O Jornal e as Tecnologias da Informação e Comunicação na...

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Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação - 1 - O Jornal e as Tecnologias da Informação e Comunicação na Sala de aula Ana Carolina Guedes Mattos 1 (UFJF) Andreia Alvim Bellotti Feital 2 (UFJF) Resumo: O presente trabalho investigou de que maneira o desenvolvimento de um Jornal (projeto piloto) e o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação podem auxiliar o desenvolvimento dos alunos do 4º ano do Ensino Fundamental de uma Escola Municipal de Juiz de Fora, a partir da construção de um jornal da turma. A pesquisa é qualitativa, fundamentada pela teoria Histórico-cultural. Os dados foram coletados a partir de análise documental, observações das atividades dos alunos e entrevista. As considerações emergentes apontaram para o relacionamento entre Educação e Comunicação Social como potencializadoras da construção do conhecimento e reflexão crítica sobre o uso social da mídia jornal. Palavras-chave: Jornal, TIC, Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Abstract: The present study investigated how the development of a newspaper (pilot project) and the use of Information Technology and Communication can help the development of the students in the 4th year of Elementary School at a public school in the city of Juiz de Fora, in setting up of a group newspaper. The research is qualitative, grounded by History-cultural theory. The data were collected from the analysis of a document, observations of the activities of students and interview. The emergent considerations of the investigation pointed towards a relationship between Education and Social Communication and critical reflection regarding the social use of the newspaper. Palavras-chave: Newspaper, TIC, Elementary school. Introdução O uso das mídias na Educação não é algo inovador, ao contrário, a realidade social atual de fluxo de informação e expansão da web, potencializam tal 1 Ana Carolina Guedes MATTOS, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), E-mail: [email protected]; 2 Andreia Alvim Bellotti Feital, Profa. do Colégio de Aplicação João XXIII da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Doutoranda em Educação da Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Email:

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O Jornal e as Tecnologias da Informação e Comunicação na Sala de aula

Ana Carolina Guedes Mattos1 (UFJF) Andreia Alvim Bellotti Feital 2 (UFJF)

Resumo: O presente trabalho investigou de que maneira o desenvolvimento de um Jornal (projeto piloto) e o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação podem auxiliar o desenvolvimento dos alunos do 4º ano do Ensino Fundamental de uma Escola Municipal de Juiz de Fora, a partir da construção de um jornal da turma. A pesquisa é qualitativa, fundamentada pela teoria Histórico-cultural. Os dados foram coletados a partir de análise documental, observações das atividades dos alunos e entrevista. As considerações emergentes apontaram para o relacionamento entre Educação e Comunicação Social como potencializadoras da construção do conhecimento e reflexão crítica sobre o uso social da mídia jornal. Palavras-chave: Jornal, TIC, Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Abstract: The present study investigated how the development of a newspaper (pilot

project) and the use of Information Technology and Communication can help the development of the students in the 4th year of Elementary School at a public school in the city of Juiz de Fora, in setting up of a group newspaper. The research is qualitative, grounded by History-cultural theory. The data were collected from the analysis of a document, observations of the activities of students and interview. The emergent considerations of the investigation pointed towards a relationship between Education and Social Communication and critical reflection regarding the social use of the newspaper. Palavras-chave: Newspaper, TIC, Elementary school.

Introdução

O uso das mídias na Educação não é algo inovador, ao contrário, a realidade

social atual de fluxo de informação e expansão da web, potencializam tal

1 Ana Carolina Guedes MATTOS, Mestranda do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Juiz

de Fora (UFJF), E-mail: [email protected]; 2 Andreia Alvim Bellotti Feital, Profa. do Colégio de Aplicação João XXIII da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF),

Doutoranda em Educação da Universidade Católica de Petrópolis (UCP), Email:

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integração. A escola não está alheia aos acontecimentos da sociedade por isso sofre

suas influências e os meios de comunicação representados, sobretudo, pelo jornal,

rádio, TV ou a web estão inseridos no espaço escolar. Esclarecemos que não

acreditamos que as Tecnologias da Informação e Comunicação resolverão todos os

problemas da Educação, ao contrário destacamos que as suas potencialidades se

encontram nos possíveis relacionamentos com as práticas pedagógicas

desenvolvidas na escola.

Apresentremos um trecho da monografia construída no curso de

Especialização em Educação no Ensino Fundamental, e orientada pela Profª Ms.

Andreia Alvim Bellotti Feital. Este trabalho teve a proposta de identificar as

possibilidades que a mídia jornal, juntamente com as TIC uma vez que sua

ampliação e discussão ganham espaço dentro da Educação brasileira.

