Revista CFMV 52

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REVISTA Conselho Federal de Medicina Veterinária CFMV ISSN 1517-6959 ANO 17/2011 – N°52 R$ 7,00 JAN/FEV/MAR/ABR UM NOVO CAMPO DE ATUAçãO PROFISSIONAL TRANSGENIA EM ANIMAIS

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Revista CFMV 52

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R e v i s t a

Conselho Federal de Medicina Veterinária

CFMVissN

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Ano 17/2011 – n°52 – R$ 7,00jaN/fev/maR/abR

um novo cAmpo de AtuAção pRofissionAl

Transgenia em animais

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Revista Cfmv. – v.17, n.52 (2011) brasília: Conselho federal de medicina veterinária, 2011 Quadrimestral issN 1517 – 6959 1. medicina veterinária – brasil – Periódicos. i. Conselho federal de medicina veterinária.

aGRis L70 CDU619(81)(05)

a revista CFmV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões, artigos de educação continuada, artigos originais) e

matérias de interesse da medicina veterinária e da Zootecnia.

a distribuição é gratuita aos inscritos no sistema Cfmv/CRmvs e aos órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos devem ser

enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária no seguinte endereço:

sia – trecho 6 – Lote 130 e 140brasília – Df – CeP: 71205-060

fone: (61) 2106-0400 – fax: (61) 2106-0444Site: www.cfmv.gov.br – E-mail: [email protected]

a revista CFmV é indexada na base de dados aGRObase

CFMV

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CFM

V

4 Editorial

5 Entrevista | Andréa Cristina Basso

sumário

14 Biotecnologia Animal

17 Comportamento Animal

26 Suplemento Científico

58 Avicultura Industrial

66 Obesidade Canina

72 Vigilância Sanitária

76 Publicações

78 Agenda

80 Opinião | Lívio Cézar menezes fontes – Necessidade de uma Visão

Profissional - Empresarial

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e chegou o tão esperado ano novo! Como es-tamos entregando o primeiro número da Revista Cfmv em 2011, as esperanças estão renovadas e as perspectivas, bem positivas. início de ano é época de se preparar para enfrentar o que vem pela fren-te, é época de muito trabalho e também de muita dedicação.

O início de um novo ano estimula a todos – até aos mais descrentes – a encontrar coragem para superar os desafios, transformando-os em oportuni-dades de crescimento e realizações.

Recomendamos aos nossos colegas médicos veterinários e Zootecnistas que aproveitem este início de ano, e todos os dias que estão por vir, para buscar a melhoria e o aperfeiçoamento profissional e pessoal. Nossa existência, com certeza, deve ser mar-

cada pelos valores que somos capazes de agregar às pessoas que estão a nossa volta.

Nesta edição da Revista Cfmv tivemos a satis-fação de entrevistar a Dra. andréa Cristina basso, médica veterinária atuante em biotecnologia da Reprodução, e tratamos, em nossa reportagem de capa, da transgenia animal. Daí vem a ideia de pen-sar o que nos prepara o futuro. Como vai ficar tudo? O certo é que os avanços da ciência importam em que devemos estar preparados para atuar com eficiência e dentro do que a sociedade espera de nós.

atualmente, não conseguimos mais viver exclu-sivamente o momento presente. Não paramos de tentar adivinhar o porvir e, nesta nave, devemos estar atentos e esperançosos de que a ciência nos levará ao bom caminho e, se quisermos, poderemos contribuir.

conselHo fedeRAl de medicinA veteRinÁRiASIA – Trecho 6 – Lote 130 e 140Brasília – DF – CEP: 71205-060Fone: (61) 2106-0400Fax: (61) [email protected]

tiragem: 85.000 exemplares

diRetoRiA eXecutivAPrESIDENTE

benedito fortes de arrudaCrMV-GO Nº 0272

VICE-PrESIDENTE

eduardo Luiz silva CostaCrMV-SE Nº 0037

SECrETárIO-GErAL

joaquim LairCrMV-GO Nº 0242

TESOurEIrO

amilson Pereira saidCrMV-ES Nº 0093

conselHeiRos efetivosadeilton Ricardo da silvaCrMV-rO Nº 0002/Z

Oriana bezerra LimaCrMV-PI Nº 0431

Célio macedo da fonsecaCrMV-rr Nº 0004

josé saraiva NevesCrMV-PB Nº 0237

Geovane Pacífico vieiraCrMV-AL Nº 0250

antônio felipe Paulinofigueiredo WoukCrMV-Pr Nº 0850

conselHeiRos suplentesjosiane veloso da silvaCrMV-MA Nº 0030/Z

Luiz Carlos januário da silvaCrMV-AC Nº 0001/Z

Nivaldo de azevêdo CostaCrMV-PE Nº 1051

Raimundo Nonato C. CamargojúniorCrMV-PA Nº 1504

Ricardo de magalhães LuzCrMV-DF Nº 0166/Z

conselHo editoRiAlPrESIDENTE

eduardo Luiz silva CostaCrMV-SE Nº 0037

joaquim LairCrMV-GO Nº 0242

amilson Pereira saidCrMV-ES Nº 0093

editoRRicardo junqueira Del CarloCrMV-MG Nº 1759

JoRnAlistA ResponsÁvel flávia toninMTB Nº 039263/SP

colAboRAçãoflávia LoboMTB Nº 4.821/DF

pRoJeto e diAgRAmAçãoDuo Design Comunicação

impRessãoGráfica Editora Pallotti

e D i t O R i a L

e X P e D i e N t e

O futuro que nos espera

Os aRtiGOs assiNaDOs sÃO De iNteiRa ResPONsabiLiDaDe DOs aUtORes, NÃO RePReseNtaNDO, NeCessaRiameNte, a OPiNiÃO DO Cfmv.

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Médica Veterinária graduada pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP. Obteve os títulos de Mestre e Doutora em Reprodução Animal pela Universidade de São Paulo – USP. É uma das maiores especialistas em melhoramento genético bovino do País e é uma das fundadoras da In Vitro Brasil, laboratório que se tornou referência em biotecnologia re-produtiva no Brasil. Atua principalmente na produção “in vitro” de embriões bovinos no cultivo “in vitro” de tecido ovariano e na criopreservação de embriões bovinos produzidos “in vitro”.

1. Você pode definir o que se entende por Bio-tecnologia da reprodução e qual sua importân-cia para o melhoramento genético bovino?

as biotecnologias aplicadas à reprodução animal compreendem um grupo de tecnologias desenvolvidas a partir de estudos científicos dire-cionados ao melhor entendimento e desenvolvi-mento da biologia reprodutiva dos animais domés-ticos e silvestres.

envolve desde estudos relacionados à pesquisa básica até a aplicada. a primeira parte desvendando a fisiologia da reprodução e seu funcionamento e a segunda, utilizando-se de ferramentas que promo-

vem, direta ou indiretamente, a melhoria da reprodu-ção animal.

Depois da inseminação artificial e da transferên-cia de embriões produzidos in vivo, nas duas últimas décadas, a fertilização In Vitro (fiv) foi introduzida como a terceira grande biotecnologia da reprodução animal no brasil.

Outras biotecnologias da reprodução vêm complementando a fiv, como é o caso do uso de sêmen sexado, da criopreservação de embriões produzidos in vitro, do transporte de embriões du-rante o cultivo in vitro e da clonagem e produção de animais transgênicos.

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anDrÉa CrisTina BassO

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2. Faça um paralelo entre o tipo de produtor que esta tecnologia atende no Brasil e em outros países que possuem pecuária de alto nível de produção.

O brasil tem sido bastante requisitado em termos de exportação de genética por meio de embriões congelados, principalmente de raças leiteiras. Países da américa do sul e Central, como Colômbia, venezuela, Panamá e méxico, têm enviado delegações ao brasil em busca de novos negócios, para compra tanto de genética como de tecnologia de produção de embriões.

África do sul, China, austrália, israel, espanha e estados Unidos também fazem parte do grupo de países que têm investido em melhoramento genéti-co por meio da fiv.

O perfil do criador brasileiro tem mudado nos últimos quatro anos. Hoje, o interesse pelos servi-ços de fiv tem sido direcionado ao melhoramento genético rápido, feito pela negociação de embriões, criopreservados ou não, oriundos de rebanhos gene-ticamente superiores.

Há, por exemplo, alguns projetos realizados e outros em andamento no brasil em que grandes indústrias de beneficiamento de leite formam seus próprios rebanhos de matrizes de alta produção 100% a partir de embriões produzidos in vitro, com sêmen sexado de fêmea. O objetivo é fortalecer o abastecimento de leite para a indústria e fazer com que o produtor tenha menos animais, porém com maior produtividade.

Os criadores de rebanhos de elite para produção de carne continuam produzindo matrizes e repro-dutores de alto padrão. também têm melhorado rebanhos localizados em propriedades distantes dos grandes centros, aonde, até pouco tempo, as biotec-nologias da reprodução não chegavam.

atualmente, é possível maximizar a produção de embriões em um mesmo período de tempo, possibi-litando produzir mais embriões por dia de trabalho. a biotecnologia tornou-se mais acessível ao criador.

3. a que se deve creditar o crescimento do número de empresas que fornecem esse tipo de serviço no Brasil?

No início da aplicação comercial da fiv (2002) eram duas ou três empresas prestando esse serviço. O custo de produção era alto, assim como o retorno financeiro. Havia poucos profissionais especializados no assunto, os estudos eram escassos e localizados e a fiv era direcionada a rebanhos de elite. Comercial-mente, os resultados eram instáveis e havia pouca flexibilidade na técnica.

Os estudos científicos em torno das biotecno-logias da reprodução foram ganhando adeptos e a tecnologia se aperfeiçoou. as empresas, aos poucos, conquistaram a confiança do criador, e novos técni-cos foram treinados para realizar as diferentes etapas do processo.

Novas empresas surgiram sempre alavancadas pelas pesquisas desenvolvidas para o setor e, para-

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“No Brasil, grandes indústrias de beneficiamento de leite formam seus próprios rebanhos de matrizes de

alta produção 100% a partir de embriões produzidos “in vitro”, com sêmen sexado de fêmea.”

Bezerras Girolando, resultado do processo de produção em larga escala, produzidas por fertilização in vitro, após implantação em receptoras da raça Nelore

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lelamente, os profissionais que saíam das universi-dades com a base teórica da técnica iniciaram sua atuação no mercado.

entre 2004 e 2007, o brasil tinha cerca de 50 em-presas atuantes, porém o retorno era menor, apesar da maior estabilidade de resultados. a fiv passou a ser aplicada na reposição dos rebanhos de elite.

Desde essa época, o perfil das empresas conti-nuou mudando. Hoje o retorno é marginal, mas é possível lançar mão de diferentes recursos que a fiv oferece para dar garantias de resultados.

4. Qual é a realidade da FiV no Brasil?a fiv é uma ferramenta consolidada no País e

utilizada por inúmeras empresas comerciais, univer-sidades e centros de pesquisa.

Desde 2008, nossa empresa tem realizado gran-des projetos de produção de matrizes leiteiras em di-ferentes estados do território nacional e no exterior. em 2009, essa escala atingiu a produção de animais destinados ao abate.

em termos numéricos, a iets estimou que, em 2007, o brasil teria produzido 200 mil embriões. vamos aguardar os números de 2010, que, posso afirmar, vão surpreender, pois somente nossa empresa fechou o ano com 140 mil embriões produzidos.

5. O que podemos esperar da produ-ção e da oferta de embriões produzidos in vitro no Brasil?

todos os dias mais pecuaristas têm acesso à tecnologia de produção in vitro de embriões, pois, com o aperfeiçoamen-to dos meios de cultivo e com a capacita-ção de mais médicos veterinários e equi-pes de campo, a técnica se massificou, os resultados ficaram mais consistentes e os custos diminuíram.

O brasil vê ampliada a possibilidade de exportar sua genética zebuína para o mun-do. Porém, torna-se urgente a discussão

e implantação de um protocolo sanitário voltado à exportação de embriões fiv de bovinos.

6. Qual é a realidade do congelamento e do co-mércio de embriões congelados no Brasil? Quais são os números do setor?

O brasil é o líder mundial em produção in vitro de embriões, no entanto, apenas 3,7% deles eram crio-preservados em 2007 (iets).

esse baixo número de embriões congelados foi influenciado pelos resultados de campo, em que os embriões fiv apresentavam menor tolerância ao congelamento, principalmente os de gado zebu, quando comparados com os embriões de vacas europeias.

Durante anos, as estratégias de criopreservação estudadas pelos pesquisadores foram baseadas nos crioprotetores e nas velocidades de congelação e descongelação dos embriões, sendo os métodos mais utilizados a congelação lenta e a vitrificação.

Na rotina dos laboratórios de fiv é muito comum ter sobra de embriões, seja por falta de receptoras

“A criopreservação dos embriões excedentes nos permite montar um banco de embriões congelados,

a serem utilizados quando há sobra de receptoras, otimizando o trabalho e diminuindo sensivelmente os

custos do processo.“

Andréa no laboratório de clonagem próxima do equipamento de micro-mani-pulação de células e embriões

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aptas no dia da transferência, seja por produção aci-ma da média. em contrapartida, há ocasiões em que sobram receptoras sincronizadas sem receber em-brião. O fato é que, até há pouco tempo, os embriões não transferidos eram descartados, um desperdício de genética e dinheiro.

a criopreservação dos embriões excedentes nos permite montar um banco de embriões congelados, a serem utilizados quando há sobra de receptoras, otimizando o trabalho e diminuindo sensivelmente os custos do processo.

7. Qual sua opinião sobre a clonagem animal? atualmente, o que se tem praticado com essa tecnologia em termos de animais de produção?

a clonagem de bovinos, assim como as demais bio-tecnologias da reprodução, teve início em âmbito de pesquisa e, diante da expectativa dos técnicos e cria-dores, foi introduzida como prática comercial no brasil.

a preservação genética pelo simples armaze-namento de uma linhagem celular de determinado animal tem funcionado como um seguro de vida em muitos casos. Por um custo muito baixo, é possível manter um estoque de células congeladas para uma futura clonagem que se faça necessária.

Quando iniciamos a produção comercial de clo-nes de bovinos em 2005, havia uma série de dificul-dades relacionadas à produção propriamente dita. Os partos necessitavam de assistência e, na sua maio-ria, eram feitos por meio de cesariana. Os produtos apresentavam dificuldades de sobrevivência e a taxa de perda neonatal era em torno de 70%.

Depois de inúmeras modificações de protocolos e adequações, conseguimos evoluir quanto aos resulta-dos de produção. atualmente, 50% dos partos realiza-dos em nossa sede são por via natural, sem assistência. Dos outros 50%, uma parte é natural assistido e somen-te 20% ainda necessitam de cesariana. O aproveitamen-

to das receptoras passou de 10 % para 90% e a taxa de morte neonatal caiu para cerca de 20%.

O crescimento vertical da clo-nagem no último ano se deu prin-cipalmente pela possibilidade de se fazer o registro de animais clona-dos, oficializado pelo maPa e pelas associações de criadores em 2009.

Para este ano, já estamos ca-minhando para um novo passo na técnica, a clonagem de equinos.

8. em entrevista recente para a revista exame você mencio-nou que as empresas do setor são carentes de mão de obra qualificada. Onde está a origem do problema? Você tem treina-do profissionais?

a técnica de produção in vitro de embriões consiste de três etapas distintas: a coleta dos oócitos, a

“ Mesmo tendo especialização na área, esses profissionais necessitam passar por um treinamento

para se adequar à rotina de produção comercial, que é bastante diferente da rotina que aprendemos

na universidade.”

Clones do Touro Bandido, popular em rodeios, nasceram em 2006 e foram produzidos por transferência nuclear de células somáticas (fibroblastos)

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produção in vitro e a transferência dos embriões. Para cada uma delas é necessário uma equipe com qualifi-cações diferentes.

a oferta de mão de obra é abundante, quase todos os dias recebo currículos de profissionais médicos veterinários e biólogos, a maioria recém-formados, porém 90% deles nunca participaram de nenhum estágio ou treinamento na área.

entre os outros profissionais recém-formados que seguem para a pós-graduação em Reprodução animal, somente uma pequena parte deles sai do mestrado ou Doutorado em busca de trabalho em empresas de fiv. a maioria segue carreira acadêmica ou de pesquisa.

mesmo tendo especialização na área, esses pro-fissionais necessitam passar por um treinamento para se adequar à rotina de produção comercial, que é bastante diferente da rotina que aprende-mos na universidade. É evidente que o embasa-mento teórico aprofundado e a experiência de rotina laboratorial de especialistas acelera esse processo de treinamento.

todos os profissionais que são contratados pela nossa empresa passam, pelo menos, por quatro meses de treinamento. Primeiramente, o técnico tem que conhecer a rotina comercial de produção de em-briões, as dificuldades e as exigências do trabalho, para, depois, começar a fiv propriamente.

9. sabemos que o Brasil detém tecnologia e excelentes programas de pós-graduação na área de biotecnologia da reprodução. Qual a sua opi-nião sobre a interação universidade e empresa?

a interação entre a universidade e o setor pri-vado é importante e, muitas vezes, imprescindível. De um lado, a universidade colabora com oferta de mão de obra, projetos de pesquisa direcionados ao aperfeiçoamento da técnica e possibilidade de desenvolvimento de projetos subsidiados. De outro lado, a empresa absorve a mão de obra, fornece uma tecnologia padronizada e com resultados conheci-dos para execução de experimentos e tem agilidade em disponibilizar recursos para a pesquisa.

Nossa empresa pratica a interação com universi-dades brasileiras e do exterior e está sempre buscan-do parcerias para inovações tecnológicas. estamos participando, atualmente, de três projetos de pes-quisa de Doutorado em três universidades no brasil e outro no Canadá. esperamos novidades para 2011.

atualmente, a empresa disponibiliza estágios curriculares direcionados à contratação. boa parte dos que fizeram estágio conosco não foram mais em-bora e hoje são grandes profissionais.

10. em 1999, o número de médicas Veteriná-rias correspondia a 25% do total de profissionais no Brasil, atualmente, esse número corresponde a quase 45% dos atuantes. a que atribui esse crescimento? Para você foi difícil ser uma mulher atuante na medicina Veterinária? algum conse-lho à futuras colegas? 

Não só a presença da mulher na medicina veteri-nária cresceu como os recursos tecnológicos ficaram mais acessíveis, o que facilitou – e não somente para as mulheres – o trabalho “pesado” do campo. Outros setores surgiram e atraíram em especial as mulheres, como é o caso das biotecnologias da reprodução.

Desde o início do curso de medicina veterinária ficou claro qual seria o foco da minha profissão. De-pois da graduação, tive a oportunidade de me dedi-car mais à biotecnologias da reprodução e, durante seis anos, apliquei-me no mestrado e no Doutorado. essa experiência me forneceu a base para o trabalho que desenvolvo. No entanto, ao chegar ao mercado de trabalho, ainda tive muito em que me aperfeiçoar, sobretudo na execução da técnica de fiv em si, na padronização de protocolos comerciais, na criação de técnicas novas e por aí vai.

Considero que, como em qualquer outra profis-são, atuar em medicina veterinária requer habilida-de, dedicação, empenho e paixão. Por isso se tiver que passar uma mensagem para as colegas médicas veterinárias, será esta: tudo o que se dispuser a fazer, faça com capricho e emprenho e, sobretudo, tenha prazer no que faz. somente assim terá realização pro-fissional e pessoal.

“Se tiver que passar uma mensagem para as colegas Médicas Veterinárias, será esta: tudo o que se dispuser a fazer, faça com capricho e emprenho e, sobretudo,

tenha prazer no que faz.”

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D e s ta Q U e s

No ano em que a medicina veterinária comemora 250 anos de ensino no mundo, as principais orga-nizações que representam a profissão em diversos países, entre elas o Conselho federal de medicina veterinária (Cfmv), se reuniram para iniciar as come-morações do “vet 2011: ano mundial da medicina veterinária”. O slogan do evento evidencia a impor-tância da medicina veterinária para a saúde, alimen-tação e sustentabilidade do planeta. a data relembra

a primeira escola de medicina veterinária funda-da, em Lyon, na frança, em 1761.

Na reunião de abertura, fez-se um balanço dos eventos que serão realizados. No total, se-rão 154, distribuídos em 55 países. Desses, 58 eventos receberam a chancela de acreditação da associação organizadora do vet 2011. todos os eventos enviados pelo Cfmv foram acreditados, correspondendo a 10% das atividades que re-ceberam o selo mundial. a chancela demonstra a afinidade da entidade brasileira às propostas discutidas entre os dirigentes da medicina veteri-nária de diferentes países.

além das organizações profissionais, o evento tem outros membros institucionais de peso, como a Organização das Nações Unidas para a educa-ção, a Ciência e a Cultura (Unesco), Organização mundial de saúde (Oms), Organização das Nações Unidas para agricultura e alimentação (faO), en-tre outras. acompanhe as atividades do vet 2011 no Portal do Cfmv (www.cfmv.gov.br).

avaliação, mas uma consultoria cujos resultados poderão ser acatados pela instituição para a me-lhoria. mais informações sobre a parceria podem ser obtidas em [email protected]

COMISSãO DE ENSINO DA MEDICINA VETErINárIA DO CFMV ASSESSOrArá COOrDENADOrES INTErESSADOS NO APrIMOrAMENTO DE CurSOS

2011 é INSTITuíDO COMO O ANO MuNDIAL DA MEDICINA VETErINárIA

atenta à atualização e à qualidade do ensino su-perior e disposta a atuar em parceria com os cursos de medicina veterinária que apresentarem interesse, a Comissão Nacional de ensino da medicina veterinária (CNemv) do Cfmv se dispõe a assessorar os coorde-nadores de curso, para analisarem e discutirem, em conjunto, o programa pedagógico praticado pela ins-tituição, buscando melhorias para os próximos anos.

voluntariamente as escolas poderão solicitar adesão ao programa. Previamente elas preencherão um cadastro e enviarão o programa pedagógico. em seguida, dois integrantes da Comissão visitarão a instituição para que seja feito um diagnóstico em con-junto com a equipe local definida pela escola. “serão avaliações pontuais, pois cada curso tem as suas par-ticularidades”, comentou Rafael Gianella mondadori, Presidente da CNemv.

Os membros da Comissão esclarecem que não haverá custo para a instituição e garante-se o sigilo das informações tratadas. O processo não é uma Instalações adequadas são imprescindíveis para bons cursos

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PrOGrAMA DE PArCELAMENTO DE DéBITOS é rEINSTITuíDO NO SISTEMA CFMV/CrMVS

O Conselho federal de medicina veterinária (Cfmv) reinstituiu o programa de parcelamento de débitos fiscais no âmbito do sistema Cfmv/CRmvs a partir da Resolução Cfmv nº. 975, de 14 de dezembro de 2010, publicada no Diário Oficial da União em 23 de dezembro do mesmo ano.

O programa é destinado à regularização de dé-bitos de anuidades, multas, taxas, emolumentos e demais créditos das pessoas físicas e jurídicas com vencimentos até 31/12/2008, inscritos ou não em dívida ativa, ajuizados ou a ajuizar, com exigibilidade suspensa ou não.

O parcelamento do débito deverá ser solicitado pelo interessado até o último dia útil do mês de junho de 2011. Não poderão aderir ao programa reinstituído por essa resolução os interessados que tiverem sido excluídos do programa instituído pela Resolução Cfmv nº. 924, de 2009. a Resolução Cfmv nº. 975 pode ser lida na íntegra no Portal Cfmv, em Legislações/Resoluções Cfmv.

rio de Janeiro – O Cfmv também decidiu prorrogar o prazo de pagamento das anuidades referentes ao exercício de 2011 para as empresas e os profissionais residentes nos municípios da re-gião serrana do Rio de janeiro atingidos pelos de-sastres naturais do início do ano. a prorrogação é válida apenas àqueles que estão sediados em are-al, bom jardim, Nova friburgo, Petrópolis, são josé do vale do Rio Preto, sumidouro e teresópolis.

POrTAL CFMV AGOrA é www.cfmv.gov.br

O Conselho federal de medicina veterinária (Cfmv) tem novo domínio para acesso ao seu portal na internet e também para envio de mensagens eletrônicas. após vários anos com o domínio “org.br”, o Cfmv passa a ser “gov.br”. ao buscar o portal de notícias, acesse www.cfmv.gov.br e todos os e-mails devem ser enviados para a extensão @cfmv.gov.br. Como exemplo: [email protected].

serviços – Por meio do Portal Cfmv o usuário tem, em um único lugar, informações de interesse para os profissionais registrados no sistema. além do acesso aos contatos de todos os Conselhos (federal e Regionais), existem informações sobre a legislação, comissões assessoras, Programas de Residência re-conhecidos pelo Cfmv, Comissões de Ética no Uso de animais (CeUas) registradas no Conselho, listagem

médicos veterinários e Zootecnistas.Cadastrem-se em www.cfmv.gov.br e recebam semanalmente, em seu endereço eletrônico, notícias do CFMV.

com as entidades habilitadas pelo Cfmv para a concessão de título de especialista, notícias ins-titucionais, edições anteriores da Revista Cfmv, notícias diárias de interesse para a medicina vete-rinária e Zootecnia, entre outras informações. vi-site www.cfmv.gov.br e cadastra-se para receber o boletim eletrônico.

www.cfmv.gov.br

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D e s ta Q U e s

TrAMITAçãO DE ArTIGOS CIENTíFICOS PArA A rEVISTA CFMV TErá MAIOr AGILIDADE

muito se discute sobre o aquecimento global e suas causas, porém, para uma linha de especialistas em meteorologia, o planeta vive uma fase de resfriamento. a informação é baseada nos dados históricos e técnicos de ciclos que se repetem a cada 30 anos. Desde 1999, os estudos mostram que a terra entrou em uma fase de invernos mais rigorosos, maior número de tempesta-des, períodos secos mais agressivos e menores índices pluviométricos. a tendência é de agravamento até 2030. Os dados científicos foram apresentados pelo especialista em meteorologia Luiz Carlos baldicero molion (foto), no dia 9 de fevereiro, na abertura da ses-são Plenária Ordinária do Cfmv, realizada de 9 a 11 de fevereiro de 2011, em maceió, aL.

CFMV DISCuTE AquECIMENTO GLOBAL EM SESSãO PLENárIA E AVALIA VErSãO CIENTíFICA OPOSTA AO AquECIMENTO

Contrário à ideia de aquecimento, molion informa que a temperatura atual é inferior à média dos últimos 10 anos. ele esclarece que as alterações são influenciadas por ciclos e fenô-menose também pelas mudanças nos oceanos. ele enfatiza que a concentração de pessoas em grandes centros pode alterar o microclima local, mas não influencia diretamente em todo o clima do planeta. O alerta é dado para os pró-ximos anos. “O sol produzirá menos energia e os oceanos estão se esfriando”, comenta o pesqui-sador. ele acredita que a situação está próxima do que houve durante a fase fria da terra, de 1947 a 1976.

Caso o ciclo se repita, molion teme pelos animais, em especial os que são criados a pasto, pois podem vir a perder peso e não resistir, como já ocorreu em períodos frios anteriores. molion é graduado em física pela UsP e estudou meteoro-logia nos estados Unidos e no Reino Unido. ele é pesquisador sênior apostado do inpe/mCt e, atu-almente, professor associado da Universidade federal de alagoas (Ufal), entre outras atuações.

Com objetivo de agilizar a tramitação de ar-tigos científicos enviados para a Revista Cfmv, o Conselho federal de medicina veterinária mudou algumas regras de envio e passa a aceitar a remes-sa de artigos científicos por e-mail. Os trabalhos para serem submetidos à publicação poderão ser encaminhados para [email protected]

a tramitação entre consultores e autores tam-bém será toda digitalizada, evitando atrasos e per-das. apesar das mudanças no envio, as normas de conteúdo, formatação e avaliação por consultores ad hoc continuam as mesmas (veja página 56).

a Revista Cfmv, com periodicidade quadri-mestral, segue para todos os profissionais inscritos no sistema Cfmv/CRmvs. ela é indexada à agroba-se, além de ser considerada um dos principais veí-culos de comunicação com médicos veterinários e Zootecnistas no brasil.

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receba via Twitter notícias do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) e informações de importância para a Medicina Veterinária e Zootecnia. Também é realizada a transmissão em tempo real de eventos organizados por ess14e Conselho. Para seguir o CFMV procure,

no Twitter, por CFMV_oficial. Siga-nos!

muito aguardada por todos, o Conselho federal de medicina veterinária (Cfmv) promoveu, no final de 2010, uma discussão sobre a Leishmaniose visceral, com apresentação de diferentes pontos de vista sobre a doença e suas implicações. O fórum foi realizado nos dias 22 e 23 de novembro, em brasília, Df, e acompa-nhado pelos Presidentes do sistema Cfmv/CRmvs. também houve transmissão pela internet, com parti-cipação de profissionais de todo o brasil.

