Apostila de Psicologia da Educação

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SEGUNDA PARTE

O COMPORTAMENTO E AS FORCAS QUE ATUAM SOBRE ELE exatamente um para a busca ato se o s de objetivos para que O um faz do comportamento como quando gasto todo sente um que integrado. dirige (David valor deste organismo objetivo ao superior

alcan-lo.

Birch)

Comportamento humano, objeto da Psicologia

ela obedea, a circunstncia de que todos os alunos da classe esto olhando em sua direo, a atmosfera da sala de aula etc. Mas a conduta de Marilene tambm depende de foras internas: o respeito que ela sente pela autoridade, seu desejo de agradar professora, de ser uma criana bem comportada, e tambm sua averso a ser o foco de ateno de toda a classe. Embora a tentativa de distinguir foras internas e externas parea introduzir uma nota artificial na nossa anlise do comportamento humano, ela nos auxilia no sentido de obtermos uma melhor compreenso do mesmo.

Uma das maneiras de encarar o comportamento consider-lo produzido por foras que atuam dentro do indivduo e foras exteriores

ao indivduo. (L. Lindgren)

QUE VEM A SER COMPORTAMENTO?Comportamento uma ao empreendida por um organismo em resposta a um objetivo do meio interno ou externo. Se algum est sentado e de repente lhe vem cabea: "Preciso falar urgentemente com o Dr. Silva" e levanta-se e sai, realiza, assim, um comportamento. Podemos, tambm, definir comportamento como uma reao global ou um conjunto de reaes do organismo que podem ser observadas objetivamente. Diz-se "observadas objetivamente" por se tratar de um objeto de pesquisa ao alcance do mtodo cientfico, empregado pela Psicologia. Por "reao global", queremos significar aquela em que entra o organismo como um todo. Se for aplicada uma ligeira alfinetada numa pessoa que est dormindo ou distrada, ela poder recolher o p, sem perceber que o est fazendo. Essa reao reflexa no atinge o organismo como um todo, mais um fragmento de comportamento ou uma resposta reflexa. Um comportamento, normalmente, implica uma seqncia de atividades orientadas para um objetivo. Todo comportamento ou atividade tem uma causa atual que o produz. Uma pessoa est caminhando de forma vagarosa. A causa pode ser um estado de depresso, uma perturbao de natureza fsica ou psquica, como pode ser simplesmente seu modo habitual de andar. Quando se observa algum mudar seu padro de ao, pode-se levantar a hiptese de que houve alguma causa responsvel por tal mudana, pois todo comportamento possui causa. 73

O que acontece quando o indivduo "age" quando se move ou executa uma seqncia de aes? s vezes, o indivduo literalmente empurrado para agir de determinada maneira. Outras, existe nele um sentimento que o leva execuo do ato, mas, o mais provvel que seu modo de agir seja o resultado da interao de vrias foras, tanto internas como externas. Por foras "internas" designamos nossas necessidades, desejos, ansiedades, interesses, sentimentos de culpa etc. Por foras "externas" compreendemos as exigncias da sociedade, recompensas, perigos, ameaas e as expectativas de outras pessoas. Muitas vezes difcil dizer onde termina a presso interna e onde comea a externa, e a distino entre foras internas e externas no muito clara ou precisa. Todas as foras so, at certo ponto, tanto externas como internas. Por exemplo, dona Alice pede pequena Marilene que preste ateno aula, advertindo-a de que as crianas no devem conversar quando a professora est falando. Marilene pra de falar e presta ateno professora. Em parte, ela o faz devido atuao de foras externas: o pedido da professora, o fato de a professora esperar que 72

PARA COMPREENDER O COMPORTAMENTOH dois tipos bsicos de comportamento: o consumatrio e o instrumental. Comportamento consumatrio aquele em que a ao se realiza na execuo e na consumao do prprio objetivo. O ato de jantar e de tomar banho, por exemplo, se constitui numa srie de atividades que se sucedem para a consecuo desses objetivos. Comportamento instrumental uma srie de atividades em prol do objetivo que dever ser conseguido. Jogar na loteria esportiva, isto , preparar o jogo, ir loja, marcar o carto, pagar, receber o troco um comportamento instrumental ou consumatrio? Ganhar o "bolo", acertar os treze pontos ou, mais precisamente, receber o dinheiro e comear a gast-lo, um comportamento consumatrio ou instrumental? Para a primeira interrogao a resposta instrumental e para a segunda, consumatrio. Os comportamentos instrumental e consumatrio so interdependentes. Depois da atividade instrumental, segue normalmente a consumatria. A atividade instrumental dirigida para o objetivo e a consumatria a execuo e a consumao do objetivo visado pela primeira. A intensidade da atividade instrumental aumenta medida que esta se aproxima do objetivo. Imagine a intensidade da busca de gua (o objetivo) por algum com muita sede. Avistando o bar ou o bebedouro, no se contenta em caminhar, corre. Na atividade consumatria d-se o contrrio, a intensidade decai medida que ocorre o consumo. Na consumao de um chocolate desejado, por exemplo, a intensidade sobe at um ponto mximo e depois comea a cair medida que ocorre a saciedade ou a reduo da necessidade. H um efeito enfraquecedor na atividade consumatria. Sua curva aproxima-se da forma de um U virado ( D ) representando a ascenso rpida das energias, o ponto culminante e o declnio. Talvez esta caracterstica do'comportamento consumatrio explique a fugacidade da moda. A princpio, o consumo da novidade intenso, atinge um mximo. Se msica, passa a ser tocada com grande freqncia, e com a saciedade ou anulao do estmulo vem a fase descendente do comportamento consumatrio, chegando a ponto morto. 74

O COMPORTAMENTO INSTRUMENTALO comportamento instrumental apresenta vrios elementos. Cronbach, psiclogo contemporneo, apresenta sete elementos fundamentais: Objetivo. Nvel de amadurecimento. Situao. Interpretao. Resposta. Conseqncia. Reao ao obstculo. Expliquemos cada um destes elementos: Objetivo. Qual seria o objetivo do comportamento daquela jovem que, de repente, levanta-se e diz: "Preciso falar urgentemente com o Dr. Silva"? Todo comportamento dirige-se para um objetivo, um alvo, uma finalidade qualquer. A funo do objetivo, no comportamento, dirigir a ao. Qual o objetivo deste comportamento que se chama "estudar"? Ou desta srie de comportamentos que se chama "fazer o curso secundrio, fazer o curso superior"? Haveria neles um s objetivo, ou vrios? Nvel de amadurecimento. Qualquer comportamento tem uma condio sine qua non: o amadurecimento para faz-lo. Snia, a moa que procura o Dr. Silva, capaz de se dirigir ao consultrio de um mdico porque j tem 23 anos. Aos quatro, seis, oito anos no ia, sozinha, ao centro da cidade consultar um mdico. Montar a cavalo, dirigir automvel, escrever mquina, cada uma dessas atividades exige amadurecimento. O nvel de amadurecimento consiste, pois, na soma total de padres de respostas e habilidades que possui o indivduo em determinada fase do seu desenvolvimento. Situao. Consiste no conjunto de elementos, tais como coisas, pessoas, smbolos, qualidades, tudo, enfim, que possibilite a consecuo do objetivo. Para Snia alcanar o Dr. Silva, tinha necessidade de um conjunto de elementos, sem os quais seria difcil chegar at l: um sistema de transportes, dinheiro, certos preparativos indispensveis etc. Outro exemplo: os romanos e os gregos desenvolveram pouco a Aritmtica, por no possurem smbolos apropriados. Tente fazer uma pequena conta de diviso com algarismos romanos. 75

O comportamento uma estrutura, isto , uma totalidade resultante da unio dos elementos que chamamos de situao. A polcia encontra um decorador morto com sete tiros, num. ponto turstico da cidade. O assassinato foi um comportamento. Houve, portanto, um conjunto de elementos, relacionados entre si, formando um todo, uma estrutura, da qual resultou a ao. Por exemplo, o decorador era pessoa de vida irregular, queria agora desquitar-se de uma senhora velha e rica com quem se casara, por interesse. Os parentes no aceitavam esta situao. Ora, tais elementos se estruturaram de tal modo que o assassinato resultou, de modo fcil, da situao. Interpretao. a anlise dos elementos da situao feita pela pessoa. Nem sempre os elementos a escolher (os meios) para alcanar o objetivo so to simples. Quantas vezes no ficamos perplexos entre este e aquele caminho a seguir! O ato interpretativo fundamentalmente um ato de inteligncia. Os que tm inteligncia intuitiva, rpida, num insight (vide glossrio) percebem os elementos adequados para o objetivo. Nos de inteligncia mais analtica, a interpretao se faz de maneira mais lenta, examinando cada elemento da situao de modo mais detalhado. Os que tm pouca inteligncia topam logo com um obstculo pela frente. Resposta. Quando Snia, no nosso caso, se levantou e partiu para o consultrio do Dr. Silva, tinha um objetivo, evidentemente. Interpretou os elementos da situao. Tinha amadurecimento mental e fsico e no ato de partir estava apenas desencadeando a ao dando a resposta. Esta significa tanto a prpria ao como a transformao interior que determina a ao. Resposta a execuo de acordo com a interpretao da situao. Quando algum duvida da sua interpretao, d sua resposta um carter de primeira tentativa. Esta passa a ser uma resposta provisria. Qualquer que seja a resposta, h sempre uma descarga da tenso acumulada anteriormente. Conseqncia. Tanto no campo da Fsica como no da Psicologia, a toda ao corresponde uma reao. Toda resposta ou ao do comportamento tem uma conseqncia que pode ser boa ou m, isto , favorvel ou no. Se a interpretao for bem feita, a pessoa alcanar o objetivo, advindo da satisfao. Se houver alguma falha, no se obter o alvo desejado, ocorrendo, ento, em maior ou menor grau, a decepo. Quando no se alcana o objetivo porque houve um obstculo. Reao ao obstculo. As reaes subjetivas, ante o fato consumado de no se haver alcanado o objetivo, podem ser vrias, de acordo com as diferenas individuais ou grau de maturidade ou de 76

normalidade psquica de cada um. O essencial, no caso, procurar descobrir qual a dificuldade que impediu a realizao da meta. A seguir, tentar uma nova interpretao. H quem, achando o objetivo alto demais, tente um mais modesto, como h quem desista, simplesmente. Algumas pessoas apelam para seus mecanismos internos de ajustamento, procurando sadas mentalmente normais como a sublimao, a compensao, a racionalizao etc. Sublimao o ato de substituir a frustrao por atividades mais elevadas de ordem artstica ou religiosa. Uma boa msica, um ato religioso, uma atividade artstica vivida intensamente, aliviam a conscincia traumatizada. H, finalmente, quem recalque as frustraes, extremando-se em comportamentos desajustados, como choro convulsivo, agressividade etc.

