O Bandeirante - n.224 - Julho de 2011

8

Click here to load reader

Transcript of O Bandeirante - n.224 - Julho de 2011

Page 1: O Bandeirante - n.224 - Julho de 2011

Querer o que Vale a Pena

Ano XIX - no 224 - julho de 2011Publicação Mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo - SOBRAMES-SP

O Bandeirantejornal

Josyanne Rita de Arruda FrancoMédica PediatraPresidente da Sobrames SP / Biênio 2011-2012

Julho, mês de férias em pleno inverno! O que fazer para distrair as crianças em casa e quebrar a monotonia dos dias de rotina e trabalho? Reunir família e ami-gos em bons momentos poderia ser o máximo da conquista para o friozinho do meio do ano.

Bom seria viver sem o trân-sito e a distância de uma cidade rica e grande, tendo possibili-dade de chamar os amigos por cima do muro para um cafezi-nho com bolo no fim da tarde, ou quem sabe uma pizza caseira no começo da noite?

Gosto muito de buscar refe-rências para o que sinto e penso, seja em uma imagem capturada pela fotografia, uma tela clássica em alguma exposição de arte, um poema ou uma canção ou mesmo no passado. Perco-me em devaneios querendo adivi-nhar o que o autor quis expri-mir, o que sua vontade provoca e reverbera em mim. Assim, é comum que esteja em contem-plação ante qualquer situação que me provoque sentimentos quando tenho tempo para fa-zer... nada! Ah... que raro deleite encontro em tais ocasiões.

Hoje vejo o desafio de jovens mães e pais se alternando para fazer o máximo por seus filhos, ocupando, inclusive, um tempo que deveria ser gasto com nada: as férias. Descanso que abre ho-rizontes para a criatividade, des-ligados que estão dos compro-missos escolares e outros eventos acessórios.

No entanto, parece haver um sofrimento quanto ao dito perío-do de intervalo tão fundamental ao repouso e ao convívio fami-liar. A competição do cotidiano vai se deitar no travesseiro de crianças e adolescentes que co-meçam a inquirir seus pais so-bre o lugar em que irão passar suas férias, tornando obrigação e custo financeiro elevado uma ocasião preciosa para os deva-neios e a quietude necessários ao crescimento.

Tudo está tão acessível, tão permissivo e massificado que o encantamento não encontra espaço nem mesmo na fantasia ou no sonhar de olhos abertos. Como viver sem sonhar, sem de-sejar? A infância anda tão grati-ficada para não ser frustrada que já não brinca, apenas consome a

novidade do momento com ar entediado e de desprezo. O que vem agora? – parece que dizem de tudo.

Que fim se deu aos avós, aos tios, à casa dos primos? Estão to-dos trabalhando para dar o me-lhor à família, é o dito corrente.

É verdade incontestável que a família mudou, que o mundo mudou. A ciência, a tecnologia, a filosofia e o psiquismo dever-se-ão adaptar a uma realidade me-nos romântica e mais racional, da cultura de redes sociais virtuais e de relacionamentos efêmeros, sequiosos por novidades.

Ainda vivendo da minha ma-neira, sem ser expulsa de meu universo criativo para estar sin-tonizada com os novos tempos, continuo querendo alcançar meu sonho, tão bem traduzido nos versos de Zé Rodrix e Ta-vito e que começam assim: “Eu quero uma casa no campo/ onde possa compor os meus rocks ru-rais / e tenha somente a certe-za / dos amigos do peito e nada mais...” e terminam dizendo “...onde eu possa plantar meus amigos/ meus discos e livros e nada mais.”