Para o Presidente do Cfmv, benedito fortes de arruda, foram dois dias em que a medicina veterinária brasileira mostrou a sua força, a sua potencialidade, a sua jovialidade, o seu conhecimento, a sua profundi-dade e a sua responsabilidade. “Nós saberemos cami-nhar ouvindo todos os lados e todas as posições”, afir-mou ao final do evento. ele enfatizou a importância da participação das organizações convidadas, que con-tribuíram para os esclarecimentos e apresentação de dados atualizados. No final do ano, o Cfmv publicou seu posicionamento sobre a doença (veja página 71).

O representante da Organização Pan-americana da saúde Panaftosa (Oms/Opas), fernando Leanes, comentou que o evento se equipara às discussões que estão sendo realizadas em outros países. “É muito

CFMV DISCuTIu A LEIShMANIOSE VISCErAL E PuBLICOu SEu POSICIONAMENTO

bom que seja o Conselho federal de medicina veterinária que esteja liderando esta discussão. Por sua atuação com os Regionais, ele tem grande potencial para apoiar o trabalho que o estado precisa cumprir”. Leanes enfatizou a necessidade de consenso entre as diferentes opiniões para que exista o avanço no combate à doença.

Para o Presidente da associação Nacional de Clínicos de Pequenos animais (anclivepa brasil), Paulo Carvalho de Castilho, o evento foi válido por ter apresentado os dois lados de ação contra a Leishmaniose visceral e também os avanços científicos.

Principais debates – sobre a vacinação, o chefe da Divisão de Produtos veterinários do De-partamento de fiscalização de insumos Pecuários, Ricardo Pamplona, do ministério de agricultura Pecuária e abastecimento (mapa), afirmou que a análise dos estudos da fase iii executados por seus respectivos laboratórios e cujos relatórios foram enviados ao mapa para avaliação ainda está em andamento e não há um parecer conclusivo.

apresentações debateram os prós e contras dos tratamentos em cães infectados. sobre etiopa-tias, resposta imune, diagnóstico e interpretação de diagnóstico, o médico veterinário fabiano borges figueiredo, do instituto de Pesquisa Clínica evandro Chagas (ipec/fiocruz) explicou como é feito tanto o diagnóstico clínico e epidemiológico, como tam-bém a evidência do parasito, técnica molecular e provas imunológicas. em sua opinião, é de extrema importância que haja a notificação de casos mesmo em áreas não endêmicas, pois, assim, pode-se iden-tificar e investir em ações de controle da doença no início de sua ocorrência.

muitos palestrantes enfatizaram a importân-cia de se investir em várias medidas de controle de forma integrada, para que se consiga comba-ter a doença. entre elas, a mais citada foi o comba-te ao vetor.

Fórum reuniu Presidentes do Sistema CFMV/CRMVs

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Transgenia em animais: nOVO CamPO De aTuaçãO PrOFissiOnal

em 1798, malthus publicou sua teoria sobre crescimento populacional e produção de alimentos, em que previa uma catástrofe mundial provocada pela fome, já que, segundo ele, a população cres-ceria mais que a produção de alimentos. essa ideia assombrou a humanidade até que, em meados do século passado, a difusão de sementes melhoradas e técnicas agrícolas modernas aumentaram signifi-cativamente a produção de alimentos, fazendo com que regiões de baixo potencial agrícola se tornassem celeiros, como foi o caso do cerrado brasileiro. tal fato foi denominado “revolução verde”, que rendeu ao agrônomo Norman borloug o prêmio Nobel da Paz de 1970. isso mostra a capacidade de transformação do homem, que pode tanto provocar desastres como evitá-los, com o uso da ciência e tecnologia.

Recentemente, assistimos a uma enorme polê-mica provocada pela utilização de sementes trans-gênicas, acusadas de provocar doenças e prejudicar a biodiversidade. atualmente, quase não ouvimos mais manifestações sobre o tema, e a produção de vegetais transgênicos, em 2009, chegou aos 134 mi-lhões de hectares plantados, dos quais 16% no brasil. a transgenia vem colaborando com a produção agrí-cola mundial, sendo uma realidade comercial e social

irreversível, apesar da resistência de alguns setores mais conservadores.

Na década de 1980, foram demonstradas as primeiras tentativas de geração de animais transgê-nicos, incluindo camundongos, ovelhas, coelhos e porcos, com potencial de expressão proteica exóge-na. Desde então, a produção de diversas proteínas recombinantes de interesse farmacêutico tem sido desenvolvida em animais transgênicos gerados por ferramentas da biologia molecular em conjunto com biotécnicas reprodutivas avançadas (figura 1). a uti-lização de animais transgênicos como biorreatores representa uma alternativa promissora para a indús-tria farmacéutica.

a maioria das pesquisas concentra-se na produ-ção de medicamentos, aos quais se agrega um alto valor. alguns exemplos de produtos secretados no leite de animais transgênicos são: fatores de coa-gulação viii e iX, produzidos por ovelhas, cabras e porcas, empregados no tratamento de distúrbios da coagulação sanguínea; proteína da teia de ara-nha, produzida por cabras e empregada como cola orgânica; a-1 antitripsina, produzida por ovelhas e utilizada no tratamento de fibrose cística e enfise-ma pulmonar.

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No brasil temos relato da produção de alguns ani-mais transgênicos. “vitor” foi um camundongo pro-duzido pelo Laboratório de animais transgênicos do Centro de modelos experimentais em medicina e biologia (Cedeme), da Universidade federal de são

Paulo (Unifesp), como modelo para estudo de doenças cardíacas. ”Camila” e “tinho” são cabri-tos produzidos pelo Laboratório de fisiologia e Controle da Reprodução (LfCR), da Universidade estadual do Ceará (Uece), chefiado pelo médico veterinário Dr. vicente josé figueirêdo de freitas. esses caprinos têm a capacidade de eliminar no leite o fator de estimulação de Colônias de Gra-nulócitos humano (hG-Csf), que pode auxiliar no tratamento de aiDs e do câncer.

a possibilidade de animais transgênicos ex-pressarem proteínas em determinados orgãos, utilizando-se promotores tecido-específicos, torna-os viáveis como biorreatores de prote-ínas de importância biomédica. animais de produção podem servir como “biofábricas” em larga escala de proteínas expressas na urina ou no leite.

modelos atuais de animais transgênicos são capazes de secretar/eliminar em seus fluidos (leite, urina, sangue, plasma seminal) substâncias com atividades farmacológicas, tornando-os “biofábricas” de substâncias ativas. O isolamen-to de proteínas expressas nos fluidos corporais apresenta vantagens sobre os tecidos, pois estes são constantemente produzidos e aquelas são facilmente recuperadas.

Diversos estudos têm demonstrado que o tecido mamário pode ser o sítio de produção de

uma unidade de proteína recombinante de interesse famacêutico. a produção de proteína no leite é um dos melhores modelos de biorreator animal, pela praticidade em se obterem grandes volumes para

peso

(g)

diAs A pARtiR dA AlimentAção iniciAl

salmão aquadvantage

salmão standard

Figura 1. Esquema de produção de proteínas recombinantes em glândula mamária utilizando tecnologia de microinjeção em embriões de bovinos. Fonte: adptado de Collares et.al., 2007

Figura 2. Curva de crescimento do salmão AquAdvantage em comparação à do salmão Standard. Fonte: Aquabounty Technologies

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extração de produto biológico e pelo domínio da tecnologia de produção de leite.

a transgenia poderá atuar também na produ-ção de órgãos de animais para serem utilizados em transplantes nos seres humanos (xenotransplan-tes). existem trabalhos que relatam a introdução de gene humano em células de suínos. Consequente-mente, os órgãos desses animais passaram a incitar menor reação imunológica quando transplantados em símios não humanos. O desenvolvimento de animais transgênicos compatíveis imunologica-mente com o homem trará uma nova perspectiva para os transplantes entre espécies diferentes (xe-notransplante), permitindo a recuperação da saú-de de muitos seres humanos e dando à produção animal uma nova finalidade.

também estão sendo apresentadas pesquisas para aumento de produtividade. Nesse sentido, pode ser citado o salmão denominado “aquad-

vantage”, que pode atingir o tamanho de mercado duas vezes mais rápido que o salmão tradicional (figura 2). esses animais são estéreis, o que elimina a ameaça de cruzamentos entre si ou com popula-ções nativas.

a transgenia pode contribuir com a produção animal, gerando animais com maior capacidade de conversão alimentar, velocidade de crescimento, resistência a doenças infecciosas e parasitárias. De outra forma, também pode auxiliar a adaptação de animais a ambientes inóspitos, como os que podem surgir com o aquecimento global, ou melhorar a to-lerância ao cativeiro, o que pode levar à preservação de algumas espécies que correm risco de extinção pela destruição dos ambientes naturais.

a transgenia já é um campo de atuação para os médicos veterinários e, à medida que as técnicas forem sendo aprimoradas e seus custos diminuídos, muitos mais poderão estar envolvidos quer seja na produção animal ou, na preservação das espécies quer seja, na erradicação de doenças ou na produ-ção de animais de laboratório para uso em pesquisa (figura 3). enfatize-se que os investimentos no setor biotecnológico crescem a cada ano e que vaca, por-cos, cabras, ovelhas, camundongos, coelhos e gali-nhas transgênicos estão, cada vez mais, sendo utili-zados em ensaios biotecnológicos e que precisamos ocupar nossos espaços como médicos veterinários.

Dados do autor

Felipe Pohl de Souzamédico veterinário, CRmv-PR 2934. mestrado em Ciências veterinárias – UfPR.

endereço para correspondência: atílio Gasparini, 46 – bairro jardim social – Curitiba/PR – CeP 82520-440.E-mail: [email protected]

Referências bibliográficas

GRUPOs De PesQUisa DaUNiveRsiDaDe De sÃO PaULO (UsP) COORDeNaDOs PeLOs PROfessORes LYGia Da veiGa PeReiRa (iNstitUtO De biOCiêNCias) e jOsÉ aNtôNiO visiNtiN (faCULDaDe De meDiCiNa veteRiNÁRia e ZOOteCNia)

Figura 3. Filhotes de camundongos quiméricos gerados pela agregação de células-tronco embrionárias geneticamente modificadas com embriões. A foto ilustra diferentes graus de integração das células modificadas, oriundas de camundongos da pelagem agouti

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INTrODuçãOa agressividade canina é o problema de com-

portamento que mais leva cães, do mundo inteiro, aos serviços de etologia clínica (Overall e Love, 2001; bamberger e Houpt, 2006; fatjó et al., 2007). É também um problema de saúde pública, visto que o número de pessoas atacadas por cães é muito grande. Nós estados Unidos da américa, por exem-plo, o número de pessoas atacadas é de cerca de 2% da população (Overall e Love, 2001). No brasil, a agressividade canina é o segundo problema de comportamento mais frequentemente relatado nas clínicas e é a principal causa comportamental de abandono ou eutanásia (soares et al., 2010). Por conta disso, há uma preocupação em se prevenir o problema dos ataques de cães a seres humanos. No

estado do Rio de janeiro, em abril de 1999, redigiu-se uma lei (Rio de janeiro, 1999), que ganhou nova redação em setembro de 2005 (Rio de janeiro, 2005), para controlar populações de cães de certas raças supostamente agressivas, caracterizados como cães ferozes. essa lei impõe a castração de cães da raça Pit bull e proíbe sua criação. também obriga que cães das raças Pit bull, Rottweiler, fila e Doberman transitem apenas em logradouros públi-cos de pouco movimento e usando guia, enforca-dor e focinheira. O governo do estado de são Paulo, em 2003, também promulgou a Lei n. 11.531 (são Paulo, 2003), que obriga o uso de guia e coleira em cães das raças Pit bull, Rottweiler e mastim Napo-litano, para condução desses cães em locais públi-cos. vários projetos de lei vêm tramitando, inclusive

DesaFiOs na assOCiaçãO ePiDemiOlógiCa enTre raça e agressiViDaDe Canina

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em escala federal, mantendo a perspectiva de levar à extinção algumas raças no País. tais dispositivos legais foram propostos, supostamente, para aten-der a uma necessidade expressa pela população desses estados. Contudo, uma pergunta é relevan-te: segregar uma ou outra raça resolve a questão da agressão canina como problema de saúde pública?

Não há um consenso na literatura sobre a associação da raça canina com seu en-volvimento em ataques (Guy et al., 2001a; Guy et al., 2001b; bamberger e Houpt, 2006; takeuchi e mori, 2006; fatjó et al., 2007; Rosado et al., 2007; Duffy et al., 2008; mcGreevy e masters, 2008; O’sullivan et al., 2008a; shuler et al., 2008;), sendo necessários mais estudos para que se chegue a tal associação. Um estudo espanhol (fatjó et al., 2007) cita o Pastor Catalão e o Cocker spaniel inglês como mais agressivos, já um estudo canadense (Guy et al., 2001a) cita o Retriever do Labrador e o springer spaniel. esse conceito de mais agressivos, nesses dois estudos, é consequente do número de animais envolvidos nos ataques, não há uma análise qualitativa dos ataques. mesmo que a agressividade não apresente relação di-reta com a raça, o poder de contundência dos ataques deve ser considerado. Raças maiores e mais fortes pro-vocam lesões mais graves nas pessoas atacadas e, por isso, estão envolvidas em mais casos fatais (Overall e Love, 2001), ganhando, consequentemente, mais repercussão na mídia.

Por que é tão difícil chegar a uma conclusão a res-peito da associação entre agressividade e raça? O ob-jetivo do presente artigo é analisar, à luz da literatura, alguns desafios encontrados em tal análise.

A OrIGEM DAS rAçAS CANINASao longo da história, os cães vêm sendo subme-

tidos tanto aos efeitos da seleção natural, que possi-bilitaram a sua adaptação ao meio ambiente em que vivem, como aos efeitos da seleção artificial, provo-cada pelos seres humanos, de diversos modos, ob-jetivando uma ampla variedade de aplicações para esses cães (Denis, 2007). No início da domesticação, os seres humanos conservaram aqueles animais menos agressivos e menos arredios, provavelmente selecionando aqueles com características morfo-lógicas que diferiam dos exemplares selvagens, fato que pode ter possibilitado a grande variedade morfológica encontrada nos cães domésticos hoje em dia (Denis, 2007). a origem do cão doméstico tem o lobo como ancestral mais provável (vilá et al., 1997). exemplares dessa espécie foram, ao longo do tempo, sendo selecionados para diversas aptidões, sendo, hoje, um animal com potencial maior de cog-nição social que os lobos selvagens, destacando-se até de grandes primatas em certas tarefas que dependem da leitura de sinais corporais humanos (Hare et al., 2002).

as primeiras associações entre homens e ca-nídeos foram encontradas na China e remon-tam há 150.000 anos. Há cerca de 10.000

anos, ao deixar de ser nômade e caçador para ser produtor e criador do seu

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Cães de raças consideradas agressivas sofrem restrições em algumas cidades

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alimento, o homem precisou domesticar o canídeo ancestral do cão para auxiliá-lo na caça e, posterior-mente, no cuidado do gado. a fixação dos padrões raciais só apareceu a partir do século Xvi para os cães de caça e prosseguiu ao longo dos séculos posteriores. a cinofilia progrediu até que, no século XiX (Londres, 1861 e Paris, 1863), registraram-se as primeiras exposi-ções caninas (Grandjean, 2001).

Raça é entendida como subespécie animal re-sultante do cruzamento de indivíduos selecionados pelo homem para manutenção ou aprimoramento de determinados caracteres (ferreira, 1975). as ra-ças, como são conhecidas hoje, são fruto de seleção natural, seleção artificial e do cruzamento entre animais de padrões diferentes. O reconhecimento das raças depende da organização das pessoas que criam os cães em associações ou clubes, nos quais seus integrantes estabelecem padrões morfológicos e comportamentais. essas associações ou clubes de cinofilia têm, hoje, uma entidade internacional de reconhecimento e classificação das raças, chamada federação Cinófila internacional (fCi). Portanto, do Husky siberiano ao Cão Pelado mexicano, do Pequi-nês ao Dogue alemão, todas as cerca de 400 raças homologadas pela fCi, a despeito de sua diversidade

morfológica, pertencem à espécie Canis familiaris. entre animais da mesma raça podem existir linha-gens diferentes, que são desenvolvidas pelos cria-dores a partir da seleção das matrizes e padreadores para personalizar sua criação (Grandjean, 2001).

rELAçãO DA rAçA COM O COMPOrTAMENTO DO CãO

todos os criadores de cães trabalham com a seleção dos animais a partir de características mor-fológicas, como: porte, pelagem, inserção de orelhas e cauda e aprumos. alguns excluem de seus plantéis animais com temperamento inapropriado. então, se faz a pergunta: é possível que uma característica comportamental, como a agressividade, seja trans-mitida para a geração seguinte?

em 1965, os pesquisadores john scott e john fuller, publicaram um livro em que relatam os re-sultados de suas experiências com hereditariedade de características comportamentais em cães (scott e fuller, 1965). Os experimentos foram realizados com cães de cinco raças: Cocker spaniel americano, basenji africano, fox terrier pelo de arame, Pastor de shetland e beagle. entre os experimentos realizados, esses pesquisadores relatam diferenças raciais signi-ficativas no comportamento agressivo de filhotes de 13 a 15 semanas, sendo os filhotes da raça fox terrier os mais agressivos e os Cocker spaniel americano os menos. Porém, esse estudo considerou compor-tamentos agressivos durante interações lúdicas com os filhotes, o que pode não estar diretamente associado ao comportamento agressivo desses cães quando adultos, porque esses comportamentos se alteram com a idade e com as experiências vividas. O que tem relação com a socialização do cão.

Da mesma forma que características morfoló-gicas podem ser herdadas de gerações passadas, características neurofisiológicas também podem. Portanto, a predisposição genética para diversos problemas comportamentais pode justificar uma possível associação entre agressividade e raça do cão. tal relação pode ser justificada com diferenças nos níveis de neurotransmissores ou na eficiência de seus receptores no sistema Nervoso Central (sNC), favorecendo, ou não, o surgimento de problemas como agressividade ou ansiedade (takeuchi e Houpt, 2003). alguns artigos associam alterações es-truturais nos cérebros de cães agressivos e não agres-sivos. Por exemplo, há um aumento do número de re-ceptores para andrógenos na amígdala baso-lateral em machos agressivos comparados a não agressivos

Primeiras associações entre homens e canídeos remontam há 150.000 anos

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(jacobs et al., 2006). também há aumento no número de receptores serotoninérgicos por todo encéfalo (badino et al., 2004; jacob s et al., 2007) e uma diminui-ção no número de receptores adrenérgicos no córtex frontal, hipocampo e tálamo (badino et al., 2004) dos cães agressivos comparados aos não agressivos.

Há alterações metabólicas associadas à agressivi-dade. Cães agressivos da raça Pastor alemão tiveram menores concentrações de bilirrubina e colesterol total comparados a cães não agressivos da mesma raça, idade, porte e sexo. a composição sérica dos ácidos graxos também diferiu. O grupo agressivo apresentou menores concentrações de Ácido Do-cosahexaenóico (DHa) e uma razão maior de Ácidos graxos Omega6/Omega3 (Re et al., 2008). Porém esses resultados merecem uma avaliação no eixo causa-efeito, pois tais alterações podem ter relação com o estresse, o que ficou evidente em uma pes-quisa (verrier et al., 1987) na qual os cães induzidos a ataques de fúria tiveram alterações cardíacas, prova-velmente mediadas por catecolaminas.

Há um setor identificado no genoma canino que interfere na captação da dopamina no cérebro, o que pode estar relacionado com a agressividade de cer-tas raças (ito et al., 2004).

mesmo com todas essas possibilidades, em um estudo realizado com

cães das raças Pastor alemão e Rottweiler, os auto-res identificaram uma correlação genética em al-guns traços de personalidade, como os comporta-mentos do eixo timidez-ousadia, mas não naqueles relacionados à agressividade (saetre et al., 2006). Há outro estudo que comprovou que o efeito do ambiente da ninhada tem maior influência no com-portamento que a genética materna (strandberg et al., 2005). ainda outro, em que foi relatada uma associação maior entre fatores ambientais, sociais e de manejo no desenvolvimento de agressões por dominância, comparados a fatores intrínsecos aos cães, como: raça, porte e cor de pelagem (Pérez-Guisado e muñoz-serrano, 2009).

Os aspectos relatados nos parágrafos anterio-res poderiam alicerçar os argumentos favoráveis à associação entre raça e agressividade, porém ainda não é possível responder à pergunta se há uma associação direta entre agressividade e raça. até porque, dentro de uma mesma raça, há linhagens diferentes que dependem das características “da moda”, fato que pode ser regionalizado. a formação dessas linhagens depende também da seleção dos machos padreadores ou raçadores, que acontece sempre que um macho se destaca nas exposições e passa a ser muito procurado para transmitir as suas características morfológicas (Grandjean, 2001), o que pode causar um viés dentro dessa raça em relação a características morfológicas ou compor-

tamentais originadas desse indivíduo.

O quE é AGrESSIVIDADE?Definir agressividade canina é um

outro desafio, pois os mesmos compor-tamentos podem ser interpretados como agressivos ou não. Por exemplo, um cão que morde a perna do proprietário para chamá-lo para brincar está se compor-tando de maneira agressiva sem, contudo

ameaçar a integridade física dessa pessoa. Por outro lado, um cão que rosne para o pro-

prietário que mexe em seu comedouro pode representar ameaça de ataque contra essa pessoa.

a agressividade é definida como a conduta do agressivo, como a disposi-ção para o desencadeamento de condu-tas hostis e destrutivas (ferreira, 1975). a palavra agressão traz como significado à mente humana: maldade, sordidez ou

vingança, mas não é o que acontece com

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os cães. as agressões fazem parte do repertório comportamental dessa espécie (fogle, 1992). No caso do cão, os comportamentos agressivos são subdivididos em três etapas: ameaça, ataque e apaziguamento (beaver, 2001). a ameaça é carac-terizada por posturas intimidadoras, rosnados, latidos, exibição de dentes, piloereção cervical ou manutenção de contato visual, podendo se compor de um ou vários desses sinais. O ataque é a agressão propriamente dita, caracterizada pela mordida ou sua tentativa. a fase de apaziguamen-to é caracterizada por um comportamento relati-vamente não agressivo, mas que reforça a postura agressiva do cão pós-ataque. O cão pode lamber a região mordida, montar no agredido ou apenas por sua pata sobre ele (Overall, 1997).

a agressividade pode ser manifestada em vá-rios contextos e é essa contextualização que vai direcionar uma possível abordagem terapêutica para cada caso. as vítimas, nesses contextos, po-dem ser de qualquer espécie, sendo a agressão di-recionada a humanos o foco do presente artigo. Os contextos podem ser divididos didaticamente em ativos ou passivos. Nos casos da agressividade ati-va, os cães atacam sem que tenha havido qualquer ameaça direta à sua integridade física. Portanto, se podem caracterizar como ativos os episódios de agressão ocorridos nos seguintes contextos:

Predação – o cão ataca com todo um gestual de caça. É comum acontecer contra pessoas correndo (frequentemente crianças), rodas e pneus (carros, motos, bicicletas, patins ou skates). também com animais de outras espécies (fogle, 1992; Overall, 1997; beaver, 2001).

Proteção Territorial – os ataques são direcio-nados a indivíduos que invadam seu espaço terri-torial. esse território pode se estender para além dos limites estabelecidos pelos seres humanos, como muros ou cercas. Neste contexto, o cão pode, também, reagir agressivamente durante passeios com algum membro humano de seu grupo social, quando indivíduos (humanos ou caninos) se apro-ximam, invadindo um perímetro territorial que ele reconhece como seu (fogle, 1992; Overall, 1997; Landsberg, 2004).

Proteção maternal – os ataques são efetuados por fêmeas comumente em período de amamenta-ção. Pode ocorrer também com algumas cadelas em pseudociese. esta categoria de agressividade assume características semelhantes às de proteção territorial, porém dentro do contexto da fêmea protegendo sua prole (fogle, 1992; Overall, 1997; beaver, 2001).

Disputa Hierárquica – uma das principais ca-racterísticas deste tipo de agressão é o fato de, na maioria das vezes, ser direcionada a algum membro da família (Cameron, 1997; Palácio et al., 2005). É o tipo de agressão mais difícil de ser contextualizado, pois, normalmente, envolve situações em que não se encontram justificativas, tendo como base valo-res humanos, como o cão atacar a pessoa porque foi acordado ou acariciado enquanto estava deitado.

a agressividade caracterizada como passiva en-volve situações em que o cão simplesmente reage a estímulos que ameacem sua integridade física. são essas situações:

Por medo – um cão acuado se defende dessa ameaça de forma agressiva. este tipo de agressão foi o mais observado em um estudo belga com cães militares, mesmo com a rejeição de cães medrosos no momento da seleção para o trabalho designado (Haverbeke et al., 2009), o que pode estar relaciona-do com a técnica de adestramento usada com tal grupo de cães. É um tipo de agressão normalmente perigoso, pois o cão não reprime o ataque, visto que se sente ameaçado (fogle, 1992; Overall, 1997; bea-ver, 2001). É como se dissesse: “é ele ou eu”.

Por Dor – o cão ataca aquele que está causando-lhe dor, ou que já lhe tenha causado dor (fogle, 1992; Overall, 1997; beaver, 2001). Portanto é um contexto comum nas clínicas veterinárias ou com cães que estejam sofrendo ou que já tenham sofrido processos dolorosos (artrites, miosites, otites ou traumas de maneira geral).

todas as situações listadas envolvem contextos comuns de respostas agressivas, porém ainda ocor-rem agressões que não se enquadram nesses contex-

A interação cão e ser humano manifesta-se de várias formas

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tos mais comuns e são chamadas de idiopáticas. exis-tem também aquelas com causas clínicas (disfunções hormonais, raiva ou neuropatias) e ainda há casos com ambivalências, que mesclam classificações. a agres-são, normalmente caracterizada como hierárquica ou por dominância, traz, em inúmeros casos, linguagem corporal incompatível com o conflito hierárquico, com o contexto do líder se impondo ao seu subordinado. tal linguagem corporal, com misto de ofensiva e de-fensiva (ativa e passiva), caracteriza uma situação que mescla a dominância e o medo, motivando a agressão (Luescher e Reisner, 2008).

essa contextualização também cria um viés em relação à associação com a raça, já que algumas delas têm maior potencial para agredir em certos contex-tos do que em outros. Por exemplo, a agressão dire-cionada a seres humanos muitas vezes é desejada pelos proprietários, como no caso dos cães de guar-da. Porém, ainda assim é necessário que se preveja e trabalhe tal agressividade, a fim de evitar acidentes que ocorrem pela falta de discernimento dos cães para o certo e o errado.

A IMPOrTâNCIA DA SOCIALIZAçãO DO CãO

socialização é o processo de integração de indivíduos em um grupo (ferreira, 1975). No pro-cesso de domesticação, o cão é inserido no convívio humano, por isso, é extremamente necessário que seja socializado, para que possa interagir com seres humanos de uma forma coerente e socialmente aceita. ao ser socializado, o cão passa a ter uma rela-ção mais harmônica com sua família humana (sek-sel, 1997). Considerando que a maioria dos ataques acontece em contextos familiares e comumente são direcionados a pessoas conhecidas da família, como vizinhos, parentes e amigos (Overall e Love, 2001), a socialização torna-se uma necessidade mais significativa. Por meio do processo de sociali-zação, o cão passa a reconhecer pessoas ou ativida-des como parte da sua vida e não como ameaça. as-sim, o cão não ataca uma criança conhecida quando ela invade o seu território por não identificá-la nem como ameaça nem como presa.

O grande desafio nesse caso é avaliar o quanto um cão é socializado ou não. existem testes destina-dos a avaliar o temperamento dos cães (svartberg e forkman, 2002; svartberg, 2006; Duffy et al., 2008), mas seriam eficazes em predizer as atitudes dos cães em todos os contextos possíveis de agressão? mes-mo sabendo que a abordagem para a socialização

pode diferir de uma raça para outra (scott e fuller, 1965), a socialização é um processo individual e a sua deficiência é uma grande geradora de problemas de comportamento em cães (seksel, 1997). Como ge-neralizar essa capacidade de socialização a uma raça ou outra, se depende de quem está socializando e de como está fazendo?

talvez a melhor solução seja incentivar a so-cialização primária (seksel, 1997; serra, 2005). a fase da vida que vai de oito a dezesseis semanas é considerada um ponto crítico no desenvolvimento emocional dos cães (scott e fuller, 1965). Nessa fase, o cão aprende com muito mais facilidade e de uma forma mais intensa e duradoura o que é seguro ou não para ele. Cães que até as 16 semanas não têm contato com pessoas passam a se comportar como selvagens, temendo qualquer pessoa que se apro-xime, o que o torna incapaz de aprender comandos simples de adestramento (scott e fuller, 1965). Por outro lado, cães criados em famílias têm maior ren-dimento em testes cognitivos (scott e fuller, 1965) e menos reações agressivas quando comparados aos que ficam instalados permanentemente em canis (Lefebvre et al., 2007).

O processo de socialização primária caracteriza-se pela apresentação positiva ao filhote (8-16 sema-nas) de todos os fatores controláveis que farão parte da sua vida. esses fatores controlados são: pessoas de diferentes idades e diferentes etnias, brinquedos e objetos (seksel, 1997; serra, 2005).