Compreendemos que o jornal e as TIC agregam à Educação maneiras de oferecer o

conteúdo e proporcionar uma reflexão crítica do sujeito na utilização do suporte

em sociedade. Para tanto, este trabalho levantou como questão de pesquisa: De

que maneira o Jornal e as Tecnologias da Informação e Comunicação podem

contribuir para a aprendizagem e reflexão dos alunos, a partir de um projeto

piloto com uma turma do 4º ano do Ensino Fundamental?

Para isto, o lócus de pesquisa incidiu em uma Escola da Rede Municipal de

Juiz de Fora, em uma turma do 4º ano do Ensino Fundamental. Tal escola está

localizada na região norte do município e funciona nos três turnos (manhã, tarde e

noite). Para desenvolver o projeto solicitamos a visita e posterior entrada em uma

turma para iniciar a investigação. Ao todo foram 10 encontros, num período de três

meses. Foram analisados o documento - Projeto Político Pedagógico -, bem como as

atividades - produção de textos - dos alunos ao longo do projeto, também uma

entrevista coletiva com a opinião dos alunos a respeito da criação e

desenvolvimento do Jornal.

Os objetivos específicos deste trabalho de conclusão são: I) pesquisar de que

maneira o trabalho com os gêneros podem auxiliar no aprendizado dos alunos; II)

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analisar de que forma as TIC podem auxiliar o processo de ensino e de

aprendizagem nas séries iniciais do Ensino Fundamental; III) construir com os

educandos uma visão crítica a respeito do jornal como possibilidade de

comunicação em sociedade e IV) divulgar os achados da pesquisa para a

comunidade escolar.

Desenvolvemos uma pesquisa-intervenção, qualitativa, como base a Teoria

Histórico-cultural. Este trabalho utilizou a produção de dados de maneira

interligada e imbricada, vislumbrando uma maior coerência ao estudo proposto. O

movimento de escuta e de reflexão sobre as influências do pesquisador durante o

processo da pesquisa são relevantes para a construção dos achados aqui

apresentados. Ao longo da coleta de dados foi pesquisada a questão geradora e os

indicativos de suas suposições.

Os materiais produzidos ‘coletados’ foram provenientes de uma constante

co-criação entre o pesquisador e o lócus de pesquisa para a análise dos dados

encontrados. Criaram-se categorias de análise a partir das produções dos alunos e

das observações do processo de construção do Jornal na turma do 4º ano do Ensino

Fundamental. Compreende-se que a neutralidade não é alcançada na pesquisa

qualitativa, pois os exemplos e destaques apontados durante o processo

investigativo e no momento das considerações acontecem a partir da subjetividade

do pesquisador.

Destacando o tema na atualidade

As tecnologias marcam o cenário da sociedade atual se ampliando nas

instituições sociais, dentre elas, a Escola, pois essa não está apartada dos

acontecimentos da contemporaneidade. Com isso, os avanços percebidos na

computação e na web também integram direta ou indiretamente o universo

escolar. Nos dias atuais, as mídias abrangem diferentes meios, ou seja,

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encontramos na internet, textos, vídeos, imagens e áudios, com propostas de

mediações distintas e peculiares, a partir de cada usuário, contextualizando o novo

delineamento da comunicação na atualidade. Destacam-se a partir de Martín-

Barbero (2008), as mudanças ocorridas no cenário cultural com a chegada das

“novas tecnologias” a partir de 1980. A nova realidade trazida pela tecnologia

(fluxo de informação, linguagens líquidas3, hipertextos e hiperlinks) produz

questionamentos com relação ao relacionamento entre professor e aluno, tais

como: como são as novas relações? Como os alunos aprendem? O professor será

substituído por um computador?

Vivemos outro momento cultural. Para discutir sobre essa afirmação,

pensamos o conceito de cultura a partir de Canclini (1997) como um processo em

transformação, ou seja, hábitos e costumes que são influenciados pelo momento

histórico e as relações estabelecidas. De acordo com Martín-Barbero (2008), desde

a Antiguidade, o novo e o diferente assustavam o homem, pois apresentava o

inesperado o não conhecido. As novas tecnologias promovem a mesma sensação no

homem da pós-modernidade4 (Baumam, 2001), uma vez que apresenta um novo

espaço, o ciberespaço, que potencializa-se com a internet. O medo era que as

novas mídias (vídeo, áudio, textos interativos) seduzissem os indivíduos e que

fossem utilizados sem escrúpulos, nem medidas. No entanto, conforme pontua

Santaella (2004), vivemos na Era digital e a utilização que os sujeitos fazem dela

podem potencializa as relações, a maneira como nos desenvolvemos, os hábitos, a

maneira como compreendemos e aprendemos.