Page 2: O Bandeirante - n.224 - Julho de 2011

2 O BANDEIRANTE - Julho de 2011

EXPEDIENTE

CUPOM DE ASSINATURAS*

*Disponível para o público em geral e para não sócios da SOBRAMES-SP Preencha este cupom, recorte e envie juntamente com cheque nominal à SOBRAMES-SP para REDAÇÃO “O Bandeirante” R. Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A - V. Municipal - CEP 13201-100 - Jundiaí - SP

Dê uma assinatura de “O BANDEIRANTE” de presente para um colega

Preço de 12 exemplares impressos: R$ 36,00Nome:___________________________________________________________

End.completo: (Rua/Av./etc.) _______________________________________

________________________________ nº. _______ complemento _________

Cidade:_____________ Estado:_____ E-mail:___________________________

Grátis: Além da edição impressa que será enviada por correio, o assinante receberá por e-mail 12 edições coloridas em arquivo digital (PDF)

Clínica BenattiGinecologiaObstetríciaMastologia

(11) 2215-2951

longevità (11) 3531-6675

Rua Maria Amélia L. de Azevedo, 147 - 1o. andar

Estética facial, corporal e odontológica * Massagem * Drenagem * Bronze Spray *

Nutricionista * RPG

Parece que vivemos uma incrível crise mundial de transparência: a informação que nos chega ininterrup-tamente pela internet mostra crimes cometidos por cidadãos comuns, guerras e crimes de guerra, governos corruptos e governantes multimilionários em nações ex-tremamente pobres. Há que se mudar, e rápido, a maneira de pensar e agir do ser humano, verdadeira fera social.

No Brasil, que não é diferente dos outros países, temos um Estatuto da Criança e do Adolescente perfeito para nações de primeiro mundo. Só que somos o terceiro, logo, ele patrocina o crime e protege o criminoso. Perdoem-me os juristas, não tenho outro nome para quem comete crimes, mesmo menores de idade.

Agora temos uma lei que permite que “pequenos delitos” respondam em liberdade. O que é pequeno delito? O ato de roubar galinhas ou cofres de banco não é o mesmo, baseado na desonestidade?

Também um projeto mirabolante de descriminalizar uma droga chamada maconha, um dos artifícios criadores de coragem para que se cometam crimes hediondos, acidentes fatais de trânsito. Isto sem saber quem está por trás desta ideia.

Se nós, sobramistas, temos a intenção de mudar o mundo para melhor, usemos nossa arma: nossa caneta, que é capaz de escrever romances e poesias, também pode se armar cobrando e exigindo, com nossas palavras, a melhora de nossas sociedades.

E terminando, tenho certeza de que, lá do alto, Deus, alisando Suas longas barbas brancas está pensando que não era bem assim que deveria ser...

Jornal O Bandeirante ANO XIX - no 224 - Julho 2011

Publicação mensal da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores - Regional do Estado de São Paulo SOBRAMES-SP. Sede: Rua Alves Guimarães, 251 - CEP 05410-000 - Pinheiros - São Paulo - SP Telefax: (11) 3062-9887 / 3062-3604 Editores: Josyanne Rita de Arruda Franco e Carlos Augusto Ferreira Galvão. Jornalista Responsável e Revisora: Ligia Terezinha Pezzuto (MTb 17.671-SP). Redação e Correspondência: Rua Francisco Pereira Coutinho, 290, ap. 121 A – V. Municipal – CEP 13201-100 – Jundiaí – SP E-mail: [email protected] Tels.: (11) 4521-6484 Celular (11) 9937-6342. Colaboradores desta edição: Josyanne Rita de Arruda Franco, Roberto Antonio Aniche, Helio Begliomini, Geovah Paulo da Cruz, Alitta Guimarães Costa Reis, Fátima Calife, Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini, Grazielly Martins Peixoto de Oliveira e Flerts Nebó.

Tiragem desta edição: 300 exemplares (papel) e mais de 1.000 exemplares PDF enviados por e-mail.

Diretoria - Gestão 2011/2012 - Presidente: Josyanne Rita de Arruda Franco. Vice-Presidente: Luiz Jorge Ferreira. Primeiro-Secretário: Márcia Etelli Coelho. Segundo-Secretário: Maria do Céu Coutinho Louzã. Primeiro-Tesoureiro: José Alberto Vieira. Segundo-Tesoureiro: Aida Lúcia Pullin Dal Sasso Begliomini. Conselho Fiscal Efetivos: Hélio Begliomini, Carlos Augusto Ferreira Galvão e Roberto Antonio Aniche. Conselho Fiscal Suplentes: Alcione Alcântara Gonçalves, Flerts Nebó e Manlio Mário Marco Napoli.

Matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores e não representam, necessariamente, a opinião

da Sobrames-SP

Roberto Antonio Aniche

O MalhoLinda, colorida, velhos colegas de

volta, mas... carcomida pela chatice dos textos muito longos, lindos de se ler, enfadonhos de se ouvir.

Assim, ou saco o malho ou a edi-tora vai ter que caprichar nas rimas novamente, porque terei outra síncope literária!

Ahhhhhhhh! (looooongo bocejo!)Editores: Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. GalvãoRevisão: Ligia Terezinha PezzutoDiagramação: Mateus Marins CardosoImpressão e Acabamento: Expressão e Arte Gráfica

Editores de O Bandeirante

Flerts Nebó – novembro a dezembro de 1992Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1993-1994Carlos Luiz Campana e Hélio Celso Ferraz Najar – 1995-1996Flerts Nebó e Walter Whitton Harris – 1996-2000Flerts Nebó e Marcos Gimenes Salun – 2001 a abril de 2009Helio Begliomini – maio a dezembro de 2009 Roberto A. Aniche e Carlos A. F. Galvão - 2010Josyanne R. A. Franco e Carlos A.F. Galvão - janeiro 2011

Presidentes da Sobrames – SP

1º. Flerts Nebó (1988-1990)2º. Flerts Nebó (1990-1992)3º. Helio Begliomini (1992-1994)4º. Carlos Luiz Campana (1994-1996)5º. Paulo Adolpho Leierer (1996-1998)6º. Walter Whitton Harris (1999-2000)7º. Carlos Augusto Ferreira Galvão (2001-2002)8º. Luiz Giovani (2003-2004)9º. Karin Schmidt Rodrigues Massaro (jan a out de 2005)10º. Flerts Nebó (out/2005 a dez/2006)11º. Helio Begliomini (2007-2008)12º. Helio Begliomini (2009-2010)13º. Josyanne Rita de Arruda Franco (2011-2012)

Jacyra da Costa Funfas – 01/07

Lígia Terezinha Pezzuto – 12/07

Luiz Jorge Ferreira – 11/07

Mario Name – 17/07

Nelson Jacintho – 01/07

Roberto Caetano Miraglia – 19/07

AniversárioJuLHO: nesta data

querida, nossos parabéns!

Page 3: O Bandeirante - n.224 - Julho de 2011

O BANDEIRANTE - Julho de 2011 3 SuPlEMENTo lITERÁRIo

Notícias

Estamos a sessenta dias de nossa XI Jornada Médico-Literária Paulista. A empreitada iniciada em janeiro do ano em curso encontrará o grande final no mês de aniversário da SOBRAMES-SP, comemoração que marca o início da primavera. Serão três dias de muita literatura de qualidade e feliz congraçamento entre os participantes, um acontecimento que entrará para a história de nossa regional.

A jornada contará com amigos queridos, confrades talentosos que se deslocarão do interior do Estado, da capital e de outros Estados para prestigiar nosso consagrado encontro bienal na cidade que homenageia São Paulo das entradas, bandeiras e monções, dos ciclos de riquezas da agricultura e pedras preciosas, da Convenção Republicana, revividos nas casas bandeiristas da Estância Turística de Itu, nos casarões seculares, nas igrejas históricas e fazendas, nos museus. Período que inscreveu a vocação paulista para o crescimento e vaticinou a grande metrópole que despontaria no território continental deste país.

A premiação da XI Jornada Médico-Literária Paulista para o primeiro lugar em prosa e o primeiro lugar em poesia será o TROFÉu O BANDEIRANTE, confeccionado pelo artista plástico Nei Nanzi da cidade de Jundiaí, que utiliza material reciclável em suas obras.

O evento dar-se-á no Colonial Plaza Hotel de Itu, e a abertura da jornada será marcada pelo jantar de boas-vindas, lançamento da VIII Antologia Paulista e música popular brasileira no terraço e piscina do hotel. Nos dias que se seguirão, sessões literárias com participação e apresentação do corpo de jurados da Academia Ituana de Letras (ACADIL), aberto ao público interessado na audição. O encerramento será na Casa Bandeirista dos descendentes de Borba Gato, com jantar e premiação nos aposentos seculares onde viveu o bandeirante.

