Correio Fraterno 446

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Ano 44 • Nº 446 • Julho - Agosto 2012 CORREIO FRATERNO SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA ISSN 2176-2104 Acesse nossa loja virtual e ganhe descontos! www.correiofraterno.com.br/loja A sociedade em risco Quantos somos? Dados do censo revelam o crescimento do número de espíritas e a diferença dentre outros grupos religiosos. Os espíritas representavam 1,38% da população em 2000, passando para 2,0% em 2010. Em dez anos, o segmento cresceu 45%. Saiba mais na página 11. Há quarenta anos, o escritor Jorge Rizzini gravava para o futuro uma entrevista com um dos maiores filósofos e defensores do espiritismo. Págs. 4 e 5. emos, como espíritas, uma lúcida realidade dou- trinária a divulgar. Muitos ainda ignoram que somos todos espíritos preexistentes, sobreviven- tes e reencarnantes, rumo às mais elevadas planuras evolu- tivas”. Transmitir esse alerta foi o que levou o pesquisador e escritor Herminio Miranda (93 anos) a escrever ao jornal Correio Fraterno, preocupado com a possibilidade de que, em nome da defesa da mulher, a sociedade comprometa-se es- piritualmente, legalizando medidas que contrariem o maior bem para a evolução: a oportunidade da vida. Considerado um dos temas mais polêmicos votados até hoje pelo Supremo Tribunal Federal, a aprovação recente do aborto dos anencéfalos pode ser só o início da legaliza- ção geral do aborto no Brasil até o nono mês de gravidez. O projeto de lei atualmente encontra-se arquivado. Mas o assunto merece a atenção social e revela a necessidade de se difundir cada vez mais os reais valores da vida. Leia mais nas páginas 8 e 9. Parnaso de além-túmulo comemora 80 anos O livro que marcou o início das publicações mediúnicas de Chico Xavier e estremeceu as convicções materialistas do país. Pág. 7 Entrevista inédita com Herculano Pires “T ABORTO

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Correio Fraterno, um dos mais conceituados veículos de informação espírita do Brasil.

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A n o 4 4 • N º 4 4 6 • J u l h o - A g o s t o 2 0 1 2

CORREIOFRATERNO

SEMPRE ATUAL, COM O MELHOR DO CONTEÚDO ESPÍRITA

ISSN

217

6-21

04

Acesse nossa loja virtual e ganhe descontos!

www.correiofraterno.com.br/loja

A sociedade em risco

Quantos somos?Dados do censo revelam o crescimento do número de espíritas e a

diferença dentre outros grupos religiosos. Os espíritas representavam 1,38% da população em 2000, passando para 2,0% em 2010. Em

dez anos, o segmento cresceu 45%. Saiba mais na página 11.

Há quarenta anos, o escritor Jorge Rizzini gravava para o futuro uma entrevista com

um dos maiores fi lósofos e defensores do espiritismo.

Págs. 4 e 5.

emos, como espíritas, uma lúcida realidade dou-trinária a divulgar. Muitos ainda ignoram que somos todos espíritos preexistentes, sobreviven-

tes e reencarnantes, rumo às mais elevadas planuras evolu-tivas”. Transmitir esse alerta foi o que levou o pesquisador e escritor Herminio Miranda (93 anos) a escrever ao jornal Correio Fraterno, preocupado com a possibilidade de que, em nome da defesa da mulher, a sociedade comprometa-se es-piritualmente, legalizando medidas que contrariem o maior bem para a evolução: a oportunidade da vida.Considerado um dos temas mais polêmicos votados até hoje pelo Supremo Tribunal Federal, a aprovação recente do aborto dos anencéfalos pode ser só o início da legaliza-ção geral do aborto no Brasil até o nono mês de gravidez. O projeto de lei atualmente encontra-se arquivado. Mas o assunto merece a atenção social e revela a necessidade de se difundir cada vez mais os reais valores da vida. Leia mais nas páginas 8 e 9.

Parnaso de além-túmulo comemora 80 anos

O livro que marcou o início das publicações mediúnicas de Chico Xaviere estremeceu as convicções materialistas do país.

Pág. 7

Entrevista inédita comHerculano Pires

“T

ABORTO

Há quarenta anos, o escritor Jorge Rizzini gravava para o futuro uma entrevista com

um dos maiores fi lósofos e defensores do espiritismo.

Págs. 4 e 5.

Entrevista inédita comHerculano Pires

Dados do censo revelam o crescimento do número de espíritas e a diferença dentre outros grupos religiosos. Os espíritas representavam 1,38% da população em 2000, passando para 2,0% em 2010. Em

Parnaso de além-túmulo

O livro que marcou o início das publicações mediúnicas de Chico Xavier

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2 CORREIO FRATERNO JULHO - AGOSTO 2012

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EDITORIAL

Não há sociedade responsável sem homens responsáveis. E educar para a responsabilidade exige conheci-

mento e ação.Direito constitucional maior no Brasil,

a vida tem sido frequentemente utilizada como instrumento de troca, vingança, alí-vio. Agride-se, tortura-se, mata-se, como se viver nada valesse.

A capa desta edição traz um assunto polêmico. Apesar dos movimentos sociais em defesa da vida, votou o Supremo Tri-bunal Federal recentemente pela liberação do aborto dos anencéfalos. Também um projeto de lei, embora arquivado, continua assombrando a sociedade, uma ameaça que pode se tornar realidade a qualquer mo-mento, interferindo no equilíbrio espiritual

do Brasil, com possíveis resgates e difi culda-des não apenas por questão de lei humana, mas pela falta de uma educação integral da sociedade para a vida.

Disse Johann Henrich Pestalozzi, mestre de Kardec, ainda em tempos de Rivail, que “a vida educa, mas a vida que educa não é uma questão de palavras, e sim de ação, ati-vidade”. E é justamente este o ponto crucial da questão do aborto no Brasil: o desconhe-cimento do lado espiritual da vida. Não se mata o espírito, não se aborta o espírito, que de uma forma ou de outra voltará naquele reduto familiar para cobrar pela oportuni-dade da reencarnação que lhe foi ceifada.

CORREIO DO CORREIO O valor do trabalhoParabéns pelo trabalho de divulgação do Movimento Espírita desta valorosa institui-ção. Deus abençoe a todos os colaboradores.

Djalma Munhoz, pelo site.

Espiritismo para surdos-mudosÉ gratifi cante encontrar este site legal. Estou engajada em ensinar a minha família espíri-ta o que sei de Libras, para que as palestras

possam ser traduzidas para os não ouvintes. Lendo o artigo de Regina Beatriz (“Lingua-gem de sinais e a inclusão de surdos na casa espírita”, edição 437), fi quei empolgada por trabalhar mais apuradamente para tornar realidade o desejo de muitos defi cientes, de frequentar a casa espírita, e também trazer mais e mais pessoas que precisem. Agradeço muito desde já e parabéns.

Danielle Sampaio, por e-mail.

Envio de artigosEncaminhar por e-mail: [email protected] Os artigos deverão ser inéditos e na dimensão máxima de 3.800 caracteres, constando referência bibliográfi ca e pequena apresentação do autor.

CORREIOFRATERNO

JORNAL CORREIO FRATERNOFundado em 3 de outubro de 1967 Vinculado ao Lar da Criança Emmanuel

www.laremmanuel.org.br

Diretor: Raymundo Rodrigues EspelhoEditora: Izabel Regina R. Vitusso

Jornalista responsável: Eliana Ferrer Haddad (Mtb11.686)Apoio editorial: Cristian FernandesEditor de arte: Hamilton Dertonio

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Uma ética para a imprensa escrita

Em dois artigos, escritos por Allan Kardec e publicados na Revista Espírita, em 1858, estão encerradas as diretrizes que o Cor-reio Fraterno adota como norte para o trabalho de divulgação:

• A apreciação razoável dos fatos, e de suas conseqüências.

• Acolhimento de todas observações a nós endereçadas, levantando dúvidas e esclarecendo pontos obscuros.

• Discussão, porém não disputa. As in-conveniências de linguagem jamais ti-veram boas razões aos olhos de pessoas sensatas.

• A história da doutrina espírita, de al-guma forma, é a do espírito humano. O estudo dessas fontes nos forneceráuma mina inesgotável de observações, sobre fatos gerais pouco conhecidos.

• Os princípios da doutrina são os de-correntes do próprio ensinamento dos Espíritos. Não será, então, uma teoria pessoal que exporemos.

• Não responderemos aos ataques diri-gidos contra o Espiritismo, contra seus partidários e mesmo contra nós. Aliás, nos absteremos das polêmicas que po-dem degenerar em personalismo. Discu-tiremos os princípios que professamos.

• Confessaremos nossa insufi ciência sobre todos os pontos aos quais não nos for possível responder. Longe de repelir as objeções e as perguntas, nós as solicita-mos. Serão um meio de esclarecimento.

• Se emitirmos nosso ponto de vista, isso não é senão uma opinião indivi-dual que não pretenderemos impor aninguém. Nós a entregaremos à discus-são e estaremos prontos para renunciá--la, se nosso erro for demonstrado.

Esta publicação tem como fi nalidade ofe-recer um meio de comunicação a todos que se interessam por essas questões. E ligar, por um laço comum, os que com-preendem a doutrina espírita sob seu verdadeiro ponto de vista moral: a prática do bem e a caridade do evangelho para com todos.

Envie seus comentários para [email protected]. Os textos poderão ser publicados também no nosso site www.correiofraterno.com.br

ISSN 2176-2104

Ninguém fi ca

nesta história

Troca de experiênciasSem mesmo conhecer a amiga Carmem, chorei muito ao ler o artigo “Entregue esta fl or para a Carmem” (edição 445 mai/jun 2012), pois coloquei-me no lugar de uma pessoa que não viveu, nesta vida, um amor verdadeiro. Eu tive meu amor por 32 anos, que em 2009 foi chamado pelo plano espiri-tual. Como espírita, jamais poderia ir contra os desígnios de Deus. Mas em breve virão dois netinhos como presente do Pai. Que você seja muito feliz sabendo agora que é amada e que não está sozinha. Deisi Rodrigues Mestieri, Catanduva, SP.

