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CANDIDATOS EVANGÉLICOS E A PROPAGANDA POLÍTICA
ELEITORAL: UMA ANÁLISE DO PERFIL E DO DISCURSO
PARLAMENTAR PAULISTA
Priscilla Leine1
Mércia Alves2
RESUMO: A partir das eleições para o Congresso Constituinte em 1986, os evangélicos passaram a ganhar destaque na política partidária, desde então, ampliaram significativamente os seus espaços de atuação na sociedade brasileira. Lançando suas candidaturas por diversos partidos, esses candidatos têm espaço na propaganda política eleitoral televisionada. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo discutir a inserção desse grupo religioso na política partidária, problematizando a utilização que esses deputados fazem do uso dos meios de comunicação em suas campanhas eleitorais. Para tanto, será tomada a literatura que trata do crescimento dos evangélicos na política partidária e também serão analisados os programas veiculados pelo HGPE dos candidatos evangélicos eleitos Deputados Federais pelo Estado de São Paulo nas eleições de 2010, buscando apreender a identificação desses candidatos com seguimentos religiosos e posturas conservadoras-tradicionais em suas campanhas. PALAVRAS-CHAVE: partidos políticos, candidatos evangélicos, campanhas eleitorais,
1Mestranda em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade
Federal de São Carlos (PPGPOL/UFSCar); graduada em Ciências Sociais (UNIFESP); membro do grupo de estudos NEPLA – Núcleo de Estudos dos Partidos Políticos Latino-Americanos. E-mail: [email protected]. 2 Mestranda em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade
Federal de São Carlos (PPGPOL/UFSCar); graduada em Ciências Sociais (UFSCar); membro dos grupos de pesquisa Comunicação Política, Partidos e Eleições e do Centro de Estudos de Partidos Políticos (CEPP) da UFSCar; bolsista FAPESP. E-mail: [email protected].
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1. INTRODUÇÃO
Em um país predominantemente católico chama à atenção os dados do IBGE
de 2010, que demonstram o crescimento vertiginoso do segmento evangélico no
Brasil. Atualmente 22% dos brasileiros declaram pertencer a alguma denominação
evangélica. Esse crescimento pode ser observado em diferentes esferas de atuação
da sociedade brasileira. Entre elas destacaremos o envolvimento dos pentecostais na
política partidária. Foi nas eleições para o Congresso Constituinte a primeira vez que
os evangélicos ganharam visibilidade por sua participação na esfera política. Desde
então, o número de políticos desse segmento religioso têm conquistado diferentes
cargos políticos: governador, prefeito, senador, deputado federal, deputado estadual e
vereador.
Em época de eleição, as igrejas evangélicas costumam exibir as faixas e fazer
forte propaganda de seus candidatos oficiais, seja em seus templos religiosos ou nos
programas de rádio e TV. Por outro lado, se tornando para os candidatos a cargos
políticos uma parcela importante a ser conquistada, muitos partidos políticos buscam,
em período eleitoral estabelecer alianças com as igrejas evangélicas. Atualmente, a
chamada “bancada evangélica” na Câmara é composta por 70 deputados estaduais.
Estes, por sua vez, estão distribuídos por diversos partidos políticos. Dessa forma,
este paper tem como objetivo discutir sobre a inserção desse grupo religioso na
política partidária, problematizando a utilização que esses deputados fazem do uso
dos meios de comunicação em suas campanhas eleitorais, buscando apreender a
identificação desses candidatos com seguimentos religiosos e posturas
conservadoras-tradicionais em suas campanhas. Para tanto, analisamos as
campanhas dos deputados evangélicos que se candidataram a Deputado Federal pelo
Estado de São Paulo e foram eleitos nas eleições de 2010. Assim, buscamos
examinar as campanhas eleitorais dos 12 deputados evangélicos eleitos pelos
seguintes partidos políticos: PRB, PSDB, PMDB, PSD, DEM, PSC, PP, PV.
Para tanto, dividiremos este artigo em três sessões. No primeiro, buscamos
contextualizar o leitor sobre o processo de inserção desse segmento religioso na
política partidário e também apresentamos uma discussão sobre as campanhas
eleitorais brasileiras, e o uso que esse grupo religioso faz do Horário Gratuito de
Propaganda Eleitoral. Na segunda sessão será exposta a metodologia utilizada para
construção deste trabalho. Por fim, na ultima sessão, traremos do perfil dos candidatos
eleitos e dos resultados alcançados a partir de uma análise dos programas eleitorais
desses candidatos.
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2. POLÍTICAS PARTIDÁRIAS E PENTECOSTAIS: OS CHAMADOS POLÍTICOS
DE DEUS
O surgimento do grupo religioso no Brasil, os evangélicos, é datado do século
XX, em 1910. E tem sua origem de cisões no seio protestante. Nascido nos Estados
Unidos, as primeiras igrejas pentecostais chegaram ao Brasil em 1910. Longe de
representar um segmento religioso homogêneo, desde o início de sua expansão, as
igrejas evangélicas mostram importantes distinções doutrinárias. Neste sentido, a
sociologia da religião buscou, na tentativa de entender as diferenças entre essas
igrejas, classificar o pentecostalismo no Brasil em categorias. Mariano (2005), por
exemplo, separa os evangélicos em três categorias: pentecostais clássicos,
deuteropentecostais e neopentecostais. Sua divisão é baseada na dinâmica histórico-
institucional dessas igrejas, considerando, principalmente, as suas mudanças
teológicas. Freston (1993), apesar de também dividir os pentecostais em três “ondas3”,
destaca a influência dos aspectos políticos, sociais e econômicos em sua tipificação
das igrejas.