Fotos do Hotel

Page 4: O Bandeirante - n.224 - Julho de 2011

4 O BANDEIRANTE - Julho de 2011 SuPlEMENTo lITERÁRIo

Perfil 2011 Sobrames-SP

Maria do Céu Coutinho Louzã

Atuação: Formada Relações Públicas, pela ECA- uSP, trabalhei no Grupo Nacional de Serviços e na universidade Federal de São Paulo – uNIFESP. Atualmente aposentada.Cidade de nascimento: Lourenço Marques, então capital de Moçambique, quando ainda colônia de Portugal.Comida preferida: Saladas, churrasco.Esporte: Gosto de nadar e em solteira pratiquei hipismo, na Hípica Paulista. Meu pai me deu um cavalo chamado Moleque.Livro de cabeceira atual: um homem e seus discípulos de Cesar Romão.Música: Romântica, canções francesas. Filme que a fez rir: Potiche - A esposa TroféuFim de semana: Ir para a praia ou clube. Reunir os filhos e netos para o almoço de domingo. Viagem inesquecível: Nova Zelândia e Havaí.Sonho: Ver a minha família feliz e um mundo sem guerras, sem fome, sem doenças.Intolerância: Não suporto falsidades. Características pessoais: Sou teimosa, melhor dizendo, lutadora. Não desisto facilmente, tudo o que começo tenho que terminar, sofro se não conseguir.Projeto futuro: Não tenho a não ser em futuro muito próximo: vou realizando as coisas no dia a dia. Filosofia de vida: Ser autêntica, saber enfrentar as dificuldades confiando que Deus sempre há de me dar forças.

Os famosos encontros festivos mensais da regional paulista acontecem sempre às terceiras quintas-feiras de cada mês, na Pizzaria Bonde Paulista, Rua Oscar Freire 1.597, Pinheiros, a partir das 19 horas. São momentos de alegria, descontração e amizade após um dia de trabalho. Venha saborear deliciosas pizzas em um adorável encontro de amigos. Esperamos sua presença!

Visite nosso blog: http://sobramespaulista.blogspot.com

A Pizza de julho, dedicada a diversos outros autores além dos associados, foi emocionante, com prosas poéticas de grande sensibilidade e poesias sublimes na homenagem a escritores consagrados e também amadores que exprimem seus sentimentos em textos de grande ternura e enlevo.

Pizzas Literárias

Page 5: O Bandeirante - n.224 - Julho de 2011

O BANDEIRANTE - Julho de 2011 5 SuPlEMENTo lITERÁRIo

O Barco do Amor

Epílogo

Flerts Nebó

Sônia Regina de Andruskevicius de Castro

Este barco enfunadoSegue certo uma direçãoÉ o caminho marcadoPelo rumo do teu coração

Velas brancas tocadasPela brisa amenaLeva-me em disparadaEm busca de minha... “Lena”.

Vários nomes sugeridosComo “Lena” foi batizadoPor ser o nome queridoPor ser... o mais amado.

Que este barquinho sejaNosso ponto de reunião.Por mais longe que estejasEstarás em meu coração!

Granizo no quintalInverno, arrepioBarulho, estalidoPorta abertaRosa, jasmimFaíscaLíngua de fogoCachaça, fantasiaGargalhadaParaíso.

Ao Meu Amor de Julho a Julho

(Para Rosana)

Você faz do inverno primavera,da garoa úmida, sol a pino,do bronze, o badalo do sino,do trapo, a gravata e o terno.Faz deter em pausa infinitaos ponteiros do relógio.Por isso cada segundotem a duração da horaem sua volta mais bonita.Contém a intensidade do momento,o brilho central da chama,o pavimento sobre areia e lama,o movimento de translação da Terra,as raízes profundas da árvore secularamalgamada em terra e húmus.Que dirá do mistério das profundezas do marcom toda policromia de coral e alga,com todo ouro e prata submersosde galeões resgatados de naufrágios,tesouros ocultos do bem e do malem suas sombras, em seus abismos,em seus labirintos, em seus motivos,em seus degelos, em seus aforismos,com suas sombrias e cegas criaturasda escuridão marinha, que boiam fosforescentesna luz errante e andarilha de um negror aquoso.Tempo e espaço, espaço no tempo,com seus remendos, com suas ataduras,cada suspiro, cada riso, cada arquejoem tudo que sinto, em tudo que vejo.Tudo se detém ao seu passono instante mesmo da volta do compassoem que se descortinam no seu sorrisoa abrangência do mundo peregrinono horizonte reto, no horizonte liso,e as pegadas dos habitantes mágicosdas entranhas de uma densa matanum conto de fadas povoado de duendes,da lembrança que no fundo me tocana fímbria da alma que me resta,numa história de amor sem precedentes,de prólogo e de epílogo mais do que risonhos,aberta de par em par, vidraça e janela de meus sonhos.

