Logística Reversa

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO FERNANDA SANTOS MOTA INSERÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS EM PROGRAMAS EMPRESARIAIS DE LOGÍSTICA REVERSA UM ESTUDO MULTI-SETORIAL NO ESTADO DE SÃO PAULO SÃO PAULO, SP 2012

description

Reciclagem - Indústria. 2. Reaproveitamento (Sobras, refugos, etc.). 3. Logística empresarial. 4. Desenvolvimento sustentável - São Paulo (Estado).5. Cooperativismo. 6. Cooperativas de Catadores de Materiais Recicláveis. I. Barbieri, José Carlos. II. Dissertação (mestrado) - Escola de Administraçãode Empresas de São Paulo. III. Título.

Transcript of Logística Reversa

  • FUNDAO GETULIO VARGAS

    ESCOLA DE ADMINISTRAO DE EMPRESAS DE SO PAULO

    FERNANDA SANTOS MOTA

    INSERO DAS ORGANIZAES DE CATADORES DE MATERIAIS

    RECICLVEIS EM PROGRAMAS EMPRESARIAIS DE LOGSTICA REVERSA

    UM ESTUDO MULTI-SETORIAL NO ESTADO DE SO PAULO

    SO PAULO, SP

    2012

  • FERNANDA SANTOS MOTA

    INSERO DAS ORANIZAES DE CATADORES DE MATERIAIS

    RECICLVEIS EM PROGRAMAS EMPRESARIAIS DE LOGSTICA REVERSA

    UM ESTUDO MULTI-SETORIAL NO ESTADO DE SO PAULO

    Dissertao apresentada Escola de

    Administrao de Empresas de So Paulo da

    Fundao Getlio Vargas, como requisito para

    obteno do ttulo de Mestre em Administrao

    de Empresas.

    Linha de Pesquisa: Gesto Socioambiental e da

    Sade.

    Orientador: Prof. Dr. Jos Carlos Barbieri.

    SO PAULO, SP

    2012

  • Mota, Fernanda Santos Insero das organizaes de catadores de materiais reciclveis em programas empresariais de logstica reversa: um estudo multi-setorial no estado de So Paulo / Fernanda Santos Mota. - 2012. 147 f. Orientador: Jos Carlos Barbieri Dissertao (mestrado) - Escola de Administrao de Empresas de So Paulo. 1. Reciclagem - Indstria. 2. Reaproveitamento (Sobras, refugos, etc.). 3. Logstica empresarial. 4. Desenvolvimento sustentvel - So Paulo (Estado). 5. Cooperativismo. 6. Cooperativas de Catadores de Materiais Reciclveis. I. Barbieri, Jos Carlos. II. Dissertao (mestrado) - Escola de Administrao de Empresas de So Paulo. III. Ttulo.

    CDU 628.477.61(816.1)

  • FERNANDA SANTOS MOTA

    INSERO DAS ORANIZAES DE CATADORES DE MATERIAIS

    RECICLVEIS EM PROGRAMAS EMPRESARIAIS DE LOGSTICA REVERSA

    UM ESTUDO MULTI-SETORIAL NO ESTADO DE SO PAULO

    Dissertao apresentada Escola de

    Administrao de Empresas de So Paulo da

    Fundao Getlio Vargas, como requisito para

    obteno do ttulo de Mestre em Administrao

    de Empresas.

    Linha de Pesquisa: Gesto Socioambiental e da

    Sade.

    Data de Aprovao: ______/______/_________

    Banca Examinadora:

    ________________________________________

    Prof. Dr. Jos Carlos Barbieri (orientador)

    FGV-EAESP

    ________________________________________

    Prof. Dr. Luiz Carlos Di Serio

    FGV-EAESP

    ________________________________________

    Profa. Dra. Maria Tereza Saraiva de Souza

    UNINOVE

  • Deus pela Sua Providncia e Verdadeira

    Sabedoria.

    Nem vos chameis mestres, porque um s o vosso Mestre, que o Cristo.

    (Mateus 23,10)

  • AGRADECIMENTOS

    Louvo a Deus pela oportunidade, agradeo a Maria por ter passado na frente dos meus

    estudos e me sinto agraciada pela ao do Esprito Santo iluminando minha mente.

    No decorrer desta pesquisa, ocorreram inconvenientes que me deixaram em situaes

    delicadas. Sendo assim, o sentimento de Unidade proporcionado pelo apoio de pessoas foi

    fundamental para que eu tivesse garra e perseverana, superando os desnimos gerados por

    comentrios sobre as condies desfavorveis em que me encontrei em determinados

    momentos, no desistindo mesmo ciente que no seria conforme imaginava. Confesso que

    certas ocorrncias derivaram-se da minha imaturidade. O mestrado, ento, mais do que

    representar uma etapa de crescimento profissional, proporcionou aprendizagem para vida

    pessoal.

    Agradeo s pessoas mais importantes da minha vida que me estimularam e auxiliaram no

    decorrer da pesquisa: meus pais Edson e Alaide! A presena de vocs (mesmo que, s vezes,

    somente em pensamentos) representou a rocha no meio da areia movedia de incertezas e

    inseguranas. Apesar de ter demorado em ouvir seus conselhos, agradeo ao meu irmo

    Edson pela orientao e alertas profissionais com base em suas experincias.

    Sou grata ao meu noivo Gabriel que, mais do que compartilhar sorrisos e lgrimas, divide

    comigo sonhos! Agradeo por ter sido meu assistente de pesquisa e pela compreenso e

    espera para minha dedicao aos preparativos do casamento.

    Agradeo ao meu orientador Prof. Barbieri pela confiana, pelas ricas discusses sobre

    resduos slidos tentando transmitir um pouco de toda sua experincia e pela pacincia.

    A todos os amigos do Ministrio Universidades Renovadas que so meu irmos na f na

    busca pela Civilizao do Amor atravs de obras, crendo que Ele capacita os escolhidos. s

    amigas Carol, Ktia e Emlia que, mesmo na minha ausncia nesse tempo, sei que podemos

    contar uma com as outras! Aos colegas do Departamento (POI) que me fizeram valorizar a

    rotina do dia a dia, em especial secretria Mrcia e colegas Cristiane, Josiane e Milton.

    De maneira geral, aos familiares, amigos e colegas que, s vezes, cruzamos nossos passos no

    caminho da vida, compreendendo seu sentido, que o Amor.

    Nesta pesquisa transmitirei um pouquinho do que aprendi com o orientador, disciplinas

    cursadas na FGV e com as cooperativas de catadores. Vale destacar a frase de um catador de

    materiais reciclveis: [...] se quiser mudar o mundo, basta juntar o lixo reciclvel em uma

    caixa de papelo!.

  • "[...] no tenho um rancor nenhum desses

    momentos que passei na minha vida, que foram

    momentos bons para eu poder aprender,

    aprender e poder dialogar, poder conversar e

    aprender, e a vida assim mesmo, a gente vai

    apanhando para aprender; mas hoje na verdade,

    vrios desses a que fechavam as portas hoje a

    gente pode sentar, a gente conversa... Ento

    assim, hoje um outro momento, hoje um

    momento que a indstria senta com a gente, a

    gente pode dialogar, pode conversar, e pensar em

    negcios, em arranjos de negcios. Ento eu

    acho que esse foi o grande avano do processo.

    Catador de Materiais Reciclveis (Nome no identificado por sigilo e confidencialidade)

  • RESUMO

    A pesquisa objetivou compreender a insero de organizaes de catadores em programas

    empresariais de logstica reversa para reciclagem de embalagens ps-consumo. O estudo

    multi-casos englobou programas empresariais de quatro setores de embalagens: vidro,

    papelo, embalagem longa vida e plstico PET. As unidades de anlise foram as relaes

    empresa/cooperativas de catadores. Utilizou-se como requisito para seleo dos programas o

    avano das cooperativas na cadeia reversa atravs da sua atuao como fornecedoras de

    primeira camada, ou seja, sem intermedirios. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com quatro empresas e quatro cooperativas de catadores, sendo uma delas

    analisada como explanao rival. De maneira geral observou-se que as caractersticas dos

    programas so funo das motivaes para estruturao da logstica reversa, seja pela

    responsabilidade socioambiental, recuperao de materiais, competitividade da embalagem,

    imagem corporativa ou compras de materiais secundrios. Alm da obteno de escala e

    regularizao, o avano das cooperativas de catadores nessas cadeias de suprimentos foi

    viabilizado atravs da aprendizagem prtica quanto correta identificao e seleo de

    materiais reciclveis e desenvolvimento de processos de pr-processamento para garantia de

    qualidade conforme, exigncias das empresas. Vale destacar tambm a infraestrutura obtida

    atravs de convnios com a Prefeitura Municipal de So Paulo e de financiamentos pelo

    Banco Nacional do Desenvolvimento - BNDES. Em dois casos analisados constatou-se a

    atuao de empresas de bens de consumo na gesto de fluxos de informaes, permitindo uma

    gesto eficiente das operaes de logstica reversa. Em todos os programas estudados, apesar

    da comercializao direta, faz-se necessria a realizao de etapas de beneficiamento pelas

    empresas com emprego de tecnologias apropriadas. Para as cooperativas de catadores a

    comercializao direta tem proporcionado melhores preos dos materiais reciclveis e

    perspectivas de vendas em longo prazo e, consequentemente, perspectivas de vida e

    reconhecimento profissional dos catadores.

    Palavras-Chave: Logstica Reversa. Recuperao de Produtos e Materiais. Embalagens Ps-

    consumo. Reciclagem. Cooperativas de Catadores de Materiais Reciclveis.

  • ABSTRACT

    The research aimed to understand the inclusion of scavengers cooperatives in business

    programs to recycle post-consumer packages by reverse logistics. The multi-cases study

    involved four packaging sectors: glass, cardboard, PET plastics and aseptic packagings for

    liquid and semiliquid foods (known as long life packages). The units of analysis were the relations firm/scavengers cooperatives. The program selection requirement was the

    cooperatives advancement in reverse chain as first layer suppliers, without "middlemen".

    Semi-structured interviews were conducted with four companies and four cooperatives of

    collectors; one of them was analyzed as a rival explanation. In general it was observed that

    programs characteristics are function of the firm motivations to implement reverse logistics,

    like social and environmental responsibility, material recovery, packaging competitiveness,

    and branding or secondary materials purchases. Besides scale and regularization, the

    advancement of scavengers cooperatives in these supply chains has been made possible by

    learning by doing to identify and select recyclable materials, pre-processing process development for quality assurance in accordance with business requirements. It was also

    noteworthy the advantages of infrastructure, obtained through agreements with the

    Municipality of Sao Paulo and banks funding. In two cases we found the information flow

    management performed by consumer goods companies, which allowed more efficient reverse

    logistics operations. In all programs studied, the recycled materials processing by firms was

    necessary before reintroduce them in production. These programs provides best recyclable

    materials prices and long term sales prospects for cooperatives, thus, prospects for their life

    and recognition of waste collectors as professionals.

