analisada no laboratório de controle de qualidade da Indústria Química.

O material embalado era liberado somente após os resultados de análises

laboratoriais.

4.2.5 Etapa Controlar

Na Indústria Química esta etapa representava a estabilização de um novo

padrão e correções no processo. Esta nova medida utilizada tinha como finalidade

evitar novas reclamações e também, reduzir as mesmas. O controle era realizado

com ferramentas estatísticas, como gráfico de barras, apresentando um

comparativo entre os anos de 2012 e 2013, com o intuito de medir o desempenho

alcançado com o novo processo.

4.3 Metodologia Proposta

Com base na ferramenta Seis Sigma, metodologia DMAIC, o presente

trabalho está estruturado nas seguintes etapas:

Etapa I – Definição: Definir o tema a ser abordado no Trabalho de

Conclusão de Curso e o Professor/Orientador para este trabalho.

40

Etapa II – Fundamentação teórica: Nesta etapa foram executadas

as pesquisas, cujas teorias apresentadas foram suporte teórico para

o trabalho. O Trabalho de Conclusão de Curso I foi finalizado e

entregue.

Etapa III – Levantamento de dados: Nesta etapa foi realizado um

levantamento de dados das reclamações de clientes referentes aos

anos de 2012 e 2013. Essas informações serviram de artefatos úteis

para as próximas etapas.

Etapa IV – Análise dos dados: O conjunto de dados obtidos foi

analisado a fim de identificar as principais causas geradoras das

reclamações e suas ações corretivas e preventivas, podendo assim

identificar os pontos de melhorias.

Etapa V – Elaboração do relatório: Será gerado um relatório

científico, no qual o pesquisador irá apresentar seu trabalho.

Etapa VI – Apresentação do projeto: Por fim, o pesquisador irá

apresentar seu trabalho a uma banca avaliadora, finalizando as

etapas.

41

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1 Etapas

5.1.1 Etapa Definir

O trabalho foi realizado com análise das reclamações de todos os

produtos, aproximadamente 115, produzidos na Indústria Química. Quando a

indústria recebe uma reclamação de cliente referente à qualidade do produto final,

uma investigação era iniciada para encontrar a causa raiz. O processo de

investigação segue as etapas do fluxograma apresentado na figura 10.

Figura 10 - Fluxograma reclamação de cliente

FONTE: Documentos internos da Indústria Química (2013)

42

Caso o cliente desejasse devolver o material, eram seguidas as seguintes

etapas apresentadas na figura 11.

Figura 11 - Fluxograma do material retornado de uma reclamação de cliente

FONTE: Documentos internos da Indústria Química (2013)

Com base na ferramenta Seis Sigma, metodologia DMAIC, o presente

trabalho foi realizado a fim de identificar as principais causas raízes das

reclamações. A tabela 3 apresenta o cenário do ano de 2012 e é possível

observar que neste ano a indústria recebeu um total de 136 reclamações

referentes à qualidade do produto final.

43

Tabela 3 - Número de reclamações de clientes de 2012

Mês Número de Reclamações

de Clientes

Janeiro 15

Fevereiro 23

Março 16

Abril 6

Maio 5

Junho 18

Julho 4

Agosto 12

Setembro 8

Outubro 11

Novembro 10

Dezembro 8

FONTE: Planilhas internas da Indústria Química (2012)

Estudos e análises de todas as reclamações do ano de 2012 foram

realizados a fim de identificar as principais causas geradoras das reclamações,

podendo assim definir os pontos de melhorias e o ponto crítico do processo. Com

base nas três classificações das causas raízes, as quais são Produção, Cliente e

Fluxo, o cenário de 2012 está apresentado na tabela 4, cujos dados fornecem a

quantidade de reclamações e suas respectivas classificações.

Tabela 4 - Causas das reclamações de 2012

Causa Reclamações

Produção 76

Cliente 56

Fluxo 4

FONTE: Planilhas internas da Indústria Química (2012)

Devido ao fato da grande maioria dos desvios apresentados estarem

relacionados com a Produção, representada por aproximadamente 56%, este foi

44

definido como o ponto crítico do processo. Foi realizado um estudo mais

detalhado do ponto crítico com a finalidade de diminuir o número de reclamações.

