Caracterização dos genes de resistência aos … · 1. Valor estimativo de um potencial deficit...

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Maria João da Silva Costa Caracterização dos genes de resistência aos macrólidos e estreptograminas em Enterococcus sp. isolados de frangos para consumo humano Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto Porto 2004

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Maria João da Silva Costa

Caracterização dos genes de resistência aos macrólidos e estreptograminas em Enterococcus sp. isolados de frangos

para consumo humano

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto Porto 2004

Maria João da Silva Costa

Caracterização dos genes de resistência aos macrólidos e

estreptograminas em Enterococcus sp. isolados de frangos

para consumo humano

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto Porto 2004

Maria João da Silva Costa

Caracterização dos genes de resistência aos macrólidos e estreptograminas em

Enterococcus sp. isolados de frangos para consumo humano

Dissertação de candidatura ao grau de Mestre em Controlo da Qualidade apresentada à

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

Orientadora : Professora Doutora Luísa Vieira Peixe

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

Porto 2004

Agradecimentos

Agradecimentos

É para a Professora Doutora Luísa Vieira Peixe que dirijo, em primeiro lugar, os meus

agradecimentos. A paciência e persistência com que conduziu a orientação científica deste

trabalho, pautou-se, ao longo destes anos, na valorização do meu conhecimento.

Fica a certeza que jamais conseguirei retribuir tal ajuda, amizade e ânimo.

Ao Professor Doutor João Carlos Figueiredo de Sousa agradeço a possibilidade da

realização deste trabalho no Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Farmácia da

Universidade do Porto.

À Professora Doutora Beatriz Quinaz, à Professora Doutora Eugenia Pinto, à Professora

Doutora Helena Ferreira, à Professora Doutora Isaura Pinto de Sousa, á Professora Doutora

Maria de Lurdes Basto e à Professora Doutora Nazaré Pestana gostaria de agradecer todo o

incentivo e a simpatia demonstrada ao longo destes anos..

À colega Carla Novais dirijo o meu profundo agradecimento pela forma incansável que

apoiou o meu trabalho laboratorial, que constituiu um suporte fundamental neste sucesso, a

disponibilidade e a amizade demonstrada. Às colegas Elisabete Machado, Patrícia Antunes

e Sandra Quinteira agradeço o apoio nos momento menos bons, o encorajamento, a

amizade e o agradável ambiente de trabalho que sempre proporcionarm.

À D. Alda, à D. Deolinda e à D. Filomena agradeço toda a disponibilidade demonstrada.

Finalmente, porque o sucesso ou o insucesso se mede por tudo quanto tivemos de abrir

mão, é dos meus pais, da minha irmã e avó, que guardo para sempre a compreensão, o

carinho e o apoio que nunca deixaram de me dar.

Aqui fica a minha justificação para a minha ausência e a pouca atenção que lhes dei nos

últimos tempos.

v

Resumo

Resumo

A incidência de bactérias resistentes a antibióticos isoladas de animais de explorações

intensivas ou de carcaças de animais para consumo humano constituem uma preocupação

crescente, em virtude da utilização de antibióticos na produção animal poder seleccionar

bactérias ( comensais ou patogénicas) resistentes a estes agentes antimicrobianos. Os

enterococos fazem parte da flora bacteriana gastrointestinal normal do Homem e dos

animais, podendo ocasionalmente provocar infecções, pelo que o aparecimento de

resistências neste género bacteriano poderão dificultar o seu tratamento. Na produção de

frangos os antibióticos são utilizados em grandes quantidades, não só na profilaxia e

terapia, mas também como promotores de crescimento, não sendo conhecida, em Portugal,

a incidência dos genes de resistência a macrólidos e estreptograminas, nos isolados de

Enterococcus sp. com origem nestas aves.

Neste estudo procedeu-se à caracterização, por PCR, dos genes de resistência aos

macrólidos e estreptograminas existentes nos isolados de Enterococcus sp. e à avaliação da

capacidade de transferência dos genes codificadores de resistência aos antibióticos

referidos, recorrendo a ensaios de conjugação.

Utilizaram-se 388 isolados do género Enterococcus com origem em carcaças de frangos

de dez marcas diferentes, com ampla distribuição a nível nacional,as quais foram

recolhidas entre Setembro de 1999 e Junho de 2001, em talhos da cidade do Porto. Foram

incluídos isolados de Enterococcus faecium, de Enterococcus faecalis, de Enterococcus

gallinarum e de Enterococcus sp., os quais possuíam diferente susceptibilidade à

vancomicina, à eritromicina e à associação quinupristina-dalfopristina.

O gene ermB foi detectado nos isolados de Enterococcus sp. resistentes à eritromicina

(49%), nos isolados com resistência intermédia (4%) e nos isolados sensíveis (5%). Não

foi observada a presença de genes ermA, ermC, nem de mefA. O gene vatD estava apenas

vi

Resumo

presente nos isolados com resistência à associação quinupristina-dalfopristina (2.6%). O

gene vatE foi observado num isolado de E. faecalis resistente à associação quinupristina-

dalfopristina, em isolados de E. faecium resistentes, com comportamento intermédio e em

isolados sensíveis a este férmaco. Em isolados de E. gallinarum não foi possível fazer a

sua observação. Pelo contrário, este gene foi observado em isolados de Enterococcus sp.

com comportamento intermédio e resistente ao antibiótico referido.

Embora não tenha sido possível verificar em todos os enterococos testados a transferência

por conjugação dos genes ermB e vatE, efectuou-se a transferência por conjugação do gene

ermB em dois isolados de E. faecium e em um isolado de E. faecalis, resistentes à

eritromicina., assim como do gene vatE de um isolado de E. faecalis resistente à

associação quinupristina-dalfopristina. De referir a obtenção de um transconjugante que

adquiriu a resistência à eritromicina e à associação quinupristina-dalfopristina por

expressão em simultâneo dos genes ermB e vatE, presentes num E. faecalis testado,

resistente a estes antibióticos.

Os resultados obtidos demonstram a existência de um reservatório de genes de resistência

aos MLS (macrólidos, lincosamidas e estreptograminas) em alimentos para consumo

humano, pelo que o seu contributo para a elevada incidência, observada em Portugal, de

enterococos resistentes aos MLS, em doentes deverá ser objecto de estudos posteriores.

Os resultados obtidos no âmbito desta tese de Mestrado são parte integrante do artigo

intitulado " Insights about recent epidemiology of Enterococcus resistance in the

Portuguese Community " Novais C , Costa M. J., Sousa J.C., Coque T.M., Peixe L.V.,

submetido para publicação.

Vii

Abstract

Abstract

The prevalence of resistant bacteria, isolated from food animals or animal carcasses to

antimicrobials, is of increasing concern, as the use of antimicrobial agents in animal

production may select resistant bacteria (commensal or pathogenic) to these antimicrobials.

As enterococci form part of the normal host flora of both human and animal

gastrointestinal tract, where they seldom cause infections, the emergence of resistant

enterococci may constitute a risk for therapy. In poultry industry, antibiotics are used in

high quantities not only in profilaxy and therapy, but also as antimicrobial growth

promoters in animal feeds. In Portugal it is unknown the prevalence of macrolide and

streptogramin resistant determinants, in isolates of Enterococcus sp, recovered from retail

poultry. In this work we characterized the macrolide and streptogramin resistant genes in

Enterococcus sp. isolates, by PCR, and evaluated the in vitro transfer of the resistance

genes to the previously mentioned antibiotics, by conjugation.

389 Enterococcus sp isolates collected from poultry carcasses, belonging to 10 different

brands, wide distributed in Portugal, were recovered from retail stores in Oporto, from

September 1999 to March 2001. We studied Enterococcus faecium (n=112), Enterococcus

faecalis (n= 121), Enterococcus gallinarum (n=61) and Enterococcus sp. (n=95), which

demonstrated susceptibility to vancomicin, to erithromicyn and to quinupristin-

dalfopristin. ermB resistance determinant was observed in erythromycin-resistant isolates (49%), in

intermediate resistant isolates (4%) and in sensitive isolates (5%). The ermA, ermC and

me/A resistance determinants were not detected in any of the isolates.

The vatD resistance determinant was only observed in the quinupristin-dalfopristin-

resistant enterococci isolates (2.6%) The vatE resistance determinant was observed in the

quinupristin-dalfopristin-resistant E. faecalis isolate, in E. faecium isolates with viii

Abstract

intermediate resistance and in sensitive isolates. The vatE resistance determinant was not

observed in E. gallinarum isolates. On the other hand, this resistance determinant was

observerd in Enterococcus sp. isolates with intermediate resistance and in resistant isolates.

Although it was not possible to transfer the ermB and vatE resistance determinants in all

the tested isolates, we were able to transfer ermB gene in 2 E. faeciwn isolates and in one

E. faecalis isolate erythromycin-resistant.The vatE resistance determinant was transfered

from one E. faecalis isolate quinupristin-dalfopristin-resistant.

We also obtained one transconjugant that acquired resistance to erithomicin and to

quinupristin-dalfopristin, by expressing both ermb and vatE, in one E. faecalis isolate.

As the obtained results show the existence of a reservoir of resistance genes to MLS in

food animals to human consuption, the contribution to the high incidence, reaveled in

Portugal, of MLS-resistant-enterococci, in ill- people, should be a matter of further studies.

The data obtained was included in the paper " Insights about recent epidemiology of

Enterococcus resistance in the Portuguese Community " Novais C , Costa M. J., Sousa

J.C., Coque T.M., Peixe L.V., submitted for publication.

IX

Siglas

Siglas

ABC- ATP-binding cassete

BHI- Brain Heart Infusion

CMI- Concentração Mínima Inibitória

CNS- Staphylococcus coagulase-negativo

FDA- Food and Drug Administration

FEDES A- European Federation of Animal Health Industries

GRE- Enterococcus faecium resistente aos glicopéptidos

LPS- Lipopolissacarídeos MLS- Macrólidos, lincosamidas e estreptograminas

MFS-Major Facilitator Superfamily

MRSA- Staphylococcus aureus resistente à meticilina

NOAH- National Office of Animal Health

PCR- Polimerase Chain Reaction

PFGE- Pulsed-field Gel Electrophoresis

USD A- United States Department of Agriculture

VRE- Enterococcus sp resistente à vancomicina

WHO- World Health Organization

x

índice

r

Indice

1- Introdução , 17

1.1. Utilização de antibióticos em produção animal, 18

1.1.1. Utilização dos antibióticos em veterinária, 18

a) Profilaxia de infecções, 19

b) Terapia de infecções, 19

c) Promoção de crescimento animal, 20

1.2. Consumo de antibióticos, 24

1.2.1. Consumo de antibióticos em animais, 24

1.2.2 .Consumo de antibióticos em medicina humana, 28

1.2.3. Consumo humano versus consumo animal, 29

1.3. Aparecimento e evolução da resistência, 30

1.3.1. Consequências da utilização dos antibióticos, 35

1.3.2. Impacto da utilização de antibióticos em produção animal na resistência

bacteriana de bactérias potencialmente patogénicas para o Homem, 39

1.4. Género Enterococcus, 46

1.4.1. Principais características, 46

1.4.2. Significado clínico, 48

1.5. Macrólidos, lincosamidas e estreptograminas, 49

1.5.1. Modo de acção dos macrólidos, lincosamidas e estreptograminas, 53

1.5.2. Mecanismos de resistência aos macrólidos, lincosamidas e estreptograminas, 54

1.5.2.1. Resistência intrínseca, 55

1.5.2.2. Resistência adquirida, 56

A . Inactivação enzimática do antibiótico, 56

a) Hidrólise de macrólidos e estreptograminas, 56

b) Glicosilação dos macrólidos, 57

XI

índice

c) Fosforilação dos macrólidos, 57

d) Nucleotidiltransferases, 57

e) Acetiltransferases, 58

B. Modificação do alvo, 61

1. Fenótipo constitutivo, 63

2. Fenótipo indutível, 63

C. Sistemas de efluxo do antibiótico, 65

1. Efluxo Tipo-M ou Fenótipo M, 66

2. Efluxo Tipo-MS ou Fenótipo MS, 68

3. Efluxo Tipo Actinomycete, 69

4. Efluxo Tipo mrd , 69

2. Objectivos, 71

3. Material e Métodos, 72

3.1. Origem das estirpes bacterianas, 72

3.2. Isolamento, identificação dos isolados e avaliação da susceptibilidade a agentes

antimicrobianos, 72

3.3. Avaliação de susceptibilidade e identificação dos isolados da colecção

de bactérias, 72

3.4. Detecção de genes de resistência a macrólidos e estreptograminas por PCR, 73

3.4.1. Extracção do DNA genómico das estirpes controlo, 74

3.4.2. Condições de PCR, 75

3.5. Transferência dos determinantes de resistência à eritromicina e às estreptograminas

por conjugação, 79 4. Resultados, 81 4.1. Susceptibilidade a agentes antimicrobianos em Enterococcus sp., 81

XII

Indice

4.2. Distribuição de genes de resistência aos macrólidos e estreptograminas em isolados de

Enterococcus sp., 84

4.2.1. Presença de genes erm, 84

4.2.2. Presença de genes mefA, 87

4.2.3. Presença de genes vatD (satA), 87

4.2.4. Presença de genes vatE (satG), 89

4.2.5. Presença simultânea de genes de resistência, 92

4.3. Distribuição do gene ermB em isolados de Enterococcus sp, com diferentes CMIs

para a vancomicina, 93 4.4. Avaliação da transferência dos determinantes de resistência à eritromicina e às

estreptograminas por conjugação, 95

5. Discussão, 96

6. Conclusão, 110

7. Bibliografia, 112

Lista de tabelas

Lista de tabelas

1. Valor estimativo de um potencial deficit na produção de carne na ausência de promotores de crescimento, 23

2. Uso de antibióticos em diferentes Estados Membros (Kg ), 24

3. Consumo de promotores de crescimento na Dinamarca, em 1995, 25

4. Estimativa de vendas de antibióticos para animais, na União Europeia e Suíça em 1997,26

5. Volumes (toneladas de substância activa) de vendas de antibióticos em diferentes países da União Europeia, em 1997, 27

6. Média anual de consumo de antibióticos pelo Homem e pelos animais, na União Europeia, em 1997, 30

7. Descoberta do antibiótico e desenvolvimento da resistência, 32

8. Percentagem de isolados de Enterococcus e de Streptococcus em frangos com diferentes idades, 37

9. Multiresistência em E. faecium, 40

10. Percentagem de E.faecalis e E. faecium resistentes a diferentes antibióticos, 41

11. Classificação de alguns macrólidos, 50

12. Bactérias onde se encontram genes que provocam a inactivação do antibiótico, 60

13. Bactérias onde se encontram genes codificadores de metilases, 62

14. Bactérias onde se encontram genes que provocam o efluxo do antibiótico, 70

15. Identificação das estirpes controlo das reacções de PCR para detecção dos genes de resistência a macrólidos e estreptograminas, 74

16. Sequência de primers e condições de PCR para os genes de resistência aos macrólidos e estreptograminas, 76

xiv

Lista de tabelas

17. Concentrações dos reagentes usados na reacção de PCR para detecção dos genes

ermA, ermB e ermC, 77

18. Concentrações dos reagentes usados na reacção de PCR para detecção dos genes

mefA, 78

19. Concentrações dos reagentes usados na reacção de PCR para detecção dos vatD

e vatE, 78

20. Distribuição de CMIs para a eritromicina e para a quinupristina-dalfopristina em isolados de Enterococcus sp., 83

21. Distribuição do gene ermB em isolados de Enterococcus sp, com diferentes CMIs para a eritromicina, 85

22. Distribuição do gene vatD (satA) em isolados de Enterococcus sp., com diferentes CMIs para a Quinupristina-dalfopristina, 88

23. Distribuição do gene vatE (satG) em isolados de Enterococcus sp., com diferentes CMIs para a Quinupristina-dalfopristina, 91

24. Número de isolados com os genes vatD e ermB, vatE e ermB e vatD e vatE presentes simultaneamente, 92

25. Distribuição do gene ermB em isolados de Enterococcus sp., com diferentes CMIs para a vancomicina, 94

xv

Lista de figuras

Lista de figuras

Fig. 1 - Estrutura química da eritromicina, 50

Fig. 2- Estrutura química das lincosamidas, 51

Fig. 3- Estrutura química dos grupos A e B das estreptograminas, 52

Fig. 4- Inibição da síntese proteica pelas estreptograminas, 54

Fig. 5- Identificação dos genes ermB por PCR e electroforese em gel de agarose, 84

Fig. 6- Identificação dos genes vafD por PCR e electroforese em gel de agarose, 87

Fig. 7- Identificação dos genes vatE por PCR e electroforese em gel de agarose, 89

xvi

Introdução

1. Introdução

A nível mundial está a ocorrer um aumento no consumo de géneros alimentares

transformados e pré-embalados, preparados por indústrias mais ou menos sofisticadas. Será

necessário duplicar a produção de alimentos de origem animal nos próximos 20 anos,

devido à duplicação previsível da população humana nos próximos 50 anos (Portugal, A.

V., 1998). Como resposta a esta necessidade, surgiram os sistemas intensivos de produção animal,

que vão ao encontro da pressão do mercado. Estas unidades de produção animal,

recorrendo a novas formas de produção, são responsáveis pela obtenção em massa de

alimentos normalizados, os quais devem ser comercializados com a identificação da

origem e a forma como foram obtidos. Como consequência, a produção animal intensiva

deixa de ter características que a vinculam à forma natural, sendo manipulada pelo

Homem, em virtude de se modificarem as actividades fisiológicas normais do animal por

controlo do metabolismo através de agentes externos. Estes sistemas conduzem a ritmos de

produção e à obtenção de lucros superiores, assim como, à elaboração de produtos

diferentes dos obtidos em condições naturais ou em ritmos de produção mais lentos

(Portugal, A. V., 1998 ; Portugal, A. V., 2002).

A conjugação da aplicação de diferentes agentes para o aumento da produção permite a

obtenção de um produto animal de características diferentes das resultantes da aplicação

isolada de cada um deles (Portugal, A. V., 1998 ; Portugal, A. V., 2002).

Em virtude da produção animal ocupar um lugar de destaque na agricultura da União

Europeia (UE), a obtenção de resultados satisfatórios depende de vários factores,

nomeadamente da utilização de alimentos adequados e de boa qualidade para os animais.

No sentido de proteger a saúde pública e animal e o meio ambiente é realizada uma

avaliação da segurança dos aditivos para a alimentação animal, através de procedimentos

17

Introdução

comunitários, antes da sua colocação no mercado. Por esta razão, foi elaborada a Directiva

70/524/CEE do Conselho, de 23 de Novembro de 1970, relativa aos aditivos na

alimentação para animais, que constitui a legislação de base, a qual é sucessivamente

sujeita a grandes modificações (Comunicação do Conselho, Posição Comum (CE)

N°20/2003, adoptada pelo Conselho em 17 de Março de 2003 ; Proposta de Regulamento

do Parlamento Europeu e do Conselho relativa aos aditivos destinados à alimentação

animal, Bruxelas 22/03/02,COM (2002) 153 final, 2002/2003 (COD)).

1.1. Utilização de antibióticos em produção animal

Uma grande variedade de substâncias com actividade antimicrobiana são usadas nos

sistemas de produção animal na profilaxia, na terapia e como promotores de crescimento.

Nos últimos anos a preocupação com a selecção de bactérias resistentes aos antibióticos,

decorrentes da utilização destes agentes na produção animal foi determinante na redução

dos antimicrobianos, autorizados para este fim, na União Europeia.

1.1.1. Utilização dos antibióticos em veterinária

As substâncias usadas com fins profilácticos ou terapêuticos em veterinária pertencem à

mesma classe dos antibióticos utilizados na medicina humana (Schwarz, S. e Chaslus-

Dancla, E., 2001; Smith, J. T., 1993).

Os antibióticos mais usados nos animais para consumo humano pertencem principalmente

a cinco classes - p-lactâmicos, tetraciclinas, aminoglicosídeos, macrólidos e sulfonamidas-

os quais estão sujeitos a legislação (JOCE, n° L 60/16), a qual especifica as substâncias

farmacológicas activas para as quais foram fixados limites máximos de resíduos .

18

Introdução

a) Profilaxia de infecções

O uso profilático dos antibióticos é uma prática comum em veterinária, principalmente em

produções intensivas, onde a densidade dos animais é muito elevada (Mckellar, Q. A.,

1998). O tratamento profilático é um tratamento preventivo, fornecido individualmente,

podendo ser aplicado a um grupo de animais, quando a proporção dos animais que

adoecem durante um período específico de tempo e a probabilidade da maioria, ou de

todos, ficarem infectados é grande. Neste caso dá-se a designação de uso metafilático dos

agentes antimicrobianos (McEwan, S.A. et ai, 2002; Mckellar, Q. A., 1998; Mackinnon, J.

D., 1993; Schwarz, S. et ai, 2001) Esta metodologia permite, igualmente, travar a

disseminação da infecção e prevenir a doença, após o seu diagnóstico num ou mais animais

do grupo (Mackinnon, J. D., 1993; Schwarz, S. et ai, 2001). Este tipo de tratamento

também é efectuado em certos períodos da vida do animal, tal como em cirurgias,

vacinação, transporte e mistura de animais, em virtude de, durante estes períodos, os

animais estarem mais susceptíveis. Sem estes tratamentos preventivos as infecções

ocorreriam com maior frequência e seria necessária a intervenção terapêutica. Apesar

destes benefícios, a aplicação profiláctica dos antibióticos é considerada uma prática

responsável pela selecção de bactérias resistentes, assim como pela disseminação de genes

de resistência (Schwarz, S. et ai, 2001).

b) Terapia de infecções

A terapia envolve o tratamento de um animal ou de um grupo de animais doentes, após o

diagnóstico de uma doença, com um ou mais antibióticos, durante um determinado período

19

Introdução

de tempo e, na maior parte dos países, apenas com prescrição do veterinário (Johnston, A.

M., 1998). A finalidade da terapia antimicrobiana é a de produzir determinadas

concentrações do antibiótico nos tecidos e nos fluídos corporais e manter estes níveis até

que a infecção seja ultrapassada (Johnston, A. M., 1998; Lamb, H. M. et al, 1999).

Os grandes grupos de animais, como por exemplo suínos e aves, podem causar problemas

logísticos para o tratamento com antibióticos (Butaye, P. et ai, 2000; Jackson, E. R., 1993;

Johnston, A. M., 1998). Contudo, os antibióticos com fins profiláticos ou terapêuticos

podem ser administrados através dos alimentos (alimento medicamentoso) ou da água,

podendo, no entanto, ser inevitável o tratamento parental. O alimento de tratamento ou

alimento medicamentoso é preparado de acordo com a duração do tratamento e é

considerado um medicamento (Corpet, D., 1998).