Nesse contexto, pensar em Educação diz respeito às discussões sobre a

construção da consciência dos educandos, a formação cidadão, ao processo de

ensino e aprendizagem do conhecimento historicamente construído, relacionadas

às discussões sobre as influências das Tecnologias da Informação e Comunicação na

vida das pessoas entre tantos outros aspectos. Nesse sentido, proporcionar um

3 Conceito defendido por Santaella (2007), pois com a web a linguagem se torna mais veloz, mais fluida.

4 Compreendemos que outros autores não trabalham com essa denominação, porém, de acordo com nosso referencial,

entendemos que o período no qual estamos é denominado pós-modernidade.

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ensino que considere o ser em constante construção e mudança é uma prerrogativa

da Educação na sociedade pós-moderna. Em seu relato sobre a mudança de

concepção com relação à Pedagogia, Paulo Freire destaca que passou a ter uma

prática criativa. Segundo o estudioso, a Educação autoritária não oferece espaço

para a criatividade do professor e não oportuniza o movimento de escuta de seu

aluno. Educar é um ato político e para tal é relevante que os docentes tenham a

concepção de qual aluno formar. Considerando a reconfiguração pela qual passa a

sociedade, qual é o aluno que queremos formar?

A partir da construção do conhecimento promovida pela relação entre

educador e educando, a Educação possibilita o desenvolvimento da conscientização

dos educandos e, por conseguinte tendo noção do seu papel na sociedade ele

poderá realizar mudanças sociais. Freire afirma que

A seleção do material, a organização do estudo, e as relações do discurso, tudo isso se molda em torno das convicções dos professores, isso é muito interessante devido à contradição que enfrentamos na educação libertadora. (FREIRE, 2002, p. 27).

Desse modo, a Educação, por si só não tem o poder de mudar a sociedade,

porém ela influencia nesse processo. Para Freire (2002, p. 29) o educador não pode

ser neutro. Ao educar, o docente compartilha suas ideologias e seus princípios

enquanto ser social.

A consciência crítica que os alunos constroem no convívio com os outros no

ambiente educacional é relevante para todas as modalidades de Educação. Ao se

relacionar dentro de uma sala, ou fora dela, tanto os alunos quanto os professores,

estão formando redes de relacionamento nas quais o conhecimento pode ser

construído de maneira coletiva e colaborativa a partir dos recursos da web como as

Redes Sociais e blogs; potencializando a inteligência coletiva (LÉVY, 1999). Tal

conceito de redes refere-se ao que Bruno (2010) destaca como redes rizomáticas5,

5 O termo Rizoma emerge das reflexões de Deleuze e Guattari (1995). O rizoma é uma pseudoraiz que não tem uma direção

certa para se desenvolver, ela pode tomar variados caminhos durante o seu desenvolvimento.

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nas quais nada é fixo e há múltiplas possibilidades de interação e aprendizagem

colaborativa na web, que podem modificar-se constantemente.

Referencial Teórico

Para investigarmos as potencialidades das TIC na educação, bem como o

desenvolvimento do Jornal escolar, buscamos subsídio teórico em alguns autores,

dentre eles destacamos: Pierre Lévy, Lúcia Santaella, Manuel Castells, Lúcia

Amante, Luiz Antônio Marcuschi e Lev Vygotsky.

A escola não é uma ilha isolada de tudo, ao contrário, reflete as relações

estabelecidas na sociedade em que vivemos. Ao pensarmos na influência das

tecnologias no cenário educacional, é necessário compreendermos algumas

questões a respeito da realidade trazida pela pós-modernidade, sobretudo, com o

advento do computador, a partir da década de 1990, no Brasil. A relevância de

entendermos o momento no qual estamos, amplia as possibilidades de

trabalharmos seus possíveis impactos e benefícios.

Compreendemos que estamos inseridos em uma era digital, nesse sentido,

Santaella (2004) destaca que o novo aparelho eletrônico (tecnologia) ganha

agilidade e operacionalidade, a cultura de massa, a cultura de mídias e a cultura

digital coexistem e convivem na atual realidade da comunicação. De acordo com a

estudiosa,

As tecnologias, os equipamentos e as linguagens que neles circulam, propiciadores dessa nova lógica cultural que chamo de “cultura de mídias”, apresentam como principal característica permitir a escolha e o consumo a mais personalizado e individualizado das mensagens, em oposição ao consumo massivo. (SANTAELLA, 2007, p. 125)

Para compreendermos melhor, a cultura de mídias é uma transição, uma

passagem da cultura de massa - televisão, rádio, jornal, cinema - para a

cibercultura. Tal conceito é aprofundado pelo estudioso Pierre Lévy (1999) que

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defende que a sociedade está inserida nesse novo ambiente complexo e

multifuncional, um espaço de possibilidades para a comunicação, definido como

ciberespaço. Tal espaço de interações e de ações traz uma reflexão em relação à

temporalidade e suas mudanças com a introdução do computador e das TIC.