COMPORTAMENTO E HBITOTodo comportamento pode se transformar, com a repetio, em um hbito. Assim, caminhamos, jogamos, escrevemos, comemos, levados por uma srie de comportamentos habituais ou simplesmente hbitos. Alguns hbitos se organizam em padres de comportamento, isto , em formas prvias de comportamento ou de respostas utilizadas para vrias situaes diferentes. Os padres de comportamento so, portanto, certas formas estabelecidas de agir e reagir, em casos parecidos. Uma adolescente aprende uma maneira geral de se comportar diante de rapazes. Um rapaz aprende uma forma geral (padro) de galantear as moas etc. Por padro de comportamento deve-se entender aquele modo geral, mais ou menos uniforme e estereotipado, de comportar-se, que se aplica sempre em certas ocasies ou como resposta a certos estmulos. Se um indivduo estiver numa festa, onde no conhea ningum e onde os participantes forem pessoas de nvel social muito diferente do seu, poder ficar intimidado e sem saber como agir. sinal de que no tem um padro de comportamento aprendido para estas circunstncias. Em semelhantes ocasies h trs sadas: descobrir, pela observao e por experincias passadas, um tipo especial de comportamento; perguntar a algum como se deve agir, ou, ento, por timidez, deixar o local. No primeiro caso, elabora um padro de comportamento; no segundo, prepara-se para assimilar um padro j aceito e, no ltimo, tem medo de enfrentar novos meios. tmido. A timidez pode ser medo (reflexo condicionado) de no se ajustar bem a circunstncias novas e inesperadas. Esse reflexo forma-se nos 77

primeiros anos de vida. Se, ao sair do crculo de suas interaes primrias e ao ter seus primeiros contatos com o meio externo, a criana no for bem sucedida (recebendo em troca frustraes e medo), poder criar um padro de cautela temerosa com respeito a situaes novas. Esses insucessos nos primeiros contatos sociais criam nos indivduos um padro de comportamento de timidez e insegurana. Um indivduo extremamente bem vestido, sem um fio de cabelo fora do lugar, cauteloso, moderado nas palavras, de gestos comedidos, do tipo que poderia ser considerado pedante ou afetado, pode ser, no ntimo, um tmido. Todo este aparato para evitar, a todo custo, algo de novo ou de inesperado ao qual se veja forado a se ajustar. H, tambm, outras causas e outras determinantes da timidez, mas como fogem ao nosso assunto, no podem ser tratadas aqui.

Motivo, fora que impulsiona os comportamentos

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EXERCCIOS

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1. "Se todo comportamento tem uma causa atual que o produz", ser verdadeira a afirmao de que o crime faz parte da histria presente do criminoso? 2. Uma maneira especial de praticar um crime, como uma srie de atos ou respostas estruturadas por certos criminosos, pode-se chamar de padro de comportamento? Por qu? 3. H uma lei do comportamento que afirma: "Depois do comportamento instrumental, que garante a posse do objetivo, segue-se o consumatrio". O que voc entende por isto?

Cada causa um agente produtor. Todo efeito um ser produzido. Uma vez surgido, o efeito tambm pode se converter em causa que dar seqncia a novos efeitos. Estabelecem-se assim longas sries de causas e efeitos que se transformam em causa. Mas. . . preciso olhos muito lcidos para ver os elos desta cadeia.

(Arthur Koestler)

Em 1982, um jornal do Rio noticiou que um menino de dez anos foi assassinado por um amigo com dois tiros de espingarda. O menino estava jantando quando seu amigo o chamou e atirou nele. No havia, comentou a famlia, nenhum motivo para o crime. Voc acredita mesmo que no havia nenhum motivo? Todo comportamento tem uma causa. Por isso, podemos afirmar: deve ter havido um ou vrios motivos que determinaram tal comportamento. Toda ao possui determinantes, que so seus antecedentes causadores. Estes podem ser histricos ou atuais. No caso do menino, os determinantes podem pertencer a seu passado, isto , s foras ambientais terrivelmente destruidoras que atuaram em sua formao. Mas alm dos determinantes histricos ou do passado, deveria haver causas ou motivos atuais bem significativos para a execuo do ato criminoso, do ponto de vista da pessoa criminosa, claro. A cada momento, cada um de ns poder estar na iminncia de fazer ou realizar a atividade A, B ou C. Qual a que ser empreendida?74

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A atividade realizada ser aquela que corresponde ao motivo mais forte, isto , ao impulso mais forte, no sentido do vetor de ao mais atuante. Se, no momento, para determinado estudante, o motivo mais forte for a fome ou terminar o dever antes do jantar, ou ainda, escapar de casa para se encontrar com a namorada, antes de o pai chegar, s ele saber. Contudo, podemos afirmar que o estudante executar a ao que corresponder ao seu impulso mais forte. O organismo determinado por esse motivo mais forte, que est competindo com outros num dado momento. Uma mesma ao pode ser determinada por motivos diferentes, como tambm aes diferentes podem ser determinadas por um mesmo motivo. Temos o caso de trs estudantes universitrios. Possuem o mesmo grau de inteligncia e aptido. Contudo, um deles o primeiro aluno, o segundo tem notas mdias e o terceiro fracassa nos estudos. um caso tpico de motivao. Vejamos: O primeiro rapaz filho de imigrantes pobres e seus pais esperam muito dele. Est altamente motivado. O segundo filho de famlia rica. Tem lugar assegurado no negcio do pai. S est interessado em no tirar notas muito baixas. Acha-se pouco motivado para o estudo. O terceiro mais difcil de explicar, porque sua motivao est perturbada por um conflito. "O pai era de famlia pobre e subira na vida com grande esforo. Era, ento, advogado prspero e auto-suficiente. Esperava que o filho fizesse o mesmo. O rapaz, temperamento tmido, assustava-se, pois se convencera de que nunca chegaria a fazer carreira igual do pai. Assim, ia para os exames sob tenso. O corao pulava descompassadamente e as mos transpiravam. Seu conflito interferia em sua motivao e isto levava-o ao mau resultado e ao fracasso."1

MOTIVO E NECESSIDADESAs tentativas para entender o comportamento humano determinaram o aparecimento de vrias teorias da motivao. Vamos apresentar aqui a teoria de Abraham Maslow, que faz derivar os motivos das necessidades. Necessidade. Significa carncia, falta de algo. Se falta gua em seu organismo, voc afirma que necessita beb-la. Claude Bernard, fisiologista francs, descobriu em 1895 que cada ser vivo tem um meio interno que deve ser mantido em equilbrio. Nos mamferos, certas propriedades fsico-qumicas s podem variar dentro de determinados limites, alm dos quais quebra-se o equilbrio ideal. Walter Cannon (1929) restabeleceu este conceito fisiolgico e o transps para o campo da Psicologia. Todo organismo precisa manter-se num optimum de equilbrio interno e, em se tratando do homem, num optimum de equilbrio fisiolgico, social e humano. o que ele designou pelo nome de homoestasia (do grego homo, "igual", estasia, "estado"). Nesse fato alicera-se o fenmeno e o mecanismo das necessidades. Quando se rompe o equilbrio orgnico, cria-se uma necessidade. O organismo em desequilbrio cria tenses. Estas o impelem na direo do objetivo que, quando atingido, traz satisfao, restaurando-se o equilbrio.

Nem sempre conhecemos os motivos que nos impelem. Se voc fuma, poderemos fazer esta pergunta: qual o motivo que o leva a fumar? Provavelmente no saber responder. Nem sempre conhecemos to claramente os motivos de nossas aes. Sabemos que numericamente os maiores fumantes de 21 a 39 anos se encontram nas classes sociais ditas inferiores. So pessoas ansiosas, tensas, preocupadas com a maneira de vencer na vida. De outro lado, para os homens de 35 a 49 anos, o cigarro, charuto ou cachimbo pode representar uma espcie de cortina de fumaa que se eleva por cima de seu sucesso pessoal. Assim temos: quando jovem, fuma porque est ansioso e, quando envelhece, porque j deixou de estar ansioso. Temos, pois, dois motivos diferentes para um mesmo comportamento.1

Ciclo das necessidade s e dos motivos

MURRAY, E. I. Motivao e emoo.

So Paulo, Zahar, 1967.

1. A necessidade uma falta de algo. 2. Esta determina um desequilbrio. 3. Este provoca tenses que impelem ao. Estas tenses chamam-se motivos. 4. Estes motivos determinam a ao ou o comportamento na direo do objetivo. 5. Ao terminar a necessidade, surge a satisfao. XI

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H um provrbio rabe que diz: "Pode-se levar o cavalo fonte, mas no se pode faz-lo beber". Podemos mostrar-lhe a gua, estimul-lo a beb-la, mas s o far se algo interno o levar a isso. Esse algo interno a necessidade que vai gerar o impulso, o motivo gerador da ao de beber. Vejamos isso graficamente:

Barreiras externas. Situaes ou elementos externos pessoa e que no lhe permitem atingir o objetivo desejado. Falta de dinheiro, proibies sociais, propriedade alheia e t c , constituem alguns exemplos de barreiras externas.

comportamento necessidade tenso orientado

incentivo (aumenta o motivo)

objetivo atingido

tenso reduzida

Exemplificando:

Sempre que o indivduo se defronta com uma barreira, adota um comportamento de reao contra ela. Essas reaes se revestem dos aspectos mais variados, conforme a personalidade do indivduo. Assim, podemos ter como exemplos de reaes:impulso e motivo sensao de sede

falta de gua

tenso energias acumuladas

gua

satisfao

Comportamento agressivo. Diante de uma situao adversa, alguns tentam venc-la pela fora. Regresso. Outros reagem de maneira diversa, seja porque temem adotar o comportamento agressivo, seja porque a ele no se dispem. Tratam ento de adotar atitudes menos maduras, agindo como "crianas". Sublimao. Dedicam-se em troca a outras atividades de natureza artstica ou religiosa.

Incentivo. Corresponde situao, apresentao com que se mostra o objetivo. tudo aquilo que serve para aumentar ou diminuir o impulso interno (motivo), sendo assim positivo ou negativo.

Resignao. Outros ainda desistem do objetivo, reprimindo a necessidade ou procurando esquec-la.