    Key Words: Reverse Logistics. Product Recovery and Materials. Post-consumer Packaging.

    Recycling. Scavengers Organizations.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Processos e funes em gesto de cadeia de suprimentos. ...................................... 19

    Figura 2 - Relaes entre unidades produtivas na gesto de cadeia de suprimentos................ 20

    Figura 3 - Cadeia de valor, segundo Porter. ............................................................................. 21

    Figura 4 - Alternativas para reduo de resduos. .................................................................... 26

    Figura 5 - Classificao de pesquisas em gesto ambiental em cadeias de suprimentos. ........ 29

    Figura 6 - Motivadores de prticas de logstica reversa. .......................................................... 32

    Figura 7 - Modelo relacional para estruturao da logstica reversa. ....................................... 40

    Figura 8 - Modelo de relao capital/trabalho baixa nas atividades de catadores de materiais

    reciclveis. ................................................................................................................................ 53

    Figura 9 - Atuao das organizaes de catadores na reciclagem em canais reversos ps-

    consumo. ................................................................................................................................... 54

    Figura 10 - Diagrama de Venn, representando setores de materiais reciclveis e integrao das

    .................................................................................................................................................. 61

    Figura 11 - Registro fotogrfico da prensagem de papelo e de fardos na Cooperativa

    Coopamare. ............................................................................................................................... 70

    Figura 12 - Registro fotogrfico de materiais reciclveis na triagem e seleo de plsticos e

    sucata metlica pela Cooperativa Cooperao. ........................................................................ 74

    Figura 13 - Registro fotogrfico de veculo usado na coleta de vidros e cacos de vidros na

    Cooperativa Vira Lata. ............................................................................................................. 79

    Figura 14 - Modelo relacionando motivaes das empresas, quantidade de cooperativas de

    catadores e exigncias das empresas s cooperativas de catadores. ....................................... 101

    Figura 15 - Relaes entre cooperativas de catadores e empresas estudadas no setor de

    papelo. ................................................................................................................................... 111

    Figura 16 - Qualidade dos fardos de papelo confeccionados pelas cooperativas Coopamare e

    Vira Lata. ................................................................................................................................ 112

    Figura 17 - Relaes entre cooperativas de catadores e empresas estudadas no setor de vidro.

    ................................................................................................................................................ 114

    Figura 18 - Relaes entre cooperativas de catadores e empresas estudadas no setor de

    plsticos PET. ......................................................................................................................... 118

    Figura 19 - Registro fotogrfico da seleo de plsticos por uma cooperada. ....................... 119

    Figura 20 - Relaes entre cooperativas de catadores e empresas estudadas no setor de

    embalagem longa vida. ........................................................................................................... 120

  • LISTA DE TABELAS E QUADROS

    Tabela 1 ndices de reciclagem de diversos setores. ............................................................... 16

    Tabela 2 - Motivaes de empresas brasileiras para retorno de produtos. ............................... 34

    Tabela 3 - Categorias de anlise para cooperativas de catadores e empresas. ......................... 64

    Tabela 4 - Representatividade de vendas do setor e de vendas diretas, em volume e receita,

    pela Cooperativa Cooperao. .................................................................................................. 75

    Tabela 5 - Quadro comparativo das categorias de anlise para cooperativas de catadores...... 84

    Tabela 6 - Quadro comparativo das categorias de anlise para empresas. ............................. 105

    Quadro 1 - Processos de agregao de valor aos materiais secundrios. ................................. 28

    Quadro 2 - Aspectos observveis na estruturao de canais reversos. ..................................... 39

    Quadro 3 - Comparao entre sociedade por aes e cooperativas. ......................................... 44

    Quadro 4 - Quatro testes de qualidade...................................................................................... 58

    Quadro 5 - Relaes comerciais estudadas............................................................................... 61

    Quadro 6 - Fontes de dados da pesquisa. ................................................................................. 62

    Quadro 7 - Participao em eventos pela pesquisadora. .......................................................... 63

    Quadro 8 - Projeto de estudo de caso. ...................................................................................... 65

    Quadro 9 - Relao dos cargos dos entrevistados das organizaes pesquisadas. ................... 66

    Quadro 10 - Classificao dos ciclos das cadeias reversas. ..................................................... 67

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABIPET Associao Brasileira da Indstria do Pet

    ABIVIDRO Associao Tcnica Brasileira das Indstrias Automticas de Vidro

    ABPO Associao Brasileira do Papelo Ondulado

    ACI Aliana Cooperativa Internacional

    BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento

    BRACELPA Associao Brasileira de Celulose e Papel

    CBO Classificao Brasileira de Ocupaes

    CEMPRE Compromisso Empresarial para Reciclagem

    CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

    Coopamare Cooperativa dos Catadores Autnomos de Papel, Aparas e

    Materiais Reaproveitveis

    Cooperao Cooperativa Regional de Coleta Seletiva e Reciclagem

    da Regio Oeste

    Coopermyre Cooperativa de Produo, Coleta, Triagem e Beneficiamento de

    Materiais Reciclveis da Miguel Yunes

    EPI Equipamento de Proteo Individual

    FSC Forest Stewardship Council

    INSS Instituto Nacional do Seguro Social

    MNCR Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Reciclveis

    OAF Organizao de Auxlio Fraterno

    ONG Organizao No-Governamental

    OSCIP Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico

    PET Politereftalato de Etileno

    PNRS Poltica Nacional de Resduos Slidos

    SEBRAE Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    SENAC Servio Nacional de Aprendizagem Comercial

    SPC Servio de Proteo ao Crdito

    Vira Lata Cooper Vira Lata

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................................................... 12 1.1 Objetivos ............................................................................................................................ 14

    1.2 Justificativas ...................................................................................................................... 14

    2 REVISO DA LITERATURA .......................................................................................... 18 2.1 Gesto de Cadeia de Suprimentos ................................................................................... 18 2.1.1 Cadeia de Valor ............................................................................................................... 20 2.1.2 Gesto Ambiental em Cadeia de Suprimentos ................................................................ 22 2.1.3 Gesto de Resduos Slidos em Cadeia de Suprimentos ................................................. 23

    2.1.4 Recuperao de Produtos e Materiais .............................................................................. 24 2.1.5 Logstica Reversa ............................................................................................................ 29

    2.2 Cooperativismo no Brasil ................................................................................................. 41 2.2.1 Organizaes de Catadores de Materiais Reciclveis ..................................................... 45

    3 METODOLOGIA DE PESQUISA .................................................................................... 56

    4 ANLISE DOS RESULTADOS ........................................................................................ 66 4.1 Anlises Intraorganizacionais ......................................................................................... 68 4.1.1 Cooperativas .................................................................................................................... 68 4.1.2 Empresas .......................................................................................................................... 89

    4.2 Anlise das Prticas Setoriais de Logstica Reversa com Integrao de Cooperativas

    de Catadores ................................................................................................................... 110 4.2.1 Setor de Papelo ............................................................................................................ 110 4.2.2 Setor de Vidro ................................................................................................................ 113 4.2.3 Setor de Plsticos PET ................................................................................................... 117

    4.2.4 Setor de Embalagem Longa Vida .................................................................................. 119

    5 CONCLUSES .................................................................................................................. 122 5.1 Limitaes da pesquisa ................................................................................................... 126

    5.2 Sugestes para futuras pesquisas .................................................................................. 126

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................... 130

    ANEXOS ............................................................................................................................... 138

    ANEXO 1: Carta de Apresentao ..................................................................................... 139

    ANEXO 2: Termo de Confidencialidade ............................................................................ 140

    ANEXO 3: Roteiro das Entrevistas .................................................................................... 141

  • 12

    1 INTRODUO

    Por considerar as limitaes acerca da disposio final de resduos slidos em aterros

    sanitrios, o surgimento de legislaes ambientais mais restritivas, o incremento da utilizao

    de bens descartveis, a adoo de estratgias de reduo da utilizao de recursos naturais e as

    possibilidades de reaproveitamento de materiais e/ou produtos para agregao de valor,

    prticas de logstica reversa tm sido implantadas.

    A gesto de resduos atravs da recuperao de produtos visa a utilizao eficiente de

    recursos naturais (MEDINA, 1999), o incremento da vida do produto (JAYARAMAN et al.,

    1999) e a minimizao de resduos enviados aos aterros (NAKASHIMA et al., 2002).

    No Brasil, dentre os atores envolvidos na cadeia da reciclagem, destaca-se o papel do

    catador de material reutilizvel e reciclvel na recuperao de produtos e materiais (LEAL et

    al., 2003; AQUINO et al., 2009; GONALVES-DIAS, 2009; PAULA et al., 2010).

    Popularmente conhecido como catador de reciclveis, catador de sucata e agente

    ambiental, a profisso foi regulamentada como catador de material reciclvel na

    Classificao Brasileira de Ocupaes (CBO), em 2002 (MTE, 2002). Para a presente

    pesquisa, a fim de evitar redundncia e facilitar a leitura, ser utilizada a terminologia

    simplificada catador (es).

    No entanto, apesar da importncia do papel que desempenham, so pouco valorizados

    (AQUINO et al., 2009), trabalham em condies precrias e subumanas (LEAL et al., 2003);

    permeando-se por zonas de vulnerabilidades, fragilidades e precariedades ocasionadas pela

    informalidade e trabalho intensivo em condies desfavorveis (GONALVES-DIAS, 2009).

    Em contrapartida, os catadores organizam-se em cooperativas e associaes para

    quebrar o ciclo vicioso da pobreza (MEDINA, 2000), valorizar a profisso de catador

    (MOTA, 2005), adquirir legitimidade na sociedade (WILSON et al., 2006), ter os direitos

    reconhecidos (AQUINO et al., 2009), melhorar a renda (GONALVES-DIAS, 2009; BID,

    2010) e diminuir dependncia de intermedirios (WILSON et al., 2006; GONALVES-

    DIAS, 2009; BID, 2010).