Considerando esse espaço dentro da escola, poderemos estabelecer contato direto

com os alunos e potencializar outras formas de aprendizado, uma vez que estamos

em uma nova realidade.

Ao falarmos em aprendizagem devemos nos referenciar ao grande estudioso

Vygotsky, que em seus estudos ampliou o olhar dos educadores para as questões

que perpassam as questões do ensino e da aprendizagem. O estudioso destaca que

vivemos em uma comunidade sígnica com especificidades referentes ao contato das

pessoas que fazem parte dela. Ao compreendermos que o ser humano se

desenvolve sempre, retomamos a necessidade de convivermos constantemente com

a cultura e as pessoas que fazem parte dela. O aluno pesquisado neste trabalho

tem o pensamento e a linguagem imbricados, auxiliados pelos significados das

palavras construídas no convívio em comunidade, expressando-se abstratamente.

No que se refere à mediação pedagógica, para que ela promova a

aprendizagem daquilo que o aluno ainda não é capaz de realizar sozinho, é

importante que o docente compreenda o seu educando considerando suas

conquistas e potencialidades. Nesse sentido, importa orientá-la para aqueles

aprendizados que ainda não se concretizaram, mas que estão em processo,

constituindo a Zona de Desenvolvimento Proximal. Os estudos de Vygotsky auxiliam

a compreensão da importância do convívio com o outro, das relações sociais como

fatores que contribuem para o constante desenvolvimento e aprendizagem do

sujeito.

Tendo em vista essas considerações, ao pensarmos nos gêneros textuais e a

tecnologia junto aos alunos de uma turma de 4ª ano é relevante considerar também

o contexto no qual esses alunos estão inseridos, conhecer o nível de

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desenvolvimento que a turma que trabalharemos está para potencializar da melhor

maneira a proposta da atividade pretendida.

Ao refletirmos sobre a introdução dos gêneros textuais na sala de aula,

podemos considerar as discussões propostas por Luiz Antônio Marcuschi (2002). O

autor define como gêneros, os fenômenos históricos vinculados à vida cultural e

social que se caracterizam muito mais por funções comunicativas, conjuntivas,

cognitivas e institucionais do que por suas peculiaridades linguísticas e estruturais.

Marcuschi aponta que com o advento das novas tecnologias, os gêneros textuais se

adéquam ao contexto e criam novos gêneros como, por exemplo, jornais na web,

telemensagens, teleconferências, e-mails, bate-papos virtuais, entre outros. Os

gêneros auxiliam muito o trabalho em sala de aula sendo um instrumento relevante

para o trabalho do professor em consonância com o momento que vivemos

atualmente. Para completar, o estudioso indica alguns aspectos na produção de um

gênero textual: I) Natureza da informação ou do conteúdo veiculado; II) Nível de

linguagem - formal, informal, dialetal, culta, etc; III) Tipo de situação em que o

gênero se situa - pública, privada, corriqueira, solene, etc; IV) Relação entre os

participantes - conhecidos, desconhecidos, nível social, formação entre outros e V)

Natureza dos objetivos das atividades desenvolvidas.

Nessa direção, Melo apud Faria (2001) argumenta que uma das possibilidades

do trabalho do jornal na sala de aula é o desenvolvimento da consciência cidadã,

construindo leitores críticos. Segundo a estudiosa é importante o reconhecimento

de algumas especificidades: não existem jornais neutros, pois eles seguem os

interesses de seus proprietários. Conforme Melo apud Faria (2001, p. 13) devemos

pensar no “jornal escolar, não como uma imitação da grande imprensa, mas como

um espaço para os alunos expressarem seus conflitos e interesses e levá-los à

percepção do espaço em que vive”.

Retomando o trabalho com as TIC, elencamos os estudos de Amante (2007),

que ressalta que integrar as tecnologias impulsionará uma aprendizagem de melhor

qualidade. “De facto, há que pensar uma adequada integração e utilização das TIC

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se queremos, efectivamente, criar ambientes educativos mais ricos que promovam

uma aprendizagem de natureza construtivista.” A estudiosa ressalta a importância

da mediação do professor no uso das tecnologia, apontando dois lados que

precisam ser analisados; um diz respeito à liberdade que o educando deve ter para

interagir com as TIC; o outro lado é a atenção do educador para as dificuldades que

irão emergir nas atividades propostas.

