Jornal novo almourol ed395 Abril

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ABRIL 14 | N°395 | ANO XXXIII | PREçO 1,20 EUROS | MENSAL DIRECTOR LUIZ OOSTERBEEK Novo Almourol Werlen aponta o caminho Geógrafo Social suíço falou ao NA sobre os novos problemas ecológicos mundiais e da necessidade de uma nova abordagem para o Séc. XXI p04&05 Apesar da chuva, a Primavera já chegou, e com ela chegam as tradicionais celebrações, as festas concelhias, e acabam-se as desculpas para não sair de casa. Em Constância, entre os dias 19 e 21, realizam-se as Festas do Concelho e no dia 21 a Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem. Júlia Amorim, presidente da Câmara de Constância falou com o NA sobre as festas e sobre a vida no concelho. Em Sardoal celebra-se a Semana Santa com as celebrações religiosas a criar uma atmosfera única na vila. 25 de Abril O município de Vila Nova da Barquinha tem preparadas grandes celebrações em parceria com associações e comunidade escolar. p18e19 p10e22 p6 Somos Pobres? O mais recente inquérito às condições de vida dos portugueses realizado pelo INE revela novos e elevados dados acerca da pobreza em Portugal. São números que acompanham uma realidade cada vez mais frequente, a da pobreza nacional que desta feita sobra para quase dois milhões de portugueses. p08 A Páscoa celebra-se em Constância e Sardoal Os Clã estão de volta à estrada para apresentar o seu mais recente álbum, "Corrente" e para os Clã, estar de volta à estrada e aos palcos é sinónimo de felicidade. O concerto de Abrantes foi apenas o segundo da tournée e a banda brindou o público do cine-teatro São Pedro com toda a energia acumulada durante a ausência dos palcos. Entrevista a Manuela Azevedo, dos Clã

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Entrevista a Benno Werlen, geógrafo social Suíço e também a Júlia Amorim, presidente da Câmara de Constância. Na música, o NA aproveitou a visita de Manuela Azevedo , dos Clã, a Abrantes para pôr a conversa em dia.

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abril 14 | n°395 | ano XXXiii | Preço 1,20 euros | MensalDIRECTOR luiZ oosTerbeeK

Novo Almourol

Werlen aponta o caminho Geógrafo Social suíço falou ao NA sobre os novos problemas ecológicos mundiais e da necessidade de uma nova abordagem para o Séc. XXI p04&05

Apesar da chuva, a Primavera já chegou, e com ela chegam as tradicionais celebrações,

as festas concelhias, e acabam-se as desculpas para não sair de casa.

Em Constância, entre os dias 19 e 21, realizam-se as Festas do Concelho

e no dia 21 a Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem. Júlia Amorim,

presidente da Câmara de Constância falou com o NA sobre as festas e

sobre a vida no concelho. Em Sardoal celebra-se a Semana

Santa com as celebrações religiosas a criar uma

atmosfera única na vila.

25 de AbrilO município de Vila Nova da Barquinha tem preparadas grandes celebrações em parceria com associações e comunidade escolar.

p18e19p10e22 p6Somos Pobres?o mais recente inquérito às condições de vida dos portugueses realizado pelo ine revela novos e elevados dados acerca da pobreza em Portugal. são números que acompanham uma realidade cada vez mais frequente, a da pobreza nacional que desta feita sobra para quase dois milhões de portugueses.

p08

A Páscoa celebra-se em Constância e Sardoal

Os Clã estão de volta à estrada para apresentar o seu mais recente álbum, "Corrente" e para os Clã, estar de volta à estrada e aos palcos é sinónimo de felicidade. O concerto de Abrantes foi apenas o segundo da tournée e a banda brindou o público do cine-teatro São Pedro com toda a energia acumulada durante a ausência dos palcos.

Entrevista a Manuela Azevedo, dos Clã

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02 CURTAS & GROSSASNovoAlmourol

abril 2014

Concurso LiterárioA Biblioteca Alexandre O´Neill, em Constância, comemora o 20º aniversário, com o lançamento de um prémio literário. O objectivo é premiar trabalhos de poesia inéditos dos alunos do ensino básico e secundário do concelho, de residentes que frequentam outros estabelecimentos escolares e de todos os leitores da biblioteca, um concurso que terá um valor pecuniário de 1.000 euros, repartido pelos escalões. O concurso vai decorrer até 26 de Maio com os trabalhos a serem sujeitos a avaliação de um júri. As normas de participação estão disponíveis na biblioteca municipal, nas bibliotecas escolares da EB/S Luís de Camões e nos centros escolares do concelho.

Crianças de Santa Catarina do Fogo já têm novo autocarroO Município de Vila Nova da Barquinha (VNB), a Associação Viver entre Amigos e o Agrupamento 583 do Corpo Nacional de Escutas - VNB, angariaram fundos para a aquisição de um autocarro para transporte de crianças no Município de Santa Catarina do Fogo, Cabo Verde. A aquisição do transporte surge do acordo de geminação entre os dois concelhos estabelecido em 2007. De então para cá foram vários os projectos de ccoperação conjuntos na áreas cultural, da educação e da formação profissional. Aquando do anúncio do objectivo de aquisição de uma viatura escolar, o presidente do Município de Santa Catarina do Fogo, entendeu que era uma necessidade básica. Agora, os alunos daquele município não terão que percorrer vários quilómetros a pé, por caminhos impróprios, para chegar à escola. A viatura teve um custo de cerca de 10.000 euros.

Vilas de ExcelênciaA Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha (VNB) participou na Cerimónia Oficial de Abertura e primeira Sessão Técnica de Trabalho da Rede de Cidades e Vilas de Excelência, no dia 13 de março, na FIL, Lisboa. O Município esteve representado por Fernando Freire, Presidente da autarquia, e Marina Honório, Técnica Superior. A rede pretende criar um novo paradigma de valorização do território urbano, com foco nas acessibilidades, mobilidade alternativa, regeneração e vitalidade urbana e turismo, temas âncora do novo quadro comunitário. VNB integra este trabalho em rede no âmbito do Plano Estratégico de desenvolvimento Económico “Barquinha 2020”, rumo à Excelência 2020.

↑ rio acima

↓ rio abaixo

Mercado para o Séc. XXI

O antigo mercado do peixe de Torres novas e o edifício do Paço vão ser recuperados e transformados em espaços para actividades culturais e de lazer. Edificios históricos vazios proliferam pela região. Espera-se acerto na visão para o espaço.

País envelhecido e mais vazio Em 2060 passaremos de 10,5 milhões, em 2012, para 8,6 milhões, segundo o Instituto Nacional de Estatística. A somar esperam-se alterações da estrutura etária da população, resultando num “continuado e forte envelhecimento demográfico”. Os dados estão lançados. É este o caminho a seguir?

Anabela Grácio no CNE

A directora do Agrupamento de Escolas de Constância, foi uma das sete personalidades de reconhecido mérito pedagógico e científico, a nível nacional, cooptada para o Conselho Nacional de Educação e tomou posse dia 6 de Março. Trabalho reconhecido.

Fim do autocarro

A ligação entre as três unidades do Centro Hospitalar do Médio Tejo, Abrantes, Tomar e Torres Novas terminou. A administração alegou pouca procura no serviço. O custo global era de 8 mil euros e o CHMT pagava metade dos custos operacionais. A venda de bilhetes não chegou para a outra metade.

Centro Cultural Gil Vicente

Cinema, Música, Teatro, Dança, Colóquios e Sessões literárias, Reuniões. Ao todo foram 11.940 espectadores aqueles que em 2013 acorreram ao Centro Cultural de Sardoal. Os sardoalenses agradecem mas também toda a região.

Receita para o abismo?

Números oficiais do Instituto Nacional de Estatística revelam que a taxa de risco de pobreza em Portugal aumentou em 2012 para 18,7%, ou seja, afectava quase dois milhões de portugueses. É o nível mais elevado desde 2005 e que se completa com outros dados: o fosso entre os muito ricos e os muito pobres é cada vez maior.

No dia 1 de Abril foi aberta a passagem superior pedonal da estação ferroviária do Entroncamento permitindo que os passageiros deixem de atravessar as linhas, para o acesso às plataformas de embarque. E não é mentira.

500O valor em euros da inscrição no Challen-ger NERSANT que se realiza nos dias 23 e 24 de Maio nos concelhos de Abrantes, Constância e Vila Nova da Barquinha. A prova, sob o signo da competitividade empresa-rial e diversão, é composta por várias etapas e as em-presas/equipas participan-tes terão de ultrapassar vários desafios.

U.D. Atalaiensevence Com o estádio cheio e em ambiente de nervos, a UD Atalaiense bateu a equipa do FC Goleganense por 2-1 e venceu a série A da 2ª divisão distrital de futebol. Festa rija em Atalaia (VN Barquinha) em ano de comemoração dos 50 anos do clube. A 2ª fase, que conta com os três primeiros classificados de cada uma das duas séries, já começou e nos dois primeiros encontros a UDA somou uma derrota e um empate. Com ou sem 1º lugar, a UDA já venceu.

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novoalMourol.wordPress.coMNA PRIMEIRA PESSOA 03

CVAnna Luana33 anos,antropólogacantoraitaliana

1999concluí o curso com as votações máximas na escola e depois fui trabalhar com o maior escritor de letras da canção italiana, Mogol. Foi nessa altura que decidi que queria ser cantora de jazz!

2001Gravação do meu primeiro disco “anna luana Tallarita live at rome”, com o “lorenzo Tucci Jazz Trio”

2010Mestrado em Filosofia cognitiva - 110/110 cum laude (com Honra). Também fui numa tournée cantar jazz pela américa latina: “anna luana Tallarita 4et latinjazz”

2010comecei o Ph.d. em Portugal: “Quaternário: materiais e cultura” pela uTad –instituto Politécnico de Tomar. a Tese chama-se “o Poder do Poder”

20144ª gravação musical com os músicos jazz andré sousa Machado, desiderio lázaro ,João Firmino, João Hasselberg e outros convidados, um registo assinado com a sintoma records.

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O que mais gosta de fazer nos tempos livres?Gosto muito caminhar, ler e ver muitos filmes dos anos 70-80 porque gosto muito das ambiências, do design, das cores, dos vestidos utilizados, depois alguns regista (ndr. realizadores), em particular italianos e franceses, têm um simbolismo que serve de estímulo para a minha arte e para o jazz.

O que mais a irrita?Perceber a mediocridade e uma vontade para nada fazer e deixar-se conduzir pela deriva de uma corrente de indiferença geral.

Até onde gostava de ir?Viajei muito. De Itália, Milão, fui pela Argentina, Brasil, Cuba, pelas principais cidades da Europa. Vivi em Paris… mas gostaria de viver, num futuro próximo e durante algum tempo, no sul do Brasil, no Rio de Janeiro ou na cidade de Florianópolis.

Se eu pudesse...... ouviria em silêncio a voz do universo submerso pelas palavras do poder que um colectivo alienante, individualista e falso impõe à humanidade, surda às próprias necessidades naturais. Para poder abrir o coração da humanidade às emoções, atrofiada pelos sentimentos, entorpecida no interior de uma vida virtual. Mas no presente eu posso gritar o mundo através do meu canto e através da cor e da provocação artística conceptual. Rugir a diferença em silêncio.

(...) posso gritar o mundo através do meu canto e através da cor e da provocação artística conceptual. Rugir a diferença em silêncio.

“A comunicação social chama-a de “Sereia encantadora”, de voz talhada para o Jazz. A viver em Abrantes, esteve recentemente, dia 3 de Março, em Mação, nas X Jornadas de Arqueologia Iberoamericana com uma palestra, enquanto antropóloga, e à noite em concerto de Jazz.

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04 ENTREVISTANovoAlmourol

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TEXTO&FOTOS ricardo alveS

No seu trabalho e estudo mostra-se crítico com os modelos de sustentabilidade actuais. Porquê?O meu ponto de vista é o de que muitas das políticas sobre mudança global e sustentabilidade são demasiado dominadas pelas ciências naturais e elas próprias estão a observar esses mesmos problemas. Estão a procurar uma colaboração mais forte com as ciências sociais e as ciências culturais mas não está a funcionar muito bem. Eu acho que o problema reside no pensamento filosó-fico do séc. 19 e o modo como as humanidades e as ciências sociais foram instituídas.

Afastadas entre elas?No séc. 19 as ciências modernas foram instituídas e as pessoas começaram a falar sobre a “Geistig Wissens-chaft”, a ciência da mente. O ponto é que a separação das ciências, com as especializações, tornaram o cam-po tão fechado e separado que se tornou cada vez mais problemático integrar o volume de conhecimento que produziam. E hoje podemos ver que encaramos muitos problemas existenciais para a humanidade, no senti-do da ecologia, e as ciências naturais pensam saber as razões e as causas e o que deve ser feito. No entanto, não conseguem mobilizar as pessoas a adaptarem o seu modo de vida às suas descobertas.

