A ESPADA

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REFLEXÕES SOBRE A ESPADA REFLEXÕES SOBRE A ESPADA Pedro Moacyr Mendes de Campos A espada, utilizada na maçonaria desde tempos antigos e remotos, ainda permanece com sua simbologia própria e inalterável. Símbolo da de destruição, da manutenção e recuperação da própria dignidade apesa com absoluta energia, o símbolo da justiça. Símbolo, muitas vezes desperto da virilidade e como símbolo fá raras personalidades "istóricas, guarda para si e para #uem a poss da vitória, da justiça. $ntretanto, na refle!ão de sua própria sim de se #uestionar #uanto sua e!istência e manutenção em ritos e c amor, a paz e a "armonia enaltecem sobremaneira os três objetivos liberdade, a igualdade e a fraternidade. $ para a sustentabilidade prefaciamos os trabal"os com a anunciação dos propósitos de cavar edificando templos virtude. $, concluímos com altos brados, dese "armonia e concórdia, ou, em cadeia louvamos nossa união, ao som d (ozart. )a revolução francesa, foi dado o brado, liberté, égalité ou mort, com a espada em movimentos e silvos breves e agudos, como instrumento de defesa desta prerrogativa. *esembain"ar uma espada significava uma ação destru de morte declarada aos inimigos deste ideal. $mbain"a+la s vigil ncia a espera de um ata#ue iminente. $ntretanto, na maçonari igualdade e a fraternidade não sustentam paradigmas dogmáticos de mas sim fundamentos filosóficos de comportamento social. Seja para o neófito, seja no início de uma sessão, encontramos armado com uma espada, em posição de defesa significando protegido após a verificação armada, interior e e!teriormente. )e elas estão, mas mão dispostas ao pronto estabelecimento da ordem julgado necessário. -ouvores ao ato "eróico, vol vel e ac pergunto' o poder de destruir o mal para preservação do bem e da uso da força/ Simbólico ou não, verifica+se, em loja, a manifestação do prop predisposição luta armada, tendo+se a impiedosa demonstr física % um pressuposto indel%vel de permanente estado de místico significado simbólico de uma filosofia e!istencial. 0iloso em uma cerim&nia, onde a virtude % uma arte #ue deve ser cultivada o amor, o #ue justifica, jamais ser necessário metaforizar perfeita aceitação e compreensão de um comportamento, onde potencial defesa, parece satisfazer uma necessidade oculta. $ i estamos cultivando conceitos antag&nicos, com padr1es distorcidos pela própria definição, onde o simbolismo de um objeto, cujo valor intrínseco a significado, nos leva a contradiç1es evidentes. $n#uanto a justiça "umana tem como símbolo a espada, não como como fiel de uma balança, manifestação da verdade, nica e imparci a espada como símbolo da defesa armada. 2ma contradição, como já m 3

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Espada

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REFLEXES SOBRE A ESPADA

Pedro Moacyr Mendes de Campos

A espada, utilizada na maonaria desde tempos antigos e remotos, ainda permanece com sua simbologia prpria e inaltervel. Smbolo da defesa impiedosa, da destruio, da manuteno e recuperao da prpria dignidade apesar de sua essncia, com absoluta energia, o smbolo da justia.

Smbolo, muitas vezes desperto da virilidade e como smbolo flico, exceo de raras personalidades histricas, guarda para si e para quem a possui, o poder de posse, da vitria, da justia. Entretanto, na reflexo de sua prpria simbologia e significado, de se questionar quanto sua existncia e manuteno em ritos e cerimnias onde o amor, a paz e a harmonia enaltecem sobremaneira os trs objetivos da instituio: a liberdade, a igualdade e a fraternidade. E para a sustentabilidade dessas prerrogativas, prefaciamos os trabalhos com a anunciao dos propsitos de cavar masmorras ao vcio, edificando templos virtude. E, conclumos com altos brados, desejando a todos, paz, harmonia e concrdia, ou, em cadeia louvamos nossa unio, ao som de uma cantata de Mozart.

