Correntes Pedagogicas Tradicionais I - Texto Apoio
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Correntes pedagógicas tradicionais
do ensino da música I
EMILE-JACQUES DALCROZE
DALCROZE, Emile Jaques, Rythm, Music & Education, Geneve,
Institut J. Dalcroze, 1967
Ao meu amigo
ADOLPHE APPIA
PREFÁCIO
Há 25 anos, estreei-me na pedagogia como Professor
de Harmonia no Conservatório de Genebra. Desde as primeiras
lições, notei que os ouvidos dos meus alunos não estavam
preparados para entender os acordes que tinham que escrever
e então concluí que a falha no método convencional de ensino
passa por não serem dadas experiências de acordes aos alunos
na fase inicial dos seus estudos – quando o cérebro e o corpo
são desenvolvidos paralelamente e um está constantemente a
comunicar as suas impressões e sensações ao outro – e essa
experiência é sonegada até ao momento em que eles devem
apresentar os resultados por escrito. Desta forma, decidi
começar as minhas lições de harmonia escrita com exercícios
especiais de natureza fisiológica, com a finalidade de
desenvolver as faculdades de audição, e não demorei muito a
descobrir que, enquanto as sensações acústicas dos alunos
mais velhos eram prejudicadas por fúteis preconceitos
intelectuais, as crianças apreciavam essas mesmas sensações
de forma mais espontânea.
Assim, eu procuro agora treinar os ouvidos dos meus
alunos o mais cedo possível, e através desse treino descobri que
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não só as faculdades auditivas se desenvolvem com enorme
facilidade numa fase em que cada nova sensação deleita a
criança e lhe estimula uma imensa curiosidade, mas também
que, logo que o ouvido esteja treinado para uma sequência
natural de sons e acordes, o cérebro nunca mais experimenta a
menor dificuldade em se habituar aos vários processos de
leitura e de escrita.
No entanto, o progresso musical de um determinado
número de alunos, cujo ouvido se desenvolve a uma velocidade
normal, pareceu-me ser retardado por uma incapacidade de
detectar com exactidão grupos rítmicos e variações de tempo.
O cérebro apercebeu-se das variações, mas o aparelho vocal foi
incapaz de as traduzir. Concluí então que o ritmo e o elemento
dinâmico na música dependem não só do ouvido mas também
de um outro dos cinco sentidos. Inicialmente pensei que o
sentido em falta seria o tacto, ao ver os exercícios que os alunos
fazem com os dedos. Actualmente, no entanto, um estudo das
reacções produzidas quando os alunos tocam piano com outras
partes do corpo que não as mãos – movimentos com os pés,
oscilações com o tronco e com a cabeça, balanceamentos com
todo o corpo, etc. – levaram-me a descobrir que as sensações
musicais de natureza rítmica provocam uma resposta muscular
e nervosa de todo o organismo. Eu pus os meus alunos a
caminhar e a cambalear, e treinei-os a reagir fisicamente à
percepção de ritmos musicais. Esta foi a origem da “Eurítmica”;
eu fui demasiado optimista a acreditar que os meus trabalhos
experimentais tinham terminado e que deveria agora construir
um método racional e definido de educação musical. A
desilusão foi imediata. Rapidamente descobri que, em cada 10
crianças, duas respondiam de maneira normal; que a
consciência tacto-motora, a combinação das noções de espaço e
movimento, raramente existem em estado puro como acontece
2
com o “ouvido absoluto”. Observei que a falta de sentido
rítmico resulta de uma “arritmia” cuja cura parece depender de
um treino especial destinado a regular as reacções nervosas e a
produzir uma coordenação de músculos e nervos; em resumo,
cheguei à conclusão de que é preciso harmonizar a cabeça e o
corpo. Tenho vindo a observar que a percepção musical é
inteiramente auditiva e incompleta, e a procurar a conexão
entre instinto de altura sonora e movimento, harmonias e
períodos de tempo, tempo e energia, dinâmica e espaço, música
e carácter, música e temperamento e finalmente a arte da
música e a arte da dança.
