Escolas bem resolvidas

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As Escolas bem resolvidas Li hoje um texto de Isabel Leal, psicóloga, intitulado “As pessoas bem resolvidas”. Versa o referido texto sobre a capacidade das pessoas bem resolvidas superarem situações de vida difíceis, revertendo-as em experiências positivas. Não pude deixar de fazer de imediato uma analogia com a situação que se vive atualmente nas nossas escolas, fruto da política de agregação de escolas e da antevisão das suas implicações no quotidiano destas organizações. E pensei nas reações que tenho podido observar em algumas das escolas que vão ser, mais uma vez, agregadas contra a sua vontade. Temendo a perda da sua identidade, do clima e cultura escolar que construíram, das dinâmicas de liderança pedagógica que sustentam o foco nas aprendizagens dos alunos, a primeira reação é, por norma, de desânimo e frustração. Mas passado este primeiro impacto, tem havido escolas que se propõem, de facto, a fazer emergir deste contexto aparentemente adverso experiências positivas. Estas são, a meu ver, escolas bem resolvidas. Assim como Isabel Leal questiona o que distingue as pessoas bem resolvidas das que não o são, também eu questiono o que faz com que uma escola seja bem resolvida. A resposta não é muito diferente da avançada pela psicóloga. Adaptando o texto em causa para a realidade das escolas, é possível destacar as seguintes características das escolas bem resolvidas: i) As escolas bem resolvidas sabem que são elas as protagonistas da sua própria história e que, aconteça o que acontecer, é a elas (em última instância) que cabe “mudar a sorte”, “tomar conta de si”. ii) As escolas bem resolvidas não são, necessariamente, as que apresentam melhores resultados, as que estão no topo dos rankings ou as que têm melhores infraestruturas. Também não têm que ser as que não encontram grandes obstáculos ao desenvolvimento dos seus projetos e à consecução dos seus objetivos. Frequentemente são até as que têm que enfrentar situações adversas que parecem, à partida, condenar todo o trabalho que têm vindo a desenvolver em prol das aprendizagens dos alunos e de uma escola de qualidade para todos. iii) A diferença das escolas bem resolvidas em relação a outras é que as primeiras aprendem com as situações adversas e usam “os incidentes de percurso, não para se instalarem numa frustração azeda nem numa desculpa crónica para todas as coisas que correm mal, mas antes tentam dar a volta por cima.” Este é um trabalho perpétuo e quotidiano, só possível com uma “crença arreigada na possibilidade de transformação.” É preciso “acreditar que vale a pena tentar o que parece difícil” e “conseguir tirar gratificação do próprio caminho que se faz para lá chegar”. Acredito que as nossas escolas vão saber construir este caminho, vão provar ser escolas bem resolvidas, porque não vão baixar os braços perante a adversidade. Porque têm professores bem resolvidos. Porque têm um capital humano e relacional inestimáveis. Porque têm saber construído na prática. Porque têm vontade. Porque têm capacidade. Porque têm criatividade. Porque ousam querer mais. Porque não se resignam perante uma realidade imposta. Porque sabem que podem fazer diferente. Porque sabem que há sempre janelas de oportunidade na adversidade. 07-06-2012 Ilídia Vieira

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As Escolas bem resolvidas

Li hoje um texto de Isabel Leal, psicóloga, intitulado “As pessoas bem resolvidas”. Versa o referido

texto sobre a capacidade das pessoas bem resolvidas superarem situações de vida difíceis,

revertendo-as em experiências positivas. Não pude deixar de fazer de imediato uma analogia com a

situação que se vive atualmente nas nossas escolas, fruto da política de agregação de escolas e da

antevisão das suas implicações no quotidiano destas organizações. E pensei nas reações que tenho

podido observar em algumas das escolas que vão ser, mais uma vez, agregadas contra a sua

vontade. Temendo a perda da sua identidade, do clima e cultura escolar que construíram, das

dinâmicas de liderança pedagógica que sustentam o foco nas aprendizagens dos alunos, a primeira

reação é, por norma, de desânimo e frustração. Mas passado este primeiro impacto, tem havido

escolas que se propõem, de facto, a fazer emergir deste contexto aparentemente adverso

experiências positivas. Estas são, a meu ver, escolas bem resolvidas. Assim como Isabel Leal

questiona o que distingue as pessoas bem resolvidas das que não o são, também eu questiono o

que faz com que uma escola seja bem resolvida. A resposta não é muito diferente da avançada pela

psicóloga. Adaptando o texto em causa para a realidade das escolas, é possível destacar as

seguintes características das escolas bem resolvidas:

i) As escolas bem resolvidas sabem que são elas as protagonistas da sua própria história

e que, aconteça o que acontecer, é a elas (em última instância) que cabe “mudar a

sorte”, “tomar conta de si”.

ii) As escolas bem resolvidas não são, necessariamente, as que apresentam melhores

resultados, as que estão no topo dos rankings ou as que têm melhores infraestruturas.

Também não têm que ser as que não encontram grandes obstáculos ao

desenvolvimento dos seus projetos e à consecução dos seus objetivos.

Frequentemente são até as que têm que enfrentar situações adversas que parecem, à

partida, condenar todo o trabalho que têm vindo a desenvolver em prol das

aprendizagens dos alunos e de uma escola de qualidade para todos.

iii) A diferença das escolas bem resolvidas em relação a outras é que as primeiras

aprendem com as situações adversas e usam “os incidentes de percurso, não para se

instalarem numa frustração azeda nem numa desculpa crónica para todas as coisas

que correm mal, mas antes tentam dar a volta por cima.” Este é um trabalho perpétuo

e quotidiano, só possível com uma “crença arreigada na possibilidade de

transformação.” É preciso “acreditar que vale a pena tentar o que parece difícil” e

“conseguir tirar gratificação do próprio caminho que se faz para lá chegar”.

Acredito que as nossas escolas vão saber construir este caminho, vão provar ser escolas bem

resolvidas, porque não vão baixar os braços perante a adversidade. Porque têm professores bem

resolvidos. Porque têm um capital humano e relacional inestimáveis. Porque têm saber construído

na prática. Porque têm vontade. Porque têm capacidade. Porque têm criatividade. Porque ousam

querer mais. Porque não se resignam perante uma realidade imposta. Porque sabem que podem

fazer diferente. Porque sabem que há sempre janelas de oportunidade na adversidade.

07-06-2012

Ilídia Vieira