IVONE KUHLMANN DA COSTA DEFICIT DE ATENt;:AO ESTUDO DE...
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IVONE KUHLMANN DA COSTA
DEFICIT DE ATENt;:AO
ESTUDO DE CASO
Projeto de pesquisa apresentado noCurso de Especializac;ao emPsicopedagogia, Coordenadoria deP6s-Graduac;ao da Universidade Tuiutido Parana - UTP.
Qrientadora: Ursula Marianne Simons.
CURITIBA
2002
SUMARIO
1 INTRODUCAo 12 REVISAo DA LITERA TURA 62.1 A QUESTAO DAAPRENDIZAGEM 62.20 TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATEN<;AO/HIPERATIVIDADE (TDAH)-
HISTORICO . 102.3 CARACTERisTICAS DO TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATEN<;AO-
HIPERATIVIDADE .. 172.4 FUNCIONALIDADE DO CEREBRO.. ..242.5 NEUROPSICOLOGIA E APRENDIZAGEM.. .. 272.6 LlNGUAGEM RECEPTIVA.. ...302.7 LlNGUAGEM EXPRESSIVA...... .. 312.8 MEMORIA. 313 ESTUDO DE CASO CLiNICO 343.1 APRESENTA<;AO DO CASO... .. 343.1.1 Hist6ria... . 343.1.2 Avalia,;;o .. .. 353.2 ENTREVISTA.. . .. 363.3 JOGOS . 363.4 AVALlA<;AO INTELECTUAL.. . .. 363.5 AVALlA<;AO DA ESTRUTURA COGNITIVA 373.6 AVALlA<;AO PEDAGOGICA . .. 373.7 AVALlA<;AO EMOCIONAL... .. 383.8 TESTE DE AUDIBILlZA<;AO... .. 383.9 EXAME MOTOR 393.10 BATERIA DE TESTES NEUROPSICOLOGICOS DE LURIA 393.11 CONCLUSAO DO CASO... . 404 CONCLUsAo 41REFERENCIAS 44
1 INTRODUI;Ao
A aprendizagem envolve efetivamente um processamento de infonTla~6es,
jogando com processos sensoria is (recep~ao), neurologicos (descodificac;:ao,
transdu~o, reten9ao e codificac;ao) e psicol6gicos (percepyao, imagern,
simbolizac;:ao conceitualizac;:80). Portanto, aprendizagem coloca
simultaneamente, dais problemas: urn neurol6gico e outro de comportamento.
Se, em ultima analise, 0 cerebro e 0 respons3vel pelos diversas e multiples
estlmulo$ que provt§m do corpo humano e do meio ambiente, toma-S9 necessaria
considerar as vias, atraves das quais as estimulos chegam as diversas zonas
cerebra is. Sabe-s9 que it medida que esses estimulos chegam ao cerebra, deixam
sua inevitavel marca, a qual tamara significadas diferentes, conforme as estruturas
sabre as quais atua.
A educayao sistematizada, au elaborada, ou ainda erudita, como alguns
profess ores preferem denamina-Ia, tem como fulcro a instruy80 do educando.
Infelizmente, vive-se em um mundo, ande as respansaveis por esses educandos nao
sabem, au fingem nao saber desse fato. Par conseguinte, enviam os filhos a escola
para serem educados. Por ser assim, a escola tern desviada sua funyao precipua
de instruir, formar, propiciar ao educanda cantata com outras realidades, ou seja, a
cultura mundial, compilada pela humanidade atraves dos seculos.
Esse "desvia de funyaa" abriga, lamentavelmente, aqueles educadores que
foram preparados para facilitar/mediar 0 conhecimento universal, a exercer 0 papel
de responsavel, de pai, de mae, de tutor do aluno, pois, com a desestruturacrao das
familias - fato gritante na sociedade brasileira hoje - sao esses educadores que se
sobrecarregam, tendo que se preacupar com a educay3a natural do aluna, aquela
que autrora a famflia propiciava as crianyas. lssa, muitas vezes naa e bem
campreendida pela saciedade, em geral, como tam bern pela comunidade imediata
ande esse educanda se insere. Par ignarar que as professores Qperdem tempo",
tentando incluir boas maneiras, bons habitos, preceitos eticos e morais aos alunos, 0
julgamento da Educayao e sempre desfavoravel aos responsaveis pela Instruc;ao
Sistematizada.
Com esta breve explanayao sabre a tema, pode-se verificar a sua
complexidade. Sendo assirn, como obter sucesso mesmo que lentamente, em urn
caso de Deficit de Atenct8o?
Em um primeiro momenta, tendia-se a associar as disturbios gerais da
aprendizagem, com a deficiencia mental. A crian<;a que nao aprendesse no mesmo
ritmo que a maio ria, seria logo considerada como deficiente mental, apresentando
"retardo" au "atraso", ou ainda, como apresentando algum deficit pessoal mais serio.
Normalmente, pode-se observar que crian<;as com dificuldades de
aprendizagem tern problemas radicados nas areas da atenc;:ao, percepc;:ao, mem6ria,
associac;:ao e fixac;:ao de informa<;oes.
Alguns sintomas apresentados por estas crianc;:as, em geral, s20:
impulsividade, hiperatividade, distrac;ao, pouca motivac;:ao, agressividade,
retraimento, baixo grau de auto-estima, alto grau de ansiedade, perspectivas de
insucesso. A variabilidade dos sintomas e grande e estes podem provocar a mesma
incapacidade funcional que inibe 0 processamento de aten<;20, indispensavel para
que S8 de 8 aprendizagem.
Na decada de 1950, evidenciou-se que mais e mais crian<;as rotuladas
como deficientes leves, segundo testes de inteligencia, podiam de fato aprender
muito mais do que estes resultados indicavam. Foi a partir desses resultados que,
em 1961, surgiu a edi<;ao experimental do Teste Iffinois de Habilidades
PsicolingOisticas (ITTPA), onde se usou a termo disturbio de aprendizagem para
descrever as casas de crianC;8s com altera<;oes de linguagem na fala au na leitura,
ou ainda problemas agregados de comunicac;:ao sem deficiencias sensoriais, au
deficiE!ncia mental. A partir de entao, foi adotado a termo "disturbios de
aprendizagem" e que subsiste como defini9ao oficial do National Advisory Comitte of
Handicaped Children.
Percebeu-se a inexistencia de uma rigorosa correlac;ao entre 0
desenvolvimento intelectual e 0 pedag6gico e que 0 exito escolar nao dependia
inteiramente dos mesmos fatores. Partiu-se entao, para pesquisar as razoes do
insucesso estudantil, a comeC;ar pelas ocorrencias ligadas a leitura e a escrita. A
analise das funC;oes e comportamentos efetivamente envolvidos no processo de
aprendizagem revelou a incidencia de fatores nao propriamente intelectuais, ou de
natureza motora ou mesmo afetiva.
A Idade Mental e 0 Q.1. nao se mostravam mais suficientes para
caracterizar uma crianc;a, particularmente em termos de explicac;ao de suas
dificuldades especfficas de aprendizagem, mesmo de natureza intelectual, e de suas
perspectivas de superaC;ao do problema. Essas dificuldades especificas de
aprendizagem poderiam, provavelmente, ser melhor compreendidas com os
resultados insatisfatorios obtidos em urn ou em outr~ item especifico, com uma
bateria de testes de inteligencia, como no Wechsler fnteffigence Scale For Schifdren
- wise (1949). Percebe-se entao, que dificuldades de aten9llo, de percep9llo global
ou de memoria visual ou auditiva, podem ser, especificamente, responsaveis por um
determinado disturbio de aprendizagem e que, talvez, urn tratamento incidindo sobre
a area particularmente deficitaria, pudesse contribuir para superar 0 problema.
o impacto dos novos descobrimentos da neuropsicologia feitos por LURIA
(1979, p. 56), demonstra que 0 cerebro, em sua estrutura e organiza9aO funcional,
permite 0 estudo sobre a organiza9aO da percepyao, da a9aO, da aten9ao, memoria,
linguagem e dos processos menta is. Esse descobrimento iria permitir a reformula9ao
das concepC;oes sobre as dificuldades de aprendizagem, que deixariam de ser
simples sequelas de deficiencias intelectuais ou de problemas emocionais, para se
tornarem quadros, mais ou menos independentes, exigindo explica9ao e tratamento
especifico.
Quando se fala em disturbios de aprendizagem, nao se pode continuar
negando a evidencia de que estao envolvidos ai elementos organicos, ligados ao
sistema nervoso.
Para que oeorra aprendizagem satisfatoria, uma vez que e 0 cerebra que
aprende, determinadas condi(foes de integridade sao necessarias, sendo as mais
preponderantes: as fum;oes do sistema nervoso periferico (receptores a distancia,
chamados telerreceptores e receptores proxima is, chamados proprioceptores) e as
fun(foes do sistema nervoso central (armazenamento, integrac:;:ao, formulac:;:ao e
regulac:;:ao). A aprendizagem e um processamento de informa({3o, onde estao
envolvidos os processos sensoriais (recepc:;:ao), neurologicos (descodifica(fao,
transduyao, retenC:;:8o e codifica(fao), como tambem psicologicos (percep<;80,
imagem, simboliza(fao e conceitualiza(fao).
o sistema de processamento cognitiv~ reflete a hierarquia da experiencia
e, fundamentalmente, os diferentes niveis de aprendizagem. 0 SNC inicia 0
tratamento cognitivo atraves da percepc:;:a.o, envolvendo func:;:oes de pre-
reconhecimento, como a analise e a sintese. Ocorre a conversao das sensa(foes,
sele(fao e interpretac:;:a.o, a que exige uma vigilfmcia seletiva, adequada para, em
termos de figura-fundo, captar as sensa(foes relevantes para a detecc:;:ao
diferenciada se iniciar. 0 ouvido humano deve ser capaz de captar a voz de urn
emissor no meio de uma multidao de sons. 00 mesmo modo, a visao humana deve
ser capaz de foear a aten(f80 para a face de uma pessoa conheeida, numa fotografia
de grande grupo. A crianc:;:a,em termos de discrimina(fao auditiva, deve ser capaz de
diferenciar pares de palavras com sutis diferenc:;:as foneticas, como: "mata-Iata"; no
plano de discriminac:;:ao visual, deve ser capaz de discriminar 0 ub" do "dft
, 0 "q" do
"p", elc.
Sao varios os disturbios de aprendizagem, com os quais a escola se
confronta. Neste estudo prioriza-se um aprafundamento do estudo sobre disturbio do
deficit de atenc:;:ao, tam bern classificado como transtorno de deficit de
alenc;ao/hiperalividade (TDAH).
