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    Xamanismo Urbano

    Nokhooja

    Temos tido mais do que o suficiente sobre fatos externos, mais que algum erudito, em

    algum momento, possa ser capaz de juntar em um todo, o suficiente para manter todos

    os que lidam com conhecimento ocupados pelo resto de seus dias. Mas, sobre os fatos

    internos - aquilo que acontece no ponto onde nascem as foras do nosso destino - ns

    ainda estamos totalmente ignorantes. (W. Barret)

    Atualmente, estamos diante de uma mudana na viso cientfica da ecologia. Oambiente urbano e a interferncia do ser humano esto comeando a entrar na equao eno mais esto sendo tratados como se fossem estruturas complexas a serem ignoradasou repudiadas. J podemos encontrar (principalmente nos pases do dito PrimeiroMundo) cursos de ps-graduao em Ecologia Urbana e Ecologia Humana.

    Por isso, preciso enfatizar que a sada do homem (em termos gerais) no parece maisse tratar de tentar voltar a um estado natural e primitivo, de coletores ou caadores dafloresta. muito comum ainda, uma postura romntica e saudosista em relao ao meioambiente. Os rios da cidade so importantes, o verde da cidade importante, semdvida, mas a proposta vai muito alm disto. A sociedade e cultura evoluram demais e dentro do padro de realidade atual que devemos buscar as respostas.

    Se tentssemos imaginar um ambiente urbano rico em vegetao, cursos de gua eanimais silvestres, ainda assim, restaria a pergunta: o ser humano seria capaz de serelacionar com o meio ambiente e consigo mesmo de forma mais harmnica? Haveriaum salto em termos de conscincia, atitudes, conhecimento, capacidades,emocionalidade? Haveria alguma mudana efetiva na relao entre os habitantes dacidade, no sentido de aumentar o grau de sensibilidade frente s necessidades e direitosdo outro e ao mesmo tempo, uma percepo e maior daquilo que o dever de cada um?

    Sem dvida, estas perguntas envolvem muitas reas para serem respondidas de formaampla e adequada. Mas ainda assim, qual o tamanho da "fatia" que envolve a relaocom o meio ambiente?

    Reconhecendo dos Antepassados

    Os povos indgenas tm um enorme arsenal de informao sobre a natureza, o homem e

    a relao equilibrada entre ambos. Desde suas crenas acerca do mundo espiritual atseu conhecimento sobre as florestas, agricultura e tcnicas de cura, essas sociedadesrepresentam uma oportunidade para novas interpretaes sobre o mundo e sobre ns

    mesmos. (Congresso dos EUA)

    Os povos antigos podem nos ajudar a compreender muitas coisas. Apesar da realidadeatual ter mudado tanto e em to pouco tempo, ainda assim, alguns elementos essenciais

    permanecem os mesmos, e se expressam fortemente. Se foram ou no empurrados parao inconsciente, isto abre outra discusso, que ser retomada adiante.

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    O xamanismo pode ser categorizado como a tentativa de situar o indivduo para alm darealidade consensual com a qual a maioria das pessoas est identificada e, deste ponto,sua relao com o ambiente e com os outros seres , conseqentemente, mais harmnicae adequada..

    O xamanismo est baseado em mtodos e tcnicas bem precisas. No se trata portanto,

    de uma religio com um conjunto fixo de dogmas. Mas, o xamanismo tem comoobjetivo bsico gerar indivduos que estejam a "servio". Ele no lida com jogos de

    poder e vantagens de qualquer espcie, sejam polticas, monetrias, sexuais, etc.. Issono acontece devido a um aspecto moralista ou que de alguma forma imposto aoxam. Ao contrrio, comum encontrarmos citaes onde o xam se mostra comoalgum esperto e que pode ludibriar as pessoas. Ou seja, as regras que norteiam suaconduta no nascem de fora, mas sim, de uma percepo acurada da realidade e seguemum padro tico determinado por um tipo de sabedoria superior e no por um conjuntode acordos vantajosos que normalmente norteia o modo de agir da maioria dos homens. bom esclarecer, que falamos aqui do real xamanismo. Casos de embuste esto

    presentes em todos os campos.

    Aprendizado

    Voc um Deus?", perguntaram ao Buda. "No", ele respondeu."Voc ento um anjo?" "No.""Um santo?" "No.""Ento o que voc ?"O Buda respondeu: "Eu estou desperto."

