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VOLUME I

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Esta apostila não poderá ser comercializada. Sua distribuição e cópia são livres, desde que afonte seja citada.

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Prefácio

O estudo do Antigo Testamento representa um grande desafio para a Igrejacontemporânea, pois é difícil, muitas vezes, estabelecer um critério objetivo entre as

formas e as normas teológicas presentes na Bíblia hebraica. Uma pergunta bem comume, por vezes indigesta, é o que os livros de Levítico e Deuteronômio podem ensinar àIgreja nos dias de hoje, por exemplo?

Outro problema muito comum está na distinção feita entre o Primeiro Testamento eos escritos canônicos autorizados pela Igreja da era Patrística. Isto é, comumente diz-seque o Antigo Testamento é a aliança da Lei e no Novo Testamento consolida-se a graça.Talvez, por falta de um estudo mais cuidadoso e de uma leitura mais honesta, nãoconsigamos enxergar a graça e a longanimidade de Javé demonstradas no período queconhecemos por Antigo Testamento. Será que esta divisão entre Lei e Graça faz justiçaàquilo que Javé quis revelar ao homem durante o desenrolar da história? E se a Lei dadano Antigo Testamento fosse a expressão maior de sua graça ao povo que ele escolheusem mérito algum?

Por vezes somos confrontados acerca do padrão comportamental dospersonagens presentes nas narrativas vetero-testamentárias. Como lidar com estasituação? As ações e reações destes personagens servem como parâmetro de condutapara a Igreja diante da elevação ética proposta por Jesus no Novo Testamento? Seservirem, temos um problema ético; se não servirem temos um problema literário.

Como justificar, se é que existe uma justificativa para a chamada justiça retributiva ,

para as ordens de matança, e tantos outros exemplos que deixam a Igreja, muitas vezes,sem palavras diante destes prováveis paradoxos teológicos.

O Antigo Testamento mostra a aliança entre Javé e seu povo na história, por isso,o presente material tem como objetivo estudar os escritos do Primeiro Testamento sob aótica desta aliança. Portanto não haverá nenhuma ênfase acerca das histórias individuaisdos personagens contidos nas narrativas do Antigo Testamento, pois estas histórias sófazem sentido dentro do contexto maior da Aliança que Javé estabeleceu com seu povo eo quanto ele foi fiel a este pacto, mesmo em detrimento da infidelidade do povo a quemhavia chamado.

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Esperamos que o presente estudo sirva como incentivo a buscarmos sempre averdade contida nos antigos textos hebraicos, e sua aplicação para a Igreja, pois oapóstolo Paulo afirmou certa vez que, tudo o que antes foi escrito para nosso ensino foiescrito, a fim de que, pela paciência e consolação das escrituras, tenhamos esperança.Que nossa esperança seja reacesa ao lermos e estudarmos sobre a aliança de Javé comseu povo, que nunca falhou e sempre cumpriu o seu propósito eterno, mesmo diante das

falhas e pecados do seu povo.

Este material toma como fundamento bibliográfico a obra “Panorama do AntigoTestamento” de Andrew Hill e John Walton, da editora Vida e mais algumas obrasclássicas como a “Introdução ao Antigo Testamento” de Wi llian Lasor, David Hubbard eFrederic Bush, da editora Vida Nova.

Cristiano Machado e Alexandre Milhoranzawww.crentassos.com.br

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Sumário

Introdução ao Pentateuco .................................................................................................... 7 

Introdução ao livro de Gênesis - A promessa corre perigo ................................................ 11 Introdução ao livro do Êxodo - Um povo dentro da lei ....................................................... 15 Introdução ao livro de Levítico - A parte legal da Bíblia ..................................................... 19 Introdução ao Livro de Números - Com quantos escravos se faz uma nação? ................. 23 Introdução ao Livro de Deuteronômio - A nova geração ................................................... 27 Introdução aos livros históricos do povo da aliança ........................................................... 32 Introdução ao Livro de Josué - Com o pé na promessa .................................................... 35 Introdução ao Livro de Juízes - O círculo vicioso .............................................................. 39 Introdução ao Livro de Rute - Nem tudo está perdido. ...................................................... 43 Introdução ao Livro de Samuel - O homem governa? ....................................................... 46 

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Introdução ao Pentateuco

O termo Pentateuco se refere aos cinco primeiros livros da Bíblia cristã. Mas este

nome provém da palavra grega pentateuchos , que significa cinco rolos. Este nome foiusado pelos judeus helenistas (não nascidos na Palestina) de Alexandria, pois os judeusde origem hebraica o conheciam com Torah , ou seja, "instrução em santidade". Outrosnomes para esta coleção são usados, tais como:

●  Lei●  Livro da lei●  Lei de Moisés

Os livros que compõem esta coleção foram os primeiros escritos a seremreconhecidos como canônicos, ou inspirados divinamente, pela comunidade hebraica. Aigreja cristã, desde seu início, herdou esta tradição.

Na divisão tripla da Bíblia hebraica, Lei, Profetas e Escritos, o Pentateuco ganhadestaque vindo sempre no início.

T EMA E CONTEÚDO EM GERAL 

Apesar de conhecermos, hoje, o Pentateuco como cinco livros separados, ele deve sercompreendido como um único livro em cinco volumes. Para uma compreensão básica, oPentateuco pode ser dividido em dois grandes blocos:

●  Gênesis 1-11●  Gênesis 12 - Deuteronômio 34

A primeira parte explica a criação de todasas coisas e a queda do homem. Podemosencontrar os seguintes temas neste bloco:

●  Origem das coisas●  A criação pefeita●

  Propósito do homem

A segunda parte se propõe a explicar aresposta ao dilema apresentado na primeiraparte, e inclui os seguintes temas:

Chamada de Abraão Eleição do povo de Israel

A Aliança com seu povo

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●  A origem do pecado●  O julgamento do pecado (observado

no dilúvio)●  A misericórdia de Deus (observada

ao poupar Noé e sua família)●  Orgulho e autossuficiência do

homem (observados na Torre deBabel)

U NIDADE DO P ENTATEUCO  

O tema que unifica todas as partes do Pentateuco é a promessa feita a Abrão registrada

em Gênesis 12:3.A importância do Antigo Testamento para a igreja é observada pelo uso que o

Novo Testamento faz dele. Paulo, especialmente, recorre muito ao Antigo Testamentoprincipalmente o trecho compreendido entre a chamada de Abrão até o rei Davi. Isto podeser observado em seu discurso registrado em Atos 13:17-41. Neste discurso, Paulo afirmaque Cristo é o objetivo máximo e o cumprimento da redenção narrada no AntigoTestamento.

A unidade do Pentateuco é vista também nas narrativas dos livramentos de Deus,tendo como centro a confissão de fé mostrada no Êxodo, ponto máximo da redenção de

Javé no Antigo Testamento.

A redenção dada no Êxodo serve de padrão dos atos de salvação de Javé noAntigo Testamento, conforme podemos observar nos seguintes textos: Amós 2:4-10;Jeremias 2:2-7; Salmos 77:13-19.

A narrativa do Pentateuco tem o seguinte esboço:

Javé escolheu o povo hebreu, representado por Abrão, sem qualquer mérito. Livrou este povo da escravidão do Egito de modo 

miraculoso e estabeleceu com este povo sua aliança. A este povo Javé deu terras e uma lei para que pudessem ter uma constituição.

Esta história é narrada de Gênesis a Deuteronômio, e os capítulos 12 a 50 deGênesis apresentam a promessa dessas terras, o livramento que será dado imerecida egratuitamente, apontando para a concretização do cumprimento da aliança e a possedessas terras.

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G ÊNEROS LITERÁRIOS DO P ENTATEUCO  

O Pentateuco contém um amplo acervo de gêneros literários, reflete a natureza da artehebraica em sua forma e conteúdo. Grande parte do conteúdo do Pentateuco é expresso

por meio das narrativas.

Estas narrativas não são apenas registros históricos do povo hebreu, pois háinterpretações teológicas mescladas ao texto, tal como a interpretação dos sofrimentos deJosé em favor do seu povo, registrada em Gênesis 50:15-21.

As narrativas do Pentateuco também incluem linguagem antropomórfica , ou seja,dar características humanas para Deus (Deus se ira, se arrepende, tem braços, mãos,rosto, etc.), além de teofanias , ou a manifestação visível de Deus entre seu povo (sinaisda natureza, tais como trovões; o "ANJO DO SENHOR").

Outro gênero literário muito comum no Pentateuco é a poesia. Abaixo segue osprincipais tipos de poesia encontrados no Pentateuco:

●  Orações: Benção sacerdotal de Arão - Números 6:22-27●  Canções de louvor: Cântico de Miriã - Êxodo 15:21●  Canção no estilo épico: Cântico de Moisés - Êxodo 15●  Bênçãos de família: Jacó abençoando seus filhos no leito de morte - Gênesis 49●  Profecias: Balaão profetizando sobre Israel - Números 23 e 24

O terceiro tipo mais comum de estilo literário é o legal (lei). O conceito de lei, nomundo do Antigo Testamento, não era exclusivo do povo hebreu. Pelo contrário, pois écerto que povos distintos dos hebreus já tinham suas leis promulgadas a pelo menos 500anos antes das leis de Moisés. O povo babilônico é um exemplo. A influência destesdocumentos na formação da Lei do Pentateuco é inegável.

O objetivo da lei para os hebreus era organizar e regulamentar a vida cotidiana dopovo (cerimonial, moral e civil) tendo em vista a santidade requerida por Javé norelacionamento da aliança estabelecida.

C ONTEXTO H ISTÓRICO DO P ENTATEUCO  

O Pentateuco cobre o período histórico da criação até a morte de Moisés, poucoantes de o povo hebreu entrar na Terra Prometida.

Sem entrar muito nos detalhes de data, pois há uma ampla variedade de linhas depensamento, adotaremos o período de 2000 a.C. para as narrativas patriarcais e operíodo de 1500 a.C. para as narrativas do Êxodo. O período histórico comum é situadona Idade do Bronze Médio no Antigo Oriente Médio.

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A civilização egípcia é a que mais predomina durante a história do Pentateuco.

O  P ENTATEUCO E A I GREJA C RISTà 

A questão da interpretação ou mesmo o uso do Antigo Testamento pela Igreja é alvo deantigas controvérsias ao longo da história. Existiram desde aqueles que negaramcompletamente a utilidade do Pentateuco pela Igreja até aqueles que ainda tem em todasas leis e narrativas do Antigo Testamento um padrão doutrinário e comportamental paraIgreja.

A difícil conciliação entre "lei" e "graça" originou vários métodos de interpretação doPentateuco para a Igreja hoje. Abaixo estão algumas abordagens do Antigo Testamentopara a Igreja:

O Pentateuco como um manual de ética pessoal. O Pentateuco como "testemunha de Cristo", ou seja, tudo tem um "significado

oculto" que aponta para Cristo. O Pentateuco como parte integrante da história da salvação, onde Deus age como

redentor da humanidade. O Pentateuco como parte das "Escrituras" para a Igreja, atuando como voz de

autoridade com relação à crença e prática na comunidade religiosa. Nestaabordagem não se olha o Pentateuco exclusivamente sob as lentes do NovoTestamento, mas atribui-se um valor bíblico-teológico a estes escritos preservandoa autoridade divina para a Igreja do Novo Testamento, conforme Paulo afirma em

Romanos 15:5, que tudo o que foi escrito, foi escrito para nos ensinar.

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Introdução ao livro de Gênesis - A promessa corre perigo

O estudo do livro de Gênesis é importante, pois fundamenta o ensino teológico de

todo o Antigo Testamento.

Não se trata de um livro científico, nem tampouco é uma obra biográfica ouhistórica, mas é legítimo investigar suas afirmações, assim como podemos aprendersobre homens e mulheres que se deixaram ser usados por Deus e que segue os mesmosrumos da história da humanidade.