A partir destas prernissas introdutorias, sera desenvolvido urn estudo de
caso com uma adolescente de cia sse media, que se realizara em consultorio
psicopedagogico, na cidade de Curitiba, a partir do mes de agosto de 2000.
Inicialmente procurar-se-a detectar 0 motivo da dificuldade de
aprendizagem atraves de testes, entrevistas (paciente, pais, escola), jogos, etc.
Procurar-se-a fazer urn levantamento - pesquisa - de material teorico, para
que com este se possa efetuar urn questionamento sobre 0 conhecimento, por parte
do professor, sobre 0 funcionamento do cerebro, para diminuir as dificuldades de
aprendizagem.
Pretende-se com este trabalho alertar aos interessados na area sobre a
importancia de se trabalhar na prevenyao e que 0 professor, tendo conhecimento de
como se processa a aprendizagem, evitar futuramente muitos problemas e
sofrimento por parte do aluno, que geralmente chega ao consult6rio com auto-
estima muito baixa. Nenhuma crianc;a vai mal na escola por vontade pr6pria e, com
certeza, se 0 professor tiver sido devidamente orientado, a soluc;ao do problema sera
bern mais simples, evitando-se muitas vezes, ate a repetencia.
Com certeza nao e facil para 0 professor encaminhar urn aluno para 0
atendimento. Esta situayc30 requer uma analise cuidadosa, ate porque nem sempre
os pais se encontram preparados para lidar com a situac;c3o, sendo que na maioria
das vezes, pass am a atacar 0 professor. Outras vezes, 0 aluno e encaminhado ao
atendimento especializado, mas 0 profissional nao procura fazer uma parceria com
professor e este continua sem saber como lidar com esta crianc;a.
REVISAo DA LlTERATURA
2.1 0 DEFICIT DE ATENi;Ao E A APRENDIZAGEM
As maneiras como 0 individuo responde as situ8<;oes de aprendizagem sao
diversas e tem-se question ado a importancia do conhecimento das modalidades
sensoria is pelo professor, na preven<;ao e intervenyao dos problemas em sal a de
aula.
Conhecer como 0 aluno aprende, inclui, tanto informa90es acerca das
modalidades receptivas mais operativas para urn determinado tipo de estimulo,
quanta aos sistemas receptivos visuais, auditivos, tateis, cinestesicos, responsaveis
pela aprendizagem. Crianyas com dificuldades em reeeber au reter informa9ces, per
meio de algumas dessas modal idades sensoriais, podem apresentar problemas de
escolaridade ou necessitar de esquemas especiais de en sino.
Como a aprendizagem €I uma funcr80 do cerebro, e necessario que
determinadas condic;:oes de integridade estejam presentes, como as funcroes do
sistema nervoso periferico e sistema nervoso central, ja descritas no capitulo
anterior.
Na eXeCUf;;:aOde alguma tarefa 0 fracasso pode se dar em func;ao da
dificuldade em compreender a instruc;ao, por esta nao estar adaptada a modalidade
sensorial, tanto receptiva quanta expressiva.
Muitas crian9as apresentam dificuldades de aprendizagem. Estas
dificuldades podem ocorrer de uma maneira especifica, como dificuldades de leitura,
por exemplo, ou podem ser geral, quando ela apresenta urn aprendizado mais lento
que 0 considerado normal, em uma sene de tarefas diversificadas.
A atenyclo €I fundamental para 0 desenvolvimento da mem6ria e da
percepc;:clo. Acredita-se que €I urn fator basi co para 0 desenvolvimento de toda a
atividade humana, quer pratica, quer intelectiva. Segundo STERNBERG, "a atenc;ao
e a fenomeno pelo qual processamos ativamente, uma quantidade limitada de
informac;;6es, do enorme montante de informac;;6es disponiveis atraves de nossos
sentidos, de nossas memorias armazenadas e de outros processos cognitivos"
(2000, p. 78).
A atenc;;ao, que inicialmente esta apoiada em mecanismos neurologicos
inatos, vai gradual mente sendo submetida a processos de controle voluntario. 0 ser
humano esta constantemente recebendo informac;;6es do ambiente e em todas as
atividades do organismo. No meio ele vai fazendo uma seleC;;ao das informac;;6es
com as quais vai interagir. E ao longo do desenvolvimento que 0 individuo passa a
ser capaz de dirigir voluntariamente sua atenc;;ao para elementos do ambiente que a
ele sao relevantes.
Esta relevancia da atenc;;ao voluntaria esta relacionada as atividades
desenvolvidas pelo individuo e ao seu significado, atraves da relac;;ao desenvolvida
entre ele e 0 meio.
Apesar do homem desenvolver os processos de atenc;ao voluntaria, os
mecanismos de aten'tao involuntaria continuam presentes nele, como por exemplo,
ruidos fortes ou movimentos bruscos, continuam a despertar a aten't3o do individuo.
Par tras da atenc;ao voluntaria ou tambem cham ada espontanea, esta a lei
do interesse. Aqui 0 objeto por si s6, atrai a sujeito. A imaginac;;ao ou inteligencia
desempenha papel importante para que 0 objeto desprovido de atrativo imediato
venha a ocupar 0 foco da consciencia. Esta ateny30 esta relacionada com a vida
sensitiva, onde os estimulos despertam a atenC;;3o, independentemente do conteudo
atual da consciencia au de seu passado psicol6gico. Para FONSECA, "as crianc;;as
com D.A. apresentam normalmente problemas de seleC;ao, quando dais au mais
estimulos estao presente. A existencia de estimulos competitivos perturba essas
crianc;as, tanto ao nivel visual como auditivo~ (1995, p. 253).
Oesde 1902 foi observado deficit de atenc;ao, 0 qual recebeu, ao longo dos
anos, varias denominac;6es, como: Deficit de Atenc;ao, Hiperatividade, Oisfunc;;ao
Cerebral Minima, Deficit de MotivaC;:8o, Problemas de Aprendizagem e outros.
A desaten~o, que ocorre freqOentemente com as crianc;:as com deficit,
esta relacionada com a motivaC;:8o e prazer pela tarefa. Essas crianc;:as sao
particularmente incapazes de prestar atenc;:ao a tarefas que consideram entediantes,
repetitivas ou dificeis, e que nao Ihes dao satisfac;:8o.
o deficit de atenc;:ao aumenta 0 risco de fracasso escolar, pois a dificuldade
para manter a atenc;:ao ate 0 fim das tarefas, na sala de aula, contribui para urn fraco
desempenho escolar. 0 aspecto mais marcante consiste nos problemas com a
familia, a escola, os professores e colegas. E uma deficiencia de dificil diagnose e
acarreta as crianc;:as muitos problemas. Um dos efeitos inevitaveis e a perda da auto-
estima. Essas crianc;:as, na maioria dos casas, sao rotuladas como "distraidas",
"agressivas", "desorganizadas", "vivem no mundo da lua" dentre outros, e
geralmente vem apresentar dificuldades no seu desenvolvimento socio-emocional, 0
que interfere diretamente na auto-estima.
o conhecimento, por parte do professor, do tipo de problemas especificos
subjacentes ao disturbio do deficit de atenC;:80 e condic;:ao necessaria para que se
proporcione a res posta adequada as necessidades da crianc;:a. Deve-se ter em
mente suas dificuldades de concentra~o durante urn tempo prolongado, assim
como para selecionar a informac;:ao relevante em cada problema. Havendo interesse,
tanto em nivel de contexto material, quanto humano, existem recursos que vis am
favorecer a aquisiC;:80 de condutas sociais adaptativas e 0 desenvolvimento do
autocontrole nas crianc;:as.
Uma vez que a tarefa educacional esta alem da mera transmiss80 de
informac;:oes, deve-se planejar tarefas que potencializem a interaC;:8o cooperativa
entre iguais, e que permitam a ajuda eficaz por parte dos colegas mais adiantados. A
que se favorecer a participa~o das crianc;:as na elaborac;:ao e aplicaC;:80 das norm as,
de forma que 0 controle externo nao dependa exclusivamente do adulto, mas sim do
proprio grupo, no qual 0 individuo tenha se integrado. E a busca de urna estrutura
educacional que leve em conta as diferen~as individuais, adaptando-as aos
conteudos e estrategias didaticas, as capacidades e necessidades especificas de
cada crianc;:a.
A maioria das crian~as com deficit de atenc;:ao necessitam de treino para
que possam ser bem-sucedidas na aprendizagem. Precisam aprender a escutar 0
que realmente necessitam para que obtenham resultados positiv~s.
A utilizac;:ao de tecnicas visuais e tateis, com exercicios associados as
estrategias auditivas, onde 0 professor busca tornar 0 seu material de aula mais rico
e interessante, elaborado com a participac;:ao das crianc;:as - para que estas interajam
no momenta da cogni~ao - aprendendo desta forma a hora de escutar e a hora de
falar, tende a beneficiar nao 56 as crianc;as com deficit de atenc;:ao, mas a todos os
alunos.
Busca-se, em um primeiro momento, a identificac;:ao da causa do problema
de aprendizagem, atraves de uma intervenc;ao especializada, porque apesar do
aprender ser urn processo natural, resulta de uma complexa atividade mental, na
qual estao envolvidos processes de percepc;:ao, pensamento, mem6ria, emoc;:oes,
conhecimentos previos, etc.
Atraves do diagn6stico clinico, com aplicac;:ao de testes, desenhos,
atividades pedag6gicas, jogos, brinquedos, etc., - recursos estes que se constituem
em urn importante instrumento de linguagem e revelam dados sobre cada pessoa -
que muitas vezes sao segredos ate para as mesmas, identificar-se-a 0 deficit, ou
nao, de atenc;:ao, como causa do problema de aprendizagem e junto com 0 paciente
elaborar-se-a um plano de intervenc;:ao.
to
2.2 0 TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENc;:AO/HIPERATIVIDADE (TDAH) -
HISTORICO
Com freqGencia aparecem nos consultorios, crianc;as com a queixa de que
sao desinteressadas, naD prestam atenc;:ao, tern devaneios e dificuldades de
concentraC;80, naD tern 50ssego. Surgem queixas de que fazem movimentos
desnecessarios com 0 carpa, que tern muita energia e naD conseguem ficar quietas.
E tanto as professores quanta os pais, naD sabem como lidar com elas, para
melhorar seu desempenho escolar.
o canceito sabre a hiperatividade partiu da construyao do pensamento
medico, sendo classificada como doenc;a neurologica, paralelamente a observac;ao
dos disturbios de aprendizagem.