Portanto, apesar de reconhecermos as diferenças teológicas entre os
evangélicos separados pela tipologia de Mariano (2005) e Freston (1993), não
pretendemos adotá-la, trataremos esse grupo, de modo geral, como evangélicos ou
pentecostais. Na mesma direção Gaarder, Hellern e Notaker (2009, p. 303), chamam
atenção que no Brasil o termo evangélico é utilizado de forma muito genérica. A
dificuldade em se adotar qualquer divisão em categorias reside na própria rapidez de
como essas igrejas se adaptam as mudanças sociais e econômicas. Como exemplo, a
Igreja Assembleia de Deus é considera, na tipificação de Mariano (2005), como
pertencente ao pentecostalismo clássico. Uma forte características do pentecostalismo
clássico é o distanciamento da político partidária. No entanto, a Assembleia de Deus,
ao lado da Igreja Universal do Reino de Deus é uma das denominações com maior
sucesso eleitoral.
Foi na Constituinte, em 1986, que os pentecostais chamaram a atenção por
sua bem-sucedida inserção na política em termos quantitativos4 pela primeira vez.
3 O pentecostalismo clássico, conhecido como primeira onda (1910-1950) tem como característica radical
sectarismo e ascetismo, negação do envolvimento na política, a crença na volta eminente de Cristo e por
enfatizar o “dom de línguas” do Espírito Santo. A segunda onda, deuteropentecostalismo, iniciada na
década de 50 é marcada pelo evangelismo de massa, centrada na ideia da cura divina. Por fim, a terceira
onda tem inicio na dec. de 70 com os neopentecostais, como característica empreendem forte guerra
contra o diabo, estruturam-se empresarialmente, enfatizam a teologia da prosperidade, participam da
política partidária e usam de forma exacerbada diversos meios de comunicação (MARIANO, 2005) 4 Curiosamente outros países da América Latina experimentaram fenômeno parecido “no Peru a virada de
Fujimoro levou ao parlamento 19 evangélicos, além do segundo vice-presidente. Na Guatemala, em 1991,
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Num país de tradição católica saltaram de dois para dezoito deputados (FRESTON,
1993). Somado aos protestantes históricos, a chamada “bancada evangélica” na
Constituinte passou a contar com trinta e três deputados. Para Pierucci e Prandi
(1996), a partir dessa irrupção dos evangélicos na política surge uma nova opção para
o voto conservador no país. Há uma variedade de ramificações de igrejas e missões,
mas algumas se destacam por serem mais ativas na vida política, com maior sucesso
eleitoral.
3. POLÍTICA E RELIGIÃO: LITERATURA CONTEMPORÂNEA
Procurados por diversos partidos, as Igrejas Evangélicas passaram a
desempenhar papel importante não apenas nas eleições proporcionais, mas também
nas majoritárias. A eleição presidencial de 1989 foi um momento histórico de forte
participação por parte dos evangélicos na candidatura de Fernando Collor de Mello,
pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Frustrada a candidatura do evangélico
Íris Rezende à Presidência da República pelo Partido do Movimento Democrático
Brasileiro (PMDB), o novo “escolhido por Deus” passou a ser Collor que, nas palavras
de Edir Macedo: "Após orar e pedir a Deus que indicasse uma pessoa, o Espírito
Santo nos convenceu de que Fernando Collor de Mello era o escolhido" (Jornal do
Brasil, 3.12.89) (Apud MARIANO & PIERUCCI, 1992 p. 94).
No segundo turno, com um discurso anticomunista, os evangélicos passaram a
atacar massivamente Luís Inácio Lula da Silva, candidato do Partido dos
Trabalhadores (PT) à Presidência da República. A polaridade ideológica, entre os dois
candidatos, Lula5 pela esquerda e Collor associado à direita facilitou o apoio dos
evangélicos a este último candidato. Os evangélicos pró-Collor acusavam seu opositor
de associação ao comunismo ateu que perseguiria os evangélicos, além de ser
favorável ao aborto e do casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (MARIANO
&PIERUCCI, 1992). A associação de Lula ao comunismo foi a principal arma utilizada
contra o PT. Para os evangélicos comunismo significa preocupação direta com a
sobrevivência de suas igrejas. Neste sentido, estava também diretamente associado a
perseguição religiosa. Além disso, muitos evangélicos acreditavam que o PT havia
estabelecido um pacto com a igreja católica pela tomada de poder político. Tal
especulação apenas contribuiu mais para a rejeição dos evangélicos ao candidato
Lula.
Jorge Serrano tornou-se o primeiro protestante praticante a chegar à presidência de nação latino
americana pelo voto popular” (FRESTON, 1993 p. 6). 5 Houve um pequeno apoio por parte de alguns protestantes históricos a candidatura de Lula.
5
Contudo, para Pierucci e Mariano (1992), essa bandeira tão veementemente
levantada pelos evangélicos sobre liberdade é contraditória quando olhamos para a
história do Brasil. Vinte anos de ditadura e nenhum grupo evangélico nunca
questionou a falta de liberdade política, liberdade de expressão, liberdade de
pensamento...Assim, “A hierarquização das liberdades é sempre um ato arbitrário;
valorizar absoluta e cegamente uma delas, em detrimento das outras, pode dar num
desastre” (ibidem, p. 15). Dessa forma, a leitura que esses grupos fizeram do processo
democrático no Brasil, com diagnósticos assustadores sobre uma possível ameaça
comunista foi utilizado como o principal fator de motivação para entrada desses
pentecostais à política partidária.
