Artigo branding e gc aprendizado da rotina de cuidados esteticos-miriam machado-2009[1]

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ARTIGO A Construção da Beleza: processo de aprendizado da rotina de cuidados estéticos. Miriam Machado (novembro/09) – [email protected] www.planningconsultoria.com – 27 3055 1547 / 8141 0290 Área: Gestão do conhecimento; branding; marcas de cosméticos; comportamento. Resumo Este estudo aplica o conceito de gestão do conhecimento, adaptando a espiral do conhecimento e seus quatro modos de criação (conversão) de acordo com NONAKA; TAKEUCHI (1995) no processo de aprendizado da rotina de cuidados estéticos, tendo como foco o uso de cosméticos, caracterizando-se como a busca da construção da beleza. O escopo deste trabalho, portanto, relaciona a gestão do conhecimento ao estudo desenvolvido por CASOTTI (2008) no qual investiga o uso dos cosméticos no cotidiano feminino e agrupa as mulheres de acordo com a percepção dos efeitos do tempo no seu corpo. Para este artigo foram entrevistadas mulheres que se enquadram no grupo “O tempo não pára”, com o intuito de identificar como se dá o processo de aprendizado da rotina de cuidados estéticos. A análise das entrevistas aponta como resultado um melhor entendimento do processo de aquisição desta rotina de cuidados estéticos, bem como indica uma dimensão mais clara sobre os processos cognitivos envolvidos, levando-nos a reconhecer aspectos subjetivos no nível de envolvimento pessoal e social, que vão muito além, do que, por vezes, é considerada simples vaidade ou futilidade feminina. Vale ressaltar que a teoria de NONAKA; TAKEUCHI (1995) foi criada para a gestão do conhecimento organizacional, entretanto, a espiral do conhecimento se mostrou adequada para ilustrar os modos de criação do aprendizado da rotina de cuidados estéticos. 1. Introdução A beleza tem sido um tema recorrente de estudo, tanto na área acadêmica quanto na área do marketing e da mídia em geral. O ser humano tem interesse natural pela dimensão estética, pela busca do belo e dos produtos ou práticas que lhes permitam apresentar rosto e corpo mais perfeitos. Entretanto, apesar da importância atribuída ao belo e ao atendimento dos padrões estéticos de beleza estabelecidos, nota-se que são poucas as pesquisas e textos que explorem o viés cognitivo e subjetivo da dimensão estética. Estudos que permitam o conhecimento dos processos cognitivos envolvidos na prática de cuidados estéticos, considerando os níveis pessoal e social. 1

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ARTIGO

A Construção da Beleza: processo de aprendizado da rotina de cuidados estéticos.

Miriam Machado (novembro/09) – [email protected] – 27 3055 1547 / 8141 0290

Área: Gestão do conhecimento; branding; marcas de cosméticos; comportamento.

Resumo

Este estudo aplica o conceito de gestão do conhecimento, adaptando a espiral do conhecimento e seus quatro modos de criação (conversão) de acordo com NONAKA; TAKEUCHI (1995) no processo de aprendizado da rotina de cuidados estéticos, tendo como foco o uso de cosméticos, caracterizando-se como a busca da construção da beleza. O escopo deste trabalho, portanto, relaciona a gestão do conhecimento ao estudo desenvolvido por CASOTTI (2008) no qual investiga o uso dos cosméticos no cotidiano feminino e agrupa as mulheres de acordo com a percepção dos efeitos do tempo no seu corpo. Para este artigo foram entrevistadas mulheres que se enquadram no grupo “O tempo não pára”, com o intuito de identificar como se dá o processo de aprendizado da rotina de cuidados estéticos. A análise das entrevistas aponta como resultado um melhor entendimento do processo de aquisição desta rotina de cuidados estéticos, bem como indica uma dimensão mais clara sobre os processos cognitivos envolvidos, levando-nos a reconhecer aspectos subjetivos no nível de envolvimento pessoal e social, que vão muito além, do que, por vezes, é considerada simples vaidade ou futilidade feminina. Vale ressaltar que a teoria de NONAKA; TAKEUCHI (1995) foi criada para a gestão do conhecimento organizacional, entretanto, a espiral do conhecimento se mostrou adequada para ilustrar os modos de criação do aprendizado da rotina de cuidados estéticos.