    As tcnicas que levam o xam a atingir o conhecimento que lhe caracterstico, passamnecessariamente atravs da experincia pessoal, e este conhecimento diz respeito a si

    mesmo, ao homem e a relao deste com a terra. Essas tecnologias formativas envolvemrituais, iniciaes, sonhos, cnticos, "jornadas" feitas atravs de tcnicas sofisticadas devisualizao e imaginao ativa, etc. Elas conduzem uma jornada em direo aomundo interior em busca de sua origem ou raiz. Comeam por um nvel pessoal, depoissocial, tribal e vo em direo aquilo que chamado de "mundo subterrneo". Essadimenso tem uma influncia transformadora no desenvolvimento do indivduo, poisutiliza imagens universais, acerca da origem e destino do homem, o que termina porgerar um conhecimento e emocionalidade bastante especficos e o desenvolvimento decapacidades especiais.

    Alguns aspectos bsicos de seu treinamento podem ser aqui apresentados de formaresumida. Esse treinamento apresenta duas dimenses: uma dela pessoal, onde o xam

    desenvolve capacidades e qualidades e a outra "relacional", ou seja, envolve oambiente onde ele vive, seja a floresta ou a cidade.

    Inicialmente, o xam levado a desenvolver uma atitude bsica que o diferenciafortemente do meio social: ele capaz de exercer e manter uma maior capacidade deateno. Assim sendo, ele consegue obter informaes do ambiente que so maisobjetivas, ou dizendo de outra forma, menos poludas por seus aspectos pessoaisinternos. a partir dessa apreenso limpa e intensa da realidade que ele comea o seuaprendizado. Ele pode, observando e interagindo com o meio, obter conhecimento. Ou

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    seja, ele treinado a buscar no ambiente uma atuao mais interativa e isso se tornapossvel graas ao seu poder de ateno. O desenvolvimento da capacidade de ateno eobservao voltadas para si permite ao xam ter conscincia de seus limites que oseparam da realidade, e tambm de seus potenciais, que devem ser despertados paraque ele possa interagir de forma adequada com o meio. Por outro lado, esta ateno,quando voltada para o ambiente, permite ao praticante o uma percepo da vitalidade

    aparente e do conjunto de foras e smbolos sutis que atuam de forma consciente ouinconsciente sobre os indivduos e sobre a prpria terra.

    O segundo componente apoia-se num tipo de sensibilidade, que desenvolve-se a partirde uma atitude que poderamos chamar de "identificao". Os xams possuem umamaior capacidade de identificao com a meio ambiente e no se distraem facilmentecom seus prprios contedos internos ou com eventos socialmente impostos ouvalorizados. Geralmente, ele treinado a buscar estabelecer relaes com elementos quetranscendem a realidade ordinria com a qual a humanidade normalmente se identifica,que na maioria das vezes, resume-se em constructos mentais formados internamente.

    A partir disso, numa escala crescente, ele direcionado a sensibilizar-se a blocos de

    eventos, onde existe a busca por apreender totalidades ou padres mais globais eunitivos. Disso nascem as histrias onde o xam descrito como aquele que consegue

    prever os acontecimentos por causa do canto de um determinado pssaro, ou que capaz de fazer chover, etc. O pressuposto aqui de que o xam mantenha uma posturaonde a relao com a realidade, seja sempre nova. Ele relaciona-se com o evento queest ocorrendo no momento presente e no com uma memria formada anteriormente.

    O passo seguinte consiste em aprender a entrar em contato com a natureza das coisas oudos eventos, ou de outra forma, com a sua realidade essencial. Isso somente possvelse a pessoa em treinamento capaz de se "transformar" no objeto ou assumir a suacaracterstica de "ser". Neste campo surge o trabalho j bem conhecido com o "animalde poder", que no necessariamente um animal "real", mas sim um estado ao qual oxam tem acesso e capacidade de expressar e controlar.Desse treinamento bsico, associado com muitas outras tcnicas paralelas, surge aos

    poucos, a capacidade de entrar em contato com algo que transcende os prprioselementos da realidade, mas que a causa deles. Disso nasce um conhecimento objetivoe sofisticado que envolve as relaes e modo de atuao, as causas e conseqncias doseventos da realidade, como se tudo estivesse unido em uma totalidade e cada ato fizessetoda essa "totalidade" modificar-se delicadamente. Disso nasce tambm a capacidade deestar a "servio". Ela repousa nesse conhecimento e apreenso sofisticada da funo eda necessidade de cada pequeno elemento da realidade.