Como nada acontece por acaso, ressalte--se que essas reuniões de espíritos não se dão apenas por causa da mulher. E pergunta-se: onde a educação para a paternidade? Onde a educação para a responsabilidade sexual? Onde o alerta para a consequência dos pró-prios atos? Proteger a mulher é autorizá-la a abortar?

A liberação da matança da vida em defesa da mulher é um engodo. Ninguém fi ca livre nesta história: homem, mulher, a sociedade como um todo. Muito menos, é claro, o espírito reencarnante. Aborto é compromisso e o tempo, o maior aliado para a necessária transformação.

livre

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Programa Espírita completa 40 anos

Em homenagem aos 10 anos da de-sencarnação de Francisco Cândido Xavier, a Versátil Vídeo Spirite re-

aliza em agosto o lançamento em DVD

ACONTECE

Da REDAÇÃO

Da REDAÇÃO

das mensagens psicofônicas rece-bidas pelo médium entre 1954 e 1956, no Grupo Espírita Mei-mei, em Pedro Leopoldo, MG, e que posteriormente foram trans-critas nos livros Instruções psico-fônicas e Vozes do grande além, ambos editados pela Federação Espírita Brasileira.

Além das gravações, o mate-rial histórico inclui também uma hora de vídeos e áudios extras. Ao todo, são 37 mensagens psicofô-nicas em pouco mais de sete horas

de gravação. Entre os espíritos comunican-tes, destacam-se Emmanuel, André Luiz, Batuíra, Meimei, Cairbar Schutel, Teresa d’Ávila, Guillon Ribeiro, Leopoldo Cirne,

Augusto dos Anjos, Antero de Quental e Amaral Ornellas.

Organizado ao longo de mais de qua-tro anos pelo pesquisador Oceano Vieira de Melo, as gravações são comentadas por Arnaldo Rocha, amigo de Chico, que par-ticipou das reuniões mediúnicas e as trans-creveu na época. Os vídeos e áudios extras trazem ainda Arnaldo Rocha falando sobre Emmanuel, comentários sobre a descober-ta das fi tas e os bastidores da gravação.

Para Oceano Vieira de Melo é im-portante que se resgate esse material para deixar a esta e futuras gerações “a grandiosidade também via psicofôni-ca, do maior médium da história, Chi-co Xavier”. Salienta também o papel da pesquisa em imagem e som para o espi-

Pesquisador resgata gravações de psicofonias na voz de Chico Xavier

ritismo como meio de dar continuidade ao trabalho de preservação da memória espírita, assim como o fi zeram os pionei-ros nos séculos 19 e 20.

Como pesquisador nessa área, Oce-ano destaca a maior difi culdade enfren-tada para reunir materiais interessantes. “Pessoas que devem ter minutos ou horas gravadas em áudio e vídeo sobre e com o nosso Chico Xavier – muitos nem sabem que podem ter um tesouro histórico –, pedimos que encaminhem para nós para disponibilizarmos para o público e para a posteridade. O futuro vai cobrar de nós contemporâneos de Chico Xavier esse testemunho inigualável”, assinala.

Para saber mais www.dvdversatil.com.br/category/spirite/

Desde julho de 1972, o Centro Es-pírita Caminho de Damasco, em Garça, SP, mantém o programa

Momento Espírita, levado ao ar aos domin-gos, a partir das 11:30h pela UniRádio AM -1060 khz, Sociedade Rádio Universi-tária de Garça. Um dos programas espíritas mais antigos do rádio, que está no ar desde o primeiro ano da fundação da emissora, quando as condições de transmissão radio-fônica na época eram bastante precárias.

José Benevides Cavalcante, o coordena-dor do programa, é quem tem boas lem-branças sobre esta história, mas reconhece que o pioneirismo da radiofonia espírita no Brasil se deve a Cairbar Schutel, que iniciou a transmissão de palestras espíritas pela Rá-dio Cultura de Araraquara, no ano de 1939.

Benevides destaca a resistência que havia naquela época às ideias espíritas,

quando o Momento Espírita começou a ser veiculado. “Muitos dos que ouviam o pro-grama pediam para não serem identifi ca-dos no ar”, recorda. O índice de audiência passou a ser sentido pelo número crescente de participação. Espíritas e não espíritas te-lefonavam, faziam perguntas, propunham temas e o programa foi se consolidando com o tempo, cobrindo hoje através dos si-nais da UniRádio uma boa área geográfi ca da região, além de ser transmitindo mun-dialmente pela internet.

O programa tem cerca de quarenta mi-nutos de duração, a maior parte do tempo respondendo perguntas de ouvintes, além de crônicas e notícias e sorteio de livros. Uma prece ou mensagem apresentada por Chico Xavier encerra a programação.

Segundo Benevides, o programa apre-senta um conteúdo atualizado, com os

conceitos fi losófi cos e científi cos coerentes com a doutrina espírita, mas sem qualquer preocupação em fazer proselitismo reli-gioso – o que, aliás, procura combater. “A doutrina – afi rma Benevides – proclama a fé racional, por isso o programa dirige-se a

todos, incentivando as pessoas a questionar tudo o que é apresentado, tirando suas pró-prias conclusões”.

Para ouvir o programa ao vivo acesse www.uniradio.com.br. E-mail: [email protected].

fônicas

Equipe afi nada: Gustavo, Giuliana, Luiz Eduardo, Marco Antonio e Cid. À frente: José Benevides, Máris, Heliani e Cláudio.

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ENTREVISTA

Se Herculano Pires estivesse no sé-culo passado, vivendo na França, e visse nas livrarias de Paris O li-vro dos espíritos, de Allan Kardec. Qual a impressão que teria após a leitura dessa obra?Herculano Pires: Eu nunca pensei que ti-vesse oportunidade de falar para o futuro. Acho que é uma pretensão muito grande, mas em todo caso... No século passado, es-tive realmente na França, mas não era fran-cês. Eu morava em Portugal e fui parar lá como exilado, onde tomei conhecimento do espiritismo. Mas não o aceitei, porque era católico, embora discordasse dos pa-dres. Não aceitava muito o catolicismo e meu desejo era de encontrar uma forma de fazer o cristianismo voltar ao seu estado pri-mitivo. Também era jornalista e isso ficou gravado em alguns jornais portugueses, o que me facilitou a verificação da realidade. Tive então a oportunidade de saber que estava se processando uma nova revelação.

Continuei católico, mas um católico às avessas, em luta com o próprio clero. Não tenho certeza se vi algum livro espírita. Mas se tivesse visto O livro dos espíritos, em Paris, nesse dia 14 de julho, naquela época, na data da Tomada da Bastilha, certamente não teria o impacto que hoje me provoca-ria essa visão, pois não sabia ainda o que era o espiritismo, que realizaria meu sonho da volta ao cristianismo primitivo. Só depois de passar para o mundo espiritual tive con-tato pleno com a nova revelação. E foi no Espaço que eu me tornei espírita. Quando vim para a Terra, portanto, nascendo aqui no Brasil, dessa vez, em Avaré, SP, no dia 25 de setembro de 1914...

Um menino católico também...Herculano Pires: ... De uma família ca-tólica, tendo educação católica... Já trazia ideias espíritas bem acentuadas, que foram se revelando em mim independentemente de qualquer influência exterior. Agora sim,

Por JORGE RIZZINI*

O futuro hoje, 40 anos depois

se tivesse depois disso um encontro com O livro dos espíritos, seria uma grande emoção.

E se você encontrasse, nesta hipó-tese, por uma das ruas do centro de Paris, de súbito, ao dobrar uma esquina, a figura de Allan Kardec?Herculano Pires: Se o encontrasse agora, depois que sou espírita, seria uma coisa extraordinária, porque ele representa para mim a figura exponencial dos novos tem-pos na Terra. Assim como Jesus veio para implantar no mundo o reino de Deus, ele o implantou no coração e na consciência dos homens, dos poucos homens que foram capazes de compreendê-lo até hoje.

Como você vê hoje a doutrina espí-rita em face da humanidade atual?Herculano Pires: Vejo-a como a única solução para os problemas que afligem a nossa humanidade. Realmente é ela que traz o remédio para todos os males do pla-neta, porque indica os caminhos em todos os sentidos. Representa o alicerce de uma nova civilização, civilização do futuro para a qual talvez nós estejamos falando neste momento.

Como você vê o aspecto científico do espiritismo? A doutrina espírita responde aos anseios, às interro-gações da ciência moderna?Herculano Pires: Realmente, a simples pesquisa cósmica que se está fazendo neste momento já vem confirmar um dos pontos básicos do espiritismo. É o espiritismo no campo do pensamento moderno, a doutri-na que afirmou a real existência dos mun-dos habitados no espaço. Isto bastaria para mostrar que encontramos no espiritismo

uma antecipação muito grande a todas as conquistas atuais. Através da física atômica e da física nuclear, já estamos, além da ma-téria, com a descoberta da antimatéria, que representa inegavelmente um rompimento de toda estrutura puramente materialista da física dos séculos 18 e 19. Esses mundos de antimatéria no cosmo podem ser consi-derados como aqueles elementos que cons-tituem o outro mundo, o mundo espiritual de que nos fala o espiritismo. Estamos em face de uma perspectiva inteiramente nova nas ciências e que vem confirmar princí-pios básicos do espiritismo.

Como você vê o espiritismo hoje, em 1972, em face da filosofia?Herculano Pires: Realmente a filosofia espírita pretende renovar inteiramente a nossa concepção do mundo, da vida e do homem. Ela está na prática promovendo essa transformação. No nosso século, a fi-losofia característica é a chamada filosofia da existência, o existencialismo. Seu nasci-mento, por exemplo, se deu no meio pro-testante, com Kierkegaard. Mas seu desen-volvimento ocorreu na França, no campo católico, com Gabriel Marcel, e também na Alemanha, no campo protestante, com grandes pastores e pensadores. Na França, houve ainda o desenvolvimento dessa fi-losofia no campo do ceticismo, ligado ao ateísmo, que é a corrente que tem à sua frente Jean Paul Sartre. Quando investiga-mos, porém, o problema do existencialis-mo em relação ao espiritismo, vemos que este se antecipou mais de cem anos a essa filosofia. Não digo propriamente no seu aparecimento, porque Kierkegaard, prati-camente um contemporâneo de Kardec, não fundou uma filosofia, mas apenas deu

Em 14 de julho de 1972, o escritor e jornalista Jorge Rizzini encontrava-se na casa do amigo Herculano Pires, em São Paulo, quando resolveu gravar uma conversa para ser divulgada no futuro. Tudo bastante infor-mal. O objetivo era mesmo deixar um depoimento histórico para o espiritismo.

