Monografia completa

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Relações Internacionais PORTOS SECOS DA REGIÃO CENTRO-OESTE DO BRASIL COMO INSTRUMENTO FACILITADOR PARA O COMÉRCIO EXTERIOR DA REGIÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL Autora: Camila Coelho de Paula Orientador Específico: Prof. Msc. Carlos Augusto de Souza BRASÍLIA 2007 CAMILA COELHO DE PAULA

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  • UNIVERSIDADE CATLICA DE

    BRASLIA

    PR-REITORIA DE GRADUAO TRABALHO DE CONCLUSO DE CURSO

    Relaes Internacionais

    PORTOS SECOS DA REGIO CENTRO-OESTE DO BRASIL COMO

    INSTRUMENTO FACILITADOR PARA O COMRCIO EXTERIOR DA REGIO E

    DESENVOLVIMENTO LOCAL

    Autora: Camila Coelho de Paula

    Orientador Especfico: Prof. Msc. Carlos Augusto de Souza

    BRASLIA

    2007

    CAMILA COELHO DE PAULA

  • ii

    CAMILA COELHO DE PAULA

    PORTOS SECOS DA REGIO CENTRO-OESTE DO BRASIL COMO

    INSTRUMENTO FACILITADOR PARA O COMRCIO EXTERIOR DA REGIO E

    DESENVOLVIMENTO LOCAL

    Monografia apresentado ao Curso de Relaes

    Internacionais da Universidade Catlica de Braslia

    como requisito parcial para obteno do ttulo de

    Bacharel em Relaes Internacionais.

    Orientador Geral: Prof. Dr. Wilson de Jesus

    Beserra de Almeida

    Orientador Especfico: Prof. Msc. Carlos Augusto

    de Souza

    Braslia

    2007

  • iii

    TERMO DE APROVAO

    PORTOS SECOS DA REGIO CENTRO-OESTE DO BRASIL COMO

    INSTRUMENTO FACILITADOR PARA O COMRCIO EXTERIOR DA REGIO E DESENVOLVIMENTO LOCAL

    Camila Coelho de Paula

    Monografia defendida como requisito parcial para a obteno do titulo de bacharel

    em Relaes Internacionais, em Novembro de 2007, pela banca examinadora

    constituda por:

    Braslia-DF, _____ de ______________ de 2007

    _______________________________________ Presidente Prof

    ____________________________________________________ Orientador Geral: Prof. Dr. Wilson de Jesus Beserra de Almeida

    _______________________________________

    Orientador Especfico: Prof. MSc. Carlos Augusto de Souza

    Braslia-DF

    2007

  • iv

    DEDICATRIA

    Dedico ao meu pai Srgio, minha

    me Vilma e minha irm Carolina que

    muito contriburam para o xito deste

    trabalho.

  • v

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus pelas infinitas maravilhas que tem operado em minha vida.

    A minha famlia pelo amor incondicional.

    Ao meu cunhado Clodoaldo, por toda ajuda, mesmo que indiretamente.

    Aos meus amigos de curso que fizeram desses anos de Universidade uma poca

    inesquecvel, em especial ao grande amigo Cssio Bruno pelas incontveis trocas

    de arquivos via e-mail e pelo apoio desde o incio deste trabalho.

    Aos professores do curso, em especial ao Professor Carlos Augusto, no tenho

    palavras para agradecer o precioso apoio deste professor.

    Ao meu orientador, Wilson Almeida, que me acompanhou desde a definio do

    tema.

    Ao Professor Rooney Santos que, apesar da distncia, muito contribuiu para a

    obteno de dados para a pesquisa.

    Aos portos secos Porto Seco Cuiab, Porto Seco Centro Oeste, AGESA e Porto

    Seco DF pelo fornecimento de dados para a realizao deste estudo.

  • vi

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1- Quantidade de Portos Secos existentes no Brasil .................................... 19 Tabela 2 - Participao nas importaes totais do estado de Gois (2000-2006) .... 50 Tabela 3 - Movimentao da mo-de-obra em Cuiab (2000-2006) ......................... 50 Tabela 4 - Participao nas importaes totais do estado de Gois (2000-2006) .... 54 Tabela 5 - Movimentao de mo-de-obra em Anpolis (2000-2006) ...................... 55 Tabela 6 - Exportaes via Porto Seco de Corumb (1996 2006) ......................... 56 Tabela 7 - Importaes Via Porto Seco de Corumb (1996-2006) ............................ 56 Tabela 8 - Movimentao de mo-de-obra em Corumb (2000-2006) ..................... 57 Tabela 9 - Participao nas importaes totais do Distrito Federal ........................... 60 Tabela 10 - Movimentao de mo-de-obra no Distrito Federal (2000-2006) ........... 60

  • vii

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Importao de colheitadeiras pelo estado de Mato Grosso (2000-2006) 48 Grfico 2 Importao de motocicletas pelo estado de Mato Grosso (2000-2006) .. 48 Grfico 3 - Importao de peas para colheitadeiras pelo estado de Mato Grosso (2000-2006) ............................................................................................................... 49 Grfico 4 - Importao de veculos automotores pelo estado de Gois (1994-2006) 51 Grfico 5 - Importao de produtos farmacuticos pelo estado de Gois (1994-2006) .................................................................................................................................. 52 Grfico 6 - Importao de mquinas e produtos de informtica pelo estado de Gois (1994-2006) ............................................................................................................... 53 Grfico 7 - Importao de produtos qumicos orgnicos pelo estado de Gois (1994-2006) ......................................................................................................................... 53 Grfico 8 - Importao de produtos farmacuticos pelo Distrito Federal (2001-2006) .................................................................................................................................. 58 Grfico 9 - Importao de produtos qumicos orgnicos pelo Distrito Federal (2001-2006) ......................................................................................................................... 58 Grfico 10 - Importao de mquinas e produtos de informtica pelo Distrito Federal (2001-2006) ............................................................................................................... 59

  • viii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 2 - Distant Dry Port ......................................................................................... 29 Figura 3 - Mid-range Dry Port .................................................................................... 30 Figura 4 - Close Dry Port ........................................................................................... 30 Figura 5 - Lahore Dry Port ......................................................................................... 32 Figura 6 - Porto Seco Cuiab .................................................................................... 36 Figura 7 - Porto Seco Centro Oeste .......................................................................... 38 Figura 8 - AGESA ...................................................................................................... 41 Figura 9 - Porto Seco DF........................................................................................... 43

  • ix

    LISTA DE ABREVIAES E SIGLAS

    AGESA - Armazns Gerais Alfandegados de Mato Grosso do Sul

    ALCA - rea de Livre Comrcio das Amricas

    ANVISA - Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria

    BRB - Banco Regional de Braslia

    CD - Centro de Distribuio

    CLIA - Centro Logstico e Industrial Aduaneiro

    CNI - Confederao Nacional da Indstria

    DAIA - Distrito Agroindustrial de Anpolis

    DIICC - Distrito Integrado Industrial e Comercial de Cuiab

    DAC - Depsito Certificado Alfandegado

    DTA - Declarao de Trnsito Aduaneiro

    EADI - Estao Aduaneira do Interior

    EAF - Estao Aduaneira de Fronteira

    ESCAP - Economic And Social Commission For Asia And The Pacific

    FCA - Ferrovia Centro-Atlntica

    FIEMS - Federao da Indstria do estado de Mato Grosso do Sul

    FOB - Free on Board

    IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis

    ICMS - Imposto de Circulao de Mercadorias e Servios

    IN - Instruo Normativa

    IIRSA - Integrao da Infra-estrutura Regional Sul-Americana

    INLOC - Integrating Logistics Centre Networks in the Baltic Sea Region

    INTERMAT - Instituto de Terras de Mato Grosso

    MDIC - Ministrio do Desenvolvimento Indstria e Comrcio Exterior

    MTE - Ministrio do Trabalho e Emprego

    MT - Ministrio dos Transportes

    NCM - Nomenclatura Comum do Mercosul

    OMC - Organizao Mundial do Comrcio

    PEDET - Programa de Disseminao de Estatsticas do Trabalho

    PIB - Produto Interno Bruto

    PRODEIC - Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial

  • x

    Pr-DF - Programa de Promoo do Desenvolvimento Econmico Integrado e

    Sustentvel

    RAAAE - Regimes Aduaneiros Aplicados em reas Especiais

    RAE - Regimes Aduaneiros Especiais

    SRF - Secretaria da Receita Federal

    SDE - Secretaria de Desenvolvimento Econmico do Distrito Federal

    SEPLAN - Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento do Estado de Gois

    SEBRAE - Servio de Apoio s Micro e Pequenas Empresas

    TRA - Terminais Retroporturios Alfandegados

  • xi

    SUMRIO

    LISTA DE TABELAS ............................................................................................. vi LISTA DE GRFICOS .......................................................................................... vii LISTA DE GRFICOS .......................................................................................... vii LISTA DE FIGURAS .............................................................................................viii LISTA DE FIGURAS .............................................................................................viii LISTA DE ABREVIAES E SIGLAS ............................................................... ix RESUMO...................................................................................................................xiii ABSTRACT .............................................................................................................. xiv 1. INTRODUO ........................................................................................................ 1

    1.1 Problema e sua Importncia .............................................................................. 1 1.2 Hiptese ............................................................................................................. 3 1.3 Objetivos ............................................................................................................ 3 1.3.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 3 1.3.2 Objetivos Especficos...................................................................................... 3 1.4 Metodologia ....................................................................................................... 4

    2. REFERENCIAL TERICO ...................................................................................... 5 2.1 Reviso Bibliogrfica ......................................................................................... 5 2.2 Marco Terico .................................................................................................. 10 2.2.1 Teoria das Vantagens Absolutas .................................................................. 10 2.2.2 Teoria das Vantagens Comparativas ............................................................ 11 2.2.3 Teoria de Heckcsher-Ohlin ........................................................................... 11 2.2.4 Teoria da Vantagem Competitiva ................................................................. 12 2.2.5 Destruio Criadora ...................................................................................... 13 2.2.6 Regimes Aduaneiros Especiais .................................................................... 14 2.2.7 Recintos Alfandegados ................................................................................. 16 2.2.8 Portos Secos ................................................................................................ 16 2.2.9 Logstica ....................................................................................................... 17

    3. DESENVOLVIMENTO .......................................................................................... 18 3.1 Panorama dos Portos Secos no Brasil e no exterior ....................................... 18 3.1.1 Evoluo dos Portos Secos no Brasil e Legislao ...................................... 18 3.1.2 Benefcios e funcionamento dos Portos Secos ............................................. 24 3.1.3 Portos Secos no Exterior .............................................................................. 28 3.2 Portos Secos da Regio Centro-Oeste do Brasil ............................................. 35 3.2.1 Porto Seco Cuiab ........................................................................................ 36 3.2.2 Porto Seco Centro Oeste .............................................................................. 38 3.2.3 AGESA Armazns Gerais Alfandegados de Mato Grosso do Sul ............. 41 3.2.4 Porto Seco DF .............................................................................................. 43 3.3 Contribuio dos Portos Secos da Regio Centro-Oeste do Brasil para o Comrcio Exterior e gerao de Empregos ........................................................... 46 3.3.1 Mato Grosso ................................................................................................. 47 3.3.3 Mato Grosso do Sul ...................................................................................... 55 3.3.4 Distrito Federal ............................................................................................. 57

    4. Concluso ............................................................................................................. 61 5. REFERNCIA BIBLIOGRFICA ........................................................................... 63

    5.1 Obras Impressas ............................................................................................. 63 5.1.1 Livros ............................................................................................................ 63

  • xii

    5.1.2 Revistas e Jornais......................................................................................... 64 5.1.3 Dissertaes ................................................................................................. 64 5.1.4 Peridicos ........................................................ Erro! Indicador no definido.