    A emocionalidade um fator fundamental e tambm treinada e desenvolvida ao longo

    do processo, em vrios nveis de sofisticao. Ela deixa de ser reativa e passa a serativamente gerada, com a inteno de ampliar a qualidade do contato com o ambiente.Alm disso, as emoes servem como um tipo de "combustvel" para que o praticante

    possa entrar em contato de forma harmnica, com as reais necessidades do momento etambm, seja capaz e agir de forma eficiente. Elas so tambm, em grande parte, portasde acesso aos nveis inconscientes, tendo um papel fundamental no trabalho queenvolve os "mundos subterrneos". A emoo se associa ao conhecimento acimareferido, conferindo a ele uma coloratura onde no mais h diviso entre ambos.Podemos dizer que nesse ponto o xam atinge aquilo que dentro do Sufismo chamado

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    do "conhecimento do corao". No um conhecimento intelectual, mas sim umaqualidade de ser e agir, que permanece totalmente integrada com os processos.

    As sensaes, pensamentos, emoes e decises de um indivduo com este grau deconscincia levam em conta informaes de vrios nveis, que so englobadas emtotalidades crescentes e disso que resulta a capacidade de interagir consigo mesmo e

    com o meio de forma responsvel, respeitosa e harmnica.

    Os tpicos acima consistem em apenas uma pequena pincelada sobre um assunto que vasto demais para ser detalhado aqui. Mas, em linhas gerais, eles conduzem nossosolhos para uma outra direo. E essa direo para dentro de cada um de ns, nosentido de nos perguntarmos: quais so as foras que puxam os fios de nossa existncia,crena, atitude, emocionalidade e que na maior parte das vezes, nos fazem passar a vidatoda como nada mais que marionetes? Ser que algum de ns alguma vez teve umvislumbre do que a realidade, do significado que existe por trs da relao que temoscom o meio e com os outros seres que nos cercam? O quanto estamos fazendo nosentido de sermos capazes de atingirmos uma qualidade maior em temos de nossacompreenso e atitude para com o ambiente que nos cerca?

    Atuao

    Isto ns sabemos: todas as coisas esto conectadas como o sangue que une uma famlia. O

    que recair sobre a terra, recair sobre os filhos da terra. O homem no tece a teia da vida. Ele

    apenas um de seus fios. O que quer que ele faa teia, ele faz a si mesmo. (ndio norte-

    americano).O xam, originalmente, busca ajudar a realidade como um todo, mas num sentido quetranscende a prpria realidade comum. Ele est a servio do Grande Espirito ou da Me

    Natureza e, como conseqncia disto, ele pode interferir na evoluo de suacomunidade e de seu meio ambiente.

    O carter mais comum de sua atuao geralmente relaciona-se com o aspectoteraputico, onde a cura de doenas fsicas ou psquicas conseguida atravs de vriosmtodos bastante bem descritos na bibliografia. Porm, a cura no se restringe aoaspecto individual. A cura pode voltar-se toda a comunidade, onde por exemplo, oxam sonha com eventos do futuro ou com elementos de risco que podem envolvermudanas na hierarquia da tribo ou at mesmo na sua localizao. Pode tambmenvolver uma interferncia na geografia do lugar, por exemplo, a criao de um ttemem um ponto determinado, a alterao de um curso de gua, a mudana em relao aos

    pontos cardeais, o aterramento de pedras grandes ou pequenas, devidamentetrabalhadas, em pontos especficos, etc. Toda essa atuao consciente sobre a paisagemlida com fluxos de energia telrica de diferentes intensidade e qualidade, e que afetamtoda a comunidade. O xam capaz de "perceber" essas correntes energticas e atuar nosentido de harmoniz-las. Disto nasce o que poderamos chamar de "mitologia da

    paisagem" onde alguns pontos especiais (comumente chamados de pontos de poder)passam a ser reverenciados ou protegidos pois so pontos que mantm a "sade" datribo e do lugar.

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    Mas, o aspecto da cura pode ir ainda mais alm, quando adentra o campo das deidades eseus mitos, muitas destas acessadas pelo xam e passadas para a tribo atravs de cantos,estrias, etc. Esses mitos e deuses plasmam o carter da tribo, desenvolvemcomportamentos e emoes que so frutos de um conhecimento superior, "incorporado"na deidade. O prprio aspecto do desenvolvimento espiritual pode ser aqui retomado eredirecionado, seja em termos da comunidade, ou de indivduos especialmente

    selecionados.