A divulgação por meio da Fundação Maria Virgínia e J. Herculano Pires revela a visão realmente vanguardei-ra do jornalista e filósofo, um dos maiores defensores dos princípios do espiritismo. Com sua argumentação lógica e precisa e dezenas de livros e artigos publicados, Herculano mostra a atemporalidade da sua consciên-cia liberta, através da entrevista, que publicamos a seguir. Acompanhe.

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ENTREVISTA

a ela as notas fundamentais que seriam desenvolvidas posteriormente. Portanto, o problema fora colocado, mas não desen-volvido. Ora, a fi losofi a da existência tem por fi nalidade examinar o problema do ser através da existência, uma investigação não apenas no campo do pensamento abstrato, mas diretamente no estudo do homem, o ser que está concretizado, manifestado na Terra, uma possibilidade de abordagem para o estudo fi losófi co do ser, podemos dizer, quase concreta. Essa tentativa da fi lo-sofi a da existência, que inverte os termos da fi losofi a clássica, em vez de partir do exame dos problemas puramente espirituais para a indagação fi losófi ca, parte da existência viva do homem na Terra – essa posição é precisamente a posição espírita.

E sobre o ponto de vista religioso? Qual sua visão em face do mundo mo-derno, das religiões atuais, em geral?Herculano Pires: Assistimos àquilo que podemos dizer uma verdadeira corrida do pensamento contemporâneo em direção aos princípios espíritas. Vemos as renova-ções que se passam no catolicismo, todas elas na direção da verdade espírita. Por exemplo, a teologia do padre Teilhard de Chardin, que foi quase fulminado pelos anátemas dos seus contemporâneos, ago-ra, no entanto, a Igreja está caminhando rapidamente para a aceitação de todas as suas teses. Ele nos parece, quando lemos o seu livro fundamental, O fenômeno huma-no, ou qualquer outro dos seus livros, um decalque, modifi cado um pouco para se adaptar ao pensamento católico, dos livros de Léon Denis, que foi o discípulo e conti-nuador de Allan Kardec.

Você acredita então que avançan-do como está pela amplitude do movimento espírita, o espiritismo irá dominar totalmente, as religiões irão desaparecendo, em face das conversões do povo?Herculano Pires: Eu não encaro precisa-mente assim. Acredito que a função do es-piritismo, como, aliás, queria Kardec desde o princípio, é dar uma contribuição para a modifi cação das religiões, para a modi-fi cação da concepção humana a respeito da vida na Terra. Sabemos que o Espírito da Verdade, em suas comunicações com Kardec, e outros espíritos pertencentes à

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sua falange, deram grande importância ao problema religioso por ser fundamental. O homem que não está integrado numa con-cepção religiosa profunda não tem as pos-sibilidades da evolução necessária. Entendo que o espiritismo não irá dominar a Terra, como uma forma religiosa, mas fará o que o cristianismo fez, com relação à transfor-mação do mundo antigo, o mundo clássico greco-romano, modifi cando-o no campo da política, no campo jurídico, fi losófi co, estruturas sociais, em todos os sentidos.

Mas com o espiritismo, trazendo à humanidade uma nova cultura, uma nova visão de Deus, do desti-no, as religiões irão subsistir?Herculano Pires: Acredito que as religiões podem subsistir. Não todas. Sabemos que uma característica do ser é a sua individuali-dade. Cada criatura humana é uma posição na corrente do tempo. Cada consciência humana tem, portanto, a sua própria po-sição diante da vida, do mundo e dos pro-blemas humanos. Os homens nunca po-deriam ser totalmente aglomerados numa posição única e essas diferenças individuais produzem também as diferenças de agrupa-mentos. Assim como, apesar do domínio do cristianismo durante os dois mil anos decorridos, vimos que ele se fragmentou em numerosas posições, acredito que a mo-

difi cação produzida pelo espiritismo não irá estabelecer uma igualdade absoluta, mas criar a possibilidade de uma sintonia no to-cante aos problemas fundamentais. Isto sim caracterizará a era espírita que, para nós, está surgindo agora no século 20. Acredito que realmente não haverá necessidade de insistirmos no domínio, por exemplo, do pensamento espírita, no sentido como nós o conhecemos hoje, para todo mundo.

Bem, Herculano, hoje, dia 14 de julho do ano de 1972 – até vamos dar a hora: exatamente às duas horas da madrugada –, vou pedir a você que dê a sua mensagem ao povo do futuro. Herculano Pires: Acredito que essa gente do futuro será tão superior a nós, terá tan-tas possibilidades maiores diante dela, que dispensaria qualquer palavra de estímulo de nossa parte. Quero apenas saudar, nes-ses elementos do futuro, homens maravi-lhosos de amanhã que irão povoar não só o nosso país, mas todos os países do mundo, aurora do novo mundo que está raiando na Terra. E quem sabe, na esperança de estar também presente nessa humanidade nova, não estaremos participando daqueles que irão realmente efetivar na Terra a constru-ção do reino de Deus, iniciada pelo Cristo há dois mil anos... Queremos dirigir tam-bém a nossa saudação à França de amanhã, à França que viu Kardec nascer, à França que viu o espiritismo nascer em seu seio, na cidade de Paris – que era então o cérebro do mundo –, à França que teve Léon De-nis – aquele que Conan Doyle dizia ser um lutador contínuo através do espaço e do tempo –, de Gabriel Delanne, de Alexan-dre Delanne, do grande Flammarion, que anteviu a era cósmica com tanta grandeza. Queremos enviar daqui a nossa saudação à França do futuro, na esperança de que ela tenha readquirido seu elã espiritual e real-mente feito jus à sua condição de berço do espiritismo ao mundo, de berço da doutri-na que trouxe a nova civilização.

* Jorge Rizzini, médium, escritor e jornalista, desencar-nou aos 84 anos, em viagem, de Buenos Aires a São Paulo, 29 anos depois de J. Herculano Pires, e 36 anos depois de realizar esta entrevista, publicada neste espaço de forma reduzida.

Para ler a entrevista completa, e ouvir o áudio original, acesse www.herculanopires.org.br/entrevistaparaofuturo

Assim como Jesus veio

para implantar no mundo o reino

de Deus, Kardec o implantou

no coração e na consciência dos

homens”

J. Herculano Pires

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REFLEXÃO

Por RAYMUNDO ESPELHO

É muito comum ouvirmos de pessoas que não conhecem o espiritismo que fulano frequenta o ‘espiritismo de ter-

reiro’, sicrano é da linha de ‘espiritismo de umbanda’, ou ainda que beltrano pratica o ‘baixo espiritismo’.

Espiritismo não é, como muita gente ainda pensa, uma religião onde os adeptos dedicam-se unicamente a receber comuni-cações daqueles que os precederam na via-gem do além-túmulo, para sanar curiosida-des ou resolver problemas materiais. Aliás, para o seguidor dessa doutrina isto é o que menos importa. O mais importante é o esforço que deve empreender para sua evo-lução espiritual, sua transformação moral, vivendo no mundo, aproveitando a oportu-nidade da reencarnação sem ser alheio às

Espiritismo Semente em solo arado

necessidades do homem material. Ao se ouvirem referências que divi-

dam o espiritismo em ‘baixo’ ou ‘alto’, de ‘mesa branca’ ou ‘escura’, são necessários esclarecimentos no sentido de que rituais, imagens e alegorias são objetos do plano material e que não há razão de existirem em uma doutrina que oferece ensinamen-tos profundos, acessíveis a todos os níveis culturais, porque prega a fé raciocinada.

Acrescente-se que o espiritismo é filoso-fia que proporciona a renovação no modo de se encarar a vida, respondendo-nos os porquês de nossos problemas; é ciência que vem demonstrar a existência do mundo espiritual e é também religião, não no sen-tido de instituição de dogmas, mas porque nos convida ao sentimento de religiosida-

“Jesus não possuía uma caixa forte para exibir virtudes, segurança e poder, mas,

alçando o próprio coração na cruz, em nome do amor, converteu-se na eterna mensagem

de luz que redimirá o mundo inteiro.”Emmanuel1

de, à comunhão com Deus, causa primária de todas as coisas. E ao pregar o amor faz também um apelo à ação individual, tendo como bandeira o “fora da caridade não há salvação”.

Registre-se que o espiritismo cres-ce porque leva o homem ao estudo, ao raciocínio e à prática dos ensinamentos evangélicos, constituindo-se em fortale-za, segurança, equilíbrio, paz, convicção, orientação, prudência, serenidade, solida-riedade e trabalho. Para os que desejam conhecê-lo melhor, a recomendação é que estudem as obras básicas de Allan Kardec para poderem falar com conhecimento de causa, até mesmo para contradizê-lo.

É difícil negar os benefícios que o espi-ritismo tem proporcionado ao aperfeiçoa-

mento e progresso do homem.Recorrendo-se à história, podemos

lembrar que Moisés, no cumprimento de sua tarefa, conseguiu abrandar os rudes costumes dos homens da época, fazendo reinar entre eles a lei da justiça. Jesus com sua bondade trouxe, através da exemplifi-cação, ensinamentos que calaram fundo nos corações humanos. O espiritismo, sen-do a Terceira Revelação, veio nos trazer a verdade do espírito. Ele é, portanto, a se-mente latente que brota no solo arado pelo rude “olho por olho, dente por dente” e adubado pelas leis do amor trazidas por Je-sus para esclarecer a Humanidade sequiosa de tantos ensinamentos.

1Relicário de Luz, Emmanuel, 3ª. edição, 1991.