Quando são dados antibióticos através de veículos alimentares, a quantidade de água e de

alimentos consumidos, o peso do animal, a farmacodinâmica e a farmacocinética deste

agente, têm de ser considerados para efectuar o cálculo da taxa de inclusão do antibiótico,

de modo a assegurar um tratamento adequado (Butaye, P. et ai, 2000; Jackson, E. R., 1993,

Johnston, A. M., 1998 ; McEwan, S.A.. et ai, 2002; Smith, T. L. et ai, 1999).

c) Promoção de crescimento animal

Existe um número específico de substâncias utilizadas como promotores de crescimento.

As moléculas e respectivas concentrações encontram-se legisladas, assim como os animais

alvo, a duração e a dosagem em que são fornecidas (McEwan, S.A.. et ai, 2002; Schwarz,

S. et ai, 2001). Os antibióticos autorizados para utilização como promotores de crescimento são a

avilamicina, a salinomicina, o flavofosfolipol e a monensina-sódio (Diário da República I

Série, n° 296 de 27 de Dezembro de 1989; McEwan, S.A. et ai, 2002).

Os antibióticos promotores de crescimento são adicionados às rações animais, em doses

subterapêuticas, durante o crescimento do animal (Aarestrup, F. M., 2000, Aarestrup, F. M.

20

Introdução

et al, 1998, Martel, J.L. et al, 2001; McEwan, S.A. et al, 2002). Por esta razão, os

antibióticos utilizados com esta finalidade não necessitam de prescrição médica. As suas

características como promotores de crescimento são conhecidas desde finais dos anos 40,

tendo esta prática sido imediatamente adoptada por muitas explorações animais (Dunlop,

R. H. et ai, 1998; Finch, R. G. 1998.). Os animais que ingerem promotores de crescimento

necessitam de menor quantidade de alimento para produzirem maior quantidade de carne.

Assim, o índice de consumo - relação entre o peso dos alimentos consumidos e o ganho de

peso do animal - melhora de 3 a 12 %. Para além deste aspecto é de salientar que os

animais crescem mais rapidamente. O ganho médio quotidiano - razão entre o peso total

adquirido pelo animal no final do crescimento e a duração do crescimento, em dias,

aumenta de 3 a 9 % e os lotes são mais homogéneos (Witte, W., 1998).

O efeito dos promotores de crescimento deve-se, provavelmente, à diminuição da flora

intestinal normal e das bactérias patogénicas. Pensa-se que os promotores de crescimento

contribuem para o aumento do peso do animal em virtude de pequenas doses de antibiótico

inibirem o metabolismo da flora intestinal, a qual compete com o hospedeiro para os

nutrientes. O consumo de aminoácidos por estas bactérias diminui, ocorrendo

simultaneamente menor produção de moléculas tóxicas, como por exemplo, amoníaco. A

redução das bactérias patogénicas é um outro factor que permite um maior

desenvolvimento dos animais, dado que a sua presença pode diminuir o crescimento

devido a doença subclínica (Bower, C. K., et ai, 1999; McEwen, S. A. 2002; Wegener, H.

C. étal, 1999). Desta forma, a concentração de antibiótico fornecida tem de ser suficiente para inibir as

bactérias susceptíveis e afectar a composição da flora intestinal. Este efeito inibitório é

confirmado pelo efeito preventivo dos promotores de crescimento contra certas infecções

bacterianas provocadas, por exemplo, por Clostridium perfringens em aves de capoeira e

por Brachyspira hyodysenteriae e Escherichia coli em suínos (Johnston, A. M., 1998;

Wegener, H. C. et ai, 1999).

21

Introdução

Para o National Office of Animal Health (NOAH), o qual representa as companhias

produtoras de promotores de crescimento, os seus benefícios vão para além dos

mencionados. Num comunicado de 9 de Abril de 1999 é referido que os promotores de

crescimento permitem uma maior absorção de nutrientes e de água, diminuindo,

consequentemente, o desperdício devido à excreção de nutrientes, como por exemplo,

fósforo e nitrogénio. Esta será uma grande vantagem pois estes nutrientes ao atingirem os

cursos de água poderão provocar a eutrofização, ou seja, um crescimento excepcional de

algas, esgotando o oxigénio, o que acarreta danos para a comunidade piscícola e para a

microflora. Segundo o NOAH, estima-se que a diminuição do consumo de promotores de

crescimento na Alemanha, França e Reino Unido, levaria a um aumento de 78 mil

toneladas de nitrogénio e de cerca de 15 mil toneladas de fósforo, os quais seriam

libertados para o meio ambiente (National Office of Animal Health (NOAH) Press

Release, 1999).

Desta forma, o NOAH considera que a utilização de promotores de crescimento tem

benefícios para além da produção de carne e de leite, apresentando vantagens para o meio

ambiente e, consequentemente, para o Homem (National Office of Animal Health (NOAH)

Press Release, 1999).

Para além dos factores referidos devem considerar-se as vantagens em termos económicos.

Os promotores de crescimento são baratos, seguros, fáceis de utilizar e tendem a aumentar

o crescimento animal, independentemente do sistema de produção. De acordo com um

estudo publicado (Mackinnon, J. D., 1993), poderia surgir um défice na produção de carne

se não fossem utilizados promotores de crescimento, conforme se pode constatar pela

interpretação dos dados da tabela 1.

22

Introdução

Tabela 1. Valor estimativo de um potencial défice na produção de carne na ausência de promotores de crescimento (Mackinnon, J. D., 1993).

Animais Variação do peso ( Kg )

Suínos - 3.43 Frangos - 0.0065 Vitelos - 6.5

Carne de vaca - 26.1

A distinção entre profiláctico e promotor de crescimento é ainda menos clara do que entre

agente profiláctico e agente terapêutico. Nos Estados Unidos da América, alguns agentes

antimicrobianos podem ser aprovados para uso profiláctico e agente terapêutico, uma vez

que alguns promotores de crescimento podem ajudar a prevenir a doença, mesmo em doses

subterapêuticas. Este é um aspecto da maior importância, porque a administração de

antibióticos, durante um curto intervalo de tempo, pode ser sempre justificada com base na

prevenção da doença (Schwarz, S. et ai, 2001).

No entanto, apesar da utilização dos promotores de crescimento permitir um aumento de

peso entre 1 e 11%, estes benefícios podem não acontecer no caso da utilização de práticas

modernas de produção animal. Verificou-se que estes aditivos são mais eficazes nos

animais jovens do que nos de maior idade e que o ganho médio quotidiano é menor quando

os promotores de crescimento são usados em condições óptimas de higiene. Todavia,

mesmo nestas condições, os resultados são bastante positivos (van den Bogaard, A. E. et

al, 1999). Com o aumento das práticas de higiene e outras medidas para controlar as

doenças, como por exemplo, a vacinação, é levantada a questão sobre os benefícios reais

da utilização de promotores de crescimento. Um estudo dinamarquês revelou que a

remoção dos promotores de crescimento na produção de frangos diminuiu em menos de

1% o seu crescimento e que, apesar de ter ocorrido um aumento de entrites necróticas, não

houve alteração na mortalidade nem diminuição do peso dos frangos (McEwen, S. A. et ai,

2002).

23

Introdução

1.2. Consumo de antibióticos

1.2.1 Consumo de antibióticos em animais

Entre os antibióticos consumidos durante várias décadas, a bacitracina, a espiramicina, a

tilosina e a virginiamicina foram utilizadas quer na terapia, quer como promotores de

crescimento. A avilamicina, o carbadox, o olaquindox, a avoparcina, a flavomicina, a

monensina e a salinomicina estavam aprovados apenas como promotores de crescimento

(Aarestrup, F. M. et ai, 1998b). Em virtude da indústria farmacêutica não ser legalmente

obrigada a fornecer informações relativamente aos volumes de vendas de produtos

utilizados nos animais, os dados disponíveis são escassos (Aarestrup, F. M. et ai, 1998b).

Apenas a Suécia, os Países Baixos, a Dinamarca e a Finlândia fornecem dados passíveis de

utilização (Aarestrup, F. M. et al, 1998b). A Áustria, Bélgica, Espanha, França, Irlanda,

Itália, Luxemburgo, Portugal e Reino Unido fornecem pouca ou nenhuma informação

(Consumer Policy and Consumer Health Protection, 1999; Poyart, C. et al, 1997; Schwarz,

S. et al, 2001; FEDESA, 2004), relativamente às vendas de antibióticos para animais.

A tabela seguinte indica a quantidade de antibióticos usados em Medicina Veterinária, em

alguns países da União Europeia, entre 1994 e 1997. Os dados relativos aos Países Baixos

foram apenas indicados de dois em dois anos e apenas em tratamento de grupo (Report and

Qualitative Risk Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

Tabela 2. Utilização de antibióticos em diferentes Estados Membros (Kg ) .

1994 1995 1996 1997

Finlândia 17 500 18 197 17 286 16 591 Suécia 30 342 24 569 20 639 19 655

Dinamarca 78 584 40 172 47 454 53 511 Países Baixos 250 200 251500

24

Introdução

No que diz respeito ao volume de antibióticos consumidos por tipo de animal, o " Danish

Plant Directorate " publicou dados, relativos a 1995 ( Tabela 3).

Tabela 3. Consumo de promotores de crescimento na Dinamarca, em 1995 (Aarestrup, F.

M. et ai, 1998b).

Consumo de antibióticos ( Kg de substância activa)

Promotor de crescimento Total Suínos Gado bovino Aves de ca

Carbadox 1.181 1.181 0 0 Olaquindox 16.213 16.213 0 0 Avilamicina 1.665 265 0 1.4 Avoparcina 5.690 2.5 2.09 1.1 Bacitracina 7.910 6 0 610 Flavomicina 48 0 0 48 Monensina 5.007 0 5.007 0 Salinomicina 850 850 0 0 Espiramicina 507 0 0 507 Tilosina 52.275 52.275 0 0 Virginiamicina 2.590 1.5 0 1.09

Estima-se que 60% dos antibióticos utilizados nos animais se destinem a suínos, 20% a

frangos e coelhos, 18% a ruminantes, 1% a peixes e 1% a animais de estimação ( McEwan,

S.A.. et ai, 2002).

Apesar da escassez de dados, verifica-se um decréscimo na venda de antibióticos, quer de

agentes terapêuticos, quer de promotores de crescimento, na maioria dos Países Europeus

(Report and Qualitative Risk Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal

Products, 1999).

Em 1997, a Comissão Europeia solicitou à FEDESA (European Federation of Animal

Health Industries) um relatório relativo às quantidades de antibióticos consumidos na

União Europeia. Para a obtenção desses dados foram realizados inquéritos a dezanove

membros desta federação, que representam 60% das vendas na União Europeia e na Suiça. 25

Introdução

Os resultados obtidos encontram-se na tabela 4 (Schwarz, S. et ai, 2001).

Tabela 4. Estimativa de vendas de antibióticos para animais, na União Europeia e Suíça em

1997. * Coccidiostáticos (ionóforos e outros) excluídos (Consumer Policy and Consumer

Health Protection, 1999; McEwan, S.A. et al, 2002).

Antibiótico Quantidade ( Toneladas)

Penicilinas 322 Tetraciclinas 2294 Macrólidos 424 Aminoglicosídeos 154 Fluoroquinolonas 43 Trimetoprim/Sulfonamidas 75 Outros 182

Subtotal Agentes terapêuticos 3494 Promotores de crescimento* 1599

Total 5093

A quantidade de antibióticos (excluindo coccidiostáticos) vendidos em cada país Europeu

encontra-se na tabela 5.

26

Introdução

Tabela 5. Volumes (toneladas de substância activa) de vendas de antibióticos em

diferentes países da União Europeia, em 1997 ( Report and Qualitative Risk Assessment by

the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999; Schwarz, S. et al., 2001).

País Promotores de crescimento Agentes terapêuticos (% do mercado europeu) (% do mercado europeu)

Alemanha 255 (16) 488 (14) Áustria 23 (1) 8 (<1) Bélgica e Luxemburgo 110 (7) 125 (4) Dinamarca 75 (5) 60 (2) Espanha 198 (12) 616 (18) Finlândia <1 (<1) 12 (<1) França 339 (21) 492 (14) Grécia 15 (1) 110 (3) Irlanda 34 (2) 22 (<1) Itália 100 (6) 389 (11) Países Baixos 226 (14) 300 (9) Portugal 24 (2) 44 (1) Reino Unido 191 (12) 788 (23) Suécia <1 (<1) 20 (<1)

Total 1590 (100) 3474 (100)

Os dados foram apresentados na Conferência " The Microbial Threat ", realizada em

Copenhaga, em 1998. Contudo, a sua precisão foi contestada por alguns países

participantes, em virtude dos valores esperados serem superiores aos referidos ( Report and

Qualitative Risk Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

No entanto, a sua análise permite concluir que existe uma relação entre as quantidades de

antibióticos usados e a produção animal. De facto, nos países onde a produção animal é

elevada, como por exemplo, Bélgica, Dinamarca, França e Países Baixos, a proporção de

promotores de crescimento consumidos é superior à dos países onde a produção animal é

inferior, como por exemplo, Espanha, Grécia, Itália e Portugal ( Report and Qualitative 27

Introdução

Risk Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

Apesar dos resultados serem baseados em estimativas, as comparações efectuadas

permitiram classificar os países em grupos, consoante a quantidade de antibióticos que

utilizam com fins terapêuticos e como promotores de crescimento. Os países em que o

consumo é mais elevado são o Reino Unido, a Grécia, a Espanha e os Países Baixos. Os

países que ocupam uma posição intermédia são a Bélgica, a França, a Itália, a Alemanha e

Portugal. Por último, os países onde o consumo é mais baixo são a Suécia, a Dinamarca e a

Finlândia (Schwarz, S. et ai, 2001).

1.2.2. Consumo de antibióticos em medicina humana

Não há muitos dados disponíveis sobre a utilização de antibióticos na maior parte dos

países da União Europeia (Cars, O. et ai, 2001). Alguns estudos revelam que 20% do

consumo total de antibióticos é realizado nos hospitais e os restantes 80% na comunidade.

No entanto, não há um consenso relativamente à quantidade de antibióticos consumidos, na

comunidade e nos hospitais, em virtude de poder haver discrepância entre os diversos

países (Report and Qualitative Risk Assessment by the Committee for Veterinary

Medicinal Products, 1999). Cars e colaboradores (Cars, O. et al, 2001) analisaram dados

sobre as vendas de antibióticos não hospitalares em quinze países da União Europeia, em

1997, de acordo com o sistema de classificação "Anatomic Therapeutic Chemical",

exprimindo o consumo em doses diárias por mil pessoas. Os países com maior consumo

eram França (36,5), Espanha (32,4), Portugal (28,8) e Bélgica (26,7), enquanto que os

Países Baixos (8,9), Dinamarca (11,3), Suécia (13,5) e Alemanha (13,6) apresentavam o

consumo mais baixo (Cars, O. et ai, 2001). Dados semelhantes foram referidos pelo

Comité de Medicina Veterinária ( Report and Qualitative Risk Assessment by the

Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

No entanto, alguns autores consideram estes estudos pouco significativos em virtude de

não haver uma metodologia consensual para efectuar a comparação entre o consumo de

antibióticos nos diferentes países da União Europeia. Contudo, os dados disponíveis até

1999 permitem verificar que o consumo de antibióticos em medicina humana está a 28

Introdução

aumentar (Report and Qualitative Risk Assessment by the Committee for Veterinary

Medicinal Products, 1999).

Um estudo francês demonstrou um aumento de 3,7% do consumo de antibióticos entre

1981 e 1992. No Reino Unido, o aumento do consumo foi de 5%, entre 1989 e 1991

(Report and Qualitative Risk Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal

Products, 1999).

1.2.3. Consumo humano versus consumo animal

É difícil comparar rigorosamente o consumo relativo de antibióticos entre o Homem e os

animais, na União Europeia. Para tal, seria necessário conhecer exactamente a dimensão da

população humana e animal em estudo. Devido à dificuldade de quantificar o consumo de

antibióticos, a maior parte dos dados disponíveis baseia-se em valores monetários

correspondentes às vendas anuais destas substâncias. Estes dados revelam que a quantidade

usada pelo Homem é bastante superior àquela que é usada nos animais. Todavia, o facto

dos antibióticos usados pelo Homem serem mais dispendiosos do que aqueles que são

usados nos animais, não permite uma clara avaliação das quantidades consumidas (Report

and Qualitative Risk Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products,

1999). Da mesma forma, há parâmetros que são sub ou sobrestimados, em virtude de nem

todos os antibióticos vendidos para consumo humano são de facto consumidos (Schwarz,

S. et ai, 2001). Em 1990, nos Países Baixos, foram utilizados 80 OOOKg de antibióticos (substância activa)

no Homem e 300 OOOKg na medicina veterinária, ou seja, cerca de lOOmg de substâcia

activa /Kg de peso corporal / ano (van den Bogaard, A.E. et al, 2002).

Em termos gerais, a FEDESA forneceu dados que indicam que das 10 493 toneladas de

antibióticos consumidos em 1997, cerca de 52% foram usados em medicina veterinária e

15% na produção animal (Tabela 6) (Millet, A., 1998; Report and Qualitative Risk

Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

29

Introdução

Tabela 6. Média anual de consumo de antibióticos pelo Homem e pelos animais, na União

Europeia, em 1997 (Millet, A., 1998; Report and Qualitative Risk Assessment by the

Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

Toneladas de Consumo ingrediente activo com 0,

100 % de pureza

Medicina humana 5400 52

Medicina veterinária 3494 33 (fins terapêuticos)

Aditivos alimentares 1 ,QQ , <-(para animais)

Total 10493 100

1.3. Aparecimento e evolução da resistência

"The war against infectious diseases has been won."

(A guerra contra as doenças infecciosas foi ganha.)

Dr William Stuart, 1969

(Extraído de Persing, D. H., 1993)

Esta frase ilustra o orgulho da Ciência Médica, a qual estava no auge em 1969, devido ao

sucesso no tratamento de doenças infecciosas. Contudo, alguns insucessos nesses

tratamentos, indicaram desde então, que no milénio que se avizinhava, a situação poderia

ser oposta a esta. De facto, recentemente tem-se verificado o aparecimento de um elevado

30

Introdução

número de bactérias multiresistentes, as quais têm provocado um aumento da mortalidade

(Luh, K-T., 2000; Persing, D. H., 1993).

No entanto, pelo facto de terem sido isoladas bactérias resistentes a antibióticos em

glaciares no Canadá, com cerca de dois mil anos, admite-se que os genes e os mecanismos

de resistência já existiriam quando os antibióticos foram introduzidos na clínica (Anglada,

R. R, 1997). A forma como estes genes de resistência apareceram e porque razão levaram tanto tempo a

surgir, gera ainda alguma controvérsia. Alguns destes genes terão sofrido mutações a partir

de genes ancestrais da espécie, tendo posteriormente sido objecto de selecção natural.

Outros poderiam encontrar-se em bactérias ambientais e terem sido transferidos para

espécies animais (Anglada, R. R., 1997).

A existência dos genes de resistência está, igualmente, relacionada com a produção de

agentes antimicrobianos por organismos saprófitos, como por exemplo, Actinomycetes e

Streptomyces. Estes microrganismos possuem genes que codificam resistênca aos agentes

que produzem de forma a evitar a auto-destruição, constituindo uma fonte de genes de

resistência (Anglada, R. R., 1997; Lina, G. et ai, 1999).

Desta forma, pode concluir-se que a resistência aos antibióticos é, provavelmente, tão ou

mais antiga do que a sua síntese e que estes genes de resistência já estariam presentes no

ambiente, como o solo e a água, antes da utilização dos agentes antimicrobianos pelo

Homem (Lina, G. et ai, 1999). Embora com menor frequência do que actualmente, o

contacto entre os agentes antimicrobianos e os microrganismos já acontecia antes da era "

pré-microbiana", o que constituía uma pressão de selecção, levando ao desenvolvimento de

mecanismos de resistência a esses agentes ( Schwarz, S. et ai, 2001).

Contudo, o desenvolvimento de resistência aos antibióticos, a disseminação dos genes de

resistência e o aparecimento de novas estirpes resistentes ocorreu após a utilização

intensiva dos agentes antimicrobianos. Desde a sua introdução, houve um aumento da

prevalência da resistência aos antibióticos em bactéria patogénicas e comensais, no

Homem e nos outros animais (Report and Qualitative Risk Assessment by the Committee

for Veterinary Medicinal Products, 1999).

31

Introdução

Em 1944, alguns anos após ter descoberto a penicilina, Alexander Fleming verificou que

algumas estirpes de Staphylococcus aureus eram capazes de a inactivar. Todavia, só no

final dos anos 60 é que começaram a ser publicados estudos sobre bactérias resistentes a

diferentes antibióticos (van den Bogaard, A. E. et al, 1999). Tal como ocorreu com a

penicilina, alguns anos após a introdução da meticilina na clínica, foram sendo isoladas

em número crescente estirpes de

S. aureus resistentes a esta penicilina semi-sintética. Os doentes infectados por S. aureus

resistentes à meticilina (MRSA) passaram a ser tratados com vancomicina. Da mesma

forma, surgiram outras bactérias resistentes a este antibiótico, como por exemplo,

Enterococcus sp. Esta situação verificou-se, igualmente, para as fluoroquinolonas, que

foram introduzidas na clínica, nos anos oitenta, para tratar, entre outras, as infecções

provocadas por MRSA. No entanto, um ano após a sua introdução na clínica, verificou-se

que várias estirpes de MRSA tinham desenvolvido resistências a este antibiótico. De facto,

a aquisição de resistências aos antibióticos vulgarmente utilizados, tem sido observada

desde a sua introdução na medicina humana e veterinária, tendo-se constatado que cada

vez que um antibiótico é introduzido na clínica, as bactérias adaptam-se, mais ou menos

rapidamente (Tabela 7) (Aarestrup, F. M. et ai, 1998b, Acar, J. e Courvalin, P., 1998;

Fraimow, H.S. e Courvalin, P. 2000; van den Bogaard, A. E., et ai, 2002).

Tabela 7- Descoberta do antibiótico e desenvolvimento da resistência (DND-Dados não

disponíveis) ( Schwarz, S. et ai, 2001).

Antibiótico Descoberta Introdução na clínica

Identificação da Resistência

Penicilina 1940 1943 1940 (Meticilina 1961/5) Estreptogramina 1944 1947 1947,1956

Tetraciclina 1948 1952 1956 Eritromicina 1952 1955 1956 Vancomicina 1956 1972 1987

Ác. Nalidíxico 1960 1962 1966 Gentamicina 1963 1967 1970

Cefalosporinas de 3a geração DND 1980,1985 Fluoroquinolonas 1978 1982 1985

32

Introdução

O rápido aparecimento de estipes resistentes após a introdução de um novo antibiótico na

clínica demonstra a extrema capacidade de adaptação das bactérias a alterações do meio.