    6. ANEXOS.................................................................................................................69

  • xiii

    RESUMO

    O presente estudo analisa os portos secos da regio Centro-Oeste do Brasil

    como instrumentos capazes de impulsionar o comrcio exterior dos estados e a

    gerao de empregos para os municpios nos quais os mesmos esto instalados. Os

    estados da regio representam parcela importante do comrcio exterior brasileiro e

    esto distantes do mar. Estes fatores influenciaram na realizao desta pesquisa,

    pois a distncia entre as aduanas e os exportadores e importadores da regio por

    vezes se torna um entrave para os mesmos. Para se chegar ao objetivo da pesquisa

    foi feita uma anlise das importaes totais dos estados para aqueles produtos mais

    movimentados nos portos secos e anlise da movimentao de mo-de-obra nos

    municpios. No primeiro momento, por meio da legislao para os portos secos e por

    meio de documentos de centros especializados, foi feita uma abordagem do histrico

    e funcionamento no Brasil e no exterior. Os resultados obtidos demonstraram um

    breve histrico da descentralizao dos servios aduaneiros nos portos martimos

    brasileiros e demonstraram, tambm, o funcionamento dos portos secos existentes

    no exterior. Por meio de envio de questionrio para os representantes dos portos

    secos da regio, foi possvel traar o perfil de cada um. Para se chegar ao objetivo

    da pesquisa foram utilizadas as bases de dados do Ministrio do Desenvolvimento

    Indstria e Comrcio Exterior (MDIC) e Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE). O

    estudo mostra que h contribuio principalmente para as importaes das

    empresas que esto localizadas prximo ao porto seco, no entanto, o mesmo no

    notado para as exportaes. Demonstra, tambm, que movimentao de mo-de-

    obra apresenta aumento somente nos anos posteriores instalao dos mesmos.

    Destarte, o estudo mostra que muito ainda deve ser feito para tornar o trabalho dos

    portos secos mais eficiente.

    Palavras chave: portos secos, comrcio exterior, logstica, mo-de-obra,

    aduanas.

  • xiv

    ABSTRACT

    The current study analizes the dry ports in the Center West region in Brazil as

    instruments capable of boosting the States foreign trade and the generation of jobs

    for the municipalities in which they are established. The States of the Region

    represent an important part of the Brazilian foreign trade and they are far from the

    sea. These factors influenced the conduct of this research, for the distance among

    the customs, exporters and importers in the region sometimes becomes an obstacle

    for them. To reach the goal of the research was held an analysis of the total imports

    of states for those products more busy in the ports and dry analysis of the movement

    of the workforce in the municipalities. In a first moment, through the legislation to the

    dry ports and through documents from specialized centers, has been made an

    approach to history and operation in Brazil and abroad. The determined results

    showed a historical brief of the of the decentralization of customs ports in Brazil and

    also the operation of the existing dry ports abroad. By means of sending the

    questionnaire to the representatives of the dry ports in the region, it was possible to

    draw a profile of each one. To achieve the goal of the research were used the

    databases from the Ministry of Development, Industry and Foreign Trade (MDIFT)

    and Ministry of Labor and Employment (MLE). The study shows that there is

    contribution mainly to imports of the companies that are located next to the dry port,

    however, it is not noticed for exports. It also shows that movement of the workforce

    presents only increase in the subsequent years to the installation of the same.

    Therefore, the study shows that much still needs to be done to make the work of the

    dry ports more efficient.

    Keywords: dry ports, foreign trade, logistics, labor, customs.

  • 1

    1. INTRODUO

    1.1 Problema e sua Importncia

    Fomentar o crescimento do comrcio exterior brasileiro gera benefcios tais

    como a ampliao das reservas internacionais, o que garante a cobertura dos

    dficits nas contas externas (CARVALHO E SILVA, 2000), impulsiona a criao de

    novos empregos, o acesso a novas tecnologias e melhores padres de produo e,

    tambm, o estmulo para incrementar a eficincia e a competitividade das empresas.

    No entanto, no momento de deciso acerca de como importar ou exportar

    uma mercadoria, alguns fatores devem ser observados. A atividade de comrcio

    exterior est estruturada em muitas variveis, sendo os procedimentos das aduanas

    inerentes importao e exportao de valor fundamental. Por ser esta atividade

    importante para a economia nacional, faz-se necessrio a observao de questes

    tais como o regime aduaneiro adotado no processo de trocas comerciais com o

    exterior, o local no qual essa mercadoria ser estocada, entre outras questes

    (ROCHA, 2003).

    Proporcionar maior insero brasileira no comrcio internacional incrementa a

    participao do Brasil no contexto internacional, mormente no mbito da OMC e,

    ainda, tem o intuito de consolidar a caracterstica brasileira como lder da Amrica do

    Sul o que contribui para as relaes internacionais do Brasil (FONSECA E

    MARCONINI, 2006).

    Para um crescimento sustentado e concreto do comrcio exterior brasileiro

    faz-se necessrio investir na aplicao de processos logsticos adequados (KEEDI,

    2004a) de modo que o tempo de resposta entre o pedido do importador e a resposta

    do exportador seja realizado com maior celeridade.

    O comrcio exterior brasileiro vem evoluindo positivamente. Segundo dados

    do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior (MDIC) no ano de

    2006 o Brasil exportou US$ 137,50 bilhes (FOB)1 e importou US$ 91,40 bilhes

    (FOB), aumento de 16,22% nas exportaes e 24,2% nas importaes em relao

    ao ano de 2005. Tem-se, portanto, uma corrente de comrcio da ordem de US$

    228,90 bilhes, com participao no PIB de 24,63% (dados do MDIC). Com o 1 FOB: free on board correm por conta do vendedor todas as despesas e riscos por perdas e danos at o

    momento da colocao da mercadoria a bordo do navio indicado pelo comprador, no porto de embarque. (Carvalho e Silva, 2000, p. 110).

  • 2

    aumento do volume de trocas comercias com o exterior, houve, tambm, sobrecarga

    nos portos brasileiros, conseqentemente ocorrem atrasos no processo de

    importao ou exportao, aumento do nmero de mercadorias perdidas,

    danificadas ou at mesmo extraviadas gerando perda de tempo e tornando o

    processo mais oneroso. medida que o comrcio exterior brasileiro se desenvolve,

    surge a busca por melhora no fluxo das mercadorias como forma de incrementar a

    competitividade das empresas e dos produtos brasileiros. Como fator importante

    para que a balana comercial continue com saldo positivo, percebe-se a

    necessidade de novas ferramentas que garantam a eficincia logstica. Para que o

    Brasil se torne um competidor de peso no mercado internacional, ser requisito a

    aplicao de processos logsticos que sejam capazes de acompanhar a evoluo do

    comrcio exterior.

    A regio Centro Oeste do Brasil composta pelos Estados do Mato Grosso do

    Sul, Mato Grosso, Gois e o Distrito Federal tem como principal atividade econmica

    a agricultura, produo de milho, soja, algodo e carne e representa

    aproximadamente 40% do total da produo agrcola nacional, segundo dados do

    MDIC.

    De acordo com artigo publicado pela Confederao Nacional da Indstria

    (CNI), em 2005 a regio Centro-Oeste representou 5,4% do total de exportaes do

    Brasil. Para os empresrios da regio um dos maiores problemas est associado ao

    apoio logstico tanto na importao quanto na exportao. Faltam regio mais

    investimentos em infra-estrutura para tornar mais gil o escoamento das

    mercadorias.

    A dificuldade em escoar as mercadorias destinadas a importao ou

    exportao, bem como a distncia entre os produtores ou importadores e as

    aduanas, tm desestimulado a atividade de comrcio exterior entre as empresas que

    esto localizadas no interior do pas.

    Consoante o exposto por Keedi (2004a), o comrcio exterior faz-se importante

    para a retomada do crescimento brasileiro. Faz-se necessrio um aumento das

    exportaes, bem como das importaes para que haja modernizao da indstria e

    no complemento daquilo que o pas no produz por falta de condies para tal. Os

    efeitos dessa importao devem influenciar direto na modernizao da economia e

    serem capazes de impulsionar a qualidade e a competitividade dos produtos

    nacionais.

  • 3

    Para Keedi (2004a), a competitividade a nvel internacional no envolve

    somente matria-prima e mo-de-obra de qualidade e a baixo custo, pois

    consenso dentro e fora do Brasil a alta competitividade e qualidade dos produtos

    nacionais, segundo o autor, os problemas da produo nacional esto fora das

    fbricas.

    Nesse contexto, o estudo das Estaes Aduaneiras do Interior, tambm

    chamadas de Portos Secos, como mecanismo de alavancagem do comrcio exterior

    da regio Centro-Oeste do Brasil se faz importante uma vez que esses instrumentos

    facilitadores do processo importao e exportao assumem cada vez mais papel

    considervel na participao do desenvolvimento econmico do Brasil.

    1.2 Hiptese

    Os Portos Secos localizados na regio Centro-Oeste do Brasil contribuem

    positivamente para o desenvolvimento do comrcio exterior da regio, bem como

    para o incremento do emprego.