OrIGEM DOS DADOS EPIDEMIOLóGICOS

a origem dos dados epidemiológicos é um outro grande desafio para busca da associação entre agres-sividade e raça. Nove estudos retrospectivos, publi-cados entre 1997 e 2008, se baseiam em informações dos serviços públicos de saúde dos países onde as pesquisas foram feitas. Desses, quatro citam as raças que foram envolvidas nos ataques (keuster et al.,2006; Rosado et al., 2007; O’sullivan et al., 2008a; shuler et al., 2008) e outros cinco com o mesmo tipo de fonte de dados não citam (tan et al., 2004; fortes et al., 2007; O’sullivan et al., 2008b; vucinic et al., 2008; Georges e adesiyun, 2009). a única raça coincidente como a mais agressiva, ou seja, a mais frequentemente envolvida em ataques foi o Pastor alemão, que está citado em es-tudos belga (keuster et al., 2006) e espanhol (Rosado et al., 2007). Neste último, os autores usam dados epide-miológicos para comparar a casuística de ataques de cães em cinco anos anteriores à promulgação de uma

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lei contra cães ferozes com cinco anos sob a vigência dessa lei e constatam que não houve diminuição nessa casuística, nem alterações quantitativas das raças mais envolvidas nos ataques. O estudo norte-americano não cita diretamente nenhuma raça, mas grupos raciais da fCi, e descreve os tipos terrier e cães de trabalho como os mais envolvidos em ataques contra seres humanos (shuler et al., 2008).

O Colie é citado como a raça mais agressiva no estudo irlandês (O’sullivan et al., 2008a), no qual os pesquisadores fizeram contatos telefônicos com 134 vítimas de agressão canina para caracterizar as vítimas e os agressores. as amostras desses nove estudos são compostas por dados extraídos das notificações do serviço público de saúde, ou seja, pelos registros dos atendimentos das pessoas agredidas por cães. mas, todas as pessoas que são mordidas procuram o serviço público de saúde? Há autores que afirmam que pessoas familiares ao cão dificilmente notificam oficialmente tais ata-ques (Guy et al., 2001b; Palestrini et al., 2005; voith, 2009). Outra questão importante para divulgação de dados científicos é a confiabilidade desses da-dos. Não há como confirmar se todos os casos que chegaram ao sistema de saúde foram registrados, se os que foram registrados o foram de maneira correta e os agredidos podem não saber identificar corretamente a raça do cão agressor. talvez, em virtude disso, há artigos (tan et al., 2004; fortes et al., 2007; O’sullivan et al., 2008b; vucinic et al., 2008; Georges e adesiyun, 2009) que não tecem conclusões a esse respeito.

Outros três estudos (bamberger e Houpt, 2006; fatjó et al.¸2007; Yalcn e batmaz, 2007) usam in-formação de serviços especializados em etologia clínica, ou seja, relatam a casuística das clínicas especializadas no tratamento de distúrbios de com-portamento. O estudo turco (Yalcn e batmaz, 2007) não cita quais raças são as mais agressivas. O estudo norteamericano (bamberger e Houpt, 2006) conclui que cães sem raça definida são os mais frequentes com queixas de agressividade, seguidos por cães das raças: Pastor alemão, springer spaniel e Retrie-ver do Labrador. O terceiro estudo, que é espanhol (fatjó et al.¸2007), cita cães da raça Cocker spaniel inglês e Pastor Catalão como as mais frequentes com queixas de agressividade.

também há estudos feitos a partir de dados coletados em clínicas veterinárias (bradshaw e Goodwin, 1998; Guy et al., 2001a; Guy et al., 2001b; takeuchi e mori, 2006; O’sullivan et al., 2008b). Desses, merece destaque o estudo japo-

nês (takeuchi e mori, 2006), no qual é feita uma pesquisa de opinião diretamente com médicos veterinários, ou seja, os autores perguntam a esses profissionais quais raças consideram mais agressivas, sendo a miniatura Pinscher a mais f requente -mente relacionada com agressividade. já pesquisa inglesa (bra-dshaw e Goodwin, 1998), não cita qualquer raça como mais agressiva, ainda que usando o mesmo tipo de abor-dagem do estudo japonês ( takeu-chi e mori, 2006). Há dois estudos canadenses. e em um deles (Guy et al., 2001a) os auto-res coletam dados com proprietários de cães nas clinicas e, no outro (Guy et al., 2001b), assim co m o n o e s t u d o irlandês (O’sullivan

Guilherme Marques Soaresmédico veterinário, CRmv-Rj 5092; msc; Dou-torando do Programa de Pós-Graduação em medicina veterinária – Clínica e Reprodução animal – faculdade de veterinária – Universida-de federal fluminense.

endereço para correspondência: Prof. Her-nani melo, 101– Gravato – Niterói/Rj – CeP 24210-150 .E-mail: [email protected]

rita Leal Paixãomédica veterinária, CRmv-Rj 3937; msc; Dsc; Professora associada do Departamento fisiolo-gia e farmacologia – instituto biomédico – Uni-versidade federal fluminense. E-mail: [email protected]

Dados dos autores

sHUtteRstOCk

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Referências bibliográficas

et al., 2008b), foram feitas entrevistas telefônicas com proprietários de cães que tinham histórico de agressividade. a pesquisa irlandesa (O’sullivan et al., 2008b) não traz conclusões sobre raças e as duas canadenses (Guy et al., 2001a; Guy et al., 2001b) citam os cães sem raça definida e os da raça Retriever do Labrador como os mais agressivos.

Duas outras pesquisas buscam dados dire-tamente na população de proprietários de cães e se baseiam em respostas de questionários (mcGreevy e masters, 2008; Duffy et al., 2008). No estudo norte-americano (Duffy et al., 2008), os questionários foram enviados para proprietários de cães de 30 raças, tendo como base o cadastro de uma entidade cinófila. esse estudo concluiu que cães das raças: Dachshund, Chiuaua e jack Russel terrier obtiveram as maiores pontuações para agressividade. já a pesquisa australiana (mcGreevy e masters, 2008) se baseou em questio-nários encartados em uma revista sobre cães. Os autores concluíram que os cães sem raça definida obtiveram os maiores escores para agressividade.

CONSIDErAçÕES FINAIS Há muitos desafios para que se confirme a asso-

ciação entre raças caninas e manifestação de agres-sividade dos cães, sendo ainda necessários muitos estudos. Pode-se concluir que novos estudos de-vem se embasar em abordagens individualizadas, considerando não só a raça, mas também aspectos psicológicos dos proprietários, prevalência das ra-ças na população canina da região pesquisada, qua-lidade do processo de socialização, tipo de manejo a que esses cães são submetidos ao longo da vida, predominância de determinada linhagem entre o total de animais de uma raça na região pesquisada e ainda o tamanho e a força dos cães que atacam. este último aspecto parece óbvio, mas não é o que a mídia mostra quando exibe certas raças como ferozes. a diversidade de tamanho e força dentro da espécie canina também ressalta a necessidade de mais estudos qualitativos dos ataques caninos, para que se possa saber se as raças tidas como ferozes o são porque atacam com maior frequência ou com maior intensidade.

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conselHo fedeRAl de medicinA veteRinÁRiASIA – Trecho 6 – Lote 130 e 140Brasília – DF – CEP: 71205-060Fone: (61) 2106-0400Fax: (61) [email protected]

diRetoRiA eXecutivAPrESIDENTE

benedito fortes de arruda

VICE-PrESIDENTE

eduardo Luiz silva Costa

SECrETárIO-GErAL

joaquim Lair

TESOurEIrO

amilson Pereira said

EDITOr DA rEVISTA CFMV

Ricardo junqueira Del Carlo CrMV-MG nº 1759

conselHo editoRiAl dA RevistA cfmvPrESIDENTE

eduardo Luiz silva Costa CrMV-SE nº 0037

joaquim Lair CrMV-GO nº 0242

amilson Pereira saidCrMV-ES nº 0093

comitê científico dA RevistA cfmvPrESIDENTE

Cláudio Lisias mafra de siqueiraCrMV-MG nº 5170

Luis augusto NeroCrMV-Pr nº 4261

flávio marcos junqueira CostaCrMV-MG nº 5779

antônio messias CostaCrMV-PA nº 0722

Celso da Costa CarrerCrMV-SP nº 0494/Z

Luiz fernando teixeira albinoCrMV-MG nº 0018/Z

Revista DO Cfmv - brasília - Df - ano Xvii – N° 52 - 2011

suplementoCientíficoCaprinocultura e Ovinocultura de corte no Brasil: pontos para reflexãoAurino Alves Simplício

Ocorrência de dois casos de queilosquise ligados à endogamia em bezerros da raça Girolando

Wesley Antunes Meireles / Charles Bernardo Buteri

Raphaella Barbosa Meirelles Bartoli / Luis Antonio Mathias

Avaliação do teste do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol como teste confirmatório no diagnóstico sorológico da brucelose bovina

Carmo Emanuel Almeida Biscarde / Sony Dimas Bicudo / Maria Denise LopesCezinande Meira/ Claudia Dias Monteiro / Luís Carlos Oña Magalhães

Fatores limitantes ao estudo da dinâmica folicular em ovelhas

Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201126

Page 27: Revista CFMV 52

CaPrinOCulTura e OVinOCulTura De COrTe nO Brasil: POnTOs Para reFlexãO

resumo

O objetivo deste trabalho é textualizar e discutir a caprino-ovinocultura de corte com foco nas potencialida-des, desafios e oportunidades e o seu desenvolvimento com rentabilidade econômica e sustentabilidade ambiental e social. entende-se que a exploração dos caprinos e ovinos de corte exige investimentos em orga-nização e gestão da unidade produtiva, bem como em qualificação técnica de mão de obra. também que, nos dias atuais, as atividades devem ser conduzidas com foco na assistência técnica, no mercado, na otimização da rentabilidade econômica, no respeito ao meio ambiente, no não uso de mão de obra infantil e no desenvolvi-mento social. O uso de técnicas de manejo reprodutivo, como estação de monta, inseminação artificial, sincro-nização do estro, transferência de embrião e diagnóstico precoce de gestação é muito importante. atenção especial deve ser dada ao bem-estar animal, ao manejo alimentar, da nutrição e da promoção da saúde dos animais, à idade ao primeiro parto e ao intervalo entre partos. esses aspectos, aliados à idade e ao acabamento das carcaças ao abate, favorecem o desfrute dos rebanhos e a rentabilidade da unidade produtiva.

Palavras-chave: caprinos, ovinos, produção de carne, desenvolvimento sustentado

Abstract the aim of this work is to textualize and discuss the goat and sheep meat activity in according to potentialities, challenges and opportunities with economic profit and environment and social sustainability. it is understood that the exploration of goat and sheep to meat production asks for investment in organization and rational management of the animal productive unit and in human technical qualification. moreover, the explorations should be conducted with focus in the market, in economic rentability, social development and without the use of infantile work. it is fundamental to keep in mind the animal welfare. the use of reproductive manage-ment techniques as breeding season, artificial insemination, synchronization of estrus, embryo transfer and precocious pregnancy diagnosis are of great importance. special attention should be given to alimentary management regime, nutrition support and promotion of animal health. also to the age at first parturition and the interval between partum as factors to guarantee benefits such as high fertility at parturition, the number of females that show estrus followed by ovulation as soon as possible during post partum period, high weaning rate and good body weight of the young at weaning. these aspects together with the age and carcass condi-tion at slaughter have a positive effect on the flock performance and rentability of the animal productive unit.

Keywords: goat, sheep, meat production, sustained development

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GOAT AND ShEEP MEAT ACTIVITy IN BrAZIL: PONTENTIALITIES, ChALLENGES AND OPPOrTuNITIES

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INTrODuçãOOs efetivos brasileiros de caprinos e ovinos em

2006 eram da ordem aproximada de, respectivamente, 10.401.449 milhões e 16.019.170 milhões de cabeças, sendo que 9.613.847 (92,43%) e 9.379.380 (58,55%) encontravam-se na região Nordeste, tabela 1 (anuário brasileiro de Caprinos & Ovinos, 2008). No entanto, as explorações de caprinos e de ovinos no brasil até o passado recente eram vistas como atividades pecuá-rias secundárias, particularmente recomendáveis para as regiões menos desenvolvidas do País. Daí, a Zona semiárida do Nordeste brasileiro ter sido considerada como uma das mais apropriadas para a exploração de caprinos e de ovinos deslanados. entenda-se que a maioria do semiárido nordestino é permeada pela caa-tinga e esta apresenta grande diversidade em sua com-posição florística, com significante presença de plantas espinhosas. essa condição dificulta ou impossibilita a produção, em especial, de peles de boa qualidade, particularmente quando as três fases da exploração, isto é, de produção, recria e acabamento, são feitas em regime de pastoreio, tendo a caatinga como suporte forrageiro exclusivo. Ressalte-se que os pequenos ru-minantes domésticos têm potencialidades biológicas para contribuírem com a produção de produtos de elevado valor biológico para a nutrição e o vestuário e, ainda, com o fornecimento de matérias-primas relevantes para o enriquecimento do solo e a prepa-ração de produtos especiais, como pincéis usados na maquilagem feminina. No entanto, é fundamental que se invista na organização e gestão da cadeia produtiva, com foco nos mercados interno e externo e na satisfa-ção do consumidor (simplício et al., 2003a e b). ainda, é de suma importância que se implemente melhorias substanciais no ambiente, visando ao bem-estar ani-mal; no regime de manejo, independentemente de ser extensivo, semi-intensivo ou intensivo; no estabeleci-mento de sistemas de exploração compatíveis com a função explorada; na transferência de conhecimentos e tecnologias e na assistência técnica, objetivando o incremento da eficiência reprodutiva, a redução nos custos de produção e o aumento da produtividade (simplício & santos, 2005).

em se tratando da exploração para corte, a deman-da por carne de qualidade é grande, o que passa a exi-gir o abate de animais jovens. evidencie-se que uma parcela significativa dos pecuaristas e agroindustrias trabalha com foco no abate aos quatro meses. No en-tanto, o custo de produção desse cabrito ou cordeiro é muito elevado. Para tanto, quase se transformam os caprinos e ovinos em não ruminantes e, por conse-quência, concorrentes por componentes da dieta do

homem, em função do elevado consumo de grãos e de seus derivados. Ressalte-se, aqui, que é possível produzir carne e pele de qualidade com caprinos e ovinos abatidos até os 10 meses de idade. No entanto, independentemente da idade de abate, não se pode negligenciar a importância que têm os manejos ali-mentar, da nutrição, da promoção da saúde e o genóti-po. este deve apresentar boa capacidade de ganho de peso e de conversão alimentar.

em anos recentes a expansão da caprinocultura e da ovinocultura de corte para todas as regiões geográficas do País se tornou realidade. Registra-se a forte e crescente exploração com fins econômicos nas regiões Norte, sudeste, Centro-Oeste e sul. também estados como Pará, minas Gerais, são Paulo e Paraná, entre outros, têm investido no sentido de tornar a caprinocultura de corte uma atividade econômica viável. essas regiões e estados consti-tuem um território amplo e com grande potencial para a exploração semi-intensiva e intensiva dos caprinos e ovinos de corte. evidencie-se que, apesar de a área territorial brasileira suportar o crescimento numérico dos efetivos, entende-se que não ocor-rerão melhorias significativas na produtividade das explorações caso não se massifique o uso de conhe-cimentos e tecnologias apropriadas. ainda, para barreto Neto (2007), o crescimento dos rebanhos não deve ser a estratégia imperativa para a susten-tabilidade do setor de carnes de caprinos e ovinos. mas, sim, a diferenciação das atividades, o fortale-cimento delas com foco nos processos produtivos e a melhoria da comunicação com os clientes que se mostram interessados pelos produtos oriundos das duas explorações. É fundamental não esquecer a importância do equilíbrio agroecológico e social, sem negligenciar a rentabilidade econômica, com foco na produtividade por unidade de área e na satisfação do consumidor. sabe-se que o desen-volvimento econômico, além de ser afetado por determinantes políticos, é, também, fortemente influenciado pelo mercado e pelas estratégias de comercialização. Nesse contexto, o custo e a diversi-ficação da produção, a qualidade de produtos e ser-viços, a logística, a constância da oferta e a competiti-vidade tornam-se primordiais para o crescimento e o desenvolvimento da caprino-ovinocultura de corte (simplício et al., 2003a e b). enfatize-se a perspectiva de produção de carnes e peles de qualidade a preços de custo em condições de competir nos mercados, interno e externo. Por outro lado, apesar de a capri-nocultura e ovinocultura de corte, no transcorrer das três últimas décadas, terem despertado a atenção de

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alguns governantes, nos três níveis de poder, muni-cipal, estadual e federal, o apoio recebido tem sido insuficiente para garantir, com segurança, o cresci-mento e o desenvolvimento das duas atividades.

IMPOrTâNCIAa caprinocultura e a ovinocultura de corte brasilei-

ras apresentam uma produtividade aquém da média de outros países. Certamente um fator que muito con-tribui para essa situação reside no fato de as explora-ções no brasil serem conduzidas ainda com objetivos e metas não bem definidos, sem foco no mercado e no uso de pouca tecnologia. No entanto, já se regis-tram ações positivas, apesar de ainda desordenadas, no sentido da especialização das atividades, mesmo em regiões inóspitas, como a Zona semiárida do Nor-deste, e passa-se a enxergar essas atividades como alternativas importantes para os diferentes ecossis-temas brasileiros (medeiros & Costa, 2005). Na Zona

semiárida do Nordeste as condições edafoclimáticas; a estrutura fundiária, com um significativo número de unidades produtivas menor do que 100 hectares; e o crédito insuficiente (Campos, 2003) não favorecem a implementação de ações e de práticas de manejo que visem ao aumento da produtividade por unidade de área. aumentar a produtividade mediante o uso de tecnologias apropriadas e de baixo custo favorece, positivamente, a rentabilidade das explorações. O uso de tecnologias e práticas eficazes como a estação

de monta; o corte do umbigo e tratamento do coto umbilical com tintura de iodo a 10%; o uso racional de instalações adequadas; o uso de esterqueira; os ma-nejos alimentar, da nutrição e da promoção da saúde;

o emprego de cercas compatíveis com a produção de peles de boa qualidade; o abate humanitário; os cuidados com as peles durante a esfola; a conservação e o armazenamento e o corte padronizado de carcaça contribuirão fortemente para o aumento do desfrute e da rentabilidade da unidade produtiva (Riera 1980; et al., alves & figueiró, 1986; barros, 1994).

evidencie-se que o crescimento da agroindústria de processamento de peles no brasil culminou com a importação de matéria-prima, gerando um déficit de 22 milhões de dólares no período de 2000 a 2002, tabela 2. Do total importado, a maioria foi de peles caprinas e mais de 50,00% delas destinaram-se ao polo de calçados da região sul.

a exploração racional de caprinos e ovinos de corte pode favorecer, também, os produtores que usam modelos físicos que têm como base a mão de obra familiar, constituindo-se numa alternativa com amplas perspectivas de sucesso (Guimarães filho, 2005). É importante valorizar o potencial de produ-ção de uma grande diversidade de produtos a partir das carnes e das peles dos caprinos e ovinos, os quais podem ocupar diferentes segmentos dos mercados interno e externo. mesmo os subprodutos consti-

tAbelA 1. efetivos dos rebanhos, caprino e ovino, no brasil, por região geográfica

paíscaprinos ovinos

10.401.449 16.019.170

Região cabeça % cabeça %

Norte 155.114 1,49 496.755 3,10

Nordeste 9.613.847 92,43 9.379.380 58,55

sudeste 263.283 2,53 664.422 4,15

sul 252.209 2,43 4.491.523 28,04

Centro-Oeste 116.996 1,13 987.090 6,16Fonte: Anuário Brasileiro de Caprinos & Ovinos, 2008.

tAbelA 2. importação e exportação de peles caprina e ovina, em milhões de dólares americanos

períodovariável

importação exportação déficit

1992 - 1999 115 113 2

2000 - 2002 52 30 22Fonte: Coelho, 2003.

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tuídos por órgãos e vísceras, que correspondem a, aproximadamente, 12,00% do peso vivo e apresen-tam teores de gordura e proteína similares ao da carne, também denominados de miúdos ou “quinto quarto”, podem ser transformados em pratos regio-nais típicos, como a “buchada” e o “picado” (madruga, 1999; madruga et al., 2003). Com esse enfoque, a caprino-ovinocultura de corte deve ser tratada à luz do agronegócio (simplício, 2001; Rocha, 2003) e, por conseguinte, passível de gerar emprego e renda,

tabela 3. Não se pode esquecer que, nos dias atuais, o mercado brasileiro ainda é comprador de carne e pele desses pequenos ruminantes.

apesar da expressiva e crescente demanda por carnes e peles oriundas dos caprinos e ovinos, o con-sumo dessas carnes no País ainda se situa em torno de 1,5 kg a 1,8 kg por habitante/ano, exceto em algu-mas microrregiões do Nordeste. Não se deve esque-cer as vantagens comparativas da carne caprina ao apresentar teores de gordura saturada e total, prote-ína, ferro e calorias em valores similares aos da carne de frango. a carne dos ovinos deslanados tem menos gordura saturada do que a dos ovinos lanados (addi-zzo, 1992; Zapata et al., 2001), tabela 4. apesar desses aspectos positivos, a produção e a oferta de carnes caprina e ovina de qualidade no País encontram-se reprimidas. entre os principais entraves, destacam-se a ausência de organização, principalmente nos elos da cadeia inerentes à unidade produtiva, e de

compreensão dos produtores para a importância do associativismo, independente mente da forma, as-sociação, cooperativa etc. (Couto, 2003; borges et al., 2004). aproximadamente 15,0% do mercado interno de carne ovina são supridos pela matéria-prima importada, principalmente de países do mercosul, destacando-se a participação do Uruguai e da Nova Zelândia (barreto Neto, 2007). Para a carne caprina, apenas no período de 1996 a 2000 ocorreram impor-tações, mas de pequeno volume.

DESAFIOS E OPOrTuNIDADESOs governantes, em seus diferentes níveis de

poder, e as instituições de desenvolvimento estão tomando consciência de que as explorações de caprinos e ovinos, particularmente em áreas consi-deradas adversas, como a Zona semiárida da região Nordeste, são atividades que oferecem menores ris-cos e maior retorno econômico em comparação à ex-ploração dos bovinos. Daí a importância da geração do conhecimento, da transferência de tecnologias apropriadas e de baixo custo e da inovação da ges-tão e tecnológica, para dar suporte ao crescimento e desenvolvimento dessas atividades (alves, 2005; Ximenes et al., 2007). também, principalmente nos médios e grandes centros urbanos do País, as pesso-as vêm se adaptando a novos hábitos de consumo, o que tem favorecido o crescimento da demanda pelas carnes de caprinos e ovinos e de seus derivados. No entanto, é fundamental que se faça parceria e man-

tAbelA 3. distribuição, por estado, quantidade média de pele beneficiada anualmente e número de empregado na indústria de curtimento, na região nordeste

estado indústria produção/ Ano empregado

maranhão - - -

Piauí Coobrasil europa

1.200.000900.000

320100

Ceará Cv Couro 900.000 100

Rio Grande do Norte j.mota 400.000 70

Paraíba - - -

Pernambuco moderno 900.000 285

alagoas - - -

sergipe - - -

bahia brespelCampelo

1.400.0001.400.000

285415

* Outras 500.000 100

totAl 12 7.600.000 1.665Fontes: Couto Filho, 1999; Leite & Simplício, 2002.

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2003). também, de ações efetivas para a especializa-ção das atividades e qualificação de mão de obra; de modelos físicos de exploração com foco no ambien-te, no manejo alimentar, da nutrição e da promoção da saúde dos animais; de programas, públicos e pri-vados, de transferência de tecnologias apropriadas e de assistência técnica. Certamente é fundamental compreender a diversidade do ambiente ao se con-siderarem as macrorregiões geográficas brasileiras e a capacidade de adaptação produtiva dos diferentes genótipos em relação às condições edafo-climáticas dessas regiões.

a formação, conquista, manutenção e expansão dos mercados frente às demandas do consumidor devem servir de estímulos aos atores das cadeias pro-dutivas, em seus diferentes elos, a usarem a informa-ção e o conhecimento como seus principais capitais para enfrentarem os desafios. Não se deve esquecer de que a formação, conquista, manutenção e expan-são dos mercados e a competitividade dos produtos são decorrentes de fatores, como: a eficiência no processo produtivo, avaliada em função do custo de produção e da produtividade; da qualidade, inocui-dade e apresentação dos produtos; e da constância da oferta (medeiros & Ribeiro, 2006). as explorações, independente mente dos seus tamanhos, devem es-tar alicerçadas nos princípios e nas regras do agrone-gócio e com foco no equilíbrio agroecológico, social e econômico. O respeito a esse tripé e ao não uso de mão de obra infantil muito contribuirá para o desen-volvimento sustentável dessas atividades. ainda, ao se analisar a capacidade reprodutiva e produtiva dos caprinos e ovinos de corte, é fácil concluir que a pro-dutividade desses animais e o desfrute dos rebanhos estão aquém das suas potencialidades, o que, de certa forma, denota o uso de sistemas de exploração incom-patíveis com o potencial biológico desses animais. Por outro lado, no brasil, em 2000, foram abatidos, ofi-cialmente, 135.000 caprinos e ovinos, mas adquiridas

tenha o foco para que se aproveitem essas oportuni-dades e se disponibilizem aos consumidores carnes de animais jovens, isto é, de cabritos e cordeiros, com constância na oferta, na segurança alimentar e a preços competitivos, favorecendo o fortalecimento das atividades e a criação, a conquista, a manuten-ção e a expansão dos mercados. O produtor precisa tomar consciência e investir com visão empresarial e, independentemente do tamanho da exploração, usar conhecimentos e tecnologias apropriadas e fa-zer parceiras, pública e privada, na busca de apoio ao desenvolvimento de soluções para novos desafios. O acesso fácil ao crédito, suficiente e diferenciado por categoria de produtores e regiões geográficas; a logística; a qualidade dos produtos e serviços; o custo de produção; a produção de bens e produtos com valor agregado, desde que competitivos; e a inovação tecnológica, entre outros pontos, são re-quisitos fundamentais para a inserção nos mercados. No entanto, muitos desafios necessitam ser solucio-nados para que a caprinocultura e a ovinocultura de corte ocupem definitivamente seus papéis como atividades economicamente rentáveis e contribuam para a geração de emprego e renda, com participa-ção no Pib dos municípios dos estados e do país. a sustentabilidade tendo como foco os aspectos agro-ecológico, social e econômico das duas atividades e as suas contribuições para a geração de riqueza e bem-estar das pessoas está diretamente ligada à capacidade de articulação e de resposta dos próprios produtores e seus parceiros frente aos desafios, par-ticularmente no tocante à organização e gestão dos diferentes elos das cadeias produtivas. entre os de-safios, ressalte-se a pequena dimensão das políticas públicas, de médio e longo prazo, que tenham foco na sustentabilidade; na organização e gestão das atividades à luz do agronegócio; e na organização das cadeias produtivas das carnes e das peles e seus derivados (Holanda júnior et al., 2003; barreto Neto,

tAbelA 4. principais componentes de seis tipos de carnes consumidas no país

discriminação - carne assada (100g)

caloria (Kcal) gordura (g)gordura

saturada (g)proteína (g) ferro (g)

Ovino Lanado¹ 252 17,14 7,82 24 1,50

Ovino Deslanado² - - 2,20 25 -

bovino¹ 263 17,14 7,29 25 3,11

suíno¹ 332 25,72 9,32 24 2,90

Caprino¹ 131 2,76 0,85 25 3,54

frango¹ 129 3,75 1,07 25 1,62Fontes: Addizzo1, 1992; Zapata2 et al., 2001.

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5.000.000 peles, significando que, aproximadamente, 97,00% dos abates foram feitos na clandestinidade. esse fato, sem sombra de dúvidas, representa um forte desafio que precisa ser resolvido em curto prazo. Certa-mente, outro grande desafio é atender aos mercados tendo como foco a satisfação plena do consumidor final. Nesse contexto, conhecer as exigências desses mercados, produzir a custo baixo e estabelecer estraté-gias e logística de comercialização são pontos de gran-de relevância para o sucesso do empreendimento. O fato de a participação do brasil no mercado mundial de produtos de origem caprina e ovina ser pequena e as importações superarem as exportações, gerando déficits na balança comercial, deve ser visto como uma oportunidade, desde que se organize a atividade com foco nos mercados (Carvalho & Lima, 2000). Registre-se que, em 2005, os efetivos ovinos na austrália, na Nova Zelândia, no Uruguai e nos estados Unidos voltaram a crescer. Certamente, isso é um desafio, mas, também, pode ser visto como uma oportunidade no sentido de os produtores investirem na organização das ex-plorações, na especialização e no crescimento quali-quantitativo dos efetivos brasileiros, sem esquecerem da importância da qualificação de mão de obra. a curto e médio prazos, existem outros desafios a serem su-plantados para o desenvolvimento, com rentabilidade, da caprinocultura e da ovinocultura de corte no brasil, destacando-se a inserção das explorações como ativi-dades comerciais, segundo os princípios e as regras do agronegócio. Para tanto, são pontos básicos a postura empreendedora do caprino-ovinocultor; a educação continuada a qualificação de mão de obra e a assistên-cia técnica constante e disponível aos diferentes extra-tos de produtores. também, ao se ter foco na produção de carne e pele de qualidade e, por consequência, numa unidade produtiva rentável, é muito importante que se invista em melhorias no ambiente e se utilizem práticas de manejo que permitam se obter um interva-lo entre partos com oito (8) meses de duração, elevada fertilidade ao parto e taxa de sobrevivência e peso vivo corporal elevados ao desmame e para a comercializa-ção dos animais.