Historicamente se sabe que 0 medico grego GALEN foi urn dos primeiros
profissionais a prescrever 0 6pia para a impaci£mcia, inquietac;ao e c61icas infantis.
Em 1890, sintomas de desatenc;ao, impaci~ncia e inquieta9ao, assim como tambem
um modelo similar de conduta, exibido por individuos retardados, sem hist6ria de
trauma, ja eram Irabalhados par medicos da epoca (BENCZIK, 2000, p. 15).
Foi STILL, em 1902, que descreveu um problema verificado em crianyas
por ele tratadas, denominado como um defeito na conduta moral. Ete entendeu que
este problema resultava em uma inabilidade da crianc;a para intemalizar regras e
limites, assim como apresentavam inquietac;:ao, desatenc;ao e impaciencia. Para ele
esses comportamentos poderiam ser resultado de danos cerebrais, hereditariedade,
disfunyao ou problemas ambientais. Assim como tambem nao acreditava que estas
crianc;as poderiam ser ajudadas, e que elas deveriam ser institucionalizadas, ja em
idade bastanle precoce (ibid., p. 18).
STRAUSS (1918), citado par SOUZA (1995, p. 49), levanta a hip6tese de
que os disturbios de aprendizagem e os de comportamento, poderiam ter como
base, uma lesao cerebral minima. Partindo-se apenas de dados do "raciocinio clinico
tradicional", sem qualquer evidEmcia empirica.
"Fai par volta dos anos 1917 e 1918, que HOHMAN descreve, aqui citado
por GOLDSTEIN e GOLDSTEIN (1990, p. 64), e tambem por BENCZIK (2000, p.
21), que a partir de uma erupyao de encefalites, observou-se que havia urn grupo de
crianyas fisicamente recuperadas das encefalites que apresentavam inquietayao,
desatenyao, eram impacientes e hiperativas, sendo que nao apresentavam estes
comportamentos antes da doenya. Aventou-se que resultaria de urn mesma nivel de
prejuizo cerebral, causado pelo processo de doen9a, descrito como uma desordem
pos-encelalitica. Relor,ando essa teoria tambem BENDER (1942), citado por
BENCZIK (2000, p. 25).
Fai na segunda Guerra Mundiat,que pesquisadores tiveram a oportunidade
de estudar uma ampla variedade de prejuizos da guerra, incluindo as traumas
cerebrais. 0 estudo neurol6gico das les6es locais do cerebra pode ser considerado
como a principal origem dos conceitos modemos da organiza~ao funcional do
cerebra (LURIA, 1979, p. 42). Nessa epoca, descobriu-se que 0 prejuizo de qualquer
parte do cerebra, freqOentemente, resultava em comportamentos de desaten~ao,
inquieta~ao e impaciencia. E apoiou-se na no~ao de que crian<;:as com estes
sintomas foram vitimas, de alguma forma, de prejuizos e disfun~ao cerebral.
STRAUSS e LEHTINEM, citado por SOUZA (1995, p. 62), lizeram distin,8o entre
retard ados ex6genos e end6genos, sendo a causa dos primeiros, uma Iesao
cerebral e, dos segundos, uma degenera~ao hereditaria. Foi par volta da decada de
40 que surgiu a designa~ao de Lesao Cerebral Minima (LCM). Apoiando-se nas
evidencias que demonstravam associa~6es de altera~oes comportamentais,
principalmente hiperatividade, com les6es do sistema nervoso central, ocorreu uma
mudanya nos focos das pesquisas, em func;ao das dificuldades para objetivar a
existencia desta lesao, surgindo a partir de entao, outras inumeras denomina~6es.
A partir de 1962, quando nao se confirmou a hip6tese de Iesao cerebral, as
crian~as foram entao referidas como exibindo uma "disfun~ao cerebral", sendo que a
partir de entao, a sindrome foi denominada Oisfun9ao Cerebral Minima (OCM). Esta
12
5e refere a crianc;as com inteligencia proxima da media, media e superior a media,
com problemas de aprendizagem e/au certes disturbios de comportamento,
associados a discretos desvios de funcionamento do sistema nervoso central. Esses
sao caracterizados par comportamento hiperativo, deficiencias percetivo-motoras,
instabilidade emocional, deficiemcias da coordenac;ao geral, disturbios de atenc;.3o -
aten,ao escassa, distra,ao e persevera,ao, segundo CLEMENTS (1966), citado por
GORODSCY (1991, p. 3). Nao ha unanimidade quanta a aceitac;:ao do termo
Disfunc;.3o Cerebral Minima, nao sendo passive] distinguir 0 cerebro estruturalmente
anormal do cerebra funcionando anormalmente.
Surge tambem a partir de 60, a necessidade de definir essa sindrome, sob
uma perspectiva mais funcional, enfatizando-se a caracteriza9ao da hiperatividade
como sindrome de conduta, sendo a atividade motora excessiva como sintoma
primordial. 0 DSM-II utilizou 0 termo Rea9ao Hipercinetica para descrever a
sindrome.
A Classifica<;:ao Internacional das Doen<;:as, 0 C1D-9, na decada de 70,
denominou de Sindrome Hipercinetica. Ainda nessa decada muitos investigavam a
sindrome da hiperatividade. DOUGLAS, do Canada, citado por EDWARD e JOHN
(1999, p. 20), encontrou quatro caracteristicas principais para relatar no quadro
clinico: (1) deficit de aten,ao e esfor,o; (2) hiperatividade; (3) problemas na
regula9ao do nivel de vigilia; e (4) necessidade de refor<;:o imediato.
Fo; na decada de 80, a partir de diversas investiga<;:oes, inclusive de
DOUGLAS, 0 DSM-III alterou 0 termo para DistLtrbio do Deficit de Aten<;:ao, sendo
ressaltados os aspectos cognitivos da defini<;:aa da sindrome, principalmente 0 deficit
de aten<;:ao e a falta de autocontrole au impulsividade. Em 1987, ocorrendo uma
revisao, 0 DSM-III, enfatizou novamente a hiperatividade, alterando 0 nome do
transtorno para Disturbio de Hiperatividade com Deficit de Aten<;:ao. Nessa revisao
as seguintes condi<;:oes sao diferenciadoras do disturbio: para crian<;:as com
quociente intelectual dentro da normalidade, devem estar presentes, manifestos no
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periodo continuo de seis meses, oito dos seguintes sintomas:
1. a crianifa mestra, frequentemente, inquietude com as maDS ou com as
pes;
2. mostra dificuldades em permanecer sentada, quando e solicitada;
3. distrai-se facilmente par estimulos ambientais, sem relevancia com a
situa~o presente;
4. apresenta dificuldades em esperar a sua vez;
5. freqOentemente responde as questoes antes de serem completadas;
6. mostra dificuldade em seguir instru90es;
7. apresenta dificuldade em manter atenc;:ao em tarefas e jogos;
8. freqGentemente muda de uma atividade incompleta para outra;
9. mostra dificuldade em jogar de modo silencioso;
10. freqOentemente fala excessivamente;
11. freqOentemente interrompe as outros;
12. freqOentemente a crian<;a parece nao ouvir 0 que esta sendo dito a ela;
13. freqOentemente perde 0 material de tarefas;
14. freqOentemente entra em atividades fisicamente perigosas, sem
considerar as conseqOencias.
Em 1982, 0 National Institute of Children Health and Human Development,
atraves de conferencias apresentadas, procurou um consenso interdisciplinar sobre
hiperatividade. Assim foi aceita como usindrome, considerada como problema
medico complexo, que abrange inumeros aspectos neuroimunendocrinol6gicos,
pedic'itricos, psicol6gicos, s6cio-escolares e, ate mesmo legais (envenenamento por
drogas)" (apud GORODSCY, 1991, p. 8).
Sao diversos os fatores que pod em estar relacionados a sindrome, tendo
como variaveis dependentes a atividade motora excessiva, ou a hipercinesia, a
dificuldade em aten<;ao concentrada e 0 comportamento impulsivo. Como fatores
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predlsponentes a sindrome, foram considerados na Conferencia:
1. prematuridade, anorrnalidades do sistema nervaso central, trauma de
crania, Iesac cerebral e infec90es;
2. doenC(as da tire6ide;
3. deficiemcia vitaminica;
4. envenenamento par chumbo;
5. vazamento de radia<;8o.
Nao existe evidencia empirica na literatura medica para algumas tearias
que associam 0 TDAH com intoxica98o par determinadas 5ubstancias, como
chumbo, aditivos alimentares, a9ucar, au com teorias ortomoleculares de
necessidade de vitaminas ou nutriente (FICHTNER, 1997, p. 109).
Crian~s cujos diagn6sticos estao associados a esses fatares, constituem
o grupo de hiperatividade prevalecente. Apresentam, geralmente, movimentos
grosseiros, defeitos de visao, audi'tao e quociente intelectual baixo, caracterizando
retardamento mental. sao relacionados como correlatos a hiperatividade das
crian'tas estudadas, disturbios de aten'tao e desarmonia especfficas do
desenvolvimento,
Tem aumentado muito, nas ultirnas decadas, 0 conhecimento cientifica das
causas e suas influencias sabre 0 cerebro e 0 comportamento humano. Mesmo
assim, ainda e incipiente esse conhecimento, tendo-se mais hip6teses do que
certeza sobre a assunto.
Foi em 1994 que 0 Manual Diagn6stico e Estatistico das Doen'tas Mentais,
o DSM-IV, denominou como Transtomo de Deficit de Aten'tao/Hiperatividade,
utilizando como criterio dois grupos de sintomas: a) desaten'tao, e b)
hiperatividadelimpulsividade. Tambem pode ser caracterizado em tres tipos: a)
DOAH com predominio de sintomas de desaten'tao; b) OOAH com predominio de
sintamas de hiperatividadelimpulsividade; c) DDAH do tipo combinado.
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Ainda hoje naD S9 tem urna defini930 conclsa para 0 DDA Estas defini<;:oes
concentram-se, com freqOencia, nurna parte OUDutra da sindrome, hipervalorizando
este au aquele aspecto. Na nomenclatura formal tem-S9 apenas dais subtipos de
DDA: com hiperatividade e sem hiperatividade.