As pessoas são, para si, actores muito importantes na geografia natural?Sim. Os actores, as pessoas que estão a transformar a natureza guiadas pelos seus objectivos pessoais. Co-mendo, bebendo, etc. Então, essa separação produziu, por um lado, os problemas que encaramos hoje, porque os cientistas naturais e os engenheiros não pensaram nas consequências dramáticas para toda gente, apenas quiseram alcançar os seus objectivos. E são muito bem--sucedidos nas suas áreas. Mas sobre as ciências sociais e as humanidades já não pensavam muito (risos). Não viam as ligações. As ciências sociais excluíam mais ou menos o corpo e o mundo material, se fossem mate-rialistas não iriam longe. Por isso temos fricções. O que acho é que temos de pensar em novas formas de inte-gração de coisa diferentes. Em primeiro lugar do socio-cultural e do natural, do global e do local e da ciência e da vida quotidiana. Temos estes três níveis que não

estão a trabalhar bem. Devemos ultrapassar a ideia do séc. 19, que levou a uma bioligização, uma naturaliza-ção da vida social. Tem de se ver as implicações disso, o racismo… apenas para ilustrar: se usar a biologia para fazer distinções sociais e culturais acaba no racismo, pois usa um critério biológico para definir diferenças. Assim, estão a dizer que o homem, branco, está no topo e que a mulher, negra, está no fundo. É assim que o mundo funciona. E em muitas das políticas ecológicas os cientistas naturais têm grande parte da influência. Ao mesmo tempo eles estão a concordar cada vez mais que as principais razões para estes problemas são acções humanas problemáticas. Mas ninguém dá o primeiro passo e diz: porque é a acção humana, temos de mudar a nossa visão. Não temos de ver o mundo do natural seguindo-se o social e cultural, mas sim do social para o cultural e depois natural. As ciências sociais têm de incluir o corpo, o mundo material e biológico na con-ceptualização teórica e os cientistas naturais têm de ver que não possuem os meios, os conceitos e os quadros teóricos para dizer com exactidão o que as pessoas de-vem fazer para eliminar os grandes problemas ecológi-cos e naturais.

Mas é difícil discutir estes temas, não só pela separação das ciências como também pela compreensão sobre os problemas naturais?As pessoas estão habituadas a falar sobre acidentes na-turais, catástrofes. Mas na verdade não existem desas-tres naturais. São modos socialmente problemáticos de adaptação à natureza. Por exemplo, se houver um terra-moto na Antártica. Ninguém vive lá. Então é apenas um acontecimento físico. Mas pode ter a mesma amplitude que um terramoto numa cidade e, consequentemente, dizem que é um acidente social por falta de adaptação.

No seu trabalho fala sobre três pilares importantes: crescimento económico, integridade ecológica e liberdade social, e também diz que há um problema na transmissão da mensagem.Voltando atrás. Se pegar em categorias naturais para dar interpretações do mundo social está a ser muito imperialista, pois pensa que só há um modo de pensamento. Mas se vier do outro lado, do social e do cultural, toma consciência que há longas tradições, culturalmente diferentes, para

lidar com a natureza. Em primeiro lugar, a oposição entre humanos e natureza está errada. Porque nós somos parte da natureza com o nosso corpo. E se olharmos assim vemos que ser parte da natureza e ter diferentes enquadramentos culturais leva ao facto de historicamente e ritualmente haver diferentes modos de lidar com a nossa interligação com a natureza, e devemos dar o próximo passo de novo e dizer que não há apenas um caminho para a sustentabilidade, há centenas, milhares de diferentes caminhos…

Então as visões sobre a integridade ecológica diferem de país para país, por exemplo, entre Portugal e Japão?Exacto. E por aí fora. Eu acho que é muito importan-te ver que se continuarmos a falar sobre os problemas ecológicos e de sustentabilidade da forma dominante de hoje também temos de perceber que há boas razões para que o Sul Global, o chamado terceiro mundo – odeio este termo - as pessoas que foram colonizadas no passado, tenham dificuldade em aceitar que a parte norte do globo está novamente a dizer-lhes o que fazer. Temos de aceitar que há diferentes modos para termos a maior parte das pessoas a apoiar as ideias, temos de respeitar os seus contextos.

Há uma escala que há que respeitar, o global, o regional, o local. Que problemas antevê para o futuro? Até porque isso acontece noutras áreas do mundo social, como a europeização…Sim. Veja, eu sou geógrafo, sou geógrafo social, e tenho visões ligeiramente diferentes em certas coisas das que outros membros de outras disciplinas têm. Na minha visão a distinção entre local, regional, continental, glo-bal, tem a sua relevância para certos modos e aspectos de vida, mas não nos devemos esquecer que os esta-dos e nações modernos, como são usados hoje, não são um fenómeno tão antigo. Pode dizer-se que antes do neolítico, as pessoas moviam-se à procura do que ne-cessitavam. O neolítico ofereceu a possibilidade de as pessoas ficarem num mesmo sítio e controlar a natu-reza de um modo que o permitisse: animais, plantas, sistemas de irrigação, etc. Como geógrafo - sei que em história as pessoas pensam de forma diferente – julgo que durante muito tempo o modo de mover o nosso corpo estava ligado aos nossos próprios músculos ou aos músculos de animais, das carnes. Nessa condição é um

eNTreviSTa BENNO WERLEN

As constelações de WerlenO geógrafo suíço, actualmente professor de geografia social na Universidade de Jena, na Alemanha, esteve em Mação e falou com o NA sobre as novas constelações globais. Nos seus trabalhos e pensamento sobressai um sujeito-actor como protagonista da acção e da interacção nas estruturas sociais. Na ecologia, Werlen defende uma abordagem de baixo para cima, bottom up, em contraponto com o que acontece actualmente. Di-lo e repete-o, “não podemos voltar ao pensamento do séc. 19 para resolver problemas do séc. 21”

Entrevista decorreu durante os trabalhos das X Jornadas de Arqueologia Iberoamericana e II Jornadas de Arqueologia Transatlântica em Mação

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É director da União Geográfica Internacional, que criou a "Iniciativa para o Entendimento Global", e colabora, entre outros, com o Conselho Europeu de Pesquisa

Autor de “Sociedade, Acção e Espaço”, tese de doutoramento apresentada em 1985 e publicada em 1987 que lhe porporcionou o reconhecimento internacional

"(...) devemos dar o próximo passo de novo e dizer que não há apenas um caminho para a sustentabilidade, há centenas, milhares de diferentes caminhos…"

FacebooK.coM/Jornal-novo-alMourol

ENTREVISTA 05abril 2014

longo período desde o neolítico até ao industrial. Aí te-mos máquinas e que mais. Agora entramos numa nova era da revolução digital na qual podemos participar, de certo modo, em locais distantes sem mexermos o nosso corpo, e em tempo real. É uma constelação geográfica totalmente nova. Com isto em conta, diria que grande parte das nossas vidas, onde quer que vivamos, está in-corporada em processos globais, e sempre esteve, mas no lado biofísico. Isto significa que agora estamos du-plamente incorporados em processos sociais e, ao mes-mo tempo, as consequências das nossas acções também têm impacto global. Portanto, temos de primeiro que tudo ultrapassar a velha ideia do pensamento ecológico e de sustentabilidade que vem da biologia e temos de ter um equilíbrio de cada espaço contentor com os lu-gares comuns. A acção local tem consequências globais, não podemos pensar nestes espaços contentores, temos de pensar na dimensão global, e nesse aspecto podemos dizer que cada vida está globalmente incorporada e tem consequências globais.

Com o surgimento dessa nova constelação, pensa que o local vai influenciar o global ou que o global irá erodir o local?Acho que vai para os dois lados. Há poucos dias o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáti-cas (IPCC) falava sobre as implicações das alterações climáticas e que a poluição do ar está a matar 50 mi-lhões de pessoas por ano no mundo. Se tomarmos este exemplo, o modo como nos movemos, como fazemos as coisas funcionar, está a consumir energia. E muitas ve-zes essa energia é a base da poluição atmosférica. Toda esta poluição tem uma origem local e temos também

o fenómeno do fumo que é frequentemente vivido e produzido localmente. Mas é apenas uma parte pois há partículas a serem emitidas para a atmosfera que se transformam numa outra constelação química. E es-tas consequências serão vividas por pessoas que nada têm a ver com a poluição produzida ou com o local em que é produzida. Isto é um exemplo para mostrar que se não lidarmos localmente com os nossos problemas não resolveremos a constelação de problemas globais. Devemos criar novas formas, por exemplo, de solidarie-dade social. Não podemos apenas pensar no bem-estar social e solidariedade nas constelações nacionais, pois os nossos problemas são cada vez menos nacionais na sua natureza. Se pegarmos na crise económica europeia, quando eu vi como o governo alemão respondeu à si-tuação, nacionalizando o problema, eu disse: esta bata-lha está perdida.

Defende, então, toda uma nova abordagem aos problemas…Não podemos resolver os problemas do séc. 21 ou 22 com modos de pensar do séc. 19. Certamente não pro-duzirá as melhores soluções. Não podemos voltar atrás e dizer que podemos resolver os problemas globais fa-zendo-os problemas nacionais.

Diz que a acção política global deve começar com o apoio ao nível nacional, uma abordagem bottom up (de baixo para cima)?Isso significa que cada município pode falar sobre cons-telações de problemas globais mas pouco pode con-tribuir para as minimizar. Mas necessitamos de uma

estrutura bottom up, primeiro porque o contrário não se baseia em convencer as pessoas, numa forma sus-tentada de acção. Se as pessoas querem agir de forma sustentada é porque estão convencidas, acreditam que estão a fazer o correcto. Temos de agarrar formas lo-cais de vida e dizer-lhes como podem fazer de forma diferente, ecológica. Talvez voltando atrás às próprias tradições, combinando-as com esta nova e actual forma de vida, mas sem esquecer o que gerações em milhares de anos descobriram. Não devemos excluir algo porque é tradicional. Se vem de cima para baixo haverá sempre uma menor adaptação. Se for ao contrário as pessoas poderão falar, discutir, convencerem-se de que fazem o correcto, as ONGs podem ter um bom impacto, ajudar a esclarecer qual será uma boa contribuição para a reso-lução dos problemas globais. No Ano Internacional do Entendimento Global, se quisermos convencer as pes-soas de que podem agir de forma diferente, talvez com mais alegria, mais satisfação, maior prazer, de outras formas, temos em primeiro lugar de as fazer perceber o quanto a vida está incorporada nos processos globais, em ambos os sentidos.

E a pessoas devem ter ou ganhar consciência da sua importância e impacto global?E se puderem ultrapassar a muito dominante e pesada interpretação nacional, ou nacionalista, dos problemas talvez possam encontrar soluções no nível transnacio-nal, pois as negociações internacionais são tão proble-máticas para as constelações globais como as negocia-ções interdisciplinares, na procura da pesquisa integrada e de padrões. “Inter” significa sempre que um vai retirar mais da situação do que oferece e derradeiramente esta não é a melhor solução e a solução deve ser procurada na perspectiva acima do interesse nacional, acima do interesse científico.

Na Alemanha, ao nível do estado e não só, a geografia é vista como uma ciência fundamental?De certo modo, sim. Na Alemanha a geografia está so-bre pressão, mas está melhor integrada, provavelmente melhor que em outras partes do mundo. A geografia foi muito importante historicamente. Tem sido muito importante na construção do estado - a história é longa - mas penso que os alemães têm uma forma planifica-da de agir e descobriram que a organização espacial, a planificação regional, especialmente na constelação fe-deral, é muito importante. Se tirarmos as implicações políticas, a geografia tem sido verdadeiramente parte da acção do estado. Há vários autores aceites mundial-mente ao nível da planificação regional e uma tradição de levar o espacial para as conceptualizações da arena política. Claro que há uma era negra, a geopolítica da Alemanha nazi é resultado de um certo pensamento geográfico, e ligado a esta era negra histórica, a geogra-fia tornou-se numa disciplina não tão famosa durante meio século. Actualmente as coisas estão a mudar e esta constelação ecológica e a mudança da constelação geo-gráfica, de seu nome globalização, tornaram a geografia novamente muito importante, uma nova forma de geo-grafia, num novo quadro de acção, para fazer as pessoas perceberem a própria situação no mundo e adaptar o novo pensamento geográfico às novas condições geo-gráficas de vida. É muito importante não voltar atrás, ao séc. 19, para encontrar soluções para o séc. 22..―

benno werlen explica o que pensa sobre a integridade ecológica e aponta caminhos para a saídados problemas

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06 NÓSNovoAlmourol

abril 2014

vila Nova da barQUiNHa

Documentário Heróis EsquecidosTEXTO ricardo alveS

Está a ser realizado um documentário que pre-tende lembrar e homenagear os combatentes da 1ª Guerra Mundial, oriundos de Atalaia, Moita do Norte, Vila Nova da Barquinha (VNB), Praia do Ri-batejo, Tancos e Entroncamen-to (que na altura pertencia ao concelho de VNB). Carlos Dias é o realizador de “Heróis Es-quecidos” que conta com a cola-boração do Museu Militar, que para o efeito emprestou uma farda usada pelo Regimento de Infantaria 28, ao qual António Gonçalves Curado, o primeiro

soldado do Corpo Expedicio-nário Português a morrer na Flandres, pertenceu.

As primeiras filmagens já tiveram início, e Carlos Dias está a solicitar a colaboração de quem o possa ajudar a localizar familiares dos combatentes de 1914 a 1918.

Tendo em conta que nessa época Moita do Norte pertencia à freguesia de Atalaia é possível que algumas destas pessoas se-jam naturais da Moita do Nor-te: Manuel Marques Lamaroso; Joaquim Marques Lamaroso; Raimundo Ferreira Teodósio (prisioneiro); Francisco Serigado; Constantino Bento (prisioneiro) Artur da Silva Mendes Adelino

Rosa Tormenta; Américo Barbo-sa e Florêncio Rosa Esperança.

Barquinha: Soldado Antó-nio Barbosa Júnior (morreu em França); soldado José Nunes (morreu em África); soldado

vila Nova da barQUiNHa

Comemorações do 25 de Abril com programa vasto

TEXTO ricardo alveS

O Coronel Carlos de Matos Gomes, Capitão de Abril e es-critor português de pseudónimo Carlos Vale Ferraz, natural de Vila Nova da Barquinha, e o econo-mista e antigo prisioneiro político Sérgio Ribeiro vão participar nas comemorações do 40.º Aniversá-rio do 25 de Abril em Vila Nova da Barquinha, que irão decorrer entre 22 e 27 de abril.