    1.3 Objetivos

    1.3.1 Objetivo Geral

    Analisar a contribuio dos Portos Secos para as importaes e exportaes

    dos estados nos quais os mesmos esto instalados, bem como para a gerao de

    empregos nos municpios onde esto localizados.

    1.3.2 Objetivos Especficos

    Apresentar um panorama dos portos secos no Brasil e no exterior;

    Apresentar os portos secos localizadas na regio Centro-Oeste do Brasil;

    Analisar a contribuio dos Portos Secos para o Comrcio Exterior dos

    estados da regio Centro-Oeste e a gerao de empregos nos municpios

    onde esto localizados.

  • 4

    1.4 Metodologia

    O desenvolvimento do presente estudo foi pautado em pesquisa em livros,

    dissertaes, monografias, legislao, revistas, questionrios enviados aos

    representantes dos portos secos e publicaes em stios da Internet pertinentes ao

    assunto proposto.

    Esta pesquisa descritiva e explicativa. Segundo Vergara (2000) a pesquisa

    descritiva visa expor caractersticas de determinado fenmeno e visa explicar as

    relaes de causa e efeito desses fenmenos. Enquanto a explicativa visa

    esclarecer quais fatores e como contribuem para a ocorrncia de tal fato.

    Neste estudo a pesquisa descritiva apresenta a estrutura e funcionamento

    das estaes aduaneiras de interior. J a explicativa esclarece os impactos

    causados pelos Portos Secos no comrcio exterior da Regio Centro-Oeste

    Brasileira.

    Para comprovar a hiptese proposta, foram analisadas as importaes totais

    dos estados para os principais produtos importados via porto seco e a base de

    dados de movimentao de mo-de-obra dos municpios onde esto os portos

    secos. Para a obteno desses dados foram utilizadas ferramentas especializadas

    do Governo, mormente o AliceWeb, do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e

    Comrcio Exterior (MDIC), bem como o Servio de Apoio s Micro e Pequenas

    Empresas (SEBRAE) e Programa de Disseminao de Estatsticas do Trabalho

    (PEDET), do Ministrio do Trabalho e Emprego (MTE).

    A organizao das informaes obtidas foi feita de forma que demonstre a

    contribuio dos portos secos para o comrcio exterior bem como para o incremento

    do emprego nos municpios.

    Para demonstrar um panorama dos portos secos no Brasil e no exterior foram

    utilizados revistas, relatrios e estudos que apresentem a relevncia dos portos

    secos no crescimento do comrcio exterior e no desenvolvimento da regio onde os

    mesmos esto instalados, o funcionamento e o objetivo de cada um e em cada pas

    abordado. Foram analisados, ainda, livros com o arcabouo conceitual e a legislao

    pertinente acerca dos portos secos.

  • 5

    2. REFERENCIAL TERICO

    2.1 Reviso Bibliogrfica

    Na Reviso Bibliogrfica sero analisados trabalhos cujos temas versam

    sobre a importncia do comrcio exterior para a Nao. Da mesma infere-se o intuito

    de identificar a aplicabilidade de algumas teorias que abordam o comrcio

    internacional bem como a importncia de processos aduaneiros eficientes para a

    atividade mencionada.

    Segundo o exposto por Keedi (2004b) diversos so os motivos que levam os

    pases a estabelecerem trocas comerciais entre si. Caso um pas tenha um

    determinado recurso natural em abundncia, poder exportar tal recurso para aquele

    pas que tem este recurso em escassez, bem como poder importar bens de

    produo para obteno do seu recurso natural. Destarte, tanto a disponibilidade

    quanto a escassez de recursos naturais ou bens de produo, dentre outros, so

    agentes motivadores para a realizao de trocas comerciais entre pases. Keedi

    (2004b) considera o clima como outro fator impulsionador do comrcio exterior, pois

    o mesmo poder ou no beneficiar a produo de determinados produtos.

    A escassez de mo de obra ou capital determinam a quantidade produzida de

    um bem e sua competitividade, dessa forma ser determinado se o pas ser

    importador ou exportador desta mercadoria, dependendo da abundncia ou

    escassez.

    No s a abundncia ou escassez de recursos determina as trocas

    comerciais entre os pases, mas tambm, de acordo com Keedi (2004b), a

    necessidade de relacionamento entre os mesmos, no qual a troca comercial pode

    "fazer parte de um conjunto mais abrangente de contatos e aes entre os pases"

    (KEEDI, 2004b, pg. 19).

    A abertura do comrcio nacional s mercadorias importadas acarreta

    melhoria da qualidade dos produtos nacionais, uma vez que os produtos importados

    seriam concorrentes dos mesmos.

    Keedi apresenta a importncia da diluio de riscos, na qual o pas no tem

    no mercado interno seu principal cliente ou fornecedor. Com um nmero

  • 6

    considervel de pases fornecedores e compradores, o produto nacional no fica a

    merc das variaes econmicas de um nico pas.

    Em seu livro, o autor aponta a importncia da atividade exportadora e

    importadora. A exportao proporciona a diversificao de mercados o que,

    conseqentemente, proporciona menor risco de reduo do consumo, dado a

    quantidade de clientes demandando aquele produto. Exportar para o maior nmero

    de pases possvel acarreta aumento na produo e na quantidade vendida.

    O aumento da produo ocasionado pela exportao tem como resultado

    gerao de empregos, o que leva ao aumento do consumo da populao e, como

    conseqncia, impulsiona a economia nacional. Deve ser levado em conta tambm,

    segundo Keedi, a quantidade produzida, ou seja, quanto mais unidades produzidas,

    menor ser o custo fixo.

    Com o aumento das exportaes h o incremento tecnolgico e o

    aquilatamento da mo-de-obra, uma vez que o mercado importador exige produtos

    de alta qualidade.

    A atividade exportadora garante ao pas a entrada de moeda forte2, o que

    gera aumento de divisas para a liquidao das compras internacionais, dos juros e

    dvidas, entre outros.

    No tocante a importncia da importao, o autor aponta que a mesma garante

    ao pas um leque de opes de compra diminuindo, assim, a dependncia em

    relao aos produtos nacionais e diminuindo o impacto das crises de produo em

    outros mercados fornecedores sobre o consumo nacional. O ingresso de novas

    mercadorias no pas representa aumento de produtos oferecidos, maior variedade e

    menores preos, pois os produtos importados representam concorrncia para o

    produto nacional. A importao garante, tambm, a renovao e expanso do

    parque industrial e inovao tecnolgica.

    Arbache e De Negri (2001 apud ARBACHE 2002) apresentam em sua

    pesquisa evidncias empricas ligadas ao comrcio internacional, emprego e renda.

    Os autores concluem que a mo-de-obra mais qualificada nas empresas que

    trabalham com comrcio exterior, ou seja, a abertura comercial impulsiona o

    mercado de trabalho a demandar mais mo-de-obra qualificada. Como

    conseqncia, capital humano superior implica em nvel tecnolgico igualmente

    2 Keedi determina como moeda forte a moeda dos pases economicamente estveis, exemplo: dlar norte-

    americano e euro. (Keedi, 2004b, pg. 23)

  • 7

    superior. No entanto, no h somente a gerao de empregos para trabalhadores

    qualificados, mas h, tambm a gerao de empregos para os trabalhadores no

    qualificados, principalmente na indstria.

    Para Arbache (2002) existe relao entre o tamanho das firmas dedicadas ao

    comrcio exterior e os salrios praticados nas mesmas. Tal concluso est

    fundamentada na percepo de que os maiores salrios esto nas firmas

    exportadoras e estas so maiores que as firmas no exportadoras. Dessa forma

    conclui-se que nas empresas participantes do comrcio exterior haja maior nvel

    tecnolgico, esquemas de salrios de eficincia baseados nos modelos de

    monitoramento. (ARBACHE, 2002, p. 13).

    Em sua pesquisa, Pinheiro (2002) defende o argumento de que seria

    interessante para o Brasil obter aumentos na conta de comrcio exterior exportando

    mais sem diminuir o volume de importaes. Permitir o aumento das importaes

    estimula o incremento da produtividade e da eficincia, alm de diminuir a

    vulnerabilidade externa. O autor defende o aumento das exportaes brasileiras

    para que o pas se integre aos fluxos de comrcio internacional.

    A poltica de promoo do comrcio exterior brasileiro nos anos 80 era

    pautada em subsdios pblicos, no entanto, a atuao da Organizao Mundial do

    Comrcio (OMC) est focada em impedir esse estmulo. Mas a proibio

    proporcionou estimulo s exportaes por meio de incentivos s atividades de

    pesquisa e desenvolvimento e ao desenvolvimento da regio cuja produo

    destinada exportao.

    Pinheiro admite que as pequenas e mdias empresas enfrentam, devido ao

    seu tamanho, o problema da competitividade. Nesse contexto, a atividade de

    comrcio exterior pode ser um instrumento de apoio s empresas de pequeno porte.

    Infere-se do texto de Pinheiro que a partir da unio dessas empresas para lanarem

    seus produtos alm das fronteiras, mesmo no trabalhando no mesmo setor, gera

    benefcios tais como reduo do risco, fomento capacidade gerencial e o

    incremento da infra-estrutura, dentre outros.

    Segundo Abreu (n.d. apud PINHEIRO 2002), a diplomacia comercial fator

    importante nas estratgias de expanso do comrcio exterior, bem como da

    construo da participao do Brasil no cenrio econmico mundial. Para tanto, o

    autor sinaliza a importncia do posicionamento dos negociadores brasileiros perante

    as negociaes no mbito da OMC, haja vista o no desgaste da imagem brasileira

  • 8

    perante os principais participantes dessas negociaes, quais sejam: Unio

    Europia, Estados Unidos e Japo.

    Fonseca e Marconini (2006) apontam que com o uso da importncia do

    comrcio exterior, bem como da capacidade diplomtica em negociaes

    internacionais, o Brasil tem se configurado no cenrio mundial de comrcio como um

    dos principais atores. Os autores citam a participao brasileira como lder do G20, o

    grupo dos pases em desenvolvimento, e as importantes vitrias alcanadas no

    sistema de soluo de controvrsias da OMC contencioso do algodo com os

    Estados Unidos e o caso do acar com a Unio Europia. Em mbito regional, o

    Brasil o lder do Mercosul e, como tal, vem estabelecendo negociaes com a rea

    de Livre Comrcio das Amricas (Alca) e o Mercosul-Unio Europia com forte

    empenho da tradicional diplomacia brasileira. Fora do continente, em 2003 o Brasil

    firmou acordos de preferncias comerciais com frica do Sul e ndia.