O nome Gênesis vem da tradução grega do Antigo Testamento (chamadaseptuaginta), e significa origem. O nome no original hebraico era "No princípio".

Autoria 

A tradição atribui a Moisés a autoria de Gênesis, mas não se encontra no livronenhuma evidência conclusiva. Como o Pentateuco, na tradição judaica, era visto comouma única obra, e Moisés é descrito como o compilador dos outros livros, logo ele foicogitado como o mais provável escritor de Gênesis.

Estrutura de Gênesis

Gênesis está dividido literariamente em onze partes que começam por " ...esta é a história de...". Isso sugere que alguém antes de Moisés já havia separado este material

que foi usado para compor o livro todo.Estas seções não servem apenas para dividir o livro, mas demonstram a graça e

misericórdia de Deus em preservar a raça humana mesmo com todo pecado produzidopela humanidade. Além disso a história destas gerações mostra que o plano redentor deDeus estava sendo executado.

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Abaixo está o quadro que apresenta esta estrutura:

Ordem Geração Referência1 Dos céus e terra 2:4 - 4:262 Adão 5:1 - 6:8

3 Noé 6:9 - 9:294 Sem, Cam e Jafé 10:1 - 11:95 Sem 11:10-266 Terá 11:27 - 25:117 Ismael 25:12-188 Isaque 25:19 - 35:299 Esaú 36:1-810 Esaú 36:9 - 37:111 Jacó 37:2 - 50:26

Propósito e conteúdo

Alguns temas de Gênesis giram em torno da boa criação de Deus, dadesobediência que separou o homem de Deus e de sua revelação progressiva ao povoescolhido por meio da aliança.

O livro de Gênesis explica a razão da escolha de Abraão e sua família pararealização da aliança com Javé. A aliança é o tema que unifica as histórias contidas emGênesis e narra os perigos do não cumprimento desta aliança. No decorrer desta históriaDeus envia seus julgamentos à humanidade, que se opoe ao pecado estabelecido em

todos os aspectos.

Ao contrário das demais histórias da origem do universo, Gênesis mostra que Javénão apenas organizou o universo, mas deu origem ao mesmo mediante o poder de suapalavra. As demais histórias da criação de outros povos mostram que o universo não foicriado, mas apenas organizado mediante lutas entre as divindades. Gênesis mostra que ouniverso foi criado pelo poder do Deus soberano, pois os povos ao redor de Israelpersonificavam as forças da natureza como deuses, e Gênesis mostra Javé como ocriador destas forças.

Outro aspecto importante é que as histórias da criação dos outros povos mostram

que a humanidade foi uma ideia posterior dos deuses, porém Gênesis deixa claro que opropósito da criação foi gerar um ambiente no qual o homem pudesse viver. Algumasnarrativas da criação mostram que o homem foi criado para fazer o trabalho que osdeuses estavam cansados de fazer, portanto era uma ferramenta de dominação dosescravos, já que os reis e governantes eram considerados deuses.

O texto de Gênesis não esconde os problemas e erros dos patriarcas, mas adespeito disso Javé manteve-se fiel à aliança que havia estabelecido com Abraão e suadescendência. Estes episódios demonstram que não foi por mérito que ele haviaescolhido esta família.

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Estrutura narrativa

C RIAÇÃO (1:1 -  2:3) 

O registro da criação está estruturado de forma a demonstrar a progressão do sem

forma e vazio para o pleno preenchimento, adequando-se ao homem.A narrativa conta como o homem decaiu da alta posição a que fora colocado nacriação para a expulsão do jardim que Javé criara para ele. O assassinato de Abelpor Caim mostra que a nova ordem do pecado havia se instalado nas raízes dahumanidade. O registro posterior das genealogias do livro de Gênesis prova que opecado viera para ficar definitivamente nos fundamentos da humanidade.

O relato do pecado culmina no dilúvio, atraindo o julgamento de Javé sobre ahumanidade, mas ao mesmo tempo representou sua graça, ao poupar Noé e suafamília. Aqui temos outro contraste com as narrativas de outros povos sobre o

dilúvio, pois, nestas narrativas, os deuses não desejaram poupar ninguém, antes asalvação de uma família foi a traição de um dos deuses que avisou sobre adestruição iminente do mundo.

Após o dilúvio Javé renova sua aliança com a humanidade, a mais abrangente daBíblia, pois envolve a todos com a promessa de não destruir mais a Terra comágua.

Seu julgamento é visto mais uma vez, ao impedir os homens de se unirem emrebelião confundindo suas línguas, gerando a expansão geográfica. Porém, suagraça é renovada ao se revelar a um homem e sua família.

O S PATRIARCAS NA P ALESTINA (11:27  -  37:1)

O texto a seguir não pretende demonstrar a continuidade da fé da humanidade, e Abraãonão é apresentado como um homem diferente dos demais, pelo contrário, pois o texto deJosué 24:2 mostra que Abraão e sua família eram politeístas, não adoravam a Javé.

Concluímos, portanto, que Javé escolhera a Abraão do nada, sem nenhum tipo de mérito.Após o estabelecimento da aliança com Abraão todo enredo gira em torno do suspenseem relação ao cumprimento das promessas feitas por ocasião da aliança. O primeirodeles é a incapacidade de Sara de gerar filhos. Nestas narrativas está incluída também ahistória de Abraão e Sara no Egito, que, para escapar da fome acabam se envolvendocom o perigo do faraó se apossar de Sara com sua esposa. Outro obstáculo aocumprimento da promessa fica por conta do problema entre Abraão e seu sobrinho Ló.Outro episódio envolvendo Abraão e seu sobrinho foi o resgate que Abraão realizou deLó.

Outros empecilhos ao cumprimento da promessa são apresentados, tais como no capítulo

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15, apresentado Eliezer, um empregado de Abraão, como um possível herdeiro, e, nocapítulo 16 com a entrada em cena de Hagar e Ismael. Javé havia, no entanto estipuladoque o herdeiro seria um filho legítimo de Abraão e Sara.

A narrativa prossegue, e, mais uma vez, o cumprimento da promessa está em riscoquando Sara quase foi levada para o harém de Abimeleque. Se ela fica lá, mesmo que

por pouco tempo, poderia haver dúvidas sobre a filiação de Abraão, pois seu nascimentoestava previsto para dali um ano. A ameaça é removida por meio de um sonho que o reiteve orientando-o a devolver Sara.

No capítulo 21 temos o nascimento de Isaque e tudo tende a ficar bem, porém o pedidode Javé para Abraão sacrificar Isaque coloca o risco de volta à história. Entretanto todosos riscos anteriores decorreram de algum erro humano, mas este risco ao cumprimentoda promessa vinha do próprio Deus. Esta prova tinha o objetivo de Abraão demonstrarseu temor a Javé, pois não era uma obediência apenas para ganhar algo em troca, nestecaso Abraão perderia! Eliminado mais este obstáculo Javé renova suas promessas aAbraão (Gênesis 22:16-18).

Após estas narrativas os obstáculos continuam, pois era necessário que Isaque tambémse casasse e tivesse filhos. Após a história sobre o arranjo do casamento entre Isaque eRebeca, surge outra ameaça ao cumprimento da promessa: Rebeca também era estéril.O texto relata mais uma vez a graça de Deus ao permitir que Rebeca tivesse filhos,eliminando outra ameaça à promessa. A partir daí o texto relata as dificuldades derelacionamento entre família da aliança, que novamente põe em risco o cumprimento dapromessa. O texto também tem a intenção de mostrar que Jacó, o escolhido de Javé paracontinuar a promessa não tinha a mesma estrutura espiritual que Abraão seu avô, o queem si mesmo representa outro obstáculo ao cumprimento da promessa.

O S PATRIARCAS NO E GITO (37:2  -  50:26) 

Neste ponto o narrador introduz a José, filho preferido de Jacó. A narrativa de Joséé perfeitamente estruturada, exceto pelo capítulo 38 de Gênesis, que narra ahistória isolada de Judá, que teria grande importância para a história posterior dopovo de Israel.

O objetivo principal da história de José é explicar a razão de o povo ter vivido noEgito durante tanto tempo, explicando os motivos do Êxodo do povo, o grandeevento fundador do povo de Israel no Antigo Testamento.

Apesar do tema da aliança ser pouco comentado, fica evidente a ação de Javé emguardar seu povo para o cumprimento pleno das promessas feitas a Abraãodécadas antes.

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Introdução ao livro do Êxodo - Um povo dentro da lei

O nome do livro vem do Grego Exodos , que significa saída, pois o tema principal

do livro é a saída do povo de Israel do Egito. O nome em hebraico significa " Estes são os nomes ", pois o mundo antigo nomeava seus escritos com as primeiras palavras do livro.

O livro do Êxodo continua a narrativa do povo hebreu no Egito, onde ficaram osdescendentes de Jacó durante a fome na Palestina. O livro conta o processo de formaçãoda nação de Israel, ou seja, de uma família ao nascimento do povo de Israel por meio daaliança no Monte Sinai, de acordo com a narrativa dos capítulos 19 a 24.

A aliança é o eixo do livro, que mostra o ato redentor de Javé para com o povo quehavia escolhido. A saída do povo de Israel no Egito mostra a fidelidade de Javé para comsua própria palavra, e é o ponto máximo da redenção no Antigo Testamento juntamentecom o pacto estabelecido no Monte Sinai.

Estrutura do livro

Baseado na geografia o livro do Êxodo pode ser dividido em três partes:

1. Israel no Egito: 1:1 - 13:162. Jornada de Israel no deserto: 13:18 - 18:273. Israel no Sinai: 19:1 - 40:38

O livro do Êxodo liga Gênesis, que nos conta a razão da Aliança, com Levítico, olivro das leis da Aliança para o povo eleito. A repetição dos nomes dos integrantes dafamília de Jacó no capítulo 1 faz a ponte entre os relatos do livro com Gênesis, assimcomo o final do livro descreve a glória de Javé enchendo o tabernáculo (40:34-38)associando a saída do povo de Israel do Sinai liderado pela nuvem (Nm. 10:11-35).

A primeira parte narra o livramento do povo da escravidão no Egito por intermédiode Moisés, que teve como porta voz seu irmão Arão. Moisés é incumbido e equipado pararealizar esta tarefa, por meio de sinais miraculosos. Este trecho também destaca apaciência de Javé com o povo e a obediência devida às suas ordens. Esta libertação foirealizada com o envio de 10 sinais tanto para os egípcios como os hebreus e terminou

com a instituição da páscoa como memorial para as futuras gerações.

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A segunda parte explica como Javé converteu ex-escravos em seu povo particular(19:1-6). Para isso ele estabeleceu sua aliança, um tratado com este povo, de acordo como antigo modelo do povo hitita conforme abaixo:

Prefácio: 20:2aPrólogo histórico 20:2bCondições: 20:3-17(10 mandamentos) e 20:21 - 23:19Leitura pública: 24:7Lista de testemunhas: 24:1-11Bênçãos e maldições: 23:20-33

A terceira parte esclarece os detalhes do tabernáculo e como Javé estabeleceusua presença entre o povo por meio deste tabernáculo. O trecho também determina aordenação do sacerdócio de Arão e seus descendentes, que explica a inclusão nagenealogia do capítulo 6, legitimando o sacerdócio. A idolatria e a rebelião de Israel são julgadas por Javé (32: 1:10), que tem sua ira retira pela intercessão de Moisés. Nesteepisódio a misericórdia de Javé é demonstrada, o que tornou a renovação da aliançapossível (32:11 - 34:17). Este será o comportamento padrão do povo durante todo oAntigo Testamento.

