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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLÍTICA E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
GENUIR VERONESE
PRODUÇÃO DIDÁTICA PEDAGÓGICA: UNIDADE DIDÁTICA
OS VALORES EM ÉTICA
TOLEDO/PR
2010
GENUIR VERONESE
PRODUÇÃO DIDÁTICA PEDAGÓGICA: UNIDADE DIDÁTICA
OS VALORES EM ÉTICA
Trabalho apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional na área de Filosofia sob a orientação da Prof. Pedro Gambim da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE/Campus de Toledo, a ser desenvolvido em 2009-2010, no Colégio Padre José de Anchieta em São Jorge d’Oeste – Pr.
TOLEDO/PR
2010
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DADOS DE IDENTIFICAÇÃO Professor PDE: Genuir Veronese Área PDE: Filosofia NRE: Dois Vizinhos Professor Orientador IES: Pedro Gambim IES vinculada: UNIOESTE/Campus de Toledo Escola de Implementação: Colégio Estadual Padre José de Anchieta de São Jorge d’Oeste – Pr. Público objeto da implementação: 3ª Série PRODUÇÃO DIDÁTICA PEDAGÓGICA: UNIDADE DIDÁTICA
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1 OBJETO DE ESTUDO
A relação existente entre o sujeito e a norma é considerada como um
problema que gera muitas discussões, devido à razão de tal situação
caracterizar-se como tensa e conflituosa. Por isso, dentro deste contexto, os
valores são muito importantes, e o comportamento ético é tido como
imperativo.
A ética é o estudo dos fundamentos da ação humana que possibilita a
análise crítica para atribuição de valores.
Os desafios enfrentados na vida contemporânea são inúmeros: como a
contradição entre o projeto de construção de sociedades livres e democráticas
e o crescimento dos fundamentalismos religiosos e do pragmatismo político,
que busca reordenar os espaços públicos e privados.
No presente trabalho apresentamos material que é parte integrante das
atividades desenvolvidas no programa de desenvolvimento educacional,
PDE/2009, e é dirigido aos alunos do 3° ano do ensi no médio.
A pretensão será de início propor aos alunos conceituar ética, com o
objetivo de constatar os conhecimentos que eles possuem sobre o tema
abordado. Em segundo lugar, irá se proceder a leitura e análise de textos
acerca do objeto de estudo, os quais são parte integrantes desta unidade, e
que se desenvolverá em trabalhos em grupo e individuais. Em seguida,
pretende-se a apresentação e debates em sala de aula, com o intuito de
gerarem maior interação com o conteúdo do tema proposto e sua respectiva
análise mais aprofundada.
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2 CONTEÚDOS
2.1 Conteúdo estruturante
• Ética
2.2 Conteúdos básicos
• Ética e moral
Razão desejo e vontade
Liberdade: autonomia do sujeito e as necessidades das normas.
• Ética e violência
Pluralidade da ética
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3 OBJETIVOS
a. Desenvolver o posicionamento crítico, responsável e construtivo
diante das diferentes situações sociais;
b. Levar o aluno a interpretar acontecimentos com a evolução e
mudança social;
c. Levar o aluno a perceber-se integrante, dependente e agente
transformador do ambiente;
d. Levar os alunos a discutir as condições de compreensão da
filosofia e da ética na prática da contemporaneidade.
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4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Pensar criticamente a relação humana, como forma de contribuir com a
sociedade em que estamos inseridos, faz com que a filosofia se utilize de um
de seus fundamentos essenciais: a ética.
O presente trabalho é parte integrante do projeto que tem por objeto a
conscientização da ética filosófica no ensino médio. Esta unidade pedagógica
trata de como os valores em ética podem contribuir para que se atinja o ser
ético.
Embasando as idéias acerca da questão ética e moral, principalmente
em relação aos comportamentos dos indivíduos, seguem-se posicionamentos,
propostas de estudo em torno do tema, como forma de corroborar e reproduzir
maior reflexão e conclusão.
Foucault (2004) considera que o sujeito ético é que alinha “ação, razão e
discurso” em uma mesma concepção. Ser sujeito de si é o ser “assujeitado”, o
qual se coloca nos relacionamentos sociais, de forma independente, porém
submissa. É por essa condição que o autor considera a formação do “poder”,
conceito em que não é um dominante e o dominado, mas uma constante troca
de posições e condições.
A ética em Foucault se entende como o conjunto de relações e ações
com que o sujeito se constitui. É com esse entendimento que o sujeito se
coloca nas relações sociais, de posse de seus valores éticos e sujeitado aos
valores morais.