Pela primeira vez, o Municí-pio aposta numa descentralização das actividades comemorativas, com acções distribuídas por todas as freguesias do concelho, todas com entrada livre.

Para o presidente da autarquia, Fernando Freire, o facto de se as-sinalar o 40.º aniversário pesou na

elaboração do programa, "importa comemorar, dignamente, 40 anos de democracia. O 25 de Abril de 1974 é para mim, em Portugal, o maior facto histórico do Séc. XX, uma vez que possibilitou ao povo exercer os valores da Liberdade, da Democracia, da Justiça Social e da Paz. Valores e princípios de um regime democrático que até ali lhe tinham sido sonegados"

Sobre o programa, Fernando Freire sinaliza desde logo "a en-trega e partilha na preparação dos eventos pelas Associações, pelo Agrupamento de Escolas e pelo Município. Só desta simbiose or-ganizacional é possível elaborar um evento com esta abrangência". Dentre as várias actividades o au-tarca destaca a presença de "mili-tares e políticos que participaram na transição para a democracia,

alguns dos quais foram hostiliza-dos na sequência dessa transição, para ajudarem, principalmente os mais novos, a perceber o que foi esse momento grandioso da nossa história recente". A participação da Banda no içar da Bandeira Na-cional, com posterior concerto, a

Fausto Vieira (morreu em Áfri-ca); capitão Manuel de Jesus Ferreira; sargento Ernesto Nunes da Assunção; Francisco Pereira; António Nunes; Francisco dos Santos; João Ferreira; Adrião Barbosa e Justino Gonçalves.

Praia do Ribatejo: José da Cruz; Tenente Augusto Carlos de Brito; sargento Artur Domin-gos de Oliveira; sargento João Filipe; sargento Rodrigo Antó-nio Rodrigues; Afonso Marques; Álvaro Inácio; António Homem; António Lopes Albino; Antó-nio Rodrigues Parracho; Filipe Pereira; Inácio da Silva Capitão; João Agudo; José de Almeida; José Godinho; José Homem; José Pereira; Manuel Bernardi-

40 anos de 25 de abril assinalados conjuntamente entre município, associações e comunidade escolar

intervenção do Coronel Carlos de Matos Gomes, “Capitão de Abril” e escritor natural de Vila Nova da Barquinha, de Francisco Fanhais, cantor de Abril, também nascido neste concelho, e, obviamente, to-das as atividades promovidas pelos alunos do Agrupamento para a vi-

vificação desta data histórica".O programa (ver Pág. 14)

conta com actividades de 22 a 27 de Abril e Fernando Freire contou ao NA sobre como surgiu e a sua importância para a comunidade escolar.

"Em Fevereiro fui contacta-do pelo Agrupamento e por um notável grupo de professores para nos envolvermos nas celebrações. Manifestamente, estava lançado o desafio para uma comemoração condigna envolvendo os agentes principais, os futuros cidadãos em formação, desta nação europeia.Com a qualidade deste evento e com a magnífica participação dos professores, encarregados de edu-cação, pais e alunos, dignificamos esta data e damos-lhe o relevo que ela merece na nossa memória e na história de Portugal". ―

no; Manuel Pereira e Augusto de Oliveira.

Tancos: sargento José Pom-beiro (morreu na Alemanha, prisioneiro); Raul Marques; João Amaral da Silva; Carlos Amaral da Silva; José Rodrigues Tibério; Aníbal de Oliveira Félix e José Nogueira.

Entroncamento: sargento António da Silva Alfaro; sargen-to Luciano da Silva Alfaro; sar-gento António Lopes Neves; 1º cabo Carlos da Silva Alfaro; 1º cabo Amadeu de Oliveira Ban-deja e soldado António Pereira.

Os contactos com e para in-formações podem ser efectuados param: Carlos Dias 960190504 ou [email protected].―

40.º Aniversário do 25 de Abril no concelho com as presenças do Capitão de Abril Carlos Matos Gomese do antigo prisioneiro político Sérgio Ribeiro num programa com exposições, palestras, música e muito mais

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novoalMourol.wordPress.coM

CAMINHANDO 07abril 2014

VII Almourol à vistaA prova de BTT organizada pelo Grupo de Cicloturismo Barquinhense, já encerrou as inscrições para a prova. O número de participantes atingiu os 500. No dia 27 de Abril o passeio e maratona BTT vão levar os inscritos pelos trilhos do concelho até Constância, com muitas surpresas pelo meio, como contou o presidente do grupo ao NA, João Correia. Na próxima edição do NA traremos a reportagem.―

vn barQuinHa

35 horasTeve lugar no dia 28 de Março, na Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, em Tomar, a cerimónia de assinatura dos Acordos de Entidade Empregadora Pública, entre a CIMT, as Câmaras Municipais do Médio Tejo e os Sindicatos dos trabalhadores. O objectivo é a redução para as 35 horas semanais do horário de trabalho dos funcionários. Constância, Entroncamento e Tomar que se encontram a ultimar o respectivo procedimento para o acordo, ainda não assinaram o documento.―

reGião

Mesa redonda Vai decorrer, em Abrantes nos próximos dias 28 e 29 de Abril, na Biblioteca Municipal António Botto uma mesa-redonda intitulada "A Idade do Bronze em Portugal: os dados e os problemas", na qual se pretende obter uma actualização de paradigmas, discutindo fundamentalmente, em cada região abordada, os critérios de periodização (continuidade e descontinuidade cultural) tendo sobretudo como base a dinâmica das materialidades. Mais informações em www.ipt.pt/mesa_bronze.―

abranTes

eNcoNTro

Mação foi a Lisboa visitar maçaenses

TEXTO ricardo alveS

Em plena Lisboa, por um dia, Mação praticamente au-mentou em algumas centenas de metros quadrados o seu já gran-de concelho. Foi apenas durante 5 horas e a área foi a da sede do Clube Cultural e Desportivo dos Trabalhadores do Grupo Ban-co Espírito Santo (GBES) ,em Lisboa, que no dia 22 de Março recebeu mais de 300 maçaenses a residir na Área Metropolitana de Lisboa.

O próprio presidente do GBES, Manuel Serras, foi ve-reador e membro da Assembleia Municipal de Mação. Foi assim um dia de partilha entre conter-râneos que contou com a presen-ça de Vasco Estrela, presidente da Câmara de Mação e o vereador António Louro.

Durante o evento os ma-çaenses deram sugestões, ideias, contribuições para ajudar no

desenvolvimento do seu con-celho, sugestões que a autarquia prometeu analisar. Vasco Estrela apelou à criação pontes e de uma rede que permita encontrar so-luções para um futuro comum e melhor do concelho e falou na oportunidade que o novo Qua-dro Comunitário de Apoio cria, com o acesso a fundos comuni-tários de valor considerável.

Também os produtos de Mação, umas das faces fortes do concelho, foram incluídos na conversa, nomeadamente a pos-sibilidade de os mesmos chega-rem com regularidade às casas dos Maçaenses residentes em Lisboa ou a pertinência da cria-ção de uma “Casa de Mação” na capital.

De Mação seguiram tam-bém a Orquestra Ligeira da Sociedade Filarmónica União Maçaense, as cantoras Francisca Correia e Marisa Lourenço e produtos maçaenses para degus-tação.―

vN barQUiNHa CIAAR com novos corpos gerentesTEXTO Na

Aos vinte e quatro dias de Março de 2014, reuniu no Centro de Interpretação de Arqueologia do Alto Ri-batejo, a Assembleia Geral da ACIAAR para a eleição dos novos corpos gerentes ficando assim constituídos: Direcção: Presidente - Pierluigi Rosina; Vice-Presidente - Rui Con-stantino; Tesoureira - Cidália Delgado; Secretária - Rita Iná-cio; Vogal - Pedro Cura; Conselho Fiscal : Presidente –Luiz Oosterbeek; Secretário

–António Luís Roldão; Relator – Ricardo Alves; Assembleia Geral: Presidente – Fernando Freire; Primeiro Secretário – Ana Cruz; Segundo secretário – Sara Cura.―

sala foi pequena para receber maçaenses

eNTroNcaMeNTo

Faleceu Antero FernandesTEXTO rafael ferreira

Faleceu no passado dia 2 de março, no Hospital de Tor-res Novas, Antero Fernandes, de 89 anos, nascido na Moita do Norte – Vila Nova da Bar-quinha, em 10 de Abril de 1924.

Ferroviário reformado, era também muito conhecido pela sua longa actividade na comu-nicação social, como jornalista, começada no Moitense, quer da imprensa nacional, muito especialmente da desportiva,

quer da regional e local, caso dos nossos colegas do Entron-camento, onde vivia, no extin-to “O Entroncamento” e no “Notícias do Entroncamento” e no seu concelho de origem, no “Novo Almourol”, sendo considerada uma pessoa muito querida, pela grande afabilidade que sempre demonstrava.

Em 2011, na Gala “Carril Dourado”, que decorre anual-mente no Entroncamento, foi homenageado pelo Secretário de Estado do Desporto e Ju-ventude, com a medalha atri-

buída pelo governo, de bons serviços desportivos.

À família apresenta o Novo Almourol o seu pesar.―

ciMT

Acção popular contra o GovernoTEXTO ricardo alveS

Em causa está a reforma do mapa judiciário e o di-ploma que procede à regula-mentação da Lei da Organi-zação do Sistema Judiciário e define o regime aplicável à or-ganização e funcionamento dos tribunais judiciais.

A acção, entregue no Supre-mo Tribunal Administrativo no dia 17 de Março, em Lisboa, é sustentada pelo “artigo 20º, nº1, da Constituição da República Portuguesa, que estabelece que “a todos é assegurado o acesso ao direito e aos tribunais, para defesa dos seus direitos e inte-resses legalmente protegidos,

não podendo a justiça ser dene-gada por insuficiência de meios económicos”.

A acção popular foi apro-vada em reunião do Conselho Intermunicipal do Médio Tejo e subscrita por todos os muni-cípios que fazem parte da Co-munidade Intermunicipal do Médio Tejo (CIMT) na defesa das suas populações nomeada-mente contra “o encerramento

dos tribunais de Mação e Fer-reira do Zêzere, a passagem do tribunal de Alcanena a secção de proximidade e o desmantela-mento do actual círculo judicial de Abrantes”.

A acção popular foi entre-gue pelos presidentes de câmara do Médio Tejo e contou tam-bém com a presença de Miguel Pombeiro, secretário executivo da CIMT. .―

Posição de força e uniãoda ciMT contra a reforma do mapa judiciário

Page 8: Jornal novo almourol ed395 Abril

Tem sido, nas últimas semanas, tema de abertura de telejornais, tema de conversa em cafés e assunto há muito estudado e analisado por sociólogos e defensores de direitos humanos. Refiro-me à pobreza e mais concretamente aos últimos dados do INE (Instituto Nacional de Estatística) sobre a pobreza em Portugal

08 SOCIEDADENovoAlmourol

abril 2014

QUeM SoMoS iii

TEXTO PaTrícia bica*

“Quase dois milhões de portu-gueses em risco de pobreza”." o iNe coNsidera Que se tra-ta do valor "mais elevado des-de 2005".

O número de portugueses em risco de pobreza aumentou entre 2011 e 2012, atingindo, actualmente, 18,7% da popula-ção, ou seja, quase dois milhões de pessoas.

Os dados constam do mais recente Inquérito às Condições de Vida e Rendimento do Ins-tituto Nacional de Estatística (INE).

Os dados revelam que, em 2012, 18,7% da população por-tuguesa estava em risco de po-breza, mais oito pontos percen-tuais do que em 2011. Um valor percentual que corresponde na realidade a 1.961.122 portugue-ses e que fez o INE alertar “que se trata do mais elevado desde 2005”.

Segundo o INE, a taxa de risco de pobreza corresponde à proporção da população cujo rendimento equivalente se en-contra abaixo da linha da pobre-za, definida como 60% do rendi-mento medio por adulto e que passou de 416 euros em 2011 para 409 euros em 2012.

As taxas de risco de pobreza mais elevadas apontam para os agregados constituídos por um adulto com pelo menos uma criança (33,6%), por dois adul-tos com três ou mais crianças (40,4%) e por três ou mais adul-tos com crianças (23,7%), que se confrontam pela primeira vez com um risco de pobreza supe-rior aos das pessoas que vivem sós (21,7%).

Interessante também de perceber que o risco de pobreza entre as pessoas desempregadas aumentou 1,9 pontos percen-tuais entre 2011 e 2012, estando agora nos 40,2%, um aumento também vivido para os que têm emprego. Há 10,5% de pessoas que trabalham, mas que, apesar disso, se encontram em risco de pobreza.

Somos Pobres?

Sobre estes relevantes da-dos, muitos dirão apenas: são só números! Mas na realidade estes números têm caras por trás, vidas, sonhos desfeitos e muitas vezes são números pouco re-dondos, apenas com a refeição da escola garantida. No espaço de uma semana muito se disse e escreveu sobre estes dados acima mencionados, questionando até a sua veracidade, que indicado-res são usados, de que pobreza se fala e fazendo crer que muitos estarão a um clique da mobilida-de social, ou a um “levantar do sofá” da tão esperada ascendên-cia social (isto, já que ninguém gosta de ser pobre).