TIPOS DE NECESSIDADES Reao s barreirasMuitas vezes, motivados fortemente para algo, somos impedidos de alcan-lo por um ou vrios obstculos. Essas barreiras podem ser internas ou externas. Barreiras internas. So as falhas internas que nos impedem de alcanar o objetivo. Falta de conhecimento e de habilidades especficas , por exemplo, uma barreira interna.82

As necessidades humanas esto organizadas em vrios nveis. Necessidades fisiolgicas. Esto no nvel mais baixo, mas no sem importncia. Perguntava um professor aos alunos: Qual a primeira condio para ser um heri, um santo, um grande pioneiro? Comer po responderam porque, sem isso, em breve estaramos diante do cadver de um ex-grande heri ou pioneiro.83

As necessidades fisiolgicas, alm de alimento, gua, ar, incluem descanso, exerccios fsicos, abrigo, proteo contra as intempries e tambm satisfao sexual. Uma necessidade satisfeita no mais elemento de motivao. Esse um fato que se deve levar em conta nas relaes humanas. Quando as necessidades fisiolgicas esto razoavelmente satisfeitas, so as necessidades de nvel imediatamente superior que passam a motivar: necessidade de segurana, de proteo contra o perigo, de segurana futura, de preparar-se para a vida etc. Necessidades sociais. Tornam-se importantes no comportamento quando as necessidades do primeiro nvel j esto satisfeitas. As necessidades sociais so aquelas de participao, de associao, de aceitao pelas pessoas, de dar e receber amizade e amor. Quando estas necessidades so frustradas, as pessoas se mostram resistentes, tmidas e no-cooperativas. Este comportamento uma conseqncia, no uma causa. Quando um indivduo de classe mdia compra um carro de luxo, na realidade no impelido, apenas, pelas necessidades de um meio de transporte prprio. Se fosse apenas isso, compraria um carro mdio, mais barato e mais econmico. a necessidade de prestgio, de auto-afirmao social, que o leva a investir mais alguns milhares de cruzados numa marca de luxo. H bastante diferena entre um motivo de ordem orgnica e outro de origem social, mas, na realidade, quase todo comportamento influenciado por aspectos motivacionais de um e de outro tipo. O comportamento de se alimentar no s fisiolgico. A maneira de o fazer, aquilo com que cada grupo humano se alimenta, a orao antes das refeies etc. atendem a necessidades orgnicas e sociais. Algumas tribos consideravam um dever penoso, mas sagrado, comer o corao, ainda palpitante, de seus contendores mortos em batalha. Eles o faziam por necessidade "social" ou cultural. Necessidades do ego. Surgem depois ou ao mesmo tempo que as necessidades sociais. So de dois tipos: 1. Necessidades que se relacionam com a auto-estima: necessidade de auto-respeito e autoconfiana, de autonomia, de competncia, de conhecimento. 2. Necessidades que se relacionam com a reputao: necessidades de status, de reconhecimento, de apreciao. Ao contrrio das anteriores, as necessidades do ego so raramente satisfeitas. O homem procura indefinidamente mais satisfao de tais necessidades, uma vez que elas lhe so excessivamente impor84

tantes. Entretanto, no aparecem de maneira significante at que as necessidades sociais, fisiolgicas e de segurana estejam razoavelmente satisfeitas. Necessidades de auto-realizao. Finalmente, no topo da hierarquia, existem as necessidades de auto-realizao. Estas so as necessidades de compreender as prprias potencialidades, de um contnuo autodesenvolvimento, de ser criativo no mais amplo sentido. Como bem difcil a satisfao plena das necessidades anteriores, e como no se empreende a realizao de uma categoria superior sem que as inferiores estejam satisfeitas, conclui-se que so poucas as pessoas que se dedicam auto-realizao. Agora, voltemos aos motivos.

QUE VEM A SER MOTIVO?O motivo , originalmente, um impulso, "drive", em ingls, isto , "um impulso orientado p a r a . . . " A fonte bsica das energias motivacionais so: as necessidades ou o excesso de energias acumuladas sob vrias formas de tenses. A necessidade de vencer na vida leva os estudantes para as salas de aula. A sede leva o motorista a parar o carro e procurar gua ou refrigerante num bar. O interesse por conhecer os motores leva o adolescente a comprar revistas de Mecnica. Para resguardar suas riquezas, o rico proprietrio vota nos candidatos conservadores. Motivo tudo aquilo que leva algum a fazer alguma coisa. Poderamos defini-lo como tudo que inicia, sustenta e dirige uma atividade. Podemos identific-lo com aquela quantidade de energia psquica capaz de determinar um comportamento individual ou social. Numa definio, um pouco mais aceita, motivo vem a ser tudo aquilo capaz de determinar um comportamento individual ou social. H, pois, motivos individuais e motivos sociais. Os primeiros movem os indivduos e os segundos, os grupos.

Tipos de motivoSe motivo tudo aquilo que leva algum a fazer alguma coisa, podemos supor que h bilhes deles, pois as pessoas so impelidas para as mais diferentes aes possveis: desde procurar um alfinete no cho at preparar astronautas para vos espaciais. A melhor maneira de 85

estudar to numerosos motivos agrup-los. No fundo, toda atividade humana, ou melhor, os motivos que orientam toda atividade humana se. concentram em quatro plos: 1. Sobrevivncia ) } 2. Segurana j 3. Realizao conservar a vida

) ) expandir a vida 4. Crescimento ) Continuar vivo, conservar-se protegido (autoprotegido), procurar satisfaes e experimentar novos estmulos constituem os plos para os quais confluem todos os motivos. O estudo mais profundo dos motivos e de sua atuao na conscincia (motivao) levou os psiclogos atuais a identificarem duas fontes produtoras de motivos: as necessidades e as foras de crescimento. Por exemplo, a sede pode ser encarada como a falta de gua no organismo. Essa falta provoca tenses. Um aluno sedento pode interromper a aula a fim de pedir ao professor para beber gua. Se, por acaso, o professor no atender seu pedido, a tenso poder aumentar a um estado tal, que levar o aluno, a todo custo, a procurar o lquido desejado. Quanto maior a necessidade, maior a tenso determinadora de ao. Igualmente, um aluno saudvel, cheio de energias, no capaz de ficar quieto por longo tempo. O acmulo de energia tambm pode levar a atividades de crescimento fsico ou psquico.

ninhada pela m e ) , a sede, a fome, o sexo e os motivos exploratrio!, isto , que levam os seres a conhecer os meios onde se encontram. A atividade de um animal est intimamente ligada motivao. H um pequeno aparelho (uma caixa ligada a um tambor rotativo) que serve para registrar qualquer atividade do animal, pois esta faz girar um tambor rotativo, cujas voltas so registradas por um registrador. A experincia original foi feita com ratas. Sua atividade era notavelmente acrescida de quatro em quatro dias. Este acrscimo correspondia ao aparecimento regular do estro (cio), que nas ratas ocorre a cada quatro ou cinco dias. O motivo determinava um acrscimo de atividade do organismo. Com a extirpao dos ovrios, a atividade especfica destes dias se reduziu, de imediato, de 60 para 95 por cento, at o desaparecimento total. Nesse modelo esto os elementos da motivao: necessidade, comportanto instrumental e extino da necessidade.

NECESSIDADES NO HOMEMO homem no vive num simples plano homoesttico fisiolgico. Suas necessidades se realizam tambm num plano psicolgico superior. Uma pessoa pode ter relacionado comer, fumar, beber etc. como meio de reduzir suas tenses emocionais, suas ansiedades. A fome dessa pessoa, porm, nada tem a ver com a fome como carncia ou falta homoesttica. Igualmente, sua obesidade no ser homoesttica. Conhece-se o caso de uma pessoa que adormecia sempre que comeava a ficar com raiva. Na psicoterapia, descobriu-se que, quando criana, toda vez que comeava a se irritar, seus pais interpretavam a causa como fadiga e a mandavam para a cama. Seu sono, em tal ocasio, no era homoesttico. Era um condicionamento. O homem no vive somente num meio orgnico, mas igualmente num meio social. O meio social, isto , o convvio com os outros, determina novos planos de carncias, de dficits, de necessidades. Um objeto, uma situao qualquer que se introduz no contexto, para valorizar e determinar a ao, denomina-se incentivo. Uma galinha, depois de saciada, se colocada no meio de outras famintas, passa novamente a comer e pode comer at 607o a mais, alm do padro de saciedade. Neste caso, a presena de animais famintos devorando avidamente gros apresenta-se como um incentivo. Por exemplo, um prmio em dinheiro, a presena de uma iguaria, as notas escolares, os elogios, os distintivos, os ttulos honorficos, tudo 87

PESQUISAS EXPERIMENTAISA Psicologia, como cincia, procura como ideal a quantificao dos seus fenmenos. Assim, inmeras experincias foram feitas para medir o impulso, que a parte principal dos motivos. Um dos aparelhos mais simples para esta mensurao a "caixa de obstculos". Esta consta essencialmente de trs compartimentos. No primeiro, fica o animal; no segundo h um obstculo e um registro para medir o esforo despendido pelo animal: uma grade eltrica, por exemplo. O terceiro contm o incentivo. F. A. Moss foi aumentando e registrando a quantidade eltrica do choque a que se submetiam os ratos para alcanar vrios objetivos. Concluiu seu trabalho formando uma lista dos motivos mais fortes para esses animais. Os motivos mais fortes, medidos pela resistncia a choques eltricos, foram: "motivo maternal" (isto , a busca da 86

isso constitui incentivos positivos, pois apresentam-se como algo agradvel que resulta de determinada ao. Os incentivos podem ser positivos ou negativos. Incentivos negativos so aqueles que determinam um comportamento de afastamento. Uma grade eltrica colocada entre o rato e o alimento um incentivo negativo, assim como os castigos, as notas baixas, as reprovaes etc. Incentivos positivos so aqueles que determinam um comportamento de aproximao. Uma torta de sementes de girassol um incentivo positivo para ratos, assim como os elogios, prmios, tudo o que implica aprovao e aceitao social, o so para as pessoas. O incentivo pode aumentar a fora do motivo. Por exemplo, um prato de comida esteticamente arrumado mobiliza mais a vontade de comer. Assim, o impulso para a refeio passa a ser feito de duas partes, uma da necessidade (a fome) e outra do incentivo, isto , da bela disposio do alimento no prato.

Propaganda, uma aplicao da motivao6

A presso contnua a de criar anncios cada vez mais imagem dos motivos e desejos do

pblico.

(Marshall McLuhan)

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EXERCCIOS

rA propaganda, em ltima anlise, uma tcnica psicolgica a servio da produo e do consumo. A inteno do anunciante mobilizar uma ao, um comportamento. Portanto, vai atuar, despertar, criar necessidades, gerar impulsos para a ao. Na elaborao do anncio, h uma busca de motivos claros "ou ocultos, conscientes ou inconscientes que despertem o indivduo para a ao (a compra). Um anncio de seguro de vida, por exemplo, pretende levar o adulto a fazer um seguro para a famlia. A agncia pode apelar para vrios motivos. Nunca poder mostrar direta ou indiretamente a alegria dos beneficirios com a morte do segurado. Um motivo oculto, de grande efeito, no caso, "vender" e dar certa iluso de imortalidade e de superioridade para a pessoa que faz o seguro, pois continua protegendo e amparando a famlia, mesmo depois de desaparecido. O anncio, tal como o entendemos, texto e fotografia, ou texto e cena quando televisionado, uma mensagem comprimida e totalizada, com alta carga de impacto, para impressionar a conscincia, levando-a ao. O anncio est mais prximo dos desejos e das necessidades da pessoa do que do prprio produto anunciado. H, muitas vezes, um choque entre a imagem que voc faz do produto atravs da propaganda e o produto em si. 8Q

1. Quais seriam os motivos de vida? Em outras palavras, para que os indivduos vivem? Se observarmos as atividades das pessoas ou as metas a que dirigem suas aes, veremos o seguinte: a. A atividade de alguns est voltada totalmente para o trabalho e, assim, poderamos dizer que vivem para o trabalho. b. Outros se voltam para a beleza, para gozar a vida, para as atividades de divertimentos. Diramos que estes tm nas "artes" seu motivo de vida. c. Em terceiro lugar, aparecem aqueles poucos que elegeram fins ideolgicos, religiosos, humanitrios como fim de suas vidas. d. Finalmente, os que perdem ou no conseguem formular um motivo de vida, e se neurotizam. Na realidade, o trabalho, as "artes", os fins ideolgicos e religiosos so simples maneiras de se viver ou a prpria finalidade ltima de vida? 2. Ser que a sociedade moderna fracassa em satisfazer s necessidades mais profundas do homem? 3. Quais sero estas necessidades mais insatisfeitas? 4. Em que categoria voc colocaria os que vivem e pensam apenas em ganhar dinheiro? 5. Qual a diferena entre motivo e incentivo?88

As firmas nunca aconselham a emisso de um s anncio, porque no surtiria efeito. Trata-se de fazer uma campanha, isto , uma srie de anncios. A propaganda segue o princpio da bolinha de neve. Comea tmida e, com a repetio, se transforma em uma avalancha psquica.