    Existe, porm, alguns conceitos bsicos e primordiais e um deles o conceito da terra,ou do contato com a terra. O canto com tambor, por exemplo, pode ser considerado umaforma bastante simples de contato. Nas formas mais sofisticadas busca-se o contato coma origem ou com a essncia dos fenmenos. O termo "terra" pode ser correlacionadocom o prprio universo; no apenas terra em um sentido mineral ou relativo aos

    povos indgenas ou aos animais selvagens ou floresta e rios. Engloba tudo isso, mas mais que isso.

    Partindo desse ponto bsico podemos tentar especular mais diretamente o que poderiaser um xamanismo voltado ao ambiente urbano. Seus objetivos e premissas bsicas

    seriam as mesmas do xamanismo tradicional, porm a formao do xam e seu modo deatuao seriam algo diferenciados, pelo menos no aspecto externo ou aparente.

    Poderamos dizer que o xamanismo urbano consiste no desenvolvimento de umasensibilidade e de certos potenciais que possibilitem ao ser humano entrar em hamoniacom as foras que orientam a vida urbana, com o intuito de obter uma maior qualidadede vida e um aior grau de conscincia, tanto em nvel pessoal com em nvel naturalurbano, ou seja, em nvel das informaes conscientes e inconscientes da cidade.

    Inicialmente, a tecnologia do xamanismo urbano tambm "natural". Todas as cidadesso construdas a partir de pontos de poder e se desenvolvem segundo elementosestruturais (ruas, caminhos, monumentos) de forma a manter uma relao harmnicacom o todo. Cidades como So Paulo comearam assim e depois perderam essacapacidade por causa de seu crescimento aleatrio, exacerbado e em muitos aspectos,totalmente desprovido de conhecimento. No podemos omitir aqui que esta cidade,especificamente, foi fundada por jesutas que segundo muitos estudiosos, possuamalgum conhecimento em mapear e utilizar as energias telricas.

    Basicamente, o xamanismo busca a cura da terra, da cidade e do homem da cidade.Curando a cidade o homem pode voltar a viver em um ambiente saudvel e harmonioso.Curando o homem a cidade pode viver agradecida dando ao homem seu lar e sustento eeste, numa relao de amor e respeito, pode conferir ela as qualidades realmentehumanas, que se refletiro desde a sua limpeza, passando pela relao entre seus

    habitantes e indo at sua administrao que ento poder cumprir seu papel de servir aohomem e ao ambiente social, e no a interesses pessoais, polticos e econmicos deelites.

    Portanto, o que um xamanismo urbano prope um restabelecimento de uma relaosaudvel e equilibrada dentro de um contexto urbano. Considerando que a cidade anossa Terra, onde vivemos, nos relacionamos socialmente, e tiramos, atravs dotrabalho o sustento, ela que devemos nosso amor e respeito, nela que devemos

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    colocar nossa ateno e empenho para restabelecer o equilbrio entre homem eambiente.

    O xamanismo urbano seria uma forma de trabalho que visaria, basicamente, trs formasde atuao: a) identificar os "pontos de poder" da cidade atravs de um levantamentoque, a princpio, baseia-se na histria e geografia e depois, num segundo momento,

    envolve verificaes in loco atravs de alguns trabalhos prticos; b) restaurar eequilibrar os canais de energia ou as "Linhas Ley", termo bastante antigo e bemdocumentado na literatura; esta harmonizao j poderia comear a gerar um campoenergtico de maior equilbrio que provocaria alteraes em alguns aspectos bsicos darelao do homem com o meio ambiente. c) a partir disso, o trabalho se sofistica e podeenvolver, por exemplo, a interferncia em pontos especficos, a gerao de um padroenergtico geomtrico, o estabelecimento de conexes ou ancoramentos de energias,normalmente feito atravs de imagens geradas e trabalhadas de forma consistente e que

    poderia culminar na gerao consciente de um arqutipo ou "deus protetor" que passariaento, a direcionar e manter o processo.

    Tudo isso depende da qualidade, capacidade e formao das pessoas que se propem a

    interferir. No devemos esquecer da afirmao colocada acima de que o xam est aservio de uma fora de qualidade superior e no a servio de seu ego ou desejos

    pessoais. Discernir isso j , em muitos casos, quase impossvel para a maioria daspessoas.