(…)
Não é suficiente dar às crianças e aos jovens uma
educação genérica baseada exclusivamente no conhecimento
das actividades que nós desenvolvemos no nosso tempo. Os
professores deveriam dotar os alunos das competências
necessárias para que eles sejam capazes de viver as suas vidas
e conviverem com as vidas alheias. (…) Na minha opinião, todos
os nossos esforços deveriam ser direccionados para treinar as
nossas crianças a terem consciência das suas personalidades, a
desenvolverem os seus temperamentos e a libertarem de toda a
resistência o seu ritmo de vida individual. (…)
Em matéria de arte, prevejo que os esforços individuais
continuarão a atrair um certo público; mas acredito que um
novo chamamento para uma unidade colectiva guiará inúmeras
pessoas, formalmente estranhas à arte, a associar-se para
exprimir o seu espírito comum. E daí emergirá uma nova arte,
composta por uma diversidade de aspirações de diferentes
graus de força, mas unânime na busca de um ideal e de uma
corrente comum para a emoção. Isto conduzirá ao chamado
treino psico-físico baseado no culto de ritmos naturais, e que,
guiado por uma vontade colectiva preencherá uma parte
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extraordinariamente importante na vida civilizada. No teatro
serão levados à cena dramas, nos quais as Pessoas
desempenharão o papel principal, emergindo como uma
identidade, ao invés de serem um conglomerado de estrelas.
Descobriremos então que as nossas ideias actuais acerca das
produções teatrais têm sido construídas com base no
individualismo, e não na valorização dos recursos das massas.
Iremos sentir a necessidade de uma nova técnica de abordagem
de grupos. Só uma compreensão detalhada das sinergias e dos
conflitos do nosso corpo pode fornecer a chave para a
descoberta da arte de expressar emoções; enquanto a música
conseguirá o milagre de guiar os movimentos posteriores –
agrupar, separar, despertar, adormecer, em resumo,
“orquestrá-los” segundo os princípios da Eurítmica. (…) Novas
formas de música nascerão, com o poder de animar grupos de
pessoas, treinando-os nos muitos processos de contraponto,
fraseio e ritmos musicais com uma visão da sua expressão
plástica. Todas as tentativas de renovação da dança resultaram,
até ao momento, ser inadequadas e insuficientes. Uma nova
dança e uma nova música surgirão certamente, ambas
inspiradas na compreensão dos inúmeros recursos do corpo
humano, aliados ao espiritualismo, ao idealismo, e à sensação
de forma que sozinha pode concretizar uma musica ditada por
imperativa necessidade de dinamismo e de agógica que
dependem das flutuações do temperamento humano.
Em alguns capítulos, deixo em aberto algumas
observações acerca das diferentes formas de interpretar
corporalmente as linhas musicais sonoras. O meu desejo, neste
prefácio, é recordar a minha profunda convicção de que agora,
que a guerra terminou, as gerações vindouras experimentarão
esta necessidade de formar grupos para exprimir as suas
emoções, e que uma nova arte venha a nascer, criada
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espontaneamente por todos aqueles que vêem a música como
um agente magnífico e poderoso de inspiração e estilização do
gesto humano – isto como uma emanação puramente “musical”
das nossas aspirações e das nossas vontades.
E. JAQUES-DALCROZE
Agosto 1919
CARL ORFF
LANDIS, Beth and CARDER, Polly, “The Ecletic Curriculum” in
American Music Education, Reston, MENC, 1972, pp. 71-107
Princípios pedagógicos
A ideia central na qual Carl Orff baseou a sua
abordagem à educação musical é a de que a música, o
movimento e a fala são inseparáveis e formam uma unidade que
Carl Orff designou por música elementar. Ele observou que
quando as crianças se expressam em situações naturais e não
estruturadas, elas usam a música, o movimento e a fala
conjuntamente. Carl Orff usou a palavra elementar para se
referir a primário e rudimentar e para designar também a
expressão pessoal usada naturalmente através da música. Ao
desenvolver esta abordagem educacional Carl Orff recuou aos
primórdios do desenvolvimento cultural, onde a música é um
modo de expressão não treinado nem sofisticado, inseparável
do movimento e da fala e sempre envolvida numa participação
activa.