Na realidade, os microrganismos devem a sua existência à capacidade de se adaptarem às

mudanças. Uma grave consequência desta capacidade é, sem dúvida, o desenvolvimento de

resistências aos antibióticos ( Anglada, R. R., 1997; Martel, J. L. et ai, 2001; Schwarz, S. et

ai, 2001). Nos últimos anos as bactérias desenvolveram igualmente resistência a substâncias

sintéticas, o que confirma a sua extraordinária capacidade de resistirem às alterações

ambientais e de se desenvolverem na presença de substâncias tóxicas (Schwarz, S. et ai.,

2001).

A frequência da resistência aos antibióticos num microrganismo é determinada por uma

grande variedade de factores epidemiológicos, que facilitam o aparecimento de estirpes

resistentes e que promovem a sua transmissão. A conjugação destes factores é responsável

pela variação da incidência da resistência (Cohen, M. L., 1994). Muitas vezes os

antibióticos são consumidos de uma forma inadequada devido à dificuldade em determinar

se uma infecção é provocada por um vírus ou por uma bactéria. Em caso de dúvida, o

receio de não tratar uma infecção bacteriana leva, por vezes, o médico a prescrever um

antibiótico que não irá ter qualquer efeito se a infecção for provocada por um vírus. A

possibilidade de, em alguns países, se adquirirem facilmente antibióticos sem receita

médica, contribui para o aumento do consumo incorrecto, em doses inadequadas e, muitas

vezes, durante um período de tempo insuficiente. Da mesma forma, as débeis condições

sócio-económicas de alguns países, onde a pobreza e o excesso de população são

predominantes, contribuem para o aparecimento e propagação de bactérias resistentes. Por

outro lado, o aumento do número de viagens e a globalização do mercado dos produtos

alimentares cria condições que levam à rápida propagação de bactérias transmitidas pela

cadeia alimentar (Consumer Policy and Consumer Health Protection, 1999; JOCE, n° C,

407/7; WHO, 2000a; WHO, 2000b).

33

Introdução

A presença de sequências de DNA portadoras de genes de resistência em antibióticos

comercializados, permite, igualmente, que as bactérias tenham um acesso extremamente

facilitado ao reservatório de resistências, que é o ambiente (Boisseau, J., 1993; Corpet, D.

E., 1993).

As características farmacocinéticas das diferentes classes de antibióticos podem favorecer

o desenvolvimento de resistências, assim como a concentração de substância activa, a via

de excreção desse agente e a via de administração. Os antibióticos que são absorvidos em

quantidades reduzidas no tracto gastrointestinal podem exercer uma pressão de selecção

considerável nas bactérias intestinais. Por seu lado, a terapia sistémica ou tópica pode

permitir o desenvolvimento de espécies da flora normal da pele resistentes ao antibiótico e

a sua disseminação. Quanto mais prolongada for a terapia, mais provável é a alteração da

flora normal, a colonização e a superinfecção por microrganismos resistentes (Boisseau, J.,

1993; Corpet, D. E., 1993).

Um outro factor que contribui para o aparecimento de resistências no Homem relaciona-se

com a ingestão de antibióticos através dos alimentos. Estes agentes, quando usados como

promotores de crescimento, podem deixar resíduos na carne ou no leite, os quais, se

conservarem, pelo menos em parte, a sua actividade, podem exercer pressão de selecção e

favorecer o aparecimento de resistências. De um modo geral, a quantidade de resíduos é

praticamente nula quando o antibiótico é administrado como promotor de crescimento, ou

seja, em doses subterapêuticas. No entanto, quando o antibiótico é utilizado com fins

terapêuticos, a dose administrada é mais elevada e, por essa razão, poderá ser absorvido

pelo consumidor. Apesar de existir um intervalo de segurança, legalmente estabelecido, até

que o animal seja abatido, se este não for cumprido, vão permanecer resíduos do

antibiótico no alimento, os quais podem ser transferidos para o consumidor (Boisseau, J.,

1993; Corpet, D. E., 1993; Dayan, A. D., 1993).

No sentido de proteger a saúde pública, nos Estados Unidos da América, a FDA (Food and

Drug Administration), assim como o USDA (United States Department of Agriculture),

cooperam num programa para controlar o uso de antibióticos nos animais, evitando o seu

uso ilegal. Da mesma forma, na União Europeia são tomadas medidas legais no sentido de

proteger a saúde pública, através de legislação que estabelece os limites máximos de

34

Introdução

resíduos de medicamentos veterinários permitidos em alimentos de origem animal e cuja

última alteração data de 4 de Março de 1999. Se estes limites de resíduos forem respeitados

não existe qualquer risco para a saúde pública. O único risco para a saúde verificar-se-ia se

fossem ingeridas grandes quantidades de alimentos, cujos níveis de resíduos fossem muito

superiores aos legais (Corpet, D. E., 1993).

Com efeito, o consumo prolongado de doses subterapêuticas é visto como um dos

principais factores responsáveis pelo desenvolvimento de resistências, exercendo uma

pressão de selecção intensa, permitindo o aumento do número de bactérias resistentes já

existentes na população bacteriana (Consumer Policy and Consumer Health Protection,

1999; JOCE, n° C de 28 de Dezembro de 1998 ; McEwan, S.A.. et al, 2002; Martel, J. L. et

al, 2001; Report and Qualitative Risk Assessment by the Committee for Veterinary

Medicinal Products, 1999; Schwarz, S. et al, 2001).

1.3.1. Consequências da utilização dos antibióticos

A utilização de agentes antimicrobianos na profilaxia, na terapia e como promotores de

crescimento tem como consequência o aparecimento de microrganismos resistentes, não só

entre bactérias patogénicas, mas também entre bactérias da flora endógena normal dos

animais expostos a estas substâncias (dei Campo, R. et ai, 2003; Tollefson, L. et ai, 1997;

van den Bogaard, A. E., et al, 1999; van den Bogaard, A. E., et al, 2002). Da mesma forma,

a utilização de antibióticos na medicina humana contribui para o aumento das resistências

nas bactérias patogénicas e comensais da flora bacteriana no Homem, em virtude dos

antibióticos não actuarem apenas nas bactérias alvo, mas em todas as populações de

bactérias expostas a essas substâncias (Aarts, H. J. M. et ai, 2001; Consumer Policy and

Consumer Health Protection, 1999; van den Bogaard, A. E., et al, 1999). A diminuição

simultânea de susceptibilidade de uma bactéria a três ou mais classes de antibióticos,

através de mecanismos de resistência é designada por multiresistência (Piddock, L. J. V.,

1996).

35

Introdução

Devido à intensa utilização dos agentes antimicrobianos na medicina humana, na medicina

veterinária e como promotores de crescimento, as bactérias vão acumulando genes de

resistência. Desta forma, o progressivo aumento de bactérias resistentes reflète a adaptação

destes organismos a ambientes poluidos por antibióticos. Apesar da maior parte dos

antibióticos utilizados pelo Homem não serem usados nos animais, a resistência cruzada

com antibióticos usados nos animais pode ocorrer, em virtude das moléculas estarem

estruturalmente relacionadas (Piddock, L. J. V., 1996; Report and Qualitative Risk

Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999). Está igualmente

demonstrado que um único antibiótico é capaz de seleccionar a resistência a antibióticos

quimicamente não relacionados (Piddock, L. J. V., 1996).

Dado que as bactérias resistentes ocorrem no Homem, nos animais, na vegetação e no meio

ambiente, terá de existir um grande reservatório de genes de resistência acessível a todas as

bactérias, as quais estão expostas a uma pressão de selecção, devido à utilização de

antibióticos nos hospitais, na veterinária e na produção animal (Report and Qualitative

Risk Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

Tanto no Homem, como nos animais, as bactérias saprófitas são abundantes na pele e nas

mucosas, constituindo a flora bacteriana comensal, a qual se mantém, geralmente,

constante, desde que a saúde do hospedeiro e as condições ambientais permaneçam

estáveis. Cada área colonizada constitui um nicho ecológico particular, onde se verifica um

equilíbrio entre as bactérias e o hospedeiro. A flora bacteriana intestinal é a mais

abundante e possui um papel de extrema importância no equilíbrio da saúde humana e

animal (Levy, S. B., 1998; Nord, C. E., 1993; Report and Qualitative Risk Assessment by

the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

Em condições normais, nos omnívoros e carnívoros, a acidez gástrica constitui uma

barreira para os microrganismos ingeridos juntamente com a saliva ou alimentos. Desta

forma, o conteúdo estomacal é geralmente estéril. Pelo contrário, o cólon possui uma flora

complexa (Levy, S. B., 1998; Report and Qualitative Risk Assessment by the Committee

for Veterinary Medicinal Products, 1999).

36

Introdução

A flora intestinal é constituída por mais de 200 espécies de bactérias. Devido ao baixo

potencial redox, os anaeróbios estritos excedem os aeróbios e os anaeróbios facultativos,

na razão de 1:1 000. No Homem, as bactérias anaeróbias mais comuns são Bifibobacterium

(Gram positivo) e Bacteróides (Gram negativo), enquanto que Esherichia coli (Gram

negativo) é o anaeróbio facultativo mais comum. As bactérias do género Enterococcus

(Gram positivo) são os microrganismos anaeróbios facultativos mais abundantes (Levy, S.

B., 1998; Report and Qualitative Risk Assessment by the Committee for Veterinary

Medicinal Products, 1999).

No caso dos frangos, os quais se encontram no âmbito deste estudo, a composição da flora

gastrointestinal varia com a idade. Devriese (Devriese, L. A., 1991) verificou que são

várias as espécies de Enterococcus que se encontram a constituir a flora gastrointestinal

destas aves, assim como algumas espécies do género Streptococcus, contudo as mais

comuns são Enterococcus faecium e Enterococcus faecalis, conforme se pode observar na

tabela 8.

Tabela 8. Percentagem de isolados de Enterococcus sp. e de Streptococcus sp. em frangos

com diferentes idades ( Devriese, L.A., et ai, 1991).

Idade

Espécie 1 dia 3-4 semanas > 12 semanas Enterococcus % % %

faecium 41 46 10 faecalis cecorum

41 0

3 7

10 50

hirae 0 10 1 durans 2 8 0 gallinarum avium

0 0

1 0

0 1

mundii 3 0-5 1 casseliflavus 0 1 0

Streptococcus alactolyticus bovis

2 0

21 0

21 1

Introdução

A flora intestinal desempenha importantes funções fisiológicas no organismo. Nos

herbívoros, a função fundamental é a digestão da celulose e, em alguns casos, constituem

uma fonte de vitaminas e proteínas para o hospedeiro. Em todos os animais, incluindo o

Homem, a microflora afecta a morfologia da mucosa intestinal, participa no metabolismo

dos carbohidratos e participa na produção de vitaminas. A microflora constitui, igualmente,

uma barreira à colonização por bactérias exógenas (Levy, S. B., 1998; Report and

Qualitative Risk Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

A flora intestinal é determinada geneticamente, mas é influenciada pelos hábitos

alimentares. No entanto, mesmo quando os hábitos alimentares sofrem alterações durante

algum tempo, a sua composição mantém-se estável e a ingestão de bactérias exógenas

através dos alimentos não provoca uma colonização permanente, mantendo-se no intestino

apenas alguns dias ou semanas (Levy, S. B., 1998; Report and Qualitative Risk

Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

Uma das consequências da utilização de antibióticos é a alteração da constituição da flora

intestinal (Baquero, F., 1997; Boisseau, J., 1993; Corpet, D. E., 1993).

Os antibióticos podem reduzir o número de bactérias e alterar a proporção entre as

diferentes espécies (Baquero, F., 1997; Boisseau, J., 1993; Corpet, D. E., 1993). Esta

modificação conduz à diminuição da resistência à colonização, aumentando o risco de

aquisição de bactérias exógenas resistentes (Huycke, M. M., 1998; Report and Qualitative

Risk Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999). Por outro

lado, a morte das bactérias susceptíveis ao antibiótico cria um vazio no intestino, que pode

ser preenchido pelo supercrescimento ou pela aquisição de bactérias e de leveduras,

resistentes ao antibiótico. Quando a resistência à colonização diminui, a dose infecciosa

necessária para provocar doença, também é menor e os animais excretam um maior

número de bactérias e por um período de tempo mais longo, quando comparado com os

animais cuja resistência à colonização não sofreu alteração. Por esta razão, a disseminação

de bactérias resistentes aumenta, assim como o risco de contaminação da carne durante o

abate (van den Bogaard, A. E. et al, 1999).

38

Introdução

1.3.2. Impacto da utilização de antibióticos em produção animal na resistência

bacteriana de bactérias potencialmente patogénicas para o Homem

O facto das bactérias terem acumulado vários genes de resistência a diferentes antibióticos

compromete o tratamento de doenças infecciosas, quer no Homem, quer nos animais,

tornando muito difícil encontrar tratamentos eficazes (Consumer Policy and Consumer

Health Protection, 1999; Jornal Oficial da Comunidades Europeias, N° C, 407/7 de 28 de

Dezembro de 1998).

São vários os exemplos das implicações da resistência na terapia. O primeiro surto bem

documentado envolvendo bactérias multiresistentes relacionou-se com a febre tifóide

provocada por Salmonella typhi, que ocorreu no México em 1970, com mais de 10 000

casos casos confirmados em 1972. A estirpe envolvida possuía genes de resistência ao

cloranfenicol (antibiótico utilizado à época, no combate a esta doença), à ampicilina, à

estreptomicina e à sulfonamida (Consumer Policy and Consumer Health Protection, 1999;

WHO, 1998). Recentemente, têm sido descritas enterobactérias patogénicas como

Salmonella sp., Campylobacter sp. e E. coli resistentes também às fluoroquinolonas

(Consumer Policy and Consumer Health Protection, 1999).

Nos hospitais verificou-se um aumento de infecções provocadas por bactérias Gram-

positivo, particularmente 5". aureus resistentes à meticilina, por Staphylococcus coagulase

negativo e por Enterococcus faecium resistentes à ampicilina e à vancomicina (Firth, N. e

R. A . Skurray, 1998; Luh,K-T., 2000; Report and Qualitative Risk Assessment by the

Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

Isolados de S. aureus resistentes à meticilina, os quais apresentam também resistência a

todas as penicilinas, cefalosporinas e carbapenemos são, frequentemente, também

resistentes a outros antibióticos, especialmente, macrólidos, quinolonas, aminoglicosídeos,

lincosaminas e trimetropim-sulfametoxazol. Por esta razão, os glicopéptidos, vancomicina

e teicoplanina constituem antibióticos de última escolha para o tratamento de infecções

provocadas por estas estirpes (Report and Qualitative Risk Assessment by the Committee

for Veterinary Medicinal Products, 1999).

39

Introdução

Em Portugal, segundo um estudo realizado em 1994, 47% dos S. aureus eram resistentes à

meticilina, sendo a percentagem de S. epidermidis e de S. haemolyticus superior. De todos,

apenas a vancomicina era activa contra estas estirpes (Cristino, J. M. et ai, 1996). Em

1997, foram detectadas nos Estados Unidos da América, estirpes de S. aureus com um

nível intermédio de resistência à vancomicina (Chang, S. et al, 2003; Report and

Qualitative Risk Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999;

Smith, T. L. et al, 1999) e em 2002, o primeiro isolado de S. aureus resistente à

vancomicina por aquisição de van A, o que constitui uma situação alarmante (Chang, S. et

al, 2003; Tenover, F. C. et al, 2004)

Da mesma forma, os Enterococcus sp. tornaram-se uma das mais importantes causas de

infecções nosocomiais. Para além de possuirem resistência intrínseca a muitos antibióticos,

como por exemplo, cefalosporinas, oxacilina, clindamicina e aminoglicosídeos em baixas

concentrações, certas estirpes desenvolveram resistência a todos os antibióticos, incluindo

penicilinas, aminoglicosídeos, em altas concentrações, e glicopéptidos, causando sérios

problemas na clínica humana (Bozdogan, B. et ai, 1999).

Tabela 9 - Multiresistência em E. faecium (Report and Qualitative Risk Assessment by the

Committee for Veterinary Medicinal Products, 1999).

Resistência intrínseca Resistência adquirida

[3-lactâmicos p-lactâmicos (principalmente Aminoglicosídeos cefalosporinas) Fluoroquinolonas Aminoglicosídeos Glicopéptidos(vancomicina e Fluoroquinolonas teicoplanina) Trimetroprim-sulfametoxazol Tetraciclinas Clindamicina Eritromicina

Cloranfenicol Ácido fusídico Nitrofurantoína

40

Introdução

No que diz respeito a Portugal, em 1994, E.faecalis e E.faecium apresentavam resistência

a alguns antibióticos e todas as estirpes resistentes à vancomicina eram também resistentes

a todos os outros antibióticos (Tabela 10).

Tabela 10 - Percentagem de E. faecalis e E. faecium resistentes a diferentes antibióticos

(Cristino, J. M. et ai, 1996).

Bactéria E. faecalis E. faecium Antibiótico

Ampicilina 2% 70%

Estreptomicina 35% 42%

Gentamicina 45% 59%

Vancomicina 1% 9%

Durante os anos 60, o aumento de estirpes de Salmonella resistentes, isoladas em vitelos

para consumo humano, levou à criação no Reino Unido, do Joint Committee on the Use of

Antibiotics in Animal Husbandry and Veterinary Medicine. Num relatório emitido em

1969 esta comissão reconheceu que a administração de antibióticos em doses

subterapêuticas tinha consequências negativas para a saúde humana e animal. Por esta

razão, foram feitas várias recomendações sobre a utilização de antibióticos. Desta forma, a

utilização da penicilina e da tetraciclina como promotores de crescimento, foi proibida.

Estes antibióticos, juntamente com as sulfonamidas, passaram a ser autorizados apenas na

terapia animal e sob prescrição de um médico veterinário. Desde então, os antibióticos

fornecidos aos animais como promotores de crescimento são moléculas diferentes das dos

antibióticos utilizados na terapia humana ( Aarestrup, F. M. et al, 1998b; Consumer Policy

and Consumer Health Protection, 1999; Martel, J.L., 2001; Piddock, L. J. V.,1996;

Schwarz, S. et al, 2001; Witte, W., 1998). 41

Introdução

Estas preocupações levaram a União Europeia a estabelecer uma utilização racional dos

antibióticos, quer como agentes terapêuticos, quer como promotores de crescimento.

Da mesma forma, a World Health Organization (WHO) criou uma comissão para definir

regras na vigilância do desenvolvimento de resistências em bactérias e a sua possível

transferência para o Homem. Para tal, será necessário standardizar a metodologia de

vigilância (Martel J.L., 2001).

Em consequência de tais preocupações, desde os anos 70 têm surgido vários estudos sobre

o desenvolvimento de bactérias multiresistentes (Martel J.L., 2001).

Até que ponto a utilização dos antibióticos na produção animal contribui para o

aparecimento de bactérias resistentes no Homem, permanece em debate há mais de trinta

anos na Europa (Martel, J.L., 2001). Apesar de existirem vários estudos, o conhecimento

científico actual é um pouco ambíguo, não sendo ainda possível identificar todos os

factores que intervêm na selecção e transmissão de resistência. A obtenção de informação

para confirmar e quantificar a relação entre a utilização dos antibióticos e a incidência de

resistência poderá demorar vários anos, pelo que este assunto gera bastante controvérsia

(Consumer Policy and Consumer Health Protection, 1999). Seja qual for a conclusão deste

debate, sabe-se que a vulgarização da utilização dos antibióticos contribuiu para a selecção

de bactérias resistentes aos agentes antimicrobianos. A pressão de selecção exercida pelos

antibióticos contribui para uma rápida aquisição de resistências através de mutações e de

troca de determinantes genéticos, nomeadamente, transposões e integrões. De facto, o

aumento da incidência de bactérias resistente é contemporânea da intensificação da

utilização dos agentes antimicrobianos e é, no início do terceiro milénio, uma ameaça para

a saúde humana e animal ( Hayes, J. R. et ai, 2001; Martel, J.L., 2001).

A associação quinupristina-dalfopristina, tal como a virginiamicina, é uma mistura de duas

pristinamicinas, que actuam sinergicamente (van den Bogaard, A. E. et al, 2002). A

associação quinupristina-dalfopristina, cuja utilização foi aprovada nos EUA em 1999, é

utilizada como agente terapêutico em infecções provocadas por bactérias multiresistentes,

como Staphylococcus aureus resistentes à meticilina e de Enterococcus faecium resistentes

à vancomicina (Hayes, J. R. et ai, 2001; Jensen, L.B., 2002; Solway, S. et ai, 2003).

42

Introdução

Nos EUA a virginiamicina foi utilizada pontualmente no tratamento de infecções

provocadas por Staphylococcus sp. e apenas em alguns estados, mas é utilizada há de mais

de 25 anos, como promotor do crescimento de frangos, tendo sido utilizada também na

Europa, para este fim, durante muitos anos (Solway, S. et ai, 2003; van den Bogaard, A.E.

et al, 2002). No entanto, antes da associação quinupristina-dalfopristina ser utilizada na Europa, na

terapia humana, a resistência a esta associação já era observada em bactérias da flora

intestinal dos frangos, razão pela qual se admitia que tal resistência teria de ser provocada

pela utilização da virginiamicina como promotor de crescimento ( van den Bogaard, A. E.

et ai, 2002). Da mesma forma, admite-se que elevada utilização da virginiamicina na

produção animal poderá ter contribuido para o aparecimento de bactérias Gram-positivo

patogénicas resistentes à associação quinupristina-dalfopristina, em isolados de origem

humana (Hayes, J. R. et ai, 2001; Jensen, L.B., 2002; Simjee, S., 2002a; Simjee, S.,

2002b), o que compromete a sua utilização na clínica (Solway, S. et ai, 2003). Por esta

razão, a utilização da virginiamicina como promotor de crescimento, foi proibida na

Europa em 1999, mas continua a ser utilizada nos EUA (Hayes, J. R. et ai, 2001; Jensen,

L.B., 2002; Regulamento (CE) N° 2821/98 do Conselho, de 17 de Dezembro de 1998;

Simjee, S., 2002a; Simjee, S.2002b; Solway, S. et ai, 2003).

Com a proibição da utilização da virginiamicina na Europa, verificou-se um decréscimo no

número de isolados de Enterococcus faecium resistentes à associação quinupristina-

dalfopristina, com origem em frangos. Com efeito, os estudos realizados na Dinamarca,

onde a virginiamicina não é utilizada desde 1998, demonstraram que em 1997 a incidência

de Enterococcus faecium, isolados de frangos e de suínos, resistentes à virginiamicina era

de 66%, enquanto que em 2000 a incidência era de 34% (Simjee, S., 2002a; Solway, S. et

ai, 2003).