Qutros subtipos, nem todos formalmente reconhecidos, uteis na
identifica<;:2o das formas mais comuns e distintas de manifesta<;:ao do DDA, serao
citados e descritos posteriormente: (HALLOWELL e RATEY, 1999, p. 32)
1. DDA sem hiperatividade;
2. DOA com ansiedade;
3. DOA com depressao;
4. DDA com Qutros disturbios de aprendizagem;
5. DDA com agitat;Ao au mania;
6. DDA com abuso de substancias;
7. DDA na pessoa criativa;
8. DDA com comportamento de alto risco, ODA com estimulos fortes;
9. ODA com estados dissociativos;
10. DDA com caracteristicas de personalidade limitrofe:
11. DDA com disturbio de conduta ou disturbio de oposic;ao (em crianc;as),
ou caracteristicas de personalidade anti-social (em adultos):
12. DDA com disturbio obsessivo-compulsivo.
o C1D-10 classifica a atenc;ao comprometida e hiperatividade como
transtornos hipercineticos, tendo p~r caracteristica uma combinayao de urn
comportamento hiperativo e pobremente modulado, com desatenc;ao marcante e
falta de persistencia, em atividades que requeiram envolvimento cognitiv~.
TendEmcia a mudar de uma atividade para outra sem completar nenhuma, junto com
uma atividade excessiva, desorganizada e mal controlada.
Nos meios psiquiatricos europeus e norte-americanos 0 comportamento
16
hiperativo de crianc;as tern recebido ateny30 especial pelo peso que Ihes e atribuido
como fator de risco, de disturbios psicopato16gicos de clinica de adultos, tais como:
esquizofrenia, alcoolismo e toxicomanias, a partir de estudos longitudinais
epistemol6gicos.
Estudos realizados por TARTER (1983) e por GtTIELMANN (1985),
citados por GORODSCY (1991, p. 13), constataram que adotescentes e aduttos
hiperativos na infancia continuam buscando clinica pSiquiatrica par apresentarem
sintomas evidentes des sa sindrome, acrescidos ou transformados em Qutras
patologias, tais como disturbios de conduta, comportamento anti-social, toxicomania
e dependencia alco6[ic8.
Existe ainda outra linha de pesquisa que neg a a existencia de urna
sindrome de hiperatividade, como tambem, toda visao psicopatol6gica em relac;:aa as
crianc;:as que expressam movimentac;:ao excessiva e desatenc;:ao. Enfatizando autros
aspectos, tais como: 0 controle rigido de instituic;:6es s6cia-educacianais e a pouca
continencia intraindividual de crianc;:as, sendo incompreendidas par serem menos
passivas e mais travessas em classe.
Para ROSS (1979), citado por GORODOSCY (1991, p. 17), crian<;as com
disturbios de aprendizagem sao muitas vezes descritas como hiperativas. Para 0
autor, esta correlac;:ao nao revela a respeito da direc;:ao da relac;:ao; se e a
hiperatividade que causa disturbios de aprendizagem, se os disturbias tomam as
crianc;:as hiperativas, ou, se as dOis fenomenos tem fator comum que contribui para
que ambos cantinuem desconhecidos, pais nao existem evidencias que corrobarem
para argumentar-se que tanto 0 disturbio de aprendizagem, quanta a hiperatividade,
sejam causadas p~r anormalidades identificaveis no cerebra. Para a autor, a
hiperatividade e apenas uma palavra que descreve comportamentos observados,
revelando apenas que a crianc;:a assim designada movimenta-se muito.
17
2.3 CARACTERisTICAS DO TRANSTORNO DE DEFICIT DE ATENi;:AO -
HIPERATIVIDADE
o Transtorno do Deficit de Atencao - Hiperatividade (TDAH) e descrito
pelo Manual para Diagnostico de Saude -IV (DSM-IV), como um problema de saude
mental, considerado como urn disturbio bidimensional, envolvendo a atenc;;ao e a
hiperatividade/impulsividade.
Esse transtorno tern grande impacto na vida familiar, escolar e social da
crian.ya, tendo como caracteristica, urn padrao persistente de desaten980 e/ou
hiperatividade. Sao freqOentes as queixas, como: problemas para focalizar e prestar
aten980: expressar dificuldades para pres tar aten9ao a detalhes; manter atenc;;ao
nas tarefas particulares; ouvir instrU(~:5es e terminar a que comeyou. Social mente eimaturo e inca paz, OU com dificuldades para fazer amigos. Os professores se
queixam que 0 aluno com TOAH e inquieto, perturbando os colegas, pois vive
perambulando pela sala, falando com outras crian<;as, enquanto estas estudam.
Os sintomas do TOAH pedem surgir nos primeiros anos de vida.
Oepoimentos de maes de portadores desse transtomo, relatam que a crian<;a
apresentou um "comportamento dificil" desde que come<;ou a dar os primeiros
pass os. Aos 3 anos se mostrava insuportavelmente inquieto e exigente,
necessitando de pouco sono, despertando per volta de 4h30 ou Sh. Estudos atuais
mostram que os sintomas tambem podem aparecer em uma idade mais avan<;ada -
ate par volta dos 12 anos (DSM-IV, 1994).
Os sintomas tomam-se rna is graves geralmente com e ingresso da crian<;a
na escola, porque durante 0 processo de aprendizagem a mesma necessita focar,
mais que as outras, sua aten<;8e e tambem permanecer sentada. Periodos de
aten<;80, com uma inquieta<;80 motera, fieam aquem das expectativas da idade da
crianc;a.
Entre 0 nivel de desenvolvimento cognitive e os problemas de autocontrole
ha uma discrepancia, mostrando crianc;as mais imaturas do que geralmente S80.
IS
Esses sintomas fazem com que, muitas vezes essas crianc;as sejam rotuladas como
desobedientes, preguic;osas, mal-educadas e inconvenientes. Tern dificuldades para
corresponder as expectativas dos adultos, tamanda 0 ambiente em que convivem,
na majaria das vezes, estressante.
Sao crianc;:as impulsivas e geralmente superativas, demonstrando niveis de
atenc;ao inapropriados para a idade. 0 TDAH pade apresentar problemas de
conduta, agressividade, como tambem, pobre rendimento escolar au problemas de
aprendizagem. Apresenta baixa tolerancia a frustray8o. Em func;:ao das repetidas
frustrac;:oes vividas, apresenta uma baixa auto-estima.
o transtoma compromete, de modo mareante, a vida da crian~ e tambem
ados adultos que a cercam, em funCf8,odas dificuldades que a mesma apresenta no
controle de impulsos, concentraCf8,o, memoria, organizaltao, planejamento e
autonomia. Tendo-se portanto, uma pluralidade de dimensoes implicadas, tanto
comportamentais, quanto intelectuais, sociais e tambem emocionais.
Autores como HALLOWELL e RATEY (1999) classilicam Transtomo de
Delicit de Aten~ao/Hiperatividade em Disttirbio do Delicit de Aten'<iio (DDA) e este
em varios subtipos, a saber:
1. DDA sem hiperatividade: como 0 DDA foi descrito pela primeira vez
em crianltas com sintomas de hiperatividade motora, a com preen sao da
desordem esta fundamentada nesses estudos. Mas ha crianltas e
tambem adultos com todos os outros sintomas, sem serem hiperativos,
apresentando lentidao em nivel motor, sonhadores, pensamento longe,
com dificuldades para completar suas tarefas, tendo como principal
sintoma a distraltao. Padem apresentar 0 sintoma e passar
despercebidos. Este subtipo e mais freqOente em meninas.
2. DDA com ansiedade: neste casa nao e a impulsividade ou desatenlt30
que incomoda e sim a ansiedade cronica que a pessoa sente par nao
conseguir lembrar de suas obriga~6es, nao conseguir cumprir os
19
prazos, au mesma sa perguntando 0 que vai dar errado. Esta sempre
apreensiva, constantemente preocupada, mesma que 0 problema seja
trivial.
3. DDA com depressao: a pessea nutre desde a infancia, urna sensac;:c3o
de frustrac;:ao e fracas so cronicos; au pelas varias rotulac;:6es que sofreu
ao longo da vida, au por nao ter conseguido fazer usc de seu potencial.
Embera sejam persistentes e ate seja diffcil ve-Ias derrotadas, sentem-
se deprimidas. Neste case nao 56 as experiemcias ao Iongo da vida
podem interferir, mas 0 DDA e a depressao biologica podem ser
genetica e fisiologicamente relacionados. James HUDSON e Harrison
POPE, da Harvard Medical School, citados por HALLOWELL e RATEY
(1999). atraves de pesquisas, perceberam fortes indicios de urna
ligac;;:ao fisiologica entre os oito disturbios que eles incluem no ~espectro
afetivo~. No entanto, 0 humor do portador de DDA e mais freqOente,
tendo uma tristeza ou falta de prazer associados, mas isso nao 0
classifica como depressivo, nem sugere que toda depressao se deva ao
DDA, no entanto, algumas pessoas que estao sempre tristes, tern de
fato, 0 DDA.
4. DDA com disturbio de aprendizagem: neste caso 0 sofnmento,
causado p~r urn distllrbio de aprendizagem, nao e unico, mas a propria
desconexao que a aprendizagem sofre, relacionada a linguagem, ao
pensamento, a expressao e a criatividade, ate mesmo "permitindo~ que
as pessoas interfiram na sua vida diana. E importante saber que 0 DDA,
rnuitas vezes, esta associado a outras dificuldades de aprendizado.
PENNINGTON, citado por HALLOWELL e RATEY (1999) traz, que na
moldura neuropsicologica 0 DDA e urn entre varios disturbios de
aprendizagem e esta relacionado a urn problema no sistema
neuropsicol6gico que acaba afetando, de modo adverso, 0 desempenho
20
escolar. Portanto, a DDA e um tipo de disturbio de aprendizagem e
como ateta todas as areas da cogni~ao, tende a exacerbar Qualquer
dificuldade especifica de aprendizagern.
Tem-s9 diferentes tipos de dificuldades entre as de base neurologica,
alguns ligados problemas com rela~5es espaciais,
conceitualiZ8ct80, a memoria e ao processamento de dados. A
identific8980 do tipo de problema vai ajudar a pessoa a aprender a
conviver com ele da melhor maneira passive!. Urn disturbio de
aprendizagem ja e uma luta bastante ardua. 0 preconceito ainda
existente entre as Yconsiderados norma is" que utilizarn urna serie de
r6tulos, tais como: estupido, pregui90so, desatento e Qutros mais, para
designar essa pessoa, fazendo com que a auto-estima fique ainda mais
abalada.
5. DDA com agitac;ao ou mania: 0 que caracteriza a doen/fa maniaco-
depress iva sao as varia/foes de humor: da excita/fao a depressao. No
DDA, a humor muito exaltado, chamado erroneamente de mania, pode
assim ser lembrado. 0 que diferencia a mania da alta energia do DDA e
a nivel de intensidade. 0 maniaco, por exemplo, pode passar dias sem
dormir, ficar falando sem parar da manha a noite, mudar totalmente 0
pensamento de um t6pico a outro, ja no DDA, embora ele nao tenha
uma conexao continua de pensamento, os saltos nao ocorrem de forma
tao subita nem sob tanta pres sao, e mesmo sendo uma pessoa
;rrequieta e cheia de energia, nao pode ser comparada ao maniaco.