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JULHO - AGOSTO 2012 CORREIO FRATERNO 7

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O BAÚ DE MEMÓRIAS PODE SER FEITO POR VOCÊ!Envie para nós um fato marcante sobre o Espiritismo em sua cidade. Ele pode ser publicado aqui nesta seção. E-mail: [email protected].

A presença de Chico Xavier é sempre muito marcante e aparentemente atemporal em nosso cotidiano es-

pírita, motivo pelo qual chega a nos causar espanto o fato de já estar se completando 80 anos desde a publicação da primeira obra psicografada pelo médium. Chico ainda era novo, não tinha mais que 22 anos, quando viu o Parnaso de além-túmulo chegar às mãos dos leitores e ganhar até mesmo notoriedade entre comentários de membros da Academia Brasileira de Letras. A cada reedição, mais poemas e autores fo-ram enfeixados no livro, que alcançou em 1955 – 6ª edição – cerca de 260 poemas atribuídos a 56 autores.

Além da beleza na arte da rima, assina-da por expressivos nomes da literatura na língua portuguesa, como Antero de Quen-tal, Casimiro Cunha, Fagundes Varela, Olavo Bilac, Guerra Junqueiro, Parnaso de além-túmulo era a prova a ser contestada, para quem quisesse pesquisar e comparar, de que os que morrem continuam vivendo e preservam seus estilos, com as mesmas tendências, tangendo os mesmos assuntos de interesse de quando viviam.

Falar sobre vida após a morte pode parecer algo comum hoje, quando assisti-mos a telenovelas com temáticas espíritas em horário nobre na televisão. Mas não é

BAÚ DE MEMÓRIAS

difícil imaginar o impacto que causou esta publicação em plena década de 30 do sé-culo passado.

Segundo o escritor e pesquisador Cló-vis Ramos, autor de 50 anos de Parnaso1, a publicação dessa obra ordenada pelos es-píritos, que ‘aterrissou’ pelas mãos de um médium com excelentes atributos para recebê-la, “abalou profundamente as con-vicções materialistas dos literatos do país todo, porque o estilo de cada poeta reve-lava claramente sua identidade e todos os literatos sabiam que em Pedro Leopoldo [cidade mineira onde vivia o médium] não existia biblioteca alguma para con-sulta nem pessoas cultas que conhecessem todos aqueles estilos para imitá-los tão perfeitamente”.

A comprovação da autoria através do estudo do estilo de cada autor das poesias que compõem a obra instigou não só a curiosidade dos antigos. Pelo menos dois estudos realizados no ensino superior bra-sileiro nos últimos anos elegeram o Parnaso de além-túmulo como o ‘canteiro de obras’ de estudiosos de literatura.

Em seu trabalho de conclusão de curso, o estudante de Letras, Benedito Fernando Pereira2, se predispôs a analisar a seção atri-buída a Olavo Bilac, tomando como base estudos críticos da sua obra e cotejando dez

sonetos mediúni-cos com poemas escritos em vida pelo poeta.

Diferente não foi o interesse do pes-quisador Alexandre Caroli Rocha, em sua dissertação apresentada em 2001 na Unicamp3, que focou detidamente em es-tudo de pelo menos cinco autores [João de Deus, Antero de Quental, Guerra Jun-queiro, Cruz e Sousa e Augusto dos An-jos], e suas obras, tanto escritas quando vivos como os poemas a eles atribuídos no Parnaso de além-túmulo. “Percebi que, em grande medida, características formais e temáticas dos autores estudados também estão presentes nos versos mediúnicos. A constatação nos permite inferir: quem concebeu os poemas, além de possuir di-versas habilidades poéticas, conhecia mui-to bem particularidades sutis daqueles autores, as quais foram apreendidas e ex-plicitadas nos estudos críticos que utilizei no estudo”, avalia Caroli.

“Escrever convincentemente poemas à maneira deste ou daquele poeta deman-da não apenas talento especial, mas mui-

Por IZABEL VITUSSO

Há 80 anosParnaso de além-

túmulochegava às

livrarias

ta leitura e muita técnica; no entanto, no prefácio do livro, Chico Xavier dizia que os versos eram psicografados, e que ele não havia despendido esforços intelectuais para escrevê-los”, completa o pesquisador.

Também Benedito Fernandes encon-trou grande proximidade estilística entre os textos, confirmando a identidade autoral.

O fato de a cada edição do Parnaso novos poemas e novos autores serem acres-centados sugeriu também a Caroli que o projeto final da obra pretendeu abranger, sob a forma poética, os principais temas da obra básica da codificação: O livro dos espíritos.

1Clóvis Ramos, 50 anos de Parnaso, FEB.

2Benedito Fernando Pereira, Psicografia e autoria: Um estudo estilístico-discursivo em Parnaso de além-tú-mulo. Universidade do Vale do Sapucai, 2008, Pouso Alegre, SP.

3Alexandre Caroli Rocha. A poesia transcendente de Parnaso de além-túmulo. Dissertação de mestrado, Unicamp, 2001, Campinas, SP.

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8 CORREIO FRATERNO

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ESPECIAL

O e-mail enviado em 8 de junho ao Correio Fraterno pelo escritor e pesquisador Herminio Miranda

foi um alerta. E também um exemplo: pri-meiro, pela força e pela coragem dos que não conseguem se calar frente aos enganos da visão materialista; segundo, por mostrar que a indignação para ser proveitosa traz sempre consigo uma ação, como o fez o amigo, leitor e ‘velho escriba’. Aos 93 anos.

Convidado pela redação, então, para que abordasse o tema em texto com di-mensão apropriada ao jornal ou – se prefe-risse – respondesse a uma entrevista sobre o assunto, Herminio mostrou-se agradecido, feliz, sugerindo-nos, porém, que nós mes-mos nos incumbíssemos de um resumo do emocionante diálogo travado em reunião de desobsessão, que deu nome à história, e

ABORTOO desafio social da

liberdade

que se refere a um doutrinador e uma mu-lher que havia cometido muitos abortos e que se preparava para o desafio de uma nova reencarnação.

O conteúdo do diálogo, segundo Her-minio, poderia ser útil e esclarecedor para o momento que o país atravessa, onde só a mobilização social pode impedir a lega-lização do aborto. Aliás, havia-se noticiado na mesma semana que o Governo Federal, através do Ministério da Saúde, preparava uma cartilha para a mulher que decidisse abortar, um ‘aconselhamento’, conforme reivindicação antiga do movimento femi-nista.

Herminio entendia assim que, muito mais que discutir, cumpria ao espiritismo esclarecer. Afinal, o aborto dos anencéfa-los já foi aprovado, mas o projeto de lei

1135/91, que libera o aborto até o nono mês de gravidez, encontra-se arquivado (veja quadro), certamente pela mobilização da sociedade contra sua aprovação. Mas a sociedade não pode estar apática. Precisa ficar atenta para que novas investidas não venham a retomá-lo na surdina dos corre-dores e de tantos gabinetes, representantes do povo brasileiro.

Num outro email, em resposta, Hermi-nio complementaria:

Obrigado pelas observações sobre minha sugestão de pauta para o nosso Correio. O texto é, realmente, extenso demais para o espaço disponível no jornal. Sugiro que ele seja condensado numa narrativa mais com-pacta... Não me ofereço para esse trabalho... Estou, como dizem os franceses, ...au but de forces, ou seja, nos limites das minhas

parcas forças de nonagenário. Justificava--se em texto primoroso, com a lucidez e acuidade que lhe são características. – Te-nho mais coisas para fazer do que tempo e disposição para fazê-las. Afinal de contas, a gente tem de pagar um preço para viver uma longa vida como esta que me coube. Não reclamo, contudo; pelo contrário, agradeço diariamente, nas minhas preces ao Pai, o privilégio de tantas oportunidades de apren-dizado e de transmitir o que me foi possível aprender. Um amigo espiritual muito que-rido me disse certa vez, que, ao chegar ao mundo espiritual, contemplando essa mara-vilhosa obra da engenharia divina, disse a si mesmo: ‘Quanta coisa ainda tenho para aprender!’ E olha que ele foi, entre nós, um bem sucedido cientista! Imagine eu, que sou apenas um esforçado escriba... E finaliza,

Por ELIANA HADDAD E IZABEL VITUSSO

“Ante o lamentável e funesto propósito do governo de legalizar o aborto em nosso país, sugiro que o Correio publique uma das histórias que os espíritos contaram, intitulada ‘O romance que já estava escrito’. Temos de proclamar nossa veemente manifestação contra essa campanha sinistra. Proteger a mulher grávida é uma coi-sa, estimular o assassinato de seus bebês é outra coisa.” Abraços, Herminio C. Miranda

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JULHO - AGOSTO 2012 CORREIO FRATERNO 9

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enviando-nos o seu “fraterno” abraço. Saúdo a toda dedicada equipe do Correio. Não é sem razão que ele se chama Fraterno. Herminio, 20-06-2012

Herminio Miranda não precisava di-zer mais nada. Pauta aceita. Plenamente oportuna pela sua urgência a clamar por atitudes sociais na divulgação da realidade espiritual, cuja falta de conhecimento tanto embaraça os caminhos.

Apresentamos, enfim, a seguir, o re-sumo da história sugerida, narrada por Herminio Miranda no livro As mil faces da realidade espiritual. Que ela possa despertar para ações mais conscientes diante da reali-dade do espírito e ilumine a visão para um panorama muito mais ampliado da vida

Outros diálogos tão interessantes quanto esse, sobre os mais variados temas também podem ser lidos na coleção “His-tórias que os espíritos contaram” (A dama da noite, O exilado, As mãos de minha irmã e, a partir de setembro em nova edição, A irmã do vizir). São histórias de gente como a gente. Seres que erram, comprometem--se, não porque são maus, mas porque não sabem.

Vitória da sociedade civil

Em 25 de junho, uma Sessão Solene na Câmara dos Deputados, em Brasília, marcou os seis anos de trabalho da Frente Parlamentar em Defesa da Vida, que con-ta com representantes de várias organiza-ções e que visa a mobilização da sociedade brasileira, especialmente o trabalho de ar-ticulação política contra o aborto. O movi-mento é suprarreligioso e suprapartidário e apoia projetos que defendam a vida, desde a concepção, um direito já garanti-do pela própria Constituição Federal. Ou-tro ponto importante que destaca são as pesquisas que apontam que a maior parte da população brasileira é contra o aborto.