Da mesma forma, em campanha presidencial de 1994, os evangélicos fizeram
forte oposição ao PT. Segundo Mariano (2005), trabalharam forte contra o candidato
do PT, “além de identificá-lo com o demônio e de garantirem que sua vitória resultaria
em perseguição aos evangélicos […]” acusaram tal partido de pretender legalizar a
união entre pessoas do mesmo sexo e de ser favorável ao aborto. Também foram
ativos nas eleições para a prefeitura de São Paulo, em 1996. A Igreja Universal do
Reino de Deus que sempre se envolvida em campanhas eleitorais decidiu não apoiar
de forma direta nenhum candidato ao executivo municipal. No entanto, vários políticos
foram em busca do apoio dos evangélicos. Em maio desse ano, Paulo Maluf e o
candidato a prefeito pelo Partido Progressista Brasileiro (PPB) Celso Pitta,
participaram da Marcha para Jesus que reuniu cerca de 500 mil evangélicos em busca
do apoio dos evangélicos. Contudo, a promessa por parte do Partido da Social
Democracia Brasileira (PSDB), de que, em caso de vitória do candidato José Serra, a
Universal ganharia a direção de uma secretária na área social garantiu uma aliança
entre os tucanos e os evangélicos.
Nas eleições de 1998 pelo Rio de Janeiro, os evangélicos conquistaram
diversos cargos políticos. Anthony Garotinho foi eleito para o cargo de governador pelo
Partido Democrático Trabalhista (PDT), tendo como vice-governadora Benedita da
Silva pelo PT. Além disso elegeram nove deputados estaduais e dez deputados
federais (MACHADO, 2006). A vida política de Benedita da Silva chama atenção por
ela ser evangélica e filiada ao PT, partido político que sempre foi mal visto por esse
segmento religioso. No pleito de 2000, Benedita concorreu a prefeitura do Rio pelo PT
lançando o slogan “Bota fé no 13”, que lhe rendeu apenas a terceira posição no
primeiro turno.
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Importante destacar que a participação de candidatos evangélicos em eleições
para cargos Legislativos é numericamente superior quando comparado a disputas por
cargos do Executivo. No entanto, o Rio de Janeiro foge a esse panorama, a chapa
vencedora para governador e vice do Rio, como já foi citada acima foi integrada por
Garotinho e Benedita. Em 2002 Garotinho também concorreu ao cargo de presidente
da República, no mesmo ano duas mulheres do mesmo segmento religioso
disputaram o cargo de governador do Rio: Benedita da Silva e Rosângela Matheus,
esposa de Anthony Garotinho (MACHADO, 2006).
No pleito de 2006, Lula, candidato a reeleição pelo PT buscou em sua
campanha eleitoral o apoio dos grupos pentecostais. Dessa forma, participou de
reuniões com lideranças evangélicas, prometeu ampliar as parcerias na área social
entre o governo federal e as igrejas desse segmento, pediu votos e contou com um
comitê destinado a esses religiosos (MARIANO, HOFF e DANTAS, 2006). Em evento
realizado pelo Senador do Partido Republicano Brasileiro (PRB/RJ) Marcelo Crivela,
Lula se encontrou com diversos cantores gospel e discursou: “Quis Deus que fosse
esse, que era chamado de demônio, que fosse lá sancionar o Código Civil que permite
total liberdade de religião neste país”. (cf MARIANO, HOFF e DANTAS, 2006, p. 66).
Lula estava se referindo a sanção do Projeto de Lei 10.825, que mudou o caráter
jurídico das organizações religiosas (Idem, 2006 p. 66). Para conseguir apoio da Igreja
Universal Lula apoio o candidato ao Governo do Rio, Marcelo Crivella pelo PRB. A
coligação do PT com o partido de Crivella foi oficializada em março de 2006. Em
setembro do mesmo ano, na Convenção Nacional das Assembleias de Deus foi
declarado o apoio oficial desse igreja ao candidato petista.
Salta aos nossos olhos as mudanças entre as lideranças evangélicos e o
próprio PT. Se nas eleições de 1989 e 1994 o PT era identificado como uma ameaça
pelos evangélicos, nas eleições de 2002 (a partir do segundo turno) e nas eleições de
2006 resolveram apoiar o Lula, como candidato a presidência da República. É notável
que a procura de políticos, de diversos partidos, pelo voto dos evangélicos é um fator
de estimulo à inserção desses religiosos na política stricto senso. Na Câmara dos
Deputados o crescimento desse segmento religioso na política é visível:
Tabela 1. Número de Deputados Evangélicos na Câmara
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Ano Legislatura Nº Absolutos Porcentagem*
2003 – 2007 52ª 59* 11,50%
2007 – 2011 53ª 36** 7,50%
2011 – 2015 54ª 70*** 13,64%
*Fonte: ORO (2006); ** Fonte: Diap; ***Fonte: Diap
*Porcentagem com relação aos 513 deputados que compõe a Câmara.
Em menos de 20 anos os evangélicos duplicaram a sua base parlamentar.
Com exceção da 54ª Legislatura, onde houve queda significativa dos parlamentares
pentecostais, os demais anos mostram o crescimento desses políticos religiosos na
política. Segundo Mariano, Hoff e Dantas (2006, p. 69), esse recuo da bancada
evangélica sofrida no ano de 2007 é o resultado do envolvimento desses políticos no
escândalo da Máfia dos Sanguessugas6, “haja vista que nenhum dos deputados
evangélicos denunciados conseguiu se reeleger”. A Máfia dos Sanguessugas diz
respeito ao esquema de corrupção onde houve superfaturamento, entre outras
irregularidades, na venda de ambulâncias para diversas prefeituras. No esquema
estavam envolvidos: prefeitos, senadores, deputados federais e a empresa Planam. A
CPMI7 dos Sanguessugas, criada em junho de 2006, que pouco tempo depois
publicou a lista com os nomes dos setenta e dois parlamentares envolvidos, dos quais
288 eram evangélicos. Destes, 27 estavam na lista de recomendados a terem o
mandado cassado (Ibidem, 2006). Para tentar minimizar os custos da associação das
grandes denominações pentecostais, como a Universal e a Assembleia de Deus ao
esquema de corrupção, tais denominações retiraram o apoio político aos deputados
envolvidos, fator que pode ser associado à redução da bancada na legislatura
seguinte.