  • 13

    Porm, apesar da organizao em empreendimentos autogestionrios, ainda so vrias

    as barreiras encontradas pelas organizaes de catadores para agregao de valor aos

    materiais reutilizveis e reciclveis, como a falta de capital de giro (RIBEIRO e BESEN,

    2007), a falta de qualificao profissional (BESEN et al., 2006; GONALVES-DIAS, 2009),

    de recursos materiais e tecnolgicos (RIBEIRO e BESEN, 2007; GONALVES-DIAS,

    2009), instabilidade de renda (BESEN et al., 2006; GTZ, 2010) e fragilidade na organizao

    interna (BESEN et al., 2006; GONALVES-DIAS, 2009).

    O dilogo entre organizaes de catadores e a iniciativa privada destacado como

    alternativa para a consolidao de uma cadeia de reciclagem ambientalmente adequada e

    socialmente justa e inclusiva (MOTA, 2005; BUNCHAFT, 2007). Assim, os programas

    empresariais que incluam as organizaes de catadores so alvos potenciais para

    fortalecimento da atuao desses (MOTA, 2005; TORRES, 2008; GTZ, 2010).

    Vrios autores tm apontado o surgimento de polticas ambientais como fator

    motivador para a gesto ambiental empresarial (THOMAS e GRIFFIN, 1996), estruturao de

    canais reversos (BRITO e DEKKER, 2002; LINTON et al., 2007, GONALVES-DIAS,

    2009) e reciclagem de produtos (SRIVASTAVA, 2007). Paula et al. (2010) enfatizam o papel

    das organizaes de catadores e a consolidao de programas de logstica reversa de empresas

    interessadas na recuperao de produtos.

    No Brasil, dentre os objetivos da atual Poltica Nacional de Resduos Slidos - PNRS

    (BRASIL, 2010), instituda pela Lei 12.305/2010, encontra-se o que incentiva indstria da

    reciclagem e a integrao dos catadores nas aes que envolvam a responsabilidade

    compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. Os sistemas de logstica reversa so apontados

    como instrumentos dessa poltica, podendo ser operacionalizados pelos fabricantes,

    importadores, distribuidores e comerciantes dos produtos atravs de parcerias com

    cooperativas ou outras formas de associao de catadores.

    O Decreto 7.404/2010, que regulamenta a PNRS e cria o Comit Interministerial e o

    Comit Orientador para a Implantao dos Sistemas de Logstica Reversa, prev a priorizao

    da participao de cooperativas, ou outras formas de associaes de catadores, na

    implementao e operacionalizao do sistema de logstica reversa, especialmente no caso de

    embalagens ps-consumo (BRASIL, 2010).

  • 14

    De acordo com o exposto acima, a pergunta que estimula esta pesquisa : como as

    organizaes de catadores esto sendo inseridas em programas empresariais de logstica

    reversa atravs da comercializao direta para recuperao de embalagens ps-consumo?.

    1.1 Objetivos

    O objetivo principal da pesquisa avaliar a insero das organizaes de catadores de

    materiais reciclveis na logstica reversa de empresas, atravs da comercializao direta para

    recuperao de materiais (embalagens). Quanto aos objetivos especficos, so eles:

    Realizar um levantamento de programas empresariais de logstica reversa que

    incluem as organizaes de catadores, atravs de comercializao direta, existentes

    no Estado de So Paulo;

    Descrever como os programas empresariais de logstica reversa, com incluso das

    organizaes de catadores, esto sendo estruturados, bem como suas motivaes,

    sob perspectiva de ambas as organizaes;

    Identificar oportunidades e barreiras na integrao das organizaes de catadores na

    logstica reversa em diversos setores de embalagens (papelo, vidro, plstico e

    embalagem longa vida).

    1.2 Justificativas

    No Brasil, o incremento na gerao de resduos slidos per capita, entre os anos de

    2009 e 2010, foi de 5,3% (ABRELPE, 2010). Dados indicam que, somente na regio Sudeste

    do Brasil, so geradas 81.980 toneladas dirias de lixo urbano (BRASIL, 2011). A gesto de

    resduos slidos no Brasil pode ser considerada uma problemtica contempornea e, portanto,

    potencial para desenvolvimento de pesquisas acadmicas.

    Na Agenda 21, fruto da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e

    Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, afirma-se que, para a gesto

    ambientalmente adequada dos resduos slidos, as abordagens devem ultrapassar a simples

    disposio segura, exigindo-se a aplicao do conceito de gesto do ciclo de vida de produtos

    de maneira a conciliar desenvolvimento econmico e preocupao ambiental (UNCED,

    1993). Ao se levar em considerao que a recuperao de produtos e materiais visa a

    minimizao de resduos enviados aos aterros (NAKASHIMA et al., 2002) e o incremento da

  • 15

    vida do produto (JAYARAMAN et al., 1999), essa torna-se elemento estratgico para a

    gesto de resduos slidos. Tal abordagem no gerenciamento de resduos pode gerar valor

    adicional atravs do surgimento de novas cadeias de suprimentos que reusam e reciclam

    materiais (HICKS et al., 2004). Alm da recuperao de produtos e materiais criar

    oportunidades de negcios rentveis (DOWLATSHAHI, 2010). Portanto, alm de uma

    questo estratgica na gesto de resduos slidos, a recuperao de produtos e materiais

    representa uma alternativa para a gerao de renda e trabalho, com desenvolvimento das

    cadeias de reuso e reciclagem.

    No Brasil, reportou-se acerca de um milho de catadores em 2009, considerando tanto

    os cooperativados como os autnomos, com base em dados de 2010 fornecidos pelo

    Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE)1. Os setores que apresentam destaque

    na cadeia de reciclagem no Brasil so os de alumnio, papel, vidro e plstico (ABRELPE,

    2010). Segundo dados da Associao Brasileira de Alumnio (ABAL)2, a relao entre o peso

    reciclado e o consumo domstico de alumnio, em 2008 foi de 36,6%, e, se consideradas

    somente as latas de alumnio, em 2009, obtm-se o valor de 98,3%, conforme Associao

    Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (ABRALATAS)3. Segundo a

    Associao Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA)4, no setor de papel e celulose, em

    2009, o consumo aparente de papel no Brasil foi de 8,5 milhes de toneladas e a recuperao

    de aparas foi de 3,9 milhes de toneladas, representando uma taxa de recuperao de 46%. A

    Associao Brasileira do Papelo Ondulado (ABPO)5 aponta um ndice de reciclagem de

    79,6% para o papel ondulado. J, a taxa de recuperao de plstico tipo politereftalato de etila

    (PET) foi de 55,6% em 2009, segundo dados da Associao Brasileira da Indstria de PET

    (ABIPET)6. Por fim, o ndice de reciclagem do vidro foi de 47% em 2008, conforme estudos

    da Associao Tcnica Brasileira das Indstrias Automticas de Vidro (ABIVIDRO)7,

    conforme Tabela 1, a seguir.

    1 Disponvel em: http://www.cempre.org.br/download/pnrs_002.pdf

    2 Disponvel em: http://www.abal.org.br/industria/estatisticas_recicla_total.asp?canal=8. Acesso em: 07 jul.

    2011.

    3 Disponvel em: http://www.abralatas.org.br/common/html/dadosdareciclagem.php. Acesso em: 07 jul. 2011.

    4 Disponvel em: http://www.bracelpa.org.br/bra2/?q=node/141. Acesso em: 07 jul. 2011.

    5 Disponvel em: http://www.abpo.org.br/meio_ambiente.php. Acesso em: 13 fev. 2012.

    6 Disponvel em: http://www.abipet.org.br/index.html?method=mostrarDownloads&categoria.id=3. Acesso em:

    07 jul. 2011.

    7 Disponvel em: http://www.abividro.org.br/index.php/28. Acesso em: 07 jul. 2011.

  • 16

    Tabela 1 ndices de reciclagem de diversos setores.

    SETOR NDICE DE RECICLAGEM

    Alumnio 36,6%

    Latinhas de alumnio 98,3%

    Papel 46%

    Papel Ondulado 79,6%

    Plstico PET 55,6%

    Vidro 47%

    Fonte: ABAL (2008), ABRALATAS (2009), BRACELPA (2009), ABPO (2011), ABIPET (2009), ABIVIDRO

    (2008).

    Ao se levarem em considerao os ndices de reciclagem no Brasil, evidencia-se a

    necessidade de estudos que analisem essas cadeias a fim de descrever quais so os atores

    envolvidos, quais os benefcios sociais, econmicos e ambientais oriundos da reciclagem,

    quais os fatores de sucesso que tornam o Brasil relevante no cenrio internacional, de que

    maneira a recuperao de produtos e materiais est sendo viabilizada e operacionalizada,

    dentre outras questes a serem exploradas.

    Nos pases desenvolvidos, a pesquisa em gesto de resduos tem enfatizado as

    tecnologias relacionadas coleta, ao transporte, ao armazenamento, ao reaproveitamento e

    sua industrializao (GONALVES-DIAS, 2009). J, nos pases em desenvolvimento,

    destaca-se a atuao dos catadores em detrimento aos estudos relativos tecnologia

    (GONALVES-DIAS, 2009). Alguns autores mostram que os catadores brasileiros

    encontram-se fragilizados social e economicamente (LEAL et al., 2003; AQUINO et al.,

    2009; GONALVES-DIAS, 2009), e que suas organizaes (cooperativas e associaes)

    apresentam diversas barreiras tcnicas e econmicas (BESEN et al., 2006; RIBEIRO e

    BESEN, 2007; GONALVES-DIAS, 2009, GTZ, 2010). Com a PNRS, instituda pela Lei

    12.305/2010, o governo brasileiro optou por polticas pblicas na gesto de resduos slidos

    com incluso dos catadores (BRASIL, 2010), sendo relevantes, portanto, as abordagens de

    pesquisas na gesto de resduos slidos no Brasil que considerem a atuao desses catadores,

    para que realmente sejam includos social e economicamente na cadeia de reciclagem no pas.

    As pesquisas de gesto de resduos sob a tica empresarial concentram-se no espao

    interno das organizaes e na sua capacidade de implementar polticas de reutilizao e

    reciclagem de resduos; encontram-se lacunas na literatura nacional, no entanto, para estudos

  • 17

    que tratem do papel dos catadores na cadeia de reciclagem (GONALVES-DIAS, 2009).

    Paula et al. (2010) enfatizam o papel dos catadores para a consolidao de programas de

    logstica reversa de empresas interessadas na recuperao de produtos e materiais. E,

    sabendo-se que a PNRS aponta as parcerias com cooperativas, ou outras formas de associao

    de catadores, como meio de viabilizao dos sistemas de logstica reversa, pesquisas no

    mbito acadmico que descrevam como as organizaes de catadores esto sendo inseridas na

    logstica reversa de empresas atravs de parcerias podem subsidiar polticas pblicas para a

    criao de instrumentos econmicos e implantao de acordos setoriais, bem como programas

    privados de reciclagem, visando a gesto de resduos ps-consumo com incluso de

    organizaes de catadores.