Retomando as discussões sobre a nova realidade social e comunicacional na

qual vivemos, destacamos os estudos de Castells, que em sua obra “Sociedade em

rede” (2007), define as tendências da sociedade atual com o advento da era da

informação. Para o autor, estas redes nas quais a sociedade está influenciam os

processos produtivos, as experiências, o poder e a cultura. Portanto, o ciberespaço

potencializa diversas maneiras do indivíduo se relacionar e se interligar aos seus

pares, realidade esta que representa uma das características da pós-modernidade.

Os alunos da atualidade estão imersos nesse cenário e encontram meios de se

conectarem em rede com seus colegas e professores, com isso as redes sociais e os

hipertextos e os hiperlinks constituem-se como possibilidades em seu cotidiano.

Em síntese, não podemos nos prender apenas ao entendimento da sociedade

na qual estamos, precisamos caminhar em direção às possibilidades oferecidas

nessa nova realidade social. Para tanto, devemos pensar em práticas pedagógicas

que potencializem o uso das tecnologias na sala de aula e que auxiliem a

aprendizagem dos alunos. Com isso, poderemos criar uma Pedagogia que considere

a aprendizagem subjetiva e a aprendizagem em rede, ou seja, a tecnologia será um

recurso para desenvolvermos ações que ampliem as possibilidades de aprendizagem

dos educandos.

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Esboçando o Caminho Metodológico e o Desenvolvimento da

Pesquisa

Desenvolvemos uma pesquisa-intervenção, qualitativa e tem como base a

perspectiva Histórico-cultural. Nessa perspectiva, a interação do pesquisador com

os sujeitos pesquisados e seu contexto modifica o espaço que atua, os sujeitos e a

si mesmo. O que ocorre é um encontro dialógico, no qual a produção da

contrapalavra possibilita a compreensão ativa que realimenta a produção dos

enunciados e de outras contrapalavras. Sendo assim, a posição ativa do pesquisador

junto aos sujeitos é fator relevante nessa abordagem. A pesquisa acontece com os

sujeitos e não sobre eles. Conforme a estudiosa Freitas:

O homem não é um objeto, nem algo sem voz: é outro sujeito, outro eu que interage dialogicamente com seus interlocutores. Dessa maneira pesquisador e pesquisado se constituem como dois sujeitos em interação que participam ativamente do acontecimento da pesquisa. Esta se converte em um espaço dialógico, no qual todos tem voz, e assumem uma posição responsiva ativa. (FREITAS, 2010, p. 17)

O movimento de respeito aos interlocutores e suas vozes são relevantes no

processo de pesquisa. O texto é fonte de dados, oferece elementos para

compreender o encontro dialógico entre pesquisador e pesquisados, sendo material

de análise para o pesquisador. Tendo em vista o processo de análise de dados, o

investigador volta ao seu lugar e, com o olhar extraposto, do seu lugar social,

revisita as produções do campo e (re)constroi sentidos para as mesmas,

compreendendo os sujeitos e seu contexto.

Freitas argumenta que “O texto do pesquisador não deve emudecer o

pesquisado, mas lhe restituir as condições de enunciados e de circulação que lhe

conferem múltiplas possibilidades de sentido. (Freitas, 2010, p. 17)”. Para tanto, o

papel do pesquisador é fundamental para desencadear a expressão dos envolvidos

em uma investigação.

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A pesquisa apresentada neste artigo aconteceu a partir do desenvolvimento

do projeto piloto “Jornal na Escola” no período de três meses, final de março até o

início de junho, em uma turma do 4º ano do Ensino Fundamental, de uma Escola

Municipal de Juiz de Fora. Tal investigação utilizou como instrumento de coleta de

dados: desenvolvimento de encontros semanais com os alunos, atividades

realizadas com os educandos, entrevista coletiva filmada, tendo como foco a

opinião dos alunos sobre o desenvolvimento do projeto – atividades, no último

encontro.

O primeiro passo realizado após a escolha do tema da pesquisa foi o contato

com a escola na qual pretendíamos realizar a pesquisa. Os motivos pela escolha

foram: a proximidade com a coordenadora da instituição e as informações positivas

a respeito da dinâmica da escola. O contato inicial foi realizado pelo telefone, e

em seguida, conversamos pessoalmente para conhecer a direção, a estrutura, os

alunos e o Projeto Político Pedagógico da escola. Começamos a conviver durante

um dia da semana na escola e conheci, por indicação da coordenadora, a

professora Ivana6, que leciona no 4º ano do Ensino Fundamental e expliquei minha

proposta. A proposta inicial era observar um curso de formação oferecido pela

Secretaria de Educação da Prefeitura Municipal de Juiz de Fora (SE/PJF), intitulado

“Tecnologias da Educação e Comunicação” e posteriormente, desenvolveria o

projeto do jornal a partir da interface da web, buscando estabelecer uma relação

com o processo formativo desenvolvido por meio do referido curso.