Pode ocorrer de a pessoa com DDA e alto grau de agita/fao receber 0
diagn6stico incorreto de doen/fa maniaco-depress;va.
6. DDA com abuso de substancias: pes so a que e alc06latra, faz uso
abusiv~ de cocaina; e dependente de maconha; faz com que se fique
preocupado com os problemas causados pelo uso da droga e nao se
21
percebe a que prop6sito a droga deve estar servindo ao u5uario. 0
DDA pode ser uma das causas ocultas do abuso de substancias. Para
Edward KHANlZIAN, citado por HALLOWELL e RAlEY (1999), 0 uso
de substancias funciona como uma automedicac;:8.o, par meio da qual as
pessoas tratam algum sentimento ruim aGulta, alguma afli98.0
emocional. Par S9 sentirem mal sem saber 0 porque da ansiedade, da
agitac;:ao, da desconcentraC;:8o, e par naD conseguirem definir e
entencter 0 que 0 leva a essas emo90es, usam drogas e nem S8 daD
conta que estao mascarando 0 problema. 0 DDA naD diagnosticado
pade leva it interpretayao que seu porta dar e usuario de drogas.
7. DDA na pessoa criativa: a criatividade e definida par HALLOWELL e
RATEY, "como uma tenctencia a ver as aspectos da vida de novas
maneiras, a combinar fragmentos da experiencia pessoal de formas
diferentes, a dar forma a novas ideias" (1999, p. 217). No DDA a
criatividade pode aparecer uma vez que a propria mente 0 favorece.
Geralmente tern mais tolerancia ao caos, uma vez que, por serem
pessoas distraidas sao bombardeadas de esUmulos por todos os lados,
favorecendo a criatividade. A incerteza com que reagem a maioria dos
estimulos, permite "que essas mensagens sofram metamorfoses antes
de se solidificarem na mente" (ibid., p. 218). Outro elemento que
possibilita a criatividade e a propria impulsividade. 0 pensamento
criativo nao e planejado e ocorre de forma espontanea, sem
planejamento de a~o. 0 terceiro elemento e a inconstancia de
atenyao, ou seja, capacidade de concentrar-se intensamente ou
hiperconcentrar-se alguma vezes. Pode a mente divagar, mas no DDA,
urn projeto pode se tomar uma obsessao.
o quarto elemento Russel BARKLEY, citado por HALLOWELL e RAlEY
(1999), chamou de "hiper-reatividade", mais comum que a
22
hiperatividade, leva 0 ODA a reagir, mesma quando pareee calmo,
estando sempre agitado par dentro, colocando sempre 0 cerebra em
constants funcionamento. 0 importante e canalizar esta energia de
forma criativa.
8. DDA com comportamento de alto risco, au DDA com estimulos
forte: a crianya hiperativa com DOA tende a buscar estimulos fortes.
Procura estar sempre em ayao, atras de novidades e excitac;:ao.
Pessoas com esta sindrome, quando adultas, podem S8 envolver com
jogos, buscando emo90es e com isso tsr problemas com esbanjamento
cranico. Podem tambem apresentar comportamentos de vieio,
temperamento explosivo, comportamento violento, romances
turbulentos, propensao a acidentes e Qutros disturbios do controle de
impulsos, como a cleptomania e a piromania, ou tudo que leva ao alto
risco.
9. DDA com estados dissociativos: tem-se uma certa dificu!dade para
determinar com exatidao 0 que faz uma pessoa ser Udistraida". Pode-se
incluir na !ista de distratibi!idade 0: DDA; de pres sao; uso ou abstinencia
de drogas; estresse; disturbio convulsivo; cafeinismo; falta de sono;
fadiga e disturbios dissociativos. Sendo muito importante um
entendimento exato da causa de um sintoma, para que se faya um
diagn6stico.
Um estado dissociativo e aquele emocionalmente neutro, onde ocorre
um corte que separa a pessoa da situac;ao externa e de seus
sentimentos internos. Uma situayao traumatica, como abusos infantis,
pode levar a pessoa a entrar em um estado dissociativo para fugir da
dor. Essa dissociac;ao que 0 trauma produz pode assemelhar-se ao da
distray8o, causada pelo DDA. Muito importante e considerar a historia
do individuo para ver se algo sugere 0 DDA, ou se foi vitima de algum
trauma.
10. DDA com caracteristicas de personalidade limitrofe:
personalidade limitrofe se refere ell linha fronteiric;a entre a psicose e a
neurose, onde 0 individuo tem urn senso de si mesmo, fracamente
definido. Na mesma medida que busca relacionamentos com desejos
ardentes, em contrapartida foge da intimidade tao logo se estabelec;a.
Sente impulsos suicidas, com grande sofrimento psiquico, cheio de
odio, medo e depressao. Geralmente as tentativas de suicidio nao
terminam em morte porque a prop6sito maior e uma busca de alivio
interno, para conter a emOC;aomonstruosa que cresce dentro dele.
o limitrofe e extremamente sensivel ell rejeiC;ao, podendo, sem motivo
aparente, sentir um 6dio dilacerante. Pode procurar nas drogas alivio
para seu sofrimento, tendo uma vida caotica, sofrida, imprevisivel e ate
tragica.
Pode-se encontrar varios pontos de intersec;ao do limitrofe com a DDA.
o "eu" fracamente definido do limitrofe, e, a "eu" distraido e fragmentado
do DDA, carregam a sentimento de raiva devido ell constante frustrac;ao.
Enquanto 0 DDA procura organizar-se ao redor dos estimulos fortes, a
limitrofe procura alivio do sofrimento com estes estimulos. 0 pr6prio
abuso de subs tan cia nao e incomum, tanto no DOA quanta no limitrofe.
Instabilidade de humor e baixo rendimento escolar tambem ocorrem nos
dais. Mais uma vez e extremamente importante urn diagn6stico preciso,
para que 0 tratamento seja adequado.
11.DDA com disturbio de conduta ou disturbio de oposi(fao (em
crianC/as), ou caracteristicas de personalidade anti-social (em
adultos): "Oisturbio de conduta" e "disturbio desafiante", diagn6sticos
que se aplicam a padr6es especificos de comportamento agressivo em
crianc;as. Existem crianc;as que, nao importando a ambiente,
2'1
apresentam grande dificuldade para conviver pacificamente com Qutras
crian9as. Nao sabem respeitar regras nem limites e perturbam 0
trabalho e as brincadeiras das Qutras. Embora haja urn fater genetico
envolvido neste disturbio, a fater ambiental tambem e muito importante.
12.0DA com disturbio obsessivo-compulsivo: RAPOPORT, tambem
citado por HALLOWELL e RATEY (1999), inclui nos sintomas
obsessivo-compulsivos opinioes impulsivas; rituaHsticas;
comportamento compulsivo; repetitiv~; pensamentos intrusivos;
desagradaveis; 5uperstiyoes que controlam 0 comportamento da
pessoa; e, par mais que tente, ha uma falta de vontade de lutar contra
as sintomas. Como 0 DDA, trata-s8 de disturbio de base biol6gica.
2.4 FUNCIONALIDADE DO CEREBRO
A imporUmcia do sistema limbico como determinante na ativac;:ao,
motiva~ao e emo~ao, consiste no fato de que estas estruturas sao mais antigas em
relayao as outras e mantE~m estreita rela~~o com 0 hipotalamo que, por sua vez,
controla efetivamente a gltmdula hip6fise, principal glandula end6crina. A relayao
mutua entre estas duas estruturas e decisiva na regulac;:ao neural da atividade
end6crina. A influencia dos pequenos nucleos do hipotalamo tem enorme
importancia no comportamento sexual, nas atividades de comer, beber, dormir, na
regulac;:ao da temperatura e no comportamento emocional em gerai.
o hipotalamo e urn grupo relativamente pequeno e especializado de
nucleos e celulas cerebra is, localizado na base do cerebro, atras do quiasma 6ptico,
perto da hip6fise. Recebe impulsos nervosos de varias fontes, inclusive dos p610s
frontais dos hemisterios cerebrais e dos 6rgaos viscerais do corpo. Por sua vez,
en via impulsos ao c6rtex e para varios corpos viscerais. Os feixes descendentes
separam-se em ramos que vao para a formac;:ao reticular. Entre as func;:5es
25
controladoras, atribuidas ao hipotalamo, estao as segulntes: rltmo do metabolismo;
excrec;;ao de agua; respirac;;ao; atividade do corac;;ao; controle da temperatura;
pressao do sangue; alimentac;;ao; ingestao de Hquidos.
o hipocampo e um nucleo da primeira unidade funcional. Estudos mostram
que os nlicleos nao especificos do talamo, do nuc!eo caudado e 0 hipocampo estao
estreitamente conectados, do ponto de vista neuronal, com 0 sistema de ativa9ao
reticular. Muitos neurOnios do hipocampo e do nucleo caudado - desprovidos de
fun90es especificas do ponto de vista de modalidade sensoriais - sao responsaveis
pela fun980 de comparar estimulos novos ou bloquear as atividades indesejaveis.
o hipocampo e uma eleva9ao curva e muito pronunciada que se disp6e
acima do giro para-hipocampal. E constituido de urn tipo de cortex muito antigo
(arquic6rtex) e faz parte do sistema Hmbico, tendo importantes fun90es pslquicas
relacionadas com a consolida9ao da memoria e os fenOmenos de aprendizagem e
evoca90es de engram as mentals.
Para recobrar a memoria de urn acontecimento que neo tenha sido
continua mente ensaiado no processo de memoria a curto prazo, 0 pensamento
autoconsciente depende de alguma consolida9ao ou precesso de armazenamento
que e estabelecido pela atividade hipocampal. 0 hipocampo e estruturas associadas
nao sao 0 ponto de armazenamento, mas sua participa980 depende das vias
neuronais que fazem a transmissao do neocortex, havendo diversos abastecimentos
sinapticos em cada estagio do circuito.
Experiemcias mostram a habilidade das celulas granulares do hipocampo
em aumentar suas respostas sinapticas, durante e apos a ativayao repetitiva. Os
circuitos hipocampais agem nas sinapses neocorticais de maneira instrucional. Hacircuitos reverberantes partindo do hipocampo em dire9ao a outras estruturas
limbicas, bem como em dire9ao dos lobos frentais, parietais, temporais, de e para 0
neocortex. 0 papel essencial destes circuitos e a consolida98o dos tra90s de
memoria.