  • 18

    2 REVISO DA LITERATURA

    Primeiramente, a reviso bibliogrfica apresenta duas vertentes que se entremeiam: (i)

    a conceituao de logstica reversa inserida sob a tica de gesto de cadeia de suprimentos e

    (ii) a recuperao de produtos e materiais, com nfase na reciclagem na perspectiva

    empresarial. O foco fundamental do referencial terico a logstica reversa. Entretanto, para

    estud-la, fez necessrio um entendimento bsico sobre gesto de cadeia de suprimentos, bem

    como gesto ambiental e de resduos em cadeias de suprimentos. Em seguida, apresenta-se

    uma abordagem terica de organizaes de catadores considerando a relevncia da atuao

    dessas no panorama brasileiro de reciclagem de resduos slidos.

    2.1 Gesto de Cadeia de Suprimentos

    Nas ltimas duas dcadas, o foco para a otimizao na gesto de operaes tem sido a

    abordagem da cadeia de suprimentos (LINTON et al., 2007). Para Mentzer et al. (2001)

    cadeia de suprimentos um conjunto de organizaes envolvidas diretamente nos fluxos de

    produtos, servios, recursos financeiros e/ou informaes de um ponto de origem ao

    consumidor. Lambert et al. (1998) afirma que a gesto de cadeia de suprimentos a

    integrao de processos de negcios (conforme Figura 1). Christopher (2007, apud Carvalho

    e Barbieri, 2010) aborda a gesto dos relacionamentos com fornecedores e clientes para

    agregar valor ao cliente e reduzir custos. A motivao para implementao de processos de

    negcios, entre os integrantes da cadeia de suprimentos, pode ser tanto para tornar as

    transaes eficientes e eficazes, como para estruturar os relacionamentos entre empresas

    (LAMBERT, 2006).

  • 19

    Figura 1 - Processos e funes em gesto de cadeia de suprimentos.

    Fonte: Lambert et al., 1998, p. 2.

    Segundo Carvalho e Barbieri (2010) a integrao a palavra-chave na gesto de

    cadeia de suprimentos, seja funcional ou de fluxos de materiais, recursos, finanas,

    tecnologias, relacionamentos e/ou informaes. Os mesmos autores afirmam que, como a

    cadeia de suprimentos constituda por organizaes individuais, a gesto da mesma ocorre

    por meio de colaborao, negociao e exerccio do poder de influncias para a integrao

    entre os membros.

    As parcerias entre empresas e fornecedores so apontadas como uma questo central

    da gesto de cadeia de suprimentos para Paiva et al. (2009), considerando-se que a eficincia

    das operaes depende do planejamento conjunto e compartilhamento de informaes. Os

    autores identificam trs elementos essenciais no processo de planejamento, operao e

    controle da cadeia de suprimentos: os fluxos de materiais, financeiros e de informaes. A

    Figura 2 ilustra a gesto de cadeia de suprimentos por meio da gesto de fluxo de materiais e

    informaes entre unidades produtivas que integram uma cadeia de suprimentos (SLACK et

    al., 2008).

  • 20

    Figura 2 - Relaes entre unidades produtivas na gesto de cadeia de suprimentos.

    Fonte: Slack et al. (2008, p. 414).

    Com base no exposto acima, percebe-se que a gesto de cadeia de suprimentos por

    meio da integrao entre organizaes, visa otimizar operaes e transaes e agregar valor.

    Essa integrao, por sua vez, ocorre por meio de processos de negcios, funes, fluxos,

    relaes, transaes, dentre outros. Uma vez que o desafio est em como realizar essa

    integrao (LAMBERT, 2006), o presente estudo pretende avaliar como as cooperativas de

    catadores esto integradas na cadeia de suprimentos de empresas.

    Segundo Pires (2004), alguns autores definem cadeia de suprimentos como a

    somatria e/ou integrao de diversas cadeias de valor. Antes da abordagem terica de gesto

    ambiental e de resduos slidos em cadeia de suprimentos, apresentam-se na seo a seguir os

    conceitos referentes cadeia de valor.

    2.1.1 Cadeia de Valor

    A cadeia de valor um conceito apresentado por Porter (1989) que engloba as

    atividades de uma organizao que geram custo e agregam valor para o cliente. O instrumento

    proposto pelo autor subsidia a busca pela vantagem competitiva atravs da quantificao dos

    custos e anlise de valor agregado. Na Figura 3, a seguir pode ser visualizado o modelo

    proposto pelo autor.

  • 21

    Figura 3 - Cadeia de valor, segundo Porter.

    Fonte: Porter (1989).

    Porter (1989) divide as atividades primrias em:

    logstica interna: manuseio de material, armazenagem de insumos, controle de

    estoque, entre outras;

    operaes: embalagens, manuteno de equipamentos, operaes de produo, etc.;

    logstica externa: coleta, armazenagem de produtos acabados, distribuio fsica,

    processamento de pedidos, entre outras;

    marketing e vendas: propaganda, promoo, fora de vendas, seleo de canal de

    venda, etc; e

    servios: instalao, conserto, treinamento, etc.

    E as seguintes atividades integram as de apoio e/ou suporte:

    LO

    GS

    TIC

    A I

    NT

    ER

    NA

    OP

    ER

    A

    E

    S

    LO

    GS

    TIC

    A E

    XT

    ER

    NA

    MA

    RK

    ET

    ING

    E V

    EN

    DA

    S

    SE

    RV

    IO

    INFRA-ESTRUTURA

    GESTO DE RECURSOS HUMANOS

    DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIA

    AQUISIO

    MA

    RG

    EM

    AT

    IVID

    AD

    ES

    PR

    IM

    RIA

    S

    AT

    IVID

    AD

    ES

    DE

    AP

    OIO

  • 22

    infraestrutura da empresa: administrao, finanas, assessoria jurdica, gerncia

    de qualidade, entre outras;

    gesto de recursos humanos;

    desenvolvimento de tecnologia; e

    aquisio de insumos e recursos.

    As atividades, portanto, requerem recursos e custos, agregando valor ao produto ou

    servio. Como o valor refere-se ao percebido pelo cliente, a margem obtida atravs da

    diferena entre esse e o somatrio de custos (PORTER, 1989).

    Segundo Di Serio et al. (2007), a meta de uma estratgia genrica que o valor

    percebido pelos compradores exceda o custo atravs da liderana em termos de custo, na

    diferenciao em relao concorrncia, ou no atendimento de um nicho do mercado

    negligenciado pela concorrncia.

    No caso de cadeia de suprimentos, o encadeamento das cadeias de valor dos membros

    viabiliza a anlise de cadeia de valor da cadeia de suprimentos. Sendo assim, alm da

    coordenao das atividades da organizao, h interdependncias entre cadeias de valores dos

    membros da cadeia de suprimentos (PORTER, 1989). O autor ressalta, ento, sobre a

    necessidade de convergncia dos objetivos das cadeias de valores dos membros para um

    objetivo comum, visando benefcios mtuos de sistema de valores.

    Porter (1989) distingue cadeias fsica e virtual de valores no ambiente de negcios,

    sendo a virtual baseada na eficincia do uso da informao. O autor aborda, assim, o conceito

    de empresa ampliada atravs da coordenao dos fluxos contnuos de informao a fim de

    enxergar a cadeia de suprimentos como um todo.

    2.1.2 Gesto Ambiental em Cadeia de Suprimentos

    Linton et al. (2007) afirmaram que so necessrias pesquisas em questes sistemticas

    sobre as intersees entre gesto ambiental e cadeia de suprimentos. A gesto ambiental de

    cadeia de suprimentos tem sido motivada por questes legais e/ou pela satisfao de

    consumidores (SRIVASTAVA, 2007).

  • 23

    Segundos alguns autores, a nfase na gesto ambiental de cadeia de suprimentos deve

    ser o delineamento de responsabilidades das organizaes envolvidas e as relaes entre os

    membros da cadeia. Por exemplo, Penman e Stock (1994) afirmam que uma atitude

    ambientalmente responsvel indica relacionamentos balanceados entre clientes, usurios,

    fornecedores e governo. Barbieri e Dias (2002) afirmam que consumidores, produtores,

    distribuidores e varejistas desempenham papel nas polticas ambientais. Ou seja, as estratgias

    ambientais na gesto de cadeia de suprimentos requerem vrios graus de interao entre as

    organizaes (VACHON e KLASSEN, 2008)

    2.1.3 Gesto de Resduos Slidos em Cadeia de Suprimentos

    As vrias abordagens acerca das questes ambientais nas cadeias de suprimentos

    incluem substituio de matrias-primas, eficincia na utilizao de recursos naturais,

    reciclagem e reuso de materiais e disposio ambientalmente adequada de resduos slidos,

    estabelecendo uma hierarquia no gerenciamento de resduos slidos. Srivastava (2007) cita

    prticas empresariais pr-ativas envolvendo vrios Rs, como reduo, reuso, retrabalho,

    reciclagem, remanufatura e logstica reversa (reverse logistic, em ingls).

    Hicks et al. (2004) afirmam que o gerenciamento de resduos uma questo

    estratgica para a cadeia de suprimentos por vrios motivos, entre eles: busca das empresas na

    minimizao de resduos slidos nos processos internos e externos; incremento de legislaes

    e regulamentos nacionais e internacionais e preocupao dos clientes e consumidores quanto

    aos impactos dos produtos e servios no meio ambiente. A implementao de programas para

    reduo, reuso e reciclagem de resduos gera valores tangveis e intangveis, alm de

    contribuir para melhorar a imagem da empresa (SRIVASTAVA, 2008).

    A gesto de resduos slidos tem sido apontada de maneira sistmica por alguns

    pesquisadores, visando fechamento da cadeia de suprimentos. Demajorovic (1995) trata da

    gesto de resduos slidos sob a perspectiva de um sistema circular (ecological cycle

    management). Angel e Klassen (1999) abordaram reengenharia da cadeia de suprimentos para

    o desenvolvimento de um sistema de ciclo fechado (closed-loop system). Alguns autores tm

    especificado o fechamento do ciclo de cadeias de suprimentos sob a perspectiva da vida do

    produto, como Sarkis (2003), que afirma que o ciclo de vida do produto um fator estratgico

    organizacional que influencia na gesto de cadeia de suprimentos e impacta na sua adequao

  • 24

    ambiental. Em contrapartida viso do fechamento da cadeia de suprimentos, os

    pesquisadores Hicks et al. (2004) mostraram que a melhoria de prticas de gerenciamento de

    resduos pode gerar valor adicional atravs do surgimento de novas cadeias de suprimentos

    que reusam e reciclam materiais.