Na revoluo francesa, foi dado o brado, libert, galit ou mort, com a espada em movimentos e silvos breves e agudos, como instrumento de defesa desta prerrogativa. Desembainhar uma espada significava uma ao destrutiva, ou seja, a pena de morte declarada aos inimigos deste ideal. Embainha-la significava o alerta, a vigilncia a espera de um ataque iminente. Entretanto, na maonaria, a liberdade, a igualdade e a fraternidade no sustentam paradigmas dogmticos de lutas ou de revoltas mas sim fundamentos filosficos de comportamento social.

Seja para o nefito, seja no incio de uma sesso, encontramos o guarda do templo armado com uma espada, em posio de defesa significando que o templo est protegido aps a verificao armada, interior e exteriormente. Nem sequer embainhadas elas esto, mas mo dispostas ao pronto estabelecimento da ordem e da defesa quando julgado necessrio. Louvores ao ato herico, volvel e acadmico, apenas, todavia, pergunto: o poder de destruir o mal para preservao do bem e da justia dependem do uso da fora?

Simblico ou no, verifica-se, em loja, a manifestao do propsito inaltervel da predisposio luta armada, tendo-se a impiedosa demonstrao de que, a agresso fsica um pressuposto indelvel de permanente estado de alerta, em oposio ao mstico significado simblico de uma filosofia existencial. Filosofia esta, desenvolvida em uma cerimnia, onde a virtude uma arte que deve ser cultivada com a palavra, com o amor, o que justifica, jamais ser necessrio metaforizar um procedimento para a perfeita aceitao e compreenso de um comportamento, onde desafio armado com potencial defesa, parece satisfazer uma necessidade oculta. E isto nos leva a crer que estamos cultivando conceitos antagnicos, com padres distorcidos pela prpria definio, onde o simbolismo de um objeto, cujo valor intrnseco ao seu significado, nos leva a contradies evidentes.

Enquanto a justia humana tem como smbolo a espada, no como arma, mas como fiel de uma balana, manifestao da verdade, nica e imparcial, a maonaria tem a espada como smbolo da defesa armada. Uma contradio, como j mencionado, aos princpios de uma filosofia que tem como vetor direcionado pesquisa da verdade. E a verdade no se conquista com a fora, afinal a verdade no patrimnio de ningum, uma revelao da essncia da natureza humana, o amor.

Paradoxal comportamento, onde gesto e palavra se contradizem, manifestando-se em linha de coliso permanente, pois desde quando honra e dignidade se defende com arma? E a palavra, onde fica? Os grandes heris e conquistadores, em toda histria da humanidade, mantm sua plenitude atravs das armas enaltecendo o refro, se queres a paz, arma-te. Entretanto na maonaria todos nossos princpios nos levam a entender que, se queres a paz, ama teu prximo como a ti mesmo. A espada uma arma prpria execuo, morte com requinte de crueldade. Est associada ao prprio juramento penalizando o perjuro cortando sua cabea, dilacerando seu peito, arrancando suas vsceras. E assim, ela est associada lei dos contrrios, dos opostos, da diviso, seja da unidade ou da pluralidade. Admitamos pois, sua integridade pela propriedade fsica de atrair a energia csmica, transferindo-a ao seu portador que se potencializa como transmissor de suas virtudes.

A essencialidade e a existencialidade da instituio manica se contradizendo em seus prprios conceitos. Se extrado esse comportamento de nossa histria, onde a necessidade ao confronto era necessrio preservao de princpios ou segredos, inerentes ao sucesso material de uma atividade, quando lojas de pedreiros reuniam-se para discutir o andamento das suas construes de templos, hoje, bem o sabemos, procuramos construir tambm templos, mas templos de comportamento social. Comportamento estruturado na moral e na preservao da dignidade. Mesmo assim, permanecemos inflexveis quanto associao de virilidade com o porte e manuseio de uma arma.

Conservemos a espada, sim, no como arma e seu simbolismo pretendido defesa ou ataque. Conservemos seu simbolismo prprio preservao da retido, da lealdade, e, com o poder da palavra, da honra e da dignidade.

tambm por demais estranho, ser alheio ao entendimento quando um maom, em sociedade, em permanente transformao evolutiva de conhecimento, globalizando conceitos e comportamentos, permanece irredutvel quanto a conceitos que persistem em situar-se no altar dos arqutipos emancipadores, onde f e crena dissociam-se em sua plenitude . Resiste a qualquer inovao, ou renovao ou mesmo ao renascimento de comportamentos precisos, no apenas tolerveis, mas amplamente divulgados quanto a sua plena necessidade de permanncia construtiva em parceria com a prpria evoluo.