Um dia o filho, j formado, falou para o pai: "Pai, voc no ouve rdio? Voc no l jornais? H uma grande crise no mundo. A situao terrvel. E aqui no pas est ainda pior". O pai pensou: "Meu filho estudou, l jornais, ouve rdio e s pode estar com a razo." A partir da, foi diminuindo as compras, reduzindo os molhos e temperos, economizando cartazes de propaganda. J no mais forava as vendas em voz alta, nem conversava animado com os clientes, abatido pelas notcias de crises. E as vendas foram caindo. Algum tempo depois, derrotado pelo seu prprio desnimo, mais restou ao pai do que constatar a incmoda realidade: "Voc estava certo, meu filho. uma grande crise". nada

PRODUO E PROPAGANDA: SER E PARECERNo basta produzir bens e servios, se no se tiver condies de lev-los ao conhecimento de seus possveis consumidores. No plano pessoal como se dissssemos: "no basta apenas 'ser', preciso tambm 'parecer' aos outros". por isso que a grande produo industrial moderna precisa tanto da propaganda. A propaganda se preocupa e trabalha no sentido de criar uma imagem do produto para seus consumidores. O produto nem sempre igual imagem que dele chega s conscincias. H um esforo de idealizar o produto e de faz-lo como que milagroso e fantstico. Esta tendncia pode chegar at a nveis de.mistificao e falsidade. H um cdigo de tica e regras que regulam a publicidade. Analise este anncio que uma construtora publicou num jornal do Rio de Janeiro:

Ns realmente estamos no meio de

No podemos mais fazer como o homem dos sanduches. preciso confiar e manter acesa a chama do otimismo e esperana.

da

VENDENDO SENSAO DE PODERA fascinao exercida sobre as pessoas por qualquer produto que parea oferecer-lhes um aumento pessoal de poder proporcionou aos anunciantes um bom campo para ser explorado. As fbricas de automveis esforaram-se por produzir carros com potncia cada vez maior. Depois de uma pesquisa psicolgica, uma agncia de publicidade americana toncluiu que a principal atrao para a compra, de dois em dois anos, de um novo e mais potente automvel estava em que o carro dava ao comprador uma renovada sensao de poder, reafirmando-o em sua prpria masculinidade. Necessidade emocional que seu velho carro no conseguia satisfazer naquele contexto social de vida ou, em outros termos, naquela cultura. Era uma vez um homem que vivia beira de uma estrada e que vendia sanduches. Lentamente ele foi aumentando as vendas e tambm cada vez mais aumentava a compra de carne e po. Logo comprou um fogo maior para melhor atender os fregueses e o negcio prosperava. Conseguiu dar boa escola ao filho. 90 Havia, porm, um sentimento inconsciente de culpa nesta atrao exercida por uma nova e potente mquina, conforme verificou o Instituto de Pesquisa de Motivao. O comprador sentia-se culpado por dar a si prprio a satisfao de um poder que poderia ser considerado suprfluo. Precisava, assim, de uma garantia racional para entregar-se 91

I satisfao de seus desejos. Uma boa soluo, segundo decidiu a pesquisa, foi oferecer a atrao do poder, mas acentuar que toda aquela maravilhosa potncia proporcionaria "a margem extra de segurana em uma emergncia". "Isso", explica o diretor da pesquisa, "oferece a iluso de racionalidade de que o comprador necessita". Para obter os objetivos, o anncio serve-se do princpio da repetio, das associaes inconscientes, bem de acordo, alis, com os processos de lavagem cerebral. A propaganda tende a homogeneizar os desejos, as necessidades e as satisfaes dos desejos e a criar as mesmas aspiraes. Assim, as pessoas condicionadas pela propaganda passam a ter os mesmos desejos, a ter as mesmas aspiraes de posse. A propaganda procura minar o consumidor de todos os modos. Uma das formas recorrer a motivos inconscientes. O inconsciente o grande destinatrio da propaganda. por isso que qualquer anncio lido e comentado, racionalmente, torna-se ridculo. Mas, deslocado para um novo cenrio, se torna, no mnimo, engraado, comenta McLuhan. Vejamos este anncio de televiso: Imagem: O marido chega perguntando: "Onde est ele?" A mulher, perplexa, confusa, interroga: "Ele, quem?" O marido insiste: "Eu sei que ele est a". Vai direto a um armrio, abre violentamente a porta, encontrando apenas vrias latas de presuntada Wilson, um nome de homem que "viria a perturbar as relaes do casal". Apresentado, assim, parece ridculo, mas, no contexto publicitrio, foi um bom anncio. A melhor prova disso que est sendo citado agora. Qualquer anncio cmico quando apreciado conscientemente. Grande parte deles no endereada ao consumo consciente. So mensagens subliminares para o subconsciente, devendo exercer um efeito meio hipntico e legalmente subliminar. Nos Estados Unidos gastam-se, em propaganda, tantos dlares quantos com a verba oficial destinada educao (mais de doze bilhes de dlares). O anncio geralmente dispendioso, pois representa a arte de muita gente e os meios de comunicao por onde veiculado so muito caros.

mao a ser comunicada deve ter uma fonte e um destinatrio, isto , um emissor e um receptor. Esta comunicao se faz atravs de um cdigo. Assim, o emissor tem que fazer uma codificao de sua informao. O receptor ou destinatrio tem que realizar a operao inversa: decodificar. Podemos exemplificar isso no caso do telgrafo. Algum pensa no contedo do telegrama e redige, entregando-o ao telegrafista. Este o codifica em sinais "morse" (sistema antigo) e o envia atravs de um veculo eltrico (o fio) a outro telegrafista que o decodifica e o faz chegar ao receptor, pessoa a quem o telegrama dirigido. Assim teramos:

fonte

codificao

veculo

decodificao

receptor

No campo da publicidade, teramos:mensagem anncio

produtor

codificao

decodificao

consumidor

COMUNICAO E PROPAGANDAO homem no pode viver limitado dentro da prpria pele. Da a necessidade de criar ampliaes das prprias faculdades interiores e pessoais para se estender, para se comunicar com outros. Para tanto, precisa de cdigos e de canais competentes de comunicao. A infor92

A primeira lei bsica da comunicao a da entropia: perda ou degradao do contedo primitivo da informao. Entre a fonte e o destinatrio h uma considervel perda. Para compensar essa lei temos uma regra ou lei bsica corretiva: a informao ou a mensagem tem de ser redundante. Em anncio, no podemos ser prolixos; por isso, ele deve ser o mais elaborado possvel: 1. Pode e deve ser repetitivo. 2. Deve ser rico de associaes. 3. Deve dirigir-se ao consciente e ao inconsciente, porque tanto um corrro outro governam as pessoas. Os homens, assim como os animais, s absorvem a informao de que sentem necessidade ou que lhes seja inteligvel. No o tamanho de um anncio e sim sua qualidade e freqncia que engatilham a ao. O anncio "mural", impresso ou televisionado, por suas associaes e segundas intenes, , em boa parte, uma investida contra o inconsciente. Muitos comportamentos passaram a se modificar em funo dos meios de comunicao e da publicidade. Os anncios de absorventes, por exemplo, amplamente difundidos pelos meios de comunicao, contriburam para que a menstruao fosse encarada com mais naturalidade pelas pessoas.93

i

EXERCCIOS

r

1. Selecionar de trs a cinco anncios. 2. Submet-los a um teste de associao. As associaes podem comear completando estas frases: "Quando vejo este anncio, esta figura, esta palavra, penso em (apresentar a palavra), vm-me mente . . . . (tais idias)". 3. Anotar as associaes favorveis e as desfavorveis: poro. 4. Pesquisar os motivos a que o anncio apela. repassar o captulo sobre motivao. ver a pro-

Evoluo do comportamento

Para tanto bomOs mais diversos tipos de comportamento servem para ajudar os homens e os animais a competirem uns com os outros e a sobreviverem no seu meio. (Desmond Morris)

5. Analisar o anncio de um ponto de vista crtico. Ver sua racionalidade, sua persuaso de venda, seu maior ou menor impacto emocional.

O tipo mais simples de comportamento denomina-se reflexo. Sua simbolizao : E (estmulo) R (resposta). O reflexo simples est presente em todos os seres vivos. Se num recipiente contendo gua e algas verdes acendermos uma vela, haver uma migrao das algas para o foco de luz. Na encosta de uma montanha verificava-se, em altitudes diferentes, a existncia de determinada variedade de insetos. A diviso entre os grupos de insetos era to rgida que no havia misturas entre eles. Por qu? Qual o motivo de sua ao se limitar a determinada altitude, nem mais para baixo nem mais para cima? A soluo era simples. Sua ao ou comportamento ( R ) estava determinada pelo teor de oxignio (E) existente em quantidade diferente em cada altitude. O comportamento reflexo estruturalmente simples em seu esquema bsico. Nos captulos seguintes voltaremos a falar sobre este tipo de comportamento.

O COMPORTAMENTO INSTINTIVOO comportamento instintivo um padro de comportamento complexo, inato e invarivel no tempo. A vespa caadora imobiliza uma lagarta, injetando um lquido paralisante em seus gnglios nervosos.9495

A seguir, pe seus ovos no animal vivo e paralisado, garantindo calor e alimento larva. Este comportamento inaltervel no foi aprendido. A vespa nasce com ele. Os psiclogos do fim do sculo passado e comeo deste exageravam a importncia do instinto. L. L. Bernard, em 1924, relacionou 1 046 atividades humanas at ento classificadas como "instinto" ou "tendncias instintivas", quer por algum cientista, quer pela tradio. Demonstrou que a maioria era constituda de comportamentos aprendidos. Primeiro, no havia duas autoridades que concordassem com uma lista de instintos e, segundo, o conceito de instinto era uma capa para encobrir a ignorncia dos fenmenos. O grfido abaixo mostra os diferentes tipos de comportamento entre as diferentes classes de seres vivos. Vemos a origem do comportamento, seu ponto mximo e a curva de ascenso ou declnio. Como exemplo, podemos ver o comportamento instintivo, que se inicia nos vermes, tem sua expanso mxima nos insetos, decaindo e extinguindo-se at certo ponto no homem, que tem apenas restos instintivos.