Sergio Perazzo

Page 6: O Bandeirante - n.224 - Julho de 2011

6 O BANDEIRANTE - Julho de 2011 SuPlEMENTo lITERÁRIo

Desabafo

MinuetosGrazielly Martins Peixoto de Oliveira

Não te magoes, caso haja aqui verdade,Porque dentro de meu contido tórax agoraVociferam teus sonhos com impetuosidadeTal que sinto quase me indo contigo embora

Arrancam-me atenção, queimam-me nos pulmões o ar,Até asfixiar-me uma fumaça inspirada em contramão,Quando me bradam para eu por ti os sonharAntes de com a morte se perderem no chão

Por que não os viveste na adulta mocidadeEm que a vida todos convida a sugar dela a horaE da existência te lembras na do fim, então, idade?

Logo virá a mãe preta com o manto e o alçapãoA na fase eterna embrulhar-te como um ninarE a despertar-me um som com que teus sonhos se vão: não!

Ouço BrahmsEnquanto espioPela janelaAs folhas dançandoAo vento...É outono aqui dentroNa quietudeDe nossos desejosQue não mais gritamE apenas suspiramComo quem morre...

O que foi feitoDo nosso tempo bonito?

Como folhas outonaisSumiram aos poucosA cada ventoQue passou...Só nós dois restamosMudos e secosComo as árvoresLá fora,Esperando quietosO inverno chegar

Hildette Rangel Enger

À Minha MãeEvanil Pires de Campos

Na magia desse acolhedor olhos negrosDeitados no rosto meigos e trigueirosSinto a alma migrar mui calma no sonhoNo sono alvorece todo o desejo contido

Cantar versos que palpitam meu coraçãoE na ternura do ser, o amor ficou retidoO coração enamorado se deleita na paixãoA paixão é movida pela corda da emoção

Que no impulso alimenta gesto ardorosoNa ansiedade inflama tão ávida sensaçãoAguçando no estímulo, a sedenta visão.

E na alegria pulsa uno fervor carinhosoDespertado na carícia ávida e saborosaDa ardente, almejada e cultuada união.

Page 7: O Bandeirante - n.224 - Julho de 2011

O BANDEIRANTE - Julho de 2011 7 SuPlEMENTo lITERÁRIo

Nesta hora importante, não deixe de consultar a RuMo EDIToRIAl. Publicações com qualidade impecável, dedicação, cuidado artesanal e preço justo. Você não tem mais desculpas para deixar seu talento na gaveta.

Terminou de escrever seu livro? Então publique!

[email protected](11) 9182-4815

RoBERTo CAETANo MIRAGlIA ADVoGADo - oAB-SP 51.532

ADVOCACIA – ADMINISTRAÇÃO DE BENS NEGÓCIOS IMOBILIÁRIOS – LOCAÇÃO

COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS ASSESSORIA E CONSULTORIA JURÍDICATElEFoNES: (11) 3277-1192 – 3207-9224

de textos em geral

Ligia PezzutoEspecialista em Língua Portuguesa

(11) 3864-4494 ou 8546-1725

REVISÃo

PUBLICIDADE TABELA DE PREÇOS 2009

(valor do anúncio por edição)1 módulo horizontal R$ 30,00 2 módulos horizontais R$ 60,003 módulos horizontais R$ 90,002 módulos verticais R$ 60,004 módulos R$ 120,006 módulos R$ 180,00Outros tamanhos sob consulta