MErCADOS E COMErCIALIZAçãO

em 2006 o brasil conseguiu mais de 48 milhões de reais oriundos de leilões de caprinos e ovinos, sendo os animais leiloados avaliados como de elite (anuário brasileiro de Caprinos & Ovinos, 2007). No entanto, exceção feita aos animais importados e suas descen-dências, não é prudente assumir que os caprinos e ovinos brasileiros já possam ser assim considerados, uma vez que ainda são poucos os animais que foram submetidos à avaliação e à seleção genética. Por outro lado, entende-se que a caprinocultura e a ovinocultu-ra de corte ressentem-se da ausência de núcleos de seleção. estes deveriam existir, pelo menos, em parte das unidades produtivas daqueles produtores que assumem trabalhar com genética. O que se acredita é que, seria muito importante para as duas atividades se reprodutores e matrizes avaliados e selecionados em base genética fossem usados para retroalimentar os sistemas de exploração. e, também, a ação estava cen-trada na função, isto é, na produção de carne e pele, focos das explorações de corte.

em anos recentes, um significativo parque agroin-dustrial voltado para caprinos e ovinos foi instalado no País no tocante a abatedouros-frigoríficos e curtu-mes. Ressalta-se que a maioria dessas agroindústrias opera aquém da capacidade instalada e algumas se encontram fechadas. Possivelmente, na ausência de investimento massivo na organização e gestão das respectivas cadeias produtivas e de logística na loca-lização dessas agroindústrias, estejam as principais causas para os elevados custos operacionais e alguns insucessos. Na tabela 5 demonstra-se o perfil crescente da importação de ovinos vivos e de carcaça, no período de 1992 a 2000, mas, a partir deste último ano, a impor-tação de carnes dos pequenos ruminantes começou a declinar. entende-se que particularmente a carne ovina importada do Uruguai é na maioria das vezes, de quali-dade inferior em comparação à produzida no brasil, em virtude de, em parte, ela ser oriunda de animais idosos e de raças exploradas, primordialmente, para produzir lã.

tAbelA 5. importação de ovinos para o abate e de carcaça, em tonelada, de 1992 a 2000

variável/ Ano 1992 1994 1996 1998 2000

animal vivo 119,5 4.628,9 5.732,0 5.179,4 6.245,9

carcaça:

borrego 163,9 823,5 325,4 530,4 278,6

adulto 2.075,9 4.694,5 5.715,1 6.148,3 8.216,4Fonte: Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, 2000.

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em explorações caprina e ovina de corte, as peles devem ser tratadas como produtos. apesar da boa qualidade das peles dos caprinos e ovinos deslana-dos brasileiros, no tocante a elasticidade, maciez e resistência, o mercado brasileiro se ressente da carência de matéria-prima em quantidade e quali-dade. essa situação é consequência, principalmente, do uso de sistemas de exploração inadequados, em que predominam o uso de cercas de arame farpado e o abate tardio. esses dois aspectos favorecem a que os animais tenham uma maior exposição às intempéries do meio. É consequência, também, da pouca importância que se tem dado ao se praticar o cruzamento entre raças, em especial com ovinos de raças lanadas e da quase completa ausência de cuidados durante o abate e a esfola, a conservação e o armazenamento das peles. embora a agroindús-tria couro-calçadista de peles caprina e ovina esteja em expansão, parte da matéria-prima processada é importada, principalmente de países africanos e asiáticos. O brasil também é exportador de peles, mas em número insignificante frente às importa-ções que são feitas, em quase sua totalidade, de peles semi-acabadas e acabadas ou couros, o que leva o País a perder divisa. a incipiente organização e gestão da cadeia produtiva possivelmente seja o principal entrave limitante para se disponibilizarem aos mercados, interno e externo, produtos oriundos dos caprinos e ovinos de corte com a qualidade e na quantidade que eles estão a demandar. No merca-do interno, apesar de sinalizar para o consumo de carnes e derivados oriundos de animais jovens, isto é, abatidos com até 10 meses de idade, mas, prefe-rencialmente, até os seis meses, ainda predomina o abate de animais com idade superior a 12 meses, resultando, na maioria das vezes, em carcaças e pro-dutos de baixa qualidade (madruga, 2004; 2006). a qualidade das peles guarda estreita relação com a idade de abate. as oriundas de animais jovens são preferidas e de maior valor comercial. isso é conse-quência da aparência estética do produto acabado, resultante do padrão criado pela disposição dos folículos pilosos na superfície do couro. a aparência decresce com o avançar da idade e o couro oriundo de animais com 90 dias de idade é mais valorizado pelo mercado do que daqueles com 180 dias (jacin-to & Costa, 2004). a exploração de caprinos e ovinos de corte deve ser conduzida, preferencialmente, a pasto e as instalações, especialmente as cercas, devem ser compatíveis com a produção de pele de boa qualidade. ainda, a duração do intervalo médio entre partos deve ser de sete a oito meses; a

taxa de reprodução, focada na fertilidade ao parto, no número de crias nascidas por fêmea parida, na habilidade materna auferida pela sobrevivência e no desenvolvimento corporal das crias ao desmame; na precocidade sexual dos indivíduos; na idade ao abate; na quantidade de quilogramas de crias ao desmame, por fêmea exposta ao acasalamento ou, preferencialmente, por unidade de área; no rendi-mento de carcaça e na qualidade da carne e da pele. Não se pode negligenciar que o abate humanitário, a rastreabilidade e a inocuidade e certificação dos pro-dutos são exigências do mercado consumidor, por consequência, elementos-chaves para a garantia do sucesso do empreendimento (Pineda, 2003). É vá-lido observar que a preferência dos mercados varia entre as regiões, os estados e os países. No entanto, avanços significativos têm sido feitos quanto ao uso de práticas de manejo nas três fases da exploração, particularmente nas de recria e de acabamento, este confinado ou a pasto, e na valorização da análise da sua viabilidade econômica (barros et al., 1997; 2005; Otto et al., 1997; siqueira, 2000; vaconcelos et al., 2000; barros & simplício, 2001; farias, 2003; Wander & martins, 2004a e b; Cavalcante et al., 2005; santello et al., 2006; Wander & barros, 2006; barros & Lobo, 2007). O retorno econômico do acabamento varia com alguns aspectos. entre eles, a qualidade e o pre-ço dos insumos, a idade e o peso dos indivíduos ao início e ao fim da terminação, a capacidade do genó-tipo para ganhar peso, a duração do período de aca-bamento e o preço que o mercado pode pagar pela carcaça melhor acabada. ainda, ações positivas vêm sendo postas em práticas no sentido do consórcio entre a pecuária dos pequenos ruminantes e a agri-cultura, em especial a fruticultura (Guimarães filho & soares, 2003; 2006), bem como o uso de vários sub-produtos desta na alimentação de caprinos e ovinos, particularmente durante a fase de acabamento. já se registram ações voltadas para a produção de carnes e peles de caprino e de ovino com selo de qualidade quanto à origem e ao modelo físico de exploração, destacando-se a importância da rastreabilidade para a gestão do processo e a inocuidade e qualida-de do produto como elementos fundamentais para a garantia do mercado (Pineda, 2003; Guimarães filho et al., 2006). No brasil o preço praticado, por quilo de peso vivo, no âmbito da unidade produtiva, varia dentro e entre as regiões. a demanda interna conti-nua reprimida e o País não atende ao mercado exter-no, o que significa existir um grande mercado a ser conquistado. Para que o mercado seja conquistado e permaneça estável ou crescente, é imprescindível

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que se mantenha a oferta do produto constante, que este seja proveniente de animais jovens e bem acaba-dos, que a carcaça apresente boa conformação e tama-nho compatíveis com as exigências de cada mercado e os preços competitivos. também, os abates devem ser feitos em abatedouros-frigoríficos que tenham fiscalização efetiva da vigilância sanitária. sistemas de exploração e animais que atendam a essas exigências favorecem o uso de cortes padronizados da carcaça no âmbito de abatedouros-frigoríficos, supermercados e casas de carnes especializadas, aspectos importantes para a apresentação e comercialização do produto. Uma vez mantido constante o padrão de qualidade e respeitada a preferência do cliente, o consumo das carnes caprina e ovina é influenciado principalmente pelo preço do produto, pela renda per capita dos con-sumidores e pelos preços das carnes concorrentes. Quando se considera a preferência dos consumidores brasileiros e o preço, a carne bovina é a mais consumi-da e barata, ao passo que, a ovina é a menos consumida e com preço mais elevado (Couto, 2002).

a pele de animais das raças ovinas deslanadas e suas cruzas e das caprinas, particularmente das

raças e dos tipos raciais naturalizados do Nordeste e da anglo-nubiana são muito valorizados por seus atributos de qualidade. estes favorecem a diversi-ficação de uso pela agroindústria para o fabrico de artefatos finos, como calçados e vestuário. apesar da importância das peles e de os mercados interno e externo serem compradores, a comercialização do produto no País, com exceção da região Nordes-te, ainda recebe pouca atenção. maximizar a pro-dução de peles sem defeitos e avançar nas etapas de beneficiamento até o estado de semiacabada e acabada, com foco na comercialização e no fabrico de produtos manufaturados, devem ser metas a serem alcançadas. evidencie-se que as peles são os produtos oriundos da caprinocultura e ovinocultu-ra de corte que mais suportam a agregação de valor ao longo da cadeia produtiva, desde a matéria-prima ao couro até o consumidor final. No entanto, um número significativo das peles que chega aos curtumes é impróprio para a agroindústria devido ao número elevado de defeitos. O abate tardio; a exposição dos animais por um período longo à vegetação espinhosa e a cerca de arame farpado;

tAbelA 6. defeitos em peles de caprinos e ovinos, numa escala de zero (0) a cinco (5), no curtume cobrasil, parnaíba, piauí

defeitopele

seca, 3900. salgada, 6550.

bexiga 3 3

Perfuração por espinho 3 – 4 2 – 3

Cicatriz 4 – 5 4 – 5

esfola / corte por faca 3 – 4 3 – 4

conservação:

mancha por fermentação 2 – 3 2 – 3

Ressecamento 3 0

ardimento 5 0

escala: 0 = sem defeito; 5 = alta frequência de defeito.Fonte: Barros, 1994.

tAbelA 7. porcentagem de nitrogênio (n), fósforo (p) e potássio (K) no esterco

espécie n p K

bovina 0,50 0,45 0,30

Caprina 0,97 0,65 0,48

Ovina 1,00 0,60 0,35

Galinácea 1,75 0,85 1,25

suína 1,00 0,30 0,40Fonte: Vieira, 1984.

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Dados dos autor

Aurino Alves Simplíciomédico veterinário, CRmv-RN 0463; PhD em Ciência animal; ex-Pesquisador da embrapa; Pesquisa-dor do CNPq/faPeRN/empresa de Pesquisa agropecuária do Rio Grande do Norte (emPaRN).

endereço para correspondência: Rua dos tororós, 2.300, ed. vernier, apt. 402 – Lagoa Nova – Natal/RN – CeP 59054-550. E-mail: [email protected]

Referências bibliográficas

lesões decorrentes da linfadenite caseosa e da sar-na demodécica; e os processos arcaicos de abate, esfola, conservação, armazenamento e transporte interferem na qualidade das peles, tabela 6 (barros, 1994; Leite & simplício, 2002). as peles, caprinas e ovinas, juntam, representam menos de um por cen-to do valor das exportações totais de peles e couros do brasil (Courobusiness, 2000).

O esterco de caprino e ovino é mais rico do que o de bovino em nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (k), tabela 7, sendo de fácil aproveitamento e deven-

do ser usado, preferencialmente, após o curtimento. O solo rico em matéria orgânica apresenta maior capacidade de retenção de água e, geralmente, res-ponde melhor à adubação química, aspectos muito importantes para a produção de alimentos para o consumo humano e animal. em regiões brasileiras onde a fruticultura irrigada e a produção de hortifru-tigranjeiros são predominantes, a oferta de esterco não atende a demanda. essa situação representa mais uma oportunidade de negócio e favorece a comercialização do produto.

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aValiaçãO DO TesTe DO anTígenO aCiDiFiCaDO TamPOnaDO em sOrOs TraTaDOs COm riVanOl COmO TesTe COnFirmaTóriO nO DiagnósTiCO sOrOlógiCO Da BruCelOse BOVina

resumo

O trabalho teve por objetivo avaliar a prova do antígeno acidificado tamponado após tratamento dos soros com rivanol (Riv-aat), como teste confirmatório no diagnóstico sorológico da brucelose bovina. foram selecionadas 1.061 amostras de soros bovinos, previamente analisadas pelos testes preconizados pelo Programa Nacional de Controle e erradicação de brucelose e tuberculose (PNCebt): como teste de triagem, a prova do antígeno acidificado tamponado (aat), e como testes confirmatórios, a combinação das provas de soroaglutinação lenta e 2-mercaptoetanol (saL+me), e a reação de fixação de complemento (RfC) foram utilizados. Os dados foram anali-sados pelo indicador kappa, adotando-se como ponto-de-corte o título 25 no me e 4 na RfC. O Riv-aat apresen-tou concordância regular (kappa = 0,53) com o aat e boa com os testes confirmatórios (kappa: me = 0,67; saL+me = 0,66; RfC = 0,76). a comparação entre os resultados do Riv-aat e a condição verdadeira do animal, estabelecida pela combinação dos resultados das provas aat, saL+me e RfC, resultou em uma sensibilidade relativa de 76,5%, com intervalo de confiança (95%) de 72,7% a 80,3%, e especificidade relativa de 100%. Conclui-se que o Riv-aat pode ser utilizado como teste confirmatório no diagnóstico sorológico da brucelose bovina, sendo os animais com resultado positivo considerados infectados e aqueles com resultado negativo submetidos a um dos dois tes-tes confirmatórios adotados pelo PNCebt. Com isso, haverá barateamento do diagnóstico, maior rapidez na ob-tenção do resultado e, portanto, na adoção da medida sanitária para a redução da taxa de prevalência da infecção, que é o objetivo do Programa.

Palavras-chave: brucelose bovina, rivanol, diagnóstico sorológico, PNCebt

Abstract the purpose of the investigation was to evaluate the rose bengal test in bovine serum after treatment with rivanol (Rbt-Riv) as a confirmatory test for brucellosis diagnosis. serum samples from 1,061 bovine were analyzed by se-rological diagnostic techniques adopted by the brazilian Program for animal brucellosis and tuberculosis Control and eradication: as screening test, the rose bengal test (Rbt), and as confirmatory tests, the 2-mercaptoethanol plus standard tube agglutination test (stat+me), or the complement fixation test (Cft) were used. Rbt-Riv showed a moderate agreement (kappa = 0.53) with Rbt, and substantial agreement with the confirmatory tests (kappa: me = 0.67; stat+me = 0.66; Cft = 0.76). Comparing the Rbt-Riv results with the true condition of the animals, established by combining the results of Rbt, stat+me and Cft, the relative sensitivity was 76.5%, with a 95% confidence interval from 72,7% to 80.3%, and relative specificity of 100%. the results suggested that the Rbt-Riv is suitable to be used as a confirmatory test for brucellosis serological diagnosis: an animal testing positive should be classified as infected, and an animal testing negative should be further tested by Cft or stat+me. this option could provide a cheap and quick diagnosis, so that a quick sanitation of the heard could be achieved, leading to the reduction of the brucellosis prevalence rate, the main goal of the program.

Keywords: bovine brucellosis, rivanol, serodiagnosis, PNCebt

EVALuATION OF ThE rOSE BENGAL TEST IN BOVINE SEruM AFTEr TrEATMENT wITh rIVANOL AS A CONFIrMATOry TEST FOr BruCELLOSIS DIAGNOSIS

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INTrODuçãODiversos países desenvolvidos conseguiram,

após a adoção de rigorosos programas sanitários, erradicar a brucelose bovina, mas, na maioria dos países, a infecção continua a ocorrer de forma endê-mica, como é o caso do brasil (Poester et al., 2002).

Com a implantação do Programa Nacional de Controle e erradicação da brucelose e tuberculose animal (PNCebt), em 2001, o brasil deu um impor-tante passo para o controle e posterior erradicação, porém a adesão dos criadores ao sistema de certifica-ção de propriedades livres e monitoradas está ocor-rendo de maneira mais lenta do que seria desejável.

Como ocorre em programas adotados em outros países, um dos pilares do programa brasileiro é a identificação das fontes de infecção com base em testes sorológicos.

Uma ampla variedade desses testes está dis-ponível para essa finalidade (Nielsen, 2002), todos com vantagens e desvantagens. O PNCebt optou pelos menos sofisticados e mais acessíveis. O Programa prevê que o diagnóstico da brucelose bovina e bubalina deve ser feito usando o teste do antígeno acidificado tamponado (aat) como triagem. Os animais com resultado positivo podem ser classificados como infectados ou, então, podem ser submetidos a um teste confirmatório, situação para a qual existem duas opções: a combinação das provas de soroaglutinação lenta e do 2-mer-captoetanol (saL+me) ou a reação de fixação de complemento (RfC). ambas as opções para o teste confirmatório apresentam inconvenientes que dificultam sua realização, limitando o número de la-boratórios envolvidos nesse diagnóstico, principal-mente quando se leva em consideração o tamanho do rebanho brasileiro e, portanto, o grande número de animais a serem examinados. Diante disso, e considerando que tal tipo de estudo não é encon-trado na literatura, este trabalho se propôs a avaliar o desempenho da prova do antígeno acidificado tamponado após tratamento dos soros com rivanol (Riv-aat) como teste confirmatório para o diag-nóstico sorológico da brucelose bovina, alternativa que poderia proporcionar uma opção rápida, bara-ta e de fácil execução para o teste de animais com resultado positivo na prova de triagem.

MATErIAL E MéTODOSAMOSTrAS

foram analisadas 1.061 amostras de soros sanguíneos de bovinos adultos, de diversas raças,

ambos os sexos e de diferentes rebanhos. essas amostras foram submetidas ao teste do antígeno acidificado tamponado (aat), também conhecido como rosa de bengala, ao teste do 2-mercaptoe-tanol (me), ao teste de soroaglutinação lenta em tubos (saL) e à reação de fixação de complemento (RfC). após tratamento com rivanol, foram nova-mente submetidas ao teste do antígeno acidifica-do tamponado (Riv-aat).

TESTES SOrOLóGICOSOs testes aat, me e saL foram realizados con-

forme descrito no manual técnico do Programa Nacional de Controle e erradicação da brucelose e tuberculose (brasil 2006). Para a interpretação dos resultados da combinação saL+me, conforme pre-vê o PNCebt, adotou-se a tabela para animais não vacinados (brasil, 2004a).

Para a RfC, empregou-se a microtécnica com incubação a 37ºC nas duas fases da reação, reco-mendada por alton et al. (1988), utilizando antí-geno de célula total de Brucella abortus amostra 1119/3. Como complemento foi utilizado soro de cobaia, na dose de 5 unidades hemolíticas 50%, titulado conforme a técnica descrita por alton et al. (1988). foi empregado sistema hemolítico for-mado por hemácias de carneiro sensibilizadas com hemolisina (anticorpo de coelho contra hemácia de ovino) titulada conforme a recomendação de alton et al. (1988).

PrOVA DO ANTíGENO ACIDIFICADO TAMPONADO EM SOrOS TrATADOS COM rIVANOL

foi utilizado antígeno comercial produzido com Brucella abortus amostra 1119/3, pelo insti-tuto biológico de são Paulo, preparado de acordo com a técnica recomendada pelo ministério da agricultura, corado com rosa de bengala (brasil 2004b). O teste foi realizado com o antígeno na concentração padrão (8,0% de volume celular) e também na concentração de 4%. Para a obtenção do antígeno na concentração de 4% de volume celular, o antígeno padrão foi diluído, em partes iguais, em solução preparada com 9 mL de ácido láctico (H6C3O3), 2 g de hidróxido de sódio, comple-tando-se o volume de 100mL com solução salina fenolada (NaCl 0,85% e fenol 0,5%), ficando o pH em 3,65 (figura 1).

a solução de rivanol (6,9-diamino-2-ethoxya-cridine lactate) foi preparada de acordo com a descrição do Centro Panamericano de Zoonosis

Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201138

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(1982), na concentração de 1%, em água destilada (figura 2).

Para o tratamento dos soros com riva-nol, colocavam-se, em um tubo de cen-trífuga, 200 μL da amostra de soro e 200 μL da solução de rivanol 1%. agitava-se o tubo para promover a homogeneização e deixava-se em descanso à temperatura ambiente por 10 a 60 minutos (figura 3). Centrifugava-se a mistura a 1.000 G du-rante 5 a 10 minutos (figura 4) e, após esse tratamento, o sobrenadante (figura 5) era submetido ao aat (figuras 6, 7 e 8).

ANáLISE DOS DADOSa concordância entre os testes foi

obtida com base no coeficiente kappa, o qual foi interpretado de acordo com os critérios adotados por Pereira (2000). Para a obtenção da sensibilidade e da especi-ficidade relativas do Riv-aat, utilizou-se a combinação dos resultados da prova padrão do aat, da RfC e da saL+me para determinar a condição verdadeira dos animais. Conforme as recomendações de martin et al. (1987), os animais com resulta-do positivo nos três testes que serviram de parâmetro foram considerados infectados, aqueles com resultado negativo nos três testes foram considerados não infectados e aqueles com resultados divergentes entre os três testes padrões foram des-considerados. O intervalo de confiança da sensibilidade foi calculado de acordo com a metodologia mencionada por thorner & Remein (1961).

rESuLTADOSDos 1.061 soros sanguíneos analisa-

dos, 644 (60,7%) apresentaram resultado positivo no aat e 417 (39,3%) apresentaram resultado negativo, ao passo que 375 (35,3%) apresentaram resultado positivo no Riv-aat e 686 (64,7%) apresentaram resultado nega-tivo. Das 644 amostras positivas no aat, 375 (58,2%) também apresentaram resultado po-sitivo no Riv-aat, e 269 (41,8%) apresentaram resultado negativo. já as 417 amostras negati-vas no aat foram todas negativas também no Riv-aat (tabela 1). Nessa situação, observou-se uma concordância regular (kappa = 0,53).

Figura 1. Frasco pequeno com rótulo contendo o antígeno Brucella abortus amostra 1119/3 (8,0% de volume celular). O conteúdo do frasco pequeno sem rótulo é o antígeno diluído na concentração de 4%. Solução diluente deposita-da no frasco maior

Figura 2. Embalagem comercial do rivanol em pó (6,9-diamino-2-ethoxyacridi-ne lactate). Ao lado, frasco embalado com papel alumínio contendo rivanol na concentração de 1%

Figura 3. Tubo de centrífuga com 200 μL da amostra de soro e 200 μL da solução de rivanol 1%, após homogeneização manual e descanso à temperatura ambiente

Figura 4 . Centrifugação dos tubos a 1.000 G durante 5 a 10 minutos

fOtOs: aRQUivO DO aUtOR

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Dos 375 soros positivos no Riv-aat, 3 (0,8%) não apresentaram título na RfC, ao passo que os outros 372 (99,2%) apresentaram título a partir de 4. Dos 686 soros negativos no Riv-aat, 483 (70,4%) não apresentaram título na RfC, 79 (11,5%) apre-sentaram título 2, e os demais 124 (18,1%) apresen-taram títulos variando de 4 a 64. Quando as provas de RfC e Riv-aat foram comparadas (tabela 2), en-controu-se um valor de kappa igual a 0,76, caracte-rizando uma concordância boa entre os dois testes.

Quando comparados os resultados do Riv-aat com os do me, verificou-se que, dos 543 soros com resultado positivo no me, 371 (68,3%) apresenta-ram também resultado positivo no Riv-aat e 172 (31,7%) apresentaram resultado negativo. Das 518 amostras negativas no me, 4 (0,8%) apresentaram resultado positivo no Riv-aat e 514 (99,2%) apre-sentaram resultado negativo. Das 686 amostras negativas no Riv-aat, 172 (25,1%) apresentaram resultado positivo no me, com títulos que variaram de 25 a 200. adotando-se como ponto de corte o título 25 no me, constata-se a ocorrência de 371 amostras com resultado positivo em ambos os testes e 514 amostras com resultado negativo em ambos, o que significa uma proporção de 83,4% de resultados concordantes, resultando em kappa igual a 0,67, ou seja, concordância boa entre os dois testes (tabela 3).

Das 545 amostras com resultado positivo na combinação saL+me, 371 (68,1%) também apre-sentaram resultado positivo no Riv-aat e 174 (31,9%) apresentaram resultado negativo. Das 61 amostras que apresentaram resultado inconclusi-vo na combinação saL+me, 58 (95,1%) apresenta-ram resultado negativo no Riv-aat e 3 (4,9%) apre-sentaram resultado positivo. Das 455 amostras com resultado negativo na combinação, apenas 1 (0,2%) apresentou resultado positivo no Riv-aat, e 454 (99,8%) apresentaram resultado negativo. excluindo os resultados inconclusivos, observa-se que 371 amostras apresentaram resultado positivo em ambas as provas e 454 apresentaram resulta-do negativo nas duas provas, o que significa uma proporção de 82,5% de resultados concordantes, resultando em kappa igual a 0,66, ou seja, concor-dância boa (tabela 4).

a comparação entre os resultados obtidos pelo Riv-aat e a condição verdadeira do animal, estabelecida pela combinação dos resultados das provas aat, saL+me e RfC, encontra-se no tabela 5. Observa-se que, entre os 857 soros, o Riv-aat apresentou 744 (86,8%) resultados condizentes com a condição verdadeira. Dos 481 animais classificados como infectados, 368 apresentaram resultado positivo no Riv-aat, o que significa uma sensibilidade relativa de 76,5%, com intervalo de

s U P L e m e N t O C i e N t Í f i C O

tAbelA 1. comparação entre os resultados obtidos por meio do teste do antígeno acidificado tampo-nado em soros tratados com rivanol (Riv-AAt) e do teste do antígeno acidificado tamponado (AAt) para diagnóstico sorológico de brucelose em bovinos

Riv-AAtAAt

totalpositivo negativo

Positivo 375 0 375

Negativo 269 417 686

total 644 417 1.061

k = 0,53

tAbelA 2. comparação entre os resultados obtidos por meio do teste do antígeno acidificado tampo-nado em soros tratados com rivanol (Riv-AAt) e da reação de fixação de complemento (Rfc) para diagnóstico sorológico de brucelose em bovinos

Riv-AAtRfc (≥ 4)

totalpositivo negativo

Positivo 372 3 375

Negativo 124 562 686

total 496 565 1.061

k = 0,76

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Figura 5. Após centrifugação, o material utilizado para a realização da prova do antígeno acidificado tamponado (AAT) AAT será o sobrenadante

Figura 6. Realização da prova do antígeno acidificado tamponado (AAT) com soros tratados com rivanol reagindo com antígenos na concentração a 4% e 8%

Figura 7. Homogeneização e movimentos rotatórios durante 4 minutos para a realização da prova do antígeno acidificado tamponado (AAT) em soros tratados com rivanol reagindo com antígenos na concentração a 4% e 8%

Figura 8. Resultado negativo (A), com ausência de aglutinações, e resultados positivos (B,C e D), com presença de aglutinações

confiança variando de 72,7% a 80,3%, com 95% de probabilidade. todos os animais classificados como livres da infecção apre-sentaram resultado negativo no Riv-aat, o que indica uma especificidade relativa de 100%. Uma vez que todos os animais com resultados positivos no Riv-aat fo-ram classificados como infectados, o valor preditivo positivo do teste foi de 100%, ao passo que o valor preditivo negativo foi de 76,9%, ou seja, das 489 amostras com resultado negativo no Riv-aat, 376 foram classificadas como não infectadas.