Propósito e conteúdo

O livro do êxodo é permeado pelos seguintes temas principais:

●  A soberania de Javé sobre as divindades pagãs●

  A lei como padrão religioso e social para Israel●  O Êxodo como evento significativo da Redenção de Israel no Antigo

Testamento●  A presença de Deus simbolizada pelo tabernáculo

A mensagem do livro ainda inclui o julgamento do opressor de Israel, o Egito, olivramento da escravidão pelo poder miraculoso de Javé, o estabelecimento de Israelcomo nação sacerdotal para os outros povos.

Propósitos do livro do êxodo:

Histórico Preservação do registro histórico do povo de Israel, seulivramento e presença no deserto. (6:4)

Teológico Auto revelação divina. Deus, além de lembrar-se das promessasfeitas aos patriarcas, agora revela-se aos seus descendentes(6:2-3)

Didático Importância do relacionamento de aliança com Javé e aimportância da lei como instrumento desta aliança para moldar a

identidade de Israel como povo escolhido (23:20-23)

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J AVÉ  

O livro de êxodo mostra como Javé se auto revelou ao povo escolhido de formaprogressiva. O nome é geralmente traduzido por "EU SOU", mas tem implicações muito

mais profundas, pois este nome carrega o radical do verbo hebraico ser e pode apontarpara a eternidade e auto existência de Deus. Além do seu próprio nome Javé se reveloupor outros meios, chamados de teofanias , tais como: o Anjo do Senhor (Ex. 3:2; 14:19),Milagres (Ex. 8:16-19), a sarça ardente (3:2), Sinais da natureza (19:18-20), voz (24:1),nuvem da glória (16:10), coluna de fogo (40:34-38), face a face com Moisés (33:11).

Estas manifestações eram acompanhadas do conteúdo que revelavam a própria essênciae caráter de Javé: se lembrava das obrigações da aliança (19:10-15; 25:1-9), Juiz eSalvador (12:27), governa as nações em benefício do povo eleito (15:4-6), santo, maispoderoso que os deuses das nações vizinhas (15:11; 18:10-12), gracioso e misericordioso(32:11-14).

O S DEZ SINAIS  

O texto dos dez sinais apresenta, na verdade, a luta cósmica entre Javé e os deusesegípcios, por isso o livro menciona que Javé havia colocado Moisés por "deus" para osegípcios, pois este era tido como uma divindade (Ex. 7:1). O texto, além de sinais, traztambém a palavra maravilhas, que pode significar tanto a idéia de milagre como a

intensificação dos fenômenos naturais.Esta série de sinais também serviu para evidenciar a predisposição de faraó em não crerem Javé (Ex. 3:19-20), agravado ainda mais pelo endurecimento de seu coração porDeus (Ex. 9:8-12). Após o sexto sinal, aparentemente ele não tinha mais a opção de searrepender para obedecer à ordem de Javé. É possível que isto seja semelhante aopecado de blasfêmia contra o Espírito Santo (Mc. 3:2-30), onde Jesus condena osfariseus por atribuir a belzebu os milagres que ele operava.

O quadro anexo compara os sinais com os deuses egípcios. Mas atenção é apenas umquadro comparativo do panteão egípcio, e não deve ser tomado de forma conclusiva.

A PÁSCOA 

As gerações futuras receberam a ordem de celebrar a páscoa comemorando o grandelivramento dado por Javé ao povo escolhido (Ex. 12:13-14). A festa dos pães semfermento os faria lembrar-se da grande pressa com que saíram da escravidão (12:11). Adedicação dos primogênitos os lembraria da misericórdia de Javé, quando poupou osprimogênitos hebreus do anjo da morte (12:23).

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O NT interpreta a páscoa hebraica como um tipo da morte sacrificial de Jesus pelospecadores (Jo. 1:29; I Co. 5:7). A ceia do Senhor é fundamentada no ritual da páscoatanto como memorial (Lc. 22:7-30), quanto à expiação feita pelo cordeiro pascal (Ap. 5:6-14).

O S DEZ MANDAMENTOS  

Estão registrados em Êxodo 20:1-17, onde Moisés não é mencionado como mediador,diferentemente do restante da lei. Talvez, para destacar o caráter eterno e perfeito da leique Javé dava ao povo da aliança, o livro de Êxodo narra que Deus fala diretamente docéu, e não do monte Sinai. Oito, dos dez mandamentos, estão na forma negativa, ou seja,proibições. Isso ressalta o caráter absoluto da lei divina para o povo.

Os dez mandamentos podem ser considerados atos da graça divina para com seu povo,

pois trouxeram um sentido religioso, ético e social a um imenso grupo que, pouco tempoantes, era apenas escravo. A lei representava o conjunto de regras da aliança firmadaentre Javé o povo escolhido. No NT Jesus reduz estas leis a duas dimensões básicas edestaca que a essência da lei era justiça, misericórdia e fé (Mt. 23:23).

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Introdução ao livro de Levítico - A parte legal da Bíblia

O povo de Israel, prestes a se transformar em uma nação, era o povo escolhido por

Javé no Antigo Testamento. Javé escolhera este povo sem nenhum tipo de critério oumerecimento e os libertara da escravidão do Egito para encaminhá-los para a terra queprometera aos seus antepassados. Esta terra seria o local onde o povo escolhido deveriaservir de testemunho para outras nações (Gn. 12:3), e não o deserto.

Portanto, este povo, formado por ex-escravos, precisava, além da terra prometida,de uma lei, um código de conduta, pois nesta terra eles teriam contato com as práticas depovos pagãos. O livro de Levítico contém este código para o povo da aliança, pois refletea vida santa que este povo deveria ter por causa desta aliança (Lv. 20:26), confrontandoestas práticas pagãs com a maneira correta de adorar ao único Deus.

O livro do Êxodo descreve a revelação e a construção do lugar de adoração dopovo da aliança, o Tabernáculo (Ex. 25 - 31); o livro de Levítico descreve os detalhes daforma de adoração que este povo deveria prestar a Javé no tabernáculo.

O nome Levítico vem do grego, e significa "o que é relativo aos levitas". O nomehebraico do livro é "E chamou", tirado das primeiras palavras do primeiro versículo.

Moisés não é mencionado como autor humano no livro, porém seu nome aparecemais de 25 vezes, quase em todos os capítulos na expressão "O Senhor disse a Moisés",exceto 2, 3, 9, 10 e 26, o que leva judeus e cristãos tradicionais a atribuir a autoria do livro

a Moisés.

C ONTEXTO CULTURAL 

Não eram apenas os hebreus que tinham um sistema religioso composto desacrifícios e sacerdotes no antigo Oriente Médio. Povos egípcios e cananeusrealizavam holocaustos, ofertas de comunhão, tinham lugar próprio de adoraçãodas divindades e demais rituais semelhantes aos israelitas.

Porém, algumas diferenças mantinham o povo de Israel distinto do sistema

religioso de outros povos, tais como:

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●  A revelação direta da palavra divina●  A manifestação visível de Javé●  A compreensão do pecado humano e suas consequências●  A natureza ética do culto a Javé comparado com o culto da fertilidade de

outros povos●  O caráter santo e justo de Javé em contraste com os deuses "humanizados"dos pagãos●  A proibição de sacrifícios humanos

Estrutura de Levítico

O livro de Levítico deve ser lido como uma continuação dos capítulos 25 a 40 deÊxodo, pois a primeira expressão do livro "e chamou o Senhor a Moisés" sugere estaestrutura, que na realidade vai até o livro de Números 10:10, narrando o primeiro ano do

nascimento da nação de Israel.

As leis são discursos que Javé diz a Moisés, para que ele transmita ao povo. Estasleis eram para todo povo, pois tratava sobre os procedimentos de culto, festas solenes,instruções para os sacrifícios e diretrizes gerais para que a vida religiosa não fossedesassociada da vida civil.

O quadro abaixo mostra as divisões principais do livro:

I. Regulamentos para oferecimento de sacrifícios 1:1 - 7:38

II. Descrições da ordenação de Arão e seus filhos e osprimeiros sacrifícios no tabernáculo 8:1 - 10:20

III. Leis regulamentando a pureza ritual 11:1 - 15:32IV. Liturgia e calendário para o Dia da Expiação 16:1-34V. Leis com exortações à vida santa 17:1 - 26:46VI. Leis sobre dízimos e ofertas 27:1-34

Propósito e conteúdo

O propósito do livro de Levítico é expresso pela ordem dada no capítulo 11 versos44 e 45: "...consagrem-se, sejam santos porque eu sou santo...", uma vez que o povo deIsrael fora chamado para cumprir uma missão (ser benção a todas as famílias da terra),por causa do ato redentor de Javé ao executar o Êxodo dos descendentes de Jacó doEgito (Lv. 22:32-33).

Portanto, Levítico é um manual de santidade pelo qual o povo escolhido, o futuroreino de sacerdotes e nação santa (Ex. 19:6), deveria adorar a Javé para usufruir asbênçãos prometidas (Lv. 26:1-13).

O livro de Levítico aborda ainda conceitos sobre:

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●  A santidade de Deus●  O princípio da mediação sacerdotal●  A pureza do povo da aliança●  A remissão do tempo pelo calendário litúrgico●  O princípio de substituição no ritual do sacrifício

A primeira parte deste manual, que abrange os capítulo 1 a 10, prescreve osprocedimentos de adoração a Javé, enquanto que a segunda parte, que vai do capítulo 11ao 27, descreve a prática da santidade no dia-a-dia do povo.

S ANTIDADE  

Com base na lei levítica, todas as coisas eram divididas em sagrada e comum. Ocomum poderia ser dividido em puro e impuro. O puro tornava-se sagrado mediantea santificação e o impuro pela contaminação. O sagrado poderia ser profanado atornava-se comum, ou mesmo impuro. O que era impuro poderia ser purificado e

posteriormente consagrado para tornar-se sagrado.

O apóstolo Paulo recorreu a estes conceitos quando escreveu que todos os sereshumanos são impuros por consequência do pecado de Adão (Rm. 5:6-14). Mas osacrifício redentor de Jesus purifica e santifica o pecador (1 Co. 6:9-11).

SACRIFÍCIO 

Embora os sistemas sacrificiais entre os povos antigos tivessem a idéia de aplacar a irados deuses, o sistema dos hebreus era diferente, pois era revelado divinamente. Alémdisso, o sistema sacrificial dos hebreus apontava para a uma ética pessoal e comunitáriaelevada, e também para uma vida de santidade.

De acordo com Levítico 17:11, a vida está no sangue, portanto o sangue no altarsimbolizava a purificação da presença de Deus (Hb. 9:21-22). O propósito era preservar asantidade da presença de Deus no meio do povo. A descontaminação realizada por meiodo sacrifício de sangue tornava o ofertante puro e permitia a reconciliação com Deus.

Os sacrifícios de animais não eram realizados para a salvação dos pecados daspessoas, mas preservavam a santidade da presença de Deus no meio do povo epermitiam um relacionamento saudável entre Javé e o povo, pois o ritual era simbólicoque revelava a atitude interna do ofertante. O propósito dos sacrifícios era também adorara Deus pela sua presença entre o povo da aliança, e representava a santidade de Deusem contraste com o pecado humano.

O ritual do sacrifício é a base do entendimento da obra redentora de Jesus, tendosido reconhecido como o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo. 1:29-34). Emoutros trechos, a morte de Jesus foi entendida como o sacrifício oferecido de uma vez por

todas pelos pecados da humanidade (Rm. 5:6-11; Hb. 10:10-12). O livro de Hebreus traz

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uma comparação entre o Dia da Expiação com a morte de Jesus (Lv. 16 <-> Hb. 9-10).

Um destaque importante é que todos os sacrifícios de expiação mencionados emLevítico são para pecados cometidos "sem intenção", pois não havia qualquer sacrifícioespecífico para pecados premeditados ou rebelião maliciosa.

DESCANSO SABÁTICO 

A santidade do povo hebreu seria refletida também no calendário. Para facilitar oentendimento dos israelitas quanto à provisão de Javé suas festas seguiam o calendárioagrícola (Lv. 23:4-44), mas a guarda do sábado introduziu o calendário religioso (Lv. 23:1-3).