Carl Orff aceitou a teoria de que o desenvolvimento
histórico da música renasce na vida de cada indivíduo. A
criança é considerada um ser primitivo, cujas primeiras
respostas musicais são como as que os etnomusicólogos vêm
nas pessoas das civilizações primitivas. Carl Orff determinou
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que a educação musical deveria começar com os conceitos e as
canções mais simples.
Abordagem pedagógica
Idealmente a Orff Schulwerk deveria começar na
infância, e deveria fazer uso das próprias experiências musicais
das crianças como material para o processo de instrução. O
nome próprio da criança, palavras familiares, ditos e citações
são usados no canto rítmico e no canto. A criança ouve o seu
nome falado ritmicamente, depois canta-o, e mais tarde lê e
escreve o seu ritmo em notação. Os intervalos melódicos são
aprendidos, bem como os padrões rítmicos, cantando-os,
dizendo-os, movendo-os e tocando-os. Os instrumentos são
usados desde as primeiras lições. Ao pegar num motivo simples
e o repetir e construir a criança está pronta a ter sucesso. Ela
está a utilizar materiais simples com os quais sabe lidar, e está
preparada para os desenvolver e transformar em alguma coisa
coerente.
Carl Orff encontrou na Eurítmica de Dalcroze mais do
que um princípio a adoptar. No entanto, para ele ficou a ideia
de que o ritmo é o mais forte dos elementos da música; a mais
primitiva e mais natural resposta musical da personalidade
humana é de natureza rítmica; o começo mais lógico para a
educação musical é o ritmo. A crença de que o ritmo é o
elemento vital na música conduziu directamente ao
desenvolvimento de um ensemble especial de instrumentos. Na
filosofia de Carl Orff, tal como na de Dalcroze, o estudo de
qualquer instrumento deve ser precedido do desenvolvimento
de algumas competências musicais: audição, identificação e
canto de intervalos melódicos e identificação e batimento de
ritmos.
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Criatividade
No método de Carl Orff a criatividade é o mais
importante. Os seus planos de instrução incluem vários tipos de
trabalhos originais numa base de continuidade. As crianças
exploram os sons das palavras, das melodias e dos
instrumentos. Elas escolhem ou inventam fragmentos rítmicos e
melódicos e usam-nos para criar figuras de acompanhamento,
introduções, codas e até uma canção inteira. As primeiras
actividades de instrução são como jogos musicais e são
frequentemente construídas sobre jogos tradicionais infantis
[lengalengas, rimas, etc.]. A descrição do plano educacional de
Carl Orff inclui a sugestão de que os professores que são
criativos, flexíveis e abertos a novas ideias estão mais aptos a
fomentar estas características, inerentes ao próprio método,
nos seus alunos.
“A maior parte das pessoas metódicas e dogmáticas dificilmente
tiram prazer nisso, mas aquelas que são artistas e improvisadores por
temperamento apreciam-no ao máximo. Cada frase da ‘Schulwerk’ irá
sempre estimular um novo crescimento independente, que, no entanto,
nunca será conclusivo e definitivo, antes estará sempre em
desenvolvimento, em crescimento e em movimento. Nisso, claro, assenta
um grande perigo, o desenvolvimento na direcção errada. O crescimento
independente pressupõe um treino básico especializado e uma grande
familiaridade com o estilo, as possibilidades e os objectivos da
‘Schulwerk’.” [Carl Orff, 1966]
A música elementar é intensamente pessoal, baseada
no desempenho comunicativo. Os seus materiais são idealmente
as ideias musicais das próprias crianças, com as composições
da ‘Schulwerk’ como modelos e com um vocabulário melódico e
rítmico cuidadosamente planeado como moldura. É primitivo,
infantil, natural, físico – desenhado sobre as actividades infantis
para os inícios e pontos de referência no processo de ensino. O
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conceito de música elementar inclui o pressuposto de que a
criança revive, através das suas experiências de aprendizagem,
o desenvolvimento musical da humanidade. Na música
elementar falar, cantar e mexer não são actos separados, mas
tal como a genuína expressão musical, tornam-se uma
composição.