Após a causa raiz ter sido classificada como Produção, existem três

classificações ainda neste parâmetro, as quais são Aparência, Desempenho e

Fora da Especificação. A Aparência de um material está relacionada com a

presença de gel ou pele no produto final. Quando o material apresenta gel, este

provoca um endurecimento do material e a presença de pele pode ser vista como

a formação de uma camada sólida de material entre o produto e o ar, dentro da

própria embalagem. Além da Aparência, outros fatores críticos encontrados na

pesquisa foram em relação ao Desempenho do material, tais como grânulos e

eficiência, e também material Fora da Especificação, definido como um desvio

nos testes de pH, sólidos e odor.

A seguir, estão apresentados os resultados do estudo mais detalhado dos

desvios de Produção do ano de 2012.

1. Aparência: Gel e pele.

2. Desempenho: Grânulos e eficiência.

3. Fora da especificação: pH, odor e sólidos.

Com esses dados foi possível observar que, dentre os desvios de

Produção, a maioria foi representada pela Aparência. Portanto, foi possível

concluir que muitas reclamações estavam relacionadas com a Aparência do

produto final e este desvio ocorria durante o processo de filtração. Como

consequência, o foco para 2013 foi voltado para esta etapa de produção.

5.1.2 Etapa Medir

A cada batelada, todo o material produzido era registrado com o mesmo

lote. Porém, cada embalagem deste lote possui um número de sequência de

embalagem. Todos esses dados, além de apresentados nos rótulos das

embalagens, eram armazenados e controlados pelo sistema eletrônico da

indústria.

45

Um método já existente na indústria era retirar uma amostra durante o

processo de embalagem. Essa era coletada próximo ao meio do processo,

identificada como amostra de retenção e era armazenada pelo laboratório de

controle da qualidade em condições adequadas. O armazenamento era realizado

por dois anos e após este período a amostra era descartada.

Através do sistema eletrônico era possível verificar todas as

movimentações do material. Acessando o sistema com o nome, código do

material e lote produzido era possível verificar quando o material foi produzido, a

quantidade produzida, para quais clientes foram enviados o determinado lote e

quando este chegou ao cliente, tornando capaz saber o intervalo de tempo desde

a fabricação até o seu recebimento. Com base nesses dados, era permitido

compreender se apenas o cliente que gerou a reclamação está reclamando deste

material, ou se esse mesmo lote já tinha recebido reclamações anteriormente.

Outro fator importante fornecido pelo sistema eletrônico era se o inventário ainda

possuía alguma embalagem do lote reclamado. Se sim, uma amostra era retirada

e enviada ao laboratório de controle da qualidade da Indústria Química a fim de

analisar se o mesmo apresentava algum desvio.

5.1.3 Etapa Analisar

Toda vez que a Indústria Química recebia uma reclamação de cliente, uma

parte da amostra de retenção do lote reclamado era analisada pelo laboratório de

controle da qualidade da indústria. Se a indústria ainda possuía esse mesmo lote

em seu armazém, uma amostra era retirada e também era analisada.

Além dessas amostras, para obter um resultado ainda mais completo da

averiguação, era solicitado que o cliente enviasse uma amostra do material, para

esta também ser analisado com os mesmos padrões das outras amostras. Com

os resultados dessas análises era possível concluir se houve ou não algum desvio

de processo.

Caso nenhuma amostra apresentasse desvio, a possível causa raiz era na

divergência na análise realizada pelo laboratório da indústria e de seu cliente.

46

Então, a metodologia das análises era compartilhada com o cliente, a fim de evitar

novas divergências e reclamações.