Os ritos, mesmo que estabelecidas excees, necessrias e evidentes, persistem, pela fora dos prprios ritualistas, quanto permanncia de smbolos como a espada, apesar da evidente constatao de seu uso suprfluo, arrogante, prepotente e agressivo, pois muito bem sabem eles, que a evangelizao dos conceitos bsicos, so apenas tolerveis circunstncias.

Existem ritos, que mesmo aps transformaes diversas houveram sofrido, utilizam a espada para verificar se o templo est protegido, mesmo que simbolicamente. Mas h tambm ritos, que o prprio corpo de obreiros, antes da sesso, aps a solicitao para entrar no templo, so recebidos por um irmo, um guardio, no com a espada em riste, mas em posio de defesa, em direo aos prprios irmos. Mas o que significa tudo isso? Que simbologia essa que transforma a palavra, smbolo ureo da dignidade e da honra, em ameaa de defesa e luta armada?

Mais agravante, a cesso da luz ao nefito. Os irmos que o recebem, lhe do a luz ameaando-o com espadas a ele dirigidas. Por que no com as mos estendidas em sinal de chamamento ao caminho da luz, da verdade, da harmonia, da concrdia e da virtude? Mas no, com a espada a ele dirigida, smbolo da defesa de um ideal, de uma casta, de uma sociedade, de uma instituio que o seja, mas sempre com o instinto de guerra, de luta armada, subjugando o suposto pretendente inimigo.

Julgo ser algo a considerar, haja vista o paradoxal sentido desta simbologia, ou mesmo de um cerimonial onde as leis morais rezam e direcionam o comportamento ideal. E isto no acontece com uma arma, com uma espada, faz-se, isso sim, exclusivamente com a palavra, pois caso contrrio, trata-se de uma suposta prerrogativa do direito de subjugar-se o ser pelo ter.

Talvez uma idia a ser amadurecida, um novo modelo necessrio simbologia autntica e suficientemente abrangente quanto s nossas necessidades de defesas, afinal sentimo-nos, por acaso, aliviados quando protegidos por um guarda portador de uma espada? Evidente que no. Temos necessidade de um pacto com todos, um pacto de fortalecimento de nossos ideais estruturados em um princpio nico: a filosofia do amor e da verdade como paradigmas do comportamento ideal.

Ora, tenhamos um mnimo de sinceridade: a maonaria no tem como funo ou finalidade determinante de sua existncia, o que proclamamos de caridade. A beneficncia manica, por mais justa e perfeita que possa parecer, at pode traduzir nossa sensibilidade social. Entretanto sabemos que no se trata, fundamentalmente de usufruir os ensinamentos de Francisco de Assis, na forma de caridade social, pois o mesmo Francisco, na sua totalidade como homem justo e perfeito, essencialmente completo, tratava das causas das necessidades sociais apenas com a palavra.

Faamos, pois da espada, no uma arma, mesmo que de forma simblica, mas sim, transformemos em algoritmo prprio ao despertar de uma nova ordem. E sem eufemismos ritualstica, consideremos a espada, no portadora, mas esculturada ou depositada em local prprio, como smbolo da inteligncia e da conduta, tal qual arqutipo do saber, pois sua utilizao de forma correta ou no, demonstra a preocupao atravs de erros e acertos de nossa exclusiva responsabilidade.

Por essa razo creio que a transformao da espada objeto, em espada palavra, seria a definitiva aglutinao dos conceitos gerais de liberdade, de fraternidade, de igualdade. Seramos os cavaleiros da verdade, armados no com espada, mas com o verbo. Seramos os construtores do grande templo, o templo da sabedoria, pois sabemos todos, que o princpio que nos rege, fundamenta-se no testemunho da sabedoria quando nos conscientizamos, de que o nosso objetivo est na prtica do amor ao prximo, isto , ama teu prximo como a ti mesmo.

No princpio era a Palavra e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus. No princpio ela estava com Deus. Todas as coisas foram feitas por meio dela e sem ela nada se fez do que foi feito. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos seres humanos. A luz brilha nas trevas, mas as trevas no a compreenderam. Jo 1,1-5PAGE 3