[email protected]

Dr. Carlos Augusto GalvãoPsiquiatria e PsicoterapiaRua Maestro Cardim, 517Paraíso – Tel: 3541-2593

Walter Whitton HarrisCirurgia do Pé e Tornozelo

Ortopedia e Traumatologia GeralCRM 18317Av. República do Líbano, 344

04502-000 - São Paulo - SP Tel. 3885 8535

Cel. 9932 5098

Carro Antigo e suas Coisas

Geovah Paulo da Cruz

Dono de carro antigo agora tem nome em português, o neologismo anti-gomobilista. Há caras tão grossos que não distinguem entre um carro antigo e um carro velho, já sucateado. Mas há também bom humor. Meu vizinho de bairro em São Paulo tem carros antigos lindos e caros, Jaguar, Fordinho 29, Chevrolet 40, e até os aluga para casamentos e filmes publicitários. De vez em quando venho atrás dele no bairro, buzino irritantemente, ultrapasso, e grito: – Tira esta lata velha do caminho! Ele sorri todo feliz, com seu reluzente Cadilac de trezentos mil dólares.

Todo antigomobilista tem coisas pra contar. Eu sou de um tempo em que automóvel, lá nos cafundós do Triângulo Mineiro, ainda se chamava “máqui-na”. Dizia-se: – eu vim de máquina. A expressão deve ter chegado até nós por intermédio do italiano, que até hoje fala, às vezes de boca cheia, referindo-se à Ferrari: la macchina. Do mesmo modo, os carros levavam apelidos, tais como fordeco, chevrolata, guarda-louça, ramona, jardineira, barata, pé-de-bode, além dos indefectíveis “astronóver”, “instromóver”.

Mesmo estudante, eu era dono de cursinho, ganhava um bom dinheirinho e comprei um carro que ficou na minha saudade. Aposto que ninguém aqui nunca viu um igual. Era um Adler 1939, de fabricação alemã, conversível, ca-pota branca, duas portas, tração dianteira com cruzetas. O carro imitava muito o Mercedes. uma particularidade interessante era que o porta-malas não tinha tampa móvel. A bagagem era colocada por dentro, rebatendo-se o encosto do banco traseiro. Tinha uma indefinível cor cinza de carro militar, já desbotada. Ao mandar pintá-lo, o pintor ofereceu-me de graça uma tinta cor de abóbora, um coral forte. Ficou vistoso e chamativo. Era o carro mais extravagante de uberaba. Formado, vendi-o. Mais tarde soube que ele pertencia a um dono de parque de diversões estacionado em Guarulhos. Depois, perdi o rastro.

Tive quase todos os carros nacionais, desde as famosas carroças menciona-das por Fernando Collor, até os mais moderninhos. Gostaria de poder tê-los guardados todos. Se isto não foi possível, pelo menos um ainda está comigo, uma Brasília 80, de estimação. Tive um Karmann-Guia 74, modelo TC, que recentemente vendi por falta de garagem. Este é um carro muito emblemá-tico. Não é aquele pequenino que todos conhecem. Em 1970, o ainda hoje atualíssimo Stúdio Ghia, da Itália, em colaboração com o alemão Karmann, desenhou uma carroceria inspirada no Porshe, adaptando-a sobre uma plata-forma da Variant, que acabava de nascer, derivada do fusquinha. Eu digo que o TC é uma Variant metida à besta, vestida de esportivo. Custava muito caro, não atendia às necessidades da família brasileira, e foi produzido por pouco tempo. Só existiu aqui. Não o produziram na Alemanha, nem no México. Certa vez, na feira de antigos do sambódromo em S. Paulo, quase o vendi para um colecionador da Nova Zelândia. um cara de lá esteve aqui comprando carros, talvez por ainda serem baratos. Hoje restam poucas unidades dele, tal como também do Fissore, do Candango, assim como do Cornowagen, o fusca com teto solar, por onde podiam sair os chifres.