1. IntroduçãoA beleza tem sido um tema recorrente de estudo, tanto na área acadêmica quanto na área do marketing e da mídia em geral. O ser humano tem interesse natural pela dimensão estética, pela busca do belo e dos produtos ou práticas que lhes permitam apresentar rosto e corpo mais perfeitos.

Entretanto, apesar da importância atribuída ao belo e ao atendimento dos padrões estéticos de beleza estabelecidos, nota-se que são poucas as pesquisas e textos que explorem o viés cognitivo e subjetivo da dimensão estética. Estudos que permitam o conhecimento dos processos cognitivos envolvidos na prática de cuidados estéticos, considerando os níveis pessoal e social.

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A expressão rotina de cuidados estéticos está sendo usada no sentido que se refere à prática diária do uso de cosméticos numa seqüência que envolve diversas etapas com a utilização de produtos específicos: a)higienização (demaquiante, sabonete e esfoliante), b) hidratação (diurna, noturna com diferentes produtos), c) proteção solar.

Este artigo explora o conceito de construção da beleza, mais especificamente, o aprendizado e a prática da rotina de cuidados estéticos, enfocando aspectos importantes para o entendimento deste desejo natural de busca e alcance da estética. A partir de entrevistas realizadas com mulheres do grupo “O tempo não pára”, conforme classificado por Casotti (2008), este estudo estabele correlações com o conceito de espiral do conhecimento (NONAKA; TAKEUSHI, 1995) identificando seus quatro modos de criação (conversão): socialização, exteriorização, combinação e interiorização.

No que se refere à metodologia, este estudo, está dividido em duas fases. Na primeira fase, utilizamos a pesquisa de Casotti, divulgada na obra “O tempo da beleza” (2008), como ponto de partida para as reflexões sobre o tema construção da beleza e aquisição da rotina de cuidados estéticos. Para analisar os principais fatores relacionados ao aprendizado e gestão do conhecimento desta rotina, consideramos o arbouço teórico de NONAKA; TAKEUSHI (1995) quanto à espiral do conhecimento. Na segunda fase, o método de análise de conteúdo (BARDIN, 1977) foi utilizado para análise qualitativa das entrevistas semi-estruturadas que foram aplicadas a um grupo de mulheres de uma empresa do segmento de petróleo, que atuam como gerentes de projetos, com faixa salarial média de R$ 6.000,00, todas com filhos e pertencentes ao grupo “O tempo não pára”.

Na análise das entrevistas, constatamos que há unanimidade quanto à importância do aprendizado para a conquista do belo. No item valoração da prática de beleza a maioria não tachou como sacrifício, e ainda enfatizou que após a assimilação do aprendizado, passam a sentir prazer com esta rotina. Nas questões relacionadas ao fator influenciador da rotina constatamos que este depende mais do contexto social e profissional de cada uma das mulheres e menos dos fatores ligados à família ou ao mercado de cosméticos.

A aplicação do conceito de espiral do conhecimento (NONAKA; TAKEUSHI, 1995) foi possível porque na entrevista percebemos a dicotomia cognição x sensorial/estético, já que a aquisição da prática da rotina de beleza só se dá a partir da cognição, que se associa ao prazer de se sentir belo(a).

Como resultado deste trabalho constatamos que a espiral do conhecimento se presta a explicar a criação do conhecimento no processo de aprendizado dos cuidados estéticos, bem como na gestão deste conhecimento, configurando-se numa verdadeira espiral que se realimenta e roda todos os modos de criação.

2. A Construção da BelezaO belo, como sinônimo de beleza, sempre foi retratado, pintado, cantado por poetas, discutido pela academia e por filósofos. Entretanto, nestes séculos de discussão a beleza sempre foi tratada como uma questão de destino ou de hereditariedade. Na atualidade, a beleza se torna uma escolha ou um luxo ao alcance de todos e a idéia ou conceito de construção da beleza passa a ser o foco da atenção. Este comportamento e realidade social é ressaltado por Casotti (2008):

Ser belo não é uma questão genética, mas de esforço para corrigir a natureza. (…)

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Vencer as marcas e a marcha do envelhecimento e construir o próprio corpo são manifestações de um tempo em que o homem renega a fatalidade e busca o domínio sobre sua aparência.