6 Segundo depoimentos colhidos pela Justiça Federal e CPMI, acredita-se que a bancada evangélica
participou ativamente do esquema, arrecadando uma média de R$ 53 milhões (cf MARIANO, HOFF e
DANTAS, 2006). 7 Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.
8 Dos vinte e oito deputados envolvidos 10 eram da Igreja Assembleia de Deus e 14 da Igreja Universal
do reino de Deus.
8
Ademais, desde a sua chegada ao Brasil, o pentecostalismo “tem apresentado
expressivo crescimento numérico, associado a diferentes transformações tanto em sua
atividade religiosa propriamente dita quanto na diversificação de suas instituições […]”
(ALMEIDA, 2009). Na tabela abaixo, podemos observar o crescimento numérico desse
segmento religioso no Brasil e, em processo inverso o declínio da religião católica.
Tabela 2.
Esse crescimento da religião pentecostal na sociedade brasileira, como
buscamos mostrar pode ser observada em esferas extra eclesiais, como a política
partidária. Atualmente, na 54ª Legislatura, a plataforma evangélica na Câmara
conseguiu a sua maior expressão política desde o seu envolvimento nessa esfera.
Conseguiram eleger 70 deputados federais, estes provenientes de 149 partidos
políticos representando 22 estados diferentes. Cabe destacar o desempenho do
Partido Social Cristão, que conseguiu eleger 11 deputados desse segmento cristão.
Nessa Legislatura alguns fatos envolvendo os evangélicos foram alvo da mídia. Entre
eles, a nomeação do evangélico Marco Feliciano do PSC, no ano de 2013, para
presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias. Deputado Federal eleito
para o seu primeiro mandando em 2010, Marco Feliciano é um pastor da Igreja
Ministério Tempo de Avivamento, denominação ligada à Igreja Assembleia de Deus. A
9 Partido Progressista, Partido do Movimento Democrático Brasileiro, Partido da Social Democracia
Brasileira, Partido Social Cristão, Democratas, Partido dos Trabalhadores, Partido Republicano
Brasileiro, Partido da República, Partido Trabalhista Cristão, Partido Verde, Partido Socialista Brasileiro,
Partido Trabalhista Brasileiro, Partido Democrático Trabalhista e Partido da Mobilização Nacional.
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nomeação de um evangélicos para presidência da Comissão de Direitos humanos
causou comoção na sociedade civil, com manifestações de insatisfação de diversos
movimentos sociais, artistas e cantores. Isto, tendo em vista que é nessa comissão em
que são discutidos questões sobre direitos de minorais, tais como: direitos da
comunidade LGBT, direitos civis de índios e negros e atentados contra os direitos
humanos.
Após manifestações contra a permanência de Marco Feliciano na presidência
de uma comissão tão essencial para as minorias, no dia 12 de Março de 2013, o
Colégio de Líderes decidiu manter o cargo do deputado. Chama atenção que
tradicionalmente a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias sempre foi presidida
por parlamentares ligados a partidos de esquerda.
“Em sua primeira reunião à frente da Comissão de Direitos Humanos, que ocorrerá na quarta-feira, 13, o pastor e deputado Marco Feliciano (PSC-SP) tirou o tema "homofobia" da pauta. Ao mudar a agenda prevista, Feliciano tenta esvaziar os trabalhos da comissão e afastar os manifestantes que protestam contra sua permanência na presidência” (Jornal Estadão, 12/03/2013)
Ainda não ano de 2013, na Comissão, Feliciano conseguiu aprovar o fim da
resolução que obriga os cartórios a realizarem casamento entre pessoas do mesmo
sexo. Também foi contra o projeto que prevê ao parceiro homossexual a condição de
dependente do INSS. Foi a favor do projeto apelidado de “cura gay”, apresentado pelo
deputado federal João Campos do PSDB-GO, sobre tratamento psicológico para
pessoas que se declarem homossexuais. Além disso, criou polêmica em suas redes
sociais como Twitter e blogs ao atacar a comunidade LGBT, ser favorável a censura e
a redução da maioridade penal. Ao fazer um balanço sobre a liderança de Feliciano na
Comissão o Jornal Estadão publicou:
“Feliciano chegou à presidência da comissão em março, apesar de protestos de movimentos sociais e deputados com atuação na área por declarações nas redes sociais. O pastor tinha dito que "os africanos são amaldiçoados" e que "a podridão de sentimentos dos homoafetivos leva ao ódio, ao crime, a rejeição". Com apoio da bancada evangélica, resistiu à pressão e ficou no posto. Feliciano disse que o debate sobre direitos humanos parou de ser feito para "beneficiar um ou dois grupos". (Jornal Estadão 18/12/2013)
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No entanto, apesar do seu empenho na Comissão em levar uma pauta “anti-
gay”, considerada uma vitória pelo segmento evangélico, não houve grandes avanços
dessas pautas fora da comissão. Muitos evangélicos foram contra as declarações do
Marco Feliciano, colocando em dúvida a existência de um grupo religioso coeso.
Buscamos nessa sessão inserir o leitor no debate sobre a participação dos
evangélicos na arena política. Para tanto, fica-nos evidente que desde a Constituinte
esses religiosos têm ampliado os seus espaços de atuação na sociedade civil, com
destaque à política stricto senso. Esse aumento dos evangélicos nessa arena trouxe,
entre outros benefícios, a concessões de emissoras de TV. Contudo, a ciência política,
de modo geral, tem dado pouca atenção ao crescimento desse grupo nas Assembleias
Estaduais e na Câmara Federal. Ademais, os estudos sobre os evangélicos e o
recente envolvimento destes na política partidária têm ficado circunscrito às análises
da sociologia (MARIANO, 2005; PIERUCCI & PRANDI, 1996; ORO, 2000) e
antropologia (ALMEIDA, 2009). De maneira que, pouco se sabe da atuação desses
deputados pentecostais, sobre o que acontece depois das urnas apuradas.