No entanto, a autorização da SE/PJF para iniciar as observações demorou.

Quando obtivemos a resposta favorável, começou a greve dos profissionais da

Educação, o que impossibilitou a observação do curso. Diante desse impasse, a

estratégia estabelecida foi a modificação da proposta inicial, sem perder a

aproximação entre TIC e educação. Ou seja, iniciar o projeto piloto sem a

observação do curso “Tecnologias da Informação e Comunicação”.

6 Utilizaremos este nome fictício para preservar a identidade do profissional.

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Com a autorização da SE/PJF e da escola, iniciamos o projeto piloto nas

aulas da professora Ivana, que gentilmente cedeu uma hora e meia das suas aulas

de quarta-feira para o desenvolvimento desse projeto. A equipe pedagógica foi

extremamente atenciosa e colocou-se à disposição para quaisquer problemas que

acontecessem, tal apoio favoreceu de maneira expressiva a aplicação do projeto.

O projeto piloto “Jornal na Escola” foi desenvolvido com os 25 alunos da

turma e com a presença da professora regente durante todo o tempo. As etapas

para o desenvolvimento da atividade foram compostas por: apresentação do jornal;

produção de textos; coleta de informações, escrita no computador, criação do blog

do jornal e construção de uma versão impressa - trabalho final. No total,

aconteceram dez encontros, nos quais as etapas foram desenvolvidas. No que se

refere ao trabalho com o jornal, Faria (2001) aponta que o desenvolvimento do tal

gênero na sala de aula deve prever as seguintes etapas: leitura do jornal e análise

das notícias e seus textos; expressão escrita – escolha das palavras que serão

usadas na produção; levantamento de dados; e o texto final.

Histórico da escola: lócus de pesquisa

A escola está localizada no bairro Monte Castelo, no Município de Juiz de

Fora e atende 350 alunos oriundos dos bairros: Esplanada, Jardim Cachoeira,

Cerâmica e Carlos Chagas. A Instituição foi criada em abril de 1966, e seu nome é

uma homenagem à Senhora Amélia Pires, que residiu durante 50 anos no bairro, e

se empenhou em obras sociais e auxiliou a implantação da escola na comunidade.

De acordo com o Projeto Político Pedagógico, a missão da escola é “oferecer uma

educação de qualidade, pautada na formação cidadã dos educandos, possibilitando

o desenvolvimento de suas habilidades, competências, valores éticos, morais e

sociais.”

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O espaço físico é composto por uma quadra descoberta, um refeitório com

capacidade para 50 alunos, uma cozinha, uma dispensa, uma biblioteca, uma sala

dividida pela Direção, Coordenação Pedagógica e secretaria, uma sala de

professores, dois banheiros para professores, dois banheiros para os alunos, seis

salas de aula (com capacidade para 25 alunos), um prédio anexo7 destinado ao

trabalho com projetos, onde há um Laboratório de Informática com 25

computadores. No que se refere aos recursos materiais tecnológicos mais atuais, a

escola dispõe de três computadores, três aparelhos de som, um DVD, um Datashow,

uma tela de projeção.

Com relação ao quadro de funcionários, a instituição possui: uma Diretora,

uma Vice-diretora, duas Coordenadoras Pedagógicas (uma profissional responsável

pelo Ensino Fundamental e outra responsável pela Educação de Jovens e Adultos);

duas Secretárias e 34 professores. Dentre o corpo docente, dois profissionais da

educação que se dedicam exclusivamente ao desenvolvimento de projetos

pedagógicos, uma professora fica somente no prédio anexo e a outra atua dois dias

na escola e dois dias no prédio anexo.

Os projetos desenvolvidos pela instituição são denominados “Projetos de

Interação”. A finalidade, de acordo com a equipe gestora, é auxiliar o processo de

ensino e aprendizagem dos educados no contra turno escolar. Recentemente, a

instituição foi agraciada pela Secretaria de Educação Municipal com um prédio

anexo que tem a finalidade de ser um espaço específico para desenvolver o

“Projeto Integração”. O prédio fica próximo da escola (10 minutos a pé), e foi

inaugurado no dia 20 de abril deste ano e passou a fazer parte da estrutura física

da escola.

A estrutura foi cedida pela Prefeitura Municipal para receber vários projetos

que a escola gestou e conseguiu verba a partir do Fundo de Amparo ao

Desenvolvimento a Pesquisa na Educação Básica (FAPEB), bem como projetos

7 Apresentaremos a seguir maiores detalhes sobre esse espaço.

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oferecidos pela instituição no contra turno. Tal iniciativa oferece uma ampliação

das possibilidades de ensino e aprendizagem, uma vez que os alunos podem

aprofundar o que aprendem em sala com os projetos. A escola tem nesse prédio

anexo aulas de informática, artes e Laboratório de aprendizagem.