Nosso interesse em investigar a rotina de cuidados estéticos partiu da percepção do quanto este conceito de construção da beleza tem se apresentado forte e determinante no comportamento de homens e mulheres na sociedade atual. O interesse em investigar os processos cognitivos surgiu já que para se adquirir uma rotina pressupõe-se troca de informações, conhecimento, aprendizado, chegando à gestão do conhecimento gerado, que pode ser ilustrado pela espiral do aprendizado.Partimos, então, para o entendimento do que seja a construção da beleza, utilizando a pergunta: “Você acredita que beleza pode ser construída?”

Construída?! Eu acredito. Porque eu acho que beleza é questão de atitude. E se você muda a atitude você muda muita coisa. (…) Mas, por exemplo, eu vi o caso da Luma de Oliveira, uma reportagem, esta questão da mulher quanto mais velha mais bonita. Mostrou a Luiza Brunet como ela era e como ela está hoje. Mostrou também a Luma de Oliveira, que quando era jovem usava meia calça para esconder celulite. (…) Mostrou também a mudança que ela fez para incorporar alimentação saudável, exercício, cosméticos e o corpo dela que no princípio era um, usando meia calça para esconder celulite, e com 40 era outro. Isso é o que? Uma beleza construída. Assim, independente de plástica e de qualquer coisa. (MARCIA – ENTREVISTADA)

Sim, a beleza pode ser construída através de plástica, botox, produtos específicos para a pele dela (para não sair usando qualquer coisa...) (ALINE – ENTREVISTADA)

Acredito sim que a beleza pode ser construída a partir de diversas atitudes que você toma, tanto quanto à saúde quanto ao uso de cosméticos. (RENATA – ENTREVISTADA)

A maioria das entrevistadas expressa certeza quanto à possibilidade de construção da beleza, seja a partir da disciplina do sujeito, da escolha dos cosméticos e ou procedimentos ou a partir da consciência da necessidade de se adquirir uma rotina de cuidados estéticos. Esta rotina viabiliza tanto a efetivação dos parâmetros estéticos escolhidos e almejados, quanto o sentimento de prazer estético que surge com a constatação dos resultados.

3. “O Tempo da Beleza” – estudo de Casotti (2008) O estudo de Casotti em “O tempo da beleza” (2008) serviu como ponto de partida para as reflexões sobre o tema construção da beleza, constituindo a primeira fase do referencial teórico deste trabalho. Casotti (2008) desenvolveu inovadora e extensa pesquisa utilizando o Método dos Itinerários, classificado como qualitativo exploratório e indutivo, criado por Dominique Desjeux, para estudar o fenômeno do consumo de cosméticos em um grupo de mulheres da classe alta do Rio de Janeiro.

A escolha do Método dos Itinerários, segundo Casotti, deve-se ao fato deste método concentrar-se nas dimensões concretas e materiais do fenômeno de consumo a ser estudado, mais do que em seus elementos discursivos. “Dá menos atenção ao discurso – (…), pois prefere extrair os dados das práticas banais e cotidianas.” (Casotti, 2008 - pg. 113) Parte-se da relevância da cultura material nas relações sociais, utilizando-se do mapeamento de objetos e espaços que compõem o meio do grupo pesquisado.

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As sete etapas básicas que compõem o Método dos Itinerários ilustram a intenção de reproduzir metodologicamente a dinâmica do consumo: 1 – A decisão de compra no contexto

das relações sociais; 2- O transporte até o local de compra; 3 – A compra; 4 – A estocagem do bem comprado; 5 – O preparo para consumo; 6 – O consumo; e 7 – O descarte.