Se todas as amostras apresentassem desvio, um estudo mais detalhado do

processo de produção era realizado pelo time da produção. Um dos itens

verificados era o processo de polimerização, assim como temperatura, tempo,

entre outros. Com esses dados, era possível gerar gráficos de controle para obter

um resultado mais detalhado do processo de produção do material. Outro ponto

verificado era qual o material produzido antes e depois do produto reclamado,

com propósito de comprovar alguma possível contaminação do produto. A figura

12 apresenta um gráfico de controle de pH de determinado material. Por meio de

uma análise do gráfico é possível identificar as linhas de limite inferior e superior,

a média dos valores e a medida do pH de cada lote. Esta ferramenta, além de

monitorar o processo, também facilita na identificação de algum desvio.

Figura 12 - Gráfico de controle de pH de um material

FONTE: Planilhas internas da Indústria Química (2013)

Com a posterior confirmação de algum desvio de processo, o material era

retornado para a indústria e o destino deste material era definido pelo time

técnico, pois este poderia ser retrabalhado ou descartado.

47

No caso de apenas a amostra enviada pelo cliente apresentasse algum

desvio nos parâmetros analisados pelo laboratório de controle de qualidade, era

então verificado as condições de estocagem do produto, tanto no armazém da

indústria, quanto durante o transporte e também no próprio cliente. Desta forma,

tornava-se possível identificar se ocorreu algum desvio durante a estocagem do

material. Em algumas situações era realizada uma visita ao cliente, pois além de

propiciar um melhor entendimento do problema e dar um suporte imediato,

aumentava a confiança de quem precisa agilizar o processo de tomada de

decisão. A visita ao cliente demonstra um maior interesse, ampliando

consideravelmente as chances de sucesso, maiores vínculos e continuidade na

parceria.

Uma vez que, com esses dados, nenhum desvio fosse apresentado, era

verificado o número da sequência da embalagem, pois este é outro fator de muita

importância no processo de investigação da causa raiz. Muitas vezes, apenas as

primeiras embalagens apresentavam este desvio, o que poderia levantar a

hipótese de uma contaminação por outro material durante o processo de envase.

Conforme apresentado, a indústria possui apenas duas linhas de

embalagem, e muitas vezes, o processo de filtração não era suficiente o bastante

para eliminar todas as impurezas, o que acabava por contaminar o próximo

material a ser embalado, apresentando resquícios do material anterior.

Uma análise de todos os dados obtidos durante a investigação era

apresentada ao time técnico e então, esta era finalizada. Assim sendo, uma carta

de fechamento da reclamação era gerada e enviada ao cliente. Dentre as

informações apresentadas na carta de fechamento da reclamação, algumas eram

as etapas realizadas, os resultados das amostras analisadas, as ações corretivas,

as ações preventivas e a causa raiz.

5.1.4 Etapa Melhorar

Para esta etapa foi desenvolvido e testado o plano de ação no ano de 2013

a fim de confirmar a eficácia do trabalho. Neste ano, um novo método foi aplicado

com a finalidade de reduzir o número de reclamações de clientes. Após análises e

48

discussões do cenário de 2012, foram realizadas reuniões entre as áreas da

produção, qualidade e o time técnico da Indústria Química, para aplicar um novo

procedimento durante o processo de produção. O novo procedimento era a

retirada de uma amostra da primeira embalagem a qual era analisada no

laboratório de controle de qualidade. A embalagem de número um, da sequência

de embalagem, era liberada somente após os resultados de análises laboratoriais.

O novo método aplicado funcionaria como uma espécie de “drenagem” da

linha de embalagem com o novo material produzido, mas evitando o desperdício

do material, pois este não era descartado, e sim, analisado. Caso os resultados

dos testes laboratoriais das especificações do material estivessem dentro dos

parâmetros de caracterização, o mesmo era liberado e as próximas etapas do

processo prosseguiam. Se o resultado apresentasse algum índice de

especificação fora dos parâmetros, o material retornava a etapa de filtração, com

a finalidade de apresentar todos os indicadores dentro da especificação.

A tabela 5 apresenta o cenário de 2013, mostrando o número de

reclamações de clientes, por mês, durante o ano de 2013.