A guarda do sábado lembraria a Israel que Javé era o Criador (Ex. 20:8-11), além desantificar um tempo de adoração ao Senhor. O sábado lembraria ao povo a aliança comJavé e testificaria que a santidade se baseava em Deus e não na lei ou nos rituais (Ex.31:12-17; Lv. 26:2). Na época de Jesus este conceito havia se perdido, pois o legalismoobscurecera seu verdadeiro significado (Mt. 12:1-4; Mc. 7:1-13). No diálogo com a mulhersamaritana (Jo. 4:21-24) Jesus relembra o verdadeiro significado de um tempo separadode adoração ao Senhor, que não se restringe a lugares ou tempo, mas a hora é sempreagora.

O princípio do sábado era aplicado também à terra, pois a cada 6 anos de plantio ecolheita, a terra deveria descansar no sétimo ano. Isso simbolizava que Javé era o

provedor de Israel, além do caráter social, pois os pobres poderiam colher livremente dosfrutos da terra não cultivada (Ex. 23:11).

De acordo com o profeta Jeremias foi o desrespeito às leis sabáticas que causaram aqueda de Jerusalém e o exílio para a Babilônia (Jr. 25:8-14; 2 Cr. 36:17-21). O exílio foicastigo de Javé ao separar da Terra da Promessa o povo escolhido, justamente pornegligenciar as leis relativas à terra que o próprio Deus dera a este povo.

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unidade coesa para identificação da ordem e estrutura. O livro possui, além dos amplostrechos narrativos, muitas outras formas literárias, tais como:

●  Listas de censos - 1:5-46; 3:14-39; 4:34-49; 26:5-51●  Manual de organização do acampamento - 2:1-31●  Regras religiosas - 3:40 a 4:33; 8:5-26; 18:1-32●  Leis para sacrifícios e rituais - 5:1 a 7:89; 9:1 a 10:10; 15:1-41; 19:1-22; 28:1 a30:16●  Instruções para conquista a divisão da terra - 32:33-42; 34:1 a 35:34;●  Leis sobre herança - 36:1-12●  Poesia - 21:14-15; 21:17-18; 21:27-30●  Oráculos proféticos - 23:7-10, 18-24; 24:3-9, 15-24

Ainda que haja esta diversidade literária a conquista da terra prometida é oelemento unificador do livro.

O quadro abaixo mostra uma proposta de divisão do livro:

I. A organização de Israel para a conquista da terraprometida

1:1 - 10:10

II. A rejeição da promessa divina de terra 10:11 - 14:45III. A peregrinação fora da terra prometida: a jornada nas

planície de Moabe15:1 - 22:1

IV. A luta contra os obstáculos à terra prometida 22:2 - 25:18V. Uma nova preparação para a conquista 26:1 - 36:13

Propósito e conteúdo

O livro de Números, num primeiro momento, revela a fidelidade e misericórdia deJavé ante a rebeldia dos israelitas, além de revelar mais da sua natureza e caráter.

As narrativas históricas de Números explicam a presença dos hebreus em Canaã,servindo como continuação de Êxodo e Levítico, além de fazer uma ponte entre as leisdadas no Sinai e a ocupação da Terra Prometida.

Na preservação dos registros da fase inicial da aliança entre os hebreus e Javé, o

livro também destaca os seguintes pontos:

●  A santidade de Javé●  A pecaminosidade do homem●  A necessidade da obediência a Javé●  As consequências da desobediência●  A fidelidade à aliança estabelecida no Sinai●  A presença de Javé entre o povo da aliança●  Soberania de Javé entre as nações

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O livro de Números apresenta uma espécie de treinamento divino para que umpovo, formado por ex-escravos, se tornasse a nação de sacerdotes estipulada na aliança(Ex. 19). Javé usou as dificuldades no deserto para que o povo se habituasse às batalhasque enfrentariam na conquista da terra prometida e se organizassem em um exércitoordenado e poderoso. Além disso, o livro narra a dura experiência de desobedecer àsordens do seu Redentor, servindo como material didático às futuras gerações de hebreus.

Números também destaca que, durante este treinamento, Javé foi o provedor fieldos israelitas ao guiá-los pelo deserto como a coluna de nuvem e fogo, ao supri-losmaterialmente e protegê-los (10:11 - 14:45; caps. 16 e 17; 20 a 25; 27:12-23; 31:1-33:49).

O S RECENSEAMENTOS  

Os recenseamentos eram muito comuns no Antigo Oriente Médio para fins de:

1) Contar os homens aptos para a guerra - Nm. 1:3

2) Distribuição das tarefas do clã e no serviço religioso - Nm. 3:43) Cobrança de impostos - Ex. 30:11-16

Com relação ao número de israelitas contados, tendo por base apenas os homens commais de 25 anos, numa interpretação literal, a população de Israel chegaria ao montantede 2 a 3 milhões de pessoas. Esta quantidade é sustentada pelo fato da população deIsrael crescer numa taxa muito maior que os egípcios e também à promessa feia aAbraão sobre sua grande descendência (Gn. 12:2). Porém, o ambiente pouco propício dodeserto para a reprodução humana, e a incapacidade dos israelitas para expulsaremtodos os cananeus nos levam a interpretar estes de forma não literal.

Alguns estudiosos sugeriam que se tratava da lista de recenseamento de Davi colocadano lugar errado, mas este teoria já não conta com tanto apoio. Outros ainda sugerem quese trata de uma figura de linguagem épica exaltando os feitos de Javé. A hipótese maisprovável hoje é que devido à falta dos sinais vocálicos na escrita hebraica traduziu-seerroneamente a palavra clã, grupo ou tribo para milhares. Logo, ao invés de lermosmilhares o correto seria grupos de pessoas, o que reduz a estimativa da população paraalgo em torno de 400 mil indivíduos, que ainda torna a narrativa coerente com o relatobíblico sobre o tamanho de Israel ante as outras nações (Ex. 23:29; Dt. 7:1-7).

AS PROVAÇÕES  

A provação é um tema exaustivamente repetido no Pentateuco. Desde o den atéAbraão, de Jacó a José, Javé sempre testou a fé de seus escolhidos. Em Números, opropósito de Javé, ao testar o povo, era humilhar e ensinar os hebreus a dependertotalmente dele, além da obediência aos mandamentos da aliança. O ensinamentoconsistia, sobretudo, em mostrar-lhes a verdadeira condição de seus corações e o quantoJavé era misericordioso.

Segundo o Novo Testamento, Jesus também foi provado em todas as áreas nas quais

somos tentados, para que pudesse ser o sumo sacerdote que se identifica conosco (Hb.

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4:14-16). Tiago confirma este ensino ao escrever que Deus prova os seres humanos como objetivo de aprovar a fé e desenvolver um caráter santo (Tg. 1:2-4), e não para reprovara fé ou direcionar para o mal (1:12-15).

A REVELAÇÃO DE D EUS E A CULTURA 

O livro de Números registra a tratativa de Javé com a cultura humana. Ao estabelecer ascidades de refúgio, por exemplo, os culpados de homicídio não intencional tinham umaalternativa para fugir da ameaça de vingança que o parente mais próximo do mortopudesse realizar (Nm. 35:9-28). Este conceito era um avanço ético considerável para associedades do Antigo Oriente Médio.

Outro exemplo de ética e moral elevados da sociedade israelita em relação às outras

culturas foi a decisão de Moisés sobre a herança das filhas de Zelofeade (Nm. 27:1-11).Ele havia morrido sem deixar herdeiros masculinos, e apenas homens, até aquelemomento, também em outras culturas, poderiam ser herdeiros de bens e terras. Esta leielevou a posição das mulheres na sociedade hebraica, algo inédito na cultura oriental,indicando a fidelidade de Javé com relação à terra prometida (Nm. 33:50 - 36:1).

Por outro lado, Javé procurou condicionar sua revelação aos padrões culturais humanosao utilizar sua linguagem e padrão dos documentos legais e ao realizar o recenseamento,que eram modelos culturais antigos já estabelecidos. Estes casos demonstram que Javérespeita a cultura humana e não a anula, porém existem casos que não dependem dacultura quando a obediência à aliança está em jogo.

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Introdução ao Livro de Deuteronômio - A nova geração

Ao contrário do que o nome, vindo do grego, sugere Deuteronômio não se trata de

uma segunda lei, mas é uma recapitulação, para a nova geração pós-êxodo, sobre osensinos da lei que Javé dera ao povo hebreu por intermédio de Moisés.

Durante trinta e oito anos os israelitas ficaram em Cades-Barnéia, no deserto deParã, e puderam entrar na terra da promessa somente quando a primeira geração doÊxodo havia morrido. Escrito pouco antes da morte de Moisés, o livro fornece umaretrospectiva do que acontecera com a geração anterior e adequa os ensinos do Livro daAliança para a geração atual e possibilita a renovação da aliança.

O livro de Deuteronômio segue a estrutura dos antigos tratados dos povos doAntigo Oriente Médio, logo podemos notar a unidade de conteúdo do livro e estabelecersua data de composição no período Mosaico, ou seja, o segundo milênio a.C.

A tabela abaixo mostra a estrutura dos antigos Tratados dos povos do OrienteMédio, e a comparação com a Aliança entre Javé e os hebreus.

TratadosAntigos

Descrição Aliança Referência

Título Identifica o autor, a partesuperior, e seu direito do

tratado

Título Dt. 1:1-5

Prólogohistórico

Mostra o cuidado da partesuperior com o subordinado nopassado e esterelacionamento entre as partesenvolvidas

Prólogo Dt. 1:6 -3:29

Leis Obrigações dadas pela partesuperior que deveriam serobedecidas pelo subordinado

Leis eestipulações

Dt. 4 - 26

Instruções de conservação e Garantias/Leitura Dt. 27:2-3

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Bençãos emaldições

leitura pública

Maldições prescritas contra osque desobedecem e a reaçãoda divindade

Bênçãos eMaldições

Dt. 28

Deuses convocados paratestemunhar o juramento deambas as partes

Testemunhas Dt. 31 e 32

De acordo com a tabela acima, os tratados da antiguidade eram divididos em:

●  Introdução: apresentando o narrador●  Prólogo histórico sobre a bondade da parte superior, o senhor e suserano.●  Os detalhes do que era esperado do subordinado●  Ordens sobre a conservação e armazenagem do tratado e suas leituras periódicas●

  Lista de testemunhas para o tratado, geralmente alguma divindade●  Maldições ou bênção de acordo com a obediência do subordinado

Em Deuteronômio Javé é apresentado como o superior autor da aliança. O prólogodo tratado registra a ação redentora de Javé com os israelitas ao livrá-los da escravidãono Egito. Por isso Javé tem o direito de fazer estipulações ao povo, a parte subordinadado tratado. Estas estipulações estão descritas nos capítulos 4 a 26 abrangendo grandeparte do livro. O item do tratado que corresponde à garantia e conservação estáregistrada no capítulo 27:2-3, que diz ao povo para erguer pedras e escrever a lei nelasassim que chegassem à Terra Prometida. No capítulo 28 estão registradas as bençãos emaldições do tratado, e, nos capítulos 31 e 32 encontram-se as testemunhas, que inclui

um cântico de Moisés que servirá de juramento a Javé.