26
Segunda unidade funcional - as regioes laterais do neocortex, sabre a
superficie conV8xa dos hemisferios - incluindo as regioes occipital, temporal e
parietal, respect iva mente areas de receP9ao e processamento das informa96es
visuais, auditivas e sensoriais, formam a unidade para reeeber, analisar e armazenar
informac;oes. Oessas regioes dependem as comportamentos 16gicos e objetivos.
Essas zonas sao semelhantes a banco de dados respondenda as chamadas do lobo
frontal para todas as informac;oes necessarias.
A Segunda unidade e formada por neuronias isolados daqueles da primeira
unidade. Possuem grande especificidade modal. Recebem impulsos individualizados
dos receptores perifericos e as transmitem para os outros centros.
A Segunda unidade funcional do cerebro e caracterizada p~r uma
hierarquizayao neuronal. A atividade de receber, analisar e processar as
informac;:oes segue uma direc;:ao ascendente das areas primarias para as
secundarias e terciarias.
Terceira unidade funcional - os lobos frontais - giro pre-central e zona pre-
frontal - e as vias de saida da area 4 de Brodmann, predominantemente celulas da
camada IV, formam a unidade para regular programas e verificar a atividade
humana. Sao os niveis elevados de criac;:ao de intenc;:6es, de formac;:ao de pianos; e
a regiao responsavel pela programac;:ao de ac;:oes 16gicas, inteligente e adaptadas.
Os lobos frontais possuem um sistema muito rico de conexoes com os
niveis inferiores do cerebro (mediais, ventrais, talamlcos e outros). Essas conex6es
sao de natureza bidirecional e colocam as divisoes pre-frontais em posic;:ao favoravel
para a coordenayao do complexo Sistema de impulsos aferentes e eferentes de
todas as outras estruturas.
Os pacientes atingides per uma lesao dos lobos frontais tornam-se
psiquicamente labels, de humor varia do, euf6ricos au excitaveis, impulsivos;
demanstram madificac;:6es da personalidade, falta de planejamenta previa; tarnam-se
pouca dig nos de confianc;:a, grosseiros, inconvenientes, frivalos e irasciveis. Apesar
27
da aparente inteligencia freqOentemente envolvem-se em conflitos sociais,
apresentando irritabilidade facit, tendencias perversas e instintivas.
Disturbios nos tobos frontais podem levar as estereotipias, perseverac;:6es e
a fix8C;80 em detalhes menes importantes como forma substitutiva de
comportamentos complexos e inteligentes. Ha urn deficit de atenC;80 acompanhado
de incapacidade para utilizar as engramas mentais nurn trabalho de analise e
sintess.
2.5 NEUROPSICOLOGIA E APRENDIZAGEM
A aprendiz8gem integrativa e de dificil descriC;8o neuropsicologica, seu
funcionamento e intra e intemeurosensorial e nac esta implicito que a integra~o
ocorre ou nao, au que possa ser dicotomicamente diferenciada de Qutros aspectos
da aprendizagem. Mas, todos tipos de aprendizagem incluem algum nivel de
integrayao.
Estao incluidas na defini9ao de disturbios neuropsicol6gicos de
aprendizagem as deficiencias no funcionamento integrativo. Sistema semi-autonomo
e outro aspecto que deve ser levado em conta, 0 qual pressupoe que a informayao
recebida par urn canal sensorial determinado pode impedir a integra9ao da
informa9ao recebida por outra fonte. Exemplificando: crian9as que nao olham para a
interlocutor, pOis privilegiam 0 canal auditivo e assim 0 compreendem melhor;
tambem ha crian9as que rejeitam informa90es auditivas em favor das visuais.
E atraves da aten9ao, em certo aspecto, que 0 processo integrativo e
iniciado. Uma informa9aO recebida par uma dada modal ida de sensorial impede a
integrayao das recebidas por outros canais. Ja a superestimula9.30 causa uma
parada generalizada nos processos neurol6gicos e tem implica90es nao s6 em
reduzir as habilidades para a compreensao como tambem ao bem estar em geral.
Disturbios neuropsicol6gicos da aprendizagem podem ser descritos e
categorizados de diferentes formas. Sob 0 ponto de vista de hierarquia de
28
experiencias temas:
a) Sensac;ao: A falta de recepc;ao desse estimulo produz a cegueira e a
surdez, que sao produto do envolvimento de sistemas perifericos,
causando privac;:ao sensorial. E 0 nivel mais baixo de ativa9ao das
estruturas sensoriais.
b) Percep~a.o: Nao se tern 0 conhecimento da exata natureza
neuropsicol6gica deste disturbio. Estudos definem que 0 deficit
neurol6gico consiste numa conversao inadequada de sensa90es em
impulsos eletricos. De acordo com a referencia hierarquica, urna
desordem perceptual tern reciprocidade nos disturbios de todas areas
aeima dele.
c) Imaginac;ao: Fica dificil distinguir entre as processes de percepCfao e
memoria sem 0 conceito de imagens mentals. Par algum tempo as
imagens mentais, como processo, foram negligenciadas tanto em
psicologia quanta na educayao. Enquanto a percep9ao se refere a
sensa90es ou informa90es ja recebidas e percebidas, as imagens
menta is podem ser consideradas como uma forma de descrever alguns
dos processos sob 0 nome de memoria.
Nos disturbios de aprendizagem dois tipos de imagens mentais tern
importancia: a audi9ao e a visao, sendo aqui sinonimos de
comportamento verbal simbolico. Quando urn individuo tern imagens
menta is, ele esta retomando certos aspectos de uma experi£mcia, nao
necessaria mente as palavras que devem estar associadas a ela.
Na visao ocorre uma revisualizayao da experiencia assim como se deu
visualmente: ja na audi9ao, a individuo retoma as sons que foram feitos
em realidade como parte da experiencia. Pode ser causa de varias
desordens de aprendizagem a capacidade de identificar certos sons e
29
retoma·los em relac;:ao as experiencias diarias. Essas desordens de
aprendizagem referem-se as desordens nao verbais de aprendizagem,
cnde a crianc;:a tern urn disturbios de percep9ao social, isto e,
inabilidade de identificar e reconhecer imediatamente a significado do
comportamento do Qutro. Podem ser explicadas como deficiencias de
habilidade de aprender da experif~ncia diana e na habllidade de retomar
estas experiemcias na forma de imagens mentais.
d) Simboliza.;ao: refere-se a habilidade para representar a experiencia.
Este comportamento e altamente inclusivo, abordando 0 tipo verbal e
naD verbal. 0 funcionamento simb61ico naD verbal algumas vezes esta
disfuncionado, causando deficits na habilidade para aprender a prever e
retomar tempo, altura, volume, tamanho, distancia e outros aspectos
qualitativos da experiemcia. Em func;ao da linguagem algumas vezes a
crianc;a se sai bern nas fun«;:oes verbals, mas nao consegue formular
julgamentos em relac;ao a grande e pequeno, perto au longe,
deficiencias estas de grande relevancia na vida diaria que devem ser
consideradas como desordens do comportamento simb6lico.
Sao os processos de linguagem intema que vao permitir a
transformac;ao da experiencia em simbolos, podendo ser verbais au nao
verbais. Esta Iinguagem interna e aquela com que se pensa. Uma
desordem nesta Hnguagem va; trazer dificuldades em adquirir
significados ou ainda se tera deficiencia na habilidade de transformar a
experiencia em simbolos verbais. Dificuldades no processo da
linguagem podem ser classificada como afasia global ou central.e} Conceitualizar;ao: Nao se inclui somente a habilidade de abstrair
como tambem a de categorizar. Nao e possivel conceituar sem abstrair,
porem nao se pode abstrair sem conceituar.
Na conceitualizaC;ao a abstrac;.3o deve estar incluida, mas 0 fator mais
30
importante e a modo pelo qual a expeliencia e classificada e
categorizada. Oevenda-se sempre levar em conta as interrelac;6es entre
as process os de percep98o, imaginac;:ao, simbolizac;:.3o
conceitualizac;:8o. Deficit em qualquer desses niveis de experiemcia
interfere com a habilidade de formar conceitos, assim como disfunc;:6es
cerebrais interferem nesses process os.
2.6 LlNGUAGEM RECEPTIVA
A lingua gem receptiva e a habilidade de compreender a palavra falada.
Pade ser adquirida atraves de dais canals: visual e auditivD.
Urn comprometimento na recepQ30 afetara a linguagem intema, pois esta
depende dos processes receptivos para se desenvolver. Oesordens de recepc;:ao
auditiva, comumente apresentam comportamentos caracterizados par hiperatividade,
perseveravao, distratibilidade, desinibivao.
A recepyao e a expressao estao em relavao redproca, sendo que a
compreensao precede a expressao e deve ser obtida antes que uma palavra possa
ser usada com significado na comunicav8o.
o amadurecimento das habilidades expressiva e receptiva ocorrem
simultaneamente. Habilidade receptiva predomina no individuo normal que tem um
vocabulario receptivo completo nas formas falada e !ida.
Palavras que tem som e aparencia parecidos podem nao ser discriminadas
par algumas crianvas com disturbios perceptuais, assim como tambem em algumas
crianvas normais. A percepV3o, como um processo receptivo, envolve a
discriminavao, habilidade para distinguir entre sons ou estimulos visuais, assim
como, a capacidade de organizar a sensavao em uma significavao e a estruturavao
da informavao que chega. 0 processo todo da percepvao requer aten~ao,
31
organizac;:ao, discriminac;:ao e 5eI89.30.
2.7 lINGUAGEM EXPRESSIVA
A expressao pressupoe receP9ao. Quando uma crian9a adquiriu unidades
de significado de experilmcia, quando a compreensao esta estabelecida, a crianc;;a
estara pronta para comunicar-se com 05 outros.
A integridade da linguagem receptiva se fevela atraves da forma pela qual
a crianya S8 expressa. Nao tendo lembranya das palavras, sequencias, estruturas
sintaticas, au naD podendo discriminar palavras que soam parecidas, a linguagem
expressiva vai delatar isto.
Problemas como afasia amnesica, cnde palavras naD podem ser
retomadas, a problema nao e trazer a mem6ria a que S9 quer dizer; 0 defeito Dcorre
na associay.3o, na interayao entre as sistemas.
2.8 MEMORIA
E atraves do aprendizado que 0 ser humana assim como os outros animais
adquire conhecimento sabre 0 mundo. A memoria e a reten<;ao ou armazenamento
desse conhecimento.