Essa concepção é originada em Sócrates (in Foucault, 1990) e
Aristóteles (in Foucault, 1990). O ser ético é a conformação entre as virtudes
natas e/ou inatas e as influências do meio em que o sujeito está inserido.
Ser ético é então o resultado de vários hábitos e, como constantemente
somos influenciados pelos meios que integram a sociedade, somos por estes
influenciados. Nessa influência surgem e se destacam as questões ideológicas,
econômicas, religiosas e outras, que facilmente conduzem os ideais da
sociedade em todas as suas camadas e classes.
Diante disso, os mais diferentes conceitos morais são apresentados,
porém a realidade é que a valorização da “supermoral” representa o
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esquecimento da origem do conceito de “cuidado de si” (Foucault, 1999), no
qual a base deve ser ética e em si. Essa condição é considerada na teoria
crítica o alicerce social, sem a qual não se consegue desenvolver uma postura
ética dos sujeitos, a qual seja condizente com o que se espera num contexto
questionador e reflexivo.
Friederich Nietzsche foi o pensador que no final do século XIX e início
do século XX, buscou os conceitos gregos e os considerou a partir de uma
condição de “perspectiva”. Toda sua obra reúne conceitos diversos, os quais
ainda na atualidade são revistos e discutidos, como forma de embasar a
formação ética do sujeito.
Em Nietzsche (2001), podem-se verificar a delineação de seus principais
pensamentos, como a desalienação do “certo e errado”, a “moral do fraco e do
forte” e ainda, a “transvaloração dos valores”. Esse último é que serviu aos
críticos e pouco conhecedores dos escrito nitzschinianos para ligá-lo ao
nazismo, pois foi a base da teoria do “além homem” (Ver Nietzsche “Assim
falou Zaratustra” & “Ecce Homo”).
O além-homem não é a concepção de purificação da raça, do
surgimento de um novo ser. É sim a compreensão de que os valores,
concebidos a partir do homem em si, da superação dos valores cristãos e da
vontade de potência (vontade de poder e superação), podem originar um novo
“ser”. “Ser” na condição existir relacional e não fisiológica apenas. É um
processo contínuo de superação das condições existentes, sempre na
condição relacional, a partir de uma base ética em si.
Ser ético e agir moralmente, conforme os princípios determinantes,
constitui-se na somatória, no resultado que o sujeito irá criar, estabelecer,
receber e construir. Portanto, a educação moral dos indivíduos também resulta
de suas vontades.
As situações supracitadas constituem-se na preocupação central e que
move o trabalho que se apresenta.
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1° OFICINA
CONCEITO DE ÉTICA
O aluno deve escrever algo sobre o que ele entende por ética,
expressando sua compreensão.
Em seguida cada aluno deve expor seu entendimento de forma oral.
O professor com auxílio da TV pendrive irá trabalhar conceitos sobre
ética conforme o projeto em estudo.
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2° OFICINA
ÉTICA E FILOSOFIA
Prof. Genuir Veronese
A ética, como valor universal, exprime-se de forma intersubjetiva e
social, sempre em relação às condições históricas em que o sujeito está
inserido. Nessa perspectiva, o sujeito ético tem a capacidade de definir o que é
bom e mau, a virtude e os defeitos, as conseqüências morais de suas ações
em sociedade.
Sendo assim, nem todos os meios aplicados para obtenção de
determinados fins são éticos, pois os fins são relativos aos sujeitos envolvidos,
portanto são formados em condições intersubjetivas e sociais, resultado de
uma educação moral. Esses meios e fins éticos necessitam estar em
consonância com a natureza do sujeito e os valores morais sociais. Tem-se
uma situação em que se torna necessário harmonizar diversos elementos.
O que se entende por filosofia moral, ou a discussão, reflexão e
interpretação dos diferentes valores morais que podem constituir uma
sociedade, bem como os diferentes grupos que a formam, é o que caracteriza
a existência da essência ética nesse mesmo grupo.
Após leitura e discussão do texto com o auxílio do professor, responda:
1- Quais são os valores morais que você considera indispensáveis na
relação em sociedade em que vive? Justifique.
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3° OFICINA
UMA REFLEXÃO SOBRE A REALIDADE SOCIAL
Prof. Genuir Veronese
A sociedade em que vivemos possui muitos traços peculiares, como é a
característica central de cada período em que se pretenda proceder a análise
do contexto social. Cada fase histórica fornece uma análise filosófica
diferenciada, pois irão se considerar características, como política, cultura, e
costumes, que relativizam os comportamentos dos sujeitos inseridos no meio
social, como por exemplo, o período Medieval, em que os segmentos da
sociedade, como política, justiça, cultura, baseavam-se na idéia teocêntrica
como cerne, considerando Deus como explicação, motivação, justificação para
todos os atos, todas as formas de comportamento.