Para defender os seus interesses, muitos políticos evangélicos alegam o seu
engajamento político como uma forma de defender, em caso de perseguição política,
“a manutenção de suas concessões de emissoras de rádio e TV” (MARIANO, 2005
p.91), defender a “moral familiar”, lutar contra o aborto e a união civil de
homossexuais. Também para Freston (1993) a politização desse segmento religioso é
explicado pela defesa do “ambiente sectário”. Assim, é possível pontuar três
interesses políticos desses religiosos: 1) ao se lançar na política, ou lançar um
conhecido ou membro da família é uma forma de profissionalizar o seu campo. A força
política se transforma em fortalecimento da sua organização religiosa, é uma forma de
captar recursos como a concessão de espaços midiáticos para a sua expansão; 2) o
segundo ponto relaciona-se à “liberdade religiosa ameaçada”, neste sentido há uma
forte concorrência com a igreja católica para conquista de espaço na sociedade; 3) e
por fim, a ideia de defesa dos valores familiares. A política é uma grande via de
acesso para lutar contra possíveis mudanças no ambiente social que conflitam com os
seus valores religiosos, por exemplo: como reconhecimento de direitos para os
homossexuais ou questões sobre o aborto.
A presença de parlamentares evangélicos no Congresso Constituinte10,
processo de institucionalização do estado de Direito e da democracia no Brasil,
10
A bancada evangélica na Constituinte conseguiu eleger 33 deputados, sendo destes 18 pentecostais (PIERUCCI & PRANDI, 1996 p.168)
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inaugurou uma nova fase para as igrejas evangélicas e seus seguidores (PIERUCCI &
PRANDI, 1996). O discurso sobre a liberdade religioso e a defesa dos bons costumes
chamou a atenção da imprensa para esse grupo. Tais deputados se declaravam como
os representantes de Deus na Constituinte, de modo a se manifestarem como os
representantes da vontade do povo. Como afirma o deputado Daso Coimbra, um dos
líderes evangélicos pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB): “a
maioria do nosso povo acredita em Deus e a Constituição deve expressar a vontade
dessa maioria” (PIERUCCI & PRANDI, 1996 p. 174). Como porta-vozes da defesa dos
costumes tradicionais, trabalharam intensamente contra a aborto, homossexualidade e
contra o feminismo. De modo inverso trabalharam a favor da censura de diversos
meios midiáticos (TV, cinema e rádio).
A ação política desses parlamentares é “conservadora-tradicionalista”, com
uma preocupação de fundo sobre a “moral sexual”. Neste sentido, segundo Pierucci e
Prandi (1996), a direita no Brasil passa a configurar uma “nova direita”, soma-se ao
conservadorismo socioeconômico os ditos preceitos cristãos sobre os bons costumes
e a família. Em 1987, a bancada evangélica é tratada pela imprensa como um grupo
coeso suprapartidário. A formação desse bloco teria como principal objetivo, acima de
qualquer diferença entre suas filiações partidárias, impedir na Constituinte iniciativas
que fossem contra a moral cristã. Outro indicador da forte presença desses deputados
pentecostais na Constituinte foi a participação deles nas subcomissões formadas
durante a elaboração do primeiro texto. Das vinte e quatro subcomissões formadas,
estiveram presentes em dezesseis (PIERUCCI & PRANDI, 1996). Assim, apesar das
diferenças a respeito de questões socioeconômicas e partidárias, deveria prevalecer a
conservação dos valores tradicionais e a garantia da liberdade religiosa dos
evangélicos.
Desta forma, a hipótese deste trabalho é que a ação política desses
parlamentares “conservadora-tradicionalista”, bem como questões sobre a
manutenção da família tradicional, tal como é apontada pela literatura, está presente
também nos discursos das campanhas eleitorais desses evangélicos quando
candidatos, principalmente no HGPE, um dos principais meios pelos quais os
candidatos a cargos eleitorais têm visibilidade.
Durante o período eleitoral, o rádio e, principalmente, a televisão são, por meio
dos programas eleitorais transmitidos pelo Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral
(HGPE), um dos principais canais de visibilidade para o candidato e de informação
para o eleitor, isso porque a televisão no Brasil se caracteriza como principal meio de
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comunicação de massa, e essa hegemonia está relacionada ao grande número de
aparelhos televisivos no país e, pode ser medida pela grande audiência e ao alto
investimento em publicidade (AZEVEDO, 2006). Assim, o HGPE contribui
primordialmente para o debate público e para que a que a grande parcela da
população que não possui identificação partidária, possa tomar conhecimento de
questões importantes que influenciam a decisão do voto. Em dado panorama, grande
parte dos eleitores médios não mais definem o seu voto segundo as suas
predisposições políticas e ideológicas, o que se configura uma situação de constante
volatilidade eleitoral. Apesar das normas que restringiam os conteúdos veiculados, os
partidos políticos brasileiros têm espaço na televisão e no rádio desde a década de 60.
Entretanto, é apenas em 1985, com a redemocratização que o Tribunal Superior
Eleitoral organiza as eleições, garantindo aos partidos, entre outros, o direito à
liberdade de expressão.