Tabela 5 - Número de reclamações de clientes de 2013

Mês Número de Reclamações

de Clientes

Janeiro 5

Fevereiro 5

Março 4

Abril 9

Maio 10

Junho 8

Julho 7

Agosto 5

Setembro 19

Outubro 14

Novembro 4

Dezembro 7

FONTE: Planilhas internas da Indústria Química (2013)

49

Com base em uma análise da tabela 5 é possível observar que, no ano de

2013, a indústria recebeu um total de 97 reclamações referentes à qualidade do

produto final, o que apresenta um decréscimo em relação ao ano de 2012.

Um gráfico comparativo de todas as reclamações dos anos de 2012 e 2013

está apresentado na figura 13. As barras azuis representam as reclamações de

2012 e a laranja as de 2013. No eixo horizontal está os meses e no vertical a

quantidade de reclamações.

Figura 13 - Número de reclamações de clientes de 2012 e 2013

FONTE: Planilhas internas da Indústria Química (2013)

No ano de 2012 a indústria recebeu um total de 136 reclamações, já em

2013, este índice diminuiu para 97. Com base neste indicador podemos perceber

um decréscimo de aproximadamente 30% na quantidade total de reclamações de

clientes.

Com base nas três classificações das causas raízes, as quais são

Produção, Cliente e Fluxo, a tabela 6 apresenta o cenário de 2013 e fornece os

dados da quantidade de reclamações e suas causas.

50

Tabela 6 - Causas das reclamações de 2013

Causa Reclamações

Produção 31

Cliente 55

Fluxo 11

FONTE: Planilhas internas da Indústria Química (2013)

O trabalho identificou como ponto crítico do processo o parâmetro

Produção. Em 2012 este índice apresentava um total de 76 reclamações e em

2013, diminui para 31, representando uma redução de aproximadamente 60%,

apresentando uma melhoria no processo e eficácia do trabalho.

Um estudo mais específico dos desvios de Produção das reclamações de

2013 foi realizado pelo time da qualidade e os resultados estão apresentados a

seguir.

1. Fora da especificação: Sólidos e viscosidade.

2. Aparência: Gel, brilho e cor.

3. Desempenho: Eficiência.

Comparando os resultados de 2012 e 2013 é possível concluir que, com a

nova medida adotada, ocorreu uma melhora significativa nos parâmetros de

engenharia.

5.1.5 Etapa Controlar

A medida de controle adotada pela indústria era apresentar diariamente,

em reuniões com os responsáveis de cada área, o indicador-chave de

desempenho do número de reclamações de clientes a fim de monitorar a

efetividade do novo processo.

51

6 CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com os dados apresentados em Resultados e Discussões, foi

possível constatar que muitas reclamações de clientes do ano de 2012, estavam

relacionadas principalmente com desvios de Produção e, estas eram, em sua

maioria, referentes às primeiras sequências de embalagens.

A Indústria Química recebeu um total de 136 reclamações de clientes no

ano de 2012 e 97 em 2013. Analisando somente este índice, foi possível observar

uma redução de aproximadamente 30% do número total de reclamações, fato que

comprova uma melhoria.

Como mencionado, as causas raízes das reclamações podem ser

classificadas como Produção, Cliente ou Fluxo. O índice que apresenta um real

desvio de produção é o classificado como causa raiz de Produção. Em 2012, a

indústria obteve um total de 76 reclamações identificadas como Produção e, este

índice, diminuiu para 31 em 2013. Este resultado apresenta um decréscimo de

59,21%.

Portanto, é possível concluir que após o uso da nova técnica empregada

de análise da primeira embalagem, foi permitido obter um decréscimo significativo

na quantidade de reclamações de clientes relacionadas com a qualidade do

produto final.

Para futuras pesquisas de melhorias na qualidade da Indústria Química,

sugere-se uma maior integração entre as áreas da qualidade e da produção, com

a finalidade de reduzir cada vez mais, o número de reclamações de clientes e,

consequentemente, a fabricação de produtos conformes.

52

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