O salmo sobe o rio para desovar e depois morrer. Alguns pssaros, algumas vezes, migram sozinhos, sem a companhia dos mais velhos. Realmente, o primeiro comportamento no to instintivo como se pensava. Provas experimentais indicam que o salmo abandona as partes dos rios onde normalmente vive, porque na poca da desova perde pigmentao da pele e no agenta os raios do sol, na gua rasa, passando a procurar um abrigo nas guas mais fundas. Com isso, sua migrao passa a ser mais um comportamento reflexo. A migrao das aves se deve diminuio das horas do dia que influi no equilbrio endcrino do pssaro. H uma experincia de Z. K. Kno, a respeito de instinto e aprendizagem. Kno criou gatos juntamente com ratos. Quando cresceram, somente um pequeno nmero deles atacava seus tradicionais inimigos. Todos os gatinhos criados com suas mes que, de quatro em quatro dias, matavam um rato, se tornaram bons caadores de ratos. Deste modo, matar ratos, nos gatos, um comportamento aprendido, at certo ponto, pois o gato pode aprender a conviver pacificamente com suas "possveis" vtimas. Com quem os gatinhos aprendem a matar ratos? Com as prprias mes e com os restantes membros do grupo. O instinto apresenta-se como um tipo standard de ao que se repete ininterruptamente e sem alterao nas mesmas condies. O grande poeta romano Virglio fez, h quase dois mil anos, uma detalhada descrio das colmeias no seu livro De Apibus ("As Abelhas") e atualmente elas se comportam do mesmo modo, sem nenhuma alterao visvel. Desde o descobrimento do Brasil at hoje, os pssaros conhecidos como joo-de-barro fazem sua casa-ninho do mesmo modo. As respostas instintivas so: 1. Instrumentais. 2. Invariveis no tempo. 3. Profundas. Por profundidade, entendemos o alcance excepcional de alguns comportamentos instintivos. Andorinhas e patos de clima frio, chegado o inverno, viajam atravs de milhares de quilmetros para regies quentes ou temperadas, voltando depois, no comeo da primavera. O comportamento instintivo apresenta certa curiosidade. O Brasil o centro de vrias migraes de aves. O mais interessante que quando elas chegam, fazem um percurso sinuoso e longo, mas ac voltarem vo em vo direto e rpido. Ao chegarem em suas regies frias de origem, nidificam, pem ovos, criam os filhos e, na prxima chegada do inverno, voltam ao nosso clima tropical. Algumas viajam de noite e dormem de dia. Na viagem de retorno, sobretudo, algumas 97

96

espcies chegam a voar mais de mil quilmetros por dia. Alguns anuns fazem ninhos coletivos onde todas as fmeas colocam seus ovos, mas o curioso que no aceitam, no ninho, mais do que certo nmero de ovos. Qualquer ovo excedente jogado fora.

INSTINTO E COMPORTAMENTO HUMANOProvavelmente, nenhum comportamento humano normal pode ser descrito totalmente como instintivo. Como o comportamento uma reao do organismo como um todo, claro que, sendo o homem um organismo consciente e racional, seus padres de resposta s podem ser racionais e conscientes. Podem ocorrer e ocorrem, efetivamente, esboos, fragmentos de comportamento instintivo, mas no expresses do instinto pleno como nos animais. Na linguagem comum, empregamos a palavra "instinto" como sinnimo de ao espontnea e irrefletida ou mesmo para designar certos impulsos irrefreveis, como tambm certos reflexos condicionados. Empregamos, muitas vezes, a palavra "instinto" para significar: uma ao involuntria, certos atos emocionalmente intensos, conduta irrefletida ou impulsos irrefreveis. Realmente, os seres humanos tm comportamentos com bases em estruturas hereditrias ou orgnico-fisiolgicas inatas, que se parecem com os instintos. O comportamento sexual do homem, por exemplo, um deles. Contudo, no se manifesta em complexos padres inaprendidos de conduta sexual e, por isso, no pode ser considerado instintivo em seu sentido exato. O comportamento humano muito dominado pela aprendizagem, o que no ocorre na rea do instinto, como podemos ver no seguinte exemplo: H duas variedades de cegonhas europias; uma migra para a frica do Norte e a outra para a frica Central. Se pegarmos um ovo da primeira espcie e o colocarmos para ser chocado por uma ave da segunda variedade, quando iniciar a migrao o descendente da primeira espcie se desgarrar do grupo e seguir o roteiro de sua espcie. Nem todos os comportamentos animais so instintivos. H muitos aprendidos e j foi constatado comportamento inteligente nos mamferos superiores. Contudo, s so capazes de estruturar os elementos do meio imediatamente presentes. No possuem inteligncia abstrata. Um macaco numa jaula, depois de muitas tentativas infrutferas de apanhar bananas presas no teto, encostou-se a um canto e, visuali98

zando umas varas, um caixote e o cacho de bananas, no teve mais dvida; levantou-se, encaixou um basto no outro, subiu no caixote e derrubou as primeiras bananas. Foi um ato inteligente. Assim como os mamferos superiores so capazes, s vezes, de comportamentos inteligentes, tambm ns temos, em comum com eles, no instintos, mas restos de comportamentos instintivos. Somos, juntamente com eles, seres territoriais e hierrquicos. Isto , assim como os animais, lutamos, seja para estabelecer domnio numa hierarquia social, seja para estabelecer os respectivos direitos territoriais em determinado campo. Algumas espcies so apenas hierrquicas, isto , cada um se preocupa em manter posies definidas de superior a inferior dentro do grupo. Outras so territoriais, sem problemas hierrquicos. Finalmente, algumas tm os dois instintos. O homem filia-se, em suas origens, a este grupo. A hierarquia, no reino animal, muito conhecida na chamada "ordem das bicadas", em que os gaios e as galinhas estabelecem suas posies (seus status) por meio de bicadas, criando uma hierarquia mais ou menos rgida. Os primatas so mais hierrquicos, estabelecendo graduaes de posies (status) dentro de seus grupos "territoriais". Provavelmente os antepassados homnidas, ao se transformarem em carnvoros, acentuaram o instinto do "territrio". Quando um bem-te-vi, no topo de uma rvore, canta o mais alto possvel, est delimitando o seu territrio. A vantagem humana. A natureza cooperativa da caa levou o homem primitivo a intensificar sua vida social. E foi graas a esta cooperao que ele pde sobreviver, pois no teria condies de viver isoladamente. Como animal social, possui impulsos para a defesa de um territrio comum. Ele traz ainda impulsos bsicos para a defesa patrimonial da unidade familiar que existe dentro do territrio grupai. Mas a origem mais importante de sua agressividade a luta pela manuteno e conservao individual, vindo, em plano subseqente, a luta pela hierarquia dentro do grupo: a busca de prestgio, de uma posio elevada, de status. A defesa territorial da unidade familiar faz com que se divida um edifcio em unidades repetitivas: uma mesma unidade culinria para cada apartamento. As casas so infalivelmente separadas por muros. Nos conjuntos residenciais de casas iguais, cada famlia pe a marca de sua individualidade em tudo que pode: pintura externa, decorao, jardim (quando h) etc. Na verdade, diz Morris, trata-se 99

dum equivalente rigoroso do que fazem outras espcies territoriais, quando pem seus cheiros pessoais nas proximidades ou nos principais pontos de seu territrio. Com isto, alertam aos outros membros da espcie que esto entrando em territrio alheio. com esta finalidade que os ces urinam nos postes da vizinhana, marcando-os. "Quando uma pessoa pe um nome na porta diz Morris ou pendura um quadro na parede, faz exatamente o mesmo que o co ou o lobo quando, por exemplo, alam a perna e deixam sua marca no territrio em que moram."

reflexo. Por esta ltima, o homem pode se debruar sobre si mesmo e conhecer-se, do mesmo modo que pode conhecer o mundo, de um ngulo e uma perspectiva nicos no nosso planeta. Para Pavlov, contudo, duas operaes fisiolgicas chamavam a ateno. Dentro do organismo, o sistema nervoso funciona ora excitando certos msculos, glndulas ou rgos, ora inibindo-os. por isto que a ao de pequenas doses de lcool provoca exaltao em algumas pessoas, pelo enfraquecimento dos processos inibitrios. A cafena, porm, fortalece os processos inibitrios. No sono se d uma inibio ou desligamento de conexes nervosas. Por isso, o caf serve para afugentar, um pouco, o sono. Um co, a que se ensinou que um tapa nas patas significa alimento e outro no dorso no tem nenhum significado, depois de uma injeo de cafena, apresentava uma confuso nos seus processos inibidores, de tal modo que o animal passava a salivar em resposta a qualquer tapa, seja no dorso ou nas patas. Em geral, se qualquer parte do crtex cerebral estiver sendo excitada, sua atividade tende a inibir a atividade das outras partes. O crebro, ao contrrio do que se poderia pensar, nunca repousa. Nele ocorrem continuamente pulsaes, verificveis sob a forma de atividades eltricas. curioso que as pulsaes so maiores quando se est em repouso, diminuindo quando se faz um esforo de pensa mento. Atividade do crebro. Utilizamos apenas um percentual baixo da nossa atividade mental, responsvel pelas atividades convencionais, assim como pelas no-convencionais: telepatia, pr-cognio (conhecimento do futuro), conhecimento de fatos ocorridos a grande distncia etc. Fisiologicamente, nossa atividade mental pode ser dividida em duas partes:- a atividade do estado de viglia e a do estado de sono. Assim, o crebro nunca repousa totalmente. O estado de viglia (acordado) inibe as atividades normais do estado de sono; estas atividades do estado de sono so importantssimas. Constituem-se em: 1. Elaborao da fantasia. 2. Interiorizao (uma espcie de digesto) de tudo o que se passou durante o perodo de viglia. O sonho exatamente a expresso desta realidade interna. , em suma, atravs da atividade cerebral durante o sono que organizamos nossa realidade interior, que digerimos toda a massa de informaes recebidas do meio exterior no estado de viglia. 101

A competio hierrquica na espcie humanaEsta luta por posies mais elevadas feita, geralmente, com muita cautela, pois no se podem quebrar as foras de coeso social, levando o grupo extino. Essas foras, de forma velada, esto presentes em toda parte. Um automvel ou uma determinada marca de automvel, um apartamento em certa parte da cidade, at diferenas de acento vocal, de postura, o nome nas colunas sociais, assumem um significado social decisivo, pois indicam a posio social do indivduo. expresso da luta pela subida hierrquica (a ordem de bicadas das galinhas). Nosso comportamento foi estruturado para agirmos em pequenos grupos tribais, com menos de cem habitantes. A, a hierarquia se estabelecia facilmente. Todos se conheciam. Mas o que acontece no meio de uma multido de desconhecidos? O homem se sente menos solidrio e menos responsvel, passando a reagir de modo mais agressivo, sobretudo quando a tnica grupai a competio. A agresso est flor da pele. Se, de leve, tocamos em outro, apressamo-nos a pedir desculpas. Na intimidade, contudo, continuamos tribais. A neotenia, isto , o longo estado da infncia do ser humano, determinou modificaes no comportamento do homem primitivo. A monogamia era a melhor garantia para a proteo dessa infncia. Qualquer espcie animal depois de seis meses capaz de manter sua vida independentemente dos pais. S na espcie humana o cuidado com os filhos se prolonga por anos.

NOSSO CREBRO por ele que subimos, na escala zoolgica, ao status de Homo sapiens. A complexidade do seu funcionamento responsvel pela existncia do mundo maravilhoso da conscincia e pela capacidade de 100

Sem esta atividade no poderamos criar, em nosso mundo interior, o quadro imaginrio e esttico que embeleza as atividades prosaicas da viglia, do dia-a-dia. Esta dualidade de atividade do crebro pode explicar certos comportamentos, como a hipnose, transe, catalepsia etc. Estes estados podem ser explicados pelo fato de partes do crebro ficarem totalmente inibidas e partes totalmente ativadas. Se tomarmos uma lagosta e a acariciarmos com firmeza nas costas da carapaa, desde a extremidade posterior at a face, ela cair em estado catalptico. Ficar imvel e dura como uma pedra, podendo ser colocada nas mais variadas posies. Os encantadores de serpentes sabem que, ao se agarrar de repente uma cobra por detrs da cabea, comprimindoa no momento em que o animal se acha encolerizado, este cai em estado catalptico e fica imvel como um basto, devido fora da ao inibidora do sistema nervoso.