Há quem goste de usar a expressão população em risco de pobreza, como se fosse algo hipotético, com possibilidade de acontecer, mas que talvez com um pouco de boa vontade di-vina e ginástica orçamental não se caia nessa desgraça. Ora na verdade, o indicador é claro, são 409 euros mensais, é fácil fazer as contas. E essa é a linha de pobreza. Abaixo deste valor, en-

contra-se quem vive em pobreza monetária efectiva.

Mas existe ainda um outro indicador, o da intensidade da pobreza, que permite medir a distância a que cada um des-tes 2 milhões de portugueses se encontra do valor de referência do limiar da pobreza. Este indi-cador vai-nos apresentar “quão pobres são os pobres” e esta taxa também está a aumentar.

E a verdade, é que, a popu-lação a ganhar menos de 409 euros por mês aumentou. A ver-dade é que não só são os desem-pregados e outros beneficiários de transferências sociais a sobre-viver com este valor por mês. E, de facto, concordo que este nú-meros escondem outra pobreza, a pobreza de quem trabalha sem condições, precariamente, sem vinculos ou direitos. Recibos Verdes, trabalhadores clandes-tinos, estagiários, formandos de acções de formação que servem para diminuir as estatísticas do desemprego.

E mais, o INE avança al-

guns dados relativos a 2013, no que diz respeito à privação ma-terial. O ano passado, 25,5% dos residentes em Portugal viviam em privação material (mais 3,7 pontos percentuais do que em 2012), enquanto que 10,9% da população estava em situação de privação material severa. A título de exemplo, 59,8% das pessoas não tiveram possibili-dade para pagar uma semana de férias fora de casa, ou 43,2% não consegueriam pagar de imedia-to uma despesa inesperada, sem recurso a um empréstimo, são muitos também os que não conseguem pagar a renda, comer uma refeição de carne ou peixe ou aquecer a casa.

E soluções? Esta não é uma questão “per si”, este é um problema consequência. Este aumento é uma consequência de um conjunto de situações sociais e económicas que resultam nes-tes números pouco positivos. As nossas condições de vida efectiva pioraram. E muito.

É importante referir o pa-pel fulcral de alguns organismos que trabalham no terreno e onde se destaca a EAPN (European Anti Poverty Network) – Rede Europeia Anti-Pobreza. Esta organização actua no nosso país desde 1991, tendo obtido em 1995 o estatuto de Organiza-ção Não Governamental para o Desenvolvimento. A acção da EAPN Portugal tem sede no Porto mas estende-se a todo o país atavés de 18 Núcleos Dis-tritais. Entre os objectivos desta organização destaca-se o se-guinte “promover junto de pes-soas ou grupos que se encontrem

” A pobreza é um problema político, cuja responsabilidade é tanto do poder económico e da opinião pública como do governo”Bruto da Costa

em situação de pobreza e, ainda, junto de profissionais e dirigen-tes institucionais, a integração/inclusão social e a organização de serviços e outras atividades que visem o desenvolvimento cultural, moral e físico das pes-soas, reforçando a autonomia, quer sejam idosos, deficientes, desempregados, famílias mo-noparentais, jovens em situação de risco, imigrados, minorias étnicas e culturais, crianças mal-tratadas, pessoas sem-abrigo ou outras”.s.― *Socióloga

Page 9: Jornal novo almourol ed395 Abril

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Page 10: Jornal novo almourol ed395 Abril

eNTreviSTa

Constância AcolhedoraFestejar as crianças, a esperança, é um dos motes das Festas em Constância para a presidente da autarquia, Júlia Amorim. Apesar da crise o concelho tem razões para festejar

010 FESTAS CONSTÂNCIANovoAlmourol

abril 2014

Júlia amorim na biblioteca Municipal que festeja o 20ª aniversário

TEXTO&FOTO ricardo alveS

Nas primeiras festas como Presidente da Câmara, o que muda para si este ano?Em termos das responsabilidades enquanto autarca vão ser idênticas, vivo-as com a mesma intensidade com que vivo sempre. No entanto, sendo o rosto da Câmara Mu-nicipal, é natural que sinta um peso diferente nos ombros mas não muda muito. É sempre uma festa de emoção, principalmente na 2ª feira da Boa Viagem.

Acompanha a festa há tantos anos, que recordações mais vivas tem do passado?O que me vem à memória é a minha mãe querer, logo que possível, vestir-me de anjinho. E eu tinha um medo horrí-vel dos foguetes, tanto que depois na procissão comecei a chorar e pus-me logo debaixo dos andores (risos)…

Então estar perto das viaturas aquando da bênção era proibido?Sim! Mas a minha mãe desistiu e depois só ia de anjinho numa outra festa, no Sagrado Coração de Jesus, que não tinha foguetes. Outra imagem que guardo é a da zona ri-beirinha sem estar arranjada. Através das fotografias mais antigas que conheço, lembro-me de muita gente, e ultima-mente menos embarcações no rio. O que me tocava muito eram as sirenes dos bombeiros e as buzinas dos carros na praça. Mais do que os barcos, a grande força das viaturas porque não havia restrições, era quem chegava primeiro e depois havia sempre lugar para os bombeiros. E também me lembro, quando era mais nova, da parte religiosa, de me envolver na limpeza da igreja, na ornamentação dos an-dores e na própria festa nos cânticos e toda a organização.

Relata-me as festas da Boa Viagem, não tanto as festas do concelho…Não, porque eu saí para estudar em 1981/82 e regressei em 1988. O que relatei foi mais ou menos até aos 17, 18 anos. Vinha cá nas férias e as festas eram muito centradas na procissão. Depois comecei a trabalhar e foi de facto quan-do se deu a volta à festa com a introdução das festas do concelho e me comecei a envolver na questão autárquica.

Pode dizer-se que não chegou a disfrutar das festas do concelho enquanto cidadã “comum”, por imperativo autárquico?É uma boa pergunta. O meu pai era militar e trabalhava nas transmissões, e na década de 80 era o quartel dele que fazia as sonorizações de rua e das comemorações como 10 de Junho e outras festividades. Ele tinha uma equipa para esse trabalho - quando o Papa João Paulo II visitou Portugal (ndr. 1982) o meu pai é que fez o som no Parque Eduardo Sétimo para aquela gente toda. Lembro-me que depois lhe pediram para fazer a sonorização das festas e eu nem sequer era eleita. Foram umas das últimas festas que eu passei enquanto cidadã a divertir-me. Depois a partir de 1991 eu já estava na Junta de Freguesia (Constância) e tinha uma carga institucional diferente. É verdade.

Este ano o objectivo é tornar as festas mais acolhedoras. Como?Aquilo que pensámos foi concentrar o espaço da festa en-tre o parque de merendas e a praça Alexandre Herculano - toda essa zona, desde o rio até à praça - e tentar ganhar a rua Luís de Camões, para que as pessoas circulem mais pelo interior da vila. A questão dos visitantes é sempre uma incógnita, sei que na conjuntura actual é mais difícil as pes-soas tirarem férias, como acontecia noutros anos. Vamos tentar realizar uma boa festa para as pessoas do concelho, o que é muito importante para nós, mas também uma afir-mação do território para o exterior. Para isso precisamos de festa com chama!

Diga-me três razões que os residentes no concelho tenham para festejar?Percebo que os tempos não sejam muito de festas mas só o facto de haver crianças no concelho já é altura para fes-tejar e elas dão-nos esperança. As crianças dão-nos razão

para fazermos o melhor possível. Pode ser um momento para festejar a esperança que os nossos cidadãos mais pe-queninos nos dão. Penso, também, que o nosso concelho, apesar de tudo, tem vindo a retardar um pouco aquilo que já se passa há alguns anos no país em termos do aumento do número de famílias desempregadas. Estamos aqui num cantinho em que ainda não chegámos, e espero que não cheguemos, àquilo a que algumas zonas do país já estão a chegar em termos das dificuldades financeiras e de empre-go. E também acho que somos um concelho harmonioso em que vale a pena viver. É um motivo para festejarmos.

Tem também Anabela Gráciono Conselho Nacional de Educação (CNE) e o novo centro escolar de Montalvo…O centro escolar teve um atraso imenso mas vamos ficar com o parque escolar concluído. Demorou muito tempo mas foi aprovado, e muito dificilmente seria aprovado no próximo quadro comunitário. Da professora Anabela Grácio, fico muito contente. É a directora da nossa escola, fez um percurso a pulso e é muito jovem. Quando ficou na nossa escola lembro-me que lhe foi feito um desafio porque a antiga equipa directiva não queria continuar e ela consegui agarrar a direcção da escola e fez um acom-panhamento das evoluções ao nível do sistema educativo. A importância que eu penso que ela pode ter no CNE e noutros órgãos é que tem um valor muito importante: conhece muito bem o terreno e conhece bem todos os níveis de ensino até ao 12.º ano, por força até da criação dos agrupamentos. Muitas vezes as pessoas que estão nos órgãos estão habituadas a um determinado nível de ensino. A Anabela tem uma experiencia transversal. E em termos pessoais é uma pessoa dedicada.

Se pudesse escolher quem convidaria para a festa e o que lhes mostrava?(risos) Convidava o Primeiro-ministro, o Secretário de Estado das Infra-estruturas e os Presidentes da REFER e da Estradas de Portugal para verem a nossa ponte e que ela não serve só Constância mas toda a região e o país, que não é justo que dois concelhos – Constância e VN da Barquinha - estejam a assumir a sua conservação e manu-tenção, e que aquelas limitações sejam condicionadoras do desenvolvimento do nosso concelho e da nossa região. Até podíamos ver passar os barquinhos de cima do tabuleiro... Convidava também o meu tio e o meu avô, que foi calafate, que se pudessem vir cá gostariam de ver as festas, pergun-tava-lhes o que achavam. E o Rui Silva – atleta olímpico ribatejano - para vir ao nosso Grande Prémio da Páscoa de atletismo, pois para além de ser um excelente atleta parece--me ser uma pessoa com bons valores.

José Cid, Mind da Gap... muita festaTEXTO ricardo alveS

Para além da Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem, dia 21 de Abril, e as habituais celebrações reli-giosas que marcam a história da vila, as festas do concelho realizam-se de 19 a 21 e pro-metem um programa vasto.

Os destaques musicais são José Cid & Big Band, os Mind Da Gap, a Dj Carolina Torres (SIC Radical) e o Dj Fernando Alvim (Antena 3).

Mas este ano é esperado um grande número de embarcações para participar na procissão dos rios, com a chegada de 50 em-barcações engalanadas à Vila, ponto alto das celebrações que

chama muitos milhares de visi-tantes à vila.

As festas do concelho apre-sentam um novo figurino com uma componente sociocultural e lúdica mais presente no re-cinto das Festas mantendo os dois palcos mas com mais acti-vidades pelas ruas enfeitadas da vila (ver programa completo na página ao lado).

Destaque também para o XXVI Grande Prémio da Pás-coa em Atletismo / EDP Dis-tribuição, uma Mega Aula de Zumba, a XXV Mostra Nacio-nal de Artesanato, a VIII Mos-tra de Doces Sabores, Saberes e Sabores do Concelhoe as im-prescindíveis tasquinhas. Três dias de festa em Constância, para todas as gerações.

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PUBLICIDADE 011abril 2014

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012 SOCIEDADENovoAlmourol

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TorreS NovaS

Mercado do Peixe torna-se cosmopolita O título acima acaba por ser mais interrogativo que afirmativo. Edifício há muito reclamava obras de remodelação que agora chegaram. Exemplos na Europa a seguir, mas também em Portugal

TEXTO ricardo alveS

Está situado em pleno cen-tro histórico de Torres No-vas, paredes meias com a praça mais movimentada da cidade. O mercado do Peixe há muito se tornou uma espinha atravessada na garganta dos torrejanos e dos visitantes regulares da cidade. O edifício, inaugurado em 1885, recebeu algumas actividades ao longo do período de inactivação, tendo mesmo recebido alguns concertos mas de forma muito residual.

Na Europa, alguns antigos mercados foram remodelados, reconstruídos e adaptados a no-vas tendências, e servem de refe-rência turística de grandes cida-

des bem como local de passagem quotidiano dos residentes. Veja--se a mero título de exemplo a vi-zinha Espanha e o caso do Mer-cado de San Miguel em Madrid, no qual se encontram produtos de qualidade (fruta, marisco, pas-telaria, produtos de fumeiro, etc), forte presença de restauração e no qual são frequentes espec-táculos, eventos literários entre outros, numa atmosfera moderna e cosmopolita rodeada de traços antigos e originais.

A Câmara Municipal de Torres Novas aprovou no dia 19 de Março, em reunião de câmara extraordinária privada, a adjudi-cação da empreitada de remode-lação ao consórcio Eco Edifica – Ambiente e Construções, SA e Secal – Engenharia e Constru-

ções, SA, pelo valor de 185 499€, acrescidos de IVA, e com um prazo de execução de 120 dias a partir da data de consignação da obra.

“Os trabalhos visam a con-versão do antigo Mercado do Peixe em edifício de cariz poliva-lente nas áreas cultural e de lazer e consistem, de forma sucinta, em substituir toda a cobertura existente, picagem de paredes e de pavimentos, execução de alvenarias, rebocos interiores e exteriores, pinturas, serralharias, revestimentos e equipamentos, aplicação de betão para pavi-mento, criação de rampa para acesso de pessoas com mobilida-de reduzida e reestruturação das instalações sanitárias”, informa a autarquia em nota de imprensa― ... e do interio.

imagem do Mercado de san Miguel, em Madrid, do exterior...