Atualmente se valoriza mais o ter do que o ser. Vive-se o tempo do
consumismo, em que o mercado escraviza o sujeito, privando-o muitas vezes
de sua liberdade intelectual, pois ele é condicionado às tendências
mercadológicas que refletem comportamentos impostos nas mais diferentes
esferas sociais. Esse comportamento do homem depõe contra os princípios
morais-éticos que devem orientar as relações humanas.
É notório que a cultura de cada sociedade é a responsável por instituir a
moral, a qual consiste nos valores que distinguem o bem do mal, e também a
ética, que sustenta uma determinada moral, orientando-se pelo desejo de unir
o saber e o fazer.
Já na antiguidade grega Aristóteles traçava a moral buscando que o
sujeito estivesse ligado a idéia de um homem ideal, como a moral cristã,
baseada no amor ao próximo. O filósofo entendia que cada pessoa possui
virtudes que se adéquam ao modelo ou ideal de vida que lhe é apresentado. E
assim, ligava o conceito de felicidade ao da virtude, como interdependentes,
sendo este maior aquele necessariamente o será também.
Cotidianamente somos postos a prova frente a situações que muitas
vezes até parecem, e passam a ser, corriqueiras, devido ao contexto social em
que nos inserimos e como se deu seu desenvolvimento, nas quais pequenas
atitudes morais acabam passando por despercebidas numa realidade em que
tudo é permitido.
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Constantemente vivenciamos, certas vezes acompanhamos pelos meios
de comunicação, ou presenciamos acontecimentos que fazem com que uma
das características principais da filosofia se apresente: a função do
questionamento, da reflexão. Somos levados a tentar entender ações que
ninguém gostaria de testemunhar. Então nos questionamos: o que fazer? O
que é certo? O que é errado?
Imaginemos a seguinte hipótese:
Um indivíduo, trabalhador, que segue os padrões ao menos pregados
como éticos em seu meio social, presencia uma situação violenta de um
assalto, em que acaba por ser vitimada uma pessoa.
Ocorrendo que os delinqüentes evadiram-se do local, e por se tratar de
um local público, a população de curiosos permanece no local, inclusive aquele
que por acaso presenciou a cena na íntegra.
Ao ser abordado pelos policiais, tal indivíduo assumiria que postura: eis
o impasse:
- Contar tudo o que viu aos policiais, inclusive traços dos delinqüentes
que permitisse um retrato, colaborando assim para o bem e a proteção da
sociedade em que vive, ou então
- Esquivar-se, amendrotado, crendo que os delinqüentes possam ter
marcado sua visionomia e sendo encontrados pela polícia acreditem ser ele o
responsável, temendo uma vingança futura maléfica a sua vida.
Qual atitude a ser tomada em tal situação?
Mediante os entendimentos expostos, propor uma reflexão, por meio do
desenvolvimento de atividade em grupo.
Gerar o debate em torno da questão dos valores morais e éticos da
sociedade atual, bem como o desejo e a vontade.
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4° OFICINA
O MITO DA CAVERNA
Ilustração da Alegoria da Caverna
O mito da caverna, também chamada de Alegoria da caverna, é uma
parábola escrita pelo filósofo Platão, e encontra-se na obra intitulada A
República (livro VII). Trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar
da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade.
Alguns ainda chamam de Os prisioneiros da caverna ou menos comumente de
A parábola da caverna.
Imaginemos um muro bem alto separando o mundo externo e uma caverna. Na
caverna existe uma fresta por onde passa um feixe de luz exterior. No interior
da caverna permanecem seres humanos, que nasceram e cresceram ali.
Ficam de costas para a entrada, acorrentados, sem poder locomover-se,
forçados a olhar somente a parede do fundo da caverna, onde são projetadas
sombras de outros homens que, além do muro, mantêm acesa uma fogueira.
Os prisioneiros julgam que essas sombras sejam a realidade.
Um dos prisioneiros decide abandonar essa condição e fabrica um instrumento
com o qual quebra os grilhões. Aos poucos vai se movendo e avança na
direção do muro e o escala, com dificuldade enfrenta os obstáculos que
encontra e sai da caverna, descobrindo não apenas que as sombras eram
feitas por homens como eles, e mais além todo o mundo e a natureza.