    2.1.4 Recuperao de Produtos e Materiais

    A recuperao de produtos e materiais envolve uma ampla gama de atividades, tais

    como reuso, remanufatura, reciclagem e reaproveitamento energtico. Essas atividades visam

    tanto objetivos econmicos quanto ambientais. Entre os objetivos ambientais est a

    minimizao de resduos enviados aos aterros sanitrios pela recuperao de materiais e de

    componentes dos produtos para reuso, reciclagem e remanufatura (NAKASHIMA et al.,

    2002). A reindustrializao dos resduos reciclveis de maneira a torn-los novamente

    consumveis amplamente difundida como uma ao benfica que auxilia na reduo de

    danos ambientais, pois permite o reaproveitamento de parcela dos resduos slidos,

    colaborando para soluo de um dos maiores problemas urbanos da atualidade (LEAL et al.,

    2003).

    Alm da recuperao de produtos e/ou materiais estar intimamente relacionada com a

    gesto de resduos sob a perspectiva empresarial, um sistema de recuperao de materiais

    inclui estratgias que permitem o incremento da vida do produto, como reparo, remanufatura

    e reciclagem (JAYARAMAN et al., 1999). Alm disso, a recuperao de produtos para

    remanufatura, reconfigurao e reciclagem cria oportunidades de negcios rentveis, como

    por exemplo, pela utilizao de materiais reciclveis como matrias-primas em novas cadeias

    de suprimentos e pelo surgimento de novos segmentos do mercado que valorizam produtos

    reciclados. (DOWLATSHAHI, 2010).

    Medina (1999) assim distingue os conceitos de reuso e reciclagem: enquanto o reuso

    refere-se recuperao de materiais atravs de pequenas modificaes para utilizao com a

    mesma finalidade original, a reciclagem requer algum tipo de processamento fsico, biolgico

    ou qumico para utilizao como matria-prima para novos produtos. A reciclagem envolve a

    recuperao de materiais sem conservar as estruturas iniciais do produto, mas mantm o valor

    agregado, economizando energia e matrias-primas (FIELD e SROUFE, 2007).

  • 25

    Rogers e Tibben-Lembke (1998) classificam as atividades de remanufatura e

    recuperao de produtos em cinco categorias: reparo, renovao, remanufatura, canibalizao

    e reciclagem. O reparo, a renovao e a remanufatura envolvem o recondicionamento dos

    produtos, diferenciando-se quanto aos esforos para recuperao e ao grau de melhoria.

    Canibalizao a recuperao de um conjunto restrito de partes reutilizveis de produtos

    usados e reciclagem, a reutilizao de materiais dos produtos aps seu reprocessamento.

    Brito (2004) relaciona os processos de recuperao de produtos e/ou materiais com o

    nvel do produto, que incluem o reparo (nvel de produto), a renovao (nvel modular), a

    remanufatura (nvel dos componentes), reciclagem (nvel dos materiais) e incinerao (nvel

    energtico).

    King et al. (2006) descreve e compara alternativas de reduo de resduos conforme

    apresentado na Figura 4. Segundo os autores, o reparo consiste na correo de falhas

    especficas no produto; o recondicionamento envolve a reconstruo de parte dos

    componentes; a remanufatura refere-se ao processo no qual os produtos so retornados

    empresa manufatureira original para desmantelamento, restaurao e substituio de seus

    componentes; e a reciclagem requer a utilizao de energia para a transformao de produtos

    em matrias-primas para produo de novos produtos.

  • 26

    Figura 4 - Alternativas para reduo de resduos.

    Fonte: King et al., 2006.

    Como os programas empresariais de logstica reversa, considerados neste estudo,

    objetivam a recuperao de embalagens por meio da reciclagem, a seguir apresentado um

    enfoque terico sobre o tema.

    2.1.4.1 Reciclagem

    O entendimento da reciclagem est atrelado origem da palavra ciclo que, em grego

    (kyklos) significa crculo ou roda. Um ciclo, ento, consiste em uma srie de eventos

    ou processos que retorna posio original repetidamente. A reciclagem envolve uma srie de

    atividades intermedirias de coleta, separao e processamento, pelas quais materiais ps-

    consumo so usados como matria-prima na manufatura de bens, anteriormente feitos com

    matria-prima virgem (BUTTER, 2003). Para Barbieri (2007), a reciclagem ocorre em dois

    nveis de interveno: reciclagem interna, visando minimizao de resduos e emisses, e

    reciclagem externa com a reutilizao de resduos. Um conjunto de tcnicas empregado

    visando o aproveitamento de resduos e reutilizao nos ciclos de produo de origem ou

  • 27

    paralelo, nos quais so desviados, coletados, separados e tratados para serem utilizados como

    matrias-primas na manufatura de novos produtos (SHIBAO, MOORI e SANTOS, 2010).

    Calderoni (1997) afirma que a indstria obtm ganhos com a reciclagem atravs da

    economia de matrias-primas e energia; reduo no consumo de gua e diminuio dos custos

    com controle ambiental exigido pela legislao e rgos ambientais; alm do incremento da

    vida til do produto. A reciclagem , ento, uma resposta adaptativa para a escassez, sendo

    uma atividade econmica que visa a utilizao eficiente dos recursos (MEDINA, 1999).

    Leal et al. (2003) tem uma viso complementar e afirma que a indstria de reciclagem,

    alm de recuperar o valor de uso dos materiais, recupera valor do trabalho que foi utilizado

    em sua produo e o valor de troca das mercadorias, sendo uma atividade lucrativa para os

    que detm poder de controle dessa cadeia produtiva.

    Os materiais reciclveis ps-consumo que apresentam maior destaque, no caso do

    Brasil, tm sido os papis, metais (alumnio, ferro e ao), vidros e plsticos. Calderoni (1997)

    notou que, quanto mais oligopolizado o setor, como as latas de alumnio, maior o ndice de

    reciclagem e, quanto maior pulverizao, os ndices de reciclagem encontram-se mais baixos,

    como o caso do setor de plstico.

    Gonalves-Dias (2009) relata que os atores da cadeia de reciclagem podem ser

    diferenciados quanto (i) devoluo, com qualquer integrante da cadeia sendo responsvel

    por essa etapa, incluindo consumidores; (ii) recebimento, com receptores ao longo da cadeia

    de suprimentos (fornecedores, fabricantes, intermedirios, etc.); (iii) coleta, tais como

    companhias especficas de recuperao, fornecedores de servios de logstica reversa,

    empresas coletoras de resduos municipais, fundaes pblicas e privadas; e (iv)

    processamento dos materiais reciclveis, responsveis pela transformao dos resduos em

    novos produtos para retorno ao mercado. Segundo a autora, quanto ao comrcio dos materiais

    reciclveis, cada ator envolvido entre a coleta e o beneficiamento agrega valor em funo do

    tipo de tratamento - separao por tipo, prensagem e limpeza, e em relao ao volume

    acumulado.

    A adio de valor aos materiais recuperados, com destaque para atividades de

    reciclagem ps-consumo, ocorre pela seleo, limpeza e alterao das propriedades fsicas,

  • 28

    visando facilitar seu transporte e agregao em quantidade vivel comercialmente (WILSON

    et al., 2006). Com base nos estudos desse autor, o Quadro 1 apresenta, sucintamente, os

    processos de agregao de valor aos materiais destinados reciclagem. Nota-se que o autor

    considera a seleo como principal processo que recupera valor, o que faz sentido porque a

    partir da seleo que os materiais reciclveis so encaminhados aos processos especficos de

    tratamento. Parte desse processo de seleo pode ser feito pelo prprio consumidor, pelo

    rgo pblico responsvel pela coleta dos resduos slidos ou pelos catadores, sendo que esse

    ltimo parece que desempenha um papel relevante no caso brasileiro. Monteiro e Zveibil

    (2001) consideram os processos executados pelas cooperativas de catadores como alternativas

    de segregao de resduos slidos, visando a recuperao de materiais reciclveis.

    Coleta Identificao e coleta de resduos visando torn-los recursos.

    Seleo Principal processo que adiciona valor. Possibilidade de seleo em categorias (ex.:

    plsticos) e subcategorias (ex.: PET).

    Acumulao de Volume Aumento de volume possibilita melhores preos unitrios e poder de barganha.

    Necessidade de espao fsico para estocagem.

    Pr-Processamento Limpeza e alteraes fsicas (compactao, granulao, enfardamento, corte, etc).

    Manufatura em

    Pequena Escala

    Transformaes dos reciclveis em produtos para comunidade (ex.: artesanato,

    papel reciclado).

    Inteligncia de Mercado Proximidade fsica dos comerciantes e recicladores informais, acuracidade dos

    preos de mercado dos materiais primrios/secundrios, parcerias, etc.

    Comercializao Venda para mercados formais e/ou informais. Necessidade de capacidade

    financeira e conservao do valor dos reciclveis.

    Quadro 1 - Processos de agregao de valor aos materiais secundrios.

    Fonte: adaptado de Wilson et al. (2006).

    Segundo Medina (1999), a Amrica Latina possui grande potencial para promoo da

    reciclagem, visando resolver problemas referentes ao manejo de resduos slidos de maneira

    economicamente vivel, socialmente desejvel e ambientalmente adequada. A cadeia de

    reciclagem dos resduos slidos urbanos no Brasil complexa, em funo dos diferentes

    segmentos econmicos envolvidos, desde catadores e sucateiros at intermedirios e, por fim,

    indstrias e poder pblico (GONALVES-DIAS, 2009). A autora afirma que esses segmentos

    envolvidos variam em funo do tipo de material e da regio na qual ocorre a coleta,

    comercializao e industrializao dos materiais reciclveis.

  • 29

    2.1.5 Logstica Reversa

    Angell e Klassen (1999), a partir de grupo focal com pesquisadores na rea de gesto

    de operaes e meio ambiente, identificaram a logstica reversa como oportunidade potencial

    de pesquisas, conjuntamente com o conceito de cadeia de suprimentos ambientalmente

    adequada. Os estudos em cadeias de suprimentos sob o vis ambiental, segundo Srivastava

    (2007), incluem a logstica reversa em pesquisas de operaes verdes (green operations),

    como pode-se ver na Figura 5. A logstica reversa, ento, apresenta-se como uma rea de

    conhecimento na gesto ambiental empresarial e de cadeias de suprimentos. A gesto de

    resduos, apontada pelo autor, trata da gesto de resduos no ambiente interno das

    organizaes, ou seja, no se refere ao objeto desta pesquisa.