DISCuSSãO E CONCLuSãO

O teste que está sendo avaliado neste trabalho (Riv-aat) apresentou concordân-cia regular com o teste de triagem (kappa = 0,53) e concordância boa com os testes confirmatórios. Na comparação com a combinação saL+me, o kappa foi 0,66 (tabela 4); na comparação com o me isola-damente, o kappa foi 0,67 (tabela 3); e na comparação com a RfC o coeficiente kappa foi 0,76 (tabela 2), ou seja, o Riv-aat apre-sentou melhor concordância com a RfC.

a menor concordância com o teste de triagem está relacionada com a elevada especif ic idade do Riv-aat. Na com-paração com os testes confirmatórios, observou-se que, geralmente, títulos elevados na RfC ou no me estão associa-dos com resultado positivo no Riv-aat. Constatou-se que apenas 3 dos 375 soros com resultado positivo no Riv-aat apre-sentaram resultado negativo na RfC, mas deve-se destacar que esses 3 soros apre-sentaram resultado positivo e com títulos altos (200i, ≥400, ≥400) no teste do me, sugerindo que se trata de soro de animal infectado e que, provavelmente, o resul-tado da RfC foi falso-negativo. Da mesma forma, observou-se que apenas 4 soros en-tre 375 positivos no Riv-aat apresentaram resultado negativo no me, mas esses soros apresentaram resultado positivo na RfC (1 com título 8, 2 com título 64 e 1 com título ≥128), sugerindo que se trata de resulta-do falso-negativo no me, e não resultado falso-positivo no Riv-aat.

BA

C D

Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 41

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a maneira ideal de determinar a sensibilidade de um teste de diagnóstico sorológico da bru-celose seria pela análise de amostras de animais dos quais tivesse sido isolado o agente etiológico. entretanto esse material é de difícil obtenção, e a alternativa mais prática consiste na determinação da sensibilidade relativa, na qual se usam, para estabelecer a condição de infectado, procedimen-tos biologicamente similares ao do teste que está sendo avaliado. Não se deve, porém, ignorar que essa metodologia apresenta inconvenientes, pois resultado falso-negativo em um dos testes usados como parâmetro acarreta descarte de amostra de animal infectado, restando apenas as amostras com resultado positivo em todos os testes padrões, o que pode acarretar distorções na determinação da sensibilidade do teste que está sendo avaliado. Da mesma forma, para a determinação da especifici-dade, o ideal seria o uso de amostras provenientes de rebanhos livres da infecção, localizados em áreas onde a brucelose esteja erradicada. Na impossi-bilidade de obtenção desse material, a opção é determinar a especificidade relativa, usando soros com resultado negativo nos testes que serviram de padrão, o que também pode acarretar distorções. Os resultados do presente trabalho apontaram uma

sensibilidade relativa do Riv-aat de 76,5% (72,7% a 80,3%, com 95% de confiança) e uma especificidade relativa de 100%. a alta especificidade e a sensibi-lidade comparativamente mais baixa podem ser explicadas pelo fato de a ação do rivanol tornar o teste mais específico pela precipitação de imuno-globulinas da classe igm, além de que o baixo pH do antígeno também torna o teste de aglutinação mais específico, conforme observaram Rose & Roepke (1957). Uma vez que não há na literatura outro es-tudo avaliando o aat após tratamento do soro com rivanol (Riv-aat), não há como comparar a sensibi-lidade e a especificidade observadas no presente trabalho. Comparando os resultados com aqueles obtidos com o teste do rivanol, que é o teste pela prova de soroaglutinação rápida em placa após o tratamento com esse produto, pode-se deduzir que o Riv-aat apresentou menor sensibilidade e maior especificidade, já que Reyes (1996), citado por aparicio et al. (2000), verificou sensibilidade de 83% e especificidade de 93% para o teste do rivanol. já Nicoletti & tanya (1993) observaram, para o teste do rivanol, sensibilidade variando de 84,9% a 98,6% e especificidade variando de 28,5% a 61,8%.

sabe-se que a concentração do antígeno pode influenciar a sensibilidade e a especificidade de

tAbelA 3. comparação entre os resultados obtidos por meio dos testes do 2- mercaptoetanol (2-me) e antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol (AAt-Riv) para diagnóstico sorológico de brucelose em bovinos

Riv-AAtme

totalpositivo negativo

Positivo 371 4 375

Negativo 172 514 686

total 543 518 1.061

k = 0,67

tAbelA 4. comparação entre os resultados obtidos por meio do teste do antígeno acidificado tampo-nado em soros tratados com rivanol (Riv-AAt) e da combinação dos testes de soroaglutina-ção lenta e 2-mercaptoetanol (sAl+me), desconsiderando os inconclusivos, para diagnóstico sorológico de brucelose em bovinos

Riv-AAtsAl+me

totalpositivo negativo

Positivo 371 1 372

Negativo 174 454 628

total 545 455 1.000k = 0,66

Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201142

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um teste sorológico. No aat utiliza-se antígeno na concentração de 8% de volume celular. Conside-rando que no Riv-aat o soro é tratado com igual volume da solução de rivanol, o soro é testado na metade de sua concentração original. Por isso,

o teste foi também realizado com o antígeno na metade de concentração padrão. No entanto os resultados foram exatamente os mesmos tanto com o antígeno na concentração de 8% quanto na concentração de 4% de volume celular.

Figura 9. Uso das provas sorológicas para diagnóstico da brucelose bovina conforme prevê o Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose (BRASIL, 2006)

aat: teste do antígeno acidificado tamponadosaL+2-me: Combinação das provas de soroaglutinação lenta e 2-mercaptoetanolRfC: Reação de fixação de complemento

aat

saL +2 - me RfC

saCRifÍCiO

saL +2 - me

saCRifÍCiO

teste De tRiaGem

testesCONfiRmatÓRiOs

indicam ações obrigatóriasindicam alternativas de decisãoindicam possibilidades de resultados

tAbelA 5. Resultados do teste do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol (Riv-AAt) em comparação com a condição verdadeira do animal (infectado ou nãoinfectado), determinada pela combinação dos resultados dos testes do antígeno acidificado tamponado (AAt), soroaglutinação lenta + 2-mercaptoetanol (sAl+me) e reação de fixação de comple-mento (Rfc), para diagnóstico sorológico de brucelose em bovinos

Riv-AAtAAt/sAl+me/Rfc

totalinfectado não infectado

Positivo 368 0 368

Negativo 113 376 489

total 481 376 857

sensibilidade relativa = (368 / 481) x 100 = 76,5% {iC 95% = 72,7% ¾ 80,3%}especificidade relativa = (376 / 376) x 100 % = 100,0%

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s U P L e m e N t O C i e N t Í f i C O

Os resultados observados no presente trabalho mostraram que o Riv-aat é um teste altamente es-pecífico e que pode fornecer alguma contribuição ao diagnóstico sorológico da brucelose bovina. essa contribuição consistiria na sua aplicação como prova confirmatória, em soros positivos no teste de triagem, porém antes de serem subme-tidos aos testes confirmatórios já adotados pelo PNCebt. Pelo esquema atualmente adotado pelo Programa, os soros com resultado positivo no teste de triagem podem ser submetidos ao diagnóstico confirmatório pela combinação saL+me ou pela RfC, como ilustra a figura 9.

entretanto esses testes são laboriosos, com-plexos e demorados, o que retarda a obtenção do resultado final e limita o número de laboratórios que podem realizar o diagnóstico confirmatório. a inserção do Riv-aat no esquema de diagnóstico constituiria uma opção rápida e de baixo custo

para a confirmação dos resultados positivos no teste de triagem, que poderia até ser realizada pelo veterinário habilitado, sem maiores ne-cessidades de recursos laboratoriais, exigindo, em relação à infraestrutura de que ele já dispõe, apenas o acréscimo de uma centrífuga. O Riv-aat poderia ser realizado nas amostras positivas no aat, e os resultados positivos no Riv-aat pode-riam ser considerados indicadores de infecção, uma vez que o resultado positivo nesse teste é acompanhado de resultado positivo em pelo me-nos um dos testes confirmatórios adotados pelo PNCebt. Dessa forma, não haveria necessidade de submeter essas amostras à RfC ou à combinação saL+me, em decorrência da elevada especificida-de do teste. já amostras positivas no aat e nega-tivas no Riv-aat seriam, então, submetidas a um dos dois testes confirmatórios, para a conclusão do diagnóstico, conforme ilustra a figura 10. Com

Figura 10. Proposta da inclusão da prova do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol (AAT-RIV) no diagnóstico da brucelose bovina

aat: teste do antígeno acidificado tamponadosaL+2-me: Combinação das provas de soroaglutinação lenta e 2-mercaptoetanolRfC: Reação de fixação de complementoaat-Riv: Prova do antígeno acidificado tamponado em soros tratados com rivanol

indicam ações obrigatóriasindicam alternativas de decisãoindicam possibilidades de resultados

aat

saCRifÍCiOsaCRifÍCiO

teste De tRiaGem

testesCONfiRmatÓRiOs

RCf att - Riv

saCRifÍCiO

saL +2 - me RCf

saL +2 - me

Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201144

Page 45: Revista CFMV 52

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Referências bibliográficas

Dados dos autores

raphaella Barbosa Meirelles-Bartoli médica veterinária, CRmv-sP 19.398; Doutoranda do Programa de medicina veterinária (medicina vete-rinária Preventiva) – Departamento de medicina veterinária Preventiva e Reprodução animal da fCav/Unesp – Campus jaboticabal.

endereço para correspondência: via de acesso Prof. Paulo Donato Castellane km 5 – jaboticabal/sP – CeP 14884-900.E-mail: [email protected]

Luis Antonio Mathias médico veterinário, CRmv - sP 01943 – Departamento de medicina veterinária Preventiva e Reprodu-ção animal da fCav/Unesp – Campus jaboticabal.

isso, haveria barateamento do diagnóstico, maior rapidez na obtenção do resultado e, portanto, na adoção da medida sanitária para a redução da taxa de prevalência da infecção, que é o objetivo do Programa.

AGrADECIMENTOSÀ fundação de apoio a Pesquisa do estado de

são Paulo (faPesP) pelo auxílio financeiro ao pro-jeto (processo nº 2006/59673-0), e pela bolsa de mestrado concedida (Processo nº 2006/51940-0).

Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 45

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s U P L e m e N t O C i e N t Í f i C O

OCOrrênCia De DOis CasOs De QueilOsQuise ligaDOs à enDOgamia em BeZerrOs Da raça girOlanDO

resumo

foi observada ocorrência de dois casos de queilosquise em bezerros, um macho e uma fêmea, decorrente do cruzamento consanguíneo entre um reprodutor da raça Gir e matrizes (filha e neta) da raça Girolando. foram calculados os coeficientes de endogamias de ambos indivíduos, que resultou em índices elevados, obtendo 12,5% para o bezerro e 25% para a bezerra. as patologias encontradas nos indivíduos resultaram em desen-volvimento de uma fissura lábio-naso-palatal unilateral completa no lado esquerdo do bezerro e unilateral completa no lado direito da bezerra. as alterações patológicas compreenderam na formação de fissura com alterações ósseas no bezerro com hipoplasia na parte rostral dos ossos maxilar e incisivo, com hipertrofia da cartilagem nasal direita e assimetria severa da narina. Na bezerra, as alterações ósseas foram mais discretas, as-sim como a assimetria da narina. Portanto, o coeficiente de endogamia no presente estudo ultrapassou o valor de 6,25%, máximo recomendado pela literatura científica, o que aumentou as chances de expressão de genes recessivos deletérios, podendo ter originado os presentes quadros clínicos.

Palavras-chave: queilosquise, endogamia, anomalias craniofaciais

Abstract Was observed occurrence of two cases of cheiloschisis in calf, a male and female, caused by incest crossing between reproducer of Gir breed and females breeder (daughter and granddaughter) of Girolando breed. Were calculated inbreeding coefficient of two individuals, where result in high index, obtain 12.5% to calf male and 25% to calf female. the pathology found in individuals result in development of cleft lip, jaw and palate complete unilateral in left cavity in calf male and complete unilateral in right cavity in calf female. Pathological alterations comprehend in formation of cleft with bone alterations in calf male with hypoplasia in rostral part of maxilar bone and incisive, with hypertrophy of right nasal cartilage and severe asymmetry of nostril. in case of calf female, such bone alterations were less severe. Perhaps, inbreeding coefficient in present work to exceed the limits of 6.25%, maximum recommended in scientific papers, what increase the opportunity of genes del-eterious expression, afford be raised clinic cases.

Keywords: cheiloschisis, inbreeding, craniofacial abnormality

OCCurrENCE OF TwO CASES OF ChEILOSChISIS rELATED INBrEEDING IN CALF OF GIrOLANDO BrEED

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INTrODuçãOQueilosquise, fissura labiopalatal, fenda palatal

primária ou, simplesmente, lábio leporino é uma abertura na região do lábio ou palato, ocasionada pelo não fechamento dessas estruturas no período de gestação (Cheville, 2004). O termo lábio leporino refere-se à semelhança com o focinho fendido de uma lebre (jones et al., 2000).

as fissuras podem ser unilaterais (quando atingem somente um lado do lábio) ou bilaterais (quando atingem os dois lados do lábio), completas (quando atingem o lábio e o palato) ou incompletas (quando atingem somente uma dessas estruturas), além de atípicas, variando desde as formas mais leves, como a cicatriz labial, até formas mais graves, como as fissuras amplas de lábio e palato (spranger et al., 1982). as fissuras labiopalatais também po-dem se associar a outras más-formações, sejam elas de face ou de outras regiões do corpo (Cunha et al., 2004). as fissuras de palato deixam o canal oral em contato com o nasal, podendo causar complicações respiratórias como sinusite, rinites ou broncopneu-monias (jones et al., 2000).

a origem da maioria das fendas labiais e palatinas resulta de fatores múltiplos, genéticos e não genéti-cos (como inanição, infecções neonatais, intoxicações etc.), cada um deles pode causar perturbações no de-senvolvimento embrionário (maritomo et al., 1999). a fissura resultante de má-formação congênita decor-rente de falhas no desenvolvimento ou na maturação dos processos embrionários geralmente ocorre entre a quarta e a oitava semana de vida intrauterina, perío-do no qual ocorre a formação de estruturas do orga-nismo como cérebro, olhos, órgãos digestivos, língua e vasos sanguíneos (Garcia e Garcia, 2006). Por volta da sexta semana do desenvolvimento embrionário, as estruturas faciais externas completam sua fusão e as internas se completarão até o final da oitava sema-na (jones et al., 2000).

em gado bovino, existem poucos relatos de queilosquise, o que dificulta estimar a incidência de casos (Greene et al., 1974; Leipold et al., 1983; szabo, 1989; moritomo et al., 1999; tammen e tam-men, 2007).

a endogamia ou consanguinidade resulta do acasalamento, intencional ou não, de animais aparen-tados, sendo um sistema de acasalamento capaz de alterar a constituição genética da população (muniz et al., 2008). isso se dá por meio do aumento da homo-zigose e, consequentemente, da diminuição da hete-rozigose, alterando, assim, a frequência genotípica, mas não as frequências gênicas (Queiroz et al., 2000).

Na primeira metade deste século, a endogamia foi utilizada, juntamente com a seleção, visando aumentar a uniformidade em algumas raças bovi-nas (muniz et al., 2008). segundo Pirchner (1985), os criadores reconheceram tanto os perigos da endo-gamia na saúde e no desempenho da progênie como também suas vantagens na consolidação de certas características, e ainda a imprevisibilidade, que pare-ce ser inerente ao processo da endogamia.

apesar de seus riscos, a endogamia tem sido bas-tante usada por criadores de animais, principalmente entre criadores de elite, com o objetivo de assegurar uniformidade racial e fixação de certas características em linhagens cujos produtos têm maior aceitação comercial (Queiroz et al., 2000). entretanto, a endoga-mia acima de certos níveis tem sido registrada como deterioradora do rebanho, do vigor e do crescimento dos animais, ocasionando, ainda, diminuição no de-sempenho reprodutivo (Pirlea e ilea, 1970).

No brasil, Penna (1990), amaral et al. (1991) e Queiroz et al. (2000) relataram efeito significativo e adverso da endogamia sobre características de im-portância econômica de bovinos das raças tabapuã, Caracu e Gir, respectivamente. entretanto, não foram observados casos de queilosquise nas referências pesquisadas nesses estudos.

O objetivo deste trabalho foi descrever a sinto-matologia clínica e as alterações morfológicas de dois casos de queilosquise, observando as variações patológicas e relacionando-as com o grau de con-sanguinidade envolvido.

MATErIAL E MéTODOSa patologia afetou dois animais da raça Giro-

lando, um macho (bezerro a) e uma fêmea (bezerro b), provenientes de um cruzamento consanguíneo (figura 1). acasalamento acidental de um touro reprodutor da raça Gir com uma filha e uma neta pertencentes ao rebanho leiteiro do instituto fede-ral de ensino tecnológico Norte de minas – Campus salinas (Coordenadas Geográficas 16º10’19” s e 42º17’33” W).

a bezerra nasceu no dia 19 de julho de 2008 com grau de sangue 25/32 GL/HO (Gir Leiteiro/Holandês), enquanto o bezerro nasceu no dia 14 de agosto, do mesmo ano, com grau de sangue 39/64 GL/HO, por meio de parto normal, sem intervenção ou assistên-cia. as vacas foram alimentadas no pré-parto com ração balanceada, sal mineral e água ad libitum.

foi calculado o coeficiente de endogamia (f) dos dois indivíduos, pela fórmula de Wright (1922): fx =

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S(0,5)n+n’+1 (1+fa), na qual fx é o coeficiente de endo-gamia do indivíduo X; n e n’ é o número de gerações nas linhas através das quais o pai e a mãe são relacio-nados (parentes); fa é o coeficiente de endogamia do ascendente comum; S indica que os resultados devem ser somados, depois de ter sido computada, separadamente, cada “passagem” ou ligação de pa-rentesco entre pai e mãe.

Os animais foram avaliados por exames físicos com descrição das alterações patológicas. O bezerro foi submetido a uma intervenção cirúrgica corretiva, no dia 30 de setembro de 2008, por apresentar sin-tomatologia de complicações respiratórias (estertor úmido e secreção nasal), vindo a óbito no dia 13 de outubro de 2008.

rESuLTADOS E DISCuSSãOforam diagnosticados dois casos de queilosqui-

se, com fendas unilaterais, no lábio superior esquer-do no bezerro e direito na bezerra. as duas fendas re-sultaram na falha da junção do pré-maxilar e maxilar, sendo ambas completas, associadas com a formação de fendas do processo alveolar e palato.

as fendas causaram dificuldade no aleitamento natural, sendo necessário o uso de mamadeiras adap-tadas, conforme descrições de bowman et al. (1982).

No exame clínico e procedimento cirúrgico no bezerro, foram observadas formação de fissura com alterações ósseas com hipoplasia na parte rostral

dos ossos maxilar e incisivo esquerdo, hipertrofia da cartilagem nasal direita e assimetria severa da narina. Na bezerra, as alterações ósseas foram mais discretas, e a assimetria da narina foi menos severa. tais alterações patológicas estão de acordo com os achados de moritomo et al. (1999).

O cálculo do coeficiente de endogamia evidenciou um índice de 12,5% no bezerro com queilosquise, en-quanto o coeficiente para a bezerra resultou em 25%. esses valores foram muito elevados, visto que o cruza-mento endogâmico máximo permitido é de até 6,5%, de acordo com frank (1997), a partir do qual se espera-comprometimento dos desempenhos reprodutivo e produtivo dos animais.

algumas anomalias genéticas que ocorrem em bovinos relacionadas com endogamia são: acondroplasia, agnatia, agenesia atingindo dois ou mais membros defeituosos, prognatismo, hérnia cerebral, espasmos letais congênitos, cata-rata congênita, membros curvos, epilepsia, lábio leporino, alopecia com ausência total ou parcial dos pelos, hidrocefalia, hipoplasia de ovário ou de testículo, espinha curta, hérnia umbilical, cauda torcida, entre outras, sendo várias delas letais (jo-nes et al., 2000).

macho

fêmea

macho afetado

fêmea afetada

1 2 3

1 2

1

3

B

A

I

II

III

IV

Figura 1. Representação esquemática da árvore genealógica dos animais com queilosquise

Bezerros com lábio leporino

aRQUivO DO aUtOR

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wesley Antunes Meireles médico veterinário, CRmv-mG 5754; Professor de ensino básico, técnico e tecnológico – instituto federal do Norte de minas Gerais – Campus salinas; Doutorando em animais silvestres pela faculdade de medicina veterinária e Zootecnia da Universidade de são Paulo.

endereço para correspondência: fazenda varginha, Rodovia salinas-taiobeiras, km 2 – salinas/mG – CeP 39560-000. E-mail: [email protected]

Charles Bernardo Buteri médico veterinário, CRmv-mG 3177; Professor de ensino básico, técnico e tecnológico – instituto federal do Norte de minas Gerais.E-mail: [email protected]

segundo smith et al. (1998), a consanguinidade não cria nenhum gene deletério na população, o que ocorre, de fato, é que a endogamia leva a um au-mento de pares de genes em homozigose, e muitas anomalias congênitas se manifestam somente em homozigose recessiva.

CONCLuSãORecomenda-se evitar os acasalamentos endogâ-

micos intencionais e o monitoramento dos acasala-mentos, a fim de manter um menor coeficiente de endogamia, buscando-se diminuir a incidência de anomalias genéticas.

Dados dos autores

amaRaL, m.O.; QUeiROZ, s.a.; aLbUQUeR-QUe, L.G. efeito da endogamia sobre o peso ao nascer e a desmama de bezerros da raça Caracu. anais da 28ª ReUNiÃO Da sOCie-DaDe bRasiLeiRa De ZOOteCNia, 1991, joão Pessoa, 1991, Resumos... p.540.

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FaTOres limiTanTes aO esTuDO Da DinÂmiCa FOliCular em OVelHas

resumo

O brasil é um país com franco potencial para despontar como um dos maiores produtores de carne ovina do mundo. O estado de são Paulo está despertando para importância dessa atividade pecuária. Para que se con-siga alcançar altos graus de produção nessa espécie é necessário o domínio de biotécnicas da reprodução que visem aperfeiçoar sua produtividade. Portanto, o conhecimento e controle da dinâmica folicular em ovelhas são essenciais na aplicação das biotecnologias correlacionadas como superovulação, sincronização ou indu-ção de estro. esta revisão tem como objetivo apresentar o padrão de crescimento folicular até o desencadea-mento da ovulação e os principais fatores que interferem no estudo dos eventos ovarianos que acontecem na ocasião do desenvolvimento folicular e posterior ovulação.

Palavras-chave: ovelhas, dinâmica folicular, monitoramento ovariano

Abstract brazil is prone to be one of the biggest ovine meat producers due to its frank potential. the state of são Paulo is wakening for the importance of such agricultural activity. and in order to reach the highest levels of produc-tion of this species it is necessary to excel the knowledge of reproduction biotechnology regarding the ovine. thus, knowing and controlling the ewe’s follicular dynamics are essential to understand how and where to act in different moments of the estrus cycle and select the most appropriate biotechnology to be used such as su-perovulation, synchronization, or estrus induction. this review aims at presenting the standard follicle growth until ovulation takes place, and displaying the factors that may interfere in the follicle development and ovula-tion.

Keywords: ewes, follicular dynamics, ovarian monitoring

INTrODuçãOa exploração da ovinocultura racional em sin-

tonia com os aspectos agroecológico, econômico e social, tendo como foco o mercado real e potencial brasileiro, representa uma excelente alternativa para os diferentes ecossistemas existentes em nos-so país (simplício et al., 2003).

Nas últimas décadas, a ovinocultura brasileira tem passado por grandes modificações em sua cadeia produtiva, devido à notável expansão dos mercados interno e externo (Leite, 2000). atual-

mente, o país conta com efetivo de 17.105.572 ovi-nos, sendo a região sudeste zona de alto potencial na produção de carnes dessa espécie, devido ao elevado crescimento do número de animais e ao alto poder de consumo por parte da sua população (anualpec, 2006).

Para o desenvolvimento e manipulação de no-vos protocolos de superovulação, sincronização e indução de estro, é pré-requisito indispensável o entendimento dos eventos controladores da di-nâmica folicular e as interações entre as mudanças

STuDy OF FOLLICuLAr DyNAMICS IN EwES: LIMITING FACTOrS

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endócrinas e morfológicas do ovário nas ovelhas. a realização de novos estudos dos eventos ovarianos e o conhecimento dos fatores limitantes a estes, com elevada acurácia, são de extrema valia.

O objetivo desta revisão é apresentar o padrão de crescimento folicular até o desencadeamento da ovulação e os principais fatores que interferem no estudo dos eventos ovarianos que acontecem na ocasião do desenvolvimento folicular e poste-rior ovulação.

rEVISãO DE LITErATurAas ovelhas são animais poliéstricos estacionais

de dias curtos, ou seja, sua estação reprodutiva concentra-se nos meses de menor exposição à luz ao longo do ano, o que não quer dizer que nos de-mais períodos não haja atividade ovariana (evans e maxwell, 1991). Noel et al. (1993), em estudo realizado ao longo do ano em ovelhas suffolk mo-nitoradas por laparoscopia, observaram desenvol-vimento folicular, sem ocorrência da ovulação nas estações de primavera e verão.

Utilizando a ultrassonografia em tempo real, com transdutor de frequência 7,5 mhz, associada a dosagens hormonais, pesquisadores canadenses avaliaram ovelhas em anestro e observaram desen-volvimento folicular, porém sem ocorrência de pico de LH, essencial para ocorrência de ovulação. Por outro lado, foram observadas oscilações nas con-centrações de estrógenos e progesterona, devido, respectivamente, ao desenvolvimento folicular e à luteinização de folículos (bartlewski et al., 1998).

FATOrES quE AFETAM O DESENVOLVIMENTO FOLICuLAr

O desenvolvimento folicular pode ser dividido em duas fases, pré-antral e antral, que ocorrem, respectivamente, independente e dependente das gonadotrofinas. O folículo antral desenvolve-se em maior velocidade nas 48 horas antecedentes à ovulação (Cahill, 1981), demonstrando que as gonadotrofinas promovem um aumento na taxa de crescimento folicular. a dependência da ação gonadotrófica, por parte do folículo ovariano em ovelhas, ocorre quando este alcança cerca de 2 mm (Driancourt, 2001).

O desenvolvimento folicular na fase pré-antral é controlado por ação local de fatores de cresci-

mento, tais como: fator de crescimento semelhante à insulina (insulin like growth factor, iGf), mem-bros da superfamília de fatores de crescimento de transformação–β (transforming growth factor-β, tGf-β) e de transformação–α, de fibroblastos (fi-broblast growth factor, fGfs) e edendotelial (endo-thelial growth factor, eGf) (Webb et al., 1998). esses controles, parácrino e autócrino, modulam a ação dos hormônios gonadotróficos.

Destaca-se a ação dos iGf, tGf-beta e ativina, que potencializam a ação do hormônio folículo es-timulante (fsH), estimulando a aromatização dos andrógenos por parte das células da granulosa, o que promove uma maior liberação de estrógeno para o antro (Gonzalez-bulnes et al., 2004). O eGf, quando associado à inibina, promove o declínio na ação do fsH para promoção da aromatização; por outro lado, quando associado à ativina, modula de forma negativa a ação do hormônio luteini-zante (LH) nas células da teca para a produção de andrógenos. O iGf e a inibina, diferentemente dos fatores anteriores, aumentam a ação do LH para a produção desses andrógenos, os quais serão os precursores do estrógeno (Leyva et al., 1998).

O recrutamento é o evento ovariano que for-ma um pool de pequenos folículos antrais que se desenvolvem sobre ação do hormônio folículo estimulante. Neste momento há baixos níveis circulantes de hormônio luteinizante, estradiol e inibina (Driancourt et al., 1991; Ginther et al., 1995). aos dois eventos (recrutamento e seleção), que ocorrem na ocasião do surgimento do fsH, dá-se o nome de onda folicular, porém essa denominação não é uma máxima no estudo do crescimento foli-cular em ovelhas.

em ovelhas ocorrem cerca de três ondas folicu-lares, sendo duas na fase luteal e uma na fase folicu-lar (Noel et al., 1993), que emergem nos dias 0, 6 e 11 do ciclo estral (Rubianes, 2000). Na fase lútea há o predomínio de progesterona, e na folicular o es-trógeno é o esteroide predominante (baird, 1983).

mcNatty et al. (1999) propôs que apenas fo-lículos entre 1 e 3 mm estariam envolvidos no recrutamento, ou seja, responderiam ao fsH, porém Dufour et al. (1979) e Driancourt (1991) de-monstraram uma maior variabilidade no diâmetro dos folículos recrutados, de 2 a 6 mm de tamanho. Na ocasião da seleção, os folículos destinados à ovulação adquirem receptores de LH nas células da granulosa, aumentando sua capacidade de síntese de estrógeno, há diminuição na secreção de fsH e regressão dos folículos menores. Caso ocorra a

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diminuição da concentração plasmática de proges-terona, consequentemente à regressão lútea ou retirada de um implante exógeno, pode acontecer o desencadeamento da ovulação.

Driancourt e Cahill (1984) demonstraram dimi-nuição no número de folículos 12 horas após apli-cação de PGf2-alfa e associaram esse fenômeno à existência de uma grande proporção de folículos atrésicos na fase lútea. Os autores também obser-varam que entre 48 e 54 horas após essa aplicação o folículo selecionado já era observado e a ovula-ção ocorria cerca de 60 horas após a administração da PGf-2-alfa. Comportamento semelhante foi observado por Cahill (1981), que detectou a ocor-rência da ovulação próxima das 48 horas após a regressão luteal.