Estrutura de Deuteronômio

O livro de Deuteronômio pode ser dividido em três grandes discursos de Moisés,conforme abaixo:

●  Primeiro discurso de Moisés: Dt. 1:1 - Dt. 4:43●  Segundo discurso de Moisés: Dt. 4:44 - Dt. 28:68●  Terceiro discurso de Moisés: Dt. 29 e 30●  Últimas palavras de Moisés: Dt. 31 a 33●  Transição para Josué: Dt. 34

Além disso, os capítulos 6 a 26 de Deuteronômio, que tratam sobre as leis para opovo da aliança, podem ser agrupados de acordo com a estrutura dos dez mandamentos,de acordo com a estrutura abaixo:

1º Mandamento - autoridade divina - Dt. 6  – 11

2º Mandamento - Dignidade divina - Dt. 12 

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Não terás outros deuses diante de mim

Incentiva o amor e obediência a Deus eapresenta formas de como agir para estefim. A eleição de Israel por Deus o torna

digno de respeito.

Não farás para ti nenhuma imagem deescultura

O uso de um santuário central impediria osisraelitas de usar os santuários cananeus e

preservaria sua prática religiosa e ensino.Javé não deveria ser adorado como osdeuses cananeus, no qual os cultos eraminteresseiros e manipuladores. A adoraçãoa Javé não deveria ser manipuladora einteresseira, mas ser genuína e ter seulugar devido.

3º Mandamento - Compromisso com a divindade - Dt. 13:1 - Dt. 14:21 4º Mandamento - Direitos da divindade - Dt.14:22 - 16:17 

Não tomarás em vão o nome do Senhor teuDeus.

A conduta cotidiana reflete o compromissocom a fé em Javé. Por isso os capítulos 13e 14 dão exemplos concretos de condutaque o israelita que leva Deus a sério teria.

Deus não perdoaria quem não o levasse asério, logo o povo também deveria agir damesma maneira.

Lembra-te do dia de sábado para santificá-lo 

Javé, como libertador do povo de Israel,merece toda honra. Portanto é esperado deseu povo lhe dediquem seus bens eliberdade, que devem ser estendidos a

outras pessoas, e vai além do sábado. Estetrecho dará exemplos práticos de como issodeve ser feito.

5º Mandamento - Autoridade humana - Dt.16:18 - 18:22 

6º ao 8º Mandamentos - Dignidade humana - Dt. 19-21; 22:1-23:14; 23:15 - 24:7 

Honra teu pai e tua mãe 

Este trecho procurar enfatizar a autoridadehumana para garantir a preservação daaliança, cujo ensino começa no lar com aautoridade dos pais. Porém o texto colocaoutras autoridades no processo deinstrução da aliança: juízes, reis, profetas esacerdotes.

Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás 

Este é o trecho mais difícil de harmonizarcom os dez mandamentos. Mas, de formageral, este trecho trata sobre a dignidade daexistência humana, onde as mortescausadas pela guerra não se incluem nestecontexto. A essência da natureza do povotambém deveria ser preservada, assimcomo ninguém deveria se misturar nocasamento de seu próximo, fios e plantasnão deveriam ser misturados. Por último,

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este trecho trata sobre a dignidade dapessoa. Deuteronômio deixa claro que nãose rouba apenas bens materiais, mas oroubo da liberdade ou do amor próprio é tãodestrutivo quanto o furto dos bensmateriais, pois ameaça e tira a dignidade de

uma pessoa.

9º Mandamento - Compromisso com a humanidade - Dt. 24:8-16 

10º Mandamento - Direitos humanos - Dt.24:17 - 26:15 

Não darás falso testemunho contra teupróximo

Devemos tratar o próximo com sinceridade.A confiança mútua é o resultado de levar ocompromisso com a aliança a sério.

Não cobiçarás coisa alguma que pertença aseu próximo

Este trecho sugere que os direitosindividuais devam ser protegidos, pois oshebreus não deveriam desejar nada quefosse do seu próximo.

Propósito e conteúdo

O livro de Deuteronômio abrange os seguintes assuntos:

  O local de adoração de Javé●  As leis organizadas de acordo com os dez mandamentos●  O nome de Deus●  O amor e obediência a Javé, Deus da aliança.

LEI  

No Antigo Oriente Médio, os povos tinham muita dificuldade para entenderem edecifrarem a vontade de seus deuses. Porém, para o hebreu este problema não existia,pois seu Deus decidira se revelar a eles, e usou a lei para mostrar o que se requeria deste

povo escolhido. Logo, para o hebreu a lei era a demonstração da graça de Javé. A lei eraum prazer, não um fardo. No NT Paulo se coloca contra os judeus que tentaram fazer dalei um meio de salvação e não de revelação graciosa de Javé.

O  S ANTUÁRIO  

O tabernáculo, bem como o templo, representava a presença de Deus entre o povo noAntigo Testamento. Os hebreus tinham apenas um único Deus, logo para enfatizar este

conceito teológico, o culto foi centralizado para garantir a prática religiosa correta.

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T EOLOGIA DA H ISTÓRIA 

Javé se revelou ao povo hebreu em eventos históricos, isso fica claro no prólogo dotratado da aliança. A revelação de Javé foi histórica e envolvia uma resposta do povo não

apenas o conhecimento intelectual. Além disso, os eventos históricos registrados emDeuteronômio tem caráter didático para a nova geração, que deveria aprender com oserros dos seus antepassados antes de entrarem na terra prometida.

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Introdução aos livros históricos do povo da aliança

Até este momento, estudamos, no Pentateuco, as ações de Deus desde a criação

do mundo até a iminência da entrada do povo hebreu na terra prometida.

Na Bíblia hebraica os livros de Josué, Juízes, I e II Samuel e I e II Reis pertencemà divisão dos "Profetas Anteriores", ou seja, os hebreus consideram muito mais seuconteúdo teológico do que seu perfil histórico. Este conjunto de livros abrangem seteséculos de história do povo a aliança, começando pelo chamado de Josué (Js.1:1-2) até alibertação do rei Joaquim de Judá (2 Rs. 25:27).

O restante dos livros, Rute, I e II Crônicas, Esdras, Neemias e Ester estão nadivisão chamada de "Escrituras".

A história deuteronomista

Alguns estudiosos identificaram que os padrões que se repetem nos livros consideradoshistóricos (Josué a II Reis) seguem as determinações do livro de Deuteronômio a respeitodo local de culto, forma de culto, modo de vida e, sobretudo a fidelidade do povo comrelação à aliança entre Javé e o povo de Israel. Por isso, costumam chamar este períodode história deuteronomista.

A obediência à aliança traria bençãos (Dt. 28), porém a desobediência levaria o povo à

perda da terra prometida (Dt. 30).Veja abaixo algumas expressões que se repetem nos livros que conhecemos porhistóricos:

●  "os israelitas fizeram o que o Senhor reprova" - em Juízes;●  "andaram nos caminhos de Jeroboão" - em Reis

Os discursos que relembrar a redenção do povo do Egito e as obras de Deus entre o povotambém são recorrentes em todos estes livros. Observe o padrão em cada um dos textosrelacionados abaixo:

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●  Deuteronômio 4;●  Josué 23;●  Juízes 2:11-23;●  1 Samuel 12;●  2 Samuel 7;●  1 Reis 8;●  2 Reis 17:7-23

Portanto, podemos verificar que a mensagem deuteronomista se repete em diferentesmomentos da história do povo de Israel, onde a padrão de reprovação é dado porJeroboão, que não fez o que Javé estipulara na Aliança. Em contrapartida, o padrão deaprovação é o rei Davi, que centralizou o local de adoração em Jerusalém, de acordo comDt. 12 e seguiu as estipulações da aliança.

Durante este período houve intensa atividade profética, que mostram a paciência efidelidade de Javé à aliança estabelecida com os hebreus.

História teológica

Nós costumamos estudar história de um ponto de vista linear, ou seja, um princípio, meioe fim. Porém, no Antigo Oriente Médio o tempo cronológico não parecia ser importante,pois os povos antigos costumavam marcar a história por eventos cíclicos, que serepetiam. Tudo era visto com uma visão sobrenatural dos fatos, por isso era muito comuma estes povos viverem presos a rituais e encantos, pois seus deuses eram inconstantes evingativos. Portanto, para afastar maus presságios ou eventos ruins, estes povospraticavam a magia e encantamentos, já que tudo em sua história era visto sob o prismasobrenatural pela ação dos seus deuses.

Os israelitas estavam proibidos de praticar a magia e encantamentos, já que seu Deus,Javé, era constante e imutável e, portanto nenhuma surpresa atingiria os israelitas. Todoo padrão estava definido pela aliança e pela lei, ou seja, a obedi6encia gera benção e adesobediência gera maldição. Além disso, os eventos climáticos eram controlados porJavé, o Deus único, logo os israelitas não precisariam de nenhum ritual para que elemandasse chuva, ou ventos ou sol.

Desta forma, teologia e história de unem no estudo do Antigo Testamento baseados naaliança entre Javé e seu povo, este é o fundamento da teologia e história deuteronômica.

Aplicação para a Igreja contemporânea

Devemos ler a história de Israel sob o ponto de vista teológico, ou seja, a ação deDeus entre seu povo com fim de instrução e auto-revelação de Deus.

Muito embora sermões e lições citando os bons exemplos das pessoas que

viveram neste período sejam válidos, na realidade a ênfase deve ser dada a Deus, pois

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ele é a figura central, não os personagens apresentados. A revelação apresentada noslivros que cobrem este período é de Deus e não a de Davi, Sansão, Elias ou Josias.

Não devemos tentar buscar ensinamentos com base na vida de Saul ou de Eliseu,mas procurar os padrões de Deus para seu povo com base na aliança estabelecida entreeles. Então, nos próximos estudos, que abrangerão os livros históricos, passaremos a

observar o seu prisma teológico e não apenas histórico. Estudaremos também o papel deDeus na história e não a ação das pessoas separadas da revelação de Deus entre o povoda aliança.

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Introdução ao Livro de Josué - Com o pé na promessa

O livro de Josué retoma a narrativa de Deuteronômio, quando Moisés, impedido deentrar na Terra da Promessa (Dt. 32:48-52), é substituído por Josué como novo líder dopovo de Israel (Dt. 31:23).

Josué é um personagem importante na história da nação de Israel, pois é lembradocomo auxiliar de Moisés (Dt. 31:11), um dos doze espias (Nm. 14) e como general desucesso (Ex. 17). Por isso, durante a condução do povo à entrada na Terra Prometida, olivro recebe corretamente seu nome, porém devemos nos atentar que o livro trata sobreDeus e suas obras e não sobre Josué.

Apesar de haver muitas teorias sobre a composição deste material, este estudo

aborda a teoria da data mais antiga para os registros contidos neste livro. Há algumasrazões para isso:

●  Josué 16:10 relata que os cananeus não foram expulsos de Gezer e "até hoje"vivem no meio do povo de Efraim. Porém I Reis 9:16 diz que o faraó conquistouGezer e matou todos os cananeus que viviam ali. Isto indica que Josué foi escritoantes da época de Salomão.

●  Josué 8:32 sinaliza a presença de escribas no povo de Israel, e não há razao paranão admitir que o próprio Josué tenha feito estes registros.

●  O período do profeta Samuel é outra possibilidade, pois o amplo uso da expressão"até hoje" sugere que tenha havido um espaço de tempo entre os fatos narrados e

o registro escrito.Embora o livro de Josué narre a conquista da Terra Prometida (Js. 21:43-45), o

relato feito em Juízes 1:1 deixa claro que havia muito ainda a ser feito. O que deve serentendido à luz do contexto histórico é que Deus cumpriu sua promessa de colocarCanaã sob controle israelita, pois as principais nações que a ocupavam foram derrotadase expulsas.

É importante destacar que neste período histórico houve um vácuo de poder nestaregião. Tanto os egípcios quanto o povo hitita estavam enfraquecidos pelas longasbatalhas que travaram, e não havia ainda outra nação poderosa para tomar o controle da

região. O império assírio viria a ter proeminência apenas dali a alguns séculos, portanto o

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povo de Israel pôde, neste intervalo, tomar a terra de Canaã de nações mais fracas, quenão ofereciam uma resistência inabalável.