    Figura 5 - Classificao de pesquisas em gesto ambiental em cadeias de suprimentos.

    Fonte: Srivastava, 2007, adaptado.

    Os primeiros estudos sobre logstica reversa so encontrados nas dcadas de 1970 e

    1980, tornando-se mais visvel a partir da dcada de 1990 (LEITE, 2009). A logstica reversa

    descrita com base na direo do fluxo de materiais, ou seja, como sendo a movimentao de

    bens do consumidor para o produtor. Entretanto, definies mais recentes consideram tambm

  • 30

    os fluxos de informaes na definio de logstica reversa e enfatizam sua natureza gerencial.

    Para a Reverse Logistics Executive Council8, por exemplo, logstica reversa o

    processo de planejamento, implementao e controle da eficincia e do custo-

    benefcio no fluxo de matrias-primas, inventrio em processo e produtos acabados

    e os fluxos de informaes do ponto de consumo at o ponto de origem com o

    propsito de recapturar valor ou descarte adequado.

    Pesquisadores brasileiros tm utilizado conceitos similares, como a abordagem de

    Leite (2009):

    rea da logstica empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informaes

    logsticas correspondentes, do retorno dos bens de ps-venda e de ps-consumo ao

    ciclo de negcios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuio

    reversos, agregando-lhes valores de diversas naturezas: econmico, de prestao de

    servios, ecolgico, legal, logstico, de imagem corporativa, dentre outros.

    Shibao, Moori e Santos (2010), por sua vez, caracterizam a logstica reversa como o

    planejamento, implantao e controle dos custos e dos fluxos de informaes e de produtos ou

    materiais, passveis de serem reutilizados ou reciclados, desde o ponto de consumo at o

    ponto de reprocessamento a fim de recuperar valor ou dispor adequadamente.

    O conceito de logstica reversa est relacionado com recuperao de materiais e

    produtos. Por exemplo, Rogers e Tibben-Lembke (1998) definem logstica reversa como o

    processo de recuperao dos bens da sua destinao final tradicional para agregao de valor

    ou destinao mais adequada. Brito (2004), na definio de logstica reversa, aborda os fluxos

    que apresentam valor a ser recuperado, gerando uma nova cadeia de abastecimento. Ressalta-

    se que a logstica reversa inclui o processamento de mercadorias devolvidas devido danos

    materiais, estoque sazonal, reabastecimento, recalls, excesso de estoque e recuperao de

    produtos e materiais (ROGERS e TIBBEN-LEMBKE, 1998).

    Sendo assim, o conceito de logstica reversa est sendo aplicado, por alguns autores,

    para a gesto de produtos. De acordo com o Council of Supply Chain Management

    Professionals CSCMP9, situado em Lombard, Illinois, logstica reversa consiste no

    segmento especializado da logstica com foco na movimentao e gesto de produtos e

    recursos ps-venda ou ps-consumo. J, Gonalves-Dias (2006) afirma que prticas de

    logstica reversa consistem na estruturao de canais que facilitem o retorno de produtos ao

    8 Disponvel em: http://www.rlec.org/glossary.html . Acesso em 22 nov. 2011.

    9 Disponvel em: http://cscmp.org/digital/glossary/glossary.asp. Acesso em 22 nov. 2011.

  • 31

    ciclo produtivo, alm de atrelar ao conceito de ciclo de vida do produto: por trs do conceito

    de logstica reversa est o ciclo de vida do produto. A vida de um produto, do ponto de vista

    logstico, no termina com sua entrega ao cliente.

    No Brasil, a Lei n. 12.305/2010 que institui a Poltica Nacional de Resduos Slidos

    (PNRS) reenvasada, define logstica reversa como:

    instrumento de desenvolvimento econmico e social caracterizado por um conjunto

    de aes, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituio dos

    resduos slidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em

    outros ciclos produtivos, ou outra destinao final ambientalmente adequada

    (BRASIL, 2010).

    A regulamentao brasileira, como se pode perceber, aborda a logstica reversa quanto

    gesto de produtos pelo setor empresarial atravs de agregao de valor aos resduos slidos

    e recuperao de produtos e/ou materiais, motivada pelos aspectos econmicos, sociais e

    ambientais.

    2.1.5.1 Motivadores

    Prticas de logstica reversa empresariais tm sido motivadas por diversos aspectos,

    conforme representado na Figura 6 e descritos a seguir:

    econmicos e financeiros (PENMAN e STOCK, 1994; BRITO e DEKKER, 2002;

    LEITE, 2009; CORRA, 2010),

    legislaes (BRITO e DEKKER, 2002; LINTON et al., 2007; LEITE et al., 2008;

    LEITE, 2009),

    responsabilidade socioambiental (BRITO e DEKKER, 2002; LINTON et al., 2007;

    SRIVASTAVA, 2007; LEITE et al., 2008),

    satisfao de clientes (LEITE, 2009; DOWLATSHAHI, 2010)

    imagem corporativa (SINNECKER, 2007; LEITE, 2009),

    competitividade (SINNECKER, 2007; LEITE et al., 2008),

    gesto de riscos (LEITE, 2009); e

    recuperao de produtos (LEITE et al., 2008).

  • 32

    Figura 6 - Motivadores de prticas de logstica reversa.

    Fonte: Elaborado pela autora

    Como visto anteriormente, a conceituao de logstica reversa est intimamente ligada

    com os processos de negcios e aspectos gerenciais. Por isso, o aspecto econmico tem

    merecido destaque como motivador de prticas de logstica reversa. Penman e Stock (1994)

    ressaltam a substituio das matrias-primas por materiais reciclveis devido aos preos

    reduzidos. Leite (2009) aponta economias de energia, componentes e de investimentos em

    fbricas de matrias-primas. Para Corra (2010), apesar dos custos associados aos fluxos

    reversos, uma boa gesto da logstica reversa em redes de suprimentos permite a recuperao

    de valor de produtos e materiais. Concomitantemente, podem-se destacar fatores que

    impactam os negcios, como a influncia da adoo de prticas de logstica reversa na

    satisfao dos consumidores (DOWLATSHAHI, 2010) e no incremento da competitividade

    (SINNECKER, 2007).

    Prticas de logstica reversa tambm apresentam, como motivadores, as questes

    ambientais atravs da abordagem de gesto de produtos, considerando a logstica reversa

    como forma de recuperar valor de produtos e/ou materiais e de minimizar os impactos

    ambientais atrelados produo e consumo, como utilizao excessiva de recursos naturais e

    gerao de resduos slidos. Carter e Ellram (1998) definem logstica reversa, ento, como o

    processo no qual as empresas tornam-se mais eficientes ambientalmente atravs da

    reciclagem, reutilizao e reduo da utilizao de materiais. J, Sinnecker (2007) atrela

    Motivadores de Prticas de Logstica Reversa

    Aspectos Econmicos e Financeiros

    Legislaes

    Responsabilidade Socioambiental

    Satisfao de Clientes

    Imagem Corporativa

    Competitividade

    Gesto de Riscos

    Recuperao de Produtos

  • 33

    logstica reversa com a consolidao da imagem corporativa atravs da associao dos

    programas empresariais de logstica reversa com a responsabilidade ambiental e social.

    Com base no exposto, percebe-se que tm sido apontados os aspectos econmicos,

    ambientais e sociais para a consolidao de programas empresariais de logstica reversa. Esses

    aspectos correspondem ao conceito de sustentabilidade, conforme o modelo tripple bottom

    line, definido por Elkington (1998). H autores que incorporam esse modelo na estruturao

    de canais que facilitem o retorno de produtos ao ciclo produtivo cadeia de suprimentos tais

    como Linton et al. (2007), Srivastava (2007) e Shibao, Moori e Santos (2010):

    o processo de logstica reversa revela-se como uma grande oportunidade de se

    desenvolver a sistematizao dos fluxos de resduos, bens e produtos descartados,

    seja pelo fim de sua vida til, seja por obsolescncia tecnolgica e o seu

    reaproveitamento, dentro ou fora da cadeia produtiva de origem, contribuindo dessa

    forma para reduo do uso de recursos naturais e dos demais impactos ambientais,

    isto , o sistema logstico reverso consiste em uma ferramenta organizacional com o

    intuito de viabilizar tcnica e economicamente as cadeias reversas, de forma a

    contribuir para a promoo da sustentabilidade de uma cadeia produtiva (SHIBAO,

    MOORI e SANTOS, 2010).

    Diversos autores tm enfatizado o papel do surgimento de leis como motivadores para

    implementao de programas empresariais de logstica reversa. Segundo Brito e Dekker

    (2002), por exemplo, alm de fatores econmicos e de responsabilidade socioambiental,

    apontam a legislao como fora motriz que direcionam as aes das fabricantes. LINTON et

    al. (2007) destacam a implementao da logstica reversa para produtos ps-consumo como

    uma postura reativa ao cumprimento de legislaes. Leite (2009), sobre a perspectiva

    estratgica, acrescenta ao surgimento de legislaes, outros motivadores para prticas de

    logstica reversa, como recuperao de valor financeiro, prestao de servios aos clientes,

    mitigao dos riscos, imagem da marca ou corporativa.

    Leite, Brito e Silva (2008) realizaram uma pesquisa quantitativa descritiva, aplicando

    questionrio tipo survey em 188 empresas brasileiras de diversos setores e posicionamento na

    cadeia de suprimentos, durante os anos de 2006 e 2007. Dentre os resultados da pesquisa

    foram constatadas as motivaes empresariais brasileiras referentes prtica da logstica

    reversa, conforme Tabela 2. Percebe-se que, entre os motivos apontados, os aspectos

    relacionados com os negcios dos membros da cadeia (competitividade, eliminao de

    produtos imprprios, entre outros) superam o atendimento s exigncias legais.

  • 34

    Tabela 2 - Motivaes de empresas brasileiras para retorno de produtos.

    MOTIVAO

    Ter diferencial competitivo 18,5%

    Eliminar produtos imprprios para uso do canal de distribuio 17%

    Recuperar produtos para reprocesso 16,75%

    Responsabilidade ecolgica 14,75%

    Recuperar produtos para revenda 14%

    Cumprimento de legislaes 11,25%

    Outra 7,75%

    Fonte: Leite, Brito e Silva (2008).