Com a dominância, a concentração plasmática de estrógeno cresce promovendo feedback posi-tivo para liberação do pico de LH e, consequente-mente, a ovulação, que ocorre cerca de 24 horas após o aparecimento dos sinais do estro, aconte-cendo neste mesmo intervalo após o surgimento do pico LH (Gordon, 1997; Rubianes et al., 1997). Neste momento, além do aumento nas concentra-ções de LH até o alcance do pico, haverá alta nas concentrações de inibina.

a taxa de ovulação é determinante da eficiência reprodutiva nos ovinos, variando de acordo com a raça, a nutrição e as fontes exógenas de hormônios gonadotróficos. bartlewski et al. (1998) demonstra-ram que ovelhas com níveis de inibina mais baixos apresentam um nível maior de prolificidade. O fato de haver crescimento de mais de um folículo, resul-tando em ovulação, prejudica o estudo do padrão do crescimento com técnicas menos invasivas (schrick et al., 1993).

Quirke et al. (1981) observaram que a alta po-pulação de folículos provoca maior sensibilidade na interação do LH com estrógeno, levando um maior número de folículos até a ovulação. em ex-perimentos comparando população folicular de duas raças e suas respectivas taxas de ovulações, em que ovelhas Romanov eram as mais prolíficas e consequentemente as que possuíam uma maior população folicular, os autores justificaram a maior taxa ovulatória com uma maior quantidade de estrógeno e uma menor sensibilidade do feedback negativo ao fsH, não causando a regressão de um elevado número de folículos, consequentemente uma maior resposta ao LH (Cahill et al., 1979).

Castoguay et al. (1990) não observaram efeito de folículos maiores suprimindo menores. Por outro

lado, concluíram que uma maior taxa de ovulação ocorria quando havia um ou mais folículos disponí-veis no momento do recrutamento. Ressalte-se que a maioria dos folículos ovulatórios surge em momento no qual ainda há um corpo lúteo funcional.

ESTuDO DOS EVENTOS OVArIANOS

Os resultados dos estudos sobre o desenvolvi-mento folicular nas ovelhas devem ser analisados com cuidado em função da sua acessibilidade. fato que não ocorre na vaca, tampouco em éguas, animais nos quais o ovário pode ser palpado e colo-cado em contato direto com o transdutor.

Os primórdios do estudo do crescimento foli-cular, na ovelha, ocorreram através da utilização do abate de animais e colheita dos ovários (Cahill, 1981); da laparotomia, em que se procedia à men-suração do ovário in situ (Quirke et al., 1981); ou quando as fêmeas eram ovariectomizadas (Cahil e mauléon, 1980), além da laparoscopia (boyd e Ducker, 1973; Noel et al., 1993). Nesses experimen-tos, os autores faziam cortes histológicos para ob-servação da população ovariana, seja de folículos pré-antrais, seja folículos pré-ovulatórios, além da contagem e mensuração de maneira macroscópica dos folículos antrais encontrados.

Na maioria dos estudos com ovelhas, os ani-mais eram abatidos, em diferentes estágios do ci-clo estral, o que acarretava numa posterior análise e avaliação visando juntar dados e obter o padrão de crescimento durante o ciclo estral completo (Cahil e mauléon, 1980; Driancourt et al., 1986).

Outra alternativa utilizada era a injeção de tinta nanquim nos folículos com menos de 2 mm, para avaliação posterior e verificação do crescimento ou regressão (Driancourt e Cahill, 1984). Porém, a análise dos achados ovarianos por meio dos cortes histológicos era muito difícil. essa dificuldade era driblada por meio do ranqueamento dos folículos em cinco classes: Classe 01, os folículos possuíam 0,20-0,32 mm; Classe 02, de 0,32-0,50 mm; Classe 03, de 0,50-0,80 mm; Classe 04, de 0,80-2,00 mm; Classe 05, acima de 2 mm, na qual já estariam em fi-nal de diferenciação para posterior crescimento até os estágios subsequentes (Driancourt et al., 1986).

Oldham et al. (1976) para evidenciar a noci-vidade dos experimentos com laparotomia nas taxas de ovulação compararam este método ao da laparoscopia proposto por boyd e Ducker (1973), sendo observado que a laparotomia interferia

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significativamente nessas taxas, quando não havia perdas no número de animais envolvi-dos no experimento.

A uLTrASSONOGrAFIA NO ESTuDO OVArIANO

a popularização do método não invasivo da ultrassonografia (Us) modo b, na década de 90, possibilitou que os estudos dos eventos ovarianos fossem realizados com maior objeti-vidade na ovelha (Ginther et al., 1995; schrick et al., 1993) e na cabra (Ginther e kot, 1994). No entanto, nesses pequenos ruminantes, como já comentado anteriormente, não se tem o perfei-to acesso do operador com a estrutura. schrick et al. (1993) descreveram uma técnica com o animal em decúbito dorsal. a qual foi comprovada poste-riormente ser uma maneira melhor e mais tranquila para exame dessas estruturas. Nesse caso, as ove-lhas são animais que têm uma elevada submissão, embora possuam o desconforto da posição. No entanto, esse tipo de exame não foi recomendado para realização a campo (viñoles et al., 2004).

viñoles et al. (2004,) utilizando probe linear de 7,5 mHz com o animal em estação, mostraram sucesso na observação de folículos maiores que 4 mm e corpo lúteo, porém há dificuldade nas mensurações de mais de um corpo lúteo (CL) no mesmo ovário.

O estudo do corpo lúteo, por meio de exames ultrassonográficos, não demonstra confiabilidade. Por exemplo, Gonzales de bulnes et al. (1999), em estudo de cabras tratadas com eCG, utilizaram a Us apenas para observar o crescimento folicular na ocasião da ovulação; porém, para observação de CL já formado e sua funcionalidade, lançaram mão da laparoscopia.

Observando a ocorrência de refrateriedade à PGf-2-alfa por parte do corpo lúteo de ovelhas Corriedale multíparas, Rubianes et al. (2003) comprovaram, por meio de redução dos níveis plasmáticos de pro-gesterona que estaria sendo secretada pelo corpo lúteo e que a regressão dessa estrutura acontecia somente quando a PGf-2-alfa foi administrada a partir do terceiro dia pós-ovulação.

exames ultrassonográficos diários, utilizando probe de 5 mhz, objetivaram apenas a observação do desaparecimen-to do folículo ovulatório. segundo Dickie et al. (1999), a probe de 5 mhz é de menor

confiabilidade que a de tamanho real, uma vez que promove uma superestimação no tamanho real das estruturas ovarianas.

schrick et al. (1993) detectaram o corpo lúteo ao redor de 4 dias pós-ovulação e esta estrutura muitas vezes apresentava cavidade. entretanto não foi possível relacionar as baixas concentrações de progesterona com a presença de CL cavitários, pois, na maioria dos casos, havia a presença de CL proveniente de outra ovulação.

Dessa forma, a Us é tida como a redenção do estudo da dinâmica folicular em ovelhas, embora ocorra subestimação ou superestimação dos va-lores de folículos menores que 3 mm e de número de corpos lúteos, e dificuldade de identificação de toda a população de folículos com tamanho igual ou menor que 2 mm (viñoles et al., 2004).

as diferentes angulações a que o ovário é sub-metido no momento do exame ultrassonográfico dificultam sua realização. assim, para aumentar a acurácia dos exames, são realizadas gravações de monitoramento dos ovários para avaliação posterior. Dessa forma, além de reduzir erros nas mensurações

Figura 2. B) Esfera metálica colocada no ligamento próprio do ovário esquerdo facilitar no estudo da estrutura ovariana em ovelhas. B1) Comparação entre a imagem real e a imagem ultrassonográfica

Figura 1. A) Espiral metálica colocada no ligamento próprio do ovário direito para facilitar o estudo da estrutura ovariana em ovelhas. A1) Comparação entre a ima-gem real e a imagem ultrassonográfica

B B1

A A1

aRQUivO DO aUtOR

aRQUivO DO aUtOR

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realizadas, promove-se imparcialidade no exame do ovário, tendo em vista que a pessoa que fez as men-surações não será o operador do ultrassom (Reyna et al., 2007). Diagramas que servem como mapas dos ovários para localização das estruturas (figuras 1 e 2) também são ferramentas facilitadoras ao estudo do padrão de crescimento folicular (Contreras-solis et al., 2008; viñoles et al., 2004).

além da questão física, dificultando o acesso ao ovário, há a relação entre a genética, a endocrinolo-gia e o padrão de crescimento (montgomery et al., 2001), o que provoca em alguns autores relutância em classificar o padrão de crescimento folicular como dinâmico em ovelhas (evans, 2003; schrick et al., 1993). Na maioria das duplas ovulações, os folículos emergem da mesma onda folicular, sendo considerada uma onda como a emergência de um grupo de folículos antrais que originam um ou dois folículos com 5 mm ou mais de diâmetro. esses folí-culos crescem cerca de 5 a 7 dias com uma taxa de no máximo 1 mm por dia, e o máximo de diâmetro atingido pelo folículo difere entre as ondas, ou seja, não necessariamente o folículo pré-ovulatório terá o mesmo tamanho entre as ondas as diferentes (menchaca e Rubianes, 2004).

CONSIDErAçÕES FINAIS a característica poliéstrica estacional de dias curtos

em ovelhas provoca a necessidade de maior conheci-mento dos eventos fisiológicos da dinâmica folicular e uma manipulação destes por parte dos pesquisadores.

No desenvolvimento folicular há interações de vários fatores intraovarianos ainda pouco elucidados na espécie ovina com mudanças endócrina no eixo hipotálamo-hipofisário-ovariano, o que leva a inter-ferência nos diferentes momentos de recrutamento, seleção e dominância. isso culmina com a ovulação, evento de muita importância nas ovelhas, já que apresentam o fenômeno de múltiplas ovulações.

assim, esses eventos, associados às impossibi-lidades anatômicas que restringem os estudos dos fenômenos envolvidos no controle deste cresci-mento, limitam a técnica de ultrassonografia, que é a principal fonte de estudos e que deverá ser cada vez mais aprimorada para aumento da acurácia nos estudos dos eventos ovarianos em ovelhas.

Dessa forma, o conhecimento desses mecanismos reprodutivos é de extrema importância, promovendo intenso grau de agregação de conhecimento para pos-terior utilização em programas de inseminação artifi-cial em tempo fixo (iatf) em transferência de embriões.

Dados dos autores

Carmo Emanuel Almeida Biscardemédico veterinário, CRmv-ba 3335; Pós-graduando – Departamento de Reprodução animal e Radiologia veterinária – fmvZ – UNesP.

endereço para correspondência: Rua 2 de julho, nº146 – Centro – Nova soure/bahia. E-mail: [email protected]

Sony Dimas Bicudomédico veterinário, CRmv-sP 2843; Professor titular – Departamento de Reprodução animal e Radiologia veterinária – fmvZ – UNesP, botu-catu–sP. E-mail: [email protected]

Maria Denise Lopesmédica veterinária, CRmv-sP 2519; Professora titular – Departamento de Reprodução animal

e Radiologia veterinária – fmvZ – UNesP, botucatu– sP. E-mail: [email protected]

Cezinande Meiramédico veterinário CRmv-sP 6222; Professor adjunto – Departamento de Reprodução ani-mal e Radiologia veterinária – fmvZ – UNesP, botucatu–sP. E-mail: [email protected]

Claudia Dias Monteiro médica veterinária, CRmv-sP 22544; Pós-graduanda – Departamento de Reprodu-ção animal e Radiologia veterinária – fmvZ – UNesP, botucatu–sP.

Luís Carlos Oña Magalhãesmédico veterinário, CRmv-sP 9916; Pós-graduando – Departamento de Reprodução animal e Radiologia veterinária – fmvZ – UNesP, botucatu–sP.

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nOrmas Para aPresenTaçãO De arTigOs

INFOrMAçÕES GErAIS

O suplemento Científico da Revista do Conselho federal de medicina veterinária (Cfmv) tem como ob-jetivo principal a publicação de artigos de investigação científica, de revisão e de educação continuada, básica, e profissionalizante, que contribuam para o desenvolvi-mento da ciência nas áreas de medicina veterinária e de Zootecnia. Os artigos, cujos conteúdos serão de inteira responsabilidade dos autores, devem ser originais e previamente submetidos à apreciação do editor e/ou do Conselho editorial da Revista Cfmv, bem como de as-sessores ad hoc de reconhecido saber na especialidade. a publicação do artigo dependerá da sua apresentação dentro das Normas editoriais e de pareceres favoráveis. Os pareceres terão caráter sigiloso e imparcial. a periodi-cidade da publicação será quadrimestral.

Os artigos deverão ser encaminhados para: E-mail: [email protected]

e correspondências podem ser encaminhadas para: Revista Cfmv Conselho editorial sia – trecho 6 – Lote 130 e 140 brasília–Df – CeP: 71205-060 fone: (61) 2106-0400 fax: (61) 2106-0444

NOrMAS EDITOrIAIS

Os textos de revisão, de educação continuada e científicos devem ser de primeira submissão, escritos segundo as normas ortográficas oficiais da língua portu-guesa e com abreviaturas consagradas, exceto o Abstract e Keywords, que serão apresentados em inglês. assim como uma versão do título.

arTigOs De reVisãO e De eDuCaçãO COnTinuaDaOs artigos de revisão e de educação continuada

devem ser estruturados para conter Resumo, Abstract, Palavras-chave, Keywords, Referências bibliográficas e agradecimentos (quando houver). a divisão e subtítulos do texto principal ficarão a cargo do(s) autor(es).

arTigOs CienTíFiCOsOs artigos científicos deverão conter dados conclu-

sivos de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract, Pala-vras- chave, Keywords, introdução, material e métodos, Resultados, Discussão, Conclusão(ões), Referências bibliográficas e, quando houver, agradecimentos, tabela(s), Quadro(s) e figura(s). a critério do(s) autor(es), os itens Resultados e Discussão poderão ser apresenta-dos como uma única seção. Quando a pesquisa envolver a utilização de animais, os princípios éticos de experi-mentação animal preconizados pelo Conselho brasileiro de experimentação animal (CObea) e aqueles contidos no Decreto nº 24.645, de 10 de julho de 1934, e na Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979, devem ser observados. também deve ser observado o disposto na Resolução Cfmv nº 879, de fevereiro de 2008.

aPresenTaçãO Os manuscritos encaminhados deverão estar digi-

tados com o uso do editor de textos microsoft Word for Windows (versão 6.0 ou superior), no formato a4 (21,0 x 29,7), com espaço simples, em uma só face do papel, com margens laterais de 3,0 cm e margens superior e inferior de 2,5 cm, na fonte times New Roman de 16 cpi para o título, 12 cpi para o texto e 9 cpi para rodapé e in-formações de tabelas, quadros e figuras. as páginas e as linhas de cada página devem ser numeradas.

TíTulOO título do artigo, com 25 palavras no máximo, deve-

rá ser escrito em negrito e centralizado na página, sem utilizar abreviaturas. a versão na língua inglesa deverá anteceder o Abstract.

resumO e AbstrACtO Resumo e sua tradução para o inglês, o Abstract,

não podem ultrapassar 250 palavras, com informações que permitam uma adequada caracterização do artigo como um todo. No caso de artigos científicos, o Resumo deve informar o objetivo, a metodologia aplicada, os resultados principais e as conclusões.

PalaVras-CHaVes e KeywordsNo máximo cinco palavras serão representadas em

seguida ao Resumo e Abstract. as palavras serão escolhi-das do texto e não necessariamente do título.

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TexTO PrinCiPalNão há número limite de páginas para a apresenta-

ção do artigo. No entanto, recomenda-se que sejam con-cisos. Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo sistema métrico internacional, por exemplo, kg, g, cm, ml, em etc. Quando for o caso, abreviaturas não usu-ais serão apresentadas como nota de rodapé. exemplo, GH=hormônio do crescimento. as citações bibliográfi-cas do texto devem ser pelo sobrenome do(s) autor(es) seguido do ano. Quando houver mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro será citado, seguido da expressão “et al.”. exemplos: Rodrigues (1999), (Rodri-gues, 1999), silva e santos (2000), (silva e santos, 2000), Gonçalves et al. (1998), (Gonçalves et al., 1998).

reFerênCias BiBliOgráFiCasa lista de referências bibliográficas será apresenta-

da em ordem alfabética por sobrenome de autores, de acordo com a norma abNt/NbR-6023 da associação brasileira de Normas técnicas. inicia-se a referência com o último sobrenome do(s) autor(es) seguido da(s) letra(s) inicial(is) do(s) prenome(s), exceto nos nomes de origem espanhola ou de dupla entrada, os quais devem ser registrados pelos dois últimos sobrenomes. todos os autores devem ser citados.

Obras anônimas têm sua entrada pelo título do artigo ou pela entidade responsável por sua publi-cação. a referência deve ser alinhada pela esquerda e a segunda linha iniciada abaixo do primeiro carac-tere da primeira linha. Os títulos de periódicos da referência podem ser abreviados, segundo a notação do biOses *biOsis. serial sources for the biOsis pre-views database. Philadelphia, 1996, 486p.

abaixo são apresentados alguns exemplos de referências bibliográficas.

arTigO De PerióDiCOeUCLiDes fiLHO, k.; v.P.b.; fiGUeiReDO, m.P. avalia-ção de animais nelore e seus mestiços com charolês, fleckvieh e chianina, em três dietas 1. Ganho de peso e conversão alimentar. revista Brasileira de Zoo-tecnia, v.26, n.1, p.66-72, 1997.

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Teses (DOuTOraDO) Ou DisserTações (mesTraDO)

maRtiNeZ, f. ação de desinfetantes sobre salmo-nella na presença de matéria orgânica. Jabotica-bal, 1998. 53p. Dissertação (mestrado) – faculdade de Ciências agrárias e veterinárias. Universidade estadual Paulista.

arTigOs aPresenTaDOs em COngressOs, reuniões e semináriOs

RaHaL, s.s.; W.H.; teiXeiRa, e.m.s. Uso de fluorescei-na na identificação dos vasos linfáticos superficiais das glândulas mamárias em cadelas. in. CONGRessO bRasiLeiRO De meDiCiNa veteRiNÁRia, 23 Recife, 1994. anais... Recife, sPemve, 1994. p.19.

TaBelas, QuaDrOs e ilusTraçõesas tabelas, quadros e ilustrações (gráficos, fo-

tografias, desenhos etc.) podem ser apresentados no corpo do artigo. Uma em cada página. serão numerados consecutivamente com números ará-bicos. a tabela deve ter sua estrutura construída segundo as normas de apresentação tabular do Conselho Nacional de estatística (ver. bras. est. v. 24, p. 42-60, 1963).

FOTOgraFiasas fotografias deverão estar em boa resolução

(nítida, colorido sem saturação, sem estouro de luz ou sombras excessivas), com resolução mínima de 300 dpi, com a foto em tamanho grande (centímetros), formato tif e as cores em CmYk. se possível, também devem ser enviadas em arquivos separados (jPG).

aValiações/reVisõesOs artigos sofrerão as seguintes avaliações/re-

visões antes da publicação: 1) avaliação inicial pelo editor; 2) revisão técnica por consultor ad hoc; 3) ava-liação do editor e/ou Comitê editorial.

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PrOgrama De luZ na aViCulTura De POsTura

a v i C U Lt U R a i N D U s t R i a L

INTrODuçãODiversos fatores ambientais apresentam papéis

importantes no controle das funções biológicas das aves, sendo a luz um deles. É conhecido que a dife-rença na luminosidade, em função das estações do ano, coordena a migração e permite a reprodução de animais na denominada “estação de monta”, período em que as fêmeas estão prontas para serem fecunda-das (Campos, 2000).

Um dos trabalhos pioneiros do estudo da influên-cia da luz sobre as aves foi realizado por Rowan em 1921. ao proporcionar luz artificial para imitar os dias longos da primavera, o autor fez com que as aves colocassem ovos no outono, mesmo em tempera-turas abaixo de zero. esses resultados foram o ponto inicial para uma série de estudos visando compreen-der como os sinais fotoperiódicos são percebidos pelas aves e como eles influenciam a postura.

sistemas artificiais de luz têm sido idealizados para aperfeiçoar o ganho de peso, controlar a idade para a maturidade sexual e aumentar a produção de ovos em poedeiras e matrizes. Porém, no brasil,

poucos pesquisadores têm dado a devida atenção ao estudo deste tema. sabe-se que os produtores de ovos julgam que quanto mais luz for fornecida às suas poedeiras, melhor será o desempenho das aves. No entanto, o estabelecimento de programa de luz eficiente pode proporcionar redução em até 90% da energia elétrica e também contribuir para o aumento dos lucros no setor.

AçãO DA LuZ NAS AVESa luz que incide sobre a retina e atinge áreas

associadas do cérebro, representadas pela glândula pineal, pelo hipotálamo e pelos fotorreceptores (fi-gura 1). Contudo, em 1930, o francês jacques benoit constatou que a via mais importante na percepção da luz, no estímulo luminoso à reprodução, é a via transcraniana. assim, aves desprovidas da visão tam-bém são influenciadas pela luminosidade.

Por via transorbitária ou craniana as aves res-pondem mais ao estímulo luminoso quando a ilu-minação é produzida por raios do final do espectro,

sHUtteRstOCk

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como o roxo e o alaranjado, produzindo mais hormônios reprodutivos.

a energia contida nos fótons presen-tes na luz é transformada em estímulos nervosos que regulam o ritmo circadiano, também chamado de biorritmo (repre-senta o controle fisiológico das ativida-des metabólicas do indivíduo através da luz), coordenando eventos bioquímicos e comportamentais que influenciam no desempenho das galinhas.

vários estudos demonstram que a resposta aos estímulos da luz é periódica e esse período se denomina fase fotossensível. Quando a ave recebe o primeiro estímulo lumi-noso (natural ou artificial), o relógio circadiano é ativado. a sensibilidade fotoperíodica é máxima entre 10 e 15 horas. após esse período, a ave se tor-na fotorefratária, podendo-se concluir que foto-periódos curtos não atingem a fase fotossensível, enquanto dias longos têm essa capacidade, coor-denando, dessa forma, a postura (sauveur, 1996).

as aves distinguem um dia curto de um dia longo e esse é o motivo principal da ocorrência de migração na natureza. O dia mais curto do hemis-fério sul, 21 de junho, é conhecido por solstício de inverno, e o mais longo, 21 de dezembro, por sols-tício de verão. entre o solstício de inverno e o de verão, os dias têm luminosidade crescente, o que estimula a maturidade sexual. De modo contrário, a partir de solstício de verão, o fotoperíodo dimi-nui, os dias se tornam mais curtos, inibindo o ciclo reprodutivo da galinha (freitas, 2003).

segundo macari et al. (1994), a luz é percebida pelos fotorreceptores hipotalâmicos que conver-tem o sinal eletromagnético em uma mensagem hormonal através de seus efeitos nos neurônios hipotalâmicos que secretam o hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH). O GnRH atua na hipófise produzindo as gonadotrofinas: hormônio luteini-zante (LH) e hormônio folículo estimulante (fsH). O LH e o fsH ligam-se aos seus receptores na teca e nas células granulosas do folículo ovariano, esti-mulando a produção de andrógenos e de estróge-nos pelos folículos pequenos e a produção de pro-gesterona pelos folículos pré-ovulatórios maiores. Dias curtos não estimulam a secreção adequada de gonadotrofinas porque não iluminam toda a fase fotossensível. Dias mais longos, entretanto, fazem a estimulação e, desse modo, a produção de LH é iniciada. esse mecanismo neurohormonal controla as funções reprodutivas, comporta-

mentais e as características sexuais secundárias. a hierarquia folicular é a responsável direta pela intensidade e persistência da postura.

EFEITOS DA LuZO principal efeito da luz é alterar a idade em

que as aves alcançam a maturidade sexual. essa diferença não é produzida pela intensidade da luz, e sim pela duração do período de luz, que altera a idade de produção dos primeiros ovos. a intensi-dade da luz está mais relacionada com a uniformi-dade da maturidade sexual e com o aumento da sensibilidade orgânica em responder aos estímu-los luminosos.

se diminui a quantidade de luz das aves que estão no período final de crescimento, aumentará a idade necessária para alcançar a maturidade sexual. ao contrário, se aumenta a duração da luz, diminui a idade para alcançar a maturidade sexual. em ambos os casos, em lotes recriados em galpões abertos, devem-se empregar sistemas especiais, com luz constante, para amenizar os efeitos sazonais do ano. É importante para lotes em produção (figuras 2 e 3) acender as luzes dos aviários durante o dia quando o tempo estiver muito fechado, para as aves não perderem o perí-odo mais fotossensível do dia.

Na tabela 1, estão demonstradas as divergên-cias encontradas no campo, com dados totalmen-te diferenciados pela estação do ano (lotes de estação e lotes fora de estação), nos quais se ob-servam os problemas de produtividade causados pelos dois extremos.

alguns dos efeitos observados em aves criadas sem programa de luz adequado fora de estação são: demora de três a quatro semanas na idade do início da produção; picos baixos de produção e atrasados; falta de persistência de produção;

Figura 1. Mecanismo fotossensível das aves e hormônios reprodutivos

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diferenças de maturidade sexual entre fêmeas e machos, e possíveis problemas de eclosão; e so-brepeso das fêmeas.

rESuLTADOS DO CONTrOLE DE LuZLOTES DE ESTAçãO:

O atraso do início da produção de ovos por meio de procedimentos de controle de luz também altera outros fatores da produção, como: melhor qualidade da casca do ovo, menor número de ovos de duas gemas e deformados, e menor mortalidade por prolapso.

Controlar a duração da luz do dia na fase de cres-cimento aumenta a produção de ovos na primeira fase de produção, porém o aumento do número de ovos totais não é significativo. O que melhora é o nú-mero de ovos incubáveis.

Com a redução da duração da luz do dia no período de crescimento, aumenta o tamanho dos primeiros ovos, com o aumento de todos os res-tantes produzidos.

LOTES FOrA DE ESTAçãO:Os lotes não atrasam a produção e respondem me-

lhor à fotoestimulação, obtendo 5 % de produção às 25 semanas. assim, atingem um melhor pico de produção,

resultando em maior massa de ovos.Outra vantagem deses lotes

seria a redução do sobrepeso nas aves pelo armazenamento excessi-vo de gordura, pois os incrementos de ração nesta fase são para man-tença e produção.

TIPOS DE PrOGrAMAS DE LuZ

O objetivo principal de um programa de luz é o de retardar a maturidade sexual das frangas, fazendo com que elas iniciem a postura por volta de 23 semanas de idade. a partir daí, o objetivo é estimular a produção de ovos e sincronizar a postura.

segundo Campos (2000), a ave começa a se tornar sensível ao estí-mulo luminoso entre 10 e 12 sema-nas de idade, porém entre 18 e 22 semanas de idade ela se torna alta-mente sensível a eles. É justamente nessa fase que começa a secreção de LH, assim, quanto menos estímulos Figura 2. Aves em sistema intensivo de postura

tAbelA 1. efeito sazonal por mês de nascimento das pintainhas

mês de nascimento idade a 10% de produção

idade no pico de produção Período

março

24,3 semanas 30,1 semanas de estaçãoabril

maio

setembro27,4 semanas 35,2 semanas fora de estação

OutubroFonte: Boni & Paes, 1999.

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de luz a ave receber, menor será a produção de LH. en-tre 18 e 20 semanas, a ave começa a receber estímulos crescentes de luz até atingir 14 horas de fotofase.

Os programas de luz se classificam, de acordo com o fotoperíodo, em hemerais e haemerais. Os progra-mas hemerais são compostos de períodos de 24 horas distribuídos em duas fases distintas denominadas fotofase (fase clara) e escotofase (fase escura). Quando as duas fases apresentam a mesma duração, o período é chamado de simétrico; e quando suas durações são

diferentes, eles se chamam assimétricos. Os haeme-rais são programas com períodos diferentes de 24, alterando o ritmo circadiano dos animais.

Os programas hemerais são bastante simples, podem ser aplicados em qualquer tipo de instalação e ser divididos em: contínuo – a luz natural ou artifi-cial é aplicada de forma contínua, tanto em galpões abertos quanto fechados – ou intermitente – é o resultado da combinação de luz e escuro durante o período. Por exemplo, 15 min de luz, por hora, duran-te 16 horas seguidas sugere às aves um fotoperíodo de 16 horas (dia subjetivo). Diversas combinações originam vários programas.

Os programas haemerais exigem instalação em ambiente controlado. antes de iniciar qualquer programa de luz, as pintainhas devem receber, no início da criação, pelo menos 23 a 24 horas de luz dia-riamente, durante aproximadamente 3 dias, com o objetivo de se adaptarem às condições de ambiente, água, ração e, em geral, à fonte de calor.