O projeto de lei 1135/91 sobre a libe-ração do aborto no Brasil está atualmente arquivado na Câmara Federal, em Brasília. Trata-se de uma ementa para suprimir o art. 124 do Código Penal Brasileiro, que desde 1940 caracteriza o aborto como crime.

Saiba mais em www.brasilsemaborto.com.br

Há dois meses vínhamos trabalhando em nossas atividades mediúnicas, jun-to de determinada instituição espiritual, quando se manifestou uma entidade fe-minina, em pranto. Segundo apuramos depois, vinha de uma existência de irres-ponsabilidades e crimes contra a natureza humana. Fora uma bela mulher que usou seus encantos pessoais para escravizar pes-soas aos seus caprichos e às suas ânsias. Os homens estendiam-lhe seus mantos para que ela passasse sobre eles, explicou. Leva-va-os ao desespero, ao alcoolismo e até a última degradação da sarjeta. Casamento? De forma alguma! Precisava gozar a vida. Filhos? Nem pensar! Por isso, rejeitava-os sistematicamente quando ocorria gravi-dez, sempre indesejável e inoportuna.

Ao praticar quase uma dezena de abortos, estava convicta de livrar-se para sempre daquele desagradável ‘contra-tempo’. Ignorava que em cada gravidez estava presente um espírito reencarnan-te, interessado em viver e necessitado de uma existência na carne, a fim de realizar alguma tarefa essencial ao seu processo evolutivo. Os pequenos fetos arrancados pela violência de seu belo corpo eram prontamente destruídos e logo esqueci-dos, mas os espíritos, não. Ficaram à sua espera no mundo espiritual para cobrar--lhe, um dia, o assassinato de que haviam sido vítimas.

Depois de muito penar pelos escuros planos da dor, fora recolhida pela insti-tuição de que vínhamos cuidando e que começava a desarticular-se irremediavel-mente, por causa do afastamento de seus dirigentes. Não que tivesse resolvido seus problemas pessoais, pelo contrário, dado que, longe de ter iniciado o resgate de suas antigas faltas, continuava a assumir mais responsabilidades ao cometer no-vos desatinos, pelos quais também teria de responder um dia. Desmantelada a comunidade, contudo, restaram a ela apenas duas opções: assumir, finalmen-te, suas responsabilidades e enfrentar as dificuldades do resgate ou ficar nova-mente entregue às aflições e incertezas do que a codificação espírita caracteri-

za como estado de erraticidade.Decidiu pelo trabalho da reconstru-

ção de seu atormentado espírito, com todos os seus riscos e sofrimentos, carên-cias e frustrações. Foi honesta conosco ao enfatizar que não era com alegria que resolvera aceitar a pesada carga. A palavra adequada para ela nem era aceitação. Se pudesse, tudo faria para livrar-se daqui-lo ou, pelo menos, atenuar um pouco o peso que, de repente, parecia ter desabado sobre ela, mas reconhecia, no fundo, que não tinha alternativa. Referindo-se às inú-meras mulheres que continuam a praticar abortos sucessivos, sugeriu-nos: “Conta para elas essas coisas, conta. Conta o que está me esperando… Vai falar com elas aí! Vai, fala e escreve. Por que você não faz isso? Conta! Fala!”.

Essa história é, portanto, um recado que estou transmitindo em nome e a pedido de alguém que sabe. Ao conver-sar conosco, naquela noite, já há algum tempo se encontrava recolhida pelos tra-balhadores do bem, a uma comunidade de recuperação. Apresentava grande in-segurança frente à oportunidade de nova reencarnação, tendo sido esclarecida que iria ganhar o que perdera. “As coisas que você fez errado, vai ter oportunidade de fazer de novo, de acertar. Vai ser recebi-da por pessoas que querem te ajudar…”, dizia o doutrinador. Até perceber que seu receio vinha do fato de que reencarnaria numa família, na qual teria que cuidar de oito irmãos. Todos órfãos de mãe prema-turamente e com pai alcoólatra.

Sentia a terrível pressão das lembran-ças desagradáveis, dos remorsos doloro-sos, das angústias do ser que se reconhece culpado e contempla, desalentado, a pe-nosíssima tarefa da recuperação espiritual. “É que você tem muitas agonias no es-pírito – diz o doutrinador –, mas a Lei é generosa e pacificadora. Ela nos conce-de o esquecimento exatamente para que possamos recomeçar tudo de novo.”

Segundo ela, também, não havia pro-blema algum com os abortos que pratica-ra. Embora na atualidade já nem pensasse mais da mesma forma, precisava com-

preender que “o erro ficou lá, de alguma forma”, como alertara o doutrinador, que também lhe fala sobre o fato do livre--arbítrio estar atrelado à responsabilidade sobre as escolhas efetuadas. A lei permitia o erro, mas não podia ser conivente com ele.

Diante da observação de que nun-ca achara que “uns abortinhos fossem uma coisa tão ruim assim”, o maior es-clarecimento: “ Você não achou, mas a Lei sabe que era. E hoje você sabe que é tão grave que vai precisar fazer um sacrifício maior para se recompor”.

A mulher ainda tenta compreender porque, casada, essas crianças não po-deriam vir então como seus filhos. Mas lembra: “Ah!, não. Eles me disseram que há uns tão revoltados comigo que nunca vingariam como filho. Não iam conse-guir. Eu também ia rejeitar e eles me re-jeitariam e iria ser uma confusão danada!”

Percebe, assim, que aceitar a reencar-nação seria mesmo seu melhor caminho. Afinal, como lhe conscientizou o doutri-nador: “É por ali mesmo que você tem de passar. Você não quis passar da outra vez, que era mais fácil, vai passar agora que é difícil. É como se você tivesse de fazer uma caminhada com um belo dia de sol, e você não quis. Agora vai fazer com chu-va mesmo”.

Aceitando a orientação, mas em dú-vida sobre a ‘influência’ dos instintos, pergunta-se: “Por que a gente erra, não é? Uma pena... A gente tem os instintos… Você tem que viver. Por que Deus criou essas coisas?”. Não percebe que é possível sim exercer seus instintos, atender suas solicitações, sem matar ninguém. “Quem matei? Aborto não é matar ninguém!”, justifica-se, até ouvir o esclarecimento; “Sim, o aborto é um assassinato. Não há diferença. A criatura não pode nem defender-se”.

Veja o diálogo completo no nosso site www.correiofra-terno.com.br

*Resumo de capítulo do livro As mil faces da realida-de espiritual, de Heminio C. Miranda, Ed. CEAC.

O romance que já estava escritoPor HERMINIO C. MIRANDA*

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10 CORREIO FRATERNO JULHO - AGOSTO 2012

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ARTIGO

Por GUARACI DE LIMA SILVEIRA

A mediunidade ganha espaços cada vez maiores na mídia, na arte e na literatura. É a Espiritualidade

formando continuamente os trabalhado-res da intermediação entre espíritos. Não é atributo especial de ninguém, havendo os que não a aceitam ou que atormentam mé-diuns, tachando-os de embusteiros.

Pode ser que a pessoa desista e sofra de-sastrosas consequências. O que fazer e como responder aos ataques de dentro e de fora que ameaçam candidatos a medianeiros?

Calderaro disse a André Luiz, em No mundo maior, que mediunidade impõe ao homem “a soledade e a incompreensão, por vezes dolorosas”. O animismo é diag-nóstico de primeira hora. E quem julga? Aos médiuns iniciantes, tempo. Aos expe-rientes, contínuos aperfeiçoamentos. Onde a linha que separa animismo de mediuni-dade? Certo que os espíritos necessitam dos conhecimentos dos medianeiros, mas, será que só eles bastam?

Diz Calderado: “A tese animista é res-peitável. Partiu de investigadores conscien-ciosos e sinceros, e nasceu para coibir os prováveis abusos da imaginação; entretanto vem sendo usada cruelmente pela maioria dos nossos colaboradores encarnados, que

Mediunidade ou animismo?

fazem dela um órgão inquisitorial, quando deveriam aproveitá-la como elemento edu-cativo, na ação fraterna.”

Há que pensar também no fator histó-rico da mediunidade. Durante séculos foi reprimida, muitos sofreram perseguições e o espiritismo veio aparar ações, colocando fatos nos justos lugares. Existem os planos espirituais e o plano da crosta que intera-gem através das mentes de forma natural. No passado o demônio estava do lado de lá e os santos do lado de cá. Com a escala espírita proposta por Kardec em O livro dos espíritos, aprendemos que demônios não existem. Então alguns trocaram os demô-nios pelo animismo.

Qual a inteligência ilibada e com poder de afirmar se tal comunicação é anímica ou mediúnica? Médiuns sinceros necessitam percorrer árduos caminhos até se conso-lidarem como medianeiros efetivos. Isto requer dedicação, renúncia e experimenta-ções conscientes. Quando um pensamento é nosso ou não?

Há sobre Jesus importante citação no aludido livro: “O mestre viveu insulado no monte divino da consciência, abrindo cami-nho aos vales humanos”. Existem milhões de pessoas enfeixadas em regiões menos ele-

vadas da consciência. Isto é óbvio e dificulta comunicações. Mesmo os que pretendem a eficiência sofrem interferências causadas por essas vibrações de baixa frequência e que ainda imperam entre encarnados e de-sencarnados. Jesus não nos pede santidade e sabedoria do dia para a noite.

Adélia tudo fazia para ir às reuniões me-diúnicas no centro que frequentava. A mãe ficava com o filho de um ano e o esposo, a custo, aceitou tal condição. Foi perseguida cruelmente pela direção dos trabalhos que sempre tachava suas comunicações como anímicas. De tanto tentar e receber os mes-mos veredictos acabou por desistir. Sua casa virou um tormento. A mediunidade ostensiva não lhe permitia caminhada se-gura. Buscou os recursos das drogas medi-camentosas. Três anos após o tal diretor dos trabalhos desencarnou. O novo dirigente convidou-a a novamente frequentar as reuniões. Sem as injustas acusações pôde, enfim, exercer em paz sua mediunidade, ajudando a tantos espíritos que ali aporta-vam em busca de socorro e orientação. E por que ainda necessita ser assim?