Desenvolvendo o Projeto do Jornal Escolar

O projeto piloto do Jornal na Escola foi pensado para perceber as

potencialidades das TIC na Educação, especialmente, nas séries iniciais do Ensino

Fundamental. Os objetivos deste trabalho são: I) pesquisar de que maneira o

trabalho com os gêneros podem auxiliar no aprendizado dos alunos; II) analisar de

que forma as TIC podem auxiliar o processo de ensino e aprendizagem nas séries

iniciais do Ensino Fundamental; III) construir com os educandos uma visão crítica a

respeito do Jornal como possibilidade de comunicação em sociedade; IV) divulgar

os achados da pesquisa para a comunidade escolar.

A turma escolhida para a aplicação do piloto é uma turma de 25 alunos, do

4º ano do Ensino Fundamental. A escolha por tal turma se deve a disponibilidade e

boa vontade da professora regente, e por conta do trabalho com gêneros textuais

estar presente no planejamento anual do 4º ano do Ensino Fundamental. O projeto

previa o desenvolvimento de várias etapas de trabalho com a turma e em cada

encontro os alunos produziam uma notícia, recado ou classificados. Até o sexto

encontro, os alunos produziram no papel, depois eles passaram a digitar seus textos

no computador e postar no blog8 criado pela turma.

8 Endereço do blog < http://jornal4ano2.blogspot.com.br/>

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Apresentando as categorias: análises do processo de

construção do Jornal na turma do 4º ano do Ensino

Fundamental

A partir das produções dos alunos percebemos a necessidade de

categorizarmos as construções e os avanços percebidos ao longo do processo de

reflexão, execução e produção final do Jornal da turma do 4º ano. Por isso,

definimos as seguintes categorias: Conhecendo a estrutura do Jornal; e

Apropriação dos gêneros notícia, bilhete e classificados, na produção do jornal na

web. A seguir destacaremos características que emergiram como dados relevantes

em cada uma das categorias.

Conhecendo a estrutura do Jornal

Nessa categoria agrupamos às produções que revelam a transição entre os

conhecimentos prévios sobre a mídia Jornal e seus gêneros - notícia, classificados e

bilhete - e os primeiros contatos dos alunos com o suporte Jornal. Essa categoria

oferece algumas reflexões sobre o processo de construção dos educandos na

produção das notícias. O comportamento pendular entre o que estão visualizando

no suporte que é levado para a sala de aula e o que estão aprendendo a partir da

própria produção da notícia pelas próprias mãos, possibilita ao estudante aprender

no processo, a partir dos desafios que são impostos por cada atividade.

De acordo com os estudos de Vygotsky (1991), a mediação do outro, nesse

caso o professor/pesquisador, tem fundamental importância no processo de

aprendizagem, pois possibilita que o estudante aprenda e, com isso se desenvolva.

Nesse sentido, ele avança em seu processo de aprendizagem, de um nível em que

ele ainda precisa de auxílio para o desenvolvimento de uma determinada atividade

para a sua realização com autonomia.

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Apropriação dos gêneros notícia, bilhete e classificados, na

produção do Jornal

Os textos dos apontam para um domínio do suporte e do gênero notícia.

Conforme Ferreira (2006), a boa compreensão do Jornal, está relacionada com a

leitura do suporte. Podemos perceber que, quanto mais encontros aconteciam

entre a pesquisadora e a turma, melhores ficavam as produções dos alunos. A

estratégia utilizada em cada encontro, de leitura do jornal do dia e o

questionamento das principais características influenciou as produções das crianças

até a publicação final no blog.

Os educandos continuaram a produzir os gêneros (notícia, bilhete e

classificados) a partir do uso dos computadores em sala. Tal produção proporcionou

o desenvolvimento dos diferentes letramentos, conforme destaca Valente (2010)

“os diferentes tipos de letramento - digital (uso das tecnologias digitais), visual

(uso das imagens), sonoro (uso de sons), informacional (busca crítica da

informação) - ou os múltiplos letramentos(...)”. Ao observamos os textos do blog –

Imagem 2 -, podemos perceber que os educandos entenderam o suporte jornal e as

possibilidades que o texto pode oferecer, como por exemplo os classificados e as

notícias sobre esporte. A proposta do projeto piloto era exatamente esta, ensinar

os gêneros (notícia, bilhete e classificados) para que os educandos pudessem

utilizá-los no seu cotidiano, seja por meio da leitura de um jornal ou na utilização

de uma dessas seções, como por exemplo, vender um produto nos classificados.

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Figura 1: texto produzido pelos alunos

Destacamos algumas frases dos alunos retiradas da entrevista coletiva no

último dia do encontro.