    Umcaso Tpico

    Basicamente, toda a cidade nasce a partir da relao entre dois elementos: a geografia,ou seja, o relevo, rios, reas frteis e de fcil acesso e a interferncia humana que

    plasma lugares para onde convergem e se estabelecem os ncleos humanos.

    So Paulo, assim como muitas outras grandes cidades foram fundadas de modo muitoespecial. Foram definidas como cidades que teriam um destaque e importncia, por issoa sua localizao, assim como a de seu marco inicial e as direes de seu crescimentoforam definidos aps um estudo cuidadoso. Como dito acima, sabemos que a ordem dos

    jesutas possua conhecimento e sensibilidade para estas constataes.

    Porm aps seu crescimento inicial, a velocidade e a direo de seu crescimento saiu docontrole e adquiriu uma forma mais catica. Fato que no ocorreu em certas cidadesEuropias como Paris, Roma e outras que obedeceram um plano diretor.Como dissemos acima, a terra, da mesma forma que o corpo humano, possui fluxos de

    energia em toda a sua extenso. Tais energias, geralmente tm origem interna; nascembasicamente do movimento do magma e das rochas no interior do planeta. Porm, essaenergia aflora em alguns pontos e flui por canais e linhas condutoras. Estes pontos elinhas podem existir de forma ativa ou em estado de latncia, possveis de seremativados. Alm dos fatores naturais, sua existncia devida tambm interferncias dohomem sobre a terra, seja de forma consciente ou no.

    Em uma cidade estes pontos e linhas encontram-se muitas vezes ativados porconstrues, igrejas, monumentos, avenidas e etc. A construo de uma igreja, por

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    exemplo pode ser feita a partir de um conhecimento prvio da qualidade energtica dolugar. Um ponto de poder pode tambm ser ativado sem um conhecimento prvio, mas

    por um tipo de sensao intuitiva de que aquele lugar parece ser o ideal. Ou podeocorrer tambm que linhas e pontos de poder possam ser estabelecidos a partir de umfluxo energtico constante desencadeado pela passagem ou visitao de um nmeromuito grande de pessoas. E, finalmente, podem ser tambm ativados consciente e

    voluntariamente por pessoas sensibilizadas e treinadas na arte do xamanismo.

    Apenas como exemplo, poderamos citar alguns pontos chaves dentro da evoluourbana e histrica da cidade de So Paulo. Destacam-se, principalmente as igrejasantigas e alguns monumentos especficos. Estes seriam o Ptio do Colgio, a Igreja doLargo So Francisco, a do Largo So Bento e a do Largo Paissandu. Dos monumentos,um dos que mais chama a ateno o que existe no Largo da Memria. Este tpico sermelhor detalhado em um outro artigo.

    Associado ao carter geogrfico e histrico da cidade est o prprio ser humano, pois ele que molda ou atua sobre o ambiente. Em termos humanos ou sociais vemos que SoPaulo enfrenta problemas muito acentuados, caractersticos de uma cidade grande

    demais e que atrai cada vez mais pessoas de todo o pas.

    Dentro da crescente expanso populacional que vivemos e das dificuldades econmicasque a populao passa podemos observar alguns problemas bsicos: a ansiedade etenso constantes, o trnsito catico, a pobreza, a violncia, as crianas ignoradas pelosistema que consomem e traficam drogas, a degenerao de lugares histricos, a

    banalizao e comercializao da sexualidade, a poluio auditiva que mostraclaramente o grau de insensibilidade dos habitantes, a poluio visual causada por umaquantidade infinita de propaganda intil e no conscientizada, e por hbitos grosseiroscomo o de pichar a cidade inteira, sem nenhum critrio, escondendo lugares de belezaarquitetnica e lugares histricos, etc. Por mais que tentssemos mapear a relao dohomem urbano comum com uma cidade como So Paulo, sempre deixaramos escaparuma infinidade de aspectos. Por isso, a discusso deve necessariamente, ser conduzida

    para uma viso mais globalizante.

    A partir do conhecimento obtido por uma anlise global, pode-se atingir uma "visodiagnstica" da cidade, que resulta em um "mapa" que engloba os aspectos fsico,emocional, psicolgico e espiritual. Dessa forma, podem ser estabelecidos quais osaspectos a ser trabalhados de modo localizado ou global dentro da cidade. A atuaoseja sobre o lugar ou sobre a povo conduz aos mesmos resultados, pois ambos estointerligados.