Page 13: Jornal novo almourol ed395 Abril

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ACTUAL 013abril 2014

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Museu de Mação Premiado

O Museu de Arte Pré-histórica e do Sagrado do Vale do Tejo recebeu uma Menção Honrosa pela “excelência do projecto “Gesto, Risco e Paisagem” que participou na IV Edição do Prémio Ibero-Americano de Educação e Museus, no dia 24 de Fevereiro em Brasília, Brasil. O prémio atribuído pela Iberomuseus chegou às mãos do Presidente da Câmara de Mação Vasco Estrela, durante as X Jornadas de Arqueologia a decorrer na vila e o NA captou o momento.―

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014 PUBLICIDADENovoAlmourol

abril 2014

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oS PaSSoS de SíSifo

Um índice de infelicidade absoluta?OpINIãO lUiz ooSTerbeek

Os tempos de desorientação e incerteza dão força maior às palavras. Elas não são a reali-dade e não são condicionadores absolutos da realidade, mas elas estruturam o entendimento, de-finem ambições e medos, apon-tam rumos de futuro propositi-vos ou resignados.

A força dessas palavras maiores radica nos valores que grande grupo humano, cada sociedade, vai assumindo como seus. Valores de medo geram pa-lavras de exclusão, de xenofobia, de egoísmo. Valores de trans-cendência (não necessariamen-te religiosa) geram palavras de integração, de solidariedade, de confiança.

Como medimos as nossas vidas, as palavras que escolhe-mos para definir o que somos, o que valem os nossos pais ou os nossos filhos, é um reflexo da tendência, integradora ou cen-trípeta, de uma sociedade. Hoje falamos em PIB, em competiti-vidade, em ranking, em sucesso, em percentagens. E, certamente, essas são variáveis e unidades de medida relevantes, mas serão suficientes? Vivemos hoje uma crise que nos obriga a definir

uma estratégia de crescimento (não apenas económico, mas de-mográfico, cultural, social), mas se crescermos será sustentável o modo de vida actual (esse que só se pode medir pelo PIB, pelo re-ferencias de economia-eficácia--eficiência)?

No Butão, um pequeno país do hemisfério sul, foi definido um índice de felicidade humana, mais amplo e ambicioso do que os índices de produtividade, de pobreza ou de resiliência am-biental. Na verdade, não se trata de uma mudança radical, nem da rejeição de outros indicadores, mas ele comporta uma palavra que é um programa, uma visão de futuro, um sorriso (mesmo que muitas vezes na miséria).

Quem nunca conviveu com a miséria extrema, com a tristeza do fim ou com a angústia da per-da, tem dificuldade em valorizar o sorriso nessas circunstâncias, e desdenha da perda de tempo que representa falar com simpatia a quem se nos dirige, agir com confiança num futuro apesar de incerto, aceitar a fraternidade e o amor da genuína caridade (que nada tem a ver com a esmola de lavagem de consciência pesa-da). Quem tem medo e entende pouco da vida pode usar palavras

de castigo e punição para quem já tem a sua vida empobrecida e desorientada, mas…

A Europa Unida é uma con-jugação de palavras que não muda a realidade, mas pode apontar um caminho, quando usada por quem entende que na vida há limites para tudo, mesmo para a falta de respeito pelos que perdem. É esse en-tendimento que me parece que a Europa perdeu, no rescaldo do medo do escândalo de corrupção que ocorreu durante a presidên-cia da Comissão Europeia por J. Santer. Desde então a rampa descendente tem sido imparável, porque se deixou de entender que o PIB ou a competitividade não eram apenas uma condição para a coesão e o desenvolvi-mento, eram sobretudo uma consequência de um processo social de mobilização por um ideal de paz e pão. Contra a falta de pão que matara a paz várias vezes no passado.

Hoje, em Portugal e na Europa, explica-se aos jo-vens que o emprego precário é o futuro a que podem aspirar, explica-se aos velhos que a qual-quer momento podem perder a estabilidade das suas pensões,

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CULTO 015abril 2014

Como medimos as nossas vidas, as palavras que escolhemos para definir o que somos, o que valem os nossos pais ou os nossos filhos, é um reflexo da tendência, integradora ou centrípeta, de uma sociedade..

explica-se aos que têm empre-gos que são privilegiados. Há, certamente, um fundo de ver-dade nas causas económicas que parecem suportar essas palavras, mas as palavras têm um valor por si só, que é o valor de se não compreender, e por isso se não respeitar, a dignidade da pessoa humana. O não se compreender que, na era da globalização, o tempo não é sobretudo o da per-centagem (incalculável) nem o da tendência (volátil), e sim o da Maria, do João, do Pedro, da ….

A Europa e Portugal não es-tão no hemisfério Sul, mas isso não deve justificar que estejam a inventar, sem querer, um im-provável índice de infelicidade absoluta, à sombra do qual se reerguem de forma cada vez mais rápida os extremismos que se alimentam do medo e da tris-teza.―

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016 NA RUANovoAlmourol

abril 2014

alcaNeNa

Zé Perdigão convida José Cid e Adufeiras da Idanha TEXTO aNdré loPeS

As comemorações do 25 de Abril vão levar ao cinetea-tro São Pedro, em Alcanena, o cantor Zé Perdigão para apre-sentar o disco “Sons Ibéricos”.

Em palco estarão como convidados o cantor José Cid,

as Adufeiras da Idanha e Tablao Andaluz, e em escuta estarão as canções de “Sons Ibéricos”, edi-tado em Setembro de 2013, dis-co que junta poesia e os sons da Guitarra Portuguesa, da Guitarra Flamenca e Gaita de Foles.

Deste álbum, com produção de José Cid, fazem parte melo-dias cheias de lendas e narrativas,

histórias sem data, ciganos, bru-mas, fadas, como "Bandoleiro", de Ney Matogrosso, "Esquinas", de Djavan e "Gondarém", que é uma homenagem à saudosa Amália Rodrigues.

Zé Perdigão lançou em 2008 o primeiro disco “Os Fados do Rock”, com temas de Xutos & Pontapés, The Gift, Jorge Palma,

Rádio Macau, entre outros. Em Março do presente ano

o cantor foi condecorado pelo governo provincial de Buenos Aires, com o título de “Cidadão Honorário”, distinção atribuída pela primeira vez a um artista português.

A entrada para o concerto em Alcanena custa 10€.―

TEXTO ricardo alveS

Alguns dos mais presti-giados escultores, pinto-res, artistas plásticos, professores e historiadores nacionais de arte contemporânea passaram por Vila Nova da Barquinha (VNB) no dia 29 de Março para partici-par na 1.ª edição das “Conversas Arte & Imagem”.

O Centro Cultural lotou a sua capacidade com estudantes, artistas locais e público em geral a não quererem perder a oportu-nidade. O evento, que se vai reali-zar anualmente, surge no âmbito das actividades do Centro de Es-tudos de Arte Contemporânea de VNB, projecto conjunto do Município, Instituto Politécnico de Tomar e Fundação EDP, no

vila Nova da barQUiNHaEnchente para conversar arte

contexto do Parque de Escultu-ra Contemporânea Almourol (PECA).

Rui Sanches, escultor com exposição de desenho e escultu-ra “Bustos e Cabeças” a decor-rer actualmente na Galeria do Parque, Ângela Ferreira, artista responsável pela escultura “Rega” da exposição permanente do Parque de Escultura Contem-porânea Almourol (PECA) e João Pinharanda, historiador de arte da Fundação EDP e comis-sário do PECA. A estes nomes juntaram-se também os pintores João Queirós, Manuel Botelho e Gabriela Vaz-Pinheiro.

O evento terminou com uma visita à exposição “Bustos e Cabeças”, patente até ao dia 25 de Maio na Galeria do Parque, seguida de uma visita PECA. ―

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da esq. para a dir:João Queiros, João Pinharanda e rui sanches

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Jantar de Abril No dia 24 de Abril (5.ª feira) realiza-se um jantar na Escola D. Maria II, aberto a toda a co-munidade, e que contará com a presença do Diretor Geral dos Estabelecimentos Escolares, José Alberto Duarte. A forma-lização da sua presença deverá ser efetuada para o email [email protected] até ao dia 21 de abril (2.ª feira). O custo é de 9 cravos para adultos e de 4,5 para crianças até aos 10 anos.―

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CULTURA 017abril 2014

em http://www.historic-towns.org encontramos o endereço que reúne Pessoas e organizações da união europeia tratando da temática relacionada com as questões do património euro-peu, sob a iniciativa “europa- um património comum”. desde 1999 são desenhadas e realizadas acções cujo objectivo se centra na importância da cultura e da economia da cultura para as economias locais. apesar da crise, este objectivo é reforçado no actual quadro europa 2020. Por outro lado, em http://www.gepac.gov.pt podemos ler que, “em Portugal, o estudo enco-mendado pelo GPeari do Minis-tério da cultura ao Prof. augusto Mateus revelou que, em 2006, o sector foi responsável por 2,8% de toda a riqueza criada em Portugal. (…) o estudo conclui que a riqueza gerada superou a de sectores “tradicionais” como o Têxtil e vestuário e a alimenta-ção e bebidas e foi semelhante ao contributo do sector auto-móvel.” o Gabinete de estraté-gia, Planeamento e avaliação culturais, regido pelo decreto-lei n.º 47/2012, de 28 de fevereiro e pela Portaria n.º 136/2012, de 10 de maio, pretende assumir o papel de um serviço integrado da administração directa do es-tado com o objectivo de garantir o apoio técnico à formulação de políticas culturais, ao planea-mento estratégico e operacional e às relações internacionais, em articulação com a programação financeira. o organismo também tenta realizar o “…acompanha-mento e avaliação global de resultados obtidos, bem como assegurar o apoio jurídico e o contencioso, dos serviços e organismos dependentes ou sob tutela e superintendência do membro do Governo responsá-vel pela área da cultura.” num País em que a cultura é um dos seus activos mais relevantes pouco temos sabido por cá, no sítio real, dos efeitos desta es-trutura estatal sobre o território nacional, mormente no que se refere ao Médio Tejo. contudo, vale a pena conhecermos a página porque num dos campos da mesma apresentado como “estudos” há informação nacio-

Roteiro do Tejo: dos territórios, das pessoas e das organizações

indústrias criativas, regiões funcionais e cultura territorial

Luís Mota FigueiraProfessor coordenador do instituto Politécnico de Tomar

nal e internacional com grande utilidade para os que necessitam de desenvolver projectos neste domínio e, eventualmente, con-dições para criação de emprego ou dinamização de actividades criativas com impacte económi-co. um pouco mais de promo-ção da marca Portugal e suas sub-marcas, por parte deste gabinete central do estado, seria interessante e proveitoso serviço público. Tal com referencia richard Florida há condições de crescimento económico dos territórios quando para ele são atraídos Talentos que, fazendo parte da designada classe cria-tiva, usam e promovem as novas Tecnologias e agem, produzindo, em consonância com a Tolerân-cia, no sentido lato do termo.

nesta situação os lugares podem tornar-se espaços em que a inovação e a diversidade, bem como as preocupações com o meio ambiente e a envolvente social surgem pelas razões de que há pessoas interessadas em viverem e darem parte da sua atenção e tempo às zonas territoriais fora das grandes cidades, que hoje começam a integrar-se no que se designa por regiões funcionais. não é alheia a esta vertente o conflito inerente à mudança de sinais e de hábitos, entre quem está e quem chega. sempre foi assim, aliás. e, porque a cultura da sustentabilidade deixou de ser um desejo para se tornar numa obrigação de sobrevivência esta é uma questão que, antes de ser técnica é, seguramente cultu-ral. o estado central e as suas medidas de política, desenhadas para o todo nacional, fazem toda a diferença, nesta, como em inúmeras matérias da vida das Pessoas. Quando teremos o prazer de sabermos de acções do GePac por cá?

Participe na exposiçãoReviver o passado é o mote de uma série de eventos a promover pelo Agrupamento de Escolas de VN Barquinha. Na antiga Escola Básica do 1.º Ciclo da Praia do Ribatejo estará patente uma exposição aberta ao público a partir de 23 de Abril. A organização pede a colaboração de todos para enriquecer o espólio a apresentar, e convida a população a emprestar um qualquer objecto antigo (fotografias, livros, loiça, vestuário, etc), entregando-o na recepção da Escola D. Maria II, devidamente etiquetado com o nome, localidade e telefone.―

vila nova da barQuinHa vila nova da barQuinHa

As revoluções, como os vulcões, têm os seus dias de chamas e os seus anos de fumaça.Victor Hugo

Mega aula de Zumba No dia 13 de Abril vai decorrer no Pavilhão Desportivo Muni-cipal uma mega aula de Zumba, dirigida a todas as idades, uma actividade física que resulta da junção entre o fitness e a dan-çacom base em trabalho cardio-vascular através de ritmos latinos, diversificados e fáceis de acom-panhar.Com início às 11h00, terá como instrutoras Cleide Assei-ceiro, Joana Duarte, Margarida Azevedo, Olga Nunes e Patrícia Cambé. A participação é livre.A iniciativa é promovida pela Câ-mara Municipal do Entronca-mento, em parceria com a Liga Portuguesa contra o Cancro.―

enTroncaMenTo

(...) há condições de crescimento económico dos territórios quando para eles são atraídos Talentos (...)

ToMarBiblioteca celebra o mês livro TEXTO aNdré loPeS

Em Tomar, o mês de Abril é dedicado ao livro e a “histórias mil” com várias ac-tividades que vão decorrer na Biblioteca Municipal António Cartaxo da Fonseca.