“A gente aprendeu a escrever as coisas que acontecem na cidade.” (aluno Kaio) “Quando a gente está na internet a gente aprende coisas diferentes.” (aluno Pedro) “O jornal foi bom para a gente entender as coisas.” (aluna Márcia)

Os depoimentos apresentados pelos estudantes confirmam que o projeto

contribuiu para que compreendessem o jornal como um meio de comunicação e de

informação. Assim como é possível inferir, pelo depoimento do aluno Kaio, que a

produção do gênero notícia tem algumas especificidades que foram apropriadas

pelas crianças. Compreendemos que as crianças aprenderam a produzir os gêneros

trabalhados e construíram outro olhar sobre o jornal e sua produção, percebendo-

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se como sujeitos produtores nesse processo – seja como aquele que escreve a

notícia, o recado, o classificado ou aquele que é notícia pela sua inserção na

sociedade.

Compreendemos que a utilização do computador-internet em muito

contribuiu para um outro tipo de aprendizagem relacionada ao uso desse

instrumento para a produção dos gêneros trabalhados, com todas as suas

especificidades técnicas. Nesse sentido, Amante (2001) pontua que “O trabalho

desenvolvido em redor dos computadores constitui‑se como particularmente

estimulante da interacção, incentivando as crianças a comunicarem, quer entre si,

quer com o adulto.”

Considerações Finais: outras possibilidades

As principais constatações construídas após a pesquisa não são verdades

absolutas, mas um olhar sobre um contexto determinado. Não pretendemos

apontar uma solução para resolver o problema destacado, nem generalizar os

achados para todos os 4º anos do Ensino Fundamental. No que se refere às

categorias destacadas nesta pesquisa, conseguimos identificar a potência do uso do

jornal e das Tecnologias como auxiliares do aprendizado, uma vez que os

educandos mostram avanços com relação à apropriação do suporte e dos gêneros

trabalhados no projeto piloto.

A experiência com os computadores ofereceu uma possibilidade de

desenvolvimento dos alunos que já sabiam usá-lo, como dos que não tinham

familiaridade com essa tecnologia. No que se refere à relação entre as TIC e o

jornal, apontamos para uma comunicação híbrida9 que relaciona mais de uma mídia

em uma mesma interface, como na criação do blog e postagem dos textos dos

estudantes. Comunicação que transita em uma nova maneira de produzir um

9 Santaella (2007) apresenta o termo de Canclini “Culturas híbridas”, que proporciona os modos de nos comunicarmos.

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jornal, pois recebe influências da web e suas características como: modo de

leitura, imagens, cores e design.

Com relação ao uso crítico do suporte, entendemos que apesar de

trabalharmos com uma estrutura de chamadas, manchetes e imagens

complementando a notícia; não compreendemos que os alunos tenham que

construir um jornal que seja semelhante ao suporte levado nos encontros. A partir

do projeto piloto, cada sujeito poderá criar o seu canal de informações da maneira

que achar mais interessante e que esteja de acordo com os interesses de cada um.

A proposta de relacionamento entre a educação e a comunicação é a

oportunidade de construir com os educandos uma maneira crítica de olhar a

sociedade, percebendo que todos nós podemos ter espaço para expressar o que

pensamos. As tecnologias, atualmente a internet, são promissoras nessa atitude,

uma vez que ampliam o acesso e transformam a relação de espaço e de tempo. Ou

seja, conseguimos nos relacionar em uma grande rede de colaboração,

independente do local que estejamos. Nesse cenário, percebemos uma relação

fluida e integrada entre áreas e com isso, a Comunicação e a Educação são um bom

exemplo, uma vez que se preocupam com o homem em sociedade.

No que se refere ao uso do computador, observamos a possibilidade de

múltiplos letramentos, podendo ampliar a aprendizagem. A proposta de relação

entre o jornal e as TIC, a partir da utilização do blog facilitou a apropriação dos

gêneros propostos no projeto piloto. Ao produzir os textos no papel e no

computador; e posteriormente disponibilizá-los no blog, os alunos puderam

aprender a utilizar o computador, a navegar na web e fazer leitura das imagens

presentes no jornal e na internet. Portanto, os letramentos foram contemplados

nas atividades propostas no projeto piloto.

Acreditamos em um processo de formação docente que ofereça um

embasamento teórico para que os educadores proponham atividades que

considerem o aluno e o uso das mídias. Este estudo não apresenta um ponto final,

mas o início de múltiplos estudos que considerem a relação entre a Comunicação e

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a Educação tendo em vista as possibilidades de construir um processo de ensino e

de aprendizagem, coadunado com o momento atual, que seja mais significativo e

reverta em benefícios para os alunos.

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