Apesar da incidência da resistência ter diminuido, existiam ainda Enterococcus faecium

resistentes à virginiamicina. Uma possível explicação será o facto de outros agentes

antimicrobianos, como a eritromicina, a tetraciclina e a estreptomicina co-seleccionarem os

isolados resistentes à virginiamicina (Simjee, S., 2002b).

43

Introdução

Uma situação homóloga desta é a que se verifica para a eritomicina e a tilosina. A tilosina

é um antibiótico que foi utilizado durante muito tempo como promotor de crescimento dos

frangos.Vários estudos têm demonstrado que a utilização da tilosina como promotor de

crescimento, está relacionada com o aumento de enterococos resistentes à tilosina na flora

intestinal de frangos e que o número de Enterococcus faecium relativamente aos

enterococos totais também aumentou. Isto deve-se ao facto da eritromicina apresentar

resistência cruzada com a tilosina ( van den Bogaard, A.E. et al, 2002). Por seu lado, os E.

faecium resistentes aos glicopéptidos (GRE) foram detectados pela primeira vez na Europa,

em 1986. Estudos desenvolvidos na Europa admitem que a existência de isolados de GRE

na comunidade se deve à utilização da avoparcina, um glicopéptido utilizado durante mais

de vinte anos, como promotor de crescimento dos frangos e de suínos, estruturalmente

relacionado com a vancomicina. A vancomicina, utilizada em medicina humana desde os

anos cinquenta, possui actividade contra bactérias em fase de crescimento, inibindo a

síntese do peptidoglicano (Anglada, R. R., 1997; Fraise, A. P., 1997; Kirst, H. A. et ai,

1998; Maniatis, A.N. et ai, 2001). Este antibiótico tem ainda a capacidade de inibir a

síntese de RNA e de alterar a permeabilidade da membrana citoplasmática da célula

bacteriana (Anglada, R. R., 1997).

Estudos realizados na Dinamarca e na Noruega permitiram observar que isolados de

enterococos resistentes à vancomicina possuíam resistência cruzada à avoparcina. Desta

forma, admite-se haver uma relação entre a utilização da avoparcina e a selecção de

enterococos resistentes à vancomicina (Khachatourians, G., 1998). Nos Estados Unidos da

América, onde a avoparcina nunca foi utilizada como promotor de crescimento, não foram

detectados Enterococcus sp. resistentes à vancomicina, na flora intestinal dos animais para

consumo. Contudo, o número de doentes hospitalizadoss portadores de Enterococcus sp.

resistentes à vancomicina (VRE) é superior ao observado na Europa. Este facto dever-se-á

à maior utilização dos glicopéptidos nos hospitais dos EUA do que nos hospitais europeus

(Cook, R R, 1997; Fraise, A. P., 1996; Maniatis, A. N. et ai, 2001; McDonald, L. C. et ai,

1997; Shlaes, D. M. e L. B. Rice, 1994; Wegener, H. C. 1998). Desde que, em 1997 a

avoparcina deixou de ser utilizada como promotor de crescimento na Europa ( Directiva

97/6/CE da Comissão de 30 de Janeiro de 1997), estudos realizados em algumas regiões

44

Introdução

alemãs constataram um decréscimo no número de doentes portadores de VRE, de 12% em

1994 para 6% em 1996 e 3% em 1997 ( Sorum, H. e Sunde, M, 2001). Tem sido também

sugerido que a ligação entre os genes de resistência à vancomicina e à eritromicina em

enterococos isolados em animais de produção pode ser importante na co-selecção ou na

manutenção da resistência aos glicopéptidos, quando os macrólidos são usados na terapia

ou como promotores de crescimento, em virtude da resistência simultânea a estes dois

agentes ser frequentemente observada nestes isolados (Lim, J-A. et ai, 2002; Maniatis, A.

N. et ai, 2001; Sorum, H. e Sunde, M, 2001). Na Grécia, o aparecimento de GRE foi mais

tardio do que nos outros países da Europa. Tal facto poderá estar relacionado com uma

menor utilização da avoparcina como promotor de crescimento neste país, relativamente à

sua utilização nos restantes países europeus (Maniatis, A. N. et ai, 2001). Desta forma,

aguardar até que haja confirmação científica para actuar seria perder uma oportunidade de

intervir ( Consumer Policy and Consumer Health Protection. 1999). Por essa razão, o tipo

de moléculas utilizadas como promotores de crescimento e as condições da sua utilização

encontram-se legisladas, sendo especificado os animais alvo, a duração da sua utilização e

a dosagem. Na Europa, os antibióticos (3-lactâmicos e as tetraciclinas não são utilizadas

desde 1975, sendo, no entanto, utilizadas nos EUA (Schwarz, S. et ai, 2001).

Da mesma forma, o Conselho de Ministros da Agricultura decidiu retirar a autorização da

utilização da bacitracina-zinco (um polipeptídeo), da espiramicina e do fosfato de tilosina

(antibióticos do grupo dos macrólidos) e da virginiamicina (uma estreptogramina), como

promotores de crescimento, em Dezembro de 1998 (Regulamento (CE) N°2821/98 do

Conselho, de 17 de Dezembro de 1998). Anteriormente, em 1997, foi retirada a

autorização da utilização da avoparcina (um glicopeptido), como promotor de crescimento

(Directiva 97/6/CE da Comissão de 30 de Janeiro de 1997). Foi igualmente retirada a

autorização da utilização do carbadox e do olaquindox, em Dezembro de 1998, devido aos

possíveis efeitos tóxicos destas substâncias (Regulamento (CE), n° 2788/98, da Comissão

de 22 de Dezembro de 1998; Schwarz, S. et ai, 2001).

Actualmente as moléculas cuja utilização é permitida são o flavofosfolipol, a monensina-

sódio, a salinomicina-sódio e a avilamicina, porque não têm qualquer relação estrutural

45

Introdução

com os agentes antimicrobianos utilizados na medicina humana e veterinária ( Martel, J.L.,

2001; Schwarz, S. et ai, 2001; Regulamento (CE) N° 2821/98 do Conselho de 17 de

Dezembro de 1998).

O flavofosfolipol e a avilamicina têm uma actividade antimicrobiana, enquanto que as

outras duas moléculas são utilizadas devido aos seus efeitos coccidiostáticos (Schwarz, S.

et ai, 2001).

Com estas medidas admite-se que os antibióticos promotores do crescimento animal não

terão como consequência o desenvolvimento de resistência cruzada com os antibióticos

usados em medicina humana (Schwarz, S. et ai, 2001).

Contudo, num parecer do Comité Científico Director, de 28 de Maio de 1999, admite-se

que a utilização, como promotores de crescimento, de agentes antimicrobianos

pertencentes a categorias que são ou que possam vir a ser usados em medicina humana e

veterinária deve ser abolida, devido ao risco de selecção de resistência cruzada aos

medicamentos usados no tratamento de infecções bacterianas (Comunicação do Conselho),

Posição comum (CE) N°20/2003, adoptada pelo Conselho em 17 de Março de 2003).

Num segundo parecer do Comité Científico Director sobre a resistência antimicrobiana,

adoptado em Maio de 2001, foi confirmada a necessidade de planificar e coordenar o

processo de exclusão progressiva destas substâncias. Desta forma, a monensina-sódio, a

salinomicina-sódio, o flavofosfolipol e a avilamicina serão suprimidas a partir de 1 de

Janeiro de 2006 (Proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho relativa

aos aditivos destinados à alimentação animal, Bruxelas 22/03/02,COM (2002) 153 final,

2002/2003 (COD)).

1.4. Género Enterococcus

1.4.1. Principais características

O género Enterococcus foi descrito pela primeira vez em 1899 como um novo

Streptococcus de origem entérica.

46

Introdução

Os enterococos são cocos Gram positivo cujas células são esféricas ou ovóides com um

diâmetro inferior a 2 um. Estas células podem ocorrer em pares ou em pequenas cadeias

(Lu, H.-Z. et ai, 2002; Fackland, R. R. et ai; Ostrowsky, B. et ai, 1999; Hancock, L. E. e

M. S. Gilmore, 2000). Através da coloração de Gram assemelham-se a Streptococcus,

razão pela qual foram inicialmente classificados como Streptococcus do grupo D

(Ostrowsky, B. et ai, 1999). Contudo, estudos posteriores demonstraram que as bactérias

do género Enterococcus diferem o suficiente das do género Streptococcus , nomeadamente

no que diz respeito à sequência de ácidos nucleícos, de modo a merecerem a sua

classificação num género distinto (Hancock, L. E. e M. S. Gilmore, 2000; Ostrowsky, B.

et ai, 1999). Existem, pelo menos, doze espécies pertencentes ao género Enterococcus. Estão descritas

infecções por E. avium, E. durans, E. raffinosus, E. gallinarum e E. casseliflavus. Contudo,

E. faecalis e E. faecium são as espécies que mais frequentemente provocam infecções

(Ostrowsky, B. et ai, 1999; Joyanes, P et ai, 2000). São organismos anaeróbios facultativos

cuja temperatura óptima de crescimento é de cerca de 35°C, podendo a maior parte das

estirpes crescer entre os 10 e os 45°C (Lu, H.-Z. et ai, 2002 ; Fackland, R. R. et ai).

As bactérias do género Enterococcus podem ser encontrados em quase todos os ambientes,

conseguindo sobreviver nos solos, na água, nos alimentos e nos animais, nomeadamente,

insectos e aves (Hancock, L. E. e M. S. Gilmore, 2000; Lu, H.-Z. et ai, 2002, Fackland, R.

R. et ai). Os enterococos constituem também o componente principal da microflora de

queijos artesanais, produzidos no Sul da Europa. Estas bactérias têm um papel fundamental

na maturação e no desenvolvimento de sabor nos queijos ( Franz, C.M.A.P. et ai, 2001).

Estas bactérias fazem igualmente parte da flora gastrointestinal normal humana e animal

(Lu, H.-Z., 2002; Ostrowsky , B., Eliopoulos, G., 1999; Simjee, S. et ai, 2002). Podem ser

também encontrados na mucosa bucal, na vagina, em úlceras crónicas, em lesões dos

tecidos moles, no tracto hepatobiliar e no sistema nervoso central (Lu, H.-Z., 2002;

Ostrowsky, B., Eliopoulos, G., 1999; Descheemaeker, P. R. M. et ai, 1999; Fackland, R.

R., et ai)

47

Introdução

1.4..2. Significado clínico

As bactérias do género Enterococcus não são patogénicos animais de grande importância.

Contudo, no Homem são responsáveis por várias infecções.( van den Bogaard, A.E. et al,

2002)

E.faecalis é um comensal saprófita que ocorre na flora gastrointestinal humana e de outros

animais, embora se possa também comportar como um patogénico oportunista. Esta

espécie do género Enterococcus domina no que diz respeito às infecções humanas (85%)(

Franz, C.M.A.P. et ai, 2001; Ostrowsky , B. e Eliopoulos, G., 1999), sendo E. faecium

(10%) a outra espécie mais frequentemente isolada (Lu, H.-Z. et ai, 2002; Simjee, S.,

2002a).

Nos últimos anos os enterococos tornaram-se microrganismos patogénicos responsáveis

por um grande número de infecções nosocomials, apesar da sua baixa virulência. A

multiresistência entre estes microrganismos é comum e representa um grave problema no

tratamento de infecções tendo-se tornado, nos últimos anos, importantes patogénicos

nosocomials (Bozdogan, B. et ai, 1999; dei Campo, R., 2003; Donabedian, S.M. et ai,

2003; Eisner, H.-A., et ai. 2000; Franz, C.M.A.P. et ai, 2001; Joyanes, P. et ai, 2002;

Portillo, A. et ai, 2000; Toledo-Arana, A. et ai, 2001; Torell, E. et ai, 1999).

Estes microrganismos são os principais responsáveis por infecções urinárias e da região

abdominal. A bacteremia é o terceiro tipo de infecção mais comum. Estas infecções

ocorrem principalmente nos doentes mais idosos e em doentes imunocomprometidos, com

hospitalização prolongada e sujeitos a uma terapia por antibióticos. Apesar da endocardite

ser uma infecção por Enterococcus sp grave, é menos comum do que a bacteremia

(Bischoff, W. E. et ai, 1999; Fackland, R. R., et ai; Klein, G. et ai, 1998).

As bactérias do género Enterococcus possuem resistência intrínseca a muitos antibióticos,

nomeadamente, às cefalosporinas, penicilinas resistentes às penicilinases,

aminoglicosídeos e aos níveis uilizados na clínica de lincosamidas ( van den Bogaard,

A.E. et ai, 2002). Conseguiram, ainda, ao longo do tempo, adquirir resistência a uma

grande variedade de antibióticos, nomeadamente, resistência de alto nível a

aminoglicosídeos, macrólidos, estreptograminas, penicilina e glicopéptidos (Bozdogan, B.

48

Introdução

et al, 1999; Simjee, S., 2002a ; Singh, K. V.et al, 2002; Toledo-Arana, A. et al, 2001). Por

esta razão os enterococos da flora entérica são indicadores da pressão selectiva a que os

animais de produção estão sujeitos (Aarestrup, F. M. et ai, 1998; Simjee, S., 2002a).

A multiresistência aos antibióticos apresentada por estes microrganismos constitui um

grave problema no tratamento das infecções que provocam, tendo-se tornado um problema

de saúde pública (Donabedian, S.M. et ai, 2003; Portillo, A. et ai, 2000 ).

O aparecimento de Enterococcus sp. como patogénicos nosocomials pode estar

relacionado com o aumento de doentes imunocomprometidos e à sua exposição aos

antibióticos a que as bactérias do género Enterococcus são intrinsecamente resistentes,

como as cefalosporinas de terceira e quarta geração (van den Bogaard, A.E. et al, 2002).

A resistência intrínseca destes microrganismos a muitos antibióticos e a capacidade de

adquirirem resistência a vários antibióticos constitui um grave problema no tratamento de

doentes infectados por estes organismos (Singh, K. V. et ai, 2002).

1.5. Macrólidos, lincosamidas e estreptograminas

Os macrólidos são produzidos por Streptomyces sp e Micromonospora sp. Apresentam

uma estrutura química comum constituída por um anel lactónico, formado por 12, 15 ou 16

átomos de carbono, unidos a açúcares aminados e/ou neutros, razão pela qual apresentam

um elevado peso molecular (Anglada, R. R. 1997; Sousa, J. C. F. et ai, 1991b) (Tabela

11).

49

Introdução

Tabela 11 - Classificação de alguns macrólidos (Anglada, R. R. 1997).

Tamanho do anel lactónico

Antibiótico

14 átomos Claritromicina 15 átomos Eritromicina 16 átomos Oleandomicina

Roxitromicina Azitromicina Espiramicina Josamicina

Tilosina

A eritromicina, descoberta em 1952, é um antibiótico utilizado na terapêutica humana. Este

antibiótico é produzido por Saccharopolyspora erythraea e encontra-se representado na

figura l(Bergogne-Bérézin, E., 1997; Weisblum, B., 1998).

OH-,

a JL

H3C. Y

i o.

OH CH3

Desoamine

CH3

Cladinose

CH3

Fig. 1- Estrutura química da eritromicina A (Weisblum, B., 1998).

Do grupo das lincosamidas fazem parte a lincomicina, isolada em 1962 (Sousa, J. C. F. et

al 1991b) e a clindamicina. Estes antibióticos são apenas utilizados na terapêutica humana

(Lamb, H. M. et al, 1999; Lina, G. et al, 1999). 50

Introdução

A lincomicina é sintetizada por Streptomyces lincolnensis, sendo o seu derivado clorado a

clindamicina (Fig. 2) (Anglada, R. R. 1997).

CH

HO C-R

C — NH - CH

HO

OH SCH

OH

Fig. 2 Estrutura química das lincosamidas. (R = Cl, clindamicina; H, lincomicina)

As estreptograminas são produzidas por Streptomyces spp. São constituídas por uma

mistura de, pelo menos, duas moléculas estruturalmente diferentes: as estreptograminas do

grupo A e as estreptograminas do grupo B (Fig. 3) (Consumer Health Protection. Scientific

Committees. Scientific Committee on Animal Nutrition. 1998a., Consumer Health

Protection. Scientific Committees. Scientific Committee on Animal Nutrition. 1998b;

Jensen, L.B., 2002; Lamb, H. M. et al, 1999, Lina, G. et al, 1999, Pechère, J., 1996). As

estreptograminas do grupo A são macrolactonas polinsaturadas, corn peso molecular 500 e

as estreptograminas do grupo B são hexadepsipéptidos ciclicos, corn peso molecular 800 (

Pechère, J., 1996).

51

Introdução

Estreptogramina do grupo A Estreptogramina do grupo B

Fig 3 - Estrutura química dos grupos A e B das estreptograminas.

A virginiamicina é uma mistura de virginiamicina Ml ( estreptogramina A ) e de

virginiamicina S ( estreptogramina B ) (Jensen, L.B., 2002; Luh, K.-T. et ai, 2000; Simjee,

S. et ai, 2002).

A associação quinupristina-dalfopristina, que surgiu recentemente, é uma estreptogramina

que consiste na mistura de derivados semisintéticos da pristinamicina; a quinupristina

(derivada da pristinamicina IA) é uma estreptogramina do grupo B e a dalfopristina

(derivada da pristinamicina IIA) é uma estreptogramina do grupo A (Fig. 3) (Jensen, L. B.

et ai, 2000, Lamb, H. M. et al, 1999). Estas duas moléculas ligam-se ao ribossoma

bacteriano e, actuando sinergicamente, inibem a síntese proteica e a fase de alongamento

da cadeia peptídica (Solway, S. et ai, 2003).

Esta associação é um antibiótico semi-sintético, análogo à virginiamicina, recentemente

autorizado para uso clínico nos Estados Unidos da América e na Europa, no tratamento de

infecções causadas por patogénicos Gram-positivo multiresistentes, incluindo E. faecium

resistentes à vancomicina (um glicopéptido) e Staphylococcus aureus resistentes à

52

Introdução

meticilina (MRSA). E. faecalis é um resistente intrínseco à associação quinupristina-

dalfopristina (Soltani, M. D. et ai, 2000; Solway, S. et ai; Jensen, L.B., 2002; Soltani, M,

et ai, 2001; Jensen, L.B., 2000; ; Luh, K-T. et ai, 2000).

1.5.1. Modo de acção dos macrólidos, lincosamidas e estreptograminas

Os antibióticos macrólidos, lincosamidas e estreptograminas, apesar de serem

quimicamente distintos, possuem efeitos semelhantes na inibição da síntese proteica

bacteriana (Lamb, H. M. et al, 1999; Lim, J-A. et al, 2002).

As estreptograminas possuem actividade sinérgica. Os componentes do grupo B

(pristinamicina I e virginiamicina S) têm maior actividade na presença dos componentes do

grupo A (pristinamicina II e virginiamicina M). Para além disso, quando cada componente

actua isoladamente tem uma actividade bacteriostática, enquanto que quando os dois

componentes actuam conjuntamente têm actividade bactericida (Ostrowsky, B. et ai, 1999

e Pechère, J., 1996). A união dos componentes do grupo A das estreptograminas ao

ribossoma bacteriano induz neste uma alteração estrutural, aumentando a sua afinidade

pelos componentes do grupo B das estreptograminas (Pechère, J., 1996).

A reacção-chave da síntese proteica é a transpeptidação, a qual é mediada pela

peptidiltransferase, localizada na sub-unidade 50S do ribossoma (Chu, D. T., 1999;

Vannuffel, P. et ai, 1996). A transpeptidação envolve a formação de uma ligação entre a

cadeia peptídica em crescimento (peptidil-tRNA) e o aminoacil-tRNA, as quais estão

ligadas ao local P e ao local A do centro peptidiltransferase, respectivamente (Vannuffel,

P. et ai, 1996). Os macrólidos ligam-se à região 2058-2062 do rRNA 23S, da subunidade 50S do

ribossoma (Chu, D. T., 1999). Esta união provoca o bloqueio da transpeptidação e

provavelmente da translocação. Desta forma é impedido o alongamento da cadeia peptídica

(Vannuffel, P. et ai, 1996). O mecanismo de inibição da síntese proteica pelas estreptograminas é diferente para cada

componente (Fig. 4). A estreptogramina A inibe quer a ligação do peptidil-tRNA ao local

53

Introdução

dador, quer do aminoacil-tRNA ao local receptor da peptidiltransferase (Consumer Health

Protection. Scientific Committees. Scientific Committee on Animal Nutrition. 1998a;

VannuffeLP. etal, 1996).

A estreptogramina B impede a formação da ligação peptídica, provocando a libertação da

cadeia polipeptídica incompleta, do local dador (Consumer Health Protection. Scientific

Committees. Scientific Committee on Animal Nutrition. 1998a e Vannuffel, P. et al, 1996).

Fig 4 - Inibição da síntese proteica pelas estreptograminas

1.5.2. Mecanismos de resistência aos macrólidos, lincosamidas e estreptograminas

As bactérias podem ser resistentes aos macrólidos pelos seguintes mecanismos (Chu, D. T.,

1999; Piddock, L. J. V., 1996):

> Resistência intrínseca

> Resistência adquirida :

• Inactivação enzimática do antibiótico

• Modificação do alvo do antibiótico

• Efluxo activo de antibiótico

54

Introdução

1.5.2.1. Resistência intrínseca

Os antibióticos deste grupo têm de atravessar a parede celular e a membrana citoplasmática

bacteriana de modo a exercerem a sua função a nível dos ribossomas. Estes antibióticos

são moléculas anfifílicas, moderadamente hidrófobas e com peso molecular elevado.

A parede celular das bactérias Gram-positivo, essencialmente constituída por

peptidoglicano e ácidos teicóicos, permite a travessia de compostos de elevado peso

molecular e com diferentes graus de hidrofobia. Pelo contrário, as bactérias Gram-negativo

apresentam na parede celular uma membrana externa constituída principalmente por

fosfolípidos, porinas e lipopolissacarídeos (LPS), a qual funciona como uma barreira de

permeabilidade (Sousa, J. C. F. et ai, 1991).

Nas bactérias Gram-negativo os solutos hidrófilos atravessam a membrana exterior da

parede celular através dos canais de porina. No entanto, devido ao elevado peso molecular

dos macrólidos, os canais de porina são impermeáveis a estes antibióticos. Por esta razão,

muitas estirpes de bactérias Gram-negativo apresentam uma resistência intrínseca à

eritromicina e seus derivados, ao contrário das estirpes de bactérias Gram-positivo (Sousa,

J. C. F. et ai, 1991). Nas estirpes selvagens de Enterobacteriaceae (bactérias Gram-

negativo anaeróbias facultativas) e noutras bactérias Gram-negativo, a penetração dos

macrólidos através da membrana externa não ocorre devido às projecções polissacarídicas

dos LPS, na superfície bacteriana. Desta forma, os solutos hidrófobos não podem difundir

rapidamente através dos canais de porina, quer através dos LPS (Sousa, J. C. F. et ai,

1991).