Estrutura de Josué

O livro de Josué mantém o foco na aliança de Javé com o povo hebreu, conforme otexto em 1:2-6, e pode ser dividido da seguinte maneira:

●  O chamado de Josué - 1:1-9●  A entrada na terra - 1:10-5:12●  A conquista da terra - 5:13-12:24●  A divisão da terra - 13:1-22:34●  Os últimos dias de Josué - 23:1-24:33

A primeira parte do livro relembra o povo sobre a fidelidade e obediência quedeveriam prestar a Deus.

Na segunda parte, conta-se em detalhes a estratégia dos espias em Jericó, porémnão pela estratégia em si, mas para revelar o que Deus já havia estabelecido: "o Senhorentregou a terra em nossas mãos" (2:24).

A terceira parte do livro é a mais conhecida, pois relata as batalhas que osisraelitas enfrentam para a conquista da terra. Entretanto, o que deve ser destacado queneste trecho é que Javé lutará capacitará o povo hebreu na conquista. É Javé quem dá avitória ou a derrota, conforme o relato do capítulo 7. Neste episódio o compromisso com aaliança é ensinado de maneira assustadora.

A quarta parte é a maior, e relata a divisão da terra entre as tribos de Israel. É amaior parte do livro pois demonstra em detalhes o cumprimento da promessa de Deus emrelação à aliança estabelecida com o povo hebreu.

A quinta e última parte narra os dias finais de Josué e a renovação do pacto emSiquém.

Propósito e conteúdo

Nos relatos da conquista no livro de Josué podemos encontrar os seguintes temas:●  A fidelidade de Javé no cumprimento de suas promessas●  A importância da obediência à aliança●  A conquista e divisão da terra

Embora o livro cite com muita frequência o nome de Josué, os relatos nele contidosnão são sobre Josué. O livro também não trata sobre as estratégias militares envolvidasna conquista de Canaã, pois o texto deixa claro que toda estratégia veio de Javé.

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Portanto, o livro tem a intenção de transmitir a ideia de que Javé comanda seupovo e cumpre suas promessas, a despeito do comprometimento do povo com a aliançafirmada.

A ALIANÇA E A TERRA 

A terra representa de forma visível a eleição de Israel por Javé e a concretização daaliança firmada com seu povo. Josué segue a teologia de Deuteronômio quandoestabelece a terra como benção de Javé aos hebreus. A terra tinha um papel fundamentalno Antigo Testamento pois, sempre que o povo merecia castigo, a ameaça era a perda daterra e sua expulsão. O livro de Josué mostra de forma brilhante a promessa de Javé secumprindo, quando mostra detalhadamente a divisão da terra entre os israelitas.

C ONSAGRAÇÃO À DESTRUIÇÃO  

A consagração à destruição em Josué também é encontrado em Deuteronômio (Dt.7:1-11 e 20:10-18) e instituída em Josué 6:17-19. O termo se refere à consagração depessoas, cidades e coisas para serem destruídas quando da invasão pelo povo deIsrael. Este processo causa certo embaraço sob o ponto de vista ético-cristão,porém os textos deixam muito claro as ordens de Deus para sua efetivação. O quedevemos considerar é o Antigo Testamento trata o juízo de Deus sob a justiçaretributiva, e esta era executada por meio de outros povos. Ou seja, Javé usou opovo de Israel para executar seu juízo sobre as nações cananéias de acordo comDeuteronômio 9:5.

Outro motivo para a execução da sentença de consagração a destruição era aresistência à ação de Javé conforme os textos de Js. 9:1-4, 10:1-5 e 11:1-5. O NovoTestamento expande este conceito, quando cita que o único pecado imperdoável éa blasfêmia contra o Espírito Santo, ou seja, a resistência máxima à ação de Deus,que leverá o indivíduo à separação eterna de Deus.

SOBERANIA DIVINA 

Não há como tirar o elemento sobrenatural do livro de Josué sem comprometer suateologia. Assim como Êxodo, Josué destaca a intervenção divina na história paracumprimento do seu propósito. Os acontecimentos descritos não são ocorrênciascasuais dos deuses, como na literatura politeísta pagã. O livro de Josué, depois dequatrocentos anos, culmina com o cumprimento da promessa feita a Abraão, um

imigrante vindo da Mesopotâmia para Canaã, que forma uma pequena família, e

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recebe a promessa de que todas estas terras seriam de sua grande descendência.

S OLIDARIEDADE COMUNITÁRIA 

O trecho de Josué 7 nos conta acerca do juízo executado sobre Acã e toda sua família,pois ele havia desobedecido as ordens dadas quando houve 36 baixas de Israel nabatalha de Ai. Para nossa mentalidade individualista isso parece injusto, mas o conceitode identidade coletiva era muito forte em Israel. Este conceito fica evidente na lei dolevirato (Dt. 25:5-10) e do resgate de terras (Lv. 25) onde a família desamparada do clãrecebia auxílio. Entretanto, da mesma forma onde o clã era abençoado por causa de ummembro, todo clã também sofreria se um membro desobedecesse as estipulações daaliança. O objetivo era eliminar toda continuidade da desobediência, além de punir todosaqueles que, embora não sendo culpados, partilhavam do mesmo ideal do desobediente.

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Introdução ao Livro de Juízes - O círculo vicioso

Ao final da vida de Josué, quando houve a renovação da aliança com o povo emSiquém, os hebreus se comprometeram em obedecer todos os preceitos de Javé, e jamais trocariam ao Senhor por outros deuses. Porém, da mesma maneira registrada emDeuteronômio 30, o texto de Josué 24:16-20 nos conta que havia uma desconfiançaquanto à firmeza do compromisso assumido pelos israelitas.

O povo de Israel não expulsara todos os antigos povos da terra de Canaã, e, alémdisso, eles ainda aprendiam como viver como uma nação unificada, e não mais como umgrupo de tribos, ou clãs.

Este intervalo entre o período da entrada do povo israelita em Canaã até o

estabelecimento de uma monarquia é conhecido como período dos Juízes, que dá nomeao livro objeto deste estudo. Foi um período difícil, onde Javé enviou libertadores, ou juízes, ao povo quando a extinção estava próxima.

A expressão recorrente no livro de Juízes, "Naquela época não havia rei em Israel " (17:6; 18:1; 19:1; 21:25), leva alguns estudiosos a datarem a composição do livrono período monárquico, embora existam algumas narrativas que parecem sercontemporâneas aos eventos registrados. O livro está estruturado de acordo com ateologia deuteronomista, ou seja, a fidelidade à aliança, já estudada em outras ocasiões.

Com isso entendemos que o livro foi composto durante vários séculos, e

provavelmente compilado pelo profeta Samuel. Isso não representa nenhum impedimentoem relação à inspiração bíblica, pois o Livro de Salmos foi composto sob as mesmascircunstâncias.

O período dos juízes está situado na Idade de Ferro I dos arqueólogos, pois osrelatos no livro citam carros com ar de ferro dos cananeus (1:19; 4:3) e de Sísera (4:13). Asoma total dos períodos de guerras e descanso relacionados em juizes é de 410 anos.Porém, este número é alto e não corresponde à arqueologia, logo alguns estudiosossupõem que alguns dos relatos do livro são sobrepostos (cf. 10:7) e não uma ocorrênciaem sequência, embora Juízes 11:26 afirme que os israelitas estavam em Canaã há pelomenos 300 anos.

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Durante este período houve muitos conflitos em torno das principais rotascomerciais e portos da região, porém o narrador de Juízes parece desconsiderar estecontexto, pois está mais interessado nos aspectos teológicos da história, daí a menção àteologia deuteronomista sobre o livro de Juízes. Estes conflitos levaram ao desgaste dasnações mais poderosas do período, tais como os egípcios e os assírios. Isso abriu umvácuo de poder no antigo Oriente Médio, permitindo que povos menos influentes como os

filisteus, pudessem exercer o controle da região, levando aos conflitos com o povohebreu.

Estrutura de Juízes

O livro está estruturado no relato cíclico conforme apresentado na figura 01. O livropode ser dividido literariamente da seguinte maneira:

●  Fracasso na expulsão dos cananeus - 1:1 - 2:5●  Ciclo de apostasia - 2:6 - 16:31●  Depravação total do povo de Israel - 17:1 - 21:25

A primeira parte do livro demonstra a incapacidade dos hebreus de expulsaremtodos os povos cananeus. Como consequência, Israel foi influenciado por suas práticaspagãs que o levou à apostasia.

A segunda parte do livro destaca o ciclo vicioso do pecado do povo ao livramento

de Javé. É importante notar que, neste ciclo, não há nenhuma menção ao

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arrependimento. Há 6 ciclos completos de pecado e livramento descritos entre oscapítulos 3 e 16. Cada ciclo começa com a seguinte fórmula: "os israelitas fizeram o que oSenhor reprova", conforme vemos em 2:11; 3:7; 4:1; 6:1; 10:6; 13:1.

A terceira parte encerra o livro demonstrando que, a despeito de todos estes ciclose livramentos de Javé, o povo não foi capaz de estabelecer um padrão social justo, ético e

moral. O livro termina com um relato deprimente e uma nota melancólica sobre a opçãopela monarquia, que, no pensamento do livro de Juízes, não seria um sistema opressor,mas facilitador para que o povo fizesse aquilo que Deus aprova.

Propósito e conteúdo

O livro de Juízes trata dos seguintes princípios:

●  Os ciclos do período dos juízes●  A desobediência do povo à aliança●  Justiça e graça de Deus●  O papel do Espírito do Senhor nos juízes●  Provisão divina ao envir os libertadores

Os relatos de Juízes explicam os acontecimentos entre a entrada do povo de Israelem Canaã e a monarquia davídica. Séculos de apostasia terminaram com oestabelecimento da monarquia. As narrativas dos juízes tentam explicar as razões dopovo não ter desfrutado das bênçãos da aliança. Ou seja, este problema não foracausado por Javé, mas pela deslealdade do povo para com a aliança.

As narrativas também mostram que a injustiça era o resultado da desobediênciados israelitas, que, a princípio, parecem fazer menção à monarquia, uma vez que aliderança tribal não foi capaz de manter a união do povo com Javé. Este contraste épercebido nos relatos do livro dos Reis, onde o autor afirma que Davi "fizera o que oSenhor aprova" (I Rs. 15:5).

LIDERANÇA CARISMÁTICA 

Os líderes, também chamados de juízes, não eram eleitos, nem herdavam suas funções,mas espontaneamente se apresentavam conforme a necessidade, por isso, podemos

dizer que Javé os levantara para esta função. Embora tenham a nomenclatura de juiz, suafunção primordial era militar, mas podemos inferir que a justiça que buscavam era combase na libertação dos israelitas da opressão sofrida por outros povos.

Também não há menção de qualquer função espiritual por parte dos juízes, ou seja, elesnão tinham ligação com o tabernáculo, nem incentivavam o povo a voltarem-se para Javé.Os juízes nem mesmo tinham um padrão ético-moral elevado; em várias ocasiõesconferimos que suas ações, muitas vezes, não condizia com a lei da aliança: Gideãoadorou o manto sacerdotal que fizera (8:27), Jefté sacrificou a própria filha (11:30-40) eSansão se envolveu com mulheres filistéias (caps. 14-16). A intenção do texto não émostrá-los como modelos espirituais, mas destacar que a libertação foi possível, pois

Deus estava com eles. O fato de muitas vezes agirem sem ética não significa que não

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tenham tido fé, e embora a Bíblia não expresse aprovação por seus atos a libertação foipossível, pois a tarefa do juiz era libertar o povo, mediante a capacitação dada por Javé.