Comportamento reflexo e comportamento condicionado

coerente supor que sui a propriedade de Platonov)

toda agir

matria viva por reflexo.

pos(K.

i

EXERCCIOS

rSe mantivermos um paramcio (micrbio formado de uma nica clula) durante certo tempo numa cuba triangular e outro numa quadrada, eles aprendero a percorrer seus espaos em percurso triangular e em forma de quadrado, conforme o recipiente onde esto. Mudados para um vaso redondo e um pouco maior, o primeiro continuar a fazer seu caminho de forma triangular e o segundo, seu percurso quadrangular. Ambos ficaram condicionados a caminhar naquelas direes.

1. Afirmamos que o casamento monogmico foi biologicamente uma conseqncia da neotenia. Que neotenia? 2. O que comportamento instintivo e como ele se apresenta no ser humano? 3. Existe comportamento inteligente entre os animais? D exemplos. 4. Aponte alguns sinais dos nossos impulsos territoriais e hierrquicos observados em nosso cotidiano. 5. Por que a competio hierrquica atenuada na espcie humana?

INTRODUO AO ASSUNTODavld Riesman dedicou uma parte do seu livro The Lonely Crowd anlise de um antigo best-seller infantil: Toodle, a locomotiva. Esta estria ilustra bem o que seja condicionamento, que o resultado final dos reflexos condicionados. "Toodle uma pequena locomotiva que vai a uma escola. Suas principais lies consistiam em aprender que se deve parar sempre diante de uma bandeira vermelha e nunca sair dos trilhos. Diziam-lhe que, executando estes dois ensinamentos, poderia crescer e tornar-se uma grande locomotiva de linhas aerodinmicas. Toodle, inicialmente, comportou-se de acordo com o aprendido, mas, depois, foi descobrindo o prazer de sair um pouquinho dos trilhos, de colher, por exemplo, umas flores pelo caminho. Estas fraudes foram logo descobertas pelo

102

103

olho

pcrscrutador do limpa-trilhos. A desobedincia de Toodle cria uma crise na Cidade das Locomotivas: os professores e autoridades se renem para discutir meios de forar algo eficaz. Quando Toodle abandonou os trilhos, deu ento de frente com uma bandeira vermelha. Habituada a deter-se diante de uma bandeira vermelha, parou e voltou-se para outra direo. Mas eis que encontrou outra bandeira vermelha. Havia bandeiras vermelhas espalhadas por todo o campo. Toodle foi e voltou de um lado para outro, mas no conseguiu encontrar lugar onde brincar. Finalmente olhou em direo aos trilhos: l estava a bandeira verde e branca que lhe acenava com o sinal de siga. Voltou para os trilhos e prometeu ficar neles para sempre e ser uma boa locomotiva. Este sacrifcio custou menos por causa dos aplausos de todos os habitantes da Engineville (Cidade das Locomotivas)." Antes de vermos o que um reflexo condicionado, leiamos o que seja um reflexo simples.

ie ar esto vedadas, os msculos do peito se contraem. Simuliaiici mente abre-se a glote, e um pequeno furaco se desencadeia de dentro para fora, varrendo os elementos irritantes que estejam no m e i o . O espirro, como a tosse, reflexo simples, cuja finalidade 6 a limpeza da respectiva rea. No espirro, o elemento irritante est numa passagem nasal. O crebro manda ordens para expuls-lo. Comea, ento, uma srie de acontecimentos, muito semelhantes aos da tosse: inspirao de ar, compresso sbita dos msculos do peito e do abdmen. Quando a exploso est prestes a ocorrer, o crebro envia novas ordens: fecha os olhos, abre bem o vu palatino e, quando do ato explosivo, o indivduo se inclina para baixo para produzir melhor efeito de expulso do elemento estranho. Na tosse, o vu palatino se fecha para obstruir as passagens nasais, ao passo que no espirro, este fica inteiramente aberto para que o ar se precipite para fora tanto pela boca como pelo nariz. A criancinha espirra com muita freqncia. a maneira que ela tem de assoar o nariz. H uma particularidade no reflexo do espirro: s as irritaes ligeiras o provocam. As leses profundas como as cirrgicas no o desencadeiam. O bocejo, por sua vez, tambm um reflexo simples. Apresenta-se, s vezes, como algo de mais agradvel na vida, e em certas ocasies como algo excessivamente constrangedor. Uma explicao comum do bocejo que ele est relacionado com a falta de oxignio no crebro. Quando ficamos sonolentos (por qualquer motivo), a circulao sangnea do crebro se torna mais lenta e por isto diminui o suprimento de oxignio. Se quisermos ou se tivermos de ficar despertos, o oxignio precisa ser aumentado. No bocejo (mesmo nos traindo), a golfada de ar que o acompanha a soluo.

QUE REFLEXO SIMPLES? uma resposta imediata e involuntria do organismo a um estmulo qualquer. Envolve um nervo que leva a irritao ou estmulo para o centro (nervo motor) e outro responsvel pela resposta fisiolgica do organismo (nervo sensitivo). Vejamos a seguir vrios exemplos. Muitos de nossos reflexos tm uma funo protetora. Um dedo oca a chapa quente de um fogo. Dezenas de receptadores de calor na pele fazem soar o alarma. Enviam estas mensagens de irritao pelo nervo motor aos centros nervosos. Como no se pode perder tempo, em muitos casos, estas mensagens se convertem em ordem antes mesmo de chegar ao crebro. A massa nervosa da coluna vertebral assume o controle e por seus nervos sensitivos envia a ordem quase instantnea que determina o afastamento automtico da mo. O conhecido safano do joelho que os mdicos produzem com um martelo de borracha no passa de uma prova para verificar a presteza e a sade das vias nervosas. A tosse um simples ato reflexo, mas no to fcil assim explic-lo. Quando existem alguns elementos irritando alguma parte das vias respiratrias, sobe o aviso para o crebro (pelo nervo sensitivo). Como resposta, na primeira operao, o ar aspirado para os pulmes e contido, sob presso, pela glote. A glote uma vlvula que impede comida de descer pela traquia para o pulmo. Ao mesmo tempo que a glote se fecha, o vu palatino se levanta para vedar as passagens nasais. Quando todas as passagens 104

COMO SE REALIZA O CONDICIONAMENTOEsta parte est escrita em redao especial "instruo programada": voc l cada quadro e escreve a resposta num papel parte. A seguir, confirme sua resposta na p. 225.t .

1. Num mida Qual Qual

cachorro, podemos verificar o seguinte reflexo simples: cona boca elicia salivao. o estmulo ( E ) ? a resposta ( R ) ?1

1

"Elicia" significa, em reflexologia, "determina", "produz".

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2. Luz nos olhos elicia contrao pupilar. Quais so as letras-smbolo do reflexo correspondentes a "luz nos olhos" e "contrao pupilar"?

3. Choque eltrico na mo elicia batidas cardacas. O que E ? O que R ?

9. John Watson, psiclogo americano, aplicou os princpios do condicionamento pavloviano a seres humanos. Em um de seus estudos, condicionou uma criana de onze meses a ter medo de um rato branco, apresentando-lhe o animal ao mesmo tempo que fazia produzir um som extremamente forte. Neste exemplo, qual foi o EI para a resposta "medo"?

4. Associe: Estmulos a. alimento b. luz c. choque eltrico Respostas ( ) contrao pupilar ( ) aumento das batidas cardacas ( ) salivao

10. Antes da experincia, a criana nunca tinha visto um rato (considerado um estmulo neutro quanto ao medo). Ela no manifestou medo quando viu o rato. Nestas condies, o rato foi um estmulo para a resposta "medo".

11. Somente aps ser associado com o EI (rudo forte) fqi que o rato se tornou um ( )

5. Alguns estmulos eliciam respostas sem aprendizagem alguma, de forma inata. Este comportamento chamado de reflexo simples ou reflexo condicionado?

6. Um estmulo que elicia uma resposta sem treino prvio chamado incondicionado ( E I ) . Qual o estmulo incondicionado para a resposta "salivao"? a) alimento na boca; b) um menu.

12. Quando um estmulo neutro associado a outro estmulo j relacionado com uma resposta particular, de modo que a apresentao do estmulo neutro provoque a mesma resposta que o E I , aquele pode ser chamado estmulo ( )

7. Outros estmulos adquirem capacidade de eliciar respostas somente por meio de treino ou aprendizagem. So chamados estmulos condicionados ( E C ) . Na experincia de Pavlov, onde se tocava a campainha e se colocava p de carne na boca do co, qual o estmulo condicionado (EC) para a salivao? a) a campainha; b) o p de carne na boca.

13. Como so chamados os estmulos que adquirem a capacidade de eliciar respostas somente por meio de treino ou aprendizagem? a) reflexos simples; b) estmulos incondicionados; c) estmulos condicionados.

8. A luz no olho estmulo

(

) para a contrao da pupila.

14. O Sr. X vai ao enterro do amigo que faleceu do corao. No dia seguinte, ao suspender um peso, contorce um msculo lombar e logo diz: "Estou doente do corao". A dor da contoro do msculo com referncia resposta "medo de enfarte" um: a) reflexo simples; b) estmulo incondicionado; c) estmulo condicionado.

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15. Se voc gritar para uma r, ela no reage. O som de uma suave castanheta (estalido produzido pela ponta do dedo mdio ao roar o polegar) obriga-a a fugir. Este som lembra o rudo de rs caindo na gua precipitadamente. O rudo da castanheta um ( ) para as rs.

22. Se dirijo um jato de luz para os olhos de um co, suas pupilas se contrairo; isto um O fato de que o co se empenha em vrias atividades para cuidar de seus filhotes j no considerado um

16. O marginal empalidecia toda vez que via um policial. Pode-se caracterizar, em termos cientficos, esta reao "empalidecer" como: a) reflexo condicionado; b) reflexo simples; c) resposta condicionada.

23. Uma lesma sobe, quando deve subir, sempre numa inclinao de 15 graus. Que tipo de ao esta?

24. Que tipo de estmulo o menu para a resposta "salivao"?

17. Quais os trs elementos bsicos contidos no condicionamento clssico?

EXERCCIOS1. Qual a diferena entre um reflexo simples e um condicionado? 2. Voc vai dirigindo um carro; de repente surge uma pessoa na frente e este fato determina uma freada violenta. Estamos diante de um reflexo simples ou condicionado? 3. Qual o mecanismo psicolgico utilizado, de modo exaustivo, na fbula da "Locomotiva"? 4. Isto tem alguma semelhana com o que a sociedade faz conosco? (Comente um pouco sua resposta.)

18. Quando um estmulo previamente neutro provoca a mesma resposta que um estmulo incondicionado, dizemos que houve aquisio. O som da campainha para o co de Pavlov demonstra . . . . . . de resposta originariamente eliciada pela vista do alimento.

19. O condicionamento respondente principalmente relacionado com a substituio dos estmulos. Assim, ambos os estmulos provocam aproximadamente a mesma ( ).I

20. O condicionamento respondente implica a associao de um estmulo incondicionado ( E l ) a um ( ) para obter com este a mesma resposta que com aquele.