De 1 a 11 de Abril acon-tece a primeira edição da Feira do Livro Usado, em que, por cada livro doado, se tem direito a trocar por outro livro usado. A sessão “Contos para o Umbigo”, sobre histórias para crianças e a

forma de as contar, estará a car-go do tomarense O Contador de Histórias no dia 23 de Abril, pelas 18 horas. Também a pensar nos encarregados de educação e professores vai decorrer a 30 de Abril, às 18h, a palestra “Birras e

TorreS NovaS“Conversas sobre Nós” TEXTO aNdré loPeS

“Conversas sobre Nós” é um ciclo de debates/reflexão que vai acontecer até 16 de Maio na Biblioteca Gustavo Pinto Lo-pes, em Torres Novas. A iniciati-va decorre no âmbito do projeto “PASCRI (Paarent-Shool Coo-peration in Relation to Inclusion), uma parceria entre Torres Novas e Aalborg, na Dinamarca.

Depois das sessões com Bar-bara Wong e Isabel Stiwell, é a vez de Daniel Rijo abordar “A tirania do sucesso. A (im)possibilidade de uma escola para todos”, no dia 28 de Abril, pelas 11 horas. Daniel Rijo é doutorado em Psicologia e tem desenvolvido investigação na área das perturbações da persona-lidade e do comportamento antis-social.

A 16 de Maio, Paulo Oom, colaborador no jornal i, apresenta o

livro “Não te volto a dizer! Como educar com amor e disciplina”, onde é explicada como a tarefa de educar e disciplinar pode tornar-se mais fácil e, acima de tudo, mais eficaz.

“Conversas sobre nós” trata de um conjunto de reflexões sobre a escola, a educação e os desafios da parentalidade e da cooperação parental. A entrada é livre, sujeita à disponibilidade do auditório da Biblioteca Municipal.―

Manias – A brincar também se aprende”. A inscrição para esta atividade é obrigatória e deve ser feita até ao dia 29 de Abril atra-vés do número 249310330 ou do email [email protected].―

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018 ENTREVISTANovoAlmourol

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1. Manuela azevedo num cenário de silhuetas 2. sala não encheu mas transbordou de entusiasmo3. Marido e mulher, Manuela e Hélder4. os clã têm no seu repertório algumas das canções nacionais mais doces mas são exímios rockeiros5. a banda despediu-se duas vezes e duas vezes voltou ao palco perante a insistência do público. no fim o agradecimento

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Fundados em 1992, os Clã estão sempre bem acompanhados. Em "Corrente" por Carlos Tê, Sérgio Godinho, Arnaldo Antunes ou Samuel Úria.

MaNUela azevedo

Um Clã de corrente positivaOs Clã estiveram no Cineteatro São Pedro, em Abrantes, no passado dia 28 de Março para apresentar o sétimo disco de originais “Corrente”. O NA falou com a vocalista sobre as novas canções, as colaborações que este disco trouxe e a edição de autor, que lança a banda num caminho arriscado. Do alinhamento do concerto, Manuela Azevedo revelou que foi um risco porque “em 17 músicas 11 delas eram do novo disco”, mas a resposta foi positiva. A vontade de surpreender faz parte do ADN dos Clã. É uma corrente de energia positiva que andará a percorrer o país até ao final do ano.

TEXTO aNdré loPeSFOTOgRaFIa ricardo alveS & aNdré loPeS

Depois do “Disco Voador”, destinado a um público infanto-juvenil, este era o disco esperado pelos Clã?Não sei se era o disco esperado ou não, mas estamos muito contentes com o trabalho que fizemos. Também o facto de o termos feito com calma, sem pressas, sem nenhuma pressão de ter um disco rápido - demorámos mais de um ano a fazê-lo; isso também nos trouxe uma segurança e tranquilidade maiores em relação ao que te-mos agora e ao que vamos levar a palco. Estamos muito contentes com o disco, com as canções. Foi complica-do no final escolher o alinhamento, queríamos fazer um disco mais pequenino, com 12 canções no máximo, mas foi impossível deixar as outras duas de fora e acabou por ficar um disco maior.

Ainda tinham mais músicas para escolher para o alinhamento do disco? Na verdade não. Havia mais uma ou duas que estiveram a ser trabalhadas, mas quando as 14 ficaram mais sóli-das acabámos por abandonar. Pareceram-nos que fica-vam um bocadinho fora do filme que este disco tinha. A questão era a de se mantínhamos o disco mais pequeno ou aumentar, mas na verdade as canções são pequeninas, o que acaba por não ser um disco longo.

Nuno Prata e Samuel Úria participam pela primeira vez num disco dos Clã. Como surgem as colaborações com estes músicos? Foi uma ideia que surgiu mais tarde, numa fase em que já tínhamos a maior parte das canções feitas, mas havia ainda algumas meias canções que o Helder tinha e que achava que podiam ser interessantes para poder comple-tá-las. Desde que o Helder Gonçalves trabalhou na pro-dução do segundo disco do Nuno Prata ficou logo muito entusiasmado com a ideia de poderem vir a fazer mais alguma coisa juntos. O Nuno é um compositor incrível e escreve belissimamente, tem uma forma de trabalhar muito próxima da nossa. Então, como havia uma canção que nos parecia a cara dele, acabámos por desafiá-lo. E

ainda bem que o Nuno aceitou, porque é uma canção muito bonita do álbum. No caso do Samuel Úria é uma admiração que temos por ele desde que o vimos a pri-meira vez em palco, nas Noites Ritual Rock, no Porto. Ele estava a fazer um concerto num dos palcos e ficámos encantados com a sua energia, com as canções que eram muito engraçadas, principalmente os textos, com uma maneira muito diferente de escrever, em que se notava um grande conhecimento e um grande amor pela lín-gua portuguesa. Depois acabámos por seguir mais aten-tamente o trabalho do Samuel e tivemos um encontro com ele em palco, na altura do festival Super Bock Super Rock. Tocávamos no mesmo dia e fizemos uma malu-queira de tocar uma canção que tínhamos na gaveta já há muito tempo, uma coisa muito estranha. Desafiámos o Samuel a cantá-la connosco e ele foi muito simpático. Foi um encontro divertido, perceber que a maneira como ele trabalha é muito próxima da nossa, que é um tipo bem--humorado, que não tem medo de arriscar. Ficou logo uma simpatia muito grande pelo Samuel que depois se concretizou nesse convite. Começou por escrever a “Can-ção de Água Doce” e a coisa correu tão bem que o desa-fiámos para outra que é o “Zeitgeist”.

Este disco tem uma vertente mais rock, abrasiva e outra mais melancólica, poética e até filosófica. As duas vertentes distinguem-se como um lado AM e outro FM?Não sei se será uma coisa AM-FM porque muitas vezes essas duas qualidades encontram-se numa canção. Por exemplo, “Basta”, que é das canções mais físicas do disco, tem uma pulsão rítmica forte mas tem uma letra profun-damente poética do Arnaldo Antunes. Uma das coisas que gostamos mais neste trabalho é o reconhecimento de uma energia mais rock'n'roll, mais crua, mais primitiva no pulsar das canções, nos riffs das guitarras, nas linhas do baixo e, por outro lado, a parte da escrita acaba por dar uma leitura mais poética e até filosófica e acaba por ser um complemento estranho, mas que funciona bem.

É o primeiro disco dos Clã em edição de autor. É um risco calculado?Na verdade o “Disco Voador” já foi de edição de autor, mas foi uma edição de autor ainda dentro da vigência do

contrato com a EMI. O que aconteceu muito concre-tamente foi que a EMI olhava para o “Disco Voador” e não conseguia perceber como podia vendê-lo, não o via como um disco infantil, nem como um disco dos Clã e para nós não havia confusão nenhuma, aquele disco tinha mesmo que existir e ser editado. O que fizemos foi abrir uma exceção ao contrato editorial e lançá-lo numa edição de autor e a EMI distribui-o. No caso do “Corrente” já constatámos quando estávamos a negociar o orçamento para este disco. De repente percebemos que aquilo que queríamos investir no álbum e que achávamos que era fundamental investir em termos de tempo e de dinheiro era algo que a editora não conseguia fazer. Compreen-demos que também não consiga porque as expectativas de vendas estão cada vez mais complicadas e então não fazia sentido estarmos nós, como banda, a fazermos in-vestimento e depois alguém ficar com uma coisa em que fomos nós que investimos. Então, percebemos que aque-la relação contratual não fazia sentido e divorciámo-nos de mútuo acordo. Foi uma coisa pacífica, não houve ne-nhum constrangimento nem ressentimento, de tal forma que vai ser a EMI a distribuir o disco. Agora estamos livres como passarinhos.

Foi o segundo concerto da nova digressão que começou em Vila do Conde. Como correu? Estávamos um pouco ansiosos, primeiro porque ainda es-tamos muito no começo da digressão, há muita coisa que sentimos que precisamos de afinar, as canções são muito novas, arriscámos num alinhamento que em 17 músicas 11 delas são do novo disco. É algo arriscado. Muitas das pessoas que estavam na sala não conheciam as canções de lado nenhum e em Vila do Conde aconteceu o mesmo. Mas muito francamente é um risco que nos sabe bem correr. Fiquei muito contente com a reação das pessoas, por sentir que estavam atentas, que chegavam ao final da canção e tinham entendido e apreciado. Mais do que isso, fiquei surpreendida por terem acompanhado com palmas as canções que não conhecem. É um misto de expectati-va, de algum nervosismo, ainda por cima esta semana não tivemos muito tempo para ensaiar porque eu e o Helder (Gonçalves) estivemos em Lisboa a fazer entrevistas para a comunicação social e só conseguimos ensaiar no início da semana, mas correu muito bem, estamos contentes. ―

Manuela Azevedo nasceu em Vila do Conde, em 1970 e é licenciada em Direito, pela Universidade de Coimbra. No entanto, foi a música que a arrebatou.

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ENTREVISTA 19abril 2014

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020 MÚSICANovoAlmourol

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TorreS NovaS Festas do Almonda regressam

TEXTO aNdré loPeS

As Festas do Almonda es-tão de regresso ao Jardim das Rosas em Torres Novas e são um dos destaques da progra-mação do Teatro Virgínia (TV) de Abril a Julho, a par com os concertos de Cristina Branco, do Coral Sinfónico de Portugal e da Feira Medieval.

Segundo Tiago Guedes, di-rector artístico do TV, a progra-mação pode dividir-se em três ei-xos principais, entre os quais, “os habituais espetáculos de música, teatro, dança e laboratório criati-vo; os espetáculos onde a comu-nidade local é chamada a parti-cipar e os “eventos emblemáticos da cidade como a já habitual Fei-ra Medieval (de 5 a 8 de junho) e as Festas do Almonda (de 4 a 13 de julho) que este ano regressam em força ao Jardim das Rosas”.

A 12 de Abril, entra em cena o primeiro projeto com a comu-nidade local. “Riachos Vivência, Tradição e Saudade” é o nome do espetáculo que mistura a dan-ça, pelo Rancho Folclórico “Os

Camponeses” de Riachos, e o fado, pela voz de Teresa Tapadas, Célia Barroca e João Chora.

Cláudia Hortêncio, respon-sável pelos laboratórios criativos e pelo serviço educativo do tea-tro, revelou que o Panos, Grupo de Teatro Juvenil do Virgínia, vai “apresentar duas peças de tea-tro” devido à adesão de muitos jovens”. As peças, dirigidas pelo ator e encenador Hugo Gama, serão representadas nos dias 23, 24, 25 e 26 de Abril, com sessões dirigidas às escolas e ao público geral. Ainda segundo a respon-sável, a aposta nos laboratórios criativos tem a finalidade de “es-timular o sentido crítico e artís-tico das crianças”, apostando, por isso, em temas como o respeito pelo outro, a morte, a diversidade, entre outros.

O destaque da programação de Maio vai para o concerto da fadista Cristina Branco, natural de Almeirim, e com uma repu-tada carreira além-fronteiras. A 3 de Maio a digressão interna-cional sofre uma interrupção e a cantora apresenta pela primeira vez em Portugal “Idealist”, o mais

recente disco, que reúne cerca de sessenta temas editados ao longo dos dezassete anos de canções.

A peça de teatro “As on-das”, a partir da obra de Virgínia Woolf, sobe ao palco no dia 10 de Maio e conta com a encenação de Sara Carinhas e interpretação de Cristina Carvalhal, Lígia Ro-que, Miguel Loureiro, Simão do Vale e Sofia Dinger. Na dança, Tânia Carvalho vai ao TV para trabalhar num projecto com a comunidade local. “Movimentos Diferentes” é composto por 10 solos, cada um dançado por uma pessoa da comunidade e resulta de uma residência artística de 15 dias no teatro. A música volta ao TV com um concerto pelo Co-ral Sinfónico de Portugal, a 25 de Maio, e com a Orquestra de Câmara da GNR e Choral Phy-dellius, que comemora o seu 57º aniversário, a 14 de Junho.

O Café Concerto do Tea-tro Virgínia tem também uma agenda com música diversificada. Destaque para A Viúva Escarlate dj-set, Waste Disposal Machine, banda com raízes em Torres No-vas e Tomar, e tempoEmodo.―

boNS SoNS Primeiras confirmações e mais 15 concertosTEXTO ricardo alveS

Sérgio Godinho, JP Simões, Capicua,Gisela João, Memó-ria de Peixe,Gaiteiros de Lisboa, Noiserv, BrassWiresOrchestra e Samuel Úria são os primeiros nomes avançados para a edição 2014 do Festival Bons Sons que acontece em Cem Soldos, To-mar, de 14 a 17 de Agosto.

Mas as novidades não ficam por aqui. Os 40 concertos pro-metidos pela organização pas-sam agora para 55. Luís Ferreira, o director do Festival, já tinha avançado em entrevista ao Jornal NA, que o programa estava "fan-tástico" e que a dificuldade era ter "apenas 40 bandas".