    Qual o sonho?

    Abandonamos apenas os aspectos verbais, e no os fatos psquicos responsveis pelo

    nascimento dos deuses Os deuses tornaram-se doenas. Zeus no mais governa o

    Olimpo, mas o plexo solar e produz espcimes curiosos que visitam o consultrio

    mdico; tambm perturba os miolos dos polticos que desencadeiam pelo mundo

    verdadeiras epidemias. (C. G. Jung)

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    Se as necessidades bsicas do ser humano forem devidamente mapeadas, muitaspessoas se surpreenderiam em perceber que elas esbarram em algo que poderamoschamar de "verdades absolutas" ou mais vulgarmente, de "necessidades essenciais".Ainda dizem respeito aos valores humanos bsicos, tais como, o belo, a dignidade, ovalor real e nico de cada ser humano, o sentido de pertencer a um lugar, ou a busca

    pela compleitude, a sensao de fazer parte de um momento histrico nico que nunca

    mais se repetir e ao mesmo tempo, pertencer a uma realidade que est muito alm destae ter a liberdade e as oportunidades de buscar por ela da forma que lhe parecer melhor,ou seja, a busca pelo sagrado ou transcendente, etc.Estes sentimentos no desapareceram mas parecem ter sido empurrados para oinconsciente, pois no mais so valorizados pelo meio social. Quando no mais

    possuem liberdade para serem vividos, esses sentimentos ou necessidades, formam umtipo de campo de informao no processada. Atuam como a "sombra" da cidade e deseus habitantes. Enquanto no forem reconhecidos e permitidos, eles se manifestamatravs das "doenas" mais variadas, desde doenas fsicas at violncia, desemprego,racismo, sujeira, depredao, misria, fome, corrupo, superpopulao, alteraesclimticas exacerbadas, etc..

    O xam aquele que capaz de mapear esse mundo inconsciente e traze-lo superfcie.Ele pode transformar esse mundo inconsciente num mundo "sonhado" ou desejado pelacomunidade. Pois, apesar das dificuldades apontadas, esta ainda a "casa" de cada umde ns e estamos unidos ao lugar onde nascemos por laos mais fortes do queimaginamos. Por isso, caberia a cada um dos habitantes a responsabilidade de tornar

    possvel aquilo que seria o "sonho" em termos do ambiente em que vivem.

    Em um primeiro momento preciso que a maioria das pessoas se torne mais sensvel e"unida" ao lugar onde vive. Esta atitude poderia iniciar um canal pelo qual, o "mundodas idias" poder se expressar. Idias e atitudes emocionais que surgiro a partir deuma constatao das necessidades e realidades objetivas, de cada um e do "outro". Ainvocao e canalizao das idias, necessidades, posturas emocionais e atitudes queestejam relacionadas diretamente ao "mundo das idias" poder possibilitar a atuao deforas transformadoras na realidade.

    O fluxo dessas foras ocorrer de vrias formas. Passa pelas linhas de energia da terra,por seus pontos de entrada e sada e canais de fluxo. Envolve tambm a qualidade dasrelaes inter-pessoais, como numa espcie de contgio, atravs de conversas, atitudes e

    pela prpria presena de pessoas que possuem uma qualidade especial pois estoenvolvidas no trabalho. Ou seja, passa pelas entranhas da terra e pelo inconscientecoletivo; povoar os sonhos, fantasias, e desejos da alma humana at que se tornerealidade.

    Passa tambm atravs dos canais por onde fluem as informaes: mdia, telefone,Internet, pensamentos, etc. A tecnologia ganha grande importncia, pois se desejamosestar em harmonia com a terra temos que estar familiarizados com a sociedadeindustrial e informatizada que vivemos.

    Cabe ressaltar que s agora graas a tecnologia, estamos ligados todos os povos domundo a toda a cultura do mundo de uma forma que nunca antes havia acontecido, eque isto pode significar uma unio e simbiose em uma forma de relao com o planeta

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    que venha a superar e transcender a qualquer forma mais particular ou unilateral derelao.

    Portanto no cabe aqui escolher um ou outro caminho mas buscar o caminho atual e dofuturo que una os povos, indo para alm das formas, que externamente so superfciesdiferenciadas por pocas e lugares diferentes, mas internamente, so a expresso de algo

    que essencial a todo o ser humano e comum a qualquer poca e lugar.