    Para os autores a corrente de comrcio3 como fator integrante do PIB

    demonstra a importncia do comrcio exterior para a economia brasileira. Aps a

    abertura comercial o Brasil teve ganhos de produtividade da ordem de 2,7% ao ano

    no perodo entre 1996 e 2000. Na dcada de 1990 o crescimento da produtividade

    foi observado nos setores que mais se relacionaram economicamente com o

    exterior.

    Os autores concluem que o comrcio exterior responda a determinadas

    questes de ordem macroeconmica e, concomitantemente, como instrumento para

    o exerccio de uma diplomacia ativa (FONSECA E MARCONINI, 2006, pg. 87).

    Nesse contexto, Pinheiro e Giambiagi (n.d.) apontam que o Brasil necessita

    de maior abertura comercial, exemplo daquela realizada na dcada de 1990, para

    que se possa alcanar maior grau de integrao economia mundial. Os autores

    atestam que com o aumento do comrcio exterior o Brasil estar menos vulnervel

    aos choques externos e, como conseqncia, no haver interferncia no

    crescimento ou elevao dos juros domsticos, o que leva a menores riscos

    macroeconmicos, promovendo, assim, o aumento dos prazos no mercado de

    crdito. Para tanto, o Brasil precisa exportar e importar mais, pois com a economia

    aberta haver desvalorizao do cmbio e as empresas tero acesso a bens de

    3 Corrente de comrcio definida por Fonseca e Marconini como soma do total das exportaes e

    importaes.

  • 9

    capital e insumos modernos, acarretando mais competitividade e incentivos para

    buscar o mercado externo.

    Castro (2004) aponta que a importncia do comrcio exterior se d pela soma

    das exportaes e importaes, pois o "comrcio exterior uma via de duas mos, a

    exportao e importao, com uma no existindo sem a outra" (CASTRO, 2004, pg.

    05). Dessa forma, o autor aponta o aumento das exportaes, com peso maior para

    os manufaturados, como gerador de divisas para liquidar a dvida externa e os juros,

    enquanto as importaes de bens e novas tecnologias permitem o crescimento

    sustentado da economia brasileira. corolrio que o aumento das exportaes

    brasileiras tem proporcionado maior segurana queles que investem no Brasil,

    tanto na captao de recursos quanto no fornecimento dos mesmos, uma vez que,

    por esse motivo, as agncias de risco reduzem o rating 4 brasileiro.

    Segundo Rocha (2003) a participao competitiva no comrcio internacional

    exige subsdios que auxiliem nos processos logsticos e proporcionem agilidade nos

    desembaraos aduaneiros. Para tanto, faz-se importante a aplicao de regimes

    especiais aduaneiros. Segundo o autor, a participao efetiva das Estaes

    Aduaneiras do Interior apontada como instrumento eficiente de competitividade,

    uma vez que as mesmas so autorizadas pela Secretaria da Receita Federal a

    abrigar atividades de industrializao, quais sejam: embalagem, reembalagem para

    rotulagem, reparos e montagem.

    Para Keedi (2004a) o comrcio exterior formado por uma gama de

    atividades "cujas partes formam um todo completo e necessrio, e sem as quais ele

    no existe". Desse infere-se a importncia dos mecanismos que agilizam o processo

    de trocas comerciais internacionais.

    Keedi (2004a) salienta a importncia dos processos aduaneiros para o

    comrcio exterior. Para o autor a economia brasileira quando comparada

    economia mundial, demonstra carncia de processos aduaneiros eficientes. Embora

    muitas melhorias foram implementadas, muito ainda pode ser feito.

    4 Rating o resultado da avaliao se um determinado pas cumpre com suas obrigaes financeiras, ou risco de

    inadimplncia de um pas. (Sheng e Saito, 2004)

  • 10

    2.2 Marco Terico

    De acordo com o problema exposto, a hiptese e os objetivos apresentados,

    o marco terico foi baseado em teorias que versam sobre o comrcio internacional e

    visa aprofundar os conceitos fundamentais sobre os termos: regimes aduaneiros,

    recintos alfandegados, portos secos, logstica e indicadores de desenvolvimento

    econmico.

    2.2.1 Teoria das Vantagens Absolutas

    A existncia de trocas comerciais entre os pases objetiva a obteno de

    vantagens. O trabalho Teoria Clssica do Comrcio Internacional (n.d.), apresenta a

    teoria do comrcio internacional formalizada por Adam Smith, a teoria das vantagens

    absolutas, a qual propunha demonstrar as vantagens do comrcio internacional.

    Para Smith, o pas deve se especializar naquele produto que feito com menor

    custo e em menor espao de tempo. Destarte, a teoria absoluta prope que no se

    deve produzir de tudo, mas sim exportar aquele produto no qual identificada a

    teoria mencionada e importar os produtos nos quais os outros pases so mais

    eficientes.

    Nesse contexto, ao se abrir para o exterior h ganhos para ambos os pases

    envolvidos na troca comercial, ou seja, sem que a balana comercial de um dos

    pases tenha que se tornar negativa, e ganhos, conseqentemente, para a economia

    mundial.

    De acordo com o exposto por Carvalho e Silva (2000), a teoria de Smith

    defende o livre comrcio como um mecanismo capaz de incentivar o aumento da

    produo por meio da especializao e, com as trocas, aumento do consumo e,

    como conseqncia o bem-estar das populaes dos pases envolvidos no comrcio

    internacional.

  • 11

    2.2.2 Teoria das Vantagens Comparativas

    A teoria das vantagens comparativas de David Ricardo estabelece que o pas

    deve se especializar na produo daquele bem que possui relativamente maior

    vantagem, ou seja, observada a importncia dos custos comparativos da

    produo, que so determinados pela produtividade do trabalho. Para David

    Ricardo, o comrcio internacional deve ser um jogo de soma positiva, no qual todos

    os pases envolvidos na troca so beneficiados.

    De acordo com Teoria Clssica do Comrcio Internacional (n.d.), o conceito

    de vantagem comparativa permite determinar padres de especializao e troca,

    levando em considerao o custo relativo de produo de cada bem em um dado

    pas em comparao com outro.

    Segundo o exposto por Peixoto et. al. , (2003) a teoria de Ricardo admite que,

    ao se especializar na produo dos bens com vantagem comparativa, a produo

    que no fosse demandada no mercado interno deveria ser exportada. Os outros

    produtos seriam importados a um preo menor que se tivessem sido produzidos

    internamente. Gerando, assim, benefcio para ambos os pases envolvidos no

    comrcio.

    2.2.3 Teoria de Heckcsher-Ohlin

    A teoria de Heckcsher Ohlin abarca a diferena entre as quantidades de

    fatores de produo disponveis em cada pas, intervindo, assim, nos custos de

    produo desses bens. Segundo Krugman e Obstefeld (2001 apud PEIXOTO et.

    al.2003), os pases possuem tecnologia similar, no entanto, o mesmo no

    observado quanto aos fatores de produo tais como terra, mo-de-obra, recursos

    naturais entre outros. Por esse motivo o pas no qual o fator relativamente

    abundante for o trabalho, o pas poder se empenhar em produzir o bem intensivo

    em trabalho a um custo relativamente menor, o que gera vantagem comparativa na

    produo do bem.

    Destarte, a teoria de Heckcsher-Ohlin nos leva a concluso de que o pas se

    especializar na produo do bem que demandar mais o fator de produo

  • 12

    relativamente abundante, exportando tal bem e importando aquele que demandar o

    fator de produo escasso no pas.

    Nesse sentido, Carvalho e Silva (2000) explicitam que a teoria de Heckcsher-

    Ohlin surge para explicar os diferentes custos de produo de uma mesma

    mercadoria em diferentes pases. Nas palavras de Carvalho e Silva (2000, pg. 25) a

    teoria de Hecksher-Ohlin afirma que cada pas se especializa e exporta o bem que

    requer utilizao mais intensiva de seu fator de produo abundante.

    2.2.4 Teoria da Vantagem Competitiva

    A internacionalizao das indstrias levou a uma nova realidade: a

    competitividade das mesmas nas relaes comerciais alm das fronteiras. Nesse

    sentido, destacam-se as indstrias e os pases que possuem vantagens competitivas

    em relao aos outros. Porter (1999) defende a teoria da vantagem competitiva.

    Para o autor a competitividade de uma nao depende da capacidade da indstria

    nacional em melhorar e inovar, nesse sentido, a produtividade traduz o significado

    de competitividade no nvel nacional. O autor continua afirmando que a

    produtividade determina o padro de vida de um pas; a produtividade dos

    trabalhadores determina seus salrios e a do capital determina o lucro gerado para

    seus detentores.

    A capacidade de um pas de proporcionar um alto e prspero padro de vida

    para seus cidados depende da produtividade do trabalho e do capital. Depende da

    qualidade e das caractersticas dos produtos bem como da eficincia na produo

    dos mesmos. Dessa forma, as empresas devem melhorar a produtividade dos

    setores existentes desenvolvendo a tecnologia dos produtos e impulsionando a

    eficincia da produo. Em suma, o autor afirma que as empresas devem se

    desenvolver para competir em setores com alto grau de complexibilidade.

    Porter (1999) conclui que na competitividade no mbito internacional, as

    empresas concorrem com estratgias envolvendo no s o comrcio internacional

    como tambm os investimentos externos. A competitividade envolve, tambm, a

    base domstica para a empresa criar e sustentar suas vantagens competitivas e,

    destarte, elaborar produtos com qualidades caractersticas da inovao.

  • 13

    2.2.5 Destruio Criadora

    De Souza (2005) apresenta a teoria de desenvolvimento econmico de

    Schumpeter como mudanas revolucionrias que transformam uma dada situao.

    O autor cita como exemplo a substituio das diligncias pelas ferrovias, sendo as

    transformaes sempre presentes na produo e no no consumo.

    A teoria de Schumpeter admite que as novas formas de produo e novas

    combinaes de insumos e habilidades geram novos produtos com melhor qualidade

    e custos menores (DE SOUZA, 2005).

    A abertura de novas firmas pode provocar o fechamento de firmas veteranas,

    ou seja, o surgimento de novas combinaes causa a suplantao de combinaes

    antigas gerando, assim, a destruio criadora.