O Mito da Caverna
Trata-se de um diálogo metafórico onde as falas na primeira pessoa são de
Sócrates, e seus interlocutores, Glauco e Adimato, são os irmãos mais novos
de Platão. No diálogo, é dada ênfase ao processo de conhecimento, mostrando
a visão de mundo do ignorante, que vive de senso comum, e do filósofo, na sua
eterna busca da verdade.
Sócrates – Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza
relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada
subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses
homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoços acorrentados, de
modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as
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correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira
acesa numa colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros
passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está
construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores
de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas.
Glauco – Estou vendo.
Sócrates – Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que
transportam objetos de toda espécie, que os transpõem: estatuetas de homens
e animais, de pedra, madeira e toda espécie de matéria; naturalmente, entre
esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio.
Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.
Sócrates - Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal
condição, eles tenham alguma vez visto, de si mesmos e de seus
companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo fogo na parede da
caverna que lhes fica defronte?
Glauco - Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?
Sócrates - E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?
Glauco - Sem dúvida.
Sócrates - Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas
que tomariam por objetos reais as sombras que veriam?
Glauco - É bem possível.
Sócrates - E se a parede do fundo da prisão provocasse eco sempre que um
dos transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante
deles?
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Glauco - Sim, por Zeus!
Sócrates - Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às
sombras dos objetos fabricados?
Glauco - Assim terá de ser.
Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem
libertados das suas cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um
desses prisioneiros, que seja ele obrigado a endireitar-se imediatamente, a
voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer todos estes
movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos
de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier
dizer que não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da
realidade e voltado para objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim,
mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de
perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as
sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que
lhe mostram agora?
Glauco - Muito mais verdadeiras.
Sócrates - E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados?
Não desviará ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará
que estas são realmente mais distintas do que as que se lhe mostram?
Glauco - Com toda a certeza.
Sócrates - E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a
encosta rude e escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a
luz do Sol, não sofrerá vivamente e não se queixará de tais violências? E,
quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados pelo seu brilho,
distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?
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Glauco - Não o conseguirá, pelo menos de início.
Sócrates - Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da
região superior. Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em
seguida, as imagens dos homens e dos outros objetos que se refletem nas
águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, enfrentando a
claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os
corpos celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e sua luz.
Glauco - Sem dúvida.
Sócrates - Por fim, suponho eu, será o sol, e não as suas imagens refletidas
nas águas ou em qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro
lugar, que poderá ver e contemplar tal qual é.
Glauco - Necessariamente.
Sócrates - Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz
as estações e os anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa
maneira, é a causa de tudo o que ele via com os seus companheiros, na
caverna.
Glauco - É evidente que chegará a essa conclusão.
Sócrates - Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se
professa e daqueles que foram seus companheiros de cativeiro, não achas que
se alegrará com a mudança e lamentará os que lá ficaram?
Glauco - Sim, com certeza, Sócrates.
Sócrates - E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem
recompensas para aquele que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da
passagem das sombras, que melhor se recordasse das que costumavam
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chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o
mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles
que, entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói
de Homero, não preferirá mil vezes ser um simples lavrador, e sofrer tudo no
mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?
Glauco - Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.
Sócrates - Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no
seu antigo lugar: Não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar
bruscamente da luz do Sol?
Glauco - Por certo que sim.
Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que
não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda
sua vista confusa e antes que seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-
se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros se riam
à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo
que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir
para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?
Glauco - Sem nenhuma dúvida.
Sócrates - Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta
imagem ao que dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida
da prisão na caverna, e a luz do fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto
à subida à região superior e à contemplação dos seus objetos, se a
considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te
enganarás quanto à minha idéia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só
Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no
mundo inteligível, a idéia do bem é a última a ser apreendida, e com
dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de
tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela
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engendrou a luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a
verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na
vida particular e na vida pública.
Glauco - Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.
(Platão, A República, v. II, p. 105 a 109)
Após a leitura do texto, primeiramente a proposta é responder as
questões abaixo, refletindo sobre o Mito da Caverna de Platão, e ver como os
ensinamentos desse filósofo podem nos ajudar muito em nossa vida cotidiana,
sobretudo no que se refere à libertação da caverna, ou seja, da passagem do
senso comum para o senso crítico.
A seguir propor-se que seja desenvolvida pelos alunos uma encenação
teatral em sala de aula, com devido preparo, para ilustrar as idéias centrais de
Platão nesta parábola, que ainda se mostra atual, e pode ser muito bem
aplicada na explicação dos questionamentos em torno da sociedade. A
temática do Mito da Caverna deve ser trazida para os dias atuais, sendo
explorada desta forma a peça teatral.