É hora de definições para todos. Cal-deraro comenta: “Há milhões de seres humanos, encarnados e desencarnados,

de mente fixa nas regiões menos elevada dos impulsos inferiores, absorvidos pelas paixões instintivas, pelos remanescentes do pretérito envilecido, presos aos reflexos condicionados das comoções perturbado-ras a que, inermes, se entregaram; outros tanto mantêm-se jungidos à carne e fora dela, na atividade desordenada, em ma-nifestações afetivas sem rumo, no apego desvairado à forma que passou ou à situa-ção que não mais se justifica; outros ainda param na posição beata do misticismo re-ligioso exclusivo, sem realizações pessoais no setor da experiência e do mérito que os integre no quadro da lídima elevação.”

Vê-se que o trabalho é grande. Cada espírito com sua história. Importa iden-tificarmos no outro sua disponibilidade e lealdade à ação mediúnica.

Estudemos e lancemo-nos ao serviço. Jesus nos conduzirá. O bom médium ob-tém boas comunicações. Mas, igualmente, sabe acolher o outro mitigando-lhe a sede de paz. Pensemos nisto, cuidemos das nos-sas mediunidades, falas e ações.

Guaraci é escritor, palestrante e articulista. Autor de vários livros e textos teatrais, lançará em breve pela Edi-tora Correio Fraterno o romance O refúgio de Laila.

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JULHO - AGOSTO 2012 CORREIO FRATERNO 11

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística divulgou no início de julho os dados do último censo

demográfico, realizado em 2010. Dentre os grupos religiosos, o espírita foi o que re-velou o maior crescimento entre os censos de 2000 a 2010.

Os espíritas representavam 1,38% da população (2,3 milhões) em 2000, pas-sando para 2,0% em 2010 (3,8 milhões), equivalendo a um crescimento de 45%, o maior de todas as religiões.

Os evangélicos tiveram o segundo maior índice de crescimento, passando de 15,4% no censo 2000, para 22,2% no de 2010. O crescimento em percentuais de um censo para o outro foi de 44,2%. Em quantidade de pessoas os evangélicos passaram de 26,2 milhões para 42,3 milhões de pessoas. No censo 1991, o percentual dos evangélicos era de 9,0% e em 1980, 6,6%.

Os católicos continuaram a tendência de queda. Eram 83% em 1991, caíram para 73,8% em 2000 e reduziram para 64,6% em 2010. Perderam 9,2 pontos per-centuais, o que deve ter contribuído para o aumento dos evangélicos que ganharam 6,8 pontos percentuais.

Os adeptos da umbanda e do candom-blé mantiveram-se em 0,3% em 2010.

Mais pessoas sem religiãoEram 4,7% em 1991, passaram para

7,3% em 2000, e alcançaram 8% em 2010 ultrapassando 15 milhões de pessoas. O crescimento dos espíritas se deve mais a partir da redução dos católicos.

Maior instrução e rendimentoO nível de instrução dos espíritas con-

tinua sendo o maior. Possuem mais pessoas

ANÁLISE

com nível superior completo (31,5%) e o menor percentual de indivíduos sem ins-trução (1,8%).

Apresentam maior renda acima de 5 sa-lários mínimos, com a maior participação entre as religiões: 19,7%.

Idade média dos espíritas é a mais alta com 37 anos

O movimento espírita precisa se mo-bilizar para aumentar a participação dos jovens. Em 1991 a faixa de idade entre 15

e 29 anos alcançava 23,9% dos espíritas e, em 2000 baixou para 21,8%. A faixa

entre 30 e 39 anos baixou de 19,1% para 18%. Entre 10 a 14 anos era 7,8% e caiu para 5,4%.

Isso pode significar que os esforços de trabalho e de comunicação espírita não es-tejam conseguindo estimular os jovens.

Maior participação feminina com 58,9%

A maior participação das mulheres está nas faixas de idade de 30 a 39 com 11% contra 7% dos homens; de 40 a 49 com 10,9% contra 6,8% e dos 50 a 59 anos com 9,2% contra 5,5%.

Distribuição dos espíritas nos estados

Rio de Janeiro é o estado com maior participação de espíritas (4%), seguido pelo Distrito Federal (3,5%), São Paulo (3,3%) e Rio Grande do Sul (3,2%).

Por IVAN FRANZOLIM

Quantos somos?

Os sete esta-dos que haviam reduzido a parti-cipação de espí-ritas entre 1991 e 2000, voltaram a crescer, a prin-cípio, de forma independente de ações estratégicas que o movimento espírita poderia ter empreendido.

Quatro esta-dos apresentaram redução de espíritas en-tre 2000 e 2010: Goiás (-12,4%), Mato Grosso (-5,8%), Pará (-17,1%) e Amazo-nas (-7,7%).

A polêmica sobre o número dos espíritas no Brasil

Segundo o Censo 2010, os espíritas re-presentam 2% da população brasileira ou 3.848.876 pessoas. Contudo, a percepção geral sugere um número maior. Isso ocorre em razão das casas espíritas receberem ha-bitualmente um contingente expressivo de pessoas não espíritas que buscam lenitivo para suas aflições.

Existem pelo menos 13.000 instituições

Dados do censo revelam o crescimento do número de espíritas e a diferença entre outros grupos religiosos

Censos 1991 2000 Cresc. 2010 Cresc.

Espírita 1,12% 1,38% 23,21% 2,00% 44,9%

Religião Censo 2010 Total Homens Mulheres Part.Católica Apostólica Romana 123.280.172 61.180.316 62.099.856 50,4%Evangélicas 42.275.440 18.782.831 23.492.609 55,6%Espírita 3.848.876 1.581.701 2.267.176 58,9%Umbanda 407.331 182.119 225.213 55,3%Candomblé 167.363 80.733 86.630 51,8%Sem religião 15.335.510 9.082.507 6.253.004 40,8%

espíritas no Brasil, segundo o cadastro da ADE-SP. Dividindo a quantidade de espí-ritas pela quantidade de instituições, temos a média de 296 espíritas por instituição, trabalhando ou frequentando. É uma boa média que parece representar a realidade.

Outro aspecto que nos faz pensar que somos mais espíritas no Brasil é o fato de muitas ideias que o espiritismo adota sejam aceitas pela maioria da população e bastante utilizadas por novelas, filmes e livros.

Os títulos de livros espíritas já superam 5 mil títulos. A Zíbia Gasparetto é o maior exemplo de penetração das ideias espíritas. Vendeu ao longo de sua carreira psicográfica cerca de 16 milhões de livros, com 40 títu-los, superando 4 vezes mais leitores do que o número de Espíritas no censo 2010, con-forme revista Veja de 29 de fevereiro 2012.

As análises indicam que o trabalho do IBGE utiliza uma metodologia reconhecida para levantamentos estatísticos que são ofi-cialmente aceitos pelas instituições e gover-no no Brasil.

Somos poucos em relação aos nossos desejos, mas podemos fazer a diferença no estudo, na pesquisa, na produção de novos conhecimentos úteis à sociedade e no exem-plo de cidadania e de verdadeiras pessoas de bem. Veja o censo detalhado por estado no site do Correio. www.correiofraterno.com.brIvan René Franzolim é articulista e escritor espírita, conselheiro da ADE-SP – Associação de Divulgadores do Espiritismo.

Os dados sobre religião do Censo 2010 foram divulga-dos pelo IBGE no final de junho de 2012 (www.ibge.gov.br).

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8º Encontro Nacional da Liga dos Histo-riadores do Espiritismo

Tema: Espiritismo na atualidade: das práticas cotidianas ao meio acadêmico

Dias 18 e 19 de agosto, em São PauloLocal: Alameda dos Guaiases, 16 - Planalto Paulista - São Paulo - SP – (Metrô Praça da Árvore). Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo Eduardo Carva-lho Monteiro. Informações: [email protected] e www.ccdpe.org.br. Fone: (11) 5072- 2211

Curso de Braille e Libras na casa espíritaInício: 1 de setembro , das 13 às 14 horas

Local: Centro Espírita José de Castro. Rua dos Lavapés, 811. Bairro Cambuci, São Paulo.

Plantão de inscrição: Fone (11) 7450-8541 - 8311- 9969 3276-4801, das 10 às 17 horas.O curso também é ministrado em outras regiões. E-mail: [email protected]

59ª Semana Espírita de Vitória da Con-quista

De 2 a 9 de setembro. Local: Centro de Con-venções Divaldo Franco

Rua: Av. Rosa Cruz, 1019, Candeias, Vitória da Con-quista, BA. Presenças de Alberto Almeida, André Luiz Peixinho, Divaldo Pereira Franco, Eliseu Mota Júnior, Ha-roldo Dutra Dias, Sandra Della Polla, Simão Pedro, Suely Caldas Schubert, dentre outros. Promoção União Espírita de Vitória da Conquista. Informações: www.uevc.com.br

Acesse a Agenda Eletrônica Correio Fraterno e fi que atualizado sobre o que

acontece no meio espírita. Participe.www.correiofraterno.com.br

qualquer hora, em qualquer lugar

8º Encontro Nacional da Liga dos Histo-riadores do Espiritismo

Dias 18 e 19 de agosto, em São Paulo

AGO

18

59ª Semana Espírita de Vitória da Con-quista

Rua: Av. Rosa Cruz, 1019, Candeias, Vitória da Con-

SET

2

ENIGMA

Em qual dos quatro evange-lhos, no Novo

Testamento, en-contramos dados sobre a infância

de Jesus?

CRIPTOGRAMA DO CORREIO

Resposta do Enigma:

Solução do Criptograma

Veja em:www.correiofraterno.com.br

Lucas. O evangelista é o único que se refere ao “me-nino”, que crescia em graça e sabedoria. É dele também o relato sobre Jesus, aos 12

anos, no Templo.