A partir da análise do material recolhido, Casotti (2008) divide as mulheres em quatro grupos, considerando as perspectivas tempo-envelhecimento e tempo-rotina:- O momento é agora; - O tempo existe; - O tempo não pára; e - Cada coisa em seu tempo

Para o presente estudo escolhemos o grupo “O tempo não pára” composto por mulheres que exercem múltiplos papéis (mãe, esposa, profissional, dona de casa), que percebem intensamente os efeitos do tempo sobre o corpo e que buscam consolidar a rotina de cuidados estéticos no seu atribulado cotidiano. Elas são exigentes, conscientes e objetivas quanto ao consumo de cosméticos. Quanto à faixa etária acreditamos tratar de mulheres com idade entre 30 e 45 anos, apesar de Casotti (2008) não fazer referência a este assunto. A autora prefere não se ater ao tempo cronológico, dedicando atenção à percepção das mulheres sobre as dimensões de tempo ligado ao envelhecimento pessoal e à rotina diária.

Os resultados da pesquisa de Casotti (2008) representam um rico material metodológico e de conteúdo, que mostram como a beleza, na visão feminina, vai muito além do uso dos cremes, do medo de envelhecer ou do desejo de manter a juventude. As mulheres enxergam na busca pela beleza e na sua rotina de cuidados diários uma oportunidade de se cuidar, de salvar um tempo para si mesma. E esta dedicação possibilita a obtenção dos resultados estéticos desejados e o sentimento de prazer estético.

4. Aquisição da Rotina de Cuidados Estéticos Partindo destes dados de Casotti, percebemos que o consumo de cosméticos depende de uma rotina, que chamamos de rotina de cuidados estéticos. Decidimos, então, investigar esta rotina para entender esse aprendizado: a) como é adquirida, b) quem influencia para que seja adquirida, c) fidelidade/compromisso com a rotina planejada, d) periodicidade de prática, e) disciplina necessária, f) sentimento de satisfação e prazer gerados por esta prática.

Vale ressaltar que, diferente de Casotti (2008) que usou o Método dos Itinerários, decidimos utilizar pesquisa qualitativa, aplicando questionário com perguntas semi-estruturadas. Esta estratégia trouxe-nos bons resultados, já que utilizamos muitas informações de Casotti (2008) sobre comportamento e consumo de cosméticos.

5. O Papel dos CosméticosA busca da construção da beleza pode se dar por vários meios, tais como: uso de cosméticos, massagens com especialistas, cirurgia plástica, uso de medicamentos – via oral ou de forma tópica, aplicação de peelings ou ainda através da aquisição de uma rotina de cuidados estéticos que podem envolver diversos destes meios citados.

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Neste artigo, consideramos apenas a tentativa de construção da beleza a partir do uso de cosméticos e de maquiagem. Outra restrição se relaciona às partes do corpo, já que consideramos apenas o rosto feminino. Portanto, não se considerou cuidados com cabelos, corpo, nem técnicas como cirurgia plástica. Nosso foco evidenciado durante as entrevistas foram os cuidados com o rosto.

A importância dos cosméticos na vida das mulheres foi confirmada se considerarmos as respostas das entrevistadas à pergunta: “Qual o papel dos cosméticos na construção da beleza?”

“São nossos amigos de toda hora. (…) Eu não consigo imaginar minha pele sem filtro solar. E a minha máscara dourada?” (…) (MARCIA –ENTREVISTADA).

“(…) Faz diferença sim usar cosméticos, usar hidratante, mas não tenho paciência para usar os produtos para a área dos olhos.” (ALINE – ENTREVISTADA)

“Os cosméticos são a base para você começar a se sentir bonita. E depois deles vem a maquiagem, a roupa, o sapato (…)” (HÉLIA – ENTREVISTADA)

Outra forma de ratificarmos a importância que é dada aos cosméticos para o tratamento facial é observando o constante crescimento das vendas nas indústrias brasileiras de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, conforme dados da ABIHPEC (Associação Brasileira de Higiene pessoa, Perfumaria e Cosméticos).

6. A teoria de criação do conhecimento de acordo com NONAKA; TAKEUCHI ( 1995) e o conceito de espiral do conhecimento aplicados ao processo de aprendizadoda rotina de cuidados estéticos

A gestão do conhecimento é um tema amplo e complexo que vem despertando o interesse tanto da academia quanto das empresas. Neste artigo os conceitos da gestão do conhecimento estão sendo aplicados para o entendimento do processo de aprendizado da rotina de cuidados estéticos, considerando-se que conhecimento se refere ao arcabouço mental que o indivíduo possui de forma a avaliar e incorporar novas experiências e informações, de acordo com Davenport e Prusak (1998.