Seguem as questões:
1) Para você, o que a caverna simboliza? Nos dias de hoje o que
poderíamos chamar de caverna?
2) Na sua opinião, o que a luz do sol simboliza? Hoje o que poderíamos
chamar de luz do sol?
3) As informações que recebemos pelos meios de comunicação são
plenamente confiáveis? Será que elas não podem nos deixar mais
alienados?
4) De que forma nós podemos nos libertar da nossa caverna da
alienação?
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5) O que você faria se fosse o prisioneiro da caverna que conseguiu se
libertar? E o que faria se fosse o prisioneiro e não conseguiu se libertar?
5° OFICINA
LOUCURA OU TRISTE REALIDADE??!!
Silvia Mara Veronese1
Todos os homens são livres e iguais, enquanto vendedores e
compradores de mercadorias.
Conseqüentemente, aqueles que não têm mercadorias para vender (que
outrora seriam escravos ou servos e que agora são os proletários, a quase
totalidade da população) são forçados a escolher: a morte ou a venda do que
ainda lhes pertence, os braços, as mãos, os pés, o sentimento, o raciocínio, os
gestos...sua essência humana, sua atividade vital, sua existência criativa, sua
força-de-trabalho em troca de um salário.
Desse modo, o ser humano é constrangido a aceitar a mais desigual das
trocas: a da vida pela sobrevivência, sendo forçado pela necessidade a fazer
de suas aptidões um objeto de consumo e vendê-las no mercado de trabalho.
Tendo conseguido vender sua força-de-trabalho, a realização do
proletário se torna sua desrealização, a afirmação do proletário se torna a
negação de si como homem, pois o trabalhador não age como ser humano,
mas como força-de-trabalho, como mercadoria, subordinado à vontade do
capitalista, em troca de um salário.
O capital reduz toda atividade humana a trabalho e toda realização do
ser humano em mercadoria. Tudo que os trabalhadores fazem existir por meio
de suas atividades (alimentos, ruas, cadeiras, poemas, meios de produção,
computadores, casas...) é radicalmente separado deles e se torna propriedade
privada do que ou de quem comprou sua força-de-trabalho.
Com isso, a atividade dos homens se coagula numa esfera separada,
que se volta contra os próprios homens que a produziram, sua alienação é
total.
Nessas condições, quanto mais os homens transformam a realidade
(todos os aspectos do mundo), tanto mais essa realidade se torna estranha e
1 Mestre em Educação, profissional da aviação.
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hostil para eles, tanto mais eles se sentem estranhos em seus próprios atos e
hostis para si mesmos, enquanto reproduzem, ampliadamente, sua própria
condição de vendedores da mercadoria “força-de-trabalho”, desvalorizando-se
ao produzir mais-valia.
A recorrente crise econômica que impregna a "globalização" demonstra
que o atual desenvolvimento das forças produtivas não mais permite que o
valor, em escala mundial, seja produzido e mensurado pelo trabalho vivo, que,
com a aplicação da robótica e da micro-eletrônica, tende a ser anulado no
processo produtivo.
Portanto, o dinheiro começa a perder seu fundamento, fica "sem pé nem
cabeça" e a crise se agrava ininterruptamente. Doravante, a sobrevivência do
Capital é sua autofagia, sua autodestruição - ele já não pode dar um passo
sem tropeçar nas próprias pernas. Desse modo, a luta pela abolição
revolucionária do trabalho, hoje uma necessidade óbvia, não pode mais ser
acusada de utópica, uma vez que o capitalismo mal sobrevive à lembrança
espectral dos "tempos prósperos".
No atual estado de coisas, toda reforma é simples maquiagem da crise
do Capital. É o próprio capitalismo que torna sua condição de possibilidade, o
trabalho assalariado, impossível.
"O sistema capitalista se ocupa da produção de artigos para a venda,
isto é, de mercadorias. O valor de uma mercadoria é determinado pelo tempo
de trabalho socialmente encerrado na sua produção. O trabalhador não possui
os meios de produção (terras, ferramentas, fábricas, etc.), que pertencem ao
capitalista. O valor de sua força de trabalho, como o de qualquer mercadoria, é
o total necessário a sua reprodução - no caso, a soma necessária para mantê-
lo vivo. Os salários que lhe são pagos, portanto, serão iguais apenas ao
necessário a sua manutenção.
Mas, esse total que recebe, o trabalhador pode produzir em parte de um
dia de trabalho. Isso significa que apenas parte do dia de trabalho o trabalhador
estará trabalhando para si. O resto do dia, ele está trabalhando para o patrão.