    Nesse sentido, Schumpeter aponta como exemplos de inovao: novos

    produtos, novos mtodos de produo, novos mercados tantos nacionais quanto

    internacionais e novas fontes de matria prima. Destarte, segundo De Souza, o lucro

    estimula novos investimentos, provocando o surgimento de outros novos lucros.

  • 14

    2.2.6 Regimes Aduaneiros Especiais

    Como afirma Muto (n.d.) regime aduaneiro o tratamento tributrio e

    administrativo incidentes s mercadorias sob controle aduaneiro. Os regimes

    aduaneiros so divididos em comum e especial.

    O regime comum implica no pagamento do imposto de importao ou, em

    casos especiais, a iseno ou reduo desses pagamentos. Nos regimes especiais

    h as excees ao regime comum. Os regimes especiais, segundo Muto, abarcam

    situaes provisrias de mercadorias no territrio aduaneiro ou o benefcio fiscal. O

    autor destaca algumas mudanas aps a implementao do Novo Regulamento

    Aduaneiro, Decreto n 4.543, de 26.12.2002. Este aboliu os regimes especiais

    tpicos e atpicos. Alguns regimes considerados atpicos passaram categoria de

    Regimes Aduaneiros Especiais (RAE). As Zonas Francas e reas de Livre Comrcio

    so agora chamados de Regimes Aduaneiros Aplicados em reas Especiais

    (RAAAE).

    De acordo com o exposto por Santos Filho (2004) os regimes aduaneiros

    especiais so instrumentos aptos a incrementar as exportaes e o aumento da

    competitividade do produto no mercado externo.

    Conforme apresentado por Santos Filho, os regimes aduaneiros especiais

    so:

    Trnsito Aduaneiro: permite o deslocamento, de um ponto ao outro do

    territrio aduaneiro, de veculos e mercadorias sob controle aduaneiro

    com suspenso do pagamento de tributos. Este regime especial

    possibilita o transporte da mercadoria da zona primria para

    secundria, desobstruindo, assim, as zonas primrias.

    Admisso Temporria: consiste na admisso de bens provenientes do

    exterior, com suspenso total ou parcial dos impostos de importao,

    com prazo pr-determinado para a mercadoria retornar ao exterior sem

    sofre qualquer modificao.

    Drawback: com a finalidade de estimular as exportaes, os bens

    importados sob esse regime sero destinados fabricao ou

  • 15

    complementao de produtos a serem exportados. A importao

    isenta ou passvel de restituio dos tributos inerentes importao.

    Entreposto Aduaneiro: pode ser de importao, sem cobertura cambial,

    ou exportao. Este regime permite a guarda de mercadorias sem

    pagamentos de tributos at a nacionalizao ou reexportao das

    mercadorias. A legislao permite o entreposto aduaneiro em recintos

    alfandegados de uso pblico.

    Entreposto Industrial sob Controle Informatizado RECOF: permite a

    importao de mercadorias, com ou sem cobertura cambial, sem

    pagamento de tributos, sob controle aduaneiro informatizado, que

    sero submetidas operao de industrializao e, posteriormente,

    destinadas exportao.

    Exportao Temporria: permite a sada de mercadoria nacional ou

    nacionalizada do territrio nacional, com suspenso do imposto de

    exportao, com reimportao em prazo estipulado, no mesmo estado

    que foi exportado.

    Depsito Especial: permite a estocagem de componentes de reposio

    ou manuteno de veculos, mquinas, aparelhos e instrumentos,

    podendo permanecer nesse regime por at cinco anos contados da

    data do desembarao para admisso.

    Depsito Afianado: permite a estocagem de materiais importados

    sendo estes destinados manuteno e ao reparo de embarcaes e

    aeronaves de transporte comercial internacional, com suspenso do

    pagamento de impostos de importao.

    Depsito Alfandegado Certificado: ao ser depositada em recinto

    alfandegado e expedido o contrato de venda ao exterior, a mercadoria

    considerada exportada para todos os efeitos fiscais, creditcios e

    cambiais.

  • 16

    2.2.7 Recintos Alfandegados

    Rocha (2003) apresenta os recintos alfandegados como reas nas quais so

    realizados servios de controle ou armazenamento de veculos e mercadorias

    destinados importao ou exportao. O autor afirma que os recintos

    alfandegados podem ser portos, aeroportos e pontos de fronteira. Nestes locais so

    realizados os controles de entrada e sada de veculos ou de mercadorias do

    territrio nacional e, ainda dentro dos recintos alfandegados, existem locais prprios

    para armazenamento de mercadorias e estacionamento de veculos.

    Segundo o autor existem, tambm, os terminais alfandegados de uso pblico.

    Estes so instalaes nas quais so realizados servios de movimentao e

    armazenamento de mercadorias sob controle aduaneiro, desde que no estejam

    localizados em rea de portos ou aeroportos. Segundo Rocha os terminais

    alfandegados de uso pblico so os portos secos.

    2.2.8 Portos Secos

    No tocante conceituao de Portos Secos, estes so, segundo a Receita

    Federal, recintos alfandegados de uso pblico nos quais so executadas operaes

    de movimentao, armazenagem e despacho aduaneiro de mercadorias e de

    bagagem, sob controle aduaneiro, no podendo ser instalados em zonas primrias

    de portos e aeroportos alfandegados. Eles so autorizados a trabalhar com

    importao e exportao ou somente com exportao dependendo das

    necessidades e condies do local onde for instalado (Decreto n 4.543, de 26 de

    dezembro de 2002).

    Existem, ainda, as Estaes Aduaneiras de Fronteira (EAF). De acordo com o

    exposto por Santos Filho (2004), as EAFs so terminais alfandegados instalados em

    zona primria de ponto alfandegado de fronteira onde so executados os servios

    de controle determinados pela autoridade aduaneira. Em 2002 pelo Decreto n

    4.543/2002 as Estaes Aduaneiras do Interior e de Fronteira passaram a

    denominar-se Portos Secos.

  • 17

    2.2.9 Logstica

    Segundo Christopher (2002) a logstica definida como:

    Logstica um processo de gerenciar estrategicamente a aquisio, movimentao e armazenagem de matriais, peas e produtos acabados (e os fluxos de informaes correlatas) atravs da organizao e seus canais de marketing, de modo a poder maximizar as lucratividades presente e futura atravs do atendimento dos pedidos a baixo custo

    Segundo Ballou (1993) a logstica est voltada para diminuir o espao de

    tempo entre a produo e a chegada do produto ao consumidor final, de modo que

    os consumidores possam adquirir estes produtos no momento e na forma que

    desejarem, pois os consumidores no residem prximos de onde os bens so

    produzidos.

    Para o autor a logstica abarca a movimentao e a armazenagem de

    produtos com a finalidade de facilitar seu fluxo desde a aquisio at o consumo da

    matria prima a custos reduzidos.

    O autor defende que os custos logsticos so capazes de estimular o

    comrcio entre os pases, uma vez que a diferena nos custos de produo pode

    compensar os custos logsticos inerentes ao transporte entre os pases. Destarte,

    quanto mais a logstica de um pas for desenvolvida, maior ser a troca de

    mercadorias, bem como a especializao do trabalho.

  • 18

    3. DESENVOLVIMENTO

    3.1 Panorama dos Portos Secos no Brasil e no exterior

    A presente seo tem como objetivo apresentar os portos secos brasileiros

    identificando seus principais benefcios, seu histrico e sua legislao. Pretende,

    ainda, apresentar os portos secos existentes em outros pases e suas principais

    caractersticas.

    3.1.1 Evoluo dos Portos Secos no Brasil e Legislao

    A insero de novos pases no comrcio internacional trouxe consigo

    dificuldades logsticas, dentre elas dificuldades ligadas ao desembarao aduaneiro5

    de mercadorias. No caso do Brasil os processos aduaneiros levam muito tempo para

    serem executados e, como conseqncia, acarretam perda de competitividade para

    as empresas que participam do comrcio exterior. Nesse sentido, de acordo com a

    Revista do Mercosul (n 72, 2001) os portos secos esto sendo muito solicitados por

    oferecerem, alm de vantagens econmicas, os processos administrativos mais

    geis do setor alfandegrio brasileiro e, por estarem localizados prximos aos

    centros com expressivas trocas comerciais internacionais, garantem a vantagem

    logstica uma vez que reduz os custos de distribuio das mercadorias.

    Os atuais portos secos, antigas Estaes Aduaneiras do Interior (EADI),

    foram estabelecidos na dcada de 1970 com o nome de Centrais Aduaneiras, no

    entanto, somente em meados da dcada de 1990 elas passaram a ser mais

    solicitadas quando o governo licitou grande nmero de unidades passando do

    nmero inicial de 15 estaes para 49. Atualmente so 62 portos secos operando no

    Brasil, os quais esto consolidados na Tabela 1, na pgina seguinte:

    5 O Desembarao Aduaneiro o processo final do despacho aduaneiro, a liberao por parte da Alfndega para

    que o bem possa ser entregue ao seu proprietrio. (Rocha, 2003)

  • 19

    Tabela 1- Quantidade de Portos Secos existentes no Brasil

    Em funcionamento Licitados A serem licitados

    Sudeste

    So Paulo 27 1

    Rio de Janeiro 3 2

    Esprito Santo 3

    Minas Gerais 5

    Sul

    Paran 6 2 1

    Santa Catarina 2 1 1

    Rio Grande do Sul 8 1

    Centro Oeste

    Distrito Federal 1

    Gois 1

    Mato Grosso 1 1

    Mato Grosso do Sul 1 1

    Nordeste

    Bahia 2

    Pernambuco 1

    Maranho 1

    Cear 1

    Rio Grande do Norte 1

    Norte

    Amazonas 1

    Par 1

    Total 62 6 9

    Fonte: Adaptada Receita Federal /2007

    Legalmente, a liberao para despacho aduaneiro6 no interior do pas teve

    incio na dcada de 1960. Nos Artigos 46 e 49 do Decreto Lei n 37 de 18 de

    6 Despacho Aduaneiro o procedimento fiscal mediante o qual verificada a exatido dos dados declarados

    pelo exportador em relao s mercadorias, aos documentos apresentados e a legislao especfica, com vistas a

    seu desembarao aduaneiro e a sua sada para o exterior (BRASIL, 2007).