Curso de Braille e Libras na casa espíritaInício: 1 de setembro , das 13 às 14 horas

Plantão de inscrição: Fone (11) 7450-8541 - 8311- 9969

SET

1

Elaborado por Tatiana Benites e Hamilton Dertonio, especialmente para o Correio Fraterno

Encontre as palavras em destaque no texto abaixo.

O próximo mais próximoDomingo, 15 de julho, o Lar da Criança Emmanuel fes-

tejou os 80 anos de Carmem Perez Perez, uma das antigas colaboradoras da casa. Dona Carmem é a protagonista da história contada na seção Foi Assim

da última edição. Com o título Entregue esta fl or para Carmem, o Correio Fraterno resgatou um relato da emoção por ela sentida num momento de solidão, quando recebeu o recado da Espiritualidade de que nunca estivera tão acompanhada. Um amor de vidas passadas

solicitava então a uma amiga médium que lhe fosse ofereci-da uma orquídea, como prova de sua dedicação e admiração. Com amigos e familiares reu-nidos, dona Carmem recebeu com grande alegria as vibrações de carinho por seu aniversário, no local em que há mais de 30 anos trabalha como voluntária, uma surpresa que marcou com ternura o coração de todos, mos-trando que a alegria muitas vezes pode ser oferecida através de pequenos gestos de gratidão e apreço a quem está muito mais próximo do que se pode imaginar.

O próximo mais próximoDomingo, 15 de julho, o Lar da Criança Emmanuel fes-

tejou os 80 anos de Carmem Perez Perez, uma das

da última edição. Com o título

JUL

15

O Engano Casimiro Cunha

Às vezes diz a CiênciaQue a crença é engano profundo,Esperando uma outra vidaNoutros planos, noutro mundo ...

E diz arrogante à Fé:

– “Estás louca! A morte apenasÉ o sono eterno e tranquiloDepois das lutas terrenas.”

Ao que ela replica, humilde:

– “Mais tarde, Ciência amiga,Serás o sósia da Fé,Andarás ao lado meu.Se for sono, dormiremos,Mas se não for, pois não é,De quem será esse engano?Será meu ou será teu?”

Do livro Parnaso de além-túmulo, psicografi a de Francisco Cândido Xavier, FEB.

A W R V É Y U K L E E A I N

P L B Ç S Ã X W E R T J N K

O C R T U I C A S A I F A R

I O R C B K I U A E N P A H

I Ê E D G E E P Z V I M L U

A G I M A N N A A Ã R M M M

U I E R S U C H S V C E E I

A P O I R E I U S M V C D L

B X Ç E R C A T E A A T U D

Ê I R T R B D B I F É C A E

T P É A A E B M I O L P O G

N E P E M N D C T R M L Q D

à U R C D Ç A T S O N A L P

T A R R O A C A T S X S L P

O R B Ç E Ã G R U P O M F R

A O P U B N M D Ê X T N R D

G E R P O A A E P B M H O D

S E L M U T Y S C E R X A I

E T R O M L I E N G A N O L

O E U F D E U T M B C D O P

E R R T U A S T K L A P M B

R N A R T Y U M A P O Z X V

D O R M I R E M O S U I P V

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JULHO - AGOSTO 2012 CORREIO FRATERNO 13

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A professora pergunta na aula de evangelização infantil:– Alguém sabe para que serve o passe?As crianças fi cam agitadas, con-versam entre si e João levanta a mão, dizendo:– Para mudar de energia. – Muito bem, João – fala a pro-fessora.– Para fi carmos felizes quando estamos tristes.– Também está certa, Isabela.– Para fi car mais animado.– Isso mesmo, Pedro.– Pra nos curar, quando esta-mos doentes.– Também! Muito bem, crian-ças...

QUEM PERGUNTA QUER SABER

COISAS DE LAURINHA Por TATIANA BENITES

Passe cura asmaLaurinha levanta a mão e inter-rompe a professora:– Serve para curar asma também.– Por que curar asma? – pergunta Lucas.– Porque uma vez a dona Rose estava chorando aqui no centro e eu perguntei se ela estava bem e ela disse: “Não se preocupe, é só minha asma, vou tomar um passe e vou melhorar”. Então ela entrou na sala de passe e quan-do saiu. eu perguntei se tinha sarado. E ela falou: “Sarei sim, era só minha asma, era só minha asma”. Então eu perguntei se o passe cura, e ela disse: “O passe tira toda a minha asma, é para isso que ele serve”.

A professora que prestava aten-ção diz:– Ah, entendi! Ela quis dizer MIAS-MA e não “minha asma”.– Não é a mesma coisa? – pergun-ta Laurinha.– Não. Miasmas são as energias ne-gativas que se dissipam com o passe.E Laurinha responde:– E eu achando que agora ela es-tava respirando melhor!

Por FABIANO POSSEBON

O mundo espiritual é composto de matéria fl uídica, com uma organi-zação diferente da que conhecemos

como encarnados. Os espíritos fazem passar a matéria etérea pelas transformações que queiram.

No livro Nosso lar, o autor espiritual, André Luiz, nos mostra como é essa orga-nização: há residências, hospitais, meios de transporte, máquinas, ministérios e pessoas atuando, conforme sua capacidade, para que essa metrópole possa funcionar. É uma ci-dade habitada por aqueles já adaptados ao plano espiritual, em condições de trabalho na esfera do bem, a favor dos mais infortu-nados. Mas sabemos também que há lugares organizados e comandados por espíritos en-durecidos, como a cidade visitada por An-dré Luiz e descrita em sua obra Libertação,

Casas no plano espiritual?

Como podem existir tantas construções no mundo espiritual se

lá não existe matéria? Como são formados os

hospitais, as colônias, as regiões inferiores? Rebeca N. Milsen, por email

que ela é parte integrante do império das inte-ligências perver-sas e atrasadas. Apresenta ruas sinistras, casarios decadentes, na-tureza mal trata-da, ambiente su-focante e pessoas cuja desarmonia interna se refl ete no aspecto exterior. Essas criaturas não estão desamparadas e não lhes faltam os chamados superiores para ajudar a despertá-las.

Essas construções, portanto, nada mais são que efeitos fl uídicos de matéria mental, que é manipulada pelos espíritos desencarnados

através do pensa-mento, como se fossem as nossas mãos com relação à matéria densa. Constroem o que quiserem.

Em qualquer parte, nossa men-te é um centro psíquico de atra-ção e repulsão. Somos força in-

teligente. Através da energia mental, exteriori-zamos o pensamento e causamos efeitos. Para isso, é necessário utilizar a vontade, sendo ne-cessário imprimir-lhe direção em conformida-de com nossa escolha íntima.

Podemos, como espíritos, construir e

destruir, dependendo com o que ou com quem nos afi namos e isso é de responsabili-dade exclusiva de cada um. Daí as diferentes construções fl uídicas no mundo espiritual, pois ali estão, como aqui, seres de todos os desejos e entendimento. Cada qual no am-biente em que se afi niza, cabendo a cada es-pírito a liberdade e o esforço para perceber--se, conhecer-se e transformar-se.

Tudo isso é o efeito prático do ensina-mento do nosso amado mestre Jesus: “Orai e vigiai para que não entreis em tentação”.

Orando, estaremos elevando o nosso pa-drão vibratório. Vigiando, estaremos man-tendo-o, afi nal a cada um será dado segundo as suas obras.

Nota: Em O livro dos médiuns, item 128, o espírito São Luís res-ponde a várias questões formuladas por Alan Kardec sobre o labora-tório do mundo invisível. Veja no site www.correiofraterno.com.br

A professora que prestava aten-ção diz:– Ah, entendi! Ela quis dizer MIAS-MA e não “minha asma”.– Não é a mesma coisa? – pergun-ta Laurinha.– Não. Miasmas são as energias ne-gativas que se dissipam com o passe.E Laurinha responde:– E eu achando que agora ela es-tava respirando melhor!

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14 CORREIO FRATERNO JULHO - AGOSTO 2012

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FOI ASSIM

O envio especial de Deusem forma de filhos

Por CLEUZA MARIA CARNEIRO DOS SANTOS

VOCÊ SABIA?

A Bíblia diz que a raça adâmica (Adão e Eva), sobrevivente de

um cataclismo, viveu há 4.000 a. C., e que foi a origem de todas as outras. Adão teve dois filhos (Caim e Abel); o primeiro matou o segundo, e depois fundou cidades junto com os pais.

Segundo o livro A gênese (cap. 11, “Raça adâmica”), esta raça foi uma colônia de espíritos imigrados de ou-tros orbes mais avançados que a Terra, que veio reencarnar em nosso planeta. Todavia, nesta época, a Terra já era po-voada desde tempos imemoriais. A raça adâmica, apta às artes e as ciências, era a mais inteligente de todas, impelin-do as demais raças ao progresso. Em respostas às perguntas 50 a 54, de O livro dos espíritos, as entidades superio-res reafirmam que Adão não foi o pri-meiro nem a origem do povoamento da Terra.

A ciência contemporânea deu sua contribuição. Há cerca de três anos, a imprensa noticiou a descoberta de

Ardi, um esqueleto de um hominídeo que viveu há 4,4 milhões de anos, ou seja, um milhão de anos antes da famosa Lucy (o primeiro esqueleto descoberto da raça humana). Ardi foi descoberto em 1994, na Etiópia. A fêmea de 50 quilos e 1,20m percor-ria florestas, escalando árvores com as quatro patas. Mas não ficava muito tempo na copa das árvores, pois era capaz de andar ereta quando estava no chão. David Pilbeam, que não participou das pesquisas, é curador de paleontologia do Museu Peabody de Arqueologia e Etnologia de Har-vard. Na matéria, sobre Ardi, disse: “Está relativamente completo, já que preserva cabeça, mãos, pés e algumas partes essenciais. Representa um gê-nero que pode ser ancestral do Aus-tralopitecus, que é o ancestral do nosso gênero, homo”. Outro pesquisador, Tim White, diretor do Centro de Pes-quisa em Evolução Humana da Uni-versidade da Califórnia, em Berkeley,

comentou sobre a fêmea Ardi: “No Ardipithecus, temos uma forma não especializada que não evoluiu muito na direção do Australopithecus. Então, quando você analisa da cabeça aos pés, você vê uma criatura-mosaico, que não é chimpanzé, nem humana. É Ardipithecus”.