A teoria de criação do conhecimento organizacional foi difundida em 1995 a partir do lançamento da obra de NONAKA E TAKEUCHI - “Criação de conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação.” A teoria se destina a entender e explicar o processo de criação do conhecimento nas organizações, propondo o modelo de espiral do conhecimento que estabelece quatro modos de criação (conversão): socialização, exteriorização, combinação e interiorização. Este modelo envolve as dimensões tácitas e explicitas que se correlacionam através dos níveis individuais, coletivos e organizacionais. (NONAKA, 1994). Neste trabalho estamos aplicando a espiral do conhecimento propondo uma adaptação para o nível individual do aprendizado de uma rotina de cuidados estéticos.

A espiral do conhecimento se utiliza de quadrantes para relacionar os quatro modos de criação (conversão) do conhecimento às dimensões tácitas e explícitas, conforme figura 1.

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O conhecimento tácito é classificado como pessoal, específico ao contexto, subjetivo, informal e difícil de ser formulado, comunicado e armazenado. Além de estar diretamente relacionado à experiência individual e a crenças e valores. Já o conhecimento explícito geralmente encontra-se codificado, sendo mais objetivo e, portanto podendo ser transmitido, registrado e armazenado em linguagem formal. Nesta medida, o conhecimento explícito deixa de ser pessoal, passando a ser do grupo(organização, cultura, sociedade). De acordo com NONAKA; TAKEUCHI (1995) a chave para a criação do conhecimento está na interação, mobilização e conversão do conhecimento tácito, transformando-o em explícito.

O quatro modos de conversão do conhecimento podem ser caracterizado da seguinte forma, de acordo com: a) socialização – parte do Conhecimento Tácito para o Tácito, sendo um processo de compartilhamento de experiências que pode se dar por observação, imitação e/ou prática; b) externalização – parte do conhecimento tácito para o explícito, podendo ser definido como um processo de criação do conhecimento perfeito, já que o conhecimento tácito se torna explícito, expresso na forma de metáforas, analogias, conceitos, hipóteses ou modelos; c) combinação – parte do conhecimento explícito para o conhecimento explícito, sendo um processo de sistematização de conceitos no qual os indivíduos trocam e combinam conhecimentos através de diversos meios: documentos, reuniões, conversas etc; e d) internalização - do conhecimento explícito em conhecimento tácito, estando ligada ao estilo de aprendizagem em que se aprende fazendo.

Após nossa pesquisa com as entrevistadas estabelecemos correlações entre os modelos de criação do conhecimento e o processo de aprendizado da rotina de cuidados estéticos, percebendo que: a) a espiral do conhecimento se presta a explicar a criação do conhecimento no processo de aprendizado dos cuidados estéticos, bem como na gestão deste conhecimento, configurando-se numa verdadeira espiral que se realimenta e roda todos os modos de criação; e b) o processo se inicia com a socialização através da família, grupo social e/ou profissional e mídia que interage com a mulher que deseja adquirir a rotina de cuidados estéticos, num movimento que parte do tácito(uso do cosmético por parte do grupo) para o tácito (imitação por parte da mulher). O segundo momento é a exteriorização que é provocada pelo diálogo e/ou reflexão criada pela cidade e pela mídia através dos mitos da juventude eterna, indo do tácito (desejo de praticar a rotina) para o explícito (prática esporádica da rotina). Na terceira

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etapa temos a combinação onde o conhecimento pessoal recém criado (prática da rotina de cuidados estéticos) e o conhecimento social já existente (conjunto de informações sobre a construção da beleza) estabelecem uma rede, associando os conhecimentos explícitos que representa muitos dos mitos, regras, modelos e procedimentos ligados ao padrão de beleza cultura brasileira. No último modo, a interiorização, o aprender fazendo, a prática diária da rotina de cuidados estéticos leva à disciplina e ao aprimoramento representado no incremento de novos procedimentos de beleza, no prazer em perpetuar esta rotina e na disseminação dos seus hábitos para outras mulheres.