  • 20

    novembro de 1966 encontramos permisso de desembarao aduaneiro, para

    produtos importados, fora das zonas primrias da seguinte maneira:

    Art 46. O Departamento de Rendas Aduaneiras poder estabelecer regime

    especial para simplificao do despacho, quando se tratar de mercadoria:

    I - De importadores habituais;

    II - Importada frequentemente;

    III - De fcil identificao;

    IV - Perecvel ou suscetvel de danos causados por agentes externos.

    Pargrafo nico. O descumprimento de qualquer obrigao importar

    cancelamento do regime especial, a juzo da autoridade aduaneira.

    Em seu artigo 49, temos:

    Art 49. A conferncia aduaneira da mercadoria ser efetuada na zona

    primria, ou em outros locais admitidos pelo Departamento de Rendas

    Aduaneiras.

    Em 1976, o Artigo 14 do Decreto Lei 1.455 complementava a

    descentralizao do despacho aduaneiro permitindo que este fosse realizado em

    terminais rodovirios ou ferrovirios:

    Art 14. A Secretaria da Receita Federal, a fim de possibilitar a simplificao

    e a descentralizao do processamento do despacho aduaneiro, conforme

    previsto nos artigos 46 e 49 do Decreto-lei nmero 37, de 18 de novembro

    de 1966, poder permitir, nos termos e condies fixados em regulamento,

    que a conferncia e o desembarao aduaneiro das mercadorias importadas

    sejam efetuados em terminais rodovirios e ferrovirios, ou em outros locais

    que admitir

    Segundo Mascarenhas (2005 apud LOUZADA 2005) anterior s EADIs foram

    instalados os Terminais Retroporturios Alfandegados (TRA), os quais eram

    conhecidos como portos secos com calado, ou seja, prximo ao porto martimo. Os

    TRA eram terminais ou instalaes porturias presentes em reas adjacentes dos

    portos martimos no podendo ultrapassar cinco quilmetros de distncia da zona

    primria. Nos TRA eram executados servios com cargas de exportao e de

    importao. No entanto, o art. 725 do Novo Regulamento Aduaneiro, Decreto

  • 21

    4.543/2002, determinou que os TRA subsistissem at a data limite de 23 de maio de

    2003 (SANTOS FILHO, 2004), passando a denominao de portos secos.

    Os termos Estao Aduaneira Interior e Estao Aduaneira de Fronteira foram

    delimitados em 1989 pelo Decreto n 98.097:

    Art. 17. A estao aduaneira pode ser:

    I - de fronteira, quando situada em zona primria de ponto alfandegado de

    fronteira, ou em rea a ela vinculada;

    II - interior, quando situada em zona secundria

    Com base na legislao acerca dos atuais portos secos infere-se que o

    mesmo foi designado por vrios termos: Centrais Aduaneiras Interiores, Estaes

    Aduaneiras de Fronteira, Terminais Retroporturios Alfandegados e Entrepostos

    Aduaneiros de uso pblico, sendo a diferena entre eles relacionada localizao e

    permisso para realizar regimes aduaneiros comuns ou especiais. No entanto, o

    Decreto nmero 2.168 de 1997 determina que todos esses terminais alfandegados

    passem a denominar-se Estaes Aduaneiras Interiores:

    Art. 3 Passam a denominar-se Estaes Aduaneiras Interiores:

    I as Centrais Aduaneiras Interiores;

    II as Estaes Aduaneiras de Fronteira, os Terminais Retroporturios

    Alfandegados e os Entrepostos Aduaneiros de uso pblico, quando

    autorizados na forma dos incisos I a III do art. 1

    Com o Novo Regulamento Aduaneiro, seu artigo 724 determina que as

    estaes aduaneiras do interior e as estaes aduaneiras de fronteira passem a

    denominar-se porto seco.

    Ainda no Novo Regulamento Aduaneiro, nmero 4.543 de 26 de dezembro de

    2002, em seus artigos 11 e 12 estabelecem o que so portos secos e onde podero

    ser instalados:

    Art. 11. Portos secos so recintos alfandegados de uso pblico nos quais

    so executadas operaes de movimentao, armazenagem e despacho

    aduaneiro de mercadorias e de bagagem, procedentes do exterior ou a ele

    destinadas.

    1o Os portos secos no podero ser instalados na zona primria de portos

    e aeroportos alfandegados.

  • 22

    2o Os portos secos podero ser autorizados a operar com carga de

    importao e de exportao, ou apenas de exportao, tendo em vista as

    necessidades e condies locais.

    Art. 12. As operaes de movimentao e armazenagem de mercadorias

    sob controle aduaneiro, bem assim a prestao de servios conexos, em

    porto seco, sujeitam-se ao regime de concesso ou de permisso (Lei no

    9.074, de 7 de julho de 1995, art. 1o, inciso VI)

    O Decreto nmero 4.765 de 24 de junho de 2003 traz modificaes ao Novo

    Regulamento Aduaneiro, entre elas, modifica o conceito de porto seco sem alterar

    essencialmente sua definio, em seu artigo 11 temos:

    Art. 11. Portos secos so recintos alfandegados de uso pblico nos quais

    so executadas operaes de movimentao, armazenagem e despacho

    aduaneiro de mercadorias e de bagagem, sob controle aduaneiro

    Os portos secos so implantados sob permisso da Secretaria da Receita

    Federal, por meio de licitao pblica formando um contrato de permisso, nesse

    caso o imvel pertence a um particular, ou concesso, quando o imvel pertence

    Unio. A localizao, estabelecida pelas autoridades aduaneiras, definida de

    acordo com o fluxo de comrcio exterior da regio. Todo investimento em infra-

    estrutura, manuteno e modernizao do porto seco ficam a cargo do

    permissionrio que ir oper-lo.

    De acordo com o Decreto 98.097 de 1989 as estaes aduaneiras interiores

    eram instaladas em imvel da Unio e administradas pela Secretaria da Receita

    Federal ou por empresa permissionria. O artigo 20 do referido Decreto permitia a

    instalao da estao aduaneira interior em regies onde houvesse expressiva

    concentrao de carga de importao ou de exportao.

    A Lei nmero 8.987 de 13 de fevereiro de 1995 estabelece novas regras para

    o regime de concesso e permisso da prestao de servios pblicos, passando a

    ser precedida de processo de licitao. Em julho do mesmo ano, foi lanada a lei

    nmero 9.074 na qual o inciso IV do artigo 1 apresenta a incluso de estaes

    aduaneiras e outros terminais alfandegados, no localizadas em rea de porto ou

    aeroporto, sujeio ao regime de concesso ou permisso para seu

    funcionamento.

  • 23

    No ano de 1996, o Decreto n 1.910 estabelece a necessidade de processo

    de licitao para pessoas jurdicas de direito privado e para empresas em consrcio

    que tenham como principal objeto a armazenagem, a guarda ou o transporte de

    mercadorias. A concorrncia para explorao dos servios precedida de

    publicao da Secretaria da Receita Federal, a qual determina qual tipo de terminal,

    a quantidade de terminais e o prazo da concesso ou permisso, o qual era por

    prazo de dez anos.

    Em 1997, a lei nmero 2.168 prorroga por mais cinco anos os prazos de

    concesso ou permisso de recintos alfandegados.

    O Decreto n 2.763 de 31 de agosto de 1998 aborda a transferncia da

    concesso ou permisso ou do controle societrio em caso de ciso, fuso,

    incorporao, transformao societria ou desestatizao da empresa

    concessionria ou permissionria prestadora de servio alfandegado de uso pblico.

    No tocante s mercadorias admitidas em porto seco, segundo o exposto por

    Louzada (2005), produtos cuja importao ou exportao so proibidas e bens

    importados com cobertura cambial, salvo as mercadorias destinadas exportao,

    no podero ser admitidos no porto seco. Bens usados tambm no podero ser

    admitidos, salvo aqueles destinados a reposio ou reparo de aeronaves e

    embarcaes.

    As Instrues Normativas (IN) da Secretaria da Receita Federal (SRF) para

    os portos secos so: nmero 55 de 23 de maio de 2000, Estabelece termos e

    condies para instalao e funcionamento de terminais alfandegados de uso

    pblico. Baseado no Decreto 2.763 anteriormente mencionado, foi estabelecido

    pela Receita Federal a Instruo Normativa nmero 109 de 8 de dezembro de 2000,

    a qual estipula termos e condies para a transferncia dos direitos de concesso,

    permisso ou do controle societrio das concessionrias ou das permissionrias de

    terminais alfandegados de uso pblico. A Instruo Normativa nmero 55 de 2000

    alterada pela IN SRF 70 de 24 de agosto de 2001, que altera o 3 pargrafo do

    artigo 22, e pela IN SRF 212 de 7 de outubro de 2002, que altera os artigos 6, 9 e

    28. A Instruo Normativa nmero 241 de 6 de novembro de 2002 Dispe sobre o

    regime especial de entreposto aduaneiro na importao e na exportao.

    Morini e Pires (2005) admitem que as constantes alteraes na legislao

    aduaneira e a burocracia do processo aduaneiro dificultam a escolha do regime

    aduaneiro por parte das empresas. No entanto, segundo Louzada (2005), a

  • 24

    constante atualizao da legislao aduaneira visa a adaptao das regras e leis

    para o correto funcionamento dos portos secos para, assim, impulsionar o comrcio

    exterior brasileiro.

    No ano de 2006 foi dado incio ao novo processo de mudanas nos regimes e

    nome dos portos secos. A medida provisria 320 de 25 de agosto de 2006 previa a

    mudana da denominao Porto Seco para Centro Logstico e Industrial Aduaneiro

    (CLIA), bem como a mudana do regime de concesso ou permisso, por meio de

    processo de licitao, para a concesso de licenas (autorizaes). Segundo esta

    Medida Provisria as empresas permissionrias ou concessionrias poderiam migrar

    para o regime de licena sem prejuzos nas rescises de seus contratos. A mudana

    visava a livre concorrncia, com o intuito de mais empresas privadas atuarem na

    zona secundria e, assim, diminuir a alta concentrao de mercadorias nas zonas

    primrias. No entanto, essa medida provisria no logrou xito e foi rejeitada pelo

    Ato Declaratrio n 01 de 2006 e arquivada em dezembro do mesmo ano. Os CLIAs

    que foram licenciados durante a vigncia da medida provisria passam a ser

    disciplinados pelo Projeto de Decreto Legislativo n. 03 de 2007.