21. O som do motor do dentista pode ser um estmulo para o medo e a ansiedade.

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Os dois reflexos simples, ou melhor, os dois estmulos dos dois reflexos determinam, aproximadamente, a mesma resposta; por isso. associam-se.

CONDICIONAMENTO OPERANTE

Tipos de condicionamento

Condicionar uma forma de aprendizagem na qual a capacidade de eliciar uma resposta transferida de um estmulo para outro. (Fred

S. Keller)

Existem dois tipos de condicionamento: o clssico ou respondente, sobre o qual j fizemos um estudo no captulo anterior, e o operante ou instrumental. O condicionamento clssico foi descoberto, estudado e detalhadamente pesquisado por Iv Pavlov (1849-1936), fisiologista russo. O condicionamento operante foi apresentado por Burrhus Frederic Skinner (1904), psiclogo americano que desenvolveu intensa atividade no estudo da psicologia da aprendizagem.

CONDICIONAMENTO CLSSICOJ vimos os elementos que constituem o condicionamento clssico: reflexo simples, cujo esquema ER, e que uma resposta ( R ) a um estmulo ( E ) ; reflexo condicionado, que , basicamente, a associao de dois reflexos simples funcionando dentro do esquema abaixo:

Para entendermos este tipo de condicionamento precisamos do conceito de reforo. Reforo qualquer coisa que serve para fortalecer ou extinguir a conexo ER. O reforo positivo fortalece a conexo ER. No negativo d-se o contrrio: a conexo debilita-se at sua extino. Assim, a aplicao de reforo negativo uma forma de descondicionamento. Descondicionar separar um estmulo de uma resposta ou um reflexo de outro. Assim como se associa, tambm se pode separar (descondicionar). Vejamos um exemplo onde se emprega o reforo negativo para descondicionar uma resposta de ira. Uma criancinha de um ano e nove meses aterrorizava sua famlia com iras persistentes na hora de dormir. O condicionamento recebido: durante os primeiros dezoito meses de vida estivera doente e inspirara cuidados constantes. Ao deitar-se ela era acompanhada por algum da famlia at dormir. Depois que ficou boa, perdeu alguns dos cuidados durante o dia, mas se apegou presena de um familiar at dormir. Os pais e uma tia se revezavam na tarefa de coloc-la na cama. Se o escalado deixava o quarto, a criana gritava e agitava-se at que o adulto retornasse. Se o pai comeava a ler, enquanto estava no quarto, chorava at que a ateno fosse voltada para ela. Os pais descobriram que ela gostava do domnio que exercia sobre eles e por isso demorava o mais que podia a dormir. Em resumo: um dos pais ou a tia estava gastando de meia at duas horas todas as noites, o que representava um consumo elevado e desnecessrio de tempo. Como resolver o problema? Era preciso descondicionar: separar hora de dormir (E) das respostas de excessivas atenes ( R ) . Separar este estmulo desta resposta. Como? Foi montado o seguinte esquema: 1. Um dos pais ou a tia colocava o garoto na cama, de maneira calma e amiga. 2. Depois de alguns carinhos, prprios da ocasio, despedia-se e fechava calmamente a porta. 3. Teria que deixar o garoto chorar o tempo que agentasse. Evidentemente, no primeiro dia ele chorou e gritou. Esse comportamento durou 45 minutos.111

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No stimo dia, estava extinta a resposta de exigir mimos e atenes na hora de dormir. Colocado na cama, ficou s e no chorou, isso no trouxe nenhuma conseqncia. Aos trs anos e nove meses, o garoto era uma criana amvel, expressiva e socivel. O que ocorreu: 1. O reforo positivo dos mimos e agrados na hora de dormir foi suprimido. 2. Em seu lugar instalou-se um reforo negativo de choro, gritos etc.

Como ocorre o condicionamento operanteVejamos um exemplo: Uma criana e sua me esto num final de feira, j um tanto cansadas e irritadas pelo calor. De repente, a criana v a banca de algodo-doce e pede-o me. Esta diz que no. A criana, j cansada, e agora frustrada, pede de novo, mas desta vez chorando. A me diz que no vai dar, de jeito nenhum. A criana chora alto. Ela pede criana que pare. A criana continua pedindo e chorando. Ela d um belisco no garoto. Ento a criana grita, joga-se no cho, d pontaps um quadro completo de ira. A me, embaraada, compra o algodo-doce. Ao faz-lo, reforou este tipo de comportamento "escandaloso" e enfraqueceu as outras respostas mais adequadas. Vejamos isto, graficamente:

Ri (pede simplesmente)

R

2

(pede, choramingando)

R

3

(pede, chorando alto)

As trs primeiras respostas no foram reforadas e tendem a se extinguir. Na prxima vez, a criana ser levada a repetir a mesma resposta reforada. Se conseguir, ir, cada vez mais, incorporando este tipo de resposta, chegando ao ponto de. se transformar num trao de sua personalidade e num tipo de carter. Ser o "estourado", o "violento". Poderia ser exatamente o contrrio, se tivesse sido condicionado em outra direo. A diferena entre este tipo de condicionamento (o operante) e o condicionamento clssico est em que o primeiro ocorre espontaneamente. H vrias respostas e a que for gratificada a que tender a se refletir e depois se consolidar. Os pais, por exemplo, podem ou no exagerar a "oralidade", isto , o hbito de obter prazer pela boca, atravs da comida, bebida, fumo etc. Se em criana, a qualquer sinal de desconforto, a nica resposta recebida for uma recompensa ou reforo oral agradvel, como o seio, mamadeira, chupeta e t c , poder, mais tarde, continuar exigindo, para qualquer ansiedade, uma recompensa oral em forma de comida, bebida, cigarro ou qualquer outra coisa que lhe d prazer oral. Muitos comportamentos que parecem complexos so, na realidade, reflexos de estrutura simples. O caminhar exige apenas dois reflexos simples: a fora da gravidade exige uma resposta de equilbrio de vrios msculos, mantendo o corpo em p (o esquema, como vemos E R ) ; a locomoo se faz pela presso na planta de um p ( E ) , que determina a resposta de levantar e avanar o outro p ( R ) . Outros condicionamentos so mais complexos. Certa pessoa vai deitar-se com dor nas costas e liga a dor nas costas a seu velho medo do cncer. Sonha que est sofrendo de cncer. A dor nas costas foi o estmulo (E) que determinou a resposta (R) sonho de estar com cncer. Tirar a mscara do cncer e ver o simples medo, sem seu correspondente real da molstia, um trabalho de descondicionamento. Descondicionar no s entender as fantasias e desmascar-las, mas sentir-se livre delas. No basta saber que bicho-papo no existe: preciso sentir que ele no existe, mesmo quando se est num quarto escuro, sem nenhuma companhia. Por isso, interpretar as fantasias desconhecidas no basta. preciso sentir o que se interpretou.

CONDICIONAMENTOPM (grita, esperneia) ' consegue (reforo) Houve reforo deste tipo de resposta ( R 4 ) . 112

DO MEDO

Numa criana de pouca idade, o medo nem sempre se concentra no objeto amedrontador. Freqentemente "transborda" de tal maneira que os pais encontram dificuldade para acompanhar. 113

A criana pequena que foi derrubada por um cachorro grande aprende naturalmente a temer o cachorro. Mas seu medo transborda, passando a incluir todos os cachorros e, s vezes, todos os animais de quatro patas. compreensvel que os pais se espantem ao v-la ficar com medo do retrato de uma vaca. Isso ainda resposta do primeiro ttulo. Coragem imposta. A sociedade moderna d nfase falta de medo. "Seja um garoto corajoso." Isso leva freqentemente as crianas a disfarar e esconder seus temores. Vencer o medo. Os psiclogos concordam que trs mtodos muito utilizados para combater o medo causam mais mal do que bem. Eles so: ignor-lo sistematicamente, ridicularizar ou punir a criana por ter medo e forar a criana na situao temida. Outras maneiras devem ser experimentadas. Por exemplo: explique a situao, tentando convencer a criana de que no h nada a temer; d voc mesmo um exemplo de falta de medo; experimente um "recondicionamento positivo": apresente o objeto temido junto com um objeto de prazer, ou incorpore a coisa assustadora a um contexto maior reassegurador. O temido cachorro grande ser gradualmente aceito se fizer parte de um jogo divertido com a participao de vrias outras crianas. Finalmente, ajude a criana a ganhar confiana em si, mostrando-lhe como lidar ativamente com a situao temida. Se ela tiver medo do quarto escuro, examine com ela o quarto luz do dia e mostre como poder achar o interruptor eltrico. Ajudando a criana a lidar ativamente com um de seus temores, voc poder dar-lhe uma concepo mudada de suas prprias habilidades. Se ela for confiantemente a um lugar que antes temia, tornou-se, nesta exata medida, uma pessoa mais madura.

imagem do pai morto. Ento, lembrando-se da famlia que devia sustentar, das frias que queria gozar e t c , passou a comer uma salada com peixe cozido. 1. Que tipo de condicionamento foi empregado no exemplo acima? 2. A lembrana da famlia e das frias serviu como reforo, estmulo condicionado ou estmulo incondicionado? 3. O medo de enfarte que o filho passou a ter, aps a morte do pai, funcionou como estmulo incondicionado ou condicionado? 4. A morte de um cachorro de estimao causa profundo abalo em seu dono, um professor com cerca de trinta anos. Seu sofrimento poderia ter sido causado por algum condicionamento? Vejamos: "Em criana eu projetei toda a minha necessidade de amor, porque no o recebi dos meus pais, num cachorro que ganhei de presente. Mais tarde, j um adulto neurtico, voltei a ter um cachorro, e quando ele morreu, recentemente, senti todas as dores que haviam se acumulado na minha infncia. Isto , no sofri com o que de fato ocorreu, mas em virtude da sensao de abandono que eu sentira em criana, por ocasio da morte do meu primeiro cachorro."

i

EXERCCIOS

r

Pai e filho eram excessivamente gordos e tinham a mesma maneira tensa de trabalhar. O pai acabou morrendo de enfarte. Isso causou profunda impresso no filho que, imaginando ter o mesmo destino do pai, resolveu emagrecer. Um dia, ao entrar num restaurante, viu uma suculenta travessa com fritas e de repente veio-lhe cabea a 114 115

mente. Quanto mais ligarmos o ato de aprender resoluo de nni.i situao qualquer: "passar no vestibular deste ano", "ser um.i lio;i professora primria" e t c , tanto mais eficientemente aprenderemos. Isto serve de orientao para a motivao dos alunos. O que ocorre numa sala de aula? Numa sala de aula existe ensino, que algo diferente de aprendizagem. Ensino a transmisso ou apresentao de certas orientaes por parte de algum, no caso, um professor, que facilita a aprendizagem por parte do aluno. Muita gente aprende sem precisar de ensino. So os autodidatas. O ensino, contudo, ajuda a aprender. Numa experincia de tiro ao alvo na gua, comprovou-se a vantagem do ensino. Dividiram-se os candidatos em dois grupos: a um, em sala de aula, ensinou-se a lei de refrao (aquela que faz com que um pau dentro da gua parea quebrado) e outros clculos. claro que este ensino, s, era insuficiente, pois um ensino normalmente no se constitui em aprendizagem. Ao outro grupo, nada se ensinou, dando apenas as armas. Os que foram ensinados a atingir o alvo, precisaram de menos tentativas do que os outros, aprendendo muito mais depressa. Portanto, h uma relao entre aprender, ensinar e treinar.