Quando Broca evidenciou que les6es restritas a parte posterior do lobo
frontal, no lado esquerdo do cerebro produziam urn defeito de linguagem, nao
demorou para que neurocientistas se voltassem para a questao da possibilidade de
localizar a rnem6ria. A principio, a opiniao geral era de que a memoria depende
realmente de muitas regi6es cerebrais.
Foi Wilder Penfield, neurocirurgiao do Instituto Neurologico de Montreal
que, por volta de 1940, come<;ou a usar metodos identicos de estimula<;ao eletrica
para mapear as fun<;6es metoras, sensoriais e da linguagem no cortex humane.
Neste experimento verificou que a estimula<;ao eletrica produzia 0 que ele chamou
32
"res posta experiencial" au retrospecc;ao, cnde 0 paciente descrevia uma recordac;ao
coerente de uma experiencia anterior. Estas respostas eram semelhantes a memoria
apareciam samente quando eram produzidas par estimulayao dos lobes
temporais, mas, tambem neste lobo, 56 ocorriam ocasionalmente. Estes estudos,
portanto, nao fcram convincentes.
No inicio da decada de 1950, com as resultados dos estudos de Brenda
Milner, 0 papal dos lobos temporais na memoria ficou bern mais definido. Atraves de
uma operac;ao efetuada num opera rio com 27 anos que sofria de crises epileticas,
observou-se que, opera do, a paciente passou a apresentar urn devastador deficit de
memoria e perdeu a capacidade de formar mem6rias a longo prazo. Todavia, ficou a
memoria para as eventos de sua vida que haviam precedido a operactao.assim
como, a memoria de curto prazo tambem continuava intacta. Dessa forma, Milner
verificou que as tarefas dos pacientes com lesao bilateral do lobo temporal tern duas
coisas em comum. Primeiro, todas tem uma qualidade automatica. Segundo, as
tarefas nao exigem 0 recordar consciente, nem capacidades cognitivas complexas,
como as de comparactao e avalia9ao. Par exemplo: se apresentado urn quebra-
cabectas mecanico complexo, a paciente podera aprende-lo tao rapidamente como
uma pessoa normal.
o conhecimento de fatos, assim como a codificactao da informactao sabre
eventos autobiograficos, depende de process as como a conhecimento do tipo
avaliactao, comparact30 e inferencia, podendo a memoria explicita, ser recuperada
pelo ato deliberado de recordactao. Alguns pacientes, apos 0 trauma do lobo
temporal, perdem completamente sua capacidade de recordar qualquer evento
experienciado ha mais de alguns minutos antes do trauma, como tambem eventos
dramaticos ocorridos em suas vidas, permanecendo intacta sua capacidade de
recordar seu amplo repertorio de informact0es. 0 que se percebeu, contudo, foj que
lesoes do lobo temporal medial so interferem com a armazenamento a long a prazo
de novas memorias.
33
Memoria implicita inclui as habilidades perceptivas e motoras do
aprendizado e 0 aprendizado de certos tipos de procedimentos de regras, como as
da gramatica. Tern uma qualidade automatica e reflexiva e sua formayao e
recordayao naD e absolutamente dependente da capacidade de ter au tamar
conhecimento au de processos cognitivos. 0 aprendizado que pode ser recordado
automaticamente sem esfofC;o deliberado, e a memorizac;ao das conjunc;oes verbais
de uma lingua estranha, que e dependente significativamente da repetic;ao.
A memoria implicita para uma determinada tarefa deve estar ligada a
atividade dos sistemas sensoria is e motores especificos participantes do
aprendizado desta tarefa.
Identificou-se duas formas rnais irnportantes do aprendizado implicito: nao-
associativo e associativo.
Ocorre aprendizado nao-associativo de duas formas na vida diaria:
habitua<f.3o e sensitiza<fao. A habituaqao e 0 decrescimo da res posta a estimulos
benignos repetidos. A sensitiza<fao e 0 fortalecimento da res posta a am pia variedade
de estirnulos que se seguem a urn estimulo nocivo intenso. Muitos tipos de
aprendizado mais complexo nao apresentam qualquer elemento associativo.
Incluem-se neste aprendizado 0 de imita<fao, um componente importante para a
aquisic;ao da linguagem.
o armazenamento da memoria, a retenc;ao e a perturbac;ao se da em
eta pas. A entrada no cerebro e processada por um deposito da memoria a curto
prazo, sendo que a capacidade deste deposito muito pequena, nao ocorrendo
ensaio, so persiste por periodo de minutos. A informac;ao e, depois transformada por
algum processo, em um deposito a longo prazo. A retenc;ao da memoria pode ser
prejudicada devido a destruic;ao do conteudo de um deposito da memoria. Assim
como, as memorias podem ser perturbadas por interferencia com 0 mecanisme de
busca-e-recuperac;ao.Exemplificando: 0 trauma que so perturba temporariamente
parte consideravel da memoria para eventos passados, quando superado faz com
34
que a memoria retorne gradualmente. Se a memoria armazenada fosse
completamente destruida, obviamente nao poderia ser recuperada.
3 ESTUDO DE CASO CLiNICO
3.1 APRESENTA<;:iio DO CASO
3.1.1 Historia
Este relato representa uma sintese de urn estudo de caso, tendo por
objetivo acompanhar e registrar 0 desenvolvimento do processo psicopedagogico de
uma adolescente de 12 anos, cursando a quinta serie de escola particular, com
disturbios de aprendizagem.
A adolescente foi encaminhada pela escola, onde estudava anteriormente,
por apresentar dificuldades de aprendizagem, demonstrando em seu historico,
varias reprova«oes.
De acordo com 0 relato dos pais, no convivio familiar nao apresenta
dificuldade. Ja no convivio social nao consegue fazer amizades, e muito calada e a
escola se queixou de que ela nao se concentra e demora para concluir as tarefas.
A adolescente que aqui identificaremos por Karin, e filha do segundo
casamento do pai, tendo 4 irmaos mais vethos, filhos biol6gicos do pal. A gravidez
foi rejeitada por parte dos irmaos e a mae nao falava sobre a gravidez, come«ando a
fazer 0 enxoval somente no ultimo m~s.
o parto foi cesarea, tendo que ficar na incubadora durante quatro dias.
Exames posteriores e acompanhamento ate os dois anos de idade na~
apresentaram seqOelas.
Seu desenvolvimento transcorreu dentro dos parametros da normalidade, 0
que vale destacar e que Karin na~ mamou no peito e as pais mantiveram-na
35
dormindo no quarto do casal ate as 6 anos.
Atualmente Karin e a (mica filha em casa e recebe todos as mimos dos
pais e apresenta uma convivenci8 tranqOila com as irmaos. Mestra dificuldades em
retacionar-s8 com colegas de sua idade. Na escala e muito dispersa e naoacompanha as taretas salicitadas, principal mente efetuar c6pias do quadro negro.
3.1.2 Avalia<;ao
Para que a aprendizagem possa acorrer adequadamente e necessaria urn
certo grau de integridade intelectual, motora e afetivo-emocional.
Possivelmente a adolescente po de apresentar alguns conflitos pessoais a
que bloqueia sua capacidade intelectual frente a urn teste, nao apresentando desta
forma 0 seu real potencial,
Para que ocorra a aprendizagem se faz necessario um nivel de matura<;ao,
que depende do interjogo entre fatores: intelectual, emocional e a equipamento
biologico que ela traz ao nascer.
Os meios utilizados, tais como entrevistas, observa<;oes, testes
psicologicos objetivos, exames complementares se fazem necessarios para ter-se
uma compreensao globalizada da crian~a e nao apenas, aspectos ou partes do
comportamento.
Para a obtenc;ao dos dados compreensivos a respeito da dina mica do
psiquismo infant;l, selecionamos tecnicas que permitem analisar a esfera intelectual,
perceptivo-motora e afetivo-emocional.
Karin e submetida a uma avaliac;ao psicopedagogica, composta dos
seguintes passos:
Entrevista
Jogos
Avalia<;ao intelectual (WISC)
Avalia<;ao da estrutura cognitiva (provas piagetianas)
36
Avaliayao pedag6gica
Avaliac;:ao emocional (provas projetivas)
Teste de audibiliza,ao
Exame motor
Sateria de testes neuropsicol6gicos de Luria (Adaptacyao Egidio
Romanelli)
3.2 ENTREVISTA
Karin na primeira entrevista nao apresentou resist~ncia, mostrando prazer
em conversar. Demonstrou dificuldades de entrar em cantata com seus sentimentos
e reserva na relac;:ao com as professores. Apresentou vinculo superficial com as
caregas de classe.
3.3 JOGOS
Nos jogos apresentou espirito competitiv~, mostrando dificuldades em
mantar que bra cabecya e jogo dos sete erros. Nos momentos de angustia fica
impaciente buscando Qutra atividade. Ao perder nurn jogo, tentava "enganar" a
terapeuta, tenso dificuldades de lidar com ansiedade e perdas.
3.4 AVALlAr:;AO INTELECTUAL
Foi realizada para avaliar os diferentes aspectos do funcionamento
intelectual de Karin, analisando seu nivel intelectual, levantando indicios associados
a dificuldades de aprendizagem.
Karin apresentou urn desempenho pouco abaixo da media, con seguin do
uma classificac;.ao media inferior. Demonstrou limitac;.ao intelectual, podendo esta ser
por falta de estirnulac;.ao do meio ou mesmo hostilidade em relac;.ao ao conhecimento
37
e aprendizagem. Apresentou vocabulario pobre em rela4):ao ao referencial para sua
idade. Revelou falta de aten<;30, distrac;:ao, pouco conhecimento devido a revolta
contra a autoridade au desvantagem cultural. Apresentou disturbios emocionais e
perda de cantata com a realidade. Demonstrou que vive mais na fantasia e naD S8
detsm no aqui e agora, falta de apego a realidade, conceituac;ao espacial deficiente,
nae efetua urn planejamento para suas atividades, e extrema mente verbal e
apresenta deficiemcias de perceP980 visomotora. Apresenta atitudes precipitadas au
sem cuidado demonstrando (alta de aten9ao e concentra<;ao.
3.5 AVALlAr:;Ao DA ESTRUTURA COGNITIVA
o objetivo da aplicac;:ao do teste e chegar a determinar 0 nivel de
desenvolvimento cognitivo, tendo provas que versam sabre a nO<;:80de conserva<;:ao
de quantidade, referindo-se a aspectos numericos, geometricos ou fisicos e outras
indagam as quest5es vinculadas as classes e as rela<;:oes. Objetiva-se observar 0
nivel de constrUl;:ao alcan<;:ado pel a paciente em cada uma das estruturas 16gicas e
sua inter-rela<;:ao, au seja, detectar a nivel de estrutura cognitiva com que a sujeito e
capaz de operar na situa<;:ao presente.