A diferença entre o que o trabalhador recebe de salário e o valor da mercadoria
que produz é a mais-valia.
A mais-valia fica com o empregador - o dono dos meios de produção. É
a fonte do lucro, dos juros, das rendas - a renda das classes que são
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proprietárias. A mais-valia é também a medida da exploração do trabalhador no
sistema capitalista".
Portanto, segundo Marx, a exploração do trabalhador não decorre do
fato de o patrão ser bom ou mau, e sim da lógica do sistema: para o
empresário vencer a concorrência entre os demais produtores e obter lucros
para novos investimentos, ele utiliza-se da mais-valia, que constitui a
verdadeira essência do capitalismo. Sem ela, este não existe. Mas, a
exploração do trabalho acabaria por levar, por efeito da tendência decrescente
da taxa de lucro, ao colapso do sistema capitalista.
Após leitura e debate em sala responda as questões:
1-Como você analisa, sob o ponto de vista ético, que tudo que os
trabalhadores fazem existir é radicalmente separados deles?
2- Explique que toda a reforma é simples maquiagem da crise do
capital?
3- Conforme o texto: quanto mais os homens transformam a realidade,
tanto mais essa realidade se torna estranha e hostil a eles: esta
afirmação faz parte do meio que você vive? Como?
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6° OFICINA
O DILEMA ÉTICO DO JORNALISTA: SER OBJETIVO OU SOBRE VIVER
Prof. Genuir Veronese
Acima de tudo, o jornalista deve ser um profissional comprometido com
a verdade e a ética, sempre, já que ele é o responsável em informar os
cidadãos, servindo a população e colaborando para a construção de uma
sociedade cidadã. Desta forma, precisa ser sempre o mais objetivo possível.
Será esta a realidade?
Os cidadãos depositam total confiança no profissional jornalista, como
se este fizesse parte de sua família, como se fosse uma testemunha ocular dos
acontecimentos. Ele se torna então um representante do povo no local do
acontecimento que será descrito. Isto é o que a maioria das pessoas acredita e
espera encontrar nos produtos das empresas de comunicação: a verdade
absoluta. O público destes produtos acredita estar consumindo algo isento, ou
seja, nem percebe que por trás de uma simples notícia podem existir muitos
outros interesses. A sociedade procura na noticia uma informação confiável
esperando que seus interlocutores, os jornalistas, sejam imparciais.
Mas como em todo ramo comercial, e o jornalismo precisa ser visto
assim também, sempre existem interesses infiltrados na maneira como se
constroem os materiais veiculados na mídia.
Como exemplo do quadro deplorável vê-se o meio de comunicação
industrial, a televisão, que constrói uma cultura consumista e deixa de lado a
identidade cultural, a alma da nação. O grupo dominante na área televisiva não
permite que a concorrência ameace seus objetivos, de sempre tirar o maior
proveito dos telespectadores, impedindo a crítica popular e impondo seus
métodos de estar sempre ganhando, afirmando levar ao ar o que a população
quer assistir. São os resultados dos monopólios que dominam e são protegidos
pela lei, autoritária, bloqueando o crescimento do conhecimento.
Um grande indício desses acontecimentos, e que agrava o quadro, é
que de acordo com a legislação do país não existe censura prévia à imprensa,
porém a autocensura pode ser vista como uma forma mascarada de se
censurar, na qual o profissional da área de comunicação fica atrelado, muitas
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vezes, a interesses maiores que fazem com que a censura seja exercida sobre
sua consciência.
São situações que existem e se justificam pela grande influência que a
mídia exerce sobre a sociedade. Tanto ela quanto os próprios jornalistas
possuem o diferencial de influenciar sobre costumes e tradições sociais, fato
que se torna preocupante quando este poder é erroneamente usado.
Porém toda essa realidade criada na maioria das vezes é construída
pelo meio e não pelo profissional jornalista, sendo que este então precisa
apenas se adequar à linha editorial em que está inserido. Daí fica difícil ser
totalmente objetivo no sentido mais abrangente, além da forma textual.
Por formação o jornalista precisa possuir clareza de idéias, dirigir-se ao
público de forma direta e com coerência. Mas estes atributos, que caracterizam
um texto objetivo, não podem ser considerados os únicos componentes do
material jornalístico.
O jornalista também precisa estar atento a todos os ângulos do fato, ou
melhor, a interpretação é um ponto forte a ser explorado se for trabalhado
corretamente, mas que deixa a desejar atualmente, principalmente no Brasil.