55

Introdução

1.5.2.2. Resistência adquirida

A - Inactivação enzimática do antibiótico

A inactivação enzimática do antibiótico pode ocorrer por hidrólise, glicosilação, acetilação,

nucleotidilação ou por fosforilação.

a) Hidrólise de macrólidos e estreptograminas

Este processo ocorre por cisão do anel lactónico dos macrólidos mediada pelas enzimas

EreA e EreB, codificadas pelos genes ereA e ereB, respectivamente. Estes genes foram

descritos em Stahpylococcus aureus (Schmitz, F-J. et ai, 2000). Estas enzimas encontram-

se no espaço periplasmático bacteriano, mas são raras as bactérias que as produzem

simultaneamente (Sousa, J. C. F. et ai, 1991). Em E. coli esta resistência verifica-se para a

eritromicina, mas não para os macrólidos com anel lactónico constituído por 16 átomos de

carbono. Nesta espécie bacteriana os genes ereA e ereB encontram-se no plasmídeo

plP1527 (Sousa, J. C. F. et ai 1991; Wondrack, L. et ai, 1996).

Em S. aureus foram descritos genes com actividade semelhante aos genes ere, capazes de

hidrolizar os macrólidos constituídos por 14 ou 16 átomos de carbono no anel lactónico

(Bischoff, W. E. et ai, 1999). Nesta bactéria foi igualmente descrito o gene vgb que

codifica uma lactonase capaz de hidrolizar a quinupristina (estreptogramina B),

inactivando-a (Lamb, H. M. et al, 1999, Lina, G. et al, 1999, Piddock, L. J. V., 1996). Está

igualmente descrito o gene vgbB, igualmente capaz de hidrolizar as estreptograminas B

(Jensen, L. B. et ai, 2000; Jensen, L.B. et ai, 2002; Lina, G. et ai, 1999). Estes genes foram

detectados quer em Staphylococcus sp., quer em Enterococcus sp. (Report and Qualitative

Risk Assessment by the Committee for Veterinary Medicinal Products. 1999; Roberts, M.

C. etal, 1999).

56

Introdução

b) Glicosilação dos macrólidos

Este mecanismo é mediado pelo gene mgt em Streptomyces lividans (Weisblum, B.,

1998). Em S. ambofaciens foi detectada uma glicosiltransferase, codificada pelo gene

gwiA(Chu,D. T., 1999).

c) Fosforilação dos macrólidos

Este processo é mediado, em E. coli, pelos genes mphA, mphB e mphK (Roberts, M. C. et

al, 1999; Weisblum, B., 1998). Dada a sua semelhança, o gene mphK é actualmente

designado por mphA, em virtude das duas proteínas que os codificam, diferirem em apenas

1% dos seus aminoácidos (Roberts, M. C. et al, 1999).

O gene mphA relaciona-se apenas com a fosforilação dos macrólidos com anel lactónico

constituído por 14 átomos de carbono ( eritromicina ), enquanto que o gene mphB se

relaciona com a fosforilação dos macrólidos com anel lactónico constituído quer por 14

quer por 16 átomos de carbono ( espiramicina e tilosina ) (Roberts, M. C. et al, 1999).

Em E. coli BM 2506, isolada na clínica, a elevada resistência aos macrólidos deve-se à

presença da enzima 2'-fosfotransferase II dos macrólidos-MPH ( 2' )( Lina, G. et ai, 1999,

Sousa, J. C. F. et ai, 1991). Esta estirpe possui dois plasmídeos, pTZ 3721(84 Kb) e pTZ

3723 (24 Kb), nos quais se supõe estar localizado o gene mphB, que codifica a enzima

MPH (2'). A transferência destes plasmídeos permite a disseminação do gene mphB, por

conjugação (Roberts, M. C. et al, 1999).

Em Staphylococcus sp. foi descrito o gene mphC, que codifica, igualmente, uma

fosfotransferase (Chu, D. T., 1999; Roberts, M. C. et al, 1999).

d) Nucleotidiltransferases

A resistência às lincosamidas pela produção de nuclotidiltranferases, codificada pelos

genes lin A e lin A', foi detectada em S. haemolyticus e S. aureus, respectivamente. Estas

enzimas modificam o antibiótico, tomando-o ineficaz (Lin, J.A., 2002; Pechére, J. C, 57

Introdução

2001; Roberts, M. C. et al, 1999).

O gene linB, foi detectado em Enterococcus faecium e codifica uma nucleotidiltransferase

das lincosamidas. Esta enzima cataliza a adenilação do grupo hidróxilo na posição 3 [3-(5'-

adenilação)] da lincomicina e clindamicina. Todavia, esta enzima não apresenta qualquer

homologia com as enzimas codificadas pelos genes UnA e /mA' (Lina, G. et ai, 1999;

Roberts, M. C. et ai, 1999).

A expressão do gene UriB foi também observada em E. coli e em S. aureus. Verificou-se a

existência de sequências homólogas do gene linB, em várias estirpes de E. faecium,

indicando a dispersão da resistência entre bactérias desta espécie (Bozdogan, B. et ai,

1999a, Lina, G. et ai, 1999; Roberts, M. C. et al, 1999).

e) Acetiltransferases

Em E. faecium foram detectados os genes sat A e satG, os quais se encontram em

plasmídeos e são codificadores de acetiltransferases, que inactivam a estreptogramina tipo

A, conferindo resistência à associação quinupristina-dalfopristina (Bozdogan, B. et ai,

1999b, Haroche, J.,2000; Jensen, L. B. et ai, 2000; Jensen, L. B. et ai, 2002; Soltani, M. D.

et ai, 2000, Solway, S. et ai, 2003; Wondrack, L. et ai, 1996). Estes genes, foram

inicialmente relacionados com os genes vatA, vatB e vatC, codificadores de

acetiltransferases em Staphylococcus sp. (Haroche, J., 2000; Lina, G. et ai, 1999; Soltani,

M. D. et ai, 2000; Soltani, M., et ai, 2001). Actualmente, os genes sat A e satG recebem a

designação de vatD e vatE, respectivamente. São conhecidas oito variações alélicas do

gene vatE em E. faecium, as quais recebem a designação de vat(E-\) a vat(E-S) (Simjee, S.

et ai , 2002b). Simjee e colaboradores (Simjee, S. et ai, 2002b) admitem ter observado pela

primeira vez variações alélicas do gene vatE em E. faecalis. Contudo, apesar de ser ainda

desconhecida a forma como estas substituições de aminoácidos afectam a actividade da

proteína VatE, supõe-se que não possuem um papael importante na ligação das

estreptograminas, pois não se crê que tenham qualquer efeito ao nível da resistência à

associação quinupristina-dalfopristina (Simjee, S. et ai, 2002b; Soltani, M., et ai, 2001).

58

Introdução

O gene vatA, tal como o gene vatE, modifica a estreptogramina A por adição de um grupo

acetilo (Roberts, M. C. et ai, 1999).

O gene vatD encontra-se distribuído em estirpes do género Enterococcus com origem

humana e não humana. Da mesma forma, foram detectados genes vatE em plasmídeos de

E. faecium, isolados em animais, carnes e em doentes hospitalizados no Reino Unido e

Alemanha (Hammerum, A. M. et ai, 2001; Soltani, M. D. et ai, 2000). Estes genes não

foram detectados em isolados de Staphylococcus sp. (Haroche, J., 2000).

O mecanismo de resistência enzimática, com modificação dos macrólidos, lincosamidas e

estreptograminas está limitado a um pequeno número de isolados clinicos, sendo, por isso,

pouco significativo. Os principais mecanismos são a modificação do alvo do antibiótico e o

efluxo do antibiótico. No entanto, as razões que favorecem o seu aparecimento não são

conhecidas (Weisblum, B., 1998).

Na tabela 12 encontram-se os diferentes genes e os géneros ou espécies onde ocorrem.

59

Introdução

Tabela 12 - Bactérias onde se encontram genes que provocam a inactivação do antibiótico

(Bozdogan B. e R. Leclercq, 1999; Lina, G. et ai, 1999; Roberts, M. C. et ai, 1999; Simjee,

S. et ai, 2002b; Soltani, M. et ai, 2000).

Gene Género/Espécie bacteriana Hidrólise ereA

ereB

Staphylococcus aureus ; Enterobacter ; Escherichia ; Klebsiella ;Citrobacter Staphylococcus aureus ; Esherichia ;Klebsiela ; Proteus

vgbA Staphylococcus aureus ;Enteroc vgbB Staphylococcus aureus

Glicosilação mgt Streptomyces lividans gimA S. ambofaciens

Fosforilação mphA E. coli mphB E. coli mphK E. coli mphC Staphylococcus

Nucleotidiltransferases HnAI lin A ' S. haemolyticus ; S. epi

aureus ; S. hominis HnB Staphylococcus aureus ; E. coli

epidermidis ;Staphylococcus

Acetiltransferases vatA vatB vatC vatD vatE

Enterococcus sp; Staphylococcus S. epidermidis; S. aureus Staphylococcus, S cohnii cohnii E. faecalis E. faecalis

60

Introdução

B. Modificação do alvo

A modificação do alvo é a forma de resistência mais comum na clínica (Wondrack, L. et

ai, 1996).

A modificação do alvo conduziu à resistência cruzada aos macrólidos, lincosamidas e

estreptograminas B (MLSB), aos macrólidos e lincosamida (ML) e aos macrólidos,

cetolidos e estreptograminas A e B (MKS). O primeiro relato de resistência cruzada à

eritromicina data de 1956 (Amezaga, M.R. et ai. 2002; Pechére, J. C, 2001).

Este mecanismo envolve uma alteração conformacional (metilação) pós-transcrição do

rRNA 23S, pela acção da adenina-N-metiltranferase. Esta enzima acrescenta um ou dois

grupos metilo na adenina 2058 no rRNA 23 S, em E. coli, o que diminui ou impede a

ligação dos antibióticos MLS aos ribossomas bacterianos (Sutcliffe, J. et ai, 1996;

Wondrack, L. et ai, 1996).

As metilases que catalizam esta modificação, metilases rRNA 23 S, são designadas pelo

acrónimo Erm (metilase de resistência à eritromicina) (Min. Y-H, et ai, 2003; Weisblum,

B., 1998) e são codificadas pelos genes erm (metilação ribossómica da eritromicina)

(Torres, C, 2002). Estes genes codificam igualmente a resistência às estreptograminas B,

aos macrólidos e às lincosamidas (fenótipo de resistência MLSB), contudo não inactivam

as estreptograminas do grupo A (Jensen, L. B. et ai, 2000; Vannuffel, P. et ai, 1996).

Ao longo dos últimos trinta anos foram descritas adenina-N -metiltransferases em diversos

géneros e espécies, tanto em Gram-negativo como em Gram-positivo, sendo este o

mecanismo de resistência mais frequente aos macrólidos, lincosamidas e estreptograminas

(Roberts, M. C. et al, 1999). Os genes que codificam estas enzimas foram divididos em

várias classes (Tabela 13) (Thomson, C. J., 1999).

61

Introdução

Tabela 13 - Bactérias onde se encontram genes codificadores de metilases (Aarestrup, F.

M, 2000; Amezaga, M. R., 2002; Borgen, K. et ai, 2002; Bozdogan, B. e R. Leclercq,

1999; Lim, J.-A. et ai, 2002; Lina, G. et ai, 1999; Luna, V. A. et ai, 2002; Min. Y.-H. et ai,

2003; Pechére, J. C, 2001; Portillo, A. et ai, 2000; Roberts, M. C. et ai, 1999).

Gene Género/Espécie bacteriana

erm A Actinobacillus, Staphylococcus, Streptococcus, S. hominis, S. haemoliticus,

erm B=ermAM Actinobacillus, Clostridium, Escherichia, Enterococcus, Klebsiella, Neisseria, Staphylococcus, Streptococcus, Wolinella, Bacillus subtilis, Pediococcus, S. haemoliticus

ermBv(ermAMR) E. faecalis erm C Actinobacillus, Bacillus, Eubacterium, Lactobacillus, Neisseria,

Staphylococcus, Streptococcus, Wolinella, S. haemoliticus, S. epidermidis, Enterococcus sp.

erm D Bacillus erm E Streptomyces erm F Actinobacillus, Actinomyces, Bacteroides, Clostridium, Eubacterium,

Fusobacterium, Gardnerella, Haemophilus, Neisseria, Wolinella, Enterococcus sp., Staphylococcus

erm G Porphyromonas, Prevotella, Peptosteptococcus, erm H Selenomonas, Streptococcus, erm I Bacillus, Bacteroides erm M S. epidermidis erm N Streptomyces erm O Streptomyces erm P Clostridium perfringens erm Q Streptomyces; Sreptococus; Clostridium erm R Streptomyces erm S Actinobacillus, Clostridium, Streptococcus, Wolinella; Streptomyces erm T Aeromicrobium; Lactobacillus erm U Streptomyces erm V Lactobacillus; Streptomyces erm W Streptomyces erm X Streptomyces; Corynebacterium erm Y Micromonospora, Corynebacterium, Staphylococcus erm Z Clostridium difficile, E. faecalis erm BC E. coli

62

Introdução

Muitos dos genes erm estão associados a transposões conjugativos ou não conjugativos,

que residem essencialmente no cromossoma, embora alguns tenham sido encontrados em

plasmídeos (Roberts, M. C. et ai, 1999). Os genes erm estão frequentemente associados a

outros genes de resistência, especialmente, a genes de resistência à tetraciclina.

Estes genes podem ser expressos constitutiva ou indutivelmente (Buu-Hoi,A.; Consumer

Health Protection. Scientific Committees. Scientific Committee on Animal Nutrition.

1998b, Sousa, J. C. F. et al, 1991).

1. Fenótipo constitutivo

Uma estirpe com este tipo de fenótipo é resistente a todos os macrólidos, às lincosamidas e

às estreptograminas B. As estreptograminas A não são afectadas, mantendo-se a actividade

sinérgica entre as estreptograminas A e B. A estirpe permanece sensível à pristinamicina

(Buu-Hoi,A.; Lamb, H. M. et al, 1999, Lina, G. et al, 1999, Pechére, J. C , 2001).

2. Fenótipo indutivel

Os determinantes de resistência ermA, ermB e ermC conferem este tipo de resistência por

alteração do sítio alvo do ribossoma (Lina, G. et al, 1999).

Neste caso, a estirpe é resistente à eritromicina e à oleandomicina, mas é sensível aos

outros macrólidos, lincosamidas e estreptograminas. Por esta razão, em presença de

concentrações sub-inibitórias de eritromicina ou de oleandomicina, a resistência MLSB é

induzida e a estirpe torna-se resistente a todos os macrólidos, às lincosamidas e às

estreptograminas B. Por esta razão, torna-se idêntica ao fenótipo constitutivo. Se a estirpe

for cultivada na ausência do antibiótico indutor (eritromicina ou oleandomicina) ocorre

perda de resistência aos outros macrólidos, às lincosamidas e às estreptograminas e a

estirpe volta ao fenótipo induzido inicial (Buu-Hoi,A).

Algumas estirpes podem apresentar resistência induzida pela eritromicina, tornando-se

resistentes isoladamente a este antibiótico. Estas estirpes são sensíveis à oleandomicina e

63

Introdução

aos outros macrólidos, às lincosamidas e às estreptograminas B (Buu-Hoi, A.; Consumer

Health Protection. Scientific Committees. Scientific Committee on Animal Nutrition.

1998b, Pechére, J. C, 2001; Wondrack, L. et al, 1996)

O principal factor que determina se um determinado macrólido induz ou não a resistência é

o seu tamanho. Desta forma, os macrólidos com 15 e especialmente com 14 átomos de

carbono no anel lactónico são indutores poderosos, enquanto que os que possuem 16

átomos de carbono no anel lactónico têm um efeito pouco significativo (Lamb, H. M. et al,

1999; Pechére, J. C, 2001; Wondrack, L. et al, 1996).

Os genes ermA e ermC, determinantes de resistência predominantes na resistência MLSB

em Staphylococcus sp., são mais frequentemente induzidos pelos macrólidos com 14

átomos de carbono no anel lactónico e pela celesticetina (uma lincosamida), do que pelos

macrólidos com 16 átomos de carbono no anel lactónico e lincomicina (uma lincosamida).

No entanto, mutantes de Staphylococcus aureus, seleccionados em laboratório, apresentam

resistência induzida pela lincomicina e pela carbomicina (macrólido com 16 átomos de

carbono no anel lactónico) (Min. Y-H, et ai, 2003; Schmitz, F-J et ai, 2002 ).

Contudo, Schmitz (Schmitz, F.J. et ai, 2002) verificou que os macrólidos com 16 átomos

de carbono no anel lactónico, lincomicina e estreptogramina B, alteram irreversivelmente a

resistência provocada pelo gene ermC de indutível para constitutiva, conferindo resistência

cruzada à eritromicina, à clindamicina e à quinupristina. De facto, recentemente, numa

estirpe clínica de Staphylococcus aureus, foi detectada resistência cruzada indutível à

eritromicina (macrólido com 14 átomos de carbono no anel lactónico), à clindamicina, à

lincomicina e à quinupristina ( Min. Y-H, et ai, 2003; Schmitz, F-J et ai, 2002).

O gene ermD é induzido pela eritromicina e oleandomicina (macrólido com 14 átomos de

carbono no anel lactónico), mas não é induzido pela tilosina, nem pela clindamicina e

lincomicina ( Min. Y-H, et ai, 2003).

O gene ermV, com origem em Streptomyces viridochromogenes é induzido pela

celesticetina (macrólido com 16 átomos de carbono no anel lactónico) e por macrólidos

com 14 átomos de carbono no anel lactónico ( Min. Y-H, et ai, 2003).

64

Introdução

Em Streptomyces fradiae, produtor da tilosina, a transcrição do gene ermS é autoindutível

por este agente ( Min. Y-H, et ai, 2003).

Todos os antibióticos MLSB induzem o gene ermB, o determinante mais comum em

Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes e Enterococcus sp. O gene erm(Bv)

(em que v significa variante), anteriormente designado por erm(AMR), uma variante do

gene ermB, de um isolado clínico de Enterococcus faecalis, é induzido principalmente

pelos macrólidos com 16 átomos de carbono no anel lactónico, josamicina, tilosina e

katasamicina ( Min. Y-H, et ai, 2003).

C. Sistemas de efluxo do antibiótico

Este mecanismo de resistência tornou-se mais conhecido na última década, para um

elevado número de antibióticos. Tal como acontece nas outras células, as paredes celulares

impermeáveis das bactérias têm mecanismos que permitem a entrada de nutrientes e a

eliminação de produtos de metabolismo indesejados. Este efluxo, que é realizado por

transporte activo, também se verifica para os antibióticos. No efluxo de antibióticos estão

envolvidos três componentes: uma bomba no folheto interno da membrana citoplasmática,

uma proteína de canal com lúmen hidrofílico na parede externa e uma proteína que

estabelece a ligação entre o folheto externo e interno da membrana citoplasmática

(Pechére, J. C , 2001).

Os sistemas de efluxo de antibiótico constituem um grave problema de resistência.

Actualmente estão caracterizadas mais de cem proteínas transportadoras que apresentam

um papel importante na expulsão de substâncias tóxicas resultantes do metabolismo

bacteriano (Nikaido, H., 1996; Pechére, J. C , 2001; Roberts, M. C. et al, 1999; Weisblum,

B., 1998).

Em bactérias patogénicas e não patogénicas existem sistemas de efluxo codificados por

genes cromossómicos, sugerindo que estes transportadores não surgiram apenas

recentemente como resposta à terapia por antibióticos (Powell, W. J., 2000).

O efluxo de antibiótico é mediado por transportadores que podem ser distinguidos em

termos funcionais ou com base no tipo de proteínas que os constitui. Em termos funcionais,

65

Introdução

o transporte pode ser mediado por uma bomba de protões ou por adenosina trifosfato

(ATP) (Nikaido, H., 1996; Pechére, J. C, 2001; Roberts, M. C. et ai, 1999; Weisblum, B.,

1998).

Relativamente ao tipo de proteínas, estas podem consistir em proteínas intrínsecas capazes

de excretar um ou vários antibióticos ou em sistemas mais complexos. As diferentes

proteínas são codificadas por uma grande variedade de genes. A função destas proteínas é

bombear um ou mais antibióticos para o exterior da célula, mantendo a sua concentração

intracelular baixa e os ribossomas livres da actividade do antibiótico. Estas bombas podem

mediar o transporte através da membrana citoplasmática ou através da membrana dupla.

No primeiro caso e em Gram negativo, estas bombas deslocam o antibiótico do citoplasma

para o espaço periplasmático (Nikaido, H., 1996, Roberts, M. C. et al, 1999, Weisblum, B.,

1998). Os sistemas de efluxo de macrólidos podem ser agrupados de acordo com a

diversidade de antibióticos ou outras substâncias que transportam (Weisblum, B., 1998):

• Efluxo Tipo-M

• Efluxo Tipo-MS

• Efluxo Tipo-Actinomycetes

• Efluxo Tipo-mrd ou de "largo espectro"

O efluxo Tipo-M e do Tipo-MS são os que apresentam significado clínico (Weisblum, B.,

1998).

66

Introdução

1. Efluxo Tipo-M ou Fenótipo M

As estirpes com este fenótipo são resistentes aos macrólidos de anel lactónico constituído

por 14 e 15 átomos de carbono, mas susceptíveis à clindamicina (uma lincosamida) e

estreptograminas B (Lamb, H. M. et al, 1999; Lim, J-A. et al, 2002; Reinert, R.R., et al,

2003).

Este tipo de resistência deve-se ao gene mefA, originalmente encontrado em Streptococcus

pyogenes, e ao gene meJE, originalmente encontrado em S. pneumoniae. Durante muito

tempo não foi possível distinguir por Polimerase Chain Reaction (PCR) estes dois genes.

Por essa razão, consideraram-se estas duas variantes específicas de determinada espécie.

Desta forma, se o gene mef fosse encontrado em S. pneumoniae assumia-se, geralmente,

que era o gene meJE. Pelo contrário, se fosse encontrado em S. pyogenes assumia-se,

geralmente, que se tratava do gene mefA. No entanto, já foi detectado o gene mefA em

isolados de S. pneumoniae, resistentes a macrólidos (Amezaga, M.R., 2002; Del Grosso,

M. et ai, 2002; Lamb, H. M. et al, 1999; Lim, J-A. et al, 2002; Sutcliffe, J. et al, 1996).

O gene mefA foi, igualmente, detectado em organismos Gram-positivo, como

Corynebacterium spp., Enterococcus sp. e Micrococcus luteus e em organismos Gram-

negativo, como Acinetobacter junni e Neisseria gonorrhoeae (Amezaga, M.R., 2002;

Lamb, H. M. et al, 1999; Lim, J-A. et al, 2002; Luna, V. A. et al, 2002). Por esta reazão,

actualmente estes genes recebem a designação de mefA (Reinert, R.R., et al, 2003).