INTENSIDADE DE LuZa intensidade baseia-se no seu brilho ao nível dos

olhos das aves; a intensidade de luz não se relaciona com o comprimento de onda ou cor. as medidas de intensidade se resumem em fóton, lúmen, lux. Lux é a unidade de iluminação de um lúmen por metro quadrado (si). Um lúmen é a unidade de fluxo lumi-noso (International System of Units- SI), medido em uma área de um esferoradiano por um emissor de uma candela colocado no seu centro. Uma candela

(si) é igual a 1/60 da intensidade luminosa de um centímetro quadrado da superfície de um radiador perfeito na temperatura de 2043k. Um lux corresponde à incidência perpen-dicular de 1 lúmen em uma superfície de 1 metro quadrado.

existem vários tipos de luz (natural, lâm-pada incandescentes, fluorescentes, mer-cúrio). a luz natural sofre com os problemas estacionais, não produzindo período de luz uniforme durante todo o ano. assim, a luz artificial se torna a figura mais importante no cenário da moderna produção avícola, graças a sua importância na composição dos programas de luz.

Campos (2000) estimulou poedeiras co-merciais durante a fase de recria com estímu-los de luz variando desde 1 lux até 500 luxes de intensidade, verificando os seus efeitos sobre a idade ao primeiro ovo, peso do ová-rio, peso total e número de folículos grandes amarelos (tabela 2).

Parece que a ave não distingue um estímulo que varia de 1 para 5 luxes e de 50 para 500 luxes no aparecimento do primeiro ovo, porém os efei-tos do aumento da intensidade se fazem notar no ovário, cujas características são diretamente pro-porcionais ao aumento de intensidade do estímulo luminoso: se considerar a idade do aparecimento do primeiro ovo em semanas, a diferença entre 1 e 500 luxes é mínima, mas os efeitos no ovário são grandes. assim, na escolha entre 50 e 500 luxes, em termos econômicos, é melhor o de 50, porque os efeitos são semelhantes.

TIPOS DE LuZa escolha do tipo de lâmpada vai depender de

inúmeros fatores, tais como custo, durabilidade, ma-nutenção e eficiência. em termos práticos, são em-pregadas lâmpadas incandescentes e fluorescentes. apesar do custo inicial elevado, as lâmpadas fluores-centes são superiores às incandescentes em virtude

Figura 3. Aves em sistema semi-intensivo de postura

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das inúmeras vantagens que oferecem, como maior intensidade e durabilidade, menor manutenção, me-nor gasto de energia (tabela 3).

ao se utilizar um programa de luz adequado e um número correto de lâmpadas para o ambiente, não haverá diferenças no desempenho dos animais. Contudo o consumo de energia pode diferir. Compa-rando o emprego de lâmpadas fluorescentes e incan-descentes em programas de luz para reprodutores pesados, Campos (2000) não observou diferenças

significativas no peso do ovo, % de eclosão, % de fer-tilidade e % de ovos incubáveis (tabela 4). a seguir, são descritas algumas das características de cada tipo de lâmpada:

INCANDESCENTEapesar de apresentar instalação barata, esse tipo

de lâmpada necessita de refletores (pratos de plásti-cos ou metal louçado) a fim de aumentar a eficiência das lâmpadas em 50%. Deve-se utilizar refletor do tipo plano para não direcionar o foco da luz, e assim potencializar a dispersão do foco luminoso. a altura

deve ser baixa devido ao baixo raio de alcance desse tipo de iluminação. Outro inconveniente é a baixa vida útil da lâmpada: 750 a 1.000 horas.

FLuOrESCENTEa luz fluorescente branca convencional não é

indicada, devido à grande variação de intensida-de. esse tipo de lâmpada apenas tem a sua máxima eficiência quando a temperatura do ar está entre 21º a 27ºC. fora desses patamares, sua eficiência é

reduzida. O ideal é a utilização da luz fluorescente quente (fluorescente eletrônica compacta ou Pl). a utilização desse tipo de lâmpada implica um maior custo de instalação, no entanto, resulta em menor consumo de energia (70% a menos). Como vantagem tem-se a durabilidade da lâmpada, sendo 8 a 10 vezes maior que a incandescente, en-tretanto não podem ser utilizadas com reostatos (dimer). Devido ao seu maior raio de alcance, essas lâmpadas podem ser instaladas em alturas supe-riores (1,70 a 2,0 m) sem comprometer a eficácia da iluminação.

tAbelA 3. comparação entre lâmpadas incandescentes e fluorescentes quanto ao número médio de lumens de acordo com a potência medida em Watt

incandescentes lumens Fluorescentes lumens

15 125 15 500 700

25 225 20 800 1000

40 430 40 2000 2500

50 655 75 4000 5000

60 810 200 10000 120000

100 1600 — — —

150 2500 — — —

200 3500 — — —

Fonte: Campos, 2000.

tAbelA 2. efeito da intensidade de luz sobre a idade da maturidade sexual e as características ovaria-nas de poedeiras comerciais

intensidade de luz (lux)

idade ao 1° ovo (dias) Peso do ovário (g)

Peso total dos folículos

amarelos (g)

Folículos amarelos (n)

1 152,7 26,9b 23,50b 5,50b

5 153,6 31,901b 28,30ab 6,56ab

50 149,4 36,10a 32,20a 7,31a

500 149,6 37,40a 33,40a 7,50aFonte: Campos, 2000.

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VAPOr DE MErCÚrIOessas lâmpadas devem ser instaladas a mais de

3m de altura, a fim de melhorar a distribuição da luz. Porém, mesmo instaladas respeitando esses detalhes, a distribuição da luz geralmente não é uni-forme, sendo necessária a complementação com luz incandescente para que não ocorram zonas escuras. Outra alternativa seria a colocação de 3 linhas de lâmpadas, aumentando o custo inicial de instalação. sua eficiência é semelhante à fluorescente, tendo vida útil semelhante a esta (24.000 h). Comparan-do-se às fluorescentes, possui maior estabilidade luminosa em função da temperatura ambiente. en-tretanto, essas lâmpadas requerem vários minutos para serem ligadas novamente quando há falta de energia. Para esse tipo de instalação são requeridos reatores a prova d’água a fim de evitar incêndios.

LâMPADAS MISTASsão as lâmpadas mais utilizadas na avicultura

com potência de cerca de 160 watts. Possuem características intermediárias entre as lâmpadas fluorescentes e as de mercúrio. Possuem grande durabilidade como as fluorescentes e as de mercúrio, entretanto consomem maior quantidade de energia que estas. essas lâmpadas possuem melhor distri-buição de luz que as de mercúrio, porém, a exemplo destas, demoram a reacender após quedas de luz ou flutuação na tensão elétrica.

LâMPADAS DE LEDapenas muito recentemente tem-se proposto

esse tipo de iluminação em avicultura. LeD é a si-gla em inglês para diodo emissor de luz, material semicondutor com o qual se fabricam tais lâmpa-das. Quando uma corrente elétrica percorre esse diodo, ele é capaz de emitir luz. a vantagem dessas lâmpadas em relação às demais é que consomem menos energia, cerca de 80% menos energia que as incandescentes e duas vezes mais eficientes que as fluorescentes, durando muito mais tempo. entretan-to, sua potência e emissão de luz são bastante redu-zidas, equivalentes às lâmpadas de 40 watts. assim,

seriam necessárias várias lâmpadas para substituir a iluminação convencional, instaladas bem próximas às aves, aumentando bastante os custos de insta-lação. estudos sugerem que a conversão completa para a tecnologia LeD diminuiria em até 50% as emis-sões de CO2, a partir do uso de energia elétrica para iluminação, em pouco mais de 20 anos.

EXEMPLOS DE PrOGrAMAS DE LuZ

Na tabela 5, pode-se observar a diferença entre os programas de luz para poedeiras comerciais, matrizes leves e pesadas (Hy-Line, 2007 e 2009). as poedeiras comerciais apresentam o programa de luz mais relacionado com a diminuição do estímulo luminoso que as matrizes leves e pesadas, necessi-tando de muito mais horas de luz durante a recria, a fim de simular dias com fotoperíodos decrescentes.

POEDEIrAS COMErCIAIS

O programa de estimulação por meio da ilumi-nação pode ser usado como uma ferramenta para

tAbelA 4. luz fluorescente versus incandescente: efeito sobre o desempenho de reprodutoras pesadas

Variável incandescentes Flurescentes

Ovos incubáveis (%) 87,58 88,07

fertilidade (%) 85,74 82,42

eclosão (%) 72,74 72,84

Peso do ovo (G) 70,96 71,46Fonte: Campos, 2000.

Figura 4. Visão externa de um galpão tipo “dark house”

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ajudar a obter o tamanho do ovo desejado. Geral-mente, a estimulação precoce resultará em poucos ovos a mais por ave alojada, porém, haverá redução no tamanho do ovo. O atraso na estimulação de luz resultará em poucos ovos a menos por ave alojada, no entanto, haverá aumento no tamanho dos ovos precocemente. Dessa maneira, os programas de iluminação podem ser adotados de acordo com as necessidades de mercado .

a alimentação à “meia-noite” é uma variação desse mesmo programa de luz e consiste em uma técnica opcional de iluminação que incrementa o consumo de ração. Deve-se oferecer luz por uma hora, no meio do período de escuro, e estimular o consumo nos comedouros durante esse período. O programa diário com 16 horas de luz e 8 de escu-ro seria alterado no período escuro para 3,5 horas de escuro, 1hora de luz e 3,5 horas de escuro. essa técnica permite que o consumo de ração aumente cerca de 2-5 g/ave/dia, sendo aplicável em condi-ções de estresse calórico ou, a qualquer momento,

para aumentar o consumo de ração, tanto para lotes em crescimento quanto para lotes em produ-ção (Hy-Line, 2009).

MATrIZES PESADAS: SEMIESCurO Ou DArkhouSe

É um programa de luz utilizado principalmen-te em matrizes pesadas, pois há uma tendência de busca de animais de alta conformação. Uma das principais características dessas aves é a de serem muito mais sensíveis e exigentes de luz para produção.

Quando a ave é recriada no sistema semiescuro, que consiste no fornecimento de luz na intensidade de 5 a 8 luxes durante toda a recria, é muito impor-tante manter abaixo de 10 luxes, porque a partir de 10 luxes as aves já começam a responder sexual-mente à luz. isso é notório no campo, pois tem-se observado que acima de 10 luxes, em aves a partir de 14 semanas, há o desenvolvimento da crista, principalmente nas mais pesadas.

a v i C U Lt U R a i N D U s t R i a L

tAbelA 5. programas de luz para poedeiras comerciais, matrizes leves e pesadas

Poedeiras comerciais matrizes pesadas matrizes leves

� Na primeira semana as pin-tainhas devem receber 20-22 horas de luz diária a uma in-tensidade de 30 luxes.

� Na 2ª semana: Reduzir para 20 horas com 5 luxes.

� Da 10ª à 17ª semana: Perma-necer fixo em 10-12 horas, ou o dia mais longo do período.

� após a 17ª semana: O co-meço do estímulo luminoso nunca deve ser realizado com animais abaixo de 1,27kg de peso. aumentar o perío-do de luz em 15-30 minutos por semana, ou a cada duas semanas, até que se atinja 16 horas de luz diária. Prefe-rencialmente, o período de estímulo luminoso (fotope-ríodo crescente) deve ser até as 28-32 semanas. a intensi-dade de luz também deve ser aumentada até 10-30 luxes no momento do alojamento.

� Usar 23 horas de luz nas duas primeiras semanas de idade para forçar o consumo e o ganho de peso inicial.

� manter 8 horas de luz diária de 5 a 8 luxes, entre 3 e 21 semanas completas (baixar a lona às 9 da manhã e subir às 5 da tarde).

� 1º dia da 24ª semana: 15 ho-ras de luz na estação e 14 a 15 horas de luz fora da estação.

� 1º dia da 24ª semana: 15 ho-ras de luz na estação e 14 a 15 horas de luz fora da estação.

� 1º dia da 26ª semana: 16 ho-ras de luz na estação e 16 horas de luz fora da estação.

� 1º dia da 28ª semana: 17 ho-ras de luz na estação e 17 horas de luz fora da estação.

� cria - 0 a 3 dias 24 horas de luz.; 4º dia, 19 horas de luz e a partir daí reduzir para que fi-que somente com luz natural.

� Recria - somente luz natural.Nas regiões do sul do país, para as aves nascidas entre março e agosto,pode-se adi-cionar luz diária a partir da 12ª semana de forma a man-ter o mesmo comprimen-to do dia até, 18ª semana, tomando–se como base o maior dia-luz do período.

� pré-produção e produção- Durante esta fase, deve-se atingir um período dia-luz entre 14 e 16 horas de luz, e este comprimento do dia deve ser atingido no pico de produção e ser mantido até o final da produção. O aumento deve ser de 15 a 30 minutos por semana e a intensidade de luz ideal é de 20 lumens.

Fonte: Hy-Line (2007 e 2009).

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wagner Azis Garcia de Araújo Zootecnista, CRmv 1511/Z; Doutorado em Zootecnia–Ufv; bolsista do CNPq.

Luíz Fernando Teixeira AlbinoZootecnista, CRmv 0018/Z; Professor titular – Departamento de Zootecnia–Ufv.

Fernando de Castro TavernariZootecnista, CRmv 1732/Z; Doutorado em Zootecnia–Ufv; bolsista do CNPq; Pesquisador da em-brapa suínos e aves, Concórdia–sC.

Mauro Jarbas de Souza GodoyZootecnista, CRmv 0519/Z; Divisão de Produção–Ufv.

endereço para correspondência: Departamento de Zootecnia–Universidade federal de viçosa – viçosa/mG – CeP 36570-000.E-mail: [email protected]

Dados dos autores

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Referências bibliográficas

MATrIZES LEVESO território nacional se situa entre as latitudes 5°

ao Norte e 33° ao sul e trabalhos têm demonstrado que há uma diferença de aproximadamente 12 dias

em relação ao amadurecimento sexual de aves nas-cidas no inverno e no verão. essas diferenças vão re-duzindo à medida que as aves são criadas nas regiões Centro e Norte do país.

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CAuSAS DA OBESIDADE CANINA

AFECçãO SISTêMICA 9 Diabetes mellitus. 9 Disfunção da tireoide. 9 Disfunção das suprarrenais. 9 Causas farmacológicas. 9 administração continuada de progestágenos. 9 administração de corticoides, anticonvulsivantes e ansiolíticos, que, quando inge-

ridos por tempo prolongado, causam polifagia.

DISTÚrBIO COMPOrTAMENTAL GrAVE 9 aumento da ingestão alimentar. 9 Confinamento após a agressividade, desobediência, comportamento destrutivo.

FATOrES rELACIONADOS AO PrOPrIETárIO 9 falta de disponibilidade para passear ou brincar. 9 administração de excesso de alimentos, guloseimas e alimentação desbalanceada.

CONSIDErAçÕES SOBrE A OBESIDADE CANINA

9 O excesso de peso durante a fase de crescimento se agrava progressivamente. 9 É responsável pela infiltração de gordura nos órgãos e por maior esforço

mecânico do corpo. 9 Cães com dores realizam menos exercício tendo maior tendência para

engordar. 9 afeta o bem-estar psíquico do animal (falta de movimentos diminui seus

contatos sociais). 9 Potencializa possibilidades de complicações em intervenções cirúrgicas.

a obesidade é a doença nutricional mais comum em sociedades desenvolvi-das e estima-se que 25 a 35% dos cães estão com sobrepeso. É responsável pela diminuição da capacidade física do animal, por doenças associadas e, frequente-mente, por locomoção dolorosa. É resultado do excesso de energia, obtido pela alimentação, em relação ao gasto energético do animal. esse desequilíbrio pode ter origem no próprio animal (doenças como hipotireodismo, hiperadrenocorti-cismo e distúrbios do pâncreas), em problemas comportamentais, mas também em fatores associados ao manejo estabelecido pelo proprietário.

PrOgrama De reDuçãO De PesO Para Cães

O b e s i D a D e C a N i N a

sHUtteRstOCk

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CãES quE DEMANDAM MAIOr ATENçãO 9 Raças com maior propensão (labradores, raças pequenas de companhia, cães de guarda). 9 Cães que recebem manejo alimentar inadequado (alimento muito apetitoso administrado à

vontade, oferta de petiscos ou de sobras de refeições). 9 Cães com atividade física reduzida (animais idosos, cães que vivem em apartamentos ou com

doenças debilitantes). 9 Cães e cadelas esterilizados (32% dos cães e cadelas esterilizados contra 15% dos animais não

esterilizados).

ReconHecimento dA obesidAde poR meio de pontos dA condição físicA veRificAdos nA silHuetA do cão

muito magro escore = 1 a 2

Costelas, espinha dorsal, ossos pélvicos visíveis. Perda óbviada massa muscular. ausência de gordura palpável na

caixa torácica.

magroescore = 3 Costelas, espinha dorsal e ossos pélvicos visíveis.

idealescore = 4 a 5

Costelas, espinha dorsal não visível, mas facilmente palpáveis. Pequenas quantidades de gordura palpáveis na

caixa torácica. Cintura e dobra abdominal visíveis.

sobrepesoescore = 6 a 7

Costelas dificilmente palpáveis. Depósito de gordura na espinha e na base da cauda. Cintura e dobra do

abdômen ausentes.

Obesoescore = 8 a 9

Depósito maciço de gordura no tórax, espinha e base da cauda. Distensão abdominal óbvia.

Adaptado de Body Condition System for Adult Dogs – Purina Veterinary Diets (2011).

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SOBrE O PrOGrAMA DE EMAGrECIMENTO

9 O proprietário precisa entender sua responsabilidade no processo, avaliando seu modo de inte-ragir com o animal.

9 adotar outros tipos de interação (brincar, acariciar, lançar brinquedos) em substituição a ali-mentos em respostas às solicitações por atenção.

9 todos os membros da família deverão respeitar o programa. 9 Devem ser identificados e tratados os distúrbios psíquicos passiveis de alterar a sensação de sacie-

dade e aumentar a ingestão alimentar . 9 a perda de peso resulta da associação entre o consumo de um alimento hipocalórico (baixo teor

energético) e o aumento do nível de atividade física do cão. 9 O cão continuará com fome e solicitará alimentos se, simplesmente, for diminuída a dose de

alimento habitual. 9 transição alimentar ao longo de uma semana favorece a adaptação a novo alimento. 9 Recomenda-se o fracionamento da dose diária em 3 ou 4 refeições, evitando-se a sensação de fome. 9 O exercício físico, adaptado de forma gradual, estimula o gasto energético e favorece a preser-

vação da massa muscular. 9 ao final do programa de emagrecimento, as quantidades de alimento têm de ser estabelecidas

de forma a impedir a reaquisição do peso perdido.

CONSIDErAçÕES SOBrE ALIMENTAçãO DE CãES ADuLTOS

9 a dose diária deve ser adaptada às necessidades energéticas do cão, que aumentam em função do cres-cimento, do exercício físico, das condições climáticas adversas e da reprodução (gestação e lactação).

9 a necessidade energética diminui com a castração, o sedentarismo e o envelhecimento. 9 Os passeios ou brincadeiras estimulantes são imprescindíveis para preservar o peso ideal. asse-

gurar a prática de um mínimo de atividade física. 9 O alimento utilizado como recompensa deve ser reduzido da dose diária prescrita. até 50% da

dosagem diária poderá ser utilizada como recompensa durante processos de aprendizagem. 9 Nunca utilizar o alimento como presente e nem ceder à tentação de fornecer alimentos para eli-

minar comportamentos indesejáveis.

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sHUtteRstOCk

aRQUivO Cfmv

Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201168

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CáLCuLOS PArA O PrOGrAMA DE rEDuçãO DE PESO

a primeira fase do controle da obe-sidade consiste em determinar o peso ideal a ser obtido no final do programa.

Durante o programa de redução de peso, os animais devem ser pesados semanalmente e os pesos devem ser registrados.

exemplo: Um cão da raça Rottweiller, com 3,5 anos, com escore corporal oito, alto grau de obesidade, pesando 62 kg.

O animal apresenta estrutura corporal e óssea grandes, sendo recomendado um peso máximo de 45 kg com redução de 27,4% do seu peso corporal.

Definição da pressão de emagrecimento Programas de controle da obesidade objetivam a redução do peso vivo em 2 a 6% por mês.Cálculo da quantidade de Kcal que deve ser perdida mensal e diariamente Para o cão será aplicada uma pressão inicial de emagrecimento de 2% do peso vivo, assim:Perda de peso no primeiro mês = 2% do peso corporal (PC = 62 Kg). Perda de peso mensal = 1,24 kg / mês = 1240 gramas / mês.

• Perda de peso diária = 41,3 gramas.Considerando-se a perda de peso em gordura corporal e que 1,0 grama de gordura fornece 9,0 kcal, então:

• 1240 gramas / mês = 11160 kcal a serem perdidas mensalmente.• 41,0 gramas / dia = 372 a serem perdidas diariamente.

Repetir o cálculo todos os meses até que o animal atinja o peso ideal.

rECOMENDAçÕES PArA rEDuçãO DO PESO

sobrepeso: redução de 10-20% do peso inicial.Obesidade: redução de 20-30% do peso inicial.Obesidade mórbida: redução acima de 30% do peso inicial, não devendo ultrapassar 50%.

DEFINIçãO DAS NECESSIDADES CALórICAS DO ANIMAL E DA DIETA

as necessidades energéticas de manutenção (Nem) são calculadas sobre o peso final que se deseja obter no final do primeiro mês.

Pv no final do primeiro mês = 62 - 1,24 = 60,76 kg.Utiliza-se para o cálculo a fórmula de Heusner (1983), em que: nem = 139 Kcal x PV0,67Nem = 139 kcal x

60,760,67 = 2177,9 kcal.a quantidade de kcal ingerida diariamente será calculada diminuindo-se de Nem a perda calórica diária

estabelecida pela pressão de emagrecimento.• ingestão diária de Kcal = 2177,9 – 372 = 1805,9 kcal.

Repetir os passos até o final do programa.Cálculo da necessidade de ingestão diária de acordo com a dieta estabelecida: determina a quanti-

dade de alimento a ser oferecida diariamente para o animal.Duas dietas:

• uma dieta específica para controle de obesidade com 3000 kcal / kg.• e outra comercial para manutenção com 3600 kcal / kg.

Dieta 1 = 1805,9 / 3000 = 0,602 kg ou 602 gramas ≈ 600 gramas / dia.Dieta 2 = 1805,9 / 3600 = 0,502 kg ou 502 gramas ≈ 500 gramas / dia.

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Ingrid Bitencourt BohnenbergerGraduanda em medicina veterinária na Universidade federal de viçosa (Ufv).E-mail: [email protected]

ricardo Junqueira Del Carlomédico veterinário, CRmv-mG 1759 ; msc; Dsc; bolsista Produtividade CNPq; (Ufv).E-mail: [email protected]

Simone rezende Galvãomédica veterinária, CRmv-mG 4738; msc; Doutoranda Ufv.E-mail: [email protected]

endereço para correspondência: Departamento de veterinária – Universidade federal de viçosa – viçosa/mG – CeP 36570-000.

O b e s i D a D e C a N i N a

cÁlculo de um pRogRAmA de obesidAde pARA um AnimAl dA RAçA RottWeilleR, sem eXeRcícios

Peso inicial: 62 kg Peso a ser perdido: 17 kg = 27,415 % do peso inicial (obesidade) Peso final: 45 kg

Período Peso vivoPressão de emagreci-

mento

Peso a ser perdido

Kcal perdidas /

mês

Kcal perdidas

/ dia

necessidade calórica diária*

Kcal esta-belecidas

Dieta 3000 Kcal

(light)

Dieta 3600 Kcal (padrão)

mês 1 62,00 2,0% 1,24 11160,00 372,00 2177,90 1805,90 601,97 501,64

mês 2 60,76 2,0% 1,22 10938,80 364,56 2148,62 1784,06 594,69 495,57

mês 3 59,54 2,00% 1,19 10718,06 357,27 2119,74 1762,47 587,49 489,57

mês 4 58,35 2,5% 1,46 13129,63 437,65 2084,08 1646,43 548,81 457,34

mês 5 56,90 2,5% 1,42 12801,39 426,71 2049,03 1622,31 540,77 450,64

mês 6 55,47 2,5% 1,39 12481,35 416,05 2014,56 1598,52 532,84 444,03

mês 7 54,09 3,0% 1,62 14603,18 486,77 1973,87 1487,09 495,70 413,08

mês 8 52,46 3,0% 1,57 14165,09 472,17 1933,99 1461,82 487,27 406,06

mês 9 50,89 3,0% 1,53 13740,13 458,00 1894,93 1436,92 478,97 399,14

mês 10 49,36 3,0% 1,48 13327,93 444,26 1856,65 1412,38 470,79 392,33

mês 11 47,88 3,0% 1,44 12928,09 430,94 1819,14 1388,20 462,73 385,61

mês 12 46,45 3,0% 1,39 12540,25 418,01 1782,39 1364,38 454,79 379,00

peso final 45,05 _ _ _ _ 1782,39 1425,91 475,30 396,09

Body Condition system for adult Dogs - Purina veterinary Diets. Disponível em: <http://www.puri-naveterinarydiets.com/resources/products/dog/dog_chart.pdf>.

COLiN, m. Obesidade canina: como mudanças de comporta-mento podem ajudar a evitá-

la. Waltham Focus auxiliar . 2010. 30p.

HeUsNeR, a.a. energy metabo-lism and body size. i. is the 0,75 mass exponent of kleiber a sta-tistical artifact? respiration Physiology, California, v. 48, p. 1-12. 1983.

maRk WeLL & bUt te R WiCk , 1994. in: aRCiOfi, a.C.; GON-ÇaLves, k.N.v.; vasCONCeLLOs, R.s.; baZOLLi, R.s.; bRUNettO, m.a.; PRaDa, f. a weight loss protocol and owners participa-tion in the treatment of canine obesity, Ciência rural, v.35, n.6, nov-dez, 2005.

Referências bibliográficas

Dados dos autores

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A Leishmaniose Visceral (LV) é uma zoonose cujo agente etiológico no Brasil é o protozoário Leishmania Chagasi. Constitui-se uma enfermidade de evolução crônica transmitida aos seus hospedeiros por meio da picada de fêmeas de flebotomíneos, Lut-zomyia longipalpis e Lutzomyia cruzi, conhecido como mosquito-palha, birigui, asa delta ou cangalhinha.

A LV acomete especialmente os cães, mas também raposas, gambás e secundariamente o homem. Associados a isso, estudos vêm apontando o risco de infecção também para felinos, roedores e equídeos. Entretanto, especificamente no ambiente domésti-co de áreas urbanas e rurais, os cães são os principais reservatórios, sendo considerado o principal elo da cadeia epidemiológica da doença. Tal afirmação se dá devido ao longo período de incubação da doença nos cães, o que faz com que animais aparentemente sadios (assintomáticos) continuem mantendo ativa a cadeia de transmissão da doença. Por essa razão o tratamento dos cães não é permitido pelos órgãos públicos, já que os fármacos atualmente empregados no tratamento da Leishmaniose visceral não eliminam o parasito do organismo do cão. Em razão disso e devido à íntima relação do cão com seus proprietários, manter um animal infectado em áreas receptivas para o vetor é um risco para a população - principalmente crianças, idosos e pessoas imunocomprometidas.

Um outro ponto importante da profilaxia da doença são as vacinas contra LV canina atualmente em comercialização. En-tretanto, para renovação de registro, seus fabricantes tiveram que executar os estudos de Fase III para análise junto ao Ministério da Agricultura (MAPA) e Ministério da Saúde (MS) e no momento se aguarda a definição dos dois ministérios sobre a conclusão dessa análise. É importante também enfatizar que os fabricantes das vacinas precisam produzir antígenos que não interfiram nos resultados laboratoriais de inquéritos sorológicos, pois nesse caso o impasse continuará, já que não poderemos diferenciar cães vacinados de infectados e nesse contexto. Em face dessas informações, observa-se que o poder público tem investido de maneira fragmentada e descontinuada na profilaxia da LV, deixando de considerar a associação das estratégias.� Assim, as questões relativas à LV devem ser tratadas pela transversalidade interinstitucional entre MAPA, MS, Ministério

do Meio Ambiente, Ministério Público e Conselhos de Medicina Veterinária. � Revisão, interpretação e padronização dos testes diagnósticos, os quais devem ser licenciados pelo MAPA, em particular, a

espécie a que se destine, e purificação dos antígenos utilizados e diluição padrão para determinar a positividade dos cães.� Reavaliação e normatização da metodologia preconizada pelo MS para os inquéritos amostrais e censitários caninos.� Elaboração de protocolos e fomento às pesquisas referentes à biologia do vetor e ao “possível” papel de outros fleboto-

míneos na cadeia de transmissão.� Previsão orçamentária para estímulo às pesquisas de validação das atuais medidas de diagnóstico e controle de trata-

mento do cão com LV.� Regularização do trânsito e comercialização de cães e gatos, pois como a capacidade de voo do vetor é restrita, a disse-

minação da doença se dá principalmente pela movimentação dos animais.� Necessidade de controle populacional e da infecção por Leishmania em cães errantes e semidomiciliados, sendo obri-

gatória a identificação dos animais com microchip.� Adoção de estratégias para o combate da doença em novos reservatórios.� Cumprimento da notificação compulsória conforme determinação das normas vigentes.� Imediata liberação dos resultados finais das avaliações dos protocolos da Fase III das vacinas contra LV canina comerciali-

zadas no Brasil.� Reavaliação e normatização das ações de eutanásia dos CCZs (UVZs), incluindo correto destino dos cadáveres.� Aplicação do Código Sanitário Internacional.