À semelhança do que acontece no método Dalcroze, a
criatividade na forma de improvisação era o objectivo principal
do programa. Tal como fez o seu homólogo suíço, Carl Orff
definiu ideias sobre como é que a improvisação deveria ser
feita. Carl Orff afirmou várias vezes de forma enfática que as
canções que escreveu para as classes infantis deveriam ser
consideradas modelos. Várias características inerentes à
filosofia musical e educacional Orff estão muito evidentes nos
materiais de instrução:
1. O modo pentatónico foi usado na totalidade do 1.º
volume da ‘Schulwerk’;
2. O ostinato e o bordão, que ele esperava que os
alunos criassem na aula, estavam consistentemente
escritos nas peças que compôs;
3. Tal como Kodaly, Orff escolheu música com forte
carácter nacionalista no sentido de que estava
relacionada com a música tradicional e com música
que é familiar à criança em qualquer parte do mundo.
4. Os motivos eram tirados da canção e usados na
introdução e acompanhamento da canção.
5. O conjunto instrumental Orff era muito usado.
6. Uma parte básica da ideia de música elementar está
patente nos volumes publicados da ‘Schulwerk’: os
cantos e gritos (calls) infantis, a 3.ª menor
descendente, são usados no início da aprendizagem. A
sua intenção de ordenar as experiências de
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aprendizagem segundo uma progressão gradual – do
mais simples para o mais complicado – é aparente nos
materiais escritos:
7. Os padrões falados, começando por palavras soltas e
progredindo para actividades mais complexas tais
como cânones falados, estão presentes na
‘Schulwerk’.
Fala
A fala como parte da experiência musical é uma
característica que se distingue na abordagem Orff-Schulwerk.
Carl Orff sentiu que uma progressão natural de padrões falados
para actividades rítmicas e depois para canções é mais natural
para a criança. A sequência planeada começa com a fala,
continua com ritmos corporais tais como bater palmas e
culmina no instrumental.
Canto
As experiências com o canto surgem directamente da
fala, assim como a melodia cresce do ritmo. A criança fala
cantando palavras soltas, frases e lengalengas. Ela bate o ritmo
dessas palavras e toca-o nos instrumentos. Descobre a sua voz,
aumenta e diminui de volume à medida que fala a cantar. Neste
ponto é feita a transição da fala para o canto, acontecendo um
reforço e complemento destas duas áreas no processo de
aprendizagem.
A prática em falar, cantar falando e bater ritmos de
palavras prepara a criança para a experiência de combinar
esses ritmos, já familiares, com a melodia. O exemplo que a
seguir se apresenta mostra até que ponto o ritmo das palavras
é a base do ritmo musical; e como as inflexões de voz naturais
se transformam em formas de melodia simples:
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Há uma sequência rígida e pré-planeada para a
introdução dos intervalos melódicos: começa-se com o intervalo
de 3.ª menor descendente, seguindo-se as notas lá, ré, dó, para
completar a escala pentatónica e só depois fá e si.
A escala pentatónica é utilizada porque Carl Orff
acreditava que era a tonalidade mãe da criança. Na sequencia
de aprendizagem de Orff, as escalas maiores e menores são
expostas mais tarde, sendo então exploradas intensivamente. O
corolário do desenvolvimento das expressões naturais da
criança é que ela aprecie várias relações tonais. A exposição às
sonoridades dessas várias relações irá contribuir para o
desenvolvimento de uma grande sustentabilidade harmónica e
melódica, que encontrará o seu ponto culminante na
improvisação.
Movimento
O movimento elementar é feito de acções naturais não
ensaiadas comuns a todas as crianças. Esses movimentos –
correr, saltar, rodar, saltitar – comummente designados por
brincar – fazem parte do desenvolvimento musical do plano
Orff, constituindo formas válidas de expressão de sentimentos
e descoberta de possibilidades de movimento criativo.
Vários usos do movimento desenvolvem-se baseados
nestas actividades espontâneas de brincadeira. As crianças
seleccionam padrões no movimento e desempenham-nos como
parte de uma composição que elas estão a cantar e a tocar.
Através do ritmo corporal os conceitos básicos da forma
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musical podem ser introduzidos. Um padrão de batimento
rítmico, por exemplo, pode-se tornar um tema, que pode ser
repetido, variado, batido em sentido contrário ou usado como
base de um rondo.