Nossos comportamentos aprendidos

A Educao a maior e mais ampla agncia criadora de comportamento e modeladora da pessoa. Est interessada em fazer nossas cabeas e orientar nossa ao presente e futura. ( D e u m a aluna d a terceira srie d o segundo grau)

Como seria um adulto que tivesse contado apenas com seu equipamento inato em todo seu desenvolvimento? Em outras palavras, como seria um adulto que no contasse com nenhum comportamento aprendido? Em primeiro lugar, em vez de falar (que algo que se aprende) teria gritos e grunhidos desarticulados. No saberia andar nas ruas, alimentar-se nossa maneira etc. Temos que aprender inmeras coisas. Quase todos os nossos comportamentos so aprendidos. Todas as vezes que nossas reaes inatas ou adquiridas se revelam insuficientes ou inadequadas para enfrentarmos situaes novas, temos que aprender algumas coisas at alcanar a resposta ou reao que convenha situao. Aprendemos ento novas respostas ou novas maneiras de agir, que incorporamos nossa conduta como formas progressivamente adaptadoras de comportamento. Chegamos, pois, concluso de que aprender , em ltima anlise, reagir de uma maneira favorvel a uma situao estimuladora, qual no podemos fazer face com nossos equipamentos hereditrios. H sempre uma situao estimuladora que nos leva sala de aula para aprender alguma coisa que nos habilite a reagir favoravel116

QUE VEM A SER APRENDIZAGEM?Aprender um assunto envolve trs processos quase simultneos: aquisio de nova informao; incorporao desta na experincia da pessoa; avaliao ou emprego desta informao na vida prtica. Num ato de aprendizagem, a informao nova que pretendemos assimilar, ou substitui o que j se sabia ou inteiramente nova. Numa aula de cincias, o professor afirma que os golfinhos so mamferos, quando todos os alunos pensavam que eram peixes. s vezes, porm, a informao se reduz a um aprimoramento, como no caso de uma aula sobre circulao do sangue, em que os alunos sabem, at certo ponto, que o sangue circula no corpo. O item incorporao ou transformao do conhecimento novo em nossa experincia implica sempre uma tendncia para seu emprego ou uso com vistas a irmos mais alm, enfim, a utiliz-lo. Neste sentido, o segundo item est intimamente ligado ao terceiro: verificar se o modo pelo qual manipulamos a informao adequado tarefa. 117

Um episdio de aprendizagem pode ser breve ou longo, conter muitas ou poucas idias. A durao de um ato de aprendizagem depende da motivao e das condies em que se encontra o aluno para sustent-lo. A principal destas condies a maturidade. Em termos prticos, aprendizagem a modificao da conduta interna ou externa mediante a experincia ou prtica. As modificaes no nosso comportamento, mediante a aprendizagem, no devem ser confundidas com aquelas que so determinadas pela maturao. H aprendizagem quando as transformaes no so e no podem ser explicadas pelo desenvolvimento natural do organismo. A aprendizagem a organizao feita pelo indivduo de um comportamento novo mediante a experincia. Quando voc soube o que aprendizagem, fez uma descoberta e uma incorporao para o futuro de uma nova maneira de comportar-se em relao a esta palavra, que representa uma situao a que se submete a pessoa. A aquisio de significado uma mudana na conduta interna.

Ensaio e erro. Consiste na eliminao sucessiva das respostas infrutferas. Quando se vai aprender a andar de bicicleta ou nadar, atravs de tentativas e erros se consegue eliminar os gestos errados e inteis at a obteno da pureza ou retido dos movimentos certos. Discernimento. Em geral, toda situao de aprendizagem constitui uma situao ou configurao (Gestalt, forma, campo). Toda configurao se compe de vrias partes constituindo um todo. Num ato de inteligncia possvel perceber, num relance, todas as partes, formando a soluo do problema. Com isto aprendeu-se a resolv-lo. O relacionamento inteligente entre as partes de um todo, com vista a uma soluo, chama-se insight. Transferncia de aprendizagem. um fato indiscutvel a transferncia de aprendizagem. Esta se d quando a pessoa reconhece a nova situao como semelhante outra para a qual tem comportamento aprendido. Alguns assuntos no podem ser estudados, diretamente, nas condies reais, tais como: cirurgia, pra-quedismo, pilotagem, astronutica etc. Nestes casos, aproveitam-se os benefcios da transferncia de aprendizagem. Esta, contudo, pode ser positiva ou negativa. Na transferncia positiva, h o deslocamento de habilidades e tendncias positivas de uma aprendizagem para a outra. A facilitao nervosa, adquirida na primeira, serve para encurtar e melhorar a aprendizagem seguinte. A transferncia negativa, por sua vez, desloca para uma atividade de aprendizagem similar atitudes negativas e bloqueios adquiridos anteriormente. Um segundo modo, pelo qual a aprendizagem anterior torna mais eficiente uma posterior, mesmo de natureza um tanto diferente, por meio do que se chama transferncia de princpios e atitudes. Consiste em se aprender uma idia geral, uma lei, a estrutura toda do fenmeno, de tal modo que passamos a reconhecer, com mais facilidade, os problemas subseqentes que forem casos especiais do conhecimento adquirido. Por exemplo, a boa compreenso da lei de Newton, a da gravitao universal, facilita a compreenso de inmeros fenmenos posteriores, como casos especiais dessa lei geral. O fenmeno que ocorre na memorizao se resume na aquisio de certas associaes numa seqncia fixa e predeterminada. A motivao, o reforo e o exerccio so fundamentais na atividade da memria. Nesta atividade, encontramos os seguintes fenmenos: fixao, reteno, evocao e reconhecimento.

MODOS DE APRENDERSegundo a Psicologia atual, h trs modos de aprendizagem: condicionamento clssico, ensaio e erro, e discernimento (insight). Codicionamento. Faz-se atravs do mecanismo dos reflexos condicionados (ver captulo a respeito). Por exemplo, pelo mecanismo dos reflexos condicionados que a criana aprende a falar. A criana v a bola primeiro circuito; enquanto v a bola, ouve: isto se chama bola. Mais tarde, basta o rudo sonoro (palavra) para evocar a realidade vista (bola).

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Fixao o esforo para imprimir na mente a matria desejada. Reteno a manuteno do fixado na mente. Evocao o retorno do fixado mente consciente. O reconhecimento consiste no em evocar mas em identificar dados presentes na situao anterior memorizao. Quando vemos algum caminhando numa rua temos certeza de que o conhecemos (evocao), mas no sabemos quem (reconhecimento).

4. Os dois novos vermes ainda guardavam, de memria, o aprendizado. A memria exige elementos materiais de natureza qumica e isio lgica para fixar seus conhecimentos. Esses elementos so identificados com substncias especiais do ncleo das clulas. A diferena principal entre a memorizao e a aprendizagem a mesma que se encontra entre a memria mecnica e a soluo de problemas pelas tentativas. Na memria mecnica existe pouco ou nenhum uso de tentativas entre as vrias alternativas. O problema da memorizao consiste principalmente em adquirir certas associaes numa seqncia fixa e predeterminada. A motivao, o reforo e o exerccio so necessrios, quer se esteja aprendendo Matemtica, quer se tente decorar um poema ou uma srie de frmulas.

MEMRIA E ESQUECIMENTOA causa principal do esquecimento a aprendizagem inadequada ou ineficiente. H contudo outras causas. Podemos citar em primeiro lugar o enfraquecimento progressivo dos elementos guardados no crebro. Assim se explica o esquecimento devido a certas doenas e por excessiva velhice. Muitos esquecimentos nascem da interferncia de matrias novas em dados antigos, da confuso de umas com outras ou ainda da inibio de dados antigos provocada por matrias novas. opinio geral que tudo que foi aprendido nunca esquecido totalmente, embora sua evocao seja muito difcil. Todos os seres vivos so capazes de aprender, desde que se utilizem recursos de ensino adequados. Para ilustrar isto, vanjos apresentar uma experincia feita com a planaria, verme primitivo e achatado que vive em rochas escuras de guas estagnadas e poludas. to primitivo que tem a propriedade surpreendente de, partido ao meio, regenerar cada metade num novo verme. Um pesquisador ensinou uma planaria a reagir luz, atravs do condicionamento. 1. O pesquisador acendia uma luz por cima da cabea da planaria e, ao mesmo tempo, transmitia-lhe um choque eltrico por meio da gua. 2. Depois de 250 tentativas de condicionamento, o vermezinho aprendeu que a luz significava choque, e assim, quando se acendia a luz, passou a se contrair. 3. Depois de ensinado, foi partido em dois. Quando as duas partes se regeneraram, transformando-se em dois vermes adultos, foram submetidas mesmo experincia. Qual teria sido o resultado? 120

INTERESSE E APRENDIZAGEMOnde h interesse, so possveis faanhas extraordinrias. Arturo Toscanini, o maestro, sabia de cor partituras de centenas de sinfonias e peras. Em contraste, podia subir num nibus e esquecer seu nmero quase imediatamente. Estava interessado numa coisa e no na outra. Um interesse genuno pelas pessoas far com que seus nomes sejam conservados na memria. Quando Henry Clay, o estadista americano que foi um dos fundadores do Partido Republicano, estava progredindo na poltica, pensava tanto nos que o estavam ajudando, que chegou a saber de cor os nomes de 20 000 de seus partidrios. Tambm Napoleo Bonaparte e George Washington estavam to interessados em seus soldados, que podiam chamar qualquer um sob seu comando pelo nome. Saio Finkelstein, matemtico, certa vez espantou uma platia memorizando o nmero 02470684596183261841 em quatro segundos e trs quartos; um dos presentes observou: "Eu no poderia nem ter lido isso no mesmo tempo", ao que Finkelstein replicou: "Talvez no, mas ento o senhor no se interessa, realmente, pelos nmeros, no ?" No interesse, podemos descobrir dois aspectos bsicos: e gosto ou habilidade e afetividade. aptido

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soal

Este grfico de Albert Eiss ilustra bem o papel do interesse pese da motivao na aprendizagem.1

4. Cognitivo. O processo de aprendizagem leva um fato ou aconiecimento desconhecido para a rea do conhecimento. Cria conhecimento. Se no se chega a um esclarecimento na rea cognitiva, no ocorre aprendizagem. 5. Psicomotor. O resultado final da aprendizagem abrange muito mais do que a parte cognitiva, atinge o indivduo como um todo. Da. referir-se o autor a esta rea como psicomotora. Depois que se aprende, h uma modificao na pessoa, por mnima que seja, pois a pessoa uma estrutura psicomotora. 6. Consciente. O processo da aprendizagem transforma algo desconhecido em conhecido. Dessa maneira h uma passagem do subconsciente (desconhecido) para o consciente (conhecido). 7. Comportamento aberto ou aprendido. Depois que se completa o processo e a partir desse momento, a reao psquica e motora da pessoa ocorre de modos diferentes. Vamos dar um exemplo simples. Antes, algum achava que o golfinho era um peixe, agora aprendeu que um mamfero. Com isto, incorporou uma resposta, dentro de si, que ao mesmo tempo psquica (consciente, clara) e motora. Por isso pode traduzir essa resposta em comportamento aberto ou manifesto. Este comportamento vai possibilitar a aquisio de novos comportamentos ou de novas entradas.