E SPÍRITO DO S ENHOR  

O Espírito do Senhor tem um papel fundamental no livro de juízes, pois representa o sinalde que Javé estava com eles. Não podemos presumir que os antigos hebreus tivessem amesma compreensão que temos do Espírito Santo como pessoa da Trindade, pois esteconceito se apresentou a nós como consequência da revelação progressiva de Deus nahistória. Outro ponto que merece destaque é a compreensão entre batismo do EspíritoSanto e capacitação pelo Espírito do Senhor. A capacitação pelo Espírito não implica emregeneração de vida como o NT ensina, pois servia apenas a um propósito muitoespecífico, e, após o cumprimento da missão deixava o juiz. O Espírito dava autoridade

momentânea para o juiz convocar os exércitos para as batalhas, uma ez que não haviauma autoridade central para isso. Logo, quando alguém conseguia reunir o povo parauma missão específica ficava claro para todos que Javé estava com ele.

APOSTASIA 

Os relatos de Josué e juízes nos deixam em dúvida sobre como os israelitas puderam

desprezar tudo que Javé fizera por eles anteriormente. Porém devemos destacar que omonoteísmo era exclusividade de Israel, que se iniciou no Sinai. O monoteísmo era umavisão radical da divindade, pois não estava subordinado a nada e ninguém, além de serautônomo e não ser manipulado por nenhum tipo de ritual de culto.

Nas religiões do Oriente Médio Antigo os deuses eram contatados por rituais de fertilidadee sacrifícios humanos e se manifestavam nos fenômenos naturais. Não tinham um padrãoético elevado, pois refletiam a própria natureza humana, além de dependerem doshumanos para a realização de suas tarefas; logo isso gerava a manipulação da divindade.

O povo de Israel era um ajuntamento de clãs e não estava preparado para fazer um

ajuste tão drástico em sua forma de pensar e se relacionar com a divindade, por issoforam muito influenciados pelo paganismo cananeu, chegando a tratar Javé como umadas divindades pagãs Cananeia, conforme os profetas indicaram muitos séculos depois.

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Introdução ao Livro de Rute - Nem tudo está perdido.

A história narrada no livro de Rute se passa na época dos juízes, que, comoestudamos anteriormente, foi uma época de apostasia e descaso com Javé e sua aliança.O livro de Rute apresenta o caminho oposto do livro de juízes, pois mostra a lealdadeuma moça moabita para com Noemi, sua sogra israelita, e seu Deus.

Os moabitas eram descendentes de Ló, sobrinho de Abraão (Gn. 19:37). Elesocupavam o território a leste do Mar Morto, e, na época da peregrinação dos hebreus nodeserto, eles demonstraram agressividade a Moisés e ao povo (Nm. 21 - 25).

Apesar de Rute constar logo após o livro de juízes em nosso cânon, na Bíbliahebraica este livro situa-se na seção dos Escritos , portanto, não é considerado parte dahistória deuteronomista.

O livro começa dando a entender que o período dos juízes passara, ou seja, asnarrativas se passam no período dos juízes, porém foram escritas durante a monarquia,pois a genealogia, no fim do livro, sugere que os leitores conheciam o rei Davi.

Embora as narrativas nos levem ao tempo dos juízes, não há como ter certeza se ahistória de Rute, a moabita, se encaixa neste período. A narrativa em Juízes 3, nos dizque Eúde expulsara os moabitas de Israel, portanto a história de Rute não cabe nestaépoca. Logo, se a genealogia está completa, os acontecimentos podem estar situados naépoca de Jefté, no século XII a.C.

A riqueza de diálogos e a construção dos personagens levaram alguns estudiososa classificar o livro de Rute como um conto, o que não elimina o caráter e a precisãohistórica do livro.

Estrutura de Rute

O livro de Rute está estruturado como um espelho, ou seja, os elementos finais dahistória espelham os elementos iniciais, trazendo-lhes uma solução.

O livro pode ser dividido da seguinte maneira:

●  Migração e tragédia da família de Elimeleque - 1:1:5

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●  O retorno para Belém - 1:6-22●  Rute encontra Boaz - 2●  O plano de Noemi - 3●  Casamento de Rute e Boaz - 4:1-17●  Genealogia de Davi

De acordo com a estrutura espelho do livro, o capítulo 1 espelha o 4, pois nocapítulo 1 o desespero de Noemi se torna em alegria por um filho no capítulo 4. Oscapítulos 2 e 3 são correspondentes em virtude dos diálogos entre Rute e Noemi e entreRute e Boaz. O desfecho no capítulo 4, ao espelhar o capítulo 1, só foi possível graçasaos desfechos dos diálogos dos capítulos intermediários.

Propósito e conteúdo

O livro de Rute menciona os seguintes conceitos:

●  A Fidelidade e lealdade de Deus●  A lealdade em um ambiente de apostasia●  O legado dos ancestrais do rei Davi●  O Conceito do Resgatador

O período dos juízes, sem sombra de dúvida, representou um momento muitonegativo no que se refere à fidelidade à aliança por parte do povo de Israel. O livro deRute mostra o contraste entre os grandes heróis do período dos juízes com uma simplesfamília israelita. Foi justamente de uma dessas famílias em apuros que a fé em Javé foipreservada, e de onde veio o maior dos reis de Israel: Davi.

Javé preservara esta família para manter seu nome em Israel, para mostrar sualealdade e fidelidade à aliança realizada séculos antes.

O RESGATADOR  

Se um homem morresse sem deixar filhos, seu irmão deveria se casar com a viúva e eraobrigado a gerar um filho em nome do seu falecido irmão. Este sistema é chamado de

levirato, e é descrito com detalhes em Deuteronômio 25:5-10. Este sistema preservaria asfamílias, que não teriam um fim repentino.

O costume do levirato também incluía o direito ao resgate de terras, conforme prescritoem Levítico 25:25-31; 47-55. A terra vendida a alguém poderia ser resgatada, compradade volta por alguém da família. Estes costumes tinham o propósito de preservar asfamílias e a terra, duas questões centrais da aliança.

O resgatador era um intermediário para readquirir as bênçãos em risco e serve deexemplo para a Graça de Deus. O Novo Testamento aplica este conceito à ação de Cristopara com a Igreja. 

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H ESED  

O termo hesed  se refere à lealdade de Javé com sua aliança. Algumas traduções daBíblia usam misericórdia, outras preferem a palavra bondade para designar a hesed de

Deus.No livro de Rute, a hesed de Javé é demonstrada tanto vertical, quanto horizontalmente.No plano horizontal, o compromisso de Rute com sua sogra em 1:16-17 é um exemplo dabondade e misericórdia. É justamente esta característica que chama a atenção de Boazem 2:12 por Rute, onde a hesed que ele também demonstra por Rute é louvada em 2:20.

No plano vertical a hesed de Javé é descrita em 1:8-9, que levará ao casamento de Boaze Rute no capítulo 4, onde a misericórdia de Javé se manifesta no resgatador de Noemi.

A conclusão do livro é que a misericórdia de Javé se manifesta na misericórdia de uns

pelos outros, que culmina em seu louvor e adoração, contrastando com o livro de Juízespela falta de lealdade à aliança.

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Introdução ao Livro de Samuel - O homem governa?

Na Bíblia hebraica, os livros de I e II Samuel formam um único livro, e, nesteestudo, vamos tratá-lo desta maneira. O livro de Samuel faz a ponte entre o período dos juízes e o estabelecimento da monarquia em Israel, abrangendo os reinados de Saul eDavi, seus dois primeiros reis.

Os acontecimentos narrados se situam entre a metade do século XI a.C. até oséculo X a.C., porém, alguns estudiosos estabelecem a redação do livro muito tempoapós os fatos ocorridos, mas, temos boas razões para dizer que a redação écontemporânea aos acontecimentos descritos no livro, uma vez que a corte dispunha deum arquivista real e de um secretário (cf. 2 Sm. 20:24-25).

Os fatos ocorridos com Samuel e Saul abrem o livro de Samuel, que se fecha coma compra feita por Davi do campo de Araúna, que seria o futuro terreno onde Salomão,seu filho, edificaria o Templo de Jerusalém. O enredo principal fica por conta de Davi, queluta para constituir e manter a nação de Israel.

Neste período, as nações mais poderosas do Antigo Oriente Médio, Egito e asnações mesopotâmicas, não estavam em condições de combates externos. Por isso,alguns povos de menor expressão no cenário palestino, puderam avançar em busca denovos territórios. Foi nesta ocasião que os filisteus atacaram Israel de forma consecutiva,sendo combatidos pelo rei Saul, que morreu em uma das batalhas, e foram expulsos porDavi. A partir daí Davi conseguiu expandir as fronteiras do reino de Israel na região

Palestina por meio de batalhas e tratados.

Estrutura de Samuel

O livro de Samuel está dividido da seguinte maneira:

●  Histórias de Samuel - 1 Sm. 1:1 - 4:1a●  Histórias da Arca da Aliança - 1 Sm. 4:1b - 7:2●  A instituição da monarquia e reinado de Saul - 1 Sm. 7:3 - 15:35●  A Ascensão e reinado de Davi - 1 Sm. 16:1 - 2 Sm. 5:10●  Os sucessos de Davi e a consolidação do reinado - 2 Sm. 5:11 - 9:13

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●  Os fracassos de Davi e a dificuldade de manter o poder - 2 Sm. 10:1 - 24:25

Os primeiros capítulos tratam da apresentação de Samuel, a condição deplorável doperíodo dos juízes (Eli e seus filhos - I Sm. 2:12ss) e marca a transição entre este períodoe a monarquia em Israel. Este período termina com a tomada da Arca da Aliança pelosfilisteus. No mundo antigo a vitória de um exército sobre outro indicava o poder e a vitória

do deus do exército vencedor sobre o deus do exército perdedor. Logo, a conclusão eraque Dagom, o deus filisteu, era mais poderoso do que Javé, o deus de Israel. Oscapítulos 5 e 6 de I Samuel registram fatos que desmentem essa teoria, pois, mesmocapturada, a Arca ainda representava a presença de Javé, e as pragas enviadas sobre opovo filisteu mostraram que, embora o povo de Israel tivesse perdido a batalha, Javé nãofora derrotado pelos filisteus. A narrativa com o retorno da Arca faz menção Êxodo. AArca permaneceu em um alojamento temporário durante todo reinado de Saul, e só voltoua ter uma posição de destaque quando Davi a levou para Jerusalém (2 Samuel 6),sugerindo que, tanto Samuel quanto Saul são personagens que indicam a transição parao período de ouro de Israel com o rei Davi, além de indicar a importância da Arca daAliança.

Samuel atuava como profeta e sacerdote, além de juiz de Israel. Mas, apesar do poderpolítico que possuía, não era rei. Após a vitória sobre os filisteus (I Sm. 7), e a reconquistados territórios que haviam sido perdidos, cresce o clamor popular por um rei, pois o povoentendeu que nem Samuel, já idoso, nem seus filhos poderiam manter Israel na posiçãoque ocupava naquele momento. A alusão à frustração de Samuel com relação ànomeação de um rei pode indicar que ele se considerasse apto à esta posição (I Sm. 8:4-5).

Nas narrativas da monarquia unida (Saul, Davi e Salomão) o livro de Samuel apresentacomo estrutura narrativa a função do rei, suas qualidades e sucesso e, por fim, seusfracassos e conquistas. No caso de Saul, ele é retratado muito mais como um juiz do quecomo rei, de acordo com o episódio ocorrido em Jabes-Gileade (I Sm. 11). Porém, Saulnão tinha firmeza espiritual nem um conhecimento consistente de Javé, afinal mal haviamsaído dos quatrocentos anos de apostasia no período dos juízes. Entretanto Deusesperava de um rei muito mais do que de um juiz, e Saul não cumpriu essas exigências.

O capítulo 12 conclui que, o povo, ao escolher para si um rei, estava, na verdade,rejeitando o governo do próprio Deus. O povo pensava que a ausência de um rei os fariaperder as batalhas pela permanência na terra prometida. O texto mostra que,independente das falhas e fracassos de Saul, Deus estava disposto a dar a ele uma

chance de desenvolver seu potencial. Isso nos ensina que Deus executa seus propósitosa despeito das falhas das pessoas que ele chama e convoca.