Desta forma, conforme as pesqui-sas científicas e o espiritismo, Adão e Eva não são os ‘pais da Humanida-de’, pois bilhões de anos antes deles já existiam homens que surgiram em várias épocas e em diversas partes do planeta. A Ciência crê que o homem tenha surgido na África, mas isto ainda fica no campo das hipóteses. Segundo os progressos da genética, “é impossível” que 6,5 bilhões de indivíduos (de várias raças e etnias) tenham surgido de um único casal, já que as alterações genéticas e climá-ticas e as localizações geográficas são fatores determinantes para o surgi-mento das diferentes raças.”

Adão e Eva não são pais da HumanidadePor ADRIANO HENRIQUE DE OLIVEIRA

Na gravidez da minha filha, eu tinha certeza absoluta de que era uma menina, embora todos dissessem,

como de hábito, que a ‘barriga era de meni-no’. Um dia, mais ou menos aos três meses de gravidez, tive um sonho muito real, do qual me lembro até hoje. Faz 29 anos. Eu entrei como num ‘túnel do tempo’. Me via por dentro, como se eu mesma fosse o ul-trassom. Vi a bolsa, a criança girando, e foi aí que pude ver seu sexo: menina. Tudo mui-to real. Durante a gravidez, sonhava e a via

risonha, de olhos azuis, exatamente como nasceu. Eu já a conhecia. Ao final da gravi-dez, eu sonhei com um consultório médico, e eu sendo examinada. A nenê estava sentada e o médico, espiritual, num procedimento, desvirou-a. Ao acordar e durante o dia senti uma forte mexida em minha barriga. Ela foi virada para a posição de nascimento.

O mesmo aconteceu quando engravidei do meu filho. Eu tinha certeza absoluta de que era um menino. Entrei no ‘túnel’ e novamen-te vi o nenê virando-se. Foi quando deu para

ver o sexo. Tudo como da primeira vez. Muito real. O plano espiritual me mostrou meus fi-lhos antes de eles nascerem. De igual maneira, comecei a sonhar com ele, risonho, feliz, com olhos azuis, lindo! Assim como ele nasceu. Era como se eu tivesse tido gêmeos em épocas di-ferentes. Ao amamentar meu filho, eu retor-nava de maneira muito forte para o momento do parto anterior.

Foi uma das histórias mais incríveis que me aconteceu, onde o plano maior me ante-cipou o que aconteceria. Os dois chuparam o

dedo até os dez anos. Os dois tiveram olhos azuis até os oito meses e depois mudaram para verdes, com o contorno azul claro. Nem eu, nem meu marido conhecíamos ninguém da família de olhos azuis. Mas quando minha sogra chegou, disse que uma avó do meu ma-rido era bem branquinha, de olho bem azul. Tudo explicado.

Sinto-me honrada, privilegiada por ter re-cebido esse PRESENTE do plano espiritual. E, com certeza, esses filhos são verdadeiros anjos na minha vida.

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JULHO - AGOSTO 2012 CORREIO FRATERNO 15

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MUNDO SUSTENTÁVEL

Num país como o Brasil, onde 94% dos domicílios possuem ao menos um aparelho de televisão, a publici-

dade que fomenta novos desejos se depara com um velho problema nacional: a desi-gualdade.

Considerando que a maioria das pesso-as não tem dinheiro sobrando para com-prar tudo o que deseja, ou que passa a de-sejar a partir das campanhas publicitárias, disseminam-se pacotes de frustração, an-gústia, ansiedade, tristeza, eventualmente depressão e, em casos extremos, a violência, podem surgir como resposta à exclusão da sociedade de consumo, à impossibilidade de adquirir um novo produto ou serviço.

Se para adultos resistir minimamente aos apelos da publicidade já constitui uma tarefa difícil, imagine-se para as crianças. No caso específico da televisão, o tempo médio que as crianças passam vendo TV a cada dia é de quatro horas, cinquenta mi-nutos e 11 segundos.

A ex-ministra do meio ambiente, Ma-rina Silva, definiu com precisão a relação entre as novas gerações de consumidores e a situação do planeta: O triste é que as crianças estão substituindo o brincar pelo consumir. Com graves consequências para elas e para o meio ambiente. Paradoxal-mente, são crianças, adolescentes e jovens os que mais têm se mostrado sensíveis à preocupação com a proteção da Natureza. Mas, hiperestimulados ao consumo, desde

Mídia, criança e futuroPor ANDRÉ TRIGUEIRO

a mais tenra idade, não conseguem fazer ligação entre seus sinceros ideais de preser-vação dos recursos naturais – sem os quais serão prejudicados no futuro – e o desen-freado consumo que ironicamente vai, aos poucos, os transformando em extermina-dores de si mesmos. E esse talvez seja um “exterminador do futuro” mais preocupan-te do que a ficção cinematográfica.

Novas gerações de consumidores cres-cem sem perceber a relação que existe en-tre consumo e meio ambiente e, o que é mais preocupante, repetindo clichês do movimento ambientalista como “cuide do planeta hoje para que nossos filhos e netos tenham direito ao futuro”, “protejam as baleias”, ou ainda “salvem a Amazônia”. Ig-nora-se a dimensão política presente no ato

de consumo. Quando escolhemos de for-ma consciente o que nos convém consu-mir, evitando excessos e adotando marcas comprometidas com a sustentabilidade, estamos assumindo o papel que se espera de um consumidor no século 21.

Boa parte dos movimentos em favor do consumo consciente utiliza uma importan-te ferramenta metodológica para legitimar suas ações, a “pegada ecológica”, que revela o espaço físico do planeta que cada um de nós precisa ter exclusivamente para supor-tar nossos estilos de vida. Ou seja, mostra a energia e a matéria-prima de que neces-sitamos, além do espaço para armazenar todo o lixo que produzimos durante um ano. Para conhecer sua pegada ecológica a pessoa deve responder a um questionário

que apura diferentes hábitos de consumo, como, por exemplo, qual o meio de trans-porte normalmente utilizado, hábitos ali-mentares, uso de eletrodomésticos, tempo do banho etc. A resposta é expressa em hec-tares de terra que precisam existir apenas para satisfazer a esses hábitos de consumo, além de uma projeção de quantos plane-tas seriam necessários se toda a população da Terra tivesse hábitos semelhantes. Em 2008, a organização não governamental WWF anunciou que a pegada ecológica do planeta havia ultrapassado em 25% da capacidade de suporte da Terra. Isso signifi-ca que se a Terra fosse um governo ou uma empresa, estaria quebrada, operando no vermelho, em regime pré-falimentar.

Segundo o historiador escocês Niall Ferguson, 100 bilhões de seres humanos já nasceram na Terra desde o aparecimento do primeiro hominídeo. Os que estão vivos hoje representam 6% desse contingente. É justamente esse grupo – no qual eu e você estamos inseridos – que terá a enorme res-ponsabilidade de realizar as escolhas mais importantes da história da Humanidade. Não há dúvida de que estamos à altura do desafio. A pergunta fundamental é: estamos realmente interessados em enfrentá-lo?

O texto na integra encontra-se em Espiritismo e ecolo-gia, editora FEB.

André Trigueiro é colunista do Jornal da Globo, e no site G1 sobre o tema “Sustentabilidade”.

Contabilidade – abertura e enCerramento de empresa – Certidões

Tel. (11) 4126-3300 Rua Índico, 30 | 13º andar | São Bernardo do Campo | SP

[email protected] Aral, 123 I São Bernardo do Campo I SP

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16 CORREIO FRATERNO JULHO - AGOSTO 2012

www.correiofraterno.com.br

Amor sentimento essencial, puro e vital, condição pri-mordial na busca da razão de

nossa existência.Amor que se manifesta sob diver-

sas formas: amor de mãe, de pai, de fi lho, de namorado, amor ao próxi-mo, amor a Deus.

Amor que enche nosso coração de alegria e felicidade quando nos-sos entes queridos estão bem.

Amor que nos faz festejar o su-cesso de outrem e nos permite cho-rar junto à tristeza do amigo.

Amor que nos impulsiona a ser solidários perante as vítimas de catástrofes, aos menos favorecidos, aos doentes e necessitados.

Amor que nos inspira a pro-nunciar palavras de conforto e

estímulo aos que estão desiludidos e de-samparados.

Amor, sentimento único, total, absolu-to, irrestrito, não exige nada em troca e nem impõe condições, amor incondicional.

E é justamente esse amor incondicional que permeia o livro O príncipe do Islã de autoria de J. W. Rochester, psicografi a de Arandi Gomes Teixeira (Editora Correio Fraterno).

As personagens tema: príncipe Nori-mar Al Jared e Fathima, sua amada, des-frutam de momentos de intensa felicida-de, envoltos no desejo de que seus sonhos se concretizem o mais rápido possível, vivem contando as horas e os minutos que faltam para o tão esperado dia do ca-samento de ambos.

O leitor é envolvido numa teia de fatos e acontecimentos e no desenrolar da trama

participa de uma reviravolta no enredo que culmina num fi nal simplesmente inespera-do e surpreendente.

De acordo com o autor, esta obra é um desdobramento de seu outro livro Vós sois deuses, em que podemos reconhecer na fi gura do príncipe Norimar Al Jared, o revolucio-nário Ben Azir e, em Fathima, a bela Sibila.

No exercício de sua trajetória evolutiva, essas personagens prosseguem percorrendo o caminho de expiações, créditos e débitos espirituais, tendo suas vidas prolongadas até que se cumpra a vontade do nosso Criador.

Apesar de literaturas independentes, seria interessante a leitura dos dois livros para maior compreensão e entendimento do processo de redenção das personagens.

Boa leitura!Sonia Kasse é articulista e professora aposentada do ensino fundamerntal

Amor incondicionalPor SONIA M. C. KASSE

LEITURA

Anossa existência.

sas formas: amor de mãe, de pai, de fi lho, de namorado, amor ao próxi-mo, amor a Deus.

de alegria e felicidade quando nos-sos entes queridos estão bem.

cesso de outrem e nos permite cho-rar junto à tristeza do amigo.

ser solidários perante as vítimas de