A actividade das enzimas, codificadas por estes genes, é mediada por uma bomba de

protões (Amezaga, M.R., 2002).

O gene mefA codifica a proteína MefA com homologia com a super-família MFS (Major

Facilitator Superfamily), que efectua o efluxo do antibiótico (Dinh, T. et ai, 1994; Nikaido,

H., 1998; Reinert, R.R., et ai, 2003 ; Roberts, M. C. et ai, 1999). O fenótipo de resistência

M predomina nos Estados Unidos da América, no nordeste da Escócia e no Reino Unido

(Amezaga, M.R., 2002)

Em S. agalactiae foi detectada a presença de um novo gene de efluxo, o gene mreA, que

determina a resistência aos macrólidos de anel lactónico formado por 14, 15 e 16 átomos

67

Introdução

de carbono (Chu, D. T., 1999; Weisblum, B., 1998).

2. Efluxo Tipo-MS ou Fenótipo MS

Este tipo de resistência foi inicialmente identificado em Staphylococcus epidermidis. As

estirpes de bactérias com este fenótipo possuem o gene msrA, que confere resistência à

eritromicina, à oleandomicina e à estreptogramina B, por um mecanismo de efluxo do

antibiótico após indução pela eritromicina (Amezaga, M.R., 2002; Lina, G. et ai, 1999;

Portillo, A. et ai, 2000;).

Este gene foi igualmente identificado em S. pneumoniae. Em Staphylococcus xylosus foi

detectado o gene msrB, relacionado com o gene msrA (Lina, G. et ai, 1999). Em

Enterococcus faecium foi detectado o gene msrC. Estes genes, que codificam as proteínas

transportadoras MsrA, MsrB e MsrC, respectivamente, têm homologia com os

transportadores da família ABC (ATP-binding cassete) (Dinh, T. et ai, 1994; Nikaido, H.,

1998; Roberts, M. C. et ai, 1999, Simjee, S. et ai, 2002b) Por esta razão, alguns autores

admitem que o transportador MS efectua o efluxo de eritromicina e de estreptogramina B,

através da hidrólise de ATP (Chu, D. T., 1999; Weisblum, B., 1998, Wondrack, L. et ai,

1996).

Os genes vgaA e vgaB codificam ATP-" binding proteins", que, provavelmente, estão

envolvidas no efluxo de estreptogramina A (Lina, G. et ai, 1999; Soltani, M. D. et ai,

2000). As proteínas VgaA e VgaB, codificadas por aqueles genes, apresentam homologia

com os transportadores da família ABC (Roberts, M. C. et al, 1999). Estes genes de

resistência às estreptograminas detectados em Enterococcus faecium e Staphylococcus

aureus não foram ainda detectados em Enterococcus faecalis (Bozdogan, B. et ai, 1999b;

Simjee, S. et ai, 2002b).

Em E. faecalis, o gene Isa é determinante no fenótipo de resistência intrínseca LSA

(resistência às lincosamidas e à dalfopristina) e na resistência à associação quinupristina-

dalfopristina. A proteína Lsa, codificada pelo gene Isa, tem semelhanças na sequência de

aminoácidos com os transportadores ABC, incluindo MsrA, VgaA e VgaB, detectados em 68

Introdução

Staphylococcus aureus, (Simjee, S. et al, 2002b), o que sugere que a resistência de E.

faecalis as lincosamidas e à estreptogramina esteja relacionada com o efluxo activo destes

antibióticos. Dado que este gene aparenta ser específico de E. faecalis, Singh e

colaboradores (Singh, K. V. et ai, 2002) admitem que poderá ser utilizado na identificação

de isolados desta espécie. Estes autores demonstraram que o gene Isa é funcional em

isolados de E. faecium e que aumenta os MICs das lincosamidas e dalfopristina e/ou da

quinupristina-dalfopristina, em níveis distintos, consoante a susceptibilidade inicial do

hospedeiro a estes agentes (Singh, K. V. et ai, 2002).

3. Efluxo Tipo Actinomycete

Os genes tlrC de Streptomyces fradiae, os genes car A de Strep, thermotolerans e os genes

srmB de Strep, ambofaciens conferem resistência aos macrólidos constituídos por 16

átomos de carbono no anel lactónico, tal como tilosina, carbomicina e espiramicina,

respectivamente. Foi igualmente detectado em estirpes de Strep, antibioticus, produtoras

de olendomicina, o gene oleB que codifica uma ATPase para os macrólidos com anel

lactónico constituído por 14 átomos de carbono. Não se sabe ainda se os genes oleB

conferem resistência aos macrólidos com anel lactónico constituído por 16 átomos de

carbono (Weisblum, B., 1998).

4. Efluxo Tipo mrd Em E. coli foi detectada uma proteína, MdfA, que reconhece uma grande variedade de

antibióticos, capazes de transportar entre outros a tetraciclina, cloranfenicol, eritromicina,

alguns aminoglicosídeos e fluoroquinolonas. Esta proteína actua através de uma bomba de

protões (Weisblum, B., 1998).

69

Introdução

Tabela 14 - Bactérias onde se encontram genes que provocam o efluxo do antibiótico

(Borgen, K. et ai, 2002; Bozdogan, B. e R. Leclercq, 1999;; Lim, J.-A. et ai, 2002; Lina, G.

et ai, 1999; Luna, V. A. et ai, 2002; Roberts, M. C. et ai, 1999; Singh, K. V. et ai, 2002;

Werner, G. et al, 2001).

Gene Fenótipo M me/A

Género/Espécie bacteriana

Streptococcus pyogenes; Corynebacterium spp; Enterococcus sp; Micrococcus luteus ; Acinetobacter junni ; Neisseria gonorrhoeae S. pneumoniae; S. agalactiae, Staphylococcus aureus Staphylococcus spp., S. haemoliticus, S. intermedius

mre S. agalactiae

Fenótipo MS msrA

msrB msrC

vgaA vgaB

Isa

Staphylococcus epidermidis ; S. pneumoniae; S. haemoliticus; S. hominis; S. aureus; Staphylococcus xylosus Enterococcus faecium

Enterococcus faecium ; Staphylococcus aureus Enterococcus faecium ; Staphylococcus aureus

Enterococcus faecalis ; E. faecium

Efluxo Tipo Actinomycete tlrC carA srm B oleB

Streptomyces fradiae Strep, thermotolerans Strep, ambofaciens Strep, antibioticus

Efluxo Tipo mrd mdfA E. coli

70

Objectivos

Objectivos

Com este trabalho pretendeu-se caracterizar os genes de resistência aos macrólidos e

estreptograminas existentes em isolados do género Enterococcus, com origem em frangos,

recolhidos entre Setembro de 1999 e Junho de 2001, em talhos da cidade do Porto.

Foi também propósito deste estudo avaliar a capacidade de transferência dos genes

codificadores de resistência aos antibióticos supracitados, recorrendo a ensaios de

conjugação.

71

Material e Métodos

3. Material e Métodos

3.1. Origem das estirpes bacterianas

Neste trabalho foram utilizados 388 isolados do género Entervcoccus pertencentes à

colecção do serviço de Microbiologia da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.

As referidas bactérias, isoladas a partir de 93 lotes de frangos de dez marcas diferentes,

foram recolhidas entre Setembro de 1999 e Junho de 2001, em talhos da cidade do Porto. A

amostragem foi efectuada recolhendo 25g de cada lote de frangos, durante o período de

1999 e 2000. Em 2001, a colheita foi efectuada com zaragatoa, recolhendo-se o material

para amostra na superfície interna das carcaças dos frangos (Novais, C. et ai, 2002).

3.2. Isolamento, identificação dos isolados bacterianos.

Recolheram-se 99 amostras de frango, pertencentes a 93 lotes, tendo sido efectuado um

pré-enriquecimento em água de peptona tamponada sem antibiótico, para as amostras

recolhidas entre 1999 e 2000, ou em meio BHI (Brain Heart Infusion) sem e com

vancomicina (6mg/L), para as amostras de 2001 (Novais, C. et al, 2002).

As suspensões relativas a cada amostra foram plaqueadas em meio M-enterococos ou em

meio de Slanetz-Bartley sem antibiótico e com 6mg/L de vancomicina, 125mg/L de

gentamicina, 1000mg/L de estreptomicina e 500mg/L de canamicina. As placas foram

incubadas a 37°C e examinadas ao fim de 24, 48, 72 e 96 horas (Novais, C. et ai, 2002).

Uma colónia de cada fenótipo de resistência e morfologia foi de seguida congelada em

meio de TSB e Glicerol, a uma temperatura de -72° C (Novais, C. et ai, 2002).

3.3. Avaliação da susceptibilidade e identificação dos isolados da colecção de bactérias

A avaliação da colecção de bactérias da colecção do serviço de Microbiologia da

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto foi efectuada por diluição em agar com 72

Material e Métodos

determinação da Concentração Mínima Inibitória (CMI) para a eritromicina, associação

quinupristina-dalfopristina e para a vancomicina. A avaliação da susceptibilidade aos

antibióticos nos isolados de Enterococcus sp. foi determinada pelo método de diluição em

agar, seguindo as normas NCCLS. Enterococcus faecalis 77F (estirpe cedida pelo Hospital

Rámon e Cajal, Espanha) e Staphylococcus aureus ATCC 29213 foram as estirpes

utilizadas como controlo (Novais, C. et ai, 2002b). Para efectuar a caracterização dos

genes, as bactérias armazenadas foram semeadas em placas de agar de sangue e incubadas

a 32° C, durante 10 a 12 horas. Os isolados foram presumivelmente identificados como

pertencentes ao género Enterococcus recorrendo ao teste de produção da catalase,

coloração de Gram e hidrólise da esculina. A identificação da espécie foi realizada por

PCR Multiplex (Novais, C. et ai, 2002a).

Na totalidade dos isolados que tinham sido identificados procedeu-se à caracterização dos

genes de resistência.

3.4. Detecção de genes de resistência a macrólidos e estreptograminas por PCR

Esta colecção incluía isolados de Enterococcus faecium, de Enterococcus faecalis, de

Enterococcus gallinarum e de Enterococcus sp., tendo-se designado por Enterococcus sp.

todas as outras espécies de Enterococcus, num total de 388 isolados, os quais possuíam

diferente susceptibilidade à vancomicina, à eritromicina e à associação quinupristina-

dalfopristina.

A detecção dos genes ermA, ermB, ermC, me/A, vatD (anteriormente designado por satA)

e vatE (anteriormente designado por satG) foi efectuada em todos os isolados por

Polimerase Chain Reaction, num termociclador (Perkin- Elmer. GeneAmp,

PCRSystem2400).

As estirpes controlo foram gentilmente cedidas por Teresa Coque (Hospital Rámon e

Cajal, Espanha) e encontram-se indicadas na Tabela 16. Os primers foram sistetizados por

Gibco BRL e encontram-se discriminados na tabela 15.

73

Material e Métodos

Tabela 15- Identificação das estirpes controlo usadas nas reacções de PCR para detecção

dos genes de resistência a macrólidos e estreptograminas.

Gene Estirpe controlo

ermA Staphylococcus aureus RN 1389 errriQ Enterococcus faecium H2-4 ermC Staphylococcus aureus RN 4220 mefA Streptococcus pyogenes 02C 1064 vatD Enterococcus faecium H2-4 vatE Enterococcus faecium B306

3.4.1. Extracção do DNA genómico das estirpes controlo

A extracção do DNA genómico das estirpes controlo foi efectuada recorrendo à matriz

InstaGene (Bio-Rad). Para tal suspendeu-se uma colónia da estirpe controlo em 1 ml de

água estéril, centrifugou-se durante 1 minuto entre 10 000 a 12 000 rotações por minuto e

desprezou-se o sobrenadante. De seguida, adicionaram-se 200 \ú de matriz InstaGene ao

"pellet" e incubou-se a 56° C, durante cerca de 30 minutos. Homogeneizou-se durante

aproximadamente 10 segundos. Seguidamente colocou-se, durante 8 minutos, num banho a

100° C. Após o banho homogeneizou-se durante 10 segundos e centrifugou-se, de seguida,

durante 2 a 3 minutos entre 10 000 e 12 000 rotações por minuto. Utilizaram-se 2(il do

sobrenadante para um volume de 25ul na reacção de PCR para detecção dos genes ermA,

ermB e ermC e 2,5|il do sobrenadante na reacção de PCR para detecção dos genes mefA,

vatD e vatE.

74

Material e Métodos

3.4.2. Condições de PCR

A sequência dos primers e as condições das reacções do PCR usadas na detecção dos

genes de resistência aos macrólidos e estreptograminas encontram-se na tabela 16. Nas

tabelas 17, 18 e 19 encontram-se as concentrações dos reagentes e a concentração final

para cada uma das reacções de amplificação dos genes ermA, ermB, ermC, mefA, vatD e

vatE. Em cada reacção de PCR, para a detecção dos genes ermA, ermB e ermC foram

utilizados 2fil, da suspensão bacteriana em estudo, de turvação equivalente a 0,2

MacFarland, e para detecção dos genes mefA, vatD e vatE foram utilizados 2,5fil da

suspensão bacteriana, de turvação equivalente a 0,2 MacFarland, para 25|ll de volume

final. Foi adicionada água ultra-pura até perfazer o volume final de 25|il.

Em todas as reacções de PCR foi incluído um controlo positivo e um controlo negativo.

75

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76

Material e Métodos

Tabela 17 - Concentrações dos reagentes usados na reacção do PCR para detecção dos genes ermA, ermB e ermC

Reagente Concentração

stock Concentração

final

erm Ai 82 (iM 50 pmol

ermA 2 65,2 \M 50 pmol

ermBi 58,2(iM 50 pmol

ermBi 64,4(iM 50 pmol

ermCi 68,4|iM 50 pmol

ermC2 80,2|iM 50 pmol

MgCl2 25 mM 2mM

Tampão lOx l x

Taq polimerase 5U/|ll 0,5 U

DNTP (dATP, dCTP, dGTP,dTTP)

4mM 200 iM

77

Material e Métodos

Tabela 18 - Concentrações dos reagentes usados na reacção de PCR para detecção dos genes mefA

Concentração Concentração Reagente , , c ,

° stock final me/Ai 84 pM 50 pmol

mefA2 58 pM 50 pmol

MgCl2 25 mM 2mM

Tampão lOx 1 X

Taq polimerase 5U/pl 0,5 U

DNTP (dATP, dCTP, dGTP,dTTP) 4mM 200 pM

Tabela 19 - Concentrações dos reagentes usados na reacção de PCR para detecção dos vatD e vatE.

Concentração „ ~ r- i Reagente , Concentração tinal

vatD\/E\ 100 pmol 50 pmol

vatD2/E2 100 pmol 50 pmol

MgCl2 25 mM 2mM

Tampão lOx 1 X

Taq polimerase 5U/pl 0,5 U

DNTP (dATP, dCTP, dGTP,dTTP)

4 mM 200 pM

78

Material e Métodos

Para avaliar os resultados das reacções de PCR foram realizadas electroforeses em gel de

agarose 1,5% em tampão Tris-acetato EDTA (TAE). Em paralelo realizou-se a

electroforese de um marcador de fragmentos de tamanho conhecido, "lOObp DNA Ladder"

(Promega, Madison, USA). Após a electroforese o gel foi mergulhado em Brometo de

Etídio (0,5 (Ag/ml) e submetido a um transiluminador de radiação ulravioleta (Perkin-

Elmer. GeneAmp, PCRSystem2400).

A aquisição da imagem obtida e a estimativa do tamanho dos fragmentos foi efectuada

através do sistema Kodak Digital Science.

3.5. Transferência dos determinantes genéticos de resistência às estreptograminas e

macrólidos por conjugação

Efectuaram-se ensaios de conjugação nos isolados de E. faecium, E. faecalis, E.

gallinarum e Enterococcus sp. com resistência à eritromicina e à associação quinupristina-

dalfopristina e em isolados de E. faecium com resistência intermédia à associação

quinupristina-dalfopristina e resistência à eritromicina.

Nos ensaios de conjugação foram utilizadas as estirpes receptoras E. faecalis JH2-2 e E.

faecium GE1, as quais são resistentes à rifampicina e ao ácido fusídico, E. faecium H239 e

E. faecalis 21769, como controlos do protocolo e utilizou-se como estirpe controlo a

transconjugante TE 237.1. Sempre que se procedeu à conjugação de isolados de E. faecalis

e E. faecium utilizaram-se como receptoras estirpes da mesma espécie.

Procedeu-se ao isolamento de cada uma das estirpes em meio BHI e colocaram-se as

placas na estufa a 37°C durante 24 horas. Após esse período de crescimento, os isolados

dadores e as estirpes receptoras foram, cultivadas em 5 ml de meio TSB e incubou-se na

estufa a 37°C durante 24 horas .

Posteriormente, prepararam-se placas de meio BHI e colocou-se um filtro de água em cada

uma das placas. Sobre esse filtro colocaram-se 200|ll de meio TSB onde cresceu a bactéria

dadora e sobre esta 20ul de meio TSB onde cresceu a bactéria receptora.

79

Material e Métodos

Homogeneizou-se cuidadosamente e incubou-se na estufa a 37°C durante 24 horas.

O crescimento obtido foi, na totalidade, suspenso em lml de soro fisiológico. De cada uma

das suspensões de soro fisiológico foram retirados IOOJLLI, que foram plaqueados em placas

de BHI contendo ácido fusídico (25ug/ml), rifampicina (100 (i.g/ml) e eritromicina

(8|ig/ml). As placas foram colocadas na estufa a 37°C e foram feitas observações até 72

horas após a incubação. Para os isolados onde se verificou crescimento até às 72 horas,

procedeu-se ao isolamento de uma colónia em placas de BHI, contendo os antibióticos nas

concentrações previamente referidas. Após o crescimento procedeu-se ao isolamento de

uma colónia em meio de Muller-Hinton. De seguida realizaram-se reacções de PCR nas

condições previamente descritas para detecção dos genes ermB e vatE.

80

Resultados

4. Resultados

4.1. Susceptibilidade a agentes antimicrobianos em Enterococcus sp.

Foi analisada uma colecção de isolados de Enterococcus sp. com origem em frangos para

determinar a incidência dos genes de resistência ermA, ermB, ermC, me/Â, vatD e vatE

por reacções de PCR, nas condições específicas, previamente descritas.

Dos isolados de Enterococcus sp. analisados determinou-se ( Carla Novais, comunicação

pessoal) a Concentração Mínima Inibitória à eritromicina, à associação quinupristina-

dalfopristina e vancomicina pelo método de diluição em agar, sendo posteriormente

classificados em sensíveis, intermédias ou resistentes de acordo com as normas

preconizadas pelo NCCLS (NCCLS, 1999). Na tabela 20 encontra-se discriminada a

distribuição das CMIs nos isolados de enterococos analisados, para os antibióticos

testados.

Verificou-se, igualmente, que 14% dos isolados analisados possuíam simultaneamente

resistência à vancomicina (glicopéptido), à associação quinupristina-dalfopristina

(estreptogramina) e à eritromicina (macrólido), 18% possuíam resistência à vancomicina e

à associação quinupristina-dalfopristina, 10% demonstraram ter resistência à vancomicina

e à eritromicina e 1% era resistente à vancomicina e à associação quinupristina-

dalfopristina. Entre os isolados analisados, a resistência simultânea à vancomicina, à

associação quinupristina-dalfopristina e à eritromicina era mais frequente entre os isolados

de E. faecium, assim como a resistência simultânea à associação quinupristina-dalfopristina

e à eritromicina. Verificou-se também a resistência simultânea à vancomicina e à

associação quinupristina-dalfopristina, embora com baixa frequência (4 isolados; 2

isolados de E. faecium e 2 isolados de E. gallinarum).

Constatou-se que dos 131 isolados de Enterococcus faecalis estudados, 35 (26,7 %) eram

sensíveis à eritromicina, 12 (9,1%) apresentavam comportamento intermédio e 84 (64,2%)

eram resistentes a este agente antimicrobiano.

81

Resultados

Dos 138 isolados de Enterococcus faecium estudados, 11 (7,9%) eram sensíveis à

eritromicina, 12 (8,7 %) apresentavam comportamento intermédio e 115 (83,4 %) eram

resistentes a este antibiótico. Dos 61 isolados de Enterococcus gallinarum estudados, 23

(37,7%) eram sensíveis à eritromicina, 5 (8,2 %) apresentavam comportamento intermédio

e 33 (54,1 %) eram resistentes a este antibiótico. Relativamente aos 58 isolados de

Enterococcus sp. analisados verificou-se que 11 (19%) eram sensíveis à eritromicina, 2

(3,4%) apresentavam comportamento intermédio e 45 (77,6%) eram resistentes a este

fármaco.

Relativamente à distribuição de CMIs para a associação quinupristina-dalfopristina, foi-nos

possível constatar que dos 32 isolados de E. faecalis analisados, 2 (6,3%) isolados eram

sensíveis e que 30 (93,7%) isolados eram resistentes a este fármaco. Dos 127 isolados de

E. faecium estudados, 21 (16,5%) eram sensíveis à associação quinupristina-dalfopristina,

24 (18,9%) apresentavam comportamento intermédio e 82 (64,6 %) eram resistentes a este

antibiótico. Dos 54 isolados de E. gallinarum estudados, 4 (7,4%) eram sensíveis à

associação quinupristina-dalfopristina, 11 (20,4 %) apresentavam comportamento

intermédio e 39 (72,2 %) eram resistentes a este antibiótico. Relativamente aos 53 isolados

de Enterococcus sp. analisados verifícou-se que 9 (17%) eram sensíveis à associação

quinupristina-dalfopristina, 9 (17%) apresentavam comportamento intermédio e 35 (66%)

eram resistentes a este fármaco.

82

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83

Resultados

4.2. Distribuição de genes de resistência aos macrólidos e estreptograminas em

isolados de Enterococcus sp.

4.2.1. Presença de genes erm

bp 1500

500

10 11

Figura 5- Identificação dos genes ermB por PCR e electroforese em gel de agarose

(1-Marcador ; 2-Fragmento de 424 bp correspondente ao gene ermB na estirpe controlo; 3-

5; 6-7; 8-11- Fragmento de 424 bp correspondente ao gene ermB aos isolados 18F5,

18F6, 19F1, 19F2, 19 F5,19F8, 19F9, 19F10, 21F5).