    3.1.2 Benefcios e funcionamento dos Portos Secos

    Para se inserirem no mercado internacional as empresas buscam ferramentas

    capazes de agilizar as trocas comerciais internacionais e capazes de diminuir os

    custos dessa operao.

    O custo de armazenamento das mercadorias apontado como uma das

    vantagens em optar pelos portos secos. Por meio de comparao feita entre as

    taxas cobradas pela Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroporturia

    (INFRAERO), e o porto seco do Distrito Federal, este se mostra mais vantajoso. A

    INFRAERO cobra 1,5% sobre o valor total da mercadoria por 10 dias. Enquanto no

    porto seco o valor cobrado de 0,35% sobre o valor da mercadoria pelo mesmo

    perodo (BRASIL, 2006, pg. 03). O transporte areo o modal mais utilizado para

    mercadorias de pouco peso, mas de grande valor agregado, nesse sentido, o

    armazenamento de mercadorias se mostra mais vantajoso no porto seco.

    Os portos secos mantm suas mercadorias asseguradas contra roubo,

    incndio, avaria, danos ou extravios (LOUZADA, 2005, pg. 34) e proporcionam

  • 25

    servios tais como embalagem, limpeza de contineres, retirada de amostras,

    ambientes refrigerados para cargas frigorficas, ambientes separados para produtos

    qumicos, colocao de lacres e etiquetas entre outros servios. A pedido do cliente,

    o porto seco providencia o transporte da zona primria at o recinto alfandegado e

    deste at o destino final, e vice e versa.

    De acordo com o exposto por Louzada (2005) dentre as vantagens oferecidas

    pelos portos secos esto:

    Proximidade do importador com a mercadoria e as aduanas;

    Celeridade no processo de desembarao aduaneiro, uma vez que a

    conferncia da mercadoria e o despacho da mesma so feitos no prprio

    porto seco e acompanhados de fiscalizao das autoridades aduaneiras;

    Menor custo de armazenagem em comparao com as zonas primrias;

    Suspenso de impostos de importao enquanto as mercadorias

    permanecerem no armazm do porto seco;

    Importao ou exportao por regimes aduaneiros especiais;

    A mercadoria importada pode permanecer nos armazns do porto seco e ser

    nacionalizada aos poucos, de acordo com a demanda do importador;

    As empresas que operam os portos secos oferecem tratamento personalizado

    para seus clientes

    O desembarao aduaneiro das mercadorias importadas ou a serem

    exportadas so feitas diretamente nos portos secos. Em caso de importao, a

    mercadoria transferida da zona primria para a secundria, para tanto, o

    importador dever providenciar a emisso da permisso para a mercadoria transitar

    at o porto seco, Declarao de Trnsito Aduaneiro (DTA), junto Secretaria da

    Receita Federal. Ao chegar Estao Aduaneira a responsabilidade pela

    mercadoria passa a ser da mesma, ficando a cargo do importador a deciso se a

    mercadoria ser nacionalizada parcialmente ou totalmente. Enquanto a carga

    destinada exportao ter seu desembarao realizado no porto seco e seguir

    para o porto martimo para embarque. Para que o despacho aduaneiro seja feito de

    forma rpida e eficiente, esto presentes um posto da Receita Federal, do Ministrio

    da Sade e Agricultura (SEBRAE/MG, 2005).

  • 26

    A Figura 1, a seguir, apresenta o caminho percorrido pela mercadoria quando

    da importao ou exportao feita por porto seco:

    Figura 1 - Fluxo de Operao de Porto Seco

    Fonte: Sebrae/MG, 2005

    Segundo Morini e Pires (2005) "os portos secos so recintos fsicos, em que

    podem ser operados determinados regimes aduaneiros comum e especiais,

    conforme habilitao do recinto. Nesse sentido, as mercadorias importadas em

    regime comum (vide marco terico) podem permanecer armazenadas no porto seco

    por at 120 dias antes de serem nacionalizadas e retiradas do armazm ou podem

    ser nacionalizadas em lotes, sem a obrigao de liberar toda a carga estocada em

    um s momento. Caso a mercadoria tenha sido importada por regime de entreposto

    aduaneiro, o prazo para retirada varia entre um a trs anos.

  • 27

    Os autores Morini e Pires (2005) demonstram, por meio de exemplo, os

    benefcios gerados pelos portos secos tanto para o exportador quanto para o

    importador que utiliza o regime especial de entreposto aduaneiro. Segundo os

    autores este regime possibilita a reduo no espao de tempo entre a solicitao da

    mercadoria do importador ao fornecedor e o recebimento da mesma, bem como para

    desonerar custos de armazenagem.

    Os autores analisam, por meio do exemplo que se segue, que a mercadoria

    admitida no pas por meio de porto seco no regime especial de entreposto

    aduaneiro, "sem cobertura cambial 7, no pertence ao importador, mas pertence ao

    exportador que mantm a mercadoria armazenada no recinto alfandegado, no pas

    do importador. No entanto, o custo de armazenagem do importador e a

    responsabilidade pela guarda da mercadoria do porto seco. O regime especial de

    entreposto aduaneiro permite a armazenagem de mercadoria estrangeira em recinto

    alfandegado de uso pblico, com suspenso do pagamento dos impostos de

    importao por um perodo que varia de um a trs anos.

    Ao solicitar a nacionalizao do produto, que estava no armazm do porto

    seco, o importador efetua o pagamento do exportador e dos impostos devidos. O

    benefcio se estende para o exportador, pois os encargos da armazenagem so do

    importador, alm de liberar maior espao em seu recinto, uma vez que a mercadoria

    estava no armazm do porto seco. Este benefcio denominado pelos autores como

    estoque estratgico para cargas com longo tempo de deslocamento entre o

    fornecedor e o comprador.

    7 Cobertura Cambial: a mercadoria ingressa no pas por meio admisso. Nesta, a mercadoria admitida sem ser

    efetuado o pagamento ao exportador, ou seja, em consignao. (Morini e Pires, 2005).

  • 28

    3.1.3 Portos Secos no Exterior

    O Integrating Logistics Centre Networks In The Baltic Sea Region (INLOC),

    realizou um projeto com o objetivo de arquitetar um sistema de transporte capaz de

    atender o expressivo crescimento do comrcio exterior e do transporte de

    mercadorias na Regio do Mar Bltico. Nesse contexto, o projeto analisa os portos

    secos e a contribuio que os mesmos trazem para a atividade comercial da regio

    e, ainda, cita outros exemplos de portos secos em vrios pases.

    O conceito de porto seco utilizado pelo INLOC apresenta caractersticas mais

    abrangentes que aquele utilizado no Brasil. Para o INLOC (2007) porto seco

    representa o interior da regio servido por um porto e conceitua o mesmo como um

    porto no interior do pas conectado com um ou mais portos martimos por meio de

    transporte rodovirio ou ferrovirio para servir a indstria e o comrcio da regio com

    servios logsticos. Este conceito no abrange somente as mercadorias

    internacionais, mas tambm as mercadorias nacionais e at mesmo terminais para o

    transporte de passageiros. Diferente dos portos secos brasileiros, os quais atendem

    a todos os portos martimos presentes no territrio brasileiro, alguns portos secos,

    mormente aqueles localizados na Europa, prestam servio para um nico porto

    martimo. Os portos secos realizam os servios de consolidao8 de bens vindos ou

    destinados ao porto martimo, coleta e distribuio local, regional ou internacional

    desses bens, servios de armazenagem, bem como o gerenciamento das cargas

    que sero destinadas a diferentes portos martimos. Os terminais multimodais no

    interior do pas tambm podem se tornar portos secos desde que os mesmos

    tenham conexo direta com o porto martimo por meio de rodovias ou ferrovias, ter

    capacidade de trfego elevada e possuir condies de realizar o desembarao

    aduaneiro das mercadorias.

    De acordo com o exposto pelo INLOC (2007) com informaes adicionais de

    CHALMERS (2006), os portos secos so classificados em trs diferentes categorias

    baseadas no acesso na localizao dos mesmos. A primeira categoria o Distant

    Dry Ports. O principal objetivo desta categoria aproximar o porto martimo dos

    mercados que se encontram no interior do pas para tornar o desembarao

    8 Consolidao de mercadoria o agrupamento de mercadorias pertencentes a vrios embarcadores para formar

    uma carga.

  • 29

    aduaneiro mais rpido e atender os importadores ou exportadores dessa regio com

    servios logsticos mais geis. A ligao entre o distant dry port e a porto martimo

    comumente feita por meio de linha frrea, sendo o transporte rodovirio menos

    utilizado, o que resulta em menos congestionamento nos portos e nas regies

    prximas a este. A subutilizao do modal rodovirio tida como uma demanda da

    sociedade por transportes que agridam menos o meio ambiente, pois um trem

    capaz de substituir 40 caminhes e, conseqentemente, h menos emisso de

    poluentes.

    Figura 1 - Distant Dry Port

    Fonte: CHALMERS, 2006

    A segunda categoria o Mid-range dry port o qual est situado na regio

    distante do porto martimo geralmente coberta por transporte rodovirio. Nessa

    categoria o porto seco pode ser utilizado como rea de armazenamento de

    contineres e mercadorias sendo os benefcios do mid-range dry port similares

    queles do distant dry port.

  • 30

    Figura 2 - Mid-range Dry Port

    Fonte: CHALMERS, 2006

    A terceira e ltima categoria o Close dry port o qual servido tanto por

    transporte rodovirio quanto por ferrovirio. O close dry port est situado nas

    proximidades do porto martimo e sua principal utilidade disponibilizar maior

    espao para armazenamento de mercadorias e contineres. Maior espao de

    armazenamento possibilita o aumento da produtividade uma vez que o porto poder

    atender um nmero maior de navios. O close dry port possibilita, ainda, a retirada do

    continer do armazm para ser levado direto para o navio, o que diminui o

    congestionamento de caminhes nos portes dos portos martimos.

    Figura 3 - Close Dry Port

    Fonte: CHALMERS, 2006

    Segundo a pesquisa realizada pelo INLOC o trabalho dos portos secos da

    Europa est empenhado em tornar o processo de transporte mais eficiente uma vez

  • 31

    que o porto seco se torna um operador multimodal para os portos martimos e as

    empresas de transporte em geral. Os principais servios oferecidos pelos portos

    secos europeus so armazenamento e distribuio de mercadorias, diviso e

    consolidao de cargas, transporte do porto seco at o porto martimo ou deste at o

    porto seco, servios aduaneiros, bem como a guarda de contineres vazios e o

    descarregamento e carregamento de caminhes e vages de trens. Alguns portos

    secos europeus esto conectados diretamente com portos martimos de outros

    pases como, por exemplo, o Dry Port Muizen na Blgica que possui conexo direta

    por meio de transporte ferrovirio com os portos de Rotterdam e Dunquerke.