Karin encontra-se no estagio de pensamento operacional concreto inicial,
au seja, a pensamento da adolescente depende de dados concretos e perceptlveis
alem de envolver opera~5es reais au manipula~oes intemas dos dados,
apresentando dificuldades em efetuar abstra~oes.
3.6 AVALIAr:;AO PEDAGOGICA
Objetiva-se verificar se a aprendizagem academica de Karin esta dentro do
esperado para sua idade. Avaliou-se sua capacidade de leitura, escrita e
interpreta<;:ao e as condi~oes de operar logicamente e Karin nao apresentou 0
desenvolvimento esperado para sua ida de. Fez leitura entrecortada e demonstrou
3.dificuldade na interpreta«ao de textc. Apresentou variQs erras ortograficos. No teste
de desenho e escrita espontanea foi observado: no texto elabora as ideias e faz
relac;ao com 0 desenho, mas suas ideias apresentam-se no mundo da fantasia e naa
na realidade concreta em que vive. Tambem neste momento apresenta varios erras
ortograficos.
Quanta 80 raciocinio 16gico matematico, Karin para efetuar as operac;.6es
de adi9ao faz contagem nos dedas, naD passui calculo mental. Em determinado
momento pediu para nao continuar com a tarefa solicitada, demonstrando muita
inseguran98 e medo de errar.
3.7 AVALlAr:;,Ao EMOCIONAL
A aplica<tao do teste tern par objetivo a descoberta do mundo interna da
paciente, pois ela revela muito do inconsciente atraves dos desenhos e da sua
psicodinamica.
Na analise dos testes projetivos, pode-se perceber que Karin e uma
adolescente com dificuldades de encarar a realidade, vivendo imersa na fantasia.
Apresentou timidez e receio nas relac;oes com os outros, buscando urn afastamento
nas trocas interpessoais. Demonstrou desejo de protec;:ao, sentindo-se rejeitada,
separada do convivio familiar, mostrando distanciamento da familia. Revela-se
insegura, com dificuldades de conclusao, tendencia 80 devaneio, sonhos.
Embora apresente falta de controle, de confianC;8 e equilibrio tern desejos
de realizar.
3.8 TESTE DE AUDIBILlZAr:;,Ao
Karin demonstrou integridade quanta a discriminacrao, memoria,
conceitualiza9ao auditiva e acuidade visual.
39
3.9 EXAME MOTOR
o objetivo da aplicac;;ao e perceber a dominancia da lateralidade,
orientac;;ao espac;;o-temporal e a ritmo da paciente.
Karin apresentou dominancia lateral destra para as olhos, pes e maos. Nao
teve dificuldades na discriminac;;ao de direitolesquerdo. Na reprodu<;:ao das
estruturas ritmicas pediu para a terapeuta repetir a estrutura tendo dificuldades na
memorizac;;ao. Na coordenac;;ao global apresentou um pouco de rigidez nos
movimentos. Com relac;;ao a OrientaC;;80 Espac;;o-Temporal, observou-se que
confunde as dias das semanas emeses. Tern noc;;ao de antes e depois.
3.10 BATERIA DE TESTES NEUROPSICOLOGICOS DE LURIA
Este teste tern por objetivo uma analise a nivel neuropsicologico das
formas complexas de construc;;ao dos movimentos voluntarios. Fun<;oes sensoriais,
motoras e do comportamento. Investiga ainda a fala receptiva e matora, linguagem
receptiva, processos amnesicos.
Nas prol/as aplicadas Karin apresentou dificuldade na linguagem receptil/a,
na audic;ao fonetica. Quando se pedia a paciente para repetir as fonemas, ela exigia
do aplicador a confirma<;ao do fonema oUl/ido.
Dentro da compreensao de estruturas gramaticais logicas a dificuldade
apresentada foi nas constru<;oes preposicionais que implicam rela<;oes espaciais. Na
articula<;ao dos sons da tala, na repeti<;ao, a paciente repetia os fonemas, mas pedia
a confirma980 do aplicador. No momento da repeti<;80 de series de palavras
apresentou dificuldades. Na fala narrativa predicativa au fluente, dentro das formas
espontaneas, ou seja, no momento de contar uma historia, a paciente nao conseguiu
concatenar as ideias, nao formando uma sequencia logica, mostrando~se afobada
para terminar de contar 0 emedo. Tambem mostrou pobreza no momento de
discorrer sabre 0 tema selecionado.
40
3.11 CONCLUSAO DO CASO
Observou-se que existe uma dificuldade funcional a nivel neurol6gica, bern
como, imaturidade emocional que interferem na capacidade de aprender de Karin. E
uma adolescente inteligente, mas com habilidades mal trabalhadas e pouco
estimuladasVai necessitar de urn trabalho psiconeurol6gico e psicopedag6gico para
que consiga modificar determinadas atividades que substanciam a aprendizagem,
como devem igualmente visar a modifica9Bo da organizayao cerebral.
As situa90es de aprendizagem devem ser implementadas de tal forma que
a paciente reorganize as suas aprendizagens ante rio res, para paralelamente
reorganizar subsistemas cerebrais a elas ligados, partindo de urn projeto de trabalho
elaborado para trabalhar·se tambem a motiva9ao e auto-estima.
Esse projeto e a montagem de urn planejamento, pela paciente, com 0
objetivo de realizar uma a~ao que 0 aproxime das situa90es de aprendizagem,
permitindo com que viva urn processo e possa avalia-Io, tanto em rela<;tao ao
planejarnento quanto a sua eficiencia , bus cando a supera~ao de suas dificuldades.
41
4CONCLusAo
E grande a busea do homem em desvendar os misterios da mente. Algum
dia as misterios do funcionamento do cerebra serao desvendados. Quando
obtivermos exito nesta busea, pode ser que conquistemos urna importante
compreensao de muitos disturbios, inclusive 0 Oeficit de Atenyao, mas enquanto
este feito nao acorre, pais e profissionais deverao trabalhar juntos para observar,
avaliar, definir a Deficit de Ateny8o.
o professor desempenha papel muito importante, tanto no processo de
diagnostico como no processo reeducativo. Ele precisa observar que 0 aluno e urn
ser biopsicossocial e que sua individualidade deve ser respeitada. Se 0 professor
tiver a n09aO de como se process a a funcionamento do cerebra val ter mais
facilidade no processo de aprendizagem.
o Deficit de Atenyao e urn problema que deve ser controlado e que nao
tern cura. Controlar consiste em compreender. Tendo em vista os multiplos
problemas de comportamento das crianyas com deficit de atenyao e, que estes
comportamentos podem facilmente ser mal definidos, pais e professores precisam
compreender a questao da incapacidade versus ma vontade e desinteresse no trato
com tais problemas.
No caso de Karin sua incapacidade de prestar atenyao e perceber com
nitidez as tarefas solicitadas em sala de aula, custaram-Ihe alguns an os de
repetencia, 0 que fez com que sua auto-estima fica sse extremamente rebaixada
sentindo-se inca paz diante do processo de aprendizagem sem compreender 0
porque ela nao conseguia ter dominio pr6prio.
o cerebro e 0 responsavel pelos diversos e multiplos estimulos que
42
provem de nossa proprio corpo e do meio ambiente, par i550 torna-se necessaria
considerar as vias atraves das quais as estimulos chegam as diversas zonas
cerebrais. Sabemos que, a medida que as estimulos chegam ao cerebra, deixam
sua inevitavel marca. Esta marca tomara significados diferentes conforme as
estruturas sabre que atua.
Nessa ayao sabre 0 cerebra refere-s8 nao 56 aos estlmulos que circulam
per receptores especificos e areas centrais correspondentes, mas tambem sobre
Qutras estruturas cuja ativayao e determinada par estimulos de ordem simb6lica,
principalmente mediante a linguagem.
Oepois que Karin e seus pais compreenderam como seu cerebra
funcionava, ela pas sou a 5e cobrar menes e dar valor as suas pequenas conquistas,
como decorar urn texto, au memorizar e transcrever, ou relatar uma cena sem
atropelar as ideias.
A escola percebeu que embora Karin tivesse dificuldades na aprendizagem
e que algumas nao seriam sanadas, ela tambem tinha habilidades que poderiam ser
trabalhadas e que poderiam suprir parte de suas dificuldades na aprendizagem.
Quando uma crian«a apresenta dificuldades para aprender, e comum que
pais e professores esperem por um "clic" ou que esta de um "saito" e passe
acompanhar a classe. Mas este momenta magico de supera«ao das dificuldades
partindo da propria crianc;:a, raramente acontece.
o processo ensino-aprendizagem, seus desvios e 0 tao indesejado
fracasso escolar, transformaram-se em grandes desafios. 0 professor como
interventor deste processo, a fim de acompanhar e corresponder as demandas do
mundo moderno, deve buscar elucida«ao da rela~o entre os processos menta is e
os sistemas neurofuncionais envolvidos na aprendizagem e um dos caminhos e a
neuropsicologia. 0 professor desempenha um papel muito importante no processo
de diagnostico como no processo reeducativo. No diagnostico cabe a ele 0
reconhecimento da crianc;:a que apresenta disturbios de aprendizagem; a n[vel
43
reeducativo, ele tambem passui urn papel de destaque. Oificilmente urn
psicopedagogo au neuropsic61ogo pode ter sucesso em seu trabalho reeducativo se
nao houver a colaborayao deste educador.
FONSECA nos traz (1995, pg. 94): "S6 uma pequena percentagem de
crianC;8s nao tern problemas de aprendizagem. A escola e as profess ores tern de se
preparar para nova realidade."
o homem atua! e desde crianC;:8 destinatario de uma enorme quanti dade de
mensagens que obrigam seu cerebra a uma grande agilidade. Ha alguns anos a
ciencia apenas comparava 0 cerebra a urn instrumento que reagia, limitando a seu
conhecimento a esquemas elementares que relacionam as estimulos vindos do
mundo externo e sua 8980 anterior com as res pastas correspondentes.
Nos tempos atuais a configurac;ao deste problema mudou radicalmente.
Ficou muito claro que 0 comportamento possui um carater ativo, que ele e
determinado nao somente pelo fator do passado, mas tambem pelos pianos e
projetos, que nao apenas dao 0 modelo do futuro, a que obedece 0 proprio
comportamento.
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