Após a realização das reacções de PCR e de electroforese obtiveram-se bandas com o peso

molecular esperado (424 bp) em 49% dos enterococos analisados, os quais possuíam

resistência à eritromicina (CMI > 8mg/L), em 4 % dos enterococos analisados, os quais

demonstraram comportamento intermédio (lmg/L < CMI < 4mg/L), e em 5 % dos

enterococos analisados, os quais eram sensíveis à eritromicina (CMI < 0,5mg/L),

independentemente da espécie (Tabela 21).

Dos isolados estudados que evidenciavam comportamento sensível à eritromicina (n= 35),

11 (8,4 % do total) isolados possuíam o gene ermB, enquanto que 24 (18,3 % do total)

isolados não apresentavam o referido gene. Dos isolados de E. faecalis com

comportamento intermédio à eritromicina (n= 12), 7 (5,3 % do total) isolados possuíam o

gene ermB , enquanto que em 5 (3,8 % do total) isolados o referido gene não foi detectado.

84

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Resultados

Nos isolados de E. faecalis resistentes à eritromicina (n= 84), 61 (46,6 % do total) isolados

possuíam o gene ermB, enquanto que 23 (17,6 % do total) isolados não possuíam o

referido gene.

Dos isolados de E. faecium sensíveis a este fármaco (n=l 1), 5 (3,6 % do total) possuíam o

gene ermB, enquanto que 6 (4,3 % do total) dos isolados não o apresentavam. Dos isolados

de E. faecium com comportamento intermédio à eritromicina (n=12), 4 (2,8 % do total)

isolados possuíam o gene ermB, enquanto que em 8 (5,8 % do total) dos isolados o referido

gene não foi detectado. Nos isolados de E. faecium com resistência à eritromicina (n=115),

80 (58 % do total) isolados possuíam o gene ermB e 35 (25,4 % do total) não possuíam o

gene mencionado.

Nos isolados de E. gallinarum sensíveis à eritromicina (n=23), 1 (1,6 % do total) isolado

possuía o gene ermB e 22 (36,1 % do total) não possuíam este gene. Nos isolados de E.

gallinarum com comportamento intermédio à eritromicina (n=5), 2 (3,3 % do total)

isolados possuíam o gene ermB, enquanto que em 3 (4,9 % do total) dos isolados o gene

ermB não foi detectado. Dos isolados de E. gallinarum com resistência a este antibiótico

(n=33), 16 (26,2 % do total) isolados possuíam o gene ermB e 17 (27,9 % do total) não

possuíam o gene referido.

Dos isolados de Enterococcus sp. sensíveis a este antibiótico (n=ll), 3 (5,2 % do total)

possuíam o gene ermB, enquanto que 8 (13,3 % do total) dos isolados não o possuíam. Dos

isolados de Enterococcus sp. que apresentavam comportamento intermédio à eritromicina

(n=2), 1 (1,7 % do total) isolado possuía o gene ermB e 1 (1,7 % do total) isolado não o

possuía. Nos isolados de Enterococcus sp. com resistência à eritromicina (n=45), em 32

(55,2 % do total) isolados foi detectado o gene ermB ao contrário dos 13 (22,4 % do total)

isolados onde este gene não foi detectado.

Em nenhum dos isolados analisados foi detectada a presença dos genes ermA e ermC.

86

Resultados

4.2.2. Presença de genes mefA

Após a realização de PCR e de electroforese verificou-se que o gene mefA não estava

presente em nenhum dos isolados.

4.2.3. Presença de genes vatD (satA)

Figura 6. Identificação dos genes vatD por PCR e electroforese em gel de agarose

(1-Marcador; 2- Fragmento de 271 bp correspondente ao gene vatD na estirpe controlo; 3-

Fragmento de 271 bp correspondente ao gene vatD no isolado 36F5)

Após a realização de PCR e de electroforese obtiveram-se bandas com o peso molecular

esperado (271 bp) em 2,6% dos enterococos analisados, os quais eram resistentes à

associação quinupristina-dalfopristina ( CMI > 4|0.g/ml). A banda com o peso molecular

referido não foi detectada em nenhum dos isolados de enterococos com comportamento

intermédio ( CMI = 2|ig/ml) nem nos enterococos sensíveis ( CMI < lu.g/ml) à associação

quinupristina-dalfopristina (Tabela 22).

Por PCR e electroforese verificou-se que o gene vatD estava presente apenas em 1(1,8%

do total) isolado de E. gallinarum resistente à associação quinupristina-dalfopristina e em 6

(11,3 % do total) isolados resistentes a este fármaco. 87

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Resultados

4.2.4. Presença de genes vatE (satG)

Figura 7- Identificação dos genes vatE por PCR e electroforese em gel de agarose

(1-Marcador; 2-Fragmento de 511 bp correspondente ao gene vatE na estirpe controlo; 3-

Fragmento de 511 bp correspondente ao gene vatE no isolado 19 FIO)

Após a realização de PCR e de electroforese obtiveram-se bandas com o peso molecular

esperado (511 bp) em 11 (4,1 %) isolados de enterococos analisados, os quais eram

resistentes (CIM > 4(ig/ml) à associação quinupristina-dalfopristina, em 2 (0,8%) isolados

analisados, os quais demonstraram comportamento intermédio (CIM = 2ug/ml) e em 1( 0,4

%) isolado analisado, o qual era sensível (CIM < lug/ml) à associação quinupristina-

dalfopristina, independentemente da espécie (Tabela 23).

Verificou-se que nos isolados de E. faecalis, o gene vatE estava presente em 1 (3,1% do

total) isolado resistente, mas ausente nos isolados sensíveis e com comportamento

intermédio à associação quinupristina-dalfopristina. Nos isolados de E. faecium o gene

vatE estava presente em 1 (0.8 % do total) isolado sensível e ausente em 20 (15.7 % do

total) isolados sensíveis à associação quinupristina-dalfopristina. O referido gene estava

presente em 1 (0.8 % do total) isolado com resistência intermédia e ausente em 23 (18.1%

do total) dos isolados com resistência intermédia. O gene vatE foi detectado em 7 (5.5 %

do total) isolados resistentes, não tendo sido detectado em 75 (59.1% do total) destes

isolados.

89

Resultados

Relativamente aos isolados de E. gallinarum o gene vatE não estava presente em nenhum

dos isolados analisados.

Nos isolados de Enterococcus sp. o gene vatE encontrava-se em 1 (1.9 % do total) isolado

com comportamento intermédia e em 3 (5.7 % do total) isolados resistentes a este fármaco.

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Resultados

4.2.5. Presença simultânea de genes de resistência

Na tabela 24 encontram-se discriminados os isolados que evidenciaram em simultâneo os

genes vatD e ermB, vatE e ermB e vatD e vatE .

Tabela 24 - Isolados com os genes vatD e ermB, vatE e ermB e vatD e vatE presentes simultaneamente.

Número de isolados com presença simultânea de

Espécie bacteriana vatD e ermB vatE e ermB vatD e vatE

E. faecalis 0 E. faecium 0 E. gallinarum 1 Enterococcus sp 3

Os genes vatD e ermB foram observados simultaneamente em um isolado de E. gallinarum

susceptível à associação quinupristina-dalfopristina e em três isolados de Enterococcus sp.

com diferentes comportamentos à associação quinupristina-dalfopristina e à eritromicina.

Verificou-se, igualmente, a presença simultânea dos genes vatE e ermB em um isolado de

E. faecalis, em três isolados de E. faecium e em dois isolados de Enterococcus sp. Todos

os isolados em que se detectou em simultâneo estes genes apresentavam resistência à

eritromicina e comportamento variável à associação quinupristina-dalfopristina.

Os genes vatD e vatE foram observados simultaneamente em dois isolados de

Enterococcus sp.

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0 0 0 2

92

Resultados

4.3. Distribuição do gene ermB em isolados de Enterococcus sp, com diferentes CMIs

para a vancomicina

O gene ermB foi observado em 68 (51,9 %) isolados de E. faecalis (n = 131), em 45 (32,6

%) isolados de E.faecium (n = 138), em 5 (8,2 %) de E. gallinarum ( n = 61) e em 15 (25,9

%) isolados de Enterococcus sp. ( n - 58) sensíveis à vancomicina. Este gene foi

observado, igualmente, em 14 (23 %) isolados de E. gallinarum ( n = 61) com

comportamento intermédio ao antibiótico referido. Da mesma forma, o gene mencionado

foi observado em 11 ( 8,4 %) isolados de E. faecalis (n = 131), em 43 (31,2 %) isolados de

E. faecium (n = 138) e em 20 (34,5 %) isolados de Enterococcus sp ( n = 58) resistentes a

este fármaco (tabela 25).

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94

Resultados

4.4. Avaliação da transferência dos determinantes de resistência à eritromicina e às

estreptograminas por conjugação

Procedeu-se a ensaios de conjugação em 18 isolados resistentes à eritromicina e que

possuiam o gene ermB e em todos os isolados com mais do que um gene de resistência aos

macrólidos, lincosamidas e estreptograminas, resistentes à eritromicina.

Os ensaios de conjugação demonstraram a transferência, por este processo, dos

determinantes de resistência ermB de duas estirpes dadoras de E. faecium e de uma estirpe

dadora de E. faecalis, resistentes à eritromicina, para as estirpes receptoras da mesma

espécie.

Relativamente ao determinante de resistência vatE observou-se apenas a sua transferência

de uma estirpe de E. faecalis resistente à associação quinupristina-dalfopristina para uma

estirpe receptora da mesma espécie.

No nosso estudo foi possível observar a transferência simultânea dos genes ermB e vatE

entre isolados de E. faecalis resistentes à eritromicina e à associação quinupristina-

dalfopristina. Contudo, não foi possível obter transconjugantes que evidenciassem em

simultâneo os genes ermB e vatE em isolados com comportamento intermédio e sensível à

eritromicina e à associação quinupristina-dalfopristina. Esta impossibilidade de obter

transconjugantes com múltiplos genes de resistência aos macrólidos e estreptograminas foi

também observada quando se procedeu à conjugação com a estipe dadora de Enterococcus

sp. que continha os genes vatD e ermB.

95

Discussão

5. Discussão

Da análise dos resultados constatou-se que a maioria dos isolados de Enterococcus sp.,

com origem em frangos, recolhidos entre 1999 e 2002, apresentavam resistência aos

antibióticos estudados. Dos isolados de Enterococcus sp. analisados, verificou-se que 71%

possuíam resistência à eritromicina e 70% à associação quinupristina-dalfopristina.

Verificou-se, igualmente, que a maior incidência de isolados resistentes à eritromicina

ocorria na espécie E. faecium e que os isolados de E. faecalis apresentavam a maior

incidência de resistência à associação quinupristina-dalfopristina, um facto que parece

estar associado com a presença nesta espécie do gene Isa (Singh, K. V. et ai, 2002). De

salientar ainda que 14% dos isolados de Enterococcus sp. analisados possuíam

simultaneamente resistência à vancomicina (glicopéptido), à associação quinupristina-

dalfopristina (estreptogramina) e à eritromicina (macrólido), 18% possuíam resistência à

vancomicina e à associação quinupristina-dalfopristina, 10% demonstraram ter resistência

à vancomicina e à eritromicina e 1% era resistente à vancomicina e à associação

quinupristina-dalfopristina (Novais, C. et ai, 2002).

Tendo sido estudada a distribuição dos genes de resistência à eritromicina e à associação

quinupristina-dalfopristina em isolados de Enterococcus sp. constatou-se a presença de

genes ermB, vatD e vatE. À semelhança do que foi detectado noutros estudos, com este

trabalho verificou-se que a carne de frango constitui uma fonte de enterococos portadores

de genes de resistência, os quais podem ser transferidos para o Homem, através da cadeia

alimentar (Simjee, S. et ai, 2002). Um aspecto a ter em consideração é o facto das carcaças

de frango pertencerem às dez marcas mais comercializadas em Portugal, tendo por isso

uma ampla distribuição nacional.

O gene ermB estava presente em 57% dos isolados de Enterococcus sp., surgindo em 38%

dos isolados sensíveis à eritromicina, em 45% dos isolados com resistência intermédia e

em 68% dos isolados resistentes a este antibiótico.

96

Discussão

Entre os isolados analisados, a resistência simultânea à vancomicina, à associação

quinupristina-dalfopristina e à eritromicina foi mais frequente entre os isolados de E.

faecium, assim como a resistência simultânea à associação quinupristina-dalfopristina e à

eritromicina. Verificou-se também a resistência simultânea à vancomicina e à associação

quinupristina-dalfopristina, embora com baixa frequência (4 isolados; 2 isolados de E.

faecium e 2 isolados de E. gallinarum).

Por seu lado, o gene vatD foi detectado em 3% dos isolados de Enterococcus sp., tendo

sido observada a sua presença apenas nos isolados que demonstravam resistência à

associação quinupristina-dalfopristina, surgindo em 4% destes isolados. O gene vatE, por

sua vez, surgia em isolados de E. faecalis resistentes à associação quinupristina-

dalfopristina. Este gene foi observado, igualmente, em isolados de E. faecium sensíveis,

com comportamento intermédio e em isolados resistentes à associação quinupristina-

dalfopristina e em isolados de Enterococcus sp. com comportamento intermédio e

resistentes a este fármaco.

Neste trabalho não foi possível observar a presença de genes ermA nos isolados de

Enterococcus sp. analisados. No entanto, Portilho e colaboradores (Portilho A. et ai, 2000)

referem ter observado este gene de resistência em Enterococcus sp., admitindo ter sido a

primeira vez que tal observação foi feita. Jensen e colaboradores, referem ter observado,

igualmente, o gene ermA em isolados de E. faecium, com origem em frangos, mas com

baixa frequência (Jensen L. B. et ai, 2002). Contudo, este gene é mais frequentemente

relacionado com a resistência aos macrólidos em Staphylococcus aureus e em

Staphylococcus coagulase-negativo (Portilho A. et ai, 2000).

Da mesma forma, neste trabalho, não foi possível fazer a observação dos genes ermC em

isolados de Enterococcus sp. Este gene não foi igualmente observado em estudos

realizados por Lim e colaboradores em isolados de Enterococcus sp. com origem em

doentes hospitalizados à semelhança do observado por outros investigadores. No entanto,

tal como os genes ermA, os genes ermC são mais frequentes em Staphylococcus

coagulase-negativo (Lim. J-A. et ai, 2002).

97

Discussão

Neste trabalho, o gene ermB foi detectado em 31.4% dos isolados de E.faecalis sensíveis à

eritromicina, em 41.7% dos isolados com resistência intermédia e em 72.6% dos isolados

resistentes à eritromicina, ou seja, foi detectado em 60% dos isolados de E.faecalis.

Num estudo realizado por Aarestrup e colaboradores (Aarestrup, F. M. et ai, 2000) na

Dinamarca, foi verificado que 44% dos isolados de E. faecalis com origem em frangos,

eram resistentes à eritromicina, frequência inferior à obtida neste trabalho, a qual foi de

64%. No estudo referido de Aarestrup e colaboradores (Aarestrup, F. M. et ai, 2000), o

gene ermB surgia em 64% dos isolados de E. faecalis, com origem em frangos, resistentes

à eritromicina, enquanto que no nosso trabalho o gene mencionado foi observado com uma

incidência superior (72.6%). Por seu lado, neste trabalho, o gene ermB surgiu em 64.5 %

(3.6 % em isolados sensíveis à eritromicina, 2.9% em isolados com comportamento

intermédio e 58% em isolados resistentes) dos isolados de E. faecium. Estes valores são

superiores aos referidos por Aarestrup e colaboradores (Aarestrup, F. M. et ai, 2000), para

a investigação realizada na Dinamarca, onde 74% dos isolados de E. faecium, com origem

em frangos eram resistentes à eritromicina, ocorrendo o gene ermB na totalidade dos

isolados. A incidência da resistência à eritromicina em isolados de E. faecium observada

no nosso estudo e no estudo de Aarestrup e colaboradores (Aarestrup, F. M. et ai, 2000), é

superior à observada por Simjee e colaboradores (Simjee, S. et ai, 2002), num estudo

realizado nos Estados Unidos da América, no qual 13% dos isolados de E. faecium eram

resistentes à eritromicina, surgindo o gene ermB em 30% dos isolados analisados.

Num estudo realizado por Schmitz e colaboradores (Schmitz F-J. et ai, 2000) o gene ermB

foi detectado em 93% dos isolados de E. faecium, procedentes de vários países europeus,

com origem em doentes hospitalizados, resistentes à eritromicina (Schmitz F-J. et ai, 2000.

No estudo referido, o gene ermA foi observado em 4% dos isolados e em 3% dos isolados

foi detectada a presença simultânea do gene ermA e ermB (Schmitz F-J. et ai, 2000),

enquanto que neste estudo não foi observado o gene ermA em nenhum dos isolados.

Neste trabalho, o gene ermB foi detectado em 4.3% dos E. gallinarum sensíveis, em 40%

dos isolados com resistência intermédia e em 48.5% dos isolados resistentes à eritromicina,

ou seja, em 31% (n=19) dos isolados de E. gallinarum. Simjee e colaboradores (Simjee S.

98

Discussão

et al, 2002) detectaram o gene ermB em 100% (n=2) dos isolados de E. gallinarum, com

origem em frangos, resistentes à eritromicina, mas não foi detectado nos isolados sensíveis

(Simjee S. et ai, 2002).

Neste trabalho, o gene ermB foi observado em 27.2% dos isolados de Enterococcus sp

sensíveis à eritromicina, em 58% dos isolados com resistência intermédia e em 71% dos

isolados resistentes.

Os resultados obtidos neste trabalho estão de acordo com os descritos noutras

investigações, tendo-se verificado que o gene ermB era o mais frequentemente encontrado

entre os isolados de Enterococcus sp resistentes analisados.

No entanto, Lim e colaboradores salientam o facto de no fenótipo de resistência MLSB, os

genes demonstrarem especificidade, dado que o gene ermA é mais frequente em S aureus,

o gene ermB em Enterococcus sp e que o gene ermC é mais frequente em Staphylococcus

coagulase-negativo (Lim, J-A et ai, 2002).

De salientar que neste trabalho foi observada a presença de genes ermB em isolados de E.

faecalis, E. faecium, E. gallinarum e Enterococcus sp. sensíveis à eritromicina, à

semelhança do descrito por Del Campo e colaboradores (Del Campo, R. et ai, 2003). Este

fenómeno foi igualmente observado em Streptococcus pneumoniae (Del Campo, R. et al,

2003). Por outro lado, neste trabalho, foram observados isolados de E. faecalis, E. faecium,

E. gallinarum e Enterococcus sp. resistentes aos macrólidos, mas onde o gene ermB não

foi observado. Este fenómeno foi observado por outros autores, que admitem que deverão

existir outros mecanismos de resistência aos macrólidos, para além dos descritos

(Aarestrup, F. M. et ai, 2000; Borgen, K. et ai, 2002; Schmitz F-J. et ai, 2000). O gene

msrC, que está relacionado com uma bomba de efluxo da família ABC, confere resistência

aos macrólidos e estreptograminas (Portillo, A. et ai, 2000). Portillo e colaboradores

(Portillo, A. et ai, 2000) admitem que o gene msrC é um gene intrínseco em E. faecium,

podendo, por esta razão, ser utilizado na identificação desta espécie. Segundo este autor, a

ubiquidade do gene msrC entre os isolados de E. faecium pode indicar que é um gene

ancestral, presente no cromossoma desta espécie bacteriana ou presente num plasmídeo

(Lim, J-A, et ai, 2002; Portillo, A. et ai, 2000).

99

Discussão

Pelo contrário, Werner e colaboradores (Werner, G. et al, 2001) consideram que o gene

msrC não é intrínseco em E. faecium porque não se encontra em todos os isolados desta

espécie bacteriana. No entanto, este autor, à semelhança de Portillo e colaboradores

(Portillo, A. et ai, 2000) admite que o gene msrC não foi adquirido como resposta à

pressão de selecção provocada pela utilização de antibióticos (Portillo, A. et ai, 2000;

Werner, G. et al, 2001). Este gene deverá ter uma função para além do efluxo de

antibióticos, mas a sua expressão tem a consequência referida (Portillo, A. et ai, 2000).

Neste trabalho não foi detectada a presença de genes mefA em nenhum dos isolados

analisados, independentemente de serem sensíveis, de possuírem resistência intermédia ou

de serem resistentes à eritromicina. Esta situação foi também verificada por Portillo e seus

colaboradores ( Portillo A. et ai, 2000). Contudo, Luna e seus colaboradores (Luna, V. A.

et ai, 2002) detectaram a presença do gene mefA em 9% dos isolados de Enterococcus sp.,

Staphylococcus aureus, Streptococcus intermedius e de Streptococcus sp. resistentes aos

macrólidos, num estudo realizado com crianças portuguesas. Estes autores admitem ter

detectado pela primeira vez o gene mefA em isolados de Staphylococcus (Luna, V. A. et ai,

2002). Da mesma forma, Lim e seus colaboradores (Lim, J-A, et ai, 2002) referem a

presença do gene mefA em 2% dos isolados de Enterococcus sp estudados, com origem em

doentes hospitalares (Lim, J-A, et ai, 2002). Luna e seus colaboradores verificaram que o

gene mefA surgia isoladamente, ou juntamente, com o gene ermB em Enterococcus sp. e

em E.faecalis (Luna, V. A. et ai, 2002). Este gene tem sido observado em bactérias Gam-

positivo como S. pyogenes, S. pneumoniae, S. agalactiae, assim como Micrococcus luteus,

Corynebacterium jeikeium, Corynebacterium spp e em "Streptococcus viridans",

demonstrando uma grande distribuição entre as bactérias (Lim, J-A, et ai, 2002).

Num estudo realizado por Lim e colaboradores foi observada a presença simultânea dos

genes mefA e ermA e dos genes mefA e ermC em isolados de Staphylococcus coagulase-

negativo (CNS) e do gene mefA e ermB em isolados de Enterococcus sp., resistentes à

eritromicina( Lim, J-A, et ai, 2002). Os genes ermA, ermB e mefA foram igualmente

observados simultaneamente em isolados de enterococos resistentes à eritromicina (Lim, J-

A, et ai, 2002).

100

Discussão

Portillo e colaboradores, pelo facto de não terem detectado, em estudos realizados, a

presença do gene mefA, admitem que poderá existir uma distribuição geográfica

heterogénea destes genes de efluxo dos macrólidos, em E.faecium (Portillo A. et ai, 2000).

Por seu lado, Del Grosso e colaboradores admitem que o gene mefA não é muito comum

na Europa, entre os isolados de S. pneumoniae resistentes aos macrólidos, sendo, no

entanto, muito frequente nos Estados Unidos da América (Del Grosso, M. et ai, 2002). De

facto, os mecanismos de resistência aos macrólidos mediados pelo gene mefA, são mais

frequentemente encontrados na América do Norte, países do Norte da Europa e no Japão

(Pechère, J.-C, 2001).