7. O Estudo O método da análise de conteúdo foi utilizado para coleta e interpretação dos dados. Segundo BARDIN (1977) a análise de conteúdo tem como principal objetivo compreender o discurso dos entrevistados e fazer inferências dos resultados obtidos com as análises das comunicações. Neste método pode-se aplicar pesquisa de natureza quantitativa ou qualitativa. Entretanto, em nosso estudo vamos nos ater à abordagem qualitativa.

Nesta pesquisa transcrevemos o resultado do conteúdo obtido por meio de entrevistas semi–estruturadas realizadas em campo onde o público alvo escolhido foram 5 mulheres de faixa etária entre 30 a 40 anos, com filhos, faixa salarial de R$ 6.000,00, que trabalham como gerente de projetos numa empresa do segmento de petróleo na cidade de Vitória-ES.

As mulheres deste grupo – O tempo não pára -, de acordo com CASSOTTI (2008) se caracterizam pela consciência do efeito do tempo em seu corpo, pela divisão nas jornadas diárias que incluem: carreira profissional, cuidado com os filhos e pela pressão exercida por fatores extrínsecos que influenciam diretamente em sua rotina diária, tornando um desafio constante à manutenção diária de seus hábitos de beleza. O estudo direcionou as ações para explorar o conceito de beleza para este grupo de mulheres de forma a contextualizar este universo fechado e bastante complexo.

7.1. Coleta de DadosOs dados foram coletados de acordo com variáveis que se enquadrassem ao objeto da pesquisa, para corroborar com as impressões percebidas e identificadas nas entrevistas com este grupo. Foram utilizadas para pesquisa qualitativa as seguintes funções: gerentes de projetos, faixa etária entre 30 e 40 anos, todas com filhos com idades variando entre 8 e 14 anos. A pesquisa foi realizada no local de trabalho das entrevistas na cidade de Vitória – ES. Este grupo de mulheres com este perfil sócio-econômico foi escolhido devido ao desejo externado em adquirir uma rotina de prática de beleza, privilegiando o uso de cosméticos. As entrevistas foram realizadas a partir de questionário com perguntas semi-estruturadas, acompanhado de gravação, onde cada entrevistada dedicou cerca de 3 horas de seu tempo, divididas em 1 mês totalizando 15 horas de gravação.

Na construção do roteiro das entrevistas, o principal foco, na aplicação das perguntas foi manter os mesmos questionamentos a todas as entrevistadas para que o teor do conteúdo armazenado fosse confrontado de maneira única para todo o grupo, de maneira que os resultados privilegiassem as características individuais e pessoais, contribuindo com o devido suporte à teoria de análise do conteúdo, evidenciando a abordagem qualitativa.

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7.2. O roteiro para o questionárioA rotina de cuidados estéticos não representa um fim em si mesmo, portanto, elaboramos um roteiro para nortear o questionário com o objetivo evidenciar os motivos que levam aquelas mulheres entrevistadas a buscar uma rotina que, na realidade, tem alto custo, seja financeiro, de tempo ou de aprendizado.

7.3. Interpretação dos DadosPara interpretação dos dados, foram observadas e registradas as reações e os discursos das entrevistadas sobre a beleza, sobre o consumo de cosméticos e sua contribuição para a construção da beleza, através de categorias que foram atribuídas da seguinte forma: estado civil, idade, formação acadêmica e profissão das entrevistadas, também foram cruzadas algumas variáveis denominadas auxiliares como: 1) a rotina de beleza, 2) a disciplina, 3) o sacrifício para obtenção da beleza, 4) relação da beleza com o prazer estético, objetivando interpretar, por meio de inferência, o conteúdo das informações. A tabela 1 apresenta o perfil das entrevistadas.

Após o cruzamento das respostas obtidas, observamos que as mulheres acreditam que ao aprender e interiorizar uma rotina de cuidados estéticos os efeitos do tempo sobre o rosto podem ser suavizados e a busca pela beleza concretizada. Percebemos também que: a) a disciplina é considerada um fator decisivo para o alcance desta prática de beleza; b) a maioria não considera sacrifício todas as atividades que compõem esta rotina, nem mesmo o custo financeiro ou o esforço para o aprendizado; e c) todas mostraram em seus gestos, expressões faciais e em seus discursos o sentimento de prazer na prática desta rotina, que é vista como um importante passo para a construção da própria beleza.