Daí parte a necessidade de se trabalhar o senso crítico como qualidade desde
cedo com jornalistas, e com todos os indivíduos.
Então se verifica que é muito difícil se delimitar corretamente a
objetividade e a subjetividade jornalística, trata-se de um dilema ético.
Ser totalmente objetivo é impossível e impraticável, seja pela adequação
ao padrão editorial do veículo ou pela necessidade de se produzir um trabalho
cada vez mais elaborado, por meio da interpretação dos fatos. Daí a agravante
desta situação: pode-se perder a imparcialidade. Porém torna-se complicado
de se administrar já que cada pessoa possui sua linha de pensamento. Neste
sentido muitas vezes o jornalista precisa abrir mão de determinada filosofia ou
estilo em nome de sua profissão ou de seu compromisso com o publico que
nele confia.
O maior desafio é o de ser parcial. Trata-se até de uma herança que os
jornalistas, principalmente os brasileiros, precisam saber administrar para não
afetar totalmente seu caráter. Mas talvez os jornalistas não possuam poderes
suficientes para se oporem a certas situações e então esse fenômeno impera
ainda absoluto podendo ate ser comparado à época ditatorial, e talvez esse
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quadro só tenda a se agravar, de que os detém o poder comandam, na maioria
das vezes, atos como estes dos jornalistas.
Mas se fazer parte é ruim, ficar de fora pode ser muito pior. Trata-se de
uma questão de sobrevivência. Acima de qualquer outra coisa o jornalista é um
profissional que precisa zelar pelo seu lugar, hoje tão disputado na maioria das
vezes.
É obvio que, até por definição, ser ético é estar em defesa da vida, o
difícil é ser moralmente ético, e aí talvez seja impossível se achar o caminho da
total ética e da objetividade que dela faz parte.
Os dois lados da moeda foram expostos. Sabe-se que o necessário é
informar e alertar o público, interpretar os fatos com publicações imparciais,
favorecer a compreensão de comportamentos e crenças, construir valores e
oferecer, quando necessário, uma distração sadia. Para estas finalidades deve-
se prestar o jornalista. O complicado é encontrar o melhor caminho para
desenvolvê-las e encontrar o equilíbrio entre a objetividade e a subjetividade.
Mas até que ponto é condenável essa postura dos jornalistas frente a
alguns casos e o que pode ser feito para modificar esse quadro tão presente e
questionado no jornalismo nacional?
É constante nos acontecimentos de relevância, que marcam a vida da
sociedade, se questionar o papel decisivo que os meios de comunicação
exerceram para que tal situação fosse criada, ou até muitas vezes mascarada.
Não existem dúvidas de que tais meios exercem papel fundamental na
sociedade. Mas tal papel deveria sempre contribuir com o bem-estar social.
Existem muitos exemplos acerca da espetacularização que pode ser
gerada em torno de um simples tema, que poderia tomar outros rumos, ter
outras proporções se não fosse a interferência midiática.
Como um dos princípios constitucionais tem-se a dignidade da pessoa
humana. Quando um meio de comunicação, ou mesmo um jornalista, se vê
frente ao dilema de noticiar um fato que pode repercutir contra determinada
pessoa, ou instituição, deve-se primar pelo sensacionalismo ou pela
preservação dos direitos fundamentais dos indivíduos? Como por exemplo, um
seqüestro, em que a transmissão do fato prejudique a negociação para a
libertação, seria mais importante, acima de tudo, trazer a situação a público?
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Analisando o contexto exposto, após leitura do texto, desenvolver a
seguinte atividade com os alunos:
Coloque-se no lugar de um jornalista, frente a um dilema ético de
publicação: um fato que o destacará profissionalmente, mas que pode difamar
muito as pessoas envolvidas, condenado-as para sempre.
1. O que você faria nesta situação? Publicaria visando interesses
pessoais ou prestaria seu papel ético social. O que deve
prevalecer, questões pessoais ou sociais, sua colaboração no
desenvolvimento da sociedade?
2. Como você trabalharia codianiamente com a questão: ser ético
acima de qualquer preceito.
3. Você acredita ser possível um jornalismo totalmente isento de
valores subjetivos?
4. Você acredita que é possível ser totalmente ético em qualquer
profissão?
Utilizando-se de um exemplo atual, de um fato que tenha tido grande
repercussão em função do papel desempenhado pelos meios de
comunicação, embase suas respostas, anexando ao trabalho uma
reportagem publicada em qualquer meio que exemplifique uma
situação como a abordada.