Dado que em vários isolados resistentes aos macrólidos não foi observada a presença de

genes mef de genes erm, nem de genes vat, a resistência poderá ser ser devida a outros

genes de resistência, como por exemplo, msrA/B, UnAIA', vga e vgb. Relativamente aos

isolados de E. faecalis, neste trabalho, verificou-se que 6.3% dos isolados eram sensíveis à

associação quinupristina-dalfopristina, 3.1% possuíam resistência intermédia e que 90.6%

possuíam resistência a este fármaco. Contudo, na totalidade dos isolados analisados não foi

detectado, por reacções de PCR, a presença do gene vatD em isolados de E. faecium e de

E. faecalis, à semelhança do que foi observado por Simjee e colaboradores (Simjee, S. et

ai, 2002a; Simjee, S. et ai, 2002b). Hays e seus colaboradores verificaram que 78% dos E.

faecium isolados em frangos, nos contentores utilizados para o seu transporte e nos locais

de produção, eram resistentes à associação quinupristina-dalfopristina, mas não possuíam

igualmente o gene vafD, apesar da frequência de isolados de E. faecium resistentes à

associação quinupristina-dalfopristina, de origem animal, especialmente em frangos, ser

elevada quer na Europa, quer nos Estados Unidos da América, onde o gene vatD nunca foi

observado nestes isolados bacterianos (Simjee, S. et ai, 2002a; Simjee, S. et ai, 2002b;

Hays, J.R. et ai, 2001). Apesar destes resultados Simjee e colaboradores admitem que o

gene vatD predomina na Europa (Simjee, S. et al, 2002a). De facto, este gene foi

observado em isolados de E. faecium resistentes à associação quinupristina-dalfopristina

(21%), com origem animal e em doentes hospitalizados, na Europa (Soltani M. et ai,

2000).

101

Discussão

Ao contrário do observado por Simjee e colaboradores (Simjee, S. et ai, 2002a), no

presente estudo o gene vatD foi detectado em 2.6% dos isolados de E. gallinarum

resistentes à associação quinupristina-dalfopristina. Neste trabalho a incidência do gene

vatD em isolados de Enterococcus sp. foi de 17%, um valor superior ao determinado por

Jensen e seus colaboradores, que verificaram uma incidência de 10 % nos isolados de

Enterococcus sp resistentes à associação quinupristina-dalfopristina, com origem em

frangos (Jensen , L.B. et ai, 2002).

Relativamente ao gene vatE, no nosso estudo foi detectada a sua presença nos isolados de

E. faecalis, o que seria de estranhar em virtude desta espécie possuir resistência intrínseca

às estreptograminas, provavelmente devido a mecanismos de efluxo do antibiótico (Simjee,

S. et ai, 2002b). No entanto, Simjee e seus colaboradores (Simjee S. et ai, 2002b)

publicaram um estudo no qual admitem ter detectado pela primeira vez em E. faecalis o

gene vatE, o qual confere resistência às estreptograminas .

Os mesmos autores (Simjee, S. et ai, 2002a), num estudo realizado nos Estados Unidos da

América, detectaram a presença do gene vatE em 43% dos isolados de E. faecium, com

origem em frangos. Verificaram, igualmente, que apenas 32% dos isolados resistentes à

associação quinupristina-dalfopristina, possuíam o gene vatE (Simjee, S. et ai, 2002a).

Neste trabalho, verificou-se que 64.6% dos isolados de E. faecium possuíam resistência à

associação quinupristina-dalfopristina, mas apenas 8.5% dos isolados resistentes a este

fármaco, possuíam o gene vatE, ou seja, era maior a percentagem de isolados de E.

faecium resistentes à associação quinupristina-dalfopristina, mas o gene vatE estava

presente em menor número de isolados do que no estudo de Simjee e colaboradores

(Simjee, S. et ai, 2002). Estes autores admitem que a incidência do gene vatE em isolados

de E. faecium com baixa resistência à associação quinupristina-dalfopristina (CMI <

32mg/L) é diferente da que se observa na Europa, referindo que tal como os genes vatD, os

genes vatE também não foram observados neste continente (Simjee, S. et ai, 2002a).

Esta situação contrapõe o observado na nossa investigação, uma vez que o gene vatD

surgiu em 5 isolados de Enterococcus sp e em 1 isolado de E. gallinarum resistentes à

associação quinupristina-dalfopristina, mas com CMI inferior a 32mg/L. A mesma situação

foi observada para o gene vatE, dado que este gene foi observado em 1 isolado de 102

Discussão

E. faecium e em 4 isolados de Enterococcus sp., com CMI inferior a 32mg/L. Simjee e

colaboradores (Simjee, S. et ai, 2002a), admitem que em E. faecium resistentes à

associação quinupristina-dalfopristina, os genes vatD e vatE possam estar associados a

plasmídeos. Num estudo realizado, na Dinamarca, por Jensen e colaboradores foi detectada

a presença do gene vatE em 89% dos isolados de E. faecium resistentes à associação

quinupristina-dalfopristina, valor muito superior ao obtido neste trabalho (Jensen , L.B.et

ai, 2002).

Na nossa investigação, à semelhança do observado por Simjee e colaboradores (Simjee, S.

et ai, 2002a) o gene vatE não foi detectado em nenhum dos isolados de E. gallinarum.

Num estudo realizado por Soltani e seus colaboradores antes da utilização da associação

quinupristina-dalfopristina e da proibição da virginiamicina em isolados de diferentes

origens (isolados humanos, porcos e de aves), foi detectada a presença do gene vatE em 50

% dos isolados estudados (Soltani M.et ai, 2000).

Os resultados obtidos em várias investigações levantam sérias preocupações pelo facto de

se observar um aumento da incidência da resistência em isolados de enterococos, a

antibióticos utilizados na clínica para tratamento de infecções. Estas preocupações são

acrescidas pelo facto dos determinantes de resistência se encontrarem em elemento móveis

de DNA, como plasmídeos e transposões, os quais podem ser transferidos a bactérias

patogénicas humanas ou para bactérias da flora gastrointestinal humana, por conjugação ou

transformação (van den Bogaard, A. E. et al, 2002). Estes processos requerem o contacto

próximo entre a bactéria dadora e a bactéria receptora. Este pré-requisito indica que as

bactérias devem partilhar o mesmo ecossistema, como por exemplo, o tracto

gastrointestinal humano, para que a transferência horizontal de DNA possa ocorrer

(Courvalin, P., 1966). A utilização dos antibióticos aumenta a disseminação de bactérias

resistentes devido à pressão de selecção exercida por estes agentes (Tollefson, L. et ai,

1997) A população de enterococos na flora gastrointestinal humana é, provavelmente,

influenciada por vários factores, como por exemplo, a ingestão de enterococos de origem

animal através de alimentos contaminados. Esta ideia é apoiada pelo facto da resistência

aos mesmos antibióticos ter sido observada em isolados de origem humana e animal,

assim como os mesmos genes de resistência (Aarestrup, F. M. et ai, 2000).

103

Discussão

De facto, van den Bogaard e colaboradores observaram a presença de estirpes de E.

faecium resistentes à vancomicina (VRE), com padrões de Pulsed-Field Gel

Electrophoresis (PFGE) semelhante

e com elementos relacionados com o transposão Tnl546, onde se localiza o gene vanA,

que confere resistência à vancomicina, em isolados de um doente hospitalizado e em

suínos, o que apoia a hipótese da transmissão de VRE dos animais para o Homem, através

da cadeia alimentar (Dahl, K. H. et ai, 1999; van den Bogaard et ai, 2002; Lu, H-Z, et ai,

2002). van den Bogaard e colaboradores (van den Bogaard et ai, 2002) admitem que a

transmissão primária ocorre dos animais para o Homem, mas não em sentido contrário. O

mesmo autor, em virtude de não ter sido possível distinguir por PFGE uma estirpe de

Enterococcus sp. resistente à vancomicina isolada num avicultor e em perus da sua unidade

de produção, admite que os enterococos resistentes a este antibiótico, podem colonizar o

tracto gastrointestinal humano (van den Bogaard et ai, 2002). van den Bogaard admite que

a disseminação de enterococos resistentes dos animais para o Homem é mais importante do

que a troca de genes de resistência entre enterococos com origem animal e de origem

humana (van den Bogaard et ai, 2002).

Pelas importantes implicações na saúde humana, o aparecimento e disseminação de GRE

ou de elementos genéticos que conferem resistência aos glicopéptidos, tem sido objecto de

intensos estudos.

Os enterococos resistentes aos glicopéptidos que entram no tracto gastrointestinal humano

ou animal, através da cadeia alimentar ou por contaminação directa, transferem os seus

genes de resistência durante a passagem pelo intestino, não colonizando necessariamente o

hospedeiro (Descheemaeker, P. R. M. et ai, 1999), sendo a transmissão horizontal dos

genes de resistência mais importante do que a disseminação de clones (clonal spread) na

disseminação da resistência à vancomicina (Stobberingh, E. et ai, 1999; Dahl, K. H. et ai,

1999; Borgen, K. et ai, 2002). Esta ideia é partilhada por van den Braak (Bischoff, W. E. et

ai, 1999). A pressão de selecção exercida pelos antibióticos usados pelo Homem e como

promotores de crescimento podem ter estimulado a contaminação cruzada entre os

diferentes hospedeiros (Descheemaeker, P. R. M. et ai, 1999).

104

Discussão

O gene vanA, o qual confere resistência à vancomicina, conforme referido anteriormrnte,

localiza-se no transposão Tnl546 (Borgen, K. et ai, 2002) ou em elementos relacionados e

pode fazer parte do cromossoma em plasmídeos conjugativos ou não conjugativos (Dahl,

K. H. et ai, 1999; Borgen, K. et ai, 2002). Desta forma, devido à localização do gene vanA

num trasposão, a disseminação da resistência mediada por este gene pode ocorrer por

transmissão horizontal dos genes de resistência (Descheemaeker, P. R. M. et ai, 1999;

Robredo, B. et ai, 2000; Stobberingh, E. et ai, 1999)

Num estudo de Aarestrup e colaboradores (Aarestrup, F. M. et ai, 1998a) verificou-se que

nove meses após a proibição da utilização da avoparcina como promotor de crescimento, o

número de animais portadores de E. faecium resistentes à vancomicina, apesar de ter

diminuído ainda se mantinha elevado. Na Alemanha, Itália, Países Baixos e na Dinamarca,

desde que a avoparciana deixou de ser utilizada como promotor de crescimento, ocorreu

um decréscimo de Enterococcus sp. resistentes aos glicopéptidos isolados em frangos

(Portillo, A. et ai, 2000). No entanto, num estudo realizado na Dinamarca, verifícou-se que

a proporção de enterococos resistentes aos glicopéptidos isolados em suínos se manteve

constante após a proibição da utilização da avoparcina e que a sua frequência só baixou

depois da diminuição da utilização da tilosina, um macrólido (Aarestrup, F. M, 2000;

Maniatis, A. N. et ai, 2001). Neste mesmo estudo, verifícou-se, igualmente, que todos os

isolados de enterococos resistentes aos glicopéptidos analisados possuíam resistência à

eritromicina, a qual estava sempre relacionada com a resistência aos glicopéptidos, o que

foi verificado por conjugação (Maniatis, A. N. et ai, 2001; Report of the Scientific

Committee for Animal Nutrition on the Efficacy and Risk for Users of the Therapeutic

Macrolides Antibiotics Tylosin and Spiramycin Used as Feed Additives(opinion expressed

on 05 february 1998. Consumer policy and Consumer Healh Protection). Neste trabalho

constatou-se que 70% dos isolados de Enterococcus sp. resistentes à vancomicina

possuíam o gene ermB, pelo que a utilização de macrólidos em veterinária poderá

contribuir para a manutenção de VRE em frangos..

O gene ermB ocorria em 100% dos isolados de E. faecalis resistentes à vancomicina e em

57% dos isolados sensíveis. Relativamente aos isolados de E. faecium, verifícou-se que o

105

Discussão

gene ermB estava presente em 65% dos isolados resistentes à vancomicina e em 63% dos

isolados sensíveis. Este gene surgia em 1% dos isolados de E. gallinarum com resistência

intermédia à vancomicina e em 26% dos isolados sensíveis. No que diz respeito aos

isolados de Enterococcus sp. observou-se a presença dos genes ermB em 71% dos isolados

resistentes à vancomicina e em 50% dos isolados sensíveis. Admite-se que a ligação entre

os genes de resistência à eritromicina e à vancomicina nos enterococos resistentes aos

glicopéptidos nos animais de produção possa ter um papel importante na co-selecção ou na

manutenção da resistência aos glicopéptidos, quando os macrólidos são utilizados na

terapia animal ou como promotores de crescimento (Aarestrup, F. M., 2000; Maniatis, A.

N. et ai, 2001). Desta forma, a utilização da tilosina como promotor de crescimento terá

levado à manutenção do gene ermB em isolados de E. faecium, conforme demonstrado em

estudos realizados na Dinamarca. Por esta razão, a co-selecção do gene vanA devido à

selecção de genes ermB pela utilização de macrólidos, como por exemplo, a tilosina, tem

sido apontada como uma razão para a manutenção da elevada incidência de VRE

observada na Dinamarca, após a proibição da utilização da avoparcina (Aarestrup, F. M.,

2000; Borgen, K. et ai, 2002). A elevada incidência, observada na Noruega, onde a tilosina

nunca foi utilizada, de enterococos resistentes à vancomicina em isolados resistentes aos

macrólidos com origem em frangos, após a proibição da utilização da avoparcina, poderá

ser devida à utilização da espiramicina (macrólido) na terapia (Borgen, K. et ai, 2002).

Estes estudos demonstram a ligação entre a resistência aos glicopéptidos e à eritromicina,

permitindo a disseminação e manutenção da resistência à vancomicina na ausência da

avoparcina (Borgen, K. et ai, 2002).

A co-transferência da resistência à eritromicina e à vancomicina decorre do facto do gene

ermB e vanA se localizarem no mesmo plasmídeo, tendo sido observada a sua ligação em

vários isolados de E. faecium (Aarestrup, F. M., 2000; Borgen, K. et ai, 2002). O gene

ermB encontra-se junto da terminação 5'do transposão Tnl546, num plasmídeo

conjugativo, o qual é tranferível entre estirpes de E. faecium e, com menor frequência,

entre E. faecium e E. faecalis (Borgen, K. et ai, 2002).

106

Discussão

Por outro lado, estudos realizados em Espanha (Del Campo, R. et at, 2003), onde o

consumo de antibióticos, quer na terapia animal, quer como promotores de crescimento, é

elevado, demonstraram que a incidência da resistência à eritromicina e aos glicopéptidos

entre os enterococos isolados num grupo de manipuladores de alimentos era superior à

observada em indivíduos saudáveis, quatro anos após a proibição da utilização da

avoparcina e da tilosina. Por esta razão, Del Campo e colaboradores, admitem a

possibilidade de transmissão de determinantes de resistência ou de estirpes resistentes entre

os animais e o Homem (Del Campo, R. et at, 2003). Os autores referidos observaram

igualmente que existia uma variedade de mecanismos de resistência nos manipuladores de

alimentos maior do que em indivíduos saudáveis, o que poderá significar que os

manipuladores de alimentos estão expostos a uma maior variedade de enterococos do que

os restantes indivíduos (Del Campo, R. et at, 2003). Estes autores salientam ainda o facto

de terem observado uma única estirpe em indivíduos que trabalhavam em locais diferentes,

o que poderá indicar um potencial risco de disseminação de clones de VRE. Este aspecto

poderá apoiar a hipótese de uma permanência prolongada de certos clones no intestino de

alguns indivíduos, ou de elementos de resistência transferíveis e não pode ser excluída a

hipótese da permanência de microrganismos resistentes nas unidades de produção animal.

Estes autores admitem que os manipuladores de alimentos podem actuar como uma fonte

de transmissão de enterococos resistentes na população humana. Com efeito, vários

estudos levam a considerar os manipuladores de alimentos como um possível elo de

ligação entre os alimentos e o Homem (Del Campo, R. et at, 2003).

Stobbering e colaboradores (Stobbering, E. et ai, 1999) observaram a existência de

isolados de E. faecium resistentes à associação quinupristina-dalfopristina antes desta

associação ter sido introduzida na terapia humana. Admite-se que a utilização, durante

vários anos, da virginiamicina como promotor de crescimento, é responsável pela

resistência observada e pela transferência de enterococos resistentes ou de determinantes

de resistência dos animais para o Homem e pode estar relacionada com a resistência à

associação quinupristina- dalfopristina observada no Homem (Jensen, L. B. et ai, 2002;

Luh, K.-T. et ai, 2000; Stobbering, E. et ai, 1999).

107

Discussão

De facto, a virginiamicina selecciona E. faecium resistentes a este promotor de

crescimento, os quais possuem resistência cruzada com a associação quinupristina-

dalfopristina, surgindo as acetiltransferases VatD e VatE em isolados de enterococos de

diferentes países europeus (Luh, K.-T. et ai, 2000). Neste trabalho foram observados

isolados de E. faecium e de Enterococcus sp onde estavam presentes simultaneamente os

genes ermB e vatE.

Jensen e colaboradores (Jensen, L.B. et ai, 2000) admitem ter observado pela primeira vez

a ligação física entre os genes ermB e vatE, em isolados de E. faecium, na Dinamarca.

Estes autores consideram que estes genes se localizam num elemento genético muito

conservado provavelmente um plasmídeo. Contudo, em estudos realizados nos Estados

Unidos da América esta ligação não foi observada ( Jensen, L.B. et ai, 2000; Simjee, S. et

ai, 2002b).

Neste trabalho foi igualmente observada a presença simultânea dos genes ermB e vatD, em

isolados de E. gallinarum e de Enterococcus sp., assim como de isolados de Enterococcus

sp. que possuíam simultaneamente os genes vatD e vatE. Hamerum e colaboradores, por

seu lado, demonstraram a ligação entre os genes ermB e vatD, em isolados de E. faecium,

tendo efectuado a sua transferência por conjugação (Del Campo, R. et at, 2003). Estes

autores admitem que o gene "cluster" ermB-vatD possa localizar-se num elemento

genético relacionado com o transposão Tnl547ou Tn5385 (Del Grosso, M. et ai, 2002).

Simjee e colaboradores observaram a presença do gene vatE e ermB em isolados de E.

faecalis, o qual como já foi referido é intrinsecamente resistente às estreptograminas, com

origem em frangos (Simjee, S. et ai, 2002b). O facto dos genes ermB e vatE se

encontrarem na mesma estirpe e, em muitos casos, no mesmo plasmídeo, pode ajudar a

explicar a aquisição de vatE por E. faecalis. Este gene pode ter sido co-selecionado devido

à pressão de selecção provocada pela utilização de macrólidos na produção de frangos

(Simjee, S. et ai, 2002b). Por esta razão, um organismo como E. faecalis, que possui

resistência intrínseca às estreptograminas, pode, sob determinadas condições, possuir genes

de resistência como resultado da co-selecção. Esta possibilidade é apoiada pelo facto da

incidência da resistência à virginiamicina observada na Dinamarca em isolados de E.

108

Discussão

faecium, com origem em suínos, ter diminuído após a proibição da utilização deste

promotor de crescimento. Contudo, algum tempo depois verificou-se um aumento da

incidência desta resistência. Apesar de não ser evidente a razão para o aumento desta

incidência, admite-se ter sido uma consequência do aparecimento de isolados que eram

simultaneamente resistentes a vários antibióticos, entre os quais a eritromicina. A

utilização deste antibiótico quer isolada quer conjuntamente com outros antibióticos, pode

co-seleccionar e manter os genes vatE em isolados de E.faecalis (Simjee, S. et ai, 2002b).

Simjee e colaboradores verificaram, recorrendo a ensaios de conjugação, que o gene vatE é

transferível entre isolados de E. faecalis e entre E. faecalis e E. faecium sensíveis à

associação quinupristina-dalfopristina. Esta observação explica a existência de um

reservatório de genes vatE em E. faecalis, os quais podem ser transferidos para E. faecalis

ou E. faecium, podendo, igualmente ser transferidos para Gram-positivo humanos, através

da cadeia alimentar (Simjee, S. et ai, 2002b).

109

Conclusão

6. Conclusão

Os genes encontrados neste estudo, ermB, vatD e vatE, os quais se encontram associados

às resistências aos macrólidos e estreptograminas, apresentam uma incidência elevada e

semelhante ao encontrado em alguns trabalhos realizados por investigadores europeus.

Os nossos resultados corroboram o referido noutros estudos, em que se verifica que a carne

de frango constitui uma fonte de enterococos portadores de genes de resistência, os quais

podem ser transferidos para o Homem, através da cadeia alimentar.

De uma forma semelhante ao demonstrado por outros trabalhos, verificamos que o gene

ermB era o mais frequente entre os isolados de Enterococcus sp. O referido gene, para

além de ter sido detectado em isolados de Enterococcus sp. resistentes e com

comportamento intermédio à eritromicina, foi também observado em sensíveis, facto este

que tinha sido observado em isolados humanos, mas não em isolados de origem animal. A

semelhança do observado por outros investigadores, da análise dos nossos resultados,

verificou-se a ausência do gene ermB em alguns isolados resistentes à eritromicina. Cabe-

nos ainda referir que não nos foi possível observar o gene ermA, nos isolados analisados,

ao contrário de outros investigadores que detectaram a sua presença em isolados de

Enterococcus sp., apesar de ocorrer com baixa frequência. Tal como verificado por outros

investigadores, não nos foi possível observar o gene ermC nos isolados Enterococcus sp

analisados.

Embora o gene mefA tenha sido previamente reportado em isolados de Enterococcus sp.

resistentes aos macrólidos, com origem em crianças portuguesas não foi detectado nos

isolados de frango testados.

Apesar de alguns autores admitirem que a incidência do gene vatD é elevada na Europa, a

nossa investigação não nos permitiu observar a sua presença nos isolados de E. faecium e

de E. faecalis analisados, tendo apenas sido detectado em E. gallinarum e em

Enterococcus sp.

Ao contrário de uma outra investigação, o gene vatE não foi observado nos isolados de E.

faecalis. No presente estudo constatou-se que, apesar da incidência da resistência à 110

Conclusão

associação quinupristina-dalfopristina em E. faecium ser elevada, os genes vatE surgiram

apenas em 8.5% dos isolados. Ao contrário do referido noutros trabalhos, pudemos

observar o gene vatE em isolados de E. faecium sensíveis à associação quinupristina-

daldopristina.

A transferência por conjugação do gene ermB, isoladamente ou em simultâneo com o gene

vatE, verificada nos isolados testados, demonstra a possibilidade de disseminação destes

genes entre enterococos.

111

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