Na sua época todos os carros tiveram apelido. O fusca era chamado de Bunda: é feio, mas todo mundo tem. O Dauphine e o Gordine eram chamados de Leite Glória, que na propaganda da televisão era o primeiro leite instantâ-

(continua na próxima página)

Page 8: O Bandeirante - n.224 - Julho de 2011

8 O BANDEIRANTE - Julho de 2011 SuPlEMENTo lITERÁRIo

neo, dissolvia sem bater... O Simca era o Belo Antônio, um filme em que o bonitão Marcelo Mastroianni fungava, roncava, e... brochava. O DKW era chamado de “deixa vê”, porque abria as portas pra frente e as mulheres ainda não usavam calças jeans, mas apenas saias e vestidos, e abriam as pernas ao descer.

O maior prazer do antigomobilista é mostrar o seu carro. Responder perguntas, mostrar detalhes, contar histórias sobre ele. É o pra-zer de responder com satisfação e felicidade a uma buzinadinha no trânsito, recebendo cumprimentos. É compartir com terceiros,

os das confrarias e os não iniciados, do prazer de ver, apreciar, encantar, espantar, admirar, interrogar. É para causar emoção, encanto, enternecer com lembranças, aplacar curiosidades, ou simplesmente provocar o deleite visual. Freud talvez dissesse que há certo voyeurismo nessa atividade. Do nosso ponto de vista, a sensualidade não se afasta muito da do prazer de ver um nu, ou suas nuances e insinuações. A gente tem certa libido ao ver um carro. Digamos um tanto vulgarmente, um certo “tesão”. uns mais, outros menos, segundo o seu apetite estético-emocional.

Entre nós o carro tem um envolvimento com a sexualidade. Sua simbologia é muito forte, porque o cinema nos mostrou como ele podia ser instrumento da liberação de homens e mulheres. Nós, os mais antigos, suspirávamos quando em Hollywood homens e mulheres liberadas faziam do carro um boudoir ambulante, um bordel móvel, que grosseiramente chamávamos de “ abatedouro”. Aqui, por falta de carros e pela moral ainda colonial e católica, isso era um sonho inatingível. Quanta inveja tivemos dos americanos e seus carros alcoviteiros? Da liberação sexual para cá e da indústria automobilística de massa, nosso primeiro produto foi uma cópia, o drive-in. Depois os mais jovens inventaram o motel, e tudo ficou tão simples, embora outro dia eu tenha visto uma notícia em que um modesto motel recebia casais vindos a pé...

No interior, já quase escurecendo, um lojista levava sua namorada para passear pelos arredores mais desertos. Atrás, imponente, “segurando vela” e garantindo a honra social da donzela ia um manequim, sentado e convenien-temente amarrado...

O médico ordenou: – Fique em posição ginecológica. A moça não entendeu. – Fique como ficou na hora de fazer o neném... Aí ela entendeu. Enrolou-se toda, uma perna pra cima, outra pra baixo, meio torta, cabeça pendurada e justificou: – Nóis tava num fusca.

Os antigomobilistas são uns caras muito engraçados. Gastam tempo, dinheiro, dedicação, empenho, esforço, tudo para conseguir manter ou recuperar um carro antigo, para depois, totalmente de graça, mostrá-lo a todos, como se fossem mecenas, apenas pelo prazer de compartilhar a emoção. Não há nenhum retorno material. No máximo um ou outro faz negócios do ramo. Nenhum outro cultivador de arte faz isso de mão beijada, na bacia das almas, totalmente desprendido. E se gratificam mutuamente, sem distinção de classes, posses ou poderes. Tanto admiram um simples Fusquinha 60 totalmente autêntico e original, como um Rolls Royce no qual andou um presidente da república. Em geral o carro que nos toca é aquele que iluminou ao nosso imaginário na infância, foi nosso sonho na adolescência, ou que eventualmente desfrutamos como adultos.

O humano não pode viver sem referenciais. O carro é o referencial dos nossos tempos. O melhor deles. Talvez seja até uma divindade pagã; o Deus da locomoção.

um avô meio antiquado era implicado com o neto, que só andava de carro, não ia a pé nem até a padaria da esquina. usava o carro pra tudo. O ranzinza questionou:

– Oh, meu filho, pra que você tem dois pés?

– Ora vovô, um pra embreagem, o outro pro acelerador e o freio.

Carro Antigo e suas Coisas(continuação da página anterior)