    Iniciativas de polticas pblicas que incentivem a estruturao de canais reversos ps-

    consumo so recentes no Brasil. Merece destaque a Lei 9.974/2000, regulamentada pelo

    Decreto 4.074/2002, que responsabiliza as empresas que produzem e comercializam

    agrotxicos pela destinao das embalagens vazias dos produtos, por elas fabricados e

    comercializados, aps a devoluo pelos usurios para sua reutilizao, reciclagem ou

    inutilizao. A Lei 12.305/2010, regulamentada pelo Decreto 7.404/2010, institui a PNRS e

    obriga aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de pilhas e baterias, pneus,

    leos lubrificantes, lmpadas (fluorescentes, de vapor de sdio e mercrio e de luz mista) e

    produtos eletroeletrnicos, podendo estender s embalagens, a estruturar e implementar

    sistemas de logstica reversa, mediante retorno dos produtos aps o uso pelo consumidor, de

    forma independente do servio pblico de limpeza urbana e de manejo dos resduos slidos

    (BRASIL, 2010).

    O estudo de Santos et al. (2011) revela que o enfoque dos artigos acadmicos na

    temtica logstica reversa, no perodo entre os anos de 2005 e 2010, podem ser categorizados

    em cinco tipos: reduo de custos, melhoria da imagem corporativa, alterao de processos,

    vantagem competitiva e a preocupao com o meio ambiente. Estes dados so compatveis

    com os encontrados por Leite, Brito e Silva (2008).

  • 35

    2.1.5.2 Canais Reversos

    A implantao da logstica reversa requer a estruturao de canais de distribuio

    reversos a fim de retornar os produtos e/ou materiais para recuperao ou destinao

    adequada. Segundo Leite (2009), os canais de distribuio reversos de ps-venda so

    constitudos pelas alternativas de retorno de produtos que no foram utilizados, ou foram

    utilizados restritamente por problemas relacionados qualidade ou a processos comerciais. J,

    os canais de distribuio reversos de ps-consumo so constitudos pelo fluxo reverso de

    produtos e materiais, originados do descarte aps o fim de sua utilidade original. Os canais de

    distribuio reversos ps-consumo podem ser distinguidos em trs subsistemas reversos

    (LEITE, 2009):

    Reuso: quando os produtos ainda so passveis de utilizao, estendendo o uso do

    produto ou de seus componentes com a mesma funo original;

    Remanufatura: reaproveitamento dos produtos que j atingiram o fim de sua vida

    til, atravs da substituio de componentes para reconstituio do produto, com a

    mesma finalidade e natureza originais;

    Reciclagem: revalorizao dos materiais constituintes dos produtos descartados,

    transformando-os em matrias-primas secundrias ou recicladas para re-incorporao

    em novos produtos; e

    Disposio final: destino dos produtos no passveis de revalorizao.

    Os canais de distribuio reversos podem ser classificados com base no destino dos

    produtos e/ou materiais reciclveis e na funcionalidade dos produtos e/ou materiais a serem

    produzidos com a recuperao dos produtos e/ou materiais. Brito (2004) classifica as prticas

    de recuperao na cadeia de suprimentos, considerando os aspectos cclicos dos processos, em

    cadeias fechadas (closed-loop) fsicas, quando os produtos e/ou materiais retornam ao

    membro da cadeia original; cadeias fechadas (closed-loop) funcionais, quando os

    produtos e/ou materiais retornam sua funo original; ou cadeias abertas, quando os

    produtos e/ou materiais no retornam nem ao membro nem funcionalidade originais. Leite

    (2009) distingue duas categorias de ciclos reversos de retorno ao ciclo produtivo:

    Ciclo aberto: constitui-se pelas etapas de retorno dos materiais constituintes dos

    produtos de ps-consumo para reintegrao ao ciclo produtivo em substituio s

  • 36

    matrias-primas na fabricao de diversos outros produtos. Os canais reversos com

    ciclo aberto so caracterizados pela especializao, pela natureza do material

    constituinte, como a extrao de materiais plsticos e de material ferroso de diversos

    produtos diferentes. Nesses canais as empresas da cadeia produtiva reversa revelam

    menor tendncia integrao em funo da origem diversificada dos produtos; e

    Ciclo fechado: j os canais reversos de ciclo fechado incluem as etapas de retorno

    de produtos ps-consumo, visando a fabricao de produtos similares. So

    caracterizados pela alta eficincia no fluxo reverso, alm da especializao para

    revalorizao do material constituinte de determinado produto, como as latinhas de

    alumnio, leos lubrificantes usados, baterias de veculos descartadas, entre outros.

    Nesses canais h uma tendncia de integrao entre cadeia direta e reversa.

    2.1.5.3 Estruturao da Logstica Reversa

    Rogers e Tibben-Lembke (1998) consideram os fatores relacionados ao produto

    logstico como principais na estruturao de atividades de logstica reversa: sua origem e a

    sua natureza. Mas, os mesmos autores questionam: como a empresa deve encaminhar os

    produtos no desejados para os locais onde eles podem ser processados, reutilizados e

    recuperados, de uma maneira eficiente e eficaz?

    A abordagem de processos apontada como parte integrante da estruturao da

    logstica reversa a fim de disciplinar a movimentao dos retornos. Segundo Rogers e Tibben-

    Lembke (1998), independentemente do seu destino final, todos os materiais e/ou produtos no

    fluxo reverso devem ser recolhidos e classificados antes de serem enviados para os seus

    prximos destinos. Krikke e Blanc (2004) afirmam que a possibilidade de retornos rentveis

    depende do desenho adequado de processos reversos. Gonalves-Dias (2009) caracteriza

    quatro processos logsticos reversos envolvendo a reciclagem: a coleta, o processo

    combinado de inspeo, seleo e triagem; o reprocessamento e a redistribuio.

    Krikke (1998) relaciona a extenso do ciclo de vida de produtos e a estruturao da

    logstica reversa. O autor ainda afirma que a logstica reversa funo da viabilidade tcnica,

    dos fornecimentos de produtos e/ou materiais adequados, da demanda de mercados

    secundrios, dos benefcios e dos custos econmicos e ambientais. O autor elencou seis

    problemas que devem ser enfrentados na estruturao da rede de logstica reversa:

  • 37

    Tecnolgicos: incluindo desenho de produtos passveis de serem reciclados (design

    for recycling), alternativas viveis ambiental e economicamente de recuperao de

    produtos e/ou materiais, atravs de fluxos de retornos e incremento dos processos

    produtivos;

    Marketing: obteno de taxas de retornos que permitam economias de escala

    atravs de comunicao e informao, alm da criao de mercados secundrios para

    produtos e/ou materiais que foram manufaturados parcialmente com resduos

    recuperados;

    Informao: com previso de suprimentos e demandas, apesar das dificuldades de

    dimensionamento da magnitude, tempo, localizao e qualidade dos fluxos de

    retornos e adaptao de sistemas de informao;

    Organizao: atravs da atribuio de operaes e processos para os membros da

    cadeia, considerao da logstica reversa nas estratgias de negcios, formao de

    alianas e cooperao na troca de informaes, no desenho de produtos e em

    operaes de recuperao de produtos e/ou materiais;

    Financeiro: incluindo o incremento da viabilidade econmica atravs do

    desenvolvimento de mercados secundrios, equilbrio entre oferta e demanda e

    controle de custos, financiamento de atividades na cadeia e valorizao dos fluxos

    reversos; e

    Operaes: desafios quanto ao controle de estoques com incremento da

    complexidade do sistema, planejamento de recursos para manufatura, considerando

    incertezas quanto ao equilibro oferta e demanda, roteirizao dos fluxos reversos,

    estratgias de recuperao, criao de rede logstica, otimizando localidade e

    capacidade, integrao entre fluxos diretos e reversos, dentre outros.

    Quanto aos fatores crticos, Lacerda (2002) aponta seis fatores que influenciam na

    eficincia da logstica reversa: (i) bons controles de entrada; (ii) processos mapeados e

    formalizados; (iii) tempo de ciclo reduzido; (iv) sistemas de informao; (v) rede logstica

    planejada; e (vi) relaes colaborativas entre clientes e fornecedores.

    Brito (2004) apresenta questes fundamentais que devem ser respondidas para uma

    adequada estruturao da logstica reversa:

    Por que os produtos esto sendo retornados?

  • 38

    Por que os produtos retornados esto sendo recebidos?

    O que est sendo retornado (caractersticas e tipologias dos produtos)?

    Como os produtos so recuperados (alternativas de recuperao e processos)?

    Quem est realizando a recuperao (atores e papis)?

    Leite (2009) destaca a importncia da integrao entre organizaes para viabilizar a

    logstica reversa. Segundo o autor, as empresas que utilizam materiais reciclados apresentam

    diferentes nveis de integrao vertical e distinguem-se em pelo menos trs principais cadeias

    reversas:

    Empresas no integradas em reciclagem: adquirem os materiais reciclados da

    indstria de reciclagem, ou agentes distribuidores, em condies tcnicas de serem

    reintegrados ao processo industrial em substituio s matrias-primas virgens;

    Empresas semi-integradas em reciclagem: adquirem os materiais beneficiados

    (adensamento de carga e seleo de materiais) por intermedirios processadores,

    exigindo o prvio beneficiamento industrial antes da reintegrao do material ao

    processo; e

    Empresas integradas em reciclagem: adquirem seus materiais da fonte primria de

    resduos slidos, atravs da coleta dos produtos ps-consumo, diretamente ou atravs

    de parcerias. Trazem benefcios atravs do adensamento e seleo, alm do prvio

    processamento industrial.

    Leite et al. (2006) apontaram aspectos que devem ser observados na estruturao de

    canais reversos conforme Quadro 2. Como se pode ver, esses aspectos envolvem questes

    tpicas da logstica, em geral, como transporte, informao, armazenagem e contratao,

    acrescidas de questes especficas da recuperao de materiais como os relacionados com

    revalorizao.

  • 39

    PROCEDIMENTOS GERAIS

    Procedimentos de retorno definidos

    Controle do recebimento de retornos

    Classificao e quantificao do retorno

    Codificao dos retornos por controles

    Procedimentos de consolidao do retorno

    Procedimentos de seleo e destino definidos

    ARMAZENAGEM E RECURSOS

    reas especficas destinadas ao retorno

    reas especficas destinadas remanufatura

    Controle de custos de armazenagem do retorno

    Pessoal dedicado ao retorno

    Equipamentos dedicados ao retorno

    Sistemas de informao dedicados ao retorno

    TRANSPORTE

    Meios e veculos definidos

    Frequncia e trajeto de coleta definidos

    Acondicionamento definido do retorno

    Prioridade do retorno

    Controle de custos de transportes do retorno

    REVALORIZAO

    Motiva o tratamento do retorno

    Proporciona ganho de imagem

    Proporciona recuperao de valor

    Custo e receita conhecidos

    H mercados secundrios definidos

    CONTRATOS

    H contratos de retorno junto cadeia

    H terceiros contratados para revalorizao

    H um fluxo de pagamentos e ressarcimentos

    FLUXO DE INFORMAES

    H um sistema de informaes para o retorno

    Operaes so informatizadas

    Informaes alimentam outras reas

    Quadro 2 - Aspectos observveis na estruturao de canais reversos.