Problema resolvido. Os pri-meiros nomes avançados con-firmam a tese de Luís Ferreira, também cronista do NA, de que o programa está fantástico, e também que o Bons Sons man-terá a posição de proa na divul-gação da música portuguesa de qualidade.

Nos quatro dias do festival, de 14 a 17 Agosto, distribuídos pelos 8 palcos, juntam-se nos

largos e ruas de Cem Soldos ar-tistas consagrados com projectos emergentes, cruzam-se lingua-gens tradicionais e contempo-râneas e celebram-se os BONS SONS.

O Festival beneficia os mais rápidos com Passes de 4 Dias por apenas €20, disponíveis aos balcões da FNAC, Ticketline e CTT até ao final de Maio (limi-tado a 1.000 unidades). ―

sérgio Godinho Gisela João

Cristina Branco e Feira Medieval são também destaques da programação do Teatro Virgínia

No meu leitorpOR PaUlo variNo

"Lost in the Dream"The War on Drugs

Passaram dois anos desde que Adam Granduciel (The Viola-tors), apresentou ao público o segundo registo em estúdio dos The War on Drugs, Slave Am-bient (2011).

O novíssimo Lost in The Dream (lançado em Março des-te Ano) reforça todo o ambiente melódico e psicadélico criado pela banda oriunda de Filadél-fia, mas vai ainda mais longe, a presença de sintetizadores e a atenção dada às guitarras tiram o grupo da zona de conforto fixada até á pouco tempo, garantindo ao ouvinte boas malhas indie rock

"Pesar o Sol"Capitão Fausto

A 1ª vez que vi Capitão Fausto ao vivo (aquando da apresenta-ção do álbum de estreia Gazela), fiquei com o sentimento de que este pessoal sabia o que fazia e que estava talhado a voos mais altos.

Depois disso, ganharam uma legião de fãs, encheram salas, mudaram de editora, e passados 2 anos e pouco aparecem com "Pesar o Sol" e uma mão cheia de grandes músicas. "Maneiras Más", "Nunca faço nem Me-tade" e "Litoral" mostram bem a evolução sonora dos Capitão Fausto. Se lhes juntarmos as restantes, obtemos um álbum

consistente e coerente e a prova de que é possível fazer cá dentro música para exportar, mesmo que cantada em português.―

"Floating Coffin"Thee Oh Sees

A última vez que ouvi um álbum do princípio ao fim foi….já não me lembro. Mas lembro-me do álbum, Nevermind dos Nirvana. É difícil um álbum prender o nosso ouvido à coluna de som, há sempre uma ou outra músi-ca que corta todo o embalo ou o que seria o seguimento lógico de um disco, parte-o. Se há um disco que ouço do princípio ao fim desde o ano passado sem nunca me cansar, os culpados disso são os Thee Oh Sees, banda oriunda de São Francisco e que já anda nisto há uns aninhos (desde 1997). Dizem que o estilo está

entre o noise rock e o art punk. Para mim são a banda sonora perfeita para o caos.―

Banda war on drugsÁlbum "lost in The dream"Ano 2014Editorasilently canadian

do princípio ao fim, sobressaindo o 1º single, Red Eyes.

Lost in The Dream , mais um forte candidato aos melhores discos de 2014.―

Banda capitão FaustoÁlbum "Pesar o sol"Ano 2014EditorasMe Portugal

Banda The oh seesÁlbum "Floating coffin"Ano 2013Editoracastle Face

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FacebooK.coM/Jornal-novo-alMourolMÚSICA 021abril 2014

interessante seria motivar jovens Músicos a criar novos projectos. dar-lhes a conhecer de forma consistente o me-lhor que já se fez e desafiá-los a construir uma identidade contemporânea com “pés e cabeça”. não acredito na falta de criatividade. acredito sim, na falta de orientação. eu também quis ter uma banda de rock, mas não vivo em brooklyn e não fui convenientemente orienta-do. com a quantidade absurda de equipamentos públicos com condições excelentes que permitem desenvolver novas experiencias, novas abordagens artísticas, é lamentável que não os aproveitemos. Quando meti na cabeça que queria criar um projecto, uma banda, andei tempos infinitos para garantir as condições mínimas para ensaiar. Pedi material emprestado, reci-clei, adaptei e depois de muito tempo consegui ter mais ou me-nos uma boa sala de ensaio. na minha garagem ensaiavam três bandas. Fui privilegiado, tinha um sítio cheio de instrumentos ao meu dispor. É uma história comum a muitos, mas pouco co-mum a muitos mais. sem “ma-ternidade” a banda não nasce. Falo disto desde os tempos do liceu, quase todas as localidades têm uma colectividade, uma associação, a casa do povo ou a junta de freguesia. cada cidade tem o seu cine-teatro, ou apenas teatro ou mesmo um centro cultural. É precisamente nesses espaços que se deveria criar condições para receber novos projectos. as condições que falo não são nada de mais, são um investimento irrisório compa-rado com a maioria dos monos que vejo sem vida por caprichos mal explicados. uma sala pú-blica para ensaios não deve ser nada de muito complicado, deve ser um local a respeitar e um ponto de encontro de músicos e divulgadores de Música. É muito mais fácil encontrar um rumo quando partilhamos e discuti-mos visões entre pares interes-sados. não teremos identidade musical se não a construirmos. será que a nossa identidade e memória musical se resume apenas aos Grupos de cantares, aos ranchos Folclóricos e ao Fado? não desprezo nenhum deles, acho muito bem que se

Humberto FelícioMúsico e Produtor

Crónica Musical

Música interessante

perpetuem. Mas se quisermos ter uma região atractiva do ponto de vista artístico teremos que investir nesse campo. nunca tive problemas em procurar e investigar as raízes, acontece por instinto. não encontro um fio condutor para além da Música tradicional e erudita. aparecem projectos, mais ou menos, de todas as correntes mas são raros os que se debruçam sobre as verdadeiras raízes e as trazem para a frente, com a todas as va-lências e influencias que temos hoje. encontramos alguns dos melhores e raros exemplos disso na obra que nos deixou o grande João aguardela.

Tenho vindo a ganhar consciên-cia sobre isto e acredito que esse seria um caminho muito interessante a explorar e com potencial para construir uma identidade contemporânea. neste momento o Fado é a nova galinha dos ovos de ouro, todos os meses são lançados novos discos e novos artistas de Fado em Portugal. infelizmente, e mesmo neste contexto actual, de grande crescimento des-de género, na nossa região o Fado é tratado de forma muito provinciana, são maneiras muito descuidadas de comunicar e proporcionar um espectáculo. Já na capital o Fado cresce como trepadeiras, até já se mistura com a mais alternativa nata do rock e do Hip Hop, agora está na moda, explora-se, depois logo se vê… certo é que a Música interessante raramente está na moda. ―

Ser MUSical

Love até à últimagota de suorTEXTO Na

“Dinâmico, poderoso, essen-cialmente com diversão”, é assim que Luís Godinho e Telmo descrevem as suas actuações, “o nosso objectivo é transmitir euforia e felicidade às pessoas que estão à nossa frente”. Lido desta forma e afastando o facto de estarmos a fa-lar de música e de dois DJs, o nome “Lovemakers” poderia induzir o leitor a pensar noutros cenários…

A dupla de Torres Novas sai à noite sob a capa Lovemakers e dei-xa sempre a sua marca, em actua-ções cheias de energia e loucura à mistura. Tocam juntos há seis anos e por onde passam, um pouco por todo o país e também Espanha, quem assiste aos seus espectáculos não se esquece.

“Saltamos, esbracejamos e pomos música”, conta Godinho. Acrescente-se que no meio do som electro que debitam há com-putadores que desaparecem e pal-cos que não aguentam a energia e o “love”.”Temos muitas histórias, uma vez o público subiu para cima do palco e ele partiu-se e noutra, no meio da emoção, o computa-dor voou”, conta Telmo. “Não nos apercebemos e ficámos a olhar para a o técnico a tentar perceber por-que não havia som”, completa Go-dinho, “o público é que nos infor-

críTica

A contagiante felicidade do regresso aos palcos TEXTO ricardo alveS

Os Clã voltaram a Abran-tes e, mais uma vez, homena-gearam a música portuguesa de qualidade. No segundo concer-to da digressão de apresentação do novo disco, “Corrente” (o primeiro foi em Vila do Conde) a banda de Manuela Azevedo mostrou-se ávida de palco.

A cantora estava visivel-mente feliz por voltar à estrada ao passo que os restantes músi-cos se mostravam concentrados nas músicas novas, 11 ao todo, tocadas no Cineteatro São Pe-dro na noite de 28 de Março. Mas a energia dos músicos so-

freu em comparação com o vul-cão Azevedo, que cedo retirou o blusão de cabedal para estender a passadeira ao que lhe ia na alma.

O público, que não encheu o espaço, foi brindado com dois regressos da banda ao palco. Na verdade, não deixou que os Clã descansassem nos camaro-tes. Após os dois “não finais” de concerto, o público bateu pal-mas incessantemente até ao re-gresso ao palco, acabando numa ovação de pé retribuindo mais uma noite mágica. Pelo meio a banda deixou a plateia embeve-cida, especialmente com os re-gressos ao passado e a músicas memoráveis como “Problema

de Expressão” – que em Vila do Conde foi banda sonora para um pedido de casamento (acei-te) – “Meu Lado Esquerdo”, “Zeitgeist”, “Aqui na Terra” ou “Dançar na Corda Bamba”.

O concerto dos Clã em Abrantes mostrou que há artis-tas que podem andar longe da vista mas não do coração.

Naquela noite o público apaixonou-se de novo e uma sempre sorridente e comunica-tiva Manuela Azevedo mostrou que a banda está para as cur-vas apesar dos seus 22 anos de existência. E ainda houve tem-po para cantar os parabéns ao baterista, Fernando Gonçalves, em família.―

mou. O computador não se partiu, foi ligar e continuar!”.

A dupla tem gostos musicais diferentes entre si mas também diferentes da que passam nos seus espectáculos e talvez por aí se ex-plique a singularidade das actua-ções. Isso e um visível gosto pela diversão. Telmo gosta mais de música reggae ao passo que Godi-nho prefere o punk, “mas também de Frank Sinatra, ou Nick Cave”. Junta-se tudo isto com a música electrónica e temos noites de pura produção amorosa.

Paralelamente aos Love-makers, há ainda as festas “We Are Lovemakers”, em que os dois DJs organizam todo o cartaz e convidam artistas de que gostam e crêem ter qualidade para ser divul-gada. Em Junho celebram mais um aniversário.

Os Lovemakers têm também

no marketing uma imagem de marca. Inicialmente começaram com preservativos Lovemakers e a panóplia de produtos alargou-se a pins, autocolantes, óculos de sol, pachachas (carteiras) entre outros. A marca inconfundível da dupla está também no Meo, com um ca-nal (159329) em que os fãs podem ver actuações e ouvir outras músi-cas ao gosto dos Djs.

Os Lovemakers já deixaram a sua marca em muitos locais de referência como o MusicBox ou o Europa no Cais do Sodré, Ibiza, e são presença frequente no Café Concerto em Torres Novas e em Festas universitárias e queimas das fitas. A lista é longa. Os próximos a recebê-los são os espanhóis, em Abril, e Leiria e Torres Novas em Junho. Certo é que para onde vão levam MEBA: Música Electrónica à bruta. E Amor.―

luís Godinho e Telmo a criar love em palco

(...) Uma sala pública para ensaios não deve ser nada de muito complicado, deve ser um local a respeitar e um ponto de encontro de músicos e divulgadores de Música (...)

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022 AGENDANovoAlmourol

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SeMaNa SaNTa -Sardoal

Fé e tradição nas celebrações religiosas TEXTO aNdré loPeS

A tradição alia-se à fé, uma marca indelével do Sardoal, criando um am-biente místico de grande im-portância para crentes, não crentes e agnósticos. De 12 a 20 de Abril, o louvor religioso ganha relevância com as eu-caristias, procissões, igrejas e capelas enfeitadas com flores e outros adornos.

Na Quinta-feira San-ta, dia 17 de abril, realiza-se a procissão do Senhor da Misericórdia, também co-nhecida como Fogaréus, que tem o Sermão do Mandato na Igreja de Santa Maria da Caridade. A Irmandade da Misericórdia organiza a procissão desde 1816 e os Ir-mãos da Misericórdia acom-panham o ritual envergando

capas negras e os painéis com representações da Paixão e Morte de Cristo. A ilumi-nação pública é desligada e a procissão é iluminada por velas e archotes. A Procissão do Enterro do Senhor sai à rua na Sexta-feira, 18 de abril, percorrendo as ruas do centro histórico da vila, passando pela Igreja de Santa Maria da Caridade e retoma à Igreja Matriz.

No Domingo de Pás-coa, a procissão da Ressur-reição é acompanhada pela irmandade do Santíssimo Sacramento, sendo as ruas por onde passa a procissão ornamentadas com flores e verduras e nas janelas são colocadas colchas coloridas. As celebrações da Páscoa são organizadas pela paróquia de Santiago São Mateus, Santa Casa da Misericórdia de Sar-

doal, Irmandades e Câmara Municipal de Sardoal. .