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7° OFICINA
O QUE É O SER ÉTICO – FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Prof. Genuir Veronese
Para se entender a questão ética nos mais diversos campos da
sociedade se faz necessária uma reflexão relativa aos posicionamentos
filosóficos que embasaram a matéria ao longo da história.
O entendimento acerca da questão que envolve a ética, e como esta se
expressa de acordo com os valores, pode ser refletido em posicionamentos
como os que se seguem.
Foucault (2004) considera que o sujeito ético é que alinha “ação, razão e
discurso” em uma mesma concepção. Ser sujeito de si é o ser “assujeitado”, o
qual se coloca nos relacionamentos sociais, de forma independente, porém
submissa. É por essa condição que o autor considera a formação do “poder”,
conceito em que não é um dominante e o dominado, mas uma constante troca
de posições e condições.
A ética em Foucault se entende como o conjunto de relações e ações
com que o sujeito se constitui. É com esse entendimento que o sujeito se
coloca nas relações sociais, de posse de seus valores éticos e sujeitado aos
valores morais.
Essa concepção é originada em Sócrates (in Foucault, 1990) e
Aristóteles (in Foucault, 1990). O ser ético é a conformação entre as virtudes
natas e/ou inatas e as influências do meio em que o sujeito está inserido.
Ser ético é então o resultado de vários hábitos e, como constantemente
somos influenciados pelos meios que integram a sociedade, somos por estes
influenciados. Nessa influência surgem e se destacam as questões ideológicas,
econômicas, religiosas e outras, que facilmente conduzem os ideais da
sociedade em todas as suas camadas e classes.
Diante disso, os mais diferentes conceitos morais são apresentados,
porém a realidade é que a valorização da “supermoral” representa o
esquecimento da origem do conceito de “cuidado de si” (Foucault, 1999) onde
a base deve ser ética e em si. Essa condição é considerada na teoria crítica o
alicerce social, sem a qual não se consegue desenvolver uma postura ética dos
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sujeitos, a qual seja condizente com o que se espera num contexto
questionador e reflexivo.
Friederich Nietzsche foi o pensador que no final do século XIX e início
do século XX, buscou os conceitos gregos e os considerou a partir de uma
condição de “perspectiva”. Toda sua obra reúne conceitos diversos, os quais
ainda na atualidade são revistos e discutidos, como forma de embasar a
formação ética do sujeito.
Em Nietzsche (2001), podem-se verificar a delineação de seus principais
pensamentos, como a desalienação do “certo e errado”, a “moral do fraco e do
forte” e ainda, a “transvaloração dos valores”. Esse último é que serviu aos
críticos e pouco conhecedores dos escrito nitzschinianos para ligá-lo ao
nazismo, pois foi a base da teoria do “além homem” (Ver Nietzsche “Assim
falou Zaratustra” & “Ecce Homo”).
O além-homem não é a concepção de purificação da raça, do
surgimento de um novo ser. É sim a compreensão de que os valores,
concebidos a partir do homem em si, da superação dos valores cristãos e da
vontade de potência (vontade de poder e superação), podem originar um novo
“ser”. “Ser” na condição existir relacional e não fisiológica apenas. É um
processo contínuo de superação das condições existentes, sempre na
condição relacional, a partir de uma base ética em si.
Desenvolver a leitura em conjunto com a classe, levantando possíveis
dúvidas, e em seguida propor as seguintes questões:
1. Com a leitura atenta das idéias sintetizadas de cada autor,
explique como é entendido o ser ético em Foucault, Sócrates e
Nietzsche, comparando-os.
2. Dentro da perspectiva proposta por este estudo, de um maior
desenvolvimento de valores éticos nos alunos do ensino médio,
como podem ser aplicadas as idéias dos filósofos?
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REFERÊNCIAS
FOUCAULT, Michel. Ética, Política e Sexualidade – Col. Ditos e Escritos – Vol. V. Trad. MONTEIRO, Eliza. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade II: o uso dos prazeres. Trad. MONTEIRO, Maria Theresa da Costa. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
FOUCAULT, Michel. Tecnologias del yo y otros textos afines. Ediciones Paidós. Ibérica, S.A. Barcelona – Espanha, 1990.
NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal: prelúdio de uma filosofia do futuro. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. Editora Martin Claret, São Paulo, 1999. Trad. NASSETI, Pietro.
NIETZSCHE, Friedrich. ECCE HOMO. Como se chega a ser o que se é. Coleção: Textos Clássicos de Filosofia. Universidade da Beira Interior. Covilhã, 2008. Trad. MORÃO, Artur.