    Fonte: Leite et al. (2006).

    Srivastava (2007) destaca a importncia de discusses sobre sistemas de planejamento

    de produo reversa, modelos de minimizao de custos e gesto de resduos do canal

    reverso, contextos de incerteza do volume do fluxo reverso e localizao das instalaes

    quanto ao fornecimento de retornos e aos mercados secundrios.

    Leite (2009) afirma que as condies essenciais de organizao e implementao da

    logstica reversa em um canal reverso so: (i) remunerao em todas as etapas reversas; (ii)

    qualidade dos materiais reciclados; (iii) escala econmica de atividade; e (iv) mercado para os

    produtos reciclados. O mesmo autor complementa seu modelo relacional considerando os

    fatores necessrios ou de influncia, que atuam como motivadores ou inibidores dos fluxos

    reversos; alm dos fatores modificadores, como reao s condies preexistentes em certos

    tipos de canais de distribuio reversos (Figura 7). Quanto aos aspectos operacionais, o

    mesmo autor enfatiza que as decises envolvem ferramentas como caracterizao do produto

    logstico, definies da rede operacional, localizaes, modais de transporte, gesto de

    estoques, sistemas de informaes, entre outros. Corra (2010) destaca que as decises quanto

  • 40

    centralizao ou descentralizao na gesto de redes reversas de suprimentos influenciam na

    agilidade e eficincia das mesmas.

    Figura 7 - Modelo relacional para estruturao da logstica reversa.

    Fonte: Leite (2009).

    Shibao, Moori e Santos (2010) apresentam uma abordagem funcional da logstica

    reversa baseada em cinco funes: (i) planejamento, implantao e controle do fluxo de

    materiais e informaes do ponto de consumo ao ponto de origem; (ii) movimentao de

    produtos e/ou materiais na cadeia produtiva do consumidor para o produtor; (iii) utilizao

    mais eficiente de recursos atravs da reduo do consumo de energia e da utilizao de

    materiais com o reaproveitamento, reutilizao ou reciclagem dos resduos; (iv) recuperao

    de valor e (v) destinao final segura. Os autores pontuam os seguintes problemas na

    estruturao da logstica reversa: a descentralizao dos pontos para coleta dos resduos, as

    dificuldades no recolhimento das embalagens dos produtos, a necessidade de cooperao do

    remetente e o baixo valor dos produtos e/ou materiais a serem recuperados e/ou reciclados.

    Ainda ressaltam os autores, sobre a importncia da determinao do nmero de ns da rede de

    recolhimento e da quantidade e localizao de depsitos ou pontos intermedirios, a

    integrao da cadeia reversa com a cadeia de suprimentos direta e o financiamento do canal

    de distribuio reverso.

  • 41

    Para Sinnecker (2007) devem-se equacionar os aspectos envolvidos para estruturao

    dos canais de distribuio reversos dos materiais e/ou produtos de ps-consumo e estabelecer

    relaes de parcerias entre empresas das cadeias reversas.

    2.2 Cooperativismo no Brasil

    A organizao coletiva do trabalho caracteriza-se por prticas e formas

    organizacionais de associao de pessoas cujos meios de produo esto nas mos dos

    trabalhadores, com gesto democrtica, sendo a cooperativa sua forma tpica (COELHO,

    2011). Segundo Silva (2007) as propostas de organizao coletiva buscam a superao de

    realidades de excluso e pobreza.

    Barreto (2009) relata que o movimento cooperativista iniciou-se em 1844 com a

    fundao da cooperativa de consumo de operrios da indstria txtil Rochdale Society of

    Equitable Pionner, em Rochdale (Manchester, Inglaterra), no auge da Revoluo Industrial.

    No Brasil, o cooperativismo surgiu atravs da imigrao europeia, no final do sculo XIX

    (SINGER, 2001; MORAIS et al., 2011). A Constituio Brasileira de 1891 tambm foi

    crucial para criao de um ambiente legal para viabilizao e implantao das cooperativas,

    consolidando o movimento cooperativista no pas (SIMIONI 2009). Essa Constituio

    garantia a liberdade s organizaes de profissionais para defesa de seus direitos (BRASIL,

    1891).

    O Decreto-Lei 5.764/1971 institui a regulamentao das cooperativas, e, com a

    Constituio da Repblica Federativa do Brasil de 1988, a interveno estatal cessada no

    inciso XVIII do artigo 5, mas mantendo-se a Poltica Nacional de Cooperativismo: a

    criao de associaes e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorizao,

    sendo vedada a interferncia estatal em seu funcionamento (BRASIL, 1971 e 1988).

    Segundo Barreto (2009), a Aliana Cooperativa Internacional - ACI aprovou, em

    1995, em um Congresso realizado em Manchester na Inglaterra, a Carta de Princpios da ACI,

    integrando sete princpios cooperativistas. Estes princpios encontram-se listados a seguir com

    uma breve descrio baseada na Poltica Nacional de Cooperativismo, instituda pela Lei

    5.764/1971 (BRASIL, 1971):

  • 42

    1. Adeso livre e voluntria com consentimento aos propsitos sociais e condies

    estabelecidas no Estatuto Social. A quantidade de associados pode ser limitada pela

    capacidade tcnica de prestao de servios e por critrios do rgo normativo, como

    vnculos determinada entidade ou exerccio profissional. Agentes de comrcio e

    empresrios que atuam no setor econmico no so passveis de ingresso no quadro

    das cooperativas;

    2. Gesto democrtica atravs da singularidade de voto, havendo possibilidade de

    definio de critrios de proporcionalidade pelas cooperativas centrais, federaes e

    confederaes de cooperativas. Alm do quorum para o funcionamento e deliberao

    da Assembleia Geral basear-se na quantidade de associados. Entretanto, o

    estabelecimento de relao empregatcia com a cooperativa anula o direito de voto. A

    cooperativa administrada por uma Diretoria ou Conselho de Administrao e

    fiscalizada por um Conselho Fiscal;

    3. Participao econmica dos membros atravs da variabilidade do capital social

    representado por quotas-partes, no podendo ser destinadas a terceiros, com

    possibilidade de critrios de proporcionalidade, visando objetivos sociais. A

    quantidade de quotas-partes limitada para cada associado. A cooperativa visa

    prestao de assistncia aos associados, com retorno das sobras lquidas do exerccio

    proporcionalmente s operaes realizadas pelo associado. Ressalta-se tambm a

    indivisibilidade dos Fundos de Reserva e de Assistncia Tcnica, Educacional e

    Social;

    4. Autonomia e independncia j que as cooperativas so organizaes autnomas,

    de ajuda mtua, controladas pelos seus membros. As Assembleias Gerais so

    realizadas com o intuito de instrumentalizar a autogesto, deliberando sobre questes

    estratgicas, gerenciais e oramentrias. O controle democrtico e a autonomia da

    cooperativa devem ser mantidos mesmo em acordos com outras organizaes, ou em

    investimentos de capital externo;

    5. Educao, formao e informao para o desenvolvimento das cooperativas, alm

    de repasse de informaes ao pblico em geral sobre cooperativismo e rea de

    atuao;

    6. Intercooperao buscando o fortalecimento e incentivo das relaes

    intercooperativas, como uma forma de ajuda mtua para a realizao de negcios e a

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    troca de experincias (Barreto 2009) atravs das estruturas locais, regionais,

    nacionais e internacionais; e

    7. Interesse pela comunidade: empenho para que a vivncia dos princpios

    represente, alm da gerao de renda e emprego, uma proposta de carter social

    atravs de polticas aprovadas pelos membros.

    Os princpios cooperativistas so utilizados em mbito mundial, destacando-se o

    controle pelos seus prprios membros como modelo de gesto (SIMIONI, 2009). Segundo

    Singer (2001), a solidariedade continua dando o tom e a especificidade da cooperativa. O

    autor afirma tambm que a solidariedade um dos elementos que diferencia as cooperativas

    das empresas, como no que tange as escalas de remuneraes, que decidida pelo voto

    individual de cada associado; e a destinao das sobras (lucros) que so, em geral,

    reinvestidos para gerao de novas fontes de trabalho e renda dentro da prpria cooperativa

    ou sob a forma de novas cooperativas. Essa solidariedade intercooperativas vital para o xito

    das cooperativas.

    De acordo com a Morais et al. (2011), o cooperativismo classificado em categorias

    conforme suas funes no mercado, como as cooperativas de consumo, de crdito, de compra

    e venda e de produo. As cooperativas podem ser singulares, formadas por pessoas fsicas

    que prestam servios diretamente aos associados; centrais ou federaes, constitudas por

    cooperativas singulares para a organizao dos servios econmicos e assistenciais de

    interesse das filiadas, integrao e orientao das atividades; ou confederaes, integrando

    federaes de cooperativas, ou cooperativas centrais objetivando a orientao e coordenao

    das atividades das filiadas, quando ultrapassar o mbito de atuao das cooperativas centrais

    ou federao de cooperativas. possvel a admisso de pessoas jurdicas, ou sem fins

    lucrativos nas cooperativas singulares desde que seus objetos sejam correlatos com as

    atividades econmicas. As cooperativas centrais, ou federaes de cooperativas podem

    admitir associados individuais visando transformao desses em futuras cooperativas

    singulares (BRASIL, 1971).

    Considerando-se que os programas empresariais estudados nesta pesquisa consistem

    na integrao entre empresas de capital aberto e cooperativas, fez-se necessrio entender as

    principais diferenas entre essas organizaes no contexto brasileiro. O Quadro 3 apresenta

    uma sntese da comparao entre essas organizaes baseado na Lei 6.404/1976, que dispe

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    sobre as Sociedades por Aes, e na Lei 5.764/1971, que institui o regime jurdico das

    sociedades cooperativas (MENDES, 2010).

    CARACTERSTICAS SOCIEDADE POR AES COOPERATIVA

    Objeto Qualquer empresa de fim lucrativo

    Qualquer gnero de servio,

    operao ou atividade sem fins

    lucrativos

    Sociedade Mercantil Cooperativista

    Capital Social Expresso em moeda nacional Expresso em quotas-partes

    Voto em Deliberaes em

    Assembleias Gera