As campanhas eleitorais televisionadas têm importância estratégica em meio a
um pleito, pois é onde o debate político alcança maior contingência. Assim, a estrutura
institucional adotado pelo Tribunal Superior Eleitoral é uma importante variável a ser
considerada, pois por meio da legislação eleitoral impõe aos partidos políticos o
período, a ordem e o horário em que deve ser exibida a propaganda, restando a esses
partidos a adaptação a esses constrangimentos legais. Quando se trata dos
candidatos evangélicos, como já citado esses estão distribuídos em diversos partidos,
no período eleitoral, os partidos políticos destinam espaço no HGPE para os
candidatos evangélicos. Muitos desses cristãos já possuem carreira política, seja por
histórico familiar, ou por já ter ocupado outro cargo político. Há ainda aqueles que
dispõem de cargos importantes dentro de suas denominações, como será
demonstrado no perfil desses parlamentares que apresentaremos na sessão seguinte.
As principais funções do HGPE são a de mobilizar o eleitor para que esse se
de conta de que é chegado o momento de decidir o seu voto; para tanto deve
promover as informações necessárias para que esse eleitor identifique entre os
candidatos aquele, uma vez eleito, agenciará maiores benefícios; agregar entre
candidato e eleitor uma relação mínima de credibilidade (VEIGA, 2002). De tal modo,
dada a importância da visibilidade da qual o candidato usufrui por meio da exposição
principalmente na TV os atores políticos devem empreender esforços para a formação
de uma imagem pública política adequada aos seus determinados objetivos. Assim,
indicamos como uma segunda hipótese deste trabalho, que a utilização de prefixos
que identifiquem esses candidatos como evangélicos, tais como “pastor” ou
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“missionário” se configura como uma estratégia de campanha que visa à identificação
e a promoção desse candidato como aquele que pode atender a interesses
específicos.
4. METODOLOGIA
Para atender aos objetivos propostos pela pesquisa, em um primeiro momento
foi levantada a bibliografia necessária para fins obter determinada clareza do processo
de inserção de evangélicos na política partidária e eleitoral. Posteriormente, buscamos
levantar o perfil de cada candidato evangélico eleito ao cargo de Deputado Federal
pelo Estado de São Paulo no ano de 2010. Para tanto, foram identificados os partidos
pelos quais esses deputados foram eleitos, a denominação religiosa da qual são parte
e se esses deputados foram reeleitos no ano de 2010 ou eleitos pela primeira vez.
Em seguida, será descrito o perfil político desses eleitos por meio da
apresentação da trajetória política desses, e profissional, uma vez que muitos desses
evangélicos dispõem de cargos importantes dentro de suas denominações, sendo
assim bastante influentes nesse meio.
O passo seguinte consistiu na seleção dos programas eleitorais desses
candidatos exibidos no HGPE durante a campanha das eleições de 2010. Os
programas políticos do HGPE no primeiro turno das eleições presidenciais de 2010
começaram a ser exibidos entre os dias 17 de agosto e 30 de setembro daquele ano,
às segundas, quartas e sextas-feiras, duas vezes ao dia durante a programação
normal das emissoras de televisão aberta no Brasil, conformes normas do TSE. Nas
mensagens dos candidatos, foram identificados os principais temas, e a utilização
“frases de efeito” que os identifiquem com o seguimento evangélico.
4. PERFIL E CAMPANHA: CANDIDATOS EVANGÉLICOS ELEITOS A
DEPUTADO FEDERAL
Segue na tabela abaixo a lista completa dos candidatos pentecostais eleitos
pelo estado de São Paulo, com seus respectivos partidos e denominações do qual
fazem parte. Destes deputados apenas três foram reeleitos para a 54ª Legislatura, o
que não significa que este foi o primeiro cargo público dos demais, como será
demonstrado na próxima tabela.
DEPUTADOS FEDERAIS EVANGÉLICOS ELEITOS POR SÃO PAULO 54ª LEGISLATURA
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DEPUTADOS PARTIDO UF IGREJA SITUAÇÃO
Bispo Antônio Bulhões PRB SP IURD Reeleito
Bruna Furlan PSDB SP Igreja Cristã do Brasil Nova
Edinho Araújo PMDB SP Igreja Presbiteriana Independente
Novo
Jefferson Campos PSD SP Quadrangualar Reeleito
Jorge Tadeu Mudalen DEM SP Internacional da Graça de Deus Reeleito
Marcelo Aguiar DEM SP Igreja Renascer Novo
Marco Feliciano PSC SP Assembleia de Deus Novo
Missionário José Olimpo PP SP Mundial do Poder de Deus Novo
Otoniel Lima PRB SP IURD Novo
Pastor Paulo Freire PR SP Assembleia de Deus Novo
Roberto de Lucena PV SP Igreja o Brasil para Cristo Novo
Vaz de Lima PSDB SP Presbiteriana Independente Novo
Dados: Diap / Portal Fronteira Final
Podemos observar na Tabela 3 que os candidatos foram eleitos por 10 partidos
diferentes. Nenhum dos partidos elegeu um número alto de candidatos, deste modo,
temos que os candidatos evangélicos em relação aos partidos políticos são eleitos de
forma descentralizada. Observamos também 10 diferentes denominações religiosas
que os candidatos eleitos se declaram pertencentes, o que demonstra que esses
deputados compõem um segmento bastante heterogêneo, uma vez que tais
denominações apresentam distintas teologias, isso pode apontar para certa dificuldade
de uma bancada evangélica coesa.
Entre os candidatos eleitos, muitos apresentam no seu perfil do portal Câmara
dos Deputados e no seu site pessoal, algum tipo de relação com determinadas
denominações religiosas, e suas funções e/ou cargos nas mesmas.