Os capítulos 13 a 15 vão apontar as falhas de Saul, que são anteriores ao seurelacionamento de Davi. O autor tem esse cuidado para mostrar que não foi Davi quemdesqualificou Saul, mas ele próprio. O caso do sacrifício oferecido por Saul demonstrasua incapacidade de tomar decisões sábias em momentos difíceis, qualidade de umverdadeiro rei. Ao fazer o sacrifício Saul agiu conforme o modelo monárquico cananita,isto é, onde o rei também possui o ofício de sacerdote.

Os capítulos 14 e 15 continuam revelando a incapacidade de Saul de tomar decisões, e

isto levou Deus a mandar Samuel ungir Davi como futuro rei de Israel. Daqui para frente a

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narrativa se volta para Davi e mostra como ele, mesmo sendo predestinado ao reinado,não tomou o trono de Saul. A narrativa apresenta três fatores para comprovar isso:

●  A hostilidade de Saul - Foi sempre Saul quem iniciou os confrontos com Davi.●  A ausência de vingança por parte de Davi - Davi teve duas oportunidades claras de

matar Saul, mas não o fez (I Sm. 24 e 26).●  As afirmações de inocência de Davi no texto - Estas declarações são feitas por:Samuel (I Sm. 28:16-18); Abigail (1 Sm. 25:30); Jônatas (I Sm. 19:4-5, 20:14-15,

22:16-18); e pelo próprio Saul (I Sm. 20:31, 24:16-22, 26:21-25)

Os sucessos de Davi são descritos em II Sm. 5 - 9. Este trecho mostra a instituição deJerusalém como nova capital quando a Arca da Aliança é trazida e restaurada à suafunção. Este texto mostra como Davi firmou o trono de Javé em Jerusalém (capítulo 6) e,como Javé firmou o trono de Davi (capítulo 7) por meio da sua aliança.

Os capítulos 10 a 20 focalizam a família de Davi e como seu pecado causou a tragédiaque se instaurou até o fim de sua vida. Dificilmente pode ser casual a perda de quatro dos

seus filhos (seu filho com Bate-Seba, II Sm. 12; Amon, 2 Sm. 13; Absalão, II Sm. 18 eAdonias I Rs. 2) após Davi ter decretado a restituição redobrada quando da acusaçãoapresentada pelo profeta Natã a Davi.

A aliança e a unidade do reino estavam em perigo por consequência dos erros de Davi,mas a narrativa mostra que Deus, apesar dos erros de Davi, ainda o apoiava, mesmo queoutras pessoas estivessem contra ele.

Os capítulos 21 a 24 focalizam a ação divina contra Davi por meio de fome e praga, masainda sim mostram como Deus o apoiou, deu-lhe vitória (II Sm. 22) e firmou sua aliançacom ele (II Sm. 23:1-7).

Propósito e conteúdo

Apesar da ênfase histórica, o principal objetivo do livro de Samuel é teológico, istoé, ele não foi redigido para documentar a história propriamente dita, mas para mostrarcomo se deu a aliança com o Rei Davi e como a autoridade divina é obedecida oudesobedecida, bem como suas consequências.

A ARCA DA ALIANÇA 

A arca da aliança era o objeto religioso mais importante de Israel, pois representavaa presença de Deus no meio do seu povo.

Os ídolos foram proibidos na religião israelita para evitar-se a manipulação dadivindade pelas pessoas, entretanto a arca, por vezes, passou pelo mesmoproblema. Lemos no relato de I Samuel 4 que os filhos de Eli tentaram usá-la paraesta finalidade, pois, em tese, a divindade israelita não se deixaria capturar pelosinimigos. Javé, entretanto, não se deixa manipular, então a arca não foi capturada,mas deixou Israel (1 Samuel 4:21).

A autonomia da arca, que operava somente por ordem de Javé, foi provada

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quando ela retornou a Israel numa carroça sem condutor (I Samuel 6:10-16). A arcanão deveria ser tratada apenas como uma relíquia, os episódios da praga entre osfilisteus (I Samuel 5), das mortes em Bete-Semes por sua profanação (I Samuel6:19-20) e o castigo de Uzá (II Samuel 6) mostram que Javé se manifestava por meioda arca independentemente de qualquer ritual humano.

Por isso, sua instalação em Jerusalém, por ocasião da conquista de Davi, não foium mero ritual, mas sim a aprovação divina do reinado de Davi.

O Salmo 78 dá detalhes sobre a teologia da arca.

M ONARQUIA 

A monarquia em Israel era uma premissa divina (Jz. 8:23; I Sm. 8:7). O rei deveria mantera justiça, o padrão ético do decálogo.

No período dos juízes Javé convocava um libertador sob demanda para executar estepropósito, porém o povo considerava a monarquia mais durável, desta maneira nãohaveria a necessidade de esperar um próximo libertador.

Não havia nada de errado em pedir um rei, pois era propósito de Javé que issoacontecesse (Dt. 17:14-20). Porém, foi a expectativa do povo de achar que o rei teriasucesso onde Deus não tivera que recebeu sua reprovação de Javé.

Veja em I Samuel 8:20 a perspectiva do povo sobre o primeiro rei de Israel e comparecom o relato apresentado em I Samuel 17. A conclusão é que o rei não lutou as batalhas

pelo povo, mas o Senhor venceu a batalha pelas mãos de Davi. Inclusive a recompensaque Saul oferece para quem lutar prova sua indisposição à luta.

O verdadeiro rei entendia que quem luta e vence é o Senhor, portanto a monarquia nãosubstituía o governo de Deus, mas representava sua própria atuação no meio do povo.

A ALIANÇA DAVÍDICA 

A aliança de Javé com Davi é um tema importante no Antigo Testamento, e suasimplicações o transcendem, por isso temos de analisar três aspectos dessa aliança:

a) A promessa de Javé a Davi - A promessa de Javé feia a Davi é semelhante àpromessa feita a Abraão. A tabela abaixo demonstra isso:

Promessa  Abraão  Davi Tornar o nome famoso   Gn. 12:2 2 Sm. 7:9Dar terra   Gn. 12:7 2 Sm. 7:10Segurança   Gn 12:3 2 Sm. 7:10-11

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De acordo com a tabela acima verificamos que a promessa de Javé a Davi é englobadapela promessa feita a Abraão, havendo uma espécie de subordinação daquela a esta.

A partir de 2 Sm. 7:12 temos uma distinção da promessa feita a Davi, quando menciona-se que o descendente de Davi seria seu sucessor, ainda que haja certa semelhança coma promessa de descendentes feita a Abraão. A descendência de Davi teria a oportunidade

de ocupar o trono sucessivamente.

Embora a Bíblia mencione que esta aliança seria eterna, fica claro que, no caso daquebra desta aliança por parte do homem Deus também estaria desobrigado de cumprirsua parte. Para outros exemplos do uso do termo "para sempre" veja os seguintes textos:1 Sm. 1:22; Dt. 15:17; Jr. 17:4. A promessa continha o aspecto da disciplina e não darejeição como fora com Saul (2 Sm. 7:14). O texto de 2 Sm. 7:29 demonstra que Davientendeu os termos da aliança quando pediu que Javé abençoasse sua descendênciacontinuamente.

b) A natureza da aliança - O texto de 2 Samuel 7 não impõe condições à aliança davídica,

mas observamos em outros textos que esta aliança estava sujeita à renovação de temposem tempos, apresentando um caráter condicional: 1 Reis 2:4; 1 Reis 6:12; 1 Reis 9:4-5.Em 1 Reis 8:25 Salomão declara ter conhecimento da cláusula condicional da aliançafeita a Davi. Este textos comprovam que o termo "para sempre" deve ser entendido comoindefinido, isto é, por tempo indeterminado. Os registros bíblicos nos dão conta de que apromessa a Davi foi cumprida, mas, dali para frente caberia a seu filho cumprir sua parteneste acordo.

c) Os impactos da aliança - A aliança foi anulada com a desobediência de Salomão? Otexto de 1 Reis 11:32-39 trata sobre este assunto. Aqui vemos a bondade e graça deDeus, pois Salomão poderia ter seu reinado terminado, mas Javé, por amor a Davi,permitiu que Salomão fosse até o fim. Em 1 Reis 11:38 um acordo semelhante foi feitocom Jeroboão, e aqui temos a reafirmação da promessa feita a Davi (ver 2 Crônicas 21:7e Salmos 89) e o despontar da esperança messiânica, que traria a restauração da aliançadavídica. Jeremias 33:14-22 é o texto no Antigo Testamento que tratará de forma maisclara sobre este tema: o messias que trará a renovação da aliança davídica. Durante todoeste tempo não houve mais um rei davídico no trono de Israel, e o Novo Testamentoreconheceu em Jesus o descendente de Davi que traria esta renovação, conformeMateus deixa claro em seu evangelho. Ao satisfazer as condições que o Messias deveriater, Jesus abre o caminho para o reino que será eterno.

AVALIAÇÃO DE S AUL 

Saul é conhecido em seu reinado, especialmente durante o destaque que o texto dá aDavi, como alguém invejoso e atormentado. Entretanto nem sempre ele foi assim. A Bíbliao descreve antes de seu reinado como alguém tímido, sincero e agradável, ou seja, o tipode pessoa que todos escolheriam para ser rei.

Em 1 Samuel 10:10 temos a informação de que o Espírito do Senhor o capacitou parareinar em Israel, contudo, em 1 Samuel 16:14 o Senhor retirou seu Espírito de Saul, queperdeu a capacidade divina de governar ao não tomar boas decisões e não preservar a

 justiça.

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Porém, antes mesmo do Senhor ter tirado seu Espírito de Saul, podemos verificar quenem tudo estava bem com ele, pois, mesmo sendo sincero, sua espiritualidade erasuperficial. Ele mostrou isso quando desconsiderou a função de Samuel (1 Samuel 9:10-15). Temos este veredito também no episódio que ele oferece o sacrifício antes dabatalha (13:8-12), e no qual deixa de executar o rei Agague (15:13-35).

Quando, ao final de sua vida, Saul recorre à médium de En-Dor (1 Samuel 28), ficaprovado que ele nunca entendeu alguns princípios fundamentais da teologia hebraica.Provavelmente Saul jamais entendeu que Javé era diferente dos deuses cananeus, quese deixavam manipular pelo sistema religioso. Ele não era diferente em nada de umisraelita comum desta época, embora o rei, como representante de Javé ao povo, deveriaser diferente.

AVALIAÇÃO DE D AVI  

A tendência natural ao lermos os relatos bíblicos é desprezar a Saul e, em consequênciadesta reprovação, aprovar incondicionalmente a Davi. É certo que a percepção teológicade Davi era muito mais aguçada que a de Saul, contudo devemos saber que Davicometeu erros gravíssimos.

Davi deixava-se levar pelo momento, sem refletir em suas consequências. A tabela abaixoilustra bem este fato.

Pecado  Consequência  Referência 

Mentira Morte de inocentes 1 Samuel 21-22Raiva Risco de assumir o trono 1 Samuel 25Conspiração internacional Morte de civis 1 Samuel 27Cobiça Adultério e Assassinato 2 Samuel 11Negligência paterna Desunião familiar 2 Samuel 13 e 14Orgulho Devastação da nação 2 Samuel 24

A despeito de todos esses erros, a Bíblia mostra o quanto Davi amava a Deus efora leal com ele. A Bíblia mostra seu profundo arrependimento e o quanto ele prezava as

leis de Javé. Por isso a opinião equilibrada do escritor dos livros de Samuel sobre Davi éprova de que estamos todos sujeitos ao pecado e à falta de bom senso, porém a devoçãoe o amor de Davi a Javé e sua Lei eram o seu diferencial.