    Nos Estados Unidos os portos secos levam os benefcios dos portos

    martimos para mais perto dos mercados localizados no interior do pas. Segundo o

    exemplo do INLOC (2007) o Virginia Inland Port possui ligao com o porto martimo

    por meio de estradas de ferro e possui um terminal multimodal. Os servios

    oferecidos so o de carregamento e descarregamento de caminhes e vages de

    trens, desinfeco de contineres, estivadores, armazenamento de mercadorias,

    desembarao aduaneiro dentre outros servios. Alm do transporte ferrovirio e

    rodovirio, alguns portos secos dos Estados Unidos contam com o apoio dos

    aeroportos internacionais para o transporte das mercadorias.

  • 32

    Figura 4 - Lahore Dry Port

    Fonte: http://pakrail.com/hcontain.htm

    No Paquisto o primeiro porto seco constitudo foi o Lahore Dry Port em 1973,

    o qual administrado pelo Pakistan Railway. O Lahore foi estabelecido como

    estao aduaneira para os bens importados e exportados para a ndia. No entanto,

    com o desenvolvimento da indstria e o aumento das trocas comerciais com os

    outros pases, o Lahore foi nomeado dry-dock, ou seja, um porto no interior do pas

    para exportao e importao de bens trazidos do porto martimo e contava com

    transbordo de mercadorias. As principais mercadorias exportadas pelo Lahore Dry

    Port so roupas, tapetes de l, produtos de couro e acessrios esportivos, segundo

    o relatrio feito pelo INLOC.

    Na Tanznia o crescimento do comrcio internacional na regio e o trfego

    intenso em direo Ruanda e Burundi impulsionou a transferncia de parte do

    processo aduaneiro do Dar es Salaam Port para o interior do pas, destarte, em

    1999, o antigo terminal de contineres adquiriu o status de porto seco se tornando o

    Isaka Dry Port, distante 800 km do Dar es Salaam Port. A internalizao da aduana

    reduziu de sete dias para dois dias o processo de documentao das mercadorias e

    a colocao das mesmas no navio para ser entregue em seu destino final. O porto

  • 33

    seco de Isaka oferece rpido desembarao aduaneiro, menores custos de

    transportes, carregamento e descarregamento de contineres dentre outros

    servios.

    As fbricas e fazendas localizadas no interior do pas podem utilizar os

    servios de liberao de documentos inerentes exportao e importao dos

    portos secos, o que reduz o congestionamento e os atrasos nas fronteiras e nos

    portos martimos e reduz os custos de transao entre os importadores e

    exportadores. Nesse contexto, semelhante ao objetivo dos portos secos brasileiros,

    os portos secos existentes em outros pases foram construdos para tornar o fluxo de

    mercadorias mais gil e, como conseqncia, reduzir os custos de transporte. Outro

    objetivo dos portos secos proporcionar proximidade entre as empresas

    exportadoras ou importadoras localizadas distantes dos portos martimos e as

    aduanas, bem como estimular a atividade industrial nas regies distantes do mar.

    De acordo com arquivo disponibilizado pela Economic And Social

    Commission For Asia And The Pacific (ESCAP), o advento da Globalizao

    beneficiou substancialmente os pases da sia e do Pacfico. Pases como

    Bangladesh e Camboja tm crescido aproximadamente 5% ao ano, crescimento este

    gerado pelo trabalho altamente industrializado que tem sido empregado na

    agricultura e na manufatura destinadas exportao. Ao examinar as regies mais

    beneficiadas destes pases, percebe-se, em geral, maior desenvolvimento nas reas

    prximas ao mar e menor desenvolvimento nas reas distantes. Fatores como maior

    proximidade com os mercados internacionais influenciam este dado, enquanto o

    interior do pas se torna menos competitivo e menos desenvolvido.

    De acordo com ESCAP (2006) historicamente, medida que o crescimento

    econmico e o comrcio se concentravam prximos aos portos martimos, havia,

    conseqentemente, aumento de investimentos nesta regio. Nesse sentido,

    observa-se a importncia do desenvolvimento para o interior destes pases. No

    continente asitico a criao de novas ferramentas para expandir os benefcios da

    Globalizao para o interior destes pases tem logrado xito.

    Em vrios pases o objetivo principal da construo dos portos secos o

    descongestionamento dos portos martimos, e no o desenvolvimento do interior do

    pas. No entanto, o documento nos apresenta a viso de que possvel levar o

    desenvolvimento para os grandes centros distantes dos portos por meio do estmulo

  • 34

    economia, logo, fomentar a instalao de portos secos seria uma medida

    significativa.

    Segundo o exposto por ESCAP (2006), os portos secos atraem a instalao

    de indstrias para a regio onde foram construdos, o que beneficiaria o

    desenvolvimento de pequenas e mdias empresas. Eles estimulam o crescimento

    regional, o que leva a criao de postos de trabalho e melhoria na qualidade de vida

    da populao, alm de conter a migrao da populao para as regies costeiras.

    Experincias anteriores com a construo de portos secos indicam que os

    benefcios sociais para a regio so maiores que o retorno financeiro dos mesmos,

    por esse motivo, o apoio governamental faz-se necessrio na fase inicial. medida

    que o porto seco se desenvolve e incrementa seus servios, aps a fase de

    construo da estao, o retorno financeiro tambm aumenta.

    Para que os portos secos tenham sucesso preciso estar localizados

    prximos a mercados consumidores de produtos importados e mercados produtores

    de artigos que tenham demanda internacional, alm dos incentivos governamentais.

    O desenvolvimento do porto seco tambm tem o potencial para promover

    benefcios para o meio ambiente uma vez que a construo de novos portos ou o

    aumento da rea dos portos j existentes prejudica o meio ambiente e se torna um

    processo muito oneroso.

    Com seus benefcios, suas facilidades e o baixo custo da utilizao dos portos

    secos pelos participantes do comrcio exterior, os mesmos se mostram como

    ferramenta de importncia capital para soluo de problemas ligados no s s

    trocas comerciais internacionais, mas tambm, se mostram capazes de gerar novos

    postos de trabalho e benefcios para o meio ambiente.

  • 35

    3.2 Portos Secos da Regio Centro-Oeste do Brasil

    Na regio Centro-Oeste do Brasil esto em funcionamento quatro portos

    secos: um em Cuiab, capital do estado de Mato Grosso, um em Anpolis, no

    estado de Gois, um em Corumb, no estado de Mato Grosso do Sul, sendo este

    uma Estao Aduaneira de Fronteira (EAF) e um no Distrito Federal.

    Portanto, esta seo tem como objetivo apresentar os portos secos da regio

    Centro-Oeste do Brasil. As informaes presentes nesta seo foram retiradas dos

    questionrios respondidos pelos representantes de cada porto seco com

    informaes adicionais dos websites das empresas, bem como de sites do governo

    do estado, no que concerne localizao, principais mercadorias movimentadas,

    infra-estrutura e principais servios, bem como os principais entraves ao

    funcionamento dos portos secos.

  • 36

    3.2.1 Porto Seco Cuiab

    Figura 5 - Porto Seco Cuiab

    Fonte: Secretaria de Comunicao Social do estado do Mato Grosso/2006

    O Porto Seco Cuiab est em funcionamento desde agosto de 2003.

    Atualmente, possui 30 (trinta) funcionrios e est localizado no Distrito Industrial da

    capital mato-grossense, s margens da BR-364, em uma rea de 32 mil m2 com a

    seguinte estrutura fsica:

    10.000 m2 de ptio asfaltado

    9.000 m2 de armazm coberto dividido em trs mdulos

    Espao para continer frigorfico com 24 tomadas

    Sala refrigerada com 50 m2.

    Dentre os principais servios oferecidos esto desembarao aduaneiro sobre

    rodas, exportao pelo regime especial DAC (Depsito Alfandegado Certificado),

    entreposto aduaneiro, drawback, transporte de cargas em continer pelo regime

    especial de trnsito aduaneiro com frota prpria e rastreada por satlite,

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    consolidao e desconsolidao de mercadorias, marcao, etiquetagem e

    colocao de selos fiscais em mercadorias importadas.

    As principais cargas movimentadas so colheitadeiras, motocicletas,

    eletrnicos, peas e equipamentos para mquinas agrcolas e veculos, matrias

    primas, azeite, azeitonas, vinhos, bolsas, calados e culos.

    Os empresrios do estado de Mato Grosso, So Paulo, Rio de Janeiro, Minas

    Gerais e Santa Catarina utilizam os servios de importao e os empresrios dos

    estados de Rondnia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul utilizam tanto os servios

    de importao quanto os servios de exportao.

    Como destino das mercadorias exportadas esto o Mercado Comum

    Europeu, sia, Amrica do Norte e Mercosul. As mercadorias importadas vm da

    China, Korea, Estados Unidos, Argentina, Espanha e Panam.

    Como principal problema enfrentado pelo porto seco, foi apontado o excesso

    de burocracia exigida pela aduana.

    O Porto Seco Cuiab est instalado no Distrito Integrado Industrial e

    Comercial de Cuiab (DIICC). Segundo o Instituto de Terras de Mato Grosso

    (INTERMAT), o distrito possui 166 empresas em funcionamento nos seguimentos de

    computadores, fertilizantes, fabricao de mveis, confeco e cosmticos, dentre

    outros, que geram 9.600 postos de trabalho e existem mais 32 empresas em fase de

    construo.

    O governo do estado de Mato Grosso implementou o Programa de

    Desenvolvimento Industrial e Comercial de Mato Grosso (PRODEIC), o qual

    beneficia os importadores de mercadorias que no sejam produzidas no estado com

    reduo de at 83% do Imposto de Circulao de Mercadorias e Servios (ICMS). O

    estado um grande produtor e exportador de soja, destarte, os importadores de

    insumos tais como fertilizantes, peas e mquinas agrcolas, so os maiores

    beneficiados com o PRODEIC.

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    3.2.2 Porto Seco Centro Oeste

    Figura 6 - Porto Seco Centro Oeste

    Fonte: http://www.seplan.go.gov.br/sepin/pub/r