DEPUTADOS FEDERAIS EVANGÉLICOS ELEITOS POR SÃO PAULO 54ª LEGISLATURA
DEPUTADOS Perfil Político/Profissional
Bispo Antônio Bulhões
Apresenta-se no site da Câmara como: “Apresentador de televisão, administrador, teólogo e Bispo Evangélico”. Está no seu segundo mandato seguido como deputado Federal, atualmente é Bispo da Igreja Universal do Reino de Deus. Foi durante nove anos apresentador do programa evangélico “Fala que eu te escuto”, da Rede Record de televisão. Também foi apresentador da Record News do programa “Retrato de família”, que segundo informações do seu site tinha como objetivo trazer “ao público depoimentos de pessoas que encontraram o caminho para a solução de problemas familiares dos mais diversos, com intuito de levar ao telespectador como é
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possível equacionar conflitos interiores e de relacionamentos, haja visto que a desagregação familiar é a maior razão dos problemas sociais de hoje”
Bruna Furlan
Foi a terceira deputada mais votada pelo estado de São Paulo. Apesar do seu perfil na Câmara e no site não fazer referência a sua religião, no site da Igreja Congregação Cristã do Brasil, do qual faz parte, há uma publicação dedica a deputada: “moça franzina com jeito de bonequinha e vozeirão de bispa evangélica — ela faz parte da Congregação Cristã no Brasil — recebeu 270 661 votos”
Edinho Araújo
Edson Edinho Coelho Araújo, advogado e professor; foi prefeito da cidade Santa Fé do Sul e deputado estadual por três mandatos (1983-1994). É membro da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, em discurso na Câmara no dia 07/08/2013 disse: “Numa sociedade em movimento, que enfrenta a veloz renovação dos costumes, é um desafio manter os valores cristãos e éticos”.
Jefferson Campos
Jefferson Campos em seu perfil se declara: “Ministro do Evangelho, Advogado, Tecnólogo, Radialista, Bacharel em Teologia”. Em seu perfil nas redes sociais costuma utilizar o título de “Pr”, que significa pastor. Há mais de 25 anos é pastor pentecostal e, atualmente atua como Secretário Geral de Cidadania da igreja Evangelho Quadrangular. Em seu site diz que foi na década de 90 que “começou a nascer no coração do Pr. Jefferson, o desejo por ser uma voz da igreja […]”
Jorge Tadeu Mudalen
Jorge Tadeu é deputado federal reeleito pelo DEM. Antes de se filiar o DEM, foi membro do PMDB e PPB. Em seu site pessoal o deputado defende a parceria entre política e religião, “que a presença de Deus faça cada vez mais parte da política e que a política cada vez mais contribua para o crescimento da igreja”. Evangélico há mais de 14 anos, atualmente é membro da Igreja internacional da Graça de Deus.
Marcelo Aguiar
Marcelo Aguiar é deputado federal pelo DEM e membro da Igreja Renascer. Músico sertaneja conhecido no Brasil se converteu a religião evangélica em 2000. Atualmente é um cantor gospel e já apresentou diversos programas na Rede Gospel de televisão. É membro da diretoria das Frentes Parlamentares Mistas Evangélica e de Defesa da Família.
Marco Feliciano
Marco Feliciano é um pastor evangélico. Em seu perfil no Portal da Câmara se descreve como: “pastor Marco Feliciano” e “pastor evangélico”. No ano de 2013 foi presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Além de cantor e escritor gospel é o fundador da igreja Ministério do Avivamento, denominação vinculada a Assembleia de Deus.
Missionário José Olimpo José Olimpo, mais conhecido como “Missionário José Olimpo” e membro da igreja evangélica Mundial do Poder de Deus. Seu primeiro
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cargo político foi em 1982 como vereador pela cidade de Itu.
Otoniel Lima
Otoniel Lima é membro da Igreja Universal do Reino de Deus. Foi vereador da cidade de Limeira e deputado estadual. Antes de se filiar ao PRB foi filiado aos seguintes partidos: PPB, 2000-2001; PL, 2001-2006; PR, 2006-2007; PTB, 2007-2008. Segundo o site da Universal: “Os políticos vinculados ao Partido Republicano Brasileiro (PRB) seguem os preceitos que norteiam a atuação da Igreja Universal e lutam pela aprovação de leis que beneficiam a população”
Pastor Paulo Freire
Paulo Freire é pastor da Assembleia de Deus. Em seu perfil no site da Câmara declara como profissão ser Ministro do Evangelho. Filho do presidente da Convenção geral das Assembleias de Deus no Brasil. Em seu site pessoal há a informação de que foi eleito pelos pastores do estado de São Paulo para ser “o representante da denominação no Congresso Nacional”
Roberto de Lucena
Roberto de Lucena é pastor da igreja O Brasil para Cristo. Em seu perfil no site da Câmara declara como profissão: Conferencista, Escritor, Pastor Evangélico. Em seu site pessoal diz que busca lutar pela vida, família e pela preservação do meio ambiente.
Vaz de Lima
Vaz de Lima é deputado federal pelo PMDB. Tem longa carreira política, durante 4 anos consecutivos deputado estadual no Estado de São Paulo, sempre pelo PMDB. Filho de família evangélico é membro da igreja Presbiteriano Independente, do qual foi pastor por mais de 35 anos.
Nas descrições acima apresentadas, temos que todos os candidatos se
declaram pertencentes a alguma denominação evangélica. Além disso, foi possível
identificar que muitos desses parlamentares já haviam ocupado algum cargo político,
principalmente como vereador (mas também como prefeito e deputado estadual).
Aqueles que eram iniciantes na arena eleitoral, por outro lado, ocupavam papel de
destaque em suas igrejas, muitos como pastor. Ainda há o caso da deputada Bruna
Furlan, que possui um histórico familiar de envolvimento na política. Alguns deles
também possuem carreira artística, é o caso dos deputados Marcelo Aguiar e do
Marco Feliciano, conhecidos como cantores gospel. Ainda há dois ex-apresentadores
de programa televisivo: Antônio Bulhões e Marcelo Aguiar.