Improvisação
Na Orff-Schulwerk a criatividade toma muitas vezes a
forma de improvisação. Todas as áreas de actividade na
‘Schulwerk’ são um meio para a improvisação – movimento,
fala, ritmos corporais, canto, instrumentos melódicos e não
melódicos. Os instrumentos são usados especialmente para a
improvisação. Os alunos criam padrões rítmicos e melódicos,
figuras de acompanhamento e introduções.
Começando com experiências simples relacionadas com
tocar, a improvisação continua através da sequência de
instrução. À medida que as crianças constroem as suas
improvisações elas estão a usar esquemas de composição que
Carl Orff sugeriu, como por exemplo, o bordão e o ostinato.
Uma forma fantástica para a improvisação é a forma rondo,
porque a sua estrutura torna-se uma moldura útil, com o tema
tocado como padrão definido, alternando com episódios
contrastantes improvisados por uma pessoa.
Instrumentos
Os instrumentos especiais são uma característica da
abordagem institucional de Carl Orff, distinguindo-a de outros
métodos. A ênfase no ritmo como o mais forte dos elementos
constituintes da música levou ao desenvolvimento dos
instrumentos de percussão. Com a cooperação de especialistas
na história e na construção de instrumentos musicais, Carl Orff
desenvolveu um conjunto instrumental de timbre rico e
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delicado. Os instrumentos são simples de tocar, são de
excelente qualidade e são mais parecidos com os modelos
primitivos ou com os instrumentos das culturas orientais do que
com a secção de percussão de uma orquestra sinfónica. O
instrumental Orff é constituído por: xilofone soprano, contralto
e baixo; jogo de sinos soprano e contralto; e o metalofone
soprano, contralto e baixo; todos eles tocados com baquetas. A
‘Schulwerk’ não faz uso do piano como instrumento de
acompanhamento. Acrescentar piano, orgão ou outro
instrumento com timbre penetrante ou contrastante iria
destruir o som pretendido.
Pedir às crianças para criarem música torna-se mais
prático quando os instrumentos estão disponíveis. Tocar
instrumentos permite à criança afirmar as suas ideias musicais
de uma forma menos consciente do que se as cantasse. O plano
institucional inclui tocar a solo, em conjunto e alternando as
duas formas. Tocando instrumentos as crianças podem
participar em conjuntos e começar a perceber princípios
musicais como a polifonia.
“As crianças devem tocar sempre de cor – só assim se garante o
máximo de liberdade – mas a notação não deve ser esquecida; pelo
contrário ela deve ser introduzida logo no início (juntamente com padrões
falados, lengalengas, para os quais a notação rítmica é suficiente) para que
a criança possa tomar nota de qualquer ideia melódica ou rítmica que se
lhe ocorra.” [Orff, Introduction to Music for Children]
A notação é lida desde os primeiros anos do curso, mas
é introduzida quando é necessária, como um meio de
armazenar e comunicar ideias musicais. Na abordagem Orff
cantar e tocar não estão dependentes de partituras, e
memorizar é uma competência do início da aprendizagem. As
crianças usam a imitação, a improvisação e outras técnicas
criativas em conjunto com a leitura de notação. O estudo do
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piano ou outro instrumento é adiado até a criança adquirir uma
certa bagagem de conceitos musicais em conjunto com certas
competências.
Desenvolvimento histórico
Carl Orff foi influenciado pela maneira de pensar de
Dalcroze e pelos mesmos factores que ele ajudou a formar:
a) a possibilidade de romper com os métodos e os
materiais tradicionais do estilo conservador da educação
musical;
b) um interesse no treino físico e na ginástica;
c) o aparecimento de uma nova forma de dança que
começou a ser conhecida como dança moderna.
Tal como Kodaly, Carl Orff planeou ensinar um
vocabulário de motivos rítmicos e melódicos. As técnicas de
ambos para o fazer eram bastante diferentes e certamente
diferiam nas suas razões filosóficas. Kodaly valorizou o
repertório de motivos musicais como um meio de desenvolver
competências na leitura musical; Carl Orff viu nesse repertório
um meio de cultivar a criatividade.
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