Pétalas de flores ador-nam chão de igrejas e ca-pelas. Perde-se no tempo a tradição de se enfeitar as igrejas e as capelas de Sardoal com tapetes de flores e ver-duras. Durante alguns me-ses que antecedem a Páscoa, moradores, associações, alu-nos e professores do Agrupa-

mento de Escolas de Sardoal, em geral, toda a comunidade local intervém na preparação dos tapetes de flores que po-dem ser vistos de quinta-feira Santa a domingo de Páscoa em duas igrejas e seis capelas da vila. As flores são, na maior parte das vezes, apanhadas em campos ou jardins e quando não as há, devido ao inverno rigoroso, têm de ser compradas.

eNTroNcaMeNTo

Torneio Tejo Cup 14TEXTO Na

O padrinho do Torneio Tejo Cup 14 é João Viei-ra Pinto, ex-estrela dos relvados de Boavista, Ben-fica e Sporting, cuja 1ª fase decorreu nos dias 22 e 23, em Chamusca, Tomar, Fa-zendas de Almeirim e San-tarém. A grande festa da final será no dia 1 de Maio no Complexo Desportivo Municipal do Bonito, no

Entroncamento. No W Shopping em

Santarém decorreu no dia 17 de Março a conferência de imprensa de apresenta-ção do Torneio Tejo Cup 14, a qual contou com a presença do patrono da edição deste ano, o actual-mente director da Federa-ção Portuguesa de Fute-bol, João Vieira Pinto, Rui Manhoso, Vice-Presidente da Federação Portugue-sa de Futebol, Francisco

Jerónimo, Presidente da Associação de Futebol de Santarém, Pedro Ribeiro, Presidente da Comunida-de Intermunicipal da Lezí-ria do Tejo e Maria do Céu Albuquerque, Presidente da Comunidade Intermu-nicipal do Médio Tejo.

Sublinhando a im-portância do evento, a conferência de imprensa contou igualmente com as presenças de António Quintela, administrador

João vieira Pinto com alfredo lopes da autarquia entroncamentense

da empresa Agostinhos, patrocinador do Torneio, Rui Rosa, director-geral do W Shopping, Fernan-do Freire, Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova da Barquinha, José Alfredo Lopes, chefe de gabinete do Presidente da Câmara Municipal do Entroncamento, António Torres e Miguel Pombeiro, administradores delegados da Comunidade Intermu-nicipal da Lezíria do Tejo

e do Médio Tejo, respecti-vamente, Agnelo Alexan-dre, delegado à Assembleia Geral da Federação Por-

tuguesa de Futebol, para além de vários elementos da direcção da Associação de Futebol de Santarém. ―

Exposições e concertos completam programa da Semana Santa. A juntar ao programa religioso, a Sema-na Santa no Sardoal tem um programa complementar com exposições e concer-tos. São exemplo disso, os concertos que a Filarmóni-ca União Sardoalense está a preparar para o dia 12 de abril, na Igreja Matriz, e a 19 do mesmo mês no Centro Cultural Gil Vicente. Este

espaço cultural vai receber ainda a exposição “Rota das 7 Irmãs”, uma proposta à des-coberta de capelas, ermidas e santuários no Concelho de Abrantes e do Sardoal, e um Recital de Piano no dia 20 de abril. Este ano o GETAS, centro cultural, vai recriar a “Paixão de Cristo” de uma forma original. O teatro de rua, no dia 18 de abril, vai ser feito à noite, pelas 21h30, no centro da vila.―

capelas enfeitadas são um dos atractivos

Procissão do enterro do senhor

Page 23: Jornal novo almourol ed395 Abril

Abril Semana Santa Sardoal12 a 20 de Abril Vila de Sardoal A semana Santa atrai milhares de visitantes de todo o país e abre a época de festividades regulares na região.

Cinema9, 16, 23 Abril

Abrantes Cine-Teatro São Pedro

Org. Espalhafitas21h30

-9 Abril – “Deus, Pátria,

Autoridade”16 Abril – “Kinatay”

23 Abril – “A Morte de Um Burocrata”

-

“Território Comum”

Espólio da Ordem dos Arquitectos Até 25 Maio

Escola Ciência Viva de Vila Nova da Barquinha

-

Festival da Lampreia

Até 20 AbrilRestaurantes aderentes do

concelho de Mação-Concerto

Filarmónica União

Sardoalense 12 Abril

Igreja Matriz, Sardoal

21h-

“Rendez Vous”, Dança

contemporânea com Victor Hugo Pontes e Hélder

Seabra 11 Abril Cine-Teatro

São Pedroabrantes 21h30

-

“Exposição comemorativa dos 150 anos

de Roque Gameiro” Até 30 Abril

AlcanenaMuseu de Aguarela

Roque Gameiro -

Música TeaTro/dança saber cineMa PaTriMónio eTnoGraFia ar livre GasTronoMia liTeraTura eXPosição

FacebooK.coM/Jornal-novo-alMourol

CARDÁPIO CULTURAL 023abril 2014

XX Mês do Sável e da Lampreia

Até 20 Abril Restaurantes aderentes

concelho de Vila Nova da Barquinha

-

“Rota das 7 Irmãs”

A partir de 5 Abril Centro Cultural Gil Vicente,

Sardoal -

“Bustos e Cabeças”Desenhos e

Esculturas de Rui Sanches

Até 25 Maio Galeria do Parque

Vila Nova da Barquinha-

Noite de Fados com Tina Jofre, António Louren-

ço, Paulina Queirós 26 Abril

Sede do Grupo Folclórico “Os Pescadores de Tancos”

Tancos 21h30

-

“Voando” cerâmica

de António Vasconcelos

Lapa Até 24 Abril

quARTelGaleria Municipal de Arte,

terça a sábado, das 10h às 13h e das 14 às 19h

-

Carlos Alberto Moniz apresenta

“Resistir de Novo” 25 Abril

Cineteatro São PedroAbrantes 21h30

-

Cristina Branco apresenta “Idealist”

3 MaioTeatro VirgíniaTorres Novas

21h30 -

“Exposição sobre

Tabuleiros"12 a 20 Abril

Casa Vieira Guimarães, Tomar

-

10 Abril Encontros

Documentais: “Museus - Conservar

e Divulgar” 10 Abril

Biblioteca José Cardoso Pires, Vila de Rei

14h-

“Riachos Vivências,

Tradição e Saudade”

com o Rancho Folclórico

Os Camponeses de Riachos

12 Abril Teatro VirgíniaTorres Novas

21h30 -

Festas do concelho

e Festa de Nossa Senhora

da Boa Viagem 19 a 21 Abril

Constância Música, exposições,

artesanato, gastronomia, desporto

-

Zé Perdigão convida José Cid

e Adufeiras de Idanha

25 Abril Cineteatro São Pedro,

Alcanena 21h30

-

CenOurém Festival de

Teatro Amador do Concelho de

Ourém 7 Mar - 25 Abril

Cineteatro Municipal de Ourém

21h30 - Feira de Artes,

Coleccionismo e Velharias

13 AbrilTomar

-

“Irmã Lúcia – Uma Oração”,

com Maria José Paschoal

12 Abril Clube União de Recreios

de Moita do Norte Vila Nova da Barquinha

21h-

Teatro de Rua “A Paixão de Cristo” pelo

GETAS 18 Abril

Ruas de Sardoal21h30

-

Recital de Piano 20 Abril

Centro Cultural Gil VicenteSardoal

-

De Tomar e dos Conventos

Doçaria Tomarense Até 30 Abril

RPastelarias aderentes de Tomar

-

“Sisters II” por Dora

e Dina VitóriaAté 30 Abril

Casa da Cultura da Sertã -

Conversas sobre nós - Reflexões sobre escola,

educação e parentalidade

“A Tirania do Sucesso” por

Daniel Rijo28 Abril

Biblioteca Gustavo Pinto Lopes

Torres Novas 11h-

Page 24: Jornal novo almourol ed395 Abril

"(...) as mais insuspeitas acções que nascem no Médio Tejo abrem caminho à surpresa global e, por isso, à sustentabilidade deste território (...)"

024 POR AGORA É TUDO abril 2014

coNSTÂNcia

Centro Escolar de Montalvo avançaCâmara Municipal de Constância recebeu a aprovação da candidatura através da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro

TEXTO Novo alMoUrol

Os constrangimentos finan-ceiros impostos pela crise e pelo governo aumentaram substan-cialmente a dependência das autarquias dos quadros de apoio comunitário e apesar de anuncia-da intenção de completar a rede educativa no concelho com um novo centro escolar em Montal-vo – existem dois, em Constân-

cia e Sta Margarida – a hipótese chegou a ser posta em causa.

No entanto, a obra avança, estando a autarquia a aguardar a marcação da data para assinatura do contrato, para posteriormente desenvolver toda a tramitação le-gal, e iniciar os trabalhos o mais breve possível (ver pág. 10).

A previsão orçamental para a construção do equipamento é de um milhão e trezentos mil euros, a qual terá um apoio financeiro de cerca de novecentos e qua-

o que une as páginas deste número do na, que percorrem as palavras de benno werlen, de Manuela azevedo ou de Júlia amorim? o que une essas palavras às notícias sobre os seminários em Mação, ao novo centro escolar para Montalvo ou à agenda regional que, pouco a pouco, o na e os municípios da ciMT vão construindo? a resposta é: qualidade! cada vez mais se vai percebendo neste mundo de ve-locidade alucinante que a harmo-nia e a sustentabilidade resultam não apenas de planeamentos mas, sobretudo, de cruzamentos, muitas vezes imprevistos, de pro-jectos e pessoas com qualidade, seja no que for.

Tal como a canção popular na-politana do início do século XX se transformou em música clássica pela inovação e qualidade que comportava, as mais insuspeitas acções que nascem no Médio Tejo abrem caminho à surpresa global e, por isso, à sustentabi-lidade deste território, podendo converter-se em bons exemplos para um planeta cada vez mais integrado. cada vez mais o Médio Tejo vai sendo objecto de estudo internacional sobre as suas boas práticas de gestão integrada do território. Haverá muitíssima coisa a melhorar e a corrigir, mas quem só vê o copo meio vazio nunca consegue mudar a vida. e o Médio Tejo pode mudar a vida para melhor e, por esse caminho, ajudar a mudar o Mundo.

Editorial

Qualidade no Médio Tejo

renta mil euros, através do FE-DER - Regulamento Específico Requalificação da Rede Escolar do 1º Ciclo do Ensino Ensino Básico e da Educação Pré-Es-colar, no âmbito do Programa Operacional Regional do Centro 2007-2013 QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional. A parte não financiada do pro-jecto, que se estima em cerca de trezentos e sessenta mil euros, será assegurada pelo orçamento da Câmara Municipal.―

Luiz Oosterbeek director

Hotel Turismo fecha portasA unidade hoteleira foi encerra-da por ordem judicial e deveu--se à decisão da assembleia de credores do Hotel Turismo que recusou o plano de recuperação apresentado pela empresa con-cessionária da unidade hoteleira.Com 18 funcionários e capaci-dade de 43 quartos e suítes, o Hotel Turismo de Abrantes está encerrado desde dia 31 de Mar-ço. Em 2012 a nova administra-ção anunciara um investimento de 4,5 ME para um projecto de modernização do hotel.

"Viver o Tejo" expande-seA marca, criada pela Associação Empresarial, vai passar a abran-ger também a região da Lezíria do Tejo permitindo a dinami-zação do potencial turístico de todo o Ribatejo, com o objectivo de exponenciar o potencial das margens ribeirinhas do Tejo. Na região do Médio Tejo são já mais de 100 os operadores turís-ticos que aderiram ao projecto. Os interessados poderão con-tactar a associação caso preten-dam conhecer melhor ou aderir gratuitamente a esta marca.

abranTesnersanT

Morreu Augusto Caldeira Faleceu no dia 5 de Abril com 78 anos e era presidente da Assembleia da Freguesia de Praia do Ribatejo. Natural da Sertã, era igualmente Major Paraquedista na reforma. À família enlutada o Jornal NA apresenta as suas condolências.

vila nova da barQuinHa

Título Jornal Novo almourol propriedade ciaar - centro de interpretação de arqueologia do alto ribatejo Director luiz oosterbeek Sub-Directora cidália delgado Editor ricardo alves Chefe de Redacção andré lopes Redacção Maria de lurdes Gil Jesuvino, Paulo varino, rafael ferreira, Patrícia bica, Núcleo de comunicação eSTa Opinião antónio luís roldão, alves Jana, augusto Mateus, antónio carraço, Teresa Nicolau, João Gil, luís Mota figueira, luís ferreira, João Geraldes Marques, Joaquim Graça, bruno Neto, Humberto felício, Tiago Guedes, carlos vicente, Miguel Pombeiro Edição gráfica Pérsio basso e Paulo Passos Foto-grafia flávio Queirós, ricardo alves, ricardo escada paginação Novo almourol publicidade Novo almourol Departamento Comercial 249 711 209 - [email protected] Jornal Mensal do Médio Tejo registo erc nº 125154 Impressão fiG - indústrias Gráficas Sa Tel. 239 499 922 fax. 239 499 981 Tiragem Média Mensal 3500 ex. Depósito Legal 367103/13 Redacção e administração centro de interpretação de arqueologia do alto ribatejo - largo do chafariz, 3 - 2260-419 vila Nova da barquinha Email [email protected] / [email protected]

Novo Almourol

Moinhos Museus

A Câmara Municipal de Sardoal Inaugurou no dia 5 de Abril, um espaço museológico dedicado à actividade dos moleiros, um acervo que visa integrar a futu-ra Rota do Pão. O novo espaço resulta da doação de um espólio material ligado ao trabalho nos moinhos, cedido pela família do moleiro Tiago Baptista, e vai ser integrado num projeto que resul-tou na requalificação de quatro moinhos de vento existentes na aldeia de Entrevinhas.

sardoal