Dessa forma, grande parte dos candidatos evangélicos ao cargo do Legislativo
por São Paulo são membros de destaque de grandes igrejas pentecostais. Contudo,
ainda nos cabe investigar se o discurso desses cristãos em suas campanhas é
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direcionado há um eleitorado evangélicos. Em outras palavras se, assim como a
literatura discutida na primeira sessão afirma, as campanhas eleitorais desses
deputados seria marcada pela ênfase nos temas cristãos, tais como: defesa dos bons
costumes, valores morais, defesa da família, entre outros.
Para classificar as mensagens segundo os seus principais temas, fez-se
necessário um padrão de leitura, o qual evidencia sempre a principal característica de
cada uma das mensagens, aquela que pode ser considerada uma “variável
independente” em meio ao discurso. Assim, foi obtida uma classificação geral dos
programas eleitorais dos candidatos evangélicos eleitos a Deputado Federal pelo
Estado de São Paulo no ano de 2010. Deste modo, foram identificados os principais
temas dessas campanhas e, posteriormente classificados em categorias, como
podemos observar na tabela de elaboração próxima abaixo:
CATEGORIAS DESCRIÇÃO DAS CATEGORIAS
Proposta de Política Pública Mensagens onde os candidatos fazem propostas de políticas públicas.
Abordagem Política
Mensagens em que o candidato se propõe a inovar a política ou fazer política de forma inovadora; destaque das suas realizações na atualização política; realizações e benfeitorias sociais; confiança no caráter pessoal do candidato quanto à atuação política.
Frases de Efeito
Mensagens em que o candidato se declara pastor; defendem o crescimento do evangelho; deseja que o espectador seja abençoado por Deus.
Valores Tradicionais
Mensagens que destacam os valores éticos dos candidatos; defesa da moral, dos bons costumes; e a família tradicional; defesa da ética da sociedade; defesa da vida; declaração de fé e dos princípios cristãos.
Foram analisados na tabela acima os programas eleitorais dos candidatos
evangélicos eleitos veiculados pelo HGPE. Indicamos que cada programa político é
composto por uma fala de aproximadamente 30 segundos e, que todas as falas foram
classificadas segundo as categorias acima e que cada uma delas pode ser alocada a
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uma ou mais de uma categoria. Deste modo, temos: a) em 12 programas analisados,
apenas dois candidatos apresentam propostas de políticas públicas, a saber: inclusão
social, política de segurança e educação. Essa categoria apresentou a menor
quantidade de mensagens; b) nos programas analisados, dois candidatos se propõem
a inovar a política e a forma de como fazê-la; três dos candidatos destacam as suas
realizações em mandatos anteriores e que o eleitor pode confiar no seu trabalho, ou
seja, a categoria abordagem política foi identificada em cinco falas candidatos; c) 6
candidatos que utilizaram frases de efeito uma ou mais de uma vez em seu programa
eleitoral. As mensagens que conformam essa categoria foram a segunda mais
recorrente entre os programas eleitorais mais analisados; e finalmente, d) as
mensagens da categoria Valores Tradicionais foram as mais recorrentes nos
programas políticos, 4 candidatos destacam seus valores éticos, a fé, e “a vida” e, seis
candidatos defendem a família e a sociedade, assim temos que 10 entre os 12
candidatos fizeram uso desses tipos de mensagem.
Portanto, temos que nos programas do HGPE analisados, o discurso dos
candidatos evangélicos eleitos foi predominantemente de maior ênfase na defesa dos
valores morais e dos bons costumes, manutenção da família e propagação dos
valores cristãos. Logo, as hipóteses inicialmente colocadas nesse trabalho foram
validades, uma vez que foram identificadas no perfil dos candidatos aqui privilegiados
para análise, que eles se identificam com seguimentos religiosos. Postura essa,
também encontrada nos programas eleitorais, onde a postura conservadora-
tradicionalista foi predominante.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa buscou contextualizar o leitor sobre o processo de inserção do
segmento religioso pentecostal na política partidária e eleitoral. Também
apresentamos uma discussão sobre a importância das campanhas eleitorais
brasileiras, e o uso que esse grupo religioso faz do Horário Gratuito de Propaganda
Eleitoral. Buscamos traçar o perfil dos candidatos eleitos e uma análise discurso nos
programas do HGPE com o objetivo identificar se há uma postura conservadora-
tradicional. Para além dos resultados já apresentados que confirmaram a hipótese
inicialmente colocada, os resultados aqui alcançados demonstram que estes
candidatos eleitos estão polarizados por diferentes igrejas e partidos políticos. Tendo
em vista as diferenças teológicas dessas denominações e político partidária dos
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partidos pelos quais foram eleitos, a formação de uma bancada evangélica coesa se
torna complexa.
Para pesquisas posteriores seria mais interessante analisar não somente as
campanhas eleitorais dos deputados evangélicos eleitos pelo estado de São Paulo,
mas o universo dos 70 deputados eleitos para a 54ª Legislatura. Neste sentido, seria
possível observar se, assim como os deputados por nós analisados, os demais
também estão distribuídos por diferentes partidos políticos e denominações
evangélicas. Da mesma forma, assim como descrito pela literatura da sociologia da
religião (PIERUCCI & PRANDI (1996), ORO (2000), MARIANO (2005), BURITY (2008)
e FRESTON (1993)), observamos que o discurso dos candidatos pentecostais são
marcados por falas sobre os valores da família, defesa da moral e dos bons costumes,
declaração de fé e dos valores cristãos, ponto importante a ser analisado também
entre os demais candidatos desse segmento eleitos.
Outras questões, para pesquisas futuras emergiram dos resultados aqui
alcançados: os candidatos eleitos, após as urnas apuradas, legislariam tendo em vista
o segmento evangélicos? Neste sentido, há uma atuação como parlamentar por parte
desses cristãos diferenciada dos demais deputados, ou seja, daqueles que não são
pentecostais? Ou ainda o comportamento do político evangélicos seria partidário ou
religioso?
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