Portanto, a elaboração de uma norma por si só não é capaz de mudar uma realidade, sendo necessário o aprimoramento de polí-ticas públicas por meio do diálogo entre os órgãos competentes envolvidos e a integralização das ações em prol da Saúde Pública em todo seu contexto.

Até que se encontre um fármaco eficaz no tratamento da LV canina, a eutanásia continuará sendo a medida de controle preconi-zada para o reservatório canino, desde que tenham sido aplicados exames que não deixem dúvidas quanto a positividade identificada.

Brasília, 16 de dezembro de 2010

Sistema CFMV/CRMVsConselho Federal e Conselhos Regionais de Medicina Veterinária

CARTA DE BRASÍLIA

Serviço Público Federal Conselho Federal de Medicina Veterinária

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mÉDiCOs VeTerináriOs inOVam em aTuações nOs merCaDOs muniCiPais De sãO PaulO

em são Paulo, que é uma das cinco maiores cida-des do mundo, um dos locais mais conhecidos é o mercado municipal. além do famoso pastel de baca-lhau, o mercadão, como é tratado pelos paulistanos, também atrai os consumidores e varejistas pela quali-dade e frescor de seus produtos como pescados, quei-jos e derivados de leite, carnes, embutidos, produtos em conserva, hortifrutigranjeiros, entre outros.

Cada vendedor é independente na disputa pela preferência do consumidor, mas, em comum, existe um grupo liderado por médicos veteriná-

rios que garante a qualidade dos produtos, a me-lhora na gestão organizacional dos boxes e o con-sequente ganho de competitividade frente aos hipermercados. Os médicos veterinários atuam diretamente em aproximadamente 300 boxes do mercado municipal de são Paulo, como também em outros 14 mercados e 17 sacolões da cidade, os quais respondem por outros 700 pontos de venda. O próximo passo será colaborar em quase 900 feiras livres do município que são supervisiona-das por outro setor. Direcionados ao consumidor,

Além da atenção à vigilância sanitária, grupo incentiva ações de gerenciamento e implanta-ção de programas de qualidade. Também prepara ações de conscientização para o consumi-dor. um modelo para os que atuam na vigilância sanitária municipal.

Por Flávia Tonin - MTB 039.263/SP

Detalhes de bancas do Mercado Municipal de São Paulo, que recebem mais de um milhão de pessoas ao mês em busca de produtos de origem animal e vegetal

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também organizam eventos, em especial sobre os produtos de origem animal para fortalecer o con-sumo dos produtos disponíveis.

O grupo constitui a supervisão de mercados e sacolões de são Paulo (subordinado à supervisão Geral de abastecimento de são Paulo). eles perce-beram a necessidade de não ficar restritos às ações pontuais de apoio à vigilância sanitária. assim, identificaram pontos falhos no conhecimento da legislação, manuseio e conservação dos produtos; organização dos locais, uso de programas de qua-lidade, entre outros que poderiam ser sanados com a conscientização. “O médico veterinário é reco-nhecido como o melhor profissional para fornecer essas informações, já que em sua formação co-nhece toda a cadeia, desde a produção ao produto pronto”, avalia a diretora da supervisão de merca-dos e sacolões, Célia alas Rossi, médica veterinária. sua equipe técnica é multiprofissional, composta, em 2010, pelos médicos veterinários flávio santa-na Garcia e mariana brizeno teixeira. também pela nutricionista Cláudia alves tavares Colturi e pelo biólogo enzio meixedo Chiarelli, além de três esta-giários que cursam medicina veterinária.

PrOFISSIONAIS EM ATuAçãOentre as atividades realizadas, os profissionais

da supervisão de mercados e sacolões fazem visitas técnicas aos permissionários, como são chamados os pequenos empresários que têm o termo de per-missão de uso do ponto de venda ou box. são feitas capacitações periódicas para temas específicos e implantação de programas de qualidade, como o “Qualidade total” e o “super Limpeza”. “O super Limpeza é uma atividade que nenhum estabeleci-

mento particular realiza. Duas vezes ao ano, fecha-mos a unidade por um dia para a realização de uma limpeza e manutenção completas”, explicou flávio santana Garcia, da equipe técnica. em especial o mercadão, maior da cidade de são Paulo, fecha por quatro dias durante o ano para esse programa.

Os técnicos reconhecem que existem programas implantados por hipermercados que poderiam ser in-teressantes, como o Hazard analysis and Critical Con-trol Point (HaCCP), que pode ser traduzido por análise dos Perigos e Pontos Críticos de Controle (aPPCC). Conhecido mundialmente, é um sistema de gestão de segurança alimentar que se baseia na análise das di-versas etapas da produção de alimentos para identifi-car os perigos potenciais à saúde humana. “seria difícil implantar um programa complexo como este dentro de uma unidade do mercado, mas existem outros similares, com os quais conseguimos nos aproximar, cada vez mais, da realidade ideal para aquele ponto de venda”, avalia Garcia. ele também lembra que é im-portante que o técnico orientador tenha consciência da realidade vivida e dos custos que cada programa implantado poderá gerar para o negócio.

Nessa linha, a equipe tem ainda um programa “super Organização” de adesão voluntária, em que o técnico ordena o box junto com o permissionário e sua equipe. Nas arrumações é considerado o cui-dado com a cadeia do frio; a organização dos itens no ponto de venda, com base na legislação e na manutenção da qualidade do produto, e, por fim, os conceitos de marketing. “Diferente de entregar uma cartilha com orientações, nos predispomos a ajudá-lo. Nesta hora, conseguimos conquistá-lo, pois esclarecemos as dúvidas práticas”, afirma mariana brizeno, da equipe técnica.

Na capacitação dos permissionários, a principal dificuldade dos técnicos está em mudar a cultura

Equipe técnica formada, na maioria, por Médicos Veterinários

Além das orientações, os técnicos auxiliam na gestão do negócio com a im-plantação de programas de qualidade

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de trabalho. “buscamos transferir o conhecimento e a inovação a partir do que ele vivencia no dia a dia”, enfatiza enzio meixedo Chiarelli, integrante da equipe. exemplo conquistado foi a colocação de tampas em todos os recipientes dos mercados. “a primeira resposta do público foi negativa, pois havia o hábito de ‘experimentar’ e manusear o produto. Porém, treinamos os vendedores para que explicassem a importância das tampas para a manutenção da qualidade e higiene dos alimentos. Hoje o uso é uma realidade em todos os boxes”, exemplifica a diretora Célia Rossi sobre a conquista. foco da mudança de cultura também está na leitura

das orientações da embalagem e na obediência a elas, principalmente para informações sobre temperatura e acondicionamento dos produtos.

a aplicação da legislação é um quesito que permeia todas as atividades. Nas capacitações e consultorias, os técnicos buscam traduzir os itens da lei para uma linguagem simples. “existem pontos controversos na percepção de vendedores e de consumidores, como as ativi-dades que requerem o uso de luva ou máscara”, exemplifica Célia. ela enfatiza que o grupo não trabalha com multa, mas com a conscientização. “Dessa forma, a mudança é mais trabalhosa e lenta, mas o resultado é mais duradouro”, reco-nhece a diretora.ao aprofundar as consultorias para atender

às necessidades dos permissionários, os médicos veterinários identificaram a carência, em sua forma-ção, de conhecimentos gerenciais, de marketing e também de relacionamento com o cliente. Por esse motivo, o grupo foi buscar capacitação em pós-graduações. “identificamos que era necessário aliar as necessidades sanitárias aos apelos comerciais”, re-conhece flávio Garcia sobre o apoio aos vendedores para a manutenção de sua competitividade. ele acre-dita que esses novos temas poderiam ser abordados na graduação durante a formação do profissional, pois podem ser aplicados nas diversas atividades exercidas pelos médicos veterinários.

mensalmente, apenas o mercado municipal de são Paulo recebe mais de um milhão de visitan-tes. Ciente desse público, uma segunda frente de ação da equipe técnica da supervisão de merca-dos e sacolões é a organização de eventos especí-ficos para os consumidores.

as apresentações e temas são seg-mentados para que atendam donas de casa, varejistas e especialistas em gastronomia. “Dificilmente conse-guiremos o comprometimento do permissionário se a mudança não for valorizada pelo consumidor”, escla-

rece a diretora Célia Rossi. ela lembra que o consu-midor precisa estar informado para que cobre uma mudança de postura dos vendedores e também para que saiba diferenciar os que trabalham com qualidade e, consequentemente, se presdiponha-se a pagar um preço diferenciado por isso.

além de informação sobre os cuidados sa-nitários, os workshops com o público externo buscam incentivar a compra de produtos pouco utilizados e apresentam informações sobre a cadeia produtiva. também são realizadas ativi-dades específicas para incentivar as crianças a experimentar novos sabores.

a exigênCia Vem DO COnsumiDOr

Colocação de tampas nos recipientes: conquista dos técnicos após trabalho de conscientização

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mesmo com crescimento de 6% ao ano, o consu-mo do pescado no brasil ainda está abaixo do nível recomendado pela Organização mundial de saúde (Oms). De acordo com o último levantamento do ministério da Pesca e aquicultura, o brasileiro conso-me anualmente nove quilos de pescado, sendo que a recomendação da Oms é de 12 quilos do produto

ao ano. Como comparação, o consumo nacional de carne bovina é de 38 quilos por habitante/ano, de acordo com a Confederação da agricultura e Pecuá-ria do brasil.

Para os médicos veterinários da supervisão de mercados e sacolões do município de são Paulo, a falta de incentivo ao produto também é fruto da falta de atenção da indústria e dos varejistas sobre os hábitos do consumidor. Por esse motivo, em 2010, o grupo organizou dois eventos específicos para o setor de pescado, já que nos 15 mercados municipais de são Paulo estão alocadas 36 peixarias. No primei-ro semestre foi realizado o evento “bacalhau – o Rei da Páscoa” e no segundo semestre ocorreu o “i sim-pósio sobre Pescado em são Paulo (i simpesp)”.

aos proprietários de peixarias foram sugeridos artifícios mais atrativos para a comercialização do pescado. Os palestrantes enfatizaram a necessidade de melhorar a forma de apresentação e embalagem do produto. “Por ser vendido fresco e depender de gelo para a conservação, o pescado é apresentado na horizontal. sugerimos alternativas e embalagens para que o produto seja colocado na vertical, de for-

ma que as informações fiquem mais atraentes para o consumidor”, exemplifica Célia Rossi, diretora da supervisão e médica veterinária.

também houve a necessidade de apresentar técnicas de fracionamento ou processamento mí-nimo do peixe, a exemplo do que é feito nas carnes bovinas, de aves e de suínos. “muitas pessoas moram

sozinhas; as famílias são menores e au-mentou o hábito de comer fora de casa. O consumidor prefere pagar mais caro e levar a porção exata, limpa, sem espinhas e, se possível, temperada”, explica Célia. No evento também foi sugerido que o vendedor oriente o comprador sobre a variedade de produtos, como também ofereça embalagens adequadas de acon-dicionamento para o transporte.

Direcionados ao consumidor e àque-les que trabalham com gastronomia, os técnicos preparam workshops com ênfase nas alternativas de uso do produto, apre-sentação de suas qualidades e tipos que podem ser usados para a substituição. “Às vezes o consumidor não encontra o tipo

de peixe que procura e opta por deixar de consumi-lo, pois não conhece outro que possa ser interessan-te”, lembra Célia.

Como resultado inicial, os técnicos constataram mudanças na postura dos vendedores de bacalhau que passaram a usar uma mesa de corte mais ade-quada às condições sanitárias. além disso, também é possível notar maior esclarecimento sobre as formas de preparo na hora de vender o produto.

a expansão do setor de pescado é evidente e os varejistas estão buscando alternativas para acompanhar o crescimento, o mesmo pode ser feito pelos graduandos ou novos profissionais que não se atentaram para essa opção de mercado. “É uma área que demanda profissionais e o médico veterinário, que tem uma base sólida para atuar com pescado, está deixando de aproveitar”, reconhece Célia. “mui-tos cursos de graduação oferecem as disciplinas de aquicultura, psicultura e criação de pescado como optativas. acabamos deixando espaço para que outras áreas que não apresentam a mesma formação do médico veterinário tomem o espaço”, completa flávio Garcia, da equipe técnica da supervisão.

PesCaDO neCessiTa De maiOr COnsumO e inOVaçãO na HOra Da VenDa

Médico Veterinário fazendo orientações nas peixarias do Mercadão de São Paulo

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PUbLiCaÇões

PATOLOGIA VETERINÁRIARenato Lima - antonio Carlos alessi

trata-se de livro organizado pelos doutores Renato de Lima santos – médico veterinário, PhD em Patologia veterinária pela texas a&m University, professor associa-do da escola de veterinária da UfmG – e antonio Carlos alessi – médico veterinário, doutor em medicina veteri-nária pela Universidade de são Paulo e professor titular da faculdade de Ciências agrárias e veterinárias da Universi-dade estadual Paulista.

O livro conta com a participação de 22 autores com destacada atuação em patologia veterinária no brasil e em outros países e dá um enfoque peculiar da prevalên-cia da manifestação das várias enfermidades em animais domésticos no brasil. Como se trata de um livro organiza-do com autores familiarizados com a realidade brasileira, oferece uma visão mais adequada a esta realidade.

Cada capítulo é estruturado em tópicos semelhantes, que são ricamente ilustrados com fotografias em cores e de excelente qualidade, associadas às tabelas elucidativas, e possui referências bibliográficas atuais e pertinentes.

Os assuntos tratados estão em consonância com os céleres avanços da patologia nas últimas décadas, como resultado das modernas técnicas de diagnóstico em toxicologia, microbiologia, virologia e imunopatologia, proporcionando uma abordagem atualizada da patolo-gia dos diferentes sistemas.

BIOSSEGURANÇA, HIGIENE E PROFILAXIA Abordagem teórico-didática e aplicada

elis bernard kamwa

a obra possui a coordenadoria editorial do médico veterinário elis bernard kamwa, formado pela Univer-sidade federal do Paraná (1994), mestrado em Ciências veterinárias pela Universidade federal do Paraná (1997) e doutorado em Ciência animal pela Universidade federal de minas Gerais (2002), com a colaboração de professores e pesquisadores que militam na área.

trata-se de um livro que aborda desde a conceitua-ção de aspectos relacionados à biossegurança até a pre-venção de doenças em animais de produção e estimação, focando a vacinologia e vacinação, a higiene e o manejo sanitário de rebanhos.

está dividido em capítulos, organizados de acordo com os temas, que estão apresentados de forma a aten-der as peculiaridades de determinadas espécies animais.

eDiTOra rOCa lTDaRua Dr. Cesário mota jr., 73CeP 01221-020 – são Paulo – sPwww.editoraroca.com.br

nanDaya liVrOs e serViçOs lTDaavenida do Contorno, 6.000 – loja 01 – savassiCeP 30110-060 – belo Horizonte – mGwww.nandayalivros.com.br

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Page 77: Revista CFMV 52

PRINCíPIOS BÁSICOS PARA A PRODUÇÃO DE LEITE BOVINO

masahiko Ohi - ana Carolina Gurgel knopki -

franciela bednarski - Ligia valéria Nascimento -

Lilian barbosa da silva

O livro possui a coordenação editorial do Profes-sor Masahiko Ohi e foi elaborado pelo projeto “Cuidan-do da qualidade do leite no Vale do Ribeira”, da UFPR em convênio com a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paraná. Objetiva ser consultado por produtores de leite e familiares, estu-dantes e técnicos agropecuários, contribuindo para a profissionalização do seguimento.

São descritos os fundamentos para que os produ-tores possam aprender a produzir leite com qualidade e boa produtividade.

O livro é dividido em capítulos que perpassam por questões relacionadas à administração da proprie-dade leiteira e ao manejo na bovinocultura de leite; aborda ainda as características, constituintes, benefi-ciamento e comercialização do leite.

É um livro de leitura fácil, que aborda os aspectos práticos da bovinocultura de leite.

DESEMPENHO SUSTENTÁVEL EM MEDICINA VETERINÁRIA: como entender, medir e relatar

márcio Ricardo Costa dos santos

O autor da obra, Márcio Ricardo Costa dos San-tos, possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Fluminense (1972), residência médica com especialização em Pathology of Repro-duction pela Cornell University no New York State College of Veterinary Medicine (1977), mestrado em Fisiopatologia da Reprodução Animal pela Universi-dade Federal Fluminense (1978), doutorado em Me-dicina Veterinária pela Ludiwig Maximilians Universi-tät München (1986), pós-doutorado pela Technische Universität München (1988).

Na obra, a Medicina Veterinária é analisada do ponto de vista do Desenvolvimento Sustentável, dentro da óptica de que o médico veterinário da atu-alidade deve ser capaz de zelar pela saúde humana e animal, bem como pela produção. Assim, supre as necessidade nutricionais de uma população crescen-te e assegura a rentabilidade, além de dimensionar todas as atividades visando minimizar o comprometi-mento do meio ambiente. Dessa forma, o autor deixa clara a responsabilidade dos profissionais atuais com a sustentabilidade por meio da adoção de práticas adequadas à preservação do meio ambiente.

O livro, além de conter ensinamentos preciosos, provoca uma reflexão sobre as condições de nosso planeta e de seus habitantes.

l.F. liVrOs De VeTerinária lTDaavenida brasil, 5.493/301 – bonsucesssoCeP 21040-360 – Rio de janeiro – Rjww.lflivros.com.br

imPrensa uniVersiTáriaUniversidade federal do Paranáwww.ufpr.br

Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 77

Page 78: Revista CFMV 52

iV simpósio Brasil sul de suinocultura e iii Brasil sul Pig Fair

local: Centro de Cultura e Eventos Plínio Arlindo de Nes – Chapecó – SC.Período: 9 a 11 de agosto de 2011.mais informações: (49) 3329-1640 / (49) 3328-4785 /www.nucleovet.com.br

xVi enesCO – encontro nacional de educação sanitária e Comunicação

local: Expominas – Belo horizonte – MG.Período: 1 a 3 de junho de 2011.mais informações: http://enesco.webnode.com.br/

xii Conferência anual da abraveq

local: royal Palm Plaza resort – Campinas – SP.Período: 11 e 12 de junho de 2011.mais informações: http://www.abraveq.com.br/eventos2011

xix encontro de médicos Veterinários e Zootecnistas do agreste meridional de Pernambuco e Viii encontro regional de Buiatria de Pernambuco

local: Garanhuns – PE.Período: 3 a 5 de junho de 2011.mais informações: (81) 3797-2517 / [email protected]

11º Congresso sobre nutrição de Bovinos – mato grosso do sul

local: Mato Grosso do Sul – MS.Período: 11 a 13 de maio de 2011.mais informações: (19) 3232 7518 / www.cbna.com.br

simpósio internacional de nefrologia e urologia Veterinárias

local: Porto de Galinhas – PE.Período: 25 a 27 de maio de 2011.mais informações: (81) 9996 8943/ (81) 9193-0733/ (81) 3034 3370/[email protected]

xix Congresso Brasileiro de reprodução animal

local: Centro de Convenções Mar hotel – recife – PE.Período: 25 a 27 de maio de 2011.mais informações: [email protected]

ii Conferência medicina Veterinária do Coletivo e i simpósio internacional de agressividade

local: FMVZ, uSP – São Paulo – SP.Período: 1 a 3 de julho de 2011.mais informações: http://www.itecbr.org/

Maio

aGeNDa

JulhoJunho

Agosto

VEJA MAIS EVENTOS EM

www.cfmv.gov.br

Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 201178

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CAMPANHA PELA REDUÇÃO DO CONSUMO DE SALA Organização Mundial da Saúde – OMS recomenda que o consumo máximo de sal

por dia deve ser de 5 gramas. O brasileiro consome em media + de 12 g diárias. O Consumo excessivo pode acarretar problemas circulatórios, agravando os problemas de

hipertensão e o risco de causar infarto e derrame no consumidor. Para melhorar a sua qualidade de vida, é importante usar o sal com moderação,

principalmente quando se sabe que 30 % dos brasileiros sofrem de hipertensão.

www.universidadedoconsumidor.org.brwww.iboc.org.br

eVenTO DaTa lOCal

Fórum das Comissões Nacional e regionais de Ensino de Medicina Veterinária

1º/3/2011 Brasília-DF

III Fórum das Comissões Nacional e regionais de Saúde Pública do Sistema CFMV/CrMVs

24 e 25/3/2011 Brasília-DF

Seminário de Saúde Pública Veterinária 11 a 13/5/2011 Curitiba-Pr

II Encontro de ética, Bioética e Bem-estar Animal – Centro-Oeste 17/5/11 Campo Grande-MS

I Seminário Nacional de Ensino de Zootecnia 23 a 25/5/2011 Maceió-AL

III Seminário Brasileiro de residência em Medicina Veterinária 1 a 3/6/2011 Brasília-DF

Seminário de Saúde Pública Veterinária 16 e 17/6/2011 Guarapari-ES

Curso de Formação de Professores em Medicina Veterinária e Zootecnia para ética, Bioética e Bem-Estar Animal

15 a 19/8/2011 Brasília-DF

XIX Seminário de Ensino de Medicina Veterinária 14 a 16/9/2011 Brasília-DF

Pré-Evento no IX Congresso Brasileiro de Bioética Setembro/2011 Brasília-DF

III Encontro de ética, Bioética e Bem-estar Animal – Nordeste 4/10/2011 São Luis-MA

II Fórum das Comissões Nacional e regionais de Ensino de Zootecnia 17 e 18/10/2011 Brasília-DF

I Fórum Nacional de Saúde Ambiental 7/11/2011 Brasília-DF

CFMV EM 2011

aGeNDa Cfmv

EVENTOS OrGANIZADOS PELO

Já TêM DATA PrEVISTA

CFMVRevista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 79

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Lívio Cézar Menezes Fontesmédico veterinário , CRmv - mG nº 05373especialista em Clínica e Cirurgia de Grandes animais – Ufvmba em Gestão empresarial – fGv

OPiNiÃO

neCessiDaDe De uma VisãO PrOFissiOnal-emPresarial

Quero parabenizar os médicos-veterinários que obtiveram sucesso na profissão. entretanto, neste momento, minha preocupação é com aqueles que ainda não o atingiram e que almejam um lugar ao sol. É premente a necessidade de estar alerta para o pro-fissionalismo inerente ao mercado em expansão, que possui grande potencial e está cada vez mais compe-titivo. Os futuros clientes apresentam-se cada vez mais bem informados e exigentes, mormente aqueles que possuem maior disponibilidade financeira para assu-mir custos, mas, em contrapartida, exigem garantia de prestação de bom serviço/resultados.

É possível verificar, no dia a dia, a presença de colegas empreende-dores no mercado de trabalho, com visão de futuro, atuantes. Por outro lado, percebem-se também bons clínicos e cirurgiões que dominam com competência os aspectos técnicos da profissão veterinária, porém demonstram um “fracasso administrativo”. Não conseguem se estabelecer como empresá-rios, pecam na administração, não conseguem evoluir, muitos deles atuando nos denominados “pet garagens” e “agro garagens”.

O mercado pet brasileiro é um dos maiores do mundo, em franca expansão, com expectativa de fa-turamento cada vez maior, aproveitando as benesses de uma economia estável. entretanto, para atender a este mercado, exige-se cada vez mais profissio-nalismo e visão empresarial do envolvido. O cliente mudou, o paciente mudou, os níveis de exigência são imensos. O bom profissional não basta. atualmente, por exemplo, cita-se que o paciente pet tornou-se membro da família de seu proprietário.

Mercadorias dispostas em estantes adequadas e profissional treinado para atendimento

aRQUivO Cfmv

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também, o agronegócio brasileiro experimenta um momento de grandes oportunidades e desafios. Quando consideramos as necessidades da popula-ção humana e a crescente demanda por alimentos, somos obrigados a refletir sobre a importância e nível de envolvimento do profissional médico veterinário no processo produtivo e qualitativo do alimento disponibilizado para consumo. somos pouco ouvidos em situações de epidemias ou não conseguimos nos fazer ouvir? Nossos colegas que estão atuando no campo conseguem ser represen-tantes da profissão? estão preparados e atuam no dia a dia como profissionais da área de saúde?

O sucesso do agronegócio nacional depende do entrosamento entre as notórias possibilidades de expansão e a superação dos gargalos que enges-sam o crescimento mais acelerado da atividade. entre eles, a necessidade de investir em infraestrutura e a de aper-feiçoar a gestão.

e nossos colegas que estão envol-vidos com a indústria de alimentos estão conquistando mercado ou estão se sentido cada vez mais acuados, des-preparados e sujeitos a concorrência de novos profissionais, alguns oriun-dos de cursos cujos nomes são de difícil compreensão? as novas opor-tunidades de negócios impõem às

empresas do setor uma diversidade de desafios referentes à consolida-ção e à reestruturação empresarial, aos custos tributários e logísticos, aos processos de sucessão. esse trabalho está exigindo que o pro-fissional demonstre capacidade de administrar, conhecimentos em agribusiness, marketing, gestão de pessoas e processos.

após essa pequena reflexão, permito-me sugerir que nossas esco-las incorporem em suas grades cur-riculares disciplinas que permitam e orientem a atuação do profissional empreendedor. É necessário esti-mular a vertente empreendedora e estas joias devem ser lapidadas no ambiente escolar. Disponibilizar dis-ciplinas afins como matéria optativa, com o objetivo simplista de integrar o número obrigatório de créditos, não

é a solução. O aluno precisa reconhecer a importância, dando o mesmo reconhecimento que se dá para a clí-nica, a cirurgia, a reprodução e a produção.

É evidente o aumento crescente do número de médicos veterinários adentrando no mercado de trabalho. se vamos formar um veterinário com com-petência generalista ou se especialista, deve ser ob-servado. mas, independentemente dessa posição, o mercado está exigindo um profissional gestor de seu próprio negócio e da sua própria carreira.

Disposição adequada de mercadoria a ser comercializada

Ambiente confortável e adequado ao desempenho das funções

aRQUivO Cfmv

aRQUivO Cfmv

Revista Cfmv - brasília/Df - ano Xvii - nº 52 - 2011 81

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DireTOria exeCuTiVa

Presidente: méd. vet. josé maria dos santos filho CrMV-CE Nº 0950 vice-Presidente: méd. vet. Carlos aurélio azevedo albuquerque CrMV-CE Nº 1237 secretário-Geral: méd. vet. francisco antônio Rocha macedo CrMV-CE Nº 0283 tesoureiro: méd. vet. Rodrigo macambira de morais CrMV-CE Nº 1881 COnselHeirOs eFeTiVOs

méd. vet. airton alencar de araújo CrMV-CE Nº 0990 méd. vet. David Caldas vasconcelos CrMV-CE Nº 1841 méd. vet. josé arturo de Oliveira Carvalho CrMV-CE Nº 1883

méd. vet. márcia martins Carvalho Lima CrMV-CE Nº 1523 méd. vet. ana Cristina farias moreira Ribeiro CrMV-CE Nº1835

COnselHeirOs suPlenTes

Zoot. Cleber medeiros barreto CrMV-CE Nº 0098/Z méd. vet. francisco Roger aguiar Cavalcante CrMV-CE Nº 1537 méd. vet. jeová da silva Pereira CrMV-CE Nº 1400 méd. vet. juarez Charles CarvalhoCrMV-CE Nº 0849 méd. vet. Raquel Queiroz de menezesCrMV-CE Nº 1667

manDaTO: 22-02-2009 a 21-02-2012

COnselHO regiOnal De meDiCina VeTerinária DO esTaDO DO Ceará – CrmV/Ce endereço: Rua Dr. josé Lourenço, 3288 - bairro aldeota - fortaleza/Ce - CeP: 60115-280

Telefone: (85) 3272-4886 - fax: (85) 3272-4886/ e-mail: [email protected]/ site: www.crmv-ce.org.br

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Médicos Veterinários, Zootecnistas e Alunos de graduação

Galeria de Imagens

A revista do CFMV está criando um e para isso conta com a sua colaboração.As imagens serão utilizadas em reportagens e peças institucionais de divulgação do CFMV e terão que conter moti-

vos relacionados à Medicina Veterinária e à Zootecnia, como rebanhos, casos clínicos, animais e até situações inusitadas. O crédito do autor da foto sempre virá na publicação.

As fotos deverão estar com excelente nitidez, sem saturação, sem estouro de luz ou sombra; também não poderão conter qualquer tipo de montagem.

A resolução deve ser de no mínimo 300dpi, medida de 15 cm de altura, em JPG (sem muita compactação) e as cores em cmyk. Não há limites de fotos por autor.

[email protected]

fotos com temas:

Bem - Estar e Maus - Tratos

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seDe DO CFmV: sia - tReCHO 6 - LOte 130 e 140 bRasÍLia – Df - CeP: 71205-060

fONe: (61) 2106-0400 - faX: (61) 2106-0444 E-MAIL: [email protected] 

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