8. O Mercado de Cosméticos no Brasil Atualmente o Brasil está classificado como o 3º pais do mundo em consumo de cosméticos, ficando atrás do Japão e dos Estados Unidos. Segundo dados da Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) o consumo de cosméticos no Brasil teve um crescimento de 10,6 % nos últimos 13 anos seu faturamento passou de R$ 4,9 bilhões em 1996 para R$ 21,7 bilhões em 2008.

9. Considerações FinaisA beleza tem sido tema de estudo recorrente na área acadêmica, no marketing e na mídia em geral, já que o ser humano sempre apresentou interesse natural pela dimensão estética e pelos produtos ou práticas que lhes possibilitem construir rosto e corpo mais perfeitos, considerando os parâmetros de cada sociedade.

Neste artigo buscamos explorar o conceito de construção da beleza, correlacionando ao aprendizado e a prática da rotina de cuidados estéticos. O estudo de Casotti na obra “O tempo da beleza” (2008), foi utilizado como base para a primeira fase das reflexões. A segunda fase se baseia na teoria de criação do conhecimento NONAKA; TAKEUCHI (1995), considerando a espiral do conhecimento e seus quatro modos de criação (conversão) do conhecimento.

Na análise das entrevistas, constatamos que há unanimidade quanto à importância do aprendizado para a conquista do belo. No item valoração da prática de beleza a maioria não

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tachou como sacrifício, e ainda enfatizou que após a assimilação do aprendizado, passam a sentir prazer com esta rotina. Nas questões relacionadas ao fator influenciador da rotina constatamos que este depende mais do contexto social e profissional de cada uma das mulheres e menos dos fatores ligados à família ou ao mercado de cosméticos.

A aplicação do conceito de espiral do conhecimento (NONAKA; TAKEUSHI, 1995) foi possível porque na entrevista percebemos a dicotomia cognição x sensorial/estético, já que a aquisição da prática da rotina de beleza só se dá a partir da cognição, do conhecimento tácito(busca de aquisição da rotina), que chega ao explícito (prática da rotina diária), aliando-se ao prazer de se sentir belo(a).

Como resultado deste trabalho constatamos que a espiral do conhecimento se presta a explicar a criação do conhecimento no processo de aprendizado dos cuidados estéticos, bem como na gestão deste conhecimento, configurando-se numa verdadeira espiral que se realimenta e roda todos os modos de criação. O processo se inicia com: 1 - socialização família, grupo social e/ou profissional e mídia que interage com a mulher que deseja adquirir a rotina de cuidados estéticos, num movimento que parte do tácito(uso do cosmético por parte do grupo) para o tácito (imitação por parte da mulher); 2 – exteriorização provocada pelo diálogo e/ou reflexão criada pela cidade e pela mídia através dos mitos da juventude eterna, indo do tácito (desejo de praticar a rotina) para o explícito (prática esporádica da rotina) ; 3 – combinação o conhecimento pessoal recém criado (prática da rotina de cuidados estéticos) e o conhecimento social já existente (conjunto de informações sobre a construção da beleza) estabelecem uma rede, associando os conhecimentos explícitos que representa muitos dos mitos, regras, modelos e procedimentos ligados ao padrão de beleza cultura brasileira; e 4 – interiorização aprender fazendo, a prática diária da rotina de cuidados estéticos leva à disciplina e ao aprimoramento representado no incremento de novos procedimentos de beleza, no prazer em perpetuar esta rotina e na disseminação dos seus hábitos para outras mulheres.

Com estas análises e cruzamentos das respostas pudemos entender mais profundamente o processo de aprendizado de uma rotina de cuidados estéticos, reconhecendo aspectos subjetivos no nível de envolvimento pessoal e social que influenciam na gestão deste conhecimento.

Acreditamos que outras pesquisas sobre o processo de aprendizado da rotina de cuidados estéticos poderão ser desenvolvidas na tentativa de estabelecer o papel do sistema de gestão deste conhecimento, buscando identificar seu fluxo.

Referências

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